UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERUNIDADES EM
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
ADRIANA ALBAHARI
OBRAS BRASILEIRAS NO ACERVO DO MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA YORK
SÃO PAULO
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ADRIANA ALBAHARI
OBRAS BRASILEIRAS NO ACERVO DO MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA YORK
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo, como exigência à obtenção de título de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Edson Leite
SÃO PAULO
2012
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FOLHA DE APROVAÇÃO
AUTORA: ADRIANA ALBAHARI
TÍTULO:OBRAS BRASILEIRAS NO ACERVO DO MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA YORK Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo, como exigência à obtenção de título de Mestre.
DATA DE APROVAÇÃO:
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Edson Leite
Assinatura ___________________________________________________
Profª Drª. Jane Marques
Assinatura ___________________________________________________
Profª Drª. Rita C. Giraldi
Assinatura____________________________________________________
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Agradecimentos
Agradeço primeiramente ao meu orientador, Prof. Dr. Edson Leite, pela paciência e
confiança que demonstrou desde o início dessa pesquisa. Ao meu marido, Raul..
Agradeço também às professoras Jane Marques e Rita C. Giraldi pelos conselhos e
contribuições oferecidos durante o processo de Qualificação. Não menos
importantes foram as atenciosas contribuições da professora Ana Leticia Fialho, que
prontamente me ofereceu sua tese de Doutorado para consulta e uma lista
bibliográfica importante para o estudo realizado. Agradeço ainda ao Olivio Guedes
pela ajuda inicial do meu mestrado. Ainda menciono as professoras Ana Magalhães
e Helouise Costa, pelas preciosas aulas ministradas durante o curso.
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Resumo
O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) tem relevante papel de legitimação da arte produzida desde o final do século XIX até a atualidade. Suas ações que envolvem a arte brasileira impactam diretamente a leitura geral que se faz da nossaprodução artística. Para analisar a relação da arte brasileira com o Museu, o presente trabalho apresenta uma breve história do MoMA e suas características como instituição colecionadora. Apresenta o levantamento das obras de artistas brasileiros no acervo e reflete sobre suas trajetórias dentro da coleção. Foi possível verificar um relacionamento histórico do MoMA com a arte brasileira gerado como resposta às necessidades de uma agenda política do Museu, e não por um interesse legítimo à produção nacional. As últimas décadas apontam um esforço do Museu na promoção de uma correção nesse relacionamento e de uma releitura a respeito do papel da produção artística brasileira. Resta, porém, uma série de desafios para que a arte brasileira tenha a devida representação no MoMA: a aquisição de obras brasileiras independente de esforços de agentes cujo apelo é puramente a origem geográfica dos artistas; o julgamento, de artistas brasileiros, baseado nos mesmos parâmetros utilizados para artistas internacionais; a construção de discursos que não enfatizem estereótipos e não descontextualizem as obras; e; a completa conscientização de que o Brasil, como outros países, é produtor legítimo de significado dentro de um circuito cultural com interdependências e trocas.
Palavras-chaves: Museum of Modern Art (New York, NY), Acervo Museológico, Arte
Moderna Brasileira
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Abstract
The Museum of Modern Art (MoMA) has a relevant role in legitimizing the art
produced since the late nineteenth century to the present. Its actions toward the
Brazilian art directly impacts on the general appraisal made on the Brazilian artistic
production, both internationally and within Brazil. To evaluate the relationship
between MoMA and the Brazilian art, this work presents a brief history of the
Museum and its characteristics as a collecting institution, it presents a survey of
works by Brazilian artists who are part of MoMA’s collection and subsequently, it
reflects on their trajectories within the collection. It was possible to verify that the
historical relationship between MoMA and the Brazilian art has been generated in
response to the needs of a political agenda of the Museum, less than a legitimate
interest to our domestic production. MoMA, though, has been showing, during the
last decades, new effort in correcting this relationship and a promoting a new reading
on the role of Brazilian proposals. There remains, however, a number of challenges
for the proper representation of the Brazilian art on MoMA: the acquisition of
Brazilian works without the efforts of agents whose appeal are purely linked to the
geographical origin of the artists; the utilization, for Brazilian artists, of the same
parameters used to evaluate international artists; the construction of a discourse that
does not emphasize stereotypes or take the works from their context; the full
awareness that Brazil, like other countries, is a genuine producer of meaning within a
cultural circuit with interdependencies and exchanges.
Key words: Museum of Modern Art (New York, NY), Museum collection, Brazilian
Modern Art
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Lista de Ilustrações
Figura 1 ‐ Active Object de Willys de Castro, 1961. ............................................................................ 122
Figura 2 – Morro, de Candido Portinari, 1933. ................................................................................... 127
Figura 3‐ The Impossibe III de Maria Martins, 1946. ......................................................................... 132
Figura 4 ‐ Ministério da Educação e Saúde ‐ Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Carlos Leão,
Jorge Machado Moreira, Afonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcelos. 1937‐1942. .......................... 134
Figura 5 – Young Beggar, Lasar Segall, 1921 ....................................................................................... 142
Figura 6 ‐ Getulio, Kleine Galerie, Almir Mavigner, 1962 ................................................................... 155
Figura 7 ‐ Here is the Center de Anna Bella Geiger (1973) ................................................................. 163
Figura 8 ‐ Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco. ................................................................. 168
Figura 9 ‐ Lung de Jac Leiner, 1987.. .................................................................................................. 175
Figura 10 ‐ Sundial, Lygia Clark, 1957. ................................................................................................ 179
Figura 11 ‐ Navedenga de Ernesto Neto, 1998 ................................................................................... 180
Figura 12 ‐ Box Bolide 12, 'archeologic' de Helio Oiticica, 1964‐65. .................................................. 187
Figura 13 ‐ Cooking Cristals, de Tunga. 2006‐2009............................................................................. 188
Figura 14 ‐ Zé Carioca no. 4, A Volta de Zé Carioca (1960). Edição Histórica, Ed. Abril de Rivane
Neuenschwander, 2004. ..................................................................................................................... 209
Figura 15 ‐ Sem título da série Droguinhas (Little Nothings) de Mira Schendel. 1964‐1966 ............. 212
Figura 16 e 17 ‐ DeleveleD de Jessica Mein, 2007. ............................................................................. 212
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Lista de Gráficos
Gráfico 1 – Aquisições de obras brasileiras por ano, subdividas por departamento, entre 1940 e 1949
............................................................................................................................................................ 130
Gráfico 2 ‐ Formas de aquisições de obras brasileiras entre 1940 e 1949 ......................................... 130
Gráfico 3 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdividas por departamento entre 1950 e 1959
............................................................................................................................................................ 144
Gráfico 4 – Formas de Aquisições de obras brasileiras entre 1950 e 1959 ........................................ 144
Gráfico 5 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdividdas por departamento entre 1960 e 1969
............................................................................................................................................................ 153
Gráfico 6 ‐ Formas de aquisição de obras brasileiras entre 1960 e 1969 ........................................... 153
Gráfico 7 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdivididas por departamento entre 1970 e 1979
............................................................................................................................................................ 162
Gráfico 8 ‐ Formas de aquisição de obras brasileiras entre 1970 e 1979 ........................................... 162
Gráfico 9 ‐ Aquisições de obras brasilieras por ano subdivididas por departamento entre 1980 e 1989
............................................................................................................................................................ 166
Gráfico 10 ‐ Formas de aquisições de obras brasileiras entre 1980 e 1989 ....................................... 167
Gráfico 11 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdividadas por departamento entre 1990 e
1999 .................................................................................................................................................... 173
Gráfico 12 ‐ Formas de aquisições de obras brasileirsa entre 1990 e 1999 ....................................... 173
Gráfico 13 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdivididas por departamento entre 2000 e
2009 .................................................................................................................................................... 183
Gráfico 14 ‐ Formas de aquisição de obras brasileiras entre 2000 e 2009) ....................................... 184
Gráfico 15 ‐ Aquisição de obras brasileiras por ano subidividas em departamentos entre 2010 e 2011
............................................................................................................................................................ 186
Gráfico 16 ‐ Forma de aquisição de obras brasileiras entre 2010 e 2011) ......................................... 186
Gráfico 17 ‐ Total de obras brasileiras adicionadas ao acervo do MoMA em diferentes períodos ... 189
Gráfico 18 – Obras brasileiras no acervo do MoMA subidivididas por departamento ...................... 200
Gráfico 19 ‐ Obras brasileiras adicionadas entre 2000 e 2011 superam a quantidade total de obras
adicionadas durante os 60 anos anteriores ........................................................................................ 201
Gráfico 20 ‐ Distribuição do total de Obras brasileiras no acervo do MoMA por forma de aquisição
............................................................................................................................................................ 205
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Lista de Quadros
Quadro 1 – Obras brasileiras no acervo do MoMA, 1939 – 2011.. ...................................................... 74
Quadro 2 – Possíveis Classificações das obras no MoMA e seus Departamentos ............................. 120
Quadro 3 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1940 e 1949. ......... 129
Quadro 4 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1950 e 1959 .......... 143
Quadro 5 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1960 e 1969 .......... 152
Quadro 6 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1970 e 1979 .......... 161
Quadro 7 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1980 e 1989 .......... 166
Quadro 8 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo MoMA entre 1990 e 1999 ............... 172
Quadro 9 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 2000 e 2009 .......... 183
Quadro 10 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA em 2010 e 2011 ........... 185
Quadro 11 ‐ Artistas brasileiros representados no Acervo do Moma em 2011 ................................. 204
Quadro 12‐ Alguns Fundos responsáveis por aquisições de obras brasileiras no MoMA não ligados
diretamente a Arte Latina ................................................................................................................... 208
Quadro 13 – Obras brasileiras que estiveram expostas no MoMA entre Janeiro 2011 e Julho 2012 211
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Sumário
Introdução ............................................................................................................................... 13
1. O Museu de Arte Moderna de Nova York: da formação à maturidade .................................. 28
1.1 Nova York conhece arte moderna ........................................................................................... 28
1.2 A sedimentação das propostas modernas na arte americana e a formação do Museu de Arte
Moderna de Nova York ..................................................................................................................... 32
1.3 Os primeiros responsáveis pelo Museu ................................................................................... 38
1.4 Os Primeiros Anos do Museu .................................................................................................. 40
1.5 Os anos 1940 e o apoio ao Estado durante a Segunda Guerra Mundial ................................. 44
1.6 Os anos pós guerra e os anos 1950 ......................................................................................... 45
1.7 Manutenção dos paradigmas do MoMA nos anos de 1960 e a Guerra Fria ........................... 48
1.8 O MoMA e os novos museus de arte dos anos 1970 .............................................................. 50
1.9 A busca por visibilidade nos anos 1980 .................................................................................. 51
1.10 Anos 1990, o MoMA busca redesenhar sua história ............................................................ 52
1.11 A contínua busca por renovação nos anos 2000 .................................................................. 54
2. Coleção Permanente do MoMA: formação e políticas do acervo ........................................... 56
2.1 Propostas iniciais para o acervo de um Museu ‘de seu tempo’ .............................................. 56
2.2 A formação das políticas de venda de obras da coleção ......................................................... 61
2.3 A aquisição de obras ................................................................................................................ 63
2.4 O escopo atual da coleção ....................................................................................................... 67
3. Levantamento e estudo das obras e artistas brasileiros encontrados nos bancos de dados do
acervo do MoMA ..................................................................................................................... 72
3.1 Levantamento dos dados ........................................................................................................ 72
3.1.1 Considerações sobre o Quadro I ................................................................................. 115
3.2 As aquisições de obras brasileiras ......................................................................................... 124
3.2.1 As primeiras aquisições e o período da Segunda Guerra Mundial ............................. 124
3.2.2 O período Pós Guerra – desinteresse e aproximação ............................................... 136
3.2.3 Aproximação e Guerra Fria ‐ anos de 1960 ................................................................ 150
3.2.4 Os anos 1970, Exposição Information, poucas aquisições ......................................... 159
3.2.5 O baixo envolvimento do MoMA com o Brasil nos anos 1980 ................................... 164
3.2.6 Novos rumos das relações nos anos 1990 .................................................................. 168
3.2.7 Os anos 2000 , novos colaboradores .......................................................................... 176
3.2.8 Os anos 2010 ............................................................................................................... 184
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4. Análise da representação brasileira no MoMA ..................................................................... 189
4.1 Considerações sobre algumas questões levantadas ............................................................. 200
4.1.1 Motivações ................................................................................................................. 200
4.1.2 Momento de aquisição das obras ............................................................................... 200
4.1.3 Arte Latina x Brasileira ................................................................................................ 201
4.1.4 Coleção Histórica x Contemporânea .......................................................................... 203
4.1.5 Formas de aquisição/ Recursos para a compra de obras ........................................... 205
4.1.6 A exibição de obras brasileira ..................................................................................... 209
4.2 A marginalidade do artista latino e a Teoria Compesatória .................................................. 213
5. Considerações Finais .............................................................................................................. 219
6. Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 224
7. APÊNDICE: CD contendo o banco de dados elaborado no programa Microsoft Accesss com as
informações e imagens das obras brasileiras levantadas nesse estudo. .............................. 232
8. Anexos ................................................................................................................................... 233
Anexo 1: Collections Management Policy –The Museum of Modern Art
Anexo 2: Press release: 224 New Acquisitions make Museum of Modern Art Collection of
Modern Latin American Art most important in world, 1943
Anexo 3: Primeira edição do The Latin American and Caribbean Fund Journal , 2007.
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Introdução
ProblematizaçãodoObjeto
O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) tem relevante papel de
legitimação da arte produzida desde o final do século XIX até a atualidade. A leitura
apresentada pela curadoria do Museu, ao longo dos anos, serve de referência, ao redor
do mundo, da criação considerada valorosa na cena artística moderna e
contemporânea. Embora - como qualquer ponto de vista histórico - sua seleção da
produção artística não consiga captar, na totalidade, a boa criação do período em
questão, obras e artistas que fazem parte dos elegidos pelo MoMA - tanto em
exposições, publicações ou dentro do acervo do museu – são parte de uma história
contada por uma instituição que serve como referência quando o assunto é arte de
nosso tempo.
Pérez-Barreiro (2005) relata que o MoMA, embora frequentemente
caracterizado como agente da hegemonia Estados Unidos e da Europa, foi a primeira
instituição de arte fora da América Latina a colecionar vorazmente trabalhos de artistas
latinos. Desde sua concepção, o Museu se propôs a divulgar e conhecer a arte de
outros países fora do eixo tradicional Europa e Estados Unidos. Durante esse estudo,
14
pode-se averiguar que ao longo dos seus anos de existência, o Museu, mesmo que de
forma irregular, expôs e adicionou a seu acervo obras de artistas brasileiros.
Em anos recentes, frequentes obras de artistas brasileiros foram expostas pelo
MoMA, com alguns casos de exposições dedicadas unicamente a artistas brasileiros ou
latinos. Entre alguns exemplos que valem ser citados está a exposição realizada em
2004 em parceria com o El Museo Del Barrio de Nova York, a MoMA at El Museo: Latin
American & Caribbean Art, onde se viu, entre outras, obras de Vik Muniz, Beatriz
Milhazes, Hélio Oiticica e Cildo Meireles. Ou a exposição realizada em 2009, Tangled
Alphabets: León Ferrari e Mira Schendel, que mostrou obras do artista argentino e da
brasileira (nascida na Suíça) buscando as convergências destes dois artistas que
trabalharam independentes um do outro.
Levanta-se, dessa averiguação, uma interessante questão da relação do MoMA,
como instituição colecionadora, com a produção brasileira. Teria isso sido fruto apenas
da forte discussão a respeito do multiculturalismo da década de 1980, ou um
movimento mais recente proveniente do crescimento da importância comercial do
Brasil? Teria o Museu colecionado obras brasileiras já há algumas décadas? Haveria
um plano de aquisição? Quais artistas fazem parte desse acervo? Foram eles
reconhecidos em vida? Como essas obras foram selecionadas?
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Através de um levantamento rápido das obras e da leitura da bibliografia do
presente estudo fez-se reconhecer que, embora não haja um projeto voltado para a
criação específica de uma coleção brasileira, o MoMA construiu, ao longo de sua
existência, um sólido acervo de obras brasileiras, nascendo daí, o interesse para uma
investigação a seu respeito.
A presente pesquisa buscou assim, levantar de forma organizada, as obras de
artistas brasileiros que são parte do atual acervo do MoMA. Tal pesquisa justifica-se
pela importância histórica desse Museu ao se pensar a arte moderna, bem como no
papel do Museu na contemporaneidade. Com relação ao seu peso histórico, a história
do Museu confunde-se com a própria história da arte moderna: Basbaum (2011)
descreve a criação do MoMA como referência e consolidação da ideia do ‘cubo
branco’, e descreve o museu moderno como um conceito que “visa acolher sem
impedimentos a potência desse novo objeto sensível do século XX” (BASBAUM, 2011,
p. 187). Assim, uma vez que o Brasil viveu o Modernismo e vive seus reflexos – mesmo
que com suas originalidades próprias - é interessante pensar na história do MoMA e
seu cruzamento com a nossa produção do século XX até hoje.
De forma que, isso se estende à contemporaneidade. Basbaum (2011)
compreende também que, “sob a perspectiva contemporânea (isto é, após 1945), o
ambiente do circuito de arte é aquele que também constitui a espacialidade própria
16
para a obra” (BASBAUM, 2011, p. 187), sendo o museu parte desse ambiente, a
compreensão da arte passa pelo papel desempenhado pelo museu.
Além disso, o circuito da arte pode ser contextualizado na atualidade da seguinte
maneira:
[...] sob impacto da informática e globalização, grandes somas de capital tem migrado para as atividades culturais, em busca de materialização e cristalização de um sentido simbólico para operações financeiras que se tornam virtualmente imateriais, ao se processarem em tempo real em toda a superfície do globo. (BASBAUM, 2011, p.185)
De maneira que a formação do museu de arte contemporânea possa ser
percebida
[...] como diretamente conectada a um contexto concreto econômico e cultural que não pode ser ignorado ou idealizado, e isto conduz a uma elaboração das noções que apontam para o museu de arte contemporânea, [...] que deverá responder a um circuito de arte e seus vários segmentos (sobretudo ao saber acumulado da arte moderna, às tecnologias de manejo museológico e curatorial e às relações com o público) assim como à materialidade da presença de relações socioeconômicas concretas. (BASBAUM, 2011, p.185)
Essas elucidações fornecem uma noção da força que o museu, como instituição
tem na atualidade. Se em um dado momento a ideia de museu chegou a ser
desdenhada como modelo de promoção e apresentação da arte, após grandes
transformações conceituais, hoje representa um importante meio para a circulação da
arte, ainda que não seja mais o único ou mais importante deles.
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Justifica-se assim conhecer mais a respeito da trajetória da arte brasileira dentro
de um museu do porte do MoMA que, como símbolo desse modelo de instituição,
passou por períodos de isolamento, austeridade e reflexão da sua própria formação e
da arte de nosso tempo. É importante notar que o Museu divide seu papel de produtor
de valor na cena artística contemporânea com outras instituições, como as exposições
internacionais de arte Documenta de Kassel, a Bienal de Veneza, como as grandes
casas de leilões Sotheby’s e Christie’s, como as feiras internacionais de arte bem como
com curadores e produtores críticos. Assim, embora outros museus, e as anteriormente
citadas instituições também exibam a arte brasileira, optou-se por estudar o MoMA em
função de sua inegável importância no século XX. Lorente (2011) defende que o MoMA
definiu um cânone imitado e contestado por quase todo o século XX, e sua rica história
é emblemática a respeito de como ocorreu a inserção da arte brasileira no mercado
internacional de arte. Seria, entretanto, interessante desenvolver, em futuros trabalhos,
comparações com outros importantes museus fora do Brasil, como o Tate Modern de
Londres, que também trabalha a arte brasileira em seu acervo.
Tudo isso nos permite uma reflexão a respeito da situação contemporânea e a
arte brasileira moderna e contemporânea:
Todos sabemos que na nova ordem internacional [...], permitindo inédita emergência de contextos regionais num cenário até há pouco excludente, a arte brasileira passou a frequentar os principais pontos do circuito internacional e, [...], a tornar-se mais visível no próprio país. (SALZTEIN, 2001, p. 385)
18
Salsztein (2001) afirma que a visibilidade pública que alcançou a produção
artística brasileira – até mesmo em seu próprio território - deu-se, especialmente, após
receber sua maior atenção internacional. Conclui-se daí, que, conhecer a composição
do acervo do MoMA e como ele se formou, pode ajudar a compreender como a
integração da arte brasileira se deu no circuito internacional e fornecer novas visões a
respeito da dinâmica própria do Brasil com a arte.
Oobjeto
Assim, o objetivo central do presente estudo é conhecer a composição atual das
obras de brasileiros no acervo do MoMA e trazer reflexões sobre a trajetória da arte
brasileira dentro da coleção do Museu.
Metodologia
A fim de atingir esse objetivo e trabalhar na problematização do objeto exposta
anteriormente, foi necessário utilizar-se de uma série de estratégias de pesquisas,
como na metodologia de um estudo de caso, descrito por Martins (2009). Segundo o
autor:
A estratégia de pesquisa de Estudo de Caso, tem como objetivo o estudo de
uma unidade social que se analisa profunda e intensamente. [...] buscando
apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever,
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compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto. Mediante um
mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado – problema da pesquisa
– o Estudo de caso possibilita a penetração na realidade social. (MARTINS,
2009, p.62)
Oliveira (2007) acrescenta que esse método é usado na tentativa de se buscar
novos elementos que possam explicar o objeto de estudo, sendo uma estratégia
metodológica do tipo exploratório, descritivo e inrerpretativo.
Assim, iniciou-se a pesquisa realizando-se uma coleta de dados que produziu o
levantamento das obras brasileiras encontradas no acervo do MoMA na atualidade.
Para isso, conferiu-se a possibilidade de acessar dois importantes bancos de
dados do Museu: o banco de dados disponível online – que apresentava em 2011 mais
de 35 mil obras catalogadas – e o banco de dados disponível para pesquisadores na
Biblioteca do MoMA. Juntos, esses bancos fornecem a descrição das obras, sua
categorização, o departamento responsável por cada uma delas, sua data de
produção, data em que entrou no acervo, e meio pelo qual passou a compor a coleção
- se foi via doação de terceiros, doação do artista, aquisição. Grande parte delas
também possui a imagem da obra digitalizada.
No momento do levantamento das informações, verificou-se a necessidade de
estabelecer ‘critérios de seleção’ das obras a serem estudadas, já que seria impossível
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investigar a origem de cada obra das mais de 35 mil catalogadas apenas no direetório
virtual.
Foi utilizado então, como critério de busca, a palavra-chave brazilian, buscada
em qualquer campo disponível do catálogo das obras. Poder-se-ia ter utilizado outras
palavras para a busca, como Brazil, porém optou-se pelo termo brazilian por acreditar
que esse filtro permitiria excluir uma série de obras que teriam o Brasil como tema sem
terem sido produzidas por artistas brasileiros. Mesmo usando o termo escolhido, após
a obtenção de um universo de estudo de 446 obras, foi necessário realizar a
verificação – uma a uma – das obras que se encaixavam na proposta desse trabalho.
Houve, assim, casos de obras que precisaram ser excluídas– já que não se tratavam
de obras brasileiras. Foi o caso, por exemplo, da obra Triptych de Francis Bacon: em
sua catalogação encontra-se um texto explicativo da obra produzido para uma
exposição, e, em sua descrição aparece o termo brazilian ao descrever a adoção de
Bacon da imagem de um piloto brasileiro na realização da obra.
Cumpre ressaltar que esse critério pareceu o mais preciso para a busca, mas
como se trata de um filtro - e não uma análise de cada item da coleção do MoMA - é
possível que haja trabalhos que se encaixariam no perfil das obras buscadas para essa
pesquisa, mas que ficaram foram do critério de busca: seria, por exemplo, o caso de
um artista, cuja cidadania brasileira não é única, e o MoMA, em sua catalogação, optou
por classificá-lo dentro da outra cidadania, excluindo-o assim do filtro usado. Um
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desses casos – que foi possível verificar e corrigir - foi a obra ‘Pixote, a lei do mais
fraco’, filme de Hector Babenco. Sabe-se que Babenco é nascido na Argentina e
naturalizado no Brasil. Em sua classificação, o MoMA reconhece-o como argentino,
sendo dessa forma excluída do critério de busca escolhido.
Dessa forma, chegou-se a um universo final de 409 obras, que representa o
recorte de obras, dentro do universo total de obras do MoMA, que foram buscadas e se
encaixam na proposta desse trabalho. A partir desse levantamento, bem como o
contato com as obras surgiu a uma série de indagações, tais como: quando as obras
foram adquiridas? Estavam os artistas a par dessas compras? Eram eles vivos? Como
as obras chegaram ao acervo?
Fez-se necessário, assim, a realização de uma pesquisa exploratória sobre a
Instituição na qual as obras encontram-se inseridas, o MoMA. Segundo Oliveira (2007)
esse tipo de pesquisa objetiva dar uma explicação geral sobre determinado fato,
através do levantamento bibliográfico, leitura e análise de documentos.
Para essa parte da pesquisa, visitou-se o The Museum Archives – centro de
pesquisa estabelecido em 1989 no MoMA que disponibiliza documentações
relacionadas ao acervo e ao papel histórico e cultural do museu ao longo do século XX
e XXI O centro de pesquisa. O The Museum Archives, visitado em Julho de 2011, foi
importante por prover registros de políticas do gerenciamento das coleções do Museu
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ao longo de sua história, documentos e cartas de diretores do MoMA que contribuíram
para a compreensão da instituição como entidade colecionadora de uma das mais
importantes coleções de arte moderna do mundo, sendo importante fonte para a
pesquisa documental realizada para o presente estudo.
Além da pesquisa documental, uma série de publicação a respeito da história
do Museu foi fundamental nesse momento do estudo.
Contextualizado o papel da Instituição como entidade colecionadora, explorada
sua história e feito o levantamento das obras, iniciou-se uma pesquisa descritiva.
Segundo Oliveira (2007) esse tipo de pesquisa:
Está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando classificá-los e interpretá-los. Permite análise do problema de pesquisa em relação aos aspectos sociais, econômicos, políticos, percepções de diferentes grupos, comunidades entre outros aspectos. Uma pesquisa descritiva exige um planejamento rigoroso quanto à definição de métodos e técnicas para coleta e análise de dados. É recomendável que nesse tipo de pesquisa se utilizem informações obtidas através de estudos exploratórios. Essas pesquisas não só explicam a relação entre variáveis, como procuram determinar a natureza dessa relação, fudamentando com precisão os pressupostos do objeto de estudo. (OLIVEIRA, 2007, p.74)
Assim, utilizou-se da pesquisa exploratória previamente realizada juntamente
com o levantamento de dados coletados nos bancos de dados do MoMA para, a partir
disso, realizar o agrupamento e cruzamento de informações para a elaboração de
23
quadros e gráficos que auxiliaram na busca por respostas de algumas das questões
levantadas.
Nesse momento da pesquisa descritiva, foi fundamental a consulta de fontes de
imprensa, de Internet e bibliográficas. A imprensa e a Internet se fazem importantes
devido ao caráter contemporâneo do tema estudado. Assim, a revista Art Nexus, o
Jornal o Estado de São Paulo, a revista Trópicos, entre outras, bem como sites
instituicionais como o Forum Permanente, o site do MoMA, o Itaú Cultural entre outros,
permitiram o acesso a informações sobre exposições e bibliografia de artistas
importantes para a pesquisa. A Internet também possiiblitou o acesso a artigos
apresentados em diversos Seminários pelo mundo que discutem o tema da arte latina
na contemporaneidade, podendo-se destacar os fóruns promovidos pela University of
Texas, que deram acesso a dois importantes artigos utilizados aqui: A Third Way:
Information (1970) and the International Exhibition of Contemporary Art from Latin
America de Anna Katherine Brodbeck e A controversial Juryman: Alfred Barr Jr. at the
4th São Paulo Biennal of 1957 de Ana Avelar.
ConstruçãodoQuadroTeórico
É de fundamental importância comentar as contribuições de Ana Letícia Fialho
para o estudo desse tema. Fialho é pesquisadora e questiona a noção de que o circuito
24
contemporâneo de arte é democrático, diversificado e aberto internacionalmente. Em
torno dessa discussão, a autora aborda, sob uma perspectiva sociológica, como se dá
a inserção da produção artística brasileira em diferentes cenários internacionais, como
feiras de artes, bienais e museus. Há uma série de artigos da autora publicados sobre
o tema, tanto em publicações nacionais, como estrangeiras. Sua maior contribuição é
sua tese de doutorado defendida na Ecole des Hautes Etudes en Sciences
Sociales/Paris, em 2006: L’insertion internationale de l’art Brésilien. Une analyse de
l’insetion internationale de l’art Brésilien dans les institutions et dans le marché na qual
aborda esse tema. Em seu estudo, a autora realizou levantamentos quantitativos e
qualitativos que revelam a representação brasileira em bienais, as publicações sobre
arte brasileira, a presença de curadores e galerias em no circuito internacional, bem
como a presença brasileira em exposições e acervos de instituições de grande
visibilidade. Nessa fase do estudo, há um levantamento dos artistas brasileiros na
coleção do MoMA. Devido ao escopo mais amplo da tese de Doutorado de Fialho
(2006a), o levantamento das obras acontece apenas pelo nome do artista, não sendo
apresentados os nomes das obras, seu meio, sua categorização dentro do Museu,
imagens das obras e descrições das mesmas. A preocupação de Fialho (2006a) é
sociológica, não sendo a apresentação das obras um fato relevante per si. No presente
estudo há uma preocupação em agrupar essas obras em torno de sua ligação com a
arte braseira em um banco de dados próprio, provendo informações a seu respeito de
25
maneira mais detalhada, incluindo imagens, quando disponível. Além disso, o estudo
de Fialho (2006a) abarca obras no Museu até 2005, enquanto o levantamento presente
apresenta obras cadastradas até 2011
O enfoque de Fialho (2006a) dá se no campo sociológico, buscando explicar a
inserção das obras no cenário artístico atual, como explica a autora:
Dans notre analyse, nous avons mis l’accent sur les enjeux de l’insertion des oeuvres dans les collections et non pas sur les oeuvres elles mêmes ou sur lês artistes et leur rapport à l’histoire de l’art. Nous n’avons pas voulu discuter de questions d’ordre esthétique ou relatives à l’histoire de l’art. (FIALHO, 2006a, p.82)
O presente estudo trabalha também o tema dentro do campo da
sociologia da arte, uma vez que é fundamental trabalhar a relação arte-sociedade.
Acrescenta o levantamento das informações detalhadas das obras e ainda acrescenta
à argumentação aspectos relativos à história da arte, como vivenciada pelo Museu e
como essa história interfere na sua relação com a obra brasileira, para a construção da
presente narrativa. Isso pode ser apreendido, por exemplo no que será apresentado
adiante, no Capítulo 3, a respeito da dissonância que existe entre o que o MoMA via
como abstração nos anos de 1950 e o que os artistas brasileiros vivenciavam,
certamente explicando importantes omissões ocorridas na coleção nesse período.
Ainda, é preciso citar os trabalhos de Mari Carmen Ramírez, Luis Enrique Pérez-
Orama e Miriam Basílio para a construção do quadro teórico. Os artigos de Ramírez
26
são considerados seminais para abordar a questão da arte latina no cenário artístico
contemporâneo. Basílio e Pérez-Orama tratatam do tema com enfoque no próprio
MoMA.
Construçãodoscapítulos
O primeiro capítulo busca apresentar alguns aspectos importantes da história do
Museu, bem como contextualizar historicamente sua formação permitindo a melhor
compreensão das escolhas na composição do acervo. O segundo capítulo apresenta
questões relevantes à coleção permanente do MoMA: o contexto de sua formação, as
proposições iniciais dos primeiros pensadores do Museu, os critérios para a aquisição
ou aceitação de obras do Museu, bem como os critérios de gerenciamento das obras
do seu acervo.
O terceiro capítulo é central na pesquisa, e apresenta as informações das obras
levantadas nos bancos de dados do Museu, expõe informações de cada uma das
obras e em seguida, é apresentado o resultado dos agrupamentos e cruzamento de
informações realizadas. Nesse momento, é trabalhada a trajetória da arte brasileira no
Museu ao longo de suas décadas.
Uma série de considerações é consequência dessa análise, e o quarto capítulo
aborda tais questões. O capítulo final é dedicado à conclusão do tema, ligando as
análises, argumentações e considerações às propostas iniciais da presente pesquisa,
27
reconhecendo aspectos relevantes da relação do Museu com as obras brasileiras. É
preciso considerar que há bastante espaço para mais análises e discussões sobre o
tema, restando perguntas para frutos de trabalhos futuros sobre o tema.
Finalizando este trabalho, apresentamos as referências bibliográficas, bem como
Anexos que apresentam documentos do MoMA interessantes para a fundamentação e
complementação da presente pesquisa.
Ainda como material do estudo, é incluído um apêndice, em forma de CD que
apresenta o banco de dados compilado, no qual se encontram todas as informações
das obras levantadas associadas às suas imagens, conforme disponibilidade.
28
1 OMuseudeArteModernadeNovaYork:daformaçãoàmaturidade
1.1 NovaYorkconheceartemoderna
Nova York vivia ao final da década de 1920 um momento propício para receber
uma instituição pública de arte moderna.
O cenário começara a se formar antes ainda da década de 1910. Voorhies
(2002) relata que já em 1908, a cidade abriga a Little Gallery of the Photo-Secession,
conhecida simplesmente como 291 – por localizar-se ao número 291 na Quinta
Avenida. Voorhies (2002) afirma que a galeria que havia sido criada pelo fotógrafo
Alfred Stieglitz inicialmente para expor somente fotografia, logo expande seus objetivos
tornando-se pioneira em arte contemporânea nos Estados Unidos, com relativo
sucesso. Em janeiro de 1908, Nova York recebe desenhos de August Rodin e, em abril
do mesmo ano é a primeira vez que Henry Matisse é exposto no país. A galeria ainda
em 1910 e 1911 traz obras de artistas como Paul Cézanne e Pablo Picasso. Stieglitz é
também pioneiro em colocar esforços em jovens artistas americanos. Em 1917, em
função do declínio de público devido à Primeira Guerra mundial, a galeria é fechada.
O circuito da arte, em Nova York, recebe ainda, outras mudanças rumo à arte
moderna. Um dos eventos que introduz de vez os novos conceitos na arte acontece em
fevereiro de 1913: a International Exhibition of Modern Art ou como ficou conhecido, o
29
Armory Show. O Armory Show é a primeira grande exibição de arte moderna em Nova
por iniciativa da Association of American Painters and Sculptors.
A exibição cuja proposta é trazer ao público americano obras de artistas das
vanguardas europeias e apresentar artistas americanos voltados para as novas
tendências, gera profundo impacto na arte americana, e apresenta obras de Cézanne,
Gauguin, Van Gogh, Brancusie, Marcel Duchamp entre outros. Voorhies (2002)
esclarece que a exposição, que contava com mais de 1200 obras de artistas
americanos e europeus, é responsável por uma grande onda de modernismo na
América.
A primeira reação do público e da imprensa geral é, entretanto, de ceticismo,
tendo a mostra lhes sido “como um circo, cheio de pessoas estranhas e palhaços,
porém cheio também de vida e cor”. (BROWN, 1988, p. 45).
