Date post: | 01-Feb-2023 |
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Faculdade de Letras
ONDAS DE CALOR E ONDAS DE FRIO EM
COIMBRA. IMPACTES NA MORTALIDADE
DA POPULAÇÃO.
Ficha Técnica:
Tipo de trabalho Dissertação de Mestrado
Título ONDAS DE CALOR E ONDAS DE FRIO EM
COIMBRA. IMPACTES NA MORTALIDADE DA
POPULAÇÃO.
Autora Carla Patrícia Pedroso Mateus
Orientador Lúcio José Sobral da Cunha
Coorientador Paulo Nuno Maia da Sousa Nossa
Júri Presidente: Doutor Luciano Fernandes Lourenço
Vogais:
1. Doutora Helena Guilhermina da Silva Marques
Nogueira
2. Doutor Lúcio José Sobral da Cunha
Identificação do Curso 2º Ciclo em Geografia Física, Ambiente e
Ordenamento do Território
Data da defesa 21-10-2014
Classificação 18 valores
i
Agradecimentos
Deixo os meus agradecimentos aos orientadores científicos desta dissertação pelos
conhecimentos académicos transmitidos, sugestões, comentários e revisões concernentes ao trabalho
desenvolvido.
Ao Instituto Nacional de Estatística pela disponibilização dos dados de mortalidade diária.
Ao Instituto Geofísico da Universidade de Coimbra pela disponibilização dos dados de
temperaturas.
Aos meus amigos e família pelo incentivo.
1
Índice
Índice 1
Índice de figuras 3
Índice de quadros 6
Resumo 8
Abstract 9
Introdução: importância do tema, objetivos e plano de trabalho 10
1. Estado da arte 12
1.1. Importância dos estudos de mortalidade relacionada com temperaturas extremas 12
1.2. Ondas de calor e mortalidade 13
1.3. Ondas de frio e mortalidade 19
1.4. Mudanças climáticas e paroxismos térmicos 23
2. Ondas de calor e ondas de frio – enquadramento teórico 26
2.1. Definição de onda de calor e de onda de frio 26
2.1.1. Definição de onda de calor 26
2.1.2. Definição de onda de frio 27
2.2. Importância do estudo do risco de ondas de calor e do risco de ondas de frio 27
2.3. Ocorrência de ondas de calor e de ondas de frio em Portugal 30
2.4. Prevenção face a temperaturas extremas em Portugal 33
2.4.1. Calor 33
2.4.2. Frio 35
3. Área de estudo 36
3.1. Localização 36
3.2. O clima de Coimbra e as suas condicionantes regionais e locais 39
3.2.1. O clima de Coimbra 39
3.2.2. Condicionantes regionais e locais do clima de Coimbra 47
3.3. Caracterização demográfica e social das freguesias do concelho de Coimbra 49
3.3.1. Demografia 49
3.3.2. Educação 57
3.3.3. Emprego 59
3.3.4. Habitação 61
3.3.5. Síntese 65
4. Vulnerabilidade Social 66
4.1. Enquadramento teórico 66
4.2. Vulnerabilidade social no concelho de Coimbra 67
2
4.2.1. Enquadramento teórico 67
4.2.1. Cartografia da vulnerabilidade social em Coimbra 67
5. Ondas de calor e ondas de frio em Coimbra 71
5.1. Metodologia para a determinação de ondas de calor e de ondas de frio 71
5.2. Ondas de calor 73
5.3. Ondas de frio 78
6. Estudo de caso de ondas de calor e das ondas de frio 82
6.1. Metodologia 82
6.2. Ondas de calor em Coimbra 83
6.2.1. Onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003 83
6.2.2. Ondas de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e de 4 a 11 de agosto de 2006 86
6.2.3. Onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 92
6.3. Ondas de frio em Coimbra 95
6.3.1. Onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983 95
Conclusões 99
Referências bibliográficas 101
3
Índice de figuras
Fig.1: Localização do concelho de Coimbra e respetivas freguesias. 36
Fig.2: Hipsometria do concelho de Coimbra. 37
Fig.3: Localização do IGUC no contexto da cidade de Coimbra. 38
Fig.4: Pormenor da localização do IGUC e área envolvente. 38
Fig.5: Gráfico termopluviométrico de Coimbra (IGUC) de acordo com a normal climatológica
de 1971-2000.
40
Fig.6: Evolução da temperatura mínima mensal (ºC) do mês de janeiro entre 1865 e 2013. 41
Fig.7: Evolução da temperatura mínima mensal (ºC) do mês de fevereiro entre 1865 e 2013. 41
Fig.8: Evolução da temperatura mínima mensal (ºC) do mês de dezembro entre 1865 e 2013. 42
Fig.9: Evolução da temperatura máxima mensal (ºC) do mês de junho entre 1865 e 2013. 42
Fig.10: Evolução da temperatura máxima mensal (ºC) do mês de julho entre 1865 e 2013. 42
Fig.11: Evolução da temperatura máxima mensal (ºC) do mês de agosto entre 1865 e 2013. 43
Fig.12: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 30ºC durante os
meses de junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
43
Fig.13: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 30°C durante os
meses de junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
43
Fig.14: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 32ºC durante os
meses de junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
44
Fig.15: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 32°C durante os
meses de junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
45
Fig.16: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 35ºC durante os
meses de junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
45
Fig.17: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 35°C durante os
meses de junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
45
Fig.18: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 40ºC durante os meses de junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
46
Fig.19: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 40°C durante os meses de junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
46
Fig.20: Número de dias com temperatura mínima diária igual ou inferior a 0ºC durante os
meses de janeiro, fevereiro e dezembro entre 1864 e 2013.
46
Fig.21: Número de dias com temperatura mínima diária igual ou inferior a 0ºC durante os
meses de janeiro, fevereiro e dezembro, por décadas, entre 1864 e 2013.
47
Fig.22: Densidade populacional (habitantes/km2)
nas freguesias do concelho de Coimbra em
2011.
50
Fig.23: Variação da população residente (%) nas freguesias do concelho de Coimbra entre
2001 e 2011.
50
Fig.24: Pirâmides etárias do concelho de Coimbra em 2001 e em 2011. 51
Fig.25: Pirâmides etárias da Região Centro de Portugal Continental em 2001 e em 2011. 51
Fig.26: Pirâmides etárias de Portugal em 2001 e em 2011. 52
Fig.27: Estrutura etária da população residente em Portugal por grupos etários em 1981, 1991, 2001 e em 2011.
52
Fig.28: Proporção de jovens (%) relativamente à população residente nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
53
4
Fig.29: Proporção da população residente com 65 e mais anos de idade (%) nas freguesias do
concelho de Coimbra em 2011.
53
Fig.30: Proporção da população residente com 75 e mais anos de idade (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
54
Fig.31: Índice de envelhecimento (n.º) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011. 55
Fig.32: Índice de longevidade (%) da população residente nas freguesias do concelho de
Coimbra em 2011.
56
Fig.33: Proporção de famílias clássicas unipessoais de pessoas com 65 ou mais anos de idade (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
57
Fig.34: Taxa de analfabetismo (%) da população residente nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
58
Fig.35: População com o ensino superior completo (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
58
Fig.36: Taxa de desemprego (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011. 60
Fig.37: População empregada no setor primário de atividade económica (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
60
Fig.38: Proporção de profissionais socialmente mais valorizados (%) na população residente nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
61
Fig.39: Densidade de alojamentos (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011. 62
Fig.40: Idade média dos edifícios (ano) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011. 62
Fig.41: Proporção de edifícios muito degradados (%) nas freguesias do concelho de Coimbra
em 2011.
63
Fig.42: Alojamentos familiares de residência habitual sem existência de ar condicionado (%)
nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
64
Fig.43: Alojamentos familiares de residência habitual sem existência de sistema de aquecimento (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
64
Fig.44: Vulnerabilidade da população residente nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
70
Fig.45: Evolução da distribuição de ondas de calor por décadas em Coimbra. 77
Fig.46: Número de ondas de calor e respetiva duração em Coimbra. 77
Fig.47: Evolução da distribuição de ondas de frio por décadas em Coimbra. 80
Fig.48: Número de ondas de frio e respetiva duração em Coimbra. 81
Fig.49: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 2 de agosto de
2003.
83
Fig.50: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra. 85
Fig.51: Mortalidade diária da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥ 65 anos. 86
Fig.52: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito de Coimbra.
86
Fig.53: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de Coimbra.
86
Fig.54: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 11 de julho de 2006.
87
Fig.55: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 4 de agosto de
2006.
88
Fig.56: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra. 91
5
Fig.57: Mortalidade diária da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥ 65 anos. 91
Fig.58: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito
de Coimbra.
91
Fig.59: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de
Coimbra.
92
Fig.60: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 25 de julho de
2010.
92
Fig.61: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra. 94
Fig.62: Mortalidade diária da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥ 65 anos. 94
Fig.63: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito de Coimbra.
95
Fig.64: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de
Coimbra.
95
Fig.65: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 13 de fevereiro
de 1983.
96
Fig.66: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra. 97
Fig.67: Mortalidade diária da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥65 anos. 98
Fig.68: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito
de Coimbra.
98
Fig.69: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de Coimbra.
98
6
Índice de Quadros
Quadro 1: Ranking dos riscos naturais, segundo o número de óbitos, em Portugal, entre 1900 e 2014.
27
Quadro 2: Ranking dos riscos naturais – temperaturas extremas, segundo o número de óbitos, entre 1900 e 2014.
28
Quadro 3: Ranking dos riscos naturais – temperaturas extremas, segundo a população afetada,
entre 1900 e 2014.
28
Quadro 4: Ranking dos riscos naturais – temperaturas extremas, segundo o custo económico,
entre 1900 e 2014.
28
Quadro 5: Ondas de calor identificadas pelo IPMA, desde 2003, em Portugal Continental. 29
Quadro 6: Ondas de calor “fora de época”, identificadas pelo IPMA, desde 2003, em Portugal
Continental.
30
Quadro 7: Ondas de frio identificadas pelo IPMA, desde 2003, em Portugal Continental. 30
Quadro 8: Temperatura máxima mensal (ºC) entre 1865 e 2013. 39
Quadro 9: Temperatura mínima mensal (ºC) entre 1865 e 2013. 39
Quadro 10: Indicadores usados para a análise de vulnerabilidade social. 67
Quadro 11: Ranking de cada indicador demográfico e vulnerabilidade social nas freguesias do
concelho de Coimbra em 2011.
69
Quadro 12: Anos analisados de acordo com as normais climatológicas de referência
consideradas.
72
Quadro 13: Média das temperaturas máximas mensais de junho, julho e agosto das normais
climatológicas de referência e respetivo valor considerado para determinar a existência de
ondas de calor.
73
Quadro 14: Média das temperaturas mínimas mensais de janeiro, fevereiro e dezembro das normais climatológicas de referência e respetivo valor considerado para determinar a
existência de ondas de frio.
73
Quadro 15: Ondas de calor identificadas em Coimbra e duração, média da variação e valor máximo do desvio relativamente à normal climatológica de referência.
75
Quadro 16: Distribuição das ondas de calor por décadas em Coimbra. 76
Quadro 17: Número de dias com onda de calor nos meses de junho, julho e agosto em Coimbra.
77
Quadro 18: Ondas de frio identificadas em Coimbra e respetiva duração, média da variação e
valor máximo dos desvios de temperatura mínima diária relativamente à normal climatológica de referência.
78
Quadro 19: Distribuição das ondas de frio por décadas em Coimbra. 79
Quadro 20: Número de dias com onda de frio nos meses de janeiro, fevereiro e dezembro em
Coimbra.
81
Quadro 21: Onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003 e respetivo desvio (ºC) em
relação à normal climatológica de 1981 – 2010 em Coimbra.
84
Quadro 22: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003 e
nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
85
Quadro 23: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003 e nos 6 dias consequentes no distrito de Coimbra.
85
Quadro 24: Onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e respetivo desvio (ºC) em relação à normal climatológica de 1981 – 2010 em Coimbra.
87
Quadro 25: Onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006 e respetivo desvio (ºC) em relação à
normal climatológica de 1981 – 2010 em Coimbra.
88
7
Quadro 26: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de
mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e nos 6
dias subsequentes no distrito de Coimbra.
89
Quadro 27: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
89
Quadro 28: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006 e nos 4
dias subsequentes no distrito de Coimbra.
90
Quadro 29: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006 e nos 4 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
90
Quadro 30: Onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 e respetivo desvio (ºC) em relação à
normal climatológica de 1981 – 2010 em Coimbra.
93
Quadro 31: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de
mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 e nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
93
Quadro 32: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 24 a 30 de julho
de 2010 e nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
94
Quadro 33: Onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983 e respetivo desvio (ºC) em relação à
normal climatológica de 1971 – 2000 em Coimbra.
96
Quadro 34: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de
mortalidade e número de óbitos, durante a onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983 e nos 6
dias subsequentes no distrito de Coimbra.
97
Quadro 35: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de frio de 8 a 16 de fevereiro
de 1983 e nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
97
8
Resumo
Ondas de calor e ondas de frio em Coimbra – impactes na mortalidade da população
A temperatura do ar é dos elementos climáticos que mais condiciona as atividades humanas e
os processos biológicos, ao nível do conforto e da saúde. A exposição a ondas de calor e a ondas de
frio apresenta impactes na saúde e origina aumentos de mortalidade, dependendo da vulnerabilidade
das populações expostas, bem como da duração, intensidade e frequência destes paroxismos térmicos.
Assim, atendendo às consequências das ondas de calor e das ondas de frio na morbilidade, mortalidade
e atividades humanas, o estudo sobre a sua ocorrência, especialmente numa série temporal longa
revela-se importante. Não se pode evitar a sua ocorrência, contudo pode-se reduzir a vulnerabilidade
humana, de maneira a reduzir os seus impactes.
Quanto à metodologia, primeiro consultou-se bibliografia sobre a temática de ondas de frio,
ondas de calor e temperaturas extremas, assim como sobre a sua relação com a saúde humana,
particularmente ao nível da morbilidade e da mortalidade humanas, e da vulnerabilidade social,
partindo de literatura publicada no estrangeiro e em Portugal. Os dados sobre temperaturas extremas
foram obtidos no IGUC e foram tratados através de software Excel. A cartografia sobre os diferentes
elementos de vulnerabilidade foi elaborada com recurso ao software ArcGIS 10.1. Os dados das ondas
de calor e de frio foram cruzados com dados de mortalidade segundo a causa de morte,
especificamente cedidos pelo INE para os dias em causa. Caracterizou-se a área de estudo, o concelho
e a cidade de Coimbra, do ponto de vista administrativo, demográfico, socioeconómico, habitacional e
de emprego da população residente e cartografou-se a vulnerabilidade social das freguesias do
concelho. Contabilizou-se a ocorrência de ondas de calor e de ondas de frio na cidade de Coimbra,
caracterizando a duração, frequência e intensidade e estabelecendo-se a análise da evolução das
ocorrências por meses e por décadas. Entre 1865 e 2013, em Coimbra, ocorreram 41 ondas de calor e
9 ondas de frio. Procedeu-se a uma breve caracterização sinótica das ondas de calor de 29 de julho a 3
de agosto de 2003, 11 a 17 de julho de 2006, 4 a 11 de agosto de 2006 e 24 a 30 de julho de 2010 e da
onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983 e contabilizaram-se os óbitos ocorridos no distrito de
Coimbra, durante aqueles paroxismos térmicos, de acordo com a Classificação Internacional das
Doenças.
Durante as ondas de calor verificou-se excesso de mortalidade, aumentando no 3º dia após o
início e prolongando-se nos dias subsequentes, sendo maior nas mulheres e nos idosos, nas doenças
circulatórias e respiratórias. No caso da onda de frio, verificou-se excesso de mortalidade, aumentando
no 7º dia após o início e prolongando-se nos dias subsequentes, sendo maior nos idosos, nas mulheres
e nas doenças circulatórias e isquémica do coração.
Palavras-chave: ondas de calor, ondas de frio, vulnerabilidade, mortalidade, Coimbra.
9
Abstract
Heat waves and cold waves in Coimbra – impacts on mortality of population
Air temperature is the climatic element that most affects human activities, biological
processes, comfort level and health. Exposure to heat and cold waves results in health impacts and the
overall increment of mortality rates, albeit dependent on the vulnerability of exposed populations, as
well as the duration, the intensity and the frequency of these thermal paroxysms. Thus, given the
consequences of heat waves and of cold waves on morbidity, mortality and human activities, the study
of its occurrence, especially in a longer time series is paramount. While their occurrence cannot be
prevented, it is possible reduce human vulnerability and to reduce their impacts.
Regarding the methodology, firstly explores the available literature, both from Portugal and
abroad, on the subject of cold waves, heat waves and of extreme temperatures as well as their relation
to human health, particularly in terms of human morbidity, mortality and social vulnerability. The
extreme temperature data are from IGUC and were treated by Excel software. The mapping on the
different elements of vulnerability was developed using the software ArcGIS 10.1. Heat and cold
waves data were crossed with mortality data by cause of death, specifically ceded by INE for the days
in question. The study area, the municipality and the city of Coimbra, were characterized from the
following viewpoints: administrative, demographic, socioeconomic, housing and employment of the
resident population and was subsequently mapped according to the social vulnerability of the
municipality’s parishes. The occurrence of heat waves and cold waves in the city of Coimbra was
ascertained as the duration, the frequency and the intensity and the analysis of the evolution of the
events for months and for decades. In Coimbra city, between 1865 and 2013, 41 heat waves and 9 cold
waves took place. The heat waves of the 29th
of July to the 3rd
of August 2003, 11th to the 17
th July of
2006, 4th to 11
th August of 2006 and 24
th to 30
th July of 2010 and the cold wave of 8
th to 16
th February
of 1983 were synoptically characterized and the deaths that occurred in the district of Coimbra, during
those thermal paroxysms, were accounted for according to the International Classification of Diseases.
During heat waves the increment of mortality rates increased as of the 3rd
day after the start of
this paroxysm and continues during the subsequent days. There is a greater effect on women and the
elderly, particularly those with circulatory and respiratory diseases. In the case of cold wave, it was
found that an increment of mortality rates as of 7th day after the start of the event and continuing in the
subsequent days, having a greater incidence in the elderly, in the women and in the circulatory and
ischemic heart diseases.
Key words: heat waves, cold waves, vulnerability, mortality, Coimbra.
10
Introdução: importância do tema, objetivos e plano de trabalho
As ondas de calor e as ondas de frio são fenómenos climáticos que apresentam impactes
económicos e sociais, assim como consequências na saúde humana, originando aumentos de
mortalidade, sendo importante reduzir a vulnerabilidade face a estes paroxismos térmicos. Este
trabalho revela-se importante, visto que não foi realizado nenhum anteriormente abarcando uma série,
de dados de temperatura disponíveis, tão longa para Coimbra, constituindo um tema importante de
análise geográfica, com relevância para o ordenamento e planeamento do território.
São objetivos desta dissertação: contabilizar a ocorrência de ondas de calor e de ondas de frio
em Coimbra, utilizando os dados da estação meteorológica do Instituto Geofísico da Universidade de
Coimbra (IGUC) entre 18641 e 2013; caracterizar a duração, frequência e intensidade das ondas de
calor e das ondas de frio e averiguar variações ao longo do período em estudo, estabelecendo-se a
análise da evolução das ocorrências por meses e por décadas; averiguar relações entre a ocorrência,
duração e intensidade destes paroxismos térmicos com o número de óbitos no distrito de Coimbra2 e
apresentar as principais conclusões.
Quanto ao plano de trabalho é composto por 6 capítulos.
No primeiro capítulo, apresenta-se o estado da arte de bibliografia publicada no estrangeiro e
em Portugal, sobre a importância dos estudos sobre temperaturas extremas e mortalidade,
especialmente estudos sobre ondas de calor e ondas de frio e impactes na mortalidade, assim como
estudos sobre mudanças climáticas e importância para a compreensão de extremos térmicos.
O segundo capítulo inicia-se com o enquadramento teórico sobre ondas de calor e ondas de
frio, apresenta-se a definição de onda de calor e de onda de frio adotada nesta dissertação, mostrando-
se a importância dos estudos sobre o risco de ondas de calor e de ondas de frio, exibindo-se algumas
ocorrências destes paroxismos térmicos em Portugal identificados pelo Instituto Português do Mar e
da Atmosfera (IPMA), destacando os planos de prevenção que têm vindo a ser desenvolvidos face ao
frio e ao calor em Portugal e mencionando a sua importância.
No terceiro capítulo procede-se à localização e caracterização da área de estudo, o concelho e
a cidade de Coimbra, do ponto de vista administrativo, demográfico, socioeconómico, habitacional e
de emprego da população residente.
No quarto capítulo, inicia-se o enquadramento teórico sobre a vulnerabilidade social,
apresentando-se o caso de estudo do concelho de Coimbra.
No quinto capítulo, apresenta-se a metodologia considerada para determinar a existência de
ondas de calor e ondas de frio em Coimbra e exibem-se os principais resultados, caracterizando a
ocorrência, duração e intensidade.
1 Para o ano de 1864, só foi analisado o mês de dezembro porque só existem observações meteorológicas desde
setembro. 2 Inicialmente, o objetivo consistia em averiguar o excesso de mortalidade nas freguesias do concelho de
Coimbra, contudo devido ao segredo estatístico dos dados de mortalidade diária, teve de analisar-se para o caso
do distrito de Coimbra.
11
No sexto capítulo procede-se a uma breve caracterização sinótica e contabilização dos óbitos
ocorridos no distrito de Coimbra, de acordo com a Classificação Internacional das Doenças (CID) 9 e
10 das ondas de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003, 11 a 17 de julho de 2006, 4 a 11 de agosto
de 2006 e 24 a 30 de julho de 2010 e da onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983.
Quanto à conclusão, reuniram-se os principais resultados desta dissertação, salientando os
aspetos inovadores e as limitações provenientes desta investigação.
12
1. Estado da arte
1.1. Importância dos estudos de mortalidade relacionada com temperaturas extremas
A mortalidade é considerada um indicador de saúde da população, assim como das condições
de vida (DÍAZ et al., 2002a). Existem outros indicadores definidos pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) para avaliar o estado de saúde/morbilidade da população: esperança média de vida e
taxas de mortalidade específica de doenças crónica e infeciosas. Contudo os indicadores de
mortalidade são frequentemente utilizados para avaliar o estado de saúde da população
(GUERREIRO, 2011: 10).
A relação entre temperatura e mortalidade pode ser analisada diária ou sazonalmente. As
variações na mortalidade dependem da idade e da causa do óbito (BALLESTER et al., 1997: 551).
Temperaturas extremas estão associadas a aumentos de mortalidade diária (RAMÓN et al.,
2006: 1331), quer sejam, episódios de calor ou de frio extremos (CURRIERO et al., 2002). Assim, o
aumento da morbilidade e da mortalidade está relacionado com a ocorrência de paroxismos térmicos,
ondas de calor e ondas de frio.
A relação entre clima e saúde está documentada já na Antiguidade Clássica, no século IV a.C,
no trabalho Dos ares, águas e lugares de Hipócrates. Apesar do conhecimento da influência do clima
na saúde, nomeadamente na mortalidade sazonal, prestou-se mais atenção a este fenómeno a partir da
década de 1960, quando na Grã-Bretanha começaram a surgir estudos sobre mortalidade e admissões
hospitalares por hipotermia (PINHEIRO, 1990: 62). Em Portugal, ALCOFORADO et al. (1999)
narram a preocupação de Marino Miguel Franzini no estudo das causas da variação sazonal da
mortalidade em Lisboa no século XIX.
A associação entre clima e/ou fenómenos meteorológicos extremos, como é o caso das ondas
de calor e das ondas de frio e saúde humana está patente na Bioclimatologia Humana/
Biometeorologia Humana, considerando a influência dos elementos climáticos (neste caso, a
temperatura do ar) no conforto, saúde, morbilidade e mortalidade humanas. Exemplos deste tipo de
trabalhos encontram-se, entre outros, em MATZARAKIS e MAYER (1991), que apresentam a
importância da Biometeorologia no estudo da onda de calor de julho de 1987 em Atenas e em
ALEIXO et al. (2013).
Referem-se mais alguns estudos, a título de exemplificação da importância do tema:
HUYNEN et al. (2001) examinam o impacte de ondas de calor e de frio na mortalidade na Holanda,
entre 1979 e 1997. ALBERTI et al. (1998) estudam a mortalidade diária em Madrid entre 1986 e
1992. REVICH e SHAPOSHNIKOV (2008) indicam o excesso de mortalidade3 em Moscovo, durante
ondas de calor e ondas de frio. HARE et al. (1981) investigam a mortalidade sazonal de crianças e a
relação com a temperatura em Inglaterra e País de Gales. BACCINI et al. (2008) relacionam calor e
3 O excesso de mortalidade consiste na diferença entre a taxa de mortalidade/número de óbitos que se verificam
durante ondas de calor ou ondas de frio pela comparação com a taxa de mortalidade/número de óbitos registados
durante período(s) homólogo(s) sem o registo de ondas de calor ou de ondas de frio.
13
mortalidade. BARNETT et al. (2012) apresentam a ocorrência de ondas de calor e ondas de frio e
mortalidade nos EUA, entre 1987 e 2000. ÅSTRÖM et al. (2011) relatam impactes das ondas de calor
na morbilidade e mortalidade na população idosa. HALES et al. (2003) estudam os impactes na saúde
de extremos climáticos. BASU e SAMET (2002) apresentam um estado da arte da associação entre
temperatura e mortalidade.
Quanto a Portugal, ALCOFORADO et al. (2013: 1) referem a alteração do ritmo sazonal de
mortalidade em Lisboa, mencionando que o máximo de mortalidade, entre 1837 e 1848, ocorria no
verão e devia-se “segundo Franzini, ao facto das classes menos abastadas sofrerem de doenças
gástricas e intestinais por consumirem fruta e legumes deteriorados pelo calor”, enquanto no século
XX o pico de mortalidade ocorre no inverno, ainda que com um segundo pico de mortalidade no
verão.
