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II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores
PROPOSTAS DE FORMAÇÃO DO DOCENTE DE LÍNGUA INGLESA PELO VIÉS DA COMPLEXIDADE
Maria Eugenia Witzler D&Rsquo;Esposito, Rogério Da Costa Neves
Eixo 2 - Projetos e práticas de formação continuada
- Relato de Pesquisa - Apresentação Oral
A educação sofreu modificações significativas e há hoje uma nova visão e concepção do que seja ensinar e aprender, não havendo mais espaço para o paradigma tradicional. Na tentativa de romper com o padrão educacional existente, buscamos novas possibilidades, surgindo, assim, um novo paradigma complexo (Morin, 2004, 2005, 2006, 2008; Moraes, 2008, 2008a, 2010, etc), que resulta de novas concepções, crenças, visões e propostas sobre o educar. Dentro desse panorama, a formação do docente apresenta-se como um dos grandes desafios a ser superado pelas instituições de ensino e por seus professores formadores. Abordando e trabalhando este desafio, esta comunicação compartilha dois projetos de pós–doutorado, que buscam promover uma formação docente de cunho complexo. A pesquisa desenvolvida por D´Esposito estuda como a tutoria se configura como um espaço de formação docente para graduandos de língua inglesa de uma instituição privada de ensino superior na cidade de São Paulo. Por sua vez, Costa Neves foca sua pesquisa na Residência Docente oferecida em uma instituição federal de ensino regular, projeto que tem o objetivo de aprimorar a formação do professor da Educação Básica por meio de uma formação continuada, desenvolvendo competências docentes que complementem a formação recebida. Nesta comunicação os pesquisadores apresentarão a complexidade, seus princípios e os saberes necessários para a educação propostos por Morin (1999/2005, 1999/2006, 2005/2006) que lhes permitem repensar a formação docente, e suas pesquisas. O intuito é fomentar diálogo e oferecer subsídios para questionamentos e reflexões em relação à formação docente sendo oferecida bem como nossa própria prática enquanto formadores. Palavras-chave: formação docente; complexidade; práticas.
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PROPOSTAS DE FORMAÇÃO DO DOCENTE DE LÍNGUA INGLESA PELO VIÉS DA COMPLEXIDADE
Maria Eugenia Witzler D’Esposito. Faculdade Cultura Inglesa, GPeAHF;
Rogério da Costa Neves. UERJ, Colégio Pedro II, GPeAHF.
A educação sofreu modificações significativas e há hoje uma nova visão e
concepção do que seja ensinar e aprender, não havendo mais espaço para o paradigma
tradicional, simplificador, reducionista ou conservador.
Entendemos paradigma a partir da definição de Kuhn (1962/2009:225), para quem
paradigma significa “a constelação de crenças, valores e técnicas compartilhadas pelos
membros de uma comunidade científica”, acrescida da visão de Morin (1998:37), que
expande esta definição, acrescentando que um paradigma exprime uma relação muito
forte (de conjunção ou de disjunção), além de possuir uma natureza lógica entre um
conjunto de conceitos-mestres, e de Moraes (1997/2006:32) que afirma que “um
paradigma privilegia algumas relações em detrimento de outras, o que faz com que ele
controle a lógica do discurso.”. Portanto, os paradigmas são padrões, modelos a serem
seguidos que facilitariam, permitiriam a explicação do mundo que nos cerca e surgem
pela desconstrução dos paradigmas que o antecedem, a partir das dificuldades que
temos em explicar a realidade. Assim, eles são historicamente mutáveis, relativos e
naturalmente seletivos (ASSMANN, 1998) e a mudança de paradigma um processo lento
e difícil que implica na transformação e até mesmo na ruptura de conceitos, valores e
forma de pensar.
Atualmente nos referimos a dois paradigmas: o simplificador e o complexo. O
paradigma simplificador rege o pensar ocidental desde o século XVII e permitiu grandes
progressos. Uma de suas características é o racionalismo que reforça a ideia de total
concordância, coerência, entre o racional e a realidade que nos cerca, excluindo a
subjetividade e não dando espaço à sensibilidade ou as impressões sobre o mundo.