Mesmo trazendo estranhamento ao público, Voorhies (2002), relata que a
mostra transforma o cenário e a atitude nova-iorquina, já que, nos anos seguintes ao
Armory Show - entre 1913 e 1916 - surge uma série de galerias devotadas à arte
moderna.
Além de novas galerias, Clark (2001) relata também o surgimento de um novo
grupo de importantes colecionadores – que viriam a criar coleções significantes de arte
moderna - emergindo como resultado direto do show, como o advogado John Quinn,
30
que havia ajudado a organizar a mostra e comprou obras de Derain, Pascin, Villon e
Duchamp.
Outro fator decisivo para o desenvolvimento de um cenário rumo à arte moderna
parece ter sido, segundo Voorhies (2002), o fato de que em outubro de 1913 é abolida
uma tarifa de importação de quinze por cento que recaía sobre obras de arte com
menos de vinte anos. Essa medida teria acelerado a comercialização e, portanto, a
exibição e circulação de obras dessa categoria.
A arte moderna, assim, já encontrava caminhos em galerias e, a ideia de uma
instituição que abrigasse a arte moderna não parecia equivocada ou uma pretensão
isolada, além de tudo, por já ser uma realidade na Europa. Na Alemanha, museus
começam a se enxergar como instituições que poderiam colecionar e se comprometer
com arte contemporânea, de seu tempo. Altshuler (2005) afirma que na Alemanha,
durante os anos de 1920, diretores de grandes museus adquirem para as coleções
públicas, arte internacional de artistas vivos e de vanguarda. O autor traz ainda uma
citação de um guia datado de 1912 da Galeria Nacional de Berlim que informa que, seu
“principal objetivo [...] era ser para a arte atual o que os museus históricos foram para a
arte do passado” (BERLIN NATIONAL GALLERY, 1912 apud ALTSHULER, 2005, p.4,
tradução nossa).
31
Evidentemente, o mundo artístico ocidental vive um período de movimentação
em torno da arte moderna. Deve-se notar, entretanto, que, embora a aquisição de arte
moderna para coleções públicas não fosse novidade - principalmente na Europa - a
proposta de um museu que fosse pensado nos moldes modernistas e cuja coleção
fosse constituída apenas de arte de seu tempo não foram postas em práticas
pioneiramente na Europa. Com o início da Primeira Guerra Mundial em 1914,
inevitavelmente as ações artísticas esfriam na Europa. Nos Estados Unidos, entretanto,
os efeitos do Armory Show ainda estão latentes, tanto na comercialização da nova arte
como na produção da crítica especializada.
Petruck (1981) afirma que o Armory Show provoca nos críticos americanos a
necessidade de esclarecerem suas ideias e sentimentos a respeito da arte
contemporânea, gerando grandes debates. E, enquanto alguns importantes críticos
ainda posicionam-se contra as noções de abstração que a arte recente trazia, a
questão a favor da liberdade artística e o esforço pela valorização da arte americana é
quase unânime entre os pensadores.
32
1.2 AsedimentaçãodaspropostasmodernasnaarteamericanaeaformaçãodoMuseudeArteModernadeNovaYork
Desse intenso debate a respeito dos novos valores da arte moderna trazidos na
década de 1910, os anos 1920 entraram com uma crítica marcada - como aponta
Petruck (1981), pela aceitação do modernismo e pelo crescimento da autoconfiança na
arte Americana. Não se questionava mais a ideia de arte moderna, grande parte das
publicações falava dos artistas modernos e os críticos começavam a levantar questões
que a valorização da arte feita por artistas vivos pede: quando o grande público poderia
ter acesso a essa arte? Forbes Watson, importante crítico de arte do período que
escreveu, entre outros meios no jornal Evening Post de Nova York, escreve a donos de
galerias que se mostravam reticentes à arte moderna: “exiba a diversidade de pinturas
modernistas e deixe que o pobre homem leigo faça sua escolha e veja o que está
acontecendo no mundo enquanto ele decide” (WATSON, 1913 apud CLARK, 2001, p.
23, tradução nossa).
É nesse cenário preparado para receber uma instituição de arte moderna, que,
em 7 de novembro de 1929, então em Nova York é dado início ao projeto do Museum
of Modern Art de Nova York. No ano seguinte, a cidade ganharia mais um museu
moderno: o Whitney Museum – museu que abraçou todas as expressões da arte
moderna americana.
33
Se por um lado a cena artística demandava instituições modernas, o cenário
econômico norte americano era o menos favorável: a inauguração do projeto dá-se
juntamente com o início da Crise de 1929, conhecida como a Grande Depressão, pior e
mais longo período de recessão econômica do século XX. Não fosse a boa situação
financeira das idealizadoras do Museu – e pelos seus bons contatos - provavelmente o
projeto não teria deslanchado tão rapidamente. Loebl (2010) conta que da primeira
reunião na qual se oficializou a proposta de criação do MoMA até sua inauguração
passaram-se apenas seis meses.
Abby Aldrich Rockefeller, Lillie Bliss e Mary Sullivan, três colecionadoras de arte,
foram as responsáveis por tal feito.
É interessante que o MoMA, um dos museus mais conhecidos da atualidade
tenha se formado do ideário de três senhoras. Não há ajuda pública e, diferente de
outras instituições artísticas, não se forma a partir de uma movimentação popular,
nasce simplesmente da vontade de mulheres envolvidas com a arte moderna. As três
mantinham amizades com jovens artistas e donos de galerias americanos e disposição,
tanto financeira como pessoal, para apoiar tal projeto. A ideia soava ainda mais
impraticável pelo fato de tratar-se de apenas mulheres. Loebl (2010) conta que
acreditavam que um museu cuja diretoria fosse formada apenas por mulheres não
seria levado a sério – o que as induz, rapidamente, a escolher um homem para tornar-
se o a pessoa pública responsável pelo museu.
34
É conveniente conhecer como tais senhoras chegaram ao momento da
formação do MoMA. Loebl (2010) afirma que Lillie Bliss e Abby Aldrich Rockefeller
conheceram-se ainda jovens, quando ambas viviam em Washington acompanhando a
carreira política de seus pais.
A conversa entre as duas a respeito da fundação de um museu de arte
moderna surge bem adiante, já em 1929, após um reencontro acidental no Egito,
enquanto Abby e seu marido John D. Rockefeller Junior fazem uma visita em prol de
empreendimentos arqueológicos na região. É também a bordo do navio que trazia a
família Rockefeller de volta para os Estados Unidos que Abby conhece Mary Sullivan,
que se tornaria a terceira parceira no Museu.
Mary Quinn Sullivan, afirma Loebl (2010), aos 25 anos, ainda solteira, como
professora de arte de uma escola de Nova York, é enviada para a Europa para ver
como a arte é ensinada por lá. Fascina-se pelos impressionistas e frequenta aulas de
Roger Fry, influente historiador cujas ideias ressonam em pensamentos de vários
artistas do período. Aos quarenta anos, Mary se casa com Cornelius J Sullivan,
advogado e colega de John Quinn, que já colecionava arte e havia apoiado o Armory
Show anos antes. Aos poucos o casal começa a adquirir pinturas modernas – incluindo
obras de Cézanne, George Braque e Modigliani – formando uma importante coleção,
cujas algumas obras, segundo Loebl (2010) são vistas em museus americanos hoje.
35
Loebl (2010) também informa como Lillie Bliss interessa-se pela arte moderna: já
aos 40 anos, Lillie conhece o trabalho do artista americano Arthur B. Davies, e, aos
poucos torna-se sua amiga e patrona. Davies, que foi um dos responsáveis pelo
Armory Show em 1913, ensina Lillie sobre a arte moderna. Durante o Armory Show
Lillie começa a comprar obras importantes, entre elas, pinturas de Renoir e Degas. Seu
interesse pela arte moderna desenvolve-se a ponto de, aos poucos, Lillie montar em
um apartamento na Park Avenue, uma galeria particular, entre cujos visitantes
encontrava-se sua amiga Abby Rockefeller.
Das três fundadoras, entretanto, merece atenção especial a relação de Abby
Aldrich Rockefeller com o projeto.
Loebl (2010) conta que, ao casarem-se, Abby e John D. Rockefeller Junior
começam a interessar-se por arte. Rockefeller torna-se um entusiasta por porcelana
chinesa, tapeçaria medieval e outros artefatos antigos. Loebl (2010) afirma que
Rockefeller sempre teve em mente tornar sua coleção um legado público – o que de
fato fez com grande parte dela – mas diferente de Abby, considerava os artistas de seu
tempo inferiores aos do passado.
Abby, que a princípio apreciava a arte antiga como seu marido, aos poucos
desenvolve gosto por arte moderna. Durante os anos 1920, começa a envolver-se com
galeristas e artistas, iniciando uma coleção de obras modernas.
36
É curioso que as aquisições de Abby tenham um orçamento extremamente
limitado, dada a sua riqueza pessoal. Loebl (2010) afirma que seu marido, John
Rockefeller mantém as finanças da família de forma firme, afirma que Abby paga suas
compras com sua herança paterna, não solicitando ao marido que lhe pagasse por arte
que desdenhava por completo.
Abby, dessa forma, em geral, opta por comprar obras menores, e, adquire
centenas de gravuras. O valor máximo – com raras exceções – era de mil dólares por
obra. Com tal atitude, Abby acredita ser capaz de comprar as melhores obras de
artistas pouco conhecidos, e, obras menos importantes de artistas já estabelecidos.
Esse sistema resulta em uma coleção grande, bastante diversa e que hoje é o núcleo
do Abby Aldrich Rockefeller Print Room – Centro que abriga obras em papel no MoMA.
Abby é, provavelmente, das três senhoras, aquela que propôs inicialmente a
ideia do museu. A mentalidade de criar instituições públicas é parte do dia a dia da
família Rockefeller, que já havia se envolvido em inúmeros projetos, entre eles o do
Museu do Cairo, no Egito, e o do Rockefeller Archeological Museum, em Jerusalém,
como conta Loebl (2010). Uma correspondência de Abby datada de 1928, trazida por
Kert (1993), para seu filho mais novo, Nelson Rockefeller, já descreve seus planos para
a criação de tal museu e o desejo que ele participasse do projeto. Whitaker (2009)
apresenta mais uma faceta de Abby que fundamenta seu desejo pela criação da
Instituição: A autora conta que, mais tarde em sua vida, Abby frequentemente citava o
37
caso de Van Gogh – que por ter sido reconhecido tardiamente morreu empobrecido –
como exemplo de como era importante ajudar o trabalho de artistas vivos, sendo o
Museu um possível meio de reconhecê-los em vida.
Nelson Rockefeller, filho mais novo de Abby, possivelmente teve também sua
parcela, ainda que indiretamente, na criação do Museu. No futuro, Nelson assumirá
papéis importantes na história do Museu. Antes disso, em 1928, Nelson Rockefeller
enquanto estuda em Harvard, após ser apresentado à arte moderna por sua mãe
durante um período de férias, conhece Lincoln Kirstein. Kirstein também assumirá
papéis futuramente no MoMA. Mas ainda como estudante de Harvard, Kirstein cria a
Harvard Society for Contemporary Art - organização comprometida em mostrar o que
havia de novo no mundo das artes. A proximidade de Nelson e Kirstein e sua
organização é provável fonte de inspiração para Abby. Loebl (2010) conta que em
cartas a sua mãe, Nelson demonstra grande admiração pela sociedade.
De fato, há um grande valor nessa organização criada em meio acadêmico. A
Harvard Society for Contemporary Art é o primeiro meio a abraçar a arte moderna na
Universidade de Harvard, e figuras que futuramente fizeram parte dos integrantes
iniciais do MoMA, como o respeitável professor de arte Paul J Sachs e Lincoln Kirstein,
estão envolvidos com o projeto. Embora não haja consenso entre os pesquisadores,
Kantor (2002) afirma a importância desse empreendimento para a formação do MoMA,
contando que, antes da fundação do Museu, Abby Rockefeller teria visitado a
38
organização e dito a Paul J Sachs que ela queria, em Nova York, uma cópia em
tamanho maior daquilo que estava sendo feito em Boston.
1.3 OsprimeirosresponsáveispeloMuseu
Sob essas influências, as três senhoras deliberam que seria interessante
escolher um diretor para o comitê que organizaria o museu. Para tanto, em maio de
1929, as três senhoras chamam Conger Goodyear para o projeto. Hunter (1997)
informa que Goodyear obtém experiência como presidente da Albright-Knox Art
Gallery, museu localizado em Buffalo. A experiência, embora curta, teria sido suficiente
para mostrar o comprometido de Goodyear com a arte moderna: Além de realizar uma
exposição avant-garde em 1927, em seguida decide comprar uma pintura de Picasso
para o Museu. Tal decisão custa-lhe seu cargo na Instituição.
Em junho de 1929, Goodyear forma o comitê organizacional, e conta com: o
professor de Harvard, Paul J. Sachs, que, como informa Loebl (2010), também
trabalhava para os Rockefellers no comitê de arte criado para o então empreendimento
da família, o Rockefeller Center; Frank Crowninshield e Josephine Boardman Crane.
Kantor (2002) afirma que a escolha de Goodyear por Crowninshield vinha de seu papel
como editor da revista Vanity Fair - publicando artigos e seleções de arte moderna. A
escolha pela Sra. Crane ocorre por ela ter sido financiadora de um importante
experimento educacional modernista em Nova York.
39
Dessa forma, afirma Loebl (2010), em 19 de Setembro de 1929 quando o Estado
de Nova York dá a permissão para a formação do Museu, Lillie Bliss torna-se
oficialmente a vice-presidente, Crowninshield secretário e Abby Rockefeller tesoureira.
No primeiro comitê do MoMA Paul J. Sachs - reconhecido por formar importantes
curadores e diretores em seu curso ministrado na Universidade de Harvard - sugere
seu ex-aluno, Alfred Barr Jr. para assumir a direção do novo Museu.
Barr mostra-se uma figura central para o desenvolvimento do projeto do MoMA –
e passará sua vida profissional inteira trabalhando no Museu.
Barr, durante seus estudos na Universidade de Princeton, assiste a um curso do
conhecido medievalista Charles Rufus Morey. Essa aula teria sido uma “notável síntese
das principais artes visuais medievais como memória de um período da civilização:
arquitetura, escultura, pintura em murais e livros, artes menores e artesanato estavam
inclusos”. (HUNTER, 1997, p. 11, tradução nossa).
Já formado, Barr assiste em Harvard o curso de Sachs, e lhe é oferecido uma
vaga de Professor Associado no Wellesley College. É lá que Barr leciona o primeiro
curso sobre arte moderna oferecido em um curso superior nos Estados Unidos.
Em seu curso, Barr transporta o modelo de arte medieval de seu antigo
professor para o contexto do século XX e ensina sobre escultura, pintura, filmes,
fotografia, música, teatro, arquitetura e desenho industrial. Essa metodologia ressoa no
40
modo como Barr – quando diretor do MoMA – estruturará o Museu, criando uma
proposta de múltiplos departamentos influenciando, como propõe Hunter (1997), a
coleção e a condução dos programas de exibição e atividades educacionais do Museu
até os dias atuais.
A história do Museu e suas exibições começa daí. Hunter (1997) expõe que,
inicialmente o Museu é abrigado temporariamente em um prédio localizado no número
730 da 5ª Avenida. Em 1932 o Museu muda-se para uma casa oferecida pelo marido
de Abby Rockefeller no endereço 11 West 53rd Street. É apenas no décimo ano de
existência que o Museu mudaria para seu endereço definitivo – e passaria ainda por
mudanças, reformas e expansões até sua última reestruturação finalizada em
novembro de 2004.
1.4 OsPrimeirosAnosdoMuseu
A primeira exibição do MoMA, ainda em sua localização inicial, é inaugurada dia
8 de novembro de 1929 com o tema Cezánne, Gauguin, Seurat, Van Gogh e recebe,
segundo Hunter (1997), aproximadamente 49 mil visitantes em apenas cinco semanas,
número só atingido anteriormente em uma exposição de arte moderna no Armory
Show, em 1913.
41
O MoMA segue com uma exibição – não tão bem recebida pela crítica e público,
como a primeira – de jovens artistas americanos. Desde o início, as exposições são
acompanhadas por catálogos e atividades educacionais. No catálogo da exposição
comemorativa de dez anos do Museu Art in Our Time, Goodyear (1939) informa que,
nos primeiros dez anos de atividades o MoMA realizara 112 exposições temporárias e
recebera uma audiência de aproximadamente 1.5 milhões de pessoas.
Sob outros pontos de vista a primeira década de existência do MoMA é
importante. É ainda em seus anos de formação que se criam, de forma inédita em um
museu de arte, os Departamentos de Arquitetura em 1932, de Design em 1933, e da
Filmotek - departamento especializado em filmes – em 1935.
Também nos primeiros anos de vida do MoMA, ainda em 1930, é formado o
Junior Advisory Committee. Hunter (1997) e Loebl (2010) falam do comitê formado com
o objetivo de trazer jovens para perto do Museu – muitos dos membros desse comitê
vieram a ter papéis importantes no MoMA e já mostram envolvimento com a arte
moderna, como é o caso de Nelson Rockefeller e Lincoln Kirstein.
É também na primeira década, em 1931, que a coleção permanente do Museu
começa a formar-se. Até então o acervo havia recebido algumas pequenas doações,
mas em 1931, com o falecimento de Lillie Bliss, o MoMA recebe de herança da sua
42
fundadora, uma série de importantes obras que inicia o processo de gerenciamento da
coleção do Museu.
São nos primeiros anos do Museu que as propostas de Barr a respeito de como
deveria ser a estrutura de um museu moderno começam a ser moldadas. Tanto a ideia
da departamentalização das obras como suas propostas para, futuramente, a
concepção de um edifício especifico para a exibição da arte moderna, são propostos
nesse momento.
Além disso, sua visão de como deveria ser uma coleção moderna influencia não
apenas a história do MoMA, mas, de alguma forma, influencia como muitos conhecem
a história da arte moderna.
Podemos ver essas influências – dentro e fora do MoMA - em distintas reflexões,
como a escrita por Glenn David Lowry, então diretor da Instituição na introdução da
publicação do Museu de 2007 MoMA Highlights since 1980:
Percorrendo as galerias da coleção hoje, é fácil ter a impressão de que Alfred Barr e os primeiros curadores do Museu eram infalíveis. Que o juízo que usaram para dar vida à coleção, estabelecendo as bases sobre as quais os curadores posteriores construíram-na; e, criando o modelo pelo qual certamente ainda aspiram, foi totalmente infalível (LOWRY, 2007a, p. 18, tradução nossa).
Como também pelo que Lorente (2011, p.123, tradução nossa) informa:
43
É difícil determinar se foi o MoMA que definiu o conceito de modernidade nos EUA e no resto do mundo ou se foi um triunfo de tal modernidade na arte que deu ao MoMA seu status de paradigma mundial. No entanto, a sua abordagem à arte moderna tornou-se, em meados do século XX, o novo cânone imitado internacionalmente.
Em 1939, o MoMA passa por algumas importantes transformações: muda para
seu endereço atual e, Goodyear, que fora presidente do MoMA desde sua criação é
sucedido por Nelson Rockefeller.
Ao assumir, Nelson Rockefeller efetiva algumas mudanças a fim de reduzir as
dificuldades financeiras do Museu - que tinha nessa época, segundo Loebl (2010),
duzentos mil dólares de entradas contra quinhentos mil dólares em despesas.
Rockefeller estabelece um departamento de publicidade – primeiro em um museu norte
americano - cria a loja do Museu e expande o departamento de publicações, tornando
esse último uma fonte de rendas.
Também em 1939, apesar da instabilidade financeira e do mundo em guerra, o
MoMA continua bem sucedido em suas exposições Loebl (2010) e Hunter (1997) citam
a exibição Picasso: Forty Years of His Art que, inaugurada em novembro de 1939, tinha
como peça central a obra Guernica, que havia sido enviada por Picasso diretamente
para Barr e o MoMA para protegê-la da insegurança que vivia a Espanha. Em 1981, ao
completar 100 anos do aniversário de Picasso, a obra é enviada de volta para o Museo
Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid.
44
1.5 Osanos1940eoapoioaoEstadoduranteaSegundaGuerraMundial
Os anos seguintes foram de outras mudanças: em 1941, Nelson Rockefeller
deixa a presidência para assumir um posto em uma agência do governo durante a
Segunda Guerra Mundial, o Office of Inter-American affairs. Assume seu cargo Stephen
Clark – homem de negócios que mantinha laços com o mundo das artes e já havia
financiado parte do Armory Show em 1913, doado obras ao MoMA e participado das
atividades do museu desde sua inauguração, como informa Loebl (2010).
Lorente (2011) afirma que Clark tinha inúmeras desavenças com Barr: além de
considerá-lo irresponsável com as finanças do MoMA, Clark considerava-o
excessivamente audacioso com relação às aquisições de obras e estruturação de
exposições temporárias. Assim, após uma série de desavenças, em outubro de 1943,
Clark demite Barr de seu posto de diretor e permite que ele fique no Museu – por
metade de seu salário – como pesquisador, para escrever ensaios no recém-criado
departamento de Pesquisa em Pintura e Escultura.
Lorente (2011) afirma que Barr manteve suas atividades idênticas às exercidas
como diretor, mesmo sem esse título, até 1949 – quando o gerenciamento da coleção é
colocado sob responsabilidade de um comitê de cinco pessoas, entre elas o próprio
Barr. Em 1947 Barr ganha o título de Diretor das Coleções – posto que mantém até se
aposentar em 1967.
45
Durante o período da Segunda Guerra Mudial, o MoMA envolve-se diretamente
com ações para dar apoio ao governo americano. Lorente (2011) afirma que o
departamento de filmes ganhou destaques, o departamento educacional desenvolveu
uma série de projetos para veteranos de guerra e exposições voltadas à identidade
americana. Hunter (1997) afirma ainda que foram realizados trinta e oitos contratos
com agências do governo – entre elas a Inter American Affair, encabeçada por Nelson
Rockefeller – promovendo ações dentro do Museu e fora do País.
Essas medidas têm consequências impactantes no Museu, como o amplo
interesse na arte latino-americana, que se reflete em ampliação do acervo, exposições
voltadas ao tema e envio de funcionários do Museu para viagens ao continente sul a
fim de promover aproximação entres as culturas.
1.6 Osanospósguerraeosanos1950
Após o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, as agências do governo se
distanciam do Museu. Nelson Rockefeller, que esteve ligado ao Governo americano
durante a Guerra, volta em 1946 à presidência do Museu – posto que mantém até
1953, e contrata uma série de funcionários para o Museu com quem havia trabalhado
na agência governamental. Segundo Lorente (2011) entre eles, está René
46
d’Harnoncourt, que lida com as relações com os países latinos – que desde a guerra
passam a ter destaques no Museu,
Em 1948, falece Abby Aldrich Rockefeller e segundo Loebl (2010) em
homenagem a ela e às obras deixadas ao Museu, o MoMA inaugura em Maio de 1949
o Abby Aldrich Rockefeller Print Room, com as mil e seiscentas obras em papel
deixadas pela fundadora do Museu.
Nesse mesmo momento, Loebl (2010) informa que a nora de Abby, Blanchette
Hooker Rockefeller passa a trabalhar no Museu, e ao longo dos anos assume
importantes cargos no MoMA, como membro do Conselho de Trustees do Museu e o
cargo de Presidente de 1972 a 1985.
Ainda no período seguinte à Guerra, embora o Governo possivelmente não
estivesse injetando fundos para ações ligadas aos países latinos, Nelson Rockefeller,
segundo Lorente (2011) continua tendo interesse nas relações com tais países, nos
quais mantinha investimentos rentáveis.
É nesse momento também que, inflados pelos sentimentos nacionalistas da
guerra, os norte-americanos, segundo Lorente (2011), passam a valorizar ainda mais a
sua produção artística nacional. Em um cenário no qual a crítica e as instituições
americanas buscavam romper com as vanguardas europeias, surge a figura de
Jackson Pollock, que segundo Lorente (2011) passa a ser caracterizado por ser
47
“genuinamente nacional” até pelo crítico formalista Clement Greenberg (LORENTE,
2011, p.192).
A arte de Pollock e dos outros artistas norte americanos que produziam o que
fica conhecido como Expressionismo Abstrato fica ainda mais popular, com o
acirramento da Guerra Fria, nos anos de 1950. Tal fato se dá como resposta a
exaltação da arte realista pelo Bloco Socialista. Lorente (2011) informa que, mesmo
apolítica, a arte abstrata produzida torna-se símbolo da liberdade e do individualismo,
valores pregados pelo bloco capitalista.
Por um período importante, entretanto, o MoMA deixa de lado, segundo Lorente
(2011), os artistas modernos norte-americanos. Embora, o autor informe que Barr
estivesse encantado com esses novos artistas de Nova York tentando promovê-los, os
membros do Comitê do Museu, rejeitavam-nos, focando-se nas vanguardas da Europa
– o que eventualmente causa revolta em artistas americanos1, É apenas tardiamente,
que eventualmente, o Museu alinha-se com a arte Expressionista abstrata americana e,
promovendo esse movimento que ganha enorme popularidade no país, firma-se como
modelo de Instituição moderna2.
1 Lorente (2011) informa que, em 1940, um grupo de artistas de Nova York que se autodenomiva de Artistas Abstratos Americanos, liderados pelo Ad Reinhardt, realiza piquetes em frente ao MoMA e distribui folhetos com o título "Quão moderno é o Museu de Arte Moderna?"‐ opondo‐se à tendência do Museu em favor da arte europeia, em vez de arte americana. 2 Lorente (2011) apresenta uma importante batalha conceitual entre instituições norte‐americana nesse momento pela legitimação da arte moderna americana. O ICA (Institute of Contemporary Art) defende o fim da arte
48
Lorente (2011) afirma que tal projeção internacional posiciona o Museu como
mensageiro das tendências no mundo das artes, sendo ele o responsável pela
representação norte-americana em importantes exposições internacionais nos anos de
1950, como na Bienal Internacional de Arte de São Paulo, a Bienal de Veneza e a
Documenta de Kassel em 1959.
1.7 ManutençãodosparadigmasdoMoMAnosanosde1960eaGuerraFria
A partir dos anos de 1960, segundo Loebl (2010), muitos daqueles que criaram o
Museu começam a se desligar. Barr aposenta-se em 1967. Em 1968, René
D’Harnoncourt que acabara assumindo vários papeis no Museu, como o cargo de
Diretor desde 1949, também aposenta-se. A assistente de Barr, Dorothy Miller os
segue em 1972. Nelson Rockefeller falece em janeiro de 1979.
Também durante essa década, ainda detentor do papel de legitimador de
tendências e movimentos artísticos, o MoMA reforça seus laços com o Governo na
Guerra Fria e torna-se promotor da Pop Art, que, segundo Lorente (2011, p.210,
tradução nossa) “tornou-se rapidamente a melhor expressão do ‘American Way of Life’,
moderna e acusa o MoMA de dar preferência ao Cubsimo, Surrealismo e a Abstração no lugar de uma obra mais comprometida com a sociedade e de maior compreensão do público. Num momento de grande ligação entre o expressionismo Abstrato e os valores de liberdade e individualismo na Guerra, o MoMA posiciona‐se fortemente em favor desse movimento, e acaba por isolar as propostas mais pluralistas do ICA, estabelecendo uma reivindicação total da arte moderna.
49
e pareceu ainda mais fácil de ser usada internacionalmente a serviço do imperialismo
cultural americano”.
Além disso, ainda segundo Lorente (2011) são reforçados nesse período os
paradigmas do MoMA quanto à exibição das obras: realizadas sempre sobre paredes
brancas, em espaços sóbrios sem interferência de detalhes para uma contemplação
silenciosa do visitante, cujo papel deve limitar-se a uma observação passiva da obra.
Tais características inserem o ambiente de exposição do MoMA na denominação de
‘cubo branco’, mais tarde teorizados por Brian O’Doherty em 1976.
De 1962 a 1964 é realizada uma importante expansão da área do Museu pelo
arquiteto Philip Johnson. Segundo Lorente (2011), o comprometimento em destacar a
arquitetura moderna do prédio é a epítome do estabelecimento do MoMA como o
protótipo da modernidade.
Esse posicionamento inflexível, torna o Museu omisso a uma série de
movimentos artísticos que se desenvolvem nos anos de 1960, tornando-o alvo
frequente de protestos ‘anti-museu’ e anti-guerra (que o Governo Americano enfrentava
no Vietnã).
Nelson Rockefeller, que, segundo Hunter (1997) não estava mais na presidência
do Museu, mas mantinha-se forte no Comitê dos Trustees do Museu é alvo direto
50
desses ataques. Além de importante figura dentro do Museu, Nelson Rockefeller é
também governador do Estado de Nova York desde 1959 até 1973.
1.8 OMoMAeosnovosmuseusdeartedosanos1970
Segundo Lorente (2011), revoltas estudantis e sociais não cessam ainda nos
primeiros anos da década de 1970 desafiando o MoMA como modelo supremo e
símbolo da cultura Americana.
O MoMA, por sua parte, parece manter-se estático em seus posicionamentos,
mantém sua museografia associada à ideia de ‘cubo branco’ pretensiosamente neutro
politicamente e desconectado de qualquer manifestação da arte contemporânea, que
se desmembrava e crescia fortemente nesse período.
Há apenas um momento de experimentalismo durante os esses anos, quando o
MoMA apresenta a exposição Information, em 1970, que segundo Lorente (2011)
consiste de seis ambientes criados por artistas conceituais e caracteriza-se pelo caráter
‘anti-museu’ de sua arte.
Dos anos de 1970 para frente, uma série de espaços de exibição e museus
alternativos surge, contestando os padrões propostos pelo MoMA. Lorente (2011)
reitera que a influência do MoMA se reduz nesse momento, com a criação do Centre
51
Pompidou, inaugurado em 1978 em Paris e o New Museum of Contemporary Art
fundado em 1977 em Nova York.
Uma medida adotada pelo MoMA nos anos de 1970 para acompanhar as
mudanças no cenário artístico americano, relegada por longos anos é a iniciativa
Projects. Segundo Lorente (2011) a série Projects consiste de pequenas exposições
encomendadas a artistas convidados que ficam responsáveis pela curadoria e pela
organização de tais exibições. Tal projeto possibilita maior experimentalismo e ainda
está em andamento.
1.9 Abuscaporvisibilidadenosanos1980
O MoMA na década de 1980 parece ainda sentir o impacto do surgimento de
novas instituições que rivalizam com suas propostas. Assim, segundo Lorente (2011), o
Museu opta, por realizar uma nova e marcante expansão e reforma de seu espaço.
Para o autor, tal medida é tomada pela instituição em tempos de recessão a fim de
trazer o Museu para a mídia e aumentar o número de visitantes, gerando assim um
incremento nas receitas geradas pela venda de ingressos, pela loja do Museu e ainda
justificando subsídios mais generosos por parte do Governo e doadores. No caso da
expansão realizada na década de 1980 pelo arquiteto Cesar Pelli, mais uma fonte
importante de renda é gerada. Sobre o prédio do MoMA é levantado um edifício de
52
cinquenta e dois andares, destinados a uso comercial e residencial, cuja receita de
locação vai para a tesouraria do Museu.
Dentro do espaço destinado a visitação, o arquiteto mantém os elementos que
caracterizam o Museu moderno, com a decoração minimalista e a continuidade de
ambientes pequenos. Entretanto, Pelli, opta por fazer aberturas nessas pequenas salas
que antes possuíam apenas uma porta de entrada e saída, que passam assim, a
contar com três ou quatro portas. Essa medida, segundo Lorente (2011), é um
reconhecimento de propostas da pós-modernidade ante as proposições do cubo
branco, que prega maior independência, permitindo a multiplicidade de itinerários –
deixando-o por conta do visitante.
Também na reforma, Pelli produz ambientes mais amplos, aptos a receber obras
de maiores escalas, comum nos trabalhos contemporâneos.
1.10 Anos1990,oMoMAbuscaredesenharsuahistória
A partir do final da década de 1980 e na década de 1990, nota-se um aumento
na visibilidade da arte latina nos Estados Unidos. A minoria latina passa a ser uma
parcela importante da população que reivindica seus direitos e torna-se um novo e
importante público para os Museus. Segundo Fialho (2006a) ainda na década de 1980
são criadas galerias especializadas, departamentos voltados para a América Latina nas
53
casas de leilões e segundo Pérez-Barreiro (2005, p.142, tradução nossa), “o chamado
boom da arte Latina na Sotheby’s e na Christie’s é confirmada por vendas recorde em
1989 e 1990 continuando por quase toda a década [de 1990].”
Tal mudança no cenário artístico, econômico e social norte-americano parece
ser sentido mais fortemente apenas nos anos de 1990, quando se adicionam uma série
de ações no Museu voltada a esse novo público, como novas exposições, pesquisas
voltadas para a arte latina e a intensificação de aquisições de obras dessa categoria.
Nesse sentido, o MoMA passa a adicionar obras de artistas que teriam sido
deixados de lado, em mais uma tentativa de manter sua posição de destaque entre as
instituições legitimadoras da arte nos Estados Unidos.
Esse esforço não se limita apenas à arte latina, Butler (2010) afirma que há esse
mesmo percurso, por exemplo, com relação a artistas mulheres, também relegadas
pelo museu. Butler (2010) cita uma exposição realizada em 1995 pela artista Elizabeth
Murray, como uma “recuperação histórica”, na qual os visitantes “foram levados para
um território diferente aberto na história sociológica da arte moderna e do museu,
abraçando debates não resolvidos”. (BUTLER, 2010, p.15).
54
1.11 Acontínuabuscaporrenovaçãonosanos2000
Nos anos 2000 vê-se ainda o MoMA envolvido na renovação de sua imagem.
Segundo Butler (2010) após uma década de globalização, o MoMA, assim como outros
museus, vê-se mais agressivamente buscando redesenhar sua história.
Pensar a arte como ela se desdobrou depois dos anos 1970, tem sido o cerne da missão do Museu para alterar a narrativa do século vinte - que o MoMA teve participação tão fundamental para estabelecer (BUTLER, 2010, p.16, tradução nossa)
Embora diligente em reavaliar as omissões das décadas anteriores, Lorente
(2011) afirma que, nos anos 2000 o MoMA, assume estrategicamente, ainda que de
uma maneira renovada, sua continuidade como museu moderno.
Para explicar seu ponto, Lorente (2011) avalia a nova intervenção arquitetônica realizada em 2004, pelo arquiteto japonês Yoshio Taniguchi.
Sem renunciar algumas sacadas pós-moderna na arquitetura e até mesmo no discurso institucional, o MoMA retorna, em vários sentidos, para a continuidade de uma modernidade [agora] livre de complexos – e o brilhoso edifício de Taniguichi é uma boa evidência disso. (LORENTE, 2011, p.286, tradução nossa)
Conservando a museografia de salas ‘de proporções domésticas’ com
representatividade de diferentes períodos e estilos históricos no terceiro andar do
prédio, típicas do MoMA desde a época de Alfred Barr, o MoMA teria permanecido leal
à sua essência e à apresentação de um “itinerário canônico da arte moderna” (Lorente,
2011, p.286, tradução nossa).
55
Embora a museografia moderna tenha sido estrategicamente mantida, nota-se a
presença de obras de artistas tradicionalmente não considerados no mainstream, como
o caso de artistas mulheres e artistas latinos, como Lygia Clark e Willys de Castro3.
Isso provavelmente surge como resultado dos esforços de releitura da narrativa
promovida historicamente pelo MoMA.
Lorente (2011) afirma que, o MoMA busca outro meio para participar das novas
tendências artísticas: em 2000, afilia-se ao espaço alternativo PS-1 criado em 1971
como lugar destinado a experimentalismos e avanços na arte contemporânea.