Em Portugal Continental, MARQUES e ANTUNES (2009: 56) indicam que os máximos
valores de mortalidade ocorrem durante temperaturas mais baixas, enquanto o segundo pico de
mortalidade se verifica em temperaturas mais elevadas, ou seja, durante o verão. No caso do verão, a
mortalidade é influenciada pela temperatura diurna e pela temperatura noturna. O registo das
temperaturas mínima, média e máxima acima da média tende a originar mortalidade acima do
esperado (ob. cit.: 57). Os autores indicam que o número de óbitos é baixo em ótimos térmicos:
temperaturas máximas (18-29ºC), com o extremo térmico nos 23ºC; temperaturas médias (15-23ºC),
com o extremo térmico nos 19ºC e temperaturas mínimas (10-16ºC) com o extremo térmico nos 13ºC;
salienta-se que o facto do ótimo térmico ser maior nas temperaturas máximas do que nas temperaturas
mínima e média “pode evidenciar uma melhor adaptação da população à variação da temperatura
máxima do que à variação das restantes temperaturas” (ob. cit.: 56).
Apontam-se, ainda, os estudos de CARVALHO (2008) sobre o efeito da exposição às
temperaturas extremas na população portuguesa e RIBEIRO (2008) ao relacionar as temperaturas
extremas com a mortalidade na região de Entre Douro e Minho.
1.2. Ondas de calor e mortalidade
O estudo sobre temperaturas extremas de calor e de ondas de calor, no que respeita à
ocorrência, duração e intensidade tem vindo a ser desenvolvido por múltiplos investigadores, nas mais
diversas áreas geográficas, ganhando destaque com os cenários de mudança climática e com o objetivo
de diminuir a vulnerabilidade humana face a esses extremos térmicos.
Inicia-se a apresentação sobre o estado da arte de bibliografia publicada no estrangeiro e,
posteriormente, em Portugal.
KUGLITSCH et al. (2010) estudam ondas de calor na região oriental do Mediterrâneo
(Albânia, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Croácia, Chipre, Grécia, Israel, Roménia, Sérvia, Eslovênia e
Turquia) desde 1960 e relatam que o número, a duração e a intensidade das ondas de calor têm
14
aumentado significativamente. BALDI et al. (2006) também examinam a ocorrência de ondas de calor
na Região Mediterrânea. No caso de Itália, por exemplo, a mortalidade durante a onda de calor de
2003 é estudada por CONTI et al. (2004). DÍAZ et al. (2006a) mostram impactes da onda de calor de
2003 na Península Ibérica. Referentemente a Espanha menciona-se IZQUIERDO et al. (2012) ao
apresentar a evolução temporal das ondas de calor na meseta central espanhola; CULQUI et al. (2013)
ao averiguarem ondas de calor e mortalidade na cidade de Madrid; GARCÍA-HERRERA et al. (2010)
e NAVARRO et al. (2004) ao estudarem a onda de calor de 2003.
Relativamente aos EUA, ROBINSON (2001: 762) refere que as ondas de calor são o risco
climático que provoca maior mortalidade. WHITMAN et al. (1997) estudam a onda de calor de julho
de 1995 em Chicago, indicando um excesso de 696 óbitos. KAISER et al. (2007) apresentam os
efeitos da onda de calor de julho de 1995 em Chicago, na mortalidade. NAUGHTON et al. (2002)
examinam a onda de calor de 1999 nessa cidade.
Mencionam-se, ainda, os trabalhos de WHO (2004, 2007, 2009), MATTHIES et al. (2008) e
de KOVATS e HAHAT (2007) sobre os efeitos na saúde pública das ondas de calor. AKOMPAB et
al. (2013) investigam as atitudes das populações face a episódios de ondas de calor.
Durante ondas de calor, a poluição do ar pode aumentar e contribuir para o incremento do
excesso de óbitos (HAINES et al., 2006a: 2103). FISCHER et al. (2004) mencionam que a poluição
do ar, no caso durante o verão de 2003, contribuiu para o excesso de óbitos, nomeadamente a níveis
elevados de concentração de ozono na Holanda. LACOUR et al. (2006) relacionam a presença de
ozono e a temperatura do ar durante a onda de calor de 2003 em França, FILLEUL et al. (2006) em 9
cidades francesas e PELLEGRINI et al. (2007) no caso de Itália (Toscânia).
Quanto à mortalidade registada durante ondas de calor em áreas rurais e urbanas, GABRIEL e
ENDLICHER (2011: 2044) comparam a mortalidade verificada na área urbana de Berlim e a
observada na área rural de Brandenburg entre 1990 e 2006 durante ondas de calor, concluindo que a
mortalidade é mais elevada na cidade de Berlim, em particular nas áreas mais densamente
urbanizadas.
No caso das ondas de calor, quando ocorre mais do que uma num mesmo ano, por vezes o
excesso de óbitos é mais elevado na primeira onda de calor do que na seguinte, apesar da possibilidade
de ser mais intensa, em virtude da população mais vulnerável ter falecido durante a primeira onda de
calor e ao estabelecimento de comportamentos de adaptação/aclimatização (RIBEIRO, 2008: 15,
citando KALKSTEIN e VALIMONT, 1987), não esquecendo, porém, a importância dos planos de
prevenção e de contingência, bem como o papel da comunicação social ao alertar as populações.
DÍAZ et al. (2002: 163) referem que a existência de uma primeira onda de calor origina maiores
efeitos sobre a mortalidade devido ao maior número de pessoas vulneráveis e da respetiva duração da
onda de calor (quanto maior, maiores efeitos na mortalidade), especialmente se associada a baixa
humidade relativa do ar e à elevada concentração de ozono no ar. Por outro lado, em contraste com o
excesso de óbitos verificado durante uma onda de calor, ocorre um défice de mortalidade nas semanas
15
seguintes (RIBEIRO, 2008: 15, citando HUYNEN et al. 2001) devido à mortalidade da população
mais vulnerável. GEMMELL et al. (2000) analisam a mortalidade sazonal na Escócia, verificando que
um aumento de 1ºC na temperatura média corresponde a um aumento de 1% nos óbitos, uma semana
depois.
MICHELOZZI et al. (2005) e SCHIFANO et al. (2012) mencionam a importância dos
programas de saúde pública para a redução do impacte das ondas de calor na mortalidade, no caso de
Itália. MICHELOZZI et al. (2010) referem que a vigilância da mortalidade ocorrida durante o verão é
importante para reduzir o impacte das ondas de calor. Ou, por exemplo, no caso do Canadá
(SMOYER-TOMIC e RAINHAM, 2001). LINARES, C. e DÍAZ, J. (2007: 317) indicam que o
principal objetivo de um plano de prevenção de ondas de calor é evitar óbitos, enquadrando-se numa
visão de saúde pública (KOVATS e EBI, 2006). Por outro lado, é importante monitorizar o excesso de
mortalidade, existindo sistemas em: Bélgica, Alemanha, França (dois sistemas), Itália (dois sistemas),
Portugal, Espanha e Suíça (KANIEFF et al., 2010). O projeto EuroHEAT (Improving Public Health
Responses to extreme weather/heat waves) envolve nove cidades europeias (Atenas, Barcelona,
Budapeste, Londres, Milão, Munique, Paris, Roma, Valência) (D’IPPOLITI et al., 2010).
Constituem grupos mais vulneráveis face às ondas de calor: bebés, doentes acamados,
indivíduos obesos, pessoas com problemas renais e doenças cardiovasculares crónicas,
comportamentos de risco (exposição prolongada ao sol e ingestão excessiva de álcool;
AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO CIVIL4), pessoas com atividade ao ar livre, pessoas
em estado terminal (HUTTER et al. 2007), idosos (SCHIFANO et al., 2009), (HAINES et al., 2006a e
b), turistas, sem abrigo, população com escassos recursos económicos, pessoas socialmente isoladas
(DGS, 2011). CANÁRIO et al., (2010 citando HAVENITH, 2005) indicam que as mulheres são mais
sensíveis ao calor devido a fatores hormonais e mencionam que a percentagem de gordura corporal é
um fator importante na sensibilidade à temperatura, assim como a doença psiquiátrica, alcoolismo,
falta de autonomia física ou psíquica, uso de medicamentos que interfiram com a regulação da
temperatura corporal, população cujas habitações apresentam ausência de ar condicionado e população
urbana (MARTO, 2005: 469).
Quanto aos impactes da temperatura na saúde, destacam-se: golpe de calor, esgotamento
devido ao calor, queimaduras, cãibras, desmaios, exaustão, distúrbios do sono, enregelamento,
hipotermia, agravamento de doenças respiratórias e cardíacas, perda de sensibilidade e lesões
(MARTO, 2005; ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DE LISBOA E VALE DO TEJO,
2012). Por outro lado, as ondas de calor apresentam também impactes indiretos no turismo, na
existência de secas, na manutenção de temperaturas favoráveis a maior risco de incêndio florestal. Por
exemplo, no mês de agosto de 2003, registaram-se 280 550 ha de área ardida em Portugal (RAMOS,
4 http://www.proteccaocivil.pt/RiscosVulnerabilidades/RiscosNaturais/OndasCalor/Pages/GruposdeRisco.aspx
(acesso em 19/08/2014).
16
s/d: 1), impactes económicos e maiores gastos de energia devido ao desconforto térmico, na
agricultura e pecuária.
Relativamente aos impactes de temperaturas elevadas na saúde, nomeadamente sobre os
idosos, a mortalidade de pessoas entre os 65 e os 74 anos relacionada com o calor ocorre com
temperaturas mais elevadas em regiões mais quentes do que em regiões mais frias da Europa
(KEATING et al., 2000: 671). HUTTER et al. (2007) pesquisam efeitos na mortalidade de ondas de
calor em Viena (Áustria), visualizando um excesso significativo de óbitos na população com mais de
65 anos de idade. BARRIOPEDRO et al. (2011) analisam o verão quente de 2010 na Europa.
BACCINI et al. (2008) apresentaram relações entre a temperatura máxima diária e a mortalidade
diária em 15 cidades europeias, existindo fortes associações entre calor e mortalidade por causas
respiratórias e nos idosos. Durante ondas de calor, o excesso de mortalidade está associado a doenças
cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias (ISHIGAMI et al., 2008), concentrando-se,
sobretudo, nos idosos (HAINES et al. 2006a: 2103 e HAINES et al. 2006b: 588). Um outro estudo de
DÍAZ et al. (2002b: 163) sobre o efeito das ondas de calor, entre 1986 e 1997, em Madrid, na
população idosa revela que a mortalidade pode aumentar até 28,4% para cada grau que a temperatura
sobe acima de 36,5ºC, especialmente nas mulheres com idade superior a 65 anos de idade e nas
doenças do sistema circulatório. No caso do impacte de ondas de calor em França, entre 1971 e 2003,
verificou-se mortalidade elevada em pessoas com mais de 55 anos de idade, sendo maior no sexo
feminino do que no sexo masculino em pessoas com mais de 75 anos de idade (REY et al., 2007: 615).
Em Sevilha, entre 1986 e 1997, DÍAZ et al. (2002a: 145) mencionam que a mortalidade por todas as
causas de morte aumenta 51% sobre a média, em pessoas com mais de 75 anos de idade, por cada grau
superior a 41ºC; sendo o efeito mais evidente nas doenças cardiovasculares do que nas doenças
respiratórias e, maior nas mulheres do que nos homens. Relativamente a Londres, durante tempo
quente e ondas de calor, verificou-se um aumento das emergências por doenças respiratórias e renais,
crianças com menos de 5 anos de idade e doenças respiratórias em população com mais de 75 anos de
idade; tendo ocorrido um aumento de 3,3% em todas as causas de mortalidade por cada aumento de
1ºC na temperatura acima de 21,5ºC (KOVATS et al., 2004: 893 e 895).
Díaz et al. (2002a: 148) indicam que em Sevilha, o incremento de 1ºC acima de 41ºC, resulta
no aumento da mortalidade em todas as causas de óbito, mencionando que este limiar de temperatura é
superior ao verificado na Bélgica (27,5ºC) (Díaz et al., 2002a: 148, citando SARTOR et al., 1995), em
Madrid (36,5ºC) (Díaz et al., 2002a: 148, citando DÍAZ et al., 2001), no Japão (38ºC) (Díaz et al.,
2002a: 148, citando NAKAI et al., 1999), em Chicago (37,8ºC) (Díaz et al., 2002a: 148, citando
WHITMAN et al., 1997), concluindo que o efeito de aclimatização é importante nesta cidade
espanhola.
GARCÍA-HERRERA et al. (2005) investigam as condições sinóticas associadas às
temperaturas extremas durante o verão, entre 1986 e 1997, e respetivos impactes na saúde,
nomeadamente os efeitos na mortalidade diária em Lisboa e Madrid. Afirmam que a mortalidade,
17
durante ondas de calor, ocorre com maior significância, de 1 a 3 dias depois do limiar de temperatura
ter sido ultrapassado (ou seja, durante um curto período de tempo) e mencionam que as mulheres são
mais suscetíveis do que os homens aos efeitos do calor, assim como pessoas com mais de 65 anos de
idade.
TAMERIUS et al. (2007: 609) afirmam que o melhor modelo para estimar os efeitos do calor
extremo na saúde humana, é comparar a mortalidade ocorrida durante os períodos de calor extremo
com a mortalidade ocorrida durante períodos sem extremos térmicos, ou seja, os óbitos esperados.
Durante a onda de calor de agosto de 2003 (GARCÍA-HERRERA et al., 2010) em França, o maior
excesso de mortalidade foi verificado em casa (+5 130 óbitos) e foi maior em solteiros e divorciados
do que em casados, em causas diretamente relacionadas com o calor (+3 306 óbitos) e doenças
circulatórias (+3 004 mortes); por outro lado, a maior mortalidade foi verificada na região de Paris
(+1425 óbitos), ocorrendo quase um excesso de 15 000 óbitos neste país, entre 1 e 20 de agosto
(FOUILLET et al., 2006). FOUILLET et al. (2008: 309) menciona que na onda de calor de 11 a 28 de
julho de 2006 em França ocorreram 2065 óbitos em excesso. Ainda no caso de França, REY et al.
(2007), estudam a ocorrência de ondas de calor e mortalidade entre 1971 e 2003.
Nos EUA, RAMÓN et al. (2006: 1334) indicam que os indivíduos de raça negra, idosos e
diabéticos são mais vulneráveis ao calor extremo, enquanto o número de óbitos por doenças
cardiovasculares é maior durante períodos de frio extremo. DAVIS et al. (2003: 1712) referem que a
mortalidade associada a riscos climáticos nos EUA é maior quando ocorrem períodos de calor, no
entanto apontam que a redução da vulnerabilidade da população metropolitana relativamente a calor
elevado, poderá estar associada ao uso de ar condicionado. KNOWLTON et al. (2009: 61) relatam os
impactes nas hospitalizações e emergências durante a onda de calor de 15 de julho a 1 de agosto de
2006 na Califórnia, sendo as crianças (0 a 4 anos de idade) e os idosos (idade igual ou superior a 65
anos) os grupos mais afetados; a maior morbilidade esteve associada às seguintes doenças:
insuficiência renal, cardiovasculares, diabetes e distúrbio eletrolítico.
BUSTINZA et al. (2013) indicam que durante a onda de calor de julho de 2010 no Québec, no
Canadá, a mortalidade aumentou 33% (cerca de 280 óbitos em excesso) e as emergências 4%. GUEST
et al. (1999) assinalam os efeitos da temperatura na mortalidade em Austrália entre 1979 e 1990 e a
previsão de impactes nas cinco maiores cidades em 2030.
Em Portugal, mencionam-se os estudos de PAIXÃO e NOGUEIRA (2003), NOGUEIRA et
al. (2005a e b), NOGUEIRA et al. (2013). ALMEIDA et al. (2010) analisam a mortalidade diária em
Lisboa e Porto, de abril a setembro, entre 2000 e 2004, tendo sido as causas de mortalidade divididas
em dois grupos: para todas as idades e outro para idade superior a 65 anos. ANDRADE et al. (2013)
indica efeitos do calor e MARTO (2005) aponta impactes das ondas de calor sobre a saúde. DESSAI
(2002) estuda a mortalidade ocorrida em Lisboa nos meses de junho a agosto, entre 1980 e 1998 e,
considerando cenários de mudança climática e de projeções demográficas, prevê impactes na saúde e
18
mortalidade em Lisboa nas décadas de 2020 e 2050. MORAIS (2011) busca o impacte de temperaturas
elevadas na distribuição espacial da mortalidade em Lisboa.
No que se refere às ondas de calor mais duradouras e intensas, em Portugal, durante a onda de
calor de 12 a 18 de junho de 1981, registou-se um excesso de cerca de 1906 óbitos (PAIXAO e
NOGUEIRA, 2003: 43, citando GARCIA et al., 1999), sendo que a mortalidade por doenças
cerebrovasculares foi 2,2 vezes superior ao esperado (FALCÃO e VALENTE, 1997: 537).
Mencionam-se os trabalhos de FREITAS (2011) e FALCÃO et al. (1988) ao estudarem esta onda de
calor.
A duração da onda de calor de 1991 (8 a 22 de julho) foi maior do que da onda de calor de
1981, contudo o excesso de óbitos foi maior durante a onda de calor de 1981. De 12 a 21 de julho de
1991, em Portugal, ocorreram 1002 óbitos em excesso relacionados com o calor (PAIXÃO e
NOGUEIRA, 2003: 41). Por outro lado, segundo os autores, ocorreu um excesso de mortalidade maior
no sexo feminino do que no sexo masculino; o maior excesso de óbitos verificou-se no grupo das
doenças do aparelho circulatório (472,3 óbitos) tendo sido mais significativo a partir dos 65 anos de
idade.
O verão de 2003 foi excecionalmente quente, especialmente na Europa Ocidental, com alguns
recordes de temperatura máxima diária: 38,1ºC na Grã-Bretanha, 40,2ºC na Alemanha, 41,5ºC na
Suíça e 47,5ºC em Portugal (DÍAZ, et al. 2005: 159, TRIGO et al. 2009: 845). O verão de 2003 foi
considerado o mais quente, registado na Europa, desde o século XVI (TRIGO et al. 2009: 845, citando
LUTERBACHER et al., 2004). ROBINE et al. (2008: 171) indica que ocorreu um excesso de óbitos
de 70 000 pessoas, durante o verão de 2003, na Europa. A título de exemplo, em Inglaterra e País de
Gales (todavia não especificando o intervalo de dias analisado) registaram-se 2045 óbitos em excesso,
em França (de 1 a 20 de agosto) 14802 óbitos em excesso, em Itália (de 1 de junho a 15 de agosto)
3134 óbitos em excesso (NOGUEIRA et al., 2005 a, citando KOVATS et al., 2004), em Espanha
(porém não especificando o intervalo de dias analisado) 6112 óbitos em excesso (DÍAZ et al., 2005,
citando MARTINEZ et al., 2004 e http://www.ine.es), na Holanda (junho a setembro) 1400 a 2200
óbitos em excesso e na Suíça (julho a setembro) 975 óbitos em excesso (FOUILLET et al., 2006,
citando GRIZE et al., 2005).
De acordo com o IPMA, a onda de calor de 29 de julho a 15 de agosto de 2003 apresentou a
maior duração registada desde 1941, mas teve uma extensão espacial inferior à de 1981, visto que não
ocorreu em regiões do litoral ocidental e no sotavento algarvio. Durante a onda de calor de 2003, em
Portugal, ocorreram 3 picos de mortalidade, no mês de agosto, no dia 2 (418 óbitos), no dia 8 (464
óbitos) e no dia 3 (439 óbitos) (BOTELHO et al., 2004: 4) e o excesso de óbitos foi maior na
população com mais de 75 anos de idade, tendo sido as doenças do aparelho circulatório que
apresentaram o maior número de mortes. NOGUEIRA et al. (2005a: 4) referem que durante esta onda
de calor, registou-se um excesso de 1953 óbitos, ocorreram 636 óbitos em excesso no sexo masculino
e 1317 no sexo feminino, em Portugal. No que respeita aos internamentos hospitalares, ocorreu um
19
excesso de 5% e no caso da população com 75 ou mais anos, o excesso foi de 14%, sendo que a
patologia com maiores admissões correspondeu às doenças do aparelho respiratório (43,4%)
(NOGUEIRA et al., 2009). Os efeitos desta onda de calor, sobre a mortalidade, em Portugal estão
documentados em CALADO et al. (2004) e BOTELHO et al. (2004); atendendo à sua duração,
intensidade e consequências na saúde, morbilidade e mortalidade, NOGUEIRA et al. (2005a)
investigam, através da amostra ECOS, os comportamentos dos portugueses durante as épocas das
ondas de calor, em particular, da onda de calor de 2003, bem como a origem da informação obtida
pela população sobre essa onda de calor e a mudança de comportamentos associada à obtenção dessa
informação. No caso do concelho de Coimbra, NOGUEIRA e MATEUS (2013) estudam a relação
entre a temperatura e o risco de morte analisando a mortalidade diária no concelho de Coimbra durante
o verão de 2003 com o objetivo de verificar a existência de associações estatísticas, através de
modelos de regressão polinomial de segunda ordem, entre os valores de temperatura e mortalidade por
causas específicas, segundo a classificação CID 10, por sexo.
Relativamente à onda de calor de 2006, ocorreu um excesso de óbitos de 898 pessoas (entre 10
a 27 de julho), sendo o excesso maior em pessoas com 75 ou mais anos de idade (PAIXÃO et al.,
2006), contudo segundo DGS (2013a) o excesso de óbitos foi de 1123 (não especificando o intervalo
de dias analisado).
Quanto ao calor verificado entre 23 de junho a 14 de julho de 2013 observou-se um excesso de
1684 óbitos (DGS, 2013: 17), sendo o excesso de mortalidade mais elevado nas mulheres (45%) do
que nos homens (21%) (ob. cit.: 19), em termos de significância estatística, foi observado excesso de
mortalidade de população com mais de 75 anos de idade (ob. cit: 21). Durante esta onda de calor, em
Portugal, verificou-se um acréscimo do número de chamadas para o “Saúde 24”, ocorrências
registadas pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e procura de cuidados médicos em
serviços de urgência (ob. cit., 2013). O IPMA considerou a onda de calor de julho de 2013, quer pela
sua extensão espacial e temporal, a par com a onda de calor de 2006, a mais significativa observada no
mês de julho desde 1941 (IPMA, 2013a).
Menciona-se, ainda, a título de exemplo, os estudos de CUNHA e LEAL (2013) que
examinaram a perigosidade, vulnerabilidade e risco de ondas de calor e de ondas de frio no concelho
de Torres Novas e MONTEIRO et al. (2013) ao analisar efeitos do calor de julho de 2006 no Porto.
1.3. Ondas de frio e mortalidade
O frio e as ondas de frio têm como consequências ao nível económico, social e de saúde
pública: maior mortalidade por doença isquémica cardíaca e doenças cerebrovasculares, aumento de
doenças respiratórias, gripe, pneumonia, hipotermia, possíveis incêndios em habitações (em virtude
dos sistemas de aquecimento para fazer face às temperaturas mais baixas), mortes e/ou intoxicações
por inalação de monóxido de carbono (quando não ocorre uma correta ventilação nas habitações),
20
maior consumo de energia, diminuição da acessibilidade e transportes, acidentes rodoviários em
virtude da existência de gelo, de neve e de nevoeiro, destruição de culturas hortícolas, aumento da
morbilidade, de internamentos hospitalares e de mortalidade (ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE
SAÚDE DE LISBOA E VALE DO TEJO, 2012 e 2013; CUNHA, 2012; CUNHA e LEAL, 2013).
Relativamente à revisão bibliográfica, primeiro, indicam-se alguns estudos realizados a nível
internacional e, posteriormente, em Portugal.
De acordo com MONTERO et al. (2010: 5768) os efeitos da temperatura na mortalidade são
caracterizados pela sazonalidade, sendo a mortalidade maior durante os meses de inverno. HEALY
(2003) estuda o excesso de mortalidade durante o inverno na Europa, entre 1988 e 1997, concluindo
que Portugal apresenta a taxa mais elevada de mortalidade (28%), seguido de Espanha e da Irlanda
(21%), por oposição, Finlândia (10%), Alemanha e Holanda (10%) apresentam as menores taxas de
mortalidade. O autor apelida de “paradoxo do excesso de mortalidade” quando as maiores taxas de
mortalidade ocorrem em países com invernos mais amenos, como é o caso de Portugal, devido à baixa
eficiência térmica das habitações. Os maiores valores de eficiência térmica foram encontrados na
Suécia, Noruega e Finlândia. Por outro lado, foram averiguadas relações significativas entre a
macroeconomia e as taxas de mortalidade durante o inverno; quanto mais forte é a macroeconomia de
um estado, menor é o excesso de mortalidade. Relativamente ao excesso de mortalidade e fatores
socioeconómicos nas áreas com maior pobreza e desigualdade (Grécia, Irlanda e Portugal), foram
identificados maiores excessos de mortalidade. Segundo THE EUROWINTER GROUP (1997) a
mortalidade aumenta quando a temperatura diminui em áreas geográficas nas quais os invernos são
mais amenos, assim como em populações com casas mais frias e, entre as pessoas que usavam menos
roupas. AYLIN et al. (2001) examinam as relações entre a temperatura e condições habitacionais com
o excesso de mortalidade ocorrido na Grã-Bretanha, entre 1986 e 1996, na população com mais de 65
anos de idade e indicam que o excesso de mortalidade continua a ser um problema naquela área
geográfica, com um excesso de 40 000 óbitos durante aquele período. MCKEE et al. (1998: 268)
analisam a variação sazonal da mortalidade em Moscovo (Rússia) e apontam que há um excesso de
óbitos durante o inverno, contudo é menor quando comparado com países mais ocidentais. Referem,
ainda, que as causas de mortalidade por doenças isquémica cardíaca e cerebrovasculares estão
associadas com baixas temperaturas e mencionam que possivelmente a menor mortalidade verificada
em comparação com os países mais ocidentais está relacionada com o aquecimento das habitações.
O período de frio no início de 2012 tem sido estudado por diversos autores, apresentam-se, a
título de exemplo: MAZICK et al. (2012: 2) que indicam que em fevereiro e março de 2012 ocorreu
um excesso de mortalidade, sobretudo de população idosa, em 12 países europeus; no caso de
Portugal, Espanha, França, Suíça, Finlândia, Hungria, Irlanda e Grécia a mortalidade de população
idosa coincidiu com o período de gripe. DE’DONATO et al. (2013) analisam o impacte da onda de
frio de fevereiro de 2012 na mortalidade em Itália, nomeadamente o excesso de mortalidade, dando
destaque à população idosa (com 65 ou mais anos de idade) e população muito idosa (com 75 ou mais
21
anos de idade) e em Portugal, através de um surto gripal, originou o óbito de cerca de 3 000 pessoas
num espaço de uma semana (CUNHA e LEAL, 2013: 82, citando INSA5).
