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“FASCINAÇÃO”, 1909: UM RETRATO DO RACISMO MEDIADO PELA MODA NA OBRA DE PEDRO PERES

Date post: 01-Dec-2023
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“FASCINAÇÃO”, 1909: UM RETRATO DO RACISMO MEDIADO PELA MODA NA OBRA DE PEDRO PERES RITA MORAIS DE ANDRADE 1 Universidade Federal de Goiás, [email protected] e [email protected] Resumo: Este artigo apresenta uma análise da obra “Fascinação” de autoria de Pedro José Pinto Peres (Lisboa 1850 Rio de Janeiro 1923) datado de 1909 com especial atenção à indumentária retratada. Os modos de vestir são um importante vetor cultural que refletem tensões sociais, algumas vezes escamoteadas pelos discursos predominantes em uma sociedade. No Brasil há um debate corrente acerca dos impactos causados pela condição póscolonial, entre eles o da escravidão é um dos mais importantes. Procurase agora desnaturalizar e superar a dada hegemonia eurocêntrica dos modelos sociais e culturais na vida cotidiana e na cultura material a ela associada. Nos estudos sobre indumentária, campo de pesquisa recente no país, é importante identificar a historicidade dos elementos culturais africanos que permanecem invisibilizados pela predominância de temas associados à moda europeia e norteamericana. A exclusão do rico patrimônio cultural da presença africana exclui uma parte fundamental da construção da cultura brasileira, por isso a urgência de inserir este tema na universidade. Palavras chave: Pedro Peres – Indumentária – Racismo – Cultura Visual História Social Introdução A abolição da escravatura no Brasil é um marco importante na história nacional e mundial rumo aos ideais humanistas de construção das sociedades igualitárias e da superação de práticas de exploração humana. Sabese que apesar dos interesses sociais empregados na luta pela abolição da escravidão, outro interesse esteve coadunado, aquele destinado ao acúmulo de riquezas por nações e pequenos grupos mais ricos. Historiadores já identificaram a motivação dos interesses capitalistas como sendo motriz no processo que resultou na libertação de escravizados africanos e afrobrasileiros, negros, e a paulatina substituição desse trabalho não pago pelo do tipo assalariado. Mesmo assim, somase aos traumas da escravização e da libertação (que revelouse descompromissada com a situação dos antigos escravizados) a continuidade das mentalidades racistas anteriores, que demoram a ser superadas e substituídas por modos menos discriminatórios de sociabilidade. 1 Professora do PPG em Arte e Cultura Visual e do Bacharelado em Design de Moda, UFG. Doutora em História Cultural (PUC/SP, 2008) com o tema da biografia cultural no estudo de tecidos e indumentária e Mestre em História dos Tecidos e da Indumentária (University of Southampton/UK, 2000). Realizou estágio de pósdoutoramento (PACC/UFRJ, 20132014) com o trabalho “Coleções de Indumentária em Museus no Brasil” resultando em levantamento inédito das tipologias e formação dessas coleções no país. Representante do Costume Commitee/ICOM desde 2011, liderou a organização no Brasil da primeira reunião do comitê com pesquisadores brasileiros (Rio de Janeiro, 2013) que resultou no aumento expressivo de associados ao comitê internacional. Autora de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros sobre história da indumentária brasileira e metodologia de investigação baseada em artefatos, foi editora da versão brasileira da revista Fashion Theory (20022005) e coeditou dois números especiais da mesma revista na versão original em inglês: Latin America Fashion Now (2014) e Brazilian Fashion (abril de 2016). Líder do Grupo de pesquisa INDUMENTA que investiga a indumentária no Brasil, sua patrimonialização, história e problemas atuais.
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     “FASCINAÇÃO”,   1909:   UM   RETRATO   DO   RACISMO   MEDIADO   PELA   MODA   NA  OBRA  DE  PEDRO  PERES    

RITA  MORAIS  DE  ANDRADE1  

Universidade  Federal  de  Goiás,  [email protected]  e  [email protected]        

 

Resumo:    Este  artigo  apresenta  uma  análise  da  obra  “Fascinação”  de  autoria  de  Pedro  José  Pinto  Peres  (Lisboa  1850-­‐  Rio  de  Janeiro  1923)  datado  de  1909  com  especial  atenção  à   indumentária  retratada.  Os  modos  de  vestir  são  um  importante  vetor  cultural  que  refletem  tensões  sociais,  algumas  vezes  escamoteadas  pelos  discursos  predominantes   em  uma   sociedade.  No   Brasil   há   um  debate   corrente   acerca   dos   impactos   causados   pela  condição   pós-­‐colonial,   entre   eles   o   da   escravidão   é   um   dos   mais   importantes.   Procura-­‐se   agora  desnaturalizar  e  superar  a  dada  hegemonia  eurocêntrica  dos  modelos  sociais  e  culturais  na  vida  cotidiana  e  na  cultura  material  a  ela  associada.  Nos  estudos  sobre  indumentária,  campo  de  pesquisa  recente  no  país,  é  importante   identificar   a   historicidade   dos   elementos   culturais   africanos   que   permanecem   invisibilizados  pela   predominância   de   temas   associados   à   moda   europeia   e   norte-­‐americana.   A   exclusão   do   rico  patrimônio  cultural  da  presença  africana  exclui  uma  parte  fundamental  da  construção  da  cultura  brasileira,  por  isso  a  urgência  de  inserir  este  tema  na  universidade.    Palavras  chave:  Pedro  Peres  –  Indumentária  –  Racismo  –  Cultura  Visual  -­‐  História  Social    