Ainda assim, Lorente (2011, p.7, tradução nossa) afirma que “embora o MoMA
realize seus melhores esforços para se renovar, ainda é percebido por muitos como
uma instituição basicamente trancada no passado, [...].”
3 Essas obras puderam ser vistas no quarto e quinto andar do Museu, dedicados à seleção de obras da coleção permanente a partir de 2011 sem data para saírem de exibição, como traz Smith, 2011.
56
2 ColeçãoPermanentedoMoMA:formaçãoepolíticasdoacervo
2.1 PropostasiniciaisparaoacervodeumMuseu‘deseutempo’
A criação de uma coleção permanente no Museu de Arte Moderna de Nova York
já fazia parte do plano de desenvolvimento de Barr, o primeiro Diretor do Museu, desde
que assumiu o posto em 1929.
No primeiro folheto que Barr escreve para o MoMA, afirma que o novo museu de
arte deve considerar que “o propósito final será adquirir, de tempo em tempo, tanto por
doações ou através de compras, os melhores trabalhos da arte moderna”, para que
“estudantes, artistas e o público em geral possam ter uma ideia consistente do que está
acontecendo na América e no resto do mundo”. (BARR,1929 apud KANTOR, 2002,
p.366, tradução nossa)
É importante, como ressalta Fialho (2006a) que Barr acrescenta ainda nesse
mesmo folheto de introdução do Museu, sua missão de promover a arte internacional,
integrando a produção artística de artistas vivos do mundo todo, com
representatividade de artistas europeus, americanos e de outros países.
É, entretanto, apenas depois do Museu mudar-se para a sua segunda sede, em
1932, que a questão da coleção permanente conforme pensada por Barr vem
realmente a ser discutida. Até então o MoMA havia recebido algumas doações, mas
57
não havia colocado em prática nenhum projeto para aquisição de obras e formação de
um acervo.
Quando Lillie Bliss, uma das fundadoras do MoMA, falece, em março de 1931, o
museu herda grande parte de sua coleção que, contava, como afirma Loebl (2010),
com vinte e quatro pinturas de Cézanne, e outras obras de Picasso, Gauguin, Matisse
entre outros, totalizando cerca de 150 peças.
Lillie Bliss, entretanto, submete a herança à condição de que, dentro de um
prazo de três anos de sua morte, um valor financeiro considerável fosse levantado para
que sua coleção pudesse ser preservada.
Na época, afirma Loebl (2010), houve discussões entre o comitê do Museu e o
diretor Alfred Barr para decidir se o presente deveria ou não ser aceito: criar uma
coleção permanente estava no escopo do que um museu de arte moderna deveria
fazer? A questão se justificava, uma vez que a ideia de moderno e contemporâneo
sugeria transitoriedade.
Barr advoga fortemente a favor da herança, Abby Rockefeller e Goodyear,
então, realizam esforços para levantar os 600 mil dólares necessários para garantir as
condições exigidas no testamento. Loebl (2010) informa que, após uma doação
anônima de 100 mil dólares– que futuramente foi admitida por Nelson Rockefeller - o
Museu atinge seu objetivo e garante a herança de sua fundadora.
58
Uma vez assegurada a pose das obras de Lillie Bliss, Barr retoma o assunto a
fim de pressionar os administradores a respeito da formação do acervo e afirma “Se tal
política não for inaugurada o Museu de Arte Moderna pode muito bem mudar seu nome
para Galeria de Exposição” (BARR, 1933, apud HUNTER 1997 p.13, tradução nossa)
Em 1933, conforme cita Kantor (2002), Barr apresenta um plano para
construção de uma coleção de um museu contemporaneo, de ‘seu tempo’, contendo
sua famosa metáfora de um torpedo para descrever o progresso do acervo: “A Coleção
permanente deve ser pensada graficamente como um torpedo movendo-se pelo tempo,
seu nariz sempre avançando o presente e seu rabo sempre residindo num passado de
cinquenta a cem anos atrás.” (BARR apud KANTOR, p.366, tradução nossa)
A ideia de Barr era que a coleção se renovasse, de modo que o Museu se
desfizesse de obras mais antigas para adquirir arte mais recente. Altshuler (2005)
afirma que Barr não tinha em mente manter no MoMA obras que tivessem sido criadas
há mais de 50 ou 60 anos. A proposta inicial era que o Museu se desfizesse de obras
que já não fossem mais modernas – o que no momento se referia à arte produzida na
atualidade – para permitir a aquisição de novas obras. O presidente do MoMA em
1933, Conger Goodyear, expressava ainda, segundo Altshuler (2005), que o Museu
não deveria manter, em acervo, obras por mais de vinte anos. Assim, segundo Lorente
(2011) o termo ‘coleção permanente’ é trocado pelo termo ‘coleção do Museu’ em
1941.
59
Com a proposta de renovação constante da coleção em mente, o MoMA, inicia
um diálogo com o Metropolitan Museum of Art , segundo Kantor (2002), a fim de
reproduzir um modelo de venda de obras existente entre o Museé de Luxembourg e o
Louvre, no qual o primeiro repassava suas obras mais antigas ao Louvre a fim de obter
obras mais recentes.
Altshuler (2005) traz ainda uma razão prática para a realização do acordo entre
o MoMA e o Metropolitan Museum of Art: Em 1913, George A. Hearn, marchand e
colecionador, deixa ao Metropolitan Museu of Art, como herança, fundos destinados à
compra de obras de artistas americanos vivos, entretanto por causa do pequeno
interesse desse museu em adquirir obras de artistas contemporâneos, passam-se anos
sem que grande parte dessa verba fosse usada.
Na década de 1930, artistas chegam a protestar pelo fato do museu segurar
uma verba que deveria ser destinadas a eles. Sabendo da proposta do MoMA em lidar
com artistas vivos, a parceria com o MoMA parece uma forma, bastante interessante
para o Metropolitan Museum of Art movimentar esses fundos conseguindo obras que
estivessem dentro de seu escopo de atuação.
Segundo Lorente (2011) iniciam-se, em 1931, negociações rumo ao acordo,
porém, em novembro de 1934 as propostas – ainda que não abandonadas - são deixa
em espera. Lorente (2011) informa que nesse ínterim o Metropolitan Museum of Art
60
chega a cogitar ampliar o escopo da sua coleção incluindo artistas vivos a fim de
reduzir às criticas quanto ao enfoque conservador da Instituição4.
Eventualmente, entretanto, o Metropolitan Museum of Art passa a interessar-se
novamente por obras do MoMA: Impressionistas, pós-impressionistas e a arte avant-
garde francesa passam a ganhar popularidade entre os americanos durante a Segunda
Guerra e o acordo entre as duas instituições acontece em 1947, como conta Kantor
(2002), quando se firma que, eventualmente, qualquer obra do MoMA passaria a fazer
parte da coleção do Metropolitan Museum of Art.
Barr, que havia defendido a proposta de renovar a coleção do MoMA, vê-se,
nesse momento, contra tal proposta. Essa postura do diretor vinha desde 1944:
Segundo Lorente (2011) a fim de obter verbas para aquisição de novas obras, nesse
ano o MoMA leiloa 108 obras de sua coleção – incluindo quatro trabalhos de Cézanne
e um de Matisse – nesse momento, importantes membros do Board of the Trustees
mostram-se indignados, optando por deixar o conselho, e Barr renuncia sua proposta
do torpedo avançando no tempo, e passa a propor, segundo Lorente (2011) a “ideia de
uma árvore crescente: quanto mais alta ela cresce, mais fundas suas raízes estão
enterradas” (Lorente, 2011, p. 186, tradução nossa)
4 Lorente (2011) afirma que o Metropolitan Museum passa a negociar uma parceria com o Whitney Museum na tentativa de uni‐los para formar um Museu – um acordo envolvendo essa proposta chegou a ser formado em 1943, mas devido a insatisfações por parte do Whitney Museum em 1948 ele é desfeito
61
Desde então, Barr opunha-se a ideia de desfazer-se de importantes obras do
acervo, e, embora não tenha conseguido evitar o acordo com o Metropolitan,
consegue, segundo Lorente (2011) reduzir a lista de obras transferíveis ao Metropolitan
para vinte e seis obras de ‘clássicos modernistas’ e a coleção de American Folk Art.
Dentro desses termos, em 1948, quando falece Abby Aldrich Rockefeller, sua
coleção inteira é doada ao MoMA. A fundadora, entretanto, especifica que as obras
devem permanecer no MoMA por cinquenta anos antes de serem transferidas ao
Metropolitan. 5
2.2 Aformaçãodaspolíticasdevendadeobrasdacoleção
Na década de 50, pós-guerra, com a sedimentação da ideia de modernismo
como um período da arte e com a valorização de tais obras, o Museu sente-se
desconfortável em ceder suas obras e começa a pensar em uma maneira para se
desfazer do contrato com o Metropolitan Museum. Em 1953, o comitê emite uma nota
oficial repudiando a obrigação do MoMA de transferir suas obras a outras instituições e
comprometendo-se a “ter sempre a visão do público obras de arte do movimento
moderno, iniciado na segunda metade do século XIX”, (MUSEUM OF MODERN ART,
1953 apud ALTSHULER, 2005, p.8, tradução nossa).
5 Lorente (2011) destaca que, embora a proposta da Sra. Rockefeller fosse generosa com o MoMA , e alinhada com Barr na tentativa de evitar que a transferência fosse rapidamente feita ao Metropolitan, os termos do contrato de herança forçam o MoMA a transferir esses trabalhos ao Metropolitan Museum em 1998 ‐ embora essa prática não fosse mais realizada há várias décadas.
62
Esse momento é importante na definição da personalidade do MoMA como
instituição de arte. O Museu que havia nascido para ser um ‘museu de passagem’,
como traz Lorente (2011), define-se como um Museu cuja missão, além de estar
comprometido com os artistas de seu tempo, passa a englobar a promoção e a coleção
de obras de um determinado período da história da arte.
Além desse aspecto, a partir da cisão do acordo, as políticas ligadas às vendas
de obras são novamente pensadas. Na realidade, o tema já havia sido levantado nos
anos 1930, ao trabalharem sobre a coleção recebida de herança de Lillie Bliss: A
coleção pessoal – que formou o núcleo original do acervo do MoMA – não possuía
nenhuma restrição formal quanto à troca ou venda. Storr (2005) afirma que o
entendimento geral era que o Museu poderia se desfazer de qualquer obra da coleção
proveniente da herança para obter coisas que os curadores vissem como mais
importantes. Como resultado disso, o nome da Sra. Bliss aparece hoje em uma
quantidade maior de obras do que aquelas por ela deixadas. Em alguns casos, aparece
em trabalhos dos mesmos artistas por ela escolhidos, porém em obras consideradas
de melhor qualidade.
Essa tradição iniciada com as obras do legado da Sra. Bliss e, após a
experiência com o Metropolitan Museum é confirmada. Hoje ela é parte da política atual
63
de gerenciamento da coleção, como descrito no documento de outubro de 2010
Collection Managment Policy6 do comitê:
Todos os fundos recebidos de obras que são vendidas pelo Museu deverão ser utilizados para financiar a aquisição de outros trabalhos, em conformidade com os princípios descritos nesse documento. Obras de artistas vivos não devem ser vendidas, exceto para adquirir um trabalho superior produzido pelo mesmo artista e com o consentimento do artista, se possível. Se o museu opta por se desfazer de uma obra, o doador - ou, na ausência do doador herdeiros dele - deve ser consultado, sempre que possível. Restrições assumidas na doação devem ser honradas na medida do possível. Se houver dúvidas sobre os termos de tais restrições, a consulta ao conselho geral é aconselhada. Quando um trabalho é vendido ou trocado, o novo trabalho adquiridos como produto da venda da troca deve ser creditado em nome do doador do trabalho vendido ou trocado. (MOMA, 2010, p.4, tradução nossa)
2.3 Aaquisiçãodeobras
Antonelli e Siegel (2004) informam que o processo básico de aquisição de obras
do MoMA, desde seus primórdios, segue um mecanismo simples: curadores propõem
em uma reunião obras a serem adicionadas ao acervo (através de compras ou
presentes oferecidos) e um comitê vota para aceitar ou rejeitar a proposta. Em geral,
segundo as autoras, o comitê de aquisições é formado pelos membros (Trustees) que
contribuem financeiramente de forma mais significantemente para o orçamento de
compras. Com o tempo esse comitê se subdividiu entre os sete departamentos do
6 O documento inteiro pode ser encontrado entre os Anexos dessa pesquisa
64
Museu, e segundo as autoras, cada departamento possui seu próprio orçamento e seu
próprio comitê de aquisições. 7
Ao longo da história do Museu, nota-se uma forte influência de Alfred Barr na
formação desse acervo. Independentemente desse processo, Barr mostra-se central
nas tomadas de decisões durante toda sua permanência no Museu – mesmo após ser
retirado de seu cargo de Diretor e de Curador chefe do departamento de Pintura e
Escultura em 1943.
Loebl (2010) informa que em 1935, Abby Aldrich Rockefeller dá a Barr a quantia
de mil dólares para que comprasse obras para o acervo – esse valor constitui o
primeiro fundo de aquisição do Museu – e através dele Barr compra obras em óleo de
De Chirico, Hans Arp, Joan Miró, René Magritte, além de alguns desenhos. Ainda
nesse ano, a Sra. Rockefeller adiciona dois mil e quinhentos dólares destinados a
obras de artistas americanos vivos e dois mil dólares a artistas estrangeiros.
Durante todos os primeiros anos do Museu, essas e outras doações foram
determinadas em grande parte pelas diretrizes de Barr. Quando a filantropa Olga
Guggenheim decide colaborar para a formação do acervo do MoMA em 1937, fica a
cargo de Barr as escolhas das obras – que chegaram a um valor de um milhão de
7 De acordo com o documento Collection Management Policy, de 2010 do Museu, se não há possibilidade de reunir o comitê e a obra em questão tem valor menor do que dez mil dólares (e vinte cinco mil dólares no caso departamento de Pintura e Escultura), o Diretor pode aprovar a compra. Para valores até de vinte mil dólares (ou cinquenta mil no caso do departamento de Pintura e escultura) é necessário, na ausência da reunião, a aprovação tanto do Diretor do Museu como do Presidente do Comitê de determinado departamento.
65
dólares – a exigência da doadora era apenas que houvesse consenso entre o Diretor e
o Comitê de aquisições.
Durante a Segunda Guerra Mundial viram-se dois movimentos importantes no
MoMA em relação à sua coleção. Por um lado, segundo Loebl (2010) muitos artistas
avant-garde, da Escola de Bauhaus na Alemanha e judeus pedem ajuda para fugir das
perseguições do governo nazista. Barr, com assistência de Abby Rockefeller ajuda a
providenciar vistos, e fundos para trazê-los aos Estados Unidos. Entre os beneficiados
estavam André Masson, Marc Chagall, Jacques Lipchitz e Max Ernst. Segundo Loebl
(2010) além das obras de astistas recém chegados da Europa que vendem suas obras
a preços baixos, algumas obras são compradas em leilões realizados na Europa – cuja
origem era duvidosa, uma vez que muitos provinham da Alemanha nazista que haviam
confiscado milhares de obras de museus e colecionadores.
Outra consequência que a Guerra traz para a coleção diz respeito à arte
proveniente da América Latina. É devido à guerra que o MoMA passa a colecionar mais
avidamente obras dessa origem. Nelson Rockefeller, que havia sido nomeado
Presidente do MoMA em 1939, é, segundo Loebl (2010), chamado pelo Presidente
Franklin D Roosvelt em 1941 para colaborar com o Governo Americano através de uma
agência de guerra voltada para ações com a América Latina. O MoMA apoia o Governo
com uma série de medidas, mas o acervo sente um reflexo direto dessa aproximação
em 1942, quando Nelson Rockefeller cria – anonimamente na época - o Inter American
66
Fund, doando vinte e seis mil dólares para o MoMA destinados à compra de obras de
países da America Latina.
Nesse momento, Barr, Nelson Kirstein e Edgar Kaufmann - professor de arte e
curador do Museu desde 1940 - viajam a esses países para usar a verba doada e,
voltam com cerca de duzentas obras para a coleção.
Basílio (2005) conta que da perspectiva artística, o Museu perdeu várias
oportunidades nesse momento devido à pressa e à falta de conhecimento específico
dos compradores. Basílio (2005) deixa claro que os três não escolhem sozinhos aquilo
que devem comprar – o Comitê de aquisição teria rejeitado algumas das sugestões de
Kirstein – mas ainda assim, mais tarde Barr deixa transparecer que os critérios
curatoriais utilizados nessas compras foram abaixo de seus padrões ideais em prol dos
benefícios que a troca cultural teria em favor dos valores do governo americano e dos
Aliados na Guerra.
Assim, mesmo após ser destituído de suas funções iniciais do Museu em 1943,
Barr continua exercendo influencia sobre a coleção. Lorente (2011, p.174, tradução
nossa) afirma que Barr “personifica a continuidade histórica do MoMA como Diretor das
Coleções, posto que assume de 1947 até sua aposentadoria em 1967” .
67
2.4 Oescopoatualdacoleção
Com as mudanças na cena artística dos anos de 1960, isto é, com surgimento
de novos museus que promovem a arte contemporânea e com a forte crítica que recai
sobre o MoMA ao ser taxado como uma instituição conservadora fechada para novas
tendências, o Museu vê se obrigado, em um dado momento, a rever sua estrutura
organizacional, que inclui o cuidado com a coleção.
Vê-se assim, a criação de comitês destinados para cada um dos departamentos
da coleção, a fim de realizar pesquisas e compras supervisionadas, buscando corrigir
algumas falhas na coleção e acompanhar novas tendências. Segundo Wye e Figura
(2004), em 1973, por exemplo, é criado o Comittee on Prints and Illustrated Books. Em
1975, a presidente desse comitê, Leda Castleman cria no MoMa, dentro de seu
departamento o papel dos ‘Associates’ – um grupo de colecionadores afiliados ao
departamento, que além de financiar aquisições importantes, apoia exposições e
publicações.
Ainda segundo Wye e Figura (2004), o Museu tem-se apoiado em suas
exposições temporárias para a aquisição de alguns trabalhos. Isso é interessante,
como declara Cherix (2005, p.55, tradução nossa), pois, em geral, “uma coleção
permanente reflete a sociedade ao seu redor com certo atraso, mas suas exposições
temporárias [...] permitem ao museu um contato imediato com o presente”. Em tais
momentos, estudos são feitos sobre as obras expostas e há intenso contato com tal
68
produção, o que em alguns casos, resulta em doação ao Museu, por parte do autor ou
dono de alguma obra ou na criação de fundos específicos voltados para a aquisição de
obras de uma exposição escolhida.
Na atualidade, destacam-se esses fundos específicos destinados à aquisição de
obras de alguma exposição ou destinados a inclusão de obras consideradas omissas
por colaborados do Museu. É o caso do Latin American and Caribbean Fund, criado em
2007, com o intuito de “colecionar, estudar e promover a Arte Latina” (LOWRY, 2007
p.1, tradução nossa)8. Tal fundo possibilita um acompanhamento mais dedicado e
direcionado a um assunto específico do Museu, no qual tenha sido possivelmente
omisso.
Além das obras de procedência latina, o MoMA tenta ainda adquirir obras
deixadas de lado desde os anos 1970, momento que, gerou uma pluralidade de
movimentos não absorvidos pelo Museu. O surgimento de determinadas obras
contemporâneas,como as performances, happenings e a Earth Art, “são explicitamente
opostas à ideia de objeto colecionável, e portanto, mudam a premissa fundamental do
museu tradicional” (ANTONELLI; SIEGEL, 2004, p.15, tradução nossa).
Ainda que essa nova arte pudesse ser coberto pelos departamentos existentes
no MoMA, há uma nova dificuldade: Segundo Rosalind Krauss,
Dentro de uma situação de pós-modernismo, a prática não se define em relação a um determinado meio – escultura - mas em relação a uma operação
8 Entre os Anexos desse estudo encontra‐se uma cópia de um exemplar do Journal of The Latin American and Carribbean Fund, onde encontra‐se tal citação.
69
lógica sobre um conjunto de termos culturais, na qual, qualquer meio – fotografia, livros, linhas em um espelho ou a própria escultura - pode ser usado. (KRAUSS,1979 apud CHERIX, 2005, p.56, tradução nossa).
Essa nova hibridização das obras – realizadas em mais de um meio, torna a
categorização difícil e de certa forma arbitrária.
O MoMA convive assim com uma série de desafios. Além da necessidade de
lidar com omissão na sua coleção de uma série de artistas e movimentos, vislumbra a
dificuldade de colecionar novas artes, devido às características inerentes às suas
propostas inéditas.
Uma caso que ilustra a dificuldade do MoMA em lidar com a mudança da leitura
de obras que se distanciam de seu tradicional formalismo é trazido por Cherix (2005).
O autor informa que a Instituição procurou o artista Mel Bochner para adquirir sua obra
Working Drawings and Other Visible Things on Paper Not Meant to Be Viewed as Art ,
em 1966. A obra que consiste em instalação de quatro cadernos idênticos sobre
pedestais, contendo, entre outras coisas, desenhos preparatórios de vários artistas da
geração, interessou ao MoMA para ser incluído em sua biblioteca de pesquisa. O
artista propôs doar a obra ao Museu, contanto que, ao invés de adicioná-la à biblioteca,
esta fosse incluída na coleção do Museu. Aparentemente, a dificuldade em classificá-la
dentro da coleção acaba por dissuadir a Instituição que devolve a obra ao artista.9
9 Cherix (2005) aponta que hoje ela seria incorporada ao departamento de Pintura e Escultura ou algum outro departamento ‐ mesmo que sua adequação fosse parcial ao departamento, não seria rejeitada pelo Museu.
70
Assim, para trabalhar esses desafios, há esforços para um maior diálogo entre
as curadorias de cada departamento. Antonelli e Siegel (2004) indicam que as
associações entre departamento são necessárias para possibilitar um planejamento da
coleção que permita a aquisição de obras que se inserem em mais de um
departamento, ou corre-se o risco de nenhum deles optar pela aquisição, tanto devido
à dificuldade de alocá-lo puramente em seu departamento quanto aos elevados preços
que essas obras atingem.
Embora os departamentos ainda convivam com uma série de desafios, o Museu
opta por manter seus departamentos independentes e ligados ao meio formal por
acreditar que caracterizam a essência sob a qual o MoMA e a arte moderna se
estabeleceram. Esse ponto e as questões anteriormente discutidas refletem hoje as
premissas do Museu para a prática de suas políticas de gerenciamento da coleção do
MoMA:
Que a arte moderna e contemporânea se originaram na exploração dos ideais e interesses gerados nas novas tradições artísticas iniciadas ao final do século XIX e que continuam até hoje. Que a arte moderna e contemporânea transcendem as fronteiras nacionais e envolvem todas as formas de expressões visuais, incluindo a pintura e escultura, desenhos, gravuras e livros ilustrados, fotografia,arquitetura e design, cinema e vídeo e, bem como novas formas ainda a serem desenvolvidas ou entendidas – que refletem e exploram as questões artísticas da nossa época. Que essas formas de expressão visual são uma série aberta de argumentos e contra-argumentos que pode ser explorado através de exposições e instalações, e que são refletidas na variada Coleção do Museu.
71
Que é essencial reconhecer a importância da arte contemporânea e dos artistas se o Museu deseja honrar seus ideais - com os quais foi fundado - e manter-se vital e comprometido com o presente. Que este compromisso com a arte contemporânea invigora e incrementa nosso entendimento evolutivo das tradições da arte moderna. Que para se manter na vanguarda do seu campo, o Museu deve ter uma excelente equipe profissional e, deve, periodicamente, reavaliar a si mesmo, respondendo a novas ideias e iniciativas com discernimento,imaginação e inteligência. Este processo de reavaliação é mandatório pela tradição do Museu, que encoraja a vontade de evoluir e mudar. (MOMA, 2010, p.3, tradução nossa)
72
3 LevantamentoeestudodasobraseartistasbrasileirosencontradosnosbancosdedadosdoacervodoMoMA
3.1 Levantamentodosdados
No presente capítulo, será apresentado o quadro que compila o levantamento
das obras de artistas brasileiros encontrados nos bancos de dados do acervo do
MoMA.
Como critério para a busca nos bancos de dados, como informado na Introdução
do presente estudo, as obras deveriam conter, em qualquer campo de seu registro, a
palavra brazilian.
Através dessa busca no sistema, obteve-se um universo de 446 obras.
Entretanto, após estudar os elementos levantados, verificou-se a necessidade de
realizar algumas exclusões e inclusões de obras para adequar os dados à proposta de
classificar as obras de artistas brasileiros do acervo do MoMA.
A seguir se encontram exemplos de adequações realizadas para que fossem
apresentadas as informações mais apropriadas para o presente estudo:
- exclusão da obra Triptych de Francis Bacon: em sua catalogação há um texto
de uma de suas exposições que explica a obra, e, em sua descrição, aparece o termo
brazilian ao descrever a adoção do artista de uma imagem de um piloto brasileiro na
realização da obra.
73
- exclusão da obra Ladle, de Trudi Sitterle, Harold Sitterle e Keith Hovis de 1951.
Feita de Jacarandá (em inglês brazilian rosewood), não se trata de uma obra brasileira.
- optou-se pela exclusão de 12 obras do artista Öyvind Fahlström que
apareceram na busca. O artista é catalogado como brasileiro pelo MoMA. Um breve
estudo de sua biografia mostrou que, o artista, nascido no Brasil, viveu no País até
completar 20 anos de idade, mudando-se posteriormente para a Suécia, país de
origem de seus pais10. Não se encontrou em sua biografia identificação de sua obra
com a cultura brasileira, sendo, portanto, pouco relevante para esse estudo.
- Inclusão da obra “Pixote, a lei do mais fraco”, filme de Hector Babenco. O
produtor e diretor do filme, Hector Babenco é nascido na Argentina e naturalizado no
Brasil, o MoMA classifica-o como argentino, porém, a nacionalidade brasileira de
Hector Babenco torna-o perfeitamente adequado para incluí-lo nesse estudo, sendo
que o próprio artista posiciona sua nacionalidade ao lado de sua produção:
Tenho uma cidadania brasileira que me iguala [...] a todos os que vivem me lembrando de que nasci na Argentina. Fiz-me brasileiro em 1997, porque só assim achei que poderia falar da violência e da corrupção [...]. Não queria ser o de fora, o estrangeiro [...]. BABENCO, H. Virei um brasileiro para filmar denúncias. [18 de agosto de 2009]. São Paulo: O Estado de São Paulo. Entrevista concedida a Luiz Carlos Merten.
Chegou-se assim a 409 obras que estão apresentadas no Quadro I. O quadro
está organizado por data de inclusão da obra ao acervo (do mais antigo ao mais
10 Informações do artistas retiradas do site do MoMA
74
recente) e fornece algumas informações das obras catalogadas como a data da sua
produção, como ela é classificada dentro da coleção do MoMA, qual o departamento do
museu é responsável pela obra, o ano que a obra foi adquirida pelo MoMA bem como o
meio que possibilitou a obra fazer parte da coleção do MoMA.
Quadro 1 – Obras brasileiras no acervo do MoMA, 1939 – 2011
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Cândido Portinari Hill (Morro) Painting Painting and
Sculpture 1933 1939
Abby Aldrich Rockefeller Fund
Cândido Portinari Blind man and son Print Prints and Illustrated
Books 1939 1941 Compra
Cândido Portinari Adalgisa Nery Print Prints and Illustrated
Books (1941) 1941 Compra
Cândido Portinari Girl and child Drawing Drawings 1940 1941 Doação, Sam Lewisohn
Cândido Portinari Fisherman Drawing Drawings 1940 1941 Compra
Cândido Portinari Family Print Prints and Illustrated
Books (1939) 1941 Presente do Artista
Cândido Portinari Kneeling girl Print Prints and Illustrated
Books (1939) 1941 Presente do Artista
75
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Cândido Portinari Two women and children Print Prints and Illustrated
Books 1939 1941 Presente do Artista
Cândido Portinari Male torso Print Prints and Illustrated
Books 1939 1941 Presente do Artista
Maria Martins Christ Sculpture Painting and
Sculpture 1941 1941
Doação, Nelson Rockefeller
Cândido Portinari Running figures Print Prints and Illustrated
Books 1939 1941 Presente do Artista
Cândido Portinari Running figures Print Prints and Illustrated
Books 1939 1941 Compra
Cândido Portinari Migratory family Print Prints and Illustrated
Books (1939) 1941 Presente do Artista
Cândido Portinari Migratory family Print Prints and Illustrated
Books (1939) 1941 Compra
Percy Deane The Lovers Drawing Drawings 1941 1942 Inter-American Fund
Heitor dos Prazeres St john's day Painting Painting and
Sculpture 1942 1942 Inter-American Fund
José Pancetti Self-portrait Painting Painting and
Sculpture 1941 1942 Inter-American Fund
76
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Paulo Rossi Osir Lemon Painting Painting and
Sculpture 1939 1942 Doação, Lincoln Kirstein
Paulo Rossi Osir Sugar apple Painting Painting and
Sculpture 1939 1942 Doação, Lincoln Kirstein
Tomas Santa Rosa Brazilian musicians Print Prints and Illustrated
Books 1941 1942 Inter-American Fund
Alberto da Veiga Guignard
Study for Ouro Preto: St. John's Eve
Drawing Drawings (1942) 1942 Inter-American Fund
Jose Bernardo Still Life with view of the bay Drawing Drawings 1937 1942 Inter-American Fund
Edith Behring Negro Boy, Profile Drawing Drawings 1939 1942 Inter-American Fund
Edith Behring Negro Boy Drawing Drawings 1938 1942 Inter-American Fund
Alberto da Veiga Guignard
Ouro preto: st. John's eve Painting Painting and
Sculpture 1942 1942 Compra
Maria Martins The Impossible, III Sculpture Painting and
Sculpture 1946 1946 Compra
Jose Moraes Children Drawing Drawings 1942 1947
77
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Lasar Segall
Group of Emigrants on Deck (Grupo de emigrantes no
tombadilho) from the series Emigrants (Emigrantes)
Print Prints and Illustrated
Books 1928 1948 Presente do Artista
Roberto Burle Marx Garden design A&D Graphic
Design Architecture and Design
1948 1948 Doação, Phillip L.
Goodwin
Roberto Burle Marx Garden design A&D Graphic
Design Architecture and Design
1948 1948 Doação, Phillip L.
Goodwin
Lasar Segall Sensual Woman of the Mangue
(Mulher do Mangue sentada) from the portfolio Mangue
Print Prints and Illustrated
Books 1941 1949 Compra
Lasar Segall Group from the Mangue (Grupo do
Mangue) (folio 11) from the portfolio Mangue
Print Prints and Illustrated
Books 1941 1949 Compra
Lasar Segall Couple in the Mangue (Casal no
Mangue) (plate 1, folio 9) from the illustrated book Mangue
Print Prints and Illustrated
Books 1941 1949 Compra
Lasar Segall Women of the Mangue (Mulheres
do Mangue) from the portfolio Mangue
Print Prints and Illustrated
Books 1941 1949 Compra
Marcelo Grassman Porfolio of 5 Print Prints and Illustrated
Books 1950 1951
Doação, Geraldo Destefani
Lina Bo Bardi Esposição da Agricultura Paulista
13-25 de Janeiro de 1951 A&D Graphic
Design Architecture and Design
1951 1951 Presente do Artista
Antônio Maluf 1a Bienal do Museu de Arte Moderna, São Paulo Brasil
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1951 1951 Doação, Museu de Arte Moderna de São Paulo
78
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Roberto Burle Marx Ibirapuera park A&D Graphic
Design Architecture and Design
1951 1953 Inter-American Fund
Lasar Segall Widow and Child (Witwe und Kind) from the periodical Kündung, vol.
1, no. 2 (February 1921) Print
Prints and Illustrated
Books 1921 1956 Doação, anonymous
Lasar Segall Young Beggar (Junge Bettlerin)
from the periodical Kündung, vol. 1, no. 2 (February 1921)
Print Prints and Illustrated
Books 1921 1956 Doação, anonymous
Lasar Segall In the Studio (Im Atelier) from the periodical Kündung, vol. 1, no. 2
(February 1921) Print
Prints and Illustrated
Books 1921 1956 Doação, anonymous
Lasar Segall Praying Boy (Betender Knabe)
from the periodical Kündung, vol. 1, no. 2 (February 1921)
Print Prints and Illustrated
Books 1921 1956 Doação, anonymous
Lasar Segall Kündung. Eine Zeitschrift für Kunst Print Prints and Illustrated
Books 1921 1956 Doação, anonymous
Aloisio Magalhães Landscape Drawing Drawings 1956 1957 Inter-American Fund
Mario Cravo Junior Fisherman Print Prints and Illustrated
Books (1952) 1957 Presente do Artista
Aldemir Martins The young beggar Drawing Drawings 1956 1957 Inter-American Fund
Mario Cravo Junior Studies for sculpture Drawing Drawings 1956 1957 Inter-American Fund
79
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Aldemir Martins The traitor Drawing Drawings 1953 1957 Inter-American Fund
Aldemir Martins Bird Print Prints and Illustrated
Books 1957 1957 Doação, anonymous
Mario Cravo Junior Studies for sculpture Drawing Drawings 1956 1957 Inter-American Fund
Flavio de R. Carvalho
Dr Carvalhal Ribas Drawing Drawings 1955 1957 Inter-American Fund
Flavio de R. Carvalho
Three nudes Drawing Drawings 1957 1957 Inter-American Fund
Frans Krajcberg Painting, 1 Painting Painting and
Sculpture 1957 1958 Inter-American Fund
Waldemar Kutner Ghetto Print Prints and Illustrated
Books 1943 1958 Inter-American Fund
Vera Bocayuva Banca de Jornal Print Prints and Illustrated
Books 1955 1958 Inter-American Fund
Maria Bonomi Portrait of Malé Print Prints and Illustrated
Books (1956) 1958 Inter-American Fund
Jose Claudio da Silva
Apocalypse number 3 Drawing Drawings 1956 1958 Inter-American Fund
80
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Vera Bocayuva Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1960 1961 Doação, Henrique Mindlin
Mario Cravo Junior studies for sculpture Drawing Drawings 1959 1962 Inter-American Fund
Mario Cravo Junior Studies for Sculpture Drawing Drawings 1959 1962 Inter-American Fund
Claudia Andujar Dying Donkey at the Seville Fair Photography Photography 1959 1962 Compra
Maria Martins The Road; The Shadow; Too
Long, Too Narrow Sculpture
Painting and Sculpture
1946 1964 Brazil Fund
Fayga Ostrower Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1958 1964 Presente do Artista
Fayga Ostrower Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1959 1964 Brazil Fund
Roland Cabot Still Life Print Prints and Illustrated
Books 1964 1964 Brazil Fund
Carlos Scliar Pear and Cherry Drawing Drawings 1962 1965 Doação, Mr. And Mrs.
David
Almir Mavignier Untitled Porfolio Print Prints and Illustrated
Books 1961 1965 Brazil Fund
81
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Almir Mavignier Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1962 1965 Brazil Fund
Oscar Niemeyer
Beach House for Mr. and Mrs. Burton Tremaine, project, Santa
Barbara, CA, Exterior perspective, over pool with living room on right
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Oscar Niemeyer
Beach House for Mr. and Mrs. Burton Tremaine, project, Santa
Barbara, CA, Exterior perspective, view toward north elevation
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Oscar Niemeyer Beach House for Mr. and Mrs.