Relativamente a estudos em Espanha, apresenta-se DÍAZ et al. (2006b), MONTERO et al.
(2010) confirmam que a mortalidade aumenta durante episódios de ondas de frio em Castilha – La
Mancha.
NAFSTAD et al. (2002: 621) mencionam que a mortalidade diária, em Oslo, entre 1990 e
1995, aumenta com temperaturas inferiores a 10ºC; mas no caso da Finlândia, a mortalidade
relacionada com a temperatura aumenta quando a temperatura decresce relativamente ao limiar de
18ºC (NAFSTAD et al., 2002: 625, citando THE EUROWINTER GROUP, 1997).
Quanto aos grupos mais vulneráveis a ondas de frio: mencionam-se as crianças
(principalmente recém nascidos e bebés), idosos (WILKINSON et al., 2004), pessoas que
desenvolvem atividades ao ar livre, sem abrigo, pessoas em situação de exclusão social, acamados,
pessoas com reduzida mobilidade, pessoas dependentes de segunda pessoa, pessoas com problemas de
saúde mental, pessoas com problemas de alcoolismo, pessoas a tomarem medicação que interfira com
os mecanismos de regulação de temperatura corporal, pessoas com doenças crónicas (asma, diabetes,
bonquite, tiróide, reumáticas e cardíacas) e população a viver em habitações mais degradadas
(ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE LISBOA E VALE DO TEJO, 2013).
Quanto aos efeitos de temperaturas extremas ocorridas durante o inverno em Madrid para
população com mais de 65 anos de idade, DÍAZ et al. (2005: 179) mencionam que o máximo impacte
de temperaturas extremas, no inverno, sobre a mortalidade total ocorre entre 7 a 8 dias depois da
temperatura extrema registada; contudo no caso das doenças circulatórias, o atraso de mortalidade
registou-se entre 7 e 14 dias; relativamente às doenças respiratórias, verificaram dois picos de
mortalidade, um de 4 a 5 dias e outro de 11 dias.
No caso dos EUA, REICHERT et al. (2004) aludem a importância da gripe (influenza) no
acréscimo de mortalidade.
MORABITO et al. (2006) indicam que as admissões hospitalares por enfarte agudo do
miocárdio em Florença, no inverno, aumentaram com a presença de massas de ar, associadas a
anticiclones continentais, nomeadamente 24 horas depois. Assim, estados de tempo mais frios levam
ao agravamento do enfarte agudo do miocárdio. MCGREGOR (2005: 197) indica que o tempo frio é
um fator de risco para a doença isquémica cardíaca, mostrando que valores elevados de mortalidade
desta patologia estão associados a fortes fases negativas da NAO. BHASKARAN et al. (2010)
mencionam que por cada 1ºC e redução de temperatura, num dia, no Reino Unido, está associado a
200 episódios extra de enfarte agudo do miocárdio. VASCONCELOS et al. (2010) identificam
excessos de internamento por enfarte do miocárdio em Portugal Continental entre 2003 e 2007, entre
os meses de novembro a março.
5 Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
22
No caso de Portugal, existem diversos estudos sobre frio extremo, ondas de frio e reflexos na
mortalidade, apresentam-se alguns exemplos. BOTELHO e GANHO (2012 e 2013) analisam
episódios de frio extremo em Portugal Continental; MARQUES e ANTUNES (2013) estudam a
influência do frio na mortalidade no início de 2012. Mencionam-se as teses de mestrado de SILVA
(2012), ALMEIDA (2012), MACHADO (2013) ao exibir a perceção de eventos extremos de frio e a
tese de doutoramento de VASCONCELOS (2012) ao apresentar a importância da qualidade
habitacional e da exposição ao frio na incidência de doenças coronárias agudas em Portugal.
O risco de morrer em Portugal Continental durante o inverno é mais elevado do que durante
outra estação, sendo os meses de novembro a março os que apresentam as maiores ocorrências de
mortalidade, existindo um pico de mortalidade no mês de janeiro (MARQUES, 2007: 91; MARQUES
e ANTUNES, 2009). Relativamente à mortalidade ocorrida no inverno, com a temperatura mínima
inferior à média, tende a registar-se mortalidade superior à média. A distribuição mensal (ao longo do
ano) da mortalidade apresenta a forma de U (SANTOS et al., 2005).
Relativamente às ondas de frio, ocorre uma diferença de cerca de dois a três dias entre o pico
de frio e o pico de mortalidade, podendo o pico de mortalidade não coincidir com o extremo das
temperaturas mínimas (RIBEIRO, 2008: 17, citando KALKSTEIN, 1984).
No que concerne às causas de mortalidade, PINHEIRO (2005) afirma que o excesso de
mortalidade durante o inverno tem como causas a doença isquémica cardíaca, acidentes vasculares
cerebrais e doenças respiratórias. ALCOFORADO (1991) estuda a influência do estado do tempo no
desencadeamento de crises de dispneia em doentes respiratórios e crises de asma na primavera.
FALCÃO e VALENTE (1997: 537) mencionam que durante a epidemia de gripe do inverno de 1988-
1989, as doenças cerebrovasculares constituíram a causa de mortalidade com maior número de óbitos
(25,8%) perante o excesso de mortalidade. ALMENDRA et al. (2013: 269) referem que “a
mortalidade por doença cardiovascular em Portugal continua a ser a principal causa de morte e de
internamento hospitalar”, concentrando-se os óbitos e os internamentos durante os meses de inverno.
A morbilidade hospitalar por enfarte agudo do miocárdio aumenta com a idade, sendo superior no
sexo masculino e que o excesso de internamentos verifica-se sobretudo nos idosos (ob. cit.;
ALMENDRA, 2010; ALMENDRA, et al., s/d).
Alusivamente à prevenção e aos efeitos do frio, o Observatório Nacional de Saúde (ONSA)
realizou em 2003 o Ecos do Frio, através da amostra Em Casa Observamos Saúde (ECOS), tendo sido
realizadas entrevistas telefónicas a famílias presentes em 1217 unidades de alojamento, numa amostra
de 3497 indivíduos. O objetivo do estudo consistiu na caracterização das unidades de alojamentos, dos
indivíduos e das condições dos agregados familiares perante o frio, nomeadamente: a caracterização
das unidades de alojamento perante o frio e queixa de saúde no agregado, alteração dos hábitos
alimentares, consumo de bebidas alcoólicas fortes durante o período de Inverno, caracterização das
precauções das famílias perante situações de frio e caracterização dos equipamentos usados pelas
famílias para fazer face ao frio (água quente canalizada, lareira, aquecedores a gás, aquecedores
23
elétricos, aquecimento central, ar condicionado quente, cobertores elétricos, botijas/sacos de água
quente, uso de cobertores e vestuário). Foram ainda caracterizados, os efeitos do frio na saúde
(problemas de saúde em épocas de frio e procura de cuidados de saúde (consultas, urgências,
internamentos)) e as casas quanto ao seu nível de conforto no período de Inverno. Segundo
NOGUEIRA et al. (2004: 7) 49,7% das famílias consideraram as suas habitações frias ou muito frias.
O estudo concluiu que os problemas de saúde em épocas de frio dependem não só dos fatores
ambientais, mas também sociodemográficos, socioeconómicos e culturais.
Relativamente a Coimbra, MATEUS e CUNHA (2013) estudam o número de dias com
temperaturas negativas na cidade de Coimbra e a maior ocorrência de ondas de frio na Região Centro
de Portugal Continental com as fases da NAO. Entre 1950 e 2010, os autores, verificaram que durante
as fases positivas da NAO ocorreu maior número de dias com temperaturas negativas em Coimbra e
maiores registos de ondas de frio na Região Centro de Portugal Continental entre 1983 e 2009.
No distrito de Coimbra, a mortalidade mensal é maior nos meses de novembro a abril e o pico
máximo de mortalidade verifica-se no mês de janeiro (GUERREIRO, 2011). No inverno, a
mortalidade aumenta à medida que a temperatura do ar diminui, existindo maiores óbitos no sexo
feminino, sendo que a morte por doenças circulatórias apresenta os valores mais elevados (ob. cit.:
58). Mais ainda, as freguesias do distrito de Coimbra com maiores quantitativos de população idosa,
população desempregada, habitação degradada e envelhecida apresentaram maior vulnerabilidade face
à mortalidade por doenças do aparelho circulatório (ob. cit: 65). A proporção de viúvos relaciona-se de
forma significativa com a mortalidade da população idosa, refletindo o isolamento físico e social como
fator de vulnerabilidade, acrescentando que “a população mais vulnerável é aquela que se localiza no
interior do distrito de Coimbra, caracterizada por ser uma população idosa, com baixo nível de
escolaridade e mais isolada, uma vez que esta vive em espaços menos urbanizados e em áreas mais
desfavorecidas e envelhecidas do ponto de vista habitacional”, concluindo que “a taxa de mortalidade
no distrito de Coimbra reflete essencialmente as características demográficas, sociais e económicas”
(ob. cit: 69). Mais, no distrito de Coimbra, há uma forte relação entre a taxa de mortalidade e a
percentagem de viúvos para os concelhos e, relevância da taxa de desemprego e do envelhecimento da
população feminina, no caso das freguesias.
1.4. Mudanças climáticas e paroxismos térmicos
Diversos estudos têm vindo a ser desenvolvidos no âmbito das mudanças climáticas, quer em
Portugal, quer no estrangeiro, ao nível de possíveis impactes na saúde humana e projetando cenários
no futuro face a fenómenos extremos, como é o caso das ondas de calor e das ondas de frio,
salientando a importância de reduzir a vulnerabilidade face a riscos climáticos.
As causas principais de mudança climática são “pequenas variações na órbita que a Terra
descreve em torno do Sol, variações na posição do eixo de rotação da Terra, flutuações na atividade
24
solar e períodos de maior atividade vulcânica” (SANTOS e MIRANDA, 2006: 21), precessão dos
equinócios e os ciclos de Milankovitch. Atualmente está-se perante um período interglaciar.
No caso da média da temperatura global à superfície, RAMOS et al. (2011: 182, citando
IPCC, 2007), indicam que ocorreu um aumento entre 1906 e 2005, contudo concentrado em dois
períodos de aquecimento: entre 1910 e 1945 e desde 1970 (ob. cit.: 182, citando JONES et al. 1999 e
KARL et al. 2000). A temperatura média global à superfície aumentou cerca de 0,6ºC no século XX,
sendo a década de 1990 a mais quente, de acordo com registos desde 1861, e 1998 o ano mais quente
do século (IPMA6, citando IPCC, 2001).
Citando MIRANDA et al. (2006: 2) “o verão de 2003 foi classificado como o mais quente da
Europa nos últimos 500 anos” e foram observados “os 5 anos mais quentes dos últimos 150 anos
(1998, 2003, 2002, 2001 e 1997)” (ob. cit.). BUTLER e DIAS (1999: 16) indicam que “o ano de 1998
foi o mais quente a nível global, pelo menos desde 1400”. O século XX foi o mais quente desde 1500
(LUTERBACHER et al., 2004: 1503).
Segundo o IPMA7, a temperatura média do ar tem aumentado desde meados do século XIX e,
retirando o efeito de ilha de calor urbano, é estimado em 0,0074ºC/ano; quanto à amplitude térmica
diária está a diminuir desde 1946 em virtude das temperaturas mínimas estarem a aumentar mais do
que as máximas.
Em Portugal foi desenvolvido o Projeto SIAM com o objetivo de avaliar os impactes das
mudanças climáticas, assim como medidas de adaptação, sendo os resultados apresentados por
SANTOS et al. (2001), MIRANDA e SANTOS (2006) e MIRANDA et al. (2006).
Segundo MIRANDA et al. (2006: 86) há uma tendência do aumento da temperatura no século
XX, particularmente de maneira mais acentuada a partir da década de 1970, quase 0,5ºC por década.
Segundo o IPMA8, em Portugal, o período de arrefecimento registou-se entre 1946 e 1975 e o período
de aquecimento verificou-se entre 1976 e 2004, ou seja, a evolução não é feita de forma absolutamente
contínua, mas registando ciclos de 30 anos. Prevê-se um aumento substancial da temperatura máxima
em Portugal Continental, com +3ºC nas áreas costeiras e +7ºC (ob. cit.: 2) nas áreas do interior bem
como o aumento da frequência e intensidade das ondas de calor (ob. cit.: 8). Verificou-se “uma subida
mais intensa das temperaturas mínimas traduzida numa redução da amplitude térmica diária” (ob. cit.:
2). Em Portugal foram detetadas significâncias estatísticas de aumento de eventos de calor extremo na
primavera e no verão e decréscimo de extremos de frio no inverno (RAMOS et al., 2011: 177).
6
http://www.ipma.pt/pt/educativa/faq/climatologia/faqdetail.html?f=/pt/educativa/faq/climatologia/faq_0003.html
(acesso em 3/6/2014). 7
http://www.ipma.pt/pt/educativa/faq/climatologia/faqdetail.html?f=/pt/educativa/faq/climatologia/faq_0004.html
(acesso em 3/6/2014).
8 http://www.ipma.pt/pt/enciclopedia/clima/index.html?page=variabilidade.prec.xml (acesso em 29/7/2014).
25
A associação entre mudança climática e a frequência e intensidade de fenómenos extremos de
calor ainda não está bem estabelecida, no entanto modelos prenunciam que as ondas de calor serão
mais frequentes e intensas nomeadamente nas altas latitudes afetando áreas metropolitanas que não
estão bem preparadas para estes paroxismos térmicos (LUBER e MCGEEHIN, 2008: 429).
GANGULY et al. (2009: 15555) mencionam o aumento da temperatura e das ondas de calor, contudo
apontam para a questão da incerteza e variabilidade. A área Mediterrânea é considerada o “hot spot”
da mudança climática, visto ser a área em que diversos modelos de circulação global e regional
concordam com o incremento de eventos extremos (TRIGO et al. 2009: 845). MEEHL e TEBALDI
(2004: 997) indicam que áreas geográficas em que já ocorreram intensas ondas de calor (sudoeste,
“meio-oeste” e sudeste dos EUA e Região Mediterrânea) podem vir a registar, no futuro, ondas de
calor ainda mais intensas. Porém, referem que áreas como o noroeste dos EUA, França, Alemanha e a
Região dos Balcãs podem registar maiores impactes decorrentes do aumento da intensidade das ondas
de calor, em virtude de não se encontrarem bem adaptadas a estes paroxismos térmicos.
Por outro lado, KODRA et al. (2005) afirmam que apesar dos cenários de calor no século
XXI, irão ocorrer fenómenos de frio extremo. CONLON et al. (2011) apresentam a importância de
prevenir a morbilidade e a mortalidade relacionadas com o frio num cenário de mudança climática.
A nível internacional, apontam-se, ainda, os trabalhos de HAINES et al. (2006a e b), DESSAI
(2001); PATZ et al. (2005), MCMICHAEL et al. (2006) ao apresentarem o impacte das mudanças
climáticas na saúde e O’NEILL e EBI (2009) ao examinarem extremos de temperatura e saúde e
impactes da mudança climática nos EUA.
Relativamente a potenciais impactes das mudanças climáticas em Portugal, SANTOS e
MIRANDA (2006: 239) indicam o “aumento do desconforto, morbilidade e mortalidade associados ao
calor” em virtude da maior frequência e intensidade das ondas de calor, ao passo que associado a
invernos moderados é possível verificar-se a “diminuição do desconforto, morbilidade e mortalidade
associados ao frio.” CASIMIRO et al. (2006: 1950) avaliam os potenciais impactes da mudança
climática em Portugal na mortalidade relacionada com o calor, na saúde e doenças transmitidas por
vetores e referem que as taxas de mortalidade relacionadas com o calor podem aumentar entre 8,5 e
12,1 por 100 000 na década de 2020 e um máximo de 29,5 na década de 2050 se não se tomarem
adaptações. DESSAI (2002) estuda relações entre o calor e a mortalidade em Lisboa, tendo em conta
potenciais impactes das mudanças climáticas (DESSAI, 2003). Indica-se, ainda a dissertação de
mestrado de FARIA (2010) ao apresentar paroxismos climáticos na Região do Porto, o trabalho de
TAVARES (2009) sobre saúde e mudanças climáticas na Região de Lisboa e Vale do Tejo e o
trabalho de MACHETTE (2011) sobre impactes das alterações climáticas no turismo.
26
2. Ondas de calor e ondas de frio – enquadramento teórico
2.1. Definição de onda de calor e de onda de frio
2.1.1. Definição de onda de calor
A definição de onda de calor, em Portugal, adotada pelo IPMA segue os princípios do
conceito da Organização Meteorológica Mundial (OMM), considerando que ocorre uma onda de calor
quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos a temperatura máxima diária é superior
em pelo menos 5ºC, ao valor médio das máximas diárias do período de referência, ou seja, da normal
climatológica. Sendo esta definição adotada nesta dissertação.
Porém, o IPMA9 refere que esta definição está relacionada com o estudo da variabilidade
climática e não tanto com os impactes na saúde, já que, por exemplo, temperaturas extremas com um
elevado desvio relativamente à normal climatológica, podem ocorrer durante um curto espaço de
tempo não se considerando uma onda de calor quando adotada esta definição, mas que os impactes na
saúde poderão ser maiores, quando se verifica um desvio de +10ºC relativamente à média, durante 3
dias, do que um desvio de +5ºC durante 6 dias.
Porém, existem diversas definições de onda de calor, seguidas por diferentes instituições e
autores. ROBINSON (2001) refere que as definições de onda de calor baseiam-se: na excedência de
um valor absoluto previamente fixado, sendo um desvio relativamente à normal climatológica; ou,
ainda, em índices assentes na combinação dos valores diários da temperatura do ar e da humidade
relativa
Apresentam-se, a título de exemplo, algumas definições, que dependem e refletem o contexto
climático da área geográfica em causa:
O conceito seguido por PAIXÃO e NOGUEIRA (2003) afirma a ocorrência de onda de calor
quando se registam nos distritos de Portugal Continental dois ou mais dias consecutivos com
temperatura máxima diária superior a 32ºC.
REY et al. (2007) consideram o período de pelo menos três dias consecutivos em que as
temperaturas máxima e mínima, são simultaneamente superiores ao respetivo percentil 95, no caso de
França.
O Netherlands Royal Meteorological Institute (Holanda) segue o princípio de um período de
pelo menos 5 dias, cada com temperatura máxima diária de pelo menos 25ºC, incluindo pelo menos 3
ou mais dias com temperatura máxima de pelo menos 30ºC.
Para o National Weather Service (NWS) (EUA) em quatro observações consecutivas, é
necessário que os dois mínimos sejam superiores ao limiar de 81ºF (27,22ºC) e dois máximos
excedendo o limiar de 103ºF (39,44ºC).
9 http://www.ipma.pt/pt/enciclopedia/clima/index.html?page=onda.calor.xml (acesso em 29/7/2014).
27
No caso de REVICH e SHAPOSHNIKOV (2008), consideram, para Moscovo, Rússia, a
média da temperatura diária é superior ao percentil 97 durante 5 dias consecutivos, com pelo menos 3
dias com a média diária da temperatura superior ao percentil 99.
Relativamente a HUTTER et al. (2007), citando KYSELY (2002), seguem o conceito de um
período consecutivo de pelo menos 3 dias durante o qual a temperatura máxima diária é ≥30ºC; a onda
de calor persiste enquanto a média da temperatura máxima diária se mantém acima de 30ºC e nunca
seja inferior a 25ºC para Viena, Aústria.
LINARES e DÍAZ (2007) indicam que uma onda de calor do ponto de vista hospitalar é
considerada quando a temperatura máxima diária ultrapassa os 36ºC, para o caso de Madrid.
Para o Environment Canada, é o período de no mínimo três dias consecutivos em que a
temperatura máxima diária é de pelo menos 32ºC ou superior.
2.1.2. Definição de onda de frio
A definição de onda de frio em Portugal, adotada pelo IPMA, à semelhança do conceito de
onda de calor, também segue os princípios do conceito da OMM, considerando que ocorre uma onda
de frio quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, a temperatura mínima diária é
inferior em pelo menos 5ºC, ao valor médio diário das temperaturas mínimas do período de referência,
isto é, da normal climatológica. Esta definição é também adotada nesta dissertação.
Todavia, à semelhança do ocorrido para o caso das ondas de frio, também existem diversos
conceitos de onda de frio adotados por diferentes instituições e autores; apresentam-se a título de
exemplo, as seguintes:
HUYNEN et al. (2001) para a Holanda, consideram o período de pelo menos 9 dias com a
temperatura mínima de -5ºC ou menor, com até 6 dias com a temperatura mínima de -10ºC ou menor.
REVICH e SHAPOSHNIKOV (2008) indicam o período de pelo menos 9 dias consecutivos
com a média da temperatura diária inferior ao 3 percentil, com pelo menos 6 dias com a média da
temperatura diária inferior ao percentil 1, no caso de Moscovo (Rússia).
2.2. Importância do estudo do risco de ondas de calor e do risco de ondas de frio
Nesta dissertação, considera-se que o risco resulta da multiplicação entre a perigosidade e a
vulnerabilidade. NOSSA et al. (2013: 47), indicam que o perigo é “imprevisível e causa, por norma,
perda de vidas, ferimentos ou outros impactes na saúde, danos à propriedade, perda de meios de
subsistência e serviços, rutura social e económica e danos ambientais”, sendo a “probabilidade de
ocorrência de um processo ou ação com capacidade de destruição de elementos naturais e humanos,
sempre avaliado em função da intensidade e severidade”, podendo as consequências sobre as pessoas,
os bens ou ambiente ser contabilizadas através de danos ou de prejuízos, consistindo no risco.
De acordo com as estatísticas da International Disaster Database da Université Catholique de
Louvain - Brussels – Bélgica, quanto ao número de óbitos, em Portugal, entre 1900 e 2014, no caso
28
dos riscos naturais, a onda de calor de 2003 apresentou o maior número de mortes (quadro 1).
Também, noutras áreas geográficas, os extremos térmicos, no caso das ondas de calor e das ondas de
frio, têm como consequências, elevados quantitativos de óbitos (quadro 2); sendo elevada a população
afetada por estes riscos climáticos (quadro 3), que têm, também consideráveis impactes económicos
(quadro 4).
Como se referiu no início desta dissertação, estes riscos climáticos apresentam impactes na
economia, na saúde e originam aumentos de mortalidade, dependendo da vulnerabilidade das
populações e da duração, intensidade e frequência destes paroxismos térmicos.
Atendendo às consequências destes paroxismos térmicos, na morbilidade, mortalidade e
atividades humanas, o seu estudo revela-se importante, de maneira a adquirir um melhor
conhecimento destes riscos e para desenvolver um melhor ordenamento do território. No estado da
arte, previamente apresentado, mencionaram-se alguns exemplos de estudos de ondas de calor e de
ondas de frio e das suas consequências na morbilidade e mortalidade humanas. Visto que não se pode
evitar a sua ocorrência, revela-se importante reduzir a vulnerabilidade das populações expostas, de
maneira a reduzir as consequências inerentes a estes riscos climáticos ao nível do conforto, atividades,
saúde, morbilidade e mortalidade humanas.
Quadro 1: Ranking dos riscos naturais, segundo o número de óbitos, em Portugal, entre 1900 e 201410
.
Risco Natural Data N.º de óbitos
Temperatura extrema
(onda de calor)Ago-03 2696
Cheia 26-11-1967 462
Cheia 20-02-2010 43
Temperatura extrema
(onda de calor)Jul-06 41
Cheia 29-12-1981 30
Tempestade 30-10-1997 29
Cheia Jan-79 19
Cheia 18-11-1983 19
Incêndio 15-06-1986 15
Incêndio 15-05-2005 15 Fonte dos dados: EM-DAT
11: The OFDA/CRED International Disaster Database, www.emdat.be -
Université Catholique de Louvain - Brussels – Belgium http://www.emdat.be/database (acesso em
25/7/2014).
10 Relativamente à onda de calor de 29 de julho a 15 de agosto de 2003 registou-se segundo NOGUEIRA et al.
(2005a: 4) um excesso de 1953 óbitos.
No caso da onda de calor de julho de 2006, os óbitos diferem dos apresentados por PAIXÃO et al., (2006):
excesso de óbitos de 898 pessoas (entre 10 a 27 de julho), contudo segundo a DGS (2013a) o excesso de óbitos
foi de 1123 pessoas (todavia, não especificando o intervalo de dias analisado). 11 Emergency Events Database.
29
Quadro 2: Ranking dos riscos naturais – temperaturas extremas, segundo o número de óbitos, entre
1900 e 2014.
País Risco Natural Data N.º de óbitos
Rússia Onda de calor junho de 2010 55 736
Itália Onda de calor 16-07-2003 20 089
França Onda de calor 01-08-2003 19 490
Espanha Onda de calor 01-08-2003 15 090
Alemanha Onda de calor agosto de 2003 9 355
Portugal Onda de calor agosto de 2003 2 696
Índia Onda de calor 26-05-1998 2 541
França Onda de calor 15-07-2006 1 388
Afeganistão Condições extremas de inverno 05-01-2008 1 317
EUA Onda de calor junho de 1980 1 260 Fonte dos dados: EM-DAT: The OFDA/CRED International Disaster Database, www.emdat.be - Université Catholique de Louvain - Brussels – Belgium http://www.emdat.be/database (acesso em
25/7/2014).
Quadro 3: Ranking dos riscos naturais – temperaturas extremas, segundo a população afetada, entre 1900 e 2014.
País Risco Natural Data População afetada
China Condições extremas de inverno 10-01-2008 77 000 000
China Onda de frio 01-01-2011 4 033 472
Austrália Onda de calor fevereiro de 1993 3 000 500
Peru Onda de frio junho de 2004 2 137 467
Tajiquistão Condições extremas de inverno janeiro de 2008 2 000 000
Peru Onda de frio 07-07-2003 1 839 888
Austrália Onda de calor dezembro de 1994 1000 034
Libéria Onda de frio 1990 1000 000
Tailândia Onda de frio janeiro de 2014 1000 000
Peru Condições extremas de inverno abril de 2007 884 572 Fonte dos dados: EM-DAT: The OFDA/CRED International Disaster Database, www.emdat.be -
Université Catholique de Louvain - Brussels – Belgium http://www.emdat.be/database (acesso em
25/7/2014).
