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UFF PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – PPGAU Produção e Gestão de Ambiente Urbano FRANCISCO RENATO VIEIRA DA COSTA FERREIRA ARQUITETURA OPRIMIDA EM URBANO OPRESSIVO: CONDOMÍNIO EDILÍCIO PARA CHAMAR DE “MEU” E “NOSSONiterói, RJ Junho de 2019
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – PPGAU

Produção e Gestão de Ambiente Urbano

FRANCISCO RENATO VIEIRA DA COSTA FERREIRA

ARQUITETURA OPRIMIDA EM URBANO OPRESSIVO: CONDOMÍNIO EDILÍCIO PARA CHAMAR DE “MEU” E “NOSSO”

Niterói, RJ

Junho de 2019

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FRANCISCO RENATO VIEIRA DA COSTA FERREIRA

ARQUITETURA OPRIMIDA EM URBANO OPRESSIVO: CONDOMÍNIO EDILÍCIO PARA CHAMAR DE “MEU” E “NOSSO”

DISSERTAÇÃO apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFF, como requisito parcial para a obtenção do Título de MESTRE em ARQUITETURA E URBANISMO.

Produção e Gestão do Ambiente Urbano

Campo de Confluência: PROJETO e VIDA.

Orientadora:

Prof.ª Dr.ª DINAH PAPI GUIMARAENS

Niterói, RJ

Junho de 2019

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FRANCISCO RENATO VIEIRA DA COSTA FERREIRA

ARQUITETURA OPRIMIDA EM URBANO OPRESSIVO: CONDOMÍNIO EDILÍCIO PARA CHAMAR DE “MEU” E “NOSSO”

DISSERTAÇÃO apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal Fluminense (UFF), como requisito parcial para a obtenção do Título de MESTRE em ARQUITETURA E URBANISMO.

Produção e Gestão do Ambiente Urbano

Campo de Confluência: PROJETO e VIDA.

Dissertação aprovada em 11 de Junho de 2019.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª DINAH PAPI GUIMARAENS (Orientadora) Arquiteta e Urbanista Doutora em Antropologia Social

Universidade Federal Fluminense (UFF)

___________________________________________________________________ Prof. Dr. LÉO DA ROCHA FERREIRA – Economista Doutor em Economia

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

___________________________________________________________________

Prof. Dr. WERTHER HOLZER - Arquiteto e Urbanista Doutor em Geografia Universidade Federal Fluminense (UFF)

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DEDICATÓRIA

A oprimidos por edifícios urbanos de moradia “legal” opressiva em cidade maravilhorrorosa.

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AGRADECIMENTOS

A YAH, Infinitamente Grande, O CRIADOR sempre em 1º lugar - AQUELE QUE

É O QUE É (YAHUA). ELE chamou-me em justiça, tem-me tomado pela mão e tem-

me guardado, fazendo-me mediador de aliança d'ELE com povo e luz para

desamparados, bem como preparando-me para abrir olhos a cegos, tirar cativos de

prisão e quem jaz em trevas de cárcere. Ao Espírito Santo d’ELE, Ruach HaKodesh,

Infinitamente Pequeno que, em sua ubiquidade, também habita em mim, vivificando

em mim meu entendimento espiritual neste mundo. E à Palavra d’ELE, feita carne,

YAHushua, Finitamente Grande, esperança de salvação espiritual da “Humanidade”.

Ao meu AVÔ biológico materno, de quem não me lembro e do qual apenas ouvi

falar (agradecimento póstumo a um anônimo republicano democrata genuíno, ao qual

martirizaram corpo e alma, mas não subjugaram pensamento nem espírito). Ao meu

PAI biológico (agradecimento póstumo, perante sua decomposição física e dissipação

de resto de seu ser) e à minha MÃE biológica, por me terem gerado “Da Costa

Ferreira”, de modo natural, e terem-me educado de forma a dar-me ao respeito e a

respeitar outro(s) e leis, mesmo em ambiente hostil.

À minha ESPOSA, por seu “meta-ser” de amor, sensibilidade, divergência,

insistência, compreensão e convivência, bem como por seu auxílio técnico de

arquiteta-mestre em Arquitetura e Urbanismo no que tange a entrevistas e a análise

técnica propositiva de meu estudo de caso.

A META-REFERENCIADOS (os não citados nesta “dissertação”), por terem

contribuído de alguma forma para meu metaconhecimento que condiciona minhas

ações pensadas. Em especial aqueles que contribuíram de alguma maneira para a

Enciclopédia Livre Wikipédia.

Aos HIPER-REFERENCIADOS (em ordem alfabética) de obras citadas por

mim nesta “dissertação”, por terem permitido que eu, estando catador de lixo científico

em estado de arte (inter)(intra)(pluri)disciplinar, tenha encontrado luxo acadêmico

naquilo que escreveram: artigos, revistas e livros, científicos; artigos de informação ou

artigos de opinião ou ainda outros em ciberespaço; trabalhos de graduação;

dissertações de mestrado; e teses de doutorado. Em especial, postumamente, ao Karl

Raimund Popper por ter acreditado ser possível florescente sociedade aberta

abraçando ideias de todas principais ideologias políticas democráticas (socialismo /

social democracia, libertarianismo / liberalismo clássico e conservadorismo) e tentar

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reconciliá-las. Também postumamente, ao Ludwig von Mises por seu trabalho em

campo de praxeologia, com estudo dedutivo de escolhas e ações humanas. Ainda

postumamente, faço especial agradecimento: ao Bruno Zevi, arquiteto e urbanista

italiano, historiador e crítico da arquitetura modernista; ao Gilberto Cardoso Alves

Velho, antropólogo brasileiro, pioneiro de Antropologia Urbana no Brasil; e à Jane

Jacobs por “cidade-laboratório”, de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos

de construção e desenho urbano, em morte e vida de grandes cidades. Ao Edgar

Morin por sua “ciência com consciência”, “pensamento complexo” e “sete saberes

necessários à educação do futuro”. Ao Francis D. K. Ching por moldar linguagem

visual de todos campos de design. E ao Christopher Alexander por síntese de forma

em caminho atemporal de construir usando “linguagem de padrões” e descobertas

empíricas de “natureza de ordem” para Arquitetura no século XXI.

Aos PROFESSORES do PPGAU, de disciplinas escolhidas e concluídas por

mim, por paciência com que aturaram minhas inúmeras intervenções em cada aula,

bem como por leitura e avaliação de meus trabalhos acadêmicos

(hiper)(meta)(pluri)disciplinares. Muito especialmente às professoras Maria de

Lourdes Pinto Machado e Maria Lais Pereira da Silva, por terem organizado os três

volumes de “Sementes Urbanas” e, com isso, permitiram-me reforçar estrutura, forma

e conteúdo de minha dissertação, à direta, ao centro, à esquerda, na horizontal, na

vertical e em profundidade, “inspirado” (e “transpirado”) em “grande pensador urbano

de cidade” a partir de prática transformadora com espírito criativo, inovador,

questionador e polêmico: Carlos Nelson Ferreira dos Santos. A este, minha

homenagem póstuma.

À minha ORIENTADORA, para o mais adequado recorte, desenvolvimento e

conclusão desta dissertação. Em especial nestas suas áreas de interesse: teoria da

arquitetura contemporânea, estética transcultural e intervenções urbanas.

Aos DOUTORES da BANCA EXAMINADORA, por sua disponibilidade e pela

leitura e avaliação de minha dissertação. Em especial nestas áreas de interesse:

Homem de Ciência, Geografia Humanista Cultural, Economia Humana, Ser-em-

Cidade e Arquitetura Ecológica.

Finalmente, aos meus COLEGAS do PPGAU em mesmas disciplinas

obrigatórias ou naquelas escolhidas por mim, por terem permitido a formação de

turmas e pela sua (in)tolerância às minhas inúmeras intervenções em cada aula

(relevo minha exclusão de “grupos de WhatsApp”, por intolerância política).

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EPÍGRAFE

É verdade que não vemos demolirem-se todas as casas de uma cidade só com o propósito de refazê-las de outra forma e de tornar as ruas, mais belas, mas não é incomum vermos muitos mandarem derrubar as suas para reconstruí-las, e até, por vezes, a isso são obrigados quando elas correm o risco de cair por si mesmas e os alicerces não estão muito firmes [...] meu propósito não é ensinar aqui o método que cada um deve seguir para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo procurei conduzir a minha. René Descartes (1637). Discurso do Método (1979 pp. 7, 17-18).