 

Introdução    A  abolição  da  escravatura  no  Brasil  é  um  marco  importante  na  história  nacional  e  mundial  rumo  aos  ideais  humanistas  de  construção  das   sociedades   igualitárias  e  da   superação  de  práticas  de  exploração  humana.  Sabe-­‐se  que  apesar  dos  interesses  sociais  empregados  na  luta  pela  abolição  da  escravidão,  outro  interesse  esteve   coadunado,   aquele   destinado   ao   acúmulo   de   riquezas   por   nações   e   pequenos   grupos  mais   ricos.  Historiadores  já  identificaram  a  motivação  dos  interesses  capitalistas  como  sendo  motriz  no  processo  que  resultou  na  libertação  de  escravizados  africanos  e  afro-­‐brasileiros,  negros,  e  a  paulatina  substituição  desse  trabalho   não   pago   pelo   do   tipo   assalariado.   Mesmo   assim,   soma-­‐se   aos   traumas   da   escravização   e   da  libertação  (que  revelou-­‐se  descompromissada  com  a  situação  dos  antigos  escravizados)  a  continuidade  das  mentalidades   racistas   anteriores,   que   demoram   a   ser   superadas   e   substituídas   por   modos   menos  discriminatórios  de  sociabilidade.      

                                                                                                                         

 1  Professora  do  PPG  em  Arte  e  Cultura  Visual  e  do  Bacharelado  em  Design  de  Moda,  UFG.  Doutora  em  História  Cultural  (PUC/SP,   2008)   com   o   tema   da   biografia   cultural   no   estudo   de   tecidos   e   indumentária   e  Mestre   em   História   dos  Tecidos  e  da  Indumentária  (University  of  Southampton/UK,  2000).  Realizou  estágio  de  pós-­‐doutoramento  (PACC/UFRJ,  2013-­‐2014)  com  o  trabalho  “Coleções  de  Indumentária  em  Museus  no  Brasil”  resultando  em  levantamento  inédito  das  tipologias   e   formação   dessas   coleções   no   país.   Representante   do   Costume   Commitee/ICOM  desde   2011,   liderou   a  organização  no  Brasil  da  primeira  reunião  do  comitê  com  pesquisadores  brasileiros  (Rio  de  Janeiro,  2013)  que  resultou  no  aumento  expressivo  de  associados  ao  comitê  internacional.  Autora  de  artigos  publicados  em  periódicos  nacionais  e  estrangeiros  sobre  história  da  indumentária  brasileira  e  metodologia  de  investigação  baseada  em  artefatos,  foi  editora  da  versão  brasileira  da  revista  Fashion  Theory  (2002-­‐2005)  e  co-­‐editou  dois  números  especiais  da  mesma  revista  na  versão  original  em   inglês:  Latin  America  Fashion  Now   (2014)  e  Brazilian  Fashion   (abril  de  2016).   Líder  do  Grupo  de  pesquisa  INDUMENTA  que  investiga  a  indumentária  no  Brasil,  sua  patrimonialização,  história  e  problemas  atuais.  

 

 

 

 

 

Contudo,  quando  substituída  a  forma  escravocrata  por  outra  mais   liberal  de  economia  e  política  no  Brasil  de   finais   do   século   XIX,   os   discursos   em   defesa   da   liberdade,   da   fraternidade   e   da   igualdade   estavam  presentes  em  diferentes   contextos   sociais.  Da   flor  de  camélia,   símbolo  de   libertação  usada  pela  Princesa  Isabel,  aos  levantes  populares  que  eclodiram  no  país  em  defesa  dos  escravizados,  a  notícia  da  abolição  foi  e  ainda  é  um  aspecto   central   da  história  dos  africanos,   afrodescendentes  no  Brasil   e,   de   fato,  de   todos  os  brasileiros.   É   apenas  muito   recentemente,   especialmente   no   final   do   século   XX,   que   os   impactos   sociais  sofridos  por  pessoas   traficadas  e  escravizadas  e   seus  descendentes  vem  repercutindo  como  um  tema  de  interesse  das  ciências  sociais  e  das  artes2.    

Figura  1.  Fascinação,  1909.  Pedro  Peres.  Óleo  sobre  madeira,  35,7  X  31,2  cm.  Acervo  da  Pinacoteca  do  Estado  de  São  Paulo.  Fonte  da  reprodução:  homepage  da  Pinacoteca  do  Estado  de  São  Paulo.  Disponível  em:  http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-­‐pt/default.aspx?mn=545&c=acervo&letra=P&cd=2658.  Acesso  em:  05/05/2015.  

