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Recompensa, Honra, Submissão: versões da entrada do Brasil na Sociedade das Nações

Date post: 28-Mar-2023
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RECOMPENSA, HONRA, SUBMISSÃO: VERSÕES DA ENTRADA DO BRASIL NA SOCIEDADE DAS NAÇÕES MARIANA YOKOYA SIMONI Mariana Yokoya Simoni é diplomata, mestre em Ciências Sociais pelo Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC), da Universidade de Brasília, e bacharel em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais (IREL/UnB). Tem experiência nas seguintes áreas de pesquisa: História da Política Externa do Brasil, Proteção Internacional dos Direitos Humanos, Justiça de Transição na América Latina. As ideias contidas neste capítulo não representam necessariamente a perspectiva do Ministério de Relações Exteriores. INTRODUÇÃO Foram várias as Conferências de Versalhes, de acordo com a visão de mundo, os objetivos e os instrumentos de barganha e de persuasão que cada representante nacional retinha à sua disposição. Wilson chegou com uma aura de “rei-filósofo” disposto a pacificar o mundo, por meio do poder da coerção da razão, expressa através da voz do povo; mas saiu dela como um professor universitário com boas intenções, mas incapaz de defender suas posições interna e externamente. Clemenceau já era um homem da política de poder, ainda que a prudência lhe aconselhasse “uma certa adesão verbal aos ‘ideais’ dos tolos americanos e dos hipócritas ingleses” (KEYNES, 2002, p. 21), e conseguiu transformar rapidamente a “Paz dos Quatorze Pontos” em uma “Paz de Cartago”. Lloyd George lançava mão, igualmente, de muitos dos ardis do Velho Mundo, mas buscava certa moderação entre os desígnios presbiterianos de Wilson e o desejo de efetivo alijamento da Alemanha por Clemenceau. O ano de 1914 havia demarcado a decadência de um período de grande progresso material e humano na Europa e no mundo, assim como da predominância do liberalismo político. Era necessário, portanto, reconstruir o mundo em diferentes moldes. Tal era o papel da Conferência de Paz de Paris de 1919, particularmente de seu Conselho dos Quatro. Na perspectiva do Presidente dos EUA, Woodrow Wilson, “a menos que a Conferência se
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RECOMPENSA, HONRA, SUBMISSÃO:

VERSÕES DA ENTRADA DO BRASIL NA SOCIEDADE DAS NAÇÕES

MARIANA YOKOYA SIMONI

Mariana Yokoya Simoni é diplomata, mestre em Ciências Sociais pelo Centro de Pesquisa e

Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC), da Universidade de Brasília, e bacharel em

Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais (IREL/UnB). Tem

experiência nas seguintes áreas de pesquisa: História da Política Externa do Brasil,

Proteção Internacional dos Direitos Humanos, Justiça de Transição na América Latina.

As ideias contidas neste capítulo não representam necessariamente a perspectiva do

Ministério de Relações Exteriores.

INTRODUÇÃO

Foram várias as Conferências de Versalhes, de acordo com a visão de mundo, os

objetivos e os instrumentos de barganha e de persuasão que cada representante nacional

retinha à sua disposição. Wilson chegou com uma aura de “rei-filósofo” disposto a pacificar o

mundo, por meio do poder da coerção da razão, expressa através da voz do povo; mas saiu

dela como um professor universitário com boas intenções, mas incapaz de defender suas

posições interna e externamente. Clemenceau já era um homem da política de poder, ainda

que a prudência lhe aconselhasse “uma certa adesão verbal aos ‘ideais’ dos tolos americanos e

dos hipócritas ingleses” (KEYNES, 2002, p. 21), e conseguiu transformar rapidamente a “Paz

dos Quatorze Pontos” em uma “Paz de Cartago”. Lloyd George lançava mão, igualmente, de

muitos dos ardis do Velho Mundo, mas buscava certa moderação entre os desígnios

presbiterianos de Wilson e o desejo de efetivo alijamento da Alemanha por Clemenceau.

O ano de 1914 havia demarcado a decadência de um período de grande progresso

material e humano na Europa e no mundo, assim como da predominância do liberalismo

político. Era necessário, portanto, reconstruir o mundo em diferentes moldes. Tal era o papel

da Conferência de Paz de Paris de 1919, particularmente de seu Conselho dos Quatro. Na

perspectiva do Presidente dos EUA, Woodrow Wilson, “a menos que a Conferência se

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prepare para seguir a opinião da humanidade”, dizia em seu trajeto para Paris, “e para

expressar a vontade do povo mais do que a dos líderes da Conferência, nos envolveremos em

outro conflito mundial.” (CARR, 2001, p. 46). Ao ser indagado por alguns assessores se

pensava que seu plano para uma paz duradoura funcionaria, respondeu rapidamente que “se

não funcionar, teremos de fazê-lo funcionar” (CARR, 2001, p. 12). Essa era uma visão

otimista e idealista do devir das negociações.

De outro ponto de vista, John M. Keynes, enviado britânico para o Conselho

Econômico Supremo das Potências Aliadas, avaliou que “Paris foi um pesadelo, e todos

estavam envolvidos por uma atmosfera de morbidez. Um sentido de catástrofe iminente

assombrava o frívolo cenário: a futilidade e mesquinharia do homem diante dos grandes

eventos que o confrontavam; o significado ambíguo e o irrealismo das decisões; a ligeireza, a

cegueira, a insolência, os gritos confusos de ira - havia ali todos os elementos da tragédia

antiga.” (KEYNES, 2002, p. 3). Além disso, Keynes afirma que “os procedimentos em Paris

tinham todos esse ar de extraordinária relevância e ao mesmo tempo de pouca importância.

As decisões tomadas pareciam prenhes de consequências para o futuro da sociedade humana;

contudo, o contexto insinuava que as palavras não tinham peso - eram fúteis, insignificantes,

sem efeito, dissociadas dos fatos.” (KEYNES, 2002, p. 3). Sua perspectiva é mais ponderada

e crítica às consequências econômicas da Paz de Cartago para a recuperação econômico-

financeira da Europa e para o revanchismo alemão.

Sem dúvida, o entreguerras foi um período caracterizado por profundas

transformações políticas, econômicas e sociais. Estadistas e homens comuns tinham a

impressão de estar vivendo um momento crucial de tomada de decisões que iriam influenciar

as próximas gerações de maneira definitiva. Ao mesmo tempo em que se colocava muitas

expectativas nas tratativas de paz e na Liga das Nações, “a guerra já projetava sua sombra

sobre o mundo”, conforme salienta Edward Carr. Trata-se de uma circunstância de grande

peculiaridade, em que aparentemente estão abertas alternativas para uma nova ordem, mas

onde ainda persistem as âncoras das antigas práticas e visões de mundo. Sob essas condições

de incerteza, cada Estado detém o seu entendimento a respeito de tais mudanças e do futuro

do sistema internacional, assim como planos sobre sua nova inserção nesse sistema.

Nesse contexto de transição, cabe perguntar como teria sido a Conferência de

Versalhes para os delegados brasileiros e para os expectadores das diversas capitais do país?

Em geral, aborda-se o tema da atuação do Brasil na Conferência de Paz e na Liga das Nações

3

tendo por referência o processo de retirada do país em 1926 ou tecendo comparações entre as

falhas desse organismo internacional utópico e a sua sucessora, a Organização das Nações

Unidas, criada em 1945. Algumas das principais referências bibliográficas nacionais na

matéria são as análises de Eugênio Vargas Garcia, de Francisco Luiz Teixeira Vinhosa, de

José Carlos de Macedo Soares, de Norma Breda dos Santos e de Otto Prazeres. Os estudos de

Eugênio Vargas Garcia e Francisco Teixeira Vinhosa contêm, particularmente, interessantes

observações sobre política interna e declarações da opinião pública nacional desse período.

Apesar do frequente enfoque na saída do Brasil da Sociedade das Nações, considerou-

se que há grande interesse em investigar a entrada do Brasil nessa organização, para melhor

compreender as seguintes questões. Primeiramente, quais eram as principais expectativas da

Chancelaria brasileira e de parte da opinião pública interna, assim como quais as críticas que

permeavam o debate no interior do Itamaraty e em alguns jornais da época? Quais juízos do

meio internacional influenciavam o pensamento de diplomatas e a formulação do discurso

diplomático no período posterior à Primeira Guerra Mundial? Em segundo lugar, o que

significou a entrada do Brasil na Liga das Nações e, em particular, qual a repercussão interna

e para a projeção internacional do país da entrada do Brasil na Liga das Nações? Por fim,

como essas diferentes perspectivas estavam inseridas no momento político vivido pelo Brasil

em 1919, em especial na campanha presidencial daquele ano?