Talvez tenhamos nos tornado um povo tão displicente, que não mais nos importamos com o funcionamento real das coisas, mas apenas com a impressão exterior imediata e fácil que elas transmitem. Se for assim, há pouca esperança para nossas cidades e provavelmente para muitas coisas mais em nossa sociedade. Mas não acho que seja assim [...] As cidades são um imenso laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e desenho urbano. É nesse laboratório que o planejamento urbano deveria aprender, elaborar e testar suas teorias. Jane Jacobs (1961). Morte e vida de grandes cidades (2011 pp. 15-16)

A estratégia, assim como o conhecimento, continua sendo a navegação em um oceano de incertezas, entre arquipélagos de certezas. O pensamento deve, então, armar-se e aguerrir-se para enfrentar a incerteza. (...) Tudo que comporta oportunidade comporta risco, e o pensamento deve reconhecer as oportunidades de riscos como os riscos das oportunidades. Edgar Morin (1999). Os sete saberes necessários à educação do futuro (2000 p. 91)

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RESUMO

Há realidade-em-si. Um mundo-em-si onde, entre prolegômenos e poslúdio, estou “sujeito-objeto” metódico (eu-em-mim com outro-em-mim, em estudo de caso sob pesquisa-ação singular) aplicando “ciências sociais” em ponto complexo de “mundo-de-tombo” de hipermetapluricultura “reificada" em urbano, com morte e vida, agora, em grandes cidades. “Cidade-de-tombo” onde povo displicente não se importa com funcionamento desse mundo-em-si e atem-se (ir)racionalmente a impressões imediatas e fáceis. Esse povo convive com não-displicente, em cidade onde há “tombo” de casas para refazê-las de outra forma ou tornar seus logradouros mais belos. Ou com obrigação de “tombo” de casas no intuito de reconstruí-las para não caírem por si mesmas. É cidade como desmesurado laboratório de tentativa(s) - com erro(s) ou acerto(s) - usando ou não linguagem de padrões em desenho urbano e construção (a)temporais. Nessa cidade, continuo navegando em mares e marés de incertezas, avistando (ou não) ilhas ou arquipélagos de “certezas”, de “outros-em-si” que também são “eus-em-si”. Em navegação de aparente estabilidade sobre ondas naturais e sociais, meu pensamento, reconhecendo “oportunidades de riscos” como “riscos de oportunidades”, teve (e continua tendo) que “armar-se e aguerrir-se” para conduzir minha razão ”emocional e sensível” em enfrentamento(s) de (in)certezas – dentro e fora de mim - em urbano de socioeconomia (in)sustentável. Nesse urbano há, pelo menos, um caso de (re)produção social – assentamento “humano” - não alcançada por institutos de pesquisas baseadas em amostras domiciliares locais, regionais ou nacionais. Trata-se de ponto cosmogeoantrópico gerado em processo urbano exógeno composto por: incorporação, projetos de arquitetura e engenharia, construção, ocupação mista e retroprofit “pós-ocupacional”. Esse “ponto complexo” é condomínio edilício vertical supostamente “legal” - situado na cidade Rio de Janeiro, em bairro urbano nem “rico” nem “pobre”. A finalidade de expor esse caso é alertar para desintegração de “humano” em microforma urbana “cristalizada” por processo que se volve, revolve, envolve e desenvolve em presente contínuo - em cujo bojo “convivem” (incluindo o próprio pesquisador) e há “tombo” de pessoas que pouco ou nada se conhecem. O objetivo principal dessa exposição é conhecer quintessência urbana em edifício ocupado por esse condomínio, envolvendo condôminos em subprocesso urbano endógeno de retroprofit “ocupacional”, no sentido de autossustentabilidade condominial em exoendoponto autogerido. Para tanto, nessa exoendogenia, houve (e ainda há) que soltar “amarras” legais, técnicas, econômicas e culturais, que, em hoje perpétuo, “tolhem” esse envolvimento dinâmico. Por isso, em análises matriciais sucessivas, procurei identificar vetores (legais, técnicos e econômicos) que, pelo menos “formalmente”, foram aplicados nessa construção arquitetônica, e vetores culturais que se têm evidenciado em ocupação e convívio condominiais. Em análises comparativas entre projetos de arquitetura e projetos de engenharia busquei identificar e diagnosticar descumprimentos legais, falhas técnicas, desvalorização patrimonial e inibição de relacionamento humano sadio. Finalmente, desses dois tipos de análise tentei fazer sínteses sucessivas em matrizes categóricas que culminariam em Matriz Condominal Vital (MCV) da qual, usando escala de tipo Lickert, surgiria novo indicador socioeconômico de bem-estar humano: Índice de Vivência e Convivência Condominial (IVCC).

Palavras-chave: Arquitetura ecológica. Cibercultura. Ciberespaço topológico. Condomínio vertical. Economia ecológica urbana. Integração humana local.

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ABSTRACT

There is reality-in-itself. A world-in-itself where, between prolegomena and postlude, I am methodical "subject-object" (one-in-me with another-in-me, in a case study under singular action research) applying "social sciences" in a complex point of “tombo" world of hypermetapluriculture "reified" in urban, with death and life, now, in big cities. "Tombo” city where careless people do not care for the functioning of this world-in-itself and (ir)rationally stand for immediate and easy impressions. These people live together with non-careless in a city where there are houses "tombo" to remake them in another way or to make their location more beautiful. Or with an obligation of "tombo" houses in order to rebuild them so they do not fall by themselves. It's a city like disproportionate attempt laboratory - with error(s) or hit(s) - using or not language of standards in urban design and (not)ephemeral construction. In that city, I continue to sail in seas and tides of uncertainty, seeing (or not) islands or archipelagos of "certainties", of "others-in-ones" that are also "ones-in-self". In navigation of apparent stability over natural and social waves, my thinking, recognizing "risk opportunities" as "opportunities risks", had (and continues to have) to "arm and hold on" to lead my reason "emotional and sensitive" in confrontation(s) of (un)certainties - inside and outside of me - in a urban of (un)sustainable socioeconomics. In that urban area there is at least one case of social (re)production - "human" settlement - not achieved by research institutes based on local, regional or national domiciliary samples. It is a cosmogeoanthropic point generated in an exogenous urban process composed of: incorporation, architectural and engineering projects, construction, mixed occupation and post-occupational retroprofit. That "complex point" is supposedly "legal" vertical condominium building - located in the city of Rio de Janeiro, in an urban district neither "rich" nor "poor". The purpose of exposing that case is to alert to disintegration of "human" in urban microform "crystallized" by a process that turns, revolves, involves and develops in a continuous present - in whose bulge "live together" (including this researcher himself) and there is "tombo" of people who know little or nothing of each other. The main objective of that exposition is to know the urban quintessence in a building occupied by this condominium, involving condominiums in endogenous urban subprocess of "occupational" retroprofit, in the sense of self - sustainability condominium in self - managed exoendopoint. For that, in that exoendogeny, there has been (and still is) to let go legal, technical, economic and cultural "moorings", which, in perpetual today, "stop" that dynamic involvement. Therefore, in successive matrix analysis, I tried to identify vectors (legal, technical and economic) that, at least "formally", were applied in that architectural construction, and cultural vectors that have been evidenced in occupation and conviviality of condominium. In comparative analysis between architectural projects and engineering projects (in incorporation, in construction and in habitation) I tried to identify and diagnose legal noncompliance, technical failures, patrimonial devaluation and inhibition of healthy human relationship. Finally, from those two types of analysis, I attempted to make successive syntheses into categorical matrices that would culminate in a Vital Condominium Matrix (VCM) of which, using a Lickert-type scale, would give rise to a new socioeconomic indicator of human well-being: Index of Living and Living Together in Condominium (ILLTC).

Keywords: Cyberculture. Ecological architecture. Local human integration. Topological cyberspace. Urban ecological economy. Vertical condominium.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO ......................................................................................................................................................... 9

CONTEÚDO .....................................................................................................................................................10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ...................................................................................................................................13

LISTA DE TABELAS ...........................................................................................................................................15

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ...............................................................................................16

1 PROLEGÔMENOS ...................................................................................................................... 17

2 METODOLOGIA DE ESTUDO E DE PESQUISA ............................................................................. 45

3 HIPERMETAPLURICULTURA “REIFICADA" EM URBANO ............................................................ 97

4 ESTUDO DE “CASO” URBANO (ECU) ........................................................................................ 291

5 POSLÚDIO ............................................................................................................................... 315

OBRAS CITADAS ............................................................................................................................................ 324

APÊNDICES .................................................................................................................................................... 350

APÊNDICE A - DIAGRAMA DE ESTRUTURA DESTA DISSERTAÇÃO - TÓPICOS DE NÍVEL 1 E NÍVEL 2 ........................ 351

APÊNDICE B- SABEDORIA PRÁTICA - FRÔNESE OU PHRONESIS ...................................................................... 352

APÊNDICE C- FILOSOFIA EM CONCEPÇÕES DE CONHECIMENTO “HUMANO” ................................................... 353

APÊNDICE D- ÁRVORE GENEALÓGICA DA ECONOMIA (AGECO) ................................................................... 354

APÊNDICE E - TÓPICOS DE ECONOMIA ABORDADOS POR ALGUNS ECONOMISTAS ............................................. 355

ANEXOS ........................................................................................................................................................ 357

ANEXO A – CRONOLOGIA DE TESTEMUNHOS (TRANS) CULTURAIS ANTRÓPICOS DESDE 1000 A.C. ...................... 358

ANEXO B - PROCESSO DO CERVR – “TODAS” AS TRAMITAÇÕES.................................................................... 359

