Date post: | 30-Jan-2023 |
Category: |
Documents |
Upload: | khangminh22 |
View: | 0 times |
Download: | 0 times |
Miguel Rui Vilas Boas de Melo Machado
Síndromes de compressão venosa por
artérias no abdómen e pélvis
Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina
Orientador:
Prof. Dr. Rui de Almeida
2017
- II -
Dedicatória
Gostaria de dedicar esta tese, realizada num período de desafios e incertezas,
que existem sempre numa ou noutra fase da vida e que podem ser mais óbvias
ou importantes no momento atual, aos meus pais e irmãos, pelo apoio,
entusiasmo e confiança que sempre me manifestaram ao longo da minha vida e
que me impeliram para atingir os meus objetivos. Sempre foram a referência
moral e o exemplo de comportamento para a minha vida.
- III -
Agradecimentos
Gostaria de expressar a minha gratidão ao Sr. Prof. Dr. Rui de Almeida, Diretor
do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, pela imediata disponibilidade
manifestada para orientar a realização da minha tese de mestrado. Ao longo
deste período, o seu apoio foi inexcedível, tendo eu beneficiado do seu
entusiasmo e conhecimentos científicos que partilhou comigo e, pacientemente,
me foi transmitindo.
Agradeço ao meu pai, Prof. Doutor Rui Machado, o gosto que me transmitiu pelo
estudo e conhecimento de doenças raras ou pouco conhecidas, em particular
em patologia vascular periférica, da qual resultou a escolha do tema da
dissertação deste Mestrado.
- IV -
Resumo
Objetivo: Avaliar a experiência no tratamento de doentes com síndromes de
compressão venosa por artérias no abdómen e pélvis, no Serviço de Angiologia
e Cirurgia Vascular, no Hospital de Santo António.
Introdução: As síndromes de compressão venosa por artérias no abdómen e
pélvis podem ser divididos em dois grupos: a Síndrome de Nutcracker,
compressão da veia renal esquerda pela aorta e/ou artéria mesentérica superior
e a Síndrome de May-Thurner, compressão da veia ilíaca comum esquerda pela
artéria ilíaca comum direita.
Métodos e Material: Análise retrospetiva recorrendo à avaliação dos registos
clínicos e imagiológicos de sete doentes com o diagnóstico de Síndrome de
Nutcracker (estudo1), de três doentes transplantados renais com rim de dador
vivo com fenómeno de Nutcracker (estudo2) e de 21 doentes com o diagnóstico
de Síndrome de May-Thurner (estudo3) não complicado, submetidos a
tratamento cirúrgico. Nos dois primeiros estudos procedeu-se a uma análise
descritiva caso a caso e no estudo 3 recorreu-se ao SPSS statistic21 IBM para
análise descritiva uni e bivariada e realização de testes de hipóteses.
Resultados: No estudo1, a idade média foi de 22 anos, 57,1% eram do sexo
feminino e a Síndrome de Nutcracker posterior foi a etiologia mais comum
(42,9%), tendo-se observado uma nova variante anatómica (compressão da veia
cava inferior esquerda pela aorta e artéria mesentérica superior). O sintoma mais
comum foi a hematúria (71,4%), realizando-se tratamento cirúrgico em três
doentes (42,9%). Com um follow-up médio de 2,7 anos, cinco doentes estão
assintomáticos, um teve um episódio autolimitado de hematúria e o outro
manteve proteinúria assintomática.
No estudo 2, observou-se que o Fenómeno de Nutcracker no rim de dador vivo
não provocou interferência na função renal do recetor.
- V -
No estudo 3, a idade média foi de 44 anos, sendo 90% do sexo feminino. O
sintoma mais comum foi o edema do membro inferior esquerdo (85%), o tempo
médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 5,05 anos e o tratamento
foi, em 90.5% dos casos, um stenting primário. Com um follow-up médio de 54,43
meses, a patência primária foi 85,7% e a assistida 100%. Nos 16 doentes em
que foi aplicado o Venous Clinical Severity Score, observou-se uma significância
estatística nos scores pós-operatórios, em relação à dor, edema e score total, e
uma correlação, entre o tempo que medeia o início dos sintomas e o diagnóstico,
e o maior score do edema pós-operatório.
Discussão/ Conclusão: No estudo 1, a variante posterior foi a mais comum,
contrariando a literatura que refere a variante anterior. Identificamos um quarto
tipo anatómico, que designamos de outras formas anatómicas. A cirurgia mais
realizada foi o autotransplante renal, enquanto que na literatura recente verifica-
se uma maior utilização do stenting da veia renal esquerda.
No estudo 2, observou-se que o Fenómeno de Nutcracker não interferiu com os
resultados no transplante de rim de dador vivo.
No estudo 3, observamos uma patência primária assistida de 100% no stenting
iliocava, o que está de acordo com a literatura publicada. O atraso no diagnóstico
poderá corresponder a um desconhecimento clínico da síndrome.
Palavras-chave: Síndrome de Nutcracker, Fenómeno de Nutcracker,
Transplante de dador vivo renal, Síndrome de May-Thurner, Síndrome de
Cockett, Síndrome de Obstrução da Veia Ilíaca Não Trombótica.
- VI -
Abstract
Objective: Evaluate the experience on the patients with venous compression
syndromes by arteries on the abdomen and pelvis.
Introduction: The abdominopelvic venous compression syndromes by arteries
can be divided in two groups: Nutcraker Syndrome, compression of the renal vein
by the aorta and/or the superior mesenteric artery, and the May-Thurner
Syndrome, compression of the left common iliac vein by the right common iliac
artery.
Methods and material: Retrospective analyses based on the clinical and
imagiological records related to seven patients diagnosed with Nutcracker
Syndrome (study 1), to three renal transplanted patients from living donors with
Nutcracker phenomenon (study 2) and to 21 patients diagnosed with May-
Thurner Syndrome non complicated who underwent surgical treatment (study 3).
The first two studies used a descriptive analyses case by case and, on the third
case, SPSS statistic21 IBM was used to do a descriptive analyses uni and
bivariated as so as the realization of the hypothesis test.
Results: On the first study, the median age was 22 years old, 57,1% were female
and the posterior Nutcracker Syndrome was the most common type (42,9%). It
was observed a new anatomic variation (compression of the left inferior cava vein
by the aorta and the superior mesenteric artery).
The most common symptom was haematuria (71,4%) and surgical treatment was
done in three patients (42,9%). After a mean follow-up of 2,7 years, five were
asymptomatic, one had a self-limited haematuria episode and another kept
asymptomatic proteinuria.
The second study showed that the Nutcracker phenomenon on the living kidney
donor didn’t interfere with the renal function of the receptor.
On the study 3, the mean age was 44 years old and 90% were female. The most
common symptom was left inferior limb edema (85%), the mean time between
- VII -
the beginning of the symptoms and the diagnose was 5,05 years and the
treatment was primary stenting in 90,5% of the cases. With a mean follow-up of
54,43 months, the primary patency was 85,7% and the assisted 100%. On the
sixteen patients that were classified by the venous clinical severity score, it was
shown a significant improvement on the post-operatory scores related to pain,
edema on the left inferior limb and the total score. There was a significant
correlation between the time between the beginning of the symptoms and the
diagnosis and a superior post-operatory edema score.
Discussion/Conclusion: On the first study, the posterior type was the most
common, going against the literature that refers the anterior type. We identified a
fourth anatomic type at which we designated Other anatomic forms. The most
performed surgery was the renal auto transplant, against the recent literature that
shows a more common use of stenting.
Relating the second study, it was not shown that the Nutcracker phenomenon
interferes with the results of the living donor kidney transplant receptor.
On the study 3, it was observed a primary assisted patency of 100%, according
to published literature. The delayed diagnosis of the MTS may correspond to the
lack of clinical knowledge.
Key-words: Nutcracker syndrome, Nutcracker phenomenon, live donor renal
transplant, May-Turner syndrome, Cockett Syndrome, Non thrombotic iliac vein
obstruction syndrome.
- VIII -
Índice Geral
Introdução ............................................................................................................................... 1
Fenómeno de Nutcracker e Síndrome de Nutcracker ....................................................... 1
Definição ......................................................................................................................... 1
Epidemiologia ................................................................................................................. 3
Fisiopatologia .................................................................................................................. 3
Manifestações clínicas .................................................................................................... 4
Estudo imagiológico ........................................................................................................ 5
Tratamento ...................................................................................................................... 7
Síndrome de May-Thurner, Síndrome de Cockett ou Síndrome obstrutivo não-trombótico
da veia ilíaca ..................................................................................................................... 10
Definição ....................................................................................................................... 10
Fisiopatologia ................................................................................................................ 11
Manifestações clínicas .................................................................................................. 12
Estudo imagiológico ...................................................................................................... 13
Tratamento .................................................................................................................... 14
Material e métodos ............................................................................................................... 17
Resultados ............................................................................................................................ 19
Estudo 1 – Síndrome de Nutcracker ................................................................................ 19
Estudo 2 – Efeito do Fenómeno de Nutcracker no rim de dador vivo no transplantado . 20
Estudo 3 – Doentes com o diagnóstico de Síndrome de May-Thurner não complicado
tratados cirurgicamente .................................................................................................... 21
Discussão ............................................................................................................................. 29
Estudo 1- Síndrome de Nutcracker .................................................................................. 29
Estudo 2 – Efeito do Fenómeno de Nutcracker no rim de dador vivo no transplantado . 32
Estudo 3 Doentes com o diagnóstico de Síndrome de May-Thurner não complicado
tratados cirurgicamente .................................................................................................... 33
Conclusão ............................................................................................................................. 37
Bibliografia ............................................................................................................................ 39
Trabalhos publicados ........................................................................................................... 45
Trabalhos comunicados ....................................................................................................... 46
Comunicação oral (aceite) ................................................................................................ 46
Comunicações como poster (aceites) .............................................................................. 46
Anexos .................................................................................................................................. 48
Trabalhos publicados ....................................................................................................... 48
Trabalhos comunicados ................................................................................................... 59
Comunicação oral ......................................................................................................... 59
Comunicações como poster ......................................................................................... 61
- IX -
Índice de Figuras
Figura 1 - Fisiopatologia da SNC anterior: a) anatomia normal da região aorto mesentérica; b)
agudização do ângulo aorto mesentérico e compressão da VRE; c) hipertensão venosa e
desenvolvimento de circulação colateral ...................................................................................... 3
Figura 2 - a) AngioTC observando-se um ângulo aberto entre a AMS e a aorta, com a veia
renal localizada na área formada por essa pinça; b) Aortografia convencional de perfil
visualizando-se a normal emergência da artéria mesentérica superior ........................................ 6
Figura 3 - AngioTC, observando-se compressão da VRE pela AMS com um ângulo aorto-
mesentérico de 22º ........................................................................................................................ 6
Figura 4 - SMT - Imagem demonstrativa da compressão da VICE pela AICD e o seu tratamento
com a colocação de stent ilio-cava (adaptação de Carroll e Moll, 2016 (61) ............................. 10
Figura 5 - Lesões na VICE na SMT ............................................................................................ 11
Figura 6 - Imagem de autotransplante realizado em doente com SNC anterior; implante de rim
na fossa ilíaca.............................................................................................................................. 31
Figura 7 - Stenting de SMT, em doente do sexo feminino de 63 anos, com claudicação venosa
e edema do membro inferior esquerdo: a) estenose marcada da VICE; b) flebografia de
controlo após colocação de stent lio-cava com resolução da estenose; c) controlo intra-
operatório com TC, observando-se stent em boa posição e aberto. .......................................... 34
Figura 8 - Stenting de SMT (sinusvein), em doente do sexo feminino de 26 anos, com
claudicação venosa incapacitante do membro inferior esquerdo: a) estenose/oclusão da VICE;
b) flebografia de controlo após colocação de stent lio-cava com resolução da lesão; c) controlo
pós-operatório com TC, observando-se ausência de compressão da VICE. ............................. 34
Figura 9 - ATL simples da VICE (a) com reestenose posterior (b) e realização de stenting com
obtenção de excelente resultado imagiológico (b); observação de edema do membro inferior
esquerdo antes do tratamento (c) e após o tratamento (d) com resolução total do mesmo. ..... 35
Índice de Tabelas
Tabela I - Clínica e diagnóstico ................................................................................................... 19
Tabela II - Tratamento e follow-up .............................................................................................. 19
Tabela III - Características demográficas e clínicas dos dadores e recetores de rim ................ 20
Tabela IV - Caracterização da população estudada: dados demográficos, clínicos e resultados
obtidos ......................................................................................................................................... 21
Tabela V - Estatísticas descritivas dos “tempos” entre o início de sintomas e o diagnóstico,
entre o diagnóstico e o tratamento, internamento, follow-up, entre tratamento e re-intervenção
..................................................................................................................................................... 22
Tabela VI - Estatística de frequências (relativas e percentuais) para a gravidade dos scores
observados (variável categórica)(N=16) ..................................................................................... 23
Tabela VII - Estatísticas descritivas dos scores (N=16) .............................................................. 24
Tabela VIII - Comparação dos scores Pré-tratamento e Pós-tratamento (N=16) ....................... 25
Tabela IX - Comparação das classificações dos scores entre os pacientes do sexo masculino e
os pacientes do sexo feminino (teste de Mann-Whitney) ........................................................... 26
- X -
Tabela X - Comparação das classificações dos scores entre as faixas etárias (teste de Kruskall-
wallis) ........................................................................................................................................... 27
Tabela XI - Comparação entre os scores, a idade, o tempo entre o início dos sintomas e o
diagnóstico, e o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento (coeficiente de correlação
de Spearman Rho) ...................................................................................................................... 28
Tabela XII - Proposta de nova classificação etiológica da SNC ................................................. 30
- XI -
Abreviaturas
AICD artéria ilíaca comum direita
AMS artéria mesentérica superior
ATL - angioplastia transluminal percutânea
FID fossa ilíaca direita
FNC Fenómeno de Nutcracker
IMC índice de massa corporal
IVUS ultrassonografia endovascular
RMN ressonância magnética nuclear
SMT - Síndrome de May-Thurner
SNC Síndrome de Nutcracker
TC tomografia computorizada
TVP trombose venosa profunda
VSI - veia safena interna
VCI veia cava inferior
VCSS venous clinical severity score
VICE veia ilíaca comum esquerda
VRE veia renal esquerda
Página 1 de 74
Introdução
Ao nível do abdómen e pélvis, podemos observar duas veias passíveis de ser
comprimidas por artérias. Uma é a veia renal esquerda (VRE), que pode ser
comprimida pela artéria mesentérica superior (AMS) ou pela aorta, naquilo que
se denomina Fenómeno de Nutcracker (FNC) ou Síndrome de Nutcracker (SNC),
dependendo da existência de sintomatologia. A outra veia é a veia ilíaca comum
esquerda (VICE) que pode ser comprimida pela artéria ilíaca comum direita
(AICD), naquilo que se denomina Síndrome de May-Thurner (SMT), Síndrome
de Cockett ou Síndrome obstrutivo não trombótico da veia ilíaca.
Descreveremos seguidamente e de forma individual, estes dois tipos de
entrapment venoso.
Fenómeno de Nutcracker e Síndrome de Nutcracker
Definição
O FNC, também conhecido como entrapment da VRE, resulta da sua
compressão pela forquilha formada pela AMS e a aorta, ou pela compressão
entre a aorta e a coluna vertebral, quando a VRE tem um trajeto retro aórtico.
Shin JI et al (1) enfatizam que este efeito compressivo nem sempre está associado
a sintomas clínicos, e que esta anatomia poderá ser uma variante do normal.
