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"Fenómenos de Religiosidade Popular na Caparica dos Séculos XVIII e XIX"

Date post: 25-Jan-2023
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«ANAIS DE ALMADA» r REVISTA CULTURAL (N.°5 15-16, 2012-2013) ÍNDICE DIRECTOR ANTÓNIO MATOS (Vereador da Cultura) Página COORDENAÇÃO CIENTÍFICA ALEXANDRE M. FLORES Apresentação editorial 9 VANESSA DIAS SECRETARIADO IRENE BORGES Caparica: o passado arqueológico da freguesia 11 REDACÇÃO MARIA INÊS RAIMUNDO, CARLOS ROUPA,CECÍLIA QUARESMA, VANESSA DIAS FERNANDA CRUZ, LUÍS BARRADAS, PAULO REIS Subsídios para o estudo da ocupação islâmica de Almada 31 COLABORARAM NESTE NÚMERO ABRANTES RAPOSO,ALEXANDRE M. FLORES, TÂNIA MANUEL CASIMIRO, ALICE BORGES GAGO,CARLOS LEAL, ERNESTO FERNANDES, JOSÉ CAMÕES, LUÍS BARROS, MARIA INÊS RAIMUNDO, LUÍS DE BARROS PEDRO ALEXANDRE O. MARTINS, RUI MENDES, TÃNIA MANUEL CASIMIRO, VANESSA DIAS Majólica italiana em Almada 47 ALEXANDRE M. FLORES, PROPRIEDADE E EDITOR CÂMARA MUNICIPAL DE ALMADA ALICE BORGES GAGO DIRECÇÃO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DEPARTAMENTO DA CULTURA Visitações da Ordem de Santiago a Almada (‘século XV) 59 EXECUÇÃO ORÁFICA JOSÉ CAMÕES ACDPrint António Coelho Dias, S.A. O “Auto da Índia” de Gil Vicente e o tempo coincidente 199 TIRAGEM 800 EXEMPLARES RUI MENDES PUBLICAÇÃO ANUAL fenómenos de religiosidade popular na Caparica dos ISSN: 0874-2553 séculos XVIII e XIX 215 Depósito Legal: 147761/00 A correspondência deve ser dirigida à: CARLOS LEAL DI VISÃO DE ARQUIVO HISTÓRICO Caparica na época de D. Miguel 263 E HISTÓRIA LOCAL R. Visconde Almeida Garrett, 12 2800-OI4Almada PEDRO ALEXANDRE G. MARTINS Tel.: 21 2724900, Fax: 21 2724919 Email: [email protected] A caminho de um novo paradigma de praia: a Costa A matéria dos artigos publicados é de responsabilidade dos autores de Caparica nos anos 1920—19 70 285
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«ANAIS DE ALMADA» rREVISTA CULTURAL(N.°5 15-16, 2012-2013)

ÍNDICEDIRECTOR

ANTÓNIO MATOS(Vereador da Cultura) Página

COORDENAÇÃO CIENTÍFICAALEXANDRE M. FLORES Apresentação editorial 9

VANESSA DIASSECRETARIADO

IRENE BORGES Caparica: o passado arqueológico da freguesia 11

REDACÇÃO MARIA INÊS RAIMUNDO,CARLOS ROUPA,CECÍLIA QUARESMA, VANESSA DIASFERNANDA CRUZ, LUÍS BARRADAS, PAULO REIS

Subsídios para o estudo da ocupação islâmica de Almada 31

COLABORARAM NESTE NÚMEROABRANTES RAPOSO,ALEXANDRE M. FLORES, TÂNIA MANUEL CASIMIRO,ALICE BORGES GAGO,CARLOS LEAL, ERNESTO FERNANDES,

JOSÉ CAMÕES, LUÍS BARROS, MARIA INÊS RAIMUNDO, LUÍS DE BARROSPEDRO ALEXANDRE O. MARTINS, RUI MENDES,

TÃNIA MANUEL CASIMIRO, VANESSA DIAS Majólica italiana em Almada 47

ALEXANDRE M. FLORES,PROPRIEDADE E EDITORCÂMARA MUNICIPAL DE ALMADA ALICE BORGES GAGO

DIRECÇÃO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SOCIALDEPARTAMENTO DA CULTURA Visitações da Ordem de Santiago a Almada (‘século XV) 59

EXECUÇÃO ORÁFICA JOSÉ CAMÕESACDPrintAntónio Coelho Dias, S.A. O “Auto da Índia” de Gil Vicente e o tempo coincidente 199

TIRAGEM 800 EXEMPLARES

RUI MENDESPUBLICAÇÃO ANUAL fenómenos de religiosidade popular na Caparica dos

ISSN: 0874-2553 séculos XVIII e XIX 215Depósito Legal: 147761/00

A correspondência deve ser dirigida à: CARLOS LEALDI VISÃO DE ARQUIVO HISTÓRICO Caparica na época de D. Miguel 263

E HISTÓRIA LOCALR. Visconde Almeida Garrett, 12

2800-OI4Almada PEDRO ALEXANDRE G. MARTINSTel.: 21 2724900, Fax: 21 2724919

Email: [email protected] A caminho de um novo paradigma de praia: a Costa

A matéria dos artigos publicados é de responsabilidade dos autores de Caparica nos anos 1920—19 70 285

Anais de Almada, 15-16 (2012-2013), pji. 215262

FENÓMENOS DE RELIGIOSIDADE POPULAR NACAPARICA DOS SÉCULOS XVIII E XIX

Estudo dedicado ao Padre Domingos Morai&

Rui li Mendes

Investigador Local

Introdução

O objectivo da investigação, que agora publicamos, é dar a conhecer à comunidade local e aos estudiosos das ciências sociais, alguns aspectos da religiosidade popular caparicana dos séculos XVIII e XIX,2

que em boa parte já se encontravam desaparecidos na segunda metadedo século XX, com o desenvolvimento da urbanização desta área doterritório do concelho de Almada.

O limitado âmbito deste artigo não permitirá desenvolver de igualmodo todos os fenómenos religiosos aqui relatados, corno por exemploo dos Círios à Senhora do Cabo, talvez o mais antigo e duradouro delestodos, e por isso um dos mais estudados,3 pelo que daremos primaziaaos que, pela sua natureza sobretudo local e horizonte histórico maislimitado, serão talvez menos conhecidos localmente e estudados pelasciências sociais.

Partindo das fontes historiográficas locais, introduzimos alguns novos documentos de fontes arquivísticas, até agora pouco estudadas,4que nos permitiram conhecer, com mais detalhe, as principais características dos fenómenos de religiosidade popular da Caparica de então, em particular dos santuários, altares, imagens e relíquias, locaisde devoção e romaria, onde os fiéis cristãos acorriam em ocasiões denecessidade ou em agradecimento a benefícios recebidos.

216

Alguns destes fenómenos estão descritos em interessantes fontes,algumas das quais transcritas parcialmente, em anexo, como por exemplo o culto do 5. Macário, as festas e sermões de S. Francisco dosMatos e o Episódio das Santas da Charneca, e que se constituíram, nosséculos XVIII e XIX, como uma novidade na religiosidade local e paraa qual propusemos possíveis origens.

Finalmente, com base nas mesmas fontes e na imprensa local foiainda possível sistematizar um calendário das festas religiosas caparicanas do mesmo período, que aqui publicamos.

1. Caparica nos séculos XVIII e XIX

1.1. Economia

A Caparica antiga era uma vasta região onde predominavam, aindanos séculos XVIII, XIX e XX, em muito as vivências sociais própriasdo mundo rural,5 com algumas comunidades piscatórias, e poucas, ouquase nenhumas, actividades associadas à indústria. 6

Do último quartel do século XIX ao princípio do século XX, sóvamos encontrar alguma indústria em áreas ribeirinhas, como: PortoBrandão (a construção naval e depois indústria conserveira), Trafaria(fábrica de conservas de peixe, desde 1$87, e fábrica de dinamite, desde 1873), e Banática (fábrica de asfalto e pedreiras). 8

No interior da freguesia encontramos indústria em casos muito esporádicos, como no Monte de Caparica onde houve uma fábrica de algodão,na Quinta do Facho9.

Na primeira metade do século XIX encontramos também algumaspequenas indústrias ligadas ainda às actividades piscatórias (fábricasde cordoaria na Trafaria’° e de azeite de peixe no Portinho, Torrãoe Costa”) e de transformação de cereais (fabrico de pão no Monte,Trafaria, Areeiro, Vila Nova e Charneca).’2 Em outros locais vamos ainda encontrar pequenos focos de indústria mais tradicional e de poucaexpressão demográfica, como os fomos de tijolo na Banática, Rosae Monte de Caparica’3 e os moinhos de vento em diversos locais, osquais já se encontravam documentados em pleno séc. XVIII.’4

Até ao século XIX os operários industriais de Caparica deslocavam-se sobretudo para fora da freguesia para trabalhar’5, pelo que podemosdizer que a realidade rural na Capanca prolongou-se bem dentro do sé-

cuJo XX,’6 e só se alterou praticamente com a ligação rodoviária da Mar

gem Sul a Lisboa, em 1966, com a inauguração da ponte sobre o Tejo.

1.2. Sociedade e religião

Antes da implantação da República, com a separação do Estado

da Igreja, a participação em actos religiosos, independentemente da

maior ou menor fé pessoal, era considerada um acto cívico e social da

maior importância, sendo uma obrigação de cada um o cumprimento

dos sacramentos da igreja, ou seja, além de terem de ser baptizados e

crismados, deveriam assistir à eucaristia dominical e, pelo menos, uma

vez por ano fazer a reconciliação através da confissão, acto que era re

gistado em livros próprios, e sem o qual a igreja não concedia o direito

ao matrimónio e à extrema unção.’7Além desta religiosidade “oficial”, organizada pelas paróquias,

confrarias e irmandades em volta das suas igrejas e capelas, havia uma

outra muito mais “arreigada” no sentimento popular, fruto da depen

dência das circunstâncias da natureza muito presente na Caparica anti

ga, e que Bulhão Pato retrata de modo muito particular nas suas obras

tardias.’8 Esta religiosidade popular muito própria apelava sobretudo à

protecção da Virgem Maria, mas também ao Cristo Salvador, e aos seus

santos particulares, na intercepção e protecção contra as intempéries,

as más colheitas, as doenças, as epidemias e as catástrofes naturais.

Na Caparica dos séculos XVIII e XIX, a maioria dos fenómenos

religiosos mantêm-se dentn5 da ortodoxia católica, apesar de alguns,

no dizer dos eclesiásticos, «excessos» populares,’9 havendo mesmo ca

sos de intervenção mais pertinente da hierarquia eclesiástica, muitas

vezes complementada com as autoridades civis, em casos que no en

tender destas se tinham ultrapassado os limites dos dogmas da Igreja,

cometendo-se excessos nas festividades religiosas, como aqueles que

registamos em 1762 nas romarias a São Macário, ou no caso dos Ser

mões de 5. Francisco dos Matos, ou mesmo reprimindo falsos-místi

cos, como no caso das Santas da Chameca.Havia na Caparica diversas devoções populares, algumas com as

suas próprias festividades anuais, como por exemplo a Santa Rita de

Cássia, São Pedro, Nossa Senhora do Bom Sucesso, Nossa Senhora

do Livramento, Nossa Senhora da Saúde2° e Nossa Senhora da Boa

Viagem, protectores dos pescadores e navegantes, ou outras associadas

218 219

normalmente a problemas de saúde, como a Santa Luzia, protectoradas doenças dos olhos, ou São Sebastião, protector contra as pestes edoenças epidémicas. Eram advogados contra as febres e sezões a SantaMarta e São Macário, na Ermida da Quinta de Vale de Tojeiro. Em alguns deles encontramos ex-votos e a devoção de relíquias, normalmenteem altares privilegiados.2’

Outras imagens de devoção eram as reproduções locais de imagensmilagrosas de santuários fora de Caparica, como a Nossa Senhora doRosário de Almada ou Nossa Senhora do Cabo Espichel, a mais importante romaria e círio da região. Também eram reproduzidos localmentepainéis com devoções particulares, como a Santa Bárbara, conhecidaprotectora contra relâmpagos.22

2. Religiosidade popular — conceitos23

Podemos descrever a religiosidade popular como algo que surgeda vontade intrínseca do próprio povo, influenciados certamente peloaquilo que vêem e pelo aquilo que se lhes transmite, mas sem um qualquer enquadramento institucional ou teológico que motive a manifestação religiosa. As formas de expressão dessa religiosidade acontecem,no dizer de Octávio Carmo no artigo «Festas e romarias, interesse renovado pela religiosidade popular», como: «expressões, gestos, atitudes, que manifestam uma relação pessoal com Deus: beija-se a cruz,participa-se numa peregrinação, ajoelha-se diante do túmulo de ummártir ou um santo, conservam-se restos do seu corpo ou dos seus vestidos».24

Em Portugal, por exemplo, as crenças populares incluem, aindahoje, um conjunto de crenças e gestos mágicos oriundos do paganismo celta. O “imaginário” e “fantástico” tradicional português, temem muitos casos raízes mais antigas que o próprio catolicismo. Esteimplantou-se e expandiu-se no território português assimilando dentrode si cultos do sagrado autóctones, perpetuados na tradição oral, e quese fundavam em práticas ancestrais «com uma estruturação rigorosa doespaço e do tempo e onde avultavam as grandes festas da Primavera edo Outono».25

As festas populares são, pela sua natureza colectiva, uma das grandes marcas da religiosidade popular no nosso país, nelas «com ou semrelação com o ritual oficial e, muitas vezes, com origem em cultos na-

turalísticos, é possível encontrar manifestações particulares, por vezes

com carácter mágico [...] Os sinais da natureza como a água, a terra, a

luz, o céu, desde sempre fascinaram as pessoas e a Igreja Católica, em

especial na liturgia da Igreja dos primeiros séculos, com algumas cele

brações, e na liturgia romana da Idade Média, integrou as procissões,

ladainhas e outros ritos, assumidos em forma de culto».26

O povo português tem uma longa ligação à tradição, sobretudo nos

meios mais populares e aldeãos, não sendo por isso de admirar que

mesmo na periferia das grandes cidades, onde ainda se registam formas

de vivência mais próximas do mundo rural, a religiosidade popular

tenha ainda uma importância nas práticas sociais locais.