Quadro 4: Ranking dos riscos naturais – temperaturas extremas, segundo o custo económico, entre
1900 e 2014.
País Risco Natural Data Custo (1000 US$)
China Condições extremas de inverno 10-01-2008 21 100 000
França Onda de calor 01-08-2003 4 400 000
Itália Onda de calor 16-07-2003 4 400 000
EUA Onda de calor 01-05-1998 4 275 000
EUA Onda de frio 05-01-2014 3 000 000
EUA Onda de frio 1977 2 800 000
EUA Onda de calor junho de 1980 2 000 000
Canadá Onda de frio dezembro de 1992 2 000 000
EUA Onda de calor julho de 1986 1 750 000
Alemanha Onda de calor agosto de 2003 1 650 000 Fonte dos dados: EM-DAT: The OFDA/CRED International Disaster Database, www.emdat.be -
Université Catholique de Louvain - Brussels – Belgium http://www.emdat.be/database (acesso em
25/7/2014).
30
2.3. Ocorrência de ondas de calor e de ondas de frio em Portugal
De acordo com CUNHA (2012: 109) as ondas de calor e as ondas de frio num clima
temperado mediterrâneo, como o caso de Portugal Continental são “um fenómeno sazonal, esporádico,
mas recorrente, condicionado essencialmente pelas condições sinóticas”; contudo, a intensidade, a
duração e a extensão espacial destes fenómenos são influenciadas por fatores fisiográficos regionais e
locais, como o uso do solo, o relevo, a distância ao oceano, a exposição das vertentes e a altitude.
O IPMA identificou a ocorrência de ondas de calor e de ondas de frio em Portugal, estando
essa informação publicada nos Boletins Climatológicos mensais, sazonais e anuais, desde 2003.
Recolheu-se essa informação e resumiu-se a sua ocorrência e indicou-se a distribuição espacial no
período compreendido nos meses de junho, julho e agosto, no caso das ondas de calor (quadro 5). Nos
anos de 2004, 2008, 2011 e 2012 não se registaram ondas de calor nas estações meteorológicas do
IPMA. Destacam-se os anos de 2006 e 2013 com 4 ocorrências, seguindo-se os anos de 2009 e de
2010 com 3 ocorrências. Todavia, por vezes, em anos com períodos mais quentes e/ou mais longos
registaram-se ondas de calor mais cedo ou mais tardiamente, designando-se por “fora de época”12
(quadro 6), destacando-se o ano de 2009 com 4 ocorrências. E recolheu-se a informação sobre os
registos de ondas de frio nos meses de janeiro, fevereiro e dezembro (quadro 7); o ano de 2005
apresentou o maior número de ocorrências (4), seguindo-se o ano de 2011 com 3, enquanto nos anos
de 2003, 2004, 2008 e 2010 não se verificou o registo de ondas de frio.
Quadro 5: Ondas de calor identificadas pelo IPMA, desde 2003, em Portugal Continental.
2003
2004
30 de maio a 11 de junho
15 a 23 de junho
2 a 13
27 de agosto a 9 de setembro
2007
2008
27 de maio a 3 de junho
10 a 22 de junho*
3 a 8 (Guarda)
6 a 11 (Mirandela)
3 a 11 (Miranda do Douro)
1 O.C 24 a 31
2011
2012
9 a 15 (Guarda, Mirandela e Montalegre)
26 de agosto a 3 de setembro (Porto)
2009 2 O.C
2005
Junho
MesesAnos
2 O.C
1 O.C3 a 11 (Alcácer do Sal e Monção)
6 a 11 (Anadia, Dois Portos, Guarda, Monte Real, Nelas, Sagres e
Sines)
Agosto
2 O.C
Julho
1 O.C (24 de julho a 14 de agosto)
1 O.C (7 a 18)
1 O.C (11 a 19)**
20101 O.C
1 O.C (2 a 7) em Portalegre
2006
1 O.C: 24 de maio a 8 de junho
(duração de 16 dias da região Centro
e 15 dias na região de Portalegre)
* Estações meteorológicas em onda de calor: Setúbal e Amareleja (11 a 21); Sines (12 a 21); Vila Real de Santo António (10 a 17); Faro (10 a 16); Sagres (12 a 18); Dois Portos, Sintra e
Mértola (16 a 21); Guarda e Penhas Douradas (17 a 22).
** Estações meteorológicas em onda de calor: Alvega, Nelas e Sagres (11 a 16); Monção (11 a 17); Braganca (11 a 19); Benavila e Portalegre (12 a 17); Miranda do Douro (12 a 19) e
Figueira de Castelo Rodrigo (13 a 19).
*** Estações em onda de calor: Anadia, Alcobaca, Braga, Coimbra, Dois Portos, Santarém/Fonte Boa, Monte Real e Porto/P.Rubras (24 a 30); Alvega e Coruche (22 a 30);
Benavila/Avis e Portalegre (22 a 1 de julho) e Monção (24 a 30 de junho).
2 O.C1 O.C (3 a 13)1 O.C2013 22 a 30***
Fonte dos dados: Com base na informação dos boletins climatológicos mensais, anuais e sazonais do
IPMA, disponíveis em:
https://www.ipma.pt/pt/publicacoes/boletins.jsp?cmbDep=cli&cmbTema=pcl&idDep=cli&idTema=pcl&curAno=-1 (acesso em 5/8/2014).
12 Entenda-se por “fora de época”, as ondas de calor que não ocorreram nos meses de junho, julho ou agosto
(período de análise adotado nesta dissertação).
31
Quadro 6: Ondas de calor “fora de época”, identificadas pelo IPMA, desde 2003, em Portugal
Continental.
Anos Meses Ondas de calor
março7 a 9 (com maior duração em Penhas Douradas, com 21 dias; Bragança, Mirandela, Miranda
do Douro e Monção, com 18 dias).
maioiniciou-se no dia 2, com maior duração nas regiões de Évora e Miranda do Douro (8 dias) e em
Beja, Bragança e Figueira de Castelo Rodrigo (7 dias).
setembro 6 a 12 (Monção), 6 a 11 (Nelas), 22 a 28 (Monção e Braga), 23 a 28 (Anadia).
outubro10 a 18 (em alguns locais do Centro e Sul do Continente; Benavila foi a estação meteorológica
que registou mais dias em onda de calor, 9 dias).
2010 maio 17 a 23
2009
Fonte dos dados: Com base na informação dos boletins climatológicos mensais, anuais e sazonais do
IPMA, disponíveis em: https://www.ipma.pt/pt/publicacoes/boletins.jsp?cmbDep=cli&cmbTema=pcl&idDep=cli&idTema=pc
l&curAno=-1 (acesso em 5/8/2014).
Quadro 7: Ondas de frio identificadas pelo IPMA, desde 2003, em Portugal Continental.
Dezembro
2003
2004
1 O.F
3 a 10 (Braga), 7 a 12
(Alvalade), 14 a 20
(Alvalade), 15 a 20
(Braganca e Alcácer
do Sal)
2007
1 O.F: 11 a 18
(Braganca: 8 dias;
Centro e vale do
Sado: 6 dias)
2008
7 a 12 (Braga)
6 a 11 (Monção)
6 a 12 (Penhas Douradas)
2010
20111 O.F: 25 a 30 em
Alcobaça
2012
2013
MesesAnos
2005
Janeiro
1 O.F: 7 a 12 (Setúbal)
1 O.F
1 O.F
1 O.F :25 de janeiro a 5 de fevereiro (Alvalade, Mirandela e Sagres); 25 de janeiro a 2 de fevereiro (Sines e Mértola), 25 de janeiro a 12
de fevereiro (Alcácer do Sal), 31 de janeiro a 9 de fevereiro (Benavila)
200628 janeiro a 2 de fevereiro (Braga)
27 de janeiro a 1 de fevereiro (Mirandela)
2009
1 O.F: 22 a 27 (Castelo Branco)
1 O.F: 16 a 24
(Braga), 19 a 24
(Mirandela), 12 a
20 (Alcácer do Sal
e Alvalade)
Fevereiro
* Estações meteorológicas em onda de frio: Alcácer do Sal (8 a 27), Alvega (8 a 26), Alvalade (8 a 25), Alcobaca (8 a 19), Benavila/Avis (9 a 14 e 18 a 26), Mértola (9 a
17), Miranda do Douro (8 a 16), Mirandela (8 a 19), Monte Real (9 a 16), Sagres (12 a 18), Setúbal (23 a 29), Sines (8 a 14) e Vila Real (8 a 13).
1 O.F: 1 a 6 (Alcácer do Sal e Alvalade), 1 a 7 (Braga) e 31 de
janeiro a 7 de fevereiro (Braga)
1 O.F (com maior duração nas estações meteorológicas de Alcácer
do Sal (20 dias), Alvega (19 dias) e Alvalade (18 dias) *
1 O.F: Alcobaça (6 dias), Mértola (6 dias) e Alcácer do Sal (7 dias),
a partir do dia 24
Fonte dos dados: Com base na informação dos boletins climatológicos mensais, anuais e sazonais do
IPMA, disponíveis em: https://www.ipma.pt/pt/publicacoes/boletins.jsp?cmbDep=cli&cmbTema=pcl&idDep=cli&idTema=pcl&curAno=-1 (acesso em 5/8/2014).
As ondas de calor, apesar de poderem ocorrer em qualquer altura do ano, são mais frequentes
e intensas nos meses de verão, de junho, julho e agosto que correspondem, por norma, à época quente
e seca. De acordo com o IPMA13
, é durante o mês de junho que se verifica a maior ocorrência de
ondas de calor em Portugal Continental. Segundo o IPMA14
, merecem destaque pela intensidade,
13 http://www.ipma.pt/pt/enciclopedia/clima/index.html?page=onda.calor.xml (acesso em 24/08/2013). 14 http://www.ipma.pt/pt/enciclopedia/clima/index.html?page=onda.calor.xml (acesso em 24/08/2013).
32
duração e distribuição espacial, as ondas de calor ocorridas em junho de 1981, julho de 1991 e julho e
agosto de 2003; sendo que é a partir de 1990 que se verifica a maior frequência em Portugal
Continental de ondas de calor
As ondas de calor estão associadas, em termos sinóticos, a sistemas anticiclónicos com
circulação do ar de sul ou de leste. CUNHA e LEAL (2013: 82) referem que as ondas de calor
“resultam da instalação, por vezes súbita, de massas de ar muito quentes e secas oriundas do Norte de
África e/ou da Europa Oriental, ou de massas quentes e húmidas transportadas de SW”.
No caso das ondas de frio, estão associadas a circulações anticiclónicas de Norte e Este, com a
presença de massas de ar seco e muito frio, de origem continental ou de massas de ar frio e húmido de
origem ártica ou polar; sendo que nestas condições pode ocorrer a formação de geada e a queda de
neve em áreas de altitude mais elevadas, devido à redução repentina dos valores diários de temperatura
mínima (CUNHA e LEAL, 2013: 82), causando desconforto térmico.
Segundo TAVARES e CUNHA (2007: 6) os índices de suscetibilidade a ondas de calor
“aumentam progressivamente do Litoral para o Interior, sendo que os mais elevados se localizam na
Beira Interior Sul e na Cova da Beira”, existindo a influência da continentalidade na intensificação das
temperaturas máximas na Beira Interior Sul e no Alentejo (CUNHA e LEAL, 2013: 87). Assim, a
intensidade e distribuição das ondas de calor aumenta das áreas litorais para as áreas do interior de
Portugal Continental, sendo maior nas regiões do Alentejo e da Beira Interior Sul já que a ação
moderadora do Oceano Atlântico na temperatura máxima se faz sentir nas áreas litorais (CUNHA,
2012: 112).
A nível local, as áreas mais expostas à radiação solar direta, impermeabilizadas e com elevado
tráfego rodoviário reforçam os efeitos do calor ou com elevada densidade de edifícios no espaço
urbano (CUNHA e LEAL, 2013: 89). Para o concelho de Torres Novas, os autores indicam que o risco
de onda de calor é mais elevado nas áreas situadas no topo das plataformas gresosas, mais expostas à
radiação solar.
Os índices de suscetibilidade a ondas de frio são influenciados por condições topográficas e
morfológicas regionais, sendo maiores em áreas deprimidas, como nos vales interiores do Alto Tejo e
Baixo e Médio Zêzere e nas áreas montanhosas da região Centro Oeste. Relativamente ao Vale do
Mondego, a influência dos ventos oceânicos de oeste amenizam as temperaturas (ob. cit.), sendo uma
área menos suscetível a ondas de frio e a ondas de calor. A suscetibilidade é maior ao final da noite,
em fundos de vale e áreas topograficamente deprimidas devido à presença de “lagos” de ar frio
durante situações anticiclónicas no período invernal. Nos vales mais encaixados o arrefecimento
processa-se de forma mais intensa pois os maiores declives das vertentes levam ao aumento da
velocidade do escoamento do ar frio, sendo também importante a orientação das encostas. Para o
concelho de Torres Novas, os autores indicam que o risco de onda de frio é mais elevado nas áreas
situadas nos fundos de vale.
33
2.4. Prevenção face a temperaturas extremas em Portugal
Os efeitos das temperaturas extremas, das ondas de calor e das ondas de frio dependem da
intensidade e duração das mesmas, assim como da vulnerabilidade da população exposta,
apresentando efeitos no conforto e atividades humanas, bem como na saúde, morbilidade e
mortalidade. Assim, em Portugal têm vindo a ser desenvolvida prevenção face a esses efeitos das
temperaturas extremas adversas, quer elevadas, quer baixas. Seguidamente apresentam-se esses planos
e instrumentos de prevenção.
2.4.1. Calor
A exposição a temperaturas elevadas constitui fator de stress para o corpo humano, com
potenciais efeitos na morbilidade e mortalidade.
O Ministério da Saúde através da DGS (Direção Geral da Saúde) implementou, desde 2004, o
Plano de Contingência para Ondas de Calor (PCOC), com o intuito de minimizar os efeitos do calor na
saúde humana. Contudo, em 2011, a designação passou para Plano de Contingência para Temperaturas
Extremas e Adversas – Módulo Calor (PCTEA), tendo em conta que a exposição a temperaturas
prolongadas, mesmo que não seja considerada do ponto de vista climatológico uma onda de calor, tem
impactes sobre a saúde, morbilidade e mortalidade humanas. Este plano baseia-se numa estratégia de
promoção da saúde e de prevenção da doença, estando associado a um sistema de previsão, alerta e
resposta, sendo ativado de 15 de maio a 30 de setembro de cada ano; porém, pode ser ativado, antes ou
depois do período de ativação previamente definido atendendo às condições meteorológicas
verificadas (DGS, 2013b).
O objetivo geral do PCTEA é minimizar os efeitos negativos do calor intenso na saúde das
populações, através da avaliação do risco e pelo desenvolvimento de respostas face a esse risco pelas
entidades competentes da saúde. São objetivos específicos: “potenciar a coordenação
interinstitucional; melhorar o sistema de previsão, alerta e resposta; definir orientações/recomendações
de intervenção; providenciar a informação para a população em geral e para os grupos mais
vulneráveis em particular, sobre medidas e procedimentos a adotar em situação de calor intenso e
monitorizar a morbilidade e mortalidade, decorrente de eventuais ondas de calor” (DGS, 2014: 6).
Quanto à organização e articulação institucional, a coordenação geral é efetuada pela DGS,
sendo que a cocoordenação nacional é realizada pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e
pelo Instituto da Segurança Social (ISS). No caso dos Grupos Operativos Regionais, têm como
competência a elaboração de um Plano de Contingência Regional para Temperaturas Extremas e
Adversas (PCRTEA). A informação e comunicação são divulgadas para a população através do sítio
da DGS, da articulação com os meios de comunicação social e da linha Saúde 24 (DGS, 2013b e
2014).
Os sistemas de alerta precoce são essenciais para reduzir as consequências para a saúde
humana decorrentes das ondas de calor (LOWE et al., 2011). Assim, os planos de ação são
34
importantes para informar a população, de maneira a adotar medidas necessárias para atenuar os
efeitos destes paroxismos térmicos.
O sistema de previsão e alerta do PCRTEA é baseado em três níveis de alerta: verde (Nível 0),
amarelo (Nível 1) e vermelho (Nível 2). “O nível verde corresponde à linha de base, ou seja, quando
não se atingem os valores definidos para desencadear o alerta amarelo. O alerta amarelo é emitido,
quando ocorre um dia com temperaturas máximas observadas iguais ou superiores a 32ºC e em que
estão previstos mais dois dias com temperaturas iguais ou superiores a 32ºC (exceto no Alentejo em
que se consideram temperaturas máximas iguais ou superiores a 35ºC). O alerta vermelho é emitido,
quando ocorrem três dias com temperaturas máximas observadas iguais ou superiores a 35ºC e em que
estão previstos mais dois dias com temperaturas iguais ou superiores a 35ºC (exceto no Alentejo em
que se consideram temperaturas máximas iguais ou superiores a 38ºC)” (DGS, 2014: 9). São ainda,
mencionadas precauções a adotar face a temperaturas extremas e a ondas de calor.
A monitorização é efetuada com base em: procura de serviços de urgência, procura do Serviço
Saúde 24, procura do Instituto Nacional de Emergência Médica, efeitos na mortalidade, ocorrências
registadas pelas autoridades de saúde e as medidas de atuação tomadas no âmbito da implementação
do Plano (DGS, 2014: 13).
O Projeto Ícaro (Importância do Calor: Repercussão nos Óbitos) é um instrumento de
observação do efeito de ondas de calor na mortalidade e morbilidade humanas. Sazonalmente, entre
maio e setembro de cada ano, aciona-se o Sistema de Vigilância Ícaro desde 1999 em parceria com o
IPMA, a DGS e a ANPC. Desde 2004 integra o PCOC. É constituído pela previsão a três dias dos
valores de temperatura máxima diária, a previsão do excesso de óbitos eventualmente associados às
temperaturas previstas e o cálculo do Índice Ícaro para os três dias seguintes com base na previsão dos
óbitos (CALADO et al., 2003: 2; NOGUEIRA et al., 2005b). Os valores do índice Ícaro são
disponibilizados duas vezes ao dia. O Índice Ícaro assume valores iguais ou superiores a zero, sendo
um valor que representa a mortalidade de acordo com o modelo de previsão do Sistema de Vigilância
Ícaro, tendo como objetivo representar a mortalidade estimada segundo os elementos climáticos
previstos (INSA15
).
A fórmula do Índice Ícaro é a seguinte: (n.º de óbitos previstos/n.º de óbitos esperados) – 1.16
Quando o valor é igual a zero, o número de óbitos previstos é igual ao número de óbitos esperados.
O objetivo do Projeto Ícaro consiste em prever e identificar a ocorrência de períodos de calor
com possíveis impactes negativos na saúde, monitorizando e vigilando a mortalidade e medindo esses
impactes na mortalidade
15http://www.insa.pt/sites/INSA/Portugues/AreasCientificas/Epidemiologia/Unidades/UnInstrObser/Paginas/ICA
RO.aspx (acesso em 28/7/2014). 16 O número de óbitos previstos está associado ao modelo da previsão da temperatura máxima. Relativamente ao
número de óbitos esperados, corresponde ao número médio de óbitos que se verificam diariamente no período de
junho a setembro (INSA).
35
O Sistema de Vigilância Ícaro é um sistema nacional, existindo modelos para a população em
geral e para a população com mais de 75 anos de idade, tendo como referência quatro regiões que
dividem Portugal Continental (ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DE LISBOA E VALE
DO TEJO, 2012: 48) e estando dividido em diferentes níveis de alerta.
Quanto ao Sistema de Vigilância Diária de Mortalidade (VDM), surgiu na sequência do
impacte da onda de calor de 2003, recolhendo variáveis como data e local do óbito, idade e sexo,
permitindo antecipar impactes no período de cinco dias e quantificar rapidamente esses impactes, com
o objetivo de melhorar o conhecimento sobre a mortalidade da população portuguesa
(ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DE LISBOA E VALE DO TEJO, 2012: 48).
2.4.2. Frio
A exposição do corpo humano a temperaturas baixas, nomeadamente a temperaturas extremas,
durante vários dias consecutivos constitui um fator de stress para o corpo humano, com potenciais
efeitos na morbilidade e mortalidade.
O Ministério da Saúde através da DGS implementou o Plano de Contingência para
Temperaturas Extremas e Adversas – Módulo Frio (PCTEA) que apresenta como objetivo geral,
minimizar os efeitos das ondas de frio na saúde da população, tendo como objetivos específicos
monitorizar os critérios para definir os alertas, comunicar os níveis de alerta e divulgar a informação
junto da população, nomeadamente de grupos mais vulneráveis de medidas e procedimentos a adotar
tendo em conta a proteção face ao frio e monitorizar os efeitos das ondas de frio. O plano encontra-se
ativo entre 15 de novembro a 31 de março de cada ano (ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE
SAÚDE DE LISBOA E VALE DO TEJO, 2013).
São definidos 3 níveis de alerta, considerando possíveis efeitos sobre a saúde da população,
correspondendo a cada nível de alerta o desenvolvimento de medidas adequadas aos grupos
vulneráveis e respetivas necessidades. O nível 1 é verde e corresponde a uma situação de vigilância; o
nível 2 é amarelo, sendo previsíveis efeitos sobre a saúde e o nível 3 é vermelho (o mais grave), sendo
esperadas consequências graves em termos de saúde e mortalidade. A avaliação, gestão e comunicação
do risco é da responsabilidade das Autoridades de Saúde Locais, de acordo com os níveis de alerta.
Para cada nível de alerta existem medidas de intervenção. Para a avaliação do risco, de maneira a
emitir os níveis de alerta, os critérios a utilizar são: a temperatura média diária por distrito, assim
como as temperaturas mínimas e máximas; o índice UTCI (Universal Thermal Climate Index)
observado diariamente (divulgado pelo IPMA) e o valor de mortalidade observado diariamente através
do VDM, divulgado pelo INSA. São divulgadas precauções a tomar face a temperaturas extremas e a
ondas de frio. Mais ainda, este plano monitoriza as ondas de frio, a procura de serviços de urgência
dos hospitais, internamento relacionado com o frio intenso e efeitos na mortalidade associada ao frio
(ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DE LISBOA E VALE DO TEJO, 2013).
36
3. Área de estudo
3.1. Localização
A área em estudo é o concelho de Coimbra, composto por 31 freguesias (fig.1), integrando a
NUT17
III do Baixo Mondego, o distrito de Coimbra e a NUT II da Região Centro.
Quanto à população residente, em 2011, o concelho de Coimbra apresentava 143 396
habitantes, sendo uma cidade de média dimensão na hierarquia da rede portuguesa de cidades,
possuindo uma importante posição na Região Centro. A freguesia mais populosa é a de Santo António
dos Olivais, com 38 936 habitantes.
A cidade de Coimbra apresenta uma importância histórica devido à Universidade, fundada em
1290. Em 2003 a cidade foi Capital Nacional da Cultura. Em 2013 a Universidade de Coimbra, Alta e
Rua da Sofia foram declaradas Património Mundial pela UNESCO (United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization18
).
Fig.1: Localização do concelho de Coimbra e respetivas freguesias.
Fonte dos dados: Direção Geral do Território (Carta Administrativa Oficial de Portugal).
O concelho de Coimbra abrange duas unidades morfoestruturais a Orla Meso-Cenozóica
Ocidental e o Maciço Antigo, apresenta relevo diversificado (fig. 2), abrangendo diferentes setores
geomorfológicos, a área Este montanhosa, salientando-se o Maciço Marginal de Coimbra onde se
destaca o horst da Serra do Roxo com a cota máxima de 510m, enquanto a área Oeste apresenta
colinas e a planície aluvial do rio Mondego (FERNANDES MARTINS, 1983; REBELO, 1992;
REBELO e CUNHA, 1992), assim como outras áreas deprimidas (meandro abandonado da Arregaça;
17 Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas. 18 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
37
Vale da Ribeira de Coselhas; Vale da Ribeira dos Fornos) e áreas com maior altitude, sendo que a
urbanização se desenvolveu em áreas de colinas (FERNANDES MARTINS, 1983; MARGARIDO,
1987; CRAVIDÃO, 1989). CUNHA et al. (1999: 18) referem que as fraturas meridianas paralelas à
Falha de Coimbra “justificam no essencial a morfologia do espaço em que a urbe se inscreve”.
Relativamente à morfologia, verifica-se uma intensa fraturação visível no traçado da rede hidrográfica
e a ação modeladora do rio Mondego na paisagem. Menciona-se a falha Porto-Tomar no setor oriental,
ao separar as duas unidades morfo-estruturais: Orla Mesocenozóica Ocidental e Maciço Hespérico.
Destacam-se os Vales da Ribeira de Coselhas (NE-SW), de Eiras (E-W) e do Rio dos Fornos em
Souselas (MARQUES et al., 3396). A importância da ação do rio Mondego e da diversidade do relevo
no clima será abordada no item 3.2.2. Condicionantes regionais e locais do clima de Coimbra.
A estação meteorológica utilizada é o IGUC (figs.3 e 4), que efetua observações
meteorológicas desde setembro de 1864 até à atualidade. Localiza-se na Avenida Dr. Dias da Silva, na
cidade de Coimbra, à latitude de 40° 12’ 25’’ N, à longitude de 08° 25’ 30’’ W e à altitude de 139,61
m, encontrando-se numa posição sobrelevada relativamente à área envolvente. No início das
observações meteorológicas, o IGUC situava-se fora dos limites da cidade, contudo, com o
crescimento urbano, passou a estar envolvida pela cidade. Escolheu-se a estação meteorológica do
IGUC visto que a série de dados é mais longa e, também, porque na estação meteorológica de
Bencanta o aumento da temperatura mínima tem sido mais acentuado já que ao localizar-se no
enfiamento do Vale de Coselhas, num contexto topográfico deprimido (33m), o ar proveniente das
vertentes urbanizadas do setor setentrional da cidade é drenado para aí (GANHO, 1998: 47).
Fig.2: Hipsometria do concelho de Coimbra.
Fonte dos dados: IGeoE.
38
Fig.3: Localização do IGUC no contexto da cidade de Coimbra.
Fonte: Adaptado de Google Earth.
Fig.4: Pormenor da localização do IGUC e área envolvente.
