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Entrevista F1 - Repositório da Universidade de Lisboa

Date post: 27-Jan-2023
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Entrevista F1 Começava por perguntar sobre a sua formação académica, uma breve apresentação. Sou arquiteto, formado nesta escola, tenho mestrado em computação aplicada à arquitetura no (IES internacional) e doutoramento na mesma área no (IES internacional). E percurso profissional até chegar aqui? Ainda durante o curso, comecei a trabalhar em atelier, com professores da faculdade na altura, depois acabei o curso, continuei em atelier mais dois anos. Entretanto surgiu a oportunidade de uma bolsa de investigação no (instituição pública nacional), fiquei com a bolsa e depois, deve ter sido por volta de 89 e depois passei a estagiário de investigação e enquanto professor mantive-me em atelier. Depois quando comecei a estagiar é que me dediquei só à investigação. Em 1993 fui para os (estrangeiro) fazer o mestrado e depois regressei dois anos e meio para o (instituição pública nacional), a trabalhar na área de investigação sobre habitação. Voltei aos (estrangeiro) para fazer o doutoramento. Regressei em 2000, comecei a dar aulas no (universidade pública nacional), a partir daí fui professor convidado logo a seguir e em 2006 fiquei só na faculdade como professor associado na altura e depois passei a catedrático e agora sou diretor. A carreira começou por ser dedicada à área de projeto e depois foi virando para a investigação e estava a fazer projetos de investigação e agora estou a gerir a escola. Projetos FCT, essas coisas. Ainda dou aulas, vim agora de uma. Considera que o seu percurso profissional e académico ajudaram no desempenho das funções atuais? Sim, bastante, aliás, sinto-me sempre muito à vontade nesta posição, sinto-me bem, acho que não há nada que sinta que não estivesse preparado para exercer por causa da formação que tive porque sendo arquiteto percebo muito de uma escola de arquitetura, tendo uma formação e especialização na área da informática que permite de forma mais rigorosa estabelecer procedimentos, compreender as coisas, uma formação matemática que também é útil para quem tem de gerir as coisas, não só pelo rigor mas até pelo planeamento e a preparação que tem que ser dado às coisas. Qual o balanço que faz da sua experiência como diretor? São dois anos, tem sido difícil porque este período é terrível, mas ao mesmo tempo acho que as coisas têm estado a correr bem, as pessoas da faculdade têm estado a colaborar,
Transcript

Entrevista F1

Começava por perguntar sobre a sua formação académica, uma breve apresentação.

Sou arquiteto, formado nesta escola, tenho mestrado em computação aplicada à

arquitetura no (IES internacional) e doutoramento na mesma área no (IES internacional).

E percurso profissional até chegar aqui?

Ainda durante o curso, comecei a trabalhar em atelier, com professores da faculdade na

altura, depois acabei o curso, continuei em atelier mais dois anos. Entretanto surgiu a

oportunidade de uma bolsa de investigação no (instituição pública nacional), fiquei com

a bolsa e depois, deve ter sido por volta de 89 e depois passei a estagiário de investigação

e enquanto professor mantive-me em atelier. Depois quando comecei a estagiar é que me

dediquei só à investigação. Em 1993 fui para os (estrangeiro) fazer o mestrado e depois

regressei dois anos e meio para o (instituição pública nacional), a trabalhar na área de

investigação sobre habitação. Voltei aos (estrangeiro) para fazer o doutoramento.

Regressei em 2000, comecei a dar aulas no (universidade pública nacional), a partir daí

fui professor convidado logo a seguir e em 2006 fiquei só na faculdade como professor

associado na altura e depois passei a catedrático e agora sou diretor. A carreira começou

por ser dedicada à área de projeto e depois foi virando para a investigação e estava a fazer

projetos de investigação e agora estou a gerir a escola. Projetos FCT, essas coisas. Ainda

dou aulas, vim agora de uma.

Considera que o seu percurso profissional e académico ajudaram no desempenho

das funções atuais?

Sim, bastante, aliás, sinto-me sempre muito à vontade nesta posição, sinto-me bem, acho

que não há nada que sinta que não estivesse preparado para exercer por causa da formação

que tive porque sendo arquiteto percebo muito de uma escola de arquitetura, tendo uma

formação e especialização na área da informática que permite de forma mais rigorosa

estabelecer procedimentos, compreender as coisas, uma formação matemática que

também é útil para quem tem de gerir as coisas, não só pelo rigor mas até pelo

planeamento e a preparação que tem que ser dado às coisas.

Qual o balanço que faz da sua experiência como diretor?

São dois anos, tem sido difícil porque este período é terrível, mas ao mesmo tempo acho

que as coisas têm estado a correr bem, as pessoas da faculdade têm estado a colaborar,

portanto acho que a escola nestes dois anos evoluiu em termos de organização

significativamente porque era uma escola muito desorganizada e agora há muito rigor na

gestão financeira, as contas estão em dia, conseguimos num ano equilibrar as contas só

que há grandes restrições orçamentais e isso significa que estamos com muito pouco

pessoal, devíamos ter mais pessoal, é quase o problema mais grave, quer ao nível de

funcionários, sobretudo na área da secretaria, da divisão académica mas também

devíamos ter mais professores e esta faculdade é das mais subfinanciadas de toda a

(universidade), o nosso financiamento por aluno é dos mais baixos de toda a

(universidade) e portanto o nosso nível de financiamento, ao nível dos cursos é

eminentemente teórico enquanto que a nossa formação é teórico prática e portanto temos

um nível de financiamento muito baixo. Basta comparar as instalações desta escola com

as que estão aqui ao lado para verificar que há uma diferença de qualidade significativa

que acho absolutamente inaceitável dentro da mesma universidade. Mas isso deve-se, se

calhar a alguma má gestão do passado mas também um subfinanciamento da escola.

A sua opinião sobre o ensino superior público português. Evolução, tendências...

Acho que tem havido uma evolução muito positiva, houve um aumento de qualidade,

estive nos (estrangeiro), numa universidade que é das melhores universidades do mundo

e posso comparar. Nalgumas áreas está exatamente ao nível do melhor que se pode

encontrar, um ensino de vanguarda de qualidade e mesmo a investigação que se faz,

noutras áreas nem tanto. Mas acho que no global, comparando com outros países da

europa, não temos que nos envergonhar do nosso ensino superior. Agora, com estes cortes

orçamentais, de facto estão a pôr em causa muitas coisas, sobretudo a investigação, cujos

fundos foram drasticamente reduzidos, aqui na faculdade, por exemplo, a FCT

praticamente cortou o financiamento ao centro de investigação e a faculdade tem uma

produtividade científica elevada, ao nível europeu, das mais elevadas, é capaz de estar

nas cinco com melhor produtividade científica, como tive oportunidade de ver

recentemente, através daquelas bases de dados científicas que é a SIMAG. Esteve aqui

um professor americano na semana passada e disse que a investigação que ele viu aqui,

naquela área é do melhor que existe e está à frente das outras e isso é gratificante. Agora,

há muito para evoluir, aqui na escola especificamente, os edifícios estão desadequados ao

ensino, as condições ambientais são terríveis, um frio terrível no inverno e um calor

enorme no verão, os edifícios estão degradados, tivemos que arranjar as coberturas agora

porque estavam a meter água, não houve uma manutenção correta dos edifícios, devido

às más gestões anteriores. Há aqui coisas que é preciso suprir mas atenção têm sido

supridas na organização, a escrita de regulamentos, procedimentos porque havia muito

pouca coisa até porque isso elimina muitos conflitos, a escola teve no passado conflitos

exatamente porque as coisas estavam pouco estruturadas e isso dá azo a que se criem

conflitos. Portanto, o balanço para mim é positivo.

Aqui na faculdade e agora em geral no ensino superior?

Ia dizer que existe muita burocracia mas no (IES estrangeira) também existe muita

burocracia, só que existem muitos funcionários para tomar conta da burocracia e os

professores ficam aliviados para fazer investigação e se dedicarem às aulas e isso tem um

impacto significativo. Apesar disso, aqui na faculdade ainda conseguimos estar ao nível

da produtividade elevada, temos uma produtividade bastante elevada. Acho que tem que

haver uma certa desburocratização mas isso implica uma responsabilização das pessoas

porque acho que a burocratização só existe devido às vezes a comportamentos pouco

éticos e daí a necessidade destas verificações todas, mas isso acho que é um mal geral do

país. Acho que em muitos aspetos, os valores éticos não são muito fortes, em essência,

acabam por ser, mas depois nas coisas mais ligeiras do dia a dia, acaba por não se ter e

existe uma certa permissividade em relação a certos comportamentos e isso comparando

com a minha experiência fora do país, existe uma diferença significativa relativa às

questões da ética. Relativamente à evolução do ensino, acho perigoso estes cortes no

ensino superior, muito perigoso porque o futuro do país está ligado ao ensino superior, o

nível de educação elevado é fator essencial para o nível de desenvolvimento económico

e cortar as vazas ao ensino superior é mau. Agora, é evidente que as pessoas que estão no

ensino superior, professores, funcionários, etc., têm que ter um sentido de

responsabilidade elevado porque lidam com as verbas dos contribuintes, andam com a

gestão do dinheiro, não podem desperdiçar e sei disto porque havia aqui um certo

desperdício na faculdade, mas tem que haver aqui um equilíbrio das duas coisas, um

sentido de responsabilidade das instituições e tem que haver confiança da tutela, tem que

se evoluir nestes dois lados.

O que pensa do ensino privado?

Acho que é salutar existir, tem que haver concorrência salutar, tem que haver alternativa

e acredito que possa haver um ensino privado de qualidade. Temos algum ensino privado

de qualidade, se calhar a maioria talvez não seja mas também não fiz avaliações rigorosas,

também não quero estar a dizer isto assim, mas comparando com a experiência externa,

algumas das melhores universidades americanas são privadas, algumas com

financiamento do estado, por via da fundação para a ciência e tecnologia local mas são

verbas do estado e funcionam muito bem, são universidades muito boas. Portanto, acho

que o ensino, quer privado quer público, pode ser um ensino de qualidade, depende onde

está a tónica da instituição, se foi feita para dar lucro ou se foi feita para produzir

conhecimento e fazer avançar o conhecimento, para servir a sociedade.

A sua opinião sobre o Processo de Bolonha, a sua implementação...

Acho que o processo de Bolonha, as pessoas dizem que foi feito para cortar os custos no

ensino superior, mas acho que não foi só isso, sou um bocado mais otimista e acho que

foi feito para emular um bocadinho aquilo que é o ensino americano, que é um ensino

muito bem sucedido porque é um ensino flexível, permite a cada aluno compor o seu

próprio percurso académico, permite colocar no mercado de trabalho pessoas com

valências distintas, mesmo tendo feito o mesmo curso, até porque há uma grande dose de

flexibilidade na escolha das disciplinas e etc. e de facto permite-se aprofundar as coisas,

não sai tudo formatado e o ensino europeu era muito rígido portanto acho que o objetivo

de Bolonha foi flexibilizar o ensino e amobilidade das pessoas. Mas isto implica uma

mudança cultural, portanto, acho que o processo de Bolonha não está a funcionar como

se gostaria ainda porque implica uma mudança de mentalidade e isso é um processo longo

e difícil. Por exemplo, aqui na faculdade, tem, tido avanços e recuos. já foi mais flexível

e agora está um bocado mais rígido outra vez, estou a falar de disciplinas optativas que

os alunos podem escolher porque tem muito a ver com a mentalidade das pessoas e isso

não se muda facilmente. Os alunos são muito adeptos porque gostam de escolher as

disciplinas que mais lhe agradam e funciona bem, os professores são mais conservadores.

Como tenho outra experiência, conheço as vantagens, tudo tem vantagens e desvantagens

mas conheço as vantagens de um ensino flexível, implica é uma capacidade de gestão e

organização maior porque é mais difícil, porque tem que se tomar mais conta das coisas,

tem que haver uma grande aposta nos sistemas de informação para as coisas funcionarem.

Sobre as propinas, há autores que defendem, que o pagamento das propinas

responsabiliza o aluno...

A minha experiência como diretor é que isso é verdade. A faculdade tinha um problema

gravíssimo em que as pessoas não pagavam propinas e como não pagavam, apesar de se

ter que pagar legalmente, eles não tinham sentido de responsabilidade. A partir do

momento que os forçámos a pagar as propinas, criou-se um sentido de responsabilidade

nos alunos porque percebem que têm que fazer as coisas no tempo certo porque assim

gastam dinheiro e antigamente se tivessem que fazer o curso em seis ou sete anos não se

preocupavam porque não pagavam e isso consome imensos recursos dos contribuintes,

portanto é injusto porque isso significa um aumento dos impostos e portanto se houver

essa responsabilização do aluno, ele não faz isso porque tem que desembolsar também,

há uma co responsabilização. Sinto que isso aconteceu aqui, assisti a isso, posso afirmar

que é verdade. Agora, acho que é dramático porque há pessoas que efetivamente não têm

capacidade de pagar as propinas e torna-se um ensino elitista e só as pessoas de

rendimentos elevados é que têm possibilidade disso. aflige-me bastante mas isso resolve-

se com um sistema de bolsas, tem que haver um sistema de bolsas, por exemplo uma

crítica que faço ao nosso sistema de bolsas, só em Dezembro é que se sabe se o aluno tem

ou não bolsa, isto é ridículo, deveria estar antecipado, as aulas já começaram ainda estão

em processo de colocação os alunos da 2ª e 3ª fase, isto não devia acontecer. Devia ser

tudo antecipado de forma a que quando as aulas começassem, todos os alunos fossem

colocados, não estivessem a decorrer as 2ª e 3ªs fases e as bolsas já estivessem atribuídas.

Tinha era que se trabalhar em Agosto, que é uma coisa que neste país não se gosta de

fazer. Aqui na faculdade infelizmente tem que se fazer, e isso devia fazer-se e quando as

aulas começassem já se sabiam os resultados para as pessoas saberem com o que podem

contar. Depois com estes cortes às IES, também não podemos permitir que os alunos

frequentem as aulas sem pagar as propinas porque depois faz falta o dinheiro e aqui há

alguma coisa que está mal e é uma coisa que é possível corrigir, é só mudar o sistema de

bolsas e fazê-lo mais cedo e ter um sistema de atribuição de bolsas mais meritório,

meritocrático. Acho que sim, que se devem pagar propinas, não muito, mas o suficiente

para responsabilizar as pessoas, para elas sentirem que custa dinheiro, que não pode

mandar aqui assim, têm que cumprir os prazos, os exames. Uma coisa que acho no nosso

ensino, tem um exame de época normal, depois tem uma época de recurso e melhoria,

depois é a época especial e às vezes a época hiperespecial e mais que especial e isso acho

que é errado, nos EUA não é assim, as pessoas têm um exame para fazer, não fez,

chumbou, tenta outra vez para o ano, isso obriga de facto as pessoas a dedicarem-se

quando estão a estudar até porque eles lá pagam propinas muito elevadas mas são

responsabilizados. Não digo que se ponha esta pressão enorme porque acho que eles

também já entraram num exagero muito grande no outro extremo mas tem que haver aqui

alguma responsabilização, até porque faz parte do crescimento das pessoas para a vida

profissional.

Cá na faculdade tem alunos com dificuldades?

Tenho, temos um plano de pagamento alternativo para os alunos com dificuldades

económicas, as propinas são as mesmas mas temos sistemas de pagamento mais

facilitadores, em vez de pagarem a propina toda de uma vez ou em duas prestações pagam

mensalmente e isso acaba por facilitar um bocadinho o pagamento, cento e tal euros por

mês e isso facilita mas é evidente que isto tem que ser gerido com muito cuidado porque

há pessoas que realmente têm dificuldade mas é uma pequena minoria, as outras era um

bocado porque havia um certo desleixo e nós exigimos que eles comprovem que têm

dificuldades económicas, não fazemos um estudo exaustivo mas basta ver um ou outro

documento que nos mostre de facto que é elevada a probabilidade de ter dificuldades

económicas, até porque quando se pede isso à pessoa, se ela não tiver tem vergonha de

apresentar, só mesmo se tiverem essa necessidade é que apresentam e isso tem corrido

bem e tem permitido que os alunos paguem as propinas e continuem a frequentar mas

mesmo assim tem havido pessoas a desistir, não muitas ainda, mas vamos ver, até porque

o número de alunos da faculdade tem vindo a subir pelo menos desde há cinco anos, de

há dois anos para o ano passado subiu 11% porque foram abertos cursos noturnos e os

alunos vão chegando e vão-se acumulando. Apesar de ter havido uma descida na UL, nós

continuamos a subir e aliás esse é um dos problemas que a faculdade tem, é que o nosso

financiamento está a descer e os alunos estão a subir, enquanto que nas outras faculdades,

os alunos estão a descer mas o financiamento mantém-se, acho, não quero dizer isto, mas

podia haver uma partilha mais justa dos fundos dentro da universidade.

No seu entender, qual acha que deve ser o papel do estado perante o ensino superior

público? Regulador, financiador, avaliador?

Acho que deve ser tudo isso mas não em excesso, acho que é salutar as faculdades

procurarem as suas fontes de financiamento, mas não pode ser feito de um dia para o

outro, um corte abruto, demasiado rápido, deveria ter sido feito gradualmente que era para

dar oportunidade às instituições de criarem estruturas para angariar fundos, que foi o que

fizemos na faculdade mas isto leva tempo não é de um dia para o outro, é preciso mudar

muita coisa e mesmo com a estrutura montada, leva tempo a que de facto comece a gerar

resultados e portanto, o estado deve financiar porque deve fazer o possível para manter

um ensino de qualidade, acho que se calhar não deve financiar tudo, até para obrigar a

uma certa co responsabilização das instituições, lá está, assim como o aluno quando paga

as propinas, a instituição quando tem que angariar fundos também é responsável porque

percebe que o dinheiro não vem do ar e alguém tem que desembolsar, é o dinheiro dos

contribuintes, portanto, tem que se gerir com cuidado e cautela e acho que o estado deve

funcionar como deve de ser, deve ser avaliador e regulador, para estabelecer as regras do

jogo, acho que sim, que isso deve acontecer para valores aceitáveis, não deve ser

impositivo nem excessivo, deve ser um equilíbrio. Em relação à A3ES ainda só passei

por uma avaliação enquanto diretor e penso que houve uma atitude construtiva, não senti

que a equipa que veio cá viesse com uma atitude acusatória ou fiscalizadora no mau

sentido, veio com uma atitude construtiva, até a ajudar a escola a identificar aspetos que

podia modificar e nesse aspeto fiquei contente.

Mestrados e doutoramentos têm às vezes um valor bem diferenciado em relação às

licenciaturas, principalmente o doutoramento, que acha desta diferença?

Aqui as propinas de doutoramento têm um valor mais elevado que as de mestrado, temos

licenciaturas e mestrados integrados com o mesmo valor, mestrados não integrados são

3500 euros, por dois anos, 1750 por ano, os doutoramentos são 6500 a repartir por três

anos, 2200 por ano, mais ou menos, é praticamente o dobro. Acho que faz sentido porque

enquanto o ensino na licenciatura é um instrumento essencial da formação, o

doutoramento já é uma coisa mais especializada e é um ensino mais caro também porque

é mais uma relação de um para um enquanto que os outros é um ensino um bocadinho

mais massificado, acho que essa diferença faz sentido. Agora, tem que haver mecanismos

de atribuição de bolsas, com base no mérito e acho que tem que se promover mais

doutoramentos em colaboração com indústrias, com entidades para que financiem

também e para que a investigação seja direcionada às necessidades da sociedade, acho

que é importante, não podemos estar aqui só a gastar dinheiro dos contribuintes, tem que

ser utilizado para o bem comum, um doutoramento deve ser útil à sociedade, não é só

descobrir coisas novas mas descobrir coisas novas que sejam úteis no imediato, embora

haja coisas que não são imediatamente úteis, vão ser a longo prazo, tem que haver aqui

um equilíbrio para permitir a investigação fundamental em áreas mais teóricas cuja

notoriedade às vezes não é tão aparente no início mas que ao fim de 10, 20, 50 anos acaba

por ser e tem que haver financiamento de coisas mais no sentido de resolver os problemas

da sociedade, ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas, o financiamento, a

proteção do ambiente, essas coisas.

Falou-me de dificuldades como a falta de pessoal e os cortes na investigação. Que

outras dificuldades sente na instituição?

A dificuldade é ter algumas carências, as mais graves para mim é de pessoal, temos muito

pouco pessoal para assegurar que a instituição funcione bem e com um nível de qualidade

de serviços elevado, acho que se melhorou muito com a organização da escola mas agora

atingimos o limite máximo de qualidade com a reorganização da escola porque de resto

precisamos de mais gente para que as coisas possam ser feitas de forma mais aprimorada

e prestar melhor serviço aos alunos. A outra é o financiamento que de facto é insuficiente

e depois é a qualidade dos edifícios e das instalações precisam de ser significativamente

melhoradas. Comparo-me com as outras escolas e sinto que a faculdade está abaixo em

termos da qualidade das instalações e isso é uma coisa que me incomoda bastante porque

os nossos alunos pagam as mesmas propinas que as outras escolas, os pais pagam os

mesmos impostos e portanto têm direito à mesma qualidade do ensino, repare, não é que

o ensino seja mau mas quando tem 2ºC de temperatura numa sala de aula, acho que há

muita coisa que fica posta em causa ou que os alunos desmaiem no verão com o calor

como já tem acontecido.

Existem estratégias para captar alunos?

Existem, claro, temos várias, como sentimos que no futuro o número de alunos

portugueses desça, estamos a fazer esforços para captar alunos estrangeiros que é um dos

valores desta faculdade, temos um número de estrangeiros elevado, não só inscritos nos

cursos mas também de intercâmbio, Erasmus. Montámos uma campanha de marketing

com a criação de coisas elementares como brochuras de divulgação dos cursos e da

instituição, a melhoria do portal da internet, com muita informação e um aspeto visual

apelativo, fazemos digressões às escolas no 2º semestre para divulgar os nossos cursos e

tentamos fazer comunicados à imprensa, divulgar as coisas boas que aqui se fazem mas

acho que a faculdade ainda não conseguiu mostrar lá para fora todas as qualidades que

tem, acho que a perceção da escola no exterior é pior do que a sua qualidade, é aquilo que

sinto, dentro do país mas depois vamos lá fora e a faculdade já tem um prestígio muito

grande, é diferente.

E mercado externo é o Brasil, os PALOP?

Não só, o mais óbvio é o Brasil porque já tem um nível de desenvolvimento elevado e

tem um potencial para mandar alunos para cá bastante grande, os outros países de língua

portuguesa têm relações culturais evidentes por causa da língua mas nós temos alunos de

todas as partes do mundo, não só de intercâmbio mas também inscritos. Por exemplo, a

faculdade teve agora três projetos europeus aprovados com um valor de cerca de 8

milhões de euros, para formar alunos da ex União Soviética, Ucrânia, Bielorrússia,

portanto, estamos a receber estes alunos e temos uma campanha forte de angariação de

alunos estrangeiros dentro da europa também e vamos participar num próximo encontro

nos EUA, para angariar alguns americanos porque acho que o ensino da arquitetura em

Portugal é muito apelativo porque é um ensino de qualidade, a arquitetura portuguesa tem

muito prestígio devido aos prémios que os nossos arquitetos têm obtido e tem umas

propinas francamente inferiores às deles, portanto faz todo o sentido, o que acho que tem

que haver aqui é uma diferenciação das propinas, propinas para os portugueses, para os

da UE e propinas fora da UE, tem que haver três níveis de propinas que é aquilo que

acontece nos EUA com as propinas das universidades, os alunos do estado pagam um

valor, os alunos de outro estado pagam outro valor e os alunos estrangeiros pagam outro.

Isso faz sentido porque os alunos de lá já pagam os seus impostos e portanto têm que ter

algum benefício e estar aqui a financiar alunos que às vezes vêm de países ricos como

temos aqui da Alemanha, de França, países com um nível económico superior ao nosso,

não faz muito sentido os portugueses estarem a financiar esses alunos.

Fontes de receitas próprias além do estado e dos alunos?

Projetos de investigação, os projetos europeus que referi são projetos de investigação

financiados quer pela FCT, quer pela UE e nós agora montámos uma estrutura que inclui

o centro de investigação, o centro de prestação de serviços cujo objetivo é quando a

investigação fica amadurecida fazermos serviços à sociedade com base nessa

investigação, serviços especializados, temos um gabinete de transferência de tecnologia,

criámos uma incubadora e contratámos uma empresa, uma olheira, digamos assim, que

nos está a ajudar a identificar os trabalhos de investigação de professores e alunos com

melhor potencial económico para depois apoiarmos o seu desenvolvimento de uma forma

muito simples, para já, dando bolsas aos alunos para montarem um projeto de candidatura

a verbas para criar a sua própria empresa ou dar condições para que comecem a empresa

aqui nos espaços da faculdade. Já temos alguns casos bem sucedidos nesse aspeto, com a

atribuição de patentes, algumas já comercializadas, um aluno que já conseguiu a sua

própria empresa a funcionar, portanto, estamos a montar isto mas leva tempo mas

gerámos resultados e acho que as áreas científicas da faculdade, (nomes dos cursos), têm

um potencial muito elevado porque o design é essencial hoje em dia, significa conceber

objetos com maior valor acrescentado, portanto faculdades como esta têm a oportunidade

de dar um contributo muito forte à sociedade e ao tecido económico português, estamos

a tentar montar uma estrutura para facilitar isso e arranjar empresas que paguem a um

aluno para fazer a tese de um tema que lhes interesse, parcerias, criámos uma iniciativa

que se chama go to market (faculdade), exatamente tentar vender no bom sentido a

investigação que se faz aqui, os resultados da investigação e temos já empresas que

contatam a faculdade para prestar certo tipo de serviços ligados à nossa investigação, isso

já está a acontecer.

Pode nomear algumas empresas?

Não têm características muito diferentes, não vou dar nomes porque acho que não o devo

fazer, temos uma empresa na área das tintas, que tem um protocolo com a escola e financia

a investigação, temos uma empresa no ramo bancário, temos um banco que tem um

protocolo com a faculdade que financia certo tipo de eventos, ajuda a organizar

conferências, publicações, por aí fora, temos outras empresas que querem um serviço

muito especializado de conceção que o mercado habitual não consegue oferecer, que

implica conhecimentos de vanguarda e que os ateliers e gabinetes às vezes não têm

capacidade financeira para conseguir oferecer os conhecimentos, temos uma empresa na

área da joalharia, na área da cerâmica, empresas de construção, é bastante variado, a

faculdade de facto tem essa capacidade.

Quando estabelecem protocolos quais são os moldes, quais as contrapartidas?

Depende do tipo de contrato, pode haver investigação por contrato, tem um objetivo de

investigação aplicada e a empresa paga para aquilo ser desenvolvido e o orçamento cria-

se com os honorários dos professores e alunos envolvidos e alguma outra verba que seja

necessária para adquirir equipamentos específicos e a empresa paga as propinas ao aluno

para ele desenvolver a tese naquela área, é muito diversificado.

E mecenas na instituição?

Cá em Portugal a cultura de mecenato ainda é um bocado incipiente, mas existe, por

exemplo, a instituição bancária que falei de facto apoia e penso que é ao abrigo do regime

de mecenato porque dá uma quantia à faculdade para certo tipo de atividades não

especificadas mas não existe outro interesse económico a não ser a publicitação, a

divulgação do apoio e ter publicidade à conta disso, é um caso específico que cai mais na

área do mecenato do que propriamente na investigação por vontade mas ainda é pouco.

Talvez porque Portugal tenha passado por períodos difíceis, existe pouco a cultura do

mecenato, do dar às instituições públicas, que é uma coisa que nos EUA é muito

avançado, as pessoas dão muito, dão um edifício ou os fundos para a construção, cá isso

não acontece, pelo menos se existe é uma exceção. Agora criámos o gabinete dos ex-

alunos, dos alumni e lançamos uma campanha de angariação de livros para a biblioteca

com a meta de duplicar o acervo da biblioteca em quatro anos, é uma forma de mecenato,

a pessoa tem os livros em casa e não os lê, traz e doa à faculdade porque aqui servem os

alunos, tentar contribuir para alguma coisa, não estão fechados na gaveta, uma forma

simples de mecenato e fácil de contribuir. Depois temos outras e dado o padrão nacional

se calhar até não nos podemos s queixar muito, não é o que gostaríamos que fosse mas já

dá uma ajudinha.

Sobre a autonomia universitária qual a sua opinião?

Acho que é importante. Para já, ao nível dos conteúdos é inconcebível que não haja

autonomia, ou seja, isso começa de raiz, com a liberdade de pensar, a escola dá as aulas

como entender, a escola tem os seus próprios currículos conforme acha que devem ser.

Do ponto de vista dos conteúdos é absolutamente indispensável e tem que haver

autonomia para a escola poder tomar decisões, tem que ter responsabilidade, mais

autonomia implica mais responsabilização, o que não pode acontecer é as pessoas

quererem autonomia mas estarem sempre quando as coisas correm mal, a pedir ajuda,

pedir ajuda de vez em quando não há mal nenhum, agora quererem autonomia e estarem

sistematicamente a pedir ajuda não. Acho que deve existir e é crucial, do ponto de vista

científico e do ponto de vista financeiro também para que as pessoas tenham liberdade de

gerir os fundos e possam dotar a instituição de uma certa política.

Sente-se autónomo? Está estipulada legalmente mas sente que a tem efetivamente?

Não sei como hei-de responder a isso. Tenho alguma autonomia mas acho que a época

que estamos a viver cerceou alguma dessa autonomia, por exemplo, há coisas que tenho

que pedir autorização à reitoria para o fazer e se calhar a reitoria às vezes não está tão por

dentro dos assuntos da faculdade, apesar de comunicarmos e se mostrarem interessados

mas têm uma perceção diferente das coisas como é natural e portanto se calhar há coisas

que gostaria de ter feito e não pude fazer. Mas isso porque a reitoria também tem a própria

autonomia cerceada e isso é uma coisa que acaba por ter um impacto de cima para baixo,

não estou a apontar a pistola à reitoria, o que acho é que a reitoria já está limitada. A lei

do OE foi terrível e nesta faculdade teve um impacto enorme porque a faculdade ao longo

dos últimos anos investiu fortemente na formação dos docentes e por exemplo neste

momento temos 140 docentes, 115 dos quais doutorados e 1/3 dos quais com o

doutoramento fora de Portugal, temos um corpo docente altamente qualificado e por isso

mesmo se justifica ou se explica o elevado nível de produtividade científica que a

faculdade tem mas também significa aumentos salariais, os docentes que se estavam a

doutorar tinham o seu salário congelado e depois foram descongelados mas depois a lei

do OGE de 2013 disse que eramos obrigados a aumentar mas depois não podíamos

aumentar a massa salarial, rapidamente ficámos em incumprimento e a partir daí não

conseguimos fazer praticamente nada. Tem sido esta guerra, esperemos que 2014 seja um

bocadinho melhor mas não me parece.

O RJIES estabeleceu o CG e de certa forma abriu a universidade ao exterior. O que

acha desta entrada de membros externos na vida da universidade?

Acho ótimo, muito bom que é para as universidades não serem fechadas sobre si próprias

e sejam obrigadas a considerar o interesse da sociedade e estejam ao serviço da sociedade,

acho que é ótimo que aconteça, até devia acontecer mais. Agora acaba por não ser tanto

como se poderia pensar porque as pessoas externas acabam por ter um impacto reduzido

mas é um bom princípio, já foi um bom começo.

E de alguma forma pode evoluir no sentido de poderem ter alguma ingerência na

autonomia da universidade?

acho que não, estamos muito longe disso. Se algum dia pode vir a acontecer, pode como

tudo na vida, maior liberdade implica maiores riscos mas não acho que o risco de isso vir

a acontecer justifique que isso não aconteça, ou seja, que não se abra a universidade, acho

que se deve abrir mesmo e gerir esses riscos, também faz parte do desafio, acho que tem

mesmo que se abrir as universidades, o conhecimento é para ser partilhado e deve ser

dirigido, deve ser para promover o bem estar das pessoas e do mundo em geral e isso

consegue-se se não for muito egocêntrico, tem que ser uma coisa mais altruísta e isso é

preciso uma pessoa que venha de fora dar sugestões, não quer dizer que sejam todas

seguidas ou que estejam todas certas mas é sempre útil ser-se obrigado a discutir as ideias.

Considera que a missão da universidade se encontra bem definida?

A universidade tem várias missões, a de transmitir conhecimento, essa é clara, tem a

missão de aprofundar o conhecimento, esse também é claro e tem a missão de contribuir

para a sociedade de uma forma mais direta, não só para transmitir conhecimento e

aprofundá-lo mas também aplicá-lo, diria, transmitir, aprofundar e aplicar. No fundo já

está cá tudo mas não com o grau de desenvolvimento que gostaríamos, a aplicação do

conhecimento não é aquela que acho que deveria ser mas isso tem a ver com questões de

natureza cultural mas acho que se está a evoluir nesse sentido, está a transformar-se

porque isto não é só um processo português, é um processo do mundo em geral e estamos

a caminhar para isso, acho.

Quer acrescentar alguma coisa?

Uma das coisas que me preocupa é que o financiamento para as universidades baseia-se

em vários parâmetros, um dos quais o rácio professor aluno e que é péssimo para os cursos

de (nomes dos cursos), são os curso que temos aqui e isso é um dos motivos porque somos

tão mal financiados, não é a única mas é uma delas e acho que isso necessitava de ser

corrigido, ser um número mais favorável para a (IES), para os cursos de (nomes dos

cursos), não para a faculdade porque o nosso ensino é teórico prático e o ensino da (nomes

dos cursos) evoluiu muito, implica grandes investimentos em tecnologia, coisa que não

acontecia há uns anos atrás e isso não se consegue com aqueles rácios e se queremos um

ensino de vanguarda, esse rácio tem que ser alterado e ser aproximado do rácio das

engenharias, por exemplo, que estão bastante abaixo, é só isso.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Entrevista F2

Começava por lhe perguntar sobre a sua formação académica.

Sou médico, tirei o curso de medicina, chamava-se nessa altura curso de medicina em

1969, foi o ano em que terminei, depois fiz a especialidade de cirurgia vascular e a seguir

fui para o (estrangeiro) onde trabalhei durante três anos no Hospital (estrangeiro) que

depois foi integrado no (instituição estrangeira). Vim (do estrangeiro) em fins de 1978,

doutorei-me em cirurgia, com um atese sobre um tema de cirurgia vascular, doença

carotídea e a seguir segui a carreira hospitalar e a carreira académica de medicina, sou

hoje professor catedrático e diretor do serviço de cirurgia vascular.

A sua vida sempre esteve ligada tanto à academia como ao exercício da medicina?

Sim, nunca separei os dois componentes, foram indissociáveis da minha vida, a perspetiva

académica e científica e a hospitalar e clínica.

Qual o balanço que faz da experiência enquanto diretor?

Sou diretor desde 2005. Posso mencionar alguns factos, as dificuldades tidas foram

grandes, sobretudo num contexto em que nas instituições era patente que ia a começar a

haver uma crise, não havia recursos financeiros adequados, a contribuição pública para a

educação médica estava a ser reduzida de forma significativa, havia decisões muito

erráticas que pareceram menos próprias para servir os interesses do país, particularmente

toda uma polémica que forçou as escolas médicas a abrirem muito substancialmente os

numerus clausus, que estavam demasiado restritos mas não precisavam de ser abertos

com a amplitude com que foram e também uma outra política que fez surgir como

cogumelos escolas médicas quando o país não precisava de tantas faculdades de medicina.

Sabe-se hoje que há um rácio a que uma faculdade de medicina deve responder mais ou

menos a dois milhões de habitantes, portanto satisfará a procura e debitará para as

necessidades de uma população com esse número e portanto seria lógico as escolas

médicas em Portugal fossem em número de cinco para um pais de dez milhões de

habitantes e o que acontece é que neste momento temos oito ou nove, o que é

absolutamente ridículo, um disparate e que levou, a como os recursos são finitos, dividiu-

se o mesmo recurso, a mesma quantidade de dinheiro e de recursos por nove em vez de

se dividir e reforçar as escolas que já existiam que necessitam destas condições para o

desempenho da sua missão. Por outro lado, se havia escolas que se entendia não estarem

a cumprir a sua missão, fechavam-se e então eram substituídas por novas, agora não se

criavam numa rede paralelamente, uma proliferação que foi demasiado acelerada e que

não resolveu o problema, resolveu apenas, diminuiu a capacidade de resposta das escolas

médicas já existentes, criou outras, aumentou o número de médicos disponíveis,

desvalorizou a profissão e de facto não criou uma dinâmica que viesse ocupar o excesso

de médicos, o que começa a ser notório que existe no país. É difícil também porque por

outro lado, outra dificuldade que se encontrou foi da articulação das faculdades com as

estruturas clínicas que são indispensáveis ao ensino médico, hospital e centro de saúde.

Não existe essa situação, não existe em Portugal uma filosofia e uma política integrada,

existe uma dupla tutela, existe uma faculdade que depende do ministério da educação ou

do ministério do ensino superior, conforme se queira chamar e depois as estruturas onde

decorre o ensino médico, porque precisa de doentes para fazer esse ensino, dependem

exclusivamente do ministério da saúde. Esta dupla tutela foi uma situação muito

complexa que criou variadíssimos problemas à faculdade e no relacionamento faculdade

e hospital r que não criou nunca as condições para haver uma perspetiva comum, uma

política comum integrada, uma carreira comum. Um dos pontos mais difíceis quando

cheguei à direção da faculdade era a completa separação entre a faculdade e o hospital

que se recuperou., que se ultrapassou, melhorou, criou-se até uma estrutura de maneira a

que albergasse num chapéu comum e dotasse de instrumentos que permitissem a

convergência de políticas e de ação e que materializassem as três dimensões da nossa

atividade, que é o ensino por um lado, a investigação e a prestação de serviços clínicos,

medicina clínica através da criação do centro académico de medicina que envolveu a

faculdade, o HSM e o IMM. Isto era uma estrutura embrionária que tem como objetivo

pôr as instituições a colaborar, a cooperar, a definir políticas comuns e a potenciar

recursos, é difícil, não é essa a nossa tradição, fizeram os holandeses com grande sucesso

com, a criação dos centros académicos de medicina, academic medical center, no qual

nos inspirámos para lançar esta ideia que tem também alguns problemas mas funciona de

forma integrada, uma gestão comum, partilhada de recursos, que sendo administrados

conjuntamente podem ser muito melhor potencializados do que separadamente.

Ainda dá aulas?

Sim, daqui a pouco vou dar aulas. Faço investigação, vou publicando, apresento os meus

trabalhos, tenho atividade científica no país e fora do país, enfim, tenho tido algum

reconhecimento na integração em sociedades médicas da minha especialidade, sociedade

norte-americana, sociedade no reino unido, brasileira, etc. e, portanto, é uma vida um

bocado preenchida.

De alguma forma as funções que desempenhou até hoje, ajudaram a desempenhar

as funções que desempenha agora?

Acho que o diretor de uma faculdade, obviamente pode ser um gestor, porventura não

sou, não adquiri essas competências, tenho que depender de competências de terceiros

nessa área, não sei se é mais importante que o diretor de uma faculdade deva ser um gestor

ou se deva ter uma visão estratégica do que deve ser uma faculdade, do que deve ser a

sua inserção no meio, o seu desenvolvimento e ter a possibilidade de apontar um caminho,

um rumo e depois reunir-se sim das competências e dos meios indispensáveis à

concretização desse projeto, agora, não pode confinar a conceção de um projeto ou de

uma visão só com os recursos existentes, tem que ir além disso, tem que ir à procura, tem

que criar as condições para implementar essa visão, mas para isso tem de a ter. Preparação

de gestão não tenho, é um bocado nem nunca adquiri, acho que giro bem as minhas coisas

, a minha casa, família e eu próprio, mas de resto não tenho nenhum curso de gestão.

Acho que e importante, haver nas estruturas académicas essa competência, é

absolutamente crucial, agora que não tem que ser essa competência a dominar ou a dirigir

completamente uma instituição académica, também não tenho dúvidas.

A sua visão sobre o estado atual do ensino superior público português, futuro,

tendências, no âmbito destes cortes, o que lhe parece?

Acho quer o ensino público português apesar de tudo tem passado momentos muito

difíceis e tem sido afirmado no contexto do próprio país e até internacional, Portugal é

hoje reconhecido por ter também um ensino superior universitário e politécnico que tem

nível, que prepara bem as pessoas, os seus profissionais são reconhecidos e portanto,

nessa perspetiva creio que tem corrido relativamente bem. As universidades têm

constituído um centro de produção científica, cada vez maior, com mais produção

científica e a produção científica em Portugal ainda está hoje muito centrada nas

instituições universitárias. Em muitos países tem uma percentagem normalmente da

investigação que é feita nas universidades acaba por representar 30 a 40% da investigação

total, o resto são centros de investigação relativamente autónomos da universidade com

inserção na realidade do mundo económico fora da realidade académica e de realidades

públicas. A nossa estrutura produtiva, social e económica ainda está muito centralizada

em instituições públicas. As instituições privadas têm ainda muito pouca dimensão ainda

para se constituírem como centros de investigação de produção de conhecimento

autónomos, completamente separados das instituições públicas e o exemplo é muito

clássico, com a exceção porventura do Instituto Gulbenkian Ciência que nasceu à volta e

é financiado pela Fundação Gulbenkian, não há verdadeiramente grandes instituições de

investigação científica que não estejam ligadas à universidade. Posso estar a esquecer

alguma na área das engenharias agora há eventualmente centros de investigação, ouve-se

falar de tecnologias aplicadas e etc. que se têm desenvolvido à margem, ao lado das

universidades, independentes das universidades, tem acontecido recentemente mas

representará 5 a 10% do tecido produtivo em ciência porque a maioria em Portugal

continua a estar dentro das universidades. E das universidades, particularmente a

investigação biomédica que é a que terei obrigação de conhecer melhor, até nas

engenharias depende das instituições académicas públicas, as instituições privadas não

têm verdadeiramente dimensão científica e produção de conhecimento nestas áreas ou

então não existem. Portanto, o que precisamos mais uma vez em Portugal acho que é uma

visão em que é necessária alguma coragem política para a realizar é a necessidade de

racionalizar a oferta educativa e os recursos educativos do país quer em oferecendo

formações que possam ter uma aplicabilidade prática mais cedo e mais precoce e de facto

uma maior interseção com a atividade económica, mas ao mesmo tempo uma formação

que não deixe de lado a educação do espírito, ensinar as pessoas a penar, dotar as pessoas

das competências para raciocinar, para pensar, para relacionar, para criar, dominar o

conhecimento, de facto é fundamental, faz parte da educação superior e não apenas a

aprendizagem de uma profissão ou de um atécnica, para isso não é preciso uma

universidade. O que talvez tenhamos, e tive oportunidade de o dizer numa reunião da

reitoria há muitos anos, no princípio da gestão do prof. Nóvoa e que precedeu a

assembleia estatutária de eleição dos novos estatutos da universidade, ter dito que o país

precisa de menos e melhores universidades, porque se tivéssemos muitos recursos

financeiros poderíamos financiar todas as universidades, onde quiséssemos mas não

temos recursos e temos que utilizar de uma forma muito inteligente os recursos que temos.

Por isso temos que potenciar instituições que tenham dimensão, capacidade de se afirmar,

de produzir conhecimento, de se expandir, de criar formações elevadoras e que possam

ter um impacto na atividade económica e na atividade produtiva do país e na própria

sociedade e isso é um esforço que está por fazer, não quer dizer que neste momento se

tenham que fechar universidades, se calhar tem que se coordenar formações, têm que se

centralizar áreas de produção de conhecimento, centralizar recursos para determinadas

áreas de investigação. A dispersão tem sido fatal e isso pode comprometer o

desenvolvimento do sistema universitário português e por isso achei que a fusão destas

duas universidades, técnica e clássica foi extraordinária, um belíssimo exemplo, que

obviamente não se consuma no ato da fusão e da justaposição, agora ter um conjunto de

iniciativas que leve a universidade a adaptar-se, seguramente alguns departamentos terão

que ser fundidos com outros, desaparecer, criar maior massa crítica de investigadores,

docentes e aumentar a possibilidade de se ter maior capacidade humana e depois maiores

e melhores recursos para produzir investigação e conhecimento e isso tem um impacto

muito positivo e essencial na formação dos alunos porque os prepara melhor, um ensino

baseado na investigação é um ensino muito mais criativo que forma muito melhor, suscita

nos alunos a criatividade e portanto, prepara-os melhor para a vida contemporânea que é

uma vida que não se trata agora de reproduzir o que existe mas uma necessidade de

criatividade e inovação. Portanto, neste sentido acho que há que fazer uma reorganização

do ensino superior público português, isso tem que ser feito.

E o ensino privado, concorda com esta convivência privado/público?

A medicina não tem, curiosamente, nenhuma, há algumas instituições já com alguma

tradição no exercício da medicina privada, com décadas de funcionamento e é curioso

porque nunca suscitaram , nunca se organizaram à sua volta por exemplo, núcleos de

investigação nem núcleos de ensino autónomo. Começam agora a surgir com propostas

para poderem fazer formação pós graduada. Medicina está fora, pelo menos a formação

médica não existe em instituições privadas, não existe em Portugal nenhuma escola

médica privada. O ensino superior privado, tal qual nós o vemos e existe em Portugal,

acho que foi uma experiência errada, uma experiência que falhou porque com

pouquíssimas exceções que não vale a pena mencionar porque toda a gente sabe, com

essas exceções não suscitou instituições de mérito que se impusessem no panorama

nacional ou fossem referências nacionais ou internacionais. Infelizmente isso não

aconteceu. Montou-se, mais do que instituições académicas no verdadeiro sentido de

criação de conhecimento, de educação para o futuro, o que se constituiu foi uma rede de

produção de licenciados, muitas vezes que se esgota nela própria, na formação dos

licenciados, em projetos de educação continuada que não leva a parte nenhuma, leva

apenas a manter as pessoas ocupadas por um lado e dar a ilusão aos mais novos, que estão

a fazer qualquer coisa de produtivo para a sua formação mas depois não tem saída

nenhuma no mercado e a proliferação que houve de cursos que não têm nenhum impacto

na vida prática dos cidadãos, que não lhes dão nenhumas ferramentas que permitam

introduzir-se e atuar na sociedade de acordo com a formação que tiveram, é dramático

em Portugal e tem hoje imensas pessoas que estão a fazer tarefas que não têm nada a ver

com as formações que adquiriram e sito não está bem e que obriga a que tenhamos que

refletir sobre isso, acho que se construíram instituições privadas de ensino, felizmente

têm vindo a própria lei da vida, da adaptação e da evolução dos sistemas fez o seu

caminho, as suas regras e de modo que muitas dessas instituições têm sido ou fechadas

compulsivamente como todos nos lembramos ou se foram desvanecendo, esgotando, com

alunos sem formação, sem cursos, isto é, irão subsistiras melhores mas isso poderia ter

sido evitado se tivesse havido um planeamento mais rigoroso, maior seriedade na

atribuição das autorizações para a realização do ensino privado se se tivesse tido o

cuidado de ver com rigor se as instituições tinham realmente capacidade humana,

material, estrutural para fazer a formação a que se propunha.

Sobre o processo de Bolonha, foi aplicado em medicina, o que lhe parece em termos

de execução?

Completamente errado em medicina, fomos forçados a adotar o processo de Bolonha, que

vai contra tudo o que é hoje a visão moderna do ensino médico. Esta visão não é estanque,

não tem um ciclo preparatório e um ciclo clínico. O que se pretende hoje é que os dois

segmentos, se quiser, os dois componentes da formação médica que é o componente das

ciências fundamentais que permitem compreender o que são os fenómenos biológicos, a

saúde, o funcionamento do organismo saudável e a doença. E essa formação científica

inicial hoje tem que ser orientada para a compreensão dos problemas clínicos, a formação

de bioquímica que se pretende dar a um médico não é a de um bioquímico, é de alguém

que aprende as noções fundamentais de bioquímica para perceber os fenómenos

biológicos, para poder compreender os desvios que caracterizam a doença e o mesmo se

aplica a outras especialidades, a outras áreas das ciências fundamentais e aqui tem que

haver, desde o princípio uma orientação clínica ao ensino das ciências fundamentais para

a medicina. E portanto, não faz muito sentido, nunca fez para nós muito sentido que

houvesse um primeiro ciclo preparatório e depois um ciclo clínico, pelo contrário, a

rentabilização do tempo levaria a que houvesse uma maior integração entre estes dois

ciclos e porventura até poder-se reduzir a duração da formação que parta um médico é

muito prolongada, são seis anos de formação graduada mais a formação pós graduada,

mais outros seis anos por isso doze anos desde a entrada na faculdade até ter uma

habilitação profissional qualificada, é muito longo. De modo que isso não foi possível,

nós lutámos, todas as escolas médicas chamaram a atenção que não faria sentido aplicado

à medicina ter esta separação mas perdemos e fomos obrigados a fazer isso e obrigados

legalmente a emitir ao fim dos três anos um diploma em ciências básicas de medicina ou

estudos básicos de medicina, qualquer coisa, até tenho um bloqueio mental porque me

custa a aceitar isso mas tivemos que passar de licenciatura de ciências básicas ou estudos

básicos de medicina. O que era uma coisa completamente diferente se o acesso ao curso

de medicina fosse diferente, Bolonha poder-se-ia aplicar, poderia ter sido para criar um

acesso diferente ao curso de medicina do género que é por exemplo as pessoas, como é

nos EUA, tiram um bacharelato em basic sciences ou outras coisas, que lhes permitem

depois ter uma formação, que entram em medicina já com essa formação científica

adquirida e têm depois aí um curso de menor duração, onde voltam a recapitular algumas

das ciências fundamentais indispensáveis ao exercício da medicina mas já orientadas para

a solução dos problemas clínicos mas tendo as pessoas já essa formação científica e

chegam aos cursos de medicina numa idade um bocadinho mais avançada, em vez de

chegarem aos 17, 18 anos, chegam aos 20,22 anos e depois tiram um curso de medicina

que na generalidade dos EUA tem quatro anos de duração, precisamente porque o acesso

é diferente. Ora, poder-se-ia ter feito isso mas não se fez, o que se fez foi criar uma falsa

ilusão de que é possível ao fim de três anos, com este curso, com este tipo de licenciado

em ciências básicas de medicina, ter qualquer veleidade de aplicação prática desses

conhecimentos, não dentro da área da medicina, ainda medicina, podem ser bioquímicos,

outras formações, podem exercer outras profissões, agora não podem exercer nada da

profissão médica e isto pareceu-me um erro. Significa que para adquirir essas formações

não precisavam de entra numa faculdade de medicina, para tirar um curso por exemplo

de bioquímica ou biofísica ou histologia, biologia molecular não precisavam de estar três

anos numa faculdade de medicina. Portanto, o conceito de ter uma banda larga, que era o

conceito inicial de Bolonha e depois estreitando para a formação profissional, não se

aplicou bem em medicina. Agora poderia ter aplicar-se um mecanismo diferente de

seleção dos estudantes, entrar para cursos com formação mais curta, mais dedicados à

aprendizagem mais centrada ainda na medicina clínica mas com as pessoas tendo tido

uma formação científica prévia.

E a nível de métodos de ensino, maior autonomia do aluno, acha que foi bem

conseguido, cada área tem a sua especificidade, até que ponto a medicina pode dar

essa autonomia...

dá, precisa de o fazer, como é +obvio, o alunos hoje tem que fazer um esforço de auto

aprendizagem muito intenso e tem hoje tecnologias que lhe permitem fazer isso e

aprender e investigar e orientar a sua própria aprendizagem de forma ativa, empenhada e

individual, isso é possível em medicina, o que o doente tem que dar é o essencial,

despertar a curiosidade e o interesse dos estudantes e orientar o caminho e a procura que

possam seguir, isso é muito importante para estimular a atividade cientifica, o interesse e

a inquietação científica, fundamental para os médicos. Na aprendizagem clínica

propriamente dita terá que ser sempre uma aprendizagem tutorizada, nem pode fazer-se

de uma forma isolada e diferente porque estamos a lidar com seres humanos, se for

doente, não vai permitir que haja uma pessoa que não saiba o que está a fazer, a tratá-la

ou a ter qualquer interação profissional consigo, não vai permitir. o que fazemos aí

também é preparar os alunos, através da aprendizagem com simulação, com modelos,

manequins, técnicas de simulação para os preparar depois para o contacto com o doente,

mas há sempre uma fase indispensável de acompanhamento tutorizado mas as pessoas

não podem dispensar o trabalho individual de estudo, de aprendizagem, de raciocínio, de

organização mental, isso é um trabalho individual mas ao principio têm que ser

devidamente acompanhados.

E em termos de internacionalização dos diplomas e circulação dos estudantes, acha

que foi bem conseguido?

Acho bem que os profissionais circulem no espaço europeu, se pretendemos ser europeus

para algumas cisas que nos são benéficas e úteis, acho que também se cria a Europa

fazendo circular as pessoas, os bens e as pessoas, permitir às pessoas o exercer a sua

atividade, o que é preciso é ter uma cultura de qualidade onde é feita essa formação. Acho

que os governos têm feito um esforço muito meritório de dotar os seus países de estruturas

que permitem avaliar o ensino, avaliar, certificar e assegurar a qualidade do ensino que é

feito e isso vai permitir às pessoas circular e não tenho problema nenhum em aceitar

alguém com uma formação válida que venha de um país onde sei que a educação médica

é bem feita. É evidente que sendo uma interação profundamente humana, há aqui um

problema de comunicação que não pode ser desvalorizado, tem que se conhecer ou falar

a língua, tem que se ter a capacidade de comunicar com o cidadão do país onde está a

trabalhar, se um português vai para Inglaterra ou frança tem que saber falar a língua e

como médico tem que saber falara língua para poder falar com as pessoas, não vai esperar

que os doentes venham falar a língua do médico. Agora, da mesma maneira que se vem

alguém formado em medicina de outro país, temos o dever e a responsabilidade perante

os nossos cidadãos de certificar essa pessoa como competente para comunicar com as

pessoas porque um erro de comunicação em medicina é gravíssimo, pode ser fatal,

portanto, isso temos que fazer.

No seu entender, qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público.

É financiador, regulador e recentemente delegou a avaliação na A3ES. Considera

que estes papéis estão a ser bem cumpridos...

Acho que a burocratização é a pior coisa que pode haver, assim como a clientelização e

um estado muito dominador e vê-se por exemplo na saúde, onde o estado é

simultaneamente o financiador, o prestador e o regulador, as coisas poderiam funcionar

melhor. Estas funções de financiamento, de prestação de serviço e regulação, idealmente

devem estar separadas. o financiador para poder procurar junto dos prestadores o melhor,

the best value for money, qualidade e economia ou prestador para poder disputar o bem

económico que é o financiamento sem o qual não pode sobreviver e portanto induz a que

melhore a sua performance e que seja cada vez melhor porque com isso vai ter acesso ao

financiamento. E obviamente a regulação, não posso regular-me a mim próprio, tenho

que prestar contas perante terceiros, tem que haver uma estrutura que seja autónoma, que

possa regular, portanto, não depender do governo, ter uma estrutura pública. Para o ensino

público acho que é mais adeuqdo que essa seja uma estrutura pública com uma missão

claramente definida e com autonomia para o fazer. O problema está se

governamentalizamos em demasia ou partidarizamos em demasia essas instituições

porque é uma questão de independência, de reconhecimento da independência dessas

pessoas. Acho que o sistema em Portugal não funciona mal, acho que ao estado caberá

cada vez mais de facto a definição... ao estado compete sustentar uma rede pública de

ensino que não vejo que a nossa estrutura económica permita outra porque não temos a

dimensão de países como os EUA, mesmo nos EUA, importantes instituições de ensino

são públicas e outras são privadas mas é enorme, como o Brasil, também enorme, são

países com grandes recurso onde há dinheiro e meios que possam suportar IES privadas,

Portugal não tem esses recursos e portanto julgo que essa é ma missão pública

indeclinável, é uma missão do estado perante os cidadãos, não deve ser exclusiva, deve

permitir, onde haja condições e meios, desde que haja qualidade pode existir ensino

privado, desde que se assegura a qualidade. Acho que as coisas em Portugal necessitarão

eventualmente de algum ajustamento mas acho que o estado tem que assegurar essa

missão, não a pode escamotear em nome da equidade, do direito de todos daqueles que

podem aceder pela sua competência e a sua capacidade e não por limitações de natureza

financeira.

Em relação à equidade, há autores que consideram que a existência de propinas é

uma responsabilização do aluno perante o seu percurso, outros autores consideram

que a existência de propinas coloca em causa a equidade no acesso. Nestes dois polos,

onde se situa?

Não diria que me situo a meio do caminho mas digo uma coisa, é um bem público, se

fossemos um país com recursos ilimitados, porventura não seria preciso haver um esforço

individual. Mas não temos esses recursos e esse bem público tem que ser um bem cujo

exercício e concretização tem que ser o mais rigoroso e rentável possível, portanto tem

que haver aqui um compromisso do cidadão e um compromisso do estado. E esse

compromisso envolve várias dimensões, entre as quais a financeira e aquilo que entendo

que deve ser claro é que ninguém com qualidade e com capacidade deva ser excluído do

sistema de ensino por razões financeiras, isto é, o estado deve ter a capacidade de

selecionar os melhores e mais capazes e proporcionar os meios àqueles que não o têm

para o poderem fazer. Em relação aos outros que já pagam, que há uma certa iniquidade

talvez porque já pagam mais impostos, porque já contribuem socialmente, etc., mas essas

pessoas, aqueles que podem pagar, devem pagar e é possível hoje determinar onde estão

esses limites e de alguma forma a concessão de bolsas é um meio que os estados têm de

ajudar a promover a equidade no acesso ao ensino superior. Há depois outros sistemas

que estão a ser implementados nalguns países onde os serviços públicos têm uma enorme

tradição de equidade e procurarem ser instrumentos de coesão social, mas como é por

exemplo, em Inglaterra onde o estudante tem que financiar o seu ensino superior, uma

parte das propinas e muitas vezes é convidado a fazer um empréstimo em condições

especiais, através de uma estrutura pública com meios especiais mas que o obriga num

determinado período da sua vida a ter de compensar o estado do investimento que foi

feito. Acho que aqui é uma questão de sensibilidade e senso, sensibilidade de não

hipotecar o futuro das pessoas, de senso, não mercantilizar o bem que é a educação mas

ao mesmo tempo suscitar na parte do individuo um compromisso de levar e ser

profissional, é um estudante, não se lhe pede que feche os olhos à realidade e aos

problemas que o rodeiam, que participe na vida em sociedade, que seja um elemento ativo

na sociedade mas que cumpra a sua missão que é estudar, isso tem que o fazer.

Tem tido muitos casos de estudantes com dificuldades económicas ou que desistem

porque não podem pagar?

Temos um mecanismo de apoio, através das bolsas de estudo... creio que aqui não tem

havido esses problemas. Não sei se à entrada terá havido alunos que tenham desistido por

razões financeiras. Não creio que haja, se existe um ou outro caso poderá ser casos

pontuais e não casos com dimensão ou amplitude significativa. O ensino médico é muito

caro em qualquer parte do mundo, é o ensino mais caro, e como tal, as propinas aqui, o

esforço que se pede aos estudantes situa-se ao nível máximo da propina, o que é barato,

são mil e tal euros por ano, se decompuser isso em meses e dias, costumo dizer

porventura, também é legítimo que as pessoas se distraiam, mas se o ano tiver 365 dias e

se a propina for 1200 euros por ano, serão quatro euros por dia, é evidente que para quem

tem o ordenado mínimo, que provém de uma família com o ordenado mínimo, é

insustentável e portanto, nesse sentido, essa pessoa tem que ser ajudada e deve ser ajudada

mas de resto não há um esforço muito significativo. Claro que os livros são caros, embora

hoje haja muita disponibilidade de material formativo através da internet, de acesso muito

facilitado, os nossos alunos têm acesso facilitado às bibliotecas via informática, têm que

ter um computador, uma ferramenta, é óbvio que é uma despesa e tem uma despesa

associada, se vier de outra área geográfica tem também despesa de alojamento, estadia,

etc. É evidente que há todo um custo associado mas Portugal não tem recursos para

oferecer formação superior gratuita, não consegue, não consegue fazer na saúde. Repare

que na saúde comparticipamos, na educação terá que se assegurar que se escolhem os

mais capazes, os melhores, os mais empenhados, isso tem que suscitar esse

empenhamento às pessoas.

Tem algumas dificuldades financeiras, a instituição... depois destes cortes, quais

foram as áreas que mais sofreram?

Infelizmente na estrutura de custos das IES, a maior parte dos nossos recursos financeiros

são destinados a financiar os quadros de pessoal, sobra muito pouco para investigação e

desenvolvimento, sobra muito pouco para novas iniciativas. Procurou-se diminuir os

custos de produção como se faz em qualquer unidade, racionalizar os recursos, reduzir,

não houve despedimentos, houve redução de funcionários, à medida que foram saindo

não foram substituídos todos e no patamar definido pela UL, estamos aquém do número

possível de funcionários que temos porque conseguimos rentabilizar e organizar os

serviços administrativos utilizando as novas tecnologias de informação, acesso virtual à

secretaria, resolução de problemas via internet e via eletrónica permitiu de facto reduzir

os custos o impacto em termos de sobrecarga do OE nos quadros administrativos. Nos

quadros docentes procurámos também racionalizar obviamente, temos limitações na

contratação, procurámos aqui encontrar uma plataforma que em colaboração com o MS

e com os quadros hospitalares que são fundamentais para o ensino de medicina clinica,

hospitalares e dos centros de saúde, onde temos dois princípios, por um lado, para aquela

formação obrigatória dos dez meses de funcionamento do letivo anual, então pagamos a

formação indexada à sua duração, isto é, se o aluno vai fazer um estágio no hospital

durante seis semanas, a essa instituição pagamos as seis semanas e não pagamos 12

meses, essas seis semanas são pagas ao tutor dessa instituição mas é pago através

da instituição. Aqui, para o ensino curricular core, fundamental, temos o acordo com o

hospital na medida em que contratamos os quadros médicos do hospital necessários para

o ensino, eles, como continuam a prestar a sua atividade clínica no hospital a 100%,

associam um contrato a tempo parcial com a faculdade e isso permite-nos, com o

ordenado de um poder ter três, normalmente são a 30 ou 40%, consoante as áreas, isto

significa que podemos ter mais gente que está a combinar a atividade clínica hospitalar

com o ensino, o que é fundamental porque ensinam o que fazem e não ensinam

dissociados da realidade, tem essa enorme vantagem e tem este benefício para a

faculdade, o que nos permitiu ir acomodando o excessivo número de alunos que temos,

sem desequilibrar o quadro docente. Fizemos também protocolos de afiliação com outras

instituições de saúde, centros de saúde e hospitais à volta, onde aí pagamos a formação

indexada à sua duração, não contratamos as pessoas para o quadro da faculdade, mas de

alguma forma, compramos esses serviços e pagamos a essas pessoas o tempo que dedicam

ao ensino e abrimos as portas para que depois possam frequentar as nossas ações

formativas e possam, se optarem por isso, ter uma carreira de investigação e enveredarem

por aí e inclusivamente uma carreira académia. Mas portanto, jogámos nestas duas áreas

e tivemos que organizar e adaptarmo-nos a um período de carências financeiras muito

significativas. Acho que o que ainda teve mais impacto para nós foi a redução do

financiamento público que se estava a notar claramente mesmo antes de 2009, e mais uma

vez era claro porque não houve uma administração adequada destes recursos,

proliferaram demasiados recursos e portanto não se concentrarem meios para dotar estas

instituições do financiamento adequado que permitisse o seu desenvolvimento. É

evidente que temos limitações muito grandes na área da investigação e no

desenvolvimento, tenho muito pouco dinheiro que pode ser utilizado para comprar

tecnologia, equipamento, que é fundamental, melhorar, porque hoje a investigação é

profundamente tecnológica, precisamos de meios tecnológicos porque se não os tivermos,

a nossa investigação fica aquém do que podemos fazer, a interrogação da natureza hoje é

muito mais complexa do que era há 30 ou 40 anos e portanto tudo isso nos limita, é um

fator muito limitativo mas temos conseguido sobreviver, procurando assegurar alguma

qualidade e acho que o ensino aqui da faculdade tem alguma qualidade e tem sido

reconhecido por isso.

Referiu as prestações de serviços como entrada de receitas próprias, que outro tipo

de receitas próprias consegue angariar?

A faculdade não presta serviços clínicos, tem algumas áreas onde presta serviço de

diagnóstico que são uma forma de receita própria mas não é significativa porque a nossa

área de intervenção na sociedade é através do hospital e esse benefício que pode ser

suscitado aí, não se reflete na faculdade porque são budgets separados, orçamentos

separados, as responsabilidades são tutelas separadas. o que fazemos para angariar

receitas próprias são duas estratégias, uma, a formação avançada, ações de formação de

2º e 3º ciclos, mestrados e doutoramentos ou cursos de especialização, onde aí

procuramos obter algumas receitas, ao mesmo tempo, é fundamental porque cumprimos

uma missão que é desenvolver o ensino para além da pré graduação, também é amissão

das escolas, faculdades, na área da formação profissional, temos uma obrigação perante

isso também e providenciamos essa formação que tem alguma receita adicional e dá a

possibilidade aos nossos docentes de a realizarem e se realizarem e de participarem,

através do ensino, num processo social. O outro lado é através da investigação, através de

projetos de investigação que terá financiamento externo e que ajuda a rentabilizar os

laboratórios, as instituições de investigação, os custos de investigação, etc. a faculdade

seguiu uma política que foi iniciada logo no início dos anos 2000, tem vários núcleos de

investigação e os que têm sido melhor classificados internacionalmente, numa avaliação

externa com a classificação de excelente, reuniram-se e constituíram uma estrutura que,

estando de alguma forma ligada à faculdade, continuando ligada funcionalmente à

faculdade tem uma autonomia administrativa que foi a figura dos laboratórios associados

que foi introduzida pelo professor Mariano Gago quando foi ministro que no nosso caso

constitui o IMM, que nasceu da faculdade, dos grupos de investigação da faculdade que

se reuniram e depois criaram uma estrutura com algumas peculiaridades administrativas

de autonomia, que escapam aos constrangimentos das regras públicas de funcionamento,

com outra dinâmica muito pior que lhes permitiu de alguma forma sobreviver e angariar

fundos próprios e adquirir a sua própria autonomia funcional e a faculdade vê isso com

muito bons olhos porque é um instrumento muito importante e o IMM tem de alguma

forma centralizado uma parte relevante da investigação biomédica fundamental e clínica

da (IES), não toda a investigação mas uma parte relevante e uma parte muito importante

e a faculdade apoia todo este projeto, apoia institucionalmente, grande parte dos

investigadores do IMM são professores na faculdade e por outro lado também com os

meios financeiros, através do vencimento dos professores, do conjunto de despesas de

funcionamento e de estrutura onde funcionam os laboratórios, enfim, uma

comparticipação significativa, relevante. Mas de facto, isto foi um benefício, quer dizer,

esta estrutura tem uma autonomia que lhe permite um maior dinamismo que a estrutura

pública não permite à faculdade e isso cria uma dinâmica de renovação mais consentânea

com as necessidades científicas do que aquilo que a faculdade pode ter. Mas nesse sentido

uma parte da investigação é controlada através dos mecanismos próprios de concursos a

projetos científicos nacionais e internacionais, financiamentos externos, etc., encontrarem

os recursos indispensáveis para a sua concretização. Nós além disso fazemos também,

procuramos oferecer à sociedade, disponibilizar para a sociedade um conjunto de ações

formativas através de cursos de especialização, de atualização, de aperfeiçoamento,

programas de mestrado e programas doutorais que atraiam receitas.

Tem tido necessidade de fazer campanhas para angariar alunos?

As vagas estão sempre cheias, sempre. há uma procura muito significativa por parte dos

alunos de medicina e normalmente são sempre muito mais os candidatos do que as vagas.

Acho que o que está a falhar é a estratégia de seleção dos candidatos a medicina. Porque

temos escrito, não fui o único, muitos de mós escreveram e disseram ao longo dos últimos

dez, quinze anos que este não era o meio mais adequado de selecionar as pessoas porque

ser médico implica por um lado a capacidade de aprender, de conhecer, qualquer matéria

que se tem que aprender é muito vasta, grande, um médico teoricamente não pode ignorar

nada, se ignorar não diagnostica, não trata e isso pode ter uma consequência terrível sobre

a outra pessoa, tem que ter capacidade de aprender, estudar, de executar. Mas depois tem

que ter um conjunto de outras características sem as quais, estas qualidades não se aplicam

à ação sobre seres humanos, como sejam a disponibilidade, espírito de sacrifício,

capacidade de gerar empatia com a outra pessoa, de perceber as outras pessoas, todo esse

conjunto de outros atributos que passam ao lado do processo de seleção para a faculdade

tem sido um erro crasso. Como tem sido o afunilar do conhecimento, parece que as

pessoas para virem para medicina têm que saber só de biologia, de química, agora um

bocadinho de matemática e também de física, não chega, um médico precisa de cultura,

precisa de ter outros conhecimentos, precisa de saber falar bem a sua língua, tem que se

saber exprimir, tem que lidar com pessoas, tem que compreender as pessoas, exprimir-se

com clareza as suas ideias, portanto, tem que ter as ferramentas linguísticas para poder

pensar e exprimir as suas ideias de forma coerente, lúcida e compreensível, um médico

tem que ter cultura, tem que se perceber onde se situa no mundo porque a sua ação é com

seres humanos, o médico tem que saber lidar com as expetativas, anseios, medos das

pessoas e depois obviamente que um médico é um profissional, tem que viver e tem que

ganhar a sua vida mas tem que atuar com enorme rigor ético, todas as profissões têm mas

mais o médico que não deve utilizar para fins pessoais, o médico está ao serviço dos

outros e não os outros ao serviço dele. Havia todo um conjunto de coisas que era

importante fazer para melhorar o acesso, não estamos só a recrutar sábios, estamos a

recrutar pessoas com capacidade de aprender mas que saibam agir a comunidade com os

seres humanos e isso tem falhado, estamos muito aquém do que devia ser e o governo

recusa-se continuamente a mudar este sistema, é fácil, o outro, que passa entre outras

coisas pela introdução de uma entrevista, pelo contacto direto, é possível faze-lo com

rigor, estandardizado e comparável e reduzindo de forma significativa a variabilidade

individual, do entrevistador, estandardizar todo o procedimento, tudo isso era possível

fazer mas não quiseram.

A instituição tem alguns mecenas, patrocinadores?

Tem, de vez em quando tem, há pessoas que dão, instituições que dão, doentes às vezes

que dão donativos. mecenas de todo o sistema de ensino português foi a fundação

Calouste Gulbenkian, a (IES) deve muito à fundação Calouste Gulbenkian, como deve a

outras fundações também que contribuem e financiam projetos de investigação, fazem

doações financeiras que permitem adquirir equipamentos. Não há uma estrutura de

mecenato como existe por exemplo na Alemanha, na Inglaterra ou nos EUA, mas o país

também não tem essa economia nem, o dinamismo desses países, portanto, enfim, tudo à

dimensão portuguesa.

Dentro desses mecenas, exigem ou requerem alguma contrapartida quando dão?

Não, a fundação Gulbenkian nunca nos exigiu nada, apenas aquilo que nem é preciso

dizer que é um ato de reconhecimento das instituições, o mecenas não pede mas isso é

obrigatório, reconhecer o ato da doação, expressar reconhecimento pelo apoio que foi

feito, isso é um aspeto,. Outro aspeto, onde pode haver cooperação e financiamento

através da indústria, que nos condicione depois a atuar em função dos seus interesses,

compete ao médico individual e à instituição não ceder a essas pressões. Se a instituição

for maleável e se "se puser a jeito" para que possam fazer pressão sobre ela, tem que haver

um conjunto de regras e de princípios que se respeitam na autonomia das instituições, na

sua liberdade, na sua independência. Por exemplo, a indústria farmacêutica financia um

estudo, um financiamento que entra pela investigação isso vai viabilizar o contrato de um

investigador, de um docente, a indústria não condiciona, não pode condicionar esse

financiamento ao resultado favorável porque senão for favorável não podemos perder a

independência de afirmar, ninguém nos condiciona nesse sentido. Se alguém quiser

condicionar, compete-nos a nós não nos deixar influenciar dessa maneira. Óbvio que há

alguns conflitos de interesse, pode haver, mas por isso as instituições têm que ter as

estruturas que permitam monitorizar quebras nesses compromissos éticos que devem ser

inatacáveis.

Pode dar-me um exemplo desse conflito de interesses?

Posso citar-lhe alguns exemplos de investigação que depois foi falsificado para produzir

determinados resultados que não corresponderam à realidade, isso está descrito e pode

resultar de uma falta de rigor ético, de seriedade intelectual de quem faz essa investigação,

pode resultar de pressões financeiras para que sejam escamoteados alguns aspetos nos

resultados, houve publicações terríveis, recentes, casos dramáticos, coisas com

repercussão mundial e portanto isso pode acontecer, haver um conflito de interesses de

quem está na instituição, ao mesmo tempo é financiado por essa entidade que está a

promover esse estudo e pode sentir que está obrigado a um determinado comportamento

para poder produzir determinado resultado, isto está descrito e estão reconhecido na

sociedade, há por todo o lado, o que as instituições têm que ter é mecanismos de

identificação e de prevenção.

Sobre a autonomia do ensino superior, concorda com a que existe atualmente, sente

que tem autonomia, gostava de ter mais?

Temos autonomia pedagógica, de alguma forma temos que prestar contas como é óbvio,

não posso fazer aqui o que quiser no ensino mas tenho dentro das balizas os objetivos

foram previamente definidos e são aceites pelas instituições que governam a universidade

e reguladoras da universidade, tenho margem de manobra, tenho autonomia para poder

adaptar e introduzir modificações. Tenho autonomia para definir áreas de investigação

que sejam do interesse da instituição e procurar encontra os meios para concretizar essa

investigação, tenho autonomia para isso. Estou limitado no exercício da autonomia pelos

meios financeiros porque não tenho financiamento plurianual, não posso adequar a minha

despesa, não posso fazer um orçamento para dois ou três anos, os orçamentos da

universidade são anuais e isso limita profundamente a capacidade de autonomia. porque

o que é o exercício autónomo da governação por uma instituição é ter a capacidade de

escolher e fasear essas escolhas no tempo, adequá-las no tempo, não tenho horizonte

temporal para isso, normalmente o orçamento chega ao segundo ou terceiro mês... o

roçamento é anual e isso limita muito a autonomia e a capacidade de definir um plano de

ação mais autónomo. É óbvio que que devíamos de ter a capacidade de ter planos e

orçamentos plurianuais, poder administrar esses fundos de acordo com uma política que

fosse sancionada pelos órgãos dirigentes das instituições, ainda estamos muito dominados

pela necessidade do financiamento para o funcionamento normal, temos muito pouca

margem de manobra e isso limita a margem de manobra, mas se me pergunta

concetualmente, obviamente, as universidades têm que ter autonomia e o reforço da

autonomia universitária é absolutamente crucial e isso consegue-se por um lado evitando

a governamentalização e a partidarização das instituições que têm que ser independentes

e têm que permitir de facto livre jogo e troca de ideias absolutamente livre e jogo cívico

dentro da sua instituição, não pode haver limitações dessa natureza, mas têm que ter

capacidade para realizar a sua política e depois prestar contas, porque são instituições de

serviço público e ninguém está acima de poder prestar contas às instituições que devem

tutelar o funcionamento público das instituições do estado.

O RJIES introduziu uma nova forma de governança do ensino superior através da

introdução do CG. Já foi a alguma reunião do CG?

Não, não sou membro de nenhum CG, ser diretor não permite, a lei foi lançada quando já

era diretor, se me quisesse candidatar ao CG, não podia ser diretor da faculdade e entendi

que tinha aqui um objetivo que queria concretizar e portanto não fazia sentido estar a sair

daqui. Mas acho que é um desenvolvimento muito importante, é uma forma de

responsabilidade e de participação pública na gestão da universidade e de

responsabilidade pública da própria universidade, vejo nisso um grande desenvolvimento.

Particularmente no facto de os CG poderem ser constituídos por pessoas que se tornam

grandes apoiantes da universidade, grandes promotores do seu desenvolvimento, mais do

que reguladores, promotores do desenvolvimento, é assim que acontece nos grandes

conselhos de curadores das universidades de todos os países, são por sua vez agentes

importantes do desenvolvimento e do progresso dessa universidade.

Está a falar-me dos elementos externos, embora ainda estejam em minoria, de

alguma forma considera que, imaginemos que se estivessem em maioria poderiam

influenciar ou ingerir na autonomia da universidade?

Essa ingerência... não sei, porventura teria de haver aqui um equilíbrio porque obviamente

a universidade tem que ser gerida de acordo com objetivos claramente traçados, política

claramente traçada, tem que ter responsabilidade pública e de serviço público e

obviamente de acordo com as prioridades e objetivos definidos. Não vejo

necessariamente mal que para a definição desses mesmos objetivos pudesse haver uma

participação grande da sociedade, acho que isso é um benefício e não significa que fosse

a sociedade a governar a universidade, a universidade tem que ter o seu governo próprio,

deve ser por professores ou pode ser por pessoas de fora do ambiente universitário? acho

que pode ser, por exemplo, Oxford foi buscar o seu dean, o seu reitor ao Canadá, alguém

competente, capaz, com uma visão, para dinamizar e cujo programa foi aceite pela

comunidade universitária, o que tem que haver aqui é de facto uma aceitação pela

comunidade universitária adequadamente representada através dos CG ou de outra

estrutura, não implica necessariamente que a universidade tenha que ser governada por

alguém de dentro, a política tem é que ser aceite pela comunidade universitária, tem que

ter a capacidade de mobilizar a comunidade universitária. Não vejo perigo nisso, é

evidente que se a comunidade universitária for fraca e se deixar governar pelo exterior e

não tiver opinião... as instituições podem ser prisioneiras de aventureiros, isso podem.

Considera que atualmente a missão da universidade se encontra bem definida?

Acho que a UL tem hoje os meios e a capacidade de intervenção extraordinária, há uma

visão clara do que deve ser o papel da universidade, de ser aberta à cultura, à sociedade,

de criar conhecimento, há uma preocupação enorme para que a universidade seja uma

universidade baseada no conhecimento e na produção de conhecimento e isso é muito

importante e seja ao mesmo tempo capaz de criar e educar pessoas para atuar e intervir

na sociedade através das profissões, portanto, nesse sentido, tenho muita esperança na

UL, estou convicto que vai ser um grande benefício para o país e que vai ajudar a

promover a imagem do país e a credibilidade científica das instituições portuguesas.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Não.

Muito obrigada pela sua colaboração.

Entrevista F3

Começamos por falar um pouco de si, a sua formaçao académica.

Sou professor catedrático de estudos clássicos, catedrático de latim, filologia latina.

Em termos profissionais, antes de chegar aqui?

Não tinha uma grande experiência de trabalho até entrar como assistente estagiário na

(universidade pública), durante o curso tinha dado aulas no ensino secundário, na altura

chamava-se ensino preparatório, tinha esta experiência prévia mas muito pouco.

Licenciei-me e na altura a lei permitia-o e incentivavam e portanto, pouco depois da

minha licenciatura entrei como assistente estagiário na (faculdade pública). Houve apenas

uma experiência, entre o final da minha licenciatura e a minha entrada na faculdade como

docente no Instituto de Linguística Computacional que funciona em (localidade). na

altura fui trabalhar, havia um projeto europeu, fui trabalhar para esse projeto e depois

entretanto abriu a oportunidade de concorrer a um concurso aqui na faculdade concorri e

fiquei com o lugar.

E há quanto tempo há diretor?

isso é um bocado peculiar. tenh sido subdiretor da faculdade nos últimos quatro anos e

meio, acontece que em julho, com a tomada de posse do novo reitor, o atual diretor da

(IES) passou a primeiro vice reitor da universidade e portanto, eu, como subdiretor de

categoria mais elevada, de acordo com os estatutos é assim que se procede assumi as

funções, fui nomeado pelo diretor da (IES) no final de julho até ao ato eleitoral, à tomada

de posse do novo diretor. Aliás o ato eleitoral está a decorrer agora, hoje e amanhã,

portanto sou diretor apenas há dois meses e meio.

Como tem sido a sua experiência de subdiretor e agora diretor?

É preciso contextualizar um pouco esta experiência, já tinha tido outras experiências de

direção da faculdade, no passado, há muitos anos. Com a publicação, há uns anos atrás

do RJIES e com a adaptação de todas as IES a esse normativo, a (universidade) passou

por um processo de rescrita dos seus estatutos e a faculdade também. Os estautos que

vigoraram nos últimos anos tiveram uma experiência de quatro, cinco anos e esses

estatutos reformataram a faculdade nos moldes que na altura não havia e portanto houve

uma grande alteração na forma de funcionamento da faculdade na sua estrutura e nos seus

grupos. Criaram-se outro tipo de unidades, agrupamentos de unidades, ou seja a faculdade

passou a ter áreas e está organizada neste momento em quatro áreas e dentro de cada área

estão os departamentos, os centros de investigação, estão os programas e portanto,

criaram-se um conjunto de unidades e reformatou-se muito. a nível de procedimentos

também, procurámos transportar para aqui uma gestão universitária moderna,

responsabilizada e responsabilizável de grande profissionalismo. e, por isso, esses quatro

anos como subdiretor eu tinha o pelouro justamente desta parte, dos recursos humanos e

digamos a gestão da casa, a gestão financeira também. Foram quatro anos muito difícies

mas acho que foram muito compensadores e a faculdade não tem qualquer comparação

com o que era há quatro anos atrás, é outra realidade, falamos outra língua. Foi por um

lado, um desafio muito estimulante, por outro um desafio muito difícil porque uma casa

destas dimensões, com a sua diversidade imensa, são dezenas e dezenas de diferentes

licenciaturas, mestrados, doutoramentos, uma atomização de departamentos, de centros e

outro tipo de unidades. Claro ue, tentar impôr de raiz novas práticas e contra práticas...

foi uma experiência estimulante porque foi difícil dar vida aos novos estatutos que

reformataram completamente a faculdade e seu funcionamento e foi preciso criar

regulamentos, metodologias de decisão, foi preciso criar linhas de procedimento e isso

claro que foi muitotrabalhoso. A única coisa que posso dizer é que o que consola do

cansaço é que acho que a faculdade está muito melhor, muito mais profissional, muito

mais organizada, mais transparente nas suas decisões e no seu funcionamento. A

experiência como diretor de dois meses e meio que levo, devo dizer que também é atípico,

vivemos sempre num período atípico porque isto coincide com a fusão da UL com a UTL,

o que significa que voltou tudo à estaca zero. É preciso refazer um diálogo com a nova

reitoria que não nos conhecia, é preciso criar regulamentos, é preciso criar novos métodos,

é preciso adaptar muito do que tínhamos na faculdade às novas exigências, às novas

perspetivas da (universidade) e portanto estas levam-nos a repensar a estrutura da

faculdade. Até agora estes meses foram sobretudo a responder a solicitações da reitoria

de pedidos de informação, muitos deles de grande complexidade, a que não estávamos

habituados. finalmente, estamos num período eleitoral aguardo e na parte final desta

transição, naturalmente tentei cingir-me àquilo que é a obrigação, isto é, ao despacho

diário e não a tomar grandes decisões porque há eleições e não sabemos quem será o novo

diretor, para não comprometer nenhum diretor seja com o que for e portanto também foi

um mandato um bocadinho atípico nesse aspeto, refazer tudo e uma prática apenas de

gestão e não tomar decisões que viessem a comprometer o futuro.

De alguma forma, o seu percurso académico/profissional auxiliou no desempenho

das tarefas durante esse período?

Penso que sim, talvez em dois aspetos, os estudos clássicos fazem-nos conhecer o homem

muito bem, o homem de todos os tempos, nada mudou e realmente tantos anos a ler os

clássicos, fizeram-me conhecer o ser humano e as suas fraquezas e debilidades, as suas

glórias e grandezas.Por outro lado, sou da área de filologia latina e creio que realmente

muitos anos de estudo sobre manuscritos, colações e stemata e latim, faz com que se crie

um grande espírito de rigor. Dantes dizia-se, mal a meu ver, que o latim era a matemática

das letras, o que não é verdade mas é um pouco, isto é, são disciplinas da parte das

humanidades que exigem um rigor matemático e científico e talvez esse rigor na análise

e interpretção de um texto em latim me tenha feito dpois não ter grande dificuldade em

ver a necessidade do rigor na gestão do dia a dia das pessoas, das instituições, dinheiros,

orçamentos.

Sobre o ensino superior público português, qual a sua opinião, evolução, tendências,

estado atual...

Acho que se fez um grande esforço para melhorar o ensino superior, por natureza nunca

sou pessimista nem bota abaixo, tento sempre ver as coisas positivas. Acho que nos

últimos anos se asssitiu a uma grande melhoria ou pelo menos a dotar o ensino superior

desses instrumentos. O RJIES é uma boa lei, as afinações que foram feitas no ECDU,

estatuto da carreira docente universitária tem muitas coisas positivas, coisas que

ventualmente há muitos anos atrás não pensava serem boas, agora penso que são boas, a

acreditação dos cursos com uma agência, a A3ES veio também trazer rigor. Por outro

lado, foi também uma coisa feita nos últimos anos, esta ligação da parte da investigação

à parte do ensino, que acho extremamente positivo, não posso dizer melhor, toda a

organização que foi feita com o decreto lei referente às instituições de investigação que

nos rege, incentivando a inter relação e colaboração entre investigação e docência, entre

o acolhimento de alunos de doutoramento e pós doutoramento, tudo isso contribuiu

imenso, em todos os planops, ou seja, desde o RJIES que regula, a ECDU, a acreditação

dos cursos, a organização do sistema científico nacional nas formas como a FCT o fez,

acho tudo bem. Se tenho críticas, algumas, mas são cíticas que não sei como se podem

evitar. Uma é, naturalmente, o financiamento não é o que desejávamos mas temos que

compreender que o país também não é o que desejaríamos pelo menos na parte financeira.

Outra é, muitas vezes as leis são boas, as políticas são corretas mas depois os executantes

são menos brilhantes e causam injustiças e decisões incompreensíveis e estou a falar da

parte da ciência porque nem sempre estou de acordo com os resultados que saem cá para

fora. Acho que os regulamentos estão bem feitos, acho que os critérios de avaliação estáo

bem estabelecidos. A execução às vezes, senão for por investigadores de grande craveira

intenracional, de grande craveira pessoal, quer dizer, podemos ter a lei mas bonita do

mundo que depois o resultado da aplcação dessa lei não é grande coisa. Mas ressalvava

sobretudo o lado positivo de tudo o que se fez nos últimos anos que acho que foi

extraordinariamente positivo, comparo com os tempos antigos e a diferença é abissal.

Mesmo a parte de investigação, aliás, a (IES) nesse aspeto dá provas disso porque a

faculdade sempre teve centros de investigação que eram "exteriores" à faculdade, eram

geridos administrativamente pela (fundação IES) e a partir de janeiro de 2010, esses

centros foram integrados no perímetro da faculdade, passaram a ser geridos como

instituição de acolhimento pela (IES) e isso trouxe uma mais valia imensa à (IES), trouxe

imensos novos investigadores e investigadores estrangeiros que passaram a poder

participar nos nossos cursos, a darem seminários e conferências e isso enriqueceu-nos

imenso. E isso no fundo vem, por um lado, a decisão do antigo reitor da (universidade),

mas pronto vem também neste espírito da integração da investigação com a docência e

todos estes mecanismos que existem que nos regulam e que têm melhorado.

A sua opinião sobre a fusão?

Penso que é cedo para fazer um balanço, a (IES) é uma grande instituição, uma das

grandes instituições da universidade e por outro lado era uma instituição que não tinha

problema s com a fusão, à partida, porque a (IES) é uma escola de humanidades, a

(universidade) não tinha uma escola de humanidades e portanto aqui não havia...havia

algumas matérias que se poderiam cruzar, eventualmente, muito superficialmente

tocarem-se, mas não tinha digamos, obstáculo do outro lado, portanto, da nossa parte

assumidamente estivemos com a fusão desde o primeiro minuto e esteve, digamos, no

núcleo duro da reflexão sobre a fusão e correu muito bem. A fusão ainda não está

finalizada porque falta muita coisa, agora temos que passar para a prática, não sei que

surpresas podem acontecer. Por agora, a opinião que tenho pelo tratamento que tenho tido

pela reitoria e com as outras instituições com quem tenho dialogado tem sido sempre

positiva, acho que uma fusão destas poderia demorar anos até sentirmos que está

realmente uma só universidade mas pelos dois meses e pouco que leva, não tenho críticas

a fazer, pelo contrário. O reitor, do trato que tenho tido com ele, tem revelado atenção à

(IES) portanto não creio que nos possamos queixar de nada, creio que tem tentado estar

atento a todas as UO e merece nota positiva e os vice reitores também, muitos deles da

ex UTL também me parecem pessoas... para já de um profissionalismo imenso e de uma

competência extrema, não tenho nada de negativo a apomtar, só positivo, bom trato e boa

relação com eles.

Processo de Bolonha, a implementação, como foi aqui, a sua opinião?

Não tinha responsabilidades na altura quando foi a questão do processo de Bolonha, creio,

não me lembro bem ou pelo menos não tinha responsabilidade sobre o Processo de

Bolonha, não sei. Assisti a esse processo, o processo de Bolonha foi realizado no formato

antigo de universidade ou de ensino superior em Portugal, é anterior ao RJIES, que veio

agitar as águas e portanto foi lidado como antigamente se lidavam com todas as

reestruturações, no fundo, o que as pessoas interiorizaram, o que era o processo de

Bolonha? Passava de quatro para três anos e depois nós adaptávamos as cadeiras, no

fundo era isto. E adaptava frequentemente segundo lógicas, não de conteúdos reais mas

de necessidades de distribuição de serviço, para dizer a coisa com toda a sinceridade, ou

seja, havia uma lógica, em certos aspetos, paroquial, posso dizer assumidamente, de

defesa de grupos ou de departamentos ou de perspetivas que sobrelevava sobre aspetos

do foro estritamente curricular e portanto a reforma de Bolonha veio cedo demais, a meu

ver, para a (IES), calculo que para o ensino superior que conheço, o que foi feito nas

outras (IES), em Coimbra e no Porto e não foi muito diferente do que fizemos. Mesmo

sem haver uma combinação entre as (IES), o modelo acabou mais ou menos na mesma,

é igual em todo o lado, se fosse hoje seria diferente, tenho a certeza absoluta porque as

decisões são tomadas de uma outra forma e seria muito diferente hoje o processo de

Bolonha. Se foi bom ou mau, não faço ideia, é claro que o mais importante, penso eu, não

sendo especialista em Bolonha, o mais importante seria uma mudança de mentalidade na

forma de estudar e ensinar, não creio que isso tenha acontecido, o que aconteceu foi que

antes tinhamos uma licenciatura de quatro anos e agora temos de três. Pronto, com um

apêndice, que vamos dizer que é o mestrado e que tem um ano curricular, agora fará

quatro anos, mas nesse caso não falta muito porque no meu tempo o mestrado eram

tambem quatro anos, com dois de aulas e portanto ainda nos falta um bocado. O mais

importante era mudar a mentalidade dos professores, porque os alunos entram e adaptam-

se à realidade que lhes propuserem e infelizmente, mudar um corpo docente, basicamente

envelhecido com hábitos muito antigos, muito arreigados, não é fácil e portanto se vejo

algum falhanço no processo de Bolonha, foi na mudança de mentalidade, o que era

ensinar e o que se esperava. Por outro lado, também havia um receio e eu percebo, as

pessoas estavam habituadas a conceber o ensino de uma certa maneira, agora era outra e

houve também muito medo das pessoas que isso viesse, não sei, diminuir a capacida,

diminuir a qualidade, no fundo é isto, diminuir a qualidade. Tiveram medo disso, uma

autonomia excessiva aos alunos teria como consequência que eles sairiam de cá sem saber

nada, uma coisa deste estilo, não sei se é verdade. Há colegas respeitáveis que entendem

que devem haver muitas aulas e dantes uma cadeira anual que começava em outubro e

acabava em agosto praticamente, era o ideal. Por exemplo, não estou nada de acordo com

esta perspetiva, estou sempre a dizê-lo e sou muito criticado até por órgãos da faculdade

quando digo mas digo a título pessoal não como diretor naturalmente, para mim as aulas

são poucas e boas e quanto melhores forem e menos forem, melhor porque liberta mais o

aluno para o estudo e orienta melhor o aluno porque uma aula não deve ser uma

reprodução do que está no capítulo de um livro, para isso o aluno lê o capítulo diretamente

e não precisa dessa intermediação, mas podíamos estar a discutir aqui muito sobre ensino

e as minhas ideias mais ou menos bizarras sobre ensino. Agora, acho que Bolonha, de

certa maneira acho que falhou, não sei., no sentido em que o que se exigia era uma

mudança no espírito do ensinar e isso não foi totalmente conseguido. Há franjas em que

foi conseguido, há colegas que fazem bem, há cursos de grande sucesso, há caddeiras em

que realmente, os alunos passaram a ter uma forma de estudar muito mais ativa do que

tinham, do que aquela passividade de estarem sentados na aula a ouvir debitar o professor

mas às vezes também é difiícil e por isso acho que o espírito de Bolonha falhou, não

critico os professores por causa disso, há casos e casos, há uns que são criticáveis, outros

não porque tem muito a ver com as condições. Dou um exemplo, a (IES) tem alguns

cursos que são oficialmente cursos noturnos, certas matérias são consideradas propícias

para cursos noturnos, estudos clássicos ou filosofia ou certos mestrados, mas é uma

designação, tem a ver com fórmulas e outras coisas, na prática, as aulas sã durante o dia

não é bem isso, há aqui uma certa designação, por exemplo, há um mestrado que dirijo e

há muitos anos que o faço, que é o mestrado em ciências fundamentais, de grande sucesso,

é pós laboral porque os alunos são bibliotecários, arquivistas, técnicos, etc. E portanto as

aulas são das seis às dez da noite. Se um professor se confronta com uma cadeira num

contexto com estudantes destes, verdadeiramente trabalhadores e estudantes, é claro que

tende para um tipo de aulas mais expositivas em detrimento de um tipo de esnino mais

ativo por parte dos alunos, é por isso que muitas vezes se ouvia críticas ao processo de

Bolonha, exatamente por causa disso porque se dizia isto está feito e infelizmente as

associações de estudantes na altura nunca souberam utilizar o argumento que deveriam

ter utilizado que é isto está feito para os alunos perfeitos, para os alunos com 18 anos,

com a disponibilidade total, o aluno ideal, há faculdades em que isso é possível como

medicina e outras mas há faculdades em que a massa estudantil é muito diversa.

Naturalmente, o grosso é esse que estou a dizer mas também há público mais velhos,

públicos que fazem isto como segunda licenciatura, públicos que fazem isto sendo já

profissionais de uma matéria e desejando fazer outra coisa ou fazendo a mesma, acabo de

dar o exemplo de um mestrado altamente profissionalizado como é o caso das ciências

fundamentais, há situações e situações, por isso digo, não sei se medá vontade falar sobre

Bolonha. Há muitas situações diferentes, podia ter acontecido uma coisa diferente, podia

ter-se criado um novo espírito pelo menos para as franjas dos tais alunos, o grosso e não

os alunos trabalhadores estudantes, mas não sei se isso se conseguiu, colegas meus

conseguem, sei, falo com eles e sei que fazem um trabalho esplêndido a nível de Bolonha.

Por outro lado, conheço um pouco o ensino lá fora, sobretudo Espanha e Itália e não sei

se é muito diferente o Bolonha deles do que como a gente o interpreta a todos os níveis,

por exemplo, só uma consequência, o financiamento das universidades é feito por cabeça

de aluno em cada momento, se um curso tem quatro anos tem 100, se um curso tem três

anos tem 75 mas os professores são os mesmos, os encargos são exatamente os mesmos,

a luz é a mesma, a água é a mesma, portanto, há aqui problemas de financiamento. Por

outro lado, um Bolonha a sério não pode ser como é a grande frequência nesta casa, com

turmas de 60 alunos, 60 alunos é ridículo, como é que o docente depois controla, no bom

sentido, o estudo autónomo que os alunos possam fazer na biblioteca? Não controla nada.

Portanto, a tendência é fazer aulas mais expostivas, manda os alunos fazer os trabalhos,

tenta ver os trabalhos com grande... se os trabalhos são frequentes, tenta ver os trabalhos

mas não pode perder um tempo imenso com cada um a aconselhar. Há colegas meus que

o fazem, perdem a vida nisso. Mas cria dificuldades, temos aqui turmas com 200 alunos

e claro, um Bolonha vem feito era ter turmas pequeninas e por isso os meus colegas

conseguem fazer. Quando a turma passa os 30, ah eu faço muito bem Bolonha, eles

trabalham muito e não sei quê, eu hesito muito porque como é que eles sabem que os

alunos estão a aprender e... não sei. Acontece que como o financiamento é por cabeça de

aluno, se temos poucos alunos temos muito pouca capacidade, a vantagem da faculdade

é ter muitos alunos e quanto mais alunos encaixarmos numa sala com o mesmo professor

melhor é porque se rentabiliza aquele professor. Por outro lado, há um terceiro aspeto, já

agora, que tem a ver com isto, que é um famigerado cálculo, não sei se ainda se faz mas

aqui na reitoria às vezes ainda se fazia. Falo no passado, se bem que não sei se temos no

presente mas falo no passado que era a questão dos rácios. Os rácios era um método de

cálculo, aliás cheguei a falar com a pessoa que inventou isso no ministério mas não o

consegui convencer nem ele a mim, sou frontalmente cético em relação a esses rácios. No

caso da (IES), o rácio normal é de 1 para 20, o que significa que numa situação

equilibrada, uma vez que os nossos cursos têm cinco cadeiras por semestre, um professor

tem cem alunos e uma vez que o professor tem duas matérias, tem que ter 50 alunos em

cada sala. Mas, se o colega ao lado que dá literatura alemã e só tem 20 alunos e tem que

se dar mas significa que 30 destes alunos de uma das suas turmas tem que transitar para

o primeiro e portanto o primeiro tem que ter 80/50. Se o segundo dá literatura alemã e

estudos camonianos, com 15 alunos e nao podemos admitir que a (universidade), a maior

do país, das melhores e mais importantes da península ibérica e da europa que não estude

camões, era uma coisa qualquer mas não uma (IES), não se chamaria assim. Significa que

os 40 que transitam... por aí fora. Se sou diretor e não dou aulas, algum colega tem que

ficar com os meus 100 alunos e por aí fora, ou seja, a média 1/20 é inexequível em

qualquer parte do mundo, é impossível, era preciso um mundo perfeito que não existe,

que seria toda a gente ter 50 alunos em cada uma das suas turmas, sabendo que há matérias

como grego clássico que não pode ter 50 alunos ou como lírica portuguesa ou uma cadeira

específica de lógica em filosofia, cadeiras que têm que existir pois não se imagina a (IES)

sem um departamento de filosofia, impossível, filosofia faz parte das humanidades, ou

não se estudasse Platão e Aristóteles, não seria um departamento de filosofia, porque em

filosofia tem que se estudar Platão tal como na literatura grega tem que se estudar Homero

porque há constantes. Não são matérias das multidões e não podem ser matérias das

multidões e portanto, aplicar uma grelha de 1/20 à faculdade em geral é algo que nunca

será cumprido porque é impossível. E isso significa que temos cronicamente o que

chamamos de professores a mais e portanto financiamento a menos porque como o

financiamento é em função da primeira condicionante e não da segunda, significa que

temos permanentemente um défice à partida pela forma de cálculo, se é que é assim feito

ainda, não tenho bem a certeza do presente, o passado era assim.

A sua opinião sobre o ensino privado.

Não tenho uma opinião fundamentada. O ensino privado causa-me uma certa

perturbação... à partida não vejo porque não há-de existir, se há pessoas dispostas a dar

ensino privado e se há alunos dispostos a pagar essas propinas de ensino privado, não

tenho nenhuma objeção, não tenho nada contra. Agora, o ensino privado levanta-me duas

ou três perplexidades. A primeira é que o ensino privado contribui muito pouco e em

certas áreas, nada, para o avanço do saber, são escolas que concedem graus mas que não

estudam porque não têm estruturas de investigação creditadas, credíveis, produtivas, são

universidades que de forma geral se refugiam nos cursos que chamamos de papel e lápis

porque naturalmente seria impossível ter uma universidade privada com matérias que

exigem avultados financimantos e porque naturalmente a parte que eles podem prescindir

é a parte da investigação e portanto são universidades que concedem graus, acreditadas

na A3ES mas que não contribuem em muitos casos, nalguns sim, não contribuem para o

avanço do saber. Acho, por acaso, que essa é a missão da universidade, ensinar e estudar

e estudar significa criar saber novo, é isso que nos distingue. Na escola secundária é

suposto os professores ensinarem conteúdos aos alunos e os alunos aprenderem esses

conteúdos, numa universidade, é suposto os professores ensinarem conteúdos aos alunos

e criarem saber novo, é isso que nos distingue de um professor do secundário, temos que

estudar também, como os alunos, temos de publicar, de nos envolver em projetos

internacionais, naturalmente, a única bitola que existe no mundo, é o mundo, temos que

ser especialistas, o melhor possível que possamos ser. As privadas não têm bem esta

filosofia porque são mais instituições de ensino que concedem diplomas. A universidade

pública tem outra missão, bem mais onerosa. A segunda perplexidade que me causa é

que, frequentemente, as privadas não são privadas, não sei se são todas privadas e é uma

das causas mais vivas que tenho. Uma universidade significa ter um corpo docente

profissional, frequentemente nas privadas o corpo profissional é mínimo e é todo um

corpo de segundo emprego, mesmo nas privadas mais respeitadas é assim que se passa,

ou seja, eles têm umas matérias para lecionar no seu curso, não contratam um professor,

não têm que suportar as contribuições pesadíssimas que nós temos que pagar, não têm

que pagar férias e todos os elementos que temos que pagar, não têm que conceder licenças

para doutoramento nem sabáticas nem nada, são professores do público que fazem meia

dúzia de horas, arredondam o seu ordenado, a recibo verde ou protocolo ou uma coisa

parecida, formas de pagamento mais diversas, acho escandaloso e acho que isto devia um

dia acabar, ou seja, se uma universidade quer sê-lo tem que ter corpo docente, o seu corpo

docente e devia acabar esta promiscuidade imensa que existe entre público e privado, não

que se deva proibir os professores do público de dar aulas no privado, não é isso, entendo

que deve haver uma separação clara e deve haver um estímulo à criação de emprego nas

universidades privadas porque acontece o absurdo, há um exemplo que não vou nomear,

muito recente, há uma privada muito respeitada e respeit+avel neste país que tem um

conjunto de matérias e contrata à (IES) dois professores dessas matérias, que lá vão dar 4

horas de aulas, arredondam o ordenado com isso e simultaneamente temos alunos

doutorados, pós docs em caixas de supermercado, isto é completamente absurdo e critico

os meus colegas também porque no fundo estamos a pagar e o país está a pagar uma

formação altamente especializada, muita desta gente, significa estadia nos melhores sítios

do país e do estrangeiro pagos com o dinheiro dos contribuintes, fazem os seus

doutoramentos brilhantemente, continuam sem emprego, passam geralmente a bolsas pós

doc com grande qualidade, grandes trabalhos, grande projeção internacional e depois vão

para a rua porque os seus próprios professores preferem arredondar o ordenado e

naturalmente a instituição privada prefere pagar umas centenas de euros à pessoa do que

abrir um lugar para estes jovens, alguns não são assim tão jovens, poderem concorrer,

poderem ter um emprego, uma casa, uma família, uma carreira universitária, é essa a

minha grande crítica às privadas, é esta política economicista, preferem pagar por baixo,

naturalmente, obviamente, as pessoas são vanais e arredondam o ordenado e depois as

pessoas mais qualificadas, que certamente são mais qualificadas que os prórpios

professores porque fizeram experiências internacionais, porque são pós doc, essas coisas,

desanimam, deprimem-se e nada e a instituição privada tem as suas aulinhas, com

professores mais ou menos habilitados, não cria corpo docente, não cria investigação. E

a terceira coisa, porque isto é um tema que me toca muito porque acho muito injusto, é

uma concorrência totalmente desleal, é o privado que vive à custa do público, grita contra

o público e queixa-se horrores do público, dizendo que são todos maus mas na verdade

vivem à conta do público, senão houvesse IES de ensino público, as privadas fechavam

todas, naturalmente.

Sobre as propinas, a lei de 92 instituiu um novo valor e os alunos começaram a pagar

mais e cada vez mais para frequentar a universidade. Qual a sua opinião sobre as

propinas?

Aí não tenho opiniões fortes, não tenho, não sei. No meu tempo, há vinte e tal anos eram

seis euros e era anual, aliás, na altura nem tinha consciência que aquilo se chamasse

propina, sei que sim, a posteriori, na altura sei que se pagava umas taxas, umas taxas de

inscrição e tal e aquilo o bolo todo, não sei, era para aí dois contos ou coisa assim e a

coisa ficava resolvida. Depois houve a introdução de propinas e a ideia de que o

financiamento tem que também ser feito pelos alunos. Diria que à partida não vejo mal

que haja propina mas desejo que haja condições para as pessoas a poderem pagar. A (IES)

infelizmente não tem qualquer domínio nessa matéria, as propinas são fixadas, para já há

a lei que estabelece essa tabela, em segundo lugar, depois as propinas são fixadas no

Conselho Geral da Universidade e nós apenas as aplicamos e portanto não temos qualquer

margem de manobra para diminuir ou assim. No entanto, temos tentado criar algumas

políticas na antiga universidade, agora, na nova universidade não sei se vai ser, mas na

antiga, que ainda corre este ano letivo, tínhamos várias políticas. Primeiro, no que diz

respeito a 1º ciclo, em relação a estas propinas fizemos duas coisas, para não esconder

nada, primeiro, uma política draconiana de obrigar os alunos a pagar propinas, que foi

muito contestado na altura e agora já não é tanto, ou seja, os alunos para se inscreverem

num ano têm que ter as propinas todas pagas até ali, que é aliás o que diz a lei, cumprimos

a lei. Por outro lado, tentamos arranjar condições para que quem não possa mesmo pagar,

haja essa possibilidade. Primeiro, confiando e havendo uma grande interação. Temos um

gabinete, que funciona, a meu ver, muito bem, de acompanhamento dos alunos, um

gabinete excelente com gente muito preparada e que neste momento acompanha os

alunos. Neste momento fizemos uma reorientação desses serviços para robustecê-los e

que eram apenas serviços pequenos e criámos uma divisão que agrupa vários serviços que

tem a ver com os Erasmus, tem a ver com os alunos estrangeiros e tem a ver com o que

chamamos "1º ano, 1ª vez" e também tem a ver com a inserção na vida ativa e tem a ver

com o acompanhamento dos alunos ao longo do seu curso, inclusivamente temos uma

psicóloga que acompanha as pessoas que necessitarem disso, temos essas atenções todas,

uns gabinetes, acho eu, bem apetrechados do ponto de vista técnico para acompanhar os

alunos. Quando os alunos têm dificuldades de pagamento, ou vão diretamente aos

SAS(universidade) na (universidade) ou vêm ao nosso mini SAS e aí os nossos técnicos,

a Dra e os estagiários vêm quais são as possibilidades e encaminham e geralmente

encaminham para os SAS(universidade). Tem funcionado bem e penso que não há

nenhum aluno que possa dizer que não estudou porque não tinha apoio dos

SAS(universidade) que dão uma bolsa e as propinas e portanto a coisa fica resolvida. A

opinião que tenho a partir de responsáveis pelo SAS(universidade), de reuniões que fui

era que até sobravam bolsas, havia menos pedidos, mas enfim, pode ter sido uma situação

pontual e recordo conversas anteriores a esta última crise, parece que agora é uma situação

mais frágil. Sei que na altura a (universidade) fez um grande contra ataque ao governo

porque isso foi imposição do governo e houve uma grande indignação e foi um dos

movimentos por parte da universidade que se revoltava contra o teto baixo das ajudas.

Mas o SAS(universidade) não cobrem tudo, é preciso ter rendimentos muito baixos e

depois é preciso ter um conjunto de condições que parecem compreensíveis mas não são

como os pais não poderem ter dívidas à segurança social. Casos que não são contemplados

pelo SAS(universidade) tentamos acolher, seriámos vários programas, o mais bem

sucedido é uma coisa chamada (IES) solidária em que os alunos concorrem a um concurso

e isentamos da propina se fizerem x número de horas de trabalho, por exemplo, a arrumar

livros na biblioteca, outros apoiam nas inscrições, se for à nossa página vai ver que é um

grande sucesso, é uma coisa bem feita, não temos tido problemas, os alunos assinam um

contrato-bolsa que não se chama assim mas é-o teoricamente, depois há uma pessoa que

orienta esse estágio, porque no fundo é um estágio e certifica-se realmente que as pessoas

estão a cumprir o que está definido, têm que fazer x horas ao longo do semestre, na

biblioteca ou em tarefas de secretaria. Depois há às vezes um programa de apoia a centros,

por exemplo, alunos de licenciatura que têm muita dificuldade, se o diretor do centro

entender que há tarefas que ele possa fazer então por exemplo, ajudamos na realização de

um congresso muito importante em que é preciso muitas horas de correio então, digamos,

a troco de um trabalho de gestão científica, de apoio científico, também há um programa,

os diretores dos centros concorrem e nós atribuímos uma bolsa e não pagam. E depois,

há outros casos mais complicados, por exemplo, estamos a pensar em alunos de África

em que também acabamos por arranjar sempre uma solução. Mas é muito extenso e não

lhe sei dizer todas as políticas, dou-lhe o contato de alguém deste programa e que tenta

ajudar os alunos, eles também podem pagar de uma forma faseada mas basicamente é

isto. Porque o problema de um aluno de 1º ciclo, licenciatura, se não tem dinheiro, nem

faseado nem junto, não tem, portanto, tentamos isso. Não sei se algum aluno desiste por

não ter dinheiro para pagar as propinas, mas o meu conselho seria, se isto fosse para o ar

era procurem o nosso gabinete de apoio ao aluno, procurem os serviços da universidade

e vamos ver, entre um e outro, acabamos sempre por conseguir. Sei que há casos, mesmo

com os SAS(universidade) sinalizam, este aqui não porque a mão deve e não sei o quê,

vejam lá se conseguem fazer qualquer coisa, tem havido isso, isto era na antiga

universidade, agora há uma grande mudança nos regulamentos, não sei em que ponto isto

vai ficar, programas como a (IES) solidária, não sei. Para os alunos de 2º ciclo, mestrado,

havia também esse tipo de coisas, e agora quando vier o novo normativo da nova

universidade, vamos pegar naquilo, estudar e a nossa intenção é, se estava mal feito,

vamos fazer a mesma coisa mas bem feito, de forma legalmente aceitável, poder dar

algum apoio aos alunos de mestrado e doutoramento, sobretudo de doutoramento porque

as propinas de doutoramento são uma coisa absolutamente incomportável. Quanto ao

mestrado, existem estes programas, se bem que estão mais direcionados para o 1º ciclo,

aquilo que costumamos fazer quando um aluno não tem dinheiro é, e isso acontece muito,

planos de pagamento e isso tem resultado bem, por exemplo, dizendo pago cem euros por

mês e dizemos que sim, de uma maneira geral permitimos que façam estes planos e os

revejam, a única coisa e a lei impede-nos completamente, no dia da prova de mestrado

têm que ter as propinas regularizadas porque senão o grau não é atribuído. É a única coisa

que prejudica muitos alunos é que têm que ter as propinas pagas quando chegarem ao

fim, no caso da licenciatura é a mesma coisa, os alunos têm que ter a propina paga. No

mestrado também há alguns destes apoios, o mais popular tem sido o pagamento faseado

e geralmente proposto por eles e tem funcionado bem. o doutoramento, em geral, os

doutorandos e temos muitos, são bolseiros FCT e portanto, à partida não pagam propinas.

Por outro lado, a FCT concede algum dinheiro de apoio para eles aqui à faculdade porque

o dinheiro às vezes não acaba todo de ser gasto nas atividades previstas por eles, a

faculdade perde dinheiro com os doutoramentos, perde sempre dinheiro, nunca ganhamos

dinheiro, mas é um risco assumido. Há casos às vezes bastante dramáticos de por

exemplo, de estudantes que terminaram a bolsa, já não estão cobertos por bolsa e aí

tentamos arranjar esquemas possíveis como a troco de trabalho, concedíamos uma bolsa

no valor equivalente à propina do semestre em que eles trabalham, cumprindo

draconiamente a lei mas ao mesmo tempo tentando arranjar soluções para as pessoas e

felizmente a faculdade tem tido muitos alunos, estamos bem de alunos e portanto temos

que estimar, não os podemos perder.

Sobre os mestrados e os doutoramentos, que acha do seu valor elevado e por vezes

tão diferenciado, exigindo por vezes menos recursos que uma licenciatura. considera

justos estes valores?

Os valores são estabelecidos por lei e depois são afinados pelo CG das universidades.

Acho as propinas de doutoramento uma coisa absolutamente absurda, quer dizer, olho

para mim, se na altura não pagava, bem já era docente da faculdade e portanto não pagava.

Mas se um dia a minha filha resolvesse fazer um doutoramento, não sei como iria pagar,

tinha que ver, embora não me considere um desprivilegiado, pelo contrário e mesmo

assim tinha que pensar muito, imagine uma pessoa com um salário médio neste país,

como é que pode pôr um filho a fazer doutoramento, não pode, mesmo um jovem que

tem que fazer um doutoramento, tem que trabalhar e se trabalha não consegue fazer

doutoramento, a única forma de conseguir é tendo uma bolsa da FCT. Infelizmente, e

aqui é que vem o busílis, as bolsas FCT funcionaram muito bem até certo momento, acho

que a FCT concedia generosamente bolsas, a meu ver, às vezes demasiadamente

generosamente porque concedia por vezes a pessoas que nitidamente não tinham

capacidade, mas isso é um aparte, o sistema em princípio é positivo e portanto o valor da

propina acabava por não ser um problema porque acabava sempre por ser coberto por

essas bolsas da FCT. Infelizmente, as informações que vêm para o futuro próximo é que

vai haver uma redução drástica de bolsas para doutoramento e isso vai ser aflitivo porque

até agora funcionava com a FCT, se a FCT não dá, se desinveste aí, estamos mal, não sei

como vai ser. Em relação a essa diferença de preço, pois é verdade, não sei porque é que

é assim, quem estabeleceu esses patamares tão cavados porque entre um e outro há

diferenças imensas, deve ter tido uma razão e calculo que a razão tenha a ver com o

financiamento próprio das universidades, isto é, o OGE concede financiamento por cada

cabeça de aluno na licenciatura, no mestrado já é menos e no doutoramento nada e

portanto no fundo esse valor exorbitante de 2000 e não sei quê, um valor imenso, deve

estar imaginado para colmatar aquilo que o OGE não dá a esse aluno. por outro lado, o

facto de não haver aulas, também é um argumento mas aí vejo menos gravidade, sei que

há universidades que cobram mais no primeiro ano de doutoramento e menos no segundo,

aqui na universidade aguardemos, temos poucos meses ainda não temos uma política

consolida de de como vão ser as propinas de doutoramento. Era ideal e desejável para

mim que as propinas tivessem uma racionalidade no conjunto da universidade, criámos

uma fusão com duas universidades diferentes, com faculdades e institutos com

autonomias distintas mas não sei qual vai ser a política geral da universidade, mas é

verdade que há universidades que cobram mais no 1º ano porque tem aulas e menos nos

outros porque não tem. Há aqui colegas que dizem que devia ser assim, aguardemos.

Precisamos de indicações mais específicas da (universidade) para tomarmos uma decisão.

Uma coisa é certa, percebo isso, os encargos são sempre os mesmos, sempre, o facto de

a pessoa estar numa biblioteca ou estar numa sala de aula, para quem tem que pagar as

despesas, é irrelevante, tem de estar sempre a pagá-las independentemente, a gente

admitia que os professores... não, os professores estão sempre ativos., Admito que seria

uma forma de encorajar e estimular as pessoas, o que acho ideal era como há em muitos

sítios, que houvesse capacidade de financiar razoavelmente essas propinas. Há uns anos

atrás, achava que o doutoramento estava bem financiado pela FCT, não havia razão de

queixa, não conhecia muita gente dos alunos que passavam por mim e pelo meu

departamento que não viessem fazer doutoramento porque não tinham dinheiro para as

propinas, quase toda a gente que pedia bolsa tinha. O mestrado a certa altura hesitei

porque o mestrado deixou de ter bolsas da FCT e aí achei que haveria mais problema e é

aí que a direção da faculdade também tem estado mais atenta e mais focada na questão

do mestrado que no doutoramento. O doutoramento vai colocar-se agora porque estou

convencido que vai haver uma grande diminuição de bolsas e muita gente vai querer fazer

doutoramento e não vai ter capacidade para o fazer. Há cerca de cinco anos eram

atribuídas muitas bolsas, também se calhar havia menos gente a concorrer, é uma

hipótese, mas não me lembro, na área das clássicas, de haver algum orientador a queixar-

se de haver alguém que queria fazer doutoramento e não teve bolsa, sei que há um ou dois

que se queixaram que me vieram dizer, fulano concorreu e não teve. Em clássicas sempre

foi muito generoso, agora não sei.

Existem estratégias de captação de alunos?

Poucas, muito poucas, é uma das áreas que justamente a anterior direção pensou muito e

tentou pôr os instrumentos a funcionar, reestruturámos os serviços e criámos uma nova

divisão em que um dos componentes engloba todas estas que disse, o apoio ao aluno, os

alunos estrangeiros, Erasmus e que vai ter uma coisa nova virada para a captação de

alunos porque essa parte tem falhado. Participamos naquilo que a universidade fazia e

essa parte as pessoas são extremamente empenhadas e pressurosas nessas coisas, íamos

sempre para aquelas expos, a FIL, tudo e participamos também em tudo o que é redes

dessa coisa da modalidade universidade, tudo. Temos feito esse trabalho. a atração através

da publicitação é uma coisa que tem que ser melhorada, falamos disso todos os anos mas

acho que se está a criar um modelo de mero anúncio que não serve para nada. Por acaso

tenho uma história pessoal de anúncio extraordinária, a certa altura fui presidente do

departamento de estudos clássicos, que vivia numa agonia de alunos, como é habitual e

na altura, a medida quando tomei posse, empenhei-me muito em captar alunos e falar com

as orientações das escolas secundárias e essas coisas e o meu plano também passava por

pôr um anúncio no jornal, coisa que não era hábito aqui em letras. Na altura fui falar com

….os cortes são tão brutais que acabam por afetar todos, afeta tudo, desde o

funcionamento, tudo. Por isso temos que fazer um grande esforço sempre para ter receitas

próprias para cobrir os ordenados das pessoas, temos uma cobrança de propinas vigorosa,

se bem que tentando depois por outro lado compensar isso com medidas de apoio às

pessoas que não possam pagar e tentamos equilibrar as coisas desta maneira. Por outro

lado também a (IES) tinha um certo pecúlio acumulado que estava escondido que era um

pecúlio para construção de um edifício e nos últimos anos o que fizemos foi, tivemos que

ir aos anéis para ficarem os dedos e fomos delapidando esse fundo que tínhamos para o

edifício, que já não temos claro e agora já estamos mesmo no fim desse fundo que serve

para cobrir aquilo que o orçamento não nos dá, que as nossas receitas, apesar de serem

substanciais ainda não conseguem cobrir e chegarmos ao fim do ano e pagar os ordenados

todos às pessoas, é a maior fatia do orçamento da casa e neste momento pelo OGE,

ultrapassa muito os 100% de orçamento. Apesar de nos últimos anos também termos uma

política de redução do corpo docente, que se tem vindo a reduzir progressivamente, há

muitas reformas que não são compensadas e isso também exigiu muita ginástica da nossa

parte no arrumo da oferta letiva, isto é, para que não se perdesse qualidade mas que isso

se colmatasse. Muitas vezes essas falhas estão a ser supridas com vantagem, mas não é

para estarmos contentes, são vantagens porque no fundo são bolseiros em pós doc que

dão as aulas de professores que se reformaram, não são substituídos por outros, são

substituídos por estes bolseiros, FCT doc e pós doc, que dão as aulas, mas naturalmente

isso tem consequências porque isso significa que o corpo docente emagrece e essas

pessoas não estão a entrar no corpo docente. Felizmente o reitor, tanto ao anterior como

este, foi-nos permitido há uns dois anos para cá fazermos alguma renovação e neste

momento estamos agora com uma leva de concursos de renovação de entrada mas para

uma casa destas dimensões, não sei agora de cor quantas são mas são para aí umas cinco

pessoas, estamos a falar de um corpo de 230 pessoas, agora cinco pessoas é a cova de um

dente, mas pronto, eram áreas para as quais não tínhamos rigorosamente ninguém e são

áreas a desenvolver, estudos asiáticos, história do Brasil e mais uma coisa ou outra, uma

de filosofia, uma de linguística e um de norte americano e são os cinco concursos.

Reformou-se a última pessoa que dava estudos norte americanos e uma casa destas sem

literatura norte americana é um bocado esquisita, história do Brasil a mesma coisa,

reformou-se um professor que aliás foi diretor da Biblioteca Nacional durante muitos

anos, reformou-se e de repente havia uma cadeira e não havia ninguém e no caso dos

asiáticos é a mesma coisa, os estudos asiáticos estão a ter um impulso imenso e temos que

consolidar essa oferta porque enchem, têm muita procura, muita gente fica de fora, é um

curso em grande expansão, temos uma excelente relação porque o diretor até é o mesmo,

com o centro científico e cultural de Macau, que nos abre as portas para empregabilidade,

estágios e isso também atrai muitos e que têm essa expetativa mas temos que ter

professores que os ensinem as matérias e há partes que se podem colmatar, por exemplo,

as aulas de línguas orientais em princípio estão mais ou menos asseguradas por várias

razões, por exemplo, o chinês está bastante forte mas está assegurado pelos professores

do Instituto Confúcio em Portugal, que é uma entidade do governo chinês que faz a

acreditação do chinês estão aqui ao lado e dão-nos as aulas, o hindi também está a andar

bem, temos dois leitores, um nosso outro na embaixada, o japonês, as línguas vão

funcionando mas são precisos professores de carreira para a história da Ásia, tem havido

essa pequena renovação, nunca sou pessimista. realmente temos tido, mas há uma

vantagem, a (universidade), há muitos anos que tem uma situação orçamental equilibrada,

não sabe o que é défice nem esse tipo de aventuras e isso dá-nos uma força interior de,

apesar dos cortes sucessivos a que já perdemos a conta e que muitas vezes caem durante

a noite, pronto estamos habituados a isso e no fundo tentamos adaptar-nos ao

financiamento. Claro que há áreas que era preciso desenvolver na faculdade, gostava

muito de desenvolver a área do português para o oriente só que neste momento estamos

sem ovos e com tanto corte e tanta incapacidade de contratar, porque isto é um segundo

problema, atenção, há um problema de dinheiro, que é para podermos contratar ou não as

pessoas e depois há o problema que neste momento é talvez o mais grave de todos que é

poder contratar as pessoas e geralmente esse poder contratar as pessoas vem escrito no

plano de execução orçamental e a primeira parte vem no orçamento, o dinheiro vem no

orçamento mas o que realmente afeta a vida das instituições mais do que orçamento é a

lei de execução orçamental. Nesta lei, já naquela que vigora em 2013 havia um artigo que

era restritivo mas no caso de letras não nos fazia mossa nenhuma porque estavam as

condições todas. Para 2014 é possível que endureça mais ainda a execução orçamental e

nesse caso vamos ter graves problemas justamente nisso, isto é, ter alunos, ter matérias e

não poder contratar sequer como convidados, ao menos convidados porque os concursos

de carreira naturalmente demoram mais tempo e também acho que os concursos de

carreira devem ser cautelosos, não estou nada de acordo com o que se fazia no passado

em que era preciso um professor e contratava-se para a vida, não, é preciso ajuizar muito

bem e ver através da área estratégica, que foi o caso destes auxiliares que agora vieram

por concurso, bem pelo menos da maior parte dos auxiliares que estão em concurso

porque são coisas em que sabemos concretamente o que queremos e ainda para mais, uma

vez que se foi criando, graças à organização que houve no chamado sistema científico

português, se foi criando muitos doutores e pós docs, há hoje um campo de recrutamento

qualificado muito melhor do que havia há uns anos atrás e portanto um concurso destes

agora podemos no fundo quase escolher porque conhecemos as pessoas, há muitos anos

que trabalham connosco, já deram aulas até, no meu tempo este campo de recrutamento

era completamente endogâmico, chocantemente endogâmico, agora não, há uma oferta,

há trabalhadores disponíveis para estes lugares e de grande qualidade e por isso estou

mais confiante nestes concursos mas apesar disso devem ser muito cautelosos, devem-se

fazer outro tipo de soluções antes de chegarmos a um concurso de carreira porque há uma

pessoa que vem para cá mas depois o curso começa a ter problemas e depois como é, mas

enfim, são apartes.

Aumentaram as horas letivas dos professores?

Não aumentámos as horas, as horas são um bocado flexíveis aqui, diria que a regra se

mantem imutável há muitas décadas que são as oito horas semanais, mas há muita gente

com mais do que oito, doze é normal, o normal aqui é entre oito e doze, a não ser que

hajam casos excecionais que a lei prevê, o regulamento da (universidade) de prestação de

serviços prevê, naturalmente, que se um docente desta casa é vice-reitor, tem uma redução

de horário ou então isenção total. Por exemplo, recentemente, a nova diretora do Instituto

Confúcio, naturalmente tem menos horas, eu que estou aqui neste semestre dou metade

da carga letiva, eu e os meus colegas, mas são casos, estamos a falar de seis casos entre

cerca de 200, casos mínimos de pessoas que têm redução de horário por estas razões e

são sempre contemplados na lei e temos que justificar isso nas nossas folhas, indicando o

artigo que justifica a redução, quanto a isso é qualquer coisa entre o mínimo, oito e doze.

Há colegas em certas matérias que estão mais que doze mas porque não há docentes,

porque são matérias tão específicas que só estas pessoas sabem dar, etc., também é preciso

ver que a (IES) é uma grande diversidade, somos quatro grandes áreas, cada área significa

que há disciplinas que as pessoas podem passar a vida sem se verem umas às outras, a

única área que é assim mais ou menos homogénea é a filosofia e mesmo assim há

tendências, sei lá um professor de lógica não pode dar uma cadeira de Platão porque não

sabe, lógica é uma pessoa que teve formação em matemática, portanto não podemos

indiferentemente pôr o professor A ou B a dar a matéria C ou D. Isto também significa

que há uma riqueza imensa do ponto de vista de gestão de recursos e gestão de pessoal

também, isto cria aqui uns entraves e desequilíbrios mas é normal, nem há outra forma de

viver porque naturalmente há professores que têm menos horas e menos alunos e há

pessoas com mais horas e mais alunos por causa disto. Oito a doze horas é o geral dos

professores de carreira, os leitores sé de 12 para cima porque os leitores têm um estatuto

especial e o mínimo de um leitor é 12. se aumentámos a carga letiva em virtude agora das

40 horas, não, porque não achámos útil e por outro lado, o trabalho de um professor não

são as oito horas, antes dizia-se que eram as 35 horas, agora 40 horas mas a maior parte

do trabalho do professor é fora das horas porque realmente aí é que se tem que trabalhar,

das coisas que são necessárias, os nossos professores, a maioria muito bons, trabalham

muito mais que 40 horas por semana, eu trabalho muito mais que 40 horas, não sou

exceção, não tenho férias nem fim de semana, todas as pessoas que conheço nesta casa

poderia dizer a mesma coisa, é de manhã à noite, sem horários por isso aumentar o número

de horas é insignificante porque nós já trabalhamos mais de 40 horas.

Considera que a missão da universidade se encontra bem definida?

Confesso que ainda não olhei bem para os estatutos que concernem a missão da

universidade...

Pondo a questão de outra maneira, em relação ao passado, missão de produção e

difusão de conhecimento, considera que sofreu alguma alteração com estas

tendências atuais, de entrada de parceiros externos...

Acho que houve uma pequena melhoria, sinceramente, não muito visível mas houve e

essa melhoria teve a ver com a reorganização da ciência em Portugal e com um conjunto

de conceitos que há muitos anos atrás, já eu era professor eram totalmente impossíveis

como por exemplo, ter uma vitalidade imensa dos nossos centros de jovens, que são

doutorandos e já são doutores, que colaboram no ensino e trazem essa qualidade toda que

não havia e isso veio dar à universidade e mesmo aos professores mais antigos que

estavam mais anquilosados, que acham que o que têm que fazer é entrar aqui, infelizmente

ainda há muitos assim, fazer as oito horinhas mal e porcamente porque têm que ir ao

supermercado ou outras coisas e que acham que isso é a missão da universidade e a missão

da universidade não é isso, isso é a velha universidade anquilosada. Felizmente muita

gente mudou, essa lufada de ar fresco foi no fundo juntar a investigação e ensino superior

e isso veio mudar a cabeça das pessoas, penso que comparando com o que era há dez anos

estamos muito melhor, ainda não chega e tem que se fazer mais nesse campo. Creio que

na (IES) houve uma mudança significativa de mentalidades, mas claro que ainda há muita

gente com cabeças antigas e pessoas que nunca perceberam muito bem a diferença entre

ser um professor do ensino secundário e do ensino universitário, achavam que era do

secundário com mais um pauzinho e não é, é outra coisa, dizendo eu e afirmando que a

profissão de professor do ensino secundário é louvável e extraordinária, têm uma

importância talvez ainda maior que a nossa para a sociedade, transmite conhecimentos e

forma os jovens, muito mais difícil do que formar já não tão jovens quando entram, aqui

aos 18, 19 anos, não estou a fazer qualquer crítica mas infelizmente há aqui colegas meus

que em termos de faculdade ainda não evoluíram e acham que o ram ram é que é a missão,

acho que não. Melhorámos um bocadinho. A nível de universidade não consigo ainda

ajuizar, não conheço a nova universidade, receio que haja instituições ainda mais antigas

mas há outras que são de ponta, o IST por exemplo, ou a FC, dois grandes bons exemplos

ou, se bem que é complicado dizer assim, medicina, há grandes instituições e fortes na

(universidade) que têm investigação no sítio que devem ter e são quase um farol.

Muito obrigada pela sua disponibilidade

Entrevista F4

Podem falar-me um pouco da vossa formação académica?

H – sou licenciado em gestão de empresas e tenho pós graduação em gestão de empresas

públicas e autárquicas e já estou aqui na faculdade vai fazer três anos.

M – sou bióloga, licenciatura aqui na (IES), depois fiz o mestrado e o doutoramento aqui

também em ecologia e desde 2008 trabalho na fundação (da IES), na parte de projetos,

que tem uma parte mais financeira, onde fui parar precisamente por causa da investigação

e vim fazer a ponte entre a parte financeira e a de investigação.

Percursos profissionais até chegarem aqui. Sempre ligados à faculdade?

M – o meu sim, o meu foi desde que acabei a licenciatura e depois durante o

doutoramento, trabalhei sempre em investigação, com bolsas variadas, estive em projetos

privados, estive com bolsa da FCT, projetos europeus, durante esses 12 anos sempre

associada de alguma forma a bolsas e a projetos. Depois quando comecei a trabalhar na

fundação foi como gestora de projeto e desde então fiquei lá como funcionária da

fundação.

H – comecei em 99, dois anos de trabalho no ministério público de um tribunal, depois

passei para técnico superior no instituto português do património arquitetónico, estive lá

até 2005, depois passei para um organismo do Ministério das finanças num programa

operacional da administração pública que geria os fundos comunitários destinados à

formação dos funcionários públicos, estive lá um ano e depois passei para a secretaria

geral da justiça, tudo isto sempre como técnico superior, sempre em áreas financeiras e

orçamentais. No MJ estive de 2006 a 2009 e depois de 2009 a 2011 tive a primeira

experiência de dirigente, digamos assim, na administração pública, na cinemateca, na

parte relacionada com a gestão, parte financeira, recursos humanos, tarefa de

administração, vim para a (IES) em 2011, como diretor financeiro e desde março que

estou aqui neste cargo, mais de topo, não tão de topo que dê algum privilégio mas dá uma

perspetiva, uma visão mais alargada de todos os serviços.

As vossas funções….

H – às vezes não são funções muito bem vistas porque estamos sempre a dizer que não

há dinheiro e que não pode ser por causa da legalidade mas diretor financeiro reside

essencialmente na capacidade de gerir o curto orçamento que se tem, da melhor forma,

garantir a eficiência do uso dos dinheiros público e principalmente garantir toda a

legalidade nos processos que acompanham, qualquer processo de natureza administrativa,

seja de despesa ou seja de receita, trabalho do diretor financeiro é essencialmente isso.

M – sou a diretora executiva da fundação, basicamente este papel é um bocadinho

coordenar o que se passa com as nossas candidaturas aos vários programas privados,

europeus, nacionais, o que seja e fazer a ligação com os investigadores no sentido de pôr

a máquina a mexer ou seja, que calls abrem, quem deve concorrer e ao quê, quais as linhas

onde somos mais fortes e onde podemos apostar mais e organizar a casa internamente, no

sentido de ter os gestores especializados para cada tipo de projeto para darem apoio aos

investigadores em toda a parte administrativa e da gestão dos projetos, portanto, eu

coordeno esta ligação entre os investigadores no sentido de eles é que fazem o trabalho

nos projetos mas toda a parte de back office, de trabalho administrativo, essa gestão é

feita pela fundação.

Então faz a gestão de toda a investigação da casa?

M – não posso dizer isso porque há um peso grande associado aqui à direção da faculdade

e aos centros de investigação que estão associados do ponto de vista legal à fundação,

mas que são constituídos pelos nossos professores aqui da casa e que tem coordenadores

científicos, portanto, é mais um ponto de ligação e de gestão de processos daqueles que

depois geram efetivamente projetos do que propriamente decidir para onde vai a

investigação da casa, isso passa muito pela direção da faculdade e pelos centros de

investigação que procuram as oportunidades e depois o que nós avaliamos é o sucesso

que vão tendo, portanto, fazemos um bocadinho o trabalho ao contrário, se há calls mais

especificas que abrem e que sabemos que pertencem a certo centro, fazemos um

bocadinho a conversa ao contrário, para eles concorrerem, para melhorarem esse

financiamento. Depois na parte da gestão, depois de as candidaturas estarem ganhas, é

toda a parte administrativa da gestão dos dinheiros que entram, que tem que ser dividido

pelos parceiros.

H – da minha parte deixe-me só esclarecer que não sou diretor financeiro, fui, se bem que

tenho uma grande responsabilidade nessa área, ainda não fui substituído e também exerço

o cargo de diretor executivo mas da faculdade. Ainda não foi ninguém nomeado para o

cargo de diretor financeiro, estão lá pessoas, aquilo não está ao abandono e vou tendo

todo o feedback e mesmo na posição em que estou tenho todo esse acompanhamento e a

direção assim o quis também, que ficasse aqui em cima mas que de vez em quando dê

uma espreitadela lá em baixo para ver o que se vai fazendo, aqui em cima, como diretor

executivo, aqui há muita ligação institucional à reitoria e a outras instituições também,

mas principalmente á reitoria, respondemos a muitas solicitações da reitoria, mas

essencialmente aqui a atividade é garantir o ensino e alguma investigação que se faz na

faculdade, os serviços estão capacitados para dar resposta a essas áreas no quadro do

ensino e da investigação.

De alguma forma o vosso percurso académico/profissional facilitou o desempenho

das funções atuais?

M – no meu caso sim, muitíssimo. Porque apesar de agora estar numa área em que muitas

vezes estou mais a pensar em dinheiros ou em gestão de pessoas e de dinheiros, o facto

de vir de um background de investigação dá-me um à vontade nas temáticas e uma

interação com os investigadores que serão os nossos clientes no sentido de as pessoas que

nós temos que dinamizar para conseguirem fazer aquilo que eles efetivamente querem

fazer mas que nem sempre têm as condições para isso, que ajuda muitíssimo, faz

diferença, ou seja, não haver aquele gap tão grande entre o que é um gestor financeiro e

administrativo que se calhar até percebe todos os problemas que tem do ponto de vista da

despesa e se é elegível e como deve ser processada e por aí afora e aquilo que são as

necessidades e as dificuldades de um investigador que às vezes não tem muita noção dessa

parte. E portanto acho que sim, que de facto, vir de um processo de investigação para uma

parte de gestão que mexe com as duas coisas, ajuda. Se sentir falta de alguma coisa no

meu caso, será mais da parte financeira mas a nível de grande escala do que propriamente

do entender a investigação e o que são programas de financiamento.

H – no meu caso, o facto de termos uma licenciatura ou o que seja numa área, ajuda. Mas

entrar no mundo da administração pública, apanhado com tantos processos de natureza

administrativa e burocrática muito pesados, ritmos de trabalho que são os da

administração pública, não estou aqui a ter uma visão negativa da coisa mas é o que é…

posso dizer que a visão do ponto de vista académico para quem entra aqui pode não ser

muito boa, mas quem tem essa licenciatura e vem trabalhar aqui, ajuda, mas ao mesmo

tempo não é só ter a licenciatura que ajuda uma pessoa a integrar-se aqui, depois há muitas

outras coisas que de facto são as pessoas que nos ajudam, portanto, o que está instituído

é outra parte da licenciatura, portanto, ter uma licenciatura ajuda, à teoria, aos conceitos

básicos, mas na administração pública tenho a certeza que metade daquilo que se sabe é

por experiências profissionais vividas e contadas a quem entra ou a quem chega e isso é

um meio/meio, aprende-se muito com os conhecimentos adquiridos, mas também se

aprende muito com quem já cá está e nos transmite a magia de como isto tem que ser…

é assim.

M – no meu caso, então, isso é muito visível porque obviamente os meus conhecimentos

de biologia no meu dia-a-dia simplesmente não uso, ou seja, a minha formação académica

no senso lato, o facto de ter experienciado vários tipos de financiamentos, bolsas,

contratos europeus, privados, dá-me uma visão daquilo que é o mundo da investigação e

por isso lido melhor com isso, mas não a formação específica em si, tudo o resto, e o

entendimento do que é toda a gestão dos projetos na parte de trás, na parte administrativa

e gestão financeira foi-me dada pelas pessoas que já estavam na fundação e pelas pessoas

da própria faculdade que já faziam isso e portanto o máximo que o facto da minha

formação ser da investigação e não diretamente da gestão ajudou foi a fazer a ponte

porque efetivamente sem as pessoas que cá estavam e que me passaram tudo o resto do

know how, eu não estaria a fazer absolutamente nada.

Alguma docência?

H e M – não, nunca.

Mais alguma atividade profissional?

M – tenho uma empresa, já há vários anos, de prestação de serviços em ambiente que tem

uma atividade que não é exercida por mim, sou sócia, mas não tenho parte ativa nesse

sentido e depois tenho várias… na parte ligada ao ambiente e à minha área, tenho, sou

sócia de várias associações, tudo coisas ligadas ao voluntariado.

H – eu não tenho.

Como consideram que tem sido a evolução do ensino superior português ao longo

destas últimas décadas?

M – não é uma informação muito educada, diria que a minha perceção é muito empírica,

não vem de um conhecimento profundo dos processos nem nada disso. Aquilo que

sentimos e que vemos aqui com os alunos e com a forma de dar as aulas e por aí afora é

que o próprio ensino está a sentir muito mais pressões de ser também ele muito mais

comercial, vemos um muito maior esforço na busca dos alunos, na cativação, enquanto

que quando andei na faculdade era um bocadinho ao contrário, entrar para faculdade,

conseguir entrar para qualquer uma que fosse já era por si só um mérito ou uma benesse,

portanto, não havia a necessidade de sentir que a instrução tinha que fazer publicidade

em algum lado ou mesmo para mostrar que existia e essa diferença acho que se nota e

muito provavelmente afeta a própria maneira de estar e pensar dos alunos, digo eu…

H – essa diferença nota-se, provavelmente essa concorrência, porque, por uma básica,

que há menos alunos do que há dez ou vinte anos e isso pode estar a matar algumas

instituições e daí essa procura de comunicação, de marketing do que seja, na procura de

cativar os alunos. Em termos de ensino, acho que o ensino mantem a qualidade, não é por

haver mais ou menos dinheiro, não é por haver mais ou menos alunos que o ensino que

se faz perde a qualidade, daquilo que vejo, acho que não está a perder qualidade, pode

não estar se calhar num patamar igual àquele que estava há dez ou vinte anos mas também

acho que não está num patamar como às vezes se ouve e se pretende dar a ideia de um

patamar muito abaixo. Pode ter reduzido ligeiramente em termos de qualidade porque se

calhar tem a ver com o número de professores que são necessários e portanto, pode não

haver um refrescar do corpo docente imediato e isso pode trazer algumas contrariedades

no decorrer dos anos letivos, mas não creio que por casos isolados que sejam esses, que

a qualidade do ensino ou o sistema de ensino superior esteja posto em causa.

M – isso também tenho a sensação, mesmo que seja um bocadinho apoiado na dedicação

das pessoas ou até numa certa participação precária das pessoas que estão na base muitas

vezes da investigação ou do que seja, acho que se consegue, e aqui a minha visão é um

bocadinho distorcida para lisboa, para a (IES) em específico, acho que o nível de

qualidade se mantem muito elevado e digo isto até um bocadinho por comparação entre

os alunos e a experiência que temos de nós quando fomos alunos, em que nitidamente se

nota que as pessoas são valorizadas, quase todos os colegas com quem estive e que de

alguma forma estiveram no estrangeiro ou em bolsas ou no que seja, a visão dos

investigadores lá fora é que sim senhora, as pessoas têm uma boa base e têm uma boa

preparação, como é que isso é assegurado? Acho que isso tem muito a ver com os

professores da casa e da forma como se embrenham no seu trabalho, apesar da miríade

de dificuldades que têm, mas efetivamente acho que essa qualidade ainda tem vindo a ser

mantida.

Sobre o processo de Bolonha, diferenças que consideram existir face às anteriores

licenciaturas, foi bem implementado, mal implementado? Em termos de método de

ensino, internacionalização…

H – não tive experiência dos métodos de ensino a seguir aos meus, portanto, não estou

muito por dentro dessa situação. Creio que não houve desvantagens porque as coisas não

mudaram assim tanto desde que foram instituídas, desde o pré Bolonha mantém-se,

portanto, acho que não há nenhuma desvantagem grande em que esteja em causa o

sucesso do próprio ensino. Não consigo ter de forma clara, vantagens ou desvantagens de

um sistema ou de outro.

A situação dos próprios alunos no mercado de trabalho…

H – só se for por terem menos anos de estudo, digamos assim, poderem ser preteridos e

mesmo assim não sei se isso é um fator determinante, se podem ser preteridos por terem

menos um ano dois de ensino mas se calhar ganham isso de uma outra forma, se calhar

dedicam-se mais a fazer um estudo aprofundado de outras maneiras, portanto,

desconheço. Não consigo falar muito sobre o assunto.

M – a sensação que tenho é que do ponto de vista da formação, acho que é efetivamente

diferente porque em três anos a pessoa ainda está muito verde, mas isso também despoleta

outro tipo de oportunidade quando a pessoa entra no mercado de trabalho. Acho que em

certas áreas, efetivamente não é suficiente e daí até haverem os mestrados integrados,

portanto há aquelas que desde o início está estipulado que três anos não chegam para

nada, veterinárias, medicinas dentárias, por aí fora. No caso de alguns cursos aqui de

ciências e nomeadamente a biologia, o que nós verificamos, diria que, a grande maioria

dos alunos parte diretamente para o mestrado e portanto, no mercado de trabalho sente-

se pouco essa diferença porque quase todos os que querem de alguma forma seguir a

biologia, fazem esse esforço adicional, o que isso quer dizer é que do ponto de vista das

famílias, dos valores pagos, do esforço, isso se calhar é diferente, mas o resultado final

no mercado de trabalho, se calhar não se sente tanto porque as pessoas acabam por fazer

esse esforço adicional porque há efetivamente temáticas que em três anos só dá para as

bases, a pessoa não consegue aprender mais alem do que isso, isso nota-se um bocadinho

por exemplo nos bolseiros que são o grosso dos projetos de investigação, funciona com a

contratação de bolseiros e as exigências que há num edital de bolsa, podem ir desde a

licenciatura ao doutoramento e o que é certo é que se notou uma diferença na tipologia

de bolsa aberta, porque como não há diferenciação ou não podemos fazer a diferenciação

entre uma licenciatura pré Bolonha porque são dinheiros públicos e então ainda não há

essa diferenciação entre um pré Bolonha e um aluno pós Bolonha, aquilo que se notou é

que os professores, quando têm essa possibilidade na gestão do dinheiro total do projeto,

puxam mais, passámos a ter mais bolsas de mestrado do que de doutoramento, que antes

não existiam, eram abertas mais bolsas só de licenciatura…

H – portanto, aí também pode ter-se a ideia que provavelmente, por essa via, de haver

muita gente a fazer mestrados integrados, quanto mais anos de experiência ou de estudo

em escola, melhor para o empregador, se calhar o empregador vê melhor um aluno que

tenha quatro, cinco anos de estudo do que o aluno que só tenha três, provavelmente o

empregador pode tendencialmente estar a ver…

M – acho que vê, acho que a pessoa quando olha para os currículos, se vê um pré Bolonha,

não quer dizer nada, mas acho que efetivamente um bocado disso existe, pode pesar,

também acho que varia muitíssimo consoante a área. Não estou a ver numa empresa, se

estiverem a contratar um gestor ou… que basta a licenciatura ou que estejam preocupados

com isso, portanto, acho que variará bastante do objetivo de quem está a empregar. Neste

caso, a minha visão está como digo, distorcida para a investigação e obviamente na

investigação faz diferença, um pré Bolonha de três anos ainda não contactou com quase

nada, ainda para mais os pré Bolonha terminavam, nas nossas áreas, no quinto ano, com

um projeto, portanto era a primeira vez em que efetivamente faziam um processo

científico, delineavam uma experiência, fosse o que fosse, iam ao campo, tinham

objetivos, tinham que saber depois organizar a forma de transmitir aquela mensagem e

isto obviamente num projeto de investigação faz diferença, uma pessoa que já tenha

alguma estaleca nisso, por isso, posso ter uma visão desviada e no mercado de trabalho

normal e em áreas paralelas isto não importar absolutamente nada.

Sobre o ensino privado, qual a vossa opinião? Existe algum ensino privado ao nível

destas áreas?

M – tem aqui já ao lado da porta, na Lusófona…

Qual a perceção do ensino privado em geral, como instituição, função que

desempenha, foi criado com a ideia de suprimir faltas em áreas geográficas mais

distantes e oferecer determinados cursos que às vezes o público não tinha…

H – pois mas agora se calhar o ensino privado ainda se alinha com os tais menos alunos

que há em relação aos que havia há uma década ou duas, se calhar também estão aflitos,

tenho a certeza que estão mais aflitos do que nós. Em termos de ensino, creio que o ensino

é bom na mesma, não é por ser um privado que o ensino é péssimo, não vejo as coisas

assim, mas tudo depende da qualidade dos docentes, que experiências têm, que

experiências transmitem aos alunos, que percursos profissionais têm e isso vai influenciar

o aluno que sai de uma instituição privada. Comparando com um professor do ensino

público que tem a vida quase toda certamente dedicada, não só mas também, a maioria

ao ensino público, faz isto desde sempre, se calhar tem ali algumas vantagens acrescidas

naquilo que transmite a quem está a aprender e portanto ligeiramente uns furos acima na

qualidade o público do privado mas tudo depende também das áreas, no privado há áreas

muito boas, basta olhar ali para aquele lado, na Católica, por exemplo, seja o curso que

seja… lá está, mas tem muito a ver com a vivência dos professores que estão lá, muitos

deles têm vidas profissionais estonteantes e transmitem essa maravilha profissional aos

seus alunos, fazem com que eles aprendam assim, fazem deles também grandes alunos

que o são, sabemos que são e com trabalho à porta e portanto a qualidade do privado não

é linear, tem tudo a ver com aquilo que está dentro da própria escola, o que são os

professores, de onde vêm, o que já fizeram e métodos de ensino.

M – acho que não é nada homogéneo, pelas coisas que o colega disse, e acima de tudo

acho que tem incentivos diferentes. Temos as privadas já instituídas e que já têm essa

preocupação da qualidade e da manutenção pela qualidade e se calhar temos outras

privadas que ainda estão apoiadas só na preocupação de cativar alunos no sentido

financeiro e portanto quando surge esta preocupação, só no sentido financeiro, se calhar

ainda não estão a olhar para a parte do ensino com tanta exigência e ainda têm um

caminho a percorrer, porque efetivamente acho que, nem que seja empírico, até pode ser

injusto, mas que ainda se nota, a não ser para aquelas privadas que já estão instituídas e

que já têm nome na praça, ainda há um bocadinho aquela diferenciação… uma

licenciatura de onde? Ah, ok… se calhar depois no final não tem peso porque se for um

concurso bem feito, a ponderação não é pelo sítio é porque tem ou não tem pisco na

licenciatura ou no mestrado ou no que quer que seja, mas efetivamente, empiricamente,

acho que ainda há um bocadinho essa perceção e acho que nalguns casos é muito real e

noutros é muito injusta mas com um leque grande pelas áreas e pelas faculdades.

Relativamente às propinas e à contribuição por parte dos estudantes, há autores que

consideram que o mesmo é uma responsabilização para o aluno e portanto deve

pagar propinas, outros consideram que o ensino superior deve ser gratuito por uma

questão de equidade e de igualdade de acesso. Nestes dois extremos, onde se situam?

H – acho que a igualdade está garantida, eles têm os seus percursos de ensino até ao

secundário, façam o percurso que fizerem e depois o acesso é igual para todos, eles

concorrem da mesma forma. Pagarem a propina, acho que a propina se justifica… acho

que nós… mal comparado, quando vamos a qualquer sítio, público que seja, pagamos

taxas, eu sei que a resposta a seguir será, está bem mas nós pagamos impostos, têm que

servir para qualquer coisa mas por qualquer coisa nós pagamos taxas, vamos ao hospital,

às finanças, fazemos qualquer coisa e estamos a pagar pelo que estamos a pedir e devia

ser dado mas pagamos. O ensino acho que não poderá ser diferente, não estou a discutir

o valor da propina, mas o ser cobrada ou não a propina, acho que a propina tem que existir

e se calhar inclino-me mais para aqueles autores que defendem, para garantir o sucesso

dos alunos, exigir-lhes uma propina porque isto também está a ser feito não é porque o

estado quer ter muitos alunos, é essencialmente para fazer crescer o aluno e para lhe dar

algum futuro, portanto não acho mal o aluno pagar uma propina pelo tempo que cá está,

pelos serviços que tem à sua disposição, pelas experiências laboratoriais às vezes e

atenção que uma propina de medicina não é igual a uma propina de economia, não tem

nada a ver, ou melhor, não devia, não sei qual o valor de um propina de medicina e de

uma de economia, não têm muita diferença, mas um custo de medicina tem um custo

maior do que um curso de economia e portanto estão a pagar os dois, não sei se é os mil

euros à mesma mas se calhar uns estão a pagar menos do que deviam e outros estão a

pagar mais. Se calhar isto é a média, foi feito assim o valor da propina, mas acho que

deverão pagar a propina, não só para os responsabilizar a eles, como estudantes e

trabalhadores futuros que serão, que aprenderam, que levaram alguma coisa, que sentiram

e viram as suas experiências enquanto estudantes, serviu de base e de crescimento futuro

para uma vida profissional, não vejo que esta taxa, esta propina, o que se cobra, seja

muito, não estou a falar do valor, estou a falar da taxa base, chamemos-lhe assim, inclino-

me mais para a existência de uma propina, para defender os próprios alunos enquanto

cidadãos e trabalhadores no futuro.

M – tendo a concordar, acho que o valor pode ser discutido…

H – adaptado se calhar a cada curso, lá está, começamos por uma medicina..

Ou até a própria biologia aqui, com os laboratórios…

M – sim, aqui há muita utilização de técnicas laboratoriais, há muita experiência, há muita

coisa… na (IES), os cursos são, na generalidade, caros, caros no sentido do que é

investido pelo estado, pela faculdade para a manutenção dos mesmos e acho que a

propina, se mantida em níveis razoáveis, é um incentivo que diria até necessário porque

é verdade, as pessoas precisam de um pouco de responsabilização para não entrarem nas

coisas sem pensar e até mesmo do ponto de vista da sociedade e a pensar nos pais,

especificamente, acho que se conseguem algumas ferramentas para que em pessoas com

menos incentivos funcione, essa é uma delas. O que não quer dizer que as injustiças do

ponto de vista de não ser igual para todos não existam e aí o que diria era um reforço das

ferramentas que existem de apoio às pessoas que realmente precisam, aí sim é outra

conversa completamente diferente, através de bolsas, de apoios sociais, isso sim, que já

existem, são poucos, se são suficientes face ao estado em que estamos, se calhar são os

que se conseguem dar mas não os que se precisam porque as pessoas também precisam

mais, portanto aqui é complexo, mas do ponto de vista de princípio, concordaria com o

colega, acho que a propina não é um erro em si.

Sobre o valor diferenciado das propinas de mestrado e doutoramento. Os mestrados

e as licenciaturas, na maior parte dos casos têm o mesmo valor mas em relação aos

doutoramentos, consideram justo o valor aplicado?

M – o doutoramento está em 2750 € e basicamente o que penso em relação à propina de

doutoramento é que poderia ser mais flexível face ao investimento que é feito na fase do

doutoramento, ou seja, num percurso dito normal, não vejo problema nenhum com esse

valor, até porque o grosso dos doutoramentos, pelo menos na área de ciências, é feito com

apoios, não são muitos os alunos, ou não são o grosso, não são uma maior percentagem

de alunos aqueles que vêm sem ter uma bolsa. Efetivamente é um valor para o qual as

pessoas muitas vezes não entram sozinhas, a porem elas mesmas, entram porque ou têm

um projeto que os vai conseguir apoiar ou ganharam uma bolsa da fct, o que seja, e logo

aí, encaixaria isso naqueles apoios que para as licenciaturas seriam os apoios sociais, em

que efetivamente a pessoa tem que se esforçar, tem que demonstrar que é aquilo que quer,

que tem que fazer por isso, porque já estamos a falar de um grau que efetivamente é

bastante diferenciado. O valor em si, não tenho muita perceção se estaremos a exagerar

face àquilo que são as realidades noutros sítios, isso efetivamente não tenho, mas o facto

de haver um valor e de ele ser superior ao da licenciatura e ao mestrado, não tenho objeção

nenhuma, acho que não é limitante, acho que depois as próprias faculdades, face à miríade

de situações que acontecem, porque muitas vezes, e tem vindo a diminuir agora mas

muitas vezes os doutoramentos não terminam nos quatro anos ou cinco que é suposto e

aí sim, torna-se difícil, quando a pessoa já está só nos finais, e em que já não custa quase

nada à casa, continuar a pagar esse valor, mas isto já é muito específico, já é uma coisa

muito difícil de institucionalizar, teria que ser na base, e acontece um pouco, na base de

pedidos específicos que depois são avaliados internamente e dados ou não, mas isto é um

processo administrativo que quando se institui que é assim também traz custos porque

requer toda uma máquina a funcionar. Como regra generalizada e olhando para

doutoramentos de três, quatro anos, acho que sim, que a propina é justa, embora o valor

em si poderia ser mais baixo mas não acho mal que seja superior aos graus anteriores.

H – concordo em tudo com o que a colega disse, o doutoramento, teoricamente, dá a quem

o recebe um grau muito prestigiante e muito significativo numa determinada área e com

isso, não só quem faz tem uma experiência muito superior a um licenciado, digamos

assim, como também, possivelmente, para cada uma dessas áreas há determinados

empregadores, chamemos-lhes assim que precisam de cada um desses doutoramentos que

se vão fazendo e que pagam mais por ser uma coisa específica, à partida pagam mais por

ser uma coisa específica, naquilo que o empregador quer e isso justifica o facto de

provavelmente o doutoramento ter um valor superior ao de uma licenciatura.

M – todas estas realidades são muito deturpadas quando se está num momento de crise

porque obviamente se as áreas não conseguem abarcar porque estão em crise, não

conseguem manter o seu nível de atividade ou as empresas ou o que seja, obviamente

diminuem a procura por esta especialização, por este nicho e isso faz com que muitas

vezes o doutorado no mercado normal até tenha dificuldades … mas obviamente isto

entra-se em realidades que se tudo correr bem, são passageiras e portanto à partida isto

um dia mudará e a mais-valia da pessoa mantém-se.

H – é uma coisa que fica com a pessoa, esta experiência, contatar com realidades, ver a

instituição, fazer disso o seu estudo, fazer disso a sua mais-valia é importante, é diferente

de uma licenciatura qualquer, tem um patamar acima que outros não têm e acho muito

bem que seja remunerada por isso, porque está acima e portanto, se o doutoramento custa

mais, custa e deve custar, mas também há apoios da mesma forma que há nas licenciaturas

normais, também há apoios.

No vosso entender, qual deve ser o papel do estado perante o ensino superior

público? Neste momento ele é financiador e regulador, tendo delegado a avaliação

na A3ES. Consideram que a intervenção do estado deveria ser mais ou menos?

H – é, um bocadinho disso tudo era bom. Quando não é preciso regular então que se

afaste, quando é preciso financiar que então se aproxime, dar aqui uma abertura a quem

está no terreno, acho que é essencial, porque são as pessoas que estão no terreno que se

calhar sentem mais e sabem lidar com quem têm à frente, com os alunos, docentes, não

docentes, investigadores, as instituições é que estão mais capacitadas para saberem aquilo

que querem do que provavelmente quem está fechado num gabinete qualquer num

organismo de estado, digamos assim, e portanto acho que a liberdade para a educação é

necessária, o estado deve estar presente, não deve dificultar também porque isto é uma

área que é preciso estar constantemente a ser explorada para ter sucesso e portanto

também não deve fazer disto também uma lei muito rígida ou seja, é assim porque está

escrito que é assim e não passa disto, portanto, deve de haver abertura e liberdade para a

educação e o estado deve de regular aquilo que são os princípios básicos, mínimos, e

deixar liberdade para que cada agente da educação tomar aquilo que no momento sente

como o indispensável. Em questão de financiamento, quer dizer, sabemos como está o

país hoje, sabemos que é impossível ter mais financiamento e sabemos como é que as

instituições vivem hoje e sabemos os sacrifícios que fazem e acho extraordinário como é

que ainda se fazem coisas tão boas, o financiamento já foi melhor mas hoje é assim e

temos que saber viver com isto e isto é um processo que estamos a aprender a saber viver

em dez anos de crise ou o tempo que isto vai durar, acho que estamos… também não sou

masoquista, preferia estar no tempo das vacas gordas obviamente, mas também se calhar

nos faz pensar é aquilo que foi esbanjado e mal gasto no passado e creio que com esta

crise no financiamento, isto pode dar-nos pistas para o futuro e pode ajudar-nos a

organizar melhor e a não termos tanto aquela ideia de que se não conseguirmos, está ali

um senhor atrás que nos dá, portanto, temos que ter uma postura mais optimizadora dos

recursos que temos e por um lado, acho que esta crise nisso nos ajudou a gerir melhor os

recursos que temos porque todos os dias temos questões deste tipo, por exemplo,

impossibilidade de contratar docentes, ou porque não temos dinheiro ou porque é

impossível e isso é um entrave então como é que querem que sem isso se consiga fazer

ensino e portanto há aqui uma adequação, claro que há casos extremos, sem professores

não se faz nada, mas noutros tempos, se faltasse um, ah tomem lá dois, e portanto o que

estou a dizer é sabemos viver sem esse professor agora e temos que criar condições para

que a conta gotas possamos fazer essa substituição não de forma bruta como se fazia, falta

um professor, tomem lá dois ou três. E portanto foi esse o precipício que houve e agora

estamos a pagar mas o financiamento é aquele que pode ser, quanto maior, melhor mas

sabemos que não pode ser sempre grande porque isso depois pode levar ao disparate.

Acho que esta lição bem aprendida, é uma boa lição.

M – diria que é essencial o financiamento do ponto de vista social, é imprescindível, a

aposta do ponto de vista da sociedade, penso que é um motor fulcral e importante que tem

que ser mantido, agora a forma como se tratam as engrenagens desse motor é que não

pode ser híper regulador quando estamos em fase de crise e completamente não

controlador quando não há essa necessidade porque isso cria um desequilíbrio e se bem

que aqui se está a aprender muito e se calhar há um certo exagero porque há que

considerar uma série de coisas que fazem falta, os pormenores que a pessoa sente quando

entra no decorrer do ano que fazem falta e só são compensadas ou pela carolice das

pessoas ou pela imaginação muitíssimo elevada de professores e de administrativos e de

tudo em conjunto, mas que é bom que imaginemos que a crise daqui a dois anos acabe e

ficamos todos muitíssimo bem, também não vejo positivo nenhum em que se reponham

os níveis de financiamento anteriores, sem pelo menos se fazer um acompanhamento.

Acho que a regulação também é importante, dentro de uma elasticidade que seja muito

dinâmica e muito variável nas várias áreas, isso é muito importante…

H – quanto a essa reposição daquilo que foi o financiamento há dez anos atrás, que seja,

deverá o estado ter em conta que aquilo que vai encontrar daqui a dois anos ou três anos

é diferente daquilo que existia há vinte anos, existiam muito mais alunos e as necessidades

eram muito superiores ao universo que temos hoje, isso também tem que ser ajustado,

não é só repor aquilo que era o número há dez anos, é adequar esse número ao presente.

M – está um bocadinho adequado por baixo, não sei mesmo se não estará no limite, mas

acima de tudo é preciso um dinamismo e um acompanhamento mas dentro de uma

responsabilização e de uma plasticidade que as instituições têm que ter, as IES têm mesmo

que ter, são diversas demais para não terem.

Já vamos ao financiamento. Os dois falaram de regulação, do que deveria ser.

Pergunto, no vosso dia-a-dia, qual o impacto que sentem em termos da regulação, se

influencia muito as vossas vidas, se passam muito tempo a cumprir as solicitações

da tutela…

H – completamente, estamos completamente regulados pela legislação, se calhar não há

legislação que diga se podemos receber pessoas ou não, mas caminhamos para essa

regulação, é de tal forma que estamos sempre a pensar, se calhar estou a fazer qualquer

coisa ilegal porque sabemos que deve de haver uma legislação que diz algo e que se calhar

não devíamos estar a fazer assim porque temos a noção e a ideia clara de que há regulação

a mais. Porque é que ela existe? O estado obriga-nos a que seja assim para combater o

quê? Isto foi feito porque se calhar antes da lei existir, havia qualquer coisa que obrigava

a que fosse assim ou foi porque alguém um dia se lembrou, não creio, se calhar existe

muita lei para combater excessos, abusos, principalmente os financeiros, principalmente

esses que são mais o drama dos dias de hoje mas é muita regulação, vivemos num

emaranhado jurídico tal que muitos deles olhamos e pensamos que estão em choque uns

com os outros e a forma como se escreve a lei, muitas vezes leva a que isso se faça ainda

mais lei para esclarecer e depois ficamos pior ainda porque pensávamos que era permitido

o A e o B, depois ganhamos o C e não se sabe para onde temos que ir. E portanto, há

regulação a mais neste sentido em que ela porventura não é muito transparente, não é

muito clara e desgasta, só de falar nisso fico cansado.

M – mas é verdade, acho que muitas das coisas que se têm que cumprir e nós na fundação

tivemos uma experiência abrupta e violenta desde 2012 para cá nesse sentido, que as

fundações foram avaliadas e a nossa fundação, que era até à data de agosto de 2012

entendida como privada porque não havia especificações nesse sentido, foi enquadrada

como pública, simplesmente porque tem uma ligação à (IES), do ponto de vista da origem

e até do CG, portanto, há aqui uma intromissão, como há uma intromissão num sítio

público, fomos considerados públicos também e então de repente passámos a ter que

cumprir uma miríade de situações, de regulamentos, de leis, por aí afora, que muitas vezes

estamos a aplica-las, ou a tentar, e a sensação é sempre esta, há qualquer coisa que não

estou a fazer, mas tentamos muito e a sensação que se tem nalgumas é que aquilo é para

quê? O que é que se está a conseguir no âmbito, e aqui falo muito mais ligada à

investigação que é a função da fundação, o que é que aquilo está a regular e torna-se às

vezes absurdo o que se está a fazer, um bocadinho porque sim porque está escrito assim

mas não se vê o intuito, que as leis seriam uma segurança para que não hajam compras

estapafúrdias, adjudicações mal feitas em bolo, em grandes valores, absurdos o que seja

e essas todas poderão ser aceitáveis e até fáceis de cumprir, mais ou menos, depois há ali

um leque de pequenas coisas que não se vê o produto e essas sim, acho que passam por

uma grande décalage entre o legislador e a grande miríade de instituições onde aquilo vai

ser aplicado e aí sim, acho que o ensino público, nomeadamente a investigação precisa

que as leis especiais sejam revistas, atualizadas e isso está prometido inclusivamente no

último orçamento, tem uma frase a dizer que as leis serão revistas dentro em breve e

estamos assim ansiosos. Essa seria a maior dificuldade, de ver o objetivo da legislação

específica para se a pessoa sentir que tem utilidade fazer com mais convicção e depois a

adaptação às várias situações.

Dificuldades financeiras resultantes dos cortes orçamentais. Falaram da

impossibilidade de contratação de professores, falaram da burocracia, que outras

dificuldades aparecem na gestão dos vossos quotidianos.

H – vou dar-lhe números, o que o estado nos dá não chega para pagarmos ou representa

vá lá 80% daquilo que são as nossas despesas de pessoal, portanto, nós para

sobrevivermos temos que ir buscar as receitas próprias algures, talvez a propina seja a

outra coisa para conseguir, pelo menos, só estamos a falar de pagar ao pessoal, porque

depois há todas as outras muitas coisas que são necessárias para o ensino e portanto se o

orçamento diminui, o próprio estado cria regras, diminuímos isto mas vocês não podem

contratar mais nada, não vamos nós ter a infeliz ideia de contratar porque há muito

dinheiro porque se não temos como podemos contratar? É um bocado escusado dizerem

para não contratar mas não vá alguém ter muito dinheiro, esqueçam. Porque o orçamento

está a decair, nós a meio do ano, do meio para a frente estamos esmagados porque não

temos certeza se as nossas receitas previstas próprias digamos assim, as outras onde

esperaríamos ter dinheiro, fora o estado, se vão a bom porto ou não, ou seja, se vão atingir

o limite que nós, no início do ano, quando se faz o orçamento, se vão atingir esse ponto

ou não e por isso e porque não podemos ter uma despesa superior à receita, se a receita

não entra, então não podemos fazer despesa. A partir do meio ano para a frente estamos

a ser esmagados e a andar à medida que vai entrando dinheiro, portanto, se entrar tudo

bem, podemos fazer, podemos comprar pipetas, papel higiénico, que entretanto se gastou,

foi um ano mau, podemos pagar a eletricidade porque infelizmente foi um ano muito frio

e gastou-se muita luz, energia, ar condicionado e portanto, vivemos esmagados com o

tempo na ânsia de termos a receita que queremos, sabendo logo ao princípio que o estado

à partida não vai dar. E é este circuito, esta bola muito difícil de entender às vezes que faz

com que as IES vivam sufocadas porque se viveu com a ideia durante muito tempo que o

estado estaria sempre cá quando fosse preciso, agora o estado não pode estar e então

vivemos, espera lá onde é que estão as gorduras, onde é que se pode cortar, o que podemos

tirar fora para poder manter o ensino na mesma linha que queremos e é esse esforço que

se faz, dia-a-dia, quando se autoriza qualquer despesa nova, é nisso que se pensa, não vai

fazer falta para outra coisa, vamos lá pensar um bocadinho, como é que a despesa está a

evoluir, como é que a receita está ou não a entrar, não estamos aqui a dizer que isto é

muito importante e depois dinheiro, fluxos financeiros não existem, não podíamos acabar

o ano endividados porque sabemos que o seguinte então ainda vai ser pior porque temos

que pagar o que não pagámos e mais o normal do ano seguinte e portanto, gerir assim dia-

a-dia é complicado mas é assim que se tem que gerir nos dias de hoje, não pode ser à

bruta e leva-nos a muitas limitações, pois claro, também gostaríamos muito de fazer mais

obras por exemplo, em algumas fachadas, em alguns pisos de alguns edifícios, porque

isto é um mundo, a faculdade é enorme e não podemos fazer, vamos remediando com

aquilo que se pode, vamos deixando obras estruturais se calhar para mais tarde, já muitas

foram feitas, felizmente, devido à boa gestão passada foi possível fazer algumas obras

mas a gestão do dia de hoje é feita à vista, há fazemos, não há, temos que esperar.

M – estas limitações, o problema que podem gerar é que quando afetam diretamente o

ensino na sua qualidade, que até agora se tem conseguido que não aconteça, mas graças

ao esforço da gestão, porque acho que a (IES) efetivamente tem uma boa gestão financeira

nesse sentido mas também da dedicação das pessoas que cá trabalham. E acho que o risco

é que este esmagamento comece a tocar em zonas que são graves, em que se começa a

afetar o ensino e coisas tão básicas como sim senhora, ok, não se faz obras porque não se

pode mas se calhar se esmagar mais começa a afetar coisas que não são obras, de

reestruturação ou de manutenção e aí o problema só se arrasta, vai cair mais tarde ou mais

cedo e vai ficando mais feio e por isso isto é uma área muito sensível, é muito fácil a

pessoa resvalar para zonas mais perigosas e que podem afetar a boa face e o ensino. E aí

sim, acho que o estado, naquelas negociações todas que faz com os reitores e por aí fora

tem que ter a noção da grande máquina que está a afetar quando decide ser mais rígida

porque é muito importante em qualquer país o ensino superior, para que tudo o resto

funcione. Do ponto de vista da fundação, não recebemos verbas diretas do OE, gerimos

dinheiros públicos mas são todos eles concursados ou seja, concursos que abriram FCT,

EU, H2020, o que seja e portanto a nossa gestão é significativamente primeiro mais

pequena que a da (IES) e depois é diferente porque temos que lidar com as nossas

previsões a dois, três anos, do ponto de vista dos projetos que temos, as calls que sabemos

que vão abrir e quanto isso vai gerar, portanto, é uma gestão toda ela completamente

diferente porque não temos verbas diretas do OE, é tudo concursado. O que não nos livrou

de ter que fazer, que cumprir todas as regras dos institutos públicos, como se tivéssemos

OE direto, o que é um exercício deveras interessante e imaginativo acima de tudo porque

acabamos naquele contra senso de vou fazer porque sou obrigada mas isto não afeta nada,

nem as contas do estado nem as minhas, quando muito afeta a eficiência da investigação

que estamos a fazer, requer um imediatismo que por vezes o processo administrativo

público atropela um bocadinho.

Receitas próprias. De onde vêm? Sem ser as propinas…

Sem ser as propinas mas atenção que as propinas são a maior fatia, estamos a falar de um

orçamento, grosso modo, de 30 milhões, 20 milhões vêm do estado, 6 milhões de propinas

e o resto de projetos que se ganham de verbas que entram, de contratos de prestação de

serviços para o exterior, alugueres de espaço, essencialmente é por aí, portanto a fatia é

pouca se tirarmos o estado e as propinas, sobra muito pouco, mas é esse pouco que nos

faz respirar ou que nos faz poder respirar, também é por aí que nós ansiamos, é ter os

projetos que ganharam na faculdade, a prestação de serviços ao exterior, ver os nossos

espaços ocupados com algum retorno financeiro.

Mas também não é certo, não é garantido…

H – tem anos em que acontece muita coisa, por acaso tem havido, uns congressos, uns

seminários e assim…

M – lisboa está em alta nesse sentido e isso tem havido …

H – é esperar que continue, senão temos que ver.

A fundação são as receitas dos projetos?

M – na fundação dividimos a coisa de forma diferente, temos aquilo que chamamos as

prestações de serviços, que é a investigação sob contrato e portanto são financiadores

privados que por alguma razão contataram com os centros de investigação ou com um

investigador em particular para uma consultoria, algo especifico e isso representa

qualquer coisa como 15% do orçamento da fundação em geral. E depois temos o que nós

chamamos de subsidiado que são os programas concursais que se dividem entre os

internacionais, maioritariamente europeus e os nacionais, maioritariamente através da

FCT mas que podem vir da Gulbenkian, da FLAD, tudo o que seja concurso que abra nós

podemos concorrer e portanto isto situa-se mais ou menos nos 15% nas prestações, ali

entre os 30 e os 35% nos projetos internacionais e depois o grande bolo continua a ser,

50% quase os projetos ainda nacionais e isto é uma tendência que estamos a inverter,

estão a aumentar o peso dos projetos internacionais e a diminuir os nacionais, porque o

dinheiro do ponto de vista do financiamento internacional também diminui, o número de

concursos que abriram, este ano ainda nem abriram, vamos lá a ver se chega a abrir e

portanto, esta dinâmica também tem vindo a mudar, temos aumentado tanto as prestações

de serviços como os internacionais.

São vocês que procuram as fontes de financiamento ou são procurados?

H – estamos a trabalhar para disponibilizar mais a nossa oferta ao exterior de maneira a

que sejamos nós a tentar captar fornecedores do que o contrário porque até agora é

verdade, tem sido isso, são os fornecedores que vêm ter connosco para alugar os espaços

ou para fazer outra coisa qualquer e da mesma forma, não sei se da mesma forma, as

prestações de serviços que se fazem, porque aí há uma relação muito grande entre o

prestador de serviços e quem pede o serviço, portanto, lá fora há uma empresa qualquer

que precisa que alguém da faculdade, algum docente ou investigador faça um serviço e

portanto há aqui uma procura de partida e aqui não é tanto como os alugueres de espaço,

ou seja, estávamos numa posição que estamos a tentar inverter, estávamos numa posição

que era, estamos aqui, se quiserem vir cá venham ver-nos e fiquem com o espaço, agora

estamos, nesse produto, estamos a ter a posição ao contrário, estamos a mostrar-nos ao

exterior para que possam ter a ideia que podem fazer aqui o seu evento, aquilo que tiverem

que fazer. Nas prestações de serviços, essa procura é mista, alguém de fora que precisa,

sabe que aqui há, portanto, há aqui uma oferta e uma procura…

M – as prestações de serviços são muito específicas, relacionadas ou com equipamentos

específico ou assim, são coisas que quem está na área já sabe que existem, não é

propriamente uma coisa que se possa divulgar, não há um marketing, as pessoas sabem

que são equipamentos específicos, caros e que por acaso existem na faculdade junto com

o know how técnico, é uma coisa difícil de haver marketing até porque a dedicação

temporal ou o que seja parece fachada de serviços também não… não é propriamente uma

empresa. Na fundação, a única coisa que mudámos nesse sentido, nos concursos, aquilo

que fazemos é uma procura ativa de aberturas de concursos de leques variadíssimos de

coisas e nisso a faculdade tem um papel muito importante porque a própria faculdade faz

isso, faz divulgação no site de todos os concursos que abrem que têm alguma coisa a ver

com ciências e por isso aí é uma conetividade na ligação, coisas que descobrimos,

mandamos para aqui para serem divulgadas e vice versa, é tudo a mesma coisa, para nós

uma coisa que está divulgada na faculdade, está divulgada, não temos que andar aqui com

coisas separadas porque basicamente somos o mesmo e fazemos procura ativa, nos

serviços é a tal coisa, é muito específico, portanto, normalmente vem só num sentido, não

é uma procura ativa, um marketing ativo. Aquilo que fizemos mais ativamente nestes

últimos dois anos foi a adesão a consórcios internacionais temáticos, grupos de

especialistas que se juntam para fazer um think-tank numa temática qualquer, a fundação

tem-se associado, através de investigadores específicos e assim mas em nome de toda a

coletividade de investigação da (IES) e são esses grupos porque sabemos que esses grupos

depois quando decidem concorrer a chamadas da EU têm uma capacidade de resposta

diferente porque já estão feitas as conexões dos diferentes países, dos especialistas em

diferentes áreas e isso mudou um bocadinho mas já desde há uns dois anos para trás que

está a mudar. Depois, do ponto de vista da estruturação das propostas em si, há toda uma

tendência para alinhar com aquilo que está definido como sendo as prioridades e aí tem

um leque grande, desde aquilo que se chama a especialização inteligente nacional até

àquilo que foi definido pela EU como as áreas de maior necessidade, tentarmos de alguma

forma estar atentos a essas áreas.

Há bocado falaram-me da captação de alunos face à diminuição do número de

alunos. Tem alguma estratégia de captação de alunos?

Temos tido nos últimos anos, anualmente fazemos isso por sistema que é ir às escolas,

mostrar os nossos cursos, a nossa oferta pedagógica, explicar o que é o mundo das

ciências, temos também outros eventos como tivemos, um deles muito positivo que foi o

ser cientista em que as inscrições superaram as vagas que haviam e dávamos a hipótese a

um grupo de alunos que vinha do secundário virem visitar ciências, irem aos laboratórios

com as equipas de investigadores e fazerem experiências e portanto tentarmos captá-los

não só para terem uma ideia do que se faz mas também em alguns, é verdade, aí não

escondemos, tentar que alguns deles daqui a um ano ou dois venha para cá e todos

gostaram da ideia, se vêm ou não logo se verá são alunos do 10º, 11º ano, portanto, foi

uma experiência enriquecedora esta do ser cientista que vamos repetir e já fazemos esse

há algum tempo com uma abordagem junto das escolas, mostrar a nossa oferta, mostrar

aquilo que temos para dar.

Jornais, revistas?

H – isso não dá em nada, já fizemos e chegámos a essa conclusão, não é por sair um

anúncio no jornal que o aluno, ah vou para ali, não é assim, pessoalmente acho que não é

assim e a direção também entende que não é por aí e que os anúncios não chamam.

M – onde este marketing funciona mais e aí passa um bocadinho não pelos anúncios

especificamente mas reportagens ou o que seja e nisso os 28 centros de investigação que

estão nesta casa estão todos a começar a preocupar-se com isso, que é ter um marketing

mais agressivo no sentido dos outputs da investigação, ou seja, a comunicação de ciências

é uma coisa difícil porque a mensagem é difícil de ser simples e todos os centros se estão

a esforçar no sentido de fazer pequenas reportagens, podem ser jornalísticas ou o que seja

em que obviamente fica no background o centro de investigação da (IES) e isso para um

aluno, dependendo das áreas pode ser muito importante porque muitos dos alunos sabem

ao que vêm e muitos valorizam o trabalho laboratorial ou isto ou aquilo e por isso se

houver investigação de sucesso naqueles laboratórios mais facilmente também um aluno

se sente compelido a associar-se à faculdade e em tentativa a esses grupos, quase todos

os centros de investigação desta casa são pseudo especializados portanto estão mais

associados a um departamento qualquer, isso penso que funcionará, embora seja

impossível de contabilizar. Mas é um esforço que se está a começar a fazer pro

ativamente.

Alunos internacionais?

H - Não tenho números para lhe dar mas tem havido cada vez mais e tem havido também,

ao nível da reitoria tem havido uma aposta na área de estudantes internacionais e entraram

este ano algumas dezenas, mais dos PALOP.

Se tivessem que fazer sugestões a outras IES de como angariar financiamento, quais

seriam as vossas sugestões?

M – não se aplica porque na fundação procuramos sobretudo os financiamentos mais

concursais e portanto não é… diria que do ponto de vista da investigação, esta

exteriorização dos outputs da investigação fazem muita diferença e vêm-se casos

nacionais que têm bastante mais sucesso que a (IES) ou a (universidade) porque isto

também pode ser feito a outro nível, também porque são máquinas mais pequenas, por

exemplo, a universidade de Aveiro tem uma frequência de aparecer na televisão com

pequenas coisas, reportagens, nomeadamente na área do ambiente, tem uma frequência

relativamente elevada de exteriorização mas isso tem muitas vezes a ver com as áreas que

são estabelecidas, se está mais ligado às áreas técnicas ou empresariais ou o que seja os

outputs são mais aplicáveis, logo mais fáceis de divulgar e isso tem que se conseguir dar

a volta e tornar chamativo o output que se tem explicando quais as aplicações futuras ou

aquilo que se tiver em mente ser possível fazer. No sentido da investigação, a investigação

é muito importante para as universidades, enquanto aluno se calhar não é a primeira coisa

que a pessoa pensa mas depois do ponto de vista da importância da faculdade, isso é

muitíssimo importante, as faculdades ganham nome a nível internacional ou entre os

outros centros de investigação precisamente pelo peso que têm e portanto acho que é uma

aposta a fazer.

Mecenas ou patrocinadores.

Temos (o banco), a (universidade) há pouco tempo, este ano, conseguiu o patrocinador

(banco) para todas as escolas da (universidade), digamos que esse é o nosso mecenas que

felizmente nos tem ajudado, já tinha ajudado no passado, era mecenas mas ao agregar a

UL com a UTL, o mesmo mecenas aumentou a sua contribuição, pelo menos para nós, e

portanto é um bom mecenas, digamos assim.

Há mais algum a nível particular, empresas?

Não.

Quando é estabelecido o protocolo, há algum tipo de contrapartida exigido pelo

(banco)?

H - No caso (do banco) os alunos todos têm acesso aqui ao campus com um cartão

magnético (do banco) que pode ou não ter conta e tem também privilégios na utilização

dos espaços, por exemplo, se quiserem organizar algum evento, mediante a escola em que

quiserem realizá-lo têm esse espaço nesse dia para o evento que pretendem organizar mas

não fazem eventos todos os dias, também não podem porque atenção, isto aqui há aulas

e portanto não estão aí sempre à espreita, portanto, quando há disponibilidade ou em

tempo a negociar têm essa benesse.

M – diria que o facto de todos os alunos terem um cartão que na inscrição é feito com um

placard que diz caixa e as pessoas ficarem com um cartão magnético que podem ou não

associar conta, numa altura em que muitos dos miúdos estão precisamente em idade de

abrir conta, para eles é uma mais valia

H – e no caso até depois podem abrir conta que segundo consta, é uma conta que não tem

comissões, que não tem custos, para o banco interessa são clientes e abrem uma conta

mesmo que não tenham lá dinheiro é um cliente e o número de clientes ajuda.

Como vêm neste momento a autonomia do ensino superior, está legislada mas

sentem que têm autonomia na prática…

H - Temos as autonomias todas na escola mas a verdade é que administrativamente

estamos encurralados, financeiramente estamos apertados, patrimonialmente, temos o

património que temos, não podemos vender… isso é garante de quê? Ter essas

autonomias todas, a autonomia está no papel, não lhe posso dizer assim grande coisa sobre

as autonomias, elas existem, fazemos do ponto de vista pedagógico e educativo o que

queremos, ninguém nos diz não façam assim, não criem esse curso, ninguém nos diz nada,

é verdade, o conselho científico pensa a parte pedagógica determina…

Mas passa pela A3ES.

H – sim, mas qualquer curso que saia tem que ser avaliado e acreditado e são eles que

acreditam portanto nós fazemos aquilo que queremos mas também sabemos que não

temos grandes margens, vamos ver como sai o novo RJIES

M – aquela parte que ia ser revista também se referia à autonomia, estamos na expectativa

de ser melhor.

O RJIES instituiu a criação dos CG nas universidades e, embora em minoria, o que

vos parece esta entrada de membros externos para a governança do ensino superior?

H – a mim não me choca, até porque muitos desses membros externos que estão no GC,

elas próprias pertencem a meios onde se calhar também existem as mesmas realidades

financeiras ou politicas ou outras e portanto é apenas se calhar contributos de pessoas que

não estão tão ligadas a um meio tão especifico como uma universidade podem dar uma

boa opinião sobre as estratégias que devem ser seguidas porque se calhar se fossem só os

da casa podia-se ficar ali preso em qualquer assunto e não abrir os horizontes, que acho

que abrem, atenção, acho que até são criativos, mas assim se calhar também se ganha e

não se perde nada em termos opiniões externas à faculdade e portanto é bom, não vejo

nada de mal nisso.

M – sim, não havendo uma maioria, uma decisão que possa ser afetada ou decidida

unilateralmente, até vejo a conversa do ponto de vista bilateral ou seja, tanto é bom

receber ideias novas de fora, como muitas vezes a perceção de outras entidades sobre o

universo e os problemas e as dificuldades enfrentadas pode ser melhor nesse sentido,

portanto, se forem bons veículos para chegar mais longe, é ótimo.

Têm tido muitos alunos com dificuldades em pagar as propinas?

H - Nós temos e não negamos planos de pagamento a quem nos pede e também não

sentimos que haja abandono da forma propagandística que se fala, pode haver causas de

abandono por dificuldades mas não são números que nos choquem, são poucos,

dificuldades sim, mas nós aceitamos os planos e queremos que o aluno não deixe de

estudar porque agora não tem o dinheiro todo para pagar a prestação mas se diluir isso

tudo bem.

Outras formas de ajuda, bolsas internas?

H - Uma das bolsas de mérito ou ação social acabou, não sei qual delas, acho que eram

as de mérito, ficaram outras, mas nós o que fazemos é isto.

Consideram que a missão da universidade se encontra bem definida atualmente,

face a estas alterações que têm acontecido?

H – acho que a universidade é isso tudo, produção, difusão de conhecimento, tudo isso e

não vejo que a intromissão no mercado seja uma coisa tão negativa quanto se pensa

porque se as realidades institucionais e empresariais se ligarem, qual é o mal, não há mal

nenhum, pelo contrário, acho que ganha a empresa, porque tem alunos aqui para pôr lá se

necessário e ganha a universidade que tem aqui uma forma de arranjar uma ligação ao

mercado de trabalho, não sei se a pergunta foi exatamente esta, penso que está bem, a

missão da universidade, transmissão e produção de conhecimento e a ligação ao exterior,

acho que sim, acho que deve existir e por existir não deve ter uma relação tão direta com

o financiamento, tem o que tiver.

M – do ponto de vista de mecenas também não estou a ver no nosso mercado atual e face

ao que é a atividade da (IES), a dominância de um mecenas pudesse de alguma forma

afetar a independência da formação dos alunos, não creio que isso seja um perigo, acho

que não, vejo mais ainda os benefícios do intercambio do que propriamente as ameaças

que possam vir de mecenas dominadores que a seguir, vamos supor, define o que quer

que seja, o que se abre ou o que se fecha, isso não existe.

Querem acrescentar alguma coisa?

H – não, desejar boa sorte para o resto do seu estudo

Muito obrigada aos dois pelo tempo que me dispensaram.

Entrevista F5

Poderia falar-me um pouco da sua formação académica?

Sou professor catedrático de direito. Licenciei-me na (IES privada nacional) e fiz aqui o

resto da minha carreira. Sou professor convidado em várias universidades estrangeiras

mas tenho uma enorme dificuldade em falar sobre mim porque me perco pelo

caminho… às vezes até me perguntam a idade e eu pergunto qual o assunto? Se for para

um assunto tenho 90, para outros tenho 18. Mas sou professor catedrático de direito.

Há quanto tempo é director?

Eu fui subdirector, 4 e director 7.

E como é a sua avaliação do cargo? Como tem sido?

Bom, acho que tem sido boa mas eu sou muito mau a fazer avaliações porque tenho

dificuldade em avaliar os outros, fará a mim próprio… Acho que o cargo passou por

todas as grandes mudanças legislativas e institucionais do ensino superior. Tive de fazer

a adaptação a Bolonha, tive que fazer o luto da lei de autonomia de 88, que foi uma lei

excelente, a melhor lei que tivemos em termos de ensino superior universitário nas

últimas décadas, valentes décadas, fazer o luto dessa lei, habituarmo-nos ao RJIES,

habituar à mentalidade de comunhão dos nossos dirigentes políticos, grande parte deles

foi estudar para a América, grande parte deles não tem sensibilidade para as

humanidades, basta ver a formação académica dos nossos ministros da educação,

tirando o Guilherme de Oliveira Martins, nos últimos anos têm sido sobretudo

engenheiros, tecnocratas, pessoas que acreditam que o atraso do país se deve ao facto de

termos muitos poetas e há uma linguagem, que é uma linguagem de economia de

exclusão, como diz o papa Francisco, que nos tem levado para universidades empresa.

A universidade, creio que foi fundada na Europa e não na América e creio que é muito

anterior ao regime capitalista que nos governa. E por isso creio que a missão da

universidade não seja vender diplomas, arranjar receitas próprias, fazer investigação, a

missão da universidade é a sapiência. E a sapiência só se consegue com o tempo, é

preciso porfiar, resistir, ficar, por isso é que se chama ao professor, magíster, e aos

ministros, minister, quem sabe latim, sabe quem é o máximo e o mínimo e, nessa

medida, a ideia que tenho do meu cargo de director é que talvez tenha perdido

demasiado tempo com questões burocráticas e administrativas, mas foram importantes

para eu entender que quem manda nos destinos, quem manda nos poderes legislativos e

nos poderes executivos dos destinos da universidade não percebe nada disto. A

universidade precisa de uma natureza jurídica própria, não pode ser nem um instituto

público nem uma associação, nem nada disso. A universidade é onde tecem os livros.

Está á parte do que possa ser uma caracterização jurídica catalogada e o poder político

não sabe lidar com isso, os poderes políticos… aqueles que têm criatividade, inovação,

genialidade. Ou não chegam a lado nenhum porque num partido político não há

ninguém com estas características que resista às pequenas safadezas que lá se passam e

se chega lá, facilmente se adapta para resistir. Portanto, não há cultura na universidade

de hoje, só há ciência. E quando não há cultura, coitada da ciência.

Nesse sentido, ia perguntar-lhe qual a sua opinião sobre o ensino superior

português, mas já foi dando algumas luzes…

Eu tenho uma vantagem, toda a gente aqui na universidade e, sobretudo, universidade

de ciências exactas, tem muito orgulho em ter estado a estudar na Europa e nos estados

Unidos, eu tenho imenso orgulho de ser de África e de ter estudado em África. Grande

parte das fontes da cultura africana estão apagadas e escondidas pelo colonialismo, mas

temos uma cultura muito boa em África e dizer que África mão tem filosofia, que África

não tem arte são preconceitos que eu julgava completamente ultrapassados mas que vejo

que renascem com grande força. Venho de uma cultura bastante forte, bastante

arreigada a valores e a tradições e portanto em termos de ensino superior, faço uma

comparação sempre com aquilo que uma universidade é, independentemente dos títulos

que dá. E uma universidade, se é uma casa do saber, e se o saber é a paciência para

pensar nas coisas depois de as conhecer, então a universidade de África é um bom ponto

de comparação para dizer que o ensino português pode ir buscar também inspiração aí.

Tenho uma má imagem do ensino superior português.

(estrangeiro), professor?

Sou de (estrangeiro), filho de pai (estrangeiro) e nasci em (estrangeiro).

A propósito de Bolonha, que também referiu, como considera ter sido a sua

implementação e o resultado dessa implementação.

Bolonha é neste sentido. O professor (nome), deus o tenha, dizia que a universidade

europeia nasceu em Bolonha e morreu em Bolonha. Claro que o professor (nome) era

um homem bombástico, mas a ideia não é assim tão despicienda para aquilo que se

segue. Bolonha foi um acordo dos ministros do ensino superior e da educação da

Europa, para tentar responder à concorrência norte americana. Ora, não há palavra pior

quando se fala de ensino, a concorrência. A fuga de cérebros para o estrangeiro para os

estados Unidos, deve-se a um sistema que prostitui o conhecimento. Quem tem muito

conhecimento, quem tem muita ciência, quem tem muita cultura, tem que ganhar muito

bem e quem não ganha bem não é considerado, numa sociedade em que o dinheiro é

deus. E nessa medida, olhar para Bolonha como uma coisa positiva, pressupunha que

teríamos liberdade, universidades autónomas face ao poder político, teríamos liberdade

de ir buscar a Bolonha o que Bolonha tinha de melhor. O que é que Bolonha tem de

melhor? O intercambio universitário, a possibilidade de haver uma circulação de

pessoas, de ideias, de livros, mas infelizmente, os livros continuam a ser taxados como

são, basta dizer que o IVA é estabelecido pelos governos dos estados e não pela união,

os estudantes não conseguem circular livremente porque a escolha é muito feita em

função de critérios como fica ao pé da praia, é verão todo o ano. E portanto, o programa

ERASMUS, está agora a libertar-se destas cargas, mas no início era muito difícil

implantá-lo e finalmente, Bolonha foi uma forma de os governos pouparem dinheiro,

reduziram os cursos, em número de anos e em número de disciplinas, passaram grande

parte das despesas para dentro das universidades e portanto, Bolonha foi um truque

político para degradar ainda mais o ensino que já vinha em escorregadela. Portanto, um

plano inclinado, nós que tínhamos esperança que depois da revolução ou depois de

vermos uma universidade anquilosada, velha, ressentida, cheia de pequenas querelas e

de pequenas intervenções do poder político, vemos agora mais do mesmo mas por via

democrática e é muito mais difícil lutar contra estas coisas em democracia do que em

ditadura. Isto só para dizer que não há coisa pior que não ter consciência da sua própria

ignorância, que é isso que nos acontece…

Porque em democracia não há uma figura, não é?

Não, não há, não temos ninguém em quem atirar a pedra, porque somos nós, dizemos

que o poder que nos representa somos nós mas não me vejo muito retratado na dívida

por exemplo. E noutras coisas também.

Professor, a sua opinião sobre o ensino privado.

Primeiro é uma declaração de interesses. Eu sou um homem que acredito que a função

do estado é cuidar dos fracos e nesse sentido, o estado precisa de existir e de existir com

todos os meios necessários para que as sociedades não se tornem muito desequilibradas.

Cabe ao estado uma função correctiva na clivagem que existe entre ricos e pobres, entre

pessoas cultas e ignorantes e etc., portanto, cabe ao estado a promoção da igualdade. E

como acho isso, vejo o estado como uma pessoa de bem. Posso ser ingénuo, mas prefiro

ser ingénuo a desconfiado e portanto, ingenuamente acredito e não há coisa melhor do

que ser autêntico, que o estado deve corrigir as desigualdades, nesse sentido. Se me

pergunta qual a opinião que tenho do ensino privado é, se o ensino fosse

verdadeiramente privado, se eu tivesse um projecto educativo para o ensino superior,

por exemplo, queria ensinar direito de uma forma especial, queria ensinar direito através

de disciplinas que de outras formas não dão, queria trazer juízes para o ensino, queria

fazer um ensino prático, um ensino teórico, queria fazer um ensino mais ligado ao

direito anglo-saxónico, se fosse isso, tudo bem. Infelizmente não é assim. O ensino

privado em Portugal, sobretudo ao nível das faculdades de direito, que é o que melhor

conheço, são negócios que vivem da exclusão através do numerus clausus dos alunos.

Portanto, os alunos que são oriundos de meios sociais mais baixos e que frequentam as

escolas públicas, muitas vezes onde ser um bom aluno é uma audácia, porque são

estigmatizados se estudam e se tiram boas notas, esses alunos têm notas muito baixas e

não entram, tirando honrosas excepções, claro, e não entram no ensino superior público,

porque o numerus clausus, por exemplo, em medicina, engenharias, arquitecturas é

muito elevado… e em direito também, na universidade pública também pode vir a ser,

temos o 12 como nota mínima de entrada. Ora, estes alunos, acabam por ir para um

ensino privado em que ninguém vai, ou pelo menos a maioria, ninguém vai estudar para

a universidade A, B ou C por causa do seu projecto educativo. Vai, porque não

conseguiu entrar na faculdade pública e a propina de um ano na universidade pública

corresponde à propina de dois ou três meses numa universidade privada. Há uma

inversão da pirâmide social. Aqueles que deviam ascender a um escalão económico

superior pelo conhecimento e pelo canudo, ficam pelo caminho, a não ser com um

grande sacrifício das famílias e dos próprios para irem para as universidades privadas

para terem esse canudo. Por isso, sou muito contrário à ideia de um ensino privado que

vive em virtude de decisões políticas erradas do poder político. Porque o poder político

deveria dar oportunidade de frequentar um curso a todas as pessoas que querem, mas

este discurso, esta acção contraditória a crescer, de que as universidades são agências de

emprego e o estado é que fixa, um discurso demagógico, de que se nós pagamos

impostos, para que estamos a formar pessoas para o desemprego. A universidade não

forma ninguém para o emprego ou para o desemprego ou para estas apetências.

Formamos pessoas para elas serem sapientes, para saberem coisas, quanto às profissões,

nenhuma universidade é um instituto politécnico, nenhuma universidade é um centro de

programação de emprego dos governos e é isso que está a acontecer. Liga-se a abertura

de vagas à empregabilidade dos cursos e isto a médio prazo, acaba por arruinar

completamente qualquer projecto educativo que seja na universidade.

Então neste sentido, nesta tendência de mercantilização do ensino superior, como é

que acha que vai ser o futuro do ensino superior público português?

Vai depender de muita coisa. Em primeiro lugar vai depender da força que as

universidades possam ter para resistir a isto, não têm mostrado nenhuma. As

universidades tornaram-se, sempre foram mas agora está a piorar, as universidades

tornaram-se lugares onde, algumas pessoas que não têm capacidade ou competência

para se imporem em outros lugares, em lugares electivos de partidos políticos, de

associações profissionais, etc., escolhem a universidade para terem projecção mediática.

E não queria dar exemplos porque não quero ofender ninguém mas temos exemplos

bem perto disso. E portanto, os cargos nas universidades, servem sobretudo para

projectar mediaticamente os titulares, em prejuízo para a própria instituição. Um

exemplo no sentido contrário do que estou a dizer, que foi o professor Barata Moura. O

professor Barata Moura é um grande universitário, foi reitor, fez dois grandes mandatos

e pôs sempre a Universidade de Lisboa acima da sua própria pessoa. Portanto, falo nisto

no sentido de dizer que o ensino universitário, se tiver universitários, resiste. Se tiver

administradores, burocratas, é uma coisa que me está a deixar um bocadinho

preocupado no ensino superior público é o RJIES. O RJIES foi uma lei péssima, feita

por um ministro que saiu com uma fama de competência, que eu acho que foi uma das

maiores incompetências que foi o Mariano Gago, do ponto de vista da gestão da

universidade, da ciência, tiro-lhe o chapéu, mas eu não percebo nada disso e por isso

posso tirar o chapéu a qualquer pessoa, quando ignoro, pode vir aqui um árabe a falar

alemão, que eu tirarei o chapéu, porque não sei se está a falar alemão ou árabe, mas se

tiver aquele ar afirmativo que está a dizer alguma coisa de jeito, sim. A universidade

precisa de cultura, a universidade precisa de pessoas que sabem que o saber é milenar,

que o saber é serviço, que o saber é alma, que o professor, por mais projecção que

adquira em virtude das suas intervenções mediáticas, o espaço do professor não é o

palco televisivo é o terreno da sala de aula. Se o professor for fiel a isso, a aula for fiel

ao aluno, à escrita, aos livros, não impor os seus manuais como livro único da sala de

aula mas deixar para os alunos a pluralidade opinativa, se eu respeitar o suficiente o

aluno para ouvi-lo e avaliá-lo sem exame, resultando isto numa avaliação que é contínua

porque não resulta do somatório de dois testes ou de meia dúzia de impressões orais, se

a universidade puder voltar a isto, temos a universidade safa. Infelizmente, a

universidade está a mergulhar nesta ideia dos gagos e desta gente toda, das pessoas que

têm uma ideia de que a universidade tem que ser competitiva, que deve participar em

rankings, que deve imitar os EUA, porque o portuguesito, lá dizia o Eça, sempre que vai

lá fora, vem com uma ideia nova e nem a procura adaptar, quer o ipsis verbis, o que viu,

transpor. Ora, eu que sou de África, sei o que é a mentalidade de um colonizado. Um

colonizado é aquele que não sabe quem é, não sabe a sua história, tudo lhe foi roubado e

ele fica a imitar o que é dos outros por achar que não é ninguém. Os universitários

portugueses acham que não são ninguém, cada vez mais. E, por isso, cada vez mais

imitam outros para poderem ser alguém. Ora esse alguém não tem autenticidade. A

autenticidade está na fundação da universidade, da universidade não é para ficar mal

para os outros cursos, mas a universidade foi fundada, sobretudo para estudar direito.

Havia já os estudos gerais, havia a filosofia, havia a teleologia, etc., mas a universidade,

enquanto universidade é, sobretudo e só, sapiência e cultura. Bom, o futuro vai

depender das políticas e das leis. O ensino ou continua binário, universitário e

politécnico ou não. O ensino ou muda o RJIES e dá maior autonomia às universidades

ou não. As práticas políticas são consentâneas com o acento tónico colocado nas

universidades e não na ciência e isso, como sabemos, houve historicamente uma política

de investimento na ciência sabendo que a o país não tinha economia para aguentar o

modelo de ciência do Mariano Gago, não tinha e isso prejudicou imenso as

universidades. Quis-se adoptar um modelo de gestão norte americano, sem nós termos

uma mentalidade norte americana de concorrência, de gestão universitária do modo

como eles queriam e voltamos a uma escola do Estado Novo, em que é tudo centrado na

figura do senhor director. E, portanto, estamos a diminuir a participação de estudantes e

funcionários na gestão das escolas, estamos a diminuir a importância política da

universidade e há uma revanche do poder político dentro da universidade que o

compreende, mas que a universidade não pode aceitar. Nomeadamente, a (IES) sempre

formou para a cidadania, sempre formou para a justiça, para a sapiência e agora estamos

a formar pessoas para a técnica, para a burocracia, portanto, há um resvalar do ensino e

da qualidade do ensino para essas coisas práticas. Mas há um perigo maior e o governo

tem feito isso, o governo anterior já tinha feito isso e este governo continua a fazer e não

têm havido ninguém a opor-se, com uma política existente, com uma estratégia para

isto, que é considerar que as universidades existem para cumprir a política de emprego

do governo. O governo abre vagas consoante a empregabilidade, ora a universidade não

tem nada a ver com a empregabilidade, nada. O país tem que saber se quer

universidades para formar pessoas, para serem pessoas que fazem um juízo crítico sobre

a sociedade onde vivem, pessoas que têm conhecimento da história e da filosofia, mas

que também estão preparadas, no caso das engenharias, para as maiores competências

técnicas e para as actualizações todas necessárias mas não se pode confundir a

universidade com uma escolinha, que é a escola de quadros do governo e a continuar

assim, a universidade está condenada a uma derrocada, como é evidente. A universidade

tem passado por momentos de grande apuro, a universidade está a passar por momentos

de grande apuro. O que me preocupa mais é a falta de consciência entre os

universitários da crise profunda que estamos a viver enquanto universidade, na sua

identidade, na sua missão, por aí fora.

Professor, considera isso mesmo com os Conselhos Gerais, onde os alunos, embora

com pouca representatividade...

Este mundo da organização universitária é um escândalo, na minha opinião. Os

Conselhos Gerais estão completamente divorciados do quotidiano das escolas e da vida.

Houve a ideia de que se abria as universidades ao exterior com isso e que as

universidades eram uma coisa muito fechada e etc. e tal. Agora as universidades são

geridas por pessoas que não a conhecem, que não sabem o que é uma academia,

confundem uma academia com uma empresa, julgam que a abertura à universidade é

feita por pessoas que vêm de fora, que mandam cá para dentro, quando é ao contrário, é

formar universitários que estejam à altura de abrir a escola onde estão ao exterior. Por

exemplo, a (IES) tem essa experiência, fazemos protocolos com as juntas de freguesia,

colocar os desempregados e os reformados no local onde está situada a universidade,

nos nossos cursos, com regimes livres, com inscrições, trazer as escolas liceais cá para

dentro, fazer a ocupação de tempos livres de uma forma mais ligada, a ligação entre o

liceu e a universidade, trazer estudantes para cá, propor cursos de verão, fazer

julgamentos simulados, falar-lhes sobre as questões da sensibilidade pela justiça, isso é

que é abrir a universidade ao exterior. Não vou pôr aqui empresários a darem ordens aos

académicos, que é o que está a acontecer mas isso depois também se reflecte na vida

interna das escolas. Os estudantes têm pouca participação, há um modelo de escola que

está muito em voga agora que é: nós não temos estudantes, temos alunos, os alunos vêm

às aulas, são avaliados e vão para casa ou então pertencem à comissão de finalistas,

pertencem às tunas, pertencem às praxes, mas quer dizer, não têm participação política

efectiva, não se sente parte integrante da comunidade. É-lhe dito que a participação dele

na universidade é essa, quando todos sabemos que as universidades, pelo menos as de

direito, falo daquilo que sei, são faculdades que educam para a cidadania, para a

política, para o contraditório, para a participação, para o respeito pela opinião contrária,

para perder e ganhar, por se empenhar em causas... mas não é esse modelo que estamos

a seguir.

Mas mesmo assim, os membros externos do Conselho Geral ainda são

minoritários...

Bom, mas mesmo sendo minoritários, falta saber também se os que lá estão... isto

parece um sistema um bocado soviético, não é, o Reitor é eleito pelo CG, há um sistema

de eleições indirectas, há um sistema de escolhas, os poderes universitários hoje estão

muito ligados a dinâmicas de poder que se reposicionaram e se reinstituíram nas

universidades e que não me parecem muito ligados nem à tradição académica nem ao

espírito académico. Havia que formar primeiro as universidades enquanto

universidades, qual a sua natureza jurídica, que identidade têm? Agora discute-se muito

isto, da identidade académica, de os estudantes trajarem com capa e batina etc. e tal... é

uma tradição de Coimbra, que está a ser importada, mas está a ser importada por falta de

valores próprios das outras academias. Nós temos que discutir mais a questão da nossa

identidade universitária e perguntar o que se faz numa universidade? Ensina-se?

Aprende-se? Consultam-se livros, vai-se à biblioteca? Aprende-se a militância política?

Que papel devem ter as juventudes partidárias, os movimentos cívicos? Que presença

devem ter na universidade? A Amnistia Internacional, a Cáritas? Estas ideias de

solidariedade que a juventude pega sempre pela animação que a idade lhes dá, portanto,

como devemos olhar para isso? E uma universidade hoje é um mundo integrado, mas

não é o mundo das empresas, dos financiamentos, dos bancos, dos espaços alugados a

empresas e etc., pronto, é um modelo de juventude, um modelo de sociedade, é um

modelo de felicidade, é um modelo de cultura..,. que culturalidade tem hoje o ensino

superior? Quando se fala de cultura, começam a dizer, lá vêm eles com esta conversa de

cultura e tal, a cultura é um perigo, vamos... o país é atrasado porque tem poucos

engenheiros, tem poucos técnicos, informáticos.. temos é que gostar de computadores...

mas querem é ser poetas e tal... há aqui um discurso muito difícil e que não passa por

considerar as áreas das humanidades como ciências, que é o discurso um bocado

falacioso em que tudo tem que ser ciência para poder ser credível. Bom, também a Maia

diz que é uma cientista dos astros e no entanto não sei que credibilidade tem a previsão

que ela faz. Tudo isto é um bocado complicado, mas que o ensino superior está numa

encruzilhada está e o modelo do RJIES para mim é o pior modelo que se podia adoptar

na fase em que o país está, na fase de crise económica, de crise antropológica, de

abertura para o exterior, de crise da pessoa enquanto tal, dos jovens que estão a viver

num sistema entre a ruptura e a continuidade, tudo isso deveria ser discutido nas

universidades e não está a ser. Há um modelo muito de ó tempo volta para trás que não

me agrada nada.

Professor, agora mudando um bocadinho para a questão dos dinheiros.

Relativamente ao pagamento de propinas, que se iniciou com a lei de 92, entre os

autores que defendem a responsabilização dos alunos através do pagamento e os

que defendem a gratuitidade do ensino, onde se situa?

Vou ser sincero. Acho que o ensino deve ter uma taxa, todo o ensino, como serviço

público, qualquer serviço público, deve ter uma taxa, uma taxa moderadora nos

hospitais, uma taxa. Pergunta-me o quanto? Eu não sei dizer. Obviamente que o

estudante do ensino público não pode pagar diferenciadamente, se vai para engenharia é

muito mais caro, se vai para antropologia, é mais barato, uma sala de aula, um

professor, umas cadeiras e dá-se uma aula. Outra coisa é ter que ter laboratórios, é ter

que ter um laboratório anatómico, etc. para medicina, essas coisas que tornam os cursos

mais caros. O estudante tem que pagar uma taxa fixa e o estado responsabiliza-se pelo

resto, isto é uma ideia que me parece estar ligada à ideia de gratuitidade, a própria

gratuitidade não quer dizer que seja gratuito e ponto. Quer dizer que seja gratuito no

sentido de haver um esforço de taxa, um esforço unido. Agora, fica livre também.

Quando se pressupõe a questão das propinas, o grande problema que coloco é ligar a

universalidade do acesso à gratuitidade do ensino. O Estado hoje não tem meios

económicos para dispensar o pagamento da taxa, se tivesse, devia fazê-lo. Agora, nós

não podemos é ter um ensino privado que vive muito à custa do público...

das sobras...

Exacto, se o aluno quer vir para a pública, mas como teve uma nota menor do que

aquela que está afixada como nota de acesso, fica de fora e, portanto, vai para a privada.

Ora, creio que a liberdade de aprender e ensinar, que é o grande slogan do ensino

privado, tem que haver liberdade de aprender e ensinar, as pessoas não têm que ir para o

estado, têm toda a razão, mas então façam um bom projecto, um bom projecto de

educação jurídica, uma boa faculdade de direito privada, em que as pessoas dizem eu

posso entrar na pública mas não quero, vou pagar porque quero ir para ali, porque é um

projecto bom, etc. Isso acontece com a universidade concordatária. Há pessoas que

entram na pública e não vão porque querem ir por exemplo para a Católica, pagam o

dobro, pagam o triplo mas não se importam, é um projecto educativo, revêem-se

naquele modelo, naquele curso, naqueles professores e portanto vão, why not? Quando

se trata de liberdade de aprender e ensinar, o ensino privado tem que viver da sua

qualidade e não das sobras do ensino superior público. Primeiro ponto. Segundo ponto,

o ponto do estado social, do estado que educa, é que a taxa, a taxa da propina não pode

ser muito elevada, tem que ser uma taxa simbólica, a taxa não deve ser para financiar as

instituições de ensino superior, não deve ser isso, há uma ideia errada. Nós estamos a

fazer receita própria através da taxa das propinas, é errado, então, se fosse assim,

cobrávamos propinas que eram o custo do aluno. Se é para receita própria vamos ver,

quanto custa um aluno, 3000 euros, pagas 3000 euros e acabou-se, ah, mas eu não tenho

dinheiro, ah, o estado que cuide de ti. Então, criavam uma secretaria de estado da

Misericórdia para conseguir pôr os alunos. Mas não defendo isso, eu não tenho uma

visão liberal do estado, tenho uma visão social do estado. E numa visão social do

estado, todos os alunos, ricos ou pobres pagam a mesma taxa, todos. Como quando vou

ao hospital, ricos e pobres pagam a mesma taxa. Porquê? Porque acho que é errado

haver um estado que cuida dos pobres de uma maneira e dos ricos de outra, não pode

haver um hospital dos ricos e um hospital dos pobres nem o ensino universitário dos

ricos nem o ensino universitário dos pobres. Pobres e ricos têm uma diferença quando

contribuem para o estado, quem ganha muito, paga uma taxa mais elevada, quem ganha

pouco, uma taxa menos elevada e quem não ganha, não paga. Mas quando os filhos vão

para a universidade, o filho do banqueiro, que paga 40% do seu rendimento ao estado e

o filho da mulher a dias, que paga 0% ao estado, todos eles têm acesso à mesma

universidade pagando a mesma propina. Se aqueles que vêm para a universidade, nem a

propina mínima podem pagar, aí então é que existe um serviço de segurança social

dentro da universidade que diz, prova então que não consegues pagar, isto é nós então

adiantamos-te o dinheiro, até te damos o passe e até te damos uma bolsa para estudares.

É nesta lógica que enquadro todo o financiamento do ensino superior e o apoio social,

as propinas do estudante não deveriam servir para financiar o estado, deveriam ser para

financiar talvez os estudantes mais pobres, talvez... mas não queria fazer essas ligações,

que às vezes são um bocado problemáticas e se não forem bem explicadas dá uma ideia

demagógica de que nós estamos a pagar a tua propina. Não poder ser assim, é assim que

encaro o financiamento. Houve aí uma altura que existiam fórmulas de financiamento e

tal, sou contra isso, o estado deve pagar o suficiente para a universidade funcionar,

pagar os salários dos professores, pagar as instalações e a receita própria deveria ser

para despesas de investimento, só. Portanto, o estado contribui para o funcionamento,

água, luz, aquecimento, instalações, seguranças, etc. e tal. Tenho muitas dúvidas sobre o

modelo que está a ser seguido de outsourcing, segurança, tudo empresas privadas,

perde-se um bocadinho o sentido de hierarquia, perde-se um bocadinho o sentido de

comunidade, não é, porque os da securitas obedecem ao chefe da securitas, o jardineiro,

obedece ao Horto do Campo Grande, o não sei o quê obedece ao outro, portanto, fecha

um bocadinho a ideia de poder hierárquico do director, da direcção da escola, de

poderem fazer comunidade aqui, porque eles mudam à medida que a empresa quer que

mudem, portanto, aquilo que foi sempre apontado pelo estado liberal como mau, que é

as pessoas terem um vínculo, segurança, eu considero um bem, considero um bem as

pessoas estarem ligadas a uma instituição, estarem anos nela. Se isso cria vícios, não

cria nada, vícios é para quem é viciado, para quem já tem defeitos de carácter, os outros

não. É assim que entendo isto tudo.

Professor, à medida que os estudantes sobem de grau, mestrado, doutoramento, a

propina vai sendo cada vez mais elevada e deixa de ser financiado pelo Estado.

Concorda?

Não, sou contra. Acho que o sistema de ensino tem três ciclos de estudo e estes três

ciclos devem obedecer a critérios idênticos, embora como director tenha procurado

aumentar várias vezes o valor da propina do mestrado e do doutoramento por razões

egoístas e comezinhas, que é o financiamento por receita própria. Do ponto de vista

político e no plano programático, considero que as propinas devem ser iguais na

licenciatura, no mestrado e no doutoramento porque são três ciclos que acho essenciais

para que uma pessoa tenha uma formação ao longo da vida. Assim como considero que

formações ligadas ao mestrado profissionalizante e ao doutoramento profissionalizante,

tudo isso deveria ter um preço de propina, que é um preço de taxa, que é único para o

ensino. Como sabe, isso é sempre um posicionamento político ou ideológico e eu, no

plano ideológico, estou do lado social, isto é, ao contrário do estado liberal, que

considera que o ensino deve ser de iniciativa privada, eu recupero a tradição republicana

que acha que o ensino é promotor da igualdade. E, quando é assim, por acaso o ensino

ajuda a criar oportunidades idênticas no acesso aos bens, no acesso à cultura, no acesso

às oportunidades de uma vida com qualidade, uma vida melhor, então o ensino tem que

ser universal e o ensino tem que ser obrigatório. Desde que a constituição garanta que o

estado, através do governo, não pode orientar a educação nas escolas públicas, dando-

lhes uma determinada condução, deve orientar de acordo com a instrução, mais do que

com a educação. Mas, no caso de haver uma boa instrução, a educação pode surgir

porque há mecanismos de socialização que a escola gere. Portanto, ao contrário da ideia

de que a escola reflecte o povo, é ao contrário, o povo é que é o reflexo da escola. Se

tivermos estas ideias presentes, se não tivermos a vontade de manipular o ensino através

de determinado tipo de versão da história ou de versão das doutrinas científicas mas

introduzir o contraditório permanente na educação das crianças e dos jovens e se isto for

feito com uma responsabilidade do estado e eu acho que só pode ser feito com a

responsabilidade do estado, então é preciso que a comunidade saiba que deve afectar

recursos significativos à educação. E deve remunerar, bem, em primeiro lugar os

professores do ensino básico, depois os professores do ensino secundário e finalmente

os professores do ensino superior. Se isto for assim, se soubermos inverter a pirâmide

dos salários, sabermos dar importância e prestígio aos nossos mestres, então, o estado

tem um papel essencial no ensino e na universidade, se o próprio estado compreender o

que é a universidade, o que não acontece, basta ver que os nossos juristas estão sempre a

procurar a natureza jurídica da universidade, se é um instituto, se é uma associação, se é

uma direcção geral e tal, isso é um erro porque a universidade não tem uma qualificação

jurídica que esteja no catálogo, no cardápio, não podemos ir ao cardápio e dizer a

universidade cabe aqui, não. A universidade é uma instituição que é anterior ao estado.

A universidade surgiu no século XII com esta estrutura e o estado surgiu com Jean

Bodin mais tarde. Logo, temos que nos preocupar em dizer, a universidade é uma

instituição onde a sapiência vale mais do que tudo e onde os mestres são escolhidos de

acordo com a sua capacidade para ensinar e a sua vontade de aprender. Se isto for

levado à prática, óptimo, temos uma universidade que não tem aquela obsessão de qual

a natureza jurídica, onde é que a enquadro dentro do estado, porque ela é pública mas

não é estadual e é preciso perceber que o que é público é o que é de todos. O estado

organiza de uma determinada forma o que é de todos, a universidade não é organizável

pela vertente da política e, portanto, a universidade não é do estado, a universidade está

no estado. A universidade é pública e tem os seus directores, os seus porta-vozes, os

seus reitores e eles não podem ser designados por membros do governo, não podem ser

orientados por ideologias políticas que estão no poder, é preciso entender isso. Em

Portugal, não houve nenhuma época da nossa história em que isso tenha sido entendido.

Talvez nos tenhamos aproximado de uma imagem pálida, ténue disso, com a lei da

autonomia em 88, mas nunca mais.

Professor, porque destaca essa lei de autonomia?

Estou sempre a falar desta lei porquê? Porque, estudando a universidade portuguesa e

procurando sobretudo nos últimos dois séculos... bem, é melhor, da Reforma Pombalina

para cá... a universidade pombalina foi uma tentativa de modernizar a universidade, mas

parece que foi contra a universidade e contra os universitários que estavam, foi em

ruptura, foi com drama, foi com a expulsão dos jesuítas, foi com imposições de

metodologias, de pedagogias, de didácticas, o método compendiário, etc. Bom, isso foi

assim e toda a gente, uns contra, outros a favor mas cantam loas à reforma pombalina.

Depois as outras reformas sucessivas, sempre assim, aquela velha ideia que a

universidade não se reforma por si própria tem que ser reformada por fora e tal, são

clichés. Nunca tivemos uma universidade completamente autónoma, a universidade

pública está constantemente submetida aos poderes de uma forma ou de outra, de uma

maneira directa ou indirecta, mas está sempre submetida aos poderes. Quando se deu a

revolução de 74, depois a constituição de 76, os constitucionalistas construíram um

modelo de universidade que só se concretizou com a lei de autonomia de 88. E a lei de

autonomia de 88 dava à universidade a possibilidade de participação da comunidade

académica toda, funcionários, alunos, professores, poder ter uma gestão democrática,

portanto, começar-se a aprender na universidade o que era a vida em democracia, como

se respeitam decisões maioritárias, sendo uma minoria, como é que a maioria deve

respeitar a opinião minoritária, sem a seguir mas respeitá-la, ouvi-la e criar condições

para que amanhã, sendo ela alternativa, possa governar, isso tudo veio para a

organização universitária; o financiamento do ensino superior, a lei da acção social

escolar, tudo isso foram modelos que saíram da Constituição de 76, na forma como este

ideal foi vivido pelos revolucionários e depois pelos legisladores futuros primeiro da

constituinte e depois da Assembleia. Infelizmente, foi uma ideia logo traída pelos

legisladores seguintes e hoje estamos num regime absolutamente contrário àquilo que é

a autonomia universitária, o RJIES deve ter sido a maior pedrada na cabeça dos

universitários que consideram que a universidade só é se souber respeitar a sua missão e

só respeita a sua missão se tiver autonomia e neste caso, é mesmo total independência

em relação ao poder político.

E em que considera que a autonomia está limitada Professor? Está expressa na

lei...

Está limitada porque o modelo de governo das universidades já não é esse, está tudo

entregue ao senhor diretor, o senhor diretor é o suprassumo cá do sítio, põe e dispõe

como quer, retiraram os estudantes dos órgãos...

Mas estão no CG...

Mas são órgãos meramente consultivos, a posição dos estudantes é minoritária, os

funcionários têm um, os estudantes têm cinco, os professores têm 30...

Mas votam no orçamento e assim...

Mas se votarem contra, o orçamento não é aprovado? É. O senhor reitor por exemplo

está de acordo com isto, acha que é um modelo em que os professores é que devem gerir

a universidade. Eu considero que apesar dos estudantes passarem pela universidade, os

estudantes dão à universidade, para já, a possibilidade de o ser, não há universidade sem

alunos e depois os alunos trazem-nos uma frescura permanente... os alunos

normalmente incarnam a juventude e embora muita gente diga que a nossa juventude

anda mal, mal ou bem é a juventude que vem, é a juventude que está é que vem para a

universidade... é verdade que os professores estão na universidade, é a vida deles, é a

carreira deles, etc. e tal, mas a universidade não tem nada a ver com velhos, com

carreiras, com instituições, a universidade tem a ver com inovação, com coisas que se

têm que pensar, temos que puxar a linha do horizonte para além dos nossos olhos e

normalmente a juventude tem essa generosidade. Temos que aceitar que os jovens que

vêm para a universidade têm capacidade de decisão e até de alterar decisões que os

professores consideram as mais adequadas. Tem que haver essa genuinidade

democrática na instituição. O RJIES tirou-nos isso, o RJIES privou-nos disso... o

estatuto da carreira docente, ah, antes era uma balda, as pessoas faziam o que queriam...

não... os professores normalmente dão 9 a 12 horas de aulas por semana mas os

professores têm que preparar aulas, têm que corrigir exames, fazer horários, escrever

livros, participar em conferências, prepará-las... quando dizem que um professor

trabalha pouco... se vier aqui um burocrata qualquer de um organismo de fiscalização, o

senhor está só obrigado de 9 a 12 horas por semana, mas o trabalho dos professores não

é fiscalizável e se o estado quer tender para uma polícia política que coloca aqui a ver se

o professor é um funcionário público, pica o ponto a horas à entrada e à saída,

funcionaliza os professores e tem uma educação funcionalizada, que é ao nível da que

está. Se os professores têm os seus salários degradados como estão, bom, como dizem

os americanos, quem paga com amendoins contrata macacos e portanto, cada vez mais

estamos com uma universidade assim, a universidade não tem possibilidade de contratar

pessoas novas, a universidade está transformada numa empresa, então temos que fazer

receita própria, as universidades elogiadas nesses rankings são universidades que vêm

de economias completamente diferentes da nossa, querem que a gente vá competir com

as universidades americanas, inglesas e tal, não temos economia para isso, não temos

mentalidade para isso e duvido muito que isso seja a maneira correcta de encarar a

qualidade do ensino universitário. Portanto, vejo tudo... quase pareço um velho do

Restelo mas preferia largar as naus noutra direcção. Largar as naus sim, nunca ficar no

porto mas largar as naus na direcção em que elas... pelo menos estes ventos que sopram

não são os meus ventos.

Professor, enquanto foi director sentiu algumas dificuldades financeiras por causa

dos cortes orçamentais?