3. Os santuários religiosos no contexto de Caparica

Fora do contexto do culto organizado pelos párocos e confrarias,

mais ou menos popular, o culto que se organizava em tomo de centros

de devoção específicos, fruto de devoções particulares, dependia da

existência de locais de romaria. No concelho de Almada e na freguesia

de Caparica, não se conhecem fenómenos religiosos de massas, como

as grandes romarias que se conhecem no norte e centro de Portugal. De

facto a principal devoção era, até ao século XX, a devoção da Nossa Se

nhora do Cabo Espichel, já fora dos limites do concelho, havia contudo,

no concelho de Almada (incluindo até 1836 o do Seixal), várias ima

gens reputadas por bastante milagrosas,27 das quais as de Nossa Senho

ra da Assunção no Vale do Rosa!28 e Nossa Senhora da Rosa do Convento

dos Padres Paulistas29 se situavam nos limites da freguesia de Caparica.

As visitas a estes lugares, por parte dos fiéis, faziam-se em deter

minados períodos do ano, ou em alguns casos, durante todo o ano,

movidos pelas capacidades milagrosas das imagens e relíquias dos san

tuários, reforçadas pelas indulgências papais.3°Quando a visita fosse em agradecimento a um milagre, era normal

que os fiéis deixassem presente a memória do mesmo, através de um

ex-voto (vid. Fig. 1).

220 22]

4

Outro aspecto interessante destas devoções eram as estampas, ouregisto de santos, usadas para dois fins, o promover o culto, anunciando os milagres e indulgências concedidas ao local, ou como memóriada passagem pelo mesmo. 32

Nas colecções de registos de santos portugueses, guardadas nas Bibliotecas Nacionais de Lisboa e Rio de Janeiro e no Museu Nacional de Arqueologia encontramos diversos registos de santos de Almada e Seixal, entreeles os de S. Macário, de N. Sr.a de Monserrate33 e o de Vale do Rosal34.

Apesar de alguns dos religiosos sepultados nos conventos da freguesia de Caparica terem falecido com fama de santos, desconhece-seque alguma vez se tenha suscitado nestes conventos quaisquer tipos deromagens.35

3.1. Altares privilegiados, imagens e retíqttias

São Miguel e AlmasO altar na Igreja Paroquial do Monte de Caparica, era, de acordo

com o Conde dos Arcos, um altar privilegiado, onde se fazia o sufrágiodas almas do Purgatório, e a respectiva confraria mandava celebrarmissa ao romper de alva, à qual assistia muito povo (ver fig. 2). 36

Nossa Senhora da RosaAltar e imagem do antigo convento, fundado por Mendo Seabra

entre 1407 e 141338 e hoje desaparecido, situado num vale entre a Vila

Nova e a Chameca. A imagem, em tela, era considerada particularmen

te milagrosa, ejá mencionada na visitação de 1527, bem corno as águas

das suas fontes, reputadas por capazes de curas milagrosas.39 Apesar

das ruínas do convento, que fora abandonado em 1 80$ e os respectivos

frades e bens fundiários transferidos para a casa mãe em Lisboa,4° ain

da no século XIX aqui vinham para colher a água milagrosa, embebida

em tirinhas de tecido para curar os males das criancinhas.4’Desde muito cedo, pelo modo como faziam do eremitismo a sua

forma de vida, os frades deste convento, também conhecidos como os

«pobres de Caparica», foram agraciados com várias doações de bens,

que desde 145$ estavam isentos de pagar dízirnos.42 Em 166$ e 167$,

os frades do Convento de Nossa Senhora da Rosa alcançam indulgên

cia de missas dos finados no seu altar-mor.43

Nossa Senhora da PiedadeImagem a quem os franciscanos dedicavam grande devoção, era

padroeira do Convento dos Capuchos, fundado em 1558 por Lourenço

fig. 1 Ex-voto de Nossa Senhora do Cabo, do sítio da Trafaria, 1873 ‘

Fig. 2: Estampa de 5. Miguel e Almas (Igreja de 5. Paulo, Lisboa) e escultura de N. Sr.a da

Rosa (Igreja dos Paulistas. Lisboa).37

222 223

Pires de Távora, fidalgo ilustre, embaixador de D. Sebastião em Roma,onde alcançou, em 1560, do Santo Papa Pio IV um Breve de altar privilegiado para o seu convento.44 Talvez por estar longe dos principaislugares da freguesia, não terá sido lugar de grandes romarias ou devoções populares, embora se saiba terem sido sepultadas no seu adrodiversas pessoas, sobretudo pessoas falecidas na Costa.

Santa Rita de CássiaImagem com presença nos conventos Agostinhos, como era o da

Sobreda (ver fig. 3), esta santa, no dizer das suas estampas, era considerada a «Vencedora de Impossíveis e advogada de terramotos» e a elase pedia para alcançar do Santo Cristo «uma boa morte»45, não admirapois que tivesse ganho alguma devoção depois de 1755, sobretudo aquina Sobreda onde também havia devoção do Senhor Jesus da Boa Morteou da Cana Verde. No século XVIII as esmolas da Santa Rita eram administradas pelo procurador dos religiosos do convento. 46

Senhor Jesus da Boa MorteAltar do Convento da Sobreda, que foi privilegiado por um Breve

do Papa Pio VI em 1780, situava-se na cerca do Convento da Sobreda,fundado por Femão Castilho de Mendonça e que em 1668 o doou aosAgostinhos Descalços.47

Nossa Senhora do Cabo Espichet

Imagem e santuário originários do século XV, diz-se que a ima

gem fora achada em tempos remotos por gentes da Caparica que iam

aquelas partes cortar mato e lenha.49 Aqui as gentes organizavam o seu

Círio anual divididos por varas, cinco até ao século XVIII e quatro no

século XIX. °

Nossa Senhora de Monserrate

Imagem que, conforme um registo de santo, possivelmente do iní

cio do século XIX, se dizia ser «tam prodigiosa como em tudo Grande,

1 Protectora de seos Devotos. 1 Venera-ce em a sua Irmida da Quinta de

Monserrate no Termo da Vila d’Almada».5’

Nossa Senhora do Bom Jesíts

Altar privilegiado de D. Lourenço Pires de Távora, que este levan

tou no Oratório particular da sua Quinta de Baixo, e para o qual trouxe

de Roma, em 1562, relíquias oferecidas pelo Papa Pio IV. Estes re

licários de santos, que muito mais tarde foram depositados na igreja

da Santa Casa da Misericórdia, em Almada,52 terão sido transferidos

para a nova capela edificada pelo Conde de Caparica, descendente dos

Távoras, na mesma casa em 1799, sendo-lhe atribuída a invocação do

Santíssimo Nome de Jesus.

São Macário EgípcioA imagem do São Macário da Caparica54 venerava-se todos os sába

dos no pátio e ermida da Quinta de São Macário, ao Lazarim (veja-se

fig. 4), cujas portas, no século XVIII, eram franqueadas aos devotos

pelo proprietário da mesma, Dr. José António Pestana.55A romaria de São Macário foi bastante popular não só entre as gen

tes de Caparica, em especial da Chameca, mas também em Lisboa,

como documentam as várias estampas, uma delas de 1779 (fig. 5), hoje

guardadas nas Colecções de Registos de Santos Portugueses das Bi

bliotecas Nacionais de Lisboa e Rio de Janeiro,56 e ainda uma curiosa

peça de nome «Palestra que teve D. Farófia da Adoração com sua vi

zinha D. Esganiçada das Enchaquecas, no dia depois de ter vindo da

Romaria de 5. Macário», de Manuel Rodrigues Maia (veja-se fig. 6). ‘Fig. 3: Vestígios do portal do Convento da Sobreda48

Com o objectivo de promover o culto de S. Macário, além de sealcançarem indulgências para a mesma capela, conforme regista umadas estampas anteriormente citadas, um devoto decidiu ainda fazer,em 1782, um «Compendio histórico da prodigiosa vida do glorioso 5.Macario egypcio. Escrita com Reflexões Políticas, e Morais, para instrução dos devotos, que o venerão na sua milagrosa Imagem colocadana Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Valie de Tojeiro, emCaparica, termo de Almada» (veja-se fig. 7).58

Nesta obra, que regista a origem da devoção e virtudes do SãoMacário, refere-se à quinta do sítio de Vale de Tojeiro como um local«ameno e aprazível, dele, a vista espaçosa, e dilatada sobre as ondasdo mar da Costa de Lisboa, a largueza das ruas, suas árvores frondosas, e robustas; os tanques, e depósitos de água; o bem ordenado, esituado do Jardim, com figuras dos mais célebres Imperadores; a forma das Grutas, e boa ordem delas; e das duas Ermidas com a entradade um magnífico pátio com seu arvoredo, encantam de tal modo quefaz uma bela recreação». Aqui se dispôs esta organização da quintapelos anos de 1738, sendo contudo a Ermida principal edificada porD. Luís de Noronha, Beneficiado da Patriarcal, em f74359 Continuaa referida obra registando que pela mesma altura se copiou na ditaquinta a «imagem das Grutas da Thebaida, da Síria, da Líbia, da Palestina, da Nístria e de muitos famosos desertos; e por isso ali em belasimagens de vulto se admiram o mais heróicos Monges, que habitavamnos medonhos Desertos, e nas incultas brenhas, entre os quais se venerava a Imagem do nosso famoso Anacoreta, e penitente 5. Macáriodo Egipto». Desde a sua edificação que os donos da quinta parecemter facultado o acesso dos devotos à gruta do Santo e às duas ermidasda quinta, uma delas, a que tem o título do «Triunfo da Senhora daConceição», que era a mais sumptuosa e por isso nela se achava colocada também a imagem do Santo. Registam-se então vários «milagres» alcançados, segundo os devotos do Santo, por intercepção deste,nomeadamente curando «impertinentes sezões)>, e outros problemasde saúde, dizendo ainda que «a casa em que se guardam os milagres,se observam pendurados infinitos testemunhos de gratidão, e reconhecimento, pelos quais consta, que tem valido a vários enfermos, quetem acudido a vários navios, e embarcações, quasi naufragando; e quetem protegido os seus devotos».

fig. 6: Peça sobre S. Macário.62 Fig. 7: Livro do S. Macáno, 1782.63

Apesar desta devoção ter sido sancionada, quer por indulgênciaspapais, quer por um libreto aprovado pela Real Mesa Censória, muitasvezes cometiam-se «excessos», contra os quais o Prior de Caparica não

224 1 225

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fig. 5: Estampa do S. Macário, 1779.61fig. 4: Qt. de S. Macário, 936.60

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concordava, conforme relata o documento de 1782 que publicamos noanexo 1. Apesar disso, chamado o Vigário da Vara, a sua opinião foi deque aquela manifestação religiosa, nada tinha de escandaloso pelo queo culto prosseguiu sem grandes constrangimentos e terá durado até aoprincípio do século XX.

Um dos elementos decorativos que mais se destaca na quinta sãoos azulejos existentes no pátio, no total de 36 figuras recortadas, comdois metros de altura, não contando com dois painéis, e mais azulejos.Alguns dos azulejos, datados de 1747, representam, diversos santosagostinhos e devem ter vindo do extinto Convento da Sobreda, em época indeterminada, otitros serão mesmo originais da própria quinta. 65

São ClementeRelíquias da grande capela da Quinta da Graciosa (fig. 8), designa

da em 1806 como a «Ermida de N. Sr.a da Graça, na Quinta da Graciosa, do Ilustríssimo Alcaide Mor da Vila de Milfontes e Senhor de PortoCovo da Bandeira» ou «do Barão Jacinto Fernandes Bandeira»,66 e em1 838, como a «Capela de 5. Clemente, na quinta dos Bandeiras».67 Foinos séculos XVIII-XIX, alvo da devoção poptilar.

A capela é de fachada simples tipicamente pombalina destacando-se apenas como elemento decorativo os fogaréus.69 O Conde dos Arcosdescreve a capela como contendo sobre o altar um painel alusivo ao

Orago da capela e as relíquias de São Clemente. Diz também que a

mesma terá sido edificada mais ou menos na mesma altura da quinta,

que foi adquirida por Jacinto Fernandes Bandeira, em 1770. Documen

tos que recentemente consultámos não clarificam a data exata da edifi

cação da capela, contudo esclarecem a origem das relíquias de 5. Cle

mente,7° assim se regista num requerimento do Conde de Porto Covo,

datado de 1293, a solicitar umAuto de «Authenticidade do Corpo de 5.

Clemente Martyr, por cuja intercessão obrou Deus pelos annos de 1784

algumas graças em favor de pessoas que achando-se doentes recorre

ram a Elie e obtiveram o remédio a seus males como consta vários pai

nelhinhos que descrevem e attestam as graças concedidas a differentes

que se se nomeiam e pendem das paredes da Capelia-Mór da Ermida»

(ver anexo 4). Os mesmos documentos registam ser esta capela uma

«nobre Ermida com porta para a estrada pública, dedicada à Virgem

Maria Nossa Senhora {da Graça], a 5. José e 5. Jacintho, representado

no retábulo do altar-mór, e único que tem [...] tendo capelia-mór com

o dito altar, throno para a Exposição do SS. Sacramento e tribunas la

teraes, coro, campanário e sacristia, com todos os paramentos e alfaias

necessárias para o Santo Sacrificio da missa que em occasiões oppor

tunas alli se celebra, principalmente no verão e Outono. No vão do dito

altar, sob a mesa e pedra d’ara, está coliocada uma uma de madeira

bem talhada, com enfeites e dourada e com vidro de cristal em duas pe

ças na frente, a qual contém recostado sobre o lado direito com a cabe

ça sobre dois coxins de setim agaloados o Esqueleto inteiro do Corpo

de 5. Clemente Martyr». Registam ainda sobre a referida relíquia, que

fora dada por Roma a Jacinto Fernandes Bandeira em agradecimento

pelo transporte gratuito, nas suas embarcações, de missionários para o

Extremo Oriente.7’

Senhor Bom Jesus da Regateira

Imagem da capela edificada em 1726,72 no sítio do Vale Gorgeiro,

por José Luís Cruz, comerciante de Lisboa, e sua mulher Maria Ferrei

ra, junto com a sua Quinta da Regateira.73 Era nesta capela que se de

positava a imagem de N. Sr.a do Cabo, no Círio dos Saloios, a caminho

do Cabo e teve 40 dias de indulgências concedidas pelo Santo Papa aos

fiéis que devotamente a visitassem «resando três Padres Nossos, Ave

Maria e Glória Patri», por Breve de 1810.