 Este  artigo  apresenta  um  estudo  de  caso,  uma  análise  feita  a  partir  da  observação  dos  elementos  visuais  da  obra   “Fascinação”   (Figura   1),   datada   de   1909   de   autoria   de   Pedro   Peres   (Lisboa   1850   –   Rio   de   Janeiro  1923)3  para  refletir  sobre  a  relação  social  discriminatória  enunciada  nas  visualidades.  A  produção  artística,  mas  também  outras  imagens  produzidas  no  período  imediatamente  posterior  à  abolição  da  escravatura  no  Brasil,  apresentam  vestígios  das  mentalidades  racistas  e  das  distinções  entre  dominantes  e  dominados  que                                                                                                                            

 2  Recentes  ações  podem  servir  de  exemplo  da  mobilização  pelo  debate  acerca  do  tema.  Uma  delas  é  a  exposição  “Imprensa  Negra  Paulista”  que  aconteceu  entre  24  de  agosto  e  11  de  outubro  de  2015  no  Centro  de  Preservação  Cultural  da  USP  –  Casa  de  Dona  Yayá  -­‐  em  São  Paulo.  Disponível  em:    http://www.usp.br/cpc/v1/php/wf08_informa.php.  Acesso  em:  01/10/2015.        3  Para  uma  biografia  do  artista  consultar  a  Enciclopédia  Itaú  Cultural  o  verbete    “Pedro  José  Pinto  Peres  (Lisboa,  Portugal  1850  -­‐  Rio  de  Janeiro  RJ  1923).  Disponível  em:  http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24503/pedro-­‐peres.  Acesso  em:  20/08/2015.  

 

 

 

 

 

permaneceram  na  sociedade  brasileira  apesar  dos  discursos  liberais  e  abolicionistas  de  fins  do  século  XIX4.  Particular  atenção  neste  artigo  é  dada  à  análise  visual  das  vestimentas  retratadas  na  obra  que,  acredita-­‐se,  acentua  e  revela  a  distinção  social  entre  brancos  e  negros.  Discute-­‐se  o  vestuário  e  os  modos  de  vestir  (à  moda  ou   fora  dela)   como  marcadores  da  vida   social  que   separam  pobres  de   ricos,  negros  de  brancos.  A  moda  europeia  era  o  modo  de  vestir  dominante  dos  antigos   colonizadores  e  das  elites  que   foram  sendo  construídas   no   país   e   marcava   visualmente   e   materialmente   as   diferenças   sociais.   Acredita-­‐se   que   a  indumentária   seja   um   importante   vetor   da   história   cultural   e   social   no   Brasil   que   merece   atenção   de  pesquisadores  das  artes  e  ciências  sociais.      As   imagens  de  mulheres   africanas  que   viveram  no  Brasil   em  decorrência  de   sua   condição  escrava  ou  de  descendente   de   escravos   é   muito   diversa   das   imagens   de   mulheres   europeias   e   suas   descendentes   e  mesmo  de  mulheres   índias   ou  descendentes   de   indígenas   que   foram   retratadas   em  gravuras,   pinturas   e  fotografias   do   Brasil   colônia   ao   Brasil   Império   e  muito   tempo   depois.   Essas   imagens   retratam  mulheres  negras,   africanas   e   afro-­‐brasileiras,   vestidas   de   saias   e   blusas,   enquanto   que   as   mulheres   brancas   são  geralmente   retratadas   com   vestidos   inteiriços,   sem   a   divisão   visual   evidente   entre   blusa   e   saia.   Esses  modos  distintivos  de   vestir   parecem   remontar   às   roupas   camponesas  da  Europa  e   relacionaria  mulheres  escravizadas   e/ou   pobres   à   condição   rural,   notadamente   defasada   em   relação   à  moda   que   as  mulheres  mais   urbanizadas   ou   modernizadas   na   aparência,   aquelas   que   vestem   vestidos   inteiros   durante   todo   o  século  XIX.      É   possível   que   esses   modos   distintos   de   vestir   tenham   sido   continuados   no   Brasil   mesmo   depois   da  proclamação  da  República.  A  permanência  da   saia  e  blusa   como  vestimentas   características  de  mulheres  afro-­‐brasileiras  é  ainda  notável  no  Brasil  atual,  o  que  parece  indicar  uma  proximidade  ao  modo  de  vestir  do  século  XIX,  apesar  das  mudanças  sociais  ocorridas  na  historia  recente  do  país5.  Pouco  tem  sido  estudado  a  respeito  da  indumentária  no  Brasil,  particularmente  o  que  as  crianças  vestem  e  vestiram.  Um  estudo  feito  a  partir   da   análise   de   imagens,   a   exemplo   do   que   foi   realizado   sobre   a   obra   “Redenção   de   Cã”   do   artista  Modesto   Brocos   y   Gomes   [1852-­‐1936]   (Capel   et   al.,   2012),   demonstra   como   as   visualidades   revelam   a  complexa   transformação   social   em   progresso   e   serve   como  modelo   para   análises   sobre   indumentária   a  partir  da  cultura  visual.      Visando   compreender   como   a   indumentária   pode   revelar   traços   das   diferenças   sociais   marcadas   pelo  racismo,   segue   uma   análise   da   obra   “Fascinação”   (1909).   O  método   utilizado   para   analisar   a   imagem   é  baseado   na   proposta   de   Heloísa   Capel   (n.d.)   para   professores   utilizarem   em   suas   aulas   de   história.   De  acordo  com  a  proposta  de  análise  de  imagem,  a  autora  sugere  as  seguintes  etapas  de  trabalho:  Observação  Inicial  e  Escrita  de  Percepção;  Anotação  de  questões–problema  a  partir  das  observações  feitas  inicialmente;  Investigação  das  questões–problema  a  partir  das  questões  elaboradas;  Exame  de  Elementos  de  Produção  da   Imagem;   Análise   de   Dados   de   Circulação   e   Recepção   da   Imagem   e   Diálogo   com   Outras   Obras.   Esta  última  etapa  auxilia  o  pesquisador  a  situar  a  produção  e  circulação  da  imagem.      A  Indumentária  em  Pedro  Peres  Pouco  foi  escrito  a  respeito  da  indumentária  que  africanos  e  afro-­‐brasileiros  vestiram  no  longo  período  de  colonização   europeia   no   Brasil   e   no   período   pós-­‐colonial   seguido   pela   independência   e   abolição   da  escravidão   no   país.   João   Braga   e   Luís   André   do   Prado   (2011)   narram   a   história   da   moda   brasileira                                                                                                                            