Burton Tremaine, project, Santa Barbara, CA, Plan of second floor
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Oscar Niemeyer
Beach House for Mr. and Mrs. Burton Tremaine, project, Santa Barbara, CA, Plans of first floor
and garden
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Oscar Niemeyer
Beach House for Mr. and Mrs. Burton Tremaine, project, Santa Barbara, CA, North and south
elevations
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Oscar Niemeyer Beach House for Mr. and Mrs.
Burton Tremaine, project, Santa Barbara, CA, Sections
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Almir Mavignier Untitled Print Prints and Illustrated
Books (1965) 1966 Presente do Artista
Oscar Niemeyer
Beach House for Mr. and Mrs. Burton Tremaine, project, Santa
Barbara, CA, Preliminary sketches and introductory text
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Claudia Andujar Bahia, Brazil Photography Photography 1964 1966 Benjamin Zeller Memorial
Fund
82
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Roberto Burle Marx Garden Design for Beach HouseA&D Graphic
Design Architecture and Design
1948 1966 Doação, Mr. And Mrs.
Burton
Arthur Luis Piza Land Print Prints and Illustrated
Books (1966) 1967 John S. Newberry Fund
Almir Mavignier Mavignier, Bilder + Serigraphien,
(Op) Art Galerie A&D Graphic
Design Architecture and Design
1966 1967 Presente do Artista
Almir Mavignier Lucien Clerge Photographien,
Museum Ulm A&D Graphic
Design Architecture and Design
1965 1967 Presente do Artista
Almir Mavignier Mavignier, Plakat, Brasilianisches
Konsulat A&D Graphic
Design Architecture and Design
1965 1967 Presente do Artista
Aldemir Martins Untitled Drawing Drawings 1961 1967 Brazil Fund
Almir Mavignier Getulio, Kleine Galerie A&D Graphic
Design Architecture and Design
1962 1967 Presente do Artista
Walter Marques Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1966 1967 Brazil Fund
Helena (Mie Yuan) Matinal Drawing Drawings 1966 1967 Doação, anonymous
Isabel Pons Bird and Fountain Print Prints and Illustrated
Books 1960 1967 Brazil Fund
83
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Walter Marques Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1966 1967 Brazil Fund
Anna Letycia Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1965 1967 Brazil Fund
Almir Mavignier Mavignier/ULM A&D Graphic
Design Architecture and Design
1963 1967 Presente do Artista
Almir Mavignier Mavignier - DATO A&D Graphic
Design Architecture and Design
1962 1967 Presente do Artista
Almir Mavignier PUNCTUM MAVIGNIER A&D Graphic
Design Architecture and Design
1966 1967 Presente do Artista
Almir Mavignier MAVIGNIER KLEINE A&D Graphic
Design Architecture and Design
1962 1967 Presente do Artista
Edith Behring Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1964 1967 Brazil Fund
Hermano José Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1963 1967 Brazil Fund
Almir Mavignier Getulio, Studio F. 1962 A&D Graphic
Design Architecture and Design
1962 1967 Presente do Artista
Lasar Segall Shantytown in Rio de Janeiro
(Morro da Favella Rio) Print
Prints and Illustrated
Books 1930 1968 Inter-American Fund
84
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Ruth Bessoudo Courvoisier
Tapir Eating a Leaf Print Prints and Illustrated
Books 1967 1968 Inter-American Fund
Ruth Bessoudo Courvoisier
Armadillo-Leaf Print Prints and Illustrated
Books 1967 1968 Inter-American Fund
Lasar Segall Third Class (Terceira classe) from the series Emigrants (Emigrantes)
Print Prints and Illustrated
Books 1928 1968 Inter-American Fund
Lasar Segall Two Women of the Mangue with
Blinds (Duas mulheres do Mangue com persiana)
Print Prints and Illustrated
Books (1928) 1968 Inter-American Fund
Evandro Carlos Jardim
Frolic Print Prints and Illustrated
Books (1967) 1968
Felipe Cossio del Pomar Fund
Lasar Segall Coffee Tree and Head (Cabeça e
cafezal) Print
Prints and Illustrated
Books (1930) 1968 Inter-American Fund
Farnese de Andrade Neto
Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1962 1968
Felipe Cossio del Pomar Fund
Aurino Valenca Lins Darel
Untitled Print Prints and Illustrated
Books (1967) 1968 Inter-American Fund
José Costa Leite Xilogravura Popular do Nordeste Print Prints and Illustrated
Books (1968) 1968
Doação, Instituto do Acucar e do Alcool
Rossini Pérez Discovered Continent Print Prints and Illustrated
Books 1965 1968 Inter-American Fund
85
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Carybé Macunaíma: o Herói sem CaráterIllustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 1957 1968 Inter-American Fund
Sonia Castro 10 gravures Print Prints and Illustrated
Books (1968) 1968 Presente do Artista
Iberê Camargo Estrututa Print Prints and Illustrated
Books (1962) 1968 Inter-American Fund
Almir Mavignier Deutsches Museum A&D Graphic
Design Architecture and Design
1967 1968 Presente do Artista
Rossini Pérez untitled Print Prints and Illustrated
Books 1960 1968 Inter-American Fund
Ruth Bessoudo Courvoisier
Tapir-Metamorphosis Print Prints and Illustrated
Books 1967 1969 Inter-American Fund
Antonio Dias Untitled Drawing Drawings 1967 1969 Inter-American Fund
Antonio Dias Untitled Drawing Drawings 1967 1969 Inter-American Fund
Anna Bella Geiger Meat on the Table Print Prints and Illustrated
Books 1969 1969 Inter-American Fund
Gilván Samico Suzana in the Bath (Suzana No
Banho) Print
Prints and Illustrated
Books 1966 1970
Mrs. Donald B. Straus Fund
86
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Arthur Luis Piza Beige Rendezvous Print Prints and Illustrated
Books n.d. 1970
Mrs. Donald B. Straus Fund
Gilván Samico Battle of the Angels (A Luta Dos
Anjos) Print
Prints and Illustrated
Books 1968 1970
Mrs. Donald B. Straus Fund
Maria Martins Maria 1946 Illustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 1946 1973
Doação, Mr. and Mrs. Alfred H. Barr, Jr
Adão Pinheiro Constelação Illustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 1972 1974 Doação, José E. Mindlin
Anna Bella Geiger Here is the Center Print Prints and Illustrated
Books (1973) 1975
Fundo, Latin American Fund
Hector Babenco Pixote, a Lei do mais fraco Film Film 1980 1980 Emprestimo indefinido
Nair Benedicto untitled (two women) Photography Photography n.d. 1980 The Family of Man Fund
Nair Benedicto untitled (couple dancing) Photography Photography n.d. 1980 The Family of Man Fund
Anna Bella Geiger Trouble Spot No. 10 (Local da
ação no. 10) Print
Prints and Illustrated
Books 1980 1981
Felipe Cossio del Pomar Fund
Fayga Ostrower Untitled Print Prints and Illustrated
Books 1980 1986 Presente do Artista
87
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Oscar Niemeyer Proposal for United Nations A&D Graphic
Design Architecture and Design
1947 1988 Doação, Hester Diamond
Oscar Niemeyer Proposal for United Nations A&D Graphic
Design Architecture and Design
1947 1988 Doação, Hester Diamond
Oscar Niemeyer Proposal for United Nations A&D Graphic
Design Architecture and Design
1947 1988 Doação, Hester Diamond
Oscar Niemeyer Proposal for United Nations A&D Graphic
Design Architecture and Design
1947 1988 Doação, Hester Diamond
Oscar Niemeyer Proposal for United Nations A&D Graphic
Design Architecture and Design
1947 1988 Doação, Hester Diamond
Oscar Niemeyer Proposal for United Nations A&D Graphic
Design Architecture and Design
1947 1988 Doação, Hester Diamond
Sebastião Salgado untitled (Serra Pelada) Photography Photography 1986-89 1990 The fellows of
photography fund
Anna Bella Geiger Sobre a Arte (On Art) Video Media and
Performance Art
1983 1991 Compra
Oscar Niemeyer Ibirapuera Park, project, São
Paulo, Brazil, Site plan A&D Graphic
Design Architecture and Design
1953 1991 Roblee McCarthy, Jr Fund
Roberto Burle Marx Ibirapuera Park A&D Graphic
Design Architecture and Design
1953 1991 Roblee McCarthy, Jr Fund
88
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Roberto Burle Marx Fazenda Vargem Grande A&D Graphic
Design Architecture and Design
1979-80 1991 Friends of Roberto Burle
Marx Fund
Jac Leiner Lung Sculpture Painting and
Sculpture 1987 1991
Doação, Presente do Artista
Jac Leiner Lung Sculpture Painting and
Sculpture 1987 1991
David Rockefeller Fund for Latin-American Art and
Brazil Fund
Anna Bella Geiger Elementary Maps no. 3 (Mapas
Elementares no. 3) Video
Media and Performance
Art 1976 1991 Compra
Oscar Niemeyer Ibirapuera Park Project, São
Paulo, Brazil, Perspective A&D Graphic
Design Architecture and Design
1953 1991 Roblee McCarthy, Jr
Fund, Lily Auchincloss Fund
Roberto Burle Marx Ibirapuera Park A&D Graphic
Design Architecture and Design
1953 1991 Roblee McCarthy, Jr Fund
Cildo Meireles zero dollar Print Prints and Illustrated
Books (1984) 1993 Doação, Paulo Herkenhoff
Cildo Meireles zero cruzeiro Print Prints and Illustrated
Books (1978) 1993 Doação, Paulo Herkenhoff
Cildo Meireles zero dollar Print Prints and Illustrated
Books 1984 1993 Doação, Paulo Herkenhoff
Cildo Meireles zero cruzeiro Print Prints and Illustrated
Books (1978) 1993 Doação, Paulo Herkenhoff
89
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Cildo Meireles Insertations in ideologic Print Prints and Illustrated
Books 1970 1993 Doação, Paulo Herkenhoff
Cildo Meireles Insertations in ideologic Print Prints and Illustrated
Books 1970 1993 Doação, Paulo Herkenhoff
Cildo Meireles Insertations in ideologic Print Prints and Illustrated
Books 1970 1993 Doação, Paulo Herkenhoff
Vincent Carelli the spirit of TV Video Media and
Performance Art
1990 1994 Compra
Jorge Furtado This is not your life Video Media and
Performance Art
1991 1994 Compra
Rafael França Without Fear of Vertigo Video Media and
Performance Art
1987 1994 Doação, Presente do
Artista
Valdir Cruz Gypsy woman #1 Photography Photography 1991 1994 Doação, Barbara Foshay
Marcelo Tas Varela in Serra Pelada Video Media and
Performance Art
1988 1994 Compra
Vincent Carelli Free for All in Sararé Video Media and
Performance Art
1992 1994 Compra
Victor Lopes Venus de Fogo Video Media and
Performance Art
1993 1994 Compra
90
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Waltercio Caldas Japan (Japão) Drawing Drawings 1972 1995 Doação, Gilberto Chateaubriand
Mario Cravo Neto Black Torso in white wash Photography Photography 1988 1996 Presente do Artista
Mario Cravo Neto Voodoo child Photography Photography 1990 1996 Presente do Artista
Vik Muniz Big James Sweats buckets Photography Photography 1996 1997
Doação, The Contemporary Arts
Council of The Museum of Modern Art
Vik Muniz valentine, the fastest Photography Photography 1996 1997 Doação, Tricia Collins
Vik Muniz Mass Photography Photography 1997 1997 The fellows of
photography fund
Vik Muniz Valicia Bathes in Sunday Photography Photography 1996 1997
Doação, The Contemporary Arts
Council of The Museum of Modern Art
Vik Muniz Jacynthe Loves Orange Photography Photography 1996 1997 Doação, Tricia Collins
Waltercio Caldas Velasquez Illustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 1996 1997 Doação, Lilian Tone
Hélio Oiticica Metaesquema No. 4066 Drawing Drawings (1958) 1997 Doação, Oiticia Family,
Artist's estate
91
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Hélio Oiticica Metaesquema (10) Drawing Drawings (1959) 1997 Compra subvencionada,
Patricia Phelps de Cisneros
Hélio Oiticica Metaesquema Drawing Drawings (1956) 1997 Compra subvencionada,
Patricia Phelps de Cisneros
Hélio Oiticica Metaesquema No. 179 Drawing Drawings (1957) 1997 Doação, Oiticia Family,
Artist's estate
Vik Muniz hands Photography Photography 1997 1997 Presente do Artista
Vik Muniz Lil Castil Can't swim Photography Photography 1996 1997 Presente do Artista
Vik Muniz Ten ten's weed neckless Photography Photography 1996 1997 Presente do Artista
Vik Muniz future diptych (scissors) Photography Photography 1990 1998 Doação, Margaret Weston
Hélio Oiticica Metaesquema No. 136 Drawing Drawings (1958) 1998 Doação, Oiticia Family,
Artist's estate
Hélio Oiticica Metaesquema No. 237 Drawing Drawings (1958) 1998 Compra subvencionada, Gilberto Chateaubriand
Waltercio Caldas Mirror of Light Sculpture Painting and
Sculpture 1974 1998
Doação, Henrique Mindlin, Gilberto Chateaubriand,
Manuel Francisco
92
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Hélio Oiticica Metaesquema No. 73 Drawing Drawings (1958) 1998 Doação, Oiticia Family,
Artist's estate
Hélio Oiticica Metaesquema No. 348 Drawing Drawings (1958) 1998 Compra subvencionada, Maria de Lourdes Egydio
Villela
Cildo Meireles Fontes Multiples Prints and Illustrated
Books (1992) 1999 Doação, Paulo Herkenhoff
José Leonilson Desire is a Blue Lake Drawing Drawings 1989 1999 Doação, Friends of
Contemporary Drawing
José Leonilson Men With Their Own Attentions Drawing Drawings 1989 1999 Doação, Friends of
Contemporary Drawing
José Leonilson To Make Your Soul Close to Me Drawing Drawings 1989 1999 Doação, Artist's estate
José Leonilson Sunset, Earthquake, Loneliness Drawing Drawings 1990 1999 Doação, Artist's estate
José Leonilson I Am Your Man Drawing Drawings 1992 1999 Doação, Friends of
Contemporary Drawing
Mira Schendel Trabalho concebido em 1971 Illustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 1975 1999
Doação, Luiz Buarque de Hollanda
Waltercio Caldas End (Fim) Print Prints and Illustrated
Books (1973) 1999
Doação, Luiz Buarque de Hollanda
93
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Fernando Campana,
Humberto Campana Inflating Table
A&D Design Object
Architecture and Design
1996 1999 Doação, Patricia Phelps
de Cisneros
Fernando Campana,
Humberto Campana Vermelha Chair
A&D Design Object
Architecture and Design
1993 1999 Doação, Patricia Phelps
de Cisneros
Fernando Campana,
Humberto Campana Cone Chair
A&D Design Object
Architecture and Design
1997 1999 Doação, Patricia Phelps
de Cisneros
Fernando Campana,
Humberto Campana Ottoman
A&D Design Object
Architecture and Design
1998 1999 Doação, Patricia Phelps
de Cisneros
Hélio Oiticica Homage to My Father (Projeto
H.O.) Print
Prints and Illustrated
Books (1972) 1999
Doação, Oiticia Family, Artist's estate
Vik Muniz
New Lascaux Amusement Park to bring renewed wealth and lost of excitement to Vazére valley from
the series Personal Articles
Print Prints and Illustrated
Books 2000 2000 Frances Keech Fund
Almir Mavignier Chadwick Armitage A&D Graphic
Design Architecture and Design
1960 2000 Presente do Artista
Almir Mavignier Calderara A&D Graphic
Design Architecture and Design
1960 2000 Presente do Artista
Vik Muniz "Hey! Never Mind the Content - Look at the Context!" from the
series Personal Articles Print
Prints and Illustrated
Books 2000 2000 Frances Keech Fund
Vik Muniz Dalai Lama Introduces Meditation Software from the series Personal
Articles Print
Prints and Illustrated
Books 2000 2000 Frances Keech Fund
94
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Almir Mavignier Martin Schaffner A&D Graphic
Design Architecture and Design
1959 2000 Presente do Artista
Vik Muniz Never Before Released
Cassavetes Thriller Is a Joy Ride from the series Personal Articles
Print Prints and Illustrated
Books 2000 2000 Frances Keech Fund
Vik Muniz Hundreds Die by Own Hand from
the series Personal Articles Print
Prints and Illustrated
Books 2000 2000 Frances Keech Fund
Vik Muniz "Hey If You're So Damn Smart,
Why Can't You Ever Get a Date?" from the series Personal Articles
Print Prints and Illustrated
Books 2000 2000 Frances Keech Fund
Vik Muniz Elephant Women from the series
Personal Articles Print
Prints and Illustrated
Books 2000 2000 Frances Keech Fund
Vik Muniz Untitled (1) Print Prints and Illustrated
Books 1999 2000 Doação, anonymous
Almir Mavignier Arp A&D Graphic
Design Architecture and Design
1960 2000 Presente do Artista
Almir Mavignier Kunstbesitz der Stadt LeuerkusenA&D Graphic
Design Architecture and Design
1962 2000 Presente do Artista
Almir Mavignier Mavignier, Dawo Mavignier, Dawo
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1963 2000 Presente do Artista
Almir Mavignier
Moderne Graphik aus Eigenem Besitz
Moderne Graphik aus Eigenem Besitz
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1964 2000 Presente do Artista
95
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Almir Mavignier Almir Mavignier A&D Graphic
Design Architecture and Design
1966 2000 Presente do Artista
Almir Mavignier Anuskiewicz Mavignier A&D Graphic
Design Architecture and Design
1964 2000 Presente do Artista
Almir Mavignier Lucien Clergue Photographien A&D Graphic
Design Architecture and Design
1965 2000 Presente do Artista
Almir Mavignier Brasilia Burle Marx A&D Graphic
Design Architecture and Design
1958 2000 Presente do Artista
Hélio Oiticica Homage to My Father (Projeto
H.O.) Print
Prints and Illustrated
Books 1972 2000
Doação, Oiticia Family, Artist's estate
Lygia Pape Untitled from Weavings Print Prints and Illustrated
Books 1959 2000
Doação, Patricia Phelps de Cisneros
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (18) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (9) Drawing Drawings 1985 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (10) Drawing Drawings 1985 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (11) Drawing Drawings 1985-1989
2001 Compra
96
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (12) Drawing Drawings 1985 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (13) Drawing Drawings 1985 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (14) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (15) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (8) Drawing Drawings 1985 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (17) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (3) Drawing Drawings 1984 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (19) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (20) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (21) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
97
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (22) Drawing Drawings 1987 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (23) Drawing Drawings 1989 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (24) Drawing Drawings 1989 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Untitled From the series Indexes (Indicios)
Drawing Drawings 2000 2001 Doação, Michael Maiolino
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (16) Drawing Drawings 1986 2001 Compra
Lygia Pape Book of Creation Drawing Drawings 1959-60 2001 Doação, Patricia Phelps
de Cisneros
Beatriz Milhazes Mirror Print Prints and Illustrated
Books 2000 2001
Compra subvencionada, Ricki Conway
Cildo Meireles Camelô (Street vendor) Print Prints and Illustrated
Books 1998 2001 Doação, Luisa Strina
Hércules Barsotti Untitled Multiples Prints and Illustrated
Books 1960 2001
Doação, Sylvio Nery da Fonseca
Anna Maria Maiolino
Trajetoria II Illustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 1976 2001 Doação, Paulo Herkenhoff
98
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Anna Maria Maiolino
Trajetória I Illustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 1976 2001 Doação, Paulo Herkenhoff
Vik Muniz two nails Photography Photography 1987 2001 Presente do Artista
Cildo Meireles Thread Sculpture Painting and
Sculpture 1990-95 2001
Doação, Patricia Phelps de Cisneros
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (5) Drawing Drawings 1984 2001 Compra
Mira Schendel Untitled (11) 1964 Drawing Drawings 1964 2001 Doação, Luisa Strina
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (7) Drawing Drawings 1985 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Desde A até M (From A to M) From the series "Mapas Mentais"
(Mental Maps) Drawing Drawings 1972-99 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Buraco Preto (Black Hole) From the series "Os Buracos/Desenhos Objetos" (Holes/Drawing Objects)
Drawing Drawings 1974 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Untitled From the series "Aguadas"
Drawing Drawings 1984 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note Drawing Drawings 1984 2001 Compra
99
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (2) Drawing Drawings 1984 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (6) Drawing Drawings 1984 2001 Compra
Willys de Castro Abstrato (2) Drawing Drawings 1957-58 2001 Doação, Hercules Rubens
Barsotti
Anna Maria Maiolino
Untitled From the series "Vestigios I" (Vestiges I)
Drawing Drawings 2000 2001 Compra
Mira Schendel Untitled (Red) Drawing Drawings (1964) 2001 Doação, Luisa Strina
Iran do Espírito Santo
Red Cross Like Drawing Drawings 1998 2001 Compra
Iran do Espírito Santo
Little Hand Drawing Drawings 1990 2001 Compra
Anna Maria Maiolino
Piccole Note (4) Drawing Drawings 1984 2001 Compra
Iran do Espírito Santo
Untitled (stones, grey) Drawing Drawings 1999 2001 Compra
Iran do Espírito Santo
Green Block Drawing Drawings 1999 2001 Compra
100
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Iran do Espírito Santo
Untitled (red bricks block) Drawing Drawings (1998) 2001 Compra
Iran do Espírito Santo
Dual Ellipsis Drawing Drawings 1998 2001 Compra
Iran do Espírito Santo
Butterfly Prussian Blue Drawing Drawings 1998 2001 Compra
Iran do Espírito Santo
Red Cross Way Drawing Drawings 1990 2001 Compra
Willys de Castro Abstrato (1) Drawing Drawings 1957-58 2001 Doação, Hercules Rubens
Barsotti
José Leonilson 34 with Scars Sculpture Painting and
Sculpture 1991 2001
Doação, Carmen Bezerra Dias
Iran do Espírito Santo
Untitled (gold bricks) Drawing Drawings 1998 2001 Compra
Solange Fabião 5th Avenue and 42nd Street
Tower, project, New York, New York
A&D Graphic Design
Architecture and Design
2004 2002 Presente do Artista
Ernesto Neto Self Jazz Eu Drawing Drawings 1999 2002 Compra
Beatriz Milhazes Coisa Linda Illustrated
Book
Prints and Illustrated
Books 2002 2002
Doação, Library Council of The Museum of Modern
Art
101
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Beatriz Milhazes Succulent Eggplant Painting Painting and
Sculpture 1996 2002
Agnes Gund and Nina and Gordon Bunshaft Bequest
Fund
Alex Gama Trama - XXXIII Print Prints and Illustrated
Books 1997 2003 Doação, John Elderfield
Lygia Clark Poetic Shelter Sculpture Painting and
Sculpture 1960 2004
Doação, Patricia Phelps de Cisneros
Hélio Oiticica Neoconcrete Relief Painting Painting and
Sculpture 1960 2004
Doação, Patricia Phelps de Cisneros
Lygia Clark Sundial Sculpture Painting and
Sculpture 1960 2004
Doação, Patricia Phelps de Cisneros
Hélio Oiticica Box Bolide 12, 'archeologic' Sculpture Painting and
Sculpture 1964-1965
2004 Doação, Patricia Phelps
de Cisneros
Mira Schendel Untitled (12) 1964-1965 Drawing Drawings 1964-65 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (15) 1964 Drawing Drawings (1964) 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (8) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (9) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
102
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Alfredo Volpi Study with Flag and Pole Drawing Drawings 1950-59 2005 Compra
Alfredo Volpi Composition with One Flag Drawing Drawings 1955-59 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (13) 1964-1965 Drawing Drawings 1964-65 2005 Compra
Mira Schendel Untitled from the series Letras e Linhas XVIII (Letters and Lines
XVIII) Drawing Drawings 1964-65 2005 Compra
Mira Schendel Untitled from the series Cortes e Letras IV (Cuts and Letters IV)
Drawing Drawings 1964-65 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (14) 1964 Drawing Drawings (1964) 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (7) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
Alfredo Volpi Study for a Baroque Cathedral Drawing Drawings 1950'S 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (19) 1965 Drawing Drawings (1965) 2005 Compra
Rivane Neuenschwander
Zé Carioca no. 4, A Volta de Zé Carioca (1960). Edição Histórica,
Ed. Abril Drawing Drawings (2004) 2005
Fund for the Twenty-First Century
103
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Geraldo de Barros Fotoformas Photography Photography 1949 2005 Compra subvencionada, John and Lisa Pritzker
Geraldo de Barros Self Portrait Photography Photography 1949 2005 Christie Calder Salomon
Fund
Alfredo Volpi Composition with Two Flags (2) Print Prints and Illustrated
Books 1962 2005 Joanne M. Stern Fund
Alfredo Volpi Composition with Two Flags (1) Drawing Drawings (1961) 2005 Compra
Alfredo Volpi Geometric Composition (2) Drawing Drawings 1961 2005 Compra
José Damasceno Organograma (1) Drawing Drawings 2002 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Alfredo Volpi Geometric Composition (1) Drawing Drawings (1957) 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (6) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
José Damasceno Organograma (2) Drawing Drawings 2002 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Mira Schendel Untitled (16) 1964 Drawing Drawings (1964) 2005 Compra
104
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Mira Schendel Untitled (1) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (2) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (3) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (4) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (5) 1960's Drawing Drawings 1960s 2005 Compra
Alfredo Volpi Study for façade Drawing Drawings (1957) 2005 Compra
Hércules Barsotti Drawing No. 1 Drawing Drawings 1958 2005 Compra
Iran do Espírito Santo
CRTN V Drawing Drawings 2004 2005 Compra
Marepe Untitled (3) Drawing Drawings (2004) 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Mira Schendel Untitled (17) 1964 Drawing Drawings (1964) 2005 Compra
105
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Hércules Barsotti Drawing No. 10 Drawing Drawings 1959 2005 Compra
Iran do Espírito Santo
Single Act #2 Drawing Drawings 2004 2005 Compra
Marepe Untitled (1) Drawing Drawings (2004) 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Marepe Untitled (6) Drawing Drawings (2004) 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Ernesto Neto Lonely Deserts Drawing Drawings 2003 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Fernando Campana,
Humberto Campana Corallo Chair
A&D Design Object
Architecture and Design
2004 2005 Doação, Jo Carole and
Ronald S. Lauder
Hércules Barsotti Drawing No. 12 Drawing Drawings 1959 2005 Compra
Willys de Castro Untitled (3) Drawing Drawings (1958) 2005 Compra
Willys de Castro Untitled (2) Drawing Drawings (1956) 2005 Compra
Iran do Espírito Santo
CRTN VI Drawing Drawings 2004 2005 Compra
106
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Willys de Castro Untitled (1) Drawing Drawings (1954) 2005 Compra
Marepe Untitled (5) Drawing Drawings (2004) 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Mira Schendel Perfurados II Drawing Drawings 1970's 2005 Compra
Mira Schendel Untitled (18) 1964 Drawing Drawings (1964) 2005 Compra
Mira Schendel Untitled from the series
Droguinhas (Little Nothings) Drawing Drawings 1964-66 2005 Scott Burton Fund
Mira Schendel Untitled (3) from the series Letras e Linhas II (Letters and Lines II)
Drawing Drawings 1965 2005 Compra
Mira Schendel Untitled from the series Letras e
Linhas XV (Letters and Lines XV)Drawing Drawings 1965 2005 Compra
Ernesto Neto Dream duck Pearl Drawing Drawings 1999 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Mira Schendel Untitled from the series Letras e
Linhas XVI (Letters and Lines XVI)Drawing Drawings (1966) 2005 Compra
Marepe Untitled (2) Drawing Drawings 2004 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
107
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Mira Schendel Perfurados V Drawing Drawings 1970's 2005 Compra
Marepe Untitled (4) Drawing Drawings (2004) 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Hércules Barsotti Drawing No. 9 Drawing Drawings 1959 2005 Compra
Mira Schendel Perfurados III Drawing Drawings 1970'S 2005 Compra
Mira Schendel Perfurados IV Drawing Drawings 1970'S 2005 Compra
Ernesto Neto Untitled (1) Drawing Drawings (2002) 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Ernesto Neto Untitled (2) Drawing Drawings (2002) 2005
Doação, The Judith Rothschild Foundation
Contemporary Drawings Collection
Maurício Klabin Eclipse Table Lamp A&D Design
Object Architecture and Design
1982 2006 Doação, Israel Klabin
Sérgio Camargo Untitled Sculpture Painting and
Sculpture 1962 2006 Compra
Waltercio Caldas India Drawing Drawings (1972) 2006 Compra subvencionada, The Edward John Noble
Foundation
108
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Ruy Othake Hotel Habitat, L'Hospitalet de
Llobregat, Barcelona, Spain, Scale model 1:50
A&D Graphic Design
Architecture and Design
2004-08 2006 Artur Walther Purchase
Fund
Maurício Klabin Eclipse Table Lamp A&D Graphic
Design Architecture and Design
1982 2006 Doação, Israel Klabin
Vik Muniz Narcissus, after Caravaggio Photography Photography 2005 2006 Compra subvencionada, Kara and Stephen Ross
Waltercio Caldas Africa Drawing Drawings (1972) 2006 Compra subvencionada, The Edward John Noble
Foundation
Cildo Meireles Glove-Trotter Drawing Drawings 1992 2006 Presente do Artista
Mira Schendel Untitled (10) 1963 Painting Painting and
Sculpture 1963 2006
Committee on Painting and Sculpture Funds
Thiago Rocha Pitta Rio-São Paulo Video Media and
Performance Art
2005 2006 Fund for the Twenty-First
Century
Lygia Clark Planes in Modulated Surface 99 Drawing Drawings 1957 2007 Latin American and
Caribbean Fund
Paulo Mendes da Rocha
Paulistano Chair A&D Graphic
Design Architecture and Design
1957 2007 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Lygia Clark Planes in Modulated Surface 104 Drawing Drawings 1957 2007 Latin American and
Caribbean Fund
109
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Rivane Neuenschwander
Quarta-Feira de Cinzas/Epilogue (Ash Wednesday)
Installation Media and
Performance Art
2006 2007 Doação, Presente do
Artista
Oscar Niemeyer Fata Engineering Headquarters,
Turin, Italy, Sketch in maquette for Modulo Journal No. 46
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1975-81 2007 Doação, André Correa do
Lago
Willys de Castro Composition Drawing Drawings 1954 2007 Latin American and
Caribbean Fund
Willys de Castro Active Object (1) Painting Painting and
Sculpture 1961 2007
Latin American and Caribbean Fund
Waltercio Caldas Pontos (Dots) Drawing Drawings (1976) 2007 Latin American and
Caribbean Fund
Ernesto Neto Tha chu mi la co timanaue i a
coma..... Drawing Drawings 2001-07 2007 Doação, David Teiger
Oscar Niemeyer
Urban Plans (ZAC) Projects for Grasse, Dieppe and Villejuif, France, Plans for Grasse in
maquette for Modulo Journal No.
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1967-78 2007 Doação, André Correa do
Lago
Oscar Niemeyer
Urban Plans (ZAC) Projects for Grasse, Dieppe and Villejuif,
France, Aerial perspectives and plans for Dieppe and Villejuif in
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1967-78 2007 Doação, André Correa do
Lago
João Moreira Salles Santiago Film Film (2006) 2007 Compra
Ernesto Neto Navedenga Sculpture Painting and
Sculpture 1998 2007
Doação, Donald L. Bryant, Jr
110
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Oscar Niemeyer
Urban Plans (ZAC) Projects for Grasse, Dieppe, and Villejuif,
France, Aerial perspectives and plan for Grasse in maquette for
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1967-78 2007 Doação, André Correa do
Lago
Jessica Mein DeleveleD Installation Media and
Performance Art
2007 2008 Committee on Media and Performance Art Funds
Mira Schendel Untitled from the series
Datiloscritos (Typed writings) Drawing Drawings (1970'S) 2008 Compra
Lygia Pape Untitled Drawing Drawings 1957 2008 Doação, Luis Enrique
Pérez-Orama
Mira Schendel Untitled from the series
"Datiloscritos" Drawing Drawings (1970'S) 2008 Compra
Mira Schendel Untitled from the series
Datiloscritos (Typed writings) Drawing Drawings 1974 2008
Committee on Drawings Funds
Willys de Castro Untitled (5) Print Prints and Illustrated
Books 1962 2008 General Print Fund
Waltercio Caldas The Madman Sculpture Painting and
Sculpture 1971 2008
Latin American and Caribbean Fund
Mira Schendel Little Train Painting Painting and
Sculpture 1965 2008
Latin American and Caribbean Fund
Abraham Palatnik Progression 91-A Painting Painting and
Sculpture 1965 2008
Latin American and Caribbean Fund
111
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Willys de Castro Untitled (4) Print Prints and Illustrated
Books 1962 2008 General Print Fund
Lygia Clark Planes in Modulated Surface 4 Painting Painting and
Sculpture 1957 2008
Latin American and Caribbean Fund
Abraham Palatnik Kinechromatic Device S-14 Painting Painting and
Sculpture 1957-58 2008
Latin American and Caribbean Fund
Cao Guimarães Nanofania Video Media and
Performance Art
2003 2008 Latin American and
Caribbean Fund
Paulo Mendes da Rocha
Brazilian Museum of Sculpture, São Paulo, Brazil,, Plan and
section of auditorium
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1988 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Brazilian Museum of Sculpture, São Paulo, Brazil
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1987 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Brazilian Museum of Sculpture, São Paulo, Brazil, Section C and
D
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1988 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Mira Schendel Segno dei Segni (Sign of Signs) Drawing Drawings 1964-65 2008 Latin American and
Caribbean Fund
Paulo Mendes da Rocha
Brazilian Museum of Sculpture, São Paulo, Brazil, Sub-floor plan
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1988 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Brazilian Museum of Sculpture, São Paulo, Brazil,, floor plan
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1988 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
112
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Paulo Mendes da Rocha
Port City of Tietê Project, São Paulo State, Brazil, Schematic
plan and elevation
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1980 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Port City of Tietê Project, São Paulo State, Brazil
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1980 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
House in Catanduva, São Paulo, Brazil, project, Section BB, plan of
garden and pool, Plan, Section AA, section from North to South
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1979 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Paulistano Athletic Club Gymnasium, São Paulo, Brazil,,
Elevation sketch
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1979 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Paulistano Athletic Club Gymnasium, São Paulo, Brazil,
Perspective Sketch
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1957 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Brazilian Museum of Sculpture, São Paulo, Brazil, Section A and B
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1988 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Paulistano Athletic Club Gymnasium, São Paulo, Brazil,
Elevation
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1957 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Mira Schendel A trama (A fabric net) Drawing Drawings 1960s 2008 Latin American and
Caribbean Fund
Paulo Mendes da Rocha
Paulistano Chair Technical Drawing
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1957 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Paulistano Chair Technical Drawing for Steel Structure, Plan
Front and Side Views, and Plan for Seat Cover
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1957 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
113
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Paulo Mendes da Rocha
House in Catanduva Project, São Paulo, Brazil
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1979 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Paulo Mendes da Rocha
Paulistano Athletic Club Gymnasium, São Paulo, Brazil,
Plan
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1957 2008 Latin American and
Caribbean Fund, Presente do Artista
Mira Schendel Untitled form series Escritas
(Written) (1) Drawing Drawings 1964 2009 Doação, Ada Schendel
Rivane Neuenschwander
Untitled Drawing Drawings 1997 2009 Doação
Mira Schendel Untitled (21) 1965 Drawing Drawings 1965 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled from the series Escritas
(Written) (6) Drawing Drawings 1965 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled from the series Escritas
(Written) (5) Drawing Drawings 1965 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled from the series Escritas
(Written) (4) Drawing Drawings 1965 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled from the series Escritas
(Written) (3) Drawing Drawings 1965 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled (22) 1965 Drawing Drawings 1965 2009 Doação, Ada Schendel
114
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Mira Schendel Untitled from the series Escritas
(Written) (6) Drawing Drawings 1965 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled (20) 1964 Drawing Drawings 1964 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled from the series Letras
(Letters) Drawing Drawings 1964 2009 Doação, Ada Schendel
Mira Schendel Untitled from the series Escritas
(Written) (2) Drawing Drawings 1964 2009 Doação, Ada Schendel
Efrain Almeida Chicks Sculpture Painting and
Sculpture 2006-07 2009
Latin American and Caribbean Fund
Alfredo Volpi Untitled (from the Hourglass
series) Painting
Painting and Sculpture
1964 2010 Latin American and
Caribbean Fund
Aluisio Carvão Construction 6 Painting Painting and
Sculpture 1955 2010
Latin American and Caribbean Fund
Willys de Castro Active Object (2) Sculpture Painting and
Sculpture 1961 2010
Latin American and Caribbean Fund, Patricia
Phelps de Cisneros
Oscar Niemeyer Ministry of Education and Health,
Rio de Janeiro, Brazil A&D Graphic
Design Architecture and Design
1937-42 2010 Doação, Ministry of
Education and Health
Vik Muniz Self Portrait (from Pictures of
Magazines) Photography Photography 2003 2010
Doação, Joel and Anne Ehrenkranz
115
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Lygia Clark The Inside Is the Outside Sculpture Painting and
Sculpture 1963 2011
Latin American and Caribbean Fund
Tunga Cooking Crystals Sculpture Painting and
Sculpture 2006-2009
2011 Latin American and
Caribbean Fund
3.1.1 ConsideraçõessobreoQuadroI
Importantes considerações com relação às colunas apresentadas no Quadro 1 são
necessárias para sua correta compreensão:
Artista: Esse campo informa o nome do artista responsável pela obra
catalogada. Há obras que foram realizadas por mais de um artista, nesses casos
ocorrem duas formas de catalogação:
o Dados provenientes do banco de dados online: oferecem o nome de
todos os artistas envolvidos com a obra
o Dados provenientes do banco de dados da Biblioteca do MoMA: oferece
apenas o nome do primary artist, artista que o MoMA confere
responsabilidade primaria pela autoria da obra.
o A fim de padronizar os dados, optou-se por apresentar apenas os artistas
chamados primários no campo Artista, com exceção das obras
116
produzidas por Humberto e Fernando Campana, uma vez que todas as
obras desses artistas são de autoria dupla.