Descartes, que desenvolveu o pensamento cartesiano, foi um dos filósofos e físicos que
contribuiu muito com esta forma de pensar e que acreditava ser fundamental a
decomposição de um problema em outros mais simples, até chegar a um grau de
simplicidade suficiente para que a resposta se tornasse evidente, ou seja, é necessário
conhecermos as partes chegarmos ao conhecimento do todo, baseado na ideia de que,
ao nos especializarmos, dividiríamos trabalhos, distribuiríamos tarefas, e incentivaríamos
a especialização. Desse modo, o saber acabou sendo pulverizado em um número infinito
de disciplinas dissociadas, havendo a separação das mais diversas áreas do
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conhecimento e até mesmo o desenho de fronteiras dentro de uma mesma disciplina e,
na escola, vimos a proliferação de disciplinas e as suas subdivisões.
Assim, a escola tira os objetos de seus contextos, compartimentaliza o
conhecimento, dissocia os problemas presentes na sociedade. Para Morin
(1999/2006:41), essa especialização “abs-trai”, por extrair o objeto do seu contexto,
ignorando os vínculos e as inter-relações com o ambiente, e tornando-o abstrato em uma
disciplina compartimentada. Além de uma compartimentalização do saber, a
especialização traz consigo a ideia de que o mesmo “já não parece ser produzido para
ser articulado e pensado, mas para ser capitalizado e utilizado de maneira anônima”
(MORIN, 1977/2008:25). Assim, como afirma Costa Neves (2011: 30)
o paradigma simplificador concebia três aspectos como verdade: a
simplicidade, a estabilidade e a objetividade. A simplicidade, ao
acreditar que, ao analisar partes, é possível compreender o todo,
buscando a relação causa e efeito vistas aqui como lineares. A
estabilidade reside na concepção de um mundo onde se pode
controlar, conhecer e prever os fenômenos. E finalmente a
objetividade que busca obter uma única versão do conhecimento,
distanciando o cientista do objeto sob estudo.
Esse paradigma não é mais suficiente para responder ou mesmo esclarecer
questões que surgem no ambiente educacional atual, pois em nossa sociedade
contemporânea, a multiplicidade, a simultaneidade de linguagens e o conhecimento em
rede são priorizados. Assim, D´Esposito (2012:8), baseada em Behrens & Oliari (2007:
59-61) e Moraes (2006:43), afirma que não encontramos mais relação com a escola do
paradigma simplificador que
vê o aluno como um espectador cuja experiência não é
considerada; enxerga o professor como o detentor do saber e um
transmissor do conhecimento; prioriza o resultado e não o
processo; tem currículos lineares e reducionistas, divididos em
matérias que não se articulam ou comunicam; ignora o diálogo e
as interações; fragmenta, automatiza, desvincula e individualiza
Como salienta Morin (2005/2006:16) precisamos de um novo paradigma
educacional, que nos possibilite repensar o ensino considerando os efeitos dessa
compartimentação, ressaltando a necessidade da contextualização e articulação dos
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saberes, que tenha como princípio a visão do homem como um ser integral e complexo,
“no sentido originário do termo complexus: o que é tecido junto” (Morin, 1999/2006a:89;
2008/2010:190), que nos permita substituir o pensamento que isola por um que una, do
disjuntivo e redutor por um complexo.
O paradigma da complexidade surge de novas concepções, visões, descobertas e
reflexões (MORIN, 2005/2006: 77), no qual o mundo físico é visto como uma rede de
relações na qual não existem partes isoladas nem ordem determinada. O conhecimento
passa a ser um objetivo visto, percebido e coproduzido por meio do nosso diálogo com o
mundo (MORIN, 1990/2008: 204-205), pressupondo a participação do indivíduo e sua
interação com o objeto, o meio físico e o social (MORAES, 2006:88), estando tudo em
movimento, em constante fluxo de energia, em um processo
contínuo de mudança. O início e o fim das ações não são
predeterminados e cada ação completa serve de insumo para um
novo começo. Tudo está conectado e este entrelaçamento leva a
enriquecimentos mútuos, nada lineares ou anteriormente
determinados, nos quais tudo é criado gradualmente por meio da
exploração das conexões, relações, integrações e pela própria
vivência do processo. (D’ESPOSITO, 2012: 14-15)
Operadores ou princípios que nos ajudam a pensar a complexidade são propostos
por diversos autores1
O princípio hologramático nos remete à metáfora do holograma em que cada um
dos pontos contém virtualmente o todo do objeto reproduzido. Assim, não apenas a parte
está no todo, como o todo está inscrito na parte, podendo-se enriquecer as partes pelo
todo e o todo pelas partes, num mesmo movimento produtor de conhecimentos.