O FNC é uma observação imagiológica comum na população, não justificando
qualquer intervenção médica. Há, contudo, um desconhecimento sobre o
impacto que a potencial hipertensão venosa existente possa ter a nível tecidular
renal e consequente função do órgão, seja precoce ou tardiamente. Este facto
poderá assumir particular importância nos programas de transplante renal de
dador vivo, em que, por questões éticas, perante a existência de um dador em
que é observado um FNC, é mandatória a dádiva desse rim, pelo
desconhecimento do seu comportamento, a longo prazo, caso se tornasse único.
Quando este fenómeno anatómico condiciona o aparecimento de sintomas, deve
adquirir o nome de SNC. Não existe consenso sobre que tipo de sintomas que
Página 2 de 74
são suficientemente severos para merecerem a designação de síndrome ou se
as diferentes observações representam fases evolutivas do mesmo processo.
A compressão da VRE entre a aorta e AMS foi descrita, pela primeira vez, em
1950 por El Sadr e Mina, (2) tendo sido atribuído a De Schepper, (3) em 1972, o
termo Nutcracker, embora ele tenha sido utilizado primeiramente, em 1971, por
Chait et al. (4)
A veia renal tem uma extensão entre 6 e 10cm, um diâmetro de 4-5mm, (5)
embora não uniforme, com a região proximal tendo um diâmetro cerca de 50%
maior. (6) Recebe várias tributárias: a veia suprarrenal, a gonadal esquerda, a
ureteral e veias lombares antes da sua junção à VCI. Estas veias tributárias têm
válvulas que previnem o refluxo venoso, condicionando um aumento da pressão
venosa renal. Quando estão ausentes ou se tornam insuficientes, contribuem
para diminuir a pressão venosa renal, comportando-se como circulação
vicariante compensatória.
Na literatura publicada observa-se uma subdivisão da SNC em três tipos:
- a anterior refere-se à compressão da veia renal, pela pinça formada pela aorta
e artéria mesentérica superior, sendo o tipo mais comum. Menos
frequentemente, a terceira porção do duodeno, que se situa em frente à VRE,
poderá também ser comprimida, originando uma síndrome conhecida como
Síndrome de Wilkie. (7) (8) (9) (10) (11) (12)
- a posterior refere-se à compressão da VRE anormalmente localizada entre a
aorta e a coluna lombar. A localização retroaórtica da veia renal é rara, 1% a
3,4% (13) na população e, até 2011, apenas haviam sido descritos 11 casos de
SNC posterior. (14) (15) (16) (17)
- a mista refere-se à coexistência de um sistema venoso circunaórtico, tendo este
uma frequência na população, entre 6 a 8,7%. (13) Nesta síndrome, existe, em
simultâneo, uma compressão da VRE anterior, pela pinça aorto-mesentérica, e
da VRE posterior, pela aorta e corpo vertebral.
As teorias que tentam justificar o FNC incluem uma ptose renal posterior, uma
posição da VRE alta ou uma origem distal da AMS. (5) (18) (19) (20) A compressão da
VRE também pode ocorrer por neoplasia pancreática, linfadenopatias para
aórticas, tumores retroperitoneais, tecido fibrolinfático localizado entre a AMS e
a aorta ou volumosos aneurismas da aorta para-renal. (11) (21) (22) (23)
Página 3 de 74
Epidemiologia
A prevalência exata da SNC é desconhecida, sendo considerada uma entidade
clínica rara, contudo, recentemente, um número crescente de casos tem sido
publicado.
A síndrome pode ser diagnosticada em qualquer idade mas parece ser mais
frequente na segunda e terceira década de vida, já que, na puberdade, dá-se um
rápido crescimento e maturação dos corpos vertebrais, com uma possível
diminuição do ângulo entre a aorta e a AMS. Um segundo pico de prevalência
na mulher de meia-idade é descrito. (24) O FNC não é um fenómeno hereditário,
embora casos incidentais em gémeos tenham sido referidos. (25) Embora seja
referido que a síndrome é mais comum no sexo feminino, (26) há pelo menos um
estudo que não mostrou diferenças entre os sexos. (27)
Fisiopatologia
A compressão da VRE leva a um aumento da pressão venosa distal,
condicionando o desenvolvimento de uma congestão venosa renal e pélvica e a
um aumento da resistência ao fluxo sanguíneo arterial renal. Este efeito
fisiológico leva ao desenvolvimento de veias colaterais que atuam como um
mecanismo compensador para a diminuição da pressão venosa (figura 1). (2) A
compressão da VRE é acentuada na posição ortostática, já que esta provoca
uma proptose visceral e uma acentuação da agudização do ângulo Aorta/AMS.
Estas alterações hemodinâmicas vão estar relacionadas com as manifestações
clínicas da síndrome.
Figura 1 - Fisiopatologia da SNC anterior: a) anatomia normal da região aorto mesentérica; b) agudização do ângulo aorto mesentérico e compressão da VRE; c) hipertensão venosa e desenvolvimento de circulação colateral
Página 4 de 74
Um índice de massa corporal (IMC) baixo correlaciona-se positivamente com o
FNC, (17) (28) bem como este pode manifestar-se depois de um emagrecimento
acentuado. (29)
Manifestações clínicas
A manifestação clínica mais comum da SNC é a hematúria, que resulta da rotura
da fina parede septal que separa as pequenas veias do sistema colector no fórnix
renal. (30)
Os trabalhos histológicos realizados por MacMahon e Latorraca, (31) Pytel (32) e
Low e Matz (33) demonstraram a existência de canais diretos que comunicavam
o lúmen dilatado dos sinusóides venosos e os cálices renais, sendo estes canais
revestidos, em parte, por endotélio e, em parte, por epitélio de transição. A
hematúria pode variar de micro a macro-hematúria dependendo da gravidade da
hipertensão venosa, ocasionalmente provocando anemia e necessidade de
transfusão sanguínea. No passado, esta síndrome era considerada uma causa
rara de hematúria mas há estudos que revelam que pode ser responsável por
33,3% das hematúrias isoladas da criança. (28)
A segunda manifestação mais comum é a dor, localizada no flanco ou no
abdómen, por vezes com irradiação para a face medial da coxa ou região
nadegueira, sendo esta exacerbada pela marcha, posição sentada ou
ortostática.
Uma outra manifestação clínica é a proteinúria. Embora o seu mecanismo
etiológico não esteja completamente definido, a hipertensão venosa associada
a uma agressão imune discreta tem sido sugerida. (34)
A congestão venosa pélvica na mulher é outra das manifestações clínicas,
estando associada a sintomas como dismenorreia, dispaneuria, disúria, dor
pélvica e varizes vulvares, e no homem ao varicocelo, tendo sido reportada em
5,5% dos doentes e estando relacionada com o desenvolvimento da circulação
colateral compensatória. (35) A VRE poderá estar comprimida entre 50 a 100% de
todos os doentes com varicocelo. (4) (36)
Página 5 de 74
Takebayashi et al (37) diferenciam 3 subtipos clínicos de SNC: sangramento renal
idiopático, proteinúria massiva ortostática e intolerância marcada ao ortostatismo
que impede a realização das atividades da vida normais.
Existe uma controvérsia sobre se micro-hematúrias assintomáticas ou
varicocelos são suficientes para transformar um FNC em SNC, ou qual o ponto
de distinção entre ambos. (38)
Estudo imagiológico
A história natural do FNC e da SNC é desconhecida, parecendo estar ambos
sub-diagnosticados. O seu diagnóstico baseia-se, em primeiro lugar, no
conhecimento da síndrome, num alto grau de suspeição clínica, e na avaliação
imagiológica do doente. A primeira atitude a ter deve ser a realização de uma
história clínica e exame físico rigorosos, (24) que alertam para os sintomas mais
comuns, a sua evolução, o grau de compromisso funcional e possível
compensação com o tempo. Para excluir condições mais comuns, a realização
de hemograma, exame urinário, incluindo cultura microbiológica e exame
citológico, ureterocistoscopia, urografia e, por vezes, biopsia renal, são exames
frequentemente realizados.
O ecodoppler é o exame de eleição na avaliação inicial, referindo-se uma
sensibilidade e especificidade na ordem de 78 e 100% respetivamente. (37) A
aceleração do fluxo sanguíneo na área estenótica excedendo os 100cm/s é
referida como presente em 16% das crianças e adolescentes assintomáticos. (39)
Como critérios diagnósticos, são referidos um valor superior a 5 da razão entre
a velocidade na área estenosada e a velocidade distal à compressão. (40)
A tomografia computorizada (TC) e a ressonância magnética nuclear (RMN)
demonstram claramente a compressão da VRE mas não definem a velocidade
e a direção do fluxo. Permitem, contudo, definir o ângulo entre a aorta e a AMS
que é próximo dos 90º (figura 2) e no SNC normalmente inferior a 35º, avaliar o
espaço envolvente da veia renal esquerda e avaliar a compressão da VRE,
estando esta normalmente estenosada na porção aorto mesentérica (figura 3).
(38)
Página 6 de 74
Figura 2 - a) AngioTC observando-se um ângulo aberto entre a AMS e a aorta, com a veia renal localizada na área formada por essa pinça; b) Aortografia convencional de perfil visualizando-se a normal emergência da artéria
mesentérica superior
Figura 3 - AngioTC, observando-se compressão da VRE pela AMS com um ângulo aorto-mesentérico de 22º
O “beak sign”, que representa a forma triangular da estenose da VRE na porção
aorto mesentérica, representa uma forma severa de estenose e está associado
a uma sensibilidade de 91,7% e a uma especificidade de 88,9%. (41) Poyraz et al
(35) encontraram o FNC em 10,9% dos doentes que realizaram TC.
A RMN tem a vantagem de não usar radiação ionizante, sendo os achados
semelhantes aos encontrados na TC e tendo como desvantagem a sua menor
disponibilidade.
A flebografia permite a demonstração da estenose e a determinação do
gradiente de pressão entre a VRE e a VCI. O gradiente de pressão normal é
inferior a 1mmHg e vai depender da eficácia da circulação colateral, sendo que
Nishimura refere um gradiente >= 3 mmHg (42) como anómalo. Contudo, não há
um claro acordo sobre o valor a partir do qual a SNC deva ser diagnosticada, (5)
(43) (40) tendo Beinart et al (44) demonstrado que o gradiente renocava, em pessoas
saudáveis, variava entre 0 e 1mmHg.
Página 7 de 74
Reed et al (45) referem que os doentes com sintomas moderados não submetidos
a cirurgia tinham gradientes de pressão venosa semelhantes aos doentes com
sintomas severos que foram submetidos a tratamento cirúrgico.
Tratamento
O tratamento da SNC é controverso, variando entre o tratamento conservador e
a nefrectomia, dependendo este da sintomatologia do doente e da experiência
do Cirurgião e do Centro Cirúrgico na realização de cirurgia convencional,
endoscópica e endovascular. Alguns autores referem uma taxa de remissão
sintomatológica espontânea até 75%, em doentes com menos de 18 anos de
idade e com um follow-up de 2 anos.
Em 1974, Pastershank (46) publica o primeiro caso de tratamento cirúrgico de um
doente com SNC, num homem de 30 anos com dor no flanco e hematúria,
realizando a libertação da veia renal, entre a aorta e a AMS.
Em doente jovens com menos de 18 anos, o tratamento conservador, durante
pelo menos dois anos, é o preconizado, já que com o crescimento pode ocorrer
um aumento da gordura e do ângulo aorto-mesentérico e consequente
diminuição da compressão da VRE. Além disso, o desenvolvimento da
circulação colateral pode diminuir a pressão na veia renal. Alguns autores
referem a melhoria da proteinuria ortostática com o uso do anti-hipertensor
Alacepril (inibidor da enzima de conversão da angiotensina), (47) enquanto outros
referem melhoria dos sintomas congestivos com o tratamento com ácido
acetilsalicílico. (39) No caso de ausência de melhoria sintomatológica, ao fim de
dois anos, a terapêutica cirúrgica deve ser considerada, mesmo nos indivíduos
com menos de 18 anos de idade.
A cirurgia convencional engloba a transposição da VRE para uma posição mais
distal na veia cava inferior (VCI), a pontagem com prótese de
politetrafluoroetileno da VRE para a VCI, a autotransplantação renal, a
transposição da AMS, (48) (49) a pontagem gonadal-cava, a implantação de
stenting externo na VRE, (50) a nefropexia medial com excisão de varizes
residuais e, (19) por fim, a nefrectomia.
A cirurgia mais realizada é a transposição da VRE, realizada pela primeira vez
por Stewart et al, (45) e que envolve a secção da VRE junto à sua inserção na VCI
Página 8 de 74
e reanastomose, a um nível mais distal. Alguns doentes, apesar do sucesso
desta cirurgia, mantêm hematúria, atribuída à persistência de conexões entre os
sinusoides venosos dilatados e os cálices renais e, consequentemente,
necessitam de efetuar tratamento cirúrgico complementar (autotransplante ou
nefrectomia). (51)
Reed NR et al (45) publicaram, em 2009, a sua experiência com a transposição
da VRE, em 11 doentes, referindo que, com um follow-up de 70 meses, os
sintomas resolveram ou melhoraram em 90 e 100% dos doentes respetivamente,
referindo num doente, a oclusão da VRE transposta.
O autotransplante renal é uma técnica mais invasiva, mas, com a realização da
nefrectomia por via laparoscópica, e se existir grande experiência em cirurgia de
transplante renal especialmente de dador vivo, é uma técnica apelativa com bons
resultados publicados. Esta técnica foi realizado por Stocker et al (20) e é referida
como a última alternativa à nefrectomia.
O stenting externo da VRE, pelo risco de erosão que pode provocar em
estruturas vizinhas, é também pouco realizado, embora seja defendido por
alguns. (52)
A pontagem entre a VRE e a VCI com prótese, a transposição da AMS, pelo risco
de trombose associado e sua gravidade, são raramente realizados.
A cirurgia endoscópica representa um avanço no caminho da cirurgia
minimamente invasiva, havendo casos descritos de transposição da VRE (53) e
de pontagem espleno renal, (54) contudo, esta técnica é complexa e exige muita
experiência.
A cirurgia endovascular tem vindo a substituir progressivamente a cirurgia
convencional no tratamento da doença vascular, nomeadamente no sector
venoso. O primeiro caso de um stenting numa SNC foi efetuado, em 1995, por
Neste MG et al. (55) Chen S et al (41) referem a resolução sintomática, em 59 de
61 doentes tratados, referindo uma melhoria dos padrões hemodinâmicos, uma
taxa de complicações baixa e ausência de trombose do stenting.
A endotelização do stent ocorre entre 2 a 3 meses, após a sua implantação, facto
confirmado em estudos necrópsicos. (56)
A terapêutica pós-operatória recomendada consiste em hipocoagulação e
antiagregação, durante os primeiros 3 meses. (41)
Página 9 de 74
O stent ideal deve ter uma força radial elevada, boa conformabilidade e pouca
retração em comprimento para permitir uma colocação precisa. Os stents mais
usados são os autoexpansíveis e devem ser colocados desde a primeira
bifurcação venosa para minimizar o risco da sua migração. A trombose da VRE
após stenting pode ocorrer mas é rara (devido ao alto fluxo existente nesta veia
e à produção endógena renal de uroquinase).
O tratamento do SNC posterior coloca problemas adicionais, nomeadamente
pela falta de segurança na colocação de um stent num espaço exíguo, entre a
coluna vertebral e a aorta, o que poderá levar à erosão da parede aórtica e criar
uma fístula arteriovenosa de alto débito. (57)
Página 10 de 74
Síndrome de May-Thurner, Síndrome de Cockett ou Síndrome
obstrutivo não-trombótico da veia ilíaca
A insuficiência venosa crónica dos membros inferiores é um problema comum,
ocorrendo entre 1 a 5% da população adulta, aumentando a sua incidência com
a idade, seja na sua forma idiopática ou pós-trombótica.