Eu não era director e sentia dificuldades financeiras, como director apercebi-me de que

os cortes financeiros estão a tolher completamente a possibilidade de termos uma

universidade e agora que estou outra vez fora das funções de director, procurarei fazer

tudo para que o meu director vença tudo aquilo que não consegui vencer. Procurei fazer

receita mas acho que não é missão da universidade fazer receita, procurei não ter muita

despesa, sendo que sem despesa não se consegue ter ensino de qualidade, procurei fazer

aforro e fiz. Como sabe, os cofres da faculdade têm 9 milhões de euros, depois das

obras que fizemos, porque é possível fazer investimento na internacionalização, na

contratação de pessoas, a (IES) cresceu, nem sei quantas vezes, não sei quantos por

cento no seu corpo docente, na sua despesa em salários e etc. e ao mesmo tempo fez

aforro. E, portanto, é possível gerir uma universidade sem depender muito dos recursos

públicos mas tenho a consciência de que com esta gestão e com os recursos públicos

adequados, podemos ter um ensino de ponta na Europa. Ele é bastante reconhecido mas

podia ser bastante mais se os políticos tivessem uma visão que corresponde àquilo que o

governo deve ter que é a vontade de futuro e de promoção das coisas que são suas.

Infelizmente não temos a sorte de termos tido governos assim.

Professor, então a nível da contratação de pessoal novo, a nível da investigação, as

áreas que sofrem mais?

Não, repare, por exemplo, a (IES) é um caso específico. Tinha muitos assistentes e

poucos professores, portanto, tivemos que mandar os assistentes para casa, com licenças

sabáticas, dispensa de serviço docente para eles fazerem as dissertações, que hoje a

exigência é muito grande e portanto, eles foram para casa e tivemos que contratar

assistentes convidados. Portanto, tivemos que ir buscar pessoas que estavam em casa a

fazer as suas teses e tivemos que contratar pessoas para dar aulas e o regresso das

pessoas que fizeram doutoramento não tem impedido que esses que vieram como

convidados se mantenham. Sei que o novo director tem ideias semelhantes, já não posso

responder pelo conselho académico, a direcção da escola, porque não tenho agora uma

ideia clara de como pensam, qual o sentido maioritário, mas enquanto fui director

sempre defendemos que o numerus clausus deveria ser o máximo possível. O governo

está com preocupações de empregabilidade, as vagas no ensino superior não têm nada a

ver com a empregabilidade, não somos aqui uma escola técnico-profissional do

governo, que formamos de acordo com as vontades de emprego das pessoas ou com os

programas de emprego do governo, uma universidade é para dar um curso superior às

pessoas que querem estudar uma determinada área e é dever público do estado, do

governo dar às pessoas essa possibilidade. Este discurso economicista que está a ser

introduzido a dizer que um curso que não tem emprego não deve ser dado é preocupante

e eu diria até muito próximo das ideias autoritárias e totalitárias que na europa tiveram

um triste destino. Portanto, é bom que nos preparemos para gastar dinheiro sem estar a

pensar em recuperá-lo já. A universidade não tem que ser orientada para as políticas de

emprego do governo. Nessa medida, devemos ter sempre muitos alunos para vencer o

que já expliquei... de não dar... a liberdade de aprender e ensinar justifica a existência de

universidades privadas, é importante, tem que se manter, isso é fundamental. Agora não

podem ser alimentados estes negócios à custa do afastamento de miúdos que deviam

entrar na universidade pública e não têm outro destino se quiserem seguir o ensino

superior universitário e pagar propinas elevadas nas privadas. As privadas não podem

viver dos numerus clausus da universidade pública, têm que viver da sua qualidade e

das pessoas as procurarem, porque é isso que é o mercado, as pessoas procuram o

melhor, se elas forem melhores, então a universidade pública é abandonada e as pessoas

vão estudar nas universidades privadas. As nossas universidades públicas são boas e

mantém-se. Por exemplo, somos conhecidos pela clássica, não é preciso andar muito

pelo país para saber o que isto representa, quem quer fazer direito, normalmente opta,

havendo toda a possibilidade de fazer em todas as outras. Agora, ser afastado da

universidade pública como única possibilidade de seguir o ensino superior, pagar

propinas a uma privada, alimentando um negócio que não é pela sua qualidade mas pela

exclusão de partes, parece-me errado. Portanto, nós estamos com esta ideia de que os

professores vão ter que continuar a ser contratados porque os alunos vão sempre crescer.

Nós ainda não apanhámos a chamada crise demográfica e não creio que as instituições

com qualidade fiquem minimamente prejudicadas por isso.

Professor, então e aquele, acordo legislativo, não é assim, de as faculdades não

poderem gastar mais do que têm orçamentado...

Ainda agora lhe falei da natureza jurídica da universidade. Se quiserem aplicar, como

têm querido aplicar legislação da administração pública à universidade, é uma coisa que

não me entra na cabeça e o mal original está ali. A universidade é um instituto público e

tal, então segue estas regras e tal, não. Devia dar-se mais autonomia ao decisor

universitário e mais responsabilidade e no fim presta contas. Agora, submeter ao

espartilho e à câmara de uma legislação que é imensa, repetida, incongruente,

contraditória e nós estamos aqui sempre com medo, viola aquilo, viola isto, não pode ir

para aqui, não pode ir para a frente, não pode ir para trás... o que é que acontece? Nós

temos hoje orçamentos pequenos e quando estamos a pensar em gastar o dinheiro, se

tivéssemos um bocadinho mais de liberdade e as chamadas leis da contabilidade

pública, esse espartilho legal, se não estivesse tão presente, nós prestaríamos contas, em

auditorias, em fiscalizações, etc. porque o que está, está. Um director de faculdade

assina milhares de despachos, nalgum deles há-de ter uma formalidade que não cumpre,

uma coisa assim e a auditoria tem uma função pedagógica, quer dizer, o senhor aqui tem

que fazer isto e isto. Mas a legislação está de tal maneira que é quase impossível...

qualquer dia não há ninguém que queira exercer funções públicas. Um director de uma

faculdade ganha por mês mais 300 euros por causa de ser director e tem

responsabilidade penal, financeira, fiscal, isto, aquilo, aqueloutro...espera aí... por 300

euros e governamos orçamentos de milhões de euros e temos uma responsabilidade

sobre centenas de colegas e de funcionários, sobre milhares de estudantes, quer dizer,

que loucura é esta? Portanto, a universidade precisava um pouco de libertar-se de

espartilhos e já não me lembro da tua pergunta, aquilo que comecei a responder, sobre

legislação....

… de não poderem gastar mais do que têm orçamentado...

Pois mas isso é assim... compreendo que me digam assim: não pode aumentar a massa

salarial, pronto, compreendo isso. Agora, em universidades que estiveram anos e anos,

faculdades como a minha, anos sem contratar ninguém, sem aumentar a massa salarial e

agora estão a fazer um esforço para melhorar a qualidade do ensino, porque qualificar as

pessoas significa subir na carreira. Se não podemos aumentar a massa salarial, quer

dizer que eles estudam mas não podem sair, não podem progredir, parece-me mal,

limitado, é a velha burocracia das finanças públicas portuguesas, quer dizer, se te dei 40

e gastas 30, então só precisas de 30 no próximo ano, tens que gastar tudo à la gardere no

final do ano porque é importante mostrar que se gastou muito. Se gastas demais vais

preso, se gastas de menos não precisas, portanto, uma pessoa anda numa esquizofrenia,

não sabe o que há-de fazer... é melhor que a questão dos saldos funcione como uma

família, a família pode fazer sacrifícios, pode dizer vamos meter dinheiro no banco

porque daqui a dois anos queremos ir ao carnaval do Rio. Mas em vez de ir para um

hotel modesto, não, quero ir para o Copacabana palace... a família pode ser uma família

de renda baixa mas se a família quiser fazer esse sacrifício, de ir para o Copacabana

Palace uma semana comem sanduiches de manhã à noite, desde que isso não interfira no

crescimento das crianças e tal, é uma opção de família. Agora, mal seria dizer assim, ai

não, vocês só comeram sandes, só gastaram dez, quer dizer tragam cá o que amealharam

e da próxima vez o estado só vos paga dez. Isto não faz sentido, esses princípios que

inventam de unidade de tesouraria, de equilíbrios financeiros, é capaz de ser tudo muito

bonito mas escapa à racionalidade média de qualquer gestor, escapa à ideia de que a

universidade, sendo pública, tem que estar sujeita ao espartilho da administração

pública. Mas nós somos um país assim, por exemplo, a própria administração da justiça

está nas mãos do executivo, porque é que as universidades não hão-de estar não é?

Temos que aprender a desgovernamentalizar um bocadinho o público e desestadualizar

a sociedade, se fizermos esse exercício as coisas correm muito melhor, também no lado

da despesa.

Professor, onde ia buscar receitas próprias tirando os alunos?

É difícil porque repare, a receita própria é sobretudo das propinas, claro que as propinas

não pagam o aluno, o estado só nos deixa cobrar x e o aluno custa por exemplo três

vezes mais. depois há transferências do orçamento de estado que cobre, mas já não

cobre tudo e, nós para funcionarmos, é a transferência do estado mais a propina e sobra

quase nada, o que quer dizer que estamos ao nível da sobrevivência, não conseguimos

crescer... por isso é que a faculdade, eu, fiz essa gestão e sei que os directores que virão

farão assim porque fatalmente tem que ser assim, têm que procurar rentabilizar as

instalações, têm que procurar vender serviços, têm que procurar não gastar em

publicações, têm que procurar financiamentos para investigação científica que não lhes

saia do bolso, portanto, têm que procurar tudo o que vier, mas tudo o que vier será

sempre pouco porque o estado demitiu-se da tarefa fundamental, a universidade precisa

de investimento na investigação científica, a universidade precisa de manter as suas

infra-estruturas e fazê-las crescer, a universidade precisa de contratar professores de

ponta, a universidade precisa não deixar degradar as condições dos funcionários, como é

que isto se faz? Isto raramente se pode fazer com o nível de receita, quer a que resulta

das propinas, quer a que resulta da fatia do orçamento de estado. Portanto, é preciso ser

muito criativo e quando se é muito criativo na gestão, não se pode ser muito eficaz na

pedagogia, na didáctica e na ciência. Portanto, esta ideia de que as universidades devem

ser entregues a gestores, é uma ideia que não lembra a ninguém. Então, como é que

pode, algum gestor que vem estudar a vender frigoríficos, a vender auto-estradas, depois

vem vender diplomas? a universidade não é uma fábrica de diplomas, não existimos

para vender diplomas, existimos para criar cientistas, criar homens de cultura, criar

pensadores, criar juristas, homens justos e isto é uma tarefa que é contextual,

multidisciplinar, etc. trazem para aqui um gestor para gerir a parte económica mas a

parte económica resulta directamente do conteúdo do ensino, portanto, não pode ser em

gestores especializados a fazer isso, se não entregava-se também... em vez de se trazer o

director de um hospital ou um médico, podia ser um gestor e há uma ideia que anda para

aí e uns senhores muito arrogantes, claro que são pessoas que estão sempre muito bem

porque têm a verdade toda do lado deles que é a gestão, os professores ensinam... isso é

uma universidade que não existe, isso é uma universidade empresa, o professor seria um

empregado do senhor gestor vinha cá dar umas aulas, acabou as aulas, mete-se no carro

e vai-se embora. Como é que há espírito académico, como é que há universidade se a

única função do professor é dar aulas? Se a única função do aluno é ser ensinado? Então

não havia estudantes, só havia alunos. O aluno é aluno quando está na aula, quando é

avaliado e é estudante quando participa na vida da sua escola e isso tem que se manter

senão a universidade desaparece. É dentro deste contexto que vejo a resposta.

Alguma estratégia de financiamento para a instituição? O que é que o professor

fazia? Com quem falava para arranjar dinheiros?

Em primeiro lugar, deixa-me dizer o seguinte: uma universidade como a (IES), tem

sempre excelentes relações com os seus ex-alunos. Nós não temos, no entanto, isto

organizado, aqueles redes de alumni e não sei quê e a associação dos antigos alunos que

existe mas não está organizado, quer dizer, nós não temos o hábito, de ter os antigos

alunos que estão na banca e tal, a financiar-nos. Mas, de facto, por exemplo, a

actividade de cooperação sobretudo com a África, a Índia e tal, ela vem de apoios da

Fundação Gulbenkian, do estado, do Instituto de Apoio ao Desenvolvimento, do

Instituto Camões em algumas coisas. Temos parceiros estratégicos quer na banca, quer

na iniciativa privada, quer nos departamentos públicos e isto deve-se a quê? À

importância que a (IES) tem e o peso que tem na sociedade portuguesa, Presidente da

república, primeiro-ministro, ministros a dar com um pau, etc. saem daqui. Isto continua

a ser uma fábrica de políticos, portanto no mal e no bom que acontece, a faculdade tem

responsabilidade, tem. Esta faculdade formou muita gente que está presa, mal ou bem

presa, mas está presa. Outros estão a prender. Portanto, a faculdade tem telhados de

vidro, a faculdade vive disto, desta pluralidade de pessoas, de percursos, de tudo.

Pergunta, onde se vai arranjar dinheiro? Não há nenhuma estratégia, pelo menos nunca

a tive, basta que a faculdade queira fazer uma coisa, pergunta, por exemplo, quer

publicar um livro... senhor professor neste momento a faculdade não tem orçamento

para publicar este livro, como vamos fazer? Não, pelo amor de deus, a editora faz o

livro, então fazemos e depois logo se vê. A editora põe-lhe a marca da (IES) e muitas

vezes arca com a despesa. Mas também sabe que com a marca da faculdade, se calhar

esgota os livros. Portanto, é aproveitando aquilo que é o peso da marca que no meu

caso, no caso da (IES), as coisas funcionam e funcionam muito assim. Por exemplo, nós

não compramos livros. Há uma editora que apareceu, estratégica da (IES) que é a

(nome) Editora, todos os livros de direito publicados em Portugal, dois exemplares são

oferecidos pela Editora à biblioteca da faculdade de direito, não gastamos dinheiro a

comprar livros editados em Portugal. Temos um acordo com muitas editoras brasileiras

no mesmo sentido e portanto, podemos canalizar as verbas dedicadas à biblioteca, que

estão lá nas rúbricas da biblioteca, para comprar obras de relevo, obras de estrangeiros,

actualização de revistas, etc. é uma questão de ser criativo na forma de diminuir a

despesa e de aumentar a receita não vendendo a alma ao diabo, isto é, não

transformando isto numa empresa que vende serviços, isto não é o cabaret da coxa, não

posso estar a diminuir a saia da universidade para conseguir renda, isso nunca o faria.

A percentagem de alunos internacionais, tem muitos?

Sim, tem crescido, crescido. Crescido porque tem havido uma aposta na

internacionalização. Criámos a figura do professor visitante, que é um professor que

vem à faculdade, ensina em inglês, vem das melhores universidades europeias, o Sr Vaz

Pereira da Silva é o Erasmus aqui do sítio, a faculdade estava muito ignorada na europa,

aliás como Portugal e estávamos muito virados para o Brasil e para a África. Mantemos

uma forte cooperação com o Brasil e com África, aliás, basta andar nos corredores da

faculdade, mas temos hoje uma aposta fortíssima na europa e passamos a constar no

calendário de Oxford, Sorbonne, Sapienza, Complutense, Frankfurt, Max Planck

Institute, passámos a estar aí também porque esses professores vêm cá, dão as aulas,

pusemos no início do programa, a pagarem-se professores a 250 euros por hora, aqueles

preços que praticavam nos países ricos e foi possível, não pelo dinheiro, é verdade, mas

porque também há um conforto nisso, uma pessoa sai de casa, abandona a família,

então, quando chegar pelo menos pode levar todos de férias. Conseguimos, com alguns

incentivos, poucos, mas dentro das nossas possibilidades, ter um belo programa de

professores visitantes elaborado pelo professor (nome) e conseguimos pôr a faculdade

na Europa e trazer os europeus cá, antigamente vinham cá fazer turismo, agora vêm

estudar, mesmo italianos, alemães e tal, vêm estudar e isso é uma história de como a

internacionalização pode ser feita com pouco dinheiro e soluções criativas.

Falou há pouco de uma série de parcerias com organismos com o Instituto Camões

e assim. Classifica-os como mecenas ou não?

Não, mecenas temos um acordo que é feito pela universidade e isso limitou-nos também

um bocadinho porque o reitor (nome) centralizou as coisas e isso é mais uma das coisas

que critico na reitoria, não é mais do que aquilo que nós não queremos fazer, quer dizer,

o poder está nas faculdades, a universidade não existe sem as faculdades, a universidade

não é uma burocracia e a reitoria é uma burocracia e portanto nós é que alienamos poder

na reitoria, não é a reitoria que transmite, o reitor não é um chefe hierárquico do director

da faculdade, esse sistema militar já passou, embora esteja no RJIES algum resquício

disso. Se por acaso conseguirmos fazer com que a reitoria fique com o que é dela... se a

reitoria não se meter muito na nossa capacidade de fazer dinheiro e disser, não, não,

vamos fazer um protocolo standard com uma instituição bancária e depois todas as

faculdades ficam neste guarda chuva. Isto, esta centralização, esta uniformização, que é

uma violação clara da nossa autonomia enquanto faculdade porque as faculdades têm

autonomia administrativa e financeira, o que significa também autonomia patrimonial

que é uma componente da autonomia financeira, se conseguíssemos vivenciar essa

autonomia, se não tivéssemos um sistema autoritário ou um sistema soviético de

encaixar a faculdade numa qualquer coisa em que a reitoria está no topo no sistema

piramidal, talvez a faculdade pudesse arranjar mais mecenas. Neste caso, o nosso

mecenas, e bem, estamos satisfeitos, é (o banco) e é um dos únicos mecenas que temos.

Mas mecenas no sentido de coração largo, têm? Sem contrapartidas...

Coração largo temos, temos a fundação Gulbenkian que nos financia sem

contrapartidas, temos por vezes... há uma coisa aqui que, não sei se cabe bem naquilo

que é o teu estudo mas, por exemplo, a banca portuguesa não tem nenhuma tradição de

apoio ao ensino, é sempre um apoio, ou subjectivo ou é a reciprocidade para a

publicidade, o Santander faz isso, apoia muito mas tira muitos dividendos por isso, o

Santander universidade. Outros bancos nem se preocupam com isso, não têm a mínima

preocupação social, a banca é apoiada pelo estado quando tem problemas, toda a gente

sabe a que me refiro, mas raramente apoia o estado quando o estado tem problemas.

Professor já foi a alguma reunião do CG?

Nunca fui.

Que lhe parece esta ideia de governança? já mais ou menos foi dizendo mas...

Vou dizer-te o seguinte, sou contra a existência de CG mas sou um homem obediente.

Quando o CG surgiu, pedi ao reitor para, face às competências que o legislador deu ao

CG e face à ignorância das pessoas que estão no CG dos reais problemas que existem

nas universidades porque as inerências são nenhumas, os CG são grupos de pessoas e

tal, os de fora, os de dentro, os dali, os de acolá, mas quem enfrenta os problemas

quotidianos da faculdade são os directores, as direcções, os presidentes dos conselhos

administrativos e pedagógicos. Pedi ao reitor que criasse na altura o Conselho

Universitário, pedi não, quer dizer, falámos, o Conselho Universitário surgiu e claro que

quando alguém cria, há sempre sete pais para uma criança. Mas o reitor (nome) criou

um órgão de consulta, de aconselhamento para os directores da faculdade, para perceber

o que se passava e depois levar ao CG. Quando se fez a fusão e os novos estatutos

sempre se considerou e o Conselho Universitário que era importante que isso

continuasse e os estatutos sufragaram a ideia do conselho Coordenador Universitário,

onde estão os directores e vice-reitores, a equipa reitoral que reúne com alguma

frequência com o agora reitor (nome). e, portanto, creio que esta é uma forma engraçada

que as universidades encontraram de mitigar um gap, uma diferença, um vazio que

existe entre quem está nas trincheiras quem toma as decisões, quem afecta com as suas

decisões alunos, funcionários, etc. e quem está a programar a ligar ali e acolá. Acho que

o RJIES aí distribuiu mal o poder porque o poder deve ser exercido por quem tem uma

legitimidade eleitoral, que lida directamente com as vítimas das decisões e isso não é

bem o CG.

Faltava um intermédio...

Faltava ali qualquer coisa, não sou muito por estruturas intermédias, considero que os

órgãos de governo da universidade deviam ser o conselho de directores da escola com a

equipa reitoral, isso era..

Como se fosse o CRUP?

Isso. Bem, o CRUP agora abríamos aqui outro caminho, uma outra tese.

Missão da universidade, Professor, já vi que para si não se encontra bem definida,

o que lhe falta neste momento?

Primeiro, Portugal tem que fazer a tal reforma do estado e na educação, é uma das

coisas fundamentais a institucionalizar, conselhos que não sejam governamentalizados.

A administração pública é arbitrária, todos os planos estão submetidos a ciclos

eleitorais, não há método nem lisura de procedimentos nos concursos, é tudo por cunha,

empregar os assessores, os militantes que vão para assessores e que depois passam para

a função pública, todos para chefes em concursos completamente esquisitos, bom, isto

devia de levar uma volta. Era preciso arranjar um conselho... se o CNE fosse ouvido,

bastava mas infelizmente o CNE não é ouvido e aquilo está para ali e tal. Cada vez mais

quem governa se aconselha menos com quem deve, escolhe os seus conselheiros e ao

escolher os seus conselheiros, normalmente, os conselheiros não têm capacidade para

contrariar a pessoa que os convida porque são conselheiros pagos e quando são

conselheiros pagos, são conselheiros que dizem o que quem lhes paga quer ouvir.

Precisamos de institucionalizar conselhos e os ministros da educação, do ensino

superior e da ciência precisam de ouvir isso. Segundo, precisamos de adequar ou de

reequilibrar a relação entre a ciência e a universidade. Essa ideia de que a universidade

produz ciência e que a ciência tem de estar ligada às empresas e a ligação entre as

universidades e as empresas basta, Portugal não tem economia para a ciência que o

Mariano Gago quis criar e acho que não saber isso é estar a entrar em equívocos

políticos, de acusações constantes, que é o que acontece frequentemente nesse universo

e a universidade sofre imenso. Houve uma deslocação de dinheiro da universidade para

a ciência e agora era preciso reacertar isso sabendo que Portugal, ou cria uma economia

capaz de sustentar a ciência que se quis ou então é melhor reduzir expectativas aos

próprios cientistas. A universidade precisa de ter novas normas de financiamento,

precisa de olhar para a fatia do orçamento de estado que é transferida, precisa de ser

devidamente colocada e fora da demagogia dos políticos que falam sempre nas

universidades como gastadoras mas afinal quem fez a dívida foram eles, não fomos nós

e basta olhar para as contas das universidades para saber que aqui gere-se bem e que

quem critica normalmente gere muito mal. Depois, é preciso olhar para a universidade

como já disse, com outros olhos. A universidade não pode ter uma categoria jurídica

enquadrável com outra qualquer que já lá está, a universidade é uma realidade

completamente à parte, que pode ser juridicizada de uma forma distinta, se quiserem pôr

o direito universitário à frente das leis universitárias, porque o direito e a lei são coisas

distintas e portanto, uma coisa é fazer leis, que isso é a política que as faz, outra coisa

são princípios e valores jurídicos que estão muito para além daquilo que são as leis. Não

existe hoje, infelizmente, nenhum direito universitário nas leis universitárias que temos.

Depois, era preciso entender que os alunos numa faculdade precisam de condições de

estudo e condições de estudo é condições para pagarem as propinas e aqueles que não

têm dinheiro para pagar as propinas, cumprir o preceito institucional de alguém lhes

pague e permita que eles continuem a estudar mesmo não tendo dinheiro para pagar as

propinas. Os governantes dizem, aí em Portugal ninguém é afastado da universidade por

não ter dinheiro... Em Portugal, todos são afastados por não terem dinheiro, sou a prova

cabal de que resisti ao limite, mas quem não paga propinas, não pode fazer exames, não

pode frequentar, não pode ter diploma, nada. E dizer que a acção social que temos cobre

as dificuldades é para rir, portanto basta ir lá para saber. Quarto ponto, a universidade

precisa de criar condições para a inovação, precisa de renovar quadros, precisa de

contratar professores diferentes, jovens, tem que haver mais mobilidade na

universidade, precisamos de nos deslocar, precisamos de saber ouvir e para isso é

preciso saber criar condições para que os professores fiquem nas universidades e não

seja apenas um part-time. A maior parte dos professores está a fazer pluriemprego para

poder sustentar a família, ora isso destrói a universidade porque destrói o espírito

académico, a academia é feita por quem cá está, não é por quem vem dar aulas e sai.

Portanto, é preciso criar essas condições e, finalmente, com uma universidade de jeito,

talvez então tivéssemos uma política que o povo merece. Como os políticos geralmente

saem das universidades e as universidades já não estão a formar bem, isto tem uma

repercussão imensa naquilo que Portugal vai ser no futuro. Se a sua universidade não se

conserta, dificilmente conseguimos consertar a política.

Muito obrigada Professor.

Entrevista F6

Vamos começar a falar um pouco de si, a sua formação académica.

Ok, portanto, a minha formação é na área da psicologia e dentro da psicologia nem sequer

tem nada a ver com a gestão porque eu sou da psicologia clínica e da saúde e, portanto,

presumo que a sua ideia é tentar perceber como é que uma pessoa com esta formação tem

um cargo de gestão…

Nenhum dos presidentes que entrevistei tem cursos de gestão…

Mas penso que há aqui uma certa lacuna. Evidente que penso que há um certo nível de

decisões e de planeamento da faculdade que não acho necessário ter uma formação

específica, ao contrário, acho que um bom conhecimento do domínio de estudo e do que

é a realidade no país e do que é a realidade noutros países e é isso que é o mais importante

e isso não foi complicado. E, por outro lado, temos depois um apoio muito grande em

termos de pessoas com uma formação e sobretudo com uma experiência muito grande a

este nível ou pelo menos eu tive essa possibilidade ao nível sobretudo do que antes

chamávamos secretário coordenador e agora passa a ser diretor executivo, mas no fundo

que é a função do chefe de todos os serviços e de todo o pessoal, mas que faz aqui um

papel muito importante de assessoria. No caso da (IES) a pessoa tem formação em direito,

mas sobretudo tem muita experiência, fez toda a carreira na função pública e conhece

muito bem e isso é absolutamente fundamental porque nós não conhecemos, as regras da

função pública não são nada intuitivas… eu acho que sim, mas todas as pessoas com que

falo dizem mais ou menos o mesmo, muito contraintuitivas até, muito irracionais e estão

sempre a mudar. Portanto, isto cria muita insegurança, não é? Nós agora, quando entrei

não era assim, mas nós agora somos até responsáveis pessoalmente e claro que há aqui…

não muda nada, mas há aqui uma responsabilidade muito grande numa área em que temos

pouca autonomia e também dominamos pouco. E, portanto, isso dá muita insegurança,

sinto que fui sempre muito acompanhada. Agora, pessoalmente, não tinha nem formação

nem experiência porque a nossa experiência pessoal ou mesmo de gestão de projetos, etc.,

não é muito útil aqui, embora ajude um bocadinho a gestão dos projetos, e também não

tinha nem grande intuição nem grande apetência, mas fui aprendendo. Penso que estamos

enquadrados não só a nível da faculdade como depois a nível da universidade, portanto

se surgem questões novas, objetivos novos que queremos realizar, que não conhecemos

bem quais os limites legais, o enquadramento, a nível da reitoria há apoio, há orientação,

já o anterior reitor organizou um órgão consultivo que era uma reunião com todos os

diretores, uma reunião bastante regular e com a equipa reitoral e portanto, havia muito a

partilha de questões porque no fundo andamos todos um bocadinho com os mesmos

problemas e todos partilham quais são as soluções mais eficazes. Quando há, por

exemplo, uma auditoria numa faculdade que levanta questões de que não estávamos

conscientes, isso é partilhado com os outros e aí penso que há uma aprendizagem grande

e há uma rede, mas em termos de formação, realmente a minha formação não me

preparava nada para exercer estas funções.

A professora é catedrática?

Sim.

Como aconteceu chegar aqui? É diretora há quanto tempo?

Estou mesmo, mesmo a acabar. Para a semana há eleições. Fui diretora durante quatro

anos, no nosso caso, são dois mandatos, antes, fui durante um ano presidente da comissão

instaladora porque houve este processo de transformação da faculdade, portanto, a (IES)

foi criada de novo e no primeiro ano funcionou uma comissão instaladora e fui presidente

desta comissão e, portanto, depois foi um pouquinho a continuidade. Claro que quando

aceitei ser presidente da comissão instaladora disse que era só isso, que depois vinha uma

nova direção, depois percebi que a transição era muito complicada, sobretudo porque

fizemos esta transição, são duas instituições mas com serviços partilhados e isto era uma

experiência completamente nova, portanto, não havia modelos, havia modelos para fusão

mas não havia, bem isto não é bem uma divisão era uma coisa diferente, mas com serviços

partilhados foi preciso construir tudo de novo e portanto senti que apesar de realmente

não ser esse o meu plano, que era importante haver continuidade e também havia

continuidade ao nível da equipa reitoral e etc. e portanto senti que isso também era

importante. Como cheguei aqui? Cheguei aqui porque anteriormente era presidente do

conselho científico. Depois também posso dizer como é que fui presidente do científico,

mas fui presidente do científico durante três anos que no fundo corresponde aos últimos

três anos da última organização. E durante esses três anos houve a assembleia estatutária

da universidade, portanto, a seguir ao RJIES foi preciso fazer os estatutos da universidade

e eu fui membro dessa comissão. Foi o reitor que escolheu o presidente da comissão

instaladora, portanto nessa altura não foi por eleição, foi… ele pediu-me e eu de facto

achei que era a pessoa que estava com mais conhecimentos da situação e nesse caso achei

que fazia sentido e, portanto, aceitei e agora ao fim de oito anos vou-me embora, com

muita satisfação.

Como avalia a experiência? Sentiu-se bem acompanhada...

Senti-me bem acompanhada. É assim, tenho sentimentos diversos não é, mas o tom geral

é muito positivo e acho que fui muito privilegiada, que tive muita sorte. Sendo, como lhe

disse, um local pelo qual não tinha apetência e acho que é bom que as pessoas tenham,

portanto, não há aqui nenhum julgamento moral, mas não tem muito a ver com os meus

objetivos de vida, com o meu feitio, etc., mas acho que... e a razão porque aceitei tem um

bocadinho a ver com este processo, mas enfim. Aceitei ser presidente do científico porque

abriram um concurso e eu fui a catedrática e na altura achei que o ser catedrático tinha

novas funções e novos compromissos, o presidente do científico estava a terminar e queria

sair, não era catedrático e pronto, achei que aceitava um novo lugar, tinha novos

compromissos, não sabia é que eram oito anos, pensava que eram dois anos como

presidente do científico. No geral, acho que tive muita sorte em quê? Foi um período

fascinante porque apanhei a consolidação de Bolonha, apanhei toda a restruturação da

universidade com o RJIES, apanhei a assembleia estatutária, que não foi propriamente

por inerência, mas enfim, se calhar senão fosse presidente do científico não iria ter sido

representante e isso foi muito interessante… e depois apanhei o processo de fusão.

Apanhei o processo de fusão das faculdades, portanto do ponto de vista da faculdade, foi

muito difícil, mas claro que é um grande desafio… no caso da (IES) foi uma grande

continuidade, é diferente do IE porque tinha dois grupos de educação, nós, no fundo, é o

mesmo grupo, os mesmos docentes, no fundo não houve grandes mudanças internas, não

é, foi mais o definir como é que se funciona assim, numa instituição mais pequena e

partilhando serviços, partilhando o secretário coordenador, partilhando os espaços, etc. e

as coisas correram muito bem também nas relações com o (IES)… portanto foi essa fase

e depois apanhei a fase da preparação da fusão. Portanto, isto é uma fase que, por um

lado, é super cansativa porque são mudanças todos os dias e a pessoa sente esta

necessidade que gostaria de ter um bocadinho mais de estabilidade para o projeto não ser

só adaptar às mudanças, mas por outro lado também foi uma fase realmente fascinante e

que acho que agora acabou. Claro que isto tudo já num contexto de crise, mas, apesar de

tudo, de crescimento, de desenvolvimento, de coisas novas, com muitas limitações e

muitas dificuldades. Por outro lado, uma excelente integração na equipa reitoral, bom o

professor (nome), conhecia muito bem a nossa faculdade, conhecia-nos bem a todos, tem

qualidades pessoais também que facilitam muito a relação com cada um de nós, mas

mesmo em termos dos diretores das várias faculdades que eu não conhecia, conhecia

poucas pessoas das outras faculdades, tinha tido pouca experiência nessa área, foi muito

simpático, muito agradável e realmente uma certa camaradagem, uma certa solidariedade

que tinha a ver com estes desafios constantes e portanto acho que aí aprendi imenso, que

ganhei muito em termos de conhecimentos, de contactos, de experiências, de

alargamento, eu não tinha uma perspetiva do que era uma universidade no sentido mais

geral… já tinha tido uma experiência anterior um bocadinho aventureira, tinha pertencido

a uma equipa que concorreu ao lugar de reitor, mas anteriormente, antes deste, mas que

não ganhou e na realidade eu não queria muito que fosse para a frente porque não me

sentia muito vocacionada para essas funções mas tinha sido muito interessante essa

reflexão mas pronto, foi onde aprendi mais. Internamente, as coisas correram bem,

também não me posso queixar de nada, portanto, tive muito apoio dos colegas, não posso

dizer que tenha tido… portanto as dificuldades surgem, surgem de problemas que existem

na faculdade, inerentes à faculdade, ou limitações ou dificuldades, mas não por haver

pessoas que me criaram problemas, isso nunca tive e nesse aspeto acho que sou muito

privilegiada porque sei que não é o normal, não é o mais frequente, não havia listas de

oposição, não havia pessoas que fizessem uma oposição ativa de maneira nenhuma e no

geral, acho que a grande maioria colaborou muito positivamente com tudo o que foi

pedido. Trabalhei com duas equipas, primeiro mandato com o subdiretor, no segundo

com dois subdiretores e foi sempre muito bom, muito fácil. Já disse também com um

excelente apoio ao nível da secretária coordenadora, ao nível dos serviços as coisas foram

muito complicadas ao início, a restruturação foi muito difícil, houve muita mudança, mas

conseguimos que neste momento, os serviços estão bem organizados e todos têm

excelentes coordenadores e chefes de serviço e isso também foi muito recompensante.

Portanto, no geral, foi muito positivo, dizer que gostei, não gostei de nada. Pode parecer

um pouco assim, gostaria mais de ter estado a fazer outras coisas, portanto, não posso

dizer que tenha assim um prazer muito grande nesse tipo de atividades. Tive muitos

momentos agradáveis, muitos convívios, muitas situações de aprendizagem e etc. mas

gostaria mais de ter estado noutro sítio… portanto foi assim um bocadinho ambíguo,

sobretudo porque eu, até pelas minhas características pessoais, consegui, tive essa sorte

também, foi um aspeto que facilitou muito a minha vida, que é eu vim para este lugar

quando já tinha uma equipa que me ajudou a manter sempre ligada à investigação, porque

sozinha não teria conseguido, de maneira nenhuma, não há… acho muito difícil, é um

lugar, ou foi um lugar ao longo destes anos todos, outras pessoas poderão fazê-lo de outra

maneira, para mim foi uma dedicação muito, muito grande, dias de semana, fins de

semana, a toda a hora, férias, etc. e senão tivesse esta equipa não tinha conseguido manter-

me ligada à investigação e agora seria duríssimo porque são anos muito importantes na

vida de uma pessoa e portanto, teria perdido e agora era muito mais difícil construir essa

rede, portanto, isso ajudou-me muito. Pronto, basicamente é isto.

Ainda dá aulas?

Sim, nunca deixei completamente de dar aulas, dava poucas aulas e o mais difícil é gerir

os horários e é muito difícil mudar as aulas, portanto, continuei sempre a dar aulas, a

acompanhar doutoramentos e mestrados, continuei sempre a fazer uma ou outra

supervisão, porque nós temos os estágios e uma das minhas áreas é a supervisão de

estágios, isso era mais difícil, custou-me mais, a parte de mestrados e doutoramentos é

mais fácil e continuei sempre a dar algumas aulas mas poucas, portanto, agora estou a

recomeçar e está a dar-me muito gozo. Era das coisas que sentia mais falta, preparar uma

cadeira nova, estudar, etc., faz falta, é isto que a gente estudou para fazer.

Agora um pouco diferente. A sua opinião sobre o ensino superior público português,

tendências, evolução…

Acho que é um bocadinho mais complicado… no fundo concordo com muitas das coisas

que outras pessoas mais conhecedoras dizem neste momento e que têm aparecido,

inclusivamente nos discursos, enfim dos reitores atuais e passados e etc. penso que nós,

em termos de ensino superior fizemos um avanço enorme na última década, nos últimos

20 anos, mas sobretudo na última década um avanço enorme e quando contactamos com

universidades estrangeiras, as diferenças, claro que há muitas diferenças, por ser

faculdade estrangeira não quer dizer nada, mas enfim, com as nossas parceiras europeias,

por exemplo, sentimos que há áreas em que eles são melhores mas sentimos também que

há áreas em que nós somos melhores, não se sente uma grande diferença. Claro que se

formos comparar com Cambridge ou com Oxford, somos diferentes como seremos

sempre. Às vezes também acho que há um certo grau de saloísmo em comparamo-nos

com as melhores universidades, não é, falam das universidades americanas como se

fossem todas a Ivy League, conheço um bocadinho e conheço muitas outras universidades

americanas que são muito más e são muito piores que nós, as pessoas acham sempre que

estamos a falar disso pronto. Penso que houve um avanço enorme, houve um avanço

sobretudo na área da investigação, não é, mas também muito ao nível da gestão, das regras

de funcionamento, uma certa transparência nas relações entre os professores e os alunos,

a avaliação, portanto, todos estes sistemas de modernização que nós somos obrigados nos

últimos anos, a avaliação dos professores, a avaliação dos alunos, a avaliação que os

alunos fazem das unidades curriculares e etc., tudo é um peso muito grande para os

docentes, mas acho que no geral, e com muitos erros, foram com certeza feitos muitos

erros, mas no geral são melhorias significativas… a investigação não tem nada a ver,

portanto, foi muito dinheiro mas foi bem utilizado e quando penso no aumento foi

exponencial, mas isso não é opinião, é objetivo e portanto penso que temos capacidade….

Era muito importante… acho que estávamos num estado com pontos, com núcleos de

excelência, mas no geral as universidades tinham-se deixado ficar um bocadinho

ultrapassadas e isso acho que foi muito útil, muito positivo e que correu bem. Só que nós

começámos com muito atraso e portanto temos uma corrida muito importante para fazer

porque os outros também estão a avançar, estão sempre a mudar, a avançar, a

desenvolver-se e eu também durante este tempo, desculpe só este aparte, fiz parte, tenho

colaborado, nos grupos de avaliação dos cursos de psicologia da A3ES e portanto isso

também me ajudou, por um lado, a conhecer o panorama português ao nível da psicologia,

claro, fiz imensas visitas e contactar com muitos colegas estrangeiros, portanto todas as

equipas tinham um colega estrangeiro e acabei por contactar muitas vezes com colegas

estrangeiros, que ao virem avaliar o nosso curso pois havia muitas discussões e portanto,

não senti que tivéssemos assim, nalgumas coisas até estávamos mais avançados, outras

não, havia aqui ainda muita coisa que se passava que já não se passa mesmo em frança e

etc. que não são os países mais avançados mas que sei lá, por exemplo, agora estou a

lembrar-me de um exemplo, foi uma coisa que era muito discutida pelas pessoas, esta

ideia de que uma pessoa acaba o doutoramento e de repente já orienta doutoramentos,

pronto, isso é uma coisa que nos outros países já há muito que não acontece, portanto, as

pessoas têm que ser capazes de primeiro demonstrar que são autónomos a fazer

investigação e etc. e isso algumas pessoas que acabam o doutoramento conseguem mas a

maioria não tem ainda essa experiência, por exemplo. Portanto, acho que com áreas fortes

e fracas, mas essa é basicamente a ideia que tenho, não é muito original. Depois outra

ideia que tenho que ainda é menos original, não podemos passar sem ela, não é, é que

neste momento a ameaça é brutal. Penso que há uma grande desigualdade no ensino

superior, claro que o que conheço é a psicologia, mas há faculdades excelentes e há

faculdades que estão com muitos problemas, muitas fragilidades e que não têm muitas

condições para dar a volta, portanto tem que ser de outra forma porque são faculdades no

interior, com poucos alunos, com o pessoal docente ainda pouco qualificado, etc., numa

época em que isso se torna muito difícil. Porque vai a agência e diz que precisam de 60

aqui e outros 60 ali ou têm que fechar este curso porque não podem fazer três cursos, só

podem fazer um, mas se fizer só um vou ter ainda menos alunos. Numa época de crise

essa requalificação é muito difícil e portanto eu não sei se a solução são as fusões se são

as integrações se são os convénios mas tenho a certeza que tem que haver uma

reorganização do ensino superior e outra coisa que me parece muito incorreta e muito

injusta é que as universidades sejam todas tratadas como iguais, isto é, há um certo

igualitarismo que prejudica muito a competição interna, isto ao nível do financiamento,

porque o resto não, não é, mas ao nível do financiamento, no fundo, há sempre uma certa

recompensa das universidades que por vezes por razões pequenas, não quer dizer de

maneira nenhuma, não tenho conhecimento mas não quero dizer de maneira nenhuma que

seja por incompetência ou por falta de competência de quem gere mas que são menos

eficazes mas acabam por ser recompensadas, no fim do ano há sempre dinheiro para os

salários, pronto e as regras de distribuição têm em conta o número de alunos ou o número

de professores, etc. mas não outros indicadores e portanto, acabamos por sentir isso, a

universidade do porto, a de Lisboa, de Coimbra, acabam por ser tratadas como a

Universidade da Beira Interior, sem nenhum desprestigio, mas não há aqui, no fundo, o

incentivar uma certa competição interna e sobretudo dar mais autonomia, nem é uma

questão de dar mais dinheiro mas uma questão de dar mais autonomia às universidades,

pelo seu tamanho, a sua dimensão, pela sua competência, pelos seus resultados já

demonstraram que podiam fazer mais e melhor se fossem mais autónomos. Parece-me

que é evidente que vai ter que haver uma reorganização, embora não saiba qual o modelo,

não tenho competências para isso, não tenho uma ideia muito clara. Por outro lado, é

muito assustadora esta história da avaliação da investigação, não é nada de novo o que

vou dizer, com certeza, toda a gente bate no mesmo, mas nós estávamos, em psicologia é

muito evidente. A psicologia começou de trás em relação a outras áreas como as ciências

exatas, a biologia, a medicina, etc. que eu conheço mais, tenho mais contacto, claro que

estão muito à nossa frente, mas nós fizemos um progresso enorme durante estes anos e

fizemo-lo porque foi posto muito dinheiro, houve muitos bolseiros, muitos projetos, se

calhar houve dinheiro mal gasto, mas concordo absolutamente com as pessoas que dizem

que primeiro vem a quantidade e depois a seguir vem uma maior qualidade. Este é o

momento de ser mais competitivo, de ser mais seletivo, absolutamente de acordo, agora

não pode ser é um corte tão grande e por isso, no momento em que estamos de facto a

consolidar grupos, há grupos muito fortes em Portugal ao nível da psicologia,

completamente competitivos em termos internacionais, bem integrados, etc., mas se lhes

tiram os recursos todos não é, porque também aqui normalmente há um certo

igualitarismo, isto não dura e na psicologia vamos apanhar isso numa fase difícil, numa

fase em que estávamos a começar a crescer e a afirmarmo-nos mas que ainda não

estávamos suficientemente sólidos para poder dizer, como diz aqui os colegas do IGOT,

a gente já não quer dinheiro da FCT só queremos projetos europeus, portanto, eles podem

dizer isso e eu compreendo, a FCT dá tanta chatice que a gente só quer projetos europeus,

tudo bem, mas nós não podemos dizer isso de maneira nenhuma não é, e portanto estou

preocupada com isso, estou preocupada com uma certa… no fundo o professor António

(nome) explicou isso sempre muito bem nos seus discursos e nos seus diálogos e ele dizia

sempre isso, não sei se é uma ideia… agora já começou a passar mais para a comunidade

externa mas durante muito tempo não passava, que é, foram fazendo cortes e mais cortes

e nós fomos sempre adaptando e o nosso reitor diz exatamente o mesmo agora, fomos

adaptando sempre com alguma perda de qualidade ao nível do ensino sobretudo, nem

tanto ao nível dos serviços, mas ao nível do ensino, portanto, as aulas que deviam ser de

20 são de 40 ou 50, professores que deviam ser professores de carreira são professores

convidados a tempo parcial e isso é uma perda de qualidade. Nós, por exemplo, na

psicologia sentimos isso, damos aulas a 150 alunos, ali no anfiteatro que não devíamos

dar, damos aulas práticas a quarenta alunos e isso não são aulas práticas, não é, e, portanto,

fomos adaptando e adaptando e agora chegámos a um ponto que, se há mais corte, isto

tem que rebentar por algum lado. E até repormos os níveis que são desejados, foi-se

criando a tal ideia da nova normalidade que é uma ideia perigosíssima e que também se

aplica ao ensino não é, é normal dar aulas práticas a 40 alunos, é normal fazer assim uma

serie de coisas que não são de facto normais e portanto vai ser difícil, mesmo pensando

optimisticamente que isto pode melhorar, retomar, enfim não será nunca retomar serão

outros modelos de ensino mais atuais, mais… mas que é preciso uma renovação do corpo

docente, isso é uma coisa que também me preocupa muito, também é uma banalidade,

todos dizem isso, mas nós sentimos isso na pele, não é uma coisa teórica, não é, por

exemplo, o meu grupo, na minha área, temos 50 e muitos anos, portanto, não temos gente

nova, precisávamos de gente nova que começasse a entrar para quando nós sairmos estar

em pleno na sua carreira não é. Claro que há gente excelente, na psicologia neste momento

há gente excelente que concorre aos concursos, portanto, quando abrem, as pessoas têm

currículos excelentes, portanto, houve muitas bolsas, que foram lá para fora, que tiveram

bolsas de doutoramento, de pós-doc, com currículos de investigação brilhantes, mesmo

experiências de ensino e tudo. Mas apesar de tudo depois é preciso a experiência do ser o

docente, portanto, um bom investigador em princípio será um bom docente do ensino

universitário, mas nem sempre. É preciso alguma experiência, alguma aprendizagem e,

portanto, essa também é uma área que me preocupa. De um ponto de vista mais político,

há uma outra coisa que me preocupa que é, nós começarmos a achar normal que o ensino

superior público, de facto, não seja nada público e portanto cada vez mais é preciso

receitas próprias o que significa que temos que estar dependentes de processos que

também não controlamos e que também não têm grande visibilidade e acabamos por ter

que gastar muitos recursos… vá que há uma parte de receitas próprias que fazem parte do

desenvolvimento da faculdade, tudo o que são receitas mais ligadas à investigação por

exemplo. Agora, tudo o que sejam receitas ligadas a determinados… e alguns serviços,

mas não todos, alguns projetos, alguns contratos que se fazem mais porque têm receita

do que sejam muito interessantes para o desenvolvimento da escola. E, portanto, já não

somos bem uma instituição pública mas funcionamos como se fossemos um

departamento do ministério em termos de regras e por outro lado temos que gastar muitos

recursos para conseguir receitas próprias e uma parte acho que faz sentido, é normal, mas

a partir de um certo momento passamos a ter um funcionamento mais como uma

instituição privada sem sequer ter uma entidade financiadora e isso é um desenvolvimento

que me preocupa porque também vejo que não vá ser muito alterado nos próximos anos

e penso que se não for muito bem gerido, poderá prejudicar muito o ensino superior.

Porque às tantas perde-se um bocadinho o objetivo principal do que é a universidade,

descaracteriza-se…

Existem algumas instituições em que os professores estão com as horas letivas ao

máximo. É o caso aqui da faculdade?

Sim, praticamente todos e muitos com horas a mais do que a lei manda…

E com falta de tempo para a investigação?

Com muita falta de tempo para a investigação. Temos duas coisas, temos alguns

professores que já não vão conseguir apanhar o comboio da investigação, que não é uma

questão etária, não é os que têm mais de 50, os que têm mais de 60, tem a ver com um

certo perfil de professor que entraram aqui e não foi isso que lhes foi pedido, tanto que

são excelentes professores, são dedicadíssimos, dão imensas aulas, bem dadas com

certeza, na medida em que é possível dar aulas apesar de não se fazer investigação, mas

pronto. Fazem uma avaliação complicadíssima que lhes dá imenso trabalho, portanto são

pessoas dedicadas à casa mas não apanharam o comboio da investigação, fizeram

pequenas coisas, pontuais e tal, mas nunca se tornaram muito profícuos nessa área nem

publicaram muito, etc. e agora as coisas mudaram tanto e tão depressa e não quer dizer

que não fossem capazes, mas também não se sentem muito animadas, têm muitas horas,

cada vez ganham menos, cada vez trabalham mais, para alem das horas de aulas há

também cada vez mais funções mais administrativas mas que são do professor, que não é

fácil retirar ao professor, muitos relatórios, muitos documentos, etc. e as pessoas depois

desanimam. Essa geração acho que vai ter muita dificuldade. Temos outros, uns são mais

novos, outros não, que conseguiram manter e que até exercem mais a investigação do que

o ensino, um ensino muito ligado à investigação e esses beneficiariam em ter uma carga

mais leve para poderem dedicar mais e isso, por exemplo, é uma coisa que comparando

com outros colegas da europa, sobretudo as boas universidades, aquelas que a gente sabe

que também produzem mais e que têm melhores outputs ao nível da investigação, não é

só terem menos horas, têm horários muito mais flexíveis, é muito comum poderem dar

aulas só num semestre e nós aqui com estes horários neste momento é impossível. Aquela

adaptação que lhe dizia, foi feita à custa de estarmos todos perto das seis horas para

estarmos todos acima das 12 horas, não estamos todos porque há sempre um ou outro

caso em que não dá para dar mais aulas, mas a maioria está. E aqui em (localidade), por

exemplo, ao contrário de… quando comparamos com Coimbra e Porto que é com quem

temos mais relações, mais antigas porque foram faculdades que foram criadas ao mesmo

tempo, os nossos colegas de Coimbra e do Porto tinham sempre mais horas que nós e nos

últimos anos isso mudou, eles também têm imensas, e nós temos aqui muitas pessoas,

aliás, tivemos este ano aqui uma auditoria à gestão do serviço docente e é claro que eles

não estão preocupados se têm horas a mais, nada, disseram-no claramente porque acho

que há imensa gente que dá horas a menos, mas deu muito para perceber, claro que eu

sabia porque fazemos a distribuição do serviço docente, mas para tomar mais consciência

em que nós tínhamos situações que de facto eles também não deviam aceitar, não é,

porque se é uma auditoria, é para ver se cumpre as leis por cima e por baixo. Ainda não

tenho o relatório, pode ser que me digam alguma coisa, mas verbalmente não referiram

nada, antes pelo contrário. Mas de facto temos todos, praticamente no máximo, talvez

20% dos professores não dão as horas todas, quando digo as horas todas são, portanto, as

9 horas, mas a maioria dá mais que nove horas.

Professora, teve uma posição privilegiada em várias mudanças e agora perguntava-

lhe sobre Bolonha. O que achou? A nível aqui da casa e depois do ensino superior.

Nada que já não tenha sido dito. Acho que enquanto país, nós fomos péssimos. Tenho

uma avaliação muito negativa e que é muito típica de Portugal, quisemos ser bons alunos,

fazer tudo muito rapidamente e depressa e tudo como nos mandaram e quando

comparamos com outros países europeus percebemos que ninguém fez isto. Podemos

comparar com Espanha, podemos comparar com a Alemanha ou com a Inglaterra. Uns já

estavam em Bolonha, de alguma maneira, na área da psicologia, Espanha e Inglaterra já

estavam em Bolonha, às vezes até para o pior de Bolonha, com cursos muito breves,

enquanto que a Alemanha também tem outro estatuto não é, mas fez aquilo que muito

bem queria e que achou que devia de fazer e não teve pressa nenhuma e nem sequer

adaptou completamente. E, portanto, a primeira conclusão é que acho isso sobre o país,

mas também que o objetivo, não sei se era o mais importante que era termos uma europa

muito homogénea, continuamos a não ter, mas também não sei se é o objetivo mais

importante. Dizendo isto, acho que há imensas coisas positivas em Bolonha. No caso da

psicologia, as coisas não correram muito mal porque houve ali uma ameaça muito grande

porque a ideia era transformar, nós não tínhamos ordem ainda, foi mais ou menos ao

mesmo tempo que se criou a ordem dos psicólogos, a nossa ordem é muito recente e o

mercado de trabalho dos psicólogos era completamente desregulado e ainda continua a

ser muito desregulado e foi também das áreas onde mais cresceu o ensino privado,

portanto chegaram a haver 200 cursos de psicologia ou qualquer coisa, uma coisa muito

má, como é evidente, não havia qualidade para fazer estes cursos todos bons. Portanto, o

grande receio que houve foi, que houvesse uma licenciatura e um mestrado e que as

pessoas com três anos passassem a aceder ao mercado de trabalho e passassem a ser

psicólogos, a partir do momento em que tinham o diploma de psicologia, psicólogos

clínicos, psicólogos terapeutas, não havia regulação nenhuma. E, portanto, houve um

esforço enorme, conjunto de várias escolas, uma privada mais antiga e melhor e quatro

escolas públicas para conseguirmos o mestrado integrado porque não queriam que

aplicasse à psicologia, porque era um mau precedente não é, havia cursos que tinha que

ser por imposição internacional e na psicologia havia uma recomendação, mas não uma

imposição e isso conseguimos. E por acaso isso foi bom para a psicologia, não quer dizer

que tenha sido bom para as faculdades, a gestão depois mais do ponto de vista financeiro

e tal, mas para a psicologia acho que isso foi muito bom. Portanto, as privadas, apesar de

não conseguirem ter um… e muitas públicas mais pequenas ou mais novas, não

conseguiram ter um mestrado integrado, não lhes foi concedido, mas criaram no fundo

uma licenciatura não profissionalizante e ficou claro e passou a ideia de que para ser

psicólogo, pode-se ter acesso ao mercado de trabalho, claro, mas para ser psicólogo, é

preciso ter o mestrado. E isso passou, acho que está consolidado e acho que foi bom, mas

foi uma ameaça muito grande, que não teria sido problema nenhum noutro país onde o

mercado está bem regulado, portanto, as pessoas podiam sair com uma licenciatura, mas

para terem acesso a uma profissão de psicólogo autónomo teria sempre que ter os seis

anos, que é os cinco anos de formação mais um ano de estágio e isso agora em Portugal

está consolidado. Do ponto de vista dos graus, acho que o grande problema foi a

designação porque isso o nome faz a coisa, não é, e, portanto, penso que isso teve muita

influência e que hoje em dia é muito consensual. A maioria das pessoas que conheço

reconhece que se tivessem chamado outra coisa a isto que não a licenciatura tinha evitado

muitos problemas. Do ponto de vista das alterações mais interessantes de Bolonha, que

não é tanto a questão dos graus, mas a questão do sistema de ensino, das metodologias de

ensino, acho que as coisas, apesar de tudo mudaram, claro que não mudaram

imediatamente, portanto, na realidade mudámos os graus, mudámos os nomes e ficámos

a fazer todos a mesma coisa e depois progressivamente fomos entrando. Fomos entrando,

na medida do possível, as coisas mudaram muito, isso acho que mudaram… mas, pelo

menos mudaram no sentido em que sabemos que têm que mudar, é essa a direção e não

podemos já fazer o ensino magistral como antigamente e etc. mas como isto coincidiu

com esta época terrível de corte, não temos as condições para fazer como devia de ser,

como sabe bem, que tem que ser centrada no aluno, não quer dizer que seja sempre em

pequenos grupos mas tem que haver uma ocasião em que haja pequenos grupos e para

haver maior disponibilidade do docente, até fora das horas de aula, até porque se tem

muitas horas de aula, já não há. E somando as coisas, a outra coisa é que os professores

universitários por definição, e há muitas exceções e muitas exceções felizes, mas por

definição, não têm formação pedagógica. Pronto, isso é uma história muito antiga, dantes

achava-se que as pessoas eram muito boas e que saberiam comunicar e mesmo que não

soubessem não tinha importância nenhuma porque os estudantes também eram crescidos

e hoje em dia sabemos que não é assim e portanto, noutros países não é assim, há muitos

países em que, por exemplo, as pessoas para começarem a dar aulas têm que fazer uma

formação, quando entram para um curso de doutoramento numa universidade, mandam-

nos logo fazer formação académica, mesmo que sejam catedráticos, etc. que têm

formação obrigatória regular e acho que é bem, se a formação for boa, isso é correto,

pronto, nós temos ainda que aprender, se é da área da educação sabe bem isso, não é, a

pedagogia do ensino superior é uma área que precisa de muita investigação, também

penso que é a área que tem menos investigação, em que se sabe menos, mas não pode ser

uma continuação do que é o ensino secundário ou básico, mas os professores precisam de

ter uma formação que também não têm. Por isso Bolonha ficou assim um bocadinho a

meio gás, trouxe-nos alguns aspetos positivos, ajudou-nos a repensar muita coisa e isso

acho que foi bom, mas do que eu vi, e vi cursos em todo o país, em públicas e privadas,

não houve uma revolução grande como deveria haver e como eram os objetivos e ainda

ninguém cumpre exatamente os aspetos pedagógicos que são aqueles que seriam mais

interessantes mas se calhar é mesmo assim, as coisas não se podem decretar por lei e

vamos ter que aprender a lidar com isto.

A sua opinião sobre a convivência privado/público, mais sobre o ensino privado.

Pois, isso é complicado, em psicologia isso foi especialmente complicado não é, a

psicologia tem uma história… nós começámos o ensino da psicologia depois do privado,

portanto, antes do 25 de abril, só havia o ISPA, que era uma instituição privada, na altura

ligada à igreja mas também eles sofreram uma revolução muito grande e só depois é que

surgiu o público mas na altura, sobretudo em Lisboa que era onde havia o ISPA, no resto

do país não havia, comparando com a altura em que fui aluna, fui aluna aqui do primeiro

curso da faculdade, metade dos dias eram RGAs e grande discussões e o ISPA invadia a

nossa faculdade porque eles também estavam numa grande revolução, isso passou um

bocadinho à história mas marcou o início da psicologia, porque havia várias gerações de

psicólogos que tinham saído do ISPA e ido para os serviços públicos e depois os nossos

não entravam. Então, houve ali uma dinâmica muito competitiva ao princípio, mas no

mau sentido. Isso passou completamente, temos muito boas relações com o ISPA.

Entretanto, a psicologia foi também das áreas que sofreu mais no sentido de abertura de

cursos privados nas piores condições possíveis. Juntou-se aqui um processo que foi

pessoas que iam fazer doutoramentos rápidos a Espanha, ali na fronteira de Espanha,

penso que na educação também houve isso, mas em psicologia foi incrível, pronto,

doutoramentos muito maus, pessoas que não tinham nenhuma preparação, iam lá fazer

um doutoramento e depois vinham para o privado dar aulas e muitas vezes dirigir cursos,

portanto, as pessoas que iam dirigir cursos, muitas vezes eram pessoas muito jovens e

com uma formação muito fraca ou então pessoas que não tinham nada a ver com a

psicologia, vinham da psiquiatria, vinham da educação, da medicina, da filosofia, mas

sem uma formação sólida em psicologia. Depois a psicologia facilmente se torna um

curso de papel e lápis, não é, não deve ser, deve ter laboratórios, deve ser prática, mas

facilmente se torna em papel e lápis, um curso barato e depois a psicologia tem este

mistério, que os psicólogos não sabem explicar, que é não há emprego, mas continua a

haver uma procura enorme. Neste momento, apesar da enorme crise, continuamos a

preencher todas as vagas dos cursos públicos e há para aí dez cursos públicos e a maioria

dos cursos privados tem alguns alunos e, portanto, acaba por ser um bom negócio para as

universidades, as universidades não se importam de ter um curso de psicologia. Os outros

até podem ser os seus preferidos mas um curso de psicologia dá sempre alguma saída e

depois tem alguma vantagem as pessoas que ensinam em psicologia depois também

ensinam noutros cursos, portanto, vão dar uma aula de psicologia aqui e acolá e não há

muito… dito isto, como digo, acompanhei o processo de avaliação de acreditação que

ainda está a decorrer e tive imensas surpresas, para o bem e para o mal, quer dizer,

encontrei pior do que imaginava, que já imaginava muito mau, mas também encontrei

várias escolas privadas que estavam com gestão, portanto com pessoas à sua frente, a

nível da universidade, que percebiam muito bem as exigências do ensino superior e que

estavam a fazer um esforço enorme para o aplicar. Muitas delas com dificuldades e,

portanto, também na psicologia renovação do corpo docente, corpo docente doutorado,

perceberem que o corpo docente tinha que ter tempo para fazer investigação, valorizarem

os indicadores de investigação e isso é uma mudança brutal. Acho que algumas escolas

vão conseguir dar a volta, a nossa esperança é também, não sei se posso dizer isto mas

enfim, sinceramente é a minha esperança e eu também já o disse em público, que os piores

cursos desapareçam, quer dizer, que esta conjugação entre uma grande crise económica e

a avaliação… a avaliação põe exigências muito grandes em termos do corpo docente, do

número, da formação, do haver investigação, outputs, etc. e o facto de haver menos

procura, começo a perceber que ou somos capazes de investir o que é necessário e aí

vamos ter procura ou então mais vale fechar porque nos vão chumbar os cursos e é mau

pronto. E, portanto, houve vários cursos já que fecharam, mas acabam por voltar,

portanto, estamos neste processo agora de readaptação, vamos ver também como é a

procura, que vai aqui condicionar tudo. O ISPA, neste momento, como instituição privada

mais antiga, o ISPA tem uma diferença em relação a outras instituições privadas, aquilo

é uma cooperativa e, portanto, eles investem mesmo a sério ali, não há ali ninguém a tirar

dinheiro para outras coisas ou até para outros cursos menos rentáveis e etc. e isso é uma

diferença. No entanto, o ISPA tem, neste momento, em certas áreas, muito bom, e,

portanto, bate-se completamente de igual para igual, em todas, porque aliás o ISPA

também tem umas áreas melhores que outras, o ISPA neste momento bate-se e é

reconhecido pelas instituições públicas como um parceiro de igual para igual, não há

razão nenhuma, por ser privado, para não conseguir. As outras privadas… há uma ou

outra que estão a fazer um enorme esforço e que acho que se vão aguentar bem, que vão

conseguir progredir, avançar e são normalmente aquelas que têm gestões mais abertas e

mais inteligentes e que perceberam que ou mudavam ou não tinham hipótese nenhuma

não é. Os outros, que querem fazer daquilo um curso barato e que querem ver como

enganam a avaliação e etc., acho e espero que acabem por morrer.

Mas em relação ao conceito da existência de ensino privado, a professora concorda

com o conceito? Há ensino público…

Quer dizer, não tenho uma ideia tão rígida, acho que há modelos muito diferentes noutros

países, embora o caso português seja um caso único e eu acho que foi um caso de

insucesso e de erro total e absoluto. O papel que foi dado ao ensino superior privado em

Portugal foi um erro crasso, aqui não tenho nenhuma moderação… noutros países há

outros modelos em que o ensino privado ou é por exemplo para certas áreas, para certos

cursos superiores mais profissionalizantes e, portanto, que podem dar de facto algum

retorno formando com qualidade. Ou são em áreas muito específicas e portanto têm

fundações ou têm financiamentos privados mas ligados à investigação, que é muito

importante e faz muito sentido e podem ser uma escola de excelência, ou podem ser uma

escola de excelência e têm propinas altíssimas e é uma elite que frequenta, pronto, posso

não gostar politicamente mas não vejo que tenha que ser pecado, não é, o modelo

português parece-me o pior de todos porque no fundo foi uma forma de dar acesso à

maioria da população com este absurdo que são as pessoas com menos recursos que vão

para o ensino privado, não é. Tanto que pagam mais pela sua formação e isso depois é

muito perverso, conheço pessoas que trabalham no privado, conheço pessoas até que já

geriram escolas privadas e a relação entre alunos e professores é uma relação muito

perversa, o aluno tem sempre direito a tudo, aliás, nós temos um pouco disso com aquelas

gestões menos abertas e menos cultas não é, porque se encontram muitas pessoas com

falta de cultura, de nível mas também pessoas muito cultas e muito conhecedoras e ali, o

rei é o aluno, o aluno tem sempre razão e o professor é um escravo. Encontrámos

professores no privado que são escravos, trabalham à hora, só lhes pagam as horas de

aulas, o que os alunos dizem sempre é que os professores são ótimos, dedicadíssimos,

respondem a mails de dia e de noite, vão à faculdade ao fim de semana porque os alunos

trabalham e só podem ir ao sábado e se for preciso também vão ao domingo, porque os

professores emprestam os livros e emprestam os artigos e, portanto, nós encontrámos isto.

Que é horrível porque é aquela ideia de que só nos dizem bem dos professores mas a

gente percebe que está tudo errado e os professores não ousam queixar-se muito, às vezes

há um ou outro que se queixa mais assim no intervalo, se a gente já os conhece e tal, a

gente pergunta quanto é que ganham e ganham menos que uma empregada doméstica

porque trabalham à hora, não é, mas porque trabalham aquelas horas mais outras tantas e

portanto há isso e acho que é completamente perverso, os alunos têm sempre razão…

ainda hoje pela hora de almoço uma colega me dizia que uma pessoa que tinha estudado

numa faculdade privada, que é muito exigente e muito rigoroso, vai ser despedido, porque

como há dois professores e os alunos escolheram o outro professor e há um responsável

qualquer que tinha dito, deste 4 a este aluno mas tens que dar o 10 porque ele tem que

passar porque senão não paga as propinas do segundo semestre. Isto passa-se no dia-a-

dia e é uma realidade e isto não é porque aquela pessoa seja muito má ou … isto é o

sistema que permite isso. Se quer que lhe diga, não tenho uma grande teoria nem uma

grande reflexão sobre isso, mas acho que o ensino superior privado devia ser uma exceção

para estes casos muito especiais, algumas coisas, uma fundação numa área específica e

tal, não me faz sentido esta função complementar do ensino superior privado. Acho que

já não temos… bom, se calhar numa altura, havia tantos alunos a quererem entrar, mas

agora, com a diminuição da natalidade, com a diminuição das pessoas a chegar, etc.,

temos cada vez mais a tendência de dar mais ensino superior às pessoas, cada vez mais

pessoas a chegar ao ensino superior, apesar da ideia que passa que temos que aumentar

mas acho que era importante que fosse através do ensino superior público, como lhe digo,

admitindo exceções porque senão criam-se relações muito perversas e sobretudo o erro

crasso que houve em Portugal e que não é um erro crasso em todos os países e que sei

que aqui em Portugal foi discutido na altura e que por decisão politica poderia ter ido para

outro lado, permitir que qualquer pessoa crie uma instituição que queira… é preciso ter

docentes, mas os donos, digamos assim podem ser, e neste momento até já são,

instituições estrangeiras, muitas das nossas faculdades privadas o dinheiro é, por

exemplo, espanhol e isso é muito complicado porque as multinacionais ao nível da

educação, é complicado ao nível do jardim infantil e é complicado ao nível da

universidade. Mas se calhar, neste momento, é muito difícil fazer uma grande mudança…

acho que o processo… pessoalmente tenho alguma confiança neste processo de avaliação,

acho que a agência está a trabalhar bem, sei que é muitíssimo contestada, umas vezes com

razão, outras sem razão nenhuma, mas acho que no geral estão a fazer um bom trabalho,

na medida do possível, porque somos todos envolvidos, uns melhor que outros com

certeza, mas tenho muita confiança, acho que tem que ser pela avaliação, não tanto por

regras, proibir e etc. mas mais por regras de avaliação e regulação, o estado ter aqui uma

função mais de regulação que faça com que só valha a pena, ter uma instituição privada,

por exemplo se houver financiamentos específicos mas que não possa ser uma coisa pelo

preço de um mercado porque não é comportável.

Professora, a lei de 92 instituiu as propinas equiparadas ao salário mínimo para o

ensino superior. Existem autores que consideram que a propina é uma

responsabilização do aluno, há os que consideram que prejudica a democratização

do ensino. Dentro destes extremos, onde se situa? Sei que é uma questão

complicada…

Pois, não me situo em nenhum dos extremos. Eu acho que é uma responsabilização do

aluno e uma responsabilização das famílias e que idealmente, o ensino deveria ser

gratuito. Não tenho nada contra e nos países em que isso acontece e que corre bem, corre

muito bem e os alunos não são menos responsáveis por isso, portanto, há muitas outras

estratégias para responsabilizar. E, portanto, acho que isso é uma responsabilização, mas

também é um bocadinho uma desculpa. No entanto, também, vivendo no país em que

vivemos e com as faltas de recursos que temos, acho que a propina que temos agora é

acessível para a maioria das famílias. Deveria haver mais bolsas, sobretudo porque a

situação é muito desigual de família para família… noutros países, todos os jovens saem

de casa, não é, mesmo que a universidade seja na mesma escola, há muitas facilidades ao

nível das propinas e etc., aqui, as famílias em que os jovens saem de casa e vão para

longe, têm de facto um peso brutal e as nossas bolsas são mentira, são para esquecer, são

uma coisa absolutamente ridícula. Por outro lado, não temos a tradição que há noutros

países… por exemplo, a minha filha esteve um tempo na Alemanha e foi muito engraçado

porque ela foi fazer uma pós-graduação, ela apanhou aquela fase em que a licenciatura

era de quatro anos e foi fazer um estágio, mas que já contava com uma pós-graduação.

Quando ela chegou lá, os colegas achavam que ela devia ser um génio porque era muito

novinha. Ela depois lá explicou que tinha a idade absolutamente normal e então porquê?

Porque eles, ninguém, vivia com os pais naquela fase, nem lhes passava pela cabeça,

embora haja famílias com mais dinheiro que outras. Portanto ao longo do curso, já fazem

isso no secundário, mas, ao longo do curso é vulgar na Alemanha, irem trabalhar para

depois terem dinheiro para o outro semestre, portanto, isso é importante e isso tem uma

grande vantagem, não só em termos de autonomia, mas há um conjunto de aprendizagens

e de conhecimento do mercado de trabalho e etc. podem demorar mais tempo a fazer o

curso, por isso é que os colegas eram mais velhos, mas também vão aprendendo outro

tipo de competências. Nós não temos isso, não temos essa experiência e neste momento

o mercado de trabalho não permite isto aos estudantes, temos muitos que trabalham, mas

é muito difícil conciliar e arranjar empregos de pequenos tempos e etc. Portanto,

idealmente, acho que deveria ser, se o estado tivesse as condições, no estado atual, acho

que a maioria das famílias pode pagar, que é uma responsabilização e portanto não acho

que seja mal, acho que tem limites, acho que não podemos continuar a aumentar não é,

não pode agora pensar-se que vamos aumentar porque isso deixará… pronto, a

democratização, acho que podemos fazer sobretudo através das bolsas e bolsas a sério,

que permitam às pessoas de facto estudar ou eventualmente, não me agrada muito a ideia

dos empréstimos, porque me assusta muito e vemos o exemplo americano, que é um caso

de insucesso total, as pessoas falam disso e esquecem-se de dizer que os americanos é

uma tragédia total porque as pessoas pedem empréstimos e vão para faculdades muito

más, pagam fortunas porque só vão para faculdades privadas e depois nunca vão arranjar

empregos que lhes permitam pagar, portanto, as pessoas vão viver uma vida de estarem

empenhadas e isso nunca se diz mas esta é a realidade americana, claro que há casos de

sucesso que vão para Harvard e nos primeiros dois anos pagam o empréstimo e portanto

os empréstimos a mim preocupam-me muito e assustam-me muito, não conheço o

suficiente e não tenho competência mas acho que os exemplos que temos não são bons

exemplos. Acho que poderiam haver mais bolsas e eventualmente mais facilidade de

empregos para estudantes, pequenos empregos na faculdade, nas escolas, nas

universidades. Nós, por exemplo, temos alguns não é, trabalho na biblioteca ou assim,

mas são coisas pontuais e acho que deveria haver mais e isso por exemplo é um modelo

americano que nós não usamos muito e acho que em outros países na europa também é

relativamente comum. Portanto, não vejo que a curto prazo vão desaparecer as propinas,

não vejo isso possível, mas acho muito importante que elas sejam contidas e que se

aumentam exponencialmente, de facto não há democratização nenhuma. Nós isso aqui

sentimos muito, que é uma coisa que foi dura, que ali a chefe dos serviços académicos

ainda nota muito mais que é o receber os alunos que querem estudar e que não conseguem.

Isso é complicado…

São muitos?

Não são muitos, mas são muito impressionantes e aumentaram como é evidente. Há os

dois tipos, há os alunos que nunca poderão conseguir, muitas vezes inscrevem-se, são

estudantes que vêm pelos maiores de 23, estudantes trabalhadores, mas na verdade eles

nunca vão ter vida para o conseguir e portanto, logo desde o 1º ano deixam de pagar a

propina, talvez uma falta de planeamento ou uma utopia, se calhar um otimismo, mas…

depois há os outros, aquilo estava tudo certinho e tal mas depois aconteceu um problema

qualquer num dos pais e que deixam de poder e isso é sempre muito impressionante,

sobretudo aqueles alunos que estão no 4º, 5º ano, com quem tenho contacto mais direto

como professora e que estão mesmo ali a acabar e depois a gente sabe que é este sacrifício

todo e depois se vão acabar o curso e não têm um emprego à espera… é complicado.

Claramente a igualdade de acesso não existe, não vamos ter ilusões, não existe.

Tem alguma espécie de planos faseados em que possam pagar? Há instituições que

diversificam muito…

Sim, sim. Isso é um exemplo típico de como a burocracia dificulta imenso… nós temos

isto tudo em sistema, é tudo informatizado e portanto o sistema está programado para

pagar x propinas, aquela quantia, depois senão pagam aquela quantia é um drama, uma

complicação, tem que se fazer uma formatação quase aluno por aluno, portanto o que

acabámos por fazer foi fazer o máximo de propinas, quem quiser pode pagar dois ou três

meses mas quem não quiser paga só um mês de cada vez e mesmo assim, os alunos que

têm propinas em atraso, que é frequente, nós aceitamos programas, muitos pedem… então

mas em vez de pagar 100 ou 200 euros por mês junta dinheiro e depois paga tudo, não,

se tiver dinheiro na conta vou precisar para gastar para outras coisas, portanto, preciso de

ter um compromisso, nós ao principio estávamos com dificuldade, mas depois

percebemos que tinha que ser e fizemos isso. Eles fazem uma proposta, nós ajudamo-los

também a pensar se com aquela proposta vão conseguir alguma vez pagar a propina ou

não e tentamos que seja um projeto realista, mas tivemos que nos adaptar.

Diferenças de preços em relação a licenciaturas, mestrados e doutoramentos…

Pois, nós aqui temos o mestrado integrado, portanto pagam o mesmo e mesmo noutras

faculdades em que os mestrados são considerados, enfim, necessários, acabam por pagar

o mesmo, o que me parece bastante correto porque realmente isto é um bocadinho

consequência do tal projeto de Bolonha que ficou a meio e se a licenciatura não é o acesso

ao mercado de trabalho… em relação ao doutoramento, acho que o doutoramento também

é uma coisa que vai ter que mudar muito. Um doutoramento, para ser de qualidade, sai

caro, portanto, o valor da propina que é paga pela FCT, acho que é um valor adequado,

se todos pagassem esse dinheiro, mas para uma família é muito pesado, para muito bom

jovem que está a começar a trabalhar ou que está na sua carreira ativa ou que está a

constituir família, é de facto muito pesado e, portanto, nós no fundo temos um primeiro

ano mais caro e depois são mais baratos. Mas tudo isso são adaptações. Se formos ver um

bocadinho o que se passa na europa, pelo menos ao nível da psicologia, haverá muitas

diferenças de área para área, mas na psicologia é muito raro… os meus filhos foram os

dois para o estrangeiro, um está a fazer o doutoramento e o outro já fez e estiveram em

vários países e eu fui contactando com vários países e as realidades… eles nunca tiveram

colegas que pagassem propinas de doutoramento, são sempre integrados em projetos e

aquilo é a profissão deles. Trabalham, têm uma área de trabalho num laboratório ou assim,

nuns casos dão aulas, noutros casos não dão, pronto, estão a fazer o seu doutoramento,

com mais cadeiras, menos cadeiras, normalmente não são doutoramentos muito

escolarizados, mas têm sempre um pequeno componente mais escolar e, portanto, são

bolsas normalmente integradas em projetos de investigação e para mim, acho que esse é

o modelo ideal. Os doutoramentos muito escolarizados pessoalmente não me agradam

nada, poderão haver áreas onde se prestem, na psicologia não acho que seja uma boa ideia

porque acaba por ser assim uma espécie de uma cultura geral, mas as pessoas não têm

depois muito tempo nem para fazerem uma investigação, portanto, acho que a

investigação se aprende fazendo e esse é o modelo que gosto. Isso implicaria de facto

toda uma reformulação do financiamento sobretudo da investigação, que permitisse que

houvesse mais projetos e mais bolsas e todo o bom investigador conseguiria com um

bocadinho de esforço ter um projeto ou vários projetos e dentro desses projetos ter bolsas

e fariam aí os seus doutoramentos e aprenderiam investigação, aprender a publicar,

aprender a gerir projetos, etc., toda essa aprendizagem que acho muito útil e que

eventualmente também aprendem a dar umas aulas. É claro que depois há também um

outro caso que temos em psicologia que são estudantes trabalhadores e que querem fazer

doutoramentos dentro da sua área para avançarem. E aí, já não pode ser assim, embora

também muitas vezes participem de projetos e de investigação e, portanto, também não

há razão para que não possam beneficiar de uma bolsa, não a tempo inteiro, mas por

exemplo, de isenção de propinas ou qualquer coisa. Agradar-me-ia mais este modelo,

talvez ele seja um pouco utópico, mas também percebo que em Portugal e em Espanha,

isto aconteceu também em Espanha, não é muito bom as coisas que só acontecem em

Portugal e na Espanha, houve um crescimento brutal de doutoramentos com cursos, 30,

40, 50 doutorandos não é, depois uns ficam pelo caminho… mas que na realidade depois

não têm assim muita qualidade em termos da produção científica, da autonomia, da

investigação, etc., não quer dizer que não façam o seu trabalho, não me agrada muito esse

modelo, acho que o modelo de um trabalho mais individualizado… e de facto, quando a

gente vê nas boas universidades europeias os bons professores têm três ou quatro

doutorandos no máximo, não têm 10 nem 20, isso é um terceiro mundismo muito

estranho, mas que as faculdades em Portugal como são, recorreram também a isso porque

era a possibilidade de sobrevivência. Portanto, também foi um dos tais aspetos, quanto a

mim um pouco perverso, não foi só isso, há outras razões, mas um pouco perversos do

sistema de financiamento, portanto, era uma forma de… e fomos muito incentivados a

fazê-lo…

Para racionalizar os custos…

Exatamente e uma forma de ter receitas próprias junto com uma apetência muito grande

da população, mas isso é bom, acho que é saudável e bom uma apetência muito grande

da população para fazer doutoramentos mesmo que isso não represente por exemplo um

emprego mais certo ou uma subida na carreira, por exemplo, na psicologia raramente

significa uma subida na carreira mas há muita gente na clínica e na educação que querem

fazer o doutoramento porque querem continuar a estudar e a aprofundar ou porque gostam

da investigação e isso acho que é bom e temos que ser flexíveis e ter formatos que não

seja só para o jovem que pode dedicar-se a tempo inteiro e estar ali a trabalhar todo o dia

no laboratório mas estes modelos muito escolarizados em que é tudo à custa do aluno não

me parece que sejam muito positivos, talvez fosse preciso.. não sei muito bem, os modelos

que conheço não se adequam muito bem a este formato, por exemplo, era uma coisa que

quando fazíamos a avaliação dos cursos de doutoramento, os nossos colegas estrangeiros

achavam estranhíssimo esta coisa dos estudantes trabalhadores, achavam uma coisa

esquisitíssima, não sabem o que é na maior parte dos países, França, Holanda, Alemanha,

Inglaterra, eles não têm esta experiência do estudante trabalhador no doutoramento. E

acho que dá muitas vantagens, também me faz pena dizer aquele modelo é bom mas muito

honestamente não sei como poderia ser, não me agrada muito esta situação, torna-se muito

penoso para a pessoa, para a família, muitas vezes as pessoas têm as suas próprias famílias

já constituídas, é muito penoso para a família e para o próprio porque acaba por ser uma

gestão muito difícil entre o emprego e o trabalho e depois entre as despesas do dia-a-dia

e o pagar as propinas, é complicado, mas muito honestamente não sei o qual seria a

solução.

Qual o papel que julga ser dever do estado perante o ensino superior público

português? Regulador, financiador, avaliador?

Exato, acho que tem que ser as três coisas… financiador com certeza, a minha opinião é

que o ensino superior público consiga ter receitas próprias, mas as principais receitas

próprias têm que ser ao nível da investigação e isso não dá depois muito, quer dizer, entra

e sai e, portanto, gasta-se na própria investigação e, portanto, acho que tem que ser

financiado e acho que tem que ser regulador do ensino superior todo privado e público,

na elaboração das regras e na garantia da sua aplicação. A avaliação, este modelo que foi

aplicado, não conheço muito os outros modelos, sei que existem, tenho falado com

colegas estrangeiros que participam, mas do ponto de vista político não tenho bem a

certeza como é que é a organização. Este modelo, que no fundo o estado criou a agência,

mas agora a agência se paga a si própria tem vantagens, de ser mais autónomo. Não é

garantia que seja autónomo, mas tem mais potencialidade. Agora, também é pesado para

as universidades porque as universidades pagam muito dinheiro para avaliar o seu curso,

portanto, penso que não deve ser o estado a avaliar, o estado deve regular e deve garantir

que há uma entidade externa forte, muito forte e muito autónoma que avalia. Dizendo

isto, acho que este papel regulador também deve ser um papel de definir prioridades,

mantendo uma grande abertura. Tenho muito medo de dizer isto porque acho que os

nossos políticos são muito pouco cultos e definir prioridades para este estado agora é

acabar com 99% de tudo o que não dá produto tecnológico não é, portanto isso é

perigosíssimo, mas também acho que os países têm que conhecer e definir prioridades.

Não é porque agora aparece aqui uma pessoa vinda do estrangeiro, com uma ideia muito

interessante de um curso muito novo que vamos criar, não podemos ser bons em tudo e,

portanto, é evidente que há dimensões mais culturais, humanistas, ligadas à cultura

portuguesa ou a áreas que não têm nada a ver com a cultura portuguesa, mas foram

desenvolvidas em Portugal, temos um património muito grande e que devem ser mantidas

e acarinhadas mesmo que não deem outputs tecnológicos. Por outro lado, acho que têm

que haver opções, há sempre opções e, portanto, é bom que sejam opções politicas de

onde vamos investir, sendo que depois a sociedade civil poderá criar outras formas de

organização, até de sistema cooperativo que está tão pouco desenvolvido, mas falámos

do ISPA que é um excelente exemplo. O sistema cooperativo pode ser uma boa solução

porque já não tem as perversidades que falámos do ensino superior privado mais comum

em Portugal mas que tem algumas potencialidades e que poderia aparecer para outras

áreas, quer dizer, não podemos ser muito bons nas humanidades, nas artes, nas

engenharias, nas medicinas, etc. e portanto se calhar temos que fazer uma formação mais

geral para depois investir mais em áreas mais avançadas, que sejam um pouco aquelas

em que o país pode ser melhor porque senão investirmos muito nalgumas áreas também

não conseguimos ser muito competitivos, como não podem ser todas, aí penso que caberá

ao país defini-lo, não quer dizer que caiba ao governo, pode ser um governo, que não

pode mudar de quatro em quatro anos, isto obrigaria a um dos tais pactos de regime que

Portugal não gosta mas que noutros países têm sido feitos. Há países com áreas mais

clássicas ou ligadas ao mar ou ligadas à engenharia, às tecnologias ou o que for…

Naquilo que são bons.

Exato, para poder haver um investimento maior porque não vamos ser bons em tudo. e às

vezes acho que há aqui um… houve, agora menos, mas houve na criação dos cursos um

certo personalismo, havia uma pessoa que tinha poder ou que era conhecida ou que era

muito boa naquela área, mas quer dizer uma pessoa não chega não é. Hoje em dia temos

que ter grandes equipas, antes era mais dependente do grande professor, agora têm que

ser grandes equipas e isso exige muitos recursos.

Relativamente aos alunos, estratégias de captação, têm?

É assim, isto é uma coisa engraçada, a psicologia não tem tido muitos problemas e,

portanto, nós temos defendido sempre isso, temos que ter estratégias para captar os

melhores alunos porque alunos por enquanto, sabemos que vamos ter. Isto também pode

mudar de um dia para o outro, estamos conscientes, mas temos tentado desenvolver

sobretudo estratégias de captação dos melhores alunos, que nem sempre é das formas

mais óbvias como ir às escolas, etc., penso que isso passa muito pela imagem social que

há do curso, da área, claro, mas temos esta área favorecida porque as pessoas gostam de

psicologia sem a gente saber bem porquê. Mas do curso, não é, mostrar que a psicologia

de (localidade) é boa e isso tem sido um objetivo, divulgar a investigação que se faz,

através dos serviços à comunidade, que têm tido um impacto bastante positivo, fazer

conferências e congressos e workshops, em que se possa divulgar o trabalho que é feito

na faculdade, mas acho que há muito a fazer ainda, temos que fazer um grande trabalho,

que acho que temos andado um bocadinho preguiçosos porque sabemos que temos um

bom número de alunos, portanto é uma área que claramente no futuro, vamos ter que

investir mais.

Falou-me de algumas dificuldades que tem tido a nível da gestão, dos horários dos

professores. Dificuldades financeiras propriamente ditas, tem-se confrontado com

algumas?

Sim, para lhe ser sincera, na (IES), no que eu apanhei, o nosso problema nunca foi faltar

dinheiro para coisas essenciais, é muito mais a dificuldade da gestão dos processos, de

poder, por exemplo, fazer estratégias mais eficazes, comprar melhor e mais barato por

exemplo…

A agência Nacional de Compras…

Exatamente, temos que ir pelas plataformas, é um absurdo, para um projeto de

investigação precisávamos de comprar scanners, só havia uma empresa que estava, que

fazia nas condições que pedíamos, etc., a empresa não estava nada interessada em

inscrever-se na plataforma, não só tem que pagar, não é muito mas tem que pagar, mas

tem uma trabalheira e a única maneira que nós conseguimos que eles pusessem porque o

dinheiro era bastante porque tinha que ser, foi a nossa técnica aqui da assessoria fez

praticamente aqui todo o trabalho deles, só não pagámos a taxa porque senão não

conseguíamos, senão também pagávamos, para ter a certeza que se tinham inscrito. As

agências de viagem, para viagens de projetos ou para dar aulas ou seja o que for não é,

agora a universidade vai finalmente fazer um grande concurso e esperamos que… tem

sido uma complicação, em vez de pedirmos àquelas que funcionam melhor e trabalham

melhor connosco e podermos até, através da fidelização ter melhores preços, temos aquele

mito dos 5000 euros, portanto andamos a correr as capelinhas todas, para além do mais

gasta-se imenso tempo, depois temos que contactar as empresas, temos que saber se

aceitam, há muitas empresas maiores que não aceitam este tipo de contratos, depois temos

de saber se não tem dívidas à segurança social, não tinha mas agora já passou a ter

portanto não pode ser esta, mas já chegámos aos 5000 euros portanto isso é um grande

gasto de energia e também de recursos porque não vamos pelas formas mais eficazes,

comprar um bilhete pela internet é muito mais barato. Percebo que há que ser cuidadoso,

mas acho que estes processos, terão que sempre haver alguns e também há noutros países,

mas são muito pesados não é, e sobretudo obrigam a um consumo de recursos muito

grande e é sempre a proibição, não podes fazer isto, não podes fazer aquilo, não podes

fazer outro. Temos um plano engraçado, temos uma maneira de captar receitas e depois

aquilo é tão complicado, tão complicado e corremos tantos riscos de ser ilegal que então

se calhar é melhor não fazer. Nós não tivemos até aqui, agora as coisas vão ser um

bocadinho mais complicadas este ano, grandes dificuldades económicas, quer dizer, foi

sempre possível estar seguro, que pagávamos os salários todos e o funcionamento e ter

algum dinheiro para investir e continuarmos sempre a fazer melhorias, não grandes

melhorias, mas continuarmos a melhorar. Por outro lado, também, é aquela coisa de ser

uma gestão anual, portanto, não se consegue poupar de um ano para o outro para gastar

no ano seguinte, portanto, isto é um absurdo. A gente sabe que é um absurdo, passamos

janeiro, fevereiro e março quase que não consegue gastar dinheiro porque ainda não

sabemos contas, ainda não sabemos os orçamentos, etc. e depois outubro, novembro,

dezembro é um desespero para gastar dinheiro porque senão gastarmos… claro que

tentamos fazer isto de uma forma bastante racional, tentamos ver o que são despesas de

investimento, essas têm que ser planeadas e só as vamos conseguir fazer lá para setembro,

outubro, mas serem bem planeadas, bem pensadas mas isto não é forma de gerir nenhuma

casa. A partir daqui, pronto, este ano, com novos cortes, embora a nova universidade dê

também uma nova capacidade de gestão e o reitor está a fazer um esforço muito grande

para disponibilizar mais dinheiro para as universidades, mas tivemos um ligeiro aumento

de professores, finalmente conseguimos fazê-lo durante o ano passado, três concursos que

nos faziam muita falta, professores auxiliares que entraram de começo, saíram alguns

convidados mas mesmo assim não é o suficiente e tivemos um aumento significativo dos

salários, também ao nível dos serviços tivemos que aumentar um bocadinho, portanto,

este ano com os cortes vamos estar ali no limite, provavelmente vamos poder investir

menos. Mas honestamente senti sempre ao longo destes 5 anos, não é um problema de

não ter dinheiro, é um problema não poder gastar o dinheiro que temos, não poder muitas

vezes captar receitas das formas mais eficazes e não poder gastar da forma mais adequada

e mais eficaz o dinheiro que temos, compreendendo perfeitamente que a gestão pública

seja moderada e que tem que se ter imenso cuidado evidentemente, mas muitas vezes as

regras não parecem facilitar isso. O ganho de segurança ou de transparência não me

parece ser compensador e isso todas as faculdades se queixam, todas as universidades se

queixam, é dramático, porque depois a solução mais fácil é sempre não fazer e, portanto,

vamos perdendo. Dizendo isto, é evidente que ao longo dos anos há coisas que devíamos

ter feito, por exemplo ao nível da estrutura, do edifício, os edifícios estragam-se e se

calhar devíamos ter investido mais todos os anos e ainda não investimos, pronto,

preferimos fazer mais um laboratório ou comprar mais computadores, que são

fundamentais para ir avançado e para estar atualizado, ao nível da biblioteca, ao nível das

revistas, das bases de dados, os softwares temos conseguido ter, não é luxo, de maneira

nenhuma mas conseguimos ter o que precisamos. Devíamos ter mais dinheiro para

investir na investigação e mais dinheiro para bolsas para os alunos para termos melhores

alunos, que pudéssemos premiar mais e depois falta-nos então dinheiro para estes

investimentos mais estruturais que não se conseguem porque não se consegue juntar

dinheiro de um ano para o outro, isso é muito complicado.

Falou-me em projetos da FCT, projetos europeus, serviços à comunidade… que

outras formas de receitas próprias?

É assim, nós, na (IES), aliás ouvimos recentemente, penso que somos das faculdades

senão a faculdade… somos das faculdades com menos receitas próprias. E isto acontece

por duas razões, quando digo menos é em termos de percentagem, porque depende do

tamanho da escola… aconteceu por um lado, porque nós, de facto, até aqui conseguíamos

ter um pagamento significativo dos ordenados mais também até do que a maioria das

faculdades através do orçamento de estado, isto porque fomos perdendo professores e não

os substituímos, portanto, estávamos abaixo do número de professores, porque temos

sempre muitos alunos, temos não só das áreas todas como também temos muitos dos 23

anos, depois acabamos por ter muitos reingressos, depois acabamos por abrir mais vagas

ao nível do quarto ano para o mestrado integrado de antigos licenciados, também têm

bastante procura…

Alunos internacionais?

Internacionais os que temos não nos dão verbas porque por enquanto temos uma procura

razoável ao nível do Erasmus e ao nível do doutoramento sobretudo estudantes do Brasil,

agora começam a aparecer estudantes de outros países, temos pós doc de outros países, é

engraçado aparecem mais ao nível do pós doc em psicologia experimental que é uma área

que temos muito avançada e em que a língua não tem tanto impacto porque eles trabalham

diretamente com as pessoas e em temas mas não nos trazem receitas. Apesar de tudo

estávamos relativamente confortáveis a nível de receitas próprias que vêm das propinas

e, portanto, as nossas receitas próprias vêm daí, sobretudo das propinas e dos projetos e

sobretudo até mais da FCT do que projetos europeus. É um bocadinho difícil para a

psicologia, ao contrário por exemplo do campo da educação, a psicologia é sempre mais

difícil de entrar pelas temáticas, tem sido mais difícil entrar nos projetos europeus embora

haja alguns. Os serviços à comunidade não têm sido até agora contribuintes líquidos de

receitas, portanto o serviço à comunidade, para nós, tivemos muito tempo um serviço à

comunidade precisamente por essas dificuldades todas, foi até perdendo peso e perdendo

balanço porque não conseguíamos captar receitas e então era um serviço gratuito. Era tão

complicado e continua a ser fazer aqui um serviço à comunidade, por exemplo, com

consultas pagas, porque depois temos que pagar alguma coisa às pessoas, aos

colaboradores tem que se lhes pagar, às pessoas da casa, senão têm nenhum incentivo

também, não é, fraquinho ainda, as tais horas de aulas e de investigação e ainda ir dar

consultas, claro que há muita gente que daria sempre porque as pessoas sentem essa

necessidade mas durante muito tempo era gratuito, e como era gratuito, não tinha

recursos, pronto, era tudo o que tinha a ver com isso. E foi um dos objetivos estratégicos

que defini e acho que foi um caso de sucesso e nós neste momento temos um serviço a

funcionar bem, conseguimos ter um serviço que tem um pagamento razoável, mas que

não é… depois temos uma taxa para as pessoas que não têm mais recursos, temos uma

percentagem de pessoas que podemos receber nesses casos, mas a maioria paga um preço

que é um pouco abaixo do mercado, não muito, mas pronto, porque também não queremos

fazer uma competição desonesta com as pessoas que estão na prática. Mas o nosso

objetivo no serviço à comunidade é sobretudo servir o objetivo da investigação e da

formação avançada. Portanto, temos estágios profissionais, eles têm que fazer um estágio

quando acabam o curso, um estágio de um ano, que é estágio da ordem e nós temos vários

estágios aqui e para isso temos que ter um serviço a funcionar bem, pronto, e para a

investigação é fundamental e, portanto, mesmo para projetos de investigação, há projetos

em que não cobramos porque queremos é que as pessoas venham e colaborem com os

nossos estudos. Portanto, o que é que conseguimos pagar? Conseguimos pagar a uma

funcionária, começámos por uma bolseira e tal, mas agora já temos uma funcionária no

nosso mapa de pessoal e material, portanto, investimento em material. Tenho esperança

que isto continue a crescer e possa ser um pouco um contribuinte liquido, a perspetiva é

sempre ter receitas que possam ser investidas ou no aumento de material, que isso é

sempre uma mais valia para a faculdade, material que é usado nas consultas mas que

depois também pode ser usado nas aulas e recolha de dados para investigação. portanto,

não nos dá assim… por exemplo, aqui a medicina dentária tem uma consulta que lhes dá

um contributo muito importante em termos de receitas… não é esse o objetivo e penso

que até nem termos espaço, que isso é muito importante, mas talvez não fizesse sentido,

mesmo do ponto de vista das leis e das regras, percebemos que isto tem que ser muito

bem enquadrado, com este objetivo, isto não pode ser ter aqui uma clínica privada, tem

que ser um serviço que tem o retorno do seu custo e que tem como objetivo desenvolver

a investigação e etc. Portanto, as receitas têm sido sobretudo das propinas, dos projetos,

das bolsas de investigação, que apesar de tudo é como se fosse propinas, mas que nos dá

um pouco mais e alguns contratos, não muitos, não temos muitos contratos. Quando

temos uma empresa que nos pede, ao nível da psicologia do trabalho, uma intervenção ou

uma avaliação, temos alguns pedidos também, por exemplo, de avaliação psicológica para

os concursos para a função pública, por exemplo, agora por exemplo, tenho ali uma carta

para responder que são os juristas que vão fazer o CEJ, têm que ter uma avaliação e

pedem-nos para fazer a avaliação e isso é pago pelo estado por isso nunca são grandes

preços, temos pedidos dos tribunais para avaliação psicológica, mas também, lá está, o

preço nunca é um bom negócio e foi pensado nessa perspetiva. Interessa-nos sim, porque

isso é uma excelente oportunidade para ganhar experiência, para formar os nossos alunos,

etc., prestígio para a instituição e para definir também, porque acho que é muito

importante, na psicologia isso é fundamental na medida em que estamos ligados a uma

profissão, que é definir critérios de qualidade, definir no sentido de os demonstrar, de os

pôr em prática, e portanto o nosso objetivo com a clínica também é muito isso, as pessoas

que saem daqui formadas saem com bons critérios, sabem muito bem como se faz uma

boa consulta de psicologia clínica e se começam noutro tipo de contextos às vezes é mais

difícil, portanto, queremos ser uma consulta de referência, por exemplo, muitas vezes

quando souberam que íamos abrir agora este serviço desenvolvido, havia muitos pedidos

para receber ou das misericórdias ou das escolas, pessoas que não tinham dinheiro, não é

por isso, não queremos ser uma instituição barata, não queremos ser cara, mas queremos

ser uma instituição de referência, só queremos receber certo tipo de situações, para

podermos ser bons, ninguém é bom em tudo e portanto não vemos isso tanto como uma

captação de receitas, embora dê algumas receitas, por exemplo, para os docentes terem

mais dinheiro para a investigação e isso já e bastante bom.

E aluguer de espaços?

É assim, nós estamos um bocadinho emaranhados porque o IE quando se instalou aqui,

já tinha um espaço grande que era o espaço ocupado pelas ciências da educação, mas

depois vieram muitas pessoas novas, umas que vieram da FC outras vieram mesmo de

novo, portanto, ganharam algum espaço, mas não tanto como precisavam. E nós também

fomos crescendo e não ganhámos tanto espaço como isso… nós temos, é o nosso maior

problema objetivo, é a falta de espaço, estamos a lutar por isso, em conjunto…

Desculpe professora, a pergunta era se alugam espaços…

Ah sim. Muito pouco. Temos essa possibilidade, mas, por isto que lhe estou a dizer, muito

pouco. Por exemplo, libertámos o anfiteatro à sexta-feira e ao sábado, portanto, por vezes

alugam-nos. Mas a maior parte das vezes à sexta ou ao sábado é para acontecimentos do

(IES), não pagamos, mas…, portanto sim, mas é uma coisa pontual, não é significativo

porque estamos com falta de espaço.

Existem mecenas, patrocinadores?

Não, e se quer que lhe diga, eu acho, quer dizer, a nível de uma universidade pode haver

um ou outro, a universidade (nome) tem aqui um senhor que ninguém sabe muito bem

porque é que deixou aqui a herança e tem sido excelente…

É a Fundação…

Essa também é ligada á reitoria, mas para além disso, há um outro que dá umas bolsas,

bolsas de investigação para o primeiro ciclo… não me lembro agora do nome do senhor…

são bolsas de investigação para os estudantes do primeiro ciclo, é uma coisa muito

engraçada, mas agora não me lembro do nome do senhor. Por acaso este site da reitoria

agora tem muito pouca informação, mas o site anterior tinha e sei que esse dinheiro

também era usado em parte por exemplo, para as bolsas de solidariedade e para apoio aos

alunos carenciados, etc.

E dá aqui à (IES) ou…

Não, à universidade. A faculdade pode concorrer junto com as outras. A faculdade não

tem, mas acho que mesmo em termos da universidade não temos essa tradição. E portanto,

acredito que se possa fazer algum trabalho e haver um pouco mais, claro que a

universidade tem o patrocínio (do banco), que agora o reitor conseguiu renegociar, como

é uma universidade muito maior, vamos ter aumentado para o dobro, mais do dobro do

que nos dava… por exemplo, esse dinheiro para nós é precioso, porque é um dinheiro…

tinha algumas condições mas agora deixa de ter porque podemos usar para comprar

material que precisamos, podemos convidar professores novos, estrangeiros que venham

para fazer workshops, por exemplo, mas quer dizer, temos ali uma grande liberdade,

desde que seja uma atividade bem pensada e bem defendida, podemos usar para o que

queremos. Isso para nós é precioso e para uma faculdade pequena, 50000 euros é dinheiro

e portanto este ano vamos ter mais de 50000 euros, é muito bom para nós… mas isso a

universidade tem, (com bancos), pronto é claro que depois os alunos têm valores

diferentes, os valores de medicina valem mais que os valores de psicologia, é verdade, é

uma coisa incrível mas é verdade, os alunos do técnico, os alunos de medicina valem mais

porque serão potencialmente contas mais recheadas, isto é um mundo perverso este

sistema capitalista, infiltra-se por todas estas dimensões, mas tem sido útil. Eu não digo

que não possa acontecer, olhe aqui alguém que seja muito bem atendido no nosso serviço

e seja, mas não acredito que mesmo ao nível … ouvi muitas vezes colegas, aqueles

estrangeiros que chegam cá, acham que o modelo americano é que é, um deles dizia, é

preciso pôr os antigos alunos a pagarem para as universidades, quer dizer, mentira, não

é, não há essa tradição, essa tradição é na Inglaterra e nos EUA, não há no resto da europa

e portanto, não digo que não se trabalhe nesse sentido mas…

Há uma ou outra faculdade que começam a ter…

Pois acredito que sim, mas se calhar também será mais a gestão, a economia, não sei,

eventualmente ou talvez ligado às artes ou qualquer coisa, não tenho assim muita

confiança nisso. Temos aqui um membro do conselho de escola, um membro externo de

uma empresa, muito bem situada essa empresa e que dizia, vocês precisam de obras, vão

pedir à Cimianto, vão pedir à não sei o quê, etc., é claro que se pode fazer mais coisas

dessas, mas também a nossa própria forma de gestão nos coarta um bocadinho aí, também

nos tira liberdade. Claro que se houver uma empresa que quiser construir um edifício,

presumo que não há nada que o impeça, mas normalmente não é assim. E, portanto,

conseguir que nos paguem ou o cimento ou as obras e não sei quê, pode ser, também não

é muito fácil. Agora, eventualmente, é uma aprendizagem que vamos ter que fazer.

Sem ser (o banco) têm protocolos...?

Não. Aqui não temos com mais nenhuma empresa… às vezes aparecem umas empresas

privadas, mas coisas muito pequeninas… querem vir aqui fazer uma publicidade e depois

dizem que nos dão uns bilhetes e não sei o quê… nós também não gostamos muito porque

é assim, primeiro não queremos que isto seja um sítio muito… quer dizer, se for livros ou

assim faz sentido, agora cosméticos ou assim para a faculdade… mas temos esses

pedidos… a faculdade não deve ser para vender bebidas ou cosméticos ou seja o que for.

E, por outro lado, como temos tão pouco espaço, achamos que o espaço também tem que

ser preservado para os nossos alunos e para os nossos docentes e não andar aqui a…,

portanto, mesmo em coisas pequenas não temos sido muito favoráveis.

Autonomia universitária, como a vê? Referiu anteriormente que considera que está

limitada…

Muito limitada, pelas leis, pelas regras, ao nível da universidade acho que é esse o maior

problema, acho que com mais autonomia eramos melhores, mais eficazes e poderíamos

prestar um melhor serviço com o mesmo dinheiro ou suportar até perdas de dinheiro.

Acho que esse é o grande problema de uma universidade como Lisboa, Porto ou Coimbra,

outras poderão ter outros problemas, mas para as grandes universidades esse é um grande

problema, não tenho dúvida nenhuma.

Professora, o RJIES estabeleceu o CG com membros externos ligados à gestão da

universidade. De alguma forma, parece-lhe que esta entrada, apesar de ainda

estarem em minoria, que esta entrada de membros externos possa de alguma forma

ter ingerência ou influência na autonomia universitária?

Não, na autonomia não vimos nada disso. Vi isso na assembleia da universidade e sei

depois o que se tem continuado a passar no CG, acho que tem efeitos benéficos…

Portanto é favorável ao sistema?

Não era muito ao princípio e acho que não tem tantos efeitos benéficos como contam, não

é nenhum milagre, nós tivemos essa experiência aqui na universidade, muitas das coisas

que nos propuseram não eram viáveis porque as pessoas não conhecem, não sabem o que

é e aliás, acabam por dizer assim, ninguém pode, ninguém consegue gerir nada, portanto

acabam por fazer isso. Apesar de tudo, há um input novo, completamente diferente e que

acho que é positivo e também esta obrigação de a universidade se mostrar e de ser de

alguma forma, avaliada, não é esse o objetivo, mas pronto e isso penso que é muito

positivo e acho que há um input de informação, de comentários, de opiniões, de questões

que são levantadas, sou favorável. Não acho que seja um milagre que resolva nada. E nós

inclusivamente pusemos isso aqui também na faculdade, o nosso conselho de escola tem

dois membros externos, não é nenhuma solução milagrosa, mas é bom, tem sido positivo,

tem sido uma experiência interessante e positiva. Não digo que se eles não estivessem cá

que seria muito diferente, mas achámos que era uma mais valia e decidimos continuar

agora quando alterámos os estatutos. Não melhora nada, nem autonomia, quer dizer, pelo

menos no CG anterior, quando foi mesmo preciso as pessoas falarem e tal, nunca

tivemos… nunca foi muito útil termos o presidente da PT à frente do nosso CG. Do ponto

de vista político nunca foi e não acredito que seja, as pessoas têm outras lutas, outras

questões, podem fazer uma entrevista, uns comentários e tal, mas se não nos perturbarem

muito porque quer dizer, isto não é a vida deles, é assim. Mas não acho que resolva

grandes problemas, acho que é bom para nós, dá-nos mais transparência, obriga-nos a pôr

em causa, obriga-nos a ter contacto e até a responder, a verificar algumas das sugestões

que nos são postas, mas não vejo que seja daí que venha a solução para nenhum dos

graves problemas de gestão.

Professora, duas em uma, se considera que a missão da universidade se encontra

bem definida nesta altura e o que lhe parece a fusão entre as universidades técnica

e clássica?

A missão acho que está clara, está bem definida, quer dizer, investigação, ensino, o

serviço, penso que não levanta dúvidas nem tenho visto problemas sobre isso. Claro que

quando começamos a pôr muita enfase no financiamento, levanta-se um problema e não

é uma questão de missão, é uma questão de condições. Em relação á fusão, sou e fui

sempre muito favorável e acho que foi um processo exemplar graças às pessoas que o

dirigiram, mas também depois toda a maturidade que as várias escolas tiveram, foi um

processo com uma adesão muito, muito significativa e sobretudo nas grandes escolas, nas

pequenas também, mas houve alguns grupos que não queriam, como é evidente, as

mudanças doem sempre, são sempre problemáticas, não vamos ter ilusões. Mas, no geral,

foi extremamente participado e extremamente bem aceite, não houve grandes ruturas, não

houve grandes conflitos e foi feito graças à liderança do professor (nome), que é

completamente visionário, que teve a capacidade de arrastar os outros atrás dele, mas

depois também do outro lado, encontrou um parceiro que é um bocadinho um

complemento dele e que foi muito determinante porque o IST era a instituição que poderia

pôr tudo isto em causa, era a que tinha mais força para pôr isso em causa, pelo menos e

portanto foi muito determinante, toda a Técnica. Portanto, acho que foi um processo

exemplar, acho que correu muito bem, agora, ainda está muito por fazer e há uma parte

mais difícil que ainda falta fazer e que espero que corra bem, mas que ainda não está

consolidado. A parte mais difícil está feita, agora falta muita coisa importante…

Qual era a parte mais difícil?

Era esta aceitação, era fazer isto sem ruturas, era perceber de facto que era uma fusão e

que não era uma a comer a outra, era haver uma candidatura para reitor que foi apoiada

por todos os diretores de todas as escolas e que foi consensual, porque no futuro é bom

que haja várias candidaturas, mas aqui era muito importante esta unidade e acho que

havia, na generalidade, as pessoas acreditam que foi pelo melhor e que temos muitas

vantagens. O processo de mudança, como todos os processos, foi um processo difícil, as

pessoas estão muito cansadas de mudanças e portanto é preciso adaptações, as pessoas

sentem sempre que é o outro lado que tem mais força, isto é assim mesmo, queremos

mudar mas que fique tudo igual para nós, mas acho que sim, que foi uma atitude de uma

enorme clarividência, mais do que inteligência, de clarividência e de capacidade de

antecipação e certamente que na história, não quero dizer mundial, mas acho que seja

mundial, pelo menos na história europeia não há muitos, quer dizer, há muitos processos

de fusão mas por decisão superior, portanto, isto ser um processo que vem de baixo para

cima, quer dizer, não é bem de baixo, foram as reitorias, vem do meio, foi original e acho

que sou uma privilegiada em poder ter participado um bocadinho ou apanhado, não tive

nenhum voto na matéria mas acompanhado porque acho que foi um processo que correu

muito bem e que nos traz vantagens, o facto de sermos uma universidade grande e

completa, com todas as áreas do saber, dá-nos uma visibilidade externa que depois, se

soubermos aproveitar bem as oportunidades, pode ser uma vantagem para cada uma das

escolas. Não é automático, mas pode ser uma vantagem para cada uma das escolas, sim,

é uma imagem muito forte em termos europeus.

Professora quer acrescentar mais alguma coisa?

Não, acho que cobrimos tudo.

Muito obrigada.

Entrevista F7

Começamos por falar um pouco de si, a sua formação académica.

Fiz o meu curso, em primeiro lugar na escola de (faculdade pública nacional), entre 1968

e 1970 e depois, com uma determinação do Veiga Simão, as escolas não superiores, que

eram as escolas agrarias, eram as escolas normais e ao tempo, quem tivesse mais de 14

valores, podia ingressar no ensino superior e foi isso que aconteceu, tive 14 valores e

ingressei no (Instituto nacional) em 1971, que era um curso de formação de professores

de educação física, tinha quatro anos, um curso reconhecido, de onde saíram imensos

profissionais que hoje estão no terreno, famosos, na área da educação física e do desporto.

Terminei o curso em 1974/75, no ano do 25 de abril e nesse ano seguinte, depois de a

escola estar encerrada durante um ano, porque houve aqui uma revolução interna,

tomámos conta da escola, na educação física e desporto havia muitos professores ligados

ao antigo regime e por força das circunstâncias houve uma grande depuração interna e

nesse sentido foram… no dia seguinte à revolução, houve uma reunião histórica no

Ministério da Educação e o (Instituto nacional), com o decreto 675/76, ficou assim

conhecido, determinou que o (Instituto nacional) passaria a chamar-se (nome),

finalmente entramos na universidade com a revolução. E em 1976 abre o primeiro

concurso para professores desta escola, concorri, ganhei e desde essa altura que sou

professor nesta escola. Interessei-me pela educação infantil, principalmente pela área do

desenvolvimento motor, mas também ao ensino da educação física em crianças. Fiz a

minha tese de doutoramento nessa matéria, no fundo métodos de ensino em educação

física com crianças dos 3 aos 5 anos, depois fiz a minha agregação, também sobre essa

temática, mais alargada ao fenómeno que hoje se passa no quotidiano da vida das crianças

e principalmente a questão da atividade física do brincar e do comportamento parental e

tenho-me dedicado basicamente a isso. Mas é óbvio que essa minha entrada em 1976

como professor ficou marcada desde logo com uma grande dedicação à instituição em

termos de gestão. Em 1978 já estava como vice-presidente, nessa altura do (Instituto

nacional), e depois em 1983 mudámos a designação da faculdade para (nome) porque

aqui dentro não se fazia só formação em educação física, passou a fazer-se formação

noutras áreas como a dança, ergonomia, educação especial, gestão do desporto e então já

não fazia sentido chamar à instituição (nome), passou a designar-se (IES nome), porque

o nosso objeto de estudo é o homem em ação, o estudo do movimento e por isso

estudamos o movimento numa dimensão laboral, na ergonomia, numa dimensão artística,

a dança, na dimensão educacional, na escola, numa dimensão de treino, o treino

desportivo, numa dimensão de saúde, exercício e saúde, reabilitação psicomotora em

deficientes e uma dimensão da gestão institucional, que é a gestão do desporto e é esse o

modelo que construímos, o edifício, de várias áreas profissionais onde os nossos

profissionais passaram a ter mais empregabilidade em áreas mais específicas, porque o

professor de educação física era um generalista que trabalhava em todos os sítios e foi

esta a grande revolução, a grande mudança epistemológica que fizemos no funcionamento

da escola e isso teve um grande crescimento, quer ao nível do 1º ciclo, do 2º e também 3º

ciclo, temos dois doutoramentos, um em ciências da educação e outro em motricidade

humana e depois têm as diferentes especialidades e é nesse sentido que me tenho

dedicado, como professor nestas áreas do desenvolvimento motor e do ensino de

educação física, mas também como gestor e aí passei pelo conselho pedagógico, passei

pelo conselho científico e atualmente sou presidente, até terminar o mandato, quatro anos.

Espero que os estatutos que já estão terminados possam ser discutidos publicamente e as

eleições serem em outubro, novembro e eu terminar a minha tarefa e esperar mais quatro

anos para a reforma. É um longo percurso, dedicado à instituição, principalmente,

trabalhei muito nesta instituição, na sua evolução, mas também gostei sempre muito de

dar aulas, não descurei a produção científica, principalmente…. Há três linhas de pesquisa

em que trabalho, uma é o jogo e o desenvolvimento da criança, outro que é o

desenvolvimento motor e outro que é os comportamentos anti sociais nos recreios

escolares. Tanto que há 20 anos, integrei a primeira equipa internacional, um grande

projeto europeu que pela primeira vez estudou o bulying nos países da EU e nós e a

(universidade) fomos os primeiros a estudar o fenómeno do bulying em Portugal e a

divulgar essa temática porque cá ninguém sabia o que era bulying e hoje toda a gente fala

nisso, às vezes de forma inapropriada e descuidada. Portanto, é uma vida dedicada à

instituição. Depois fiz o concurso para professor catedrático em 2005 e estou como diretor

da faculdade desde 2010 e antes tinha sido diretor do conselho científico. Dediquei toda

a vida aqui à faculdade, ainda que seja sócio de uma cooperativa de ensino de sucesso

que se chama a Torre, que fica em Belém, que tem uma grande tradição desde o 25 de

abril que é um ensino baseado na pedagogia Freinet, no movimento da escola moderna,

fomos um pouco pioneiros nessa perspetiva, com a Voz do Operário, a Fernão Mendes

Pinto, com a Escola da Alameda que já não existe, em Oeiras e portanto há também aí um

modelo pedagógico muito interessante que se desenvolveu ao longo dos anos e que ainda

hoje sobrevive na cooperativa de ensino a Torre, da qual sou sócio e essas crianças vêm

aqui ter aulas nas nossas instalações e ao mesmo faço a formação dos nossos estudantes,

em direto, dando aulas a essas crianças na formação de educação física infantil e isso já

tem uma história de 30 anos.

Desempenha mais algumas funções para além da docência e das legisladas?

Não, nem posso.

A sua opinião sobre o estado atual do ensino superior em Portugal.

Devo confessar que tenho que ter algum cuidado quando falo da situação atual do ensino

superior em Portugal, por três níveis de razões. Em primeiro lugar porque há um

constrangimento financeiro que Portugal está a viver e que nós de algum modo temos que

ser solidários. Segundo, penso que essa dimensão de solidariedade tem limites porque

diria que é injusto o facto de termos uma situação política difícil no atual momento mas

o sistema universitário não contribuiu para o défice em Portugal, o ensino superior

público nunca teve dívidas e conseguiu sempre, ao longo dos últimos 30, 40 anos,

conseguir adaptar o reforço progressivo das suas receitas próprias em relação à

diminuição da dotação orçamental do estado. Portanto, se nós nunca tivemos dívidas, é

muito injusto o que nos está a acontecer porque de facto estamos a ser penalizados, como

instituições relacionadas com a administração pública, quando nunca contribuímos para

esse défice. Fizemos um grande investimento no desenvolvimento da ciência, devo dizer

que nos últimos 20 anos foi um desenvolvimento muito assinalável e, este é o terceiro

ponto que gostava de referir, temo sobre o estado de desenvolvimento da ciência em

Portugal, sobre as limitações que as políticas atuais nos estão a conduzir, no sentido de

diminuir essa produção científica. Porque de facto não se pode regredir agora 20 anos

porque isso é uma tragedia para Portugal e para o futuro, não só para os nossos jovens,

para a credibilidade da nossa investigação, mas também para o financiamento em relação

à ciência. Penso que aqui deveria existir mais cuidado em saber distinguir as instituições

de ensino superior universitário como instituições públicas que haviam de ter uma

dimensão de excecionalidade devido ao facto de nunca terem contribuído para o défice

português e portanto vejo com dificuldade a sustentabilidade financeira da universidade

pública atual porque em certas circunstâncias, a gestão torna-se muito difícil neste

momento com alguma legislação que foi publicada, estou a falar principalmente da lei

dos compromissos, não é possível, com a lei dos compromissos podermos responder

adequadamente, nomeadamente a projetos plurianuais ou a projetos de financiamento

europeu, que têm uma lógica completamente diferente do que está escrito na lei dos

compromissos, basicamente, antes de existir alguma despesa tem que ser previamente

cabimentada e isto não condiz nem é coerente com aquilo que é a dinâmica do

funcionamento e do financiamento da investigação de acordo com as regras europeias.

Portanto, há aqui um desfasamento, que ainda não foi bem refletido pelo governo

português, não foi bem refletido até no sistema de ensino superior, e estou a falar ao nível

do CRUP, estou a falar ao nível das instituições de ensino sobre esta matéria. Acho que

deveria existir mais consciência de que essa sustentabilidade financeira deveria ter uma

legislação especial para que as universidades não percam as grandes conquistas que

fizeram. O que é verdade é que se virmos a curva de crescimento das receitas próprias e

a diminuição da dotação da curva do OE, isto significa que as universidades fizeram um

enorme sacrifício, um enorme esforço de sustentabilidade financeira, quer dizer que, por

exemplo, a (IES) já tem, por exemplo, uma receita própria que ronda os 50%, o que

significa que isso implica um grande investimento, um grande trabalho dos seus docentes

e de toda a instituição no sentido de, para além das tarefas de ensino, para além das tarefas

de serviços à comunidade e das tarefas de investigação, termos os docentes a conseguirem

responder a solicitações e a projetos co-financiados e isso implica muito trabalho e

portanto, se nos cortam as pernas, não só se cria uma falta de auto estima enorme, uma

falta de confiança e também uma instabilidade interna, uma desilusão institucional e

política que torna difícil as tomadas de decisão quanto à manutenção da escola. Isto não

significa que a (IES) se encontre em dificuldades financeiras mas está no limite, devo

dizer que neste momento estou muito preocupado se o governo dá ou não dá o subsídio

porque ainda não tenho notícias que o vai pagar e se nós tivermos que pagar o subsídio,

ficamos numa situação financeira muito difícil. Por outro lado também queria dizer que

se as instituições têm esta capacidade de poder ter autonomia científica, pedagógica e

administrativa e financeira, têm muitas vantagens, este é o processo atual da UL, resultado

da fusão entre a UTL e a UL, mas que teve o bom senso de manter, nos seus estatutos, a

possibilidade de termos autonomia científica, pedagógica e financeira e isso constitui um

grande avanço no funcionamento autonómico das escolas e das unidades orgânicas que

fazem parte da UL e isso permite ter uma dinâmica que é muito favorável ao

desenvolvimento de uma consciência competitiva e de grande iniciativa dos docentes para

encontrarem projetos, encontrarem financiamentos, etc. e estou a falar de financiamentos

essencialmente ao nível da FCT, ao nível de doutoramentos, de projetos de investigação,

mas também projetos com a comunidade e projetos europeus. As nossas áreas são áreas

com algum significado social, isto é, respondem a necessidades sociais evidentes, como

a saúde, o desporto, a educação especial, da reabilitação e até da dança que é o único

curso de dança no ensino superior que existe na europa e portanto significa que essa

dinâmica implica de facto uma grande dedicação dos docentes para que consigamos

manter esta escola com algum equilíbrio mas o limite da sustentabilidade financeira está

a chegar ao fim porque vejo com alguma dificuldade que estes cortes cegos que têm

existido, possam continuar, não temos mais capacidade de aguentar mais cortes, é

impossível. Sob pena de colocarmos em causa um grande trabalho que foi feito nos

últimos 30 anos na produção científica e também na qualidade do ensino dos nossos

estudantes, isso é o que me preocupa mais neste momento no que diz respeito à questão

financeira. Mas basicamente devo dizer que estas dificuldades que estamos a viver coloca

também algumas dificuldades internas na solidariedade e no equilíbrio, porque há

docentes que conseguem projetos e outros não conseguem e tem que depois existir uma

grande solidariedade para que todos possam ir a congressos, para que todos possa fazer

apresentações. Por exemplo, agora estou muito preocupado porque agora as revistas

internacionais só publicam se os artigos forem pagos e isso está a ser um custo adicional

enorme, quer dizer a pessoa tem um artigo com um grande impacto publicado numa

revista internacional mas o conselho de gestão tem que definir aqui o pagamento de 600

a 700 euros por artigo, quer dizer, isso está a aumentar, a publicação científica tornou-se

um grande negócio, pessoalmente estou muito preocupado com isso de futuro. Está a ser

uma coisa estranhíssima porque está a tornar-se um negócio. Acho que a universidade

existe porque tem estudantes, não é só porque tem projetos de investigação, é acima de

tudo porque tem estudantes e a sua sustentabilidade financeira não depende propriamente

da investigação científica porque isso os docentes gastam nos seus projetos o dinheiro

que recebem do financiamento que têm, agora eu se não tiver estudantes não tenho

propinas e se não as tiver não tenho sustentabilidade na escola. Portanto, significa que

também tem que haver aqui uma preocupação com a qualidade do ensino que damos aos

estudantes e o professor vive muito dividido entre o tempo que disponibiliza para a

investigação científica e o tempo que tem para fazer um ensino de qualidade e é evidente

que temos que distinguir o que é uma boa formação profissional e o que é uma boa

formação científica e eu há muitos anos que penso que um dos problemas que o ensino

superior tem neste momento é que em algumas circunstâncias não está a saber distinguir

claramente a sua missão porque nem todos os estudantes são potenciais investigadores.

Uma maioria desses estudantes quer competências profissionais que permitam ter sucesso

e empregabilidade e por isso significa que esse ensino tem que ser de grande qualidade

profissional para que eles tenham capacidade de adaptação a situações profissionais e esse

emprego possa ter sucesso e esse é um problema também muito sério. Se eu tiver que ir

ver na história, há de facto uma diferença assinalável de há 20, 30 anos para trás do que

é hoje, hoje existe uma competitividade enorme na carreira académica e na avaliação dos

professores, uma competitividade entre os professores e que significa, de algum modo,

que senão estivermos atentos pode ser descurada essa qualidade de ensino e não interessa

muito para a avaliação. Por exemplo, na (IES), temos uma produção científica que poderia

dizer de grande qualidade, somos a escola que na europa talvez possamos estar

classificados em 2º lugar ou 3º lugar, o primeiro é Colónia, na Alemanha e depois será a

(IES) e depois a UP, faculdade de desporto e significa que temos uma relação professor

aluno, em termos de número de doutorados e número de estudantes e laboratórios de

investigação e condições instrumentais para a pesquisa talvez dos mais avançados da

europa e portanto isso dá-nos credibilidade para ganharmos esses projetos em termos

europeus e em termos da nossa instituição de financiamento, que é a FCT, assim como o

nosso centro de investigação, o CIPER, que tem sido avaliado com muito bom e também

já teve excelente e por isso diria que a (IES) nessa perspetiva se encontra bem, ainda que

numa fasquia que a qualquer momento pode derrubar, dependemos de decisões políticas

de contenção financeira e de degradação do financiamento à universidade, estamos muito

preocupados com isso, porque tem vindo a descer progressivamente. Veja por exemplo

este aumento agora na ADSE, o aumento na CGA, não sabemos se recebemos o subsídio

de férias, o governo ainda não decidiu, não está claro no orçamento para 2014 e vivemos

na incerteza e isso não é bom, vivermos na incerteza porque não sei como posso planear

o futuro, quando a um mês de pagamento do subsídio, não sei se vou ter que pagar do

meu dinheiro ou se vem do governo, isto não é maneira de governar um país. Não vai ser

possível pagar os subsídios senão vier mais dinheiro, isso vai ser um momento de grande

tensão, há escolas que não têm capacidade para poder implementar essa medida porque

não têm almofada suficiente para isso. Por exemplo, na minha faculdade, um salário

mensal, trabalhadores e docentes corresponde a 500000 euros e não vou ter capacidade

de encontrar facilmente neste momento 500000 euros, o que significa que tenho duas

hipóteses, ou não pago os salários ou tenho a solidariedade do nosso reitor para poder ser

emprestado por alguma faculdade da minha universidade mas se isso acontecesse seria

um mau sinal do governo.

Qual a sua opinião sobre ensino privado, a convivência entre privado e público e

sobre o privado em si.

Nunca me assustou a convivência entre o privado e o público, em todos os países do

mundo isso é uma realidade, ainda que haja contextos em que o governo eventualmente

se interessará precisamente por ter assegurado por parte do ensino privado um maior

protagonismo para poupar algum dinheiro em relação ao sistema de ensino público e isso

preocupa-me porque se podermos perceber este binómio entre qualidade do ensino, de

recursos humanos e materiais existentes no ensino público, não se pode comparar com o

ensino privado. Tirando a católica mas a católica é um caso particular, que não é

completamente ensino privado, tirando esse caso… mas veja por exemplo no caso da

educação física e desporto, a nossa área de trabalho, raramente encontra uma escola

privada em condições dos estudantes terem condições excelentes de investigação, com

laboratórios e biblioteca em condições adequadas, não existe, até porque isso implicava

um grande investimento financeiro que eles não fazem. Portanto, quem quer fazer

investigação de excelência vai à universidade pública, não vai à universidade privada,

estou a falar da nossa área. Com todo o respeito que tenho pelas escolas congéneres, na

nossa área, desde a lusófona até ao ISMAE, até aos politécnicos privados que fazem essa

formação mas não se pode comparar ao investimento que as instituições públicas fizeram,

em termos de recursos humanos, na motivação para o seu desenvolvimento em termos de

carreira académica e por outro lado em termos de investimento nos laboratórios,

equipamentos, etc. e em muitas linhas de pesquisa e isso é qualquer coisa que não existe

no ensino privado, com algumas exceções em uma ou outra área mas num sentido geral

não é verdade. Faço-lhe um convite para visitar os laboratórios das instituições públicas

e das instituições privadas e fazer uma comparação, como é óbvio. De resto, é muito

interessante verificar que se está a passar que nos 2ºs e 3ºs ciclos, muitos professores

dessas instituições vêm fazer o seu doutoramento ou mestrado às universidades públicas

para depois regressarem às universidades privadas, não é por acaso, isso é um excelente

indicador. Agora, obviamente que acho que essa convivência tem que ser feita de forma

saudável, há bons exemplos e não temos tido problemas em cooperar com essas

universidades existentes, temos o maior prazer, mas é óbvio que nos preocupa mais as

matérias de decisão política porque um desinvestimento no ensino público e um maior

investimento no ensino privado, esse desequilíbrio pode ser perigoso do ponto de vista

do posicionamento da investigação científica em Portugal e estou a falar na minha área,

não estou a fazer considerações sobre as outras áreas possíveis, como as áreas mais

básicas como as ciências básicas ou as ciências sociais e humanas, não estou a fazer

nenhuma relação, estou a dizer que isso pode ser um indicador perigoso, se há uma

decisão política em fazer essa inversão, sabemos que em todo o mundo, as grandes escolas

de referência são públicas, há algumas claro que são privadas, mas isto dificilmente se

pode tornar num negocio rentável sem existir um grande investimento político, para os

nossos jovens, que fazem o futuro, é algo que me preocupa, obviamente, mas em Portugal

e alguns países da europa é óbvio que os grandes investigadores e também os grandes

projetos de investigação estão no ensino público e não quer dizer que haja colaborações,

protocolos, cooperação com essas universidades privadas, participarem em centros de

investigação, temos aqui imensos investigadores que são de universidades privadas e que

estão no nosso centro de investigação e isso é saudável e é muito interessante mas não se

faça uma comparação entre uma coisa e outra porque são duas faces da moeda que são

completamente diferentes quando falamos em investigação, não estou a falar da qualidade

do ensino nem ponho isso em causa, agora em termos de condições para a investigação,

não tenho dúvidas que na nossa área, as universidades públicas estão em melhor

posicionamento, quer em termos de rating, internacional e nacional, quer em termos de

produção científica e é óbvio que uma boa produção científica favorece um bom ensino,

isso é óbvio e o contrário também é verdade. Quando há uma boa condição pedagógica,

também há boas condições para se fazer investigação, não se pode colocar estas duas

realidades de formas opostas, complementam-se, nesta lógica, complementam-se. Mas é

óbvio que tem que se fazer um investimento de algumas dimensões, uma boa formação

profissional dos estudantes e ao mesmo tempo uma boa produção científica porque é por

aí que se caminha, para uma maior internacionalização e uma maior competitividade

internacional, não tenho dúvidas disso.

A sua opinião sobre o processo de Bolonha.

Bolonha, sob o meu ponto de vista, acho que é um fiasco. Acho que adaptámos os cursos

de ensino superior a Bolonha e enganámo-nos a nós próprios. Acho que o espírito de

Bolonha não foi verdadeiramente no ensino superior português, falar de Bolonha no

ensino superior português é uma mentira. Fizeram-se adaptações muito discutíveis, acho

que melhoramos em alguns aspetos, na consciência da organização curricular e em termos

de avaliação dos cursos, acho que isso foi bom, agora, daquilo que é a evidência do

funcionamento quotidiano do ensino, acho que mudámos no papel mas ficou tudo na

mesma na realidade, quer dizer que o aluno não tem mais autonomia de estudo, os

professores não fazem de facto um trabalho de orientação dessa autonomia, acho que se

manteve basicamente o mesmo modelo de ensino aprendizagem, acho que não houve

grandes alterações, os professores continuam a passar os mesmos slides que passavam,

continuam a dar as mesmas aulas como davam, esse espírito não foi verdadeiramente bem

batido, nem verdadeiramente bem assimilado. Por todo o esforço que se tenha feito e por

isso, acho que não falo só pela minha instituição, porque a minha instituição já tinha uma

grande tradição na formação de professores, já estava até perto em algumas circunstâncias

do espírito de Bolonha mas acho que a perceção que tenho não é só da minha escola mas

do ensino superior em Portugal, quer privado, quer público, acho que se mudou a

designação mas a prática manteve-se igual. Portanto, considero que a aplicação de

Bolonha ao ensino superior português foi de facto um projeto falhado, em síntese, uma

aldrabice. E com isto estou a fazer uma auto crítica porque o processo de Bolonha não se

devia impor, deveria ter sido um processo descoberto, como uma necessidade, e quando

há a imposição simbólica europeia sobre aquilo que deve ser o nosso ensino, isso não foi

bem assimilado pelos protagonistas, quer por quem toma decisões, quer por aqueles que

a põem em prática. Portanto, penso que isto é um sentimento generalizado, toda a gente

fala nisto, provavelmente quem perdeu foram os nossos estudantes, quem perdeu foi o

modelo organizativo, por nós por exemplo, defendemos o modelo de 4+2 ou 4+1 para

compatibilidade com os países africanos, de língua portuguesa e sul americanos, coisa

que os espanhóis conseguiram manter bem porque manteve 4+1 e continuou com alianças

com a América Latina que continuaram a poder ser feitas. Temos imensos problemas com

alguns países para reconhecimento das nossas habilitações dos nossos estudantes,

exatamente porque temos um 1º ciclo de três anos e depois temos um 2º ciclo de mais

dois, se tivéssemos 4+1, penso que esse problema não existiria, comprometeu também a

saída do Erasmus porque fazendo três anos isso tornou-se mais difícil do que com quatro,

portanto, houve muitas desvantagens. Algumas vantagens foi mais na conceção da

organização curricular, mas também tenho noção que em muitas circunstâncias, essa

readaptação que foi feita foi uma manta de retalhos, foi tesoura e papel, cortou-se ali

colou-se acolá e ficou assim um processo de Bolonha meio estranho. Penso que neste

momento já ninguém acredita nesse processo, nem mesmo as guidelines que estavam

feitas e que eram interessantes para a gestão desse modelo, nunca foram discutidas, nunca

foram adaptadas, nunca forma refletidas. Olhámos para as guidelines e deitamo-las fora,

nunca mais olhámos para elas, não fizemos uma verdadeira avaliação da qualidade desse

ensino que estava a ser feito, acima de tudo a promoção da autonomia de estudo do

estudante, os professores continuam a dar as mesmas aulas, com a mesma configuração,

o mesmo estilo, o mesmo tipo de exames, a mesma maneira de olhar para o estudante, a

mesma maneira de olhar para a avaliação, em algumas circunstâncias até se piorou. É

tudo feito rapidamente e não há tempo para nada porque o tempo é curto, em três anos

tem que se apertar tudo, acho que tem muitos aspetos negativos, o que não quer dizer que

não existam aspetos positivos. Hoje já sabemos o que é um ECTS, já sabemos o que é a

A3ES, a avaliação dos cursos, tudo bem concordo, mas o que é que isso vale se o aluno

está na aula e não aprende? Ou se o aluno não tem tempo suficiente para assimilar tudo o

que é necessário para ter sucesso na sua profissão ou se isso não é suficiente para garantir

uma empregabilidade como deve de ser. Ou se esse curso, por exemplo, de 1º ciclo

genérico dá uma habilitação que é tosca em relação ao que é pedido, depois tem que ir

obrigatoriamente procurar uma especialização no 2º ciclo e acaba por pagar do bolso dele

propinas, que neste momento são muito difíceis, passo aqui tormentos sobre as alegações

que os jovens fazem ao 2º ciclo para anulação de matricula por falta de capacidade

financeira ou por falta dos pais não terem condições para poder manter o filho a estudar,

isso custa, dói o coração de ver as justificações que eles fazem e portanto o governo

deveria de olhar com mais atenção para isso porque reduzir para três anos foi uma forma

de o estado economizar muito dinheiro e por isso sei o que é hoje a dificuldade dos

estudantes conseguirem pagar dois anos de propinas que são mais dolorosas para fazer o

2º ciclo, à exceção dos cursos que são contratualizados com o Ministério da Educação.

Temos aqui um curso de formação de professores de educação física, contratualizado com

o ministério em que eles pagam a mesma propina que os alunos de 1º ciclo mas essa

realidade…

Sobre as propinas, há autores que defendem que a sua existência responsabiliza o

aluno, há outros que dizem que coloca em causa a democraticidade no acesso. Entre

estes dois polos, onde se situa?

É as duas coisas, quer dizer, de facto o ensino público deveria ser gratuito mas como

vivemos num país pobre, não podemos fazer isso e era irrealista pensar que a universidade

pública poderia ser sustentável sem essa contribuição da propina do estudante. Penso

mesmo que para a qualidade dos serviços que oferecemos, a propina é uma coisa

insignificante. Claro que para muitas famílias é uma coisa pesada mas para aquilo que os

seus filhos recebem em termos de acesso a laboratórios, a bibliotecas, espaços, nem

imagina o dinheiro que gastamos, desde o papel higiénico, às revistas que assinamos, os

aparelhos dos laboratórios, os equipamentos de ensino, é um investimento enorme e

portanto tempos feito questão que uma grande parte das receitas que vem das propinas

dos alunos ser investida na qualidade e melhoria das condições de ensino e isso temos

feito nesta escola, a educação física e desporto é um dos cursos mais caros porque implica

um grande investimento em espaços e equipamentos desportivos que são caríssimos.

Fazer um curso de economia ou de direito ou fazer um curso de caneta e papel não tem

nada a ver entre ter um relvado, um campo de futebol, um ginásio, um ginásio para

ginástica desportiva ou para hóquei em patins ou para ténis, voleibol, basquetebol,

natação, ter uma piscina, ter um campo de atletismo, um campo de futebol, portanto, isto

são investimentos enormíssimos que temos que fazer para que a qualidade dos nossos

estudantes seja boa e o que é facto, é que não é por acaso, que estamos bem localizados

ao pé do estádio nacional e podemos usufruir destas condições, conjuntamente com o

estádio nacional, que faz parte do IPDJ, de termos uma parceria que permitiu ao longo

destes anos termos no desporto nacional, grandes sucessos internacionais, não só no

futebol mas também noutras modalidades, que é o que a comunicação social não explora

mas temos treinadores espalhados por todo o lado e isso é muito bom para a economia

portuguesa. Costumo dizer que Portugal tem todas as condições para exportar treinadores,

que é um dos esforços que estamos a fazer. Há treinadores que fizeram aqui a sua

formação que ganham milhões e temos imensos jovens com um grande sucesso

profissional porque aprenderam aqui a ser bons treinadores, bons gestores de seres

humanos e portanto conseguem um grande sucesso internacional, não é só o Mourinho

ou o Queiroz, há muitos treinadores em muitas modalidades desportivas que estão a

trabalhar em toda a parte do mundo, encontra treinadores no Dubai, América Latina, Ásia,

Europa, estão espalhados por todo o mundo, é uma pena que a comunicação social não

divulgue isso, como provavelmente existem economistas, engenheiros, no desporto

existem muitos, muita gente a trabalhar com muito sucesso e jovens em todo o mundo e

isso é uma grande valorização para a economia portuguesa. É pena que os políticos não

tenham consciência porque o desporto não é só futebol, nem é só o fenómeno visto

emocionalmente, é também este fenómeno visto de uma perspetiva económica. O

desporto é hoje um fenómeno social total que ultrapassa credos, crenças, fronteiras,

religiões, culturas, é um fenómeno quase superior ou idêntico à religião, une, forma,

civiliza as pessoas, o desporto é um fenómeno fantástico, simbólico, o futebol é uma

matança coletiva que se faz de forma simbólica, uma espécie de uma terapia essencial

para a manutenção da saúde mental e da saúde física dos cidadãos, ninguém tem essa

noção do efeito terapêutico que tem o desporto, tem que se aprender as regras, a perder,

a ganhar, fair play, e isso do ponto de vista dos jovens, do ponto de vista pedagógico é

uma coisa fortíssima. Depois há exageros, desporto em exagero faz mal. O desporto hoje

em termos mundiais assumiu hoje um protagonismo social, económico enorme, como

outros fenómenos por exemplo nas artes, mas o desporto é um fenómeno social total de

grande envergadura que implica uma analise sociológica, antropológica, biológica,

filosófica para perceber o que está em causa porque nós vivemos mas vivemos com um

corpo e esse corpo tem que ter saúde e também tem que saber adaptar-se. E essa adaptação

segundo o conceito de Darwin, implica que desde crianças, possamos fazer ensaios de

ultrapassar, combater o outro, marcar território para nos adaptarmos e por isso estou muito

preocupado com as nossas crianças porque hoje as nossas crianças têm cada vez menos

oportunidades de poderem ser autónomos e terem uma atividade física regular e estou

muito preocupado com a saúde dos portugueses, física e mental, e em muitas

circunstâncias, o sedentarismo, as doenças de civilização que se estão a implementar

devido à inatividade física, devido ao analfabetismo motor que se instalou entre os

portugueses vai ter implicações muito graves na saúde pública e nos gastos que vão existir

no futuro, por isso acho que esta relação entre a educação física e desporto e a economia

é muito grande porque senão tratamos dos portugueses, eles ficam feios, ficam

desvirtuados na sua autoestima corporal e pessoal, ficam com um auto conceito muito

fraco e isso tem implicações na produtividade e na estética do corpo e também a nível da

ética, não só a aparência mas também a essência do corpo e isso tem a ver com a

produtividade, com a economia. Quero jovens ativos, bem consigo próprios para

produzirem mais e é isso que os nossos políticos deviam perceber, por isso esta escola

tem essa dimensão fantástica que é preparar as crianças, os jovens, idosos, adultos, a

estarem saudáveis, a serem bons cidadãos, a produzirem mais e terem melhor capacidade

de satisfação porque a vida tem sentido se for bem vivida, há tempo para tudo mas o corpo

é só um e temos que tratar bem dele e é isso que fazemos aqui. Os médicos tratam do

corpo doente, os enfermeiros cuidam do corpo, nós tratamos do corpo são em movimento,

prevenimos a doença, é isso que fazemos. Isto para dizer que de facto o ensino devia ser

gratuito mas neste momento isso não é possível e temo mesmo que no futuro as propinas

eventualmente possam aumentar para que possamos manter uma sustentabilidade do

sistema universitário, não vejo outra forma, dificilmente se consegue ir por outro caminho

porque o governo também não tem condições de aumentar o financiamento.

E o facto de os 2ºs e 3ºs ciclos serem de um valor monetário muito mais elevado, às

vezes exigindo menos recursos, o que pensa desta situação?

Penso que o investimento… temos uma contenção, os numerus clausus para o 1º ciclo,

não podemos aumentar o número de alunos sem uma autorização do governo, o que

significa que a única alternativa que temos é angariar, da melhor maneira possível, tendo

uma boa oferta formativa no âmbito do 2º e 3º ciclo, aí está e tem estado a salvação de

muitas escolas. Devo dizer que no caso da (IES), uma das razões da nossa sustentabilidade

financeira passa muito pela oferta que fizemos de mestrados e doutoramentos e isso de

algum modo tem compensado a dotação orçamental do estado e essas propinas são

absolutamente fundamentais e de facto daí também sai uma produção científica de grande

excelência e de formação profissional nalguns casos, os mestrados de continuidade, os

mestrados científicos, portanto, há aí uma diversidade grande mas isso é a solução mágica

que algumas instituições têm tido para conseguir a sustentabilidade financeira das escolas,

essas propinas são fundamentais. Este ano, por exemplo, estou preocupado com a

diminuição da inscrição de alunos no 2º ciclo, começa a haver dificuldade das pessoas

frequentarem o mestrado devido a dificuldades económicas e financeiras, as famílias não

têm capacidade, sei o que leio todos os dias nas justificações que os alunos fazem para

anular a sua matrícula e muitas vezes fico magoado sobre a situação a que este país chegou

porque há muita miséria, há muita dificuldade e aquilo que os alunos espontaneamente

dizem ou descrevem quando anulam a sua matrícula, sei o que custa um aluno terminar

ou adiar a sua formação e ficar com ela interrompida porque a família não tem condições

de financiamento nem de sobrevivência e isso dói a quem está aqui nos quadros

intermédios, não sei mesmo se há consciência na hierarquia, na estrutura política mais

acima sobre estas coisas diárias que se vivem na universidade, perceber os dramas que

acontecem nas famílias dos alunos, é muito doloroso ver isso e a impossibilidade que

temos de juntarmos todas as perspetivas de ajudarmos estes alunos, quer através de apoio

bancário, quer através de aumentar as prestações, de fazermos tudo o que é possível e

chegar a uma altura em que nem isso serve, isso dói muito. Há aqui algumas decisões que

tenho que tomar que são muito dolorosas devido a isso, por não ter soluções para alunos

que são absolutamente fantásticos, que poderiam ser excelentes profissionais e que

interrompem a sua atividade porque têm que ir trabalhar para sustentar a família. Mas não

posso dizer que eles não devem pagar propinas porque se eles não pagam eu não tenho

dinheiro para pagar os salários dos professores. É inevitável. E por outro lado a propina,

quando digo que não é muito elevada, não é que não seja penoso para quem paga, mas

em função da oferta que fazemos, a propina é baixa porque há um investimento enorme

que é feito. Devo dizer que com estes cortes a que assistimos desde 2011, eu que sou

professor catedrático em último escalão passei para professor auxiliar em termos salariais.

E sou presidente de uma escola, acho inadmissivel que o facto de ser presidente, ganho

mais 250 euros. Um professor, diretor de uma escola secundária ganha 680 euros, isto

está tudo invesrtido, não há coerência, isto é uma instituição público privada, quer dizer,

tem o mesmo estatuto... há aí administradores a ganhar 40000 euros por mês, eu ganho

mais 250 por mês por ser presidente e tenho as mesmas responsabilidades e as mesmas

responsabilidades jurídicas. porque se cometo aqui algum erro, o ministério das finanças

vem cá e diz quye tenho que pagar as multas. Mas ninguém vê esta incoerência, isto

também tenho que dizer e trabalho aqui de manhã à noite, esses 250 euros é o dinheiro da

gasolina para vir para cá. uma vergonha, chama-se vergonha sublinhado três vezes. E

depois ainda dizem que o presidente ganha muito dinheiro... já não posso fazer uma

conferência, já não posso fazer uma série de coisas que fazia, isso é permitido segundo a

legislação, segundo o RJIES, podermos fazer conferências ou cursos, isso é um

rendimento para quem tem mais mérito consegue ser convidado a fazer outra conferência.

O presidente está atado de mãos e pés porque estou desde manhã à noite aqui na escola,

não posso fazer isso. e aquilo que recebe, gasta-o, é uma injustiça completa quando

comparamos com um administrador de uma instituição pública ou privada... um estudo

interessante era ver que instituições públicas é que têm o mesmo estatuto e ver os níveis

salariais dos responsáveis das instituições e aí iríamos ver a situação, é uma das injustiças

maiores do meu ponto de vista, essa lei está para ser implementada desde há 20 anos e

nunca foi implementada e hoje continuamos a receber de acordo com uma lei que ainda

é do tempo do Veiga Simão. A questão da economia no ensino superior, isso devia ser

revisto, os órgãos de gestão não são bem remunerados, é um aspeto que faço questão de

ressalvar aqui, não é só ver quanto pagam os estudantes, é também ver quanto recebem

os dirigentes. Há aquela grande discussão de as instituuições devem ser geridas por

gestores... se aparecer aqui um gestor não percebe nada disto, não percebe a cultura

própria da instituição, a sua história, a sua energia, tenho muitas dúvidas que um gestor

venha qui e consiga fazer melhor que nós fazemos. Agora continuo a dar aulas e continuo

a fazer investigação e sou presidente da faculdade, isso é um esforço adicinal muito

grande e por isso considero uma grande injustiça enorme e depois a remuneração, acho

que é uima coisa inacreditável. Do ponto de vista da legislação está incorreto e tem um

perigo enorme porque se me convidarem para abdicar do ensino superior oúblico e ir para

uma privada ou uma universidade estrangeira, há muitos colegas que hesitam e tenho

muito receio que a urto prazo, quer estudantes, que temos aqui grandes talentos, assim

como docentes e investigadores que não vão aguentar muito mais tempo e vamos perder

uma massa crítica que vamos demorar mais de 50 anos a repor novamente. Isto é o maior

drama e o maior problema que considero que existe no ensino superior público

atualmente, para além do financiamento. agora que estamos a ter notícias de problemas

de financiamento em todo o lado, incluindo a FCT, vai complicar imenso.

No seu entender, qual o dever do estado perante o ES público?

Está na constituição, todo o cidadão tem direito à educaçaõ superior e portanto significa

que o estado tem que responsabilizar-se por ter um esnino superior de qualidade e de

promover a ciência ao mais alto nivel e devo considerar que se há coisa em Portugal que

teve um grande sucesso nos últimos 30 anos foi o investimento feito na ciência, com

governos do PSD e do PS, houve um grande incentivo à ciência e tenho receio que com

esta crise financeira neste momento em que estamos a ser alvo desta troika, possam

desmantealr essa grande evolução que existiu na produção científica em Portugal, se for

ver as estatísitcas, houve uma evolução muito significativa, se for ver essa curva desde

1980 até 2010, é uma curva absolutamente fascinante, considerando a comparação com

muitos países europeus, tivemos um salto gigantesco na produção científica e portanto

temo que possamos estar a regredir neste momento a níveis de 10, 15 anos atrás e isso

para recuperar esse dado, não é fácil, já estávamos no bom caminho.

Como interpreta a extensão da ação social do estado aos estudantes o ensino

privado?

é um dever, penso eu, porque existem de facto estudantes com dificuldades e por isso

esses serviços sociais do meu ponto de vista têm essa função fundamental de apoio na

habutação, na alimentação, no enquadramento escolar e portanto tal e qual como no resto

do sistema de ensino existe essa proteção a qualquer cidadão em dificuladde para poder

estudar, penso que no ensino superior isso é também um direito e existem muitos

etudantes que estão a ser protegidos por esses serviços sociais, acho que isso é das coisas

mais meritórias que tem exitido no ensino superior português, temos muitos estudanteas

que fizeram o seu curso baseado nesse apoio dado pelo estado. Essa é uma função que

está legislada, é uma função que politicamente foi sendo implementada e por isso

saudamos sempre com bons olhos essa proteção do estado a estudanrtes com dificuldades

e isso na UL acho que tem corrido muito bem, quer o papel que os serviços sociais têm

tido, quer na forma como as escolas têm trabalhado também em associação nisso. acho

que aí o estado deve continuar a garantir essa proteção a estudantes carenciados porque

isso é um direito fundamental e por isso o financiamento às universidades no que diz

respeito aos serviços sociais deve ser acarinhado, ainda mais em momentos de crise.

Sobre os alunos, existem estratégias de captação de alunos, marketing?

Sim, temos uma direção de relações externas que extamente tem essa função de trabalhar

na publicitaçao dos nossos cursos, na angariação de alunos para 1º, 2º e 3º ciclo, mas

também e po extensão os Erasmus e também neste momento, existe um programa

brasileiro, um grande investimento do governo brasileiro sobre os planos internacioais de

licenciatura chamados PLIS e também o Ciência sem Fronteiras, que é para alunos do 2º

ciclo. o ano passado, fomos uma das escolas da UT que recebeu alunos de dfiversas partes

do Brasil e até de zonas muito pobres para fazerem a licenciatura cá e também no

Programa Ciência sem Fronteiras, penso que isso é uma questão fundamental. atualmente,

estamos muito preocupados nesta nova universidade de captar para a UL e ser uma capital

de alunos de todo o mundo, acho que isso é uma prioridade fubdamental. e por exemplo,

temos tido aí iniciativas de cursos de verão, que podem ser extraordinariamente aliciantes

para estudantes nórdicos que vêm cá fazer cursos, o nosso país tem um posicionamento

geográfico e tem um clima absolutamente fascinante para captar alunos de todo o mundo.

Diria até que temos coisas interessantíssmas pensadas no sentido de na época de inverno

podermos captar atletas de alto nível de competição que possam vir fazer aqui a sua

preparação atlética, porque somos um país que temos um clima mais adequado,

especialmente em relação aos países mais a norte e mais a leste, o que significa que,

quando olha para este espaço, o erstádio nacinal, podemo simaginar aqui um turismo

enormíssimo de atletas de alto nível a fazerem a sua preparação desportiva, portamto, há

muitas ideias que estão no ar.E perto da univeridade, para dar o apoio cinetífico, que já

temos dado, já fazemos apoio aos centros de alto rendimento no Jamor, isso é muito

interessante, agora, é uma questão de organização de pensamento e estratégia que é o que

acho que falta. Acho que falta a este país missão, visão de rumo, temos tantas coisas

interessantes para fazer, então no caso do desporto, temos imensas coisas para fazer,

embora os entraves, a burocracia, as leis, temos a lei dos compromissos e depois vem um

despacho do ministro em que andamos três semanas sem perceber qual a lógica do

despacho... isto é de facto qualquier coisa de inimaginável em termos de gestão. Quem

est´«a aqui numa posição como aquela em que estou, presidente de uma faculdade, é

muito dificil olhar para ali e perceber o que é que eles pensam, o quie estão a fazer, hoje

publicam uma lei, amanhã publicam outra, estas coisas dos cabimentos das despesas,

depois temos o TRibunal de Contas à perna, isto é doloroso, vivemos numa teia de

burocracia que não favorece o desenvolvimento, claro que estou a falar um bocadinho

emocionalmente, estou um bocado desiludido porque a tomada de decisão é difícil,

deveríamos desburicratizar para ter mais sucesso e desenvolvimento, mais iniciativa, mais

empreendedorismo e as regras muitas vezes são pesadas porque se cometo um erro, se

tomo uma má decisão sou multado pelo tribunal de contas e depois tenho os meus colegas

a não compreender as decisões que tomei, uma crítica violenta, hierárquica, da tuela para

as instituições, que estão mais abaixo e depois, ao nível da horizontalidade, temos outro

problema que é a convivênia institucional e a perceção que as pessoas têm das decisõe

políticas que tomo, quer do ponto de vista financiero, quer do ponto de vista político, não

é nada fácil.

Sem ser os alunos nem o estado, já falámos um pouco sobre isso mas outras fontes

de receitas proprias que a instituição tem.

Temos uma receita própria muito importante que é o aluguer das nossas instalações para

projetos da comunidade. Segundo plano, alguns projetos que temos com a comunidade,

que são financiados pelas proprias autarquias, por exemplo. a (IES) tem feito um trabalho

ímpar, diria mesmo de grande inovação em todo o mundo com as Câmaras da Amadora,

Lisboa, Sintra, em projetos do interesse dos cidadãos, o projeto Peso, centrado na

obesidade, o projeto Pessoa, sobre as atividades físicas nas escolas, um projeto sobre a

reabilitação cardíaca, que é feito em parceria com o Hospital de Santa Ceuz, que é um

projeto que visa prevenir AVC, sou um caso, tive um e nada melhor do que fazer exercício

físico, sou um bocado sedentário mas muitas pessoas conhecidas da sociedade

portuguesa, se vier aí pelas seis da tarde, vai ver um parque de estacinamento de

excelência que vêm aqui fazer a sua atividade física. Temos outro projeto Vicious Mind,

que começou aqui em Oerias e está a ganhar projeção em todo o país, por exemplo, um

projeto de hidroginástica para idosos, um projeto para crianças de educação física em

iadde escolar, temos uma grande ligação com a comunidade e daí decorre muitas receitas

que ajudam depois a fazer os projetos de investigação e a financiar esses estudantes que

fazem e os laboratórios que se podem equipar melhor, etc. Depois temos outra fatia, outro

grupo que vem da FCT, principalmente com o nosso centro de investigação, ainda que

muitas vezes essas prestações chegam atrasadas, até dois anos e nós temos que adiantar

esse dinheiro, estamos a falar de teses de doutoramwento e de projetos de investigação.

E depois projetos europeus, é óbvio que a escola aí tem sempre a possibilidade de cobrar

um overhead, esse overhead é essencial para manter o equipamento necessário aos

laboratórios mas também permitir que os professores possam ir a congressos ir apresentar

as suas comunicações, publicações científicas e também a formação, portamto, estes são

basicamente as três grandes fontes de financiamento mas há outros projetos que são de

interesse mais estratégico, político. Por exemplo, um projeto de colaboração com as

OGMA, vão fabricar aviões em Sacavém e na área da ergonomia vamos fazer a

manutenção desse grande empreendimento, por exemplo o protocolo que estabelecemos

com o SL Benfica no que diz respeito à formação e à investigação e à avaliação de atletas,

este protocolo com o Comité Olímpico também sobre a orientação de atletas oliímpicos.

hHá protocoos wue podem não ter um interesse financeiro imediato mas tem muitas

vantagens porque colocamos estagiários, fazemos investigação, etc. temos imensos

protocolos. Depois há também uma outra área muito interessante que são as parcerias que

se vão estabelecendo por exxemplo com os países africanos, os PALOP, que penso que

no futuro, também é um dos grandes objetivos da UL, fazer parcerias com as escolas

universitárias desses países, também com os países de língua portuguesa da América

Latina, o Brasil e agora um grande investimento também nos países da América do Sul

como a Argentina e o Chile que têm um grande interesse na nossa área e que podem vir

no futuro a ter vantagens do ponto de vista do financiamento, pensamos que a curto prazo

isso pode trazer troca de docentes, troca de estudantes e essa dinâmica vai ter que ser

desenvolvida, já está, muito mas tem que ser masis e espero que a UL seja uma

universidade que se torne agradável para os estudantes aqui viverem e fazer a sua

formação. Mas o financiamento vem basicamente destas fontes. Claro que de vez em

quando aparece assim uma surpresa, temos projetos muito interessantes que exuistem,

agora a maior dificuldade é nos projetos plurianuais porque temos que pensar isto de ano

a ano e nos projetos internacionais não é assim, como e que vamos programar, como

vamos planear da forma mais adequada, temos um horizonte temporal que tem que ser

visto em função do OE de ano a ano, que é muito complicado, este acho que é talvez o

ponto mais importante que deveria ser renegociado com o governo, as universidades

necessitam, como de pão para a boca, de ter uma excecionalidde quanto à gestão

financeira nos projetos internacionais. Imagine uma instituição como a Faculdade de

Ciências, que tem imensos projetos, são milhares de euros, como é que fazem? e aí, nas

nossas reuniões que temos tido na reitoria, os presidentes têm manifestado esta

dificuldade e o senhor reitor conhece bem esse pensamento de todos os presidentes e

diretores das unidades orgânicas da UL, é uma das questões que temos falado.

Neste cenário de cortes orçamentais, quais as áreas que mais sofrem?

Fundamentalmente e é óbvio que a primeira dotação orçamental vai logo para os salários

dos docentes e funcionários e no caso da (IES), temos um orçamento de cerca de 5

milhões de euros e esse dinheiro dá para pagar dez meses, quer dizer que já nem sequer a

dotação orçamental chega para pagar, nem são os 14 meses, estou a falar de 12 meses, o

que quer dizer que se não for a receita própria, não sobrevivemos. Temos uma

movimentação anual de cerca de 12 milhões de euros, quer dizer que temos que ir buscar

às propinas e aos projetos financiados cerca de 6 milhões de euros, não é fácil. e se for a

algumas escolas da univresidade estas percentagens ainda não estão nos 50%... não

conheço muito bem outras realidades mas imagino que algumas escolas estejam em

dificuladdes. Veja por exempo, este ano os números que aconteceram nos cursos de

ciências da educação, este ano tive que fechar um mestrado, tinha uma, duas pessoas, na

área das ciências da educação, a crise chegou e temos que encontrar soluções para isso.

Do ponto de vista da dotação orçamental dá par pagar dez meses e meio de salários aos

professores, o resto temos que ir buscar. desde 2011 que temos vindo a definir por

despacho do conselho de gestão uma coisa que não gradou muito aos professores no geral

mas que é no fundo um plano de contenção orçamental e nesse plano tomamos medidas

dolorosas, algumas como a diminuição das ajudas de custo, aumentámos a cativação dos

projetos, quer dizer que os professores passam a ter menos dinheiro para gastar e isso

doeu, nesse despacho estão várias indicações, por exemplo, dimnuimos a aquisição de

computadores e material informático, diminuimos algumas revistas que considerámos

que não eram úrteis, quer dizer, tivemops que tomar posições deste tipo, do dia a dia, e

ao mesmo tempo fazer uma espécie de solidariedade, de empréstimos em que os qye têm

projetos dão aos que não têm e temos um sistema montado de modo a que todos possam

funcionar sem sentir muito a crise, uma espécie de plano como fazemos na nossa casa de

contenção de despesa e é isso que tentamos fazer, é o despacho n.º 4 do Conselho de

Gestão 2012/2013, foi feito, discutido, lançado à escola e toda a gente ficou a saber as

regras e depois fizemos uma almofada que serviu de suporte a aidnatamento de dinheir

porque, quer dizer, como a FCT não nos pagou tivemos que fazer face às despesas do

centro de investigação e depois quando o dinheiro vem, temos que repor.

A instituição tem mecenas ou patrocinadores?

Sabe que isso é uma pergunta difícil mas partinente. Infelizmente, em Portugal esse

trabalho não é possível e ainda menos neste momento, é muito difícil, infelizmente ainda

não há cultura organizacional nem empresarial para perceber essa relação universidade

empresa ou universidade, tecido empresarial, tecido social, não há ainda um

desenvolvimento que considere elevado, como existem noutros países, dessa parceria.

este ano, por exemplo, iniciámos um projeto com a Câmara de Oeiras, com a High Tech

de Oeiras, vieram aqui as empresas do concelho fazer a apresentação do que faziam e nós

mostrámos tudo aquilo que fazíamos nos laboratórios, agora estamos na fase de irmos

visitar as empresas, exatamente para inciarmos um processo de maior dimensão com as

empresas. Depois, essa lei do mecenato não funciona, há outros obstáculos na entrada do

dinheiro, no gasto do dinheiro, há coisas complicadíssimas. Quando me fala em

patrocinadores ou mecenato, este problema é muito sério porque depois temos

constrangimentos que nos impedem de gastar. Não nos faltam grandes empresas para nos

dar patrocínios mas depois h´constrangimentos morais, constrangimentos políticos, diria

até cnstrangimentos de natureza jurídica. É como o mecenato, é igual, se puser aqui,

vamos imaginar, o Continente ou o Pingo Doce, a lesgislação coloca-me imensosm

problemas sobre como posso receber e como posso gastar esse dinheiro. Se for ver a lei

dos compromissos e depois perceber que o mecenato, como é que isto joga? não é possível

porque a lei dos compromissos diz assim, só pode gastar se cabimentou primeiro, como

é que isto no mecenato funciona, é dificil. A maior contrdição que encontrei aqui como

presidente foi uma intervenção do tribunal de contas que veio aqui fazer uma auditoria às

nossas contas e felizmente não tive uma única multa, tudo certinho. Quando acabaram,

estiveram aí três pessoas duarente dois meses, já tinha saído a lei dos compromissos e

mandam-me uma fatura para pagar, 7000 euros pelo trabalho que fizeram e eu não paguei

porque a lei dos compromissos não permitia, não tinha cabimentado a despesa. Sabe o

que fizeram? passou o prazo, oito dias depois de ter passado o prazo de pagamento,

mandam-me uma carta a dizer que se não pagasse, ia para tribunal e eu fiz a pergunta,

então e a lei dos compromissos e eles simplesmente disseram que o tribunal de contas

está acima da lei, isto é o país em que vivemos, e isto é apenas um exemplo.

Como vê a autonomia universitária?

Só existe autonomia universitária se existir autonomia financeira, é o meu ponto de vista,

e essa autonomia universitária não tem que ser apenas autonomia científica, tem que ser

uma autonomia financeira porque as coisas estão intimamente ligadas numa dimensão de

perspetiva, isto é, de desenvolvimento da própria instituição. E nós temos idoneidade, a

universidade portuguesa já tem idoneidade suficiente para conseguir autonomia na gestão

dos dinheiros +úblicos e sabe exatamente o que deve fazer para ter um desenvolvimento

sustentável e inovador, já temos massa crítica suficiente, já temos funcionários, já temos

docentes com experiência nacional e internacional, temos servilços de funcionários na

Administração pública, tenho aqui uma administração que ao lomgo dos quatro anos

tenho dado mais autonomia porque eles têm de facto competencias para saber exatamente

como é que a máquin deve funcionar e portanto, uma escola que viva sem autonomia

financeira, dificilmente tem autonomia e penso que esse é o grande mérito da UL em

relação ao sistema universitário português, que normalmete está dependente dos serviços

da reitoria. Para mim não há qualquer dúvida, só há autonomia universitária se houver

autonomia financeira e administrativa e essa é que permite depois salvaguardar a visão e

a misssão da universidade.

Acha que a entrada de financiamento externo pode pôr em causa essa autonomia? o

facto de algumas instituições poderem exigir contrapartidas...

Pode aí haver algumas manipulações subtis, pode, mas isso tem que haver um conselho

de ética e qualquer universidade que tenha autonomia, esse coselho deve estar atento para

saber detetar quando existe esses interesses e manipulações mas isso não existe muito n

nossa área, é mais nas áreas biológicas, farmacêuticas, medicina, por exemplo, a questão

das patentes, das inovações tecnológicas, mais para a engenharia e para a medicina, nós

não temos grandes pruridos com isso.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Acho que é um estudo muito interessante que ainda não está feito na universidade

portuguesa, a relação economia e educação é absolutamente fundamental.

Muito obrigada pela colaboração.

Entrevista F8

Começamos por uma apresentação breve do seu percurso académico e profissional.

Sou diretora da faculdade, professora catedrática aqui há quase 40 anos, especificamente

mais na área da química farmacêutica, tenho estado ligada ao conselho científico quase

há 12 anos e portanto, nesta altura estou também à frente da direção desde 2012, mandato

de 2012 a 2016 e portanto tenho-me vindo a confrontar com este tipo de problemas (do

financiamento) de uma maneira extremamente intensa. Na realidade, os cortes que têm

sido feitos a nível do financiamento do ensino superior têm sido cortes muito agressivos

e nós obviamente, neste momento, aquilo que recebemos do OE é cerca de 60% daquilo

que precisamos, 60, 65% do que precisamos para pagar vencimentos, o que quer dizer

que tudo o resto tem que ser gerado através de receitas próprias que cobrem não só o

equivalente ao que resta dos vencimentos, como o financiamento da escola nas suas

funções, a água, a luz, o gás, telefones, redes móveis, tudo isso e a mudança dos

equipamentos, porque ainda por cima estamos numa faculdade que não é de papel e lápis,

uma faculdade que tem um ensino extremamente caro e extremamente específico, com

reagentes, com gases, com químicos, com agentes biológicos, com uma colheita muito

seletiva de resíduos e na realidade isto não tem sido nada fácil. Onde é que vamos buscar

dinheiro? Vamos buscar dinheiro a tudo aquilo a que podemos, não só as propinas dos

alunos, que é evidente, as propinas sobretudo do mestrado integrado, 2ºs e 3ºs ciclos,

temos inúmeros serviços no exterior, alguns deles muito ligados à rede hospitalar, com

serviços hospitalares, por exemplo, unidades de pediatria, que tem análises muito

específicas por exemplo, erros de metabolismo e genética com que as crianças nascem, a

icterícia, as monitorizações disto, o que quer dizer que é um trabalho em que a

investigação dá uma resposta muito assertiva aos problemas da clínica, mas depois temos

outro problema, que os hospitais também estão com problemas de conseguirem fazer os

pagamentos, portanto isto é um ciclo vicioso muito complicado. Temos muitos contratos

com a indústria farmacêutica, temos muitos serviços a outras instituições nas áreas por

exemplo de análise estrutural ou outros grupos porque temos equipamento de ponta em

tudo o que é análise estrutural de novas moléculas, a identificação da estrutura das novas

moléculas, temos serviços que estão relacionados com unidades de farmacovigilância,

monitorização de uso abusivo de medicamentos ou mau uso de medicamentos, temos

muitos projetos individuais com o INFARMED, que é a autoridade que regula os

medicamentos e os dispositivos médicos, ou seja, viramo-nos para tudo o que é possível

conseguir. Isso dá não só alguma base aos investigadores para as suas atividades de

investigação, para promoverem eles próprios a sua investigação e também à faculdade

porque a faculdade tem os overheads desses projetos. Para além disso, e cada vez temos

mais dificuldade em conseguir compaginar isto tudo porque obviamente é também um

ciclo vicioso de perca dos efetivos na carreira docente e na carreira de investigação,

portanto as pessoas cada vez são menos para fazerem mais coisas. Recorremos também a

imensos cursos, imensa formação ao longo da vida, ações de formação e portanto tem

sido isto que tem conseguido projetar-nos. Temos tido no campo da atividade científica

uma posição muito confortável com a FCT, ao contrário do que tem acontecido com

muitas outras instituições, temos tido imensos projetos aprovados, muitas bolsas de

doutoramento, tivemos um programa doutoral aprovado e participamos em mais 4, num

deles somos proponentes com a (IES) do Porto. E isto quer dizer que a nível de angariação

de fundos, não é bom mas tem sido muito razoável. Estamos agora a tentar os projetos

internacionais e aí ainda estamos com falhas porque embora estejamos ligados a alguns

projetos já aprovados, bolsas Marie Curie, projetos LIFE, ainda não estamos com uma

dinâmica de projetos internacionais sobretudo nesta fase do Horizonte 20-20, que seria

aquilo que nós nesta altura gostaríamos. Mas de qualquer maneira tem havido um esforço

imenso da instituição e devo dizer que é realmente muito bom sentir que numa altura tão

difícil e com tantos problemas, as pessoas não baixam os braços e portanto tudo tenta

arranjar meios para conseguir, como costumo dizer, conseguir ter o nariz fora de água

para conseguir respirar e simultaneamente, quando a pessoa respira a faculdade também

ganha projeção daquilo que a pessoa faz, publica, ensina, como obviamente também tem

o retorno financeiro dos overheads de tudo isto, da estrutura e portanto a situação é difícil

como acho que é difícil em todas as instituições, mas sobretudo é muito difícil nas

instituições onde temos problemas do próprio conteúdo do ensino, que é um ensino carro,

onde temos um parque de equipamento que tem a sua vida média muito definida e que já

está em muitos casos ultrapassada e não há capacidade da sua substituição e às vezes a

reparação sabe deus e estes problemas tornam-se mais prementes do que se for

propriamente um curso de papel e lápis. A juntar a tudo isto temos um problema, que para

nós é um problema cumulativo mas de uma maneira muito acutilante que é o problema

das instalações, que estão muito degradadas, com imensos problemas e que consomem

uma fatia muito significativa das receitas próprias geradas, portanto, é um acumular de

situações que não tem tornado nada fácil a vida a quem é diretor da casa. Mas pronto,

vamos tentando levar isto o melhor que podemos e esperar que melhores dias possam

aparecer.

Nesses contratos e protocolos com as empresas que mencionou, como são os moldes

desses contratos?

Depende, são muito variáveis, por exemplo, temos empresas que nos pedem serviços,

portanto, a indústria, que precisa de um determinado desenvolvimento de uma

determinada formulação ou o estudo de uma determinada biologia de um material e

portanto pede, apoiando-se na investigação científica que é feita, um serviço nessa base,

isto é um tipo de serviço. Outros, por exemplo, querem que nós façamos em conjunto o

desenvolvimento de uma determinada formulação e muitas vezes pagam os reagentes, é

feito um protocolo de colaboração entre as instituições ou por exemplo, financiam um

aluno de doutoramento para na sua própria tese de doutoramento poder desenvolver algo

que seja um problema real da indústria, ou seja, ou nos pedem uma prestação de serviço

ou nos pedem efetivamente uma colaboração científica com um aluno de mestrado ou de

doutoramento, muitas vezes até são funcionários da própria empresa que fazem a sua

formação académica com um problema real para resolver e onde o know how científico

da escola vai contribuir para isso. Temos depois instituições públicas, temos imensas

como o INFARMED que por exemplo, tem projetos financiados pelo próprio

INFARMED e desenvolvidos por professores e investigadores da escola na área dos

medicamentos, dos dispositivos médicos, no levantamento e tratamento de dados que são

colhidos a nível nacional e que depois precisam ser processados para determinada

finalidade e há muitos colegas com projetos em áreas diferentes, uns mais na área do

tratamento de dados epidemiológicos, outros mais na área da codificação de dispositivos

médicos para saber naquele hospital qual o tipo de dispositivo médico que usa para aquele

tipo de intervenção e em que é que esse difere do outro hospital que usa um dispositivo

completamente diferente, quais os benefícios de um e de outro, ou seja, o custo beneficio,

é uma contribuição para a política económica do medicamento no seu todo. Portanto,

temos vários tipos de intervenção e cada intervenção é monitorizada com um protocolo

especifico para aquela intervenção mas efetivamente temos esses contratos. Às vezes, em

consequência disto temos várias bolsas de doutoramento empresa, são dadas pela FCT

mas têm um concurso diferente das bolsas de doutoramento normal. Porque a indústria

ou a empresa financia metade da bolsa de doutoramento, é diferente dos outros.

Tem patrocinadores ou mecenas?

Não, ninguém dá, nesta altura, temos muita colaboração, se eu entender o mecenato como

dádiva de dinheiro, a resposta é não. Se eu entender mecenato como uma colaboração

intensa de instituições ou de antigos alunos ou de sítios onde esses antigos alunos estão

nesta altura a funcionar, isso digo que sim. Mas não mecenato de dinheiro, isso não, é

muito difícil e nós também temos uma particularidade que nos liga muito ao mundo real

e acho que isso é muito importante, porque o nosso mestrado integrado, por diretiva

comunitária obriga a que o 2º semestre do 5º ano, ou seja seis meses, mas mesmo seis

meses, não são semestres letivos, são seis meses calendário civil, que o aluno tenha que

ter um estágio em farmácia de hospital ou farmácia comunitária, quatro meses em

farmácia comunitária e duas em farmácia hospitalar ou se não for possível vaga em

contexto hospitalar, seis meses em farmácia comunitária. Isso obriga-nos a um contato

muito direto com o mundo real, ou seja, o aluno sai daqui obrigatoriamente para ter o seu

mestrado integrado, tem que ter esta passagem pelo mundo profissional. Para além deste

estágio que é obrigatório pela diretiva para a mobilidade a nível da comunidade europeia

dos alunos que são formados por instituições de ensino público ou privado, creditadas.

Temos aquilo que chamamos estágios intercalares, que são facultativos mas que abrem

as portas da indústria, de laboratórios de análises clínicas, do próprio INFARMED em

estágios deste tipo e portanto, isto dá-nos um posicionamento do aluno ao longo do curso

como um profissional e daí é que digo que o mecenato, um pouco a entrada destes alunos

neste mundo profissional é muito apoiada por antigos alunos que estão no terreno em

diferentes saídas profissionais e portanto esta é uma colaboração muito significativa para

nós e muito boa para eles. Quando eles saem, um aluno que efetivamente queira ter

experimentado ao longo do curso estágios intercalares, pode ter um overview do que o

pode esperar à saída.

Tem tido alguns alunos com dificuldades de pagamento das propinas? E facilitam?

Temos. Facilitamos muito, ao máximo, planos de pagamento faseados, horas de trabalho

na biblioteca, não há nenhum aluno que não acabe o curso por não poder pagar propinas,

fazemos inclusive, se o aluno não poder seguir aquele protótipo que fizemos de

pagamento faseado, facilitamos. Agora, obviamente que eles têm que pagar, isso não há

como dar a volta ou então serviço, já tivemos mais problemas, agora acho que estamos

numa fase um bocadinho mais contida deste tipo de problemas, tivemos aí uma fase muito

acutilante em 2011 e 2012, foi um grande pico de problemas, agora temos mas tentamos

resolvê-los o mais possível e não há nenhum aluno que chegue ao fim e que não acabe o

curso a não ser que realmente, mas não temos conhecimento oficial… temos muitas

desistências, não quero dizer que tenha tido algum conhecimento oficial de que aquele

aluno deixou o curso porque não tinha dinheiro para pagar a propina.

Sobre as propinas, existem autores que consideram que o seu pagamento

responsabiliza o aluno pelo seu percurso e há outros que dizem que o seu pagamento

implica uma quebra na democraticidade do acesso. Nestes dois polos, onde se situa?

Situo-me entre aquilo que eu consideraria ser o ideal e o mundo real em que estamos. Por

exemplo, no nosso caso, temos uma propina de 1000 euros, é uma propina que nada tem

a ver com o custo real do aluno, um aluno aqui, o custo dele, mínimo, muito por baixo,

4000 euros por ano. Portanto, se considerar que este aluno tem a quantidade de aulas

laboratoriais, vai depender dos anos, mas valor médio, isto quer dizer que os alunos

pagam muito menos do que aquilo que efetivamente custa, muito menos. E portanto penso

que aí, o estado tem uma participação, mais ou menos, faço o valor médio de 4000 euros

e é por baixo, o que quer dizer que o aluno está a pagar 25% da propina real. Penso que

o ideal era, se pudéssemos pensar no que seria o ótimo, obviamente que diria que o aluno

não devia pagar, mas hoje em dia isto não é possível, não temos hipótese de o fazer.

Portanto, acho que a haver uma propina, acho que também responsabiliza o aluno, acho

que o facto de ter uma propina, digo-lhes muitas vezes, quando eles às vezes estão numa

aula e partem uma bureta ou que usam material descartável, que se usa uma vez e deita

fora porque não pode ser reaproveitado porque estão a trabalhar com uma substância ou

um contaminante químico ou microbiológico que não permite reutilização, faço-lhes

sentir o preço do que aconteceu, do que está a ocorrer para eles terem a noção do quão

pequena é a propina que eles têm relativamente àquilo que eles Às vezes acham que é um

preço enorme que pagam e acho que às vezes, alguns dos que me dizem isso são capazes

de gastar isso em duas ou três atividades extra curriculares ao longo de três ou quatro

meses. Acho que aqui temos que ter a noção da realidade. É efetivamente necessário que

o aluno, e acho que há efetivamente uma responsabilização do aluno na sua própria

formação. Se realmente o estado tivesse capacidade para poder dar uma formação gratuita

pois seria o ideal mas o estado não tem e sabemos que não tem. Portanto, aquilo que o

aluno paga é, no nosso caso, manifestamente muito pouco para aquilo que o aluno nos

custa. E portanto acho que o facto de o aluno ter essa perceção, acho que também é

construtivo para ele, para a sua personalidade e faço-os sentir isso não por gostar de estar

a dizer isso mas para eles sentirem que na realidade, o que eles estão a fazer é algo que o

estado está a subsidiar, todos nós estamos a subsidiar numa grande percentagem.

Qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público? Tem o dever de

regulação pela produção de leis, do financiamento, delegou a avaliação na A3ES,

considera que possa haver mais algum papel e acha que está a desempenhar bem os

que tem?

Como todos sabemos, houve um enorme desinvestimento tanto na área do ensino superior

como da investigação e acho que isto tem consequências para o país, acho que a longo

prazo isto vai sentir-se porque realmente tivemos um período muito ascendente quando

foi aquele período do professor Mariano Gago, em que houve um forte investimento na

investigação, não tanto no ensino superior mas mais na investigação porque, obviamente,

como o lençol era curto, para chegar à investigação, teve que se destapar um pouco o

ensino superior no seu todo. Obviamente que há um grande desinvestimento nesta altura

e isso é notório e acho que isso deverá ser repensado, o que é que se pode fazer para

ajustar este financiamento. Obviamente que os investigadores têm feito, como lhe disse,

a sua cota parte, eles estão a procurar os financiamentos competitivos, mas que também

não é fácil nos projetos europeus e muitas vezes as pessoas candidatam-se, candidatam-

se, arranjam os parceiros mas os projetos têm uma taxa de aprovação muito pequena,

mesmo os do horizonte 20-20, relativamente às candidaturas que são submetidas,

portanto, não é fácil isto acontecer. Além disso, tudo o que se situa nesta região de LVT

também levam menos financiamentos, não estamos praticamente a levar nada a não ser

que tenhamos projetos com outros colegas situados fora de LVT. Ora se pensarmos que

é nesta zona LVT que estão centradas grandes institutos, grandes universidades, há aqui

uma enorme distorção em tudo isto. Para lhe dizer que acho na realidade que isto tem que

ser repensado, há aqui qualquer coisa que não pode estar bem, que não pode estar ajustada

à realidade do país. Outro problema que vejo e ainda relativamente à formação

diferenciada de alunos, obviamente que o estado investe e acho que tem investido na

formação de mais doutores, através das bolsas de doutoramento que, embora em número

insuficiente para os candidatos, o que é facto é que estamos a formar doutores, estamos a

financiar pós docs, muitas vezes em dois programas sucessivos, temos aqui imensos

alunos que tiveram bolsa de doutoramento, bolsa de pós doutoramento e tiveram outra

bolsa de pós doutoramento. E depois, acabamos por os perder, o país acaba por os perder,

sou a favor de que o ir lá fora faz muito bem mas o perder-se lá para fora é que acho que

nos faz muito mal, porque a pessoa ir lá fora complementar a sua formação, estar um

tempo e voltar, é uma enorme mais valia, agora, estarmos a apostar, como temos tido aqui

alunos brilhantes que chegam lá fora e ocupam posições cimeiras em tudo o que é sítio e

que aqui não conseguem arranjar emprego e acho que isto é um desperdício para o estado

porque gastamos enorme dinheiro a formá-los e quando estão prontos a dar a sua mais

valia ao estado, não os aproveitamos, as empresas não os aproveitam e muitas vezes, se

sabem que eles são doutorados e pós doc, isso em vez de ser a favor da sua contratação é

desfavor porque acham que eles já são muito diferenciados. Acho que aqui também há

uma política do empregador que muitas vezes não está ajustada a este esforço de formar

muito bem e de diferenciar uma determinada pessoa. Relativamente ao ensino

propriamente, acho muito bem que haja a A3ES, tem que haver uma agência que faça a

creditação porque como todos sabemos houve uma pulverização imensa de cursos que

depois, a pouco e pouco, somos confrontados com o facto de não haver alunos, nesta

altura acho que é necessário haver uma avaliação dos cursos, dão imenso trabalho a

preparar os guiões da auto avaliação, mas acho que são pontos de reflexão que obrigam

até muitas vezes a reformular o próprio ciclo de estudos, a fazer uma análise SWAT à

séria, o que está bem, o que está mal, o que é a fragilidade, ameaça, acho que são pontos

importantes. Agora, obviamente que muitas vezes gostaríamos de mudar muita coisa, mas

depois lá está, acho que isto é um ciclo vicioso, gostaríamos de fazer uma coisa diferente

mas depois com que meios? Com que possibilidade é que temos de implementar algo

ainda mais experimental ou algo que tenha uma parte laboratorial. Gostar, gostávamos

mas depois lá está, temos os problemas dos constrangimentos orçamentais e vêm os

problemas da falta de pessoas. E começa-se a sentir a falta de alunos, nós não temos esse

problema porque enchemos as vagas todas mas sabemos que há outros estabelecimentos

de ensino superior onde isto se faz sentir e portanto estes problemas da demografia

começam a sentir-se já.

Tem estratégias de captação de alunos? Fazem publicidade, vão às escolas?

Temos, fazemos tudo o que é possível, fazemos aquelas ações como o verão na

universidade, trazemos os miúdos do ensino secundário, temos alguns protocolos com

algumas escolas que trazem os miúdos aqui para eles verem os laboratórios em

funcionamento. Quando se começa a aproximar a altura de Março, temos tido nos últimos

três anos, começámos a fazer algumas visitas muito vocacionadas para determinados

estabelecimentos de ensino que normalmente são aqueles que nos têm vindo aqui a pôr

mais alunos e portanto não temos é capacidade, porque há faculdades que o conseguem

fazer uma intervenção massiva na zona da grande Lisboa, não conseguimos fazer isso,

mas fazemos alguma ação, se calhar mais pequena do que a que devíamos mas é a que

conseguimos fazer, o ano passado conseguimos visitar uma série de escolas e há dois anos

conseguimos visitar uma série de escolas e este ano temos cá miúdos dessas escolas e

portanto, acho que tem dado algum fruto.

Há pouco falou da parte financiadora do estado e da parte da avaliação, faltou a

regulação, o que lhe parece o RJIES…

Acho que o RJIES precisa de ser revisto, portanto, estamos de acordo, neste momento é

necessário haver uma revisão. Acho que termos estas autonomias todas e depois não

termos previsão de nada, isto é a mesma coisa que dizer que não estamos a gerir o dia a

dia e acho que nisso o reitor tem toda a razão, quer dizer, acho que deveríamos ter um

determinado bolo que a universidade pudesse gerir a três anos, quatro anos, nesta altura

não conseguimos… gerimos o dia-a-dia… a curto prazo, não conseguimos equilibrar as

coisas para além de dois, três meses, acho que isto é horrível, porque até nos poderiam

dar menos dinheiro mas dizer, vocês, com este dinheiro têm que projetar o vosso

funcionamento a três anos e tínhamos que nos organizar internamente para tentar perceber

o que tínhamos no horizonte. Agora, isto de termos um financiamento que não dá para os

vencimentos e nunca sabemos o que vem aí. Agora, por exemplo, vai mudar a forma, ou

iria mudar, não sei se vai, a forma de financiamento do ensino superior, o que é que isto

significa, portanto, obviamente a universidade vai levar um bolo mas aquele bolo vai ser

rateado na universidade, internamente com a decisão que é tomada pelo reitor e aprovada

pelo CG mas tudo isto é muito confinado no tempo, portanto acho que o RJIES precisa

de ser revisto, tem estado sempre para ser revisto, mas é sempre uma obra adiada e estou

convencida que quem vier agora a seguir no governo, acho que isso vai ser um problema,

os reitores vão ter que ter em cima da mesa com a tutela porque na realidade penso que o

RJIES nesta altura precisa de uma revisão.

Sobre a autonomia…

Sinto que tenho alguma autonomia para gerir as migalhas porque o que fazemos é, de

acordo com aquilo que nos é dado, de acordo com aquilo que a escola gere em termos de

receitas próprias, daquilo que a escola consegue efetivamente amealhar ao longo do ano,

temos efetivamente autonomia para empurrar aquilo um bocadinho mais para a

investigação, um bocado mais para lá, mas é tudo tão pouco que é uma autonomia de

meter o nariz de fora para conseguir respirar, estar vivo, portanto, é difícil. Todos os

saldos que temos são cativos, à exceção dos que são provenientes de projetos europeus,

que esses não são cativos e depois tentamos que esses saldos possam ser utilizados

exclusivamente no pagamento da CGA, e portanto ajuda, quer dizer que não temos que

tirar esse dinheiro do orçamento. E às vezes, por exemplo, as pessoas acham, vou fazer

um curso, aquele curso em princípio só dava jeito ser feito em novembro por um motivo

qualquer, as pessoas já não fazem porque sabem se fizerem com o curso entrar aqui

dinheiro não o conseguem gastar, o dinheiro fica retido nos saldos. Isto é um contra senso.

Há bocado mencionou que sobre esta situação iriamos sentir os efeitos a longo prazo

no ensino superior, quais esses efeitos?

Os efeitos vão ser… acho que um país que tem tão poucos recursos como os que temos

do ponto de vista económico, penso que um dos grandes recursos que temos é o cérebro

porque temos realmente pessoas que são excelentes e penso que este aperfeiçoar, esta

especificidade, este tipo de pessoas, pode ser um enorme contributo do país no seu próprio

desenvolvimento, nas áreas de medicina, engenharia, arquitetura, nas várias áreas, acho

que isto tem consequências a longo prazo, acho que o país não é só aquilo que a gente vê

daquilo que se pode fazer no imediato, daquilo que se pode projetar. Por exemplo, num

mundo que acho que as pessoas percebem muito bem que é o da agricultura, acho que o

facto de ter havido finalmente uma intensificação na formação em determinadas áreas

que estão muito ligadas à produção agrícola, ao uso de solos de uma determinada maneira,

à floresta, ao mar, acho que tem consequências a longo prazo, no nosso caso, por exemplo,

o facto de termos pessoas que estão a sair diferenciadas na área da química e biologia

molecular, da farmacovigilância, fármacobiologia, do uso racional de medicamentos,

acho que isto tem consequências na politica económica de um país, às vezes vemos a

investigação como uma coisa etérea, a investigação drena para o mundo real e quando

realmente se veda essa possibilidade de poder haver diferenciação, no nosso caso

concreto, quer seja na identificação de alvos, a indústria farmacêutica pode saber que é

aquela proteína, é aquele vetor que está envolvido naquela patologia, tem que desenvolver

algo que atue ali especificamente, vai modelar aquele mecanismo que vai condicionar

uma série de cascatas que estão envolvidas naquela patologia, isto pode ser uma

investigação básica numa determinada área da biologia molecular ou da bioquímica, mas

pode ter uma consequência imensa a nível do desenvolvimento de determinado

medicamento que vai fazer com certeza com que o custo associado a essa patologia vai

diminuir. Nós aqui quando trabalhamos naquilo que chamamos os 3D, ou seja, da

descoberta do alvo, no design da molécula que vai ter que ser direcionada para aquele

alvo, na incorporação do princípio ativo numa determinada preparação farmacêutica, quer

seja uma preparação normal, quer sejam as novas metodologias, chamadas

nanomedicinas, quer seja a vectorização para um determinado anticorpo monoclonal que

vai atuar ali. Depois o próprio uso do medicamento, tudo isto, no nosso caso concreto,

isto tem imensas repercussões a nível científico mas tem repercussões a nível social e

uma enorme repercussão na saúde a nível económico, portanto temos que ver a

investigação não como normalmente as pessoas a vêm dos ratos de laboratório, hoje em

dia e cada vez mais a investigação na área da saúde é uma investigação que é direcionada

para o conhecimento das patologias, o desenvolvimento de novas moléculas, de novos

métodos de preparação de fármacos, a sua utilização, a sua incorporação em formulações

farmacêuticas cada vez mais eficazes que atuam, por exemplo, em oncologia, cada vez

mais direcionada para a célula doente e preservando ao máximo o tecido que está

adjacente, portanto isto hoje em dia é algo que é importante. O desenvolver a investigação

que no momento pode parecer um aumento de despesa, acho que a longo prazo é um

benefício para o estado, um investimento e é esta perspetiva que às vezes não se tem e às

vezes percebo que quando se tem que desviar dinheiro para um lado, é difícil desviar para

outro, mas às vezes acho que se tem que ter uma visão de futuro, o que é que isto poderá

dar e isto é que é importante, no nosso caso que é o que conheço mais, estamos a formar

pessoas diferenciadíssimas que não conseguem ficar cá e que chegam lá fora e que são

imediatamente absorvidas ou por grandes empresas farmacêuticas ou por laboratórios

direcionados na área da biotecnologia ou empresas na área dos estudos epidemiológicos

e da política do medicamento, ou seja, são absorvidos imediatamente porque são muito

bem formados.

Processo de Bolonha, como foi aqui e como acha que foi no geral?

Sou defensora do processo de Bolonha, do envolvimento do aluno, da evolução das

metodologias de ensino e investigação, temos tentado fazer algo aqui mas quer dizer,

temos algumas limitações para fazermos o processo de Bolonha à séria porque no nosso

caso, por exemplo, temos um ensino massificado, entram todos os anos no 1º ano cerca

de 250 alunos. Obviamente quando estamos a falar de cadeiras gerais, não estamos a falar

de cadeiras de opção, estamos a falar de coisas completamente diferentes, nas cadeiras de

opção, cadeiras mais restritas, temos experiências interessantíssimas como a criação de

disciplinas de projeto I, II e III, o aluno pode fazer quatro opções em que três delas podem

ser disciplinas de projeto inseridos em grupos de investigação, em trabalhos de campo no

exterior, acho que isso é Bolonha no seu melhor. E portanto, são alunos que têm

possibilidade de desenvolver, com um ensino muito tutorial, uma determinada área que é

aquela que eles gostam. Agora, nas cadeiras gerais, acho que temos um ensino que embora

façamos um grande esforço, ainda continua a ser um ensino para o tradicional, o professor

ensina aquilo que sabe ensinar da maneira que sabe ensinar e portanto, temos ótimos

professores que têm uma dinâmica, mesmo nestas grandes aulas e acho que nisso, no

nosso caso, temos uma grande vantagem que é o facto de termos muitas disciplinas de

laboratório e essas disciplinas que têm uma grande componente laboratorial são

disciplinas que aproximam mais o aluno do professor. Agora, temos outro tipo de

disciplinas que são disciplinas mais teóricas, mais expositivas, mais teórico práticas e aí

as pessoas fazem um enorme esforço, mas não é Bolonha no seu todo. Faço parte de

muitos júris de provas de agregação e os professores nessa prova de agregação têm que

apresentar um relatório pedagógico com os seus métodos de ensino e de aprendizagem.

Tenho assistido a coisas engraçadíssimas, como estou muitas vezes aqui, no Porto, no

Minho, e realmente esta discussão, esta pergunta que me põe é a pergunta do dia a dia,

onde está Bolonha nisto, mas continuo a ver aqui aulas teóricas e aulas teórico práticas e

onde está o trabalho autónomo do aluno e onde é que o aluno entra aqui com a sua própria

mente a criar algo e vejo os meus colegas a dizer tenho muita dificuldade em fazer isso

porque somos cada vez menos e portanto isto não é fácil. Mas acho que a filosofia de

Bolonha é uma filosofia muito interessante e gostaria… por exemplo, gora não dou aulas,

dou muito poucas aulas, só teóricas, mas tentava muito nas minhas aulas de química

básica, e tentava muito que, mesmo nos primeiros anos tudo aquilo que era dado, todos

os exemplos todas as matrizes que eram utilizadas no laboratório, tudo aquilo, em vez de

ser em matriz de laboratório fazia em matriz farmacêutica para os miúdos perceberem

que aquilo era algo que lhes dizia muito respeito, eles faziam relatórios sobre para que é

que servia aquela preparação, ou seja, tentava que eles próprios numa aula muito simples,

de 1º ano, eles tentassem já ir à procura do que era aquele medicamente, para que servia,

porque estávamos a utilizar como matriz, qual a ideia, ou seja, o tentar que eles próprios,

mesmo em aulas muito básicas, vissem uma enorme aplicabilidade no que estavam a fazer

ou em vez de fazer um doseamento de um guião de laboratório, um doseamento de um

guião farmacêutico para eles fazerem a ligação. As pessoas fazem um grande esforço, que

isto não é Bolonha no seu todo, não é, que há uma enorme ligação que tentamos fazer,

isso é um esforço muito grande… por exemplo, temos cadeiras em ambiente

completamente hospitalar, em grupos muito pequenos nas cadeiras de opção, na área do

medicamento, na área da farmacoterapia clinica, temos cadeiras de opção, projetos que

são feitos com a indústria, em que há um aluno que quer fazer determinado guião de

indústria farmacêutica que recebe durante um tempo dois ou três meses para fazer a sua

cadeira de projeto. Damos aos alunos a possibilidade de terem uma opção livre, das quatro

podem fazer uma em qualquer faculdade da UL, posso ter um aluno a fazer uma disciplina

de belas artes, se ele achar que aquilo é importante para a cultura dele… agora não consigo

ter a percentagem de disciplinas de opção que Bolonha impõe no currículo, tenho muito

menos que isso e portanto dentro daquilo que é possível tentamos adaptar. Agora se calhar

o que na ideologia Bolonha quereria atingir, que o aluno pudesse delinear o seu próprio

currículo, em que o aluno fosse ele próprio o centro da escolha da sua própria atividade

de formação naquela área, isso para nós é muito complicado porque são muitos alunos e

poucos docentes. Na Internacionalização temos tidos muitos alunos, temos os programas

de mobilidade, em que temos tido um número mais ou menos, nada de grandes números,

entre 40 a 45 alunos cá e 40 a 45 alunos lá, mais ou menos, os números têm-se mantido

por aí, o universo que não considero que seja nada de extraordinário mas pronto, é o

número que se tem vindo a ter, começámos com 12, 13 na mobilidade e agora está à volta

desses números. Estamos a tentar e tem sido difícil implementar as metodologias e-

learning e b-learning para tentarmos colocar, sobretudo para países de expressão

portuguesa, Brasil e África, algumas áreas que nos são muito pedidas, uma delas é a

regulação e avaliação de produtos de saúde e medicamentos, é uma área que temos um

enorme pedido de procura porque é toda a legislação que compagina a entrada no mercado

e a utilização, toda a legislação, como se pode fazer isso, é um curso que temos de

mestrado específico e está sempre cheio, mas grande parte dos alunos não querem fazer

tese, querem o primeiro ano do curso, a formação, a especialização disso. Estamos a tentar

ver se conseguimos no próximo ano pelo menos alguns módulos desse curso em e-

learning, temos também a área das infeções sexualmente transmissíveis, nomeadamente

HIV1, HIV2, tuberculose e todas as doenças associadas à imunodeficiência que há

pedidos de países de áfrica, nossas ex-colónias em que isso é uma área que é um grande

problema que eles têm e portanto isso é também uma área em que gostaríamos de colocar

formação em e-learning porque é muito difícil eles virem cá, há países com condições

económicas muito frágeis que gostariam muito da nossa ajuda, temos um grupo que

trabalha sobretudo o HIV2 em Angola mas gostaríamos muito de expandir esta área de

virologia, VH1, VH2, hepatites e tudo o que está associado, que já não tem a ver com a

virologia mas com a imunodeficiência adquirida, portanto todas as infeções bacterianas

que estão associadas nomeadamente tuberculose e todas as infeções fúngicas, que

realmente têm enormes problemas nessa área e estamos aqui a tentar ver se conseguimos

dinamizar o e-learning, para nós é um dos grandes objetivos. Relativamente à

internacionalização na área da ciência, é permanente, os grupos têm fortíssimas ligações

internacionais, temos muitos alunos de doutoramento que até têm coorientadores

internacionais, os alunos de doutoramento são uma população muito privilegiada na

mobilidade, fazem alguns deles grande parte do seu trabalho noutras universidades ou

institutos estrangeiros mas portanto, para mim, uma das áreas em que tenho que apostar

seriamente é na área do ensino à distância, precisamente para abrir portas a países

estrangeiros, mas sobretudo países de língua portuguesa. Relativamente a outro tipo de

ações internacionais, nesta altura estão formados colégios na UL, quer na área do deserto,

quer na área da floresta, os 3F, food, forest and farm, estamos nos dois colégios e penso

que estes colégios eventualmente poderão ser um forte embrião para candidaturas a

projetos com parceiros internacionais. A nível da UL estamos metidos naquilo que se

chama a KIC (Knowledge International Community) da saúde, um consórcio europeu na

área da saúde, envolve vários consórcios, a nível nacional temos a UL, Coimbra, Évora,

a CML, o HSM também aqui, ou seja a nível nacional há um consórcio e depois estamos

ligados a outros consórcios europeus e penso que nessa área, eventualmente podem

crescer fortes ligações internacionais para candidaturas ao Horizon porque como

internacionalmente a KIC tem parceiros muito fortes, é mais fácil.

O RJIES instituiu os CG trazendo membros externos para a academia.

Também temos dois cá dentro.

O que lhe parece esta entrada?

Acho ótimo, até dentro do conselho de escola optamos por ter membros externos, um dos

membros é a Dra. Maria de Belém e outro na altura era o Dr. João Cordeiro que era

presidente da Associação Nacional de Farmácia, agora já não, mas aqui dentro uma das

grandes saídas profissionais são as farmácias comunitárias e acho que a presença daquelas

duas pessoas tem sido uma enorme mais valia no nosso conselho de escola porque, como

a Dra. Maria de Belém trazem uma visão da sociedade civil completamente fora destes

nossos problemas internos da academia e o Dr. João Cordeiro, um problema real da

profissão farmacêutica porque ele era presidente da maior associação de farmácias e é um

grande conhecedor dos problemas que as farmácias hospitalares, a nível das indústrias,

ou seja, a ligação que ele tinha ao mundo profissional, foi e tem sido uma experiência

excelente. A nível dos CG acho que é muito bom.

Já alguma vez participou?

Nunca fui membro do CG, nunca fui membro de nenhum, sei pela presença das pessoas

que fazem parte dos CG que estas pessoas trazem a visão que a sociedade civil tem da

universidade e aquilo que a sociedade civil espera da universidade, acho que é nessa

perspetiva que são úteis, estão fora destas guerras internas que muitas vezes se geram

dentro das universidades, dos interesses corporativos e portanto, eles, estando de fora

conseguem muitas vezes ver os problemas numa outra abrangência, acho que isso é bom,

e pela experiência, como lhe digo nunca tive em nenhum CG mas acho que os membros

do CG têm tido, aqui na nossa universidade, não conheço as outras, mas acho que têm

tido um papel importante. Alguns hoje estão envoltos em polémica, mas isso não lhes tira

minimamente o valor que tiveram enquanto membros do CG. Relativamente aos

membros externos no conselho de escola, acho que foi uma enorme mais valia e tive uma

luta enorme com os alunos porque o número de lugares é limitado e para optar por dois

membros externos tive que cortar nos alunos, mas acho que hoje eles percebem isso e

acho que assimilaram que aquilo foi bom para a escola e muito provavelmente num

próximo conselho de escola se calhar já não vou ter aquela oposição eu ou quem estiver

à frente das listagens do conselho de escola porque acho que perceberam a vantagem e a

dinâmica que essas duas personalidades nos trouxeram ao funcionamento da escola.

Transpondo isto para o CG numa outra escala, acho que foi positivo, muito positivo,

concordo perfeitamente com essa medida.

Estão em minoria, mas considera que de alguma forma possam ter alguma

ingerência na autonomia…

Acho que não. Normalmente as personalidades externas têm um diálogo muito

privilegiado com o reitor e isso não tenho dúvida nenhuma que o que vai ao CG é

previamente macerado entre as personalidades externas e o reitor, mas acho que é muito

positivo uma opinião divergente, ainda que seja divergente do reitor, acho que essa

opinião é positiva, acho que o fechar a universidade sobre si própria, não deixando que

entrem outros membros, nós influenciamos tudo, não vale a pena pensarmos que não

somos influenciados pelas pessoas que estão à nossa volta porque acabamos por ser mas

acho que isso é positivo porque a universidade tendo nos seus órgãos de gestão pessoas

que estão fora do meio universitário e dos espíritos corporativos que se criam, acho que

isso é muito saudável. E influencia, com certeza que influencia, mas acho que é uma

influência positiva porque pode dar uma abrangência diferente… sou completamente

contra o pensar-se que está lá, não tem nada a ver com a universidade, traz o espírito do

negócio, acho que isso é ótimo, num altura em que temos que abrir a universidade ao

mundo, temos que fomentar o empreendedorismo, a criação de start ups, spin offs, ou

seja, temos que trazer, porque este é o mundo real em que estamos e podemos gostar ou

não ou achar que é um mundo muito ligado à finança, ao dinheiro, mas é o mundo que

existe hoje em dia. Portanto, termos nos CG pessoas que vêm de outras áreas do saber,

que vêm de áreas mais ligadas à parte empresarial ou não, depende dos CG, mas também

muitas pessoas ligadas às humanidades, às áreas da saúde, a áreas do que quer que seja,

acho isto muito positivo para as escolas.

Considera que a missão da universidade se encontra bem definida?

É uma pergunta muito difícil mas acho que a missão da universidade, nas áreas… se

virmos a missão das universidades, é uma missão nobre, uma missão nas áreas do ensino,

toda a sua ligação na pré, na pós graduação, ensino ao longo da vida, ensino à distância,

com todas as metodologias de ensino para quem não pode vir à universidade mas que a

universidade lhes chega, na área da investigação acho que é inegável o que tem sido feito,

apesar das dificuldades, quer na investigação científica pura, quer na aplicada, a nível da

transferência do conhecimento entre aquilo que é gerado no saber da universidade com a

sua passagem para a sociedade, a propriedade, a transferência da propriedade intelectual,

acho que isto é algo que em determinadas áreas tem sido importantíssimo, depois temos

toda a área de apoio no que chamamos de extensão universitária, o apoio que é dado pela

universidade na prestação de serviços, o que quer que seja a prestação de serviços,

depende das matrizes que estão em jogo, das consultadorias, das ligações a entidades

públicas e privadas, consultorias a tribunais, a n instituições, acho que isto é louvável.

Nós, aqui, por exemplo, temos dois docentes em que um deles está à frente do IMI,

presidente do conselho científico do IMI, que é uma organização internacional que está,

portanto, uma das áreas do horizonte 20-20, temos tidos docentes que são presidentes de

conselho, por exemplo, um docente que é presidente do comité dos medicamentos órfãos,

da agência europeia do medicamento, isto são extensões importantíssimas.

Uma breve palavra sobre o ensino privado em Portugal.

Não gosto de falar daquilo que não sei, como sabemos, há faculdades e faculdades, acho

que houve uma enorme pulverização de escolas do ensino privado, há ensino privado bom

e mau, assim como o público. Naquilo que conheço de ensino superior privado, na minha

área, há algum ensino privado que considero bom, agora, os alunos assim que podem

tentam passar para o ensino público, poderá ser apenas por uma razão económica ou

poderá ser por acharem efetivamente que no ensino público lhes dá outro tipo de

abordagem ou outro tipo de complemento na área do ensino e investigação que se calhar

o privado não tem tanta capacidade de dar, como lhe digo, há ensino bom e há ensino

mau, não foi feito um estudo racional e isto não é só na nossa área, é algo geral, acho que

a concorrência é boa porque tenta que tudo seja quantificável por parâmetros mais altos

mas penso que, como em tudo na vida, há coisas boas e coisas más.

Quer acrescentar alguma coisa?

Não. Quero agradecer-lhe.

Eu é que agradeço.

Entrevista F9

Começaria por pedir que falasse um pouco sobre a sua formação académica.

Licenciei-me na (universidade), na (IES) em Linguística, algures nos anos 90, depois fui

um dos primeiros alunos de Erasmus do país, fui para (estrangeiro) e fiquei lá, não voltei,

fiz lá a conclusão da licenciatura, portanto, concluí cá mas em ano Erasmus. Depois fiquei

lá numa posição mista que era por um lado assistente, mas também doutorando, fiz o

doutoramento (no estrangeiro), pelo meio fui para os (estrangeiro), para o (IES

estrangeira) e estive lá um ano sempre a estudar linguística e quando terminei vim para

cá. Trabalhei um ano na (universidade) e depois vim para aqui.

Como é o percurso profissional até chegar aqui?

É relativamente aborrecido, não há grande novidade, primeiro fui bolseiro de

investigação, depois tive este contrato (estrangeiro), que era um contrato para fazer o

doutoramento enquanto dava aulas, eles têm uma designação estranha para este tipo de

contrato, assistente em formação para doutoramento, era assim uma designação

complexa. Depois fui assistente convidado na (faculdade), entrei para aqui como

professor auxiliar, fiz a agregação há nove anos e há dois anos concorri a professor

catedrático, ganhei o concurso, pronto.

Atualmente é diretor da instituição, ainda é docente?

Neste ano não tenho aulas, não tenho oficialmente porque depois vou dando várias

sessões de seminários, combinado com colegas, mas a minha ideia é ter sempre pelo

menos uma cadeira, um seminário, ir acumulando aqui com as funções para não estar

muito longe dos alunos porque tenho saudades.

E para além das funções legisladas, desempenha mais algumas funções?

Para além do que está legislado, a única coisa que tenho neste momento a meu cargo são

projetos de investigação no qual sou investigador responsável, projetos FCT e o programa

de doutoramento da FCT em Linguística de que sou diretor também, aqueles programas

financiados que houve o ano passado, tivemos um em Linguística e sou responsável por

esse programa, portanto, funções ligadas mais à investigação.

Considera que o seu percurso académico e profissional facilitaram o desempenho

das suas funções atuais?

Sim, embora estas funções de gestão não são aquilo para que somos treinados, sou um

linguista não sou um gestor, tenho aprendido imenso, eu era subdiretor no anterior

mandato, para a área de investigação e para os recursos humanos. Há pessoas que olham

para este cargo como uma cruz que tem que se levar, eu vejo isto como, para além do

amor à instituição, que me move para estar aqui, vejo isto como um desafio e como uma

oportunidade de aprendizagem, tenho aprendido imenso. Não lia diariamente o DR há

uns anos, agora leio. Havia notícias que não lia, que não me interessava, quer dizer, tinha

a minha vida de docente e de investigador. Agora, aquilo que acho é que nós

desempenhamos melhor estas funções de direção de uma instituição de ensino superior

se tivermos muito claro na nossa cabeça o que é ser docente e o que é ser investigador e

aí acho que a minha formação e o meu percurso profissional me ajudam no desempenho

deste cargo, não porque me tenham apetrechado para ser um gestor, mas porque me dão

uma visão clara das metas que quero atingir enquanto gestor. Os dois lados, ou seja, eu

veria com muito maus olhos o entregar-se a direção das casas a gestores porque não

saberiam para que é que estavam a gerir, poderiam ter aqui um olhar. E, como estamos

aqui no tema dos cortes, era muito fácil fazer cortes cegos mas poderia perder as metas

daquilo que é uma instituição de ensino superior.

Há quanto tempo está no cargo?

Há pouquíssimo, há dois meses. Tenho o mandato anterior como subdiretor, os últimos

quatro anos na equipa de direção mas fui eleito em Julho. Como às vezes brinco, quando

me chamam de diretor, digo que ainda não respondo pelo nome….

De uma forma genérica, pedia-lhe uma opinião sobre o ensino superior público,

neste momento, tendências de evolução…

Acho que temos indicadores muito, muito bons, quer dizer, acho que as universidades, no

contexto português, as universidades têm-se portado muito bem. E, como sabe, algum

desinvestimento no ensino superior, que já começou antes da crise e acho que as

universidades têm sabido responder de forma muito positiva. Ou seja, temos sido capazes

de nos adaptar a reformas, a responder a reformas científicas, reformas pedagógicas,

temos tido capacidade de aumentar os indicadores na produção científica no recrutamento

de financiamento competitivo, na qualificação de alunos, portanto, temos dado uma

resposta que é fantástica, tendo em conta o contexto. Há dados que me preocupam, temos

um corpo docente envelhecido, não tem havido rejuvenescimento do corpo docente e tem

havido algum desinvestimento em termos de financiamento que nos faz funcionar quase

de uma maneira estrangulada nalgumas instituições. Aqui a faculdade não está num

quadro negro, temos tido uma gestão que nos tem permitido ter aqui alguma folga mas é

complicado e estamos com muita dificuldade em planear, levar a este envolvimento

continuado do ensino superior público implica que tenhamos uma capacidade de previsão

a vários anos. Quando digo assim, vou abrir um curso de mestrado e esse curso de

mestrado é para funcionar uns quantos anos. Se me mudam as regras a meio do jogo, se

tenho flutuações enormes de política, esta capacidade de planeamento fica comprometida,

como é evidente.

Sobre o ensino privado. Existência e convivência com o público.

É uma realidade, temos o maior respeito pelas instituições privadas e, em princípio teriam

um papel igual a nós, as próprias fontes de financiamento são diversas. Sabemos que a

rede é uma rede que precisa de alguma, não queria usar a palavra fiscalização, porque há

coisas que não são boas mas também no público há coisas que não são boas. E, de facto,

os mecanismos que têm sido criados de avaliação, de acreditação, etc., penso que trarão

alguma estabilidade a este sistema. Temos um sistema de ensino superior que cresceu

muito a partir do final dos anos 80, a partir dos anos 90 houve uma explosão, ainda

estamos muito longe de ter os níveis de qualificação dos países da OCDE, da média da

OCDE, estamos longíssimo, as metas para 20-20, para 2020 são quase utópicas para nós.

E quando às vezes as notícias dizem que até há licenciados a mais, não é verdade, quando

olhamos para as metas, queremos chegar e para as metas europeias ainda estamos abaixo,

portanto, há um papel do ensino superior e se calhar precisamos destas instituições todas

mas temos é que ter garantias que todos cumprem bem o seu papel, independentemente

de serem privados ou públicos. Acho que temos que ter uma convivência cada vez mais

saudável em que todos oferecem qualidade.

Acho que quando referem licenciados a mais tem a ver com o mercado de emprego.

Pois, as universidades, e nós aqui temos essa preocupação, temos de estar atentos à

procura por parte dos alunos e à procura por parte dos empregadores. Acho que também

temos que perceber que há uma missão dos politécnicos e uma missão das universidades.

E a missão das universidades não é profissionalizante, em primeira instância. Quando

formo aqui um filósofo, não há uma carreira de filósofos, agora sabemos, ainda esta

semana tivemos aqui uma conferência interessante de um filósofo, que trabalha para a

OMS, onde cada vez mais querem ter filósofos, eu fiz a mesma cara que a Ana fez,

também fiquei surpreendido, e o tema da conferência que ele veio fazer eram as alterações

climáticas e ele apresentou o seguinte, alterações climáticas, a política sobre alterações

climáticas implica saber avaliar perigo, a partir de quantos graus de aumento de

temperatura é que estamos numa situação de perigo, saber avaliar como tomar decisões e

tomar decisões tem a ver com moral, qual o risco extremo de um aumento de 4ºC na

temperatura? Morrerem 5 milhões de pessoas, depois pode-se colocar a questão também

mas até há excesso de população mundial, qual o problema? Processos de tomada de

decisão, questões morais, éticas e avaliação de conceitos é o campo de trabalho da

filosofia. Os outros são os climatólogos, os geólogos, etc. e dizem que vai acontecer,

aumentar os graus, etc., mas esta parte é uma parte dos filósofos e é muito interessante

ver que, aliás, até há um texto que escrevi há pouco tempo sobre o papel das ciências

sociais e humanas, as grandes decisões que formataram a história da humanidade não

foram feitas por economistas, foram feitas por pessoas destas áreas, a Declaração

Universal dos Direitos do Homem, a abolição da escravatura, etc., são inspiradas por

correntes das ciências sociais ou da filosofia ou das artes, portanto, há aqui um papel. Não

estou necessariamente a formar para uma profissão mas tenho que estar atento às

necessidades, portanto, há aqui um equilíbrio que é grande. Este é o papel da

universidade, estar com este olhar muito atento, mas também há o papel das empresas e

nós temos um tecido empresarial em Portugal, sobretudo ao nível das PME que ainda não

percebeu que tem nas universidades um filão a explorar, que as universidades geram

conhecimento. E depois temos um mercado de tecido empresarial muito pouco

competitivo porque não vai às universidades buscar conteúdos, tecnologias, saberes, etc.

Nós até temos pedidos de empresas para algumas coisas, não percebem é que esta relação

tem de ser um casamento muito mais eficiente.

Como foi Bolonha para si, bom, mau, bem ou mal aplicado…?

Tenho visões diferentes, digamos assim, em capítulos diferentes. Acho que, do ponto de

vista pedagógico ainda não foi aplicado, Bolonha traz uma série de … ou ainda não foi

aplicado na totalidade. Bolonha traz uma série de pressupostos, quantidade de trabalho

autónomo dos alunos, um regime de maior proximidade entre docentes e alunos, um

acompanhamento tutorial, etc., que nalguns casos nem temos recursos para aplicar. Por

exemplo, temos aqui um sistema de tutorias que é muito complicado gerir e basicamente

decorre do voluntariado dos professores, não consigo ter tutores, já tivemos, num ano

melhorzinho, tivemos aí tutores pagos, neste momento os tutores são os simpáticos.

Olhando aqui por exemplo para a faculdade, esta relação de proximidade é uma das

marcas da faculdade, há uma relação de grande proximidade entre professores e alunos,

até tive aí um aluno uma vez que vinha da (universidade), um aluno de mestrado, que

tinha feito a licenciatura lá, fez cá o mestrado e agora está a fazer o doutoramento e dizia

assim, às vezes sinto que vim da cidade para a aldeia e é muito bom estar na aldeia porque

aqui preocupam-se comigo e eu gostei de ouvir isto, é uma coisa simpática de ouvir mas

por exemplo, a gestão do trabalho autónomo ainda não é tão boa como gostava. Depois,

o que acho, e isto é uma opinião muito minha, não falo como diretor e se calhar como

diretor não posso dizer isto, é que houve uma má aposta na forma como os graus foram

colocados, acho que aquilo que devíamos ter feito era bacharelato, três anos, mestrado e

doutoramento e acabar com a licenciatura, acho que se deveria ter acabado com a

licenciatura. Porque nós agora já temos, porque depois isto vai entrando devagar, acho

que agora as pessoas já perceberam que aquilo que têm que fazer para ter uma

qualificação é o mestrado porque a licenciatura não chega. Mas tinha sido mais

transparente para as pessoas e para o mercado empregador e até para alguma dignificação

das próprias instituições dizer, ok, isto não é uma licenciatura, isto é um bacharelato,

porque de facto não há uma equivalência entre as atuais e as anteriores licenciaturas.

Depois temos situações bizarras que acho que não nos dignificam, como os empregadores

admitirem licenciatura pré Bolonha, é quase como se esta licenciatura agora não

prestasse, ela presta, só que para ser comparável… o que temos agora é um mestrado de

cinco anos que até é mais do que a licenciatura pré Bolonha, portanto, houve aqui umas

falhas de comunicação, porque as decisões foram tomadas também em função de critérios

financeiros, do que é que ia ser financiado, etc.

E em termos de internacionalização?

Acho que aí estamos a dar passos muito interessantes, nos diferentes ciclos de estudo de

forma diferente, 1º e 2º, o crescimento da mobilidade, em diferentes programas e etc., eu

gostaria que fosse possível, mas isto envolve dinheiro, fosse possível dizer aos alunos que

é obrigatório ir passar um semestre fora. Atualmente, ser aluno do ensino superior e não

ter um semestre fora, é quase como ficar coxo, é quase como não fazer uma cadeira

obrigatória. A mesma coisa nos doutoramentos mas nos doutoramentos a

internacionalização já é diferente. Acho que passa pela oportunidade de ir fora mas

também de ir fora a congressos, apresentar trabalhos, de termos professores que vêm cá,

a participação em congressos, etc., mas também aí era fundamental que um doutorando

pudesse passar um ano fora noutra universidade. Como tive este percurso de saltarico,

aqui, Holanda, EUA, sei que aquilo que sou profissionalmente decorre muito dessa minha

experiência e acho que todos beneficiariam disso. Uma coisa muito má nas universidades

portuguesas são aquelas pessoas que se licenciaram, fizeram o mestrado e o

doutoramento, pós doutoramento e depois ainda foram empregados e etc. e ficam 40 anos

na mesma instituição, depois há ali coisas que não funcionam. Portanto, em termos de

internacionalização do ensino, acho que cada vez temos mais mobilidade. As coisas são

muito boas, o que nós temos aqui, por exemplo, aqui na faculdade temos, para lá dos

alunos Erasmus que vêm, muitos todos os anos, cerca de 600, temos um conjunto grande

de estudantes chineses que vêm, um programa com universidades americanas, temos

sempre um grupo de estudantes americanos, temos as bolsas Santander para mobilidade

de estudantes brasileiros, portanto, há aqui um conjunto da população que é internacional

e que traz assim alguma cor à faculdade que é muito engraçada e isto tem vindo a crescer,

este ano também cortaram em Erasmus, cortaram as coisas, temos tido o programa de

mobilidade Leonardo da Vinci com estágios internacionais, portanto, temos indicadores

muito engraçados. Mas acho que é fundamental, pensar… a maior revolução que tivemos

nos últimos tempos foi esta do conhecimento, a globalização do conhecimento e o acesso

ao conhecimento para toda a gente, o que se estuda, o que se diz, o impacto disto em nós

é superior ao da revolução industrial, portanto, pensar que o conhecimento fica fechado

num país, é negar o que está a acontecer e se nós somos responsáveis por produzir

conhecimento, então isso tem que ser a uma escala global.

Agora mais dentro do financiamento. A lei de 92 instituiu as propinas no ensino

superior público, solicitando aos estudantes uma contribuição cada vez maior. Há

autores que consideram que o pagamento de propinas responsabiliza o aluno pelo

seu percurso, pela instituição, há quem considere que isso coloca em causa a

igualdade de oportunidades no acesso ao ensino. Onde se situa nestes extremos?

Situo-me na visão esquizofrénica de quem, quando foi aluno nessa altura e andei a fugir

da polícia nas manifestações e agora sou gestor de uma faculdade que precisa de dinheiro

como de pão para a boca para a faculdade funcionar, para perceber um bocadinho onde

estou. Num mundo ideal não precisávamos das propinas, isso é evidente, e houve um

aumento louco em 92, pagávamos 1200 escudos por ano e passámos a pagar o salário

mínimo. Acredito no papel de responsabilização, acho que isso de facto tem tido um efeito

positivo. Agora, o que é fundamental é que hajam medidas e um sistema de ação social a

funcionar em condições para que ninguém fique de fora, isso acho que é absolutamente

fundamental. Por exemplo, nós aqui na faculdade, essa tem sido a nossa grande

preocupação, até apanhamos aqui, em diferentes cursos, o tipo sócio económico de alunos

variados, mas nalguns cursos apanhamos aqui uma faixa com dificuldades e temos n

medidas para que nenhum aluno desista, pagamento faseado, planos de pagamento,

suspender num ano e pagar no ano seguinte, fazemos de tudo, viramos do avesso, assim

que detetamos que um aluno está com dificuldades, chamamo-lo, o meu colega subdiretor

dos estudantes reúne com ele e apresenta um plano de pagamento. Porque há muita gente

que não consegue pagar por ter de pagar 500 euros num semestre, mas se forem 500 euros

ao longo do ano até conseguem, a par de tudo o que existe a nível de ação social, que é

insuficiente, como sabemos, quer dizer, é quase preciso ser indigente para conseguir

bolsa. Portanto, a minha visão é esta, num mundo ideal não precisávamos, noto, tenho

que assumir, apesar de ter andado a fugir da polícia, tenho que assumir que há alguma

responsabilização mas ninguém pode ficar de fora senão não estamos a cumprir a função

que devemos.

Mestrados e doutoramentos têm um valor mais elevado do que a licenciatura,

embora na maior parte dos casos sejam graduações que necessitam de menos

recursos e menos dinheiro. O que lhe parece… claro que depende dos cursos.

Não é inteiramente verdade o que diz, os mestrados e os doutoramentos são dos cursos

mais caros porque têm menos alunos, portanto, quando faço a capitação de aluno por

professor, são cursos muito caros de facto, quer dizer, numa licenciatura é normal ter uma

turma de 25, 30 alunos. Num doutoramento, que é ultra especializado, numa área de

doutoramento não espero ter aqui… trabalho em aquisição da linguagem com crianças,

não espero ter todos os anos, num seminário de aquisição da sintaxe, não espero ter aqui

anualmente muitos alunos a quererem doutorar-se nesta área, quer dizer, posso fazer um

seminário com cinco alunos, ora, saio muito mais caro quando dou aulas a cinco do que

quando dou aulas a 30, portanto, não é verdade, quer dizer, e depois nos doutoramentos

e nos mestrados tenho áreas de especialização que não tenho noutras, aqueles cursos

ramificam, há alguma pulverização de alunos, é um exercício muito complicado para nós,

fazer o levantamento de número de alunos inscritos e depois tomar decisões, porque às

vezes posso ter, bem este seminário em que quero funcionar com quatro alunos, não devia,

sai-me caríssimo, é um luxo mas é uma área de investigação de ponta na faculdade, então

tenho que o manter. Há aqui um jogo nesta tomada de decisão e isto tudo traz custos. Por

outro lado, os mestrados e os doutoramentos não são financiados pelo estado e aí somos

como uma instituição privada, não somos diferentes de uma instituição privada e ainda

assim temos propinas mais baixas do que as instituições privadas. Tenho aqui um

mestrado que o curso todo custa cerca de 2000 euros e se for para uma privada se calhar

paga isso por mês. Portanto, nós ainda assim suportamos os custos de uma formação que

é uma formação avançada mas depois também há aqui uma questão que é qual o

compromisso com a sociedade que nós vamos tendo? Diria que quanto mais avanço no

ciclo de estudos, mais avança o meu compromisso com o indivíduo e menos com a

sociedade, portanto sinto-me na obrigação de dar ao país licenciados e mestres. Também

quero formar doutores mas estou a formá-los a eles. Não sei bem explicar isto mas há

aqui cada vez mais investimento pessoal à medida que a pessoa vai avançando na sua

formação.

Se bem que há quem diga que isso depois tem retorno em termos de sociedade…

Espero que sim, acredito na educação como indicador de desenvolvimento das

democracias e todos os dados demonstram isso.