Com relação à perspectiva da Chancelaria brasileira, considerou-se importante analisar

os indivíduos envolvidos no processo decisório e a posição que ocupavam no campo político

da diplomacia da época. Igualmente, examinaram-se as diferentes ideias acerca da

participação e do papel do Brasil na Conferência de Paz e as suas relações com o campo

discursivo diplomático pré-existente. Para esse fim, buscou-se reconstruir as principais

crenças e ideias do discurso diplomático brasileiro por intermédio de análise de conteúdo

orientada por três componentes básicos: as concepções sobre a natureza e a estrutura do

sistema internacional; as percepções sobre a inserção do Brasil nesse sistema, com atenção

especial às noções de papel, status e pertencimento; os entendimentos sobre a identidade

nacional e a forma pela qual se manifestam na ação externa do país, projetando certos

atributos materiais ou ideológicos que são apresentados como relativamente permanentes

(SILVA, 1998, p. 143).

No que concerne à pesquisa dos jornais, avaliou-se de grande relevância observar as

ressonâncias e as dissonâncias de posições e argumentos oficiais na mídia nacional. Isso se

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deve à importância dos meios de comunicação social para informar e veicular determinadas

imagens e representações políticas dos eventos (BORDIEU 1981, citado por POLLAK, 1989,

p. 7), recortando a realidade para um determinado público. Além disso, a mídia tem a função

de constituir um instrumento de pressão ou um termômetro para os governos, influindo no

processo de formulação de políticas públicas (MARINUCCI, 2008, p. 48). No final da

primeira década do século XX, a percepção da mídia nacional sobre a realidade interna e

internacional tornava-se crescentemente relevante para o processo de tomada de decisão.

Desse modo, a compreensão desse elemento passou a ser importante para entender o contexto

em que operaram os protagonistas que conduziram a diplomacia brasileira à época (LAFER,

2000, p. 12) .

Desse modo, o objetivo deste artigo é descrever e analisar as diferentes versões

acerca da entrada do Brasil na Sociedade das Nações, atentando para as percepções de

mundo e de inserção internacional do Brasil dos diferentes atores envolvidos. Para tanto,

buscou-se cruzar diferentes perspectivas e discursos acerca da participação do Brasil na

Conferência de Paz de 1919, assim como da entrada do Brasil na Liga das Nações e da

repercussão interna e externa desse acontecimento. Alguns desses discursos foram: o relato de

Otto Prazeres, jornalista acreditado na missão brasileira em Paris, sobre suas impressões ao

longo da Conferência; excertos de declarações ou telegramas dos delegados brasileiros à

Conferência, como Epitácio Pessoa e Pandiá Calógeras; e notícias ou editoriais de jornalistas

dos periódicos “A Época” e “O Imparcial” nos primeiros meses do ano de 1919.

Além das fontes bibliográficas mencionadas, foram abordadas fontes primárias

relevantes, como os Relatórios do Ministério das Relações Exteriores de 1918-1919 e de

1919-1920, bem como uma série de notícias de “A Época” e “O Imparcial”, principalmente.

Vale destacar a peculiaridade de algumas das fontes utilizadas, como a narrativa da

experiência pessoal de Otto Prazeres na Conferência e o livro de Francisco Teixeira Vinhosa,

que buscou retomar o papel e o brilho de Domício da Gama, na Chancelaria entre 1918 e

1919, o qual fora, segundo o autor, medievalizado pela perspectiva hegemônica da biografia

de Epitácio Pessoa. Ademais, é importante caracterizar brevemente a linha editorial dos

jornais escolhidos: “A Época” foi um jornal editado no Rio de Janeiro entre 1912 e 1919 que,

no governo de Delfim Moreira, voltou a mostrar esporádicas reportagens e textos críticos ao

5

governo1; e “O Imparcial” foi, também, um jornal do Rio de Janeiro, com posição claramente

favorável à candidatura de Rui Barbosa nas eleições de 1919 (GARCIA, 2006, p. 73).

Tendo em vista que a Primeira Guerra Mundial representou significativo ponto de

inflexão nas relações internacionais, com a ascensão de atores extra-europeus e mudanças na

concepção da diplomacia em vigor, considerou-se fundamental entender melhor a perspectiva

brasileira acerca desse período, em especial suas esperanças e receios sobre o mundo pós-

guerra e a entrada do Brasil na Liga das Nações. Ademais, como enfatizaram Carr e Keynes, é

necessário ponderar as lições do colapso que envolveu a Europa na Segunda Guerra Mundial,

a 22 meses da conclusão do Tratado de Versalhes, para compreender as consequências

econômicas e políticas do alijamento de um parceiro com quem se têm profundas relações

econômicas e espirituais, assim como para entender a incoerência de se manter a ilusão de

continuidade de uma ordem que não seria mais possível dada a nova realidade internacional.

Este artigo divide-se em quatro partes, além desta breve introdução. Na primeira

seção, contextualiza-se o projeto de criação da Sociedade das Nações e descreve-se esse

acontecimento conforme a perspectiva de Otto Prazeres. Na segunda parte, aborda-se a

participação brasileira na Conferência de Paz e na organização da Liga das Nações, assim

como analisa-se a perspectiva da Chancelaria brasileira sobre o status, o papel e o

pertencimento do Brasil nesse processo. Na quarta seção, discute-se a perspectiva dos jornais

selecionados, as ressonâncias e as críticas ante aos argumentos oficiais e o desempenho da

delegação brasileira em Paris. Por fim, nas considerações finais, busca-se observar as

principais diferenças e aproximações entres a versões observadas na terceira e na quarta

seções sobre a entrada do Brasil na Sociedade das Nações.

1. A SOCIEDADE DAS NAÇÕES, A SOCIEDADE NACIONAL

A fundação da Sociedade das Nações, em 1919, teve por objetivo aumentar a

coordenação e a cooperação entre os países e criar métodos efetivos de evitar destruição como

a causada pela Primeira Guerra Mundial. Representou, igualmente, uma proposta inovadora

de estruturação do sistema internacional sob o princípio da segurança coletiva, que previa que

uma ameaça à segurança de um Estado significava uma ameaça para toda a comunidade

1 Informações colhidas em Hemeroteca Digital Brasileira.

6

internacional. Para Celso Lafer, foi a primeira tentativa de constitucionalizar o direito

internacional, o que expressava a transposição da experiência que associaram no plano

interno, no século XIX, democracia e direito constitucional para conferir maior estabilidade

no âmbito internacional (LAFER, 2000, p. 7).

A Sociedade das Nações contrapunha-se ao modelo do Concerto Europeu, erigido na

Conferência de Viena (1815), cuja natureza era fundamentalmente política e diplomática. O

Concerto Europeu baseava-se na noção básica de equilíbrio de poder entre as grandes

potências e na tentativa de acomodação dos interesses particulares dos Estados. A situação

das pequenas e médias potências era precária, dependendo fundamentalmente desse equilíbrio

de poder, o que foi sendo agravado tanto pela intensificação do movimento das

nacionalidades como pela cristalização de alianças e acabou, por fim, impedindo a

acomodação diplomática e levando ao início da Primeira Guerra Mundial.

Centrado na delimitação de seu espaço nacional após a independência, o Brasil estava

na periferia geográfica, política e econômica do Concerto Europeu, de modo que não tinha

como se contrapor à diplomacia das grandes potências. A participação do Brasil na

Conferência de Paz de 1919 derivou da modesta presença do país na Primeira Guerra, com o

envio de uma divisão naval, de aviadores da Marinha e do Exército para Inglaterra e França e

de uma missão médica brasileira à França2. O Brasil foi o único país da América do Sul a

participar da guerra, mas sua colaboração econômica e militar foi irrelevante, em termos

práticos, para o esforço de guerra dos aliados (GARCIA, 2005, p. 28). Ao mesmo tempo, foi

esta participação que permitiu à diplomacia brasileira retomar o tema das possibilidades e dos

limites de inserção de Estados médios na gestão do sistema internacional, agora reconfigurado

pelo Tratado de Versalhes, de 28 de junho de 1919 (LAFER, 2000, p. 8).

Era a primeira atuação sistêmica brasileira, ao lado das performances nas Conferências

Americanas e na Conferência da Paz de Haia de 1907, e o Brasil buscou valorizar a sua

participação. Exemplo disso foi que, em dezembro de 1918, o Chanceler Domício da Gama

tentou fazer com que o Brasil fosse convidado a tomar parte nas Conferências Preliminares de

Paz, pois acreditava que isso teria um bom efeito na política interna brasileira, já que, segundo

ele, “isso ajudaria o governo perante a opinião pública, que nos está julgado descuidados”3.

Entretanto, apesar dos pedidos junto às Chancelarias britânica e norte-americana, os líderes

2 BRASIL, Ministério das Relações Exteriores, Relatório de 1918 e 1919, p. 14-15.

3 Gama a Ipanema (Embaixador em Washington), telegrama confidencial, RJ, 05/12/1918 AHI 273/2/11; Gama

a Magalhães (Ministro em Paris), telegrama, RJ, 05/12/1918, AHI 273/2/11 (Citado por GARCIA, 2005, p. 31).

7

das grandes potências – principalmente Clemenceau e Lloyd George – eram contrários à

maior participação do Brasil tanto nas conferências preliminares como na conferência

plenária, uma vez que a colaboração brasileira durante a guerra havia sido limitada

(GARCIA, 2005, p. 31).