A obstrução venosa tem sido reconhecida como uma causa importante de IVC,
tendo a obstrução do sector ílio-cava, uma importância superior em relação à
obstrução venosa infra-inguinal. A SMT é a causa mais comum de obstrução
venosa ilíaca de etiologia não trombótica. Se a terapêutica compressiva e
farmacológica falha, a correção cirúrgica da lesão obstrutiva ilíaca pode ser
necessária. (58)
Definição
Esta síndrome foi descrita pela primeira vez por Virchow, em 1851, tendo este
reparado que havia uma predominância da trombose venosa profunda (TVP)
iliofemoral do lado esquerdo, atingindo uma frequência 5 vezes superior, em
relação ao membro inferior direito. Definiu a síndrome como uma compressão
repetitiva e crónica da VICE pela AICD, com o consequente desenvolvimento de
sinéquias dentro da VICE (figura 4). (59) (60)
Figura 4 - SMT - Imagem demonstrativa da compressão da VICE pela AICD e o seu tratamento com a colocação de stent ilio-cava (adaptação de Carroll e Moll, 2016 (61)
Página 11 de 74
Fisiopatologia
Em 1908, Mc Murrich, (62) num estudo cadavérico, observou adesões internas
nas veias ilíacas e postulou que estas eram congénitas e responsáveis pela
maior incidência de TVP.
Em 1943, Ehrich e Krumbhaar (63) observaram que 23,8% dos adultos tinham
lesões endovenosas na VICE e a análise histológica mostrava que eram
constituídas por elastina e colagénio, demostrando que as lesões eram
adquiridas e não congénitas.
Em 1957, May e Thurner (60) (64) examinaram 457 cadáveres e observaram lesões
na VICE em 22% dos casos, classificando-as como spurs (esporões), dividindo-
os em 3 tipos (figura 5):
a) esporões laterais, ocorrendo de cada lado da VICE;
b) esporões centrais, ocorrendo antero-posteriormente na VICE;
c) esporões formando múltiplas fenestrações tipo rede.
Figura 5 - Lesões na VICE na SMT
Estes postularam que os spurs eram adquiridos e resultavam do traumatismo
repetido induzido pela pulsação arterial na parede venosa, condicionando a
irritação e proliferação do endotélio, levando à partição do lúmen venoso pelas
lesões cicatriciais.
Em 1965, Cockett e Thomas (65) descreveram a primeira série clínica de 57
doentes com TVP ilio-femoral aguda, secundária à compressão da VICE, pela
AICD. Descreveram que as mulheres eram mais afetadas e que a idade de
ocorrência mais comum era entre a segunda e a quarta década de vida.
Observaram também que as intervenções cirúrgicas para tratamento de úlcera
Página 12 de 74
venosa ou de varizes não resolviam o problema clínico porque a compressão da
veia ilíaca não era identificada e corrigida.
Manifestações clínicas
A SMT pode ter três formas de apresentação clínica:
a forma não complicada, provavelmente a mais comum e cujo
diagnóstico é mais difícil pela sintomatologia ser comum às diferentes
formas de doença venosa crónica e que resulta da compressão da
VICE pela AICD;
a forma complicada aguda, na qual, em consequência da compressão
e lesão da VICE, ocorre o desenvolvimento de uma TVP. Esta
manifesta-se pelo aparecimento súbito de edema do membro inferior
esquerdo, geralmente após situações promotoras de estase, como
cirurgias complexas, viagens longas de avião ou automóvel, gravidez
ou alectuamento;
a forma complicada crónica, em que, na sequência da ocorrência de
uma TVP, ocorre o desenvolvimento de uma síndrome pós-trombótica
(SPT), associada a sequelas obstrutivas ou de disfunção valvular,
podendo esta ser classificada como obstrutiva, refluxiva ou mista.
A sintomatologia da SMT na sua forma não complicada pode variar desde dor,
peso, cansaço, edema, prurido, perna inquieta (normalmente com agravamento
vespertino e no verão), a claudicação venosa, a alterações cutâneas na perna
como dermatite, atrofia branca, lipododistrofia e ulceração. No exame físico,
podemos observar edema do membro inferior esquerdo, com aumento do seu
perímetro em relação ao direito, varizes dos membros inferiores em localizações
atípicas, hiperpigmentação cutânea, dermatite de estase, atrofia branca,
lipodermatoesclerose e ulceração, normalmente localizadas na região
supramaleolar interna. A sintomatologia associada à síndrome de congestão
venosa pélvica é também referida e explica-se pelo redirecionamento do sangue
através da veia ilíaca interna esquerda para as veias ováricas, sendo que este
excesso de fluxo pode tornar estas veias insuficientes e provocar estase na
pélvis.
Página 13 de 74
A anomalia anatómica isolada (Fenómeno de May-Thurner) poderá
corresponder ao estadio I da doença sendo que a natureza assintomática desta
impede o conhecimento exato da verdadeira prevalência da doença. Taheri SA
et al estimam que 24% da população geral tenha uma estenose superior a 50%
da VICE, em estudo realizado com TC. (66)
O diagnóstico implica o conhecimento da síndrome e um alto grau de suspeição
clínica, já que a etiologia dos sintomas pode ser multifatorial e envolver
associadamente entidades clínicas como o refluxo venoso superficial, a
síndrome pós-trombótico e o linfedema primário. (67)
Estudo imagiológico
O ecodoppler venoso dos membros inferiores é o exame de eleição para o início
do estudo por ser não invasivo e de realização simples. Contudo, se é um exame
com grande sensibilidade e especificidade para o estudo das veias infra-
inguinais, a visualização das veias ilíacas comuns é tecnicamente difícil, não
sendo este exame suficientemente sensível para detetar a compressão da VICE
ou os seus defeitos intraluminais. Pelo menos 20% dos estudos
ultrassonográficos das veias ilíacas realizados não são diagnósticos, mesmo nos
melhores laboratórios vasculares. (59) O grande valor do ecodoppler consiste na
avaliação da doença venosa infra-inguinal, doença muito prevalente. Não sendo
encontrada qualquer anomalia a este nível, deve efetuar-se o estudo do setor
ilio-cava com TC ou RMN.
A TC (68) e a RMN são os exames de eleição para o estudo do SMT. Além de
permitirem efetuar a demonstração da compressão direta da VICE pela AICD e
a existência de circulação colateral compensatória, podem também excluir
compressões extrínsecas, como tumores, hematomas ou a fibrose
retroperitoneal. A TC, pela disponibilidade e rapidez de execução, é o exame
mais utilizado no seu diagnóstico. A RMN é menos utilizada por ser menos
disponível para a utilização de rotina. Contudo, esta demonstra com facilidade a
área de compressão ou de obstrução e a existência de circulação colateral. (69)
(70) (71)
A ultrassonografia endovascular (IVUS) pode determinar o tamanho dos vasos,
a morfologia interna do vaso e o grau de estenose, bem como facilitar a
Página 14 de 74
realização do stenting. (68) Forauer et al (72) referem que o seu uso interferiu com
o tratamento endovascular do SMT em 50% dos casos. A IVUS tem revelado
uma utilidade crescente no diagnóstico e tratamento do SMT. (73) Contudo, a sua
disponibilidade e custo têm limitado a sua utilização.
A flebografia por punção de veia do pé é insuficiente para se obter uma boa
visualização do sector venoso femuro-ílio-cava, sendo a flebografia por punção
femoral o exame mais realizado para a confirmação do diagnóstico. Esta, além
de demonstrar a compressão da VICE, demonstra a circulação venosa colateral
e permite determinar o gradiente de pressão induzido pela obstrução. Este
gradiente deve ser superior a 2mmHg, em repouso, e a 3mmHg, após exercício.
(74) (75) Contudo, não existe atualmente nenhum teste hemodinamicamente
credível para objetivar o grau de obstrução venosa e o resultado da melhoria
hemodinâmica obtido com o stenting.
Tratamento
O objetivo do tratamento da SMT não complicada é melhorar a qualidade de vida
do doente e prevenir o desenvolvimento da TVP e suas complicações (a embolia
pulmonar e, posteriormente, a SPT).
O tratamento inicial da SMT é conservador, envolvendo a terapêutica
compressiva, com meia elástica ou ligaduras elásticas, associado, em função
das necessidades, a medicamentos flebotónicos, analgésicos e ou anti-
inflamatórios. Nas formas resistentes ao tratamento médico e que interferem de
forma considerável na qualidade de vida do doente, dispomos da terapêutica
cirúrgica que dividiremos em convencional e endovascular.
A cirurgia convencional foi, durante longos anos, a única opção, tendo sido
efetuadas pontagens venosas femuro-cava e ílio-cava que tinham patências
primárias e secundárias, aos dois anos, de 37% e 54% respetivamente. (76)
A pontagem femuro-femoral, utilizando a veia safena interna (operação de
Palma), apresenta uma patência secundária, aos 48 meses, de 83%, contudo,
quando realizada com prótese de PTFE, a patência secundária, no mesmo
período, é de 0%. (77)
Página 15 de 74
Outras alternativas cirúrgicas foram realizadas, como a venoplastia com patch,
as reconfigurações da aorta e artérias ilíacas e das veias do setor ilio-cava.
Contudo, devido à sua agressividade e resultados insatisfatórios, raramente
estas cirurgias foram consideradas uma opção terapêutica para uso de rotina.
A emergência da cirurgia endovascular revolucionou o tratamento da doença
venosa obstrutiva, devido à sua baixa agressividade fisiológica, elevada
segurança, boa eficácia e taxa de complicações major inferior a 2%. (78) (79) (80) (81)
A técnica do stenting para tratamento da SMT consiste na punção percutânea
da veia femoral comum, realização de uma iliocavografia diagnóstica e de
orientação terapêutica. Efetua-se a passagem de um fio guia, através da
estenose, na qual se vai efetuar uma angioplastia transluminal com balão (ATL),
seguida da libertação de um stent que pode ser expansível em balão ou, mais
comumente, autoexpansível. Posteriormente, uma nova ATL é efetuada,
culminando com a realização de uma flebografia de controlo e se possível uma
TC. Este procedimento deve ser realizado sob hipocoagulação sistémica com
heparina.
Osman Ahmed et al, (58) numa revisão recente da sua experiência no tratamento
endovascular do SMT, referem um sucesso técnico de 100%, sem complicações
major e uma taxa de complicações minor de 5%, um sucesso clínico de 68% com
uma correlação positiva com o sexo feminino e com a presença de sintomas de
congestão pélvica.
Wan-Yin Shi et al (82) publicaram a sua experiência no tratamento endovascular
da SMT, em 233 doentes, referindo um sucesso técnico, na sua forma não
complicada, de 98,5%, na forma associada a TVP aguda, 98,2% e, na forma
associada a SPT, 91,2%. A patência primária e secundária aos 1, 3 e 5 anos
foram de 93,2 e 100%, 84,3 e 93,3% e 74,5% e 92%, respetivamente, mas não
fazem referência às patências relacionadas com as diferentes formas clínicas.
Na análise multivariada, os fatores preditores de obstrução in stent foram o uso
de stents múltiplos e o uso irregular de meia elástica. A falência técnica foi de
3,4% e pareceu estar relacionada com a existência de longos segmentos
venosos ocluídos.
Titus J M et al (83) referem que apenas a causa trombótica da obstrução da VICE
foi um fator preditivo de re-estenose e trombose in stent.
Página 16 de 74
Knipp B S et al (84) referem, como fatores associados a diminuição da patência
primária, o sexo masculino, trauma recente e idade inferior a 40 anos.
A patência primária assistida e a secundária foram superiores na SMT não
complicada em relação à SPT, tendo ocorrido a oclusão do stenting apenas na
SPT assim como uma maior frequência de re-estenose intra-stent superior a
50%. (80)
Página 17 de 74
Material e métodos
Foi realizada uma análise observacional e analítica dos doentes diagnosticados
com compressão de veias por artérias no abdómen e pélvis, no Serviço de
Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santo António Centro Hospitalar
do Porto, tendo sido realizados três estudos.
O estudo 1 integrou sete doentes com o diagnóstico de SNC, no período de 1-
2011 a 3-2017.
O estudo 2 integrou três doentes com FNC num total de 75 dadores vivos de rim,
no período de 1-2015 a 3-2017.
O estudo 3 integrou vinte e um doentes com o diagnóstico de SMT submetidos
a tratamento endovascular, no período de 1-2004 a 3-2017.
A recolha dos dados foi efetuada através da análise dos processos clínicos e
exames imagiológicos destes doentes.
Os dados foram analisados através da estatística de frequências. Nos estudos 1
e 2, procedeu-se a uma análise descritiva aplicada caso a caso, dada a reduzida
dimensão da amostra.
No estudo 3, recorreu-se ao Statistical Package for the Social Sciences, Inc.,
Chicago, IL 21® da IBM, para proceder à análise descritiva univariada e
bivariada, bem como à realização dos testes de hipóteses. Foram analisadas as
estatísticas de frequência (relativas e percentuais) das variáveis categóricas e
as estatísticas descritivas das variáveis contínuas. Neste estudo foi aplicado o
Venous Clinical Severity Score (VCSS), a um conjunto de 16 doentes, no sentido
de avaliar o grau de gravidade, antes e após o tratamento. Para determinar se o
tratamento introduziu melhorias significativas, aplicou-se o teste de Wilcoxon
(não paramétrico, dado que não foi verificada a normalidade da distribuição dos
scores, pelo teste do Shapiro-Wilk (p<0,05). Este teste analisou as diferenças
entre as condições pré-tratamento e pós-tratamento do mesmo grupo de sujeitos
(amostras emparelhadas) e a hipótese nula (H0) estabelece que as pontuações
são iguais entre o pré e o pós-tratamento. Considerou-se um nível de
significância de 5% (α=0,05).
Página 18 de 74
As pontuações dos scores foram comparadas entre os grupos etários, através
do teste de Kruskall-Wallis (alternativa não paramétrica à Anova), assim como
entre os doentes do sexo masculino e os doentes do sexo feminino, através do
teste de Mann-Whitney (alternativa não paramétrica ao teste t de student). A
hipótese nula (H0) dos dois testes não paramétricos estabelece que as medianas
são iguais a um nível de significância de 5% (α=0,05).
Foi analisada a correlação entre as pontuações dos scores, a idade, o tempo
entre o início dos sintomas e o diagnóstico e o tempo entre o diagnóstico e o
tratamento, através do teste de correlação de Spearman Rho (r) que varia de -1
(correlação negativa) a +1 (correlação positiva). O resultado significativo do teste
de correlação de Pearson (Sig. 2-tailed) considera um intervalo de confiança de
95% e de 99%, o que corresponde a um nível de significância de p≤α (α=0,05) e
p≤α (α=0,01) respetivamente.