Qual o papel que julga ser dever do estado perante o ensino superior?

Se reconhecermos que é papel do estado a formação e a qualificação da população e sou

dos que acredita nisso, às vezes tenho dúvidas sobre as pessoas que nos governam mas

essa é outra questão, acredito que é uma missão do estado. Há um dever de financiamento,

de participação no financiamento do ensino superior. Depois, penso que tem que haver

um papel de confiança nas instituições de ensino superior. Se somos nós quem produz

conhecimento e este papel tem que ser reconhecido, não cabe ao estado dizer qual o

conhecimento que vai ser gerado. Ou seja, por vezes saem diretivas que dizem assim, as

áreas prioritárias de ensino são estas e estas. Deixem-nos a nós, que temos autonomia

científica mostrar que sabemos identificar as áreas prioritárias de formação. Para isto

funcionar, para esta autonomia funcionar, acho que é papel do estado dar o máximo de

autonomia administrativa e científica e pedagógica às instituições de ensino superior. Para

esta autonomia funcionar, tem que haver instrumentos reguladores. Acho que este

triângulo tem que funcionar porque ter autonomia e não ter dinheiro não me serve de

nada, ter autonomia e ter excesso de regulação, não me serve de nada, é como dizer a um

menino, podes comer pastilhas mas não te vou dar dinheiro para as comprar. Ou podes

comer pastilhas mas só quando eu disser. Portanto, tem que haver um equilíbrio entre

estas três forças.

O papel da A3ES…

Acho que funciona. Acho que é importante, às vezes estamos aqui a preparar os processos,

as candidaturas, as avaliações e suspiramos, consome imenso tempo das instituições,

muito tempo, mas é importante. É importante sobretudo se a agência tiver aqui um papel

que é que quer que se tenha, que é verdadeiramente construtivo e que as comissões que

avaliam tenham esta visão construtiva do processo, uma função reguladora, se tiver aqui

um curso que de facto seja muito mau que me digam que não tem condições para

funcionar mas sobretudo que me ajude a melhorar a oferta que tenho.

Como interpreta a ação social do estado em relação aos estudantes do ensino

privado?

Aí sou muito crítico. Acho que a partir do momento em que temos sectores público e

privado, o privado tem que ser auto sustentável, exceto em áreas em que o público não

tenha oferta em número ou qualidade suficientes. Vejo exatamente como vejo o sistema

de saúde. Se eu não consigo uma consulta no público em tempo útil, então financiem-me

para ir ao privado. Agora, se tenho um sistema público de saúde que funciona bem e com

qualidade, mas tem que funcionar bem e com qualidade, então devo ser encaminhado para

usar esse. Nessas coisas sou muito… vou ao centro de saúde, tenho os meus filhos na

escola pública, faço essas coisas todas, só recorro ao privado quando o público não me

serve e acho que é bom que seja assim porque senão, em relação à escola, se vamos pôr

os meninos todos nos colégios, podemos estar a contribuir para a guetização do ensino

público. Preocupa-me que isso aconteça e acho que na cidade de Lisboa isso acontece um

bocado.

Em termos de instituição e de alunos, há alguma estratégia de captação de alunos?

Que também têm vindo a diminuir não é, com a demografia e isso tudo…

Nós estamos bem, por acaso, não temos andado a reboque da demografia. Temos tido um

crescimento muito simpático, para lhe dar uma ideia, passámos, em cerca de oito anos,

éramos uma faculdade um bocadinho abaixo dos 3000 alunos e hoje temos cerca de 5200

e isto decorre de estratégias de captação de alunos, de apostas na abertura de cursos, a tal

atenção ao que o mercado quer e ao que os estudantes querem, estratégias de divulgação,

estratégias de relação com escolas, da relação com os nossos alunos entre ciclos. Também

uma coisa em que temos insistido muito, no último mandato e agora também comigo, de

promoção do mérito dos alunos, temos tido aqui muita preocupação em premiar os nossos

melhores alunos. Aos melhores alunos de cada curso, os alunos que terminam as

licenciaturas com média superior a 16, nós oferecemos o primeiro semestre do mestrado,

como medida de estímulo, como incentivo a continuarem a estudar e também como

prémio de facto pelo seu mérito e acho que isto são sinais da seriedade da instituição, sei

que sou suspeito a dizer isto mas temos vindo a procurar. Repare que isto tem sido feito

num contexto de grande retração financeira, portanto, temos tentado fazer aqui uma

gestão que o meu antecessor e agora eu, uma gestão que apesar de ter cortes e cortes,

estou para ver como vai ser no final deste ano, a semana passada autorizei um pacote de

medidas de estímulo e de premiar o mérito nos docentes investigadores. Porque acho que,

sobretudo num contexto de retração, a instituição tem que dar sinais de que quer

crescimento e tem de premiar os que mais contribuem para isso. Isto tem custos, sai-me

do bolso porque depois tenho que ter metade das luzes do meu gabinete apagadas, estão

mesmo desligadas, nunca acendo aquelas luzes, mas são opções que tomo, prefiro ter cá

alunos, ter cá os melhores, ter a faculdade a crescer e as pessoas estimuladas, motivadas

e felizes do que ter todas as luzes acesas.

Dados os cortes no orçamento para o ensino superior, como é que a instituição tem

colmatado essa ausência?

Por um lado, com uma gestão cada vez mais racional, tomadas de opções sobre unidades

curriculares que abrem, que fecham, de contratos, se são mesmo necessários, ajustes na

distribuição de serviço e muito por uma política agressiva de procura de captação de

outras fontes de financiamento, sobretudo através da investigação. Inclusive contratei

pessoas, que parece uma coisa disparatada numa altura de cortes, para apoiarem na

elaboração de candidaturas a financiamento. Temos uma corrida ao financiamento

europeu, uma corrida aos projetos da FCT, uma corrida aos projetos de faturação. Neste

momento, a nossa investigação, só depende da FCT em cerca de 50% porque vamos

buscar muito dinheiro a empresas, de mecenas, câmaras municipais, etc., isto requer dos

nossos investigadores um esforço muito grande. Eles passam por mim e dizem que sou

louco, que não têm tempo para tantas candidaturas e por isso montei uma estrutura de

apoio à elaboração de candidaturas para as pessoas se sentirem apoiadas nisto porque é

muito evidente para mim que mesmo a torneira FCT está a secar, os bolseiros perdem

apoios, menos bolsas, menos projetos, por isso tenho tentado adotar aqui, estava com a

parte da investigação, antes de estar como diretor, uma política um bocadinho agressiva

mesmo e nalgumas coisas dirigista, top down. Por exemplo, quando tivemos agora o

concurso de programas de doutoramento, criámos aqui uma task force para blindar

candidaturas, para garantir que tínhamos candidaturas mesmo muito fortes e de facto nas

ciências sociais e humanas financiaram treze programas, quatro estão aqui. Portanto,

valeu a pena mas isto dá muito trabalho. E requer também investimento.

Na sua opinião, alternativas em geral para financiar o ensino superior? Onde é que

as pessoas devem procurar?

Nós não temos em Portugal uma política como por exemplo existe, sobretudo nos países

anglo-saxónicos de financiamento externo, de antigos alunos, mecenato, etc. e também

não sei se temos uma base de apoio que permita caminhar para aí, não sei quem são os

potenciais mecenas, os antigos alunos não têm capacidade para isso… acho que isso

passará muito por este tipo de relação, sobretudo através da investigação e, às tantas,

como dizia um colega meu diretor de uma faculdade, redimensionar o negócio, quer dizer,

se calhar aquilo para que me estão a empurrar é para não ter tantos cursos abertos, mas aí

começa a falhar a missão. Há aqui opções que não são nossas, aí são opções políticas e

estão acima de nós e que neste momento me preocupam muitíssimo.

Quando tem que gerir o orçamento e distribuir o financiamento pelas diversas áreas,

o que é que sofre mais? Quando lhe dizem, vai ter que cortar…

Descobri uma coisa desde que estou nestas funções de gestão, que é dramática, que é,

vamos cortando aqui e acolá, por aí fora, mas enquanto não se chega às pessoas, não tem

impacto. O que consome mesmo num orçamento são os salários. E esse é o lado dramático

da gestão, como lhe digo, já desliguei metade das luzes, mas enquanto não faço cortes em

pessoas, há uma expressão muito pequena em termos orçamentais. É dramático até porque

depois projetamos isto a uma escala nacional e vemos as maldades que nos estão a fazer

a todos, é muito complicado.

Mas aqui na instituição, tem alunos, outras áreas que possa…

Tivemos o orçamento para 2014, novamente vamos levar um corte complexo. Primeiro,

tirando algumas áreas em que queria investir estrategicamente e essas mantive intocadas

e reforcei, como a comunicação, por exemplo, fiz assim um hair cut global, em viagens,

em despesas do diretor, pus mesmo a zero, nem telemóvel, nem jantares nem almoços,

vai-me sair do bolso mas também há coisas simbólicas que têm que ser feitas,

equipamentos, vamos aguentar as cadeiras, sendo que a faculdade não está muito mal, as

coisas até têm vindo a correr bem, há assim um cut global nessas coisas. Mas de facto,

em termos de expressão no bolo do orçamento nunca são rúbricas assim muito comparar

os salários dos funcionários com o que gasto em computadores, depois há coisas que não

dá para mexer, a luz e a água é sempre igual a não ser que ande atrás de cada aluno a

dizer, olhe lave só uma mão, não dá. Mas apaguei metade das luzes. Mas mesmo isso,

quer dizer, é mais simbólico, tem alguma expressão. Pronto e depois há coisas que são

mais de rotina, por exemplo, a minha equipa de manutenção todos os dias ao fim do dia

corre todas as salas para verificar se os ares condicionados ficaram desligados, se as luzes

estão desligadas, fazem alertas às pessoas, eu próprio no outro dia esqueci-me do

computador ligado e tinha ali um bilhete deles em cima do teclado a dizer, agradecemos

que não volte a esquecer-se do computador ligado. Portanto, passa um bocadinho por

essa… é quase como gerir a nossa casa. A preocupação que tenho tido aqui é tentar ao

máximo não fazer aquilo que querem que faça que é pôr as pessoas em situação miserável.

Não trato ninguém aqui como números. Ontem tive aqui uma reunião com os nossos

delegados sindicais que vieram basicamente agradecer o facto de termos esse cuidado

porque as pessoas não têm alternativas portanto é mesmo como gerir uma casa. houve aí

quase 30% de cortes não é e isto tudo acumulado, a minha mulher também, já cortámos

nisto, na gasolina, nos livros, ainda não ponderámos despedir nenhum dos nossos filhos,

portanto. Aqui é a mesma coisa, a lógica que tenho em casa é exatamente a mesma.

Portanto, não fui ao Ministério das Finanças dizer, dra ministra este filho já não consigo

alimentar, fica aqui, agora arranje-me uma saída… aqui é a mesma coisa, na medida do

possível.

Receitas próprias da instituição estamos a falar de que percentagens?

Estamos a falar neste momento de cerca de 40% do nosso orçamento, as coisas correm

bem.

Pode identificar-me mecenas da instituição? Patrocinadores, tirando a FCT e os que

já mencionou.

Mecenato propriamente dito assim não temos. Temos uma relação com o Banco

Santander que temos um protocolo de cooperação em que apoiam alguns destes prémios

de estímulo, por exemplo, prémio de empreendedorismo, de resto, no geral, o que temos

são contratos dos quais, quando os negociamos, prevemos sempre uma percentagem de

overhead para a faculdade para o desenvolvimento de coisas boas.

E quais são mais ou menos os moldes desses contratos?

Contratos muito simples de prestação de serviços. Tenho aqui áreas completamente

diferentes, pode ser contratos de formação, por exemplo, tivemos aí uma altura em que

os hospitais, com estas vagas de emigração e não sei quê, os enfermeiros tinham

problemas com doentes de outras religiões, e a ordem dos enfermeiros pediu aos nossos

antropólogos para dar formação aos enfermeiros sobre multiculturalismo, é um contrato

orientado para a formação. Tenho uma área que só se faz aqui que é a arqueologia

subaquática, tenho imensos contratos de prestação de serviços, por exemplo, a zona de

Oeiras, forte de S. Julião da Barra está toda a ser explorada por arqueólogos nossos. Há

um projeto giríssimo que é feito com a SONAE e com a Câmara de Grândola porque ao

largo de Tróia até Sines, estima-se que estejam cerca de 300 galeões afundados… temos

que nos lembrar que antes se andava de barco como agora se anda de carro, a chapa batida

de acidentes de agora, eram náufragos na altura e a SONAE ali em Tróia quer tirar partido

disto em termos turísticos, com trabalho de museu submarino. Então são arqueólogos

nossos que estão a fazer o levantamento desses barcos que estão ali e já encontraram

tesouros, moedas de prata. Portanto, os termos dos contratos também são muito definidos

em função das tarefas, temos trabalho de consultoria, pessoas que trabalham para o

GAVE, para os exames nacionais, são auditores, prestam serviços aí, temos um bocadinho

de tudo, portanto os termos do contrato são negociados com a entidade mas são contratos

simples de prestação de serviços, são coisas de duas páginas, em que se definem as

obrigações de parte a parte, a base…

No caso da SONAE, a contrapartida seria o aspeto turístico da coisa…

A contrapartida para eles, para nós…

Mas era esse o ponto que queria focar que são as contrapartidas que geralmente

são…

Ah, o que eles procuram em nós. Nesse tipo de campo é isso. Neste exemplo que dei da

formação, a qualificação das pessoas, temos por exemplo algumas autarquias que pedem

aos nossos historiadores a organização de exposições, temos emissão de pareceres

também, é muito esta tipologia, temos na geografia diversos planos de planeamento

regional, encomendados por câmaras, sobretudo câmaras, ordenamento do território,

pedido de avaliação de impacto, impacto ambiental, impacto nos solos. Temos ali um que

até fui eu que assinei o protocolo com o presidente da câmara. Na Moita estão a fazer

toda aquela orla do tejo, querem requalificar aquilo e um aproveitamento em termos

ambientais, uma espécie de mini reserva e são os nossos geógrafos que estão a fazer o

estudo de impacto, de levantamento, um estudo prévio dos terrenos, etc. Produção de

materiais, por exemplo, com editoras, materiais para o ensino, materiais didáticos, coisas

deste tipo. Eu queria ter cada vez mais disto e faço aí reuniões com os nossos

investigadores, mas não temos tempo, porque isto depois são coisas que consomem muito

tempo.

Há bocado falou um pouquinho de autonomia universitária. Como a concebe, como

a vê, neste momento tem a autonomia que desejava?

Vejo como fundamental para as instituições de ensino superior funcionarem, quer dizer,

sem autonomia isto não anda. Neste momento, sobretudo por questões financeiras a nossa

autonomia anda muito limitada. Financeiras e administrativas. Para contratar um

funcionário tenho um processo que pode chegar a durar cinco ou seis meses, mas depois

querem que compita ao nível das melhores universidades europeias que não têm

processos destes. Sei que os concursos são o que são, há muita corrupção em muitos sítios

mas prefiro ter… é um problema transversal, não afeta só o ensino superior mas acho que

aos dirigentes deveria ser dada autonomia máxima e responsabilização máxima. Ou seja,

deixem-me gerir e se eu fizer asneiras ou se for corrupto, ponham-me na prisão. Aquilo

que temos é desconfiança máxima e impunidade máxima, portanto, um sistema de

desconfiança máxima e impunidade máxima é completamente incompatível com a

autonomia. Nós vivemos no mundo das auditorias, das regras bizarras… uma vez falava

com um amigo, que é muito crítico da coisa pública e que disse que tudo isto é mal gerido

e que somos péssimos gestores e tal, ele gere uma empresa privada e eu perguntei como

é que fazes para comprar papel higiénico para as tuas casas de banho? Mando um

funcionário não sei onde e ele compra. Muito bem, agora vou explicar-te o processo para

adjudicar a compra de papel higiénico numa instituição pública. Ele ficou siderado, ah,

mas porque é que fazes assim? Porque sou obrigado. Portanto, há aqui… sei que muitas

das coisas que existem são o resultado também de corrupção, má gestão e isso mas então

ponham na prisão os corruptos porque senão na verdade nunca teremos autonomia de

facto. E também nunca teremos o ritmo e o dinamismo que são necessários para as coisas

avançarem. Depois, temos a questão mais orçamental, quer dizer, não posso supor que

sou autónomo e a meio do ano dizerem-me, agora, parte da sua… como aconteceu este

ano, a meio deste ano disseram-me o seu orçamento para a segurança, para a vigilância

está cativado. Então, como pago a vigilância? Temos que cativar. É a tal coisa, tem

liberdade para comer chupa chupa mas quando estiver com o chupa na mão, prendo a

mão, agora não comes. Então mas não era autónomo, não tinha liberdade? Tinhas mas

agora não quero, portanto, andamos um bocadinho assim neste jogo. É difícil gerir sem

saber com o que se pode contar, não nos podem estar a mudar as regras a meio do jogo e

é impossível gerir sem ter capacidade de planear. Neste momento, claro que quero

acreditar que estamos numa circunstância especial e que as coisas, sou muito otimista,

vão melhorar e etc., neste momento acredito que a capacidade de planeamento está muito

comprometida e isto de ser autónomo sem poder planear…

Até impede a entrada de mais financiamento porque tem que planear coisas que…

Claro, tenho que ter a capacidade… tenho que ter um planeamento a quatro anos porque

não se gere uma casa como esta que tem, entre alunos, investigadores, funcionários, são

para aí 6000 pessoas. Não posso dirigir isto a dois meses… assim agora de setembro a

novembro sei como vai ser, em janeiro já não sei, não posso, é impossível. É como

comparar um bocado com a família, agora o meu filho mais velho está no 10º ano, ele

este ano está na escola mas para o ano não sei se dá para continuar, é um plano educativo

louco e a comparação é a mesma, acho que de facto, gerir uma casa não é muito diferente

de gerir uma casa destas, os princípios são os mesmos.

O RJIES estipulou a entrada de membros externos na governança do ensino

superior. Considera que de alguma forma, estes elementos externos podem

comprometer a autonomia universitária?

Não, não, nós temos quatro pessoas, são indivíduos, não são empresas nem entidades, no

outro dia tive uma pega com a minha associação de estudantes por causa disso, porque

escreveram exatamente isso, que estavam aqui… tenho quatro pessoas externas e tivemos

no anterior mandato, no conselho de faculdade e eu não era membro do conselho de

faculdade nem sou, agora irei às reuniões enquanto diretor mas o input que temos é

francamente positivo porque é de facto um olhar externo, até em coisas muito técnicas.

Por exemplo, o conselho da faculdade é constituído maioritariamente por professores,

tem um representante dos alunos e depois quatro pessoas externas. É o órgão que tem a

responsabilidade de aprovar as contas, estamos numa (IES), sem retirar a

responsabilidade aos professores que lá estão mas há pormenores técnicos na

apresentação de contas que ainda bem que tínhamos lá membros externos até sensíveis a

alguns aspetos e que chamaram a atenção para alguns aspetos e fomos melhorando a

qualidade de algumas coisas com o input destas pessoas. Depois, se de facto, a

universidade tem uma missão de relação com a sociedade, é bom também termos um

input e um olhar de quem está em contato com diversos setores da sociedade. E aqui acho

que as pessoas que foram cooptadas, o conselho de faculdade escolheu-as bem, porque

de facto temos ali representações bastante interessantes… por exemplo, temos o

representante em Portugal da Fundação Agha Khan, que tem um papel interessantíssimo

em projetos de desenvolvimento, promoção de desenvolvimento, de educação, etc., de

solidariedade, e que certamente nos dará um olhar informado sobre algumas das áreas

que queremos crescer. Claro que há uma visão um bocado quadrada disto que é, ah o

RJIES pôs, como escreveu a associação de estudantes que até me chateie com eles, que

vieram pôr empresas privadas nos órgãos de gestão para trocar influência por dinheiro,

quer dizer, não é isso que está a acontecer. É um olhar de fora, pertinente, aqui tenho a

visão das coisas maravilhosas que a gente faz mas não sei se isto passa lá para fora e é

bom falar com estas pessoas.

Então, a sua opinião sobre o CG é que a faculdade não tem medo de se abrir…

Exato, não pode, tanto que aqui na (universidade), não sei se outras têm isso, sei que por

exemplo a UL não tem, não só o CG da universidade tem membros externos mas os

conselhos de cada uma das faculdades têm membros externos, de tal forma temos presente

que isso é uma coisa boa. Ao nível da faculdade não somos obrigados pelos estatutos mas

optámos por fazer por acharmos que era bom para a faculdade, nem é dar voz a quem está

fora, é ouvir quem está fora.

Gostava de acrescentar mais alguma coisa?

Não.

Muito obrigada pela sua colaboração.

Entrevista F10

Começamos por falar de si, se me poderia falar um pouco da sua formação

académica.

Sou licenciado em gestão de empresas (por faculdade pública nacional), fiz cá as provas

de aptidão científica e capacidade pedagógica que na altura equivalia ao grau de mestre e

depois fui para (estrangeiro) porque queria fazer o doutoramento, fiz o doutoramento em

(estrangeiro), na universidade (estrangeira), em Finanças. Depois voltei, fiz a agregação

em gestão. Esse é o meu percurso académico, sou docente desde que praticamente acabei

o curso, acabei o curso em 1984, comecei a ser docente em fevereiro de 1985 e fiz a

carreira, assistente estagiário, assistente, depois professor auxiliar convidado, porque na

altura, quando vim de Inglaterra, não vim logo para professor auxiliar, durante cinco anos

trabalhei na CMVM, fui aqui professor auxiliar convidado e depois concorri a professor

associado, abriu uma vaga para professor associado, concorri, fui professor associado e

depois professor catedrático. É este o meu percurso. Para além disso, aqui dentro tenho

lecionado, lecionei sempre, desde cadeiras do departamento de matemática, passei depois

para o departamento de gestão, tenho lecionado coisas variadas e agora, desde que me

doutorei, concentrados na área financeira, basicamente, porque é a minha especialidade.

Depois aqui também exerci alguns cargos, fui membro da comissão executiva do

departamento de gestão, depois fui presidente do departamento de gestão, fui membro da

comissão coordenadora do conselho científico durante vários anos e finalmente aceitei o

desafio de me candidatar a presidente da escola e fui presidente durante quatro anos. Já

fez mais quatro anos e agora com a fusão das universidades, com o processo de revisão

dos estatutos, os estatutos foram agora aprovados, vão ser brevemente homologados pelo

reitor e depois aí decorrerá novo processo eleitoral.

Como avalia a sua experiência enquanto diretor?

É uma experiência interessante, na gestão de cargos públicos, de uma universidade, num

momento complicado, mas que até acho que me correu muito bem e que por isso acabei

por não ficar muito traumatizado, demasiado traumatizado com o período, porque é um

período em que a escola, apesar da crise consegue ou manter-se no mercado nuns

segmentos e crescer noutros, não tive praticamente reveses de gestão. Não podendo e

sentindo uma limitação muito grande porque não tenho instrumentos nem os resultados

para a gestão propriamente dita e é muito desagradável porque não se tem instrumentos

de gestão nem formas de praticamente penalizar nem formas de estimular as pessoas. Não

queria tanto as de penalizar, que também são importantes, claro, mas de estimular as

pessoas e não há e portanto é muito difícil fazer gestão quando o que se faz é uma

simulação de gestão, enfim, uma gestãozinha, mas o âmbito da gestão é muitíssimo mais

amplo e há pouco espaço, há muito pouco espaço… é isso que mais me amargura, é o

facto de não haver viabilidade nem espaço para as pessoas tomarem decisões dentro

daquilo que seria uma lei de autonomia universitária. A autonomia não existe, tem sido

cada vez mais cerceada. Repare, tenho resultados, podia gastar mais, não gasto pura e

simplesmente porque não me deixam. Tenho um contrato, faço um contrato, a seguir, na

revisão do contrato, tenho que cortar, dizem-me que tenho que cortar 10%, então o que é

que estou aqui a fazer? Só se começarem a inventar contratos novos para coisas que não

existiam. Portanto, se a pessoa para fazer a sua atividade normal tem que cortar, primeiro,

a administração pública é tomada como um centro de custo, em geral, esta escola não é

um centro de custo, esta escola é um caso, se calhar atípico na universidade e na

universidade portuguesa e os casos atípicos deveriam ser considerados porque se tomam

todos como gastadores, maus zeladores dos dinheiros públicos, etc. Portanto eu sou e as

regras que me são aplicadas, são aplicadas como aqueles que incumpriram, gastaram

muito, se endividaram, fizeram tudo mal, pronto. Quem fez mal, é-lhe aplicado um

pacote, quem fez bem, é-lhe aplicado o mesmo pacote, por isso isto é uma situação

confrangedora que é eu gerar saldos que tenho dificuldade em usar os saldos…

Mas ficam cativos…

Não se podem gastar, portanto, se não posso usar os saldos para fazer aquilo que poderia

fazer, tenho grandes restrições. Não posso contratar mais pessoas, tenho procura para

cursos adicionais, não posso contratar pessoas para fornecer os cursos adicionais. Porquê?

Não sei. Até conseguia gerar receitas marginais positivas, até podia dar isso, dar a margem

para que o estado reduzisse o seu défice, não era muito mas era alguma coisinha, o que

fosse. Se consigo abrir mais uma turma de uma coisa que tenho procura e não me deixam

porque tenho uma restrição ativa em que não posso contratar mais pessoas do que no ano

anterior, estou aqui a sobrecarregar pessoas com trabalho e não posso contratar pessoas,

os alunos vêm procurar a escola para terem formação junto de nós e eu não posso contratar

mais professores, é difícil fazê-los progredir nas carreiras, isto é…

Quando é que o deixam usar os saldos que produz?

Porque há restrições, não posso usar os saldos, tenho que pedir autorização para usar os

saldos, não posso usar os saldos para fazer despesa corrente, portanto, é assim os

estímulos que existem são estímulos que estão preparados para gestores de unidades

públicas que são deficitárias, que contribuem para o défice e provavelmente da dívida

pública. E eu gostava que me dessem espaço para poder remunerar as pessoas que

contribuem para a redução do défice, para a redução da dívida pública, mas não, portanto,

porque é que as pessoas hão-de fazer? Os meus trabalhadores, por muito bons que sejam,

são tratados da mesma maneira que os piores, porque é que alguém há-de fazer bem? Não

percebo… quer dizer… se perguntassem aos políticos, olhe qualquer que for o resultado

da sua política… perguntava ao primeiro-ministro, olhe, vamos pegar no senhor e na sua

equipa e vamos aplicar a mesma regra que os outros, isto é, o senhor esforça-se ou não se

esforce, a remuneração é igual, isto é, nas eleições o senhor vai embora, portanto agora

trabalhe, faça muito, e eles diziam, mas para que é que eu quero fazer? Ele não sabe que

para ele a remuneração são os votos, o que ele tenta é gerir um país para que depois as

pessoas reconheçam e dêem votos, agora acabou, o senhor vai-se embora mas acaba o seu

mandato e pronto faça lá, mas trabalhe muito, trabalhe mais, agora vamos acabar com os

sábados e com os domingos, trabalha todos os dias, agora reduz-se o salário mas trabalha

mais mas o senhor vai sempre embora. Ele há-de pensar assim, mas porque é que estou

aqui a trabalhar? Pois, as outras pessoas também perguntam o que é que estou aqui a

fazer, depois ganha-se umas pequenas remunerações, as pessoas imaginam, inventam

remunerações que não existem para sobreviver neste pântano psicológico e é assim. Eu

invento uma remuneração que é por exemplo, deixa cá ver se tenho tantos alunos como

tive o ano passado, se a nota de entrada não desceu ou subiu, é uma remuneração, para

mim fico contente mas, ah, grande coisa. E as pessoas aos vários níveis imaginam metas

e tentam definir que passar isso é a sua remuneração, pronto, ok, é isso.

Voltando ao cargo de direção, de alguma forma o que aprendeu no seu percurso

académico/profissional, serviu-lhe para alguma coisa nestas funções de presidente?

Sim, porque isto é um cargo de gestão de pessoas e portanto nas funções em que estive já

e no percurso académico, o que aprendi de gestão de pessoas, liderança e etc., serviu-me.

E do ponto de vista técnico para compreender aquilo que é a gestão financeira da casa, a

tomada de decisão, os processos de tomada de decisão complexos, serviu-me sim,

bastante.

Outro bloco, como considera que tem sido a evolução do ensino superior português

público? Já vi que está um pouco desalentado…

Compreendo que o ensino superior público precisa de uma revisão e precisa de se ajustar

a três coisas. Primeiro, o ambiente que é diferente, de concorrência internacional.

Segundo, à procura interna e externa, nós estamos aqui neste momento num concurso

internacional na captação dos alunos e isso é verdade, em algumas áreas menos, noutras

mais. Depois, o mercado empregador procura pessoas com um determinado nível de

formação e com determinado tipo de especificidades e conhecimentos e a universidade

tem que se adaptar a ela. A adaptação da universidade é sempre lenta e fazia-se muito à

custa da rotação das pessoas. Ora, o que está a acontecer é uma ausência de rotação das

pessoas, não havendo rotação das pessoas, a universidade deixa de se ajustar ou se pede

às pessoas que cá estão para se ajustarem mas esse ajustamento muitas vezes é difícil. E

com o envelhecimento das estruturas universitárias, o que dá é que as pessoas têm cada

vez mais dificuldade em se ajustar às procuras e isso é um problema que você pode,

durante três ou quatro anos, pode gerir assim, vamos aqui congelar isto e tal. Mas em três

ou quatro anos senão tiver entradas no ensino superior, senão tiver mais alterações com

entradas, o que acontece é que envelhece basicamente dois anos a média etária das escolas

e isso é grave até do ponto de vista da produção científica, do ajustamento ao

conhecimento, etc. Agora também é verdade que a universidade tem que se abrir mais

àquilo que é a procura e os interesses da procura nacional, procura interna e procura

externa, e isso precisa de ser feito. E depois a própria oferta e distribuição da oferta. Os

movimentos das populações que têm sido feitos nos últimos 20, 30 anos, não foram

acompanhados pelos movimentos das universidades e portanto, aquilo que acontece no

ensino secundário, acontece no ensino superior também. Agora as pessoas são

confrontadas, como nunca tomam decisões atempadamente, são confrontadas em cima da

hora com fecho de escolas, ficam muito zangadas… porque uma coisa é abrir uma escola,

outra coisa é fechar escolas e fazer a racionalização dos cursos e dizer, este politécnico

fecha e os alunos são transferidos para aqui e para acolá ou diz-se que dentro dois anos o

politécnico vai fechar este curso e aquele e dizer aos alunos, olha ou vocês acabam os

cursos agora ou ganham juízo, acabam os cursos ou são mesmo transferidos. Esse tipo de

coisas que deve ser feito pensadamente e com cabeça tendo em atenção os movimentos

das pessoas e da procura, etc. não tem sido muito feito, falta de coragem, os políticos

estão-se nas tintas, os ciclos de revisão destas necessidades são muito maiores do que os

ciclos políticos e dos ministros e portanto é preciso ter a sorte de ter um indivíduo com

cisão e com coragem, sem grandes interesses em não querer ser rapidamente ex-ministro

que é uma das coisas que é melhor é ser ex-ministro porque depois vão comentar aquilo

que eles próprios fizeram e que não fizeram e ganham dinheiro para isso, às vezes, do que

ser propriamente ministro, e por isso é preciso às vezes uma sorte ter pessoas que estão

disponíveis e com cabeça para fazerem um trabalho que vai além daquilo que é a sua

vigência política e comecem a lançar os passos e depois venham outros que não

considerem que aquilo que ele fez é completamente parvo e disparatado e fecha logo e

que continue a fazer, aquilo está bem feito, está bem pensado, é isso que tem que ser feito.

Porque depois isto liga-se tudo muito logo com o poder local… a distribuição de serviços

de educação a nível do ensino superior está muito relacionada também com os interesses

não ao nível das universidades das grandes cidades mas das pequenas cidades, os

politécnicos, aquilo confunde-se logo com o poder local e portanto aquilo é muito

pensado assim, se vem alguém que vai mexer no politécnico, que esse politécnico é do

seu partido, esqueça, se é do partido oposto é visto como um ataque político, vem o outro

a seguir e desfaz aquilo que o outro possa ter pensado fazer, portanto, a pensar assim, não

acho que seja muito fiável. Vai haver depois uma hecatombe, com problemas graves para

o erário público de instituições que depois podem não ter procura, nem se ajustam, o que

for. Portanto, nesse sentido, não sou muito otimista na leitura que faço daquilo que é a

necessidade que há para rever a estrutura do ensino superior. Houve aqui um passo inédito

na fusão de duas universidades, inédito e que não dependeu absolutamente nada do

ministro, quando se metia pelos olhos dentro que era óbvio que em Lisboa não havia uma

universidade grande, então a maior universidade do país estava no Porto, quando a maior

cidade, com o maior número de estudantes universitários está em Lisboa. Mais, quando

há duas instituições que não têm quase sobreposição, não há ninguém que veja isto?

Entendo que durante um período, durante o regime anterior ao 25 de Abril, havia o medo

de criar grandes estruturas, grandes instituições porque se pretendia dividir um bocadinho

o ensino superior que era muito reivindicativo, muitos estudantes e não sei quê, não se

queria juntar uma universidade de 40000 estudantes na altura muito menos, não interessa,

muitos estudantes porque depois aquilo seria um problema. Era maior o problema do que

se tivessem dividido, talvez fosse mais fácil. Depois do 25 de Abril não, epá e foi preciso

40 anos, mais quase que o regime do Salazar para chegar à conclusão para juntar duas

instituições em Lisboa. E não há ninguém que visse isso? Se estivesse no poder e que

tivesse visto uma coisa destas para chamar os reitores e dizer vamos trabalhar neste

sentido, mexer nisto. Portanto, é assim, tenho algumas dúvidas sobre algum… e é preciso

juntar instituições, ah, mas nós temos 180 anos de história e não sei o quê… e depois?

Juntam a história e fazem outra. Quando conto a história desta instituição, esta instituição

tem as suas origens, como outras, na aula do comércio em 1760 e tal e depois é integrada

mais tarde noutra coisa e depois ainda noutra coisa e pronto e as coisas foram evoluindo

e tiveram as suas histórias e as pessoas integram-se. E depois mais tarde há uma outra

instituição que se funde e reúne as outras e podem dizer, temos muita honra em ser os

herdeiros do património deste e daquele, a nova universidade de Lisboa vai sempre dizer

que é herdeira do património da universidade de Lisboa, da clássica e da técnica. Portanto,

é preciso dizer isto e eu vejo muito poucos dirigentes de instituições dizerem por exemplo,

o seguinte, epá isto é óbvio que a minha instituição, para mim, não devia existir, alguém

vai dizer isto? Alguém o convida a dizer, oiça lá, vocês acham que deviam existir

independentes? Não acham que era mais lógico juntarem-se com outros? E como é que

ele é visto depois? Como um fraco perante os colegas, não foste capaz de manter a

independência e a identidade, quando não percebem que o problema está na

sustentabilidade dessas instituições muitas vezes.

Sobre o processo de Bolonha, a sua opinião, a forma como foi implementado, se foi

ou não bem conseguido…

Há coisas boas. No processo de Bolonha conseguimos acertar mais os ciclos com a maior

parte da UE e por essa via conseguimos muita mobilidade ao nível do 1º ciclo dos

estudantes, ao nível do 2º ciclo, a mobilidade é quase inexistente, portanto isso foi um

fracasso. Na prática, em Portugal, reduziu-se umas quantas horas, não muitas, de contato,

os estudantes não percebem que têm que trabalhar muito fora das aulas no ensino superior

e de uma forma geral isto fica assim uma coisa desenxabida, não se percebe bem. Isto por

um lado. Por outro lado, ao nível da falta de emprego entre os jovens, não sei qual a

vantagem de se acelerar a produção de jovens para o mercado de trabalho em três anos,

as empresas hoje, a esmagadora maioria ou muitas, querem que os estudantes tenham já

o 2º ciclo e portanto eles fazem o 1º e o 2º ciclo seguidos, coisa que também não era bem

o objetivo de Bolonha, que era que as pessoas fossem ao mercado de trabalho e depois

voltassem mas não há trabalho e as pessoas continuam. Portanto, como os pressupostos

se modificaram face àquilo que é a realidade, hoje tenho dúvidas que tenha valido a pena

passar, particularmente em Portugal, dos quatro anos do 1º ciclo de licenciatura para outra

coisa, mas é um ensino mais caro, rapidamente, baixou-se o período de formação do 1º e

2º ciclo e transfere-se o ónus do pagamento e da sustentabilidade do sistema para as

pessoas porque, se se disser assim, olha, vocês têm quatro anos de propinas a 1000 euros,

mas isto não dá, então vamos passar a 1500 euros por ano, ai não, isso é um aumento de

50% ninguém aguenta. Então vamos fazer o seguinte, baixamos para três, 1000 cada ano

e o 1º ano do 2º ciclo pagam 3000 euros e ninguém reclama. Pagam mais. São estupidas

as pessoas ou querem ser ou não fazem contas ou… não disseram nada, acham bem. Se

lhes dissessem assim, nunca se fez essa pergunta, mas se lhes disserem assim, de três para

quatro anos pagam 1500 euros por ano, ai nem pensar que isto são 6000 euros, então

vamos fazer o seguinte, três anos a 1000 euros dá 3000 euros e já está tudo bem, estava

quatro anos, 1000 euros cada ano, passar para três, portanto pagavam 4000, passaram a

pagar 6000, não houve ninguém que dissesse coisa nenhuma. São 3000 mais 3000 para o

mestrado. Passaram de 4000 euros de uma licenciatura para 6000 euros por um período

de formação, grosso modo, 900 e tal, ninguém reclamou, acham bem porque já estão num

grau diferente, ok. É anedótico manter uma coisa que se chama licenciatura que ninguém

tem, que é um bacharelato que era o que era, no meu tempo tive três anos e era um

bacharelato. Mas o que é que passou na cabeça daquelas almas que estavam no

parlamento e porque é que ainda não há ninguém que diga vamos mudar isto, agora a

palavra licenciatura acabou, devia ter acabado, até para se distinguir, é de Bolonha, é pré

Bolonha, pós Bolonha, epá não havia confusão nenhuma na altura. A pessoa dizia que

tinha uma licenciatura e já se sabia, tu és dos antigos, pronto. Agora tem um bacharelato

e não sei o quê, ah então provavelmente és dos modernos, passava a ser uma palavra

comum, as pessoas ficavam, ainda por cima, divulgava-se um bocadinho o termo, as

pessoas sentiam mais necessidade de ir buscar uma coisa com um nome de valor

acrescentado, eu não percebo, mantiveram o nome de licenciatura, enfim. Epá, no ensino

superior acho que há muitas asneiras, perdem-se as oportunidades boas para fazer coisas

boas. Agora era uma excelente oportunidade para mexer nas redes dos politécnicos, das

universidades, fazer isto e repensar um bocadinho porque agora até as pessoas aceitam

melhor, mas é preciso fazer alguma coisa. Porque sempre que os ministros propõem

alguma coisa, é melhor que sejam as universidades a ter essa proposta, quer dizer, mas

porque é que hei-de fazer alguma coisa se não ganho absolutamente nada com isso.

Portanto, está-se nas mãos de uma conjuntura de pessoas, a pessoa vai para lá, é esforçado,

propõe, gosta daquilo, tem tempo, quer aborrecer-se, quer zangar-se com colegas e

amigos e pronto, vai fazer as coisas. Não ganha nada com aquilo, portanto, é muito difícil

ter pessoas assim.

Sobre o ensino superior privado…

Não existe, só existe a Universidade Católica, mais nada, que não é bem ensino privado,

tem um estatuto que de facto não é público, mas é um privado com um determinado tipo

de estatuto diferente do resto. Não existe, é raríssimo, eu estou a dizer não existe, mas de

uma maneira geral estou muito centrado na minha área de conhecimento. Não há,

praticamente, quer dizer, porque é suposto o ensino superior fazer uma coisa, que é

distinto do ensino politécnico, que é a produção de conhecimento e a produção de

conhecimento faz-se pela produção de doutores, com valor acrescentado e com

publicações relevantes que depois se traduzem nos rankings das universidades, não vejo

isso, e também na gestão de uma carreira de professores docentes, de quadro, com

sabáticas e não sei o quê. É assim, quem é que está para sustentar, um docente que de seis

em seis anos, há um ano que vai embora, já viu o custo? Um individuo que entre na

organização doutorado aos 30 anos de idade e que vá trabalhar até aos 70, 40 anos ativo,

agora veja, 40 anos a dividir por períodos de 7, dá seis quase, vai fazer cinco pelo menos,

cinco sabáticas pelo menos. Em cada período de um ano, em que cada indivíduo ganha

14 meses, cada docente, em termos de aulas, para já, ter cargas horárias leves, por um

lado, para que possa permanecer ativo na investigação, segundo, para além disso, ainda

tem que lhe pagar mais um ano em cada sete. Quer dizer que aqueles 14 meses vão ser

divididos por 6 para serem imputáveis, é caríssimo, eu não vejo isso. E estou a falar nas

escolas de papel e lápis. Para não falar da ciência, com a técnica e com a tecnologia, com

equipamentos, com laboratórios, onde? Isso não existe, existem umas escolas, têm umas

faculdades de direito, economia, sociologia, isto e aquilo, depois o resto praticamente não

existe. Portanto, não sei o que é essa figura do ensino superior privado.

Reconhece habilitação para ministrarem ensino superior?

Isso é diferente, estou a falar com estatuto de dignidade para se dizer assim, aquilo, uma

ou duas universidades, que de facto, até conseguem estar acima de várias universidades

públicas, não é verdade isso. Por isso é que digo que não existe. Peguemos no ranking

das universidades portuguesas e, tirando a Universidade Católica, fiz a exceção logo à

partida. Não vejo as outras universidades colocadas em posição de ranking que leve a

dizer nós temos e fizemos… aplicaram o dinheiro no imobiliário, a maior parte delas.

Docentes… também me podem dizer que o sistema não permite, não é com 1000 euros

por ano que conseguem fazer concorrência com… e mesmo a universidade católica

fechou um curso que tinha de engenharia civil ou que é, epá, fecham porque é muito

difícil sustentar cursos que exijam muito laboratório e tal, é muito difícil, o custo é brutal.

O estado consegue, só no dia em que o estado mudar o sistema, passar para o cheque

ensino e disser assim, o aluno de engenharia quer fazer engenharia recebe 10000 euros

por ano e esse cheque entra na escola de engenharia mecânica onde ele se inscreve, aí

começa a ser diferente. Agora, desde que o sistema é, eu financio a faculdade de

engenharia e a faculdade de engenharia põe as propinas a 1000 euros por ano, não há

ninguém que receba propinas, nem que seja a 1500 euros, vá que seja 3000 euros, que vá

fazer laboratórios, não é possível. Ou, se fizeram foi em barracões ou uma coisa assim,

paga-se três vezes mais ou quatro vezes mais e o curso não tem credibilidade nenhuma,

nunca consegue agarrar os alunos para isso, portanto, é um sistema que está condenado à

partida por isso, só as escolas que se dediquem a cursos de papel e lápis.

Nesta conjuntura, o que lhe parece que vai ser o futuro do ensino superior público?

Depende daquilo que o governo pretenda fazer para o sistema de ensino superior. Porque

se for fazê-lo crescer, reorganizando e dando… se disser assim, imagine, junto duas

instituições, limpa-se algumas estruturas, usa-se o dinheiro e injeta-se mais dinheiro para

crescer ou para ganhar força e dimensão, isso é uma possibilidade de algum sucesso

porque senão, quer dizer, isto a continuar assim são mais cinco anos e estoira

completamente, acabou, arrebenta com tudo. É o que eu disse há bocado, você aguenta o

período de congelação, é como respirar, se tivermos um corpo, aguenta um minuto sem

respirar, minuto e meio, se está mais tempo, os danos causados são tais que fica um corpo

que, mesmo que ressuscite, fica um corpo morto ligado a uma máquina, mesmo que o

tirem fica ali a respirar, não faz nada. Portanto, é assim, a universidade foi congelada está

em apneia, é como eu vejo o sistema, a universidade pública está em apneia, agora, se

prolongarem a apneia, morremos. Porque depois é assim, se passarmos o ponto, há

pontos, que eu não sei qual é porque mais tarde é que reconhecemos, olha, passou-se, não

sei qual o ponto mas digo isto, se passarmos o ponto de não retorno, quer dizer… depois,

é assim, depois é preciso rejuvenescer as coisas e demora-se imenso tempo outra vez

porque rejuvenescer o ensino superior demora muito tempo a fazer. Agora “compram-se”

no mercado, os novos quadros são todos doutorados e estamos numa fase diferente mas,

para ser um quadro maduro para produzir, já com redes e etc., demora pelo menos, 5, 6,

7 anos, 10 anos e não o estragando, não é, não estragando e dando 12 horas de aulas por

semana durante dois semestres, não faz redes, não faz nada, o homem fica a dar aulas,

aulas, pronto e depois não faz mais nada. Para ele estar a publicar, integrado nas redes de

investigação, tem que lhe dar espaço para que possa ir lá fora, dar-lhe meios, isso custa

muito dinheiro. E é assim que vejo as coisas.

Agora outro bloco. Começamos com as propinas. A lei de 92 instituiu o valor mais

alto, comparativamente ao valor simbólico que era antes. Qual a sua posição

relativamente à existência de propinas?

Acho muito bem as propinas. Quando me licenciei, paguei uma ridicularia por um curso

e acho que as propinas se devem manter e até devem ser elevadas. Mas isso não quer dizer

que os alunos não tenham condições para pagar as propinas. Porque propinas elevadas

dão uma responsabilidade acrescida às pessoas. Fui para Inglaterra quando me fui

doutorar e percebi, quando o dinheiro era transferido para a conta e depois eu entregava

na universidade. Epá e eu entregava lá imenso dinheiro por ano e aí é que percebi bem o

custo que era, que o estado estava a fazer, eles pagam-me o ordenado a mim e ainda me

pagam uma pipa de massa para transferir para esta universidade, não era brincadeira o

que estava a pagar. Isto é impressionante e isso deu-me responsabilidade, percebi o que

era isso, as pessoas estarem a trabalhar em Portugal, pagam impostos para eu estar aqui a

estudar, uma fortuna destas. Claro, se tivesse pago do meu bolso, não tinha possibilidade.

Agora, acho importante esta consciencialização que é a pessoa ver-se confrontada com o

preço das coisas e ver que alguém está a pagar isto, não é brincadeira. Um automóvel

custa 500 euros, vou ali ao stand e porquê? Porque o estado me financia o resto, ah, 500

euros, isso não é nada, bati com o carro, vou lá buscar outro… é como chumbar, ah, isso

não tem importância, se o aluno chumbar e se perceber que não tem o cheque dos xs 1000

euros, ops, isto não é brincadeira. Por isso, acho que o sistema de fazer propinas até caras

é uma forma de consciencializar. Gosto que os alunos sejam confrontados com a propina,

outra coisa é os alunos não terem dinheiro para pagar a propina, isso é outra coisa. E

depois, é o seguinte, não vale a pena estar a ter uma lógica de algum equilíbrio social…

é assim, não vale a pena estar a reduzir as propinas, fazendo recair nos trabalhadores em

impostos para financiar aquilo que determinadas famílias podem pagar. Por isso, quando

os meus estudantes me pedem para baixar 50 euros as propinas e eu pergunto porque é

que hei-de baixar 50 euros as propinas a todos os alunos, quando sei que há alunos que

vivem em condições soberbas e 50 euros não lhes faz diferença nenhuma. Vêm de carro

para a faculdade, vivem em sítios magníficos, a família tem um rendimento de trabalho,

de imobiliário, então para quê isso? Depois é, com aquilo que cobro, posso fazer um

programa de bolsas e isso é que acho que deve ser feito. Tem problemas, claro que tem

problemas mas acho que é mais justo do que outro sistema, por isso sou a favor de

propinas e de propinas até um bocadinho a doer para as pessoas sentirem que aquilo não

é brincadeira, quer dizer, andam aqui a estudar mas estes alunos não fazem a mínima ideia

que são capazes de custar 4500 euros por ano, em média, e pagam 1000. Então quem

pagou os outros 3500? Foram os desgraçados que andaram a trabalhar, a levantarem-se

cedo, a deitarem-se tarde para ganhar dinheiro e pagar os impostos metidos em

autocarros… para os meninos depois andarem a chumbar? Pessoas que não tiveram

oportunidade de estudar, pagam os impostos para sustentar meninos que andam aqui a

faltar às aulas, a virem quando querem e não sei o quê, passam aqui, toalha no ombro para

ir para a praia, para vir visitar as pequenas, quer dizer… por isso é que acho que não é

justo.

Juntamente com o sistema de bolsas da instituição…

Das instituições, várias, pode ser do estado, agora há cada vez menos dinheiro para bolsas,

nós temos aqui um sistema de bolsas, criámos um sistema de bolsas aqui na instituição.

Quais são os critérios de atribuição?

Os critérios, existe um comité… temos um sistema de bolsas… há várias bolsas, há bolsas

de mérito para os bons alunos mas que podem ser pessoas endinheiradas, mas não é esse

tipo de problema, o problema não é para esses, isso é para captar os bons alunos ou para

manter os bons alunos. Para aqueles alunos médios, até um bocadinho com algumas

dificuldades, às vezes as pessoas não têm condições porque não têm meios para comprar

livros, não têm… a condição económica também pode influenciar o desempenho e

portanto para financiar aqueles que não têm capacidade financeira, temos um programa

junto da associação dos antigos alunos e da formação económicas para isso mesmo. Então

temos um comité, que tem pessoas da nossa secretaria, antigos alunos, etc. e que fazem a

análise das candidaturas, pronto e eles têm uma série de critérios que não sei em detalhe,

mas fazem uma análise cuidada e são pessoas que estão perto deles, porque é fundamental

perceber porque às vezes o critério de IRS não é tudo. Às vezes os alunos aparecem em

carros topo de gama e o IRS é limpo, não tem nada e portanto, isso não é critério, há que

fazer uma análise um bocadinho mais fina e mais cuidada. Fazemos programas de recolha

de fundos para apoiar esses alunos e há com eles estabelecido um protocolo de ética que

têm que repor o valor da bolsa quando puderem, usando a taxa de juro que considerarem

adequada.

Um bocadinho à inglesa…

Tenho a certeza que qualquer aluno… repare, eu tive uma bolsa, fui apoiado e foi por

causa dessa bolsa que sou o que sou porque senão não era. Se calhar até era mais em

termos financeiros mas não era professor provavelmente, não teria tido o desempenho…

podia até ser docente aqui na escola, até me podia ter doutorado aqui, podia ter feito isso

tudo mas tinha uma visão completamente diferente do mundo. Portanto, alguém me

ajudou a ter essa visão diferente do mundo e eu estou muito grato a isso, foi um período

muito importante para mim, de formação como académico, foi o período mais importante

da minha formação como académico foi o período que estive fora e só tive isso porque

tive uma bolsa e portanto reconheço que é importante retribuir ao sistema esse retorno. E

depois em Inglaterra ainda tive um pequeno apoio extra e por isso mesmo reconheço

como me sinto em dívida. E, por muito que eu dê ou que dou, acho que nunca será o

suficiente porque consegui muito mais para mim do que aquilo que possa dar. Se

comparar aquilo que recebo com aquilo que dou, pode-se dizer, ah, mas isso é muito bom

e tal, ok, mas as pessoas vão sempre considerar, as pessoas de boa formação, de boa índole

vão sempre considerar que aquilo que retêm no fim se é fruto daquilo que receberam no

início, é muito mais do que reteriam senão tivessem esse apoio. Portanto, foi um

investimento que alguém fez neles, que os compensou e eles podem compensar os outros.

Portanto, é deixar um bocadinho essa liberdade… o compromisso é têm que restituir ao

sistema aquilo que receberam, o prazo é com eles e a taxa de juro também, o mínimo é

dar o que se recebeu, é um empréstimo, digamos assim, mas também se não restituírem

não há problema, não ficam em dívida, não vão morrer com esse peso porque não tiveram

infelizmente capacidade de retribuir, seguramente, porque se não teriam feito.

Tem tido muitos casos de alunos que pedem ajuda, pagamentos mais faseados ou

desistências porque não podem...?

Por acaso não temos tido muitas desistências, estava à espera de muito maiores problemas

durante a crise, não tivemos assim tantos problemas, mas sim, houve um acréscimo de

alunos a pedirem pagamentos faseados, planos, porque nós, não é automático, os alunos

têm que pedir apoio, o apoio começa por rever o plano de pagamentos, como se pode

acomodar a família, etc. Depois há a fase do incumprimento e então ou incapacidade, o

aluno diz estou desempregado ou o meu pai e a minha mãe estão desempregados, não

tenho hipótese nenhuma, pronto, não há cá plano, o plano é pagar em 2050… não faz

sentido. Aí, passa-se ao segundo nível, que é o nível de apoio com a bolsa e etc. e

felizmente há miúdos que acabaram a licenciatura apoiados pela bolsa, esperamos que

depois tenham trabalho e consigam retribuir.

Relativamente à diferença de custo entre o 1º, 2º e o 3º ciclo, às vezes o valor dos

mestrados e dos doutoramentos sobe muito. Há certos cursos, como o professor falou

há bocado, das engenharias, que requerem muito laboratório, material de preço

elevado, há outros que nem tanto. Concorda com esta diferença, às vezes tão díspar

de preços?

Repare, sim… porque por vezes o serviço prestado é diferente e em vários termos, por

exemplo, nós, nos mestrados, não temos aulas teóricas e práticas, onde as teóricas temos

cento e não sei quantos alunos ou duzentos alunos e aí reduz muito o custo por aluno. Por

outro lado, temos o financiamento, também é diferente e portanto, se tem escala nas

licenciaturas e consegue sempre financiamento maior na licenciatura, mas relativamente

àquilo que está a usar o custo pode embaratecer a propina e de alguma maneira tem que

compensar nos mestrados. E portanto, essa é a razão, são turmas tipicamente mais

pequenas porque nós não temos mestrados muito grandes com muitas turmas e mesmo

quando temos, são turmas relativamente pequenas, de trinta e tal alunos. Às vezes

juntamos, excecionalmente juntamos os alunos numa turma maior mas tipicamente não é

isso que acontece, portanto aí faz sentido. O recurso mais caro é o docente e depois há

todos os custos imputáveis, uma sala aberta são custos imputáveis à sala, portanto isto

tem que ser pago de alguma maneira. E portanto, o que se tenta é que o ensino mais

especializado, um ensino mais difícil, um ensino difícil para se transmitir conhecimento

de ponta em que o recurso é mais caro ora, porque tem que ser imputável, é mais caro, eu

se estiver a ensinar, é verdade que a hora minha é a mesma. Mas, se eu estiver a ensinar

uma coisa que, em termos de mercado, encontro qualquer indivíduo a pagar a quem eu

pago metade do meu ordenado para ensinar o primeiro ano, o problema da instituição é

que está a fazer uma afetação menos racional. Ou então, põe-se um professor excelente

no primeiro ano, mas acompanhado por juniores para o assessorarem porque aí faz a

diferença. Você coloca lá uma estrela, é o Cristiano Ronaldo a jogar com 10 miúdos da

equipa B porque no fundo a malta fica lá encantada com o professor e depois as práticas

são desdobradas. Nós temos imensos monitores a trabalharem no 1º ciclo, por exemplo,

o 1º ciclo é para nós um ensino mais barato, exatamente porque os recursos são menos

usados, a qualificação académica é menor porque também aquilo que se exige na

transmissão de conhecimento é muito menor. Quando chegamos aos mestrados, aí temos

os professores todos mais qualificados, é tudo muito mais caro, as turmas são mais

pequenas, é mais para pagar, portanto, eu faço assim a gestão aqui na escola.

No seu entender, qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público

português?

Não vejo o estado perante o ensino, vejo o estado perante a sociedade. O que o estado

tem que fazer… primeiro, o ensino superior não tem que ser público, nos EUA, o ensino

é público e privado e as melhores universidades são todas privadas, portanto, o estado

não tem que fazer isso. Agora, o estado tem que garantir à sociedade, enquanto

administração pública, tem que garantir que vai fornecer, em caso de não haver

alternativa, um sistema de qualidade que permita que o país consiga depois alimentar a

cadeia económica com qualidade, com técnicos qualificados, com capacidade de

organização, de iniciativa e inovação para produzir bens e serviços que satisfaçam a

necessidade local e internacional. Portanto, aquilo que o estado tem que fazer é garantir

que existe essa oferta, se não há privada, há pública. Uma vez montada, devia mantê-la.

Se calhar pode ser excessiva, se achar excessiva, abdica de alguma parte dela e privatiza,

pode fazer isso. Agora, a obrigação é, uma vez mantido o sistema, deve mantê-lo de uma

forma boa.

Regulador e financiador, é isso?

Sim e providenciador do serviço também, no caso de pensar que os privados não vão fazer

e portanto temos que fazer nós. Epá a gente podia dizer que na limpeza das ruas cada um

trata de si, pronto, e depois uma vez por semana, os moradores da Carlos I não se

organizam, há lixo por todo o lado, começa a rataria a aparecer e depois a rataria vai para

os outros do lado, não pode ser. Então vá, temos que limpar nós. Portanto, alguém tem

que providenciar, regular e financiar aquilo que está a providenciar. Regular o sistema

todo e aí apercebe-se que… ora, uma vez montado o sistema providenciador, deve mantê-

lo com qualidade porque se não, qual o objetivo? Se o estado quer formar engenheiros,

são engenheiros, não são latoeiros, não são tipos que sabem soldar, são engenheiros, são

engenheiros e tem que se investir na qualificação dessas pessoas, o sistema tem que…

agora, posso dizer assim, não há dinheiro para dez escolas de engenharia em Portugal,

pronto, então, o que vamos fazer? Vamos cortar nas dez que existem para eles não terem

não sei o quê, não há mais dinheiro, cortamos mais e não sei o quê e às tantas não forma

engenheiros em lado nenhum. Esse é que é o problema. Não há dinheiro para… quais são

as necessidades do mercado? As necessidades do mercado é para oito escolas de

engenharia, então vamos ver quais vão fechar, e depois voltamos àquele problema inicial,

vai fechar a escola de não sei o quê, epá, esse não porque é um autarca do partido, não

pode ser, não sei quê, as forças locais vão ficar muito zangadas. Então olha divide por

todos, pelo menos é socialista, é uma medida boa, a malta gosta, é igual para todos. O que

é que vai dar? Vai ter dez escolas que nenhuma forma engenheiros porque não têm

recursos e isso é que é desadequado. Porque, inicialmente, quando se constituíram as

universidades, havia três ou quatro universidades e não se disse assim, só estas é que vão

crescer, e estas crescem, crescem e agora cortamos nestas, não. É mexer aqui e ali, se é

para cortar é corta em todas, assim como vão nascendo, vai-se apagando. Você quando

diz assim, vamos lá aqui racionalizar, você faz isso, racionaliza o uso da eletricidade em

casa e o que faz? Podia ter rióstatos em todas as salas… uma medida é, à medida que sai

da sala, apaga a luz, vai a outra acende e depois apaga, mas não, vou fazer o seguinte, vou

ter as luzes todas acesas mas luz mortiça porque gasto a mesma energia, o que é que

significa? Não vê nada. Então, mas isso tem interesse? Não tem interesse nenhum, estou

a dar um exemplo extremo. Cortar nos sistemas todos ao mesmo leva a que depois

nenhum serve para aquela luz, então mas aquilo serve para alguma coisa? No quarto não

vê para ler, na sala não vê para comer, na casa de banho não vê para se lavar, em lado

nenhum vê nada, o que é que ganhou com isso? Nada. Portanto, à medida que o sistema

vai crescendo, vai crescendo com unidades novas, então agora, quando o sistema

decresce, tem que decrescer com unidades porque senão não faz sentido, estou farto de

dizer isto. Mas é preciso uma coragem… e agora, atenção, com a troika ainda havia

alguma desculpa, sem a troika, acabou-se as reformas. Alguém vai dizer para fechar

aquele politécnico ou aquela universidade, alguém vai fazer isso? Então se não

conseguem fechar a maternidade, não é um hospital, é uma maternidade.

O que pensa da existência da A3ES?

Acho que… olhe, tenho mixed feelings sobre a A3ES. Acho que a acreditação deveria

ser facultativa não obrigatória. Mas entendo que o estado possa querer que exista

avaliação dos seus cursos, homologação, quero que vocês sejam avaliados, aquilo que

financio que seja avaliado, mas agora vocês escolhem qual a agência, em várias áreas.

Sou veterinário e quero ser avaliado pela agência internacional de veterinários europeus

porque acho que aí é que devemos ser avaliados. Porque esta coisa por áreas… sabe o que

isto dá, isto dá uma coisa um bocado caricata, quer dizer, o meu colega concorrente de

um curso que tenho aqui, mas concorrente direto, vem avaliar o meu curso. E depois vou

avaliar o curso dele. O que é que vou dizer? Depois, quer dizer… as equipas são todas

nacionais, a maior parte delas, começou agora a haver um ou outro internacional, vá lá,

já não é mau, mas gosto de sistemas em que as pessoas são avaliadas por pessoas

completamente independentes, que vêm de fora, porque isso aumentava muito a seriedade

com que a pessoa encara a avaliação. Somos muito pequeninos para fazer estas coisas

com seriedade e portanto tenho mixed feelings sobre os resultados. Acho que o estado

tem direito a exigir que os cursos sejam avaliados e homologados por alguém para

perceber se está a meter o dinheiro numa fraude ou não. Quanto aos outros privados

também, a mesma coisa, mas também não tem que ser pela A3ES pode ser por outra coisa

qualquer.

Há pouco falou-me das dificuldades de contratar pessoal, ia-lhe perguntar agora

sobre as dificuldades financeiras que se lhe apresentam face aos cortes orçamentais.

Não tenho. Preferia que o estado me dissesse assim, toma lá x e agora distribuis como

queres, mas não, eu tenho que gerir, depois tenho que respeitar, tenho que cortar 10% na

renovação do contrato, no novo contrato não sei do quê, depois não posso gastar mais em

recursos humanos do que gastei o ano passado… quer dizer, não tenho necessidades

dessas, esta escola tem procura, é um caso diferente dos outros, não tenho problemas de

dinheiro, o meu problema é não poder gastar. Porque se pudesse gastar… até preferia que

não me dessem tanto dinheiro, ter um x por ano mas dão-me liberdade para gastar, quer

dizer, eu dou uma mesada às minhas filhas mas não lhes vou dizer onde é que elas podem

gastar, elas é que fazem a gestão do dinheiro, eu digo não venham cá pedir mais até ao

fim do mês, se querem gastar mais… sei lá naquilo que vocês quiserem… ir para a

discoteca, bem há certas restrições, se querem gastar mais nos livros ou cinema, almoço,

roupa, vocês fazem o que quiserem, é um problema vosso, agora não dou mais. Porque

isto não é gerir coisa nenhuma, eles é que estão a gerir uma escola, gerem todas, como

são todas diferentes, cada uma tem a sua especificidade, como é que se fazem as regras

assim? Só sai asneira, a pessoa chega lá tem o S, o M e o A, experimenta um, fica um

bocadinho mais apertado, tem que fazer o jeito. Aqui não, aqui é igual para todos, porque

isto não é possível que se ajuste a toda a gente. Claro que nós orçamentamos, fazemos

orçamentos mas… não.

Falou das bolsas e da captação de dinheiro de outras fontes para essas bolsas, pode

dizer-me como é feito? Outras áreas que capta dinheiro sem ser do OE e das

propinas.

Temos prestação de serviços, projetos e administração de serviços, isso é

institucionalizado. Depois temos venda de merchandising também, camisolas e coisas

com o símbolo (da IES), bonés, canetas, mas isso não é assim muito… depois há o

mecenato, temos programas, temos um acordo com o financiamento da nossa ligação, que

por acaso é com (o banco), portanto, temos um acordo de longo prazo com (o banco), eles

transferem-nos dinheiro e nós vendemos o espaço da emissão dos cartões, eles oferecem

a abertura de conta aos alunos e portanto isso é uma coisa que eles dão bastante valor e

que pagam por isso. Temos o mecenato com o sponsoring das salas de aula, temos uma

série de salas que têm o nome das instituições, basicamente é isso. E tudo onde possamos

vender, às vezes há um espaçozito de aluguer de salas também para instituições, as

pessoas podem chegar aqui e alugar uma sala de aula por um dia, um auditório, isso é

comum. E finalmente, sobre o programa, temos iniciativas variadas. A última coisa que

fizemos foi um jantar solidário em que nós vendemos, pedimos, conseguimos, que um

antigo aluno nos disponibilizasse um espaço, por acaso foi no Casino Estoril, uma sala de

jantar, uma das salas de espetáculo, a mais pequena e fizemos lá um espetáculo em que

os artistas colaboraram todos gratuitamente, tivemos vários artistas consagrados,

Adelaide Ferreira, José Barata Moura, Carlos Moniz, aquele cantor lírico, o Carlos, não

me lembro, uma banda também que se ofereceu para tocar e depois antigos alunos que

também fizeram umas participações e foram declamar. Foi um espetáculo, com bilhetes

caros em que o dinheiro revertia quase todo para o programa das bolsas e depois ainda

conseguimos ofertas de cachecóis do sporting e do benfica e camisolas do benfica, do

sporting e do belenenses e depois foram leiloados, coisas absurdas, sei lá, um cachecol

por 400 euros, coisas assim, mas não nos custou nada, foram ofertas, isto para dizer que

conseguimos arranjar, por exemplo 11000 euros. 11000 euros foi a receita e dá para onze

bolsas, totalmente para o 1º ciclo ou, se for de menos, porque pode haver bolsas de menos,

não tem que ser a propina toda, se for metade da propina são 22 bolsas, mas quer dizer,

coisas assim, podemos fazer o que nos passar na cabeça para juntar dinheiro e ajudar

alunos. Portanto, aqui faz-se tudo, desde que haja boa vontade, disposição, etc. e há

antigos alunos que oferecem dinheiro também, faz-se coleta para isso, antigos alunos que

realmente oferecem dinheiro, por exemplo, 1000 euros ou assim, portanto junta-se

dinheiro e dá para as bolsas. Isto passado uns anos, isto é o capital inicial, porque é preciso

mais capital para ter para as bolsas e ao fim de uns anos, aqueles que já receberam, já

começam a trabalhar, começam a ganhar dinheiro e sentem que é altura de dar de volta,

começam a pagar de volta e começamos outra vez a ter mais dinheiro para ajudar, é um

sistema que se auto alimenta, infelizmente vai haver pessoas que precisam de bolsas para

estudar durante muito tempo, não tenho grandes dúvidas e é isso que queremos fazer aqui.

De uma forma genérica, imagine que ia recomendar a outras unidades orgânicas

formas de angariar fundos, quais seriam as suas sugestões?

É muito difícil.

É que da forma que o professor falou pareceu fácil, já tenho feito algumas

entrevistas e a questão de onde angariar fundos é sempre complicada.

Para a universidade?

Sim, para a sua instituição.

A primeira coisa é um programa que se começa a fazer com muito tempo, e é preciso

muito tempo, com antigos alunos, isso é uma coisa fundamental. E depois é trabalhá-los.

Incutir-lhes esse espírito de …

Trabalhá-los, olhe, é convidá-los para vir a um jantar onde pagam 50 euros por um jantar,

toda a gente sabe que não custa 50 euros nem nada que se pareça mas é para ajudar.

Depois, por exemplo, nós não tivemos, mas imagine que você tem dois ou três estudantes

que já estão até bem, não vale a pena logo a seguir, não, mas imagine que já estão a

trabalhar, já estão a ganhar dinheiro e… está a ver por isso é que isto demora tempo, o

indivíduo cinco anos depois até já pagou tudo e vai até ao jantar dos antigos alunos e

pede-lhe se ele não se importa de fazer um pequeno discurso, e ele diz, sou o que sou

porque tive apoio e aqueles que nunca tiveram apoio, ainda bem, aqueles que têm dinheiro

na algibeira epá dêem porque estão a investir em pessoas como eu. Mas você só pode

fazer isso se tiver começado, tiver a fazer, depois aqueles indivíduos que tenham sucesso

para virem ajudar e puxar mais gente, isto é um exemplo. Mas, muitas vezes, não só

chegar aos antigos alunos que estão a dirigir empresas e que têm dinheiro, as empresas

têm dinheiro e depois é, como é que posso pôr a instituição ao serviço da tua empresa?

Ou então, epá não achas que chegou a altura de … não é altura de pores a tua empresa

associada a um programa na escola ou coisa que o valha? Ou uma ajuda direta ao

programa de bolsas, vocês têm responsabilidade social, fazem um relatório de

responsabilidade social, não querem abrir um capítulo que é, apoiamos os alunos em

dificuldades financeiras, fica-lhes bem, é uma alínea para preencher, não custa muito. Eu

pus-me no telefone e vendi cinco ou seis mesas de jantar numa manhã, cada mesa tinha

10 lugares, eram 500 euros. Ligo para um presidente de uma empresa, antigo aluno, e

digo, tinha aqui uma coisa para te pedir, não queres comprar uma mesa em nome da tua

instituição? E convidas dez trabalhadores, diretores ou o que quiseres para irem assistir.

E estive assim… pessoas que foram assistir ao espetáculo, epá aquilo é um espetáculo

engraçado, é um jantar, estão todos à mesa, conhecem-se, ainda vêm o outro a cantar, a

desafinar, a malta ri-se e tal. Está a ver? Num instantinho… quanto é que é? 500 euros,

está bem. 500 euros para uma empresa, o que são 500 euros? Nada. Pois isto é um tipo

de ação que se pode fazer. Agora, obriga a ter um acervo de antigos alunos, saber onde

eles estão e trabalhá-los. Sei que é difícil, mas é preciso imaginação. É isso que fazem as

universidades estrangeiras, trabalham a muito longo prazo.

Há pouco esqueci-me, passou aqui uma pergunta, que vou fazer. Tem alguma

estratégia para captação de alunos ou o nome da instituição vale por si só?

Temos as nossas campanhas de captação de alunos, na comunicação, junto de alunos do

ensino secundário, através da internet, temos uma estratégia de marketing desenvolvida

e que se revê todos os anos e que no fundo obriga-nos a ir repensando e ajustando aquilo

que é a nossa expectativa dos alunos. É claro que o nome da instituição ajuda a ter alguma

notoriedade no mercado, mas o mercado é difícil para nós, ao contrário de outros sítios

que são mais fáceis, para nós é muito difícil.

Mas tem anúncios em órgãos de comunicação social?

Temos e temos campanhas de rádio, merchandising, ofertas, presença nas escolas

secundárias, muitas, trazemos os alunos das escolas secundárias (à IES)… brochuras,

presença nos eventos todos, abrimos a escola constantemente a eventos e aí apresentamo-

nos, os nossos cursos, as nossas ofertas, conforme o que vamos tendo.

E alunos estrangeiros?

Para fora, o meio de comunicação mais interessante é a internet, há sites especiais onde

divulgamos os nossos cursos, particularmente ao nível do 2º ciclo, 1º ciclo nem tanto,

agora pode ir ter alterações porque saiu legislação diferente, mas assim põe-nos em

contato com aqueles que procuram 2º ciclos e que procuram estudar no estrangeiro.

Professor, porque é que há bocado disse que Bolonha não foi bem sucedido em

termos de internacionalização?

Não é isso, estava a falar dos programas de intercâmbio. Até, digamos, é muito melhor

sucedida a mobilidade para fazer programas inteiros do 2º ciclo, porque são mais curtos,

as pessoas aguentam melhor o tempo fora de casa. Mas tem um problema que é na

mobilidade dentro do programa, isto é, você começa o programa e depois quer fazer seis

meses fora, por troca, em Erasmus e isso aí é muito mal sucedido porque não há tempo,

não há tempo para troca. Você começa aqui, vai no segundo semestre, se for no terceiro

semestre já está a fazer a tese, por isso há muito pouco espaço para a mobilidade.

Neste momento, grosso modo, a percentagem de receitas próprias (da IES) é de..

50%. É fantástico mas dá muita responsabilidade. Ter o orçamento a cobrir 98%, já foi

assim, 99%, 98% do OE, as receitas próprias quase não existiam. Isto com o tempo, as

receitas próprias é sempre a abrir…

É o que todos procuram, por causa dos cortes…

Mas não é suficiente, a pessoa pode ter receitas próprias mas não me deixam gastar,

portanto não é suficiente. Eu sei o que as pessoas tentam, é um dinheirito a mais para

fazer umas reparaçõezitas, comprar uns computadores e tal… não é no grosso… imagine,

eu tenho um surplus excedente de um milhão de euros num ano… um milhão de euros dá

para fazer muita coisa. Não posso contratar pessoal, o que eu mais precisava era contratar

pessoas, não posso. Portanto, quando fala em angariar dinheiro, conseguir projetos e não

sei quê, de milhões, depois a pergunta é, para quê? Para que quero aquilo se não me

deixam gastar dinheiro, não me deixam gastar dinheiro das receitas próprias, cativam as

receitas próprias e tudo. A cativação de receitas próprias acontece porque o estado não

quer gastar dinheiro, quer evitar a despesa e como considera que as universidades fazem

parte do perímetro de consolidação, tudo o que seja gastar, as despesas, não interessa de

onde vem o dinheiro. Para a troika, para eles, tem que se reduzir a despesa e eu não

consigo perceber se na troika não há ninguém que perceba, acho que não… por isso é que

digo, instituições como (a IES) estão completamente fora do sistema. Eu digo-lhes assim,

oiça, vocês deixam-me gastar mais que eu vou buscar resultados e reduzo o défice. Vocês

querem reduzir o défice? Não, queremos cortar na despesa. Esqueçam lá isso da despesa,

querem reduzir o défice? Vocês reduzem-me a despesa e aumentam o défice. Para mim

reduzir a despesa, é reduzir a atividade que é geradora de surplus, portanto, aumentam o

défice. Vocês querem reduzir a despesa e aumentar o défice ou aumentar a despesa e

reduzir o défice? Mas como é possível? É possível porque tenho uma atividade lucrativa

e só abro atividades que sejam lucrativas, não sou estúpido. Como sei que você diz a

verdade? Ponha aí o meu nome e depois vamos ver, no fim vamos ver e depois, já agora,

façam assim, 10% do lucro é meu. Vai ver se não tem ainda mais, ah isso não pode ser,

então para que hei-de ter lucro? É só para vos mostrar e é só uma vez. Porque é uma coisa

estúpida. Eles querem que eu tenha redução da despesa, pronto. Se eu não tiver os alunos

e reduzir a despesa, aparentemente aumento o resultado, mas quer dizer… é que depois

isso dá cabo das coisas porque se eu tiver mais alunos, tenho que gastar mais dinheiro…

em peso, os alunos vão mais à casa de banho, sujam mais e em vez de ter limpeza de

manhã e à noite, tenho que ter de manhã, à tarde e à noite, tenho que ter mais despesa

com a limpeza, não, tenho que reduzir a limpeza, porque são as regras, tenho que reduzir.

Então mas tenho mais alunos, tenho mais sucesso, tem que se limpar a casa de banho ou

acham que as pessoas vão chafurdar umas atrás das outras? Tenho mais alunos, tenho que

ter a sala acesa de manhã, à tarde e à noite, tenho que aquecer ou arrefecer a sala, gasto

mais de giz, mais de projetores, mais de professores. Reduzir a despesa, ah, essa visão…

mas é uma visão que é geral para os ministérios porque não geram receita própria. Para

eles, um hospital aberto, quanto mais sucesso um hospital tem, maior a despesa, porque

as pessoas não pagam… ora, se cada pessoa… a troika tinha uma maneira de ver o

ministério da saúde se por acaso cada pessoa que entrasse no hospital desse dez euros de

lucro, de certeza, então vão todos para o hospital, aquilo era turnos e mais turnos e

contratavam mais gente. Mas, de um modo geral, na administração pública toda, mais

atividade é mais despesa, mais dívida... cada cliente que traz novo ao hospital, para além

de, os custos fixos já os suportou, ainda tem que suportar mais os custos variáveis, se

manda fazer mais uma radiografia, tem que comprar, mais umas análises, mais reagentes

para comprar, é só mais despesa, e depois no fim, a conta dele é… chega ao fim da sessão

do hospital e são 450 euros, quanto é que paga? Vinte euros de taxa moderadora, epá esse

homem não devia ter cá aparecido. Está a ver? É uma lógica de que mais atividade é mais

despesa. Fazem fila de espera para a malta de chatear e ir embora. Por isso é que tenho

um problema ao contrário.

Voltando aos mecenas, tem alguns protocolos, contratos, alguma coisa?

Sim, claro.

Quais são os moldes dos contratos? Quais são geralmente os termos da troca?

Não pode haver termos de troca, no mecenato não pode haver. Se tiver termos de troca é

prestação de serviços, sujeito a IVA e não é considerado mecenato, não pode haver troca.

Bom, os termos de troca é usar as instalações, associar o nome, porque senão estou a

arrendar salas. Eles podem utilizar a sala quando entenderem, mas quer dizer, só porque

é a sala deles, mas não há termos de troca, não pode haver, senão é prestação de serviços

e sai fora do mecenato.

Sobre a autonomia universitária, há bocado disse-me que a autonomia, no seu

entender, não existe, pode explorar um pouco mais?

Não existe porque não tenho praticamente autonomia nenhuma, para fazer o quê? Nem

sei se tenho autonomia pedagógica e científica no momento em que agora há essa

homologação da A3ES, depois, não tenho autonomia para escolher a entidade que me

homologa ou que me acredita os cursos… não tenho autonomia para escolher os recursos

humanos e uma política de promoções interna, não tenho, porque as passagens são abertas

por concursos e confronta as pessoas internas com as externas, portanto, na administração

pública, o concurso é aberto para qualquer indivíduo. Se for para professor associado,

qualquer aluno pode concorrer desde que tenha as habilitações. Não tenho autonomia

administrativa e financeira, é muito pequena. Enfim, quer dizer, há países em que é muito

pior, por exemplo, em angola, quem define os horários, os horários têm que ir para

aprovação, para o ministério, os horários, quer dizer… começo as aulas quando quero,

faço os intervalos, epá, isso totalmente, definição de serviço docente.

O RJIES instituiu os CG. No caso do politécnico, isso não é uma novidade tão grande

porque já tinham membros externos. Qual a sua opinião sobre a entrada de

membros externos na governança da universidade?

Acho bem, acho que se calhar são poucos, devia de haver outro tipo de presenças, nos

conselhos. Por exemplo, acho que aqui era bom estar representado no conselho de escola,

as juntas de freguesia, instituições que estivessem aqui na zona, sei lá, o presidente do

parlamento, por causa da proximidade, porque há questões de proximidade, a câmara

municipal, mais institucionais também, porque há um número de pessoas que estão no

conselho de escola, no CG, mas representam-se a si, são individuais e não instituições e

deveria haver também mais a participação institucional, acho que era a única coisa que

aumentava. E mais, se houvesse institucional, mudava seguramente a questão da

governança das escolas. Porque, atenção, isto é assim, a maior parte dos votantes são

professores e, portanto, se você quer o poder ou manter-se no poder tem que agradar aos

professores da escola porque o conselho de escola tem 9 lugares em 15, portanto, se

agradar aos professores da escola, está safa. Ora, agradar aos professores da escola não

significa agradar ao mercado e portanto, se quisesse rasgar isto, era pôr assim, dos 15,

eram 9 de fora e 6 de casa, com representantes dos funcionários, dos estudantes e dos

docentes e aí via como mudava completamente. Tinha era que pôr mais instituições, tinha

que definir as instituições, nos estatutos e não sei quê.

Considera que a entrada de membros externos à universidade pode ter alguma

ingerência na autonomia? Neste momento são minoritários, isso não pode acontecer,

mas a estarem em maioria…

Mas para que é que serve a universidade? Não é para servir a sociedade? Então é para

servir o quê? Os que lá estão? Quer dizer, não vejo assim, eu sou um trabalhador para a

sociedade, trabalho para a sociedade, não dou aulas para ensinar aquilo que gosto. Claro

que o ideal é juntar o útil ao agradável mas no limite, tenho que ensinar aquilo que a

sociedade quer, não é aquilo que gosto. Porque senão dá-me na bolha, olha, agora gosto

de literatura, agora vou falar de literatura, não é assim. A sociedade contrata-me para eu

responder àquilo que é a exigência de formação de um determinado domínio científico e

é isso que tenho que fazer, não gostava de dar aulas de não sei o quê, epá, mas tenho que

dar aulas, sempre foi assim, não gostava de dar contabilidade e dava contabilidade. Se for

obrigado, senão houver nada na minha área, vou dar outra vez aquilo que sei dar. Gosto

mais de dar o que dou, óbvio, é muito mais giro, felizmente, ótimo, mas senão houver

vou para outros sítios, que remédio. Porque o problema é esse, é as pessoas depois

subjugarem o interesse e a resposta das instituições porque o dinheiro vem do orçamento.

Quando eles começam a ter que viver do mercado, atenção porque depois começam a

olhar de modo diferente para o mercado e ter que, até no conselho, haver quem possa

dizer, porque é que o mercado está a falhar, porque é que vocês estão a falhar. Ou, se eu

tiver aqui a SONAE, vocês não querem fazer um programa com a escola? Todos os anos

mandam 1000 quadros, vocês têm vinte e tal mil pessoas, mandam 500 por ano para fazer

formação aqui, temos aí uns programas e tal, pronto, não 500, 100, aqui o não sei quem

também está no board do BCP, manda pessoas para formação… e eu começo a equilibrar

as coisas, porque eles depois vêm como é gerida a escola e tal. Caso contrário, é assim…

eles acham sempre que gastamos mal o dinheiro, venham aqui, falem connosco e vejam

como gastamos o dinheiro e porque é que se gasta o dinheiro, perscrutem… sempre ficam

mais à vontade até para pagar a conta, pago a conta, até afeto uma parte do meu IRC à

vossa instituição porque acho que vocês valem a pena, estou convencido.

Considera que a missão da universidade está bem definida?

Acho que sim, acho que de um modo geral está bem definida, mas isso são definições

muito bonitas que a prática, na sua conversão da prática do dia-a-dia é que se vê isso, se

está bem ou mal definida. Parece que está bem definida porque as pessoas estão a fazer

aquilo que lhes compete, com todas as restrições, apesar de tudo, ainda se tem estado a

fazer, mas a perder um bocado de gás e nessas coisas depois o efeito vê-se um bocadinho

a posteriori, apesar de tudo, estamos a subir nos rankings internacionais, mas isto depois

tem um efeito dilatado.

Muito obrigada professor, pela colaboração e disponibilidade.

Entrevista F11

Começamos por falar um pouco de si, a sua formação académica.

A minha formação académica é uma licenciatura em matemática e doutoramento em

educação e uma agregação também em educação.

E o percurso profissional até chegar aqui?

O meu percurso profissional é assim, durante seis anos fui professor no ensino secundário,

depois fui assistente estagiário e assistente convidado na (faculdade nacional), depois

professor auxiliar, professor associado, professor catedrático na (faculdade nacional) e

agora professor catedrático aqui (na IES).

Exerce funções de docente ainda?

Sim.

No âmbito de mestrado ou doutoramento?

No mestrado e doutoramento, sim.

Considera que de alguma forma o seu percurso profissional e académico facilitaram

o desempenho das suas funções atuais?

Sim, o meu percurso académico não tanto mas o profissional… fui exercendo cargos de

coordenação a nível de curso e a nível de grupo e portanto fui ganhando experiência no

âmbito da gestão académica ao longo da minha carreira que me foi preparando digamos,

para exercer agora funções de direção (da IES).

Como considera que tem sido a evolução do ensino superior português nas últimas

décadas? No aspeto do alargamento de rede, no financiamento, número de alunos…

A rede de ensino superior em Portugal desenvolveu-se muito, quer a nível de

universidades, quer a nível de politécnicos, o que me parece ter sido uma medida que

favoreceu muito o desenvolvimento regional e possibilitou o desenvolvimento

equilibrado a nível do país. Ultimamente verifica-se uma política de redução, de cortes

no financiamento às IES públicas, que causa grandes dificuldades às instituições, em

particular às que estão mais fragilizadas porque se situam nas zonas mais

economicamente desfavorecidas e demograficamente mais deprimidas, portanto, penso

que são essas que estão com mais dificuldades em enfrentar a actual situação. Penso que

esta situação poderia ser ultrapassada no caso de haver uma política de incentivo aos

jovens de aceder ao ensino superior porque a percentagem de alunos em Portugal que

acede ao ensino superior poderia ser maior e se isso acontecesse, as IES não teriam os

problemas que têm e principalmente isso seria bom para o desenvolvimento do país

porque teríamos mais jovens a serem formados nos mais diversos domínios e certamente

com grande benefício se isso acontecesse para o desenvolvimento do país.

Sobre o processo de Bolonha, como considera que correu a implementação, em

termos de internacionalização, da mobilidade dos alunos, da redução do número de

anos, considera que correu bem? Foi uma ideia bem pensada, bem aplicada? Em

termos do novo modelo de aprendizagem, considera que as pessoas se apropriaram

bem do mesmo?

Apropriaram-se parcialmente, acho que o processo de Bolonha não foi levado às suas

consequências nem foi concretizado da maneira como era suposto nos documentos de

orientação. De qualquer maneira penso que há um balanço positivo em termos de

harmonizar o sistema de ensino superior português com o sistema de ensino superior de

outros países europeus, penso que houve aí um saldo positivo.

Considera ter sido uma boa ideia?

Acho que sim. Pela harmonização que trouxe no ensino superior e nós em Portugal

estávamos bastante desfasados com o nosso sistema de graus académicos e aí penso que

foi uma medida positiva. Em relação à internacionalização, desenvolveu-se alguma

internacionalização, não podemos ter expectativa de que seja muito maior porque, por um

lado, temos a barreira da língua que afasta jovens de outros países de virem para Portugal,

na europa o português não é falado a não ser em Portugal, portanto, não podemos ter

expectativa de ter jovens em muito maior quantidade de países que falam outras línguas

a vir para Portugal e da parte dos nossos jovens irem para outros países, a grande barreira

é ao nível económico. As bolsas que são dadas no âmbito do programa Erasmus são muito

reduzidas e portanto os nossos jovens não têm condições económicas para irem em grande

número fazer programas Erasmus noutros países, portanto, o que existe é o que me parece

que é razoável e acho que é positivo. Temos (na IES) uma percentagem razoável de

estudantes Erasmus, não estamos mal. Mobilidade, temos em 2013/2014, 37 alunos

internacionais que estiveram (na IES) e no ano anterior 47, acho que está dentro das

nossas expectativas ter este número de alunos internacionais. Também se tivéssemos

muitos alunos internacionais em Erasmus aqui (na IES), isso para nós seria um problema

porque estes alunos não pagam propinas e portanto estávamos a ter alunos que não

estavam a ser financiados a serem suportados por um sistema de financiamento muito

precário e portanto para nós basta ter um número razoável de alunos Erasmus, mas ter um

número muito elevado de alunos Erasmus não queremos porque não são financiados. (a

IES) não é financiado para ter esses alunos.

Sobre o ensino privado. Como vê o ensino privado em Portugal? Deveria ter uma

função complementar em termos de regiões e de áreas académicas. Como o vê

atualmente e o seu desenvolvimento?

O ensino privado em Portugal tem instituições privilegiadas e cursos prestigiados e tem

outras que não são assim tão reconhecidas. Penso que faz o seu papel, atender a públicos

que têm características diferentes das do ensino superior público, portanto penso que o

ensino privado está no seu lugar, aquilo que faz, está bem e que continue a fazer,

essencialmente por certo tipo de cursos, onde considera que tem mais facilidade de

atuação. Vejo a existência do ensino privado de uma maneira perfeitamente tranquila,

acho que faz um papel positivo para o desenvolvimento da sociedade, portanto, não me

parece necessário alterar nada na política do país relativamente ao ensino superior

privado.

Que futuro lhe parece que o ensino superior português poderá ter em função destes

cortes e do que anda a acontecer?

O futuro do ensino superior português é continuar a fazer o que tem feito e acho que estes

cortes que têm existido digamos que, fundamentalmente, põem em causa um bocadinho

a qualidade do ensino mas fundamentalmente afetam a possibilidade de as instituições

poderem desenvolver um trabalho de investigação e a prestação de serviços à

comunidade. Do meu ponto de vista, essas são as áreas de atuação que ficam mais

prejudicadas pelos cortes e portanto espero que essa política de cortes no ensino superior

seja revertida a curto prazo e que o ensino superior possa ter o financiamento que deve

ter para poder fazer essas suas atividades não só de ensino, como de investigação e de

serviços à comunidade.

Sobre o financiamento propriamente dito. Há autores que consideram que o

pagamento de propinas responsabiliza o aluno perante o seu percurso académico,

outros consideram que a existência de propinas põe em causa a democraticidade e a

equidade do ES. Entre estes dois extremos, onde se situa?

Penso que concordo mais com a primeira posição. Acho que o pagamento das propinas

coresponsabiliza o aluno e penso que a sociedade deveria ter um sistema de bolsas que

pudesse atender aos alunos com dificuldades em pagar as propinas e dar capacidade

económica de frequentar os cursos e aí parece-me que a sociedade está a falhar porque o

sistema de bolsas não cumpre de facto esse papel. As bolsas são em quantidade reduzida

e não atendem a todas as situações que deviam atender, portanto penso que deve haver,

tal como existe um pagamento de propinas, um financiamento através do OE, tal como

existe atualmente, penso é que as bolsas deveriam ser valorizadas e reforçadas.

Cá na faculdade, tem tido muitos alunos com dificuldades que pedem planos de

pagamento?

Não são muitos.

Há algumas instituições que, por exemplo, trocam trabalho pelo pagamento das

propinas, seja a nível da secretaria, da sala de computadores… acontece alguma

dessas modalidades aqui?

Sim, temos alguns alunos que colaboram em atividades do instituto e têm redução nas

propinas por causa disso.

Tem alguns casos de abandono ou um número de abandono significativo por causa

de carências económicas?

Quando os alunos abandonam, não são obrigados a dizer a razão, portanto não posso dizer

se quando um aluno abandona, digamos, os alunos não são obrigados a justificar. Alguns

alunos abandonam, suspeito que em muitos casos será por razões de natureza económica,

embora os abandonos não sejam muito elevados mas existem alguns abandonos todos os

anos e há com certeza um número significativo que terá a ver com razões desse tipo.

Considera o atual valor da propina justo? Considera que deveria ser mais, menos?

O valor da propina poderia ser mais reduzido…

Mil e poucos euros atuais…

A propina atualmente está a cerca de mil euros, na licenciatura e no mestrado, 1200 euros.

Penso que o valor da propina poderia ser mais reduzido, talvez cerca de dois terços desse

valor, cerca de 650 euros.

Em relação às diferenças de valor entre mestrados e doutoramentos considera justo?

Por exemplo, as propinas da licenciatura e do mestrado estão bastante próximas

mas em relação aos doutoramentos é bem mais elevada, há quem não considere

justo, há quem considere justo por ser uma formação altamente especializada.. onde

se situa aqui?

Acho que o valor das propinas de doutoramento está bem, atendendo à grande

especialização do curso de doutoramento, que é muito diferente do curso de mestrado e

portanto parece-me bem que a propina seja assim, no primeiro ano, a propina é 2750

euros, no segundo ano, 1700 euros, já não é tão diferente da do mestrado. Ainda por cima,

os alunos podem fazer o curso em tempo parcial e se assim for não pagam 1700, pagam

menos. Agora, o primeiro ano, que é um ano de natureza curricular, temos uma formação

muito especializada, acho muito bem que seja diferenciado do mestrado.

No seu entender, qual deve ser o papel do estado perante o ensino superior público.

O estado é naturalmente regulador, financiador, avaliação delegou na A3es. Neste

momento, qual o papel que julga ser dever do estado e se está ou não a desempenhar

bem esse papel?

Acho que o estado deve ter esses três papéis, de regulador, financiador… o avaliador é

feito… bem, é necessária uma avaliação feita por uma entidade independente mas ainda

na órbita do estado. Acho que esses três papéis são três papéis necessários a serem

realizados. Os papéis que estão a ser realizados de forma menos satisfatória são o de

financiador, o financiamento não está a ser feito como deve ser, a regulação também não

está a ser feita como deve ser e há críticas das universidades relativamente ao RJIES e em

particular a UL tem sido muito crítica. O regime jurídico não está bem concebido porque

coloca muitas restrições ao funcionamento das instituições de ensino superior, portanto

este papel regulador também não está a ser muito bem feito… a autonomia financeira

praticamente não existe e devido às regulamentações que existem relativamente à

execução financeira e o papel de avaliador, através da agência, penso que também…

enfim… ainda estamos um bocado no princípio de ver como é que se vai concretizar mas

tenho a noção de que alguns cursos que têm sido acreditados em diversas instituições, são

cursos que se calhar não tinham condições para funcionar, portanto, não sei se a agência

está a cumprir muito bem esse papel de avaliação, tenho algumas reservas.

Sente de alguma forma o peso dessa parte reguladora no desempenho das suas

funções, na forma como tenta gerir…

A regulação é uma regulação exagerada, é uma regulação que no campo financeiro coloca

regras extremamente complicadas de funcionamento para se fazerem as mais diversas

atividades, atividades ligadas à investigação, em particular, e ligadas até ao

funcionamento de júris de doutoramento e etc., portanto há uma híper regulação através

de regras absurdas que é extremamente nocivo ao funcionamento (da IES) e das IES em

geral.

Voltando aos alunos, uma vez que o número de alunos tem vindo a diminuir, não só

pela economia mas também pela demografia, o instituto tem alguma estratégia de

captação de alunos ou vale por si só, pelo nome, pelo prestígio?

(a IES) está sempre… tem estado empenhado em desenvolver todos os anos novas

iniciativas no campo da captação de alunos, seja em Portugal, seja noutros países. Noutros

países, procuramos principalmente alunos de doutoramento, mas temos estado

empenhados, ao longo dos anos, permanentemente, a procurar novas vias de captação de

alunos.

De que formas?

Procurando identificar, quer em Portugal, quer noutros países onde é que possam estar

potenciais interessados em frequentar os nossos cursos, procurando divulgar junto deles

a nossa oferta formativa.

Como faz a divulgação?

A divulgação é feita através de material impresso, através de meios eletrónicos e através

de contactos presenciais com potenciais pessoas interessadas em frequentar os nossos

cursos.

Vão às escolas secundárias também?

Vamos, sim.

Também têm o dia aberto aqui?

Não temos, chegámos à conclusão que não era uma iniciativa que tivesse acolhimento

junto do público-alvo, tentámos fazer durante dois anos e fizemos um balanço que de

facto não cumpria os seus objetivos. Portanto, vamos às escolas divulgar junto dos alunos

a existência da nossa licenciatura, isso diz respeito essencialmente à licenciatura.

Também fizemos aqui, no ano passado, no mês de Julho, com dois grupos de alunos, a

semana da universidade e estiveram aqui e participaram em atividades do instituto, alunos

de escolas do 3º ciclo, do ensino básico e secundário.

E que países ou que continentes?

Os países em que conseguimos maior número de alunos são o Brasil e os países africanos,

em especial Angola e Cabo Verde.

Uma vez que o estado tem vindo a diminuir a parcela de financiamento, falou-me há

pouco dos cortes na investigação e se calhar prejudica um bocado… neste momento,

quais as dificuldades financeiras com que se depara, se se depara com algumas?

Quer dizer, neste momento, vamos terminar o ano de 2014 cumprindo com todas as

nossas obrigações de pagamento. Em relação a 2015, vamos aguardar que seja publicado

o OE, não posso dizer ainda com certeza qual vai ser a situação em 2015. Mas em relação

a 2014 vamos conseguir, não vamos ficar com dívidas nem vamos paralisar a nossa

atividade nos dois meses que faltam até ao fim do ano.

Pondo a questão de uma outra forma, perante um orçamento mais reduzido, houve

a necessidade de cortar em algumas áreas. Quais foram as áreas?

Nós por enquanto não cortámos, não fizemos nenhum corte. Internamente, (na IES)

durante o ano de 2014, fizemos toda a atividade que tínhamos planeado fazer sem ter

introduzido cortes.

Estão ao abrigo da lei de contenção orçamental e da impossibilidade de contratar

novos docentes?

Fizemos algumas contratações, dentro do que nos é permitido pela massa salarial, fizemos

algumas novas contratações este ano. Tivemos pessoas que se aposentaram durante o ano

e portanto as pessoas que se aposentaram tinham ordenados superiores e portanto com

isso foi possível contratar mais pessoas do que as que se aposentaram. Portanto, em

termos de ETI, o número de ETI das contratações é superior ao número de ETI das

aposentações porque são valores diferentes, custos inferiores nas contratações.

Então não sente assim um peso grande devido ao corte do OE na sua gestão?

No ano de 2014, não, conseguimos executar o programa que estava previsto de atividades

no instituto.

Alguma referência aos anos anteriores? Mais difíceis, 2009, 2011, que se tenha

deparado assim com a necessidade de fazer um corte radical em algumas despesas?

Corte radical em despesas nunca tivemos. O ano em que tivemos o orçamento mais baixo

foi 2012, quer dizer, foi 2010 em primeiro lugar, em 2010 foi quando tivemos um

orçamento mais baixo mas porque tivemos as receitas próprias também mais baixas.

Depois a seguir, o nosso orçamento, do OE, foi mais baixo em 2012 de uma maneira

muito significativa, foi um corte muito grande, relativamente a 2011 mas as receitas

próprias aumentaram em relação aos anos anteriores e portanto, apesar de tudo, ainda

tivemos uma situação equilibrada em 2012 e também em 2013.

A propósito de receitas próprias, de onde vêm as vossas? Tirando as propinas dos

alunos, outras receitas próprias…

Sim, as propinas são a maior parcela que contribuem para as receitas próprias, cerca de

metade, um pouco mais, em segundo lugar é a investigação, nomeadamente a FCT, os

projetos e o financiamento (à IES), a FCT tem financiado (a IES) através do chamado

Programa Estratégico. Depois há outros projetos, outros projetos com outras entidades,

nacionais e estrangeiras.

Pode dar-me alguns exemplos?

Projetos europeus, temos receitas, 32000 euros em 2010, 56000 em 2011, 128000 euros

em 2012, 87000 euros em 2013. Projetos portugueses, temos cerca de 276000 em 2010,

317000 em 2011, 216000 em 2012, 215000 em 2013. Estes projetos nacionais são

projetos com o Ministério da Educação, com outros ministérios, com outras entidades que

nos pedem para fazer algum trabalho especializado ou alguma avaliação, portanto, tudo

isto faz… tem gerado receitas entre os 200 e os 320000 euros todos os anos.

Isso será quanto de percentagem em termos de orçamento total da instituição?

O orçamento total (da IES) está na casa dos 4 milhões de euros, foi 5 milhões em 2011,

foi o ano em que foi superior. O que me está a perguntar é qual a percentagem dos projetos

contrato portugueses? A FCT financia projetos e a unidade de investigação, são duas

parcelas por parte da FCT. Um valor aproximado será cerca de 10% dos projetos…

E o financiamento à unidade…

Estou a incluir, o financiamento à unidade tem sido cerca de 220000 euros, portanto é

5%, dos projetos 10%, mais ou menos…

E aluguer de espaços?

É irrelevante.

E as rendas por exemplo da livraria, bar?

Essas coisas são absolutamente irrelevantes. Aliás, a livraria, quem tinha a receita do

arrendamento é a associação de estudantes e nós damos um subsídio à associação de

estudantes, portanto, não temos lucros da livraria e mesmo outras entidades como a das

fotocópias, são valores perfeitamente residuais, é uma milésima, menos de uma milésima

aqui no orçamento.

Trabalhos com a comunidade, câmaras municipais..?

Isso está incluído nos projetos, os trabalhos com a comunidade, projetos, contratos,

protocolos, entram nos tais 10% que incluem os projetos de investigação e os projetos de

prestação de serviços à comunidade.

Mais alguma fonte que valha a pena salientar?

Não. As fontes são estas, a FCT, financiamento à unidade e aos projetos, projetos

europeus, da União europeia, propinas e outros projetos. Quem diz propinas, quer dizer,

há algumas taxas que os alunos pagam quando pedem declarações e isso, tudo isso estou

a incluir.

Agora pedia-lhe um pouco um exercício de imaginação, perante uma instituição que

se apresentasse com algumas dificuldades financeiras, qual seria a sua sugestão no

sentido de a mesma captar financiamento? Onde é que uma IES poderá procurar

financiamento?

Isso depende da instituição, quer dizer, (a IES) pode tentar uma coisa, uma faculdade de

veterinária pode fazer outra, a de direito outra, não estou a ver uma estratégia idêntica

para todas as instituições, independentemente da área onde trabalham. Será específico da

área de competência e de intervenção social da instituição. Uma instituição virada para a

educação pode tentar algumas coisas, uma instituição virada para a saúde pode fazer

outras muito diferentes. Nós, evidentemente, no campo da educação, sofremos neste

momento com a grande crise que se vive na educação em geral, que existe um

desinvestimento brutal na educação, o corte que se anuncia para o próximo ano de 700

milhões no campo da educação, portanto, se as escolas e os professores tivessem recursos,

nós, como (IES), podíamos fazer certo tipo de propostas às escolas e aos professores que

poderiam utilizar esses recursos. Com cortes de 700 milhões e uma política muito

negativa em relação à educação, não vamos ter essa possibilidade. Agora, os nossos

colegas da faculdade de direito ou veterinária, se calhar têm outras alternativas

completamente diferentes nas respetivas áreas.

Existem mecenas/patrocinadores aqui na instituição?

Não, se tiver alguma sugestão de algum mecenas que esteja por aí à nossa espera…

Por exemplo, a Fundação (nome) dá algumas bolsas para alunos do 3º ano da

licenciatura… já agora, o IE dá bolsas?

Não, (a IES) não dá bolsas, (a IES) gostava de ter bolsas, (a IES) não tem folga orçamental

para dar bolsas a alunos.

Então não há ninguém que dê…

Quer dizer, haverá, estava a dizer que a (fundação) dá bolsas, o Ministério da Educação

dá bolsas, há algumas instituições que dão bolsas, agora (a IES) vive nos limites da sua

capacidade financeira, não tem capacidade para dar bolsas, a não ser aquelas que referi

há bocado em troca da prestação de algum serviço por parte de alunos, aí há um número

limitado de bolsas que é dada (pela IES).

Não tem qualquer tipo de contrato ou protocolo com algum patrocinador?

Mecenas não temos, embora haja algumas… digamos, temos protocolos com muitas

instituições, nomeadamente para a realização de estágios por parte dos alunos (da IES) e

há algumas entidades que têm dado equipamentos (à IES), nomeadamente nas TIC, temos

tido alguns, se quiser, patrocinadores, temos quadros interativos que foram oferecidos,

equipamento de TIC que nos foi oferecido por algumas empresas, portanto, sobretudo na

área das TIC isso tem acontecido.

Sim, a ideia era também para além do monetário…

Pois, então no campo de oferta de equipamentos temos tido, nomeadamente no campo

das TIC, quadros interativos, computadores, tablets, material desse tipo.

Das mesmas empresas que dão estágios aos alunos?

Não, estágios aos alunos são imensas empresas. São outras empresas, escolas, entidades

públicas, temos dezenas de protocolos com entidades diversas.

Porque é que as empresas resolvem dar?

Acho que têm interesse em divulgar os seus produtos e têm interesse que os alunos (da

IES) utilizem os seus produtos das suas marcas, para se irem familiarizando e

eventualmente depois como profissionais continuarem a tirar partido desses

equipamentos.

E quais os moldes dos contratos? Exigem alguma contrapartida?

Normalmente as contrapartidas que pedem é darmos conhecimento da maneira como os

equipamentos são utilizados e o balanço da sua qualidade depois de um período de

utilização.

Tem alguma solicitação dessas empresas, por exemplo, a nível de publicidade ou

alguém que patrocine um evento?

Não. Os contratos não preveem publicidade às empresas, temos um subsídio (do banco)

que é um subsídio significativo e que permite (ao banco) algumas contrapartidas,

nomeadamente fazer o cartão do estudante (da IES) e divulgando os seus produtos e aí

divulgamos esse patrocínio (do banco). Aliás, quando há bocado perguntava se não

tínhamos nenhum patrocínio de nenhuma entidade, de facto acabamos por ter um

patrocínio (do banco), embora seja um patrocínio feito no âmbito da (universidade), não

é específico só (da IES), mas ainda é um valor significativo, cerca de 50 mil euros por

ano.

Mais alguma coisa desse género?

Não. Recebemos todos os anos o patrocínio anual.

A nossa cultura tem alguma ausência de mecenato. A que acha que se deve esta

questão cultural?

Somos um país pobre, Portugal é um país pobre no contexto europeu desde há muitos

anos, desde o século XX a nossa economia ficou para trás em comparação com as

economias europeias e portanto o mecenato é um luxo dos ricos…

Mas nós temos ricos…

Pois, mas se calhar são poucos e ainda não descobriram as maravilhas e os prazeres do

mecenato, esperemos que alguém consiga educar esses ricos e que esses ricos possam

ficar mais disponíveis para colaborar com atividades de natureza cultural.

Relativamente à autonomia universitária, há pouco referiu que a autonomia

financeira estava extremamente limitada. Está estabelecido no RJIES a autonomia

financeira, patrimonial… como vê a autonomia universitária?

A autonomia universitária é muito limitada no capítulo principal, que é o capítulo da

execução financeira porque, quer dizer, para podermos fazer coisas temos que fazer

despesas e não podemos fazer despesas a não ser de acordo com regras que são regras

extremamente complicadas que nos são impostas pela legislação do país. Portanto,

vivemos num regime de autonomia muito condicionada e é por causa disso que as

universidades reclamam alterações no RJIES.

O RJIES configurou uma nova forma de governança, que utiliza membros externos

cooptados no CG. A novidade é maior para as universidades do que para os

politécnicos que já tinham algum entrosamento com o tecido empresarial da região.

No seu entender, é bem vinda esta visão de fora? Embora ainda minoritária quando

se trata de votação, mas acha positiva esta visão externa ou acha que pode ter

alguma ingerência na autonomia universitária?

Acho muito bem que o CG da universidade tenha membros externos porque permitem

um olhar exterior sobre a vida universitária e darem contributos e questionarem alguns

aspetos do funcionamento da própria universidade parece-me bem que na composição

dos CG existam pessoas que não têm ligação direta à universidade.

Já foi a alguma reunião do CG?

Não, não pertenço ao CG, não são reuniões abertas… quer dizer, fui a uma reunião do

CG que foi a audição do reitor porque essa foi uma reunião aberta, quando o reitor

apresentou a sua candidatura, mas era uma reunião especial, só assisti a essa reunião e

portanto não faço ideia do que se passa no CG.

O que lhe parece a fusão das Universidades clássica e técnica?

Pareceu-me uma boa ideia porque permite criar sinergia, temos 7 faculdades dum lado,

11 do outro e portanto pode haver uma maior interação, benefícios de novas colaborações,

sinergias entre as 18 escolas acho que é positivo. Também acho positivo poder-se fazer

algumas economias de escala, uma vez que deixa de haver duas reitorias, passa a haver

só uma, portanto não há duplicação de toda uma série de serviços, acho que há diversas

vantagens. Há alguma desvantagem, digamos o facto de haver uma cultura que estava

estabilizada em cada uma das instituições e que fica perturbada e que tem que se redefinir

em função da fusão e essas situações trazem sempre dificuldades e portanto, é uma

desvantagem.

Mas sentiu essa dificuldade?

Senti, em termos de novas formas de funcionamento, novas formas de encarar vários

aspectos, por exemplo, na avaliação dos docentes, tínhamos um regulamento da

(universidade), agora temos outro que tem uma orientação bastante diferente, que nos vai

obrigar aqui internamente (na IES) a uma grande alteração na nossa forma de funcionar,

estávamos a funcionar bem com a anterior, portanto nada disto são coisas que são muito

fáceis mas acho que globalmente o saldo da fusão é positivo porque aquilo que se ganhou

supera os problemas e as dificuldades.

Uma última pergunta, em face do decréscimo do orçamento das instituições de ES

público e estas terem que procurar mais a nível do mercado e das empresas,

considera que, neste contexto, a missão da universidade se encontra bem definida?

Se considerarmos que a missão da universidade é a produção e difusão de

conhecimento primordialmente, considera que a missão da universidade se encontra

bem definida?

Produção de conhecimento e transmissão desse conhecimento, quer diretamente através

das atividades de ensino, quer através da prestação de serviços, acho que a missão da

universidade está bem definida. O que se calhar não está muito bem definido é o modo

como a universidade pode fazer isso.

Como acha que se poderia definir?

O problema é saber se a universidade deve ter um financiamento significativo da parte do

estado para poder desenvolver a sua missão ou se deve funcionar numa lógica

empresarial, procurando receitas e funcionando ao fim e ao cabo como empresas.

Portanto, a maneira como a universidade pode executar a sua missão hoje é uma questão

muito controversa. Relativamente à missão da universidade de produzir e divulgar

conhecimento, penso que não há grande polémica.

Posiciona-se mais a nível de uma maior proximidade ao estado?

Sim, acho que o estado deve financiar a universidade porque há muitas áreas de produção

de conhecimento que não são viáveis de existir a não ser com o OE, nomeadamente no

campo das humanidades e mesmo nas artes e eventualmente até na própria educação, há

certas áreas que… mas acho que o caso mais flagrante são as humanidades. Quem vai

pagar o ensino do grego e do latim? Qual a empresa que vai investir nisso? Quais as fontes

de receitas próprias que vão permitir fazer investigação nessa área? Completamente

impensável, portanto, ou o estado de facto assume que isso é importante para a sociedade

e financia ou essas áreas estão condenadas à extinção, portanto, sou a favor de um

contributo muito significativo por parte do estado no financiamento das IES.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Não. Está muito bem.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Entrevista F12

Pedia-lhe que começássemos pela sua formação académica…

Sou engenheira eletrotécnica, aqui desta casa, formei-me em 1978, comecei a dar aulas

em 1977 como monitora de álgebra, departamento de matemática, depois comecei como

assistente do atual departamento de engenharia eletrotécnica e computadores, fiz o

mestrado, o doutoramento, a agregação, fiz o doutoramento numa área de processamento

de sinal e fiz uma grande parte do doutoramento nos (estrangeiro), uma coisa

relativamente teórica, com o professor (nome), que é hoje um dos diretores nacionais do

programa SEMI Portugal, na CMU e no (IES estrangeira) enamorei-me de robôs móveis,

que era uma coisa que no país, estávamos em 1988, não se falava e quase não havia

robótica e portanto apaixonei-me pela robótica móvel e em 1989, talvez, comecei a

desenvolver a área da robótica móvel aqui (na IES), depois fiz um grande projeto com a

EFACEC industrial de desenvolvimento do primeiro sistema de veículos guiados

automaticamente no país, naquele tempo em que fazer investigação com a indústria era

prostituição científica, estamos em 1990/1991… ó (nome) isso não dá papers?... mas foi

um caso de sucesso na relação universidade indústria, esses veículos que andam sozinhos

na fábrica e que pesam em pesos de 600 kg ainda hoje lá estão, a funcionar, a EFACEC

fez disso uma linha de negócio e tenho muito orgulho nisso. Depois, trouxe a robótica

móvel para Portugal, já estou numa fase da minha vida em que já não tenho vergonha de

dizer isto, quer dizer, também é orgulho besta a gente não dizer aquilo que fez e eu tenho

orgulho em dizer o que fiz e hoje em dia a robótica móvel que trouxe para Portugal, está

em todas as universidades, está em muitas escolas secundárias, fazem-se festivais

nacionais de robótica, vai-se na 13ª edição e, portanto, é uma disciplina corrente. Fiz

depois projetos giros e sobretudo um, que ainda está ativo, que é desenvolver os robôs

para o transporte de materiais no novo reator de fusão nuclear que está a ser construído

em França. É um projeto a nível mundial, EUA, Europa, Japão, Índia, China, Coreia do

Sul e pretende-se explorar, fazer um reator não de fissão, mas de fusão experimental para

ver se é possível com isso ter uma maneira sustentável de fazer energia com uma fonte

inesgotável que é a água. É uma energia que é produzida com a energia do sol, é menos

perigoso do que a fissão, mesmo assim ainda tem muita contaminação dentro e, portanto,

uma das componentes é manter… como é que se está a energia, é feito um plasma, parece

um donut, 40 metros de diâmetro, que está confinado assim numa coisa circular. As

paredes deste reator ficam contaminadas, portanto, é preciso de vez em quando

inspecioná-las, mudar peças, tem como que umas telhas como tem um space shuttle que

protege, tem que se ir buscar estas peças e depois transportá-las. Estamos a falar de coisas

pequeninas, coisas de 10 toneladas, talvez e, portanto, é preciso transportar e robôs que

transportem de um lado para o outro e estou a trabalhar nisso. Tenho orgulho também em

dizer, que em 1997, uma equipa portuguesa que liderei, com colegas aqui (da IES),

propusemos um desenho conceptual para este transporte e vencemos este desenho

conceptual aos japoneses, outro grande parceiro. Os japoneses queriam fazer o transporte

tipo comboio, carrinho e nós dissemos não, robôs móveis, que andam, que se mudam de

sítio, ganhámos. Temos tido altos e baixos, o próprio projeto é muito caro e, portanto, a

nível mundial teve um downgrade e por isso tenho estado a trabalhar nos últimos anos,

exceto naquele período que estive aqui e não tive tempo de fazer mais nada, estivemos a

desenvolver trajetórias, etc. Sou professora catedrática desde 2005 e alem da minha

atividade de ensino e investigação, investigação robótica móvel e por uma onda de sorte

ou azar, não sei, tenho estado envolvida na gestão desta casa. Estive há muitos anos num

outro conselho diretivo, em 1990/1991 e depois em 2000 e já não sei, já fui presidente da

assembleia de representantes, presidente do conselho científico, coordenadora de secção,

diretora do laboratório associado. Depois houve uma altura em que me convidaram para

vir para aqui, o atual reitor, convidou-me para vir para aqui, para o conselho de gestão e

eu tive tanta pena, eu e o anterior presidente (da IES), tive tanta pena de dizer que não

que disse assim, ó António, não, mas se tu quiseres posso dar uma ajudinha na gestão de

projetos, pronto, e foi o meu mal. Em 2001, talvez, liderei e implementei toda a

especificação do módulo de gestão de projetos de software que temos ainda e é com isso

que gerimos os projetos. Isto porquê? Porque como investigadora que esteve envolvida

em projetos europeus, passei as passas do algarve de saber todos os cost statements e

marginal costs e agora sou subcontratada, contratada e pronto, na minha experiência

enquanto investigadora. E depois daí fui para diretora de um laboratório associado aqui

no instituto de sistemas e robótica, depois por motivos que não vêm ao caso, demiti-me

desse cargo em julho de 2007 e em 2008, o presidente daqui disse-me, olha agora que não

és diretora, não estás a fazer nada de gestão, deves chatear-te imenso, eu não estava nada

chateada, estive quatro anos na FCT, negociei todos os fundos comunitários para a

ciência, toda a metodologia de implementação, formulários de avaliação de projetos, de

submissão de candidaturas, tudo aquilo que esta equipa agora está a desaproveitar, não

me canso de dizer mal, mas a gestão atual está a desaproveitar tudo aquilo que foi feito e

quando o presidente anterior da FCT saiu de lá em 2011, voltei para aqui e aqui sou

professora, e acharam que, o anterior presidente ia ser reitor da universidade técnica, o

vice diretor, que se sentava nesta cadeira ia ser presidente e o lugar ficava vago

exatamente nessa altura e acharam que eu me ia chatear supinamente de voltar para (a

IES) e dar só aulas e fazer investigação, portanto, fizeram-me o favor de me convidar

para este lugar e eu cai na asneira de dizer que sim. Tomei posse a 23 de janeiro de 2012

e vou embora agora em novembro, quando houver novas eleições para presidente, é

natural que um dos professores se candidate, mas para mim, mais quatro anos disto é…

uma pessoa com a idade que já tenho… este é o meu percurso.

Além das funções legisladas, é docente também?

Sou professora catedrática de engenharia eletrotécnica de computadores, mas há seis anos

que não dou aulas, portanto, vou voltar a dar aulas. Consegui fazer investigação enquanto

estava na FCT… aqui, impossível. Não tenho mais tempo e as minhas 40 horas por

semana acabam normalmente quarta-feira, portanto, se quisesse cumprir as 40 horas,

quarta-feira, agora 40 horas, quer dizer, são mais cinco, tipo quarta-feira a meio da tarde

estava feito.

Considera que o seu percurso académico e profissional facilitou o desempenho das

funções enquanto presidente?

Claramente, porque tinha conhecimento, primeiro, de dar aulas, depois as minhas funções

anteriores, fui diretora adjunta para a gestão de projetos, portanto conheço a ferramenta

que hoje em dia ainda se usa aqui para gerir projetos fui eu que a especifiquei, que a

discuti durante um ano e meio, portanto, conheço-a muito bem, conheço muito bem o

meandro de projetos, fui diretora de uma unidade de investigação, portanto sei as

preocupações, tendo estado quatro anos na FCT, conheço o outro lado de quem financia,

portanto, ter estado em vários sítios, docente, investigadora, estar do lado da gestão aqui,

presidente do conselho científico, gestão de projetos como diretora adjunta, cheguei a

estar no conselho diretivo em 1999/2000, seis meses, com a pasta do pessoal. Portanto

conheço muito bem a casa e conheço também a casa vista de fora, da FCT, isto é giro,

são muitas peças de puzzle, ver a mesma realidade com várias perspetivas, acho que sim.

Vamos falar agora em relação ao ensino superior… como avalia o estado atual do

ensino superior público? O que se passa neste momento no ensino superior?

Vou dizer-lhe dois aspetos. O especto do financiamento e o especto de rede. Era

fundamental que a rede de ensino superior fosse racionalizada, não faz sentido o nosso

país ter tantas universidades públicas, tantos institutos politécnicos e, aliás, estamos a ver,

pelo menos desde há dois anos, o número de entradas em cursos, um, dois, zero, e,

portanto, não podemos mais meter a cabeça na areia como a avestruz e ficar sem fazer

nada. Não tem havido coragem política para racionalizar essa rede, mas é forçoso que

seja feito porque não faz sentido um país com a nossa dimensão ter 18 institutos, uma

coisa assim, não faz sentido. É preciso racionalizar, por um lado, é preciso depois, pensar.

Aí, a A3ES, a ordem dos engenheiros tem que ter, e eu estou a falar do lado das

engenharias, é preciso ver que formação estamos obrigados a oferecer, engenharia da

madeira, engenharia disto, engenharia daquilo, não faz sentido. Não faz sentido que hajam

formações que têm sólida formação de base, horizontal e depois têm pequenas

especializações. Portanto, a rede de ensino superior público tem que ser urgentemente,

forçosamente racionalizada, não faz sentido estar como está. Depois, financiamento. É

inacreditável que o financiamento por aluno do ensino superior seja menor que o

financiamento por aluno do ensino secundário. Depois é inacreditável que o

financiamento por aluno do ensino superior seja igual para qualquer tipo de curso, há

pequenas diferenças, de facto, mas não são tão diferentes assim para a diferença que há

entre os cursos. E eu vou dar exemplos, nem vou falar (da IES), um curso de engenharia,

um curso de faculdade de medicina veterinária tem custos, agronomia tem custos que não

tem um curso de letras ou um curso de direito e é tudo financiado praticamente por igual.

O desinvestimento no ensino superior é perverso. Investir no ensino superior é investir

no futuro do país, não é um custo, é um investimento e, portanto, é perfeitamente perverso

o que é feito. O que tem sido feito ao longo dos anos desde 2006, que os cortes têm sido

cortes muito, muito grandes e sucessivos e se olhar para os números, diz assim, ai não,

mas afinal de contas os cortes, se fizer percentagens, não são tão grandes assim. Há que

perceber os números e o que está por trás dos números porque, em muitos anos, para além

de ter havido corte, aumentou a despesa, por exemplo, aumento da contribuição para a

CGA, que em 2006, a contribuição da entidade patronal para a CGA era zero e para o ano

vão ser 23,75%, e só num ano, quando passou de 10 para 12, é que nos deram esse

aumento. Portanto, as entidades de ensino superior têm suportado todo o aumento de

contribuição para a CGA, ora isso significa uma diminuição de financiamento. O que é

que nos vale? E o que nos vale a nós enquanto grande escola? Temos, felizmente que

ainda temos, muita atividade de investigação e, portanto, muito do financiamento que

temos para a atividade de investigação, contribui para as nossas atividades de ensino. Não

se pode dizer que é um erro dizer, aqueles tipos têm muitas receitas próprias de projetos,

usem-nas para isto, não. As receitas próprias de projetos são receitas consignadas, têm

que ser gastas naqueles projetos, porque senão forem temos até várias penalizações, já

lhe digo. Mas o que podemos fazer e fazemos é laboratórios que foram financiados por

projetos são postos à disposição de alunos, acontece muito ao nível dos 4º, 5ºs anos, já

mestrados integrados e doutoramentos, em que os alunos usufruem de laboratórios de

investigação, que são suportados por verbas de investigação. Como é que temos vivido?

Muito pouco investimento, temos conseguido fazer um conjunto mínimo, temos mantido

as instalações a muito custo, mas novos investimentos, novas obras são feitas a conta-

gotas e tenho um caderno de encargos de novas obras que precisava de fazer… novas,

remodelar aqui e etc., têm sido feitas a conta-gotas… não é mais possível. Conhece a

história do cavalo do inglês, que estava a dieta? O cavalo do inglês foi posto a dieta e foi

aguentando e quando estava quase habituado àquela dieta, morreu. Ou seja, a gente vai

conseguindo viver, mas há um ano em que acabou. Quer dizer, temos mantido no mínimo

estritamente necessário, mas quando os retroprojetores avariarem e não houver dinheiro

acabou, fechou. Portanto, é inaceitável. Neste momento não sei… tenho que pagar os

subsídios de novembro, a que já não chamo de férias nem natal porque a gente está a

receber os duodécimos que já não sei se são férias ou natal, acho que é natal e o de férias

em novembro, acho. A gente agora aqui decidiu que o que se tem que pagar em novembro

se chama o subsídio de novembro e eu para pagar este subsídio são 3 milhões de euros.

Neste momento não sei se mos dão e quando me dão, mas eu vou ter que pagar. Para além

da redução do financiamento do ensino superior, brutal, a outra coisa de que nos

queixamos e que me queixo muito é da instabilidade legislativa. Ou seja, vou dizer de

uma maneira exagerada, todos os dias sai uma nova lei que me diz que não posso fazer

aquilo e agora tenho que fazer aquilo. Tenho que fazer um report todos os dias, o meu

ministério pede-me, o outro pede-me, sai uma lei que me pede, quer dizer, eu tenho gente

que não faz mais nada senão reports. Em vez de estarmos a trabalhar, estamos a reportar,

não temos tempo para trabalhar, mas estamos a reportar aquilo que não temos tempo de

fazer. A instabilidade legislativa é uma coisa que dá cabo disto tudo. Eu preferia (ver se

tiro isto ou não) ter um bocadinho menos de dinheiro, mas saber com aquilo que conto

até ao fim do ano, até ao fim de 2014, para poder definir uma estratégia, um rumo e dizer

tenho menos, mas aplico aqui e aqui. Porque, por exemplo, em fevereiro deste ano tive o

OE completamente definido, porque o ano passado em agosto tive um valor, depois deram

mais um aumento porque afinal tinha que pagar subsídio de férias e depois afinal deram

mais um bocadinho porque houve um aumento da CGA 15%. Só em fevereiro de 2013 é

que soube o valor final do OE para 2013 e em julho cativaram-me 1 milhão e 50 mil euros

e cortaram 300000, em julho deste ano, não sei o que me vai acontecer até ao fim do ano

e até ao fim do ano faltam três meses, portanto, a instabilidade… quer dizer, podiam ter

dito logo de início que não tinha essa cativação do milhão e 50 mil. Quer dizer, a

proliferação de legislação é uma coisa que nos mata, temos sempre que adaptar os nossos

sistemas informáticos e etc., quando nos acabamos de adaptar quase a um já vem uma

coisa diferente e depois, a péssima qualidade da nossa legislação. Acho que ninguém sabe

ainda bem, se calhar nem os próprios legisladores o que é que queria dizer o artigo 60 do

OE de 2013. Este artigo diz qualquer coisa deste estilo, a massa salarial em 2013 não

pode ser superior à de 2012, mas depois dizem aquilo… ah, não, é correspondente a 31

de dezembro de 2012. Então, mas como é? É toda do ano de 2012? É a 30 de dezembro

de 2012 projetada para trás? Ninguém sabe, eu não sei, o meu reitor que é um homem que

passou por esta cadeira como vice-presidente, conhece bem isto e também não sabe muito

bem qual a interpretação, ninguém sabe, as leis estão malfeitas. Acho que nem quem as

fez sabe exatamente como é…

O ensino privado, qual a sua opinião? Sobre a convivência privado/público…

Não temos.

Como considera ter sido o processo de Bolonha? Bem idealizado, bem implementado

ou ao contrário?

Uma grande confusão, que nós aqui, conseguimos de algum modo colmatar de uma ideia

clever. Ontem esteve aqui o presidente e dois vice-presidentes do IEEE, que é o Institute

of Electric and Elechtronic Engineering, é uma associação a nível mundial de que sou

senior member, quer dizer, tem centenas de milhares de membros por todo o mundo e o

vice-presidente é de Bolonha e perguntou, então como é o vosso processo de Bolonha e

nós dissemos que conseguimos fazer uma coisa que é manter alguns. Temos algumas

formações que são de três anos e ao fim de três anos saem com certificado e podem ir à

vida, mas outras fizemos uma coisa que é o chamado mestrado integrado, que é assim,

tem três anos sim senhor, está no papel mas só saem daqui ao fim de cinco. E ele disse,

very clever, nós em Bolonha fizemos três e mais dois e estamos a voltar para trás, está

uma confusão. Portanto, Bolonha, o modo como o implementámos foi o modo clever.

A lei de 92 institui as propinas no ensino superior público… qual a sua visão sobre

a existência de propinas no ES público?

Concordo que existam propinas no ES público, o país não tem condição para que não haja

propinas no ES, as propinas são cerca de 10% do nosso orçamento anual, estado e receitas

próprias. Dito isto, considero que é inaceitável que existam pessoas que não vêm para o

ensino superior porque não têm condições económicas para o fazer. As atuais bolsas tenho

ideia de que são curtas, isso é um crime. Agora, faz todo o sentido que as famílias que

podem contribuam para a educação dos filhos, é assim noutros países. É um investimento.

Considero que … e há uma coisa que nós aqui, deixe-me dizer, sei que é na universidade

(nome), a antiga fez, estamos também a fazer, mas ainda é pouco feito no nosso país, que

é feito noutros países que é a comunidade dos antigos alunos, os alumni, contribuam e

financiem, contribuam, por exemplo, para pagar propinas, devolvam à escola aquilo que

a escola lhes deu e que esse fundo, nós criámos agora um fundo dos alumni exatamente

com esse fim. E deixe-me dizer que tenho mágoa de ver que esta escola deu tantos

engenheiros que estão bem na vida e a gente vê-os todos aí, e que a generosidade é tão

reduzida, que pena que tenho. E que pena que tenho que possa haver miúdos que não se

inscrevem porque não têm dinheiro para pagar propinas. Temos ajudado alguns, aqueles

que podemos, com este fundo, mas tem que haver mais apoio público para estes alunos….

Como é que ajudam?

Pagamento de propinas.

Sim, mas planeamento faseado…?

Conseguimos perceber junto dos nossos serviços académicos quem são as pessoas, temos

um regulamento para a atribuição desses tais fundos, com esse fundo criámos um

regulamento que se chama de solidariedade, qualquer coisa, pouco importa, e portanto

ajudamos a pagar as propinas a troco de… e não há almoços grátis … a troco de uma

prestação de serviços à comunidade (da IES) com 3 horas por semana, uma coisa que não

penalize nos estudos, na biblioteca, nisto ou naquilo, sei lá, coisas variadas… agora,

começámos há um ano e tal e portanto acho que sim, deve de haver propinas e acho que

sim, que ninguém pode deixar de entrar no ensino superior por não ter dinheiro, tem que

haver muito mais bolsas e a sociedade tem que se sensibilizar para isto. Como é que há

grandes mecenas? Vão para o colégio militar porque foram antigos alunos do colégio

militar, como é que os antigos alunos do MIT dão dinheiro ao MIT? E aqui… isto ainda

não está institucionalizado… dar de volta à universidade. Se olhar para o panorama

nacional, os engenheiros, eu cito um conjunto de nomes, Mira Amaral, António Guterres,

Rogério Carapuça, só lhe estou a dar nomes conhecidos…

Sim, não haver uma cultura de mecenato em Portugal…

Não haver uma cultura, chama de mecenato… quer dizer, give back to your school, isso

é uma coisa que é nossa responsabilidade começar a … temos feito, estamos a dinamizar

a associação dos antigos alunos, temos feito encontros aqui em que vamos falando nisso,

mas é… pronto, cada um sabe de si e sabe o que pode dar...

Da sua consciência…

Exatamente.

Mestrados e doutoramentos têm geralmente propinas mais elevadas. O que acha

deste valor diferenciado entre estes graus de ensino, acha que é justo?

Sim. Estou a pensar muito aqui no nosso caso. Um doutoramento aqui, e mais uma vez é

uma coisa que… o doutoramento que temos aqui é feito em ambiente de investigação,

como é lógico e, portanto, integrado em grandes laboratórios de investigação ou em

unidades de investigação e portanto, equipamentos, quer dizer, equipamentos,

manutenção, se for… deixe-me dar o exemplo da minha área… os cursos de

doutoramento são feitos aqui, a universidade é que atribui o grau, mas é acreditado aqui,

portanto como instituição de ensino superior com docentes. Deixe-me dar um exemplo,

eu posso na minha área, robótica, temos robótica móvel, submarina, aérea, etc., posso ter

equipamentos que custam 60000, 100000 euros e tenho outros laboratórios, coisas de

química que custam muito, a manutenção dos equipamentos, temos um pequeno reator

de fusão nuclear que de cada vez que é ligado o contador de energia elétrica até se houve,

portanto, é natural que sim, claro que sim, que o financiamento tem que ser, que as

propinas devem ser maiores sim. Pelos recursos que exigem.

Em termos do papel do estado, qual julga ser o dever do estado perante o ensino

superior? Falámos de financiador e de ter um papel social relativamente aos

estudantes para que ninguém fique de fora. Para além desses deveres, considera que

o estado tenha mais algum dever perante o ES?

Vou dizer-lhe uma coisa, mas em tom de brincadeira. Tem… deixem-nos trabalhar.

Ponham regras na execução dos dinheiros do OE, nas receitas próprias, larguem-nos,

deixem-nos, isso é o grande dever do estado. Não quero que venham cá interferir nas

receitas próprias, a lei de compromissos que saiu também se aplica às receitas próprias,

deixem-nos. Grande dever. Depois, o dever, como eu disse de regular a rede de ensino

superior, racionalizar, o exemplo desta fusão de duas universidades, acho que foi um

exemplo feliz, porque não foi imposto de cima, veio do meio, mas não de cima, mas era

fundamental que os … mesmo assim veio do meio com algumas interferências de cima,

mas era fundamental o dever de regular no sentido da oferta. Outro dever como lhe digo

é, deixem-nos trabalhar. Entretanto posso lembra-me de mais deveres…

Como interpreta a extensão de ajuda social do estado aos estudantes do ensino

privado? Considera justo?

Acho que deveria ser, porque não? Agora, é preciso garantir uma coisa, é preciso garantir

qualidade dessa oferta privada, é preciso garantir qualidade, agora, com certeza, acho que

sim. Também lhe digo mais uma coisa, apoio do estado, com certeza, mas é preciso

também que as pessoas cumpram mínimos, seja do ponto de vista do seu desempenho,

que cumpram mínimos também e é preciso ver que condições têm para cumprir mínimos,

dou um exemplo, pode acontecer que, nalgum sítio se se disser que um aluno tenha

dificuldades, eu pago propinas, que a pessoa diga muito obrigada, não chega, não quero

essa ajuda. Porquê? Porque não moro nesta cidade onde é a minha escola e, portanto,

pago uma propina, sim senhor, mas não tenho dinheiro para pagar o quarto e para comer

e comprar os livros, portanto, não chega suportar a propina. Agora, garantindo que são

financiadas as necessidades básicas, é preciso depois pedir de volta um desempenho

mínimo, não faz sentido, digamos, apoiar alguém durante um curso superior durante dez

anos. É preciso garantir, acho que sim, conheço pouco disso, acho que as regras de apoio

e de ação social pedem um desempenho mínimo, como é lógico, não é um desempenho a

100%, mas um desempenho mínimo.

Existem estratégias para captação de alunos?

Sim. Temos feito desde há muito tempo visitas a escolas, visitas em que se vai dizer o

que é (a IES) e em que se mostram experiências e, portanto, temos ido a um conjunto de

escolas grandes, algumas que nos pedem, outras que vamos de moto próprio e isso é uma

coisa que a gente começa a fazer em janeiro, fevereiro. Vamos a muitas escolas, sim. Em

que fazemos experiências, mostramos, temos semanas de… Durante 15 dias do mês de

julho temos aqui durante duas semanas, banshees, mas banshees mesmo de centenas de

alunos, miúdos, 9º, 10º ano que vêm e que participam em experiências muito giras, fazem

balões, fazem barcos, fazem nas coisas. E, portanto, de algum modo com isso, estamos a

cativá-los para a ciência e para a tecnologia, se calhar não vêm para (a IES), vão para

outros sítios, mas muitos virão para (a IES). E despertam o interesse. Este ano aconteceu

uma coisa muito gira, não sei se em anos anteriores aconteceu, alguém que era filhos de

colegas nossos que se inscreveram e que vieram…, mas vêm centenas de alunos depois

vão a civil, a mecânica, depois a eletrotécnica, depois fazem balões muito giros com sacos

de plástico, que eu aqui tive que autorizar… 500 sacos de plástico? Para fazer balões?

Mas depois é muito giro porque fazem aviões de papel e concursos de aviões de papel,

uma coisa de brincar, não, não porque antes alguém esteve a explicar a aerodinâmica e

depois é ver quem vai mais alto, quem vai mais longe. Este ano houve alguns casos de

miúdos em que os pais eram daqui e que alguns pais vieram trazer os meninos porque

têm muito medo, não dizem nada, a gente depois dá-lhes almoço, vão comer á cantina e

depois dizem, bem o meu filho disse que no primeiro dia veio muito contrariado, só veio

porque eu impus, mas diz que depois da parte da tarde vai para casa, que já nem almoça.

Feedback depois, ah, ele ligou para casa a dizer que ficava e depois ficam. Portanto, temos

isso, temos atividades da ciência viva no verão, temos muitos laboratórios abertos que

vêm em coisas organizadas, tantos miúdos de 10º, 11º vêm para aí e fazem coisas, coisas

organizadas, portanto temos muito. Temos muitas visitas de escolas ao longo do ano,

depois temos exposições de física e há escolas que vêm, etc.

Professora, há pouco falou-me das dificuldades financeiras relativamente ao

pagamento de salários e subsídios, a dificuldade de planeamento a longo prazo por

não saber com o que conta…

Bom, tenho dinheiro para pagar os subsídios…

Sim, mas de qualquer maneira há um corte…

Temos tido sempre saldos transitados, agora se tenho que pagar subsídios e não me dão

de facto o dinheiro todo, eu não vivo nos primeiros meses do próximo ano. Porque esta

casa para viver tem que ter um fundo, e já lhe explico porquê, um fundo de alguns

milhões, no mínimo 6 milhões de euros. Porque os projetos de investigação, embora a

FCT dê um primeiro adiantamento, muitos projetos gasta primeiro e recebe depois e se

eu não passo de um ano para o outro com um saldo de pelo menos 6 milhões de euros, os

primeiros meses do ano fechou, acabou.

Face a estas dificuldades e uma vez que tem que fazer cortes e escolher os cortes que

faz nas áreas que faz, quais são as áreas que sofrem?

Deixe-me dizer-lhe… no ano passado, obras, este ano já não tanto, já conseguimos ter

alguma folga para obras, há dois anos, a formação das pessoas, este ano abrimos,

formação dos funcionários… e uma contenção, digamos geral, dizer não e não e não…

porque é que isto é assim, porque é que não é mais barato, porque é que é assim? Mas

sobretudo obras… e formação de pessoal em 2011 não houve, não houve se fosse paga,

se não fosse paga sim. Este ano abrimos, dentro do orçamento que é dado a cada serviço,

as pessoas podem ir.

Falou-me há bocado da dificuldade que é os antigos alunos contribuírem. Existem

mecenas, patrocinadores e será que me pode nomear alguns?

Bancos.

Quais os moldes dos contratos ou protocolos estabelecidos com essas entidades?

Os mesmos que são com outras escolas.

A minha questão é se existem contrapartidas para um lado e para o outro e quais

essas contrapartidas?

Não há almoços de graça. Se der uma volta aí (pela IES) vê uma agência (do banco), se

vier daqui a um mês, vê uma agência (outro banco), vê também uma agência do banco

(nome), se eu mostrar o meu cartão de docente, é emitido (pelo banco) agora vai passar a

ser emitido (outro banco)… extrapole o resto.

Como perspetiva a autonomia universitária?

Temos autonomia financeira, pedagógica, científica, patrimonial e essa foi uma condição

que nós pusemos para entrar na fusão das duas universidades. Continuamos a ser a maior

escola da universidade e, portanto, fizemos um… discutimos muito na escola, nos

departamentos, com as pessoas todas, ouvimos todos e, portanto, houve um conjunto de

condições. Dissemos que não nos opúnhamos, mas o conjunto de condições tinham que

ser garantidas. Autonomia financeira, pedagógica, patrimonial, científica, temos uma

marca que tem que continuar a existir, temos uma identidade própria que tem que

continuar a existir, somos maiores que muitas escolas da atual universidade (nome),

somos 12000 alunos, cerca de 700 docentes ETI, portanto, muitas mais cabeças do que

isso, 600 funcionários. Somos maiores que qualquer uma das escolas da UL e tínhamos

dimensão para ser uma universidade, portanto, queremos continuar a ter e vamos

continuar a ter as nossas iniciativas internacionais, não queremos ninguém a dizer vocês

podem dar-se com estes e com estes não podem. Não, temos autonomia. Como a vejo?

Está para sair um novo RJIES há um tempo, com as mudanças de governo e etc., há um

conjunto de coisas que não fazem sentido como a gente ter que continuar a ser uma

entidade sujeita ao CCP, código da contratação pública e à agência nacional de compras

públicas. Estou a comprar coisas com uma qualidade pior e mais caras algumas do que se

fosse ao mercado. Para comprar um computador para investigação ou outro computador

qualquer tenho que pedir licença, tenho que pedir uma exceção que demora 3 meses e a

atividade de investigação não se coaduna com 3 meses de espera. Portanto, o RJIES tinha

que nos libertar disto, tínhamos que ter muito mais autonomia. Nós não contribuímos para

o défice. Se todas as entidades públicas, falo nas câmaras por exemplo, fossem como as

universidades, não tínhamos défice. Nós não temos dívidas, não temos dinheiro

emprestado, não podemos contrair empréstimos e não contraímos empréstimos. Portanto,

não queria ter lá o regime das compras públicas, queria comprar onde quisesse, depois

viessem fiscalizar. Agora vou dar-lhe o caso (da IES). Quem está sentado neste lugar

onde estou é civil e criminalmente responsável por qualquer asneira que faça. O estatuto

da (universidade) que saiu agora e os estatutos (da IES) que saíram e foram publicados

por causa disso, sabe quanto ganho a mais por estar neste lugar e por ser civil e

criminalmente responsável por alguma asneira que faça e podem ir aos meus bens

pessoais? Até aqui tive porque o nosso estatuto… não sei se não vai ser zero euros, estou

disponível para isto? Estão outros colegas disponíveis para isto? Não. Então, eu chego à

quarta-feira e já tenho 48 horas feitas, não tenho fins de semana, sou civil e criminalmente

responsável por alguma asneira que faça e já devo ter feito alguma sem perceber e tenho

mais zero? Com uma escola deste tamanho?

O RJIES estabeleceu a criação dos CG, a estrutura dos órgãos de gestão…

Não temos CG aqui, na nossa escola temos conselho de escola.

O que acha da entrada de pessoas externas ao conceito da universidade?

Muito útil. É preciso que essas pessoas tenham tempo para se dedicar, mas a visão de

alguém de fora é sempre extraordinariamente útil, porque pode haver a tendência de nós

nos virarmos para dentro e vivermos aqui no nosso mundo isolado. Não é o caso, houve

e há sempre investigação, com empresas e etc., mas muito útil que haja gente, e as pessoas

que se convidam para os CG são pessoas geralmente em posições de topo, já com uma

visão lata e larga do que é a sociedade das empresas e, portanto, muito útil. Portanto,

muito útil, muito desejável, são pessoas que nos dizem a vossa formação não pode ser

essa, há um conjunto de coisas que a sociedade precisa… muito útil. Excelente aposta.

Considera que isso possa de alguma forma interferir na autonomia da universidade?

Mas a universidade é feita com essas pessoas também. A universidade é feita para a

sociedade. Quer dizer, nós não nos podemos arrogar e dizer assim, quero ter autonomia e

estou eu, castelo dourado, isolado e ninguém me toca porque tenho autonomia. Não, não.

A universidade existe para servir a sociedade e, portanto, é bom que tenha elementos

ativos e válidos dessa sociedade connosco. Portanto, não tenho medo nenhum, antes pelo

contrário, venham mais, que possam ter tempo, que possam ter tempo para colaborar,

para dar a sua opinião, muito bom, não tenho medo nenhum, antes pelo contrário. Não

tenho medo, quero que me venham fazer críticas, quero gente que me venha dizer, vocês

ali estão a fazer mal. É por isso que estamos ligados às networks que lhe dizia das grandes

universidades, para perceber, e elas também aprendem connosco, mas venha gente dizer,

discutir connosco a maneira como fazemos, o que devíamos fazer. Quanto mais melhor,

é assim que se aprende e é assim que se melhora.

Professora, acabámos, mas só uma coisa de há bocado. Em termos de receitas

próprias, (a IES) tem os projetos, prestação de serviços, investigação… alugam

espaços?

Esporadicamente. Assim, centros de congressos e etc. sim, vendemos livros, alugamos

espaços sim, bares, livrarias, espaços concessionados, sim. Alugamos espaços para

antenas de telemóveis…

E que outras fontes de receita própria?

Propinas, muito de investigação, projetos de investigação, prestação de serviços, que está

a diminuir face à crise do país, aluguer de espaços, bares, antenas, etc., vendas de livros.

Muito obrigada Professora.

Entrevista F13

Pedia-lhe para falar um pouco sobre a sua formação académica.

Sou licenciado em bioquímica pela (IES pública nacional), depois fui para (estrangeiro),

na (estrangeiro), fazer o doutoramento em bioquímica teórica que na verdade depois

apresentei na (IES pública nacional). Depois vim para aqui com um pós doc. Vim em

1994 e em 1999 formei um grupo de investigação como professor auxiliar e sou diretor

desde março 2013.

E em termos profissionais? Como aconteceu até chegar aqui?

Fui fazer o doutoramento à Suécia porque a área que queria não havia em Portugal, não

existia grandemente, depois quis voltar para Portugal, na altura as pessoas queriam voltar

e pensei num sítio onde as minhas valências se enquadrassem com outras valências em

termos de formação e (a IES) claramente se mostrou como a… posso dizer que seria a

única instituição para onde realmente queria vir, enquadrava-se nos meus interesses e as

pessoas que cá estavam eram muito complementares daquilo que queria, foi por isso que

vim para cá.

Foi docente?

A docência aqui faz-se ao nível dos mestrados e dos doutoramentos, portanto, não é uma

docência como a licenciatura em que as pessoas dão muitas aulas, aqui há investigadores

e há docentes, a diferença entre eles não é grande, obviamente os docentes têm mais

obrigações de docentes, mas são obrigações muito compatíveis com fazer uma carreira

de investigação, boa qualidade, mais dedicação, etc., podemos pensar que a docência

também é a orientação de estudantes de doutoramento e pós docs e estudantes de mestrado

que querem fazer… das antigas licenciaturas que querem fazer a parte de investigação,

portanto, aqui dedicamo-nos essencialmente à docência pela investigação.

Atualmente é só diretor ou ainda dá aulas?

Ainda dou umas aulas de vez em quando. Doutoramento e mestrado.

Como avalia a sua experiência enquanto diretor?

Neste momento é curta. Vivemos neste momento a tempestade perfeita em Portugal,

aquilo a que chamo de concursite, tudo abriu, há concursos para tudo nesta altura, tem

sido muito exigente nesse aspeto porque está tudo a mudar e o papel do diretor numa

situação destas é relativamente importante e tem que estar muito presente. No entanto, o

(a IES) deu-me os melhores vinte anos de investigação, talvez os meus melhores 20 anos

e sinto que tenho que pagar esse preço, essa dívida à sociedade e portanto faço estas

funções pensando que isto pode ser uma… quer dizer, de facto, valeu a pena estar aqui e

se conseguir que outros que venham para aqui sintam a mesma realização pessoal, sinto

que isso é uma vitória, motiva-me muito.

Considera que de alguma forma, as funções que desempenhou até hoje o auxiliaram

nas que desempenha agora?

Sou das pessoas aqui que tem mais experiência de gestão porque fui vice diretor já em

três mandatos de anteriores diretores, era vice diretor até fevereiro de 2013, nesse aspeto

sabia como as coisas se faziam de certa maneira embora diretor e vice diretor sejam coisas

diferentes, quando se é vice diretor, há sempre alguém que de facto pode tomar a

responsabilidade, acima do diretor não há ninguém não é, é um bocadinho diferente.

A sua opinião sobre o ensino superior público português.

Está tudo em mudança e os desafios que se colocam ao ensino superior, falaria em público

mas em termos de qualidade, com algumas exceções, em algumas instituições privadas a

qualidade é de facto boa. Se deixarmos o mercado funcionar o público fica com os

melhores alunos porque também tem as melhores formações. Agora, houve o processo de

Bolonha, isso foi uma grande fratura no ensino em que se assumiu que as licenciaturas

eram de facto aquilo que eram os bacharelatos antes e não passa disso e depois haveriam

os mestrados que eram as antigas licenciaturas, portanto, houve aqui uma grande confusão

de nomes e mesmo de objetivos. Claramente preferia as antigas licenciaturas porque

possibilitavam uma formação mais abrangente. Também sei que a maioria dos estudantes

não fica pelo 1º ciclo, são raros os que não seguem para o 2º ciclo, embora a crise

económica esteja a mudar esse panorama. Nessa medida, a formação dos dois ciclos é

quase equivalente às licenciaturas. Isso teve um aspeto positivo de formatar o ensino

superior na europa, embora na verdade depois cada país fez o que entendeu e há países

que não mudaram nada, outros países mudaram tudo, portanto, a comparabilidade das

formações também não é propriamente uma realidade. No caso da ciência e da tecnologia,

isto reduziu bastante, o 1º ciclo de três anos reduz muito a amplitude da formação básica,

o que significa que a formação em biologia, matemática, física e química, formações

básicas que contribuíam para muitas outras coisas nas ciências da vida, por exemplo, é

muito reduzida porque se compactou e digamos que as primeiras a sair foram as cadeiras

que não eram nucleares em relação à formação, o curso de biologia não foi acabar com

as de biologia foi reduzir as de matemática e física e química, enquanto que num curso

maior isso não era tão visível, havia mais tempo para fazer e os mestrados não recuperam

a formação básica, é tudo formação avançada e nesse aspeto acho que se está a perder

muito porque, agora falo pela (IES), é um sítio onde se faz ciência, e as bases fortes em

ciências são importantes. Talvez se possa dizer que até a biologia, em certas formações

em saúde. Portanto, perde-se com este processo, acho que houve aqui uma redução na

qualidade do ensino nesse aspeto. O terceiro ciclo na verdade não mudou muito, começou

foi a profissionalizar-se e neste momento falar em cursos de doutoramento é uma

realidade, mas há dez, vinte anos atrás não era uma realidade, era a exceção de algumas

instituições que as tinham. Nós temos doutoramento há muito tempo e achámos que o

doutoramento deveria mudar um pouco, passar daquela excessiva especialização de

trabalhar só num tema, tentar alargar os horizontes. Por outro lado também há a questão

da empregabilidade, enquanto antes se formavam pessoas para serem docentes

universitários e investigadores e hoje em dia tem que se formar pessoas para serem

trabalhadores na industria e nos serviços, o doutoramento é uma porta para muita coisa,

embora as pessoas normalmente não vejam isso e também compreendo que a razão pela

qual um estudante escolhe um doutoramento em Portugal, é mesmo pela paixão de

investigar, uma paixão que querem fazer até ao fim dos seus dias. Agora, a vida às vezes

tem outros planos para nós e mudamos de agulha e vamos fazer outras coisas que podem

ser tão importantes como a própria investigação e desenvolvimento ou mesmo a

investigação e desenvolvimento num ambiente industrial. Por essa razão o doutoramento

tem que mudar e está a mudar para também alargarmos os horizontes dos alunos para essa

empregabilidade, ou seja, não posso dizer aos alunos da (IES) estou a formar-vos para

serem académicos porque não há de facto emprego para o número de alunos que

formamos para académicos. Durante os primeiros 10, 15 anos da (IES), quase todos os

alunos que saiam de cá tornavam-se académicos, de facto o país não tinha número de

académicos suficientes. Agora começa a ter, quer dizer, há umas dificuldades que têm a

ver com cortes de financiamentos das universidades que as impedem de contratar os

recursos que precisam portanto estão neste momento subdimensionadas em termos de

docentes e investigadores mas, quer dizer, não tenhamos ilusões. De qualquer maneira,

acho que nada disso é mau, é simplesmente uma mudança e noutros países, a maioria dos

graduados não fica na academia e nalguns sítios, o objetivo deles, quando vão fazer o

doutoramento é aprofundar os seus conhecimentos para depois trabalharem noutros

ambientes.

Sobre o processo de Bolonha, falou na falha na internacionalização e na aplicação

dos conteúdos…

Na internacionalização, não, na comparabilidade entre graus.

Considera que foi bom em termos de internacionalização?

Quando se faz um processo pela europa há sempre uma espécie de benchmarking e neste

caso, inclusivamente, a divisão em vários ciclos permitiu que o aluno faça o 1º ciclo num

país, o 2º ciclo noutro e o 3º noutro, enquanto que antes as pessoas ficavam um bocado

agarradas, o período de doutoramento fora era absolutamente normal, mesmo aqueles que

eram docentes universitários, etc. muitas vezes iam fazer o doutoramento fora. Mas neste

momento temos que enfrentar uma situação de competição, porque há de facto estudantes

que se mudam, passado o 1º ciclo, para outro país para fazer o 2º ciclo. Nesse aspeto, a

competição puxa pela internacionalização, faz com que, desde que tenhamos as mesmas

armas para competir, o que nem sempre é verdade, acho que isso desenvolve os sistemas

de ensino, sem dúvida alguma.

Considera que aquilo que Bolonha se propunha em termos de método de ensino, de

o aluno ser mais autónomo e de o professor ser mais orientador, acha que foi bem

conseguido?

Acho que há aqui vários períodos no ensino superior e nós estamos formatados pela nossa

própria experiência. Estive no ensino superior clássico, de 85 a 89, nessa altura

obviamente que o princípio de que o estudante tinha que fazer por si, que é isso que

estamos a falar, era óbvio porque as aulas eram massificadas, havia demasiados alunos

no ensino superior e os professores não estavam para apaparicar ninguém. Depois dizem,

aí eu não estava cá, nem sequer estava e Portugal, dizem que os alunos começaram a ser

apaparicados e se tornaram dependentes. E vejo que de facto chegam cá ao 3º ciclo muito

dependentes e que por vezes é preciso dizer, ok, o trabalho é teu, não é meu, estás a

trabalhar para ti, perceber que de facto que isto não é uma extensão da família, que é de

facto um trabalho e que a pessoa tem que se superar porque nem toda a gente faz um

doutoramento, não estou aqui a ser elitista mas deve ser uma coisa difícil, porque para

cada um que cá está deveria haver mais dois ou três que gostariam, portanto, as pessoas

têm que perceber que o seu lugar é importante e que têm que se esforçar. Portanto, acho

que a aprendizagem centrada no aluno era uma realidade no ensino superior nos anos 80

e penso que antes também porque de facto, quer dizer, nunca houve grandes preocupações

com a pedagogia, os professores universitários não são formados para serem bons

pedagogos, têm um doutoramento, em princípio e olha, dá aí umas aulas e no fundo alguns

são bons, outros são menos bons e o aluno tinha que se desenrascar. Mas depois passámos

de facto para uma situação em que o aluno exige e bem que as coisas sejam bem feitas,

mas não é bem feito na medida do facilitismo e portanto Bolonha está no espírito certo

mas acho que ele já existia anteriormente e a aprendizagem para a independência é a coisa

mais importante porque o aluno no secundário está num framework que os pais, os

professores e etc., no fundo, não são adultos não é, mas quer dizer, um aluno licenciado

ou com um mestrado tem obrigação de ser autónomo, tem que ver bem, investigar bem,

desenvolver bem, de ser um profissional autónomo e a autonomia é uma coisa muito

importante. Bem sei que anteriormente, as pessoas que faziam um curso superior eram

identificadas como líderes, dada a sua raridade. Hoje em dia não é assim, muito embora

tenhamos uma percentagem de pessoas com o ensino superior relativamente baixa, mas

há uma massificação e nem todos têm que ser líderes, mas acho que faz imensa falta na

sociedade portuguesa, líderes, pessoas que queiram liderar e fazer coisas e sejam capazes

de o fazer, portanto, a autonomia é um passo para isso, não é suficiente mas é um passo

para isso. Nesse aspeto sou um partidário de Bolonha sim, mas isso é ser partidário do

óbvio.

Professor falou sobre a maior qualidade do ensino superior público em relação ao

privado. Perguntava-lhe a opinião sobre o ensino privado.

Não conheço o privado em profundidade, muitas vezes acabamos por conhecer as

alegorias de que nos falam na comunicação social e essas coisas todas. Também não tenho

experiência de pessoas licenciadas ou com mestrados que tenham vindo trabalhar comigo

especificamente e que venham do ensino privado. Agora de facto dizem, e muitas análises

têm sido feitas, que o ensino privado tem menos qualidade, também tem menos

investimento. Dito isso, não podemos falar da universidade católica portuguesa como um

exemplo disso, obviamente é outra dimensão, uma universidade que está ao nível de

muitas universidades públicas. Mas mesmo no sistema público existem muitas diferenças

entre as universidades e politécnicos, acho que não se fazem omeletes sem ovos é preciso

ter de facto bons docentes que investiguem e que possam estar atualizados sobre a matéria

e isso só se consegue tendo um docente que investiga, não é por ler uns livritos que se

mantem atualizado, para isso bastava ter alguém que lesse. E portanto, quando não se

investe nessa globalidade, ensino mais investigação não se vai ter um ensino de qualidade

e, salvo raras exceções o ensino privado não investe na vertente de investigação.

A lei de 92 instituiu as propinas no ensino superior, onde antes se pagavam 1200

escudos…

Fui desses privilegiados que não pagavam quase nada no ensino superior.

Há autores que dizem que o pagamento de propinas responsabiliza os alunos, há

autores que dizem que isso tem impacto a nível da equidade e democraticidade deste

grau de ensino. Onde se situa nestes polos?

Isso tem a ver com o financiamento do ensino superior no global, acho que deve haver

igualdade de oportunidades, dito isto, as propinas são um veículo para essa igualdade de

oportunidades não existir. O valor atual das propinas, 1000 e poucos euros em relação

aos 1ºs ciclos e mestrados integrados, para os mestrados já não é, já é livre e para os

cursos de doutoramento também é livre. Portanto, haver uma propina, à partida deverá

impedir o aluno com menos recursos de frequentar o ensino superior, mas isso começa

antes ainda, começa no facto de que as universidades não existem em todas as cidades e

aldeias do país, portanto, a deslocação do aluno para um sítio onde haja uma universidade

tem custos muito superiores aos custos das propinas portanto aí a equidade também já

não é exato. Claro que um sistema de bolsas poderia resolver esse assunto e em alguns

casos resolve, bolsas, residências, etc. agora esse sistema de bolsas e essa avaliação está

muito relacionada também com o IRS dos pais. Primeiro, há aqui um problema, a relação

do aluno com os pais pode não ser a única maneira de aferir os rendimentos e depois a

fuga aos impostos de certo tipo de atividades, impede que essa aferição seja feita.

Lembro-me, quando estudava, que só tinham bolsa de estudo aqueles que provavam ser

realmente miseráveis e portanto eram pessoas, não necessariamente miseráveis mas que

de facto não tinham o que declarar e portanto aí gerava-se uma iniquidade. Esse problema

é multifacetado. Portanto, vem do modo como se avalia a bolsa. As propinas como meio

de responsabilizar o aluno, haveria outros meios, isso não passa de uma desculpa, era

como estarem a dizer, meu caro, o senhor tem que fazer um curso de três anos, uma

licenciatura e damos-lhe mais um, se tiver mais um, a partir daí começa a pagar a sério e

não é pagar a propina de 1000 e tal euros, é pagar 5000 e tal que é quanto realmente custa

um aluno, em média, no ensino superior público e certas licenciaturas custam muito mais.

Portanto, devia haver esse sistema, também poderia haver um sistema de empréstimos

como na Inglaterra e na Suécia, onde fiz o doutoramento, as licenciaturas eram pagas

pelos alunos com sistemas de empréstimos, o sistema não era só de empréstimo, também

havia algum investimento, mas o aluno ficava com aquela divida para pagar a partir do

momento em que arranjasse emprego. Mas pronto, aí havia um sistema social forte e as

coisas estavam bem formatadas. Mas também aí não assumiam que o aluno vivia com os

pais e na verdade não vivia, os pais mandavam-no embora, havia uma aprendizagem de

independência muito mais forte do que cá. Esse sistema parece-me interessante também

porque o ensino superior dá uma mais valia, em muitos casos, portanto quem o tem vai

ter uma vida mais folgada do que quem não tem, folgada é analogia, financeiramente mais

alargada. Mas por princípio acho que as pessoas têm que ter igualdade de oportunidades,

agora, podem arranjar-se muitos meios de o gerar. Pode pôr-se a propina a zero, para

moralizar o sistema não deixar que… lembro-me bem na minha altura havia lá

profissionais do ensino superior, estavam lá há dez anos, não faziam nada, normalmente

estavam nas associações de estudantes, nessa altura era muito típico que essas pessoas

eram os profissionais das associações de estudantes e isso claramente era um erro, na

altura custavam o equivalente a 5000 euros por ano, portanto, estava a sociedade toda a

investir em pessoas que não estavam a fazer pela vida. Mas está a ver, não há uma resposta

única sobre isso, na verdade não respondi nada. Sou partidário da igualdade de

oportunidades independentemente do background financeiro dos pais. Claro que isso com

o doutoramento não se põe, em geral, só temos aqui, na ciência e tecnologia, estudantes

financiados por propinas de bolsas de doutoramento.

Da FCT e assim?

Sim, sei que há muita gente das ciências sociais e humanas que fazem o doutoramento

sem esse apoio, de tal modo que a propina aqui é exatamente igual ao financiamento que

a FCT dá aos alunos, portanto 2750 euros, neste caso. Noutros sistemas, normalmente a

propina até é mais baixa porque sabe-se que é o próprio aluno que paga, mas não temos,

regra geral, não temos alunos que pagam propinas. É engraçado e porque é que isso

aconteceu dessa maneira, bom, primeiro o doutoramento em ciências sociais e humanas

não exige que a pessoa esteja sempre no mesmo sítio no laboratório, o que de certa

maneira também permite que o doutoramento seja mais longo eventualmente e que a

pessoa tenha um trabalho. É bolseira mas há colegas seus que não têm bolsa, está a ser

financiada. E esses podem ter empregos. Aqui não é possível porque os estudantes têm

que trabalhar cá todos os dias, o doutoramento não é compatível com um trabalho que se

pode fazer ao longo do tempo, não, há timings e tem que haver interação com os grupos

de investigação, aqui a orientação de doutoramento é muito intensa, portanto o estudante

vem todos os dias trabalhar e todos os dias fala com, eventualmente o seu orientador,

portanto é assim que as coisas se fazem, tem a ver com o trabalho, não estou a dizer que

é melhor ou pior, é a única maneira de fazer isso, as experiências têm os seus timings, as

coisas têm que ser feitas de determinada maneira, as bactérias não pedem para crescer ou

não param de crescer quando a gente vai para casa.

Cada curso tem a sua especificidade mas considera justa a diferença de valor de

propina da licenciatura em relação aos mestrados e doutoramentos?

Não tem a ver com o custo, nós não somos suficientemente financiados para o custo dos

doutoramentos, portanto, o financiamento do doutoramento típico tem a ver com o

ordenado para o aluno, que vem normalmente de uma bolsa, o trabalho que o aluno

desenvolve no laboratório tem custos, parte desses custos são supridos pela propina e os

custos também têm a ver com estas paredes estarem de pé, portanto, há um certo overhead

para a instituição que é retirado da propina, ou seja, nós injetamos no grupo, parte da

propina. Aqui, fazemos assim, há certas universidades que não injetam nada, mas nós

acreditamos que isso é importante porque possibilita o grupo ter dinheiro para o estudante

implementar o seu trabalho mas na verdade a maioria dos fundos para o desenvolvimento

do trabalho vêm de projetos que os orientadores têm, nacionais e internacionais, é daí que

vem o financiamento, os custos da investigação e de um doutoramento através da

investigação, que se quer produtiva e internacionalmente reconhecida, ou seja,

publicações internacionais em revistas arbitrárias, exige um investimento massivo e

portanto, a questão dos custos das propinas é um bocadinho marginal porque os custos de

facto da formação de um doutor aqui são muito altos. Pense assim, o produto que

vendemos aqui são doutorados, é o maior produto em termos de mestrado, mas daqui

saem 30 a 40 doutorados por ano, a (IES) faz investigação, faz ensino, mas se pensarmos

no produto, o produto são 30 a 40 doutorados por ano. Num ano bom, que já não existem

anos bons, o orçamento global (da IES) são 15 milhões de euros, portanto faça as contas

para ver quanto custa cada doutorado, é claro que também há formação de pós doutorados

e etc., não é só doutorados. Mas tendo cento e tal estudantes de doutoramento, em

permanência durante quatro anos, esse é o custo, é imenso, portanto, a propina é um

pedacinho deste custo. E como disse, em geral, não é paga pelo estudante aqui.

Existem dificuldades financeiras na sua instituição?

Como em todas as instituições, não é, portanto, vivemos num período mau, o ensino

superior foi cortado em 30 milhões só desde agosto para setembro, fim de setembro,

outubro, a minha instituição foi cortada em 300000 do seu OE, que era 3 milhões de euros,

300000 são 10%, na verdade foram mais, foram 12%, portanto, esse orçamento deveria

ser para manter as paredes e os funcionários, já não chega, de qualquer maneira, já não

chegava antes, estamos subfinanciados em termos de OE, em termos de orçamento com

que podemos contar, a maioria do nosso orçamento são receitas próprias de projetos que

ganhamos, etc., temos 15 a 20% de orçamento fixo, é como se fossemos uma instituição

privada, gerir isto é uma coisa muito complexa e depende de inúmeros fatores que nem

todos são controláveis, depende da capacidade dos investigadores atraírem projetos,

depende da nossa capacidade de ter projetos institucionais, depende um pouco das

propinas, sem dúvida, não em grande medida, depende obviamente do facto de a FCT

ainda pagar a maioria das bolsas de doutoramento e de pós doc e portanto, o investimento

em recursos humanos é muito grande e isso também depende de as pessoas ganharem.

Portanto, está a ver, do ponto de vista institucional, comando um navio mas esse navio

tem muitos marinheiros com muitas embarcações porque cada grupo é uma empresa

privada, quase. Portanto, dificuldades, dada a extrema competitividade da (IES), como

disse, temos um orçamento competitivo, quase de 80%, numa altura de crise é sempre um

problema porque os investimentos competitivos tendem a erodir-se tal como o OE como

falei, é muito difícil prever o futuro, tem que se navegar à vista e há muitas situações que

já geram desemprego, claramente desemprego cientifico, não vou escamotear essa

realidade, é de facto uma realidade muito triste, andámos muitos anos a investir, a formar

pessoas que depois a única coisa que lhes podemos indicar é o estrangeiro porque as

universidades não estão a recrutar, ou seja, a crise é total e generalizada, portanto

poderíamos ter uma crise aqui mas podia dizer olha, podes ir para acolá, não, é

generalizada, ninguém contrata ninguém neste momento. Portanto, é um grave problema

que temos que ir resolvendo, mas quer dizer, nunca foi fácil a vida de uma instituição

competitiva, as instituições competitivas têm uma certa vantagem porque são

competitivas e conseguem ir mas também têm esta instabilidade, não têm uma almofada

do estado e além disso o estado penaliza-nos pela nossa competitividade, somos cortados

por termos obtido financiamentos competitivos, o que é inacreditável mas é a pura

verdade, ou seja, cortam-me no OE, o salário dos funcionários públicos em geral vão ser

reduzidos, portanto, o OE em geral é reduzido, isso é mau para as pessoas mas do ponto

de vista da instituição é nulo porque se me reduzirem exatamente o valor que vão reduzir

aos funcionários, simplesmente não lhes pagava, eles ficam chateados, obviamente, mas

não tenho que ir a outras fontes, não tenho que ir arranjar dinheiro de outra maneira para

pagar os custos fixos. Agora, se nós temos receitas próprias que têm ordenados e nos vão

cortar esses ordenados que estão nas receitas próprias que provavelmente vão cortar mais

tarde também no OE, estão a penalizar quem de facto tem competitividade e isso já nos

aconteceu, acontece-nos há quatro anos, é inacreditável.

Também teve a questão da CGA…

A CGA aumentou a contribuição do patronato, sim.

Porque houve quem dissesse que não é só o corte do OE, é também o aumento da

despesa…

Sim, não sei os números mas penso que a CGA teve cerca de 13,5% de aumento, depois

há uma redução na ADSE mas o aumento, como é uma percentagem positiva, portanto,

tem que se pagar mais aos funcionários, por outro lado, cortaram, tem que se pagar menos

na verdade, portanto, o cômputo final disto já ninguém sabe e os cortes foram cegos e

isso é inaceitável, tem que haver o mínimo de previsibilidade e de profissionalismo, não

estamos aqui a brincar.

Falou-me dos projetos em termos da capacidade da instituição de gerar receitas

próprias. Existem outras formas? Prestação de serviços, aluguer de espaços…

Existem essas formas mas aqui não são predominantes. Por um lado, dedicamo-nos

essencialmente à investigação fundamental e é aí que somos competitivos, por outro lado,

as prestações de serviço em lado algum são uma coisa tão importante assim, não são a

tábua de salvação de nenhuma instituição, a menos que se queira… vamos lá a ver uma

coisa, se estamos a fazer uma prestação de serviços, estamos a competir com a iniciativa

privada, de certa forma, não estou a dizer que está mal mas até podia pensar vou fazer

uma prestação de serviços com preços abaixo do mercado porque já tenho os meus

recursos humanos pagos para isso mas também não me parece que isso seja estratégico,

o que quero é fazer coisas novas, não limitando essa possibilidade e claro que existe, claro

que fazemos mas não é essa a nossa visão estratégica.

Ou venda de produtos, patentes da investigação?

Isso é um grande embuste. Faz-se algum dinheiro em investigação com empresas, isso

faz-se, a questão da propriedade intelectual há muita gente que faz patentes nas

instituições e tal, quer dizer, fazer patentes é fácil, basta registar e que a coisa cole e que

não tenha sido feito por outras pessoas, agora, a patente serve para proteger uma

propriedade cujo interesse é ser explorada, vamos ver quantas patentes são realmente

exploradas portanto isso é um… anda tudo aí embevecido com uma coisa que não… veja

o seguinte, em termos de transferência de tecnologia que é muito mais do que patentes, é

serviços, etc. mesmo das instituições mais competitivas do mundo como é o MIT, só tira

20% em transferência de tecnologia e na verdade o que é mais importante é uma certa

criação de esperança, de facto, o que as pessoas fazem aqui podem ir fazer no tecido

produtivo e isso dá empregos. Portanto, se o MIT só tira 20% em tecnologia, e é bom, são

20% que não… tudo o resto vem de projetos competitivos que eles arranjam na NSA, no

NIH, etc. não são as indústrias que lhes pagam a investigação, o produto deles de facto

são as pessoas e é isto que é o meu produto, são pessoas, estou a formar pessoas para

trabalharem no tecido produtivo. Se pudermos fazer alguma transferência de tecnologia

e de facto em Portugal fazemos mal, somos amadores em termos de tradição na maioria

dos casos e nas ciências da vida então ainda é mais difícil porque não é uma área que

tradicionalmente se faça transferência de tecnologia, quer dizer, agora faz-se…

Desculpe, mas transferência de tecnologia consiste em quê?

Transferência de tecnologia, existe esse aspeto da patente, faz-se uma patente e vende-se

a patente a alguém que a queira desenvolver ou desenvolvemo-la nós através de uma start

up e etc., isso é transferência de tecnologia. Isso é uma maneira, outra maneira que

podemos pensar é que temos aqui valências importantes em determinadas áreas, que

podemos fazer trabalhos com empresas que não têm essas valências. Estou a falar de

transferência de tecnologia de uma maneira muito lata, não é uma maneira muito estrita,

como às vezes se fala. Temos instrumentos que não existem, instrumentos científicos e

que podem ser importantes para fazer determinado tipo de análises, é um serviço de certa

maneira mas podemos também dizer que é uma tecnologia que a empresa não tinha e que

se uniu à universidade para usufruir disso, vejamos isto assim em termos mais latos.

De uma forma geral, possíveis alternativas para captação de financiamento para as

instituições de ensino superior público português.

Pois, temos que fazer qualquer coisa de facto. Uma coisa que não fazemos muito bem…

quer dizer, há países que fazem melhor, irmos captar financiamentos competitivos à

europa e agora há um programa novo, Horizonte 2020, que reformatou o financiamento

científico e tecnológico europeu e acho que temos que ir mais à europa, mas a europa está

toda a ir lá porque todos os países estão em crise, portanto, cada vez há mais pessoas

que… acho que nós não somos dos piores países, claramente, mas há países que dominam

de facto, ou seja, investem menos do que tiram de lá, porque quer dizer, este dinheiro vem

dos países, a europa não gera fundos do nada, todos os países põem dinheiro neste bolo e

depois vão lá competitivamente, as equipas de investigação, as empresas, etc., vão lá

competitivamente ganhar esse dinheiro e portanto há países cujo saldo é muito mais

favorável que o nosso, de facto devíamos fazer mais sobre isso. Isso é uma via, como

disse a via de transferência de tecnologia não é tão importante em termos de orçamento

mas pode ser mais explorada, sem dúvida alguma e, quer dizer, muita gente fala na via

do mecenato e etc. e em países anglo-saxónicos isso é uma realidade, em que de facto

as… primeiro, nalguns países anglo-saxónicos existem de facto pessoas ricas, o que não

é o caso, em geral, em Portugal, que tem alguns ricos, mas são poucos, não são um ou

dois que fazem a diferença. Depois há uma cultura de dádiva também, de voltar a dar à

sociedade aquilo que a sociedade lhes deu e portanto as universidades são muito atrativas

nisso, um aluno sai do mestrado, licenciado, doutorado de algum sítio e é logo pedido,

olhe não quer contribuir para o fundo da universidade? Na medida das suas

possibilidades, existe uma certa… porque realmente as universidades não são de

ninguém, são de todos, mesmo as universidades privadas americanas, aquilo não são

máquinas de fazer dinheiro, aquilo faz dinheiro para investir, não há ali ninguém a

enriquecer com aquilo, aquilo não é uma empresa nem uma universidade, é uma

fundação. As pessoas percebem a generosidade deste esforço e se as coisas forem bem

administradas, se acharem que o seu dinheiro não está a ser usado para coisas menos

claras, não é, aí podíamos falar das universidades privadas portuguesas, por exemplo, as

pessoas estarão mais dispostas a contribuir. Portugal, e em geral a europa, têm problemas

nisso. Primeiro, não tem ricos suficientes, aqueles que fazem a diferença e podem

construir uma ala de laboratórios numa determinada instituição e pôr lá o nome da pessoa

e, por outro lado, não tem de facto essa tradição, não há uma tradição de dádiva que se

repercuta aqui. Por outro lado, as empresas em termos de mecenato, por vezes preferem

exercer esse mecenato do ponto de vista das artes porque tem mais projeção, uma empresa

quer ter projeção, quer ter presença na sociedade, que também ajuda a fazer negócio, não

há mal nenhum nisso, as artes são claramente mais atrativas nesse aspeto, portanto, haverá

algum caminho a fazer em termos de mecenato mas não será assim, não é assim que

salva… por outro lado, existem universidades a mais e institutos politécnicos a mais e

etc., o sistema não… e depois, é assim, uma universidade que faça investigação é cara,

necessariamente, não é com a propina dos alunos que se alimenta o sistema, portanto, se

calhar é preciso reconhecer os sítios que são bons e…

A racionalização da rede…

De certa maneira. Muito embora eu diga que os alunos devem ser formados em escolas

de qualidade mas também podíamos pensar em diferentes tipos de formação. Por

exemplo, a formação de cursos não conferentes de grau, acho que agora está a ser

preconizada para os IP, quer dizer, eles não têm alunos, ou fazem qualquer coisa ou de

facto… mas isso pode ser uma via interessante porque nem toda a gente quer ser

licenciado ou mesmo numa altura qualquer da vida, podem ser licenciados mas naquela

altura se calhar querem trabalhar e fazer… há que ser imaginativo nisso e ter espírito

aberto. Também não queremos formar licenciados para o desemprego, podemos formar

pessoas multivalentes mas com uma certa capacidade de empregabilidade.

Neste quadro de cortes de financiamento, o que é que sofre, quais as áreas? Quais

as áreas mais penalizadas aqui?

(a IES) está cortada até ao osso, sempre tivemos pouco dinheiro fixo e sempre quisemos

utilizar os fundos ao máximo e portanto aqui sempre fizemos um enorme esforço de

racionalização de recursos, aqui não há dinheiro mal gasto. O que me coloca numa

situação um bocado difícil porque quando já está tudo racionalizado, onde é que se vai?

Vai-se às pessoas, não é, a redução de recursos humanos, o que é uma chatice, mas não

há nada que eu consiga reduzir mais. Um instituto desta dimensão tem muitos gastos fixos

que não podem ser feitos de outra maneira, pagamos quase um milhão de euros anuais

em energia mas não posso desligar os aparelhos.

No seu entender, qual deve ser o papel do estado perante o ensino superior público?

Regulador, financiador?

Financiador, não regulador. Acho que não porque… vamos lá a ver, o ensino superior de

qualidade não é necessariamente público, mas em Portugal não temos ensino superior de

qualidade não público, exceto a UCP e mesmo aí não vejo que compita com o estado na

maioria das áreas, poderá ter algumas áreas em que faz a diferença, noutras áreas é

simplesmente mais um. Podíamos ter o modelo da fundação, a universidade fundação,

essas universidades têm um endowment, um valor que alguém lhes deu numa altura

qualquer e que o gerem, quer por investimentos financeiros ou quer por investimentos

continuados de dadores. E depois vai ao mercado, dito isto, vai ao mercado dos alunos,

em que pagam propinas reais em países onde há de facto essa universidade fundação, o

aluno não paga uma propina simbólica como paga em Portugal, já não é simbólica, mas

nesses sítios o aluno paga uma propina de 10000 a 20000 dólares por ano, portanto aí a

universidade não está a perder dinheiro com aquele aluno, está mesmo de facto a… mas

não há mal nenhum nisso. O que é mau é que quem não tenha esses 10 a 20000 dólares

não vai para o ensino superior e acho isso muito mal para um país civilizado. Dito isso,

não vejo que em Portugal haja nenhuma fundação que tenha tido essa vontade, podia ter

surgido uma universidade privada a partir de uma fundação, que tinha como objetivo,

digamos, a promoção da educação descrita pelo seu fundador, existem fundações mas

operam ao nível superior, ao nível da investigação científica e da formação de 3º ciclo, a

fundação Gulbenkian e a Fundação Champalimaud, mais recente. Mas ao nível do 1º, 2º

ciclo, não vejo ninguém que faça isso. Portanto, no sistema em que vivemos que é a

europa, acho que o estado deve ser o financiador e não o regulador porque senão vamos

acabar com situações de muito fraca qualidade ou seja, não há, a menos que queira

privatizar uma universidade pública e dizer, agora vocês vão fazer tudo o que faziam mas

vão ser financiados pelo estado em contratos programa, isso existe, a UP e a UA são

universidades fundações, pelos vistos agora querem mudar a situação, mas eram

universidades públicas antes e portanto, têm um contrato programa que lhes foi dado

inicialmente em condições mais vantajosas do que o orçamento que tinham porque senão

também não tinham caminhado para essa situação e também são universidades que têm

mais de 50% em receitas próprias, não são as únicas, a Nova de Lisboa também tem, o

ISCTE também é uma fundação e portanto, também podíamos ter seguido por esse

caminho como universidade, como instituição não se pode fazer. Mas, portanto, se o

estado se demite de um papel financiador, significa que vão haver sérios problemas ao

nível da igualdade de oportunidades e portanto, acho que não, não por agora.

E a seu ver, quem funcionaria como regulador?

Neste momento temos um regulador que é a agência A3ES e de facto cumpre esse papel

com alguma qualidade, levam é muito dinheiro pelas avaliações e pelas aprovações das

ofertas letivas mas é um regulador, regularizou muita coisa no sistema, tanto público,

como privado.

Existem mecenas, patrocinadores da instituição?

Nesta instituição não existem.

Parcerias com empresas?

Parcerias com empresas em termos de serviços, sim, existem essas coisas, normalmente

são feitas através do IBETE, Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, que é uma

entidade privada sem fins lucrativos que partilha o nosso espaço aqui e inclusivamente os

nossos recursos humanos, portanto, essas coisas fazem-se muitas vezes através dessa

interface, é mais ágil para fazer e portanto, sim, eles têm contratos com muitas empresas,

normalmente internacionais, também têm algumas nacionais, mas normalmente

internacionais, somos mais competitivos lá fora do que cá dentro porque a indústria não

está suficientemente desenvolvida.

Alguma particularidade a salientar nesses contratos? Por exemplo, contrapartidas

para um lado e para o outro…

São negócios, efetivamente, as coisas são mais ou menos claras, ninguém está aqui para

perder dinheiro. Quando é um serviço, o serviço é pago ao custo do serviço efetivamente,

não fazemos serviços para empresas abaixo do custo, temos que tirar algum, também não

fazemos muito acima porque também não faz sentido, iriam a outro lado, portanto, com

custos reais aceitáveis, com overheads.

A sua visão sobre a autonomia universitária.

Tem que ser mais expandida, tem que se dar mais responsabilidade à universidade mas

responsabilidade real e não me venham cá com a conta de merceeiro, de cortar aqui 12%

porque ganharam, porque têm salários aqui, não, é dizer, vocês têm isto, façam o controlo

destes objetivos, a vossa missão ou às vezes até definam a vossa missão porque quer dizer,

nós trabalhamos na criação do futuro, temos que pensar nisso, uma instituição de ensino

superior trabalha no futuro, não trabalha no presente. Tem que trabalhar em algo para

além do que está, a própria inovação na criação dos novos recursos humanos, não estamos

a criar recursos humanos para trabalharem hoje, estamos a dar-lhes valências para

trabalharem durante 40 anos, mas terão que se reciclar não é, terá que haver formação,

mas dar-lhes as valências necessárias para prosseguirem o seu caminho autonomamente.

Portanto, por vezes as missões não são assim tão definidas, tem que se…

Sente-se autónomo na direção da sua instituição? Sente as autonomias legisladas?

Sim.

O RJIES implementou os CG e a entrada de membros externos para a academia.

Como vê esta entrada de entidades externas na vida da universidade?

Acho que é útil, embora o processo pelo qual eles entram não é necessariamente o melhor,

ou seja, os membros externos são cooptados nos CG das universidades, isso não é igual

em todo o sítio, nem é igual em relação às unidades orgânicas e nas universidades mas

nas universidades está formatado dessa maneira. Nos CG das universidades, os externos

são cooptados pelos internos, logo, são amigos dos internos, portanto, externos

suficientemente externos. Depois, de certa maneira, quer dizer, nas universidades

públicas e privadas americanas há um bondo f trustes, que de uma certa maneira são os

representantes do povo, as universidades são do povo, do ponto de vista da população e

os representantes do povo que façam com que as coisas sigam segundo um determinado

critério, as instituições raramente se autorregulam por dentro. Regulam-se por dentro em

face de uma alteração externa, a crise, etc., por exemplo, faz com que as instituições

tenham que mudar mas uma instituição, no geral, tem tendência a ficar onde está. E a

universidade que, em geral, deveria ser uma coisa de futuro, de mudança, em geral é

exatamente o contrário. Há um trocadilho que se pode fazer com as palavras, universidade

e diversidade, o que é que queremos, uma diversidade, não eventualmente uma

universidade. Portanto, raramente os sistemas mudam por dentro sem ser de facto por

uma coisa externa, ter trustees que mantenham uma instituição no caminho, um caminho

de regulação, os trustees não executam, poder regulador e não poder executivo… não é

uma grande decisão que é a de decidir quem é o seu presidente, o seu reitor e aí tem que

dar autonomia e todos os anos deve debruçar-se sobre o relatório, agora não podem fazer

micro manegement, isso também nenhuma empresa faz, tem o CEO e tem um board of

administrators e este board não pode estar sempre a reunir a ver se o CEO está a fazer

mal ou bem, tem que o deixar trabalhar. Portanto, e nesse aspeto é difícil saber quais são

os trustees, os estados americanos colocam representantes do estado nos boards das

universidades públicas, mas pronto, o estado americano, os EUA são uma coisa bastante

especial, têm estados, têm o governo federal e que eu saiba, o governo federal não

intervém a esse nível mas os estados intervêm, portanto o governador da Califórnia coloca

lá uns trustees de modo a que a universidade da Califórnia siga o caminho que deve seguir

para os objetivos traçados e aí pode pôr representantes da sociedade civil mas são trustees,

são veículos para manter. O sistema português não é carne nem é peixe, portanto, não são

de facto, board of trustees porque ninguém se quer responsabilizar por coisa nenhuma…

quer dizer, no caso das fundações das universidades, nas fundações o governo colocou lá

pessoas mesmo, não foram cooptados, foram colocados lá e que eu saiba não está a

funcionar muito bem também por causa das resistências internas. Mas no sistema que

vivemos, não há trustees, de facto, não. Tentamos arranjar pessoas mais latas possíveis

que nos possam ajudar também na definição de estratégias e, vamos lá dizer as coisas

pelos nomes, no próprio lobbying não é, pessoas que tenham capacidade de interferir ao

nível da sociedade e dos governos, portanto, isso é positivo, dantes não existia, acho que

é positivo, mas acho que é incompleto.

De alguma forma, a entrada tanto de financiamento como de representantes

externos pode pôr em causa ou fazer ingerências na autonomia universitária?

Mas o financiamento já entra, nesse aspeto não há… em termos dos representantes

externos alterarem as coisas em relação à universidade não têm a mínima hipótese porque

o número de internos é maior, portanto, poderão de facto, numa situação de crise, não

acho que seja isso que se viva nos CG das universidades, mas numa situação de crise,

tender-se-á a dizer que os membros externos, unidos… só em caso das pessoas

internamente não se entenderem é que os membros externos têm alguma possibilidade,

uma vez que estão em minoria. Portanto, se houvesse uma fragmentação interna, estamos

a falar de uma guerra, se houvesse uma fragmentação interna grande, os membros

externos podem de facto mudar o rumo de uma instituição. Se internamente não estiverem

unidos, não conseguem, portanto, como são em minoria, de facto, é uma regulação que

funciona em fragmentações e muitas vezes isso acontece. A certa altura os membros

externos fazem a diferença porque os membros internos não se entendem e conseguem

fazer a diferença dessa maneira.

Considera que atualmente a missão da universidade em geral se encontra bem

definida?

Sim, penso que sim, o modo como se está a atingi-la… está bem definida como? Talvez

não por aquilo que o governo nos diz mas por aquilo que sabemos, porque a universidade

está muito internacionalizada, quer dizer, pelo menos em ciência e tecnologia porque

realmente nesta área é necessária a internacionalização para se ser minimamente

competitivo, na área internacional da formação e da investigação, portanto, conhecemos

o que foi feito noutros sítios e ninguém quer o mal da sua instituição, quer o melhor e

muitas vezes somos nós que definimos para onde queremos ir e a autonomia universitária

tem essa vantagem, é um sítio onde se pode pensar livremente, isso é bom… a

universidade original era de facto um santuário do pensamento, onde se acolhiam as

opiniões diferentes, lá está, a diversidade. Neste momento vender isso, se calhar não é a

coisa mais popular mas continuo a acreditar que de facto, deve ser um santuário de livres

pensadores, ou seja, não temos que estar a pensar no mercado amanhã e no dia de amanhã,

temos que pensar mais longe, isso a longo prazo é mais lucrativo para a sociedade, não

porque queiramos ser livres ou ser prima-donas, que também somos. A missão muitas

vezes é definida por nós e quer dizer, a missão acho que é, antes de mais, a formação de

recursos humanos, desenvolvimento das sociedades do ponto de vista tecnológico e

humano, falo muito na tecnologia e na ciência por deformação profissional, não é que não

ache que as ciências sociais e humanas e as artes não são importantes, nada disso.

Simplesmente não gosto de falar de coisas que não sei, sei de ciência e tecnologia. Isso é

importante, desenvolvimento de recursos humanos que possam de facto possibilitar que

o nosso tecido produtivo se desenvolva e o desenvolvimento de novos produtos e

processos tendo por base a investigação que se poderá cá fazer, isso é um bocadinho mais

etéreo porque aí é para o mundo, a universidade não tem uma atuação local, pode ter mas

em geral não tem. Publicamos artigos que são lidos por qualquer pessoa em qualquer sítio

do mundo e esse conhecimento gerado, esse futuro pode ser utilizado noutro sítio. Mas

também posso usar o conhecimento gerado numa universidade da China, portanto, tem

que ver com o modo como estas coisas são feitas. Portanto, em termos de missão, de

facto, acho que esta missão é clara e a universidade tenta cumprir o melhor possível dentro

das suas limitações e as limitações são muito financeiras, por um lado, acho que nesta

altura são só financeiras, já chegámos a um determinado estádio de desenvolvimento que

já nem sequer é suficiente para marcar a diferença. Nesta altura não nos faltam recursos

humanos, falta dinheiro para lhes pagar, aqui não há falta de recursos humanos, mas

poderíamos dizer não há pessoas… há muita gente formada em muitas áreas que podia

ser aproveitada de muitas maneiras diferentes, até para formar ainda mais pessoas nestas

ou noutras áreas onde haja défice de formação. Mas pronto, acho que… não sinto falta

digamos de missão, sei qual é, pelo menos tenho a arrogância de pensar que sei qual é,

sei para onde devíamos ir, agora se conseguimos lá chegar vai depender de muitos fatores

mas temos que os alinhar de modo a conseguir lá chegar.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Não. Muito obrigada.

Entrevista F14

Começamos por falar um pouco de si, o seu percurso académico.

Licenciatura em direito.

O seu percurso profissional.

Agora rio-me quando disse isso porque o meu percurso profissional não é linear. O

percurso académico, o meu objetivo foi direito, mas apanhei o propedêutico, aquele

famoso propedêutico que foi criado entre o antigo 7º e o ingresso nas faculdades e, como

não sou pessoa de ficar parada, candidatei-me à então escola (pública nacional) e fiz o

curso de professora do ensino básico. Entretanto, soube que tinha ingressado na (IES

pública nacional), na altura disseram que devia fazer uma cadeira por causa dos numerus

clausus para não perder a vaga, fui fazendo, fiz uma cadeira no primeiro ano, porque no

ano propedêutico fiz o 1º ano de magistério, no 2º ano de magistério fiz uma cadeira na

(IES pública nacional), depois no ano do estágio, do magistério, fiz outra cadeira porque

tinha que se fazer uma por ano para se assegurar a vaga e quando comecei a trabalhar,

felizmente não por necessidade porque os meus pais sempre proporcionaram tudo o que

necessitávamos mas a minha mania das emancipações e dos feminismos da altura, só que

os conceitos e a maneira como se veem as coisas são diferentes, queria ter a minha

independência económica e comecei a dar aulas. Comecei o meu curso de direito,

terminei, o meu pai, entretanto como advogado, puxava-me para o lado de lá mas não

encaixava com o meu perfil. Há certas coisas no exercício da advocacia que não dão

comigo. Fiz o estágio, tudo bem mas mais do que isso não dava porque não está na minha

maneira de ser. Depois ingressei na administração pública como jurista e via-me a fazer

pareceres jurídicos para despacho superior e entretanto a minha vida deu uma reviravolta

muito engraçada, felizmente porque acho que gosto muito mais disto, que foi, numa

determinada altura, num serviço em que eu na altura colaborava como consultora jurídica,

havia uma certa contenda entre algumas pessoas do gabinete jurídico que tinham uma

carreira especial e a direção e pediram-me, quando eu entrei, se podia sair do gabinete

jurídico e não ir trabalhar para o gabinete jurídico e ficar como apoio à direção na parte

jurídica e foi aí que ganhei o gosto por este tipo de áreas porque passei a tratar os assuntos

ligados aos recursos humanos, essencialmente recursos humanos, problemas da área

financeira relacionados com as próprias pessoas da instituição e criou-se uma excelente

relação pessoal e profissional e de amizade, que me fez dar o salto daí para a frente porque

passei a exercer cargos de chefia na área dos recursos humanos e afins. E neste momento,

eis-me como administradora, não tenho cargos de chefia intermédios, coordeno todos os

serviços da faculdade.

Há quanto tempo exerce esse cargo?

Com a designação de administradora, há quatro anos, porque houve uma alteração do

RJIES, mas o cargo que exercia dantes era o de secretária da faculdade, que era idêntico

ao de administradora em termos da quantidade de funções que tinha e encargos e aí, desde

2002, portanto, há 12 anos.

Tem mais alguma atividade profissional?

Não. Já pensei seriamente que gostaria de fazer, não digo o mestrado porque acho que o

mestrado feito a sério dá o mesmo trabalho que um doutoramento e portanto, como tenho

a experiência profissional para conseguir dar o salto, já tinha pensado em fazer o

doutoramento não fazendo o mestrado nestas áreas que gosto, relações públicas, recursos

humanos, lideranças, etc., mas como nunca tenho horários aqui, está a ser complicado e

portanto a ideia tem estado suspensa, chamemos-lhe assim. Nunca tenho horas, como

digo, quando consigo chegar a casa a horas chamadas decentes, tipo 8, 8:30, perguntam-

me se estou doente porque entrei muito cedo em casa, portanto, faz parte, logo se verá

quando há oportunidade para outro tipo de coisas porque gostava de ir por essas vias e

porque lá está, quer se queira, quer não, a vertente de ensino, por isso me chamou a

atenção essa das ciências da educação, deixou-me um bichinho, porque dei aulas perto de

dez anos porque como não queria exercer advocacia mesmo, então depois do curso

continuei a dar aulas ao ensino básico e ficou-me um bocado o bichinho. Embora não

saiba, a nível de ensino básico, secundário, acho que não conseguiria porque, uma coisa

é o tipo de relação que se estabelece com as crianças, com os adolescentes, com os

adultos, que prezo e defendo, outra coisa é o ultrapassar de valores e de respeito que hoje

em dia se está a gerar com o sistema dos meninos podem tudo, os pais sentem-se

culpabilizados porque dizem que não e isso para mim é uma inversão total de valores e

não concebo o ensino assim. No ensino superior já é diferente porque ninguém é obrigado

a estar cá, quem quer estar, que respeite as regras e que respeite os outros, até os colegas,

porque se não quer, não esteja. É diferente, por isso é que digo que no básico e no

secundário não me via hoje como já me vi em tempos. É muito complicado porque há

uma inversão de valores, até em termos da própria educação e dos princípios porque, na

sua área de formação não sei as disciplinas que teve, mas nós na escola do Magistério

Primário tivemos muitas disciplinas de psicologia, pedagogia e temos de estudar as

teorias para as aplicar mas temos que as aplicar com coerência e concertadas umas e

outras e acho que se caiu no 8 e no 80, de um despotismo em que a criança e o adolescente

nada podiam fazer, à sensação que agora existe que os pais são os culpados de tudo e não

conseguem dizer não ao filho e defendem o filho e o culpado é o professor, nunca é o

adolescente, aliás aqui não há culpa, mas há que responsabilizar desde pequenos, no grau

que cada um tem por aquilo que faz e portanto, para mim era difícil encaixar nesse

sistema. No ensino superior é diferente, as pessoas estão porque querem, os próprios

colegas, quando querem assistir às aulas, quando há quem as perturbe, irritam-se com os

colegas que não os deixam estar, portanto…

Doutora, como considera que tem sido a evolução do ensino superior português? A

sua opinião…

Depende onde quer chegar com evolução…

Vamos pôr assim, a sua visão sobre o ensino superior público neste momento.

A minha visão… é assim, vou separar a vertente de quem pode e quem não pode estar no

ensino superior em termos financeiros, porque isso pertence aos SAS, portanto, não posso

avaliar, não posso dizer, sei, pela minha colega com quem me dou bem, comenta que há

pessoas a deixar de estudar por não terem meios para, mas isso é uma questão que me

ultrapassa. Dentro do ensino superior, acho que estão a existir uma série de alterações em

termos da própria lecionação das aulas e do decorrer das mesmas, acho que se nota um

bocado a diferença entre os professores com mais anos de serviço e os professores com

menos, principalmente na minha área, pode não acontecer noutras faculdades, aqui em

direito, há os que são só professores mas há os que também têm os seus escritórios de

advogados e as sociedades a que pertencem e portanto, nota-se que tudo interfere. E eu

digo isso porquê, sou fã número um do exercício de qualquer profissão em exclusividade,

seja ela qual for, professor universitário, advogado, comerciante, qualquer uma, porque

acho que as pessoas só conseguem ser boas quando se dedicam a uma coisa. E nota-se a

diferença entre quem tem exclusividade e quem não tem, mas nota-se também toda uma

formação e percurso de vida numa pessoa, porque existem as pessoas que têm tendência

para um controlo da aula mais, não lhe chamaria autoritário, mas acho que nas vertentes

autoritárias existem coisas positivas no sentido de impor respeito, silêncio, de respeitar

os outros e sou a favor disso, e há os outros professores que entendem que todos a

colaborar e a participar, só que depois o conceito de colaboração e participação, as

fronteiras são muito ténues entre isso e a indisciplina e o resto. Nesse âmbito, sou a favor

de um ensino superior com exclusividade, não estou a dizer nada que seja contra legem,

em dizer que os professores devem ser de carreira, devem ser contratados em

exclusividade e quem não quer a exclusividade tem que o pedir porque o princípio é ser

em exclusividade. Por outro lado, acho que hoje em dia, o ensino superior e não só, todos

os ramos de ensino, com todos os acessos e divulgação que existe, é muito fácil hoje em

dia quem queira trabalhar, quem queira fazer percursos de aprendizagem no ensino

superior fazê-los com muito mais facilidade e com muito menos dispêndio em material,

para não falar do tempo, mas material, há muito mais acesso a documentação e portanto

nesse aspeto acho que houve uma evolução no ensino superior para o acesso facilitado a

documentação para estudo, acesso facilitado à relação estabelecida entre professores e

alunos, porque no ensino superior há uns anos, havia uma distância brutal entre

professores e alunos, ninguém se atrevia a dirigir-se ao senhor professor, isto em termos

da vertente ensino. Em termos da outra vertente, que neste momento, peço que me ajude,

a questão base tinha a ver com…

A visão e evolução do ensino superior, por exemplo, atendendo a estes cortes…

Era aí que eu queria chegar, parece-me que a pergunta também abrangia a parte

financeira. Em relação a esses cortes do orçamento, se calhar o que vou dizer é muito

polémico, porque é assim, como todos nós sabemos e isto não tem rigorosamente nada a

ver com partidos, porque digo a pés juntos que se me conectarem com o partido A, B, C

ou Z, é mentira porque neste momento estou completamente descrente nos partidos

políticos portanto não me podem conectar com nenhum. Porque, acho que mais do que a

política e mais do que os partidos, nós temos que nos impor com os atos e da maneira

como exercemos das nossas profissões, como trabalhamos no dia-a-dia. E o que vou dizer

é polémico porque é assim, se estamos num país em crise exatamente porque gastou mais

do que tinha, têm que forçosamente existir cortes, senão nunca mais apanhamos qualquer

carruagem que seja em termos financeiros. Não estou aqui a defender ninguém, que os

cortes estão certos ou errados, não é isso que está em causa, vivíamos com mais do que

tínhamos, temos que viver com menos e, naquilo que me diz respeito como

administradora desta casa, há coisas que me custam ouvir às vezes relacionadas com o

ensino superior que é, há cortes, não podemos fazer, há cortes, não temos, há cortes, não

sei o quê. Há que racionalizar os cortes porque se calhar antes dos cortes também existia

muito esbanjamento e o dinheiro que era gasto, receitas próprias não mas de alguém é, de

quem paga as propinas, de quem paga as fotocópias, de quem paga não sei o quê, mas

principalmente o OE é dinheiro de todos nós e dos nossos impostos. E portanto, o que

acho é que o facto de ter havido cortes nos orçamentos, porque as receitas próprias

dependem de cada um, saber angariar mais ou menos, esse problema é das instituições

que têm o knowhow para isso e, em termos de OE, o facto de existirem cortes, quanto a

mim, existia muito despesismo. E digo-lhe isto convicta, nunca fiz uma análise, mas

convicta da realidade que conheço me leva a afirmar isso porque nós somos uma escola

pequeníssima, o que quer dizer que, como tudo é na proporção, o nosso OE é

pequeníssimo e tem tido cortes na proporção como os dos outros e em nada o ensino tem

sido prejudicado. Não tem faltado nada aos alunos, nada ao apetrecho das instalações,

nada à lecionação, nada às pessoas, os vencimentos são pagos a horas, os fornecedores

são pagos a horas, imediatamente a seguir à aquisição e à confirmação de que o produto

está bem, é tudo autorizado. E, portanto, falo por experiência, no sentido em que acho

que, com um orçamento pequeno, se consigo assim, quem tem um orçamento grande, se

o racionalizar e não esbanjar, ele vai dar. Se calhar as pessoas estavam habituadas a coisas

que não deveriam fazer parte dos gastos de um orçamento que é dinheiro de todos nós.

Como exemplo de uma coisa que é insignificante mas cada coisa é um dado, no conselho

científico estávamos muitas horas mesmo assim, achei que não seria uma despesa

elegível, a faculdade pagar o lanche e fiz a proposta, como administradora não pertenço

ao conselho científico, mas desde o tempo do criador da faculdade, que sou membro

convidado do conselho científico, fiz a proposta de haver rotatividade, por ordem

alfabética, que em cada conselho, um traz o lanche para todos, só para aí uma vez por ano

ou de ano e meio em ano e meio é que repete a pessoa, não custa nada e o dinheiro público

não é para isso. É um exemplo pequeno, por isso é que digo, os cortes têm que ser feitos,

o país vivia acima daquilo que tinha e não é por isso que as coisas ficam mal e às vezes

choca-me um bocado quando ouço dizer que as universidades e as faculdades não têm

dinheiro para pagar isto, não têm dinheiro para pagar aquilo, então como é que geriram o

dinheiro que tinham? Foi uma coisa que aqui há uns anos me assustou foi ouvir dizer que

havia uma unidade orgânica que não tinha dinheiro para pagar subsídio de natal, que tinha

que pedir dinheiro emprestado ao banco, para pagar aos seus trabalhadores e eu fiquei

francamente chocada porque uma das coisas que é automática na minha cabeça é no dia

2 de janeiro cabimentar, reservar os vencimentos e todos os meus compromissos fixos

anuais e a partir daí é que é extra para gerir. Mas pronto, cada um é cada qual, mas

portanto, em termos de ensino superior se queria chegar à vertente financeira, acho que

com uma boa gestão, o ensino superior pode continuar a funcionar bem, resumidamente.

E o ensino privado, como vê a convivência com o ensino público e a existência?

A convivência é quase nula… zero mesmo, porque é assim, o que pode acontecer é haver

um aluno, hoje em dia com os ciclos de estudo, vir um aluno que tem um grau de uma

privada, candidatar-se a uma pública. Aqui só falo dos comentários que ouço, depois há

muitos problemas para prosseguir os estudos nas habilitações que foram conseguidas e

no grau que foi obtido, porque a mensalidade é cara e portanto, não digo mais.

Mas considera que deveria existir ou não?

Eu acho que deveriam existir critérios rígidos, eventualmente, mais inspeção no sentido

interventivo e não repressivo, sou inteiramente contra a inspeção na sua vertente

repressiva, sou a favor das auditorias contra as inspeções. Portanto, acho que deveria

existir, por parte do ensino superior uma focalização muito grande para averiguarem os

programas, o que é efetivamente lecionado, o que é efetivamente avaliado, como se

atribui a classificação nas disciplinas, como é que as pessoas obtém o grau para que

existisse a tal paridade entre o ensino público e o privado, em termos da qualidade e ao

fim e ao cabo do respeito que ele deve impor aos cidadãos. Para mim, o ensino privado

só tinha lógica, se assim fosse, para que houvesse quase a obrigatoriedade de respeitar

integralmente…

Mas a A3ES já tem feito algum trabalho nesse sentido…

Tem. Mas não sei… é assim, por exemplo, eles estiveram aqui em fevereiro e sim, tem

um trabalho de pormenor mas não conheço o trabalho deles nas privadas por isso não

posso falar disso. Aqui sei o trabalho que fizeram, não sei o que fizeram nas privadas.

Acho que enquanto as privadas não derem a volta ao tal estigma de que o aluno que paga

tanto passar, é difícil. Mas posso ser eu que estou errada, como digo, não tenho muito

contato, não tenho nenhum com as privadas.

Processo de Bolonha, como viu a implementação, a sua opinião, foi bem conseguido,

mal conseguido, foi bem interpretado pelos alunos e professores?

Não… é assim, o processo de Bolonha foi um processo que não foi crescendo dentro da

universidade como acho que deveria ser e depois regulamentado, foi ao contrário, foi um

processo que foi imposto por normas e portanto, legislativamente, impuseram e as

unidades orgânicas tiveram que se adaptar a ele. Tudo isto traz sempre coisas que é óbvio

que são polémicas e que podem não ser tão boas quanto isso porque o que é que acontece?

Como as escolas tiveram que adaptar os seus currículos académicos, os percursos que

tinham definido para licenciaturas de 4, 5 anos, serem reduzidas para 3, 4 anos, houve

como que um corte dos cursos e em tudo aquilo que se considerava que podia ser uma

disciplina menos obrigatória, não lhe vou chamar acessória, para tentar deixar o núcleo

duro no 1º ciclo. Claro que depois como as outras acabam por fazer falta depois para a

vida profissional, o que Bolonha fez na prática foi quase que a obrigatoriedade que um

aluno do ensino superior sente que só pode parar os seus estudos, pelo menos ao nível do

grau de mestre. Porque tendo uma licenciatura de três ou quatro anos, tendo mestrado de

dois anos, tendo os dois graus, mesmo assim ainda se sente por parte das entidades

empregadoras quase que “menos respeito” do que pela antiga licenciatura de cinco anos.

Porque foi um processo que foi todo ele muito esculpido, muito matemático, porque

Bolonha acabou por ser um processo muito matemático de analisar as disciplinas, as que

eram importantes e que teriam de constar do 1º ciclo, aquelas que apesar de serem

importantes poderiam passar para o 2º ciclo, a contabilização depois dos ditos ECTS em

função da carga horária, do que os alunos trabalham ou não trabalham, que é tudo muito

difícil de medir e a verdade é que depois acredito que algumas disciplinas e ouço os

professores no dia-a-dia, falamos muita vez, algumas disciplinas deviam ter tido a

atribuição de mais ECTS pelo esforço que exigem aos alunos, outras se calhar têm ECTS

a mais e, como digo, não foi um processo de dentro para fora como acho que devem ser

estes processos, foi de fora para dentro, é mais difícil. E ainda hoje em dia, falando com

os próprios alunos, tenho esse cuidado, aqui temos uma relação muito direta com os

estudantes e com a associação de estudantes e porque também tenho filhos que

concluíram a universidade e outros que ainda lá estão, tenho o cuidado de tentar discutir

esses assuntos e percebo que os próprios que tiram o 1º ciclo de Bolonha e o 2º ciclo de

Bolonha, têm consciência, eles próprios sentem que “valem menos” do que uma

licenciatura de 5 anos de antigamente, chamemos-lhe assim, porque têm a consciência

que o grau de exigência era diferente, que os cinco anos eram compactados, apenas não

tinham dois graus, tinham só um.

E em relação à parte pedagógica, de maior autonomia do aluno, de o professor não

ser tão dirigente na aula, acha que foi conseguido?

Mas isso não é Bolonha que consegue. Porque a questão é, o meu conceito de ensino

superior não é por Bolonha ou não Bolonha, o meu conceito de ensino superior é que no

ensino básico aprendem-se as normas para a pessoa adquirir conhecimento, no ensino

secundário, ampara-se o ser em crescimento para ele ir ganhando autonomia e aprender

como se deve movimentar. O ensino superior já não ensina nada a ninguém, orienta-se

por onde deve ir procurar. Portanto, para mim, não tem nada a ver com Bolonha, tem a

ver com a autonomização em termos de aquisição de conhecimentos e cultura que a

pessoa vai adquirindo ao longo da vida e que se vai tornando mais autónoma para fazer

as suas próprias pesquisas e investigação. Não concebo o ensino superior, seja em que

disciplina for, em que o professor chega ali, já debitei e agora decora, nunca o concebi

assim. Claro que existem normas básicas, regras básicas que têm que ser sabidas naquela

área mas essas se calhar dão-se numa aula ou duas e depois vamos discutir este assunto…

tem que ser, aliás, por acaso foi sempre uma das coisas que gostei nesta faculdade, é que

o lema da (IES), exatamente utilizando a palavra (nome) como uma nova maneira de

ensinar e aprender direito, porque não é debitar conhecimento, nunca vi o ensino superior

como um débito de conhecimento do professor que debita e o aluno que assimila, não

pode ser. Temos que estar a colaborar para que o país se desenvolva com seres pensantes

e autónomos, portanto, Bolonha aí, acho que não alterou muito, o conceito já era esse

antes.

E a parte da internacionalização, da homologação dos diplomas, acha que funcionou

bem? A equivalência das disciplinas…

Há a questão das equivalências, dos reconhecimentos, a questão das creditações, é assim,

não é um processo fácil porque não há disciplinas standard a nível dos países, nem vou

falar a nível mundial, que é mais complicado, falar a nível da europa, Erasmus, por

exemplo, é completamente impossível a nível do direito porque as normas que são

analisadas são as normas vigentes em cada país, portanto, não é possível fazer programas

de disciplinas que sejam homogéneas para todos os países participantes no programa

porque aí era, tem esta disciplina e esta, ok, seria por si um processo automático, “de

secretaria”, chamemos-lhe assim. O que é que acontece? E aí respeito perfeitamente e

acho que se há livre circulação a vários níveis, a primeira, quando se fala em livre

circulação é de pessoas e pessoas implica também os seus percursos e a sua formação, só

que não é um processo simples e isso para mim é a parte mais complicada de Bolonha e

sou inteiramente a favor das creditações, das equivalências, dos reconhecimentos, mas

isso trouxe um acréscimo de trabalho que por vezes é difícil que as instituições de ensino

superior respondam como acho que se deve responder e que por vezes é impossível,

porque é assim, um aluno que vem com uma carga enorme de disciplinas feitas, para ser

analisado, o professor tem que, disciplina a disciplina, picar os programas todos para ver

se os programas essenciais a essas disciplinas foram dadas. E as pessoas não são

polivalentes, o que quer dizer que tenho que ter, por exemplo, no caso do direito, pelo

menos, um professor de direito público, para analisar as disciplinas de direito público, um

professor de direito privado para analisar as disciplinas de direito privado, um professor

da área de ciências jurídicas gerais e afins para analisar mais disciplinas. Haver a

sincronização, no meio do trabalho docente e não sei o quê, ir para um, ir para outro,

voltar, não é um processo simples. E acho que por uma questão de respeito para com a

pessoa que está a solicitar aquilo, deve demorar-se o mínimo tempo possível, o que é

quase impossível e essa é a parte de Bolonha que acho que está mais complicada porque

envolve vários professores, porque um professor de direito, está bem que tirou um curso

de direito, mas não tem obrigatoriamente, nem consegue ter uma análise pormenorizada

do que deve ser um programa de cada uma de todas as disciplinas de todas as áreas. E isto

como se passa em direito, passar-se-á de certeza em medicina, engenharia, onde quer que

seja, portanto, essa parte está bem pensada, as pessoas têm o direito, dentro da mobilidade

de circulação de pessoas, a fazer umas disciplinas num país e outras noutro, por exemplo,

estou a pensar no caso Erasmus europa que é o mais simples, mas depois o processo

interno de reconhecimento disso para atribuição de ECTS não é tão simples como parece

ou não é tão automático como seria desejável. Penso por exemplo, que se calhar nas áreas

das matemáticas, da parte das engenharias e tecnologias já será diferente, será muito mais

consentâneo. Na nossa área sinto isso, uma dificuldade enorme, sinto que andamos

sempre a pedir esclarecimentos a um professor e a outro e a outro, apesar de existir uma

comissão, existem comissões constituídas mas os próprios professores mandam mails

para os colegas, ajuda-me aqui, porque cada um depois tem as suas áreas específicas. Não

é fácil.

Passando agora para a parte mais financeira. A lei de 92 introduziu as propinas. Há

autores que consideram que a ausência de propinas é uma questão de

democratização do ensino, há outros que consideram que o seu pagamento é uma

responsabilização. Nestes dois extremos, onde se situa?

Respondo-lhe com uma frase muito minha, tudo o que é dado não tem valor, não se

valoriza e eu costumo dizer que nem que seja um cêntimo para que as coisas sejam

devidamente valorizadas devem ser cobradas. Porque, infelizmente, o ser humano acha

que o que não custa trata-se de qualquer maneira, o que custa, alto lá, já vão ao meu bolso,

tenho que pensar. Portanto, estou a falar com gíria mas é o espírito que tenho que é ensino

superior inteiramente gratuito sou contra porque tudo o que é dado não é valorizado e

portanto, haveria uma descredibilização e um desaproveitamento de tudo o que pode ser

dado no ensino superior. Isto não invalida que eu não coloque em causa as questões de

quem tenha dificuldades financeiras e acho que essas pessoas devem ser apoiadas e devem

ter os subsídios necessários para quem tem qualidade e quer investir e quer estudar

efetivamente não seja prejudicado pelo facto de não ter meios financeiros, são duas coisas

diferentes. Portanto, não é por existir dificuldade financeira que uma pessoa deve ser

prejudicada, se tiver cabecinha e capacidade de trabalho e etc., nunca, agora acho que

oferecer é desvalorizar. Portanto, sou a favor do pagamento mas o pagamento sempre

proporcional e nunca prejudicando quem não o possa efetuar. Tudo o que é gratuito é

desvalorizado.

E quem deveria atribuir essas bolsas? O estado? As próprias instituições? Quem

deveria ajudar os alunos?

Não sei onde está a querer chegar porque é assim… nós temos, através da Direção Geral

do Ensino Superior que se articula com os serviços de ação social, a atribuição de verbas

para serem distribuídas de acordo com critérios do SAS, atribuídas bolsas aos alunos que

preenchem os requisitos que têm as tais carências. O que acontece é que por vezes, por

uma razão ou por outra, os critérios da ação social são critérios impostos por lei portanto

a atribuição exige que se preencham aqueles requisitos. E, por vezes, acontecem percalços

na vida das pessoas que, por uma razão ou por outra, porque aconteceu isto ou aquilo,

falham nos requisitos, não quer dizer que a pessoa não tenha a necessidade e não lhe é

atribuída a bolsa. Então, a associação de estudantes, com quem nos articulamos

lindamente sentiu que por vezes havia colegas que tinham necessidades, carências e que

tinham ficado sem bolsa por uma razão A ou B, que eles sabem. E a própria associação

ofereceu-se, com dinheiro que tinha atribuir bolsa a esses carenciados que não tinham

tido, só que a associação, e eu acho que eles são muito bem formados, a associação não

quer saber a quem é atribuída a bolsa para não haver o rótulo do pobrezinho e pediu à

faculdade para ser a faculdade sigilosamente que àqueles casos que têm dificuldades com

as propinas, que sabemos que pediram bolsas e que não tiveram, a fazer a distribuição

desse dinheiro.

Como se faria a ajuda aos alunos…

Acho que devem existir serviços centralizados para atribuir essa ajuda e isto porque na

(IES) tenho pessoas para as áreas que necessito que trabalhem, os professores para darem

aulas, o pessoal da vertente administrativa para todas as tarefas que são necessárias

fazer… mas isto é uma (IES), não me passa pela cabeça e então agora com as restrições

de massa salarial estar a ter aqui um psicólogo, por exemplo e acho que os SAS têm vários

psicólogos, têm que ter dentro dos seus quadros isso mesmo para analisar os casos e para

ver quando há efetiva necessidade, quando há dúvidas questionarem. Portanto, sou a favor

de serviços centralizados a esse nível porque podem ter profissionais muito mais

experimentados para analisarem aprofundadamente quem deve ou quem não deve ter e

mesmo para questionarem superiormente quem não preenche os requisitos todos se

continua a achar que deve ter apesar disso por isto ou aquilo e aqui não tenho os técnicos

necessários para fazer esse tipo de análise. Portanto, sou a favor de que tudo o que é ação

social deve estar centralizado no serviço que tem que ter o know how em termos de

recursos humanos para trabalhar bem o assunto.

O valor dos mestrados e dos doutoramentos, por vezes os mestrados integrados têm

o mesmo valor das licenciaturas na maior parte das faculdades. Concorda com a

diferença de preços, às vezes muito díspares entre estes ciclos de estudos?

É assim, concordo e não concordo e vou explicar porquê. A postura que tivemos na (IES)

é aquela com a qual concordo, que é a seguinte, uma vez que Bolonha impôs as

licenciaturas de três, quatro anos e os mestrados de dois anos mas que na prática

corresponde à antiga licenciatura, o nosso princípio é que a propina de mestrado é igual

à da licenciatura e isso concordo porque a pessoa em termos profissionais hoje em dia

sente-se obrigada a fazer o mestrado e só com isso é que vai para o mercado de trabalho.

Os doutoramentos já é diferente, é uma opção e não sejamos utópicos, não queremos um

país de doutores, queremos que sejam doutores aqueles que têm capacidade para o ser e

que estão virados para a investigação e para essas áreas. Porque existem 1001 tarefas que

têm que ser desempenhadas e se formos todos doutores, o país vai à “falência” porque

não é só disso que vive o país, portanto no doutoramento já é uma questão de opção e aí

acho que, como opção, não é que seja caro ou seja barato, não é isso que estou a pôr em

causa. Acho que, enquanto que no mestrado, ao atribuir uma propina igual à da

licenciatura, nós, instituição de ensino superior, estamos a ter prejuízo porque o custo do

aluno é muito superior ao da propina, o custo efetivo de docentes, não docentes, materiais,

equipamentos, de abertura de edifício, o custo, temos consciência, as instituições de

ensino superior que a propina não paga, (e agora falo do 1º ciclo, nós por opção e o 2º

ciclo tem uma propina igual). No 1º ciclo, o que o aluno paga não paga a despesa que a

instituição tem com aquele aluno, mas temos consciência que deve ser a mesma no 1º e

2º ciclo e irmos angariar receitas a outro tipo de coisas porque hoje em dia, carreira

profissional sem 2º ciclo, esqueçam. O 3º ciclo já é opção académica e a opção académica

acho que já deve ter o valor daquilo que custa.

No seu entender, qual o dever do estado perante o ensino superior público? Deve ser

avaliador, regulador, financiador..?

Avaliador, acho que sim, mas deve ser tanto no público como no privado. Porque acho

que é tendência do ser humano, não estou a falar das instituições, quando sentem que não

são avaliadas, desculpe a expressão, descambam, portanto, avaliador acho que deve ser

sempre. Financiador, acho que, como em tudo na vida, tudo o que é dado não é valorizado

e portanto, as instituições não conseguem sobreviver só com receitas próprias. Sou a favor

de um modelo que existe de haver uma percentagem do OE, portanto, financiador numa

quota parte e no resto, que cada instituição, desculpe a expressão, arregace mais as

mangas e vá à procura de receitas próprias porque na nossa vida e quotidiano, as pessoas

não desenvolvem as carreiras profissionais com o que lhes cai do céu, têm que arregaçar

as mangas e ir à procura e acho que isto é um bocado assim, faz parte do conceito geral

que é, tudo bem, não se consegue existir sem um plafond base, sim senhor, OE, mais do

que isso, quem quer mais lute por isso, portanto, como financiador global, não. Aliás, o

meu sonho era um dia dirigir-me à ministra ou ministro das finanças e dizer, eu vivo com

receitas próprias, não preciso de OE. Esta é a minha forma de ver as coisas, tenho muito

a mania da autonomia, por isso é que gosto da autonomia do ensino superior.

E em termos de legislação? A regulação do estado para o ensino superior? Há o

RJIES mas depois há uma série de normas que chocam um bocadinho com …

Confesso uma coisa, acho que e contra mim falo porque sou jurista de formação e estou

numa casa de juristas, mas há uma tendência excessiva para legislar, sou inteiramente

contra isso. Acho que a norma só deve existir quando se sente a necessidade absoluta e

imprescindível dela para conseguir sobreviver, norma sobre norma sobre norma só gera

confusão e muitas vezes antagonismo… e é uma coisa que noto mas não tem só a ver com

o ensino superior, tem a ver em geral com a administração pública, aliás, a tal, tão

esperada por mim, ao fim e ao cabo, estudo aprofundado da administração pública e a sua

renovação, reconstrução, chamem-lhe o que quiserem, restruturação, é uma coisa que não

é fácil porque já dei por mim a perder muito tempo, eu e um professor que agora foi para

o tribunal constitucional, perdemos imenso tempo a juntar os dois a quantidade de,

desculpe a expressão, lixo, que os ministérios nos pedem, inquéritos, dados e não sei o

quê, que só servem para perdemos tempo e que depois quando vamos conjugar dados, o

mesmo ministério recebeu três vezes uma resposta idêntica que a pediu de maneira

diferente e que só nos fez perder tempo. Acho que, falando assim em termos

perfeitamente utópicos, aquilo que gostava, que foi aquilo que eu e esse professor

comentámos muitas vezes em termos dos famosos simplex “e companhia”, era que

existisse um verdadeiro simplex no sentido de haver uma base de dados “megalómana”

da administração pública, onde os dados carregados uma vez por uma instituição

servissem a quem os pudesse aproveitar e nunca mais nos voltassem a repetir o pedido

outra vez sobre esses mesmos dados. E quando falo em dados, falo em termos das normas,

das contratações, das regulações, porque, por exemplo, faz-me impressão ter um quadro

que é pedido anualmente pelo ensino superior que se chama o RBI, um exemplo, como

podia haver o INDES, o RENAR, para qualquer um, estou a dar o exemplo daquele que

faz o levantamento dos recursos humanos que temos, docentes e não docentes,

trabalhadores, chamemos-lhe assim, tenho ali todos os dados e mais alguns daquelas

pessoas e portanto o ensino superior faz os cruzamentos e vê as pessoas que acumulam,

que pediram acumulação, que não pediram, etc., entre outros dados. Faz-me impressão

depois quando ao longo do ano vêm outros inquéritos sobre dados de professores ou

trabalhadores e tal, quando já lá está tudo. E quem fala disso, fala de balanço social e de

outras coisas em que os dados estão lá e pode até não haver sobreposição total nos vários

mapas que pedem, mas se calhar se o mapa 1 tivesse mais 2 ou 3 perguntas, englobava o

mapa 2 também, em que se repetem 1001 e só há duas ou três novas. Portanto, aquilo que

eu aspirava e sempre aspirei porque sou uma sonhadora e ainda quero acreditar na reforma

da administração pública, não é o conceito que se está a ver agora e, como disse, não me

conecto com ninguém, até porque estou numa descrença total com partidos políticos, para

mim reformar a administração pública não é pontapé, vai-te embora que estás cá a mais,

não é o número que conta. Para mim, reformar é efetivamente racionalizar, não repetir

procedimentos para que as pessoas tenham mais tempo disponível, automatizar o máximo

de tarefas para libertar tempo às pessoas para que possam fazer outras coisas e então aí,

se calhar, há elementos a mais na administração pública. E, das duas uma, antes de dizer,

serviste enquanto serviste e agora vai embora que já não prestas para nada, que é uma

coisa que não suporto e esta pessoa está a mais nestas funções, o estado já exerce todas

as funções que deverá exercer ou será que deveria exercer outras que não estão a ser

exercidas? Será que esta pessoa pode exercer esse tipo de funções? Não sou contra… e já

trabalhei à frente de recursos humanos em instituições que eram para aí mais quatro ou

cinco vezes esta em termos de pessoal e não aceito situações como tinha de inventar

tarefas para pessoas que não conseguiam fazer esta nem aquela, mas inventava, não as

deixava sem trabalhar. Agora, acho que eventualmente, alguns poderão ser dispensados

da administração pública se não se adaptarem a nenhuma das existentes nem a nenhuma

daquelas que é necessário fazer ou que ainda não está a ser feita, mas é uma coisa que

deve ser estudada, feita com pés e cabeça e com dados, e não é tipo, olha, agora vamos

extinguir aquele instituto, vão todos para a mobilidade, os bons e os maus. E quando digo

bons e maus é sem qualquer conotação, pronto, aqueles que desempenham melhor as suas

tarefas, aqueles que não estão tão bem enquadrados, que estariam melhor noutra tarefa

mas naquela não. Para mim, a reforma do estado tem muito que se lhe diga, não é cortar,

nem fechar, nem diminuir, pode até vir a ser aumentar, não sei se é aumentar se é diminuir,

é racionalizar, porque até posso, com mais aumento, produzir mais efetivos e ter mais

dinheiro, agora depende, há que estudar as coisas. Estar assim a olhar para o ar sem fazer

nada, seja quem for, não é a minha maneira de ser e de estar, aliás, por isso é que eu já

aqui estou há tantos anos, desde 2002, há 12 anos e gosto de estar aqui e fazer o que faço

porque lá está, como isto é uma casa pequena, tenho o quadro dos docentes como o quadro

dos não docentes muito aquém do que seria desejável, o que tem inconvenientes porque

as pessoas têm sobrecarga de trabalho mas tem vantagens que é, costumo dizer, até

quando o presidente da CAE cá esteve e ele riu-se comigo, com a minha expressão e

disse-lhe, por amor de deus, não sou monárquica mas, cada um, na sua área de atuação

pode sentir-se um reizinho porque aquilo porque sempre me pautei, e como não tenho

chefias intermédias, foi por ter quadros qualificados, só tenho três pessoas que não são

técnicos superiores porque, na prática, tenho uma a duas pessoas por serviço e portanto,

se não tiver pessoas qualificadas, rebento, porque além de dirigir, tenho que fazer muito

trabalho técnico e não dá, ninguém aguenta fazer esses serviços todos. A minha

preocupação quando aqui cheguei é que tinha um quadro, além de muito reduzido, com

poucas habilitações, foi tentar ir abrindo concursos e apetrechar o quadro com pessoas

qualificadas e o conceito de técnico superior é precisamente esse, aquele que tem

autonomia e capacidade de produzir e emitir pareceres e de auxiliar à decisão, e como

disse à CAE, os não docentes aqui têm uma coisa que acho que é boa e não é estar a

defender a minha casa, é que cada um se pode sentir reizinho no seu serviço porque ou é

um ou dois e dou autonomia no sentido que acho que devem ter que também sempre

gostei de a ter enquanto técnica superior, que é para pensar o que está mal, o que está

bem, propor alternativas e mudanças, porque é muito mais fácil para mim, como dirigente,

tenho que decidir, decidir com os serviços todos do que estar eu a pensar o que é que está

mal e o que está bem, não quer dizer que não pense, mas essencialmente passo para aí

sete a oito horas do meu dia em relações públicas e a minha tarefa de administração é

depois às 7 ou 8 da noite porque acima de tudo estão as pessoas e é para isso também que

cá estou, sejam alunos, docentes ou não docentes, sejam as relações com a reitoria, o

ministério ou isto ou aquilo, faz parte. Mas, como usei a expressão de cada um ser um

reizinho e depois o presidente da CAE disse, ai mas quer o regime monárquico aqui? Não,

não me interprete mal, quando digo é no bom sentido da palavra porque lá está, as pessoas

ao terem autonomia gostam do que fazem, sentem-se responsáveis, produzem mais e com

melhor disposição.