No relato de Otto Prazeres (1922), jornalista acreditado na missão especial do Brasil

junto à Conferência, foi uma grande ilusão supor que “o Congresso de Versalhes tivesse o

aspecto dos outros congressos semelhantes, isto é, que realizasse várias sessões plenárias para

estudo, discussão ampla e votação do que fosse organizado pelas comissões parciais, em

reuniões publicas”. Em primeiro lugar, o Congresso nunca foi em Versalhes, onde somente

houve a assinatura do tratado final na célebre Sala dos Espelhos. Segundo, quase tudo foi

decidido pelos altos representantes dos Estados Unidos, da França, da Inglaterra, da Itália e do

Japão. No que se refere à Comissão encarregada de organizar as bases para a Liga das

Nações, a mais importante de todas, seus quinze delegados também foram distribuídos

desigualmente: dez para as cinco grandes potências e cinco para as 22 pequenas potências,

que deveriam eleger seus representantes, dentre os quais foi escolhido um brasileiro.

As decisões sobre a criação da Liga deram-se às pressas. Poucos dias depois de

organizada a Comissão, em primeiro de fevereiro de 1919, Woodrow Wilson convocou uma

reunião para o Hotel Grillon e mostrou o trabalho que tinha organizado até então. A redação

final do plano de criação da Liga ficou pronta no dia 13 de fevereiro e o documento foi

aprovado na sessão plena, no dia 14, no Salão do Relógio do Ministério de Relações

Exteriores do Quai d’Orsay. A pressa em tratar da Liga das Nações, antes mesmo de

normalizar a vida da Europa, ainda sob armistício, foi censurada pela imprensa francesa e de

outras capitais europeias, mas, para Wilson, era fundamental que a criação da Liga estivesse

resolvida o quanto antes, para que ele pudesse submeter a proposta à aprovação do Senado

dos Estados Unidos (PRAZERES, 1922, 280). A cobertura diária da mídia internacional para

uma conferência daquela magnitude era um fato novo em política internacional, o que

sujeitou a ação das delegações ao escrutínio da opinião pública (GARCIA, 2006, p. 59).

Tornado público o plano, começaram a surgir reclamações e observações de todas as

partes do mundo. Tão aplaudido quando lançou a ideia de Liga das Nações, em 17 de janeiro

de 1917, Wilson verificou que a situação do mundo e o espírito que o envolvia mudara

substantivamente (GARCIA, 2006, p. 281). De volta a Paris, em 15 de março, Wilson

retomou o posto de Presidente da Comissão da Liga das Nações e recebeu 28 propostas de

8

emendas dos governos neutros, que foram discutidas e votadas. Todas as emendas de

importância secundária ficaram resolvidas, mas as mais significativas ameaçavam dividir a

Comissão no tocante aos seguintes temas: da igualdade de raças, emenda apresentada pela

delegação japonesa, com forte oposição dos EUA; da fiscalização e limitação de armamentos,

proposta do governo francês; e da menção à Doutrina Monroe no tratado da Liga, emenda

defendida pela delegação norte-americana.

Como narra Prazeres (1922), a sessão plenária de 28 de abril para dar conhecimento

do plano da Liga foi uma “verdadeira desilusão”, porque os últimos dias de negociação

tinham sido usados para acomodar os interesses das nações proponentes das três emendas.

Enfim, o ponto referente à Doutrina Monroe foi incluído no preâmbulo do tratado final, a

França concordou em adiar a questão dos armamentos e o Japão simplesmente retirou a sua

emenda, chegando a afirmar “que ficaria a cada governo o direito de regular e de estabelecer

essa igualdade [das raças]”, mas que o país continuaria a insistir para que, no futuro, o

princípio fosse adotado no seio da Liga das Nações (GARCIA, 2006, p. 286). Segundo o

jornalista, as alterações entre o primeiro e o segundo plano foram devidas a causas externas à

Conferência, com destaque para o que foi discutido no Congresso Socialista de Berne (1919)

e para as ideias americanas e britânicas sobre uma Liga para abolir a guerra.

A entrada do Brasil na Sociedade das Nações ocorreu sem maiores problemas

políticos e com decidido apoio do Congresso Nacional brasileiro. Na Câmara dos Deputados,

o relator geral Alberto Sarmento e o relator parcial Estacio Coimbra apresentaram “longos e

brilhantes pareceres”, em que a questão foi estudada sob elevado ponto de vista e quando foi

mostrada a antiga aspiração mundial e brasileira para a formação de uma Sociedade das

Nações (GARCIA, 2006, p. 290). No prazo de seis dias, a entrada do Brasil no organismo

internacional também foi aprovada pelo Senado e pelo plenário, sendo remetida à sanção

presidencial. O então Presidente Epitácio Pessoa sancionou, por fim, o trabalho com que

colaborara diretamente como alto representante do Brasil na Comissão da Liga das Nações,

destinada a ser o “grande árbitro moral do mundo” (PRAZERES, 1922, p. 303).

Já o debate doméstico sobre a matéria envolveu a difícil interação entre o princípio de

igualdade dos Estados e as realidades de distribuição assimétrica de poder no cenário

internacional, dicotomia fundamental que caracterizou essa organização e o direito

internacional emanado desta. No referido debate houve, por um lado, partidários de uma

perspectiva idealista, como Antonio Moreira de Abreu que, escrevendo para o Diário de

9

Minas, em 1918, afirmava que a Liga das Nações preconizava o estabelecimento de uma

guardiã das relações internacionais, superior à vontade dos governos e dos Estados4, como um

contraponto à ordem de Westfália. Por outro lado, a adesão brasileira à Liga das Nações

recebeu algumas críticas internas, a exemplo do deputado Mauricio de Lacerda, contrário ao

alinhamento brasileiro com a política externa dos EUA. Lacerda defendia que a Liga havia

nascido “falida, incapaz, desmoralizada pelo internacionalismo imperialista que introduziu em

cada um de seus artigos”, de maneira que constituía um mero “instrumento de captação dos

fracos na rede dos fortes”5.

São essas diferentes formas com que a sociedade nacional percebia a adesão e a

integração do Brasil à Sociedade das Nações que se busca compreender. Tendo como

referência esta breve contextualização, buscar-se-á melhor caracterizar a atuação da

Chancelaria brasileira no contexto da Conferência de Paz de 1919 e de estabelecimento da

Sociedade das Nações, assim como as reações e as declarações dos periódicos A Época e O

Imparcial, ambos publicados no Rio de Janeiro. Com isso, pretende-se observar, de modo

pormenorizado, o contexto de formulação da posição brasileira nessa Conferência e nos

primeiros meses da Liga das Nações. Igualmente, busca-se investigar a reação da mídia diante

da proposta de criação da Liga das Nações e da entrada no Brasil nessa organização.

2. RECOMPENSA E PRESTÍGIO: PERSPECTIVA DA CHANCELARIA

BRASILEIRA

O fim do quadriênio de Venceslaus Brás (1914-1918) coincidiu com o final da guerra

e o Chanceler Nilo Peçanha foi sucedido por Domício da Gama, que permaneceu à frente do

Itamaraty apenas durante o curto período de governo do Vice-Presidente Delfim Moreira,

entre novembro de 1918 e julho de 1919. Ao assumir a pasta, Domício da Gama deparou-se

com um complexo quadro de política interna6, assim como tinha de enfrentar três problemas

internacionais de grande envergadura: primeiro, o da participação do Brasil nas conferências

4 Diário de Minas (04/07/1918), Artigo de Antonio Moreira de Abreu (Citado por GARCIA, 2006, p. 43).

5 BRASIL, Anais da Câmara dos Deputados (1919) (Citado por GARCIA, 2006, p. 44).

6 Heitor Lyra descreveu a situação como uma espécie de “governo tripartido”, com o Presidente eleito,

Rodrigues Alves, enfermo, o Presidente em exercício considerado mentalmente doente e o filho do Presidente

eleito, conhecido pelo apelido “Juquinha” tirando proveito do momento de confusão para influenciar as decisões

do governo. Vinhosa afirma que, nesse contexto, Domício da Gama buscou agir com certa autonomia, adotando

critérios próprios em matéria de relações exteriores e na administração do Itamaraty.

10

preliminares da paz; segundo, o do número de delegados que caberia ao Brasil na Conferência

Plenária da Paz; e, por fim, a inclusão do Brasil no primeiro Conselho Executivo da Liga das

Nações. Com relação a tais tarefas, cabe ressaltar o entendimento brasileiro sobre as

negociações na Conferência de Paz e a autoimagem sobre o seu papel, status e pertencimento

nesse processo e na Liga das Nações.

Como mencionado, a participação do Brasil nas conferências preliminares era obstada

por parte de França e Inglaterra, sob o argumento de que a participação brasileira deveria ser

limitada, como havia sido a sua colaboração no esforço de guerra. Domínio da Gama buscou,

entretanto, lançar mão de seu prestígio pessoal junto à administração norte-americana,

valendo-se da confiança e das boas relações que estabelecera como Embaixador em

Washington durante oito anos7. Além de não conseguir participar diretamente dessas reuniões

preliminares, o Chefe da delegação brasileira, Epitácio Pessoa, em sua chegada a Paris,

comunicou ao Itamaraty a impressão geral de que tudo seria decidido exclusivamente pelas

cinco grandes potências e de que a presença das pequenas nações tinha por finalidade conferir

uma aparência liberal à organização8.