 4  A  presença  da  população  negra  nas  cidades  e  a  diversidade  de  discursos  foi  tema  de  discussão  do  simpósio  “Negros  nas  Cidades  Brasileiras  1890-­‐1950”  de  24  a  26  de  agosto  de  2015  no  Centro  Universitário  Maria  Antônia/USP,  em  São  Paulo.  Disponível  em:  www.usp.br/cpc.  Acesso  em:  20/08/2015.  5  Sobre  este  tema  ver  número  especial  da  revista  Fashion  Theory  (no  prelo):  Andrade,  Rita;  Root,  Regina  (eds).  2016.  Brazilian  Fashion,  an  special  issue  of  Fashion  Theory  –  the  jornal  of  Dress,  body  and  culture.  Vol.  20.2.  February.    

 

 

 

 

 

considerando   que   houve   uma   importante   influência   africana   na   constituição   cultural   da   nação,  mas   não  destacam  as  profundas  diferenças  entre  os  modos  de  vestir  de  escravos  e  libertos  ou  ex-­‐escravos  pobres  e  a   população  mais   rica.   Essas   diferenças   são   brevemente   tratadas   por  Marcos   Hill   (2012)   em   seu   estudo  sobre  a  presença  de  “mulatos”  na  cultura  visual  brasileira,  marcadamente  na  história  da  arte.  Este  autor  buscou  nos  marcos  da  cultura  brasileira,  como  as  obras  de  Debret  do  século  XIX  e  os  textos  de  Mario  de  Andrade  no  século  XX,  vestígios  de  uma  configuração  cultural  mestiça  e  as  relacionou  à  produção  artística  do  longo  período  entre  o  século  XVII  e  o  século  XX.    Contudo,  ainda  não  vemos  a  indumentária  destacada  como   elemento   relevante   ao   estudo   das   visualidades.   Um   dos   raros   estudos   sobre   a   indumentária   de  escravos  é  o  de   Julita   Scarano   (2002)  que  pesquisou  o   cotidiano  de  escravos  em  Minas  Gerais  do   século  XVIII   e   observou   que   as   vestimentas   são   um   importante   aspecto   para   a   construção   da   história   social   e  cultural  do  Brasil.  A  autora  acredita  que  a  escassez  de  fontes  relativas  à  indumentária,  inclusive  as  próprias  roupas,  contribui  para  a  ausência  de  estudos  especializados  sobre  o  tema.  Acredito  que  estudos  relativos  à  indumentária   e   os   modos   de   vestir   a   partir   de   análise   de   imagens   e   artefatos   possam   contribuir   para  discutir   racismo   e   desigualdade   social   no   período   tratado,   muitas   vezes   atenuadas   pelos   discursos  nacionalistas  e  abolucionistas.  Como  observaram  Ana  Paula  Benachio  et  al.   (2014,  p.4),   sobre  uma  outra  obra  de  Peres  :    

“N’A  Primeira  Libertação  de  Pedro  Peres,  os  homens  negros  não  são  meros  complementos  à  cena:  eles  têm  um  papel  relevante,  mas  ainda  assim  não  são  personagens  completamente  construídos  e  individualizados.   No   nosso   entender,   trata-­‐se   mais   de   uma   alegoria,   uma   representação   da  liberdade  e  de  um  mundo  que  ainda  estaria  por  vir.”  