Passando ao orçamento da instituição, já percebi que gere bem os seus recursos…

Não sei, eu giro como diz o professor Medina Carreira, como uma boa dona de casa…

E nesse sentido perguntava-lhe se tem tido algumas dificuldades financeiras e de que

forma as tem contornado, se é que existem.

Foi um pouco o que lhe disse há bocado. É assim, o que temos de OE e de receitas próprias

tem dado para vivermos, vamos tendo cortes e vamos vivendo, onde se tem cortado é

naquilo que considero que pode sempre ser cortado, mais ou menos supérfluo, mais ou

menos dispensável e legal, porque tenho a consciência, mas às vezes não sabemos, que

tenha consciência nunca ilegal, mas dentro do mais ou menos necessário e portanto, vai-

se fazendo a gestão disso. O dizer do que falta, é assim, neste momento, o que está a

existir é uma situação um bocado ridícula e que tem a ver com as incongruências

financeiras do estado, que é o seguinte, não vou ser mentirosa, temos pouco dinheiro, não

vivemos mal, não nos falta dinheiro. Mas há aqui constrangimentos orçamentais porque

como existe a lei da regra do orçamento desde 2011, que a massa salarial não aumenta,

portanto, vencimentos dos docentes e não docentes têm que se manter em tanto ou inferior

ao do ano anterior, quer dizer que desde 2011, 2012, 2013, agora em 2014, não posso

gastar mais em vencimentos e remunerações do que gastei no ano civil anterior, isto cria-

me constrangimentos porque, não tem a ver propriamente com a falta de dinheiro, tem a

ver com as regras, que é, não posso contratar mais professores, não posso contratar mais

não docentes porque não posso aumentar a massa salarial. No entanto, isto é ridículo

porque, se necessitar de um trabalho não posso contratar professores nem não docentes,

mas se for contratar um professor com contrato de tarefa para me fazer a lecionação de

uma hora tal ou de uma disciplina tal ou de um convidado, que me sai mais caro ou se for

contratar uma firma para fazer um trabalho que um não docente poderia fazer mais e

melhor, aquilo que acho é que é uma completa inversão de valores, vou gastar mais, fico

pior servida mas estou a respeitar a regra da massa salarial e isto para mim é uma

incoerência total, portanto, o que queria dizer é, não sinto falta de dinheiro, mas a

limitação da massa salarial está-nos a asfixiar. E está a asfixiar porquê? Ainda por cima

isto é uma faculdade jovem, onde fiz o recrutamento da maior parte das pessoas e portanto

são pessoas jovens, nas faculdades grandes, antigas tem circulação das pessoas mais

idosas que se aposentam e onde podem entrar outras mais baratas, aqui não. É um quadro

formado de gente jovem, gente dinâmica, aliás, a primeira pessoa que se aposentou agora

este ano, até nós estamos espantados porque quando veio para aqui já era a pessoa que

tinha mais idade e portanto aconteceu porque não se vêm nos próximos anos pessoas a

aposentar-se pela idade com que entraram aqui. Isso limita-nos e nos professores a mesma

coisa e depois isto também tem a ver com a dinâmica das casas, esta (IES), nova, que já

tem mais de dez anos, ela nasceu por oposição às outras porque senão não havia

necessidade de ter nascido e a nossa estrutura de curso é um curso quase que

multidisciplinar porque é um curso em que o aluno tem as chamadas disciplinas

obrigatórias que são as fulcrais da área do direito mas depois tem toda uma série de

disciplinas, uma mais direito puro e duro, outras mais de áreas afins como economia,

sociologia, ciências políticas em que os alunos vão montando o seu curso com as optativas

e fazem um percurso e ficam com uma habilitação de acordo com aquilo que tencionam

seguir na sua vida profissional mais vocacionalizado. O que é que acontece? Os

professores do quadro da casa não são poli, poli, poli, quer dizer, há limites e então tenho

professores do quadro, massa salarial e tenho os chamados professores convidados, que

convido para dar a disciplina A, que é da especialidade dele, no sítio em que está, perito

nisto, o professor B que vem dar a disciplina tal e portanto, tenho em áreas de

especialidade docentes que são o chamado “topo” e conhecidos como tal em termos

nacionais e internacionais e isso tudo entra para a massa salarial, tanto os convidados

como os da casa. Quando começamos a sentir, e estou a falar só na parte dos docentes

porque é outra questão que faço é, apesar da massa salarial ser uma só, para não dizerem

que defendo o grupo dos docentes ou dos não docentes, a massa salarial que tinha a 31 de

Dezembro no ano em que isto foi implementado, nos não docentes permanece e portanto,

quando tenho folga aí é para esse lado que entra alguém, quando tenho folga nos docentes,

é por esse lado que entra alguém. E chegamos agora a uma situação em que exatamente

eu fiz quadros para o cientifico com quanto custa cada convidado em cada categoria com

cada percentagem e as necessidades que temos com os professores da casa, tenho que

respeitar a regra da massa salarial porque há coisas que para mim são sagradas, que é as

normas são para se cumprir, portanto, para recrutar mais professores de carreira para a

casa, tenho que abdicar de professores, o que pode vir a alterar a estrutura do curso como

nós a concebemos, com muitos professores convidados, que temos muitos professores

convidados, cada um para sua disciplina específica. Mas pronto, é nesse sentido que sinto

algum constrangimento, não pela falta de dinheiro que teria para lhes pagar porque podia

pagar-lhes como tarefeiros mas para respeitar a regra da massa salarial.

Existem outras regulamentações que choquem com a sua gestão, com a mobilidade

de gerir os recursos que tem?

Existir, existem, elas vão existindo e nós vamos dando por elas no dia-a-dia, por exemplo,

tem um bocadinho a ver com a massa salarial mas não só, que é as tais regras, no bom

sentido da palavra, que é no reaproveitamento dos professores que exercem funções

públicas e de não poder abrir concurso ao exterior para recrutar pessoas. Percebo que a

administração pública tem gente a mais, sou a primeira a respeitar essa regra. Mas quando

abro um concurso ou coloco na BEP, na bolsa de emprego público uma necessidade que

tenho de um colaborador e não me responde ninguém à altura do perfil que eu preciso,

acho que se não há, não vou fabricar, não vou inventar, nem vou ficar privada, deveria

poder ir ao mercado, entraria só alguém que correspondesse ao perfil, porque este aperto

de não poder entrar, claro que sei que há a norma de exceção, sei que os reitores têm

competência para poder autorizar, a título excecional, mas nunca gostei das normas de

exceção, gosto de andar nas normas gerais, portanto, se for necessário, tudo bem em caso

de extrema necessidade, mas por princípio não. E dou um exemplo, esta doutora que agora

se aposentou era uma polivalente, ainda cá está a arrumar as coisas dela, ela era o meu

braço direito no planeamento estratégico, era o braço direito dos professores no

planeamento escolar que fazia os horários e os calendários de exame, toda essa parte e

tinha uma visão, porque lá está. Ela entrou poucos meses antes de eu entrar, tinha uma

visão total da casa que quando alguém tinha alguma dúvida dizia-se que a doutora é que

sabia porque ela e eu somos daquelas que viemos quase para a raiz disto, portanto, nós

duas temos uma coisa que acho que é importante em qualquer profissão. Cada um na sua

área, mais tarde ou mais cedo, penso que produz trabalho de qualidade se assim o quiser

e tiver os conhecimentos e capacidades para isso. Mais do que isso, acho que é importante,

quando uma pessoa entra num serviço, beber o espírito do serviço, entrar na dinâmica e

no conhecimento geral das coisas porque por vezes uma pessoa pode ser muito boa e pode

falhar qualquer coisinha que esteja a decorrer em paralelo e que a pessoa não se tenha

apercebido e portanto, acho que nesse aspeto, a visão global das coisas… por exemplo,

agora é um aparte para depois quando entrar no seu mercado de trabalho, uma coisa que

a mim me choca imenso é uma pessoa que vem aqui a uma entrevista e que nem sequer

se deu ao trabalho de ir ver os nossos estatutos, os estatutos da universidade, como

funcionamos, faz-me impressão, quer dizer, quer vir trabalhar para aqui e não tem o

mínimo de curiosidade pelo serviço onde pretende exercer funções, o que somos e como

somos, portanto tem um bocado a ver com isso. E, nesse aspeto, às vezes há as tais

limitações legais ou de recrutamento… outra coisa que percebo, a centralização de

compras que é outra norma que é… percebo que comprar em quantidades faz poupar

dinheiro, não contesto, inteiramente a favor. Mas, para comprar em quantidade, por um

lado, posso poupar dinheiro mas também acabo por estar a investir antes do tempo. Ponto

um. Ponto dois, tenho que fazer um procedimento com uma previsão enorme e que pode

não corresponder a uma série de coisas. Por exemplo, eu percebo uma central de compras

para instituições muito grandes que têm tudo às paletes e portanto aí há uma relação de

custo benefício. Em instituições pequenas, onde por exemplo, nós começámos a fazer

compras pelas ESPAP, começámos a tentar contabilizar, aquilo que vemos é que não

temos capacidade de negociar para a dimensão do que vamos comprar. E, ou nós, que foi

a hipótese que colocámos agora, ou nos aglutinamos a outras unidades orgânicas e

fazemos um só contrato todos, o que pode criar areias na engrenagem porque quanto mais

envolvidos mais problemas pode trazer… vamos cumprir a lei e fazer as compras pela

central de compras mas não vamos ter qualquer benefício com isso porque a nossa

dimensão é reduzida e não temos capacidade de negociação e depois há outra questão que

é, não é ser resistente, nunca foi a minha política, aliás estou sempre aberta às novidades

até ver se elas me trazem algum benefício e aí agarro-as de braços abertos ou ver que não

valem a pena e pronto. E o que sinto é que, com a central de compras, por exemplo, espero

ter capacidade de negociação que acho que não tenho, só se nos aglutinarmos a outras,

porquê? Já tenho na central de compras as firmas que ganharam os concursos para estar

na central de compras e será que essas são as que têm a melhor relação qualidade preço?

É que aqui eu discutia com os fornecedores, aqui tinha uma doutora que dizia tragam-me

amostras disto e daquilo, isto não presta, aquilo é melhor, mas o preço deste é assim e ou

me dá este preço ou eu compro ao outro e eu não posso fazer isso numa central de

compras. Percebo que uma central de compras é ótima para serviços com uma grande

dimensão e com capacidade de negociação, agora para serviços pequenos, vamos ver.

Porque a capacidade de negociação e falo por mim, que tínhamos aqui com os

fornecedores, que era pronto, como digo, acho… também tem a ver com o perfil das

pessoas e a pessoa que está com as compras gosta das compras e dava-me vontade de rir,

às vezes via por exemplo, o papel das mãos na casa de banho, exemplos ridículos, mudava

o papel, está um rolo à experiência de cada vez, o que for melhor é o que ganha e há-de

ser pelo preço mais baixo dos três. Este tipo de coisas não dá para se fazer com a central

de compras. Vamos ver. Mas é assim, as normas existem, sou cumpridora das normas,

central de compras. Espero que não fiquemos pior ou com mais gasto. Essa é outra, a

central de compras, mas veremos.

O facto de não poder contratar novos docentes faz com que os professores que

existam tenham as horas letivas ao máximo?

Não. É assim, as pessoas têm tempo para investigação, as pessoas têm tempo para fazer

isso tudo. O famoso estatuto docente da carreira universitária prevê que um professor de

carreira tem que ter 6 a 9 horas de aulas e portanto, a questão é esta, tenho lutado ao longo

dos anos para que os professores de carreira tenham o máximo de horas, as 9 horas, mas

muitas vezes não tenho conseguido e então estão entre as 6 e as 9 e atenção que as 6 a 9

letivas, não quer dizer que os professores tenham que trabalhar sempre 6 a 9 horas por

semana, têm que trabalhar 35, neste caso agora 40 horas, como todos os trabalhadores da

administração pública, 40 horas dá para investigar muito e para preparar muita aula, ainda

sobram 31 para além das 9, portanto tenho aqui uma questão em que tenho efetivamente

falta de professores, mas a minha falta de professores tem a ver com opções porque ao

colocar mais professores vou prescindir de especialistas porque a massa salarial mantem-

se e isso é uma questão que o científico vai ter que decidir, não é minha, para a massa

salarial se manter vou ter que prescindir de especialistas, o que não quer dizer que não

ache que os professores pudessem ter mais horas letivas porque não estão no máximo e

enquanto não estiverem no máximo, podem estar e acho que os professores de direito não

tem muita vocação para investigação, as áreas tecnológicas têm mais, as letras não têm

tanto e isso é notório. É assim, há aquelas cerejas nos cimos dos bolos, que tenho cá

alguns, investigação, investigação, investigação, publicações em revistas internacionais

com peer review, etc., mas a tendência no direito não é muito….

Receitas próprias, doutora, de onde vêm? Onde as vai buscar?

Bem, as propinas e o orçamento de estado… para além disto, até pedi aos financeiros

exatamente para tentar ser o mais verdadeiro possível, para me orientar ao longo dos anos

porque é assim, temos a questão das taxas, que são algumas, das fotocópias, custos

administrativos, subsídios privados de instituições que tentamos angariar…

Podemos classificá-las como mecenato?

Não vamos muito por aí, por acaso… posso dizer-lhe que neste momento, a relação entre

o OE e receitas próprias na faculdade, já tenho mais receitas próprias do que o OE… com

os cortes que têm existido no OE, pronto, daqui o rácio que me fizeram foi 2012, 2013

está-se a fechar mas ainda não se fechou o orçamento, portanto, posso dizer, grosso modo,

que tenho um milhão e quase cem de OE e tenho 2 milhões e quase 500 mil no total,

portanto, é cerca de 1500 em receitas próprias…

Para aí 65 – 35%?

Mais ou menos e tenho tido uma guerra enorme nos estudos e pareceres e na prestação de

serviços porque os senhores professores andam a prestar menos do que prestavam

antigamente e ando sempre atrás deles, mas pronto. E atenção que isto é em função da

crise porque os serviços prestados e tudo o mais, tenho tentado subir o overhead porque

na altura de crise o overhead é a parte que fica para a faculdade e a outra parte de trabalho

deles, eu reembolso-os da parte do trabalho deles e o overhead é o que fica de lucro e cá

na faculdade os nossos overheads são dos mais baixos do mercado, 10%, quando há para

aí a 20 e a 30%, portanto, já disse que em tempo de crise tenho que atualizar os

overheads…

Então doutora, é a prestação de serviços, projetos…

Essencialmente o que temos de receitas próprias, para além das propinas são, taxas,

subsídios privados, financiamento de projeto, estudos e pareceres, prestação de serviços

e depois temos outras receitas diversas…

Aluguer de espaços?

Aluguer de espaço, bem, não temos espaço para nós mas ainda conseguimos uma a duas

vezes por ano alugar umas salazitas para um ou outro evento, mas é raro e lá está por aí

não vem porque a nossa dimensão é tão reduzida que tenho problema de espaço para as

próprias aulas e para a coincidência das aulas, um dos nossos problemas é os horários,

exatamente por causa da falta de salas.

E projetos, europeus, FCT?

A FCT, europeus, alguns até… uma tentativa agora com o Brasil e com a CPLP, temos

um doutoramento conjunto, um com Moçambique e outro com Angola, temos vários

projetos com o Brasil, com várias universidades brasileiras.

Doutora, e mecenas?

Não, é uma das coisas que já começámos a falar nisso e aliás tivemos o conselho da

faculdade na segunda-feira passada, onde também estou como membro convidado, só não

faço parte do conselho pedagógico … porque, lá está, as pessoas têm noção que, sendo

isto uma casa pequena e coordenando eu os serviços todos, se quando as pessoas estão a

discutir as coisas, se eu levantar o braço e disser isso é muito bonito mas não pode ser por

isto ou por aquilo, não vale a pena estar a discutir uma coisa que depois não tem pernas

para andar e as pessoas têm consciência de que é melhor eu estar ali e dizer logo se é

viável ou não. Mas, no conselho da faculdade começámos precisamente a discutir as

questões de fundraising e procura de cátedras e montantes de cátedras, de atribuição de

nomes a auditórios e esse tipo de coisas, salas e bibliotecas para conseguir alguma coisa,

estamos a iniciar esse percurso, num período de crise, num país em crise mas estamos a

iniciar esse percurso…

Há uma falta de cultura de mecenato também…

É, muito, essencialmente estamos um bocadinho virados agora para a tal nossa relação

com várias universidades do Brasil e com Moçambique e Angola, porque há muito

dinheiro, mais Moçambique e Angola porque ligam muito a ter o nome da pessoa assim

e assado num auditório ou numa sala, estamos a pensar jogar um bocadinho com esse

vetor, pode dar, pode não dar.

Dessas instituições das quais recebem subsídios, há-de haver uma contrapartida

deles para vocês ou ao contrário. Quando estabelecem protocolos, a outra parte

exige alguma coisa de vocês? E se sim, o quê?

Não muito, aquilo que temos estabelecido até agora, não temos grandes lucros mas temos

mais lucros nós do que outros. Dou um exemplo, temos aqui uma disciplina que só me

estou a lembrar do nome antes de Bolonha, que se chamava prática jurídica

interdisciplinar, que é uma disciplina do último ano virada precisamente para o estudo de

casos práticos, do tipo digamos quase como o acompanhar um caso, contestá-lo e vivê-lo

até à situação de julgamento. E isso entendemos, mesmo antes de Bolonha, nessa

disciplina sempre foi assim, que o ideal para quem deveria lecionar esse tipo de disciplina

seriam advogados com nome reputado na praça ou sociedades de advogados reputadas.

Em 2002, no ano em que entrei, passado dois meses celebrámos protocolos com quatro

sociedades de advogados de renome, que lecionam a título gratuito, pelo prestígio dado à

sociedade, colaboram com a (IES). Acaba por ser, se contabilizarmos isto, é um valor que

não pago a alguém para lecionar essas disciplinas porque são gratuitas. Temos outro tipo

de coisas como por exemplo, protocolos com o instituto superior de estudos militares e

GNR para lecionação do nosso mestrado em direito e segurança, que temos sempre todos

os anos edições duplas, uma edição aqui e uma edição lá só para a GNR e em que eles

nos pagam as propinas e nós pagamos aos professores. Há vários tipos de coisas desse

género em que por exemplo, tínhamos o mestrado em direito, o do 2º ciclo, o básico da

escola em si e pedimos a criação do doutoramento de direito em segurança na sequência

do que os professores que dão o mestrado de direito e segurança tinham sentido que

alguns alunos queriam continuar e portanto a agência autorizou a criação e as disciplinas

que consideramos básicas, porque o doutoramento não deixa de ser em direito e

segurança, disciplinas básicas, fizemos uma estrutura de curso em que há disciplinas

comuns, é o mesmo professor que dá e só aquelas que são diferentes é que são lecionadas

por professores diferentes, o que faz com que também exista racionalização de custos,

como é óbvio, porque, na prática, ao professor que é contabilizada uma hora letiva que é

aquela mas estou a contabiliza-la para dois públicos-alvo que pagam propinas diferentes.

Já tivemos cá cátedras, mas agora não, temos um dos protocolos com uma sociedade de

advogados, em que eles dão aulas gratuitamente, dão prémio aos alunos e ainda nos dão

um x para apoiar certas atividades aqui, temos protocolo com a CGD que nos dá um

montante anual jeitoso, que também é daí que às vezes adquirimos algumas coisas que

são necessárias para os alunos e também é um bocado com base nisso que os da associação

de estudantes fizeram agora esta iniciativa… o que mais? A minha memória está….

Mas então são mais ou menos protocolos dentro deste estilo…

Sim, dentro deste estilo, dentro dos tais overheads que nos vêm baixinhos porque não os

temos atualizados e portanto é dentro dessas coisas que vamos conseguindo e depois há

aquele tipo de concursos a que nos temos candidatado, já dois ou três. Por exemplo, ainda

agora o último foi um concurso para agentes de execução do Ministério da Justiça,

candidatamo-nos, ganhámos a prestação de serviços, o grupo dos professores da área dos

processos fizeram os procedimentos, a seleção, angariámos doutorandos dessa área para

fazer as correções das provas, as vigilâncias, e ficámos com o overhead e pagámos aos

professores os respetivos trabalhos, portanto esse tipo de coisas de vez em quando faz-se.

Temos protocolos com a direção geral do consumidor, temos cá uma unidade de mediação

de conflitos de consumo e atendimento ao público em termos de consumo e portanto é-

nos transferido um montante da direção geral do consumidor para as bolsas para quem

pertence a essa unidade de mediação e a quem faz o atendimento telefónico dos conflitos

de consumo, depois há o overhead para nós, conforme.

Têm imensas coisas…

Vamos tentando dentro do que podemos, somos pequenitos.

Doutora, a autonomia universitária. Como a vê e como a considera neste momento?

Sente-se autónoma? O RJIES alterou um bocado as coisas… como vê a autonomia

universitária?

Alterou sim… é assim, eu sou fã número um da autonomia, seja universitária, seja o que

for, mas sou fã número um, tendo a palavra autonomia inteiramente associada e sem

possibilidade de ser desagregada da palavra responsabilização. Só concebo a autonomia

com responsabilização e lembro-me que existem as restrições orçamentais e regras e não

sei o quê, sempre existiram, mas lembro-me aqui há um bom par de anos, bastantes, era

a professora Manuela Ferreira Leite ministra das finanças, já pode ver há quanto tempo

foi e na altura eu e o diretor daqui, a brincar, dizíamos, vamos ter com a ministra e vamos

fazer a proposta de nos dar quatro anos em paz, para gerirmos a faculdade à nossa maneira

e depois apresentamos-lhe as contas e mostramos como temos lucro. Foi uma brincadeira

que na altura comentámos e acho que ele ainda lhe chegou a dizer. Porque é assim, sou

fã número um da autonomia com responsabilização, sou inteiramente a favor da prestação

de contas, das contas serem analisadas ao pormenor, sou inteiramente a favor destes

sistemas financeiros que foram criados, SIGO e companhia em que a DGO pode, online,

estar sempre a ver como é que os serviços estão a funcionar em termos financeiros,

inteiramente a favor das execuções orçamentais trimestrais para ver e analisar os

relatórios de execução trimestral e para analisar como é que os serviços funcionam porque

acho que isso tem a ver com a responsabilização dos serviços e a utilização dos dinheiros

públicos. Agora, acho que as pessoas deviam ter mais autonomia porque lá está, por

exemplo, a regra da massa salarial é complicada porque é uma regra geral da lei do

orçamento, é uma regra específica para o ensino superior e a autonomia é no ensino

superior porque os outros graus de ensino não têm autonomia, são inteiramente

dependentes do ministério ou melhor, a que têm é muito reduzida. E, lá está, por exemplo,

a regra da massa salarial é uma regra que acho que é extremamente limitativa para o

ensino superior, devia era de haver responsabilização … é assim, tenho tido limitações

tenho, o RJIES teve mas nada que não seja superável quanto a mim. Agora, para mim, o

que está a fazer maior mossa na autonomia são as normas de âmbito geral, são as normas

do OE, aplicáveis a quem tem e a quem não tem autonomia e que, para quem tem

autonomia, acaba, não pela via direta mas pela via indireta, por restringir a autonomia.

Para mim isso é a parte pior da questão porque a autonomia em si não, não sinto, até

porque há muita coisa que em termos legais, por vezes parece que está restringida mas

depois o senhor ministro delega nos reitores e acaba por na prática ser como se tivéssemos

autonomia. Como hei-de dizer, também não estou a ir ao pormenor, mas estou a dizer que

no meu dia-a-dia não sinto, em termos de administração, restrição nesse aspeto, sinto

restrições em termos de normas gerais que também se aplicam a quem tem autonomia.

Isso sim.

Considera que podia ter um enquadramento legal para o ensino superior, diferente

do resto da administração pública?

É assim, o que acho é que se calhar não era necessário um enquadramento legal diferente.

Existe um RJIES e o RJIES já saiu há vários anos, 2007 e tem lá artigos que dizem que

ia ser regulamentados e ainda não foram. O famoso, salvo erro 108, que fala na

regulamentação de cargos, do serviço, não foi. E, o que acho é, não sou fã das normas de

exceção, porque acho que a exceção vira a exceção da exceção da exceção e nunca mais

se pára. Agora, o que acho é que deveriam existir sim senhor as normas gerais do OE, as

normas específicas do RJES, mas as normas do OE naquilo em que chocassem com as

normas do RJIES, deveriam salvaguardar, permitindo que não fossem implicadas…

Priorizar o RJIES sobre o OE…

Sim, cumprindo claro, as normas de contabilidade pública e todas essas porque é assim,

quando entrego a minha conta cumprirei sempre as normas de contabilidade pública. O

que me irrita é gastar mais dinheiro para determinado tipo de serviços porque não posso

gastar pela via que quero porque está limitado o montante.

Doutora, o RJIES também criou uma nova forma de gestão, a introdução dos CG,

com a entrada de membros externos na academia. O que lhe parece esta entrada de

membros externos, podem ter alguma ingerência na autonomia? Embora sejam

ainda minoritários mas como considera o seu contributo?

Depende. É assim, tudo tem sempre coisas positivas e negativas, o RJIES alterou

completamente as estruturas, não tanto a nível de CG, porque é assim, a nível de CG e

quando se fala em CG é para a universidade, nas faculdades há os conselhos de faculdade

que são, digamos, os equivalentes numa outra dimensão, que têm membros externos em

minoria, mas na prática, o CG é o sucedâneo do antigo Senado, que já existia. Na prática,

a grande diferença foi mais a existência dos membros externos e acho que é das tais coisas

que, na dúvida, sou sempre a favor, porque acho que pode ser uma mais-valia ou um

prejuízo, depende de quem entrar como membro, porque é assim, se há pessoas

conhecedoras e que tenham uma experiência muito rica de vida e que possam trazer um

aporte, uma mais-valia de coisas para as instituições, as instituições não devem estar

fechadas e é bom ouvir essas pessoas. Se são pessoas que vão para ali, que aceitaram o

convite só porque é prestigiante pertencer ao CG e que não vão para ali fazer nada a não

ser para fazer número, então não há interesse nenhum. Portanto, depende de quem calha

como membro externo, ponto número um, e o mesmo nos conselhos das faculdades,

embora aí seja diferente porque já é um núcleo mais pequeno, já se convidam as pessoas

mais ligadas à área que se quer ou para aquilo que se pretende. Agora, a estrutura de

governo das universidades, as unidades orgânicas é que mudou completamente,

antigamente era uma estrutura essencialmente colegial em que, a nível das unidades

orgânicas havia um conselho diretivo, até a conhecida sala do conselho diretivo deixou

de existir. Havia um diretor, o diretor decidia mas havia uma capacidade decisória enorme

no conselho diretivo, um órgão colegial. Com o RJIES, o diretor é todo-poderoso, até o

conselho científico quase não tem capacidade deliberativa, o conselho pedagógico não

tem capacidade deliberativa nenhuma, é meramente consultivo. Portanto, com tudo aquilo

que há de positivo ou de negativo na centralização, porque há vantagens e inconvenientes

em tudo.

E a doutora concorda ou preferia o esquema anterior…

É difícil estar a pronunciar-me porque funcionei bem com os dois esquemas e aí é

daquelas coisas que me custa extrapolar para a utopia do que será melhor ou pior sem ser

a minha vivência. Funcionei muito bem com o esquema do conselho diretivo porque era

um conselho relativamente pequeno e funcionava muito bem e portanto não tenho

problemas porque acredito que num maior ou onde existam litígios e divergências, os

órgãos colegiais são sempre mais polémicos para as decisões, concordo. O facto de o

diretor ser, no bom sentido da palavra, chamado de todo-poderoso, pode ter

inconvenientes no caso de se ter a infelicidade de ter um diretor que traga problemas à

instituição e aí é ele que tem a capacidade decisória.

Mas agora tem responsabilidade civil e criminal perante as opções que fizer…

Exato, no caso concreto, por isso é que digo que aí não posso falar muito, no caso

concreto, como nunca houve esse problema deste RJIES, tem havido uma articulação

excelente. O meu cargo, pela primeira vez, porque antes do RJIES, o meu cargo era por

concurso e eu vim para aqui por concurso, o cargo de administradora é um cargo por

convite e como é óbvio, faz parte da minha maneira de ser, quando foi eleita a primeira

direção RJIES, pus imediatamente o cargo à disposição e portanto foi uma questão de

convite depois, assim como agora quando houve novamente eleições para diretor,

coloquei o cargo à disposição porque uma coisa é as pessoas conhecerem-me, outra coisa

é poderem confiar noutra pessoa ou colocarem outra pessoa. Porque lá está, eu só me

sinto bem a trabalhar com quem sinta que tem a minha confiança e conta com o meu

apoio porque lá está aí o tal problema do ser a centralização de poder, se o diretor se

socorre de subdiretores, de administradores da sua confiança, não como bengalas mas

como verdadeiros pares para governar, para discutir, as coisas funcionam bem e acaba

por não ser só uma cabeça, que é que acho que acontece, por isso é que digo que não

tenho muita experiência ao contrário, portanto, como órgão colegial funcionei bem, com

órgão singular tenho funcionado bem. Mas lá está, o órgão singular é quem decide mas

tem toda uma cultura profissional e pessoal que lhe permite perceber que tudo funciona

melhor com delegações e subdelegações e que o diálogo é essencial. Ainda ontem eram

nove horas e estávamos ali os dois a discutir coisas, o que era melhor, o que era menos

agressivo, faz-se telefonema, não se faz, manda-se e-mail, não se manda, porque várias

cabeças pensam melhor. Na prática, a capacidade decisória é singular mas não sinto os

efeitos negativos do singular, portanto, não posso pronunciar-me muito porque não sei

como é ao contrário, o do “quero, posso e mando”, não sei. É uma questão de sorte com

as pessoas que se apanham e também eu nesse tipo de coisas não conseguiria funcionar,

não sei funcionar assim. Acho que todo o produto de qualquer trabalho ou qualquer

atuação é sempre mais positivo quando pensado e para pensar é preciso discuti-lo, porque

muitas vezes a própria pessoa pode achar que o pensa muito bem mas sozinha não pensa

e dou exemplos tão pequenos quanto isto, acho que fiz uma coisa muito certinha e depois,

por norma, todas as pessoas do serviço que podem estar envolvidas naquela área, quando

é uma situação importante porque há outras que não interessam, tenho por norma, enviar

um mail a todos e digo, vejam como eu faço. Costumo dizer que quando peço para ver

uma coisa vejo com os olhos de “advogado do diabo”, procuro o erro porque senão não

interessava eu ver. Mando um mail e digo vejam com os meus olhos, que eles já sabem o

que quero dizer, digam-me o que acham disto, porque por muito que uma pessoa possa

achar que está bem, pode haver sempre alguém que estando a ver numa perspetiva de

fora, com os tais olhos de “advogado do diabo”… aliás o tal professor ria-se muito comigo

porque às vezes quando queria verificar um documento dizia assim, veja lá, eu deteto

sempre um erro, porque lá está, quem faz, faz por simpatia.

Uma pergunta que ficou para trás há bocado, têm estratégias para angariar alunos

ou não tem sido necessário, o nome da faculdade basta?

A concorrência é grande, a luta é grande e temos tido a consciência que não era necessário

qualquer tipo de estratégia para angariação de alunos de 1º ciclo, uma vez que

preenchemos tudo… é assim, nós também somos pequeninos, temos 100 vagas por ano,

ainda o ano passado, faço sempre uma sessão de receção aos alunos de 1º ano, eu e o

presidente da associação de estudantes todos os anos e a brincar, nós dissemos, a única

pessoa que aqui está que não escolheu esta faculdade em primeiro lugar porque todos os

outros nós sabíamos que sim, não ponha o dedo no ar, portanto, não temos tido qualquer

tipo de problema a nível de 1º ciclo. O mesmo não posso dizer para o 2º ciclo, porque há

uma “guerra” de divisão de alunos entre nós e a Católica e eles têm um mercado muito

mais aguerrido porque têm muito dinheiro, são um misto de pública e privada e investem

muito na publicidade…

Mas vocês são mais baratos…

É aquilo que joga a nosso favor, é assim, não temos tido problemas no 2º ciclo em termos

de candidaturas e de montantes porque lá está, acho que joga o nome (universidade) e, na

dúvida, o sermos mais em conta. Mas acho que começa a não ser suficiente, temos a noção

disso e então o que é que fizemos, neste momento, aliás, nós contratámos em Novembro

do ano passado uma pessoa para as relações externas porque isto já não estava a dar, ser

a mesma pessoa a fazer Erasmus e as parcerias com o Brasil e com isto e com aquilo e ao

mesmo tempo relações externas, open days e idas às escolas e recrutámos uma pessoa

para as relações externas o ano passado. Como está profissionalmente mais vocacionada

para aquilo, por exemplo, fazíamos um tríptico com a nossa oferta de 1º ciclo para a

futurália, quem fazia era a associação de estudantes, nós dávamos um subsídio, uma coisa

caseirinha porque lá está, para o 1º ciclo não sentíamos necessidade de fazer grande

dispêndio de verbas e ela este ano disse-me, doutora, se me autorizar, prefiro fazer um

roll up, uma coisa mais profissional para a faculdade e uns folhetos, por acaso até ficaram

engraçados, vai ser a futurália agora em Março e hoje já foi pela primeira vez a uma escola

secundária. Mas fazemos mais por missão do que por necessidade ou obrigação para o 1º

ciclo, até à data não temos sentido qualquer tipo de problema. O 2º ciclo já não é o mesmo,

no sentido em que não temos problemas com as vagas, vão sendo preenchidas, temos um

número bastante elevado mas não é a nossa imagem de marca, o 2º ciclo, não tem nada a

ver com o 1º. E então, o que decidimos o ano passado e avançámos, como nos damos

muito bem, as unidades orgânicas umas com as outras dentro da (universidade), há ali o

instituto do ISEGI, não sei se já ouviu falar, o instituto de gestão de informação,

essencialmente estatística, a vocação deles é estudos de mercado, e nós pedimos que

colaborasse connosco, pagando claro, um estudo e demos os dados todos do nosso 2º ciclo

para fazer um estudo de mercado que está a ser feito porque sentimos que o nosso

mestrado… temos um mestrado que é, mestrado em direito generalista e depois,

consoante as disciplinas de opção que os alunos escolhem, assim ficam com a vertente

mais forense, empresarial, social, a vertente fica lá no mestrado. Mas achamos que hoje

em dia o mercado procura mais o mestrado misto e na procura de mestrado especializado

pedimos ao ISEGI para fazer o tal estudo de mercado, estamos à espera porque estas

coisas são de médio prazo, não se fazem de um ano para o outro para repensarmos se

ficamos com o chamado mestrado geral residual, forense, direito e com dois ou três

especializados ou se ficamos só com os especializados, podendo eles fazer as cadeiras

que consideramos obrigatórias para o núcleo do geral e ficarem no geral. É um estudo

que está a ser feito porque sentimos que realmente o 2º ciclo tem que ser refletido,

pensado, mexido.

Doutora, quer acrescentar mais alguma coisa?

Acho que a crise do país é geral, agora vou ser assim muito mazinha no remate. A crise

do país é geral mas está na altura de racionalizarmos as coisas, racionalizando coisas e

custos, as faculdades conseguem viver e sobreviver com qualidade, há que pensar em

qualidade e essencialmente, há que trabalhar por gosto. E eu percebo que as pessoas, com

os cortes e com o que tem acontecido ultimamente se sintam desmotivadas, porque não é

fácil para quem tem compromissos, todos nós temos, ir vendo, ano após ano, cortes no

vencimento, cortes não sei em quê e as coisas a subirem quando têm que as comprar e

pagar, etc. isso é desmotivador e não podemos ser utópicos. Felizmente, aqui tem-se

conseguido que, apesar da desmotivação dos cortes que nos são externos e impostos de

fora para dentro e temos que os cumprir, que as pessoas sintam que elas enquanto pessoas

aqui dentro valem mais do que aquilo que lhes estão a fazer ou a tentar fazer, portanto,

não se deixam ir abaixo com isso. Essencialmente, o meu papel é que as pessoas se sintam

bem aqui, como eu me sinto bem, porque acho que quando uma pessoa não se sente bem,

não vale a pena, é melhor mudar de rumo e ir para outro lado. Se tiver opção de o fazer,

acho que violentar-se não, acho que as pessoas devem trabalhar por gosto, sou e sempre

fui contra o funcionário nine to five que se dizia antigamente, agora seria nine to six, mas

sempre fui inteiramente contra isso, nunca defendi a quantidade, sempre a qualidade e

portanto, mais importante que o funcionário que cumpre o horário, é o funcionário que

está sempre pronto, atento, que se lembra das coisas que os outros não lembram e que

está sempre pronto a ajudar e quando é preciso fica e no dia seguinte, se for preciso

também lhe digo vá. Sempre foi o meu princípio, acho que o dinheiro é importante, as

pessoas precisam do dinheiro para viver, todos nós temos compromissos mas o dinheiro

não é tudo. É importante que as pessoas se sintam bem e infelizmente, como o dinheiro

vão cortando e não é tudo, tentar que se viva bem com o resto que não é dinheiro e que

as pessoas se sintam bem no ambiente de trabalho, tentar criar boas relações, que as

pessoas se articulem umas com as outras, que se sintam à vontade, pronto, somos

pequeninos mas por exemplo, uma das minhas preocupações foi lá em cima, ao pé da sala

do científico, havia uma zona onde foi colocado um lava loiça para qualquer coisa de

apoio a uma reunião, pôs-se lá um micro-ondas e um frigorifico e uma máquina de lavar

loiça e há imensa gente já dos não docentes a trazer almoço de casa. Aquilo tem um

terraço, vamos comprar umas cadeiras de plástico para quem quiser ir lá para fora no

verão, as pessoas comem aqui sempre poupam algum em vez de irem a outro sítio, depois

vão dar uma voltinha ao campus, ao sol e voltam mais bem dispostas e vamos

continuando.

Doutora, muito obrigada pela sua disponibilidade.

Entrevista F15

Uma apresentação breve sobre o seu percurso académico e profissional.

Entrei na função pública com 18 anos, ainda não era formado, por um caso entrei na (IES)

porque estava naquela fase, não parece mas sou um bocadinho antigo, naquela fase, não

é do seu tempo mas depois do 25 de abril ali um pouco, havia ali um ano de barreira para

a entrada para a universidade que era o serviço cívico e só depois é que foi criado o 12º,

sou desse tempo. Depois entre o serviço cívico e o 12º ano, houve um ano que era o ano

propedêutico, que era uma coisa em que davam as aulas na televisão, tipo tele escola mas

antes da entrada na faculdade. Naquele tempo surgiu a oportunidade de ir trabalhar para

a editorial da (IES), parecia uma coisa muito interessante, entrei. Entretanto, comecei a

trabalhar e a editar livros, editámos uma série de livros, sobretudo teses de doutoramento

dos professores das várias faculdades da universidade e entretanto continuei os estudos

mas à noite, formei-me na área de sociologia, continuei nos serviços editoriais durante

uns tempos, ainda na reitoria da (IES). Entretanto, surgiu a oportunidade de vir para aqui

para a faculdade, para a área financeira e eu tinha-me especializado um bocadinho em

sociologia económica, sociologia, não tanto a parte social, mais a parte económica. Vim

para aqui, formei-me, fiquei à frente da parte financeira, depois da parte patrimonial,

entretanto, o diretor da altura, o professor (nome), atual reitor da (IES), escolheu-me para

chefiar a parte patrimonial e de compras da faculdade, entretanto ele concorreu e foi para

a reitoria, eu continuei aqui com outro diretor, professor Almeida, psiquiatra, que também

fez dois mandatos e que me escolheu para ser o administrador da altura. Entretanto, já

cumpriu os mandatos todos, o professor (nome) é o novo diretor tornou a escolher-me,

por isso é que digo que fui eleito mas fui eleito indiretamente, isto é, o diretor é eleito e

eu sou uma escolha pessoal do diretor. No fundo, a pessoa que ocupa este cargo tem que

estar um pouco em sintonia com o diretor, não podemos andar às turras porque no fundo

a minha responsabilidade é toda a área administrativa da faculdade, parte financeira, parte

recursos humanos, parte académica, parte informática, parte biblioteca, costumo dizer

que tenho sete áreas de atuação, isto é verdade, portanto, só posso dedicar cinco a dez

minutos a cada uma, portanto, quando estou uma hora com alguém já estou a tirar uma

hora a outra pessoa. Entretanto fiz outros estudos, inscrevi-me no mestrado, costumo

dizer que não parece mas estou a fazer um doutoramento, está aqui embrulhado, um

doutoramento conjunto entre a faculdade de direito e a faculdade de ciências, já fiz a parte

curricular, apresentei a tese, escolhi o orientador e portanto andamos aqui devagar a fazer,

andamos assim e um dia há-de sair. Mas aqui o percurso, se quiser, é todo dentro da

universidade, 16 anos na reitoria, acho e estou aqui na faculdade desde 1998 e estou

administrador há 10 anos, desde 2006 e também tenho limite de mandatos por isso daqui

a dois anos tenho que deixar de ocupar este cargo, posso continuar noutra área ou posso

continuar neste cargo noutra unidade orgânica desta ou de outra universidade. Nesta não

porque conforme o RJIES que está em vigor, são dois mandatos, dois mandatos para os

diretores, três mandatos de dez anos para os administradores.

Qual o balanço que faz da sua atividade até agora com toda esta conjuntura

económica e social do país? Como tem gerido todas estas coisas?

Faço dois balanços. Um, enquanto não fui dirigente, todas estas dificuldades me

passavam um pouco ao lado porque no fundo era um técnico e tinha que executar tarefas,

fazer e a responsabilidade da gestão era de outra pessoa. Basicamente desde 98/99/2000

passei a ter cargo de dirigente. Há três carreiras atualmente na função pública, assistente

operacional, que são aquelas pessoas, os auxiliares, motoristas, carpinteiros, etc., os

assistentes administrativos que no fundo são os administrativos, e os técnicos superiores

que são os que no fundi têm alguma licenciatura e que executam tarefas um pouco mais

específicas. E durante essa fase, enquanto editávamos livros ou enquanto vim para aqui e

estava a executar tarefas de contabilidade e de fazer compras para a faculdade, sempre

tive um dirigente e no fundo as preocupações eram dele, a minha preocupação era o dia-

a-dia, trabalhava e portanto progredir na carreira, fazer alguma formação extra, que

também fiz bastante. Desde 1999… a pessoa nesta sua área de atividade pode ascender

ao cargo de dirigente e portanto comecei por ser chefe de divisão, que no fundo chefiar

uma divisão, que era a de compras, passei a ser administrador e é nesta fase que temos

que responder pelo orçamento mas sobretudo pela execução do orçamento neste ano, isto

é, recebemos do OE um plafond que nos é atribuído, é atribuído a toda a universidade, os

diretores depois têm uma reunião para fazer o rateio da distribuição desse orçamento por

cada uma das UO, na (universidade) são 11, a reitoria, os serviços sociais e mais nove

faculdades e institutos e portanto é com esse dinheiro que temos que gerir uma casa, isto

é como uma dona de casa e temos que pagar vencimentos e comprar coisas, como digo.

O professor (nome) foi diretor da nossa faculdade de direito durante uns anos e dizia que

só precisava de dois subdiretores, um para as pessoas e outro para as coisas e aqui, no

fundo, o OE é a mesma coisa, temos que gastar nas pessoas e nas coisas e é aí no fundo,

como costumo dizer, que nascem os cabelos brancos. Aquele plafond é-nos dado temos

que o executar, segundo a regra de equilíbrio orçamental, não podemos gastar mais do

que nos dão, isto é, não podemos ter no final um saldo negativo, por sorte nunca tivemos,

e há outra parte de receitas que a lei nos permite, que é ir buscar dinheiro extra que no

fundo são aquilo que chamamos receitas próprias, que são propinas e quem tiver algum

dinheiro a render agora não é permitido mas pode ter ali juros de aplicações, overheads

que aplicamos a projetos de investigação que os nossos investigadores ganham, aluguer

de salas, portanto todo este manancial de receitas que não vem do OE diretamente, vem

das receitas próprias. Portanto, nós gerimos basicamente dois orçamentos, OE e receitas

próprias. Funcionamos sobretudo com o OE. Para ver a dificuldade, e respondendo

concretamente à sua pergunta, há dez anos, agora em números concretos, tínhamos um

OE que chegou a ser quase 12 milhões e tínhamos menor número de docentes de não

docentes e de investigadores, de colaboradores, vamos falar assim. Atualmente, o nosso

orçamento anda na casa dos 7 e pouco, 8, portanto perdemos 3 a 4 milhões do OE,

aumentámos o número de colaboradores, quer de docentes, quer de não docentes e

sobretudo de investigadores e mais à frente posso explicar o que é que crescemos e

tivemos que acomodar esse dinheiro que recebemos, para pagar os vencimentos sobretudo

destas pessoas. Há muitos anos, uma gestão bem organizada e isto está legislado é, do seu

OE quando muito, no máximo, gasta 80% em vencimentos de pessoas e sobra 20% do

dinheiro para gastos gerais de fornecimento de bens e serviços. Pode ter depois receitas

próprias que são receitas que a própria instituição gere e funciona com esse dinheiro para

fazer obras e para fazer também outros gastos. A dificuldade é esta, atualmente posso

dizer-lhe que, gastávamos 80% do OE, cumpríamos essa regra, com a crise, isto alterou

as proporções e neste momento, gastamos 120%, isto é, gasto os 100% que recebo do OE

em vencimentos e ainda tenho que ir buscar 20% ao meu orçamento de receitas próprias,

logo aqui estou a perder 40%, os 20 que antes não gastava e mais 20. Portanto, para pagar

a luz, a água, a eletricidade, compras, pequenas remodelações, fotocópias, os papéis, as

canetas, tenho que ir buscar a receitas próprias. As receitas próprias já sei que tenho que

ir obrigatoriamente buscar 20% e ainda tenho que ir buscar mais um bocado para fazer

todas as despesas. A dificuldade é esta, já passei de uma altura em que conseguíamos

gerir como nós dizíamos, no final, com o professor (nome), quanto é que há de almofada,

isto é, almofada era quanto é que nos estava a sobrar, até para de repente remodelarmos

aqui uma área que já estava desgastada, fazer uma cantina para os alunos ou mais salas

de estudo para os alunos porque isto funciona tudo em função do aluno, isto é uma

instituição de ensino superior, costumo dizer que a nossa razão de ser são os alunos, se

eles não existissem, nós não estávamos aqui, estávamos a fazer outra coisa qualquer e

portanto a dificuldade é que atualmente ainda continua, o OE teve que ser reduzido em

todas as áreas, o ensino superior sente isso muito e como curiosamente há pouco até o

CRUP disse numa reunião que teve com o secretário de estado, o ensino superior é a única

área, se quiser, da economia em Portugal que se ajustou, sem grandes quebras e sem

grande ondas à crise, isto é, o nosso orçamento foi reduzido em 30% ao longo destes anos

e nós acomodámos isso. O que é que fizemos? Aumentar a procura de receitas próprias

para funcionar, portanto, tiraram-nos uma fatia do OE, fomos buscar a receitas próprias.

Atualmente há instituições, umas funcionam melhor do que outras, há umas que

funcionam muito com receitas próprias, outras não. Posso dar um exemplo, não é o nosso

caso, não é segredo nenhum porque está publicado, neste momento temos, grosso modo,

8 milhões de OE, 4 milhões de receitas próprias, mas por exemplo, o técnico neste

momento, que agora integra a UL, o orçamento que eles têm de receita próprias, que vão

buscar à comunidade, se quiser, é superior ao dinheiro que recebem do OE, portanto, há

instituições que funcionam assim. Resumindo e para responder concretamente à sua

pergunta, já passei várias fases, a fase em que isto não me dizia nada, a fase em que depois

me começou a dizer porque nós é que organizamos o orçamento, já passei a fase em que

geríamos isto com algum dinheiro, passámos pela fase em que não tínhamos dinheiro e

portanto estávamos a ver que tínhamos que quebrar a regra do equilíbrio orçamental,

nunca quebrámos, depois temos penalizações porque as nossas contas todos os anos são

auditadas pelo tribunal de contas e depois vêm aprovadas ou não e por acaso as nossas

têm sido sempre aprovadas e na (universidade), regra geral tem sido sempre assim,

estamos atualmente numa fase, se quiser, a subir um bocadinho, isto é, ainda não

conseguimos respirar, ainda andamos a fazer contas. Repare, neste momento, nós temos

uma regra aqui na faculdade, desde que começaram os constrangimentos orçamentais que

a partir de setembro, outubro, deixa de haver despesas, portanto, quem as quiser fazer,

pede agora, porque os outros dois meses é para fazer o balanço do ano, pagar o que temos

a pagar porque há aqui uma regra que já herdei e que continuo a manter, espero passa-la

depois a alguém que é, nós nunca deixamos nada por pagar de um ano para o outro. Se

for à praça, costumo dizer que temos bom nome, isto dá-nos alguma vantagem nos

negócios e às vezes nas conversações e negociações que fazemos com as empresas

privadas, pagamos sempre no ano, se agora me aparecesse aqui alguém a dizer que tenho

uma fatura de 2014 para pagar eu dizia que é mentira. pagamos tudo até 31 de dezembro,

não deixamos nada para pagar no ano, outro ano é outro ano novo, portanto senão

conseguirmos pagar nem sequer nos vamos meter no negócio, fica para o ano, depois logo

vemos. Terminando, a crise afetou-nos, profundamente, tivemos que reduzir recursos

humanos não docentes, reduzir docentes, como sabe, na sua área também deve haver, há

professores do quadro, que ganham a 100% ou estão a tempo integral ou em dedicação

exclusiva e também temos docentes convidados, ganham a 15 ou a 30 ou a 60% e tivemos

que reduzir sobretudo nos convidados. Houve professores que começaram a ter uma

acumulação de aulas e portanto, tivemos que reduzir e para combater essa quebra de

receita, isto às vezes as pessoas também têm que fazer e criar oportunidades de negócio

e coisas assim e o que fez esta crise? Que nós começássemos, implementássemos e

criássemos cursos de pós graduação, aqui há dez anos quando tomámos posse, a pós

graduação estava no zero, posso dizer isto à vontade, criámos um gabinete de pós

graduação e passámos do 8 para o 800, atualmente a pós graduação é das áreas, já

suplantou o valor das propinas, que mais negócio nos dá, isto é, nós tínhamos como

receita também só as propinas da nossa licenciatura, que atualmente é o mestrado

integrado em medicina, mas não vou explicar isto porque decorre da implementação do

processo de Bolonha e mantivemos os seis anos e mantivemos seis porque há um mínimo

de aulas que os alunos têm que ter contato médico portanto não conseguimos comprimir

a licenciatura de seis anos, há umas que mantiveram cinco, nós temos seis porque o último

ano já é de estágio, já estão nos hospitais a trabalhar quase como médicos e a nossa receita

de propinas foi suplantada pela receita da pós graduação. Criámos, atualmente temos sete

mestrados, já temos cinco ou seis doutoramentos, alguns em associação, criámos uns

cursos que não é muito vulgar nas outras instituições mas que aqui funciona muito bem

que são cursos não conferentes de grau. Para os médicos, nas outras profissões o que é

preciso é a prática e portanto criámos aqui alguns cursos que são um pouco o follow up

da formação que eles tiveram, especialização, imagine, na cirurgia do cotovelo, da mão,

da pestana do olho direito como costumo dizer a brincar e portanto, criámos muitos cursos

não conferentes de grau porque não são do 1º ciclo nem do 2º nem do 3º ciclo de estudos,

mas que são de especialização e dirigidos sobretudo para médicos e portanto querem

especializar-se. Temos alguns médicos, professores que são médicos muito conceituados

na sua área e portanto criaram esses grupos, forma-se, é um curso breve, tem uma propina

um bocado mais elevada mas tem muita aceitação e isso é uma receita muito importante

atualmente e foi com isso que combatemos os constrangimentos da falta de receitas para

continuar a funcionar e também combatemos com isto a quebra de contato com alguns

docentes, atualmente estamos a ir busca-los outra vez porque o curso realmente não se

compadece e cada vez há mais alunos e nós estamos a fazer como faz o ensino superior

no geral em Portugal, tivemos que nos virar, tínhamos um antigo diretor que dizia uma

coisa muito engraçada quando nós andávamos a fazer fundraising, ele no final das

reuniões terminava e dizia, pronto, agora vamos para a estrada. E fomos mesmo para a

estrada, captámos algumas receitas como estas, criámos uma área de investigação que

também não tínhamos e atualmente temos um pólo de investigação com três edifícios

com receitas da EU e criámos equipas de investigadores que se estão a candidatar a

projetos financiados pela FCT, pela EU e que por acaso têm ganho alguns projetos, posso

dizer que este ano que passou, houve acho que milhares de candidaturas aos projetos da

FCT e a faculdade de ciências médicas foi a que mais projetos apresentou, cem, foram-

nos atribuídos 20, tudo na casa dos 200000 euros. Portanto isto é um financiamento que

agora está a vir e isto é receita própria para a faculdade porque cobramos um overhead

pela instalação da equipa aqui, o dinheiro também funciona muito como um fluxo de

tesouraria, isto é, temos que pagar primeiro e receber depois, mas ao longo dos anos este

fluxo é muito importante e posso dizer que neste momento, pedi essas contas há dias, 170

projetos em curso e neste momento movimenta 4 milhões de euros, entre o que

adiantamos e o que recebemos, isto é um fluxo muito importante. Portanto, a gestão da

casa é um constante gerir de dinheiro do estado, de receitas, de projetos de investigação

e dizer muitas vezes que não, que não há dinheiro, é o que mais tenho dito, mas temos

conseguido fazer bastantes remodelações, bastantes melhorias neste edifício, que é um

edifício histórico, para o ano, em abril, faz 110 anos, foi inaugurado em 1906 para o

congresso de medicina, que foi uma coisa muito importante, reuniram-se os lens da

medicina mundial aqui nesta faculdade, onde foram criadas novas disciplinas de

medicina, foram separadas algumas, foi um congresso muito importante em termos de

medicina foi neste edifício. Conseguimos com algumas verbas da EU, remodelar o espaço

que pertencia ao anterior instituto bacteriológico Gama Pestana, que eram uns barracões

velhos aqui ao lado, foi remodelado, no fundo os edifícios foram todos remodelados por

dentro e foi feito um edifício completamente novo, pelo gabinete de arquitetura do

arquiteto Gonçalo Bilre, foram investidos 8 milhões, pusemos a biblioteca num espaço

novo, a biblioteca quadruplicou de espaço e curiosamente quintuplicou de utentes,

tínhamos um espaço muito reduzido aqui e aquele, como está virado para a rua, até tem

utentes de fora e como o espaço é público, as pessoas podem consultar. Depois temos

dois edifícios alocados à investigação, portanto, este edifício passamos a designá-lo por

pólo de ensino e aquele por pólo de investigação precisamente para os diferenciar e nesses

dois edifícios estão alocados dois tipos de investigação, uma investigação seca e uma

investigação molhada, não sou médico, posso dar-me ao luxo destas liberdades

linguísticas, mas sobretudo no edifício que foi completamente renovado, temos aquela

investigação que chamo mais de papel, investigação da saúde das populações, saúde

mental, medicina geral e familiar, portanto, investigação que têm de projetos a que se

candidatam em que há muitos dados estatísticos, muito inquérito, muito tratamento

estatístico e apresentação de resultados, portanto, é sobretudo um trabalho de papel e

lápis. O outro edifício não, é um edifício de três andares que esse é que é mesmo

investigação clínica, com laboratórios, atualmente temos várias equipas a trabalhar,

conseguimos, sempre tivemos um biotério com ratinhos, onde os investigadores faziam

as suas experiências, os doutorandos, muita tese de doutoramento é baseada em

experimentação animal e portanto em laboratório, temos que criar as condições, temos

uma questão que se calhar as outras instituições não têm, é que as pessoas fazem os seus

mestrados e doutoramentos e portanto, investigam, vão para as bibliotecas, estudam e

apresentam os resultados. Aqui os nossos têm que ter laboratórios e nós cedemos

laboratórios, faz parte do curso e mediante o pagamento de propinas e uma discriminação

positiva que fazemos da aplicação da propina que o doutorando paga, que o mestrando

paga, isto é, paga a sua propina e há uma parte que pode utilizar na sua tese, não ficamos

com o dinheiro todo portanto ele pode comprar reagentes, produtos e usar o nosso

laboratório e isso no fundo não é investimento nosso, ele pagou, há uma parte que é para

os gastos administrativos gerais e há outra parte que no fundo ele há-de beneficiar, a

propina é de 2750 € por ano, quatro anos, neste momento o curso doutoral é de quatro

anos, pode ir até seis para escrita da tese, portanto há uma parte desse dinheiro, 40% que

ele pode utilizar para a sua tese de doutoramento ou mestrado. Nesses dois edifícios, no

amarelo temos a investigação, no fundo mais das disciplinas que são básicas, disciplinas

mais de… algumas são clinicas, psiquiatria e… mas aquelas são mesmo clínicas e de

laboratório. E temos os três biotérios, além do biotério de ratos que continuamos a ter,

conseguimos construir um biotério de peixes, isto é, há investigadores que fazem o seu

estudo e o animal que estudam é o peixe zebra, uma técnica inovadora criada por um

investigador daqui, e tem a vantagem de utilizar a cauda do peixe que depois cresce outra

vez, temos também um biotério de moscas, há outra equipa que estuda os tecidos das

moscas e faz as suas experiências nas moscas, mas sobretudo, o nosso centro de

investigação que é o CEDOC, centro de estudos de doenças crónicas, as nossas equipas

de investigação estudam diabetes, a doença da retina e outras e temos essas equipas a

funcionar atualmente naqueles três edifícios, onde estão atualmente 287 pessoas foi a

última conta que fiz, que aqui há seis anos não estavam. Repare, decresceu-me o OE, as

receitas próprias lá aumentaram um bocadinho mas neste espaço de tempo, tirando a

renovação normal de recursos humanos que há aqui, apareceram ali 287 pessoas novas,

90% doutoradas, são equipas de investigação, cada investigador apresenta uma equipa,

depois contrata pessoas na área também quase tudo doutorados e no fundo é este caldo

que gerimos, há maiores. Nós queremos um bocadinho chegar à linha da frente, até porque

temos aqui ai lado a faculdade de medicina e nós ainda, custa-me dizer isto mas ainda não

estamos bem onde eles estão, por exemplo, enquanto nós temos aqui um pólo de

investigação que está concentrado em dois centros de investigação, eles têm o instituto

de medicina molecular que no fundo é o centro de investigação da faculdade de medicina

que tem um edifício enorme que é no hospital de santa maria e gerem milhões e nós

andamos a caminhar para lá mas temos que começar por algum sítio, estamos ainda numa

fase de investir muito na investigação, esperamos ter algum retorno daqui a alguns anos

mas ainda estamos na fase de investir, eles pedirem dinheiro e eu dizer que não, mas sei

que eles têm que ter o dinheiro, mas eu é que não tenho, infelizmente.

Mas todas essas pessoas também são mais projetos FCT, mais overheads…

É, e portanto muitos já terminaram e repare, aqui no fundo, a guerra, eles têm projetos e

têm uma verba, só que vou sempre ter que adiantar o dinheiro e depois tenho que adiantar

essa verba do projeto, tenho que executá-la portanto tenho que enviar as contas para a

FCT e só depois é que a FCT me manda dinheiro que eu gastei à cabeça, portanto, o

problema aqui é no adiantamento que tenho, só que eu já adiantei tanto a tantos projetos

que há uma altura em que já não há para todos e a FCT também há alturas que funciona

muito bem, há alturas que funciona menos bem e aquele delay que temos até recebermos

o dinheiro quando enviamos para lá, causa-nos algum transtorno porque temos muito

dinheiro investido e a FCT ainda não nos enviou o dinheiro correspondente e portanto

este gap às vezes cria-nos aqui algum problema porque os investigadores não querem

saber de nada disto, o dinheiro é meu, fui eu que ganhei, quero comprar isto, só que como

ele, tenho mais 200.

Falou de uma forma otimista sobre as universidades se adaptarem aos tempos de

crise e estarem a gerir estes tempos, de uma forma geral e sem ser aqui na faculdade,

pode incluir mas já falou um pouco aqui da casa, o que lhe parece o futuro do ensino

superior?

Vou começar desde onde conheço, tenho uma vantagem em relação às outras pessoas,

sou da área de sociologia e há 30 anos tinha professores de demografia que nos diziam

precisamente que ia acontecer o que está a acontecer agora, faziam a curva demográfica

da população portuguesa e diziam que a nossa população ia diminuir, que iam fechar cem

escolas por ano, nas básicas, e isto depois tinha tudo consequências, o ensino superior ia

ter um boom mas depois ia decrescer e o que se passou foi realmente isso tudo. Houve

realmente um boom de população e o ensino superior na altura não correspondia a isso,

daí se terem criado as universidades privadas, que era precisamente para responder ao

boom de pessoas que estavam a concorrer ao ensino superior que dantes não acediam e

houve uma espécie de massificação, apesar que não gosto muito de dizer isto porque

quando dizem que houve uma massificação do ensino superior, parece que houve mesmo

e não houve. O que houve, na minha opinião, foi uma normalização, isto é, Portugal criou

condições para mais pessoas acederem ao ensino superior, mas como foi um aumento

muito grande, começou a falar-se de massificação que é um termo com que pessoalmente

não concordo. Acho que houve uma normalização, portanto, tivemos mais jovens e mais

população a fazer ensino superior e houve uma altura em que o ensino público não

respondia, criaram-se as universidades privadas e houve aqui uma altura que isto

funcionou muito bem, havia alunos para a universidade pública e as vagas todos os anos

eram ocupadas e ainda sobravam muitas vagas para o ensino privado. Atualmente, o

ensino superior vai confrontar-se com este problema, como em todo o lado houve uma

abundância e no tempo em que há menos abundância e portanto as pessoas vão ter que se

reagrupar, melhorar sobretudo a oferta em termos de qualidade porque no imediato foi a

preocupação de responder à quantidade e o que vai acontecer é, mesmo no ensino

superior, as universidades que daqui a uns anos, há de ver que as vagas aumentaram e a

população, o ensino superior cada vez mais vai corresponder à população que quer

frequentar ensino superior e põe-se que vão sobrar menos pessoas até porque não há

população. Na minha opinião, retirada do que aprendi, porque a nossa população vai

mesmo diminuir e o público vai ter sempre o seu quinhão de pessoas, há cursos que vão

ter que deixar de fazer sentido, houve uma altura que havia cerca de 600 cursos, não sei

como há 600 cursos, costumo dizer que há cinco ou seis, o resto são derivações e pouco

mais e portanto, os cursos vão ter que melhorar de qualidade, vão ter que haver menos

cursos e muitos deles vão ter que se adaptar à economia, não digo à indústria, digo à

economia para responder ao mercado, isto no público. E sobretudo no público vão ter que

se reagrupar e ganhar escala, isto é, o exemplo é a UL. Costumava dizer que havia quatro

ou cinco universidades em lisboa e depois nenhuma tinha escala e depois a maior

universidade era o técnico, havia a nova, havia a clássica, a técnica, se quiser havia o

ISCTE e a Católica. Isto não funciona, na minha opinião, portanto, para uma cidade como

Lisboa não pode haver tanta universidade, só pode haver uma ou duas. Por isso é que,

neste momento, vou falar em termos de Lisboa e já falo do privado, em termos de Lisboa,

neste momento temos um hipermercado que é a (universidade) e a (universidade) neste

momento é a mercearia, mas é uma mercearia gourmet, tem algumas áreas muito boas na

economia e na medicina mas temos que ganhar escala e podemos ganhar escala em uma

de duas hipótese, isto é a minha opinião, ou nos aliamos a alguém, formamos agora outra

entente ao lado da (universidade) e nos aliamos à (universidade), por exemplo, ou a

universidade agrupa os politécnicos e ganha aqui uma escala como nós não temos, na área

da enfermagem, noutras áreas como o serviço social, etc, ou fazemos aqui uma parceria

um bocadinho público-privada com a católica. Também há a hipótese de passarmos a

fundação que o RJIES permite e que está em cima da mesa e aí é toda uma outra dinâmica,

passamos a ter um estatuto quase privado. Eu preferia, se me deixassem, aliar-me à

Católica e ter aqui uma componente público-privada e usufruir do melhor dos dois

mundos, eles têm áreas muito boas, nós também porque, a continuarmos aqui iremos ser

absorvidos pelo hipermercado e isto tem que se passar no Porto, o Porto comporta só uma

universidade, devemos ter uma em Coimbra, agora a do Algarve, a de Aveiro, Beira

Interior, Minho, ou fazem como fez o norte que uniu a universidade do Minho, Porto e

Trás os Montes e fazem ali uma entente, mas ainda não é bem uma organização única,

portanto, Portugal não tem escala mundial e tem que ter, como disse há bocado, aumentar

a qualidade, ganhar escala a nível internacional. Portugal tem capacidade para ter quatro,

cinco grandes universidades, até para competir com Espanha, nem é preciso ir muito

longe. O público vai ter que ser reagrupado, a população não é muita, vamos ter que, para

já, responder às necessidades da população mais jovem em termos de licenciatura, criar

2ºs e 3ºs ciclos, mestrados e doutoramentos específicos, que vá buscar pessoas que já não

estão no mercado, que não estudam, são profissionais mas podem vir à faculdade e depois

sobretudo temos que nos virar para o estrangeiro, internacionalizar e apostar muito na

investigação. Isto não tem nada que saber, não estou a dizer nada de novo nem especial.

O privado é que vai ter um problema pela frente, daqui a dez anos, sobretudo, segundo as

leituras que fiz, a população vai mesmo descer e o privado não vai mesmo, não vai ter

quase estudantes, portanto, esses aí, sim, há-de ver que aquelas universidades assim mais

ou menos enviesadas acabaram, porque tinham mesmo que acabar porque aquilo eram

negócios para durarem pouco, as que existem, exceto a Católica vão ter que ganhar ali

qualidade, contratarem bons professores, terem cursos apelativos porque, repare, as

pessoas não escolhem, pode haver algumas que deixam de ir para o público que dizem,

não vou para o público vou para o privado porque em Portugal ainda há o estigma que o

público é que é bom e o privado é menos bom. Nos EUA é ao contrário e noutros países,

vão sobretudo para as universidades privadas porque o público, aquilo é um bocadinho

mais ou menos e pagam muitas propinas altas. Portanto, o privado vai ter que começar a

competir com o público e para começar a competir com o público vão ter que começar a

ganhar qualidade, corpo docente, cursos interessantes, também vão ter que replicar um

pouco o que se faz no público e um dia vão ter que competir à séria porque neste momento

o privado recebe as sobras do público, isto é, quem não teve nota para entrar vai para lá e

depois há os que nem tentam e vão para a privada, os que têm dinheiro vão para a católica,

os outros para as outras e isto a nível nacional. Já há menos, vão ter que e concentrar em

lisboa e no Porto, podem ter pólos noutros locais, até para responder às necessidades das

populações desses locais mas vão ter que se concentrar nos grandes centros e portanto

responder porque esses é que vão ter cada vez menos alunos, vão ter que conseguir captá-

los e criar novas formas de captar alunos mas não são essas coisas que vejo agora, ainda

estamos numa lógica um bocado de supermercado, eles têm é que, venha para esta

universidade porque o corpo docente é do melhor que há, temos aqui o professor X e o

professor Y, que até ganharam prémios, temos um laboratório muito bom e temos

instalações boas. Repare, no público ainda não há bem história de institutos superiores de

audiovisuais e de cinema, coisas assim, mas há ali uma privada no Campo Grande que

tem isso, portanto, eles têm é que apostar nisso, apostar em áreas que não há no público,

desenvolver isso e depois competir com as áreas que têm. Vou só deixar uma observação,

há ensino superior privado de quase tudo mas não há de medicina, mas isso é por duas

razões que posso explicar mais à frente mas é sobretudo por razão económica…

Deviam ser astronómicas as propinas de medicina de uma privada…

Sim. O que vou dizer é um bocadinho elitista mas não… as propinas não deviam ser todas

iguais, há cursos em que a propina que existe atualmente é a normal, pode haver um ou

dois que tenham mais baixa. A propina das áreas de saúde, saúde mais medicina e algumas

de engenharia devia ser mais alta. A propina real calculada ou pelo menos como nós a

calculamos aqui era 9000 euros por ano. Se fosse governante e se fosse responsável de

políticas públicas mas de qualquer área política, também tinha algumas reticências em

criar um curso de medicina privado por uma razão muito simples, primeiro fazia disparar

os custos de saúde, isto é, não é preciso ser muito inteligente para ver uma coisa, tenho

aqui um aluno que paga 9000 euros de propina por ano, vamos supor, portanto ao fim de

seis anos temos aqui um investimento. O aluno saía daqui médico e a primeira coisa que

quereria fazer era recuperar o investimento daqueles seis anos, portanto, os atos médicos,

o que ele ia fazer, ia exponenciar o custo. Estou a dizer isto de uma forma um bocado

ligeira mas isto poderia ser uma consequência… porque repare, o ensino médico privado

ia ter este custo, porque eles iam ter que investir em laboratórios, em aulas apetrechadas

para o ensino e sobretudo tinham que ter um hospital, que também ia ser privado, não ia

ser público e portanto, esse hospital, é ver os hospitais privados aqui e ver os custos desses

hospitais, portanto, tudo isto é um caldo… na minha opinião não há ensino privado de

medicina por duas razões, por uma questão de políticas públicas e de bem estar da

população, quer dizer, bem estar financeiro e sobretudo, ainda temos esta lógica um

bocado pública que é uma universidade privada tem que ter um hospital privado. Se bem

que a católica anda há anos a tentar ter um curso de medicina privado e creio que o

Instituto Piaget também, não me lembro, mas o curso de medicina tem que ter um hospital

ao lado. Já agora, para me armar um bocadinho vou dizer-lhe outra dificuldade que esta

faculdade tem, enquanto a (IES) está no HSM e os alunos sobem, a faculdade é cá em

baixo, para o hospital e deslocam-se pouco. Vou mostrar-lhe o guia do aluno e o curso de

medicina é feito nos hospitais e portanto eles têm o HSM e atualmente também têm o

Pulido Valente onde nós estávamos e tivemos que sair que aquilo agora é o Centro

Hospitalar Norte, HSM, HPV e Hospital de Loures e os alunos deles têm aulas nesses. Os

nossos alunos têm aulas nestes hospitais todos, isto é, se pensar que tenho alunos e

professores dispersos por Lisboa nestes hospitais todos e que tenho que ter nestes

hospitais de alguma forma, um espaço que é a faculdade e que tem um funcionário, que

recebe lá os alunos, recebe os docentes, porque os nossos docentes muitos são, a maior

parte são médicos e portanto é a única profissão em Portugal que está legislado que podem

acumular dois empregos públicos, são médicos nos hospitais mas também são professores

numa universidade pública e nós temos que ter docentes nestes hospitais todos, veja os

hospitais todos. Isto obriga-nos a ter vários acordos porque repare, as nossas aulas nos

hospitais são por especialidades e por vezes a equipa daquele serviço, daquela

especialidade num hospital público não lhes oferece grande… pronto, não queremos. Mas

há uma equipa no hospital privado que até está interessada em dar aulas, até recebe os

nossos alunos que eles vão daqui, têm lá aulas e por vezes fazemos acordo, aquilo dá

algum prestígio ao hospital e às vezes nem pagamos. E portanto é um pouco nessa base e

aquela equipa e aquela especialidade e a unidade curricular vai ser dada ali e é bem dada.

Alguns até foram antigos alunos aqui e portanto são professores aqui e alguns são

professores no público e no privado e portanto temos essa facilidade de comunicação e

temos a figura de docente, de professor voluntário, que é o professor que dá aula aqui,

tem o acordo com a faculdade e não recebe, no fundo, damos prestígio. Mas é para ver

outra dificuldade e tenho muitas coisas e cheguei um bocado atrasado porque tive que

estar no HSFX, onde temos lá um edifício, porque depois construímos mini faculdades

nos hospitais, porque no fundo é para os alunos não andarem para lá perdidos nos

hospitais e então têm lá um edificiozinho onde têm salas de aula, salas de estudo, uma

receção, dois funcionários para os receber, vestiário, um deles também tem cantina,

portanto, tenho funcionários espalhados por estes sítios todos e passamos a vida também

de vez em quando a visitar estes hospitais e às vezes até fazemos algumas remodelações,

portanto isto é mais uma dificuldade e se for falar com o meu colega da UM ele diz, não,

eu não saio daqui. E temos também as ACEs de Lisboa, Vale do Tejo e sobretudo do

Alentejo, nestas ACEs de Beja e do Alentejo temos acordos com as câmaras, eles têm

algumas residências, os nossos alunos, imagine, têm lá uma semana de aulas, vão para lá,

ficam lá, frequentam o centro de saúde da área, têm a disciplina que querem, sobretudo

isto é medicina geral e familiar e têm uma experiência que os alunos da UL não têm. Até

nós, exceto faculdades de medicina, que há sete faculdades de medicina em Portugal,

competimos também para captar alunos, não precisamos muito de captar alunos porque

eles entram aqui com 18 portanto até temos é um excesso de procura, temos uma oferta

limitada mas temos um excesso de procura, não andamos atrás dos alunos… já há públicas

que têm que fazer publicidade, nós se quiséssemos não fazíamos publicidade nenhuma

que eles vinham na mesma…

Mas fazem?

Fazemos, porque repare, também há algum prestígio, porque temos algumas vantagens

competitivas em relação às outras faculdades e identificámos que, todos os anos fazemos

inquéritos, no final dos anos, inquéritos aos alunos quando entram, quando saem, o que

acharam bem, o que acharam mal. Um dos fatores que temos é que esta variedade de aulas

em diversos sítios e esta constante deslocação dos alunos, quando saem daqui, passaram

por dez ou onze hospitais, pelo IPO, pela MAC, pelas ACES e quando vão para um

hospital, para eles isto é uma grande vantagem competitiva, a experiência de 11 hospitais,

pode ir para qualquer sítio. Os do HSM até há muitos anos só conheciam o HSM, agora

conhecem o HSM e o HPV, mas isto é uma vantagem competitiva nossa, isto e o rácio.

O rácio de?

Nas aulas de medicina, os alunos têm que ir para o hospital, têm lá um médico, por isso

é que muitas vezes vê um professor acompanhado de três ou quatro jovens e nós

conseguimos que o rácio seja um por três, isto é, cada professor nosso no hospital recebe

o máximo de três alunos, a vantagem disto é que três alunos aprendem melhor que doze

e portanto, estão mais concentrados, os professores dedicam-lhes mais atenção, conhece-

os melhor, não é tão evasivo para os doentes e para as pessoas que lá trabalham e tentamos

há anos manter este número que faz com que tenhamos contratar muitos docentes a várias

percentagens. Há faculdades em que o rácio é 1/7, 1/8 às vezes 1/12. O rácio também é

uma coisa muito importante nesta “competição” entre faculdades de medicina.

Falou há pouco de propinas, depreendo que, posso estar errada, que é a favor da

existência de propinas. Isto porque há autores que consideram que a existência de

propina responsabiliza o aluno e outros que dizem que a sua existência coloca em

causa a igualdade de oportunidades no acesso, nestes dois polos, onde se situaria?

É uma boa questão. Ainda por cima feita a mim que aos preços atuais, tirei o curso a pagar

propinas de 4 euros, paguei 1100 escudos, na altura não era muito, mas já era algum

dinheiro, por acaso é uma boa questão, se devemos pagar propinas ou não, olhe, se

fossemos um país nórdico ou mais desenvolvido, se fosse de lá, provavelmente dizia que

não, os descontos que faço dá para assegurar a educação dos nossos jovens até ao ensino

superior e aí não pagam propinas, é como até ao 12º. Atendendo ao país e à situação e, se

quiser, à maneira como a nossa sociedade está constituída, é uma boa questão, mas

quando tivemos uma propina igual durante 40 anos, quando o custo devia ter sido gradual

e neste momento não estávamos a ter esta discussão. Essa discussão começou quando o

Couto dos Santos era ministro, que passou a propina do 8 para o 80 e portanto o problema

é esse. Atendendo à economia portuguesa e ao estado da economia portuguesa, acho que

devemos ter uma propina. Que eu penso que devia haver… a propina não devia ser igual

para todos os cursos, não devia, porque há cursos que se justifica, outros não. Se eu fizesse

isso ia dizer-me mas há uns que são mais caros e não estão a pagar a propina correta e se

calhar não compensava, provavelmente não. Democratização do ensino, tenho alguma

dificuldade em responder assim porque repare, o nosso acesso é a coisa mais democrática

que existe, qualquer pessoa pode estudar, qualquer pessoa pode estudar, há aqui muitas

coisas enviesadas, no outro dia vi uma notícia no Egipto que até no público, as pessoas

candidatam-se e depois pessoas que tinham grandes notas era preteridas por filhos de

políticos influentes, isto não acontece nada aqui… se quiser, a única fase da nossa vida,

isto na área pública, em que há o prémio ao mérito é na entrada da universidade, isso

depois quando for funcionaria pública, raramente lhe dão prémio pelo mérito mas ali é

um bocadinho… porque repare, os alunos realmente entram pela melhor nota. Pode dizer-

me assim, tudo bem, mas medicina é um caso, eles entram com a melhor nota mas vão

ser os melhores médicos? Se calhar não mas você faz essa pergunta aos fulanos que

entram em Relações Internacionais? Também entram com 17 e com 18, e os de

arquitetura… isso só se põe quando é para medicina porque a nota é realmente elevada,

que é um curso que depois social e financeiramente até tem algumas regalias.

Respondendo concretamente, isto tem um custo, se o estado o deve suportar ou não, isso

devia ser indexado ao estado da economia. Portugal tem um grande problema de há

muitos anos, não é de agora, não produz para o que consome, somos um país deficitário

em todas as áreas, realmente não produzimos para o que consumimos, das duas uma, ou

passamos a consumir menos e ajustamos o consumo à produção, o que é um bocado

irrealista ou começamos a produzir mais para acompanhar o consumo, isto talvez fosse…

como é que conseguimos produzir mais? Tínhamos que ter aqui mais condições. Que

acho que o ensino superior deve ter uma propina, deve. Que não deve ser uma propina

igual à privada, não é, que a nossa devia ser discutida, devia. Agora, há uma coisa que

tenho noção, que a ação social devia ser maior, se quiser, devia, até porque com esta crise,

reduziram, o que acho uma parvoíce, com a crise, a ação social devia aumentar e

diminuiu. Agora, a manter a propina ou a aumentar, era apostar mais na ação social, isto

é, podemos estar a perder, isto é um chavão o que vou dizer, mas podemos estar a perder

pessoas com bastantes qualidades que não vão tirar o ensino superior por dificuldades,

mas isto também tem um pouco a ver com a imigração. Tem que haver um valor de

propina na minha opinião porque há um custo inerente a isto. Se ele é suportado pelo

estado ou não, isto é uma questão políticas públicas, teríamos que ver como isto

funcionava.

Têm-lhe passado pelas mãos muitos estudantes com dificuldades?

Na (universidade) sim e aqui também.

E facilitam? Planos de pagamento, horas de trabalho…?

Muito. Temos muitos alunos carenciados, em medicina não tanto, mas a universidade tem

e está atenta em determinadas… vou dizer-lhe algumas ações que tivemos na

(universidade) e nesta faculdade em particular. Esta faculdade tem 65% de deslocados,

isto é, alunos que não são da área de Lisboa e Vale do Tejo, são fora de Lisboa. Isto

implica que as próprias famílias tenham um investimento não só na habitação como na

alimentação e depois ainda têm que pagar a propina, apesar da nossa propina ser pouca,

mesmo assim é difícil para muito gente e sentimos que de repente as cantinas começaram

a ter menos pessoas e, mesmo, repare, os alunos têm uma refeição social que são 3,84€

que até é barata mas mesmo assim fica um pouco incomportável. Há muitas ações que

fizemos, isto no âmbito da universidade, identificar as pessoas com mais carências,

fazemos uma coisa que é, a propina antes era paga de uma só vez, começou a ser paga em

duas prestações, depois em três prestações, atualmente, aqui na faculdade é paga em

quatro prestações porque as pessoas não têm mesmo dinheiro para pagar na altura,

facilitamos em quatro. Criámos aqui várias salas de estudo e nas cantinas e nos bares

pusemos uma área com micro-ondas, para as pessoas trazerem comida, porque uma vez

vi os alunos a comerem nas escadas, cheguei à direção e disse que não podia ser. Abrimos

as aulas à noite, os espaços da faculdade para eles estudarem à noite e o que é que isto

quer dizer, muitos deles estão em casas onde não podem estudar, as pessoas apagam-lhes

a luz e eles têm que estudar. Em lugar de irem para outro sítio, atualmente a faculdade

está aberta 24 sobre 24 horas, tivemos que pôr seguranças de noite, acender as luzes à

noite, etc., de há dois anos para cá começámos a ser mais proativos e a pensar que não é

só abrir aulas, vir para aqui ligar o ar condicionado e no inverno estão quentinhos.

Pensamos na altura, os miúdos há uma da manhã têm fome, têm de comer e começámos

a ver no outro dia os caixotes cheios de snacks, há aqui um pingo doce, eles estão aqui a

estudar, aquilo fecha às 10, eles vão lá buscar comida para comer às onze, meia noite e

de repente as aulas estavam com os restos do jantar do outro dia. Tomámos a decisão que

este ano, a nossa cantina tem 75 lugares, fizemos ali um pequeno investimento, não foi

grande coisa, pusemos umas grades a fechar a cantina na parte de cima e abrimos a cantina

para estudo à noite e o que é que acontece, enquanto nas salas eles estavam sentados em

cadeiras com palmatória, ali estão sentados com uma mesa, estão com os colegas,

pusemos um micro-ondas e ganhamos ali um espaço para 75 lugares, aberto desde as 8

da noite até às 6 da manhã do outro dia, duas horas para limpeza e portanto é mais um

espaço que temos e isso porque eles têm que comer, comem durante a noite, é normal.

Durante o fim de semana isto também está sempre aberto, criámos aqui condições para

eles estudarem até porque eles nas casas onde vivem não têm essa facilidade. Isto teve

uma aderência notável, posso dizer-lhe que em agosto, estava de férias e eu disse aos

seguranças para me ligarem para ver quantas pessoas vinham e num domingo começam

a telefonar-me ao meio dia a dizer estão cá 50 pessoas, então abram o anfiteatro 1, às três

telefonam, estão cá 70, abram o anfiteatro 2, tenho que dizer para eles irem abrindo

porque isto é um gasto, repare, o anfiteatro gasta cinco vezes mais do que esta sala e

repare, tenho que ir abrir, às sete da noite estavam 80 pessoas aqui em agosto e julho.

Temos estado a acompanhar, eles não podem estar naquelas casas a estudar e aqui estão

mais à vontade, estão com os colegas e estudam em grupo, isto são algumas coisas que

criámos na faculdade. Na universidade, sei que há um grupo que acompanha muito isto,

que tenta sobretudo chegar junto dos alunos que estão a desistir, foram criadas linhas de

apoio nos serviços sociais, linhas de emergência, há uns alunos mais carenciados… temos

atitudes destas e a universidade acompanha muito isto porque repare, na faculdade de

ciências sociais há vários cursos, aqui, em termos de sociologia, costumo dizer que filho

de médico é médico, filho de engenheiro é engenheiro, aqui é um pouco assim, filho de

médico é médico mas também há pessoas que não são e portanto são sobretudo esses que

temos que ver. Temos um pouco a vida mais facilitada porque o grupo de pessoas que

tem essa questão é menor e por isso podemos dedicar-nos mais e até acompanhar. Depois,

há outra vantagem que temos, a nossa associação de estudantes funciona muito bem e tem

várias atividades, estamos a falar de alunos que entram para aqui com 18 e que

curiosamente estudam e dividem-se por diversas atividades, são do coro, da associação,

da tuna, do grupo de teatro, andam a fazer aí um programa de solidariedade que é saúde

porta a porta, vão visitar velhotes, acompanham, têm-nos identificados, etc., fazem isto

tudo e ainda continuam a ser os melhores alunos. E, eles próprios, acompanham esses

casos, muitos conseguem resolver, muitos dizem-nos… por exemplo, há aqui casos que

ouvimos falar mas temos aqui na porta, tenho aqui pessoas que sofrem de bulimia e que

não comem, tenho uma ou duas, tenho aqui uma espécie de acordo com os seguranças e

com as pessoas do bar para dizer que aquela não come. E repare, uma vez vieram dizer-

me, esta só come cafés e pastilhas elásticas e durante seis meses andámos aqui um grupo

centrado, falei com o pai, e foi um assunto que resolvemos, com muita aproximação

porque isto é muito complicado, temos um gabinete de apoio ao aluno, chefiado por um

psiquiatra mas eu não posso dizer ao aluno para ir falar, ele é que tem que querer ir.

Portanto, tudo isto é um conjunto de situações que vamos apanhando. Temos casos de

alunos dos PALOP que estão aqui completamente desenquadrados e andam sempre

sozinhos e vêm-me dizer, tem que se enquadrar, fico assim um bocado mais descansado

quando de repente já o vejo no meio de dois ou três e já se ri e a coisa até corre bem. São

alunos como os de todas as universidades mas aqui são alunos de 18, 19 e que se têm um

14 já não sabem o que hão de fazer. Temos que ter alguma atenção e depois a associação

de estudantes promove muitos convívios e muitas festas para os integrar. Aqui a praxe é,

sou um bocado anti praxe, por mim acabavam as praxes todas mas a praxe aqui,

realmente, tirando um aspeto ou outro um bocadinho parvo, é uma praxe um bocadinho

inclusiva, isto é, há sempre um padrinho que durante o resto do curso é responsável pelo

aluno que veio e esse depois há-de ser por outro e a pessoa a quem o aluno responde e

depois os assuntos passam e há aqui um espírito que tem vindo a ser mantido ao longo

dos anos e tem funcionado, não temos tido assim grandes casos de, temos alguns, como

em todo o lado mas nada assim de grave. Isto são aqueles casos que é estar atento para

ver se as pessoas têm alguma necessidade, estar atento àqueles casos um bocado mais

complicados. Ninguém me vem dizer que anda aí um aluno a passar fome, não anda de

certeza e enquanto aqui estiver há-de comer, pronto não temos tido assim grandes

problemas. No fundo há aqui uma cultura organizacional que se criou e que se tem vindo

a manter e passa muito pela atitude dos docentes e dos não docentes que no fundo

asseguram aqui o funcionar da faculdade e sobretudo o espírito dos alunos que passa um

pouco de uns anos para os outros que eles dizem que é o espírito de Santana e realmente

é verdade, que é um espírito que tem algumas particularidades. Os miúdos entram aqui

com uma nota alta e vêm aqui para estudar.

O estado tem um papel perante o ensino superior. Neste momento ele é regulador,

financiador e delegou a avaliação na A3ES. No seu entender, deveria ter mais algum

papel, no caso da saúde, até é um empregador. No seu entender deveria ter mais

algum papel, está a cumprir bem os papeis que tem?

Nalgumas áreas sim, noutras não. O estado é o financiador e é para isso que pagamos

impostos. Acho que o estado é um mau regulador, isto é, o estado cria a A3ES com

determinadas atribuições e competências e quando a A3ES quer cumprir isso, o estado

vai e diz que não. Recordo-me de uma das primeiras coisas que o professor (nome)

quando foi para a A3ES queria tentar fazer, era eliminar completamente não sei quantos

cursos superiores que não tinham… o estado disse logo ai não que não pode ser. Isto era

mesmo o estado a ser mau regulador e a deixar que os lobies quer do ensino privado e do

público e não se fez porque se fizesse isso havia muita gente que ficava sem emprego,

docentes, mas é o que digo, ficam, mas ficam realocados a outras áreas, vão dar aulas, é

por isso que digo que ele é mau regulador. Cria um regulador, se quiser, um acreditador

e que depois não regula bem. Agora, a A3ES acho que tem um papel mais preponderante,

mas aqui há uns tempos tem tido um papel menor. Empregador, é assim, sou daqueles

que acha que há áreas que não devem sair do público, a saúde é uma delas, a água também

não, acho que a justiça também não deve ser privatizada. Creio que o estado, em termos

de administração pública, se quiser, devia ter aqui uma política pública… repare, mal

comparado e sem estar assim com um pensamento muito elaborado para isto, conforme

o estado faz um concurso para os alunos do secundário entrarem no ensino público,

portanto, entram os melhores, à saída do ensino público, o estado todos os anos têm

carências nos vários setores. E o estado em si deixa a cargo de cada ministério, secretaria

de estado, direção geral, fazer os seus concursos para admitir técnicos superiores, ora

bem, era uma forma de evitar que tantos licenciados saíssem e emigrassem era haver uma

coisa que há anos que anda a ser pensada mas nunca ninguém mais consegue fazer isso,

existirem concursos nacionais que também tinham um numerus clausus anual, isto é,

todos os anos saem x, todos os anos entram x desta área para a justiça, para a educação,

saúde, defesa, para os negócios estrangeiros até há, mas o concurso é sempre centralizado,

é a única forma de não haver compadrios, pode haver muita parvoíce, como os concursos

dos professores e etc, mas devia haver um concurso nacional porque repare, só há para

professores, só há para os médicos, para a justiça mas para os outros cursos superiores

não há, portanto devia haver um concurso nacional para técnicos superiores e abertos a

todas as licenciaturas para ocuparem cargos na função pública, havia de ser um bolo

também de uns milhares e logo aqui o estado estava a contribuir com emprego, isto é uma

coisa que anda a ser pensada, era centralizar mesmo o concurso, agora isto envolveria

uma logística imensa, é muito mais fácil para o estado fazer só para os professores, mas

pronto, se for ver, os professores corre mal, os médicos não corre tão mal porque há

sempre carência de médicos, na justiça desconheço, nos negócios estrangeiros há aquele

concurso que são sete provas… vou falar da área que conheço, neste momento, os

sociólogos fazem o quê, nada, senão forem as câmaras a empregar, o estado basicamente

não os emprega, a não ser que concorram para isto, para aquilo, etc. na área social, entre

sociólogos, psicólogos, educadores de infância, agora há cursos em serviço social, devia

haver também um concurso nacional para as escolas, creches, todas essas áreas, até para

o ensino superior. O estado devia ter um papel mais interventivo, em todas as áreas mas

em termos de empregabilidade em termos de ensino superior, portanto, a pessoa acaba o

curso e a não ser que tenha dois ou três cursos ou quatro ou cinco específicos que o estado

seja o grande empregador, todos os outros não têm. E no fundo há pessoas nas mais

diversas áreas… eu aqui por exemplo, tenho a especialização na área da administração e

gestão mas adquiri depois mas podia estar noutra área e aqui também podia estar um

gestor, alguém licenciado em direito, um economista. Porque não? Um concurso nacional

para administradores de ensino superior. Vou dizer uma coisa que é um contra senso, o

gestor executivo das instituições, o CEO se quiser, das instituições de ensino superior,

institutos e faculdade e até universidades, devia ser externo à faculdade. Se for

funcionário público tem muitas dependências e portanto todas as suas decisões vão ter

alguma influência. Se for gestor e tiver uma mente externa a esta área pode tomar más

decisões mas de certeza que tomam melhores decisões e não têm tanto aquele óbice de

estar agarrado a algum interesse ou não.

Dificuldades que possa sentir da atuação do estado na sua… tem pouco dinheiro,

gere um orçamento aquém das necessidades…

Vou dar um exemplo, a diferença entre ser uma instituição de ensino superior pública, em

que tem que obedecer aos procedimentos de contratação pública…

Uma pergunta, desculpe, têm saldos cativos?

Não, às vezes temos cativações… não é bem saldos cativos, é, de vez em quando fazem

umas cativações de uma verba que é para vir e não vem, mas a isso estamos habituados,

isso faz parte. Mas se tivermos saldo de um ano para o outro, esse saldo não pode ser

utilizado, pode ser utilizado nalgumas coisas que têm a ver sobretudo com as verbas para

pagar a CGA, segurança social, mas há outra verba que fica cativa e que nunca a vou

gastar, portanto o melhor é não ter saldo. Mas vou dar-lhe a diferença da dificuldade que

sinto e não poderia sentir por exemplo se isto fosse uma fundação, vou dizer-lhe

constrangimentos da administração pública. Se quisermos contratar alguém pelo mérito

e ir buscar uma pessoa ao estrangeiro para dar aqui aulas, que até é uma pessoa com

bastante mérito, e que são os alunos que vão beneficiar do ensino, não posso, porque para

fazer uma contratação de um recurso humano tenho que obedecer a um concurso, a regras

muito específicas e isto afasta muitas pessoas e então no ensino superior, a forma como

estão constituídos os júris, quer para docentes, quer para não docentes, há partida dá azo

a que venha gente boa mas outras vezes gente menos boa. Se fosse uma fundação, não

tinha este constrangimento, contratava quem eu queria. Por outro lado, também despedia

que queria, isto é, como em tudo, temos aqui pessoas que realmente foi um erro de casting

e outras que já vêm daqui e nunca cá fizeram nada e que se as quiser despedir para

contratar uma pessoa válida porque tenho ali um lugar ocupado, não posso, se fosse uma

fundação, já não estou a dizer se fosse privado, podia, portanto, isto em termos de recursos

humanos. Vamos agora à parte financeira. Se tiver problemas na minha vida e de repente

tiver aqui uma agonia ou uma necessidade de dinheiro, conheço alguém vou pedir-lhe

dinheiro emprestado, no estado não posso, se for uma fundação posso pedir dinheiro

emprestado à banca. Qual a garantia que dou? O meu património, o edifício, isto, eles

sabem que até posso fazer um pagamento a longo prazo mas que vou pagar, portanto,

posso pedir. Já falei de pessoas, de dinheiro, falta falar das coisas. Se quiser comprar

qualquer coisa estou sujeito às regras da contratação pública e portanto tenho que ir àquela

plataforma de compras pública, comprar àqueles fornecedores e adjudicar, etc. se for uma

fundação, não, vou comprar o melhor e por vezes o mais barato. Qual o problema da

central de compras que agora se chama ESPAP, no fundo, a contratação pública, em

termos muito simples faz uma pré qualificação de fornecedores para o estado e são esses

fornecedores que sou obrigado a comprar. Tudo bem, daí não há mal ao mundo, o

problema é que, por exemplo, informática, o problema é que os contratos alguns são feitos

para três anos. Agora, em três anos, os equipamentos informáticos, até em um ou dois,

tornam-se obsoletos mas sou obrigado a comprar àqueles fornecedores e há um que tem

um equipamento melhor e etc. e eu não posso porque senão fico ilegal e portanto, por

vezes estou a comprar uma coisa já obsoleta, mais cara, quando apareceu uma coisa

melhor e mais barata. Isto é outro constrangimento, serve para muita coisa a contratação

pública, para outras, não, isto coisas de bens e serviços etc. Portanto, já lhe disse aqui três

ou quatro constrangimentos que são no fundo a diferença entre ser regulado pelo estado,

público, ou ter se quiser alguma autonomia, que não quero que seja privada, mas que seja

se calhar privado público. Mas que o estado tem que ter de alguma forma alguma

intervenção sobre o ensino superior, isso concordo, que as instituições se possam

organizar de forma a que possam responder até aos desafios da internacionalização, isso

também temos que ver. Mas creio que o próprio RJIES que anda para ser revisto, acho

que vai contemplar isto. Depois aqui é como em tudo, os documentos legais demoram

muito tempo a ser revistos e quando são revistos já estão novamente desatualizados

porque já passou, as coisas já foram vistas com dois ou três anos de antecedência. No

fundo, são estes constrangimentos, podem haver outros e no fundo repare, para o ensino

superior, como não é uma área que sempre teve um ministério, estamos sujeitos um

bocado à vontade política dos decisores e uma vez temos ministro e outras vezes não

temos ministro, é como a cultura, é como outros, mas sobretudo nós, uma vez temos

ministro e, como estamos neste momento, outras temos secretários de estado, por uma

questão de decisão política que por acaso não concordo pelo seguinte, é muito diferente

os reitores, imagine, o CRUP, estarem a falar com uma pessoa, que pode ser um ministro

e que se vai sentar num grupo, num conselho de ministros com o primeiro ministro e é o

nosso porta voz, só daquela área, do que estarmos a falar com um secretário de estado

que depois vai falar ao ministro e a gente não sabe o que ele disse ao ministro, e o ministro

tem várias áreas de atuação, a nossa é uma delas. Se as conversas, as reuniões às vezes

demorarem muito tempo, há coisas de que não se fala e é o que acontece às vezes no

ensino superior, com a investigação é o mesmo. Portanto, outro dos problemas do estado

é esta constante indefinição do ensino superior ter ministério ou não, ninguém põe em

causa que os negócios estrangeiros têm que ter ministério, a justiça, a agricultura… o

ensino superior anda nisto. É uma diferença enorme, em termos de evolução, sobretudo

da investigação, ter ministro ou não ter ministro. Isto é um problema atual, nestes últimos

quatro anos isto foi um bocadinho… não tivemos ministro, basicamente, apesar de ele ser

professor catedrático do ISEG, não tivemos ministro.

Autonomia do ensino superior. Como se sente neste momento, autónomo? Está

legislada mas sente-a na prática?

É uma autonomia regulada. Não, é assim, temos alguma autonomia. Noto o seguinte, em

comparação com uma direção geral, um ministério, aquilo é muito regulado, há uma

hierarquia vertical, portanto, toda a gente obedece, há um poder central num sítio

qualquer, toda a gente trabalha e não se discute. Portanto, isto não é autonomia nenhuma.

No ensino superior, há alguma autonomia, há uma autonomia científica porque podemos

decidir aqui o nosso corpo docente, podemos decidir qual o nosso conselho científico e

portanto comunicamos, isto vai a aprovação mas não temos ninguém lá de cima a dizer o

que devemos fazer, somos nós que queremos fazer isto e eles aceitam ou não, há uma

diferença. Temos também autonomia pedagógica porque definimos os nossos currículos,

só o pomos à consideração, podem haver retificações ou não, só temos que ver se aquilo

está dentro do quadro nacional dos cursos e portanto também é resolvido. De algum

modo, temos alguma autonomia financeira e económica porque recebemos um orçamento

e somos nós que o executamos durante o ano e só prestamos contas ao final do ano,

basicamente, enquanto por exemplo, em relação aos ministérios, aquilo é controlado, não

há autonomia nenhuma. Temos alguma autonomia administrativa e dou um exemplo. As

entradas na administração pública estão vetadas já há muitos anos, só há dois setores onde

não estão, câmaras municipais e ensino superior. Portanto nós ainda fazemos concursos

para ir buscar recursos humanos ao exterior, sem ligação à administração pública, as

câmaras também mas todos os outros setores do estado não fazem, a não ser os concursos

nacionais dos professores, médicos e assim. Mas nós ainda podemos fazer concursos no

exterior, todos os outros ministérios têm que ir à bolsa de emprego que só o termo

disponível, uma pessoa que está disponível ninguém a quer, às vezes até se vai buscar

pessoas e nesse aspeto temos alguma autonomia. Nós, ensino superior, andamos há anos

a reivindicar mais, isto é, sobretudo um aspeto, esta é mais financeiro. Como disse, temos

um OE que nos é atribuído e temos que respeitar as regras desse OE e as regras

orçamentais, as nossas contas todos os anos vão ao tribunal de contas, eles vão ver o que

andámos a fazer e aceitamos isso perfeitamente, o que andamos a pedir é, se nós

conseguimos gerar receitas próprias, repare, um ministério não gera receitas próprias, a

não ser as finanças, nós geramos receitas próprias, queremos gastar essas receitas próprias

como nos convier, não podemos. Temos de gastar esse dinheiro conforme gastamos o

OE. Por um lado é bom, por um lado é mau, porque é assim, é a maneira que o estado

controla aqueles dinheiros. No fundo, podíamos ir à comunidade exterior e tirar mais

dinheiro para ele entrar no OE, porque o dinheiro vem, não vem do OE, vou busca-lo fora

do OE, aplico-o e gasto aqui, faço melhorias aqui mas faço segundo as regras da

administração pública. O CRUP e as instituições de ensino superior andam a pedir há

muito tempo é, ao menos o dinheiro do estado, a gente executa, este deixem-nos gastar

como queremos e sobretudo o que é que queríamos fazer era contratação de docentes

porque isto no fundo joga-se nisto, estou a falar de uma área de ensino superior mais

técnica, eu criava mais laboratórios, contratava investigadores, ia buscar equipas ao

estrangeiro para fazer investigação aqui e eu isto precisávamos de ter alguma autonomia

para gerir esse dinheiro e não temos, portanto o dinheiro vem e temos que gastá-lo ou

executá-lo nos termos das regras da administração pública.

O RJIES instituiu os CG com a entrada de elementos externos, principalmente para

a universidade. O que acha desta medida?

Concordo. Vou dizer porquê, fizeram os CG para as universidades e os conselhos de

faculdade para as faculdades e os conselhos de instituto para os institutos. Houve uma

melhoria significativa. Nalguns sítios, os membros externos desses conselhos, apesar de

estarem em minoria, têm uma figura preponderante, que tem a ver com a área e a forma

de estar da pessoa. E sou a prova disso porque já estive em conselhos de faculdade em

que a coisa corria menos bem, já estive noutro em que os membros externos são muito

interventivos e que realmente influenciam bastante as decisões do conselho. Acho que os

conselhos pecam por uma coisa, os conselhos foram criados e o RJIES instituiu, costumo

dizer isto e esta observação só me responsabiliza a mim, para tirar poder aos alunos, desde

o 25 de abril, quem mandava nas faculdades eram os alunos, que tinham uma

representação nalguns sítios de 50% e a forma de lhes tirar era dizer que agora vem aí

pessoas externas e eles ficaram reduzidos a 5, 10%... eles ainda não perceberam isto, em

muitas faculdades os alunos decidiam a eleição de um diretor, atualmente, não. Só peca

porque os conselhos são obrigados a ter x elementos externos, x docentes e o não docente

puseram à consideração de cada um. Falo por mim porque repare, a universidade não tem

não docentes nos conselhos, foi uma decisão e acho mal. Portanto os não docentes não

têm voz ativa, é uma questão que tenho com o senhor reitor e portanto, não concordo, isto

é um aspeto. No entanto, noto, e da experiência que tenho porque estive em quase todos

os conselhos, estou porque normalmente somos os secretários do conselho e portanto

estou em quase todos. Já estive em conselhos que realmente os elementos externos

estavam ali agradecidos por estarem e por exemplo, temos um conselho agora, quatro

membros que temos, a Dra Isabel Alçada, que foi ministra da educação, que por acaso é

presidente, a Vera Nobre da Costa que foi uma pessoa da publicidade e uma gestora, uma

mulher muito afirmativa e portanto, a opinião dela pesa, temos o Dr Barros Veloso que é

um médico proeminente e temos o Miguel Sousa Tavares que quando abre a boca… e

portanto, este caldo destas pessoas não ia para ali fazer figura de corpo presente. O

conselho neste momento é um conselho afirmativo e pesado e que opina. Na universidade

também, nalgumas universidades houve muitas que foram buscar pessoas mesmo do setor

até para os ajudarem para fazer ligação ao mundo do trabalho. A nossa de tecnologia foi

buscar pessoas ao mundo empresarial e eles estão a trazer a opinião deles para adaptação

dos cursos à indústria e à área da engenharia. Noutros, pronto, às vezes são figuras

proeminentes e um bocadinho para dar nome. Mas, da experiência que tenho, das muitas

que tenho, há uns que funcionam bem, outros que funcionam mal. Na minha opinião foi

das medidas mais positivas que podia existir, isto é, a academia é uma coisa fechada,

temos que ter consciência disto, os concursos para professores eram feitos nas quintas,

isto era quase uma sucessão do gabinete, número um, número dois, aquilo vinha tudo em

cadeia e agora não é bem assim. De repente apareceram pessoas de fora a olhar para um

ambiente que era fechado, isto é verdade. Na minha opinião, acho que funciona muito

bem e que devia ser um bocadinho mais alargado. Há um estudo sobre os CG e conselhos

de faculdade, publicado na revista do sindicato dos professores do ensino superior, da

universidade de Coimbra, no fundo a conclusão a que chegam é que realmente aquilo foi

ótimo porque abria ao exterior e de repente os professores viam que tinham pessoas a

olhar para si e foi mesmo assim. Isto ajudou sobretudo na alteração dos estatutos, que no

fundo, os estatutos são a lei das instituições, portanto, abri-los, eles deram alguns

contributos que se eles não tivessem lá não existiam e regra geral, foi uma boa medida.

Podia ter sido um bocadinho mais além mas esperemos que agora neste, há uma medida

que no fundo é muito importante, é que no fundo aquilo é um conselho de administração

e o presidente, obrigatoriamente é um dos membros externos, pronto, há ali outras coisas

que têm que ser melhoradas, porque é aquele conselho que elege o diretor. Ora bem, o

diretor, se quiser, como eles são nomeados, nomeia quem… portanto, esse aspeto tem que

ser um pouco mais melhorado pelo seguinte, se aquilo está lá para eleger o diretor, tem

que haver competição e portanto às vezes nalgumas… é muito fácil, e isto agora é uma

coisa um bocadinho complicada o que vou dizer… mas um diretor minimamente

inteligente ou um reitor consegue fazer-se eleger e consegue fazer que o conselho eleja o

seu sucessor. Não é muito difícil. Repare mas isto são coisas do sistema que quem estiver

atento faz isto, quem não estiver não está, portanto, havendo já esta experiência, era um

aspeto que o próximo RJIES devia rever… apesar de haver às vezes eleições para diretor

e reitores, que até aparecem personalidades estrangeiras a concorrer, raramente a pessoa

vai ser eleita porque mal ou bem… porque as escolhas mesmo dos membros externos,

eles são cooptados e portanto é uma escolha, não são eleitos, se fossem eleitos,

provavelmente também era outro problema. Portanto, é um aspeto a rever, se são mais

membros se são menos membros. Personalidades fortes fazem um conselho forte,

personalidades fracas, um conselho fraco.

Considera de alguma forma que esta entrada de membros externos possa ter alguma

ingerência ou influência na autonomia das instituições?

Têm, têm alguma influência. Têm influência neste aspeto, imagine que é uma pessoa, que

não tem a ver, mas com alguma influência política, vai influenciar politicamente as

decisões daquela instituição e até vai levar as preocupações da instituição na esfera onde

se movimenta. Um exemplo muito mais importante, estamos numa fase de captar receitas,

nós pedimos diretamente aos nossos conselheiros, que são pessoas com muita influência

na área onde se movem, sobretudo a Dr Vera Costa que nos ajudem e que nos digam

como é que havemos de fazer, que instituições para fazer fundraising, isto é, apresentar

as nossas propostas, os projetos que queremos, etc., e ela que nos diga quem são as

instituições onde nós nos devemos dirigir, ela anda a fazer isso e uma coisa que nos disse

logo, ela faz isso porque ela também dá aulas na FCSH e portanto está dentro do mundo

empresarial na mesma e ela disse que atualmente as grandes empresas deixaram de ser

mecenas, deixaram de dar dinheiro, e criaram fundações, fundação EDP, Astrazen,

Mercksharp, Champalimaud, etc. porque como tem outra configuração jurídica, é junto

dessas fundações que teremos que apresentar os nossos projetos, marcar reuniões e ver se

há depois um protocolo de cooperação ou não e se eles financiam ou não, portanto, isso

foi uma coisa que pedimos e que eles estão a fazer, são eles que vão, devido aos

conhecimentos que têm, marcam reuniões, põem as pessoas a falar umas com as outras e

isso não existia se ela não fosse deste conselho e repare, até a nível de assembleia da

república, já tivemos aqui alguns políticos, que no meio das comissões parlamentares a

que pertenciam, havia algumas questões que eles queriam ver resolvidas e portanto, a

pessoa disse que pertencia ao conselho e que tem uma pessoa, portanto, a pessoa foi lá.

O nosso presidente do conselho de faculdade foi a dra Maria José Nogueira Pinto, foi a

nossa primeira presidente mas logo aí houve um grande impulso e uma grande

visibilidade, porque ela era da área de saúde e fizemos aqui algumas parceiras até com a

Gulbenkian, sobretudo na área de saúde mental, área da saúde, porque ela também tinha

sido provedora da Santa Casa e assim e repare, temos uma ex-ministra da educação, neste

momento está na fundação cidade de Lisboa, mas que é uma pessoa que leva as nossas

preocupações a vários quadrantes, o Miguel Sousa Tavares é uma pessoa que nos ajuda,

como dizemos, ele pensa muito bem e nós estamos às vezes a pensar em meio fechado e

de repente ele diz não. Revemos os nossos estatutos e houve muitas coisas que não faziam

sentido, estou a dar um exemplo, não é bem concreto. Portanto, todos estes aportes, se

eles não existissem, nós não o tínhamos, neste aspeto é assim. Penso que nas outras

faculdades também, olhando para as outras pessoas, também há grandes sumidades e

sobretudo a vantagem que eles têm é pensar diferente porque aqui pensa-se só em

ambiente fechado. Muitas vezes estamos ali a discutir problemas e estamos a pensar em

ambiente fechado, e depois vão ter que abrir a discussão porque não estamos a perceber

nada, portanto, mesmo o fato de estarmos a explicar a alguém, temos que nos abrir e

explicar a alguém e só nisto às vezes noto que é toda uma forma de estar a que não estamos

habituados e a resposta que vem de lá é de uma pessoa que não está dentro do meio como

nós estamos e é sempre uma visão exterior. Se alguma coisa o RJIES tem de bom e tem

algumas, a principal, se quiser, é esta, é a dos conselhos e a obrigatoriedade de haver

membros externos e a obrigatoriedade do presidente desse conselho ser um membro

externo, espero que isto não seja revisto, seja aumentado, porque a priva que tenho, a

experiência que tenho é que foi bastante útil, e é, neste caso, neste momento, é uma mais

valia para a faculdade e eles travam algumas coisas, travam disparates que nós às vezes

queremos fazer e portanto é importante.

Têm mecenas?

Mecenas é outra coisa, o que nós estamos a fazer é fundraising, arranjar financiadores,

eles dão o dinheiro, sem contrapartida, há um protocolo, damos o nome aqui a isto e

àquilo, etc. no fundo o mecenato existe para dar benefícios fiscais a alguém, portanto, é

um financiador interesseiro. Nós agora estamos num projeto, temos uma área nobre que

tem quadros pintados por um pintor que é o Veloso Salgado e temos uns azulejos também

do Colaço e precisamos de fazer ali alguma inovação porque aquilo está um bocado

degradado e portanto, através do nosso professor de história da medicina, estamos a tentar

junto do ministério da cultura, tentar apresentar um projeto de renovação desta área e

temos uma empresa que nos vai financiar mas através do mecenato porque eles querem

benefícios fiscais. E depois, porque é que não temos grandes mecenas, de há muitos anos

a esta parte e ainda se mantem há aqui um prurido dos médicos aceitarem dinheiro da

indústria farmacêutica. E quem é que são os grandes financiadores e os grandes mecenas,

a indústria farmacêutica. Os médicos têm algum complexo em ter uma ajuda porque senão

podem ser conotados… o máximo que aceitamos é, eles dão um prémio que atribuímos

todos os anos ao melhor aluno do curso, a NOVARTIS dá ao melhor aluno de anatomia

patológica, a ASTRAZEN dá ao melhor aluno Erasmus, o Santander dá prémios aos

melhores alunos do curso. Quando muito dizemos assim, não é para nós, é para os alunos

e isto ninguém… o aluno recebe um prémio por mérito e etc., nós não ganhamos nada

com isto, dá-nos visibilidade. Estamos agora, até porque a necessidade aguça o engenho,

a tentar através… lá está, vamos pôr o estado regulador a dar-nos algum respaldo e através

da secretaria de estado da cultura, eles têm mesmo, através da lei do mecenato… nós

inscrevemo-nos como entidade que recebe dinheiro de mecenas, o nosso mecenas vai

inscrever-se como entidade que dá dinheiro, o projeto é aprovado e portanto temos o

estado a dizer que esta empresa pode dar dinheiro para aquilo. E isto depois ninguém vai

dizer-nos nada porque não fomos nós que pagamos, por acaso é uma indústria

farmacêutica, ainda são umas dezenas de milhar e estamos agora a tentar que é para

remodelar depois a sala e as pinturas que temos ali e depois vamos tentar fazer mais. Mas

repare os projetos de investigação, até esses raramente aceitam dinheiro da indústria

farmacêutica, candidatam-se à FCT, candidatam-se agora ao Horizonte 20-20, através do

QREN e etc. A projetos específicos da EU sobretudo para a área do ensino superior para

a área de investigação, lá aceitam um dinheiro ou outro de uma fundação, andamos aqui

numa discussão com a Liga Portuguesa contra o Cancro, a ver se nos dá algum dinheiro

e de que forma é que a gente tem aqui uma relação… nunca vamos diretamente porque

há este prurido, este complexo de não recebermos dinheiro.

Considera que a missão da universidade está bem definida?

Se quiser facilitar-lhe a vida, vou responder já que não… a definição de universidade é

universal e está pré definida. Em Portugal devia haver aqui uma discussão à volta do papel

da universidade porque o papel da universidade agora é o mesmo de há cem anos ou de

há 50 se quiser e tem as vantagens e constrangimentos de não ter grandes mudanças desde

há 50 anos a esta parte, a não ser na forma de funcionar jurídica. E depois há aqui alguns

remendos, esta última de fazer cursos universitários de dois anos, só da cabeça de quem

não percebe nada disto e o homem é professor catedrático, não sei quem lhe vendeu a

ideia… se me disser que no âmbito da universidade se anda a pensar… aquilo não serve

para nada, morreu à nascença. Nesse aspeto, a universidade devia ser repensada. Isto leva-

nos ao processo de Bolonha mas isto é uma ideia pessoal, houve uma mudança de

orientação, mas não houve uma mudança do objetivo e do papel da universidade. Repare,

houve uma mudança na organização do ensino, o processo de Bolonha foi isto e a

adaptação de regras nacionais a regras internacionais. A universidade, o seu papel na

sociedade devia ser pensado e devia deixar de ser tão teórica e ser mais prática, isto é, no

mundo que estamos hoje em dia, não podemos ter um ensino tão teórico e ter um ensino

mais prático. Isto não tem nada que saber, a universidade tem que olhar para o mundo,

acho que a universidade ainda não se adaptou à informática, a universidade ainda pensa

em termos de ensino na época pré informática, há algumas que já avançaram muito, outras

não, portanto, há aqui todo um conceito e um objetivo qual é a função da universidade,

acho que devia ser pensado, isto é um aspeto. Agora, as regras de funcionamento da

universidade e a forma como estão estruturados os cursos e a forma como nós retemos ali

pessoas durante uns tempos, acho que também deveria ser repensado e não é o processo

de Bolonha, isto é, nalguns aspetos é, na maior parte deles não é. Criámos cursos de

primeira e cursos de segunda, mas antes tínhamos disso, tínhamos uma coisa que era o

bacharelato e depois tínhamos a licenciatura mas agora também temos isto, chamam

licenciatura ao antigo bacharelato e mestrado à licenciatura, isto é mesmo andar aqui a

encanar a perna à rã. O modelo para mim era o americano, toda a gente tem uma

licenciatura base e depois vamos tirar medicina, direito, etc., a partir do 3º ano. Há ali um

college, que é tudo igual e depois é que é a licenciatura e era por aí que devíamos ir.

Bolonha… há cursos que são condensáveis e há cursos que não.

Aqui não condensaram.

Não, repare, por uma questão lógica… segundo as regras internacionais, para ser médico

tem que ter um determinado número de horas de contato com o doente em muitas

valências. Somando isto tudo, não dava três anos, dava quatro ou cinco, portanto, logo

aí… engenharia a mesma coisa, há uns cursos que também quiseram inventar, também

não quiseram. Mas falo de medicina, medicina era difícil condensar e para todos os efeitos

estamos no processo de Bolonha mas estamos fora de Bolonha porque não é três anos…

depois há o mestrado integrado que ninguém sabe o que é, tento explicar que não é um

curso, não é um mestrado mas é integrado porque integra uma licenciatura. A partir do 3º

ano, se a pessoa sair daqui com o 3º ano leva uma licenciatura em ciências da saúde, mas

não dá para nada, não dá para exercer medicina, quando muito dá para se candidatar a um

mestrado numa área qualquer em que seja preciso licenciatura. E depois esta a tirar o

mestrado numa coisa qualquer noutro sítio mas continua a tirar os outros três anos aqui

ate ter o mestrado integrado e pode sair daqui no final com dois cursos. Temos um

protocolo com a academia militar e os cadetes tiram o curso de oficial de militar e tiram

o curso de medicina e portanto no final saem com dois cursos, tenentes ali e médicos aqui.

Para lhe dar aqui uma boa notícia, há dois anos, o melhor aluno do curso de medicina e o

melhor aluno de curso de academia militar foi o mesmo e foi uma mulher, saiu médica e

tenente.

E em relação aos métodos pedagógicos e internacionalização? Correu?

Correu e posso dizer o seguinte, houve uma reforma curricular dos cursos de medicina

desde 2006 para agora, portanto, nós também fizemos a nossa reforma curricular e em

termos simplistas, resume-se nisto, temos três anos básicos em que os alunos estavam

aqui sentados à secretária a decorar matéria para as disciplinas básicas, 4º, 5º e 6º ano nos

hospitais. A grande reforma curricular que existiu na nossa faculdade e nas outras e todas

acompanharam esta reforma que no fundo é um conceito internacional, é que o aluno de

medicina, logo no primeiro ano, começa a ter contato com os hospitais. Deixou de haver

ciclo básico e ciclo clínico, três anos aqui, três anos ali, logo isto foi uma grande mudança.

E, como tudo na vida, que tem a ver com a conversa que tivemos há bocado de compras,

de atualização e definição de conceitos, porque é que houve esta reforma curricular em

medicina, porque a medicina está em constante renovação. Nós adaptámos conceitos e

disciplinas e necessidades atuais ao mundo atual, deixámos de ter algumas disciplinas,

reformulámos outras, criámos outras novas e portanto fizemos a nossa reforma curricular

que termina este ano, este ano é o quinto ano da reforma, porque o sexto já é de estágio

nos hospitais, é um relatório, não é bem aulas e portanto, os alunos que saem este ano do

5º ano, são os primeiros alunos que têm um curso novo. O nosso curso foi todo

reformulado. Outra grande diferença é esta, nós no anterior currículo tínhamos nos seis

anos, grosso modo, 51 disciplinas anuais, rígidas, e este ano, com esta reforma curricular

temos disciplinas anuais, disciplinas semestrais e disciplinas opcionais que não havia no

anterior currículo, portanto, criámos muitas disciplinas, demos azo a que os docentes

propusessem muitas disciplinas, acrescentámos disciplinas que não têm a ver com a área

de medicina, coisa impensável no currículo anterior, línguas, outras áreas que têm a ver

com a justiça e com a medicina legal também, algumas áreas na área de biblioteca,

conceitos bibliográficos para organizar teses, tem a ver um pouco com escrever uma tese

mas em termos técnicos de medicina, também temos cursos de pós graduação para isso,

não tenho certeza se é uma disciplina curricular ou não. Mas sobretudo línguas e coisas

na área legal que não havia, são disciplinas semestrais. Isto dá que antes os cursos era

rígidos, lá está, a universidade era um bocado fechada, era aquela disciplina o ano todo,

aquele gabinete, seguir sempre aquele manual, etc. neste momento aquela unidade

curricular pode ter professores, uns podem estar a dar a cadeira principal e outros criaram

uma cadeira aqui, uma cadeira ali e estão todos na mesma unidade curricular e portanto

há toda uma variedade em várias áreas. Portanto, isto foi a grande… adaptámos o curso

de medicina aos tempos atuais, isto foi uma grande reforma, levou muito tempo a

implementar e é uma coisa muito difícil. Há uma expressão que se diz no ensino superior,

a única coisa mais difícil do que mudar um currículo de um curso no ensino superior, é

mudar de local no cemitério, isso é a coisa mais difícil que existe e a segunda, como

dizemos, é mudar a estrutura curricular de um curso. São muitas resistências, muitas

formas de estar, portanto tem que ser um conjunto enorme de docentes de determinadas

valências e determinadas disciplinas que queiram todos mudar e isto é difícil, é daquelas

decisões que é top down e olhe, isto vai ser mesmo assim. Há alguma discussão e

criatividade. Era imperativo fazer esta reforma, as outras faculdades até já tinham

implementado a reforma, portanto, o facto de não mudarmos o currículo do curso também

faz perder capacidade competitiva e os nossos alunos saem menos bem formados.

Quer acrescentar alguma coisa?

Não, só para dizer que gostei muito.

Muito obrigada.

Entrevista F16

Poderia falar um pouco sobre a sua formação académica?

Fiz o secundário em (localidade), fiz a minha licenciatura no (IES pública nacional),

depois fui para o (estrangeiro), fiz o doutoramento na Universidade (estrangeira), depois

fiz a agregação em estatística e econometria aqui na (universidade) em 94 sou professor

catedrático para aí desde 1998, 2000…

Sempre na área da economia…

Sempre na área da economia.

Em termos profissionais e até chegar a este cargo de diretor, por onde andou?

Quando acabei a licenciatura trabalhei nos CTT, não chegou a nove meses, depois vim

para ser assistente aqui, depois saí e fui para o Banco (nome), depois estive lá dois anos,

despedi-me do Banco para ir para (o estrangeiro) e desde que voltei tenho estado sempre

na universidade.

Considera que os cargos e as funções que desempenhou até chegar aqui lhe

permitiram desenvolver… o ajudaram a desempenhar as funções que desempenha

agora?

Não, não, de todo. Não desempenhei cargos, fui sempre professor, fiz a minha vida na

investigação e no ensino, tinha sido uma vez diretor do programa de doutoramento, que

é uma tarefa muito simples e não tem problema nenhum, é muito pouco tempo, costumava

ocupar-me para aí uma tarde por mês, uma coisa assim… depois fui subdiretor do

professor Neves aqui, também numa altura que era um grande pico da minha atividade de

investigação e portanto também negociei com ele um exercício muito limitado das

funções, que tinham basicamente a ver com a coordenação do conselho científico. Foi

nessa altura que lançámos uma iniciativa totalmente inédita em Portugal que foi

começarmos a recrutar professores no mercado internacional, professores estrangeiros,

esse foi o meu projeto basicamente, portanto fui muito limitado. Depois, isto não habilita

porque nós aqui…. Na Universidade (nome), as unidades orgânicas têm grande

autonomia, portanto tenho poder de decisão equivalente ao que noutros sítios o reitor tem,

uma unidade mais pequena, não tenho autonomia financeira nem administrativa, tenho o

contribuinte, tenho as minhas contas, contrato de seguranças, contrato de empresas, não

tenho que pedir autorização à reitoria para contas nenhumas portanto, nada prepara

sobretudo porque depende do modo como se quer fazer a função. Em muitos sítios, o

diretor procura ser um representante dos professores, fazer as bissetrizes das

sensibilidades que existem. Não sou nada assim, fui eleito e antes de ser eleito apresentei

um plano estratégico de coisas que queria fazer e considerei a minha eleição o referendo

dessas coisas portanto fomos fazendo aquilo que estava no programa que era

posteriormente quer as pessoas concordassem quer não. De fato, não, nada habilitou, a

única coisa preparação que acho que existe na área da gestão para ser diretor, dean, como

gostamos de chamar aqui é, faço muitas vezes, participar em peer review teams de outras

escolas. Somos acreditados até internacionalmente, um dos exemplos, a ECOS é uma das

creditações que existe e de facto, uma etapa importante desse processo de acreditação é

mandar equipas de diretores visitar escolas, por exemplo, podem visitar uma escola na

Austrália ou no Brasil, no México, Inglaterra, para avaliar, com base num relatório de

auto avaliação, são visitas de três dias e isso é, de facto, já fiz umas quinze ou assim ao

longo dos anos e isso é de facto, a única preparação que acho que se pode ter para ser

diretor porque vimos em profundidade como é que outras escolas fazem, discutimos com

colegas nesse team de avaliação o que é que as outras escolas fazem e portanto isso é uma

aprendizagem muito interessante.

Ainda é docente?

Dou aulas sim.

Sobre o ensino superior público português, como o vê, qual a sua opinião, evolução,

tendências…

O ensino superior público português é muito diversificado e um dos problemas é que está

sujeito a regras que procuram adaptar-se a realidades muito diferentes. Gosto muito pouco

da expressão o ensino público porque acho que a diversidade predomina. Temos escolas,

mesmo dentro das universidades, começo obviamente pela minha em que temos 35% de

estudantes internacionais, portanto, estamos virados para a concorrência internacional,

recrutamos das licenciaturas os melhores alunos, exigindo só matemática A como prova

de admissão, a nossa nota mínima é de 16,5, uma coisa assim… para nós, na realidade, a

generalidade das regras são constrangimentos… acho que… não sei se conhece futebol

mas acho que a comparação é futebol. Há universidades que estão a jogar na liga dos

campeões, outras que estão a jogar na liga europa, outras que estão a disputar os

campeonatos nacionais e obviamente tem que haver regras comuns, regras de probidade,

de transparência, de accountability, são as regras do jogo mas são realidades

extraordinariamente diferentes. Isto foi uma coisa que os legisladores nunca quiseram ou

nunca souberam… nós em Portugal temos um gosto perverso por querer prever e por

quere ver, acho que a solução é legislar menos, não é legislar mais e é legislar de forma

mais ampla, isto é a primeira coisa que vejo e isto aplica-se a todos os níveis, um

politécnico do interior, escusamos de pretender que é ou vai ser algum dia uma

universidade, não é, não vai ser, as áreas são muito diferentes, quer dizer, o mundo das

empresas e da economia é muito mais internacionalizado do que o mundo dos serviços

sociais ou o mundo da história e do direito, portanto, por força das empresas, por força

da realidade das empresas…. Vejo que a primeira coisa, se quiser falar no ensino superior

é que a diversidade é muito grande, as necessidades são muito diferentes, os ambientes

nos quais as escolas se movem são muito diferentes, mesmo nas públicas, são muito

diferentes… volto a dizer, no caso da minha, a questão do estado o que poderia pensar

era, como é que facilito, como é que deixo, como é que não impeço que esta escola

concorra em pé de igualdade com as congéneres estrangeiras… é este que é… não acho

que haja muitas instituições, a procura de alunos, as discussões que houve aí, a falta de

alunos, quer dizer, são coisas que do ponto de vista da minha escola, não me posso

interessar menos por isso, deixamos alunos à porta nos mestrados que custam mais de

8000 euros, admitimos 400 e temos 1200 candidatos, 50% são estrangeiros, portanto,

acho que é uma realidade completamente diferente e, francamente, do meu ponto de vista

estrito como diretor, as discussões que se têm sobre problemas do ensino superior, são

um bocadinho estranhas. O que me preocupa é que não posso fazer os contratos que quero

com os professores, porque é que tenho que pagar o mesmo a um professor que se paga a

um professor de antropologia porque estão sujeitos aos mesmos regulamentos, porque é

que não posso admitir os alunos que quero na licenciatura… são muito mais estas coisas.

Porque é que é diferente das outras? Porque é que é assim?

Porque nós somos muito mais internacionais, porque há muitos anos que percebemos que

num país tão pequeno… acho que fomos a única instituição que achamos que Bolonha

foi a maior bênção que caiu do céu, costumo dizer que para a generalidade das instituições

era uma chatice porque antes tinham os estudantes presos durante cinco anos e agora só

os têm durante três e para mim isso é a beleza da coisa. Portanto, acho que a generalidade

das instituições são medrosas, vivem com medo da própria sombra, com medo da

concorrência, são muito defensivas, são muito inseguras e se há uma coisa que nós aqui

não somos é inseguros, não somos institucionalmente inseguros, somos

institucionalmente audazes e isso desde a fundação, eu acho. Quando a escola foi fundada,

é uma escola muito recente, já depois do 25 de Abril. O grupo inicial era um grupo de

jovens professores que tinha regressado dos EUA, portanto, desde o início houve uma

conceção de escola anglo-saxónica muito diferente da generalidade da academia

portuguesa. O primeiro programa de doutoramento, com cursos, com parte escolar e tese

foi lançado cá, não existia no país, era um modelo americano… outra coisa que é

diferente, orientação para o aluno. Gosto de chamar aos alunos os meus clientes, ou seja,

a generalidade das escolas são coutadas dos professores. Aqui, é tudo orientado para o

aluno, é a tradição e outra coisa foram as referências internacionais, procurar referências

internacionais desde o início… nunca falei com o fundador, professor Alfredo Sousa

sobre isso, aquilo era o computador dele e foi dos primeiros portáteis que existiram em

Portugal… mas acho que havia naquela geração a perceção de que Portugal era um país

muito provinciano, muito paroquial por ser um país pequeno, pequeno em vários

sentidos… os portugueses estavam em Moçambique sentiam isso, falavam da metrópole

como a parvónia… nós não tínhamos emigração nenhuma… sou da província, cresci em

Faro, ainda antes do turismo, os únicos estrangeiros que via era um senhor macaense que

vendia gravatas nos cafés e dois jogadores de futebol, portanto era um país… e era assim

nas fronteiras há oito séculos, um país muito, muito provinciano e a academia portuguesa

muito provinciana, os salamaleques, a referência, a endogamia, extraordinariamente

endogâmica, nós não recrutamos os nossos alunos de doutoramento entre os professores

há muitos anos e não é porque eles não sejam bons, é que, contratar os próprios alunos

como colegas cria relações de dependência numa instituição, é o mesmo que nas raças

caninas cruzar os pais com as filhas, o que certamente torna a raça mais apurada mas torna

a raça mais estreita também e isso é que é um apuramento menos resiliente, menos

adaptável, portanto, nós gostamos muito de trazer sangue novo… este ano recrutámos

três professores um brasileiro, outro holandês e outro português… houve esta perceção

desde o início que tínhamos que ter referências internacionais, que tínhamos que estar

abertos ao mundo, incentivámos as pessoas a fazerem doutoramento nos EUA, durante

muitos anos incentivámos as pessoas, docentes cá a fazer doutoramentos lá fora,

deixámos de fazer isso porque as coisas mudaram, portanto, houve sempre muito esta

abertura, este gosto em ser diferente e depois fomos crescendo e durante muito tempo

eramos um jovem diferente e como todos os jovens diferentes, ficam um bocadinho

inseguros no início porque são diferentes até que fomos crescendo e acho que nos

transformámos num jovem adulto orgulhoso da sua diferença e confiante.

Professor, falou no processo de Bolonha a nível da internacionalização. De uma

forma geral, o que acha da sua implementação ao nível da universidade portuguesa?

Acho que foi implementado horrivelmente, acho que a generalidade das escolas

portuguesas ficaram assustadas, pensaram em maneiras de fazer com que Bolonha tivesse

a menor influência possível na forma como faziam as coisas, muitas cortaram nos

programas, integraram os mestrados e agora como se viu, se os mestrados fossem

desintegrados poderiam cobrar outras propinas e estão agora a cobrar o mesmo que as

propinas da licenciatura, falo nos mestrados como forma de explicar, portanto, fizeram…

acho que as pessoas, de uma forma geral, não viram a grande oportunidade que era e a

grande oportunidade só pode estar associada ao risco e o risco é perdermos alunos…

muitos dos nossos candidatos aos mestrados não têm formação em economia e gestão,

têm relações internacionais, serviço social, enfermagem, etc. porque desacoplámos

totalmente os mestrados das licenciaturas, os mestrados são stand alone, são um produto

completamente independente das licenciaturas. Isto teve duas vantagens, primeiro,

abrimos imenso mercado para os mestrados, onde podíamos selecionar os alunos,

podíamos comparar, damos muitas bolsas, damos quase 300 000 euros de bolsas por ano,

de isenções e tudo isso, portanto, são mestrados caros, o mais caro custa para aí 250 000

euros por dois anos, mas ninguém com capacidade fica de fora por não poder pagar. O

mestrado ser caro e as pessoas não poderem frequentar não são exatamente sinónimos,

nós temos muito essa preocupação. Mas, ao desacoplar permitiu fazer duas coisas,

primeiro repensar o que seria uma licenciatura de três anos, não necessariamente fazer

um corte nos primeiros três anos que é uma licenciatura e agora vou chamar um quarto

ano de mestrado, que foi o que a generalidade fez, o termos desacoplado permitiu isso e

permitiu-nos também criar outro produto. Ou seja, Bolonha criou um mercado novo que

é o destes mestrados, que chamamos mestrados de Bolonha, 2ºs ciclos, que tem uma

dimensão europeia e como todos os mercados, significa que há estudantes que se podem

ir embora e foi isso que as escolas temeram, ah, os melhores talentos vão-se embora mas

as pessoas esqueceram-se que há outros que podem vir. Portanto, nós aceitámos as regras

e eu penso que na generalidade, pergunta-me como foi implementado, acho que na

generalidade das escolas portuguesas… estive anteontem com o professor Marçal Grilo,

que foi quem assinou a declaração de Bolonha e ele confirmou-me que a interpretação

que faço é de facto a que estava no espírito de Bolonha, a criação de um mercado de

dimensão europeia para o ensino superior. Acho que a generalidade das escolas viu de

facto Bolonha com receio, a tal insegurança de que falámos, foram muito defensivas, não

reformularam as licenciaturas, não libertaram os mestrados, não pensaram profundamente

o que é essencial dar porque, uma coisa é conceber um curso de quatro ou cinco anos, os

três primeiros anos…. Acho que há muita coisa que tem que ser pensada, o que é que é

mesmo essencial dar nesses anos, quais são… não posso formar especialistas em três anos

e isso obriga-me a pensar qual o balanceamento entre conhecimento específico e

conhecimento geral, aptidões, portanto, a parte cognitiva e não cognitiva desses três anos

é muito importante, obriga-me a pensar os métodos de ensino, obriga-me a pensar muita

coisa, as reprovações tornam-se mais graves porque há menos tempo para recuperar,

portanto, há muitas coisas que têm que ser pensadas. Nós adaptamos Bolonha logo, não

fizemos nenhum período de transição, ou seja, eu já era diretor e decidimos, sei lá, em

maio de um ano que em Setembro acabam-se os anteriores programas e começa tudo em

Bolonha, foi uma transição do dia para a noite, o primeiro ano foi muito confuso. Mas

depois, quando a generalidade adotou regimes transitórios, quando andavam a gerir isso,

já nós estávamos em Bolonha e o primeiro ano foi… basicamente criámos uma comissão

para gerir todos os casos não previstos, avaliámos as queixas dos alunos e tudo isso,

pronto.

A sua visão sobre o ensino privado em Portugal.

Também há bom e mau, o que se aplica ao público aplica-se ao privado, acho que o ensino

privado não tem nenhum problema filosófico ou prático, acho que há questões de

qualidade, acho que por vezes ocorrem situações desvantajosas com o ensino público

porque por muitos cortes orçamentais que existem, a generalidade das instituições de

ensino público, começam sempre o ano, não começam o ano do zero, começam o ano

com uma dotação e isso é diferente, vão ser grandemente afetadas por esta grande

penalização demográfica, muitas vão fechar, mas há instituições muito boas, quer dizer,

uma das melhores instituições portuguesas é a Universidade Católica por exemplo, são

privadas, portanto, também aí é preciso ter algum…

A tal diferença que falou há bocado em relação às públicas…

Sim.

Sobre o financiamento em concreto, professor, qual a sua posição sobre a existência

de propinas no ensino superior público?

Sou favorável à existência de propinas conjugadas com um sistema de empréstimos,

bolsas… por exemplo, tive em minha casa agora uma miúda americana que fez a

licenciatura e o mestrado em Inglaterra, amiga da minha filha, e ela tem uma dívida de

90000 euros, que vai pagar só quando começar a trabalhar e vai começar a pagar. Na

Austrália, o que se passa na declaração de IRS, ou seja, quando as pessoas começarem a

pagar, há uma parte que é para pagar os estudos. Isto tem uma vantagem que torna

totalmente transparente para quem é formando o custo do ensino, o valor real, porque de

facto, quando se diz, não há propinas… não há propinas não, o estudante não paga a

propina, alguém paga, o custo não desaparece. Permite tornar mais claras as escolhas dos

estudantes pela qualidade, acho que isso deve estar associado a não haver numerus

clausus e as escolas… se calhar torna mais clara a concorrência entre o público e o

privado, portanto, acho que tinha grandes vantagens. Já para não falar dos aspetos

distributivos, que acho que têm grandes vantagens de eficiência, desde que conjunto.

Repare uma coisa, há dois valores aqui que têm que ser conjugados, um é o valor da

eficiência do próprio sistema, isto é, assegurar que os estudantes, sabendo o custo, têm

um incentivo para trabalhar mais, para estudar, têm incentivo, sabendo o custo, para

escolher melhor os programas que vão fazer e as escolas, a eficiência melhor do sistema.

Outra, é garantir que ninguém fica barrado no acesso ao ensino superior e isto são dois

valores que têm que ser conjugados. Há provavelmente muitos outros sistemas, o não

haver propinas é também um modelo, que não deixa de ser uma experiência, existem

muitos países… na Áustria é um direito de toda a gente… a maior escola de gestão do

mundo existe na Áustria, tem vinte e tal mil alunos e o que eles fazem, como é impossível

ensinar vinte e tal mil alunos, fazem ao fim do primeiro ano um exame onde passam mil

e depois começa a sério o ensino. Acho que não adianta escapar às realidades… há de

facto vários modelos. A situação é extraordinariamente complicada porque isto é aquela

coisa das regras, nós temos um estado, um patrão que não dá dinheiro porque não tem

nem nos deixa obter dinheiro de outra forma, portanto, estamos um bocadinho no pior

dos dois mundos. Na Áustria isto é verdade mas as instituições são generosissimamente

financiadas, esta universidade de que falei construiu um campus de 400 milhões de euros

e onde cada edifício foi objeto de um concurso internacional de arquitetura independente

a que concorreram as melhores pessoas, portanto, cada edifício é diferente do outro e cada

um deles é uma obra de arte. Portanto, isto é possível de o patrão tiver dinheiro, ou seja…

muitas vezes em Portugal… e é por isso que acho que olhar para estas coisas como um

sistema não é certo, é tudo tão diferente de instituição para instituição, enfim, esqueci-me

do que ia dizer e estou aqui às voltas…

Estávamos entre os dois valores, entre os alunos e a eficiência do sistema, o acesso…

Há de facto muitas formas de resolver isto, a Áustria é um extremo, os EUA são outro e

os EUA têm uma taxa de escolarização superior elevadíssima… tem também um custo…

como as pessoas contraem empréstimos, as propinas sobem imensamente… não devemos

ater-nos à ideia de que os direitos existem independentemente das condições para os

satisfazer. Eu posso legislar que toda a gente tem direito a um bife de lombo todos os

dias, muito fácil, mas como é que isso se faz, como é que isso se materializa, portanto,

acho que têm que haver valores, a eficiência do sistema, a democraticidade do acesso,

permitir que instituições que tenham… nós olhamos sempre para as piores de Portugal,

nunca olhamos para as piores e para as melhores, nunca olhamos só para as melhores…

mas nós temos esta variância, temos esta distribuição de qualidades e qualquer sistema

de financiamento tem e é errado pensar que vão ser todas iguais, do mesmo modo que é

errado pensar que os estudantes são todos iguais, quer em termos de preferências, quer

em termos de capacidades, é totalmente errado, isso não é deste mundo. Tenho que

garantir que todas prestam um serviço bom dentro do patamar a que… repare uma coisa,

posso ser o patrão de serviços num hotel de cinco estrelas, não é um padrão de serviços

de um hotel de duas estrelas, mas posso ter um bom hotel de duas estrelas e um mau hotel

de cinco estrelas…

Dependendo da missão a que se propõe…

Dependendo da missão e é isso exatamente, tem que ser mission relate, se tenho esta

missão… uma das acreditações que nós temos, que é a americana EICS tem este

problema, nasceu há muitos anos nos EUA, existem universidades e escolas de gestão

nos sítios mais inacreditáveis que possa imaginar, cidadezinhas e tal, e eles criaram esta

agência de acreditação EICS, a American Association of College and Business Schools,

académicas que dão grau, por oposição a um ensino mais … para exatamente como um

mecanismo de certificação, se essas escolinhas todas que surgiram por aí, um bocadinho

como a A3ES, mas eles tinham esta grande dificuldade, como é que vou acreditar? A

escolinha de Freixo de espada à Cinta e ao mesmo tempo Harvard? O que é ser bom?

Então, é relacionado com a missão… quando nos vieram avaliar, disseram-me assim,

você ao ter posto uma missão e uma ambição internacional para a sua escola, torna mais

exigente a acreditação. Se tivesse dito que queria ser a melhor escola de Campolide era

fácil. Portanto, acho que é esta a única forma de lidar com esta diversidade, é garantir que

as escolas têm uma missão explícita, como muito bem disse, e que são boas e que têm os

recursos e a qualidade adequadas para o cumprimento daquela missão, não é outra.

Quando falei há bocado de confusão de propósitos, das que querem ser universidades e

tal, não haver uma avaliação clara e não haver uma avaliação relacionada com essa

missão, isto é o contrário de tratar as coisas… voltamos ao nosso sistema, há regras

comuns mas há divisões, o FCP, o Benfica e o Sporting, se calhar querem classificar-se

para as competições europeias… e é por isso que às vezes ponho um indivíduo que é um

ator muito importante para uma organização ou muito para outra, do mesmo modo que

um jogador pode ter muito sucesso numa equipa que tem uma missão restrita e quando

vai para outra perde qualidades, as coisas estão muito relacionadas…

Depende de onde se joga. Em relação à diferença de valor de propina entre os graus,

licenciatura, mestrado, doutoramento… considera justa a diferença de valor entre

estes graus?

Não sei responder a essa questão porque eu, por formação, tenho dificuldade com o

conceito de valor justo, honestamente não percebo essa questão… acho que o que um

estudante deve estar disposto a pagar por um curso não é necessariamente o que custa

fornecer ou não está somente relacionado com o custo de fornecer esse curso, como a sua

pergunta parecia implicar. Está relacionado com as oportunidades que se abrem a este

estudante por ter esse grau. Vejo a educação como um investimento, portanto, admito que

se uma instituição cobra mais por um doutoramento do que cobra por uma licenciatura é

por ter… provavelmente poderá ter mais… há uma coisa que é óbvia, o acompanhamento

de dez é caro, são menos alunos… mas acho que não é tanto por custo, é por perceber,

também para o aluno que aquilo tem um valor monetário superior porque se não tiver,

não percebo porque é que um aluno vai fazer um doutoramento.

Na sua opinião, qual o papel que julga ser dever do estado relativamente ao ensino

superior público? Falou há pouco de excesso de legislação…

Acho que há dois papéis que são inalienáveis. Um é criar condições para que ninguém

com capacidades fique privado do acesso ao ensino. A segunda é criar condições de total

transparência sobre a qualidade dos produtos que são colocados no mercado, portanto,

estas são as duas funções que são inalienáveis. Mesmo esta segunda pode ser… porque

esta associação a American, foi uma necessidade da indústria se regular, não foi o governo

americano que criou esta associação, foram as próprias escolas que sentiram que havia

muito gato por lebre, que prejudica a todas, então vamos nós próprios regular a

indústria… muitas pessoas na imprensa defendem que a auto regulação da indústria

através de regras lógicas e outras é muito importante. Mas estou disposto a garantir que

não há gato por lebre, não é garantir que todas têm recursos, é garantir que os estudantes

quando se candidatam, têm informação sobre o que querem e depois acho que é

fundamental garantir que… tenho sempre medo de dizer isto, dada aquela nossa conversa

porque em Portugal tende-se a uniformizar tudo… acho que é garantir que as escolas têm

uma missão, têm recursos adequados a essa missão e que quem vai estudar para lá sabe

que vai ter a qualidade, dada a missão e a outra, que acho que é mesmo inalienável, é

garantir que os estudantes… que ninguém com capacidade é deixado de fora, isso é

fundamental.

Agora, relativamente a esta instituição, referiu que tem muitos estudantes

estrangeiros. Tem algum tipo de publicidade, marketing… como fazem para…

Não, isso é um mistério da multiplicação dos pães. Começámos há muitos anos, quero

crer… há várias coisas, ensinamos em inglês…

Até o nome da instituição…

Mesmo da licenciatura. Há muitos, muitos anos que temos um programa de intercâmbio

enormíssimo, só para lhe dizer, todos os anos, em termos relativos, é o maior do país,

todos os anos recebemos nas candidaturas normais, 400 estudantes via exames nacionais

e recebemos 400 estudantes de Erasmus, é mesmo a dimensão… e isto ao longo dos anos

significa que há uma grande rede de pessoas que conhecem a escola, portanto, há uma

parte viral, digamos assim. Segundo aspeto, ensinamos em inglês. Terceiro aspeto, as

acreditações e a presença nos rankings, tudo isto é conjunto. E sabe qual a maior

nacionalidade que vem estudar para cá são alemães, italianos, mas alemães são o nosso

maior contingente, é grande, 10% dos nossos alunos de mestrado são alemães. E isto

ocorreu assim. As instituições em Portugal jogam mal os seus trunfos e há sempre dois

trunfos neste mercado, um é a qualidade académica e outro é o estilo de vida que se

proporciona aos estudantes. Portugal é um sítio com uma capacidade de atração

inacreditável para jovens até aos 25 anos, todos os rankings está no topo, sei lá, dos dez

melhores hostels, dois são em Lisboa, o clima é estonteante, é muito seguro, é

relativamente barato, basta viajar para perceber, em Portugal ainda conseguimos ir a uma

tasca comer decentemente… aquelas moças americanas, amigas da minha filha, abri um

vinho ao jantar e elas não acreditavam que o vinho tinha custado três euros e qualquer

coisa, quer dizer, são coisas totalmente fora e é seguro, nós achamos que é menos seguro

do que era há uns anos mas é seguro, as pessoas saem à noite sem grande problema e não

se sente, se calhar não vai para certos sítios mas não se sente… e isso é extraordinário e

nós temos que usar isto. O exemplo aqui é a Califórnia. As universidades na Califórnia

usam a sua localização como um fator de atração, é que um indivíduo pode ser igualmente

esperto, brilhante e pode escolher entre um tempo bom e um tempo horrível, se calhar há

pessoas que escolhem ir para Chicago, outras referem que querem ter uma boa

experiência e vão para a Califórnia. Portanto, acho que esta conjunção de qualidade

académica com estilo de vida é a cartada decisiva que as instituições têm que jogar para

ser… e é por isso que nós estamos a pensar em mudar-nos daqui para Carcavelos, aquele

edifício ali é o plano do nosso novo campus em carcavelos, entre a Praia da torre e a praia

de carcavelos… um sítio extraordinário… os estudantes mais motivados só pela parte

académica se calhar irão para a Noruega, paciência, repare, isto é como tudo, acho que

temos que… falei muitas vezes em diversidade… em Portugal temos o pensamento muito

uniforme, o sistema de ensino, acho que vem daquela coisa de sermos todos muito

iguais… a expressão é diversidade, ok, sejam muito felizes. Não posso ter tudo e a

diversidade implica escolher onde podemos ser mais eficientes. Portugal terá muita

dificuldade em concorrer se não usar as armas todas.

Existem algumas dificuldades financeiras na instituição face aos cortes

orçamentais?

Claro que existem e existem sobretudo… há sempre muita incerteza, acho que a esse nível

é a incerteza que conheço, neste mês admito que o valor vai ser um, um mês depois já há

um corte de 5% que depois pode ser ou não cativado, que depois é reposto e torna-se

muito difícil… isto não é como ir à mercearia todos os dias, de facto, posso comprar o

pão e um bocadinho de fiambre e de queijo todos os dias e posso ir ajustando, aqui não é

assim. Acho que o que me custa mais aqui, para além do que já disse, são duas coisas, a

incerteza em torno do financiamento do estado e esta regra absurda de estarmos sujeitos

ao mesmo equilíbrio trimestral das contas, isto é, todos os três meses, temos que ter o

orçamento equilibrado, o que é extraordinariamente complicado de fazer porque as

instituições de ensino superior têm dois picos de receitas, quando cobram as propinas, e

têm despesas regulares ao longo do ano. As regras estúpidas de gestão orçamental e a

incerteza são de facto as coisas que mais me moem e mais complicação me causam.

Na falta de investimento, como decide o que tem que cortar? Que áreas sofrem?

Investimos pouco na manutenção do edifício, temos edifícios velhos, investimos pouco

em manutenção, é basicamente onde cortamos.

Existem algumas estratégias de captação de financiamento?

Sim. Estamos a construir o novo campus totalmente com dinheiro privado e estamos a

falar em qualquer coisa como 50 milhões de euros. É ter visão.

Como é que isso se faz? Uma vez que anda tanta gente…

Ah, como é que se cria visão, isso é uma boa questão, acho que fomos querendo. Acho

que somos uma instituição muito sui generis e acho que isso dá para ver rapidamente e é

o produto do que fomos criando… acho que isso é uma pergunta natural à qual não sei

responder. Há uma expressão, sabe o que é ter topete? Não sei, acho que as ideias vêm

sempre antes dos recursos e haver ou não recursos nunca foi um obstáculo para tentarmos

prosseguir com uma boa ideia, achamos que as boas ideias atraem recursos, mais do que

os recursos atraem ideias e se calhar é isso que nos torna especiais… ou o facto de sermos

muito competitivos internamente… o facto de se calhar não termos uma estrutura muito

feudal como existe na academia portuguesa, porque é que as instituições são como são,

isso é one million dólar question e de facto não sei responder. Tive a felicidade de ser

diretor há oito anos, mais um ano e está a acabar, dez anos é um tempo muito grande nas

instituições portuguesas, tivemos dez anos extraordinários de inovação, de

reconhecimento e às vezes penso que isso se deve a ter pessoas extraordinárias a trabalhar

comigo, temos muita gente muito boa e acho que é esse o segredo e se conseguirmos não

coartar a energia, se formos nós próprios suficientemente confiantes, lidar com pessoas

muito boas e melhores que nós exige uma boa autoconfiança, e acho que é isto de ser

capaz de surfar no talento dos outros, acho que é assim que a visão desenvolve, reunir

talento à volta e depois libertá-lo, surfar por cima das ondas desse talento, acho que é

assim que se desenvolve uma visão, mas isso sou eu aqui a filosofar, muito honestamente,

porque não sei porque é que as instituições são como são. Acho que houve alturas,

também é um bocadinho por acaso, sabe… existem na vida das pessoas, como na vida

das instituições, certamente já aconteceu, a pessoa olha para trás e pensa que naquele

momento deveria ter escolhido uma coisa diferente e a minha vida tinha sido

completamente diferente, um namorado ou uma coisa assim, podia ter dito que não

naquele momento e tinha-se aberto um universo paralelo quase… certamente toda a gente

já passou por essa situação. Também nas instituições isto acontece assim. Acho que

estávamos um bocadinho às cegas, não acho que tenhamos sempre tido uma visão clara,

tivemos sempre uma visão, mas acho que houve um defining moment e que nós

aproveitámos que foi Bolonha. Nós, genuinamente, fomos ao fundo de Bolonha e tirámos

todas as consequências daí e acho que esse foi um defining moment. Se nós naquele

momento tivéssemos tido uma atitude conservadora, seriamos uma escola totalmente

diferente, também há sempre um bocadinho de sorte, há sempre um bocadinho de

liderança mas é preciso ter sorte, são vários fatores. Mas acho que… estou a refletir

porque tenho pensado mesmo muito nisso e acho que foi este o defining moment como

aquele defining moment da nossa juventude, onde há uma coisa que fizemos ou não

fizemos e a partir daí nunca mais somos os mesmos.

Uma vez que em Portugal há tanta falta de cultura de mecenato, de patrocinadores,

onde é que consegue reunir…

Vendendo o sonho, primeiro vender o sonho, depois de eles estarem apaixonados

apresenta-se um business plan.

Parceiros nacionais, internacionais?

Estamos a jogar em todos, portanto, é muito dinheiro. Também do QREN, uma parte será

divida ao banco europeu de investimento, uma parte será dinheiro nosso, portanto, há aqui

uma mistura grande… que há falta de cultura de mecenato tem toda a razão, mas também

há falta de projetos… nós vendemos uma coisa que pode ser surpreendente, vamos criar

um novo sector exportador no ensino superior que é o segundo sector exportador na

Austrália, vamos criar um sector exportador, como é que podemos fazer e é isto um

bocadinho do sonho que nós vendemos, criar uma coisa nova que faça sentido e que as

pessoas digam nunca tinha pensado nisso. É fácil.

Professor, receitas próprias que complementam as propinas?

A grande parte são receitas próprias, o OE é para aí 35% do nosso orçamento global,

portanto, a maior parte são receitas próprias.

E capacidade de gerar?

Temos, temos os mestrados.

E prestação de serviços, aluguer de espaços…

Também fazemos, aluguer de espaços não, fazemos consultadoria, fazemos formação de

executivos mas a grande fonte de receitas próprias são os mestrados.

Doutoramentos?

Sim, mas isso é pequeno. Temos doutoramento mas é pequeno, o grosso são mestrados.

O RJIES estabeleceu a entrada de pessoas externas à vida da universidade através

do CG. Há quem considere que isso pode levar a uma ingerência na autonomia das

instituições, há quem não considere…

Para nós foi muito bom também e critico o RJIES numa coisa, por não ter permitido que

parceiros externos tivessem maioria no CG, faz-se sempre a coisa à portuguesa, uma coisa

sempre com medo, somos uns medrosos extraordinários, mas mesmo assim, a minha

experiência, no bom sentido de escola, é que a presença de pessoas externas, mesmo em

minoria disciplina imenso a discussão e a tomada de decisão. Acho que é uma boa

mudança, teria sido melhor se pudesse haver mais externos, é uma das razões aliás, pelas

quais não há mais mecenato porque não damos duas coisas, não damos garantias aos

mecenas de que o dinheiro que eles põem nas instituições não vai ser confiscado pelo

tesouro e segundo, não damos garantias aos mecenas de que eles possam ter alguma voz

sobre o destino da instituição…

Quase como se exigissem a fundo perdido…

E não há garantia que é para nós, depois vem o ministro das finanças e pode sacar aquilo

para outra coisa qualquer, acho que quando se fala em mecenato, estas duas coisas são

muito importantes, poder garantir, e então o mecenas diz, eu daria se você fosse privado,

porque não têm garantia que depois o tesouro não se aproprie disto. Eles não querem dar

ao estado, querem dar a este projeto, esta ideia de que se consegue dar para uma coisa,

nós não conseguimos dar.

Nesses contratos estabelecidos com parceiros ou mecenas quais são os tipos de

contrapartidas que…

De mecenato não pode ter contrapartidas. Não há contrapartidas, tipicamente o que as

pessoas querem é uma voz no governo da instituição e algum reconhecimento.

Isto porque há um certo receio de alguma ingerência na autonomia…

Pois eu não acho que isso seja verdade e a prova de que não é verdade é que nas dez

melhores universidades do mundo, oito são americanas e duas são inglesas ou uma coisa

assim, compare os prémios nobel que existem nas ciências nos EUA com os que existem

em todo o mundo, portanto considerar que a academia americana não é académica e é

dominada pelo mercado é pura e simplesmente falso. Não acho que seja dominada pelo

mercado, há muita investigação financiada, em instituições como o MIT por exemplo,

mas não acho que isso comprometa… aí está a concorrência, se a empresa A financia a

investigação no MIT, a empresa B patrocina a investigação na Califórnia e se a empresa

A e a empresa B não tiverem interesses concorrentes. E sabe, não é vulgar os cientistas

fazerem fãs, porque isso falsificar a investigação… repare, os cientistas querem divulgar

a sua investigação. Hoje grande parte dos jornais exigem… não são só sujeitos a refere,

como têm regras de verificação dos dados experimentais, torna-se muito complicado e o

cientista, a coisa mais importante que tem é a reputação. Acho que isso não tem problema

nenhum. E o que é o estado? Também é um conjunto de interesses portanto, acho que é

um bocadinho uma visão idílica. De um lado temos uma visão dantesca e de outro lado

uma visão paradisíaca. Acho que não é assim. Preferia ter um problema de gerir pressões

de patrocínios do que o problema de não ter patrocínios e penso que 90% das pessoas a

quem seja colocada esta questão prefere estar na mesma situação. O Investment Bank que

é o Tanaka deu o nome à escola de negócios do Imperial College, fez um bocado de

pressão e eles deram, passados dois anos descobriram que o senhor Tanaka não era uma

pessoa que eles julgavam e retiraram o nome… ok, fiz um mau julgamento… não sei

mais termos do contrato.

Não acha que possa haver ingerência na autonomia?

Não, isso não há. Até porque há uma coisa, os mecenas sabem que não sabem da parte

académica, na realidade não se querem meter nisso, acho que o que eles querem… e nos

EUA grande parte dos mecenas é as pessoas darem à instituição onde fizeram a

licenciatura, é reconhecimento pelo que foi dado, é dar de volta… uma das razões pelas

quais os antigos alunos não dão de volta é porque acham que já pagam os impostos para

dar às propinas, eles sentem que aquela universidade lhes deu muito e eles querem dar de

volta e se puderem ter o nome da mulher ou do filho ou do pai dado a um edifício, ficam

satisfeitos.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Foi muito interessante.

Entrevista F17

Muito obrigada por me ter concedido a entrevista, começamos por falar um pouco

de si, da sua formação académica.

Eu sou licenciado em Organização e Gestão de Empresas.

O seu percurso profissional até chegar aqui, nomeadamente a (elemento externo

do CG)

Iniciei a minha carreira profissional no secretariado técnico da presidência do conselho,

que era um órgão de apoio ao conselho de ministros para os assuntos económicos e que

tinha como tarefa fazer os estudos de conjuntura, aliás, foram esses estudos de

conjuntura que foram publicados em Portugal e também elaborava e seguia a execução

dos planos de fomento. Pessoalmente, estive envolvido na revisão do terceiro plano de

fomento, segunda parte do terceiro plano de fomento e na elaboração do quarto plano de

fomento que entrou em execução no dia 1 de Janeiro de 1974 e por isso teve uma vida

relativamente curta. Depois, segui na administração pública ainda, como diretor da

(instituição nacional) onde me ocupava da direcção dos laboratórios e das instituições

ligadas, quer na universidade, quer no estado, a investigação científica e o

desenvolvimento técnico, a ligação com empresas para a elaboração de projectos já na

área do desenvolvimento experimental. Depois fui director geral do Ministério (…) e de

seguida fui chefe da (instituição nacional), depois fui embaixador na OCDE e daí

regressei para uma outra vida, mais de acordo até com aquilo que tinha sido a minha

experiência académica, a administração de empresas, tive em administrações de várias

empresas e é onde me tenho mantido até agora.

E enquanto (elemento externo) CG doutor, como foi a sua experiência?

Foi uma experiência muito interessante, primeiro porque a qualidade da discussão e a

qualidade das intervenções dos diversos membros era muito elevada e pessoas que se

exprimem com muita facilidade, pessoas inteligentes e a fazer um trabalho pioneiro. A

minha participação nesse CG (…) foi de facto um dos momentos bons e dos mais

elevados da minha carreira, não só pelo convívio que me proporcionou mas sobretudo

porque me permitiu envolver-me num processo completamente inédito e inesperado que

foi a fusão das duas universidades de Lisboa, a Universidade Técnica de Lisboa e a

chamada Clássica de Lisboa, que estou convencido de que é uma das grandes respostas

à necessidade de reorganizar a oferta do ensino superior em Portugal.

E nesse seguimento, doutor, o que lhe parece do estado actual/futuro do ensino

superior público português?

Não tendo deixado de vir a piorar do ponto de vista dos meios postos à disposição do

ensino, portanto, de uma forma directa, através do orçamento de estado e de uma forma

indirecta através da redução dos salários dos docentes, de facto está-se na via de

condicionamento da actividade da oferta de ensino. Não apenas em termos… sobretudo

em termos qualitativos, a necessidade de comprimir as verbas para determinadas

actividades correntes tem afastado a universidade de grandes oportunidades na área do

desenvolvimento da investigação e da formação de novos professores. Se continuarmos

por este caminho, a universidade vai enfrentar-se com uma ruptura geracional. Quando

os actuais professores se jubilarem não há professores formados para os substituir,

porque esta reposição gradual, em termos geracionais do corpo docente não tem estado

a ser feita, quer por falta de verbas para a investigação científica, quer por falta de

verbas para pagar salários. E, por isso, acho que estamos num caminho muito perigoso

que, a não ser invertido, trará sérios problemas à qualidade e até mesmo à própria

sobrevivência do ensino superior de alta qualidade como aquele que chegámos a ter e

que em determinados sectores ainda temos, já não em todos.

Quais os sectores que lhe parecem mais frágeis?

Não é propriamente por sectores, hoje as coisas vêm-se mais em termos de escolas e há

escolas que são francamente… que estão entre o top a nível europeu e mesmo a nível

mundial e depois há um sem número de escolas que não têm as qualidades mínimas

para enfileirar ou para entrar em qualquer ranking porque efectivamente não têm um

suporte de identidade científica, não têm, digamos, todo um conjunto de ofertas que são

complementares da mera transmissão livresca de conhecimentos. Nesse particular e

falando sempre ao nível do ensino superior, a escola pública é inquestionavelmente

mais bem apetrechada, a oferta privada, com uma ou duas honrosas excepções, de facto,

está muito longe dos mínimos necessários para que seja uma escola atractiva para

alunos talentosos e dotados e para que as empresas pensem nessas escolas para recrutar

os seus quadros. Seguramente que nessas escolas também há alunos bons e capacitados

só que o facto de terem cursado determinadas escolas à partida exclui-os de concursos e

de programas de informação que as empresas proporcionam.

Doutor, o processo de Bolonha, a redução do número de anos das licenciaturas, a

inclusão do mestrado integrado, a internacionalização, a mudança do trabalho

pedagógico entre alunos e professores, o que lhe pareceu? Qual a impressão que

tem, foi bem sucedido, mal sucedido?

Acho que o processo de Bolonha responde a uma das grandes ansiedades da sociedade

portuguesa que é a chegar a doutor. E, com o processo de Bolonha, de facto, o que não

falta neste país é doutores só que de facto, hoje um doutor perdeu muito do seu valor em

termos de estatuto social. Mas o primeiro ciclo de Bolonha é manifestamente

insuficiente para o início de qualquer profissão. Por isso, olho para o processo de

Bolonha sempre como uma licenciatura mais um mestrado, portanto, a licenciatura é

propriamente a quarta classe e o mestrado equivale à licenciatura. E é assim que, de

uma maneira geral, as empresas olham para esse produto de Bolonha. O primeiro ciclo é

apenas estudos preparatórios, aquilo que consideramos que vale mesmo a pena são os

mestrados. E não são só as empresas que têm esse raciocínio, muitas das organizações

profissionais como as ordens profissionais e assim também em determinadas formações

consideram que é absolutamente necessário ao exercício da profissão ter um mestrado.

Há certas ordens que já estabelecem as tarefas que um licenciado pode

desempenhar…

É uma condição já de entrada.

Doutor, a sua opinião sobre a existência de propinas. A lei de 92 veio introduzir as

propinas ao valor do salário mínimo e a partir daí actualizadas. Há autores que

consideram que a existência de propina põe em causa a democraticidade do ensino,

outros consideram que é uma responsabilização do aluno. Dentro destes dois pólos,

onde é que se situa?

Sou francamente pró propina e acho que nenhum aluno talentoso e com boas

classificações em ciclos anteriores deve interromper os seus estudos. Penso é que devem

haver formas de apoiar aqueles que não podem pagar as propinas, ou através de bolsas

que permitam ter uma vida digna enquanto estudantes, portanto bolsas generosas,

chamemos-lhes assim, que não sejam apenas uns paliativos para ir definhando, e

empréstimos. Quer dizer, hoje, aceder a determinadas formações, é um investimento e

esse investimento ou é feito pelas famílias ou é feito pela sociedade, aqueles que

efectivamente têm menos condições, ou é feito pelo próprio que pode endividar-se para

financiar os seus estudos. Agora, não podemos é cair numa visão miserabilista de que se

a pessoa não tem uma bolsa não pode… só através de… o ensino tem que ser

tendencialmente gratuito e que se não houver ensino gratuito aqui d’el rei, tiramos um

dos pilares do estado democrático. Não, quer dizer, a preparação profissional é um

investimento. Nós próprios investimos na formação dos nossos quadros através de

doutoramentos, através de deslocações para centros de investigação no estrangeiro,

acordos de cooperação com universidades relevantes para a nossa área de actuação e,

portanto, aceder a determinados graus de ensino e a determinados graus de formação

não deve ser gratuito, alguém deve pagar e portanto, pode ser a família que tem posses

para pagar, como, em vez da família que não tem posses para pagar, a sociedade deve

proporcionar, ninguém com talento, com determinadas notas deixa de estudar ou então o

próprio, que pode também endividar-se para… aliás, o sistema inglês, criado por um

governo trabalhista e cujo DNA era muito no sentido do ensino público gratuito e

introduziu os empréstimos aos estudantes que depois são pagos através da dedução na

factura fiscal de cada um, portanto, à medida que vão ganhando, vão pagando e

reembolsando e em conjunto isso faz sentido.

Embora haja casos em que quando não arranjam emprego isso pode tornar-se

mais difícil e pode tornar-se também um peso grande para o estado que concede os

empréstimos…

Penso que a experiência inglesa é boa… agora, por parte dos alunos que também se

comprometem em programas em que mais tarde vão ter que pagar eles próprios também

os estimula mais, torna-se um sistema muito mais dinâmico e muito mais competitivo.

Doutor, onde lhe parece que as universidades podiam ir buscar, sem ser os alunos,

que é das maiores fontes de receita própria, mas da sua experiência que teve de

partilha com o CG, onde é que lhe parece que as universidades poderiam ir buscar

financiamento? De que forma?

De uma maneira geral, às empresas e às grandes instituições de apoio à ciência e à

tecnologia na europa. As empresas não precisam que as universidades lhes ofereçam

profissionais acabados, as empresas esperam que as universidades lhes ofereçam

pessoas formadas muito solidamente naquilo que são as grandes disciplinas, física,

matemática, a química, as humanidades… as grandes disciplinas é o que nós precisamos

que eles tenham uma formação sólida científica. Depois, a adaptação às especificidades

de cada carreira, de cada sector de empresa, nós tratamos disso melhor do que as

universidades, digamos, o acabamento desses jovens mestres, acho que podemos pensar

a esse nível, isso as empresas fazem e fazem muito melhor do que fazem as

universidades. Sou muito contrário à criação de cursos terminais na universidade porque

isso pressupõe um funcionamento do mercado que não é uma realidade, não existe e

criar cursos muito orientados para este segmento de mercado, para aquele segmento de

mercado ou que exijam um grau supostamente muito elevado de especialização, isso é

muito pior, quer dizer, é preciso é formar pessoas com uma sólida formação científica,

com hábitos de trabalho, com hábitos de investigação, com um bom domínio das

ciências básicas e depois ele está completamente preparado para entrar em programas de

formação ou para se sujeitar a uma aprendizagem que é sempre necessária em qualquer

actividade. Antigamente, no meu tempo, quando a gente saía da faculdade, saía com a

convicção de que sabia tudo e três dias depois de estar a trabalhar ficava com a

convicção de que não sabia nada e era um bocado deprimente mas era assim. E as coisas

são como são, quer dizer, o aluno sai da universidade cheio de informação e muitas

vezes não é necessário que ele traga tanta informação, é mais necessário que ele venha

com uma formação muito sólida porque depois encontrará o seu caminho e adaptará,

digamos, aquilo que é o seu capital de base, que é uma visão científica das coisas, uma

capacidade sólida de análise, uma disciplina do trabalho. Com essas coisas ele singra

bem em qualquer profissão.

Qual a sua opinião sobre os licenciados/mestrados que lhe têm chegado… em

termos de contratação… não sei até que ponto o doutor tem contacto com isso….

Desse ponto de vista sou um optimista, tirando essas universidades e faculdades

vagabundas que há por aí e muitos institutos politécnicos que não têm uma oferta bem

estruturada, não têm professores de boa qualidade, enfim, não houve nenhuma selecção,

não houve nenhuma certificação desses cursos… enfim, são caça níqueis que há por aí

no sistema superior… são escolas que normalmente não têm laboratórios, são ensinos

que não exigem grande sofisticação em termos de acesso, computadores, toda uma

quantidade de coisas desse género e portanto aquilo é só pagar aos professores e… são

os caça níqueis que há por aí no ensino superior a distribuir, por exame ou por

equivalência, nos graus de licenciado e coisas assim. Mas, tirando isso, que é de facto

uma praga dos tempos modernos, aquilo que verifico nos mestres que aparecem aí das

grandes escolas é que vêm com uma preparação muito sólida, vêm muito preparados,

entram com muita facilidade em grandes escolas americanas, inglesas, da europa

continental e desempenham depois com grande brilho essas funções e acho que esta é

uma geração que está a sair muito bem preparada. E verifico, por uma questão de

proximidade em relação a alguns alunos, que o grau de exigência hoje no ensino

universitário é muito elevado e para ter um 10 pode cabular bastante, para ter 12 já

convém ter cuidado com o cabulanço, 14 já não é um cábula que lá chega, a menos que

seja super dotado e um individuo com qualidades excepcionais. Agora, para ter um 16,

em qualquer uma das grandes escolas portuguesas é preciso de facto estudar e para ter

um 18 é preciso, para além de ser um tipo com muita capacidade de trabalho e muita

disciplina, é preciso também ser um tipo muito talentoso. Portanto, temos muita gente

dessa. Vejo aí nos programas de trainees que temos, qualquer formação, chegam aí

jovens altamente preparados para singrar aqui ou em qualquer parte do mundo. Desse

ponto de vista não sou nada pessimista, acho que não nos faltam pessoas dessas para

trabalhar. O que falta no país é trabalho para dar a essas pessoas.

Doutor, posso perguntar de onde veio… em relação ao ensino privado entendo, por

todas as notícias que ouvimos, essa impressão sobre os politécnicos que o doutor

tem, de onde a retirou?

Muitos politécnicos… hoje em Portugal há politécnicos de 20 em 20 Km, não há massa

crítica em muitos politécnicos, não há massa crítica de professores, de ambiente de

investigação que permita de facto dar uma formação sólida àqueles jovens que

procuram essas instituições e portanto precisamos de muito menos escolas de nível

universitário e superior, precisamos de muito menos politécnicos e precisamos de muito

menos universidades. É completamente herético dizer isto com esta crueldade mas é a

minha convicção, quer dizer, há determinados limiares de massa crítica, abaixo dos

quais não pode haver bom ensino. E hoje, uma grande parte desta oferta que se

pulverizou por razões praticamente ou exclusivamente de ordem política, portanto, toda

a cidade quer ter a sua universidade ou quer ter o seu politécnico pelo menos. Quer

dizer, esta visão de atomização destas escolas, de levar a escola quase que à porta de

casa, é profundamente errado e tem dado maus resultados porque cria-se aqui, digamos,

uma dicotomia que é os alunos das grandes escolas e alunos de escolas que estão

qualificadas nos rankings, que têm índices de empregabilidade muito elevados e os

outros que não têm nenhuma chance. Os outros são uns tipos com a quarta classe

melhorada e isso é extremamente injusto.

Doutor, no seu entender, qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior

público? Neste momento tem três funções, regulador, avaliador e delegou numa

agência a função de avaliador. No seu entender, qual deve ser o papel?

O estado deve continuar a ser um financiador, deve haver ensino público e as grandes

universidades devem ser financiadas pelo estado. Sei que as grandes universidades no

mundo anglo saxónico não são financiadas pelo estado, mas por isso é que aquilo é o

mundo anglo saxónico e nós fazemos parte do mundo latino. Aqui a iniciativa e a

responsabilidade das grandes escolas é do estado e deve continuar a ser do estado e eles

devem continuar lá com as suas universidades da Ivy League e as suas emblemáticas

escolas de Cambridge, Oxford e por aí adiante. São tradições completamente diferentes,

não são transponíveis de um mundo para o outro, faz parte do nosso património cultural

e nas sociedades de inspiração latina, é absolutamente necessário que o estado se

mantenha como financiador do ensino e particularmente do ensino universitário e de

nível bastante elevado.

E em termos de legislação, acha que está bem assim?

O estado devia ser sobretudo regulador porque devia fazer as regras, fazer a

superintendência do cumprimento dessas regras e promover a avaliação, não que seja o

estado directamente a fazer a avaliação, a avaliação deve ser feita com uma grande

componente de elementos vindos de outras escolas, vindos até de outros países, as

escolas deviam ter honra e a preocupação de se submeterem a essas avaliações e

publicar os resultados dessas avaliações mas o estado devia ser um inspector severo do

cumprimento dessas regras de avaliação e definir as regras e regular a oferta. Portanto,

financiador sem dúvida nenhuma, inquestionavelmente, não somos anglo saxónicos,

somos latinos, fomos sendo desde a fundação da universidade de Lisboa, depois em

Coimbra, depois novamente em Lisboa e depois nalgumas poucas cidades mais…

agora, financiador, isso, sem dúvida nenhuma, regulador e um inspector, digamos, da

actividade e da garantia de que são cumpridas determinadas regras e determinados…

por exemplo, não admito que numa universidade não haja direito de recurso de um

aluno em relação à classificação que lhe é dada pelo professor. Acho que todos os

exames deveriam ter um código que permitisse ao professor desconhecer qual o aluno

que está a avaliar. Quer dizer, não haver o direito de recurso do aluno sobre a avaliação

que o professor lhe dá é injusto e há universidades até importantes em Portugal que não

têm esse sistema e os professores estão a analisar os exames do aluno A ou B, quando

deveria estar a avaliar o número de código que depois em qualquer momento se

cruzava e se sabia quem era o aluno que tinha feito aquele exame e era garantida uma

certa distância em relação a essas coisas que a sociedade, relativamente pequenas, este

país não passa de uma aldeia e ainda por cima está a perder população. Por isso, se não

eliminarmos esses factores emocionais e relacionais, através disso, estamos a contribuir

para uma menor qualidade de ensino. Há muito quem considere que o pedir uma revisão

de prova como um acto de rebeldia, quer dizer, e não se trata de um acto de rebeldia,

trata-se de um inconformismo com a avaliação que a pessoa faz de si própria, que essa é

a grande avaliação é a que cada um faz de si próprio e daquilo que efectivamente sabe e

se um aluno recorre da classificação que teve, não é um acto de rebeldia, é um direito,

que ele tente confrontar aquilo que ele estava convencido que tinha feito com aquilo que

outrem acabou por avaliar. E a reavaliação desse trabalho deve ser feita por outro

professor, não pelo professor que fez a primeira avaliação. É assim, quer dizer, as

pessoas vêm isso como uma cedência à pressão, uma certa anarquia dos estudantes, uma

certa dessacralização do professor, desautorização do professor, não é nada disso, é um

processo normal. Nós aqui quando atribuímos prémios pecuniários pelo desempenho, a

pessoa tem o direito a discutir, se alguém recebe um determinado bónus, tem que se

explicar porque deu o bónus ou porque baixou o bónus do ano passado, não é apenas

um maná que naquele dia caiu na conta bancária, é um acto de gestão e um acto

simultaneamente de motivação e de correcção de trajectória muitas vezes. É preciso

avaliar e explicar. Está a ficar horrorizada?

Não, doutor, de todo, entendo, é um direito de recurso. Doutor, sobre o mecenato

em Portugal, não temos por exemplo uma cultura de mecenato como têm por

exemplo os EUA e os países anglo saxónicos, acha que em Portugal tem algum

futuro ou começarem-se a formar as bases de mecenato? Podermos alguma vez ter

ou por sermos um país pequeno, de todo…

Vai ser um processo muito de longo porque nós de facto não temos essa mentalidade,

não fomos formados assim, os nossos genes não incorporam essa preocupação com o

devolver à sociedade um privilégio que essa sociedade concedeu. E, por isso, quem

enriquece não sente que deve destinar a solidariedade uma parte do seu sucesso. Quem

conseguiu um curso superior que lhe dá acesso a um determinado conjunto de empregos

não se sente obrigado a contribuir para o financiamento da sua escola, a escola que o

formou. Isso hoje faz parte da preocupação de qualquer aluno no sistema anglo

saxónico, ele sabe que, entre as suas despesas, tem que ter tanto para isto e tanto para

aquilo e tem a cota para o clube dos alumni, da escola que o formou, faz parte do seu

dever, entende isso como o dever de retribuir à escola o que recebeu dela e de retribuir a

favor de outro, criando oportunidades para outros. Aqui, não há muita mentalidade de

mecenato, há já incentivos interessantes ao mecenato, é uma boa direcção em que se

está a trabalhar mas, dado o atavismo e esta tradição, é um trabalho que vai ser lento

porque de facto a pessoa acha que tem direito a tudo e que uma vez formado, a

sociedade tem para com ele uma carta de obrigações, que é ser tratado por doutor e ter

direito a um emprego white collar e por isso não está muito sensível a retribuir à

sociedade que lhe abriu um caminho de privilégio, com manifestas vantagens sobre

outros que não têm essa… porque a grande vantagem que essa pessoa tem é o saber,

isso é que é o grande factor de diferenciação, não é o dinheiro, é o saber. Está

informado, está preparado para incorporar nova informação, está preparado para se

adaptar a novas profissões, a empreender em determinadas áreas e por isso… mas o

caminho do mecenato, é um caminho que vai demorar tempo mas havemos de chegar lá.

Até no domínio das virtudes sociais e essa terá que ser uma delas, também aí as coisas

têm evoluído favoravelmente, quer dizer, hoje há uma consciência muito mais apurada

de valores como a preservação do ambiente, promoção de condições de saúde e bem

estar para a população, as pessoas cada vez são menos conformistas com as

diferenciações sociais e as injustiças sociais e por isso, enfim, esse aperfeiçoamento das

virtudes sociais, é um caminho que demorará algum tempo mas que acabará por se

instalar e ser tido em consideração por cada um.

Doutor, acha que as universidades podem ter um papel na formação dessa

consciência de mecenato?

Claro que têm, devem ter… as universidades são quem forma os dirigentes, as elites,

não quer dizer que seja a única forma de formar elites, através da universidade, há

outras formas de educação que também formam elites. Mas é um dos principais

veículos é a universidade e a universidade tem a possibilidade de proporcionar uma

convivência interclassista que acentuará a componente democrática da nossa vida

social, o ambiente da universidade é o tu cá tu lá, que não é habitual em ambientes fora

da universidade onde a diversificação social e a diferença social é muito maior. O

ambiente da universidade é um ambiente, não diria anárquico, mas é um ambiente muito

tu cá tu lá, não arranjo melhor expressão. E isso é muito bom porque cria um

interclassismo… descomplexifica as relações sociais.

Doutor, relativamente a legislações anteriores, o que lhe parece o RJIES?

Sobre isso, sobre essas leis, não sou muito competente, não conheço muito bem, não é a

minha profissão, sei que é um regulamento mas…

Peço desculpa doutor, então reformulo a pergunta. O RJIES estabeleceu, não tanto

para os politécnicos, que já tinham a tradição de ter elementos externos no seu CG,

com outro nome, o que lhe parece a entrada de membros externos na academia? A

academia, historicamente, sempre foi uma coisa mais fechada sobre si, o que lhe

parece a entrada de membros externos, ainda que estejam em minoria, mas o que

lhe parece esta influência do exterior para a academia?

É bom, mas na devida conta, quer dizer, a universidade, a maior parte do corpo docente

deve ser de professores e investigadores mas há pessoas que através do exercício de

profissões se tornaram relevantes, quer na área do pensamento, quer na área da própria

actividade é bom incorporar essas experiências na universidade ou através da direcção

de seminários ou através da direcção das pós graduações, vejo-os menos envolvidos

naquilo que é o tronco básico dos cursos. O tronco básico dos cursos deve ser

administrado por professores e investigadores e os professores deviam ter todos uma

base de investigação e devem ser conhecidos, não só pelos doutoramentos que fizeram,

mas também por aquilo que publicam, em termos de actividade científica dentro das

revistas da sua especialidade, em colaboração com os seus pares, os congressos e tudo

isso. Portanto, acho que essas pessoas que ganharam a notoriedade pela forma como

exerceram determinadas profissões, pelo conjunto de conhecimentos que revelaram e

pela visão inovadora que imprimiram em actividades em que estiveram envolvidos,

acho que devem, com muito acerto, ser chamados à universidade mas vejo-os mais úteis

na direcção ou na participação em seminários, pós graduações, cursos, especializações

do que propriamente ensinar as ciências básicas, não vejo porque há-de vir um director

de empresas dar matemática ou química orgânica, física quântica, vejo isso mais para os

doutores que constituem o quadro técnico e é o tronco, o pilar básico de uma

universidade. Cada um no seu lugar. As universidades convidam pessoas dessas para

dar conferências, para leccionar até umas disciplinas de ordem mais especializada. Mas

vejo isso como uma contribuição parcial na formação.

Doutor, das reuniões que teve enquanto (membro externo) do CG, lembra-se assim

de algum contributo mais relevante ou mais interessante que algum membro

externo possa ter dado? Em termos de gestão, de governança da universidade ou

outra coisa qualquer que se lembre…

Acho que os membros externos foi uma experiência com bastante sucesso porque houve

ali um cruzamento da visão da universidade enquanto quase que torre de marfim e corpo

especial e a própria visão da pessoa bastante qualificada, com qualificação no exercício

da sua profissão e que trazem uma visão pragmática, uma visão mais orientada para

determinadas…. Para a solução dos problemas, acho que foi uma mistura muito

inteligente e inclusivamente, a própria proporção porque, em rigor os membros externos

não tinham enfim expressão suficiente para poder contrariar a dominância que… mas

que é uma boa ideia, é uma boa ideia e as boas ideias não estão apenas reservadas aos

catedráticos e aos alunos brilhantes, representam as estruturas estudantis, quer dizer e é

muito fácil uma ideia de um membro externo ser utilizada por outros. As pessoas não

são insensíveis nem estão fechadas, não andam no mundo de olhos fechados. Ninguém

anda hoje, a esse nível, com os olhos e os ouvidos fechados. As pessoas vêm e ouvem e

aderem àquilo que efectivamente podem ser as boas soluções. Muitas ideias boas saíram

dos membros externos e algumas ideias saídas do sector universitário ou do corpo

docente e discente, ou mesmo até da parte organizativa do mundo de trabalhadores não

docentes das universidades, havia ali uma boa mistura entre perspectivas diferentes de

ver os assuntos. Acho que foi uma experiência bastante interessante e felizmente que o

novo conselho da universidade unificada se manteve. Eu, por exemplo, que era

(membro externo) do conselho anterior, agora sou um paisano, membro, e isso como diz

o ditado, não caem as paredes na lama, quer dizer, é assim. Quando aceitei ser membro

do CG da universidade, não me passou pela cabeça que iam acabar por fazerem de mim

(membro externo) ninguém ficou mais surpreendido do que eu quando isso aconteceu

mas foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida. gostei muito de ser

(membro externo do CG). Agora, sou conselheiro apenas, faço-o com o mesmo espírito

de contribuir para a melhoria do ensino universitário em Portugal, para que a

universidade progrida, já tenho honras que cheguem para me estar a preocupar se sou

(membro externo) se não sou, isso já não faz parte das minhas preocupações.

Era difícil para si conciliar a sua actividade profissional com as exigências do CG e

agora membro? É uma coisa fácil, difícil de gerir?

O desafio que se coloca nas pessoas com actividade profissional ao meu nível é gerir o

tempo. Temos um tempo que é um bem finito e é o nosso principal bem. Daí que, a

gestão do tempo é de facto nuclear para o sucesso da nossa profissão. Se gerirmos bem

o tempo temos grandes hipóteses de ter sucesso e fazer um bom trabalho. Se

desorganizamos o nosso tempo, acabamos por fazer ruído, barulho e não fazemos nada

de útil. E por isso não podemos aceitar tudo mas aquilo que aceitamos temos que ter a

noção de que é para fazer e portanto depois é uma questão de se gerir o tempo e saber o

tempo que devemos dar a cada uma das coisas. Acho que só faltei a uma das reuniões

do CG, não tenho a certeza absoluta, não sou capaz de jurar, mas acho que só faltei a

uma reunião, por uma coisa qualquer inesperada. De resto, a minha vida estava

organizada, contando com determinadas coisas, ainda por cima são reuniões que se

podem programar com algum tempo e portanto é uma questão de disciplina, como em

muitas outras coisas da vida.

E a assiduidade dos outros membros, doutor, era semelhante?

Foi bastante elevada, francamente elevada, nunca imaginei. Pensei que estivéssemos

sempre com quóruns tangenciais e isso não é verdade, o nível de faltas era bastante

baixo.

Doutor, sobre a autonomia universitária. A universidade tem legalmente

autonomia financeira, patrimonial, administrativa, pedagógica… na prática, acha

que a universidade poderia ser mais autónoma? Tem autonomia que chegue?

No quadro legal tem autonomia que chega e sobra para fazer o que precisa de fazer, não

tem é os meios para sustentar essa autonomia, portanto, no fundo é um quadro de

poderes vazios porque ter o poder significa ter os meios para… e o problema hoje é que

a universidade, para sustentar aquela autonomia, necessitava de meios que

efectivamente não tem. Isso é a situação básica. O quadro geral da autonomia científica,

pedagógica, são coisas que quase ninguém se atreve a discutir hoje em termos enfim dos

requisitos básicos de uma instituição como a universidade. Alguém se atreve a discutir

que a universidade tem que ter autonomia científica, pedagógica…? Só algum excitado

ou da santa inquisição é que se lembraria de pôr em causa a autonomia científica e

pedagógica… há coisas que ninguém se atreve a pôr em causa, são indiscutíveis. O

problema é depois como exercer esses poderes e aí é que, efectivamente… primeiro, os

grandes inimigos dessa autonomia são a falta de meios. As universidades vêm-se

confrontadas com determinados deveres, por exemplo, as universidades têm noção de

que deveriam refrescar o seu quadro de docentes, que deviam estar a fazer mais

doutorados com destino ao ensino, mas não têm hipóteses de o fazer nem forma de os

enquadrar, não têm meios suficientes para fazer isso. Isso é o principal condicionante à

autonomia, que nalguns casos a torna numa autonomia apenas no papel. A outra coisa é

o centralismo burocrático que na nossa organização administrativa está completamente

enraizada. Porque, quer dizer, fala-se em autonomia, mas depois há uma série de coisas

em que é preciso um visto ou um despacho do director-geral, do secretário de estado, do

ministro. E depois há uma teia de registos, de despachos, de condições, que acabam por

esvaziar por completo alguns desses poderes de autonomia. No fundo, essa autonomia

plena é limitada pela falta de meios e por outro lado é condicionada por uma teia

administrativa que está instalada e enraizada no funcionamento do estado que

efectivamente esvazia esses poderes de autonomia, condiciona-os bastante.

A sua empresa tem algum protocolo com alguma universidade nacional?

Creio que sim. Uma parte da empresa que tem a ver com a Inovação vive praticamente

na universidade de Aveiro e o campus da universidade de Aveiro tem quase como

componente estrutural esta parte da nossa empresa. Há uma interpenetração, o próprio

nascimento da universidade se deu bastante por essa interpenetração e entre essa

capacidade científica e técnica que está instalada nessa empresa, cuja finalidade é a

investigação e desenvolvimento com a universidade, desde logo pela proximidade e

depois pelo convívio… no fundo há ali um micro cosmos em que essas instituições

estão muito mixigenadas, há ali umas trocas de fluidos muito importante. Mas temos

outras formas de cooperação mais formal, tivemos um protocolo plurianual com a

universidade americana de Carnegie Mellon, que é indiscutivelmente um dos maiores

centros de investigação das telecomunicações, conjuntamente com o Técnico e com

várias pequenas empresas da nossa área porque é preciso criar redes. E, portanto, não

era só uma questão de um protocolo com Carnegie melon, eram as empresas que

também, connosco, nas parcerias que tinham connosco ou por relações de fornecimento

ou de clientela, estabeleciam esses acordos de cooperação, que se acabavam por

difundir um pouco nesse network de empresas que tinham essas relações connosco.

Doutor, geralmente os protocolos implicam trocas, qual a parte que a sua empresa

requer?

Muitas vezes somos o elemento pagador, mas obviamente que também recebemos uma

vantagem, na medida em que podemos ter acesso a determinadas soluções e inovações e

isso pode fazer a diferença competitiva durante algum tempo. Hoje é muito difícil

guardar segredos durante muito tempo, a informação transmite-se a uma velocidade

insuspeitada há uns tempos atrás mas há sempre um período, quer dizer, para ganhar

dinheiro é preciso fazer diferente do que os outros fazem ou fazer melhor do que os

outros o que os outros fazem e não há terceira via. Você faz diferente uma coisa que os

outros fazem mas tem que fazê-lo de uma forma melhor. E isso dura pouco tempo

porque imediatamente surgem outras coisas que são de uma complexidade extrema ou

inultrapassável. Veja, por exemplo, nós iniciamos aqui ofertas convergência de fixo,

móvel, internet, banda larga, TV, nós iniciamos esse processo e hoje praticamente todos

os outros, nossos competidores, estão a trabalhar mais ou menos, uns melhor outros pior

mas nessa direcção. Dentro de pouco tempo, ou nós temos um golpe de asa para ter uma

diferenciação ou estamos todos a fazer o mesmo. E há-de ser sempre assim, a corrida

pelo saber é inesgotável, a procura, é sempre necessário ir mais além e procurar os

elementos diferenciadores nessas formas diferentes de fazer as coisas ou fazer melhor

quando temos que fazer o mesmo que os outros.

Doutor e a publicidade, também é um ganho para vocês? No sentido em que faz

um protocolo com uma dada entidade, a publicidade está incluída?

Pode estar ou não, a publicidade para nós é um instrumento de acesso aos nossos

consumidores e é um instrumento de informação, não é uma publicidade para divertir as

pessoas mas para chamar a atenção. Porque às vezes quando as pessoas viam que

tínhamos uma ligação grande com os (grupo artístico), que são animadores, mas não

fazíamos isso para divertir as pessoas mas para que através deles as pessoas tomassem

atenção e ouvissem determinadas mensagens sobre algumas vantagens de determinados

serviços, publicidade instrumental. É uma linguagem, um caminho para chegar ao

cliente e motivar a compra por parte do cliente.

Doutor, quer acrescentar mais alguma coisa?

Não.

Muito obrigada.

Entrevista F18

Começava por pedir para falar um pouco da sua formação académica.

Sou economista.

Mestrado, doutoramento?

Fiz a licenciatura em economia, depois mestrado em economia da saúde e também

doutoramento na área de economia aplicada à saúde.

E em termos de percurso profissional até chegar aqui?

O meu percurso é muito típico dos docentes portugueses, tenho estado praticamente

sempre nesta instituição desde que comecei a trabalhar. Estudei em (estrangeiro) e fui

recrutado para Portugal, na altura tinha acabado de fazer o mestrado, fui recrutado para

vir cá um ano apenas e depois fiquei. Depois fui fazer o doutoramento a seguir e regressei

a esta instituição. Tenho tido colaborações com outras instituições mas são sempre

pontuais, o meu lugar de base tem sido sempre a (IES), quer antes de estar integrada no

sistema universitário, a Escola entrou para a universidade em 1994, antes disso já cá

estava, pertencíamos ao Ministério da Saúde e depois a partir de 94 continuei, entretanto

terminei aí o meu doutoramento e fiz a carreira académica aqui.

E foi docente?

Sim, sempre fui docente embora faça, fazia bastante investigação. Neste momento não

tenho tanto tempo como gostaria.

Professor, há quanto tempo é diretor da escola?

Desde Fevereiro de 2011.

E como avalia a sua experiência como diretor?

Olhe, tem sido uma experiência muito enriquecedora, gosto muito do trabalho, mas não

deixa de ser frustrante no contexto atual. A escola, e todas as instituições universitárias,

têm tido uma situação económica muito difícil, o que significa que muitas das atividades

que tinha proposto no meu plano de ação quando me candidatei a diretor, tem sido difícil

pô-las em prática devido a questões financeiras, questões que tinham a ver com o

desenvolvimento na área de recursos humanos, a escola tinha vindo a perder uma série de

docentes, essencialmente para a reforma e não tinha renovado e era fundamental renovar,

foi um dos pontos que identifiquei e não foi possível aí fazer. Só agora, este ano é que

conseguimos abrir dois concursos, por causa das limitações e que acho que não resolve

porque entretanto fomos perdendo várias pessoas. Também outras limitações que existem

ao nível financeiro dificultaram muito. Agora, felizmente, tenho uma equipa pequena mas

muito capacitada que facilita as coisas e temos conseguido fazer face, nomeadamente

aumentámos o número de alunos nos últimos dois anos, só agora neste último ano é que

se nota efetivamente os efeitos da crise lá fora em termos da procura dos nossos cursos,

não foi muito grande mas nota-se um pouco, mas os outros dois anos do meu mandato

conseguimos que fossem de expansão, só que isso também traz as suas limitações que

poderei detalhar mais tarde, que tem precisamente a ver com a forma como somos

financiados.

Considera que o seu percurso académico e profissional facilitaram o desempenho

das funções agora como diretor?

Sim, felizmente conhecia a escola muito bem, conhecia os seus problemas, portanto, sabia

onde atuar. É claro que há aspetos de gestão para os quais preciso de apoio e felizmente

aí também temos apoio aqui dos serviços como normalmente os docentes têm, mas um

diretor deve pensar essencialmente em termos estratégicos e acho que o facto de pertencer

à instituição neste caso foi bastante útil também, conhecia os órgãos universitários muito

bem, tinha estado no CG ao nível da universidade, tinha várias articulações ao nível da

reitoria, estive na assembleia estatutária também e isso deixou-me bem preparado para

questões estratégicas. É claro que me surpreendeu a quantidade de tempo que é preciso

gastar com papel, a assinar e a analisar coisas pequenas que, felizmente os nossos serviços

tratam de muitas delas mas não estava preparado para a quantidade que ainda hoje se

exige de um diretor. Claro que algumas coisas podem-se delegar mas outras não. Um

gestor, um diretor de uma instituição universitária passa muito tempo em autorizações de

coisas pequenas, muita burocracia interna que é preciso fazer, exigências, algumas

externas, outras internas mas que tenho que tratar. Mas acho que tinha preparação

suficiente para isso, sendo economista, estava relativamente bem preparado para a parte

financeira, se bem que não tenha propriamente grandes conhecimentos de contabilidade

e aí tivesse que fazer alguma aprendizagem mas nada assim de muito forte, portanto, acho

que estava bem preparado sim.

Professor, entrando agora no domínio das universidades, o processo de Bolonha

para si foi bem implementado, mal implementado, bem conseguido, bem idealizado?

Acho que era uma excelente ideia de partida, não tenho dúvidas, acho que não foi de todo

muito bem implementado. Portugal, e acho que não tem a ver com a escola, tem a ver

com a forma como abordámos o processo de Bolonha. Portugal cumpriu, como

normalmente cumpre nestas coisas, somos muito cumpridores, aliás, o nosso governo

agora até faz disso uma bandeira da forma como nós cumprimos com a troika e acho que

com o processo de Bolonha foi a mesma coisa. Cumprimos no papel o que era preciso

fazer mas acho que os efeitos que teve não foram de todo bem pensados… outros países

acho que conseguiram manter mais autonomia no que tinham e nós preocupámo-nos

apenas em cumprir o processo tal qual como estava previsto, o que significa que se tornou

um processo burocrático enorme, preparar fichas de unidade curricular e depois nós

criamos também a agência de acreditação, ou seja, isto envolveu o ensino superior numa

enorme burocracia sem resultados e houve decisões estratégicas que acho que não foram

muito bem pensadas, houve quase uma fuga para a frente que acho que foi motivada

essencialmente por questões financeiras, e aí é culpa das universidades a meu ver, de

transformarem as antigas licenciaturas em mestrados. Esse é um efeito prático, é o que

um observador de fora vê. Havia um risco… creio que os gestores universitários pensaram

que se fossemos por outro modelo ao adotar Bolonha que haveria perda de financiamento

e então assim dissemos que as antigas licenciaturas eram equivalentes aos mestrados pós

Bolonha e acho que isso teve um impacto muito mau no sistema de ensino, poderíamos

ter reduzido o tempo da licenciatura e manter maior exigência para os mestrados, acho

que está já a ter, nalgumas instituições um efeito que não é benéfico, embora outras se

adaptem muito bem e isso mede-se pela fraca qualidade de trabalhos finais de mestrado

que são produzidos e sobretudo, no passo seguinte, trabalhos finais de doutoramento. O

doutoramento, algumas pessoas nem imaginam que hoje em dia o doutoramento é um

mestrado antigo e isso é mau para o futuro do sistema de saúde português e o sistema de

ensino superior português, é mau porque vai afetar a qualidade, vai levar e está a levar à

massificação de alguns programas de doutoramento com pouco critério, como devem ser

feitos. Obviamente que os doutoramentos em si também tinham que se adaptar, na minha

visão, não poderia ser mais aquela ideia de um estudante isolado a fazer um

doutoramento, esta ideia do estudante isolado, às vezes com o acompanhamento do

orientador ou às vezes sem esse acompanhamento, depois produzir uma tese ao fim de

algum tempo, isso tinha que mudar, portanto, acho que foi bom o que fizemos, de ter

doutoramentos mais estruturados, com um ano de preparação de início, tem essa

vantagem. Mas algumas instituições podem levar isto a … é o risco que vejo de ter

doutoramentos de muito fraca qualidade, de curta duração, que seriam semelhantes ao

mestrado antigo, é um risco que corremos e que só nos próximos anos é que vamos poder

avaliar.

Como foi aqui na escola?

Adaptámos… foi fácil porque… bem quer saber na totalidade os impactos do processo

de Bolonha, bem, há dois impactos. Primeiro, nós não fazemos ensino de primeiro ciclo,

só 2º e 3º ciclos, portanto, podemos dividir os impactos ao nível dos mestrados e também

cursos de extensão universitária que fazemos muito numa escola deste tipo que são cursos

pós licenciatura também e depois ao nível do doutoramento. Ao nível dos cursos de

extensão universitária de especialização que já fazíamos, são cursos que não sentiram

muito o efeito de Bolonha porque estão associados a profissões, nomeadamente o curso

de especialização em saúde pública que é para os internos de saúde pública, médicos, o

de medicina do trabalho que também está muito ligado à área de medicina do trabalho e

que vai estar também a partir do próximo ano associado à especialidade médica de

medicina do trabalho e depois temos outro grande que é o curso de administração

hospitalar, também tradicionalmente associado a uma profissão de gestor hospitalar, hoje

em dia essa carreira de administração hospitalar praticamente não existe, ou seja, existem

já alguns que estão nessa carreira mas há vários anos que não entra gente nova mas o

curso mesmo assim conseguiu manter-se devido à sua reputação e estes são cursos que

têm muitos anos na escola, mais de 50 edições, alguns 40 e tal, são cursos muito antigos

onde não houve muito impacto. Ao nível dos mestrados provavelmente sentimos alguma

dificuldade em atrair alunos, se bem que temos conseguido manter, mas esperava que a

escola, como instituição de pós graduação pudesse até atrair mais, com o crescimento das

pós graduações a nível nacional. O que se nota é que as instituições que têm 1º ciclo retêm

os seus alunos, se houver mestrado integrado é natural que fiquem. Quando não há

mestrado integrado também acabam por ficar na instituição para fazer o mestrado a

grande maioria das pessoas. Mesmo assim temos conseguido manter os números, se bem

que em algumas áreas temos sentido dificuldades, se isso se deve ao processo de Bolonha

ou a outros fatores, como a situação económica que deixa menos dinheiro no bolso das

famílias para fazer o mestrado, não é certo mas creio que o processo de Bolonha teve

também algum impacto aí, de dificultar, os nossos mestrados continuam a ser muito

exigentes como eram e suponho que para um estudante que pode apenas fazer um

complemento à licenciatura e tem acesso a um mestrado, é um caminho muito mais fácil

e mais barato certamente. Portanto, os nossos números de estudantes de mestrado

aumentaram mas um aluno que vem para aqui sabe que à partida vai pagar mais do que

se ficar na sua universidade, onde estava a estudar, vai fazer um curso que é mais exigente

em termos de tempo, em termos de ECTS, normalmente, em termos do trabalho final que

tem que fazer, á partida eles sabem isso, portanto, vêm para a escola só pela reputação da

escola. Infelizmente não podemos competir e aí temos dificuldade com as outras

instituições porque o ensino ao nível do 1º ciclo é relativamente bem financiado pelo

estado, tem sido, e as universidades que têm 1º ciclo podem subsidiar o ensino de 2º e 3º

ciclo, podem ter… Coimbra tem um mestrado de saúde pública, como nós temos, que a

propina é 1300 euros, a nossa é 4300 euros. Não temos ensino de 1º ciclo e aí temos

dificuldades por ser uma instituição de 2º e 3º ciclo, diria quase de elite, uma instituição

que só faz pós graduação é assim, mas no atual contexto de financiamento universitário

somos claramente prejudicados, ou seja, temos que ir à procura do nosso próprio

financiamento e os alunos, através da reputação da escola conseguem financiar a escola

mas num contexto de dificuldades económicas, isso torna-se mais difícil. Ao nível do

doutoramento, o impacto de Bolonha, foi relativamente fácil fazer a transição, já tínhamos

um doutoramento organizado, estruturado de acordo com o modelo de Bolonha, depois

adaptámo-lo e começámos de novo e temos um novo programa em saúde pública, temos

também mais dois doutoramentos, um financiado pela EU e outro financiado pela FCT,

que vai iniciar no próximo ano, esses são diferentes e mostram que há um grande

crescimento nessa área. Mas o nosso principal doutoramento é em saúde pública, um

curso mais tradicional, tem tido uma procura crescente e isso deve-se ao processo de

Bolonha, todos os anos temos que deixar vários candidatos de fora, de três que concorrem

só um é que entra. É bom, embora mau para os candidatos mas também não podemos

alargar essa parte. Isso tem sido bom, se bem que estamos dependentes muito de

instituições que financiam e o financiamento da FCT está cada vez mais complicado e

estamos também dependentes de muitos alunos que financiam a própria formação e que

são a maioria no nosso caso. E aí notam-se também algumas dificuldades, já depois de

entrarem, ou seja, temos candidatos que querem mesmo fazer o mestrado, mas vejo no

dia a dia que eles têm dificuldade em manter, mas pronto, a questão era sobre o impacto

do processo de Bolonha, nós adaptámo-nos ao processo de Bolonha, de facto, mas como

instituição, acho que globalmente teve um impacto positivo mas que gera algumas

dificuldades e que não são aquilo que consigo evidenciar, obviamente na perspetiva da

escola mas que me parece que, se transpostas para o contexto universitário no global, não

são muito boas, porque oferecíamos ensino de 2º ciclo de grande qualidade e continuamos

a oferecer mas temos uma concorrência hoje em dia muito diferente em situações que são

simplesmente uma continuação das licenciaturas, pouco mais do que isso ou instituições

que oferecem produtos de menor qualidade, acho que mesmo assim ainda há espaço para

um ensino de 2º ciclo, que seja de grande diferenciação relativamente ao resto, nós temos

essa possibilidade e continuamos a tentar fazê-lo mas o contexto não é o mais fácil.

Tirando esta parte mais curricular e de organização, a sua opinião sobre o ensino

superior público, em termos de evolução, o presente…

Bem, há tantas questões que poderia abordar. Acho que nos debatemos com vários

problemas para o futuro, desde logo, a questão demográfica, que gera algumas

dificuldades, particularmente a sul, onde se sente mais, não tanto a norte do país, mas a

sul, o que significa que temos que nos adaptar. Temos também que rever, creio, a

arquitetura do nosso sistema, vamos fazendo isso mas muito devagar, ou seja, acho que

continuamos a fazer aquilo que fazíamos há uns anos atrás e temos que nos adaptar, se há

cursos que não têm alunos… temos que nos adaptar, dentro das instituições, temos

procurado fazê-lo aqui na escola, com algumas limitações mas vejo outras que são muito

mais, basta ler os jornais e ver a quantidade de cursos que não têm alunos todos os anos

e acho que temos que fazer adaptações… o governo está a insistir muito na ideia de fazer

cursos curtos no politécnico como uma solução, que poderão ser alguns financiados pela

EU, mas acho que é uma forma de fazermos alguma coisa com uma enorme quantidade

de infraestruturas e docentes que temos, pode ser uma solução mas não sei se será a

melhor. Acho que temos que investir cada vez mais na qualidade e na internacionalização

e temos feito bastante aí a um nível global e isso é que seria bom para o sistema

universitário português e também para os alunos porque a boa investigação feita nas

universidades também transborda depois para melhor ensino e é aí que temos que investir,

sobretudo, dando incentivos ao mérito das instituições, aqueles que se conseguem

diferenciar, no contexto nacional e internacional, aí é que devíamos de investir, sobretudo.

Isso para mim é a chave do sucesso. Curiosamente acho que as universidades também

estão bem preparadas para dar esse passo, acho que são bem geridas, todos os anos têm

demonstrado que conseguem gerir os recursos públicos que lhe são dados através do OE,

conseguem geri-lo relativamente bem. Há de facto a dificuldade de alguns cursos atraírem

alunos e isso passa por decisões muito difíceis que temos que tomar, mas em geral as

universidades são bem geridas, não têm défice, não contribuem para o défice público e

portanto estão bem preparadas. Precisamos também de estímulos para nos pôr a concorrer

a nível internacional, diria que isso é um passo muito importante para o futuro,

eventualmente devido à quebra demográfica, trazer alunos estrangeiros para Portugal em

algumas áreas, quer dizer, não vou agora ser ingénuo e dizer que isto pode ser feito em

todas as áreas mas há claramente instituições nacionais que podem ir por esse caminho e

neste momento não estão a ter qualquer incentivo ou estímulo para fazer… aliás, só agora

é que se pensa na ideia de abrir um concurso de licenciaturas para alunos estrangeiros,

porque eles tinham que vir pelo concurso nacional, era a única forma de entrar numa

universidade portuguesa, que desde logo era impossível, a outra era através de um

programa de Erasmus ou qualquer coisa do tipo passam aqui uns meses, veem fazer férias,

não sei se isso é o que realmente queremos. Portanto, vejo que o futuro possa ser

promissor desde que se compreenda bem o potencial que o nosso sistema de ensino tem

em termos de internacionalização e de contribuição para o conhecimento.

E o ensino privado?

O ensino privado está com mais dificuldades ainda que o ensino público, neste momento.

O ensino privado foi fortemente incentivado ao longo de anos, pelo contexto, desde logo

das famílias quererem que os seus filhos pudessem participar na universidade, não havia

vagas suficientes e tomou-se uma opção de abrir, foram abrindo universidades em cursos

que não tinham custos relativamente elevados, não medicina ou ciências, cursos de caneta

e papel, que são relativamente baratos, comparativamente baratos e portanto abriram-se

muitos cursos e isso permitiu a massificação do ensino português. A partir de certo

momento, também as instituições públicas começaram a expandir e hoje temos um

excesso de capacidade, claramente. Entretanto, algumas instituições privadas já

desapareceram, outras estão com enormes dificuldades e não vejo grande possibilidade

de sucesso do ensino privado em Portugal, como em muitos outros países porque não

apostaram de facto nem na diferenciação nem na qualidade, não são como Harvard, que

é uma universidade privada. As universidades investiram sobretudo na massificação e em

atrair alunos de licenciatura e isso não lhes deu qualquer mais valia no contexto. Algumas

vão sobreviver e conseguem preencher lacunas importantes, mas o facto também de a sua

expansão nas últimas duas, três décadas gerou também algumas dificuldades ao sistema

no seu todo, ou seja, elas expandiram precisamente nas grandes cidades. Se tivéssemos

pensado agora, o que deveríamos ter feito era se calhar encaminhado alunos para o

interior, para as instituições que hoje estão com enormes dificuldades para atrair alunos e

tiveram ao longo destes tempos, criou-se lá capacidade, construíram-se edifícios,

politécnicos e universidades no interior, dotaram-se de docentes e depois não há alunos

porque em muitas situações preferem estar nos grandes centros, porque os alunos

preferiam estar numa privada, mesmo que não entrassem numa pública e isso gerou

muitos desequilíbrios. Planificámos muito mal o nosso ensino porque não houve uma

visão de como é que ele poderia contribuir para o desenvolvimento do país durante muitos

anos. Agora, está-se a tentar corrigir mas é um pouco tarde e creio que neste contexto as

universidades privadas têm um papel relativamente fraco para o desenvolvimento do

ensino porque não estão bem preparadas a não ser que encontrem pequenos nichos de

atividade onde possam contribuir mas não vejo que possam… aquilo que era

essencialmente a sua sustentação, para além dos apoios que tiveram do estado, a sua

sustentação vinha das propinas pagas pelos alunos e não estou a ver em muitas áreas isso

a continuar.

Sobre as propinas. Há autores que consideram que a sua introdução penaliza a

equidade do ensino, há outros que consideram que responsabiliza o aluno. Onde é

que se situa nestes dois extremos?

Não creio que tenha um efeito de responsabilização da propina tal como ela existe e os

valores que tem, não é assim tão forte. É isso que as pessoas normalmente defendem mas

acho que para o valor que temos atualmente, é essencialmente um contributo para o

financiamento. É um valor relativamente pequeno, acho que é justo que os alunos do

ensino superior que sejam chamados a contribuir a pagar uma parte do seu ensino, não

pagam a totalidade do custo, é apenas uma parte, devem ser chamados mas deve haver

simultaneamente um sistema que permita àqueles cujas famílias tenham dificuldades

financeiras em pagar, devem ser apoiados. Não sei se temos de facto esse sistema e ele

está a falhar neste momento em alguns contextos como podemos ver. Agora, acho que o

ensino superior é precisamente uma daquelas áreas em que as pessoas devem ser

chamadas a pagar uma parte do custo da sua educação. Já teria mais dúvidas por exemplo,

na área da saúde, nas consultas médicas, acho que aí o pagamento de uma taxa

moderadora aí é muito mais duvidoso, agora no contexto do ensino universitário, que

sabemos à partida que são famílias de rendimentos mais elevados que vão usufruir desse

financiamento sempre, o que nós temos que fazer é chamá-los a fazer uma contribuição

e proteger aqueles que poderão ter dificuldade. Obviamente num mundo ideal, gostaria

que ninguém pagasse propinas e todos tivessem acesso, eu próprio beneficiei disso, vivi

em Inglaterra e não só me pagaram as propinas e também me davam uma bolsa. Quando

estudei, há muitos anos atrás, hoje já não é assim, possivelmente se isso não existisse eu

poderia não ter seguido o ensino superior, era uma das pessoas que poderia não ter

seguido, não sei, a disponibilidade desse apoio foi muito importante. Portanto, considero

que no contexto atual sim, as pessoas devem ser chamadas a pagar uma parte, mas tem

que haver um sistema que garanta que aqueles que não têm recursos são apoiados sem

qualquer estigma, que isso é feito de uma forma perfeitamente natural e sem criação de

grandes dificuldades e que temos que nos preparar para isso. Há um outro aspeto, é que a

propina, deve também haver uma possibilidade, hoje em dia estou mais convencido, de

algumas instituições se quererem diferenciar cobrando uma propina até mais elevada do

que fazemos agora, mesmo no âmbito das licenciaturas. Não faz sentido que a propina

seja, sei que há uma pequena variação mas todos acabam por escolher a propina máxima,

isto pensando no contexto das licenciaturas de 1º ciclo, não faz sentido que uma

instituição com fraca reputação cobre a mesma propina de outra que tem o

reconhecimento nacional e internacional, que os alunos todos querem ir para lá e que

esgotam os seus lugares, acho que deve de haver a possibilidade de se diferenciar bastante

mais e não andar tudo ali à volta dos mil euros como é agora, poder haver uma

possibilidade de aumentar. De certa forma isso já existe ao nível dos mestrados, com

diferenciação, há instituições que cobram muito pouco e outras que cobram mais e acho

que devem ter essa possibilidade.

A propósito da questão dos preços dos mestrados e dos doutoramentos, na maior

parte dos cursos, saúde não será, mas exige menos recursos do que a licenciatura.

Apesar de não terem o financiamento do estado, acha justo a diferenciação de preços

que às vezes é muito díspar…

Acho que aí o que está a funcionar, porque há essa possibilidade, é precisamente as

instituições estão a pedir um preço e os alunos mostram se têm essa disposição para pagar

ou não e estamos a pagar por reputação, sou economista e é isso que pagamos, quer dizer,

rapidamente se verificará se aquela universidade ou aquela instituição não tem

possibilidade de pagar esse preço porque os alunos não pagarão. Há mestrados, tipo MBA

que estão a cobrar 20000 euros de propina ou mais e se eles conseguem cobrar essa

propina e há gente disponível para pagar, então acho que o mercado aí deve funcionar. É

diferente e acho que devemos estabelecer aí o que nós podemos depois fazer é associar a

isso uma possibilidade de financiar alunos relativamente carenciados, obrigar as

instituições que têm esses preços mais elevados, por regulação do estado, a financiar um

número de alunos carenciados mas que tenham demonstrado mérito para aceder.

Exemplificando, se aqui na escola pudesse cobrar, já temos preços relativamente elevados

também estamos numa situação muito sui generis de termos que usar isso para

financiamento, isso é praticamente a única forma de financiamento. Nesse caso, se

pudesse aumentar ainda mais ou se tivesse licenciatura, talvez seja um exemplo melhor,

se agora na escola pudesse fazer uma licenciatura e em vez de mil e tal euros que era a

propina máxima, pudesse cobrar 3000 euros, eu admitia 50 alunos por ano mas tinha que

financiar metade desses lugares, 25, a um custo baixo cobrando a alguns e admitindo

outros a um custo mais baixo, isso pode ser uma possibilidade, tem que ser feito ao nível

das instituições ou do estado, isso poderia ser decidido mas acho que era um sistema

melhor. Chama-se diferenciação de preços e já existe há muito tempo, aliás, em medicina

existe há séculos, os médicos sempre cobraram mais aos doentes ricos para poderem

prestar cuidados aos pobres, de graça ou… não é só com o sistema que hoje temos

organizado, os economistas reconhecem isso como a diferenciação de preços e acho que

conseguimos atingir objetivos de equidade permitindo que os melhores façam isso.

Aqueles que têm menor reputação não conseguirão fazê-lo porque há instituições que

podiam pôr a sua propina a 500 euros e mesmo assim não conseguem atrair alunos,

portanto, acho que há um papel para o mercado aqui nesta situação que é a todos os níveis

de ensino, 1º, 2º e 3º ciclos.

Professor, qual julga ser o papel do estado relativamente ao ensino superior?

O papel do estado é fundamental, não tenho dúvida nenhuma, é o garante do ensino

superior e tem que ter um envolvimento no ensino superior, mas isso em qualquer país,

sobretudo nos países desenvolvidos. O estado tem que ter um papel muito forte. Alguns

países, devido aos seus recursos, devido também a opções estratégicas que tomam, a

opções políticas, conseguem ter sistemas de ensino onde não há propinas ou então são

baixíssimas e há países assim, creio que a Holanda e a Suécia, os nórdicos conseguem

fazer isso, acho que hoje nós não temos capacidade, sobretudo com as condições

financeiras que o país atravessa, não temos condições para o fazer e até me parece que

neste momento podemos perfeitamente aceitar que haja um contributo por parte das

famílias como já lhe disse, por várias razões, dado que são pessoas de extratos sociais

mais elevados que genericamente beneficiam mais dos recursos do estado e porque

também, a formação superior lhes vai dar algo no futuro, sabemos, através de estudos que

as pessoas conseguem obter taxa de retorno, o investimento que é feito é muito superior,

hoje em dia há enorme dificuldade, mas os estudos ainda demonstram que as pessoas

conseguem, comparativamente aos outros da mesma idade, conseguem ter uma vida

melhor em termos de retorno e de rendimento, portanto, há um investimento aí e as

pessoas têm que ser chamadas a pagar e o estado aqui tem um papel que para mim me

parece muito forte, obviamente no financiamento mas também na prestação, acho que

tem que ser o garante num sistema de saúde europeu, deve ser de facto o garante e deve

investir nas suas instituições, sobretudo num país como Portugal, só as instituições

públicas é que estão bem preparadas para os desafios que se avizinham. Dificilmente

podemos pensar… há uma ou outra ilha no sector privado que possa de facto dar-nos

garantias da qualidade e da exigência necessária, da internacionalização que vamos

precisar, mas são sobretudo as instituições públicas que estão melhor preparadas, portanto

vejo como um papel fundamental para o desenvolvimento do país até diria que as

instituições universitárias são daquelas áreas onde precisamos mesmo de investir.

Financiador, regulador…

E prestador também. Não sei se será o melhor termo, providenciar, as universidades são

públicas, os professores são assalariados, nesse sentido estamos a prestar um serviço,

portanto, vejo aí um papel de todo o tipo, não vejo que pudesse ser como em outras áreas

que o estado fosse meramente financiador como se pensa e depois as pessoas é que iriam

escolher onde fazer a sua formação, não. Acho que temos uma rede de ensino superior

público que está preparada para enfrentar os desafios do século XXI. Pensar agora que é

dando dinheiro às famílias para escolherem através de um cheque ensino ou seja o que

for, que isso os iria colocar numa situação melhor, não creio de todo que isso pudesse ser

assegurado, não creio que haja essa capacidade instalada. Vejo, mesmo também com

algumas dificuldades, que isso é muito mais fácil de fazer ao nível do ensino das crianças

porque ao nível superior, acho que o investimento deve ser feito no sector público.

Há pouco falou da diminuição do número de alunos por causas demográficas e

financeiras. Além da reputação da escola, tem outras estratégias de captação de

alunos?

Captação de alunos… temos procurado públicos diferentes… captação de alunos, o que

tem tido um impacto financeiro maior tem sido alunos de outros países, nomeadamente

nos PALOP, temos conseguido atrair alguns alunos brasileiros, por exemplo, alunos de

África e aí tem ajudado e temos feito, coisa que não fazíamos há vários anos, temos feito

cursos em África, em várias instituições e isso tem sido uma forma de diversificar o

financiamento. A escola, para aí na primeira década do século XXI era uma instituição

nacional, não teve muita internacionalização, sobretudo no ensino, e agora tivemos que

mudar, tenho três docentes em Angola esta semana, tenho um corpo docente muito

pequeno e tem sido assim frequentemente e isso tem sido uma forma de diversificar.

Procuramos também fazer, mas isso já fazíamos, que são cursos não conferentes de grau,

a escola tinha muita tradição e isso também ajuda. São essas as principais fontes que têm

ajudado. Depois há outras coisas menores, há um acréscimo enorme na utilização das

nossas instalações que alugamos às vezes a entidades externas mas que não tem um

impacto financeiro muito grande, estamos a partir quase do zero para alguma coisa,

portanto há um crescimento exponencial mas que ao fim do dia não tem assim um

contributo muito grande. Há coisas desse tipo. Diversificámos as nossas fontes de

financiamento em termos de investigação, a escola tinha uma fonte de financiamento para

investigação que dominava as outras que era do Ministério da Saúde que pedia estudos e

investigação, consultoria de diversos tipos e fazíamos muito e era estável, relativamente

estável. Estudos contratados e depois dificuldades de obter financiamento de entidades

públicas, porque não há dinheiro, vão-se adiando muitas vezes e tenho situações de

projetos financiados até com o envolvimento da FCT e que depois estão congelados, que

não puderam avançar de alguma forma, outros que avançaram, continuamos a fazer o

trabalho mas não há disponibilidade financeira para serem pagos, portanto, houve aí essa

dificuldade, nós diversificámos as fontes de financiamento nos estudos e na investigação,

por exemplo, temos mais financiamento do sector privado do que tínhamos, empresas

farmacêuticas por exemplo, se bem que aí também se notam agora grandes dificuldades

porque também estão a ter dificuldades com a quebra do preço dos medicamentos,

também não nos tem facilitado a vida mas temos conseguido diversificar aí. Alargámos a

financiamento europeu, também foi outra forma de combater, felizmente conseguimos,

mas aí, como sabemos, é extremamente competitivo e pode ser muito bom num período

de dois ou três anos e depois cair um projeto ou dois tem logo um impacto muito grande

a nível europeu, são projetos financiados por uma instituição com a dimensão das escolas,

relativamente pequena, pode ser ótimo num triénio mas o próximo triénio pode não ser

tão bom, é instável nesse sentido. Portanto, temos procurado diversificar as fontes nesse

sentido, com algum sucesso mas o nosso principal entrave é a situação financeira do país,

a envolvente financeira. Acho que todas as instituições estão a notar este ano, não sei se

lhe têm dito isso, alguns podem não querer dizer mas em 2013, particularmente, nos

outros anos conseguimos manter, 2013 tem sido péssimo para conseguir atrair alunos, as

pessoas estão numa incerteza enorme quanto ao futuro, notámos um fenómeno que é as

pessoas inscreverem-se, serem selecionadas, quererem fazer o curso e à última da hora

não se matricularem porque a incerteza é tão grande, as pessoas não sabem se vão ter

dinheiro no futuro e notámos também um decréscimo nas verbas para a investigação, que

também tínhamos conseguido manter e que este ano é particularmente difícil… isso,

deve-se não tenho dúvida nenhuma à envolvente económica que é muito má e há um

pessimismo reinante e as expectativas são baixas e isso não se altera, para se alterar,

precisamos que as expectativas das famílias, das entidades públicas e privadas se alterem,

que haja expectativas quanto ao futuro e que sejam animadoras e não como foram durante

este ano. Infelizmente, 2014 não parece vir a ser muito melhor, sobretudo em termos do

financiamento público.

No caso de alunos que a meio do processo mostram dificuldades, a escola facilita o

pagamento em prestações, por exemplo?