Com a presença de 70 delegados, representando os 27 países vitoriosos na guerra

(excluída a Alemanha), a Conferência de Paz de Paris foi inaugurada em 18 de janeiro de

1919 e encerrada em 20 de janeiro de 1920. A inserção do Brasil como potência menor é

colocada no início da Conferência com a questão do simbolismo político do número de

delegados plenipotenciários que caberiam ao Brasil. Ao ser classificado como uma “potência

de interesses limitados”, o Brasil teria direito somente a um delegado, mas, ao mesmo tempo,

já havia constituído sua delegação com quatro delegados. Junto ao Departamento de Estado,

argumentou-se que esse número era devido à pressão da opinião pública do país e à longa

distância entre o Brasil e a Europa, compreendendo 17 dias de viagem (VINHOSA, 1990, p.

194). Segundo Vinhosa (1990), tais justificativas não explicariam, de fato, a precipitação

brasileira, o que teria resultado, em grande parte, da dificuldade em escolher entre numerosos

candidatos interessados em participar do evento internacional, em Paris.

Foi árdua a negociação travada por Domício da Gama para aumentar o número de

representantes brasileiros. O Secretário de Estado interino dos EUA, Frank Polk, era

7 Vinhosa (1990, p. 191) ressalta a importância que teriam tido as gestões de Domício da Gama ante o governo

norte-americano no contexto da Conferência de Paz. Afirma que os documentos fornecidos por Epitácio Pessoa e

por sua filha teriam sido tendenciosos ao não fazer nenhuma referência ao Chanceler.

8 Telegrama de 01/02/1919, Epitácio Pessoa a Domínio da Gama (VINHOSA, 1990, p. 192).

11

fervoroso defensor das reivindicações brasileiras e apresentou seis motivos para justificar que

o Brasil deveria receber um tratamento privilegiado, são eles: o Brasil já tinha nomeado seus

quatro delegados e seria desconcertante ter de reduzir a delegação; o Brasil fora a única

potência da América do Sul que realmente declarou guerra aos alemães, concedeu assistência

material aos aliados e ofereceu cooperação ativa, com a divisão naval enviada à Europa;

qualquer atitude que parecesse menosprezar o Brasil prejudicaria o prestígio do país em sua

região e seria uma forma de convalidar países como Argentina e Chile, que estavam

despeitados do alinhamento brasileiro com os EUA e com os aliados; como o Brasil

mantivera-se leal aos EUA em quase todas as questões relativas à América do Sul, tinha

direito a certas considerações e cabia ao governo norte-americano acolhê-lo em Paris; ainda, o

fato de ser a maior potência sul-americana na guerra lhe conferiria o direito a uma justa

representação dada sua posição geográfica; como o presidente eleito do Brasil ainda não tinha

tomado posse, em função de problemas de saúde, havia a possibilidade de renúncia e de

formação de um novo Ministério. Nesse contexto, eventual insucesso em conseguir

representação digna para o Brasil em Paris poderia ser usado contra Domício da Gama e

causar o seu afastamento do Ministério9.

Conquanto não tenha logrado os quatro lugares, o Brasil conseguiu três deles graças à

intervenção do Presidente Wilson. Isso colocou a nação sul-americana em status de igualdade

com Itália, Sérvia e Bélgica, que haviam sofrido muito mais perdas materiais e humanas no

conflito. Acima disso, só estavam os EUA, a Inglaterra, a França e o Japão, com cinco

delegados; e os demais países contavam com um ou dois. Para Wilson, o privilégio concedido

ao Brasil justificava-se por uma dimensão populacional que lhe outorgava condição

diferenciada em relação a outros países que também participaram do esforço de guerra10

.

Além disso, muitos estados brasileiros tinham população com elementos ou influências

germânicos, de modo que era fundamental afastar o Brasil da Alemanha e vinculá-lo aos

interesses dos Aliados. Por fim, Wilson relembrou o “sacrifício voluntário” do Brasil na

guerra e a necessidade de garantir o apoio político do Brasil no futuro (VINHOSA, 1990, p.

196). O Brasil foi representado pelos delegados Raul Fernandes, Pandiá Calógeras e Olinto de

Magalhães e teve como Chefe da delegação Epitácio Pessoa.

9 Telegrama de 10/01/2919, Secretário de Estado interino, Polk, à Comissão de Negociação da Paz (VINHOSA,

1990, p. 195. Apesar das vitórias alcançadas por Domício da Gama na questão do número de delegados

brasileiros, não deixou de ser afastado do Ministério no governo de Epitácio Pessoa e seguiu para a Embaixada

em Londres. 10

Jornal do Commercio, 15/01/1919 (GARCIA, 2006, p. 33).

12

Na perspectiva de Pandiá Calógeras, era notória a hostilidade do ambiente da

Conferência, mais do que o clima de decepção descrito por Prazeres. Para o delegado

brasileiro, a reunião “era a guerra continuando sob outra forma”, em que as potências

vitoriosas buscavam alijar a Alemanha e garantir o status quo internacional no pós-guerra.

Assim como Prazeres, Calógeras percebia como desigual a tomada de decisão e tentou

mostrar, em seu contato com delegados europeus, como era “ilógico proclamar o princípio da

Liga das Nações, cuja base é a igualdade delas perante o Direito, e negá-lo na aplicação”

(GARCIA, 2006, p. 53). Entretanto, Calógeras não acreditava que “outros congressos

semelhantes” do século XIX detinham um processo decisório mais aberto do que a

Conferência de Versalhes. À luz dos Quatorze Pontos de Wilson, a Conferência de 1919 tinha

o objetivo de definir as bases para uma ordem pacífica e duradoura, de forma pública, e o

Brasil buscava deixar registrado o seu protesto contra a “velha diplomacia” e o seu papel em

defesa do interesse das potências menores (GARCIA, 2006, p. 53).

Uma forma de agir nesse sentido foi questionar a divisão entre potências de interesses

“gerais” e “limitados”. O artigo 1o do regulamento da Conferência previa que as potências

beligerantes (EUA, Inglaterra, França, Itália e Japão) tratariam de “interesses gerais”,

relativos à construção de uma nova ordem internacional, ao passo que as demais nações

tomariam parte somente nas sessões em que fossem discutidos temas de seu interesse direto.

Os delegados brasileiros Pandiá Calógeras e Olinto de Magalhães propuseram fazer oposição

ao referido artigo, mas Domício da Gama discordou da iniciativa por não considerar

interessante postergar o início dos trabalhos da Conferência, prejudicar o êxito da

reclamações concretas brasileiras, tampouco indispor-se com o governo norte-americano11

.

Na segunda sessão plenária, em 25 de janeiro, entretanto, o Brasil secundou a proposta belga

de ampliar a participação das potências menores nas discussões.

Apesar da posição contrária das grandes potências, continuaram as articulações entre

os países de “interesses limitados” para obter maior representação na Conferência. Em

reunião exclusiva com delegados latino-americanos, Calógeras defendeu a tese do não-

reconhecimento nem de grandes nem de pequenas potência, justificando-a com base no

argumento de que, ainda que os interesses dos países fossem desiguais, as soberanias

11

Não obstante a proximidade entre Domício da Gama e as autoridades norte-americanas, Vinhosa (1990)

ressalta a autonomia de pensamento do Chanceler brasileiro, ao afirmar que o Brasil “não devia dar aos Estados

Unidos mais provas de consideração do que as que deles recebêssemos; que nos devíamos colocar mesmo em

postura de retribuir e não de nos adiantar, já que ‘o açodamento só serviria para nos desprestigiar’”.

13

deveriam ser consideradas iguais (GARCIA, 2006, p. 55). Em outra reunião entre os países de

“interesses particulares”, Calógeras declarou:

Nós viemos aqui com um grande ideal de que todos defendem: nós

queremos instituir a Liga das Nações, isto é, um regime de igualdade

entre todas as nações. O princípio já foi perfeitamente estabelecido. É

preciso que se dê a cada nação um voto: one nation, one vote.

(GARCIA, 2006, p. 55).

Como resultado das pressões por mudanças no artigo 1o do regulamento, com ativa

participação brasileira, foi aceita a presença de potências menores nas diversas comissões da

Conferência e o Brasil logrou integrar-se, igualmente, na Comissão da Liga das Nações,

representado por Epitácio Pessoa. O Brasil conseguiu, desse modo, expandir sua participação

durante as discussões da Conferência para além os interesses específicos relativos ao

pagamento da venda de café do estado de São Paulo à Alemanha e à regularização da

propriedade de navios mercantes alemães apreendidos em portos brasileiros, em maior

proporção que as perdas marítimas na guerra (LAFER, 2000, p. 9).