, e segundo Mariotti (2007: 137-139) eles nada mais são que
metáforas que nos permitem compreender o pensamento complexo. Neste trabalho,
baseados em Morin (1999/2006a:93-97; 2005/2006:73-77), utilizaremos aqueles que
consideramos fundamentais para compreender a formação de professores de línguas nos
dias de hoje; os princípios hologramático, recursivo e dialógico.
O princípio recursivo rompe com a cadeia linear entre causa e efeito, estabelecendo
que produtos e efeitos são, eles próprios, produtores e causadores daquilo que os produz
(MORIN e MOIGNE, 2000). Para melhor compreendermos este princípio no contexto
escolar, Moraes (2008: 100-101), com base em Maturana (1999), conclui que:
Podemos, então, inferir que o educador é também influenciado
pelo que acontece durante o desenvolvimento do trabalho
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realizado em classe. Ele também é produto do conhecimento que
está sendo produzido, pois esse conhecimento trabalhado nos
ambientes de aprendizagem retroage sobre ele durante cada
etapa do processo, porque, biologicamente, o ser e o fazer estão
profundamente imbricados, estruturalmente acoplados.
O princípio dialógico se apresenta como decorrência da causalidade circular
recursiva e concebe um diálogo entre noções tais como: ordem e desordem, razão e
emoção, real e imaginário, certo e errado, mas que, mantêm relações não apenas
antagônicas, mas também concorrentes, complementares e indissociáveis dentro de uma
organização. Permite manter a “dualidade no seio da unidade” (MORIN, 2005/2006:74),
substituindo o conector ou pelo e, pois nem sempre é possível (ou necessário) resolver
as contradições, mas, sim, aprender a conviver com elas.
Morin (1999/2006b), em um trabalho mais voltado para a educação, apresenta
aquilo que considera ser os sete saberes necessários para a educação - saberes estes
que são na realidade áreas que carecem de estudo - e que acreditamos também sejam
necessários para a formação de professores.Os saberes enunciados pelo autor (MORIN,
1999/2006b) são: o erro e a ilusão, o conhecimento pertinente, o ensinar a identidade
terrena, o enfrentar as incertezas, o ensinar a condição humana e a ética do gênero
humano.
O erro e a ilusão dizem respeito à necessidade de integramos os erros em nossas
concepções, já que todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão e isso se faz
necessário para que haja um avanço no conhecimento. O conhecimento pertinente nos
remete à ideia da tessitura e está relacionado à necessidade de se promover
conhecimento não fragmentado, que estabeleça um vínculo entre todo e partes, pois ter
acesso à informação de dados isolados não é suficiente. A contextualização é necessária
para que a informação adquira sentido, uma vez que o contexto determinará as
condições de sua inserção e os limites de sua validade. O ensinar a identidade terrena
faz menção à sustentabilidade e à necessidade da construção de um planeta viável para
as gerações futuras. O enfrentar as incertezas ao aprender a lidar com a
imprevisibilidade, incertezas, a aceitação de que não existem verdades absolutas, para
que haja o avanço do saber e da cultura em todas as áreas. O ensinar a condição
humana relaciona-se a quem somos e ao reaprender que não somos apenas culturais,
mas também naturais, físicos, psíquicos, míticos, imaginários, sociais e históricos. A ética
do gênero humano remete ao caráter ternário da condição humana, ou seja, que somos
ao mesmo tempo indivíduo, sociedade e espécie, sendo cada um desses três termos, ao
mesmo tempo, meio e fins dos outros dois; ou seja, inseparáveis, mas também
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coprodutores um do outro. Exige que desenvolvamos nossa autonomia, nossa
individualidade, nossa responsabilidade e nossa participação no gênero humano,
assumindo a complexidade da nossa condição humana nos níveis individual, grupal e
comunitário. A função da educação, sob este prisma, é a de formar cidadãos
responsáveis por si próprios, por suas comunidades, por sua espécie e,
consequentemente, pelo meio em que vivem.