ANEXO C - PROCESSO DO CERVR – “DADOS” DO CADASTRO ....................................................................... 361

ANEXO D – PROCESSOS DE LICENCIAMENTO PARA A AV. 28 DE SETEMBRO ..................................................... 362

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CONTEÚDO

SUMÁRIO ......................................................................................................................................................... 9

CONTEÚDO .....................................................................................................................................................10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ...................................................................................................................................13

LISTA DE TABELAS ...........................................................................................................................................15

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ...............................................................................................16

1 PROLEGÔMENOS ...................................................................................................................... 17

1.1 ASSUNTO, TEMA E OBJETO DE ESTUDO ............................................................................... 22

1.2 MOTIVAÇÃO, RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA DE PESQUISA .................................................. 28

1.3 OBJETIVOS E PROPÓSITO ESSENCIAL DE ESTUDO ................................................................ 37

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................................................. 41

2 METODOLOGIA DE ESTUDO E DE PESQUISA ............................................................................. 45

2.1 CIÊNCIAS “SOCIAIS” APLICADAS EM PONTO COMPLEXO ..................................................... 54

2.1.1 “REALIDADE” - PERCEPÇÃO E PENSAMENTO HUMANOS .............................................................57

2.1.2 CONCEPÇÕES DE “CONHECIMENTO” HUMANO ...........................................................................60

2.1.3 PENSAMENTO E MÉTODO “COMPLEXOS” ....................................................................................63

2.1.4 “LÓGICA” DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA ......................................................................................67

2.1.5 PESQUISA “PARTICIPANTE E AÇÃO” ..............................................................................................70

2.2 EU “SUJEITO-OBJETO” .......................................................................................................... 74

2.2.1 SER “LIBERTÁRIO” USUÁRIO DE/EM “ESPAÇOS-TEMPOS” ............................................................80

2.2.2 MÉTODO E PESQUISA DE “ESTUDO” .............................................................................................84

2.2.3 MÉTODO E PESQUISA DE “CAMPO”..............................................................................................90

3 HIPERMETAPLURICULTURA “REIFICADA" EM URBANO ............................................................ 97

3.1 TESTEMUNHOS “HUMANOS” (TRANS)CULTURAIS ............................................................. 102

3.1.1 SER “VIVO” E SER “HUMANO” SOB “ORDENS” ...........................................................................104

3.1.2 SOCIEDADE DE “NÔMADE” A “SEDENTÁRIA” .............................................................................121

3.1.3 DE CIDADE-ESTADO A CIDADE “MARAVILHORROROSA” ............................................................137

3.1.4 DE LOCAL “SEM ARQUITETO” A ARQUITETURA “GLOBAL” .........................................................144

3.1.5 “CASAS-JAULA” OU “CASAS-CAIXÃO” .........................................................................................148

3.2 ECONOMIA “OPRIMIDA”, “OPRESSORA” E ”LIBERTÁRIA” .................................................. 148

3.2.1 ECONOMIA “REAL” E ECONOMIA “HUMANA”............................................................................149

3.2.2 ECONOMIA “POLÍTICA” E ECONOMIA “URBANA” ......................................................................152

3.2.3 ECONOMIA “FAMILIAR” E ECONOMIA “COMUM” .....................................................................156

3.3 ARQUITETURA “OPRIMIDA”, “OPRESSORA” E ”REDENTORA” ........................................... 156

3.3.1 “SISTEMA”, FORMA, ESPAÇO, TEMPO, ORDEM EM ARQUITETURA ...........................................166

3.3.2 CONTEÚDO E “INTERPRETAÇÕES” EM ARQUITETURA ................................................................182

3.3.3 ARQUITETURA “KITSCH” E ARQUITETURA DE “AÇÃO” ...............................................................191

3.3.4 ARQUITETURA “ECOLÓGICA” E ECOLOGIA “URBANA” ...............................................................195

3.4 URBANO “OPRESSIVO”, “OPRIMIDO” E SOLIDÁRIO ........................................................... 206

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3.4.1 SEMENTES URBANAS EM “INÉRCIA HISTÓRICA” DE URBANO ....................................................207

3.4.2 CIDADE COMO “LUGAR” DE PODER, PRODUÇÃO E CONSUMO ..................................................212

3.4.3 “DIREITO” URBANÍSTICO E DITADURA DE “MINORIA” ................................................................215

3.5 ANTROPOLOGIA URBANA “HIPERMETAPLURICULTURAL” ................................................. 217

3.5.1 “FUNÇÃO SOCIAL”, “EXPLOSÃO” E “MOBILIDADE” URBANAS ....................................................220

3.5.2 CONDOMÍNIO “EXCLUSIVO” E AMBIÊNCIA “PRIVADA” E COMUM ............................................222

3.5.3 QUANDO “CASA” VIRA APARTAMENTO......................................................................................224

3.5.4 QUANDO CASA VIRA “PATRIMÔNIO” .........................................................................................232

3.6 TOPO DE “VIVER” EM ECONOMIA “COMUM” ................................................................... 233

3.6.1 TEMPO-ESPAÇO-TEMPO “TOPOLÓGICO” ...................................................................................238

3.6.2 ABORDAGENS DE “LUGAR” EM (PÓS)MODERNIDADE ................................................................246

3.6.3 QUANDO LUGAR VIRA “CIDADE” ................................................................................................251

3.6.4 “SUSTEINISMO” (RE)ADAPTATIVO DE “PONTO-EM-CIDADE” .....................................................261

3.6.5 ARQUITETÔNICA DE “TOPO” EM “TELEOLOGIA-NO-PONTO” .....................................................274

3.6.6 “TOPO” – MODELOS, VETORES, MATRIZES E INDICADORES .......................................................280

4 ESTUDO DE “CASO” URBANO (ECU) ........................................................................................ 291

4.1 “LOGRADOURO” DE ESTUDO ............................................................................................. 297

4.1.1 ESCALA “CIDADE” EM “REGIÃO” .................................................................................................299

4.1.2 ESCALA “BAIRRO” EM “ZONA NORTE” DA CIDADE .....................................................................301

4.1.3 ESCALA “RUA” DE “QUARTEIRÕES” ............................................................................................302

4.1.4 ESCALA MUSICAL EM “CALÇADA” ...............................................................................................302

4.1.5 ESCALA HUMANA EM “EDIFÍCIO” ...............................................................................................304

4.1.6 “ESCALA” QUALI-QUANT-PERCENT (QQP) ..................................................................................305

4.2 “CONSTRUÇÃO” URBANA VERTICAL EXISTENTE ................................................................ 306

4.2.1 EDIFÍCIO “INCORPORADO” POR “OUTROS-PARA-MIM” .............................................................306

4.2.2 EDIFÍCIO “PROJETADO” POR “OUTROS-PARA-MIM” ..................................................................306

4.2.3 EDIFÍCIO “CONSTRUÍDO” POR “OUTROS-PARA-MIM” ................................................................306

4.2.4 EDIFÍCIO “LEGAL” ESTERILIZADO POR “OUTROS-PARA-MIM” ....................................................306

4.3 EDIFÍCIO “HERDADO” E HABITADO PELO “SUJEITO-OBJETO” ............................................ 309

4.3.1 “PARTICIPAÇÃO” DE CONDÔMINOS EM ASSEMBLEIAS ..............................................................309

4.3.2 “ADMINISTRAÇÃO” DO PRÉDIO ..................................................................................................310

4.3.3 “AUTOVISTORIA” DO PRÉDIO .....................................................................................................310

4.3.4 “BEM-ESTAR” CONDOMINIAL .....................................................................................................310

4.4 “PROPOSTA” DE RETROPROFIT PELO “SUJEITO-OBJETO” .................................................. 311

4.4.1 “PARTICIPAÇÃO” DE MORADORES E OUTROS ............................................................................312

4.4.2 EDIFÍCIO CONDOMINIAL “AUTOSSUSTENTÁVEL” .......................................................................315

5 POSLÚDIO ............................................................................................................................... 315

OBRAS CITADAS ............................................................................................................................................ 324

APÊNDICES .................................................................................................................................................... 350

APÊNDICE A - DIAGRAMA DE ESTRUTURA DESTA DISSERTAÇÃO - TÓPICOS DE NÍVEL 1 E NÍVEL 2 ........................ 351

APÊNDICE B- SABEDORIA PRÁTICA - FRÔNESE OU PHRONESIS ...................................................................... 352

12 / 365

APÊNDICE C- FILOSOFIA EM CONCEPÇÕES DE CONHECIMENTO “HUMANO” ................................................... 353

APÊNDICE D- ÁRVORE GENEALÓGICA DA ECONOMIA (AGECO) ................................................................... 354

APÊNDICE E - TÓPICOS DE ECONOMIA ABORDADOS POR ALGUNS ECONOMISTAS ............................................. 355

ANEXOS ........................................................................................................................................................ 357