Na Comissão da Liga, Epitácio Pessoa uniu-se a uma nova iniciativa do delegado

belga, Paul Hymans, para aumentar o número de representantes das potências menores. A

proposta foi aceita e, em 6 de fevereiro, foram admitidos representantes da Grécia, Polônia,

Romênia e Tchecoslováquia. Igualmente, o Brasil opôs-se ao projeto britânico de reservar

somente às grandes potências a composição do Conselho Executivo da futura Liga, que seria

uma espécie de “tribunal internacional” a que todas as demais nações deveriam submeter-se

(GARCIA, 2006, p. 59). Ao final, ficou decidido que o Conselho seria formado por um

delegado de cada uma das cinco grandes potências e por outros quatro representantes das

demais nações.

Quando Lord Robert Cecil, delegado britânico, tentou aventar uma emenda para que

fossem apenas dois os representantes das pequenas potências, nomeados pela Assembléia

Legislativa, dependentes também do voto dos cinco grandes países, Epitácio Pessoa protestou

e propôs que fossem quatro, escolhidos diretamente pelos Estados interessados, no que foi

veementemente apoiado pelos demais delegados da Comissão. A primeira designação dos

membros do Conselho Executivo seria feita pela Conferência de Paz e, mais uma vez,

Domício da Gama solicitou o apoio das autoridades norte-americanas, que indicaram o Brasil

para um primeiro mandato de três anos, o que também foi aprovado em 28 de abril de 1919.

Essa conquista, contudo, foi muito difícil, dada a oposição das potências europeias, e deveu-

14

se unicamente “à intervenção pessoa do Sr. Gama”, conforme confessou Polk (VINHOSA,

1990, p. 236).

Entrementes, a sucessão presidencial, com o falecimento de Rodrigues Alves, tornou-

se assunto de primeira importância na política interna brasileira. Rui Barbosa foi escolhido

como candidato situacionista, com apoio de Nilo Peçanha, mas havia pouca adesão das

oligarquias estaduais em torno de seu nome. Tampouco havia consenso sobre um candidato

paulista ou mineiro, de modo que se buscou uma nomeação neutra: a de Epitácio Pessoa, da

Paraíba, o qual desempenhava importante função internacional para o país (GARCIA, 2006,

p. 62). O Chefe da delegação brasileira em Paris aceitou a indicação com surpresa, mas não

fez campanha alguma e continuou seus trabalhos em Paris. Como ressalta Garcia (2006), o

fato de Epitácio Pessoa estar em missão no exterior trouxe assuntos de política internacional

para o debate interno. Exemplo disso seriam grupos insatisfeitos com o predomínio

oligárquico e outras correntes de opinião que se uniram para criticar a política de cooperação

com os EUA no âmbito da Conferência de Paz.

Em 13 de abril, por intermédio dos mecanismos da “colméia oligárquica”, Epitácio

Pessoa foi eleito Presidente da República enquanto ainda estava em Paris. Foi a única vez na

história brasileira em que um representante oficial do governo retorna de missão diplomática

no exterior como Chefe de Estado. Essa nova condição atraiu a atenção das demais

delegações presentes na Conferência, especialmente a missão norte-americana, que teria

interesse adicional em continuar a oferecer contribuição ao Brasil devido a futuras tratativas

bilaterais no campo econômico e de cooperação estratégica e naval (GARCIA, 2006, p. 80).

Nesse contexto, é que pode ser melhor interpretado o auxílio americano no que concerne à

questão do café, dos navios surtos alemães e da representação brasileira no Conselho da Liga.

O posto de Chefe de delegação em Paris foi igualmente marcante para Epitácio Pessoa que, na

primeira mensagem ao Congresso Nacional como Presidente da República, descreveu os

esforços da delegação brasileira concernentes à questão do café e aos navios surtos alemães,

assim como a colaboração brasileira para criar a Liga das Nações e o reconhecimento desse

fato por meio da “elevação moral” do país à honra de figurar entre os noves membros do

Conselho12

.

12

BRASIL. Mensagem do Presidente da República ao Congresso Nacional em 3 de maio de 1920 (GARCIA,

2006, p. 45).

15

Se, por um lado, a capacidade de influência do Brasil foi nula no contexto geral da

Conferência; por outro lado, o Brasil obteve vitórias pontuais importantes e saiu da

Conferência com uma “posição de prestígio elevada na Europa, especialmente se comparada

com a sua limitada contribuição durante a guerra e sua capacidade real de influenciar eventos

na arena internacional”13

. Exemplos dessa posição de prestígio são as visitas oficiais a França,

Bélgica, Itália, Grã-Bretanha e Portugal, cujo saldo é um interesse crescente pelo Brasil por

parte dos países europeus e o desejo destes de oferecer uma “calculada cortesia” ao futuro

mandatário brasileiro no continente europeu (GARCIA, 2006, p. 80). Em consonância com

sua nova projeção mundial, o Brasil começou a estabelecer relações diplomáticas com os

novos Estados oriundos dos tratados de paz, como foi o caso da Polônia, Tchecoslováquia,

Finlândia, Islândia, Áustria e Armênia, em 1920, e as nações bálticas da Lituânia, Letônia e

Estônia, em 1921. Antes da guerra, o Brasil somente possuía duas missões no exterior com

estatuto de embaixada – Washington e Lisboa –, o que, em 1923, passou para o número de

onze (GARCIA, 2006, p. 89).

Além disso, observa-se que o Brasil sustentou a imagem de importante colaborador

para os esforços de guerra que, no momento da Conferência, estava recebendo tanto o

reconhecimento pelos seus esforços e sacrifícios como as recompensas materiais e simbólicas

decorrentes. Por exemplo, na Mensagem do Presidente ao Congresso Nacional de 3 de maio

de 191914

, feita pelo Vice-Presidente Delfim Neto, enfatiza-se a relação de recompensa da

participação brasileira na Primeira Guerra Mundial, o reconhecimento dessa atuação por parte

das potências europeias e a “posição saliente” do Brasil entre os países que enviaram

emissários à Conferência de Paz, como se pode observar em:

O Conselho das grandes Potencias manifestou toda a boa vontade

para comnosco, sendo isso devido, naturalmente, á sinceridade do

nosso procedimento anterior, quando nos colocamos, inteiramente, ao

lado dos paizes alliados no momento mais critico da grande guerra.

Não devo ocultar a profunda satisfação com que recebemos o

expressivo voto do Conselho das grandes Potencias. O Ministerio do

Exterior significou áquelles que o apoiaram a expressão do valor com

que o recebiamos.15

Com base nesses episódios, verifica-se que os delegados brasileiros percebiam e

buscavam reagir à profunda dicotomia que marcava a Conferência de Paz de Paris: uma

reunião que se dizia orientada pelos princípios de igualdade soberana e de diplomacia aberta,

13

Relatório do Ministério das Relações Exteriores de 1918 e 1919, p. III-V (GARCIA, 2006, p. 76). 14

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores, Relatório de 1918 e 1919, p. V. 15

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores, Relatório de 1918 e 1919, p. VI.

16

mas cujas decisões centrais foram tomadas pelo Conselho dos Dez a portas cerradas. O

próprio Brasil padeceu dessa ambiguidade, uma vez que tomava para si o papel de defender

os interesses das nações menores e buscar mais voz em um ambiente hostil; contudo, como

salientou Garcia (2006, p. 75), “a identificação do Brasil com os pequenos Estados cedeu

lugar às aspirações de grandeza nacional, açuladas com a perspectiva de ingresso no clube

fechado das grandes potências”. Apesar do parcos recursos reais de poder, o Brasil detinha o

apoio dos EUA, pelo qual logrou obter vantagens tanto em seus interesses específicos como

nos gerais, e arregimentou o suporte de outras potências de “interesses limitados”. Na

avaliação da Chancelaria, o Brasil obteve recompensas materiais e prestígio interno e externo,

que contribuíram para o aumento da projeção internacional do país na década de 1920.

3. HONRA OU SUBMISSÃO: PERSPECTIVA DOS JORNAIS A ÉPOCA E O

IMPARCIAL

O contexto internacional do pós-Primeira Guerra constituiu, segundo Edward Carr

(1981), um dos primeiros momentos de popularização da política internacional, quando se

questionou a prática convencional da diplomacia secreta e elevou-se a participação da opinião

pública mundial na condução dos assuntos internacionais. No plano doméstico, as imprensas

nacionais estavam igualmente interessadas naquilo que antes era deixado, com segurança, nas

mãos de diplomatas profissionais. No caso brasileiro, por exemplo, Domício da Gama

assumiu explicitamente que o governo sofria forte pressão da opinião pública nacional para

que o país tomasse posição externa ativa, ao lado dos Aliados, na definição da paz em

Versalhes. Conforme mencionado, dentre as suas inúmeras funções, a mídia interna e

internacional tem como papel veicular determinadas imagens e representações políticas dos

eventos, além de servir como termômetro para os governos e influir no processo de

formulação de políticas.

No estudo de Garcia (2006, p. 43), há menção ao fato de que a opinião pública

internacional se manifestou, de forma clara, contra os métodos tradicionais de condução da

diplomacia, a exemplo das políticas de equilíbrio de poder, de alianças militares e de

diplomacia secreta. Tais práticas teriam levado às duas guerras mundias, o que poderia voltar

a acontecer se não fossem erradicadas. A opinião pública mundial esteve vigilante durante a

17

Conferência de Paz, em defesa do direito internacional ante à noção de soberania absoluta,

principalmente durante as discussões sobre a Liga das Nações. No plano interno, pode-se

observar algumas opiniões contrastantes a respeito da entrada do Brasil na Liga das Nações.