Obra: Esse campo exibe o nome das obras catalogadas conforme são
encontradas no banco de dados do MoMA.
o A maior parte são títulos traduzidos para o inglês. Algumas dessas obras
apresentam seu título original entre parênteses.
o Há casos em que o título original aparece primeiro e, sua tradução para o
inglês encontra-se entre parênteses.
o Obras sem título, estão descritas como Untitled .
o Obras do mesmo artista sem título ou, com o mesmo nome, são
diferenciadas, nesse estudo, por um número entre parênteses, como as
duas obras de Willis de Castro denominadas no acervo como Active
Objects. No quadro vê-se Active Object (1) e Active Object (2).
Ano: Esse campo exibe o ano no qual a obra foi produzida. Há, entretanto obras
que não apresentam datas precisas, o que está representado das seguintes
formas:
o Datas que estão entre parênteses representam a data provável da
produção da obra.
o Datas como 1950’s ou 1960’s indicam a década da produção da obra.
117
o Datas como 1950-54 pretendem indicar o período no qual a obra foi
concluída.
Ano Aquisição: apresenta o ano em que a obra foi catalogada pelo MoMA.
Forma de Aquisição: Esse campo informa o meio pelo qual a obra foi adquirida.
Apresentam-se três formas gerais para a aquisição das obras: compra com a
verba do Museu para aquisições, compra realizada com fundos doados com o
propósito claro de aquisição de obras e por fim, por doação direta da obra (e não
da verba). Há um caso de obra que entrou no acervo via Empréstimo de prazo
indeterminado.
o Quando a obra foi comprada diretamente pelo museu – sem ligação direta
com alguma doação, o campo apresenta o termo Comprado.
o Quando os fundos para a compra de obras foram doados, lê-se o termo
Compra subvencionada, seguido pelo nome do patrocinador responsável.
o Quando a obra foi doada lê-se o termo ‘doação’, seguido pelo doador da
obra.
Departamento: Nesse campo, é exibido o nome do departamento curatorial do
MoMA responsável pela obra. Há hoje, sete departamentos responsáveis pelo
acervo11. São eles:
11 Todos os dados referentes aos departamentos – número de obras – foram extraídos do site do Museu. Disponível em http://www.moma.org/explore/collection.
118
o Architecture & Design: estabelecido em 1932, é, segundo Hunter (1997),
o primeiro departamento de museu devotado a design e arquitetura. Inclui
vinte oito mil obra.
o Drawing: Departamento responsável pela coleção de desenhos do MoMA,
que conta com mais de dez mil obras em lápis, tinta, aquarela, colagens,
e outros meios diversos.
o Film: Fundado em 1935, como a Filmotek (biblioteca de filmes). Inclui hoje
aproximadamente vinte dois mil filmes e mais de quatro milhões de film
stills, fotografias tiradas nos set de filmagens ou diretamente de cenas do
filme.
o Media and Perfomance Art: É o departamento mais recente. Foi criado
em 2006 como Media Department e em 2009 transformado em Media and
Performance Art Department. É responsável por aquelas obras que o
Museu chama de time-based art (arte fundamentada no tempo). O foco
do departamento inclui instalações midiáticas, vídeos, performances,
obras baseadas em movimento e sons e outros trabalhos que envolvam a
ideia de transitoriedade e que são feitos para serem apresentados em um
ambiente de galeria. As primeiras obras da coleção datam da década de
1960, quando o MoMA começou a colecionar esse tipo de obra.
119
o Painting and Sculpture: O site institucional do Museu declara que esse
departamento é responsável pela maior coleção de pinturas e esculturas
modernas do mundo. Possui em acervo cerca de três mil e seiscentas
obras datados desde os anos 1890.
o Photography: O departamento, criado em 1940, é responsável pelo
acervo de fotografias do MoMA, que conta com mais de vinte cinco mil
trabalhos colecionados desde 1930.
o Prints and Illustrated Books: O departamento é o responsável pelas obras
impressas da coleção. Tanto obras criadas com técnicas tradicionais de
gravura como a xilogravura, litografia e serigrafia quanto obras criadas
por novos processos digitais, múltiplos e livros de artista são parte do
acervo desse departamento.
Algumas obras listadas como Illustrated Books possuem mais de
uma referência no banco de dados do MoMA. Em geral há o
cadastro de cada página separadamente e um cadastro único que
incluía todas as páginas do livro. Optou-se por apresentar no
Quadro I o cadastro único da obra como um todo.
o Classificação: É a classificação dada ao objeto dentro de cada
departamento. As obras brasileiras levantadas no presente estudo se
encontram em uma das quatorze categorias trazidas no quadro a seguir:
120
Quadro 2 – Possíveis Classificações das obras no MoMA e seus Departamentos
Classificação Departamento
Sculpture Painting and Sculpture
Painting
Drawing Drawings
Illustrated Book
Prints and Illustrated Books Print
Multiples
A&D Graphic Design Architecture and Design
A&D Design Object
Photography Photography
Film Film
Installation
Media and Performance Art Video
Media (Elaborado pela autora)
3.1.2 CLASSIFICAÇÃOEDEPARTAMENTALIZAÇÃO
A questão da classificação e da departamentalização de obras realizadas pelo MoMA é
por vezes vista como problemática por pensadores da arte por limitar a possível
interdisciplinaridade das obras e gerar uma visão excessivamente simplista e formalista da
história da arte.
Crimp (1993) afirma que o
MOMA impõe uma visão partidária dos objetos em sua posse. Isso é [devido] a divisão rígida de práticas de arte moderna em departamentos separados dentro da instituição. Ao distribuir o trabalho do avant garde para vários departamentos - Pintura e Escultura, desenhos, gravuras e livros ilustrados, Arquitetura e Design, Fotografia, Cinema e - isto é, rigorosamente cumprir o
121
que parece um parcelamento natural de objetos de acordo seu meio, o MOMA automaticamente constrói uma história formalista do modernismo. (CRIMP, 1993, p.265, tradução nossa.)
Entre as obras levantadas no presente estudo, há casos de certa dissonância criada
pela classificação de algumas obras com o conceito pretendido pelos artistas.
Um exemplo é o das duas obras Active Object(s) de Willis de Castro. Da Silva (2010)
afirma que os objetos da série objetos ativos, se tratam de um exercício do artista em manobrar
“o conflito potencial entre a escultura e a pintura a fim de beneficiar-se de uma proveitosa
prática interdisciplinar”. (DA SILVA, 2010, p.681, tradução nossa)
As obras são compostas por pedaços de madeiras cobertos por telas pintadas e, da
Silva (2010) afirma que uma das questões conceituais do artista, nesse caso, é exatamente a
ambiguidade que ocorre na recepção da obra, onde a “organização visual do trabalho [...]
interfere nessa experiência” (DA SILVA, 2010, p.695, tradução nossa). O objeto, em uma
aproximação frontal inicial, resguardaria as características de uma tela, mas logo levaria o
observador a contornar o objeto, ao notar que este é projetado para fora do plano da parede, e,
“aquilo que originalmente era uma pintura torna-se uma escultura – essa transformação é o
tema central da série Objetos Ativos”.
Dessa forma, vê-se que a dependência do tempo, do movimento do observador e o
conflito entre bi e tridimensionalidade é o que dá nomeia os objetos como ativos, e, dificulta sua
classificação.
122
O problema da classificação fica mais evidente, nesse caso, se notarmos que o acervo
do MoMA abriga dois objetos dessa série e, embora ambos encontrem-se sob responsabilidade
do departamento de Pintura e Escultura, um deles é classificado como
Pintura, enquanto o outro classifica-se como Escultura. (o Quadro I
apresenta as diferentes classificações).
Figura 1 ‐ Active Object de Willys de Castro, 1961.
Óleo sobre tela sobre madeira, Acervo MoMA
Embora se note claramente a dificuldade na categorização de
obras, a questão problemática quanto à leitura da história da arte de uma
forma excessivamente rígida, como descrita acima por Crimp (1993),
parece ser superável se levarmos em conta as possibilidades abertas pelo trabalho exercido
pela curadoria de exposições – sejam temporárias ou permanentes.
Crimp (1993) argumenta sobre a departamentalização de obras:
Devido a esse fato simples e, aparentemente neutro, o frequentador de museu não pode ter sentido a importância de, para dar apenas um exemplo, o abandono Rodchenko de pintura em favor da fotografia ... Essa história não pode ser articulada por causa da remessa de várias obras de Rodchenko para diferentes feudos dentro do museu. (Crimp, 1993, p.265, tradução nossa)
Pode-se, de fato, imaginar que não seria possível relacionar obras de dois
departamentos, pois, além das obras – no caso citado pelo autor – estarem em diferentes
departamentos, as galerias internas do Museu designadas para exibir as obras do acervo
permanente também são, em alguns casos, segmentadas por departamento, sendo, por
123
exemplo, o quarto e o quinto andar do prédio central chamados de The Alfred H. Barr, Jr.
Painting and Sculpture Galleries.
Vê-se, hoje, entretanto, que o MoMA parece sensível a essa questão e nota-se um
esforço curatorial para dissipar o problema, com a realização de exposições
interdepartamentais, utilizando obras que se encontrem sob cuidados de diferentes
departamentos, mesmo nas chamadas Painting and Sculpture Galleries.
Essa articulação é visível, por exemplo, em exposições de Arquitetura e Design, quando
a curadoria recorre a fotografias do acervo para ampliar o alcance da mostra, e fica realmente
evidente, em uma reorganização da exposição permanente do quarto e quinto andar,
devotados à arte desde a década de 1940 para frente, realizada em setembro de 2011: foi
dada a curadora do departamento de Pinturas e Esculturas Ann Temkin, a possibilidade de
escolher o que seria exposto nessas galerias daquele momento em diante, por tempo
indeterminado.
Nessa oportunidade, Ann e seu time
Estariam tentando ajudar o MoMA a [...] minimizar o seu papel de santificador, definidor e guardião do cânone, além de amenizar seu foco histórico na linearidade, no gênio masculino, e nos movimentos artísticos (ou pelo menos os assim claramente definidos), enquanto escavavam das profundidades um tesouro emocionante, pouco visto . (Smith, 2011).
Aparentemente a curadora mostrou-se sensível às criticas exaustivamente dirigidas ao
museu e, para compor a exposição, convocou os curadores dos outros departamentos do
Museu, expondo, nas galerias, colagens, pinturas, esculturas, vídeos e instalações, além de
124
obras que, como informa Smith (2011), “em nada se qualificam como pinturas e esculturas
tradicionais”.
3.2 Asaquisiçõesdeobrasbrasileiras
3.2.1 AsprimeirasaquisiçõeseoperíododaSegundaGuerraMundial
Como trazido anteriormente no Capítulo 2, a coleção permanente do MoMA
começa a formar-se após o falecimento de Lillie Bliss, uma das fundadoras do Museu,
que deixa de herança para a Instituição sua importante coleção privada de arte.
Após o recebimento das obras, o Museu vê-se livre para realizar transações
financeiras que envolvessem tais obras e que acarretasse em algum tipo de ganho
para a sua coleção. Aos poucos a coleção ganha força, mas mantém-se basicamente
focadas em artistas europeus, como originalmente Lillie Bliss havia a concebido.
Em 1935, Abby Rockefeller presenteia o Museu com 181 de suas obras, sendo a
maioria delas de artistas americanos vivos. Em seguida, em 1936, doa ao museu três
trabalhos de José Clemente Orozco e Diego Rivera, iniciando um projeto de aquisição
de obras da América Latina. E embora, tal projeto tivesse um caráter “inconsistente e
esporádico”, o MoMA é a primeira instituição a “colecionar agressivamente” arte Latina,
afirma Pérez-Barreiro (2005, p.131, tradução nossa).
125
Desde a década de 1930, havia uma vontade, que de certa forma correspondia
ao ideal modernista e à política educativa do museu, em constituir um programa
internacional e expandir o escopo de atuação do museu. Em 1938, o Museu manda
sua primeira exposição a Paris, sendo a primeira instituição americana a realizar esse
tipo de experiência. Um documento a respeito do desenvolvimento do museu reitera a
aspiração de internacionalização e indica as suas possíveis ações:
Os seguintes meios de fazer avançar o crescimento do Museu de Arte Moderna, como uma instituição internacional, podem ser sugeridos: 1. Maior participação no intercâmbio de exposições com museus estrangeiros, como a
exposição agora está sendo preparado para o Jeu de Paume, em Paris; 2. A criação da cadeira de conselheiro honorário para patronos estrangeiros
diferenciados de arte contemporânea; 3. O estabelecimento de um prêmio periódico para realizações de distintos artistas
estrangeiros [...]; 4. Patrocinando intercâmbio de curadorias e realização de palestras; 5. Patrocinando bolsas de intercâmbio para estudos de pós-graduação no campo da
arte contemporânea;
6. A colocação (por doação ou troca) de obras importantes de artistas norte-americanos em museus estrangeiros. (MOMA, [1938?], p.121, tradução nossa).
Tais pretensões de internacionalização modernistas se fundem a um fator
fortemente determinante na política de aquisição de obras Latinas: em 1939, os
Estados Unidos entram na Segunda Guerra Mundial e, o MoMA vê-se envolvido,
modificando seu programa para apoiar o País na guerra.
126
Entre as ações tomadas, o Museu executa 38 contratos com várias agências
governamentais, entre elas o Office of the Coordinator of Inter-American Affair,
designada a manter uma ‘política de boa vizinhança’ com a América Latina.
Tem-se dessa fase, os primeiros impulsionadores para aquisição de obras
brasileiras e, conforme afirma Pérez-Barreiro (2005, p.131, tradução nossa),
representava muito mais um “subproduto da própria agenda política norte americana do
que um engajamento intelectual com as obras e seus significados artísticos ou
históricos” .
A primeira obra que se vê incluída ao acervo é a obra Morro de Candido
Portinario (Hill, vide Quadro I). É a única obra brasileira adquirida nos anos 193012. A
obra realizada em 1933 é comprada em 1939 pelo MoMA. Cavalcanti (2006) informa
que Barr teria visto os murais produzidos por Portinari para o Pavilhão Brasileiro na
Feira Mundial realizada em Nova York no mesmo ano e, apoiado por Nelson
Rockefeller, que presidia o Museu na época, teria adquirido a obra.
A tela é exibida juntamente com na exposição comemorativa de 10 anos do
MoMA, Art In Our Time. No ano seguinte, em 1940, Portinari é convidado a apresentar
12 Além das obras das treze obras de Portinari que constam no Quadro I, outra obra entrou na coleção do Museu. Ainda no ano de 1942, o governo brasileiro presenteia o MoMA com um mural do artista chamado Festival, Noite de São João, como constata Kirstein (1943). A obra, entretanto, conta Hunter (1997) é extinta em Maio de 1958, em um incêndio que atinge o prédio do Museu, juntamente com duas obras de Monet. Fialho (2006) informa que a partir de tal incidente nasce um fundo indenizatório chamado Brazil Fund, que propicia várias aquisições brasileiras na década de 1960.
127
uma exposição individual Portinari of Brazil, sendo o segundo artista latino a ter mostra
individual no MoMA, Diego Rivera havia sido exibido individualmente em 1931.
A influência da política de ‘Boa Vizinhança’ torna-se ainda mais evidente
quando, em 1941, Nelson Rockefeller deixa a presidência do MoMA para tornar-se
coordenador da agência governamental envolvida com a relação dos Estados Unidos
com os países latinos. Rockefeller mantém-se ligado ao MoMA como membro do
conselho e nota-se, nesse período dos anos 1940 um intercâmbio considerável com o
Brasil.
Figura 2 – Morro, de Candido Portinari, 1933. Óleo sobre tela, Acervo MoMA.
128
Cavalcanti (2006) informa que o Brasil, bem como a Argentina, demonstra no
momento da Guerra, certa proximidade com a Alemanha e o Eixo, assim, estabelecer
presença na região torna-se uma importante estratégia norte-americana, tanto por
motivos táticos geográficos como tentativa de enfraquecer uma crescente entrada de
produtos alemães no Brasil.
Dessa forma, uma das primeiras ações tomadas por Rockefeller ao assumir seu
cargo público é encomendar uma pesquisa investigando a opinião pública nos Estados
Unidos a respeito do Brasil e vice-versa. Cavalcanti (2006) afirma que a pesquisa
aponta que um eficiente modo para aumentar a aceitação entre os povos seria a via
cultural, realizando ações recíprocas buscando conhecer os pontos em comum e
entendendo as peculiaridades de cada nação. Nesse momento, vê-se no MoMA, entre
outros meios, um instrumento natural encontrado por Rockefeller para ação.
129
Quadro 3 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1940 e 1949.
Aquisição por ano, detalhada por Forma de
Aquisição e Artista Número de Obras
1941 13
Compra 5 Cândido Portinari 5
Doação, Nelson Rockefeller 1 Maria Martins 1
Doação, Sam Lewisohn 1 Cândido Portinari 1
Presente do Artista 6 Cândido Portinari 6
1942 11
Compra 1 Alberto da Veiga Guignard 1
Doação, Lincoln Kirstein 2 Paulo Rossi Osir 2
Inter‐American Fund 8 Alberto da Veiga Guignard 1 Edith Behring 2 Heitor dos Prazeres 1 Jose Bernardo 1 José Pancetti 1 Percy Deane 1 Tomas Santa Rosa 1
1946 1
Compra 1 Maria Martins 1
1947 1
Não conhecida 1 Jose Moraes 1
1948 3
Doação, Phillip L. Goodwin 2 Roberto Burle Marx 2
Presente do Artista 1 Lasar Segall 1
1949 4
Compra 4 Lasar Segall 4
Total de Aquisições entre 1940 e 1949 33 (Elaborado pela autora)
130
0
2
4
6
8
10
12
14
1941
1942
1946
1947
1948
1949
Aquisições por ano (1940 ‐ 1949) subdivididas por Departamento
Architecture and Design Drawings Painting and Sculpture Prints and Illustrated Books
Compra; 11; 34%
Doação, Lincoln Kirstein; 2; 6%
Doação, Nelson Rockefeller; 1; 3%
Doação, Phillip L. Goodwin; 2; 6%
Doação, Sam Lewisohn; 1; 3%
Inter‐American Fund; 8; 24%
Não conhecida; 1; 3%
Presente do Artista; 7; 21%
Formas de aquisição (1940 e 1949)
Gráfico 1 – Aquisições de obras brasileiras por ano, subdividas por departamento, entre 1940 e 1949 (Elaborado pela autora)
Gráfico 2 ‐ Formas de aquisições de obras brasileiras entre 1940 e 1949 (Elaborado pela autora)
131
Em 1942, é criado, anonimamente, o Inter-American Fund, um fundo cuja verba
destina-se a aquisição de arte da America Latina pelo MoMA. Mais tarde, revelou-se,
informa Basilio (2004), que Nelson Rockefeller foi o financiador e criador do fundo, no
sentido de aproximar as políticas americanas e latinas.
Para ajudar no uso da verba doada, convoca-se Lincoln Kirstein, jovem amigo
de Nelson Rockefeller, conhecidos da Universidade de Harvard, como citado
anteriormente no primeiro capítulo desse estudo. Kantor (2002) afirma que Kirstein
havia sido convidado a participante do influente Junior Advisory Committee – comitê
formado em 1930 como meio de trazer jovens colecionadores para próximo da
administração do museu. Lincoln Kirstein passa a ser o Consultor de Arte Latino
Americana.
Embora fosse reconhecidamente culto, Pérez-Barreiro (2005) afirma que Kirstein
não possuía as qualificações necessárias para assumir o papel de comprador e
formador de uma coleção latina, Kantor (2002) ainda sugere que Kirstein mais tarde em
sua vida nota que não havia enveredado pelos campos da arte moderna por princípios,
mas por ser aventureiro e curioso, e ter visto nos empreendimentos modernistas os
lugares oportunos em sua juventude para estar em contato com as pessoas mais
vanguardistas.
132
Ainda em 1942, Barr viaja a Cuba e ao México enquanto Lincoln Kirstein é
enviado à America Latina, adicionando-se à coleção permanente do MoMA 195 novas
obras provenientes dessa experiência, como aponta um Press Release do Museu de
1943 (MOMA, 1943).
Figura 3‐ The Impossibe III de Maria Martins, 1946. Bronze. Acervo MoMA
No Quadro 3, pode-se verificar a adição de oito obras em 1942 através do Inter-
American Fund, como resultado direto das ações de Kirstein.
Basilio (2004) relata algumas limitações dessas aquisições realizadas por
Kirstein. Entre elas, cita o fato de algumas de suas sugestões não serem aceitas pelo
Comitê do Museu, e acrescenta ainda a oportunidade perdida de adquirir obras
importantes, como de Tarsila de Amaral, cujos trabalhos Kirstein vê quando presente
no Brasil.
133
De toda forma, como consequência da viagem, em 1943, Barr organiza a
exposição The Latin-American Collection of the Museusm of Modern Art, apresentando
as aquisições do Museu, bem como as obras latinas já contidas no acervo.
No livro publicado para a ocasião, escrito por Lincoln Kirstein e com prefácio de
Barr, é possível notar a impressão deixada em ambos com relação a riqueza e
diversidade cultural dos países visitados. Repetidamente é frisada a limitação por
eventuais erros de julgamento nas aquisições realizadas, como pode ser lido:
“Limitações de tempo, acessibilidade e fundos criaram certas omissões lamentáveis
tanto de países quanto de artistas”. (BARR, A. Foreword In: KIRSTEIN, 1943, p.3
tradução nossa)
Pérez-Barreiro (2005) ressalta que embora estivesse ciente dessas limitações,
Kirstein entendia que a atitude deles quanto a America Latina era caracterizada pela
crença de que apenas “nos Estados Unidos uma reputação poderia ser
significantemente estabelecida [...] negando as complexas instituições, histórias e
conduítes que já existiam nesses países” (KIRSTEIN, 1943, p.56, tradução nossa).
Há outro interessante aspecto que Barr ressalta no prefácio do Livro da Mostra proveniente dessa experiência:
No presente momento a divisão de Arte Latina da Coleção do Museu é mais completa do que a Europeia – pois o Museu agora possui mais pinturas chilenas do que britânicas, mais brasileiros do que italianos, e, se certos países latinos não estão ainda
134
representados, isso também é verdade sobre importantes países europeus. (BARR, A. Foreword. In: KIRSTEIN, 1943, p.3 tradução nossa)
Ainda que quantitativamente pudesse haver superação de obras latinas sobre
obras europeias, o MoMA mantinha-se fortemente atrelado à arte europeia. De fato,
sugere Lorente (2011), o envolvimento na Segunda Guerra Mundial resultou em uma
intensificação ainda maior da sua relação com a arte da Europa, uma vez que a
instituição apoiou muitos artistas que fugiram do Nazismo para Nova York.
Ainda na década de 1940, outra exposição ligada ao Brasil merece destaque, a
BRAZIL BUILDS - Architecture New and Old, realizada em 1943 foi organizada por
Phillip Goodwin, arquiteto responsável pelo projeto das instalações do MoMA. A
exposição, elucubra Cavalcanti (2006, p.166), se trata da “mais importante mostra
sobre o Brasil organizada pela Instituição”.
Figura 4 ‐ Ministério da Educação e Saúde ‐ Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira, Afonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcelos. 1937‐1942. Plástico e madeira. Acervo MoMA
135
Constituída para viajar pelos Estados Unidos, a exposição apresentava um
amplo panorama da arquitetura brasileira moderna. Cavalcanti (2006) considera-a
diferente das outras representações feitas do Brasil no período afirmando que “não era
uma estilização kitsch de estereótipos sobre o Brasil [...]” (CAVALCANTI, 2006, p.167)
O arquiteto Goodwin, responsável pela mostra, havia passado seis meses com o
renomado fotógrafo de arquitetura norte americano G.E. Kidder-Smith visitando obras e
entrevistando arquitetos brasileiros. Cavalcanti (2006) considera que ambos estavam
relativamente bem preparados e assessorados para a visita, resultando em um bom
trabalho na volta a Nova York. O fascínio de Goodwin pela arquitetura brasileira tem
um reflexo na coleção do Museu que, recebe do arquiteto uma doação de dois
desenhos de Burle Marx em 1948, como se pode constatar no Quadro 2.
A mostra envolve a questão da Guerra, o que está explícito na introdução da
publicação feita na época:
O Museu de Arte Moderna, de Nova York, e o Institute Norte-Americano de Arquitetos, achavam-se ambos, na primavera de 1942, ansiosos por travar relações com Brasil, um país que será nosso futuro aliado. Por esse motivo e pelo desejo agudo de conhecer melhor a arquitetura brasileira [...], foi organizada uma viagem aérea. (GOODWIN, 1943, p.2, tradução nossa)
Tal publicação foi amplamente distribuída, com a ajuda do Departamento de
Estado Norte-Americano, para vários países, e projetos brasileiros passaram a ocupar
páginas de periódicos sobre o assunto por todo o mundo. Infere-se daí, como constata
136
Cavalacanti (2006), o “importante papel que essa iniciativa da operação da Boa
Vizinhança teve para a difusão mundial da arquitetura moderna brasileira”.
Em 1944, René d'Harnoncourt, então vice presidente do MoMA, faz nova viagem
ao Brasil e à America Latina. René d'Harnoncourt, austríaco com cidadania americana
que havia vivido no México, é convidado por Rockefeller para juntar-se ao Museu,
inicialmente como responsável pelo departamento que chamou de foreign activities –
atividades internacionais do museu. Em um memorando entregue ao comitê do MoMA,
d'Harnoncourt alerta sobre a dificuldade que o Museu poderia enfrentar ao tentar
aumentar sua presença no Brasil, informando que a liderança brasileira era
extremamente reticente quanto a intervenções internacionais na cultura do País e
sugere que para não prejudicar as relações entre os dois países,
Todas as atividades na região devem enfatizar o fato que nós [MoMA], não consideramos as relações culturais como veículos de imposição da nossa cultura, nem ao menos uma forma para apresentar um modelo, apenas as consideramos ferramentas para construir suas características culturais próprias. (D’HARNONCOURT, 1943, tradução nossa)
3.2.2 OperíodoPósGuerra–desinteresseeaproximação
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Deckker (2001) afirma que o
encantamento do MoMA pela América Latina esmaece. Em 1946, o Office of the
Coordinator of Inter-American Affair, órgão do governo no qual Rockfeller colaborou
137
durante a guerra é encerrado, sinalizando o fim do interesse do Estado Norte
Americano na promoção da cultura latina em solo norte-americano.
De fato, o entusiasmo que se vê, no começo dos anos de 1940 com aquisições
de obras brasileiras, extingue-se. Se durante os dois anos de 1941 e 1942 foram
adicionadas vinte e quatro obras na coleção do Museu, verifica-se que nos treze anos
seguintes, de 1943 até 1955 - quando se iniciam novos esforços políticos de
aproximação entre Estados Unidos e América Latina – o número reduz-se para um total
de onze obras em todo o período, como mostrado no Quadro 4.
É, entretanto, ainda nesse momento que se inicia uma fase de ampla
comunicação entre o Brasil e o MoMA.13.
Em 1946, quando reassume a presidência do MoMA, Nelson Rockefeller recebe
duas correspondências brasileiras declarando interesses comuns ao Museu. Uma
delas, datada de 20 de maio de 1946, do grande empresário de mídias de São Paulo
da época, Francisco de Assis Chateaubriand, descreve sua aspiração pela formação
de um museu na cidade de São Paulo. A outra carta vinha de Sérgio Milliet, influente
intelectual de São Paulo que, nesse período presidia a Biblioteca Municipal de São
Paulo, e informava Rockefeller a respeito de outro grupo que também demonstrava 13 Se por um lado a necessidade de divulgação da cultura latina nos Estados Unidos deixa de ser real, os esforços em criar vínculo com a sociedade brasileira e latina não se extingue: O início da Guerra Fria anuncia que postura americana de aproximação com a America Latina continua, uma vez muitos países da região tendem a abraçar, novamente, políticas opostas às norte americanas, dessa sob influência comunista. Assim, é possível reconhecer, no final dos anos de 1940 e na década de 1950, empenhos de Rockefeller em incentivar empreendimentos no Brasil que estivessem alinhados sua visão política.
138
interesse pela criação de um museu moderno na cidade. Chateaubriand já havia se
mostrado aliado da política americana durante a Segunda Guerra Mundial, o que teria
motivado Rockefeller a visitar o Brasil para conhecer os projetos.
Nesse dado momento da sociedade paulista, articulava-se uma série de
iniciativas que visavam expandir o envolvimento cultural da cidade. Lourenço (1999)
relata que, no período pós-guerra, artistas de capitais brasileiras, como Santa Catarina,
São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, organizam-se para confrontar-se com acadêmicos e
conservadores, aderindo a uma política de militância, “revoltados contra a guerra”. Tais
jovens veriam no moderno, um meio para mudar a sociedade e enxergam a formação
de instituições de arte como um meio de disponibilizar a um grande público essa nova
visão de mundo.
Associado a esse idealismo, acrescenta-se o momento que a cidade de São
Paulo encontra-se: forte crescimento urbano e econômico, o que, segundo Lourenço
(1999), atrela o interesse dos idealistas a lucratividade de explorar-se essa nova cultura
se ancorada em instituições.
Nesse cenário, propício para a criação de Museus, Nelson Rockefeller encontra-
se fortemente envolvido com dois empreendimentos criados na cidade de São Paulo.
Além de envolvimento com o Museu de Arte de São Paulo (MASP), de iniciativa de
139
Chateaubriand – com a presença de Rockefeller em sua inauguração – Rockefeller vê-
se diretamente envolvimento na criação do MAM.
Por esse motivo, entre 1946 e 1948, firma-se intenso contato entre Nelson
Rockefeller, Francisco Matarazzo Sobrinho – ou Ciccilo, como era conhecido - na
formulação de um museu de arte moderna no Brasil, o que ocorre finalmente em 1948,
com a inauguração do MAM-SP, Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Amaral (2006c), relata que Yolanda Penteado, esposa de Ciccilo, lhe expôs
claramente o que seria o impulsionador da contribuição de Rockefeller para o projeto:
[...] era evidente que, havendo um museu aqui implantado que traria exposições internacionais da mais alta e diversa qualidade, abrindo janelas, os artistas locais naturalmente se distanciariam de ideias políticas que somente faziam conglomerar-se em debates prejudiciais [...] (AMARAL, 2006c, p.92)
Rockefeller torna-se, assim, um importante incentivador do MAM-SP, doando
fundos e obras que iniciaram a coleção do museu paulista em 1948. Mais tarde, é
também incentivador da criação da Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
A Primeira Bienal de Arte de São Paulo, em 1951, é um novo cenário de
aproximação com o País. Nesse momento, Rockefeller já se encontra totalmente
alinhado com o ambiente paulista, que buscava, através do ideal modernista, uma
forma de desenvolver culturalmente a cidade de São Paulo, deparada com um
acelerado crescimento econômico.
140
A proposta de uma Bienal Internacional é vista com bons olhos por Ciccilo, que
havia visitado em 1950 a Bienal de Veneza, e, após seu êxito na criação do MAM-SP,
envolve-se na criação da Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Entre 1951 e 1961, Sala (2002) informa que o MAM-SP passa a organizar o
evento em São Paulo, baseando-se no modelo visto em Veneza cuja mostra
funcionava desde 1899 e era constituída por pavilhões de representações nacionais.
Sala (2002) relata que o MoMA fica encarregado por trazer a representação
norte americana ao Brasil nas Bienais de 1951, 1953 e 1957, sem que essa exibição
fizesse parte da agenda cultural oficial de Estado.
Há diferentes interpretações para entender como o MoMA torna-se o
responsável pela representação norte americana na Mostra, já que outras comissões
internacionais eram tratadas como assunto de estado.
Del Real (2010) aponta também o esforço privado de Rockefeller para o
financiamento da participação do MoMA na Bienal brasileira, ao apontar que, em 1952,
através de um fundo chamado Rockefeller Brothers Fund, a família Rockefeller destina
fundos ao então criado Programa Internacional do MoMA a fim de financiar uma
variedade de projetos, incluindo a “participação americana nas maiores bienais de arte
do mundo”.
141
Rockefeller por sua própria iniciativa – e esforços financeiros junto a parceiros
privados – consegue garantir a presença americana na primeira mostra, e, a ausência
oficial do estado norte americano ao menos nos primeiros anos de Guerra Fria - é fruto
de um desinteresse político do Estado na manutenção da relação Brasil e Estados
Unidos, tão fortemente trabalhada durante a Segunda Guerra.
Por outro lado, Lorente (2011) argumenta que o MoMA acaba por abraçar
papéis diplomáticos do Governo ao assumir a representação americana na Bienal, e
teria recebido, secretamente, fundos da CIA, Central Intelligence Agency – agência de
criada em 1947, pelo governo do Presidente Harry Truman, para satisfazer
necessidades estratégicas com o início da Guerra Fria e o avanço do comunismo.