227

Fig. 8: Capela de S. Clemente, e. 2OO4.6

Sào Francisco dos MatosImagem e capela que terá sido edificada no fim do século XVIII,

princípio do XIX,75 dentro de um pinhal onde crescem urzes, tojos eestevas, numa quinta ao Lazarim, que era então conhecida por «Quintade 5. Francisco recebendo as Chagas de Cristo» (ver fig. 9).

de S Frie, d. Mde

Vieira Júnior dizia em 1$97, quando pertencia ao sr. Francisco António Ferreira, que no Areeiro havia um velho chamado o Santinho,que chegou a estar cego, e que fazia de vez em quando prédicas religiosas no pinhal ali próximo, junto à ermidinha de S. Francisco dosMatos. Estes sermões teriam tido grande expressão popular, a pontode em 1$63, conforme registamos no anexo 2, as autoridades eclesiásticas terem determinado que o sermão que se costumava pregar noPinhal de 5. Francisco, no dia 24 de Agosto, fosse pregado dentro daIgreja Paroquial, para se evitarem as irreverências aí cometidas.78 Estasdiligências devem ter tido algum sucesso, pois Vieira Júnior refere queno Pinhal de S. Francisco dos Matos, onde se «fazia todos anos umvistoso arraial em honra do santo havendo sempre sermão ao ar livre»,a festa não se fazia desde 1$69. Porém logo na primeira metade doséculo XX, se recuperou a tradição, segundo nos informam Victor Reis80 e António Correia, que diziam que pelos anos 30 era a maior romariade Caparica e rivalizava com a da Ramalha, em Almada. 81

3.2. Ás santas da Charneca: um fenómeno singular de religiosidade popular no século XIX

A região de Caparica, apesar da multiplicidade de igrejas e capelas,muitas delas dotadas de altares privilegiados e imagens consideradasmilagrosas, não teria, até à primeira metade do século XVIII, grandesromagens, conforme relata o Cura de Caparica, em 175$: «há 3 Conventos de Religiosos e 36 Ermidas, a que não acode romagem, nemdeles há cousa memorável que haja de se referir». E já posteriormenteao terramoto de 1755, na segunda metade do século XVIII e duranteo século XIX que se vão assistir, no território de Caparica, a fenómenos de religiosidade popular com romagens, de que se destacam trêscasos, dois já referidos anteriormente: São Macário e São Franciscodos Matos, e um terceiro de cunho claramente fora da regulamentaçãoeclesiástica, o fenómeno das “Santas da Charneca”. 82

O fenómeno das “Santas da Charneca”, documentado no anexo 3,apareceu aí pelos anos de 1$7$, quando prendeu durante dois dias aatenção de Lisboa. Tratou-se da história de «três santas», que apareceram na Caparica, e que o administrador do concelho de Almada meteuna cadeia, na companhia do promotor dessa devoção e que as exibia,o sr. Manuel dos Santos Secretário, proprietário em Caparica. Um dia,o sr. Secretário apresentou-se na igreja paroquial com muito povo, dolugar da Chameca, homens, mulheres e crianças, ao todo umas cempessoas, que traziam em procissão as três santas, com a intenção denela celebrar missa à revelia do pároco, o Pe. José da Costa Pinto, oqual, informado do escândalo, imediatamente se dirigiu aos intervenientes pedindo explicações e mandando aquele povo sair do templo,exortando aquela gente a não acreditar em impostores. Mas, a multidãotumultuou-o, injuriou-o, e voltou-lhe as costas, saindo da igreja em tumulto, fazendo grande alarido e levando as «santas em triumpho». Esteepisódio ficou recordado por Vieira Júnior levando a exclamar «queisto acontecia nos fins do século XIX, n’uma terra como a Caparica adois passos de Lisboa».83

Um autor anónimo chegou mesmo a fazer um poema de vinte estrofes de nome «O Fanatismo ou As três Santinhas virtuosas. No Montede Caparica — Concelho de Almada».84

228 1 229

Fig. 9: Capela e imagem de S. Francisco dos Matos. 76

230 231

3.3. Calendário das festividades da Caparica antiga

Em complemento a este artigo fizemos um estudo sobre o calendário das festividades da Caparica nos séculos XVIII, XIX e primeirametade do século XX. Neste período, Caparica, como em outras freguesias de Portugal, tinha o seu calendário de festas anual, sendo alarga maioria delas de cunho religioso. Eram naturalmente pontuadaspelas cerimónias típicas das festas religiosas, mais solenes, e por outras atividades mais ligeiras, com comes e bebes, quermesse, música eoutros divertimentos. Eram normalmente organizadas por festeiros oumordomos, assim como pelas confrarias que tinham sede ou na igrejaou nas capelas.85

Janeiro1 de Janeiro — Nome de Jesus, na freguesia de Caparica, organizada

pela irmandade do mesmo nome.8620 de Janeiro — São Sebastião, no Monte de Caparica e na Sobreda,

considerado como protector contra a peste e outras epidemias, tevegrande devoção a partir do séc. XVI. 87

Fevereiro/Março(data variável) — Carnaval, em Almada, e no Monte de Caparica.88

Março/Abril(data variável) — Senhor dos Passos da Via Sacra, com procissão no

Monte de Caparica desde 1675,89 durante a Quaresma, em forma de ViaSacra (ver fig. 10), com as demais festividades pascais como o Domingo de Ramos e a quinta e sexta-feira de Endoenças. 90

Na Costa de Caparica, na Trafaria (ver fig. 11) e na Sobreda92 registamos também a devoção ao Senhor dos Passos.

21 de Março — Dia da Árvore, sobretudo a partir da implantação daRepública (19l0).

Abril/Maio(data variável) — Nossa Senhora do Cabo, no Grande Círio de Capa-

rica realizado depois da Quaresma.96

23 de Maio — Santa Rita de Cássia, festividade que se realizava to

dos anos no convento da Sobreda.

Junho13 de Junho — Santo António, no Monte de Caparica.97Na Chameca, na Quinta de Monserrate, a festa de Santo António

realizava-se pelo menos desde 1841, no mês de Junho, e no fim doséculo XIX, em Setembro ou Outubro, talvez junto com a romaria a

Nossa Senhora de Monserrate.98Na Sobreda, o Santo António, festejava-se, no século XIX, junto à

Ermida de Santo António do Caiado (fig. 1 2), no jardim dos Zagalos,

e terá sido transferida depois, durante algum tempo, para a Quinta da

Estrela, nas Casas Velhas.’°°

Torre. (195t)).

Maio

Fig. 12: Ermida de Santo António do Caiado. 101

232 233

29 de Junho — São Pedro, padroeiro dos pescadores, na Trafaria,’°2e na Costa.’°3

(data variável) — Corpo de Deus, procissão de grande devoção religiosa.’°4

Julho(3.° Sábado) — Nossa Senhora do Bom Sucesso, padroeira do Porto

Brandão.’°5 Estas festas chegaram a causar problemas e conflitos deautoridade eclesiástica, em 1825, entre o Prior de Caparica e os Padresdos Jerónimos, padroeiros da primeira capela do Porto Brandão.’°6

28 e 29 de Julho — Santa Marta, conforme relatavam as MemóriasParoquiais de 1758 de Corroios: «A esta Ermida de Santa Marta vemem o dia 2$ de Julho de tarde, e noite, e no dia 29, dia da mesma Santa,muita gente de romagem de Caparica, Amora, Arrentela, e Almada, ese costuma festejar a Santa com missa cantada, e sermão».

Agosto15 de Agosto — Nossa Senhora do Monte ou da Concórdia, principais

festas, dedicadas à padroeira da paróquia.’°7(data variável) — Círio à Caparica, da imagem de Nossa Senhora

da Graça, de Lisboa, em cumprimento de um voto feito na ocasiãoda febre amarela, cuja epidemia atingiu a cidade de Lisboa de 1856 a1$58. 108

24 de Agosto — 5. Francisco dos Matos, no Lazarim, no pinhal domesmo nome onde se faziam grandes romarias com sermão popular. 109

(último Domingo do mês) — Procissão do Corpus Christi, no Monte de Caparica.”°

Setembro(data variável) — Círio dos Saloios à Senhora do Cabo, que passava

por diversas capelas da freguesia (ver fig. 13).”

8 de Setembro — Nossa Senhora da Rosa, grandes festas que devemter desaparecido com a extinção do convento em 1808.113

8 de Setembro — Nossa Senhora do Livramento e S. Sebastião, naSobreda. 114

(data variável) — Nossa Senhora da Conceição, da Trafaria, padroeirada Capela Velha.”5

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1

Fig. 13: Loca1izaço da antiga Ermida de Nossa Senhora do Cabo, na Banática, onde

passava do Círio dos Saloios. Porto da Banática em 1905.112

(2. quinzena) — Na Costa, pelo menos desde 1888, também se rea

lizava uma procissão em honra de Nossa Senhora do Rosário.”6

29 de Setembro — São Miguel Arcanjo, organizadas pela Irmandade

das Almas de Caparica. “

Outubro(data variável) — Nossa Senhora do Rosário, organizada pela Confra

ria do Rosário de Caparica. 118

(data variável) — Nossa Senhora dos Remédios, no lugar de Murfacém,

já no século XX também houve festas dedicadas à padroeira do lugar.

Novembro1 de Novembro — Todos-os-Santos, com ofício de finados em me

mória dos Fiéis.”9

Dezembro$ de Dezembro — Nossa Senhora da Conceição, padroeira de muitas

das capelas da freguesia, como por exemplo a capela da Costa)2°

4.

T235234

4. Conctttsão

A região de Caparica era, até ao segundo quartel do século XX,corno urna área, dentro do concelho de Almada, essencialmente rurale piscatória. As comunidades locais tinham práticas religiosas enquadradas quer na “religiosidade oficial”, quer na “religiosidade popular”,tendo estas um calendário muito bem definido.

A religiosidade popular aparecia, muitas vezes, associada a práticasmilenares, ligadas aos ciclos das colheitas, ou a devoções de grandefervor religioso por parte das comunidades de mareantes e pescadores.

As comunidades marítimas eram particularmente devotas, esperando sempre a intercessão divina nas suas dificuldades no mar, o qual eramuitas vezes adverso, conforme documentam os frequentes naufrágiosrelatados na imprensa local, e registados nos assentos de óbitos.

Nos séculos XVIII-XIX surgiram, sobretudo no interior-sul da fieguesia, novos fenómenos de religiosidade popular, de natureza até então praticamente desconhecida na freguesia, caracterizados por práticas de romariae arraial popular, com o culto de imagens milagrosas e até mesmo fenómenos de «misticismo visionário», corno é o caso das “Santas da Charneca”.

Apesar dos elementos de que dispomos não permitirem tirar conclusões melhor sustentadas, pensamos que o surgirnento destes fenómenos nestas áreas possa estar associado a urna população mais recente, proveniente sobretudo das Beiras e do Minho, regiões do paísconhecidas pelas suas grandes romarias, e que aqui se fixou de formamais permanente, a partir desta época, trazendo outras formas de religiosidade popular mais comuns nas suas terras de origem.

A abordagem feita neste artigo, embora sustentada num estudo histórico, está mais direccionada para a compreensão e tentativa de explicação dos fenómenos religiosos existentes na &eguesia de Caparica doséculo XIX. Não se procurou, contudo, esgotar o terna, mas sim proporaos investigadores locais, e aos académicos das ciências sociais, algumas temáticas que poderão conduzir a futuras linhas de investigaçãoquer no âmbito da história local, quer no dos estudos sociais.

5. Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer a sua contribuição para este artigo ao:- Museu da Cidade de Almada (Dr.a Ângela Luzia) que nos dis

ponibilizou a recolha de uma série de extractos da imprensa local da

segunda metade do século XIX e primeira do século XX:

- Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa (Dr. Ricardo Aniceto

e Dr.’ Teresa Ponces) pela disponibilidade manifestada em acolher-me

como investigador e no apoio dado na reprodução de alguns documentos:

- Investigadores e interessados na história e património do concelho

de Almada, em especial ao amigo Fernando Miguel que me incentivou

na recolha de elementos sobre as festas e romarias de Caparica, bem

como ao Dr. Francisco Silva e ao Sr. Victor Reis.- Arquivo Histórico Municipal de Almada, e ao seu dirigente. Dr.

Alexandre M. Flores, pelo incentivo e apoio à investigação e divulga

ção da história e património da nossa cidade e região.

6. Anexos

1. O São Macário da Charneca (1782,)

Fonte: AHPL, SR.13.05: Expediente da Vigararia de Atinada, s/n, 1782/11/28

Sumário: Transcrição de uma das informações colhidas pelo Vigário da Vara de

Almada, sobre as desordens e escândalos que o pároco de Caparica informa que de há

tempos a esta parte contínuos na Ermida e quinta, sita no lugar da Charneca, que he do

Doutor Joze António Pestana

«De sincoenta e seis anos a testemunha notteficada para Jurar no prezemte

? aquem o Reverendo Doutor Vigário da Vara deu o Sacramento dos Santos

Evangelhos sobre cargo do qual lhe encarregou disera a verdade do que soube-

se e perguntado-lhe fiz e qual sendo por elie resebido assim o prometeu fazer.

E perguntado elle testemunha pelo contheudo na reprezentaçam dise que sabe

pello ver que na ermida da quinta da Xarneca que he do Doutor Joze António

Pestana se acha huma Imagem de Sam Macário onde concorrem muitas pes

soas achando-se a mesma Ermida ornada desentemente e posto que em huma

ocazião que fora aquelie cítio vira andar dançando em huma das cazas da

mesma quinta algumas pessoas o faziam sem dezordem nem escandalio ser

vindo unicamente para se devertirem e que nam tem notícia se cometa peilas

pessoas que vam ao mesmo sítio dezordens ou escandeilos e que sabe pello

ver que no pátio da mesma quinta há uma loge de bebidas e nam muito longe

hum pasteleiro aonde comem e bebem algumas pessoas que vem de fora e que

sabe outrosim peilo ver e ouvir dizer que ferquenternente se estam ofresendo

236 237

obeliações de dinheiro sera e azeite ao dito Santo que tudo resebe pela pessoade seos familiares o dito Doutor Joze António Pestana peilos quais costumamtambém vender às pessoas que ali vam [...] estampas do mesmo Santos e seuslivros da vida delia e mais nam disse digo deile e outrosim dise que sabe queo mesmo Joze António Pestana costuma dar seos mialheiros com estampas doSantos a algumas pessoas que embarcam para lhe tirarem algumas esmolas oque elle depois recebe como praticou com um filho deile testemunha e maisnão disse e assinou o Reverendo Vigário da Vara eu Boaventura AnacletoGomes Belém que escrevy, Aleixo da Silva».