 Este   mundo   “por   vir”   está   também   representado   de   modo   singelo   em   outras   obras   do   artista.   Em  “Fascinação”,  1909,  Pedro  Peres  retratou  em  óleo  sobre  madeira  (35,7  x  31,2cm)  uma  cena  íntima  que  tem  duas   figuras   centrais:   uma   criança   negra   e   uma   boneca   branca.     Notáveis   são   as   diferenças   entre   as  meninas   retratadas,  o  símbolo  da  boneca  –   imaculada,  perfeita,  arrumada  –  em  contraste  com  a  menina  mal  vestida.  O  período  parece  ser  o  contemporâneo  do  pintor  no  momento  que  executa  a  obra,  dada  as  características   visuais   retratadas,   como   o   estilo   arquitetônico,   o   mobiliário   e   as   roupas.   A   boneca   está  sentada  sobre  uma  cadeira  de  madeira  com  assento  estofado  e  encosto  coberto  por  uma  espécie  de  xale  com   franjas.   De   cabelos   loiros   e   pele   branca,   aparenta   ter   sido   fabricada   em   porcelana   ou   madeira   e  assemelha-­‐se  bastante  às  feições  humanas  de  uma  criança.  Traja  vestido  de  cor  azul  e  renda  branca  de  saia  drapejada  e  blusa  com  jabô,  de  mangas  longas  e  decote  careca  com  gola,  todas  características  de  vestidos  de   alta  moda   francesa   do   século   XIX,   como   podemos   notar   nas   imagens   (Figuras   2   e   3).   Visualmente   o  tecido   aparenta   ser   seda,   dado  o  brilho   e   as   nuances  de   tons  de   azuis   retratados.   Ela   calça   sapatos  que  aparentam   ser   couro   marrom   de   tom   caramelo.   Veste   ainda   um   chapéu   azul   com   ornamentos,  possivelmente   plumas   e   babados   de   renda,   o   que   não   é   possível   identificar   com   segurança   pelo   modo  como  está  retratado.  O  traje  e  a  feição  saudável  (rubra)  da  boneca  contrastam  com  a  visão  que  temos  da  criança  negra,  posicionada  na  obra  ao  lado  da  boneca,  distante  cerca  de  um  metro  e  recostada  em  pé  no  batente  de  uma  porta  branca,  ligeiramente  recuada  em  relação  à  cadeira  com  boneca,  do  ponto  de  vista  do  observador  da  pintura  e  da  cena.    

                                                                                                                   Figura  2               Figura  3  

 

 

 

 

 

 Figura  2.  Princesse  de  Broglie,  1851–53.  Jean  Auguste  Dominique  Ingres  (Francês,  1780–1867).  Óleo  sobre  tela  (121.3  x  90.8  cm).  Coleção  Robert  Lehman,  1975  (1975.1.186).  Metropolitan  Museum  of  Art,  Nova  Iorque.  Disponível  em:  http://www.metmuseum.org/toah/works-­‐of-­‐art/1975.1.186.  Acesso  em  25/10/2015.  Neste  retrato  de  meados  do  século  XIX  vemos  um  vestido  azul  com  saia  volumosa,  característica  da  moda  francesa  da  época.  A  manga  curta  diferencia  esta  voga  de  outra,  mais  característica  do  final  do  século  que  é  mais  parecida  com  a  roupa  da  boneca.  Figura  3.  Vestido  de  seda  e  renda  Liberty  &  Co  London,  Inglaterra,  1893-­‐1894.  ©  Victoria  &  Albert  Museum,  Londres.  Número  de  localização:  T.17-­‐1985.  Disponível  em:  http://www.vam.ac.uk/content/articles/v/victorian-­‐dress-­‐at-­‐v-­‐and-­‐a/.  Acesso  em  25/10/2015.    Este  vestido,  aqui  reproduzido  em  baixa  resolução  em  um  pequeno  detalhe,  é  muito  semelhante  ao  da  boneca.  Feito  em  seda  de  cor  azul  e  com  detalhes  em  renda  branca,  foi  moda  no  final  do  século  XIX  e  produzido  pelo  maganize  inglês  Liberty,  indicando  uma  voga  que  havia  se  tornado  internacional.    A  criança  tem  feições  de  menina,  está  vestida  com  vestido  de  cor  clara,  um  tom  entre  creme  e  rosado.  O  traje   aparenta   ser   uma   peça   inteira,   vestido   de   mangas   longas,   cintado,   com   jabô   aparentemente   do  mesmo  tecido  ou  cor.  A  simplicidade  do  vestido  da  criança,  que  não  calça  sapatos  ou  veste  outros  adereços  como   chapéu,   contrasta   muito   com   a   riqueza   de   detalhes   dos   trajes   da   boneca.   A   menina,   cujo   braço  esquerdo  se  apoia  para  cima  no  batente  da  porta,  olha  a  boneca  com  expressão  de  fascínio,  o  que  remete  ao  título  da  obra:  fascinação.  A  boca  está  entreaberta  e  o  rosto  não  expressa  felicidade  ou  tristeza,  mas  há  algo   no  modo   de   retratar   a  menina   que   nos   remete   à   contemplação   de   um  objeto   que   não   poderá   ser  tocado.  A  pobreza  fora  retratada  por  outros  artistas  no  século  XIX  e  início  do  XX,  e  a  indumentária  é  um  dos  elementos  que  melhor  destaca  essa  condição  social,  conforme  vemos  nas  figuras  4  e  5.      