Essa seção busca analisar o modo pelo qual ressoavam na mídia brasileira as posições e os

argumentos do governo, assim como observar as imagens e representações selecionadas pelos

periódicos selecionados.

Com relação a perspectiva do governo de que a participação do Brasil na Conferência

lhe estava rendendo prestígio interno e externo, pode-se afirmar que isso encontrou

ressonância na mídia nacional, em particular o tema do número de delegados que caberia ao

país, isto é, o de seu status naquela reunião internacional. Por exemplo, o jornal “A Época”16

,

de 10 de janeiro de 1919, ressaltava que o Brasil terá, na Conferência de Paz, igual

representação a países como Sérvia e Bélgica, que deram contribuição material significativa

para a guerra. Para esse jornal, isso significaria que o Brasil teria conseguido transpor a

divisão entre potências maiores e menores e que, assim, “ficam desfeitas as previsões de que

comparecíamos á Versailles com a categoria dos paizes de coajuvação secundaria. Nada mais

honroso para nós.”17

. Essa ascensão na escala das potências não foi conseguida, como

reconhece “A Época”, na forma de uma recompensa pelo auxílio bélico prestado, mas teria

sido uma honra concedida ao Brasil pela própria condição de país independente e

democrático, como se pode notar em:

Mas, a que deve isso? Á efficiencia do seu concurso bellico ou de

subsistências ás forcas alliadas? Está claro que não. Não pesaram, por

certo, na balança da victoria a pequena esquadra que mandamos ao

patrulhamento dos mares e a missão media que daqui partira nos

últimos mezes da conflagração. Por outro lado, a nossa exportação

para a Europa, dada a nossa limitada capacidade de producção, não

foi de molde a attribuir-nos destaque no fornecimento de artigos e

gêneros aos defensores da Civilisação. Tudo isso mostra que a

deliberação das potencias representa uma excepcional deferencia

para com o nosso paiz, pelo seu rasgo de altiva e desassombrada

independência, enfileirando-se ao lado da Democracia, para

combater a babaria teutonia quando era indeciso ainda o triumpho, e

16

Jornal de José Eduardo de Macedo Soares, editado no Rio de Janeiro entre 1912 e 1919. Nos primeiros anos,

foi considerado um jornal de oposição ao governo, com convicções políticas que geraram polêmicas e embates.

De abril de 1918 até o fim do governo Wenceslaus Brás, aparentava certa neutralidade política. No governo de

Delfim Moreira, a publicação voltou a mostrar esporádicas reportagens e textos críticos ao governo. Fonte:

Hemeroteca Digital Brasileira.

17 A Época. 10/01/1919. “A posição do Brasil na Conferência de Paz”.

18

quanto até as vantagens pendiam para as hostes vandálicas do

germanismo inconsciente.18

É possível verificar, igualmente, eco das ideias de pertencimento do Brasil à América

do Sul, mas em condições peculiares, como o fato de constituir uma das grandes nações da

região e ter o papel de nação pioneira e líder dos demais países sul-americanos. Essas

imagens estão expressas no trecho do jornal “O Imparcial”, de 28 de janeiro de 1919, que

publica excerto de artigo do “New York Tribune” sobre o Brasil:

Uma prova evidente da crescente importância do Brasil nos assuntos

mundaes, está no facto de ter a comissão organizadora da Conferencia

de Paz resolvida que aquela nação se faça representar nos trabalhos

por três delegados. Esta resolução tem grande e significativa

importância histórica, pois não só é devida ao facto de ter sido o

Brasil a primeira das grandes nações da América do Sul que se

collocou leal e dessassombradamente, na grande guerra, como

também, reconhecendo o valor e a importância da sua participação

material na guerra, estabelecendo que o Brasil é a nação que marcha á

testa das demais Republicas da America do Sul.

No mesmo jornal, observa-se a ressonância da tese de que o simbolismo político da

representação do Brasil por três delegados seria um incentivo positivo para o Brasil e a

América do Sul se alinharem às posições dos Aliados. Isso porque a permissão dessa honra

afastaria o país da influência alemã, o que fica claro com a afirmação de “O Imparcial”, de 29

de janeiro de 1919, de que é “razoável a deliberação tomada pelo Conselho Superior de

Guerra Inter-aliado, em virtude dos serviços prestados pelo Brasil á causa dos aliados,

impedindo que a ‘kultur’ invadisse a America do Sul”.

É interessante notar que o debate da entrada do Brasil na Sociedade das Nações estava

inserido nas movimentações das eleições presidenciais de 1919, entre o oposicionista Rui

Barbosa e o candidato oficial, Epitácio Pessoa, que acabou sendo eleito em abril daquele ano.

Como mencionado, tal contexto trouxe para a dimensão interna os temas da participação

brasileira na Conferência de Paz e das diretrizes de política externa a serem seguidas pelo

governo (GARCIA, 2006, p. 45). Se boa parte das notícias desses três jornais no início de

janeiro e fevereiro de 1919 enfatizavam o reconhecimento e a honra do Brasil em sua atuação

na Conferência de Paz, as imagens e representações recortadas pelos jornais começam a se

modificar nos meses de abril e maio, em razão tanto da “decepção” causada pelos resultados

da Conferência como das influências políticas e ideológicas dada a proximidade das eleições.

18

A Época. 10/01/1919. “A posição do Brasil na Conferência de Paz”.

19

Como enfatiza Garcia (2006), apesar do relativo êxito na Conferência de Paris, a

delegação brasileira sofreu ataques no Brasil, em particular pela mídia nacional. Com as

campanhas presidenciais e o lançamento da candidatura de Epitácio Pessoa, levada à

Convenção pelos líderes dos principais Estados brasileiros (Minas Gerais, São Paulo, Rio

Grande do Sul, Pernambuco e Bahia)19

, percebe-se que houve um aumento da crítica à

performance brasileira em Paris, principalmente em “O Imparcial”. Isso se explica pelo fato

de que qualquer condenação às decisões tomadas em Paris significaria uma crítica ao Chefe

da delegação, Epitácio Pessoa, figura que se tornara central para a política interna do Brasil.

Exemplo disso é que alguns jornais começaram a criticar mais intensamente o governo por

ter, segundo eles, aderido a um acordo internacional que transferia ao estrangeiro os atributos

da soberania nacional e ratificava a diferenciação entre potências primeiras e secundárias no

sistema internacional (GARCIA, 2006, p. 46).

Em conferência de 4 de abril de 1919, na cidade de São Paulo, Rui Barbosa teceu

críticas à política de cooperação do Brasil com os EUA, o que ficou conhecido como “O Caso

Internacional”. Denunciou ter sido vítima do que chamou de uma “sórdida intriga

internacional” tanto no caso da escolha do Chefe da delegação brasileira à Conferência de Paz

como das eleições presidenciais daquele ano. No primeiro caso, atacou veementemente

Domício da Gama, o qual teria excedido no uso do poder a ele conferido para conseguir ter

seu nome sugerido, em um primeiro momento, para chefiar a delegação brasileira em Paris.

No caso presidencial, Rui Barbosa criticou novamente Domício da Gama por suas atitudes

“ultra-americanas” e pela estreita relação que mantinha com os EUA, o que obstaculizava a

eleição de um homem que não fosse claramente reconhecido pelo governo norte-americano

como um aliado no país sul-americano.

Ademais, Rui Barbosa contestou a interpretação do Itamaraty de que, nessa

Conferência, o país havia alcançado “a mais elevada posição internacional que o Brasil até

[então] assumira entre as grandes nações” (GARCIA, 2006, p. 63), o que já teria acontecido,

para ele, na sua Haia de 1907. Contradisse a versão oficial de que o Brasil havia alcançado

posição internacional de líder das pequenas nações na Conferência de Paz, uma vez que

estava ligado aos EUA por uma política de “protetorado”:

Entre os Estados Unidos e o Império Britânico, nenhuma tendência

nutro, que me levasse jamais a converter o Brasil no protegido

19

Correio da Manhã (21/02/1919). “Os leaders dos grandes Estados resolveram hontem levar á Convenção o

nome do Sr. Epitácio Pessoa”.

20

internacional desta ou daquela. Não. O que eu quereria, era ver a

minha Pátria igualmente acatada por ambas, mantendo para com as

duas essa independência, estritamente observada, que as menores de

todas as nações, as Bélgicas e as Suíças, logram manter, quando é o

povo que exerce a soberania. [...] Antes de amigo dos Estados

Unidos, ou de qualquer outra nação do mundo, amigo sou do Brasil.20

Como avaliou Vinhosa (1990), não faz sentido a argumentação de Rui Barbosa a

respeito de uma “intriga internacional”, tampouco uma conspiração que envolvesse os EUA.