Página 19 de 74
Resultados
Estudo 1 – Síndrome de Nutcracker
Tabela I - Clínica e diagnóstico
Idade (anos)
Sexo IMC Tipo de
SNC Ângulo aorto-mesentérico
Tempo entre o início dos sintomas e o
diagnóstico (anos) Sintomatologia
Diagnóstico por imagem
Cas
o
clí
nic
o 1
21 F 23,95 A 24,8º 3 Hematúria macroscópica TC
Cas
o
clí
nic
o 2
53 F 29,05 P 3 Hematúria macroscópica TC
Cas
o
clí
nic
o 3
12 F 18,73 A 27,1º 2
Dor lombar esquerda desencadeada pelo esforço
Ultrasonografia TC
Cas
o
clí
nic
o 4
24 M 22,09 P 2
Hematúria macroscópica Dor lombar esquerda
desencadeada pelo esforço físico TC
Cas
o
clí
nic
o 5
14 M 17,99 M 35,8º 1
Hematúria macroscópica TC
cistoscopia
Cas
o
clí
nic
o 6
30 F 26,3 P 0
Síndrome de congestão venosa pélvica + varizes na coxa esquerda
+ edema do membro inferior esquerdo
TC + flebografia
Cas
o
clí
nic
o 7
18 M 24,22 O 39,3º 1
Hematúria macroscópica Dor lombar esquerda
desencadeada pelo esforço físico e proteinúria
TC + flebografia
Mé
dia
s
Fre
qu
ê
n-c
ia
Média: 24,6 <30: 85,7%
F: 57,1% Média: 23,19 <20: 28,6%
P: 42,9% A: 28,6% M: 14,3% O: 14,3%
Média: 31,8º Média: 1,7 Hematúria macroscópica: 85,7% Dor lombar: 42,9%
TC: 100%
F: feminino; M: masculino; IMC: índice de massa corporal; SNC: Síndrome de Nutcracker; A: Síndrome de Nutcracker anterior; P: Síndrome de
Nutcracker posterior; M: Síndrome de Nutcracker misto; O: outras formas de Síndrome de Nutcracker; TC: tomografia computorizada
Tabela II - Tratamento e follow-up
Tratamento na altura do
diagnóstico
Tratamento cirúrgico Tratamento realizado durante
o follow-up
Follow-up (03 de 2017
Tratamento cirúrgico Tempo de isquemia
quente (mn) Reconstrução vascular e tipo
Complicações
Cas
o
clí
nic
o 1
Transfusão Nefrectomia laparóspica + Autotransplante renal
3 Não Vigilância clínica
Sem queixas
Cas
o
clí
nic
o 2
Transfusão Cateter ureteral
esquerdo Vigilância
clínica Um episódio de
hematúria em 2015
Cas
o
clí
nic
o 3
Evitar exercício físico
- Vigilância clínica
Sem queixas Restrição da atividade
física
Cas
o
clí
nic
o 4
Evitar exercício físico
- Vigilância clínica
Sem queixas Restrição da atividade
física
Cas
o
clí
nic
o 5
Transfusão Nefrectomia laparóspica + Autotransplante renal
4,3 Sim
(prolongamento da veia renal)
Trombose da veia renal
esquerda/Nefrectomia
Vigilância clínica
Sem queixas
Cas
o
clí
nic
o 6
Stenting iliocava Vigilância
clínica Gravidez em 2016
Sem queixas
Cas
o
clí
nic
o 7
Evitar exercício físico
Vigilância clínica
Sem queixas Restrição da atividade
física proteinúria
Méd
ias
e
Fre
qu
ên
cia
Transfusão: 42,9%
Tratamento cirúrgico: 42,9%
Vigilância clínica: 100%
Follow-up médio: 2,7 anos Assintomáticos: 71,4%
Página 20 de 74
Estudo 2 – Efeito do Fenómeno de Nutcracker no rim de dador
vivo no transplantado
Tabela III - Características demográficas e clínicas dos dadores e recetores de rim
Dador 1 Dador 2 Dador 3
Idade (anos) 22 47 58
Sexo F F F
Grau de parentesco irmã Mãe mulher
Tempo de isquemia quente (mn)
3,4 4,5 4
Tipo de NCS Anterior Anterior Posterior
Ângulo aorto-mesentérico 18,4º 21,5º -
Função relativa do rim esquerdo em cintigrafia
53,8% 57,7% 47,2%
Sintomatologia relacionada Não Não Não
Alterações analíticas urinárias Não Não Não
Imagem em TC
FNC anterior
FNC anterior
FNC posterior
Recetor 1 Recetor 2 Recetor 3
Idade (anos) 37 20 60
Sexo F M M
Etiologia Nefrite lúpica Doença tubulo-intersticial
crónica Doença renal poliquística autossómica dominante
Transplante renal com ou sem reconstrução vascular
Sim: reconstrução em Y de 2 artérias renais com veia VSI 1 veia
Não Não
Doenças associadas HTA, hipotiroidismo, asma brônquica,
obesidade Eczema atópico
HTA, Prostatectomia radical, tuberculose pleural,
nefrectomia direita
Pós-operatório 1u transfusão IR obstrutiva, realizou ATL ,
ureteral e biópsia Sem complicações
Tempo de internamento (dias) 11 39 7
Medicação Tacrolimus, micofenato mofetil,
prednisolona Tacrolimus, azatioprina,
prednisolona, valganciclovir Tacrolimus, micofenato de
mofetil, prednisolona
Creatinina na alta 1,46 2,7 1,19
Estudo analítico e imagiológico
(follow-up meses) 3 6 12 12 18 24 3 6 9
Creatinina mg/dl 1,36 1,15 1,35 1,56 1,58 1,52 1,28 1,29 1,32
Cistatina C mg/l 1,45 1,66 1,52 1,25 1,25 1,20 1,42 1,38 1,34
Filtração glomerular ml/mn 48 41 46 58 58 61 50 51 53
Hemoglobina mg/dl 0 0 0 25 10 25 0 0 0
Ertitrócitos (campo 400x) 0-2 2-5 0-2 0-2 5-10 5-10 0 0 0
Proteinúria mg/dl 0 0 0 0 0 20 0 0 0
Ecodoppler N N N
Complicações a longo prazo Infeção urinária por klebsiela pneumonia e sensível ao ertapene.
Legenda: F - Feminino M - Masculino N - normal HTA-hipertensão arterial
Página 21 de 74
Estudo 3 – Doentes com o diagnóstico de Síndrome de May-
Thurner não complicado tratados cirurgicamente
Gráfico 1 - Caracterização etária da população estudada
Média Desvio padrão
Mediana Mínimo Máximo
Idade (anos) (N=21)
44 14,7 45 24 75
Tabela IV - Caracterização da população estudada: dados demográficos, clínicos e resultados obtidos
Percentagem
Grupos etários (anos) (N=21)
20-30 28,6%
30-40 9,5%
40-50 23,8%
50-60 23,8%
>60 14,3%
Sexo (N=21) ♂ 9,5%
♀ 90,5%
Sintomatologia (N=20)
dor
Sem 35%
com 35%
Associada a claudicação venosa 10%
Claudicação venosa isolada 20%
edema com 85%
sem 15%
outros dispaneuria 5%
Dermatite distase 5%
Sensibilidade dos meios de diagnóstico utilizados
Ecodoppler iliocava (N=19) 15,8%
TC (N=10) 80%
RMN (N=4) 75%
Angiografia (N=21) 100%
Ecodoppler venoso infrainguinal(N=20)
Normal 70%
anormal
Refluxo safena interna 15%
Refluxo femoropoplíteo 10%
Obstrução femoral superficial 5%
Página 22 de 74
Tabela IV - continuação
Tipo de anestesia (N=21) Local + sedação 100%
Tratamento realizado (N=21)
ATL simples 9,5%
ATL + stenting 90,5%
Controlo intra-operatório com TC (N=18)
sim 16,7%
não 83,3%
Tipo de stent (N=18)
Sinusvein 61,1%
Smartstent 16,7%
Wallstent 22,2%
Número de stents implantados (N=16)
1 stent 62,5% Média 1,38 +- 0,5
2 stents 37,5%
Resultado clínico (Perspetiva médica)
(N=21)
Sucesso 86%
Insucesso 14%
Medicação pós-operatória (N=18)
Rivaroxavano (D) 35,3%
HBPM (3d) + -acenocumarol (D) 17,6%
HBPM (3d) + -acenocumarol (3M) 11,8%
Rivaroxavano (3M) 11,8%
Rivaroxavano (3M) + AAS (D) 11,8%
HBPM (3d) + Rivaroxavano (3M) + AAS (D) 5,9%
HBPM (4d) + Varfarina (D) 5,9%
Tipo de seguimento (N=21)
Seguimento clínico isolado 42,9%
Seguimento clínico + ecodoppler 19%
Seguimento clínico + ecodoppler + TC 23,8%
Seguimento clínico + ecodoppler + TC + angiografia 9,5%
Seguimento clínico + TC 4,8%
Patência primária (N=21) 85,7%
Patência primária assistida (N=21) 100%
Re-intervenções (N=21) 14,3%
2 ATL necessitaram de stent
1 Separação de 2 stents com colocação de um bridging stent
Legenda: D- definitivo; d- dias; M- meses
Tabela V - Estatísticas descritivas dos “tempos” entre o início de sintomas e o diagnóstico, entre o diagnóstico e o tratamento, internamento, follow-up, entre tratamento e re-intervenção
N M DP Md Min. Max.
Tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico (em anos)
21 5,05 5,371 2,00 0 15
Tempo entre o diagnóstico e o tratamento (em anos) 21 ,52 1,08 ,00 0 4
Tempo de internamento (em dias) 20 1,25 0,72 1,00 1 4
Tempo de seguimento/ Follow-up (em meses) 21 54,43 54,83 24 3 156
Tempo entre o tratamento e a re-intervenção 3 1,00 ,00 1,00 1,00 1,00
Legenda: N-número de casos válidos; M-média; DP-desvio padrão; Md-mediana; Min-mínimo; Max-máximo.
Página 23 de 74
Questionário Venous Clinical Severity Score (VCSS)
Foi possível obter a resposta de 16 doentes, ao questionário VCSS (tabela VI).
Tabela VI - Estatística de frequências (relativas e percentuais) para a gravidade dos scores observados (variável
categórica)(N=16)
Pré-tratamento Pós-tratamento
n % n %
Dor
Sem 2 12,5 7 43,8
Dor ligeira 1 6,3 5 31,3
Dor moderada 3 18,8 2 12,5
Dor severa 10 62,5 2 12,5
Total 16 100,0 16 100,0
Varizes
Sem 13 81,3 15 93,8
Poucas 2 12,5 0 0,0
Múltiplas 1 6,3 1 6,3
Extensas 0 0,0 0 0,0
Total 16 100,0 16 100,0
Edema Venoso
Sem 0 0,0 6 37,5
Limitado 0 0,0 5 31,3
Acima do tornozelo ao fim do dia 1 6,3 3 18,8
Acima do tornozelo de manhã 15 93,8 2 12,5
Total 16 100,0 16 100,0
Hiperpigmentação Cutânea
Sem 12 75,0 14 87,5
Pequena 0 0,0 0 0,0
Terço distal da perna 2 12,5 1 6,3
Perna 2 12,5 1 6,3
Total 16 100,0 16 100,0
Uso de Terapêutica Compressiva
Não usa 6 37,5 6 37,5
Ocasional 4 25,0 3 18,8
Maioria dos dias 2 12,5 2 12,5
Sempre 4 25,0 5 31,3
Total 16 100,0 16 100,0
Gráfico 2 - Análise dos resultados obtidos com o tratamento, em relação à dor
Gráfico 3 - Análise dos resultados obtidos com o tratamento, em relação ao edema
12,5
43,8
6,3
31,318,8
12,5
62,5
12,5
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
Pré-tratamento Pós-tratamento
Perc
en
tag
em
válid
a (
%)
Dor
Sem dor Dor ligeira Dor moderada Dor severa
0,0
37,5
0,0 6,318,8
93,8
12,5
0,0
100,0
Pré-tratamento Pós-tratamento
Perc
en
tag
em
válid
a (
%)
Edema Venoso
Sem
Limitado
Acima do tornozelo ao fim do dia
Acima do tornozelo de manhã
Página 24 de 74
Tabela VII - Estatísticas descritivas dos scores (N=16)
N M DP Md Min. Max.