ANEXO A – CRONOLOGIA DE TESTEMUNHOS (TRANS) CULTURAIS ANTRÓPICOS DESDE 1000 A.C. ...................... 358

ANEXO B - PROCESSO DO CERVR – “TODAS” AS TRAMITAÇÕES.................................................................... 359

ANEXO C - PROCESSO DO CERVR – “DADOS” DO CADASTRO ....................................................................... 361

ANEXO D – PROCESSOS DE LICENCIAMENTO PARA A AV. 28 DE SETEMBRO ..................................................... 362

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Diagrama de Metamorfoses em Mundo Real Percebido (MRP) ........................................... 17

Figura 2- Diagrama de Hipocrisia e Infelicidade de Nações (HIN) ....................................................... 18

Figura 3- Diagrama de Urbano SocioEconomico (USE) ou SocioEconomia Urbana (SEU) ................ 19

Figura 4- Diagrama de Felicidade de Nação (FN) ................................................................................ 21

Figura 5- Diagrama do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) ............ 24

Figura 6- Diagrama de "Ambiente" Urbano (AmbUrb) .......................................................................... 26

Figura 7- Diagrama de Economia Humana Escalar Pró-Urbana .......................................................... 28

Figura 8- Diagrama de Meu Propósito Essencial .................................................................................. 40

Figura 9- Diagrama de Estrutura desta Dissertação – Tópicos de Nível 1 ........................................... 43

Figura 10- Diagrama de Processo de Interação Humana Local (PIHL) ............................................... 48

Figura 11- Diagrama de Filosofia em Corda Bamba (FCB) .................................................................. 50

Figura 12- Diagrama de Estrutura Metodologia de Estudo e de Pesquisa ........................................... 53

Figura 13- Diagrama de Mundo antrópico em realidade “espaço-temporal”) ....................................... 57

Figura 14- Diagrama de Mundo antrópico como Espaço Cosmo-HélioLunaGeo-AntropoTopo .......... 57

Figura 15- Diagrama de Mundo antrópico como espaço (des)ordenado de assentamentos humanos em Ecossistemas ........................................................................................................................................ 58

Figura 16- Diagrama de Pensamento complexo e dimensões filosóficas ............................................ 59

Figura 17- Diagrama de “humano” no Espaço Cosmo-HélioLunaGeo-AntropoTopo ........................... 60

Figura 18- Diagrama de “Supravalores Humanos” ............................................................................... 66

Figura 19- Diagrama de “Levantamento Preliminar de Diversidade e Heterogeneidade” (LPDH) ....... 73

Figura 20- Diagrama de Dimensões da Filosofia .................................................................................. 78

Figura 21- Diagrama de Mundo Real do “Eu” (MRE)............................................................................ 79

Figura 22- Matriz de sete eixos temáticos e vinte campos de pesquisa............................................... 87

Figura 23- Matriz com Recorte de quatro eixos temáticos e oito campos de pesquisa ....................... 87

Figura 24- Diagrama de vinte e quatro subcampos em oito campos de pesquisa ............................... 88

Figura 25- Diagrama de Arquitetura – arte e ciência de desenhar e construir edifícios ..................... 157

Figura 26- Diagrama de Conceituação de Arquitetura ....................................................................... 158

Figura 27- Diagrama de Arquitetura em prática (re)conceitual ........................................................... 159

Figura 28- Diagrama de Forma e Desenho Urbano em Edifício em Condomínio Vertical ................. 167

Figura 29- Diagrama de “Teoria” e “Prática” em Arquitetura e Urbanismo ......................................... 168

Figura 30- Diagrama de “Sistemas” de Arquitetura ............................................................................ 169

Figura 31- Diagrama de Categorias de Forma Arquitetônica ............................................................. 175

Figura 32- Diagrama de Formas de Relações Espaciais ................................................................... 176

Figura 33- Diagrama de Formas de Organização de Edifícios em Espaço Urbano ........................... 178

Figura 34- Diagrama de Circulação entre Espaços ............................................................................ 179

Figura 35- Diagrama de Quaterno Contemporâneo ........................................................................... 181

Figura 36- Diagrama de “Conteúdos em Arquitetura” ......................................................................... 186

Figura 37- Diagrama de “Interpretações de Arquitetura” .................................................................... 187

14 / 365

Figura 38- Diagrama de “Arquitetura Kitsch” ...................................................................................... 193

Figura 39- Diagrama de EcoEficiência em construção residencial responsável ................................ 196

Figura 40- Diagrama de EcoProduto em construção residencial responsável ................................... 200

Figura 41- Diagrama de EcoProdutos disponíveis em “mercado” ...................................................... 203

Figura 42- Diagrama de Humanização de Cidade (HC) ..................................................................... 219

Figura 43- Diagrama de “Idades de Espaço” ...................................................................................... 238

Figura 44- Diagrama de Aspectos de Lugar ....................................................................................... 254

Figura 45- Diagrama de Antropossociedades – Dilemas “humanos” primordiais .............................. 255

Figura 46- Diagrama de “Ambiente Responsivo” ................................................................................ 271

Figura 47- Diagrama de Forma Fundida com Coerência Dupla em Edifício em Condomínio Vertical276

Figura 48- Diagrama de Arquitetura – Estrutura unificadora de trabalho artístico ............................. 278

Figura 49- Diagrama de “alinhamento integrado” de forma escalar, de “fora” para “dentro”.............. 279

Figura 50- Diagrama de Posicionamento ao longo de eixos de Indicadores Visuais de Carácter de Paisagem ............................................................................................................................................. 282

Figura 51- Diagrama de Conceituação de One Planet Living (Vivendo em Um Planeta) .................. 285

Figura 52- Certificação GBC Brasil Condomínio - 6 objetivos base ................................................... 287

Figura 53- Certificação GBC Brasil Condomínio – Pesos e Ponderações de Créditos...................... 289

Figura 54- Certificação GBC Brasil Condomínio – Certificações por Faixas de Pontos .................... 289

Figura 55- Certificação GBC Brasil Condomínio - Média de Reduções no Brasil .............................. 290

Figura 56- Edifício Residências Villa Real (ERVR) – Vila Isabel – Rio de Janeiro, RJ ...................... 296

Figura 57- Diagrama de Edifício em “alinhamento” top↔down - escalas em hexade ....................... 298

Figura 58- Diagrama de Tipos de Cidade ........................................................................................... 300

Figura 59- Quadro de Integração sistêmica e/ou de interdependência funcional. Níveis quali / quant / percent “interativos” ............................................................................................................................. 305

Figura 60- Comprovante de Pedido Eletrônico de “Push Processo” pelo Síndico do CERVR .......... 308

15 / 365

LISTA DE TABELAS

Nenhuma entrada de índice de ilustrações foi encontrada.

16 / 365

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

17 / 365

1 PROLEGÔMENOS

Nelson Rodrigues1 já alertava: “O mundo só se tornou viável porque antigamente as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta eram regidas pelos melhores. Agora a gente tem a impressão de que são os canalhas que estão fazendo a nossa vida, os nossos costumes, as nossas ideias. Ou são os canalhas ou são os imbecis, e eu não sei dizer o que é pior. Porque você sabe que são milhões de imbecis para dez sujeitos formidáveis.” (CARVALHO, 2013 p. 17)

Em mundo geoantrópico dramático, agora em alerta máximo contra

“canalhas e/ou imbecis”, há realidade percebida por seres humanos (conscientes) em

realidade dinâmica que não se compadece de ser vivo (consciente ou não) cujo corpo

nasce por reprodução ancestral (antes, intrauterina; agora, não necessariamente),

iniciando processo individual em meio a processos sociais (inclui seres não humanos)

condicionados por geoprocessos2 ordenados por cosmoprocessos3 “arquitetados” por

teoprocesso4. Todos formando um Mundo Real Percebido (MRP) em metamorfoses5

“mortais” ou “imortais” (fig.1 abaixo). Neste mundo recorto metamorfoses “mortais” de

processo individual em processos do(no) planeta Terra encaixados em processos

cósmicos.

Figura 1- Diagrama de Metamorfoses em Mundo Real Percebido (MRP)

Fonte: Autor desta dissertação, 02 de abril de 2019

1 Nelson Falcão Rodrigues (pernambucano-carioca ou carioca-pernambucano) foi teatrólogo, jornalista, romancista, folhetinista e cronista de costumes e de futebol brasileiro e é tido como o mais influente dramaturgo do Brasil. 2 GEO é prefixo formador de palavras que deriva do grego significa o planeta Terra. 3 COSMO ou COSMOS que deriva do grego κόσμος (kósmos) e significa em português: literalmente,

"ordem", "organização" ou "harmonia"; e metaforicamente, "mundo". Hoje é usado como sinônimo

para "Universo". É o contrário de CAOS (“desordem”, "desorganização" ou "desarmonia"). 4 TEO é prefixo grego formador de palavras que significa “Deus” ou “divindade”. 5 Mudanças ou alterações completas em aspecto, natureza ou estrutura de alguém ou algo.