                                                       Figura  4                 Figura  5    Figura  4.  Negra  tatuada  vendendo  caju,  1827.  Jean-­‐Baptiste  Debret.    Aquarela  sobre  papel.  15.6  x  21  cm  Museus  Castro  Maya  -­‐  IPHAN/MinC,  Rio  de  Janeiro.  Disponível  em:  http://museuscastromaya.com.br/colecoes/brasiliana/.  Acesso  em  10/11/2015.  Em  suas  aquarelas,  Debret  retratou  mulheres  negras  como  essas  vendedoras  de  frutas  que  vestiam  saia  e  blusa  no  início  do  século  XIX.  Ainda  hoje  as  vendedoras  de  acarajé  são  vistas  em  Salvador/BA  com  este  tipo  de  traje.    Figura  5.  Nhá  Chica,  1895.  José  Ferraz  de  Almeida  Júnior.  Óleo  sobre  tela,  109  X  72  cm.  Acervo  Pinacoteca  do  estado  de  São  Paulo.  Disponível  em:  http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-­‐pt/default.aspx?mn=545&c=acervo&letra=A&cd=2335.    Acesso  em:  28/10/2015.    Vestir-­‐se  de  blusa  e  saia  era  comum  às  mulheres  mais  pobres  do  Brasil  como  na  Europa.  Vestidos  inteiros  feitos  de  um  único  tecido  era  um  privilégio  aparentemente  dos  mais  ricos,  ao  menos  enquanto  a  costura  industrial  não  passou  a  dominar  a  produção  do  vestuário  que  viria  a  acontecer  no  século  XX.      Apesar  de  as  mulheres  pobres  e  negras  terem  sido  retratadas  muitas  vezes  vestindo  saia  e  blusa  no  lugar  de   vestidos   inteiriços   de   mulheres   burguesas   e   brancas,   vemos   a   criança   negra   vestida   de   um   modo  diverso.   Ela   não   está   retratada   com   saia   e   blusa   como   uma  mulher  mais   velha   e   não   veste   um   vestido  inteiriço   como  a  boneca  que   representa  uma  mulher   à  moda.   Seria   esta   uma   roupa  de   adulto   adaptada  para  a  criança?  Isto  é  possível   já  que  a  menina  parece  vestir  uma  camisa  de  adulto  que  nela  estaria  mais  longa?    Mas  há  ainda  outras  possibilidades,  como  a  de  uma  roupa  feita  para  a  criança  a  partir  de  tecidos  grosseiros  disponíveis  para  corte  e  costura  de   roupas  das  populações  mais  pobres,   como  acontece  ainda  hoje  no  interior  dos  estados  brasileiros  em  que  populações  rurais  vestem-­‐se  com  trajes  feitos  de  sacos  de  algodão  que  embalam  alimentos  e  outros  produtos.   Este  é  um   tema   fascinante  de   investigação  para   ser  

 

 

 

 

 