2. Os Sermões do Pinhal de S. Francisco dos Matos (1863)

Fonte: AHPL, Ul 257: Registo de Cartas e Circulares 1863-1864, n.° 3?Sumário: Ofício ao Pároco de Caparica para que o sermão que se costumava pregar

no Pinhal de 5. Francisco, seja pregado d’entro da Igreja Paroquial, para se evitaremirreverências.

«Iminentíssima Reverendíssima Senhoria II Attendendo à Exposição queV.Il. me dirigio no seu Offício com data de 9 de Agosto do corrente e asinformações que colhi sobre as razões em que V.Sr.a se funda para pedir queo Sermão que até agora costumava pregar-se no dia 24 do corrente no sítiodenominado o Pinhal de São Francisco dos Mattos, dentro dos limites d’essa[f. 5] freguesia, seja pregado antes na Egreja Parochial, que fica próxima, porque por tal modo podem evitar-se irreverências, e escândalos que a todo custoconvém sempre banir da sociedade dos fiéis Catholicos, encomendo a V. Sr.acom empenho, que empregando todos os meios, e arbítrios aconselhados emtais casos, pela prudência, e fugindo a qualquer alvoroço popular, faça comque o aludido seja pregado na Igreja parochial, observando-se todas as fórmulas, que a religiosidade do acto exige, para que sendo devidamente acatadosos sagrados mistérios, possa a palavra de Deos produzir frutos salutares. Ds.G.de a V. Sr.ia. S. Vicente de Fora, em 21 d’Agosto de 1863. Manoel, CardealPatriarcha = 11. Sr. R.do Parocho da Freguesia de Nossa Senhora do Monte deCaparica».

3. O fenómeno das Santas da Charneca (1878)

Fonte: O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 13-1-1878, pub:http:!/memoria.bn.br/pdfs/238562/per238562l878_00346.pdfSumário: Artigo de Imprensa e Extracto de «O Fanatismo ou As três Santinhas

virtuosas. No Monte de Caparica — Concelho de Almada»

«13 de Janeiro de 1878. Prendeu durante dous dias a attenção de Lisboa

urna historia de três santas, que apparecerarn ultimamente em Caparica, e que

o administrador do concelho de Almada teve a crueldade de metter na cadea,

na companhia do emprezario mystico que as exhibia.

Eis o caso:Manuel dos Santos Secretário é proprietário em Caparica e tem quatro

filhos. Apresentou-se um dia na egreja parochial e pediu ao sachristão que não

fechasse a egreja, porque tinha de cumprir urna promessa. O sachristão annuiu

ao pedido. Dali a pouco chegaram as quatro vergônteas de Manuel Secretário,

todos descalços, com aspecto triste e mysterioso. Em seguida apparece muito

povo, do logar da Charneca, que fica dentro dos limites da freguezia. São

homens, mulheres e crianças, ao todo umas cem pessoas. Quasi todos vêem

descalços, e cabisbaixos, como os filhos de Secretario. Este poviléu trazia em

procissão as três santas. Já de há muito se falava no sítio em almas do outro

mundo, e cousas sobrenaturaes. As taes predestinadas são três raparigas do

logar, e chamam- se Josepha, Maria e Emília. A primeira tem 16 annos, a

segunda 18 e a terceira 10. Josepha é filha do Ctttelladas; Marta e Ernília são

filhas do Belisca. Nunca ninguém ouvira falar da sua santidade.

O cortejo entra na egreja conduzindo as santas. Entrados no templo, co

meça a exhibição por cólicas de duas das Santas, que cahiram desmaiadas nos

braços de umas santas secundarias, que lhes serviam como que de ajttdantas.

Uma estendeu-se depois no chão, e a outra desatou a chorar, não como

santa, mas como endemoninhada. O emprezario Manuel Secretario dirige-se

a esta ultima, e diz-lhe em tom propheta:

— Espirito divino, ordeno-te qtte fales em nome de Deus, Nosso Senhor!

E dirigindo-se carinhosamente à outra, disse-lhe:

— E tu, espiritosinho, fala, fala!

O espirito divino não deu signaes de obedecer ao divino procurador, mas

o espiritozinho ia deitar discurso, quando, fatalidade! O prior da freguezia,

informado do escândalo que ia na egreja, veiu ao templo, indignado, e per

guntou surprendido:— Que é isto?Respondeu-lhe um dos filhos de Secretario, o qual tomou posição provo

cadora e insolente em frente do parocho:

— Viemos mandados por Deus, que está dentro daquelia santa, para ella

dizer missa e nos deitar a benção.

— Que?!... perguntou o sacerdote, surprendido e indignado.

— É como lhe digo, redarguiu Secretario Junior, e você não tem nada com isso.

238 239

Ergueu-se conflicto. O parocho intimou os fanaticos insolentes a sahirerndo templo, e mais as santas, que ainda estavam desfaliecidas, mas que, empresença do tom decisivo do eclesiastico. se ergueram corno que por encanto,sem sequer carecerem da ajuda das ajudantas.

O parocho tentou exhortar aqueila gente a não acreditar em impostores esubiu ao púlpito; mas a multidão tumultou-o, injuriou-o, e voltou-lhe as costas, sahindo da egreja em tumulto, fazendo grande alarido e levando as santasem triumpho. Na rua a turba vociferou contra o digno pastor de almas, que tãoenergicamente soubera fazer respeitar a casa de Deus.

Expulsos da egreja, os fanáticos e fanatisadores dirigiram-se à casa dopivpheta Secretario, obrigando quem encontravam pelo caminho a beijar o péa uma das santas, a que tinha Deus em si. Da casa de Secretario a procissãofoi para casa de Ctitekidas, na Chameca, o pai de uma das santas. Em casade Cuteladas havia um altar armado, no qual a mais considerada das santascelebrou missa.

Entretanto o digno parocho de Caparica buscava auxilio na auctoridadeadministrativa. Procurou o administrador do concelho, e este mandou semdemora prender as santas, as mãis e pais deilas, e o chefe e organizador daembrulhada, Manuel dos Santos Secretario, e pregou com todos aquelYes entes, tocados da divina graça, na cadeia do município, onde ainda estão pararesponderem perante a justiça, sem que conste, apezar de passados mais deoito dias, que nenhum milagre tenha posto as santas a coberto do artigo docódigo que pune estas mystificações e embustes.

Ainda produziram damno estas estúpidas manifestações de fanatismo,transtornando o juízo a cabeças fracas e impressionáveis o logar.

Parece impossível que a ignorância dê força ainda, neste século de illustração e progresso, a estes miseráveis especuladores, que, para fins condenáveis,se aproveitam da credulidade dos nescios.

As santas lá estão à sombra, e o emprezario também, e não há milagrepossível que os livre das penas que as leis lhes appYicam».

4. A autenticidade das Relíquias de S. Clemente (1893)

Fonte: AHPL, Exp. 1893, Setembro, s/n; AHPL, Ul 268, ff. 62-62vSumário: Sobre a Autenticação das Relíquias de S. Clemente existentes na capela

da Quinta da Graciosa.

Despacho«Ex.mo e R.mo SenhorO Conde de Porto Covo da Bandeira possue no districto da freguezia de

Caparica uma quinta denominada da Gracioza, com utiia nobre Ermida com

porta para a estrada pública, dedicada à Virgem Maria Nossa Senhora [da

Graça], a 5. José e 5. Jacintho, representado no Retábulo do altar-mór, e único

que tem.Não é ampla mas é de sufficiente grandeza para o sítio que é pouco povoa

do e no mais é de boa construcção, tendo capelia-mór com o dito altar, throno

para a Exposição do SS. Sacramento e tribunas lateraes, coro, campanário e

sacristia, como todos os paramentos e alfaias necessárias para o Santo Sacri

ficio da missa que em occasiões opportunas alli se celebra, principalmente no

verão e Outono.

No vão do dito altar, sob a mesa e pedra d’ara, está coliocada uma uma

de madeira bem talhada, com enfeites e dourada e com vidro de cristal em

duas peças na frente, a qual contém recostado sobre o lado direito com a ca

beças sobre dois coxins de setim agaloados o Esqueleto inteiro do Corpo de

5. Clemente Martyr, todo configurado em cera, revestido de rico trapo militar

do tempo dos romanos com setim agaloado, com espada ao lado, indicando a

classe a que pertencia e com ambula de sangue à cabeceira com as letras — X

P - , symbolo do martyrio por a Lei de Christo [p. lv] Senhor Nosso no tempo

das perseguições dos Imperadores romanos idolatras contra os Christãos.

Há tradição à falta de documentos que deviam existir mas não se encon

tram, que dá como mandada de Roma em tempo do Papa Pio VI [1775+1800]

pelos anos de 1 780, esta Venerinda Relíquia [do Corpo do Mártir 5. Clemen

te] a hum dos Bandeiras Ascendente do Supplicante Negociante de grosso

trato da praça de Lisboa, e senhor da Casa dos Bandeiras, em reconhecimento

dos actos de dedicação religiosa praticados por aquele respeitável e Opolente

Varão na passagem gratuita dada por aqueiles tempos em seus navios da Car

reira da Índia e da China a muitos Missionários enviados aquellas partes pela

Sagrada Congregação da Propaganda».

Auto de Autenticação

«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oitocentos

noventa e três Aos vinte e cinco dias do mez de Setembro, em virtude e oh

servância da Provisão do Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Dom José

II, Cardeal Presbytero da Santa Igreja de Romana do título dos Santos XII

T241240

Apóstolos, Patriarcha de Lisboa, datada de quatro de Setembro deste mesmomez, fui à Capeila de Nossa Senhora da Graça, ereta na Quinta da Graciosa,do Excelentíssimo Conde de Porto Covo da Bandeira, na freguesia de NossaSenhora do Monte de Caparica, Concelho de Almada, Districto e Patriarchadode Lisboa, a fim de verificar e renovar a authenticidade do Corpo de São Clemente Martyr, n’ella existente.

E, precedendo ao desempenho d’esta Commissão, à primeira inspeção vi,sob a mesa do único altar da dita Capella, uma ampla urna de madeira envernizada, com a face anterior de vidraça, pela qual se deixa ver, reclinado sobreo seu lado direito o corpo de um Martyr, vestido de guerreiro, tendo junto umapequena ampulia de sangue.

Depois, examinado detidamente a dita urna, verifiquei que ela occupa, quasi àjusta, todo o vão da mesa do altar, tanto em altura como em fundo e largura,e que nas costas, por onde foi fechada a sua primitiva, II conservava algunsrestos de pontos de lacre com signais de selo, já ilegíveis, sobre fita de seda,também já destruída pelo tempo. Notei mais que o tampo se achava levantadodos bordos, sem contudo estar totalmente separado, tendo ainda os pregos todos metidos pela madeira dos mesmo bordos.

E, fazendo tirar para fora do vão do altar a uma, pude certificar-me de queo referido deslocamento do tampo foi proveniente da ação do tempo, e não demalfeitoria ou profanação, pela carência absoluta de vestígios da aplicação dequalquer instrumento ou ferramenta. Depois do que, apreciando os carateresdo próprio corpo do Santo, e achando-os em tudo conformes com os que costumam apresentar as verdadeiras Relíquias d’esta espécie, e tendo ao mesmotempo em conta tudo que anteriormente notei, bem como as tabelas que estãona Capelia, comemorando alguns milagres obtidos de Deus por intercessão deSão Clemente, e ainda a existência d’uma chapa de cobre onde está gravado omesmo nome de São Clemente Martyr, considerei sufficientemente comprovada a authenticidade da veneranda Relíquia, e fiz ajustar o tampo da urna pormeio de parafusos, e para prova e garantia futura da averiguada authenticidadepassei II umas fitas brancas, de linha, de bordo a bordo da dita urna por sobreo próprio tampo, e outras nas costas d’elia em forma de X, pondo o selo dasArmas de Sua Eminência Reverendíssima, em lacre vermelho, nos extremose encontros das ditas fitas, sendo ao todo onze os pontos lacrados e seliados,seis no tampo e cinco nas costas da urna, que de seguida fiz colocar no mesmovão do altar, onde a encontrei.

E, para constar, e por assim me ser ordenado na supra citada Provisãolavrei neste auto para ser archivado na Câmara Patriarchal. Lisboa, 27 de Septembro de 1$93.

Pe. Adolpho Maximo Gomes de faria

NA: Archive-se e dê-se cópia sendo pedida. Lisboa, 29 de Setembro de

1893 + J. Cardeal Patriarcha».

Notas:

Padre Domingos Luís Morais, trigésimo-quarto prior de Caparica. desde 1966.Nasceu em Penha Garcia, concelho de Idanha-a-Nova, em 15 de Agosto de 1929. Filhode António Luís e de D. Delfina Nunes. Ordenou-se presbítero em 1953 e foi professordo Seminário de Almada. Desde os primeiros tempos, enquanto pároco de Caparica.tem corrido todo o território da paróquia (de que se separou, em 1971, a paróquia daChameca de Caparica, desdobrada depois nas de Vale de Figueira e Sobreda), fotografando e registando memórias de um património que então se encontrava em vias dedesaparecer. Em simultâneo ao valoroso trabalho paroquial, reforçando as estruturaspastorais, trabalhou na recuperação do património material e arquivístico da paróquia,restaurando a igreja de Nossa Senhora do Monte e preservando e classificando o seuespólio documental. Em 2$ de Outubro de 2012 passou a Pároco Emérito do Monte deCaparica, sendo nomeado pároco de Caparica, o Padre Joaquim Pedro Lobo CardosoQuintela, que pensamos ser o primeiro natural desta região, desde o Padre José Vicenteda Costa, pároco de 1$43 a 1$58.

Dedicamos este trabalho ao Padre Domingos, em agradecimento pelo muito quetem feito, não só pela comunidade paroquial de Caparica, como também pela amizadecom que nos recebeu partilhando connosco o seu saber e interesse pela história e património desta região. Como temos raízes beirãs comuns, deixamos aqui um calorosobem-haja Padre Domingos!

2 Os caparicanos são os habitantes e naturais da região de Caparica antiga, entenda-se a parte do concelho de Almada que, além do Monte de Caparica, sede da freguesiade Caparica, criada em 1472, incluía até 1926 as localidades de Trafaria e Costa de Caparica, e até 1985 as localidades de Sobreda e Chameca de Caparica, que nesses anosse autonomizaram e separaram administrativamente da freguesia-matriz de Caparica.