Fonte: Adaptado de Google Earth.
39
3.2. O clima de Coimbra e as suas condicionantes regionais e locais
3.2.1. O clima de Coimbra
Vários estudos sobre o clima urbano de Coimbra têm vindo a ser publicados, nomeadamente
por GANHO (1991, 1992a, 1992b, 1992c, 1995, 1996a, 1996b, 1998, 1999, 2000, 2001a, 2001b,
2001c, 2010). Mencione-se ainda, por exemplo, MARQUES et al. (2008) e MARQUES et al. (2009)
sobre clima urbano e ordenamento do território e LEAL et al. (2008) sobre a importância dos espaços
verdes. Aponta-se, também, MATEUS (2012a e 2012b) e MATEUS e CUNHA (2013) sobre riscos
climáticos.
Diversos estudos têm vindo a ser publicados destacando a importância da climatologia no
planeamento, como, por exemplo, ALCOFORADO (1999) destaca a importância da climatologia no
planeamento de áreas urbanas ou ALCOFORADO e ANDRADE (2007) com a associação entre clima
e saúde na cidade, ou ainda, sobre riscos climáticos e clima urbano (GANHO, 1992 e 1998). No caso
de estudos sobre a ilha de calor urbano, apontam-se, por exemplo, PEREIRA e MORAIS (2007),
LOPES (2008), GANHO (1998).
A ilha de calor urbano, definida como a diferença entre o valor mais elevado de temperatura
registado na cidade face ao valor nas áreas periurbanas ou rurais envolventes, é mais intensa durante
os meses de verão e em especial à noite, dependendo do tamanho da cidade e da densidade de
alojamentos (GABRIEL e ENDLICHER, 2011: 2044). Situações de estabilidade atmosférica e céu
limpo são favoráveis para o desenvolvimento deste fenómeno. Refira-se que a ilha de calor urbano vai
reforçar a intensidade de ondas de calor, associando-se a uma situação de maior desconforto térmico
(GANHO, 1998: 32, citando GILES et al., 1990).
O clima de Coimbra é mediterrâneo, com influência oceânica devido à relativa proximidade ao
oceano Atlântico que se faz sentir através da abertura da planície do aluvial do rio Mondego. Quanto
ao período seco estival (fig.5), verifica-se a existência de dois meses secos (julho e agosto). A
temperatura média mensal é mais elevada no mês de julho (20,8ºC) e mais baixa no mês de janeiro
(9,5ºC). A temperatura mínima mensal é menor no mês de janeiro (5,9ºC) e maior no mês de julho
(15,5ºC). Quanto à temperatura máxima mensal é maior no mês de agosto (28,7ºC) e menor no mês de
janeiro (14,1ºC). Quanto aos valores de precipitação mensal, é maior no mês de dezembro (139,8mm)
e menor no mês de julho (14,4mm).
Quanto à temperatura máxima mensal ao longo da série em estudo, nos meses de junho, julho
e agosto, o maior valor registado foi de 32,64ºC no mês de agosto (quadro 8), enquanto o menor valor
da temperatura mínima mensal foi de 1,3ºC no mês de fevereiro (quadro 9).
É importante conhecer a evolução das temperaturas mínimas mensais e das temperaturas
máximas mensais entre 1885 e 2013, para conhecer a tendência e para compreender a ocorrência de
ondas de calor e de ondas de frio ao longo da série.
40
Ocorreu um ligeiro aumento dos valores médios da temperatura mínima mensal nos meses de
janeiro (fig.6), fevereiro (fig.7) e dezembro (fig.8), sendo maior no mês de dezembro, contudo os
valores do coeficiente de determinação são baixos, razão pela qual não são mostrados nos gráficos.
Relativamente à evolução dos valores médios da temperatura máxima mensal, nos meses de
junho (fig.9), julho (fig.10) e agosto (fig.11) ocorreu um aumento em todos os meses, tendo sido maior
no mês de agosto. Refira-se que a tendência de aumento registada na temperatura máxima mensal é
superior à verificada na temperatura mínima mensal. Todavia, refira-se que os valores do coeficiente
de determinação são baixos, não sendo por esse motivo exibidos nos gráficos.
Fig.5: Gráfico termopluviométrico de Coimbra (IGUC) de acordo com a normal climatológica de
1971-2000.
Fonte dos dados: IGUC - http://www1.ci.uc.pt/iguc/dados_cllima/norm7100.htm (acesso em 31/7/2014).
Quadro 8: Temperatura máxima mensal (ºC) entre 1865 e 2013.
Junho Julho Agosto
Média 25,61 28,08 28,57
Mediana 25,7 28,14 28,40
Desvio-padrão 1,965 1,796 1,695
Máximo 29,81 32,5 32,64
Mínimo 21,51 23,43 23,45
Intervalo de variação 8,30 9,07 9,19
Quadro 9: Temperatura mínima mensal (ºC) entre 1865 e 201319
.
Janeiro Fevereiro Dezembro
Média 5,93 6,50 6,56
Mediana 5,79 6,71 6,69
Desvio-padrão 1,477 1,662 1,701
Máximo 10,20 11,7 11,13
Mínimo 2,99 1,3 2,18
Intervalo de variação 7,21 10,4 8,95 19 No caso de dezembro, 1864-2013.
41
Entre 1865 e 2013 contabilizaram-se os números de dias com temperatura máxima diária igual
ou superior a 30°C (dias quentes), 32°C (contabilizou-se visto este valor ser usado na definição de
onda de calor por PAIXÃO e NOGUEIRA (2003) e por ser também usado no sistema de previsão e
alerta do PCRTEA no alerta amarelo), 35°C (dias muito quentes) e é também o valor utilizado no
sistema de previsão e alerta do PCRTEA no alerta vermelho) e 40°C (temperaturas extremamente
elevadas).
Quanto ao número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 30°C (fig.12),
ao longo da série em estudo registaram-se 3580 dias, sendo o mês de agosto aquele que registou o
maior número de ocorrências (1440 dias), seguindo-se o mês de julho com 1302 dias e junho com 838
dias. Analisando os anos, foi o de 2005 que apresentou o maior número de registos: 52 dias.
Fazendo a análise por décadas (fig.13), a de 1940 - 1949 foi aquela que registou o maior
número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 30°C (346 dias), 32°C (246 dias), a
35°C (118 dias) e 40°C (17 dias) relativamente às outras décadas do período em estudo. Refira-se que
nesta década se registaram 6 ondas de calor em Coimbra, tendo sido a década com o maior número de
ocorrências deste paroxismo térmico.
Fig.6: Evolução da temperatura mínima mensal (ºC) do mês de janeiro entre 1865 e 2013.
Fig.7: Evolução da temperatura mínima mensal (ºC) do mês de fevereiro entre 1865 e 2013.
42
Fig.8: Evolução da temperatura mínima mensal (ºC) do mês de dezembro entre 1865 e 2013.
Fig.9: Evolução da temperatura máxima mensal (ºC) do mês de junho entre 1865 e 2013.
Fig.10: Evolução da temperatura máxima mensal (ºC) do mês de julho entre 1865 e 2013.
43
Fig.11: Evolução da temperatura máxima mensal (ºC) do mês de agosto entre 1865 e 2013.
Fig.12: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 30ºC durante os meses de
junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
Fig.13: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 30°C durante os meses de junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
No que diz respeito ao número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a
32°C (fig.14), ao longo do período em estudo, contabilizaram-se 2318 dias, tendo sido o mês de agosto
que apresentou o maior número de dias: 911, seguindo-se o mês de julho com 884 dias e o mês de
44
junho com 523 dias. Quanto à análise anual, em 1949 registou-se o maior número de ocorrências: 40.
A década de 1940-1949 apresentou o maior número de registos (fig.15).
No que concerne ao número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 35°C
(fig.16), durante os meses em estudo, assinalaram-se 1038 dias. O mês de julho apresentou os maiores
quantitativos do número de dias: 438, sucedendo-se agosto com 410 dias e junho com menor número
de dias, apenas 190. O ano de 1949, tal como no número de dias com temperatura máxima diária igual
ou superior a 32°C, foi o que apresentou maiores números de dias com temperatura máxima diária
igual ou superior a 35°C: 22. Quanto à análise por décadas (fig.17), o período de 1940-1949,
apresentou o maior número de registos.
Relativamente ao número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 40°C
(fig.18), ao longo da série em análise, registaram-se 74 dias, tendo sido o mês de julho com maior
número de eventos, seguindo-se agosto com 29 dias e junho somente com 6 dias. Quanto aos valores
máximos anuais, surgem os anos de 1946, 1949 e 2003 com 4 ocorrências. A década de 1940-1949
apresentou o maior registo de ocorrências (fig.19).
No que diz respeito ao número de dias com temperatura mínima diária igual ou inferior a 0ºC
(dias de geada) (fig.20) durante os meses de janeiro, fevereiro e dezembro, registaram-se 382 dias,
com o maior número de dias a verificar-se no mês de janeiro com 177 eventos, sucedendo-se o mês de
dezembro com 110 dias e fevereiro com 95 dias. O ano de 1935 apresentou o maior número total de
dias: 15, seguindo-se 1954 com 14 dias.
Relativamente ao número de dias com temperatura mínima diária igual ou inferior a 0°C,
procedendo à análise por décadas (fig.21), foi a de 1930 – 1939 a que registou o maior número de
eventos (57 dias), sucedendo-se a década de 1950 – 1959 com 56 dias, tendo-se registado nesta década
3 ondas de frio, isto é, maiores ocorrências comparativamente com as outras décadas.
Fig.14: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 32ºC durante os meses de
junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
45
Fig.15: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 32°C durante os meses de junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
Fig.16: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 35ºC durante os meses de
junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
Fig.17: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 35°C durante os meses de
junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
46
Fig.18: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 40ºC durante os meses de
junho, julho e agosto entre 1865 e 2013.
Fig.19: Número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 40°C durante os meses de
junho, julho e agosto, por décadas, entre 1865 e 2013.
Fig.20: Número de dias com temperatura mínima diária igual ou inferior a 0ºC durante os meses de
janeiro, fevereiro e dezembro entre 1864 e 2013.20
20 Relativamente ao ano de 1864, só existem dados para o mês de dezembro.
47
Fig.21: Número de dias com temperatura mínima diária igual ou inferior a 0ºC durante os meses de
janeiro, fevereiro e dezembro, por décadas, entre 186421
e 2013.
Em síntese, há uma tendência de aumento da média das temperaturas mínimas (sendo maior
no mês de dezembro) e máximas (maior no mês de agosto) mensais, sendo o aumento maior no caso
das temperaturas máximas mensais. Contudo registam-se, ao longo da série desde 1865 a 2013, ciclos
mais curtos de variação das temperaturas. Por exemplo, a década de 1940 – 1949 foi aquela que
registou o maior número de dias com temperatura máxima diária igual ou superior a 30°C, 32°C, a
35°C e 40°C, bem como a maior ocorrência de ondas de calor (6) relativamente às outras décadas do
período em estudo, como se confirmará no capítulo 5.Ondas de calor e ondas de frio em Coimbra. No
caso do frio, a década de 1930 – 1939 a que registou o maior número de dias com temperatura mínima
diária igual ou inferior a 0°C e a década de 1950-1959 a que registou maiores registos de ondas de frio
(3), como se verificará capítulo 5.Ondas de calor e ondas de frio em Coimbra.
3.2.2. Condicionantes regionais e locais do clima de Coimbra
Coimbra apresenta clima temperado mediterrâneo com influência atlântica que se faz sentir
pela abertura da planície aluvial do Mondego, com a amenização das temperaturas no verão e no
inverno, não sendo afetada com muita frequência nem com muita intensidade por ondas de frio,
todavia verifica-se a ocorrência de dias com temperaturas mínimas negativas e ondas de frio
(MATEUS e CUNHA, 2013).
Contudo, o clima de Coimbra apresenta características particulares em virtude da alteração da
cobertura natural do solo/uso do solo, com a criação de um clima urbano (GANHO, 1998) e levando a
contrastes termohigrométricos espaciais na cidade. Os contrastes espaciais mais comuns associados à
ilha de calor correspondem entre 3 a 5ºC de temperatura (GANHO, 2010). Por outro lado, a
diversidade de relevo e de diferenças altitudinais, quer na cidade, quer na sua envolvência,
especialmente no que diz respeito ao Maciço Marginal de Coimbra intensificam a ilha de calor urbano,
nomeadamente quando ocorrem circulações de Leste durante a noite (ob. cit.).
21 Relativamente ao ano de 1864, só existem dados para o mês de dezembro.
48
Também no que diz respeito às temperaturas baixas, a topografia tem importância a nível
local. Em áreas topograficamente deprimidas pode registar-se, em determinadas situações sinópticas, a
presença de lagos de ar frio, sendo mais problemática com a ocorrência de ondas de frio, como por
exemplo, na parte terminal do Vale da Ribeira de Coselhas ou na Bacia de Souselas, originando
desconforto térmico, no inverno, em noites de arrefecimento noturno. LOPES (1998: 26) indica que no
caso de arrefecimento em noites anticiclónicas, no inverno, pode originar desconforto térmico da
população residente nas áreas topograficamente deprimidas, devido à presença de lagos de ar frio,
nomeadamente quando as habitações não apresentam eficiência térmica. A drenagem de ar frio nas
vertentes ocorre desde o pôr até ao nascer do sol, sendo a irradiação terrestre e as inversões térmicas as
causas do arrefecimento radiativo junto ao solo e a gravidade a principal origem da drenagem do ar
frio (LOPES, 1995: 151). No caso de Coimbra, este fenómeno acontece através da drenagem de ar
frio, no inverno, em noites anticiclónicas, por exemplo na Avenida António Portugal e na Avenida
Elísio de Moura (MARQUES et al., 2009: 3404).
A ilha de calor urbano de Coimbra é polinucleada (GANHO, 1998), desenvolvendo-se com
maior intensidade na área de Celas, Avenida Dias da Silva e Santo António dos Olivais, com
diferenças de temperaturas superiores a 9ºC, no mês de dezembro (MARQUES et al., 2009: 3403).
Ainda, quanto à intensidade, é maior durante o período noturno. Outro núcleo da ilha de calor urbano
está presente na área da Solum, Bairro Norton de Matos, Vale das Flores e Ladeira do Chão do Bispo,
assim como outros núcleos na Alta e na Baixa da cidade e na Rua da Sofia (ob. cit.) e verificam-se
núcleos quentes no Tovim, Chão do Bispo e Celas. A intensificação da ilha de calor urbano tem
aumentado na área da Solum, expandindo-se para Sul, em virtude do aumento da urbanização na área
da Solum, Calhabé e Vale das Flores com o aumento do tráfego rodoviário e dos níveis de poluição
(FIALHO et al., 2010: 2). Por outro lado, no verão, desenvolvem-se “ilhas de frescura” nos espaços
verdes no Jardim Botânico e no Jardim de Santa Cruz (MARQUES et al., 2009: 3404). Assim, os
espaços verdes são importantes na mitigação da ilha de calor urbano, no caso da cidade de Coimbra,
sendo importante para diminuir o desconforto térmico associado a ondas de calor (LEAL et al., 2008)
e para o planeamento urbano (ANDRADE, 2005).
O aumento da população em espaço urbano, assim como de construções com a ampliação da
densidade de alojamentos, acréscimo do tráfego e agravamento dos níveis de poluição leva ao
intensificar da ilha de calor urbano. De acordo com ALCOFORADO e ANDRADE (2007) é possível
diminuir o stress térmico dos habitantes através da modificação de alguns aspetos da morfologia
urbana, ao nível da ventilação para melhorar a qualidade do ar e da existência de espaços verdes.
As temperaturas diurnas e noturnas durante a ocorrência de ondas de calor e de ondas de frio
são influenciadas pelo relevo, orientação de vertentes, pelo uso do solo e pela distância ao oceano,
assim como pela existência de massas de água, por exemplo.
49
3.3. Caracterização demográfica e social das freguesias do concelho de Coimbra
É importante conhecer a caracterização da população residente no concelho de Coimbra aos
níveis demográfico, económico, habitacional, educacional e social, nas várias freguesias, para
compreender desigualdades, visto que essas características interferem com o estado de saúde da
população (NOGUEIRA, 2008) e averiguar a vulnerabilidade social. Sendo relevante para um melhor
ordenamento do território identificar as áreas mais vulneráveis face aos riscos climáticos de ondas de
calor e de ondas de frio, no sentido de diminuir essa vulnerabilidade e de aumentar a resiliência da
população. Apresentam-se, quando pertinente, os valores dos diversos indicadores também a nível
nacional e da região Centro de Portugal Continental, de maneira a comparar a posição do concelho de
Coimbra e das várias freguesias. São utilizados os dados mais recentes, dos censos de 2011 (XIV
Recenseamento geral da população e IV Recenseamento geral da habitação).
3.3.1. Demografia
Relativamente à densidade populacional, o concelho apresenta 449 hab./km2, sendo as
freguesias de Sé Nova com 4217,5 hab./km2 e São Bartolomeu com 3748,5 hab./km
2 aquelas que
apresentam maior densidade demográfica, em oposição a freguesia de Vil de Matos apresenta apenas
91 hab./ km2 (fig.22).
Quanto à variação da população residente entre 2001 e 2011, 19 freguesias registaram
valores negativos de variação populacional, a freguesia de Almedina foi aquela que perdeu maiores
efetivos populacionais (-40,57%), seguindo-se São Bartolomeu (-26,75%) enquanto a freguesia que
ganhou mais população foi Assafarge (+21,08%), seguindo-se Vil de Matos (12,26%) num universo
de 12 freguesias com valores positivos de variação populacional (fig.23).
Analisando as pirâmides etárias do concelho de Coimbra (fig.24), entre os recenseamentos de
2001 e 2011, verificou-se o duplo envelhecimento da população (envelhecimento pela base e pelo topo
da pirâmide), isto é, com a diminuição do grupo etário dos jovens, pela diminuição do índice de
fecundidade e o aumento do quantitativo populacional no grupo etário dos idosos, devido ao aumento
da esperança média de vida; acompanhando a mesma situação que se verifica na Região Centro
(fig.25) e em Portugal (fig.26). A idade média (em anos) da população residente no concelho de
Coimbra é de 43,40 anos, superior à de Portugal (41,83 anos) e inferior à da Região Centro (43,79
anos). As freguesias de São Bartolomeu e Almedina apresentam os maiores quantitativos, com 51,83
anos e 48,19 anos, respetivamente.
Relativamente à evolução da estrutura etária da população residente em Portugal por grupos
etários em 1981, 1991, 2001 e 2011, verifica-se uma diminuição dos quantitativos populacionais no
grupo etário dos 0 aos 14 anos (jovens), enquanto no grupo etário dos idosos (65 e mais anos de idade)
ocorre um aumento (fig.27).
50
Fig.22: Densidade populacional (habitantes/km2)
nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE22
(2011b).
Fig.23: Variação da população residente (%) nas freguesias do concelho de Coimbra entre 2001 e 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
22 Instituto Nacional de Estatística.
51
Quanto à proporção de jovens (0 a 14 anos de idade) é de 12,44% no concelho de Coimbra,
menor do que em Portugal (14,89%) e na Região Centro (13,72%). Os menores valores surgem nas
freguesias do centro histórico, nomeadamente Santa Cruz, Almedina e Sé Nova; apresentando-se os
maiores valores na freguesia de Vil de Matos (fig.28).
Referentemente à proporção de adultos (15 a 64 anos de idade) no concelho de Coimbra é
de 67,49%, maior do que em Portugal (66,08%) e da Região Centro (63,87%). Os menores valores
averiguam-se nas freguesias do centro histórico, ocorrendo os maiores valores nas freguesias de Eiras,
Santa Clara e Assafarge.
Relativamente ao grupo etário dos idosos, cartografou-se a proporção de população com 65 ou
mais anos (população idosa) e a proporção de população com 75 ou mais anos (população muito
idosa), visto ser um grupo etário bastante vulnerável face às ondas de calor e às ondas de frio.
Fig.24: Pirâmides etárias do concelho de Coimbra em 2001 e em 2011. Fonte dos dados: INE (2001, 2011b).
Fig.25: Pirâmides etárias da Região Centro de Portugal Continental em 2001 e em 2011.
Fonte dos dados: INE (2001, 2011b).
52
Fig.26: Pirâmides etárias de Portugal em 2001 e em 2011. Fonte dos dados: INE (2001, 2011b).
No que diz respeito à proporção da população com 65 e mais anos de idade, definida como
população idosa, o concelho apresenta 20,07% (conjunto de homens e mulheres), 8,16% no caso do
sexo masculino e 11,91% referente ao sexo feminino. As freguesias de São Bartolomeu e Almedina
são as mais envelhecidas com 36,68% e 31,97%, respetivamente (fig.29). Registam-se maiores
quantitativos de população idosa no sexo feminino relativamente ao sexo masculino, sendo os maiores
valores assinalados na freguesia de São Bartolomeu com 26,95% e na freguesia de Almedina com
21,02%. No caso do sexo masculino, são também as freguesias de São Bartolomeu (9,73%) e
Almedina (10,95%) que apresentam os maiores valores. Em Portugal, o valor é de 19,03% e na Região
Centro de 22,41% para o conjunto de homens e mulheres. No caso do sexo masculino, em Portugal é
de 7,97%, na Região Centro é de 9,46%; enquanto no sexo feminino, para Portugal é de 11,06% e na
Região Centro de 12,95%.
Fig.27: Estrutura etária da população residente em Portugal por grupos etários em 1981, 1991, 2001 e
em 2011. Fonte: INE (2011a: 11).
53
Fig.28: Proporção de jovens (%) relativamente à população residente nas freguesias do concelho de
Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
Fig.29: Proporção da população residente com 65 e mais anos de idade (%) nas freguesias do concelho
de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
54
No que concerne à proporção da população com 75 e mais anos de idade, considerada
como população muito idosa, o concelho apresenta 9,67% de população muito idosa, 3,56% no caso
do sexo masculino e 6,12% no caso do sexo feminino. As freguesias de São Bartolomeu e de
Almedina são as mais envelhecidas com 23,60% e 17,26%, respetivamente (fig.30). Verifica-se em
todas as freguesias que os quantitativos são superiores no sexo feminino comparativamente com o
sexo masculino, sendo a freguesia de São Bartolomeu aquela que regista maior percentagem de
população muito idosa do sexo feminino: 18,18%, seguindo-se a freguesia de Almedina com 11,39%.
No caso da população muito idosa masculina, as maiores percentagens verificam-se em São
Bartolomeu com 5,42% e Almedina com 5,86%. Em Portugal, o valor é de 9,11% e na Região Centro
de 11,18%, para o conjunto da população. Relativamente ao sexo masculino, em Portugal é de 3,49%,
na Região Centro é de 4,36%; no caso do sexo feminino é de 5,61% em Portugal e de 6,81% na
Região Centro.
Fig.30: Proporção da população residente com 75 e mais anos de idade (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
O concelho de Coimbra apresenta valores elevados de índice de envelhecimento23
: 161,4
pessoas idosas por cada 100 jovens, com 129,8 idosos por cada 100 jovens do sexo masculino e 193,7
idosas por cada 100 jovens do sexo feminino. Relativamente ao envelhecimento total (homens e
23 “Relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como o quociente entre o
número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14
anos (expressa habitualmente por 100 (10^2) pessoas dos 0 aos 14 anos).” (INE).
55
mulheres), todas as freguesias do concelho de Coimbra apresentam excesso de pessoas idosas por cada
100 jovens (fig.31). Quanto ao índice de envelhecimento no sexo feminino, todas as freguesias
apresentam valores mais elevados comparativamente ao sexo masculino; o total do concelho apresenta
193,7 mulheres por cada 100 jovens, sendo a freguesia de São Bartolomeu a mais envelhecida com
734,8 mulheres idosas por cada 100 jovens, seguindo-se a freguesia de Almedina com 441,9 idosas
por cada 100 jovens. Referentemente ao índice de envelhecimento no sexo masculino, o concelho
apresenta 129,8 homens idosos por cada 100 jovens, sendo que a freguesia de São Bartolomeu exibe
os valores mais elevados, 277,3 idosos por cada 100 jovens, seguindo-se a freguesia de Almedina com
247,5 idosos por cada 100 jovens; apenas as freguesias de Eiras (85,3), Assafarge (93,4), São Paulo de
Frades (94,9) e São Silvestre (99,2) apresentam valores inferiores a 100, registando menor população
idosa masculina por cada 100 jovens. Assim, a freguesia de São Bartolomeu é claramente a mais
envelhecida no contexto das freguesias do concelho: 511,1 (total), 734,8 (mulheres), 277,3 (homens),
seguindo-se a freguesia de Almedina: 348,2 (total), 441,9 (mulheres) e 247,5 (homens). Em Portugal,
o valor do índice de envelhecimento, em 2011, era de 127,8 e na Região Centro de 163,4. No País, o
valor era de 127,8, no caso do sexo feminino: 152 e do género masculino: 104,8; relativamente à
Região Centro, 163,4, 193,4 no caso das mulheres e 134,9 referentemente aos homens. As projeções
demográficas, por exemplo, GONÇALVES e CARRILHO (2006), apontam para um aumento da
população idosa, sendo um fator a ter em consideração visto que é um grupo vulnerável face aos
extremos de temperatura e às ondas de calor e às ondas de frio.
Fig.31: Índice de envelhecimento (n.º) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
56
Analisando o índice de longevidade24
, o concelho de Coimbra apresenta 48,19%, sendo a
freguesia de São Bartolomeu aquela que apresenta os valores mais elevados (fig.32): 64,35% no caso
do índice de longevidade total, 55,74% relativamente ao índice de longevidade no sexo masculino e
67,46% referente ao sexo feminino. Exceto a freguesia de Torres do Mondego, em todas as restantes, o
índice de longevidade apresenta maiores valores no sexo feminino. Referentemente a Portugal, o
índice de longevidade é de 47,86% e na região Centro de 49,86; no caso do sexo masculino, Portugal
apresenta 43,79% e a Região Centro 46,08%; relativamente ao sexo feminino, Portugal apresenta
50,79% e a Região Centro 52,62%.
Fig.32: Índice de longevidade (%) da população residente nas freguesias do concelho de Coimbra em
2011. Fonte dos dados: INE (2011b).
A proporção de famílias clássicas unipessoais de pessoas com 65 ou mais anos de idade
(%), ou seja, idosos sós, é de 10,16% no concelho de Coimbra, apresentando os maiores valores em
São Bartolomeu com 27,41% e em Almedina com 19,95% (fig.33). Em Portugal, o valor é de 10,06%
e na Região Centro é de 11,77%.