Sim, temos procurado fazer isso tudo, tenho autorizado praticamente tudo o que é

proposto a esse nível para facilitar, dentro do razoável. Fomos proactivos e alterámos as

formas de pagamento, agora são muito mais faseadas do que eram e quando há

dificuldades temos vindo a facilitar, dentro do possível procurando fazer isso. Não, sem

ao mesmo tempo, nalguns casos ter que também obrigar porque há situações em que ou

as pessoas pagam ou mostram interesse, isso tem que ser sempre acompanhado por

medidas que demonstrem que as pessoas têm esse compromisso para pagar e somos

obrigados a cobrar uma taxa de propina e eles têm que também assumir esse

compromisso. Mas sempre que há um plano razoável isso é feito e o estudante está a

demonstrar interesse e capacidade para continuar, vamos facilitar muito mais do que

anteriormente se fazia.

Professor falou das dificuldades financeiras, da investigação que reduziu a chamada

de entidades que vos pedem serviços, quando elabora o relatório de atividades

propostas para o ano, qual a área que mais sofre? Já me falou da investigação, em

articulação com projetos da FCT…

A perspetiva para 2014 é particularmente preocupante porque, desde logo, se me permite,

antes de falar na questão da investigação, das receitas próprias. Temos umas receitas que

são estáveis, que é o dinheiro que nos vem do OE. O OE numa instituição como a nossa

não chega para pagar os salários das pessoas que trabalham, que têm um contrato por

tempo indeterminado com o estado, não chega para isso, portanto, dependemos de receitas

próprias. Esse valor tem vindo a diminuir e agora no próximo ano é-nos apresentado, em

cima das outras coisas que fizemos e de todos os cortes que fizemos, com diminuição de

pessoal, com diminuição de todos os tipos de pagamentos de despesas, seja de que tipo

for, com segurança, biblioteca, jardinagem, apoio às salas de aula, equipamento das salas

de aula, equipamento informático, seja o que for, cortámos em tudo o que era necessário,

como fazem geralmente as instituições universitárias. Fizemos isso e agora prevê-se, está

previsto no orçamento um decréscimo de 10% no nosso orçamento. Ele já não chega para

pagar os nossos compromissos, depois, calculamos que os cortes salariais para a escola

significam uma quebra de 4% do OE, portanto, de onde vêm os outros 6% não sei. Não

nos dizem, aliás foi isso que levou à tomada de posição do CRUP, é que não se percebe

como vamos fazer e não nos explicam como é nem porque é que é mais. Portanto, este é

o contexto envolvente. Temos conseguido fazer face a estas quebras porque conseguimos

angariar receitas próprias, através de projetos seja de que tipo for. Agora, no próximo ano,

porque não se prevê grande crescimento na economia, também não prevemos que haja

um acréscimo em todas as áreas, eu não consigo diferenciar aquela que vai ser mais difícil

porque são tantas onde vai ser difícil, quer dizer, haverá dificuldades pelo número de

alunos que entraram e que estão com dificuldades em manter e que podem vir a desistir

dos cursos, nas propinas que cobramos, que será menor pela primeira vez no meu

mandato, conseguimos aumentar mesmo assim essa parte, para o próximo ano devem

descer as propinas que era uma parte substancial, deverá ser menor e está a ser menor este

ano toda a área de estudos e investigação que conseguimos realizar com o exterior, quer

entidades públicas, quer entidades privadas, prevemos que também seja menor o

financiamento da FCT, que podia financiar a investigação de diversas formas, através de

bolsas de doutoramento, através de projetos de investigação, não prevejo que isso seja

melhor. A única coisa onde provavelmente conseguiremos manter-nos à tona é através de

financiamento que vem do exterior, espero que aí consigamos e que mostra o dinamismo

de uma instituição universitária que vai à busca desses financiamentos, não ficamos

parados à espera de ver o défice crescer, pelo contrário, tentamos contribuir para a

subsistência das instituições e que diretamente vão financiar alunos portugueses que estão

nas nossas instituições. Porque se não conseguirmos pagar os salários dos que cá estão e

o dinheiro do estado não chega, não haverá ensino para os estudantes de mestrado e

doutoramento que estão e que já pagam a sua parte mas que provavelmente também não

chega, aquela parte certamente não chega para a propina que pagam, mesmo sendo

elevadíssima, para todas as condições porque ao mesmo tempo temos melhorado, quer

dizer as condições dos estudantes de doutoramento melhoraram consideravelmente, não

tinham lugar de estudo e agora têm, têm uma sala própria, bem apetrechada onde

trabalhar, têm melhores condições na biblioteca, melhor acesso a meios de informação

para as suas teses, temos procurado melhorar isso, mesmo com a dificuldade da situação

financeira e isso faz-se também por causa das receitas próprias que vamos conseguindo

angariar e neste momento só vejo com algum otimismo as fontes externas, europeias são

um pouco imprevisíveis neste momento, é essa a minha preocupação. O ano passado

começámos um doutoramento europeu que nos traz financiamento em termos de bolsas,

alunos, também não é esse… o financiamento europeu aí não financia muito a instituição

mas financia alunos estrangeiros que vêm cá e também diretamente algumas coisas que

fazemos em Portugal. Agora, não sei o que será no futuro porque é extremamente

competitivo, tem um novo programa, o Horizonte 2020 em termos de financiamento da

investigação para a área da saúde e não sei, espero que tenhamos algum sucesso mas é

tão imprevisível porque é um mundo tão competitivo hoje em dia e se não tivermos

sucesso nessa área, dificilmente conseguiremos fazer face aos desafios de formar uma

geração de alunos portugueses.

Em termos gerais professor, não só aqui a visão da escola, alternativas de captação

de financiamento. Já falou da europa, de projetos, dos alunos externos… em termos

de cultura portuguesa, de instituições portuguesas, que outras alternativas além do

estado e dos alunos?

Quer dizer, temos sempre a possibilidade do mecenato… é muito difícil, com a cultura

portuguesa conseguir-se verbas significativas, acho que isso é mais fácil noutras culturas

e no momento atual, diria que é ainda mais difícil. Sempre conseguimos, nos momentos

de expansão, o nosso doutoramento era financiado por alunos mas tínhamos também

bolsas que conseguíamos através do mecenato para financiar algumas e isso entretanto

parou, no sector privado também neste caso, tínhamos conseguido e pararam de dar essas

bolsas por falta de dinheiro. Acho que podemos explorar mas há uma questão chave para

se conseguir aí e explorar todas as possibilidades, por exemplo, também de ter antigos

alunos a contribuir, o que é sempre muito limitado no contexto português, mas que

podíamos fazer uma campanha que desse um pequeno contributo, tenho a certeza que

haveriam pessoas que estariam dispostas a apoiar estudantes bons, que tenham mérito,

mas que têm dificuldades financeiras, vejo isso nas universidades estrangeiras, que há

gente hoje que poderia contribuir para um fundo especial para apoiar esses alunos. Só que

no contexto atual isso é muito difícil. As pessoas que passaram pela escola, os nossos

antigos alunos são funcionários públicos, são médicos, são gestores, são enfermeiros, são

do sector público que viram o seu rendimento decrescer em muitos pontos percentuais,

muitos euros, não são os pontos percentuais que contam aqui, as pessoas não estão com

uma vida tão desafogada como poderiam ter, alguns não tinham mas essa possibilidade

de poder apoiar uma instituição como a escola por causa do sentido de pertença da

instituição, neste momento está extremamente limitado e a chave aí é a mudança de

expetativas para o futuro e haver alguma estabilidade e enquanto isso não acontecer, esse

caminho, quer seja através de pessoas individuais como antigos alunos, quer seja através

de instituições como empresas no sector privado está muito limitado. Não só nos limita a

possibilidade de ter financiamento público mas também o ambiente envolvente limita-

nos também a possibilidade de ter receitas próprias. Pior do que isso, diria que aqui há

um aspeto colateral mas é pior do que isso, que é as instituições universitárias mesmo

com estas dificuldades, mesmo assim conseguem receitas próprias e quando as obtemos

temos dificuldade depois em aplica-las por causa dos saldos cativos, toda essa transição

de saldos de um ano para o outro, com despesas que estão consignadas há vários anos,

nós podíamos de facto expandir se nos deixassem utilizar os saldos mas não podemos e

podíamos contribuir para ajudar. Mas há esta questão de cortar na despesa, pelo menos

em algumas despesas tem que se cortar, outras parece que não e as instituições

universitárias sofrem precisamente disso. Os saldos que hoje têm e vejo isso pela nossa

instituição são de projetos que estão a decorrer e que são despesas consignadas,

essencialmente. E nós só conseguimos fazer, há aqui um jogo que se faz que só

conseguimos cumprir de uma forma… é um pouco semelhante ao processo da D. Branca,

com os juros, nós temos que ter o mesmo dinheiro depositado na conta do estado o mesmo

dinheiro que tínhamos no início do ano por causa da regra do equilíbrio orçamental e nós

conseguíamos fazer isso porque não há transição de saldos, conseguíamos fazer isso

porque havia dinheiro novo de projetos a entrar ou de propinas. Com esse dinheiro novo

que entra, nós íamos pagando os compromissos de anos anteriores. No momento em que

há muito menos possibilidade e dificuldade de financiamento, o sistema quebra, se não

nos deixam aplicar os saldos que são das instituições. Foi o que aconteceu com a D.

Branca, pagavam os juros mais elevados porque havia sempre dinheiro a entrar e eram as

novas pessoas que entravam, aqueles sistemas em pirâmide que permitem financiar. E o

sistema da regra de financiamento das instituições que temos atualmente só funciona

assim, se houver receitas próprias a entrar. Se nos limitam cada vez mais essa capacidade

até de gerar receitas próprias e houve umas decisões perfeitamente absurdas no sentido

de limitar essa receita própria, porque há uma ideia… nós por exemplo, não podemos ter

receitas próprias com o que era o seu valor em 2012, também não há grande risco disso

porque há dificuldades mas são coisas perfeitamente absurdas que não nos permitem

avançar, portanto, ao olhar para o ensino superior que é o que tem capacidade para gerir

as receitas próprias de uma forma diferente do que se olha para o resto do estado seria

muito útil e permitir-nos-ia contribuir para ajudar o país a sair da situação em que se

encontra agora. E infelizmente o que vejo é que há pouca visão a esse nível, é apenas

cortar e uma concentração excessiva no défice, sem pensar como podemos sair desta

situação de permanente défice.

O professor falou em mecenas passados da instituição, pode identificar alguns?

Temos por exemplo bolsas de doutoramento, havia um que era o prémio Arnaldo Sampaio

e havia bolsas de doutoramento Arnaldo Sampaio, que é um antigo diretor da escola, está

ali, é o terceiro que é o pai do presidente Jorge Sampaio e foi também diretor da escola,

portanto, deu-se-lhe esse nome mas era financiado pela Feizer, uma empresa farmacêutica

que normalmente dão uns prémios Feizer na área da saúde, contribuem muito para a

investigação biomédica e da saúde em geral, há esse exemplo. Havia muitos, outros que

deram contributos com estudos que tinham feito, houve também, criámos o primeiro

centro de cálculo de larga escala, uma sala com computadores para os alunos quando

houve essa mudança há uns anos atrás, já existia mas reequipámos e aumentámos, foi

com financiamento do sector privado, também de uma empresa farmacêutica, isso

ajudou-nos bastante. Neste momento as coisas estão mais limitadas, eu não estava na

direção naquele momento, era um docente mas vinham ter comigo, onde é que quer

dinheiro para esta atividade, por causa da reputação da escola? Essa dos computadores

até foi de um contato que tive e literalmente vinham ter connosco para apoiar, isto há uns

dez anos atrás. Hoje em dia, temos de nós andar a correr a pedir e isso é não é garante e

as hipóteses de conseguir são muito baixas. A escola não teve, ao longo de muitos anos

não teve dinheiro de investimento através do PIDAC como tiveram muitas outras

instituições, financiou-se essencialmente na busca através de receitas próprias. Nós

assistimos … isso prejudicou-nos, claramente, essa capacidade de gerar receitas próprias

levou a que o nosso financiamento público, que era baixíssimo no contexto universitário,

não sei se tem noção dos valores mas a escola, em 2001, tinha para aí 2 milhões de euros

do OE e hoje está a pouco mais de um milhão de euros, portanto, esta praticamente a

metade do que tinha e isso deveu-se à nossa capacidade de gerar receitas próprias. Claro,

a maior parte das instituições universitárias têm muito mais dinheiro, depois há a questão

do 1º ciclo que não temos e isso tem claramente um impacto. É claro que nós procuramos,

mesmo esse montante, embora seja metade do que era procuramos aplica-lo da melhor

forma possível e com eficiência e temos feito muita coisa para controlar custos mas

estamos mesmo no limite agora e sobretudo quando não nos permitem gerir aquele

dinheiro que fomos conseguindo angariar através de receitas próprias, não nos permitem

aplicar e isso é o mais difícil na gestão de uma instituição universitária.

Professor, quando tem essas parcerias, estabelecem contratos, protocolos?

Sim.

Em linhas gerais, quais as contrapartidas?

Nenhuma, para além da… obviamente não querem isto por nada, querem ver o seu nome

divulgado, publicidade, às vezes há eventos que organizamos, faz-se muito, tem o nome

organizado, mas não há nenhuma contrapartida científica nem nós participamos em

atividades que retirem a nossa capacidade e a nossa autonomia científica, isso nunca

acontece. Quer dizer, o nosso centro de cálculo, com a sala de alunos com computadores,

pôr lá uma placa a dizer quem financiou, coisas desse tipo. Quando organizamos eventos

científicos é no programa incluir também o nome. A bolsa de doutoramento que lhe referi,

eram as bolsas Arnaldo Sampaio mas vinha escrito a seguir financiado pela Feizer mas

em letra mais pequena, não há exigência maior nem enquanto eu for diretor, aceitaria. A

autonomia científica é muito importante.

Precisamente onde vamos entrar agora professor, como vê a autonomia

universitária neste momento?

Por todas as razões que lhe disse anteriormente, a autonomia universitária, tenho sérias

dúvidas que ela exista na forma, é normalmente pensada e é vista a nível internacional,

neste momento temos pouquíssima autonomia universitária desde logo na gestão das

verbas que conseguimos angariar através das receitas próprias, desde logo também pelo

subfinanciamento a que temos vindo a assistir ao longo de anos e que parece que vai

aumentar em 2014, portanto o subfinanciamento, a incapacidade para gerir as nossas

receitas próprias, portanto, isto, do ponto de vista financeiro. E depois também há outros

aspetos que também dificultam a autonomia universitária, uma ideia boa e necessária, a

agência A3ES, porque o nosso sistema de ensino estava caótico, com a abertura de cursos

sem qualidade, sobretudo no sector privado, era necessário uma agência de acreditação.

Neste momento é um processo extremamente burocrático que nós temos, com decisões

às vezes que não se compreendem, que demonstram alguns conflitos de interesse nessas

tomadas de decisão e passou a ser aquilo que era algo necessário para o sistema de ensino

português, é um obstáculo que não faz qualquer sentido. Para já, é muito dispendioso, de

cada vez que temos que submeter um curso, seja o que for, qualquer coisa, são logo 4000

euros, para muitas instituições isso rapidamente é um valor elevadíssimo e depois é um

processo burocrático que não é uma avaliação efetivamente dos cursos em algumas

situações mas é mais um processo burocrático. Penso que aí, infelizmente, também

perdemos alguma autonomia universitária. Agora, isto não quer dizer que eu não esteja

como gestor universitário disposto neste momento a contribuir porque acredito que

precisamos daquilo e quero contribuir para que os processos sejam de facto mais justos,

mais eficazes e interessa-nos que isso seja assim para garantir a nossa reputação, das

instituições universitárias. Mas creio que mais uma vez também, como o processo de

Bolonha, criámos ali um pequeno monstro que hoje consome muitas das nossas

capacidades e que não trouxe uma mais valia tão grande como seria possível, portanto, aí

também há uma pequena perda da autonomia universitária, mas é principalmente a

autonomia financeira que condiciona tudo isso. É claro que temos ainda liberdade para

ensinar, acho que aí não se toca nessas áreas, nem para investigar, mas outras áreas há

imensas dificuldades. Notei, por exemplo, várias decisões que até ao ano em que entrei,

2010, sempre foram dos diretores das unidades orgânicas, a partir de 2011 passaram a ser

do reitor, outras tinham que ir ao Ministério das finanças, mas depois houve um recuo…

decisões pequenas até e neste ano já o reitor conseguiu delegar certas competências que

tinha, por exemplo, com a renovação de contratos, contratos novos e renovações com

pessoal docente eram sempre assinados pelos diretores das unidades orgânicas. No ano

em que entrei, deixei de fazer isso, tenho que mandar tudo para o reitor. É muito mais

centralizado do que era, houve uma devolução de poderes recentemente pelo nosso reitor

para a renovação de contratos, mas esse é apenas um exemplo de muitos outros onde hoje

a margem de manobra é muito pequena e sobretudo na aplicação de recursos, aquilo que

temos e onde conseguimos aplicar, há um controlo efetivo da despesa no setor do ensino

superior para bem e infelizmente também para mal porque limita muito as atividades que

poderíamos desenvolver e já demos provas, as universidades, pelo menos na larga maioria

que esse dinheiro é bem aplicado, não digo que não haja ovelhas negras, mas em geral é

bem aplicado.

Professor falou da sua experiência enquanto membro do CG, considera que de

alguma forma, a entrada de membros externos à universidade possa de algum modo

interferir na sua autonomia?

Não, pelo contrário. Não acho de todo, esse aspeto acho que foi muito positivo, o

contributo dos membros externos do CG quer na universidade quer aqui ao nível da

escola, foi talvez das coisas mais positivas que aconteceram no setor do ensino superior,

não põe em causa de todo a autonomia, obrigam-nos a ver a universidade com olhos de

fora, a universidade estava muito voltada para dentro, creio que não foram dados os

passos, até poderia ser maior, a meu ver, essa entrada de membros externos e ter um peso

maior nas decisões, são representantes da comunidade, no fundo, e é a comunidade que

paga as instituições universitárias portuguesas, tiveram um contributo, pelo menos nos

exemplos que conheço, muito positivo. Também contribuíram para uma coisa, porque a

universidade era muito virada para dentro, gerida pelas corporações internas, docentes,

funcionários, estudantes, acho que posso chamar de corporações, à falta de outro termo,

obrigou-nos de certa forma… houve um certo pudor a fazer algumas coisas que antes se

faziam e que com membros externos se deixou de fazer…

Podia dar-me um exemplo?

Quer dizer, nós podíamos estar preocupados só com questões meramente progressões

internas de docentes, só para dar um exemplo e tudo revolvia à volta dessas questões

assim ou de cada sector ter o seu peso. E os membros externos obrigam-nos a ter uma

visão estratégica, pensar o que é que a instituição precisa para fazer face aos desafios que

tem do exterior, pode não ser simplesmente garantir que todos progridem na carreira e

nascem e morrem na instituição e pensar o que é que nós precisamos de fazer aqui em

termos de envolvente externa, acho que aí nos ajudam muito, têm-nos ajudado na

universidade e têm-nos ajudado na escola. Mas não vejo isso como um problema, não

reduziu em nada a autonomia. Pelo contrário, não é daí que vem qualquer problema, de

todo, acho que foi um contributo muito positivo e que no fundo já devia existir há muito

tempo nas universidades. O nosso, na universidade nova, por acaso temos, aliás, isto é

um bocado diferente de universidade para universidade, na antiga técnica de Lisboa e na

Universidade de Lisboa acho que também talvez, mas agora como universidade de Lisboa

não sei como será mas o presidente do CG na (universidade) era um membro externo, na

técnica é que era um professor e em geral nas instituições, se bem me lembro. Aqui, nós

é sempre um membro externo, o presidente, mas tem uma maioria de docentes, aliás, a

legislação universitária já diz que tem uma maioria de docentes, portanto, não vejo que

ponha em causa, pelo contrário, até se poderia ir mais longe…

50-50?

Poderia ser mas acho que somos obrigados, se bem me lembro, a haver sempre maioria

de docentes, portanto não vejo que tenha… o impacto tem sido muito positivo, pelo

menos da minha experiência.

Professor, acha que a missão da universidade se encontra bem definida?

Posso falar da minha universidade e acho que sim, temos procurado ser uma instituição

que procura ser uma research university de certa forma, virada para a investigação e cada

vez mais virada também para 2ºs e 3ºs ciclos mas com 1ºs ciclos de qualidade. Claramente

uma universidade que tenta ser de investigação e a transmissão de conhecimento que

lidera o processo e que daí venha ensino bom, de boa qualidade. Nós procurámos essa

identidade, não temos conseguido fazer tão rápido como gostaríamos, mas acho que

estamos no caminho certo e que isso está bem definido. A escola também na sua missão

concreta também está muito definida, somos uma instituição virada para o exterior, muito

ligada à sociedade, muito ligada às instituições de saúde e não virada para dentro e sempre

aberta aos desafios e como poderemos contribuir para o desenvolvimento do sistema de

saúde português, acho que essa visão se mantem e, pelo menos, nos casos que conheço,

isso não precisa de ser definido. O que acho que precisa de ser alterado é a forma como

os decisores muitas vezes, noto isso com a escola e também com a universidade como um

todo, acho que não compreendem o contributo que as universidades e os focos que temos

de grande qualidade dentro das nossas universidades podem contribuir para o

desenvolvimento do país, preocupa-me muito a ideia de que as universidades são um

peso, é isso que sai, um peso para o estado, um peso para a sociedade, temos que pagar

impostos para manter uma série de professores no emprego e não se vê o contributo que

podem dar. É claro que isso também é fruto do momento em que estamos mas isso é

preocupante, que não se perceba bem a missão das universidades, agora, os exemplos que

conheço, acho que está bem definida e que as universidades entendem bem. Infelizmente,

os decisores a nível político é que nem sempre reconhecem o papel que poderíamos ter

para o desenvolvimento do país.

Apesar de terem sido alunos universitários.

Isso merecia um estudo interessante. Veja o número de membros do governo atual que

não passou pelo sistema público de ensino, entre os ministros, é muito mais elevado do

que foi em qualquer outro governo, há quem diga que pode ter algum peso mas merecia

um estudo para analisar.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Não, não.

Muito obrigada pela sua colaboração.

Entrevista IP1

Começamos por falar de si, uma breve apresentação sobre a sua formação

académica e o percurso profissional até chegar aqui.

Eu sou enfermeira, fiz o bacharelato em enfermagem, isso em 90, depois a seguir fiz a

licenciatura em enfermagem, com especialização em médico cirúrgica pela (IES privada

nacional), depois mestrado em psicologia da saúde, (numa IES privada nacional),

doutoramento em psicologia de intervenção comunitária na Universidade da Estremadura

e depois fui dando aulas de enfermagem, coordenando parte da licenciatura, depois do

mestrado de médico cirúrgica que é a minha área de desenvolvimento e depois há um ano

surgiu a hipótese de me candidatar a este lugar. Nessa altura fiz mais uma pós graduação

na (IES privada nacional) em gestão de recursos humanos e fiz uma formação do

(Instituto público) em gestão para não gestores, gestão orçamental e dia-a-dia vou

perguntando, vou-me socorrendo, temos um departamento financeiro cuja pessoa

responsável tem imensa experiência portanto socorro-me bastante dela e da

administradora.

E em termos profissionais?

Prestei cuidados de enfermagem em vários sítios, em cuidados intensivos, em urgência,

em erviços de cirurgia depois fui dar aulas para a escola onde me formei que foi (IES

privada nacional), depois a seguir houve a oportunidade de vir para aqui para esta escola,

que faz no próximo dia 16, 15 anos e quando estava a fazer um ano surgiu a oportunidade

de vir para aqui, ser gestora ou responsável de um ano, que era um ano da médico

cirúrgica, depois continuei, guiando cursos, os CPL em enfermagem, cursos pós

licenciatura de especialização em enfermagem, os mestrados em enfermagem e pronto,

essencialmente passei de dar aulas nas licenciaturas, muito para dar aulas à formação pós

graduada e coordenar a formação pós graduada.

Qual o balanço que faz do seu mandato até agora?

Tem sido um ano difícil, bastante difícil. Primeiro senti que precisava de fazer mais

qualquer coisa da minha carreira, portanto, candidatei-me porque senti que era um

desafio, que precisava de aprender e fazer mais qualquer coisa e gosto imenso de estudar

e portanto, aliaria uma coisa à outra, mas tenho hoje noção, que se calhar se tivesse mais

consciente daquilo que este cargo implica, se calhar não me teria candidatado, teria optado

por fazer um outro curso, de costura, cozinha, algo do género. Não, mas tem sido um ano

desafiante, imensa aprendizagem, algumas dificuldades porque o que sinto é que estou

sempre a fazer coisas de novo. Porque surgem coisas, o que se fazia dantes não se faz

agora porque a legislação mudou, porque as regras mudaram, porque o próprio instituto

está a mudar e, ou seja, quando vou fazer qualquer coisa, dou o exemplo de ontem, que

tive que fazer um regulamento eleitoral para eleições, nunca ninguém tinha feito um

regulamento eleitoral da escola, portanto tive que estar, por assim, a lamber a legislação,

tudo o que há, para fazer de novo e pronto, com as dificuldades que existem de nunca ter

feito, ter que estudar e elaborar que demora um bocadinho mais de tempo. Acredito que

a próxima vez que seja necessário fazer um regulamento eleitoral já será muito mais fácil.

Mas o que tenho sentido é que este ano é fazer tudo pela primeira vez, até quando cheguei

ao orçamento, nunca tinha feito, tomei posse em 15 de julho e até 15 de agosto tinha que

apresentar o orçamento, nunca tinha feito um orçamento, dizerem temos um milhão e 600

mil euros do OE e temos verbas das propinas mas agora isto tem que dar resto zero e tal,

coisa que nunca tinha feito, até isso eu perguntava a algumas pessoas que me diziam, ah,

mas este ano as regras mudaram, não é como a gente fazia dantes portanto, temos que ver

como é, acredito que quando se faz a primeira vez já há uma base, mas até agora tem sido

um bocadinho construir e desbravar caminho, fazer quase tudo pela primeira vez. Mas

agora gostava muito e entrei no segundo ano de mandato, era que este ano fosse um pouco

mais tranquilo, não fosse tão desgastante a nível pessoal, que conseguisse equilibrar

porque não consigo que só a parte profissional é que seja importante, para mim, prezo

muito as outras dimensões da minha vida por isso espero este ano conseguir equilibrar

mais, sentir-me mais segura, não ter que estar tanto, não ter que me empenhar tanto para

conseguir cumprir prazos e conseguir estar mais tranquila e dedicar-me mais à gestão de

pessoas porque no fundo isto é uma escola onde temos poucos funcionários não docentes,

temos seis funcionários não docentes mas temos cerca de 38 docentes a tempo integral

mas 128 a tempo parcial, temos cerca de 600 estudantes e isto mobiliza aqui uma série de

pessoas, com uma série de motivações e que é preciso ir sempre alinhando com aquilo

que queremos, onde queremos chegar e portanto gostava muito mais de me dedicar a esta

parte, ao alinhamento das pessoas para aquilo que queremos ser enquanto escola para

conseguirmos os resultados que desejamos como aumentar o número de estudantes, ter

melhor qualidade educativa, mais internacionalização, que temos conseguido ter, mas

agora sim, se calhar estamos em condições de alguma forma uma arrumação em termos

de instituto, serviços centralizados, algumas normas, temos também um programa de

qualidade do instituto em si, que depois vai descendo pelas escolas, há aqui uma série de

coisas em mudança mas tentar aproveitar essa parte boa que nos vai dando algum suporte

e agora a partir daqui trabalhar mais com as pessoas, é o meu objetivo.

De uma forma geral, qual a sua visão, opinião sobre o ensino superior público,

tendências, evolução?

Se calhar, para falar do presente e do futuro, tenho que voltar um bocadinho atrás em

termos da minha visão, que é, acho que durante muitos anos, por exemplo, os dois

subsistemas que temos, o politécnico e o universitário, houve aqui uma grande

aproximação dos dois subsistemas, portanto se calhar, há muitos anos, o ensino

politécnico era considerado um ensino mais profissionalizante e o outro um ensino

científico. Depois, sei lá, há uns sete, oito anos acho que os dois sistemas se começaram

a aproximar grandemente e as exigências que foram sendo feitas ao corpo docente, à

própria organização eram muito idênticas, ou seja tínhamos que ter x doutorados para os

cursos serem creditados, tínhamos que ter x publicações, ou seja, as exigências eram

muito próximas do mundo universitário. Para mim, houve uma altura em que pensei que

ia haver aqui uma certa integração como houve noutros países, universidades técnicas,

não sei, pensei que caminhávamos para um sistema e não para dois subsistemas, não

continuaríamos na mesma. Depois em termos particulares na (escola), os cursos de saúde

são um bocadinho sui generis, passamos por Bolonha para licenciaturas de três anos, 180

ECTS, os cursos de saúde têm 240 e são licenciatura à mesma, na minha perspetiva

deviam ter sido logo colocados com mestrado integrado e terem mestrado e isto não foi

feito. Primeiro há o ensino politécnico e universitário e depois há a particularidade aqui

da (escola) no ensino politécnico. É óbvio que, percebo porque é que é considerado de

alguma forma como a vertente profissionalizante porque por exemplo, o curso de

enfermagem tem 51% de estágio em contexto clinico e os cursos de fisioterapia têm 30%

e a terapia da fala 20 e poucos %, portanto, tem uma vertente de estágio nas organizações

que as pessoas de alguma forma desenvolvem logo uma série de competências em

contexto, mas temos aqui uma grande diferença de cursos com 240 ECTS e cursos com

180, que há logo aqui… depois em termos de visão, o que vejo agora nos últimos dois,

três anos e até com este governo, este ministro e secretário de estado foi que não e até

com os compromissos que assumimos com a europa, que é termos formados, até 2020,

não sei quantas pessoas com o curso superior com os TESPES os cursos especializados e

esses técnicos especializados vêm para o politécnico e aqui, agora sim, há um grande

fosso entre os dois subsistemas e neste momento penso que estão claramente, que não

caminhamos para uma visão integradora mas para uma visão separada, a universidade,

onde se produz ciência, o politécnico, onde se usa a ciência e se desenvolvem tecnologias

aplicadas às empresas e ao terreno e há aqui esta grande diferença. O que acontece é que

tivemos grande parte do nosso corpo docente a fazer doutoramento com apoio,

inclusivamente de PRODEP, inclusivamente interno à instituição, temos desafiado as

pessoas a participarem na investigação em centros de investigação e agora temos estas

pessoas no quadro e temos TESPES para lecionar e a recomendação é que sejam

ensinados por assistentes. Às vezes há aqui um certo… penso que caminhámos num

sentido da integração dos sistemas e a separação mas penso que está a haver alguma

dificuldade de nos adaptarmos porque se calhar não devíamos ter mandado tanta gente

fazer doutoramento no politécnico, não era necessário, alguns precisaríamos mas se

calhar não precisávamos de 60 a 70% a fazer doutoramento para lecionar técnicos.

Portanto, neste momento temos, em termos de visão de politécnico, estamos a abrir

muitos TESPES, muitos desses cursos, na (escola) não, não nos identificamos muito, até

porque temos muito receio que estes cursos que desembocam na profissão de enfermeiro,

de fisioterapeuta e terapeuta da fala, se tiverem TESPES nestas áreas, vamos ficar, como

há 50 anos atrás, dois e três níveis de formação que era os auxiliares de enfermagem, os

de fisioterapia e nós pensamos que tivemos uma grande evolução nestas profissões, não

queremos voltar atrás, portanto, há aqui uma diferença mas a visão que tenho é esta, é que

em 2020 o compromisso é este e vamos ter o politécnico vai ter que formar muitos

TESPES, com tudo o que isso implica, com um corpo docente que tem mais formação

daquela que deveria ter para isso, com os problemas de orçamento, porque a verba do OE

para esses cursos é menor do que para as licenciaturas e mestrados, portanto, se é menor,

os docentes não deveriam ganhar tanto como ganham, há aqui depois todo um jogo

interno que se tem que fazer, mas penso que com os compromissos assumidos pelo

governo, até 2020 estamos a caminhar claramente para um ensino com uma grande

vertente profissionalizante, o ensino politécnico hoje em Portugal, penso que se assume

como trabalhando para as empresas, para o terreno, para a comunidade só que o caminho

que tinha sido feito não era esse. E por isso agora anda aqui muita gente a pensar não era

isto que queria e posso dizer-lhe que aqui na (escola) achamos que não deveríamos estar

no politécnico, com o desenvolvimento que temos, com o que temos feito, deveríamos

estar no universitário, mas isso somos nós a achar porque a universidade não acha porque

temos uma grande vertente de prática profissionalizante, ou seja, de ensino clínico, de

estágios em contexto, mas nós achamos que sim, então na nossa escola, o esforço que foi

feito para conseguirmos os rácios. Vamos ter cá a avaliação daqui a duas semanas, a

avaliar duas licenciaturas e um mestrado e temos rácios para cumprir com doutorados,

com especialistas que não se compadecem, que têm que ser aqueles porque senão os

cursos não são acreditados e portanto há aqui uma grande diferença… não sei, mas acho

que para já não tenho assim previsão de nada que me satisfaça muito, sou da área da saúde

e estou a assumir-me enquanto isso, sei que a visão do politécnico, percebo que a visão

do politécnico é outra, é realmente fazer estes cursos em massa porque esses cursos

também podem vir a ser, e é o que nós pensamos, uma mola para as pessoas depois

fazerem as licenciaturas e mestrado, só que lá está, mais uma vez acho que é um engodo.

Porque isso era muito bom, as pessoas entravam por aí e faziam a licenciatura, estávamos

muito bem, mas depois há números, imagine uma turma de 30 e que os 30 concluem e

querem entrar todos diretamente na licenciatura, só há dez vagas para os que vêm dali. E

é este sistema que está a ser criado, que está a ser montado, porque os TESPES, foram

feitos este ano, porque antes tínhamos os CET, que podiam ser superior como podia ser

nas escolas profissionais mas agora não, isso tudo acabou e agora só acontecem no ensino

superior politécnico, portanto, acho que os próximos dois, três anos vai ser tentarmos

equilibrar a casa, perceber realmente o que conseguimos fazer. Depois em termos da

(escola), estamos aqui com dificuldades em identificarmo-nos com esta visão que nos

parece um bocadinho redutora para o politécnico porque nós empenhámo-nos e o nosso

caminho tem sido fazer mestrados, fazer parcerias com outras escolas para doutoramento,

ou seja, todo o nosso desenvolvimento tem sido no sentido de aproximação à

universidade, mas vamos ver, não depende de nós, é uma coisa de que gostávamos muito

mas isso é muito a nível central e pelo que vejo essa não vai ser a linha, a linha vai ser

mesmo separar e realmente o politécnico servir as empresas e o terreno e as necessidades

do terreno um bocadinho com estes técnicos que vão no fundo se calhar suprir aqui uma

parte que é necessária, esperemos que sim, que as competências que eles tenham não se

sobreponham depois a outras competências de outros licenciados porque isto depois vai

haver uma competitividade no mercado de trabalho, temos um técnico em animação socio

cultural e um licenciado, se a empresa puder pagar menos, contrata o técnico. Por isso o

muito cuidado que há em não fazer TESPES com o mesmo nome das licenciaturas e aí

tem sido cumprido, mas às vezes não é o nome, mas está lá próximo. Por isso é que a

(escola) não quer e vamos resistir ao máximo, se calhar podemos vir a ser obrigados mas

vamos resistir ao máximo a entrar nos TESPES porque temos muito medo disso, de vir a

haver um TESPES de auxiliar de qualquer coisa e que depois possa vir a ser contratado

para desempenhar funções que um licenciado viria a fazer. Um exemplo, há uns tempos

desafiaram-nos para um TESP em turismo e saúde e até achei giro e interessante. Mas

depois quando começámos a pensar na ideia, o técnico de turismo e saúde, no fundo o

que ia fazer era trabalhar nas termas, nalgumas clínicas e quem é que trabalha nesses

sítios? Fisioterapeutas, enfermeiros, portanto, acaba por não ser diretamente mas acaba

por ir lá e depois o que acontece é que o mercado quer pagar o menos possível e se formos

a ver depois o técnico ou o licenciado, se nós gerirmos uma empresa queremos recursos

qualificados ao melhor preço possível. Mas como lhe digo, isto está muito no início. A

minha visão neste momento é de apreensão, é de ver realmente os dois subsistemas

completamente separados e um bocadinho de apreensão em relação ao que vai acontecer

nos politécnicos, como se vão organizar para dar resposta a estes desafios que são

necessários da comunidade mas não perderem a sua identidade que foram construindo ao

longo destes anos e não gorar expectativas porque as pessoas fizeram o doutoramento,

estão em unidades de investigação e essas pessoas agora não se vêm a dar aulas aos

TESPES e portanto há aqui uma série de coisas para gerir.

Em relação ao ensino privado, o que lhe parece?

Antes de estar aqui lecionei no privado, na (IES) e penso que o ensino privado sempre

existiu e sempre teve aqui uma influência católica, cruz vermelha, as irmãs missionárias

de Maria, até há alguns aqui ligados a ordens religiosas, a Católica é concordatária, mas

havia aqui três ou quatro instituições e estou a falar da área da saúde, também havia uma

ou duas universidades privadas, acho que sempre houve aqui uma franja de pessoas, ou

porque não conseguiram entrar no público ou porque a família podia e o status e o nome,

sempre houve aqui alguma franja de população que preferia o público e de alguma forma

penso que poderia existir aqui o público e o privado com alguma concorrência salutar,

apesar de termos aqui a parte dos dinheiros porque no privado grande parte da verba vem

das propinas dos estudantes que são exorbitantes mas acho que aqui há uns anos convivia-

se bem, o que acho que aconteceu foi de alguma forma um boom de privados que

começaram a florescer como cogumelos… porque essas instituições que existiam há 15

anos pautavam-se por grande rigor e qualidade, inclusivamente os estudantes que saiam

desses sítios com notas elevadas, com grande aceitação no mercado de trabalho e penso

que se convivia normalmente. A partir do momento em que há de alguma forma o nosso

governo, a nossa lei permitiu que florescessem de forma completamente anárquica, não

foi colocada nenhuma limitação às universidades privadas, penso que entrámos aqui

numa desregulação do mercado que neste momento está a tentar aos poucos que haja aqui

alguma regulação. Temos uma agência de acreditação do ensino superior que vai fazendo

algum trabalho nesse sentido, depois é o mercado, haver ou não estudantes. Portanto, se

cada vez há menos população jovem e estudantes e se cada vez há menos estudantes e se

eu for jovem e estudante e tiver o mesmo curso numa pública ou numa privada, das duas

uma, ou a privada é muito boa e garante uma série de coisas ou as pessoas vão optar pelo

público. O que penso é que algumas privadas já começaram a fechar e a tendência é para

as que não têm uma grande estrutura, continuarem a fechar. Depois há que dizer que

existem algumas privadas que têm uma série de dinheiro que chega não se sabe bem de

onde e conseguem funcionar sempre e estão no mercado, mas isso só com o tempo.

Porque a agência acredita cursos e não instituições e quando os cursos são acreditados

podem ter recomendações de melhoria ou podem não ser acreditados e penso que pode

ser por aí, aos poucos virá essa regulação mas penso que floresceram muito e muito

depressa e não foi de todo bom para o ensino em Portugal.

Sobre o processo de Bolonha.

O processo de Bolonha foi uma oportunidade para fazermos uma… pronto, os objetivos

do processo de Bolonha é a mobilidade e acho que foi realmente uma oportunidade, as

pessoas voltarem a olhar para os cursos, perceberem esta questão dos ECTS que não

estava nas nossas cabeças, perceber a carga de trabalho, acho que Bolonha também nos

veio dizer aqui a carga de trabalho do estudante, trazer esta visão, as metodologias, falar

muito em metodologias ativas. Devo dizer que aqui na escola já tínhamos muito essa

visão, dos ECTS e isso não mas da carga de trabalho do estudante a que chamávamos

trabalho autónomo e de pôr os estudantes a pesquisar e a trabalhar estas metodologias

ativas, já usávamos program based learning há cerca de 14 anos, havia muita gente com

muitas ligações a diferentes países e já tínhamos importado uma série destas questões.

Penso que Bolonha veio fazer isto, é uma oportunidade de as pessoas olharem para os

cursos, reverem conteúdos, reverem metodologias. O que me parece que se fez em alguns

locais foi que só se fez a transição dos números, ou seja, a mudança de paradigma que se

queria, o ensino centrado no estudante, o estudante a resolver problemas, a pesquisar, não

foi, em algumas situações houve apenas uma transição de conteúdos e horas, não foi bem

feito. Na (escola) em concreto, tenho a noção de que isso foi feito em pleno e fomos

sempre fazendo os relatórios de monitorização e melhorando de ano para ano e tenho

muita noção que temos isso tudo muito bem integrado. As outras escolas do politécnico,

nomeadamente na área das tecnologias, até pelos números que vemos do insucesso,

continuam aquelas grandes aulas teóricas, grandes salas, expositivas em que se vê que os

estudantes têm insucesso atrás de insucesso mas não se consegue… agora temos um

programa de redução do insucesso escolar, essencialmente nas áreas das tecnologias nas

matemáticas, nas químicas e já se percebeu que em grupos mais pequenos, fazendo um

acompanhamento mais próximo, mudando as metodologias, vá lá, conseguimos que haja

um tipo de aprendizagem diferente. Mas acho que Bolonha veio de alguma forma balizar

aqui a organização dos cursos, acho que cada um organizava da forma que queria, assim

a nível macro e neste momento, todos nós conhecemos bem os ECTS, o que é que uma

UC é equivalente à outra, não só pelos conteúdos mas pelas ECTS portanto, acho que

estas unidades de medida foram boas. Depois a oportunidade que houve de reflexão e de

remodelação de todos os outros pontos, quer de metodologia, quer de aprendizagem

centrada no estudante. Na nossa escola, o que posso dizer é que acho que fizemos um

bom trabalho, estamos satisfeitos mas temos uma colega a trabalhar no doutoramento

nessa área, nomeadamente o ensino na área de Bolonha antes e após o processo de

Bolonha e alguns resultados preliminares que encontrou é que a diferença não é assim

muita, não é muito significativa, é quase de estrutura mas depois em termos de conteúdos

e metodologias e formas de pensar e de raciocinar não é assim tanto. Lá está, também foi

quase feito por decreto e as pessoas adaptaram-se porque tiveram que o fazer mas têm

demorado algum tempo e agora acho que vai estando cimentado e as pessoas vão

refletindo sobre o que têm.

Há bocado falou-me da dificuldade de compactação dos conteúdos a nível da

enfermagem, mas vocês compactaram os três..

Não, já tínhamos quatro anos, ou seja, somos dos cursos que não fizeram alteração, quer

dizer, fizemos a alteração de dar mais horas de trabalho aos estudantes, metodologias,

etc., mas mantivemos os quatro anos, enquanto houve cursos que compactaram, de quatro

para três, medicina e psicologia também não. O que podia ter acontecido à enfermagem

era ter o mestrado integrado incluído e as pessoas não poderem trabalhar sem terem o

mestrado. Porque o que acontece é que agora temos três e cinco e temos os cursos de

saúde com quatro aqui no meio, o que não faz sentido porque olhando para o sistema de

ensino que temos, quer dizer, faziam mais qualquer coisa e saíam mestres numa

especialidade qualquer, podia ser como os psicólogos. Mas aqui no meio causa-nos

alguma dificuldade de aceitar isto, as outras profissões, fisioterapia e terapia da fala não

têm obrigatoriedade em termos de normas mas a enfermagem tem uma normativa

europeia que obriga a ter 4600 horas de contato e portanto com isso era impossível reduzir

para três anos, fazíamos nós porque eu fiz a formação com três anos. Mas agora também

há aspetos… na altura lembro-me que tinha aulas desde as oito da manhã às seis e meia

da tarde todos os dias e era expositivo, sempre e fazíamos ali meia hora para almoço.

Agora, eles queixam-se que têm um horário carregado mas têm uma série de espaços para

fazer reflexão sobre os temas, lá está, o problem based learning, as aulas práticas e temos

regras em que se começam às oito e meia não podem ir depois das cinco e meia, seis, com

uma hora para almoço, pelo menos, não queremos que os nossos estudantes… a gente

estudava à noite e ao fim de semana, era quase humanamente impossível, depois era muito

expositivo e era testes, não podia ser trabalhos porque não havia tempo para trabalhos

enquanto que agora as formas de avaliação são diferentes, pretendem-se ensaios

reflexivos, trabalhos de grupo, portanto, tem que se dar tempo às pessoas para trabalhar.

Qual, no seu entender, deve ser o dever do estado perante o ensino superior público?

Tem uma função de regulação através da produção de leis, de financiador e delegou

a avaliação na A3ES, está a cumprir estes papéis?

A parte de regulador do ensino superior, gostava que tivesse mais, isto de alguma forma

o estado está a demitir-se aos poucos de uma série de âmbitos, a segurança social, a

educação, há aqui uma série de aspetos que de alguma forma parece que estamos a passar

para outsourcings, vamos criando agências atrás de agências, mais uma instituição com

mais uma série de pessoas para fazer mais isto… francamente, acho que preferia que fosse

centralizado e que as pessoas conseguissem avaliar a qualidade dos cursos, a qualidade

das instituições de uma forma mais central porque se houvesse… repare, neste momento

com a criação de uma agência que temos uma série de pessoas ali a trabalhar, já se fala

muitas vezes em que a agência não está a cumprir uma série de coisas e quem regula a

agência deveria ser o estado, mas se delegou neles, a seguir será que faz este papel de

controlo. Penso que sim, temos assistido a esta, de alguma forma ao alargar de uma série

de aspetos para passar para outsorcings, por assim dizer, mas não me parece que devesse

ser assim, preferia que fosse mais centralizado e que o estado assumisse mais o seu papel.

Em relação ao orçamento, também saíram novas formas de orçamento e sempre que saem

novas formas de orçamento percebemos que cada vez mais é dada às instituições a

responsabilidade por criar verbas próprias, ou seja, não é centrar na missão de ensino mas

é ter que estar de olhos muito abertos e aproveitar oportunidades para prestar serviços ao

exterior, para fazer projetos, candidaturas, às tantas são tantas as áreas em que as pessoas

têm que dar atenção porque as instituições precisam das verbas, que se descentram do

aspeto nobre que é a formação, é a sensação que tenho hoje em dia e às vezes é isso que

refletimos aqui na nossa escola e não queremos de todo descentrar dessa parte que é a

formação e os nossos estudantes mas às vezes é difícil porque lá está hoje em dias os

eixos são, respondemos pela internacionalização e temos verbas para isso, é as relações

com a comunidade, ou seja, as parcerias e os projetos que se conseguem desenvolver,

convém que dêem dinheiro, no fundo esta prestação de serviços à comunidade é um

caminho mas se calhar estou a ser aqui um pouco velho do restelo, acho que há alguns

aspetos que são desafiadores mas acho que poderiam ser com percentagens mínimas e

não como estão a querer com percentagens tão grandes que o financiamento seja cada vez

mais reduzido. Dantes, os princípios eram a segurança social gratuita e educação para

todos e o que estamos a ver agora é que às vezes nem a saúde nem a educação são para

todos, estão a passar para o privado, até em níveis mais baixos o governo está a dar

aquelas bolsas para as pessoas poderem ir para o privado. De alguma forma acho que se

está aqui a tentar também, matar ou encolher um bocadinho o ensino público com esta

desregulação do mercado para ver quem sobrevive.

Em relação às propinas, há autores que consideram que a sua existência

responsabiliza o aluno pelo seu percurso e há os que consideram que as propinas

diminui a equidade no ensino superior. Nestes dois polos, onde se situa?

No meio. O ensino era gratuito até ao ensino superior, depois deveria ser tendencialmente

gratuito. No ensino superior, hoje em dia, as propinas que temos aqui no politécnico são

as propinas mínimas, 900 euros para as licenciaturas, acho que podem ser uma forma de

coresponsabilizar as famílias e os estudantes mas não podem impedir de forma nenhuma

que quem não tem essas verbas não tenha acesso ao ensino superior e não tenha acesso a

uma formação. Por isso, além da política de bolsas que o governo tem, a que as pessoas

se candidatam hoje em dia numa plataforma nacional e sabem ou não se têm bolsa. É

preciso realmente terem condições baixas para terem bolsas. Internamente, o politécnico

tem uma política de responsabilidade onde tem, criou ainda mais uma panóplia de ajudas,

entre elas algumas são mesmo títulos de refeição, títulos de transporte, não se dá em

dinheiro. Ou então, o pagamento de propinas através da prestação de um serviço, imagine,

as pessoas não tiveram bolsa mas inscrevem-se, é o PAS, qualquer coisa como programa

de apoio social, inscrevem-se nesse programa e vêm desde apoiar a biblioteca, duas ou

três horas por semana, as pessoas dão as disponibilidades, seja onde for, temos estudantes

colocados nos mais diversos sítios onde têm redução ou mesmo não pagam propina, tem

sido esta forma que temos arranjado porque parece-nos que só as bolsas não estavam…

temos pessoas mesmo com muitas dificuldades, temos muitos estudantes que faltam às

aulas e quando nós questionamos, aqui somos uma escola pequena e conhecemos os

estudantes e percebemos que têm que estar a trabalhar para pagar as propinas e isso não

seria suposto. Ou seja, sempre que identificamos situações dessas, encaminhamos

exatamente para isso, preferimos que eles estejam aqui mais uma hora por dia, dois ou

três dias por semana, se eles quiserem, claro, mas que não paguem as propinas se isso só

for suficiente, às vezes não é, muitas vezes os jovens têm que ajudar as famílias. Penso

que o pagamento de uma propina com a percentagem responsabiliza, sem dúvida, pode

responsabilizar, porque também temos os casos em que andam cá os estudantes anos e

anos, os pais a pagar, e não fazem nada, mas neste momento, esses se calhar são a menor

percentagem e temos muita gente a necessitar. Penso que a nossa política tem sido boa e

tem sido louvada pelos próprios estudantes, mas penso que temos que estar sempre alerta

e ir trabalhando nesse sentido porque cada vez mais identificamos necessidades nos

nossos estudantes. Penso que deveria ser possível, se a pessoa provasse que não tem

condições, haver uma forma que não fosse só esta candidatura às bolsas, que depende se

os pais ganharem mais que o ordenado mínimo já não têm acesso. A pessoa teria sempre

de fazer prova mas é um processo muito burocrático, não conseguia, não pagava propinas,

isso sem dúvida, poderia não se conseguir dar uma bolsa, como estas bolsas são

atribuídas, quase 300 euros por mês, mas não pagar. Mas internamente, temos estado a

tentar fazer isso, que é não dar dinheiro, até porque não se pode, depois entramos aqui em

conflito com outros aspetos, o SAS, mas dar tudo aquilo que podemos dar, senhas de

refeição, títulos de transporte e as pessoas não pagarem propinas.

E o número tem vindo a crescer?

Tem vindo a crescer sim. Destes estudantes que não têm bolsa mas que têm necessidades

sim. E também lhe digo que há muita pobreza escondida, há pessoas que não têm coragem

de se assumir ou têm vergonha de se assumir, mas começa-se a perceber nos estudantes

quando vão para estágio e muitos às vezes os colegas a dizer que o colega leva almoço

ou dizem que há alguém que não come o almoço e todas essas situações para nós são um

alerta e tentamos ajudar os estudantes e ver o que se passa e às vezes o que se passa

mesmo é que não têm dinheiro. Esta região, nós temos, sei lá, cerca de 40% de pessoas

da região e depois 60% de pessoas de fora da nossa zona mas que acabam por estar aqui

muitos na residência, mas esta região em concreto, há muito desemprego e muita pobreza,

portanto, arranjar aqui um meio termo. Para mim, o ideal seria, quem quer estudar e quem

mostra vontade de estudar, se não tivesse dinheiro, deveria ser gratuito. Quem pode pagar

aqui uma percentagem, acho que sim porque de alguma forma estamos a investir num

processo formativo mas acho que aqui deve haver um meio termo, não os 900 ou os 1000

euros que existem agora, se calhar 500, mas pronto.

Há pouco falou-me enquanto diretora, da dificuldade de parecer que estava a fazer

tudo de novo. Perante os cortes orçamentais, que outras dificuldades se lhe

apresentam na gestão do seu dia-a-dia?

Perante os cortes orçamentais, quando cheguei há um ano, já os cortes orçamentais eram

bastantes e percebi logo que o dinheiro que vinha do OE, com o dinheiro das propinas

não era suficiente para as despesas, para pagar os recursos humanos que temos e para

pagar água, luz, gás, as despesas de manutenção e havia rubricas no orçamento que vinha

investimento, aquisição de, imagine, novo material informático, ou seja, como o

orçamento tem que dar resto zero, o que acontece é que se começa a cortar em tudo o que

é supérfluo, portanto, pagam-se os ordenados e depois começa-se a cortar e o que se vê é

que temos um orçamento em que não se pode praticamente gastar nada. Neste momento

estamos com uma política paper free, para preservar a natureza, mas também para evitar

gastos, ou seja, reduzir o consumo de papel, reduzir o consumo de fotocópias, neste

momento, a política é de contenção. Depois, em termos de politécnico, em termos de

(escola), o que aconteceu é que tinha havido uma muito boa gestão e temos saldos

integrados e o que acontece é que o estado tem-nos deixado nos últimos anos ir aos saldos

integrados para pagar despesas de segurança social e de uma série de aspetos. Como

temos desbloqueadas essas verbas para isso, ficamos com algum bolo que permite depois

apoiar viagens para os projetos de investigação, para internacionalização, porque é assim,

os professores vão, querem, fazem, mas não vão pagar do ordenado deles que já acham

que é pouco, portanto, tem que haver dinheiro para apoiar isso, para apoiar iniciativas

relevantes culturais, apoiar congressos, apoiar uma série de iniciativas internas e com a

comunidade. Portanto, quando faço o orçamento, fiz o orçamento pela primeira vez e

agora também fiz o exercício desta vez, a sensação que tenho é que quase não tenho

dinheiro para comprar papel higiénico, não sobra dinheiro. Depois ao longo do ano, com

este desbloquear de verbas que permitem pagar a CGA, ou seja, vão-nos permitindo

desbloquear dinheiro que temos, mas que não podemos usar e então ficamos com mais

uma verba, para a partir de setembro, outubro começarmos a ver… também se os

estudantes pagarem as propinas porque o orçamento é constituído pelo OE e pelo grande

bolo que são as propinas dos estudantes, o que acontece é que se os estudantes não têm

dinheiro não pagam propinas portanto aquela verba que calculo, que prevejo, muitas

vezes não é aquela que entra. E se entra, o orçamento é de janeiro a dezembro, às vezes

só entra em novembro ou dezembro, portanto há ali meses que a gente vai tendo controlo

e as coisas não estão muito bem, sendo que a primeira preocupação é logo tirar dinheiro

para os ordenados. Depois, se calhar ao longo do ano, o que me aconteceu foi que as

verbas começaram a entrar, a desbloquear dinheiro para pagar a CGA, quando as propinas

começaram a entrar, como ganhámos um projeto de investigação e entrou dinheiro, como

em termos internos, ao (ISP), foi feito um orçamento competitivo, em que havia cinco

itens, a internacionalização, as publicações, a qualidade educativa, do processo educativo,

a empregabilidade dos nossos estudantes e nós, (escola), em cinco desses itens ficámos

em primeiro lugar em três, eram 50 mil euros por cada item, ou seja, acaba por ao longo

do ano, o que tenho sentido, é virem algumas verbas que nos permitem depois também

dar resposta a algumas necessidades. Mas quando se faz o orçamento é… porque esta

escola, há escolas como a de tecnologias que vivem muito da prestação de cuidados, ou

seja, têm muitos consultores, muitos professores são consultores de empresas e isso é

pago e ficam overheads para a instituição e entra por aí dinheiro. Nós, saúde, não

trabalhamos muito assim portanto essa não é uma fonte de rendimento. Nós é

essencialmente propinas e OE, porque depois o que temos é todas as instituições e lá está,

estes prémios e projetos que vamos ganhando porque todas as instituições da comunidade

à nossa volta, que têm protocolo connosco a pedir para nós os apoiarmos, para

emprestarmos as instalações, temos um regulamento que cobra dinheiro pelas instalações

para rentabilizar, mas não têm dinheiro e querem fazer um congresso e nós temos lá

alunos em estágio e acabamos por autorizar mas se calhar em dois ou três dias vamos ter

cá mais 300 ou 400 pessoas e isso implica custos, uma pessoa para estar no auditório, um

fotógrafo, uma série de custos mas o que temos sentido é que as instituições também não

têm e portanto vêm na escola uma forma de apoio e de poderem realizar algumas coisas

e nós também queremos ter esse papel com a sociedade e com a comunidade envolvente

até porque depois toda esta comunidade é no fundo quem nos apoia em ter os nossos

estudantes em diferentes locais. Mas pronto, outras fontes, neste momento, é muito o

horizonte 2020, os projetos internacionais, a ver se conseguimos ganhar dinheiro com as

candidaturas a esses projetos.

Não fazem serviços de enfermagem à comunidade?

Não, estamos a trabalhar num projeto de ter uma clinica nossa, neste momento ela existe

mas só tem os colegas da terapia da fala a trabalhar lá e vêm das instituições com quem

temos protocolo, vêm algumas crianças, alguns adultos, são tratados, apoiados e os nossos

estudantes aproveitam e fazem estágio, não há aqui pagamento, é por protocolo, troca. O

que acontece é que temos estes materiais todos topo de gama, boas condições e

gostávamos de pôr isto a rentabilizar, uma consulta de terapia da fala se calhar custa 30

ou 40 euros, claro que não queríamos colocar com este valor, até porque os nossos

estudantes também, está lá um professor, mas temos os estudantes a aprender, sei lá 10,

15 euros para aumentarmos as verbas. Só que, a autoridade reguladora da saúde diz que

como o mercado não pode ser desleal e então não podemos ter preços mais baixos que a

concorrência. Ou seja, das duas uma, ou oferecemos algo diferente do que existe no

concelho e aí já podemos ter um valor residual ou então não porque estamos a roubar

clientes. E então isto foi algo com que nos deparámos agora que temos andado a tentar

isso, é difícil, porque não podemos nem devemos, na nossa filosofia, levar os mesmos

preços, porque a consulta se calhar demora muito mais porque temos os estudantes a

assistir e a colocar questões… a comunidade devia perceber que temos aqui serviços,

como a faculdade de medicina também faz e o Monte da Caparica também acho que tem

isso com os dentistas, tem a supervisão de um professor, está lá um professor, mas pronto

são consultas mais demoradas que também de alguma forma a pessoa ao ir ali está a

contribuir para o ensino e é mais barato. Mas depois, havendo esta limitação, da entidade

reguladora da saúde, em que estamos a fazer concorrência desleal, também não queremos

entrar por aí. Portanto, neste momento não vêm fontes nenhumas por esse meio, estamos

a desperdiçar completamente essa área. Tenho reunião para a semana com a

administradora para tentarmos enquadrar, a clinica talvez sair fora da escola, não sei, uma

clinica que pertencesse ao politécnico mas que não fosse escola, conseguimos ter aqui

mais alguma… porque, por exemplo o SAS tem psicólogo, nutricionista e consegue

cobrar, por exemplo, uma consulta de acupunctura para os estudantes é sempre mais

barato, dez euros, mas para o pessoal são 25 euros, se calhar lá fora são 30, há aqui um

pequeno… estamos a falar só da população (ISP). Ao abrir para fora já tem que se cobrar

mais e o que gostávamos era… quer dizer, também não nos importamos nada de ter

estudantes porque há muitos estudantes com problemas de deglutição, terapia da fala, mas

é obvio que gostávamos muito de poder servir a comunidade envolvente e temos imensa

gente a ligar, posso ir aí levar a minha injeção, posso ir aí fazer um penso, mas não, essa

parte, até porque não queríamos entrar muito na parte curativa porque depois isso implica

estarmos abertos das tantas às tantas, implica ter lá pessoal para receber, marcar consultas,

não era tanto isso que queríamos mas nesta parte da terapia da fala que é muito de ensino,

e com os miúdos, com jogos, na parte da enfermagem também no ensino de preparação

para o parto, ensinos para a saúde como tomar medicamentos, ou seja, não queríamos

entrar muito pelos procedimentos invasivos porque isso implica depois todo o resto de

manancial de normalização, de uma série de materiais que é necessário ter, contentores

para perfurantes, incineração de lixo, esterilização… não queríamos entrar muito por aí,

queríamos mais esta parte de promoção do ensino. Na fisioterapia também, às vezes

fazemos formação para pessoas com fibromialgia para aprenderem a controlar a dor, para

a lombalgia, ou seja, ser sempre mais numa perspetiva educacional. Mas estes grupos que

vêm cá uma vez por semana trabalhar nestas questões da fibromialgia, de prevenção da

dor e a pessoa aprender de alguma forma a viver com a sua dor, fazer a sua gestão, é uma

vez por semana mas não cobramos nada, imagine, podiam ser cinco euros, não interessa

mas já era algum dinheiro que dava mas não, neste momento, aqui na parte da saúde

estamos com imensa dificuldade em angariar verbas próprias mas é uma área que estamos

a pensar mas depois esbarramo-nos com a lei que não permite isto nem aquilo e depois

vemos que há outras que têm mas devem ter aberto noutras alturas e mantêm-se a

funcionar porque neste momento não é possível.

Em termos de captação de alunos, a estratégia de marketing é centralizada ao nível

do (ISP), aqui a escola tem uma estratégia específica de captação, de procura de

alunos?

A estratégia é centralizada mas sentimos e temos vindo a sentir que precisamos também

de trabalhar essa questão porque à medida que os nossos estudantes vão para diferentes

locais de estágio, vão levando a bandeira da instituição mas temos estado a pensar num

projeto que sabemos que há outras escolas, penso que se chama projeto boomerang que é

os nossos estudantes regressarem às escolas onde foram estudantes, apresentarem os

cursos e a escola, que aí conseguimos trabalhar em complementaridade com o (ISP), não

o substituir, não fazer a mesma coisa, portanto, temos estado agora a tentar mas não é

fácil, ou seja, de alguma forma quando há um serviço centralizado parece que depois não

se pode fazer mais nada localmente porque senão… portanto, temos estado aqui a gerir

estes aspetos para fazer aqui alguma complementaridade nesse sentido. Outro é,

gostávamos, e estamos fartos de solicitar um vídeo em inglês para divulgar a nossa escola,

a internacionalização é uma área necessária, quem vai ao nosso site, aquilo é uma pobreza,

para já é horrível, tem umas cores horríveis que estamos para mudar há três anos, nunca

mais mudamos e depois que fosse algo dinâmico e com um filme em inglês a mostrar o

que fazemos, é um projeto, parece que foi agora adjudicado a um outsourcing mas a nível

central e depois tudo demora muito tempo, ou seja, passou um ano e ainda não temos o

filme, quase que nos apetece fazer nós e colocar. Começámos a ter facebook, não

tínhamos, sendo que agora a pessoa que trabalhava connosco na área da comunicação,

tínhamos uma pessoa interna só para a comunicação que pediu mobilidade e portanto,

acabo por ser eu e a subdiretora que a partir da meia noite conseguimos dinamizar um

bocadinho o facebook, colocar o que vai acontecendo, mas precisamos de profissionalizar

esta parte, linkedin não temos, precisamos de ter, ou seja, queremos com jovens é muito

esta parte das TIC, das redes sociais e depois aqui no distrito se calhar é muito o boca a

boca, as pessoas apresentarem o que fazem porque chegam cá alguns estudantes de

algumas escolas aqui da zona e concelhos limítrofes que dizem que não sabiam que havia

aqui enfermagem nem fisioterapia e isso faz pensar como é que é possível, quer dizer,

estamos cá há quase 15 anos e não sabem que existimos, alguma coisa não estamos a

fazer bem e é uma área que vamos investir, é uma das prioridades este ano.

Tem alunos internacionais?

Temos. Não muitos, porque é assim, hoje em dia, o conceito de estudante internacional

são os estudantes PALOP, o contingente para o estudante internacional, que abrimos e

abrimos duas vagas por curso era para pessoas com expressão portuguesa e esses temos

dois, três por curso e por ano, isto só começou há dois anos. Estudantes da europa a

estudarem cá desde o início não temos porque não oferecemos formação em língua

inglesa, que é outra limitação. Portanto, o que temos é, na mobilidade Erasmus, estudantes

a fazerem cá períodos de seis meses, três meses, mas o que é que acontece, têm tutoria

com o docente depois, no tempo fora das aulas em inglês e depois vão para contextos de

estágio e colocamo-los em contextos onde sabemos que os orientadores falam inglês. Os

europeus acabam por estar cá em mobilidade mas o que queríamos muito era oferecer

pelo menos o primeiro ano em inglês nas licenciaturas para depois lhes oferecer também

cursos de português para a partir do segundo ano eles já começarem, com alguma tutoria

mas esta é a nossa visão e o que estamos a tentar fazer. Neste momento temos cerca de

20 pessoas na escola que vão iniciar a sua formação em inglês, paga pelo instituto e dois

funcionários não docentes e a nível do politécnico são 140, foi um investimento que o

politécnico fez exatamente por causa desta questão da internacionalização.

Falou-me há pouco de um projeto que trazia algum dinheiro, é só esse ou há mais?

Esse é um projeto em que vem dinheiro de uma fonte da comunidade, mas sim, temos

sempre os docentes a trabalhar, então aqueles que estão mais ligados à investigação e

temos vários, sempre… ou seja ou somos nós que desafiamos outros parceiros a concorrer

a estes projetos ou geralmente somos desafiados. Pertencemos a duas associações,

confederações europeias, uma a KOER, com sede na Bélgica e uma que é a VASINET,

acho que da polónia, em que são exatamente redes de IES em que fazemos reuniões anuais

ou plurianuais e onde são traçados projetos porque geralmente para se concorrer, precisa-

se de um parceiro da europa de norte, um da europa de centro, dois parceiros da europa

do sul, ou seja, as regras para o financiamento, para as candidaturas dos cursos, sabemos

que valem mais e conseguirmos reunir estes parceiro. Nós participamos, por ano, o ano

passado fizemos oito candidaturas e tivemos financiamento para uma mas isto implica

um trabalho enorme, no ano anterior tínhamos tido financiamento para duas, depois os

projetos são geralmente para três anos, portanto ainda temos projetos, temos um que vai

começar agora, supostamente começou o mês passado mas ainda não arrancou, estamos

ainda na fase inicial que foi o deste ano e o outro está a terminar, em julho do próximo

ano, que tínhamos tido financiamento antes. Este projetos, sim, vão trazendo algum

dinheiro mas depois estes projetos também não é para darem lucro ou seja, vêm verbas e

quando a verba vem à cabeça, recebemos aquele input mas depois tem que ser muito bem

gerido para os três anos porque tem que cobrir as despesas do projeto todo, viagens,

alojamentos, geralmente têm sempre como output uma conferência ou a produção de um

livro e tudo isso, chegando ao fim, em princípio não é para dar lucro. Portanto, fontes de

financiamento neste momento, é mesmo só as propinas.

Deduzo que não tenham qualquer patrocinador, mecenas?

Não. Andamos a pensar nisso porque quando nascemos, há quase 15 anos foi neste

edifício, ou seja, as escolas que foram abrindo no politécnico incubaram sempre na última

e depois passavam para o seu edifício, foi quando viemos para aqui era para dois, três

anos, logo com uma planta de edifício para termos uma escola própria, o que aconteceu

foi que houve uma redução de estudantes a nível global, com os cortes não se construiu.

Neste momento tivemos que nos adaptar e os nossos estudantes têm aulas neste edifício

e no outro edifício e tudo se faz mas há muito a sensação de perda por não haver um

espaço próprio e isso tem sido uma dificuldade, as pessoas sentem muito. E agora

passaram quase 15 anos e os colegas que cá estavam, que nos receberam, que nós eramos

estranhos às ciências empresariais, agora já vão convivendo connosco como parceiros do

dia-a-dia mas ainda nos olham assim um bocado como eles vieram-nos tirar alguma coisa,

espaço, condições. Andamos aí nuns contatos com alguns mecenas a ver se pelo menos

conseguimos construir, não uma escola mas se calhar um pavilhão só com salas, todos os

serviços de apoio seriam aqui, um pavilhão com salas e casa de banho, temos turmas de

cerca de 60 a 70 estudantes mas depois para terem as práticas dividem muito, umas vezes

dividem em duas, outras em quatro, ou seja, temos três cursos, cada um com quatro anos,

só primeiro ciclo, 12 turmas e se estas se dividirem precisamos de 24 salas, se dividirem

em mais precisamos até de 48. Nós temos oito salas aqui no edifício, temos quatro

laboratórios que às vezes os estudantes como têm aulas práticas estão nos laboratórios,

temos duas salas alugadas, por assim dizer, na escola (nome) e depois neste próprio

edifício pedimos aos colegas (da escola) mas todos os dias lidamos com o problema das

salas que é muito cansativo. Imagine, um professor tem um problema e atrasa-se, quer

mudar uma aula, para mudar uma aula implica que a funcionaria esteja ao telefone não

sei quanto tempo para tentar arranjar uma sala porque os buracos estão todos tão apertados

que não há um espaço, essa é uma questão, pode ser que encontremos aí um mecenas que

nos dê, construíamos o pavilhão e púnhamos lá o nome dele, oferecido por, é muito nesse

sentido que temos pensado. Nós também vemos, hoje em dia, repare a (escola) tem um

orçamento mas caminhamos para a centralização e às vezes fico a pensar se isto não é um

orçamento utópico e fictício porque no fundo, quando distribuímos o dinheiro pelas

unidades orgânicas, há um orçamento solidário, ou seja, a minha escola tem esta verba e

geralmente até tem mais verba que as outras porque o curso de enfermagem, no

financiamento, os estudantes de saúde têm mais financiamento que os outros estudantes.

Mas depois imagine, eu até posso ter mas se a outra não tiver, é feita aqui…ou seja, para

mim, do pouco que percebo porque tenho muito a aprender, eu passava para um

orçamento centralizado, acho que se dá a falsa ideia às pessoas de que elas gerem o

orçamento porque depois todas as despesas, qualquer despesa, imagine que agora eu

queria pagar-lhe o almoço, tenho que pedir à DFAP que faça uma cabimentação, depois

é autorizado, depois eu pago do meu dinheiro, mando para os serviços centrais o

documento do restaurante e um mês depois é que me pagam e eu sou a diretora, portanto

isto acontece inúmeras vezes, isto é uma gestão de um orçamento, claro que tem que

obedecer a regras, claro que cada vez mais temos que prestar contas, é dinheiro público

que aqui está, mas acaba na minha perspetiva por ser uma falsa ideia que em termos de

institutos, nos institutos politécnicos com unidades orgânicas há uma falsa ideia, acho que

o orçamento deveria ser politécnico e claro que as necessidades depois eram… mas aí o

presidente tinha que autorizar tudo e assim de alguma forma os diretores vão autorizando

e a partir de 5000 euros tenho que ir ao presidente mas passa aqui por estas vertentes, ou

seja, se uma escola tem dinheiro e outra não é óbvio que há solidariedade interna. O

projeto para o próximo ano é fazer obras no edifício, é claro que todo o investimento do

politécnico estará ali centrado, no outro ano se for fazer obras neste, todos estarão, isto

tem que ser visto de uma forma global, acho que há tendência para os orçamentos das

unidades orgânicas virem a dissipar-se.

Sobre a autonomia do ensino superior…

Sim, não temos autonomia financeira mas temos pedagógica…

A sua opinião sobre a autonomia

Em termos de autonomia financeira, o meu sentimento é um bocadinho este, quase que

brincamos um bocadinho às escolas, penso que não deveria ter que pedir estas

autorizações todas para fazer estas pequenas despesas, não faz sentido e às tantas a

burocracia é tanta, é óbvio que não podia gastar dinheiro que não tivesse em caixa

orçamentado ou não o pudesse gastar mas acho que a burocracia está a ser muito pesada

portanto em termos de autonomia financeira, não que quisesse ter nas minhas costas o

peso de e por isso digo que se calhar deveria ser mais centralizado, temos um

departamento que faz a gestão financeira do politécnico e se calhar ele próprio fazia estas

aprovações. O que não me faz sentido é quando vem o orçamento, vai um milhão, dois

milhões, quando olhamos para aquilo parece que temos aquele dinheiro mas não é bem

ter, temos mais ou menos, isto em termos da autonomia financeira. Não que quisesse ter

aqui os dois milhões para gerir, não é isso, até acho que deve ser assim mas gostava de

ter mais autonomia nomeadamente para as pequenas despesas e para coisas que considero

necessárias sem ter que estar sempre a pedir para ser cabimentado, para ser autorizado,

pede-se uma proposta, é feita aqui no papel, demora um dia a chegar ao departamento,

DFAP e é assinado pela subdiretora, depois vem ser autorizada por mim e só depois é

quer pode ser paga passado um mês, é muita burocracia para mim, acho que sou mais

simples, gostava que isto fosse um sistema mais simples. Se acho que tenho dinheiro e

posso gastar, gasto e depois devolvem-me ou… no início, com esta coisa da autonomia

financeira tive alguma dificuldade, tive que falar muitas vezes com a nossa responsável e

perguntava imensas vezes se tenho dinheiro, se posso comprar isto, até que ela me disse,

professora se acha que é importante, não se preocupe. Mas eu tenho que perceber, para

mim não faz sentido estar a fazer um gasto e ela disse que podia não ter disponível mas

consegue-se se acha que é mesmo necessário faça a proposta e portanto neste momento

se achar que é mesmo necessário faço uma proposta, não me preocupe se tenho ou não

dinheiro, é um avanço mas até encaixar isto não foi fácil. Autonomia pedagógica e

científica, caminhamos para a centralização. As escolas têm CT, CTC e os seus

presidentes e sim temos autonomia, mas lá está, é uma autonomia relativa, as regras são

centrais, vêm do poder central para o politécnico que a seguir manda para as escolas e

depois têm autonomia desde que cumpram aqueles princípios portanto é uma autonomia

relativa também. E até a própria da instituição na minha perspetiva, é relativa porque tem

que obedecer à DGES, tem que obedecer à A3ES, temos que ver estes aspetos todos.

Autonomia, acho que só a área da autonomia dava uma tese. Não temos assim muita

autonomia, precisaríamos de ter mais, mas pronto lidamos com o que temos.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Entrevista IP2

Começava por lhe pedir que falasse um pouco do seu percurso académico.

Completamente diferente de tudo de ensino que conheço porque sou de origem

(estrangeira) e fiz o meu curso superior (no estrangeiro), o primeiro mestrado também no

(estrangeiro) e depois fiz aqui o segundo mestrado, fiz o doutoramento em (universidade

pública nacional), doutoramento europeu com investigação fora. Estou aqui nesta escola

desde 97, aqui no (ISP) e sou diretora desde o ano passado. O meu doutoramento é na

área da economia social. Os mestrados também de economia social e o primeiro é de

economia e organização de produção e o curso também é de economia. Por isso sou

economista desde a escola secundária que segui pelas económicas, por isso é de

convicção.

Foi docente?

Sim, desde 97, aqui na escola, sempre de economia. Antes estive em empresas a

desempenhar funções de diretor de serviços, diretor financeiro, mais ou menos isso.

Qual o balanço que faz até agora da sua atividade de diretor? Como se sente?

Há sempre muito trabalho. Bom é assim, é uma conjugação da experiência que tenho tido

lá fora, estive num escritório relativamente pequeno, era um escritório de serviços, cerca

de 14 pessoas, com o conhecimento que já tenho da escola porque já são assim alguns

anos, por isso não posso dizer que não é uma experiência interessante para mim. Agora,

fazer assim um balanço neste momento, nem sequer tenho um ano, ainda há sempre coisas

novas que estamos a tentar tratar, resolver por isso se calhar nem sequer tenho tempo para

fazer uma retrospetiva, uma análise, é um trabalho muito, muito absorvente. Eu e os meus

subdiretores devemos trabalhar em média 10 horas por dia, no mínimo, mais os fins de

semana de trabalho que levamos para casa, por isso é um trabalho muito, muito

absorvente.

De alguma forma as funções que desempenhou até hoje deram-lhe competências

para o trabalho que exerce agora?

Como já tenho alguma experiência de gestão nas empresas, consegue-se aproveitar

alguma dessa experiência e o resto é assim um pouco intuitivo, não sei, gerir a casa

também é uma experiência. Acho que é o conjugar de uma série de experiências e uma

aprendizagem acelerada, nos últimos meses porque nem sequer um ano é ainda, de tentar

fazer o melhor que podemos com bastante dedicação e muitas horas despendidas.

Dentro do processo de Bolonha e a mudança que este processo trouxe, como

considera ter sido a implementação, a experiência?

A minha opinião é que podemos olhar para o processo de Bolonha de várias vertentes,

como acompanhei o processo de Bolonha do ponto de vista docente e penso que só nessa

situação posso responder, penso que amputou os nossos estudantes de algumas

competências que são muito importantes no mercado de trabalho, portanto, não foi um

processo completamente conseguido. Depois o processo de Bolonha significava ou devia

significar um trabalho muito mais autónomo da parte dos estudantes e exigia uma

dedicação muito maior em termos de acompanhamento individualizado dos estudantes,

uma situação que nesta escola não é possível. Continuamos a ter turmas de cento e tal

alunos em termos teóricos, de 40 e tal em termos práticos, por isso ainda continuamos no

ensino massificado e ensino massificado e processo de Bolonha não coincidem em termos

de objetivos. Por isso, pode ser que seja possível introduzir o processo de Bolonha,

cumprir perfeitamente os requisitos nas escolas onde as turmas são mais pequenas, pelas

várias razões, também é possível ter turmas mais pequenas, na nossa escola, não. Por isso

continuamos, por muito que queiramos ter um trabalho de continuidade e de

acompanhamento quase individual dos alunos, é uma questão que não é possível fazer,

pelas dimensões das nossas turmas.

E em relação à internacionalização e ao resto das coisas?

Em termos de internacionalização, por acaso até temos tido algum sucesso porque

também temos um módulo internacional onde lecionamos as aulas em inglês, que permite

aumentar significativamente os alunos incoming, neste momento temos bastantes alunos

incoming, muito mais incoming do que outgoing. O processo de Bolonha prejudicou os

outgoing, principalmente porque os alunos iam ao estrangeiro no 2º ou 3º ano e neste

momento temos estágios obrigatórios em quase todos os cursos, ou seja, no 3º ano

principalmente no segundo semestre, já é muito difícil os alunos irem para fora porque os

estágios internacionais são muito difíceis de angariar, muito mais do que os nossos, e os

alunos que vão são cada vez menos, também tem a ver, não só com o processo de Bolonha

mas também com a crise financeira, porque é um encargo financeiro significativo, mas

neste momento recebemos bastante mais incoming do que outgoing. Por isso, a entrada

de alunos em relação à saída, teria eu o saldo negativo porque estamos a disponibilizar os

recursos para as outras escolas do espaço europeu. Em termos de creditação, enfim, foi

um processo que acompanhei muito bem porque na altura estava ligada e era responsável

pelo Erasmus, foi um trabalho muito difícil de convencer os nossos colegas que uma

disciplina que se chama Gestão de não sei do quê é igual à que está na nossa escola, na

nossa é Gestão da Inovação e lá é Inovation, Competitiveness, é precisamente… não é a

mesma coisa mas dá as mesmas competências, qualquer coisa assim, por isso foi um

processo muito, muito complicado, mas neste momento os nossos colegas estão mais ou

menos sensibilizados, tanto que temos bastante mobilidade ao nível de docentes, até não

sei se será mais de docentes do que de alunos, neste momento, por isso este processo foi

complicado mas conseguiu-se, mas pronto, os níveis de internacionalização e de outgoing

são baixos e tem a ver precisamente com esses dois aspetos, principalmente, penso eu, o

aspeto financeiro.

Há assim um país onde haja maior proveniência?

Sim, neste momento e dado que Portugal é um país exótico para os países nórdicos e é

barato em relação a muitos outros, temos muitos estudantes dos países da ex cortina de

ferro, sou da Polónia, fiz muitos acordos com a República Checa, com a Eslovénia, a

Eslováquia, temos muitos alunos destes países para quem Portugal é interessante, é

quente, muito mais quente, a vivência é bastante diferente. Pronto, e depois temos alguns

estudantes dos países, digamos assim, de origem tradicional, espanhóis, os brasileiros

estão agora também a vir por causa dos apoios de algumas empresas como o Santander,

como alguns apoios que eles têm das empresas brasileiras para internacionalização, temos

bastantes. Angola é uma situação diferente em termos de Erasmus, de Angola temos

bastantes, tem a ver com os acordos que temos desenvolvido e temos sido no último ano

mais ou menos, muito procurados pelos parceiros de Angola, várias universidades,

privadas e públicas, para recebermos alunos a nível do 1º e 2º ciclos. Inclusivamente

temos uma parceria com o Brasil em que vêm os alunos de Angola, porque também estão

em Angola e então existem essas parcerias tripartidas, digamos assim. Temos tido nos

últimos meses, diria, muita procura por parte de Angola, sim.

Qual a sua opinião sobre a existência do ensino privado?

Bom, sou suspeita porque sou de economia social e um dos objetivos da economia social

tem a ver com a igualdade de oportunidades e não me parece que o ensino privado garanta

essa igualdade de oportunidades, dado que é um ensino bastante caro, este é um primeiro

aspeto. Não sou a favor do ensino privado em qualquer nível, a não ser que não exista

oferta pública e de qualidade para garantir o ensino, o que não me parece que seja, pelo

menos em Portugal, e estou a falar do ensino a partir da primária que a pré primária são

coisas diferentes. Portanto, não sou nada favorável a esse tipo de ensino, acho que o

estado tem um papel importante na diminuição das desigualdades e na mobilidade

vertical, que é o primeiro passo do desenvolvimento sustentável, por isso, como disse,

por minha formação, não sou muito favorável. Admito que existem universidades

privadas de nível elevado, em Portugal penso que são poucas, de elevado nível e que já

garantiram e ganharam algum espaço de intervenção importante, obviamente que não

estou a dizer para se fechar nada disso, quando se afirma pela qualidade é uma situação

mas, por princípio, não sou a favor do ensino privado.

Agora em relação ao público, professora, qual a sua opinião sobre o estado atual do

ensino superior público português?

Se pensarmos só naquilo que se está a passar neste momento, estamos a lutar para garantir

qualidade com os custos muito inferiores, se comparáramos em termos de custos com

outros países europeus, estamos a tentar garantir essa qualidade e penso que com sucesso

porque nota-se nos mercados internacionais, os nossos alunos têm sucesso, conseguem

perfeitamente competir com os colegas dos outros países, onde se gasta muito mais no

ensino do que nós gastamos e por isso acho que estamos a tentar, teimosamente, garantir

qualidade dentro das limitações que neste momento existem a vários níveis, começando

logo por aspetos orçamentais e até as limitações relacionadas com algum brain-drain ao

nível dos docentes com maior nível, digamos assim, científico, que tem alguma tendência

de sair. Mas penso que teimosamente estamos a tentar cumprir os nossos objetivos de

garantir qualidade de ensino público. Em termos gerais, essa é a minha opinião. Em

termos de questões políticas são situações pontuais que vão e vêm, por isso, estamos aqui

a resistir.

E o futuro do ensino superior português?

Vou responder como uma pessoa de economia social. Não existe um país que se consiga

desenvolver sem um ensino de qualidade, por isso, mais uma vez, penso que são questões

conjunturais, pode acontecer, com esses cortes muitas vezes cegos começam a ter os

impactos que referi, mas quando estamos a falar no ensino superior, temos que falar no

médio, longo prazo e não é possível o país desenvolver-se, crescer, ter maiores níveis de

produtividade sem o ensino. Por isso, se nós pensarmos em termos estratégicos, espero

que alguns desvarios que existiram nos últimos anos que faça com que as pessoas

acordem e pensem em termos estratégicos que temos que garantir um ensino de qualidade

e temos que garantir também a mobilidade vertical e garantir que os estudantes consigam

entrar e acabar os cursos, tem que se garantir isso às pessoas, para podermos crescer todos,

para bem de todos.

A propósito de os alunos conseguirem cumprir os seus percursos, a lei de 92

introduziu as propinas. Como economista social, a sua opinião sobre a existência de

propinas.

Mais uma vez, estou completamente contra em termos de princípio, porque ter o

estudante, e eu tive dois, ainda tenho um está a acabar, a frequentar o ensino superior é

um investimento muito grande, um investimento pessoal e investimento do estado. E

nesta situação em que o estado está a cortar o financiamento e por causa disso existem

necessidade de aumentar as propinas, têm aumentado, embora as nossas não, no último

ano, felizmente para muita gente, mas a tendência crescente é transferir a parte de

investimento do privado para o investimento público. O empobrecimento da população

que existe, esta situação pode conduzir a um problema tal que não se criam condições de

igualdade de oportunidades, estamos a falar não é de igual para todos, é igual para todos

com as mesmas capacidades, é disso que estou a falar. Por isso, como disse, estou contra

pelo princípio, porque penso que o ensino devia ser gratuito…

Porque há quem defenda que o pagamento responsabiliza…

Não estou a ver essa situação. Existem várias tendências, mesmo ao nível da economia

social, há várias ideias de como se deve fazer economia social, de como se deve financiar

os papeis fundamentais do estado em termos das suas políticas sociais e não estou a favor

dessa situação da responsabilização porque não estou a ver isso. Não diminuíram os anos

que os alunos passam na faculdade em termos médios, com o aumento de propinas, não

estou a ver isso, é mais uma questão da tal diminuição gradual da igualdade de

oportunidades e também podemos dizer que o ensino secundário e o ensino superior,

principalmente o ensino superior, universidades de algum nível, algum reconhecimento

nacional têm níveis de exigência muito grande, comparado áquilo que os alunos estão

habituados no secundário. Por isso, a solução para melhorar… ou diminuir o número de

anos de permanência no ensino superior tem que ser uma solução concertada, ou seja,

aumentar o nível de exigência no secundário, ou se calhar, no primário, não sei mas ter

uma política mais concertada, para não haver um choque tão grande, ao nível de

exigências quando se passa do secundário para o superior, obviamente que o superior não

é para todos, é natural, mas não pode haver um gap tão significativo. Os alunos muito

bons de secundário têm dificuldades no superior, por isso isto não faz sentido, na minha

opinião, mas pronto, é esta situação que pode diminuir os números de permanência dos

estudantes no ensino superior, não é aumentar as propinas para o dobro ou triplo, a não

ser que queiramos ir para o Reino Unido, 10000 euros por ano ou qualquer coisa assim e

aí vamos criar outra vez um ensino elitista e penso que não é isso que se pretende.

Professora, em certos mestrados e doutoramentos, tanto os recursos exigidos como

o número de alunos é inferior ao das licenciaturas, no entanto, os valores destes

ciclos são muito mais caros. O que acha desta diferenciação de valor consoante o

aumento do grau?

Penso que ao nível de mestrados, principalmente com tendência onde muitas profissões

exigem mestrados ou existem licenciaturas com mestrados integrados, não faz muito

sentido haver uma diferença significativa de propina. No nosso politécnico a diferença

são 90 euros por isso praticamente não existe diferença significativa. A nível do

doutoramento, a tal situação mais uma vez, o doutoramento tem que ser feito pela pessoa

que tenha competências e capacidade para isso, não é a pessoa que é obrigada a fazer, e

penso que os doutoramentos, em algumas situações, enfim, como dizer, foi feito um

negócio, é um negócio de doutoramentos que também não me agrada essa situação. O

meu doutoramento não foi nada caro, não gastei mais no doutoramento do que gastei no

mestrado aqui em Portugal e fiz doutoramento europeu.

Existem aquelas áreas que exigem muito material como as engenharias, as

medicinas, etc..

A questão é, e olhando mais uma vez do ponto de vista do mercado, sou economista, nós

precisamos ou não precisamos? Precisamos de médicos especialistas, é importante que

sejam bem remunerados. Preocupa-me muito o facto de muitos médicos trabalharem em

dois ou três sítios, pode cometer muitos erros devido ao cansaço e isso pode sair mais

caro a todos. Também estamos a investir mas estamos a exportá-los, mais uma vez o

braindrain, estamos a investir em enfermeiros e estamos a exportá-los que é o que tem

acontecido com os enfermeiros. Não é tão caro como um médico mas é um curso caro,

estamos a “abastecer” os hospitais no Reino Unido, na Bélgica, esses casos, conheço

pessoalmente, por isso não faz muito sentido.

Considera que os diferentes graus deveriam ter o mesmo valor de propina?

Não é isso que diferencia os graus, é a dificuldade para obter o grau, o nível de exigência,

o nível de competência que é exigido para fazer e não é o valor da propina, isso não faz

sentido e não é por aí que devemos ir.

Qual o papel que entende ser dever do estado perante o ensino superior público?

Primeira questão, embora o ensino, isso acredito que sim, o ensino deve ser financiado

pelo estado, no entanto penso que também é muito importante, o ensino superior,

nomeadamente, o nosso nível de ensino, num sistema binário, os politécnicos que têm

ligações regionais fortes, que devem responder às necessidades regionais. Por isso, deve

haver uma ligação ao nível da prestação de serviços com as empresas. Acho que é win

win situation… tem a ver com várias situações… obviamente que estes fundos angariados

podiam ser utilizados para investimentos nas próprias instituições, através de melhoria de

equipamentos ou organizar eventos internacionais que dessem visibilidade dentro da

nossa área de intervenção, que é a área mais regional, mais profissionalizante, por isso

acho que faz todo o sentido haver contatos, prestações de serviços, não só com o único

objetivo de ganhar dinheiro mas prestar serviços para participar no desenvolvimento da

região. Isto acho fundamental. A investigação aplicada, acho fundamental porque a

inovação tem que ser ou deveria ser liderada pelos centros de investigação que estão

ligados às universidades e politécnicos em várias vertentes. Por isso, este “casamento”

com instituições de ensino superior público e privado, o tecido empresarial e o mercado,

acho que é fundamental e faz todo o sentido o estado investir no ensino superior para

depois haver uma difusão de conhecimento. Sou muito a favor de publicações científicas

abertas para todos porque este é que é o papel social do ensino que é a difusão do

conhecimento e neste papel social do ensino, essas ligações muito próximas, acho que

são fundamentais, mas não é com o objetivo primário de ganhar dinheiro mas sim de

desenvolvimento, mais nesse sentido. Obviamente que essa situação envolve utilização

de recursos mas é mais a ligação ao básico, de transmissão de conhecimentos, de

cooperação, de melhoria dessa ligação, assim é que devia funcionar o ensino superior.

Então, em termos de papel do estado, primeiro financiador…

Não, primeiro o papel do estado é definir a estratégia, o que queremos daqui a 10, 20

anos, uma estratégia de desenvolvimento e dentro dessa estratégia de desenvolvimento

cabe tudo e um dos pontos mais importantes é o ensino, se queremos ir neste sentido,

então temos de formar pessoas nestas áreas, isto é que é importante. Pronto, e obviamente

depois como tem todo o papel social de desenvolvimento e de promoção de igualdade de

oportunidades, tem que ser financiador e promover a ligação às instituições

internacionais, embora as instituições já façam isso muito bem. Mas o estado tem que dar

o primeiro passo e estabelecer acordos internacionais, mas isto já se faz porque estamos

dentro da EU e se estamos na EU já há uma estratégia que foi definida pelo estado.

E em termos de legislação, acha que devia haver mais, está bem assim?

Acho que devia haver menos, acho que seria mais interessante se houvesse mais… mais

uma vez, os objetivos gerais, as regras gerais de financiamento, definir as regras de

financiamento em termos gerais e depois dar autonomia às instituições para resolver os

problemas porque as instituições fazem melhor e sabem melhor como hão-de chegar a

determinados resultados pretendidos. Não é preciso tanto, essa situação, essa

obrigatoriedade de termos não sei quantos doutores, promove o negócio do doutoramento

e isto é só um exemplo. Não estou a dizer que é mau ter o doutoramento, não, mas as

instituições deveriam ter maior autonomia para definir as regras internas.

Relativamente aos alunos, falou-me dos alunos internacionais, quanto representam

mais ou menos em termos de percentagem em relação aos alunos nacionais?

Deixe-me ver, temos 2200 alunos na nossa escola, se pensarmos com os alunos

angolanos, acho que devemos ter uns 10% ou muito perto disso. Entre o 1º e 2º ciclo,

temos muitos alunos que vêm de Angola, depois são os Erasmus, dos PALOP, através

dos outros acordos, os brasileiros… posso estar a exagerar mas penso que sim, o ano

passado tivemos cento e tal só angolanos, 150 qualquer coisa assim.

Existem estratégias para captar alunos? Nacional e internacionalmente, é feito ao

nível da escola ou ao nível central do (ISP)?

Temos tido um pouco vários contatos, por isso é assim, a estratégia tem que ser definida

a nível do (ISP), mesmo se vem algum contato, temos recebido contatos, essa informação

passa ao nível do (ISP) para se definir uma estratégia conjunta. Por isso somos contatados

pelos colegas que vão para fora ou por alguém que vê o nosso site ou algum aluno que

veio e foi para uma outra escola, estamos a falar essencialmente de África e aí somos

contatados por essa via. Em relação aos outros, são os encontros nacionais, estamos a

falar da Europa, Erasmus, encontros que propiciam a assinatura de novos acordos, é um

pouco assim mas tudo isso é feito ao nível do (ISP). A estratégia é definida ao nível do

(ISP) mas todos participamos na estratégia, todos temos alguma coisa a dizer a propósito

dos nossos interesses ao nível das escolas, para depois ser integrado na estratégia do (ISP).

E como é feito?

O que temos tentado fazer? Como disse, o melhor marketing é o marketing pessoal, ou

seja, nós, embora sejamos uma escola relativamente nova, temos tido algum sucesso em

relação aos nossos alunos no mercado de trabalho, nacional e internacional, e foi

precisamente através desses alunos que se faz um contato quase direto. Depois os nossos

colegas vão para várias conferências, conhecem as pessoas, vêm o que as pessoas

fazem… as várias reuniões internacionais, as várias conferências propiciam também esse

conhecimento quase pessoal por isso isto… o nosso marketing é o marketing pessoal,

embora também participemos em algumas feiras nacionais, estivemos o ano passado na

Educa Angola e já fomos lá a convite de uma das organizações que tem lá estado. Depois,

ao nível dos acordos nacionais é mais ou menos assim, não temos feito grandes anúncios,

também neste momento também não temos muito dinheiro para andar a passear nas

comitivas oficiais, embora exista o CSISP que é a coordenação ao nível dos institutos

politécnicos, o nosso atual presidente foi o vice presidente do CSISP, tem participado

também em algumas deslocações internacionais e aí também é possível arranjar alguns

contatos e o CSIPS também tem definido algumas estratégias a nível da

internacionalização do ensino politécnico, acordos com Macau e outros países… ao nível

nacional temos ido às escolas aqui da região porque é o nosso “recrutamento”, são os

alunos aqui da região, do distrito de (localidade), por isso temos feito algumas iniciativas

para chamar os alunos do ensino secundário, mas como disse, nada funciona melhor que

o marketing pessoal.

Relativamente ao financiamento aqui da escola, uma vez que o estado tem diminuído

a parcela de orçamento para as instituições, primeiro, quais são as dificuldades

financeiras com que se depara e como é que as tem contornado?

Ao nível do (ISP), a nossa escola é a maior do (ISP), é a escola (nome da escola) e

tínhamos, tivemos durante muitos anos, continuamos a ter, utilizando na prática os

conhecimentos de gestão, ou seja, nós poupámos muito dinheiro ao longo dos anos, temos

bastante saldo, nos últimos anos temos utilizado esse saldo, era para fazer um

investimento, manutenção… como temos muitos alunos, felizmente continuamos a ter

muitos alunos, as propinas é uma parte importante do nosso orçamento, mais do que

aquilo que gostava que fosse. Porque há problemas que os alunos podem ter e estamos

muito dependentes deste financiamento. Depois temos tido muitos projetos, os nossos

docentes, felizmente, durante muitos anos, fizeram nome no mercado, por isso

trabalhamos com muitas empresas aqui. Este financiamento ao nível das empresas é

bastante interessante, não são projetos de milhões mas são projetos, vá, de dezenas de

milhares de euros, que já nos ajudam um pouco, enfim, temos feito esses contatos. Em

termos dos projetos financiados, já sabe que isto está complicado ao nível de projetos

nacionais, temos conseguido alguns, QREN porque tem mais a ver com desenvolvimento

regional e depois temos as nossas parcerias internacionais, alguns projetos internacionais

permitem pagar aos alunos a participação nesses projetos, é bom, aumenta a nossa

internacionalização, é uma oportunidade para os alunos, não entra muito dinheiro mas

pelo menos as despesas são pagas. Ultimamente temos tido muitas propostas de Angola

que podem ser parcerias que podem vir a ser bastante proveitosas em termos de receitas

próprias para nós mas não sei. A situação de África é África e isso não se sabe nunca.

Mas são mais as ligações quase pessoais que os docentes têm ao nível de vários projetos

que vão fazendo, ficam overheads para a escola, ficam partes desse dinheiro. A nível de

financiamentos por exemplo do QREN, fica todo o dinheiro na escola e depois os

pequenos cursos de formação de pequenos projetos. Como disse é uma situação de win

win situation, nós ganhamos alguma coisa, o docente também ganha alguma coisa, a

empresa ganha porque tem o trabalho feito. Temos tentado arranjar alternativas e dar

respostas às necessidades e procurar essas necessidades e quando a pessoa vai fazendo,

vai sendo conhecida no mercado e, mais uma vez, marketing pessoal, funciona muito

bem. Nos projetos maiores penso que, mas isto é só a minha opinião, penso que já estamos

em condições, ao nível do (ISP) para gerir um projeto maior ao nível das estruturas. Existe

uma estrutura central mas pronto essas coisas também ainda demoram. Estamos atentos

às várias oportunidades que vão surgindo e tentando dar resposta.

Depreendo que a escola tem uma situação financeira consolidada e que não sente

assim dificuldades como as que ouvi noutros locais de terem que cortar por exemplo

nas luzes, na manutenção…

Funcionamos com o dinheiro que temos, ou seja, estamos a ser parcimoniosos nas nossas

despesas. Nunca tivemos uma atitude, e aqui também não vamos ter, de esbanjar, de

gastar por gastar. Gastar dentro das nossas possibilidades. É como uma boa dona de casa

o diretor, funciona um pouco assim. Mas a situação atual originou que, só por termos

poupado dinheiro, conseguimos ter um fundo mas também poupamos à custa dos

docentes. Precisávamos realmente de investir bastante mais no corpo docente ao nível

dos graus, a nível dos professores coordenadores, dos coordenadores principais e que não

temos porque andávamos sempre a poupar. Não estou a dizer que estamos desafogados

porque não estamos mas estamos a gerir dentro das nossas disponibilidades, a contar

todos os dinheiros, é mesmo assim. Pode não ser o normal noutras escolas mas aqui, pelo

menos desde que estamos na direção, estamos muito poupadinhos, investimos também na

poupança, luzes, água, fizemos algum investimento para poupar, ou seja, as luzes

mudámos para led, água para aquelas torneiras que não deitam água mas têm o fluxo

controlado, enfim, são pequenas coisas mas que ao longo do ano, ao final do ano é muito

dinheiro. E vamos tentar arranjar alternativas a nível de manutenção de edifícios, talvez

a nível de trabalho comunitário, qualquer coisa assim, temos aqui juristas que trabalham

com o tribunal, temos algumas ideias para ir fazendo pequenas poupanças que no final

podem dar para qualquer coisa que seja boa para nós. Temos sido muito parcimoniosos

em termos de gastos.

Tem um determinado orçamento. Numa altura de contenção orçamental o que

corta? Onde reduz…

Esses fundos são os fundos do (ISP) por isso não os gerimos. Dentro da escola, o que

temos feito é controlar muito bem os ETIs, a maior despesa para nós são os docentes, por

isso os nossos contratos são feitos mesmo para responder a necessidades reais. Temos

turmas grandes, estas turmas, se temos 40 alunos na turma, podíamos ter turmas de 20,

estava dentro das nossas regras mas precisávamos de dois docentes. Temos feito algum

equilíbrio para controlar as nossas despesas mas as nossas despesas a um nível maior, se

fizermos bem as contas a nível de contratações, embora, como disse, seria ótimo se

tivéssemos uma estrutura de docentes muito melhor do que a que temos neste momento

porque temos muitos assistentes e poucos professores em relação àquilo que devíamos

ter, isto obviamente é poupança mas estamos a exigir aos assistentes para fazerem o

trabalho dos professores e os professores que temos dão resposta a tudo e são os nossos

docentes que realmente fazem a maior poupança. Onde podemos cortar? Dificilmente

como disse, 92% do nosso orçamento são docentes, é a maior despesa que temos. Onde

podemos poupar realmente é olhar muito bem para as nossas necessidades. Porque de

resto são coisas pequenas, aquelas coisinhas, aquelas poupanças que fazemos, são

importantes, mas são pequenas. Bom, ainda não precisamos de poupar nem no papel nem

na água nem nessas coisas, felizmente. A nossa escola é assim, 92% de orçamento são

docentes, não podemos poupar aí. Estamos, infelizmente, há muitos anos, exigem muito

dos nossos corpos docentes, sempre no máximo das horas letivas, temos muito poucos

funcionários em relação ao que devíamos ter, só temos 16 para 2200 alunos e para 130

docentes, dos quais, na biblioteca estão no serviço de apoio à informática e de limpeza,

dentro dos 16. Por isso, como vê, estamos todos sobrecarregados. Nós já estamos a

poupar, não conseguimos poupar muito mais.

Relativamente aos alunos, tem-se deparado com situações de dificuldades

económicas?

Sim. Bastantes.

E a escola facilita em termos de planos de pagamentos…

A política das propinas é feita a nível do (ISP) mas sim, são pagamentos em 10 meses,

mas isto não é da nossa competência, como disse, estas políticas são definidas a nível do

(ISP) e a este nível criámos um serviço de suporte para além das bolsas que existem do

estado, o (ISP) também tem bolsas. Temos tradicionalmente aqui uma área onde sempre

existiu muita pobreza e temos apoiado muito os alunos a esse nível. Temos um projeto

que é o PAAS, projeto de apoio aos estudantes que não têm direito a bolsa mas recebem

uma bolsa e depois têm que fazer pequenos trabalhos aqui…

De que tipo?

Dar apoio na biblioteca, dar apoio na informática, das competências dos alunos ou no

serviço de apoio a estudantes, qualquer coisa assim. Esse tipo de trabalhos os alunos

fazem, tem um desconto na propina, mas como disse, isto é tudo ao nível do (ISP), da

responsabilidade social do (ISP), por isso, sim, existe. Existe também alguma

percentagem de propinas não cobradas, existem muitos alunos, também angolanos, por

exemplo que ainda não estão inscritos, ainda não têm dinheiro para se inscrever mas

entretanto vão frequentando e vamos facilitando, pode ser que entretanto arranjem

dinheiro para pagar. Mas isto são mais as práticas de… enfim, dar um pouco o apoio, dar

oportunidade ao aluno de entretanto conseguir resolver o problema.

Há pouco falou de trabalho comunitário…

Esse trabalho comunitário é distribuído pelo tribunal. Temos aqui juristas, são os nossos

docentes que trabalham no tribunal e é uma das ideias que temos é tentar pedir a alguém

trabalho comunitário para fazer pequenos reparos, um pedreiro, um pintor, para fazer

assim umas pequenas coisas, vamos ver se conseguimos, isso foi uma ideia que me foi

vendida há algum tempo atrás e gostei porque temos algumas necessidades, o edifício já

tem alguns aninhos, a precisar de uns pequenos retoques e então era uma oportunidade,

uma win win situation mais uma vez, de termos aqui alguém, entretanto temos o serviço

de manutenção que ia logo atrás e via se estava tudo bem e não sei o quê. Vamos ver se

conseguimos.

De uma forma geral, quais as alternativas para financiar o ensino superior

português público? Onde é que as pessoas podem ir procurar? Já me falou de

projetos internacionais, parcerias com países, acordos com empresas…

Ou seja, as instituições onde é que devem procurar dinheiro? A investigação aplicada,

tentar vender investigação através de projetos nacionais e internacionais, ligação com o

mercado de trabalho, acho que é fundamental, nem que fosse pequenas coisas, é aquela

situação win win muito importante. E depois há grandes coisas nas pequenas coisas que

se conseguem fazer. Aqui não temos muito… ciências empresariais não tem muito, não

fazemos protótipos, não fazemos alguns projetos que podem ser certificados a nível

internacional, umas ideias inovadoras, pouca coisa nessa área. Mas ao nível dos institutos,

ao nível das escolas existe muita investigação aplicada.

Fica com capacidade de se autofinanciar.

Através dos tais projetos internacionais, os protótipos, ao nível de parcerias, ao nível de

alguns produtos novos ou desenvolvimento de novas tecnologias, por isso, acho que isto

são possibilidades. E também é uma forma de utilizar o dinheiro público para a tal difusão

de conhecimento que acho que é fundamental porque as instituições não podem estar

fechadas sobre si próprias, as instituições têm que ser abertas para a sociedade, por isso

tem que dar alguma coisa à sociedade, já que requer também muito, financiar uma

instituição pública é caro, obviamente, uma coisa de qualidade custa dinheiro mas

também tem que se abrir para a sociedade, apresentar coisas novas, tem que haver uma

ligação suficientemente forte e a sociedade tem que estar preparada para receber, são duas

situações, através dessas ligações é que seria… isto acho fundamental e assim é que se

financiam muitas instituições privadas no mundo. E nós também podemos fazer muita

coisa, os portugueses têm uma grande flexibilidade nesse aspeto.

Mas a questão muitas vezes é que para ter investigação ou para começar tem que

ter fundos para o fazer…

Não, tem que se dar o primeiro passo, nem que fosse pequenino mas o primeiro passo no

caminho certo. Acho que isso é uma falsa questão, toda a gente está à espera de fundos,

não, acho que temos que ir à procura. Não podemos estar à espera, é dizer, temos aqui,

podemos fazer isto, estão interessados? Acho que é mais ou menos por aí, porque há

muito investimento que é muito mal gasto. Obviamente que investigação pura para a

progressão da ciência também é muito importante, mas não podemos só fazer isso, as

instituições não podem estar fechadas sobre si próprias e alegremente investigar coisas

que não interessam a ninguém ou que não têm aplicação. No entanto, acho muito

interessante a investigação em filosofia ou em artes ou em outra coisa qualquer, acho

muito importante.

Como dimensão do ser humano.

Sim e porque a criatividade é uma coisa que precisamos muito e a outra é saber pensar.

Mecenas ou patrocinadores. O (ISP) terá alguns mas aqui da escola em particular.

Digamos que temos ligações privilegiadas, não podemos dizer mecenas porque não temos

contratos de mecenato neste momento com ninguém, uma pena, também estou a tentar

arranjar patrocinadores para os projetos internacionais. Pronto, mais uma vez, tenho a

visão do mercado porque já estive no mercado vários anos, por isso, o que é importante

para a escola e para as empresas, uma win win situation, ou seja, nós temos que dizer,

aqui vocês vão ter esta contrapartida, esta situação, isto são patrocínios. Em termos de

mecenato não temos ainda mas não sei, gostávamos de ter aqueles mecenas das

universidades internacionais, como as americanas, mas não existe essa cultura aqui.

Vamos ver, já que importamos tanta coisa que não tem adequação aqui, porque é que

também não importamos essas coisas que também são boas. Não sei. Mas temos algumas

ligações, temos algumas parcerias privilegiadas, conhecimentos ao nível das câmaras para

quem temos feito alguns trabalhos, ao nível das empresas que têm aqui algum peso na

zona como o porto de (localidade) e (Localidade), os nossos alunos estão lá, temos

conhecimento, eles conhecem-nos, ainda há muito trabalho para fazer. Mas penso que

temos que caminhar nesse sentido.

Celebram contratos de protocolo?

Sim, temos muitos. Esqueci-me de dizer uma coisa importante. Temos cinco cursos

diurnos, três pós laboral noturno, depois cinco mestrados. Dos nossos cursos diurnos, que

é a maior parte dos nossos alunos, quatro dos cinco têm estágios obrigatórios, ou seja,

todos os anos colocamos 300, 400 alunos no mercado através de estágios e felizmente

temos estágios para todos, ou seja, temos protocolos com não sei quantas empresas,

pequenas, maiores, já de há muitos anos, porque os nossos alunos já há não sei quantos

anos fizeram o mercado para esses que estão agora a sair e isto também permite o

conhecimento que existe da nossa instituição, por isso temos imensos protocolos e depois

ultimamente também temos verificado que as empresas nos vêm procurar para trabalhos

específicos, para projetos, para desenvolver uma aplicação, para desenvolver qualquer

coisa na área de marketing, ou de análise ou de sistemas de informação, qualquer coisa

que as empresas precisam, por isso têm-nos procurado no sentido de saber o que temos

para oferecer.

Existe alguma contrapartida exigida pelas entidades com quem celebram os

protocolos?

As empresas dão o estágio… as empresas quando vêm à procura de estágios, vêm à

procura de sangue novo, de renovação de quadros, por isso, isto já é uma contrapartida

significativa para as empresas, uma oportunidade de ter um jovem durante um

determinado período para testar as competências que tem naquela área para

eventualmente ficar ou não na empresa. Penso que a maior contrapartida é esta, para as

empresas a renovação de quadros.

E são remunerados?

Os nossos estágios curriculares não, são três meses, não são remunerados. Os estágios

profissionais, o passo seguinte, isso sim, são obrigatoriamente remunerados, por isso

existe esta contrapartida. Em termos de alguns patrocínios que arranjamos em alguns

projetos internacionais, algumas conferências, é apenas visibilidade ou marketing,

aparecer o nome nos folhetos, é isso que existe.

Bloco final. Como vê a autonomia do ensino superior? Como se encontra neste

momento?

Nunca estive ao nível dos órgãos de gestão do ensino superior. Estou ao nível de uma

unidade orgânica, mas tenho ideia, para as coisas que queremos fazer, que as coisas estão

a mudar. Acho que a autonomia está a diminuir significativamente nos últimos anos, pelo

financiamento, também me parece que existe uma ideia de divisão do ensino superior, a

reforma do ensino superior de que se fala, das regiões e coordenação por regiões, essas

ideias todas, também tenho a ideia de que as universidades têm maior autonomia que os

politécnicos, pelo menos ao nível da definição de regras internas, parece-me que as

universidades têm mais possibilidades do que os politécnicos. Penso que a autonomia é

importante, obviamente tem que se garantir qualidade e a qualidade é verificada no

mercado de trabalho e no sucesso dos alunos e não nas regras que se introduzem. Não

tenho uma ideia definida em termos de graus de autonomia que existem mas a autonomia

é fundamental.

Gostava que a escola fosse autónoma em relação ao (ISP)…

Já tivemos essa situação, sim, estamos aqui no politécnico, mas a escola em 2009 tinha

autonomia. Isto é como quando uma pessoa negoceia com uma empresa ou com um grupo

de empresas, existem prós e contras. Dentro do (ISP), o (ISP) tem mais força do que uma

escola só. Depois, dentro do (ISP) existem concessões. Juntos somos mais fortes mas

também existe o princípio da solidariedade orçamental, nomeadamente e pronto, nós

temos sido o contribuinte. Penso que neste momento já nem vale a pena pensar nessa

situação porque não existe retrocesso dessa situação. Por isso funcionamos dentro das

regras definidas e não me parece que haja retrocesso nem faria muito sentido neste

momento dada a centralização de uma série de estruturas que aconteceram nos últimos

anos.

Apesar de os institutos politécnicos já terem maior experiência de ligação com a

comunidade ou maior experiência na abertura das instituições à comunidade do que

as universidades…

Mais ligação.

Mais ligação sim, considera de alguma forma que o financiamento externo pode

interferir na autonomia da instituição?

Isto é o princípio do mercado, quando nós negociamos com o cliente, negociamos com

aquilo que o cliente quer até um determinado limite, não podemos fazer tudo, por isso

temos que trabalhar dentro das nossas regras e também da nossa consciência, se é que o

instituto pode ter consciência coletiva de qualidade e de afirmação. Penso que não

poderíamos trabalhar para fazer análise financeira do mercado de droga ou da

rentabilização de recursos dos mercados paralelos, não é disso que estamos a falar.

Quando negociamos vários financiamentos, negociamos dentro das nossas regras de

funcionamento e também é importante referir que temos CG, CG que é o órgão máximo

e presidido por uma pessoa que não está ligada ao ensino, está ligada às empresas,

precisamente para dar essa importância da ligação às empresas, o CG, penso que é uma

situação que ainda se está a afirmar mas devia ter um papel na definição de estratégias,

obviamente dentro da legislação e garante alguma influência até ao nível do rumo onde

os institutos podem seguir. Nunca tivemos essa situação, de um mecenas que nos diga o

que devemos fazer, não estou a ver esta situação acontecer em Portugal, num estado que

é democrático, não estamos no terceiro mundo, não me parece.

Tem tido alguma experiência nas reuniões do CG?

Não faço parte do CG, não me candidatei por isso não faço parte. No entanto, existem

algumas reuniões mais alargadas e o CG é um conselho que foi eleito há pouco tempo,

tivemos eleições para presidente no final do ano passado, antes foi eleito o novo CG por

isso ainda está a ganhar alguma experiência. Penso que poderia ter um papel muito mais

ativo, principalmente em termos da definição da estratégia de desenvolvimento a cinco,

dez anos, seria desejável termos, nem que fosse um vislumbre dos objetivos, seria muito

bom. Esperamos que com as mudanças que têm havido, quando as coisas estabilizarem

com a homologação das eleições para presidente, que foram em Novembro, estamos

ansiosos para ver a atuação da nova presidência.

Quer acrescentar alguma coisa?

Não.

Muito obrigada pela sua colaboração.

Entrevista IP3

Começamos por falar um pouco de si, um pouco da sua formação académica.

Sou professor cá na escola, sou licenciado em bioquímica, doutorado em ciências

biomédicas na universidade de (IES estrangeira), fui vice-presidente da escola nova antes

de haver, continuo a lecionar.

Em termos de percurso profissional até chegar aqui?

Fui investigador enquanto fazia o doutoramento, acabei o doutoramento, concorri a um

lugar a que acedi por convite, praticamente a seguir comecei como docente, uns dois anos

depois concorri a um lugar mesmo de concurso, como professor adjunto mas concorri

como professor coordenador e portanto, tirando a parte da investigação fui sempre

professor do ensino superior.

E considera que os cargos de docência o ajudaram a desempenhar as funções que

desempenha hoje?

A minha formação base não, seguramente. Sempre defendi e continuo a defender e aliás

quando me candidatei ao lugar ou melhor, quando me convidaram para candidatura para

presidente na altura, sempre defendi que este tipo de cargos deviam ser geridos por

gestores profissionais e não por professores, mas não é uma opinião muito universitária.

Mas não é a minha opinião nem nunca foi. Acho que deviam ser escolhidos, na verdade

como são os reitores e outros cargos para o conselho de representantes, no conselho geral,

mas de perfis de gestores profissionais e não de docentes na forma genérica. Porque não

deixa de ser um cargo que requer qualificações e a maior parte das pessoas que o exercem

não têm as qualificações requeridas para esse cargo.

Como tem sido a experiência nestes anos?

Diria que se aprende muita coisa quando se está num cargo de gestão e muita coisa que

se calhar mais valia não aprender muito, muita coisa que se aprende e é útil e permite um

crescimento das pessoas de certo modo, mas não é uma posição fácil estar num cargo de

gestão, não penso que há muita gente que diga que seja fácil. Mas tem sido uma

experiência muito interessante, sim.

Professor, sobre o ensino superior público português em geral, qual a sua opinião?

Continuo a achar que o ensino superior público português é um bom sistema de ensino,

de uma forma geral, independentemente de haver escolas e universidades com maior

qualidade do que outras e isso tanto acontece no universitário como no politécnico.

Considero que tem mais capacidade que o ensino particular, independentemente de

existirem algumas escolas do particular que também têm qualidade mas no geral acho que

apostam pouco numa formação diversificada, sobretudo, e numa formação com qualidade

no sentido de ter corpo docente qualificado e as qualificações apropriadas. E a ideia que

tenho de quem é formado no ensino superior público, em regra, é bem cotado, quer

nacional, quer internacionalmente, sobretudo se vem das universidades mais conceituadas

e das escolas mais acentuadas.

E como acha que vai ser a evolução, considerando todos os acontecimentos que se

têm desenvolvido, os cortes orçamentais?

Não auguro nada de bom, diria que a tendência é quase forçar que o ensino público se

torne ensino privado da maneira como anda a ser gerido. E, provavelmente, a não ser que

haja… vejo dois caminhos se continuar a política que tem andado a ser seguida agora, ou

tornam de facto o ensino público em ensino privado ou descaracterizam de tal maneira o

ensino público que na realidade acaba por ser quase uma espécie de obrigação, apesar de

depois as pessoas poderem seguir por um ensino privado, os candidatos, por perda de

sustentabilidade do ensino público e acho que se nota um bocado isso.

Como foi o processo de Bolonha para si, bem implementado, mal implementado?

De uma forma global, o processo de Bolonha para mim é positivo e acho que, sobretudo

para o estudante, é uma vantagem. Diria que nós não estamos ainda, digo nós que é

Portugal e outros países com quem temos tido contactos. Não estamos tão bem adaptados

ao processo de Bolonha como provavelmente deveríamos, mas houve ganho substanciais

com o processo, desde logo, a compatibilidade dos cursos, significa que uma pessoa agora

sabe que uma licenciatura, um primeiro ciclo, sabe o que é um segundo, um terceiro ciclo

em todo o espaço europeu, independentemente de mais ou menos ajustes, da

correspondência, de ser mais fácil de transitar de um sítio para outro mesmo dentro do

espaço europeu. Daquilo que é uma carga de trabalho para o estudante, que nem sempre

está corretamente medida porque ainda se mantém muitos vícios antigos mas está definida

e as pessoas estão um bocadinho mais conscientes que têm que pensar mais em termos

da carga de trabalho para o estudante e não da importância da disciplina ou da carga de

trabalho da disciplina e tentar ajustar isso. Essa parte, acho que ainda não está muito bem

ajustada mas caminha-se para lá. Também das metodologias de ensino que é a parte que

do meu ponto de vista está pior implementada em muitos aspetos, isto supõe um outro

tipo de filosofia de ensino, um outro tipo de metodologia, mais centrada no estudante, dar

mais tempo para ele próprio fazer uma série de coisas e tenho conhecimento que há muitos

locais de ensino superior que pelo menos, se não totalmente, pelo menos parcialmente,

começam a adotar esse tipo de filosofia. Há outros que ainda seguem a norma mais antiga,

mais expositiva, mais clássica. Outra coisa que acho que tem extrema vantagem, apesar

de não ser também uma norma seguida em muitos locais é que a transferência devia ser

mais fácil para o estudante no sentido de reconhecimento de competências, acreditadas

ou não acreditadas e não necessariamente as equivalências com que ele vem. Nesta escola

é uma coisa que sucede muito, reconhecemos sempre a competência e não o facto de

aquilo que ele deu numa unidade curricular numa instituição ser exatamente igual àquilo

que ele deu nesta unidade curricular e isso tem tido um impacto muito positivo, o

estudante facilmente estende o ensino superior dessa forma, tem que estar a repetir coisas

que muitas vezes deu igual de outra forma, mas também sei que isto não é genérico, muito

ensino superior que ainda mantém a ideia da equivalência, se ele deu a disciplina que não

é equivalente à que está a ser dada, mesmo que seja um curso semelhante, praticamente

obrigam-no a fazer novamente a disciplina ou outra disciplina, quando na verdade já

adquiriu competências. Mas, de uma forma geral, portanto, apesar de todas estas pequenas

coisas foram avanços relativamente à situação anterior e por isso penso que tem sido

positivo e é um processo positivo. Se já chegámos ao que era o ideal do processo de

Bolonha? Não, mas isso, provavelmente, como muitas outras coisas, nunca chegaremos

ao ideal de coisa nenhuma mas aproximamo-nos sempre mais um bocadinho das coisas

bem feitas.

Sobre as propinas no ensino superior público, qual a sua posição?

É ambígua. Porque, se por um lado defendo o ensino gratuito de uma forma genérica,

também percebo que possa ter que ser pedido uma contraparte. E a tendência, apesar de

tudo, é que o ensino seja sustentado. Ou é sustentado com os impostos de todos nós,

portanto e isso significa que o estudante não paga ou tem que ser sustentado em parte ou

na totalidade pelo estudante. Não consigo ter uma posição clara se o estudante devia

sustentar uma parte ou não devia sustentar nada. També diria que no mundo ideal o ensino

deveria ser gratuito porque isso acaba por se refletir mais tarde como uma mais valia para

o país que desenvolve, aumenta a qualificação da sua população e uma população mais

qualificada produz sempre mais riqueza, por muito que as pessoas pensem que não e,

portanto, a longo prazo os efeitos serão visíveis. Por outro lado, não deixo de reconhecer

que muitas vezes, as pessoas ligam mais e esforçam-se mais por aquilo que é pago do que

por aquilo que não é pago, responsabilizam-se mais, respeitam mais e por isso às vezes

ter uma contribuição, que seja pelo menos, minimamente significativa para as pessoas

pensem que é uma questão de performance, que dá mais trabalho pagar do que o valor

que se paga mas que sintam que pagam qualquer coisa, se calhar responsabiliza-as mais

perante o seu próprio percurso. Penso que deveria ser melhor compensado do que está a

ser neste momento com o apoio a pessoas que não têm de facto essa capacidade, apoiar,

com as bolsas para os estudantes, etc., isso também tem andado assim um bocado cortado

nos últimos tempos. E por aquilo que ouço de muitos estudantes, nem sempre é tão bem

controlado, queixam-se frequentemente que as pessoas que têm dificuldade não

conseguem aceder para as bolsas e as pessoas que não têm conseguem bolsas com

facilidade. Provavelmente isso não faz a floresta, mas essas árvores são sempre apontadas.

O que está a acontecer aqui na escola, o professor tem tido muitas solicitações de

alunos para, por exemplo, planos de pagamento das propinas…?

Temos tido sim, ultimamente temos tido mais casos. O nosso regulamento de propinas

mudou e depois disto tudo foi um bocado alterado e prevê pagamentos mais faseados e

planos individuais. E, embora ache que isso ainda não esteja muito presente nos

estudantes essa possibilidade, porque normalmente nunca estão muito atentos às

alterações de regulamentos, é um facto que já tem havido cada vez mais estudantes a pedir

planos individuais ou mensais, em vez de ser as regras dos três ou quatro pagamentos

genéricos ou quando se atrasam e quando entram em incumprimento, pedir um plano para

repor o seu pagamento, que normalmente tendem a cumprir. Sim, há mais situações do

que havia antes até porque o nosso próprio regulamento passou a permitir, coisa que não

sucedia antes, há mais pagamentos individuais de propinas relativamente ao que acontecia

dantes.

Sobre mestrados e doutoramentos, aqui na instituição só há mestrados, não sei bem

qual a diferença de valor entre os mestrados e as licenciaturas….

É muito mais caro.

Considera justa a diferença de valores entre um e outro?

Aqui na escola partimos sempre do princípio que o mestrado tem que ser sustentável. Não

pode depender das receitas do OE mas de receitas próprias, por isso fazemos sempre os

cálculos em termos daquilo que seria o custo da docência e custos associados e aquilo que

seria o número previsível de estudantes matriculados e fizemos o cálculo da propina

segundo esse aspeto. Portanto, os nossos mestrados são auto sustentados. Se é correto ou

não, eu voltaria um bocadinho atrás dizendo que é das coisas que mais tenha falhado aqui

em Portugal relativamente ao processo de Bolonha, que é o nível de competências que se

adquire verdadeiramente em cada um dos ciclos e a tendência que houve em as pessoas

menosprezarem aquilo que é a licenciatura e quererem as competências profissionais por

via do mestrado, mesmo em casos, pelo menos do meu ponto de vista, em que claramente

não precisam do mestrado para adquirir competências para chegar ao mercado de

trabalho. E aquilo que é verdadeiramente uma noção de mestrado, portanto, se dissermos

que mestrados que exigem competências profissionais devem ser caros? Não, claramente

devem estar ao mesmo nível da licenciatura, que é o que acontece com os mestrados

integrados, se calhar para o mesmo tipo de mestrado que não sejam integrados, acabam

por ter o mesmo efeito, incluindo no politécnico, tanto quanto sei. Se são mestrados que

não teriam essa competência, poderiam ser um bocadinho e podem ser um bocadinho

mais caros se não adquirem competências profissionais. Mas, na realidade, penso que há

uma tendência normal, mas que se calhar não muito correta de um estudante, quando

termina a licenciatura seguir de imediato para mestrado e seguimos com o espírito de

Bolonha de uma forma correta, um estudante quando sai da licenciatura, devia ir logo

para o mercado de trabalho e depois de se integrar no mercado de trabalho e ver qual a

sua orientação profissional, então procurar um mestrado que o ajude a essa orientação

profissional. Isso não é feito cá. Em norma, a pessoa acaba por se especializar num

mestrado, numa orientação profissional que por vezes não tem a ver com aquilo que

consegue no emprego posteriormente e portanto quase que se pode dizer que andou a

perder tempo ou então desiste de voltar à universidade. Seria preferível porque as

licenciaturas são normalmente muito mais amplas que os mestrados, se se integrasse

profissionalmente e estivesse dois, três anos a fazer trabalho profissional e depois sim,

viesse fazer um mestrado e eventualmente um doutoramento, escolhia desde logo uma

via académica, da qual não pretende sair, uma via de investigação. Mas, se olharmos para

o politécnico em que os mestrados tendem a ser profissionalizantes, teria um sentido mais

lógico, mas a nossa própria experiência dos mestrados que temos, diz-nos que temos

sempre uma boa parte da população que acaba de sair da licenciatura e, ou por falta de

emprego ou por não quererem ainda integrar-se no mercado de trabalho, acabam por ir

para os mestrados, mas não seria a melhor… se entendermos desse ponto de vista, então

a pessoa que está empregada, também teoricamente tem maior capacidade de investir na

sua formação e na sua valorização profissional, seja por ela própria, pelo seu próprio

vencimento ou às vezes, que seria uma coisa bastante interessante, a própria empresa onde

ela está empregada, financiar o seu prosseguimento de estudos. Nalguns mestrados que

temos, sabemos que isso acontece, sabemos que algumas das pessoas que cá vêm têm

bolsas ou a empresa paga, mestrados muito especializados que temos, isso tem

acontecido. E isso permite também que não seja o estado a custear a totalidade do

mestrado e o mestrado possa ser mais caro e auto sustentado porque na verdade é

financiado pela pessoa ou pela empresa. Mas tem que haver algum equilíbrio, como disse,

o mestrado se é mesmo necessário para ter competência profissional, deve ter o mesmo

custo da licenciatura, se não é poderá ser mais alto e nalguns casos haver um equilíbrio

entre a procura, o interesse a nível nacional e a própria sustentabilidade que a universidade

tem para sustentar mestrados mais baratos.

Há uns tempos houve uma tendência do mercado de trabalho de recusar

licenciaturas de Bolonha e pedir licenciaturas pré Bolonha, se calhar esse

movimento dos estudantes em direção aos mestrados…

Foi exatamente o que disse, foi muito por aí… acho que o processo de Bolonha não correu

bem cá em Portugal, provavelmente mais cá em Portugal do que noutros países, assim

que se falou na licenciatura e no mestrado, quer as ordens profissionais, quer as

associações profissionais, a maior parte delas começaram a manifestar-se, a dizer que era

impossível ir para o mercado de trabalho sem o mestrado, a licenciatura não era suficiente,

nunca procuraram encontrar competências próprias para quem tem o 1º ciclo e

seguramente, se for para a maior parte dos casos de licenciaturas e mestrados integrados

que existem, dificilmente encontro situações onde não encontrasse competências

profissionais ao nível do 1º ciclo e competências profissionais ao nível do 2º ciclo e

portanto dissesse às pessoas podem avançar para o mercado de trabalho com o 1º ciclo.

Há vários exemplos, vou pegar nalguns, naqueles que conheço, não percebo como é que

arquitetura requer mestrado integrado e não tem competências ao nível do 1º ciclo, em

termos de mercado de trabalho, mais simples, obviamente, não com as atuais

competências. Uma licenciatura em Farmácia, não como nesta escola mas a que há de

Ciências Farmacêuticas, provavelmente as competências do 1º ciclo corresponderiam

muito às competências que nós podemos dar aqui assim na nossa escola, portanto, podia

haver um reformular daquilo que seria o ensino em farmácia sobre esse tipo de

competências. As engenharias acho que foi um caso carismático em que conseguiram um

bocado isso, dão competências a nível do 1º ciclo e competências a nível do 2º ciclo,

portanto o mestrado integrado não é requerido para que as pessoas possam sair para o

mercado de trabalho, podem sair com o 1º ciclo e têm competências próprias, a ordem

dos engenheiros acho que foi a que se portou melhor nesse aspeto, mas porque houve uma

pressão que foi visível nos jornais e na sociedade em que a maior parte das pessoas achava

que a licenciatura não ia servir para nada e o que interessa é o mestrado portanto, é normal

a procura do mestrado porque se sente que a licenciatura não chega. Tem um bocado a

ver com a nossa cultura porque nós tivemos o bacharelato e a licenciatura e o mestrado,

portanto tínhamos quase um ciclo intermédio e a sensação sempre que ficaram na altura

do processo de Bolonha, o mestrado devia corresponder à licenciatura e a licenciatura ao

bacharelato, o que não aconteceu noutros países, que não tinham a figura do licenciado,

sempre tiveram o bacharel e o mestre, ou equivalente digamos assim, e foi-lhes mais fácil

fazer a transição. Nós tendermos a igualarmo-nos por cima e a considerar que o novo 2º

ciclo é equivalente ao 1º ciclo antigo, mas as coisas não deviam ser assim. Mas isso

empurrou muitos estudantes para o mestrado, se calhar antes do tempo do meu ponto de

vista, mas isso porque a sociedade não encontrou e a maior parte das ordens profissionais

não encontraram nem procuraram um espaço próprio para o nível de conhecimentos que

tem uma licenciatura e seguramente que existia e continua a haver pressões, por exemplo,

a ordem dos enfermeiros, às vezes, contra as próprias escolas de enfermagem, querem

mestrado integrado enquanto as escolas asseguram que, com quatro anos, estão mais que

preparados, o suficiente para irem para o mercado de trabalho e não precisam de mestrado

integrado.

Na sua opinião, qual o papel que julga ser dever do estado em relação ao ensino

superior público?

Desde sempre permitir a igualdade de oportunidades, ou seja, permitir a qualquer pessoa,

que queira seguir um ensino superior, que queira ser licenciado, mestrado ou

doutoramento, sobretudo licenciado porque dá a competência profissional, pelo menos

para sair para o mercado de trabalho, assegurar que o possam fazer, se não tiver condições

financeiras para o fazer, assegurar que ele possa adquirir esse nível de estudos. O que

significa, obrigatoriamente, financiar pelo menos uma parte do ensino superior de uma

maneira própria. Sei que às vezes se fala muito do cheque ensino, financiar diretamente

os estudantes em vez de financiar a instituição de ensino propriamente dita. Mas, na

realidade, isso não implica, do meu ponto de vista, uma igualdade de oportunidades

porque, enquanto o ensino público tem por obrigação, nem que seja, apesar de isto andar

a ser muito discutido, potenciar um ensino que não seja necessariamente rentável por ter

baixa procura mas que é importante, para o ensino privado isso não é importante,

normalmente o ensino é rentável e portanto, o ensino público permite uma melhor

diversificação do ensino do que o ensino privado. Se passássemos para uma situação de

cheque ensino significaria que tenderia a morrer uma boa parte da diversidade do ensino

que temos e que continua a ser essencial para o país, podemos precisar de meia dúzia de

pessoas num determinado campo mas precisamos delas e não podemos prescindir delas e

acaba por ser função do estado ter que assegurar que essa meia dúzia de pessoas tenha

essas competências, não necessariamente no ensino superior privado e portanto, com

cheque ensino, essa meia dúzia poderia desaparecer e isso depois vai ser como um sistema

ecológico em que vai ter consequências em tudo o que nos rodeia. Por isso, a principal

função do estado é essa igualdade de oportunidades, mesmo às vezes num ensino que

possa não ser muito rentável, tem que o assegurar, o que significa que tem que haver

financiamento próprio para as instituições e não necessariamente às pessoas. Nem o

sistema de escolha, que agora se fala muito no secundário, equivale necessariamente a

uma igualdade de oportunidades porque depois a outra tendência é que as pessoas melhor

qualificadas tendem a fugir do público, ficando as pessoas pior qualificadas e isso mais

tarde, com o tempo, acaba por ser uma desculpa para exatamente diminuir o

financiamento do ensino público e eventualmente acabar com o ensino público.

Mais alguma função, para além do aspeto social e do financiamento?

Acaba por ser o regulador também, do meu ponto de vista, mas isso tem de ser do ensino

público como do ensino privado, aquilo que a A3ES anda a fazer agora e que se calhar já

veio tarde para muitos aspetos que é de facto verificar se os cursos estão a ser criados

com condições, com qualidade, se têm sustentabilidade ou não… se já tivéssemos passado

essa fase podíamos até estar a discutir em termos de qualidade, os cursos que podiam não

ter uma sustentabilidade tão grande a nível dos famosos 20 candidatos ou 20 colocados,

a tal meia dúzia que é necessária para que o curso se mantenha, mas como neste momento

estamos a discutir qualidade daqueles que supostamente estão estabelecidos, não temos

tempo para discutir o resto. Mas como regulador de processo, o estado obviamente tem

que o ser, não será uma entidade privada que o fará.

Agora sobre esta instituição, relativamente aos alunos, existem estratégias de

captação, marketing nesse sentido?

Temos algum tipo de estratégias, não muito ativas, no sentido de andarmos mesmo à

procura de marketing e publicidade. Enquanto escola de saúde, nós fazemos muitas ações

a nível… não direi de prestação de cuidados de saúde públicas, sobretudo divulgação de

saúde, apoiamos muito frequentemente ações de empresas e de outros organismos como

câmaras municipais, de rastreios ou de propaganda da saúde, à partida vamos

razoavelmente identificados, portanto as pessoas acabam por nos ir conhecendo também

a partir daí, também os sistemas mais clássicos como temos o fórum estudante na expo,

onde nos encontramos sempre presentes, mantemos também, que já começa a ser uma

prática de ensino superior, durante as férias, as portas estão abertas e durante uns 15 dias

para estarem cá, temos tido alguma presença e sabemos que tem tido algum impacto,

pessoas que vieram cá durante o secundário, passaram cá 15 dias, algumas delas acabam

por gostar e integrar-se de facto no curso, mas não ao nível publicitário. Tivemos, em

tempos idos, não o fazemos agora até por causa da contenção de custos, que era pagar

publicidade nos jornais e cortámos um bocado isso. Ainda, apesar de este ano ter sido um

ano mais complicado, ainda somos uma instituição com bastante procura, pelo menos tem

assegurado e não tão necessário uma publicitação mais ativa dos cursos porque as pessoas

ainda vão muito para a área da saúde, sobretudo medicina, farmácia e enfermagem acaba

por ser mais conhecido também em consequências não sei pelo menos da medicina e

farmácia, acabam por os ver como segunda opção em termos de entrada. Mesmo apesar

de este ano ter sido mais complicado do que qualquer outro em termos de estudantes a

nível nacional, os primeiros a refletir esse impacto são obviamente as segundas escolhas,

acontece um bocado assim. Mas, para além das ações individuais e também vamos muitas

vezes a escolas secundárias para divulgar a escola porque eles próprios nos procuram

naquelas situações de divulgação do que é a profissão, perguntam-nos se não queremos

lá ir e vamos a uma ou outra, temos uma semana em que convidamos as escolas, eles

próprios a trazerem os alunos cá e temos tudo montado mesmo para mostrar como são os

cursos, o que é que aprendem e o que são as diferentes profissões, nesse aspeto mantemos

um nível de publicitação. Agora, não tanto em jornais ou outdoors ou… é mais pessoal,

digamos assim, do que propriamente de grande divulgação.

E o departamento de marketing é por escola ou é ao nível do (ISP)?

Há um no ISP, mas que tem mais a ver com o fórum estudante, das organizações

conjuntas, nós temos um próprio mesmo, o que significa que ações escolares, ações de

rastreio, este tipo de ações depende do nosso departamento.

Pode enumerar-me algumas das dificuldades financeiras com que a escola se

debate?

Uma das coisas que sempre disse é que mais do que a dificuldade financeira, é sempre a

dificuldade de gestão…

Ou por outra professor, peço desculpa, vou reformular a pergunta, o que é que os

cortes no orçamento, onde é que vos tornam a vida difícil?

Menos dinheiro, começa por aí e, portanto, menos dinheiro significa menos professores

contratados, tivemos que diminuir muito o número de professores que tínhamos

convidado, logo, turmas em termos de aulas práticas maiores, o que no nosso caso é

problemático, porque somos uma escola de saúde, portanto quando falamos de aulas

práticas estamos a falar de aulas com equipamento de raio X, com ecógrafo, com

fisioterapia em que não é suposto estarem sete ou oito estudantes e um a manipular o

ecógrafo porque depois quando vai para a vida profissional, todos têm que manipular o

ecógrafo, mas é o que anda um bocado a acontecer, portanto, menos professores significa

ter menos aulas práticas para os estudantes, grupos maiores, cada um deles manipula

menos, cada um deles vai pior preparado depois quando for para a parte profissional. Mas

isso foi inevitável, tivemos que fazer um corte profundo há cerca de dois anos, mesmo

por causa das restrições e diminuímos significativamente o corpo docente nessa altura. O

corpo não docente também diminui sobretudo por via das saídas próprias e da dificuldade

de os substituir, uma vez que as contratações não estão permitidas nesse aspeto e em

termos orçamentais, a esmagadora maioria do nosso orçamento está destinada a despesas

de pessoal. O resto, a esmagadora maioria do orçamento está destinada a despesas de

funcionamento como água, luz, informática, etc., portanto empresas contratadas ao

exterior em que temos que garantir os serviços e o pouco que sobra é que dá para

investimento e investimento é comprar reagentes laboratoriais que pelo menos dão para

as aulas laboratoriais e situações desse género, portanto, aí sim, temos uma restrição

muito forte por causa de dinheiro, sim. Mas o mais complicado que os cortes financeiros

que o OE tem vindo a fazer e que agora já começam a ser um bocado insustentáveis, mas

que os primeiros ainda eram suportáveis, são sobretudo as restrições a nível da gestão.

Isso é o que nos complica mais a vida porque nos dificulta a captação de receitas próprias.

E neste momento onde vão buscar essas receitas próprias?

A menos do que íamos antes. A menos sítios do que íamos dantes. Íamos buscar receitas

próprias… a maioria das receitas próprias é a propina dos estudantes, as propinas do 1º

ciclo, é um facto que o grosso vem daí, depois íamos também buscar às propinas do 2º

ciclo e a cursos de formação e depois algumas atividades paralelas como o aluguer do

auditório que temos, alguns pequenos projetos que vamos mantendo, mas como são

projetos em que é suposto o projeto financiar o próprio projeto, projetos de investigação,

os da mobilidade de estudantes, em principio são receitas que entram e têm um destino

imediato. Vamos iniciar processos de prestação de serviços à comunidade em colaboração

com as associações de pacientes como por exemplo, diabéticos, deficientes visuais, etc.,

em que elas próprias prestam serviços à comunidade e que poderão passar a fazê-lo nos

nossos laboratórios mediante uma contrapartida e portanto isso permitirá um bocadinho

um maior encaixe de receitas próprias. Mas, por exemplo, tínhamos bastantes cursos de

formação contínua, tínhamos várias situações de congressos e conferências que fazíamos

e que eram pagas pelos participantes, que era uma fonte de receitas próprias e isso está

praticamente tudo a zeros por questões de dificuldade de gestão administrativa e não por

falta de motivação das pessoas para o fazer.

Dificuldade em planificar…

Não é tanto planificar, o problema é que de acordo com as regras do estado agora, em que

supostamente, o ensino superior não estaria vinculado porque teria a famosa autonomia

financeira e administrativa e etc., mas que na realidade, quando se vê o OE, têm

autonomia financeira e administrativa desde que façam como aqui está escrito. Cria-nos

dificuldades burocráticas tremendas, quer dizer, nós não conseguimos, por exemplo,

convidar um conferencista pagando porque não conseguimos contratualizar essa pessoa.

Desde logo, por exemplo, a partir do momento em que nos impedem prestações de

serviços para um conferencista, significa que só o podemos contratar por oferta pública

de emprego, contrato… ora, impossível convidar alguém e dizer que se tem que

candidatar a uma oferta pública, fazer um contrato connosco, não sei, nem que seja por

uma semana ou um dia ou o que seja, apresentando demonstração de tudo e mais alguma

coisa para vir cá dar três ou quatro horas de uma conferência, mesmo que no fim nós

digamos que a conferência vai dar lucro. Não podemos numa conferência oferecer um

coffe break porque isso é um processo de tal maneira complexo em termos de gestão que

temos que desistir. Uma conferência sem coffee break, as pessoas notam, quer se queira

ou não, portanto acaba por ser uma oferta a menos, portanto há uma série de coisas que

nós não conseguimos organizar porque os mecanismos de gestão do estado não o

permitem. Se precisamos, quase diria, de uma resma de papel para a conferência, se não

o tivermos em stock não o podemos ir comprar. E todo este género de processos

dificultam muito o processo. Planeámos, por exemplo, um pequeno curso que tem aulas

práticas e precisávamos de reagentes para essas aulas práticas ou de algum equipamento.

Não só, supostamente é dito que só podemos adquirir o equipamento se tivermos tido

receitas que permitam adquirir esse equipamento, a lei do compromisso, ora se o

compromisso ainda não foi feito porque o curso não arrancou e nós não podemos investir

antes do curso, o compromisso fica logo complicado. A menos que tenhamos feito

receitas provenientes de outros sítios como as propinas mas como o orçamento é cada vez

mais curto, a disponibilidade dessas receitas é praticamente zero, nunca é possível fazer

um grande investimento. Depois, se quisermos equipamento temos que seguir as leis do

estado, enfim, temos de ir às compras públicas e se as compras públicas não tiverem,

pedir autorização, a autorização demora tempos e tempos. Ou seja, já tem sucedido que

um ano depois, dois anos depois ainda estamos à espera do resultado, portanto, morreu a

ideia de fazer o curso ou a formação. Todos estes processos burocráticos atrasam de tal

maneira, impedem ou invalidam este tipo de situações, se compararmos o número de

cursos de pequena duração, de formação contínua, de conferências, de congressos que

nós fazíamos antes destas restrições com aquilo que fazemos agora, diminuímos

substancialmente, exatamente por causa das dificuldades e portanto deixámos de captar

essas receitas, esse é o principal problema. E também uma das coisas que vejo quando

vejo entrevistas públicas com reitores e presidentes de institutos politécnicos, que se

queixam muito mais frequentemente das dificuldades que se estão a criar no ensino

superior a nível destas pequenas coisas do que propriamente outras.

Dos cortes em si?

O facto de não fazermos transição de saldo ou os saldos não poderem ser gastos impedem-

nos de prever a longo prazo, desde logo, cria-nos dificuldades, chegámos a ter uma

situação em Junho, tínhamos estudantes para ir numa viagem ao abrigo do Leonardo da

Vinci para o estrangeiro, já estavam com o bilhete na mão e iam receber uma bolsa do

Leonardo da Vinci mas como o dinheiro tinha entrado antes de Dezembro e em junho não

estava autorizada a integração de saldos desse processo, não tínhamos dinheiro para dar

a bolsa, já havia quase uma ordem do IP para dizer aos estudantes, que não lhes podia ser

paga a bolsa porque não havia autorização. Felizmente acabou por se desbloquear na

última da hora com verbas próprias, à espera da autorização do desbloqueamento da verba

da transição de saldo porque a UE enviou antes de Dezembro anterior e nós não tínhamos

autorização, apesar de estar destinado para aquilo. Portanto, temos situações ridículas

desse género, não conseguimos prever a longo prazo por causa do cumprimento de não

poder integrar saldos e tenho frustrações junto dos docentes que conseguem às vezes

projetos de investigação, às vezes algumas dezenas de milhares de euros, mas que se

chega a Dezembro e depois quer-se investir em reagentes para conseguir com os projetos

e dizem que não pode ser porque não tenho autorização para gastar este dinheiro, portanto,

vou ter que ir pelas receitas próprias da escola, pelas propinas para lhes pagar aquilo que

supostamente eles tinham direito por uma verba que eles adquiriram mas que eu não posso

gastar porque transitou de ano, isto não é gerível.

Aumentaram a carga horária dos docentes para fazer face aos que saíram?

Sim. A nossa carga horária já era elevada, no politécnico a carga horária vai até às 12h,

regra geral, embora diga entre as 6 e as 12 h, como regra geral vai até às 12h. Nós

tínhamos alguns princípios de ligeira diminuição de carga horária em alguns docentes

porque tinham cargos de diretores de departamento ou de diretores de curso, às vezes ser

professor coordenador de categoria, permitimos que tenham cerca de 10 horas, por acaso

até já acho que estava nas 11h e nós nem temos muitos professores coordenadores e

portanto já tínhamos uma carga horária bastante elevada. Quando tivemos que fazer o

corte de professores convidados, todos os docentes tiveram que ir para 12 horas,

independentemente de serem… diretores de departamento ainda permitimos, não uma

redução tão grande como fazíamos antes mas ainda permitimos que reduzam um bocado

a carga horária, os diretores de curso já não permitimos, têm a carga horária completa e

portanto estão praticamente todos no limite da carga horária dos docentes a tempo inteiro,

os docentes a tempo parcial sempre estiveram, a carga horária que é contratualizada é a

que eles efetivamente têm e portanto, por aí, já não há muito mais que possamos fazer.

Na sua opinião e de uma forma geral, quais podem ser as alternativas de

financiamento para o ensino superior português, para além do estado e dos

estudantes?

Se não mudarem as regras de gestão, é indiferente porque qualquer sistema de

financiamento está condenado á partida. Se mudarem as regras de gestão até poderão

haver ideias, desde aquela que vamos começar a fazer, os serviços à comunidade e

pequenos cursos e etc., até outro tipo de investimentos, parcerias com empresas e etc.,

mas pressupõe que possamos atuar por vezes em projetos, que era a ideia que tínhamos

um bocadinho antes e não com as regras da função pública que decidem impor ao ensino

superior, de uma forma geral, porque isso torna inviável. Mesmo nesta história dos

serviços à comunidade, temos um problema, vão usar o nosso equipamento, não, o

equipamento daqui vão usar em contexto de aulas o que significa que aproveitaremos os

casos clínicos que vêm cá para os nossos estudantes aprenderem e daí o interesse de

determinadas parcerias, não tanto a entrada de dinheiro, que também nos ajuda, ou o

aluguer de espaços, mas o facto de podermos ter situações clínicas, em contexto clínico

aqui na escola que permitam aos nossos estudantes uma melhor aprendizagem e

conhecimento mas, em determinada altura temos que repor ou ir atualizando

equipamento. A verdade é que se temos receitas para isso por parte do projeto, como não

podemos guardá-las nem transitar de saldo com elas, quer dizer, no ano em que

precisávamos delas ou há um milagre que nos permita ir buscar dinheiro a qualquer sítio

ou então o dinheiro entra mas não está destinado ou não há uma parte destinada à

manutenção da qualidade daquele processo, mantendo o equipamento e depois isso dará

sempre o mesmo tipo de problemas, quer dizer, senão houver uma alteração da gestão do

estado, nós até podemos ter ideias para procurar receitas e até se calhar conseguimos ter

mais receitas do que conseguimos. Mas, quer para as pessoas individuais das instituições

que, pelos seus contactos, pelas suas parcerias poderiam ir buscar essas receitas, que se

desmotivam por saber que… o sentimento delas é que aquilo acaba sempre por entrar

num saco sem fundo e são capazes de dizer assim, preciso de um computador ou um

equipamento, consigo uma empresa que me financia para comprar o computador e é tudo

muito bonito mas o problema é que o dinheiro entra e não pode ser consignado, entra para

as receitas e a despesa é outra história. A despesa implica um processo de compras, um

processo de compras implica ir às compras do estado, os computadores têm que ser

daqueles que a central de compras do estado tem, não interessa se serve para o

equipamento ou não e em regra, são de pior qualidade e igualmente caros ou mais caros

ainda e também não sei quando virão e portanto, para que é que vou chatear a empresa

para me darem 500 euros para comprar um computador que preciso para o equipamento

se depois, dois anos depois ainda não tenho o computador, se não se garante que isso

possa ir para o computador e portanto não entra os 500 euros para o estado, não é uma

coisa que se pode renovar o financiamento externo porque não consigo em termos de

gestão, agora com as novas regras não se consegue, anteriormente conseguia-se

efetivamente. Conseguia-se que uma empresa desse dinheiro, que esse dinheiro fosse

utilizado para uma determinada coisa necessária mas agora não se consegue. Isso torna

muito difícil os financiamentos externos, pior ainda se forem grandes financiamentos, se

conseguirmos uma empresa que financie 20 mil, 50 mil, 5 mil euros para um projeto ou

uma coisa qualquer, o dinheiro entra mas o projeto não é consignado porque entra tudo

para receitas próprias, para a rúbrica de receitas próprias, portanto, a 510, rúbricas que

não sejam só dinheiros europeus ou dinheiros de instituições públicas, etc. esses

conseguem ficar numa rúbrica à parte por isso está desligado daí, mas uma empresa que

decida… nós aqui temos um problema com o auditório que tem infiltrações de água, se

por milagre conseguíssemos uma empresa que nos financiasse aquela reparação, o

dinheiro entrava para as receitas próprias, não podia ser consignado para aquilo, tinha que

abrir um procedimento para reparar aquilo, já tinha aberto esse procedimento há mais de

um ano, já entrou chuva no inverno passado e estou a ver que vamos passar novamente o

inverno com chuvas e portanto, temos que arranjar dinheiro das receitas próprias e

portanto não vale a pena andar atrás de alguém que nos financie aquilo porque não

consigo garantir que aquilo seja reparado com aquele dinheiro e é um esforço. Isso, como

digo, é o maior problema do ensino superior que não tinha antes, porque havia de facto

uma autonomia real a nível de administração financeira que custa, porque, como os

reitores e os presidentes dos politécnicos dizem, nunca foi o ensino superior que

incumpriu nestes processos, não há propriamente conhecimento do ensino superior entrar

em espirais de dívidas e passar com défices negativos. Mas de facto aplicaram a todos as

regras da parte pública, incluindo ao sistema de ensino superior que sabia gerir o seu

dinheiro e que agora tem mais dificuldades em conseguir gerir o seu dinheiro do que tinha

dantes e captar mais dinheiro. Portanto mesmo quando se ouve dizer que a parte das

receitas próprias estão a aumentar, por outro lado as receitas do estado estão a diminuir

por isso não me parece que haja assim um grande aumento de receitas próprias.

Professor, um aparte, acha que a missão da universidade e do politécnico está bem

definida atualmente?

Não, nem nunca esteve e não sei se alguma vez estará. Porque isso ainda tem problemas

de parte a parte. É ainda o politécnico que é mal visto, quer pelos candidatos, muitas

vezes, quer pelo próprio sistema de ensino superior, portanto, a parte da universidade, já

não tanto nalguns aspetos, apesar de tudo ganhou alguma credibilidade, muito em parte

também por culpa própria e estou dentro do politécnico, sei do que falo, portanto, há

muitas situações que são autenticamente tiros no pé em termos de credibilidade e de

implementação. E portanto, há essa dificuldade. Por outro lado, também se sofre às vezes

uma concorrência desleal por parte das universidades nalguns aspetos porque se há

sempre uma restrição para o politécnico crescer, por exemplo, ao nível dos

doutoramentos, mesmo os mestrados foram conseguidos dificilmente e mesmo os

mestrados têm que ser profissionalizantes e não podem ser académicos, apesar de a lei o

permitir, a verdade é que a A3ES impede um mestrado que tenha uma tese, um mestrado

só pode ter projeto ou relatório de estágio, não pode ter teses, a não ser que seja em

parceria com uma universidade. Portanto, mesmo achando que muitas vezes o politécnico

quer-se tornar uma universidade nalguns aspetos, também não é menos verdade que nós

vemos as universidades a conferir cursos que à partida são aqueles que dizem que os

politécnicos deviam ter, portanto, cursos predominantemente profissionais, digamos

assim. Portanto, as águas nunca estão separadas. Das duas, uma, ou se separam de vez e

se discute que os politécnicos passam a dar cursos de dois ou três anos, mas isso é voltar

à forma antiga, eram os antigos bacharelatos contra as antigas licenciaturas, chamemos-

lhe outro nome agora, antigamente a licenciatura era correspondente ao 1º ciclo,

bacharelato era pré 1º ciclo, portanto era ensino superior mas de nível inferior, agora

temos outra vez o 1º ciclo com as licenciaturas, voltaremos novamente ao antigo

bacharelato ou cursos de especialização ou qualquer coisa, destinado aos politécnicos,

portanto acabaria por voltar 20 anos atrás, sem que as coisas tivessem sido resolvidas há

20 anos atrás e as universidades, quando tiverem problemas de entradas, porque também

os têm, voltariam à procura de cursos do politécnico, temos as situações mistas, que é

outra confusão, que são as universidades que têm escolas politécnicas para terem receitas

próprias, portanto, ter uma faixa de ensino que não tinham para compensar um bocado as

suas próprias receitas e portanto, se calhar mais vale ou tornar tudo universidade, mesmo

que umas sejam mais técnicas e outras mais clássicas, digamos assim, que também já

existem as universidades técnicas e eventualmente diferenciar aquilo que de facto são as

competências de cada uma dessas escolas e universidades têm e qualidade daquilo que

ministram ou não ministram. Porque se é verdade que há muitos politécnicos de baixa

qualidade, também há muitas universidades que o são e infelizmente tendem a ser mais

ou menos nos mesmos sítios também. Agora, sim, é um problema, numa lógica ideal se

calhar havia de facto uma separação e termos cursos mais rápidos e profissionais no

politécnico e cursos mais lentos e mais académicos na universidade. Mas também

podemos discutir o que é um curso profissional, temos uma faculdade de medicina da

universidade de lisboa que ninguém discute que é um ensino superior universitário mas

podíamos discutir se é um curso profissional para todos os efeitos porque 99% dos

estudantes que de lá saem, saem para uma profissão e não para seguir uma carreira

académica, enquanto se formos a uma faculdade de ciências, provavelmente já é um

bocado o inverso, a maior parte dos estudantes segue para uma carreira académica ou de

investigação ou mesmo que seja uma empresa há mais uma parte académica do que

profissional, o que não acontece com um médico, não acontece com um arquiteto, até a

faculdade de direito tem esse tipo de problemas, portanto, o que é um curso profissional

ou o que é que não é um curso profissional. A ideia é sempre que se sai do ensino superior

é entrar numa profissão, seja qual for, e que o ensino seja ministrado com qualidade e seja

conveniente para aquilo que ela vai efetivamente exercer e que as pessoas estejam

qualificadas para isso.

Em Portugal não há muito a cultura do mecenato científico dentro das

universidades. Esta instituição tem algumas entidades a quem possa chamar de

patrocinadores? Ou parcerias, como as que me falou das juntas de freguesia ou

assim…

As juntas de freguesia é a nível gracioso…

Ah, acordo de cavalheiros…

É, inclusive, nós, mais uma vez, por este tipo de parcerias que temos e que muitas vezes

dão competências aos nossos estudantes, em âmbito de estágio, eles vão normalmente

voluntários mas acabam por ter contactos com uma série de outras atividades, em termos

de rastreio e etc., portanto, que não têm tanto no seu processo de estágio, têm sim mais

com aspetos clínicos e portanto nós colaboramos a nível gracioso, no sentido de que se

há alguma coisa que é, não direi paga mas realizada, eles garantem-nos colocações,

garantem-nos estadias nos casos em que é preciso estadias, garantem alimentação nos

casos em que é preciso alimentação, não há propriamente uma entrada de verbas para a

escola. Com algumas empresas já tivemos muita situação desse género, em que as

empresas davam uma parte à escola e eventualmente até pagavam diretamente aos

estudantes, neste caso já com a licenciatura, portanto era pela licenciatura para os ajudar

nos seus processos de rastreio. Mas parcerias, parcerias, não, tivemos uma ou outra

situação que se aproximou um bocadinho mais do mecenato no sentido em que apoiaram

ou financiaram uma melhoria ou aspeto qualquer. Não sei se viu aquela loja de estudantes

lá em baixo, há uma coisa com loja de estudante com coisas para estudantes. Isso começou

por ser uma loja da escola que depois cedemos a exploração aos estudantes e aquilo foi

feito por uma empresa que na altura era a nossa empresa de informática e que financiou

a alteração daquele espaço para tornar aquele espaço numa loja. Portanto, temos tido

situações dessas, é um facto, mas mais uma vez foi numa altura em que era possível, a

empresa financiou, o dinheiro entrou, foi destinado para aquilo, fizemos as alterações com

a justificação base de que tinha sido a receita disso, passámos as declarações à empresa a

dizer que tinha sido com o apoio deles. Não sei mas penso que não chegou a ser

exatamente ao abrigo da lei do mecenato, mas também não digo que não tivesse porque

já tivemos algumas situações e já falámos nisso, não sei se houve uma ou outra situação

em que a empresa pediu que depois a nível justificativo que aquilo fosse ao abrigo da lei

do mecenato e na altura foram passadas as declarações devidas e fizemos o processo, mas

são normalmente casos pontuais. Mas sim, temos tido, tivemos em tempos, algumas

situações como esta que descrevi em que de facto as empresas nos financiavam qualquer

coisa, a compra de um equipamento, uma alteração estrutural, uma coisa qualquer desse

género, não necessariamente por uma contrapartida visível…

Era isso que lhe ia perguntar a seguir…

Não, esta era a empresa informática, que nem sequer é a que temos agora, que tinha sido

conseguida no… tinha concorrido na altura à oferta que tínhamos feito, tinha sido a que

acabou por ser escolhida, já se tinham passado alguns anos desde que ela cá estava e uma

vez, em reunião com eles, chateamo-los um bocadinho, como se costuma dizer, no sentido

de já cá estão há tanto tempo, bem que podiam apoiar qualquer coisa pois tinham ganho

muito dinheiro connosco, com o contrato informático que podiam apoiar qualquer coisa

e eles disseram que sim. Não me lembro quanto tempo foi isso antes do próximo concurso

mas o próximo concurso nem foram eles a ganhar e acabou por ser substituída por outra

empresa, mas acho que eles até se esqueceram de concorrer, se bem me recordo, já não

me lembro. Mas isso tem acontecido, ou estão cá e nós a partir de certa altura dizemos,

que tal investirem em alguma coisa ou então às vezes outro tipo de contactos que temos

nestas parcerias, como esta empresa dos rastreios em que tivemos esse tipo de situações,

de vez em quando, se temos um congresso ou uma coisa qualquer, chateamo-los para

apoiarem, para adquirirem coisas para o congresso como um equipamento ou qualquer

coisa assim desse género. Mas como disse eram mais fáceis este tipo de situações antes,

também porque têm menos dinheiro agora, mas também era mais fácil quando tínhamos

mais facilidade de gestão nesse aspeto.

Falou um bocado sobre a autonomia no sentido de esta estar limitada…

Está muito limitada, a autonomia financeira e administrativa está muito limitada.

Continuamos com a autonomia pedagógica, com a autonomia científica, isso sim, um

bocadinho mais restrita mas aí sim, no bom sentido, que é o facto de pelo menos no ensino

universitário, que não dependia de nenhum organismo de estado para fazer aprovar os

seus cursos, agora depende da A3ES, mas isso, do meu ponto de vista é um passo positivo,

tem-se notado. Mais que não seja não direi terem sido reprovados muitos cursos e as

universidades e os politécnicos têm tido mais consciência verdadeiramente do que é

qualidade e elas próprias têm optado por não submeter cursos à aprovação porque

concluíram por um sistema mais credível de qualidade que eles não tinham qualidade

suficiente para estarem aprovados. E isso está a criar uma boa cultura de qualidade. Mas

pelo menos esse tipo de autonomia mantemos. Agora, a administrativa e financeira, é

cada vez menor, a cada passo que é dado, a cada orçamento de estado vai sendo menor e

cria cada vez mais dificuldades. Como esta discussão que houve há pouco tempo de o

estado querer subitamente limitar aos valores de 2012 aquilo que eram as receitas próprias

das instituições, que as instituições obviamente não cumpriram porque isso cria

dificuldades de gestão. Nem sequer é impedido, como às vezes deixa transparecer um

bocado, que ia ser impedido que pudessem ter mais receitas próprias que as que tiveram

em 2012, isso podiam, teriam é que fazer alterações orçamentais. Mas, enquanto não

tiverem esse orçamento previsto, não podiam realizar despesas com base no orçamento.

Ora, como as alterações orçamentais, por parte de acréscimo feitas iam acontecer lá para

Outubro, novembro, normalmente é o que acontece, chega-se a outubro, novembro é

quando se começa a, eventualmente, ultrapassar aquilo que eram as receitas previstas e

atendendo a que não se pode transitar de saldos em Dezembro, era óbvio que a única

consequência disso é que até outubro, novembro, ia-se ter dificuldades de gestão e pagar

coisas quer podiam ser pagas se tivéssemos orçamentado essas receitas porque sabíamos

que as iriamos receber. Chegado a outubro, Novembro, quando as recebemos, em regra

no fim de novembro, o estado impede-nos de gastar o que quer que seja, porque diz que

temos que fechar as contas e chega a 31 de Dezembro e não podemos transitar com saldo,

portanto, é a mesma coisa que não as termos recebido, quer dizer, transita mas no ano

seguinte temo-las lá e não as podemos gastar. Portanto, é óbvio que os reitores e os

presidentes dos politécnicos se indignaram muito porque isso era mais uma maneira de

colocar entraves à gestão superior que iria ser colocado.

Considera que as escolas do ensino superior politécnico deveriam ter autonomia

financeira ou concorda com o facto de a autonomia financeira estar centralizada no

IP?

Nós já tivemos…

Tem a ver com o número de alunos…

Não, na realidade não tem, é uma das situações em que considero que há uma

discriminação clara entre o ensino superior politécnico e o ensino universitário, não faz

sentido, porque, na realidade, há universidades que são mais pequenas que os politécnicos

e não deixam as diferentes faculdades de terem as suas autonomias financeiras em cada

um dos casos. Há institutos politécnicos que são mais pequenos que a nossa escola e não

deixam de ter autonomia financeira, portanto, se fossemos pelo número de alunos ou pelo

orçamento, se calhar estamos ao nível de alguns IP e existem faculdades que estão ao

nível de algumas instituições politécnicas ou mesmo de algumas escolas politécnicas,

portanto, isso devia de ser um princípio igual para todos, ou uma tem ou todas têm. Se

tinha que ser com o número de estudantes ou com o valor do orçamento, que até acho

plausível, só pode ter autonomia financeira quem tiver um orçamento global acima dos

não sei quantos milhares de euros…

Como o ISEL…

Como o ISEL, apesar disso, tem várias circunstâncias, não só o orçamento mas também

o número de estudantes, a percentagem de estudantes, mas podiam pôr uma regra igual

para todos, não faz sentido termos faculdades pequenas que geram pouco orçamento com

um número reduzido de estudantes a ter autonomia financeira apenas por serem

faculdades e termos escolas grandes, tanto quanto sei é só o ISEL que tem, mas temos

outras instituições como o ISCAL ou o ISEG que não têm mas estão praticamente ao

mesmo nível, apenas porque são do ensino superior politécnico e não do ensino superior

universitário. Acredito que deveria ser igual para todas mas se calhar não faz sentido que

todas tenham, aqui no IP temos uma escola superior de dança, tem um corpo docente

muito pequeno, nós às vezes brincamos e dizemos que são meia dúzia de docentes a

tempo inteiro, um número reduzido de funcionários, um número reduzido de estudantes,

portanto, nem sequer tinham capacidade administrativa de fazerem a sua própria gestão.

Seria-lhes muito mais custoso manter uma gestão e autonomia financeira e administrativa

do que delegá-la, como delegam, já delegavam na altura mesmo por causa desse aspeto,

delega-la na presidência do politécnico que à partida tem melhor esse tipo de capacidade.

Mas, se calhar algumas não deviam mesmo ter e por isso deveriam fazer-se regras claras

para isso, que fossem universais. Por outro lado, acho que é daqueles assuntos que foi o

próprio politécnico que deu tiros nos pés, quem normalmente estava interessado nesse

tipo de situações eram os politécnicos que não têm escolas. Se olharmos para o politécnico

de Bragança e etc., eles lá funcionam como uma estrutura integrada, têm departamentos

ou se têm escolas são escolas sem autonomia e é o corpo central do politécnico que tem

porque foram criados de raiz assim, sob o ponto de vista histórico faz algum sentido.

Enquanto politécnicos como o Porto, Lisboa e Coimbra que foram criados de fora para

dentro, ou seja, por associação de escolas que na altura tinham a sua própria

independência, essa cultura nunca existiu e portanto, dificulta nalguns aspetos algumas

coisas, tenho que reconhecer. Portanto, cada caso devia ser um caso, mas como foi o

próprio politécnico que decidiu, ou seja, a maior parte dos IP, de certa forma defenderam

essa posição, mesmo contra os politécnicos de Lisboa, Porto e Coimbra, também existe

um bocado por culpa dos politécnicos e não necessariamente por culpa do estado ou das

universidades que tivessem tentado impor uma coisa desse género.

Gostava de ter autonomia financeira?

Não consigo ter uma resposta muito clara sobre isso. Já tivemos autonomia financeira, é

evidente que facilitava uma série de coisas a nível de gestão. Também reconheço que a

autonomia financeira implica uma série de responsabilidades, é-nos dado um orçamento

e temos que viver com esse orçamento e que o facto de não termos autonomia financeira,

permite-nos uma gestão, sobretudo em tempos de crise, em tempos de vacas gordas é tudo

muito mais fácil, cada um pode ter autonomia financeira tudo se gere bem. Mas em tempo

de vacas magras permite uma melhor gestão do IP, em termos de as escolas se ajudarem

umas às outras, é um facto, e nós já tivemos que ser ajudados pelas outras unidades

orgânicas porque estávamos subfinanciados na altura, é possível que agora venha a

suceder um bocado o inverso, ajustar o nosso orçamento para as outras escolas que

ficaram um bocado com dificuldades e isso permite uma gestão mais integrada no caso

do politécnico de lisboa, da qual o ISEL está sempre de fora porque tem a sua própria

autonomia financeira. Esse aspeto é uma vantagem mas não deixa de ser um processo

moroso, muitos processos têm que ir lá. Embora eu ainda ache que se calhar grande parte

da morosidade tem mais a ver, mais uma vez, com as regras do estado do que

propriamente com o facto de termos ou não autonomia financeira. Porque se não temos

autonomia financeira total, também é um facto que muito o estado deslocaliza para cá,

temos autonomia para fazer cabimentos, não temos autonomia para processar

pagamentos, a última palavra é sempre do presidente do ISP, mas a regra costuma-se

dizer, se existe orçamento está cabimentado e se nós gerirmos as coisas de maneira

correta, está normalmente assegurado, temos autonomia para autorizar despesas até 5000

euros, o que significa que a vida corrente da escola se processa normalmente. Temos

autonomia obviamente para pôr as contratações docentes e portanto só que mais uma vez

se não houver orçamento temos um sub orçamento que não dá, portanto, em termos de

autonomia, para aquilo que interessa, não posso dizer que nós não a tenhamos nesta

perspetiva. Se há coisas que andariam mais depressa na escola, andariam, mas também

eram regras mais antigas da maneira como se geria o estado, portanto, muitas coisas

atrasam-se não necessariamente porque o ((ISP)) se atrasa mas porque as questões

burocráticas se atrasam com toda a gente. Há coisas que podem complicar nalguns

aspetos, mas também não sei se seriam resolvidos com autonomia financeira porque, uma

vez que é tudo uma estrutura no politécnico, muitas aquisições têm que ser integradas. E

para cumprir a lei da transparência, que não se pode ou tem que se fazer concursos

públicos quando se ultrapassam determinados valores de aquisições, tem que se pensar

sempre a nível da globalidade de todas as unidades orgânicas. Tecnicamente, se eu

precisar de comprar computadores, não posso comprar sem saber se as outras unidades

orgânicas precisam de computadores ou não e têm que ser todos comprados em conjunto,

não podemos fazer vários processos de compras à medida de cada uma das unidades

orgânicas. Isso é um problema e computadores ainda é dos mais fáceis, quando

precisamos de pequenas coisas que às vezes não temos consciência de que a outra unidade

orgânica utiliza e de repente estamos todos a pedir, às vezes à mesma empresa, apesar de

serem coisas diferentes, pedimos uma coisa que precisamos para a nossa escola à

empresa, outra unidade orgânica pede à mesma empresa outra coisa que eles precisam,

não tem nada a ver com o que nós precisamos. Mas ultrapassa os 5000 ou os 10000 ou

não sei quantos mil euros, que obrigava a que fosse elaborado um procedimento de raiz

com tudo aquilo que as escolas necessitavam para ser uma oferta publicitada na central

de compras para as empresas concorrerem, etc. quando chegamos a esse nível, nunca

temos as coisas antes de um ano ou dois anos e portanto, se houvesse uma autonomia que

não nos obrigasse a ir junto e isso fosse considerado uma aquisição separada da outra

unidade orgânica, então isso facilita muita coisa em termos de gestão, sim. Mas se

mudarem as regras do estado relativamente a esse tipo de procedimentos, é indiferente a

autonomia estar cá ou estar lá.

Existe sem existir…

É.

O politécnico já tem alguma experiência relativamente à presença de membros

externos dentro da sua gestão como os CG, isso é um bocado mais novo para a

universidade. Considera que a entrada de representantes externos pode, de alguma

forma, ter ingerência na autonomia dos politécnicos, no ensino superior, nas

universidades?

Não, acho que a entrada de elementos externos é uma mais-valia, sobretudo nos moldes

em que é feito agora. Houve uma discussão, sinceramente já não me lembro se foi a nível

do CG se o presidente deveria ser um membro externo ou não, a primeira proposta do

RJIES na altura seria que o presidente fosse um elemento externo. Isso criava

dificuldades, é a única coisa que acho e mais por uma questão de gestão, porque quem

tem de convocar as reuniões é o presidente do conselho, quem tem que gerir é o presidente

do conselho e sendo um elemento externo tem obviamente menos tempo para gerir, tem

menos disponibilidade do que é necessário e era um peso nos ombros. Eles estão

normalmente dispostos a colaborar, são extremamente ativos, mas não são da instituição

ao ponto de terem que adicionar a sua vida à vida da instituição, o que é perfeitamente

normal. Mas creio que isso depois mudou no RJIES e as coisas a partir daí agilizaram-se.

Agora, é um facto que os membros externos trazem uma visão externa que a instituição

não tem, antigamente havia o conselho consultivo, quer no politécnico e mais ou menos

havia na universidade, mas eram de tal maneira grandes, porque englobavam tudo, ainda

cheguei a ir a um ou outro no (ISP), porque eram não sei quantos representantes de

estudantes, não sei quantos dos não docentes, não sei quantos dos professores, isto para

cada unidade orgânica, mais os membros externos, era impossível alguém ouvir-se na

instituição quanto mais um membro externo, portanto, eram reuniões improdutivas, não

serviam de nada. Quando temos conselhos mais pequenos, em que há uma boa

representatividade dos membros externos e de facto estes membros fazem ouvir a sua voz

e o facto se serem externos é que vêm as coisas de fora porque trazem muito

frequentemente ideias e opiniões que nem sempre estão presentes para quem está dentro

porque tem as coisas normais de quem vive dentro de uma instituição. E isso acho que é

uma mais-valia, quer para as universidades, quer para os politécnicos, tem sido o nosso

CG, o do (ISP), onde também estou presente, de facto, apesar de ainda existirem alguns

vícios, também aqui o (ISP) tem esse vício e presumo que muitas universidades que vão

buscar membros externos, pessoas que já foram da instituição mas nunca são todos,

felizmente, mesmo assim acabam por ter uma outra visão mas nota-se que quando estão

de fora da instituição fazem determinado tipo de críticas e de sugestões e de opiniões que

se calhar não seria de esperar que alguém da instituição as tivesse porque são

comprometidos ou conhecem as fragilidades e não gostam de as apontar ou então nunca

deu pelas fragilidades mas também às vezes nunca deu pelas mais-valias e pelos pontos

fortes e é mais fácil para um membro externo pôr os pontos nos is e isso tem-se notado,

quer dentro da escola, no nosso conselho de representantes que tem dois membros

externos sobre a escola, sobre os cursos da escola têm dado opiniões muito válidas quer

dentro do CG do (ISP) e acredito que o mesmo será junto das universidades, quando é

possível ouvir a voz das pessoas externas, elas acabam sempre por ter algum peso. E

penso que também já se terá passado um bocadinho aquela sensação de serem eles a

mandar nas instituições, que será sempre difícil como nunca têm maioria nem nunca me

pareceu que fosse o interesse. O máximo que as pessoas temiam era que se chegasse a um

modelo quase anglo-saxónico em que os membros externos geriam aos destinos da

instituição. Não digo que até eventualmente se possa ir um bocado nesse sentido, pode

ser que sim, pode ser que não, mas não me parece que tenhamos uma comunidade externa

tão forte e tão ligada ao ensino superior como existe no sistema anglo-saxónico para eles

próprios terem interesse numa situação desse género, portanto, não me parece que tenderá

para isso a não ser para um opinion maker, colaboradores, pensadores daquilo que é um

sistema de ensino superior e que terão esse aporte externo para as próprias instituições

que depois, de certo modo, são livres de os seguir ou não, mas que acabarão sempre, mais

tarde ou mais cedo, por ir ouvindo qualquer coisinha e incorporar nos seus procedimentos

aquilo que eles próprios vão dizendo e acho que de facto é sempre uma mais-valia.

Quer acrescentar alguma coisa?

Não creio que falamos de muita coisa, depois também depende do que pretende em termos

de tese, mas creio que daquilo que é uma IES e sobre a conjuntura atual de ensino superior

se falou de tudo. Há um problema, é difícil de prever aquilo que vai ser o futuro no ensino

superior em Portugal na lógica política que está a ser seguida agora. A tendência que sinto

sempre é que é uma espécie de ir secando as IES, não sei com que objetivo, talvez com o

objetivo de mais tarde as privatizar, pode ser de facto uma ideia que esteja em mente. Se

é por um objetivo de ordenar o ensino superior mas se existe alguma ideia por trás não é

clara, quer dizer, se calhar fazia sentido ordenar o ensino superior mas então mais valia

serem claros porque a consequência disso é que todas as IES estão a morrer um

bocadinho, umas morrem mais depressa outras morrem mais tarde porque não se pode

cortar por igual aquilo que não era igual, porque ao cortar por igual aquelas que não

tinham grandes condições, continuam sem condições e aquelas que tinham condições

acabam por não ter condições e isso tem que ser discutido. Se a ideia é de facto chegar a

uma altura em que se diz que o ensino superior público não funcione como é demostrado,

porque funciona mal, porque tem as paredes a cair, porque não há pessoal docente, porque

o pessoal docente não está qualificado para depois fazer como nos CTT ou como na PT

ou uma coisa assim e vender tudo a instituições privadas, então isso pode ser de facto um

caminho mas, mais uma vez, não me parece que seja essa a função do ensino superior

público, mas da maneira como anda a ser feito, não só com os cortes orçamentais que

todos sofremos, não são só as IES, mas sobretudo, com as dificuldades de gestão que

estão a criar às IES, para elas próprias serem capazes de ultrapassar as dificuldades

orçamentais e portanto contribuir para um aumento de riqueza, tornam as coisas mesmo

muito difíceis.

Muito obrigada pela disponibilidade.

Entrevista IP4

Começava por pedir que falasse um pouco da sua formação académica.

Tenho todos os graus académicos, bacharel, licenciatura, mestrado e doutoramento.

Comecei por estudar nesta escola, fiz o bacharel em publicidade em marketing, depois fiz

a licenciatura em ciências da comunicação, fiz o mestrado em comunicação, cultura e

tecnologias de comunicação e o doutoramento em sociologia, especialidade sociologia da

comunicação no (universidade pública nacional).

Em termos profissionais esteve sempre ligado aqui à escola?

Em termos profissionais, antes comecei por estudar música, fiz o curso do (universidade

pública nacional). e comecei por fazer trabalhos em música e é através da música que

surge a publicidade porque a minha área, até de investigação e tudo tem sido sempre na

área da publicidade e depois em termos profissionais aparece a publicidade através da

música, comecei a trabalhar umas coisas em publicidade ao ponto de me entusiasmar

tanto que pensei, eu quero é estudar isto, marketing e essas coisas e depois fiz a

licenciatura na área da publicidade, do marketing e da comunicação, continuei a trabalhar

em publicidade até que depois concorri para a escola como assistente, ainda estive a

trabalhar algum tempo enquanto lecionava como assistente e depois decidi enveredar

especificamente pela carreira académica, fiz o mestrado onde fiz uma tese sobre as áreas

da publicidade e depois a seguir tese de doutoramento, estava a preparar a agregação e

entretanto vim para presidente da escola e o processo de agregação ficou em stand by

porque, enfim, com a gestão não há tempo. Depois tive carreira académica, coordenei

durante dez anos o observatório da publicidade que era uma estrutura que dependia da

Direção Geral do Consumidor e que avaliava, estudava a publicidade, toda a publicidade

que passava em Portugal e tinha também a avaliação de toda a componente jurídica, ou

seja, esta estrutura funcionava como, por um lado, uma unidade avançada no antigo

Instituto do Consumidor para avaliar as tendências da publicidade do ponto de vista da

investigação e, por outro lado, era uma unidade avançada no sentido em que se fazia já

uma pré seleção e uma avaliação jurídica às dissonâncias legais ou restrições legais que

estivessem na publicidade, tínhamos uns procedimentos, fazíamos umas fichas legais,

informava-mos a direção geral, tínhamos apoio jurídico, houve uma altura que tínhamos

aí uma estagiária para o apoio jurídico, para o observatório, com as equipas do

observatório e faziam um primeiro rastreio e depois os juristas é que levantavam os autos

e iam para tribunal e isso. Da nossa parte, o que nos interessava era a parte da investigação

e fizemos bastante investigação aí, em publicidade, orientei teses de doutoramento,

mestrado, com bases nesses… porque funcionávamos nos moldes de um centro de

investigação, uma série de livros publicados, artigos, eu e outros colegas, embora

coordenasse mas depois tinha uma equipa de vários colegas investigadores e docentes

que colaboravam no observatório. E depois dediquei-me à gestão da escola, já lá vão 9

anos.

E como aconteceu?

Fui convidado para vice presidente em 2005 pelo colega que estava como presidente,

completei o mandato e depois fiz um segundo mandato com ele como presidente e

entretanto concorri, obviamente, as condições proporcionadas, senti que tinha apoio

unânime de toda a escola para que fosse presidente. Mais ninguém concorreu, foi unânime

em que ficasse como presidente da escola, vou agora candidatar-me para o segundo

mandato.

Como avalia a sua experiência enquanto presidente?

Posso falar-lhe sobre duas perspetivas. Na perspetiva pessoal foi muito enriquecedor, ou

seja, numa primeira fase tinha uma perspetiva um bocado de trabalho, mas numa segunda

fase de lecionar e de fazer investigação na área da comunicação, investigação, por um

lado para fazer mestrado e doutoramento e após isso, aliás, quando coordenei o

observatório ainda não tinha doutoramento, depois acabei o doutoramento e continuei

como coordenador do observatório e depois a minha experiência como investigador. A

gestão foi uma coisa nova, nunca tinha estado à frente… do ponto de vista empresarial

sabia alguma coisa mas nunca tinha estado à frente e tem sido extremamente

enriquecedor, pessoalmente, esta aprendizagem na gestão de pessoas, de dinheiros, de

custos, porque aqui, enquanto presidente da escola, acho que acima de tudo tem que se

ter bom senso porque temos que gerir pessoas, temos que ouvir as pessoas, perceber as

pessoas e quando falo de pessoas estou a falar desde os professores, funcionários, alunos,

temos que ouvir toda esta gente e ter aqui uma relação pedagógica e saber dar apoio às

pessoas nestes momentos difíceis, ter essa função. Depois, tem a função na parte de

administração, financeira, de saber, gerir e aprender estas dinâmicas todas dos fluxos

financeiros e tomar decisões relativamente ao dinheiro, onde é que se gasta, onde não se

gasta, o que se faz, onde se investe, o que é melhor para a instituição e depois os

procedimentos concursais todos, como é que isto funciona, tem uma parte burocrática,

embora tenha grande apoio administrativo dos funcionários, também foi um

enriquecimento. Depois, obviamente também tenho a … agora estamos num processo de

atualização dos cursos por questões financeiras e estamos a atualizar os cursos porque é

o momento de atualizar porque dinâmicas, quer de mercado, quer científicas obrigam a

que haja atualização dos cursos e também aqui há uma retenção financeira, ou seja, obriga

a que haja um encurtamento das horas de contato, vai ter que haver redução de docentes

até mesmo nas práticas laboratoriais tem que haver reduções, portanto, enquanto

presidente também estou envolvidíssimo neste processo de gestão também e de

acompanhamento muito próximas das dinâmicas nas equipas que estão nas direções de

curso, nas comissões científicas e etc. a acompanhar esses processos todos. Naquilo que

concerne à sua questão que percebo que é mais a componente financeira é complicado

porque todos os anos, do ponto de vista do OE, aquilo que é dado aos politécnicos está a

reduzir. Temos feito um grande esforço aqui na escola no sentido de, por um lado vir a

aumentar alunos, felizmente, nesta escola temos muitos candidatos, a escola tem cerca de

nove a dez vezes mais candidatos do que vagas. Os nossos cursos de licenciatura têm 63,

outro com 60, um com 90 e depois temos mais cursos noturnos com 30 vagas cada e para

os cursos diurnos estamos a ter cerca de 500, 600 candidatos para cada destes cursos,

portanto, aí preenchemos sempre as vagas, sem problemas. De qualquer forma temos

tentado, este curso, por exemplo, aumentámos de 60 para 90 vagas, aumentámos os pós

laborais, temos quatro mestrados, portanto temos vindo a aumentar gradualmente também

o número de alunos porque é uma forma de fazermos mais receita. Também temos que

compensar a componente de qualidade, ou seja, posso entrar aqui com uma componente

mercantilista e em vez de, sei lá por exemplo, imagine que o ISEL reduz as vagas e eu

posso ficar com essas vagas todas e passo a ter aí cem alunos por curso. Obviamente que

isto massifica, tira qualidade, porque somos conhecidos pela qualidade que os nossos

alunos têm no mercado de trabalho, portanto, perco qualidade com os alunos, perco

qualidade com a instituição porque depois massifica o ensino e no laboratório em vez de

ter um posto de trabalho passo a ter dois e dou cabo disto. Não optámos por isso, optámos

por, de forma gradual, ir aumentando, mas agora a criar dois novos cursos de mestrado e

um de licenciatura, vamos propor à A3ES… agora, de facto, é difícil porque a verba do

OE todos os anos diminui e o que temos estado a fazer é o seguinte, renegociar todos os

contratos de fornecedores, segurança, empresa de manutenção elétrica e eletrónica, a

parte que temos de estúdios de televisão, temos aqui um mundo de coisas dentro, foi

renegociar esses contratos todos, já há dois anos que renegociámos e posso dizer que a

redução mínima foi de 20% de redução que as empresas tiveram que fazer, enfim, umas

concordaram outras não concordaram, foram renegociados esses contratos todos, fazer

contratos com um valor mais baixo, portanto, isso obriga, sabemos nós a que haja um

menor apoio dessas empresas. Segurança, por exemplo, uma coisa tão básica, se reduzo

na segurança vão dizer se reduzo 25000 euros, ok, então temos que tirar daí um segurança.

Obviamente que sabemos que depois os serviços de apoio, alguns não todos, por exemplo,

as partes técnicas felizmente as empresas têm continuado a manter o mesmo nível de

apoio mesmo com essa redução, as empresas compreendem a situação e têm feito os

apoios, as avaliações, as suas manutenções com essas reduções. Essa foi uma grande área

que fizemos, a redução dos contratos com todas as empresas de outsourcing que temos

aqui na escola, depois em termos do corpo de funcionários, a escola também não é muito

grande tem trinta e tal funcionários, mas houve um caso ou outro que pediu, saiu e não

substituímos. No corpo docente, temos aqui duas situações, houve um conjunto de três,

quatro docentes de topo de carreira, coordenadores, que se reformaram, não foram

substituídos, ou seja, as cadeiras que lecionavam, as responsabilidades passaram aos

colegas que estavam abaixo, professores adjuntos e outros coordenadores e os horários

que foram feitos, fez-se aqui uma reformulação e entraram como assistentes a tempo

parcial, cujo vencimento é muito diferente. Estamos a falar de um assistente em tempo

parcial e de um professor com dedicação total e aí foi uma grande redução porque estas

pessoas saíram há três, quatro anos. Infelizmente não temos estado a fazer concurso, os

professores que têm entrado, que estão no mapa, são pessoas que por via da lei, acabaram

o doutoramento e entram como professores adjuntos e têm estado a entrar todos os anos,

a escola tem 130 docentes no total e em termos de ETI tem 80, portanto têm estado a

entrar três a quatro docentes novos para o mapa por via do doutoramento, alguns já

estavam no mapa, outros estão a entrar no mapa. Não temos estado a abrir concursos, nem

para professor coordenador nem nada, coordenadores somos 4 neste momento e aquilo

que temos estado a fazer é contratar nas áreas que são laboratoriais, que têm grande apoio

e nós queremos também e é uma filosofia também da escola, ter especialistas do mercado,

contratar pessoas de topo no mercado de trabalho a tempo parcial, vêm fazer 20, 30% ou

então os jovens assistentes. Isso é um grande problema em termos da carreira docente, do

estatuto da carreira docente que é não permitir os assistentes a 100%, não permite,

acabaram-se os assistentes e nós temos aqui jovens muito bons a fazer doutoramento e

que era normal que fossem assistentes a tempo integral, fizessem o doutoramento e depois

passassem ao mapa. Neste momento estão aqui alguns a 50%, estão alguns a fazer

doutoramento e com dedicação à escola, a mesma 50% mas perdemos alguns que dizem

que a 50% não podem viver, começam aqui a 50%, entretanto começam a ter que fazer

qualquer coisa nas empresas e se são bons, as empresas ficam com eles. Já tive dois casos

que me vieram aqui dizer, desculpe, a minha relação com a escola acabou porque tenho

uma proposta de trabalho de uma empresa onde estou, não me dão tempo para vir aqui,

aqui ganho 500 euros, lá ganho muito mais não posso estar aqui. E perdem-se as pessoas,

agora o que temos estado a fazer com o corpo docente tem sido isso. Não abrir concursos,

contratar pessoas a tempo parcial, assistentes a tempo parcial, para compensar a

componente… temos aumentado o número de alunos mas as remunerações não têm

aumentado, pelo contrário, têm diminuído. Isto sem tirar aquele decréscimo que todos

sofremos, dos 10% e daquelas coisas todas, nem estou a falar nisso. Só tem diminuído se

estivermos a falar em termos absolutos.

Dos professores que estão, têm a carga letiva ao máximo?

Pois, essa é outro problema, é que todos os professores têm a carga letiva no máximo que

são 12 horas. É uma grande queixa, é uma loucura, as pessoas não terem tempo para

investigação porque, como a escola não é muito grande, as pessoas que já têm os seus

doutoramentos, para além de lecionarem depois têm funções de gestão porque a escola

tem que ter direções de curso e tem que coordenar áreas científicas. E quem está a fazer

tudo isso são essas pessoas que dão as suas aulas e depois têm que gerir cursos, têm que

gerir áreas científicas, ou seja, para investigação, muito pouco tempo.

Voltando um pouco atrás, de alguma forma o seu percurso académico/profissional

facilitou as funções que desempenha agora?

Com certeza, quando fazemos um percurso académico, o que digo é que aprendemos na

formação académica um conjunto de competências e cada vez isto se verifica mais ou

seja, aqui formo alunos numa área e o que lhes digo, e nós fomentamos aqui muito o

empreendedorismo é que ele pode ser licenciado em jornalismo mas pode não vir a

desempenhar funções de jornalista, pode vir a desempenhar funções de assessor de

comunicação numa empresa, pode vir a desempenhar outras coisas dentro de áreas

próximas. No meu caso, acho que a minha formação académica me deu um background,

um conjunto de competências, de abertura, que de alguma forma, sem ela, embora não

seja gestão, porque fiz o doutoramento em sociologia da comunicação com uma

investigação sobre a publicidade, o marketing as representações e o discurso publicitário,

aquelas coisas todas, acaba por dar… e depois nós também lemos, vamos procurando

fazer um complemento da formação, embora não tenho como disse formação específica,

podia dar… primeiro somos académicos e depois somos gestores.

Continua a dar aulas?

Faço questão de continuar a dar aulas, quando era vice presidente dava bastante mais.

Agora dou menos, dou duas cadeiras aqui nos mestrados, uma no 1º semestre e outra no

2º semestre e nós temos um protocolo com o ISCTE, um doutoramento onde também

leciono e sou responsável por uma cadeira no doutoramento em ciências da comunicação

e também participo numa cadeira lá no mestrado, particularmente continuo a ensinar, não

na licenciatura já mas em termos de mestrado e doutoramento, não na escola porque não

tem doutoramento, mas lá no ISCTE com um protocolo conjunto, continuo a dar aulas e

a fazer conferências, sei lá. Para a semana vou a Portalegre, às jornadas de comunicação

fazer uma comunicação, na faculdade de letras, umas jornadas sobre a sexualidade e as

representações de género, uma coisa assim, vou apresentar uma comunicação aí, em

Maio, em Madrid também vou apresentar uma comunicação. Vou tentando… Às vezes é

difícil porque não vamos fazendo atualizações.

Sobre o ensino superior público português, qual a sua opinião?

Desde logo preocupa-me a questão que está aí a acontecer relativamente aos politécnicos,

de se criar esses cursos profissionais, essas coisas de dois anos, sou manifestamente

contra, houve inclusive aqui na escola uma reunião com os presidentes dos politécnicos

e o senhor secretário de estado e isso foi manifestado publicamente, todos os politécnicos

são contra estes cursos porque, quer dizer, não faz sentido, havia uns cursos curtos que

eram os CET que quer as universidades, quer os politécnicos podiam fazer, eram cursos

que permitiam a quem quisesse seguir a sua formação em termos de licenciatura. Estes

cursos, a forma como tudo foi feito, acaba por denegrir um pouco a imagem dos

politécnicos, porque há politécnicos e politécnicos também, o (ISP nacional) é uma

grande instituição, se desprimor para os outros, no caso desta escola, não estou a ver a

fazer esse tipo de cursos, quer dizer, a maior parte dos nossos alunos escolhe este curso

em primeira opção com médias de 15, portanto, não é propriamente uma instituição. Se o

senhor secretário de estado ou o senhor ministro quiserem fazer este tipo de cursos, quanto

a mim faria mais sentido envolver também as universidades, há umas que podem fazer,

também as universidades não são todas iguais. Há universidades grandes como a UL e a

UP e há universidades mais pequenas como a Madeira e os Açores. Se o problema é ter

alunos, será que eles têm alunos? Se calhar estão com o mesmo problema, não percebo

isto. Depois toda a comunicação em redor, houve quem se aproveitasse disso, há

instituições que aproveitaram isso porque como estão a perder alunos, aqui estamos a

falar do mercado, as universidades este ano também estão com uma situação que lhes

interessa, está bem, fiquem lá com esses cursos que nós ficamos com os alunos. Há de

facto este…

Competição?

Claro que sabemos que há, sabemos que ela existe, agora acho que as coisas podiam ser

feitas de outra maneira, acho que se podia aperfeiçoar esses CET e serem dados por ambas

as instituições, há politécnicos que têm investigação, bastante investigação, o número de

doutorados está a aumentar no politécnico porque a lei obriga a que os docentes dos

politécnicos façam doutoramento e há docentes politécnicos a fazer doutoramentos e veja,

diz-se que os politécnicos copiaram as formações da universidade mas a universidade

também copiou, eu vejo, por exemplo, na área da comunicação, quando esta escola

começou o que havia era um curso de ciências da comunicação, teóricos, e neste momento

as universidades têm cursos de ciências da comunicação, de jornalismo, de publicidade,

copiaram os cursos que tínhamos aqui, com estúdios, com toda a componente pratica que

antes não tinham, ou seja, também não copiaram o que nós tínhamos? Copiaram, portanto

não venham dizer que os politécnicos copiaram porque em muitos casos foi o contrário.

Acho que não tem havido aqui uma boa estratégia de comunicação para contrariar esta

coisa.

Considera que as missões da universidade e do politécnico deveriam ser mais bem

definidas?

Acho que deveriam ser melhor definidas, estamos a falar de ensino superior, nem me faz

muito sentido esta situação dos subsistemas. Acho que devia haver um sistema de ensino

universitário, podia haver um universitário e um universitário politécnico. O que é a

universidade de medicina, o que é a engenharia? São cursos politécnicos, a medicina é

um curso prático, vão tratar doentes, eles têm que saber fazer. O que é que se diz do

politécnico, que é mais virado para o mercado profissional, a universidade é mais… isto

é uma falsa questão. As universidades também concluíram que têm que estar viradas para

o mercado, estou várias vezes em instituições universitárias e o que é que fazem?

Protocolos com empresas e fazem gala nisso, você vai aos sites e vê, acabámos de fazer

o protocolo com não sei quem, então que querem não é estarem relacionados com as

empresas, não percebo.

Todos procuram visibilidade…

Com certeza, aquela ideia que a universidade tem que estar a produzir ciência, está bem,

tem que produzir ciência, isso hoje são os centros de investigação mas até os centros de

investigação têm que estar virados para o mercado, para aquilo que o mercado precisa nas

diferentes áreas, isso é a minha visão. Por isso não faz sentido este… nós temos um

doutoramento com o ISCTE porque nós não podemos dar doutoramento, tínhamos aqui

as condições do ponto de vista dos docentes e doutorados para cumprir, tanto é que

quando a A3ES acredita o curso diz, tendo em conta o corpo docente das duas instituições,

o protocolo foi para a A3ES que soube que eu e os meus colegas daqui, disseram porque

é que não poderíamos dar nós o doutoramento? Porque a lei não nos permite.

Para além disso, acha que a situação, isto em termos de cortes orçamentais vai de

alguma forma refletir-se no futuro do ensino superior?

Acho que sim, vamos ser práticos, se calhar também havia instituições com muitas

gorduras e havia coisas que se podiam cortar e isso em todos os serviços e acho que o

estado e o governo aí deveriam ver noutras áreas onde é que se poderia ganhar dinheiro,

a questão dos concursos que são feitos, toda a gente sabe o que para aí houve, enfim.

Agora, em termos futuros, a partir de determinada altura, isto começa a afetar… também

tem que se ter bom senso, é óbvio que os gestores das instituições têm que cortar e têm

que perceber onde têm que cortar, aqui na escola estou a tentar cortar tudo o que possa

não afetar a formação dos alunos. Mas, atenção, para não afetar a formação dos alunos

estou a prejudicar os professores, para que os alunos tenham aulas laboratoriais, se tenho

28 postos de trabalho num laboratório, quero 28 alunos não quero 30, cada um tem que

ter o seu posto. Para não afetar alunos, acabo por afetar o docente porque se aumento o

número de alunos, tenho que aumentar o número de turmas mas não posso aumentar os

docentes. Significa que um docente que tinha a 9 horas ia ter ali três horas para poder

fazer investigação, acabo por dizer, vais ficar com 12, então já não tem tempo para fazer.

Acaba por haver este… neste momento ainda não estão a atingir os alunos, ainda não

estou a atingir os alunos, obviamente que tenho turmas maiores, em vez de uma turma

com 40 se calhar tenho uma com 60 porque tive que pôr mais alunos por turma e quem

sai mais sacrificado com isto? O professor claro, tinha uma turma de 40 via 40 testes e

agora passa a ter que fazer 60. Portanto, neste momento, quem está a ser mais prejudicado

é o professor, no caso desta escola são os professores e os profissionais que têm que dar

mais apoio a mais estudantes, eles também são menos, etc. Portanto, acho que neste

momento ainda se está numa situação que está a afetar quem trabalha, ainda não está a

afetar os alunos. Quando chegar à fase em que já não consigo pôr mais professores, tenho

que reduzir aqui e começo a reduzir as disciplinas laboratoriais, começa-se a aumentar os

alunos por turma, aliás, esta situação já atinge os alunos porque se um professor tem 60

já não dá o apoio que dava como se tivesse 30 ou 40, portanto ficam com menos apoio.

Gradualmente no futuro isto vai degradando, criando uma erosão no próprio ensino.

Há bocado referiu que esteve antes do RJIES e depois do RJIES. O que é que o

RJIES lhe retirou?

A autonomia. A questão principal que nos retira é a autonomia financeira. Depois há outra

coisa, felizmente no caso dos politécnicos de (localidade) as coisas têm funcionado bem,

porque tenho uma relação ótima com a direção do politécnico e a direção do politécnico

tem este espírito de abertura no sentido de manter a parte administrativa embora tenha

centralizado uma série de processos, mas se apanharmos uma direção que diga isto agora

passa a ser tudo aqui e vocês não mandam nada…

Custou-lhe a transição?

Não me custou muito por causa disto, a situação em que o politécnico acabou por deixar

delegado em nós, nos presidentes das instituições, a gestão corrente e administrativa e a

parte financeira do género, nós acabamos por tomar as decisões desde que tenhamos

dinheiro. Dou este exemplo, quero comprar uma camisa mas você é que tem o meu

dinheiro, mas eu decido ir comprar esta camisa, e você pergunta, tem dinheiro, tem, tem,

então eu compro, é mais ou menos isto, só que eu não pago, pergunto a ele e ele pergunta-

me se tenho dinheiro, vou ver, ah então compra, é assim que funciona.

Professor, ensino privado, a sua opinião sobre a existência, a convivência com o

público…

Acho que o ensino privado, desde que tenha qualidade, e tivemos casos anteriores de

ensino privado que… acho que a A3ES está a ter um papel fundamental neste momento

para certificar e parto do princípio que se um curso no privado é aprovado pela A3ES

então tem qualidade, tem corpo docente definido, tem tudo, parto desse princípio. De

facto, o mercado também faz a sua seleção natural, quando começam a reduzir os alunos,

os alunos começam a escolher, ora se um curso privado tem qualidade e tem alunos é

porque merece existir. Portanto, na questão do privado, acho que sim, desde que tenha

qualidade, não tenho nada contra e desde que as coisas sejam claras, o ensino privado

vive dele próprio e se quer fazer um curso, se o ensino privado decide fazer formações

com áreas que já existem no público e depois não tem alunos, arrisca. Agora, se vê que

tem uma oportunidade porque há alunos à procura do mercado, é excedente e o público

não absorve, excelente, se por ventura vai mais à frente, deve fazê-lo, aqui há uma lacuna,

vou fazer uma formação específica nesta área, as outras não têm, é de fazer.

A lei de 92 instituiu as propinas no ensino superior. Há autores que acham que a

propina responsabiliza o aluno e outros consideram que pode haver um decréscimo

na igualdade de acesso. Nestes dois extremos, onde se situa?

No outro extremo, o da responsabilização, estou de acordo com as propinas, porque os

estudantes têm que contribuir, o estado é impossível, sabemos que o estado hoje não pode

suportar a massificação do ensino superior, acho que o aluno… e há apoios, sabemos, nós

aqui na ESCE sabemos a quantidade de alunos que têm apoio, dos serviços de ação social,

portanto, quem tem dificuldades tem apoio, inclusive a lei até permite, antes era anual,

mas agora a lei permite que as pessoas, se tiverem um problema financeiro podem recorrer

aos SAS. Acho que deve haver, para o estado é incomportável, pelo menos daquilo que

vejo, o estado não pode suportar esta situação, portanto acho que tem que haver propinas,

não só pela responsabilização do estudante, porque ele assim sente-se responsável porque

a família está a pagar, está a fazer o sacrifício para ele estar a estudar, mas também como

uma forma… acho que é impossível o estado sustentar o ensino superior e as famílias têm

que fazer aqui algum sacrifício. Também sou pai, também pago propinas, neste momento

de uma e qualquer dia de outra.

Portanto, propinas acompanhadas de um SAS.

Acho que sim, não tenho dúvidas.

Qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público? Tem uma parte

de financiador, de regulador…

Acho que o estado tem que ter tudo isso mas tem que saber onde tem que agir. Falou na

questão do regulador, quando apareceu o privado de qualquer maneira, o estado não

regulou nada, aparecia tudo, os cursos funcionavam, viu o que aconteceu com aquelas

universidades que fecharam e isso tudo. Acho que tem que ter mas também tem que ter

conta, peso e medida, agora esta situação dos politécnicos, de repente impor estas coisas,

também não pode ser assim. Portanto, acho que o estado deve ter este papel de ir

controlando porque financia e deve continuar a funcionar porque senão tínhamos propinas

a 3000 ou 4000 euros e nalguns casos até mais, isto no nosso caso, quer dizer, é

incomportável. Portanto, o estado aí tem que apoiar e financiar. Se financia também tem

que controlar mas tem que controlar de uma forma mais parceira, ou seja, é importante a

A3ES, como agente independente para fazer a avaliação dos cursos, com regras e enfim,

posso criticar algumas coisas da A3ES, no que concerne à constituição dos júris, há

criticas que tenho a fazer, ou seja, não deve haver júris de instituições que podem

concorrer uns com os outros e eu já fui objeto de uma coisa dessas, em que havia pessoas

de duas instituições concorrentes, não pode, ou seja, pode ser de instituições com a mesma

formação mas com diferença geográfica, não faz sentido aqui em (localidade) estarem a

ser pessoas de instituições concorrentes em (localidade), podia ser de Braga ou do Porto

e nós daqui para lá. E depois há outra questão que é porque é que os professores do

politécnico não podem avaliar instituições universitárias? Mas as universidades podem

avaliar os politécnicos, isto é um disparate completo.

Têm todos o mesmo grau académico.

Com certeza, isto é um disparate. Sou professor associado, tenho doutoramento, tenho

tudo, qual a diferença? Fiz o mesmo concurso, as mesmas provas, tudo. Essa é uma

questão aparte que tenho de crítica à A3ES. Agora, acho que o estado tem que controlar,

por via da A3ES e depois tem os órgãos próprios, o CSISP, o CRUP, que pode e deve

dialogar no sentido de avaliar o que está bem e o que está mal. Penso que nas

universidades e nos politécnicos são pessoas responsáveis. Aliás, o presidente do CRUP

disse, há algum tempo atrás, que as universidades, ao contrário das câmaras, não estão

endividadas porque souberam fazer uma boa gestão, nunca se endividaram, nós não temos

dívidas, ou seja a comparar com as autarquias que têm dívidas astronómicas, portanto,

conseguimos gerir as nossas instituições sem pedir dinheiro emprestado, isso demonstra

que de fato as instituições de ensino superior têm sido bem geridas.

Novamente em relação às propinas, tem tido muitos casos de alunos que desistem e

sei que os procedimentos dos planos de pagamento é centralizado…

Não, isso é tudo aqui, o que é centralizado depois lá são situações de … informamos como

está, isso é tudo aqui. De facto por incrível que pareça, estamos a acompanhar, faço um

acompanhamento mensal das receitas da escola, portanto no dia 6, deve estar a ser agora,

mais ou menos, recebemos o estado da divida, da receita cobrada, etc, e por incrível que

pareça, temos estado a diminuir o incumprimento, ou seja, comparando com anos

anteriores, faço a comparação com anos anteriores na mesma altura e face a anos

anteriores, a dívida era maior, desde o ano passado e desde há um ano atrás tem diminuído

a dívida, isto é, tinha nesta altura uma dívida de 100000 euros e neste ano se calhar tenho

60, ou seja, tem vindo a diminuir, as pessoas estão mais preocupadas, tem juros, e as

pessoas sabem que têm que pagar, e depois também tem que ver com uma questão que é,

se a pessoa quer desistir em janeiro, sabe que tem que pagar a propina toda, portanto as

pessoas equacionam, vou desistir, mas vou ter de pagar, vou ficar em dívida, portanto

nessa matéria está bem. Depois temos o apoio da ação social, tem aumentado o número

de estudantes que pedem apoio. Em termos de desistências, não tem havido muito. Nós

sabemos porque pedimos ao aluno que desiste que justifique a razão e tivemos um número

reduzido de desistências aqui na escola, penso que eram 27 desistências até 31 de

dezembro de 2013, em quase 1500 alunos, portanto, não é quase nada, de pessoas que

desistiram, manifestaram o seu desejo de desistir, sendo que a maioria dessas pessoas era

de facto por razões financeiras e por trabalho, que deduzo que seja também por questões

financeiras. Ou seja, havia alguns que diziam explicitamente, razões financeiras, o meu

pai foi despedido, não tenho condições para continuar a estudar. Houve outros que

disseram por motivos de ter arranjado trabalho, faça-se a leitura que pode ser por razões

financeiras, as pessoas arranjam trabalho para ajudar a família. Embora possa ter

aumentado o número de pessoas com mais dificuldades. Embora eu reconheça que há

mais dificuldades nas pessoas, só que acho que as famílias, como a educação dos filhos é

um fator fundamental, acho que as famílias podem fazer sacrifícios noutras áreas, mas

tendem a fazer os sacrifícios no sentido em que os filhos façam a formação, acho eu,

daquilo que tenho visto, não tenho nenhum estudo para isto, mas acho que as pessoas

podem privar-se de comprar roupa, na alimentação, nas férias, etc., mas a formação,

percebem que é fundamental que os filhos tenham formação, portanto, só mesmo quando

as pessoas perdem o emprego, quando não podem mesmo, quando começa a faltar em

tudo, então aí é que acabam por desistir. Os alunos também percebem que a formação é

fundamental, porque se é difícil arranjar trabalho com curso, sem curso então ainda é mais

difícil e então acabam por fazer também o sacrifício alguns, que arranjam part-times e há

imensos, vejo aqui a quantidade de trabalhadores estudantes, tem aumentado bastante e

como esses part-times dão o estatuto de trabalhador estudante, tem aumentado.

As propinas de mestrado e doutoramento geralmente são bastante mais elevadas do

que a licenciatura. Há cursos em que o mestrado exige menos recursos, outros

exigem mais. Concorda com esta diferença de valores?

Tanto não concordo que nós aqui mantemos o mesmo preço das propinas da licenciatura,

ou seja o aluno não paga pelo mestrado, paga o mesmo valor por ano letivo, ou seja, o

mestrado são dois anos, claro que no segundo ano está a fazer a sua dissertação ou projeto

mas paga o valor de 1060 euros por ano. Isto porquê, porque comparámos com

instituições concorrentes e o mestrado tem um valor mais ou menos similar, 2000 e tal

euros por mestrado, máximo 3000, o que fazemos aqui vai dar ao mesmo. Nem todos os

alunos acabam em dois anos e foi uma forma também de incentivar o aluno a fazer o

curso em dois anos, para incentivar o sucesso escolar porque se o aluno souber que faz o

curso em dois anos, só paga 2200 euros por mestrado, se não consegue fazer em dois anos

já tem que se matricular três vezes, já vai custar 3300 euros. O que temos aqui é isto,

valor igual à licenciatura, anual, com as mesmas prestações, o segundo ano de mestrado

está a fazer a tese mas paga.

E se tivesse doutoramentos, fazia mais barato?

Teria que avaliar os custos mas acho que era possível fazer-se um doutoramento, depois

também depende do número de alunos porque temos aqui turmas de 30 alunos que nos

permitem ter este tipo de preços, porque são 30, se fossem turmas mais pequenas já não

seria possível. São turmas de 30 e estamos agora a fazer uma situação que é a partilha de

opcionais no mestrado, podem fazer opcionais aqui e ali, até para reduzir custos e estamos

a conseguir fazer isso por enquanto.

O que foi para si o processo de Bolonha?

Aqui, a implementação do processo de Bolonha correu bem, houve uma adaptação,

processo de transição, acho que temos que melhorar as questões da mobilidade, no nosso

caso aqui com o estrangeiro, temos muitos alunos estrangeiros cá, os nossos também vão

bastante mas temos que melhorar aqui alguns processos em termos de equivalências e

isso. Porque, para mim, Bolonha é, o aluno vai fazer o semestre lá fora e tem que trazer

o semestre feito, não pode chegar aqui e dizer que não deram esta cadeira, mas aqui ainda

temos esse problema e temos que resolvê-lo. Bolonha em si, a redução para três anos,

acho que se perdeu qualidade porque os alunos não vivem tanto a instituição, no primeiro

ano, estão a ambientar-se, no segundo estão a viver e no terceiro estão preocupados em ir

embora. Quando eram mais anos viviam mais a escola, envolviam-se mais na escola e,

enfim, acho que em termos de formação, acaba por ser menor, ou seja, tirámos um ano

de formação aos alunos, optámos por três, ninguém nos obrigou, podíamos ter mantido

os quatro, mas se todos mudaram para três, não fazia sentido estarmos em quatro. Acho

que se perde um bocado, enfim, e depois os alunos tentam complementar essa formação

ao nível do mestrado. E é uma coisa interessante que está a acontecer, no caso da nossa

escola, é que, ao contrário daquilo que eu pensava, a larga maioria dos nossos alunos de

mestrado não são nossos, vêm de outras universidades. Vêm fazer o mestrado aqui porque

tem uma componente prática muito grande e os nossos vão para outros lados.

Considera que os professores se adaptaram bem ao formato porque há uma

mudança de paradigma…

Acho que sim, foram-se adaptando ao tipo de ensino, acho que sim. Nós fizemos também

algumas sensibilizações e as pessoas foram-se adaptando em termos científicos,

pedagógicos, houve algumas preocupações nessa matéria, sim, mas não temos queixas

nesse sentido.

Estratégias para captar alunos.

Temos uma estratégia mas não é aquela estratégia que as outras instituições têm. Não

vamos para aquelas feiras de emprego, etc., a nossa principal fonte de informação são os

próprios ex-alunos, são eles que acabam por ser os maiores divulgadores da instituição.

Fazemos aqui outra coisa que é, qualquer escola, qualquer candidato ou grupo de

candidatos que queira ver a escola, nós abrimos a escola, as pessoas vêm cá, já aconteceu

uma situação de vir aí uma pessoa a dizer que gostava de ver a escola, há alguém que o

recebe e que lhe mostra os estúdios, mostra-lhe tudo, está aqui uma, duas horas com essa

pessoa. Escolas que nos vêm cá visitar. Irmos nós às escolas falar, não vale a pena. Depois

temos um bom canal de comunicação que é o nosso site, as pessoas podem ver tudo,

dialogar connosco, nas redes sociais, acho que é por aí, estamos naquela feira, a Futurália,

em que temos um protocolo com a feira em que fazemos, alem do stand com o politécnico,

temos depois uma ação própria dentro da feira, mas acho que o nome da instituição neste

momento, e nós fazemos inquéritos a isso, quando os nossos alunos vêm para a escola,

fazemos todo um conjunto de inquéritos e uma das questões é a razão da escolha e a razão

é muito clara, pelo prestígio da instituição. As pessoas escolhem a instituição pelo seu

prestígio e a seguir vem as condições tecnológicas que tem e o tipo de ensino, portanto,

as pessoas sabem, as pessoas conhecem, temos tradição e não fazemos publicidade, nem

tenho dinheiro para isso, mesmo que quisesse.

Há pouco falámos um bocado disso, agora mais especificamente, em termos

financeiros, quais as suas dificuldades? Falou-me no alargamento dos horários

docentes, ausência de investigação, renegociação de contratos de manutenção, que

outras coisas sente que o atingem ou onde tem que cortar?

Em tudo atinge-me. A possibilidade de não ter mais docentes, novos docentes,

progressões de carreira, mais funcionários, mais tecnologia, na escola tenho um estúdio

de televisão que tem 20 anos… a comparação que faço aqui é como, digo isto a brincar,

é como você tirar a carta num Carocha… não se preocupem, vocês pegando no Carocha,

aprendem a conduzir o Carocha, conduzem qualquer carro, portanto, vocês vêm para este

estúdio, embora tenhamos um outro mais recente, mas também já tem 12 anos, de

cenografia virtual, embora aí tenhamos estado sempre a atualizar. Quem sabe trabalhar

com estas câmaras, sabe trabalhar com todas, é o que lhes digo e eles riem-se. Mas era

isso, essa lacuna da renovação tecnológica da instituição e depois o próprio edifício que

começa a ter problemas, tenho aqui um relatório em que começa a aparecer infiltrações

por todo o lado, não temos dinheiro para reparar.

E contratos de investigação ou outros investimentos?

Não. A escola fez, antes de estar aqui na direção, uma coisa que era apoiar os docentes

que não estavam inscritos em centros de investigação a fazer comunicações, pagava a

comunicação, pagava a viagem, agora os professores vão fazer comunicações à custa do

bolso deles. Eu próprio fui convidado agora, faço parte de uma associação internacional,

o ano passado enviei uma comunicação, foi aceite e então vou. Ou seja, pagar a viagem

até Berlim, mais de 300 e tal euros de inscrição, quando tinha o centro de investigação,

tinha uma verba para essas coisas, pagavam a viagem e a inscrição no congresso, agora

não. É assim hoje, ou há um centro de investigação que patrocina ou vão por custas

próprias ou não vão. Muitos deles fazem as comunicações e depois não vão.

Isso cria alguma dificuldade, de uma forma geral, no seu planeamento, da escola ou

define logo isso tendo em atenção estes cortes?

Não, como não tenho dinheiro para a investigação, essa rubrica vai a zero, a única coisa

que fazemos aqui é, temos uma revista científica e damos um apoio na publicação da

revista e inclusive agora até vamos migrar para uma plataforma online para não pagarmos.

É isso a única coisa que fazemos, se um professor vai fazer uma comunicação e tem aulas,

epá, não dá as aulas é substituído ou dá as aulas noutro dia e autorizamos a deslocação

sem custo, facilitamos sem custos.

De que forma é que procura receitas próprias? Além dos alunos e do OE, onde

consegue?

As nossas receitas próprias vêm de alugueres, ou seja, temos auditório, alugar o auditório

a instituições, que cada vez são menos, instituições públicas e privadas para fazerem

congressos, é por aí, é por aluguer de estúdios de televisão, embora por vezes sejamos

acusados de a empresa estar a fazer concorrência com outras mas temos. Depois fazemos

muita parceria, ou seja, que não reverte em dinheiro mas reverte em valor, isto é, fazemos

uma parceria com uma instituição em que nós fazemos, por exemplo, produção de

conteúdo para não sei o quê, mas em contrapartida a instituição acolhe e emprega não sei

quantos estagiários nossos, fazemos protocolo, divulga esse protocolo. Enfim, tenta-se,

temos um protocolo com uma instituição em que nós fazemos essa questão de produção

de conteúdo, por exemplo e eles em contrapartida põem aqui uma pessoa que gere a nossa

conta nas redes sociais do ponto de vista da comunicação. Há trocas, há permutas, nessa

situação não há dinheiro, calculamos o valor que isso teria e fazemos essa permuta, se é

legal ou não, não sei, mas fazemos.

Há patrocinadores da instituição?

Não, não temos, nunca fomos por aí. Houve uma altura com uma empresa, em que se

passou uma coisa em que a empresa patrocinava um laboratório e não sei o quê, tinha

uma contrapartida, ou seja, ela patrocinava e nós púnhamos cá os softwares e em

contrapartida a empresa utilizava aquele espaço quando tivesse necessidade. Isto foi há

uns anos, estava tudo muito bem, mas depois mandaram-nos a ocupação do espaço e eu

fiquei, então mas quando é que dou aulas aqui? Estão a ocupar-me o espaço todo, então,

vão-se embora, não os quero cá. Quer dizer, eles punham cá o software para os alunos

utilizarem, mas depois quem utilizava a sala eram eles, só podia utilizar para aí a partir

das nove da noite. Aí não fizemos… até porque tenho algum receio em determinadas

coisas dessas do ponto de vista jurídico, as pessoas às vezes fazem para aí umas coisas e

depois vem-me dizer que não está bem feito e às vezes prefiro não…

Não procura?

Não é não procurar, não tem sido política da escola essas… temos em parcerias mas são

deste género, permutas, ou seja, nós fazemos isto à empresa e a empresa faz-nos isto a

nós. Agora, ter uma empresa que é patrocinadora da escola… não sei onde isso está nesse

momento…

Há exemplos, por exemplo, a fundação (nome) dá uma quantia à universidade de

(localidade)…

Ah, isso temos… (o banco), dá uma verba ao politécnico, por ter aquele protocolo e

depois o politécnico distribui essa verba, mas isso é o (ISP) que faz, nós próprios não.

Fazemos coisas, fizemos aqui em tempos uma campanha publicitária aqui neste edifício

e em contrapartida foi calculado o valor e a empresa pagou uma série de obras à escola,

assim este tipo de coisas.

Se tivesse que dar sugestões, imagine que tinha que dar sugestões aos outros

presidentes e diretores no geral, onde sugeria a procura de receitas próprias. Do que

percebi, as receitas próprias são o OE, os alunos, aluguer de espaços, alguma

prestação de serviços?

Sim, fazemos alguma prestação de serviços… neste momento na escola, a prestação de

serviços não reverte tanto em dinheiro, mas em troca de serviços, ou seja, nós prestamos

serviços e eles dão serviço em valor equivalente, fazemos mesmo as adendas aos

protocolos em quanto as coisas são contabilizadas… uma pessoa vai para um festival e

vai fazer um vídeo para uma empresa que nos pede. Quanto é que isso custa de estúdio,

e o resto, contabilizamos o valor, custa x, ok, o que é que vocês nos dão? Se é uma

empresa que pode… temos situações, ainda agora um caso concreto em que a organização

em causa tem uma verba da comunidade europeia então aí sim, recebemos dinheiro por

esse trabalho. Mas tem que ser e os outros têm que fazer o mesmo, porque depois a nossa

liberdade também não é muita. Agora podia dizer, empresas de publicidade venham para

aqui que nós queremos aqui uma agência, porque é que não fazemos uma coisa aqui no

estúdio, temos aí a produção, isso não pode ser também, não vamos virar agora uma

empresa, a produzir spots publicitários ou vídeos para as empresas, a lei também não nos

permite isso, senão depois dizem que estamos a fazer concorrência desleal porque

estamos a usar softwares de educação mais baratos, património do estado, para concorrer.

Não é bem assim.

O RJIES instituiu os CG embora os politécnicos já tivessem um bocadinho da

experiência dos membros externos. Como vê esta influência externa a entrar no

ensino superior?

Não posso dar a minha experiência pessoal porque não faço parte do CG. Enquanto

conselho, acho que faz sentido ter pessoas externas, que têm uma visão por vezes… mas

essas pessoas também têm que ter alguma sensibilidade e informarem-se dos propósitos

do ensino superior mas, estando enquadradas, acho que é uma boa medida. Concordo com

isso.

Embora os externos ainda seja uma situação minoritária no CG…

Sim, tem que ser. Não podem ser maioria, não podemos ter maioria do CG de pessoas de

fora, porque acho que as instituições têm que ser geridas também por quem cá está, acho

que as outras pessoas são importantes porque trazem um background de conhecimentos

e tanto quanto sei no politécnico acho que tem sido uma mais valia, os cooptados, porque

de uma forma desapaixonada e sem interesse próprio podem pôr um conjunto de questões

mas acho que as instituições têm que ser geridas por quem está cá dentro, se formos pôr

alguém de fora a gerir isto, o que estamos cá a fazer, desresponsabiliza quem cá está.

Mas de alguma forma considera que esta influência externa possa ter alguma

ingerência na autonomia do ensino superior?

Em tese, até pode, até pode haver grupos de interesse, sei lá, não faço ideia, não sei o que

pode acontecer. Neste momento não refleti muito no assunto mas a ver-me aqui,

imaginemos que tínhamos um CG aqui na instituição, eu era presidente do politécnico e

ter uma maioria de pessoas de fora, não sei, acho que é importante porque um CG de uma

instituição como é o politécnico ou uma universidade, todas as unidades orgânicas, acho

que faz sentido que não haja uma maioria de membros externos, não pode, tem que haver

a representatividade das outras e nenhuma deve ter maioria, mas também não deve ser

maioritariamente de pessoas de fora. Deve haver pessoas de fora, equilibradamente, mas

não…

Acha que está bem assim.

Está bem assim, no caso do politécnico fez uma coisa excelente, pediu a cada escola que

indicasse o nome de uma pessoa da sua área para o CG…

Uma representação de cada escola.

Sim, foi o senhor presidente ou quem lá está, que pediu, na sua área, indique uma pessoa

e existem oito pessoas que foram indicadas por cada escola, na sua área, no caso da

comunicação pensámos numa pessoa de prestígio e etc. que nós indicámos, não é

representação da escola, e tivemos a preocupação de pôr uma pessoa reconhecida na área

da comunicação.

Autonomia do ensino superior, de uma forma geral, desde a lei de autonomia de 88

que saiu da constituição de 76, como lhe parece que anda a autonomia?

Estamos a perder autonomia. Acho que as instituições, tal e qual como aquela, e volto

aquele exemplo que o professor Rendas falou na altura, que as universidades não têm

dívidas é porque são bem geridas, está bem que não as deixaram fazer dívidas… tal como

nós não podemos… isto devia ser aplicado às câmaras, ninguém devia poder fazer dívida,

pronto, isto é uma lei geral e depois ter autonomia, acho que não pode. Ou então criavam

um limite, ninguém podia passar um limite… até mesmo o RJIES que tira as autonomias

às instituições do politécnico, devia haver mais autonomia, embora consiga dizer que as

sinergias são uma mais valia, ou seja, acho que faz sentido existirem sinergias, agora tinha

que ter o bom senso dentro das instituições para contatar, no caso do politécnico, nós,

presidentes falarmos uns com os outros, preciso disto ou daquilo, vamos fazer um

concurso em conjunto para ter mais… acho que devia haver mais autonomia.

Quer acrescentar alguma coisa?

Não, espero que seja útil.

Muito obrigada pela sua disponibilidade

Entrevista IP5

Poderia falar-me um pouco da sua formação académica?

Sou um exemplo um bocadinho atípico. Estou aqui na (escola) há relativamente pouco

tempo, há cerca de 5, 6 anos, sou músico, a minha área de formação é música na área de

jazz e composição clássica e entretanto vim para cá para abrir aqui a variante de jazz que

ainda não existia, fui eu quem a pôs aqui em prática e fui coordenador dessa variante até

há cerca de dois anos, quando passei para a direção da escola. Um bocadinho atípico no

sentido em que não tenho tido um percurso académico no sentido tradicional do termo,

tenho mestrado mas não doutoramento, vim cá parar pela vertente mais prática da minha

carreira profissional e tenho reforçado a minha ligação à escola através dessas atividades,

era nesse sentido que apesar de ser atualmente o diretor, estou há relativamente pouco

tempo na escola, cinco, seis anos, sou diretor há cerca de dois, nível académico, tenho

uma licenciatura tirada no estrangeiro na área de jazz e música clássica também e depois

tenho mestrado em composição clássica e por acaso neste momento estou a frequentar o

doutoramento, mas pronto, não sou doutorado, não tenho uma carreira académica no

sentido tradicional de publicações científicas e investigação, tenho feito investigação

musical prática, é esse mais ou menos o meu perfil, ou seja, venho mais da área

profissional do que académica. O mestrado foi em (estrangeiro) num conservatório

conhecido na cidade, de composição clássica.