Assim, os processos de aprendizagem devem possibilitar a produção de
conhecimento que seja crítico, reflexivo e transformador, que levem a uma autonomia
intelectual e pessoal e à produção de ações que possam transformar a realidade, por
meio de processos não lineares, integradores, críticos e participativos e do
desenvolvimento de ações tanto individuais quanto coletivas que possibilitem desafiar os
preconceitos, rever atitudes em relação à vida, o enfrentamento dos medos e a
revisitação das conquistas (BEHRENS, 2006: 20 -25).
Para Moraes (2008) o professor precisa estar atento aos processos auto-
organizadores dos alunos sendo capaz de identificar suas necessidades, discernir e ter
atitude crítica e criativa face aos problemas, ser um pesquisador e um observador que
perceba o momento adequado para mudanças, além de enfrentar desafios e novas
estratégias pedagógicas inspiradas nos princípios da complexidade.
Freire (2009:8) vê a formação como um “processo constantemente em
desenvolvimento, infindo, e, portanto, em permanente evolução”. A autora também
percebe a criticidade, a reflexão e a postura questionadora, como aspectos relevantes na
formação, que ajudam a nos distanciarmos de práticas que sejam repetitivas, intuitivas e
de transmissão, possibilitando a exposição a novas experiências profissionais e novas
indagações.
Celani (2004:38) afirma que a formação se constitui “no aprender a conviver com a
incerteza e o risco” e se utiliza de uma metafora usada anteriormente por Stacey (1992) e
preconiza que:
o professor deve aprender a buscar rotas possíveis para seu
próprio desenvolvimento, delineadas pelas circunstâncias do
contexto de aprendizagem, para que possa fazer com que seus
alunos descubram rotas outras para si mesmos. [Stacey destaca]
nesse texto a importância do professor aprender a conviver com a
incerteza, porque o mundo da sala de aula é imprevisível e nele é
o desenvolvimento da adaptabilidade que leva ao progresso.
Morin (2005/2006:102), por sua vez, acredita que distinguir, contextualizar e
globalizar os problemas; preparar as mentes para responder a desafios; enfrentar as
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incertezas; educar para a compreensão humana, e ensinar a cidadania, sejam essenciais
na formação.
Dentro do panorama atual, do paradigma complexo e tendo por base os aspectos
apresentados, acreditamos que seja premente investigarmos a formação docente2
A pesquisa desenvolvida atualmente por D´Esposito estuda como a tutoria se
configura como um espaço de formação docente complexa para os graduandos do curso
de Licenciatura de Letras – Inglês, de uma instituição privada de ensino superior na
cidade de São Paulo. A instituição busca incluir ao longo dos oito semestres de curso
atividades acadêmicas que possibilitem o desenvolvimento de competências e
habilidades necessárias à prática docente; a articulação dos conteúdos e a interação
entre todos os indivíduos envolvidos nos processos de investigação, adaptação da
realidade local, além de uma inter-relação e coerência entre a formação e a atuação
profissional. Para tal, oferece disciplinas distribuídas nas áreas de Práticas de língua e
linguagem, Teorias de linguagem, Práticas de ensino, Teorias de educação, Literaturas e
Práticas de Pesquisa, além do Estágio Supervisionado, Trabalho de conclusão de curso e
Tutorial, sendo este último seu objeto de estudo.
,
repensando-a e propondo novas formas de formação. Instigados por este grande desafio
e tendo por base a complexidade, seus princípios e os saberes necessários para a
educação no futuro, compartilhamos dois projetos de pesquisa de pós–doutorado em
andamento, que buscam promover uma formação docente de cunho complexo.
O Tutorial é apresentado como uma atividade prática que ocorrerá ao longo de toda
a licenciatura, com duração semanal de duas horas, sendo este um espaço que se
destina ao acompanhamento e orientação contínuos do ensino-aprendizagem e de
aprimoramento da formação específica do graduando. Assim, D´Esposito faz uma
proposta de trabalho ao longo dos quatro anos da tutoria, enxergando esse espaço como
um ambiente complexo de formação de professores buscando entender sua natureza, o
que a constitui e delineando o trabalho a ser desenvolvido com os graduandos e
professores tutores, debruçando um olhar complexo para a pesquisa bem como ao
espaço de formação docente, pois como sugere Morin (2006:7), entende o saber como
não fragmentado, compartimentado ou redutor, reconhecendo a incompletude do
conhecimento, consciente a respeito das incertezas, da nossa incapacidade de conceber
ordem absoluta e de se evitar contradições, do caráter multidimensional da realidade e da
impossibilidade de um saber total (MORIN, 2005:68-69).