Dor Pré-tratamento 16 2,31 1,08 3,00 0 3
Pós-tratamento 16 ,94 1,06 1,00 0 3
Varizes Pré-tratamento 16 ,25 ,58 ,00 0 2
Pós-tratamento 16 ,13 ,50 ,00 0 2
Edema Venoso Pré-tratamento 16 2,94 ,25 3,00 2 3
Pós-tratamento 16 1,06 1,06 1,00 0 3
Hiperpigmentação Cutânea Pré-tratamento 16 ,63 1,15 ,00 0 3
Pós-tratamento 16 ,31 ,87 ,00 0 3
Inflamação Pré-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Pós-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Induração Pré-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Pós-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Número de Úlceras Ativas Pré-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Pós-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Duração da Úlcera Ativa Pré-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Pós-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Tamanho da Úlcera Ativa Pré-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Pós-tratamento 16 ,00 ,00 ,00 0 0
Uso de Terapêutica Compressiva
Pré-tratamento 16 1,25 1,24 1,00 0 3
Pós-tratamento 16 1,38 1,31 1,00 0 3
Score Total Pré-tratamento 16 7,38 2,60 7,00 3 14
Pós-tratamento 16 3,81 3,10 3,00 0 11
Score Total sem Uso de Terapêutica Compressiva
Pré-tratamento 16 6,13 1,82 6,00 3,00 11,00
Pós-tratamento 16 2,44 2,61 2,00 ,00 8,00
Legenda: N-número de casos válidos; M-média; DP-desvio padrão; Md-
Página 25 de 74
Tabela VIII - Comparação dos scores Pré-tratamento e Pós-tratamento (N=16)
n % Média das
classificações Soma das
classificações Z p-valor
Dor
Melhorou 11 68,7% 6 66,0
-2,976b ,003 Agravou 0 0,0%
Manteve 5 31,3%
Varizes
Melhorou 2 12,5% 2,25 4,50
-,816 b ,414 Agravou 1 6,3% 1,50 1,50
Manteve 13 81,2%
Edema Venoso
Melhorou 14 87,5% 7,50 105,00
-3,345 b ,001 Agravou 0 0,0% ,00 ,00
Manteve 2 12,5%
Hiperpigmentação Cutânea
Melhorou 2 12,5% 1,50 3,00
-1,342 b ,180 Agravou 0 0,0% ,00 ,00
Manteve 14 87,5%
Inflamação
Melhorou 0 0,0% ,00 ,00
,000 c 1,000 Agravou 0 0,0% ,00 ,00
Manteve 0 0,0%
Induração
Melhorou 0 0,0% ,00 ,00
Agravou 0 0,0% ,00 ,00 ,000 c 1,000
Manteve 0 0,0%
Número de Úlceras Ativas
Melhorou 0 0,0% ,00 ,00
,000 c 1,000 Agravou 0 0,0% ,00 ,00
Manteve 0 0,0%
Duração da Úlcera Ativa
Melhorou 0 0,0% ,00 ,00
,000 c 1,000 Agravou 0 0,0% ,00 ,00
Manteve 0 0,0%
Tamanho da Úlcera Ativa
Melhorou 0 0,0% ,00 ,00
Agravou 0 0,0% ,00 ,00 ,000 c 1,000
Manteve 0 0,0%
Uso de Terapêutica Compressiva
Melhorou 3 18,8% 5,17 15,50
-3,355 ,722 Agravou 5 31,2% 4,10 20,50
Manteve 8 50,0%
Score total
Melhorou 14 87,5 8,43 118,0
Agravou 1 6,3 2,00 2,00 -3,305 ,001
Manteve 1 6,3
Score total sem terapêutica compressiva
Melhorou 14 87,5% 7,50 105,00
Agravou 0 0,0% ,00 ,00 -3,309b ,001
Manteve 2 12,5%
Gráfico 4 - Análise dos resultados obtidos com o tratamento
87,5
18,8
12,5
87,5
12,5
68,7
6,3
31,2
6,3
6,3
50
87,5
12,5
81,2
31,3
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Score Total
Uso de Terapêutica Compressiva
Hiperpigmentação Cutânea
Edema Venoso
Varizes
Dor
Percentagem válida (%)
Melhorou Agravou Manteve
Página 26 de 74
Tabela IX - Comparação das classificações dos scores entre os pacientes do sexo masculino e os pacientes do sexo feminino (teste de Mann-Whitney)
Sexo N Média das
Classificações Soma das
Classificações Estatística de
Teste (U)
Dor Pré-tratamento
Feminino 14 8,79 123,00 U=10,000 p=0,667
Masculino 2 6,50 13,00
Total 16
Dor Pós-tratamento
Feminino 14 9,14 128,00 U=5,000 p=0,225
Masculino 2 4,00 8,00
Total 16
Varizes Pré-tratamento
Feminino 14 8,71 122,00 U=11,000 p=1,000
Masculino 2 7,00 14,00
Total 16
Varizes Pós-tratamento
Feminino 14 8,57 120,00 U=13,000 p=1,000
Masculino 2 8,00 16,00
Total 16
Edema Venoso Pré-tratamento
Feminino 14 8,43 118,00 U=13,000 p=1,000
Masculino 2 9,00 18,00
Total 16
Edema Venoso Pós-tratamento
Feminino 14 9,21 129,00 U=4,000 p=0,183
Masculino 2 3,50 7,00
Total 16
Hiperpigmentação Cutânea Pré-tratamento
Feminino 14 7,64 107,00 U=2,000 p=0,042 Masculino 2 14,50 29,00
Total 16
Hiperpigmentação Cutânea Pós-tratamento
Feminino 14 8,64 121,00 U=12,000 p=1,000
Masculino 2 7,50 15,00
Total 16
Uso de Terapêutica Compressiva Pré-tratamento
Feminino 14 8,07 113,00 U=8,000 p=0,383
Masculino 2 11,50 23,00
Total 16
Uso de Terapêutica Compressiva Pós-tratamento
Feminino 14 8,71 122,00 U=11,000 p=0,675
Masculino 2 7,00 14,00
Total 16
Score Total Pré-tratamento
Feminino 14 7,86 110,00 U=5,000 p=0,200
Masculino 2 13,00 26,00
Total 16
Score Total Pós-tratamento
Feminino 14 9,21 129,00 U=4,000 p=0,167
Masculino 2 3,50 7,00
Total 16
Legenda: U – estatística de teste; df-graus de liberdade; p-valor (Exact-Sig. 2-tailed)
Página 27 de 74
Tabela X - Comparação das classificações dos scores entre as faixas etárias (teste de Kruskall-wallis)
Faixas Etárias N Média das
Classificações Estatística de Teste
Dor Pré-tratamento
]20-30] Anos 5 9,80
X2(4)=4,158 p=0,413
]30-40] Anos 1 1,50
]40-50] Anos 4 9,88
]50-60] Anos 3 7,17
> 60 Anos 3 8,17
Total 16
Dor Pós-tratamento
]20-30] Anos 5 9,00
X2(4)=1,552 p=0,888
]30-40] Anos 1 4,00
]40-50] Anos 4 9,88
]50-60] Anos 3 8,00
> 60 Anos 3 7,83
Total 16
Varizes Pré-tratamento
]20-30] Anos 5 8,50
X2(4)=1,357 p=0,929
]30-40] Anos 1 7,00
]40-50] Anos 4 9,25
]50-60] Anos 3 9,50
> 60 Anos 3 7,00
Total 16
Varizes Pós-tratamento
]20-30] Anos 5 8,00
X2(4)=4,333 p=0,437
]30-40] Anos 1 8,00
]40-50] Anos 4 8,00
]50-60] Anos 3 10,67
> 60 Anos 3 8,00
Total 16
Edema Venoso Pré-tratamento
]20-30] Anos 5 9,00
X2(4)=4,333 p=0,437
]30-40] Anos 1 9,00
]40-50] Anos 4 9,00
]50-60] Anos 3 9,00
> 60 Anos 3 6,33
Total 16
Edema Venoso Pós-tratamento
]20-30] Anos 5 9,70
X2(4)=2,397 p=0,735
]30-40] Anos 1 3,50
]40-50] Anos 4 10,00
]50-60] Anos 3 7,17
> 60 Anos 3 7,50
Total 16
Hiperpigmentação Cutânea Pré-tratamento
]20-30] Anos 5 7,90
X2(4)=0,718 p=0,951
]30-40] Anos 1 6,50
]40-50] Anos 4 8,75
]50-60] Anos 3 8,83
> 60 Anos 3 9,50
Total 16
Hiperpigmentação Cutânea Pós-tratamento
]20-30] Anos 5 7,50
X2(4)=2,775 p=0,583
]30-40] Anos 1 7,50
]40-50] Anos 4 9,63
]50-60] Anos 3 10,00
> 60 Anos 3 7,50
Total 16
Uso de Terapêutica Compressiva Pré-tratamento
]20-30] Anos 5 5,50
X2(4)=5,401 p=0,239
]30-40] Anos 1 3,50
]40-50] Anos 4 11,00
]50-60] Anos 3 9,83
> 60 Anos 3 10,50
Total 16
Uso de Terapêutica Compressiva Pós-tratamento
]20-30] Anos 5 8,80
X2(4)=2,586 p=0,699
]30-40] Anos 1 10,50
]40-50] Anos 4 8,75
]50-60] Anos 3 10,50
> 60 Anos 3 5,00
Total 16
Score Total Pré-tratamento
]20-30] Anos 5 7,20
X2(4)=4,101 p=0,424
]30-40] Anos 1 1,00
]40-50] Anos 4 10,63
]50-60] Anos 3 10,17
> 60 Anos 3 8,67
Total 16
Score Total Pós-tratamento
]20-30] Anos 5 9,60
X2(4)=2,023 p=0,801
]30-40] Anos 1 5,50
]40-50] Anos 4 9,13
]50-60] Anos 3 9,67
> 60 Anos 3 5,67
Total 16
Legenda: X2 – estatística de teste; df-graus de liberdade; p-valor (Exact-Sig.)
Página 28 de 74
Tabela XI - Comparação entre os scores, a idade, o tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico, e o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento (coeficiente de correlação de Spearman Rho)
Tempo entre o início dos
sintomas e o diagnóstico (em anos)
Tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento (em anos)
Idade
Idade ,366 ,475* -
Dor Pré-tratamento ,142 ,297 -,217
Dor Pós-tratamento ,476 ,216 -,144
Varizes Pré-tratamento ,207 -,020 ,042
Varizes Pós-tratamento ,425 ,344 ,168
Edema Venoso Pré-tratamento -,312 -,344 -,364
Edema Venoso Pós-tratamento ,519* ,104 -,223
Hiperpigmentação Cutânea Pré-tratamento ,067 -,131 ,219
Hiperpigmentação Cutânea Pós-tratamento ,467 ,102 ,180
Uso de Terapêutica Compressiva Pré-tratamento -,043 -,019 ,446
Uso de Terapêutica Compressiva Pós-tratamento -,013 -,331 -,123
Score Total Pré-tratamento S/Terapêutica Compressiva ,081 ,090 -,089
Score Total Pós-tratamento S/Terapêutica Compressiva ,624** ,229 -,089
Score Total Pré-tratamento -,007 -,005 ,217
Score Total Pós-tratamento ,429 -,055 -,206
Legenda: *Correlação significativa ao nível de 0.05 (teste bilateral);
**Correlação significativa ao nível de 0.01 (teste bilateral).
Página 29 de 74
Discussão
A morbilidade e as consequências socioeconómicas da doença venosa crónica
são conhecidas e têm vindo a aumentar tal como o potencial diagnóstico e
terapêutico destas doenças. Dividiremos, por uma questão didática, a discussão
independente entre os 3 estudos realizados.
Estudo 1- Síndrome de Nutcracker
A SNC é uma entidade clínica rara, como ficou demonstrado na nossa
experiência e na literatura publicada, tendo Rudloff et al, (24) numa revisão da
literatura, em 2006, encontrado apenas quatro publicações com mais de oito
casos clínicos. Contudo, têm sido publicadas recentemente séries com um
número elevado de doentes tratados com stenting da veia renal, nomeadamente
no oriente. (41)
Em relação à SNC, observamos que 57,1% dos doentes era do sexo feminino,
a idade média foi de 22 anos, tendo 85,7% menos de 30 anos, com um IMC
médio de 23,2%. Em relação à etiologia, observamos um predomínio da
SNCposterior (42,9%), contrariando o publicado na literatura, em que a
SNCanterior é a mais frequente, descrevendo um novo tipo anatómico, em que
uma VCI esquerda recebe a VRE, sendo a VCI comprimida entre a AMS e a
aorta, a que apelidamos de outras formas anatómicas. Assim, propusemos uma
nova classificação do SNC: SNC anterior, SNC posterior, SNC misto e SNC de
outras formas anatómicas (tabela XII)
Página 30 de 74
Tabela XII - Proposta de nova classificação etiológica da SNC
Síndrome de Nutcracker 1) Anterior
2) Posterior
SNC anterior: a) observa-se ângulo aorto-mesentérico superior de 27º e b) compressão marcada da VRE pela AMS, em corte
transversal de TC.
SNC posterior: observa-se a VRE em posição retroaórtica, sendo esta comprimida entre a aorta e o corpo vertebral
3) Misto
4) Outras causas anatómicas
TC
Flebografia convencional
SNC misto: visualização em corte transversal de TC de
compressão de VRE anterior pela AMS e aorta , e de uma segunda VRE posterior comprimida entre a aorta e corpo
vertebral
SNC de outra causa anatómica: veia cava inferior em posição anómala à esquerda, recebendo a VRE e sendo
comprimida pela pinça formada pela aorta e a AMS.
O tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 1,4 anos, sendo
as manifestações clínicas mais comuns a hematúria macroscópica (71,4%),
seguida pela hematúria macroscópica associada a dor lombar induzida pelo
esforço (28,6%). Todos os doentes realizaram TC abdomino-pélvica que
confirmou a compressão venosa. A terapêutica médica expectante com
vigilância clínica permitiu a redução da terapêutica cirúrgica para 42,9% dos
casos, sendo dois doentes submetidos a auto transplante renal e um a stenting
ílio-cava. O autotransplante renal foi a terapêutica de eleição preconizada para
Página 31 de 74
esta síndrome, estando de acordo com o defendido por outros autores, como Ali-
El-Dein B. et al, (15) Shokeir AA et al (20) e Chuang CK et al, (85) embora com um
pequeno número de doentes tratados (figura 6).
Figura 6 - Imagem de autotransplante realizado em doente com SNC anterior; implante de rim na fossa ilíaca
A idade jovem dos doentes, a ausência de conhecimentos sobre a durabilidade
e comportamento deste tipo de stenting a longo prazo associado à excelente
experiência no autotransplante levaram à sua não realização, neste grupo de
doentes, contrariando a tendência recentemente publicada na literatura.
Com um follow-up médio de 2,7 anos, 71,4% dos doentes mantiveram-se
completamente assintomáticos, 14,3% teve um episódio de hematúria
macroscópica que regrediu espontaneamente, e 14,3% manteve uma proteinúria
assintomática.
Estes resultados validam a atitude terapêutica realizada (tratamento sintomático
associado a vigilância clínica), reservando a intervenção cirúrgica para as
situações que não resolvem espontaneamente.
Página 32 de 74
Estudo 2 – Efeito do Fenómeno de Nutcracker no rim de dador
vivo no transplantado
Neste estudo, pudemos observar três dadores vivos de rim com Fenómeno de
Nutcracker, correspondente a uma prevalência de 4%, todos eles do sexo
feminino, com idades de 22, 47 e 58 anos. Etiologicamente dois tinham uma
SNCA e uma SNCP, estando a função renal diferencial dentro da normalidade.
Em todos, a nefrectomia foi realizada por laparoscopia com um tempo de
isquemia de 3.4, 4.5 e 4 minutos, tendo havido necessidade num dos casos de
reconstrução das artérias renais. O tempo de internamento dos recetores foi de
11, 39 e 7 dias, tendo na alta clínica uma creatinina sérica de 1.46, 2.7 e 1.19
mg/dl. Com um follow-up médio de 15 meses, apenas um doente teve uma
infeção urinária, mantendo todos o rim transplantado funcionante com uma
creatinina sérica de 1.35, 1.52 e 1.32 mg/dl, respetivamente. Embora, por
definição, o Fenómeno de Nutcracker seja assintomático, a repercussão que
este possa ter a nível histopatológico e fisiológico no rim é desconhecido, da
mesma forma que é desconhecido o impacto que este poderá vir a ter no rim
transplantado. Nesta pequena experiência de três casos clínicos, pudemos
observar que, no curto/médio prazo, não se observaram alterações clínicas ou
analiticamente significativas na função renal no rim transplantado.
Página 33 de 74
Estudo 3 Doentes com o diagnóstico de Síndrome de May-
Thurner não complicado tratados cirurgicamente
O SMT não complicado, com gravidade clínica é uma entidade clínica rara, como
pudemos comprovar, com apenas 21 doentes tratados.
Observou-se uma clara predominância do sexo feminino (90%), com um pico de
incidência na 3 década de vida e um segundo pico na 5 e 6 década, estando de
acordo com o publicado na literatura. (65)
Os principais sintomas associados ao SMT não complicado foram no membro
inferior esquerdo o edema (85%), e a dor nas suas diferentes variantes (65%),
não tendo sido observada ulceração de perna. Um tempo médio de 5,05 anos,
entre o início de sintomas e o diagnóstico, confirma o grande desconhecimento
da SMT.
Um tempo elevado entre o diagnóstico e a realização do stenting (0,5 anos)
traduz a necessidade da confirmação da associação dos sintomas à alteração
imagiológica observada, que é comum na população em geral, e ao
desconhecimento do comportamento dos stents a longo prazo, o que leva a
atitudes conservadoras.
Em relação ao diagnóstico imagiológico, pudemos observar que o ecodoppler é
um exame de pouca utilidade para o seu diagnóstico (18% de sensibilidade) e a
TC e a RMN apresentam sensibilidades semelhantes (80 e 75%), que nos
parecem baixas mas que poderão ser devidas ao pequeno tamanho da amostra.
A flebografia confirmou o diagnóstico em todos os doentes mas não podemos
deixar de referir a importância que a ultrassonografia endovascular vem
adquirindo, sendo mesmo referido como exame de eleição no diagnóstico desta
síndrome. (68) (72) (73)
A anestesia realizada foi sempre a local associada a sedação, contrariando
estudos publicados, que sugerem a necessidade da sua realização sob
anestesia geral.
Com um follow-up médio de 54,4 meses, observou-se uma patência primária de
85% e uma patência primária assistida de 100%, com ausência de trombose do
stent (figuras 7 e 8). Nos dois casos em que foi efetuado uma ATL simples,
observou-se uma re-estenose ao 1 ano, que necessitou da realização de stenting
Página 34 de 74
secundário (figura 9). Esta observação levou-nos à não realização de ATL
simples, o que está de acordo com o recomendado na literatura. (80)
Caso clínico
a)
b)
c)
Figura 7 - Stenting de SMT, em doente do sexo feminino de 63 anos, com claudicação venosa e edema do membro
inferior esquerdo: a) estenose marcada da VICE; b) flebografia de controlo após colocação de stent lio-cava com resolução da estenose; c) controlo intra-operatório com TC, observando-se stent em boa posição e aberto.
Caso clínico
a)
b)
c)
Figura 8 - Stenting de SMT (sinusvein), em doente do sexo feminino de 26 anos, com claudicação venosa incapacitante do membro inferior esquerdo: a) estenose/oclusão da VICE; b) flebografia de controlo após colocação de stent lio-cava
com resolução da lesão; c) controlo pós-operatório com TC, observando-se ausência de compressão da VICE.
Página 35 de 74
Caso clínico
a)
b)
c)
d)
Figura 9 - ATL simples da VICE (a) com reestenose posterior (b) e realização de stenting com obtenção de excelente resultado imagiológico (b); observação de edema do membro inferior esquerdo antes do tratamento (c) e após o
tratamento (d) com resolução total do mesmo.