E em termos profissionais, que cargos desempenhou até chegar aqui?

A minha profissão sempre foi de músico prático, no sentido, como se diz, de profissional

liberal, se quiser. Para além disso, em termos de cargos, fui músico e sou músico, hoje a

minha atividade de música está um bocadinho condicionada devido aqui a este cargo,

como é evidente, mas essa foi a principal área da minha formação. Enquanto músico e

instrumentista, tenho os meus projetos, toco em projetos de outras pessoas também, atuo,

faço concertos, tenho encomendas de composições, escrevo música, isso é uma vertente.

Mais no sentido de cargos durante muitos anos fui diretor pedagógico da Escola (nome),

a escola de (nome), para além disso fui docente no conservatório durante oito anos, não

me lembro das datas exatas mas sensivelmente, entre 2001 e 2008/9, onde dava aulas de

orquestra e música de câmara e estúdio de ópera, fui docente, durante pouco tempo,

convidado em tempo parcial no (IES privada nacional) quando abriu a licenciatura em

música lá, fui diretor artístico de um festival de jazz em (localidade) durante cerca de dez

anos, é mais ou menos isso a nível de cargos, lá está, a minha vida sempre foi mais na

parte prática musical do que propriamente nesse sentido, a nível de cargos, a minha

relação com o (nome), que é de há muitos anos, foi onde fiz, não a minha formação

enquanto músico mas cresci praticamente no (nome) a tocar e a atuar portanto para mim

aquilo é uma casa muito importante. Depois posteriormente fui quase 15 anos diretor

pedagógico, com interrupção nos anos em que estive fora, mas essa foi a principal. Fui

maestro titular da (banda) também, durante muitos anos, até deixar há dois anos atrás,

tive que deixar esse cargo também. Assim coisas regulares, devo estar a esquecer-me de

qualquer coisa mas é basicamente isto. Depois foram coisas, atividades pontuais, como é

quase tudo aquilo que acabo por fazer. Portanto, depois fui aqui, como disse há pouco,

coordenador da variante de jazz quando a criei, fiquei professor, obviamente, e

coordenador do curso, até passar aqui para a direção, ainda continuo a dar aulas, sou

professor aqui na escola e pronto, estando na direção, claro que já não estou na

coordenação do curso. Também sou presidente do conselho para a qualidade, por

inerência, portanto, também tenho a meu cargo a gestão do processo de qualidade, sempre

em articulação com o pedagógico e o científico. Também sou presidente do conselho

artístico que gere e planeia a atividade artística da escola, que é imensa.

E como aconteceu chegar aqui?

À escola superior, na realidade, na altura, o processo de contratação nas instituições era

bem diferente do que é agora, na realidade foi por convite. Penso que essa pergunta não

deve ser feita a mim. A questão de abrir aqui o curso de jazz era um assunto já muito

antigo porque, há semelhança de outras instituições, a primeira que houve em Portugal,

de nível superior oficial foi a (escola) (na localidade), já de cerca de 2001/2. Aqui falava-

se já desde essa altura da vertente jazz, evidente que é uma vertente importantíssima em

qualquer escola de música hoje em dia, o problema é que não havia instalações para isso,

a (escola) funcionava na rua (nome), no centro, ali ao pé do (nome), sem condições

nenhumas de espaço, o sítio é maravilhoso, claro, são aqueles prédios de (localidade) com

vistas incríveis mas não tinha condições para uma escola de música e não permitia à

escola expandir, já que com as suas próprias atividades, o edifício estava totalmente

saturado. Portanto, teve que se esperar, o projeto, a construção e a inauguração deste

edifício que aconteceu na viragem de 2008/9, aliás o ano letivo 2008/9 já foi aqui e foi

precisamente nesse ano que se abriu o curso. Nessa altura já tinha havido conversações

anteriores com vista à abertura de um curso de jazz, durante muitos anos, a referência em

(localidade) do ensino de jazz era obviamente o (nome), já não é a única felizmente mas

durante muitos anos era a única e depois de deixar de ser a única era a principal e portanto,

talvez por aí, houve um convite que me foi endereçado para montar esse curso e foi isso,

claro que já tinha muitos colegas aqui de conhecer da profissão, como já tínhamos tocado,

havia alguma proximidade e afinidade também de projeto pedagógico e portanto, vim

para cá por convite para coordenador do curso. Depois envolvi-me muito com a vida da

escola, acho que a escola tem um potencial fantástico mesmo na altura difícil que sabemos

que estas instituições estão a atravessar, uma contenção muito grande, fiquei muito

envolvido com a vida na escola e a dada altura, com a mudança de direção, por ter

chegado ao fim o mandato da direção anterior, também foi avançada a possibilidade de

eu concorrer, porque esse cargo de diretor é por eleição, concorri para esse cargo e fui

eleito.

Considera que as funções que desempenhou até hoje ajudaram ao desempenho das

de hoje?

Ajudaram, claro que isso é uma grande questão. Por exemplo, em países como a França,

todos os cargos diretivos são de carreira e penso que isso tem lados positivos e negativos.

Aqui, no nosso caso, a legislação não impõe isso, não sei se seria bom ou não ir por aí,

até pode ser que seja uma boa solução, o que me excluiria, mas não vinha mal ao mundo

por aí, acho que é bom ter uma visão profissional da gestão, por exemplo, basta dizer que

não tenho formação de gestor, como é evidente, se bem que é preciso perceber que a

(escola), tal como a quase totalidade das escolas do IP não tem autonomia financeira,

portanto a verdadeira gestão financeira é feita nos serviços centrais, há uma delegação

mas com uma área de manobra, eu diria, reduzida, e claro que trabalhamos em grande

proximidade com eles, como é evidente. Portanto, a experiência que tive anteriormente

ajuda-me a ter sensibilidade pelo meio musical porque acho que aquilo que se ganharia

em ter um gestor profissional, perder-se-ia, porque isto é uma área muito específica, com

sensibilidades muito próprias e dificuldades próprias, há questões de visão estratégica,

que não passa só por uma gestão fria financeira e administrativa, é preciso perceber até

onde o mercado pode ir. Nesse sentido, conheço o meio, conheço as características deste

envolvimento com a comunidade musical, acho que isso é absolutamente fundamental.

Como tive o cargo de direção pedagógica durante 15 ou 20 anos, sei o que é ter um curso,

o que é ser responsável por um curso, sei qual a importância de gerir qualidades,

competências, coisas que correm bem no sentido pedagógico mas também coisas que

correm mal em que às vezes é preciso intervir um bocadinho. Portanto, apesar de tudo,

acho que tive uma experiência profissional prévia que me deu alguma bagagem para este

cargo. Também não tenho problema nenhum em admitir que estou farto de aprender neste

cargo até porque a minha experiência não era numa instituição pública e isso faz toda a

diferença, o enquadramento legal é diferente, as exigências, os procedimentos são

altamente condicionados, não estou a dizer que é melhor nem pior, mas é muito diferente

e é óbvio que uma gestão privada, nalguns aspetos, é preciso reconhecê-lo, é muito mais

dinâmica e flexível e adapta-se mais facilmente a situações de dificuldade, o que é um

bocadinho um contra senso, sabemos que estamos numa situação de dificuldade sem

precedentes e mesmo assim temos às vezes dificuldade de dinâmicas e de flexibilidade

para fazer face ao problema. Mas tem sido de facto toda uma aprendizagem porque para

já, é uma escola com uma dimensão razoável, não é enorme mas também não é pequena

e portanto há aqui toda uma parte desta experiência que tem sido uma aprendizagem, sem

dúvida nenhuma. A escola tem à volta de 500 alunos, um pouco mais nos cursos todos.

Mas tem cerca de 100 professores, porque muitos deles estão em tempo parcial por serem

músicos com prática profissional em orquestras e bandas, etc., portanto, temos que

recorrer a uma percentagem elevada de professores em tempo parcial para termos cá os

professores que são os músicos que estão no ativo e isso aumenta um bocadinho a

dimensão no sentido da gestão porque é muita gente para gerir, muita gente para conciliar

horários, abordagens, etc., portanto, são um bocadinho mais de 500 alunos, neste

momento estão a decorrer as inscrições, não tenho um dado exato para este ano letivo e

90 e tal professores para 500 e tal alunos ao todo, nos cursos todos.

Na sua opinião, qual o estado do ensino superior público português neste momento?

Não é fácil responder a isso, o estado ou os estados, enfim, para responder com correção

e rigor a essa pergunta tínhamos que escrever um documento para aí de 100 páginas para

analisar todas as características. Acho que há uma coisa que é certa, o ensino superior,

nos últimos dez, quinze anos teve uma evolução estrondosa, isso é claríssimo, não só o

superior, antes do superior também, talvez até mais. Portanto, há aqui um fenómeno, uma

curva longa ao longo do tempo, de uma melhoria espantosa e no caso concreto aqui da

escola teve um crescimento grande, muito impulsionado pela mudança de instalações,

portanto passámos para o dobro, houve um crescimento verdadeiro e grande e há aqui

muitos aspetos positivos e quando digo aqui digo noutras instituições também, muitos

aspetos muito positivos de exigência de um nível alto, saem jovens cada vez mais bem

formados e com uma qualidade altíssima, portanto, há muita coisa boa para pegar. As

coisas más, na minha ótica, à partida, é logo a situação do país, como é evidente. A

primeira coisa é o financiamento, extremamente complicado porque sabemos que somos

alvo de cortes permanentes e recorrentes anualmente, e há uma forma como a mensagem

passa para a comunicação socila, porque isto tem o seu peso, tem a sua importância e é

sempre uma forma um pouco dissimulada neste sentido, fala-se anualmente de um corte

de 4%, 5% e todos pensamos assim, com os diabos, o país está tão mal que não me parece

que seja dramático haver um corte de 3%, todos partilhamos do esforço, exceto que não

é esse o corte porque a fórmula de financiamento das instituições de ensino superior é

uma fórmula extremamente complexa e que compreendo que seja feita desta maneira, que

tem em conta fatores como o número de alunos, o fator de custo de cada curso, em função

das características do curso há um fator adicional que financia mais ou menos, o sucesso

escolar, o número de ETIs, etc., é uma fórmula bastante complexa mas que atribui o valor.

O problema que se põe é, para além daquilo que é a transferência do OE direto para as

instituições em termos de financiamento, depois há toda uma série de outros aspetos que

não são considerados nesse bolo inicial que têm a ver por exemplo, a nível de

vencimentos, pagamentos de subsídios, pagamentos de muitos aspetos, de manutenção,

mas já nem falo nisso, é um peso grande também, simplesmente ter o edifício aberto, os

custos de funcionamento são elevados evidentemente. Mas, para ter uma ideia, de cada

vez que muda a percentagem do desconto para a CGA, vem do bolo inicial, ora, quando

se fala dos 3% de corte, não se refere que foi aumentada a percentagem para a CGA.

Portanto, na prática, o que temos aqui é uma situação que é uma mensagem que passa

muito pouco para fora, é que desde 2008, o ensino superior público em Portugal

universitário e politécnico tem cerca de 50% do orçamento que tinha. Ora isto não é uma

mensagem que passe para fora, não são 3 nem 4% são 50%, esse é o grande problema.

Para além desse, há um que na minha ótica é mais complicado ainda porque se prende

com restrições violentíssimas e dificílimas de gerir no sentido dos procedimentos

orçamentais. Uma coisa é dizer que não temos dinheiro, compreendemos que não há

dinheiro, outra coisa é, o pouco dinheiro que sobra, temos tantas condicionantes em

utilizá-lo que não permite uma gestão ativa, dinâmica e de investimento, mesmo com

pouco dinheiro. E mais, isto até custa dinheiro, agora é difícil, sem entrar em detalhes,

daria uma conversa longa, mas há certo tipo de despesa que nós estamos simplesmente

impossibilitados pelas sucessivas leis de execução orçamental que faz com que não se

possa ter certo tipo de despesa que a curto prazo nos garante um retorno, ou seja, na minha

ótica isto é claríssimo, perdemos dinheiro com estas restrições todas, acho que as

restrições fazem sentido num certo sítio, num certo âmbito, mas há um momento em que

estamos muito para além daquilo que é a operacionalidade das instituições, portanto,

temos dois problemas, um é a falta de dinheiro, é o recorrente, é a queixa que se houve

mais frequentemente, mas há outro para mim que é mais escondido, dá menos nas vistas,

mas é na minha ótica, tanto ou mais grave que é os condicionalismos de procedimentos e

que nos retiram a possibilidade de fazer imensas atividades pedagógicas, científicas e

artísticas que seriam fundamentais para a dinâmica da escola, que poderíamos sustentar

porque criamos receita para o fazer e por impedimento legal não podemos sequer

desencadear o processo, isso seria um problema grave.

Ou seja, um investimento do qual teriam retorno mas não é permitido fazer.

Sim, sim. A lei é muito complexa, há muitas restrições, a burocracia é imensa e depois há

aqui outras coisas complicadas mas isso insere-se um bocadinho na queixa recorrente

também que é a falta de funcionários, falta de tudo, enfim, aí são as queixas que todos

fazem, se formos ver os rácios e mapas daquilo que é o normal na administração pública

e numa instituição com estas características em que nós deveríamos e teríamos direito a

ter mais do dobro dos funcionários que temos e funcionamos com metade e isso levanta

imensas dificuldades no dia-a-dia, perde-se muito tempo com muito procedimento

administrativo, há uma parte que sei que é importante fazer mas isso insere-se naquela

coisa, ok, não temos dinheiro, faltam-nos funcionários, falta-nos uma série de coisas e

acho que aí temos que aprender um pouco a viver com isto porque estas coisas porque

sabemos onde estamos. A questão dos procedimentos é que acho que deveria ser revista.

Nessa questão da aplicação do financiamento, quais as áreas que mais sofrem?

Bem, aqui a dificuldade é muito simples, numa instituição deste género, até porque

estamos altamente condicionados pela propina… para ir aqui ao assunto, estas instituições

vivem de dois orçamentos, um é a dotação do OE, que é o tal calculado pela fórmula e o

outro que vem da receita privativa. A receita privativa é em larga percentagem, as

propinas, não é só, mas é sobretudo a propina, que levanta questões muito complicadas

porque é um problema social grave, ou seja, era fácil chegar aqui e dizer assim, temos

500 alunos, se eles triplicassem a propina eu já pagava o funcionamento da escola. Não

posso triplicar a propina porque sou impedido legalmente, mas vamos supor que sim, e

depois não tenho alunos, portanto é uma curva muito difícil de gerir num país que é ainda

supostamente prevê uma educação para todos, em que as instituições públicas devem ser

tendencialmente gratuitas e este tendencialmente é uma palavra com significado muito

relativo, mas é esse o nosso ponto de partida até chegarmos a um sistema tipo liberal

americano, não estou a defender nem a dizer que é mau ou bom, mas podemos ir para

esse sistema mas então que se assuma que é esse sistema e a sociedade terá de encontrar

outras formas de poder financiar o ensino superior. Podemos ir estudar para os EUA, que

é o exemplo que conheço melhor, é muito simples, pagamos 20000 dólares de propina

anual e as universidades de facto são estrondosas, a questão é saber se todos pagam isso,

mas isso é outra conversa. Mas há uma questão que vamos ter que colocar um dia que é,

continuamos agarrados, atenção que sou a favor de um ensino superior tendencialmente

gratuito, parece que não, mas defendo totalmente, o que estou a dizer é que estamos

agarrados a uma ideia que é o ensino superior é gratuito mas na prática não é, e mais,

temos as propinas condicionadas, eu não quereria aumentar as propinas porque sei que

isso iria afastar alunos mas portanto, temos uma fatia do OE e uma fatia do que se chama

a receita privativa que é essencialmente as propinas. Claro que há outras instituições que

têm mais capacidade de gerar receita própria do que nós, que estamos numa área muito

frágil nesse sentido porque não temos laboratórios associados, não temos um interesse

comercial para termos estágios com empresas, não existe isso no campo da música,

portanto, os nossos estágios são de ensino em conservatórios, não há aquela ideia de

investigação de ponta numa empresa, isso aqui não existe, neste meio não existe e

portanto isso cria-nos dificuldades de financiamento. Em relação à pergunta, é muito

simples, como temos uma receita privativa condicionada e limitada porque é

essencialmente propinas e não podemos aumentar e não sei se quereria mas não podemos

aumentar os valores da propina, o que significa desde logo que o nosso orçamento é cerca

de 85% para vencimentos. Portanto, aqui o drama é, de cada vez que se anuncia um corte,

tivemos mais um anúncio de corte para o ano que vem, portanto, já estamos a refazer o

orçamento todo com 4,5% a menos para o ano, já depois destes 50% que falei, o primeiro

pânico é como é que pagamos vencimentos, estamos a falar da vida das pessoas e dos

colaboradores da escola e é um assunto muito complicado porque na realidade o que tem

acontecido é as instituições entram pelo ano civil dentro sem saber se vão ter capacidade

de pagar vencimentos até ao fim do ano, esta é a realidade desde que tomei posse e já era

antes e mais uma vez estamos a refazer o orçamento para 2014 e já tenho a noção

completa de que vamos chegar a janeiro, a fevereiro e não sei como vou pagar

vencimentos em agosto, setembro porque além disto, há saldos cativados, há parte de

receitas que estão cativadas, ou seja, estão lá mas não podemos tocar. O orçamento para

2013 foi feito de uma forma em que na altura ainda estava à espera da resposta do tribunal

constitucional em que não haveria 13º e 14º mês, veio a resposta do tribunal e portanto

somos obrigados a pagar 1º e 14º mês com o mesmo orçamento porque não puseram mais

dinheiro por causa disso e isso também não passa muito para a comunicação social e

portanto quando anunciaram que íamos receber esses meses fiquei muito contente, mas

depois fizemos aqui uma reunião de emergência e vi que vou ter que pagar isso mas com

o mesmo dinheiro. São situações muito complexas e que no dia-a-dia não temos

capacidade de planear. Para relacionar com a pergunta anterior, acho que esse é um dos

maiores problemas do ensino superior atual é não termos possibilidade nem capacidade

para planear, por exemplo, uma atividade para 2015. Ora, há muitas atividades que

precisam de dois, três anos para serem planeadas, não temos essa capacidade, fazemos

gestão à vista, mês a mês e isso é muito complicado. Acho que é um dos maiores

problemas. O que sobra, prioritariamente, obviamente, são vencimentos e o resto tem que

ser tudo o resto, é o funcionamento do edifício, é as horas de abertura, é o equipamento,

é a afinação dos instrumentos, fazem-se milagres, diariamente, no sentido de tentar fazer

tudo com nada e vai-se fazendo, umas coisas ficam para o ano, outras coisas vão-se

adiando, vai-se fazendo o que se pode e é basicamente o que tem acontecido. Só para ter

uma ideia, o fecho de contas de 2013 ainda não tenho mas em 2012 posso dizer que a

receita privativa da (escola) é uma receita relativamente baixa comparada com outras

instituições porque não temos capacidade visível de gerar receita, anda cerca dos 18%,

portanto, o orçamento global da escola, a privativa é muito pequena, 20% talvez, há outras

que é 25, 30%, nunca é mais do que isso, raríssimo, não sei se há, se não, mas digamos

que é muito difícil subir esta percentagem. Claro que com as reduções sucessivas da

dotação do orçamento a percentagem sobe sempre um bocadinho também mas pelas

piores razões, não porque a privativa tenho aumentado mas porque a outra diminuiu, mas

estamos a falar de um peso relativamente pequeno, o que é que fazemos aqui? Prestações

de serviços mas vivemos num país que não dá ainda muita importância à cultura, onde a

cultura é considerada um luxo, onde é que é a minha prestação de serviços, é pôr os nossos

grupos a tocar profissionalmente, temos feito e até com algum sucesso, tenho vindo a

reduzir cada vez mais a percentagem que fica para a escola porque preocupa-me em

colocar os alunos em meio profissional e a minha prioridade é que eles recebam os seus

cachets quando vão tocar a situações profissionais e isso tem acontecido. Normalmente

põe-se-me ali uma percentagem em que a escola pode fazer alguma receita, essa

percentagem tem vindo a diminuir senão às tantas é completamente impossível. Para além

disso temos um espaço fantástico, um auditório extraordinário que é alugado de vez em

quando, temos alguns equipamentos que também de vez em quando são postos em

utilização por protocolo ou por esta ou por outra razão, que nos dá pequenas poeiras de

receita aqui e ali mas é um efeito global, tem um peso muito reduzido.

Não tem qualquer patrocinador?

Não.

Esse protocolo que falou…

Temos protocolos vários, com instituições de ensino, temos estágios pedagógicos, temos

protocolos com instituições artísticas, Fundação Gulbenkian, Teatro de S. Luís, mas para

criação de espetáculos. E às vezes até há alguma contrapartida mas são ações pontuais.

Neste momento temos um protocolo muito importante com a Gulbenkian, a Gulbenkian

tem residência aqui na escola enquanto faz obras no auditório, estão aqui todos os dias e

temos feito algumas colaborações interessantes mas sempre no domínio artístico como é

evidente. A nível comercial e empresarial é uma área que não tem massa critica, não tem

visibilidade… e depois quando comparamos com um sistema tipo americano, claro que é

muito frio e muito desumano em muitos aspetos, mas depois tem outra coisa, é que

culturalmente há muito a ideia da retribuição à sociedade, é o país das oportunidades, isso

é verdade, e depois há retribuição das empresas, grandes fortunas, grandes nomes, as

individualidades que fizeram muito dinheiro, chegam ali a uma fase da vida, tipo Bill

Gates em que devolvem à comunidade, nós não temos isso, as nossas grandes empresas

e os nossos poucos ricos não têm esse hábito, é muito raro isso acontecer e portanto não

há uma verdadeira cultura de mecenato no sentido mais puro. Temos uma legislação de

mecenato que não é muito apelativa, também não interessa muito, não há aquela ideia que

é importante apoiar uma instituição, uma atividade cultural tem pouco retorno mediático,

pouca visibilidade, é muito difícil, já fizemos alguns contatos mas não é fácil. A não ser

para coisas muito pontuais, valores muito baixos, é muito complicado.

E quando estabelecem esse tipo de contratos, a instituição ou a entidade quer alguma

coisa em troca? Exige alguma contrapartida?

Cada caso é um caso, há instituições com quem nos interessa imenso ter uma colaboração

artística e que era mais importante aquilo que fica musicalmente e pedagogicamente do

que qualquer tipo de negocio que possa fazer ou tentar impor aí, portanto, cada caso tem

que ser estudado, como são atividades do foro mais comercial, aí há contrapartidas no

sentido de aluguer de espaços ou prestação de serviços no sentido do grupo que vai e toca,

cada caso é analisado em função do interesse que temos. Claro que para nós é importante

poder ter sempre algum retorno financeiro seja do que for mas há momentos e instituições

em que isso não é o principal, não é essa a nossa vocação, não é isso que fazemos, não

somos uma empresa cotada em bolsa que tem que dividir dividendos pelos sócios no fim

do ano, temos é que fazer o que fazemos e tentar fazê-lo o melhor possível, fazer música,

formar alunos e portanto quando tivemos este ano dois dias a orquestra dos Champs

Elysées, que é uma das grandes orquestras mundiais, que vieram para aqui ensaiar porque

iam tocar à Fundação Gulbenkian, o que é que negocio com eles, negociei três master

classes que eles nos ofereceram, estiveram aqui a ensaiar dois dias, é uma colaboração

artística. Até poderia ter dito, tudo bem, vêm cá ensaiar e cobro uma taxa pelo aluguer

mas aí não teria tido a master class, não tenho orçamento para pagar master classes àquele

nível, portanto, cada caso é um caso.

Pergunto isto porque (o banco)…

(o banco) tem um protocolo com o (ISP), já nos deu uma ajuda, ainda eu não estava aqui

no equipamento de um dos auditórios, temos dois auditórios, num dos auditórios o

mobiliário, as cadeiras, foram postas pelo (banco), portanto, é um bom exemplo de uma

empresa que entrou e que contribuiu de facto e aqui neste momento há uma visibilidade

interessante porque o (ISP) são 13 ou 14000 alunos, o (ISP) globalmente já tem um

universo com algum peso, tem algum interesse, portanto, o protocolo com a caixa não

somos especificamente nós, é (ISP) e tem funcionado e é um bom exemplo de uma boa

colaboração e se calhar é pena que não haja mais também, não quer dizer que não venha

a haver, vamos, mas não é fácil porque o nosso universo específico aqui da escola de

música é um universo pequeno. No âmbito do (ISP) já é interessante porque já é um grupo

maior, uma comunidade muito maior.

Em termos de ensino privado, qual a sua opinião sobre a existência do ensino

privado?

Acho muito bem, quer dizer, o ensino privado, as dificuldades que noto, mas acho que a

iniciativa privada é muito importante. O ensino privado levanta-me algumas questões,

temos que ver em que nível estamos a falar porque até ao superior é um caso

completamente diferente, no superior levanto enormes reservas mas não em relação ao

ensino privado em si, que por definição é uma iniciativa privada e desde que as coisas

funcionem bem, há alguns exemplos bons como é evidente. Acho muito importante isso

e é importante que exista, são poucos, somos um país pequeno, neste caso concreto da

música não há universidades ou escolas a oferecer cursos de música, mas há alguns, há

até quem defenda que devia haver mais, não é a minha opinião. O problema para mim…

o privado em Portugal está associado totalmente a universidade e não politécnico e estou

a falar do caso concreto da música. Quando se fala do problema do ensino da música no

privado, para mim, o que está na base não é ser privado ou não, não é ser universitário ou

não, o que tem acontecido é que temos uma legislação muito penalizadora para o

politécnico, muito, por n razões que tem a ver com a nossa tradição, o RJIES que ainda

está em funcionamento, em vigor, faz claramente essa distinção e está para sair novo

RJIES que reforça essa separação, portanto, há claramente a ideia do sistema binário,

ensino universitário e politécnico. Não sou em teoria contra essa subdivisão, exceto que,

quando se fala em sistema binário, fala-se de dois sistemas que supostamente devem ser

independentes e têm a sua própria carreira, têm o seu próprio estatuto, a sua própria forma

de funcionar, exceto que nós acabamos sempre por ser intermediários do sistema

universitário. Basta dizer que no RJIES e no estatuto da carreira docente do politécnico,

obriga a doutoramento, que não podemos dar. Ora, há n doutoramentos, não vou dizer

quais, que era possível, há muitos doutoramentos oferecidos em Portugal em colaboração

com as universidades e politécnicos, em que o doutoramento é 100% assegurado pelo

politécnico. Qual o problema, sabemos que em qualquer universidade da europa, uma das

maiores fontes de financiamento do ensino são os doutoramentos, não é tanto a propina

do doutoramento, embora si, porque a propina do doutoramento é obviamente a mais cara

do sistema de ensino e é a mais barata de pôr a funcionar porque um doutoramento não

tem carga letiva ou tem uma carga letiva muito reduzida e depois é tudo feito através de

documentação, portanto, tem um custo reduzidíssimo e tem a propina mais elevada, mas

não é isso, não há centros de investigação sem doutoramentos e portanto, somos, por um

lado, obrigados pela A3ES a ter a investigação a funcionar, temos que dar cartas na

investigação mas não temos massa crítica, não há nenhum centro de investigação no

mundo que não funcione com base nos seus doutoramentos porque é daí que vem a massa

crítica de investigadores, de alunos, uns que vão para o centro de investigação, outros não

e isto é tirar o tapete de uma forma muito violenta não só em termos científicos, mas

sobretudo em termos financeiros. E por outro lado, obriga o politécnico a depender da

universidade, temos que ir buscar professores doutorados e portanto estamos dependentes

do sistema universitário. Para mim o problema aqui de raiz é quando não se dá a hipótese

ao politécnico de oferecer doutoramentos é com base numa argumentação, é que o

politécnico é mais profissionalizante, é mais prático, é menos académico, até estou

disposto a aceitar, mas então pergunto, quando abrem cursos de música 100% práticos

em universidades que não têm um auditório, uma sala de ensaio e um instrumento,

pergunto mas os argumentos não valem nos dois sentidos? E isso deixa-me surpreendido,

acho errado, não é o caso de todos, mas é o caso de alguns, há instituições que oferecem

cursos porque estão aflitas e precisam de alunos, não vale a pena fingir que o problema

não existe, todos estão aflitos porque estão cursos a fechar e não abrem novos e portanto

há uma espécie de desespero que é ir buscar seja o que for, assim que há um pequeno

interesse numa área, abre essa área quer a universidade tenha vocação ou não, há algumas

instituições que na minha ótica não têm a menor capacidade de oferecer um curso de

música que existem e que estão aí, portanto, quando falo em ensino privado, para mim o

problema não é ser privado, é ser universidade e que gera, não tenho problemas nenhuns

com a universidade, atenção, e até estou perfeitamente disponível para aceitar esta ideia

da divisão da universidade e do politécnico, desde que seja regras justas e equilibradas.

Neste momento discordo da situação atual porque ou bem que fazemos tudo, todos e

acabem com a divisão e deixem-nos dar doutoramentos também ou então é

verdadeiramente diferente e tem que ter um estatuto de carreira diferente e uma forma de

funcionar diferente e não podemos estar subsidiários de um sistema que é o universitário.

Discordo da situação atual, dito isto, sabemos que há países em que o politécnico e o

universitário está claramente diferenciado e que funciona bem, há outros países em que

as coisas são muito mais próximas, a Alemanha é um exemplo, tem uma grande tradição

de ensino profissionalizante, chamam universidades de ciências aplicadas, portanto estou

disponível para aceitar que seja um ou outro desde que sejam regras claras e justas para

os dois subsistemas e portanto, voltando aqui à carga, não nos deixam dar doutoramentos

com a argumentação de que não é a nossa vocação, apesar de já termos percentagens

muito consideráveis de doutorados inclusive aqui na escola mas no politécnico de uma

forma geral, há escolas com 50, 60% de doutorados, portanto já não é diferente das

universidades, mas não podemos “invadir” o espaço da universidade mas a universidade

está permanentemente a invadir o espaço do politécnico e isto não é problema para

ninguém. Acho que não é justo. A questão do privado não é tanto o privado, se funcionar

em condições, corretamente, acho ótimo, acho que faz falta, acho que deve haver um bom

sistema público e um bom sistema privado, dá mais opções ao candidato, ao aluno, há

aquela injustiça que nem todos podem pagar o privado mas isso é um problema social,

poderia num estudo de bolsas, mas isso é outra questão, mas às vezes o privado tem

alternativas geográficas muito interessantes, não podemos ter um curso de música em

todas as cidades do país, não é possível, às vezes temos um curso aqui mas há um privado

ali e se calhar o aluno, se a família puder pagar, fica mais próximo de casa, acho que é

fundamental ter uma boa rede de ensino superior privado, acho que as regras estão todas

muito misturadas e de forma geral desfavoráveis ao politécnico.

Qual o papel que julga ser dever do estado perante o ensino superior público?

Para mim, é claríssimo, o papel do estado é muito simples, no superior ou não, para mim

é igual, como hei-de dizer, acho que talvez a missão mais importante do estado seja

garantir ensino superior e não superior à população, tem que garantir, se é totalmente

gratuito ou se se paga uma taxa, até sou favorável ao pagamento de uma taxa, de uma

propina controlada, acho que é uma marca de subdesenvolvimento enormíssima isso não

acontecer e o problema, mais uma vez, vivemos num país, muitas vezes temos um

complexo provinciano de ah, mas lá fora diz-se, lá fora faz-se, vivi lá fora e há muita

coisa boa para aprender lá fora, foi uma experiência muito enriquecedora para mim mas

às vezes passamos de um extremo para o outro que é vamos importar sistemas só porque

lá fora se faz e depois ignoramos as nossas características próprias e as nossas culturas

locais. Podia dar inúmeros exemplos mas acho que ir buscar os modelos lá fora é ótimo

mas temos que ser críticos em relação a eles. Volto a falar no exemplo dos EUA, as

propinas lá custam 20 ou 30000 dólares e no entanto há muita gente nas universidades e

há muita gente que não chega às universidades, é preciso ter isso bem presente e há uma

tradição, como dizia há pouco, de mecenato, ora corporativo, ora individual, tive imensos

colegas quando estudei lá que estavam a ser financiados e suportados por uma pessoa que

tinha dinheiro e que conheceu numa situação, não havia proximidade de amizade nem

nada, as pessoas recorrem a uma pessoa ou uma empresa que tenha dinheiro e dizem

venho de um país tal… volto a dizer, há uma frieza liberal naquele país que produz

resultados estrondosos, a nível de ensino superior aquilo neste momento dá muitas cartas,

mas apesar de tudo, com muita injustiça social, há muitos mecanismos de apoio a quem

não tem essas posses, não temos nenhum desses mecanismos, não há uma tradição de

mecenato, não há uma tradição de partilha com a comunidade, não há, não somos

comunitários, portanto, é preciso muito cuidado em ir buscar os exemplos da Finlândia,

acho que os devemos ir buscar sempre que funcionem. A minha ótica é o país tem que

parar um segundo, agora neste momento estamos com uma espingarda apontada, não

temos grande hipótese, o país tem que parar e pensar o que pretende de facto,

eventualmente reduzir a dimensão, acho que se fala em reorganizar a rede de ensino, acho

que isso faz todo o sentido, temos que ter muito cuidado a fazer isso, é verdade. Custa-

me a crer que um estado, em 2013, não consiga arranjar maneira de financiar a educação

e quando dizem que não é verdade, que não há dinheiro, pergunto, olhamos para o lado e

vemos dinheiro a ser torrado em muitas outras coisas, essas não me parecem ser

particularmente importantes ou prioritárias, e portanto acho que a conversa é muito

demagógica, é muito fácil dizer, desculpem mas não há dinheiro, isto é um argumento

fortíssimo, é muito confortável dizer que não há dinheiro, ninguém acredita que não haja

dinheiro, não há muito, há algum, a questão é saber o que se pretende para o país, portanto,

a minha ótica é com certeza que sim, até porque se formos ver numa determinada escala

estamos a falar de dinheiro mas numa determinada escala o país tem mesmo que pensar

que percentagem da sua capacidade financeira é que quer, de facto, atribuir ao ensino, é

tudo uma questão de percentagens. Se ganhamos mil, podemos decidir gastar 20 ou 200

e isso não é um problema de falta de dinheiro, é um problema de prioridade e decisão e

essa decisão tarda, não sabemos, na saúde é a mesma coisa. Em vez de criar

permanentemente dificuldades para que muitas instituições morram de morte natural que

é o que está a acontecer atualmente, criam-se tantas dificuldades que muitas morrem pelo

processo, o que dá jeito. É preciso parar, temos um país, temos esta capacidade, a nossa

produção é isto, temos isto e aquilo, o que conseguimos fazer, então isso pelo menos

devíamos conseguir.

Em relação ao valor diferenciado de cada grau de ensino, mestrado, doutoramento,

concorda que tenham valores tão díspares?

Isso é difícil responder… também percebo que o doutoramento seja uma coisa, é um tipo

de formação de alto nível, quer dizer, do ponto de vista estritamente racional, fico assim

um bocadinho, até mais, porque hoje em dia, o doutoramento há uns anos atrás era

reservado para uma percentagem pequena de investigadores de facto e hoje em dia o

doutoramento é uma espécie de obrigação, basta ver esta coisa extraordinária, os

mestrados estão regulamentados de n formas diferentes e tem um decreto específico de

graus e diplomas, o mestrado não vale nada, desconheço o interesse em a pessoa tirar o

mestrado a não ser para ter acesso ao doutoramento, mas que também é possível ir só por

carreira profissional, o mestrado, legalmente, por contratação por diploma não vale, é

completamente inútil e acho isso errado, para termos mestrado, tem que ser útil, tem que

significar algum tipo de valor, a licenciatura é importante, mas o mestrado não serve para

nada, não posto dizer isto em público, tudo bem, dá uma espécie de acesso ao

doutoramento.

Aprofunda o estudo…

Eu gosto de acreditar nisso, estava a falar do ponto de vista administrativo, espero e

fazemos aqui mestrados, que seja uma aprendizagem e que o aluno e o investigador tirem

daí coisas para si próprios, sem dúvida, claro que sim. Mas legalmente não tem nenhuma

salvaguarda, tal como, no nosso caso específico de ensino especializado, a formação

secundária especializada não serve para nada, também sou contra, porque esvazia-se os

cursos, cria enormes dificuldades aos conservatórios, os alunos vêm cá parar quer tenham

o 12º em música ou não, têm é que ter uma habilitação de acesso, ou seja, os

conservatórios de facto estão a formar pessoas ótimas que chegam aos 18 anos e

concorrem sem ter completado e entram. Acho que para poder dar peso e importância a

todas essas instituições que têm feito um trabalho titânico e têm dificuldades

enormíssimas que é o secundário, deviam ser reforçadas dessa maneira. Se calhar, para

concorrer a um curso de música devia ser obrigatório ter o ensino secundário em música,

isso é altamente controverso, mas a mim faz-me confusão que se criem graus e diplomas

e instituições que depois na prática não servem para nada, era nesse sentido que falava

nos mestrados, claro que se fazem coisas ótimas nos mestrados e isso é muito gratificante.

A questão do doutoramento, por um lado, aceito que seja uma propina elevada, porque

estamos a falar, para já é um projeto de vida, depois também há uma espécie de separação

injusta que é haver quem possa pagar e quem não possa e isso é muito perigoso porque

acho que é uma marca de subdesenvolvimento, que é a falta de igualdade e isso é logo a

primeira. Por outro lado, aquela ideia de que quando vemos que um doutoramento tem

um investimento de vida, tem um lado positivo, na medida em que se fosse 50 euros, se

calhar a pessoa vinha ao doutoramento e um mês depois desistia e isso tem esse lado

perverso e é perigoso, tenho consciência que é perigoso porque é uma forma de criar

injustiça social e isso custa-me. Por outro lado, se souber que as instituições de ensino

superior, graças aos doutoramentos e à propina elevada têm feito uma atividade fantástica,

de investimento, em centros de documentação, em publicações e atividades, digo ok, o

sistema está a funcionar, a questão é saber se isso acontece ou se estão a pagar

vencimentos e portanto, acho que é uma pergunta difícil de responder no sentido, em

teoria, no sentido ideal que gostaria que o doutoramento fosse também tendencialmente

gratuito, neste momento é de todo impossível, não há qualquer tipo de hipótese que seja

assim, não me choca que haja uma diferençazita para o mestrado, mas acho que deveria

ser um bocadinho menos, acho que o mestrado devia ser um bocadinho menos, a própria

licenciatura um bocadinho menos, são 1000 euros por ano e que lá está, num certo ponto

de vista, pensamos, não é muito dinheiro, mas dependendo das instituições, numas é mais

faseado que noutras, vamos supor são 150, 200 euros por mês, mas se tivemos três filhos

é muito dinheiro, 1000 euros não é muito dinheiro num sentido mas é muito dinheiro

noutro sentido portanto, para uma coisa que é tendencialmente gratuita, acho que está no

limite dos limites, deveria ser menos, claro que isso nos iria criar imensas dificuldades,

como é óbvio, mas estou a falar do ponto de vista social e portanto, os mestrados

profissionais têm a mesma propina e estão limitados pelo mesmo enquadramento legal,

depois os mestrados não profissionais, as instituições é que definem o seu preço, sendo

que é uma curva muito difícil porque posso pôr um mestrado fantástico a 8000 euros por

ano e não vou ter cá aluno nenhum portanto tenho que encontrar ali um patamar, e por

outro lado, os mestrados não profissionais não são financiados, portanto, só podem existir

se aquilo pagar o funcionamento. Volto a dizer, o doutoramento entra nisto como, se isso

der um balão de oxigénio à função básica da instituição que é promover o conhecimento,

fazer investigação, dar aulas, investir, aí não diria nada, a questão é que se está a substituir

ao OE, que é a missão principal do OE deveria ser essa. É cada vez mais importante a

internacionalização, o orçamento para internacionalização é zero, portanto, o que há é nos

Erasmus, estou a dizer mal mas é um valor curto. Agora, fazer uma conferência

internacional, mandar três professores a um meeting fundamental, não posso fazer nada

disso e estamos a falar de pouco dinheiro. Perante um orçamento global de ensino superior

que não sei qual o valor atualmente, para aí 200 milhões, quer dizer, ninguém acredita

que no financiamento deste valor, não se possa reservar para todas as instituições para

ações deste género, uma verba de 500000 euros, ninguém acredita que isso não fosse

possível, nem sequer é muito dinheiro e acho que hoje em dia é crucial pensar em termos

internacionais, não temos essa capacidade. Não tenho capacidade de mandar dez

professores ao estrangeiro e as viagens hoje em dia custam 200 ou 300 euros e portanto,

isso acho muito complicado. Se a receita privativa fosse utilizada para dar dinâmica às

escolas, as escolas tinham muito mais qualidade e eram muito mais dinâmicas, muito

mais competitivas e atrativas para as pessoas virem de fora para cá estudar e neste

momento não vêm porque somos um país do canto da europa, periférico, com o chavão

de país periférico mas as pessoas não põem Portugal como primeira opção e isso para

mim é uma marca de subdesenvolvimento. O investimento na internacionalização para

mim era um investimento muito pequeno mas que tinha um retorno enorme. Podíamos

trazer cá convidados e mandar pessoas para fora, estou a falar de muito pouco dinheiro,

por exemplo, para uma escola com a nossa dimensão, se tivesse um orçamento de 10000

euros atuais para internacionalização, faziam-se aqui coisas incríveis, ora 10000 euros

não é dinheiro se for uma coisa estrategicamente importante mas no entanto não os tenho.

O facto de não ter é uma condicionante do orçamento ou é uma coisa que é imposta?

As duas coisas existem. Para já, há um problema óbvio de falta de dinheiro, atenção, não

estou a menorizar esse problema, de facto é difícil, às vezes sobra ali um dinheirito e para

nós era fundamental, tive esse problema há uns meses atrás em Julho, mandar as pessoas

um fim de semana a Bruxelas, tinha lá o dinheiro e não foi autorizado, não pude fazer

aquele tipo de despesa. Por outro lado é curioso porque recebo permanentemente convites

para eu ou outras pessoas da casa participarem em meetings, conferências, atividades pela

europa fora, estou sempre a dizer que não, mas somos sempre convidados com seis meses

de antecedência e nesse momento posso fazer um plano assim, posso gastar valores na

ordem dos 500, 700 euros e vou ver o orçamento, posso bloquear esta verba para aquilo.

Não tenho autonomia para autorizar, tem que ir para autorização. Vou nesse dia ver

bilhetes de avião, peço aqui aos meus serviços para fazer um levantamento e arranjam-

me quatro orçamentos diferentes dos 80, 120 euros, 140, bem, o processo tem que seguir

os trâmites administrativos, vai para autorização, muitas vezes é uma autorização que

nem sequer depende do (ISP), é superior e depois há uma coisa chamada (não pôr)

Agência Nacional de Compras, não podemos comprar nada que não seja pela agência

nacional de compras que supostamente é um regulador de mercado e que garante que

compramos mais barato. É raro comprar seja o que for nesta agência e ser mais barato.

Portanto, quando finalmente vem a autorização, quatro meses depois, para ir passar 3 dias

a Bruxelas num hotel de 3 estrelas, não me estou a queixar, acho ótimo, as pessoas pagam

do bolso para ir, é preciso ver isso, muitas vezes a escola paga só a viagem de avião e o

resto é tudo pago pelo professor que acho que também não devia ser assim. Portanto,

aquela ideia de que vão em viagem e é tudo pago pela escola, hoje em dia isso não sei se

existe, aqui não existe de certeza e as pessoas têm muita generosidade, pagam do próprio

bolso, não querem é pagar tudo. Eu estive em Axe n Provence em representação oficial

da escola em Julho e fui eu que paguei tudo, porque assim foi, não interessa. Porque

entendi que era importante ir e que se não fosse dessa maneira não teria ido, mas também

entendo, não devo nem posso, mas pronto, só para dar o exemplo. Quando finalmente

vem a autorização, vamos iniciar o processo, vamos ver os bilhetes de avião, 600 euros,

isto acontece anualmente, sempre, eram 100, eram 200, agora podemos multiplicar isto

pela administração pública toda para saber quanto dinheiro estamos a gastar a mais. Por

exemplo, livros académicos são caros e só posso comprar a empresas nacionais e que são

corretíssimas e que têm margens mínimas. Eu quero comprar um livro, peço um

orçamento, leva tempo, depois vem a autorização e compro o livro por 180 euros, mas no

entanto, na Amazon, está o mesmo livro em estado novo, em 2ª mão, por 30 e eu não

posso comprar. Eu diria para um país que está em emergência, isto é um problema que

deveria ser resolvido. Agora é multiplicar isto pelos hospitais, por toda a administração

pública, são milhões de euros gastos desnecessariamente (desabafo, não pôr até aqui).

São os procedimentos, não é só a falta de dinheiro porque na realidade acabo por gastar

mais, perdendo três meses de trabalho, de serviço, meus, porque estes processos levam

imenso tempo a instaurar, estou sempre a perder tempo com questões administrativas para

chegar ao fim e pagar mais o dobro ou o triplo daquilo que podia ter feito se tivesse tido

a autorização na altura. É complicado.

Como interpreta a extensão de ajuda do estado aos estudantes do ensino superior

privado?

Não tenho objeções a isso desde que sejam regras claras, ou seja, podemos pôr assim, o

estado já gasta muito dinheiro com o ensino público para quê estar a financiar o privado,

é a primeira questão que se põe e acho que é pertinente, é um bocado como a história dos

hospitais, uma fila de espera de três anos para ser operado, uma operação grave, prefiro

que o estado dê dinheiro a essa pessoa para ir ao privado, acho que faz sentido, no ensino

é um pouco diferente, é uma questão importante mas não há o mesmo tipo de urgência,

não é uma questão de vida ou morte e se isso acontece, é por uma razão, isso revela que

de facto a rede de ensino superior pública não está pensada nem planeada porque se

estivesse bem planeada e estruturada geograficamente, então o estado não tem nada que

estar a financiar o privado nem mandar o aluno para o privado, tem que lhe dar uma oferta

compatível. Agora, há casos e casos, o problema é, o aluno mora em Lisboa, há vários

cenários que podemos tentar imaginar, e concorre, entrou no Porto, não entrou em Lisboa,

mas em Lisboa há um privado, dá muito mais jeito ficar ao pé de casa, vai para o privado

pago pelo público, isto já entra no limite do discutível porque se há mecanismos de

entrada, ou seja, aquela ideia que todos têm uma chance mas não é possível atender a

todos, estamos a desvirtuar um bocadinho essa coisa, se entrou no Porto, se calhar devia

ir para o Porto, claro estou a dizer isto mas se for pai desse candidato, isso levanta-me

dificuldades. O que acho é, não conheço bem os mecanismos, portanto se calhar não sou

indicado para responder a essa questão. Acho que em princípio não sou contra, as regras

têm que ser muito claras. Aquilo que acho é que se o estado acha que aquela pessoa

merece, pelas notas, pelo trabalho, é uma pessoa para investir e que não lhe consegue

oferecer nada que lhe faça sentido, então deve mandar para o privado.

Relativamente aos estudantes, existem estratégias de captação de alunos?

O meio é muito pequeno. Não, objetivamente não. A nossa estratégia de comunicação é

muito limitada, aquilo é feito através do site mas há uma coisa que é verdade, o nosso

meio é muito pequeno, os meus potenciais alunos conhecem todos a (escola) tal como

conhecem a (escola) (da localidade), nossa congénere e é uma escola ótima, somos muito

parecidos em muitas coisas, é a mesma estrutura, a (escola) é igual a nós, exceto que é no

(ISP localidade) e nós somos (ISP) e diria que são essas duas grandes referências de

ensino de música em Portugal, para além disso, corro sempre o risco de ser injusto e de

me esquecer, mas obviamente temos a Universidade (nome) que tem licenciatura e

metrado em música, a Universidade (nome) tem uma grande atividade, o politécnico de

(localidade), portanto, estamos a falar de uma dúzia de cursos de música pelo país, isto é

um meio pequeno, as pessoas escolhem ou porque querem estudar com A ou B, na música

isso existe muito porque o ensino é individual, o ensino de instrumentos é individual mas

é claro que temos turmas, teoria dos instrumentos, musical, análise, mas para prática é

um aluno para um professor, o que faz com que o ensino seja caro. É caro e por isso é que

as escolas de arte são caras, mas não é possível fazer de outra maneira, é assim no mundo

inteiro, não posso ter uma turma de violinistas, não existe, é uma relação pessoal e é uma

coisa quase medieval no sentido do mestre e do aluno, há muita relação pessoal, até do

ponto de vista psicológico e as pessoas muitas vezes vão para aquelas escolas porque

querem estar com aqueles professores. Há outras considerações, geográficas, a pessoa

que vem do Minho, curiosamente temos uma larga percentagem, não sei os números

certos, os do Norte, curiosamente, e o Norte está bem servido de escolas de música,

nomeadamente no secundário são fortíssimos, têm escolas até ao 12º ótimas e depois as

que já falei, mas temos aqui muitos alunos do norte, portanto há aqui uma consideração

geográfica que faz com que os alunos queiram vira para aqui ou para outro lado, muitas

vezes é por quererem aquele professor em particular. Não temos capacidade para fazer

marketing, gostaria de fazer, mas não temos a menor hipótese atualmente, é feito através

do site, é feito boca a boca, os nossos alunos não decidiram vir para a música no 12º

porque na música isso não é possível, são alunos que estudam música desde os dez anos,

isto para dizer que a partir do momento em que o aluno já estuda há oito anos no básico,

secundário, já conhece toda a gente, já sabe quais são as escolas, muitas vezes já conhece

os professores, portanto toda a gente conhece as escolas que existem em Portugal, isso

por um lado, por ser um meio pequeno, um meio profissional pequeno e limitado e por

não termos nenhuma capacidade de comunicação profissional nem marketing, não temos

tido grande estratégia de marketing. Gostaria de ter algum, não como quem faz

campanhas mas gostaria de ter uma presença mediática um bocadinho mais forte. A

minha ideia era, por exemplo temos enormes dificuldades em comunicar as nossas

atividades musicais, o ano passado fizemos à volta de 250 concertos e atividades musicais

por uma escola que não te estrutura de produção e estou a falar de concertos aqui, de

concertos em vários teatros do país, o nosso coro da escola, 100 pessoas foram passar

uma semana à Turquia fazer concertos com a orquestra nacional da Turquia, a nossa

orquestra sinfónica foi ao festival internacional a Badajoz, temos muita atividade que

adorava que saísse um bocadinho na comunicação social. Temos grande dificuldade em

comunicar as nossas atividades para além dos óbvios que é o site, o facebook, este e

aquele, mas isso é circuito fechado, temos um problema cultural mais uma vez, não é

assim em todos os países, já tive essa experiência direta em vários países da europa e

sobretudo nos EUA que é tudo aquilo em Portugal que leva um carimbo de formação da

escola ou da universidade, os jornais pura e simplesmente não pegam, não lhes interessa,

posso ter aqui uma orquestra de altíssimo nível, uma coisa estrondosa, fantástica e não

somos os únicos, chega à redação do jornal, agora se for uma coisa mediática que vai

tocar no CCB, aí tem direito a três páginas. Mas isso é um problema cultural que temos,

não prezamos o que se faz na nossa formação porque desvalorizamos a formação e se

calhar, porque temos essa cultura, as próprias tutelas desvalorizam a própria educação,

talvez seja um reflexo disso também.

Qual a sua visão sobre a autonomia do ensino superior, sei que não tem autonomia

financeira..

Não existe, para mim, não existe. Existe autonomia em doses muito reduzidas. Não sei se

o que vou dizer tem valor, vou especular, somos o único país da europa, do mundo, por

exemplo, faço uma alteração num plano de estudos que está aprovado e esse plano de

estudos tem que ser publicado em DR, isto é autonomia?

Se não o deixassem fazer?

Mas isto é representativo de uma cultura que temos, é uma burocracia e é caro publicar

no DR, isto para dizer, eu estudei, tive a sorte e o privilégio de estudar em duas boas

universidades americanas e era impensável que qualquer delas tivesse que se sujeitar a

publicar num órgão oficial, centralizado, que depende neste caso do estado, era um

levantamento popular, eles nunca aceitariam isso porque isso é uma violação da

autonomia. Não estou a dizer que a AR nos impede de fazer alterações ao plano de

estudos, mas temos a agência, que não sou desfavorável à agência, tem processos

altamente burocratizados e pesadíssimos para dar resposta, porque é preciso dizer que

estamos a funcionar no limite das nossas capacidades e o que acontece é que cada nova

legislação obriga ao dobro, ao triplo do trabalho administrativo e burocrático, às tantas

não temos capacidade. A questão da qualidade é interessante, não é uma invenção nossa,

a questão da qualidade foi Portugal a tentar recuperar de uma espécie de atraso

civilizacional em relação ao norte da europa, os gabinetes de qualidade. Não sou

desfavorável à ideia mas tenho enormes reservas em relação ao verdadeiro impacto da

criação dos gabinetes de qualidade nestas instituições porque quando vamos buscar a

legislação relativa à qualidade, é mais uma vez um exemplo daquilo que dizia há pouco,

é a importação de modelos nórdicos, foram à IBM, à NOKIA, às grandes empresas, dos

gabinetes de qualidade, são gabinetes híper profissionalizados, dez, quinze, trinta

funcionários em tempo integral a trabalhar naquilo, produzem relatórios de 600 páginas

maravilhosos e nós temos que fazer uma coisa parecida com os mesmo de sempre e sem

qualquer tipo de apetência profissional para esse tipo de análise, para além de que é um

sistema que hoje em dia muita gente em Inglaterra discute senão é um modelo que está

ultrapassadíssimo em comparação com o sistema americano. Acho que deve haver uma

agência de acreditação e um sistema de qualidade, acho que deviam ser profundamente

aligeirados face àquilo que nos pedem. Se quiser abrir um curso novo aqui na escola,

aprovado pelo nosso científico e com corpo docente definido, publicado, não quero

aldrabices, tenho que fazer um pedido de acreditação prévio à agência, o que acho que

faz sentido, o processo de pedido de acreditação prévia é extremamente pesado e tem que

ser antecedido um pedido prévio de acreditação prévia, diria que estamos aqui a chegar

ao limite do ridículo, portanto, tem que ser aprovado em científico, tem que ter a

aprovação do presidente do instituto neste caso, e ir para a agência um pedido prévio a

dizer que vai dar entrada um pedido de aprovação prévia. Diria que temos que simplificar

um bocadinho porque senão isto é a loucura absoluta. Que autonomia é que existe desta

maneira? Autonomia financeira, zero, porque os saldos são cativados, não podemos

gastar, não podemos fazer planos de investimento, não podemos fazer nada, a partir do

momento em que não há autonomia financeira, toda a outra autonomia, pode ser

filosoficamente muito bonita mas cai logo de raiz. Pergunto, no caso da música que tem

uma tradição académica muito recente, ou seja, muito frágil, o estatuto da carreira obriga-

me, tenho aqui vários professores que por não serem especialistas titulares, devido ao

RJIES e ao estatuto de carreira, estou tão limitado na contratação porque têm que ser

doutorados ou especialistas titulados naquilo que muitas vezes não posso contratar quem

nós entendemos que seria a pessoa com o perfil indicado para aquele curso e portanto há

uma autonomia científica na minha ótica muito limitada também, vou dar um exemplo.

O título de especialista é supostamente para substituir a obrigatoriedade do doutoramento

para pessoas que não têm carreira académica, acho boa a ideia, problema, tem que ter

uma formação superior. Por exemplo, o Mário Laginha era nosso professor, não pode tirar

o título de especialista porque não tem formação superior, a cantora Maria João dá aqui

aulas, é excecional, meia europa quer vir cá para estudar com ela, não pode tirar o título

de especialista porque não tem curso superior e mais, a partir de 2015, acaba o regime de

transição e ela nem sequer pode estar cá a tempo inteiro. Isto é autonomia científica? Não

me parece que seja. Portanto, a autonomia para mim hoje em dia, dito de forma abruta, é

muito simples, não existe, não tenho autonomia financeira, nem científica nem

pedagógica, não existe, temos uma margenzinha de autonomia, para mim não existe. Para

mim é manifestamente excessivo, ser logo quando se publica o RJIES atualmente em

vigor e de certeza que será igual o próximo, o primeiro paragrafo introdutório da lei é a

autonomia das instituições, é uma falácia, para mim é completamente não existe.

Considera que a entrada de financiamento externo possa pôr em causa a autonomia

das instituições?

Pode, no nosso caso acho que não seria o caso. Acho que pode, a partir do momento em

que estamos na mão de um patrocinador, há patrocinadores e patrocinadores, na nossa

área não vejo que possa haver interesses comerciais no sentido de condicionar que se

ensina mais este tipo de músicas do que outro. No nosso caso veria com bons olhos uma

empresa aqui a dar um suporte anual ou qualquer coisa, mas imagino que isso possa ser

delicado e também imagino que, dá muito jeito, sou favorável a isso, acho ótimo que as

empresas e as instituições se envolvam com o ensino e há casos bons, bons exemplos

disso, a Delta tem dado um apoio extraordinário aqui inclusive ao (ISP), tem havido casos

bons, acho isso muito interessante. Mas também dá jeito que é a desresponsabilização do

estado. Há aqui outro argumento que está em cima da mesa e que considero incorreto e

perigosíssimo na realidade, é esta ideia de que, perante a dificuldade do país, que as

universidades e os politécnicos são agências de emprego. O primeiro critério para fechar

um curso é a empregabilidade, sou completamente contra, a função de uma instituição

destas não é gerar emprego, é produzir conhecimento, porque temos ministros que tiraram

cursos de áreas completamente diferentes, temos que formar pessoas bem formadas e

depois se amanhã vão ter um emprego noutra área, não vejo problema nisso. Agora, um

curso que tem zero alunos, não produz nada, então se calhar esse curso tem que fechar.

Mas há cursos e cursos, por exemplo, se chegarmos a um estado em que num país inteiro

só há dez alunos de filosofia, pelo menos um curso de filosofia tem que haver, não pode

não haver filosofia, mas já quiseram acabar com a filosofia nos liceus. É um argumento

extremamente perigoso esta ideia de que se não gerarmos emprego, a coisa fecha, nunca

foi essa a função da universidade, a universidade tem única e exclusivamente a

responsabilidade de produzir e partilhar conhecimento e que o faça da melhor maneira

possível porque se isso acontecer bem vai transparecer para as outras áreas de atividade

do nosso meio. Quer dizer, acho piada, uma economia que está em frangalhos, temos n

assessores de tudo e mais alguma coisa para captar financiamento e gerar emprego, não

o conseguem fazer, mas agora a culpa do desemprego é do ensino superior, é para mim

inaceitável. E mais, há muitas áreas de conhecimento que são essencialmente inúteis e

digo isto como um elogio e basta ver o nosso ministro, que é matemático, a matemática

pura, grande parte dos avanços feitos nesta matéria são totalmente inúteis até 50, 100 anos

mais tarde, esta é que é a magia do conhecimento, o conhecimento nasce de um impulso

por si, não é por gerar emprego nem por ser útil, a arte é completamente inútil, se um

professor tivesse perguntado ao Bach ou ao Mozart qual a utilidade daquela sonata, ele

nunca teria composto a sonata e isso são ideias que se estão a criar à volta do ensino

completamente falsas e perigosíssimas. Agora cursos abertos com 70 professores, sem

alunos não geram nada, aí temos um problema e temos alguns cursos assim, aí temos que

racionalizar a oferta. Agora o estado tem que dizer que pelo menos um curso de filosofia

tem que haver, mesmo com 5 alunos, recuso a ideia de não termos um curso de filosofia

e a filosofia é essencialmente inútil neste sentido, temos que ter cuidado a mexer nisso.

A empregabilidade é um tiro ao lado absoluto, agora claro que há certos cursos práticos

e profissionalizantes que devem ter em atenção o mercado, ou seja, interessa produzir

40000 arquitetos por ano, se calhar temos uma dificuldade porque não há mercado para

isso. Mas ao mesmo tempo pergunto, se eles querem tirar aquele curso, se as escolas estão

a formar bons arquitetos, eles, ou noutro país ou no nosso, mesmo que acabem por ir para

outras áreas têm umam formação ótima nalguma área, acho importante terem ensino

superior. Dito isto, dentro de abusos, se calhar temos que reduzir um bocado a oferta, lá

está, não compete ao estado formar 40000 arquitetos se não há hipótese de os pôr a

trabalhar, agora se há essa procura, nos privados, porque não haver essa possibilidade.

Pode ser um fator a ter em consideração mas não considero que seja o principal, a função

de uma faculdade de medicina é fazer um bom médico, não é que ele vá para uma clinica

tratar com sucesso, isso é uma consequência da coisa, a função do ensino superior não é

gerar emprego e estão a pôr nas escolas a responsabilidade do seu próprio financiamento

e por isso é que é perigoso essa coisa do apoio e dos mecenatos, que é uma forma do

estado se desresponsabilizar e então voltamos ao início da conversa, o estado que assuma

que não quer financiar o ensino superior, vão à constituição e tirem de lá isso, preferia

isso, porque isso era ser claro. Estamos num paradigma de estado social, com o qual

concordo, em que supostamente temos que dar educação a toda a gente, mas depois na

prática obrigam-nos a ir buscar empresas e pôr a robiallac a fazer não sei o quê, temos

que gerar emprego, quer dizer, nós é que somos o principal agente social, é mentira, a

única coisa que tentamos fazer aqui é ensinar o melhor que podemos, música, mais nada,

o resto tem que ser o país, com a sua dinâmica própria a funcionar e é só nesse sentido

que acho que a conversa do autofinanciamento por um lado é bom mas por outro lado é

mau porque desresponsabiliza, o gerar emprego por um lado é bom mas por outro é mau

porque quem queria emprego é uma economia saudável. A economia está em frangalhos,

agora o problema do emprego é das universidades? Para mim não faz sentido, estamos a

desviar o alvo da conversa, depois isto mais uma vez vai para a comunicação social e

cada um tem a sua opinião porque isto é apresentado ao público de forma dispersa e o que

está aqui em causa é o estado responsabilizar-se e assumir qual a sua verdadeira política

em relação ao ensino, querem ter, não querem ter, se querem ter têm que dar alguma coisa.

Isto não é uma conversa que surja desta maneira e isso para mim é fundamental, assumam

que não querem pagar a educação e depois nós votamos neles ou não. Isso é um

mecanismo normal em democracia, há países onde o estado não tem este envolvimento

na educação, não estou a dizer que concordo, mas assumam. Por um lado, pagamos tudo

mas depois vamos ver na prática e isto é que é o nosso ensino gratuito? Mentira, portanto

há aqui muitas ideias misturadas que considero um bocadinho perigosas porque criam

ideias feitas sobre a responsabilidade das instituições de ensino superior que é

autofinanciarem-se, gerar emprego e não é bem isso, para mim, e há n exemplos na

história que demonstram isso. Quando o D. Dinis abriu a universidade em Portugal não

foi para gerar emprego, foi para trazer as maiores mentes da europa na altura e criou uma

coisa extraordinária.

Muito obrigada pela sua colaboração.

Entrevista IP6

Começávamos por falar sobre si, um pouco da sua formação académica.

Sou licenciado em engenharia mecânica, no ramo termodinâmica aplicada, no (IES

pública nacional), fiz o mestrado na área do perfil de energia, pelo (IES pública nacional),

e depois o doutoramento, na área da energia mecânica, também no (IES pública nacional),

portanto a minha formação é engenharia mecânica. A licenciatura e o mestrado foram

feitos praticamente de seguida, terminei a licenciatura e fui logo para mestrado. Depois

ingressei aqui na escola, passei por uma empresa mas por pouco tempo e depois passados

sete ou oito anos, avancei para o doutoramento e foi esse o percurso.

Dá aulas ou deu?

Sim, claro. Entrei na escola em 94, portanto, lecionei e leciono desde essa data. Tive aqui

um período em que a escola apoiou a execução dos doutoramentos, tive um período de

dispensa de três anos de serviço docente para trabalhos de doutoramento. Claro que não

o conclui nos três anos porque é complicado, mas foi fundamental para ter conseguido os

objetivos. Portanto, todo o tempo lecionei sempre, várias unidades curriculares que me

foram atribuídas e que são da minha área de especialidade. Presentemente, quando vim

para a direção, vim primeiro como subdiretor em 2010, mantive a lecionação, depois, o

ano passado, quando fui eleito diretor não lecionei porque o diretor está dispensado de

lecionar, no entanto, este ano estou a lecionar, não muitas horas mas estou a lecionar

algumas, como costumo dizer, não podem ser só os meus colegas a divertirem-se, também

tenho que me divertir alguma coisa porque de facto, é importante mantermos o contacto

com os estudantes, com a realidade da escola e com os problemas e tem que se estar,

digamos, no terreno, para perceber isso, acho que é importante.

Então, o seu percurso profissional foi sempre ligado à docência e à empresa que

mencionou…

Sim, mas a empresa foi muito pouco tempo, foi um período transitório em que terminei o

mestrado, concorri a vários sítios, foi meses, mas também foi uma empresa na área da

energia, portanto, foram meses e depois vim para aqui, tive que optar, a empresa também

não oferecia um vínculo estável e foi pura e simplesmente uma opção que apareceu

naquela altura.

Considera que o seu percurso académico e profissional facilitou o desempenho das

funções de agora? Em termos da direção, claro.

Acho que sim porque senão tivesse tido este percurso, provavelmente não teria chegado

ao cargo de diretor porque há um conjunto de trabalho que é feito e que pode não ser na

área específica, digamos, da gestão, porque não o é, nunca procurei muito a formação

nessa área, embora por vezes sinta que necessito, sempre procurei as áreas técnicas mas

houve um conjunto de cargos que fui assumindo, responsabilidade de laboratórios,

inicialmente, depois direção de curso, depois vice presidência de um departamento…

Imensa variedade…

Sim, mas tudo cargos internos. Pertenci ao pedagógico, à assembleia de representantes,

tive dois mandatos como vice presidente do departamento de engenharia mecânica,

depois fui convidado para sub diretor. Portanto, esse percurso é algo que internamente

leva a que, na sucessão de cargos que fui ocupando e exercendo, levaram a que nesta fase

tivesse merecido a confiança dos meus colegas e me tivessem eleito para diretor porque

é um cargo eleito.

A experiência como diretor tem sido positiva?

Tem, é um cargo muito exigente, é um cargo de muita responsabilidade e de trabalho,

portanto, é preciso gerir, mais do que o dinheiro, gerir as situações e as pessoas e os

recursos e estou a dizer o dinheiro que é só um dos recursos e como está tão escasso, é

fácil de gerir, fácil dentro do difícil, não é, porque de facto temos uma margem de

manobra atualmente muito reduzida e portanto temos de acudir a situações só de urgência

praticamente. Estamos reduzidos a um orçamento que não nos permite fazer previsões a

muito longo prazo nem de investimentos estratégicos que sejam relevantes, portanto,

basicamente é manter a atividade dignamente, mas um pouco nessa área só. Pronto,

depois há a gestão de todos os outros problemas que vão surgindo, desde os colegas, desde

as outras unidades orgânicas, problemas ou situações, não têm que ser problemas e

portanto é a esse nível que se exerce. É gratificante, fica-se a conhecer a escola por um

prisma diferente, começa-se a perceber e a compreender melhor as pessoas e as atitudes

que tomam nas várias vertentes da vida e dos cargos que desempenham, portanto, é

gratificante. É, é exigente, pronto. É uma dedicação que se tem que ter que às vezes é

complicada mas pronto, é normal e assume-se.

Em termos do ensino superior público, qual a sua opinião sobre o estado atual, a

evolução do ensino superior público português?

Não vejo com muito bons olhos o que se está a passar no ensino superior, acho que houve

um conjunto de políticas menos acertadas, para não dizer erradas, ao longo dos anos, que

levaram a que se esteja nesta situação atual. E atualmente também não vejo grandes

tentativas de melhoria, muito sinceramente não vejo. Vejo um conjunto de medidas

muitas vezes quase que avulso para resolver situações momentâneas, não havendo uma

estratégia bem definida e que leva a desequilíbrios. A situação do sistema de ensino

superior português, com a divisão que existe entre o politécnico e a universidade, que é

algo que faz sentido, é algo que acho que responde às necessidades, pode responder às

necessidades mas tem que se definir o campo de ação dos dois tipos de instituições. Não

podemos pensar que temos dois sistemas de ensino diferentes, que se deveriam

complementar e não competir e actualmente o que se verifica e ao longo dos anos tem

sido uma competição direta entre os dois tipos de instituições, com perdas claras para os

politécnicos. Acho que se houver um estabelecimento do campo de atuação

complementar, podemos sobreviver, tanto as universidades como os politécnicos de uma

forma até mais digna. Porque o estar com financiamentos dependentes exclusivamente do

número de estudantes onde, tradicionalmente, os estudantes preferem, por razões

históricas e culturais, as universidades, é natural. Se as universidades continuam com o

mesmo tipo de financiamento que os politécnicos ou seja, têm que ter mais alunos para

terem mais financiamento e lhes permita abrir vagas, é óbvio que vão abrir e é óbvio que

irão, digamos, absorver todos os estudantes que estão disponíveis. E portanto, isso é algo

que leva a uma distorção do ensino, eu acho se se dessem condições às universidades para

fazer aquilo que elas, digamos, poderão fazer melhor que é, digamos, um ensino mais

teórico, um ensino mais fundamental, preparar os alunos para desafios diferentes do que

os politécnicos deverão fazer. Para isso é preciso que tenham um financiamento diferente,

eventualmente poderá ser numa mesma base mas diferenciado, de forma a que as

universidades possam desempenhar o seu papel, deixando o espaço livre para os outros

desempenharem o seu. Isso claro que implica alterações de financiamento, das regras de

financiamento, por mim, não vejo grande problema que a universidade seja mais

financiada em termos de quantidade de dinheiro por aluno, não vejo porque é que não

possa ser, desde que depois haja o cuidado de, quem entra na universidade é alguém que

tem as condições necessárias para ter um bom desempenho académico e futuramente um

bom desempenho profissional, portanto, para termos uma classe do ensino superior com

um nível adequado, quer a nível de investigação, quer a nível de desenvolvimento de I&D

ou desenvolvimento das próprias empresas e das próprias instituições de ensino, muitos

depois acabam por ficar lá, mas termos instituições de referência e isso só se consegue

com financiamento e com alunos de excelência. Se massificarmos o ensino nas

universidades, o que se verifica e o que se vai verificando é que de facto, o insucesso

começa a aumentar, a desmotivação dos estudantes começa a aumentar, há turmas

enormes, os docentes também acabam por desmotivar porque têm que adaptar os níveis

e as formações, portanto, fugindo um pouco daquilo que seria o objetivo inicial e pensado

para as universidades. Porque o ensino, sendo muito mais teórico, exige capacidades de

abstração e de raciocínio diferentes. E, portanto, se tivessem mais financiamento para

menos alunos, poderiam manter a atividade, mantendo, digamos, uma excelência, que

deveria ser o objetivo principal das universidades, principalmente das grandes e deixavam

espaço para os politécnicos agarrarem nos alunos que não têm, digamos, a apetência ou

muitas vezes a capacidade também, que às vezes anda um pouco ligada, para entrar em

cursos mais teóricos, digamos, mais abstratos, mais académicos e vamos abrir espaço para

que os politécnicos possam exercer o seu papel de formar pessoas para trabalhar em

situações mais práticas, porque é esse o objetivo, formar pessoas para responder, digamos,

mais próximo das necessidades das empresas do momento e no momento, criando cursos

mais específicos, para responder a situações mais concretas. E portanto acho que o

sistema pode funcionar, não podemos é entrar em competição uns com os outros porque

aí perdemos essencialmente a nível dos politécnicos, julgo que não há dúvida nenhuma

que será isso que vai acontecer e é o que está a acontecer, já se vêm esses sinais. Por outro

lado também, a tutela não tem sabido gerir bem este sistema binário, quanto a mim, temos

tido indicações contraditórias em relação ao nosso percurso. Quando entrei para aqui tinha

muitos colegas que vinham da indústria, estavam cá, eram docentes, alguns a tempo

integral mas tinham um percurso de vinte, trinta anos na indústria, portanto, foi essa a

estratégia inicial e digamos que corresponde às necessidades. Posteriormente, começaram

a ser admitidas pessoas para complementar, pessoas como eu, que tinham um percurso

eminentemente académico e que de certa maneira eram e são necessárias também para

complementar essa formação. Há ali um conjunto de matérias que de facto têm que ser

abordadas e têm que ser dadas e complementam essa formação mais prática e isso de

facto foi feito. Em determinada altura tínhamos um sistema com uma proporção razoável

de formações académicas, posteriormente começaram a ser dados sinais que para

progressão na carreira havia a necessidade de primeiro iniciar o mestrado, portanto,

quando vim para a escola já tinha o mestrado, mas havia muitos colegas que não tinham,

que estavam a fazer o mestrado. Porquê? Porque havia um sinal claro que para progredir

era necessário o mestrado e eles foram, alguns com muitos anos de experiência na

indústria foram tirar o mestrado. Houve uma situação de surgimento das licenciaturas

bietápicas que, a meu ver, foi o primeiro passo para reforçarmos a competição direta com

as universidades, foi aí que começou, a meu ver, porque nós anteriormente tínhamos o

bacharelato, três anos e depois tínhamos um curso… curso superior de especialização…

não me lembro bem do nome, em que eram áreas transversais, mais ligadas à gestão, com

especialização depois na parte técnica, onde os nossos estudantes poderiam ter acesso à

licenciatura, uma equivalência a uma licenciatura. Depois, com as bietápicas isso caiu,

esse tipo de formações caiu e ficámos a poder formar licenciados de cinco anos, esse foi

logo o primeiro passo de competição direta. Posteriormente, também começaram a surgir

sinais, foi, digamos, na altura, até nem foi na primeira leva logo mas foi logo das primeiras

em que o mestrado não chegava, teria que se ter o doutoramento e, portanto, mais uma

vez a afastar da linha que devíamos seguir que era o contacto com a indústria. E fomos,

portanto, actualmente temos cerca, dos 160 docentes que temos na escola, à volta disso,

temos cerca de 66 doutorados, temos cerca de 58, 59 em doutoramento ainda e portanto

ficamos quase todos doutorados, o cabo da formação é o doutoramento, claramente. E

mais uma vez, o doutoramento é feito nas universidades, é feito, digamos, com os

objetivos da universidade, portanto, estamos a afastar-nos do nosso objetivo inicial que

estava traçado. Com todas as consequências que isso tem porque, tanto nos mestrados

como nos doutoramentos, estamos a contribuir fortemente para o financiamento das

universidades também nós próprios e enquanto formos só financiadores das universidades

com os mestrados e os doutoramentos, acho que a coisa não correu muito mal, a partir do

momento em que começámos a ter os graus e começámos muitas vezes a desenvolver

trabalho que também entra um pouco em competição com as universidades, daí, acho que

as coisas devem e têm que ser mais distintas, portanto maior competição… distintas em

termos do que tem sido o caminho percorrido, agora, tendo mais competição, certamente

que se nota uma tentativa de criar condições mais favoráveis às universidades e portanto

nós perdemos claramente com essa situação. Depois, com Bolonha, o facto de termos a

possibilidade dos mestrados ajudou também, portanto, mais uma forma de competição

direta e isso levou-nos a afastar um pouco dos nossos objetivos iniciais que acho que de

certa maneira têm que ser retomados se quisermos manter a nossa identidade e mesmo a

nossa sobrevivência, acho que não há outro caminho. Pronto, e isto leva a que, para nos

distinguirmos, temos de facto de ser diferentes e fazer coisas diferentes. As universidades

têm os centros de investigação creditados, os projetos de investigação estão lá, a FCT

financia os projetos desses centros, se nós quisermos participar nesses projetos temos que

estar lá, temos que nos ligar lá, não temos esses centros nos politécnicos, mesmo quando

lideramos projetos submetidos à FCT, se temos a mínima ambição que sejam financiados

terão que estar ligados a esses centros. Temos, aqui na escola, alguns projetos liderados

por investigadores, docentes nossos, mas têm que estar sempre ligados aos centros, senão

não conseguimos financiamento, portanto, até nisso nós estamos mal porque, para

progredir na carreira é preciso fazer investigação, para investigar, os projetos são

fundamentais para o financiamento e portanto não conseguimos desligar completamente

da universidade e sermos, por assim dizer, autónomos.

Mencionou há pouco o processo de Bolonha, para si, foi bem implementado, foi mal

implementado, qual a sua opinião?

Acho que Bolonha tem as suas virtudes, os objetivos que se pretendiam acho que são

aceitáveis e acho que são bons e positivos. Se é bem implementado ou não, deve depender

um pouco de instituição para instituição e de docente para docente. A minha experiência

pessoal é que não mudou assim tanta coisa quanto isso. A ideia de os alunos deixarem de

ser passivos e passarem a ser mais ativos nem sempre isso se consegue e acabamos por

ter que manter alguns dos procedimentos e das metodologias anteriores porque é assim

que estão formatados, é assim que nós estamos formatados, também não podemos culpá-

los só a eles e portanto, depende. Há situações em que se avançou mais em Bolonha, há

situações em que se avançou menos mas, de uma maneira geral, acho que é positivo. Por

considerar positivo não quer dizer que seja uma coisa que… a situação dos graus, os

graus, por exemplo, não sei se veio ajudar muito a situação, chamarmos licenciaturas a

três anos, não sei se foi positivo, se foi negativo. Tenho a sensação é que numa primeira

fase poderá ter sido positivo mas que, com o passar do tempo, acho que não havia

necessidade de estar a chamar licenciatura a um curso de três anos porque temos um grau

que é mais reconhecido internacionalmente e o que acabámos por fazer foi um downgrade

dos graus, o que era bacharelato passou a licenciatura, o que era licenciatura passou a

mestrado e o que era mestrado, de certa maneira, embora aí seja mais duvidoso, mas

passou a doutoramento. Mas aí é uma situação mais difícil de generalizar desta forma e

portanto julgo que não teria havido necessidade de fazer um reescalonamento dos graus,

poderiam ter-se mantido os nomes, penso que não haveria problema com isso. E depois

de tudo o que foi feito a nível dos cursos e das restruturações, evoluíram de acordo com

cada escola, cada instituto pensou e aí há de haver várias situações, umas melhores, outras

piores, mas digamos que isso foi assumido e acho que de certa maneira não é por aí que

está o problema de atratividade dos alunos, julgo que não é por aí. Os cursos poderiam

eventualmente ser diferentes, mas acho que não é por Bolonha que condicionou isso, é

mais por aquilo que eu disse antes, a formação das pessoas e, de forma consciente ou

inconsciente, a reprodução das formações da universidade um pouco no politécnico e é

isso que significa, portanto, fruto também da formação que nós temos ser uma formação

académica obtida nas universidades, não há muito que enganar.

Sobre o ensino privado, qual a sua opinião?

Não tenho assim uma opinião formada sobre o ensino privado. Acho que é como tudo na

vida, havendo mercado há logo alguém ou algumas organizações que aproveitam o facto

de existir e portanto, não tenho nada contra, desde que sejam mantidas e cumpridas as

regras a que nós estamos também sujeitos. Quando se está a atribuir um grau, a

classificação ou a avaliação desses graus devem ser feitos exatamente da mesma maneira.

Não tenho nada contra o facto de existirem instituições de ensino privado, uma vez que

em certas áreas haverá mercado para elas também, desde que se mantenham as regras de

avaliação e os padrões de qualidade que se exige ao ensino superior, seja na área de papel

e lápis, seja na área da engenharia, desde que as regras sejam cumpridas e as avaliações

feitas de forma isenta. É um mercado, um negócio como outro qualquer, portanto, desde

que se cumpram as regras, não há nada a dizer.

Agora sobre o financiamento mais concretamente. A lei de 92 estabeleceu a

atualização das propinas. Qual a sua posição relativamente a esta matéria? Os

alunos devem pagar não devem pagar? Há quem considere que foi o começo da

privatização do ensino superior público…

Privatização, acho que pode ser visto um pouco assim mas talvez não tenha sido bem esse

o objetivo. Acho que as propinas podem servir também para a responsabilização, que é

importante. Não podemos manter as coisas ad eternum ou tem que haver outro tipo de

regras, não se podem financiar pessoas que não se estão a dedicar. As propinas, acho que

quando foram introduzidas, foram introduzidas com o objetivo nobre e compreensível,

que era de facto que as instituições tivessem o seu financiamento e as propinas são um

financiamento adicional para a melhoria da qualidade do ensino, criar condições

laboratoriais, mais nas engenharias e nas áreas técnicas e portanto, é uma forma de

aumentar o financiamento mas com repercussões diretas na qualidade do ensino e na

qualidade dos equipamentos, das instalações e disso tudo, portanto, acho que é um

objetivo bastante nobre e julgo que foi cumprido durante um ano, a partir daí já não foi.

Porque, a partir do momento em que as propinas foram implementadas, não sei se foi no

segundo se no terceiro ano, começou-se a reduzir o financiamento do estado. Ora, isso aí

já é outra situação. Que, de certa maneira poderá fazer algum sentido, uma vez que faz

parte da responsabilização. Eu diria que poderia ir um bocadinho mais longe, acho que o

sistema de propinas, se fosse mexido de forma a responsabilizar ainda mais, acho que era

benéfico. Acho que quando o estudante termina o ensino secundário e ingressa no ensino

superior, acho que ele devia ter hipótese, uma vez que estamos nos estado em que

estamos, deveria ter a hipótese de fazer a sua formação superior sem encargos adicionais,

além dos habituais, materiais didáticos, livros, alimentação, transportes, que já são uma

carga. Acho que as propinas deveriam ser mínimas, reduzidas, para não cortar a

possibilidade a ninguém de ir para o ensino superior. Mas assim teria que haver maior

responsabilização. Um aluno que vem e que tem um desempenho académico relevante

nunca deveria pagar propinas, muito sinceramente. O aluno que começa a falhar, acho

que deveria dar-se uma margem e a partir daí as propinas disparavam para o valor real do

ensino porque acho que assim se conseguia rentabilizar muito a situação. O estado

poderia, digamos, assumir o encargo, no nosso caso, de três anos, portanto, o estudante

tinha três anos para demonstrar que tinha capacidade e dedicação para fazer o curso, era

um investimento que o estado fazia naquela pessoa e, ao fim de três anos, tinha uma

pessoa diplomada, com encargos elevados para o estado, é certo, mas, havendo uma

justiça social também nessa situação. Quem não cumpre, deveria pagar e quem falha um

ano, acredito que não deveria ser penalizado ao ponto de ser obrigado a sair, acho que

não, o choque muitas vezes é grande e portanto tem que haver ali alguma margem, não

quer dizer que não pagasse o valor atual das propinas ao fim de um ano. Quem chumbasse

o segundo e o terceiro, sabemos exatamente qual o valor do custo para o estado e para as

pessoas do ensino, poderia ir até ao valor real. Quem quer mesmo andar cá, digamos, por

andar cá, pagasse o valor real e aí o estado desresponsabilizava-se, portanto, não impedia

que as pessoas o fizessem, porque têm todo o direito a não querer acabar o curso em três,

quatro ou cinco anos, tem esse direito, desde que pague e que assuma as

responsabilidades, porque aí não é o estado que as tem que assumir e portanto haver aí

uma alteração clara. Claro que isso tem, certamente e esperaria eu, aumento de encargos

para o estado. Por dois motivos, primeiro porque as pessoas, provavelmente iriam

responsabilizar-se mais e iam ter melhores desempenhos, o que era excelente, por outro

lado, quem começasse a escorregar, provavelmente acabaria por desistir. E portanto,

acabava por o estado financiar ali uma parte, sei lá, no primeiro ano, mas depois acabava

por perder algum financiamento, mas isso são situações em que há muita coisa que

poderia ser vista como um investimento. Estamos a falar de um investimento nas pessoas

e na nossa formação e acho que acabava por ser mais democrático.

Pelo mérito…

Pelo mérito. Tudo isto também poderia ser visto de outra maneira que era quem tem

mérito recebia uma bolsa. Poderia eventualmente haver esta situação de pagamento de

propina mas depois quem tem o mérito de estar cá a cumprir com a obrigação e a fazer

um trabalho sério, ter bolsa para aliviar totalmente o encargo das propinas. Acho que isso

fazia todo o sentido. Assim é só o financiamento. Quando uma instituição está

dependente, como acho que estão todas, poderá haver uma exceção ou outra, mas estão

dependentes do pagamento das propinas para pagar salários, é uma situação que é ingrata.

Nós não temos margem de manobra para promover, por exemplo, as bolsas e tudo de uma

forma mais eficaz porque não temos autonomia, não temos autonomia ou poderemos ter

autonomia, não temos é capacidade financeira para o fazer. Acho que aí, era algo que

poderíamos fazer se tivéssemos recursos financeiros, acho que não há nada que o impeça

mas não temos possibilidade, como é óbvio. É fundamental as receitas próprias para

financiamento.

Licenciaturas, mestrados, doutoramentos têm valores diferentes de propina. Qual a

sua opinião de existirem valores diferenciados consoante o grau?

Acho que sim, também não há razão para não o serem. Voltamos novamente à situação,

o que deveria ser era haver financiamentos diferentes para esses estudantes. E mais uma

vez também na responsabilização, a mesma coisa, tendencialmente o ensino ser gratuito,

licenciatura, mestrado ou doutoramento, mas com níveis de financiamento diferentes.

Porque o mestrado muitas vezes exige mais especialização, mais equipamentos,

laboratórios mais especializados e o mesmo para o doutoramento, portanto, as

universidades deverão ter condições para garantir os equipamentos e tudo o que um

estudante de doutoramento precisa para desenvolver a sua atividade e para atingir os

objetivos e portanto aí, o financiamento deverá ser claramente diferente e o valor da

propina, já que estamos nessa fase, ser também diferente.

Na sua opinião, qual o papel que julga ser dever do estado perante o ensino superior

público? Regulador, financiador, avaliador?

Isto é um pouco contra aquilo que está a ser feito agora mas acho que deverá ser

essencialmente um papel ativo e financiador. Porque se queremos desenvolvimento, se

queremos pessoas com maior formação que tragam mais riqueza ao país, acho que o

estado tem que contribuir. Porque há uma situação que é o estado em que estamos…

temos os modelos americanos e alguns na europa em que as pessoas asseguram a sua

formação, em que as pessoas asseguram a sua saúde, asseguram praticamente tudo, o

estado aí tem um papel reduzido, o que é compreensível. Por outro lado, têm que ser dar

condições às pessoas, não se pode estar a pedir que as pessoas paguem imposto de 40 ou

50% do que ganham e que depois ainda tenham de pagar a educação, a saúde, não pode.

Das duas, uma, ou aliviam nos impostos e aí é o mercado a funcionar que é, digamos, o

modelo mais liberal, americano, ou então, o estado existe e pede contrapartidas às

pessoas, às pessoas que estão no ativo e ao pedir essas contrapartidas será para gerir o

dinheiro da melhor forma e essa acho que é uma boa forma de gerir que é, vamos criar

condições para que no futuro tenhamos capacidade de termos melhores profissionais,

melhores empresas, melhores empregos, melhores salários, para depois haver mais

retorno e mais impostos coletados e portanto, o estado deverá financiar. Acho que não há

volta a dar. Se o estado começar a deslastrar, terá que deslastrar também fortemente nos

impostos porque senão é injusto, não dá. E portanto, isso implica e é válido para mim,

tanto para a saúde como para o ensino, porque se pagamos as autoestradas porque

passamos lá, não faz sentido estar a pagar os impostos para financiar as autoestradas

também. No ensino é o mesmo, já estamos a pagar os impostos e estamos também a pagar

as propinas e com os níveis de impostos que temos actualmente, temos que ver

exatamente o que é que é feito ao dinheiro, acho que deve ser de facto financiador.

Avaliador… acho que poderá ser mas julgo que a estrutura atual que foi criada, com a

A3ES, um organismo independente, acho que faz sentido porque poderá ser

eventualmente mais isenta, embora nós saibamos que está ligado… os avaliadores são

docentes do ensino superior, da universidade e do politécnico, tem gente externa, que

também é bom, externa ao país, e portanto acho que terá mais garantias de isenção e de

justiça na avaliação, daí não tenho nada contra ser algo externo. Mas acho que o estado

não pode deixar de ser o financiador do ensino, quer seja do básico ao universitário.

Portanto, voltamos novamente ao mesmo, os privados, se entrarem no mercado e tiverem

força, também tudo bem, é sinal de que as pessoas preferem. Mas a base deverá ser o

estado a ter esse papel.

Principalmente de financiador.

Regulador também, tem que haver alguma regulação e quando o estado interfere, por

exemplo nas regras de financiamento, nas regras de vagas, também é um regulador, tem

que ser, quem financia, tem que regular, não pode. Tem que regulamentar, tem que gerir,

digamos o processo, quem paga é quem o deve fazer, não se pode pedir um cheque em

branco para depois cada um avançar para seu lado, portanto, acho que aí não é

complicado, temos que assumir que se queremos financiamento, temos que ser regulados

pelo estado, aí não há muita volta a dar. Agora, considero é que de facto deverá ser

regulado de forma isenta, justa e ouvindo todas as partes e portanto, isso é algo que terá

que ser mesmo feito porque não é ouvir uns e não ouvir outros, ceder às pressões de uns

e não ceder às pressões de outros, isto admitindo que há pressões e portanto acho que aí

tem que ser regulador. Quem paga tem que regular.

Acha pertinente as ajudas do estado aos estudantes do ensino superior privado?

Acho que não havendo oferta pública na área, acho que sim. Porque se o estado não tem

capacidade de fornecer aquele serviço ao cidadão, porque não? É um nicho, não pode é

ser mais financiado do que o público, propriamente, mas porque não? Desde que não haja

alternativa no público, lá voltamos, se for uma situação em que há oferta, penso por

exemplo, a nível da medicina, em que o número de candidatos excede sempre o número

de vagas mas a oferta existe, estar a financiar o privado, tenho algumas dúvidas porque a

oferta existe, pode não ser suficiente, mas aí tem que se avaliar o porquê de não ser

suficiente e eventualmente corrigir a situação. Outra coisa é haver algo em que o próprio

público não esteja interessado em ter e aí, se o privado tem, aí não há alternativa, não vejo

motivos para não ser. Agora, estar a financiar o privado quando a opção do privado é

muitas vezes porque não tem capacidade de atingir as metas impostas no público, pronto

aí não deve pagar.

Dentro da instituição, existem estratégias de captação de alunos, marketing, esse tipo

de coisas?

Temos, não quer dizer que seja a ideal, não quer dizer que esteja a funcionar tudo bem,

mas temos. Temos um conjunto de iniciativas no sentido de captar alunos da região para

as nossas formações. Temos, além das divulgações, os outdoors e publicidade em

algumas revistas, a publicidade é muito cara por isso tem que ser sempre limitada…

Que tipo de revistas?

Revistas, jornais…

Mas de que tipo? Em jornais como o público, revistas da região, da câmara

municipal…

Algumas, as nacionais são um bocado limitadas mas são algumas revistas nacionais

também, algumas de facto de grande tiragem mas aí os custos são um bocado elevados,

portanto é complicado. Depois temos algum cuidado com a emissão de notas de imprensa

periódicas com as nossas iniciativas, digamos que é lançar a ver se alguém pega, um

pouco e depois temos os jornais regionais que têm um papel mais ativo. Temos também

a presença em algumas feiras com stands, por exemplo, tivemos na feira de Santiago este

ano de uma forma diferente do que era habitual estarmos, com um papel ativo até da

responsabilidade aqui da tecnologia, onde tivemos a presença de um stand todos os dias

na feira com experiências rotativas das várias áreas, dos vários laboratórios com

experiências, algumas foram repetidas mas em dias diferentes, rodando sempre, foram

muitos dias. E foi quase exclusivamente responsabilidade aqui da (IES), onde os colegas,

os docentes e até os funcionários estiveram na feira com um conjunto de experiências

para demonstrar certos fenómenos e foi interessante e bastante atrativo para as pessoas

que lá passaram. Esta é uma das formas, atendendo a que os cursos aí são relativamente

contidos e reduzidos, foi com boa vontade. Depois também temos, por exemplo,

iniciativas de visitas às escolas secundárias em que levamos, demonstramos, levamos

material de divulgação, levamos também algumas experiências, temos levado alguns

alunos dessas escolas que estão aqui na técnica ou nesta escola para contactar os colegas

que ainda conhecem e demonstrar o que estão a fazer e falar um pouco do que nós somos

e as escolas secundárias digamos que são um alvo para um meio de divulgação. Temos

também várias iniciativas para atrair essencialmente público jovem, o ano passado

tivemos o ACP/BPI, portanto foi um evento organizado pelo ACP e pelo BPI, onde um

conjunto de 50 jovens vieram passar aqui uma semana no campus, com atividades aqui,

desde os marinheiros, à GNR, foram à Arrábida, foram ao karting, andaram aqui com

coisas ligadas ao automóvel, temos aí um curso de automóvel, também fizeram algumas

atividades nos nossos laboratórios, deram aí umas voltinhas no carro elétrico, portanto,

andaram por aí. Jovens de todo o país. Tivemos também um evento da IBM, mas só

raparigas dos 12 aos 16, 17 anos, como forma de motivar as jovens para a tecnologia. Foi

uma iniciativa da IBM que nós acolhemos. Temos o open day, temos a semana da ciência,

para tentar atrair as pessoas aqui e verem os nossos laboratórios. É um pouco o que temos,

há mais coisas a fazer, há sempre mais coisas a fazer é preciso é mais recursos. Depois

também temos material de divulgação, o normal, os recursos é que nem sempre são os

adequados e portanto isso também é um gabinete que está centralizado, o (ISP) tem o

gabinete de comunicação que gere todas as iniciativas de divulgação das escolas,

tínhamos uma em cada escola e agora está centralizada. E pronto, os recursos financeiros

não são assim muitos mas sempre se vai fazendo alguma coisa, isso é fundamental.

Acha que é melhor está centralizado ou era melhor cada escola fazer a sua própria

divulgação?

Quando foi a centralização, tínhamos aqui um conjunto de pessoas muito ativas, em que

a direção na altura, eram outros estatutos, era a presidente do conselho diretivo, tinha os

recursos necessários para promover essas divulgações e portanto, tínhamos alguma

visibilidade, estivemos muitos anos apagados mas depois com a entrada de uma ou duas

pessoas tornou-se visível, a escola teve um conjunto de iniciativas bastante interessantes.

Posteriormente, com a centralização e até porque depois essa pessoa era a pessoa que

dinamizava mais isto acabou por não ficar na estrutura. Era na altura encarregada desse

trabalho e depois para passar para o quadro houve concurso e acabou por não ficar e

perdemos um pouco nessa altura. Tem havido um esforço grande por parte do gabinete

para acudir às várias solicitações das escolas, temos sido ativos também e julgo que

presentemente, julgo não, tenho a certeza que presentemente as coisas estão a funcionar

melhor, ainda há a melhorar mas estão claramente melhores que no início. Já tem mais

recursos humanos, já tem mais know how, conseguem ligar-se melhor com as escolas

porque conhecem melhor as pessoas que estão nas escolas e portanto, estão a melhorar.

Portanto, não vejo nada de mal na centralização, desde que cumpram o papel em

condições, cumprindo, digamos, é algo que pode ser positivo, em vez de estarmos cada

um de costas voltadas a fazer as suas iniciativas, se trabalharmos em conjunto é melhor e

portanto eles têm uma ideia centralizada e quando atacam numa revista, atacam com todas

as escolas, quando nós não temos dinheiro para meter nessa revista mas o (ISP) todo tem

e portanto tem vantagens e se for bem trabalhado chega a mais canais e quando se vai por

uma escola, de certa maneira também se levam as outras. Mesmo que a tecnologia leve

aqui um robô desenvolvido pelos alunos para mostrar numa escola secundária, também

vai publicidade das outras escolas e também há informação das outras escolas e é positivo.

Quando vai a outra escola, fazer uma divulgação qualquer de outra escola, a tecnologia

também acaba por ir e portanto, acho que pode ser positivo, tem é que se trabalhar bem.

Relativamente aos cortes orçamentais, que dificuldades lhe trazem? Falou há pouco

da dificuldade de planeamento a longo prazo. Que outras dificuldades e que áreas é

que sofrem?

Os cortes têm sido brutais, as pessoas não se apercebem bem disso mas em poucos anos

perdemos quase 50% do nosso orçamento, do orçamento do (ISP). Depois há ajustes

internos nas unidades orgânicas, dependendo, em função do número de alunos, em função

das necessidades, em função do corpo docente em si. Mas no (ISP) tem havido um corte

brutal, começou com a redução de financiamento por causa das propinas, nas que no

início não se notou muito mas depois começou a surgir a necessidade de descontar para

a CGA, depois foi subindo a percentagem, depois foi o momento de cativações, depois

foi a segurança social… bem, tem havido um conjunto de cortes camuflados que o estado

pode dizer assim, eu não cortei no vosso financiamento. Não, não cortou, até pode manter

de um ano para o outro, por acaso não é isso que tem ocorrido recentemente, tem havido

sempre, 2, 3, 4% a menos e depois mais algumas cativações, mas mesmo que mantenha

o financiamento, se a seguir nos dizem, você não pagava CGA, e quase todos os docentes

a têm, mas agora têm que pagar 10%...

Aumenta a despesa…

Claro e tem que sair do nosso orçamento para ir para o estado. Começou em 7,5 e já vai

em 22,5% e este ano foi a segurança social que passou a 23,75%, embora a segurança

social abranja menos docentes, portanto, na verdade, estão a retirar-nos dinheiro, não há

dúvida nenhuma. Se contarmos quanto nós tínhamos há uns anos para gerir e o que temos

agora é completamente diferente. Ora, isso tem consequências, a escola e o (ISP), falo

aqui da escola que sou diretor, tem sofrido um pouco com isso, a nível de atualização de

equipamentos, de laboratórios, porque temos muitos laboratórios bem equipados, mas não

recentemente, são equipamentos que alguns já começam a precisar de manutenção, outros

de substituição e agora começamos a ter dificuldades nesse aspeto. O que nós temos feito

é tentar manter as coisas a funcionar. Investimentos em equipamentos praticamente estão

parados, tirando as coisas essenciais, por exemplo, em 2010 comprámos cerca de 60

computadores para equiparmos os laboratórios de informática. A partir daí tem sido

comprados alguns componentes para reparar, algumas memórias para melhorar os que

estão aí, alguns computadores porque de facto os serviços avariaram, tiveram que se

substituir, coisas pequenas. Vídeo projetores por exemplo, temos que ir comprando

porque vão avariando e as aulas têm que ser dadas, mas muito a esse nível. Equipamentos

para os laboratórios didáticos, os nossos laboratórios são didáticos, investimentos a esse

nível é só para manter. Não quer dizer que não se comprem os osciloscópios, não se

comprem os multímetros mas é porque os outros vão avariando e chega-se a um ponto

em que não há hipótese. Grandes investimentos não têm sido feitos. Outra coisa que temos

procurado é, junto das empresas da região, tentar que alguns equipamentos que eles já

não tenham nas linhas, por exemplo, temos aqui alguns equipamentos dos robôs,

inclusive, que saíram das linhas e estão ali, que permitem colmatar algumas falhas porque

nós não conseguimos investir num equipamento daqueles, aqueles já estão desatualizados

para eles, mas pronto, para nós ainda não e eles vão cedendo. Outra empresa também já

cedeu um conjunto de equipamentos, pronto há algumas empresas que têm colaborado

nisso. Claro que depois têm o trabalho de reparar, o trabalho de adaptar mas isso vamos

fazendo. Portanto, essa é, digamos, o principal corte, que é conseguirmos manter o nível

de funcionamento dos nossos laboratórios. Depois também temos tido outra vertente que

é a manutenção dos próprios docentes, tínhamos um conjunto de docentes a tempo parcial,

também fruto da perda de alunos porque temos vindo a perder alguns alunos também,

mas não conseguimos manter esses contratos porque há aqui duas medidas que causam

essa situação. Primeiro, a perda de alunos que leva a necessidades letivas menores.

Depois, ao longo dos anos, tem havido o aumento progressivo das horas letivas dos

docentes e nós estamos encostados ao máximo já. Enquanto a nossa carreira docente diz

que as nossas horas letivas eram só de 6 a 12 horas, tínhamos aqui há uns anos uma escala

em que os professores coordenadores davam 6 horas, os adjuntos davam 9 e os assistentes

davam 12, os assistentes davam essencialmente laboratórios, atualmente estão todos nas

12, portanto já não dá muita margem. Mas ao aumentar o número de horas letivas, a

necessidade de docentes diminui, perdemos massa crítica, perdemos colegas e acabamos

por poupar, cortar, não há outra hipótese, despesa, à custa dessa situação. Mas o equilíbrio

é muito difícil porque o orçamento da tecnologia atualmente, 94% é para salários, anda

por aí e portanto, é quase ingerível. Temos que pagar a luz, a água, a relva aí fora já está

a começar a começar a ser verde mas em 2000 e, foi no ano em que fui eleito diretor, o

anterior diretor aposentou-se e já não sei se tomei a decisão antes em conjunto com ele se

foi já depois, enquanto diretor interino, de não regar. Perdemos um conjunto de relva, que

já há muitos anos que estava aí, agora está morta porque de Maio a Setembro a conta da

água triplicava, depende dos anos, mas reduzindo ao mínimo, gastava mais 15000 euros

de água do que devia, portanto, cortei e é este tipo de coisas que têm consequências. O

edifício está a precisar de obras urgentemente, pelo menos no exterior, temos aí já ferros

a aparecer, temos aí um conjunto de problemas estruturais do edifício, que o (ISP) é que

vai tratar do assunto, mas o próprio (ISP) tem muitas restrições orçamentais. Temos aí

um conjunto de equipamentos de climatização que precisam de ser substituídos e que eu,

enquanto diretor, disse logo que não tenho dinheiro e não vou substituir, o (ISP) este ano

conseguiu arranjar uma folga e vamos substituir os equipamentos, um investimento de

quase 60000 euros porque se fosse a escola de tecnologia era impossível. Vamos

cortando, embora eu comece a achar que para o ano não sei como vai ser porque vamos

cortando e em determinada altura começamos a usar os saldos dos anos anteriores,

portanto, não sei como vai ser. A tecnologia praticamente está sem saldo, vai-se rapando,

cada ano rapa-se um bocadinho, o ano passado não rapámos nada mas este ano já temos

que rapar muito e para o ano não sei. E portanto, é uma situação crítica porque de facto

estão a levar-nos a uma situação de insustentabilidade, não há condições e portanto… não

sei. Eventualmente teremos que tomar medidas drásticas, eventualmente teremos que

reduzir formações, fechar formações, não sei, isso é algo que também ainda tem que ser

estudado a nível do (ISP), para definirmos uma estratégia porque as situações nas escolas

não são todas iguais e portanto, é algo que o futuro dirá mas a continuar assim, é

insustentável. A atividade que temos até ao momento não consegue ser mantida. E é um

pouco as estruturas que temos, fecha-se as formações e resolve-se o problema? Não

resolve, porque temos os quadros de pessoal e a menos que haja alguma coisa… temos o

pessoal e fechar formações tem consequências por outro lado que é ter menos alunos,

portanto, isto é um ciclo perigoso porque é afundar, claramente. Vamos ver.

Enquanto escola, não enquanto (ISP), de que forma geram receitas próprias?

Aluguer de espaços, serviços, esse tipo de coisas…

O financiamento da tecnologia, pelo (ISP), está essencialmente assente no OE e nas

propinas, claramente. Depois, existe um conjunto de serviços que disponibilizamos… os

espaços já foram uma fonte… nunca foi uma grande fonte, estamos a falar de valores

praticamente simbólicos, até porque o meio envolvente também não está com grande

capacidade de alugar espaços e ter iniciativas e quando tem e já o temos feito diversas

vezes, o que nos pedem não é para alugar, é para ceder, portanto, temos colaborado com

instituições aqui da região também que precisam de espaços, auditório para fazer alguns

eventos, temos cedido, pronto. Ou fazendo desconto ou mesmo cedendo graciosamente

porque de facto também é nosso papel interagir com a comunidade e darmo-nos a

conhecer e as pessoas da região virem cá ver, portanto, virem cá, conhecerem o campus

e o espaço. Daí, diria que não dá para um mês de eletricidade, é de facto, irrisório e passa-

se o mesmo com o aluguer de espaços a nível do bar e do refeitório, embora sejam

explorados pelos SAS, as verbas que vêm daí são muito pequenas porque se a empresa

que está a explorar o bar tiver que pagar uma renda muito elevada, nem sequer temos

concorrente, não há ninguém que se mostre interessado, portanto, temos que baixar os

valores para manter o serviço porque temos que ter aqui este serviço, portanto, por aí, não

vamos lá. Onde tínhamos uma parcela apreciável era nas prestações de serviços

especializados, formações, projetos de investigação, projetos de desenvolvimento,

auditorias, consultorias às empresas da região. E de facto havia uma parcela, ainda há

uma parcela que é, digamos, na faturação, na ordem dos 200, 300 mil euros, o que não é

mau. No entanto já foi duas ou três vezes superior porque efetivamente as próprias

empresas estão a retrair e portanto não é fácil obter financiamento por essa via. O que

temos é o que é de facto possível face às condições porque há aqui várias vertentes, a

possibilidade de as empresas da região nos pedirem para fazer esses trabalhos que tem

sido cada vez menor e depois também alguns trabalhos têm que ser procurados, tem que

se ir à procura, as coisas não nos caem no colo, habitualmente. Mas para isso tem que se

ter condições, é preciso investir, é preciso dar disponibilidade aos docentes e é isso que

não tem sido possível dar, portanto, cada vez mais, ou é por contatos antigos das pessoas

ou então, com 12 horas de aulas, tem que se ter a noção que 12 horas são efetivamente

em sala de aula mas depois há as preparações das aulas, há reuniões, há apoio ao aluno,

avaliações, tudo por aí afora, supostamente a investigação, as PSE, isto tudo, agora em

40 horas, antes era 35, não se consegue. E depois muitas vezes o horário, quanto mais

horas tem, mais cadeiras diferentes tem, mais espartilhado está o horário, não há buracos,

as pessoas não se conseguem desdobrar. E portanto, é uma redução também motivada por

isso, é a crise económica e também a nossa dificuldade em ir à procura porque as pessoas

quando estão aqui presas não conseguem e portanto esse financiamento é importante, é

relevante mas o peso está a ser cada vez menor por causa da redução a que está sujeito.

Tirando isso, projetos FCT não pagam ninguém, trazem-nos equipamentos, pronto,

alguns até são adquiridos aí e que depois ficam na escola mas pagamentos a docentes não

há complemento, ficamos com alguma parte em overheads, digamos, para colmatar

aluguer de espaços ou eletricidade, há um overhead que oscila mas que muitas vezes não

é por aí além, o projeto fica quase todo para equipamento, essencialmente para

equipamento, para pagar algumas viagens ao estrangeiro para apresentação de artigos,

digamos que não há uma parcela significativa que fique na escola, pode ficar 5, 10, 15%

depende um pouco do projeto. Projetos internacionais temos alguns e aí as verbas são

tipicamente mais elevadas, mas o mercado é difícil de atrair esses projetos, temos alguns

mas não é algo que possamos pensar, olha vamos entrar por aí, vamos conseguir manter

o nosso nível e pagar salários com isso. É um complemento que podemos usar para gerir

a escola no dia-a-dia, com apoio a laboratórios e pouco mais do que isso, portanto, de

facto, atualmente não é fácil. Os projetos FCT, como eu disse, são poucos, são difíceis de

obter, quando se obtém muitas vezes são liderados por centros de investigação e ficamos

cá com uma parcela pequena, se é 100 de financiamento, se ficarmos com 20, 30 já não é

mau e depois no fim temos os overheads. Há situações em que é ao contrário, há outro

projeto que é ao contrário, mas tem que estar sempre ligado, portanto, não é uma fonte

que possamos dizer que temos um número de projetos suficientes para que seja de facto

algo muito importante e que tenha um peso significativo nas nossas finanças, não tem, é

importante, todos os tostões são importantes mas não é algo que possamos pensar que é

a nossa sustentabilidade. Se vierem é bem vindo mas não podemos contar com ele à

partida. E pronto, a nossa atividade resume-se um pouco a isso, é projetos de investigação,

nacionais ou internacionais, as prestações de serviços, depois há algumas parcerias com

empresas, fornecimento de equipamentos mas não podemos pensar isto é a nossa salva e

ficamos garantidos, não. Não ficamos, não conseguimos e daí a fonte de financiamento é

o OE e as propinas, claramente.

Falou-me de parcerias, pode enumerar-me alguns parceiros aqui da escola? O ACP,

a IBM são parceiros?

Temos protocolos com algumas empresas importantes aqui da região, praticamente com

todas mas não quer dizer que todos os anos sejam desenvolvidas atividades específicas

mas temos essa possibilidade. Brevemente, embora já esteja a ser usado em algumas

formações, temos aqui um conjunto grande de SETS, cursos de especialização

tecnológica que têm estágio no fim e portanto, muitas dessas empresas também recebem

estagiários e isso é uma forma de nos auxiliarem também. Presentemente, até no esforço

que estamos a fazer de voltar às origens, de voltar a cumprir o nosso papel de ligação às

empresas da região, estamos a colocar estágios também nas licenciaturas. O curso de

mecânica este ano já passou para o novo plano onde estão os estágios e portanto, muitas

das empresas também servirão como fornecedores de estágios. Temos a SECIL,

PORTUCEL, AUTOEUROPA, LOAQ, umas maiores outras mais pequenas mas temos

umas centenas de protocolos aqui na região. São situações em que em determinadas

alturas é necessário de fato algum trabalho ao abrigo do protocolo ativa-se as cláusulas

necessárias. Mas, como eu disse, depende um pouco das empresas, depende um pouco de

nós e portanto às vezes identificam-se necessidades. Agora estamos na tentativa de ativar

um conjunto de possibilidades com o IEFP, com o Porto de (localidade), com os

bombeiros, Proteção Civil, portanto, há aqui um conjunto de iniciativas que podem trazer

alguns frutos mas é como eu disse, são frutos importantíssimos, melhora a nossa imagem,

melhora a nossa ligação com a indústria e com os outros parceiros mas que em termos de

dinheiro não nos resolve, ajuda, mas não nos resolve o problema porque não podemos ver

isso só exclusivamente assim. Temos tido contatos, por exemplo, com instituições de

ensino brasileiras, angolanas, Moçambique ainda está um pouco por trabalhar. Tivemos

aqui visitas também de Cabo Verde, no sentido de estabelecer parcerias para darmos

formações lá ou eles mandarem alunos para cá, mas ainda está tudo muito… porque há

muitos contatos mas depois quando se começa a tentar concretizar há sempre um

problema ou dinheiro ou outra coisa, os vistos, há sempre alguma coisa que está a

emperrar o circuito. Temos aí um conjunto de alunos angolanos a estudar mas de fato

poderíamos ter muito mais, mas é o que temos. Em relação aos protocolos aqui da região,

há muitos, temos uma lista grande, assim de cor não sei mas são bastantes, tipicamente

são, são todas as empresas principais da região e também algumas de Lisboa, de Sines, a

PETROGAL, a EDP, portanto, temos várias empresas protocoladas e alguns trabalhos

que surgem ao abrigo desse protocolo ativam-se.

Os protocolos que estabelecem, geralmente os parceiros externos costumam exigir

algum tipo de contrapartidas?

Não, geralmente não…. O que nós temos são protocolos genéricos, em princípio, que

depois em situações de ativação, são estabelecidos contratos específicos… há um

protocolo genérico com a empresa e nem nós nem eles exigimos nada, é um acordo de

cavalheiros, uma boa vontade no sentido de estabelecer laços e depois ativamos esses

laços, ativamos essas ligações consoante as necessidades deles ou nossas, quer para

estágios, quer para trabalhos e o mesmo se passa com eles e depois aí chega-se a acordo

com o que for feito, não há contrapartidas. Agora para assinar um protocolo convosco

queremos isto ou aquilo, não, isso, tipicamente, não há. É um acordo livre, que

salvaguarda ambas as partes de uma forma genérica mas quando é preciso algum trabalho,

estabelece-se um acordo que pode ser… tipicamente é assim, quando colocamos lá

estagiários nas empresas ou outro tipo de situações, geralmente não há pagamento,

asseguramos os seguros dos estudantes mas não há pagamento à empresa e a empresa

também não tem encargos a menos que queira, em algumas instituições eles dão alguma

bolsa aos estudantes. Quando há trabalhos, aí há geralmente o pagamento dos trabalhos

que estiverem a ser feitos mas isso é acordado previamente, é uma prestação de serviços,

não há encargos por haver protocolos.

Autonomia do ensino superior. Apesar de não ter autonomia financeira, como vê a

autonomia do ensino superior? De uma forma mais geral e de uma forma mais

específica, a sua autonomia…

Isto da autonomia é algo muito bom quando se dá as condições, não consigo exercer uma

autonomia eficaz se não me derem as condições para a exercer. Financeira não tenho, o

(ISP) tem, em tempos já a tivemos, agora não temos. Diria que essa autonomia, e uma

vez que os recursos também são escassos, não é algo que me tenha impedido de certa

maneira de exercer o meu cargo ou de seguir a linha que quero. A restrição fundamental

é a restrição orçamental, aí tenho, mas não é por ter ou não ter autonomia, posso autorizar

as despesas, não autorizo pagamentos mas autorizo despesas, tenho autonomia para isso

e portanto, dentro do orçamento que tenho, considero que está adequado e não há

necessidade de alterar, é suficiente. O que de facto era necessário alterar era o

financiamento, isso é outra questão e não é só desta escola era de todo o ensino superior.

Gostava de ter autonomia financeira?

Gostava de ter recursos financeiros. A autonomia, como está, julgo que não há

necessidade, nunca me senti preso, é querer gastar aqui ou acolá e não poder. Na verdade,

temos restrições, temos regras, se me passassem uma informação do género, autonomia

financeira poderá ser por exemplo eu comprar equipamentos onde são mais baratos, aí

gostava. Porque muitas vezes sou obrigado a comprar equipamentos muito mais caros só

porque não posso comprar onde é mais barato, é ridículo mas é verdade. Mas isso não é

da autonomia nem minha nem do (ISP) porque o (ISP) é obrigado a cumprir as regras da

função pública. E portanto tenho que comprar na ANCP, na agência de compras, e quando

não têm o que quero tenho que pedir uma exceção que demora três ou quatro meses a vir

e eu muitas vezes, por exemplo, vou comprar um computador, que vejo que custa 1000

euros na ANCP, se houver, quando ali na loja onde vou comprar o meu, se for com o meu

dinheiro e custa 700 ou 600 e é a mesma coisa. E portanto, porque é que não posso ir lá?

Porque há uma regra, não sei se é por desconfiança nas pessoas ou nas instituições, se é

nas empresas em que não posso comprar fora daquela agência. Aí, se me dissesse assim,

o dinheiro está aqui, você gere e depois no fim faz-se um balanço e depois vê-se se foi

bem gerido ou não. Aí acho que era bem vindo, mas não tinha que ser para a (IES), tinha

que ser para o (ISP), porque de facto aí, poupávamos muito dinheiro e tínhamos as coisas

muito mais rapidamente do que atualmente. Mas isso são regras que nos impõem, não

podemos gastar o dinheiro, não é onde queremos, onde queremos até podemos, podemos

comprar aquele computador, podemos, estamos três ou quatro meses à espera. O

problema é de facto, que eu em vez de gastar 1000 posso ter de gastar 1500 ou 1600

porque estou restringido àquela loja, isso é que é o grande problema. Agora, de resto, se

compro, se invisto num laboratório ao comprar um multímetro ou giroscópios ou se

compro um computador, isso aí tenho autonomia suficiente para fazer isso, não é por aí,

agora onde compro, já é outra coisa. Porque a justificação de ter três, quatro, cinco

propostas, até podiam pôr as propostas que quisessem mas se nós tivéssemos

possibilidade de comprar naquela que é a mais barata e é um critério fundamental que nós

seguimos, aquela é mais barata, é a mesma coisa, o mesmo serviço, é aquela, não podemos

e isso é que é mau. Mas pronto isso aí é das regras.

Última pergunta, considera que a entrada de membros externos, agora com os CG

que o RJIES estabeleceu, se bem que o politécnico já tinha um conceito de CG,

considera que isso possa pôr em causa a autonomia das instituições? Ou interferir?

Haver conselheiros externos? Não, julgo que não, acho que é uma mais valia nós termos

uma visão, porque são externos, até podem ser do ensino porque a cooptação dessas

pessoas, neste caso nem é cooptação, é um convite que se faz e que depois é votado pelos

membros eleitos da instituição, sendo o convite livre, ou seja, qualquer membro pode

convidar um membro externo ou propor um membro externo ao conselho, acho que é

uma mais valia porque nos traz uma imagem, uma realidade diferente da nossa.

Geralmente são pessoas ligadas à indústria, a órgãos eventualmente autárquicos locais e

ao poder local e até mesmo nacional, outras instituições de ensino, empresas de grande

porte aqui da região, portanto, acho que isso é uma mais valia. Atualmente, o presidente

do nosso CG é o presidente da AUTOEUROPA, acho que é uma mais valia e não é

interferência porque eles trazem a visão deles, não estão em maioria, no nosso caso, em

29, eles são 8, portanto acho que trazem uma mais valia importante à instituição, não uma

interferência, não uma ingerência e portanto acho que é positiva essa participação, porque

é uma realidade diferente, são situações diferentes e mostram um pouco da visão da

empresa a vários níveis e isso acho que é positivo, não considero uma ingerência.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Entrevista IP7

Começamos por falar de si, um pouco sobre a sua formação académica.

Sou doutoranda de (universidade pública nacional), didática da matemática. Tenho

formação em matemática mas sempre trabalhei na educação. Estou nesta escola há vários

anos, há mais de 20 anos mas não tenho nenhuma formação em gestão. Portanto assumi

este cargo, primeiro ainda no conselho diretivo, ainda o RJIES não estava em prática,

ainda estive algum tempo no conselho diretivo e depois decidi avançar para uma

candidatura, já unipessoal como presidente da escola e estou na fase final do mandato.

São mandatos de quatro anos e este ano letivo é o último ano deste mandato como

presidente. Portanto, não tenho formação nenhuma na área mas tenho muita experiência

de educação e conheço muito bem a escola e de facto aventurei-me nesta tarefa. Da minha

experiência de direção, este tem sido um momento de grandes desafios, acho que isto

pode ser interessante porque está de certa forma relacionado com o seu trabalho, que é o

seguinte, embora tenha uma formação de matemática, estou a olhar para números e estou

rapidamente a perceber algumas coisas, não tenho mesmo formação em gestão financeira

nem nada nessas áreas e quando assumi, mesmo ainda no conselho diretivo, a parte

financeira já estava toda centralizada no (ISP) e portanto achei que na altura ia ser mais

simples, tudo iria ser mais simples porque de facto todos os problemas financeiros, todas

as questões, que não são simples, de facto, estavam no (ISP) e que nós podíamos estar

mais à vontade e portanto até achei que não ia ser complicado. O que não pensei é que

íamos ter pela frente uma série de questões, nomeadamente, toda a questão da avaliação

dos cursos, da implementação de um sistema interno de garantia da qualidade, a avaliação

também dos professores e depois todas estas mudanças que estão a ocorrer em termos da

procura dos cursos e que tem sido muito exigente em termos de trabalho. Não está a ser

tão simples como imaginei, embora acho que estejamos a conseguir, em termos de

participação na escola, uma grande participação, temos encontrado soluções em conjunto

para tudo e acabo por sentir que não pesa tudo em cima de mim e este aspeto parece-me

mais interessante nos termos da participação e no fundo a divisão do trabalho. Têm sido

tempos…. De muito trabalho, principalmente de muito trabalho, muitas solicitações e

muitas respostas. Agora acho que vamos entrar numa fase complicada em termos da

procura porque estamos a ser colocados em… não sei se já se apercebeu disso mas no

fundo está a haver uma asfixia exterior aos cursos de educação…

A empregabilidade…

Não, não tem a ver com a empregabilidade, tem mesmo a ver com uma medida

determinada do Ministério da Educação de fechar vagas e que nem sequer é em função

daquelas percentagens de empregabilidade. Este ano criaram uma série de condições, de

critérios numéricos que tinham a ver com a empregabilidade mas de acordo com esses

critérios não teriam por exemplo fechado vagas na licenciatura de educação básica. Mas

houve mesmo, já no ano passado tinha havido, este ano voltou a haver, uma medida

específica para fechar vagas nesse curso e portanto, o que estamos a ter que fazer é

reorientar a escola superior de educação para a captação de outro tipo de alunos e isso

tem dado bastante trabalho.

E em termos de percurso profissional até hoje?

Sempre fui professora, fiz a licenciatura em matemática, mas já com a componente de

ensino e portanto fui trabalhar, comecei logo a trabalhar como professora do ensino

secundário, depois fui fazer o mestrado e surgiu esta possibilidade de trabalhar na

formação de professores aqui na (escola do ISP) no princípio dos anos 90 e portanto

dediquei-me completamente à formação de professores do ensino básico e no fundo, fiz

assim de certa maneira um percurso de cima para baixo, ou seja, comecei por trabalhar

no secundário e no 3º ciclo e depois aqui fui trabalhando no acompanhamento do 2º ciclo,

do 1º e até do pré escolar, portanto, penso que consigo ter uma visão bastante completa

do que é a escola, digamos assim, e o que é a realidade da escola. Nunca trabalhei fora da

educação, fora da escola. Sempre trabalhei muito na didática da matemática quer em

termos de produção de materiais para a sala de aula, quer em termos de formação de

professores, tanto inicial como contínua, e continua a ser um dos meus grandes interesses

e por isso continuo a dedicar-me muito à questão da didática da matemática, que é

completamente à margem disto, mas pronto.

Considera que o seu percurso profissional a ajudou de alguma forma a desempenhar

as funções que desempenha?

Acho que há uma questão fundamental em termos do trabalho da gestão, que é a questão

da participação e do trabalho com as pessoas e da reflexão e por isso acho que sim. Mais

importante do que muitos conhecimentos é ter uma perspetiva de confiança nas pessoas

com que se trabalha e para ter essa perspetiva de confiança, constrói-se com as pessoas e

constrói-se reconhecendo-lhes o máximo de autonomia e o máximo de responsabilidade.

Isso não se faz de um momento para o outro mas aqui, toda esta facilidade, no fundo, de

conhecer as pessoas, de pensar sobre as situações, aquilo que chamamos de reflexão, acho

que tem sido um ponto fundamental. Posso dizer que estou extremamente satisfeita com

o trabalho e com as pessoas porque, no fundo, quer em termos de professores, quer em

termos de funcionários não docentes, há uma grande capacidade de autonomia e de

responsabilidade e portanto é muito fácil. É muito fácil mas passa também pela própria

pessoa se apagar um bocado, ou seja, passa pela pessoa ser capaz de aceitar que a solução

vem dos outros e não a sua e por não precisar de protagonismo, portanto, as coisas são

construídas coletivamente, são do coletivo, não são da própria pessoa e isso tem que ver

exatamente com esta perspetiva do que é um professor, do que é o papel do professor…

no fundo, toda esta mudança em termos de ensino de que a aprendizagem é feita pelas

pessoas e não é o professor que passa conhecimentos. Fazendo aqui um paralelo, acho

que consigo transpor o que fui aprendendo ao longo de muitos anos como professora e

formadora para esta função de gestão. Aliás é um bocado aquela ideia, como se

tivéssemos a transportar algo de que todos fazemos parte e que uma pessoa sozinha não

consegue mover uma coisa grande mas muitas pessoas a levarem um bocadinho

conseguem de facto mover e é um bocado essa sensação que tenho e que acho que temos

aqui na escola que é estamos a conseguir mover a escola porque todos damos o nosso

contributo e todos fazemos o nosso papel.

Para além da presidência ainda continua a docência?

Sim, não tanto como… quer dizer, continua nalgumas coisas até porque ao nível dos

mestrados fizemos uma grande aposta nos mestrados. Com o novo regime… antes de

Bolonha não podíamos atribuir o grau de mestre, passámos a poder, fizemos um grande

investimento em termos de mestrados que chamamos de pós profissionais ou académicos

e eu intervenho alguma coisa nesses mestrados exatamente ligado com a minha

experiência da didática da matemática, não tanto também como gostaria ainda porque

também tenho que acabar o meu trabalho de investigação e portanto não tanto mas sim,

alguma coisa.

Falou de Bolonha, qual a sua opinião sobre o processo de Bolonha?

Acho que o processo de Bolonha tem algumas coisas que são boas e que nós não as

percebemos logo imediatamente, mas fomos percebendo e construindo um bocado as

soluções e acho que algumas coisas que são boas. Vou dar um exemplo, a acreditação,

quer de unidades curriculares feitas noutras instituições, quer da experiência profissional

é um bom aspeto, a acreditação da experiência profissional, a mobilidade que pode ser

em termos nacionais ou internacionais mas no fundo, da nossa experiência tem sido mais

expressivo em termos nacionais. Temos tido muitos estudantes que procuram a nossa

escola depois de terem tido outras experiências no ensino superior e portanto o processo

de creditação de unidades curriculares acaba por correr relativamente bem. Também

temos muitas pessoas que nos procuram e que já exercem uma atividade profissional

ligada com o curso que vêm aqui realizar e aí, a creditação da experiência profissional

também tem sido uma resposta que temos dado, portanto, acho que não foi muito simples

a mudança do paradigma anterior que era o da equivalência e que comprometia muito, as

pessoas ficavam muito ligadas aos conteúdos que aquela pessoa tinha trabalhado noutro

lado e esta questão da acreditação obriga-nos a olhar mais para as competências das

pessoas, embora às vezes não seja fácil, mas obriga-nos a olhar e permite de facto um

reconhecimento que acho que é muito favorável e que vai muito no sentido exatamente

de ajudar quem nos procura a ter um diploma ou um segundo diploma, temos vários

alunos que adquirem aqui um segundo diploma e no fundo poderem ter o reconhecimento

de que também são competentes numa outra área, acho que isso foi um aspeto

importantíssimo. Acho que a lógica toda, no fundo o modelo que foi encontrado de

créditos de unidades de créditos e de certa forma alguma ligação com o tempo de trabalho

é um bom modelo e acho que essa uniformização facilita exatamente a questão da

mobilidade com o estrangeiro. Acho que também houve uma coisa boa que foi o

reconhecimento ao ensino politécnico da atribuição do grau de mestrado, estranhamente,

porque não também do grau de doutor, esse ainda está em cima da mesa, ainda está em

discussão, não sei o que vai dar e portanto acho que isso são coisas boas. Depois houve

questões que acho que não tem que ver com Bolonha, tem a ver com outras regras que

foram impostas que têm que ver exatamente com a organização da formação de

professores que acaba por ser feita por um decreto, que tem coisas boas mas que também

tem coisas más e que estabelece a questão das licenciaturas de acesso depois a mestrados

profissionais, com regras muito rígidas, por exemplo, agora que estamos na fase de

avaliação externa desses cursos, percebemos que mesmo entre nós e as comissões de

avaliação externa, portanto, no fundo, entre todos aqueles que… todas as instituições que

aplicam esses cursos, a uniformização que aparentemente foi determinada, não

corresponde a uma uniformização, há interpretações muito diversas, não sei se deveria ter

sido tão rígida aquela uniformização. Tenho dúvidas sobre isso mas acho que isso

decorreu de Bolonha mas não é propriamente Bolonha, Bolonha é basicamente um

conjunto de regras que facilitem de facto, por um lado a mobilidade e o reconhecimento

das competências e também o chamar muito a atenção para isso do que é que é hoje, o

que deve ser hoje uma formação de um nível de uma licenciatura, de um mestrado ou

doutoramento. Aí, acho que os documentos normativos de certa forma estão ainda um

pouco à frente daquilo que são as práticas, mas isso já sabemos que é sempre assim,

portanto, as pessoas continuam muito a pensar em função do que foi a sua experiência de

licenciatura, do que foi a sua experiência de mestrado, de doutoramento. E portanto, às

vezes com dificuldade em perceber que os tempos são diferentes, o acesso ao

conhecimento tem recursos que não tínhamos antes e o que deve ser a experiência de

formação ao nível superior deve ser outra coisa, e nós sentimos isso aqui na escola ainda

há, ao nível da licenciatura, às vezes o agarrar a determinadas coisas e uma dificuldade

em trabalhar outro tipo de competências, ao nível do mestrado a mesma coisa, não falo

ao nível dos doutoramentos porque não os temos aqui mas sentimos isso, isso tem muito

a ver connosco, com a nossa experiência. Por outro lado, há sempre também aquela ideia

de que os alunos que chegam também são cada vez mais… sabem menos… não será bem

assim, nós é que muitas vezes também não sabemos como havemos de trabalhar com eles,

lá está, temos de facto que mudar algumas coisas e vamos mudando.

Neste momento e assim num futuro, qual a sua opinião sobre o ensino superior

público português? Como o vê, em que estado está…

Não sei como hei-de responder a essa questão…. Há uns dias fui tentada, numa reunião

aqui entre presidentes e diretores do (ISP), apeteceu-me pôr uma questão provocatória

que era a questão do cheque ensino, ou seja, o que se está a discutir ao nível do ensino

não superior com a questão do cheque ensino, colocá-la ao nível do ensino superior e

portanto um bocado na linha de que será que aquilo que se está a passar não é de certa

forma dar cabo do ensino superior público para privilegiar o provado, portanto, fazendo

uma analogia, acho que as medidas que vã e estão a ser tomadas em termos do ensino não

superior em nome do acesso, do favorecimento da escolha pessoal, se vai estragar o

ensino público quando o ensino público não existe e o desenvolvimento da escola pública

não deve ser em função dos interesses de cada um mas sim em função de um

desenvolvimento social e portanto de uma tentativa de criar e de dar mais oportunidades

a quem tem menos, numa tentativa de educar a sociedade. E se calhar o ensino superior

deve ser a mesma coisa, ou seja, o ensino público devia ser mais acarinhado para ajudar

a subir o nível de formação de toda a gente e devia ser mais apoiado nesse sentido e as

medidas vão no sentido contrário, continuamos a ter índices muito fracos de licenciados

e de mestres e doutores, devíamos subir esses índices, mas com as medidas que estão a

ser tomadas não sei se vamos conseguir aumentar e por isso, independentemente da

empregabilidade, devia haver um grande financiamento ao ensino superior que não está

a haver e portanto não sei para onde é que vai, talvez que o objetivo seja, exatamente,

proteger o ensino privado, não sei. Não tenho pensado muito no assunto, só penso um

pouco neste aspeto, de facto, há recursos, há know how, há uma série de coisas… e

estamos a ver instituições do ensino superior público com imensos problemas, portanto,

o que vai acontecer a todo o investimento que foi feito, não sei.

E sobre o ensino superior privado, esta convivência público/privado, o que acha do

ensino superior privado?

Vamos lá a ver. Também defendo que haja o ensino não superior privado e portanto as

pessoas têm direito a escolher outras escolas, agora não devem é ser financiadas nesse

sentido. No ensino superior também faz sentido ensino privado mas não sei.

Em termos concorrências, para dar ofertas que não existem no público…

Sim, por exemplo. Quer dizer, ele apareceu exatamente para ir completar as falhas do

público, sinceramente não sei, acho que faz sentido o ensino privado mas não… não sei.

Agora relativo aos alunos e às propinas. A lei de 92 introduziu as propinas no ensino

superior público. Qual a sua posição sobre a existência de propinas? Há autores que

defendem que o pagamento de propinas responsabiliza os alunos, no sentido de

quererem acabar com qualidade o seu percurso académico, outros autores dizem

que isso diminui a igualdade de oportunidades e de acesso. Nestes extremos, onde se

situa?

Acho que as soluções em termos de apoios… os serviços de ação social e as bolsas

poderão resolver esse problema. Sabemos que não resolvem totalmente porque há regras

na atribuição de bolsas que às vezes não permitem ajudar de facto quem precisa. De

qualquer maneira, muitas das pessoas que não teriam outras possibilidades acabam por

ser apoiadas pelas bolsas e portanto se calhar o problema não está nas propinas mas nas

bolsas e nas regras que estão estabelecidas, o sistema social. Penso que… acho que isto

tem a ver como tudo de facto, não é pelas coisas serem todas gratuitas que há maior

equidade. Sei que isto é uma discussão complicada mas não é por isso e, portanto, lá está,

a existência de uma propina assim como a existência de uma taxa de saúde, como outro

tipo de taxas podem proporcionar que as pessoas paguem e que sejam mais

responsabilizadas pelos serviços que têm, portanto se calhar o valor da propina, apesar de

ser muito elevado não é exageradamente elevado e o sistema social pode ajudar a

ultrapassar essas dificuldades. Claro que percebemos que quem está junto das pessoas

como nós, percebemos que há pessoas que o fazem com grande esforço e com grande

sacrifício, mas também é verdade que há muitas pessoas que se não houvesse propina, ou

seja, se alguém pagar a propina… quer dizer, acho que isto é demasiado complicado a

todos os níveis, quer dizer, não sei qual seria a solução mas acho que tudo gratuito

também não é solução, basicamente é isto.

Tem acontecido aparecerem alunos com dificuldades em pagar? A escola facilita?

Sim, temos a situação de permitir que o estudante faça um plano especial de pagamentos

e autorizamos e alguns têm conseguido fazer nessa base, o que não quer dizer que não

existam casos em que não percebamos que aquela pessoa deixou de estudar ou anulou ou

desistiu por isso. A questão é que não é apenas a propina, muitas vezes, é todo o contexto

familiar, toda uma série de outros problemas que existem. O que estamos aqui a falar, no

fundo, é que de facto ainda vivemos numa sociedade muito desigual em que há diferenças

enormes e isso é que é o grande problema. Agora, como é que isso se resolve… não sei,

mas é verdade, continua a haver desigualdades enormes, um fosso enorme entre as

pessoas e nós temos contato com casos que são de facto dramáticos, a questão do

desemprego e todas essas questões… não sei como se vai resolver isso. Apesar de tudo

parece-nos que não está a haver, parece-nos mas não temos certeza porque ainda não

temos dados este ano, que não está a haver taxas muito elevadas de desistência, mas

sabemos que neste momento houve alunos, houve um número mais elevado de alunos de

2º e 3º anos da licenciatura que não se vieram matricular, poderão ser questões

financeiras, também está a reduzir bastante a procura dos cursos pós laborais e isso aliás

foi evidente nas colocações, que são muitas vezes frequentados por trabalhadores que

querem melhorar de facto a sua formação e portanto isso também é um indicador de

grandes dificuldades. Agora não sei se é a questão da propina o aspeto mais evidente, não

tenho a certeza… acho que precisávamos fundamentalmente, em termos por exemplo, de

educação, de uma política também completamente diferente e de uma comunicação social

que não crucificasse completamente os professores, quer dizer, os professores estão muito

mal vistos na comunicação social, são responsáveis por todas as desgraças e o próprio

ME ainda alimenta mais tudo isso e portanto precisávamos de facto de uma outra lógica

em termos de educação mas isto é a desgraça que temos. Repare, também estou a dizer

isto porque somos uma escola que tinha só recursos de educação, de formação de

professores, depois começamos a ter, exatamente com Bolonha, um curso de animação

sócio cultural e no fundo estamos a enveredar aqui por uma zona, que está a ser muito

interessante, da educação não formal e também estamos a apostar agora nas artes

plásticas, que é uma área em que no politécnico não há nenhuma escola em (localidade),

há todas as outras artes, mas não há nenhuma escola de artes plásticas e com alguma

experiência que tínhamos da formação de professores de educação visual, criámos uma

licenciatura em artes visuais e tecnologias e estamos a conseguir aí uma procura

interessante e acho que estamos a fazer um trabalho que pode ser interessante. Por

exemplo, nós temos aqui algumas dificuldades em termos da procura dos nossos cursos,

seja por imposição do ME com a educação básica, seja por diminuição de interesse com

o curso de animação, portanto, o curso de animação está a manter-se mais ou menos com

a procura que tinha mas aumentámos o número de vagas e ficámos com o número de

vagas por preencher. Mas, por exemplo, a escola superior de comunicação social teve este

ano, para os seus cursos em que tem à volta de 60 vagas para cada curso, tinha 300 ou

400 candidatos. O que é que isto quer dizer, que há muita gente que ainda escolhe esses

cursos ou que quer ir para esses cursos, encheram todas as vagas que tinham e se tivessem

mais enchiam e portanto, continua a haver uma grande procura e claro que estamos em

(localidade), etc. Mas, apesar da crise continua a haver muita gente a procurar o ensino

superior, se calhar há é cursos que têm opções de procura e isso também tem que ver com

toda a lógica social em que estamos metidos. As pessoas, qualquer profissão que venham

a ter, se tiverem uma formação mais completa, será melhor profissional, se calhar ainda

o ensino politécnico possa desenvolver-se mais e ajudar a formar profissionais mais

interessantes. Também sabemos pouco sobre isso, ou seja, quando digo que sabemos

pouco, são divulgadas poucas situações sobre isso. Vou dar um exemplo, este curso de

animação quando começou não tinha pós laboral mas depois passou logo a ter e nos

primeiros anos teve uma grande procura no pós laboral e tinha pessoas com profissões

que aparentemente não tinham nada a ver com isso como um polícia, um motorista da

carris, e no fundo estas pessoas não vieram aqui buscar, quer dizer, o caso do motorista,

ele se calhar continua a ser motorista da carris, mas esta formação que fez no curso de

animação, deu-lhe com certeza uma perspetiva diferente de uma série de aspetos e ele vai

ser muito melhor no que está a fazer e até em termos da sua carreira pode vir a fazer outras

coisas, mesmo continuando na empresa que está e tudo isso. O polícia que trabalhava na

escola segura e que fez aqui uma formação em animação com certeza que também abriu

um outro conjunto de ideias e desenvolveu um outro conjunto de competências e passou

com certeza a ser um profissional muito melhor e se calhar o conhecimento deste tipo de

formações e deste tipo de desenvolvimento profissional que acho que ainda não temos cá

em Portugal, mas que podia ajudar as pessoas a procurarem cursos com uma grande

componente prática e portanto, cursos que não são muito difíceis mas que abrem

perspetivas e que dão competências. Quando estou a dizer isto, não são muito difíceis,

temos um bocado essa perceção, portanto, os cursos são cursos às vezes trabalhosos no

sentido em que implicam horas de trabalho e trabalho com outros mas não são cursos que

do ponto de vista cognitivo muito exigentes, é verdade, mas são cursos que dão formação

de facto às pessoas e isso é… se calhar o ensino politécnico pode ter aí um papel mais

importante que não está a ser reconhecido e não está a ser divulgado e que é bom porque

quanto melhor forem as pessoas, melhor é o nível do país. É mais ou menos isso.

Considera que justo o valor de diferença das propinas em relação aos graus, por

exemplo, o mestrado é mais caro que a licenciatura… há cursos de mestrado que

não exigem tantos recursos como a licenciatura.

Aqui temos a mesma propina para os mestrados e para as licenciaturas e portanto a nossa

perspetiva é exatamente ser o mesmo valor. Acho que está a colocar uma questão bastante

interessante porque acho que as propinas de mestrado, em algumas universidades e

politécnicos também porque depende dos cursos. Acho que de facto as propinas são

exageradas e acho que, no sentido até do que estou a dizer de dar maiores oportunidades

às pessoas, acho que podiam ser mais baixas. Exatamente uma maneira de baixar as

propinas é também baixar os custos e fazer cursos mais aliciantes para as pessoas e que

vão mais ao encontro nalguns casos daquilo que as pessoas estão a fazer e aqui na escola,

de certa forma, pensamos sobre isso, lá está, às vezes não conseguimos tomar as decisões

no sentido de ir ao encontro dessa perspetiva porque as muitas pessoas ainda têm outra

perspetiva dos graus, do que é fazer um mestrado, do que é fazer um doutoramento. No

fundo, quem define uma série de aspetos ligados aos cursos são os conselhos científicos

e os conselhos científicos são conselhos e a sua constituição e aquelas pessoas

determinam muitas coisas. Dou um exemplo, no ensino não superior, até há pouco tempo,

o grau académico para se ter essa profissão era o grau de licenciado. Com Bolonha passou

a ser o grau de mestre, o que significa que temos muitos professores no terreno, nas

escolas, com grau de licenciado. Ora, muitos desses professores, mas muitos mesmo, são

pessoas com um trabalho excecional, com uma experiência profissional excelente, muitas

vezes já com componentes de projetos e mesmo até às vezes de estudo muito

interessantes. A essas pessoas devíamos ser capazes de proporcionar condições para

adquirirem rapidamente o grau de mestre em condições favoráveis, quer em termos de

tempo, de trabalho que lhes seria exigido e também de propina e sei que há instituições,

concretamente o IE tem a possibilidade de, pelo menos nalguns mestrados, um professor

com uma licenciatura pré Bolonha, com mais de não sei quantos anos de serviço,

consegue fazer o mestrado num ano com excelentes condições, isto é uma excelente

medida e acho que nós, (escola), devíamos tentar ir neste caminho, não digo já… as

pessoas resistem um bocado mas lá está, pode haver os mestrados e se calhar daqui a

algum tempo, se calhar esta ideia vai evoluindo para os doutoramentos, podem

proporcionar o grau académico em condições diferentes. Isto vai um bocado ao encontro

do que disse no princípio sobre a questão de Bolonha, acho que Bolonha, pelo menos a

mim ajudou-me a pensar desta maneira, a pensar muito mais em termos das competências

que as pessoas devem ter e a olhar para a sua experiência profissional de outra forma e é

isso que temos que fazer. Já se começa a falar em doutoramentos também

profissionalizantes e portanto é um bocado essa a ideia.

Faz sentido porque senão são desvalorizados em relação aos que têm um grau

superior…

E sabemos muito bem como muitas vezes o grau académico não é nada, não se traduz

aquela pessoa e isso cria situações muito desagradáveis. Neste momento, por exemplo,

numa escola do politécnico está a haver uma pressão para alguns professores que não são

doutorados que não sejam coordenadores do mestrado porque são a pessoa com certeza,

naquele caso concreto, é a pessoa com mais empenhamento, mais dedicação, mais

conhecimento naquela área, por razões várias, se calhar tem a ver com as próprias áreas

científicas das pessoas, não fizeram o doutoramento ou ainda não fizeram o doutoramento

e, no fundo, a própria instituição vai ter que as substituir, por pressão das avaliações

externas, vai ter que a substituir e vai ter uma pessoa com um perfil muito menos

adequado às funções que precisam ser desempenhadas, em nome de quê? De um grau

académico. Vamos com calma, quer dizer, há timings, uma coisa é dizer que têm 10 anos

para se reorientarem, outra coisa é dizer que senão mudarem a coordenação de curso, o

curso fecha. Isto são lógicas completamente diferentes e nós sabemos isto, vamos com

calma, quer dizer, é desejável que toda a gente no ensino superior seja doutorado. Há

áreas onde sempre foi muito complicado as pessoas realizarem doutoramento, as

condições não eram favoráveis, é verdade. Entretanto, vamos a pouco e pouco e nesse

sentido no IP, estou a pensar concretamente no de (localidade) que é o que conheço

melhor, de facto, há pessoas excecionais que não tiveram condições na sua área para fazer

o doutoramento. E agora até estão a fazê-lo, as coisas estão a ser resolvidas e orientadas

nesse sentido mas por vezes depois as leis são muito rígidas, tem que ter não sei quantos

% de doutorados, tem que ter mas tem que ser a pouco e pouco, claro, que com o

compromisso das pessoas obviamente, mas haver compromissos não é a mesma coisa que

dizer tem que ser para amanhã. Mas acho que isso também tem que ver um bocado com

a nossa lógica, não sei se é portuguesa, mas enfim… a nossa cultura, o nosso karma, deve

ser isso.

Uma questão diferente, qual o papel que julga ser dever do estado perante o ensino

superior público? Ele é regulador, financiador…

Está a fazer perguntas em que não pensei nisso dessa maneira, a minha retração é assim

um bocado, quer dizer, qual o papel do estado?

Qual deve ser… em princípio está legislado, acha que deveria ser mais, acha que

está a cumprir bem o seu papel?

Não sei o que vou responder a isso, acho que o papel do estado tem um problema e parece-

me que esse problema, que me apercebo mais desse problema quando penso na educação,

porque o estado é simultaneamente o financiador do ensino superior e portanto a formação

dos professores e o seu principal empregador e portanto mistura aqui as duas coisas e se

calhar relativamente aos médicos e aos enfermeiros deve ser a mesma coisa, na saúde

deve ser a mesma coisa, o que não se passa relativamente a outras profissões. Acho que

o estado devia ser independente depois no que é que vão ser aquelas pessoas e portanto

parece-me… estou a dizer usto concretamente porque esta medida dos dois últimos anos,

de cortar vagas na educação porque o estado não quer estar a financiar mais a educação

porque ele é que é o empregador e portanto, está a financiar para o desemprego ou outra

coisa qualquer e também está a financiar na sociologia, na antropologia, no direito, em

tudo e não está muito preocupado com isso, portanto, não retirou vagas nesse sentido.

Acho que não devia misturar as duas coisas e isso assim à partida parece-me o aspeto

mais importante. Talvez por isso não seja boa ideia o ministério ser o mesmo, ou seja,

estar o mesmo ministro com a educação e com o ensino superior e tudo isso, talvez aí

devesse ser uma coisa de facto diferente. Nunca pensei assim muito para dar uma resposta

sobre isto…

Mas disse uma coisa que nunca tinha ouvido que é o facto de o estado ser

empregador…

E isso é mau mas vamos lá a ver uma coisa, por exemplo, nós, (escola), preocupamo-nos

muitíssimo com a qualidade do que fazemos por várias razões mas quando falamos em

empregadores, também temos o privado como grande empregador, ainda por cima

formamos educadores de infância, que vão trabalhar com crianças dos 0 aos anos da

creche e aí o maior empregador acaba por não ser o ME mas todas as instituições e

organizações que trabalham a esse nível. Agora fui buscar esta ideia só para mostrar que

de facto têm que ser coisas diferentes, quer dizer, temos empregadores que não são o ME

são outras entidades e escolas privadas e tudo isso. Nós próprios, na nossa cabeça ainda

há uma grande confusão, muitas vezes aqui na formação de professores e educadores

ainda misturamos as duas coisas. Defendemos, por um lado, que estamos a formar

profissionais que vão trabalhar em termos da educação naquela perspetiva ideal da

educação para o desenvolvimento e da educação para a melhoria social e todas essas

ideias muito bonitas, mas simultaneamente, também sabemos que estamos a preparar

pessoas para serem empregadas por alguém, que tem em vista o lucro, que tem em vista

outro tipo de valores. E temos que balançar aqui as duas coisas porque sabemos que uma

escola privada, se vai contratar um profissional quer um determinado perfil que pode não

ser exatamente o mesmo do que vai ser um perfil de um profissional de educação numa

escola pública. Numa escola privada se calhar vão exigir certo tipo de resultados que a

escola pública, a meu ver, deveria ter outro tipo de resultados. E portanto, esta dupla

aceção joga-se aqui muitas vezes e às vezes dá origem aqui a situações sobre as quais

devíamos pensar mais e às vezes não conseguimos pensar por todas as pressões que

sentimos. Já vivemos, já vivi aqui situações em que a diretora do colégio vem falar

connosco e pede uma reunião connosco dizendo que os profissionais que nós contratámos

formados daqui são muito bons numa determinada coisa mas têm aqui falhas e vocês têm

que ver o que é que podem fazer relativamente a estas falhas. Claro que se ela vem fazer

isto, isto é a minha interpretação e eu falei com essa diretora, porque ela reconhece que a

parte positiva é suficientemente forte, ela não quer despedir de facto aquelas profissionais

e ela acha que temos alguma responsabilidade e devíamos completar ali alguma coisa mas

o que é interessante é que as quer lá porque lhes reconhece uma série de competências,

até melhor do que outros profissionais formados por outras escolas, isso é um aspeto

interessante e sobre o qual devíamos pensar um bocado, afinal de contas qual é o

profissional que uma escola pública… nos enveredamos muito… a nossa matriz de

formação, digamos assim, é muito a formação para a escola pública, mas qual o perfil de

um professor no ensino privado? É diferente, pode ser de facto, portanto, há aqui esta

discussão que tem que ser feita. Por outro lado, claro que ficamos muito satisfeitos quando

um profissional nosso e temos exemplos disso, numa escola privada consegue níveis de

sucesso excecionais dos alunos e portanto percebemos que conseguimos ter ali um

profissional de grande qualidade, reconhecido pela comunidade e isso pode ser muito

bom a vários níveis e se calhar também consegue ter aqueles resultados porque está a

trabalhar com alunos do ensino privado, como é que ele seria no público, não sei, mas sei

que ali é muito bom, estou a pensar num caso concreto e que a própria escola reconhece

e que nós até dizemos que a escola pode aproveitar muito bem este profissional e até fazer

um bom marketing a partir dos resultados dos exames e isto para dizer que nós próprios

não sabemos às vezes, ainda temos dúvidas, ou seja, ainda temos aqui muita coisa para

refletir e para pensar que linhas de trabalho é que devemos definir. Porque nos estamos a

dar conta que possivelmente os profissionais que estamos a formar agora, nos próximos,

não sei, mas vai ser um intervalo de tempo muito alargado, vão trabalhar no ensino

privado, não vão trabalhar no ensino público. Portanto, se calhar há aqui alguma coisa

que temos que mudar, não sei, ou não, mas pelo menos ter consciência disso sim. Agora,

voltando à questão do papel do estado, vamos sabendo… temos alguma informação do

que são os nossos profissionais, os nossos diplomados, o que estão a fazer, alguns fizeram

um curso de formação de professores e não são professores, vão fazer outras coisas e por

isso, acho que o papel do estado tem que ser, independentemente da formação, portanto,

do curso que for e da via de saída que os diplomas vão atribuir, deve ser financiador de

alguma coisa, de uma parte, porque senão financiasse nada as propinas eram muito mais

elevadas, portanto, deve ser financiador de uma parte, deve ter condições, exatamente

porque está a promover um ensino de um nível superior para melhorar o desenvolvimento

de toda a sociedade… deve ter um papel em termos de financiamento? Sim. Se o que

existe é qb? Não sei, depende, depende porque tem havido cortes sucessivos onde não

devia haver, portanto, se calhar era melhor financiar um bocado mais. Que as instituições

também podem organizar-se e às vezes, nalguns casos, gerir melhor os recursos, também

é verdade, também não vamos estar com coisas porque nós também podemos gerir melhor

alguns recursos, temos exemplos disso e se calhar passa por perceber de maneira diferente

o que é que deve ser de facto esta formação e portanto, conseguir, com os recursos que

existem melhorar uma série de coisas, porque também é verdade que em determinados

aspetos às vezes houve esbanjamento, houve uma grande facilidade, talvez, isto acho que

pode ser um bocado controverso mas acho que podemos talvez fazer, temos é que fazer

diferente… se calhar há aqui coisas que acabam por estar ligadas, se calhar toda a

orientação de uma perspetiva do que deve ser uma formação de nível superior e do que é

que devem ser as competências de um licenciado, de um mestre, de um doutorado,

implicam que se reconverta algum do trabalho que era feito, isso é um aspeto e isso pode

levar a uma outra gestão dos recursos em termos de professores que acaba por ser o

recurso mais pesado do ponto de vista financeiro, do ensino superior. Agora, talvez que

as regras do financiamento, etc, possam ser outras, claro, é óbvio, mas isso também tem

tudo o que ver com as dificuldades de gerir uma coisa complicada e depois todos querem

sempre e todos acham sempre que o seu é que deve ser mais bem financiado e é uma

grande complicação. Mas acho que pode haver melhor gestão talvez nalguns aspetos.

Em termos de financiamento e relativamente aos alunos, tem alguma estratégia de

marketing, informação para chamar mais alunos à instituição?

Acho que ainda não percebemos que estamos agora a começar a precisar de pensar mais

nisso, acho que vivemos um tempo em que, de certa forma o marketing era automático

porque havia índices de empregabilidade muito elevados.

Estratégias de captação de alunos…

Até agora não nos preocupámos muito com isso, embora respondêssemos a alguns

pedidos das escolas secundárias e fizéssemos aqui algumas iniciativas, no último ano, a

iniciativa que fizemos não teve muita procura. Agora, acho que temos que nos preocupar

com isso. Quais são alguns aspetos dessas estratégias. Primeiro, em termos de

comunicação temos tido muitas dificuldades, temos uma página horrível, temos uma série

de coisas horríveis, mas estamos a conseguir ultrapassar isso, portanto, vamos ter uma

página nova, pusemos agora um facebook a funcionar, temos uma funcionaria que está a

trabalhar a esse nível, lá está, isto é um indicador de que em termos do politécnico, a

questão da imagem não está a ser bem gerida porque não é cada escola a ter uma

funcionaria, mas pronto, há aqui… acho que é um indicador de que qualquer coisa não

está a ser bem gerida, mas isso é um problema interno mas que vai ao encontro daquela

ideia que a gestão de recursos pode ser muito melhorada, mas vamos melhorando algumas

coisas. Isto em termos de comunicação. Mas temos que se calhar começar a ter também

uma série de outro tipo de documentação que chegue aos jovens de outra maneira e temos

que perceber isso, é uma perspetiva que temos que trabalhar mais. Agora, se pensarmos

que somos uma escola do ensino politécnico e que o ensino politécnico pode ser uma

continuidade em termos de educação de muitos jovens que estão no ensino profissional,

se calhar temos que perceber melhor como vamos juntar esses jovens, aliás, muitos dos

nossos estudantes do curso de animação vêm do ensino profissional e portanto, temos que

chegar mais aos cursos profissionais. E há uma maneira também de chegar aos cursos

profissionais que é com parcerias com escolas do ensino profissional que podem fazer um

primeiro ano, o que se chama um curso de especialização tecnológica, embora também

não saibamos se isso vai acabar, é uma zona em grande ebulição. Mas ainda existe neste

momento a possibilidade de as escolas de ensino profissional terem esses cursos já de

nível IV, que são os CET e podem ser uma maneira de prolongar um pouco mais a

formação desses jovens no ensino profissional e depois de certa forma, preparando-os

para virem fazer uma licenciatura e isso é uma zona que por exemplo o instituto

politécnico de (localidade) não trabalhou muito e outros politécnicos e até universidades

do país trabalharam mais e portanto acho que também temos de trabalhar alguma coisa

por aí, chegar mais ao ensino profissional e assumirmo-nos muito mais como uma via de

desenvolvimento e de formação para estudantes que fazem o ensino não superior pelo

ensino profissional. Acho que temos que apostar nisso mas ainda não temos as coisas

muito… temos assim uma ou outra iniciativa nesse sentido mas não temos muito trabalho

a esse nível, portanto, acho que são as duas vias em que temos que trabalhar, comunicação

e imagem, ver melhor como chegamos aos alunos e depois ir buscar mesmo

explicitamente alunos do ensino profissional.

Tem tido algumas dificuldades financeiras face a estes cortes?

Temos sido privilegiados e vou explicar porquê. Primeiro, porque tivemos alguns

programas de formação contínua que nos deixaram alguns recursos financeiros… foram

via PRODEP e POPH, mas conseguimos gerir bem esses fundos e manter ainda algum

equilíbrio a partir daí, que tem que ver com os programas de formação contínua de

matemática e de língua portuguesa que foram implementados na vigência da ministra

Maria de Lurdes Rodrigues. Acho que tivemos aí uma boa bolsa financeira que nos deixou

equilibrados e depois porque temos tido muitos professores que se reformaram e quando

se reformam são sempre professores mais caros e contratámos professores muito baratos.

Nos últimos quatro anos vivemos muito desta situação, portanto, o que tínhamos, o que

conseguimos guardar e ir gerindo desses POPHs e esta questão dos professores que se

reformaram. Portanto, não temos tido problemas financeiros mas vamos ter que… fomos

tendo alguns cuidados, é verdade… no fundo, nós em termos das escolas do politécnico

devemos ser neste momento uma das duas escolas que tem a situação financeira mais

equilibrada e estável, mas não podemos ficar quietos. Às vezes há uma pequena medida

que… e vou dar um exemplo, portanto, nós há dois anos tínhamos aqui uma

contabilização de horas de tutoria para os professores apoiarem os alunos e essas horas

contavam no horário de trabalho do professor. Quando começámos a perceber que tinha

que haver aqui alguma redução, acabámos com essas horas de tutoria e de facto isso

implicou alguma poupança de cinco ou seis ETIs, que é muito dinheiro. Isto no fundo é

um exemplo e em poucos dias decidimos, foi antes do ano letivo passado, não vai contar

o horário e de facto conseguimos reduzir o número de professores, medidas dessas

permitem às vezes reduções grandes. Pode perguntar-se se não piorou a qualidade do

ensino. Se calhar não, se calhar não foi significativo. Claro que os professores estavam

mais à vontade, é verdade, mas é a tal história, quer dizer, às vezes, nós professores

precisamos de mudar algumas coisas, se calhar às vezes estamos instalados num certo

tipo de funcionamento e se calhar outro funcionamento consegue outros resultados e de

uma maneira melhor. Isto para dizer que acho que temos tido muita sorte mas não

podemos ficar a dormir, temos que ir tendo aqui outras iniciativas. Este ano perdemos

alguns alunos e isso vai refletir-se no financiamento daqui a dois anos. Neste momento já

estamos a pensar em novos cursos que permitam uma gestão, às vezes um nome de curso

diferente permite ir buscar mais estudantes e cursos com alguma parte comum podem ter

uma gestão mais fácil e melhor, é um bocado isso. E estou a dizer isto porque de facto

fomos percebendo isto nas últimas semanas, começámos a pensar, há aqui uma zona que

se calhar este curso de animação não capta estes alunos com esta designação mas um

outro curso que tem uma parte comum e que pode ter uma outra perspetiva pode ir buscar

alunos e por isso se calhar temos que rapidamente fazer uma nova proposta de curso.

Claro que as coisas são muito, fazer um curso, o processo de acreditação, etc., pode não

ser para o ano seguinte e nós precisávamos já para o próximo. Talvez ainda consigamos

porque houve agora um… a data de acreditação de propostas de novos cursos alargou o

prazo e se calhar estes 15 dias dão aqui alguma margem, isto para dizer que temos que

estar sempre em cima do acontecimento porque as coisas acabam por ser muito rápidas.

Por outro lado, também sabemos que há aqui um aspeto que está a ser muito complicado

no acesso ao ensino superior que é a história das provas específicas, mas estas provas

também não se podem mudar, mudam-se também com dois anos de avanço, o que é

complicado. Sabemos que uma das causas porque este ano houve problemas no acesso

aos cursos de animação, por exemplo, no nosso caso, porque a prova de acesso era a prova

de língua portuguesa e as notas na língua portuguesa foram muito penalizadas. Os cursos

de engenharia estão a ter imensos problemas porque passaram a ter como provas de acesso

a matemática e a física e isso é logo uma machadada. Neste momento, há dois ou três

dias, ainda nem olhei para o documento, está a haver uma medida do ME no sentido em

que o acesso aos cursos de formação de professores seja com prova específica de

matemática e língua portuguesa, isso é asfixiar completamente, em nome do quê, lá está,

é a confusão do ministro que é simultaneamente empregador e portanto, acha que tem que

regular a qualidade do ensino não superior, com professores que dominam, supostamente,

acedem com essas duas formações. Tenho tantas dúvidas sobre isso. E isso o que vai fazer

é asfixiar mas é o mesmo ministro que disse há dois ou três dias também, pelo menos nas

notícias diziam isso, que iam inquirir o que se estava a passar para a baixa de procura dos

alunos. Mude as medidas de acesso e, além das questões financeiras, é óbvio também há

esses problemas… mas mude as políticas de bolsas, mude a questão dos acessos e vai ter

mais alunos. E há outras coisas, toda a comunicação sobre a educação superior também

podia ser de facto diferente. Mas é uma asfixia que pode de facto vir daí.

Tem parceiros privados que colaborem com a instituição através de protocolos?

Temos alguns. As chamadas receitas próprias, para além das propinas temos um valor

muito insignificante, neste momento temos alguns mas com um valor insignificante, lá

está, a nossa grande área de intervenção é a educação e quem é que gasta dinheiro na

educação… não temos grandes empresas a trabalhar connosco, como é óbvio, temos

alguns protocolos, fazemos algum acompanhamento, por exemplo, temos investido muito

no trabalho com as escolas, com os professores e com os agrupamentos de escolas, mas

não vem muito dinheiro por aí, vem algum dinheiro de formação contínua, mas não vem

muito dinheiro de facto por aí, acompanhamos algumas escolas TEIP, temos projetos de

formação contínua mas as escolas não têm dinheiro para gerirem portanto por aí não vem

muito dinheiro. Temos um protocolo também com a associação de estabelecimentos de

ensino privado em termos de formação contínua mas não são financiamentos muito

grandes. Portanto, a esse nível precisamos também de procurar parceiros… quer dizer,

não sei se é procurar parceiros que nos financiem, porque lá está, é uma área de trabalho

onde acho que há muita coisa interessante para fazer, era preciso é que os próprios

agrupamentos também tivessem algum orçamento que pudessem gerir e que pudessem

canalizar de facto de outra forma, não sei se vão ter ou não porque atualmente discutem-

se muito os contratos de autonomia dos agrupamentos, não sei se isso vai dar a

possibilidade de gerir algum dinheiro mas a esse nível também se passam aí algumas

coisas que não são muito simpáticas mas pronto. O que podemos ter mais, agora está-se

a discutir toda a estratégia 20-20, virão supostamente alguns financiamentos europeus,

mas são sete cães a um osso e está toda a gente a imaginar projetos em cima de projetos,

ideias, quer dizer, no fundo acho que estamos a imaginar projetos para ver se conseguimos

ir buscar algum dinheiro quando devia ser precisamente, dos projetos que já existem, das

coisas que fazemos é que devia haver financiamento. Em termos de investigação, temos

muito pouco, estamos muito atrás, as universidades têm os seus centros de investigação

muito reconhecidos e conseguem ter projetos e depois é sempre um bocado aquela velha

ideia de quem já tem no currículo é que vai conseguir mais financiamento, quem não tem,

mesmo que o projeto seja melhor, isto é em termos de concursos públicos, etc., são sempre

coisas muito estranhas mesmo. Neste momento tentamos fazer parcerias que sejam

interessantes do ponto de vista do trabalho que nós queremos fazer, é verdade, não são

rentáveis algumas não, pode ser que venham a ser, não sei, talvez. Prestação de serviços

é formação contínua e consultoria, mais nada.

Alugam espaços?

Alugamos espaços mas também não fazemos disso uma grande… lá está, pode ser que

seja uma má gestão, o que temos são parcerias em que cedemos espaços, mas isso também

porque achamos que temos um papel a esse nível, temos parcerias com associações não

lucrativas portanto não vamos estar a pedir porque achamos que deviam apoiar mas tudo

isto é discutível. Em termos de espaço não temos aqui uma grande receita, também não

sei se os nossos tipos de espaços… também já tivemos contatos interessantes a esse nível,

tivemos um contato interessante de uma organização que precisava de salas de formação

e que estava interessada em pagar o aluguer de salas de formação mas depois perceberam

que estavam sujeitos a um financiamento que não podiam pagar a uma instituição pública.

Existem regras que asfixiam de facto as coisas, eles eram financiados por um

financiamento qualquer que não dava para pagar a uma instituição pública. A nossa

sociedade está cheia de armadilhas, muitas armadilhas. E depois do ponto de vista privado

e das instituições que são privadas mas são fundações, há muita coisa estranha, é melhor

não irmos por aí, passam-se aí coisas muito estranhas.

Disse-me que estava mais ou menos estável em termos de orçamento. Caso ficasse

mais desestabilizada, o que é que poderia cortar? O que é que priorizava e o que é

que cortava?

Acho que nós, neste momento, em termos de onde podemos mexer, só já podemos mexer

nos recursos humanos, não temos outra hipótese, não podemos reduzir mais na segurança

nem na limpeza, nem na luz, não podemos reduzir mais a esse nível. Em termos de

equipamentos também já estamos com a manutenção nos mínimos, quase nos mínimos,

conseguimos ir fazendo alguns investimentos mas já estamos nos mínimos, por isso será

sempre em termos de recursos e em termos de recursos quer dizer menos professores e

menos funcionários, não há outra hipótese. Agora, aí não vejo como (escola), vejo como

(ISP), que aí há coisas a fazer, há, e pode haver uma melhor gestão dos recursos do (ISP),

pode, mas passa por mudar algumas coisas e alguns funcionamentos de algumas coisas e

por regular algumas coisas de outra maneira. Com as pessoas a trabalharem um bocado

mais, algumas em certas coisas e menos noutras, vou dar um exemplo, que é um tema que

temos discutido bastante no IP, neste momento, os professores têm uma avaliação de

desempenho que tem três componentes, parte pedagógica, organizacional e a parte da

investigação e claramente há professores… estes três domínios de avaliação têm atribuída

uma percentagem, mas claramente há professores que têm um perfil mais virado para a

intervenção pedagógica ou para a intervenção organizacional ou para a investigação,

portanto, se houver aqui alguma flexibilidade, é possível que haja alguns professores que

invistam mais na parte pedagógica porque não estão interessados nem o seu perfil é para

investirem muito na investigação e portanto podem trabalhar um bocado mais e até estão

dispostos a isso e com isso pode haver alguma redução de recursos. Aqueles que não

querem investir na parte organizacional, é possível fazer alguma coisa a esse nível mas

acho que tem que ser o próprio instituto.

Quais os moldes dos contratos ou protocolos que tem? Quais as contrapartidas que

os financiadores exigem ou querem, falou há bocado de uma associação com quem

trabalhavam que cederam as instalações, se calhar não têm financiadores tão

grandes que exijam contrapartidas…

Pois, não temos. Acho que é mais ao contrário, acho que é mais essas pessoas, essas

entidades procuram-nos porque percebem que podem ter alguma coisa, que nós estamos

dispostos a colaborar, não o contrário, eles não nos exigem contrapartidas porque nos dão

pouco, agora talvez nalguns casos… por um lado, achamos que é a nossa missão, por

outro lado, nalguns casos, podem vir a partir daí a ser desenvolvidas parcerias que podem

ser interessantes, como por exemplo, contextos de estágio para os nossos alunos. Temos

um número de parcerias enorme com as entidades onde os nossos estudantes fazem os

estágios e no fundo é tudo a custo zero do ponto de vista quer das escolas e portanto dos

agrupamentos e dos professores, quer das juntas de freguesia, câmaras, serviços de

educação e outras entidades privadas, grupos de teatro, museus, centro português de

refugiados ou a prisão não sei de quê, o IPO, o Hospital de Santa Maria, portanto, há toda

uma série de entidades, onde os nossos estudantes fazem um estágio e são no fundo o que

chamamos de protocolos cooperantes e que são imensos, e nalguns casos, algumas

parcerias serão futuras, portanto às vezes facilitamos, percebemos que aquela organização

pode vir a ser um parceiro e vamos apoiar nesse sentido, é um bocado a esse nível. No

fundo temos muitas entidades parceiras mas o dinheiro envolvido é muito pouco mas por

outro lado também me parece que com isso vamos conseguindo um reconhecimento

público muito grande e isso acaba por ter efeitos que podem não ser imediatos, mas tem

efeitos. Não podemos esquecer que estamos no distrito de (localidade) onde há muitas

organizações, muita gente, muita coisa, por isso também é uma maneira de a imagem da

(escola) ser cuidada. Acho que isso funciona e acho que já estamos a ganhar alguma coisa

desse conhecimento e temos um indicador muito concreto que é os nossos mestrados

académicos, os tais pós profissionais estão a ter um nível de procura superior ao das outras

instituições de ensino superior de (localidade) e portanto isso deve querer dizer alguma

coisa. Se um mestrado desses não tem procura o problema é do mestrado, é interno, este

ano abrimos vários mestrados e tirando dois, um já sabemos que tem alguns problemas e

o outro, todos encheram, praticamente completaram o número de vagas e nalguns casos

até havia mais candidatos do que vagas. Se formos ver as vagas (de uma universidade

nacional), ficaram com vagas por preencher e há uma outra instituição que também tem

mestrados procurados por professores, também ficaram com níveis de procura inferiores

aos nossos. Claro que nestas coisas a pessoa nunca sabe exatamente mas parece-nos que

há um reconhecimento da escola que pode ser, acho que ainda é tudo no domínio das

hipóteses, mas a pouco e pouco as coisas vão funcionando.

Último bloco. Qual a sua perceção da autonomia do ensino superior? Sei que não

tem autonomia financeira mas tem as outras, como vê esta questão?

Acho que a autonomia do ensino superior neste momento tem que ser vista num quadro

diferente que nós todos andamos a perceber ainda as linhas que ele define, que é o da

avaliação dos cursos e das instituições. A criação da agência de avaliação não é pacífica,

quer dizer, a agência de avaliação foi criada, supostamente, como uma entidade

independente, não tenho a certeza se é completamente independente, tenho dúvidas, quer

dizer, independente pode ser que seja mas não é independente de algumas pressões e ela

é que vai regular de facto uma série de coisas e nós estamos a perceber isso, estamos todos

a viver, isso é geral, esse processo de avaliação dos cursos e estão a acontecer coisas que

nos deixam a pensar. Portanto, a autonomia é muito regulada por aí porque por um lado

temos que cumprir algumas regras e essas regras já são impostas, não são discutíveis mas

depois para além disso há interpretações das regras que cerceiam essa autonomia,

portanto, não sei muito bem onde isto vai parar.

Sente que tem autonomia?

Quer dizer, acho que temos uma grande autonomia, temos é que saber como é que

podemos jogar, ou seja, temos margens de liberdade muito grandes que podemos utilizar,

mas temos que ser muito inteligentes a utilizá-la exatamente para perceber as regras que

vão existindo e isso é mesmo difícil. Por outro lado, há regras que são de certa forma

impostas, que têm muito a ver com as questões da internacionalização e da investigação

e que às vezes não são simples de pôr em prática. Isto em tudo que ver com, agora vou

fazer aqui uma analogia que é capaz de ser interessante, isto é como as questões da idade

adulta e da responsabilidade e quem tem filhos sabe muito bem, as pessoas querem, por

um lado, ter a sua autonomia mas muitas vezes não vêm que têm que ter as

responsabilidades decorrentes daí e isso às vezes cria situações complicadas com os pais.

Se calhar aqui estamos a chegar, em termos de ensino superior, a um nível diferente em

termos de autonomia e de responsabilização, mas ainda não percebemos bem qual o papel

central e qual o nosso papel, não sei se esta analogia ajuda alguma coisa, mas às vezes, e

como tenho as duas experiências, penso, mas é verdade que também temos que ter outra

responsabilidade e de facto, muitas vezes, ainda estávamos naquele paradigma que vinha

sempre o dinheiro, não interessava, vinha, não era preciso dar contas, era um bocado os

pais financiam e nós fazemos o que queremos e agora isso não é possível, quais as regras,

algumas são boas, outras são más, mas é a tal história, de facto quando uma pessoa se

torna adulta, quer ter a sua independência e às vezes é confrontada com coisas que não

gosta muito, é uma grande chatice. Mas acho que ainda não chegámos à idade adulta, se

fossemos por aí, estamos a chegar à idade adulta do ensino superior em Portugal e ainda

andamos aqui à procura de algumas coisas… bem, mas deve ser um disparate o que estou

a dizer…

Faz sentido o que diz, tem que haver um certo amadurecimento até na forma como

as pessoas conduzem porque é como disse, houve uma mudança de paradigma em

que não tinha que se prestar contas e agora tem de se gerir um orçamento mais

limitado…

Mas gerir um orçamento é gerir um outro aspeto, tens o curso mas tens que fazer

internacionalização, tens que fazer investigação e tens que fazer não sei o quê, tens aqui

o curso e não é só porque és muito simpático e até tens uns professores porreiros, não.

Mas como é que se faz internacionalização? Porque depois há esse aspeto e isso é a parte

complicada do nosso sistema, como é que se faz internacionalização? É fazendo um

projeto com os brasileiros e estamos aqui todos numa boa, isso já é internacionalização

ou porque conhecemos uns finlandeses muito simpáticos e vamos fazer aqui um projeto,

é isso? Tem que fazer investigação sobre o curso, o que é que é fazer investigação? É

publicar papers, todos da treta? E isto nós sentimos muito. O ensino politécnico,

infelizmente a meu ver, tem esta marca de que a investigação não lhe era reconhecida

como um domínio fundamental, depois foi evoluindo, falo por mim, as próprias pessoas

que estão como professoras no ensino politécnico não se assumiram e não foram no fundo

envolvidas numa cultura institucional de investigação e portanto não foram

desenvolvendo investigação, investigação que poderiam ter feito muito mais, de natureza

diferente e com uma grande componente prática, não foram fazendo isso, fora a pouco e

pouco, se calhar nalgumas instituições até conseguiram fazer e noutras não mas agora têm

que fazer as coisas. Que é verdade que há muita investigação que tem que ser feita, que

devia ter sido feita sobre a formação que o ensino politécnico faz, não tenho dúvida

nenhuma sobre isso mas agora não é de um dia para o outro que se faz. Que a questão da

internacionalização se calhar é engraçada aqui porque possivelmente algumas instituições

de ensino politécnico em zonas mais desfavorecidas, conseguiram fazer muito mais e

melhor, estou a pensar em politécnicos que conseguiram parcerias internacionais,

principalmente com os PALOP, muito mais interessante do que por exemplo o (ISP). Mas

conseguiram e ainda bem que as têm e se calhar a esse nível têm indicadores muito

valiosos neste momento que de facto nós não temos. Acho que nestas discussões todas

tem que se distinguir o ensino politécnico do ensino universitário porque de facto são dois

caminhos completamente diferentes e as pessoas que estão no ensino politécnico tiveram

uma cultura diferente das que estão no ensino universitário e portanto há aqui coisas que

têm que ir avançando de outra maneira, agora como se faz isto de um momento para o

outro? É difícil, mas pronto, há-de se chegar a algum lado.

O RJIES estabeleceu a existência de CG e a entrada de membros externos no ensino

superior. Considera que esta entrada ou esta abertura do ensino superior ao mundo

externo pode comprometer a autonomia do ensino superior ou não?

Não sei, por acaso fiz parte do grupo que fez os estatutos do politécnico, constitui-se um

conselho estatutário, não sei se tinha este nome e que construiu os estatutos e acho que

foi muito interessante, que nos obrigou a algum trabalho conjunto e o tal CG lá ficou com

uma série de lugares para as pessoas de fora. Agora, na prática, não faço parte do CG e

os ecos que vou tendo são sempre por outras pessoas. Não me parece que… as entidades

exteriores, se forem cooptadas exatamente para darem contributos e acho que são nesse

sentido, não vão cercear absolutamente nada, vão dar uma boa ajuda, portanto, não me

parece que vão retirar nada… agora, será que estão a ser a mais valia que se pensaria?

Não sei. Mas não me parece que estejam a criar qualquer espécie de limitações à

autonomia da instituição, até porque a maioria continua a ser das pessoas da instituição e

portanto acho que podem dar um bom contributo, o que acho é que nós ainda não

estejamos preparados para isso, todos, porque às vezes o outro lado também não sabe

muito bem onde está metido e o que vai lá fazer. Mas muitas vezes essas pessoas é

engraçado que… não sei exatamente quem são os cooptados do CG do (ISP), não sei

quem são todos mas alguns são ex professores, professores reformados que no fundo já

são do sistema, são do meio e continuam a ser bons contributos porque muitas pessoas

que se reformaram, reformaram-se ainda no auge, num ponto ainda elevado da sua

carreira, são pessoas ainda com muito para dar, portanto, é uma boa maneira de

continuarem a dar contributos. Não me parece que vão tirar autonomia nenhuma. Porque

haviam de tirar autonomia… (o banco), por exemplo, que sei que está representado no

CG do (ISP), quer dizer, aquela pessoa que está lá não vai criar problemas, não vai tirar

autonomia nenhuma… acho é que é preciso de facto escolher bons parceiros. Porque

quem escolhe os elementos é o próprio CG, é o CG interno que vai escolher os seus

membros exteriores, portanto, vai escolher aqueles que vão ser parceiros, não é uma

candidatura aberta e não vem qualquer um. Não é uma candidatura exterior é uma

cooptação, de dentro para fora, ou seja é de dentro que se vai buscar os parceiros que

melhor podem dar contributos, isto obriga é a conhecer muito bem, lá está, ter as parcerias

e conhecer os parceiros que se vai convidar, claro que há sempre surpresas.

Mas a questão era essa, é se por via do financiamento externo, pudessem haver

outras exigências que pudessem comprometer a autonomia…

Acho que não, acho que os parceiros no (ISP), até há parceiros bastante interessantes do

ponto de vista financeiro, mas não me parece que vão abalar nada. O que não quer dizer

que não haja instituições de ensino superior que possam vir a ser abaladas, vou dizer uma

coisa que acho divertidíssima, tenho uma visão, acho que a questão do género é uma

questão tramada e acho que a gestão ao nível de algumas instituições de ensino superior

é demasiado masculina e por isso há muita coisa que tem uma visão masculina e de facto

as mulheres pensam e enfrentam as coisas de forma diferente, não tenho qualquer dúvida

nisto, e por isso, falta aqui se calhar uma visão mais feminina, mais equilibrada das coisas,

não sei, se calhar isso está a influenciar algumas das minhas ideias, mas não me parece

que tenha que haver receios desses. Posso estar completamente enganada mas não me

parece. E também não tenho assim a ideia de ter ouvido alguém, por exemplo, ao nível

do IP, preocupado com essa questão, não tenho essa ideia.

Gostava de acrescentar mais alguma coisa?

Posso acrescentar, já fui entrevistada algumas vezes e depois acabo sempre por achar

divertidíssimo as entrevistas porque me deixam sempre a pensar em coisas em que não

tinha pensado ou não tinha pensado bem daquela maneira. Encaro sempre estas

entrevistas como uma oportunidade para pensar sobre algumas coisas e que têm que ver

com o meu trabalho, colocou-me algumas questões para as quais não tinha resposta,

outras remediei mais ou menos uma resposta mas agora vou ficar a pensar nalgumas delas

e acho que isso é muito interessante. De certa forma também tem esta função e são

momentos agradáveis.

Entrevista IP8

Começamos por falar um pouco sobre a sua formação académica.

Sou licenciada em matemática e depois fiz tanto o mestrado como o doutoramento na

didática da matemática. Por acaso, como já sou um bocado mais velha, ainda ligada à

(universidade pública nacional), (a universidade pública nacional) ainda não existia. Sou

professora coordenadora aqui, sou diretora da escola e mantenho uma forte ligação com

o instituto, sou docente convidada da (universidade pública nacional) no doutoramento

da didática. Sou diretora há dois anos, estou a meio do mandato, comecei em janeiro de

2012.

Ainda dá aulas?

Tenho mantido sempre a ligação, este ano dou uma unidade curricular completa, só eu, e

mantenho a coordenação de uma outra unidade curricular, embora não a deste ano, eu

coordeno a unidade porque envolve vários docentes de várias áreas, portanto, dou

unidades curriculares na área do mestrado e depois oriento teses de mestrado e

doutoramento.

Como avalia a sua experiência enquanto diretora?

Tradicionalmente, aqui na minha instituição, o ambiente é habitualmente considerado

amigável, isto não quer dizer que as pessoas não tenham opiniões diferentes e que não

haja de vez em quando questões e algumas tomadas de posição mais fortes deste ou

daqueles ou de grupos, enfim. No entanto, a atitude geral, e isto não tem a ver com a

minha direção, é uma atitude tradicional da escola, uma atitude de colaboração com a

direção. As direções, de uma forma geral, são bastante próximas das pessoas, portanto,

não se assumem como estando e portanto há uma colaboração entre os vários órgãos do

conselho cientifico, do conselho de representantes, como com os docentes, dos

departamentos e diretores de curso. Claro que, entrei em janeiro de 2012 com os meus

colegas e a situação já era complicada e nós sabíamos, de qualquer forma, e em particular

para a educação, com o atual governo, as coisas pioraram… sabia que isso ia acontecer

porque conheço o perfil do ministro há muitos anos e se alguma coisa pudesse acontecer,

ainda me espantou que fosse tanto, que avançasse tanto para o mal, ainda acharia que ele

ficaria um bocadinho aquém daquilo em que estava. Portanto, neste momento há uma

política clara de encostar o politécnico para os cursos de curta duração e cada vez temos

menos dinheiro e como em todo o lado, mas note que o politécnico onde trabalho é um

politécnico que ainda tem vindo a ter recursos, ainda continua, por exemplo, aos docentes

que estavam a terminar os doutoramentos, este ano ainda lhes pagou as propinas, penso,

tenho a certeza que é o único politécnico a nível nacional que manteve os contratos

PROTEC que foram feitos com os docentes porque a FCT não deu de facto depois o

financiamento a partir de determinada altura e aqui foi cumprido o contrato, até ao ano

passado integralmente, este ano já não foi possível dar alguma compensação letiva, mas

foram pagas as propinas a todos os professores que estavam ainda no programa em

programas de doutoramento. Portanto, isto é para dizer que, apesar de tudo, este

politécnico tem problemas financeiros graves mas não tem, como outros sítios, não só

politécnicos como universidades, etc. Agora, temos um grave problema… o

financiamento que temos é significativamente via propinas, as propinas financiam o nosso

funcionamento, vivemos e cobrimos uma população com recursos cada vez mais

complicados, o que quer dizer que muitos dos nossos estudantes ou alguns dos nossos

estudantes desistem ou não pagam propinas, não é fácil. Embora, segundo um estudo feito

pelo politécnico, a ação do politécnico cria riqueza, portanto, cada euro investido no

politécnico gera 3,5 euros devolvidos à sociedade do ponto de vista de contrapartidas

externas, impostos, temos estudantes aqui, movimentam-se, andam de transportes de um

lado para o outro, mantêm uma série de atividades, há uma série de coisas que se

movimentam a nível da alimentação… geramos esse tipo de… sabemos que a maior parte

do abandono escolar tem a ver com as condições económicas e também com o emprego,

portanto, muitos dos trabalhadores estudantes começam a ter que desistir porque o

emprego não lhes dá condições para trabalhar e 60% dos nossos estudantes são

trabalhadores estudantes, mesmo que possam não ter o estatuto de trabalhador estudantes,

portanto, fazem umas horas ali, não conseguem ter o estatuto mas a verdade é que, mesmo

na formação inicial nas licenciaturas, a maior parte dos nossos estudantes, contrariamente

ao que acontecia há uns anos atrás, trabalha, faz algumas pequenas coisas para conseguir

manter-se. O que quer dizer que a vida académica, o que se vive na instituição de gente

que tem tempo para estar é cada vez mais reduzido, a participação nos órgãos é reduzida

por parte dos estudantes porque eles de facto vêm e partem imediatamente porque têm

que ir ganhar algum dinheiro para conseguir pagar as propinas.

Têm planos faseados de pagamento, facilitam?

Há duas decisões, uma, os estudantes podem pagar mensalmente, portanto, o

desdobramento está no máximo, e podem pagar até ao final do ano letivo com um juro

insignificante. E depois há um programa que é o PAS, um programa de apoio para os

estudantes que não são abrangidos pelas bolsas, que não são bolseiros, porque a questão

de ser bolseiro às vezes é muito complicada. Mas que têm dificuldades económicas

evidentes e portanto criou, foi o ano passado a primeira vez que funcionou e este ano está

igualmente aprovado, apoia-se o pagamento parcial de propinas, não sei de cor mas em

vez de pagarem a propina total, pagam só uma parte e em contrapartida fazem um

conjunto de horas para a instituição. O ano passado por exemplo aqui na escola pedi

transcrições e tivemos uma estudante que nem sequer era de cá e esteve aí uns dias a

transcrever entrevistas para um projeto de investigação.

Têm preenchido todas as vagas?

É assim, a (escola) tem-se desenvolvido, começou com educação e depois tem tido vários

cursos, alguns com muito tempo, com mais de 20 anos. noutras áreas, como é o caso da

comunicação social. A nossa história neste momento em termos de vagas é a seguinte,

educação, ainda continuamos a preencher as vagas, reduzimos o número de estudantes

porque fomos obrigados por lei a reduzir, na formação inicial, portanto, a formação inicial

de professores. a licenciatura em ensino básico. há dois anos teve uma redução obrigatória

de 20% das vagas e o ano passado outros 20%. somos obrigados a reduzir estas vagas,

mas nós enchemos. A licenciatura em ensino básico enche, o desporto, se mais houvesse,

mais teríamos e a comunicação social a mesma coisa. Portanto, estes três cursos, embora

previsivelmente a questão da educação possa vir a mudar. Temos a aninação e intervenção

sócio cultural, este ano não enchemos na primeira fase mas no cômputo da primeira e da

segunda ficámos razoavelmente bem. temos dois cursos em que um tradicionalmente tem

pouco público, que é o de Língua Gestual Portuguesa, que é um público um bocado

restrito, mas sempre foi assim, não muda, portanto, mantemos um nível, há sempre vagas,

mas depois há pessoas que mudam e vão ficando por aqui. Temos um curso que tem vindo

a decrescer bastante e não sabemos se o vamos continuar ou não que é o de Património

Artístico e Cultural, é muito numa área em que cada vez mais está vazia porque tem a ver

com cultura e não há emprego nenhum, portanto, é uma área em que estamos com graves

problemas e que tem vindo a decrescer, ficam muitas vagas por encher.

Tem alunos internacionais?

Temos alguns alunos internacionais, globalmente, no segundo semestre, somos uma

escola pequena mas neste momento estão inscritos, segundo semestre, cerca de 850

estudantes, portanto, teremos neste momento, 26 estudantes cá. Há um flux mais ou

menos constante de estudantes estrangeiros, nós não temos módulos internacionais, não

lecionamos em língua inglesa, temos a certeza que se um dia o fizéssemos iríamos atrair

muito mais estudantes.

Dos PALOP?

Sim, vêm bastantes, mas também temos muitos dos países nórdicos, gostam muito para

viajar e apanhar um bocado de sol, já temos há muito tempo.

E estratégias de captação de alunos?

Temos uma estrutura central, o GICOM, gabinete de informação e comunicação, que tem

a tarefa de fazer a divulgação, vai a muitas escolas secundárias, escolas profissionais e a

feiras e não sei o quê e é a partir daí que nós fazemos. também temos outras estratégias,

temos o dia aberto, o ano passado houve várias iniciativas até de professores nas escolas

secundárias daqui. Mas a questão das feiras, que aqui neste politécnico se faz muito ligado

à tecnologia e ligado à gestão, essas feiras têm a ver com convidar empregadores do

distrito, agora, os nossos empregadores são diferentes dessas empresas, os nossos

empregadores têm características diferentes e por isso, para nós, fazer assim uma feira,

nunca fizemos, portanto temos assim esta estratégia, mais ou menos funciona... é preciso

contar, fazê-la... temos é uma estratégia de muita integração com as câmaras, associações

culturais, fazemos muitos seminários aqui no nosso anfiteatro, que envolve muita gente

de muitos quadrantes e com a qual acabamos por ter muito contacto. Por exemplo, neste

momento, o grupo de desporto da escola está muito dinâmico e a ligação com as

federações, temos uma área forte que é desporto para pessoas portadoras de deficiência

permanente, portanto, há aqui uma dinâmica grande que se tem gerado ao nível do

desporto e que acaba por estar muito ligada ao que se faz na câmara de (localidade), na

Câmara de (localidade), temos uma forte ligação e é um bocado por aí que nos

movimentamos.

Voltando um pouco atrás, de alguma forma as funções que tem desempenhado ao

longo da sua carreira e as competencias a nível académico, ajudaram de alguma

forma a desempenhar as funções que hoje desempenha?

O que me preparou mais para o cargo de diretora... há duas coisas que... não posso dizer

que estou completamente preparada e nem sequer é essa questão, portanto, o qe acho e

onde me posso apoiar. uma, é o grande conhecimento da escola, estou cá há muitos anos,

desempenhei vários cargos, mas nunca a nível de direção e portanto, embora nesses

cargos tivesse sempre uma forte ligação com as pessoas da direção, nessa altura, fui

presidente do científico e naturalmente trabalhei em colaboração com a direção que estava

na altura, acho que isso é uma coisa importante. Depois há outra coisa que é a equipa,

portanto, quando me candidatei, anunciei a equipa que me acompanhava, portanto, não

sou só eu, isto é uma equpa portanto, os dois sub diretores, um, é uma pessoa que transitou

da direção anterior e a nível daquilo ue não sei nem tenho muito interesse em saber que é

a gestão financeira, é ele que faz de interlocutor com o politécnico portanto, esse tipo de

coisas, portanto, é uma pessoa que está muito treinada, também conhece muito bem a

escola. A outra pessoa, objetivamente deveria ser uma pessoa mais nova, não conhece tão

bem mas também temos que dar lugar aos novos, era uma das coisas que dizia na minha

candidatura e também achei que devia integrar uma pessoa que não conhece... mas de

qualquer maneira, acho que o fcto de se conseguir funcionar em equipa, acho que isso é

interessante e a mim ajuda-me. depois eventualmente uma coisa que os meus colegas

acham que me dá muito estofo, muita preparação, foi o facto de durante quatro anos, fui

primeiro sub diretora geral e depois diretora geral no MInistério da Educação, na altura

era a DGIDC, agora DGE e portanto essa experiência, que decorreu entre 2006/2010, no

mandato do anterior governo. naturalmente, aí aprendi muita coisa, a nível de gestão, a

nível de lidar, esse tipo de coisas, acho que basicamente é isso. mas também não acho que

tenha sido a direção o fundamental, acho que isto é uma coisa que qualquer um pode fazer

e que fundamentalmente tem a ver com ir falando, tem a ver com a equipa, conhecer bem

a escola, é muito importante, temos que gerir muito bem os sentimentos, os equilíbrios e

para isso às vezes é importante conhecer bem as pessoas e os caminhos onde nos

movimentamos.

Sobre o ensino superior público português, a sua impressão? já manifestou o seu

desagrado a nível político pelas orientações do ministro, de uma forma geral, qual a

sua opinião em relação ao estado atual do ensino superior, tendências, evolução...

Bom, é assim, como hei-de dizer, partilho aquilo que acho que o comum dos portugueses,

digo eu, partilhará. Globalmente digo que, acho mesmo que há indicadores nesse sentido,

que o ensino superior cumpre um papel de algum rigor e de exigência e que formamos

com qualidade, não quer dizer que sejamos todos iguais, necessariamente não somos

todos iguais mas teremos que evoluir, não sei bem quando porque estamos numa fase de

retrocesso e sem investimentos é muito difícil evoluir, mas a qualidade da formação e

aquilo que fazemos não fica, nem pouco mais ou menos aquém a nível do que

conhecemos de outros países, conheço mais a europa, não tanto outros sítios mas não fica

aquém, ficamos a par e nalguns casos temos nichos a nível nacional de excelência e

parece-me que globalmente estamos a caminhar, temos vindo a fazer um caminho de

qualificação, de qualidade, etc. A questão do politécnico universitário é uma questão

complexa… é uma questão que na mentalidade portuguesa está muito enraizada na

desvalorização do politécnico em relação à faculdade, é também um aspeto em que acho

que o reitor aposta, estamos à procura, estamos a captar estudantes em igualdade de

circunstâncias e portanto acaba por ser uma luta e nesse sentido, nessa luta, procuram

ignorar um bocadinho o politécnico. Naturalmente não concordo com essa perspetiva que

a nível de opinião pública geral poderá ter efeito mas que não corresponde nem pouco

mais ou menos a alguma qualidade. As universidades, tal como os politécnicos, têm uma

atividade de qualidade nalgumas áreas e sítios e outra de menor qualidade noutros,

claramente qualquer avaliação diz isso, nenhum dado diz que o politécnico é inferior, por

um lado. Por outro lado, dizem que o politécnico se desenvolveu a imitar a faculdade, em

parte é verdade mas também em várias áreas a universidade se desenvolveu a imitar o

politécnico, dou o exemplo da formação de professores para ensino básico, que nunca na

vida teve dotada às universidades e que agora também têm. Formação de educadores de

infância e professores do 1º ciclo, há várias universidades que a têm e não estariam então,

tendo em conta os parâmetros da universidade, vocacionado para fazer isso. Acho que é

difícil, a afirmação deste esquema e a luta, na minha área científica e na comunidade

científica onde me movimento, essa luta de facto não é visível, portanto as pessoas não

se separam, entre universidade e politécnico, neste caso (escolas). As pessoas da (escola)

trabalham com as universidades em colaboração, em projetos, com bastante naturalidade,

na minha comunidade científica não tenho essa separação mas ela existe, os

doutoramentos têm que ser feitos na universidade, os outros graus também, a agregação

também, essas coisas, isto há-de demorar muito tempo a mudar e era importante que se

fosse discutindo e aprofundar a qualidade e não fazer aquilo que os políticos fazem que é

mostrar a sua qualidade dizendo mal dos outros.

A nível político tinha falado que estão a empurrar os politécnicos para fazer cursos

de curta duração…

É um grande lançamento, no Horizonte 20-20 temos que Portugal deve aumentar o

número de licenciados, pelo menos de entradas no superior e há uma meta bastante

superior à percentagem que temos neste momento. E uma das formas de ter dados

relativos a estudantes do ensino superior, captar estudantes do secundário para o superior

foi esta modalidade dos cursos de dois anos que agora se chamam cursos técnico

profissionais superiores, uma coisa desse tipo, já tiveram um nome e agora têm outro…

estes cursos ficam alocados no politécnico e algum do esforço do politécnico deverá ser

feito nesta formação, note que estes cursos não são licenciatura, são grau V a nível

europeu. Claramente, esta é uma das missões que está a ser dada por este governo ao

politécnico, sem a menor dúvida, as coisas estão em negociação, não acredito que… o

CSISP tem um programa em que reivindica algumas definições, nomeadamente a

possibilidade da transversalidade, sim senhora, fazer esta formação mas também

continuar com licenciaturas, mestrados e doutoramentos, não académicos mas na área

profissionalizante. Tendo em conta o que existe neste momento, não me parece que o

CSISP tenha grandes… há algumas críticas que têm sido feitas a estas formações, acredito

que elas vão começar seja como for para o ano… também não acho mal que comecem,

não é isso, aquilo que é complicado é depois as instituições desenvolverem-se perante

determinadas perspetivas. Vou explicar, por exemplo, nesses cursos de curta duração de

dois anos, o corpo docente desses cursos deve ser 50% de especialistas. Por definição, um

especialista habitualmente é uma pessoa que é de uma atividade profissional, portanto,

imagine que tenho aqui um curso de animação, uma coisa qualquer, um animador social…

imagine apoiante de qualquer coisa da 3ª idade, faço um curso destes e tenho que ter 50%

de especialistas nessa área. Ora, um especialista nessa área não é um colega meu, um

especialista nessa área é alguém que teve pelo menos dez anos de trabalho no apoio à 3ª

idade ou na área da saúde, numa coisa ligada a isso que normalmente não é nenhum perfil

dos meus colegas. Aqui tenho pessoas académicas maioritariamente, também temos

alguns especialistas em algumas áreas específicas. Mas isto para dizer que, quando

decidirmos aqui alguma coisa, tenho que ir captar pessoas do terreno dentro dessa coisa

porque tenho que ter 50% de especialistas. Mas entretanto, para creditar os cursos que

tenho nas licenciaturas e nos mestrados, tivemos que fazer doutoramentos, portanto, há

um apelo académico que foi feito e acho bem que tenha sido feito mas a escola

desenvolveu-se num determinado sentido. Onde? Nas universidades. Mais, a avaliação e

acreditação dos nossos cursos é feita com parâmetros de rigor a nível de publicações

científicas, de publicações em revistas com referee, aquilo que imagina, tal e qual como

na universidade. Ou seja, esses cursos vão-nos criar problemas do ponto de vista de

desenvolvimento, por exemplo, imagine que vou trabalhar aí, não posso ser uma pessoa

altamente empenhada numa formação muito prática e não sei o quê, que a maior parte das

vezes está ligada ao saber fazer e depois fazer publicações altamente científicas na minha

área, ao passo que as universidades, não, isso é o saber, saber, não têm necessidade

nenhuma de ter especialistas, exceto em casos particulares e portanto faço o percurso

académico delineado… portanto, não sei até que ponto, haver sempre aqui vários nichos

e várias formas de pensar o desenvolvimento das carreiras e a organização da formação,

que é um bocadinho complicado mas reconheço também que estamos no início portanto

é o que sei dizer, uma pequena impressão inicial.

Sobre o ensino privado, a existência e a convivência com o público, qual a sua

opinião?

Bom, ao longo da história houve coisas que nunca ninguém percebeu. Vou dar um

exemplo, há bastantes anos, há mais de dez anos, houve uma possibilidade dos

professores do 1º ciclo do ensino básico, que tinham sido formados nos magistérios, os

antigos professores, de fazerem uma equivalência a uma licenciatura e fizeram uma coisa

que eram os cursos de complemento de formação, regido pelo ministério, estava

regulamentado e tinha um enquadramento. Nós, assim como todas as (escolas) públicas

da altura fizemos os cursos de complemento de formação, claro está que as pessoas que

estavam no terreno vinham, a duração desse curso era de dois anos… sabíamos da

existência de algumas privadas que tinham uma formação de um ano, está a ver? Nunca

percebemos porquê, isso nunca foi desvendado, ou seja, ao longo dos anos há coisas…

ou seja, eles podiam ter no papel dois anos e na prática era um, não sei, mas quer dizer, o

que é verdade é que era a forma deles competirem, portanto, uma pessoa que tem

possibilidade de fazer uma coisa num ano, não vai fazer em dois… isto é uma coisa já

antiga. Acho que se formos ver quem são, por acaso no outro dia fiquei espantada, já não

me lembro qual a instituição de ensino superior privado que fui ver, se formos ver quem

são os conselhos não sei de quê, a maior parte são figuras públicas de vários quadrantes

políticos, não estamos a falar só de um quadrante político, isso também não quer dizer

que seja nada de especial. Há de qualquer forma interesses, claramente que ultrapassam

e algumas dessas pessoas, a forma como se movimentam e as condições que algumas

instituições de ensino privado têm, não se igualam, não podem igualar-se nem pouco mais

ou menos… há alguma coisa que possa ser feita pelo público neste momento… temos

tido conhecimento de uma instituição de ensino privado que tem um curso e que fez um

protocolo com a RTP e ocupa estúdios para fazer a prática da RTP, quer dizer, agora diga-

me como é que eu e outras vamos conseguir ter dinheiro para alocar estúdios da RTP,

quer dizer, há aqui coisas que funcionam desta forma. Agora, do ponto de vista da

qualidade, tenho que aceitar que eles também são avaliados como eu, passaram a ser

avaliados pela agência A3ES e portanto, alguns fecharam, a maior parte dos cursos que

fecharam, que não foram creditados são de instituições privadas, mas também há

instituições públicas que não terão tanta qualidade. Agora, o que é que digo, que é

sobretudo uma questão de opção política, o que quero enquanto país, para onde vai o meu

dinheiro… agora, não me parece que tenham maior ou menor qualidade, depende das

instituições, tal como nas públicas, há instituições de ensino privado com muita

qualidade-

Processo de Bolonha, a sua opinião a nível da implementação.

Vou dizer que o processo de Bolonha aqui, a passagem para Bolonha aqui na instituição,

coincidiu em grande parte com a altura em que estive no ministério. Há uma série de

coisas nas quais não participei precisamente por causa disso. Agora, algumas das coisas

que estavam profundamente enraizadas, quer nas creditações, nas transferências, no

reconhecimento de competências, etc., está neste momento, do meu ponto de vista, muito

posto em causa, o caso Relvas originou alterações no que se pode creditar, há um

conjunto… nós funcionamos sempre assim, os portugueses legislam para que não se faça

falcatrua ou porque alguém fez falcatrua, portanto as nossas legislações são feitas nessa

base. Faz-se um diploma complicadíssimo porque alguém pode pensar e não dizer, ok,

nada, vamos confiar nas pessoas, não temos uma atitude legislativa de confiança e pronto,

haverá casos que são detetados que não estão bem, mas isso não quer dizer que tenhamos

que modificar tudo. Lá porque a Lusófona ou que foi ter creditado o Relvas, não quer

dizer que tenhamos que modificar o espírito de Bolonha e as revisões das creditações,

portanto, acho que algumas coisas estão postas em causa… neste momento aqui estamos

habituados a este modo de funcionar.

E em termos de métodos pedagógicos? A autonomia do aluno, as tutorias, como foi

a interpretação dos professores e alunos?

É assim, acho que entre os alunos persiste alguma dificuldade em perceber que se uma

UC tem 135 horas, isso são 135 horas de trabalho deles. Globalmente, todas as UC

organizamos via plataforma Moodle, onde está todo o conjunto dos materiais, aquilo a

que os estudantes podem ter acesso, cada professor organizará a sua UC como ele e o

responsável da UC consideram ser melhor mas digamos há um conjunto de materiais, um

conjunto de autonomias que esses materiais permitem aos estudantes para se preparar,

para fazer, etc. As tutorias, os estudantes… agora não lhe posso dizer que números exatos

mas o que tenho vindo a sentir é que os estudantes utilizam cada vez mais a tutoria, há

pessoas que marcam as tutorias em horas fixas, há outras que deixam ao critério e vão

adaptando, mas seja de que maneira for, também depende dos grupos, da turma, se são

maiores ou mais pequenos, como isso se faz, cada vez mais o que sinto é que há cada vez

mais estudantes a pedir ou com quem converso a pedirem horas de tutoria para apoio a

trabalho, ao estudo, verificar versões iniciais dos trabalhos para serem criticadas,

portanto, tudo isto dá trabalho, mas acho que lhes faz bem, é uma maneira de crescer.

Qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público? Tem um papel

de regulador, de financiador, avaliador através de uma agência independente, no

seu entender, o que é que o estado deve ao ensino público?

Deve-lhe uma vida de dignidade, claramente. O ensino superior público tem que ser

financiado e tem que ser financiado de acordo com possibilidades reais de

desenvolvimento, a par disso deve zelar naturalmente pela qualidade do ensino público e

pronto, basicamente é isso. Zelar pela qualidade, não me vou pronunciar na medida em

que isso se faz mas é uma agência externa que regula. Depois, as questões do

financiamento é que não faz, portanto, claramente não financia o ensino como deveria

financiar e se continuar desta forma, alguma coisa vai ter que ser alterada, porque note,

não é só não financiar, como também por uma burocratização crescente e um controlo

crescente do ministério das finanças sobre todos os outros ministérios, que não é possível

aquilo que o ministro e o secretário de estado andavam para aí a dizer, ah, devem procurar

auto financiamento mas algumas áreas como em educação é muito difícil como imagina

a questão do autofinanciamento, mas existem outras em que poderá não ser difícil, mas é

tão complicado gerir um projeto, as normas são tão… é tudo de tal forma complicado, a

forma como as inspeções vêm os trabalhos dos docentes nesses projetos de financiamento

também são complicadas. Por exemplo, neste momento, aqui na instituição, tivemos uma

situação de inspeção em que têm uma interpretação muito particular do trabalho que os

professores fizeram em projetos ligados a formações que não eram financiadas pelo

ministério, um tipo de formação, há daquelas que são autofinanciadas, a nossa regra é há

um overhead que vai para a instituição e depois, como os professores fizeram algo extra,

recebiam oficialmente, tudo limpinho, tudo certinho, mas a inspeção vê isso como quebra

da exclusividade, portanto, neste momento estamos assim. Ou seja, há entendimentos,

isto está em processo a ser resolvido, não sei como vai ficar, mas há entendimentos que

mais vale a pena do ponto de vista administrativo que nos paralisam e isso as privadas

não têm, não têm essas paralisações e naturalmente fazem muito bem os projetos e essas

coisas com outro tipo de organização e não com um enquadramento tão restritivo como

acabamos por ter. Neste momento, por exemplo, um professor para ir sair, viagens de

docentes para seminários, para projetos, o estado gasta na maior parte das vezes muito

mais dinheiro porque somos obrigados a ter uma agência e não sei quê, ou seja, os bilhetes

são muito mais caros do que se pudessem ser comprados de outra forma globalmente, se

for à internet arranja sempre um preço mais barato.

Relativamente às propinas, há autores que consideram que a sua existência

responsabiliza o aluno e outros que consideram que a sua existência baixa a

equidade no acesso ao ensino superior. Entre estes dois extremos, onde se situa?

Acho que as pessoas devem pagar propinas, não me parece que sejamos um país tão rico

que possa ter acesso gratuito para todos. Acho é que os mecanismos de compensação

social deveriam ter plafonds diferentes e modalidades porque neste momento é notório

que é preciso ser-se mesmo, mesmo pobre, para conseguir ter uma bolsa. Portanto, acho

que dever-se-ia de facto caminhar para uma revisão dos níveis de ação social escolar até

porque neste momento temos um público enfraquecido e com muitas dificuldades.

Aqui o mestrado tem o mesmo preço das propinas, no entanto, existem certos cursos

que puxam muito pelo mestrado em termos financeiros e pelos doutoramentos, o

que acha destas diferenças?

Acho que isso tem a ver com o curso, aqui no politécnico temos alguns cursos de mestrado

que são bastante mais caros do que outros e isso tem a ver com especificidades de

materiais de utilização, de horas, de exigências que algumas dessas formações exigem,

portanto, não me parece que possamos olhar para todos os mestrados globalmente, por

exemplo, acho que há escolas com uns mais elevados que outros, parece-me normal.

Há justiça face aos recursos utilizados…

Por exemplo, na licenciatura não temos isso, as licenciaturas têm todas o mesmo preço,

mas claramente há licenciaturas que são muito mais exigentes do que outras, por exemplo,

o nosso curso de língua gestual portuguesa é muito exigente do ponto de vista económico

porque temos que ter, podemos ter ou não, mas basta ter uma estudante surda, temos que

ter tradutores, portanto, temos sempre que pagar a tradutores, portanto, além do docente,

temos um tradutor em todas as salas e isto é muito oneroso, carrega esta formação em

relação a outras, portanto, acho que este tipo de coisas, não estou a dizer para as

licenciaturas que apesar de tudo é a formação inicial, mas para os mestrados quando são

muito ligados a laboratórios ou a utilização de muitas horas, nem todos os mestrados têm

o mesmo peso por causa das questões práticas.

Dificuldades financeiras com que depara? Falta de investimento já referiu…

impossibilidade de fazer investimento, as suas receitas próprias vêm dos alunos…

Apesar de tudo, ainda temos conseguido, portanto globalmente estamos com problemas.

Nós temos feito o que muitas instituições devem fazer que é a utilização de saldos. Como

tínhamos saldos, temos que ser autorizados a utilizar uma parte desses saldos e portanto

temos recorrido aos saldos para fazer algum investimento, que não é nunca aquele que

precisaria. Mas por exemplo, do ano passado para este ano, para ver agora, estamos a

equipar o laboratório de desporto, que tem máquinas caras, portanto, foram alguns

milhares de euros gastos no laboratório de desporto, investimos novamente na aquisição

de alguma bibliografia, agora precisávamos de várias coisas, este edifício é um prémio

nacional de arquitetura e tem um problema crónico de infiltrações, desde sempre, que

nunca se conseguiram resolver, devíamos voltar a tentar resolver, temos espaços que

começam a estar degradados com a utilização, as casas de banho e para esse tipo mais

estrutural não temos e deveríamos ter. Mas a nível dos equipamentos informáticos, enfim,

com muita lentidão, temos conseguido ir adquirindo algumas dessas coisas. Por exemplo,

temos a sala grande de informática, todos os computadores já estão preparados para ser

renovados, estavam a precisar, é verdade, mas isto para dizer que ainda vamos

conseguindo renovar algumas coisas. Agora, a nível do pessoal, estamos com algumas

dificuldades, o pessoal começa a ficar bastante envelhecido, não podemos contratar

novos…

Tem os professores no máximo de horas letivas?

Sempre, às vezes excedendo.

E mesmo assim conseguem dar tutorias e isso tudo?

As tutorias fazem parte do horário desse máximo, são horas de contato e isso entra no

horário do professor.

Mais dificuldades?

Temos muitas dificuldades, vou dar o meu exemplo, há dez anos, imagine, agora não

tenho horário completo mas imagine que eu não era diretora e que estava a dar aulas, teria

um horário de 12 horas semanais, que é o máximo no politécnico. Há dez anos atrás, não

tinha 12 horas semanais, agora vou inventar, imagine que tinha 9. Ou seja, naturalmente

quando estou com 12 tenho mais trabalho e cada vez tenho que fazer mais investigação,

mais publicações, portanto, as pessoas estão de facto muito sobrecarregadas, isso não há

a menor dúvida, como em todo o lado uns trabalham mais que outros mas quem de facto

trabalha não para mesmo.

Tem patrocinadores, mecenas? Está um pouco centralizado a nível do (ISP) mas

aqui…?

Não, todo esse tipo de ações são centralizadas, nós aqui alugamos as instalações, tout

court, mais nada.

Não têm parcerias com empresas, outras entidades?

Mas as nossas parcerias não são lucrativas, são parcerias para estágios para os nossos

estudantes, basicamente isso.

E tudo aqui na região?

Andamos por aqui pelo distrito, para onde for preciso, tendo em conta também as moradas

dos estudantes, onde é mais adequado, também temos em Lisboa, para a comunicação

social, por exemplo, temos em Lisboa. Temos protocolos, não podemos colocar nenhum

aluno a estagiar sem ter um protocolo e então temos protocolos com as mais diversas

entidades.

E nesses protocolos são exigidas algumas contrapartidas?

Agora começam a aparecer algumas como… já não me lembro bem, era pagamento de

qualquer coisa mas nós caracteristicamente não celebramos esses, começa a haver alguma

coisa com as entidades de saúde porque temos protocolos com hospitais onde vão

estagiários de animação, por exemplo, fazer estágio e essa não podemos pagar, aliás, eles

não podem também pedir, depois isso vai-se esclarecendo, mas o dinheiro aparece cada

vez mais e o que também aparece cada vez mais é a duração mínima de estágios, portanto,

as entidades querem cada vez mais uma duração longa do período de estágio, pelo menos,

três meses, na área da comunicação social é aquilo que pedem muito. As horas por dia

dependem da área mas um estágio de um mês em algumas áreas é cada vez mais

complicado encontrar, é basicamente isso.

Sobre a autonomia do ensino superior. As escolas do politécnico, na maioria, não têm

autonomia financeira, mas neste momento qual a sua opinião sobre a autonomia do ensino

superior público?

As escolas não têm autonomia mas quem tem autonomia é o politécnico.

De uma forma geral, em relação ao ensino superior, como acha que está a autonomia?

De uma forma geral, a autonomia está cada vez mais comprometida, a autonomia acaba

por ser… estamos de tal maneira limitados por legislação atrás de legislação que a nossa

autonomia está muito, muito reduzida. Nem sequer científica daqui a pouco temos porque

estamos enquadrados por não sei quantas limitações e normas e etc., portanto, não temos.

A autonomia está cada vez mais a ser posta em causa para a realização do

autofinanciamento, para tudo. Em relação ao politécnico, não é fácil caminhar para um

esquema mais centralizado de funcionamento, portanto, temos tido algumas dificuldades

mas isso não nos impede de desenvolver, não me parece, acho que ganhámos nalguns

aspetos, claro que o caminho nem sempre foi perfeito, há de certeza algumas coisas que

podíamos melhorar, mas não há uma visão de alguém que decide pelos outros, não há

essa visão.

Sente-se minimamente autónoma?

Sim, sim. Até agora tenho as limitações que temos todos mas não me parece que os

recursos não sejam postos naquilo que indico como sendo prioritário, para a ESSE não

sinto esse tipo de situação.

Sobre os CG, em relação aos politécnicos, não constitui uma novidade tão grande,

uma vez que já tinha essa tradição com a assembleia de representantes, para as

universidades é um bocado mais novo mas acha que de alguma forma, a entrada de

elementos externos na vida do ensino superior, pode ter alguma ingerência ou

interferência na autonomia?

Tenho que dizer que a minha experiência de CG é recente, faço parte deste CG e tenho

muitas esperanças neste CG. Acho que para a academia pode ser importante o CG, os

elementos externos no CG e neste caso particular o presidente do CG é uma pessoa que

tem uma visão muito pragmática da organização, muito colegial, a filosofia de

organização é colegial e tem procurado de uma forma eficaz fazer um conjunto de gestões

e definições muito interessante, estamos numa fase de indicação de prioridades, o que é

a visão do politécnico e como pretendemos desenvolver, estamos em fase de alterar o CG,

já elegemos o novo presidente mas ainda não foi validado pelo ministério por isso estamos

numa fase de transição e do meu ponto de vista, está a conduzir, e é sobretudo ele, a

conduzir de uma forma muito pragmática e colegial definições e consensos. Por exemplo,

fizemos um workshop, um grupo do CG e fizemos uma experiência, já não fazia isso há

muito tempo e quem coordenou esse workshop são pessoas muito treinadas em fazer

dinâmicas de grupo externas, não conhecem ninguém, porque nestes grupos de

académicos conhecemo-nos todos uns aos outros. Portanto, não conhecem ninguém e

com um conjunto de metas para a tutoria, tudo muito bem organizado e a verdade é que

chegámos ao final do dia com produtos que tínhamos pensado a funcionar e cada um

desses grupos já fez o trabalho que tinha para fazer. Vamos ter, na próxima sexta-feira

um outro workshop que vai ser mais duro porque a temática é mais difícil. O próximo que

vamos ver tem a ver com a definição da missão e dos objetivos estratégicos do (ISP) e ao

anterior tinha mais a ver como é que nos queríamos organizar em termos de CG, houve

um grupo que focou a organização do CG, outro grupo a organização do politécnico…

isto para dizer que, o exterior, as reuniões são muito pontuadas, deram uma hora para

decidirmos sobre isto, cumpre-se uma hora, as pessoas externas são pessoas que podem

contribuir com uma reflexão e uma organização diferente da academia e que nos levam a

descentrar da vírgula nata e de se a pessoa disse, eu tenho que dizer o contrário porque

não posso ter a mesma opinião. A minha experiência aqui é centrar-me no que é

produtivo. Eu, neste caso, acho que há reflexões e contributos de pessoas externas que

são muito interessantes e que nos fazem olhar com outros olhares que de vez em quando

não olhamos, mas isto não é só pelo presidente, também temos algumas pessoas do CG

que na sua área de intervenção, como da Cáritas por exemplo, que em relação às questões

sociais tem muito conhecimento e é uma pessoa muito ponderada e contribui e já agora,

na área da educação, a Emília Brederode Santos, também é uma pessoa que conhece muita

coisa, é muito reflexiva portanto, acho que podemos ganhar. Não tenho essa ideia.

Considera que a missão da universidade, politécnico de encontra bem definida?

Bem definida não está bem definida a nível da definição e na prática também não, acho

que se deveria definir mais.

O que deveria ser mais definido? O campo de um e de outro?

Acho que devia ser mais clarificado… há algumas características que noutros países

penso que têm vindo a fazer, quando fazem as university of applied science, que são

equivalentes aos politécnicos, conseguem definir mais as missões. Aqui misturámos

muito, oferecemos tudo praticamente a mesma coisa, a engenharia química há aqui e lá,

há na universidade, formação de professores do 1º ciclo há aqui e há na universidade,

comunicação social também… neste momento nem sei bem o que distingue uma da outra,

a nível das ofertas formativas é muito complicado. Dantes até seria mais a nível da

exigência de formação do corpo docente mas já não existe, portanto, olhe, nem sei bem.

Neste momento acho que é difícil clarificar porque quando se diz uma coisa muito

profissionalizado, mais virado para a formação de uma profissão, é do politécnico. Então

vamos ficar com medicina? Esta fronteira é sempre muito complicada. Mas no entanto

temos as mesmas exigências que a universidade, por isso acho que neste momento aquilo

que temos é vamos continuar com politécnicos e universidades, número um porque as

universidades querem ser universidades e não querem integrar politécnicos, apesar de

haver alguma experiência a nível da integração dos politécnicos.

Muito obrigada pela colaboração.

Entrevista IP9

Pedia que falasse um pouco sobre a sua formação académica.

Sou licenciado em gestão (por faculdade pública nacional), tenho também mestrado em

gestão, a minha tese foi na área financeira em obrigações, depois tenho o curso de pós

graduação em história e expansão nos descobrimentos pela universidade nova, sou muito

eclético, fiz também o curso de auditores de defesa nacional, uma pós graduação no

instituto de defesa nacional e agora estou a elaborar a minha tese e a tentar acabá-la,

história financeira, um tema esotérico porque é história para todos os efeitos, é o

financiamento da missão portuguesa da Companhia de Jesus. Já estou aqui neste gabinete

há mais de seis anos porque fui três anos vice-presidente e desde Julho 2010 sou

presidente (da escola) e estou à espera como um prisioneiro que acabe o mandato, são

quatro anos.

Qual o seu percurso profissional até chegar aqui.

Trabalhei em empresas durante cerca de 15 anos, já dava aqui aulas ao mesmo tempo, na

parte final da minha vida em empresas, fui diretor financeiro de duas empresas e chefe de

serviços de contabilidade e finanças de outra, uma empresa importadora de equipamentos

hoteleiros italiano, depois estive também num entreposto e depois a certa altura da minha

vida, resolvi que tinha era vocação para ser professor e então resolvi embarcar na carreira

académica, fui também consultor de várias empresas a nível de técnico de contas,

reporting e sou professor de finanças.

Funções que desempenha para além das legisladas...

Sou o órgão executivo da escola, temos um conselho de representantes que foi quem me

elegeu, posso gabar-me por unanimidade, se bem que existissem várias tendências

diferentes dentro do conselho de representantes, reuni algum ou todo o consenso quando

fui eleito presidente (da escola). As funções que desempenho são de órgão executivo, sou

responsável pelo funcionamento da escola por assim dizer, pela gestão do nosso

suborçamento, ou seja, conseguir equilibrar as despesas com as receitas, tentar sobreviver

até ao fim de cada ano, o que se está a tornar cada vez mais difícil. Tenho uma vice

presidente na qual deleguei o pelouro académico e da qualidade e eu tenho o resto dos

pelouros, para a gestão corrente tenho uma diretora de serviços.

Considera que o seu percurso académico/profissional facilitou o desempenho nas

funções de agora?

Evidentemente que sim, alguém que se mexeu sempre profissionalmente e depois

academicamente na área financeira terá algum background que lhe permita executar estas

funções com a deteção de um certo knowhow é útil às funções que desempenho

atualmente.

Tem mais alguma atividade profissional?

Já tive, neste momento estou em dedicação exclusiva, não quer dizer que pontualmente

não faça conferências, seminários, tenho também conferências internacionais, vou a Cabo

Verde, eventualmente a Angola pois temos projetos em desenvolvimento e toda a

atividade que faço extra esta neste momento, além de reger algumas unidades curriculares

e de lecionar uma UC. Sou docente numa cadeirinha de mestrado porque não tenho tempo

para mais. Mas tenho feito, em Cabo Verde, temos um protocolo com uma instituição e

de vez em quando pedem-me para ir lá fazer uma pequena conferência ou seminário,

também tento fazer alguma coisa no doutoramento, fazer algumas comunicações ou

publicar artigos porque uma pessoa tem que fazer um bocadinho pela parte académica,

não se pode abandonar essa parte.

De uma forma geral, qual a sua opinião sobre o ensino superior público, estado,

evolução...?

Grandes problemas, nomeadamente porque estamos incluídos no subsetor politécnico,

hoje em dia a nossa tutela exige-nos tudo aquilo que exige ao ensino superior universitário

e mais, ou seja, estamos sobrecarregados de trabalho por tudo quanto é sítio e de todas as

formas e quem faz investigação também o que é bastante problemático em termos das

condições que nos são dadas para esse efeito. Temos outro problema que temos que ser

doutorados e temos que nos ir doutorar a outro lado porque as instituições de ensino

politécnico não podem atualmente conceder doutoramentos, a nossa vida não é fácil. E o

subsistema politécnico está virado para a profissionalização, para a empregabilidade e

felizmente continuamos a ter uma empregabilidade dos nossos graduados que é bastante

satisfatória mas esse esforço e essa empregabilidade que conseguimos não nos é

reconhecida em termos das nossas características específicas pela tutela. Vou dar-lhe um

exemplo agora desta nova legislação que saiu sobre o RJIES e que posso também dizer

da A3ES, aquela história de doutores especialistas, que seria um grau específico, depois

por exemplo, temos mestrados que tentamos que sejam também como o próprio RJIES

indica, os mestrados no politécnico serem mais profissionalizantes, virados para a prática

e não sei que mais e querem um doutor como diretor de mestrado, como especialista não

aceitam uma pessoa que tenha o knowhow da vida profissional que é isso que por outro

lado pretendem. Estamos sujeitos a uma série de incoerências, por parte das nossas tutelas

que do nosso ponto de vista são perfeitamente lamentáveis e nos dificultam muito a vida.

Temos cerca de 32 doutores, depois o resto praticamente todo tem mestrado e temos umas

dezenas de doutorandos mas isso no curto prazo dificulta muito a nossa vida, ou seja,

mandam-nos fazer uma coisa mas por outro lado tem uma série de exigências que são

contraditórias com aquilo que nos pedem para fazer, portanto, isto é neste momento o

nosso sentimento mais ou menos generalizado. Temos um doutoramento em parceria com

a UL, em que nós damos trabalho e não recebemos nada, ou seja, nunca recebemos ainda

um tostão, a maior parte dos docentes são nossos nesse doutoramento e nunca recebemos

um tostão da UL, que é uma coisa estranha no mínimo, teoricamente acho que nos querem

pagar mas isto já dura há uns quatro ou cinco anos...

E em termos de futuro?

O que nos aflige mais são as nossas instalações, tenho 3000 alunos num prédio que exige

uma gestão muito apertada, este ano foi a primeira vez que tivemos muitas por preencher

e apenas no regime noturno, enchemos todas do regime diurno, neste momento entraram

já 800 e tal alunos, normalmente costumam entrar mil, ficámos, principalmente no regime

noturno com muitas vagas por preencher, vamos aguardar pelas outras fases do concurso

nacional de acesso mas é compreensível porque quem vem ao regime noturno são as

pessoas que trabalham e hoje em dia, atendendo à conjuntura económica que se vive as

pessoas estão mais preocupadas com a sobrevivência do dia a dia do que propriamente

em investir tempo e dinheiro numa formação que lhes aumente as qualificações e atá a

própria conjuntura em que há muitos licenciados desempregados, também leva as pessoas

a interrogarem se o sacrificarem-se durante não sei quantos anos, trabalhando de dia e

vindo para aqui estudar à noite, se a recompensa ao fundo do túnel será efetiva, portanto

no regime diurno preenchemos todas as vagas, no noturno ficaram cento e tal vagas por

preencher ou seja, a nossa componente que é muito importante do ensino pós laboral,

tenho medo que a médio prazo, lentamente, vá sendo prejudicada pela atual conjuntura e

os apertos financeiros que são muitos. nós, no ano passado, no nosso orçamento tivemos

uma quebra de 14% e vamos levar outra igual do dinheiro que nos vem do OGE, ou seja,

praticamente neste momento não temos uma gestão estratégica, estamos praticamente

obrigados a fazer a gestão corrente do dia a dia porque as restrições financeiras são de tal

ordem que não é possível planear nada. Preciso de uma pequena obra, não tenho dinheiro

para a fazer, isto é dramático mas é verdade, preciso de dinheiro para comprar software

para os projetos para as bases de dados que são ferramentas essenciais no nosso dia-a-dia,

concretizando o tal ensino virado para a prática, temos feito este projeto em todas as

licenciaturas, temos por exemplo, bases de dados para trabalhos de índole académica,

teses de mestrado e até nalguns trabalhos de licenciatura e arranjar dinheiro para pagar

isso é uma dor de cabeça permanente, portanto se me pergunta pelas perspetivas a curto

prazo e com esta atual conjuntura e porque a tutela faz cortes cegos, ou seja, não tem de

maneira nenhuma em consideração as especificidades deste sistema, cortem, cortem,

amanhem-se. Agora estamos obrigados a... esta batelada que estamos a levar para o

orçamento de 2014, a tutela obriga a que incorporemos, sem aumento de custos para o

estado, o subsídio de férias que não estava previsto por causa daquela decisão de

inconstitucionalidade, temos que incorporar esse custo e arranjar dinheiro não sei onde.