A “águia de Haia” não teria aceitado convite como Chefe da delegação brasileira na

Conferência de Paz por questões de vaidade e de orgulho. Por exemplo, o convite a Rui

Barbosa teria sido feito após aventado o nome de Domício da Gama para o cargo. Além disso,

os demais componentes da delegação já haviam sido escolhidos, sem a anuência do célebre

jurista, e tinham colocação hierárquica equivalente à dele. Por fim, para aceitar o cargo, Rui

Barbosa solicitava a substituição do Chanceler por outro que não estivesse em desarmonia

consigo, criando uma situação de “ou ele ou eu” a ser decidida pelo Vice-Presidente Delfim

Moreira. Quanto à crítica às relações com os EUA, Garcia (2006, p. 63) ressalta que Rui

Barbosa não era, em verdade, antiamericano. Para este, não deveria haver um afastamento,

pois o Brasil e os EUA deveriam manter relações de amizade entre iguais, “sem se

diminuírem ou desnaturarem”.

Uma série de outras críticas feitas por Rui Barbosa e seus simpatizantes estavam

relacionadas à Liga das Nações e às diretrizes de política externa seguidas pelo governo, com

destaque para o artigo intitulado “A Liga das Nações e a Soberania Nacional”, de 03 de maio

de 1919, publicado em “O Imparcial”. Conquanto o artigo se inicie ressaltando a “alta

conveniência patriótica de separarmos o estudo e o exame dos problemas que affectam a

nossa política internacional das questões apaixonadas levantadas em torno da sucessão

presidencial”21

, são claras as críticas direcionadas à atuação do governo e de Epitácio Pessoa

na organização da Liga das Nações, como se pode observar no seguinte trecho:

A acção do governo e do nosso eminente embaixador [Epitácio

Pessoa] affecta os maiores interesses nacionaes; não somente os da

geração que está, actualmente, com a responsabilidade de conduzir os

destinos do Brasil, mas, por annos afóra, os da nacionalidade,

definitivamente comprometidos no desastre irreparável, que nos está

ameaçando.

Aquele jornal sustenta que a Conferência de Paz foi dominada pela “oligarchia das

grandes potenciais” na condução dos trabalhos, restando aos demais países a função de

20

Rui Barbosa. “O Caso Internacional” (GARCIA, 2006, p. 46). 21

O Imparcial. 03/05/1919. “A Liga das Nações e a Soberania Nacional”.

21

“penetras”. Critica a prepotência com que as quatros grandes potências europeias arrolaram-se

para si o direito de decidir os destinos das questões internacionais, como a liquidação dos

vencidos, os trabalhos da paz e a organização definitiva da Sociedade das Nações. Além

disso, condena o fato de os delegados brasileiros terem aceitado a posição de potências com

“interesses limitados”, pois isso significaria uma clara “diminuição da dignidade nacional”.

Para “O Imparcial”, o Brasil teria, dessa maneira, aceitado a “superioridade da soberania de

certas grandes potências” e o resultado disso seria a condição inapelável de “penetras da

Conferência”, sem capacidade de fazer parte da tomada de decisões substantivas.

Ao longo do referido editorial, revela-se uma evidente comparação entre a

performance de Rui Barbosa na Conferência de Haia de 1907 e a atuação de Epitácio Pessoa

na Conferência de Paz de 1919. Em primeiro lugar, destaca-se a bem sucedida defesa de Rui

Barbosa das noções de soberania nacional e de igualdade dos Estados em Haia, como está

expresso neste excerto:

Deante de uma tentativa de selecção das soberanías, nos preliminares

da segunda conferencia de Haya, o nosso embaixador [Rui Barbosa]

levantou o protesto vehementemente das pequenas nações e obteve

que as nações poderosas se submetessem ao princípio da egualdade

juridica das soberanias, estabelecendo a fraternidade dos povos livres

na base da egualdade dos seus direitos politicos.22

A defesa principista, hábil e efetiva de Rui Barbosa é colocada ao lado do

conformismo, da submissão às “nações mais poderosas” e da alienação dos direitos soberanos

do Brasil mantidos na gestão de Delfim Moreira e do Embaixador Epitácio Pessoa. Para o

jornal, na Conferência de Paris de 1919, o Brasil teria abandonado não apenas o princípio de

igualdade entre os Estados, pedra angular que deveria nortear a criação da Liga das Nações,

mas também os seus direitos soberanos, o que está expresso em:

[...] o nosso governo e o seu embaixador [Epitácio Pessoa]

abandonaram a defesa dos direitos da nossa soberania, ameaçados no

contraste com os direitos soberanos das nações mais poderosas. Não

abandonámos apenas o principio geral, anteriormente imposto por nós

em defesa da sociedade das nações: largamos de mão até o nosso

direito nacional, que, bem defendido, teria transformando o “big five”

em “big six.23

Tanto os delegados brasileiros como o “O Imparcial” avaliaram como principais

condicionantes da Conferência de Paz a desigualdade e a política de poder das nações mais

poderosas. Contudo, enquanto na perspectiva da Chancelaria brasileira, o Brasil logrou obter

22

O Imparcial. 03/05/1919. “A Liga das Nações e a Soberania Nacional”. 23

O Imparcial. 03/05/1919. “A Liga das Nações e a Soberania Nacional”.

22

alguns frutos de seu limitado poder de barganha, aquele periódico considerou que os

delegados à frente da missão brasileira aceitaram de forma passiva tais condições e trouxeram

para o país “terríveis compromissos”. Para o editorial desse jornal, manteve-se a distinção

entre soberanias de primeira e de segunda classe no âmbito da Liga das Nações, e, ademais, o

Brasil teria aceitado representar, nessa organização, uma “soberania subalterna”:

Estabeleceu-se, portanto, uma ‘sociedade’ das grandes e das pequenas

nações. Creou-se, pois, um órgão dirigente para essa sociedade

internacional, composto de uma minoria formada por cinco grandes

potências e uma minoria de representantes transitorios da poeira

impalpável das soberanias secundarias”. “Nesse ‘conselho’, nós não

somente abandonamos o principio, que já defendemos da egualdade

jurídica das nacoes independentes entre si, como acceitamos a nossa

classificação entre os povos de soberanias subalterna.

Por esse motivo, o referido jornal declara que “fomos muito adeante e transferimos a

esse órgão internacional, no qual temos apenas uma representação inferior, certos attributos

inalienaveis da soberania nacional”24

. A renúncia da soberania nacional é questionada,

sobretudo, quanto à incompatibilidade ante à Constituição brasileira do artigo 8o do Estatuto

da Liga das Nações, o qual declara que o Conselho promoverá a limitação dos armamentos

dos países. Critica a limitação das forças em mar e terra, a legislação das indústrias de

fabricação de munições de guerra e a criação de um eventual órgão internacional com funções

executivas de Estado Maior. Além da dimensão militar, o artigo questiona o estabelecimento

de um Tribunal permanente de justiça internacional, cuja competência seria “vaga” e

“imprecisa”. Segundo seu entendimento a respeito do Estatuto, “O Imparcial” critica uma

“autoridade excessiva” da Liga das Nações, que poderia rever os tratados existentes (pelo

artigo 19) e declarar “revogados todos os tratados existentes, interpretados como contrários ao

espírito da Liga (artigo 20), excepto os que interessam às nações de soberania de 1a classe

(artigo 21)”25

.

Ao final, “O Imparcial” reprova explicitamente o desempenho de Epitácio Pessoa não

somente condenando-o por ter aprovado a Liga das Nações na forma de um organismo

internacional oligárquico, em que o Brasil teria apenas posição subalterna, como também por

ter condescendido em participar, de forma direta, nas “engrenagens” do Conselho da Liga. A

Sociedade das Nações seria, ademais, contrária à Constituição brasileira e estaria transferindo

ao estrangeiro capacidades fundamentais da soberania, como o poder decisório sobre questões

24

O Imparcial. 03/05/1919. “A Liga das Nações e a Soberania Nacional”. 25

O Imparcial. 03/05/1919. “A Liga das Nações e a Soberania Nacional”.

23

de suma importância para o Estado e a competência de produzir e administrar armamentos no

território nacional. Esses argumentos estão claros na seguinte passagem do artigo:

Desse modo, o nosso embaixador não somente approvou o monstro como

condescendeu em participar da sua engrenagem [como membro do Conselho

da Liga]. Comprometteu-se num acordo internacional, que fere de frente á

nossa Constituição e que faz mais transfere ao estrangeiro attributos

essenciaes da nossa soberania. Mas o compromisso do Sr. Epitacio Pessoa,

envolvendo a revisão e até a abrogação da nossa carta constitucional (...).