Lorente (2011) afirma que o Governo Federal norte americano buscava
estrategicamente posicionar-se internacionalmente como defensor da liberdade, em
oposição aos governos totalitários comunistas que surgiam. Assim, embora
oficialmente evitasse financiar iniciativas artísticas no País que contrariasse seus
valores, teria optado por utilizar-se de entidades privadas, como o MoMA, para realizar
exposições fora dos Estados Unidos que pudessem expor todo tipo de produção
cultural, até mesmo as mais ousadas, a fim de demonstrar seu PAPELdefensor da
liberdade. Vê-se, de qualquer forma, o MoMA realizando - além da representação de
artistas americanos nos anos 50 - empréstimos de importantes obras para a Bienal de
São Paulo, como a Guernica, de Picasso, trazida para a segunda edição do evento.
142
Figura 5 – Young Beggar, Lasar Segall, 1921, Litografia. Acervo MoMA
Tal envolvimento do MoMA com a Bienal de São Paulo possivelmente
desencadeou uma nova leva de aquisições de obras brasileiras para acervo do Museu.
Desde a viagem de Lincoln Kirstein ao Brasil em 1942, poucas obras brasileiras haviam
entrado no acervo. Em 1949, o Museu compra gravuras de Lasar Segall e, em 1951, no
ano da primeira Bienal de São Paulo, o MoMA é presenteado com novas obras, sendo
outras adquiridas ao longo dos anos de 1950, como mostra o Quadro 4.
143
Quadro 4 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1950 e 1959
Aquisição por ano, detalhada por Forma de Aquisição e Artista
Número de Obras
1951 3
Doação, Geraldo Destefani 1 Marcelo Grassman 1
Doação, Museu de Arte Moderna de São Paulo 1 Antônio Maluf 1
Presente do Artista 1 Lina Bo Bardi 1
1953 1
Inter‐American Fund 1 Roberto Burle Marx 1
1956 5
Doação, anonymous 5 Lasar Segall 5
1957 9
Doação, anonymous 1 Aldemir Martins 1
Inter‐American Fund 7 Aldemir Martins 2 Aloisio Magalhães 1 Flavio de R. Carvalho 2 Mario Cravo Junior 2
Presente do Artista 1 Mario Cravo Junior 1
1958 5
Inter‐American Fund 5 Frans Krajcberg 1 Jose Claudio da Silva 1 Maria Bonomi 1 Vera Bocayuva 1 Waldemar Kutner 1
Total de Aquisições entre 1950 e 1959 23 (Fonte: Elaborado pela autora)
144
Gráfico 3 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdividas por departamento entre 1950 e 1959 (elaborado pela autora)
Gráfico 4 – Formas de Aquisições de obras brasileiras entre 1950 e 1959 (elaborado pela autora)
Durante a década de 1950 adicionam-se 23 obras de artistas brasileiros ao
acervo do MoMA. Na lista, veem-se nomes de artistas que obtiveram destaques nas
Bienais de São Paulo, como três vencedores de prêmios da primeira edição: Ademir
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
1951 1953 1956 1957 1958
Aquisições por ano (1950 ‐ 1959) subdivididas por Departamento
Architecture and Design Drawings Painting and Sculpture Prints and Illustrated Books
Doação, anonymous; 6; 26%
Doação, Geraldo Destefani; 1; 4%
Doação, Museu de Arte Moderna de São Paulo; 1; 4%
Inter‐American Fund; 13; 57%
Presente do Artista; 2; 9%
Forma de Aquisição entre 1950 e 1959
145
Martins, na categoria Desenho, Mario Cravo Jr., na categoria Escultura e Marcelo
Grassman, na categoria Gravura. Este último entra no acervo via doação do arquiteto
Geraldo Destafani. Outra obra doada ao MoMA é o cartaz da primeira Bienal,
concebido pelo jovem estudante de arquitetura Antônio Maluf. A obra foi doada em
nome do MAM-SP.
Praticamente todas as aquisições de obras na década de 1950 através do Inter
American Fund, foram realizadas após 1957, que coincide com quarta edição da
mostra. Nessa edição, a 4ª. Bienal Internacional de São Paulo, Alfred Barr Jr. é
convidado a participar do Júri.
Barr, que, já não era diretor do MoMA, ainda mantinha influência significativa na
Instituição e na formação do acervo, sendo diretamente responsável por alguns dos
investimentos feitos.
Avelar (2009) expõe que Barr, durante sua participação, demonstra pouco
interesse pela produção abstrata e concreta brasileira, chegando a declará-los como
mero “bauhausercise”14 (BARR, 1957, apud AVELAR, 2009, p.1). Segundo Avelar
(2009), Barr evidencia certo desconhecimento da cena artística brasileira dos anos
1950, e revela-se mais versado na produção das décadas anteriores, demonstrando
maior compreensão e gosto pelas obras figurativas. Ainda assim, Avelar (2009)
14 Ou Exercícios Bauhasianos, referencia ao tipo de arte produzida pela escola alemã anterior à Segunda Guerra Mundial, a Bauhaus.
146
questiona a não menção ou escolha de Barr de artistas como Tarsila do Amaral, com
obras figurativas e que gozava de reconhecimento desde o marco para a arte moderna
brasileira, a Semana de 22. Para a autora, ao priorizar aspectos da paisagem natural e
humana brasileira, bem como a manifestação da cultura local, Barr “desejava apenas
encontrar na arte brasileira o que ela pode fornecer em termos de alteridade”.
Sob esse pano de fundo, Avelar (2009) informa que Barr revela sua preferência pelos
desenhos e gravuras brasileiros – representados por Fernando Lemos, Fayga
Ostrower, entre outros – às pinturas, em grande parte representada pelos concreto.
Com exceção de Frans Krajcberg, quando declara:
Muitos diagramas concretistas e pouco do resto. Essa é a razão pela qual nós, os membros estrangeiros do júri internacional, gostamos de Krajcberg. Ele sobressai entre outros porque não faz diagramas. (BARR, 1957 apud AVELAR 2009, p.18)
Há, ainda, durante a 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, outro incidente curioso
envolvendo Barr. Avelar (2009) aponta que, nesse ano, artistas que haviam sido
recusados a participar da mostra pelo júri (que somavam 86% dos artistas na totalidade
de obras inscritas) criam uma mostra paralela, como demonstração de revolta contra a
mostra e o Júri. Entre esses artistas, encontra-se Flávio de Carvalho, cuja obra
bastante diversificada não mostra afinidades com as tendências do concretismo –
bastante em alta nos olhos júri nacional dessa Bienal - e fora rejeitada. Em visita ao
‘Salão dos Rejeitados’, Barr opta por adquirir duas obras de Flávio de Carvalho, e
147
confessa-se desavisado em relação à polêmica causada, uma vez que a compra é lida
pelos insatisfeitos com o júri como apoio a suas contestações. É curioso que um
membro do próprio júri houvesse mostrado gosto por um artista que fora recusado na
mostra.15
3.2.2.1 Dissonâncias
Esse desencontro da visão de Barr – e do MoMA, por consequência – com a
visão dos artistas e articuladores brasileiros evidencia muito sobre o posicionamento do
Museu com o Brasil. Compreende-se que os laços criados nos anos 1950 foram
basicamente fundamentados na esfera política, por trazerem benefícios aos dois
interessados (Rockefeller com sua política pró-americana e, a sociedade paulista com
o impulso necessário para o desenvolvimento de projetos ansiados), e não se tratam
de um alinhamento, ou admiração mútua na esfera artística propriamente dita.
Esforços de Rockefeller não teriam existido se na sociedade brasileira não se
enxergasse certo alcance das ideias comunistas, opostas às posições americanas
durante a Guerra Fria. Lorente (2011) sugere que a comitiva americana vinha trazer
tendências artísticas norte-americanas para encorajar os artistas modernos a
15 A obra de Flavio de Carvalho citada aqui é uma pintura, que não consta no levantamento de obras realizado no banco de dados do Museu, mas pode ser encontrada em alguns press releases do MoMA . Trata‐se de um retrato de Pablo Neruda, em óleo sobre gesso em tela, de 1947, foi comprada em 1957 e exposta ao menos em duas exposições : em 1960, Potraits From the Museum Colection e, em 1967, Latin American Exhibition.
148
emularem a arte abstrata americana, a fim de anular a influência Marxista dos
muralistas mexicanos que teria se espalhado pelo continente.
Avelar (2009) acentua o desalinhamento na esfera artística quando frisa o
diferente olhar de Barr e da crítica brasileira. Expõe que Barr espera encontrar algo
novo e rejeita as manifestações concretas brasileiras como repetições atrasadas do
abstracionismo geométrico visto anteriormente na Europa e, enquanto olha para obras
tachistas (que possuem maior afinidade às tendências vistas nas obras dos
expressionistas abstratos do MoMA), críticos, como Mario Pedrosa, incentivam o
ideário plástico trazido em 1951 por Max Bill – refletido nas obras concretas - e a
inclusão de diferentes vertentes do abstracionismo.
Já Amaral (2006c), evidencia outra razão para a disparidade entre a visão
artística oferecida pelo Brasil e aquela almejada pelo MoMA: afirma que os olhos dos
artistas brasileiros estiveram pelo menos até 1960 em Paris, em 1950 foram também
para a Suíça (influenciados pela obra de Max Bill), sendo o Brasil pouco propenso, pelo
menos nessa fase, a uma articulação nas artes visuais com os Estados Unidos.
Assim, embora se tenha visto, na década de 1950, frequentemente o MoMA
presente em atividades em solo brasileiro – por meio dos incentivos de Rockefeller à
formação do MAM em São Paulo e através das edições da Bienal – a contra partida
149
dessa aproximação dentro do próprio Museu é quase nula: não há mostras dedicadas à
artistas brasileiros, à cultura do País.
Basilio (2004) atribui a uma série de fatores a redução das exposições
dedicadas à arte latina no MoMA nos anos de 1950. A autora afirma que durante a
Segunda Guerra, exposições temporárias que o Museu costumava realizar com obras
emprestadas de instituições europeias foram substituídas por exposições provenientes
do continente americano, aumentando a participação de obras latinas e, com o final da
Guerra o MoMA pode retomar a política de empréstimos com a Europa, reduzindo o
espaço para a produção das Américas.
Basilio (2004) ainda cita o fato de que, é durante a década de 1950 que o MoMA
repensa sua proposta inicial de ser um museu cuja coleção deveria constantemente se
atualizar. Isso se materializa quando o MoMA, em 1953, rompe seu acordo de repassar
suas obras mais antigas da coleção ao Metropolitan Museu of Art. Este momento que
o MoMA opta por manter obras de artistas desde o pós impressionismo francês, é,
segundo Basilio (2004), de grande enfoque nos aspectos canônicos da arte moderna,
juntamente com a ascensão do abstracionismo expressionista, reduzindo o interesse
do Museu na arte latina.
Por esses motivos, Pérez-Barreiro (2005 p.138, tradução nossa) resume a
relação do MoMA com a América Latina, em muitos momentos, como “um pouco mais
150
do que shopping”. Entende-se seu posicionamento quando se reconhece que as
experiências do MoMA frequentemente visavam mais uma incursão de sua influência
do que uma interação com a cultura brasileira. Esse unilateralismo só é
contrabalanceado pelas aquisições feitas para o acervo do Museu, que ainda segundo
Pérez-Barreiro (2005) eram realizadas com pouco envolvimento e cujas obras
“raramente viam a luz do dia”, sendo mantidas armazenadas.
3.2.3 AproximaçãoeGuerraFria‐anosde1960
As relações entre o MoMA e a cultura brasileira nos anos de 1960 indicam
continuidade nessa postura. Embora Basilio (2004) aponte um aumento significante no
número de aquisições de obras latinas bem como o aumento da presença de artistas
latinos em exposições dentro do Museu, Fialho (2007) assegura que esse interesse
“especial” pelo Brasil e América Latina mantém-se devido ao fato do MoMA ser
“mediador no projeto de cooptação norte americano”. Basilio (2004) cita, como fator
determinante a Alliance for Progress, programa de desenvolvimento econômico, social
e cultural lançado pela administração do Presidente americano John F. Kennedy em
1961.
Basilio (2004) atribui a Elaine L. Johnson, curadora associada do departamento
de desenhos de 1963 a 1969, um esforço significante realizado a favor da arte latina
151
nos anos de 1960. Johnson propõe um estudo ativo sobre os trabalhos da coleção,
viajando regularmente para conhecer artistas e coleções locais da região a fim de
integrar aquisição e pesquisa da arte latina.
Entre 1966 e 1969, Johnson viaja para vários países da América do Sul o que
leva a uma série de aquisições de desenhos, gravuras e livros de artistas – o que
provavelmente ocorre com fundos do Inter-American Fund e do Brazil Fund, como pode
ser notado no Quadro 5 a seguir.
Quadro 5 – Novas aquisições de artistas brasileiros no acervo do MoMA entre 1960 e 1969
Aquisição por ano, detalhada por Forma de Aquisição e Artista
Número de Obras
1961 1
Doação, Henrique Mindlin 1 Vera Bocayuva 1
1962 3
Compra 1 Claudia Andujar 1
Inter‐American Fund 2 Mario Cravo Junior 2
1964 4
Brazil Fund 3 Fayga Ostrower 1 Maria Martins 1 Roland Cabot 1
Presente do Artista 1 Fayga Ostrower 1
1965 3
Brazil Fund 2 Almir Mavignier 2
Doação, Mr. And Mrs. David 1 Carlos Scliar 1
1966 10
Benjamin Zeller Memorial Fund 1 Claudia Andujar 1
Doação, Mr. And Mrs. Burton 8 Oscar Niemeyer 6 Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx 1
152
Roberto Burle Marx 1 Presente do Artista 1 Almir Mavignier 1
1967 18
Brazil Fund 7 Aldemir Martins 1 Anna Letycia 1 Edith Behring 1 Hermano José 1 Isabel Pons 1 Walter Marques 2
Doação, anonymous 1 Helena (Mie Yuan) 1
John S. Newberry Fund 1 Arthur Luis Piza 1
Presente do Artista 9 Almir Mavignier 9
1968 16
Doação, Instituto do Acucar e do Alcool 1 José Costa Leite 1
Felipe Cossio del Pomar Fund 2 Evandro Carlos Jardim 1 Farnese de Andrade Neto 1
Inter‐American Fund 11 Aurino Valenca Lins Darel 1 Carybé 1 Iberê Camargo 1 Lasar Segall 4 Rossini Pérez 2 Ruth Bessoudo Courvoisier 2
Presente do Artista 2 Almir Mavignier 1 Sonia Castro 1
1969 4
Inter‐American Fund 4 Anna Bella Geiger 1 Antonio Dias 2 Ruth Bessoudo Courvoisier 1
Total de Aquisições entre 1960 e 1969 59 (Elaborado pela autora)
153
Gráfico 5 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdividdas por departamento entre 1960 e 1969 (Elaborado pela autora)
Gráfico 6 ‐ Formas de aquisição de obras brasileiras entre 1960 e 1969 (Elaborado pela autora)
Além da contribuição com aquisições de obras, Basilio (2004) afirma que
Johnson propõe uma série de estudos e exposições dedicadas a artistas e movimentos
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
1961 1962 1964 1965 1966 1967 1968 1969
Aquisições por ano (1960 ‐ 1969) subdivididas por Departamento
Architecture and Design Drawings Painting and Sculpture
Photography Prints and Illustrated Books
Benjamin Zeller Memorial Fund
11%
Brazil Fund20%
Compra2%
Doação, anonymous
2%
Doação, Henrique Mindlin2%
Doação, Instituto do Acucar e do Alcool
2%
Doação, Mr. And Mrs. Burton
13%
Doação, Mr. And Mrs. David2%
Felipe Cossio del Pomar Fund
3%
Inter‐American Fund29%
John S. Newberry Fund2%
Presente do Artista22%
Aquisições por ano (1960 ‐ 1969) subdivididas por Departamento
154
do continente latino, mas afirma que nenhuma de suas propostas foi colocada em
prática no Museu.
Embora Johnson tenha proposto dialogar com acadêmicos e artistas que
estavam criando a arte no momento, vê-se que, a coleção do Museu não acompanha a
movimentação da cena artística brasileira da década de 1960. Não se veem, entre as
aquisições, obras de alguns dos movimentos mais fortes da década, como o
Concretismo e o Neoconcretismo, dos quais caberia citar Volpi, Geraldo de Barros,
Waldemar Cordeiro, Lygia Clark, Lygia Pape ou Hélio Oiticica. O único artista ligado ao
movimento concreto é Almir Mavignier, que desde 1953 não vive no Brasil. Outra
característica é o caráter figurativo que domina grande parte das obras. Pérez-Orama
(2004) relata que, nesse momento, o MoMA não reconhece e não recebe em sua
coleção, nenhum trabalho ligado ao debate que acontecia por toda a América Latina,
desde o final dos anos de 1940, ligado ao abstracionismo não objetivo, que no Brasil se
viu entre os artistas com laços nos movimento concreto e principalmente Neoconcreto.
O que se observa são artistas, já consagrados dentro das escolhas do MoMA dos anos
de 1940 e 1950, como Maria Martins, Lasar Segall, Mario cravo Jr, bem como as
gravuras de Fayga Ostrower. Cabe notar ainda, que algumas obras, como as gravuras
de Ruth Bessoudo Courvoisier, o livro ilustrado de Carybé16 da obra literária de Mario
16 Carybé possivelmente já era um artista conhecido pelo MoMA nessa década. De acordo com o levantamento de obras realizados por Fialho (2006), o MoMA já havia recebido em 1957 duas obras do artista como doações de Ralph Colin. O presente levantamento, realizado em 2011 não mostrou essas obras. Essa diferença acontece também com outras quatro obras identificadas por Fialho (2006) e não apontadas nesse estudo: duas obras do
155
de Andrade, Macunaíma, e as fotografias de Claudia Andujar podem ser lidos por uma
temática comum, uma ‘identidade brasileira’ que Avelar (2009) já reconhecia como
modus operandis do MoMA nas aquisições realizadas nos anos 1950, que priorizava
aspectos da paisagem natural e humana brasileira por oferecer alteridade em relação
ao que se via na arte americana.
Figura 6 ‐ Getulio, Kleine Galerie, Almir Mavigner, 1962. Silkscreen. Acervo MoMA
Dois artistas que se distinguem – por serem identificados em nossa história
como agentes da arte conceitual são Anna Bella Geiger e Antonio Dias. Fialho (2006a)
afirma que ambos viviam no exterior, no momento dessas aquisições, Anna Bella
artista Roberto de Lamonica, adicionadas em 1969, uma obra de Maria Martins, em 1947 e uma obra de Edith Berinhg, em 1974. A divergência pode ter duas razões: a metodologia para o levantamento realizado por Fialho (2006) abarcou essas obras enquanto aqui não se teve acesso ou; o Museu se desfez de tais no período de 5 anos que distancia a tese de Fialho (2006) e esse trabalho. O contrário também acontece. No presente estudo é apresentada uma série de obras em vídeo, adquiridas nos anos 1990 principalmente, que Fialho (2006) não aponta em seu levantamento.
156
Geiger como professora da Columbia University e Antonio Dias com uma carreira na
Europa.
De um modo geral, entretanto, cabe dizer, que assim como durante o período da
Segunda Guerra Mundial, o MoMA viu-se envolvido com interesses do governo,
durante os anos de 1960 há um novo momento de contribuição entre governo e
Instituição o que leva, como Basilio (2004) e Fialho (2006a) reconhecem, a um
aumento nas aquisições de obras latinas nesse período – tendo sido adicionadas 59
obras brasileiras ao acervo. Não obstante, um real diálogo com a produção latina, onde
a arte brasileira se insere, limita-se no máximo, à figura de Elaine Johnson, que, por
não contar com apoio institucional não se aprofunda.
Especulam-se alguns motivos pelos quais, durante os anos 1960, embora o
MoMA encontra-se envolvido com a arte latina, a relação mantém-se meramente
política, sem maior interesse e integração real entre as culturas, o que resulta em
várias oportunidades – como cita Pérez-Barreiro (2005) – de programar atividades e
propostas ligadas a produção sul americana de lado.
Lorente (2011) informa que, nesse período, a Pop Art é fortemente abraçada
pelo Museu. Embora a Pop Art tenha se iniciado na Inglaterra, é nos Estados Unidos
que ganha expressão. Lorente (2011) atribui ao seu caráter apolítico e hedonista, à
fácil compreensão a um público geral e à suas características formais - ter grandes
157
dimensões e cores fortes - o motivo pelo qual a Pop Art é rapidamente adotada pelo
MoMA e por grandes colecionadores.
Lorente (2011) afere que, essas características encaixam-se perfeitamente na
imagem almejada pelos Estados Unidos de seu ‘american way of life’, o que torna o
MoMA um grande divulgador desse movimento.
O rápido e estrondoso sucesso desse tipo de arte faz o MoMA mostrar se
desinteressado pela arte latina – e por outros movimentos artísticos inovadores
surgidos nos anos 1960 e 1970, como os Happenings, a Body art, a Land Art, a arte
conceitual e o Minimalismo, o que leva, consequentemente à redução no ritmo de
experimentalismo museográfico inicial que era característico do MoMA, por muitos
anos.
Esse experimentalismo perde ainda mais força quando o MoMA passa a ser
reconhecido internacionalmente como modelo de museu moderno.
Sua proposta de museu, cuja arquitetura aspirava à neutralidade e à
despolitização estética, chega a um apogeu e passa ser emulado por todo o mundo
ocidental. Lorente (2011) atribui a epítome dessa imagem de cânone da modernidade o
momento de expansão do prédio do MoMA pelo arquiteto Philip Johnson, finalizado em
1964. Lorente (2011) ainda afirma que,
158
Enquanto na Europa oriental, surgiam, [durante a Guerra Fria] os ‘museus da revolução’ (...), o novo emblema da civilização ocidental era um tipo de museu que deveria ser muito similar em todos os lugares, com trabalhos idênticos de [...] artistas famosos e cujos prédios fossem desenhados por fábricas de arquitetura internacional com suas marcas inequívocas. (LORENTE, 2011, p. 224, tradução nossa)
E continua, atribuindo ao MoMA, o modelo americano de emulação
internacional:
Dentro [dos museus], prevalecia a museografia do cubo branco, imitando a pálida e sanitária aparência de hospitais, cujos quietos visitantes movimentavam-se (...) contemplando, extasiados, o display artístico inspirado pelo MoMA. (LORENTE, 2011, p. 225, tradução nossa)
Assim, segundo Lorente (2011, p.232, tradução nossa), “sob o interesse de uma
estética pretensiosamente neutral e despolitizada, [...] exposições [...] deixaram de ser
inovadoras e chocantes” no MoMA, o que resulta no surgimento de uma série de
artistas insatisfeitos por não serem levados em considerações pelo Museu.
Lorente (2011) ainda afirma que esse tipo de museu torna-se símbolo da
modernidade e, durante a época de Guerra Fria, quando os Estados Unidos apoiam
uma série de ditaduras militares ao redor do mundo, grandes ditadores apropriam-se
desse ícone para a promoção de seus governos.
Dessa forma, a insatisfação de artistas e intelectuais, associadas à convicção
geral de que o MoMA era propagador da política cultural norte americana, geram uma
série de protestos contra o Museu, propulsionados pelo espírito da contracultura que
159
tão fortemente se estabeleceu entre jovens e intelectuais do mundo todo no final da
década de 1960. Segundo Lorente (2011) o MoMA torna-se o grande alvo desses
protestos não porque os rebeldes pensavam que o Museu era imune a novas
manifestações artísticas, mas simplesmente, porque o MoMA retém status de
paradigma dentro desse cenário,
Nesse contexto, Lorente (2011) afirma que, após ser palco de protestos e
performances ‘anti-museus’, para evitar uma má imagem pública e, na tentativa de
dialogar com tais grupos, o MoMA abriga, de Julho a Setembro de 1970 a exposição
coletiva Information, na qual os artistas conceituais desafiam o próprio Museu, suas
responsabilidades e atividades.
3.2.4 Osanos1970,ExposiçãoInformation,poucasaquisições
A exposição Information representa um momento de novidades no MoMA. É a
primeira vez que é feita na Instituição uma exposição do movimento que hoje é
conhecido como conceitualismo. Brodbeck (2009) também informa que essa exposição
é um dos raros casos de colaboração multidepartamental dentro do MoMA na época,
sendo o International Council (cuja função era promover o intercambio de exposições
internacionalmente) o departamento responsável pela exposição e o curador, Kynaston
McShine de dentro do departamento de Pintura e Escultura.
160
Information, segundo Brodbeck (2009) busca mostrar que as novas mídias
propostas pelos artistas conceituais, que trabalham em meios diferentes da tela
tradicional, são mais efetivas para comentar e expressar a experiência comum vivida
pelos artistas da época, cuja era foi marcada por “protestos estudantis, pela Guerra do
Vietnã e, no caso dos artistas latinos, uma série de ditaduras militares” (BRODBECK,
2009, p.9, tradução nossa).
Brodkbeck (2009) advoga que nessa exposição não só o curador dá espaço
para artistas latinos dialogarem de igual para igual com seus pares americanos, como,
reconhece-os por sua importância fundamental, desde o início, nos novos rumos que a
arte toma a partir do Conceitualismo, tratando-os de modo inédito na história. E cita
palavras do curador McShine ao diretor do International Council, Waldo Rassmussen:
A finalidade desta exposição é mostrar a ‘vanguarda internacional’ e mostrar
que, neste momento, há uma grande dose de criatividade, que substitui as
fronteiras nacionais, e que os artistas não são tão centrados em um lugar como
antes. (MCSHINE apud BRODBECK, 2009, p.2, tradução nossa)
Encontram-se nessa exposição, contribuições de Helio Oiticica, Guilherme
Magalhães Vaz, Artur Barrio e Cildo Meireles, brasileiros cujos trabalhos aparecem no
MoMA pela primeira vez.
Brodbeck (2009), entretanto, avalia que embora tenha tido sucesso em
contextualizar a nova direção da arte, a exposição não causou mudanças duradouras
161
nem dentro do Museu nem nos textos de história de arte, no que diz respeito a visão da
participação latina na formação da arte conceitual.
Segundo Lorente (2011) a exposição Information foi um sopro de inovação em
meio à décadas de conservadorismo do Museu, sendo a primeira e a única exposição
de arte conceitual no MoMA ao menos até o final dos anos 1970.
Assim, embora tivessem sido mostrados no MoMA artistas brasileiros - como
Helio Oiticica e Cildo Meireles - que já demonstravam importância num contexto
artístico contemporâneo, não há reverberações dessa participação nas aquisições do
MoMA dos anos 1970, como mostra o quadro abaixo.
Quadro 6 – Novas aquisições de artistas brasileiros no MoMA entre 1970 e 1979
Aquisição por ano, detalhada por Forma de Aquisição e Artista
Número de Obras
1970 3
Mrs. Donald B. Straus Fund 3 Arthur Luis Piza 1 Gilván Samico 2
1973 1
Doação, Mr. and Mrs. Alfred H. Barr, Jr 1 Maria Martins 1
1974 1
Doação, José E. Mindlin 1 Adão Pinheiro 1
1975 1
Latin American Fund 1 Anna Bella Geiger 1
Total de Aquisições entre 1970 e 1979 6
(Elaborado pela autora)
162
Gráfico 7 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdivididas por departamento entre 1970 e 1979 ( Elaborado pela autora)
Gráfico 8 ‐ Formas de aquisição de obras brasileiras entre 1970 e 1979 (Elaborado pela autora)
0
1
2
3
4
1970 1973 1974 1975
Aquisições por ano (1970 ‐ 1979) subdivididas por Departamento
Prints and Illustrated Books
Doação, José E. Mindlin; 1; 16%
Doação, Mr. and Mrs. Alfred H. Barr, Jr; 1;
17%
Latin American Fund; 1; 17%
Mrs. Donald B. Straus Fund; 3; 50%
Formas de aquisições (1970 ‐ 1979)
163
Nota-se uma redução muito expressiva no número de aquisições durante essa
década. Nenhuma compra é realizada diretamente pela instituição. Há apenas obras do
departamento de Prints and Illustrated books, sendo uma obra (um livro ilustrado de
Maria Martins) doada por Barr17. Passam-se cinco anos, de 1975 até 1980 para que
novas obras brasileiras entrem na coleção.
Figura 7 ‐ Here is the Center de Anna Bella Geiger (1973). Aquarela. Acervo MoMA
Cabe ressaltar, que desde os anos de 1960, existe uma forte presença de
artistas brasileiros circulando em Manhattan - como Antonio Dias, Antonio Henrique
Amaral, Helio Oiticica. Essa vivência é explicada, ao menos em parte, pela fase de
ditadura política vivida no Brasil e pela oferta de bolsas de estudo e pesquisa
oferecidos por instituições norte-americanas a artistas latinos, tanto nos anos de 1960
17 A obra de Maria Martins doada por Barr e a obra de Adão Pinheiros são livros ilustrados. Aqui são apresentados como uma obra. Há entretanto no banco de dados do MoMA o detalhamento de cada página dessas obras, podendo‐se consider cada página como uma obra per si.
164
como de 1970. Não se nota, porém, reconhecimento geral deles por parte do MoMA,
como traz Amaral (2006b):
Porém, o que desejaríamos afirmar é que, além de artistas como Antonio Dias, que participa de uma das exposições Guggenheim International, nos anos 70, e que tem uma obra na coleção do MoMa de Nova York, raros são aqueles que conseguem uma articulação com o meio americano. Excepcional é a presença da escultora Maria Martins, com (...) articulações, nas décadas de 40 e 50, tanto nos Estados Unidos como na Europa. (AMARAL, 2006b,p.53)
3.2.5 ObaixoenvolvimentodoMoMAcomoBrasilnosanos1980
A década de 1980 também não se destaca por ser uma era próspera para a arte
brasileira no MoMA. Ademais, Amaral (2006b) atenta para o desinteresse geral norte
americano, não só do Museu, para a arte latina nesse período, e informa que em 1987
acontece em Indianápolis a primeira exposição coletiva de arte latina americana após
21 anos sem que isso ocorresse. Amaral (2006b) atribui a ausência de artistas
brasileiros – e latinos em geral – nos museus americanos nos anos de 1980 ao fato da
América Latina não constituir um bloco economicamente importante. Adiciona a isso a
desconfiança que o norte-americano tem dos governos latinos – por sua corrupção e
incompetência administrativa – que se estende à área cultural.
Associado a isso, críticos apontam a dificuldade dos artistas contemporâneos
latinos encontrarem reconhecimento nos Estados Unidos nos anos 1980 devido ao
165
debate multicultural que aparece com grande força. Pérez-Barreiro (2005), por
exemplo, afirma que, com o crescimento da presença da população latina nos Estados
Unidos, surge uma grande questão política ligada à consciência e aos direitos desse
grupo, que se torna a maior ‘minoria’ nos Estados Unidos.
O autor afirma que a questão, que, de forma geral, visa à democratização e o
reconhecimento de diferentes identidades, acaba por fragmentar o mundo das artes em
numerosas etnias e “preservar o direito de instituições do mainstream articularem
essas identidades e continuarem a se apresentar como ‘acima das identidades’”
(PEREZ-BARREIRO, 2005,p.138, tradução nossa).
Amaral (2006b) também considera essa questão:
[...] quando um artista brasileiro conhecido em Nova Iorque [...] mostra sua [...] produção a um marchand, que reconhece o nível de qualidade de seu trabalho, mas se esquiva de estabelecer com ele um vínculo a fim de não ser identificado como interessado em “arte latino-americano” [...], a situação parece atingir um ponto crítico de discriminação. (AMARAL, 2006b, p.37)
Dessa forma, ajuda-se a compreender o baixo envolvimento do MoMA,
nos anos 1980, com a arte brasileira se considerarmos o desinteresse econômico na
região associado aos efeitos inesperados de um debate étnico, que reflete-se no
quadro a seguir:
166
Quadro 7 – Novas aquisições de artistas brasileiros no Acervo do MoMA entre 1980 e 1989
Aquisição por ano, detalhada por Forma de Aquisição e Artista
Número de Obras
1980 3
Emprestimo indefinido 1 Hector Babenco 1
The Family of Man Fund 2 Nair Benedicto 2
1981 1
Felipe Cossio del Pomar Fund 1 Anna Bella Geiger 1
1986 1
Presente do Artista 1 Fayga Ostrower 1
1988 6
Doação, Hester Diamond 6 Oscar Niemeyer 6
Total de Aquisições entre 1980 e 1989 11 (elaborado pela autora)
Gráfico 9 ‐ Aquisições de obras brasilieras por ano subdivididas por departamento entre 1980 e 1989 (elaborado pela autora)
0
1
2
3
4
5
6
7
1980 1981 1986 1988
Aquisições por ano (1980 ‐ 1989) subdivididas por Departamento
Architecture and Design Film Photography Prints and Illustrated Books
167
Gráfico 10 ‐ Formas de aquisições de obras brasileiras entre 1980 e 1989 (elaborado pela autora)
Apenas 11 obras são adicionadas ao acervo e grande parte dela, por meio de
doação. É possível observar, que, desde a extinção do Inter American Fund na década
de 196018 somem os esforços do MoMA para colecionar a arte brasileira. Nota-se a
manutenção do reconhecimento pela arquitetura moderna brasileira, para cujos
trabalhos são assegurados, por décadas, espaço na coleção do MoMA. Além disso, é
nessa década que o Museu adquire o primeiro filme brasileiro para sua coleção.
18 Nelson Rockefeller foi o grande financiador do Inter American Fund. Em 1965, a família Rockefeller empreende um novo centro para promover relações com a America Latina, o Center for Inter American Relations (CIAR). Segundo Pérez‐Barreiro ( 2005), este novo centro fundado por David Rockefeller, sofreu boicote nos anos 60 e 70 de vários artistas latinos que viam o programa cultural do CIAR como manipulativo. De qualquer forma, a criação do CIAR casa com o fim do Inter American Fund do MoMA, uma vez que os fundos destinados a promoção da Arte Latina foram provavelmente direcionados e centralizados no novo programa.
Doação, Hester Diamond; 6; 55%
Emprestimo indefinido; 1; 9%
Felipe Cossio del Pomar Fund; 1; 9%
Presente do Artista; 1; 9%
The Family of Man Fund; 2; 18%
Formas de Aquisição (1980 ‐ 1989)
168
Figura 8 ‐ Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco. 35 mm print, color, sound, 127 min. Acervo MoMA
3.2.6 Novosrumosdasrelaçõesnosanos1990
Os anos 1990 marcam o início de um período de importante transformação nas
relações do MoMA com o Brasil e a arte produzida na América Latina. Pérez-Orama
(2004) identifica, no Museu, o despertar de uma consciência para a existência de uma
história própria da arte latina que até então não teria sido considerada.
Uma série de desenvolvimentos históricos, políticos e institucionais teria
contribuído para esse fenômeno. Entre os desenvolvimentos políticos, Pérez-Orama
(2004) cita a renovação de governos democráticos em um grande número de países
latinos e a mudança de percepção na política externa norte americana na região.
Adicionados a esses fatores, estão alguns aspectos históricos da década, como a
democratização da Internet e a facilidade de realizar viagens aéreas.