Referentemente à população residente sem abrigo em Portugal contavam-se 696 pessoas e
na Região Centro 66 pessoas. No concelho, em 2001, existiam 13 pessoas sem abrigo, 9 em Santa
Cruz, 3 em São Bartolomeu e 1 em Ceira.
24 “Relação entre a população mais idosa e a população idosa, definida habitualmente como o quociente entre o
número de pessoas com 75 ou mais anos e o número de pessoas com 65 ou mais anos (expressa habitualmente
por 100 (10^2) pessoas com 65 ou mais anos).” (INE).
57
Fig.33: Proporção de famílias clássicas unipessoais de pessoas com 65 ou mais anos de idade (%) nas
freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
3.3.2. Educação
A taxa de analfabetismo (%) é de 3,59% no concelho, sendo mais elevada na freguesia de
Arzila com 11,84% e na freguesia de São Bartolomeu (fig.34). Em todas as freguesias, a taxa de
analfabetismo apresenta valores mais elevados no sexo feminino, sendo mais evidente na freguesia de
Arzila com 19,81%. Em Portugal é de 5,22%; no sexo masculino 3,51% e no sexo feminino 6,77%.
No caso da Região Centro a taxa de analfabetismo é de 6,38%, no sexo masculino é de 4,02% e no
sexo feminino é de 8,50%.
Quanto à proporção da população residente com o ensino superior completo (%) é de
29,27% no concelho, mostrando os maiores valores em Sé Nova com 52,24% e em Santo António dos
Olivais com 48,88% enquanto os menores valores se expõem em Lamarosa com 7,20% e em São João
do Campo com 7,65% (fig.35). A proporção da população residente com o ensino superior completo é
maior no sexo feminino, com exceção da freguesia de Almedina que apresenta 30,98%. Em Portugal é
de 15,11%, no sexo masculino é de 12,78% e para o sexo feminino é de 17,16%. Referentemente à
Região Centro é de 13,08%, no sexo masculino é de 10,50% e no sexo feminino é de 15,34%.
58
Fig.34: Taxa de analfabetismo (%) da população residente nas freguesias do concelho de Coimbra em
2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
Fig.35: População com o ensino superior completo (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em
2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
59
3.3.3. Emprego
O concelho de Coimbra apresenta uma taxa de desemprego de 10,14%, sendo os valores mais
elevados registados na freguesia de São Bartolomeu com 24,51% e Almedina com 17,84%, enquanto
os menores valores registam-se na freguesia de Arzila com 6,85% (fig.36). Relativamente ao
desemprego no sexo masculino, o concelho apresenta 11,11% de homens desempregados e a freguesia
com maior percentagem de desempregados é São Bartolomeu com 32,54% e Almedina com 22,34%,
em oposição, Arzila é a freguesia com menor número de desempregados: 5,56%. No caso do
desemprego no sexo feminino o concelho de Coimbra apresenta 9,23%, sendo os maiores valores
registados na freguesia de São Bartolomeu com 16,54% e Vil de Matos com 14,14%, enquanto a
freguesia de Botão regista o menor valor (6,16%). Em 8 freguesias a taxa de desemprego apresenta
valores superiores no sexo feminino relativamente ao sexo masculino. Em Portugal a taxa de
desemprego total é de 13,18%, no sexo masculino é de 12,58% e no sexo feminino é de 13,83%. No
caso da Região Centro é de 10,98%, no sexo masculino é de 9,99% e no sexo feminino é de 12,08%.
Analisando a população empregada por setor de atividade económica (primário,
secundário e terciário; %) no concelho 84,26% trabalha no setor terciário, por contraste com 15,08%
no setor secundário e 0,66% no setor primário. Em todas as freguesias há uma predominância de
população empregada no setor terciário face aos outros setores. A freguesia com maior percentagem
de população empregada no setor terciário é Sé Nova com 90,48%, enquanto a menor é Botão com
64,98%. Relativamente ao setor secundário, a maior percentagem regista-se em Botão com 34,56% e a
menor em Almedina com 8,26%. No que concerne ao setor primário, a maior percentagem de
população empregada verifica-se em São João do Campo com 3,47% (fig.37) e a menor em Brasfemes
com 0%. Ocorre a predominância do setor terciário, com exceção da população masculina residente na
freguesia do Botão, em que o setor secundário (57,10%) apresenta maior população empregada que o
setor terciário (42,30%). Em Portugal a população empregue no setor primário é de 3,06%, no setor
secundário é de 26,48% e no setor terciário é de 70,46%. No caso da Região Centro, a população
empregada no setor primário é de 3,72%, no setor secundário é de 30,08% e no setor terciário é de
66,20%.
Relativamente à proporção de profissionais mais socialmente valorizados, em Portugal é de
22,24%, na Região Centro de 20,90 e em Coimbra de 37,15% (valor bastante superior aos valores
nacional e regional). A freguesia de Sé Nova apresenta o maior valor (64,90%), seguindo-se Santo
António dos Olivais (58,06%), enquanto o menor valor se encontra em São João do Campo (fig. 38).
60
Fig.36: Taxa de desemprego (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
Fig.37: População empregada no setor primário de atividade económica (%) nas freguesias do
concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
61
Fig.38: Proporção de profissionais socialmente mais valorizados (%) na população residente nas
freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
3.3.4. Habitação
A densidade de alojamentos (aloj./km2) é de 248,76 aloj./km
2 no concelho, sendo maior na
freguesia de São Bartolomeu com 3850,10 aloj./km2, seguindo-se Sé Nova com 3440,46 aloj./km
2, por
oposição à freguesia de Vil de Matos, apenas com 38,93 aloj./km2 (fig.39). Em Portugal é de 63,75
aloj./km2 e na Região Centro é de 51,37 aloj./km
2.
A idade média dos edifícios (ano) é de 38,01 anos no concelho de Coimbra (maior valor do
que o registado em Portugal, 37,92 anos e menor do que o registado na Região Centro 38,17 anos),
sendo o menor valor correspondente à freguesia de Torre de Vilela com 25,39 anos e o maior valor de
94,16 anos na freguesia de Almedina (fig.40).
Quanto à proporção de edifícios muito degradados (%), no concelho é de 1,71% e os
maiores valores são de 5,74% na freguesia de Torres do Mondego (fig.41). No caso de Portugal é de
1,67% e da Região Centro é de 1,74%.
62
Fig.39: Densidade de alojamentos (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
Fig.40: Idade média dos edifícios (ano) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
63
Fig.41: Proporção de edifícios muito degradados (%) nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
Quanto a alojamentos familiares de residência habitual e existência de ar condicionado,
no concelho apenas 10,46% dos alojamentos tinham ar condicionado, sendo os maiores valores
registados nas freguesias de Santo António dos Olivais com 14,60% e Sé Nova com 13,71%. A nível
concelhio, 89,54% dos alojamentos não têm ar condicionado e as freguesias de Botão (96,96%),
Almedina (96,08%) e São Bartolomeu (95,96%) apresentam os valores mais elevados (fig.42). A nível
nacional 89,81% e a nível da Região Centro, 92,61% dos alojamentos não têm ar condicionado.
Quanto aos alojamentos familiares de residência habitual e existência de aquecimento, a
nível nacional 14,01% dos alojamentos familiares não possui sistema de aquecimento, a nível da
Região Centro é de 5,76% e no concelho de Coimbra é de 6,77%. A freguesia com o valor mais
elevado relativo à ausência de sistema de aquecimento é a de São Bartolomeu (21,89%) seguindo-se a
freguesia de Almedina com 14,46% (fig.43). Analisando a existência de ar condionado e de sistema de
aquecimento nos alojamentos familiares de residência habitual, verifica-se que estes estão mais bem
adaptados ao frio do que ao calor.
A nível concelhio, 1,34% dos alojamentos familiares de residência habitual não possuíam
instalação de banho ou duche (%) e a freguesia de São Bartolomeu apresenta a maior percentagem
(8,42%). Em Portugal 1,98% dos alojamentos familiares de residência habitual não possui instalação
de banho ou duche, enquanto na Região Centro o valor é de 2,20%.
64
Fig.42: Alojamentos familiares de residência habitual sem existência de ar condicionado (%) nas
freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
Fig.43: Alojamentos familiares de residência habitual sem existência de sistema de aquecimento (%)
nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Fonte dos dados: INE (2011b).
65
3.3.5. Síntese
Através dos mapas construídos para os diversos indicadores de demografia, educação,
emprego e habitação das freguesias do concelho de Coimbra, identificam-se diferentes três tipos de
áreas, em termos de vulnerabilidade, sendo que essa análise será mais aprofundada no capítulo sobre a
vulnerabilidade social ao nível das freguesias no concelho de Coimbra. Esta análise é importante, pois,
por exemplo, XU et al. (2013) no caso de Barcelona indicam que a vulnerabilidade face ao calor é
maior em áreas com edifícios antigos, falta de espaços verdes e com maior percentagem de
trabalhadores manuais.
Assim, a área mais crítica, com maior envelhecimento populacional, menores condições
habitacionais, baixos níveis educacionais corresponde às freguesias do centro histórico como Santa
Cruz e São Bartolomeu; seguindo-se as freguesias rurais da periferia do concelho, como São João do
Campo, Torres do Mondego ou São Silvestre; enquanto as freguesias mais urbanas e periurbanizadas
pertencentes à cidade são as que apresentam menor proporção de população idosa, maiores níveis
educacionais, maior população empregada no setor terciário e melhores condições habitacionais, como
Santo António dos Olivais e Santa Clara.
66
4. Vulnerabilidade Social
4.1. Enquadramento teórico
Apresentam-se, a título de exemplo, alguns estudos relativos à vulnerabilidade, nomeadamente
vulnerabilidade social: CUTTER et al. (2003), MENDES (2009), MENDES et al. (2009), MENDES
et al. (2011), CUNHA et al. (2011), FREITAS e CUNHA (2012), CUNHA (2013), NOSSA et al.
(2013) e FREITAS et al. (2013).
MENDES et al. (2011: 96, citando KUHLICKE et al., 2011) indicam que a vulnerabilidade é
“um produto de determinados contextos espaciais, socioeconómicos, demográficos, culturais e
institucionais, pelo que a sua abordagem é sensível às condições locais e à dimensão temporal”.
De acordo com CUNHA et al. (2011: 627, citando UN-ISDR, 2009) a vulnerabilidade é “a
propensão da população exposta ou dos recursos económicos sofrerem perdas na dependência das suas
características físicas, sociais, políticas, económicas, culturais e institucionais” envolvendo “a
exposição de pessoas e bens e, por outro, o nível de resistência e de resiliência de indivíduos e
comunidades quando expostos a processos e eventos potencialmente prejudiciais”, isto é, a
vulnerabilidade social.
NOSSA et al. (2013: 55, citando MENDES et al. 2011:98) indicam que a vulnerabilidade
social é estimada a partir de características individuais de uma população, como por exemplo, a idade,
o sexo, condições de habitação, rendimento, escolaridade; refletindo desigualdades e suscetibilidades
no espaço e no tempo; sendo uma condição de “fragilidade ou fraqueza coletiva” (NOSSA et al.,
2013: 55, citando CUTTER et al., 2003, THYWISSEN, 2006 e MENDES et al. 2011). Para MENDES
et al. (2009: 2 citando WISNER et al., 2004 e HUFSCHIMDT et al., 2005) “a vulnerabilidade social
representa o nível de resiliência e resistência dos indivíduos e comunidades, quando expostas a
processos ou eventos perigosos”. Assim, a vulnerabilidade social está relacionada com as
desigualdades sociais, económicas e ligada a situações de pobreza e à classe social.
A vulnerabilidade social pode ser decomposta em criticidade e capacidade de suporte
(MENDES et al., 2009; MENDES et al., 2011; CUNHA et al., 2011). MENDES et al. (2009: 3)
definem criticidade, como o “conjunto de características individuais e comportamentais que podem
contribuir para a rutura do sistema” enquanto capacidade de suporte do território é “o conjunto de
infra-estruturas territoriais que permitem à comunidade reagir em caso de desastre”. MENDES et al.
(2009: 5) mencionam que “quanto maior for a vitalidade económica, mais baixo será o nível de
criticidade, uma vez que as comunidades e os indivíduos aí residentes possuem maiores recursos,
sendo capazes de recuperar mais facilmente dos danos provocados” pela manifestação de um risco.
67
4.2. Vulnerabilidade social no concelho de Coimbra
4.2.1. Enquadramento teórico
CUNHA et al. (2011: 629) através de uma análise fatorial de componentes principais (ACP)
calcularam a criticidade e a capacidade de suporte através da análise de variáveis de “demografia,
edifícios, economia, educação, justiça, saúde, habitação, proteção civil, apoio social e investimento
ambiental”, resultando na vulnerabilidade social ao nível da freguesia para o concelho de Coimbra,
entre outros.
Quanto à criticidade, a freguesia de Almedina registou valores elevados, sendo uma freguesia
de urbanização mais antiga localizada no centro da cidade com elevados quantitativos percentuais de
população idosa; por outro lado, esta freguesia não apresenta uma capacidade de suporte elevada
(MENDES et al., 2011; CUNHA et al. (2011: 633).
Os elevados níveis de criticidade no concelho de Coimbra, devem-se, sobretudo, à presença de
população idosa, apresentando um elevado contraste com a boa capacidade de suporte a nível
municipal (MENDES et al. 2009; MENDES et al., 2011).
No caso da freguesia de Santo António dos Olivais, esta apresenta uma elevada criticidade
visto que possui elevados quantitativos de população residente, especialmente no que diz respeito a
população idosa e a crianças com menos de 5 a nos de idade; contudo, apresenta, também, uma
elevada capacidade de suporte, devido à “rede densa e diversificada de equipamentos de saúde,
sociais, culturais e educacionais”, sendo importantes para a “prevenção e mitigação do risco e na
implementação do socorro e emergência” (MENDES et al. 2009: 15).
O Plano de Desenvolvimento Social 2010-2013 para o concelho de Coimbra, é um documento
de Planeamento Estratégico e tem como objetivo a promoção do desenvolvimento social local, através
da redução da pobreza e da exclusão social, tendo em vista a melhoria das condições de vida da
população, o que é importante para a redução da vulnerabilidade social. Segundo o Diagnóstico Social
do concelho de Coimbra, os principais problemas da população idosa são: insuficiência de lares,
insuficiência de respostas para a patologia mental (Alzheimer), défice de serviço de apoio
domiciliário, baixos valores de reforma/subsídios, viver sozinha (CONSELHO LOCAL DE ACÇÃO
SOCIAL DE COIMBRA, 2010: 13). No caso da população sem-abrigo é objetivo desenvolver o
diagnóstico da saúde física e mental (CONSELHO LOCAL DE ACÇÃO SOCIAL DE COIMBRA,
2010: 21), mostrando, assim, a relevância do planeamento para a redução da vulnerabilidade social.
4.2.2. Cartografia da vulnerabilidade social em Coimbra
Para construir o mapa das freguesias de Coimbra mais vulneráveis, recolheram-se indicadores
referentes à demografia, educação, condições económicas e habitacionais. Foram utilizados 17
indicadores, ao nível da freguesia do concelho de Coimbra, datando do recenseamento de 2011
(quadro 10).
68
Quadro 10: Indicadores usados para a análise de vulnerabilidade social.
Indicadores
Densidade populacional (nº/km2)
Proporção da população residente com 75 ou mais anos (proporção de população muito idosa)
Índice de envelhecimento
População residente sem abrigo
Proporção de núcleos familiares monoparentais
Proporção de famílias clássicas unipessoais de pessoas com 65 ou mais anos de idade (%) (idosos sós)
Dificuldades (n.º) da população residente em ver
Dificuldades (n.º) da população residente em tomar banho ou vestir-se sozinho
Dificuldades (n.º) da população residente em compreender os outros ou fazer-se compreender
Taxa de analfabetismo
Taxa de abandono escolar
Proporção de profissionais socialmente mais valorizados
Taxa de desemprego
População empregada no setor primário de atividade económica
Idade média dos edifícios
Proporção de edifícios muito degradados
Famílias clássicas (n.º) nos alojamentos familiares clássicos e com área útil por ocupante inferior a 10 m²
Demografia
Educação
Economia
Habitação
Para cada indicador, ordenou-se de forma decrescente de “gravidade”, colocando-se o valor
que cada freguesia ocupa nessa ordem (1 a 31, pois são 31 freguesias). A título de exemplo, no caso do
índice de envelhecimento, ordenou-se por ordem decrescente, atribuindo-se o valor 1 à freguesia com
o maior valor, o valor 2 à freguesia com o segundo valor mais elevado e assim por diante. Procedendo-
se com o mesmo método para os restantes indicadores. No final, somaram-se os “rankings” de cada
freguesia relativos aos 17 indicadores em análise, resultando um “ranking” final para a vulnerabilidade
das freguesias (quadro 11).
Segundo os mapas elaborados por CUNHA et al. (2011: 634), os maiores valores de
criticidade encontram-se nas freguesias do centro histórico da cidade de Coimbra; relativamente à
capacidade de suporte é muito elevada na freguesia de Santo António dos Olivais. Sendo que
relativamente à vulnerabilidade social, há uma semelhança na distribuição do ranking de
vulnerabilidade nas freguesias, no mapa elaborado por CUNHA et al. (2011: 635) e o elaborado nesta
dissertação (fig.44).
As freguesias mais vulneráveis são Santa Cruz (117), São Bartolomeu (141), Sé Nova (153);
em oposição, as menos vulneráveis são Brasfemes (376), Torre de Vilela (360) e Assafarge (351)
(quadro 11)
São identificadas três áreas de vulnerabilidade no concelho de Coimbra: uma correspondente
ao centro histórico que é a mais vulnerável, correspondendo às freguesias de Santa Cruz, São
Bartolomeu e Sé Nova; seguindo-se uma área rural também vulnerável (mas de menor intensidade)
que corresponde às freguesias de Ceira, Torres do Mondego, São João do Campo, São Silvestre e São
Martinho de Árvore e outra área menos vulnerável, sendo uma área de expansão urbana,
correspondendo às freguesias que incluem para além de áreas urbanas consolidadas, áreas periurbanas
e áreas de expansão urbana recente, como Santo António dos Olivais e Santa Clara (fig.44).
69
Quadro 11: Ranking de cada indicador demográfico e vulnerabilidade social nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
Freguesias Dens pop Ind env Pop ≥75 anos Fam unip ≥65anos Fam monop S/abrigo Tx analf Tx aband escolar Tx des Prof socialmente + valorizados Pop setor 1º Dif banho vestir Dif compr Dif ver Edif degradados Idade edif <10 m² TOTAL
Almalaguês 28 8 11 8 22 4 13 24 28 10 7 9 11 8 29 17 21 230
Ameal 26 9 8 10 30 4 3 19 27 7 16 15 19 21 30 18 14 250
Antanhol 18 24 23 27 23 4 22 12 11 23 19 19 18 18 26 21 19 309
Antuzede 16 21 26 20 25 4 12 24 12 11 11 18 20 20 23 28 13 288
Arzila 25 10 4 5 31 4 1 24 31 2 17 30 31 30 5 6 20 251
Assafarge 15 31 30 29 27 4 25 5 19 27 16 21 24 22 14 27 15 336
Botão 30 13 19 24 13 4 11 24 30 4 17 23 25 23 31 15 14 290
Brasfemes 21 26 28 28 28 4 28 24 24 17 20 24 22 22 22 20 18 355
Castelo Viegas 19 7 10 17 11 4 10 17 14 21 14 16 15 24 3 11 19 213
Ceira 14 5 9 12 9 3 18 23 13 14 2 8 10 9 10 5 11 161
Cernache 22 17 7 15 24 4 19 8 21 22 14 7 7 10 15 25 10 225
Coimbra (Almedina) 7 2 2 2 4 4 26 2 2 28 15 29 30 27 19 1 15 208
Coimbra (Santa Cruz) 5 3 3 3 3 1 21 13 3 26 15 4 4 5 2 3 3 112
Coimbra (São Bartolomeu) 2 1 1 1 2 2 2 1 1 19 18 25 26 25 4 2 9 139
Coimbra (Sé Nova) 1 4 5 4 1 4 30 16 10 31 10 5 8 7 6 4 7 152
Eiras 4 30 31 25 5 4 27 11 7 25 10 3 3 3 11 13 5 213
Lamarosa 29 22 15 11 15 4 5 3 9 3 10 12 16 16 9 22 15 187
Ribeira de Frades 12 11 13 6 14 4 6 24 22 16 14 20 21 17 7 8 8 211
Santa Clara 6 16 16 19 7 4 29 7 20 29 6 3 5 4 17 14 4 200
Santo António dos Olivais 3 12 14 13 6 4 31 9 25 30 1 1 1 1 20 12 1 181
São João do Campo 17 20 24 9 19 4 7 21 29 1 5 17 13 14 27 19 17 246
São Martinho de Árvore 20 23 22 26 29 4 8 24 4 5 11 28 28 29 16 29 18 304
São Martinho do Bispo 8 15 18 22 10 4 20 10 18 24 3 2 2 2 13 10 2 175
São Paulo de Frades 9 28 27 23 8 4 24 22 8 18 9 6 6 6 8 16 6 219
São Silvestre 13 27 25 31 20 4 14 18 26 6 4 13 12 12 18 24 16 270
Souselas 24 14 21 21 21 4 17 6 17 8 8 10 9 11 28 26 17 238
Taveiro 23 19 17 16 18 4 15 20 16 20 12 22 23 19 12 30 16 279
Torre de Vilela 11 29 29 30 26 4 23 14 5 15 18 27 27 26 24 31 21 349
Torres do Mondego 27 6 6 7 16 4 4 24 23 13 13 14 17 13 1 7 12 180
Trouxemil 10 18 20 14 12 4 9 15 15 12 12 11 14 15 21 9 10 211
Vil de Matos 31 25 12 18 17 4 16 4 6 9 13 26 29 28 25 23 21 276
70
A vulnerabilidade é mais elevada nas freguesias com maior concentração e exposição
populacional, nomeadamente, onde a população apresenta 65 ou mais anos de idade, contudo, também
é elevada nas áreas mais rurais, embora com menor intensidade.
Para reduzir a vulnerabilidade, é importante melhorar as condições de habitabilidade assim
como de equipamentos coletivos e/ou sociais que acolhem os principais grupos de risco, como é o
exemplo de lares de idosos, creches e hospitais. Assim, importa diminuir as condições precárias de
habitabilidade, melhorar a eficiência térmica das habitações, atendendo à qualidade dos materiais de
construção e incrementar a existência de ar condicionado e de sistema de aquecimento. NUNES et al.
(2008: 34) estimaram a redução do risco de morrer em 40%, devido à existência de ar condicionado
nos serviços de internamento hospitalar durante a onda de calor de 2003, em Portugal.
Fig.44: Vulnerabilidade da população residente nas freguesias do concelho de Coimbra em 2011.
71
5. Ondas de calor e ondas de frio em Coimbra
5.1. Metodologia para a determinação de ondas de calor e de ondas de frio
A série de dados de temperaturas em estudo é longa, desde 1865 até 2013, sendo importante
para observar as variações e as tendências do clima. O conhecimento das condições climáticas de uma
determinada área é importante para o ordenamento do território, de maneira a reduzir o risco de
mortalidade associado a ondas de calor e a ondas de frio através da redução da vulnerabilidade face a
esses riscos climáticos.
Os cálculos das normais climatológicas iniciam-se no primeiro ano de cada década25
, de
acordo com a OMM, a título de exemplo 1901-1930, 1911-1940, 1921-1950 e assim sucessivamente.
Visto que a série de dados de temperaturas em estudo é longa, procurou-se um método de
análise desses dados de forma igualitária. Nesse sentido, construíram-se normais climatológicas
(conjuntos de 30 anos), para obter períodos de referência para a análise dos dados. Para a
determinação das normais climatológicas, primeiro calcularam-se os valores mensais das temperaturas
mínimas diárias e das temperaturas máximas diárias, determinando-se a média para o conjunto de 30
anos.
Consultaram-se boletins meteorológicos mensais do IGUC para a recolha dos valores de
temperatura mínima diária e temperatura máxima diária.
Recolheram-se os valores das normais climatológicas publicadas, contudo para os casos em
que não se encontravam publicadas, houve a necessidade de proceder ao seu cálculo.
Assim, as normais climatológicas calculando-se do seguinte modo, por exemplo: de 1 de
janeiro de 1901 a 31 de dezembro de 1930, 1 de janeiro de 1911 a 31 de dezembro de 1940, 1 de
janeiro de 1921 a 31 de dezembro de 1950 e assim sucessivamente, abarcando períodos de 30 anos.
Por exemplo, iniciou-se a construção da primeira normal climatológica em 1865 – 1894 (a
única exceção à regra anteriormente referida), retomando-se em 1871 – 1900, 1881 – 1910, 1891 –
1920, 1901 – 1930, 1911 – 1940, 1921 – 1950, 1931 – 1960, 1941 – 1970, 1951 – 1980, 1961 – 1990,
1971 – 2000 e 1981 – 2010.
A análise dos dados de temperatura máxima diária e de temperatura mínima diária para a
averiguação da existência de ondas de calor e de ondas de frio foi efetuada por décadas. Para cada
normal climatológica de referência analisou-se a década intermédia dessa normal. Exemplificando, a
normal climatológica de 1871 – 1900 serviu de referência para os anos de 1880 a 1889; a normal
climatológica de 1881 – 1910, foi considerada período de referência para os anos de 1890 a 1899 e
assim sucessivamente. Apenas são exceções, a normal climatológica de 1865 – 1894 que por se
reportar ao início da série em estudo serviu de referência para a análise dos dados de 1865 a 1879 e a
normal climatológica de 1981 – 2010 que para além de analisar os dados de 1990 a 1999, serviu de
referência para os anos de 2000 a 2013 (quadro 12).
25
http://www.ipma.pt/pt/enciclopedia/clima/index.html?page=normais.xml (acesso em 29/7/2014).
72
Quadro 12: Anos analisados de acordo com as normais climatológicas de referência consideradas.