Quase todas as monografias sobre a Caparica e suas freguesias (p. ex.° os trabalhos de Victor Reis sobre a Chameca de Caparica e Mário Silva Neves sobre a Costade Caparica) dedicam um capítulo a esta tradição, havendo também estudos específicos sobre os círios, como por exemplo GANDRA, Manuel Joaquim — Círio de Nossa

Senhora do Cabo Espiche!, São Martinho, Comissão das F estas de Nossa Senhora doCabo Espichel, 2004; ou SILVA, Francisco M. [textos] — Nossa Senhora do Cabo e os

Círios da Caparica, Almada, Juntas de Freguesia de Caparica, Trafaria, Costa, Charneca e Sobreda, 2007. Ainda sobre o Santuário do Cabo, veja-se as seguintes fontescom alguns elementos inéditos: «A Lenda e a Casa de Nossa Senhora do Cabo», in O

Lusitano, n.°s 127 - 132, de 21 de Julho a 25 de Agosto de 18X7. Veja-se ainda Praia

do Sol, 1-6-1950, 15-10-1950, 1-2-1952.Sobretudo documentação eclesiástica da Vigararia de Almada, guardada no Ar

quivo Histórico do Patriarcado de Lisboa, e ainda artigos de imprensa.

242 243

Cfr. SILVA, Francisco M. Rtwatidade em Afinada e Seixal nos séculos XVIII eXIX[...], Lisboa, 200$.

6 Numa rápida análise temos, no fim do século XIX (1897), uma Costa praticamente dedicada só à pesca, uma Charneca dedicada à exploração da lenha e carvão e alguma actividade agrícola, uma Sobreda e um Monte dedicados à exploração vinícola, umPorto Brandão de pescadores e catraeiros, e uma Trafaria de pescadores do mar alto ealguma actividade turístico-balnear. Cfr. VIEIRA JÚNIOR, Duarte Joaquim Villa eTermo de Almada; Apontamentos Antigos e Modernos para a História do Concelho,Lisboa: Typographia Lucas, 1$97.

Cfr. VIEIRA JÚNIOR, 1$97, p. 204, apud SILVA, 2008, p. 56; LEAL, PinhoPortugal Antigo e Moderno, Vol. IX, Lisboa, 1$78, pp. 594-595, apud SILVA, 200$,p. 116.

$ A exploração de pedreiras e a localização de uma antiga fábrica de asfalto naBanática estão bem documentadas na «Planta das Quintas da Viúva Dias e da Banática,situadas na Freguesia de N: Sr.’ do Monte de Caparica

— Concelho de Almada, Escala1: 2000, Levantada e desenhada pelo Conductor de Obras Públicas Henrique Eugéniode Castro Rodrigues, Lisboa, 15 de Agosto de 1905», que tivemos a oportunidade defotografar no Gabinete do Director das Instalações da REPSOL na Banática, o Eng.°José Figueiras, a quem agradecemos.

Cfr. VIEIRA JÚNIOR, 1897, p. 164.viúva de Manuel Gomes. Cft. ANTI, Impostos, Lv. 334: Décima dos Ofícios,

Empregos e Propinas para o ano de 1827.De José Rodrigues no Portinho, de Severino Rodrigues Remízio no Torrão e de

José Ferreira Pinto na Costa. Cfr. ANTI, Impostos, Lv. 38$: Décima das Fábricas paraoanode 1832.

2 No Monte encontramos dois fabricantes de pão: José Joaquim Xavier e ManuelPolido. Na Trafaria encontramos o impressionante número de oito fabricantes de pão:Pedro José Ferreira, Francisco Barão, José Cardoso, Roberto José Romeiro, João Ribeiro, Manuel Alves, Isidoro José Prata e José António Ferreira. Encontramos aindamais três “padeiros” em Arieiro (Paulino Padeiro), Vila Nova (Anacleto Padeiro) eCharneca (António Rafael Filho). Cfr. ANTT, hnpostos, Lv. 334: Décima dos Ofícios,Empregos e Propinas para o ano de 1827.

13 Em 1757, na Banática, Tomé da Silva tinha dois fomos e Gabriel António um,na cerca do Convento da Rosa havia um forno e no pátio do palácio do Conde 5. Miguel na Caparica, havia outro. Cfr. BRANCAAMP FREIRE, Anselmo «Fornos», inArquivo Histórico Português, Vol. XI, 1916, p. 3.

14 Encontram-se actualmente vestígios de 16 moinhos de vento na área de Caparicaantiga, contudo pelas Décimas Urbanas de 1763 registavam-se então 19 moinhos, epelas cartografias de 18 16/1904 identificam-se 26 moinhos nos sítios do Raposo (2),Joinal (1), Granja (3), Alto do Porto Brandão (2), Alto dos Capuchos (2), Sobreda (3),Vale de Grou (1), Charneca (1), Arieiro (2), Pêra (2), Murfacém (2), e Trafaria (5). Cfr.SILVA, 2008, p. 146; ANTI, Impostos, Lv. 304, p. 173.

15 A força de trabalho industrial de Caparica tinha de se deslocar sobretudo, oupara a cidade de Lisboa, ou para as várias indústrias existentes na área da freguesia de

Almada, onde encontramos fábricas como as de cerâmica em Palença (desde 1884) e

Arrábida, de óleo de linhaça em Palença, de fiação de tecidos em Olho de Boi (desde

1844), de moagem no Caramujo (desde 1866), de construção naval no Ginjal (desde

1881) e depois em Cacilhas, de cal na Mutela e Ginjal, e de cortiça em Cacilhas,

Margueira, Mutela e Caramujo, entre outros. Cfr. FLORES, Alexandre M. — Afinada

Antiga e Moderna, 3° vol., Almada: Câmara Municipal, 1990; SILVA, Francisco M.

— ob. cii’.; PEREIRA, Esteves — Portugal, diccionario historico, chorographico, etc.,

Lisboa, J. Romano Torres, Vol. 1, 1904, pp. 222-224; PIMENTEL, Alberto —Extrema-

dura Portuguesa. {...], 2. Parte, Lisboa, Sociedade Editora Livraria Moderna, 1908,

pp. 243 -256. Era também significativa a deslocação de trabalhadores de Caparica para

o concelho do Seixal, sobretudo para a Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços. Vid.

REIS, 2011, p. 87.16 Um exemplo dessa importância foi a formação em 1917, no Monte de Caparica,

do Sindicato Agrícola de Caparica, tendo por fim «estudar e defender os interesses

agrícolas do seus associados e especialmente promover a instrução agrícola pelo esta

belecimento de bibliotecas, cursos, conferências, concursos e demonstrações práticas

e, campos experimentais». Vid. [s.a.] — Estatutos do Sindicato Agrícola de Caparica.

Lisboa, Impr. Nacional, 1917.17 Esta obrigatoriedade de frequência da missa levou, sobretudo a partir do Concí

lio de Trento (1563), a um aumento do número de locais de culto, públicos e privados,

o que aconteceu também na Caparica, onde, em estudo anteriormente publicado, regis

támos no século XVIII cerca de 65 igrejas e capelas, o que, considerando que em 1758

esta paróquia tinha 1193 fogos e 4.184 pessoas, daria qualquer coisa como um templo

por cada 65 habitantes! Cft. FLORES, 2003; MENDES, 2010.1$ Veja-se FLORES, Alexandre M. — Bulhão Pato na Outra Banda, Monte de Ca

parica, Junta de Freguesia de Caparica, 2012; CAETANO, Rui Neves — Memórias

da Caparica pela pena de Bulhão Pato, Monte de Caparica, Junta de Freguesia de

Caparica, 2012.19 Como vemos na intervenção das hierarquias eclesiásticas em questões pontuais

relacionadas com conflitos de autoridade ou censuras às comissões e confrarias locais,

como no caso da suspensão, em 1894, das missas na Irafaria por incompatibilidade

entre o prior de Caparica e a Comissão local (Cfr. VIEIRA JÚNIOR, 1$97, p. 206) ou

ainda das divergências / conflitos entre o prior de Caparica e os capelães que prestavam

assistência religiosa em algumas das capelas da freguesia. Em duas das fontes consul

tadas (AHPL, SR 13.05, Expediente da Vigararia deAlmada;ADSTB-PRQ, Caparica,

Livros de Baptismos e Casamentos) encontramos registos de algumas divergências en

tre os priores de Caparica e os capelães que prestavam assistência nas capelas do Porto

Brandão (até 1834, frades Jerónimos de Belém), do Lazareto da Torre Velha (nomeado

pelo Governo), do Presídio da Trafaria, da Costa de Caparica, da Quinta do Vale Rosal

(padres Jesuítas entre 1890 e 1910) e da Sobreda (até 1834, frades Agostinhos).20 Imagem que se encontra actualmente na Igreja de 5. Pedro da Trafaria, era a

padroeira da Ermida do Presídio da Trafaria, edificada em 1678, onde os pescadores

da Trafaria tinham um ermitão em 1735, que pedia «esmolas que os fiéis de Deus

costumão dar para sera e azeite, e mais ornatos, e limpeza da ditta Igreja, e assim mais

ir

para maior fervor dos fiéis» trazendo o retrato da dita Senhora. Cfr. ANTT-CEL, Mç.1763, s/n.

21 Existentes não só nas igrejas paroquiais, mas também em algumas conventuais,assim como em capelas particulares, como eram o caso da Capela do Bom Jesus daQuinta de Baixo, do Conde de Caparica, ou a Capela de 5. Clemente na Quinta daGraciosa, do Conde de Porto Covo da Bandeira.

22 Como ainda hoje se vê num painel da mesma Santa no sítio de Castelo Picão. Ofenómeno da morte por um raio não era inédito na região. Cf. ADSTB-PRQ, Caparica,LO, n.° 5, f. 3, 23-3-1676

— «faleceo Roiz de Paiva, morador no Porto do Brandão,não recebeo os sacramentos per morrer apressadamente de hti rayo em na espera daproceção dos paços».

23 Para uma análise mais elaborada sobre o conceito veja-se:http://site.unitau.br//scripts/prppg/humanas/download/dialogosreligiosidade

N2-2002.pdf24 CARMO, Octávio — «festas e romarias, interesse renovado pela religiosidade

popular», in O Mensageiro, 28.08.2008, Obra Católica das Migrações pub:http://www.snpcultura.org/vol interesse renovado religiosidade_popular.html.

25 Idem ibidem.26 Idem, ibidem.27 Conforme nos relata, na viragem do século XVII para o XVIII, o Pe. António

Carvalho da Costa — a propósito da Sr.a da Piedade (Cfr. COSTA, Pe. António Carvalhoda — Corografia Portuguesa, Vol. III, Tratado VII, Cap. IV, 1707) ou na mesma épocafrei Agostinho de Santa Maria, no seu Santuário Mariano, que regista as seguintesimagens milagrosas: Nossa Senhora da Madre Deus na Arrentela, Nossa Senhora doCastelo de Almada, Nossa Senhora do Monte Sião de Amora, Nossa Senhora da Conceição do Seixal, Nossa Senhora do Rosário na Igreja de S. Paulo, Nossa Senhora dosRemédios na Ermida de 5. Sebastião deAlmada (Cfr. SANTA MARIA, Frei Agostinhode — Santuário Mariano, Lv. II, Tit. LXV, 1707, pp. 43 5-464).

2$ Idem, Tbidem, Lv. II, Tit. LXXII, 1707, pp. 470-471.29 Idem, Ibidem, Lv. II, Tit. LXXIII, 1707, pp. 472-474.30 Um dos fenómenos religiosos mais antigos, era o culto das relíquias. Na Ca

parica conhecemos a presença de relíquias em duas capelas particulares, que aliás sepensava terem sido partilhadas entre si, as da capela da Quinta de Baixo do Condede Caparica e da capela da Quinta da Graciosa. Associadas às relíquias e a imagensde maior devoção encontravam-se as indulgências, estas eram concedidas através deBreves papais, podendo ser por períodos fixos (40 dias ou 7 anos) ou indetenninado(perpétuas), e visavam, a concessão de benefícios espirituais aos fiéis que rezassemnos altares a quem estas eram concedidas, os quais eram ditos privilegiados, comodissemos, visavam promover determinados lugares de culto, aumentando o númerode devotos e consequentemente a quantidade de esmolas, as quais eram necessáriaspara manter o culto, melhorar o templo e às vezes até à sua reconstrução. Era aindanormal que algumas igrejas paroquiais e conventuais tivessem altares privilegiados,uma vez que era uma forma de poder cumprir determinadas obrigações testamentárias,contribuindo assim para os rendimentos do seu clero. Em 1699, Valentim de Campos,

morador na Sobreda, mandou no seu testamento, sepultar-se na igreja do Convento dosAgostinhos daquela localidade, vinculando a sua fazenda com a obrigação de missasem altar privilegiado. Cfr. ANTT-PSTB, Mç. 97, Cx. 701, doc. 45.

31 Pub. http://www.crnhpL32 SOARES, 1955; BRITO, 1973, pp. 32, 76.

O de São Macário é apresentado numa moldura rococó, ajoelhado, com o hábitoesfarrapado, segurando um livro, tendo por fundo casas e igrejas. Um dos registos temos seguintes dizeres «INS — 5. Macário — Esta Santa Imagem se acha colocada na ermida de N. Snr.a da Conc.am em Vai de Tugeiro em Caparica no termo da V. de Almada,6 de Junho de 1779» (ver fig. 5), outra com os dizeres «fl\J5 —5. Macário —Advogadocontra as febres e sezonis (sic.) 5. — em Caza de Jozé Ant.° Ramalho a Patriarcal queimada Lx.a». Noutro registo de S. Macário, da Colecção do Rio de Janeiro, apresentaos seguintes dizeres «Venera-se na sua Capela em Caparica» seguindo-se a concessãode indulgências, o que significa que mesmo fora privilegiado. Cfr. SOARES, 1955;BRITO, 1973. Sobre o registo de Nossa Senhora de Monserrate veja-se CHAVES,1917, pp. 377-378.

Registo da coroação de Nossa Senhora, em corpo inteiro de mãos postas, rodeada de anjos, dois dos quais fazem menção de orar, com os seguintes dizeres «INS — Coroação de Nossa Senhora (Venerada na Capeila de Vai do Rosai»>. Cfr. BNP, Registosde santos, inventário n.° 333 1. Dos outros santuários de Almada e Seixal, encontramosregistos de Santos de Nossa Senhora da Boa Viagem, da Quinta da Trindade no Seixal(BNP, inventário 2126), e Nossa Senhora da Piedade da Cova da Mutela com asrespectivas indulgências (BNP, inventário n.° 2971).