O tempo de internamento médio foi de 1,25 dias, traduzindo a baixa
agressividade desta terapêutica.
Uma avaliação crítica e quantitativa do impacto da SMT não complicada e seu
tratamento, por parte do doente, foi realizada, aplicando o Venous Clical Severity
Score (VCSS). Este é um dos instrumentos desenvolvidos, avaliando nove
características clínicas (dor, veias varicosas, edema venoso, pigmentação
cutânea, inflamação, induração e número, duração e tamanho das úlceras
ativas) classificadas de 0 a 3 e, adicionalmente, o uso de terapêutica
compressiva, produzindo uma pontuação máxima de 30 pontos. (86) Em 2010, foi
publicada uma revisão do VCSS, (87) tendo sido esta a utilizada, embora, na
nossa opinião, apresente claras limitações na avaliação desta síndrome.
Observaram-se diferenças estatisticamente significativas no score da dor
(p=,003), do edema venoso (p=,001) e do score total (p=,001) após o tratamento,
Página 36 de 74
com melhorias do edema venoso (87,5%), do score da dor (68,7%) e do score
total (87,5%).
Na análise da pontuação dos diferentes scores relacionados com a idade, grupos
etários e sexo, apenas foram observadas diferenças estatisticamente
significativas em relação à hiperpigmentação cutânea pré-tratamento entre os
doentes do sexo feminino e masculino, tendo maior gravidade nestes últimos
(p<0,05).
Em relação ao tempo que mediou entre o início de sintomas e o diagnóstico, este
apresentou uma correlação positiva significativa com o edema venoso, após o
tratamento (r=0,519; p<0,05), indicando que o aumento do tempo para
diagnóstico se associa a um pior resultado terapêutico.
O mesmo se verificou com o score total com exclusão do uso da terapêutica
compressiva: o score total após tratamento apresentou uma correlação positiva
significativa com o tempo, entre o início dos sintomas e o diagnóstico (r=0,624;
p<0,01), indicando que o aumento do tempo para diagnóstico se associa a um
pior resultado terapêutico global, após o tratamento.
Em relação ao tempo que mediou entre o diagnóstico e o tratamento, observou-
se uma correlação positiva e significativa com a idade (r=0,475; p<0,05),
indicando que os doentes com mais idade tendem a esperar mais pelo
tratamento, após o seu diagnóstico.
Página 37 de 74
Conclusão
As síndromes de compressão venosa por artérias no abdómen e pélvis são
entidades clínicas raras.
Em relação ao FNC no dador vivo de rim, como fator condicionante da função do
rim transplantado, não se observou, no curto/médio prazo, que este fenómeno
interferisse na função renal do rim do recetor.
Em relação à SNC, observámos que é mais comum na mulher e nas 2.ª e 3.ª
décadas de vida. O tipo anatómico mais comum foi o posterior, tendo sido
descrito uma nova variante da síndrome, a que apelidamos de outras formas
anatómicas. O tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de
1,4 anos, traduzindo a raridade e consequente desconhecimento da síndrome.
Uma perspetiva conservadora permitiu a redução da terapêutica cirúrgica para
42,9% dos casos, tendo-se mantido completamente assintomáticos 71,4% dos
doentes.
Em relação à SMT, esta é mais comum na mulher (90,5%), tendo dois picos de
incidência: um na 3.ª e outro nas 5.ª e 6.ª décadas de vida. Os sintomas mais
comuns foram o edema e a dor do membro inferior esquerdo. O tratamento
realizado foi, em 90,5% dos casos, um stenting primário, não tendo havido
complicações per ou pós-operatórias. Com um follow-up médio 54,43 meses, a
patência primária foi de 85,7% e a patência primária assistida foi de 100%. Todos
os casos de ATL simples necessitaram de re-intervenção com implantação
posterior de stent. A aplicação do VCSS demonstrou uma melhoria com
significado estatístico dos scores da dor, do edema e do score total, após o
tratamento, observando-se uma correlação positiva e significativa entre o tempo
que medeia entre o início dos sintomas e o diagnóstico e um pior resultado pós-
terapêutica, sugerindo a necessidade de um diagnóstico e tratamento precoces.
O presente estudo teve como limitações a sua natureza retrospetiva, o que
impediu a utilização de uma estandardização protocolar na entrevista clínica, no
tipo de tratamento, na metodologia do follow-up e na avaliação da melhoria
clínica, pelo que sugere a realização de protocolos estandardizado para doenças
Página 38 de 74
raras de forma a potenciar o conhecimento e divulgação de uma experiência
científica que é atualmente reduzida.
Página 39 de 74
Bibliografia
1. Shin, JI e Lee, JS. Nutcracker phenomenon or nutcracker syndrome (letter)? Nephrol
Dial Transplant. 20, 2005, Vol. 1, pp. 120-129.
2. El-Sadr, AR e Mina, A. Anatomical and surgical aspects in the operative management
of varicocele. Urol Cutaneous Rev. 54, 1950, Vol. 5, pp. 257-262.
3. de Schepper, A. "Nutcracker" phenomenon of the renal vein and venous pathology of
the left kidney [in Dutch]. J Belge Radiol. 55, 1972, Vol. 5, pp. 507-511.
4. Chait, A, et al. Vascular impressions on the ureters. Am J Roentgenol Radium Ther
Nucl Med. 111, 1971, Vol. 4, pp. 729-749.
5. Hohenfellner, M, et al. The nutcracker syndrome: new aspects of pathophysiology,
diagnosis and treatment. J Urol. 146, 1991, Vol. 3, pp. 685-688.
6. Zerin, JM, et al. "Dilatation" of the left renal vein on computed tomography in children: a
normal variant. Pediatr Radiol. 21, 1991, Vol. 4, pp. 267-269.
7. Hearin, JB. Duodenal ileus with special reference to superior mesenteric artery
compression. Radiology. 86, 1966, Vol. 2, pp. 305-310.
8. Wilson-Storey, D e MacKinlay, GA. The superior mesenteric artery syndrome. J R Coll
Surg Edinb. 31, 1986, Vol. 3, pp. 175-178.
9. Bedoya, R, et al. Clinical and radiological aspects of the superior mesenteric artery
syndrome. J Fla Med Assoc. 73, 1986, Vol. 9, pp. 686-689.
10. Cohen, LB, Field, SP e Sachar, DB. The superior mesenteric artery syndrome: the
disease that isn't, or is it? J Clin Gastroenterol. 7, 1985, Vol. 2, pp. 113-116.
11. Pastershank, SP. Left renal vein obstruction by a superior mesenteric artery. J Can
Assoc Radiol. 25, 1974, Vol. 1, pp. 52-54.
12. Barsoum, MK, Shepherd, RF e Welch, TJ. Patient with both Wilkie syndrome and
Nutcracker syndrome. Vasc Med. 13, 2008, Vol. 3, pp. 247-250.
13. Latorre, J. Malformaciones congénitas. [autor do livro] J Latorre Vilallonga. Sector
iliocava: Anatomía, Fisiopatología, Exploraciones y Tratamiento. Barcelona : Uriach, 1993,
pp. 70-112.
14. Urban, BA, Ratner, LE e Fishman, EK. Three-dimensional volume-rendered CT
angiography of the renal arteries and veins: normal anatomy, variants, and clinical
applications. Radiographics. 21, 2001, Vol. 2, pp. 373-386.
15. Ali-El-Dein, B, et al. Anterior and posterior nutcracker syndrome: a report on 11 cases.
Transplant Proc. 35, 2003, Vol. 2, pp. 851-853.
16. Takahashi, Y, et al. Does severe nutcracker phenomenon cause pediatric chronic
fatigue? Clin Nephrol. 53, 2000, Vol. 3, pp. 174-181.
Página 40 de 74
17. Shaper, KR, Jackson, JE e Williams, G. The nutcracker syndrome: an uncommon
cause of haematuria. BR J Urol. 74, 1994, Vol. 2, pp. 144-146.
18. Fu, WJ, et al. Diagnosis of the nutcracker phenomenon by multislice helical computed
tomography angiography. Chin Med J (Engl). 117, 2004, Vol. 12, pp. 1873-1875.
19. Wendel, RG, Crawford, ED e Hehman, KN. The "nutcracker" phenomenon: an
unusual cause for renal varicosities with hematuria. J Urol. 123, 1980, Vol. 5, pp. 761-763.
20. Shokeir, AA, el-Diasty, TA e Ghoneim, MA. The nutcracker syndrome: new methods
of diagnosis and treatment. Br J Urol. 74, 1994, Vol. 2, pp. 139-143.
21. Cope, C e Isard, HJ. Left renal vein entrapment: a new diagnosis finding in
retroperitoneal disease. Radiology. 92, 1969, Vol. 4, pp. 867-872.
22. Zerhouni, EA, et al. Elevated pressure in the left renal vein in patients with varicocele:
preliminary observations. J Urol. 123, 1980, Vol. 4, pp. 512-513.
23. Ariyoshi, A e Nagase, K. Renal hematuria caused by "nutcracker" phenomenon: a
more logical surgical management. Urology. 35, 1990, Vol. 2, pp. 168-170.
24. Rudloff, U, et al. Mesoaortic compression of the left renal vein (nutcracker syndrome):
case reports and review of the literature. Ann Vasc Surg. 20, 2006, Vol. 1, pp. 120-129.
25. Matsukura, H, Arai, M e Miyawaki, T. Nutcracker phenomenon in two siblings of a
Japanese family (letter). Pediatr Nephrol. 20, 2005, Vol. 2, pp. 237-238.
26. Mahmood, SK, Oliveira, GR e Rosovksy, RP. An easily missed diagnosis: flank pain
and nutcracker syndrome. BMJ Case Rep. 37, 2013, pp. 415-418.
27. He, Y, et al. Nutcracker Syndrome - How well do we know it? Urology. 83, 2014, pp.
12-17.
28. Shin, JI, et al. Effect of renal Doppler ultrasound on the detection of nutcracker
syndrome in children with hematuria. Eur J Pediatr. 166, 2007, Vol. 5, pp. 399-404.
29. Hanna, HE, et al. Nutcracker syndrome: an underdiagnosed cause for hematuria? S D
J Med. 50, 1997, Vol. 12, pp. 429-436.
30. Beinart, C, et al. Left renal vein hypertension: a cause of occult hematuria. Radiology.
145, 1982, pp. 647-650.
31. MacMahon, HE e Latorraca, R. Essential renal hematuria. J Urol. 71, 1954, pp. 667-
676.
32. Pytel, A. Renal fornical hemorrhages: their pathogenesis and treatment. J Urol. 83,
1960, pp. 783-789.
33. Low, AI e Matz, LR. Haematuria and renal fornical lesions. Br J Urol. 44, 1972, pp.
681-691.
34. Ekim, M, et al. The "nutcracker phenomenon" wit orthostatic proteinuria: case reports.
Clin Nephrol. 65, 2006, pp. 280-283.
Página 41 de 74
35. Poyraz, AK, et al. Evaluation of left renal vein entrapment using multidetector
computed tomography. Acta Radiol. 54, 2013, pp. 144-148.
36. Unlu, M, et al. Anatomic and hemodynamic evaluation of renal venous flow in
varicocele formation using color Doppler sonography with emphasis on renal vein
entrapment syndrome. Scand J Urol Nephrol. 41, 2007, Vol. 1, pp. 42-46.
37. Takebayashi, S, et al. Diagnosis of the nutcracker syndrome with color Doppler
sonography: correlation with flow patterns on retrograde left renal venography. AJR Am J
Roentgenol. 172, 1999, Vol. 1, pp. 39-43.
38. Kurklinsky, AK e Rooke, TW. Nutcracker Phenomenon and Nutcracker Syndrome.
Mayo Clin Proc. 85, 2010, Vol. 6, pp. 552-559.
39. Scholbach, T. From the nutcracker-phenomenon of the left renal vein to the midline
congestion syndrome as a cause of migraine, headache, back and abdominal pain and
functional disorders of pelvic organs. Med Hypotheses. 68, 2007, pp. 1318-1327.
40. Kim, SH, et al. Nutcracker syndrome: diagnosis with Doppler US. Radiology. 198,
1996, pp. 93-97.
41. Chen, S, et al. Endovascular stenting for treatment of nutcracker syndrome: report of
61 cases with long-term followup. The Journal of Urology. 2011, Vol. 186, pp. 570-575.
42. Wolfish, NM, McLaine, PN e Martin, D. Renal vein entrapment syndrome: frequency
and diagnosis - a lesson in conservatism. Clin Nephrol. 26, 1986, pp. 96-100.
43. Stewart, BH e Reiman, G. Left renal venous hypertension "nutcracker" syndrome.
Managed by direct renocaval re-implantation. Urology. 20, 1982, pp. 365-369.
44. Beinart, C, et al. Left renal to inferior vena cava pressure relationship in humans. J
Urol. 127, 1982, pp. 1070-1071.
45. Reed, NR, et al. Left renal vein transposition for nutcracker syndrome. J Vasc Surg. 49,
2009, p. 386.
46. Takahashi, Y, Sano, A e Matsuo, M. An effective "transluminal balloon angioplasty"
therapy for pediatric chronic fatigue syndrome with nutcracker phenomenon. Clin Nephrol.
53, 2000, pp. 77-78.
47. Ha, TS e Lee, EJ. ACE inhibition can improve orthostatic proteinuria associated with
nutcracker syndrome. Pediatr Nephrol. 21, 2006, pp. 1765-1768.
48. Zhang, H, et al. The left renal entrapment syndrome: diagnosis and treatment. Ann
Vasc Surg. 21, 2007, Vol. 2, pp. 198-203.
49. Thompson, PN, et al. A case of nutcracker syndrome: treatment by mesoartic
transposition. J Vasc Surg. 16, 1992, Vol. 4, pp. 663-665.
50. Barnes, RW, et al. Mesoaortic compression of the left renal vein (the so-called
nutcracker syndrome): repair by a new stenting procedure. J Vasc Surg. 8, 1988, Vol. 4,
pp. 415-421.
51. Hohenfellner, M, et al. Transposition of the left renal vein for treatment of the
nutcracker phenomenon: long-term follow-up. Urology. 2002, pp. 354-357.
Página 42 de 74
52. Scultetus, AH, Villavicencio, JL e Gillespie, DL. The nutcracker syndrome: its role in
the pelvic venous disorders. J Vasc Surg. 5, 2001, Vol. 34, pp. 812-819.
53. Hartung, O, et al. Laparoscopic transposition of the left renal vein into the inferior vena
cava for nutcracker syndrome. J Vasc Surg. 49, 2009, pp. 1319-1323.
54. Chung, BI e Gill, IS. Laparoscopic splenorenal venous bypass for nutcracker
syndrome. J Vasc Surg. 49, 2009, pp. 1319-1323.
55. Neste, MG, Narasimham, DL e Belcher, KK. Endovascular stent placement as a
treatment for renal venous hypertension. J Vasc Interv Radiol. 7, 1996, p. 859.
56. Duda, SH, et al. Physical properties of endovascular stents: an experimental
comparison. J Vasc Interv Radiol. 11, 2000, p. 645.
57. Marone, EM, et al. Surgical treatment of posterior nutcracker syndrome. J Vasc Surg.
54, 2011, pp. 844-7.
58. Mahnken, AH, et al. Cirse standars of practice guidelines on iliocaval stenting.
Cardiovasc Intervent Radiol. 37, 2014, pp. 889-897.
59. O'Sullivan, GJ, et al. Endovascular management of iliac vein compression (May-
Thurner) syndrome. J Vasc Interv Radiol. 11, 2000, pp. 823-836.
60. Patel, NH, et al. Endovascular management of acute extensive iliofemoral deep
venous thrombosis caused by May-Thurner syndrome. J Vasc Interv Radiol. 11, 2000, pp.