Normal Climatológica Anos analisados Décadas analisadas
1865 - 1894 1865-1879 60 e 70
1871 - 1900 1880-1889 80
1881 - 1910 1890-1899 90
1891 - 1920 1900-1909 1900
1901 - 1930 1910-1919 10
1911 - 1940 1920-1929 20
1921 - 1950 1930-1939 30
1931 - 1960 1940-1949 40
1941 - 1970 1950-1959 50
1951 - 1980 1960-1969 60
1961 - 1990 1970-1979 70
1971 - 2000 1980-1989 80
1981 - 2010 1990-2013 90, 2000 e 10
Considera-se a existência de onda de calor quando num período de pelo menos seis dias
consecutivos, o valor da temperatura máxima diária é superior em pelo menos 5º C ao valor médio de
referência (definição adotada pelo IPMA que segue o conceito da OMM).
Foram analisadas as temperaturas máximas diárias dos meses de junho, julho e agosto por
corresponderem em termos climatológicos à estação do verão (IM e AEMET, 2011: 24), a estação
mais quente e seca.
Ao valor médio mensal, da normal climatológica, da temperatura máxima, para os meses de
junho, julho e agosto, foram adicionados 5°C, tendo sido esse valor considerado o limiar para se
determinar a existência de ondas de calor, ou seja, a temperatura máxima diária deve ser igual ou
superior a esse valor (quadro 13).
Relativamente às ondas de frio, como se referiu, a definição seguida nesta dissertação é a
adotada pelo IPMA que segue o conceito determinado pela OMM, ao considerar a existência de onda
de frio quando num período de no mínimo seis dias consecutivos, o valor da temperatura mínima
diária é inferior em pelo menos 5º C ao valor médio de referência (da normal climatológica).
Foram analisadas as temperaturas mínimas diárias dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro
por corresponderem em termos climatológicos à estação de inverno (IM e AEMET, 2011: 24), a
estação mais fria.
Ao valor médio mensal, da normal climatológica, da temperatura mínima, para os meses de
janeiro, fevereiro e dezembro, foram subtraídos 5°C, tendo sido esse valor considerado o limiar para se
determinar a existência de ondas de frio, ou seja, a temperatura mínima diária deve ser igual ou
inferior a esse valor (quadro 14).
73
Quadro 13: Média das temperaturas máximas mensais de junho, julho e agosto das normais
climatológicas de referência e respetivo valor considerado para determinar a existência de ondas de
calor.
Junho Julho Agosto Junho Julho Agosto
1865 - 1894 24,9 26,8 27,4 29,9 31,8 32,4
1871 - 1900 24,5 27,3 27,6 29,5 32,3 32,6
1881 - 1910 24,7 27,6 27,8 29,7 32,6 32,8
1891 - 1920 24,9 27,6 27,8 29,9 32,6 32,8
1901 - 1930 25,1 27,5 28,1 30,1 32,5 33,1
1911 - 1940 25,4 27,8 28,8 30,4 32,8 33,8
1921 - 1950 26,3 28,6 29,6 31,3 33,6 34,6
1931 - 1960 26,1 28,9 29,3 31,1 33,9 34,3
1941 - 1970 26,5 29,0 29,2 31,5 34,0 34,2
1951 - 1980 25,5 28,5 28,6 30,5 33,5 33,6
1961 - 1990 25,6 28,3 28,8 30,6 33,3 33,8
1971 - 2000 25,5 28,4 28,7 30,5 33,4 33,7
1981 - 2010 26,3 28,7 29,2 31,3 33,7 34,2
Normal ClimatológicaMédia das temperaturas máximas mensais (°C) Média das temperaturas máximas mensais + 5°C
Valor limiar considerado para determinar a
existência de ondas de calor
Quadro 14: Média das temperaturas mínimas mensais de janeiro, fevereiro e dezembro das normais
climatológicas de referência e respetivo valor considerado para determinar a existência de ondas de
frio.
Janeiro Fevereiro Dezembro Janeiro Fevereiro Dezembro
1865 - 1894 6,1 6,7 6,1 1,1 1,7 1,1
1871 - 1900 5,8 6,8 6,1 0,8 1,8 1,1
1881 - 1910 5,5 6,2 6,3 0,5 1,2 1,3
1891 - 1920 5,5 6,6 6,7 0,5 1,6 1,7
1901 - 1930 5,7 6,1 6,6 0,7 1,1 1,6
1911 - 1940 5,7 6,2 6,5 0,7 1,2 1,5
1921 - 1950 5,4 5,9 6,0 0,4 0,9 1,0
1931 - 1960 5,4 3,8 6,1 0,4 -1,2 1,1
1941 - 1970 5,7 5,9 6,0 0,7 0,9 1,0
1951 - 1980 5,8 6,1 6,0 0,8 1,1 1,0
1961 - 1990 5,9 6,7 6,6 0,9 1,7 1,6
1971 - 2000 5,9 7,0 7,4 0,9 2,0 2,4
1981 - 2010 6,4 7,1 7,6 1,4 2,1 2,6
Média das temperaturas mínimas mensais - 5°C
Valor limiar considerado para determinar a
existência de ondas de frio
Normal ClimatológicaMédia das temperaturas mínimas mensais (°C)
5.2. Ondas de calor
Ao longo da série em estudo, entre 1865 e 2013, foram identificadas 41 ondas de calor (quadro
15), segundo a metodologia adotada e descrita anteriormente.
Para a contabilização de ondas de calor, por décadas e meses, segue-se a metodologia de
YAGÜE et al. (2006: 3), quando ocorrem em mais do que um mês, considera-se o mês com maior
número de dias em onda de calor, todavia referindo a ocorrência no outro mês com menor número de
dias através de parêntesis no quadro. Exemplificando, no caso da onda de calor de 30 de julho a 5 de
agosto de 1882, considerou-se ocorrência em agosto, mas indicou-se também no quadro na década de
1880 – 1889 no mês de julho a sua ocorrência entre parêntesis “(1)”, contudo não contabilizando para
74
o mês de julho mas para o mês de agosto. No caso de ocorrência de onda de calor em dois meses, com
igual número de dias nos dois meses, como é o exemplo da onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto,
considerou-se a contabilização no primeiro mês (julho) e colocou-se entre parêntesis a ocorrência no
mês de agosto na década de 2000 – 2009 (quadro 16).
A década de 1940 – 1949 apresentou o maior número de ocorrências, ou seja, 6 ondas de calor
(quadro 16, fig.45). Sucedendo-se as décadas de 1870 – 1879, 1920 – 1929, 1960 – 1969 e 2000 –
2009, com 4 episódios por década. Mencione-se que nas décadas de 1950 – 1959 e 1970 – 1979 não se
registaram ondas de calor.
Quanto à distribuição dos registos de ondas de calor, o mês de junho registou o maior número
de eventos (19), seguindo-se julho com 14 registos e agosto com 8 casos. A maior persistência de uma
onda de calor foi de 13 dias, de 8 a 18 de junho de 1887. Sucedendo-se outras duas com duração de 12
dias: de 29 de julho a 9 de agosto de 1926 e de 25 de junho a 6 de julho de 1949. Registaram-se 16
ondas de calor com duração de apenas 6 dias e 13 ondas de calor que duraram somente 7 dias (fig.46).
Relativamente aos anos em que ocorreram mais do que uma onda de calor, nesses casos, duas
por ano, identificam-se os seguintes: 1865, 1870, 1962, 2006 e 2013.
Quanto ao valor máximo do desvio da temperatura máxima diária relativamente à normal
climatológica de referência, o maior valor ocorreu na onda de calor de 12 a 20 de junho de 1981 com
16,8 ºC de diferença no dia 14. Segue-se a onda de calor de 18 a 23 de junho de 1870 com diferença
de 15 ºC no dia 20. Calculou-se a média dos desvios de temperatura máxima diária durante a
ocorrência de ondas de calor relativamente à normal climatológica de referência, sendo que a onda de
calor de 12 a 20 de junho de 1981 apresenta os maiores valores da série com 12,09 ºC, seguindo-se a
onda de calor de 18 a 23 de junho de 1870 com 11,8 ºC.
O mês de junho apresentou o maior número de dias com ondas de calor, existindo no total, ao
longo da série em estudo, 299 dias com ondas de calor (quadro 17).
Há coincidência de 6 ondas de calor identificadas pelo IPMA na sua rede de estações
meteorológicas em Portugal Continental, desde 2003, e as verificadas em Coimbra (IGUC), embora
com durações diferentes: 29 de julho a 3 de agosto de 2003, 11 a 17 de julho de 2006, 4 a 11 de agosto
de 2006, 24 a 30 de julho de 2010, 24 a 30 de junho de 2013 e 4 a 9 de julho de 2013 (duração das
ondas de calor registadas em Coimbra/IGUC).
75
Quadro 15: Ondas de calor identificadas em Coimbra e duração, média da variação e valor máximo do
desvio relativamente à normal climatológica de referência. Anos Ondas de calor Duração (n.º de dias) Média da variação (ºC) Valor máximo da variação (ºC)
5 a 13 de junho 9 9,1 11,1
25 a 30 de julho 6 9,6 10,7
18 a 23 de junho 6 11,8 15,0
17 a 23 de julho 7 8,71 12,7
1874 16 a 22 de agosto 7 8,54 12,4
1876 10 a 16 de julho 7 9,06 11,6
1882 30 de julho a 5 de agosto 7 8,63 10,4
1887 8 a 18 de junho 13 6,91 9,7
1890 14 a 19 de junho 6 6,70 8,3
1891 16 a 21 de junho 6 8,57 10,7
1896 30 de junho a 5 de julho 7 8,11 12,2
1901 1 a 7 de agosto 7 7,79 9,1
1911 7 a 14 de julho 8 8,05 9,5
1916 28 de julho a 3 de agosto 7 7,84 9,8
1919 21 a 29 de junho 9 7,77 10,5
1921 10 a 17 de junho 8 7,05 9,6
1926 29 de julho a 9 de agosto 12 7,68 10,7
1928 16 a 21 de julho 6 9,80 11,9
1929 16 a 23 de junho 8 9,81 13,5
1932 4 a 9 de agosto 6 8,80 10,3
1942 1 a 6 de junho 6 9,65 12,2
1944 12 a 19 de junho 8 9,18 13,0
1945 9 a 15 de junho 7 9,57 14,6
1946 28 de julho a 2 de agosto 6 9,10 14,3
1948 23 a 28 de junho 6 11,47 13,9
1949 25 de junho a 6 de julho 12 8,96 12,6
1961 21 a 27 de agosto 7 8,63 12,2
21 a 27 de junho 7 9,37 12,0
23 a 28 de agosto 6 7,97 13,7
1966 25 a 30 de junho 6 10,47 12,4
1981 12 a 20 de junho 9 12,09 16,8
1989 25 de julho a 1 de agosto 8 9,49 11,8
1991 14 a 19 de julho 6 9,17 11,9
1996 25 a 30 de junho 6 6,87 8,4
2000 12 a 17 de junho 6 9,10 11,0
2003 29 de julho a 3 de agosto 6 8,47 12,3
11 a 17 de julho 7 9,37 11,3
4 a 11 de agosto 8 8,15 9,6
2010 24 a 30 de julho 7 8,06 11,3
24 a 30 de junho 7 8,90 10,7
4 a 9 de julho 6 10,17 11,5
1865
1870
1962
2006
2013
Durante a onda de calor de 24 de julho a 14 de agosto de 2003, foram atingidos extremos
climáticos de temperatura26
máxima absoluta em 12 estações meteorológicas do IPMA localizadas em
capitais de distrito, a saber: no dia 1 de agosto em Beja (45,4ºC), Castelo Branco (41,6ºC), Coimbra
Cernache (40,9ºC), Évora C.C. (44,5ºC), Évora Cid. (43ºC), Guarda (36,1ºC), Leiria Bar. (41,4ºC),
Lisboa/I.G (41,8ºC), Lisboa/Gago Coutinho (42,0ºC), Santarém/F.B. (45,2ºC) e no dia 7 de agosto em
Viana do Castelo Meadela (39,5ºC). De referir que a temperatura máxima absoluta mais elevada,
registada em Portugal Continental, durante esta onda de calor, no dia 1 de agosto, foi de 47,4ºC em
Amareleja. No caso do período de ocorrência da onda de calor de 24 a 31 de julho de 2010, foram
26 Fonte dos valores de extremos de temperatura máxima diária: IPMA
http://www.ipma.pt/pt/oclima/extremos.clima/ (acesso em 29/7/2014).
76
atingidos extremos climáticos de temperatura máxima absoluta, no dia 27, em 3 estações
meteorológicas: Aveiro (39,3ºC), Braga/M. (39,4ºC) e Leiria (38,9ºC).
Quadro 16: Distribuição das ondas de calor por décadas em Coimbra. Década Mês Número de ondas de calor
Junho 1
Julho 1
Agosto 0
Junho 1
Julho 2
Agosto 1
Junho 1
Julho (1)
Agosto 1
Junho 2 (1)
Julho 1
Agosto 0
Junho 0
Julho 0
Agosto 1
Junho 1
Julho 2
Agosto (1)
Junho 2
Julho 1 (1)
Agosto 1
Junho 0
Julho 0
Agosto 1
Junho 5
Julho 1 (1)
Agosto (1)
Junho 0
Julho 0
Agosto 0
Junho 2
Julho 0
Agosto 2
Junho 0
Julho 0
Agosto 0
Junho 1
Julho 1
Agosto (1)
Junho 1
Julho 1
Agosto 0
Junho 1
Julho 2
Agosto 1 (1)
Junho 1
Julho 2
Agosto 0
1970 - 1979
1980 - 1989
1990 - 1999
2000 - 2009
2010 - 2013
1910 -1919
1920 - 1929
1930 - 1939
1940 - 1949
1950 - 1959
1960 -1969
1865 - 1869
1870 - 1879
1880 - 1889
1890 - 1899
1900 - 1909
77
Fig.45: Evolução da distribuição das ondas de calor por décadas em Coimbra.
Fig.46: Número de ondas de calor e respetiva duração em Coimbra.
Quadro 17: Número de dias com onda de calor nos meses de junho, julho e agosto em Coimbra.
N.º de dias com onda de calor
Junho 140
Julho 95
Agosto 64
Total 299
78
5.3.Ondas de frio
Na série em estudo, entre 186427
e 2013, apenas foram averiguadas 9 ondas de frio, de acordo
com a metodologia adotada e descrita anteriormente (quadro 18).
Quadro 18: Ondas de frio identificadas em Coimbra e respetiva duração, média da variação e valor
máximo dos desvios de temperatura mínima diária relativamente à normal climatológica de referência. Anos Ondas de frio Duração (n.º de dias) Média da variação (ºC) Valor máximo dos desvios (ºC)
1907 2 a 7 de fevereiro 6 -6,50 -7,4
1917 27 de dezembro a 1 de janeiro de 1918 6 -7,20 -8,8
1933 14 a 20 de dezembro 7 -6,60 -7,6
1941 3 a 9 de janeiro 7 -6,46 -7,9
3 a 8 de janeiro 6 -6,65 -7,9
31 de janeiro a 7 de fevereiro 8 -7,25 -8,9
1956 6 a 12 de dezembro 7 -5,93 -7,3
1983 8 a 16 de fevereiro 9 -7,69 -9,6
2001 24 a 29 de dezembro 6 -6,42 -7,1
1954
Para a contabilização de ondas de frio (tal como realizado para as ondas de calor), por décadas
e meses, segue-se a metodologia de YAGÜE et al. (2006: 3), quando ocorrem em mais do que um
mês, considera-se o mês com maior número de dias em onda de frio, porém referindo a ocorrência no
outro mês com menor número de dias através de parêntesis no quadro. Como é o exemplo da onda de
frio de 31 de janeiro a 7 de fevereiro de 1954, considerou-se o mês com maior número de dias em
onda de frio (neste caso, fevereiro) e referiu-se a ocorrência (mas não contabilizando) no mês de
janeiro, no quadro, através da indicação entre parêntesis (quadro 19).
A década de 1950 – 1959 apresentou maior número de ocorrências (3), registando-se apenas 1
onda de frio nas décadas de 1900 – 1909, 1910 – 1919, 1930 – 1939, 1940 – 1949, 1980 – 1989 e 2000
– 2009, não se verificando nenhum registo nas restantes décadas analisadas (quadro 19, fig.47).
O mês de dezembro registou o maior número de eventos (4), sucedendo-se o mês de fevereiro
(3) e o mês de janeiro com apenas 2 ondas de frio.
27 O ano de 1864 apenas contempla o mês de dezembro.
79
Quadro 19: Distribuição das ondas de frio por décadas em Coimbra.
Década Mês Número de ondas de frio
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 1
Dezembro 0
Janeiro (1)
Fevereiro 0
Dezembro 1
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 1
Janeiro 1
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 1 (1)
Fevereiro 1
Dezembro 1
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 1
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 1
Janeiro 0
Fevereiro 0
Dezembro 0
1970 - 1979
1980 - 1989
1990 - 1999
2000 - 2009
2010 - 2013
1910 -1919
1920 - 1929
1930 - 1939
1940 - 1949
1950 - 1959
1960 -1969
1865 - 1869
1870 - 1879
1880 - 1889
1890 - 1899
1900 - 1909
80
A maior duração de uma onda de frio foi de 9 dias e correspondeu ao período de 8 a 16 de
fevereiro de 1983, sucedendo-se a de 31 de janeiro a 7 de fevereiro de 1954 com duração de 8 dias.
Registaram-se 4 ondas de frio com duração de apenas 6 dias (o mínimo de número de dias que a
definição exige) (quadro 22, fig.48).
No ano de 1954 ocorreram 2 ondas de frio (quadro 18).
Quanto ao valor máximo do desvio da temperatura mínima diária relativamente à normal
climatológica de referência, o maior valor registou-se na onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983
com -9,60ºC no dia 10, sendo a média dos desvios de -7,69ºC. Segue-se a onda de frio de 31 de janeiro
a 7 de fevereiro de 1954 com -8,90ºC e a onda de frio de 27 de dezembro de 1917 a 1 de janeiro de
1918 com -8,8ºC (quadro 18).
O mês de dezembro apresentou o maior número de dias com ondas de frio (25), existindo, no
total, 62 dias com onda de frio (quadro 20).
Relativamente à menor temperatura mínima absoluta registada em Portugal Continental foi de
-16,0ºC no dia 5 de fevereiro de 1954 em Penhas da Saúde. Em Coimbra, a onda de frio registou-se
entre 31 de janeiro e 7 de fevereiro. Durante este período de frio, registou-se, em outras estações
meteorológicas, extremos climáticos de temperatura mínima absoluta28
: Beja (-5,5ºC) no dia 3 de
fevereiro e em Santarém Escola Agrária (-4,5ºC) no dia 5 de fevereiro. Seria interessante averiguar se
durante este período também se registou a ocorrência de onda de frio nestas estações meteorológicas.
Fig.47: Evolução da distribuição de ondas de frio por décadas em Coimbra.
28 Fonte dos valores de extremos de temperatura mínima diária: IPMA
http://www.ipma.pt/pt/oclima/extremos.clima/ (acesso em 29/7/2014).
81
Fig.48: Número de ondas de frio e respetiva duração em Coimbra.
Quadro 20: Número de dias com onda de frio nos meses de janeiro, fevereiro e dezembro em Coimbra.
N.º de dias com ondas de frio
Janeiro 15
Fevereiro 22
Dezembro 25
Total 62
82
6. Estudo de caso de ondas de calor e das ondas de frio
6.1. Metodologia
Analisam-se as ondas de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003, 11 a 17 de julho de 2006,
4 a 11 de agosto de 2006, 24 a 30 de julho de 2010 e a onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983,
visto que apenas foram disponibilizados pelo INE dados diários de mortalidade referentes a estes
períodos, atendendo aos custos e ao tempo de disponibilização dos dados.
Inicialmente o objetivo consistia em averiguar o excesso de mortalidade nas freguesias do
concelho de Coimbra durante a ocorrência de períodos de ondas de calor e de ondas de frio. Por isso,
se procedeu à caracterização demográfica, educacional, de emprego e habitacional das freguesias do
concelho de Coimbra, bem como à elaboração de um mapa da respetiva vulnerabilidade para mais
tarde relacionar com os quantitativos de mortalidade, nomeadamente, para averiguar se a maior
mortalidade se registava nas freguesias mais vulneráveis do concelho. Contudo, face ao segredo
estatístico inerente aos dados de mortalidade diária, procedentes do INE, quando o número de óbitos é
inferior a 3 pessoas, ficou impossibilitada esta análise mais profunda visto que, devido ao baixo
número de óbitos diários por freguesia, a maior parte dos dados estava sob segredo estatístico. Assim,
analisou-se o excesso de óbitos para o conjunto do distrito de Coimbra.
Analisa-se, para os períodos de onda de calor e de onda de frio, a mortalidade diária total, os
óbitos ocorridos na população com mais de 65 anos de idade, por sexo e por causa de morte.
Estudaram-se as causas de morte, de acordo com a classificação CID, referenciadas na
bibliografia como mais associadas aos efeitos do calor (CALADO et al., 2004) e do frio (DÍAZ et al.,
2005), apresentadas no estado da arte. No caso das ondas de calor, é averiguado o excesso de óbitos
nas seguintes causas de mortalidade: efeitos do calor e da luz/golpe de calor; desidratação e outros
distúrbios metabólicos; diabetes mellitus; doenças do aparelho respiratório; doenças do aparelho
circulatório; insuficiência cardíaca; doença isquémica do coração; doenças cerebrovasculares e
sintomas, sinais, exames anormais, causas mal definidas. Relativamente às ondas de frio, o excesso de
óbitos é identificado em 6 causas de mortalidade: doenças circulatórias; doença isquémica cardíaca;
doenças cerebrovasculares; doenças respiratórias e pneumonia, gripe; outras doenças respiratórias.
Foram identificadas as causas de mortalidade com maior número de óbitos.
Comparou-se a mortalidade diária durante o período em que ocorreu a onda de calor/frio do
ano em análise, com a média da mortalidade diária registada no ano precedente e no ano subsequente
durante o mesmo período, que foi alargado 6 dias depois do término da onda de calor/frio para se
visualizar o efeito das temperaturas extremas no número de óbitos. O excesso de óbitos foi
determinado, primeiramente multiplicando a duração (o número de dias) da onda de calor/frio pela
média de mortalidade registada no ano anterior e no ano subsequente, sendo que esse valor foi
subtraído ao número de óbitos registado durante a onda de calor/frio. O mesmo procedimento foi
adotado para o caso das ondas de calor/frio e 6 dias subsequentes.
83
São objetivos: apresentar o número de óbitos e os óbitos em excesso, assim como o excesso de
óbitos face à média por causas de mortalidade, identificar os picos de mortalidade, nomeadamente,
quando ocorreu o maior excesso de mortalidade, comparando com a intensidade das ondas de calor e
de frio.
6.2.Ondas de calor em Coimbra
6.2.1. Onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003
No caso do dia 2 de agosto de 2003, é possível visualizar um anticiclone dinâmico ao largo do
Arquipélago dos Açores estendendo-se em direção à Europa Ocidental, em conexão com um outro
anticiclone na área do Norte da Europa (fig.49). Durante esta onda de calor Portugal Continental era
afetado por massas de ar quentes e secas, provenientes do quadrante Leste. A presença de uma
depressão pouco cavada no SW da Península Ibérica foi responsável pela advecção de ar quente e seco
originário do Norte de África.
Durante esta onda de calor, com a duração de seis dias, o maior valor de temperatura máxima
diária foi registado no dia 1 de agosto (41ºC), com 12,3ºC de desvio relativamente à normal
climatológica de referência (quadro 21).
Fig.49: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 2 de agosto de 2003. Fonte: http://www.wetterzentrale.de/topkarten/fsreaeur.html (acesso em 6/2/2014).
84
Quadro 21: Onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003 e respetivo desvio (ºC) em relação à
normal climatológica de 1981 – 201029
em Coimbra.
Data
Julho de 2003 Temperatura máxima diária (ºC)Temperatura média das máximas (°C)
(normal climatológica de 1981 - 2010)Variação (ºC)
29 37 28,7 8,3
30 38 28,7 9,3
31 36 28,7 7,3
1 de agosto 41 28,7 12,3
2 36 28,7 7,3
3 35 28,7 6,3
Analisou-se a média do excesso de óbitos e o número de óbitos durante a onda de calor, assim
como durante a onda de calor e nos 6 dias subsequentes (fig.50). Analisando os resultados, durante a
onda de calor e nos 6 dias subsequentes, o excesso de mortalidade foi de 63 óbitos (quadro 22).
Verificou-se um elevado excesso de óbitos na população com idade igual ou superior a 65 anos de
idade (fig.51), correspondendo a 98% dos óbitos averiguados (quadro 23). Ocorreu maior excesso de
mortalidade nas mulheres do que nos homens (fig.52), ou seja, 62% dos óbitos corresponderam a
mulheres (quadro 23). No que respeita às causas de mortalidade, aquela que apresentou maiores
quantitativos diz respeito às doenças circulatórias (fig.53), equivalendo a 38% dos óbitos.
Durante esta onda de calor, verificou-se o pico de mortalidade nos dias 2 e 3 (18 óbitos, em
cada dia), tendo o segundo pico de mortalidade sido registado no dia 7 (20 óbitos), ou seja, 4 dias após
o término da onda de calor (fig.50). No caso da população idosa, o segundo e maior pico de
mortalidade também se registou no dia 7 (21 óbitos).
29 Os dados de temperatura máxima diária concernem à estação de Coimbra/Bencanta, visto que utilizando os
dados de Coimbra/IGUC de acordo com a metodologia apresentada e seguida não se encontra a ocorrência de
onda de calor. Decidiu-se apresentar a ocorrência de onda de calor na estação de Bencanta visto que esta onda de
calor desencadeou elevados impactes na mortalidade a nível nacional (CALADO et al., 2004).