Em resposta a essas condenações, o governo brasileiro fez publicar no “Jornal do

Commercio”, de 06 de maio de 1919, artigo de Clóvis Bevilácqua, consultor jurídico do

Itamaraty à época. Segundo Garcia (2006), nesse artigo, Bevilácqua defendeu o princípio da

autolimitação e buscou legitimar a aceitação, em teoria, das regras internacionais que

pudessem eventualmente criar restrições à soberania de um Estado. Para ele, a

“reciprocidade” entre as partes contratantes do Estatuto da Liga das Nações seria a chave de

fundamentação jurídica que justificaria a solidariedade do Brasil aos Aliados no caso desse

organismo internacional, o que pode-se observar em:

É bem de ver que nações ciosas de sua dignidade não entrariam para

essa agremiação, por mais elevados que fossem os intuitos visados, se

tivessem de abdicar de sua soberania, de aceitar uma posição que as

diminuísse moral ou periodicamente. O Brasil aceita, em benefício da

concórdia dos povos, os deveres que a Liga impõe, como os aceitam

os Estados Unidos, a França, a Inglaterra e todas das potencias que se

congregaram para criar obstáculos à guerra (GARCIA, 2006, p. 47).

Como analisado nesta seção, alguns dos argumentos e representações oficiais tiveram

eco e foram reconhecidas, com certo grau de legitimidade, pelos jornais “A Época” e “O

Imparcial”. Foi ressaltado o elevado status brasileiro em poder se fazer representar por três

delegados na Conferência de Paz, em razão da honra de ser reconhecido como uma nação

independente e democrática, e o seu pertencimento à América do Sul, com um papel especial

de líder e pioneiro. No entanto, verificou-se que certas imagens e representações não tiveram

ressonância na mídia nacional e foram até mesmo contestadas. Esse é o caso do

questionamento do êxito da delegação brasileira nessa Conferência, descrita como uma

“oligarquia das grandes potências”, em que o Brasil participou como “penetra” e “nação

subalterna”. A imagem de Epitácio Pessoa foi particularmente sombreada por críticas ao seu

desempenho na organização da Liga das Nações, que resultou em um órgão supranacional

governado pelas grandes potências e com amplas e vagas competências, que chegaria a

atentar contra o direito inalienável de soberania nacional.

24

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS: DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES

A Europa depois do Tratado precisava ser vista de forma pessimista. Conforme

enfatizou Keynes (2002), o Tratado de Paz não continha qualquer disposição referente à

reabilitação econômica da Europa, em particular a restauração das finanças desordenadas da

França e da Itália, ao ajuste entre os próprios aliados e os sistemas do Velho e do Novo

Mundo. “O Conselho dos Quatro não se preocupou com esses temas, mas sim com outros -

Clemenceau queria esmagar a economia do inimigo, Lloyd George conseguir um acordo para

levar consigo a Londres, e exibi-lo durante uma semana, Wilson nada fazer que não fosse

justo e correto. É um fato extraordinário, mas o problema econômico fundamental de uma

Europa esfomeada que se desintegrava diante dos seus olhos era a única questão para a qual

foi impossível provocar o interesse dos Quatro” (KEYNES, 2002, p. 157).

Nesse contexto, na perspectiva da Chancelaria brasileira, apesar da percepção de um

ambiente hostil, em que as pequenas nações não tinham mais que a finalidade de atribuir uma

aparência liberal à Conferência de Paz, o Brasil buscava deixar registrado o seu protesto

contra a “velha diplomacia” e a sua posição em defesa dos interesses das potências menores.

Exemplo disso foi a defesa da tese do não-reconhecimento nem de grandes nem de pequenas

potência, com base no argumento de que, ainda que os interesses dos países fossem desiguais,

as soberanias deveriam ser consideradas iguais. A estreita cooperação com os EUA não

representaria mais do que os “frutos da política de aproximação, tradicional ao Itamaraty”

(GARCIA, 2006, p. 74), mas sem implicar qualquer aspecto de subordinação ou dependência.

Contudo, tais entendimentos não deixaram de ser contestados pelos que acreditavam que o

Brasil mantinha relações de vassalagem com os EUA e que havia abandonado as pequenas

potências ao se deixar ingressar no clube fechado do Conselho da Liga.

Para o Itamaraty, o Brasil obteve conquistas importantes e saiu da Conferência de Paz

com uma posição de elevado renome na Europa e nos EUA, o que refletia o fato de o país

estar sendo reconhecido em seus esforços e sacrifícios e, por isso, estarem sendo concedidas

as recompensas materiais e simbólicas devidas. Exemplo disso seria a possibilidade de uma

nação sul-americana se ver representada por três delegados em uma Conferência em que se

discutiram, essencialmente, questões do Velho Mundo. Com efeito, as considerações de

prestígio não são negligenciáveis para motivar a participação do Brasil na Liga das Nações,

uma vez que, por ter participado na Primeira Guerra Mundial junto aos aliados, o país tornou-

25

se membro fundador da Liga das Nações, iniciando-se, destarte, na prática do

multilateralismo político e universal e de todas as novidades que isso trazia (SANTOS, 2003,

p. 89). Para um país que, até esse momento, havia participado apenas dos fóruns

internacionais das Conferências Panamericanas e da Conferência de Haia de 1907, a

indicação como membro não permanente do Conselho da Liga no seu primeiro ano de

funcionamento, sendo reeleito continuamente até 1925, constituiu considerável gesto de

prestígio político.

Tais imagens de crescente prestígio interno e externo, encontraram ressonância na

mídia nacional, em especial o tema do número de delegados que caberia ao país, isto é, o de

seu status na Conferência de Paz. De acordo com “A Época”, essa ascensão na escala das

potências não foi conseguida como uma recompensa pelo auxílio bélico oferecido, conforme

a perspectiva oficial, mas teria sido uma honra concedida ao Brasil pela sua condição de país

independente e democrático no continente sul-americano. No entanto, essas imagens e

representações projetadas pelos jornais começam a se modificar com o avanço das

negociações e o aumento da “desilusão” causada pelos seus parcos resultados alcançados,

assim como pelas influências políticas e ideológicas dada a proximidade das eleições de 1919

e a candidatura de Epitácio Pessoa.

Tanto os delegados brasileiros como os jornalistas de “O Imparcial” consideraram

assimétricas as condições dos trabalhos da Conferência, criticando a incompatibilidade disso

com o princípio orientador da igualdade entre as nações. Entretanto, ao passo que, para a

Chancelaria brasileira, o país teria conseguido obter algumas vitórias a partir de seu limitado

poder de barganha, “O Imparcial” avaliou os delegados à frente da missão brasileira, em

particular Epitácio Pessoa, como pouco engenhosos e submissos aos mandos da oligarquia das

grandes potênciais, vinculando o Brasil a compromissos que alienavam os seus direitos

soberanos. Para esse jornal, o Brasil teria traído não apenas o princípio de igualdade entre os

Estados, mas também os seus direitos soberanos, aceitando a superioridade da soberania de

certas grandes potências e a condição subalterna de país sul-americano. Outra manifestação

dessa submissão seriam as atitudes “ultra-americanas” e a estreita relação mantida entre Brasil

e EUA pela Chancelaria de Domício da Gama. As críticas ao desempenho do Brasil em Paris

inserem-se, por fim, no contexto de comparação entre a performance de Rui Barbosa na

Conferência de Haia de 1907 e a atuação de Epitácio Pessoa na Conferência de Paz de 1919,

uma vez que esses dois estadistas estavam concorrendo às eleições presidenciais de 1919.

26

Conquanto pareça evidente, na perspectiva presente, a importância da entrada do

Brasil na Liga das Nações, as diferentes representações desse acontecimento como

recompensa pelo esforço na Primeira Guerra Mundial, honra decorrente da condição de nação

sul-americana independente e democrática ou submissão a um arranjo das grandes potências

demonstram que não se tratava de tema incólume a controvérsias. Ao contrário, constituiu

tópico reincidente nos documentos oficiais e nas primeiras páginas dos jornais pesquisados,

em que se pode observar que diplomatas e jornalistas estavam imbuídos da ideia de que se

tratava de um assunto crucial para aquele momento histórico em que se desenrolavam

profundas transformações políticas, econômicas e sociais no mundo. Igualmente, ambos

convergem quanto à percepção de um aumento da projeção internacional no Brasil na esteira

da Conferência de Paz e das visitas internacionais realizadas por Epitácio Pessoa.

Essas questões obtêm maior significado quando se atenta para o contexto histórico

vivido pela diplomacia e pela elite brasileira naquele momento. Como destaca Santos (2003,

p. 89), fazer parte da Liga das Nações representava uma oportunidade única para o Brasil

reforçar seu status internacional, contando com o aval das grandes potências, e ampliar sua

esfera de atuação, saindo dos parâmetros do americanismo e lançando-se em um

empreendimento extra-continental. A atuação brasileira na Liga sustentava-se, ainda, em um

universo de ideias e de crenças da elite nacional a respeito de inserção internacional do Brasil:

o país era visto como uma nação solitária e isolada dentro da América do Sul, cercada de

vizinhos combativos e, tendo em vista esse contexto, o Brasil estaria destinado a buscar um

“lugar ao sol” no concerto das grandes potências (SILVA, 1998, p. 150). A participação

brasileira na Liga significou, desse modo, um breve interregno universalista, ainda que

baseado em concepções do realismo político, e reforçou o prestígio internacional de que o

país já desfrutava, em razão de atributos nacionais, de consolidada tradição diplomática e do

fato de ter sido o único país da América do Sul a participar militarmente da Primeira Guerra

Mundial.

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Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1919.

O Imparcial, Rio de Janeiro, 1919-1920.


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