1297-302.
61. Carroll, S. e Moll, S. Inferior vena Cava Filters, May-Thurner Syndrome, and Vein
Stents. Circulation. 133, 2016, pp. e383-e387.
62. McMurrich, JP. The occurrence of congenital adhesions in the common iliac veins and
their relation to thrombosis of the femoral and iliac veins. Am J Med Sci. 135, 1908, pp.
342-346.
63. Ehrich, WE e Krumbhaar, EB. A frequent obstructive anomaly of the mouth of the left
common iliac vein. Am Heart J. 26, 1943, pp. 737-750.
64. May, R e Thurner, J. The cause of the predominantly sinistral occurrence of
thrombosis of the pelvic veins. Angiology. 8, 1957, pp. 419-448.
65. Cockett, FB e Thomas, ML. The iliac compression syndrome. Br J Surg. 52, 1965, pp.
816-21.
66. Taheri, SA, et al. Iliocaval compression syndrome. Am J Surg. 154, 1987, pp. 169-172.
67. Ahmed, O, et al. Endovascular stent placement for May-Thurner syndrome in the
absense of acute deep vein thrombosis. J Vasc Interv Radiol. 27, 2016, pp. 167-173.
68. Shebel, ND e Whalen, CC. Diagnosis and management of iliac vein compression
syndrome. J Vasc Nurs. 23, 2005, pp. 10-17.
69. Hurst, DR, et al. Dagnosis and endovascular treatment of iliocaval compression
syndrome. J Vasc Surg. 34, 2001, pp. 106-113.
Página 43 de 74
70. Wolpert, LM, et al. Magnetic resonance venography in the diagnosis and management
of May-Thurner syndrome. Vasc Endovascular Surg. 36, 2002, pp. 51-57.
71. Ley, EJ, et al. Endovascular management of iliac vein occlusive disease. Ann Vasc
Surg. 18, 2004, pp. 228-233.
72. Forauer, AR, et al. Intravascular ultrasound in the diagnosis and treatment of iliac vein
compression (May-Thurner) syndrome. J Vasc Interv Radiol. 13, 2002, pp. 523-527.
73. Neglén, P e Raju, S. Intravascular utltrasound scan evaluation of the obstructed vein. J
vasc Surg. 35, 2002, pp. 694-700.
74. Rigas, A, Vomyoyannis, A e Tsardakas, E. Iliac compression syndrome: report of ten
cases. J Cardiovasc Surg. 11, 1970, pp. 389-392.
75. Taheri, S, Taheri, P e Schultz, R. Iliocaval compression syndrome. Br J Surg. 40,
1992, pp. 9-15.
76. Gloviczki, P e Cho, JS. Surgical treatment of chronic occlusions of the ilicaval veins.
[autor do livro] RB Rutherford. Rutherford's vascular surgery. Philadelphia : Elsevier, 2005,
pp. 2303-2320.
77. Jost, CJ, et al. Surgical reconstruction of ilio-femoral veins and the inferior vena cava
for nonmalignant occlusive disease. J Vasc Surg. 33, pp. 320-328.
78. Ye, K, et al. Long-term outcomes of stent placement for symptomatic nonthrombotic
iliac vein compression lesions in chronic venous disease. J Vasc Interv Radiol. 23, 2012,
Vol. 4, pp. 497-502.
79. Meng, QY, et al. Endovascular treatment of iliac vein compression syndrome. Chin
Med J (Engl). 124, 2011, Vol. 20, pp. 3281-3284.
80. Neglen, P, et al. Stenting of the venous outflow in chronic venous disease: long-term
stent-related outcome, clinical, and hemodynamic result. J Vasc Surg. 46, 2007, Vol. 5, pp.
979-990.
81. Raju, S, Ward, Jr M e Kirk, O. A modification of iliac vein stent technique. Ann Vasc
Surg. 28, 2014, Vol. 6, pp. 1485-1492.
82. Shi, WY, et al. Endovascular treatment for iliac vein compression syndrome with or
without lower extremeity deep vein thrombosis: a retrospective study on mind-term-in-stent
patency from a single center. European Journal of Radiology. 85, 2015, pp. 7-14.
83. Titus, JM, et al. Iliofemoral stenting for venous occlusive disease. J Vasc Surg. 53,
2011, pp. 706-712.
84. Knipp, BS, et al. Factors associated with outcome after interventional treatment of
symptomatic iliac vein compression syndrome. J Vasc Surg. 46, 2007, pp. 743-749.
85. Chuang, CK, Chu, SH e Lai, PC. The nutcracker syndrome managed by
autotransplantation. The Journal of Urology. 157, 1997, pp. 1833-1834.
86. Lee, B-B, et al. Venous hemodynamic changes in lower limb venous disease: the UIP
consensus according to scientific evidence. International Angiology. 35, 2016, Vol. 3, pp.
236-352.
Página 44 de 74
87. Vasquez, MA, et al. Revision of the venous clinical severity score: Venous outcomes
consensus statement: Special communication of the American Venous Forum Ad Hoc
Outcomes Working Group. J Vasc Surg. 52, 2010, pp. 1387-96.
88. Mickley, V, et al. Left iliac venous thrombosis caused by venous spur: treatment with
thrombectomy and stent implantation. J Vasc Surg. 28, 1998, pp. 492-497.
89. Liu, Z, et al. Endovascular treatment for symptomatic iliac vein compression syndrome:
a prospective consecutive series of 48 patients. Ann Vasc Surg. 28, 2014, pp. 695-704.
90. Kibbe, M, et al. Iliac vein compression in an asymptomatic patient population. J Vasc
Surg. 39, 2004, pp. 937-943.
91. Alhalbouni, S, et al. Iliac-femoral venous stenting for lower extremity venous stasis
symptoms. Ann Vasc Surg. 26, 2012, pp. 185-189.
92. Hameed, M, Onida, S e Davies, AH. What is pathological May-Thurner syndrome?
Phlebology. 0 - confirmar!, 2016, Vols. 0 - confirmar!, pp. 1-3 - confirmar!
93. Mcdermott, S, et al. May-Thurner syndrome: can it be diagnosed on a single magnetic
ressonace venography study? Diagn Interv Radiol. 19, 2013, pp. 44-48.
94. Neglen, P, Thrasher, TL e Raju, S. Venous outflow obstruction: an underestimated
contributor to chronic venous disease. J Vasc Surg. 38, 2003, pp. 879-885.
95. Hartung, O, et al. Endovascular management of chronic disabling ilio-caval obstructive
lesions: long-term results. Eur J Vasc Endovasc Surg. 38, 2009, Vol. 1, pp. 118-124.
96. Sang, H, et al. Outcome of endovascular treatment in postthrombotic syndrome. Ann
Vasc Surg. 28, 2014, Vol. 6, pp. 1493-1500.
Página 45 de 74
Trabalhos publicados
Enviado para publicação na Revista da Sociedade Portuguesa
de Angiologia e Cirurgia Vascular (em revisão)
May-Thurner Syndrome associated with a Nutcracker Syndrome, clinical case
and literature review
Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida**
*Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University
**Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences
Abel Salazar /Oporto University
*** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Página 46 de 74
Trabalhos comunicados
Comunicação oral (aceite)
XVII Congresso da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia
Vascular, Évora, 15-17 de julho de 2017
Nutcracker Syndrome a rare or underdiagnosed pathology? Our experience
Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida**
*Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University
**Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences
Abel Salazar /Oporto University
*** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Comunicações como poster (aceites)
17.ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia vascular,
Évora, 15-17 de junho de 2017
May-Thurner Syndrome associated with a Nutcracker Syndrome, clinical case
and literature review
Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida**
*Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University
**Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences
Abel Salazar /Oporto University
*** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Página 47 de 74
18th Annual Meeting of the European Venous Forum, Porto, 29 de junho a 1
de julho 2017
Nutcracker phenomenon in live donor Kidney transplant. Is there a clinical impact
in the receptor?
Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida**
*Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University
**Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences
Abel Salazar /Oporto University
*** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Nutcracker Syndrome a rare or underdiagnosed pathology? Our experience.
Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida**
*Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University
**Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences
Abel Salazar /Oporto University
*** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Página 48 de 74
Anexos
Trabalhos publicados
Enviado para publicação na Revista da Sociedade Portuguesa de Angiologia e
Cirurgia Vascular (em revisão)
May-Thurner Syndrome associated with a Nutcracker Syndrome, clinical case and
literature review
Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida**
*Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University
**Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals
Sciences Abel Salazar /Oporto University
*** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Abstract
Introduction
The May-Thurner Syndrome results from compression of left common iliac vein between
the fifth lumbar vertebra, posteriorly, and the right common iliac artery, anteriorly. This
phenomenon can cause venous stasis in the pelvis and in the left lower limb.
The Nutcracker Syndrome results from compression of the left renal vein between the
superior mesenteric artery and the aorta, called Anterior Nutcracker Syndrome, or more
rarely by compression of the left renal vein between the aorta and the lumbar vertebra,
when the vein passes behind the aorta, called posterior Nutcracker syndrome. The
association of the two anomalies can occur when a circunaortic renal vein exists. This
phenomenon can cause stasis in the kidney and in the pelvis.
The May-Thurner Syndrome and Nutcracker Syndrome are rare clinical entities and the
association of the two pathologies is extremely rare.
Clinical Case
A 29-year-old female, complaints of bilateral leg pain, predominantly on the left side, left
malleolar edema which increases in the end of the day, and dyspaneuria. These
complaints interfere severely with the quality of life of the patient.
The physical examination reveals collateral varices in the posterior aspect of the left tight,
a right side vulvar varicose vein and mild left malleolar edema.
Página 49 de 74
A phlebography of the ilio-cava system and the ovarian vein reveal a compression of
left common iliac vein by the right common iliac artery with an extensive collateral
pathway communicating the left and the right vein iliac system, the origin of a right side
vulvar varicose vein in the right internal iliac vein and the compression of a posterior left
renal vein by the aorta. A transluminal angioplasty with sequential dilatation with a 12,
14 and 16 mm balloon was done and an Sinus vein stent 16/100 mm was implanted.
At 3 months of follow up, the patient called and informed that she was pregnant, so she
stopped the rivaroxabane and maintained the elastics stockings. The pregnancy and the
child birth had no intercurrences.
An abdomino-pelvic control CT at 12 months follow-up was done, showing the stent in a
good position and patent, and posteriorly she was submitted to stab avulsion of varicose
veins in the left thigh. At 18 months follow-up, the patient was clinically asymptomatic.
Discussion/Conclusion
Insufficient knowledge about the natural history of Nutcracker Syndrome and May-
Thurner Syndrome results from the uncertainty in the diagnostic criteria and treatment
selection, particularly in the rare association of both. This association can be responsible
for the amplification of the symptomatology of the venous obstruction.
In our case, we have seen the resolution of the complaints by treating only one of the
obstructive lesion and we haven’t seen any effect of the pregnancy in the structure and
patency of the ilio-caval stent.
Key words: Nutcracker Syndrome, May-Thurner Syndrome
Introduction
The May-Thurner syndrome (MTS), also known as Cockett syndrome or non-thrombotic
iliac vein compression, results from compression of left common iliac vein (LCIV)
between the fifth lumbar vertebra, posteriorly, and the right common iliac artery (RCIA),
anteriorly. This phenomenon can cause stasis in the pelvis and in the left lower limb and
is responsible from the increased incidence of deep venous thrombose (DVT) in this
limb.(1) May and Thuner, in autopsy specimens, found intraluminal spurs in the mouth of
LCIV in 22% of the subjects and proposed that they arosed from chronic intimal damage
of the LCIV secondary to the pulsatility of the RCIA. These lesions, as stated by
McMurrich et al,(2) are acquired since he observed the absence of spurs in fetal
autopsies.
Página 50 de 74
The Nutcracker syndrome (NCS) can result from the left renal vein (LRV) compression
between the superior mesenteric artery and the aorta, called Anterior NCS, or more
rarely by compression of the LRV between the aorta and the lumbar vertebra, when the
vein passes behind the aorta, called posterior NCS. The association of the two anomalies
can occur when a circunaortic renal vein exists.
The MTS and NCS are rare clinical entities and the association of the two pathologies is
extremely rare.(3) Depending on specific manifestations, MTS and NCS may be
encountered by different medical specialists. We describe a clinical case of a patient with
this two forms of venous entrapment.
Clinical Case
A 29 year old women, with two kids, came to the vascular surgery appointment with
complaints of bilateral leg pain, predominantly on the left side, left malleolar edema which
increases in the end of the day, and dyspaneuria. This complaints interfere severely with
the quality of life of the patient.
The patient has no history of varices in the family, surgery or other medical comorbidities.
The physical examination reveals collateral varices in the posterior aspect of the left tight,
a right side vulvar varicose vein and mild left malleolar edema.
The Doppler ultrasonography of the lower limbs was normal.
The patient was proposed to a phlebography of the ilio-cava system and the ovarian
vein.
After informed consent, under local anesthesia and using the seldinger technique, a 5-F
vascular sheath was inserted in both common femoral veins. The phlebography reveals
a compression of LCIV by the RCIA (figure 1) with an extensive collateral pathway
communicating the left and the right vein iliac system (figures 1 e 2), the origin of a right
side vulvar varicose vein in the right internal iliac vein (figure 2) and the compression of
a posterior LRV by the aorta (figure 4). It was not possible a selective catheterization of
the left ovarian vein (figure 3).
A Terumo guide wire and 5F cobra catheter were used to cross the compressed segment
of the LCIV. After ensuring that the catheter was in the inferior vena cava, the patient
was hypocoagulated with 5000-U of heparine and the terumo guide wire and the sheat
were substituted by a steef wire and a 10F sheat. A transluminal angioplasty (ATL) with
sequential dilatation with a 12, 14 and 16mm diameter balloon was done and, after, an
Optimed stent 16/100 mm was inserted in the LCIV (figure 5).
Página 51 de 74
After the procedure, the patient stayed with elastic stockings and sub cutaneous Low
Molecular Weight Heparine and, in the following day, goes home with rivaroxabane 15mg
bid and posteriorly 20mg daily. The patient was reexamined at 1 month, the vulvar varice
had disappeared and had no complaints. At 3 months of follow up, the patient called and
informed that she was pregnant, so she stopped the rivaroxabane and maintained the
elastics stockings. The pregnancy and the child birth had no intercurrences.
She was reexamined 6 months later and complained about aesthetical problems
reguarding collateral varices in the left thigh. An abdomino-pelvic control CT was done,
showing the stenting in a good position and patent. The pregnancy had no bad impact
on it (compression) (figure 6), and confirmed the posterior NCS (figures 7a) and b)). She
was submitted to stab avulsion of the varices in the left thigh posteriorly. At 18 months
follow-up, the patient was clinically asymptomatic.
Discussion
The MTS and NCS are rare individual clinical entities and their coincidence is even
rarer.(3)
In a literature review, Quevedo H C et al(4) found 297 citations of NTS/NTP, 285 of them
were based on single case reports. The prevalence of NCS is unknown but it appears to
be underdiagnosed, can be more frequent in females and the diagnoses can be made
at any age, particularly in the second and third decade of life. The compression of the
LRV causes renal venous hypertension and development of collateral pathways with
venous congestion in the affected areas. The common clinical manifestations were micro
or macro haematuria, proteinuria, flank or abdominal pain, pelvic congestion syndrome
(with dyspaneuria, dysmenorrhoea, post coital ache and lower abdominal pain) and a
chronic fatigue syndrome. Positional symptoms are a hallmark of NCS and must be
correlated with the clinical manifestation. A lower BMI has been associated with NCS.
