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Transportes coletivos no Porto

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Manuel de Sousa - Transportes coletivos no Porto 1 TRANSPORTES COLETIVOS NO PORTO Texto de Manuel de Sousa 26 set 2014 A história dos transportes coletivos no Porto desde a década de 1870 até aos anos 2000. Fotografias que fazem jus à expressão “Uma imagem vale mais do que mil palavras”. imagem 01 imagem 02
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Manuel de Sousa - Transportes coletivos no Porto 1

TRANSPORTES COLETIVOS NO PORTO

Texto de Manuel de Sousa

26 set 2014

A história dos transportes coletivos no Porto desde a década de 1870 até

aos anos 2000. Fotografias que fazem jus à expressão “Uma imagem vale

mais do que mil palavras”.

imagem 01

imagem 02

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Na década de 1870, surgiram no Porto duas empresas de transportes públicos, ambas fazendo

uso dos “carros americanos”, carruagens puxadas por cavalos que circulavam sobre carris de

ferro [imagem 01].

A primeira dessas empresas foi a Companhia Carril Americano do Porto, com linhas ligando as

zonas do Infante [imagem 02] e do Carmo à Foz do Douro, seguindo ao longo do rio. Estas

linhas seriam, pouco depois, estendidas até Matosinhos. A segunda foi a Companhia Carris de

Ferro do Porto [imagem 03], explorando linhas até Campanhã, o Bolhão e Aguardente (atual

praça do Marquês de Pombal), assim como o serviço entre a praça de Carlos Alberto e

Matosinhos, via rotunda da Boavista, Fonte da Moura e Foz do Douro.

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Até à rotunda da Boavista, o percurso era feito recorrendo aos habituais americanos. Mas, na

estação da rotunda, os passageiros faziam transbordo para a “máquina”, um veículo que

podemos considerar o primeiro “metro de superfície” do país. Tratava-se de uma pequena

locomotiva a vapor, devidamente carroçada de forma a disfarçar o seu aspeto ferroviário, que

puxava três ou quatro carruagens e circulava sobre carris pela via pública [imagem 04]. A

“máquina” partia da rotunda descendo a avenida da Boavista até à Fonte da Moura, onde

infletia pela atual rua de Correia de Sá [imagem 05] e seguia até à estação de Cadouços (atual

largo do Capitão Pinheiro Torres de Meireles), na Foz do Douro. Daí prosseguia até ao castelo

do Queijo pelas ruas do Túnel e de Gondarém, entrando em Matosinhos pela rua de Roberto

Ivens.

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Entretanto, em 1893, a Companhia Carril Americano do Porto foi adquirida pela Companhia

Carris de Ferro do Porto e, em 12 de setembro de 1895, eletrifica a linha entre o Carmo e a

Arrábida. Esta foi a primeira linha a tração elétrica a entrar ao serviço na península Ibérica. Nos

anos subsequentes, todas as linhas passam progressivamente a adotar este novo tipo de

tração [imagem 06].

Os elétricos [imagem 07] expandem-se, acabando por substituir integralmente os meios de

transportes anteriores, entretanto tornados obsoletos: os americanos, em 1904; a “máquina”,

em 1914. Em meados do século XX a rede dos carros elétricos do Porto atinge o seu apogeu,

com 38 linhas, 150 quilómetros de via e um parque de material circulante de 193 carros

elétricos e 24 reboques, cobrindo toda a cidade [imagem 08] e chegando a Leça da Palmeira,

imagem 07

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Ponte da Pedra, Ermesinde, Rio Tinto [imagem 09], São Pedro da Cova [imagem 10],

Gondomar e Vila Nova de Gaia, pela ponte Luís I [imagem 11].

Em 1946, a Companhia Carris de Ferro do Porto passou para a alçada da Câmara Municipal do

Porto, adotando a designação Serviço de Transportes Coletivos do Porto (STCP), se bem que o

nome popular de “Carris” persistiu durante décadas.

Em 1948, os STCP inauguravam a primeira carreira de autocarro da cidade do Porto: a carreira

C que partia da avenida dos Aliados e tinha o seu término no Carvalhido. No mesmo ano foram

também inauguradas novas carreiras: a linha D, para as Antas; a linha A, para a Foz; a linha E,

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para Paranhos. Estes primeiros autocarros eram da marca Daimler, com chassis provenientes

da Inglaterra, carroçados na firma Dalfa, de Ovar. Tinham a particularidade de ter o volante “à

inglesa”, ou seja, do lado direito do veículo. Inicialmente amarelos, em 1959 os autocarros

foram pintados de verde [imagem 12].

De entre os milhares de visitantes que, de todo o mundo, acorreram à exposição de 1851

encontravam-se alguns portuenses, na mente dos quais começou a germinar o sonho de um

dia poder realizar algo de semelhante em Portugal. No entanto, à época, as finanças nacionais

estavam depauperadas, a agricultura tradicional imperava e a indústria era insipiente.

imagem 11

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Em 1959 foram introduzidos os primeiros troleicarros, com o objetivo de substituir os carros

elétricos na ponte Luís I, onde circulavam desde 1905. A justificação dada foi a de que a

passagem dos elétricos estava a causar a corrosão eletrolítica da ponte metálica. A ponte Luís I

passou a ser atravessada pelos tróleis das linhas 31 (que funcionou até 1978), 32, 33 e 36 (que

persistiram até 1993) [imagem 13].

Estes foram os primeiros reveses dos elétricos. Muitos outros se seguiriam, com os tróleis e os

autocarros a dominarem [imagem 14]. Em 1966, a rede de elétricos foi reduzida para 72

quilómetros de via, percorrida por 184 elétricos; em 1968, o serviço de elétricos passou para

imagem 13

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38 quilómetros de via e 127 veículos em circulação; em 1978, a rede dispunha de 21

quilómetros de via e 84 veículos; em 1988, apenas 18 quilómetros de linha e 50 veículos. Nas

décadas de 1970 e 1980, dezenas de carros elétricos foram vendidos para diversos países

onde, muitos deles, continuam a operar até aos nossos dias. No Porto, persistem atualmente

três linhas – 1, 18 e 22 –, acima de tudo com intuitos turísticos.

Menos sorte tiveram os troleicarros, dos quais nenhum sobrevive em funcionamento entre

nós. Apesar do seu sucesso inicial, a partir da década de 1980, o elevado tráfego automóvel

começou a colocar sérias dificuldades operacionais aos tróleis, tendo a rede acabado por ser

totalmente encerrada no final de 1997. Em 2000 a quase totalidade da frota de tróleis do

Porto foi vendida para o Cazaquistão, onde continua a circular na cidade de Almaty. Para

constituição de um futuro Museu do Troleicarro do Porto, foi preservado um exemplar de cada

um dos modelos que circularam na cidade.

Manuel de Sousa nasceu em Miragaia em 1965. Licenciado em Ciências Históricas, desenvolveu uma atividade profissional ligada à área empresarial, nomeadamente à Comunicação e ao Marketing, sem nunca ter abandonado o seu interesse pela história da cidade do Porto. Procurando aliar a divulgação da história local com as redes sociais, no início de 2012 criou a página “Porto Desaparecido” no Facebook, cujo sucesso lhe valeu a atribuição da Medalha Municipal de Mérito pela Câmara Municipal do Porto.

Artigo publicado no jornal Porto24 de 26 de setembro de 2014:

http://www.porto24.pt/memoria/transportes-coletivos-porto/


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