Cfr. COSTA, Pe. António Carvalho da Costa — ibidem, Vol. III, Tratado VII,Cap. IV, 1707.

36 Cfr. CONDE DOS ARCOS — Caparica através dos séculos, Vol. 1, Almada,Câmara Municipal e Comissão Municipal de Turismo, 1972, p. 51.

5. Miguel in BRITO, 1973, p. 76. N. Sr.a da Rosa (in OLIVEIRA, 2005, p. 169)é uma imagem do século XVII, actualmente na Igreja dos Paulistas de Lisboa, quepoderá ter tido origem no Convento da Rosa, cujos bens, após a sua extinção, foramintegrados na casa-mãe de Lisboa, onde encontramos também uma imagem de SantaLuzia, confraria do Convento da Rosa. Cfr. ANTT, AHMF, Cx. 2229, Capilha 2: Convento de SS.° Sacramento de Lisboa (Paulistas).

38 Mendo Seabra obtém, em 1407, licença pontificia para ingressar na vida eremítica (Cfr. ANTT, Colégio de 5. Pauto de Coimbra, lv. 1, doc. 11064; BPE, PergaminhosAvulsos, pasta 7, doc. n.° 11) e nela se manteve até à sua morte, ocorrida em 1442. Noseu testamento, de 1442, testemunhava o seu envolvimento na fundação do eremitériode Mendoliva (termo de Setúbal) e na direcção das comunidades dos pobres de Alferrara (termo de Palmela) e de Nossa Senhora da Rosa de Caparica ou Cela Nova (termodeAlmada) (Cfr. INGLÊS, 2005, p. 43). Veja-se ainda BALINHA, 2001, pp. 25-62.

Havia concorrência de gentes de várias partes, até de fora do concelho, à fonteda Rosa para usufruir das suas propriedades restabelecedoras, como regista o Pe. Costa: O Convento da Rosa «he abundante de agua, & na cerca tem huma fonte com onome de N. Senhora da Rosa, cuja água he milagrosa, & tem virtude de curar a lepra».

244245

246 247

Cfr. COSTA. Pe. António Carvalho da Costa— ibidem, Vol. III, Tratado VII, Cap. IV.

1707; FLORES, Alexandre M. e CANHÃO, Carlos — Chafarizes de Almada, Almada,SMAS, 1995, pp. 96-100, 130-132.

° Cfr. nota 37; Diário das Cortes Gerais, 16/4/1 821, p. 606.41Cfr.VIEIRAJR., l$97,pp. 110-111.42 Cft. ANTT, Bitias e Breves, Cx. 7, M. 2, n.° 20 — Bula de Pio II.43Cfr. ANTT, Bulas e Breves, Cx. 17, n.° 85, 1668/02/27; Cx. 17, n.° 94, 1678/11/21

— Breves do Papa Clemente IX.‘u Este Breve concedia a «todos os Fieis Christaos, que mandassem dizer Missas,

ou sendo Sacerdotes celebrassem no Altar môr da igreja do dito Convento pelas almasdos seus defuntos, ou outros quaesquer gozassem por modo de sufrágio de todas asgraças e indulgências, que ouvessem de lucrar, como das ditas Missas se celebrassem nos Altares das igrejas de 5. Gregório na Cidade de Roma, de S. Lourenço, e 5.SebastiAo extra muros, nos quaes todas as vezes que se celebra se tira huma alma doPurgatório». Cfr. PIEDADE, 1728, pp. 174-175.

Cfr. BRITO, 1973, pp. 16, 67-68.46 Cfr. ADSTB-CNA, Cx. 4410, Lv. 156, f. 71, 1788/07/03.

«O Convento da Sobreda foi doado por Femão Castilho de Mendonça aos Agostinhos Descalços por escritura de 19 de Julho de 1668, não pedindo aquele que nafábrica do convento houvesse memória sua, nem escudo de armas, nem que nela secolocasse o seu nome, apenas pediu que se rezasse por ele uma missa quotidiana. Nodia 20 os padres tomaram posse do mesmo e no dia 21 nele rezaram a primeira missa,encontrando, nas palavras do cronista da Ordem, uma bela igreja quase terminada,dormitório com 12 celas já feitas, portaria, refeitório, antecoro, sacristia, e uma cercacontendo pomar, vinha, horta, água copiosa, e sete capelas dos sete principais passosda Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, enfileirados na parede da cerca t. ..]. Já seachavam feitas imagens de vulto e estavam pagas as obras que faltavam, menos oclaustro [...] Os vitrais da igreja eram pintados trazidos da Holanda». Cfr. CORAZONDE MARIA, 191$, pp. 125-127. Tinha um altar privilegiado em 1780. Cfr. ANTTN’[NEJ, Negócios Eclesiásticos, Livro de Graças de Roma, n.° 16, p. 17. Sobre a suaextinção e uma descrição do seu conteúdo veja-se ANTT, AHMF, Cx. 2254.

48 Col. Museu de Arqueologia e História.Idem, Ibidem; SANTA MARIA, 1707, pp. 474-479.

50 Cfr. SILVA, 2007. A divisão da paróquia em Varas parece datar do século XVII,pois já em 1663 se regista nos assentos paroquiais a Vara da Sobreda. No século XIX,a organização dos diversos Círios de Nossa Senhora do Cabo parecia ser conjunta.embora em datas diferentes: o «Círio de Caparica na primeira Dominga de Mayo. eSábado antecedente, os do Real Círio Saloyo no dia da Ascenção athe Dom.a infraotavam, os d’Amora na festevidade de Pentecostes, os da vila de Almada na Véspera edia da Trindade, os da Villa de Palmela na véspera e dia de N. Sr.a da Assumpção, osda Villa de Azeitão, na pr.a Dom) de Setembro e dia antecedentes». Cfr. AHPL, Exp.1824/1825, Cx. 1, 1825/04/26.

51 Registo de santo presente no catálogo dos registos compreendidos em 4 volumesin-folio grande que pertenceram a Aníbal Femandes Tomás, que em 1917 estavam na

posse do Museu Etnológico Português [actual Museu Nacional de Arqueologia]. Cfr.

CHAVES, 1917, pp. 377-378. A Quinta de Monserrate, ou do Banha, foi adquirida

pelo Monsenhor Horta em 1795 (Cfr.ANTT-CDN. Liv. 71, f. 119), aparecendo já com

o actual nome numa lápide com a inscrição: “Quinta de Monserrate, 1 796” que se

encontrava à sua entrada (Cfr. SOUSA, 2003, p. 166). Foi a quinta adquirida por Antó

nio José Ferreira em 1798 (Cfr. ANTT-CDN, Liv. 71, f. 78, 121), que a deixou ao seu

sobrinho Francisco António Ferreira, em 1807, recomendando a este que continuasse

a missa de todos os domingos e dias santos na capela da Quinta «em benefício públi

co dos vizinhos da mesma quinta» (Cfr. ANTT-RGT, Liv 357, ff. 204-205). Segundo

Cyrillo Volkmar Machado, as imagens de Nossa Senhora de Monserrate e Santo Antó

nio, em quadros colocados nesta Ermida foram da autoria do pintor Felisberto António

Botelho(Vid. MACHADO, l922,p. 110).52 Cfr. APARÍCIO, Victor, RAPOSO, Abrantes — Os Távoras de (‘aparicu, Capari

ca, Junta de Freguesia, 1992, p. 74.D. Francisco de Meneses da Silveira e Castro, sendo investido no título de Conde

de Caparica (e mais tarde nomeado Marquês de Valada), decidiu levantar em 1799 uma

nova capela, em local diferente da anterior, mais próximo da entrada da quinta, para que

nela pudessem assistir missa quer os seus criados quer os residentes dos lugares vizinhos

(incluindo os moradores da Praya da Costa) que anualmente faziam a sua festividade a

N.S. da Conceição. Foi igualmente solicitado a Roma, e concedido em 1803, a renovação

das indulgências de que gozava a referida capela, provavelmente desde o tempo de D.

Lourenço, pois era através destes tipos de beneficios espirituais, que se fomentava a ro

magem aos locais onde se encontravam relíquias de santos. Cfr. ANTT-CEL, Mç. 1855,

s/n; ANTT-MNEJ, Negócios Eclesiásticos, Graças de Roma, Livro 18, f. 110v.

Curiosamente padroeiro de um outro santtiário no alto da serra do mesmo nome

situada em S. Pedro do Sul, próximo de Viseu. Cfr. http://www.lendarium.org/narrative/lenda-de-s-macario.

A quinta foi aforada ao Dr. José António Pestana pelo 7.° Marquês de Minas

(e lO.° Conde do Prado), que a tinha por herança de D. Luís de Noronha, tio da sua

mulher. Foi arrematada em praça em 1$16, era então um prazo foreiro à Marquesa

das Minas em 20$200 réis e às freiras de Santa Joana em 5$000 réis. (Cfr. Gazeta de

Lisboa, 22-11-1816). Em 1$27, conforme regista o Conde dos Arcos, foi adquirida por

Francisco Manuel Correia Lopes, passando depois por vários donos, como José Jorge

Ferreira a quem foi penhorada em 1842 (Cfr. Diário do Governo, 10-8-1842), ou Victor

Daupias a quem pertencia em 1897 (Cfr. VIEIRA JÚNIOR, 1897, p. 207), até que no

século XX entrou na posse de D. Maria Beatriz Ferreira Pinto Basto Correia e a seu

marido Jerónimo de Magalhães Mexia (Cfr. Conde dos Arcos, 1972, p. 36), pertencen

do atualmente aos seus descendentes.56 SOARES, 1955; BRITO, 1973, pp. 32, 76.

Cfr. Matusio Matoso da Mata — Palestra que teve D. Fará/ia da Ádoraçáo [...],Lisboa, Of de Simão Thadeo Ferreira, 1787.

58 Cft. [s.a.] — Compendio histórico da prodigiosa vida do glorioso 8. Mucario

egypcio [...], Lisboa, na 0ff. Patr. de Francisco Luiz Ameno, 1782. [Com Licença da

Real Mesa Censória].

Em 7 de Junho de 1743, o Principal D. Luís de Noronha (Beneficiado da Patriarcal), e o seu irmão D. Afonso de Noronha, que «tinham devoção colocar urna imagemde N. Sr.’ da Conceição em urna Ermida em sua Quinta de Vai de Tojeiro, e como paraser colocada primeiro tinha de ter licença do Eminentíssimo Cardeal Patriarca, e quetinha de ter renda para estar com decência, culto e veneração», obrigaram-se a doar àmesma 5$000 réis cada ano, para o «gasto e aplicação do culto da mesma Senhora»,cujo dote e satisfação impõem nos rendimentos da dita quinta. Cfr. ANTT-CEL, Mç.1$32, s/n—apudMENDES, 2010.

60 Cfr. Diário de Lisboa, 31-8-1 9366! SOARES, 1955.62 Cfr. Matusio Matoso da Mata — Palestra [...], Lisboa, Of. de Simão Thadeo

Ferreira, 1787, Pub. http://purl.pt/1 4692/l/P 1 .html.63 Cfr. [s.a.J C’ompendio histórico da prodigiosa vida do glorioso 5. Macario

egypcio [...], Lisboa, na 0ff. Patr. de Francisco Luiz Ameno, 1782. [Com Licença daReal Mesa Censória].

64 Cfr. AHPL, SR. 13.05: EVA, s/n — anexo 1.65 Documentados em artigos nos jornais Praia do Sol, 15-4-1950, 1-5-1978, 1-6-

1978, 1-7-1978, Diário de Lisboa, 11-8-1936 e SANTOS SIMOES, J. M. dos —Ázttlejaria em Portugal no sécitlo XVIII, Lisboa, f. C. Gulbenkian, 1979.

66 Cfr. ADSTB-PRQ, Caparica, LCIO, ff. 43 e 51.67 Cfr. ADSTB-PRQ, Caparica, LCIO, t 51; LC13, f. 169.68 Col. Rui Mendes.69 Admite-se que, pela sua posição excêntrica, a capela seja posterior à quinta e

solar, sendo até possível, como alguns autores admitem, que tenha sido transposta paraaqui a capela original da aldeia de Porto Covo. Cfr. http://www.rnonurnentos.pt/Site/APPPagesUser/S1PA.aspx?id=l 0564

70 Cfr. AHPL, Exp. 1893, Setembro, s/n — anexo 4.71 O Conde dos Arcos diz que as relíquias de 5. Clemente teriam vindo prova

velmente da capela da Quinta do Baixo dos senhores do Morgado de Caparica (nestaquinta existiram muitas relíquias de santos que foram oferecidas pelo papa Pio IV aLourenço Pires de Távora no séc. XVI), já no entanto Vieira Júnior tinha registadoque «o corpo de 5. Clemente, tendo ao lado a espada e o capacete, e que ainda hojemuita gente crê ser aquele o próprio corpo do santo» tinha vindo de Roma há pertode dois séculos. Cfr. CONDE DOS ARCOS, 1972, p. 37; VIEIRA JUNIOR, 1897, p.140. Entretanto o documento acima citado informa que a referida relíquia foi mandadade Roma pelos anos de 1780, em reconhecimento a um dos Bandeiras pela passagemgratuita dada nos seus navios da carreira da Índia e da China a muitos missionáriosda Sagrada Congregação da Propaganda, facto que também se regista no Arquivo daNunciatura de Lisboa, onde documentos recentemente estudados comprovam que entre 1785 e 1807, Jacinto Femandes Bandeira, embarcou diversos padres da SagradaCongregação de Propaganda Fide destinados às missões da China, no navio Bom Jesusd’Além e à missão de Madrasta, no navio O Triunfo. Registam ainda o envio de doisrelicários para oferecer um aos senhores Bandeira e Caldas e outro á sobrinha do Reido Congo. Cfr. MARQUES, João Francisco, MIRANDA, José Carlos Lopes de [Co-

ord.J — Arquivo Secreto do Vaticano, Torno II: Oriente, Lisboa, Esfera do Caos, 2007,

pp. 112, 230, 232, 247 e 24$, 344.72 Cfr. AHPL, Ms. $32, f 162; ANTT-CEL, Mç. 1809, n. 190.

Foi depois adquirida por António de Almeida da Silva, homem de negócios da

Praça desta Cidade, que terá feito obras em 1746 na Quinta, conforme documenta gra

vação na porta principal. A capela foi também modificada por António de Almeida no

ano de 1752. CftAHPL, Ms. 355, f. 268; ANTT-CEL, Mç. 1809,0. 1.