Mandam-nos também para o ano aumentar as contribuições, enquanto entidade patronal,

dos descontos para a CGA, mas não dão um tostão para isso. Ou seja, temos que cavar

dinheiro não sei onde para fazer face a esses encargos e isso prejudica grandemente... nós

fazemos conferências, temos convidados, há mínimas coisas que temos que fazer, já que

não lhe pagamos, oferecer o almoço ao convidado ou assim, não podemos agora, isto está

a ficar dramático. Vamos fazer agora um congresso de contabilidade, é o 14º congresso

internacional, que só podemos realizar porque a OTOC tem dinheiro e se predispôs a

cobrir os custos, porque senão, de resto, é o 14º congresso, vamos ter cento e trinta e tal

comunicações, uma coisa importante, vem gente de fora, de todos os lados, senão fosse a

OTOC a dar-nos a mão, não podíamos ter feito esse congresso, estamos a chegar a um

ponto de rutura e de desânimo, fazemos o melhor que podemos mas cada vez podemos

fazer menos e pronto não vou chorar mas apetece-me.

Em relação ao ensino privado, qual a sua opinião?

Penso que nitidamente, com exceção da Católica que o ensino superior público na

qualidade média e em geral em Portugal é superior ao ensino superior privado, em termos

de qualificações e até da própria empregabilidade. Não conheço muito bem o que lá se

passa, com exceção da católica que tem um determinado prestígio mas é uma coisa aparte,

o que é um facto é que não sei sequer como é que as IES do privado vão sobreviver nesta

conjuntura. Evidentemente que andam a rapar o tacho e em termos da própria qualidade

dos alunos que recebem, independentemente da qualidade dos professores porque em

geral, salvo alguma exceção muito excecional estão a levar os que não conseguem entrar

no público e que têm dinheiro para pagar a uma privada, isto é mesmo assim, portanto

não sei como ainda conseguem sobreviver, é um espanto para mim. Há universidades

privadas que têm algum historial, por exemplo, a autónoma, o meu instituto tem mais

alunos do que a autónoma toda e não andará muito longe da lusíada não sei, a lusófona

parece que tem umas coisas para as áfricas tem maior capacidade de marketing

aparentemente, independentemente da má publicidade da licenciatura de uma pessoa que

conhecemos que não lhe veio trazer nada de positivo, de boa imagem perante a opinião

pública, não sei o que vai acontecer às privadas neste país.

Processo de Bolonha, em termos de alunos, internacionalização de diplomas, das

instituições, como avalia?

Foi bom, para conseguirmos pôr isto em marcha demorou anos e nomeadamente por

causa da implementação do anexo ao diploma e estão muito atrasados, ainda tenho coisas

para assinar. É um processo útil, obviamente e que facilita a circulação de estudantes.

Nós, em matéria de Erasmus, dentro das nossas possibilidades temos bastante mais

incoming do que outgoing e também depende da conjuntura financeira porque aquilo é

participado mas não é muito, eu próprio tenho uma filha que fez Erasmus e do meu bolso,

gastava 500 euros por mês, portanto, não é toda a gente que pode gastar isso e portanto,

temos cerca de 70 por ano mais ou menos de incoming e cerca de 20 e tal outgoing. Temos

em Cabo Verde sobretudo porque já dura há uns anos, temos um protocolo com uma

instituição de lá, vêm, nós damos todo o apoio às licenciaturas e este ano começámos a

fazer lá um dos nossos mestrados e tenho agora três projetos com Angola, nos países

africanos é um pouco difícil de fazer, andam muito devagar, têm um ritmo diferente, às

vezes até fico um bocado enervado porque pedem-nos uma coisa e nós no dia seguinte

enviamos mas o feedback de lá vem para aí um mês depois, é um ritmo diferente, vai-se

fazendo e tentamos fazer. Temos um protocolo também com Moçambique com uma

instituição mas que está um bocado morto, Moçambique é mais longe, é mais difícil e as

próprias viagens são muito caras, não temos dinheiro, não há nada a fazer, até para a

própria implementação de projetos, não temos dinheiro para o fazer. Por exemplo, estes

em Angola, é a tal lentidão, eu podia resolver as coisas, pego no avião, estou lá uma

semana e resolvo uma série de coisas mas não é possível fazer isso e também não vou

fazer do meu bolso.

A introdução de um valor maior de propinas com a lei de 92, introduziu o

financiamento privado no ensino superior e há alunos com dificuldades em pagar as

propinas...

É a nossa maior fonte de receitas próprias e tem havido alunos com dificuldades,

propomos planos de pagamento, eu autorizo tudo, mas temos tido uma tendência para

aumentar o número de desistências a meio do ano letivo ou outra questão, alunos que

completam o ano letivo no sistema e depois não se matriculam no ano seguinte por

impossibilidade de pagamento porque ou os pais ficam desempregados ou os próprios

estudantes que ficam desempregados ou um dos pais, há coisas às vezes pungentes até de

pedidos que recebo mas não tenho maneira nenhuma de ajudar. Temos a responsabilidade

social mas também hoje em dia é preciso estar praticamente a morrer de fome para se

conseguir obter uma bolsa do SAS e às vezes é só equivalente à propina, portanto é muito

problemático.

E em termos da opinião pessoal, há autores que consideram que a existência de

propinas responsabiliza o aluno e outros que consideram que a sua existência põe

em causa a democratização...

Pessoalmente considero-me conservador mas também democrata e considero que neste

momento está um bocado ferida a igualdade de oportunidades, acho que está a falhar

porque alguém que esteja a morrer de fome que subsista com alguma dificuldade, tenho

alunos que me vêm aí chorar porque perderam a bolsa de um ano para o outro e são bons

alunos e que nós não podemos fazer absolutamente nada. Estar num lugar destes, do ponto

de vista humano é também mutas vezes dramático e violento, temos que ficar quase como

aqueles médicos que têm doentes a morrer com doenças horrorosas e que têm que tratar

aquilo com alguma displicência e afastamento porque são casos dramáticos.

Existem alguma espécie de bolsas internas?

Não temos, não podemos, nem temos dinheiro para sobreviver quase, portanto, tudo o

que é bolsas, é o SAS do politécnico. Por acaso tivemos, por motivos dramáticos, no

passado e espero que este ano possamos vir a ter, houve um aluno nosso que morreu e o

pai é dono de uma grande empresa bem instalada no mercado, o pai em homenagem ao

filho criou informalmente, aí uns largos milhares de euros para auxiliar os alunos mais

necessitados mas nada nos garante que tenha continuidade, mas de qualquer modo foi

uma lufada que entrou aqui dentro para 15 ou 20 alunos que realmente estavam bastante

carenciados.

Sobre o processo de Bolonha..

Antes tínhamos licenciaturas de quatro anos e meio e os alunos pagavam as propinas, o

facto de haver mestrado, pode haver alguma continuidade, veio digamos repor o que havia

antes das licenciaturas de Bolonha e tivemos uma grande quebra de receitas porque

tínhamos cá alunos durante quatro anos e meio, e às vezes cinco e seis, que hoje em dia,

ao contrário do que acontecia no meu tempo, os alunos demoram mais tempo a graduar-

se, não sei porquê e temos aí algum problema de insucesso, não sei se somos demasiado

exigentes, digamos que a média de licenciatura está nos quatro anos em vez dos três e à

noite pior ainda porque não têm capacidade muitas vezes para fazer as cadeiras todas.

Agora temos o 3+2, antigamente tínhamos 4,5, 5 ou seja não veio alterar muito. senão

houvesse mestrados, era ao contrário, aí estávamos amplamente prejudicados. Hoje em

dia assistimos à vulgarização do mestrado, no fundo, mal comparado, a licenciatura

passou... antes havia o bacharelato e aquilo veio completar com mais alguma sofisticação,

como é evidente a parte final da licenciatura em termos de formação.

Concorda com a diferença de valores entre os três ciclos de formação?

Se me pergunta em termos financeiros dos custos e se eu for alocar os custos, os nossos

professores mais habilitados, os mais graduados, todos os doutores e os professores

coordenadores de carreira mais antigos, são os que custam mais caros à instituição e esses

não estão na licenciatura e estão nos mestrados, se for imputar custos à licenciatura e ao

mestrado, o mestrado tem custos mais elevados e portanto, em termos de gestão financeira

pura e dura é normal que a propina de mestrado seja elevada, respondo como financeiro,

apesar de não estarmos na máxima, temos mil de licenciatura e 1400 de mestrado, anuais,

mas há quem tenha mais caro.

No seu entender, qual deve ser o papel que julga ser dever do estado perante o ensino

superior público?

Aí teríamos de pensar qual o papel geral do estado e como deve alocar os seus recursos

face às obrigações que tem com os contribuintes ou eleitores. É evidente que considero

que o estado deve cumprir as suas obrigações para com os cidadãos pagadores de

impostos. Em épocas de crise, oque posso criticar ao estado é fazer cortes cegos, ou seja,

este dinheiro não há para ali, corta-se aqui, ou seja, em termos do investimento que se faz

em termos de recursos humanos, devia haver um maior esforço por parte do estado mas

dizem que não têm dinheiro, não podem pagar, não faço ideia, os erros que se cometeram

também estão a ser pagos e não podem ser desculpa para todos os cortes que são feitos

em segmentos essenciais para o bem estar das pessoas e para o seu desenvolvimento

humano e cultural, social e económico, basicamente. Mas também em tempos de crise

económica estamos a produzir licenciados que depois não têm espaço para ser

incorporados no tecido empresarial, tudo isto é muito problemático, nem sei sequer que

lhe diga. Tentamos que os nossos graduados aqui dentro estejam habilitados a entrar

diretamente no mercado de trabalho sem grandes sobressaltos ou seja, acreditamos no tal

saber fazer. Eu era um copinho de leite saído do liceu, antigamente, depois a faculdade,

eu sabia muitas coisas mas tive bastantes dificuldades no meu primeiro emprego em

aplicar os conhecimentos, eram académicos e eu aprendi muita coisa a trabalhar. Aqui

tentamos que algumas coisas, alguém que faça outro percurso tenha que aprender a

trabalhar porque tinha uma relativa distância do que aprendia na faculdade e depois ia...

nós tentamos, não totalmente porque não conseguimos, reproduzir aqui aquilo que eles

vão encontrar quando entrarem numa empresa.

Existem ajudas dadas pelo estado a estudantes do ensino privado...

Não sei muito bem o que se passa, já ouço falar naquele cheque não sei quantos que vai

ser estendido ao ensino público. Repare, o que o estado se deve preocupar,

independentemente de como o faça, isso é que acho importante e voltando ao que disse

atrás, assegurar a igualdade de oportunidades, isso para mim é que parece importante e

essencial que funcione dessa forma numa democracia, ou seja, se houver dificuldades em

cada uma das parcelas que sejam distribuídas por todos, mas considero inadmissível que

alguém porque nasceu melhor seja privilegiado no acesso à educação, à cultura, à

formação, isso é inaceitável.

Relativamente a estratégias de obtenção de fundos pela instituição...

Tentamos arranjar mais receitas próprias, nomeadamente desses projetos que temos com

os PALOP mas se for por exemplo com Cabo Verde nunca podemos esperar muito porque

eles também não têm dinheiro, estamos a tentar mexer-nos em Angola porque esses têm

dinheiro, mas tentamos, vendemos cadeiras isoladas, é uma fonte interessante. Há uma

série de cursos em diversas faculdades, a OTOC tem uma série de exigências em termos

das cadeiras das áreas de contabilidade e fiscalidade e até de projetos de simulação

empresarial para substituir o estágio para poder candidatar-se e portanto como estamos

um bocado virados para essas zonas mais do que as faculdades da nossa concorrência,

ISEG, ISCTE, Católica, a Nova, vendemos cadeiras isoladas de forma a que os alunos de

outras IES consigam ter em termos de formação académica as tais exigências mínimas

que a OTOC considera para permitir que se candidatem a TOCs e portanto temos uma

dezena de alunos cá, a pagar cadeiras isoladas, só para dar uma ideia, a propina é mil

euros por ano, só o nosso projeto de simulação empresarial, que é essencial para muita

gente se candidatar, vendemos uma cadeira semestral a 600 euros por cabeça e temos

clientes e isso é uma fonte suplementar de receitas próprias, como fazer pequenos cursos

de formação profissional que são uma cadeira e têm os créditos correspondentes e que

servirão mais tarde, juntamente com a formação académica que têm das suas faculdades,

poderem candidatar-se à OTOC. Temos também neste momento um acordo em que

estamos a prestar assessoria ao TC e portanto, além de nos prestigiar por sermos

escolhidos para esse efeito, também é outra fonte que nos traz algum dinheiro, já fizemos

por exemplo um curso de pós graduação de especialização, 60 e tal técnicos da direção

geral dos impostos, um curso de especialização relativamente às normas e técnicas de

contabilidade. tentamos arranjar mas não é fácil e não é fácil porque temos aqui muitos

alunos ou que são revisores de contas ou que têm gabinetes de contabilidade, mas esses

voltam-se para dentro não é trazer o seu negócio para dentro da escola e portanto há uma

série de coisas em que é um bocado difícil conseguirmos angariar mais receitas próprias,

temos que ter imaginação. Somos a escola do (ISP) que tem maior percentagem de

receitas próprias, que cobre os seus custos.

Relativamente aos alunos, existem estratégias de captação, de marketing?

Não, não temos, vejo aí o ISCTE e mais uns quantos que gastam balúrdios porque um

anúncio numa página do Expresso custa para aí 10000 euros, não sei como conseguem

nem onde vão buscar o dinheiro, não temos dinheiro para isso. A nossa melhor forma de

recrutamento é o boca a boca, é o nosso site, pomos para aí um anúncio por ano na altura

das candidaturas, temos facebook, fazemos visitas às escolas secundárias onde

distribuímos material ou recebemos também delegações de escolas secundárias para

virem falar connosco e conhecerem os nossos cursos, essas coisas, não temos dinheiro

para fazer estratégias agressivas de marketing como vejo aí algumas a fazer, não estamos

para aí virados. Para começar, acho que se conseguimos estar no mercado e haver uma

perceção de mercado e essa é a nossa principal preocupação de que temos qualidade, é o

que digo, quem tem qualidade não precisa de andar para aí a vender-se, digamos que é a

estratégia do anti-herói, ou seja, estamos aqui, se somos bons não precisamos de estar a

gastar um balúrdio... eventualmente e marginalmente poderia vir a chamar mais alguns

alunos mas, além de não termos dinheiro, e isso é logo à partida impeditivo e do meu

ponto de vista não somos vendedores de sapatos, não somos comerciantes de ensino,

estamos aqui e o nosso melhor e o nosso cartão de visita serão os nossos graduados, a sua

empregabilidade, é esse o nosso posicionamento.

De uma forma geral e na sua opinião, quais as alternativas para financiar o ensino

superior público além do estado e dos alunos?

Como disse, tentar mexer-nos, angariando projetos... mas isto depois a administração

pública é uma coisa terrível e burocrática e antiquada, isto é um exemplo, tinha o projeto

agora para Angola para fazermos lá o curso, cobramos o overhead aos docentes que lá

vão e eles para receber precisavam de uma fatura próforma para contabilizarem, lá nas

contas deles, cheguei ao (ISP) e pedi uma fatura, ai não podemos passar faturas proforma,

não podem? Mas porque é que não podem? Porque não podemos, mas não podemos

receber se não tivermos a fatura. Veja o ridículo de algumas coisas que acontecem que

fico de boca aberta, como é possível, veja as coisas estranhas que nos podem acontecer...

à partida as empresas emitirem faturas destas não tem qualquer problema, se isto

acontecer têm que nos pagar isto e virá a fatura definitiva, não, não podemos passar a

fatura proforma e eu fiquei a olhar para eles, só faltou perguntarem o que era isso e como

trabalhei em empresas muitos anos e isso era uma coisa normalíssima, normalmente

quando há importações ou exportações, em qualquer lado se passa uma fatura destas.

Fazem aluguer de espaços?

Fazemos mas não... já alugámos mais o auditório, às vezes para alguma empresa que nos

pede a sala, também não temos muitas salas que tenho 3000 alunos no prédio, isto é quase

investigação operacional de otimização da ocupação de espaços, portanto não temos

muitos mas pontualmente temos espaços.

O peso das atividades de extensão, de investigação, em termos financeiros...

Em termos financeiros, quem quer investigar está por sua conta basicamente.

Antigamente, até há dois anos, financiávamos, desde que fossem apresentar comunicação,

porque não financiamos passeios, havia um plafond por área científica e financiávamos

idas a congressos e aconselhada como útil pelo conselho técnico-científico. Depois,

deixou de haver dinheiro para isso. O ano passado ainda apoiámos dentro do espaço

nacional, este ano a partir de agora não há nada para ninguém, quem quiser ir está por sua

conta. Os apoios...teoricamente as pessoas também têm direito a uma sabática para

investigar e não sei quê, hoje em dia não posso conceder sabáticas a ninguém porque

estamos abaixo dos ETIs está toda a gente cheia e portanto não há espaço nem dinheiro

para permitir que um professor, do ano passado para cá, vá em sabática e depois querem

que as pessoas investiguem. Como eu, investigo e vou fazendo a minha tese nas horas

vagas. Aliás, todos os professores da minha área de que eu era o coordenador tiveram

direito às suas sabáticas, eu nunca tive porque não podia abandonar o barco. Dei a todos

os que estavam abaixo de mim mas eu nunca tive. houve pessoas, quando houve esses

PRODEP que estiveram cinco anos e fizeram o mestrado e doutoramento à conta disso,

nunca me pude ausentar, atendendo às minhas responsabilidades aqui dentro, sacrifico-

me em prol da instituição, fiz o mestrado sem ter nenhuma redução e o doutoramento

também.

Para além daquele senhor que falou do pai do jovem que faleceu existem mecenas

ou patrocinadores?

(o banco), mas não há almoços de graça, como vêm cá vender os cartões e não sei o quê,

pagam, a maior parte dos prémios que damos aos alunos anualmente, num congresso que

fizemos aí de matemáticas financeiras o ano passado, também tivemos alguns pequenos

patrocínios, mas é muito difícil neste momento, ou se conhece alguém lá dentro porque

se se pedir institucionalmente a alguém, por exemplo, à EDP ou Galp eles dizem que

devido à conjuntura difícil não podem ajudar. Neste momento são estes e a OTOC, mas

é muito difícil, às vezes temos, essas multinacionais de auditoria contribuem para um

prémio mas são coisas pontuais. Nada disto entra no orçamento, são dinheiros ao lado.

Quando uma entidade se assume como parceiro ou mecenas é celebrado algum

acordo?

Sim, temos protocolos, esse com (o banco) está estipulado o que é que eles nos dão,

estamos a tentar alargar aquilo a estágios profissionais, que é uma coisa que também nos

interessa em termos da saída profissional dos alunos, portanto, isso está tudo escrito.

Quais os moldes desses protocolos? vocês dão, eles querem alguma coisa?

Não, o que eles querem normalmente, quando é com IES e temos muitas, é para trocas de

docentes, basicamente, em termos de igualdade. Depois também temos uns protocolos

com associações relacionadas com o empreendedorismo, também temos um mestrado em

empreendedorismo, até eventualmente poderem associar-se aos nossos alunos aquelas

maternidades de empresas, temos protocolos com bancos que possam facilitar aos alunos

aqueles mini créditos, temos protocolos com instituições em Cabo Verde e Angola, um

deles parece que vai arrancar já e isso fornecendo serviços nossos porque eles têm

dinheiro mas não têm knowhow nem docentes muitas vezes qualificados para um certo

número de coisas e vêm cá. de resto... temos dezenas de protocolos, temos também com

juntas de freguesia, a propósito da integração na comunidade, temos uma prestação de

ajudar a preencher os impressos de IRS, por exemplo, coisas desse género. Tínhamos um

com a Câmara de Loures para ajudar pequenos e médios empresários com projetos de

investimento e isso é tudo pro bono como é evidente, é a tal prestação de serviços à

comunidade, e as juntas publicitam-nos, têm interesse nisso, somos uma instituição com

algum prestígio. Por exemplo, o de Cabo Verde pediu-nos agora e é um trabalho que

estamos a fazer de graça, estão a fazer as licenciaturas e pediram ao nosso conselho

técnico científico para dar um parecer favorável e o que eles querem é ter a nossa chancela

lá, a dizer que foi (a escola) que deu esse parecer favorável, isto não há almoços de graça,

pronto. Evidente que nós apesar da tal prestação de serviços à comunidade também temos

um certo interesse em que a nossa imagem seja divulgada.

Neste quadro de austeridade como vê a autonomia do ensino superior?

Com grande preocupação porque o presidente do (ISP) quando me convocou para dar

estas más notícias e disse que íamos ter umas centenas de milhar de euros a menos para

o orçamento de 2014 e diz que 2015 vai ser pior, portanto, não sei que lhe diga, estou um

bocado deprimido.

Considera que a existência de financiamento externo pode condicionar de alguma

forma a autonomia?

Evidentemente que condiciona sempre, tudo condiciona, este congresso que estamos a

realizar agora coma OTOC, é evidente que o nosso ponto de vista, enquanto entidade

organizadora da parte científica, já tenho ouvido críticas de algumas pessoas, a OTOC

tem uma grande visibilidade e também não têm almoços de graça e vieram dizer-me,

censurar que é dada demasiada visibilidade à OTOC e eu digo, mas é que sem OTOC não

havia congresso e portanto pergunto, era melhor não fazer o congresso ou quem censura

que pague as despesas que (a escola) não podia suportar. repare, é um condicionamento

relativo mas existe sempre condici0onamento.

Não tendo autonomia financeira como gerem os fundos que vos são atribuídos?

Fazemos milagres, estamos com o coração nas mãos todos os dias.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Não.

Muito obrigada pela sua colaboração.

Entrevista IP10

Começava por lhe perguntar sobre a sua formação académica.

Tenho seis cursos superiores, tendo começado em energia, mudado para automação,

seguido para acionamentos, engenharia eletrotécnica, controlo de sistemas inteligentes e

educação. Portanto, desde um bacharelato, duas licenciaturas, dois mestrados e um

doutoramento e uma agregação.

E o seu percurso profissional, como aconteceu até ter chegado aqui?

Comecei pelo percurso normal, fiz toda a minha parte académica, depois iniciei em 2000

a parte de gestão, na altura era vice-presidente da instituição e com toda a naturalidade

fui eleito em 2005 como presidente da instituição e fui reeleito em 2010, estou no segundo

mandato que termina daqui a seis meses.

Considera que de alguma forma, as competências que foi ganhando na parte

académica contribuíram para desempenhar as funções que desempenha agora?

Pouco. Exceto talvez a parte da educação, pouco. Quando cheguei às posições de gestão

tinha obviamente alguns conhecimentos de gestão porque em engenharia há uma

componente de gestão que também tem que se estudar mas não me deixou preparado

nomeadamente para aquilo que era a gestão na função pública por isso a primeira coisa

que fiz foi inscrever-me numa pós graduação no (instituto público), precisamente em

gestão de administração pública para dirigentes, o que me ajudou bastante também a

complementar alguma informação que não tinha e depois foi uma questão de prática e de

conhecimento que fui acumulando. Portanto, digamos que quando em 2000 assumi a

minha posição de vice-presidente, não fazia a mínima ideia do que me estavam a pedir.

Depois fui ganhando as competências e levou-me hoje em dia a estar já bastante à vontade

do que é a direção na função pública.

Como avalia a sua experiência como diretor?

Uma experiência riquíssima, que me levou inclusivamente a novos desafios e desafios

que vou continuar para lá do próximo ano a nível de gestão institucional, inclusivamente

a nível internacional, neste momento sou presidente da federação mundial das sociedades

de ensino de engenharia e portanto, para ter uma ideia, as várias faculdades pertencem na

sua área de região a sociedades, nós pertencemos à sociedade europeia, passei por lá

também, fui vice-presidente por um conjunto de anos e depois cada bloco de cada

continente junta-se numa federação mundial e hoje em dia lidero isso, basicamente aquilo

que é a definição da política estratégica de mais de 6000 faculdades em todo o mundo. E

portanto é uma condução que me levou, nos seus passos, a chegar lá. Correu bem, foi um

processo de aprendizagem e sinto que ainda hoje estou a aprender, nomeadamente aquilo

que tem a ver com os fatores de internacionalização, de direção estratégica internacional.

Sobre o ensino superior público português, qual a sua opinião sobre o estado, a

evolução, as tendências?

Estamos a ser forçados a aprender a nadar à força, ou seja, não há mudança que se faça

com ninguém quando está confortavelmente instalado. E, neste momento está claro que

o nosso ensino superior nunca vai ser como foi no passado e estamos a ser, todos nós

forçados a procurar outras soluções e é um pouco isso. O que vai acontecer? Vamos ter

um ensino superior mais robusto, não necessariamente mais justo mas com maior

capacidade de enfrentar desafios. Eu não teria feito dessa maneira, se tivesse a

competência para tomar essa decisão, preferia que tivesse sido tomada uma decisão mais

de cima para baixo, portanto top down, de definição estratégica institucional, mas acredito

que é também uma forma, é basicamente tirarmos os recursos a todos e aqueles que vão

conseguir sobreviver serão apenas alguns. Claro que há um desgaste muito grande e eu

não o faria porque isso demora muito tempo, não por causa do resultado, o resultado vai

ser bom sempre, necessariamente, porque vai demorar muito tempo e vamos fragilizar-

nos em termos internacionais pela metodologia que estamos a seguir. Portanto, vamos ter

menos ensino público no futuro, vai ser maior qualidade, necessariamente e vai ser com

maior capacidade de sobrevivência e mais robusto.

E em relação ao ensino privado?

O ensino privado vai crescer, não necessariamente o nosso mas novos modelos de ensino

privado, por exemplo os MOOC começam a entrar aí, os cursos abertos online para

massas, até o planned learning, os flipped courses começam já a existir com muitas

instituições internacionais, começam a entrar no nosso país, e instituições mundiais e é

inegável que isso aconteça mais tarde ou mais cedo. Depois, acredito que quando se

reestruturar a nossa rede de ensino superior pública, ficando mais robusta mas mais

pequena, vai abrir espaço para outros tipos de ensino, não necessariamente nos mesmos

moldes, mas necessariamente bastante eficiente e também todo ele tendencialmente a

funcionar sobre grandes blocos internacionais.

Doutor, ainda dá aulas, esqueci-me de perguntar?

Dou sim senhora. Não consigo ter uma regularidade tão grande até porque tenho muitas…

tenho uma vida de representação internacional muito elevada mas procuro dar aquilo que

chamo aulas magistrais no mestrado onde, quando posso, encaixo uma aula, portanto, são

aulas que não têm sequência, são aulas em que uma pessoa vai e fala de um tema e está

colocado. Faço-o porque precisamente não escolhi ser gestor, escolhi ser professor e

depois a gestão surge até por uma questão de desafios internos em que se não fizesse, não

podia estar a exigir aos outros para fazer e portanto arregacei as mangas e fiz. A partir do

próximo ano serei professor na forma mais legítima, professor doutor com agregação do

último escalão, digamos que terei a capacidade de continuar a fazer algum impacto em

termos de ensino como de resto tenho vindo a fazer.

Processo de Bolonha. Para si como correu, bem ou mal implementado? Correu bem?

Fui um dos peritos de Bolonha, nomeado pelo Sr. Ministro Professor Mariano Gago para

acompanhar portanto tenho alguma, digamos que tenho um acento privilegiado e posso

falar um pouco mais sobre esse assunto. Para já, sou um acérrimo fã de Bolonha porque

acho que Bolonha era uma reforma necessária, conseguimos agitar as águas o suficiente

para que o ensino superior deixasse de ser a pasmaceira que era durante as últimas dezenas

ou centenas de anos. O projeto estava muito bem idealizado, a implementação foi muito

complexa, não só em Portugal, foi em toda a europa. E acho que em Portugal perdemos

algumas oportunidades. Bolonha á portuguesa foi uma Bolonha para implementar o que

as pessoas queriam, cada um à sua maneira mas nem sempre necessariamente

acompanhado de alguma qualidade. Por exemplo, acho que demorámos muito tempo a

ter a nossa agência de acreditação a funcionar, o que é uma coisa mais ou menos básica,

ou seja, não se pode fazer uma mudança sem ter um órgão de regulação da qualidade a

acompanhar essa mudança e acho que isso não aconteceu, penso que isso foi negativo.

Perderam-se algumas oportunidades, por exemplo, fui um dos grandes defensores do

suplemento ao diploma como um elemento fundamental do processo de Bolonha para

incentivar o mercado, quer interno, quer externo, quer de ligação às empresas e foi uma

aposta perdida porque acho que nenhuma instituição hoje vê o suplemento ao diploma

como algo válido, aliás, porque são feitos massivamente, não são individualizados como

se esperava nem nada do género. Mas acho que Bolonha ainda se vai conseguir reconstruir

a si própria e espero que efetivamente venha a promover aquilo que de facto não

conseguiu promover nos últimos anos que foi uma maior mobilidade de profissionais e

de alunos. Aliás, desde que entrámos em Bolonha, os nossos números de mobilidade

internacional baixaram, o que mostra que o processo não foi bem implementado e que

isso levará necessariamente a ter que repensar muito a forma de ver o ensino superior,

mas vai acontecer.

E na parte da autonomia dos alunos, acha que os professores interpretaram bem

esta reconstrução do papel do professor?

Não, acho que os professores não se aperceberam que com Bolonha passámos a ter um

espaço de aprendizagem mais do que um espaço de ensino, continuam a querer ensinar,

quando o que é importante em Bolonha é que os alunos aprendam mesmo que o professor

não ensine, é um pouco este modelo que acho que ficou um pouco em casa. Para algumas

pessoas, Bolonha foi só falar mais depressa porque tinham menos tempo para dar a mesma

matéria, portanto, diziam a coisa mais depressa para parecer que estava tudo dado. Por

outro lado, penso que aos próprios alunos não foi explicado e eles acabaram até por exigir

até processos contra Bolonha. Lembro-me que quando começámos a implementar alguns

dos primeiros projetos em PBL, project based learning, em que tínhamos os alunos muito

indignados porque queriam ter os seus testes, o professor a dizer as aulas, o tradicional,

portanto, não se pusessem a inventar porque eles queriam garantir que era isso que tinha

qualidade, ainda que eles ficassem depois muito aborrecidos nas aulas, passivos, etc.,

portanto, acho que o próprio aluno ainda não se apercebeu que deve ser mais ativo como

forma de aprendizagem, isto genericamente, alguns sim, mas genericamente não está

colocado. E acho que essa talvez seja a falha do ponto de vista da explicação aos alunos

porque obviamente eles não têm culpa disso mas também de uma transição que foi mal

prevista porque se imaginou que um aluno viria num modelo passivo até ao 12º ano e

depois de repente passava a ser autónomo. Ora, não aconteceu nada de mágico aos 18

anos para a pessoa de repente deixar de ser passivo e passar a ser ativo no processo.

Bolonha é um processo que obriga a que a pessoa seja mais ativa mas isso deve começar

antes, por exemplo, nos EUA, aos 14, 15 anos, começa-se a exigir aos miúdos que façam

papers, artigos para serem publicados e portanto para eles é normal terem uma autonomia

que aqui não se tem.

Sobre as propinas, há autores que defendem que as propinas responsabilizam os

alunos, há os que defendem que as propinas de valor elevado baixam a

democratização do ensino. Onde se situa nestes dois extremos?

Em dois módulos, há pouco tempo tentei e até tinha implementado esse modelo, agora

temos que o deixar por causa da crise que tínhamos. Quando um aluno assume o

compromisso de vir para o ensino superior, acho que deve assumir o compromisso de

alma e coração, por isso mesmo, até há dois anos atrás, obrigava que no primeiro ano, o

aluno que acabasse de entrar pagasse à cabeça a propina inteira do ano porque o

responsabilizava sobre uma opção que tinha tomado, também porque um português,

infelizmente, desde que pague, depois a seguir não abandona, portanto, era de facto a

melhor forma de colocar mas digamos que há uma primeira responsabilização. Depois,

nos anos seguintes, permitia que pagassem em muitas prestações e quando não pagavam,

arranjava-se um processo de reconstrução e reestruturação, portanto, acho que é possível

fazer essa ligação. Continuo a acreditar que esse é o melhor modelo, é a melhor solução

do compromisso garantir que há um pagamento e isso não é uma questão de

democratização, até porque, precisamente porque sabia que havia famílias que não

podiam pagar a propina toda à cabeça, negociámos com uma entidade bancária que está

no campus, não citando nomes, para que eles pudessem pagar em prestações, portanto da

mesma maneira como se fosse o valor da propina e acabavam por pagar num ano, pagando

de prestações apenas mais dez euros. A maior parte… apenas três pessoas num ano e a

nós entram cerca de 1000 pessoas por ano (na IES) e apenas três pessoas recorreram a

esse serviço, portanto, mostra que efetivamente não há um problema de pagamento das

propinas ou então havendo, as pessoas não confiam nos bancos para as apoiarem neste

processo. Porque, sinceramente, pagar a propina em prestações ao longo de um ano, em

vez de ser paga toda à cabeça e pagar mais dez euros é perfeitamente apelativo para

qualquer pessoa mas não foi. Digamos que as pessoas preferiam pagar à cabeça.

Neste momento não estão a dar doutoramentos?

Neste momento não, pusemos a hipótese de dar mas agora só em parceria.

O que acha do valor diferenciado dos diversos graus, das licenciaturas em relação

aos mestrados e dos mestrados em relação aos doutoramentos?

Aí tem havido muita discussão a vários níveis. Mas primeiro a licenciatura. A licenciatura

de Bolonha tem algumas componentes que podem ser importantes para o mercado, não

são componentes definitivas, então na engenharia não permitem fazer muitos atos de

engenharia mas permitem fazer alguns e é importante que eles existam. Tem havido uma

guerra sistemática, até mesmo profissionais dizendo que profissionais com três anos não

poderiam ter essas competências. Felizmente, nos últimos anos foi possível, junto da

Ordem dos Engenheiros, porque a engenharia é o nosso core business, fazê-los perceber

isso e hoje em dia, os alunos com três anos já podem entrar na Ordem dos Engenheiros e

já podem utilizar algumas componentes profissionais, o que acho que é importante. Tem

esse mérito e esse valor ainda que seja o primeiro grau, é aquele grau onde a pessoa

aprende a estruturar, aprende a pensar, aprende a realizar e a idealizar mais do que tudo.

Depois, do ponto de vista do mestrado, dá aquilo que eu diria a especialização, portanto

o chamado t skills, uma generalização e depois é que passa a ter uma especialização num

determinado ponto e o mestrado dará isso e portanto digamos que o mestrado é aquele

que por excelência liberta o especialista numa determinada área para o mercado. O

doutoramento, no nosso país tem sido muito encarado como um doutoramento como um

passo para a carreira académica, que é basicamente isso que ele tem servido, ainda que

continue a achar que o doutoramento tem um potencial tremendo para o desenvolvimento

industrial, sendo que a investigação não é necessariamente toda feita na universidade, não

deve ser, mostram que as grandes empresas que fizeram um forte investimento em

investigação são empresas que têm os seus doutores que estão a fazer lá o seu

doutoramento ou têm já os seus doutores a fazer essa investigação e conseguem ganhar

alguma mais-valia. Não tem sido essa a visão e portanto os nossos doutores acabam por

ser só quase exclusivamente académicos que pretendem seguir a sua carreira e que para

isso têm que fazer investigação. Acho que não seria mau repensar essa mais-valia do

doutoramento em todas as suas vertentes, inclusivamente a vertente de utilização destes

cérebros em vez de que eles fujam para o estrangeiro, mas isso agora é outro modelo

porque as universidades agora não absorvem ninguém, os melhores alunos estão a ir-se

embora e portanto estamos a pôr em causa uma geração.

Qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público?

Regulador, exclusivamente regulador. O estado não devia ser dono de nenhuma estrutura,

devia apenas garantir que são mantidas as regras. Não há nada constitucional

inclusivamente que diga que o ensino deve ser público…

A Constituição da República Portuguesa…

Sim, mas não do ponto de vista de que deve chegar a todas as pessoas, sim, que deve ser

público na perspetiva em que todos devem ter essa ligação, sim, que tenhamos que ser

nós a encarregar-nos de tudo, não. Isso vê-se por vários modelos, sei lá, os bombeiros, e

permita-me esta analogia, os bombeiros voluntários são hoje em dia o core da defesa

contra os incêndios, apesar de haverem bombeiros sapadores mas, no estado, não faz

sentido ter bombeiros sapadores, sejam bombeiros profissionais em todas as estruturas

porque não se justifica esse modelo. Mas faz sentido que crie as condições para que isso

aconteça. A mesma coisa acontece no ensino superior, acho que no ensino superior o

estado deve ter um fator regulador profundo, de qualidade e funcionamento mas não mais

do que isso. Por exemplo, não se justifica, na área da engenharia, que os nossos impostos,

os seus e os meus, sejam para pagar concorrência entre cinco faculdades de engenharia

na AML. Isto não faz sentido, quer dizer, apenas porque existem professores que têm um

ego que dizem que tenho aqui o meu curso, a minha disciplina, o meu laboratório, etc. e

isto pago com os nossos impostos. No limite, e dou um exemplo concreto, o da engenharia

química, há seis instituições que dão engenharia química aqui na AML e todas são

deficitárias nessa área, todas sem exceção e portanto são milhões de prejuízo que todos

os anos estamos a pagar dos nossos impostos apenas porque as escolas têm que ter esta

autonomia, sim senhora, mas que é uma autonomia que não é regulada, portanto, o estado

não está a fazer o seu trabalho de regulador, que é permitir que existam estes cursos todos,

devidamente pagos pelos contribuintes quando não se justificam nem são sustentáveis.

Teria sido preferível o estado assumir, de uma maneira qualquer, competitivamente ou

por outro tipo de regras, assumir que apenas alguns teriam a dar esses cursos ou um, fosse

o que fosse, de forma a que isso seja sustentável.

Professor defende o utilizador/pagador?

Não tanto. O conceito de utilizador/pagador, obviamente que em essência não faz sentido

que toda a gente esteja a pagar por algo que não vai necessariamente beneficiar todos.

Mas, deve haver um utilizador pagador sempre, mas não é na essência… não é um

mercantilismo tão selvagem em que eu só vou ter exatamente aquilo que paguei porque

o ensino superior tem que beneficiar toda uma sociedade e portanto, aí toda a gente está

envolvida. Tem que haver um equilíbrio, não sou extremista nem para um lado nem para

o outro.

Dentro da instituição, existem estratégias para captação de alunos?

Existem, apostámos, desde há alguns anos atrás, desde 2006, apostámos muito na

internacionalização, portanto, é fácil fazer as contas e verificar que não vai haver alunos

suficientes para a nossa taxa de natalidade, pela demografia e pela mobilidade dentro de

uma geração. Então começámos a apostar e apostamos numa estrutura ligeiramente

diferente de muitas instituições, não fomos pelo óbvio. Em vez de apostarmos naquilo

que eram a CPLP, os PALOP em essência mas a CPLP no seu global, começámos a

apostar em mercados únicos, onde ninguém estava a competir connosco e por isso fomos

para a América Latina, para países onde mais ninguém está no nosso país, sei lá, Bolívia,

Paraguai, Perú, Colômbia, agora já começam a estar também mas estamos a desbravar

um terreno que não havia e que funcionou muito bem. Começámos a trazer

investigadores, alunos, começámos a ter algum tipo de, ainda com algumas limitações,

que infelizmente o nosso estado ainda não permite fazer aquilo que a gente queria, mas

pronto. E nos últimos três anos viramo-nos muito para a Ásia, neste momento, por

exemplo, temos o exclusivo num protocolo assinado com o Ministério da Educação do

Cazaquistão de trazer alunos para Portugal e estamos a trazê-los para cá, e não só para o

(IES), depois distribuímo-los pelas várias universidades, portanto, na prática, o nosso

acordo supõe que todas as pessoas que queiram vir do Cazaquistão, independentemente

da universidade, vêm através do ministério, o ministério manda-os para nós e nós

encarregamo-nos de fazer a colocação nas várias universidades no nosso país,

dependendo da área que as pessoas querem, claro. Se for engenharia, teremos obviamente

primeira preferência, se não serão passadas para as várias instituições com quem teremos

também acordos internos para o fazer. Recentemente apostámos também no Quirguistão,

no Tajiquistão, Uzbequistão, nos mercados em que a maior parte das pessoas não estão

ainda porque lá está, chegar, perceber o potencial que aquilo tem, mas isto dá-nos alguma

mais-valia, na quarta-feira vão chegar os primeiros 30 de 90 alunos do Cazaquistão que

vão chegar este mês, para poderem fazer a sua formação com toda a tranquilidade em

termos de funcionamento. Acredito que é a única solução que temos, sendo que o estado

aí funciona mais como peso morto do que outra coisa porque, por exemplo, limita-nos no

valor de propinas, limita-nos no valor da colocação, tenho chineses que vêm e estou a

levar muito menos do que eles podiam pagar apenas porque não tenho enquadramento

para levar mais.

E alunos nacionais, alguma estratégia de captação?

Temos, mantemos aquilo que é o costume, vamos… (a IES) tem uma característica

interessante. Nós, mesmo quando não enchemos todas as vagas como aconteceu este ano,

nós enchemos todas as vagas, isto quer dizer que canibalizamos as escolas à volta. Todos

os alunos que entram para muitas escolas num raio de 100 km daqui, mesmo que entrem

para essas escolas no 1º ano, no 2º ano mudam para aqui, portanto, encho sempre estas

vagas. Dou-lhe o exemplo de Setúbal, trago uma média de 50 a 100 alunos de Setúbal

todos os anos, que depois de entrarem lá percebem que querem estar numa escola com o

nosso perfil e mudam para cá. Mesmo (outra IES), estou a receber cerca de 50 alunos por

ano, que vêm de lá para cá porque como eles têm um modelo de mestrado integrado e

eles querem ter acesso ao mercado ao fim de três anos, migram de lá para cá. Digamos

que a nossa escola é muito vocacionada, é interessante quando a pessoa começa a

conhecer um bocadinho do tema e percebe o que vai fazer, quais são as oportunidades,

até porque temos taxas de empregabilidade, temos tido, até porque agora o mercado já

não é o mesmo, muito elevadas. Há dois anos atrás, todos estavam acima, todos os cursos,

inclusivamente o de engenharia química estavam acima dos 95%. Agora estão mais

abaixo, naturalmente, mas de qualquer maneira, no mercado, continuamos a ter um bom

nome e as pessoas que vêm por aqui sabem isso e o aluno quando começa a perceber,

quer vir para cá por isso mesmo. Portanto, as estratégias têm sido basicamente continuar

a apostar numa divulgação do que fazemos, não mandamos ninguém às escolas,

convidamo-los a vir cá, trazemos autocarros com miúdos a partir do 7º ano de

escolaridade, portanto, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º e 12º anos, trazemo-los para passarem dias aqui,

para verem os nossos laboratórios, para virem conhecer e depois, naturalmente, eles

acabam por vir para cá.

Tem uma estrutura ou gabinete de marketing?

Temos um serviço de relações externas e um gabinete de comunicação, é uma diretora

jovem, que está a conseguir fazer uma coisa que lhe pedi que é, que não é uma coisa

convencional, que é, ela tem que ser perfeitamente sustentável na sua ação, ou seja, não

lhe vou dar do orçamento (da IES) nem um tostão para fazer a divulgação portanto ela

tem que criar ações que sejam sustentáveis para que isso aconteça e tem-no feito. Tem

conseguido com a gestão de espaços que tem disponível, que são os excessos de que não

necessitamos, auditórios e tudo mais, tem-se conseguido fazer acordos, vendas, etc., que

trazem algum dinheiro. Portanto, não utilizamos nem um tostão do OE para divulgação,

promoção, etc., todo ele é gerado internamente pela própria estrutura, na ligação com o

exterior, portanto é dinheiro que vem do exterior que depois é utilizado para isso.

Dificuldades financeiras na instituição?

Temos, como todas as estruturas, acima de tudo temos um problema tremendo que é

utilizar os fundos próprios, as receitas próprias. Conseguimos captar cerca de 40% do

nosso orçamento é das receitas próprias e depois temos dificuldades em gastá-lo porque

o estado, uma vez que entre aqui cria dificuldades para poder sair. Basicamente, isso é o

principal estrangulamento e claro, esta indefinição contínua, estamos a gerir muito em

cima do joelho, não é positivo, teria preferido que o Sr. Ministro, nós temos autonomia

administrativa e financeira, teria preferido que o Sr. Ministro me dissesse, olha tens que

cortar 20% diz-me como queres cortar e eu fazia-lhe uma proposta, aquilo que eu

acreditava, mas em vez disso temos uma micro gestão em que não podemos gastar nas

rúbricas 0.2, 07, mais não sei quantos da lista, o que é um disparate, porque quando se faz

micro gestão significa que alguém de fora que não conhece a realidade, acaba por estar a

interferir numa realidade que não conhece, pronto, é um bocadinho este… esse tem sido

o principal problema, a interferência do sistema político em micro gestão, tinha sido

preferível dizerem, tem que cortar x%, diz-me como e eu faria uma proposta, do que

propriamente o que acontece hoje em dia em que o estado diz não podes gastar da rúbrica

tal e às vezes mesmo com um contrato assinado, diz que não posso usar toda a verba que

tenho para esses contratos no orçamento que leva a ter litígios, gastamos mais dinheiro

em tribunais, advogados e etc. por litígios que eram desnecessários.

Neste quadro de cortes orçamentais, quais as áreas que sofrem dentro (da IES)?

Sofrer, sofrem todas um bocado, mas essencialmente aquilo que são as despesas de

capital, a nível de investimento, o investimento sofre bastante, neste momento todo o

investimento acaba por estar dependente somente de projetos de investigação que acabam

por sustentar o investimento porque não há novo investimento, o que mata muito uma

escola que depende muito do tecnológico ou seja, se eu não conseguir acompanhar a

tecnologia, daqui a algum tempo estaremos a utilizar equipamento obsoleto e ensinar com

equipamento obsoleto, o que é complexo, ou seja, começo a ter alunos que às vezes têm

melhor equipamento pessoal do que encontram nas salas do ponto de vista tecnológico,

até porque eles gostam muito e fazem o seu investimento pessoal e penso que isso é

negativo para uma instituição. É o principal sofrimento aqui.

No seu entender, quais seriam as alternativas possíveis para financiar o ensino

superior?

O sistema é sustentável… dito desta forma, se as regras do privado se aplicassem ao

público, o sistema que temos hoje em dia era sustentável na grande generalidade, não

quer dizer que pontualmente não existam uma ou outra instituição que obviamente é

obsoleta e que está a ser artificialmente mantida, que se calhar existem, mas todas elas

são sustentáveis. É uma questão de regras, dou um exemplo, não temos flexibilidade

laboral, a flexibilidade laboral no estado é virtualmente nula e por exemplo, não posso

fazer uma coisa que eu faria neste momento em termos de crise se fosse uma empresa

privada. Hoje em dia o estado diz coisas como vamos tirar as pessoas menos competentes,

vamos tirar os auxiliares, vamos tirar um conjunto de pessoas que do ponto de vista

financeiro pouco vão empacotar, em vez de me permitir fazer aquilo que era o óbvio que

era chegar a um conjunto de professores no topo de carreira e fazer-lhes uma proposta de

pré reforma, com o apoio na pré reforma e assim libertar o peso destas pessoas no custo

global da instituição e ao mesmo tempo impedindo que outros jovens possam seguir a sua

carreira. Hoje em dia, com o pouco dinheiro que existe no ensino superior, se nos

permitissem efetivamente ter as regras do privado, que era poder fazer as ofertas para que

as pessoas se pudessem aposentar mais cedo, nalguns casos específicos, eu tiraria cerca

de 60 professores dos 500 que (a IES) tem, nessa base, e reduzia em 20% quase o custo

do orçamento fixo e permitia a muitos jovens progredir na sua carreira, porque era esta a

ideia e desta forma construir um pouco… em vez disso, o que é que acontece? Os

estrangulamentos acabam por ser naqueles que têm contratos mais precários, muitas vezes

jovens que acabam por não ter o seu contrato renovado e com isso mata-se a instituição.

Isto só porque o sistema público não permite pegar nestas pessoas e fazer este tipo de

acordos.

Falou nas receitas próprias. Esses projetos que falou são financiados, da FCT, esse

tipo de coisas?

Pouco a FCT, felizmente, porque aqueles que apostaram muito na FCT, perceberam que

aquilo não há muito dinheiro, não, essencialmente são projetos que vêm da indústria ou

projetos europeus ou internacionais, um deles, por exemplo, a Brisa, fizemos o

desenvolvimento daquilo que era a Via Verde e isso fez um encaixe de muitos milhões

nos últimos anos, fizemos o desenvolvimento do multibanco que nós usamos hoje em dia,

já há mais tempo, foi todo desenvolvido aqui, fizemos desenvolvimento do VEC, o

veículo elétrico que compete a nível internacional, foi lançado o ano passado, também foi

lançado por nós, portanto, há um conjunto de projetos que nos vão dando algum alicerce

nessa base e é por aí que nós acreditamos. Porque a própria FCT é muito má pagadora,

temos que adiantar o dinheiro e adiantamos o dinheiro, depois o dinheiro chega no fim

do ano e muitas vezes já não há tempo de se gastar e fica tudo congelado, portanto,

gastamos dinheiro por antecipação e quando o dinheiro vem, não lhe podemos tocar. Fica

cativo e é um disparate porque de facto estamos a financiar da nossa própria estrutura, de

dinheiro que não temos muitas vezes na investigação. E eu penso que se não tivéssemos

os outros projetos para suportar isso, não podia fazê-lo.

E prestações de serviços, aluguer de espaços…?

Fazemos bastantes, temos algumas empresas que estão a deslocalizar os seus laboratórios

de desenvolvimento e investigação para dentro do campus, são bem-vindos, nacionais e

internacionais e portanto temos aluguer de espaços, como dizia, o auditório e etc. que

estão no âmbito do serviço de relações externas que servem inclusivamente para financiar

a própria divulgação, portanto, é à margem. Temos utilizado todo esse tipo de

mecanismos possíveis imaginários, daí os 40% do orçamento. Quando peguei nesta

instituição, como presidente, em 2006, tínhamos 12% de orçamento privativo, hoje temos

40%, mostra que houve de facto uma mudança e acredito que seria muito superior se

efetivamente tivéssemos neste momento um período de crescimento, não estamos,

estamos em período de recessão, portanto torna-se difícil, mas precisamente agora era a

altura em que devíamos estar a investir, é na recessão que se investe, não é nos tempos

de vacas gordas.

Mecenas ou patrocinadores desta instituição?

Muito poucos, os que aparecem são pontuais, são marginais, pequenos elementos… não

temos nada de significativo, são coisas pontuais, poucos milhares de euros por ano, mas

mais em termos de equipamento e pouco mais do que isso.

É possível identifica-los?

Por norma prefiro não o fazer, mas posso falar em grandes multinacionais, sem identificar

diretamente, mas da área das tecnologias da comunicação, da informação e da energia.

Quando se assumem como patrocinadores, que tipo de contrato ou protocolo

estabelecem? Quais os moldes? Contrapartidas para vocês, para os outros…

Nós procuramos sempre em todos os sentidos uma parceria, o conceito de que as

universidades vão de mão estendida pedir dinheiro é uma coisa que abomino

completamente porque não faz sentido. Nos parceiros tem que haver mais valias dos dois

lados, por vezes eles querem maior exposição mediática, outras vezes maior exposição

mediática, por vezes querem desenvolvimento de processos em paralelo ou como

complementar, portanto, acaba por ser uma estrutura muito interligada, é típico com os

nossos parceiros, com quem estamos a desenvolver algum projeto, eles sejam aliciados a

participar às vezes num curso específico ou num evento específico ou vice-versa, da

mesma maneira que é típico deles, por vezes pedirem a meio de um projeto que nós

façamos uma apresentação para um dos seus parceiros ou internamente, acontece esse

tipo de coisas. É uma parceria, procuramos sempre ver isso como uma parceria, mais do

que alguém que dá algo a alguém é como podemos partilhar e temos uma situação de win,

win, os dois dão aos dois.

A sua visão sobre a autonomia universitária?

A autonomia é indispensável e tem que haver autonomia com responsabilidade. Por

exemplo, sou responsável pela minha fortuna pessoal, que não tenho, infelizmente, mas

com a minha fortuna pessoal com as decisões que tomo. E estou absolutamente de acordo

porque isso é a melhor forma de garantir que um gestor público está a fazer o que devia

fazer. Por outro lado, a partir do momento em que tenho esse compromisso, ou seja, estou

a arriscar a minha carteira custa-me que o estado muitas vezes me trate como um potencial

criminoso, impedindo-me de fazer seja o que for, apesar de obviamente saber que sou

responsável por isso que estou a fazer. É uma coisa um bocado complexa. Tive uma

auditoria há cinco anos atrás no tribunal de contas, orçamento 30 milhões de euros, eles

apenas não encontraram 6000 euros que estavam deslocados de uma rubrica para a outra,

deram-me uma multa por isso e eu fiquei muito feliz porque por favor, publiquem-me

esse relatório porque quando uma pessoa gere 30 milhões e o dinheiro está lá todo, apenas

6000 estão noutra rúbrica incorreta, acho que é o maior elogio que me podem fazer em

termos de gestor. Mas pronto, há este síndroma de penalização, sei lá, nós adquirimos 5%

de uma empresa municipal, porque não temos campus, não temos um parque tecnológico,

temos um taguspark ou do género, queríamos ter, mas não fazia sentido e então

começámos a investir por nós próprios, então fizemos acordo com um pólo tecnológico e

comprámos 5%. De imediato fui auditado porque é que tinha gasto este valor, foi difícil

explicar, lá percebemos, aquilo foi um bom investimento, passados dois anos, o nosso

investimento cresceu 140 vezes, o que quer dizer que tivemos que registar um lucro de

140 vezes. Fui auditado, ninguém percebia porque é que estávamos a receber este

dinheiro, etc. portanto, há aqui uma visão… ou seja, até prova em contrário, os dirigentes

são aparentemente criminosos e isso parece-me um disparate. Assumia que no passado

deveria haver maiores regras porque na altura as pessoas não eram responsáveis, portanto,

era assim uma coisa… mas hoje sou responsável pelo meu próprio dinheiro, o que quer

dizer que se fizer alguma asneira vou ter que pagar do meu bolso, por isso, acho que é um

disparate. Portanto, concordo absolutamente com as autonomias mas deve ser uma

autonomia com respeito pelas pessoas e com liberdade, para que a pessoa possa inovar,

crescer, criar, sem todos esses constrangimentos, como disse, sem ter que demonstrar a

cada instante que não sou criminoso.

Considera-se limitado na autonomia que tem?

Bastante. Até mais pela falta de respeito para com os gestores. Ou seja, sou gestor, sei

quem é o dono da estrutura que é o estado, o estado tem que me dar linhas diretas para

fazer as coisas e o que vejo é que a maior parte dos gestores, a primeira coisa que fazem,

hoje em dia é fugir, é andarem a fazer o jogo do gato e do rato, naquilo que vem na regra

do meu dono, o que é que posso fazer para não implementar? Isto é o primeiro erro em

qualquer estrutura de gestão, quando o gestor não tem a confiança do dono, o gestor tem

que se ir embora ou então o dono tem que mudar o gestor e acho que aí falha um

bocadinho este processo. Mas pronto, conceptualmente, uma universidade sem autonomia

não existe, portanto, tem que haver sempre autonomia.

Relativamente (à IES) em relação a outras escolas (do ISP), acha justo que seja o

único a ter autonomia financeira?

As regras quando foram escritas no OE, foram escritas para que possam ser cumpridas e

apenas quem cumpre isso, aquelas regras, podia ter autonomia, nós fizemos por isso,

trabalhámos, o que implica entre outras coisas ter mais de 6 milhões de orçamento

privativo, etc., não é uma benesse que nos é dada, não é um favor, são as regras de

mercado que estão colocadas a esse nível. Agora, que há escolas que possam não entender

isso é possível mas acho que também é um pouco de falta de visão, num grupo, se temos

alguém com uma grande capacidade, normalmente toda a gente ganha. Claro que

podemos ter a visão mesquinha que este primo na família, arma-se ou tem mania, mas é

sempre muito negativo para toda a gente.

(A IES) participa na solidariedade entre escolas do (ISP)?

Com mais de 2 milhões por ano, portanto, do orçamento que vem, participamos nisso.

Aliás, o que devo dizer, obviamente que o fazemos porque achamos que devemos fazer

mas desvirtua muito, de certa forma, as regras entre as instituições. Por exemplo, uma

instituição que não tenha uma escola de engenharia num politécnico num lado qualquer,

provavelmente a escola de educação, a escola de música, a escola de não sei o quê têm

muito menor orçamento porque não têm ninguém que esteja a participar nestas coisas. E

isso não é necessariamente justo, penso que provavelmente isso até será bastante injusto

para com as outras instituições, porque há de fato instituições que vão estar em

desigualdade nos mesmos ramos de conhecimento. Dou-lhe um exemplo de uma escola

que tipicamente não pode ser sustentável mas tem que existir que é a Escola Superior de

Música, uma escola destas que pertença a um politécnico no qual não existem

comparticipações como a que nós fazemos do ponto de vista do (IES), não consegue

sobreviver e eu percebo porquê, não é sustentável, é uma escola de música não pode ter

um professor para 20 alunos, quer dizer, um piano, só pode estar num piano um professor

e um aluno, portanto, não é sustentável no modelo que temos hoje em dia e por isso,

obviamente, estamos com todo o gosto a apoiar, mas não pode acontecer noutras

instituições que não podem fazer isso.

Esta restruturação do RJIES, o politécnico já tinha uma história de conselhos gerais,

o que a universidade não está tão familiarizada. Acha que esta entrada, se calhar

não se verifica tanto no politécnico, mas acha que esta entrada de pessoas estranhas

à universidade, pode de alguma forma pôr em causa a autonomia ou ter algum tipo

de ingerência na autonomia?

Não, pelo contrário, seria bastante desejável que isso acontecesse porque o facto de a

pessoa ouvir o que se passa na sociedade é fundamental. O grande problema é que

infelizmente, estas pessoas não são isentas, ou seja, não vieram de Marte antes de virem

para estes sítios, o que quer dizer que todas elas têm alguns interesses, declarados ou não,

interesses na perspetiva legal e correta da coisa, mas que não os levam necessariamente

a ajudar, tanto que acabam por ser convidados pelos próprios professores que depois os

utilizam como carne para canhão nas jogadas internas de eleições e de estruturas, etc.

Portanto, infelizmente, acho que não está… e se for ver a maior parte dos presidentes dos

CG, são pessoas que estiveram ligadas ao ensino e que têm um ou outro interesse, quando

não era isso que era expectável. Era expectável que… ou ao ensino ou à política, seria

expectável que seria um gestor de uma área de conhecimento que estaria colocado e isso

não acontece genericamente. Aliás, temos pouquíssimos gestores bons nos CG, acabamos

por ter pessoas, que têm algum mérito, não digo que não, mas acabam por não ser a tal

mais valia que seria interessante colocar em todos eles. Nós, no (IES), temos um modelo

interessante, abolimos o conselho de representantes, a eleição do presidente é uma eleição

direta, toda a gente vota diretamente para o presidente e com isso temos uma mais valia

interessante, ou seja, o presidente tem que apresentar um programa, um plano estratégico,

tem que se submeter a sufrágio universal, todos votam, fazem campanha e explica o que

vai fazer a todos eles e depois tem um conselho de fiscalização que é o conselho de

supervisão que o que faz é alertar se alguma coisa não corre bem e analisa o processo.

Considera que a missão da universidade e do politécnico estão bem definidas?

Estão bem definidas mas não são possíveis de implementar com as regras que estão a

fazer hoje em dia. Quando as duas carreiras acabam por ser empurradas para o mesmo

desenvolvimento, acabamos por ter obrigatoriamente uma pressão muito grande sobre os

docentes para que se comportem da mesma maneira, ou seja, por exemplo, um professor

para chegar ao topo de carreira no politécnico também tem que fazer a agregação, como

tal vai apostar na investigação da mesma maneira que o outro, vai apostar na orientação

de doutoramento da mesma maneira que o outro e portanto não há uma diferenciação tão

grande quanto isso. Portanto, enquanto as carreiras docentes apontarem exatamente os

mesmos percursos da mesma maneira para as mesmas pessoas, o resultado vai ser o

mesmo. Aliás, infelizmente, acho que os papéis vão-se diluir completamente numa

próxima revisão de qualquer estrutura e serão criadas outras instituições que não são nem

universidades nem politécnicos e isto para não falar de um politécnico com mau nome,

porque nem todos os politécnicos são iguais, nem todas as universidades são, só que

enquanto as universidades procuraram concentrar-se naquelas que eram boas, ignorando

algumas que são muito más, no politécnico houve uma concentração dos que eram muito

maus, ignorando alguns que eram bons. Isso criou uma situação complexa, acho que a

maior parte das instituições, hoje em dia, por exemplo, Porto e Lisboa são dois exemplos

que gostariam de deixar de ser politécnicos por isso mesmo, porque não se reveem na

ligação que têm com politécnicos, não vou citar, do interior do país.

Considera que os politécnicos deveriam poder dar doutoramentos?

Não é por ser politécnicos ou universidades, acho que todos os que tenham condições

para dar, devem poder dar, acho que na missão do politécnico não deviam ser

doutoramentos para carreira, deveriam ser doutoramentos para profissionais, mas acho

que sim, obviamente que sim, quem tiver condições para dar, não apenas por ser

politécnico ou universitário, da mesma forma que há universidades que acho que não

deviam poder dar doutoramentos porque não têm competências claramente para isso.

Professor, quer acrescentar mais alguma coisa?

Não, espero que este tipo de estudos ajudem as pessoas a refletir um bocadinho sobre o

futuro do nosso ensino e que consigamos ter bons resultados.

Entrevista IP11

Começamos por falar um pouco de si, a sua formação académica.

Licenciei-me em engenharia eletrotécnica, (numa IES pública nacional) fez ontem 28

anos. Depois fiz lá o mestrado, aliás, fiquei lá como assistente na secção de máquinas

elétricas e eletrónica de potência, depois fiz o mestrado em 1988. Entretanto em 1991 vim

para (localidade), para o (ISP), estava a começar a fazer o doutoramento, tinha começado

há um ano, em 1994, fará no próximo ano 20 anos que me doutorei em engenharia

eletrotécnica também (numa IES pública nacional). Depois fiz a agregação em 2006 na

Universidade (nacional), também na área da engenharia eletrotécnica, mais propriamente

em filamentos elétricos de velocidade variada. Em termos académicos é basicamente isto.

Em termos profissionais sou professor coordenador principal aqui no instituto, fui

professor associado convidado em (universidade nacional) durante uma série de anos, já

tive ligações (à IES pública) como já disse, também pertenço a um centro de investigação

da (universidade), o CPS, que está ligado à FCT, coordeno o grupo de energia nesse

centro. Portanto, tenho o título de agregado, tenho uma pós graduação também pela (IES

estrangeira) em gestão de universidades, de instituições de ensino superior, fui vice-

presidente do instituto durante dez anos e estou agora a acabar o segundo mandato como

presidente e irei sair no final do ano, já está a decorrer o processo eleitoral, as eleições

serão no próximo mês.

Foi uma boa experiência enquanto presidente?

Foi… repare, eu tomei posse em 2006, em Março. De lá para cá, por acaso agora acabei

de dar posse a um novo vice-presidente porque a anterior vice, que me acompanhou neste

percurso de oito anos aposentou-se, a partir de hoje está aposentada. Mas desde 2006 para

cá, temos vivido sistematicamente em aperto e cada vez é um aperto maior, cada vez

menos capacidade financeira, particularmente OE, o que se traduz necessariamente numa

dificuldade acrescida para desenvolvermos a nossa atividade como gostaríamos e até

incrementar essa atividade. O certo é que temos muitas dificuldades financeiras, não é

exagero dizer que os cortes a que temos sido sujeitos em termos de OE, juntamente com

o acréscimo que temos tido das contribuições, nomeadamente para a CGA, que em 2006

era zero e no próximo ano vai ser 23,75%, quase um quarto de valor das remunerações,

isto traduz-se, senão ultrapassar perto dos 50% de corte, o que é muito em termos

orçamentais. Se olharmos em termos do número de alunos, temos tido… se olhar para o

número de alunos em 2006, tenho mais alunos agora que em 2006 na instituição, mas há

dois anos passei por um pico, agora temos ligeiramente menos. De qualquer modo, temos

mais atividade do que tínhamos em 2006 mas temos muito menos capacidade financeira,

portanto, isto é feito à custa de apertar até não poder mais no que diz respeito a despesas

correntes que não salários, mesmo nos salários tentar, quando as pessoas saem, por

diferentes razões, a sua substituição, procurar fazê-la sempre com pessoas que tenham

um vencimento inferior, pessoas em início de carreira, pessoas a tempo parcial, para se

traduzir num menor custo, portanto, tem sido a nossa política no aperto, na contenção,

muita contenção financeira. Essencialmente são os constrangimentos que sinto nestes

tempos, nestes mandatos que tive. Em termos de realizações, tínhamos dois projetos

grandes, aliás, concluímos um projeto, o edifício da escola superior de tecnologia do

barreiro, entretanto inaugurada pelo sr. Presidente da República, há cerca de três anos e

entretanto tínhamos dois projetos que não saíram disso mesmo, de projeto, que era um

edifício para a escola superior de saúde, a ESS está a coabitar no edifício com outra escola

a ESCE, ainda por cima são duas escolas com potencial de crescimento e é um problema

que não é fácil de resolver em termos de convivência. O facto de a escola não ter um

edifício próprio tem limitado o seu desenvolvimento de maneira clara e por outro lado

queríamos também, tínhamos um projeto interessante…. Aliás, esse projeto da escola de

saúde era para ser fora deste campus onde estamos, era para ser construído ao pé do IEFP,

depois tivemos que reconverter o projeto no tempo do professor Mariano Gago porque

surgiu, conseguimos negociar em parecer do PIDAC financiamento para o projeto mas

não para a totalidade e portanto nunca conseguimos iniciar a obra. Entretanto tivemos que

o reconverter cortando alguns milhões, não só em dimensão do projeto mas a localização,

passou para aqui para o campus, portanto isso implicava menores custos na acessibilidade

e estaria o problema resolvido mesmo a questão das cantinas, não era preciso uma

comunidade alimentar própria, enfim, mas depois tiraram o PIDAC e o projeto ficou

congelado, foi enviado para o ministro e ficou na gaveta, um projeto concluído, em que

houve um investimento da nossa parte, um valor avultado, despendemos para fazer o

projeto, para fazer a sua reconversão, dinheiro que se desperdiçou. O estado dá-se ao luxo

de desperdiçar, por um lado, bons projetos que são necessários e este é claramente um

deles e por outro lado não tem qualquer relutância em cortar projetos a meio, portanto,

desenvolvemos um projeto, gastámos dinheiro que é público, e gastámos porque nos foi

dito que tínhamos autorização para o fazer… todo aquele dinheiro é desperdiçado, não há

qualquer proveito desses dinheiros, portanto, há aqui uma gestão que me faz assim um

bocadinho de confusão, penso que não é a mais correta. Tínhamos aqui outro projeto, de

uma nova unidade orgânica alimentar, porque a nossa tem perto de 25 anos, tem

limitações, a ASAE já veio cá algumas vezes, felizmente sempre passou, mas com

algumas indicações. Situa-se no edifício da EST, que ainda por cima é o edifício que em

termos de construção foi aquele menos conseguido, foi num período também muito

difícil, houve muita contenção financeira, a construção não é tão boa comparada com os

outros edifícios. Tínhamos e temos um projeto para uma unidade alimentar, também

concluído, com um restaurante associado, em que as pessoas podiam, quem quisesse e

pudesse, ter uma refeição diferente pagando mais, isto está no papel, não sei. Portanto,

sinto um bocadinho esta sensação de que apanhei um tempo difícil e não me foi permitido

fazer algumas coisas importantes para a instituição como por exemplo o reordenamento

do campus que queríamos fazer, temos o projeto e também não saiu do papel, uma coisa

de 100000 euros e, portanto, há aqui uma sensação, em termos de obra realizada que não

me deixa satisfeito. Por outro lado, em termos do físico, em termos de organização foi

feita muita coisa. Nós partimos de uma situação, o RJIES foi depois de 2006, saiu em

2007, houve esse período de adaptação, antes disso fui dez anos vice-presidente e portanto

também já estava por dentro do funcionamento da instituição, mas fizemos uma

centralização de serviços, não gosto muito da palavra centralização, gosto mais da

integração de serviços, centralização não tem uma conotação muito agradável, mas o

certo é que os aproximamos e deixámos de ter, porque era um bocado anormal, por

exemplo, num campus como este, hoje está a chover não é muito agradável mas

normalmente é muito agradável passear nele, tem espaços verdes e tem quatro edifícios,

um deles é este, os outros têm as escolas, mais uma no barreiro, mas ter por exemplo

quatro secretarias académicas neste campus não fazia muito sentido, temos uma, a divisão

de recursos humanos, as escolas tinham os setores de RH, neste momento temos uma

divisão de RH, temos uma divisão de informática. No que respeita às relações

internacionais, temos uma estrutura, um centro para a internacionalização, no que diz

respeito à imagem e comunicação, temos uma estrutura comum, um gabinete de imagem

e comunicação. Na parte financeira, obviamente temos uma divisão financeira, mas isso

até por força da perda de autonomia que as escolas tiveram aquando do RJIES. Portanto,

houve aqui um esforço nestes meus mandatos, de tentarmos racionalizar, fazermos mais

com o mesmo ou então fazermos o mesmo com menos porque entretanto também temos

tido algum decréscimo do número de efetivos, quer docentes, quer não docentes, não que

tenha havido despedimentos, não aconteceu mas sim as pessoas, à medida que vão saindo

não são substituídas, a maior parte delas, a não ser que seja absolutamente necessário,

quer por aposentação ou por mudança de vida, as pessoas podem querer ir para outro lado,

temos algumas licenças sem vencimento também, temos tido muito cuidado na gestão

dos nossos dinheiros porque não são muitos.

Considera que o seu percurso profissional e académico facilitaram o desempenho

das suas funções enquanto presidente?

Acho que sim, na medida em que me permite compreender… penso que o presidente de

um instituto ou um reitor de uma universidade tem que ser uma pessoa que compreenda

o funcionamento de uma instituição e que saiba como a instituição funciona, sou docente

desta instituição, antes de assumir este cargo dei aulas, agora obviamente que não dou,

enfim porque o tempo é muito pouco e não quero assumir um compromisso que depois

não posso cumprir. Porque podia assumir, ok, vou dar a cadeira, mas depois tinha que

andar sempre a fazer ajustes de horário em resultado dos compromissos e isso significava

prejudicar os alunos e portanto, prefiro efetivamente não lecionar mas lecionei nesta

instituição, portanto, conheço a instituição por dentro, sei como funciona antes e agora,

sendo professor entendo os problemas e portanto penso que nessa medida, sim. Enquanto

gestor, foi algo que fui aprendendo, tirei formação na área da gestão, fiz uma pós

graduação, que é uma formação relativamente curta, mas isto é o aprender com as

situações e com a experiência que tive como vice-presidente, enfim, na altura um pelouro

bastante mais limitado, vendo como faziam os meus presidentes que foram dois,

aprendendo com eles e depois procurei o meu estilo, há quem goste e há quem não goste,

espero que sejam mais os que gostam, com o meu estilo fui procurando gerir a instituição,

sou da área da engenharia, não sou da área da gestão em termos de formação de base,

terei algumas lacunas nesse domínio, como é óbvio, vejo, quando falo com colegas meus,

que são da área da gestão, têm uma linguagem que está mais trabalhada naturalmente, de

raiz, a minha não, mas não senti até agora qualquer limitação, até porque depois o que

entendo é que não trabalhamos isoladamente, trabalhamos em equipa e a minha equipa,

dois vice-presidentes, a senhora que se aposentou era da área da educação e o vice-

presidente agora é da área da engenharia também, mas esteve muitos anos à frente da

escola superior e instalou esta escola de tecnologia do Barreiro e portanto diria que em

termos de equipa, complementamo-nos. Mas respondendo à questão, é importante que as

pessoas que estão à frente da instituição sejam docentes, professores, investigadores e não

pura e simplesmente gestores. Porque há quem defenda que quem devia dirigir as

instituições eram gestores profissionais, mas vemos o que acontece muitas vezes quando

temos à frente de instituições, particularmente públicas, os chamados gestores

profissionais e o intuito é tomar opções sem conhecer a atividade muitas vezes, são opções

cegas, acho que é mau. O modelo tal como está, está bem.

Como vê o ensino superior público português atualmente? Evolução, tendências?

Sinto que, até já tive oportunidade de dizer isto ao senhor secretário de estado a semana

passada, num encontro que tivemos em Leiria, promovido pela Francisco Manuel dos

Santos. Penso que o ensino superior, tal como está, existem à partida logo dois graves

problemas, duas questões que têm que ser realçadas e que têm as duas a ver com uma

questão fundamental que é a sustentabilidade do ensino superior e a sustentabilidade das

instituições porque o ensino superior faz-se com as instituições, com estas que são as que

existem, com outras que podem resultar destas, mas têm que necessariamente existir

instituições e para que elas existam, têm que ser sustentáveis. O modelo que temos

atualmente de financiamento do ensino superior e financiamento público em particular,

vamos falar também das outras fontes de financiamento, das receitas próprias que, para

instituições como esta ou semelhantes a esta, acabam por ter uma expressão que não é

muito acentuada porque o modelo que seguimos até agora nunca foi esse, mas já lá

iremos. Mas diria que o modelo que temos atualmente de financiamento é um modelo

completamente errado e o que temos vindo a assistir, também é um completo exagero,

nem tudo no modelo é errado, tem aspetos positivos mas o que temos vindo a assistir é

sistematicamente a um corte orçamental do OE e o que se pede é que as instituições

acomodem esse corte orçamental e acomodam como? Ou diminuindo a atividade,

obviamente cortando nalgum excesso que possa existir mas agora já não há, por assim

dizer já não há gorduras, já estamos a ir ao osso, quase, portanto, ou fazemos um ajuste

em termos da nossa atividade e temos que necessariamente reduzir, redimensionar para

fazer face à escassez de verba e/ou também necessariamente tendo um impacto negativo

naquilo que são os equipamentos que disponibilizamos, as condições com que

trabalhamos, não tenho os equipamentos laboratoriais que gostaria de ter, face à reposição

dos equipamentos que entretanto já tive e que por uma razão ou outra deixaram de

funcionar, não tenho capacidade financeira para os repor. Portanto, há aqui claramente,

depois têm que ser estabelecidas prioridades obviamente, mas há aqui claramente uma

limitação fortíssima em termos da atividade e da qualidade que gostaríamos de

desenvolver esta atividade e necessariamente isto afeta a qualidade. Continuamos a

formar pessoas, continuamos a ter diplomados, só que os meios que colocamos à

disposição dos diplomados não são os ideais nem perto disso, não são aqueles que já

tiveram outras pessoas que por aqui passaram noutros tempos, é impossível. Temos que

fazer turmas maiores… tem que haver aqui um controlo muito mais apertado para que

possamos acomodar a nossa atividade porque a alternativa a isto seria cessarmos a

atividade mas cessar a atividade é morrermos e portanto não é alternativa. Queremos

manter atividade mas estamos muito limitados. Voltando ao princípio, diria que o modelo

de financiamento está errado e tem que ser repensado, temos que garantir sustentabilidade

às instituições pelo financiamento e obviamente não é só financiamento OE, não só

financiamento a nível central, temos que também pensar em financiamento a nível local,

por via de estruturas locais. Ouvi há pouco tempo, penso que foi um presidente de um

CG, fazer um desafio a um autarca, disse, porque é que o autarca, em vez de fazer mais

uma rotunda, não utiliza aquele dinheiro para investir no politécnico que tem lá? Em algo

que fosse importante para desenvolver a atividade da formação das pessoas. Podemos

pensar portanto em modelos de financiamento que tenham um envolvimento regional mas

que garantam sustentabilidade às instituições e isso a seguirem o modelo tal como está

em que ano após ano temos cortes, cortes, cortes, morremos, não há hipótese de

sobreviver neste mundo competitivo, sobreviverão aqueles com uma melhor capacidade

de gerar receitas próprias, os outros não têm hipótese e a maior parte não tem essa

capacidade, portanto temos aqui um grave problema. Por outro lado, penso que também,

mais uma vez a sustentabilidade, a política de vagas que tem sido e de fixação de vagas,

saiu um despacho não há muito tempo, entretanto já foram colocados os estudantes das

duas fases do concurso nacional de acesso, mas o despacho saiu. É uma política que

também está errada porque não está adaptada àquilo que é a nossa realidade. Temos

assistido, e este ano sabíamos que era assim, a uma diminuição do número de candidatos

ao ensino superior, ok, podemos dizer, mas não devíamos ter essa diminuição porque as

pessoas precisam de mais formação, temos compromissos internacionais, nomeadamente

o Horizonte 20/20 em que queremos ter 40% das pessoas em 30/34 anos até 2020 com

uma formação superior, estamos com 27%, estamos muito longe. Mas o certo é que

sabíamos, por diversas circunstâncias, porque há um desinteresse por parte dos jovens em

continuar para o ensino superior, porque os exames nacionais foram mais difíceis e é

outro aspeto que não se entende e que merecia uma reflexão profunda, se calhar é o tal

inquérito que o senhor ministro fala, uma tal comissão que ia criar, não sei em que ponto

está. Mas merecia ser organizado porque temos um diferencial de 4 a 5 valores, de 0 a 20.

As médias dos nossos estudantes é a média do 12º e depois as provas específicas em

muitas das disciplinas, portanto como é que isto é possível? Alguma coisa está mal e será

que o que está mal são as formações? É a avaliação contínua feita nas escolas? Não sei,

tenho dúvidas, será que os exames que são feitos estão ajustados àquilo que é o programa

das disciplinas, se calhar não estão totalmente ajustados portanto, há aqui um problema

que merecia análise. Passando por cima disto, o certo é que sabíamos que ia haver um

decréscimo no número de alunos. Agora, o que é que as instituições deveriam ter feito e

aqui a portaria, o despacho deveria ter sido taxativa, deveria impor, porque já ouvi isto

dos governantes mas o que é certo é que não o fizeram, que era fazer uma adequação da

oferta à procura porque se a procura diminui muito, e foi muito, eram menos 5000

estudantes candidatos, portanto mais de 10% na primeira fase, mantemos quase o mesmo

número de vagas, aliás, as vagas diminuíram em 900 para aí, há aqui um desajuste

completo e destas 900, 800 foram nos politécnicos, portanto as universidades só

diminuíram 100, o que significa que as universidades aumentaram a sua capacidade de

absorção perante os candidatos e portanto depois assistiu-se àquilo que toda a gente sabe,

houve um decréscimo muito acentuado na procura em todos, é certo, mas com uma

repercussão muito maior nos politécnicos. Agora, não vamos dizer, como diz o senhor

ministro, que são os politécnicos que têm que rever a sua oferta e que estão mal, acho que

todo o ensino está mal e deve-se repensar porque se reportarmos ao relatório da OCDE

de 2006, e o senhor secretário de estado concorda com isto, é necessário aumentar o

número de estudantes nas formações politécnicas, o país precisa, e diminuir nas

formações universitárias, em termos de balanço, em termos da relação entre eles, temos

que subir as formações politécnicas e diminuir as universitárias, subir aqueles que têm

um caracter mais profissionalizante, que no fundo formam a um custo mais baixo, muitas

vezes, que formam com um interesse muito direcionado para as empresas e diminuir os

mais académicos. Nesta ótica, diria que se tivesse havido essa capacidade, teria sido

importante, fundamental que o próprio despacho dissesse, eu não digo, diminuam as

vagas mais nas universidades e menos nos politécnicos, não é isto, mas deveriam dizer

diminuam tanto nuns como noutros. Por exemplo, há um decréscimo de 10% no número

de candidatos, então diminuam 5 ou 7% ou que seja em todos, por igual, isto também

pode garantir alguma coesão nacional porque senão os politécnicos e as universidades do

interior esvaziam se não tivermos esse cuidado e assim é um mau serviço que se presta

ao país. Portanto, diria que há aqui duas áreas, a área do financiamento e a área da política

de vagas, que estão erradas, a política tem sido errada nestas duas áreas, serviu

eventualmente em tempos de expansão, em tempos de maior capacidade financeira, não

serve atualmente e tem que rapidamente ser encontrado um modelo, isto diretamente.

Depois quando se diz, que é outra das frases feitas que o politécnico fez uma deriva, a

deriva académica do politécnico, fala-se pouco da deriva profissionalizante das

universidades e essa é mais acentuada que a deriva académica dos politécnicos. Os

politécnicos têm que ter alguma teorização, estamos a falar de ensino superior, que

pressupõe investigação e criação de conhecimento, tem que ser porque senão não vale a

pena, tem que haver inovação, tem que haver capacidade e não se pode falar de ensino

superior sem falar de investigação, de inovação e portanto é natural que exista alguma

teorização naquilo que é a aprendizagem. A aprendizagem também tem o seu caracter

teórico, não é só aplicada, não serve só para apertar parafusos, espera e se eu apertar o

parafuso de um modo diferente ou outro material, eu consigo pensar sobre aquilo e

consigo ter um melhor desempenho, portanto, é preciso que as pessoas não se limitem a

ser autómatos, a saber fazer, é preciso saber fazer mas também têm que sabe pensar e

portanto há toda uma teorização que tem que existir. Temos que pôr uma ênfase maior no

ensino politécnico na vertente aplicada, sem dúvida, eventualmente maior da que tem

existido. Ela tem existido, existe é muito equivoco na sociedade e é fácil intoxicar a

sociedade com estes chavões, obviamente que interessa a alguns que passe esta imagem.

Olho para as universidades e vejo que estão a fazer coisas que competem aos politécnicos,

embora não critique porque acho que é necessário fazer, mas então regulamos o sistema.

Conheço muito bem (a IES pública), até porque tive ligações como já disse e prolonguei

a ligação com pessoas que conheço lá e com o trabalho em projetos. (a IES pública) tem

muitas ligações às empresas, projetos internacionais também tem mas tem ligação a

muitas empresas nacionais. Temos um projeto em ligação com a EDP, há uma vertente

que as universidades entretanto seguiram, que é uma vertente mais profissionalizante, que

acho muito bem, mas o que é certo é que uma tem uma maior expressão do que a outra,

a opinião pública e os opinion makers só falam daquilo que as universidades e os

politécnicos fizeram de mal foi o pecado original, como já ouvi, a semana passada e se

falar com o Sr. reitor da UL, ele é capaz de dizer isto mesmo, que houve um pecado

original, na deriva dos politécnicos. Vamos lá a ver, os politécnicos tiveram a evolução

que tiveram, quando nasceram os politécnicos, os primeiros que nasceram nem foram

estes que estão aqui, foram aqueles que depois foram convertidos em universidades,

nomeadamente a UTAD, a UBI, no interior foi os que se converteram. O certo é que os

politécnicos seguiram uma determinada via, eventualmente afastaram-se do know how

das empresas mas agora estão a recuperar isso mesmo e estão cada vez mais interessados

no envolvimento com as empresas, não tenho dúvidas nenhumas, há exemplos excelentes

do envolvimento do politécnico com empresas em todo o país. Agora, a forma como

estamos organizados é que se calhar tem que mudar. Falamos muitos dos rankings e das

universidades que entraram para o ranking, temos cinco universidades no ranking de

Xangai e as universidades ficam muito contentes de estar no lugar 400 e não sei quanto

do top 500 do ranking de Xangai, gostava que estivessem a lutar no ranking 100 nos

rankings de qualidade não dos de quantidade, nos EUA fazem pela dimensão da

instituição, portanto, quanto maior for… isto é uma farsa, não mede a qualidade, se for

para o de Xangai, contam os prémios nobel… tem parâmetros de qualidade, era

importante que as melhores universidades portuguesas lutassem pelo top 100 mas para

isso não podem estar organizadas como estão nem podem estar sujeitas a este modelo que

temos, deveriam ter uma dimensão que não a que têm, não é a massificação. Estas

universidades, que podem ser, sei lá, há três que saltam logo ao pensamento que seriam a

UL, a UP e a UC, mas depois há mais algumas, a Nova, a de Aveiro, a do Minho… mas

estas universidades deviam procurar intensificar muito mais a formação avançada,

doutoramento, mestrado, investir mais no 2º e 3º ciclo e menos no primeiro, ter uma

diminuição no primeiro e um aumento nos outros dois ciclos, em conjugação com outras

instituições que teriam uma inversão e penso que deveríamos ter poucas transições,

universidades ditas de investigação, as Research Oriented Universities que lutariam pelo

top 100 no ranking de Xangai e penso que nos primeiros 20, a média do número de alunos

é, salvo erro, 12000, ora a UL com esta fusão está perto dos 50000, a UL admite alunos

com notas de 9,5 de entrada, se for ver as colocações do concurso nacional de acesso, na

primeira fase, veja a nota do último classificado na maior parte das formações, entram

com dez, onze e obviamente que alguns que entram com estas notas depois são ótimos

alunos, tenho colegas que tiveram notas baixas e que são excelentes profissionais,

conseguiram chegar muito longe mas são raros. A maior parte dos estudantes que entram

com uma nota muito baixa depois acabam por não ter muito interesse até porque não têm

hábitos de estudo, de trabalho, acaba por ser só um contribuinte para a universidade

porque paga a propina mas depois não tem proveito e se calhar desiste, era muito melhor

que estas universidades fixassem uma nota que não fosse o 10, (uma IES) fixou o 12,

acho pouco. Não entendo como entram alunos com notas muito baixas, não deviam

entrar…

Mas isso ia reduzir o número de alunos…

Reduzia imenso, transformava em universidades de elite, de top, com grupos de

investigação, não tem que ter grupos de investigação medianos, só pode ter grupos de

investigação muito bons ou excelentes, mas é assim que deveria ser, o financiamento não

deveria ser igual ao das outras, têm que ter mais dinheiro, os professores não podem dar

tantas horas como dão por exemplo os do politécnico, deveriam dar menos para ter mais

tempo para se dedicarem à investigação, para terem mais tempo para trabalhar com os

alunos de doutoramento, dos mestrados, dos projetos, da investigação de ponta. Isto é um

modelo completamente diferente, em que teríamos então as tais universidades de elite, as

Research Oriented Universities e deixávamos depois o espaço para as outras que

obviamente têm condições materiais, físicas, humanas, para receber todos os outros

alunos e fariam um excelente trabalho e se calhar faziam… uma coisa que aqui me

orgulho bastante é que recebemos alunos fracos mas o certo é que saem bons diplomados,

bem apreciados pelo mercado de trabalho, portanto conseguimos, a partir de uma matéria

prima, passo a expressão, não tão boa, conseguimos trabalhá-la de tal forma que sai um

bom produto, desculpe a linguagem mas acho que esta forma de nos organizarmos, em

que passaríamos a ter três a seis universidades de investigação, com metade dos alunos

que tem agora, a UL deixava de ter 50000, tinha 25000, já é ao nível das universidades

espanholas, as mais pequenas, os 25000 é um número gerível, aceitável, com alunos de

topo, com condições de investigação, com condições físicas ímpares, com professores

muito bons, com investigadores excelentes e aí sim, estávamos a olhar para o ranking e a

dizer está no lugar 50 e tal ou no 80 e tal, agora 200 e tal, que é isso, andamos a brincar,

é só para aparecer mas isso depois atiram areia para os olhos e agora pergunto se quem

está mal são os politécnicos e as outras universidades que nunca serão research oriented,

porque tem 15 universidades, agora com a fusão, incluindo os Açores e a Madeira, e essas

universidades são universidades muito mais regionais que têm um perfil politécnico…

qual a diferença entre uma UBI, faz doutorados nasceu primeiro, têm isso há mais tempo,

mas qual a diferença entre a UBI e o politécnico de Leiria, que também já teve um número

de doutorados muito elevados e têm professores muito bons, não é nenhuma e se calhar

os dois são importantíssimos para as regiões, agora a UBI não é research oriented, vamos

a ver os alunos e tirando os de medicina são alunos com nota muito baixa, pronto, é no

interior, que atrai menos, a gente sabe, mas diria que poderíamos ter um mapa com poucas

universidades de top, com financiamento diferenciado, com mais dinheiro do que é

suposto ter à luz da sua dimensão e todas as outras podem entretanto organizar, não fujo

às organizações fundirem-se umas com as outras, se calhar para ganharem alguma

dimensão importante. Olho para a Beira Interior e está o IP de Castelo Branco, o da

Guarda mais acima e na Covilhã, se calhar estas três instituições deveriam estar

congregadas, agregadas de alguma maneira, ter um consórcio, deviam colaborar, fundir-

se, não sei. Mas deveria ser uma instituição para servir a região, essencialmente, as

empresas da região, para inovar nessas empresas, este é o meu modelo, é o que defendo.

E como vê, mexo em todo o sistema, os politécnicos também têm que se agrupar, vamos

mexer em todo o sistema e Portugal ficava a ganhar com isto, aumentávamos muito os

alunos nestas instituições porque estão qualificadas para o fazer, em termos pessoais e

materiais para os formar e diminuíamos nas outras para ver se elas subiam. A meu ver

quem está mal são as outras que deveriam estar mais acima.

E sobre o ensino privado?

Conheço muito mal o ensino privado, as notícias que se sabem do privado não são boas.

Sou daqueles que defende que o estado tem obrigações que deve honrar em áreas básicas

e uma delas é a educação, portanto, não estou de acordo com o cheque ensino, esse tipo

de inovações neoliberais, não acredito nelas. Acho que o estado tem que ter boas escolas,

suportar boas escolas, tem que ter bons docentes a todos os níveis e obviamente tem que

ter boas universidades e politécnicos, boas instituições de ensino superior. Muitas vezes

o que se assiste é que o privado investe onde é mais fácil obter lucro e por exemplo não

vê o privado a investir em cursos de engenharia porque são caros, têm os laboratórios, é

difícil, salvo raras exceções, em informática vê porque é só um computador mas se for

uma engenharia eletrotécnica, uma engenharia civil ou mecânica, não vê. Agora se calhar

investem em direito, arquitetura, cursos de letras, alguns de moda, tentaram investir na

medicina e não lhes foi permitido, a meu ver, bem. Penso que se tivermos um bom ensino

superior público e temos tido um bom ensino superior público, embora a necessitar de

claras reformas, mas se tivermos um bom ensino, diria que o privado ocupa franjas e não

acredito na relação laboral que se estabelece, há uma maior fragilidade laboral no privado,

os docentes estão muito mais fragilizados, a relação contratual, é o recibo verde, as

pessoas são dispensadas mais facilmente, há muita presença economicista na construção

dessas instituições e depois há coisas que me causam alguma impressão… tenho um

docente aqui da instituição que vai fazer a agregação numa universidade privada, na

pública não consegue mas na privada, pronto. É mais fácil, consegue contatar alguns

elementos conhecidos do júri e fazer ali uma composição, isto é uma fraude e portanto,

os parâmetros deveriam ser igualmente exigentes quer no sistema público quer no sistema

privado. Infelizmente, isso não acontece mas devo dizer que o sistema privado tem

evoluído bastante no sentido positivo, enfim, resolvemos os problemas chamados

Moderna, Independente, a Lusófona levou um abanão com o caso Relvas e entretanto já

não se fala disso, mas o certo é que essas situações aparecem nas privadas, portanto, as

privadas parece que muitas vezes existem para resolver os problemas que a instituição

pública se recusa a resolver, portanto, as privadas resolvem-nos e isto é mau. Não temos

um ensino privado suficientemente forte, acho que não iremos ter, a não ser que se mate

o ensino público e pelo andar da carruagem não sei se não estamos a caminhar para aí,

tudo aquilo que disse, política de financiamento, política de vagas, se as coisas não

mudarem vamos ter aí situações complicas, aliás quando falo da diminuição de vagas na

universidade, obviamente que as privadas vão ter um espaço, vão tentar agarrá-lo, se isto

alguma vez acontecesse, mas aí tem que ser o restante público, as instituições públicas

têm que ter uma resposta à altura para tentar captar os jovens para as instituições públicas.

Obviamente acredito muito mais nas instituições públicas do que nas privadas, mas isso

tem a ver com todas as evidências que temos vivido, mas acredito também que é possível

ter boas universidades privadas que complementem de alguma forma e muitas vezes

sejam concorrenciais à pública, não vejo porque não, mas então temos que ter condições

idênticas. Temos uma agência agora independente, a A3ES que, se fizer bem o seu papel,

conseguirá, eu diria, diminuir um pouco os receios que existem nesta área. Há pouco

tempo assisti à criação de uma universidade privada, europeia, que nasceu de uma forma

um pouco estranha e todos sabemos algumas origens, não sei. Em relação ao sistema

público acho que deve ser reformado mas acredito muito no sistema público, o sistema

privado não conheço tão bem, começa logo por aí, depois não sei se haverá essa

capacidade de adaptação às exigências se não entramos numa situação de mais

facilitismo, então a nível dos politécnicos privados, pareciam cogumelos e muitas delas

eram instituições ditas de vão de escada, não tinham as mínimas condições, penso que

entretanto a agência conseguiu resolver a maior parte desses problemas, não sei se todos.

Como vê o processo de Bolonha?

Acompanhei o processo de Bolonha desde o início, mesmo antes de 1999, que foi a

assinatura do acordo, finais de 1998 na Sorbonne, os quatro países que estiveram na

génese de todo o processo da declaração de Bolonha, depois fui acompanhando na altura

o trabalho do grupo liderado pelo professor Pedro, de follow up, de acompanhamento,

houve muitas reuniões, fui a muitas delas, algumas em Portugal, outras no estrangeiro.

Houve, eu diria, uma preocupação de, nalgumas instituições, tentar extrair o melhor de

Bolonha e muitas outras, se calhar a maioria, não se preocuparam minimamente com isso,

fizeram uma adaptação mais imediata a Bolonha. Se pensarmos nos princípios de

Bolonha tem a ver com empregabilidade, mobilidade, uma visão europeia, com um

reconhecimento mais facilitado, excelente, tem princípios ótimos, sou um dos adeptos de

Bolonha. Agora não sou adepto do facilitismo nem de atitudes, por exemplo, como dizer,

o processo de ensino aprendizagem, o centro de gravidade desloca-se do ensino para a

aprendizagem, desloca-se do professor para o aluno, portanto, o aluno que faça tudo, o

professor só está aqui para o orientar, parece que estamos a falar de doutoramento, os

alunos hão de aparecer, também tenho doutorandos e sei como é, quando ele aparecer,

logo vemos. Não defendo isto, acho que tem que haver uma participação muito ativa dos

professores no processo de aprendizagem e acho que uma boa aplicação do processo de

Bolonha teria que implicar uma participação muito mais ativa dos professores no processo

de aprendizagem dos alunos do que aquela que a maior parte das pessoas faz. Portanto,

diria que em termos de aplicação existem muitos problemas, a adaptação formal não foi

difícil porque foi no fundo criar formações de 1º ciclo de três ou quatro anos, criar

formações de 2º ciclo de um ou dois anos, criar as “aberrações” que podem ser

considerados os mestrados integrados, teve que se inventar, não sei se algum dos

entrevistados já disse mas houve muita gente que tem mestrados integrados que é preciso

repensar, eventualmente é melhor ter 1º ciclo e 2º ciclo e isto tem a ver com condições

financeiras, se tiver o mestrado integrado, a propina do 2º ciclo é igual à do 1º, se tiver

um 1º ciclo e um 2º ciclo, a propina do 2º ciclo é livre e se estivermos a falar de instituições

com prestígio, podem pôr propinas muito altas, portanto tem uma receita própria bem

maior, isto são só interesses que não são a preocupação com a aprendizagem dos alunos

ou com a formação, porque se o mestrado integrado surge, aparentemente foi assim que

surgiu, porque era necessário garantir um elevado nível de formação e preparação dos

estudantes, se surge assim, então não há razão agora para que essas mesmas pessoas

possam dizer, então estamos a repensar e o melhor era passar para 3+2, o que é que

mudou? Então se era necessário, continua a ser. A história está muito mal contada nesse

aspeto e portanto diria que o processo de Bolonha tem muito bons princípios, sou um

adepto do processo, enquanto forma de evolução do ensino superior e enquanto forma de

estar obviamente na sua génese a gente sabe também falamos em empregabilidade, em

mobilidade, o que quer que seja, mas sabemos que há aqui uma génese que tem a ver com

financiamento do ensino superior, com essa dificuldade, não é por acaso que se inspiraram

no modelo britânico, portanto, reúne-se a Itália, a França, a Alemanha e a Inglaterra e

adotam o modelo britânico, é só por causa de ser mais barato, diminui dois anos de

comparticipação e portanto passam a formar mais cedo, no fundo a ter uma diminuição

de custos, o politécnico é muito mais barato também porque não tem mestrados integrados

e portanto consegue também diminuir o custo por diplomado. Portanto, diria que processo

de Bolonha sim, a implementação podia ser bem melhor, as pessoas não absorveram, em

muitas situações foi uma situação pela via direta, a situação mais fácil em termos de

implementação, sou um bocado crítico em relação à implementação. Houve uma coisa

em nós que aconteceu, que foi uma perda enorme e estamos a tentar recuperar, porque

quando tínhamos os CESE, as licenciaturas bietápicas e depois passámos só a ter a

licenciatura, mas antes tínhamos o bacharelato e quando tínhamos o bacharelato havia um

estágio no fim, passámos para as bietápicas, nalguns casos o estágio desapareceu, para

algumas licenciaturas, o estágio não foi recuperado e o estágio é uma coisa fundamental,

toda a gente reconhece mas era difícil em três anos encaixar um estágio mas o certo é que

agora estamos a trabalhar nesse sentido e portanto a ligação ao mundo do trabalho, o

estágio, é considerado fundamental. Aí houve uma perda na aplicação do processo de

Bolonha. Mas enfim, vamos ver, penso que tem que ser continuamente trabalhado e

ninguém melhor do que os empregadores, o mercado de trabalho para fazer o seu

julgamento e para nos informar daquilo que deve ser corrigido.

Há quem peça licenciaturas pré Bolonha…

Há aí um preconceito também, eu diria, é preciso trabalhar bastante essa área, não está

fechada e é possível melhorar. Agora no politécnico vamos ter umas novas formações

que foram faladas que são os cursos superiores especializados, cursos curtos, dois anos,

a indicação que dei aqui, ainda há bocado falei com o presidente do CG e ele acha bem,

apesar de eu estar de saída, mas pronto, há essa intenção, que estas formações vão ser

construídas em parceria com as empresas, não vou fazer nenhuma formação aqui em que

me sento com dois colegas meus e fazemos a formação, nada disso, tem que ser com

parceiros que são os que estão nas empresas e identificadas as necessidades, então vamos

fazer as formações de dois anos com uma parte de estágio nas próprias empresas,

formação on the job. Se tivermos esta premissa, de certeza que as formações que vamos

construir serão bem mais apetecíveis, por um lado são participadas pelo mercado de

trabalho, portanto o mercado de trabalho tem depois mais capacidade para as absorver as

pessoas. E portanto se partirmos daqui e depois para as licenciaturas tomarmos a mesma

atitude, estou em crer que a gente conseguirá dar um novo fôlego a Bolonha, um espírito

diferente, vamos ver, é preciso trabalhar bastante.

A lei de 92 instituiu o pagamento progressivo das propinas…

Pelo professor Marçal Grilo, que foi quem teve a coragem de fazer… vamos lá a ver, do

ponto de vista do gestor, diria que a existência de propinas é inevitável, as propinas

representam 25% do meu orçamento, é um quarto, já representaram mais até, quando

cortámos os salários e os subsídios. Isto do ponto de vista do gestor, é uma receita que

não consigo colmatar de outra forma a não ser que o estado me dê, não consigo ir às

empresas pedir nem ir buscar dinheiro aos projetos, portanto, preciso desse dinheiro das

propinas, são um mal necessário, por assim dizer. O haver uma comparticipação por parte

das pessoas na sua formação também não me parece mal em termos de princípio, desde

que as pessoas não sejam excluídas de alguma forma por terem dificuldades financeiras

e aí partimos para a ação social escolar. Penso que a ação social escolar tal como está,

está um bocadinho maior do que estava anteriormente em termos dos critérios, em termos

da forma, mas está bem pior no que diz respeito aos plafonds porque as pessoas têm que

ser realmente miseráveis para terem bolsa e é só para pagar a propina e depois temos ali

uma franja em que as pessoas não têm boas condições de vida, é impossível com esse

rendimento, bem sei que existem alguns também em que aquilo que aparece não é o que

corresponde ao rendimento real, aí tinha que haver uma fiscalização muito maior, mas há

ali uma franja muito complicada e temos consciência disso. Criámos um programa de

apoio, de extensão dos apoios sociais, um programa nosso, o PAS, que o que faz é aplicar,

a propina no 1º ciclo de 900 euros, só a aumentei uma vez em oito anos, a primeira vez

quando entrei, passei de 850 para 900, mas as condições de vida são cada vez piores e

resolvemos manter, mas a propina mínima são uns 600 euros, então nós o que fazemos é,

às pessoas que estão nesta franja difícil, que já não são abrangidas pela ação social escolar,

mas que é uma franja pobre, as pessoas têm dificuldades, nós aplicamos, depois com

diversos critérios e escalões, aplicamos a propina mínima. É um apoio que conseguimos

dar à nossa custa. Agora, penso que neste momento não há alternativa, é preciso pagar,

aumentar as propinas, só fizemos uma vez porque entendemos que os nossos estudantes

têm tantas dificuldades, a maior parte deles, que seria uma injustiça estar a aumentar as

propinas, tentamos acomodar o sacrifício aqui interno para ajudar os estudantes.

As solicitações de alunos que não conseguem pagar é através das escolas ou é

central?

Algumas vêm através das escolas, outras vêm até mim, outras diretamente à ação social,

temos tido algumas solicitações, ultimamente tenho recebido uns e-mails…

E tem conseguido responder?

São todos encaminhados, assim que recebo um mail tenho know how para dar resposta

mas são logo encaminhados, quer para a administradora do instituto, quer a

administradora da ação social, normalmente o que vêm solicitar são planos de pagamento

e todos eles são aceites porque entendemos que efetivamente há muitas dificuldades e não

vamos criá-las porque a alternativa é o aluno desistir, o que é muito pior para ele e para

nós, portanto, facilitamos ao máximo desde que comprovadamente haja dificuldades e

compete aos serviços de ação social verificar essa parte.

A diferença de custos entre mestrados e doutoramentos e licenciaturas, concorda

com estes valores às vezes tão díspares?

Posso falar do doutoramento, acho um escândalo as propinas de doutoramento. O trabalho

que dá, o trabalho do doutoramento, está bem que agora inventaram, no meu tempo não

havia mas já foi há vinte e tal anos mas inventaram a parte escolar do doutoramento, acho

isso um bocadinho aberrante porque para mim o doutoramento é a tese e a tese tem que

ter inovação, mas inspiraram-se com certeza nos anglo-saxónicos que têm uma parte

escolar e a parte escolar é uma forma de ir buscar mais dinheiro, só, porque não acredito

que aquilo acrescenta o que quer que seja às pessoas, quer dizer, pode acrescentar um

bocadinho em termos de enquadramento ou metodologia, mas os temas normalmente são

muito específicos. Com certeza que é muito mais importante o trabalho que se desenvolve

num grupo do que ir assistir a algumas UC, algumas com metodologias de investigação,

ok, isto também tem um bocadinho a ver com o facto de termos diminuído o número de

anos na licenciatura, passámos de cinco para três ou quatro para três e acrescentámos o

mestrado, portanto, aquilo que eram os antigos mestrados, os pré Bolonha, eram três anos,

ano e meio de disciplinas, mais ano e meio de tese, a somar aos cinco da licenciatura, isto

dava oito anos, agora as pessoas fazem 3+2, cinco e depois têm o doutoramento, em oito

têm o doutoramento. Resolveram introduzir essas UC, mas à parte esta inovação que acho

um bocadinho discutível mas enfim, penso que as propinas no doutoramento são muito

altas. As propinas nos mestrados, nós o que aplicamos é 990, mais 90 euros que a

licenciatura, que é quase um valor… com exceção de um, que depois também temos

mestrados, temos um que é o de Higiene e Segurança no trabalho, um mestrado muito

apetecível e temos outros na área da saúde que são muito apetecíveis, as pessoas que

fazem essas formações depois conseguem condições, em termos de desempenho

profissional vantajosas, passam a ganhar mais, portanto, aí não temos muitos problemas

de consciência em cobrar uma propina mais alta, alguns são bastante mais elevados, então

na área da saúde costumam ser bastante mais altos. Agora, na generalidade, quer nas

engenharias, quer na educação, mesmo as ciências empresariais são os 990, não

diferenciamos muito a licenciatura do mestrado, porque ambos são, em princípio, objeto

de financiamento público através do OE. Quando fazemos formações, normalmente pós

graduações, que não têm financiamento público, aí temos que colocar um custo adicional,

fazem-se as contas e estabelece-se um valor de propina, que é o custo real, mas depois

também depende do interesse das pessoas. Voltando ao doutoramento, acho que está

muito elevado, quase um escândalo.

Falou há pouco um pouco do papel do estado relativamente ao ensino superior,

assim em linhas gerais, qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior

público? Falou da reorganização da rede, da reestruturação, mas que papel

considera que o estado deve ter em termos de ensino superior? Regulador,

financiador…

É, acaba por ser, quando digo regulador sim, embora a regulação essencialmente deva ser

assegurada por entidades independentes, temos uma agência que assegura uma regulação

relativamente à qualidade das formações, eventualmente vão começar a acreditar não só

as formações mas também as instituições, portanto há um campo em aberto, aliás a

acreditação de instituições já foi feita no passado, com outro modelo de avaliação mas

foi, mas diria que sim, tem que ter um papel regulador, essencialmente através de uma

agência independente como existe. Mas também através daquilo que é a sua função que

é também a de financiador, acho que o estado tem que continuar a financiar porque a

educação é um bem público. Não sou neoliberal, aliás as últimas experiências que temos

tido têm-me causado muita impressão, nunca tinha visto uma ação tão clara dos

neoliberais e agora que os vejo, ai meu deus, pronto, isto é um mundo idealizado mas que

quando vemos a aplicação, vemos que tem muitas fragilidades, portanto, sou claramente

opositor a esse tipo de atitude, embora acredite na iniciativa das pessoas. Agora o estado

tem claramente de ter um papel de auxílio à regulação, proporcionando condições para

que entidades devidamente idóneas e credenciadas, possam fazer o seu trabalho no que

respeita à acreditação e regulação do sistema. E depois mais na própria regulação, naquilo

que são normas que têm que surgir, obviamente que o estado tem um papel fundamental.

Aquilo que há bocado falei da questão das vagas é fundamental que o estado tenha uma

ação direta, não podemos cair numa situação em que tenhamos um completo liberalismo

das vagas porque senão todo o interior morre, passamos a ter um país completamente

assimétrico, vai contra os interesses nacionais e se vai contra estes interesses o estado tem

que ter uma ação direta, tem instrumentos para isso. Quando ouço o senhor secretário de

estado a dizer que não tem instrumentos, fico nervoso, porque se ele não tem, quem é que

tem? Ele não quer é afrontar interesses mas acho que tem esses instrumentos, mas acho

que esses papeis devem ser assegurados, quer de regulação, quer de financiamento.

No que respeita à captação de alunos, existem estratégias de marketing?

Penso que já adotámos as estratégias todas, não sei, mas isto também é um bocado de

exagero porque com certeza há sempre alguma inovação para ser feita, mas visitamos

todas as escolas secundárias e profissionais na região e fora da região, temos ações em

meio publicitário, facebook ativo, temos ações promocionais, algumas delas em conjunto

com empresas, por exemplo, fizemos uma com a IBM e outra empresa, dirigidos a

diferentes públicos, os Junior Challenges, em que na área do empreendedorismo

trouxemos alunos de todo o país, jovens do ensino secundário, 10º, 11º, 12º, constituindo

equipas, disputando um curso, um campeonato na área do empreendedorismo e da

tecnologia, foi muito interessante. Com a IBM fizemos uma ação muito dirigida, que a

IBM já tem feito outras noutros pontos do país mas fizemos este ano cá, dirigida a

meninas do ensino, elas tinham o 3º ciclo do EB, só meninas, vieram durante uma semana,

com uma série de atividades, visitaram a Portucel e meninas porque entendem que as

meninas são muito menos atraídas para as áreas tecnológicas e então desenvolvem isto.

Para elas foi uma semana cheia de atividade e alegria e portanto acabou por ser muito

interessante. Temos ações diversificadas, participamos em feiras, na Fórum estudante,

tentamos de tudo para atrair os alunos, mas temos um problema é que nos chamamos

politécnico e o nome é um estigma neste momento. Gostava que desaparecesse a palavra

instituto porque depois confunde-se com outros institutos e alguns deles com má

qualidade e fama, era só politécnico, (ISP), mas o que nós, politécnicos, lutamos e

achamos que deveria ser, até porque temos, também sou vice-presidente do equivalente

ao CRUP para os politécnicos, como vice-presidente agora tive uma ação muito intensa

e temos uma comparabilidade com congéneres europeias, com países em que existem

sistemas binários e a adoção, pelo menos em termos internacionais, nacionais não tanto,

em termos internacionais a designação é de universities of applied science, universidade

de ciências aplicadas, é um nome que reivindicamos. Eu gosto do nome politécnico,

quando surgiu o nome politécnico, houve alguns setores influentes que estavam contra

porque o politécnico na altura era uma palavra com muito prestígio, ainda hoje é, em

determinados países, há politécnicos que têm estatuto universitário em termos de poderem

dar doutoramentos e fazer investigação, etc. com um nível mais elevado. Em Portugal a

palavra politécnico não foi acarinhada e hoje em dia é uma palavra que acabou por não

entrar na opinião pública e entra, por força de toda uma teia que está montada, nalguns

casos procura ser invisível mas as coisas vão acontecendo, estão programadas, isto é

quase a teoria da conspiração mas é verdade, isto está tudo montado para nos conduzir a

um determinado sítio e o que acontece é que a palavra politécnico acabou por estar

associada a uma visão negativa, menor do ensino superior e daí é mais uma das razões

para reivindicarmos a mudança de nome. Às vezes ouço de alunos, vou para a faculdade,

vou para a universidade, a princípio chocava-me, agora já não me choca. Às vezes vou

almoçar a um restaurante ali na baixa de (localidade) e houve uma senhora que me

perguntou se eu era o senhor da faculdade e eu disse que não, que era do politécnico. A

palavra universidade é inequívoca, as pessoas sabem o que é, a palavra instituto é

ambígua, as pessoas não sabem, universidade só se aplica a um campo, instituto podem

ser de várias naturezas. Diria que, com esta conjuntura toda e com esta imagem que se

criou seria importante para as instituições terem a oportunidade de mudar de nome.

Falou-me há pouco de dificuldades financeiras como o pagamento do pessoal, corte

nas despesas correntes, que outras dificuldades financeiras existem e onde tem que

fazer mais cortes?

Desde logo, no que diz respeito a despesas correntes, renegociámos uma série de

contratos. Temos uma segurança privada na instituição, chegámos a ter dois seguranças

na EST, um segurança 24 horas por dia, um segurança aqui mas esse mantém-se durante

o dia, um na ESCE, um rondista, um segurança na ESSE, tínhamos aqui n pessoas a fazer

segurança ao conjunto dos edifícios, neste momento durante a noite só temos o rondista,

durante o dia não temos ninguém na educação, só temos uma pessoa na ESCE e temos

um na tecnologia, onde eram dois. Durante o mês de agosto só temos o rondista e um

segurança. Fizemos redução clara e renegociámos e portanto conseguimos baixar bastante

os valores, podemos dizer que é uma poupança interessante, mas o certo é que diminui a

segurança nas minhas instalações no que respeita à presença física de pessoas que

poderiam ajudar em determinadas situações, como é óbvio, haver um único elemento a

fazer ronda aqui à noite, ainda por cima isto é um bocado afastado, é algo que pode ser

assustador, já houve aqui uma explosão num dos multibancos, já entraram com uma

carrinha, felizmente o segurança estava do outro lado porque a integridade física aí

poderia ter sido um problema para ele, entraram na escola ao lado, na de tecnologia, com

uma carrinha, rebentaram com a porta, levaram uma máquina de multibanco que lá estava,

meteram-se na carrinha e foram-se embora. Agora mudámos a máquina para o 1º andar,

já não temos nenhuma no rés-do-chão, mas pronto, renegociámos contratos, diminuímos

aquilo que era a cobertura das diferentes áreas de segurança, da limpeza e aí conseguimos

poupar alguma coisa. Contratos de pessoal, estamos a diminuir os ETIs, os docentes estão

quase todos com uma sobrecarga letiva, as pessoas saem, não são despedidas, ninguém

foi despedido, as pessoas saem e não são substituídas a não ser que pertençam a áreas

onde não há ninguém e aí temos que fazer. Em termos de atividade, podemos querer

desenvolver uma atividade numa área em que não temos pessoas, portanto, temos que

contatar, agora acomodámos isto e tivemos que, mesmo quando substituímos é por

pessoas que ganham muito menos, a tempo parcial, sem exclusividade, como assistentes

equiparados, essencialmente isto e com isto conseguimos diminuir muito os custos.

Agora, é óbvio que eventualmente não tenho os melhores professores que poderia ter, não

tenho os professores com o horário que deveriam ter para poderem fazer investigação,

ligação às empresas, tenho muito mais dificuldade, a atividade da instituição está afetada

por isso mas tivemos que reduzir custos de uma maneira muito clara. A investigação

sofreu, na medida em que não tenho… apesar de tudo, temos até um programa que penso

que não há em muitos sítios, até porque a Gulbenkian deixou de fazer, a FLAD deixou de

fazer, a FCT penso que também já não faz que era bolsas para apresentação de trabalhos,

comunicações, de artigos em congressos, nós temos um apoio interno, temos um

programa em que os docentes se candidatam e que depois são apoiados a ir a congressos

apresentar trabalhos e isso manteve-se, até porque temos muita gente a fazer

doutoramento, temos já muitos doutorados e tem sido uma aposta nossa, a formação das

pessoas, dos nossos docentes, nomeadamente e temos muita gente em processo de

doutoramento e muitos deles estão a acabar agora, devemos já andar perto dos 40% em

doutorados, diria que dentro de dois, três anos, se calhar chegamos aos 60, 70%, temos

essa expectativa. É certo que alguns se reformam, também se vão aposentando, também

vamos perdendo alguns doutorados pelo meio, não conseguimos manter a equipa toda. O

que procuramos fazer é conter as despesas, estou aqui neste momento, neste edifício,

antes estava noutro, num palácio com vista para o Sado. Fechámos esse edifício e viemos

para aqui, apenas por razões económicas, aqui estou mais perto das escolas, os motoristas

não têm que andar de um lado para o outro e portanto conseguimos ser mais eficazes aqui

e poupar dinheiro. Porque o outro edifício custava muito dinheiro manter e agora fechado

custa menos. Tem sido basicamente isto, cortar no que é possível cortar, neste momento

já não conseguimos cortar em mais nada. Temos uma particularidade, nalgumas

instituições já não há e que para nós pode funcionar como um balão de oxigénio mas

pouco mais do que isso que são os saldos, os saldos têm a ver com poupanças que foram

sendo feitas ao longo do tempo. A instituição recebe dinheiro e se não gastar fica em saldo

que depois transita para o ano seguinte e temos valores de saldo que ultrapassam 11

milhões de euros, ora isto, quando recebemos 18 milhões do estado para um ano, é algo

reconfortante, mas gostaria de gastar os saldos, se calhar 7 milhões, nem chegava a tanto,

para construir uma escola de saúde e mais um milhão e tal, dois milhões para construir a

unidade alimentar, se me deixassem era o que fazia. Mas vou ter que utilizar os saldos

para pagar a CGA se não tiver capacidade financeira de outra forma, portanto, vou gastar

os saldos a pagar salários, andámos a poupar para pagar salários e aqui somos

prejudicados porque se fosse uma instituição que não tivesse saldos e chegasse ao mês de

novembro, outubro e dissesse, olhe não tenho dinheiro para pagar salários, de certeza que

o estado vinha cá e injetava, a direção geral do orçamento, perante um alerta, obviamente

que arranja ali umas coisinhas e dá dinheiro. É certo que uma pessoa está sempre na

dependência, se eu for queixar a dizer que não tenho dinheiro para pagar salários eles

dizem, tem os saldos. Estou a delapidar o meu património. É uma coisa que me deixa

confortável por um lado, porque não tenho que andar a pedir porque é meu, mas por outro

lado, sinto-me desagradado pelo facto de ter que delapidar património porque gostaria de

utilizar esse dinheiro para apetrechar as nossas instituições com aquilo que precisam,

como a reorganização do campus, ao nível dos laboratórios, de edifícios com problemas

de degradação que é preciso recuperar, há muita utilização possível de fazer e que nós

não podemos fazer, não nos é autorizado e portanto estamos, é quase o premiar do

infrator, quem se comporta bem é prejudicado. Voltando ao orçamento, cortamos naquilo

que é possível, já disse algumas áreas, não tenho aqui todas elencadas, temos cortado na

despesa, procuramos manter algumas rúbricas importantes, por exemplo, fazemos o

orçamento e fazemos a distribuição do orçamento pelas escolas, apesar de elas não terem

autonomia financeira, acordamos, há uma fórmula, uma reunião, fazemos quando nos

chega o plafond do orçamento e quando fazemos isso há uma parte que é um orçamento

competitivo, geramos competitividade entre as escolas.

Quais os critérios?

São vários, por exemplo, tem a ver com a qualificação do corpo docente, se fizeram um

esforço maior para a qualificação do corpo docente naquela escola, se se doutoraram mais,

se temos mais especialistas, o valor sobe. Tem a ver com o sucesso escolar, que é uma

área em que queremos intervir muito, temos tido problemas complicados nomeadamente

nas tecnologias, nas áreas da engenharia, tem a ver com as colocações, a atratividade que

conseguem ter, há também um prémio, são seis ou sete parâmetros que têm muito a ver

com qualidade, com a parte que as escolas podem de certa forma competir umas com as

outras. Há um parâmetro que tem a ver com a interação com o exterior,

internacionalização por exemplo, projetos com a comunidade, também é valorizado, as

verbas não são muitas porque senão nalgumas delas não tinha dinheiro, mas é simbólico,

temos uma verba que é distribuída pelas escolas, consoante elas lutam por isso.

Falou-me em contratos com instituições exteriores, empresas, pode especificar

alguns?

Temos uma ligação muito forte na área da engenharia, ao sector aeronáutico, temos um

contrato muito importante com a força aérea portuguesa em que desenvolvemos um

simulador de voo que é utilizado pelos pilotos. Temos uma ligação muito forte à LAUAC,

uma empresa do sector aeronáutico, temos ligações com, desenvolvemos e estamos a

patentear um produto no domínio de teste de resistência de materiais e é curioso, a

propósito do projeto da EDP com a FCT, houve aí uma sessão em que vieram dois

senhores da EDP e um senhor da EFACEC que era espanhol e quando me apresentei disse

que era do (ISP) e ele sabia que eramos nós que tínhamos essa máquina, penso que há

oito máquinas no mundo, à volta disso e ainda por cima tem uma inovação que vai ser

patenteada por nós, portanto é algo distintivo. Estamos a fazer um trabalho importante na

área da saúde, existem n ligações a instituições e particularmente a instituições

estrangeiras, participação em projetos europeus, a área da saúde tem uma dinâmica

enorme, os docentes da escola de saúde têm uma dinâmica ímpar que gostava que

contagiasse as outras. Há um projeto que está a ser desenvolvido também em parceria que

tem a ver com mobilidade, com questões do ombro, da fisioterapia, temos essa área, um

investigador, um docente com ligações muito significativas em termos internacionais e

está a desenvolver um projeto bastante interessante, isto é o que me lembro agora. O que

gostaríamos de ter e intensificar e estamos a trabalhar agora nesse sentido é intensificar a

ligação às empresas e às organizações em torno do que lhe disse há pouco, estes novos

cursos vão permitir que recuperemos uma coisa que tínhamos no passado que eram os

estágios de tecnologia, porque as outras áreas têm, mas o que queremos é recuperar a

ligação às empresas e desenvolver trabalhos com interesse para as empresas que podem

ser projetos, formações, se construirmos aqui formações que interessem às empresas é

ótimo porque é uma via direta. Tive aqui uma conversa com dois colegas, os dois

doutorados do meu grupo e passei o tempo a dar-lhes na cabeça porque eles têm que ir

para as empresas, ainda por cima são duas pessoas que vieram das empresas. Isto não é

fácil mas a minha luta vai ser essa, ligação cada vez maior às empresas e às empresas da

região. Por outro lado, temos aqui um problema identificado pelo diretor geral da

autoeuropa que é, na região (localidade), os empresários estão muito de costas voltadas

uns para os outros e também para o politécnico, são muito individualistas. Ele esteve

numa reunião com presidentes de várias empresas e o presidente da PORTUCEL falou

que queria formação em determinada área e o presidente do CG disse, mas temos aqui a

ATEC, onde formamos pessoas nessa área. O facto de não terem dialogado e não

procurarem, perante as dificuldades, ir junto de colegas para arranjarem soluções para os

problemas, acaba por fazer com que esta imagem que ele tem do distrito, seja as empresas

de costas voltadas, mas são empresas de grande interesse nacional, temos aqui um tecido

empresarial fortíssimo e agora é preciso que liguem e que liguem em torno do politécnico,

Leiria é o exemplo de uma região onde isto se faz muito bem, as empresas de Leiria estão

muito unidas entre si e muito unidas em torno do politécnico, que é ali um motor de

desenvolvimento. Para mim, nesse aspeto, era o que gostaria, que o (ISP) seguisse esse

caminho mas é preciso também que estas empresas também tenham uma atitude diferente,

como os empresários de Leiria têm que são muito mais unidos que os nossos.

Quando alguma entidade se assume como patrocinador ou mecenas da instituição

são celebrados protocolos, contratos, como são mais ou menos os moldes desses

contratos? O meu foco são as contrapartidas que eventualmente podem exigir.

Já tivemos vários casos, alguns entretanto até os perdemos, infelizmente, de empresas que

patrocinam determinadas formações, tivemos isso nas ciências empresariais, dão um

prémio, por exemplo, ao melhor aluno, não há qualquer contrapartida a não ser uma porta

aberta para nós e para os nossos alunos e para os nossos diplomados, aquela empresa tem

interesse naquela formação. Por exemplo, agora para os TOC, que é uma ordem, portanto,

é diferente, temos um protocolo com a ordem dos TOC que visa precisamente darmos

aqui uma formação complementar aos nossos estudantes, que permite depois preencher

os requisitos exigidos pela ordem dos TOC para o exercício profissional, portanto, a

contrapartida é esta, é fazermos a formação com todo o gosto, obviamente que quem paga

são os formandos e a ordem aceita-os, a ordem ganha e nós ganhamos. O (banco) tem

aqui um balcão, presta um serviço à comunidade, a nós e à comunidade externa porque

tem multibanco e agência bancária, eles estão aqui, tem um interesse comercial e nós

temos o interesse de prestar um serviço à nossa comunidade, têm uma dependência

bancária, é preciso, por outro lado dão-nos prémios para os melhores alunos e dão bolsas

para os alunos e docentes poderem ir para o Brasil, são os luso brasileiros e agora temos

as ibero-americanas, portanto a contrapartida deles é esta, uma intenção comercial,

conseguem mais clientes, a nossa é termos bolsas, termos serviços, por isso diria que é

win-win, todos ganham.

Sobre a autonomia do ensino superior como a vê?

Acho que é fortemente atingida com muita frequência, fortemente limitada

frequentemente pelo estado, particularmente pelo MF. Tenho competências, os

presidentes dos politécnicos têm competências, os reitores, que frequentemente são

violadas, atingidas por normas, decisões que vêm das Finanças, que são omnipresentes e

omnipotentes, podem tudo e atingem a autonomia. Aí, sou da opinião do professor Nóvoa

que cheguei a ouvir dizer e concordo, que era preferível termos menos financiamento e

mais autonomia, acho que as instituições se vêm muitas vezes coartadas na sua

capacidade porque estão constantemente a ser atingidas no bem mais precioso que têm

que é a autonomia e por isso sou muito crítico relativamente à violação de autonomia, a

limitação da autonomia que existe constantemente.

Sem ser em termos de financiamento, há mais algum exemplo..

Essencialmente o financiamento, aliás, temos exemplos agora, a lei dos compromissos,

até mesmo agora na feitura do OE porque deu celeuma, aquela questão de não podermos

ultrapassar as receitas, mas aquilo era mais uma questão técnica. Noutros aspetos, em

termos de atividade… vai sempre parar um bocado ao financiamento, não conseguimos

gerir as verbas… há uma coisa que me faz imensa confusão que é eu ter capacidade de

gerar receitas próprias e depois ter que sujeitar, eu ganho receitas próprias, não vem do

estado mas o estado controla-me isto, não me deixa gastar, põe-me limitações, isto é um

atentado à autonomia. Ao nível da formação aí diria que estão delegadas nos dirigentes

máximos das instituições… há questões administrativas que me custam muito, qualquer

limitação, que traduzo como discriminação do ponto de vista administrativo, faz-me uma

confusão tremenda. Admito que as instituições possam ser avaliadas de acordo com

aquilo que desenvolvem em termos da qualidade, posso ter um bom produto ou um mau

produto, há dinheiros públicos e também privados que são aqui afetados, o consumidor,

o contribuinte tem direito a que exista uma avaliação por uma entidade independente. A

A3ES avalia no que diz respeito à atividade formativa, a FCT avalia o que diz respeito à

atividade de investigação portanto existe essa capacidade, agora quando olho para a lei e

vejo que pelo facto de me chamar instituto politécnico de qualquer coisa não posso

conceder o grau de doutor, fico um bocadinho… porque podiam dizer, ok, todos podem,

agora vamos ver se têm qualidade e o que fazem, porque tem que se ter condições para

dar o grau de doutor e tem que ser sujeito à avaliação e acreditação. Isso é uma limitação

forte também à atividade e à autonomia plena da instituição. Costumo dizer que há

universidade tudo é permitido e que ao politécnico tudo é limitado.

Concorda com o facto de as escolas do instituto não terem autonomia financeira?

Do ponto de vista da gestão, de uma racionalização em termos de escala, diria que

considero o modelo adequado dada a nossa dimensão porque temos uma dimensão

relativamente pequena, não se justifica, acho que era um desperdício de dinheiros

públicos se as escolas tivessem muita autonomia porque é obrigada a ter muitos serviços

e um controlo do sistema era mais difícil, portanto penso que está bem.

Considera que a entrada de membros externos, através dos CG, pode de alguma

forma comprometer a autonomia?

Ainda bem que existem, trazem um olhar diferente para ver se conseguimos mexer-nos

também, temos que nos abrir ao exterior, o grande problema da universidade portuguesa

foi estar fechada sobre si própria durante tantos anos, desde a sua origem. Não é por acaso

que nos anos 70, o professor Veiga Simão introduz uma reforma no ensino superior que

diria ser talvez a mais profunda até aos nossos dias e que cria uma série de instituições e

que deixam de existir quatro universidades, a UTL, a UL, a UC e a UP e cria mais em 73,

a Nova, a de Aveiro, a do Minho, cria institutos politécnicos, uma série deles, o (ISP)

nasceu em 79, mas há os outros de 73, a do Algarve, Beira Interior, a de Évora. Mas

claramente o surgimento destas instituições visou abrir as instituições para o exterior,

quebrar aquela endogamia, que ainda hoje existe, aliás, a endogamia é uma coisa que

existe bastante, as pessoas formam-se lá dentro e depois progridem, acho que devia ser

como na Alemanha em que as pessoas têm que fazer a carreira fora. Mas as instituições

fecharam-se e têm que se abrir e os politécnicos, antes do RJIES, já tinham CG, aquilo

que o RJIES criou já os politécnicos tinham. O CG do (ISP) já existia e antes dos outros

antes do RJIES e das universidades terem. Fala-se muito dos CG como uma grande

novidade mas os politécnicos já tinham. Na minha primeira eleição que foi em 2006, antes

do RJIES, foi feito por um CG com cento e tal pessoas, aliás depois foi por um colégio

eleitoral mas resultou de um CG, para a eleição era a assembleia mas o CG existia com

funções mais de aprovação de planos, de aprovação de relatórios, não elegia o presidente,

quem elegia era a assembleia geral, que era mais vasta mas o CG existia e tinha pessoas

de fora, portanto, os conselhos consultivos das escolas que existiam também, tinham

pessoas de fora, não há grande novidade para nós nisso. Os membros externos são

fundamentais, sempre nos habituámos a viver com eles e queremos viver com eles. É

fundamental.

Muito obrigada pela colaboração.

Entrevista IP12

Começava por pedir que falasse um pouco da sua formação académica.

Tenho um doutoramento em ciências da educação, na universidade (no estrangeiro)

porque à época, resolvi fazer um doutoramento em opção, em artes, as opções eram muito

poucas e porque desde sempre a minha vertente foi a educação, tentei, não fazer um

doutoramento em artes porque na altura como disse não havia assim grande saída e resolvi

fazer em CE. De qualquer modo, de formação de base, tenho o bacharelato e a licenciatura

da (IES), sou filha desta casa e fiz aqui a minha formação até à licenciatura no ramo de

educação, na altura a (IES) tinha duas vertentes, a do espetáculo e a da educação, tinha

um tronco comum e depois dividia-se, fiz o ramo de educação. Fiz a minha formação em

(estrangeiro), em dança, porque venho de (estrangeiro) e tive alguma formação da escola

cubana e da escola russa nas técnicas de dança e já nessa época era necessário, porque

comecei cedo a ser professora e fiz a minha formação quase paralelamente, tive a sorte

de ter esses professores que acompanhavam os jovens professores ainda alunos no seu

percurso como professores e isso foi muito positivo porque fui fazendo ao mesmo tempo

as metodologias do ensino a par com a minha formação e isso acho que me deu uma mais

valia e o gosto também desde sempre de querer ensinar e de perceber que eram as matérias

da educação que me interessavam e foi depois aí o percurso para as CE foi quase

automático.

E em termos profissionais? Professora e mais alguma coisa? sempre ligada à

academia?

Sempre, claro que tive experiência de palco, na altura em que dancei e tudo isso mas

como disse no início fui fazendo uma formação como bailarina ao mesmo tempo que

fazia por obrigação, por necessidade do país onde estava, a formação quase paralela para

professora e a opção foi clara e muito calma, às vezes acontece fazerem um percurso

como bailarinos e depois no final de carreira quererem ou necessitarem, também às vezes

acontece de serem professores, para mim, como foi quase ao mesmo tempo, quando

percebi e porque tive algumas lesões, percebi que a carreira como bailarina seria limitada

de alguma maneira e como a paixão pelo ensino também era grande foi fácil a passagem

para aí. Efetivamente fiz um percurso profissional já na educação como professora.

Considera que o seu percurso académico e profissional contribuíram para

desempenhar as funções que desempenha hoje?

O facto de termos um conhecimento da prática do ensino como professora e anteriormente

tinha exercido cargo no conselho pedagógico e como coordenadora do curso de

mestrado... claro que a gestão, ter tido um lugar num cargo de gestão me ajudou de alguma

maneira a ter alguma base de conhecimento sobre a gestão e sobre gerir uma escola. Claro

que um é um cargo de gestão e ser professora é estar no terreno, é ligeiramente diferente,

mas neste momento continuo a desempenhar as duas funções e a ser professora

infelizmente a tempo inteiro porque com as dificuldades desse papel e portanto estou a

fazer a acumulação a 100% das duas funções, o que não é muito fácil mas até ao final do

ano pelo menos terá que ser: dou aulas de Técnica de dança clássica a análise do seu

vocabulário, metodologias de ensino da dança clássica no curso de mestrado e

investigação em educação e projeto, são muitas UC, fazemos acumulação de UC, alguns

professores acumulam quer a licenciatura e o mestrado, fazem a acumulação dos dois

cursos e porque as questões financeiras nos obrigam a fazermos a lecionação dentro da

nossa formação e dentro das competências que temos, fazemos a lecionação de muito

mais do que uma UC.

Qual o balanço da sua experiência como diretora?

A minha experiência enquanto diretora é muito curta, tomei posse dia 26 de abril, o que

quer dizer que tenho muito pouco tempo neste cargo, neste momento ainda estou a

conhecer as pastas todas, a conhecer os serviços, embora seja aluna desta escola e

professora desta escola e claro que o conhecimento que se tem e a relação que se tem com

os serviços é completamente diferente, somos utilitários dos serviços mas não os gestores

dos serviços e isso é uma aprendizagem que estou a fazer, tenho a cooperação de toda a

gente da escola, é um lado muito positivo porque me conhecem desde que era aluna e

portanto a relação com as pessoas e com toda a comunidade escolar é muito positiva mas

efetivamente estou ainda num momento de aprendizagem deste novo cargo e porque

tenho esta acumulação também não tem sido muito fácil a gestão do tempo principalmente

por isso neste momento é difícil falar em apreciação no termo de gozar a sensação, é mais

o imenso trabalho que vejo pela frente em gerir em primeira instância e depois aplicar

alguma coisa de novo ou melhoria que quando se vem para um cargo se pensa fazer, neste

momento ainda estou nesta parte do conhecimento de tudo.

Sobre o ensino superior português, qual a sua opinião? Tendências, evolução,

presente...

Neste momento vou restringir-me à área que conheço, a área artística e sabendo que esta

área. Penso que sempre foi uma área delicada porque tem patamares muito complicados

de gerir e nunca foi muito fácil, agora com estes constrangimentos muito mais difícil é

porque temos, em termos de ensino artístico temos a (IES), a (faculdade), que também

faz dança no âmbito da dança e pouco mais no ensino superior existe sobre dança. Somos

duas faculdades diferentes, uma escola é do politécnico, portanto temos ensino

politécnico e temos universidade. Por ser um ensino artístico e um ensino de cariz muito

prático, há turmas que não podem ter 200 alunos, não trabalhamos em anfiteatro, o que

quer dizer um ensino muito mais dispendioso, um ensino muito mais ligado e que deveria

ser muito mais ligado ao mercado, à parte do contar com profissionais no terreno e com

estes constrangimentos tudo isto está a ser mais difícil e o que de alguma maneira, não

querendo dizer que a qualidade do ensino piora, mas também não há esse incremento de

qualidade que deveria haver, com esse trabalhar terreno e com essa ligação à prática

profissional que valoriza com certeza os cursos artísticos. Não sei qual será a tendência,

para já e até à atualidade francamente não vejo grande mudança, antes pelo contrário, o

orçamento é curto, estamos com quase metade do que tínhamos anteriormente e isso não

nos dá muita margem de manobra. Portanto o futuro apresenta-se um pouco sombrio.

Ainda em relação ao Ensino Superior mas sobre o processo de Bolonha, como acha

que correu a sua implementação nesta área?

Como todos os cursos do ensino superior tivemos que fazer reduções, como disse

antigamente contávamos com um curso de tronco comum e depois se dividia em dois, era

um curso de quatro anos, tínhamos o ramo de educação e o ramo de espetáculo e que

deixou de funcionar como tal, atualmente temos um curso de licenciatura de três anos, é

óbvio que quando reduzimos de quatro anos com duas especialidades numa, algum dos

cursos fica com menor quantidade de UC e no nosso caso, nós mantivemos a

interpretação, criação como tronco forte da licenciatura, deixando de ter o ramo de

educação ou seja, temos no nosso curso algumas disciplinas, algumas UC que fazem

ligação à pedagogia e à metodologia mas muito mais curta do que havia com o curso

anterior, deixando para o 2º ciclo, mestrado, tivemos que criar um curso de mestrado

ensino de dança que é o curso onde se faz a formação de professores efetivamente. há

alguns aspetos que são positivos, termos criado um curso em criação e interpretação, mas

efetivamente sabemos e no curso de dança, o facto dos nossos alunos quando saem da

licenciatura irem trabalhar mas na verdade a grande maioria vai dar aulas mas não temos

controlo sobre isso no mercado, apenas nas escolas vocacionais ou escolas de ensino

especializado em que é obrigatório os professores terem neste momento, já neste

enquadramento o curso de mestrado, mas no geral, em todas as outras escolas públicas,

estúdios particulares, não temos controlo sobre esse mercado e portanto os alunos se

precisam vão e são contratados para um ginásio, não lhe é exigida essa profissionalização

e sabemos que uma boa parte dos alunos acabam por integrar como professores no

mercado de trabalho e de facto não têm a formação e isto é um risco. Acontece, a gestão

de mercado não passa por nós, nós efetivamente e para controlo porque queremos um

ensino de qualidade temos um curso de mestrado mas nem toda a gente faz e não podemos

obrigar as pessoas a fazer. Esse para mim foi o senão. A mais valia de termos uma

licenciatura de três anos em interpretação, criação, teve outras valias também de Bolonha

mas perdemos efetivamente essa formação de base, tínhamos uma licenciatura já para o

ensino. já estava dividido de base. Penso que há outros cursos que eventualmente no

ensino superior tenham perdido alguma qualidade com isso, ficaram diferentes

efetivamente e hoje as saídas são diferentes e há os mestrados integrados que vão

colmatando esta falha se assim considerarmos mas houve essa alteração efetivamente.

Considera que professores e alunos apreenderam bem este novo papel, uns de um

ensino mais virado para o aluno e os outros a autonomia?

De alguma maneira tentamos imprimir alguma dinâmica, a autonomia do aluno que

procura. Mas cada vez mais, penso que, e falo da minha própria experiência dentro da

escola, cada vez mais temos alunos um bocadinho imaturos e que se se quer manter

também um ensino de qualidade em que eles não percam a linha e porque se calhar somos

uma escola pequenina, temos essa componente, somos um bocadinho tutoriais sempre

porque acompanhamos muito mais os alunos, eventualmente pode ser por sermos uma

escola muito pequena, conhecemos os alunos pelo primeiro e segundo nome, todos os

alunos passam por todos os professores e nós vamos acompanhando os estudantes a par

e passo, cada passo que eles dão temos assim uma visão familiar do nosso ensino. Isso

não invalida que tenham autonomias e que ganhem autonomias e vão para o mercado de

trabalho com alguma segurança, não temos, daquilo que conhecemos dos nossos alunos

que estão no mercado temos boas informações de qualidade e boa integração, não estarão

todos, como é evidente, mas temos grande satisfação por exemplo, em todas as escolas

de ensino especializado da dança termos professores formados nesta escola e os próprios

que estavam e são diretores pedagógicos e tudo isso e estarem a voltar e fazerem um

mestrado em ensino e nesse sentido é positivo. Masque somos um pouco tutores e até ao

final do curso a escola tem muito essa proteção e essa tendência. Talvez porque o trabalho

com o corpo é um trabalho muito mais próximo do que estar em frente a uma plateia no

anfiteatro, fazemos um trabalho mais de proximidade e isso cria essa familiaridade e essa

cumplicidade muito grande entre professores e alunos e isso penso que existe aqui.

E em relação ao ensino privado?

Desconheço na área da dança alguma instituição de ensino superior, não sei se existe,

penso que não. no ensino básico e secundário existem muitas escolas de ensino, aliás

senão me engano e penso que não, haverá duas escolas de ensino público, o Conservatório

Nacional e o Conservatório de Coimbra, ambas escolas de ensino público, as outras são

em cooperativa, ensino cooperativo.

Em geral que pensa do ensino privado?

Não tenho termos comparativos por isso não sei mas do que conheço do ensino básico e

secundário, as escolas coexistem, neste caso com o Conservatório e outras escolas que

são para aí umas 20 têm algumas dificuldades em termos financeiros, o facto de serem

subsidiadas de alguma maneira pelo estado e com os cortes que há, tenho conhecimento

de estas escolas terem grande dificuldade, não sei comparativamente à escola de ensino

público qual será o rácio de dificuldade não consigo ter termo de comparação. Mas penso

que em todos os níveis de ensino, se existe um ensino de qualidade público e um ensino

de qualidade privado, quanto mais houver e com qualidade, há mais opções, não me

parece que possam estar de costas voltadas ou serem divergentes na sua atuação e

enquadramento enquanto instituições de ensino.

Sobre as propinas, há autores que consideram que a existência de propinas

responsabiliza o aluno perante um percurso de ensino superior, outros consideram

que a sua existência põe em causa a igualdade de acesso. Nestes dois extremos onde

se situa?

No mundo ideal e porque todos pagamos tudo seria a possibilidade de haver um ensino

sem propinas, penso que isso é demagógico e de facto difícil de suportar na nossa

sociedade, no nosso enquadramento. Concordo que a sua existência nos dá uma certa

responsabilidade, o facto de haver o cumprimento para determinado e sabemos também

que aquilo que investimos em pagamento nos é dado em qualidade, vejo nesse sentido,

pago a minha propina para ter um ensino de qualidade e isso parece-me justo. Agora que

são altas e neste momento com esta conjuntura, efetivamente são-no e até nós próprios cá

na escola estamos com a propina máxima porque o ensino artístico é caro, não

conseguimos ter 200 alunos numa sala de aula e um professor, temos, e mesmo assim

estamos a juntar turmas em técnica por exemplo que é uma disciplina em que toda a gente

se mexe dentro do estúdio o que não é o ideal mas estamos a juntar turmas para podermos

ter um menor número de professores para os mesmos alunos embora não sendo a situação

ideal. Estamos com a propina máxima e o que estamos a fazer, o IPL tem feito um esforço,

é conseguir fazê-lo em tranches mais pequenas para que não haja efetivamente abandono

escolar. uma situação ideal era podermos ter um ensino completamente gratuito mas

penso que é incomportável no ensino superior e no mundo das artes mais difícil será, o

ideal era toda a gente poder ter acesso ao ensino artístico como um ensino normal porque

defendo isso ensino artístico para toda a gente, independentemente da vocação pode ser

abrangente para todos que tenham aptidões para e não ser porque não poe pagar a propina

não poder ter acesso. Mas entendo que o ensino superior é difícil e neste momento ainda

mais e o facto de ser essa moeda de troca, presto um serviço com qualidade que é

compensado e isso dá-me também a responsabilidade de fazer, estou no misto da opção,

é caro, neste momento sentimos que na escola há alunos que têm muita dificuldade em

pagar a propina, para já porque temos muitos alunos, uma grande percentagem, que é de

fora de Lisboa, o facto de só termos dança ou na (faculdade) ou na nossa escola, embora

sejam diferentes porque um é mais virado para a parte teórica e nós somos mais práticos,

quem quer estudar dança, tem que vir para Lisboa e isso torna as coisas mais complicadas

para os nossos alunos, para além da propina ser alta, o facto de estarem fora de casa torna

o ensino mais caro ainda porque têm de se deslocar e morar numa residência ou casa

alugada ou o que for. não sei se teremos 200 alunos no total

Já teve pedidos de alunos para fasear pagamentos ou que desistiram por não poder

pagar?

Isso é uma preocupação nossa sempre mesmo antes de haver decisões a nível superior de

fazer um pagamento faseado, nós já temos esse cuidado. Qualquer aluno que chegue aos

nossos serviços académicos com dificuldades de pagar a propina, tentamos arranjar com

eles uma forma, um compromisso para que façam este pagamento em parcelas mais

pequenas, neste momento estamos com seis mensalidades, a primeira em Janeiro e a final

em Junho, tentar que isso se consiga fazer mas há vários alunos a fazerem pedidos, dois

ou três, alguns efetivamente desistem por não poderem pagar. Tentamos sempre arranjar

forma mas há muitas dificuldades. Há alunos que têm dificuldades para comer.

No seu entender, qual deveria ser o papel do estado perante o ES público? É

financiador, regulador e delegou a avaliação na A3ES...

O estado terá, não deverá, se faz o financiamento, tem que fazer a monitorização do que

financia e garantir que o que financia tem qualidade, esse será o triângulo. Efetivamente

penso que o financiamento do ES teve cortes muito grandes e aí o estado não está a

cumprir o papel como devia, os cortes são muito grandes e a asfixia que estão a fazer é

tão grande que no caso aqui da escola já não temos margem para fazer investimento no

sentido de investir numa melhoria. Os professores estão com excesso de aulas, sem

passarmos para a ilegalidade mas efetivamente um professor que tem o seu horário

completo com 12, muitas vezes com 14 horas, mas como tem acumulação, prescinde das

horas por exemplo quando temos orientações, que deveríamos ter menos horas de

lecionação, se estamos em cargos de direção deveríamos ter redução de horário. o que

está a acontecer é que, para completar os horários ou para manter a nossa atividade e os

alunos que temos o que acontece é que vamos reduzindo as horas que deveríamos ter para

dar aulas, para a investigação, para fazer publicações que são também atividades de

professor, é refletir sobre o trabalho que fizemos, refletir teoricamente com papers e

participação em conferências, etc., fazer formação em continuidade e de facto isto não

nos está a permitir fazer. no nosso caso particular também não estamos a fazer novas

contratações, não temos essa possibilidade nem de ir buscar a importância do que são os

profissionais no terreno. Nós vivemos de... trabalho coreográfico é muito importante,

devíamos estar a trabalhar com coreógrafos, o que implicaria contratá-los e convidá-los

e não estamos a ter capacidade de o fazer, o que quer dizer que em termos de refresh, de

qualidade e de possibilidade e capacidade de os nossos alunos trabalharem com pessoas

do terreno e terem essas experiências novas em termos hoje em dia da dança

contemporânea ue está sempre em ebulição e evolução e devíamos estar a fazer este

upgrade sempre do que é novo e das novas tendências e efetivamente não está a acontecer

e isso, a longo prazo e se isto continuar assim, penso que acaba por comprometer aquilo

que é a missão, o que deveria ser o ensino, não sei como andam as outras universidades,

não estou a falar de menor qualidade mas falta esse complemento muito importante e não

estamos a conseguir, estamos aquém do que deveríamos fazer.

Não têm esse feedback do mercado que os professores que já estão possam trazer

esse novo...

essa nova visão e os alunos experimentarem, nós fazemos a base, haver um corpo docente

estável, porque é necessária a formação de base mas os alunos devem ter essas

experiências para poderem com segurança integrar o mercado de trabalho. Ter uma visão

do mundo e ter experimentado trabalho e isso está a ser muito difícil gerir.

A escola tem estratégias de captação de alunos?

Nós fazemos e agora com a A3ES e com os gabinetes de avaliação do ensino e muito

virado para a qualidade, temos, todas as escolas têm, fazer inquéritos aos novos alunos de

como souberam da escola, etc. Então, as respostas são... o nosso trabalho é fazer, um,

temos o site da escola que informa para o exterior, atempadamente colocamos a

informação no site do curso que temos, há uma grande implantação da escola fora, nas

escolas que acabam os secundários, temos muitos ex-alunos das escolas que estão lá, o

que quer dizer que temos filhos dos filhos e a informação vai passando de professores

para alunos e temos a informação normal que sai no expresso, das listagens e agora com

as novas redes sociais, a escola tem, facebook. A escola tem um sistema de calendário em

que fazemos blocos de aulas e no final desse bloco de aulas, apos cinco semanas, temos

sempre um espetáculo ou apresentações, de cinco em cinco semanas fazemos uma

apresentação com os trabalhos de alunos que é aberta à comunidade sem pagamento, que

também é uma forma de dar a conhecer o trabalho da escola.

Ao longo da entrevista tem referido algumas dificuldades como os professores

darem muitas horas, a dificuldade de gerir o pouco orçamento em termos de

investimento ou da contratação de professores, dificuldades na investigação, existem

outras dificuldades que sente?

o nosso edifício é belíssimo mas é de difícil e cara manutenção e com os cortes

orçamentais não tenhamos capacidade financeira, embora estejamos dependentes sempre

do IPL mas o IPL sofre dos mesmos cortes que nós e efetivamente temos que fazer uma

ginástica muito grande para fazer qualquer obra de manutenção na escola, temos

dificuldade na manutenção do edifício, na manutenção que necessita, algumas

intervenções com muita urgência que o IPL tem, mediante as suas capacidades também

tem tentado, só que é um edifício muito antigo e como todos os edifícios antigos tem a

beleza da tradição mas é difícil de manter. Se pensarmos que o edifício é enorme, com

paredes larguíssimas, no inverno é frio, que nos obriga a gastos imensos de luz para

aquecimento, banhos e temos gastos que uma outra escola não tem, a parte dos banhos,

das caldeiras, de fossas sépticas que têm que estar sempre impecáveis, são gastos

obrigatórios e nesta situação de parcos recursos, vamos retirando em alguns momentos

de um lado para o outro mas não podemos fazer grandes... estar com custos reduzidos a

nível de segurança, temos apenas a porta dos fundos aberta porque é por onde entram os

carros e não podemos ter a porta da frente aberta porque só temos um segurança, tivemos

que cortar. estamos a gerir o nosso orçamento e vamos fazendo cortes em áreas onde

entendemos que não é a nossa maior base de investimento que são os alunos e as aulas e

tudo isso, tentamos fazer reduções nas luzes, apagando todas as luzes sempre que

passamos na escola, tentando não tirar fotocópias, fazendo o máximo de cortes possíveis

numa gestão muito doméstica mas sofremos com tudo isso.

E receitas próprias?

estamos a tentar ter algumas receitas próprias, por exemplo, a escola, mesmo em direções

anteriores, foi sempre uma tentativa de gerir melhor e procurar receitas próprias. o que

temos para vender? isto é uma escola que não vende, não tem fins lucrativos mas temos

as receitas das propinas e essas entram, temos um gabinete de massoterapia, felizmente

que conseguimos ter um ginásio e dois massoterapeutas a funcionar, um extra que damos

aos alunos mediante um pagamento muito reduzido e o que fazemos é abrir à comunidade

estes serviços. O gabinete de massoterapia está aberto das 8 às 20 horas todos os dias com

duas pessoas, que tratam não só os nossos alunos porque para quem faz dança as lesões

acontecem e tem sempre o gabinete aberto e aberto à comunidade, qualquer pessoa pode,

desde que faça marcação pode fazer aqui massoterapia e isso é uma receita. Outra coisa

é o aluguer dos nossos espaços, alguns estúdios, dentro do arranjo que conseguimos ter

alguns estúdios para além das nossas aulas, sempre que há um estúdio, está disponível

para ex-alunos ou profissionais de dança ou alguém que queira alugar, embora neste

momento esteja um bocado parado, acho que toda a gente está com problemas financeiros

e mesmo pedindo valores baixos não temos conseguido. Temos também as naves do

estacionamento, para além do estacionamento que os professores têm, somos uns

privilegiados nisso, aqui nesta zona é difícil estacionar e alugamos o nosso

estacionamento e é algum dinheiro que entra. Temos um grande problema, fazemos

espetáculos de cinco em cinco semanas mas não temos uma sala de espetáculos, o que

quer dizer que como não temos condições para não podemos cobrar, nem que seja

simbolicamente, o que quer dizer que fazemos espetáculos, muitos, chegámos a ter, não

sei, 50 pessoas a ver e se fizermos ao longo da semana vários espetáculos porque é durante

uma semana que acontecem as apresentações, fazemo-lo de graça, ou seja, daí não entra

nenhum dinheiro, o que é uma pena mas não temos capacidade para reformular porque

era o ideal, termos um pequeno teatro onde poderíamos cobrar. Estamos a tentar arranjar

uma forma, não sei bem qual... as nossas captações de fundos são muito pequenas porque

para já, mesmo que pensemos noutras e já pensámos inclusive em fazer merchandizing e

etc. , mas temos que ter um investimento inicial e neste momento não temos para arrancar

com outro o que nos dá uma dificuldade de manobra. São assuntos que estão pensados,

equacionados, estamos a tentar que haja aqui um vol de face qualquer para poder

implementar isso porque efetivamente só o OE não chega. As apresentações são

obrigatórias na escola, fazem parte do currículo deles e seria com certeza uma boa fonte

de receita porque temos casa cheia todos os dias, seja à noite ou durante o dia, sejam os

pais dos alunos ou outro público mas não conseguimos cobrar. Não sei, se inventarmos

uma caixa para donativos, talvez possa funcionar.

A escola tem algum tipo de mecenas ou patrocinadores? Ou contratos, protocolos?

Nós fazemos alguns, não para financiamento direto em dinheiro, temos um prémio que é

dado pela CGD ao melhor aluno da escola, ganham-no com mérito mas é pessoal para o

aluno que tem a melhor nota, que tem uma boa prestação, tivemos aqui também da GDA

dos artistas também um prémio para os melhores intérpretes o ano passado, ganharam

dois alunos da escola mas o que nós fazemos e temos em alguma quantidade não temos

um mecenas, ninguém nos dá dinheiro, o que tentamos fazer exatamente e para garantir

estes coreógrafos, alguns professores cá é fazer parcerias com, imagine, não temos neste

momento mas gostaríamos de ter e havemos de ter com certeza porque há vontade de

ambos os lados, mas imagine com a Companhia Nacional de Bailado, o que nos dão

eventualmente na parceria é termos um professor aqui, um bailarino já em final de

carreira, estou a falar por alto, a pensar alto, que vem e que acaba por ficar na escola a

dar aulas e o seu trabalho lá na verdade não está a fazer, possa estar aqui a compensar, a

ser utilizado para passar a sua experiência, variações, repertório e recebem os alunos para

fazerem espetáculos lá e nós não pagamos nada porque os ensaios são feitos na escola,

ou seja, nós demos o espaço, montou-se aqui a coreografia e o que temos de patrocínio é

o nosso logotipo sair no programa,. o que quer dizer visibilidade para a escola. nesse

campo temos algumas parcerias e estamos a tentar fazer porque efetivamente precisamos

das pessoas e é uma boa forma de apresentar e dos coreógrafos que vêm cá no âmbito

dessa parceria terem também contato com os nossos alunos e a escola acabar por sair com

visibilidade também, é importante manter essas parcerias com a comunidade.

É mais à base de um sistema de trocas?

Sim do que propriamente financiamento.

As contrapartidas então, a visibilidade da escola...

É a troca de experiências que nos permite dançar em determinado palco, tivemos agora

uma parceria com a meta dança em Leiria, já temos há uns anos e o que fazemos, os

nossos alunos vão à meta dança e têm estadia, possibilidade de trabalhar no teatro que

nós aqui não temos um palco, é um estrado, um espaço bonito mas não é um palco e eles

têm essa possibilidade ou eventualmente trabalhar na Culturgest com técnicos de som e

luz, etc., que é uma experiência, mais uma parceria em termos de financiamento de

dinheiro propriamente não.

Se tivesse que sugerir a alguém formas de angariar fundos, até pode ser fora de um

tempo de crise, fontes de financiamento para a sua escola, quais seriam?

O mecenato dá vantagens financeiras às empresas e portanto, qualquer empresa pode

financiar, porque não. Um, são os mecenas, tal como a CNB é mecenas, a CGD. Haverá

com certeza ali alguma contrapartida, a visibilidade, quando se anuncia ou se tem num

grande cartaz a dizer mecenas do espetáculo, estamos a vender a imagem a alguém, e

haverá com certeza grupos que entenderão apoiar as artes, independentemente da sua

área, qualquer empresa ou bancos, não apontaria alguém em especial, penso que as artes

devem ser apoiados por qualquer um desde que tenham essa vontade e essa

disponibilidade financeira. Há mecenas que aparecem porque o gerente, quem tem posses,

porque gosta... não apontaria ninguém, acho que qualquer pessoa pode apoiar a arte e o

ensino.

Autonomia do ensino superior. As escolas do IPL não têm autonomia financeira,

exceto o ISEL, acha que está bem assim, gostava de ter autonomia?

Não lhe sei responder a essa pergunta primeiro porque estou há tão pouco tempo que a

fase de mexer em dinheiro e em gerir isto, não tenho o leque todo na mão. Por um lado,

se tivéssemos um orçamento bom e pudéssemos gerir como quiséssemos e houvesse uma

boa gestão era possível fazer, ondular os diferentes dinheiros e fazê-los funcionar para o

que entendêssemos como mais importante e não haver esta coisa de, para fazer uma obra

tenho que obrigatoriamente contratar a empresa x num concurso público que demora 200

anos que nos obriga a um sem número de papelinhos e papeletes de pedido de orçamento

e cabimento e não sei o quê e isso acaba por atrasar, por exemplo, se nos acontece aqui

um acidente qualquer de rebentar uma caldeira, tenho que ter a caldeira arranjada então

se for no inverno, há um número imenso de alunos que não toma banho e isto acaba por

ser... se tivesse esse poder, seria mais fácil, em pouco tempo por um valor mais pequeno.

Ou comprar qualquer material necessário tem que ser submetido a um concurso, a uma

agência especial e leva tempo e às vezes sai muito mais caro do que vi ali no

supermercado ao lado, só preciso de uma coisa... claro que entendo que isto não é um

orçamento doméstico e necessita de um controlo, mas acho que em algumas coisas, este

tipo de não autonomia nos deixa com tempo, tempo e muita burocracia para resolver. Se

houver uma boa autonomia, desde que haja uma boa gestão do orçamento e do dinheiro

que temos mas penso que em algumas coisas facilitaria, do que ter agora uma contratação

de professores, tem que ir primeiro, agora com esta coisa da mobilidade, pode verificar

se há alguém no excedente. mas eu não quero uma pessoa qualquer, para este tipo de

ensino preciso de uma pessoa especial que tenha aquelas competências, não pode ser uma

qualquer excedente de outra escola qualquer porque não tem as mesmas qualidades e

competências que preciso e isso de alguma maneira aligeirava, penso eu estas situações.

Efetivamente é necessário um controlo acima de...

A entrada de membros externos para o sei da universidade através do CG, o que lhe

parece esta entrada? Na universidade foi mais novidade que no politécnico...

A nossa escola não tem membros externos em nenhum órgão de gestão, mas já pensámos

nisso. O que fazemos, e tem razão a nível de politécnico é uma coisa mais antiga porque

nos seus organigramas havia essa possibilidade, não sei como funciona nas outras escolas,

na nossa escola nunca tivemos elementos externos, o que fazemos, e isto está consagrado

e é obrigatório agora nos gabinetes de avaliação é a relação com a comunidade ter de ser

monitorizada, aprovada, que considero possível e como é que nós podemos fazer serviço

à comunidade, porque quando fazemos um espetáculo é um serviço à comunidade e a

massoterapia, como é que temos perceção de como é que chegam à comunidade os nossos

serviços e que afluência e como isso nos pode fazer melhorar e é uma forma também de

fazer ligação ao mercado de trabalho. Sei que o ISEL e as partes das engenharias e da

tecnologia da saúde têm muito mais, não sei, não posso falar porque não sei como têm os

seus órgão de gestão. Desde o ano passado estamos a fazer inquéritos, com os nossos

interlocutores do nosso trabalho que não se fazia e agora estamos a recolher essa

informação junto da escola onde nós... o mestrado tem sempre estágios, é obrigatório,

temos alunos a estagiar e temos sempre os relatórios da escola cooperante que recebe os

nossos estagiários ou se os nossos alunos vão fazer espetáculos fora nessa situação das

parcerias, temos sempre os relatórios dos locais onde estamos para que se tenha essa

perceção, não com os elementos cá dentro mas pelo menos nesta primeira fase, em

relatórios, em questionários.

Então essas parcerias que falou também permitem locais de estágio...

Sim, não é uma parceria, está na legislação que o mestrado em ensino de dança obriga a

um estágio profissional, como é um curso que dá profissionalização e então fazemos um

protocolo de cooperação entre a escola e várias escolas de ensino vocacional artístico

especializado da dança e temos protocolos com quase todas as escolas e temos estagiários

em quase todas as escolas com base nesse protocolo. o ano passado em dezembro

finalizaram os primeiros cinco estágios, são os primeiros mestres a saírem. E há outros

protocolos a nível da licenciatura.

Nesses protocolos, para além do trabalho dos alunos, as escolas têm alguma

contrapartida?

Os nossos estudantes fazem o trabalho, não é um estágio remunerado, o que está

regulamentado é que a escola cooperante tem a possibilidade de utilizar alguns serviços

da escola, está protocolado, serviços de biblioteca, temos um centro de documentação e

informação e temos uma biblioteca especializada em dança e é sem dúvida a melhor

biblioteca da especialidade, muito rica não em quantidade porque é muito pequenina mas

em qualidade, temos obras muito importantes aqui e estas pessoas podem usar estes

recursos

Neste momento e com todas estas transformações há quem considere que o

politécnico e a universidade em algumas áreas se sobrepõem, fazem concorrência,

antes o politécnico seria mais ligado a uma experiência profissional prática e a

universidade a um meio mais académico. Considera que a missão dos dois está bem

definida?

Penso que a missão estará bem definida para os dois, no caso da dança, nós e a

(faculdade), trabalhamos sobre a dança e sobre o corpo e a reflexão sobre e etc., são dois

cursos diferentes, o nosso curso, embira tenha uma componente teórica grande e de

reflexão e tudo isso tem uma grande componente prática, se pusermos em termos

comparativos, não estamos fazer o mesmo trabalho. A (IES) tem uma grande ligação ao

terreno, à prática... a verdade é que a componente teórica e já nos curso de mestrado, essa

componente teórica e essa reflexão e embora os trabalhos finais não sejam teses de

mestrado, são relatórios de estágio, continuamos a apostar numa forte componente de

fundamentação teórica e não desvaloriza uma em relação à outra no todo, não são

complementos, são caminhos diferentes, ligeiramente diferentes, com o mesmo domínio

da dança e da reflexão e da prática mas se formos ver em termos comparativos, mesmo

as cargas horárias são diferentes e têm na verdade a sua missão e objetivos são

ligeiramente diferentes. e temos este lado da formação de professores com a

profissionalização, é uma área que temos bem definida e até na lei e somos a única escola

que faz a profissionalização e isso é uma mais valia e característica nossa, não invalida a

existência dos dois e até temos cooperação, sempre que precisamos de júris ou de

formação, temos contado com professores da (faculdade) e temos todo o prazer nisso, não

nos consideramos rivais de alguma maneira, são pessoas com valor e com quem podemos

contar que estamos a trabalhar sobre o ensino e a reflexão da dança e a sua prática. somos

diferentes e ainda bem. mas não somos contraditórios nem estamos em competição

porque cada um tem o seu espaço.

Que acha do politécnico não poder dar doutoramentos?

Temos um doutoramento em artes, no politécnico em que a escola está envolvida, temos

um professor que fará parte da comissão científica e está a funcionar em articulação com

a UL e nós estamos a participar, não estamos completamente de fora, temos um professor,

poderemos no futuro ter mais, estamos agora com uma problemática por causa dos rácios

dos doutorados, como disse no início, optei pelas CE porque não havia doutoramento em

artes e optei por fazer em Sevilha, na altura foi assim, entrei o foi o primeiro que surgiu

e há doutoramentos na (faculdade) em artes. Mas, embora não tenha sido inicialmente na

criação do politécnico, o objetivo, porque os doutoramentos iam para as universidades,

mas não vejo incapacidade da parte dos docentes que estão no politécnico de o fazerem

porque cada vez mais os seus docentes estão a fazer doutoramentos e são doutorados, se

o são devem ter essa possibilidade, não me parece que não tenham competência para... se

é o objetivo, se está na génese do que era o politécnico mas não sei se estaremos aqui

eventualmente a mudar alguma coisa. Neste momento, em termos de competências e

qualidades dos seus docentes, cada vez mais as exigências são maiores, começaremos a

ter uma equidade entre uns e outros.

Quer acrescentar mais alguma cosia?

Não, queria agradecer-lhe e espero ter ajudado de alguma maneira apesar da minha curta

experiência e isso tem que ser salvaguardado porque posso ter dito alguma coisa que não

tivesse... tem sido muito complicado esta acumulação a 100% das duas funções porque

são várias UC e são diferentes e exigem uma preparação diferente... e depois há esta

mistura entre coisas práticas que cansam do ponto de vista físico e nos obrigam a trocar

de roupa, portanto, temos aqui algumas nuances que outro professor não tem, uma pessoa

que dá aulas práticas, que tem que mudar de roupa para ir dar aula e ir a correr para dentro

do gabinete para receber pessoas e estar minimamente bem vestida parece uma coisa um

bocadinho ao lado, mas que são tempos diferentes e de não chegar à sala de aulas com a

pastinha de baixo do braço à hora de começar a aula, temos que abrir os estúdio 15

minutos antes e temos que aquecer o nosso corpo também o que quer dizer que nos obriga

aqui a um reajuste nos horários. Depois, o facto de sermos uma escola pequena, com

poucos professores e estarmos com algumas dificuldades em gerir esses professores,

entrei e já o semestre tinha começado, candidatei-me mas estamos com a distribuição de

serviço docente e de repente não posso dizer, agora sou diretora e não dou aulas nas

disciplinas que já dava porque para eu sair, alguém, tinha que entrar e portanto mais ou

menos a meio de um semestre, não conseguiríamos. Já há a dificuldade de contratação e

depois de repente alguém a meio do semestre estar disponível ainda mais para vigor dar

cadeiras tão específicas. É difícil, assumi o compromisso vou ficar até ao final do ano e

depois, como somos uma escola muito pequena, o que acontece é que acabamos por

pertencer aos vários órgãos, quer dizer que o diretor também está no pedagógico e

também está no conselho de representantes e eu saí da coordenação de mestrado e

imediatamente entrei como diretora e continuo nos órgãos para os quais me candidatei

em setembro, isto tudo em acumulação. É difícil, costumo ser bem avaliada nas avaliações

dos alunos e não quero baixar o nível da minha qualidade como professora que é uma

cosia que me orgulho muito e não quero estar abaixo dos 5 e dos 4 e não quero ser apenas

uma professora razoável, o que implica que em todos os meus tempos livres tenho que

estar a fazer alguma coisa ou a preparar uma aula, ou reuniões ou a dar resposta ao que

me é solicitado e por isso recebi-a e arranjei um tempinho porque não quero deixar nada

para amanhã, quero resolver tudo hoje e só saio da escola quando está tudo resolvido

naquele dia. Não tem sido muito fácil mas estou a gostar do desafio, penso que quem não

está numa direção não tem a noção do interior das coisas, quando se começa a estar dentro

de tudo é que se verifica a dificuldade porque é outro tipo de contato com as pessoas, é

outro tipo de exigência e o telefone não pára e as pessoas também não e às vezes isso é

difícil de gerir porque me custa dizer que não, às vezes vêm-me pedir abraços e dou, isso

tira-me um pouco de tempo mas pronto também me dá muita alegria e gosto dessa parte,

de ser professora, educadora, gosto mesmo e ninguém me tira isso.

Muito obrigada professora.

Entrevista IP13

Pedia-lhe para falarmos um pouco sobre si, a sua formação académica.

Sou engenheiro mecânico formado no (IES pública nacional),, mestrado no (IES pública

nacional), e doutoramento na (IES pública nacional). Entretanto sou engenheiro porque

estou na ordem dos engenheiros, sou membro senior da ordem dos engenheiros e

especialista na área da energia.

Em termos profissionais como foi até chegar aqui?

A minha carreira foi feita aqui no (ISP), toda esta progressão de mestrado e doutoramento

e na própria ordem dos engenheiros já foi tendo como pano de fundo o ser docente no

(ISP), em particular na (IES). Experiência profissional além de ensino procurei tê-la

sempre no instituto, já que estamos a falar de receitas, talvez seja, dentro da (IES) e do

(ISP), faça parte de um grupo não muito grande de pessoas que tem um número elevado

de prestações de serviços e que por essa via, embora associadas às prestações de serviços

dispersas, é uma receita cujo saldo é que resulta num financiamento efetivo porque o resto

financia a atividade, atividade que não existia se não existisse aquele financiamento.

Portanto, a minha atividade, a minha experiência de engenharia, sou perito qualificado na

área da certificação energética e tenho feito dezenas de certificações energéticas, que é

sempre feita com base em protocolos entre a escola e empresas com as quais colaboro

quando faço este trabalho de engenharia e quando faço trabalho de formação profissional

também é sempre com protocolos com instituições que vêm adquirir ao IP num serviço

prestado por mim ou outra pessoa, a minha experiência profissional em engenharia tem

muito assente basicamente nesta prestação de serviços de instituição ao exterior, não é

uma situação muito típica mas é o meu caso.

Há quanto tempo desempenha estas funções?

Presidente do conselho pedagógico desde 2010, entretanto fui, durante 11 anos, ate 2008,

fui 2 anos vice presidente do conselho diretivo e depois 9 anos como presidente do

conselho diretivo da (IES), em 2008, quando não foi possível renovar o mandato e em

2010 concorri ao conselho pedagógico e cá estou e estou no CG do (ISP) também.

Considera que o seu percurso académico e profissional o auxiliou a desempenhar as

tarefas que desempenha?

Enquanto professor não tenho dúvidas nenhumas que a experiência, o que fiz de trabalho

técnico, através das prestações de serviços, influencia em muito o desempenho da minha

prestação enquanto professor e num ensino que é para ser mais prático, mais

profissionalizante, os exemplos práticos que tenho da minha experiência são sempre

exemplos interessantes para colocar nas aulas, mesmo em disciplinas que são de base,

onde esse campo não seria tão importante mas como exercício de motivação, como

exercício de perceber o que é que depois os alunos poderão encontrar um dia num curso

que não sabem ainda exatamente o que é, numa disciplina de 1º ano, por exemplo, é uma

experiencia interessante. No mestrado já é diferente porque no mestrado já é uma partilha

de conhecimentos e também uma forma de melhorar o que se está a ensinar. A experiencia

académica do ponto de vista da gestão, tudo influencia.

A sua opinião sobre o estado do ES português.

De uma forma geral e eu sendo do politécnico diria que o politécnico sempre foi o parente

pobre do sistema e que os vários poderes que existiram desde que o politécnico foi criado

nunca souberam bem, nunca foram coerentes com este sistema, tiveram sempre

dificuldade em ajudar, porque os governos têm a obrigação, representam os contribuintes

e os cidadãos e têm obrigação de dar garantias. Portanto, o poder, normalmente foi

incapaz de dar indicações muito claras aos subsistemas e ao subsistema politécnico, em

particular, para que este fosse politécnico e não fosse uma universidade de segunda ou

um a instituição que se penasse um bocadinho enfim talvez chegasse a universidade,

nunca conseguiu, não queremos que sejam universidade, queremos que sejam isso que

são, isto nunca foi muito coerente nos vários poderes, embora no tempo do Mariano Gago,

na legislação foi feito um esforço, na prática não, mas na legislação foi feito efetivamente

um esforço com o RJIES de dizer da universidade espera-se isto, do politécnico espera-

se aquilo, os cursos da universidade devem ser assim e os do politécnico assado. Na

prática, a adequação dos cursos, a aprovação de novos cursos não foi coerente com o que

estava escrito e daí para cá também não há grande coerência e continua a não haver grande

coerência de políticas neste campo. Esta incoerência do lado do poder teve como

consequência que os próprios politécnicos têm pouca consciência do que devem ser e, à

falta de referenciais, têm o referencial universitário e aquilo que normalmente tentam é

copiar ou entender como referencial o universitário e só não é mais porque há

constrangimentos legais que não deixam fazer certas coisas mas que a vontade era fazê-

las . É muito raro encontrar um presidente de politécnico, às vezes pode ser em termos de

discurso, mas que em termos práticos faça o relato da sua instituição a assumir como um

politécnico. Normalmente há ali uma resistência em fazer aplicar aquilo que a lei diz, o

que às vezes não é o que o discurso diz mas o que a lei diz. e a lei diz, é muito clara

naquilo que é a vocação de um e de outro, neste momento está clara mas as pessoas não

querem ler o que está escrito. Se fizessem o que está escrito não era um ensino de segunda,

era um ensino de primeira naquilo, na verdade o que fazem na prática é ser ensino de

segunda porque vão atrás. Isto do ponto de vista do sistema binário, do ponto de vista

geral, acho que as instituições continuam a não ser responsáveis por nada, estas

instituições como outras do estado, não só estas em particular mas estas têm um nível de

autonomia relativamente elevado comparativamente a outras instituições do estado,

tendem a não prestar contas a ninguém, não prestam contas ao contribuinte, seguem o seu

caminho, faz todo o sentido do ponto de vista da autonomia mas não tendo de prestar

contas a ninguém e de facto não prestam contas a ninguém, não prestam contas ao

governo, não há contratos programa, há orçamento sem contrapartidas de nada, não há

indicadores...

Mas há a lei da transparência orçamental...

Sim, mas uma coisa é gastar, fazer a despesa como manda a lei, isso é legalidade e não

está em causa, não é aí que... no prestar contas não é uma questão de fazer despesas

ilegais, não tem nada a ver com isso, não prestar contas é não ter que apresentar

resultados, é não ter de discutir os resultados, não está em causa se recebeu 100 milhões,

os 100 milhões foram gastos e legalmente bem gastos, está em causa são gastos que se

forem investidos nos sítios certos podem dar os resultados certos e com que níveis e com

que qualidade e eficiência de formação e por isto ninguém responde. Continuam a fazer

admissões, uns tem a sorte de ter um prestígio, um trabalho acumulado que faz com que

recrutem os melhores alunos e onde a questão não se coloca muito qualquer que seja a

regra de admissão não se coloca muito quais são as competências prévias que os alunos

de facto têm na entrada, mas a maior parte dos cursos coloca os requisitos no ponto onde

isso garanta alunos. Mas isso não me parece mal em si, o que me parece mal é não tirarem

nenhuma conclusão sobre isso, nenhuma consequência. e é isso que temos, tipicamente

esta irresponsabilização sem avaliação externa, apesar de tudo, digna desse nome,

genericamente falando, porque há instituições que de facto fazem avaliação e têm

processos de melhoria contínua muito interessantes mas não é o normal.

E o ensino privado, esta convivência privado público?

O ensino privado em Portugal sempre foi complementar, serviu durante um tempo para

responder à explosão da procura, tirando uma universidade não há mais, o restante ensino

privado baseia-se muito de facto em tentar responder a uma procura como a explosão que

houve efetivamente de procura de ensino superior, que responderam com os meios e

regras que o sistema lhes permitiu. Naturalmente que num momento de retração, como a

que está acontecer neste momento, a questão demográfica, os motivos financeiros, essas

instituições estão a passar um mau bocado. Não vou entrar na questão de como deve ser

o ensino superior em que o privado ou o público do ponto de vista do financiamento

poderiam ser diferentes, mas não vou discutir isso nem coisas como cheque ensino nem

nada desse género, mas aquilo que é o privado em Portugal é isso, instituições que

apareceram e que ocuparam nichos, espaços que foram deixados pelas IES públicas

porque não tinham capacidade de resposta e que até muitas vezes conseguiram eficiências

económicas na prestação que fizeram, basicamente porque se baseiam em contratações

que no público são impossíveis e em turbo professores e em professores do próprio ensino

público que lhes permitiram dar alguma credibilidade ou qualidade ao ensino que faziam,

essa e a situação geral, continua a ser um problema de responder onde o público não

respondeu como algumas IES privadas que existem no interior do país e em certas zonas,

o público não foi lá e eles responderam e feitas as contas para as famílias, o custo entre ir

estudar para fora ou no privado dentro, acaba por se calhar compensar ir para o privado,

faz sentido.

Há quanto tempo é membro do CG?

Desde Março, foi um novo ciclo que fizemos, com o RJIES, houve algumas regras destas

atribuições, portanto, houve um primeiro CG, este é o segundo CG.

O que faz no CG?

Sou membro do CG e o CG tem as funções legisladas que, tanto quanto sei, a maior parte

dos CG ainda não se consegue assumir como aquilo que de facto deve ser, que é os

representantes... uma espécie de assembleia, uma espécie de acionista, um leque

relativamente grande de parceiros e ainda não se consegue assumir como tal. Na maior

parte das vezes é demasiado instrumentalizado, deixa-se instrumentalizar pelas

presidências, no sentido em que funciona mais como órgão de apoio. Quando o presidente

se lembra de falar alguma coisa, se se lembrar, leva ao CG senão levar não há problema

nenhum porque no CG ninguém levanta problemas por não ter levado. Obviamente exerce

as competências que a lei taxativamente manda exercer e que só podem e ser exercidas

com uma votação ou uma aprovação em CG ou uma apreciação, um conjunto de

competências muito específicas e aí funcionam porque tem que funcionar, é da lei e

nenhum presidente se atreve a não fazer, mais do que isso, depende dos CG, das pessoas

que fazem parte do CG e daí sai um CG com uma determinada postura, ainda estamos

numa fase de aprendizagem.

Relativamente ao processo de Bolonha, na sua opinião, como correu a

implementação?

Foi mal feito, a ideia era boa, fui membro da comissão de acompanhamento de Bolonha,

nomeado pelo ministro Mariano Gago na altura como representante da sensibilidade do

politécnico, digamos assim, e não me parece nada que o processo de adequação tenha

decorrido bem, de maneira nenhuma. Houve uma direção geral que atuou pessimamente

nesta área, atuou bem com os cursos universitários públicos mas com os privados e

politécnicos pior era difícil, no sentido em que não conseguiu definir regras, não

conseguiu ou não quis exercer as competências que tinha no sentido de perceber o que

são formações de politécnico e formações universitárias, não fez nada por isso e depois

como seguiu um padrão normal de aprovação de cursos que é, as universidades têm uma

creta autonomia e primeiro vêm-se estas, depois a seguir vamos para os politécnicos

porque os politécnicos não têm o mesmo nível de autonomia que as universidades tinham,

portanto, deixou para depois e para os privados ainda foi pior porque são precisas umas

comissões de especialistas para analisar não sei quê, ainda passaram para terceiro, quer

dizer, aquilo que normalmente fez quando se propôs um ou dois cursos e fez esta atuação

quando se propuseram 300, 400, fez toda esta atuação e portanto a direção geral falhou

em toda a linha neste campo. Não sei se o ministro teve responsabilidade nisso ou não,

não percebi, o que é facto é que eu próprio me demiti da comissão porque achei que aquilo

não fazia sentido, da maneira como foi feito e estamos a falar de execução, não estamos

a falar daquilo que... houve dois grandes erros na maior parte dos sítios na execução, por

exemplo, uma, havia um sentido de referenciais europeus para a formação que se faço

aqui engenharia mecânica, essa engenharia que existe em Espanha, França, Inglaterra,

quando se propusessem as coisas, deveriam ser com o maior número de parcerias

possíveis nesse campo e o que vi foi antes pelo contrário, os politécnicos a utilizar

referenciais universitários, genericamente universitários pela europa fora. Entretanto,

como Bolonha para nós era 3+2, curiosamente Espanha não é3+2, o ministro dizia que

eles haviam de mudar e lá estão na mesma e portanto, aquilo que era suposto haver uma

harmonização de níveis de formação pela europa, aparentemente nós é que fomos

harmonizados, de resto não é uma coisa que se veja por aí por essa europa fora, cada um

está na sua, cada um andou um bocadinho para ficar na mesma, agora, uma coisa que não

há e não houve foi harmonização, isso nota-se muito por exemplo no decréscimo e

restrições aos Erasmus que eram mais fáceis antes do que são hoje. Quando supostamente

proponho uma engenharia mecânica aqui porque é o que nós, formadores de engenharia

mecânica nos vários países europeus acertamos, na prática, o que existia perdeu-se tudo,

tirando obviamente algumas escolas que já tinham parcerias muito fortes e que quando

mudaram tiveram isso em conta mas são contáveis. Olho para isso e vejo um grupo de

escolas de engenharia mecânica na europa e depois destes dois exemplos começam a

variar, com filosofias diferentes, por exemplo, na área da saúde com cursos que num sítio

têm uma duração que têm que ter e não podem deixar de ter e que noutros têm outra

duração, nós fizemos de uma forma interna mas essa harmonização não foi europeia, a

única coisa em comum é que se chamava Bolonha. De resto, parece-me pouco bolonhês

nesse campo. Mas houve coisas boas como o lançamento dos Maiores de 23, da formação

para a população ativa, os cursos de especialização tecnológica também apareceram por

aí e houve erros colossais em muitos sítios que foi a tentativa de passar licenciaturas de

cinco para três e meter o Rossio na Rua da Betesga quando não era para fazer isso, não

estava escrito em lado nenhum, mas houve muitas mentes bem formadas e muito

diplomadas por esse país fora, com muitos cursos, MBA, doutoramentos que conseguiram

pôr cursos de 5 anos em três, não faz sentido nenhum, o que fizeram é vergonhoso nesse

campo. Curiosamente também nós nos politécnicos tivemos uma tendência, tínhamos

bacharelatos ou tínhamos licenciaturas bietápicas e conseguimos fazer a sensação, às

vezes pode não corresponder à realidade mas nós portugueses gostamos muito de nos

martirizar e é um bocadinho o exercício disso, como tínhamos melhores bacharelatos ou

melhores 1ºs ciclos do que temos hoje os 1ºs ciclos, o que é um contra senso. Já fazíamos

aquilo, quando apareceu Bolonha, estávamos a marchar certo, bem, não precisávamos de

mudar nada porquê, porque o nome deixou de ser bacharelato para passar a licenciatura

e três anos, o que há para mudar? Tirando as pequenas alterações, melhorias podem

sempre ser feitas naturalmente não estou a falar dessas, mas alterações de estrutura

porquê? não percebi. Fez-se muita burrice nesse campo. Outro problema sobretudo nos

politécnicos que não sei se foi antecipado por alguém porque os politécnicos antes tinham

os bacharéis de três anos, em que o mercado percebia que existia um bacharel e um

licenciado, um com três e outro com cinco anos, cada um sabia ao que ia, o mercado podia

queixar-se de má formação aqui ou acolá mas são questões pontuais de escola e não de

sistema, mas percebia-se o que era. Agora, existe uma sensação no mercado de que os

licenciados sabem pouco, o que é estranho, mas como são todos licenciados de três anos,

realmente estes licenciados genericamente falando e comparando com os licenciados de

cinco não podem ser o mesmo e portanto o sistema passou a achar que o 1º ciclo sabe

pouco, que é preciso dar mais formação, é uma sensação que existe e não faz sentido. o

que é que os politécnicos não souberam fazer? Se já tinham pouca profissionalização, se

já tinham pouca prática no bacharelato ainda passaram a ter menos e portanto poderiam

estar hoje a dizer que nós somos licenciados, sim, sim, mas estes licenciados são muito

melhores do que aqueles licenciados e não são, também não estou a dizer que são piores

que um licenciado universitário com uma expetativa típica de mestrado integrado, de ter

uma formação a seguir, espera-se uma pessoa com três anos de formação superior não

dirigida especialmente a algum sítio, agora não, nós licenciados do politécnico somos os

tais, embora estes da universidade também seja um contra senso porque a lei diz

claramente que o 1º ciclo é um ciclo profissionalizante, embora às vezes a discussão do

profissionalizante possa dar muita filosofia mas nós politécnico devíamos estar numa

situação favorável, temos alguns mestrados, não é a nossa filosofia mas também os

queremos ter, não é a vocação essencial, temos aqui os alunos do 1º ciclo e estes

licenciados são os que precisam no mercado de trabalho como antes precisavam dos

bacharéis, não conseguimos ganhar essa batalha. Agora se vê, os resultados ao longo do

tempo nas candidaturas, quando começaram a aparecer, quando a oferta começou a ser

superior à procura quem é que perde e curiosamente perdem todos so cursos que têm o

equivalente na universidade.

Sobre o financiamento, a partir da lei de 92, abriu-se mais a entrada ao

financiamento privado por parte dos estudantes, as propinas atualizadas. Qual a sua

visão sobre esta matéria? há quem considere que o pagamento responsabiliza o

aluno e outros que acham que diminui a equidade...

Não é fácil a questão, nós evoluímos de uma situação em que as propinas correspondiam

a uma taxa de um valor mínimo para uma situação em que quando foi colocado foi dizer

assim, nós temos dificuldades em financiar mais do que financiamos, os estudantes

passam a financiar e isto vai ser para a melhoria da qualidade e portanto, quando a propina

apareceu, dava de facto messa responsabilidade ao estudante e o estudante sabia que

estava a pagar melhorias, não estava a pagar o que já estava. Isso desapareceu, passados

estes anos isso não é verdade porque o estudante não está a pagar por melhoria nenhuma,

está a pagar a despesa corrente, está a pagar para não degradar, não para melhorar. É

evidente que tem alguma responsabilização, acredito que sim mas a responsabilização

está, precisamente num setor que é o mais débil. Porque quem tem dinheiro para pagar

não é isto que os responsabiliza, nenhum aluno, na propina da licenciatura paga mais do

que um quarto, noutros curso pode pagar um terço, mas ninguém paga mais do que um

terço do curso e o normal é pagar um quarto, um quinto do custo total, sendo uma

percentagem que tenderá a aumentar e portanto não me parece que as pessoas sintam

grande responsabilidade, agora este valor que é preciso pagar, é um valor que de facto

afasta os alunos de determinada franja, ainda por cima porque os próprios apoios sociais

que podiam ultrapassar isso em bom rigor têm limite e portanto os alunos são claramente

afastados por razões deles, por razões dos pais, dividas fiscais, tudo e mais alguma coisa

e s alunos são afastados. Depois é um ciclo, o aluno deixa de poder pagar a propina, põe-

se a trabalhar para poder pagar mas não consegue ter resultados a trabalhar e anda a

trabalhar para pagar a propina de um curso que não tira e temos muito disso por aí.

Portanto, o que está aqui é um conceito que é o de os alunos no privado pagam a propina

toda, qual a missão do estado, fazer a formação, àqueles que têm capacidade intelectual

para isso, dar-lhes o máximo de formação, permitindo que cheguem o mais longe

possível, no sentido que isso não é bem um direito mas é um direito, quer dizer é um

direito associado à competitividade de um país, pessoas com formação podem catapultar

o país, mesmo assim se o faz, faz com que regras. porque, por exemplo, não temos

capacidade, temos ali umas voltinhas que podemos dar, já é contornar a lei, não temos

capacidade para dizer a um aluno que, já há uma regra que permite um aluno a tempo

parcial, coisa que não era possível até há pouco tempo mas só há um parcial, portanto,

não podemos premiar um aluno com um bom desempenho, não podemos dizer que pagam

este ano e para o ano não pagam, portanto não há instrumentos nenhuns. Preferia um

conceito de dizer que o estudante paga o mínimo possível naquilo que é um contrato de

responsabilidade mútua, o curso tem três anos, tem três anos para tirar o curso, não fez

nos três anos, temos pena, é claro que podemos ir a outro nível... à partida paga tudo, se

não tem dinheiro, tem empréstimos e não sei o quê, mas isso é um conceito ideológico

diferente que se faz muito em Inglaterra e noutros países, é uma discussão difícil de dizer,

eu diria que até para a nossa tradição de ensino não vejo porque é que se há-de pagar no

superior e não se paga no secundário...-

É obrigatório, o superior é uma escolha...

Hoje em dia, ainda não é mas é quase obrigatório porque na verdade nós estamos com as

percentagens dos jovens em idade para ir para o ensino superior nós estamos com as

percentagens europeias, com valores característicos europeus, os alunos com uma certa

faixa etária, com idade para entrar no ensino superior, entram aqui como em qualquer

país da europa. Pode dizer-me que há um conjunto deles que não mas esses se calhar

também não acabaram o 12º ano, não têm as etapas anteriores, hoje em dia sei que há uns

quantos que não vão por muitas e variadas razões. Mas se recuarmos uns anos em que

não tínhamos esta crise se calhar estavam a entra no ensino superior, os alunos que tinham

condições de entrar, considerando como condição de entrada ter o 12º feito e isso cobre

todos. Portanto, o país pode dizer que é estratégico que as pessoas e que os jovens tenham

o máximo de formação possível e ao fazê-lo, tem que fazer num sentido, como faz no

secundário, como faz em todos que é os anos que forem, que o estudante muito

responsável ou pouco responsável, com ou sem problemas isto é tudo nosso, mas não é

assim isso é que é irresponsável. E nós temos responsáveis com dinheiro e responsáveis

sem dinheiro, não sei se é um bocado confuso mas na verdade diria que a um estudante

devem ser dadas as máximas condições para que faça o curso no tempo certo e acho que

isso é um factor de competitividade do país muito forte, de qualidade da nação, ter o

máximo de condições no tempo acertado. se o estudante tem interesse em fazer o curso,

está a tempo inteiro a fazer o curso, são três anos são três anos ou quatro ou cinco, este

nível tem que ser pago, o estado deve apoiar mesmo que pague uma taxa, um valor de

propina, há condições financeiras que tem de acontecer naturalmente, a partir daí, as

instituições devem ter alguma liberdade, ou vai pela lei que a gente quer dirigir tudo, que

prever tudo, seja, mas os alunos a seguir aos três anos, estão por conta própria porque o

estado, nós, já fizemos tudo o que tínhamos a fazer, o estado já fez a sua parte, pagou,

tem aqui, pagou muito bem e fez bem, mais do que isto, não.

Mestrados e doutoramentos têm um valor diferenciado da propina... considera

pertinente o seu valor mais elevado?

no nosso caso não, os mestrados são iguais às licenciaturas, o politécnico normalmente

não tem, até porque o próprio aluno de mestrado entra no financiamento e portanto

tipicamente temos os mestrados com o mesmo valor das licenciaturas. os doutoramentos

é que não temos. A questão coloca-se... há preços que são preços de mercado, que se

funciona como entidade privada, puro e duro, há formações com custos absurdos mas que

na verdade, se dissermos assim, este tipo de mestrados não são financiados pelo estado,

estamos a utilizar fatores de custo real, os custos erais se calhar não andam muito longe.

Vejo aí às vezes um sobre valor por questões de marketing, por exemplo, tenho um amigo

que têm um filho que está a fazer mestrado num das universidades, paga um valor

astronómico, mas o que ele está a pagar é o custo médio de um aluno do ensino superior,

um bocadinho acima mas não desmesuradamente acima. Mas os alunos quando

arrancaram fizeram dois ou três dias de acolhimento, fora para um hotel em Sesimbra,

fizeram isto, pronto quem é que pagou? na verdade foram os alunos que pagaram um

valor e têm uma retribuição, uma qualidade e essa qualidade mede-se por muita coisa,

pelos departamentos, professores, salas, por este tipo de atividades. a questão é onde é o

que estado termina a sua obrigação. Diria que se calhar, no 1º ciclo está aqui, a obrigação

do estado terminaria no 1º ciclo embora isto não seja coerente porque na verdade não

ocorre exatamente assim, agora se as instituições querem fazer mestrados não financiados

pelo estado e que possam ter um valor económico porque não e doutoramentos porque

não, mas para isso têm que existir também as políticas e apoio social, as bolsas que digam

que não podemos afastar as pessoas de certas coisas, obviamente que esses mestrados

afastam de facto uma faixa de pessoas que não têm de facto capacidade, isso é um

problema que fica por resolver mesmo neste mestrado que custa 7000 ou 10000 euros, o

estado devia ou não dar uma bolsa ao aluno, quando há outros mestrados mais baratos,

quer dizer, mas na realidade não sei se são mais baratos porque aquilo é apenas o custo

real portanto se calhar pagam o mesmo dos outros, embora pareça que só está a pagar a

propina porque o resto é pago por outro bolso, mas é do mesmo, só que em vez de ser do

bolso direito é do esquerdo. é uma discussão que não é assim tão fácil como isso mas à

partida não me faz impressão que não sendo financiado pelo estado se tenha uma

atividade de formação que tem a sua política de custos, porque se for abaixo do valor real

é porque alguém está a pagar e portanto não pode ser prejuízo da instituição, já basta o

potencial risco da atividade que também existe.

Qual o papel que julga ser dever do estado perante o ensino superior público?

Se estivéssemos noutro país poderíamos fazer de outra maneira mas estamos num país

em que o estado tem a preponderância na oferta de ensino, portanto o que o estado tem

que fazer é, para já tem que gerir bem os seus recurso, qualquer que seja a visão que tenha,

tem que gerir os seus recursos, tem que fazer contrato programas com as instituições e

exigir, tem que ter indicadores, diferenciados, adequados, apoio técnico adequado e tem

que exigir, quando as instituições não cumprem, têm que pagar por isso, tem que haver

responsabilização, há orçamentos anuais, houve um no tempo do mariano gago, já nos

tempos finais fez-se uns contratos programas que caíram num buraco imediatamente a

seguir, ninguém cumpriu de parte a parte como é evidente, todos arranjaram desculpas

para, não recebemos e por isso não fazemos, deixa-se de fazer. As instituições têm que

responder, o estado tem um conjunto de instituições que têm que ser avaliadas, tem que

ver se fazem um trabalho de qualidade ou não, regulador, as instituições têm autonomia,

recebem dinheiro do estado, respondem pelo dinheiro que recebem do estado, informação

transparente para também responderam perante os privados que são os alunos que pagam,

e têm que perceber onde o dinheiro está a ser aplicado, a resposta não é só perante o

estado, deve permitir no mínimo nos primeiros ciclos que seja gratuito, tendencialmente

gratuito e possibilitar, quando os estudantes cumprem a sua parte, tem um custo mínimo,

quando deixam de cumprir a sua parte deve haver formas de os motivar a cumprir. E é

basicamente isto, não sou a favor de se dizer que apoio o estudante mas não as

instituições. Mas nós já temos capacidade instalada, estamos a brincar com o dinheiro de

todos porque ao fazermos isso, não quer dizer que as instituições não devam ser um

bocadinho apoiadas, isso tem um sentido bom que é as instituições precisarem de

melhorar e estarem muito atentas, tem essa vantagem, nesse campo não acho mal, se isso

significar que as instituições têm que pensar duas vezes antes de tomar certas decisões

não é mau, mas tenho receio que o resultado seja, como não há mecanismos para a

organização se adequar, não há mecanismos para tirar uma pessoa do quadro, não há

mecanismos para gerir ninguém, em bom rigor, como gestor de uma instituição pública

não tenho nem de perto nem de longe os mesmos instrumentos que um gestor tem no

privado. Agora diz-me cheque ensino, só se for para beneficiar o privado porque para

aqui não consigo, tirando algumas escolas com um prestígio tão forte que a questão não

se coloca mas isso são algumas, existem e ainda bem que existem mas são só algumas, o

geral é assim e portanto não tenho instrumentos. a área de engenharia sai, temos pena, a

área de saúde sai, temos pena, não posso fazer isto e portanto o resultado é a degradação

porque temos que contar com custos que são fixos e dom receitas que passam a ser de

uma variabilidade total, não é possível, percebo o conceito tem algo de interessante mas

não assim. Então vamos dar às públicas a mesma capacidade de manobra que as privadas

têm, isso não vai passar em lado nenhum, nem em sindicatos, não vai e portanto isso não

é possível. Por isso, a propaganda ao cheque ensino tem de facto uma ideia interessante

mas morre na prática, é um presente envenenado, é a morte de boa parte do sector público

que aparentemente, agora podemos nós ser maus, é aquilo que um certo sector quer,

pronto está bem, a sociedade é como é.

Existem estratégias de captação de alunos?

Existem mas ... em relação ao marketing, isto é o problema das instituições públicas... eu

não posso fazer, para já há falta de dinheiro, pura e dura, depois a gente não consegue

fazer anúncios e gastar o dinheiro como quer, mesmo que seja mais barato, há

procedimentos que matam. portanto, não posso pegar e contratar pessoas para fazer ações,

não podemos contratar as pessoas mas temos que lá ir, então vamos com os docentes, os

docentes têm outra atividade, estamos aqui em equações de solução impossível. isto para

dizer, o instituto tem um órgão, um departamento que é o GICOM, responsável pela

comunicação e tem ações tipicamente junto das escolas e do público em geral, há cinco

anos atrás era cada escola tinha autonomia e fazia, as escolas perderam a autonomia e está

tudo centralizado. para além disso depois existem em certas escolas, como esta das

tecnologias existem para além das atividades, os panfletos, visitas às escolas, feiras

vocacionais, essas coisas que existem no secundário e que procuramos estar, o fórum da

juventude... nós ainda procuramos fazer outras coisas como somos engenharia e

engenharia e tecnologia e ciência, fazendo divulgações científicas com os miúdos, temos

feito algumas coisas nesse campo, às vezes um bocadinho atrás do candidato, que ainda

não sabe que é candidato às vezes mas é não tanto pôr o bichinho da tecnologia, embora

o objetivo seja esse mas pôr primeiro o bichinho da engenharia, da ciência e da tecnologia

e depois dizer, nós fazemos isso. A ideia é um pouco esse, hoje em dia surgiu um desafio

interessante, que está latente, temos feito menos do que devíamos que é interação com

escolas do setor profissional do secundário em que há aí alguma expetativa. Basicamente

os anúncios, participação em feiras da ciência ou espaços ciência viva, idas às escolas

com os psicólogos das escolas, é essa a atividade que é feita com algumas limitações

porque os recursos são mesmo limitados e impossíveis de crescer porque é estado e nem

que estejamos atafulhados de receita, a despesa segue a mesma regra.

Há pouco falou-me nas prestações de serviços, fonte de receita para si e para a

instituição. Outas fontes de receita própria para fazer face ao recuo do estado.

Não são muito fáceis e vou explicar porquê, para onde quer que nos viremos, seja para

projetos europeus, nacionais, projetos com empresas, onde quer que seja, isso tem

associada uma despesa, um investimento, tem quer se fazer a despesa das pessoas que

vão trabalhar naquilo, se me disser, mas as receitas diminuíram aqui e os meus docentes

estão livres e portanto posso pô-los a fazer aquilo, sim é um solução. Estamos a ir para

esse campo mas antes desse está um mais simples que é estão todos a trabalhar e a fazer

o que devem e o dinheiro não chega. Para acrescentar receita precioso acrescentar despesa

e é preciso ter um balanço muito grande para que a mais valia que se consegue seja um

mais valia que de facto financie, por exemplo, tenho orçamento de 25 milhões, o (ISP)

tem um orçamento por esse valor, imaginemos que consigo gerar atividade que me dê

outros 25 milhões, se conseguir isto, devo conseguir margens na ordem dos 20, 25%, que

me dão 5 milhões, destes 25 só os 5 é que são de facto financiamento e isto é que pode

melhorar. Os outros 25 milhões, porque a cada 25 vou gastar 20, isto para a instituição é

bom porque estes 20 são atividade, são relações com empresas, com entidades com

instituições europeias, nacionais, isto é bom mas não resolve estes 25 com a falta de

dinheiro que há aqui. Só a mais valia é que financia esta, se esta me reduz, quais são as

hipóteses, na receita, poucas, só na despesa. Aquilo que os privados conseguem hoje é

muito fácil, se quiser um mau exemplo de como consigo isso é que o privado não tem o

conceito de dedicação exclusiva, se pegar no público e lhe retirar o conceito e o dinheiro.,

é um terço dos vencimentos do pessoal docente e já conseguia muito. Isto da despesa,

posso imaginar uns quantos, da receita, de facto, seja, a não ser também as propinas mas

as propinas coloca-se um problema que é têm limites no limite poso ir à propina ao valor

do custo e os estudantes pagam mas ninguém tem dinheiro para pagar. Se colocar os

custos reais no ensino,. não sei se existem estudantes para ir porque o resultado prático

vai ser uma quebra generalizada por esse país fora, ficando os que estavam, na verdade é

uma quebra, regressamos aos números que já tivemos, já tivemos uma situação gerível,

30000 alunos no ensino superior mas quem é que lá andava? se quisermos fazer isso...

porque se fizermos esse processo é o que vai acontecer, 40000, 50000 mas não 400000 e

com tudo o que isto quer dizer de limpeza de instituições, não me parece que algum país

queira isso.

Nesta situação de cortes, que áreas do suborçamento ficam mais penalizadas?

Vão ficando coisas prejudicadas que vão sendo geridas, a iluminação, o funcionamento

do edifício em certas horas, por exemplo, no passado funcionávamos 24 sobre 24 horas,

isso acabou, poupa-se alguma coisa em segurança, energia um bocadinho mas sobretudo

nos custos com segurança... os cortes implicam na maior parte das vezes um corte de

serviços, há uma altura quando se fala nas gorduras quer dizer... há uma zona em que se

pode impor eficiência e de facto não se perde nada e até era possível e ainda bem que

existiram porque assim é que está certo, mas isso é uma margem pequena porque o resto

é dizer assim, não, é mesmo cortar... e aí podemos discutir podemos ou não viver, o

edifício tem que estar aberto durante a noite? pode estar mas agora não está e portanto

estão lá aqueles alunos se os alunos estavam cá, estava aberto os alunos que aqui estavam

deixam de poder estar, pronto, é um serviço que não se presta, o que é que vale isso, a

biblioteca podia estar não ei quanto tempo, não temos pessoas, não temos dinheiro, está

menos tempo, é um serviço que não se presta, portanto, uma parte é claramente corte de

serviço, outra parte também acaba por ser corte de serviço, o videoprojector avaria, a

lâmpada funde, o computador avaria, temos pena, não há, onde estamos é aí, não há

dinheiro para tinteiros, não há dinheiro, corta-se a climatização, não há dinheiro para regar

a relva, secou, depois podemos discutir se ter a relva verdinha à volta era uma coisa

fundamental, é um pouco a diferença entre viver num deserto ou num sítio civilizado mas

pronto... por alguma razão a relva estava lá, faz parte do ambiente que se cria, é mesmo

fundamental, fundamental, pronto se calhar não, corta-se. Há uns cortes com que se vive,

apesar de serem desconfortáveis e há outros cortes que efetivamente deixa de haver, no

laboratório, a máquina XPTO avariou, mantém-se avariada até haver dinheiro para a pôr

a funcionar, este equipamento está antiquíssimo já não se faz isto, os alunos não

encontram isto lá fora mas temos que dar isto porque é isto que temos, é aqui onde

estamos. E apesar das prestações de serviço poderem ajudar, por exemplo, fizemos muito

trabalho na área da certificação energética em edifícios, esse trabalho, seja de formação,

seja de estudo técnico, tínhamos aqui uma equipa das mais fortes que existia no país em

termos de IES, senão a mais forte, era das mais fortes e aquilo permitiu comprar 30000

de equipamento. Equipamento esse que está aqui, quando temos aulas de auditorias

energéticas temos estes equipamentos, quando temos aulas de qualidade do ar interior,

poucas são as instituições que têm a qualidade de ar interior que temos e não comprámos

com o dinheiro do estado, comprámos com a mais valia do projeto, limitámos, fizemos a

formação, vendemos um serviço a um preço e demos margem para fazer esse

investimento. Isto foi uma janela de oportunidade, provavelmente, diria que se as pessoas

forem obrigadas a pensar nisso se calhar encontram mais janelas de oportunidade e

poderão, por exemplo no que respeita a equipamentos ultrapassar algumas dificuldades

sobretudo se pensarmos em equipamentos reais, equipamentos que permitem trabalhar,

organizar trabalho e usar isso para os alunos. nesse campo julgo que há aí algum espaço

onde se pode conseguir e a nível de politécnicos diria que ainda há mais hipótese nesse

campo, quer dizer, mas tudo isso tem uma base limitada, não é, nunca há-de ser a solução

mas faz parte da solução, às vezes acontece conseguirmos isso, às vezes há nichos de

mercado onde é possível trabalhar, agora, aumentar as receitas sem ser pelas propinas...

onde é que consegue, é alterar conceitos, dizer assim, o docente tem, mesmo sem mexer

na dedicação exclusiva, tem 35 ou 40 horas, estas são para ensino, ah mas eu preciso, não,

não precisa, aquelas vamos ter que produzir e portanto vamos pôr em prestações de

serviços ou a formação ou o que for, temos estas horas, é evidente que quando fizer isto

tenho que conseguir gerir a motivação das pessoas mas se não fizer nada, o que é que

acontece, nada. E depois não é só o fazer porque os trabalhos que fazemos, fazemos mas

eles não vieram cá bater à porta, houve iniciativa e houve um tempo perdido em que não

se produziu nada, há pessoas que têm ideias das coisas, que vêm a tal hipótese, que estão

atentas, isso é remunerado como? não tem que ser com dinheiro, mas é remunerado ou

reconhecido como? Talvez seja possível, reavaliando um pouco o que é a função do

docente e do docente do ensino superior em particular, que é um docente que do ponto de

vista de aulas tem sempre menos aulas que o secundário, mas também pode passar para

o contrário e isso seria despedir pessoas, em vez de 12 horas, 24 e tenho metade do corpo

docente a mais, estamos a falar do lado da despesa, prefiro ver do lado da receita. Tenho

este corpo docente, muito bom, já gastei muito dinheiro a qualificá-lo, vou alterar um

bocadinho a visão de como vemos a função e vamos fazer assim, temos aqui o ensino,

temos aqui a modalidade, até pode haver docentes que são tão bons nesta modalidade na

prestação de serviços e há aqui uns docentes que não são tão bons na prestação de serviço,

têm um bocado mais de horas podem fazer isso. Neste momento não posso dizer a um

docente para dar quinze horas porque o máximo é doze, já às vezes fazer ajustes, num

semestre dá 15 no outro dá 9, já está nos limites, está ali a média, a regra diz média, já

temos esse problema agora se disser em vez de doze dá 16, tenho que ter cobertura para

isso mas isso obriga ao pensamento do que queremos fazer, vai a 16 porque quero poupar

em pessoal docente e estou a atuar na despesa ou é 16, se for necessário e em condições

em que o serviço docente não se altera por uma regra qualquer que diz que se um dá 16 o

outro dá 9, isto bate tudo certo e não é maneira de mandar ninguém embora nem maneira

de reduzir efetivos, é uma forma de distribuir trabalho pelas pessoas consoante as suas

apetências, aí podemos conversar de outra maneira.

Patrocinadores ou mecenas da instituição...

Acho que isso tem limites, em certas áreas, de laboratórios e assim, acho que se pode

fazer e mais uma vez, não é a solução mas pode fazer parte de soluções pontuais, de certos

equipamentos, certos laboratórios acho que é possível. Mas para se fazer isto são precisas

pessoas porque até para falar com os mecenas, é preciso que alguém fale com eles e para

falar com eles é preciso pessoas que sintam, deixei de fazer o meu doutoramento ou a

minha investigação ou a minha prestação de serviços ou a minha qualquer coisa e faço

isto e isto é reconhecido. Porque se digo, há uns que vão aos mecenas, há uns que vão às

prestações de serviços que dá dinheiro, há uns que vão não sei o quê, há uns que fazem

os papers, progridem na carreira e os outros que vão aos mecenas e não sei o quê, ficam

muito felizes porque fizeram uma coisa interessante e ficam cá em baixo... mas isto é a

tradição, se olharmos para a nossa história, essa é a nossa história, as progressões de

carreira são todas nos papers, não 100%, estarão em 80%, portanto, o sinal que dou

sempre às pessoas é, vejam lá, primeiro tratem da vossa vidinha e isto é um conceito que

tem que mudar porque senão mudar... para ir buscar esse dinheiro é preciso alguém que

vá lá. Pode dizer, mas a gente contrata aí uma equipa e uma empresa especializada de

consultoria e vão eles lá... contrata? há-de dizer-me como.

Pode identificar algum patrocinador aqui da instituição se existem?

Não temos patrocinadores, temos algumas ligações ou tivemos historicamente algumas

ligações que nos permitiram por exemplo equipamento, por exemplo, a Pioneer quando

fechou a fábrica aqui no distrito, que era uma das principais fábricas que tinha, houve

aqui um movimento de liquidação, quando acabou tinha equipamentos muito

interessantes e uma parte desse equipamento veio aqui para um laboratório num dos

edifícios e portanto foi uma aquisição. Também acontece muito com grandes empresas

como a PORTUCEL, às vezes existir equipamento que para eles já perdeu algum valor

ou há uma substituição natural das regras de mercado que exige mas aquele equipamento

ainda pode continuar a ter utilização para nós nas aulas, nas grandes empresas isso

acontece, LISNAVE, tem-nos acontecido ao longo do tempo.

Quais os moldes dos protocolos ou contratos celebrados? O que vem para vocês e

quais as contrapartidas deles, se existem.

Normalmente querem os resultados, há um objetivo, uma razão para o que queriam, há

os resultados. Para nós, agora depende das situações, pode vir simplesmente uma

remuneração à instituição, é a situação típica, remuneração à instituição pelo serviço

prestado. Em termos de investigação, a situação habitual é de parceria, ou seja, há um

fundo comunitário ou nacional que apoia a investigação em determinadas áreas, a escola

com a empresa ou a empresa com a escola ou com o instituto viram uma oportunidade e

candidatam-se a esse fundo e esse fundo financia a atividade que há para desenvolver e

agora depende um pouco se houver equipamentos envolvidos, onde estão esses

equipamentos, onde se desenvolver a atividade, se for numa empresa, está numa empresa,

se for na escola ou instituto, é natural que fique aqui, depende do tipo de projeto.

Como vê a autonomia do ensino superior?

Vejo com contratualização de curto e sobretudo longo prazo, por períodos de quatro,

cinco anos, em que as instituições têm um financiamento e as instituições têm que

responder com resultados, avaliados por instituições independentes, quer dizer, por

exemplo, temos aqui nas tecnologias algum problema com o insucesso escolar, um grande

nível, quando tentamos medidas que pudessem favorecer o sucesso escolar, a

contrapartida é imediata é dizer assim, isso é facilitismo, ok, será? está medido? se uma

instituição diz, dêem-nos o financiamento porque nós andamos com 40% ou 30% de

sucesso, vamos passar para 60%, recebo o financiamento, consigo os 60% e a pergunta

óbvia seguinte é, e estes 60% que pessoal é que é? e isso precisa de ser medido para que

não haja dúvidas do que está em causa. Essa avaliação da qualidade do serviço prestado,

no nosso caso é as investigações e prestações de serviços têm avaliações automáticas, está

ali, ele queria, nós fornecemos, há avaliação pelos pares, isso aí está relativamente

controlado. Curiosamente, a única coisa que não está controlada é aquilo que acontece na

instituição, os alunos, e estes não têm controlo, este não tem avaliação a não ser no

mercado e nas coisas que aparecem assim caídas do céu, ninguém percebe exatamente

como, não tem controlo. Falta perceber a avaliação, as instituições serem obrigadas a ir

ao mercado e perceber o que o mercado quer, porque é que quer e contratualizar, não

temos que fazer formação exatamente à medida, o ensino superior não deve ser uma

instituição para fazer formação à medida mas tem que dar ferramentas aos alunos para

terem sucesso no mercado de trabalho, a não ser que o objetivo não seja formar para o

mercado de trabalho, podem formar-se porque gostam de tirar o curso, produção de

conhecimento pura e dura, está bem, mas quem é que paga isso. o Estado, já há um

conjunto de cursos, bem isso também é uma avaliação, não precisa de ter mercado, não

precisa de emprego, nada, precisamos de pessoas assim, de acordo, não tenho nada contra,

mas isso está a avaliar-se quem recebe.

Com esta alteração pelo RJIES da abertura do ensino superior ao exterior, com a

constituição do CG e representantes externos, considera que de alguma forma esta

entrada de membros externos pode ter ingerência na autonomia do ensino superior?

Ainda pouco, como disse os CG ainda funcionam mal, funciona com pouca ambição e

tem algum pudor no controlo da instituição, pudor de pedir esta cópia e porque é que é

assim e porque não é e aqueles resultados e aquele indicador e estes alunos... o CG

funciona muito mal como acionista, como avaliador, não funciona, está ali, o que é que

vocês acham, olhe por exemplo, toda esta conversa que estivemos aqui a ter podíamos

fazê-la no CG, ai era engraçado, e se fizéssemos, um concorda o outro discorda, obrigada,

boa tarde e fica tudo... às vezes é interessante conversar mas não ata nem desata. As

pessoas ainda não sentem que têm ali uma responsabilidade e como apesar de tudo a

maioria do CG é interna e como os centros de decisão, alguns centros de decisão estão às

vezes demasiado dentro, é um conselho de gestão que tem um presidente e uma

administradora e tem os diretores dos vários escolas, acontece que se colocar, com estes

docentes que são diretores, também nada os impede de se candidatarem ao CG, também

lá estão muitos deles, por questões de política, não interessa. Quando chegamos ao CG

estes diretores já estão comprometidos com a presidência, já tomaram decisões, andaram

ali e tal, arranjaram um consenso e quando chegamos ali não vamos partir a loiça que já

foi partida antes e portanto quem está de fora parece bem, tudo calmo, sim senhor,

obrigado, diz-se umas coisitas e vamos embora. Ainda não são mas podem vir a ser, isto

noutros países faz-se de outra maneira e há pessoas com uma visão muito forte nesse

campo, é existirem representantes do próprio poder, o governo diz, nós colocamos um

representante dos nossos interesses, porque em bom rigor e quem é que representa o

dinheiro dos contribuintes na instituição? ninguém. As instituições têm autonomia e o

estado tem a obrigação de dar dinheiro se tiver dinheiro, mas ninguém responde, têm

autonomia não respondo, mesmo que tivesse autonomia, mesmo no tempo em que

tiveram mais autonomia, o estado às vezes não sabe bem o que quer, não sabe se há-de

financiar 400 vagas de psicologia ou cem, não sabe se há-de financiar mil em direito,

portanto, o estado é o primeiro a criar confusão porque não sabemos o que ele quer, isto

é um dos problemas graves da gestão disto, é que não sabemos o que o financiador mor

espera de nós e isso é um aspeto fundamental. Com autonomia ou sem autonomia, sem

autonomia dava-nos menos margem de liberdade, mas com autonomia era fundamental

que o financiador dissesse, eu quero isto e isto e isto, mas isso não é autonomia, epá,

também não têm que ter dinheiro ou então, estejam à vontade, mas nós o que queremos é

isto e isto, enfim, com alguma razoabilidade naturalmente, mas os resultados, vocês

controlam os meios e os processos, mas os resultados, o que quero é isto. quero com isto

que tenham não sei quantos projetos com a comunidade, quero que tenham não sei

quantos diplomados, uma eficiência mínima de tanto, de outra maneira, acho que o

dinheiro tem que vir por outro lado. Isto nunca existiu

Mas está estipulado naqueles mega objetivos como a constituição...

você interpreta de uma maneira, eu interpreto de outra, mas aqui a gerir a instituição quem

é que representa o estado, nós é que representamos e interpretamos os superiores

interesses do estado, é o que fazemos. Interpretamos o que o estado quer, às vezes bem,

felizmente nem sempre mal, admito que a maioria das vezes bem para sermos simpáticos

mas na verdade ninguém nos pôs esse poder na mão, ninguém nos diz se estamos a fazer

bem ou mal, a única coisa que nos dizem é vais ter lá menos dinheiro, como sabem, a

conjuntura, estes problemas, menos 5%, menos 10% é a única mensagem e com isto não

se diz nem bem nem mal, é só isso. Se gerir muito bem a instituição levo 5% de corte, se

gerir muito mal levo 5% de corte. São essas diretivas, quando não há dinheiro, o mal

reparte-se por todos, ah mas não devia ser assim, devia haver mérito, ok, mérito é o que?

Mesmo que seja um erro, digam qual o mérito, vê-se perfeitamente que as instituições...

comparem o que é comparável, mas quais os parâmetros, é penetração no mercado, saídas

profissionais, notas de acesso, quantidade de alunos que consegue captar? eficiência do

sistema? digam, zero, absolutamente zero e estou nisto da gestão há muitos anos, umas

vezes mais dentro outras mais de fora, nunca ouvi um indicado do que quer que seja,

estamos preocupados com o que um e outro faz, mas indicadores do financiador mor?

zero, haja mais ou menos dinheiro, às vezes estamos nas vacas gordas e há um governo

que acha que o ensino superior sim, porque não sei o quê, vem um pouco mais de dinheiro,

tira-se de outro ministério para dar a este mas tomar esta decisão de dar mais dinheiro,

nãos se percebe o que é.

Muito obrigada pela colaboração.

Entrevista IP14

Pedia que falasse um pouco da sua formação académica

A minha formação académica, tenho, na altura ainda era o bacharelato de contabilidade,

depois fiz licenciatura em auditoria, pós graduação em direito fiscal e depois pós

graduação em contabilidade. Em termos de percurso académico estive para aí cerca de

dez anos a trabalhar sobretudo em auditoria numa sociedade de revisores oficiais de

contas. Depois ingressei na administração pública na inspeção geral de finanças, ainda

sou de lá, pertenço aos quadros de lá, mas permaneci mesmo em funções inspetivas

durante seis anos, depois estive cerca de três anos no (ministério) em comissão de serviço

no último ano estive no (instituto público) e recentemente aqui, desde setembro. Em

termos de auditorias e inspeções, não tenho muita experiência na área do ensino superior.

O seu cargo é diretor financeiro, do tempo que está no cargo, qual o balanço que

faz?

Diretor financeiro nos últimos tempos a maior condicionante é a falta de dinheiro, a

segunda são os chatos das finanças das quais faço parte, são extremamente exigentes em

termos de report de elementos, estamos a reportar os mesmos elementos de forma

diferente por vezes e perdemos muito tempo a reportar dados. Creio que o futuro será as

finanças, entre outras entidades, através de ficheiros ou irem diretamente à nossa

aplicação ou nós através de um ficheiro mandaram para lá tudo o que eles queiram,

melhor tudo mesmo e depois eles servem-se, temos que ser transparentes e temos que

mandar tudo e eles depois retiram porque temos ficheiros SAF, é terrível, SAF

mensalmente, para além das declarações de IRS, de IVA, de coisas que acho que são

normais e são parecidas também com as que existem no privado, o público está muito

mais desgastado porque tem muitos mais reports, temos o report dos fundos disponíveis,

o report da execução orçamental, o report do SIGO, o report das SCPs, das remunerações

certas e permanentes, eu diria que se calhar uma pessoa, com o horário normal da função

pública, pelo menos é o que o privado diz, não chega para fazer só os reports. Nós, por

vezes quando há assim mais reports, é noitadas para podermos dar conta de tanto report

e o que me parece é que empenhamos muito do nosso tempo para esse tipo de coisa que

não vale a pena. Agora já começa a haver por parte das finanças, creio que é esse o

objetivo, que é de facto haver um ficheiro que podemos retirar das nossas aplicações tanto

de receita como de contabilidade, enviar para as finanças e eles tiram à vontade, mas isto

é um processo que vai demorar algum tempo e eu adoro esse processo. Temos que ser

transparentes, portanto vai tudo para lá e eles estão na posse da informação toda, perfeito,

vamos trabalhar assim, agora não me peçam para estar sempre a dar essa informação, isso

é que é muito complicado. o segundo grande problema, aliado à falta de dinheiro, acordos

quadro para aquisições, temos uma série de regras para cumprir que o privado nem sequer

faz ideia. Temos o acordo quadro, o código da contratação pública e as escolas não se

compadecem com esses timings, por exemplo, agora temos um projeto de investigação

que vai desenvolver um software de um telemóvel específico, para comprarmos um

telemóvel temos que ir ao acordo quadro, contudo, aquele telemóvel que o grupo de

investigação quer investigar, que precisa de mais um telemóvel para continuar o trabalho,

não o temos no acordo quadro, só que eles precisam disso para ontem, estamos no início

do ano, eu tenho a certeza que temos que fazer um pedido de exceção às ESPAP para

poder adquiri-lo no mercado, tenho quase a certeza que vem justificado de acordo com o

que é verdade que são as exigências de investigação é se a autorização virá, mas não vem

amanhã nem depois de amanhã portanto temos que nos munir de acordo com os

investigadores do know how para perceber muito bem o que é e o que não é para fazer o

pedido à ESPAP, enviamos o pedido, ficamos a aguardar e depois é que vamos ao

mercado e isso demora muito tempo. Para irmos ao acordo quadro ainda é pior, a ESPAP

aqui está a demorar para aí um mês a dar resposta, já vi pior, já vi outros sítios que

demorava mais tempo, as ESPAP fazem parte das finanças e é um organismo que detém

este pelouro, que no fundo garantem... a ideia é sempre poupar, não haver fugas, tem a

ver com a agência nacional de compras. Mas com estas coisas todas o processo fica mais

burocrático e a ideia é ser mais transparente claro e isso percebo adoto e respeito. Agora,

há situações em que é um bocadinho complicado e imagine o que os senhores

investigadores me dizem perante essas dificuldades que são impostas, é terrível, não

percebem. e depois há coisas mais estúpidas, voltando à área de informática, está tudo em

acordo quadro, portanto temos de ir a essa tal agência nacional de compras para fazer os

procedimentos. Por vezes podem haver lá computadores a 100 euros, imagine, que ali na

FNAC estão a 50, é uma promoção e eu não posso comprar a 50, eles não percebem, nem

eu mas pronto tenho que cumprir e cumpre-se mas de facto ninguém percebe, porque

além de ser trabalhadora aqui sou contribuinte e por vezes há ali uma certa ineficiência

do dinheiro público que não me agrada, mas enfim. Também há um outro problema e tem

a ver como exatamente começámos a nossa conversa, várias fontes de financiamento do

ensino superior, cada vez mais acho que o futuro será recorrer a outras formas para além

do OE, neste momento, menos de 50% é do OE e pelas propinas a que chamamos receitas

próprias, o princípio do utilizador pagador. Mas cada vez mais como está o OE está a

diminuir, temos que arranjar outras formas, essas formas serão a nível das investigações,

rentabilização a fazerem alguns trabalhos que a casa possa ter know how para fazer, estou

a lembrar-me do ISCAL, tem muito know how que permite fazer algumas prestações de

serviços e fazem-nas mas que não têm grande expressão em termos de valores ainda, é

algo a desenvolver. Mas depois há aí uma grande janela de oportunidade, creio, que são

os projetos comunitários, que também ninguém percebe porque podemos ter um projeto

comunitário em que até vai financiar 100% de uma despesa, mas antes de o dinheiro

aparecer do projeto comunitário, porque depois cada projeto é um projeto mas de uma

forma geral funciona assim, pelo menos os que conheço que também não são muitos, mas

mesmo fora do ensino superior geralmente são assim. Nós candidatamo-nos e somos

aceites, temos um projeto comunitário cujo financiamento é 100%, contudo, depois

vamos ter que arranjar orçamento interno dentro da instituição para o poder cabimentar,

ou seja, temos que ter dinheiro para o pagar e só depois de o pagarmos é que essa

instituição nos vai devolver o dinheiro e isto também ninguém percebe, se já temos o

dinheiro teoricamente, se já ganhámos o procedimento e ganhámos o projeto porque é

que depois ainda temos que arranjar dinheiro da instituição, é um bocadinho difícil fazer

perceber isto às pessoas que se esforçam e aos presidentes das escolas nomeadamente,

tem sido um bocadinho complicado.

Tem impedido a entrada em alguns projetos por causa disso?