The diagnosis of NCS can be done by ultrasonography who has a sensivity of 78% and
a specifity of 100%,(5) but both computed tomography (CT) and magnetic nuclear
resonance (MRA) are becoming the imaging of choice.(6) The phlebography, which is the
gold standard, can show the image of compression and can measure the pressure
gradient between the renal vein and the vena cava.(7)
The treatment of NCS remains controversial, with various options. Some authors refer a
high rate of spontaneous remission, particularly in young patients, so surveillance during
two years can be a good option in mild symptomatic patients.
Página 52 de 74
A great variety of surgical options are available to decrease the pressure in the renal
vein. In the open surgery, the transposition of the renal vein further down in the IVC is
the first option(8) (9) but auto transplantation of the affected kidney into the iliac fossa can
be a good alternative.(6) (10) (11) This technic has been done by Stocker et al with positive
results(12) and is referred as the last alternative to nephrectomy when, after LRV
transposition, the hematuria persists.
The transposition of the superior mesenteric artery caudally in the aorta is rarely done
since the consequences of thrombose can be devastating.(13)
Gonadal caval by-pass has been described and can be especially interesting in patients
with congestion pelvic syndrome and extensive pelvic varices, however the results are
not encouraging.(13)
The development of endovascular surgery as mini invasive alternative can be a great
solution but the results of long term follow up are necessary. The first case of stenting of
the LRV was done by Neste MG et al,(14) in 1996.
Chen S et al has published the biggest study about stenting of NCS (61 patients) and
had a success rate of 96,7%. The only major complication was solved by conventional
surgery (1,6%) and this treatment has gained popularity.(15)
The MTS typically affects young and middle age women(16) and the compression of the
LCIV causes venous hypertension in the left lower limb and in the pelvis. Clinically, the
syndrome can be diagnosed in the non-complicated fase (compression of the LCIV only)
and in the complicated fase (acute ilio-femoral venous thrombosis or later as a pos-
thrombotic syndrome)
The common clinical manifestations of the non-complicated form of MTS are limb
swelling, pain, venous claudication, varicose veins, hiperpigmentation, ulceration and,
rarely, as a clinical manifestation of a pelvic congestion syndrome. The non-complicated
phase is the ideal moment to diagnose the syndrome, as we can avoid the development
of deep venous thrombosis and the acute risk of pulmonary embolism and later
development of pos-thrombotic syndrome in the obstructive or refluxive form.
In the diagnosis of MTS, the Doppler ultrasonography has great interest in the exclusion
of infra-inguinal venous pathologies (the most frequent illness) but the capability to study
the venous iliac system is limited, with 20% of the studies being non diagnostic in the
best vascular laboratories.
Computed tomography (CT) and magnetic resonance nuclear (MRN) are becoming the
imaging of choice and can show the direct compression of the LCIV by the RCIA and the
Página 53 de 74
venous collateral circulation. It can also exclude other extrinsic compressions of the veins
by tumors, hematomas or retroperitoneal fibrosis. A study of 36 patients with confirmed
MTS on CT or MRN found a 23% mean change in LCIV compression within six months
(12% decreased - to 69% increase) due to patient hidratation and positioning.(17) Despite
the implicated role of extrinsic compression of the iliac veins in venous disease, Meisner
R J et al, comparing asymptomatic and advanced venous disease, did not find
statistically significant area reduction of the iliac vein.(18)
The phlebography is the gold standard and can show the image of compression, the
collateral venous circulation and can measure the pressure gradient between the iliac
vein and the vena cava. However, there are, at the moment, no credible test to confirm
the hemodynamic significance of a venous stenosis.
The intra vascular ultrasonography (IVUS) is becoming increasingly useful in the
clarification of the characteristics of the venous lesions. Forauer et al(19) referred that
IVUS interferes with his vascular practice in 50% of the patients treated and IVUS has
revealed an increasing utility in the diagnosis of MTS.(20)
Multiple surgical approaches have been described when medical therapy fails to control
of symptoms of MTS.
The Palma crossover bypass, the reposition of the RCIA behind the LCIV and vein patch
angioplasty with intra-luminal band excision can be done with a success rate between
40 and 80%.
The development of endovascular surgery as mini invasive alternative has become very
popular in the latest years in the treatment of the venous ilio-cava obstruction and made
a great revolution in the treatment of venous disease. Primary patency rates of 66% with
a mean follow up of 3 years and complication rates inferior to 2%(21) (22) (23) (24) were
reported. Better patency in the non-complicated MTS with stenting occlusion, occurring
only in the pos-thrombotic syndrome, are reported.
Kaichuang Ye et al(25) reported a serie of 205 patients with MTS treated by stenting with
a technical success rate of 100%, a primary and assisted primary cumulative patency
rates, at a means of 4 years, of 98,7 and 100%, respectively, edema relief of 89,1% and
a healing rate of active ulcers of 82,3%.
Osman Ahmed et al,(26) in a recent review about stenting in MTS, published a technical
success rate of 100%, no major complications, 5% of minor complications and a positive
correlation between the female gender and congestive pelvic symptoms.
One of the major problems of stenting vein pathology is the frequent young age of the
patients and the uncertainty of the durability of this kind of devices.
Página 54 de 74
In our clinical case, the severity of the clinical symptomatology can be increased by the
simultaneous compression of the LRV by the Aorta and the compression of the LCIV by
the RCIA. The therapeutic option to stenting the LCIV compression is based in our long
and positive experience in the treatment(27) of May-Thurner Syndrome.
Unfortunately, we haven´t measured the ilio-caval and reno-caval pressure gradient.
Unexpectedly, the patient got pregnant and had to suspend rivaroxabane. The birth was
uneventful and the patient remained asymptomatic at 18 months of follow up. In the
control TC, we confirmed that there weren´t any effects in the stent by the pregnant
uterus.
The rarity of the clinical case, NCS associated with MTS, was confirmed by the fact that
we only found one case published in the literature.(3)
Conclusion
Insufficient knowledge about the natural history of NCS and MTS results from the
uncertainty in the diagnostic criteria and treatment selection, particularly in the rare
association of both. This association can be responsible for the amplification of the
symptomatology of the venous obstruction.
In our case, we have seen the resolution of the complaints by treating only one of the
obstructive lesion (MTS) and we haven’t seen any effect of the pregnancy in the structure
and patency of the ilio-caval stent.
References
1. Virchow, R. Uber die Erweiterung kleiner Gefasse. Arch Path Anat. 1851, Bd. 3, S.
427.
2. McMurrich, JP. The occurrence of congenital adhesions in the common iliac veins
and their relation to thrombosis of the femoral and iliac veins. Am J Med Sci. 1908, Bd.
135, S. 342-6.
3. Kurklinsky, A und Shepherd, A. A case of combined nutcracker and May-Thurner
syndormes in an adult with resolution of hemodynamic findings. Presented at XVI World
Meeting of the International Union of Phlebology. August31-September4, 2009, Bd. GE3,
S. 7-10.
4. Quevedo, Henry C., Arain, Salman A und Tafeh, Nidal Abi. Systematic review of
endovascular therapy for nutcracker syndrome and case presentation. Cardiovascular
Revascularization Medicine. 2014, Bd. 15, S. 305-307.
Página 55 de 74
5. Takebayashai, E, et al. Diagnosis of nutcraker syndrome with colour doppler
sonography: correlation with flow patterns on retrograde left renal venography. Am J
Roentenol. 1999, Bd. 172(1), S. 39-43.
6. Shokeir, AA, El-Diasty, TA und Ghoneim, MA. The nutcraker syndrome: new
methods of diagnosis and treatment. Br J Urol. 1994, Bd. 74(2), S. 139-43.
7. Beinart, C, et al. Left renal to inferior vena cava relationship in humans. J Urol. 1982,
Bd. 127, S. 1070-1.
8. Hohenfellner, M, et al. Nutcraker syndrome: a review of aspects of pathophysiology,
diagnosis and treatment. J Urol. 1991, Bd. 146, S. 685-8.
9. Pastershank, SP. Left renal vein obstruction by a superior mesenteric artery. J Can
Assoc Radiol. 1974, Bd. 25, S. 52-4.
10. Stewart, BH und Reiman, G. Left venous hypertension, 'nutcracker' syndrome.
Managed by direct renocaval re-implantation. Urology. 1982, Bd. 20, S. 265-9.
11. Efthymios, DA, Ryan, M und Rabih, AC. Surgical and endovascular interventions for
nutcracker syndrome. Seminars in Vascular Surgery. 2013, Bd. 26, S. 170-177.
12. Ahmed, O und et al. Endovascular stent placement for May-Thurner Syndrome in
the absence of acute deep vein thrombosis. J Vasc Interv Radiol. 2016, Bd. 27(2), S.
167-73.
13. Scultetus, AH, Vilavicencio, LL und Gillespie, DL. The nutcracker syndrome: its role
in the pelvic venous disorders. J Vasc Surg. 2001, Bd. 34(5), S. 812-9.
14. Neste, MG, Narasimham, DL und Belcher, KK. Endovascular stent placement as a
treatment for renal venous hypertension. J Vasc Interv Radiol. 1996, Bd. 7, S. 859-861.
15. Chen, S, et al. Endovascular stenting for treatment of nutcracker syndrome; report
of 61 cases with long term follow up. J Urology. 2011, Bd. 186(2), S. 570-5.
16. May, R und Thurner, J. The cause of the predominately sinistral occurrence of
thrombosis of the pelvic veins. Angiology. 1957, Bd. 8, S. 419-27.
17. Hameed, M, Onida, S und Davies, AH. What is pathological May-Thurner
Syndrome? Phebology. 2016, Bd. 0, S. 1-3.
18. Meisner, RJ, et al. Prospective comparison of iliac vein compression using computed
tomography. Journal of Vascular Surgery. Bd. 55(1), S. 299.
19. Forauer, AR, et al. Intravascular ultrasound in the diagnosis and treatment of iliac
vein compression (May-Thurner) syndrome. J Vasc Interv Radiol. 2022, Bd. 13, S. 523-
7.
20. Neglen, P und Raju, S. Intravascular ultrasound scan evaluation of the obstructed
vein. J Vasc Surg. 2002, Bd. 35(4), S. 694-700.
Página 56 de 74
21. Ye, K, et al. Long-term outcomes of stent placement for symptomatic nonthrombotic
iliac vein compression lesions in chronic venous disease. J Vasc Interv Radiol. 2012, Bd.
23(4), S. 497-502.
22. Meng, QY, et al. Endovascular treatment of iliac vein compression syndrome. Chin
Med J (Engl). 2011, Bd. 124(20), S. 3281-4.
23. Neglen, P, et al. Stenting of the venous outflow in chronic venous disease: long-term
stent-related outcome, clinical, and hemodynamic result. J Vasc Surg. 2007, Bd. 46(5),
S. 979-90.
24. Raju, S, Ward Jr, M und Kirk, O. A modification of iliac vein stent technique. Ann
Vasc Surg. 2014, Bd. 28(6), S. 1485-92.
25. Ye, K, et al. Long term outcomes of stent placement for Symptomatic Nonthrombotic
iliac vein compression lesions in chronic venous disease. J Vasc Interv Radiol. 2012, Bd.
23, S. 497-502.
26. Ahmed, O und et al. Endovascular stent placement for May-Thurner Syndrome in
the absence of acute deep vein thrombosis. J Vasc Interv Radiol. 2016, Bd. 27(2), S.
167-73.
27. Almeida, P, Machado, R, et al. Tratamento endovascular do síndrome de Cockett.
Revista Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. 3, 2007, Bd. 3.
Figures
Figure 1 – phlebography with visualization of LCIV compression by the RCIA
Página 57 de 74
Figure 2 - phlebography with visualization of the extensive collateral pathway between the iliac
venous system, and the origin of the right vulvar varicose vein in the internal iliac vein
Figure 3 - phlebography with visualization of the left ovaric vein
Figure 4 – phlebography with LRV selective catheterization suggestive
of compression of LRV by the aorta
Página 58 de 74
Figure 5 flebography, with measures of the veins and visualization of good flow in the iliac
system, and disappearance of the collateral pathway in the left side
Figure 6 - control CT pos delivery with normal morphology of the stent
Figure 7 - a) CT with visualization of the LRV compression between the aorta and lumbar
vertebra
(posterior Nutcracker syndrome)
Página 59 de 74
Trabalhos comunicados
Comunicação oral
XVII Congresso da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, Évora, 15-17
de julho de 2017
Nutcracker Syndrome a rare or underdiagnosed pathology? Our experience
Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida**
*Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University
**Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences Abel Salazar /Oporto University
*** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Introduction
The Nutcracker Syndrome results from the left renal vein compression between
the superior mesenteric artery and the aorta (Anterior Nutcracker Syndrome), or
more rarely by compression of the left renal vein between the aorta and the
lumbar vertebra when the vein passes behind the aorta, (posterior Nutcracker
Syndrome). The association of the two anomalies can occur when a circunaortic
renal vein exists. The prevalence of Nutcracker Syndrome is unknown, but it
appears to be rare and underdiagnosed.
Materials and Methods
We retrospectively evaluated our experience in the treatment of patients with the
diagnosis of Nutcracker Syndrome between 2012-2017.The diagnoses was
made by clinical suspicion ,after exclusion of other more common etiologies, and
the observation of a significant hemodynamic stenosis of the venous kidney
drainage by computed tomography. We observed 7 patients, 57,1% females, with
a mean age of 24,6 years with 85,7% in their second or third decade of life.
Posterior Nutcracker Syndrome were observed in 42,9%, anterior Nutcracker
Syndrome in 28,6%, antero-posterior Nutcracker Syndrome in 14,3%, and
compression of a left side vena cava by the aorta when it cross to right side in
Página 60 de 74
14,3%. The most common symptom was macroscopic hematuria (85,7%), follow
by flank pain exacerbated by exercise (28,6%) and congestion pelvic syndrome
in 14,3%. Tree patients were submitted to surgery, two realized a renal
autotransplant and one a left ilio-caval stenting, and four patients followed a
conservative management and surveillance. With a mean follow-up of 2,7 years,
71,4% of the patients are completely asymptomatic, 14,1% has a solitary episode
of hematuria, that solved spontaneously, and 14,1% had asymptomatic
proteinuria.
Discussion/Conclusion
The diagnosis of NCS can be made at any age, particularly in the second and
third decade of life and is reported to be more frequent in females. In our
experience we observed a female /male ratio of 1,3, and a low proportion of
anterior NCS (28,6%). A police of wait and see, decreased the necessity of
surgery to near one half of the patients (42,9%) The choice of the autotransplant
was due to our long and good experience in kidney transplantation, with more
than 2500 cases done. The nephrectomy was done by laparoscopy to reduce the
invasiveness, and we should pay attention of the tension free of the renal vein,
as it can result in thrombose as was the case in one patient. Despite the recent
reports of good results with stenting of the renal vein we keep concern about the
durability of the stents in this young population.
Página 61 de 74
Comunicações como poster
17.ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia vascular, Évora, 15-17 de junho de 2017 May-Thurner Syndrome associated with a Nutcracker Syndrome, clinical case and literature review Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida** *Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University **Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences Abel Salazar /Oporto University *** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Página 62 de 74
18th Annual Meeting of the European Venous Forum, Porto, 29 de junho a 1 de julho 2017 Nutcracker phenomenon in live donor Kidney transplant. Is there a clinical impact in the receptor? Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida** *Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University **Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences Abel Salazar /Oporto University *** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center
Página 63 de 74
Nutcracker Syndrome a rare or underdiagnosed pathology? Our experience. Miguel Machado*, Rui Machado**, Daniel Mendes***, Rui Almeida** *Institute of Biomedical Sciences Abel Salazar /Oporto University **Santo António Hospital, Oporto University Medical Center and Institute of Biomedicals Sciences Abel Salazar /Oporto University *** Santo António Hospital, Oporto University Medical Center