169
Incluem-se nesses fatores ainda, o outro lado do desdobramento do embate
multicultural iniciado nos anos 1980: se por um lado, como citado anteriormente, o
embate reforçou o estigma da origem dos artistas latinos, por outro, Basilio (2004) e
Pérez-Barreiro (2005) afirmam que o reconhecimento da presença crescente de latinos
nos Estados Unidos gera impactos positivos rumo à apreciação da arte de uma forma
mais diversificada e global tanto por eles serem produtores de arte, como por ser uma
importante e nova audiência nos museus.
Com relação à circulação da arte, notam-se novos aspectos em favor da
ampliação da visibilidade de obras latinas no MoMA: Pérez-Orama (2004) enumera a
internacionalização do mundo das artes, com a inclusão, por curadores internacionais,
de artistas latinos em grandes mostras e o surgimento de coleções de arte latina com
perfil internacional dentro e fora das Américas, Basílio (2004) detalha a lista ao citar a
criação de um mercado para a arte latina moderna e contemporânea, o
desenvolvimento de redes de exposições internacionais que incluem artistas de todo
mundo; o número maior de exibições itinerantes dentro e fora dos Estados Unidos; e o
aumento de departamentos acadêmicos oferecendo cursos de história da arte voltados
para a América Latina.
Por fim, levantam-se questões institucionais específicas do MoMA que
contribuem para essa nova consciência: há, na década de 1990, o resurgimento de
170
esforços de curadores e trustees do Museu em apoiar a coleção e exibição de
trabalhos de artistas da America Latina, como traz Pérez-Orama (2004).
Para Fialho (2007) tais esforços são consequência de uma estratégia do MoMA
para reter o status de precursor na promoção da arte latino-americana nos Estados
Unidos e também de movimentos de agentes internacionais que almejam aumentar o
seu capital social no plano internacional.
Basílio (2004) e Pérez-Orama (2004) acreditam que o nascimento de tais
esforços por curadores e trustees tem outro caráter: atentam ao fato dos curadores
participarem “de debates públicos – muitas vezes enviesados por ressentimento e
política - a respeito do papel histórico do Museu na formação da visibilidade
internacional da arte latina” (PÉREZ-ORAMA, 2004. p.37, tradução nossa), o que os
leva a releitura realizada em várias exposições no Museu dedicadas a movimentos pré
e pós Segunda Guerra, como traz Basílio (2004), que, ao incorporarem artistas latinos
em suas narrativas históricas, possibilita o reconhecimento de trabalhos que constam
na coleção.
Tal exercício de revisão leva a uma série de aquisições de obras ditadas pela
necessidade de preencher lacunas na coleção do Museu. Importantes artistas e
movimentos que não contavam com representação no acervo passam a ser
considerados a fim de cobrir déficits históricos. São casos claros o dos artistas Hélio
171
Oticica e Cildo Meireles (quase trinta anos depois de aparecerem na exposição
Information) como nota-se no quadro abaixo:
Quadro 8 – Novas aquisições de artistas brasileiros no MoMA entre 1990 e 1999
Aquisição por ano, detalhada por Forma de Aquisição e Artista Número
de Obras
1990 1
The fellows of photography fund 1 Sebastião Salgado 1
1991 9
Compra 2 Anna Bella Geiger 2
David Rockefeller Fund for Latin‐American Art and Brazil Fund 1 Jac Leiner 1
Presente do Artista 1 Jac Leiner 1
Friends of Roberto Burle Marx Fund 1 Roberto Burle Marx 1
Roblee McCarthy, Jr Fund 3 Oscar Niemeyer 1 Roberto Burle Marx 2
Roblee McCarthy, Jr Fund, Lily Auchincloss Fund 1 Oscar Niemeyer 1
1993 7
Doação, Paulo Herkenhoff 7 Cildo Meireles 7
1994 7
Compra 5 Jorge Furtado 1 Marcelo Tas 1 Victor Lopes 1 Vincent Carelli 2
Doação, Barbara Foshay 1 Valdir Cruz 1
Presente do Artista 1 Rafael França 1
1995 1
Doação, Gilberto Chateaubriand 1 Waltercio Caldas 1
1996 2
Presente do Artista 2 Mario Cravo Neto 2
1997 13
Compra subvencionada, Patricia Phelps de Cisneros 2 Hélio Oiticica 2
Doação, Lilian Tone 1
172
Waltercio Caldas 1 Doação, Oiticia Family, Artist's estate 2 Hélio Oiticica 2
Doação, The Contemporary Arts Council of The Museum of Modern Art 2 Vik Muniz 2
Doação, Tricia Collins 2 Vik Muniz 2
Presente do Artista 3 Vik Muniz 3
The fellows of photography fund 1 Vik Muniz 1
1998 6
Compra subvencionada, Gilberto Chateaubriand 1 Hélio Oiticica 1
Compra subvencionada, Maria de Lourdes Egydio Villela 1 Hélio Oiticica 1
Doação, Henrique Mindlin, Gilberto Chateaubriand, Manuel Francisco 1 Waltercio Caldas 1
Doação, Margaret Weston 1 Vik Muniz 1
Doação, Oiticia Family, Artist's estate 2 Hélio Oiticica 2
1999 13
Doação, Artist's estate 2 José Leonilson 2
Doação, Friends of Contemporary Drawing 3 José Leonilson 3
Doação, Luiz Buarque de Hollanda 2 Mira Schendel 1 Waltercio Caldas 1
Doação, Oiticia Family, Artist's estate 1 Hélio Oiticica 1
Doação, Patricia Phelps de Cisneros 4 Fernando Campana, Humberto Campana 4
Doação, Paulo Herkenhoff 1 Cildo Meireles 1
Total de Aquisições entre 1990 e 1999 59 (elaborado pela autora)
173
0
2
4
6
8
10
12
14
1990 1991 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Aquisições por ano (1990 ‐ 1999) subdivididas por Departamento
Architecture and Design Drawings Media and Performance Art
Painting and Sculpture Photography Prints and Illustrated Books
Compra; 7; 12%
Compra subvencionada; 2;
3%
Doação Particular; 27; 47%
Outros Fundos, 9, 16%
Patricia Phelps de Cisneros; 6; 10%
Presente do Artista; 7; 12%
Formas de Aquisições (1990‐1999)
Gráfico 11 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdividadas por departamento entre 1990 e 1999 (elaborado pela autora)
Gráfico 12 ‐ Formas de aquisições de obras brasileirsa entre 1990 e 1999 (elaborado pela autora)
174
Fialho (2007) atenta também para a inédita intervenção de colecionadores,
galeristas e curadores brasileiros para a inserção da produção brasileira no interior da
Instituição, que se somam à Patricia Phelps de Cisneros como os grandes doadores de
obras na década de 1990 em diante.
Patricia Phelps de Cisneros, nos anos de 1970, fundou, juntamente com seu
marido, a Fundacion Cisneros, cuja missão é “melhorar a educação na America Latina
e fomentar a consciência global da contribuição e herança da região latina para o
Mundo”. Com sede em Caracas e Nova York, A Fundação tem sua base na Colección
Patricia Phelps de Cisneros (CPPC)19 que abriga desde artigos etnográficos do mundo
hispânico a arte contemporânea. Basílio (2004) informa que, em 1981, Cisnero torna-se
membro do International Concil do MoMA e, desde 1992 faz parte do Comite de
Trustees do Museu. Fialho (2007) sugere que a influência de Cisnero é tão impactante
que interesses do Museu chegam a embaraçar-se com interesses da Fundação
pessoal da doadora, ao mencionar que “que boa parte das obras adquiridas
corresponde aos movimentos concreto e neoconcreto, uma das vertentes dominantes
da coleção Cisneros” (FIALHO, 2007, s.n.).
Embora se tenha verificado uma importante transformação na recepção da arte
brasileira e latina, Pérez-Barreiro (2005) assegura que o desafio fundamental dos
19 Em Colécion Patricia Phelps de Cisneros, disponível em
http://www.coleccioncisneros.org/organization/patricia‐phelps‐de‐cisneros, Acessado em 10 de junho 2011
175
museus e seus curadores com relação à arte latina ainda é o posicionamento dos seus
artistas. Pérez-Barreiro (2005) afirma que muitas instituições insistem no uso
consistente de estereótipos ao incluir artistas latinos e não os enxergarem
simplesmente como artistas contemporâneos, ao lado de seus pares internacionais.
Pérez-Barreiro (2005) afirma ainda que algumas mudanças começam a
acontecer quando artistas como o mexicano Gabriel Orozco e o cubano Félix Torres
Garcia ganham notoriedade independente de sua identidade regional, e começam a ser
vistos simplesmente como contemporâneos. E adiciona a essa lista o brasileiro Vik
Muniz que entra na coleção também nos anos 1990. Para Basilio (2004), identificar um
artista pela região geográfica, indica uma falta de integração com as narrativas
elaboradas no Museu.
Figura 9 ‐ Lung de Jac Leiner, 1987. Pacotes de cigarros em corda de poliuretano. Acervo MoMA.
176
Esse anseio para superar o perigo da instrumentalização da identidade latina
reflete-se na decisão, como aponta Basilio (2004) e Pérez-Barreiro (2005), em 1999, o
Museu criar o cargo de curador adjunto no departamento de Pintura e Escultura a ser
preenchido por um especialista no campo. Paulo Herkenhoff é apontado para assumir o
cargo, e o faz até 2002. Os autores acreditam que, dessa forma, não o designando
para um departamento especificamente latino, o Museu consegue fazer com que os
artistas da América Central e do Sul possam ser considerados lado a lado com artistas
europeus, americanos etc.
3.2.7 Osanos2000,novoscolaboradores
A década de 2000 a 2009 ratifica a mudança na maneira pela qual a arte
brasileira é acessada pelo MoMA.
Além do brasileiro Paulo Herkenhoff, Basilio (2004) infoma que, em 2002 Luis
Enrique Pérez-Orama junta-se ao Departamento de Desenhos como o segundo
curador adjunto da América Latina.
O trabalho dos dois gera colaboração entre todos os departamentos para análise
das obras do Museu, que se desdobra tanto na identificação de falhas nas
representações de artistas e movimentos quanto em um diálogo continuo e maior entre
os trabalhos latinos e a coleção do Museu como um todo.
177
Outras ações também são tomadas, afirma Basílio (2004) como a criação de um
fundo para financiar viagens a curadores para a America Latina, e a criação de cursos,
workshops e outros projetos educacionais.
O Museu também trabalha novas exposições que apresentam arte produzida por
artistas latinos, porém com um novo enfoque agora.
Em 2004, é realizada uma exposição em parceria entre o MoMA e o Museo Del
Barrio – instituição localizada na região do Harlem em Nova York voltada para a
preservação,divulgação e estudo da cultura latina – com obras do Museu. A exposição
é o resultado do estudo dos curadores das duas instituições. Assim a mostra explicita,
até em sua intitulação, MoMA at El Museo: Latin American and Caribbean Art from the
Collection, que não busca mostrar a ‘história da arte latina’, ou vislumbrar um período
da produção artística regional, propõe-se sim, a expor obras adquiridas pelo museu
que tenham importante contribuição para o desenvolvimento da arte visual do século
XX.
Os curadores da mostra fazem-se enfáticos ao explicar que a exposição é uma
história das aquisições dessas obras, em um momento de autocrítica da Instituição,
reavaliando o modo que o Museu colecionou tais trabalhos, deixando-os separados dos
demais por sua origem territorial, e não formal, como o resto dos trabalhos do Museu,
como se lê:
178
‘Moma at El Museo’ demonstra a história de uma coleção orientada geograficamente dentro de um museu marcado pela tradição formal, que divide e diferencia sua coleção pelo gênero ou forma da arte.[...]. A mostra é a história de vários momentos brilhantes compartilhados na arte entre a ‘fronteira’ Norte e Sul, cujos nomes próprios [...] formam parte da herança mundial do moderno. É uma história de reconhecimento tardio de alguns artistas e é a história de várias omissões e incompreensões. (PÉREZ-ORAMA, 2004, p.35, tradução nossa).
Outro momento da década que continua gerando frutos positivos para a relação
do MoMA com o Brasil acontece em 2007, com a criação do Latin American and
Caribbean Fund, fundo voltado para o estudo, coleção e promoção da arte latina. No
ano seguinte da criação do fundo, em 2008, o MoMA lança a exposição New
Perspectives in Latin American Art, 1930–2006: Selections from a Decade of
Acquisitions, que traz obras compradas entre 1996 e 2006 e propõe-se a apresentar o
que foi adquirido após um uma década de reflexões a respeito da coleção:
New Perspectives in Latin American Art enfatiza o foco afiado do MoMA em aquisições na América Latina desde 1996, e abrange períodos e artistas que foram negligenciados no passado, oferecendo uma visão mais precisa da ampla e variada gama que existe na arte moderna e contemporânea Latino-americana. (MUSEUM OF MODERN ART,2007, p.1, tradução nossa)
A exposição mostrou-se mais focada em apresentar artistas que haviam sido relegados
anteriormente, entre eles estavam Mira schendel, Willys de Castro, Waltercio Caldas, Sergio
Camargo, Lygia Clark, Helio Oiticica, Lygia Pape e Volpi. Dos artistas mais contemporâneos,
viu-se Cildo Meireles, Anna Maria Maiolino e José Leonilson.
179
Figura 10 ‐ Sundial, Lygia Clark, 1957. Alumínio com platina. Acervo MoMA.
Aparentemente, a presença de importantes colaboradores dedicados à causa
latina, que se juntam através do Latin American and Caribbean Fund, provoca ações
efetivas no Museu e, a atenção não se volta apenas para personagens e obras
históricas, mas pode-se notar esforços para colocar artistas vivos de origem latina no
mesmo patamar de artistas contemporâneos internacionais - caminho esse que
começava a ser trilhado na década de 1990.
Se Pérez-Barreiro (2005) citava os casos do mexicano Gabriel Orozco e do
uruguaio Gonzalez-Torres como os primeiros casos de artistas não considerados como
latinos, vistos simplesmente como artistas importantes, a lista se estende, e, passa a
incluir uma série de outros artistas brasileiros que ganham destaques em algum
momento, no Museu, como Ernesto Neto, Vik Muniz, os Irmãos Campana e Rivane
Neuenschwander.
180
Figura 11 ‐ Navedenga de Ernesto Neto, 1998. Tecido, areia, espuma e corda. Acervo MoMA.
O que se vê de mais marcante na atualidade, entretanto é o crescimento
vertiginoso do número de artistas latinos – e brasileiros, na coleção, o que se observa
no quadro a seguir.
Quadro 9 – Novas aquisições de artistas brasileiros no MoMA entre 2000 e 2009
Aquisição por ano, detalhada por Forma de Aquisição e Artista Número de
Obras
2000 21
Doação, anonymous 1Vik Muniz 1
Doação, Oiticia Family, Artist's estate 1Hélio Oiticica 1
Doação, Patricia Phelps de Cisneros 1Lygia Pape 1
Frances Keech Fund 7Vik Muniz 7
Presente do Artista 11Almir Mavignier 11
2001 51
Compra 37Anna Maria Maiolino 28Iran do Espírito Santo 9
Compra subvencionada, Ricki Conway 1Beatriz Milhazes 1
Doação, Carmen Bezerra Dias 1
181
José Leonilson 1Doação, Hercules Rubens Barsotti 2Willys de Castro 2
Doação, Luisa Strina 3Cildo Meireles 1Mira Schendel 2
Doação, Michael Maiolino 1Anna Maria Maiolino 1
Doação, Patricia Phelps de Cisneros 2Cildo Meireles 1Lygia Pape 1
Doação, Paulo Herkenhoff 2Anna Maria Maiolino 2
Doação, Sylvio Nery da Fonseca 1Hércules Barsotti 1
Presente do Artista 1Vik Muniz 1
2002 4
Agnes Gund and Nina and Gordon Bunshaft Bequest Fund 1Beatriz Milhazes 1
Compra 1Ernesto Neto 1
Doação, Library Council of The Museum of Modern Art 1Beatriz Milhazes 1
Presente do Artista 1Solange Fabião 1
2003 1
Doação, John Elderfield 1Alex Gama 1
2004 4
Doação, Patricia Phelps de Cisneros 4Hélio Oiticica 2Lygia Clark 2
2005 61
Christie Calder Salomon Fund 1Geraldo de Barros 1
Compra 43Alfredo Volpi 7Hércules Barsotti 4Iran do Espírito Santo 3Mira Schendel 26Willys de Castro 3
Compra subvencionada, John and Lisa Pritzker 1Geraldo de Barros 1
Doação, Jo Carole and Ronald S. Lauder 1Fernando Campana, Humberto Campana 1
Doação, The Judith Rothschild Foundation Contemporary Drawings 12
182
Collection Ernesto Neto 4José Damasceno 2Marepe 6
Fund for the Twenty‐First Century 1Rivane Neuenschwander 1
Joanne M. Stern Fund 1Alfredo Volpi 1
Scott Burton Fund 1Mira Schendel 1
2006 10
Artur Walther Purchase Fund 1Ruy Othake 1
Committee on Painting and Sculpture Funds 1Mira Schendel 1
Compra 1Sérgio Camargo 1
Compra subvencionada, Kara and Stephen Ross 1Vik Muniz 1
Compra subvencionada, The Edward John Noble Foundation 2Waltercio Caldas 2
Doação, Israel Klabin 2Maurício Klabin 2
Fund for the Twenty‐First Century 1Thiago Rocha Pitta 1
Presente do Artista 1Cildo Meireles 1
2007 14
Compra 1João Moreira Salles 1
Doação, Donald L. Bryant, Jr 1Ernesto Neto 1
Doação, André Correa do Lago 4Oscar Niemeyer 4
Doação, David Teiger 1Ernesto Neto 1
Doação, Presente do Artista 1Rivane Neuenschwander 1
Latin American and Caribbean Fund 5Lygia Clark 2Waltercio Caldas 1Willys de Castro 2
Latin American and Caribbean Fund, Presente do Artista 1Paulo Mendes da Rocha 1
2008 31
Committee on Drawings Funds 1Mira Schendel 1
183
Committee on Media and Performance Art Funds 1Jessica Mein 1
Compra 2Mira Schendel 2
Doação, Luis Enrique Pérez‐Orama 1Lygia Pape 1
General Print Fund 2Willys de Castro 2
Latin American and Caribbean Fund 8Abraham Palatnik 2Cao Guimarães 1Lygia Clark 1Mira Schendel 3Waltercio Caldas 1
Latin American and Caribbean Fund, Presente do Artista 16Paulo Mendes da Rocha 16
2009 13
Doação 1Rivane Neuenschwander 1
Doação, Ada Schendel 11Mira Schendel 11
Latin American and Caribbean Fund 1Efrain Almeida 1
Total de Aquisições entre 2000 e 2009 210 (elaborado pela autora)
Gráfico 13 ‐ Aquisições de obras brasileiras por ano subdivididas por departamento entre 2000 e 2009 (elaborado pela autora)
05101520253035404550556065
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Aquisições por ano (2000 ‐ 2009) subdivididas por Departamento
Architecture and Design Drawings FilmMedia and Performance Art Painting and Sculpture PhotographyPrints and Illustrated Books
184
Gráfico 14 ‐ Formas de aquisição de obras brasileiras entre 2000 e 2009 (elaborado pela autora)
Mais de 200 obras de brasileiras entram na coleção, e entre as aquisições
encontram-se, assim como nas exposições, obras históricas – a fim de preencher as
citadas omissões – e obras contemporâneas, mostrando a preocupação do Museu com
a apreciação da produção artística atual. Nota-se a forte presença do Latin American
and Caribbean Fund, por traz de grande parta das aquisições.
3.2.8 Osanos2010
Vê-se a continuidade dessa política nos primeiros anos da década de 2010.
Nota-se, entretanto, uma desaceleração no volume de aquisições (muito menor se
compararmos a média de obras compradas por ano na década anterior, entre 2000 e
Compra; 85; 41%
compra subvencionada; 5;
3%
Doação; 47; 22%
Latin American and Caribbean Fund;
32; 15%
Outros Fundos; 19; 9%
Patricia Phelps de Cisneros; 7; 3%
Presente do Artista; 15; 7%
Formas de Aquisição (2000 ‐ 2010)
185
2009 obteve-se uma média de 21 obras compradas por ano, enquanto nessa nova
década a média encontra-se em 3.5 obras por ano). Observa-se ainda a presença
marcante do Latin American and Caribbean Fund, por traz de grande parte das
aquisições.
Quadro 10 – Novas aquisições de artistas brasileiros no MoMA em 2010 e 2011
Aquisição por ano, detalhada por Forma de Aquisição e Artista Número
de Obras
2010 5
Doação, Joel and Anne Ehrenkranz 1 Vik Muniz 1
Doação, Ministry of Education and Health 1 Oscar Niemeyer 1
Latin American and Caribbean Fund 2 Alfredo Volpi 1 Aluisio Carvão 1
Patricia Phelps de Cisneros via Latin American and Caribbean Fund 1 Willys de Castro 1
2011 2
Latin American and Caribbean Fund 2 Lygia Clark 1 Tunga 1
Total de Aquisições em 2010 e 2011 7 (elaborado pela autora)
186
Gráfico 15 ‐ Aquisição de obras brasileiras por ano subidividas em departamentos entre 2010 e 2011 (elaborado pela autora)
Gráfico 16 ‐ Forma de aquisição de obras brasileiras entre 2010 e 2011 (elaborado pela autora)
0
1
2
3
4
5
6
2010 2011
Aquisições por ano (2010 e 2011) subdivididas por Departamento
Architecture and Design Painting and Sculpture Photography
Doação, Joel and Anne Ehrenkranz; 1;
15%
Doação, Ministry of Education and Health; 1; 14%
Latin American and Caribbean Fund; 4;
57%
Patricia Phelps de Cisneros, 1, 14%
Forma de Aquisição de Obras (2010 e 2011)
187
Fialho (2006b) questiona a intensidade do interesse do Museu na arte brasileira
e não descarta a possibilidade de oportunismo nas ações do Museu, considerando a
presente valorização de diferentes culturas em voga no circuito das artes.
De toda forma, o investimento na divulgação e estudo da arte produzida na
América mantém-se como prática da instituição. O mais importante, entretanto, talvez
seja a preocupação em não isolar o artista latino e incluí-lo dentro de um contexto mais
amplo do mundo das artes, o que parece ocorrer com maior frequência e assiduidade.
Esse fato pode ser verificado não apenas em exposições temporárias, como a
Here is every. Four decades of contemporary art, que fica em exposição de setembro
de 2008 a março de 2009 e apresenta com destaques obras de Helio Oiticica,
Waltércio Caldas e José Leonilson, mas também nas galerias destinadas a exibição da
coleção permanente.
Figura 12 ‐ Box Bolide 12, 'archeologic' de Helio Oiticica, 1964‐65. Synthetic polymer paint with earth on wood structure, nylon net, corrugated cardboard, mirror, glass, rocks, earth, and fluorescent lamp. Acervo MoMA
188
Em Novembro de 2004, quando o MoMA reabre após sua última grande
reforma, encontram-se obras dos brasileiros Hélio Oiticica, Lygia Clark, Fernando
Campana, Mira Schendel e Rivane Neuenschwander representando a coleção do
Museu juntamente com outros artistas latinos, europeus, americanos etc.
Novamente, observa-se movimento parecido em 2011, quando a curadora chefe
do departamento de Pintura e Escultura Ann Temkin prepara o novo projeto
museográfico do quarto e do quinto andar do Museu, e inclui, como traz Smith (2011),
obras de Lygia Clark e Willys de Castro.
Figura 13 ‐ Cooking Cristals, de Tunga. 2006‐2009. Acervo MoMA.
189
4 AnálisedarepresentaçãobrasileiranoMoMA
Em busca de compreender como se dá a inserção da arte brasileira no MoMA,
surge uma série de questionamentos relativos aos estímulos que levaram a formação
de um acervo com obras brasileiras bem como relativos às escolhas feitas.
A fim de abordar essas questões é necessário primeiramente reconhecer as
diferentes fases que o Museu viveu, como instituição artística inserida em um contexto
político do qual, em muitos momentos optou por participar ativamente e em outros,
acabou por ser fortemente influenciada. Essa é uma consideração pertinente, uma vez
que se verificou que não se estabeleceu e cumpriu-se, desde o princípio das
aquisições, uma política única relativa à arte brasileira ou latina.
Gráfico 17 ‐ Total de obras brasileiras adicionadas ao acervo do MoMA em diferentes períodos (elaborado pela autora)
1
33
23
59
6
11
59
210
7
0 40 80 120 160 200
1939
1940‐1949
1950‐1959
1960‐1969
1970‐1979
1980‐1989
1990‐1999
2000‐2009
2010‐2011
Total de Aquisições por Períodos
190
Ao contrário, o que se observou foi uma variação significante nas aquisições
dependendo do momento político enfrentado pelo Museu, pelos Estados Unidos e pela
disposição daqueles ligados ao MoMA.
Lorente (2011) reconhece no MoMA uma instituição que se tornou símbolo de
um ideário artístico, que viveu uma fase de estabelecimento de novos conceitos e
proposições – em momento de grande experimentalismo museológico, viveu momento
de apogeu, quando se torna modelo de instituição emulado em todo mundo - e
enfrentou também fortes críticas perdendo espaço para um cenário artístico mais
pluralista, com outras instituições com voz na validação da produção artística
internacional.
Num momento de experimentalismo, ainda nas décadas iniciais da instituição,
viu-se forte influência da política externa norte-americana em pauta. Essa adesão e
apoio ao governo norte-americano nos anos da Segunda Guerra Mundial são
amplamente publicados nas bibliografias do Museu, não sendo motivo de
especulações, como outros momentos cuja colaboração provavelmente ocorreu de
maneira menos aberta.
Ainda que sob um pano de fundo político, que exige um enorme posicionamento
crítico quanto ao conteúdo apresentado pelo Museu, pode-se dizer que, o envolvimento
191
do MoMA com o Brasil nos anos da Segunda Guerra foi vivenciado através de um
experimentalismo inédito para uma instituição norte-americana.
Isso é verdade ao reconhecer algumas exposições com temas brasileiros, como
a Brazil Builds, de 1943, do departamento de Arquitetura. Nessa exposição, além do
inédito espaço dado à arquitetura brasileiro dentro de um museu de arte, o envio de
representantes da instituição para conhecer os responsáveis no Brasil das obras
expostas é um esforço rumo ao novo. É preciso obviamente considerar certa ignorância
a respeito da produção local por parte dos visitantes, como aponta Deckker (2001),
mas tal postura, em 1943, pode ter esboçado uma visão da arquitetura moderna
brasileira não como uma manifestação exótica, mas como “[...] contribuições regionais -
da periferia da civilização - a uma concepção arquitetônica universal” (COMAS, ?.
p.13). Isso é corroborado pelo grande número de reprodução, por revistas
especializadas da época, por todo o mundo, de obras expostas na Mostra.
Outro experimentalismo que se nota, ainda nos anos da Guerra, é a aquisição
de obras contemporâneas do Brasil, isto é, a todas as obras adicionadas ao acervo
nesse período são produções realizadas poucos anos antes de serem adquiridas pelo
Museu. Pela própria política de aquisição de obras do MoMA, não faria sentido a
Instituição buscar obras consagradas de movimentos anteriores ao moderno, mas
poder-se-ia ter optados pelos nomes dos artistas já consagrados pela Semana de 22,
optaram porém, por viajar ao País para conhecer novas produções – o que implicou
192
uma série de erros de omissão e escolha de obras admitidos pela própria instituição -
mas representa uma legitimação da arte brasileira inédita dada por uma instituição
internacional.
É pertinente novamente explicitar que tais experimentalismos, em meio do
contexto que se passaram, não foram suficientes para evitar que a arte brasileira nos
olhos do Museu fosse reduzida, tendo apenas uma relação mínima com o real
desenvolvimento artístico do País.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, nota-se uma nova postura do Museu
perante a produção brasileira. Sem uma interferência clara do governo norte-americano
para a divulgação da arte latina e brasileira, não são realizadas exposições e se reduz
o número de aquisições de obras.
Embora esfrie, a relação do MoMA com o Brasil não desaparece nos anos 1950.
O Brasil, que vive um momento de crescimento econômico e urbano, interessa-se pelo
apoio do MoMA para a criação de instituições de arte Moderna. Nelson Rockefeller,
então presidente do MoMA e detentor de uma série de empresas, visualiza, de sua
parte, a pertinência política e econômica da manutenção do diálogo entre os países e
participa da concepção de importantes museus, como o MASP e principalmente o
MAM-SP.
193
Mantém-se também, durante a década de 1950, a compra de obras através do
Inter-American Fund, fundo criado nos anos 1940, destinados a compras de obras na
América Latina, subvencionado Rockefeller.
Ainda nesse contexto da década de 1950, o MoMA é o responsável pela
representação norte-americana oficial na Bienal Internacional de Arte de São Paulo em
várias de suas edições, e sua destacada figura, Alfred Barr Jr. é convidado na quarta
edição para seu um dos júris da mostra.
Barr mostra-se desinteressado pela produção abstrata geométrica em voga e
opta por adquirir obras figurativas, com temas típicos brasileiros para o acervo do
Museu.
Analisando esse momento se nota a grande a disparidade que se cria, de
acordo com Pérez-Orama (2004) desde os anos 1940, entre o alinhamento crítico e
estético das artes visuais produzidas no Norte e no Sul do continente Americano.
Esse desalinhamento, de acordo com Pérez-Orama (2004), se dá nos modelos
modernos após 1945, que já indicam uma transição da modernidade à cena
contemporânea que ocorrerá nas décadas seguintes: Nesse momento, a arte brasileira
estaria começando a produzir uma reação à arte figurativa e, juntamente com a
produção geométrica, o abstracionismo brasileiro se desdobraria em experimentações
caracterizadas por dispositivos estéticos com participação do espectador, oferecendo
194
diferentes rumos em relação à abstração norte americana, nesse momento totalmente
embasada dentro de critérios formalistas. 20
É exatamente essa diferença na teorização da arte abstrata que torna a arte
brasileira incompreensível aos olhos do norte americano, que por muito tempo não
assimilou os desenvolvimentos próprios da arte latina, que, segundo Ramírez (1999)
antecipa formas ideológicas do Conceitualismo desenvolvidas nos Estados Unidos no
final dos anos 1970 e 1980 por grupos engajados politicamente.
Assim, a arte que prevalece no MoMA, nos anos 1950 demonstra prevalência da
abstração autorreflexiva, cuja ambição, segundo Ramírez (1996) reduz-se a uma rígida
afirmação autorreferenciada, sem o impacto das realidades políticas e sociais na arte.
Essa mesma postura é a que domina o MoMA, como Instituição na década
seguinte. Como aponta Lorente (2011) o MoMA nos anos de 1960, torna-se modelo
representativo do Moderno, que busca para si uma estética despolitizada e neutra. Tal
atitude acaba por torná-lo fechado em si mesmo e em suas premissas estéticas,
tornando impenetráveis no Museu movimentos artísticos que despontavam nos
Estados Unidos e, insistindo na concepção de uma modernidade latina exclusivamente
em termos de alteridade ou deslocamento atrasado dos modelos já vistos na Europa e
Estados Unidos.
20 Principalmente sob influência do crítico de arte Clement Greemberg , que acreditava que a forma se sobressaia e era ela determinada pelo juízo de valor, ele diz: É ainda o juízo de valor que confere “forma”, seja na arte formalizada ou não‐formalizada (GREENBERG 2002, pg. 112)
195
Assim, mesmo que os anos de 1960 sejam marcados por uma nova fase de
investimento do MoMA no diálogo com o Brasil e a América Latina em geral, fica
evidente que o estímulo é de cunho político, gerado pelo interesse norte americano em
se aproximar do Sul durante a Guerra Fria. Vê-se, assim um acréscimo significante nas
obras brasileiras no acervo do Museu, mas nota-se que entre as obras escolhidas,
encontram-se, em sua maioria, apenas aquelas compreensivas ao Museu, como as
obras de Lasar Segal, Oscar Niemeyer, Maria Martins, ou aquelas reiterem o caráter
exótico da brasilidade.
São omitidos artistas cuja arte mostra engajamento político, como Hélio Oiticica
e Cildo Meireles que, segundo Ramírez (1996) criam uma arte que transcende o
reinado puramente estético e explora assuntos ligados à situação social e política de
seus países, bem como debatem a postura dos agentes tradicionais da arte, expondo
os limites da arte e da vida sob condições marginais.
Nos anos 1970, o estímulo injetado no Museu pela Guerra Fria some e,
novamente se evidencia que as compras realizadas na década anterior eram um
subproduto da agenda política norte americana. Outra demonstração de que não há
engajamento do MoMA com a significância artística da produção cultural brasileira é
dada ao se observar as escassas aquisições e exposições de obras brasileiras no
Museu nos anos de 1970 e anos 1980.
196
Uma série de fatores leva o MoMA a convergir rumo a um novo diálogo com a
parte Sul do continente americano no final dos anos 1980 e anos 1990. Ramírez (1999)
aponta fatores políticos como as redemocratizações na America Latina e fatores
econômicos para explicar parte do fenômeno, que englobou todo o mercado
americano, não apenas o MoMA.
Para Ramírez (1999) a redemocratização associada ao modelo neoliberal
econômico, gerou grandes impactos no funcionamento das artes visuais.
Primeiramente, a noção de bordas nacionais é esquecida, e há um transito fluido de
artistas, exposições, curadores, patrocinadores e novos colecionadores que circulam
entre os centros internacionais de arte e as capitais latinas. Além disso, o setor privado
surge como grande patrono das artes, e, se antes a arte era usada por governos (às
vezes totalitários) para promover um nacionalismo, nos anos 1990, a arte torna-se
importante ferramenta de marketing para o setor privado na América Latina. Assim,
Ramírez (1999) aponta para uma mudança na motivação da promoção da arte latina, e,
se até então, os booms que aconteciam podiam ter sua origem em um projeto
‘imperialista’ norte-americano, nesse momento é um “fenômeno direta, ou
indiretamente associado com a autopromoção dos interesses econômicos da America
Latina nos Estados Unidos e na Europa Ocidental” (RAMÍREZ, 1999, p.21, tradução
nossa), sendo propulsionados para legitimar a origem desses novos players do
mercado e para mostrar as realizações alcançadas em seus projetos de modernização.
197
Associados a isso, Ramírez (1999), Pérez-Barreiro (2005) e Pérez-Orama
(2004) mencionam o crescimento da minoria latina nos Estados Unidos, com um novo
grupo de consumidores e frequentadores de museus, que carecem de símbolos
culturais e de uma identidade que proporcione um reconhecimento desse grupo pela
sociedade.
O MoMA, nesse contexto, vive suas particularidades como instituição. Lorente
(2011) afirma que sua arte e seu modelo de Museu vinham sendo questionados por
artistas e acadêmicos desde os anos 1970, e em oposição a esse modelo, surgem,
ainda na década de 1970 outras importantes instituições como o Centre Pompidou em
Paris. É talvez a após perder certa respeitabilidade, e, em uma busca de manter seu
papel de modelo como museu que o MoMA opta por realizar releituras de alguns de
seus posicionamentos até então.
Assim, associam-se as demandas do Museu e de um grupo em emergência
para efetivar uma mudança nas narrativas históricas do MoMA e, o que se vê, são
medidas que se iniciam nos anos 1990 e caminham até os dias atuais em prol de um
reconhecimento de artistas brasileiros e latinos ao lado dos demais artistas por sua
qualidade, mas sem extraí-los de seu contexto.