Por sua vez, Costa Neves foca sua pesquisa na residência docente oferecida em
uma instituição federal de ensino regular. O projeto da residência docente foi proposto
com o objetivo de aprimorar a formação do professor da Educação Básica por meio de
um projeto de formação continuada, desenvolvendo competências docentes que
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complementem a formação recebida na Instituição de Ensino Superior (IES) de origem, a
partir da vivência em um ambiente escolar de reconhecida excelência.
A Residência Docente coloca lado a lado professores recém-formados (residentes)
com professores orientadores (supervisores e orientadores) de uma instituição de ensino
público, de forma a propiciar ao novo profissional uma formação complementar em
questões de ensino-aprendizagem na área/disciplina, assim como em aspectos outros
inerentes à vida escolar. Além disso, pretende possibilitar a aplicação de novas
metodologias e estratégias pedagógicas na instituição de atuação do professor residente,
que venham a incrementar os resultados de aprendizagem dos alunos da Educação
Básica. Este projeto é oferecido nas mais diversas áreas: Matemática; Física, Biologia,
Química; Português; Inglês, Espanhol, Francês; História, Geografia; Sociologia, Filosofia;
Educação Física, Artes, Desenho, Música e anos Iniciais do Ensino Fundamental,
possibilitando ao residente e aos seus orientadores o desenvolvimento de projetos,
trabalhos, ações escolares que não segmentem ou compartimentalizem o conhecimento
A seleção dos profissionais que hoje atuam neste projeto como supervisores e
coordenadores, levou e ainda leva, em consideração apenas sua vida e produção
acadêmica. Não lhes é exigido, no entanto, quaisquer formação ou experiência específica
na área da formação de professores.
Costa Neves em sua pesquisa visa, em um primeiro momento, mapear por meio de
narrativas, os recursos de que se valem esses professores que assumiram a função de
formadores (supervisores e coordenadores), que transformações sofrem neste processo
e qual o impacto que este novo posicionamento nesta cadeia tem em suas próprias
práticas docentes. Em um segundo momento, este autor investigará o processo por que
passam professores residentes e como percebem a ação de seus formadores. Para tal,
se valerá dos princípios da complexidade expostos anteriormente.
Assim, essas duas pesquisas em andamento, buscam enxergar e trabalhar a
formação docente pelo viés da complexidade repensando a formação docente sendo
oferecida, estudando e propondo novas formas de formação além de permitir aos
professores pesquisadores a oportunidade de repensarem suas próprias práticas
enquanto formadores de professores de língua estrangeira. Como mencionado
anteriormente, o intuito é oferecer práticas de formação por meio de processos de
aprendizagem não lineares, integradores e participativos que possibilitem a produção de
conhecimento crítico, reflexivo e transformador, que levem a autonomia e à produção de
ações transformadoras da realidade, que levem ao desafio dos preconceitos, revisitação
de atitudes e das conquista e o enfrentamento dos medos e das incertezas.
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NOTAS
1- Além dos três princípios apresentados neste trabalho Morin (2005/2006:73-75, 2009)
faz menção aos princípios: sistêmico ou organizacional, do circuito retroativo, do circuito
recursivo, da auto-eco-organização e da reintrodução do sujeito cognoscente. Moraes
(2008) apresenta em sua obra 10 operadores cognitivos do pensamento complexo: o
princípio sistêmico-organizacional, princípio hologramático, princípio retroativo, princípio
recursivo, princípio dialógico, princípio da auto-eco-organização, princípio da reintrodução
do sujeito cognoscente, princípio ecológico da ação, princípio da enação e o princípio
ético. Mariotti (2007), por sua vez, apresenta os operadores: da circularidade, da auto-
produção/auto-organização, dialógico, hologramático, interação sujeito-objeto e ecologia
da ação.
2- Assumindo nossa visão complexa, quando mencionamos o termo formação de
professores compreendemos a formação do docente como um todo, ou seja, o que o
paradigma tradicional denomina de formação inicial ou pré-serviço, formação
contínua/continuada ou em-serviço. Não entendemos a formação de modo fragmentado
nem linear, mas, sim, como um contínuo processo recursivo, hologramático e dialógico
ao longo da formação do professor, que por sua vez, não está dissociada de sua
formação enquanto indivíduo dentro de uma sociedade.
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