perseguido   num   trabalho   de   maior   fôlego.   Uma   pesquisa   em   arquivos   históricos   e   acervos   de   museus  poderia  informar  a  respeito  dos  modos  de  vestir  que  a  cultura  visual  nos  apresenta.      Todo  o  entorno  da  cena  apresenta  um  ambiente  rico:  o  tapete  aparentemente  Aubusson,  um  estilo  francês,  o   mobiliário   de   madeira   com   desenho   ornamental,   a   cadeira   de   balanço   que   aparece   no   fundo   e   tem  desenho  Thonet   sobre  o  qual   vemos  um   tecido,   possivelmente  um  xale   franjado,   característica  da  moda  feminina  do  período  em  que  a  obra   foi   realizada.  Há   livros  dispostos  em  prateleiras   também  ao  fundo,  o  que  remete  à  casa  de  gente  letrada.  O  estilo  de  retrato  do  cotidiano,  conhecido  por  pintura  de  gênero,  é  característico   da   época.   Não   é   possível   precisar   a   localidade   representada,   mas   pode   ser   uma   casa  brasileira  já  que  vemos  a  relação  racial  protagonizando  a  cena.  A  obra  fora  executada,  considerando  a  data  1909,  vinte  e  um  anos  depois  da  abolição  da  escravidão  no  Brasil  pelo  decreto  assinado  por  Isabel  aprovado  por  senado  e  câmara  dos  deputados  em  1888.      Mas   em   que   medida   esta   imagem   se   assemelha   a   outras   da   mesma   época?   O   trabalho   de   Ana   Laura  Benachio  (et  al.,  2014),  analisa  uma  parte  importante  das  produções  artísticas  no  Brasil  que  representam  o  negro   entre   1850   e   1950   e   nota   essa   diversidade   de  modos   de   visibilizar   as   tensões   sociais.   Os   autores  concluem   que,   apesar   de   prevalecer   a   produção   de   artistas   brancos   sobre   negros,   há   uma   contribuição  relevante   no   período   em   marcar   as   diferenças   sociais   e   apresentá-­‐las   em   sua   complexidade.   De   certa  forma,   o   estudo   do   conjunto   artístico   do   período   ajuda-­‐nos   a   ter   essa   percepção   mais   alargada   das  múltiplas  impressões  sobre  essas  tensões.  Certamente,  como  aponta  o  estudo,  novas  pesquisas  precisarão  se  debruçar  sobre  a  produção  de  artistas  negros,  como  Estevão  Silva  (1845?-­‐1891)  formado  na  Academia  Imperial  de  Belas  Artes   (Benachio  et  al.,  2014,  p.25)  para  que  tenhamos  uma  dimensão  mais  significativa  das   questões   ligadas   ao   racismo   do   período.   A   Academia   de   Belas   Artes   foi   uma   instituição   muito  importante  para  a  produção  e  difusão  da   ideia  de  uma  arte  nacional.  Pedro  Peres  estudou  na   instituição  tendo   sido   aluno   de   Victor   Meireles   (1832-­‐1903)   e   colega   de   Almeida   Júnior   (1850-­‐1899).   Através   da  análise  do  trabalho  de  outro  pintor,  Modesto  Brocos  y  Gomez  (1852-­‐1936)  (Capel,  2014),  sabemos  como  a  arte   no   Brasil   passava   por   uma   transformação   decorrente,   entre   outras   coisas,   da   mudança   de   regime  político  e  da  consequente  instabilidade  das  instituições  antigas.  Em  seu  trabalho,  a  autora  demonstra  como  buscar   o   “nacional”   na   arte   dependia   agora   de   uma   apreensão   das   questões   locais.   Segundo   ela   (Capel,  2014,  p.5),  não  bastava  a  solução   formal  das  obras,  muitas  delas  baseadas  numa   formação  europeia  dos  artistas,   mas   a   nova   estética   processava-­‐se   “(...)   por   meio   da   observação   empírica   da   localidade,   pela  observação  dos  tipos  nacionais,  elementos  únicos  que  pudessem  contribuir  na  composição  de  uma  obra”.    Em  Pedro  Peres  observamos  essa  absorção  dos  aspectos  sensíveis  da  realidade   local  para  além  da   forma  acadêmica   de   pintura.   Parece   haver   em   “Fascinação”   uma   escolha   por  manter   o   conflito   em   suspenso,  como   se   participássemos   da   cena   sem   que   percebessem   nossa   presença.   No   trabalho   de   Peres   há   um  convite  para  espreitar  os  acontecimentos  naquilo  que  eles   tem  de  complexo,  é  como  se  o  artista   tivesse  registrado   a   tensão   velada   da   cena   que   presenciou.   Um   modo   semelhante   de   registro   do   cotidiano  encontramos  em  Almeida   Junior   (1850-­‐1899).  Contudo,  as   cenas   registradas  por  ele  parecem  refletir  um  distanciamento  quase  científico  entre  o  artista  e  a  cena  registrada,  como  se  o  artista  fosse  um  mediador,  documentando  a  cena  sem  transpor  o  limite  objetivo  dos  elementos  retratados.  Em  Pedro  Peres  vejo  algo  distinto,   uma   sensibilidade   para   captar   o   subjetivo   na   cena   e   destacar   o   que   estaria,   de   outra   forma,  invisível.        Em  relação  à  produção  artística  de  sua  época  Pedro  Peres  apresenta  um  olhar  sensível  às  questões  sociais  brasileiras,   em   especial   às   dos   problemas   visivelmente   presentes   após   a   abolição   da   escravidão.   Havia  outros  artistas,  além  do  prestigiado  Almeida  Junior  já  mencionado,  que  ao  se  preocuparem  em  retratar  o  cotidiano,  demonstraram  de  modos  distintos  as  tensões  raciais  presentes  na  sociedade  que  lidava  com  as  mudanças  recentes.  O  que  prevalece  nas  obras  da  época  é  a  imagem  de  um  distanciamento  entre  negros  e  brancos,   sendo  os  primeiros  aqueles  que  estão  à   sombra  ou  à   serviços  dos  últimos.  Em  seu  artigo   sobre  representações  de  negros  e  índios  brasileiros  na  produção  artística  nacional,  Vera  Lins  (Revista  Z  Cultural,  

 

 

 

 

 

s/d)  observa  como  o  historicismo  presente  nas  várias  obras  produzidas  no  final  do  século  XIX  e  início  do  XX  perde  em  importância  quando  o  sensível  é  o  aspecto  privilegiado  pelo  pintor.  Sobre  a  obra  “Fascinação”  e  refletindo  sobre  a  ideia  da  partilha  do  sensível  em  Jacques  Rancière,  a  autora  disse:      

“Na  pintura,  o  regime  estético  depunha  os  quadros  históricos  e  trazia  o  banal  à  cena.  Não  é  mais  a  representação   da   nacionalidade   o   que   conta,   mas   as   questões   que   afloram   –   possibilitando   a  reconfiguração  polêmica  do   sensível.   Passa-­‐se   dos   grandes   acontecimentos   e   personagens   à   vida  dos   anônimos,   identificando   os   sintomas   de   uma   época,   sociedade   ou   civilização   nos   detalhes  ínfimos  da  vida  ordinária.  O  que  acontece  já  no  quadro  Fascinação,  que  gera  pensamento,  o  que  se  espera  da  arte.”  