Cfr. REIS, 2011, pp. 7 1-72.° Em 1784, a propriedade onde está a ermida, era foreira a D. Isabel Antónia

Coutinho da Câmara, viúva de José Lázaro ColTeia. No entanto já em 1$11, quando

pertencia a D. Teresa Narcisa Rosa da Silveira, se designava por quinta de «5. Francis

co recebendo as Chagas de Christo». Cfr. ADSTB-CNA, Cx. 4413, L.184, f. 19. Esta

quinta era foreira ao Convento de Santa Joana, extinto no fim do século XIX. O foro

da quinta foi colocado à venda em 1906, tratava-se do Foro de 1$200 réis e 6 frangos

ou 300 réis por eles com laudémio de dezena e vencimento no Natal, imposto em «uma

quinta denominada de 5. Francisco, no Largo do Lazarimx’. Era então enfiteuta Fran

cisco António Feneira. Cfr. ANTT, AHMF, Cx. 1988. Em 1972 pertencia aos filhos de

Luís António ferreira. Cfr. CONDE DOS ARCOS, 1972, p. 36.76 Capela cfr. representação de 1945 (CONDE DOS ARCOS — «Relação dos Tem

plos de Caparica», in Boletim da Junta de Província da Estremadíira, n.o 10, 1945, p

34$. Imagem de 5. Francisco in Praia do Sol, 1-5-1978.Cfr. VIEIRA JÚNIOR., 1$97, p. 114.

78 Cfr. AHPL, Ul 257: Registo de Cartas e Circulares 1863-1864, N.° 3—anexo 2.

Cfr.VIEIRAJÚNlOR., l$97,p. 115.80 Diz este autor, que em tempo de grande seca em que as culturas se perderiam,

o povo da Chameca de Caparica foi em procissão vinda de 5. Francisco dos Matos ao

Cruzeiro da Quinta de Vale do Rosal, pedindo a bênção da chuva, contando os antigos,

que pouco depois da chegada da procissão ao Monte da Cruz, junto ao Cruzeiro, co

meçou a chover na Charneca. Cfr. REIS, 2011, p. 43.Si Nas suas palavras estas festas «não tinham igual em todo o concelhox’, sendo um

dos pontos mais bonitos do concelho de Almada para festas e diversões, onde no dia da

festa, de manhã cedo, os ranchos de festeiros escolhiam as árvores maiores para à sua

sombra comerem os seus farnéis. No dia da festa na branca capelinha, onde se encontra

uma bonita imagem de 5. Francisco, as raparigas casadoiras, ou com tendências para isso,

colocavam nas mangas das vestes da imagem, bilhetinhos com os seus pedidos que, na

maioria se resumiam em simples solicitações para que o Santo lhes arranjasse namorado.

E quando à noite ao acabar os festejos, alguma delas tinha conseguido os seus desejos,

não podia deixar de dar mais um passeio pela Capela apara agradecer ao bom Santo a sua

Graça. Cfr. António Correia, «As festas na quinta de 5. Francisco dos Matos», in Praia do

Sol, 1-4-1952, p. 4, apud FLORES, 2007, pp. 48-49. Cfr. Praia do Sol, 1-11-1980.82 Veja-se O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 13-1-1878, pub.hrtp://memoria.bfl.br/Pdf5!238562/Per2362 1 $78 00346.pdf; VIEIRA JUNIOR,

1897, pp. 163-164; e [s.a.] — Ofanatismo ou as três santinhos virtuosas no Monte de

Caparica [Poesia]. Lisboa, Typ. Salles, [s.d.]

248 249

Cfr. VIEIRA JÚNIOR 1897, pp. 163-164.84 Cfr. [s.a.]

— Ofanatisnio Ou as três santinhas virtuosas no Monte de Caparica[Poesia]. Lisboa, Typ. SaIles, [s.d.].

Não há notícia de nenhuma feira anual, ligada a tima qualquer festividade, dadoque se realizava uma feira do gado (no 3.° domingo de cada mês) no Largo da Torrena Caparica. Cfr. VIEIRA JÚNiOR., 1897, p. 186; Cfr. Á Reateza, n.° 26, 22-2-1883FLORES, Alexandre M. — Bzilhào Pato na Outra Banda, pp. 42 e 52.

86 A Irmandade do Nome de Jesus, depois integrada na Confraria das Almas, teveo seu Compromisso reformado em 13-3-1620, nele se determinando celebrar o Nomede Jesus no dia 1 de Janeiro de cada ano (Cfr. ADLSB-GCL, Irmandades, Cx. lO—Irmandade de S. Miguel e Almas).

87 Este santo teve grande devoção em Portugal, sobretudo a partir do século XVI,quando por determinação do Rei D. João III, foram edificadas diversas ermidas dedicadas a este santo à entrada das principais povoações do país. Em Almada foi edificadauma Ermida de 5. Sebastião em 1535 (data encontrada no pavimento da tijoleira docorpo central e altar-mor, numa inscrição com o nome de D. João IIf, conforme investigação arqueológica da equipa do Dr. Luís de Barros, divulgada na recente exposição«Chão de Memórias», Museu da Cidade, Almada, Novembro, 2012). Na Sobreda foiedificada outra ermida do mesmo título em 1607 (data registada numa petição do pároco de Caparica, de 20-3-1833, sobre a intromissão dos religiosos do Convento da Sobreda na celebração de ofícios na Ermida da Sobreda, onde refere que «a dita Ermidahe dos povos desta freguesia que se fintarão para a edificarem no ano de 1607» (Cfr.ADSTB-PRQ, Caparica, LB3O, f. 8). As principais festas da Sobreda até ao séculoXIX eram dedicadas a São Sebastião e realizavam-se em Outubro. Na Igreja do Montehavia uma confraria do mesmo santo e na Torre Velha a capela também era dedicada aeste santo que era ainda o padroeiro dos Artilheiros.

88 No Carnaval aproveitava-se para espantar os maus espíritos do Inverno e darlarga à folia. Pelo menos desde o séc. XIX que estas eram festas ora bastante animadasora por vezes pontuadas por desordens, como aconteceu em 1894: «O Carnaval

— NoMonte de Caparica, segundo nos dizem, correram na mais completa desanimação ostrez dias d’entrudo. Na Fonte Santa alguns indivíduos envolveram-se em desordem,resultando ficar bastante ferido um tal José Guedes. Os desordeiros não foram incommodados pela authoridade». Cfr. O Puritano, n.° 447, 11-2-1894, p. 3 — apud Museuda Cidade. Eram sempre festas animadas como aconteceu em 1901: «O carnaval —

Em Caparica, correu o carnaval relativamente animado, reinando sempre a melhorordem, graças ás providencias acertadíssimas que n’esse sentido tomou o digno regedor d’aquella parochia, o sr. António Joaquim Godinho». Cfr. O Puritano, n.° 1174,24-2-1901, p. 1 — apud Museu da Cidade. Sobre o Carnaval em Almada, veja-se aindaFLORES, Alexandre M.

— Carnaval em A lunada: abordagem histórico-antropotóajcaAlmada : Associação Amigos da Cidade de Almada, 1998.

89 O Pe. Ccira Francisco Gil refere que em 1676, fora o segundo ano em que sefazia a «proceção dos paços (...) nesta freguesia quando o Senhor hia para o Lugar deMorfassém». Cfr. ADSTB-PRQ, Caparica, LOS, f. 3. Na procissão da Via Sacra asimagens do Senhor e a de Nossa Senhora das Dores eram conduzidas para a Ermida

f 251

da Quinta dos Padres do Carmo, Murfacém, vindas da Igreja Matriz. Na descrição do

séc. XVIII da Quinta de Murfacém, que consta no tombo da Convento do Carmo de

Lisboa, a Ermida de Nossa Senhora do Monte Carmo, mandada edificar pelo prior do

Convento Fr. Manuel Goes em 1563, é denominada como a «Ermida donde sai a Pro

cissão dos Passos da Caparica». tal pode indicar que a Via Sacra de Caparica não tinha

sempre a mesma direcção. Cfr. ADSTB-PRQ, Caparica, LO5, f 3; ANTT, Convento

de Santa Maria do ‘arino de Lisboa, Lv. 77, f. 83. Este percurso da Via Sacra era

pontuado por pequenas capelas devocionais, conhecidas pelos Passos do Calvário, de

que hoje restam poucos vestígios, e terminaria junto a um cruzeiro, em Murfacém, de

que algumas pessoas ainda se lembram.90 Por ocasião das grandes secas também se fazia esta procissão, contudo Vieira

Júnior regista, no fim do século XIX, que a celebração da Semana Santa no Monte de

Caparicajá não se fazia desde 1883. Cfr. VIEIRA JÚNIOR, 1897, p. 86; CONDE DOS

ARCOS, 1952, p. 93.91 Na Trafaria, a imagem do Senhor dos Passos era proveniente do Convento dos Ca

puchos, da Capela do Senhor Jesus da Saúde, trasladada para a Trafaria, com a imagem de

Nossa Senhora da Soledade, em 1837. A Capela do Senhor Jesus da Saúde do Convento

dos Capuchos tinha em 1834, uma imagem do Senhor dos Passos com um resplendor de

Mital Branco, 4 castiçais de pau dourado com o seu crucifixo do mesmo, uma pia portátil

feita de mánriores que serve para água benta. Cfr. ANTI, AHMF, Cx. 2203, Capinha

12 — Inventário do extinto Convento de Nossa Senhora da Piedade da Caparica. Foi esta

imagem transferida para a Capela da Trafaria, por Portaria de 20-6-1837 (Cfr. APC. Li

vros das Pastorais, Decretos e Provisões, ff. 37v-38v), onde a Procissão dos Passos já se

realizava em 1845 (Cf. AHPL. Exp. 1845, Cx. 1) e em 1852 (Cft. AHPL, Exp. 1852, Cx.

1 — ver anexo). Para a festa do Senhor dos Passos da Costa ver. Praia do Sol, 1-3-1955.92 O Senhor dos Passos na Sobreda era originário de uma pequena Via Sacra dentro

da cerca do Convento dos Padres Agostinhos Descalços.

Col. Rui M. Mendes.Col. Manuel Lourenço Soares, in SOARES, 1986.

Estabelecida como uma forma de ir substituindo as festas religiosas por outras

civis, como aconteceu também com outras datas emblemáticas, como o 31 de Janeiro

(Revolta do Porto), e claro o 5 de Outubro de 1910.96 Tradição secular ligada à história da região, em que todos anos, as localidades

da paróquia se revezavam. Como foi dito anteriormente, na igreja do Monte havia

uma imagem e Confraria de Nossa Senhora do Cabo, e no santuário, reedificado no

princípio do século XVIII, uma das capelas (de 5. João) foi edificada em 1719 por ini

ciativa do Círio de Caparica. Cfr. Praia do Sol, 1-6-1950 — «Pertence este ano à Costa

de Caparica fazer a romagem ao Cabo Espichel [...]. No passado dia 21, manhã cedo,

o povo acompanhado pela Banda de música da Casa dos Pescadores, lá foi à Trafaria

buscar os estandartes simbólicos do Círio, num quadro cheio de colorido e de Fé. As

crianças montadas em cavalos brancos, dava, uma nota de candura no cortejo onde o

povo unido pela mesma devoção fazia preces à Virgem [...]».Na época dos santos populares, talvez até por oposição à grande festa do São

João Baptista, que se realizava em Almada, a grande devoção das gentes de Caparica

250

252 fera o St.° António. veja-se por ex.° em 1$41 — Petição dos Festeiros da Irmandade deSanto António da freguesia de N. Sr.a do Monte de Caparica, que havendo destinadofestejar o santo na igreja de sua freguesia com missa cantada, sacramento exposto eprocissão de tarde não podem com tudo dedicar ao santo este solene culto sem a permissão. PP em $-VI-1$41 (Cfr. AHPL, Exp. 1$41, Cx. 1); ou em 1903 — «Festejos noMonte, em honra de Santo António, em que o “concurso de povo nos três dias da festa,foi espantoso”. Participaram as filarmónicas: Incrível Almadense, Academia, UniãoArtística Piedense, Sociedade da Fonte Santa e houve arraial. Foi constituída comissãopara organizar os festejos do próximo ano». (Cfr. O Liberal, n.° 65, 20-6-1903, p. 2, e.5 — apud Museu da Cidade).

98 Cft. AHPL, Exp. 1$41, Cx. 1 — «Petição dos festeiros de St.° António, do sítio daChameca (...) desejando festejar com Missa cantada, Sermão, e Ladainha o GloriosoSanto na sua Ermida [da Quinta de Monserrate] em o dia 27 de Junho, etc. PP em20-VI-1841», e VIEIRA JÚNIOR, 1897, p. 126 — «a festividade que anualmente alise faz nos mezes de Setembro ou Outubro, em honra do milagroso Santo António, écelebrada na pequena capela do antigo palácio do Soila, hoje propriedade da FamíliaFerreira. E no grande páteo d’este palacete [...] que se faz o arraial da festa que emtodos os annos costuma ser muito vistoso e bastante concorrido».

festa com a concorrência de muitas pessoas do concelho, era na Casa de Água,hoje situada no Jardim dos Zagalos, onde se formavam bailes, no entanto foi uma festaque acabou ainda antes de Vieira Júnior a relatar, com alguma dose de exagero naturalde quem fala das coisas suas, pois era aqui residente (Cfr. VIEIRA JÚNIOR, 1$97, p.131). Esta Ermida foi edificada por Domingos Rosa, rendeiro da Quinta do Caiado,para substituir a arruinada ermida de N! Sr.a do Rosário, anexa à habitação da quinta,e cabeça da Capela da Coroa de Maria de Teixeira de Almeida a que a quinta estavavinculada, conforme se vê numa petição de 1790 contra a pretensão de José XavierCarneiro Zagalo de Meio, em anexar o terreno desta ermida. Cfr. ANTT, Desembargodo Paço, Estremadura, Mç. 2123, N.° 110.

100 Depois dos donos do Solar dos Zagalos terem decidido não realizar esta festana sua quinta, em 1886 organizou-se uma Comissão para festejar o Santo na Alamedada Quinta da Estrela, junto a uma Ermida do mesmo santo, ali localizada, e durantesete anos ali se realizaram as referidas festas no seu dia. Cfr. VIEIRA JUNIOR, 1$97,pp. 145-146.