Por exemplo este ano tenho receio disso, não tenho experiência nenhuma no ensino

superior sobre isso, fora do ensino superior tenho mais experiência inclusive que as

entidades já nem querem concorrer aos projetos porque nem vale a pena porque tudo é

tão complicado, reaver o dinheiro nem vale a pena e se calhar a execução de alguns

projetos comunitários não está a ser 100% como deveria, justifica-se por aí porque quer

dizer, teoricamente o dinheiro já não é gasto pela instituição, quem vai financiar é o

projeto, o dinheiro vem dali, contudo temos que aplicar as mesmas regras, temos de ir ao

acordo quadro, temos que fazer os pareceres todos à mesma como se fosse o nosso

dinheiro, as regras normais e os senhores professores não percebem muito bem essa parte,

alguns mais do que outros, os poucos com quem tenho falado não percebem mas se calhar

há outros, conheço ainda muito pouco desta realidade, mas acredito que possa

inviabilizar, estamos a concorrer a alguns projetos, estamos a concorrer apesar de ainda

não termos a certeza onde vamos arranjar o dinheiro mas como são projetos de pequena

monta, vamos concorrer e vamos tentar arranjar o dinheiro porque são projetos que

surgiram recentemente, não foram orçamentados corretamente nem nada, mas tudo é

possível fazer-se. Mas tenho receio que internamente não consigamos arranjar cabimento

depois para o executar, não o executando, perdemo-lo. Porque se pudéssemos ter o

dinheiro deste lado antes, por exemplo, há um projeto e ainda há pouco estive a falar com

uma colega, temos um gabinete que é o GIMA, relações internacionais, que se dedica,

está ainda numa fase também a crescer e a aprender, mas um dos grandes objetivos deles

é de facto concorrer a este tipo de projetos comunitários, a outras fontes alternativas, a

colega está a concorrer e depois i8magine que até conseguimos tudo certo e direitinho,

estamos quase no final do ano e queremos executar o projeto e só podemos receber o

dinheiro em 2015, normalmente deve ser isso porque um dos projetos que estivemos a

falar há bocado por acaso foi o ACI, autoridade responsável pelo fundo europeu para a

integração de nacionais de países terceiros, também temos outra que estamos a concorrer

que é da Fundação Calouste Gulbenkian, temos outros com a FCT, esses são os que estão

a andar, agora os outros dois ainda estamos na parte de concorrer. Mas é sempre um

bocadinho ingrato porque neste momento temos um corte tão grande do OE, tivemos

vários mas o último, sem pré aviso foram 2,8 milhões de euros, esse valor inviabiliza o

pagamento dos salários como nós os temos, ou seja, se mantivermos os salários e as

equipas que estão nas várias escolas, não temos dinheiro para pagar salários até ao final

do ano, só temos até setembro. Perante isto, aparecer um projeto, está bem que pequenino,

é pontual, alguém vai decidir o que é mais importante, se é pagar salários ou se é reduzir

mas vamos ter que reduzir obviamente sim. Alguma coisa em termos de salários ou de

contratos, a gente não pode reduzir mais porque cada vez estão piores mas pronto os

salários decorre da lei portanto, há mais uma redução remuneratória acrescida este ano

estamos a aplicá-la mas não tem expressão suficiente para colmatar os 2,8 milhões, haverá

alguns professores que eventualmente não vamos renovar os contratos, temos estado em

conversações com os presidentes das várias UO e apontámos alguns caminhos,

nomeadamente não renovar contratos porque não há dinheiro para pagar aos professores.

Perante isto e perante um projeto comunitário, até pode vir o dinheiro todo em 2015, se

calhar se o presidente da escola não conseguisse dinheiro para pagar os salários,

obviamente que vou prescindir do projeto, parece mais ou menos óbvio mas vamos ver

se conseguimos até porque a ideia deste projeto... por exemplo, temos um que é

pequenino, são 50000 euros, a ideia no fundo também é aprender com este projeto, uma

vez que na equipa não há ainda know how neste âmbito, aprender com o projeto e depois

para o próximo ano arranjarmos novos voos e maiores e temos aí o horizonte 2020, que

será uma grande oportunidade e com valores muito maiores, agora precisamos de começar

mais pequenino para chegar lá.

Tem tido muitos alunos com dificuldades? os serviços sociais...

Têm autonomia não estão mesmo aqui. Consta que temos tido alguns alunos com

dificuldade e a desistir mas não tenho esses dados, apesar de nós em termos de contas

consolidadas pertencermos ao (ISP), os SAS e o ISEL, como têm autonomia, não tenho

muito know how sobre isso.

Apesar de não ter muita experiencia neste domínio, enquanto cidadão, o que lhe

parece o estado do ensino superior?

Se calhar tentamos, e enquanto portuguesa orgulho-me disso, ter um ensino acima da

comunidade europeia, provavelmente, ou seja, tanto quanto consta, estou a falar do que

ouço, não tenho conhecimento de causa, nós temos... eles chamam horas de contato, a

nossa carga horária semanal é muito superior à média europeia e daí estramos também se

calhar a gastar tanto dinheiro no ensino público. Acredito que haja outros desperdícios,

acho que há em todo o lado, concretamente aqui no (ISP), que é uma instituição que zela

pelo tostão e daí não termos dividas e a situação não tão... aliás, vim para cá por isso, foi

um dos motivos que me trouxe porque também era diretora financeira noutro sítio, mas

que as contas não estavam tão equilibradas e quem manda não estava muito interessado

em estabilizar as contas. Aqui não, zela-se pelo tostão e qualquer tostão que é para gastar

convém e tentamos dizer isso às escolas e que as escolas haja uma interajuda, é uma

grande dificuldade é que cada escola está por si, o ISCAL só pensa no ISCAL, a ESE só

pensa na ESE e por aí fora...

Mas há solidariedade entre as escolas...

É muito difícil porque não é bem uma regra, fazemos um suborçamento para cada escola

e até agora e os serviços aqui da presidência também tinham um suborçamento, esse

suborçamento estaria um bocadinho inflacionado para fazer face a alguma escola que

precisasse mais, isto provavelmente vai acontecer mas não com a mesma dimensão

porque os serviços da presidência não ficaram com inflação nenhuma, ou seja, este ano

vai haver necessidade, todas as escolas vão sentir necessidade de ter mais dinheiro, este

ano realmente a situação é um bocadinho aflitiva, mas no passado o que tem constado éw

isso é que de facto é difícil de haver essa solidariedade, contudo o nosso presidente tem

apelado e tem feito reuniões alargadas com todos os presidentes das escolas e diretores

no sentido de sensibilizar para a necessidade de fazer cortes, isto desde que cá estou.

Entrei em setembro e para aí na terceira semana começámos a ter este tipo de reuniões

com os presidentes, agora para 2014 já tivemos também, portanto, isto é uma coisa que

acontece com alguma frequência e tem que ser. Agora, a par se calhar de termos um bom

ensino com essa grande carga horária, tanto quando dizem que, não sei se é verdade ou

não. agora estamos a destruir isso, como é que conseguimos com um corte tão grande,

fazer o mesmo? é fazendo com que, sei lá, um curso pode ter de dez a quinze horas, estou

a inventar números, por semana, ok, então vamos para as dez, estávamos nas quinze,

temos que passar para dez ou onze, está a ver o que temos de fazer . Existem algumas

experiências em algumas escolas, estou a lembrar-me de saúde, era necessário mais

alguns materiais, mais alguns equipamentos e não há possibilidade de comprar os

equipamentos que estão aí no topo de gama, o que é um bocado complicado, tem que

estar sempre no limite. Este ano acho que vai ser um ano em que vamos perder muito.

Por exemplo, o ISCAL tem uns programas que fazem determinadas simulações de

empresas e tudo mais, vamos ter que parar ou ter o que temos e não avançar mais. Cada

escola tem os seus constrangimentos, por exemplo o ano passado tivemos que fazer umas

obras, algumas escolas já fizeram e em cadeiras teóricas juntam duas turmas, depois havia

o problema é que não havia sala para caberem as duas turmas porque é uma situação

completamente diferente, não era de todo habitual, então houve aí uma das escolas que

tivemos que partir uma parede e fica a sala para as aulas teóricas. Claro que depois

também temos aí alguns cursos, estou-me a lembrar da dança, a música, em que tem que

ser um professor, um instrumento, portanto, um professor, um aluno, é um curso muito

caro e não podemos abrir mão disso. Agora, naquilo que é possível, o que estamos a

degradar, porque acho que se tivermos 30 alunos ou 60, obviamente que não conseguimos

chegar aos 60 alunos, será uma coisa mais superficial. Tanto quanto sei o ISEL já tem

algumas aulas assim grandes, o resto das escolas não tinha. Agora não temos outra

solução, é mesmo ter de adotar este tipo de medidas que obviamente vão prejudicar o

ensino, não há dúvida.

Tem alguma situação de saldos cativos que não possam gastar por causa da lei

contenção orçamental?

Temos todos os anos cativos sim, já no ano passado tivemos, este ano desses cativos

temos para já 200000 euros, estão lá mas não se pode mexer. o pior são os 2,8 milhões,

tínhamos um orçamento carregado, para já não podíamos carregar o valor que achávamos

que era correto, tanto em previsão de receita própria, como em termos de OE. O OE dá-

nos um plafond e temos um plafond, não tenho aqui bem os valores, 30 milhões e depois

de estar tudo carregado, estarmos no final do ano, vamos à aplicação da Direção Geral do

Orçamento onde carregamos os orçamentos e reparamos, ops, mas os 30 milhões já cá

não estão e então estavam 27,3 milhões, simplesmente chegaram lá e tiraram 2,8 milhões

sem dizerem nada, não houve qualquer conversa, normalmente quando há cativo

sabemos, há uma legislação que sai nesse âmbito, claro que o OE ainda não estava

aprovado em AR, portanto eles não têm... mas o facto é que nos foi atribuído um plafond

via ME, há uma entidade que é a nossa entidade coordenadora em termos orçamentados

que nos informa qual o montante para aquele ano e depois se calhar nas contas de todos

os orçamentos de todo o país, não só das escolas mas por ministério, teve que se fazer

mais um corte e para nós foram 2,8 milhões e é impossível com menos este dinheiro fazer

alguma coisa e isto acumulando ao que os professores e os presidentes das escolas já

tinham vindo a reclamar que já era impossível com os cortes anteriores, quer dizer, para

além de acomodar o anterior ainda temos mais este, não sei... depois também acho que há

uma coisa que vai prejudicar a longo prazo também os alunos que é o facto de os

professores ficarem desmotivados, toda a gente, aliás, não precisamos de ir aos

professores. Tenho aqui pessoas a ganhar 700 euros brutos, que levam para casa se calhar

500 e tal, 600 e agora têm redução remuneratória, pessoas valiosíssimas que têm formação

superior e que já tinham um salário maior, vão para o privado sempre que podem, aliás o

meu antecessor foi embora porque foi para o privado, estamos sempre a ser reduzidos nos

salários, não compensa e sobretudo em cargos dirigentes que é o meu caso em que a

responsabilidade é tanta, por exemplo, se me engano compro o telemóvel, não vou ao

acordo quadro e vou ali à Phonehouse, posso ter que ser responsabilizada financeiramente

e ser eu a pagar esse telemóvel, um telemóvel nem é das coisas mais caras, agora imagine

uma coisa muito mais pesada, posso ser responsabilizada, portanto, com estes cortes de

salários, não é possível. Para ter noção, eu estava numa sociedade de ROC e vim trabalhar

para a EGF para o público como estagiária no primeiro ano ganhava um pouco menos,

fui ganhar metade mas na altura achei bem porque tinha a ADSE, se bem que no privado

tinha um seguro de saúde muito melhor que a ADSE mas reformava-me aos 55 anos,

diziam na comunicação social que havia jornada contínua e achei aquilo interessante,

nunca tive jornada contínua, sempre trabalhei até tardíssimo, a reforma aos 55 anos

também não tinha jeito nenhum, mas quer dizer, mudei do privado para o público com

determinadas expetativas que se foram todas embora e tenho que viver com isto

diariamente perante os meus colegas que ganham ainda menos do que eu, mantê-los

motivados é quase impossível. Claro que há alguns que ficam porque também faz parte

deles e temos que arranjar outras formas de os motivar, é uma coisa com que nos

preocupamos aqui, tentamos fazer mas é muito difícil e em última instância o aluno é que

vai sofrer com isso porque o que acontece aqui, tenho mais colaboradores da área

financeira, departamento de compras, etc., mas isto atinge também os professores, os

cortes são para todos.

No seu entender, além das propinas dos alunos, dos projetos europeus que falou,

outras alternativas de financiamento?

Temos alguns projetos de investigação com alguns professores do ISEL, projetos com a

Brisa, com a Miele, protocolos com (o banco) em que eles nos pagam um valor, não sei

se costuma ser assim nos outros anos mas em 2013/14 há assim um valor mais avultado,

os nossos investigadores vão fazendo o trabalho deles mas entretanto recebemos ainda

algum dinheiro jeitoso a esse nível, estamos a falar de umas centenas de milhares de euros,

creio que para trás não terá sido assim mas entretanto esses investigadores foram-se

afirmando no mercado, nomeadamente Miele, Brisa, Galp e (o banco) entra como

parceiro e vão dando resposta, as empresas ficam muito satisfeitas porque também lhes é

muito conveniente e garantimos aí um financiamento interessante. A par disso, acho que

há algum know how nas escolas que temos que rentabilizar mais, poe exemplo, no ISCAL

temos fiscalistas, contabilistas que podem dar pareceres, acho que temos ali um potencial

de prestações de serviços que poderão ir ao mercado, sei que o TC já contratualizou com

o ISCAL determinadas prestações de serviços mas ainda é muito pouco, o próprio TC

também tem cortes, portanto, isto é tudo um ciclo vicioso, mas creio que é um mercado a

desenvolver porque temos pessoas tão válidas, que se calhar em colaboração com alguns

alunos, se calhar através de bolsas, poderíamos rentabilizar mais. Estamos também a tratar

de instalar aqui no campus umas salas para fazermos saúde ocupacional, medicina do

trabalho que é obrigatório no privado e público. Contudo no público, a experiência que

tenho diz-me que provavelmente ninguém tem ou seja não cumprem a legislação e não

têm medicina do trabalho portanto os funcionários não vão como no privado ao seu

médico, fazer as suas análises e isso. Uma vez que temos uma escola que é de tecnologias

de saúde e temos lá algum equipamento, sobretudo know how, estamos a pensar fazer

esse gabinete de saúde no campus e não fizemos porque não tínhamos dinheiro, iniciámos

o procedimento mas depois ficámos com receio de não ter dinheiro até ao final do ano,

portanto, este ano ainda está pior mas vamos tentar pegar outra vez no assunto para

tempos o nosso próprio gabinete para todos os funcionários do (ISP) mas será um projeto

mais ambicioso, é também podermos dar resposta aos outros serviços públicos e não só

dessa obrigatoriedade que têm e a maior parte ainda não cumpre, existem aí algumas

empresas privadas que prestam esse tipo de serviços em que dizem que a qualidade não

é nada de especial, é só para cumprir a lei, portanto fazendo a coisa bem feita, temos uma

janela de oportunidade se calhar muito boa porque no privado ainda vão cumprindo mas

no público não, no público a exceção é cumprir. devo dizer que quando entrei para a AP,

até achei que, não sabia que era mesmo assim, conhecia um pouco a legislação do privado

e mesmo assim só estas partes mais da área da contabilidade e fiscalidade, sabia que no

privado era obrigatório e no público nem sabia que era obrigatório porque nunca ninguém

tinha falado nisso, só passado alguns anos é que me apercebi que era obrigatório, o próprio

estado devia dar o exemplo, mas também com estes cortes todos, onde havemos de cortar?

nos professores, nos salários ou neste tipo de coisas? é neste tipo de coisas.

Falou-me de parceiros, Brisa, (banco), tem protocolos com estes parceiros? quais os

moldes desses contratos?

Estão na página da internet se quiser consultar, não lhe sei bem exatamente dizer mas sei

que estamos a receber dinheiro desses protocolos, não é tanto um protocolo será mais um

contrato e a nossa equipa de investigação também tem que dar os seus relatórios do seu

trabalho. O (do banco) temos duas vertentes, uma vertente que é uma parceria em que a

(banco) nos dá cerca de 25000 euros num desses e nós temos também uma contrapartida

que é perante esses 25000 euros, a única entidade bancária que pode estar na escola é a

(banco) e os cartões e tudo mais e têm logo ali o balcão da (banco) para abrirem conta e

é um bom negócio para a (banco) porque fica ali com uma série de clientes e para nós

também é bom porque não temos que pagar cartões e ainda recebemos 25000 euros.

Depois temos ainda um outro protocolo em que é mais por mecenato, em que a caixa nos

doa determinado montante e temos depois de prestar contas à caixa onde é que utilizámos

esse montante e onde o usamos, os prémios aos melhores alunos, bolsas, coisas assim de

mérito que acho que são muito importantes, motivam os alunos e nesta fase me que o

dinheiro está caro, não abunda para a classe média baixa, os pais têm imensas dificuldades

em ter os filhos a estudar, acredito que haja bons pais a passarem necessidades para

investir na educação dos filhos, alguns se calhar nem se apercebem bem disso e andam

para aí um bocadinho. Se calhar só não desistem mais porque os pais acham que é um

investimento e que têm que fazer um esforço enorme, se calhar até a ficar com

empréstimos bancários, socorrer-se da família toda para que o filho passados quatro anos

tenha um bom emprego, o problema é que passados quatro anos nem sempre tem.

Houve uma lei em 92 que institui o pagamento de propinas com um valor mais

atualizado do que até então. O que acha da existência de propinas?

Acho que se tem que pagar qualquer coisa, não me parece que seja correto... voltamos à

pessoa dos 670 euros que com descontos levava para casa 500 euros, não me parece

correto que essa pessoa tenha que pagar as propinas da minha filha que eu posso pagar.

Claro que depois os SAS também têm que dar bolsas a quem merece, agora o problema

é sempre o mesmo, a fuga aos impostos, ou seja, tudo isto baseia-se, quem é que paga

impostos, é quem declara e dentro de quem declara há os honestos, também há quem os

chame de parvos, não acho, porque o português, de uma forma geral, tenta fugir aos

impostos e a questão é que tudo isto está baseado na declaração de imposto, portanto, se

é um trabalhador independente que declara o que quer claro que o seu filho poderá vir a

ter bolsa e não merece. Agora, num mundo perfeito em que a declaração de rendimentos

espelha o nosso rendimento real, acho que se deve pagar propinas, sim, agora se são 1000

ou se são 500 euros, acho que nesta altura do campeonato em que há pessoas a passar

fome, em que até se calhar há uma pessoa que recebe 1000 euros e depois leva para casa

800 e o marido desempregado e o filho mal tem dinheiro para comer, não é justo que

pague a propina, o que alguém poderia pagar como propina, acho que nesta altura faz

sentido que se pague propinas mais do que o resto. Agora, os SAS também têm que ter

algum rigor, tentar não ir só à declaração de rendimentos, uma vez que sabemos que,

principalmente os independentes declaram o que querem têm que ir ao valor do

património, a pessoa tem casa paga, tem carro, qual o carro, isto se calhar é entra um

bocado na vida da pessoa mas só pede bolsa quem quer e se realmente precisa não tem

qualquer problema em se expor. No mundo perfeito devia de haver bolsas e nesta altura

serem aumentadas e não diminuídas para que quem tem valor e quer aprender possa

realmente tirar um curso superior. Agora as declarações de rendimentos deveriam ser

bem... se calhar começava por aí, se calhar o país também está como está porque as

pessoas não declaram tudo o que ganham e se calhar o problema é mesmo esse. Também

é uma questão de cultura, temos que arranjar mais inspetores mas o pior é que estão a

fugir para o privado porque cada vez recebem menos.

No seu entender, qual julga ser o dever do estado perante o ES público? Deve

financiar, legislar...

Mais leis não, por favor, acho até que era para incendiar todas as leis para trás e fazer-se

uma única em que se punha tudo porque fazer leis de remendos é preciso... a pessoa pode

ter um doutoramento sem problemas nenhuns na área financeira, entra numa entidade

pública tem que ter outro porque há tanta lei, acho que ninguém faz ideia da quantidade...

para uma pessoa ser diretora financeira, para além de ter que ter conhecimento de

contabilidade, um bocado de fiscalidade tem toda a legislação da contratação pública, epá

não, poupem-me. É óbvio que o estado tem que financiar uma parte pelo menos do ES

mas mais uma vez tendo em conta o aperto que as famílias, que nós cidadãos estramos a

ter, acho que o ES também deve procurar alternativas de financiamento. Acho que as

entidades públicas durante muito tempo ficaram à espera que caísse do céu e não, acho

que temos que ir à procura de financiamento, de parcerias, de fontes de rendimento mas

isto é muito fácil falar porque isto mais uma vez é uma cultura, não sou eu que posso

dinamizar e incutir isto nos outros por mim só, tem que ser ao mais alto nível, tem que

começar pelos presidentes das escolas e nem todos acham isto, há sempre uns quantos

que estão a receber o seu salário no final do mês e outros há que se esforçam por arranjar

verbas alternativas até mesmo para se financiarem a eles próprios porque nas nossas

vários UO, normalmente temos esta, o ISCAL tem projetos de emitir pareceres,

nomeadamente para o TC, essa receita é para o ISCAL não é para o (ISP) de uma forma

geral o que também é uma forma de os incentivar a ter mais receitas mas não está a resultar

muito.

Então nesses projetos próprios de cada escola, o dinheiro vai para a própria escola...

Não em todos, em quase todos de uma forma geral é assim. depois há outros, por exemplo,

a Brisa são aqui dos serviços de presidência, esses protocolos com (o banco), esse apoio

foi tudo desenvolvido aqui pelos serviços da presidência e também são de cá. Agora, a

ESE por exemplo tem projetos comunitários que vão para ela, a (escola) também tem

projetos, (escola) também, (escola) tem vários e a de saúde também, não me lembro de

mais, é capaz de haver mas acho que não.

Em relação à autonomia financeira do ISEL...

Existe legislação que prevê que pode ser dada autonomia financeira que decorre do

número de alunos e do valor da receita, não é só o número de alunos, são três critérios

cumulativos, está na lei.

Considera que as escolas do politécnico deveriam ter autonomia ou acha que está

bem assim?

Voltando a pensar como cidadã, contribuinte, acho que faz sentido não terem autonomia

e os serviços estarem aqui centralizados porque as escolas não têm knowhow para faze

bem feito, ou seja, as escolas não sabem contabilidade como aqui podemos saber, não

sabem comprar como aqui podemos comprar. todas as várias escolas teriam que ir buscar

ou então não iam buscar e fariam mal feito, não cumpriam a legislação em vigor, teriam

que ir buscar alguém que percebesse mais de contabilidade, alguém que percebesse mais

de receita... não imagina as coisas que temos que conferir toda a receita e toda a despesa,

centralizamos aqui tudo o que são aquisições e quando cheguei havia situações que não

eram tão controladas e nem imagina o que nos aparecia, coisas completamente fora do

rigor e da legislação. Isto acontece porque se calhar somos sempre poucos aqui por

exemplo temos uma equipa que tem muitas atividades e uma das coisas que tem que fazer

é conferir a receita que vem das escolas nunca pode conferir ao tostão todos os itens, mas

de uma forma geral fazem determinados testes e amostras e para além de conferirem e

detetarem erros e perguntarem às escolas e proporem soluções para as escolas corrigirem,

acho que são sobretudo aqui um call center, ou seja, uma escola tem uma dúvida e

pergunta sistematicamente como se faz e se o faz em relação ao BABA quanto a mim é

porque não tem capacidade de o fazer. conheço pouco os colegas das escolas mas não têm

esta... não têm de todo. Aliás, estou a lembrar-me da ESD, é tão pequenina que não tem

quase ninguém e aí fazemos tudo cá praticamente, receita, despesa, fazemos cá tudo

porque não têm funcionários lá e então arranjámos aqui um esquema e fazemos o que as

outras fazem, por exemplo, o ISCAL faz a sua receita e despesa, nós aqui compramos, o

pagamento é sempre feito aqui mas eles têm alguma autonomia, têm autonomia

administrativa, agora a dança não tem, não tem ninguém, era quase impossível essa escola

ter autonomia. Agora se os critérios devem ser os que existem ou outros, não sei, são

critérios, mas faz sentido que haja esta consolidação.

Também se racionalizam os recursos assim do que se tivessem cada serviço em cada

escola...

Eram precisos pelo menos mais dois funcionários em cada escola e se calhar o risco de

as coisas virem mal feitas era muito grande e estou a falar de mais dois funcionários,

centralizando aqui acho que faz sentido. Acho que devíamos centralizar mais ainda, ou

seja, há gabinetes nas escolas que para mim não fazem sentido, acho que faz sentido que

exista sempre alguém para atendimento ao público, mas tendo em conta em que por

exemplo temos aqui um campus em que tendencialmente virá tudo para aqui, isto é um

pouco utópico porque o ISEL nunca virá e a ESTS também não porque já nem cabem.

Acho que por exemplo, temos três escolas de artes com três diretores e três diretores

intermédios, ou seja, equiparado a mim e dirigentes de nível superior, ou seja, como se

fossem presidentes, o cargo é equiparado, tem a ver com a orgânica na altura que se

estabeleceu, que normalmente seria presidente mas há um ou outro que é diretor, se calhar

bastava um para as escolas de artes, podíamos pôr as três escolas num edifício só, ter um

único presidente ou equiparado e um diretor de serviços e se calhar em termos de pessoas

que estão no atendimento ao público, a receita, a segurança, era tudo mais poupado, mas

aí estou a falar mesmo de juntar as casas. em termos de serviços acho que se devia

centralizar mais mas isto depois é um bocado complicado porque cada presidente acha

que se perder este tipo de tarefa vai se calhar prejudicar a sua autonomia e se calhar

sentem-se ameaçados e também há situações em que é bom estar junto para dar a resposta

imediata ao aluno, não sei, mas pelo menos aqui no campus acho que podíamos começar

a fazer isso, estamos a tentar arranjar essas sinergias em termos de, por exemplo,

segurança, o mesmo vigilante que está a fazer a ronda faz a ronda das três, depois quem

paga esta despesa, já não vai para os suborçamentos de cada escola, vai para o nosso, mas

isso estamos cá também para assumir toda a segurança exterior do campus, digamos

assim, somos nós aqui dos serviços da presidência que pagamos, pagamos tudo mas

pronto, sai por esse suborçamento. E agora vamos começar a fazer ainda mais porque

cada escola tinha a sua própria ronda. a questão é que por exemplo, isto está de tal

maneira, de pele e osso em termos de cortes que há situações em que uma escola em que

para o segurança fazer a ronda exterior do edifício ou até interna, às vezes trancava a porta

e às vezes estavam lá alunos a estudar, claro que os alunos já sabem e esperam um

bocadinho e tudo bem, mas isto não é solução, não é correto, quer dizer, há uma

emergência o aluno quer sair e não pode e como isto é mais ou menos comum às três

escolas que estão no campus neste momento, então o segurança vai acabar por sair mais

cedo, esse fixo, com a porta aberta porque por exemplo, música tem que se fechar a porta

porque estão lá instrumentos valiosíssimos, se ele deixa a porta aberta, alguém pode sair

e pior que isso, alguém pode estragar porque são coisas tão caras, às vezes mais de 70000

euros e então vamos ter um segurança pago por nós que vai fazer a ronda e assim já não

é necessário que esse tal segurança feche a porta, feche os alunos para poder fazer as

rondas e então esse segurança fará tudo. Este tipo de sinergias de estarmos juntos, de

pertencermos ao (ISP) faz todo o sentido, agora temos que aproveitar melhor ainda. Se

eu mandasse, a ESTC é recente em termos de edifício, a de música é nova, se calhar faria

as três escolas, em vez de ser só um piso se calhar fazia três, no caso de musica é

complicado por causa da acústica e aquelas coisas complicadas, o teatro e cinema também

terão as suas especificidades e a dança tem que ser o chão, um piso especial mas em

determinadas salas, portanto se calhar faz sentido na escola de música ter mais um andar

ou dois e estar lá tudo e já viu a poupança? não só este ano é daqui para o futuro, basta

um presidente e um diretor de serviços e se calhar uma série de pessoas que estão abaixo,

só uma pessoa que está no atendimento aos alunos e a emitir os recibos, há uma por escola,

a dança não tem, mas as outras têm pelo menos um funcionário desses, haverá sempre

duas em cada escola para fazer isso por causa das férias e tudo mais mas duas podiam ir

embora. Mas depois também há a área académica, se calhar é a mesma situação, pelo

menos uma pessoa em cada escola, estamos a falar de três escolas, podíamos canalizar

três pessoas para outro serviço não é mandar embora, não estou a dizer para as despedir

e aumentar a taxa de desemprego.

Está a falar-me de cortes. Desde que veio para cá, foi quando os cortes para o

orçamento começaram a ser mais fortes, tem um orçamento para gerir, quais as

áreas que se cortam primeiro? Já me falou da segurança...

A segurança tem sido aquela mais fácil de cortar, tínhamos três vigilantes e passámos a

um, claro que as escolas têm que ser responsabilizadas mas a segurança tem sido fácil,

comunicações móveis e fixas, renegociação de alguns contratos, alguns muito fáceis,

outros que ainda está a ser um parto mais difícil, há aí umas potencialidades que não

domino muito bem mas são os números 30, que permitem através da Vodafone poupar

muito dinheiro através das comunicações fixas também, limitar os acessos, por exemplo,

nem toda a gente pode fazer chamadas para números de telemóvel. A nível de água e luz

já tinha havido alguma sensibilização a esse nível e a manutenção dos edifícios

simplesmente não está a ser feita porque não há dinheiro, se for ver a ESD, aquilo está

praticamente a cair, a ESD é do género, cai o telhado, repomos o telhado, há aqui mais

uma fuga de água mas já há lá várias fugas de água neste momento e têm lá muitos baldes.

Mas não há dinheiro suficiente, este ano nem pensar, aliás é mesmo manter a estrutura do

edifício para não ir abaixo, o ISCAL tanto quanto sei também precisava de grandes obras

não estamos a fazer, a ESTC, apesar de ser relativamente recente também está com

grandes problemas de infiltrações, problemas do terreno que está a mexer em baixo, a

estrutura está a ceder e precisava de uma intervenção urgente e cara que está

completamente fora de questão porque não temos qualquer hipótese de fazer esse tipo de

intervenção. A ESD a parte melhor que está foi quando há dois anos o telhado caiu e aí

tivemos mesmo que arranjar solução e conseguirmos mas como foi há dois anos ainda se

conseguiu arranjar dinheiro mas foi o telhado, uma parte do telhado porque há várias

zonas, é um edifício muito interessante mas é um edifício que para pormos aquilo em

condições para ter aulas precisávamos de um dinheiro que o estado português não pode,

claro que as instalações também são valiosas, é um edifício pombalino ainda só que esses

edifícios requerem muita manutenção e não temos dinheiro, há muitas fugas de água,

janelas que não fecham, zonas muito degradadas, fui lá recentemente e fiquei bastante

preocupada e a ideia é eventualmente sair daquelas instalações porque não temos dinheiro

para as manter.

Quando atribuem o orçamento a cada escola, são vocês que estipulam as áreas onde

as escolas vão aplicar o dinheiro ou são as escolas que fazem essa...

Tudo as escolas, as escolas começam por prever a sua receita própria, das usas propinas,

projetos e tudo o mais e depois a tal entidade coordenadora dá-nos um plafond para todo

o universo (ISP) e depois fazemos a distribuição por escola de acordo com critérios, há aí

também uma portaria e legislação específica de ensino superior que não é propriamente

simples, temos aí uma estrutura montada em excell para tentar chegar mais ou menos aos

mesmos valores que o OE nos dá e depois reaplicarmos isso às várias escolas de acordo

com o que está estabelecido na fórmula. Portanto, perante a receita que têm, a escola

depois vai propor o gastar esse dinheiro e então propõe, pessoal x, mas é tudo a escola e

depois dá-nos. O problema que aconteceu este ano e que tem acontecido aqui e em todo

o lado. Da minha experiência no outro instituto onde estive, o normal é que os serviços

dizem que precisam de dez individualmente, dez serviços a dizer que precisam de dez e

afinal só temos dez. Aqui a proporção não é tão grande, noutros lados havia um serviço

que precisava de tanto como eu tinha para todo o país, está a ver a dimensão. Aqui são

mais comedidos, mais realistas, acho que já foi incutida essa cultura mas eles dizem que

precisavam de um montante, tivemos de cortar imenso e dizer que não podem gastar tanto

porque não há hipótese, não têm receita que consiga colmatar esse tipo de despesa e agora

são menos 2,8 milhões que eles ficaram desesperados a olhar para aquilo, 2,8 milhões não

consigo parar de pensar neste número, depois ainda houve os cativos, esses 2,8 milhões

devo dizer que foram cortados em salários, é mesmo em despesas com pessoal, as nossas

despesas com pessoal são salários, não há muito mais para além disso portanto é

complicado reduzir isso em salários, é uma despesa fixa que não se pode despedir

professores aliás não é assim tao simples. É fácil cortar na vigilância até certo ponto,

tivemos uma reunião há pouco tempo sobre a vigilância porque tivemos que renovar o

contrato, há escolas que apenas têm um segurança durante o dia todo, é impossível baixar

mais e depois há furtos nas escolas também porque como estamos numa fase em que as

famílias têm pouco dinheiro, isto acaba por se ressentir, tanto quanto me constou houve

uma fase em que havia furtos, depois as coisas estabilizaram e agora voltámos aos furtos,

coisas variadas, retroprojetores, bocados de computador, no ISEL acho que há coisas

muito interessantes, abrem o computador todo e tiram só o que é valioso, por exemplo,

no ISCAL é mais projetores, na ESE houve recentemente roubos de computadores fixos,

apesar de haver segurança, em princípio será alguém de dentro, da comunidade dos alunos

ou não necessariamente, não sei, podem ser funcionários, não sei mas as entradas são

condicionadas de uma forma geral.

Já assistiu a alguma reunião do CG?

Do CG nunca estive presente, já decorreram uns dois ou três desde que cá estou mas

nunca estive em nenhum, quem está é o senhor administrador, ele faz parte como

representante dos trabalhadores e uma série de pessoas que algumas nem conheço.

Então de uma forma geral olhando para o ensino superior, embora os politécnicos

já estivessem mais familiarizados com a questão de ter pessoas externas, da

comunidade dentro do órgão de gestão, as universidades não tanto, mas o que acha

da entrada destes membros externos para o ES?

Acho que é uma mais valia, para além de termos de cumprir essa regra, temos que ver

isto como uma mais valia e com a possibilidade de termos novos horizontes, novas ideias,

parcerias, só vejo vantagens nisso, mas se calhar é capaz de ser demasiado formal o CG,

não sei, não se chegar às conclusões de uma forma imediata e ser mais lento e mais

burocrático, é possível mas vejo isto como uma mais valia de termos mais ideias. Há aqui

pessoas no (ISP) que estão aqui a vida inteira, não têm outra visão de outro organismo e

isso também faz falta quer no público quer no privado, acho que é bom as pessoas

rodarem, emprego para a vida faz-me aflição, cria vícios também e o horizonte não está

aberto, faz-se porque sempre foi assim. Em todos os sítios onde tenho passado luto com

esta resposta., sempre foi assim, mas isto não está bem, não cumpre um a legislação, ah,

sempre foi assim, sempre foi assim mas pode estar mal. Se houver pessoas de fora com

outras visões mais atualizadas, não quer dizer que sejam melhores podem ser mais

atualizadas naquele ponto e se calhar pecam no resto mas é bom haver essa abertura.

Sobre os saldos cativos…

Esta de novembro é que a DGO foi ao nosso orçamento e retirou os 2,8 milhões, isto foi

uma situação anómala, é inédito. Agora, todos os anos há cativos, eles decorrem da lei do

OE que todos os anos é publicado em 31 de dezembro, ultimamente tem sido um bocado

atrasado e então estabelece lá os cativos que cada orçamento tem. Ou seja, o nosso

orçamento foi aprovado, está na AR, foi totalmente aprovado, mas mesmo assim tem

aquele corte, aquele corte é mais uma vez no OE, só que aí já se chama cativos não se

chamam outra coisa qualquer.

Então o que quer dizer os saldos que não podem usar?

Na execução do nosso orçamento, temos à escala, dez milhões de receitas mas depois no

final do ano ou porque o fornecedor não executou a despesa ou porque houve um

problema ou porque não precisei mesmo gastar apenas gastei 9,8 milhões de euros e

ficaram 200000 euros, isto é muito dinheiro mas pronto. A ideia que tenho é que a

execução é muito mais ao cêntimo. Mas esses 200000 euros nós podemos usar com

determinadas condicionantes novamente, há um artigo na lei da estabilidade financeira

que diz que se pode usar o saldo desde que não influa na regra do equilíbrio orçamental,

então nós podemos gastar o saldo do ano anterior desde que se cumpra a regra do

equilíbrio orçamental, contudo, temos que pedir autorização para usar o saldo. Essa

autorização até ao ano passado, até para aí setembro, agosto, até a lei ter sido alterada era

claramente da competência do ministro das finanças. Quando houve essa alteração não

ficou claro, ficou na dúvida se a competência era da tutela ou seja do ministro da educação

ou dos reitores ou dos presidentes das IES. Entretanto tenho um documento da nossa

entidade coordenadora a dizer que era do presidente mas entretanto já vieram dizer para

não ligar aquilo porque afinal o entendimento não é aquele, contudo, os saldos que temos

na instituição, em termos de gestão macro, por exemplo, o ano passado não tínhamos

dinheiro para pagar o subsidio em novembro e só tivemos verba para pagar o subsídio,

porque a ideia era pagarmos os 11 meses e não os 12. Os saldos que não se podem usar,

efetivamente isso não é ser cativo, a expressão não está correta, isso carece de autorização

do presidente ou da tutela, como a legislação não é clara, ainda falta perceber, contudo,

mesmo tendo essa autorização, o que se conseguem, tanto do presidente como da tutela,

temos que respeitar a regra do equilíbrio orçamental. O que uma coisa é quase

incompatível com a outra, se vamos gastar, desequilibra, ou seja, podemos gastar até

determinado ponto. de toda a forma, o objetivo desse saldo seria para construção das

escolas, o ISCAL está com umas instalações terríveis e a dança também, portanto, a ideia

é ir amealhando o restinho do saldo da receita própria, não gastamos tudo, ficou lá

100+200+300, ficou lá por forma a conseguirmos uma quantia para construir um edifício,

nomeadamente o ISCAL tem um projeto já está numa fase de aprovação pelo ME, um

departamento qualquer e a ideia é essa da utilização dos saldos. o saldo global decorre

sobretudo do ISCAL porque o resto são coisas que quase não dão para nada, também

depende da dimensão da escola mas são saldos pequeninos, mas o intuito da presidência

seria aplicar na construção da escola e seria aqui no campus de Benfica.

Estratégias de captação de alunos, têm algum tipo de marketing?

O marketing que tem sido feito, algumas escolas não fazem porque não precisam porque

são maioritariamente preenchidas por alunos na 1ª prioridade portanto não têm

necessidade de fazer nenhum marketing. As outras, há um conjunto de escolas que fazem,

isto, evidentemente salvaguardando aquilo que o instituto faz por si mesmo, igualmente

para todos os cursos, que é o caso da participação na futurália, participação em alguns

eventos junto da população do ensino secundário. Depois, há umas escolas, como o

ISCAL e julgo que algumas das artes vão diretamente junto de um conjunto de escolas

secundárias e fazem ações de promoção, temos até um pequeno stand e eles vão. Depois,

em termos de meios de comunicação social, não temos tido nenhuma participação

especifica, desenquadrada daquela que o próprio CSISP (Conselho Coordenador dos ISP)

contratou uma agência e os últimos anos tem passado um spot publicitário na televisão

onde faz publicidade ao ensino superior politécnico, de resto não vejo mais atividades de

marketing nessa matéria.

Tem tido muitos alunos com dificuldades e necessidade de apresentar planos

alternativos de pagamento?

Relativamente aos alunos com dificuldades, não conheço as estatísticas dos SAS mas

depois podemos ver. Relativamente às propinas, tivemos o ano passado uma quebra no

pagamento das propinas em cerca de 8%, andou mais ou menos, no ano passado e

anterior. Curiosamente, neste último ano, 2012/13, tivemos, ao contrário, um excedente

de propinas e a isto não é alheio o facto de a autoridade tributária aceitar que o não

pagamento da propina constitui uma infração fiscal e integrou-a como um tributo e sendo

um tributo pode ser objeto de execução fiscal. Portanto, não sei se foi isso ou se foi outro

tipo de motivação, a verdade é que tivemos uma grande recuperação de propinas que

estavam em atraso, de gente que não pagava, de gente que até já tinha acabado os seus

cursos e que deixaram algumas dívidas e fizemos um trabalho um bocadinho de

persistência, digamos assim, sobre essas pessoas e tivemos um excedente de propina em

relação ao que estava previsto, houve escolas que cobraram acima de 10% a mais, 15%,

houve uma recuperação, mas não sei se foi para fugir a uma eventual execução fiscal mas

quer o CSISP quer o CRUP junto da administração fiscal desenvolveram um conjunto de

sensibilização no sentido de se aceitar que isso pudesse ter o mesmo tratamento de

qualquer dívida ao fisco, mas não sei. Este ano não estamos a sentir grande dificuldade

no pagamento das propinas, tem sido mais ou menos... para os que estavam em atraso

aceitámos planos de pagamento no sentido de dividir o valor, porque já era um valor um

bocado significativo, acrescido dos juros, havia valores um bocado grandes e tem-se

vindo a aceitar acordos de pagamento, estipulou-se uma prestação mensal que até agora

tem vindo a ser cumprida, não temos nenhuma situação que esteja para ser comunicada à

administração fiscal para efeitos de cobrança coerciva, apesar de haver alguns que

estamos ali aquele mas depois eles vêm e pagam.

Conselho Geral.

Sou representante do CG do pessoal não docente.

Quais as suas impressões sobre o CG?

As minhas impressões sobre o CG... há uma nota de frescura nos CG no sentido de

introduzir os elementos externos que vêm dar essa tal nota de frescura, no sentido que

deixámos de estar muito virados para nós próprios e passámos a ter uma visão de alguém

que vê a instituição fora, com outros olhos, outras formas de pensar e de interagir, até

porque muitos deles pertencem a empresas, têm uma visão muito economicista do ES ou

pelo menos tentam impor essa visão. Julgo que essa nota de frescura tem estado a dar,

pelo menos aqui no nosso CG, alguns resultados bastante positivos porque as questões

que são analisadas, são analisadas com uma outra perspetiva e isso é muito positivo.

Evidentemente que esta visão também pode ser um pouco deturpada se as pessoas que

são convidadas a pertencer ao CG com esta vertente externa, se exagerarmos no convite

a pessoas que sendo externos atualmente são internos no passado, que me parece que tem

sido muito essa tendência daquilo que conheço deste e de outros CG, de convidar pessoas

que neste momento estão na situação de aposentados mas que fizeram praticamente uma

vida ligada à instituição e isso vem um pouco atenuar esta visão de frescura que estava a

dizer. Não quer dizer que não seja positivo porque as pessoas acabam por ter, estando

externas, acabam por ter uma visão diferente. E depois, o CG, sendo um órgão que ficou

limitado na sua composição em relação ao anterior órgão que existia, julgo que lhe deu

uma dinâmica diferente, no sentido de que tem espaço porque são menos pessoas, são

pessoas com visões diferentes, apesar dos alunos estarem numa situação minoritária,

quando antes estavam paritários com os docentes, em todo o vaso dá aos CG esta

maleabilidade para abordar um conjunto de situações de gestão que antes não tinham

porque é mais fácil, são menos pessoas, debruçamo-nos mais sobre aspetos específicos

da gestão e julgo que isso tem sido benéfico. Evidentemente que o (ISP) está ainda no

primeiro mandato, este CG vai terminar para o ano o seu mandato, mas a discussão de

temas para além da gestão que se fez foram bastante interessantes, nomeadamente non

lançamento do instituto como uma instituição de futuro, na perspetiva de o projetar no

tempo e no fundo tentar equacionar o que é que será daqui a dez anos ou como nós

queremos que ele seja, nesse aspeto, o CG lançou um conjunto de reflexões sobre essa

matéria bastante positivas. O meu balanço geral é bastante positivo desta nova versão dos

CG.

Considera que esta influência externa pode influenciar a autonomia do IP ou ter

ingerência na autonomia?

Nesse aspeto penso que não haverá muita relevância do CG nessa matéria porque veja,

os professores ou as pessoas que são eleitas para, tirando os cooptados que são os

externos, são eleitos por listas, listas essas que são completamente autónomas das

tendências, do poder, obviamente que haverá sempre algum do poder das próprias escolas,

as listas formam-se, convidando este ou aquele, independentemente da escola a que

pertencem, não há digamos, a disciplina que possa ser eventualmente imposta por uma

UO, tipo faculdade ou escola, não, as pessoas são escolhidas aleatoriamente de acordo

com quem orienta a lista no sentido de convidar pessoas que tenham este ou aquele perfil,

portanto não me parece que nesse aspeto, não se tem discutido, a questão da autonomia

das escolas não se tem debatido, está esbatida no conceito de funcionamento do CG como

um órgão genérico e geral para todas as UO. Não vejo ninguém a colocar essa questão

como prioridade, pelo contrário, parece-me até que as pessoas aceitam pacificamente que

a gestão com esta centralização que se verificou, melhor uma centralização mais forte que

se fez sentir na sequência do RJIES na pessoa do presidente e na pessoa do CG, me parece

que não têm estado a contestar isso e não é uma questão que se tenha colocado.

Qual a sua visão sobre o ES, o seu estado atual, evolução...

Isso é muito complicado, como cidadão devo dizer que o que entendo do ES, estando no

cume d pirâmide da educação neste país, como sendo a instituição que deveria, do ponto

de vista dos recursos humanos ter a melhor qualidade porque tem nas suas fileiras gente

com os graus académicos, julgo que o ensino superior deveria ser uma instituição que

deveria preocupar-se fundamentalmente, para além da formação que dá, mas também e

logo a seguir com os problemas do país. Deviam ser instituições que deviam contribuir

de forma extraordinária para o desenvolvimento do país através do desenvolvimento de

projetos e de investigação que são projetos liderantes na inovação e na criação de valor

acrescentado para o país que é fundamental. Penso que, nessa matéria, temos muitas

instituições, salvo raras exceções em que há de facto essa preocupação ou pelo menos se

vê que há um grande dinamismo. Nessa matéria penso que o país beneficia com isso mas

talvez inconscientemente mais virados para as necessidades da comunidade académica

que precisa da investigação para progredir e para andar e para se promover. Não tem uma

preocupação de ser uma variável importante no desenvolvimento do país e julgo que as

IES deveriam ter essa preocupação primeira e deviam ser líderes porque não é todas as

instituições, julgo que não haverá muitas no país que se possam dar ao luxo de ter estes

recursos humanos e esses recursos humanos devem estar ao serviço do país. Penso que a

grande meta devia estar orientada para isso e é a grande crítica que faço a uma grande

quantidade de IES que pensam demasiado nos seus problemazinhos internos, estão muito

virados para eles e portanto julgo que é essa a grande volta que se deve dar. Agora, há o

reverso porque depois na prática sentimos que aqueles que querem fazer, as instituições

que estão dispostas e têm essa consciência depois têm, muitos entraves e nesses entraves,

começando pelo TC, que qualquer coisinha que se faça que saia de uma norma é posta

em causa, sabemos muito bem pelos relatórios que lemos do TC que muitas das coisas

que se fazem com grande dinamismo depois são colocadas em causa por este ou aquele

aspeto que sabemos que nem sempre se consegue cumprir as ladainhas todas da lei, não

digo que se façam coisas ilegais, é óbvio que não, mas dentro da legalidade há alguma

flexibilidade e por vezes não temos da parte das instituições que nos fiscalizam e que nos

auditaram, a maleabilidade para perceber que por vezes um investigador não pode estar

sujeito a este ou aquele procedimento, que se salvaguardasse estas exceções, o país não

ia à falência nem estávamos perante coisas ilegais. São regras, são iguais para todos e

todos têm que obedecer e isto espartilha demasiado a iniciativa das próprias instituições

que ficam receosas, às vezes desabafamos e dizemos, mais vale estar sossegado, não os

preocupamos, fazemos o nosso dia a dia certinho, papelinho porque e depois para quem

vem auditar está tudo certinho. Se nos metemos em grandes cavalgadas, andamos a

promover um conjunto de iniciativas, de investigação, de projetos... e depois? Caem-nos

em cima porque fizemos uma coisa que provavelmente não estaria tão bem e não temos

a compreensão devida para ver que se calhar os benefícios foram maiores do que os

prejuízos e esta é a minha visão, de um aldo as instituições dinâmicas, viradas para os

problemas do país, que acho que deviam ser as primeiras instituições chamadas a prestar,

já que são as que também auferem melhores rendimentos e portanto acho que deviam dar

um contributo mais relevante daquele que dão neste momento.

E em face destes cortes orçamentais pelo estado, o que acha que vai acontecer ao ES

público?

Julgo que o ES, não querendo ser desmancha prazeres relativamente a um conjunto de

opiniões que têm vindo a ser emitidas,. o ES não pode fugir à regra e portanto,

independentemente de considerarmos, nalguns aspetos que se exagera nos cortes e

exagerou-se nos cortes, julgo que desde 2006, as instituições têm vindo a adaptar-se. A

partir de 2006, com a exceção de 2010, com o professor Mariano Gago em que houve,

julgo que ele conseguiu de certo modo uma situação de vantagem face às finanças através

do contrato de confiança e com essa estratégia que a meu ver foi brilhante, ele conseguiu

que as instituições que vinham desde 2006 a perder orçamento, em 2010 ganharam-no e

estancou-se. Depois, 2011, 2012 e 2013, então 2014 nem se fala, portanto, voltámos

novamente à descida e as instituições adaptaram-se e a verdade é que as instituições

sobreviveram até este momento, adaptamo-nos e provavelmente não desenvolvemos ou

contratámos tanta gente ou fizemos coisas que provavelmente não gastamos tanto

dinheiro, no fundo adequámos a gestão às necessidades porque veja, desde 2006

perdemos mais de 40% de orçamento. Qual é a instituição, qual a empresa que perde 40%

do seu orçamento e continua a sobreviver, Houve qui um a maleabilidade de adaptação

às novas circunstâncias e isto a mim, há quem diga que estamos a perder qualidade, eu

diria também que há outra face da moeda que é se calhar tínhamos algumas gorduras e aí

nessas gorduras, tivemos que dar também o nosso contributo para o défice do país. Diria

que salvo situações muito extremas, que não conheço, diria que as IES vão adaptar-se e

sobreviver a mais esta crise e portanto não temo pelo futuro, temos mais pelo futuro das

instituições que não tanto a parte financeira mas pela parte que diz respeito aos alunos. o

défice demográfico está a atingir, está a chegar cá agora, passou por todos os níveis de

ensino e neste momento estamos, se bem que possamos ainda fazer alguma coisa no

ensino secundário porque neste ensino há muita gente que abandona e não chega ao

ensino superior, portanto, essa percentagem podia ser recuperada e dar uma ajuda ao ES,

no sentido de o manter se se adotassem estratégias de recuperação destas pessoas no

secundário que ficam pelo caminho e que é relevante, na ordem dos 30 a 40%, potenciais

candidatos ao ensino superior que se perdem e que a estratégia que tem vindo a ser

adotada ao nível do país através do recrutamento dos maiores de 23 anos tem vindo um

pouco dar a volta a isso mas não é suficiente. Por aí temos que, se calhar é uma

necessidade, o temor tem a ver apenas que acho que algumas instituições vão ter que se

adaptar mais fortemente ou fundindo-se ou havendo uma reformulação da rede porque

não faz sentido haverem tantas IES sobretudo em determinadas franjas do país, é verdade

e isso ninguém se pode queixar, pelas políticas que foram adaptadas há 20, 30 anos há

uma parte do país que está abandonada, está deserta não tem pessoas e tendo ali uma IES

para atender um número mínimo de alunos, acho que o país não se pode dar ao luxo de

ter esse recurso, tem que ser reformulado, é por aí que neste momento se tarda em tomar

uma decisão, sei que são coisas difíceis, sei que todos os presidentes de câmara e

entidades locais se puderem, gostariam de ter uma IES à porta, assim como um hospital,

uma repartição de finanças, todas as escolas possíveis e imaginárias, mas neste momento,

face à escassez de alunos, acho imperioso reformular e rever, não digo sequer acabar com

as instituições porque podem ter um papel relevante na dinâmica regional e temos que

considerar isso mas conseguir um conjunto de dinâmicas a nível de consórcios, a nível de

instituições que possam rentabilizar os recursos que temos, organizando-se de forma

diferente. Se Portalegre não pode ter os cursos todos, terá alguns, repartindo com a

Guarda, Évora, Setúbal, repartindo também com as outras, não estou a excluir as do

litoral, com Lisboa, por exemplo. Porque é que o curso, vamos imaginar, de uma

tecnologia da cortiça não há-de ser dado por uma instituição que está no Alentejo e deixar

que lisboa deixe de ter esse curso, podemos ver um a um o que podemos dar e o que

podemos deixar para os outros e portanto fazer aqui uma reorganização sobretudo ao nível

da rede de cursos, de modo a que o país fique coberto mas também não fique com excesso

de gastos porque também não temos condições para isso, há demasiadas instituições a

trabalharem sozinhas, isoladas e temos que as pôr todas em conjunto.

A vossa impressão sobre a A3ES?

É muito complicado, a A3ES é uma boa ideiam e julgo que não passa disso. daquilo que

conheço, ainda não temos muita experiência com a A3Es porque a avaliação foi feita no

(ISP) não tem sido muito, não têm estado muitos cursos sujeitos, até agora não temos

motivo de queixa. Penso que há aqui alguns vícios do que me apercebo que talvez tenham

que ser remediados. Não faz sentido que as equipas avaliativas sejam constituídas

sobretudo por gente universitária, os docentes primor para as universidades que

obviamente nada têm a ver com isto, não têm culpa nenhuma e que vêm fazer uma

avaliação e temos visto aí nos relatórios de que há algumas opiniões bastante tendenciosas

no sentido de gente que provavelmente pouca ligação tem ao ensino superior politécnico,

gente que por exemplo tem naquele curso um curso concorrente, obviamente que no final

são opiniões tendenciosas e temos visto em alguns relatórios e ainda não está, apesar de

ter sido chamado à atenção junto da A3ES, mas isso não foi ainda corrigido, não pode

pôr aqui, na análise de um curso de comunicação social na nossa ESCC pondo gente da

universidade nova, da universidade católica que têm exatamente cursos nas mesmas áreas

e com vertentes diferentes, com filosofias de funcionamento diferentes porque o ensino

politécnico é diferente do ensino universitário e era interessante que estas pessoas, que

depois vêm dar opiniões brilhantíssimas mas aquilo visto na ótica do politécnico não tem

nada a ver com isso porque os curso são diferentes apesar dos nomes semelhantes, as

óticas com que são dados são completamente diferentes e portanto ficamos depois sujeitos

às avaliações que estão a ser dadas, um pouco tendenciosas. sem me esquecer de dizer,

obviamente que há muitos outros cursos que foram avaliados positivamente e

concordamos com essa avaliação. Mas acho que a composição das equipas tem que ter

uma outra ótica, integrar também pessoas dos politécnicos e sobretudo nestas áreas em

que pode haver competição, é muito difícil, obviamente que a opinião provavelmente,

cientificamente correta, terá sempre uma tendência ou uma visão que um professor que

vem da universidade nova e que tem aquela de tender a, estou a citar este caso porque é

um caso concreto em que participámos no contraditório desse relatório. Obviamente que

a visão que está ali é uma visão de alguém que tem o mesmo curso com uma visão

completamente diferente, portanto, não pode vir fazer um conjunto de juízos quando a

filosofia do politécnico nada tem a ver com aquilo. A3ES acho que sim, é uma boa ideia,

é importante ter alguém exterior a fazer as avaliações e obviamente que o sucesso da

A3ES vai medir-se pela imparcialidade e pela forma como conseguirem impor uma

avaliação real e não a uma avaliação fictícia e tendenciosa. É preciso fazer, fazemos, uma

meia dúzia de papeis preenchido mas o resto continua tudo, é preciso chegar, que essas

avaliações cheguem depois à melhoria dos cursos, que os alunos sintam que dessa

avaliação resultaram melhorias, resultaram um conjunto de passos e de correções que os

alunos vieram a sentir, não digo que os alunos têm sempre razão nas suas opiniões mas

pelo menos, quando há uma percentagem muito grande de alunos a queixar-se de

determinado curso, algo está errado. Portanto, se através da avaliação da A3ES

conseguimos modificar atitudes, formas de atuar, melhorar a qualidade científica e

pedagógica porque neste país, a pedagogia é do ensino superior para baixo, secundários

e etc. toda a gente há uma grande preocupação pedagógica com os meninos mas a partir

daí para a frente não há pedagogia que resista, os professores dão as aulas como querem

e lhes apetece não há um controlo nesse aspeto, quem controla são os alunos quando se

sentem mal porque depois entre os pares é muito difícil fazer correções, há honrosas

exceções como é óbvio porque toda a gente acha que dá as melhores aulas do mundo,

todos passámos pelo ensino superior e todos temos histórias de professores em que não

púnhamos os pés nas aulas, era perder tempo e essas pessoas continuaram sempre a dar

aulas, sempre no seu ritmo e isso é que é preciso mudar e a A3ES se conseguir chegar aí,

ótimo, teve sucesso.

Muito obrigada

Entrevista IP16

Começamos por falar um pouco de si, a sua formação académica.

Sou engenheira química, acabei a minha licenciatura de seis anos, que já não se usam há

muitos anos no nosso país, formei-me na (IES pública nacional), em engenharia química e

depois disso ainda estive a trabalhar na investigação uns anos no antigo INII, instituto

nacional de investigação industrial. Depois estive em regime de acumulação com o antigo

Instituto Industrial de Lisboa. Depois deixei a parte da investigação e dediquei-me só ao

ensino e estive no (ISP público nacional), desde a formação do (ISP público nacional), desde

1974 até 2001, ainda estive na presidência do conselho científico do (ISP público nacional),

em acumulação com a presidência do (ISP), ainda um ano. Reformei-me em 2004, portanto,

estive no (IES pública nacional), primeiro assistente e depois professora e tal, essa carreira

toda, assumi a presidência do conselho científico em 1984, onde estive quinze anos e em

1997 pediram-me para acumular com o diretivo e tive estas duas presidências e entretanto

convidaram-me para vir para aqui para o (ISP público nacional), ainda estive no científico

mas depois achei que não era muito funcional e então estive no (ISP público nacional), até

me reformar, em 2004.

Esteve toda a sua vida ligada ao politécnico...

Sim, desde a formação do politécnico ao fim e ao cabo. Em 2002, 2003, houve uma reunião,

como há normalmente das Associação das Universidades de Língua Portuguesa e houve uma

altura em que Macau queria montar também, organizar o ensino politécnico lá e nessa altura,

exatamente porque estava no ativo e talvez fosse das pessoas que estavam nas direções dos

politécnicos e que tinha vindo ainda da fundação do politénico em Portugal e pediram-me

para dar o testemunho de como tinha sido organizado o politécnico cá e dei o meu testemunho

com muito gosto. Foram muitos anos.

E sobre esses anos, o que lhe parece esta evolução que tem tido o politécnico, a

universidade...

fui uma defensora do politécnico, desde a formação do politécnico, achei que realmente o

ensino universitário era extremamente fechado, em termos de ciência e tecnologia, a

universidade estava muito virada para dentro, até porque repare, a minha formação é na

(universidade pública nacional), se bem que acabei a engenharia no (localidade) porque nessa

altura (localidade) só tinha as preparatórias de engenharia, não tinha os últimos três anos,

engenharia tinha seis anos, três preparatórios, três de especialidade. Seja como for, talvez

(localidade) fosse o protótipo da universidade fechada sobre si mesma e achei que realmente

a ideia de um ensino superior mais virado para o exterior era qualquer coisa que se impunha

em Portugal e fui uma defensora do ensino politécnico. Mas depois, há medida que os tempos

correram, digamos assim e que apareceram algumas universidades em que já não era só

Lisboa, Porto, Coimbra, apareceu Aveiro, a UBI, Algarve, o Minho, com outra ideia do que

devia ser o ensino superior e começaram, digamos que a invadir o espaço do ensino

politécnico. Dizem que o politécnico invadiu a universidade, acho que começou a

universidade por invadir o politécnico e começçou talvez até por uma questão de

sobrevivência e estou a falar disto nos anos 90, 80, o politécnico é de 86 ou qualquer coisa

assim do género. Depois, acontece que o politécnico que inicialmente vivia muito de

professores ligados à sociedade civil, à indústria, falo na indústria porque era do (ISP público

nacional), da engenharia e o contexto que conhecia melhor era a indústria e tínhamos

realmente uma percentagem muito grande dos chamados professores em acumulação, isto é,

trabalhavam cá fora, iam dar umas aulinhas e digamos que o staff das escolas não era assim

tanto quanto isso. Sou de uma altura em que doutoramentos, só se faziam no estrangeiro,

ainda não se faziam em Portugal, quem queria fazer doutoramento ia para o estrangeiro e

portanto, as licenciaturas, vou dizer uma coisa que muita gente não gosta de ouvir mas é uma

verdade, as licenciaturas eram um curso mais sério senão teríamos também um tipo de ensino

nalguns aspetos muito generalista, sabíamos de tudo e diz que quem sabe de tudo também

não sabe de nada, não sei se era o caso, seja como for, era um tipo de ensino talvez mais

completo e para a altura talvez as coisas mudaram e o ensino também tinha que mudar. o que

acontece é que agora uma licenciatura é muito pouco, todos nós sabemos. mas tudo isto para

dizer que doutorados eram poucos. começou a carreira docente e começou a exigir outro tipo

de preparação e muito bem, começaram a fazer-se os doutoramentos em Portugal, portanto,

a não exigir tanto a saída de pessoas para o estrangeiro e houve uma certa coexistência,

bastante pacífica e produtiva, na minha opinião, entre jovens que estavam a seguir a sua

carreira académica, outros, aalguns mais velhos, que traziam a experiência de fora, digamos

assim, a experiência real e os cursos eram muito completos porque tinham as duas vertentes,

a vertente científica, que era com certeza maior e mais reforçada porque tinhamos gente com

escolaridade em termos de doutoramento diferente e até em termos de convivência com a

comunidade científica das universidades e isso era muito importante, mas continuávamos a

ter a experiência de fora, que vinha para os cursos. Isto aos poucos foi-se modificando e já

eu não estava no ativo quando a carreira de docente do ensino universitário, o politécnico é

praticamente a mesma, as dificuldades da indústria e das empresas, como toda a gente sabe,

não atiram os jovens para o mercado de trabalho exterior, estão assistentes e depois

continuam a fazer os mestrados e doutoramentos e a concorrer, os seus papers, os seus

artigos, que não estou a dizer que seja mau, antes pelo contrário, o que estou a dizer é que

não sei se neste momento se justificam dois sistemas de ensino, tal como as coisas estão, é

só aí que queria chegar. Fui uma fiel defensora do politécnico quando apareceu e neste

momento, por uma evolução que se cakhar foi natural e especificamente no nosso país, em

que por força da falta de indústria, da falta de artes e comunicações mas este não é tanto o

meu domínio, acabou por não trazer para o politécnico aquela vertente que acho que era

fundamental. não estou a dizer que os professores não se esforcem por ter contato ou projetos

com o exterior, não é o que estou a dizer, e aí iamos para outra questão que é a investigação.

Diz-se que o politécnico não tem investiação, pois o politécnico não tem muita investigação,

não tem muitos centros que sejam acreditados pela FCT e não tem porque a maior parte dos

nossos professores doutorados que fizeram o seu doutoramento, como a lei exige, nas

universidades, continuam a fazer investigação nos mesmos centros na universidade, portanto,

o politécnico não tem doutoramentos, não tem lá os seus doutorados e eles não estão lá porque

não têm condições para lá estar, portanto, no fundo, não podemos dizer que o politécnico não

tem investigação porque tem. Falo mais no domínio que conheço que é a engenharia, e a

investigação, digamos que, encomendada pela indústria e a ser paga pela indústria e não pelos

fundos comunitários ou pela FCT ou outra coisa do género. os pórticos da auto estrada, por

exermplo, é um desenvolvimento do ISEL, foram pedidos pela Brisa e pagos pela Brisa, mas

há investigação aí, é o tipo de investigação que é uma prestação de serviços ao mesmo tempo,

porque é uma perstação de serviços simples, mas é uma prestação de serviços que exige

investigação profunda e quando estava no (ISP público nacional), já lá vão uns anos, lembrei-

me de uma coisa que foi para todo o país, mas que se calhar a maior parte do país não sabe,

que são as caixas multibanco, exigiu muita investigação mas foi encomendada pela SIBS.

Enquanto que a universidade tem os centros de investigação e também não estou a dizer que

a investigação que fazem não serve para nada porque não é verdade, se não houver

investigação fundamental, também é difícil que haja outro tipo de trabalho, mas não é fácil.

É cada vez mais dificil que o politécnico mantenha este tipo de investigação porque também

as empresas começam a não ter capacidade, têm os seus centros de decisão, muitas, fora de

Portugal, as grandes empresas, isto aqui em Portugal não digo que seja só distribuição e

serviços, mas os centros de investigação não estão cá, na maioria dos casos, portanto, ou há

aqueles que são convidados para ir lá para fora mas aqui, começa a ser cada vez mais difícil.

Sou de química, lembro-me numa certa altura que tínhamos, com as petroquímicas, com a

siderurgia, com as metalomecânicas, com empresas como a Quimigal, onde é que está isso

tudo? Está tudo fechado, por isso lhe digo, essa minha grande defesa, neste momento está

assim um bocadinho mais murchinha porque não sei até que ponto, neste momento, há assim..

não digo que não continua a haver diferença mas essa diferença que havia tão nítida em duas

vertentes de ensino superior, qualquer uma delas importante, neste momento penso que há,

desculpe dizer, uma grande promiscuidade entre os dois.

Nesse sentido como lhe parece que vai ser o futuro do ensino superior?

Não faço a mínima ideia, porque quem manda não somos nós, são os nossos governantes, as

ideias que se mandam para lá normalmente vão para a gaveta, sou muito direta e isto é uma

verdade, as pessoas com certeza têm ideias que ou não sabem concretizar ou politicamente

não lhes interessa concretizar, não sei o que se passa. Agora, é evidente que não se justifica

num país com o tamanho geográfico que temos, que haja 17 universidades ou lá quantas são

e outros tantos politécnicos, quer dizer, qualquer dia temos universidades não digo de vão de

escada mas quase, já nem falo das privadas, não tenho que me referir a essas mas realmente

proliferaram para aí como cogumelos e não sei até que ponto, tirando aquelas que já

conhecemos que já têm um peso institucional, tudo o resto não me inspira grande confiança,

com toda a franqueza e portanto acho que tem que haver uma reorganização da rede. Acho

que tudo o que havia aqui há 20, 30 anos, em que se quisesse ir a Coimbra demorava quatro

horas de caminho e para ir a casa dos meus sogros que era na (localidade), era um dia inteiro,

tinha que parar a meio para almoçar, tudo isso acabou e portanto, a facilidade de trasportes

que há agora, se calhar não justifica que haja uma universidade ou um politécnico assim à

esquina de cada rua e isso dá uma proliferação de cursos, uma proliferação de massa crítica

que se calhar também não vem contribuir em muito para o desenvolvimento do ensino

superior, não compensa. Claro que os alunos gostam muito, tenho netos na universidade e

com certeza gostam muito de ter uma universidade ali a dois passos de casa mas isto não

pode ser, nem sequer temos um país com dimensão nem com riqueza nem com estrutura para

ter uma coisa destas, portanto, tem que haver uma reorganização da rede. Há força política

para isso? Não sei. Sabemos perfeitamente que quando o politécnico apareceu, parte de

alguns politécnicos surgiram apenas das escolas de magistério primário que passaram a

escolas superiores de educação, estou a pensar no interior, não tinham outras escolas de

ensino superior, as escolas nasceram, ao contrário do que aconteceu no Porto e em Lisboa e

em alguns casos de Coimbra, em que as escolas existiam e foram integradas no politécnico,

principalmente no interior, os politécnicos formaram-se e depois vieram as escolas. E os

politécnicos formaram-se às vezes apenas à custa da ESE e das escolas agrárias que agora

são escolas superiores agrárias. O que é que acontece? Nessa altura, com as dificuldades que

havia de transportes, com a necessidade de aumentar a escolaridade de ensino superior no

país, acho que foram extremamente importantes esses polos politécnicos porque o interior

tinha a UBI e a UTAD e mais nada, bem e Évora que já é muito clássica, não tinha mais nada

e politécnicos apareceram por aí fora e ali pela orla interior, têm politécnicos, não digo de 50

em 50 km porque é exagero mas quase, foi importante. Estive uns anos na avaliação do ensino

superior e tive que avaliar várias escolas, na área da química ou similar em alguns

politécnicos do interior e vi a importância desses politécnicos no tecido empresarial daquelas

zonas e a importância que o politécnico tem, até dizia aqui ao meu presidente, se você tivesse

em (localidade) a importância que tem o politécnico de Portalegre ou da Guarda, nem queira

saber, porque realmente foram, não sei se continuam a ser porque não tenho andado por aí

mas foram muito importantes para o desenvolvimento dessas regiões e digo também que

eram um polo de empregabilidade extremamente importante, não sei se agora perdeu ou não

a sua importância, não faço ideia, agora acho que não se justifica que haja politécnicos com

3000, 4000 alunos, não se justifica. É menos do que algumas das nossas escolas aqui de

(localidade).

Há pouco manifestou parte da sua opinião relativamente ao Processo de Bolonha,

dizendo que as licenciaturas agora...

São muito pequeninas...

Nesse sentido gostaria de saber mais sobre a sua opinião sobre o Processo de Bolonha,

o tempo dos cursos que na sua opinião é limitado, e em termos de internacionalização,

e se os alunos e professores captaram bem os métodos pedagógicos, como acha que está

a correr?

É evidente que os alunos captaram bem, como é lógico e os professore foram obrigados a

captar, a alterar as suas formas. não estou a dizer que o processo de Bolonha não tenha tido

vantagens, não é isso que estou a dizer, o que estou a dizer é que o valor da licencitura antes

não é o valor da licenciatura agora. Ao fim e ao cabo podemos pensar que a licenciatura tinha

uma base mais generalista nos primeiros anos e depois acabava por ter vertentes um

bocadinho mais especializadas, toda essa parte generalista agora vem na licenciatura e as

especializações fazem-se no mestrado, portanto, quando desvalortizo a licenciatura é porque

atualmente tenho netos pelas universidades e digo-lhes por favor não fiquem pela licenciatura

porque isso realmente é pouco. Portanto, não estou a dizer que não seja importante que os

alunos tenham uma ferramenta para entrar no mercado de trabalho mais cedo, estou a dizer

é que não se pode comparar uma licenciatura antes ou uma licenciatura depois e se calhar o

facto de a licenciatura ter passado para três anos e praticamente depois, o aluno para ter uma

ferramenta chamemos-lhe mais válida, talvez seja um bocadinho forte, ter que continuar, se

calhar é uma forma diferente de organização do ensino. Não me quero pronunciar sobre isso,

acho que tem vantagens e que tem inconvenientes, não sei até que ponto as vantagens... agora

vou dizer uma coisa um bocadinho má, foi um bocadinho economicista porque é evidente,

diminuiu, em vez de quatro ou cinco anos, ficaria mais barato, não teria sido só isso mas se

calhar também ajudou.

Há quanto tempo é presidente do CG?

Estou a acabar o meu mandato, por isso há três anos e tal. Foi o primeiro CG do (ISP público

nacional). O (ISP público nacional), talvez porque, tanto quanto sei, já estava reformada na

altura, teve alguma dificuldade em aprovar os estatutos do RJIES, aquela confusão toda e

portanto, o primeiro CG, fomos eleitos, os membros normais, professores, etc., foram eleitos

no início de Dezembro de 2010 e os membro externos tomaram posse no dia também em

Dezembro de 2010. Portanto estamos a acabar o nosso mandato. É evidente, que tendo sido

o primeiro CG, acabámos por ter um trabalho de dotar o CG dos mecanismos de

funcionamento, como começar com o regulamento do CG, desde ter que fazer o regulamento

da eleição do presidente, não havia, o estautto do provedor do estudante, sei lá, uma série de

documentação que não existia, segundo o novo RJIES e que o CG teve que fazer e tivemos

um trabalho bastante grande mas neste momento parece-me que em termos de

regulamentação que teria que ser feita da responsabilidde do CG, parece que saímos com a

missão cumprida nesse aspeto. Foram três anos e tal.

E como lhe pareceu a interacção entre as pessoas neste novo modelo instituído pelo

RJIES?

Costumo dizer que tenho muita sorte nas coisas em que me meto, talvez porque tenho muitos

anos de instituto, porque as pessoas no CG, a começar por alguns, dentro da química que

eram alunos do (ISP público nacional), e eram alunos quando eu já lá andava, também quando

estive na vice presidência tentei procurar uma ligação muito grande às escolas e com muito

bom relacionamento. Os elementos externos, que são 10, também se integraram bastante bem

e no fundo o nosso CG é muito grande, com 33 pessoas, cinco são alunos, apesar de aqueles

que lá vão têm intervenções muito positivas, alguns são assim um bocadito faltosos mas têm

tido intervenções muito positivas e muito atentas e é engraçado, da parte dos docentes, em

que havia duas listas, em que a ideia que eu tinha, até porque conhecia docentes de um lado

e do outro, é que eram capazes de ir para ali guerrear-se e nem pouco mais ou menos, têm

sido extremamente colaborantes, procurando soluções consensuais, muitas das nossas

decisões são tomadas por unanimidade, muitas. depois, há uma coisa que acho ótima porque

falo com outros presidentes de CG em que isso não acontece. Normalmente tenho um bocado

a mania da pontualidade e nas minhas reuniões, talvez porque venho de Coimbra há os 10

minutos académicos e acabou, ao fim dos dez minutos, a reunião começa. Nunca, em 33,

comecei uma reunião com menos de 24, 25, portanto acho que isto é sinal de que as pessoas

estão com interesse em colaborar, em participar, não se prendem ali em discussões inúteis,

também não é preciso tirar a palavra a ninguém, todos têm o privilégio, digamos assim, de

falar quando quer falar mas é no sentido de ensontrar soluções válidas, não estou a dizer que

estejam sempre todos de acordo, não estão e ainda bem ue não estão, se não era uma chatice.

Quer dizer, é evidente que me tem dado preocupações, como é lógico, não é uma coisa

simples, há coisas às vezes um bocadinho complicadas para discutir, é evidente que sim,

costumo dizer que nas vésperas do CG já não durmo, claro que isto é exagero, não é bem

assim, mas ando preocupada, talvez porque goste, porque enfim, com a idade que tenho, se

calhar já não tenho a capacidade de conduzir reuniões como tinha. Seja como for, acho que

tenho tido muita sorte com os membros do CG porque, como disse, há duas listas de

professores que tinham posições muito antagónicas, há duas listas de alunos, os membros

externos, enfim, esses são convidados individualmente, mas a verdade é que estão ali, todos

com intervenções extremamente válidas e procuram, evidente que muitas vezes não são por

unanimidade, quando não são por unanimidade não são, há declarações de voto, tudo bem,

mas a verdade é que está tudo com vontade de colaborar.

Lembra-se assim de alguma intervenção de um elemento externo que tenha contribuído

para...

Sim, temos ali gente, estou a lembrar-me por exemplo de um elemento externo que é qualquer

coisa na Culturgest, e enfim, é uma pessoa um bocadinho, às vezes, enfim, é uma pessoa

atenta, ao fim e ao cabo, não estava muito dentro do politécnico, estava mais dentro da

universidade, mas tem trazido intervenções até de necessidade de ligação ao exterior, estou

a pensar também noutra pessoa que está ligada à comunicação social, outra que está muito

ligada à parte da saúde, a necessidade de ensontrar estágios, olhe, dois engenheiros, a

necessidade de encontrarem estágios para os alunos, de tentarem realmente, digamos que as

linhas de força do politécnico sejam, por um lado, a parte de investigação, procurar fortalecer

centros de investigação no instituto e está-se a procurar, até para a massa crítica ser maior,

tentar juntar escolas com afinidades, estou a pensar numa engenharia e nas tecnologias da

saúde para encontrarem centros de investigação em que haja colaboração de docentes de

várias escolas para se reforçar a investigação no instituto e tudo isso traz muito a participação

dos elementos externos com ideias, com sugestões, acho que isso é importante, é uma visaõ

do exterior. Da necessidade ao nível da saúde, do elemento externo que temos ligado à saúde

tem muito isso da escola e na segunda feira passada foi celebrado um protocolo de saúde

ocupacional em que a escola da tecnologia da saúde vai encarregar-se de uma coisa que

suponho que está na lei, pelo menos quando estava no (ISP público nacional) nós fazíamos,

que era a obrigatoriedade de haver... todos os docentes e trabalhadores tinham análises

periódicas, radiografias, isso está na lei e ninguém ou pouca gente faz. neste momento há um

protocolo com a escola de tecnologia de saúde para fazer isso em todo o politécnico. portanto,

tudo isso são coisas importantes de ligação e sei que nas tecnologias da saúde sei que têm

ligação ao nível das análises, das radiografias, dessas coisas, têm um centro de radiologia,

não sei se com ligação aos centros de saúde, mas sei que têm realmente algumas ligações ao

exterior.

O modelo de CG já existia num outro modelo para os politécnicos, é mais uma novidade

para as universidades, de alguma forma considera que a intervenção de membros

externos, embora ainda sendo uma minoria possa de alguma maneira interferir, fazer

ingerência na autonomia do ensino superior?

Cá não e não vou falar do que não conheço, até porque não tenho assim um conhecimento

tão grande como isso dos CG das outras instituições. Aqui, não há ingerência, há uma procura

de ajudar nas soluções. Ingerência ainda não vi, sinceramente. O que se passa nos outros

sítios, não sei, sei que há CG, não devia dizer ito porque é o que às vezes me chega, que têm

algumas dificuladdes de funcionamento com os membros externos, principlamente porque

alguns vivem longe, isso sei que é verdade. Quando um elemento é presidente de um CG que

está para aí a 300 km, quer dizer, deve ter algumas dificuladdes calculo eu. e conheço alguns

presidentes de politécnico antigos que agora estão nos CG... com certeza que leva um certo

prestígio a esses CG, agora... e conselhos que não sei se funcionam bem ou mal porque não

estou lá para ver, agora vejo que aqui, eu vivo em (localidade), venho imensas vezes ao

politécnico para estar dentro daquilo que se vai passando e penso que esses membros externos

que não estão perto, já não digo que vivam ali, digo que estejam sei lá, a 20, 30 km, 50 km,

não estão, estão a 200, a 300 km, parece-me que deve ser muito difícil para eles estarem

dentro, mas quem sou eu para dizer, se calhar até funcionam muito bem mas não sei, não me

quero pronunciar. Acho muito estranho, quando ainda no outro dia tive uma reunião com a

COTEC que houve aqui, em que esteve o nosso PR e o Rei de Espanha e mais não sei quem,

tivemos aí uma rteunião importante sobre a reindustrialização e estavam alguns presidentes

de CG e fiquei admirada porque conhecia alguns geograficamente distantes do sítio onde

estão agora, faz-me um pouco de impressão mas quem sou eu para dizer se funciona bem ou

mal. Não me parece que seja muito funcional mas sou assim, quando me meto nas coisas

gosto realmente de estar dentro das coisas. Acredito que se calhar não é esse o papel do

presidente, é capaz de ter lá uma viagem de trabalho, não sei.

Neste momento o que lhe parece a autonomia do ensino superior? E já agora as

autonomias do (ISP público nacional)?

Esta história da autonomia do politecnico e desculpe o que vou dizer mas tem muita piada

aqueles jovens com 27, 28, 29 anos que querem ser autónomos mas continuam em casa dos

pais, eles é que pagam a dormida e a comida, isto da autonomia do politecnico, das decisões

em termos de finanças do estado, acaba por nos retirar a autonomia numa série de coisas

porque há muitas coisas que se calhar o politécnico gostaria de fazer e não faz porque desde

2006 até agora, o (ISP público nacional), tem um corte de 40% no orçamento, 40% contando

claro, o OE e depois aquelas alcavalas que não haviam e começaram a haver como a CGA e

aumento do não sei quê e do não sei quê e vai logo 40%. Ora, é uma altura do ano... mas acho

bem que tenham limitado pelo menos financeiramente, a autonomia de algumas escolas mais

pequenas, quando eu estava aqui, na vice presidencia do politécnico, nunca estive na area

financeira porque não é uma coisa que goste muito mas seja como for, sabia o que se passava

e realmente há escolas que não têm uma dimensão para terem autonomia financeira, não têm

e portanto, acho bem que nesse aspeto, as autonomias das escolas que não tenham uma certa

dimensão, não só em termos de alunos como em termos de orçamento privativo, que não

tenham autonomia financeira, agora eu continuo a dizer, a autonomia está muito limitada,

muito limitada pelas deficiencias do orçamento que existe porque é dificil ao ensino superior,

dentro daquilo que conheço, funcionar com o orçamento que tem, portanto, quando se calhar

era urgente e necessário para termos um ensino mais profissionalizado, mais tecnológico,

mudar o equipamento dos laboratórios que eventualmente está obsoleto mas não se pode

gastar dinheiro, lá vai a autonomia. Quando é fundamental, por exemplo, e agora cá estou no

meu dominio de engenharia, medir turmas laboratoriais para projetos para haver uma melhor

assistência professor aluno, mas não se podem contratar docentes, lá se vai a autonomia.

Portanto, acho que a autonomia é uma coisa... não estou a dizer que não haja autonomia mas

está muio limitada e está limitada evidente por alguem que manda, ao fim e ao cabo. Agora

acho que as escolas devem ter uma autonomia pedagógica, estou a ver aqui, podemos

centralizar a parte de uma escola de dança ou de engenharia, não faz sentido, quem lá está é

que sabe como é, portanto, há determinadas autonomias que as escolas devem ter mas há

outras que devem estar numa cúpula e estou especificamente a falar na parte financeira e até

na parte administrativa, se calhar não se justifica que houvesse um sítio para inscrição de

alunos, os alunos podem inscrever-se pela internet, para que se há-de ter ali uma pessoa na

secção de alunos a gastar-se dinheiro, quer dizer, há coisas que acho muito bem que as escolas

tenham, as mais pequenas, nomeadamente, tenham perdido autonomia porque é mais fácil e

até mais barato, poupa-se dinheiro a gerir as coisas em cúpula desde que a direção não seja

tão grande que foge completamente ao controlo, pronto, portanto acho bem que escolas com

determinada dimensão. Vou dar um exemplo, o CG tem que aprovar o orçamento para o ano

seguinte, agora, aprovar um orçamento com base no orçamento qur vem, que passado um

mês ou dois cortam-lhe mais 10% ou 20%, não sei quantos por cento, um orçamento que ao

fim e ao cabo está limitado porque nós sabemos que há uma fórmula para calcular, por aluno

e todas essas coisas que estão legisladas, no fundo o orçamento é tanto para pessoal... no

fundo a coisa está tão espartilhada que não há assim grande hipótese de ter ideias novas, se

calhar era importante ter mas tudo custa dinheiro e não há margem e muito se faz um

bocadinho pela carolice das pessoas.

Relativamente à existencia de propinas no ES, há autores que consideram que não

haver propinas demonstra um ensino democrático e equitativo, há os que consideram

que a propina é uma responsabilização do aluno, entre estes dois extremos, onde se

situa?

Ponho-me na responsabilização, acho que quando as coisas são de borla, não vale a pena, é

evidente que tem que haver bom senso, acho que têm que haver mais bolsas atribuídas com

critério porque nunca me hei-de esquecer que quando estava no (ISP público nacional), há lá

uma residência universitária, eu vi que estavam na residência pessoas que apresentavam o

IRS mínimo mas depois tinham grandes carrões, mas não vamos entrar por aí porque isto a

gente sabe que o português é muito pródigo em arranjar soluções e fugir, portanto acho que

devia haver mais bolsas para os alunos que efetivamente não podem, pudessem, mas deve

haver essa responsabilização porque esta história de que o aluno se fizer 10 ou 20% ou não

sei quê das cadeiras já não perde a bolsa, por amor de deus, já não quero que seja como

quando eu estava na universidade que quem tinha bolsas tinha que ter médias superiores a 14

e um 14 naquela altura não era o 14 de agora, não vamos para extremos. Devia haver bolsas

mas exigir ao aluno porque a bolsa é qualquer coisa que é paga pelo contribuinte, portanto,

ele tem obrigação de a merecer, de trabalhar. Acho que o trabalho nunca fez mal a ninguém,

sinceramente e talvez porque seja irmã de mais seis, eu era das mais velhas, o meu pai tinha

uma quintarola, numa altura em que não existiam subsídios, havia uma tempestade e ficava

tudo debaixo de água. Quando estava em (localidade), vivia lá na quinta com os meus pais e

irmãos, ia todos os dias para (localidade), não havia camioneta, às vezes ia de bicicleta e

depois fui para o (localidade), mas estar no (localidade) custava dinheiro e eu tinha uma bolsa

da Mobil Oil Portuguesa que consegui e essa bolsa não me permitia ter médias inferiores a

14 a todas as cadeiras, perder uma cadeira nem pensar e isto deu-me alguns hábitos de

trabalho que acho que são importantes porque isto andar por aí à conta dos outros sem pensar

que isso sai do bolso do contribuinte, não pode ser, portanto acho que o aluno deve pagar

propinas, mas evidente não propinas exageradas, o valor da propina atual não me choca, até

porque vejo ali jovens a aproveitar a vida, eu vivo perto do bairro alto e sair de casa sexta

feira à noite nem pensar. Portanto, não é assim muito, deveria haver bolsas que fossem

verificadamente certas para quem não tinha capacidade mas que exigisse responsabilidades

não é para ter a bolsa para andar aí a navegar sem fazer nenhum.

No seu entender, qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público?

Tem a parte de financiador, de regulação pela produção de leis e a avaliação delegou

na A3ES. Considera que estes papéis estão bem, deveria haver mais avaliação?

A A3ES vai fazendo essa avaliação... custa-me um bocadinho pronunciar sobre isso porque

às vezes não sei tudo o que se passa a nivel do nosso país. Acho que o estado tem obrigações

para com a educação como tem para com a saude, a justiça, tem obrigações. E, se ao nivel

do ensino secundário a obrigação é maior porque obviamente todas as pessoas devem ser

dotadas de um mínimo para trabalhar nos dias de hoje e vom certeza não é com a quarta

classe. Acho que o ensino superior deve ser subsidiado pelo estado. No entanto, as pessoas

não podem fazer o que lhes dá na real gana... uma vez estava muito chateada com os meus

alunos, já não me lembro o que se passou e disse qualquer coisa como, mas vocês querem

passar os dias encostados à parede? E porque é que a professora está tão zangada? Olhem

porque isto me sai do bolso. E é uma verdade, quer dizer, o estado é responsável mas acho

que criar a responsabilidade nos jovens desde pequenos não é mau e quando chegam aos 18,

19 anos até têm capacidade para votar portanto é bom que tenham capacidade para aproveitar

os dinheiros públicos. Agora não podemos pensar que são os alunos apenas a subsidiar o

ensino superior, nem pouco mais ou menos, ou então vamos para as universidades privadas

onde os alunos pagam acho que muito e os cursos são o que a gente sabe e só se põem, a

maioria delas cursos de giz e quadro ou papel e lápis, que tem um computador e pouco mais,

porque o ensino superior é uma coisa cara, tem qualidade fica caro e o estado tem que investir

porque repare, ou os nossos jovens têm capacidade para competir, não só cá dentro como lá

fora e infelizmente estão a competir mais lá fora do que cá dentro, infelizmente está a

acontecer isso, tenho alguma esperança que isto mude e que alguns regressem. Como digo,

enquanto não constituirem família lá pode ser que regressem ou quando tiverem muitas

saudades do sol, senão é evidente que não regressam, perdemos a nossa massa crítica mais

importante, isso para mim é importante e às vezes fico preocupada mas seja como for o estado

tem obrigação de se preocupar com um ensino superior de qualidade mas acho que todos os

que são utentes do ensino superior, alunos, professores, funcionários, têm a obrigação de

rentabilizar a participação. Não compreendo e felizmente isso acabou, aqueles turbo

professores que davam aulas em quatro e cinco universidades, acho que felizmente isso agora

está mais controlado e acabou ou o professor que em vez de dar as suas aulas e fazer a sua

investigação arranja outras coisas mais importantes para fazer portanto tem que haver

responsabilização e essa é dos professores, dos funcionários, mas é basicamente dos alunos

porque é a grande massa humana que há nas escolas, portanto, acho que a propina é qualquer

coisa que os leva a responsabilizar. Há pouco tempo fui ao CG com uma proposta que

acharam muito bem, o aluno tem x tempo para entregar a sua tese de mestrado, não o faz, dá-

se-lhe seis meses, não faz ao fim de um ano, paga uma propina, porque se tem um x para

fazer esse trabalho, não é andar a dispersar por outras coisas porque infelizmente quando não

sai do bolso, a pessoa vai-se desleixando. Acho que tem que haver responsabilização.

O que lhe parece o RJIES?

o RJIES tem coisas, e especificamente o que diz respeito ao CG, que é aquilo que conheço

melhor, há coisas que acho que devem ser alteradas, por exemplo, esta, da aprovação de um

orçamento que veio numa altura que é em Agosto e que nessa altura nem o CG pode reunir

porque estamos de férias, quer dizer, acaba por delegar no presidente para vir aprovar uma

coisa que é retificada depois, mas senão é retificada como é que é se já foi para as finanças?

Não tem razão de ser, agora penso que foi uma primeira experiência e tem que ser revista

porque não pode estar assim eternamente. Mas acho que andam a pensar nisso e têm mesmo

que pensar.

Relativamente à diferença entre os valores dos cursos de mestrado, nalguns casos, e dos

cursos de doutoramento o que lhe parece esta disparidade?

Acho que tem que haver uma licenciatura e portanto a propina deve existir, mas deve ser um

pouco mais moderada, lá estamos, um mestrado para ter realmente nível tem que ter uma

exigência diferente, o aluno tambem deve de participar com qualquer coisa diferente, não

digo pagar o mestrado, coitado, porque isso estava feito, mas que veja que entrou num outro

ciclo de estudos, com mais responsabilidades, com um preço superior e ele deve tambem

colaborar nisso. Nós aqui, os mestrados, todos, menos um, que acho que é o (ISP público

nacional), não são mais caros que a licenciatura, o (ISP público nacional) não terá assim tanto

equipamento nem tanta coisa, sei lá, um mestrado em auditoria, um mestrado em gestão

financeira, portanto, senão é o preço da licenciatura não será muito mais. Há outros que

realmente são mais caros, estou a pensar no das tecnologias da saúde, que são feitos em

colaboração com as universidades e esses são realmente mais caros, mas penso que se calhar

têm que ser e já não é qualquer coisa que se calhar está ao alcance de todo o aluno, já vai

exigir que o aluno tenha alguma proprnsão para a investigação, para a especialização e por

isso acho que o aluno realmente deve ter a consciencia que entra num ciclo de estudos que

vai exigir um financiamento superior ao país e ao país é a cada um de nós.

Face a estes cortes no OE e progressivamente crescentes, onde é que acha que as IES

podem procurar financiamento, tirando a parte dos alunos que essa tambem tem vindo

a diminuir...

Pois os alunos não aumentam não, é dificil porque como lhe disse há bocado, todo aquele

financiamento, de prestação de serviços, aquele que poderia vir e que vem do ciclo produtivo.

E o ciclo produtivo do nosso país ou aumenta ou tambem se vai fazer refletir nas instituições

porque, como disse, todos aqueles serviços ou investigação aplicada que se fazia e que está

a ser menos solicitada pelo tecido produtivo... não sei muito bem, acho que só tinha

vantagem, para as instituições politécnicas terem uma participação mais ativa no

desenvolvimento do tecido industrial, acho que era fundamental para a manutenção do ensino

politécnico com alguma diferenciação da universidade e com nível científico, portanto não

fosse uma prestação de serviços pura e simples mas uma investigação aplicada e

encomendada, digamos assim, pelo tecido produtivo e aí as instituições podiam ir buscar

financiamento mas enquanto a economia não der um salto, acho muito dificil, com toda a

franqueza. Tambem não pode vir dos alunos, que tambem já têm a sua partidipação e acho

que está razoável porque tambem não podemos ir porque depois o estado tambem não dá

bolsas a quem não pode e aí começamos a ver que nem todos os jovens têm as mesmas

possibilidades, que é uma coisa que está na Constituição. Portanto, não sei onde isto vai e

acho que é muito complicado, com toda a franqueza. Porque quando digo se o OE é cada vez

menos, as instituições só podem subsistir aumentando o orçamento privativo e o orçamento

privativo vem basicamente de duas fontes, ou propinas, e penso que já se chegou a um valor

que na minha opinião não deve ser muito aumentado, quanto muito ao nível da inflação ou

realmente investigação da FCT, projetos europeus, temos até alguns no politécnico mas é

uma minoria e enquanto o politécnico não puder fazer doutoramentos que captem esse tipo

de financiamento, é dificil ir lá buscar, portanto, o que é que nos resta? A prestação de

serviços ao tecido produtivo, senão aumenta, isto é complicado.

Aqui o (ISP público nacional), não tem patrocinadores ou mecenas?

Não.

As escolas do politécnico tem alguns serviços centralizados ao nível do instituto. Quais

as estratégias de captação de alunos e considera que podiam haver mais?

Isso penso que podia e é uma coisa que tem sido, que se tem até falado em CG, às vezes é

um bocadinho dificil, há feiras de emprego, por exemplo, lembro-me que o (ISP público

nacional) de vez em quando faz feiras de emprego... às vezes as faculdades fazem a semana

da ciência... o politécnico não tem muito esse hábito, não está muito dentro das suas tradições

mas mesmo umas visitas ao ensino secundário, às escolas, penso que poderia haver uma

estratégia um bocado diferente porque repare, durante muito tempo o (ISP público nacional),

não precisava porque todas as suas vagas eram preenchidas portanto também não precisava

de andar preocupado em captar alunos, mas penso que agora as coisas estão dificeis, estou a

pensar nas engenharias e portanto acho que aí tem que haver mesmo uma estratégia de

captação de alunos mais agressiva do que a que tem havido, tem tido algumas participações

nas feiras de emprego, nalgumas manifestações que há até a nivel nacional em que aparecem

escolas, mas assim uma captação de alunos mais direcionada para as engenharias, para a

saúde, não tem havido, há aqui escolas que continuam a não precisar de preencher as suas

vagas, preenchem as vagas todas na primeira fase e acredito que politecnicos do interior

tenham mais dificuldades nesse sentido que nós não temos mas começa a haver algumas

escolas, nomeadamente nas engenharias que ou realmente desenvolvem uma estratégia muito

agressiva de captação de alunos ou então a coisa pode ser muito complicada. E não tem

havido, tambem porque não era preciso.

A sua opinião sobre a solidariedade financeira entre as escolas do IP?

Isso não posso dizer muito porque sei que esses aspetos... o orçamento vem para aqui e é

dividido pelas escolas por uma fórmula que existe, agora eu não estou cá, em que por vezes

há escolas que têm dificuldades e concordam que haja uma certa almofada no politécnico

para alguma necessidade premente das outras escolas e ninguém diz que não porque isto não

é dizer, meu amigo, estás com muito dinheiro não precisas de tanto, fica ali para a dança ou

para a música, não é isso. A comissão permanente concorda que haja uma almofada que

infelixmente é cada vez menor, então este ano... era como dizia o presidente, se tenho aí uma

rutura num cano como é que vou consertar, portanto, essa dita almofada é cada vez mais

magrinha e isso acabava por ser uma certa solidariedade da parte das escolas, não era

especificamente daqui para ali mas era para um bolo para acudir a dificuldades nalguma

escola.

Missão das universidades, missão do politécnico se está bem definida atualmente?

Já disse que não.

O que lhe parece ser a missão de um e de outro?

Tal como as coisas que estão agora e com os cursos que há num e noutro é muito dificil que

não haja esta confusão porque, tirando cursos como direito, que é nitidamente a universidade,

há outros cursos que deveriam ser do politécnico e a universidade abarbatou-os e se calhar

outros que o politecnico fez o mesmo, até por uma questão de sobrevivencia. Na minha

opinião, e vou deixar a missão da universidade porque não estou lá, acho que a missão do

politecnico era efetivamente aquela colaboração cientificamente válida com o exterior e com

o tecido produtivo, não era formar técnicos cientistas para dentro, para serem capazes apenas

de ter uma investigação fundamental, era formar técnicos com capacidade científica

reconhecida mas com uma ideia de que o meu trabalho é lá fora e portanto tenho que conhecer

a realidade, as necessidades do país e tenho que ver como é que o meu curso pode ser

adaptado ao desenvolvimento do país. Não sei se é isso que a universidade está a fazer agora

não faço ideia porque não estou lá para ver. Agora sei que o plotecnico continua, na sua

cabeça a ter essa ideia, agora o que não sei é se tem recursos para isso. Porque se for falar

com qualquer pessoa do plitecnico, a não ser aqueles que tenham vindo da universiodade e

que querem trazer a universidade para o politécnico também há, há muita gente que não teve

lugar nas universidades e veio para os politécnicos e portanto trouxe aquilo que sabia e toda

a mentalidade que tinha para o politénico, é normal, não devia ser permitido mas é normal.

Agora, alguém que realmente vive ou que tem ideia do que é o politécnico e para que é que

o país precisa dele, para não ser igual à universidade, só precisa dele se for diferenciado e só

é diferenciado se conseguir estar ligado ao tecido produtivo e ter conhecimento do que existe

no tecido produtivo. Vou falar de uma coisa simples, deixámos de ter siderurgia,

praticamente, tinhamos uma componente no curso onde eu estava que era quimica siderúrgica

que teve que desaparecer para dar origem a outras vertentes mais ligadas ao ambiente, porque

aquilo já não se justificava para o país que tinhamos e para a indústria que tinhamos, na minha

opinião, um curso politénico e uma escola têm que estar atentos àquilo que o país precisa e

se não for assim não sei para que é que ele serve.

Quer acrescentar alguma coisa?

Não, no fundo cá muito no meu interior tenho pena que o politecnico não tenha conseguido

manter aquela perspetiva que havia quando foi criado. agora a culpa é do politecnico ou do

estado? Não. É de todos, é do politecnico que, em muitos casos, teve a veleidade de pensar

que se se aproximasse da universidade tinha mais categoria, houve a universidade que muitas

vezes para subsistir em muitas coisas invadiu o domínio do politénico, houve a propria

pressão social para quem universidade é que é ensino superior e o resto não é e o estado que

não se tem preocupado minimamente em valorizar o plotecnico. Por tudo isto, acho que o

ensino politecnico não sei se estará a cumprir a função para que foi criado e por isso me

parece que tem que haver auqi uma grande volta porque senão estamos a gastar recurso que

não sei se têm retorno.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Entrevista P1

Uma apresentação breve da vossa formação académica/profissional.

A - sou licenciada em economia, mestrado em métodos matemáticos, diretora de

marketing desde 2000, o meu percurso profissional aqui (BANCO) foi sempre ligada às

áreas de marketing e trabalho concretamente na área que nos traz aqui hoje desde 2009

que estou com o segmento dos universitários e universidades. Em termos profissionais

estive sempre ligada ao (BANCO), desde que conclui a licenciatura.

B - sou licenciado em organização e gestão de empresas na área de marketing, depois fiz

três pós graduações também relacionadas com a área comercial e de marketing, não

comecei na banca mas também não foram atividades muito relevantes. Entrei na área

comercial, no (outro banco), entretanto, com a interação do BNU com o (BANCO),

integrei na área de marketing em 2000, que viemos para o (BANCO), desde 2000 que

estou com o segmento universitário e nesta altura sou o coordenador da área do segmento

universitário, que é liderado pela colega, como diretora de segmento.

Algum já desempenhou funções no ES público?

A e B - não.

Como têm visto a evolução do ensino superior ao longo destes anos?

A - penso que o ensino do ponto de vista da formação de pessoas qualificadas tem havido

uma grande aposta do ponto de vista da qualidade do ensino e da especialização é cada

vez mais a preocupação com componentes de maior ligação ao mundo empresarial e isso

é bom, é uma evolução que acho muito positiva face ao tempo em que estudei. Hoje em

dia o percurso académico chega a ser mais rico porque as oportunidades de

internacionalização e de experiências no exterior e o contato com outras instituições e

outras formas de ensino é muito salutar para a formação académica e pessoal dos

estudantes. Agora, não há dúvida nenhuma que todos vemos as notícias que efetivamente

do ponto de vista financeiro, as escolas debatem-se com problemas graves de

sustentabilidade e a necessidade de procurar novas formas de financiamento dessa

qualidade que se pretende e desse estatuto internacional que muitas delas pelo menos as

grandes casas estão a apostar, numa altura em que também os seus utilizadores, portanto,

os seus destinatários estão com mais dificuldades financeiras e realmente preocupa-me

imenso o nível de abandono e o nível de dependência de bolsas e realmente as condições

extremamente difíceis em que grande parte dos estudantes conseguem, ainda assim

chegar ao fim do percurso académico, pronto e depois sempre com um grande ponto de

interrogação no fim, que é a entrada no mundo do trabalho que aí temos efetivamente

estrangulamentos muito graves, sobretudo nos últimos anos e com toda a consequência

que traz relativamente a empregos menos qualificadas ou então saídas do país e portanto

a falta de oportunidades que existe para as pessoas porem em prática todo o investimento

que com sacrifício foi feito ao longo dos anos dos cursos. Sentimos isso perfeitamente,

quer dizer, é um mercado que por aquilo que conhecemos está com alguma tendência

para se estreitar, menos cursos abertos, menos preenchimento de vagas, mais curso com

falta de inscrições e depois mais do que isso, o próprio abandono durante o curso, as

interrupções e isso acaba por no fundo prejudicar muito a própria aposta do país e das

escolas. Face ao tempo em que andei na escola, que já foi há muito tempo, o que sinto é

isso, por um lado, um grande desejo de qualificação do ensino, com duas grandes

preocupações que me parecem muito importantes, um ensino ao nível dos maiores

padrões internacionais, também há rankings para todos os gostos, mas pronto, temos não

sei quantas escolas portuguesas a virem referenciadas nos mais variados rankings e áreas

e isso é bom, assistimos, nas saídas para o estrangeiro, ser reconhecida a qualidade do

conhecimento técnico, do conhecimento académico que é produzido nas nossas escolas,

o tema da ligação ao tecido económico, ao mundo das empresas, parece-me que também

está na agenda de praticamente todas as instituições, nem todas com grande sucesso, mas

está na agenda, assistimos a centros de empreendedorismo por todo o lado, portanto há

um intenção verdadeiramente de preparar os jovens para maior iniciativa pessoal, o fazer-

se à vida e pôr em prática no fundo também dar um contexto democrático às suas ideias

e ensinar isso parece-me extremamente e importante, até porque sentimos, muitas pessoas

importantes na nossa vida mais pública o referem, ainda esta semana o governador do

Banco de Portugal dizia que o problema em Portugal não são as empresas, são os gestores,

portanto, é importante ter pessoas cada vez mais preparadas para conduzir os seus

negócios ou os de outrem e isso parece estar em agenda mas... e isso é melhor face ao

passado mas depois a concretização é um bocadinho morrer na praia, depois a

concretização disto, com frutos imediatos para o país parece uma preocupação adiada e

isso é bem diferente do tempo em que eu estudei.

B - acho que há outra diferença que é a pressão dos custos, da contenção de custos e a

pressão em mostrarmos resultados estatisticamente favoráveis faz com que o grau ou a

qualidade dos estudantes que saem do ensino secundário é muito menos exigente porque

o que é preciso é andar para afrente e por isso os alunos quando chegam ao ensino superior

parecem menos maduros, menos qualificados do que as nossas gerações e isso depois

também acaba por se refletir nos desenvolvimentos à frente, portanto, logo na base .

A - mas isso é um problema que vem mais de trás não está ao nível do ensino superior,

está no nível de preparação com que os nossos estudantes estão a entrar na universidade,

a educação de base, aí acho que se trabalha muito para a estatística e não tanto para o

conhecimento...

B - chumbar é muito difícil...

A - mas pior que isso, tornaste os últimos anos como anos de preparação para um aprova,

quer dizer, resume-se a isso, vimos que o ensino secundário é muito isso, o que tenho que

fazer para passar naquela prova, ora aquilo é um ato isolado de avaliação, não dá traquejo,

não dá preparação de base, admito que muito daquilo que entra na cabeça, enlatado para

aquele momento, uma vez ultrapassado aquele obstáculo se esfuma rapidamente, imagino

que sim. Claro que as generalidades têm sempre um perigo mas parece-me que aquilo que

presenciamos indicia isso e é verdade que nestas gerações encontramos pessoas saídas

mais recentemente do ensino superior que sabem pensar, efetivamente têm muito mais

iniciativa, está a apostar-se muito em competências, mais do que o conhecimento

académico, muito em competências pessoais de liderança, proatividade, tudo isso, acho

que isso é importantíssimo mas depois há ali ferramentas básicas que vêm de trás que

falham muito e isso nota-se claramente.

Sobre esse aspeto, relativamente aos licenciados pré e pós Bolonha, notam alguma

diferença?

A - o que acho é que se isto fosse perfeito, a entrada até mais precoce no mundo do

trabalho, após a licenciatura, as pessoas vêm menos equipadas em termos de

conhecimentos técnicos mas também vêm numa fase talvez mais maleável e acho que é

importante aliar estes dois tipos de experiência, o mais cedo possível, a experiencia do

mundo do trabalho com o conhecimento académico, porque eles entrosam-se muito e

lembro-me muitas vezes, venho de um curso de cinco anos e muitas vezes o que sentia

era que estava em níveis de abstração enormes porque depois não sabia muito bem na

prática como é que quilo se aplicava, sabia aqueles modelos matemáticos todos de trás

para a frente, conseguia resolver aqueles exercícios todos mas aquilo depois na prática,

no dia a dia de uma empresa, como é que aquilo se aplica? é mesmo assim ou isto é o

nível de abstração? e gostaria de ter a oportunidade de ter esta aplicação prática à medida

que ia tendo porque as coisas ficavam muito mais consolidadas quando temos também a

noção da aplicação prática das coisas, portanto, desse ponto de vista até acho que o facto

de ter passado para uma licenciatura de três anos em que no fundo traz as ferramentas

básicas e as pessoas depois, à medida que vão trabalhando, vão tendo a perceção daquilo

que efetivamente gostam, daquilo em que querem especializar-se, qual o mestrado ou a

pós graduação ou assim que para eles faz sentido do ponto de vista da consciência que

tomaram relativamente à aplicação prática seria benéfico. Mas não estamos a assistir a

nada disso, isso era no mundo ideal, a realidade é como temos um estrangulamento no

mercado de trabalho e o que acontece é que passam da licenciatura para o mestrado mais

ou menos na mesma, portanto, continuam desligados do mundo de trabalho e portanto,

desse ponto de vista acho que não se ganha assim tanto com a reestruturação pré e pós

Bolonha. Agora, do ponto de vista do objetivo original parece-me concetualmente bem

pensado só que depois temos uma série de distorções derivadas à conjuntura do contexto

económico do nosso país em concreto atravessa porque pronto não será assim noutras

realidades portanto se calhar as coisas têm outro sentido e são feitas com uma maior

integração entre as duas componentes, no nosso caso não, é um adiar, porque um

mestrado, a segunda fase é um adiar da entrada no mercado de trabalho, é nisso que

infelizmente se está a...

B - um mestrado, na mesma área de ensino que a licenciatura, sem precisar nenhum caso,

mas vai dar exatamente as mesmas matérias e por isso ou ele muda de área de formação

e aí sim é bom e rico para diversificar ou se fica na mesma área da licenciatura vai voltar

a recorrer nos temas...

A - acho também que todas as experiências em que possa haver uma maior, possa ser

dado ao estudante uma maior flexibilidade e uma maior consciência daquilo que

verdadeiramente lhe interessa, porque acho que há uma primeira fase em que ele deve vir

equipado com um conhecimento o mais geral possível, depois ser-lhe dada a

possibilidade, através de experiências e aí é que se joga um bocadinho a ligação entre a

escola e as empresas, ter possibilidade mesmo de fazer experiências, mesmo que fossem

curtas, em empresas que ele possa efetivamente tomar consciência sobre o que gostaria

de desenvolver o seu conhecimento, as suas capacidades, com certeza que teremos

pessoas muito melhor formadas, muito mais empenhadas, motivadas e com escolhas mais

certas e hoje em dia acho que a coisa é assim um bocadinho, todos conhecemos no fundo

os exemplos de pessoas que seguem para o mestrado mais pelo grau, não arranjam nada

que fazer e então pronto é um bocado isso mas acho que a ideia original era boa.

Sobre o ensino privado, qual a ideia que têm? acham que é complementar ou

concorrencial ao ensino público? qual no vosso entender deve ser o papel do ensino

privado?

A - já estamos a entrar numa questão política... os casos que conhecemos, dos jornais, é

uma panóplia muito alargada, desde os casos de claro insucesso ou de benefício muito

duvidoso, a casos em que efetivamente são escolas reconhecidas internacionalmente e

estão nos tais famosos rankings, portanto, há de tudo. Acho que pode caber ao ensino

privado um papel digamos de nicho, por exemplo, apostas em determinadas áreas de

especialização que não têm massa crítica possivelmente no ensino público e pode haver

aí um papel para o ensino privado...

B - para mim é mais fácil falar de ensino privado porque fiz a licenciatura no ensino

privado e de facto, a razão de ser do ensino privado, ainda por cima foi na altura do boom

das universidades do privado, de facto foi para colmatar a circunstância de o ensino

público não conseguir abarcar todos os estudantes que queriam entrar para o ensino, por

isso havia as sobras e nesse caso as sobras iam ocupar os do ensino por isso há direito, há

gestão, há todos os cursos clássicos, para além dos nichos, há os clássicos porque não

havia espaço no público. A questão da qualidade de ensino do privado varia de facto de

escola para escola. Estive na (IES) e de facto há de tudo e isto porque depende dos

professores, não era algo que fosse instituído pela instituição, era a qualidade dos próprios

professores, porque a maior parte dos professores que estavam na moderna no curso de

gestão eram os que estavam (numa IES pública) pelo menos naquilo que é o esqueleto da

gestão e isso via-se pela quantidade de alunos que ficavam nessas disciplinas que eram

as core, nos cursos de cinco anos haviam aquelas disciplinas core e há aquelas disciplinas

mais acessórias e nas core iam acumulando de ano para ano porque de facto, por via dos

professores que aplicavam o mesmo critério que aplicariam no ensino público e os

chumbos eram... por isso não é pelo facto de ser uma privada que havia a facilitação da

passagem de ano, se era mais fácil de entrar, sim, de facto é mais fácil entrar porque é um

negócio, são clientes. Se de uma maneira geral, em termos de imagem, o ensino é menos

exigente e qualificado, não sei dizer. Não senti propriamente quando iniciei o mestrado

(numa IES pública nacional) que é bem reputado, não senti que o grau de exigência dos

professores (de uma IES pública nacional) fosse uma diferença tão grande daqueles que

eram da Moderna, estou a falar de uma forma geral...

A - por exemplo, quando entrei no mercado de trabalho não havia a proliferação ainda de

ensino privado que há hoje, mas havia uma coisa que já se sentia, uma média trazida de

uma escola do ensino público e felizmente estamos a falar de uma época em que as médias

contavam imenso. mesmo nas candidaturas para emprego, a minha média de 15 não era

igual à média de 15, era completamente, se fossemos depois ver a composição, a própria

estrutura do curso, quer dizer, o grau de exigência era a esse nível, portanto, o tipo de

disciplinas que compunham os cursos

B - o típico era direito, ter 13, 14 na clássica eram os supra sumos...

A - e depois via algumas que aquilo tinha montes de berloques, a descrição do curso do

vizinho do lado, aquilo tinha montes de coisas acessórias que eram essas que depois

faziam subir imenso as médias, não diria nas disciplinas centrais mas depois havia mais

uma série de coisas e isso aí notava-se essa diferença, portanto, no fundo o ensino privado,

não sou dessa época, proliferou para cumprir esse papel para no fundo dar escoamento à

procura que não era satisfeita pelo ensino público e o problema é que vais estreitando e o

ensino público e vais alargando a possibilidade de entrada no ensino privado e depois

como é que avaliamos o mérito, como avaliamos no fundo o desempenho académico nos

dois mundos. Isto realmente é muito difícil estarmos aqui a generalizar porque de facto

há de tudo, infelizmente no ensino privado há de tudo, aí percorremos uma escala muito

grande

B - mas acho que o mercado fez o seu papel, fez a sua triagem

A - e aliás vê-se porque depois as próprias empresas nos seus processos de recrutamento

começaram a diferenciar a proveniência e isso quer dizer alguma coisa

B - essa triagem o mercado acabou de fazer, tanto que com a diminuição do número de

alunos, desde há seis anos para cá, o número de vagas do ensino privado diminuiu 46% e

isso é um número...

A - mas aí felizmente tem mais a ver com questões económicas do que com outra coisa

porque efetivamente tens cada vez menos famílias com condições porque antigamente,

com um maior desafogo financeiro, havia famílias que conseguiam fazer o sacrifício de

pagar as despesas no ensino privado, hoje em dia, esse número de famílias reduziu

drasticamente e vê-se cada vez mais um investimento que parece não ter retorno, também

tem a ver com isso, mas acho que tem mais a ver com as condições económicas das

famílias do que propriamente não haver vontade.

No vosso entender qual deve ser o papel do estado perante o ensino superior público?

Ele é regulador, pela produção de leis, financiador e delegou a avaliação numa

entidade independente, a A3ES, acham que devia ser mais de uma coisa ou de outra,

está bem assim?

A - sendo a formação um ativo tão importante, é um ativo estratégico de um país, acho

que é qualquer coisa que não pode ser inalienável do papel do estado, portanto, o estado

tem que cuidar desse ativo da forma mais eficiente, por um lado, e com a visão estratégica

relativamente àquilo que efetivamente interessa ao país, para a sustentabilidade do país

portanto não é qualquer coisa que seja alienável e que se permita ficar exposto mais a

interesses de natureza economicista ou de outra natureza qualquer. efetivamente se é

assim, na minha opinião, estamos a falar de uma área de intervenção do estado que acho

nuclear e não é indiferente para o país, as opções estratégicas e a qualidade da regulação

que é feita sobre o ensino, desde a base ao topo e para mim, ensino superior faz parte

dessa cadeia, estamos a falar de... um dos indicadores de desenvolvimento de um país é

precisamente a quantidade e a qualidade dos talentos que produz, não é só do sucesso

escolar, é no fundo da preparação, da qualificação técnica dos seus cidadãos do ponto de

vista substancial e não só estatisticamente...

Consideram que há licenciados a mais no país?

B - não, a questão é qual a expetativa que tem pelo facto de ser licenciado porque todos

temos a expetativa que devemos chegar ao 12º ano, é um limiar mínimo e obrigatório a

que temos que chegar, mas se tivéssemos a expetativa que 80% da população deveria ter

a licenciatura, desde que pelo facto de ter a licenciatura as pessoas não achem que têm

que ser diretoras das empresas mas sim faz parte da formação pessoal e académica e

tivéssemos esse patamar de exigência no país, quanto maior o conhecimento, mais

estaremos preparados para conseguir valor...

A - para responder a essa pergunta, há uma pergunta anterior que é que país é que quer

menos, no fundo quais as grandes opções estratégicas do país, em que é que me quero

especializar, qual o meu papel no mundo, na europa, se sou um país de mão de obra

barata, ficamos pelo 9º ano, mas se me quero diferenciar e ter um determinado nível de

aposta em determinados setores, acho que isso tem, que ser traduzido para o grau de

preparação e de qualificação dos nossos jovens e daqueles que vão assegurar o futuro do

país, portanto, não consigo dissociar do que se quer, tem que haver uma visão estratégica

para o país de seleção das áreas e isso também determina quais as áreas de formação que

devem ser mais incentivadas e mais apoiadas face a outras, não está tudo no mesmo plano.

Temos défices graves de qualificação em algumas áreas, apesar do número de licenciados.

É verdade que as nossas escolas produzem talentos e pessoas com qualidade que é

reconhecida internacionalmente, temos que ser coerentes e consequentes nestas escolhas

e acho que aí é um papel que só cabe ao estado porque saindo do estado sabemos

perfeitamente que as lógicas predominantes são de interesses económicos, de interesses

de grupos, quando olhamos para o setor privado...

B - outras motivações que não sejam o core do conhecimento..

A - e portanto corremos o risco de haver desvios sérios em relação àquilo que é o interesse

do país...

B - deve ser regulador mas deve ser também...

A - não deve ser só regulador...sabemos que a lógica do ensino privado vai ser vou apostar

naquilo que me dá mais lucro, onde gasto menos dinheiro e retiro mais proveito e isto

pode não ser necessariamente o que mais interessas ao país. o país pode precisar de

investir em determinadas áreas cujo desenvolvimento é mais caro, implica mais

infraestruturas em que o investimento é maior mas são as mais essenciais para o país

portanto isto não pode ficar ao cuidado de qualquer interesse privado, é um ativo tão

importante, fundamental e estratégico para o futuro do país que me parece que deve

emanar diretamente do estado.

Sobre as propinas, a partir de 92 foram instituídas propinas com um valor mais

elevado do que até então, há autores que consideram que o pagamento de propina

responsabiliza o aluno perante o seu percurso académico outros consideram que a

sua existência põe em causa a igualdade de acesso. Nestes dois polos, onde se situam?

A - acho que as duas formulações têm alguma coisa de verdade, agora acho que falta um

fator que é eu reconhecer no ato do pagamento da propina o investimento pessoal que

cada um está a fazer, ou seja, ter uma componente de mérito associada... parece-me que

não interessa aquela pessoa que tem capacidade financeira para continuar a ser cábula a

vida inteira e pronto, está lá durante dez anos e também não me parece que seja justo a

sociedade, o contribuinte em geral estar a financiar os estudos aos cábulas, portanto falta

aqui distinguir os que são cábulas dos que não são, aqueles que efetivamente têm

aproveitamento, interesse, motivação, querem fazer daquilo uma opção consciente de

vida e acho que a sociedade está disponível para apostar nestas casos, acho que falta

introduzir aí um fator que esteja relacionado com a produtividade, o mérito. Agora,

obviamente que entrando num esquema destes temos que ter a garantia que sabemos

medir isso, não há desvios nessa... teoricamente acho que é qualquer coisa no meio termo

nem é realmente ser demasiado permissivo, acho que devemos dar oportunidade a todos

e devemos continuar a financiar aqueles que realmente justificam a oportunidade que lhes

foi dada, aqueles que não justificam, todo nós somos do tempo e encontrámos casos de

fulanos que eram quase avós e andavam pelos bancos da universidade.

B - em termos simplistas, colocava todas as propinas aos 5000 e 6000 euros que são os

custos reais do ensino, todos ficavam cm a noção de que é quanto aquilo custa, de uma

maneira geral, os contribuintes têm que participar para que aquele aluno esteja a ter a

formação superior e de facto o estado em vez de cobrar os mil euros, financiava os 5000,

no fundo quase como um cheque de 5000 e vai pagar o curso. Acontece, para aquelas

situações em que siam deixando ficar, no ano seguinte já não eram 5000, o estado não

financiava com 5000, já só financiava com 4000, no ano a seguir, 3000 e por isso, se ele

quisesse efetivamente continuar e mantivesse razões plausíveis, porque há questões de

saúde, a razão de não estar a ter um caminho normal de ensino superior assumia

pessoalmente as responsabilidades porque de facto os contribuintes não têm que assumir

essa responsabilidade e nesse modelo ficamos todos conscientes de qual o custo que isto

tem e quanto é que os contribuintes estão a contribuir para a formação de cada um.

A - tenho que ficar por aqui pois fui chamada para uma reunião mas se precisar de mais

alguma coisa estou disponível.

B - o estado dava um cheque integral. Eu considero, como disse a colega que é

perfeitamente estrutural o estado preparar os cidadãos com conhecimento e que esse

conhecimento seja gerador de riqueza e que consigamos fazer essa transformação e por

isso a geração de conhecimento acho que cabe ao estado ter essa participação e por isso

nem sequer havia propinas de mil euros, um aluno que de facto, em todo o seu percurso

de ensino cumpriu o seu papel e por isso estar a receber conhecimento é estar a gerar à

partida riqueza para o país, que depois em fase de atividade profissional no fundo vai

aplicar esse conhecimento, com toda a importância que isso tem depois na geração de

impostos, não me chocava nada que os mil euros que se pagam atualmente não se

pagassem, pagar-se-ia de facto naquelas circunstâncias em que não houvesse

aproveitamento e por isso alógica da meritocracia sem favores, sou apologista.

Esta emigração qualificada que temos hoje no país, como a vê?

B - é preocupante enquanto cidadão e enquanto profissional do banco, porque no fundo é

a tal situação em que o estado esteve a investir em alguém que depois de estar dotado

com todos os instrumentos que são necessários para começar a gerar riqueza vai embora

gerar riqueza noutro país, por isso, quem receber estes estudantes de ensino superior, deve

ficar muito agradado porque não investiu, não gastou dinheiro na geração deste saber e

agora absorve, consegue absorver estes geradores de riqueza económica nesses próprios

países. Há a questão económica e há outra questão bastante relevante que é a questão

social porque num país em que cada vez há menos crianças, se são estas pessoas que

tendencialmente poderão ter maior conforto financeiro para terem menos problemas em

criarem novas gerações e novas famílias, se já temos poucos e depois são estes que

acabam, por sair e por isso há aqui questões económicas e sociais que são estruturais e é

difícil depois recuperar e é de facto preocupante estar a diminuir constantemente o

número de nascimentos em Portugal.

Concorda com o princípio de entrada de financiamento externo para as IES

públicas?

concordo porque as próprias instituições podem ter benefícios dessa relação com as IES,

sou defensor de que deve de haver uma maior relação entre as empresas e as IES, quer do

ponto de vista prático, de prototipagem, de novos desenvolvimentos nas áreas

empresariais, haja a possibilidade de as academias serem polos de inovação para as

empresas e por isso se as academias geram riqueza e geram algo de novo às empresas, é

natural que se vejam ressarcidas desse valor acrescentado no sentido de estarem dotadas

dos recursos para continuarem a gerar esses desenvolvimentos, seja para a compra de

maquinaria, para financiar doutoramentos, daquilo que é necessário para o normal

funcionamento da academia e por isso, sendo defensor da relação entre as empresas com

as universidades, acho também natural que haja o financiamento e a participação das

empresas no financiamento das universidades. Há na cultura anglo saxónica,

nomeadamente nos EUA, a cultura dos ex alunos contribuírem para as escolas onde

receberam o ensino, não creio que nós portugueses tenhamos essa cultura, mas também

sabemos que pode ser com um atraso de cinco ou dez anos, é natural que consigamos

absorver tudo aquilo que são os desenvolvimentos da cultura anglo-saxónica por isso

admito que a prazo também seja uma nova fonte de financiamento, o altruísmo dos

estudantes a apoiar os novos estudantes desse ano. Admito que por trás desse altruísmo

deve haver alio qualquer beneficio que não sei qual é mas de qualquer das formas admito

que possa ser uma fonte de receita que as escolas mais tarde ou mais cedo vão aproveitar

ou pelo menos lançar a semente para ver se colhem algum fruto dos ex alunos, não me

choca que as escolas autonomamente se relacionem com a sociedade e por via dessa

relação, ao gerarem valor, também recebam.

O (BANCO) tem assento no CG?

sim, o presidente tem, mas não tenho presente, sei que participa quando há as reuniões

que participa mas não tenho presente os temas que são abordados nessas reuniões, as

agendas porque há outros CG onde também há participação de elementos do (BANCO)

mas penso que é mais na perspetiva de ligação ao meio ao ensino, no fundo que medidas

podem ser implementadas para dinamizar esta relação entre as empresas e a escola mas

em termos de conteúdo não sei.

O apoio financeiro que dão é exclusivo ao ensino público?

Não, a racionalidade da nossa participação no ensino é uma racionalidade económico

financeira, não é pelo facto de sermos bancos do estado, tanto que há grandes escolas que

tem relação connosco, apesar de sermos do estado e das escolas serem do estado por isso

nada obriga a que haja essa relação, aquilo que pretendemos de facto é conceder

vantagens aos estudantes de ensino superior, independentemente de ser no ensino público

ou no privado, do ponto de vista comercial o que pretendemos é quanto mais cedo

possível conseguir estabelecer uma relação comercial e emocional com os estudantes e o

caminho que nós traçámos é utilizando as IES para, vá lá, os escritórios desta relação em

que damos benefícios à escola e damos benefícios aos clientes da escola, ou seja, é quase

toda a oferta que está associada aos alunos que é tangibilizada no cartão para os

estudantes, de facto, tudo se inicia no cartão, ou seja, a escola deia de ter custos na emissão

do cartão, deixa de ter custos de todo o processo administrativo com a atribuição do cartão

e todo esse custo decorre do lado do (BANCO). Em contrapartida, a única coisa que

queremos é que nos dêem oportunidade de estabelecer contato com os estudantes. se o

estudante não quiser ter uma relação connosco não fazemos qualquer pressão no sentido

de porque quilo que é dito ao estudante é, por via do protocolo somos responsáveis pela

emissão de um cartão de identificação da escola e estamos aqui a cumprir esse papel de

emissão do cartão. Há duas hipóteses, um cartão sem a vertente bancária ou um cartão

com a vertente bancária, o primeiro é um cartão de identificação embora dotado da mesma

tecnologia do cartão com a vertente bancária, associado à vertente bancária tem todas as

vantagens de não pagar despesas de manutenção, não paga o cartão, tem as poupanças

com as taxas majoradas, o crédito pessoal tem benefícios nas comissões, na taxa, no caso

dos estudantes de facto aquilo é tudo a zero, não pagam rigorosamente nada durante o

período em que estiverem a estudar e independentemente da idade. de facto, no ensino

superior, do ponto de vista estratégico, o (BANCO), desde há 20 anos que começou este

programa tem assumido a função de banco de apoio e é de facto banco de apoio às escolas

e aos estudantes porque dota-os daqueles que são os instrumentos básicos na relação

financeira e o proveito é que não se cobra nada aos estudantes.

Se for pedido um empréstimo para estudar, eventualmente tem que pagar e é pago

de uma forma mais baixa do que a generalidade dos empréstimos?

Sim, a taxa de juro é bastante mais baixa, estamos a falar neste momento de Euribor

+3,5% e sobre este valor há o benefício do que são nossos clientes e o Euribor fica a +3,

nesta altura, para um crédito pessoal que pode ir até 16 anos, Euribor +3 é quase o custo

do dinheiro e por isso também a esse nível procurámos também ter sempre todo o

beneficio para os estudantes. Claro que isto, a lógica é, ele tem o crédito connosco e

depois durante o período que tem crédito connosco conseguimos que seja nosso cliente

durante esse tempo. Se existe a perspetiva de apoio e no caso do (BANCO) posso dizer

que a perspetiva é genuinamente de apoio a todos os níveis hierárquicos, sentimos que

somos úteis aos estudantes, como é lógico isto é uma empresa e tem que ter sempre

subjacente uma racionalidade económico financeira daquilo que não ganhamos ou

deixamos de ganhar ou até mesmo perdemos no momento atual enquanto é estudante,

temos a perspetiva de no futuro, merecendo a confiança dos estudantes depois então retê-

lo na fase me que passa para a vida ativa. Com esta história da genuidade, de sermos um

banco de apoio, não estou a dizer que somos uma empresa altruísta só por ser e enquanto

empresa, para manter a nossa sustentabilidade temos que ter ganhos para manter a

empresa até porque também é uma empresa do estado.

Porque é que e como surgiu este protocolo?

surgiu em 1994, na altura em que era presidente (nome) e surgiu, penso eu, na altura de

uma conversa com este presidente e o reitor da (universidade) e por via dessa

oportunidade, da (BANCO) assumir este papel de emissor dos cartões de identificação,

surgiu logo na (universidade) que é o nosso protocolo número um e que pela pertinência

desta oportunidade, rapidamente se estendeu a várias escolas do país, que permitiu ao

(BANCO) ganhar logo cota e desde aí ter conseguido manter-se como o banco com maior

taxa de penetração a este nível, porque foi evidente que a escola tinha vantagens, não ter

que se preocupar com todo o processo da emissão dos cartões deu-nos a oportunidade de

estabelecer relação com as várias escolas de ensino superior público e privado.

Como é que escolhem as instituições? são elas que vêm a vocês ou ao contrário?

Há um misto. a (BANCO) é um banco universal e por isso não faz exclusões de escolas.

Claro que como é lógico, preferimos as escolas com maior dimensão, com maior massa

crítica porque toda a operação se torna mais eficiente, mas aqui há um misto, há situações

em que são as escolas que vêm ter connosco e solicitam esta relação de parceria e há

situações em que somos nós que tomamos a iniciativa de ir ter com as escolas com

vontade de estabelecermos parceria. Éramos parceiros, por exemplo, da (universidade),

de largos anos, com uma relação extraordinária, em que houve um ano que foi aberto

concurso e nós perdemos o protocolo, o que não quer dizer que no próximo período de

renovação, não nos apresentemos também com vontade de ir a concurso e ganhar a

relação de parceria com essa escola. as escolas lançam concursos para ver quem é o

parceiro financeiro.

Para além dos cartões é atribuído algum financiamento às escolas?

Os benefícios que são dados às escolas, há benefícios financeiros e benefícios não

financeiros, por isso um benefício não financeiro é todas estas vantagens que damos à sua

população académica e são vantagens do ponto de vista também do conjunto de

dispositivos que colocamos e os TPA de fazer os pagamentos automáticos com um preço

diferenciado de colocar as ATM nas escolas, que um ATM, parecendo que não, tem um

custo de manutenção elevado e nas escolas nem sempre são rentáveis mas são de facto

necessárias nas instituições e por isso mantemos as máquinas nas escolas. Depois existem

os apoios financeiros que tendem ao desenvolvimento de atividades da própria escola que

dinamizem, que fomentem o conhecimento, seja para conferências, seja para projetos

específicos, seja para projetos desenvolvidos pela própria escola, alterações estruturais ou

de melhoria, procuramos sempre que tenha um fundamento, que tenha uma aplicação útil

para os estudantes e para a própria academia, é o principio de nós apoiamos o

desenvolvimento e a difusão do conhecimento, é verdade que participamos nas festas

académicas, porque de facto é um momento ímpar de concentração dos estudantes,

culturalmente é bastante relevante neste momento na vida dos estudantes, aquela altura

que de facto apoiamos as festas académicas mas para além desse apoio, tudo o mais,

aquilo que procuramos de facto é o desenvolvimento da academia naquilo que é o core,

conhecimento e geração de conhecimento dentro de cada academia, apoio ao

empreendedorismo, saídas profissionais, todo o apoio financeiro seja canalizado para esse

efeito em cada escola, depois varia de escola para escola, a alocação desse apoio

financeiro é decidido escola a escola.

O que esperam da escola?

Quando organizam a conferência que nos dêem a oportunidade de estar presentes com a

imagem institucional do (BANCO), se forem competências em que seja relevante a

participação do (BANCO) que nos dêem espaço, não propriamente para apresentação dos

produtos mas espaço para que alguém técnico da caixa contribua para a conferência com

a exposição de um determinado tema, termos uma participação ativa nas conferências,

que nos dêem, no caso de haver qualquer remodelação de uma sala que se passe a designar

sala (BANCO), que se pretendermos ter uma abordagem comercial dentro da escola, que

nos dêem essa autorização, montar um stand e permitam o contacto com os estudantes,

se houver algo que seja relevante para os estudantes que permita a utilização do circuito

d e-mails para o envio da comunicação para os estudantes, a título de exemplo, temos um

depósito com uma taxa majorada que dava acesso aos festivais de verão já com os

patrocinadores, de facto não deixa de ser negócio mas é útil para os estudantes este

fomento da poupança e em algumas escolas pedimos para o envio do email para

apresentação dessa solução. consideramos ter uma participação na vida da academia, com

alguns focos como este das conferências, tudo o que tenha a ver com empreendedorismo,

é algo que procuramos também apoiar porque Portugal precisa que haja empreendedores

porque só se houverem empresas é que existem empregados capazes de auferir

rendimento e tornarem-se clientes, por isso é aquele ciclo económico que também

procuramos ajudar a que se desenvolva dentro das academias. Por isso essa relação, esse

apoio financeiro procuramos que tenha sempre esse retorno, mas depois varia de escola

para escola.

Quanto tempo dura uma parceira assim?

Há contratos de três anos e há contratos de cinco anos. quem determina é a escola, do

nosso lado, se quiserem fazer um contrato de sete anos, oito anos, estamos disponíveis

para isso.

Há máximos e mínimos?

Não, por exemplo, também há com as associações académicas e aí há contratos até de um

ano, procuramos que não haja contratos de um ano porque todo o investimento que

fazemos depois se deixa de haver protocolo no ano a seguir lá se vai o investimento que

fazemos, por isso, tanto há de um ano... aquilo que normalmente determina é que os

presidentes, reitores preferem que não vá muito para além do período em que são

responsáveis pelas escolas e por isso não querem, para além do legado deles estar a

comprometer o seguinte. Vamos supor que o reitor acaba daqui a dois anos a sua missão,

provavelmente o que ele vai dizer é, olhe faço o contrato por dois anos e quando vier o

próximo, logo vê como decide ao nível da banca. Mas nisso temos sido flexíveis e

normalmente é a escola que determina o número de anos, a nossa preferência é cinco mas

se quisessem dez nós aceitávamos. quando isto se iniciou há cerca de 20anos atrás, os

cursos tinam cinco anos e então era o seguimento de uma licenciatura, admito que tenha

sido essa a motivação, cinco também porque acaba por ter uma componente de retorno, é

o momento a partir do qual começamos a ver o equilíbrio do investimento, por isso quanto

maior é o prazo mais fácil é atingir o break even do investimento porque os alunos do 1º

ano nós damos tudo por isso não há grande retorno daquele investimento e por isso depois,

à medida que forem saindo é que sim, com um maior envolvimento vão gerando proveito

capaz de cobrir todo o investimento feito numa fase inicial, os cartões não são baratos, a

sua manutenção não é barata, tem um valor de patrocínio por isso toda essa componente

tem custos que depois têm que ser cobertos no normal relacionamento com os estudantes

connosco para haver depois o equilíbrio e a motivação para continuarmos a apoiar as

escolas de ensinos superior utilizarmos este como meio de atingirmos os estudantes.

Há outras formas de apoio sem ser financeiro? Por exemplo na forma de estágios...

Essa é outra componente que nos protocolos, principalmente nas escolas maiores,

integramos sempre um conjunto de estágios no (BANCO), mais uma vez não é em todas

as escolas, que tenham a ver com as áreas do banco, as mais clássicas, economia, gestão,

direito, também há entradas com formação em psicologia por isso há de facto o

estabelecimento de critérios que permitem a atribuição de estágios no (BANCO), tanto

profissionais como curriculares. Há outro tipo de apoios como a atribuição de

equipamento por exemplo, já nos pediram computadores, mobiliário e havendo

disponibilidade isso faz parte da nossa missão darmos esse equipamento. temos essa

perspetiva de ser úteis às escolas porque até mesmo o facto de termos agencias

universitárias nas universidades, têm uma componente lógica de relacionamento, a

proximidade que é sempre uma variável muito relevante na relação com o cliente bancário

mas também não deixa de ter a ,motivação de ser um serviço mais que é prestado dentro

do campus, haver um banco, da forma que há, as máquinas de fotocópias, as livrarias, a

existência de um banco também tem essa componente de apoio à própria academia e por

isso temos mantido, apesar de alguns balcões terem fechado nos últimos anos mas nas

academias temos mantido as agências dirigidas aos estudantes por isso nesse aspeto

também consideramos que é um apoio dado às escolas, hoje em dia uma agência também

não é barata, por isso quando olhamos para o estudante naquela fase cíclica em que damos

tudo, por isso há ali uma componente que é de facto de prestação de serviço àquela

população e isso o (BANCO) tem mantido.

Dos estágios profissionais resultam muitas colocações?

Não sei precisar em termos de números mas o (BANCO) tem um conjunto de requisitos

que tem que cumprir por via de ser um banco intervencionado, ao nível do pessoal é um

desses requisitos, ou seja, tem restrições a esse nível, de qualquer das formas não quer

dizer que não entra ninguém mas tem havido na mesma estágios e a porta de entada no

(BANCO) de facto são os estágios e não há outra porta de entrada que não seja a entrada

pela via comercial e depois a evolução normal em termos daquilo que é o funcionamento

orgânico de uma organização. Raros são os casos em que há uma entrada direta para uma

posição técnica e mais elevada, tudo resulta de facto dos estágios que existem, a

esmagadora maioria para a área comercial, claro que depois há áreas técnicas muito

específicas que já não passam pela área comercial, se precisamos de um advogado para a

área jurídica, há um estágio que é concedido e por isso, havendo espaço para isso, há o

estágio, a avaliação e depois fica ou não, consoante a avaliação feita. Mas praticamente

tudo vem dos estágios ao qual não é exclusivo, mas privilegiamos de facto aqueles que

são nossos parceiros no ensino superior. Por exemplo, na campanha que temos no início

de cada ano letivo para cumprir a nossa responsabilidade do protocolo na emissão dos

cartões, falamos à volta de 110 recrutamentos que fazemos para estarem nos stands e

estamos a falar de um terço da necessidade, isso é uma operação que mobiliza cerca de

300 comerciais para que nos stands das escolas consigamos atender todos os alunos para

pedir o cartão por isso é uma mega operação e anualmente temos procurado no mercado

novos colaboradores, este ano foram 110 e depois é mais uma vez oi circuito normal, os

melhores, havendo espaço, permanecem no estágio e depois contrato e depois consoante

as necessidades, a integração nos quadros.

Estas formas de financiamento têm assumido sempre os mesmos moldes ou têm

sofrido alterações ao longo do tempo?

Foi evoluindo, ao princípio tudo era novo, dávamos os cartões e assumíamos os custos

dos cartões só que com a relação com as escolas foram surgindo novas oportunidades e

nós olhamos, emitimos o cartão mas está a acontecer aquele evento, está a ser

desenvolvido aquele projeto porque é que também não participamos, porque não

aproveitamos esta oportunidade para posicionar a imagem do (BANCO) e por via dessas

oportunidades acabaram por vir... pronto, tudo bem, vamos participar neste evento então

participam nas duas vertentes, ajudam à concretização do evento e têm o retorno de

imagem, por isso gradualmente e à medida do que a experiência foi correndo, foram

evoluindo as contrapartidas associadas, as oportunidades e por isso foi em crescendo as

oportunidades que iam aparecendo. não nasceu com este formato, foi evoluindo até

chegar a este formato tanto que ao princípio nem existiam concursos, aliás ao princípio

era o (BANCO) a única que tinha esta participação, só mais tarde é que apareceram os

outros bancos, o (BANCO) tem a dimensão que tem e por isso é que em

proporcionalidade, a operação deles dos universitários também é mas a lógica é igual para

todos. Participação por via da emissão dos cartões e todo o envolvimento dentro da

academia, seja com agências ou produtos financeiros ou participações nas conferências,

os moldes em que todos participamos são em tudo semelhantes.

Então foi a entrada da concorrência que definiu o início dos concursos?

Exatamente, porque a dada altura os outros bancos perguntaram então mas se está o

(BANCO) porque é que não temos direito, então depois começaram, havia sempre alguma

argumentação de que o banco público está a ser privilegiado, coisa que nunca foi

motivação. nunca se estabeleceu esse parâmetro como parâmetro de avaliação de ser o

(BANCO) o banco escolhido, nunca houve necessidade de ir ao acionista para exercer

qualquer tipo de pressão, isso nunca existiu, são regras de mercado, o que dita a escolha

da escola é puramente regras de mercado, tanto que a (universidade) não está connosco,

a (universidade) também não e são das maiores mas outras estão, a (universidade) é a

maior e está connosco, não há interferência política nesta questão.

Na sua opinião a que se deve a ausência de cultura de mecenato no nosso país?

Acho que tem a ver com a nossa cultura, acho que não existe porque... não sei se somos

muito habituados a que exista o pai estado e por isso tudo compete ao estado, há esta

filosofia de que tudo compete ao estado por isso há uma necessidade de o estado participar

em tudo. se há um défice em alguma área, então compete ao estado fazer esse

desenvolvimento. E essa interiorização de que o pai estado é responsável por todos nós,

desresponsabiliza-nos enquanto cidadãos da participação em determinadas áreas e por

isso como não há essa cultura de participação ativa, vai havendo cada vez mais a questão

do voluntariado, dar tempo a quem precisa e isso é um salto qualitativo do ponto de vista

cultural que é notável. Agora, quando passamos ao tabu dinheiro que também não é

abundante na maior parte dos cidadãos, aí a coisa torna-se mais difícil ou seja, o número

de entidades, falando a nível individual com capacidade para se tornarem mecenas é

diminuto, embora tenhamos aqui um exemplo que destoa que é o facto de haver

remuneração para a fundação Champalimaud, de facto é notável porque foi um mecenas

de mão cheia, a fundação Gulbenkian que é o primeiro exemplo, a Fundação Manuel dos

Santos, são exemplos que poderão ajudar a que haja outra perspetiva e outra mudança da

necessidade de quem tem recursos suficientes, quer a nível empresarial quer a nível

individual possa ter uma participação mais ativa, mais altruísta no desenvolvimento de

áreas do ponto de vista social ou cultural ou do conhecimento que é o caso do Manuel

dos santos, mais ao nível do conhecimento e da liberdade de expressão, mas admito que

possa haver essa mudança. Mas enquanto tivermos esta perspetiva de mais

responsabilização do estado e menos responsabilização individual de cada um para a

forma como queremos a sociedade e cada um assumir que a sociedade é o somatório

daquilo que cada um contribui, vamos sempre continuar à espera que o estado apoie tudo

e financie tudo aquilo que é deficitário e ao termos este raciocínio pensamos, a

responsabilidade não é minha, é do estado, como é do estado não vou contribuir para isto,

tem mais a ver com a questão da mentalidade, da cultura. Do ponto de vista fiscal existe

esse benefício das doações, de considerar um custo fiscal superior àquilo que é doado,

mas também depois a esse nível existe um conjunto de restrições que para conseguir obter,

um bocado à portuguesa, o benefício é preciso estar reconhecido pelo ministério como

entidade com méritos para ter estatuto de utilidade pública para ter acesso ao mecenato

por isso acaba também por não ajudar quem quer doar porque também não é fácil.

O (BANCO) tem bolsas para estudantes, algum tipo de bolsas?

Não, o que fazemos é, tem acontecido em alguns protocolos é, do apoio financeiro que

concedemos dizemos que x é para apoiar as bolsas, seja bolsas para estudar no

estrangeiro, sejam bolsas sociais e mais uma vez fruto de evolução, não é uma coisa que

existia, é uma coisa que face aos factos que existem atualmente procuramos que a própria

escola, nas conversações que temos se não querem a utilização de parte da verba para os

alunos mais carenciados e por isso nos últimos protocolos temos procurado incluir essa

vertente

Quando atribuem financiamento, vai em bloco e vocês dizem onde vai ser gasto ou

a escola tem liberdade…

Tem toda a liberdade, não interferimos na questão, o que procuramos é que as verbas

sejam alocadas àquilo que consideramos que é mais relevante e que se enquadra no

posicionamento com que queremos ser reconhecidos como banco de apoio ao ensino

superior, como banco de apoio à difusão do conhecimento, banco de apoio ao

empreendedorismo e utilizando estes pilares, procuramos que as verbas sejam atribuídas

em função desse sentido. se nos disserem que é para pagar salários dizemos que não. Mas

não interferimos na distribuição, pode em alguns casos, a maior parte dos casos, estar

alocada a verba àquela atividade mas é sempre fruto da conversação com as escolas.

Exigem algum tipo de relatório de atividade face ao financiamento entregue?

Sim. quando há o acerto de contas, a escola diz fizemos isto ou aquilo com este valor

correspondente e procuramos que haja esse grau de exigência de onde é que a verba foi

aplicada e cada vez mais há evidência formal disso, se efetivamente se cumpriu aquele

requisito e isso temos feito.

No orçamento total do (BANCO) qual a fatia que cabe a esta iniciativa?

Não vou precisar o valor em termos de... mas é uma ínfima parte dos custos assumidos

pelo investimento do (BANCO) para o seu normal funcionamento, nessa perspetiva é

uma ínfima parte, em termos de investimento face ao risco depois de ter o retorno, é um

investimento significativo. Atrever-me-ia e uma vez que isto é confidencial a dizer que

se o (BANCO) não tivesse, na sua forma de estar este principio de banco de apoio ao

ensino superior, não sei se chegaríamos a estas verbas que são aplicadas porque requerem

tempo de permanência com as escolas para depois gerar o retorno e como tal já

precisamos de ter o cliente para além do período da vida académica, num número

significativo de escolas, precisamos de ter, para além da vida académica, para termos o

retorno do investimento que fazemos e por isso é um risco e estamos nesse ponto que é

de facto um investimento significativo que temos mantido porque somos banco de apoio

ao ensino superior. Mas se pensarmos no orçamento das escolas é uma ínfima parte do

orçamento das escolas, não tem expressão. A participação do (BANCO) no ensino

superior não se pode considera uma receita própria, não dá para isso, face aos valores que

são apresentados para o ensino superior não..., nem sei se é daquelas que se forem colocar

as rúbricas relevantes não está lá., por isso não é um área... é uma área que acredito que

seja importante para as escolas porque é o relacionamento com o meio empresarial e a

relevância que temos em todo o processo de atribuição dos cartões e é mais um beneficio

aos clientes das escolas com aquilo que oferecemos, tudo isso é relevante não é um valor

excipiente como é lógico mas não é esta verba que os faz funcionar, muito longe disso.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Na minha perspetiva, essa diversificação das fontes de financiamento das universidades,

sou defensor de que as escolas deviam ter autonomia para se autofinanciarem porque é

algo que também as permite distinguir umas das outras, deve haver instrumentos para

distinguir as escolas umas das outras, que haja uma competição entre elas porque é essa

competição que faz servir de motor para que sejam cada vez melhores e por isso a questão

do financiamento é muito relevante porque têm que sentir que há essa competição e que

isso as fará ser melhores para terem maior número de alunos e por isso acho que deve

haver competição e deve haver autonomia nesse sentido e também no sentido de se

poderem financiar por outras vias que não o estado, por um lado, para desonerar o mais

possível os cidadãos, os contribuintes e no fundo aplicar essa verba em outras

necessidades, seja em saúde, seja na componente social, isso claramente compete aos

cidadãos, mas também compete ao estado e por isso esse autofinanciamento é por via da

relação e da relevância que as escolas têm no meio económico, social e por isso devem

procurar mecanismos para gerar essa receita, seja a nível nacional ou internacional porque

a internacionalização é outro veículo de geração de receita porque passámos agora, não

sei se o ano passado se este ano, um estudante estrangeiro paga a propina na totalidade,

não têm que ser os contribuintes portugueses a pagar as propinas de um estudante

estrangeiro, a mim parece-me bem e por isso também nessa componente da

internacionalização, as escolas tenham um papel que é relevante porque ao

internacionalizarem-se e aos seus serviços, é estarem a gerar receita e riqueza para

Portugal, porque Portugal é como se fosse uma loja porque nós geramos receitas e não

são só os fluxos internos que são suficientes, precisamos de colocar serviços e produtos

lá fora para que venham as receitas do exterior e isso sim estamos a gerar riqueza e por

isso esse papel das escolas, quanto mais conseguirem aprofundar essa relação no meio

empresarial nacional e internacional, a relação com as empresas é uma pedra fundamental

seja na geração de recita, seja na integração dos alunos também na atividade profissional

que ajuda bastante a componente prática

Muito obrigada pela sua disponibilidade,

Entrevista P2

Começava por si, a sua formação académica,

Sou formado em gestão na (IES privada nacional).

Percurso profissional.

Comecei em 1994 no Banco (nome), que foi comprado pelo grupo (banco) e por isso fiz

toda a minha carreira no (banco), há 20 anos.

Neste momento desempenha o cargo de

Sou diretor do banco e as funções são chefe de gabinete do presidente.

Alguma atividade profissional além desta?

Não e antes de ter esta atividade e por isso é que o presidente passou o tema para mim,

fui responsável do programa (banco) universidades, onde passa o apoio ao ensino superior

do banco, tenho esse background também.

Nunca desempenhou funções no ES público?

Não.

O ensino superior tem tido um enorme desenvolvimento no nosso país, acha que

neste momento serve as necessidades do país em termos de empregabilidade?

Acho que sim, mas acho que pode ser mais otimizado. Acho que serve as necessidades

do país mas é um encargo demasiado forte para o estado.

Como é que poderia ser otimizado?

Acho que há universidades amais, acho que a rede de ensino superior não está otimizada

e sinto que há alguma ineficiência nas universidades públicas em geral em termos de

custos, de estrutura de custos das universidades, é a minha opinião sem conhecer a fundo

o tema.

E em termos de qualidade das pessoas que contratam, tem-se apercebido de alguma

mudança relativamente às suas qualificações?

Acho que a qualidade é boa e se há mudança tem sido para melhor.

Para além de ter referido que a rede deveria ser otimizada, acha que existem outros

problemas no ES?

Acho que é muito importante as universidades internacionalizarem-se mais do que estão

hoje e estarmos mais virados para o estudante internacional ou também, acho que o

estatuto do estudante internacional é uma coisa fundamental para as universidades e acho

que se devia investir mais em e-learning e em lecionar cursos em mais do que uma língua,

em inglês também como têm feito outros países de leste, o que tem atraído muitos

estudantes de fora, acho que isso é importante para ganharmos calo, não estarmos

dependentes da demografia portuguesa que está a baixar infelizmente.

A sua opinião sobre o ensino privado, o que acha desta coexistência/convivência

privado/público?

Acho que é saudável, acho que infelizmente o ensino privado em Portugal tem dois

ritmos, tem duas ou três escolas boas e o resto francamente abaixo do que deveria ser uma

universidade em termos de qualidade, mas acho que era saudável haver mais

universidades privadas e boas.

Em termos do papel do ensino privado, será complementar ao público? será

concorrencial, qual a sua opinião?

Acho que é concorrencial mas acho que devia ocupar um espaço dirigido para

determinados nichos que o ensino público não cobre, devia ser complementar, hoje é

concorrencial.

Tem alguma familiaridade com o processo de Bolonha?

Sim.

Enquanto empregador, o que lhe parecem as "fornadas" vindas de Bolonha

relativamente às anteriores? Considera que estão bem formadas?

Acho que a atual licenciatura de Bolonha não pode ser equiparada à antiga licenciatura.

Quando quero um alunos equivalente à antiga licenciatura, vou buscar um aluno de

mestrado, se eu tiver isto presente, acho que a alteração é positiva. quando comparamos

um aluno de Bolona com um aluno da licenciatura antiga, obviamente que há perda de

competências no aluno de licenciatura de Bolonha porque é um aluno mais novo, é um

aluno com menos maturidade e com menos formação e por isso não pode ser comparado.

Acho que a alteração é benéfica mas como empregador só posso comparar a antiga

licenciatura ao atual mestrado e aí vejo vantagens, ganha também flexibilidade porque se

quiser um aluno com um bocadinho menos de qualificações do que um mestrado, vou

buscar um aluno de licenciatura, que se calhar é equivalente ao que antes chamávamos de

bacharelato, que também existia só que agora existe com mais quantidade, por isso não

vejo como uma alteração negativa, vejo como uma evolução positiva que traz

flexibilidade ao sistema e que aumenta a qualidade dos que acabam o mestrado.

No seu entender, introduziria alguma alteração no ensino superior?

Como referi, otimização, mais eficiência e mais abertura ao exterior, mais

internacionalização. Agora, não tenho conhecimentos suficientes para dizer como, são os

aspetos mais macros que acho que se deviam introduzir, como, não me compete dizer,

O que pensa sobre o direito à educação? o direito de todos frequentarem...

Está na nossa constituição.

Em termos de ensino superior isso é cada vez mais difícil porque é chamada a

contribuição individual para o pagamento de propinas. Há autores que se situam

num pólo de ensino gratuito, outros autores acham que pagar propinas é uma

responsabilização do aluno, nestes extremos onde se situa?

Acho que o sistema atual de propinas é bastante justo, acho que proporciona a

participação mesmo dos mais desfavorecidos porque é uma propina bastante baixa e por

outro lado, responsabiliza os alunos, contribuindo com a propina mínima e os mais

desfavorecidos ainda têm acesso a uma bolsa para ajudar a pagar isso e por isso acho que

é um bom sistema. Acho que o atual sistema não discrimina negativamente os alunos

estrangeiros e acho que deviam pagar mais. Há que haver aqui um equilíbrio entre o não

discriminar os mais desfavorecidos, que devem ter direito a uma bolsa mas devem ser

responsabilizados pagando qualquer coisa nem que seja dessa bolsa e deve-se exigir

resultados a esses alunos e deve ter-se aqui uma abertura ao exterior porque são alunos

que pagam mais e que podem subsidiar os outros também e ajudar as universidades a

fazer face aos seus custos.

Concorda com a afirmação de que há licenciados a mais no país?

Não, acho que deveria haver mais …

Apesar de se discutir atualmente a falta de emprego dos mesmos?

A falta de emprego é passageira.

A sua opinião sobre a emigração qualificada?

Acho que quem está a emigrar são os grandes talentos e isso preocupa-me mas tenho

esperança que voltem e como digo as crises são sempre passageiras e acho que isto anda

em ciclos e seguramente acho que vamos entrar num ciclo positivo agora.

Em seu entender, qual julga ser o dever do estado perante o ensino superior público?

É regulador pela produção de leis, é financiador e delegou a avaliação numa

entidade privada, a A3ES, considera que estes papéis estão certos, devia haver mais,

menos?

Acho que estão certos acho que dentro da regulação, acho que é normal assegurar o bom

funcionamento das instituições, nomeadamente quanto à boa gestão dessas universidades,

que acho que nem sempre acontece, mas como digo não tenho informação suficiente para

defender isto, é só uma opinião, um feeling sobre a matéria. Acho que deve ser esse o

papel, esses três pontos que refere, não precisa acrescentar mais nenhum desde que sejam

bem feitos.

Em 2007 foi instituída uma nova legislação em termos de ES público, que faz com

que pessoas externas, da sociedade, tenham assento, embora em minoria, na gestão

da vida das universidades, concorda com esta entrada?

Concordo 100%, acho que foi uma medida muito útil, acho é que a nossa sociedade, os

membros externos ainda não estão sensibilizados o suficiente para terem uma intervenção

ativa, por isso, fazem parte dos conselhos mas têm uma intervenção pouco ativa mas isto

acho que é um caminho que se está a percorrer e vai ser muito útil +para a universidade

portuguesa.

Algum elemento da vossa entidade tem assento no CG?

Sim. mas não sou eu.

Tem partilhado algumas impressões com a pessoa que está lá?

Mas conversas só de circunstância, não tenho nenhuma informação útil para lhe dar sobre

isso.

O apoio financeiro da vossa entidade estende-se apenas ao ensino público?

Não, nós temos um programa de responsabilidade social que se chama (banco)

universidades, através do qual celebramos acordos com as várias universidades que

podem ser privadas ou públicas e ao abrigo do qual apoiamos iniciativas a fundo perdido,

bolsas, projetos científicos, etc. É claro que tem sido muito mais premente o apoio às

universidades públicas do que privadas, até porque há mais públicas do que privadas,

representam cerca de 70% do ensino português ou até mais hoje e por isso a grande

maioria dos apoios que damos é esmagadora no setor público, mas também apoiamos

alguns privados, isto por um lado. Por outro lado, temos, no mesmo departamento uma

equipa de pessoas a pensar nos estudantes, no que os estudantes precisam e temos uma

série de produtos e serviços para estudantes, entre os quais o financiamento para o ensino

superior na ótica do estudante, ou seja, crédito para estudar. São duas coisas

completamente distintas, uma é o apoio ao abrigo de um programa de responsabilidade

social para universidades, outra é o apoio a estudantes que também é visto como

responsabilidade social porque não queremos ganhar dinheiro com este tipo de crédito,

mas é crédito, não é a fundo perdido, é um apoio que o aluno depois retribui ao banco

ainda que em condições muito boas, portanto, comercialmente, não são equiparáveis aos

outros créditos que damos para habitação, etc. e que é a atividade normal do banco. o

apoio às universidades ao abrigo da responsabilidade social, investimos cerca de 5

milhões de euros por ano...

E isso quanto representa mais ou menos no orçamento da vossa entidade?

Anunciámos há pouco tempo os resultados do banco que foram 100 milhões de euros o

ano passado, portanto, 5%. Investimos 5 milhões de euros por ano nas universidades e

apoiamos desde bolsas, projetos de investigação. Estou a lembrar-me de um caso que foi

falado há pouco tempo da (universidade) a património da humanidade, foi apoiado por

nós, todo o estudo sobre isso, enfim, variadíssimos projetos que vamos apoiando e temos

uma equipa do banco a lidar com as universidades e a escolher projetos para apoiarmos.

Isto é feito geralmente em acordos de médio, longo prazo, porque achamos que é a forma

mais sustentada também de termos algum retorno em termos de imagem e por isso temos

uma comissão de acompanhamento para cada convénio que fazemos com as

universidades, gostamos de ser o patrocinador exclusivo dessa relação, dessa

universidade e a nossa imagem a aparecer como patrocinador de determinadas bolsas,

determinada recuperação patrimonial, etc., também gera simpatia nos estudantes para

com a imagem do banco e acreditamos que isso, a longo prazo é positivo para o banco.

Portanto, isto é um projeto de responsabilidade social, comum em todo o grupo (banco),

em todos os países onde se encontra tem um departamento destes dedicado ao ensino

superior. O financiamento aos estudantes, como temos esta presença muito forte nas

universidades, não fazia sentido não oferecermos aos estudantes soluções que procurem

e que sejam úteis para a sua vida académica e por isso fomos o primeiro banco a aparecer

com crédito para apoiar as licenciaturas, começámos pelas licenciaturas. O problema do

financiamento a um estudante é que o estudante não tem rendimentos, como não tem

rendimentos é muito difícil aprovar um crédito para um estudante, ou é um trabalhador

estudante e com os rendimentos que tem devolve ao banco ou então sai fora de toda a

lógica que temos de emprestar dinheiro. A lógica que um banco normal tem quando

empresta dinheiro, há um sistema de avaliação dos rendimentos que ele tem e a prestação

com que fica de determinado crédito não pode ocupar mais do que x% dentro desse

rendimento. Se assim for, é porque o crédito é aprovado, se não for, não é aprovado, ora

um estudante que não tem rendimentos nunca teria um crédito aprovado na vida. Então,

introduzimos um novo conceito de avaliação de crédito que tem a ver com a meritocracia,

se é um estudante aplicado com determinadas notas, acreditamos que no futuro vai ser

um bom profissional e vai ter rendimentos. Então, criámos um crédito, a primeira vez que

foi lançado foi em 2004, chamávamos na altura crédito bolsa, depois até mudámos o nome

para não criar a sensação de que aquilo era uma bolsa a fundo perdido e era um crédito

com carência durante o curso, emprestávamos dinheiro, não todo de uma vez, íamos

emprestando ao longo do ano para ele pagar as propinas, não tinha que devolver o crédito

até acabar o curso, ainda tinha mais um ano de carência para poder consolidar a sua vida

profissional e depois devolvia em prestações mensais, durante três ou quatro anos, depois

desse ano de carência e um dos fatores fundamentais a ter aqui era ele ter boas notas, se

não tivesse boas notas tinha um preço mais caro, se tivesse boas notas tinha um preço

mais barato e isto foi uma novidade na altura e em 2007, quando o ministério do ES, na

altura, lançou os créditos para estudantes com garantia mútua, foi baseado neste nosso

crédito, nós até participámos na equipa de trabalho que criou esses créditos. quando

apareceram esses com garantia mútua, por maioria de razão desapareceram os anteriores

porque estes tinham mais vantagens para os alunos e para o banco porque partilhava o

risco com o estado, porque o estado dava uma garantia para 10% da carteira que o banco

atribuísse, concedesse a estudantes. Desde 2007 que o (banco) total tem sido dos bancos

mais ativos na concessão deste tipo de créditos e aumentámos os prazos, oi reembolso do

crédito pode ser, inicialmente eram três ou quatro anos, agora já vai em dez anos, as

prestações ficam muito mais suaves e concedemos, todos os anos, não tenho de cor os

números mas uns largos milhões de euros de empréstimos deste género e esta é a história

dos empréstimos aos estudantes.

Quando diz que o estado partilha o risco em 10%, quer dizer que se o estudante não

pagar, o estado dá 10% do valor?

Não é bem isso, se o estudante não pagar o estado reembolsa ao bano a totalidade do

crédito desse estudante até 10% do total do valor que o banco concedeu ao estudante,

portanto, os primeiros 10% de estudantes que incumprirem é ressarcido, se houver mais

que 10% de incumprimento, é o banco que assume esse risco e posso dizer-lhe que 10%

é capaz de ser curto, portanto, o banco já está a assumir alguma parte do incumprimento.

Como tem sido o balanço?

Vamos continuar com este tipo de crédito, estamos satisfeitos porque faz parte da nossa

estratégia de estarmos muito presentes no ensino superior, achamos que os estudantes

universitários são os futuros profissionais, os futuros líderes, os futuros diretores de

empresas e técnicos superiores e por isso, mesmo que tenhamos que prescindir de

rentabilidade porque este crédito tem zero de rentabilidade para o banco, porque tem taxas

baixíssimas, mesmo que tenhamos que assumir alguma parte de incumprimento, achamos

que vale a pena investir neste segmento, por isso, o balanço que fazemos é positivo e

queremos continuar a ser o banco das universidades.

Reparei que estavam instalados no (ISP), que outras IES são financiadas por vocês?

Neste site da internet tem todos os convénios, todos os balcões universitários, todos os

quiosques, umas salinhas pequeninas só com uma pessoa para aconselhamento aos

estudantes, etc., mas posso dizer em traços gerais que temos cerca de 40 convénios com

universidades, muitos são celebrado, por exemplo quando uma universidade tem

autonomia, fazemos o acordo diretamente com a faculdade. temos cerca de 40 acordos,

temos 16 balcões, mais outros cerca de 15 quiosques, emitimos também o cartão de

estudante, temos mais de cem mil cartões ativos, com ou sem, se o estudante quiser ter

conta tem, se não quiser não tem, tem só o cartão de identificação e por isso estamos

muito presentes no ES, já ultrapassámos (outro banco).

Como é feita a escolha das instituições a financiar?

Como disse, temos uma equipa só a trabalhar a relação com as universidades, essa equipa

conhece todos os reitores e todas as universidades, não são assim tantas como isso, apesar

de serem bastantes, conhece-os todos, tem uma relação frequente com todos, mesmo os

que não têm acordos connosco, temos também o portal Universia, que é do grupo (banco)

e tem no seu conselho de administração o reitor, por isso temos uma relação muito

frequente com os líderes do ES e sempre que há oportunidade de estabelecer um acordo

que seja de mútuo interesse para ambas as partes, celebra-se esse acordo. Não temos

nenhum critério de exclusão de IES, há é instituições mais dinâmicas que outras, que têm

projetos mais interessantes e que consideramos de maior valor para o país e por isso

começamos por esses. Diria que mais do que escolher universidades, escolhemos

universidades com projetos que nos agradam mais ou menos e por isso vamos por aí.

Há bocado quando falou em relação aos contratos de médio longo prazo, estamos a

falar de quanto tempo?

Mínimo de três, máximo de cinco. os nossos acordos são entre três e cinco anos.

Quando atribuem as parcelas de financiamento, já referiu que são destinadas a

projetos ou investigação ou à instituição em si. Para além destas atribuições, a

instituição tem autonomia de gerir o financiamento que vocês dão ou vocês já dão

indicações específicas dentro das áreas que referiu?

Cada convénio tem uma comissão de acompanhamento, com uma pessoa da universidade

e uma pessoa do banco, no convénio já fica mais ou menos escrito quais as finalidades

possíveis e depois, dentro de cada finalidade, define-se... vou dar um exemplo concreto,

fica definido no convénio x para bolsas, para essas bolsas tem que ser criado um

regulamento de acesso às bolsas, de critérios de seleção, etc. tipicamente esses detalhes

são combinados entre a universidade e o banco, alguns casos que delegamos mais na

universidade porque não temos know how para selecionar alunos, por exemplo, noutros

casos, intervimos mais como seja por exemplo na forma de divulgar a imagem do banco

em determinada coisa, os cartões de estudante temos muita experiência e por isso

intervimos mais também, portanto, há uma verdadeira parceria entre as nossas equipas e

as das universidades e há um aprendizagem mútua entre a forma de trabalhar do banco e

o know how que as universidades têm.

Quando financiam um projeto de investigação, quais são os critérios de seleção?

Na investigação há dois tipos de apoios que damos, uns são prémios de investigação e aí

tipicamente é a universidade que tem todo o know how para escolher os melhores, por

isso definimos o montante, definimos quantos prémios vão ser dados, em que áreas e as

universidades escolhem os vencedores e depois há uma cerimónia de entrega e não sei

quê. Outros são projetos pontuais para apoiar por exemplo uma cátedra em determinada

matéria e aí é-nos proposto uma coisa concreta, por exemplo, uma candidatura da

universidade a património da humanidade foi um projeto de investigação que nos foi

proposto pela universidade e aí só temos que dizer sim ou não, se é um projeto que tem

visibilidade e um impacto que achamos que faz sentido e que está em consonância com

os valores do banco e temos orçamento para isso, apoiamos, se o projeto não nos agrada

tanto ou não temos neste momento orçamento, portanto, são projetos avulsos que nos são

propostos. Os prémios são coisas mais recorrentes, as bolsas de investigação são prémios

que há todos os anos e que vamos alimentando ao abrigo destes convénios.

Têm muitos pedidos?

As universidades pedem bastante, mais do que podemos dar, mas já para contrariar isso,

fazemos esses acordos de médio, longo prazo, onde ficam logo estabelecidos os limites

do que podemos atribuir. Isso tem uma vantagem para nós, que orçamentamos logo para

cada ano o que vamos gastar e para a universidade tem a vantagem de saber com o que

pode contar, já sabe que acima daquilo não há, não podemos. Tipicamente quando chega

ao fim de um contrato, de um convénio e renovamos o convénio, há geralmente uma

pressão forte das universidades para aumentarmos os apoios e etc., que tem que ser gerido

com bom senso.

As instituições têm de cumprir algumas formalidades específicas, como é que são os

convénios, contratos?

São convénios muito simples de colaboração que definem as áreas e os montantes a

apoiar, a única coisa que pedimos à universidade é que as coisas que patrocinamos seja

dado a conhecer que foi patrocinado por nós e que nos informem do resultado e quando

há cerimónias de entregas de bolsas e etc. que nos convidem para estar presentes porque

gostamos também de participar nesses eventos e fazer parte da própria comunidade

académica e toda a estrutura do banco se envolve bastante a começar pelo presidente,

neste tipo de eventos.

Existem outro tipo de instituições públicas apoiadas nos mesmos moldes?

70 a 80% da nossa responsabilidade social é dirigida ao ES e ao conhecimento, ficam de

fora pequenos montantes que atribuímos a projetos sociais, coisas como o Banco

Alimentar, instituições de solidariedade social mas não com a mesma relação de parceria

e de longo prazo que temos no ensino superior.

Não têm nenhum critério geográfico ou de natureza jurídica ou é aberto a todo o

tipo de..

É aberto.

Existem outras formas de intervenção sem ser monetária?

Isso é uma boa pergunta, fomentamos bastante o pôr a nossa estrutura, o nosso know how

ao serviço das universidades e acontece, por vezes, pedirem-nos, para um profissional

nosso, qualquer, um especialista em mercados ou assim, ir explicar alguma coisa aos

alunos, a nossa área de recursos humanos tenta explicar a melhor forma de estar numa

entrevista, de preparar um currículo, de ajudar os finalistas. Temos também um programa

de mentoring, em que os diretores do banco ficam mentores de um aluno para ajudá-lo às

escolhas que tem que fazer durante o ES, temos várias formas de ajudar sem ser

monetariamente pondo ao serviço das universidades o que podemos dar com o nosso

know how e a nossa estrutura.

No meu entender, o banco tenderia mais a procurar áreas que estivessem

relacionadas com o próprio banco, economia, gestão, essas coisas... é assim?

Há essa tendência, embora no projeto de responsabilidade social que temos, no (banco)

universidades não há essa tendência. Agora, na relação que temos, não monetária com as

universidades e onde podemos ajudar mais é nas faculdades de economia e gestão. Ainda

agora há pouco tempo, que é uma coisa que acontece todos os anos, os finalistas de

mestrado da (universidade) de economia, vão a Espanha, visitar a sede do (banco) em

Espanha e têm uma visita guiada a todas as instalações, assistem a uma conferência de

profissionais nossos, etc., também temos aqui todos os anos o open day em que veem

alunos de todas as faculdades de economia e gestão, vêm conhecer o banco, passam o dia

inteiro nas nossas instalações, a visitar os departamentos, já tenho feito algumas

conferências também nas várias faculdades sobre quais são as várias carreiras possíveis

dentro de um banco, enfim, tentamos ajudar e também dar a conhecer o banco

Nesse open day é para puxar os estudantes...

Para explicar o que é um banco, um estudante de economia e gestão, acho que é um bom

complemento à formação e por outro lado dar a conhecer as oportunidades que existem

no (banco), obviamente também com o intuito de atrair os melhores alunos, é uma relação

win win.

E neste momento, face à conjuntura do país em que o emprego está mais reduzido,

o (banco) tem capacidade para absorver mais estudantes?

A nossa instituição tem cerca de seis mil empregados e por isso, todos os anos há pessoas

a reformarem-se, todos os anos há necessidades, agora, há alturas em que contratamos

mais intensamente, os últimos anos têm sido mais escassos em contratações mas nunca

paramos.

Sem ser a ver com a reforma das pessoas, que fatores vos levam a contratar

intensamente?

Quando estamos a abrir balcões por exemplo, ultimamente não abrimos mas temos aberto

muitos, até 2008, todos os anos se abriam balcões e recrutávamos mais intensamente do

que hoje, nos anos de crescimento económico geralmente as empresas crescem mais,

precisam de mais pessoas.

Em termos de contrapartidas, é uma fidelização para os estudantes em termos de

conta, a publicidade, outros ganhos para o banco...

como disse isto é um projeto de responsabilidade social e um projeto de responsabilidade

social é um projeto em que se investe a curto prazo mas que os benefícios vêm a longo

prazo, por isso não há uma relação direta entre o custo e o benefício, não posso exigir

contrapartidas mas posso esperar que os frutos deste investimento dêem contrapartidas

no futuro, nós acreditamos que sim, mas como todas as grandes empresas, escolhemos

este projeto de responsabilidade social com objetivos muito claros e muito dirigido ao

ES. Há outras empresas que estão mais dirigidas a outras áreas, escolhemos esta, estamos

satisfeitos com ela. Há uma pergunta que gostava que fizesse mas eu vou fazer e

responder. Se o crédito que o banco dá ao ensino superior substitui o apoio doestado e a

resposta é não, a tendência é que o ensino superior seja cada vez mais acessível a mais

pessoas e que as empresas sejam também cada vez mais exigentes na formação de quem

contratam e por isso é natural que a base de pessoas que entre para o ensino superior

alargue, a percentagem de pessoas que termina o 12º ano, também é natural que o estado

não esteja preparado para alargar na mesma proporção o apoio em bolsas por isso é aqui

que entra o financiamento bancário, por isso é que as sociedades mais desenvolvidas

como o norte da europa e os EUA têm uma grande percentagem de alunos que recorrem

a crédito, porque a base das pessoas que entram para o ensino superior é muito ampla e o

apoio do estado não chega para todos e por isso acho que o investimento em educação é

o investimento com mais retorno que existe, muito mais do que comprar um carro ou uma

casa, é um investimento com retorno garantido em que excluindo raras exceções, o

retorno que se tem em ordenados futuros é superior ao investimento que se faz, por isso

acredito que seja um complemento e não um substituto.

Se fosse substituto seria uma universidade privada

Não, estou a falar das bolsas que o estado dá, não ser um substituto às bolsas mas um

complemento.

Quer acrescentar mais alguma cosia?

Não, se tiver alguma dúvida tem muita informação no site, se precisar diga.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Entrevista P3

Independentemente de um objetivo, por exemplo, de uma fundação, nós tínhamos um

interesse... é assim, estamos a alocar rendimentos nossos, um aparte das verbas são dos

nossos rendimentos, mas temos um objetivo por isso é que somos uma fundação e somos

obrigados por lei a aplicar uma percentagem dos rendimentos nesses apoios, portanto, até

aí nada a dizer, epá mas acho que as instituições deviam de vir ter connosco, no fundo é

isso, temos um objetivo, há interesses, é evidente e os nossos interesses podem ser

benefícios fiscais, hoje em dia já não é tão relevante, posso dizer que temos utilidade

pública e utilidade pública permite-nos precisamente ter esse benefício fiscal, mas para

isso temos que entrar cm um pedido de uma determinada isenção que é uma determinada

isenção e que diminuiu muito com este novo enquadramento das fundações. Mas passou

quase um ano e ainda não tivemos resposta do ministério das finanças, nada, portanto,

continuamos, apesar ada utilidade pública, desde 2012, estamos em 2014 e não tivemos

benefícios em nada. Mas independentemente disso tudo, continuamos o nosso apoio,

continuamos o nosso trabalho... isto para dizer que há um interesse nisto tudo, mais

especificamente da Fundação (nome) do fundador que era empresário e da fortuna que

fez decidiu efetivamente dirigir num determinado caminho de apoio, investigação, o que

quer que seja e esse objetivo nós seguimos. É evidente que as instituições têm que vir ter

connosco, senão vêm ter connosco é porque também não precisam.

Mas publicitam de alguma maneira?

Nós não publicitamos, a verdade é essa .

A primeira vez que se propuseram a fazer isso, como chegou ao conhecimento das

universidades que vocês pretendiam fazê-lo?

Tivemos nós que ir ter com eles, mas também, fomos à procura das universidades e não

tivemos resposta, aconteceu isso com a (UNIVERSIDADE pública nacional), com a

(UNIVERSIDADE pública nacional) a ((UNIVERSIDADE pública nacional) acolheu

muito bem esta ideia, tudo bem, agora estamos a preparar o site para nos tornarmos mais

visíveis e para isso precisamos de criar o site e temos que o criar, estamos a trabalhar

nisso e se calhar depois será mais fácil essa visibilidade, até porque depois poderá ter

links para a UL, poderá ter aqui uma série de variantes, mas é assim, hoje em dia, a forma

de nos publicitarmos também é verdade que tem sido através dos apoios que temos dado,

o mundo universitário sabe que a (fundação) trem, programas de bolsas, poderá aí haver

uma difusão porque muitas vezes chegavam até nós pedidos mas a nível de particulares,

que não se enquadrava no nosso âmbito. Mas realmente tem sido assim, nós é que temos

ido ao encontro, depois da parceria que tivemos com a (UNIVERSIDADE pública

nacional) e ela continuou naturalmente e aí já não era preciso ir ao encontro da

(UNIVERSIDADE pública nacional), mas mesmo assim, neste caso de apoio que demos

à conferência na faculdade de economia em que eles tomaram conhecimento, haviam

apoios, ficaram a saber quem era a fundação, quais os nossos objetivos, até onde

poderíamos ir, não passou daí, nunca mais nos contataram, isso é que é estranho porque

tendo conhecimento porque é que não vêm ter connosco? Nada é garantido mas se não o

fizerem é que não existe e aconteceu isso, foi o caso que lhe falei e tem sido assim. Mas

para além disso, mesmo assim temos chegado a alguns lados porque, entretanto, na

(UNIVERSIDADE pública nacional) temos um programa da investigação da doença de

Alzheimer, um financiamento lá do (unidade de investigação) e vieram ter connosco nesse

caso, portanto, há alguma divulgação. De que forma isso penetrou na sociedade, também

somos uma fundação humilde, não somos a Gulbenkian. A Gulbenkian e outras

fundações, mas também têm outros objetivos e nós trabalhamos aqui no nosso nicho.

Qual o âmbito da fundação, qual a atividade?

Nós temos os nossos investimentos, a fundação resultou de uma parte de (nome) que

aplicou na fundação, dinheiro dele, no fundo é isto, e do apoio também de uma empresa

do Sr. (nome) que era a (nome da empresa) que era uma empresa que estava ligada na

altura ao ramo imobiliário. Portanto, ele fez, foi fazendo, era a atividade dele, foi assim

que ele fez a fortuna e a fundação depois resultou um bocadinho disso. Hoje em dia o que

temos, fazemos os nossos investimentos normais, temos algumas coisas do ramo

imobiliário, pronto basicamente acabou por ser um bocadinho a extensão disso, da área

de investimento, temos os nossos investimentos financeiros e basicamente é essa a nossa

atividade, investimentos financeiros imobiliários e projetos associados e daqui é que vêm

os nossos rendimentos anuais. Financeiro e imobiliário hoje em dia, da forma como está

o imobiliário, temos isso um bocado parado, mas depois vamos gerindo os outros

investimentos da melhor maneira

O seu cargo aqui?

Sou administrador, um dos administradores, isto tem um presidente e dois

administradores sou eu e o meu irmão, basicamente somos nós, é uma estrutura muito

simples, são cargos não remunerados, para que se perceba, nós não auferimos qualquer

rendimento. A fundação, com o falecimento do Sr. (nome) terá um legado que será

adicionado ao seu património, que será esta área toda, esta zona aqui da moradia, que é

agregado também a esse património. Mas depois, por outro lado, também ganhou mais

despesa porque tudo isto tem que ser mantido, o Sr. (nome) vivia aqui, isto agora faz parte

da fundação, mas teve um acréscimo de despesa porque há custos associados a toda esta

envolvente, mas não +e remunerado, nenhum cargo aqui é remunerado e não será porque

não é esse o objetivo. Os rendimentos ou são aplicados nos objetivos da fundação ou são

aplicados na manutenção do legado que ele tem e o resto são as nossas participações nos

negócios

Como aconteceu ter chegado a administrador?

Isto é muito familiar. eu trabalhava na (NOME DA EMPRESA), depois quando foi criada

a fundação, isto é familiar, a presidente é a mulher do Sr. (nome), eu trabalhava na (nome

da empresa), trabalhava com o Sr. (nome), o meu irmão também trabalhava com ele,

embora eu já trabalhasse noutras coisas muito antes e mais tarde quando ele me convidou

a vir para cá, o meu irmão já cá estava com ele há uns anos e vim para cá uns anos depois

quando ele me convidou, trabalhei noutras coisas, noutras áreas e locais do país. Depois

vim para cá e muito naturalmente, porque é também familiar, os administradores são as

pessoas de confiança dele e manteve-se isso basicamente assim, criou-se a fundação,

estavam aqui os elementos que ajudaram a criar a fundação porque no fundo nós é que

criámos a fundação e naturalmente continuámos a administrá-la, que era quem cá estava.

A sua formação académica?

Sou licenciado em geologia, andei uns anos em geologia também e pronto, fiz este

percurso, somos licenciados, mas não quer dizer que trabalhe na área, mas trabalhei

inicialmente, licenciei-me na (UNIVERSIDADE pública nacional), na faculdade de

geologia e já passei por outras coisas que não a geologia. Acabei por vir para aqui, o Sr.

(nome) insistiu muito comigo porque a minha vida era no (localidade), mas cá estou eu.

De alguma forma as funções que desempenhou até hoje ajudaram-no a

desempenhar este cargo de administrador?

Quer dizer, não é muito diferente, há um objetivo diferente, mas há sempre uma gestão

que tem que ser feita como qualquer empresa porque no fundo se pensarmos bem é uma

empresa. Eu já tinha estado noutras empresas, cheguei a ter uma ou outra sociedade no

(localidade), diz-me assim, mas é uma gestão muito diferente, não, poderão haver outras

fundações com outro objeto e que serão diferentes, neste caso não, acaba por ser como

gerir uma empresa normal. Depois tem o outro lado destes objetivos dos apoios mas

também não é por aí, é uma extensão do nosso trabalho e não tem assim nada de particular

em termos de gestão

Sobre o ensino superior, em termos de evolução e como cidadão, qual a sua visão

sobre o ensino superior público, tendências, evolução, preocupa-o, não o preocupa.

Preocupa-me um bocadinho, quando fiz o curso ainda eram cinco anos, depois as coisas

mudaram com Bolonha... as perspetivas de trabalho para um aluno universitário, em

primeiro lugar acho que há muitos cursos e acho que não estão enquadrados na realidade

de oferta de emprego, acho que há cursos que pura e simplesmente deveriam deixar de

existir , mas depois há que manter um determinado status quo, as coisas estão montadas

de tal maneira que não se podem fechar de um momento para o outro, mas acho que

começa por esse lado. o que vejo é que agora, e se calhar aí poderá ter uma opinião ate

diferente, mas vejo que os cursos têm um tempo menor, depois há os mestrados e as

pessoas, muitas vezes o que é que acontece? a perspetiva de mercado não é nada fácil, os

alunos, muitos alunos ou aqueles que conseguem continuam pelo mestrado, vão por ali

fora, não sei qual o limite, faz mestrado, doutoramento e depois? acho que a perspetiva é,

os alunos tentam manter-se nos mestrados, tentam manter-se depois nos doutoramentos

porque a perspetiva á fora não é a melhor e quando nos aconselham a ir para o estrangeiro,

quer dizer, há um investimento nos alunos e na formação e depois aconselham-nos a sair,

há aqui qualquer coisa que está errada, a investigação, os apoios à investigação é só

notícias a dizer cortes, cortes, um país que não tem investigação não sei para onde vai, se

nos levam os poucos que temos que investigam, acabam por nos levar a massa crítica. A

perspetiva que tenho sinceramente relativamente a um aluno universitário hoje em dia

não é muito positiva, tirando um ou outro curso que poderá ter alguma relevância no

mercado de trabalho porque este mercado é fundamental. Vamos dizer, tudo bem, a

universidade dá-nos formação e depois não precisamos de trabalhar exatamente no que

nos formamos mas o objetivo principal devia ser esse, criar precisamente essa tal massa

crítica que depois viesse em força para o mercado de trabalho, fosse vocacionada naquela

área ou não. a universidade deu-me formação e depois disse-me desenrasca-te, é esse

termo, agora faz-te `+a vida, portanto, já trabalhei em muitas coisas, trabalhei na minha

área, comecei por trabalhar em geologia, o trabalho nunca é aquele mundo, mesmo da

minha área, nunca é aquilo na perspetiva em que somos formados. Quando chegamos ao

mercado de trabalho, a perspetiva é só uma, as empresas querem fazer dinheiro e os

conhecimentos que adquirimos nem os aplicamos, aquelas coisas que estiveram horas a

moer-nos a paciência, depois não têm aplicabilidade, mas para que serviu? deu-me

alguma autonomia, deu-me capacidade de observar e raciocinar sobre as coisas e

desenrascar-me mas isso não chega se depois não tenho cá fora mercado e a perspetiva é

essa e agora com estes cortes à universidade, quando se corta na educação, acho que se

corta no futuro, quando se corta na formação, educação, está-se a cortar no futuro do país,

esta é a minha ótica e acho que é o que está a acontecer hoje. Mas as universidades não

deviam ir à procura de outras formas de financiamento, acho que sim, temos mentalidade

para isso, acho que não, nem os ex-alunos têm, lá fora têm, nos EUA têm. Pergunta-se se

as fundações podem dizer algo sobre isso, as fundações podem e devem apoiar mas nem

todas têm a mesma vocação que nós, temos vocação para apoiar a investigação de

determinada área, a maior parte das que existe apoia a solidariedade social e pouco mais

e algumas nem sei que apoios fazem. Outras estão aí é para receber apoios do estado,

recebem apoios do estado, têm gastos bastante elevados, os seus administradores muitas

vezes ganham muito bem e portanto, há ali uma série de coisas que... mas isso é uma

questão das fundações, que nós somos visto da mesma forma, quando se falar muito das

fundações, as pessoas associam logo, aquilo é qualquer coisa ali para ganharem dinheiro

do estado.... estamos fora disso, se calhar por isso não somos muito falados mas estamos

completamente fora disso, vivemos do nosso rendimento, apoiamos na medida em que

conseguimos apoiar, depende também dos estatutos e da vocação para que nos criámos.

A sua opinião sobre o ensino privado, é concorrencial, complementar ao ensino

público?

Acho que deveria ser complementar, não tenho grande conhecimento do ensino privado,

como funciona, presumo que deve ser como gerir uma empresa. O ensino privado tem

apoios do estado e depois tem rendimentos daquilo que lhe vem das propinas, que são

mais elevadas. E a qualidade do ensino é melhor, não tenho essa perspetiva, a ideia que

tenho é que não é, a ideia que tenho é que muitas vezes estão nos privados muitos

professores do público porque podem fazê-lo, agora se isso ajuda a melhorar o ensino

privado? não sei, a ideia que tenho é que há pessoas que conseguem pagar. O ensino

privado cá fora no mercado que tem aceitação, tem saída, os alunos que vêm do privado,

é Católica, a mim não me causa nenhum constrangimento existir o ensino privado e o

ensino público, desde que seja enquadrado e que viva por si, sinceramente, acho que vai

para o ensino privado quem tem a capacidade e pode pagar, é mesmo assim. O ensino

público tem outro objetivo, aqui há uns anos, se calhar a perspetiva do ensino público era

diferente, existia só o público e só chegava em determinada situação financeira,

determinadas famílias, portanto, apesar de ser público era exclusivista. Depois isto

democratizou-se e ainda bem. Agora, a perspetiva parece quase a de tornar o ensino

público em privado, isto é, todo o ensino passar a privado, mas isso é a perspetiva que

vejo em tudo, na saúde e tudo, que é uma perspetiva muito mercantilista. Acho que há

setores do estado que têm que estar no estado. O ensino pode haver privado mas tem

sempre que existir o público porque senão isso vai levar à exclusão social, há

diferenciação das classes e o ensino serviu para quebrar essas barreiras, permitiu às

pessoas vir de baixo, fazer aquele percurso social e mudar, o que é normal e isso torna a

sociedade melhor, porque a torna mais justa e nivelada, nivela por cima, dá-me a ideia de

que vai haver um retrocesso, as universidades estão a perder autonomia, cada vez têm

menos dinheiros, as famílias cada vez têm mais dificuldade. O objeto da nossa fundação

não é de solidariedade e nós apoiamos a consciência social, alocámos um aparte da verba

das bolsas porque é necessário, temos alunos que têm sérias dificuldades, pegamos numa

parte da verba, deixou de estar alocada às bolsas e passou para a consciência social, mas

não é nosso objeto, deveria ser de outras fundações de caráter de solidariedade, que

deviam investir nisso, mas também não aparecem e isso é um sintoma de preocupação,

não se qual o caminho, o caminho parece-me essa autonomização das universidades e

acabar com o ensino público, o que é muito mau. Toda a vida fui aluno do publico, nunca

andei no privado e não me parece que tenha tido uma má formação. Agora estabelecer

essa diferença, conheço pessoas que vêm do privado com uma ótima formação e há

pessoas que vêm do público com uma ótima formação e ao contrário, porque há algumas

privadas muito más e se calhar algumas públicas também não são grande coisa. É esta a

perspetiva que tenho como ex-aluno, estando de fora e não lidando com a universidade,

não estando lá dentro.

referiu que há certas áreas do estado que devem permanecer no estado...

Sim, isso não tem nenhuma ideologia política, relativamente aos políticos tenho uma

opinião muito má. de todos os quadrantes, porque nós também na nossa vida profissional,

há algumas pessoas que conhecemos e lamentamos ter conhecido, que não vieram

acrescentar nada e estão ligados à política, a perspetiva deles é sempre ganhar dinheiro

seja de que forma for e quando são eleitos deputados, aquilo é uma rede, têm interesses

muito próprios, particulares, muitas vezes a nível empresarial, isso faz muita confusão e

tem-se assistido nestes últimos tempos ao resultado desta mistura entre a política, os

negócios, a banca, por aí fora e isto não ´e nada, um dia quando começarem aí a abrir o

livro... mas as pessoas não percebem isto porque io mundo é outro, mas estas pessoas não

têm escrúpulos.

Qual na sua opinião, deve ser o papel do estado perante o ensino superior público?

Neste momento é financiador, regulador e delegou a avaliação numa entidade

independente. o que é que o estado deve fazer para assegurar o ensino superior

público.

Acho que há setores que deviam continuar no estado, a saúde, a educação, poderão hacer

outros, a justiça, qualquer dia privatizam a justiça, não imagino uma cosia dessas, gostava

de ter uma perspetiva... trabalho no privado e poderia ter uma perspetiva a favor dos

privados, o privado é para os privados, a economia deve funcionar com os privados, agora

há setores que não, o estado tem que intervir, tem que haver aqui um nivelamento e se s

pessoas não têm acesso à educação nem à saúde nem à justiça, fechamos e mudamo-nos

todos para o Canadá... continuo a achar que o estado deve estar na educação, tem que

arranjar mecanismos para financiar, o país não entrou quase na bancarrota por causa da

educação e do investimento em educação, entrou na bancarrota porque foi mal gerido, o

estado tem que ser gerido por pessoas competentes, só precisa de ter pessoas sérias e que

trabalhem para o bem público para as coisas serem diferentes, porque há empresas do

estado que são bem geridas e apesar disso eles vendem-nas, então porque é que outra

parte é mal gerida, o que se passa lá, se for ver são negócios paralelos, interesses. O estado

deve assegurar a educação, financiá-la, regulá-la, continuo a dizer, pagamos muitos

impostos, a carga fiscal é brutal não me digam que esta carga não serve para isto serve

para quê? se o estado vai buscar impostos depois vai aplicá-los em quê, é nestas coisas,

saúde, educação, apoios, no que tem que apoiar, servir os cidadãos, acho que isso é função

do estado. sendo eu privado não me parece que isto fique bem entregue aos privados,

acho que não, deixem os privados onde estão, a economia move-se com os privados

quando a economia mexe não foi o estado que fez nada, foram os privados que tiveram

necessidade de fazer mexer e poderia mexer mais mas às vezes o estado na sua função

reguladora, aí ´é uma desgraça, devia ser muito mais regulador no que respeita os

privados, o estado empata muito os privados porque os privado precisam também, na sua

atividade também lidam com o estado e o estado empata completamente, às vezes a

burocracia é uma coisa impressionante e às vezes nem é a burocracia, às vezes chama-se

outra coisa que é o interesse, aquele interesse.

Considera que o ensino superior devia ser totalmente gratuito ou acha que devem

ser cobradas propinas?

É uma questão difícil porque quando somos nós a pagar pensamos que devia ser gratuito.

aqui há duas questões, porque é que uns pagam propinas e outros não? não queremos uma

sociedade igual, mas a sociedade não é igual, acho que o estado em determinadas

situações, o ensino devia ser gratuito mas também acho que há famílias que podem pagar

e o ensino precisa de... as universidades precisam de dinheiro, acho que isto tem que ser

equitativo, acho que o espetro deve ser esse, a contribuição na medida do possível e

quando digo contribuição não digo tornar as propinas uma coisa brutal em termos de

custo, deve ser estudado, analisado, não sei como funciona mas ele nunca é totalmente

gratuito. E o sistema de bolsas não é muito bom e por isso acontecem estes problemas da

consciência social e dos alunos com dificuldades. O que mais me agradaria era que o

ensino fosse gratuito, essa era a situação ideal mas nós não temos condições, acho que o

país não tem condições e então as pessoas vão contribuindo em função da sua

possibilidade, não com este limite, tens que pagar mil euros, não o que podes pagar?

embora isto depois tivesse que ser muito bem estudado, um crivo apertado porque lembro-

me de quando andava a estudar havia alunos que tinham bolsas e os pais tinham uma

situação económica muito superior a quem não tinha bolsa, tinham profissões liberais,

não declaravam propriamente um rendimento real, eles davam-se ao luxo de terem por

exemplo residência e recusavam-na, iam para um quarto particular, quer dizer, tenho

bolsa, quarto numa residência que é atribuído tendo em conta os rendimentos e depois

recuso, continuo a receber a bolsa, isto acontecia no meu tempo, não sei agoira qual o

crivo, presumo que seja o IRS e pouco mais, não estou a ver outras formas e muitas vezes

era injusto, acho que a perspetiva era ensino superior, o estado tem que financiar, porque

se o estado financiar o ensino e se tivermos efetivamente matéria prima, nós conseguimos

aplicar essa matéria prima em melhorar e fazer com que o país cresça, agora isto tem que

ser um ciclo. O ensino devia ser reformulado, há cursos quer deviam acabar, a perspetiva

devia ser, não só esta mas fundamentalmente, enquadrarem-se com a vida do trabalho, é

trabalho e depois há o retorno, portanto, a própria economia funcionaria e financiar-se-ia,

acho eu, poderá ser mais fácil dizer que fazer porque somos completamente

desequilibrados, não temos contas públicas equilibradas, temos o desemprego nos níveis

que temos, mas tínhamos que começar por algum lado, dize, não há dinheiro para isso e

o que fala são os números e isso é o costume, é verdade, o que fala são os números.

Partilha da opinião de que há licenciados a mais no país?

Não acho que há licenciados a mais, Há licenciados a mais em determinados cursos que

depois não têm mercado de trabalho porque a formação das pessoas só enriquece o país

e não o contrário. Agora, é dramático alguém não ter trabalho e vai a uma entrevista e

alguém diz, nós até gostamos de si mas não pode ficar porque tem habilitações a mais,

para alguém que andou uma vida a estudar, é uma frustração, quer dizer, ando a licenciar-

me e depois vou trabalhar como caixa de supermercado, não que seja um trabalho

depreciativo, não é nessa perspetiva, se queremos trabalhar, trabalhamos no que é preciso.

Mas é a formação, é o país estar a investir em alguém para depois o mandar para a rua.

Esse investimento é que está errado, devia ser reformulado, sei que há outros interesses

em jogo e por isso... penso que li ou vi na televisão, que ficaram muitos cursos por

preencher, porque parece que já há uma perspetiva dos próprios alunos em procurar

cursos com uma saída profissional, portanto, alguns são abandonados, mas acho que há

alguns que deviam acabar com eles. Não há licenciados a mais, há licenciados a mais em

cursos que não deviam existir.

Considera que há um desfasamento entre a formação oferecida e a realidade?

Claro, porque são sempre os interesses económicas instalados, é isso que manda, que

governa, são interesses porque é muito difícil chegar à UBI e dizer meus amigos fechem,

porque há empregos, porque há não sei o quê, fechem porque vocês não têm alunos e isto

não dá. Mas a perspetiva, acho que é como tudo na vida, uma empresa quando não

funciona, fecha, vai à falência, muda de ramo ou ela própria se reinventa, epá, reinventem-

se, não podem continuar assim porque depois todo o dinheiro que está a ir para aquelas

instituições não pode será aplicado noutras com outros objetivos. há bocado falou-me do

ensino privado, atenção porque depois há aquela questão do financiamento do estado aos

privados que acho que deveria terminar porque não estão a financiar alunos nenhuns,

estão a financiar administradores que fazem fortunas e têm coleções de carros como vi há

tempos naqueles colégios, não é universitário mas se calhar também tem ligações, e que

têm essas instituições privadas com apoios absurdos do estado e esse dinheiro é que é mal

aplicado. Queres ir para o privado, sim senhor, paga, se tem dinheiro paga. O privado

devia ser um ensino de excelência porque se for muito bem pago, têm obrigação de ter os

melhores professores, digo eu. O problema nisto tudo, não se consegue mudar as coisas

porque não há vontade política porque isto mexe com muitos interesses instalados porque

se a perspetiva fosse outra mudavam.

Concorda com a participação do financiamento externo de outras entidades, tecido

empresarial na universidade?

Completamente.

Acha que pode haver influência de...

Interesses instalados, há sempre, não há hipótese, mas isso sem dúvida, mas aqui a

perspetiva poderia ser outra. Se o ensino universitário fosse só do estado, deveria ser o

estado, que cobra impostos às instituições e depois os impostos é que tratam de financiar

as universidades, mas não é o que acontece. Por exemplo, o banco tal está a financiar

algum interesse, agora, esse interesse compromete o ensino, compromete a universidade?

não me parece, há uma determinada verba que é entregue à universidade, se for bem

gerida e vem de uma instituição, de um banco ou o que quer que seja, porque não? também

não podemos estar naquela de que a universidade é só pública então é só do público, aqui

ninguém entra, acho que não, se não também não entrávamos e acho que há coisas que

podem ser feitas, constituições como as nossas, como a fundação, que não o trabalho

normal da universidade que é preparar, formar, ensinar, mas dentro dessa formação, acho

que apoios que devem vir das instituições que tem interesse para as universidades, falo

da investigação, acho que há coisas fundamentais e que nem sempre o estado pode

financiar essas coisa, isso à primeira vista não me causa nenhuma rejeição. Mas se me

diz, há aqui interesses instalados, é difícil não haver, não interferirem um bocadinho

porque somos uma sociedade, entrelaçamo-nos todos, andamos cá todos. Mas imagine

nesta perspetiva, há um ex-aluno que é um banqueiro, que a vida dele, formou-se seguiu

a sua vida e hoje é um banqueiro. porque é que ele, através da instituição, ele próprio

deveria fazê-lo mas isso é outra história, mas porque não através da instituição, financiar

a universidade, no fundo acaba por ser um retorno à universidade do que a universidade

também lhe deu, a formação. Os americanos fazem muito isto, lá os mecenas e têm

sempre interesses, pode ser o interesse mais puro, fui aqui aluno, ganhei uma fortuna que

em vez de ir para o meu gato ou cão vai para a universidade. Não respostas fáceis para

isto nem há uma única resposta nem uma única solução, há perspetivas eu tenho a minha,

outros terão as deles e depois há que conciliar isto mas são perspetivas.

Recentemente no ano 2007 foi introduzida uma nova forma de governo nas

universidades, nos politécnicos não foi assim uma mudança tão grande pois já

tinham algum entrosamento com o tecido económico da região...

Espero que com bom resultados, porque a integração é o mercado de trabalho, acho que

a ideia devia ser todo o mercado de trabalho, quando digo mercado de trabalho não quer

dizer ... tiro um curso relacionado com letras, depois há uma série de atividades ou de

profissões que se podem exercer ou não, não significa que toda a gente vai ser tradutor

ou professor, a perspetiva não pode ser só essa, mas a perspetiva acho que é o mercado

de trabalho, deve ser, as pessoas vivem de quê? depois cada um encontrará o seu mercado

de trabalho porque pode quere ser escritor, artista, o que seja e depois corre os riscos da

profissão, mas que a perspetiva seja esta, faço uma formação no conservatório em piano

e depois não vou tocar violino, vou tocar piano se me permitirem, agora ter essa formação

e depois ir trabalhar para outra coisa qualquer, até posso optar por isso, posso ter essa

formação e ter uma empresa e querer ser gestor. Concordo e pode ser que esta abertura à

sociedade civil, é a forma de a sociedade civil entrar na sociedade e poder finalmente o

diálogo ser diferente, porque a universidade é um mundo muito próprio e muitas vezes

olha com alguma desconfiança e não é a melhor perspetiva. Imagine alguém que dirige

uma universidade e tem a perspetiva da sociedade civil, basta dizerem, não é o nosso

meio, está tudo definido, percebe-se que é impossível que a sociedade civil entre lá, que

este não é doo nosso meio, somos todos do mesmo meio, uns têm mais formação outros

menos, às vezes o facto de terem mais formação não lhes dá rigorosamente nada, o facto

de termos mais formação, às vezes, conheço pessoas que não têm muita formação mas

têm muito valor e muitas vezes o que noto é que a perspetiva das universidades, a forma

como olha,, epá, não é do nosso meio e isso é uma perspetiva muito negativa, portanto,

acho muito bem que a sociedade civil entre. É uma aproximação e pode ser se calhar a

forma de as universidades se conseguirem financiar de outra forma porque a tendência

vai ser cortar, portanto, a perspetiva neste momento é financeira, económica e é corta,

corta,, porque eles não têm mais ideias, mas isso já tinha o xerife de Nothingham e depois

apareceu o Robin dos Bosques... eles pensavam o que, impostos, impostos, sacavam às

pessoas e as pessoas viviam na pobreza, às vezes isto convém às sociedades, quando as

pessoas, a sociedade é inculta, pobre, é uma sociedade facilmente controlável, é muito

mais manobrável, manipulável... depois podem revoltar-se. Não somos tão pacíficos

como dizem, se formos à nossa história, não somos um povo assim tao pacífico mas

aguentamos muito, mas revoltamo-nos, ainda bem que somos pacíficos mas há limites,

quando tiram o pão da bica das pessoas, as coisas mudam, há pessoas hoje a passar mal,

as pessoas enterram a cabeça na televisão para esquecer mas depois é só notícias,

notícias... as pessoas hoje em dia estão tão entretidas a fazer contas à vida que não têm

tempo de pensar em mais nada e isto às vezes é bom para determinados governos, não há

crítica, a única coisa que aparece é uma discussão sobre futebol.

Sobre a fundação em particular, disse-me que financiavam a (UNIVERSIDADE

pública nacional)e a (UNIVERSIDADE pública nacional)...

já tivemos outros, já foi com a (UNIVERSIDADE pública nacional), já foi com, a

(UNIVERSIDADE pública nacional), com a faculdade de economia, já tivemos a apoiar

uma escola mas tinha a ver com alunos deficientes mas que era a criação de uma

carpintaria, portanto, aquilo estava inserido num projeto de uma escola, também

apoiámos esse projeto, já poiámos assim uma série de outras coisas, também não me

consigo lembrar de tudo, dentro desta perspetiva mas fundamentalmente, o nosso trabalho

mais relevante é com a (UNIVERSIDADE pública nacional), com a questão das bolsas,

agora andamos a estudar aqui... dou-lhe um exemplo do que não se conseguiu

implementar, paralelamente a estas bolsas queríamos criar uma espécie de prémio de

doutoramento e não conseguimos implementar, poderia ser um pouco polémico e difícil

de implementar, chegámos a discutir isso mas não foi para a frente, depois as coisas

mudaram, houve esta fusão, mudou o reitor mas agora já estamos a estudar, com, esta

nova reitoria, o programa das bolsas tem esta perspetiva, é para os alunos do 1º ciclo e

portanto, é sempre um trabalho incipiente, não pode ser um trabalho muito desenvolvido

e nós agra estamos a estudar dar um passo um bocadinho à frente, passar para outro ciclo,

mestrado, andamos a estudar isso com a universidade, dar ali uma outra perspetiva, um

trabalho mais focado, mais relevante. Atenção, há coisas que têm sido muito boas e depois

os alunos têm seguido alguns percursos também. Estamos com a (UNIVERSIDADE

pública nacional) desde2007 consecutivamente, sempre a renovar os protocolos, com os

outros, por exemplo, a (UNIVERSIDADE pública nacional) fizemos dois financiamento,

um relacionado com o Alzheimer, outro já não me lembro, projetos de investigação...

Se entendi bem o vosso financiamento vai para projetos de investigação e bolsas, é

isso?

Neste momento temos, ano 2013, tínhamos o programa de bolsas do 1º ciclo, bolsas de

investigação, um ano, um determinado valor, no ano que passou foram 26 alunos das

várias áreas, selecionamos os projetos de todas as áreas dp saber da universidade, que

agora se complicou porque com esta fusão torna-se mais complicado gerir e por isso é

que queremos avançar para o outro patamar. Tínhamos o apoio da consciência social,

estou a falar-lhe do último ano porque chegámos a ter, no centenário da

(UNIVERSIDADE pública nacional) também financiámos lá uma série de coisas, fomos

nós que financiámos aqui há uns anos a recuperação daquele piano de Petrov, acho que

foi o primeiro financiamento que fizemos à universidade. Curiosamente depois apareceu-

nos um aluno que queria que nós o financiássemos, como tínhamos financiado essa

recuperação, uma flauta em ouro, depois aparecem as coisas mais estranhas, nem imagina,

aparecem estas coisas megalómanas mas para o aluno aquilo fazia todo o sentido. Depois

entretanto e paralelamente a isso, financiamos essa tal escolinha de carpintaria dos alunos,

financiámos também um projeto da universidade nova, uma investigação que tinha outros

apoios e um deles era nosso. Continuámos sempre com as bolsas, desde 2007, tentámos

criar o tal prémio de doutoramento mas não conseguimos, o ano passado estávamos com

as bolsas de investigação, com a consciência social e com o tal apoio ao projeto do

alzheimer da (UNIVERSIDADE pública nacional), apoiámos o tal colóquio da faculdade

de economia do (localidade) e têm sido estes os nossos apoios, Também só podemos

apoiar, somos uma fundação modesta mas vamos fazendo algumas coisas relevantes que

outras fundações não fazem, não há, vai saindo uma notícia ou outra da fundação das

coisas ligadas à universidade mas também não é por aí. Do nosso rendimento anual, só

podemos aplicar um décimo, é o que diz a lei, se aplicarmos mais do que isso tiram-nos

a utilidade pública e depois desse décimo, dois terços têm que ser efetivamente para esses

objetivos, para a prossecução dos objetivos da fundação, dos estatutos, que é o apoio à

investigação e tudo isso, nós somos muito limitados, muitas vezes quando as pessoas vêm

falar connosco, muitas vezes é com protocolos e as pessoas às vezes não sabem disso. A

fundação tem muitos pedidos mas mais a nível de instituições de alunos, que é onde não

podemos ir, ou alunos que já perderam bolsas, mas nós, em primeiro lugar é protocolos e

depois também não podemos avançar daquilo que temos definido. e se tivemos definido

o nosso orçamento em novembro, às vezes as pessoas a meio do ano vêm-nos falar e nós...

e se tivermos a verba com protocolos a três anos, temos que gerir tudo isto e não podemos

estar em todo o lado, vamos estar numa pequena parte, num nicho muito pequeno.

Então a vossa contrapartida é a utilidade pública, não exigem mais nada?

Nada, o nosso nome presente porque isso é algo que é um reconhecimento. Se há as

bolsas, programa de bolsas fundação (nome), (UNIVERSIDADE pública nacional), claro

que tem aquela publicidade, tem os cartazes, muitas vezes é o que recebemos em troca,

por exemplo, este investimento nesta investigação da doença de alzheimer, a única coisa

foi quando apresentaram o trabalho, que foi apresentado até internacionalmente, tinha lá

uma referência, fundação (nome) e aquilo serviu também depois para a inauguração de

um serviço, neste centro de investigação, eles criaram, dentro do próprio departamento,

para este tipo de investigação com outros apoios, criaram um núcleo qualquer e tem lá

uma placa a dizer apoio da (fundação) e das instituições que apoiaram, mais nada, não

temos mais nenhum processo, também não é por nenhuma vaidade que andamos aí porque

também não é isso que pretendemos, apenas continuar uma vontade do fundador.

Aparte os projetos que são específicos e das áreas que vocês financiam, tem

conhecimento dos alunos aos quais são atribuídos as bolsas?

Sim, eu faço parte do júri que seleciona, acompanho sempre, isso é feito sempre com a

nossa participação. Há o trabalho feito pela universidade, depois o júri seleciona e o

elemento da fundação, ultimamente sou eu, já lá esteve o meu irmão mas nos últimos

anos tenho estado eu mais com estas coisas da fundação, faço parte do júri e tenho

conhecimento do processo e é tudo justificado o orçamento, gastou-se em quê e isso é-

nos facultado porque exigimos senão não sabemos onde está a ser investido o dinheiro,

portanto temos de saber onde foi investido e para isso vamos estando desta forma, há esse

retorno da universidade porque faz parte até do protocolo definido que é termos que saber

de tudo e fazermos parte também da escolha, não é feito sem a nossa, nós somos

financiadores,, como é óbvio. se não nos agradar um projeto, não financiamos

No processo de escolha dos alunos para as bolsas está mais em causa o rendimento

do aluno ou o mérito do aluno?

tem esses fatores todos, é tudo, tenho que lhe dar o regulamento, há sempre alunos que

contestam, mas os que contestam geralmente são os que são eliminados por falhas que

chamo técnicas porque aquilo tem um protocolo de apresentação do trabalho e por

exemplo, há uma assinatura de um tutor, o tutor não assinou, o trabalho pode ser muito

válido e já aconteceu, trabalhos muito válidos mas nós temos que seguir as regras, há um

critério, uma regra instituída, chegámos a eliminar alguns que depois reclamaram mas

foi... está lá explicito e depois tentou através de uma plataforma eletrónica que se criou

para os alunos apresentarem o trabalho e se candidatarem, eliminámos alguns desses

problemas, aquilo não tem nada de especial, é um formulário que eles têm que respeitar,

mas há sempre alunos que não respeitam e as maiores reclamações tem a ver com isso.

Depois há trabalhos muito parecidos e por isso está lá o júri, fazem parte professores

capacitados daquelas áreas. Nós selecionamos bolsas...imagine que há dez bolsas, duas

da parte das humanidades, seis de um ramo qualquer científico tecnológico, nós

selecionamos, também tem a ver com a qualidade dos trabalhos, mas selecionamos

percentualmente com o número de alunos que vão concorrer. Imagine, se há dez alunos

de humanidades e há seis de cientifico tecnológico, vamos se calhar selecionar mais

alunos das humanidades porque fazemos aquilo na proporção, se tiverem qualidade,

porque às vezes os professores do júri que são especialistas nessas áreas também dizem

que os trabalhos não têm essa qualidade, portanto, há sempre algum grau de subjetividade

mas isso é como em tudo, mas quando fazemos essa seleção é tudo claro, a perspetiva

não é beneficiar este nem aquele, as coisas são claras, discutidas aqui. já houve reuniões

em que estive em que eu não era especialista das áreas, era da fundação e houve trabalhos

que a mim me pareceu que muitas vezes os professores que estavam no júri tinham

dúvidas do trabalho e eu dizia na minha perspetiva o que achava que era melhor. Não

conheço os alunos de lado nenhum, nunca os vi, não sei quem são, o critério é sempre da

isenção porque não conheço rigorosamente nenhum aluno, a seleção é feita de acordo

com aquilo que nos parecem os trabalhos mais interessantes. Como depois selecionamos,

quando é a apresentação de trabalhos, há sempre uma apresentação, depois selecionamos

para as palestras os que consideramos mais interessantes, cinco trabalhos habitualmente

de diferentes áreas do saber. Podemos enganar-nos como já nos enganámos... depois

alguns efetivamente conseguem apresentar o trabalho de uma forma muito, muito boa e

se calhar há outro aluno qualquer que poderia eventualmente fazer uma apresentação

melhor mas é aquilo que pensamos que é o melhor, com o grau de subjetividade e de

podermos errar mas isso na vida, quem não erra.

Na totalidade, por exemplo o ano passado, a quantos alunos foram atribuídas

bolsas?

26 alunos, bolsas de 1900 euros, mas é o trabalho de um ano, depois têm um tutor. o ano

passado não assisti porque coincidiu com a morte da minha mãe e não pude ir à cerimónia,

mas acho que foi a primeira vez que tivemos alguém de direito que foi selecionado porque

por exemplo, de direito, nunca tínhamos tido assim nenhum trabalho que fosse relevante,

mas tínhamos sempre reclamações de direito, curiosamente, deve ser por causa da área,

estavam a preparar-se para o futuro, uma reclamação de não sei quantas páginas a

fundamentar e às vezes a fundamentar aquilo que nós chamamos, que chega ao tribunal

e portanto o aluno até pode ter toda a razão, no tribunal o queixoso pode ter toda a razão

mas o advogado entregou aquilo fora de prazo, não há hipótese e muitas vezes era o que

acontecia e realmente a fundamentação é muito boa mas havia um problema técnico,

entregou aquilo fora de prazo e por isso... mas tenho tido trabalhos muito engraçados

Quando diz trabalhos, é do 1º ciclo, são alunos de licenciatura...

São do 1º ciclo mas são finalistas do 3º ano que, paralelamente ao seu 3º ano fazem uma

determinada investigação com um tutor, das cinco áreas do saber, agora com a fusão das

universidades são mais, mas para já ainda são as cinco porque foram as últimas e é sempre

do ano anterior, estamos a falar de 2013 que é apresentado agora em 2014 e a fusão foi

este ano. Mas é essa a perspetiva, o júri é formado por professores daquelas áreas do

saber, por catedráticos, não sou eu que vou lá e escolho à toa, estão lá as pessoas e tenho

a mina opinião. Geralmente, as pessoas vêm os trabalhos das suas áreas, eu costumo ver

numa perspetiva mais ampla, não quer dizer que entende tudo, mas temos sempre uma

perspetiva, não andamos de olhos fechados, vamos para ali para coisas muito específicas

da biologia, coisas moleculares não sei quantos, se calhar passa-nos ao lado, mas temos

sempre uma perspetiva do que pode ser um trabalho mais interessante, dá para ver, mesmo

na apresentação. Já chegámos a selecionar 40 e qualquer coisa quando não tirámos das

bolsas para a consciência social, eram 48, 46 bolsas, alunos que eram apoiados. E o

feedback depois dos alunos que temos e escrevem é muito positivo e mesmo quem assiste

é muito positivo. Agora com a nova reitoria que não conhecia o trabalho, ficaram muito

surpreendidos com a qualidade que o ano passado me transmitiram, ficaram muito

surpreendidos com a qualidade dos trabalhos, mas mesmo dentro da universidade muitas

vezes não se tem a perspetiva, às vezes acho que nem conhecem, sinceramente, não sei

se não é suficientemente divulgado dentro do próprio meio académico mas isso já faz

parte da própria universidade que tem que ter esse cuidado, se só é divulgado dentro

daquele nicho muito próprio dos alunos e de alguns professores, não sei, digo isto porque

me transmitiram assim, ficaram até surpreendidos por haver um mecenas como a

fundação a fazer este trabalho dentro da própria universidade, portanto às vezes a

universidade... mas há outras universidades, conheço pessoas da (UNIVERSIDADE

pública nacional) mas não nos contatam, poderíamos não poder ajudar mas não temos

eco, esta história do núcleo de investigação, o próprio responsável, que é um conhecido

professor ligado à parte da economia, enviou um mail, na altura disse-lhe atenção que nós

em novembro reunimos, é um ano em que vamos decidir depois, porque nem sempre

podemos fazer, há anos em que temos protocolos, no início de novembro reunimos,

reunimos órgãos da fundação porque a fundação depois tem um conselho superior que já

tem outros elementos que não nós e então eu disse que precisava das coisas em outubro

para reunirmos em novembro e quer dizer mandaram-me um mail no fim de novembro a

agradecer o apoio que tinha dado numas festas que eles fizeram coim conceituados

economistas de vários países, manda-me depois de termos falado sobre isso, no dia 23/11,

já tínhamos feito a nossa aprovação em função do que tínhamos para apoiar e dizem-me

que ainda estão a preparar o orçamento para enviar, quer dizer, há qui qualquer coisa que

me escapa, se lhe digo que tem que ter em outubro, não pode a dia 23 de novembro estar

a enviar a dizer que estão a preparar o orçamento para enviar mas eu não recebi nada.

apesar de me terem enviado aquele email nunca cheguei a receber nada, ficou por ali...

para além deste desfasamento temporal em que parece que não têm a noção de que há

timings para as coisas, é depois não aparecer nada, podia ser para o próximo ano, analisar,

ver o que haveria, podia ser interessante. No início quando a fundação começou, para a

utilidade pública precisava de começar a apoiar porque tinha que o fazer pelos estatutos

para depois poder avançar para outros objetivos e tenho esta perspetiva que a fundação

da utilidade pública até hoje ainda não beneficiou em nada, já tem desde 2012 mas nem

sequer as isenções obteve do estado. os contatos que fizemos, porque tínhamos

necessidade disso, na (UNIVERSIDADE pública nacional), em particular, na altura, não

obtivemos qualquer resposta e isso é estranho. Quando digo isto e falo isto e falei isto

com os novos reitores e ficam espantados, mas isto é a realidade. por isso é que digo que

se calhar a sociedade civil entrar nas universidades, a universidade também é sociedade

civil mas entrar outra sociedade civil, pode ser que dê outra perspetiva porque sei que a

sociedade também não está muito virada para isto do mecenato, nós não estamos, acho

que alguma coisa tinha que mudar e tinha que começar com os ex-alunos das

universidades, eles deviam financiar a instituição porque há ex-alunos que hoje em dia

são pessoas que têm, para além de serem conhecidas, têm meios para o fazer mas não

fazem, não têm esta perspetiva, mas esta relação deveria começar a... as universidades

também deviam puxar por ela, ir à procura de, vão receber mais não são que sins mas isso

não tenham dúvidas porque a sociedade não está preparada para isto mas se não tentarem

não têm hipótese. Mas quando é ao contrário... acho que há um pudor vou chamar-lhe

assim, em pedir dinheiro, parece que é assim um bocadinho vexatório...

E nem são eles a pedir são vocês a contatar...

Sim, mas imagine que as universidades têm um departamento para isto ou alguém num

departamento que faz este trabalho de contato e isso mas as próprias universidades não

têm apetência para isso porque a perspetiva é pedir dinheiro... mas não é pedir dinheiro,

é financiarem-se, é um financiamento, são projetos, é financiarem projetos em

colaboração com a fundação, é uma perspetiva diferente mas acho que não existe. Não

sei como funciona com as instituições privadas, não sei se são eles que vêm às

universidades, como o Santander, a EDP ou se são as universidades que vão lá, não faço

ideia. Mas a universidade tem que ter interesse, também tem interesses então porque não

ter esta perspetiva de vamos à sociedade civil e vamos buscar financiamentos porque o

estado já não financia e tem que se ir buscar a algum lado. E como a perspetiva é gerirem

aquilo quase como empresas, é essa a ideia que tenho, têm que se mexer, acho que há

projetos que interessam, pode não ser uma fundação, não estou a falar de fundação, outro

tipo de mecenas, porque não um particular, alguém que esteve na universidade.

Porque é que escolheram as universidades que escolheram? porque não escolheram

por exemplo um politécnico?

Precisávamos de ter relevância porque estávamos à procura da utilidade pública, tínhamos

que apresentar trabalho, digamos. e as universidades...podemos falar dos politécnicos,

sem desprimor mas a universidade tem outra dimensão e outro impacto, outra

visibilidade, portanto, mesmo quando isto é analisado pelos burocratas do estado, que

muitos deles também vêm das universidades, outros vêm do privado ou vão lá só fazer os

exames... mas é verdade que, são as tais questões do privado, esses deveriam ser muito

bem regulamentados e fiscalizados, o privado devia ser muito bem fiscalizado pelo

estado. Mas a perspetiva era essa, porque nos pediam para apresentar, mas o que é que

vocês têm, o que é que fizeram, de acordo com os vossos estatutos que seja relevante e

como a nossa área é o apoio à investigação científica, à investigação económica, fomos à

universidade, também era o que estava mais próximo, quer dizer, começámos aqui,

pronto, não começámos tão próximos porque chegámos a ir a (localidade). Mas a

perspetiva também é essa, eu estudei no (localidade), o meu irmão estudou em

(localidade), está a ver? é esta questão que digo, às vezes são as questões afetivas que nos

levam. por isso é que isto do (localidade) fiquei triste porque sou um ex-aluno. E depois

foi-se caminhando, vamos à UL, porque não, não calhou Coimbra, não pensámos mas

podia ser, como foi bem acolhido, avançámos e depois estabelecemos uma relação muito

boa e depois já tem a ver com os afetos e o Sr. (nome) tinha uma relação muito boa e nós

também tínhamos com as pessoas que estavam nos projetos, as coisas foram andando, o

Dr. (nome), damo-nos bem, temos uma ótima relação, sempre tivemos e fomos

continuando. também não nos pudemos alargar muito porque temos o nosso limite em

termos orçamentais porque não nos é permitido. Se um dia as coisas também mudarem,

se pudermos alargar um bocadinho mais e ir mais longe iremos com certeza, mas os

tempos também não são nada, é mas de corte do que outra coisa. hoje em dia tem utilidade

pública ou não termos é quase igual, andámos aqui cinco ou seis anos a batalhar pela

utilidade pública, quando temos utilidade pública, entram com a nova lei das fundações

e retiram ali aqueles benefícios

Não será por causa disso que...

Vamos deixar de apoiar? não, isso não, vamos continuar porque temos que o fazer, não

só na perspetiva estatutária, o máximo que nos poderia acontecer era retirarem-nos a

utilidade pública, temos que apresentar as contas de seis em seis meses ao estado, é o que

estamos obrigados agora. Nessa perspetiva estatutária também mas não só, também

naquilo que nos comprometemos que era uma vontade do fundador, portanto,

independentemente da utilidade pública, iriamos continuar a apoiar porque era a vontade

do fundador, é para isso que existe a fundação se não, não valia a pena, não há mais nada,

não há aqui cargos remunerados, não é para ganharmos dinheiro porque não tem a ver

com isso, temos é que geri-lo com cuidado para poder apoiar e aplicar, mais nada. agora,

as nossas contas são públicas, está tudo, não temos nada a ver com o estado, as nossas

contas são auditadas, públicas para quem as quiser ver.

Para além deste apoio monetário, existe outro tipo de apoio que não envolva

dinheiros?

Não, o nosso objetivo é mesmo esse, é mesmo esse tipo de apoio, não estou a ver com

que enquadramento se justificaria, só se fosse apoio moral, não temos mais nada além do

financeiro. A relação com a universidade é muito boa, isso há que ressalvar, era com os

antigos reitores e continua agora com a nova reitoria.

Para lá da situação de crise, a que acha que se deva esta situação de falta de cultura

de mecenato em Portugal, na sua opinião?

Acho que ainda somos uma sociedade muito recente, que vive nuns tempos de democracia

muito recentes e portanto, a perspetiva os últimos anos tem sido uma perspetiva social,

isto é ascendência social e isto leva-nos para fatores sempre económicos e as pessoas

centram-se muito nelas, não pensam na comunidade, isto é uma questão cultural. O estado

tinha aqui um papel que era só de incentivo, qualquer forma de incentivar, as pessoas

perceberem que sendo mecenas numa primeira perspetiva, tirarem benefícios disso, a

nível de impostos, sendo mecenas ter esse benefício. Mas esqueça porque o estado

relativamente a isso não pretende regulamentar. Mesmo assim as entidades poderiam

fazê-lo, mas acho que isto tem a ver com o facto de estarem centrados no aspeto

económico, quer as empresas, quer os potenciais mecenas, ex-alunos, estão muito

centrados neles, não quero chamar uma sociedade egoísta, mas a verdade é que é. Para

mudar um bocadinho isto, acho que era aqui alguém com visão do estado perceber que

pode ser uma forma de financiamento, ter essa perspetiva, os americanos fazem isso mas

os americanos têm uma perspetiva de comunidade totalmente diferente da nossa, falo com

algumas pessoas que têm ido lá que me dizem que ficam surpreendidos com o espírito de

comunidade que é uma coisa que nós não penamos porque os americanos parecem muito

dispersos mas agregam-se em determinadas comunidades e têm uma perspetiva do bem

próprio da comunidade que nós não temos, ainda somos uma sociedade muito incipiente,

ainda estamos muito centrados no eu, na ascendência social, nesse tipo de fatores e

portanto a comunidade não é uma coisa... acho que isso era ajudado pelos ex-alunos

porque há ex-alunos bem colocados em instituições porque fizeram fortuna, eles próprios

mudarem isso, poderia começar por aí. Mas acho que é mesmo uma questão enraizada,

cultural.

Quer acrescentar mais alguma coisa?

Não, acho que está tudo.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.


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