TEOPROCESSO(teo-ordem)TEOPROCESSO(teo-ordem)

COSMO-PROCESSOS

EXOCOSMO-

PROCESSOS(CAOS)

GEOPROCESSOS(cosmogeoantropo-ordem)GEOPROCESSOS(cosmogeoantropo-ordem)

PROCESSO INDIVIDUAL

PROCESSOS SOCIAIS

Mundo Real Percebido (MRP)Mundo Real Percebido (MRP)METAMORFOSES

"MORTAIS"METAMORFOSES

"IMORTAIS"

18 / 365

Nessa percepção de mundo real “entre” caos universal e caos local,

“regida” por alguma ordem geocósmica e várias ordens sociais, destaca-se a

expressão “riqueza de Nação” a partir de Nações (des)unidas por hipocrisia(s) de

Indivíduos, Famílias, Mercados e Instituições (HIFMI) – hipocrisia geral sobre

“pilares” contaminados e sob diversas “bandeiras” autodestrutivas de “verdades”.

Essa riqueza de hipocrisia tem sido mal medida por supostas “vantagens

comparativas” de HIFMI em competição por níveis de Produto Nacional Bruto (PNB)

ou, mais restrita a território ocupado por força bruta ou “diplomática”, do fatídico

Produto Interno Bruto (PIB). É Hipocrisia de Nações (HN) que viceja em catacumbas

“ideológicas desnorteadas” – entre Norte e Sul, Oriente e Ocidente, Homem e Mulher,

Macho e Fêmea, Homo e Hetero, Indivíduo e Sociedade, Egoísmo e Socialismo,

Privado e Público, Liberdade e Alienação - e que forja indicadores de felicidade terrena

em “democracia” os quais evidenciam Infelicidade de Nações (IN). (fig.2 abaixo).

Nessa “infelicidade” recorto produção interna bruta que, corrompida por

hipocrisia(s) de indivíduos e de instituições, resulta de relação entre indivíduos em

sociedade humana.

Figura 2- Diagrama de Hipocrisia e Infelicidade de Nações (HIN)

Fonte: Autor desta dissertação, 02 de abril de 2019

Hipocrisia de Nações(HN)Hipocrisia de Nações(HN)NORTE X SUL

ORIENTE X OCIDENTE

HOMEM X MULHER

MACHO X FÊMEA

HOMO X HETERO

INDIVÍDUO X SOCIEDADE

EGOÍSMO X SOCIALISMO

PRIVADO X PÚBLICO

LIBERDADE X ALIENAÇÃO

Hipocrisia(s) de Indivíduos, Famílias, Mercados e Instituições (HIFMI)Hipocrisia(s) de Indivíduos, Famílias, Mercados e Instituições (HIFMI)

HIPOCRISIA(S) DE INDIVÍDUOS

HIPOCRISIA(S) DE FAMÍLIAS

HIPOCRISIA(S) DE MERCADOS

HIPOCRISIA(S) DEINSTITUIÇÕES

Infelicidade de Nações (IN)Infelicidade de Nações (IN)

Produto Nacional Bruto

(PNB)

ProdutoInterno Bruto

(PIB)

19 / 365

Nesse caos cosmossocial, contribuindo para aquela “riqueza”, positiva ou

negativamente, existe “ponto” complexo, peristáltico, elástico e irradiante, de

racionalidade local e razão crítica descentrada6, onde, sob mandamentos e

manifestos, elementos singulares - dialógicos, recursivos e hologramáticos7

complementares e suplementares, includentes e excludentes, concorrentes e não

concorrentes, ortodoxos e heterodoxos, locais e globais, urbanos e não urbanos,

privados e públicos, individualmente e em conjunto - interagem por esta tríade

comportamental humana:

... ↔ INAÇÃO ↔ AÇÃO ↔ REAÇÃO ↔ ...

Figura 3- Diagrama de Urbano SocioEconomico (USE) ou SocioEconomia Urbana (SEU)

Fonte: Autor desta dissertação, 02 de abril de 2019

Uma Interação Estático-Dinâmica (IED) condicionada nesta tríade situacional

humana:

... ↔ AMBIENTE ↔ AMBIÊNCIA ↔ ESTAR HUMANO ↔ ...

Nesse Ponto Complexo de Peristaltismo8 Humano (PoCoPeHum) em

Urbano SocioEconomico (USE) ou SocioEconomia Urbana (SEU) - fig.3 acima -

6 Ponto cosmogeoantrópico. 7 Os três princípios do pensamento complexo de Edgar Morin. 8 Peristaltismo usado aqui no sentido de movimentos “internos” - essenciais para o processo vital humano - que garantem movimentação humana ao longo de sistema urbano em cidade cosmopolita.

Urbano SocioEconômico (USE) ouSocioEconomia Urbana (SEU) Urbano SocioEconômico (USE) ouSocioEconomia Urbana (SEU)

SABER POPULAR

SABER CIENTÍFICO

SABER HUMANO

AMBIENTE

AMBIÊNCIA

ESTAR HUMANO

Ponto Complexo de Peristaltismo Humano (PCPHum)Ponto Complexo de Peristaltismo Humano (PCPHum)

ENTORNO

CONDOMÍNIO

CONDÔMINOS

INAÇÃO

AÇÃO

REAÇÃO

Interação Estático-Dinâmica (IED) Interação Estático-Dinâmica (IED)

CORPOS ALMAS ESPÍRITOS

20 / 365

há pelo menos um caso de assentamento humano singular não alcançado por

institutos que fazem pesquisas baseadas em amostras domiciliares locais, regionais

ou nacionais. Trata-se de antropogeoponto9 ou locus geofixo gerado por processo

urbano exógeno composto por: incorporação, projeto de arquitetura, projetos de

engenharia, construção, ocupação (parte por famílias, parte por loja) e retroprofit “pós-

ocupacional”.

É o caso de condomínio edilício vertical aparentemente “legal”, situado na

cidade do Rio de Janeiro, em bairro urbano nem “rico” nem “pobre” (Vila Isabel), sob

processo urbano endógeno. Uma interação estático-dinâmica condicionada nesta

tríade de locus humano:

... ↔ ENTORNO ↔ CONDOMÍNIO ↔ CONDÔMINOS ↔ ...

Dentro e fora desse edifício residem e movem-se seres humanos, loci móveis,

identificados como partes diretamente interessadas naquele elemento singular. Uma

interação estático-dinâmica condicionada nesta tríade de humano(s) como locus ou

loci:

... ↔ CORPO(S) ↔ ALMA(S) ↔ ESPÍRITO(S) ↔ ...

Um desses seres, uma tríade humano locus em tríade locus humano (fluindo

por espaço-tempo com “idade cibercosmo” em era de (des)conhecimento humano),

está em cibermissão de “instruir para estabelecer justiça” visando pacto(s) de

pessoas locais. Seu foco é a natureza humana e seu objetivo é ciber-integridade

humana usando como estratégia alguma abordagem holística. Seu desafio: agir como

sujeito imperfeito e objeto também imperfeito, em pesquisa-ação sistêmica e

autocontrolada. Esse ser sou eu, viajando em interação estático-dinâmica

condicionada por espaço-tempo contínuo, (des)orientado por esta tríade de mixórdia

também triádica sapiens sapiens, genius loci e ludicus demens:

... ↔ SABER POPULAR ↔ SABER CIENTÍFICO ↔ SABER HUMANO ↔ ...

Dessa interação estático-dinâmica extraio “corpos” e “almas” em ação

condominial alicerçada em saber humano para melhorar ambiência de estar “humano”

(re)vista de/em ponto complexo de urbano socioeconômico. A essa interação chamo

sabedoria humana prática estóica que emerge a partir de “sabedoria científica” e

9 Inserido no “ponto” cosmogeoantrópico.

21 / 365

“sabedoria popular” em locus de ethos condominial sob genius demens com

esperança de sapiens ludicus ou, até, ludicus sapiens.

Enfim, sabendo-se que “percepção” identifica “mundo exterior” – diferente de

mundo real por ser intermediado por sensações humanas (em que “sensação” indica

experiência simples, vivida ou vívida, produzida por “estímulo” dentro ou fora de corpo

humano) ou mediante auxílio de instrumentos de adaptação sensorial, para

transformar fótons em imagens, vibrações em sons e reações químicas em cheiros e

sabores específicos – e que devemos focar apenas naquilo que podemos controlar de

alguma forma, é possível usar saber humano prático, com “tranquilidade” e

“autocontrole” de alma, como orientador de ação ou ações a ratificar por maioria

qualificada de condôminos - participando direta ou indiretamente, de corpo, alma e

espírito, em ajustes de Convenção de Condomínio (ConvCond) e/ou Regimento

Interno Condominial (RIC) e deliberações maioritárias (simples ou qualificadas) em

Assembleia Geral Ordinária (AGO) ou Assembleia Geral Extraordinária (AGE) de

condomínio edilício - em prol do próprio bem-estar humano condominial, neste mundo

real mal percebido em suas metamorfose (i)mortais por interações estático-dinâmicas

induzidas, camufladas e controladas por canalhas e imbecis, na busca “humana” de

produto urbano que leve a Felicidade de Condomínio (FelCon) que, por sua vez,

“contribuirá” para sua Felicidade Local (FelLoc) e, também, para Felicidade Nacional

(FelNac) - fig.4 abaixo.