Entre as medidas que se veem, estão: a nomeação do cargo de curador adjunto
do Departamento de Pintura e Escultura para um curador latino – que deve trabalhar
198
em conjunto com o departamento introduzindo seu conhecimento para ajudar no
diálogo entre os artistas; a aquisição de obras de períodos omitidos da coleção, como
os já citados artistas Lygia Clark, Cildo Meireles, Helio Oiticica; a criação de exposições
e publicações que procuram revisar o papel de alguns grupos de artistas latinos e
brasileiros não como produções periféricas, mas como precursores de algumas formas
de arte que reverberam na arte contemporânea até hoje.
FIALHO (2007) E O RECENTE ENVOLVIMENTO DO MOMA COM A ARTE BRASILEIRA
Fialho (2007) mostra-se reticente em relação a esse novo envolvimento do Museu com
a arte brasileira. Fialho (2007) argumenta que a exposição Latin American & Caribbean Art –
MoMA at El Museo realizada em 2004 é um exemplo de que a Instituição ainda não abriu um
espaço significante para a arte latina e afirma: que “o fato de (...) se ter formalizado uma
“coleção latino-americana” à parte significa que esta ainda não alcançou status suficiente no
interior do MoMA”. (FIALHO, 2007, s.n.)
Pode-se ler a exposição de outra forma. O Museu afirma que não se trata de formalizar
uma coleção latina, mas afirma que a exposição é realizada como oportunidade para “resgatar
esta história e, mais consciente e sistematicamente, renovar envolvimento do Museu com a
arte da América Latina” (LOWRY, 2004). No catálogo da exposição os curadores escrevem que
veem como um erro dizer que a arte latina deve ser tratada como uma coleção isolada.
Como Pérez-Orama observou, o que informalmente é referido como ‘a coleção Latina-americana’ do Museu é apenas uma porção da coleção que é identificada de acordo com sua região geográfica [...] indicando uma falta de
199
integração nas narrativas sobre a arte moderna que são elaboradas no Museu (BASILIO, 2004, p.62, tradução nossa)
Daí se infere que a proposta de exposição é de fato, reavaliar como a arte latina se
insere no Museu na tentativa de criar uma apreciação mais correta da mesma.
Fialho (2007) escreve também a respeito da exposição e menciona mais um fator que
aponta para o fato de que a arte latina “ainda não alcançou status suficiente no interior do
MoMA”, e afirma que “grande parte das obras adquiridas são em papel, o que significa que os
investimentos feitos são pequenos em termos econômicos”.
Sob esse aspecto, podemos argumentar dois fatores: (a) como mencionado
anteriormente, a exposição propõe uma análise do que o Museu tem em sua posse para, então
trabalhar nas omissões. Caberia aqui sim dizer que até então o status da arte latina era
rebaixado, mas não justifica dizer o mesmo sobre o tratatamento atual, já que o que se busca é
exatamente reavaliá-lo. (b) A proporção de trabalhos em papel em relação às pinturas, não é
maior nos trabalhos latinos. Se observarmos os dados apresentados a respeito da coleção
geral do Museu, o número de obras totais do departamento de Desenho também supera o
número do Departamento de Pintura e Escultura do Museu como um todo. São três mil e
seiscentas obras do Departamento de Pintura e Escultura para mais de dez mil obras no
departamento de Desenho21.
21 Como apresentado no item 3.1.1 do capítulo 3.
200
Gráfico 18 – Obras brasileiras no acervo do MoMA subidivididas por departamento (elaborado pela autora)
4.1 Consideraçõessobrealgumasquestõeslevantadas
4.1.1 Motivações
É unânime entre estudiosos, de dentro ou de fora do MoMA, a noção que
historicamente, as aquisições de obras brasileiras deram-se como resposta a diversas
forças como a política externa norte-americana, o interesse particular de alguns
indivíduos dentro do museu ou a necessidade de atração de um novo público.
4.1.2 Momentodeaquisiçãodasobras
A maioria das obras tenha sido adicionada ao acervo mais recentemente,
entretanto, obras brasileiras são incluídas na coleção do Museu desde 1939.
Architecture and Design; 76; 19%
Drawings; 164; 40%
Film; 2; 0%
Media and Performance Art; 12; 3%
Painting and Sculpture; 35;
9%
Photography; 22; 5%
Prints and Illustrated Books; 98;
24%
Obras brasileiras no Acervo do MoMA por Departamento
(em números absolutos e porcentualmente)
201
Gráfico 19 ‐ Obras brasileiras adicionadas entre 2000 e 2011 superam a quantidade total de obras adicionadas durante os 60 anos anteriores (elaborado pela autora)
As aquisições ocorrem ‘em massa’ em alguns períodos, como nas décadas de
1940 e 1960. Esses dois momentos são marcados por um alinhamento do Museu com
os interesses do Estado norte-americano, que nesse momento, buscava os países que
compõe a América Latina, como aliados políticos.
4.1.3 ArteLatinaxBrasileira
Pode-se dizer, assim, que, em geral, essas aquisições foram realizadas por
entrarem na categoria ‘latina', mais do que por caracterizarem-se especificamente por
serem brasileiras ou por sua qualidade artística – independente de sua origem
geográfica.
192
217
0
40
80
120
160
200
1939‐1999 2000‐2011
Total de obras brasileiras adicionadas em diferentes períodos
202
Embora os curadores do museu reconheçam as extensivas diferenças na
produção e na cultura dos países que informalmente denominam de arte latina, ainda
hoje muitas das medidas em relação à produção desses países são tomadas
considerando-se o grupo como um todo.
O cargo de curador adjunto criado em 1999, por exemplo, é destinado a um
profissional de origem latina. Basílio (2004) informa também da criação da posição de
Latin America Specialist na biblioteca do Museu. Criam-se também, programas
educacionais e eventos para o estudo da arte latina.
Ramírez (1999) atenta à homogeneização que o termo ‘latino’ leva, e, embora
pareça haver esforço por parte dos colaboradores e curadores do Museu para não
massificar as diversidades que incluem-se nesse termo, em última análise, é cedo para
saber se não serão omitidos ou esquecidos alguns importantes representantes de
determinados países ou grupos.
Tal armadilha parece inevitável, dada a capacidade limitada de uma única
instituição colecionar ou mostrar tudo que se produz no cenário artístico Mundial -
embora essa seja uma das propostas que o Museu ainda tente ater-se: “ser um museu
universal” (Pérez-Orama, 2004, p.34).
203
4.1.4 ColeçãoHistóricaxContemporânea
É a manutenção dessa vontade de ser universal, que, segundo Pérez-Orama
(2004), leva o Museu a realizar, constantemente, análises autocríticas para avaliar
aonde o Museu possa ter sido omisso. Assim, embora até os anos de 1990, de
maneira geral, as obras brasileiras adicionadas ao acervo tivessem sido produzidas
próximas ao momento de sua inserção na coleção, a partir desse momento há uma
nova abordagem para aquisições e, são realizadas compras de obras anteriormente
relegadas, assim como obras contemporâneas. Ainda assim, a pensar-se no número
de artistas brasileiros no acervo, que somam 96 no total, pode-se refletir em uma série
de nomes a serem incluídos na coleção a fim de aumentar a representatividade da
produção artística brasileira.
204
Quadro 11 - Artistas brasileiros representados no Acervo do Moma em 2011
(elaborado pela autora)
Nome do Artísta Número de Obras Nome do Artísta Número de Obras
Abraham Palatnik 2 Jose Claudio da Silva 1
Adão Pinheiro 1 José Costa Leite 1
Alberto da Veiga Guignard 2 José Damasceno 2
Aldemir Martins 4 José Leonilson 6
Alex Gama 1 Jose Moraes 1
Alfredo Volpi 9 José Pancetti 1
Almir Mavignier 24 Lasar Segall 14
Aloisio Magalhães 1 Lina Bo Bardi 1
Aluisio Carvão 1 Lygia Clark 6
Anna Bella Geiger 5 Lygia Pape 3
Anna Letycia 1 Marcelo Grassman 1
Anna Maria Maiolino 31 Marcelo Tas 1
Antonio Dias 2 Marepe 6
Antônio Maluf 1 Maria Bonomi 1
Arthur Luis Piza 2 Maria Martins 4
Aurino Valenca Lins Darel 1 Mario Cravo Junior 5
Beatriz Milhazes 3 Mario Cravo Neto 2
Cândido Portinari 13 Maurício Klabin 2
Cao Guimarães 1 Mira Schendel 48
Carlos Scliar 1 Nair Benedicto 2
Carybé 1 Oscar Niemeyer 19
Cildo Meireles 11 Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx 1
Claudia Andujar 2 Paulo Mendes da Rocha 17
Edith Behring 3 Paulo Rossi Osir 2
Efrain Almeida 1 Percy Deane 1
Ernesto Neto 7 Rafael França 1
Evandro Carlos Jardim 1 Rivane Neuenschwander 3
Farnese de Andrade Neto 1 Roberto Burle Marx 7
Fayga Ostrower 3 Roland Cabot 1
Fernando Campana, Humberto Camp 5 Rossini Perez 2
Flavio de R. Carvalho 2 Ruth Bessoudo Courvoisier 3
Frans Krajcberg 1 Ruy Othake 1
Geraldo de Barros 2 Sebastião Salgado 1
Gilván Samico 2 Sérgio Camargo 1
Hector Babenco 1 Solange Fabião 1
Heitor dos Prazeres 1 Sonia Castro 1
Helena (Mie Yuan) 1 Thiago Rocha Pitta 1
Hélio Oiticica 12 Tomas Santa Rosa 1
Hércules Barsotti 5 Tunga 1
Hermano José 1 Valdir Cruz 1
Iberê Camargo 1 Vera Bocayuva 2
Iran do Espírito Santo 12 Victor Lopes 1
Isabel Pons 1 Vik Muniz 20
Jac Leiner 2 Vincent Carelli 2
Jessica Mein 1 Waldemar Kutner 1
João Moreira Salles 1 Walter Marques 2
Jorge Furtado 1 Waltercio Caldas 8
Jose Bernardo 1 Willys de Castro 10
Total de Artistas 96
205
4.1.5 Formasdeaquisição/Recursosparaacompradeobras
Em busca de compreender de que forma o MoMA coletou obras brasileiras,
pode-se verificar que, embora o MoMA tenha traçado e aperfeiçoado ao longo de sua
existência sua ‘metodologia’ para a aquisição de obras para o acervo - isso é, por um
considerável período trabalhou em torno do conceito do ‘torpedo no tempo’,
(apresentado no Capítulo 2), proposto por Barr, sendo depois proposta a manutenção
de obras importantes, desde a metade do século XIX, identificando-as pelo seu meio
formal – a compra de obras de artistas brasileiros não foi julgada puramente por tais
critérios. Conhecer as origens dos recursos para a compra de obras permite mais uma
dimensão para compreender os caminhos para a formação do acervo.
Compra25%
Compra subvencionada1%
Doação particular22%
Emprestimo indefinido
0%
Outros Fundos17%
Inter‐American Fund9%
Latin American and Caribbean Fund
9%
Não Conhecida0%
Patricia Phelps de Cisneros
4%
Presente do Artista ou Artist's Estate
13%
Forma de Aquisição no total de obras brasileiras no acervo do MoMA
Gráfico 20 ‐ Distribuição do total de Obras brasileiras no acervo do MoMA por forma de aquisição (elaborado pela autora)
206
Embora não se tenha realizado um estudo a fim de verificar cada uma das
linhas de crédito que inseriram as obras ao acervo (são mais de 80), podem-se
destacar algumas considerações a seus respeitos: Verifica-se, por exemplo, conforme
abordado durante o presente estudo a forte influencia de Nelson Rockefeller através do
Inter-American Fund.
Nota-se também a forte e crescente presença do novo Latin American and
Caribbean Fund, subvencionado por uma série de colaboradores22. A respeito desses
colaboradores e alguns doadores particulares brasileiros (ver Quadro 1), pode-se
refletir novamente nas palavras de Ramírez (1999), quando diz respeito ao atual fluxo
de influência proveniente de personagens latinos, opostos ao habitual fluxo sobre
latinos – potencialmente devido às necessidades desse grupo de validar suas origens a
fim de exercer maior participação no mundo mais globalizado.
Dois exemplos de investimentos injetados por indivíduos com raízes no
continente Sul – além do proprio Latin American and Caribbean Fund – são o Cisneros
Travel Fund – fundo, segundo Basílio (2004), administrado pelo International Program
do MoMA a fim de permitir que membros dos departamentos de curadoria realizem
viagens à America Latina e o supra citado23 cargo de curador-adjunto, que leva o nome
de The Estrellita Brodsky Curator of Latin American Art. Estrellita Brodsky, segundo
22 Ver anexo – O primeiro exemplar do Journal of the Latin American and Caribbean Fund que apresenta os nomes dos membros do fundo. 23 Ver Capitulo 3, item Os Anos 1990 onde se apresenta o cargo criado em 1999.
207
Taylor (2008) é americana com pais imigrantes da Venezuela e Uruguay que, após
obter o título de PhD em Artes Visuais pela Universidade de Nova York, vê-se
voluntariando para a realização de uma exposição no Museu Del Barrio, e a partir daí,
quer que “Latino-americanos nos Estados Unidos, especialmente os mais novos,
sintam orgulho das realizações criativas de seus países” (Taylor, 2008, s.n., tradução
nossa) e subvenciona o cargo de curador-adjunto, que hoje viabiliza a participação de
um curador voltado para a produção latina do Museu. Estrellita, em 2012, passa a
subvencionar o mesmo cargo em outra importante instituição, o Tate Modern.24
Um aspecto interessante a se analisar são algumas compras realizadas por
fundos não dirigidos exclusivamente à arte latina ou brasileira, é o caso de doações
realizadas pelos Comites de alguns departamentos, como o de Pintura e Escultura, ou
de Desenho, ou fundos direcionados a algum meio, como o The Fellows of
Photography Funds.
Esses caminhos podem ajudar a conhecer aqueles artistas brasileiros que estão
rumando a um patamar de igualdade com seus pares internacionais pela real
apreciação de seu trabalho e não pela sua origem geográfica, a seguir se apresentam
alguns desses fundos que puderam ser identificados:
24 Em PRESS RELEASE TATE http://www.tate.org.uk/about/press‐office/press‐releases/tate‐appoints‐jose‐roca‐estrellita‐b‐brodsky‐adjunct‐curator‐latin. Acessado em 10 Junho de 2012
208
Quadro 12- Alguns Fundos responsáveis por aquisições de obras brasileiras no MoMA não ligados diretamente a Arte Latina
(elaborado pela autora)
Forma de Aquis iç ão Ar t is ta Obra Depar tamento Ano Ano Aquis iç ão
Desire is a Blue Lake Drawings 1989 1999
Men With Their Own Attentions Drawings 1989 1999
I Am Your Man Drawings 1992 1999
Library Council of The Museum of Modern Art Beatriz Milhazes Coisa Linda Prints and Illustrated
2002 2002
Organograma (1) Drawings 2002 2005
Organograma (2) Drawings 2002 2005
Untitled (3) Drawings (2004) 2005
Untitled (1) Drawings (2004) 2005
Untitled (6) Drawings (2004) 2005
Untitled (5) Drawings (2004) 2005
Untitled (2) Drawings 2004 2005
Untitled (4) Drawings (2004) 2005
Dream duck Pearl Drawings 1999 2005
Lonely Deserts Drawings 2003 2005
Untitled (1) Drawings (2002) 2005
Untitled (2) Drawings (2002) 2005
Agnes Gund and Nina and Gordon Bunshaft Bequest Fund
Beatriz Milhazes Succulent Eggplant Painting and Sculpture
1996 2002
Committee on Drawings Funds Mira Schendel Untitled from the series Datiloscritos (Typed writings) Drawings 1974 2008
Committee on Media and Performance Art Funds Jessica Mein DeleveleD Media and Performance
2007 2008
Committee on Painting and Sculpture Funds Mira Schendel Untitled (10) 1963 Painting and Sculpture
1963 2006
Rivane Neuenschwander Zé Carioca no. 4, A Volta de Zé Carioca (1960). Edição Histórica, Ed. Abril
Drawings (2004) 2005
Thiago Rocha Pitta Rio-São Paulo Media and Performance
2005 2006
Untitled (5) Prints and Illustrated
1962 2008
Untitled (4) Prints and Illustrated
1962 2008
Big James Sweats buckets Photography 1996 1997
Valicia Bathes in Sunday Photography 1996 1997
Sebastião Salgado untitled (Serra Pelada) Photography 1986-89 1990
Vik Muniz Mass Photography 1997 1997
José Leonilson
José Damasceno
Marepe
Ernesto Neto
Willys de Castro
Vik Muniz
Friends of Contemporary Drawing
The Judith Rothschild Foundation Contemporary Drawings Collection
Fund for the Twenty-First Century
General Print Fund
The Contemporary Arts Council of The Museum of Modern Art
The fellows of photography fund
209
4.1.6 Aexibiçãodeobrasbrasileira
Outra e importante forma de avaliar o status dos artistas em determinada
exposição é analisando quanto ele mantem-se em exposição. Seja através de
exposições temporárias ou alocado em galerias destinadas à Coleção Permanente do
Museu, essa medida é bastante significativa para vislumbrar um pouco de sua
apreciação. Essa questão não é facilmente mensurável, pela dificuldade de agrupar
informação e até obtê-las.
Figura 14 ‐ Zé Carioca no. 4, A Volta de Zé Carioca (1960). Edição Histórica, Ed. Abril de Rivane Neuenschwander, 2004. Tinta impressa sobre papel. Acervo MoMA
Durante a presente pesquisa, entretanto, procurou-se saber quais obras da
coleção permanente estiveram em vista do público no período da realização do
levantamento e da execução desse estudo. Abaixo se encontram algumas das obras
210
que puderam ser levantadas por, em algum momento, estarem expostas nas galerias
do Museu, atentando-se que não necessáriamente essas envolvam a totalidade das
obras brasileiras mostradas no período:
Quadro 13 – Obras brasileiras que estiveram expostas no MoMA entre Janeiro 2011 e Julho 2012
Artista Obra Classificação Departamento Ano Ano
Aquisição Forma de Aquisição
Aluisio Carvão Construction 6 Painting Painting and Sculpture
1955 2010 Latin American and Caribbean
Fund
Anna Bella Geiger Sobre a Arte (On Art) Video Media and Performance
Art 1983 1991 Compra
Anna Bella Geiger Elementary Maps no. 3
(Mapas Elementares no. 3) Video
Media and Performance
Art 1976 1991 Compra
Geraldo de Barros Self Portrait Photography Photography 1949 2005 Christie Calder Salomon Fund
Jessica Mein DeleveleD InstallationMedia and Performance
Art 2007 2008
Committee on Media and Performance Art Funds
Lygia Clark Planes in Modulated Surface
4 Painting
Painting and Sculpture
1957 2008 Latin American and Caribbean
Fund
Maria Martins The Impossible, III Sculpture Painting and Sculpture
1946 1946 Compra
Mira Schendel Untitled (Red) Drawing Drawings (1964) 2001 Doação, Luisa
Strina
Mira Schendel Segno dei Segni (Sign of
Signs) Drawing Drawings 1964‐65 2008
Latin American and Caribbean
Fund
Mira Schendel Untitled from the series
Droguinhas (Little Nothings)Sculpture
Painting and Sculpture
1964‐66 2005 Scott Burton
Fund
Mira Schendel Untitled from the series
Datiloscritos (Typed writings)Drawing Drawings (1970'S) 2008 Compra
Oscar Niemeyer
Urban Plans (ZAC) Projects for Grasse, Dieppe, and Villejuif, France, Aerial
perspectives and plan for Grasse in maquette for Modulo Journal No. 53
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1967‐78 2007 Doação, André Correa do Lago
Oscar Niemeyer Urban Plans (ZAC) Projects for Grasse, Dieppe and
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1967‐78 2007 Doação, André Correa do Lago
211
Villejuif, France, Aerial perspectives and plans for Dieppe and Villejuif for Modulo Journal No. 53
Oscar Niemeyer
Urban Plans (ZAC) Projects for Grasse, Dieppe and Villejuif, France, Plans for Grasse in maquette for Modulo Journal No. 53
A&D Graphic Design
Architecture and Design
1967‐78 2007 Doação, André Correa do Lago
Rivane Neuenschwander
Zé Carioca no. 4, A Volta de Zé Carioca (1960). Edição
Histórica, Ed. Abril Drawing Drawings (2004) 2005
Fund for the Twenty‐First Century
Victor Lopes Venus de Fogo Video Media and Performance
Art 1993 1994 Compra
Willys de Castro Active Object (1) Painting Painting and Sculpture
1961 2007 Latin American and Caribbean
Fund
Willys de Castro Active Object (2) Sculpture Painting and Sculpture
1961 2010
Latin American and Caribbean Fund, Patricia Phelps de Cisneros
(elaborado pela autora)
Nota-se que a maioria das obras está entre aquelas adicionadas ao acervo depois
do ano 2000. Há bastante diversidade quanto ao meio (classificação) e o momento de
execução das obras, havendo representação de artistas e contemporâneos, bem como
de artistas como Lygia Clark e Mira Schendel, importante para as raízes da arte
contemporânea brasileira.
Oscar Niemeyer parece manter seu destaque entre as obras brasileiras.
Interessante notar a presença de obras do Departamento de Media and Performance
Arts, como a instalação de Jessica Mein, os vídeos de Anna Bella Geiger e de Victor
Lopes.
212
Figura 15 ‐ Sem título da série Droguinhas (Little Nothings) de Mira Schendel. 1964‐1966. Papel japonês. Acervo MoMA.
Figura 16 e 17 ‐ DeleveleD de Jessica Mein, 2007. Video animation (color, silent), 1 min. Acervo MoMA
213
4.2 AmarginalidadedoartistalatinoeaTeoriaCompesatória
Embora de modo geral, note-se maior consistência nas ações voltadas a arte
brasileira e um período relativamente significante (anos 1990, 2000 e inicio da década
de 2010), devido à reticência quanto às reais motivações do Museu, considerando-se
sua postura histórica quanto ao tema, estudiosos e críticos brasileiros preocupam-se
não só com a quantidade de exposição dada à arte do País, mas também com o
tratamento dado a ela, isto é, preocupam-se como a arte brasileira é compreendida
pelo Museu e recebida pelo público e assim, valorizada. Fialho (2005a) apresenta que,
em geral, o tratamento dado encaixa-se em um de dois discursos: ou o discurso pela
diferença – que prima por um exotismo da cultura brasileira, desmerecendo produções
sem caráter explicitamente regional – ou prega-se um discurso de assimilação – que,
em prol de uma qualidade por critérios universais, tiraria a relevância do contexto da
produção da obra, o que resultaria em uma apreciação superficial e falha.
Fialho (2006) insiste que, ainda que a afirmação recorrente de que há integração
entre a coleção latina e internacional, na prática ainda há separação e o projeto de
promoção da America Latina ainda não é reconhecido dentro da Instituição, sendo essa
tratada com valor secundário e marginalizada.
214
Em um mundo ideal, entretanto, a arte brasileira seria apreciada de outra forma.
O contexto, as poéticas e as proposições dos diferentes artistas seriam entendidos em
profundidade, independente de sua origem geográfica, e tais artistas poderiam
contribuir com novos olhares assumindo papéis centrais no circuito contemporâneo
global.
Fosse assim, não haveria dificuldades na apreciação e não haveria a
necessidade de esforços de fundos destinados a investir em exposições e compra de
obras especificamente latinas, ou, de criação de cargos que possibilitem a inclusão de
artistas brasileiros em exposições contemporâneas ou históricas, entre outras medidas
- que, por um lado possibilitam o acesso dos latinos nas instituições centrais e, por
outro, geram uma desconfortável sensação de incerteza quanto ao mérito do que está
se fomentando.
Mas, assim como um país utiliza-se da Teoria Compensatória na tentativa de
reparar erros cometidos a algum grupo de sua população, o MoMA poderia estar
utilizando-se do mesmo recurso, sendo
O fundamento deste princípio relativamente simples: quando uma parte lesiona
a outra, tem o dever de reparar o dano, retornando a vítima à situação que se
encontrava antes de sofrer a lesão. Propriamente dita, a teoria compensatória é
a reivindicação para que se repare um dano ocorrido no passado em relação
aos membros de determinado grupo minoritário. (KAUFMANN, 2009)
215
Partindo-se desse ponto, o MoMA, na tentativa de corrigir o tratamento dado à
arte de diferentes regiões geográficas optaria por recursos compensatórios – nesse
contexto, os fundos direcionados, os cargos de curadores específicos - ainda que não
adequados em um estado ideal de relacionamento.
Buscar-se-ia chegar assim, a um estágio ‘reparado’, no qual a representação
latina simplesmente se daria lado a lado dos demais artistas na proporção da qualidade
de sua produção; não seriam necessários curadores adjuntos, mas os cargos de
curadorias tradicionais seriam em alguma dimensão assumidos por estrangeiros; o
diálogo com estudiosos, artistas e curadores brasileiro seria constantemente
procurado.
É necessário notar, ainda, que, no que diz respeito a uma justa representação
de um grupo dentro de um acervo há ainda mais fatores que dificultam tal objetivo, para
citar alguns associados à natureza de qualquer coleção, menciona-se: a limitação de
espaço físico de um acervo; a limitação de tempo para dedicar-se e acompanhar todas
as produções de diferentes grupos; a dificuldade de reunir informação para avaliar o
que e quando deve ser colecionado; e a limitação inerente ao papel do colecionador,
que deve fazer escolhas que, de alguma forma ou de outra, ditam prioridades
necessariamente realizando omissões.
216
O que resta, então, dada a natureza limitada da coleção e os erros já cometidos,
é a tentativa de que o Museu trabalhe com o máximo de conhecimento possível da arte
que esteja colecionando. Assim, concentrar-se para que, junto com as compras
permitidas pelo intenso financiamento disponibilizado, venha a realização de estudos;
viagens de aproximação com artistas, acadêmicos e pesquisadores; participação
efetiva desses conhecedores da produção local, para que a representação brasileira do
Museu chegue o mais próximo possível do ideal e assim, com uma inserção mais
legitima, menos estereotipada da realidade.
Posto isso, espera-se que a vontade do Museu, que de acordo com Pérez-
Orama (2004), é realmente de transformar as fronteiras entre os dois continentes
concretize-se, na prática e entre as mudanças, efetive-se a proposta de que o Museu
regule as compras de obras produzidas no Brasil dentro de sua lógica de sua estratégia
de colecionamento geral. Para isso, acima de tudo, como propõe Ramírez (1996) é
preciso reconhecer a realidade entre os continentes como um circuito com
interdependências e de “ativa negociação de significados entre [eles]”.
Enquanto a realidade ainda incide sobre dificuldades e falhas, pode-se associar
a afirmação de Salsztein (2001)25 - que a visibilidade pública alcançada pela produção
artística brasileira em seu próprio território acontece de fora do País para dentro - com
a apreensão de Fialho (2005a) quanto a representação brasileira. Fialho (2005a)
25 Ver Introdução
217
aponta para um sentimento errôneo de orgulho nacionalista que cria no brasileiro uma
imagem cultural do País que não corresponde à imagem efetiva. O brasileiro, de
acordo com Fialho (2005a) dá-se por satisfeito por saber que está em evidencia,
desconsiderando-se o tratamento dado. De fato, considerando-se o como
historicamente foi a representação brasileira no acervo do MoMA, com a promoção de
estereótipos em alguns momentos e a omissão de importantes agentes em outros,
compreendem-se, em alguma dimensão, as falhas citadas por Fialho (2005a) da
dinâmica atual do Brasil com sua arte, do deslumbramento do brasileiro.
Embora se deva atentar, de fato, para as motivações históricas erradas e a
existência de interesses particulares agentes – sejam políticos, econômicos ou sociais
– Basilio (2004) reitera que “as motivações que levaram a aquisições particulares [no
passado] não devem ser vistas como estáticas, [...] nem motivos passados devem ser
projetados no presente”.
Nesse sentido, não obstante haja descrença quanto a real valorização da arte
brasileira no cenário internacional, vale-se apegar a pequenos detalhes, que talvez não
façam tanto alarde quanto uma coleção, mas que indicam um despontar de faíscas de
reconhecimento da nossa arte dentro do MoMA. Trata-se do caso do MoMA Media
Lounge, espaço modular e flexível destinado a apresentação da coleção de trabalhos
de áudio e vídeo do Museu. Concebido pela artista Renée Green, a instalação é
chamada de Media Bichos, evocando o trabalho de Lygia Clark, e propõe-se a
218
investigar a maneira pelas quais os visitantes extraem significado combinando e
movendo a obra pelo espaço.
Muito provavelmente tal associação não é suficiente para provocar mudanças
nas representações e visões gerais, mas indicam dados não quantitativos de outra e
real forma de inserção da arte brasileira no circuito internacional com negociações e
interdependências, sugeridas por Ramírez (1996).
219
5 ConsideraçõesFinais
Ao longo do presente trabalho buscou-se encontrar respostas a uma série de
perguntas colocadas na introdução dessa pesquisa referentes à inserção da arte
brasileira no acervo do MoMA.
O que se viu é que o Museu manteve, em diversos períodos, laços fortes com a
arte brasileira. Suas motivações, entretanto, foram, durante o maior tempo, claramente
política, pouco sendo considerado o valor artístico da produção em questão.
As obras, quase sempre, foram compradas pensando-se em um contexto de
‘arte latina’, mais do que arte brasileira – ainda que isso implique uma série de
reduções e omissões da pluralidade da produção do continente sul-americano.
Seguindo a política do MoMA de relacionar-se com artistas de seu tempo, em
sua maioria, as obras foram adquiridas enquanto os artistas viviam, mais ainda, as
obras foram adquiridas próximas às datas de sua produção.
Tal estratégia passou a dividir lugar com a compra de obras de movimentos
anteriores, que passou a fazer parte da agenda do MoMA nos anos 1990, quando o
Museu passou a reavaliar sua própria história e suas posições quanto definidor do
Modernismo. Nesse sentido, o Museu buscou - e ainda busca – estudar as décadas
anteriores a fim de rever importantes omissões feitas no passado. O Brasil ganha então
220
uma crescente visibilidade dentro da coleção, podendo-se afirmar que a maioria das
obras que hoje estão no acervo foi adquirida após os anos de 1990.
Há bastante ceticismo ainda quanto às motivações de tal empreendimento.
Questiona-se se esse movimento novamente não se dá apenas pela força de alguns
agentes específicos com interesses nessa valorização. Se historicamente fala-se,
principalmente de Nelson Rockefeller, no presente, cita-se Patricia Phelps de Cisneros,
que embora não tenha a influencia de Rockefeller, assume importante papel na
Instituição, principalmente no campo de arte latina.
A importância econômica do Brasil em um cenário global é também apontada
como motivação para a maior visibilidade da produção nacional no Museu. Assim,
ainda que a arte brasileira ganhe espaço do Museu, preocupa o discurso por trás dessa
apresentação. Historicamente, viu-se que a arte brasileira foi tratada separadamente da
arte produzida pelos países ditos centrais, como os Estados Unidos e países europeus,
como Inglaterra, França e Alemanha. A alteridade é o que garantiu, de modo geral,
espaço no Museu. São raras as exceções, sendo a representação da arquitetura
moderna e do design brasileiro uma possível resalva à regra, sendo uma produção
que, em seu tempo foi considerada lado a lado com seus pares internacionais.
Entretanto, pode-se atribuir esse grau de igualdade, ao fato de que a arquitetura
representa uma arte que, de certa forma, pode ser desenraizada de seu contexto
original e ainda fazer sentido. Isto é, pode-se dizer que a arte brasileira promovida ao
221
longo dos anos é aquela que apresenta um Brasil ‘exótico’ ou aquela que é
‘internacionalizada’, extraída de seu contexto.
Todas essas críticas, entretanto, parecem ressoar constantemente na mente
daqueles que hoje estão por traz da coleção do Museu. Desde os anos de 1960 o
Museu vem enfrentando críticas e vendo novas instituições mostrarem rumos
alternativos para a arte. O MoMA, aparentemente, precisou reagir a essas críticas a fim
de manter seu papel dentro do cenário artístico. É, portanto, parte da tarefa de
qualquer curador que entra no Museu trabalhar em cima desses julgamentos e buscar
caminhos que levem o Museu a um posicionamento mais confiável dentro desse
cenário.
Pode-se assim, avaliar a possibilidade do Museu, no presente, estar buscando
de fato reverter escolhas feitas no passado que foram tomadas baseadas em outras
questões que não a qualidade artística das obras colecionadas.
Ainda assim, pensando-se nas aquisições de obras brasileiras mais recentes, é
pouco significante a quantidade de obras e artistas considerados pelo Museu
independentemente de sua origem. Isto é, a maioria das aquisições da atualidade
aconteceu pelo fato de tal artista ser brasileiro, ainda que ele tenha de fato mérito
quanto ao valor de seu trabalho. Não se sabe quantas dessas aquisições ocorreriam se
222
não existisse, no momento, um determinado grupo de pessoas dispostos a promover a
arte latina no Museu.
A princípio, são poucos os artistas que entram na categoria de ‘artista
contemporâneo’, junto com seus pares internacionais. Pode-se arriscar citar Ernesto
Neto, Vik Muniz, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Rivane Neuenschwander. Dos artistas
não contemporâneos, os destaques são Helio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel.
Artistas da coleção do MoMA representam uma pequena parcela da produção
brasileira, e, sobre esse fato, deve-se atentar às limitações do MoMA como entidade
colecionadora: embora esteja em sua missão colecionar arte internacional é inerente a
qualquer coleção a necessidade de fazer escolhas e estabelecer prioridades, não
sendo possível, por motivos óbvios, alcançar a totalidade da produção. Dada a
amplitude da missão proposta pelo MoMA, mesmo que se considere que o Museu
deseje legitimamente colecionar arte proveniente do Brasil, é preciso ponderar que isso
se dará apenas através de representantes da mesma, já que nenhuma instituição pode
fielmente reproduzir nossa numerosa produção e que o enfoque não é a
representatividade nacional, e sim, a representatividade de figuras importantes em um
contexto global.
Ao analisar os rumos que o Museu vem dando à coleção, portanto, não se deve
buscar ver se o universo colecionado pelo MoMA representa o universo artístico
223
brasileiro. É preciso, por exemplo, buscar saber se artistas que são fundamentais para
a arte moderna, como um todo, tem representação no acervo. Hoje, há uma noção
clara da importância da arte de artistas como Cildo Meireles na antecipação de
proposições que se multiplicaram em movimentos nos Estados Unidos a partir dos
anos de 1970. Esse é um caso exemplar de omissão que precisou, e foi, preenchido no
acervo.
É preciso ponderar, também, se o discurso por traz das exposições que trazem
obras brasileiras retira-as de seu contexto ou apresenta-as em uma situação
estereotipada. Ainda é preciso atentar se novos agentes, fora do centro econômico e
artístico, que produzem ideias originais e iniciativas na atualidade ganham
representação. Esse talvez seja o desafio maior para o Museu, uma vez que demanda
um envolvimento real e constante com países considerados marginais, a ponto deles –
incluindo o Brasil – serem vistos por uma nova ótica, como parte interdependente de
circuito que abarca produções e significados do mundo todo.
Por fim, ressalta-se que, embora tais análises quantitativas a respeito do MoMA
ajudem a entender a representação brasileira no cenário artístico atual como um todo,
alguns fatores não mensuráveis podem ser significantes para compreender a
respeitabilidade da arte brasileira no mundo. A influência que nossos artistas exercem
na produção de diversos artistas contemporâneos de diferentes nacionalidades é um
desses fatos que, é possível identificar, mas dificilmente será possível mensurar.
224
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