 Considerações  finais    Os  tecidos,  as  cores,  os  trajes  são  elementos  que  destacam  as  diferenças  sociais  que  na  obra  são  retratadas  na  menina  negra  e  na  boneca  branca  com  visível  contraste.  Uma  representa  um  modo  de  vida  centrado  no  consumo  de  produtos  de  moda,  de  luxo,  o  que  identificamos  em  muitos  dos  objetos  que  veste  e  reveste:  a  cadeira,  o  chapéu,  os  sapatos  e  vestido  de  seda  com  renda,  o  rubor  da  face.  A  outra  parece  se  apoiar  de  uma  forma  incômoda  à  cena,  olha  a  boneca  com  a  expressão  de  quem  vive  distante  do  mundo  em  que  ela  também  habita.  Além  da  fascinação,  há  um  deslocamento,  uma  inadequação  retratada  que  nenhum  objeto  enseja   tão   bem   quanto   a   indumentária.   A   análise   de   imagem   é   um   instrumento   legítimo   na   busca   por  conhecimento   a   respeito   da   história   cultural   e   social,   especialmente   importante   quando   os   discursos  predominantes  invisibilizam  os  preconceitos  que  vão  se  arraigando  e  naturalizando  na  sociedade  brasileira.  As   roupas   e   a   moda   são   marcadores   dessa   distinção   social   que   revela   o   racismo,   como   vemos  destacadamente  na  obra  de  Pedro  Peres.  Estudos  sobre  indumentária  a  partir  da  análise  de  imagens,  assim  como  a  de   artefatos,   colaboram  para  uma  visão  mais   abrangente  da   situação   complexa,   da   sensação  de  inadequação  de  negros  e  ex  escravos  no  início  da  República.        Agradecimentos  Agradeço   as   Professoras   Dra.   Heloísa   Selma   Fernandes   Capel   e   Ms.   Ana   Amélia   Aquino   Brito   pelas  sugestões   valiosas   na   elaboração   deste   texto,   inicialmente   preparado   para   a   conclusão   do   curso   de  especialização   em   História   e   Cultura   Afro-­‐Brasileira   e   Africana   (2014-­‐2015).   Agradeço   ainda   a   leitura  cuidadosa  e  as   importantes  contribuições  dos  pareceristas  para  a  elaboração  da  versão  final  deste  artigo,  assim  como  a  organização  do  evento  pela  cuidadosa  gestão  do  processo  de  revisão  cega  pelos  pares,  que  considero   crucial   para   o   amadurecimento   e   consolidação   da   área   de   pesquisa.   Finalmente,   agradeço   a  Indyanelle  Marçal  Garcia  e  Luiz  Guilherme  Menezes  Di  Calaça,  responsáveis  pela  tradução  deste  artigo  com  revisão  final  minha.      Referências    Benachio,   Ana   Laura;   Beck,   Diego  Eridson;   Costa,   Rafael   Machado;   Vargas,   Rosane.  2014.   Considerações  sobre  a  representação  do  negro  na  arte  do  Brasil,  1850-­‐1950.  In:  Revista  19&20,  Rio  de  Janeiro,  v.  IX,  n.  1,  jan./jun.  Disponível  em:  http://www.dezenovevinte.net/obras/negro_representacoes.htm    Braga,  João  e  Prado,  Luís  André  do.2011.  História  da  Moda  no  Brasil   -­‐  das  influências  às  autorreferências.  São  Paulo:  Pyxis  Editorial,  2a  ed.    Calanca,  Daniela.  2008.  História  Social  da  Moda.  Tradução  Renato  Ambrósio.  São  Paulo:  Senac.  Capel,   Heloísa   Selma   Fernandes.   2014.   Artífice   Da   Tradição:   Modesto   Brocos   Y   Gomez   (1852-­‐1936)   no  debate  sobre  a  identidade  nacional.  In:  Fênix  –  Revista  de  História  e  Estudos  Culturais  Julho  -­‐  Dezembro  Vol.  11  Ano  XI  nº  2  ISSN:  1807-­‐6971.  Disponível  em:  www.revistafenix.pro.br  

 

 

 

 

 

-­‐-­‐-­‐.   “n.d”.Como   analisar   uma   imagem:   sugestões   para   o   professor.   Texto   do   curso   de   especialização   à  distância   em   História   e   Cultura   Afro-­‐Brasileira   e   Africana.   Disponível   em:  http://www.historiaecultura.ciar.ufg.br/modulo3/capitulo13/conteudo/2-­‐1.html    -­‐-­‐-­‐,   H.S.F.;   G.Witeze   Junior.   2012.   Performances   híbridas   no   pensamento   utópico   de   Modesto   Brocos   y  Gomez  (1852-­‐1936).   In:  Estudos  Ibero-­‐Americanos,  PUCRS,  v.  38,  n.  2,  p.  363-­‐380,  jul./dez.  Disponível  em:  http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/view/12071/8727.    Gates  Jr.,  Henry  Louis.  2014.  Os  negros  na  América  Latina.  Tradução    Donaldson  M.  Garschagen.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras.    Hill,  Marcos.  2012.  Quem  são  os  mulatos?  Belo  Horizonte:  Editora  C/Arte.  Scarano,   Julita.  2002.  Negro  nas  terras  do  ouro:  cotidiano  e  solidariedade  século  XVIII.  São  Paulo:  Editora  Brasiliense.    Lins,   Vera.   “n.d”.   Representações   do   primitivo:   cenas   de   pensamento.   Z   Cultural:   revista   do   Programa  Avançado   de   Cultura   Contemporânea.   Ano   VIII,   número   03,   ISSN   19809921.   Disponível   em:  http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/cenas-­‐afro-­‐brasileiras-­‐de-­‐vera-­‐lins    Schwarcz,  Lilia  Moritz.  1993.  O  Espetáculo  das   raças  -­‐  cientistas,   instituições  e  questão  racial  no  Brasil  do  século  XIX.  São  Paulo:  Cia  das  Letras.  Souza,  Gilda  de  Melo  e.  1987.  O  espírito  das  roupas:  a  moda  do  século  XIX.  São  Paulo:  Cia  das  Letras.  


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