Figura 4- Diagrama de Felicidade de Nação (FN)

Fonte: Autor desta dissertação, 02 de abril de 2019

Felicidade de Nação(FelNac)Felicidade de Nação(FelNac)

SABER HUMANO

AÇÃO HUMANA

BEM-ESTARHUMANO

Felicidade de Local(FelLoc)Felicidade de Local(FelLoc)

SABERLOCALAÇÃOLOCAL

BEM-ESTARLOCAL

Felicidade de Condomínio (FelCon)Felicidade de Condomínio (FelCon)

CONVENÇÃOREGIMENTO

INTERNOASSEMBLEIAS

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De “felicidade” socioeconômica condominial urbana recorto convenção,

regimento interno e assembleias – os quais condicionam ou provocam (re)ação ou

omissão locais, bem como nível de “bem-estar” local, beneficiando-se de saber

humano disponível. E recordo que moradores não proprietários - ou destes não

tenham procuração específica - têm sido alijados de processo decisório de

Assembleias Gerais de Condomínio, mas serão ouvidos nesta minha pesquisa para

obtenção de algum “saber popular local”, complementarmente a autores que citarei

nesta dissertação para explicitar um tipo diferente de saber científico geral.

1.1 ASSUNTO, TEMA E OBJETO DE ESTUDO

Por um lado, Raúl Rojas Soriano10 afirma que há pesquisas11 ressentidas com

“falta de autêntica projeção social por estarem norteadas por utilitarismo económico

básico de sociedade de consumo”. E que há outras pesquisas voltando atenção de

pesquisadores para “problemas irrelevantes” ou que são “efetuadas com abordagens

parciais”. Soriano acrescenta estas abordagens impedem a formulação de políticas e

estratégias de ação, bem como enriquecimento de acervo de conhecimentos

científicos em esfera social. Soriano vai mais além e diz que “será possível abordar

problemas a partir de perspectiva global, considerando sociedade como um todo,

conforme dinâmica e vínculos internos e externos que ela adquire em seu devir

histórico. Enfim, para Soriano (2004 p. 13), análise de fenômenos sociais baseados

em uso de teorias pertinentes e em metodologia científica evitará erros em

tomada de decisões.

10 Nasceu no estado de Morelos, no México. Doutor em Sociologia e professor-pesquisador permanente da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Foi convidado mais de cem universidades mexicanas e estrangeiras e outras instituições acadêmicas, agências governamentais, municípios, hospitais, institutos nacionais de saúde, prisões, sindicatos, feiras internacionais de livros, fóruns onde tem ensinado mais de mil conferências. Escreveu 30 livros sobre metodologia de pesquisa, educação e saúde. Em 12 de maio de 2018, recebeu reconhecimento especial da Sociedade Internacional de Pesquisa, Saúde, Desenvolvimento de Negócios e Tecnologias (SIISDET), com sede em Bogotá, Colômbia. Extraído de https://raulrojassoriano.com/, em 28/04/2019. 11 Muitas pesquisas ressentem-se da falta de uma autêntica projeção social por estarem norteadas pelo utilitarismo económico, componente básico da sociedade de consumo; outras voltam sua atenção para problemas irrelevantes ou são efetuadas com abordagens parciais que impedem a formulação de políticas e estratégias de ação e o enriquecimento do acervo de conhecimentos científicos na esfera social. (SORIANO, 2004 p. 13)

23 / 365

Por outro lado, complementarmente, Carlos Nelson Ferreira dos Santos12,

vivendo de 1943 a 1989, afirmava que, até final do século XIX, “assuntos urbanos”

não interessavam nem a especulação nem a prática científica, pois urbanismo não

era ciência e que, aparentemente, não havia “ciência urbana”, mas apenas uma

questão de Academia de Belas Artes com “preocupação” acerca do que hoje se

chamaria de “desenho da cidade” ou “boa forma urbana”. Porém, para Carlos, há

ciência urbana que cada cidadão tem de inventar para ir em frente, em lugares

que, há 200 anos, não existiam como são agora e caberá a estudiosos “correr

atrás”, tentando deduções e ilações “para a frente” através de análise de

comportamentos pragmáticos. Entretanto, continua Carlos, na Europa, ainda no

século XIX, firmavam-se princípios de racionalismo iluminista e que este

desembocava em aplicação prática de conhecimentos transmutados em ciência.

Então, Carlos acha estes três “pontos fundamentais”: 1) considerar a diferença entre

“prática teórica” e “teoria praticada”, patente na abordagem do urbano; 2) dificuldade

enorme em classificar proposta de pesquisa; e 3) só poder usar certas categorias de

análise referenciadas a determinadas situações históricas, dentro de cortes bens

definidos. E Carlos arremata frontalmente:

Aí entra uma questão, para mim, fundamental – a da linguagem. Como vamos amarrar, através de uma linguagem bem compreensível, as nossas ações às do conjunto da sociedade brasileira que precisa agir e vai agir? Se ficarmos atrapalhando, eles nos empurrarão de lado. Esse é um problema de opção de indivíduos, de consciência individual frente ao capitalismo monopolista, à ação estatal e a outros fatores que costumamos ver com desânimo, como onipotentes no quadro brasileiro. (UFF, 2017c pp. 47-50)

Em termos de assuntos urbanos, sua linguagem e de “alcances e limitações de

pesquisa social”, considero a “quadratura social” formada por Mundo Real Percebido

(MRP), Infelicidade de Nações (IN), Interação Estático-Dinâmica (IED) e Felicidade de

Condomínio (FelCon) como fenômenos sociais. Mesmo sendo utilizados, por vezes,

para servir a interesses minoritários - ou para indagar aspectos pouco transcendentes

do ponto de vista do conjunto social - e sem base em “teorias pertinentes” nem

“metodologia científica” que evite erros em tomada de decisões. Principalmente,

porque pesquisas sociais têm sido realizadas em campos específicos e por certas

12 Carlos Nelson Ferreira dos Santos in (UFF, 2017b p. 50 e 53) e (UFF, 2017c pp. 47-50). Arquiteto, urbanista, professor universitário e antropólogo brasileiro, mas, principalmente, grande pensador urbano da cidade a partir de prática transformadora, de maneira muito própria e reveladora de espírito criativo, inovador, questionador e polêmico.

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disciplinas que não permitem estruturar sistemas teóricos, criar melhores métodos ou

aprimorar técnicas para análise de problemas (inter)nacionais ou transculturais

dominantes ou dominados.

Figura 5- Diagrama do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU)

Fonte: Autor desta dissertação, 04 de abril de 2019

Tendo isso em mente, volto-me, agora, para um campus universitário federal

na cidade Niterói do Estado do Rio de Janeiro (ERJ) no país chamado Brasil. Mais

precisamente para a Universidade Federal Fluminense (UFF) e especificamente para

o seu Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) - criado

pela Resolução UFF nº 71, de 03 de julho de 2002. O PPGAU oferece um conjunto de

disciplinas que envolvem coordenação de recursos materiais e humanos de modo

interdisciplinar, resultando em sólida base de aperfeiçoamento strictu sensu. Sua área

de concentração é “Produção e Gestão do Ambiente Urbano” que possui três linhas

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU)

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU)

CONJUNTO DE DISCIPLINAS

COORDENAÇÃO INTERDISCIPLINAR

COORDENAÇÃO

DE RECURSOS MATERIAIS

COORDENAÇÃO

DE RECURSOS HUMANOS

VALORIZAÇÃO DE CARÁTER

TEÓRICO

COMPLEXIDADE

DE QUESTÕES URBANAS

APERFEIÇOAMENTO

STRICTU SENSU

Produção e Gestão de Ambiente Urbano (PGAU)(Linhas de Pesquisa)

Produção e Gestão de Ambiente Urbano (PGAU)(Linhas de Pesquisa)

PROJETO, PLANEJAMENTO E

GESTÃO DA ARQUITETURA E

DA CIDADE

CULTURA E HISTÓRIA DA

ARQUITETURA, DA CIDADE E DO URBANISMO

ESPAÇO CONSTRUÍDO,

SUSTENTABILIDADEE AMBIENTE

ÁREAS AFINS deARQUITETURA e URBANISMO

ÁREAS AFINS deARQUITETURA e URBANISMO

ANTROPOLOGIA DIREITO ECONOMIA ENGENHARIA

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de pesquisa: 1ª) “Projeto, Planejamento e Gestão da Arquitetura e da Cidade”; 2ª)

“Cultura e História da Arquitetura, da Cidade e do Urbanismo”; e 3ª) “Espaço

Construído, Sustentabilidade e Ambiente”. O PPGAU pressupõe áreas afins da

arquitetura13 cuja “interdisciplinaridade” valoriza caráter teórico e se justifica pela

complexidade de questões urbanas. Neste trabalho, sigo a linha de pesquisa “Espaço

Construído, Sustentabilidade e Ambiente” e integro, principalmente, antropologia,

direito, economia, engenharia - em que o Direito, enviesado por ideologias

anacrônicas e corrupção estrutural, assume condição de “maior opressor” de demais

disciplinas e “responsável cartorial” por sufocar, inibir ou destruir: ambiente “natural”;

sustentabilidade local; espaços construídos; e ambiente “cultural”. (fig.5 acima).