Col. Rui M. Mendes.102 A partir do século XIX passou a haver grandes festejos na Trafaria dedicados

ao 5. Pedro patrono da igreja local. Cfr. AHPL, Exp. 1$40, Cx. 2 — «Petição que osfesteiros de São Pedro, do lugar da Trafaria, freguesia de Caparica, dizem que eles suplicantes costumam festejar São Pedro com o SS.° exposto e Missa Cantada e sermãode manhã e de tarde, com Procissão de tarde, etc.... PP em 22-VI-l$40».103 Na Costa, em alguns anos, faziam-se as suas festividades a 5. Pedro. Cfr. AHPL,Exp. 1$51, Cx. 1 — «Petição para Exposição do Santíssimo na Festa de São Pedro naCosta de Caparica., etc.... PP em 16-VI-1$51». Cfr. Praia do Sol, 1-3-1955.104 Esta procissão realizava-se em Almada, e até ao fim do século XVI, a ela eramobrigados a assistir todos os povos de todos os lugares do concelho. Depois cada fre

guesia do termo passou a poder organizar a sua própria procissão do Corpo de Deus.

como era o que acontecia na freguesia de Caparica.105 Grande devoção dos mareantes, cujas festividades aqui se realizavam no século

XIX, no mês de Julho, primeiro para ajudar a angariar fundos para a edificação da ca

pela, aberta ao culto em 1864, e depois para a manutenção do mesmo culto. As festas

eram organizadas por uma mordomia, de quem D. Pedro V fora nomeado Juiz Perpé

tuo, pela sua particular devoção a esta santa. Vid. VIEIRA JUNIOR, 1897, p. 167. Em

1$74 tinha «missa solene e processão havendo 3 imagens, e St.° Lenho de baixo do

páleo». Cft. ANTT-CEL, Mç. 3327, s/n. As festas começavam no 3.° sábado de Julho etenilinavam na segunda-feira seguinte, com um «explendido fogo de artificio (...) aon

de costuma affluir enorme quantidade de povo, e aonde o arrayal se ostenta vistoso».

Cfr. O Puritano, n.° 81, 24-7-1890, p. 2, c.3 — apud Museu da Cidade.No século XX chegaram a realizar-se em Agosto, no último Domingo e em Se

tembro, próximo do dia 8, dia da Natividade de Nossa Senhora, sendo urna das suasgrandes atracções a largada de touros na praia. como foi o caso das festas de 1968.Veja-se O Almadense: Semanário Republicano Regionalista. A. 1, N. 12, 30-9-1928,p. 4 — apud Museu da Cidade; e ainda Jornal de Almada. 11-9-1960, apud ABREU,Carlos, BRANCO, Francisco [compil.] — O associativismo tradição e arte do povo deAlmada, Almada, Câmara Municipal, [1985].

106 Cfr.AHPL, SR 13.05: EVA, s/n—Carta de 15-5-1825.107 Realizadas em Agosto, corno o foi por ex. em 13 de Agosto de 1876. Cfr. O

Círculo, n.° 73, n.° 2, 13-8-1876, p. 4, c. 1 — apud Museu da Cidade: «Hoje festeja-seem Caparica o orago da freguezia. Há festa na egreja a instrumental, sermão, arraial efogo de vistas». Em 1$97, segundo Vieira Júnior, há muito não se faziam (Cfr. VIEIRAJÚNIOR, 1897, p. 164), o mesmo acontecendo após a implantação da República. Cfr.O Liberal, n.° 116, 7-6-1929, p. 4, e. 3 — apud Museu da Cidade — «Festas do Monte deCaparica: (...) [vão-se] realisar no próximo mez d’Agosto, as antigas festas que ali seefectuavam anualmente. [...]>.

‘° Cft. VIEIRA JÚNIOR, 1897, p. 164; Ver tb. Henrique MARQUES JÚNIOR. —

«A ermida de Nossa Senhora do Monte de 5. Gens : esboço monográfico», in Olisipo:boletim do Grupo Amigos de Lisboa., A. 9, n.° 33, Jan. 1946, p. 49— «Desde 185$ quehá nesta ermida urna imagem de Nossa Senhora da Graça, que está o altar do lado daEpístola. Essa imagem foi trazida por uns devotos lisboetas que, em virtude das febresque tanto assolaram a cidade, de 1$56 a 1$58, tinham feito um voto de irem todos emromaria com essa imagem ao Monte de Caparica, onde, festivan3ente, lhe renderiamgraças por os haverem livrado — a eles e à cidade — de tal flagelo». Sobre a epidemiaveja-se: littpjz7piirLl t/14428.

109 Cfr. AHPL, Ul 257: Registo de Cartas e Circulares 1863-1864, N.° 3.110 Festas com uma dança e folia da gente da terra com toque de trombeta. segundo

o Conde dos Arcos, eram organizadas pela Irmandade do Santíssimo.Este Círio passava por terras de Caparica e era sempre acompanhado com gran

de devoção pelas gentes locais. Segundo se consta, a imagem da Senhora, que vinha deterras sabias, atravessava o rio de Belém para a Banática, ia pela beira mar ao PortoBrandão, e daí prosseguiam à direcção ao Largo da Torre, seguindo daqui pela estrada

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que ligava a Caparica ao Cabo Espichel. Pelo caminho passava por algumas capelascorno a da Banática, dedicada precisamente a Nossa Senhora do Cabo e que hoje já nãoexiste, ou da Quinta da Regateira, que também tinha uma imagem de Nossa Senhorado Cabo. foi interrompido de 1910 a 1926.

112 Extracto da «Planta das Quintas da Viúva Dias e da Banática, situadas na Freguesia de N. Sr.a do Monte de Caparica Concelho de Almada, Escala 1: 2000, Levantada e desenhada pelo Conductor de Obras Públicas Henrique Eugénio de CastroRodrigues, Lisboa, 15 de Agosto de 1905», que tivemos a oportunidade de fotografar no Gabinete do Director das Instalações da REPSOL na Banática, o Eng.° JoséFigueiras, a quem agradecemos. A Ermida da Banática foi edificada em 1754, pelocomerciante lisboeta, de origem italiana, João Jorge, que tinha na Banática armazénsde vinhos e víveres, que comercializava para o estrangeiro. A propriedade rústica a sulda ermida, a Quinta da Banática, que também pertenceu a João Jorge, pertenceu noséculo XX a Domingos da Costa Almeida, nela funcionando actualmente oficinas demetalomecânica da empresa Coopban. Cfr. MENDES, 2012.

113 Cfr. VIEIRAJÚNIOR, 1$97, pp. 112-113. Uma Petição de 1821 que: «ACommissão Ecclesiastica vio o Requerimento dos Moradores do Lugar de Caparica, Termoda Villa de Almada. em que dizem que o Convento da invocação de Nossa Senhora daRosa da Congregação de S. Paulo, Primeiro Eremita, situado naquelle districto, tinha oencargo de dizer duas Missas quotidianas, para as ouvirem os Moradores daquelie Lugar, e das Povoações visinhas: que em 1$08 foi extincto o Convento pelo despotismodo Superior daqueila Congregação, e que os Supplicantes ficarão privados das Missas:que ainda que interviesse auctoridade Apostolica, não costuma Sua Santidade relevardaquelles encargos: que se relevasse não se compadecia isto com a justiça; e pedemque os Padres da dicta Congregação sejão obrigados a dizer por si ou por Capellãesas ditas duas Missas quotidianas, ou a largarem bens suficientes para os Supplicantesmandarem dizer as dictas Missas. Cft. ANTT, AHMF, Cx. 2229, Capilha 2: Conventode SS.° Sacramento de Lisboa (Paulistas); Diário das Cortes Gerais, 16/4/1821, p606.

114 Organizadas pela respectiva irmandade, realizavam-se normalmente em Setembro ou Outubro, no adro da ermida, sendo muito vistoso e pitoresco o arraial. Vid.Artur VAZ — Cantinhos e memórias do concelho de Almada, Costa de Caparica, Juntade Freguesia, 2005, p. 227.

115 Cfr. AHPL, Exp. 1852, Cx. 2. s/n, 1852/09/11 «Os Festeiros de N. Sr.a daConceição da Trafaria, frg N. Sr/’ do Monte de Caparica pretendem festejar a Imaculada Conceição com Missa cantada, sermão e Sacramento Exposto e Procissão noDomingo dia 12 do corrente mez de Setembro. Petição assinada em 11.9.1852 peloProcurador Joze Maria Gornes Castellão. Concedemos Licença». Cf AHPL, Ul 254,f. 25v, 1855/09/26 — Licença para Exposição do Sacramento na Ermida de 5. Pedro daTrafaria, na Festa de N/’ Sr.a da Conceição. Veja-se ainda VIEIRA JÚNIOR, 1297, p.205 — onde se regista que também se fazia na Trafaria uma festa anual a Nossa Senhorada Saúde, padroeira da Capela do Presídio da Trafaria, não indicando o período do anoem que se realizava.

116 Sobre a devoção da Sr.a do Rosário da Costa há duas versões. António Correiaregista que em 1863, na segunda quinzena de Setembro, os pescadores da companha

do mestre Reguinga, depois de uma virada, foram salvos pelos pescadores da compa

nha do mestre Vitorino José da Silva, depois de invocarem a dita Sr:, passando estes

mestres a fazer uma festa grande om dinheiro angariado na Ribeira Noa e nas lotas

da praia, continuada pelos seus sucessores (Cfr. Praia do Sol, 1-3-1955). Já Manuel

Lourenço Soares regista que o naufrágio do mestre Manuel Reguinga foi em 1 de Julho

de 1824, passando as festas a realizarem-se em Setembro até 1929 e depois retomadas

por mais alguns anos depois de 1937 (Cfr. Jornal de A/macia, 10-9-1993). Certo é

que já em 182$ eram celebradas. Cfr. AHPL, SR 13.05: E144, rnçt 1888. 2-11-1828.

A origem desta devoção poderá estar relacionada Com a presença dos Missionários

Dorninicanos Inglesinhos do Pe. Higgs na Costa, onde dirigiam o Colégio do Menino

Jesus da Praia, também conhecido pelo Conventinho, fundado pelo mesmo padre em

1$70. Cft. VIEIRA JÚNIOR, l897,p. 10$.117 29 de Setembro era o dia de S. Miguel, padroeiro da Confraria de 5. Miguel e

Almas, contudo a festa podia ser realizada num domingo próximo, como aconteceu em

1$52. Cfr. AHPL, Exp. 1$52, Cx. 2, 1852/10/14 — «Diz o Juiz da Irmandade das Almas

da freguesia de N/’ Sr.d do Monte de Caparica que pretendendo festejar S. Miguel no

Domingo 17 do corrente com Missa cantada e Procissão de tarde pedem a VE lhe con

ceder licença para a referida festividade».IS O seu culto fora promovido pelos padres dominicanos do Convento de 5. Paulo

de Almada, e tinha uma confraria e altar da mesma invocação na Igreja do Monte.119 Organizado pela Irmandade do Santíssimo. Cfr. Conde dos Arcos, 1952, pp. 93.i20 Também em Dezembro os trabalhadores da Rankin & Sons, na Quinta do Ou

teiro, Caramujo, uma boa parte naturais e residente na Sobreda, participavam na festa

de N. Sr.a da Conceição que ali se realizava junto da ermida da mesma quinta. Cfr.

VIEIRA JÚNIOR, 1897, p. 151.

fontes e bibliografia

fontes manuscritas

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ADSTB — Cartórios Notariais de Áhnada, Cx. 4410, Liv. 156, f. 71; Cx.

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ADSTB —Registos Paroqitiais, Caparica, LB, n.° 30, f. 8; L332, ff. 46-

48v.

ADSTB — Registos Paroqniais, Caparica, LC, n.° 10, f. 51; ff. 43 e 51;

LCI3, f. 169.ADSTB — Registos Faroquiaís, Caparica, LO, n.° 5, f 3.

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AHPL—Exp. 1$24/1825,Cx. 1;Exp. 1$40,Cx.2; 1$41,Cx. 1; 1845,Cx.1; 1$51, Cx. 1; 1852, Cx. 1; 1852, Cx. 2; Exp. 1$93, Cx. 2.

AHPL—Ms. 355, f. 268; Ms. 439, f. 175v; Ms. 832, f 162.AHPL— SR 13.05: Expediente da Vigararia deAlmada, mçt 1$88 e outros.AHPL — Ul 254, f. 25v; Ul 257: Registo de Cartas e Circulares 1863-

1864, N°3.

ANTT — Bulas e Breves, Cx. 7, M. 2, 11.020; Cx. 17, 11.0 85; Cx. 17, 11.094.

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tamentos.APC: Arquivo da Paróquia de Caparica.BNP: Biblioteca Nacional de Portugal.BPE: Biblioteca Pública de Évora.EVA: Expediente da Vigararia de Almada.Exp.: Expediente.Ul: Unidade de Instalação.Ms.: Manuscrito.LB: Livro de Baptismos.LC: Livro de Casamentos.LO: Livro de Óbitos.Cx.: Caixa.Mç.: Maço.Lv.: Livro.Cx.: Caixa.s/n: Sem número.

Outros

Exposição «Chão de Memórias», Museu da Cidade, Almada, Novembro,2012; Extracto da «Planta das Quintas da Viúva Dias e da Banática, situadasna Freguesia de N. Sr.a do Monte de Caparica = Concelho de Almada, Escala1: 2000, Levantada e desenhada pelo Conductor de Obras Públicas HenriqueEugénio de Castro Rodrigues, Lisboa, 15 de Agosto de 1905», Repsol Portuguesa, Gabinete da Direcção das Instalações da Banática.

1. Nota introdutória

Durante o período em que O. Miguel foi rei de Portugal (1828/1834),

na região da freguesia de Caparica verificaram-se alguns acontecimen

tos que deixaram marcas na evolução do contexto social local. Abor

daremos, em primeiro lugar, alguns dados demográficos das epidemias

que atingiram as populações, depois a importância estratégica dos dis

positivos militares, (com as suas vulnerabilidades, tentativas de reforço,

inoperâncias), vários casos de manifestações de cariz político e, final

mente, episódios de atitudes do Clero.

Este estudo pretende divulgar aspectos pouco conhecidos na listo

riografia regional sobre a Caparica durante o reinado daquele rei ab

solutista.

2. Demografia e epidemias

Na Memória Económica da Vil/a d’Atmada e seu Termo, José Joa

quim Silva Chaves em 1835’ então Provedor do Concelho de Alma-

da — avalia a população da freguesia de Caparica, em 5393 habitantes,

vivendo em 1370 fogos.

Através dos registos constantes dos Livros de Assentos de Baptis

mos e de Óbitos da Paróquia de Nossa Senhora do Monte de Caparica,

CAPARICA NA ÉPOCA DE D. MIGUEL

(‘aries Leal

Investigador


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