85
Quadro 22: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de
mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003 e nos 6
dias subsequentes no distrito de Coimbra. Durante a onda de calor Durante a onda de calor + 6 dias
Excesso de óbitos 0 1
N.º de óbitos 0 1
Excesso de óbitos -1 0
N.º de óbitos 0 1
Excesso de óbitos -2 -3
N.º de óbitos 2 4
Excesso de óbitos 4 13
N.º de óbitos 9 22
Excesso de óbitos 8 24
N.º de óbitos 27 62
Excesso de óbitos 0 10
N.º de óbitos 4 17
Excesso de óbitos 1 1
N.º de óbitos 4 6
Excesso de óbitos 4 8
N.º de óbitos 15 31
Excesso de óbitos 3 9
N.º de óbitos 8 19
Excesso de óbitos 19 63
N.º de óbitos 69 164
Excesso de óbitos 19 64
N.º de óbitos 67 160
Excesso de óbitos 5 17
N.º de óbitos 28 62
Excesso de óbitos 13 45
N.º de óbitos 41 101
Efeitos do calor e da luz / Golpe de calor
Desidratação e outros distúrbios metabólicos
Diabetes Mellitus
Doenças do aparelho respiratório
Excesso de mortalidade total
≥ 65 anos de idade
Homens
Mulheres
Doença isquémica do coração
Doenças cerebrovasculares
Sintomas, sinais, exames anormais, causas mal definidas
Doenças circulatórias
Insuficiência cardíaca
Quadro 23: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003 e nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
N % N %
Mortalidade total 69 100 164 100
≥ 65 anos de idade 67 97 160 98
Mulheres 41 59 101 62
Doenças circulatórias 27 39 62 38
Óbitos
Onda de calor +6 diasOnda de calor
Fig.50: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra.
86
Fig.51: Mortalidade diária da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥ 65 anos.
Fig.52: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito de
Coimbra30
.
Fig.53: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de Coimbra.
30 No caso do dia 5, o valor relativo à mortalidade no sexo masculino aparece como zero, contudo esse valor
deve-se à falta de dados disponíveis e não à possível ausência de mortalidade.
87
6.2.2. Ondas de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e de 4 a 11 de agosto de 2006
Relativamente à onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006, o anticiclone dinâmico situado na
área do Arquipélago dos Açores, com o centro de pressão atmosférica de 1030 hPa (no dia 11),
estendia-se em direção à Europa, o que é visível através do “alongamento” do eixo, originando a
entrada de massas de ar quentes e secas, provenientes do quadrante Leste (fig.54). Por outro lado,
segundo o IPMA, ocorreu uma “intrusão de uma massa de ar mais quente” oriunda do Norte de África
(IM, 2006: 3), que é visível através da “deformação” da isobárica dos 1020 hPa a sul do território
continental português, devido à presença de uma depressão de origem térmica. Esta situação sinótica
foi semelhante à verificada durante a onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003.
Nesta onda de calor, com a duração de 7 dias, o maior valor de temperatura máxima diária foi
registado no dia 16 (40ºC), com 11,3ºC de desvio relativamente à normal climatológica de referência
(quadro 24).
Fig.54: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 11 de julho de 2006.
Fonte: http://www.wetterzentrale.de/topkarten/fsreaeur.html (acesso em 6/2/2014).
Quadro 24: Onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e respetivo desvio (ºC) em relação à normal
climatológica de 1981 – 2010 em Coimbra.
Data
Julho de 2006 Temperatura máxima diária (ºC)Temperatura média das máximas (°C)
(normal climatológica de 1981 - 2010)Variação (ºC)
11 36,5 28,7 7,8
12 36,4 28,7 7,7
13 38,6 28,7 9,9
14 38,8 28,7 10,1
15 38,0 28,7 9,3
16 40,0 28,7 11,3
17 38,2 28,7 9,5
Quanto à onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006, verificou-se um anticiclone dinâmico na
área do Arquipélago dos Açores, com o centro de pressão de 1025 hPa (no dia 4), estendendo-se pela
88
Europa Ocidental, estando o flanco Este “deformado” na área da Península Ibérica e parte do Norte de
África com a introdução de ar quente e seco do quadrante Leste e, verificando-se a presença de uma
depressão de origem térmica, com o centro de pressão de 1010 hPa posicionada no sul da Península
Ibérica (fig.55). Esta situação sinótica é também semelhante à verificada durante as duas ondas de
calor averiguadas anteriormente.
No caso da onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006, com a duração de 8 dias, o maior valor
de temperatura máxima diária foi registado no dia 6 (38,8ºC), com 9,6ºC de desvio relativamente à
normal climatológica de referência (quadro 25).
Fig.55: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 4 de agosto de 2006. Fonte: http://www.wetterzentrale.de/topkarten/fsreaeur.html (acesso em 6/2/2014).
Quadro 25: Onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006 e respetivo desvio (ºC) em relação à normal climatológica de 1981 – 2010 em Coimbra.
Data
Agosto de 2006 Temperatura máxima diária (ºC)Temperatura média das máximas (°C)
(normal climatológica de 1981 - 2010)Variação (ºC)
4 36,0 29,2 6,8
5 37,4 29,2 8,2
6 38,8 29,2 9,6
7 37,4 29,2 8,2
8 36,5 29,2 7,3
9 36,5 29,2 7,3
10 38,0 29,2 8,8
11 38,2 29,2 9,0
Analisou-se a mortalidade diária desde o início da onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006
bem como nos 6 dias subsequentes (fig.56). O excesso de mortalidade associado a esta onda de calor e
nos 6 dias subsequentes foi de 28 óbitos (quadro 26). No caso da população com idade igual ou
superior a 65 anos (fig.57) foi de 91% dos óbitos verificados (quadro 27). Relativamente ao sexo
89
feminino (fig.58), correspondeu a 68% dos óbitos. Relativamente às causas de morte, as doenças
circulatórias (fig.59) equivaleram a 34% dos óbitos.
Durante a onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006, o primeiro pico de mortalidade registou-
se no dia 13 (19 óbitos), isto é, 3 dias após o início da onda, sendo que o segundo pico de mortalidade
foi averiguado no dia 17 (21 óbitos), tendo ocorrido uma diminuição da mortalidade depois do término
desta onda de calor (fig.56).
Quadro 26: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de
mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e nos 6 dias
subsequentes no distrito de Coimbra. Durante a onda de calor Durante a onda de calor + 6 dias
Excesso de óbitos 0 0
N.º de óbitos 0 0
Excesso de óbitos -1 0
N.º de óbitos 0 1
Excesso de óbitos 1 0
N.º de óbitos 3 5
Excesso de óbitos 8 13
N.º de óbitos 16 28
Excesso de óbitos 11 9
N.º de óbitos 34 52
Excesso de óbitos 0 -2
N.º de óbitos 7 10
Excesso de óbitos 1 0
N.º de óbitos 5 8
Excesso de óbitos 12 22
N.º de óbitos 19 29
Excesso de óbitos 4 1
N.º de óbitos 13 18
Excesso de óbitos 31 28
N.º de óbitos 97 151
Excesso de óbitos 28 21
N.º de óbitos 90 137
Excesso de óbitos -19 -35
N.º de óbitos 26 48
Excesso de óbitos 33 33
N.º de óbitos 71 103
Excesso de mortalidade total
≥ 65 anos de idade
Efeitos do calor e da luz / Golpe de calor
Desidratação e outros distúrbios metabólicos
Diabetes Mellitus
Doenças do aparelho respiratório
Doenças circulatórias
Homens
Mulheres
Doença isquémica do coração
Doenças cerebrovasculares
Sintomas, sinais, exames anormais, causas mal definidas
Insuficiência cardíaca
Quadro 27: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006 e
nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
N % N %
Mortalidade total 97 100 151 100
≥ 65 anos de idade 90 93 137 91
Mulheres 71 73 103 68
Doenças circulatórias 34 35 52 34
Óbitos
Onda de calor Onda de calor + 6 dias
Analisou-se a mortalidade diária desde o início da onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006,
bem como nos 4 dias subsequentes31
(fig.56). O excesso de mortalidade associado a esta onda de calor,
foi de 31 óbitos (valor igual ao registado na onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006) e nos 4 dias
subsequentes foi de 34 óbitos (quadro 28). No caso da população com idade igual ou superior a 65
31 Apenas são analisados 4 dias subsequentes a esta onda de calor porque só existem dados disponibilizados de
mortalidade diária até esta data.
90
anos (fig.57) foi de 93% dos óbitos verificados (quadro 29). Relativamente ao sexo feminino (fig.58),
correspondeu a 51% dos óbitos. Relativamente às causas de morte, as doenças circulatórias (fig.59)
equivaleram a 32% dos óbitos.
O pico de mortalidade verificou-se no dia 5 com o registo de 26 óbitos, sendo que a
mortalidade decresceu a partir deste dia, com exceção no dia 7 em que voltou a aumentar.
Ocorreram duas ondas de calor num curto espaço de tempo no mesmo ano. Apesar de no
estado da arte se ter mencionado que alguns autores (RIBEIRO, 2008: 15, citando KALKSTEIN e
VALIMONT, 1987), referem que nestes casos, durante a primeira onda de calor morre mais população
do que na segunda onda de calor, em virtude da população mais idosa e mais frágil assim como com
patologias ter falecido. Todavia, neste caso de estudo não é possível averiguar essas conclusões, visto
que em ambas as ondas de calor, o excesso de mortalidade foi de 31 óbitos.
Quadro 28: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006 e nos 4 dias
subsequentes no distrito de Coimbra. Durante a onda de calor Durante a onda de calor + 4 dias
Excesso de óbitos 0 0
N.º de óbitos 0 0
Excesso de óbitos 1 2
N.º de óbitos 2 3
Excesso de óbitos 1 2
N.º de óbitos 4 6
Excesso de óbitos 6 11
N.º de óbitos 15 25
Excesso de óbitos 6 8
N.º de óbitos 33 48
Excesso de óbitos 9 8
N.º de óbitos 17 19
Excesso de óbitos -1 -2
N.º de óbitos 4 5
Excesso de óbitos 0 0
N.º de óbitos 14 20
Excesso de óbitos 6 4
N.º de óbitos 16 20
Excesso de óbitos 31 34
N.º de óbitos 107 148
Excesso de óbitos 27 31
N.º de óbitos 98 138
Excesso de óbitos -2 -5
N.º de óbitos 49 72
Excesso de óbitos 14 11
N.º de óbitos 57 75
≥ 65 anos de idade
Homens
Mulheres
Insuficiência cardíaca
Doença isquémica do coração
Doenças cerebrovasculares
Sintomas, sinais, exames anormais, causas mal definidas
Excesso de mortalidade total
Efeitos do calor e da luz / Golpe de calor
Desidratação e outros distúrbios metabólicos
Diabetes Mellitus
Doenças do aparelho respiratório
Doenças circulatórias
Quadro 29: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006 e nos 4 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
N % N %
Mortalidade total 107 100 148 100
≥ 65 anos de idade 98 92 138 93
Mulheres 57 53 75 51
Doenças circulatórias 33 31 48 32
Óbitos
Onda de calor Onda de calor + 4 dias
91
Fig.56: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra.
Fig.57: Mortalidade diária da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥ 65 anos.
Fig.58: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito de
Coimbra32
.
32 Os valores relativos à mortalidade diária que surgem como zero devem-se à falta de dados disponíveis e não
devido à possível ausência de mortalidade nesses dias.
92
Fig.59: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de Coimbra.
6.2.3. Onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010
O anticiclone dinâmico na área do Arquipélago dos Açores, com o centro de pressão de 1030
hPa (no dia 25), estendia-se em direção à Europa Ocidental levando à advecção, pelo quadrante Leste,
de ar quente e seco do interior da Europa (fig.60). De acordo com o IPMA, durante o período em que
ocorreu esta onda de calor existiu uma depressão de origem térmica centrada na Península Ibérica
conjuntamente com o anticiclone dinâmico posicionado na área do Arquipélago dos Açores
estendendo-se em direção à Europa Ocidental, sendo o território continental português afetado por ar
quente e seco proveniente do Norte de África, e existindo valores baixos de humidade relativa, tendo
sido um mês quente e seco (IM, 2010). Esta situação sinótica é semelhante à averiguada para as ondas
de calor que ocorreram anteriormente.
Durante esta onda de calor, com a duração de 7 dias, o maior valor de temperatura máxima
diária foi registado no dia 27 (40ºC), com 11,3ºC de desvio relativamente à normal climatológica de
referência (quadro 30).
Fig.60: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 25 de julho de 2010.
Fonte: http://www.wetterzentrale.de/topkarten/fsreaeur.html (acesso em 3/8/2014).
93
Quadro 30: Onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 e respetivo desvio (ºC) em relação à normal
climatológica de 1981 – 2010 em Coimbra.
Data
Julho de 2010 Temperatura máxima diária (ºC)Temperatura média das máximas (°C)
(normal climatológica de 1981 - 2010)Variação (ºC)
24 34,5 28,7 5,8
25 37,0 28,7 8,3
26 39,0 28,7 10,3
27 40,0 28,7 11,3
28 38,3 28,7 9,6
29 34,0 28,7 5,3
30 34,5 28,7 5,8
Durante e nos 6 dias subsequentes ao término desta onda de calor, o excesso de mortalidade
foi de 44 óbitos (quadro 31, fig.61). No que concerne à população com idade igual ou superior a 65
anos correspondeu a 92% dos óbitos (fig.62). Relativamente ao sexo feminino foi de 56% dos óbitos
(fig.63). Quanto às causas de morte, as doenças circulatórias (fig.64) foram responsáveis pela maior
mortalidade em excesso equivalendo a 36% dos óbitos (quadro 32).
Nesta onda de calor, o primeiro pico de mortalidade ocorreu no dia 26 (16 óbitos), três dias
após o início deste paroxismo térmico; no caso do segundo pico de mortalidade aconteceu no dia 29
(20 óbitos), sendo que a mortalidade decresceu a partir desse dia (fig.61).
Quadro 31: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de
mortalidade e número de óbitos durante a onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 e nos 6 dias
subsequentes no distrito de Coimbra. Durante a onda de calor Durante a onda de calor + 6 dias
Excesso de óbitos 0 0
N.º de óbitos 0 0
Excesso de óbitos 1 0
N.º de óbitos 1 1
Excesso de óbitos 1 0
N.º de óbitos 4 5
Excesso de óbitos 2 10
N.º de óbitos 10 24
Excesso de óbitos 15 20
N.º de óbitos 31 50
Excesso de óbitos 4 7
N.º de óbitos 7 15
Excesso de óbitos -3 -4
N.º de óbitos 1 3
Excesso de óbitos 8 5
N.º de óbitos 18 23
Excesso de óbitos 5 3
N.º de óbitos 13 18
Excesso de óbitos 34 44
N.º de óbitos 86 140
Excesso de óbitos 31 43
N.º de óbitos 77 129
Excesso de óbitos 8 11
N.º de óbitos 33 58
Excesso de óbitos 21 19
N.º de óbitos 53 79
Excesso de mortalidade total
≥ 65 anos de idade
Homens
Mulheres
Doença isquémica do coração
Doenças cerebrovasculares
Sintomas, sinais, exames anormais, causas mal definidas
Efeitos do calor e da luz / Golpe de calor
Desidratação e outros distúrbios metabólicos
Diabetes Mellitus
Doenças do aparelho respiratório
Doenças circulatórias
Insuficiência cardíaca
94
Quadro 32: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 e
nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
N % N %
Mortalidade total 86 100 140 100
≥ 65 anos de idade 77 90 129 92
Mulheres 53 62 79 56
Doenças circulatórias 31 36 50 36
Óbitos
Onda de calor Onda de calor +6 dias
Fig.61: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra.
Fig.62: Mortalidade diária da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥ 65 anos.
95
Fig.63: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito de
Coimbra.33
Fig.64: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de Coimbra.
6.3. Ondas de frio em Coimbra
6.3.1. Onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983
Verificou-se a presença de um centro de altas pressões prolongando-se até à área do Reino
Unido com a conjugação de vários centros de baixas pressões dinâmicas localizados na Europa; uma
depressão de origem dinâmica com o centro de pressão de 1000 hPa (no dia 13), localizada a W da
Península Ibérica condicionava o estado do tempo em Portugal Continental, resultando na entrada de
de ar frio e seco vindas da Europa Central (fig.65).
Durante esta onda de frio, com a duração de 9 dias, o maior valor de temperatura mínima
diária foi registado no dia 10 (-2,6ºC), com -9,6ºC de desvio relativamente à normal climatológica de
referência (quadro 33).
33 Os valores relativos à mortalidade diária que surgem como zero devem-se à falta de dados disponíveis e não
devido à possível ausência de mortalidade nesses dias.
96
Fig.65: Carta sinótica do geopotencial a 500 hPa e pressão à superfície no dia 13 de fevereiro de 1983.
Fonte: http://www.wetterzentrale.de/topkarten/fsreaeur.html (acesso em 6/2/2014).
Quadro 33: Onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983 e respetivo desvio (ºC) em relação à normal
climatológica de 1971 – 2000 em Coimbra.
Data
Fevereiro de 1983 Temperatura mínima diária (ºC)Temperatura média das mínimas (ºC)
(normal climatológica de 1971 - 2000)Variação (ºC)
8 0,1 7,0 -6,9
9 2,0 7,0 -5,0
10 -2,6 7,0 -9,6
11 -1,1 7,0 -8,1
12 -1,6 7,0 -8,6
13 -1,9 7,0 -8,9
14 0,1 7,0 -6,9
15 -0,2 7,0 -7,2
16 -1,0 7,0 -8,0
Durante e nos 6 dias subsequentes ao término desta onda de frio, este período esteve associado
a um excesso de 23 óbitos (quadro 34, fig. 66), sendo que 51% dos óbitos corresponderam ao sexo
feminino e, no caso da população com idade igual ou superior a 65 anos, foi de 85% óbitos (quadro
35, fig. 67 e fig.68). Relativamente às causas de mortalidade, as doenças circulatórias (fig.69) foram
responsáveis pelo maior excesso de mortalidade, concernindo a 28% da mortalidade.
O pico de mortalidade verificou-se no dia 14 (13 óbitos), isto é 7 dias depois do início deste
paroxismo térmico, tendo o segundo pico ocorrido no dia 17 (13 óbitos) (fig.66). Todavia, apesar da
onda de frio ter terminado no dia 16 ainda se verifica mortalidade acima da média nos dias
subsequentes, existindo um novo pico de mortalidade no dia 23 (13 óbitos).
97
Quadro 34: Excesso de mortalidade face à média da mortalidade por grupos e por causas de
mortalidade e número de óbitos, durante a onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983 e nos 6 dias
subsequentes no distrito de Coimbra.
Durante a onda de frio Durante a onda de frio + 6 dias
Excesso de óbitos 10 14
N.º de óbitos 24 37
Excesso de óbitos 2 5
N.º de óbitos 8 15
Excesso de óbitos -6 -3
N.º de óbitos 35 66
Excesso de óbitos 1 5
N.º de óbitos 3 8
Excesso de óbitos 0 0
N.º de óbitos 0 0
Excesso de óbitos 2 1
N.º de óbitos 4 5
Excesso de óbitos 9 23
N.º de óbitos 74 131
Excesso de óbitos 5 17
N.º de óbitos 62 112
Excesso de óbitos 2 12
N.º de óbitos 33 64
Excesso de óbitos 6 8
N.º de óbitos 41 67
Excesso de mortalidade total
≥ 65 anos de idade
Homens
Mulheres
Doenças circulatórias
Doença isquémica do coração
Doenças cerebrovasculares
Doenças respiratórias; Pneumonia
Gripe
Outras doenças respiratórias
Quadro 35: Mortalidade segundo grandes grupos durante a onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983
e nos 6 dias subsequentes no distrito de Coimbra.
N % N %
Mortalidade total 74 100 131 100
≥ 65 anos de idade 62 84 112 85
Mulheres 41 55 67 51
Doenças circulatórias 24 32 37 28
Óbitos
Onda de calor Onda de calor +6 dias
Fig.66: Mortalidade diária total da população residente no distrito de Coimbra.
98
Fig.67: Mortalidade diária da população da população residente no distrito de Coimbra com idade ≥ 65
anos.
Fig.68: Mortalidade diária nos sexos masculino e feminino da população residente no distrito de Coimbra.
34
Fig.69: Mortalidade diária por doenças circulatórias da população residente no distrito de Coimbra.
34 O valor relativo à mortalidade diária no sexo feminino que surge como zero deve-se à falta de dados
disponíveis e não devido à possível ausência de mortalidade nesse dia.
99
Conclusões
A temperatura do ar é dos elementos climáticos que mais condiciona as atividades humanas e
os processos biológicos, ao nível do conforto e da saúde. A exposição a ondas de calor e a ondas de
frio apresenta aumentos de mortalidade, dependendo da vulnerabilidade das populações expostas,
assim como da duração, intensidade e frequência destes paroxismos térmicos. Desse modo, é
importante reduzir a vulnerabilidade da população face a esses impactes.
Em Coimbra, a vulnerabilidade social é mais elevada nas freguesias com maior concentração e
exposição populacional, nomeadamente, naquelas que têm maior percentagem de população idosa
(≥65 anos de idade). As freguesias com maior vulnerabilidade às ondas de calor e de frio dizem
respeito às freguesias do Centro Histórico da Cidade (Santa Cruz, São Bartolomeu e Sé Nova),
enquanto as menos vulneráveis correspondem a Brasfemes, Torre de Vilela e Assafarge. As áreas de
expansão recente da cidade (Santo António dos Olivais, S. Paulo de Frades, Antanhol, Assafarge,
Torre de Vilela) apresentam uma vulnerabilidade baixa e as freguesias mais rurais e mais distantes da
cidade apresentam novamente uma vulnerabilidade elevada (S. João do Campo, S. Silvestre, S.
Martinho de Árvore, Lamarosa, Ceira e Torres do Mondego).
Entre 1865 e 2013, ocorreram 41 ondas de calor e 9 ondas de frio em Coimbra.
As situações sinóticas que estiveram associadas às ondas de calor analisadas no estudo de caso
corresponderam à existência de um anticiclone dinâmico na área do Arquipélago dos Açores, que se
estendia em direção à Europa, levando à circulação em Portugal, de uma massa de ar vinda do
quadrante Leste, ou seja de ar quente e seco proveniente do interior da Europa. Nalguns casos, esteve
presente uma depressão de origem térmica centrada na Península Ibérica ou a sul do território
continental português, levando a que este fosse afetado também por ar quente e seco originário do
Norte de África.
Durante a ocorrência de ondas de calor e de frio registou-se o aumento da mortalidade, no
distrito de Coimbra, contudo apresentando diferentes padrões.
Apesar do reduzido número de ondas de calor e de frio analisadas, ao estabelecer-se uma
comparação, as ondas de calor são responsáveis por uma sobremortalidade maior. A onda de calor de
29 de julho a 3 de agosto de 2003 resultou em 19 óbitos em excesso. A onda de calor de 11 a 17 de
julho de 2006 apresentou 31 óbitos em excesso e a onda de calor de 4 a 11 de agosto de 2006 também
apresentou 31 óbitos em excesso. No caso da onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 originou 34
óbitos em excesso. Relativamente à onda de frio de 8 a 16 de fevereiro de 1983, esteve associada a 9
óbitos em excesso (valor bastante inferior aos valores de mortalidade em excesso anteriormente
apresentados associados às ondas de calor), visto que a mortalidade associada ao frio aumentou 7 dias
após o início da onda, prolongando-se nos dias subsequentes. No caso das ondas de calor, verificou-se
que a mortalidade aumenta nos 3 dias após o início dos eventos e prolongando-se nos dias
subsequentes.
100
Referentemente às principais causas de morte, no que concerne às ondas de calor, averiguou-
se maior mortalidade nas doenças circulatórias e respiratórias e no que diz respeito à onda de frio de 8
a 16 de fevereiro de 1983, foi responsável por maior mortalidade nas doenças circulatórias e isquémica
do coração. A mortalidade foi maior nos idosos (≥ 65 anos de idade) e nas mulheres (que constituem
grande parte da população idosa).
No caso das ondas de calor verifica-se uma relação entre a intensidade, a duração e a
mortalidade. A onda de calor de 29 de julho a 3 de agosto de 2003, com a duração de 6 dias, esteve
associada a 19 óbitos e abarcando os 6 dias subsequentes averiguaram-se 63 óbitos em excesso. A
onda de calor de 11 a 17 de julho de 2006, com a duração de 7 dias, apresentou 31 óbitos em excesso e
englobando os 6 dias subsequentes apresentou o excesso de 28 óbitos. No que concerne à onda de
calor de 4 a 11 de agosto de 2006, com a duração de 8 dias, esteve associada a um excesso de 31
óbitos e, abarcando os 6 dias subsequentes, a mortalidade em excesso foi de 34 óbitos; assim devido à
ocorrência destes dois eventos num curto espaço de tempo conduziu a mortalidade elevada. Quanto à
onda de calor de 24 a 30 de julho de 2010 (com a duração de 7 dias) esteve associada a 34 óbitos em
excesso e, abarcando os 6 dias subsequentes, contabilizaram-se 44 óbitos em excesso.
Em 2006 ocorreram duas ondas de calor num curto espaço de tempo (11 a 17 de julho e 4 a 11
de agosto). Apesar de no estado da arte se referido que alguns autores (RIBEIRO, 2008: 15, citando
KALKSTEIN e VALIMONT, 1987), indicam que nestes casos, durante a primeira onda de calor
morre mais população do que na segunda onda de calor, em virtude da população mais idosa e mais
frágil assim como com patologias ter falecido. Porém, neste caso de estudo não é possível averiguar
essas conclusões, visto que em ambas as ondas de calor, o excesso de mortalidade foi de 31 óbitos.
Não se pode prevenir a ocorrência de ondas de calor e de ondas de frio, porém podem-se
prevenir os efeitos destes riscos climáticos através do desenvolvimento do ordenamento e planeamento
do território, nomeadamente no que diz respeito à diminuição da vulnerabilidade, essencialmente da
vulnerabilidade social.
Quanto às limitações desta dissertação, inicialmente o trabalho consistia em analisar a
mortalidade ocorrida nas freguesias do concelho de Coimbra. Contudo, face ao segredo estatístico
inerente aos dados de mortalidade diária, procedentes do INE, quando o número de óbitos é inferior a
3 pessoas, ficou impossibilitada esta análise mais profunda às escalas de freguesia e de concelho, visto
que, devido ao baixo número de óbitos diários por freguesia, a maior parte dos dados estava sob
segredo estatístico. Assim, analisou-se o excesso de óbitos para o conjunto do distrito de Coimbra.
Esta limitação condiciona, de alguma forma, as conclusões, impedindo um nexo de vulnerabilidade
analisada à escala de freguesia e os resultados finais em termos de mortalidade, todavia, tendo em
atenção anteriores investigações (GUERREIRO, 2011) aplicou-se semelhante metodologia, apesar das
diferentes escalas territoriais usadas.
101
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