Adentrando, eu, ainda mais em assunto de “opressão disciplinar”, reparei que

o PPGAU deve revelar forte empenho em investigação sobre “diferentes vertentes” de

gestões atuais, bem como no que concerne a reflexão acerca de processos e agentes

sociais, em sua vinculação com “produção de ambiente construído”. Todavia, só se

essa investigação e reflexão forem subordinadas a um destes temas do PPGAU: 1)

Espaço e segregação social; 2) Transformação, preservação e memória urbana; 3)

Espaço, história e cultura; 4) História da cidade e do urbanismo; 5) A dimensão cultural

na agenda urbana contemporânea; 6) Imagem, identidade e produção de sentido nas

políticas urbanas; 7) A relação planejamento e participação; 8) Planejamento e

produção da habitação de interesse social; 9) Grandes projetos e a pauta urbana

contemporânea; 10) Modelos de gestão e planejamento urbanos; 11) Atores da

dinâmica urbana e estruturação do espaço; 12) Sustentabilidade, produção e gestão

do espaço urbano; 13) Sustentabilidade e ambiente construído; 14) Conforto Térmico

no Edifício; 15) Eficiência Energética na Arquitetura; 16) O uso racional dos recursos

ambientais na arquitetura e urbanismo; 17) Avaliação da qualidade ambiental; 18)

Paisagem e ambiente construído; 19) Projeto do edifício e a cidade; 20) Teoria e

método de projeto; 21) Gerenciamento do processo de projeto; 22) Impactos da

Tecnologia de Informação no Processo de Projeto; 23) Restauração do Edifício; 24)

Formação e Qualificação profissional do Arquiteto e Urbanista.

13 Estas são consideradas algumas das Áreas Afins de Arquitetura e Urbanismo (A3U): administração, antropologia, direito, economia, engenharia, geografia e sociologia.

26 / 365

Nesta monografia, não só dissertativa, atravesso vários desses “temas” do

PPGAU. Afloro um espaço em segregação social (bairro de classe média, Vila Isabel)

- sob transformação, preservação e memória urbanas em história da cidade e do

urbanismo em cidade (Rio de Janeiro). Analisando relações entre planejamento

(edifício em condomínio exclusivo) e participação local de partes diretamente

interessadas (condôminos) - como atores de dinâmica urbana (convenção

condominial). E (re)estruturação de espaço (retroprofit) em ambiente construído

(insustentável) mediante: uso racional de recursos ambientais em arquitetura e

urbanismo; projeto de edifício nessa cidade; impactos de tecnologia de

informação em processo de projeto; e restauração desse edifício. Neste programa

recorto a interdisciplinaridade de Arquitetura, Urbanismo, Engenharia, Economia,

Antropologia e Direito para efeitos de valorização de caráter teórico aplicada à

complexidade de questões urbanas em termos de projeto em espaço construído

considerando a sustentabilidade deste em ambiente “natural”.

Figura 6- Diagrama de "Ambiente" Urbano (AmbUrb) Fonte: Autor desta dissertação, 04 de abril de 2019

"AMBIENTE" URBANO(AmbUrb)"AMBIENTE" URBANO(AmbUrb)

CIDADE COMO

OBJETO DE INVESTIGAÇÃO

POR CIÊNCIAS SOCIAIS

ESPAÇO CONSTRUÍDO

SUSTENTABILIDADE

AMBIENTE

ARQUITETURA ECOLÓGICA PARA ECONOMIA FAMILIAR EM AMBIÊNCIA CONDOMINIAL PRIVADA E COMUM

ARQUITETURA ECOLÓGICA PARA ECONOMIA FAMILIAR EM AMBIÊNCIA CONDOMINIAL PRIVADA E COMUM

PROJETO DE ARQUITETURA

PROJETO ENGENHARIA

GESTÃO DE CIDADE

URBANISMO

AMBIENTE CONSTRUÍDO(AmbCons)

AMBIENTE CONSTRUÍDO(AmbCons)

UNIDADE DE

HABITAÇÃO(UH)

UNIDADE DE

VIZINHANÇA

(UV)

UNIDADE CULTURAL

(UC)

UNIDADE HABITAT

(UT)

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Assim confinados, o assunto de minha dissertação é sobre certo tipo de

“ambiente” urbano segregado por planejamento urbano e interesse comercial de

produção imobiliária para “consumidor anônimo”. Aprofundando mais esse assunto,

optei por tema inerente a arquitetura ecológica para economia familiar em

ambiência condominial privada e comum (fig.6, acima). Ambos, assunto e tema,

perpassam: a cidade como objeto de investigação por Ciências Sociais; toda aquela

terceira linha de pesquisa (espaço construído, sustentabilidade e ambiente); e parte

importante da primeira e segunda linha de pesquisa (projeto, de Arquitetura ou

Engenharia, gestão de cidade, urbanismo e cultura).

Mais especificamente, esse meu tema perpassa vários dos diversos temas

definidos pelo PPGAU, em especial estes: relação planejamento e participação; atores

de dinâmica urbana e estruturação de espaço; sustentabilidade, “produção” e gestão

de espaço urbano; sustentabilidade e ambiente construído; uso racional de recursos

ambientais em arquitetura e urbanismo; avaliação de qualidade ambiental; projeto de

edifício e cidade; impactos de Tecnologia de Informação [e Comunicação] em

processo de projeto; e restauração de edifício [Retrofit ou RetroProFit]. Num recorte

de ambiência condominial, simultaneamente privada e comum - como meu objeto

de estudo - que integra unidade de “vizinhança”, unidade “cultural” e unidade “habitat”,

enquanto ladeia as unidades de “habitação” (por serem unidades exclusivas). Um

estudo para projeto de alteração de arquitetura que considere “urbanismo sustentável”

em espaço construído comum, através de arquitetura ecológica que melhore a

economia familiar local.

Dessa maneira, o ambiente construído (AmbCons), em estudo, é formado por

Unidades de Habitação (UH) e Unidades de Vizinhança (UV), em Unidade Cultural

(UC) e Unidade Habitat (UT), bem como “vetusto” em minha contemporaneidade de

economia humana escalar pró-urbana (fig.7, abaixo). Assim sendo, não se podem

olvidar novas formas pertinentes (arquitetônica), novos processos (susteinismo) e

novas tecnologias (retrofit) de ambiência urbana em economia (mais)humana

(retroprofit). Em especial, casos complexos como o caso de condomínio edilício. Este

deve ser analisado desde incorporação até projeto arquitetônico de retrofit baseado

em susteinismo iluminado e com ação. Tudo isto a partir de investigação sobre

diferentes vertentes de gestões atuais e com base em reflexão sobre processos e

agentes sociais, em vinculação com “produção de ambiente construído”, bem como

subordinado ao meu tema e seguindo linha de pesquisa fundada em três pilares

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estruturais: espaço construído, sustentabilidade e ambiente. Entretanto, apesar do

espaço construído ser aqui “recortado” apenas em espaço privado, com partes não

exclusivas de suas unidades de habitação, é imprescindível que se fale de

“cidadania” porque um condomínio tem espaços comuns, espaços de circulação e

confronta com espaço público. E como esse espaço construído é meu

contemporâneo, não posso olvidar “novos” processos e “novas” tecnologias.

Figura 7- Diagrama de Economia Humana Escalar Pró-Urbana

Fonte: Autor desta dissertação, 04 de abril de 2019

1.2 MOTIVAÇÃO, RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA DE PESQUISA

Bruno Zevi (1996 p. 200 e 217), vivendo de 1918 a 2000, foi arquiteto e

urbanista italiano, conhecido sobretudo como historiador e crítico de “arquitetura

modernista”, que propugnava crítica moderna para além de preparar apenas para

“prazer estético de obras históricas”: uma crítica viva, social, intelectualmente útil e

ousada que, para aquém daquilo, servisse (também e sobretudo) para colocar algum

problema de ambiente social em que se viva - de espaços urbanos e arquitetônicos

dentro dos quais se passa a maior parte dos dias de cada um, a fim de que cada um

os reconheça: SAIBA VÊ-LOS! Nesse sentido, Zevi (ibidem) indigna-se com o fato de

ECONOMIA HUMANA ESCALAR PRÓ-URBANAECONOMIA HUMANA ESCALAR PRÓ-URBANA

GESTÃO ATUAL

PROCESSOS SOCIAIS

AGENTES SOCIAIS

"PRODUÇÃO" DE AMBIENTE CONSTRUÍDO

"NOVOS" PROCESSOS

"NOVAS" TECNOLOGIAS

ESPAÇO CONSTRUÍDOESPAÇO CONSTRUÍDO

ESPAÇOS PRIVADOS

ESPAÇOS COMUNS

ESPAÇOS DECIRCULAÇÃO

ESPAÇO PÚBLICO

CONDOMÍNIO EDILÍCIOCONDOMÍNIO EDILÍCIO

ARQUITETÔNICA SUSTEINISMO RETROFIT RETROPROFIT CIDADANIA

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todos viverem em CIDADE que está em decomposição hipertrófica, onde “falta

de visão urbanística” impede possibilidades de desenvolvimento de comunidades

orgânicas e onde grassa arquitetura de especulação - casada com turvos sonhos de

retórica monumental e que destrói ambientes sagrados de herança artística

espiritual. E Zevi (ibidem) é demolidor

a maior parte de nós vive em casas ridículas, indignas, vergonhosas para homens que se respeitam e que se recusam a vegetar como escravos em absurdos cubos justapostos, nunca pensados em termos espaciais, que comparam de uma forma maluca uma cozinha e um banheiro modernos a um salão e a um quarto de dormir de dois ou três séculos atrás.

Querendo eu que não continue esse ridículo, indignação e vergonha de

justaposição vegetativa em cubos residenciais para seres humanos dignos e

responsáveis, mas sem espaço, prossigo com Zevi (ibidem). Ora, este foi concludente

ao afirmar que história moderna (orgânica) de arquitetura dirigir-se-á tanto a

compartimento estético e intelectual de ser humano, a seção cultural ou a emotividade

como falará a[de] SER HUMANO INTEGRADO - para além de seções [fragmentos

arranjados] históricas inanimadas de “homem econômico”, “homem afetivo” e “homem

espiritual”, que colocam “a cultura arquitetônica a um canto bolorento,

acadêmico e falso”. Para Zevi, AMOR por espaço e exigência de LIBERDADE em

espaço fazem com que, no CORPO deste, coincidam VIDA, CULTURA, ESPÍRITO e

RESPONSABILIDADE SOCIAL – porquanto, ainda para Zevi: “espaço não é só

cavidade vazia, “negação de solidez”: é VIVO e POSITIVO”; “não é apenas um fato

visual: é, em todos os sentidos, e, sobretudo num sentido humano e integrado,

uma REALIDADE VIVIDA”. Uma “realidade vivida” a investigar como VIRADA

ANTROPOLÓGICA - dita por Flávia Brito do Nascimento (2016 p. 222), citando Márcia

Chuva14, após referir-se a “vilas operárias ou não”, encontradas em cidades brasileiras

como exemplo mais importante de modificações urbanas e sociais da virada do século

XIX para o XX. Neste período, Nascimento diz que essa virada antropológica de

história criou OUTROS OBJETOS e OUTROS PROBLEMAS ao incorporar TEMAS

DE VIDA COTIDIANA no campo de investigação da disciplina de História da

Humanidade. Que o digam, no Brasil: Carlos Nelson Ferreira dos Santos - arquiteto,

urbanista, professor universitário e antropólogo brasileiro, grande pensador urbano da

14 Márcia Chuva, “Ofício do Historiador: Sobre ética e Patrimônio cultural”, 2008, pp.39.

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cidade a partir de prática transformadora com espírito criativo, inovador,

questionador e polêmico; e Gilberto Cardoso Alves Velho - antropólogo brasileiro,

pioneiro de Antropologia Urbana.

Com tudo isso, minha motivação primordial de pesquisa é apresentar um caso

de eventual “estágio” de SUSTENTABILIDADE em construção “legal” e demonstrar

como tal “termo”, embora já muito disseminado e desgastado, é visto em condomínio

privado, mas com partes comuns, onde à la Zevi, se vive “como escravos em

absurdos cubos justapostos, nunca pensados em termos espaciais”. Entrementes, a

principal motivação intelectual desta minha dissertação é preencher lacuna em campo

de conhecimento de ciências sociais aplicadas e contribuir para solução de NOVO-

VELHO PROBLEMA de unidades de habitação (“mônadas urbanas”), unidades de

vizinhança e unidade habitat em espaço-tempo de absurda confinação vertical. Tudo

para precisar algo que “já se sabe” de maneira geral - mas “não se vê” – fazendo um

feixe iluminado top-down do caos/cosmo “natural” para topo fixo por/na

caos/cosmopolitano ou caos/cosmo “cultural” onde se aquietem ou desloquem seres

viventes, humanos e não-humanos. Isso, na busca de aprofundamento de

compreensão teórica de microescala e no intuito de que alguma precisão científica,

de pequeno em grande e novo em velho, seja aplicável um maior número de casos

em âmbito local, considerando elementos teleológicos meus contemporâneos

próximos.

Agora em termos de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, o Arquiteto

Domingo Acosta (2009 pp. 18-19; tradução livre) - professor associado e coordenador

de pós-graduação em desenvolvimento tecnológico de construção, - afirma que a

questão de sustentabilidade de construção está diretamente relacionada a

sustentabilidade de assentamentos humanos e de meio ambiente, a fim de melhorar

condições de vida das pessoas. Acosta alerta para o imperativo ético que deveria

nos encorajar - é que, na busca de soluções para as necessidades atuais urgentes de

nossas sociedades, não devemos comprometer a possibilidade de resolvê-las para as

gerações futuras. Intervenções em meio ambiente e em tecnologias de construção

não devem ser consideradas isoladamente de seu impacto no meio ambiente. E

Acosta, aponta para problemas e tarefas de pesquisa e desenvolvimento

tecnológico na construção sustentável de arquitetura e habitat. Alegando

abordagens amplamente revisadas na literatura, cursos e fóruns, acadêmicos e

profissionais, assinala quatro temas prioritários que, a seu ver, compõem área

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ampla e transcendental o suficiente para gerar propostas e linhas de trabalho

profissional e acadêmico: 1) habitação e habitat; 2) recuperar e conservar os ativos

de construção construídos; 3) reduzir a vulnerabilidade de nossos assentamentos

humanos; e 4) reduzir o impacto ambiental. Todos esses “temas” são

contemplados como “subtemas” no assunto, tema e objeto desta dissertação.

Entretanto, Carlos Nelson Santos (UFF, 2017a p. 23) reflete sobre a formação

e desenvolvimento urbano no Brasil no que concerne a importância de

CONHECIMENTO DE PROBLEMA URBANO, afirmando que há enorme deficiência

de informações relativas a processos específicos dessa formação e desenvolvimento,

mas que “é importante não supervalorizar ou retificar” cada dado. Segundo Carlos

Santos (ibidem) “deficiência maior e mais séria” encontra-se em “sistemas explicativos

globais” ou teorias que justifiquem construção e manejo de informações, pois dados

são sempre criados porque “não há respostas prontas”, nem na “natureza” nem em

“sociedade”. E, quando se formula pergunta, esta já é comprometida e “pressupõe o

que se quer saber”, porquanto “são pré-conceitos” questionamento e hipóteses

sempre como moldagens prévias de conceitos visto não serem possíveis dentro de

“campo de convicções preparadas e legitimadas de antemão”. Carlos Santos (ibidem)

desconfiava cada vez mais de “teorias sobre o urbano” porque estas sempre lhe

pareceram “carregadas de um excesso de influências e de comprometimentos alheios

ao que se declara ser o objeto principal, e que acabam por escamoteá-lo“. No entanto,

Carlos Santos era o primeiro a admitir que, antes de estudar ou analisar cidades, “é

preciso contar com um corpo teórico que evite constatações mecânicas,

simplistas e, até à vezes, mal-intencionadas“. Para conciliar esses antagonismos,

Santos imaginava que uma conciliação destas só podia ser feita “através de

exercícios em que seja dada a menor chance possível às teorias para que se

tornem teóricas demais”.

Além disso, Carlos Santos (UFF, 2017a pp. 24-25) dizia que “é muito difundida

no meio técnico a ideia de que as cidades são o grande objeto merecedor de

recuperação”, enquanto que “poucos são os que aceitam as formas reais e cotidianas

de funcionamento como informadoras e, até mesmo, formadoras de um saber

específico”. Carlos Santos questionava isto: “Em que podem se inspirar

‘considerações sobre economia do bem-estar’?”. Ao mesmo tempo, ele afirmava

que “cidades sem boas condições de habitação, infraestrutura e transportes que

atendam às classes mais pobres [acrescento, “médias” e “altas”] passam, além de

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um determinado limite, a se apresentar com altas disfuncionalidades”. Buscando

esse tipo de inspiração na economia urbana de altas disfuncionalidades em

aglomerados, percebi que Carlos Santos, em texto de coautoria com Rogério Aroeira,

(UFF, 2017a pp. 220-233), abordou “um tema dos mais solicitados” - qual seja “como

e o quê (sic) pesquisar favelas” - no qual Carlos Santos (idem, p.222) indagava:

“Quer dizer que está na hora de corrigir isto tudo? Devem ser lançados na fogueira

os dados existentes e exigido um auto de fé ou, quem sabe, um tribunal popular para

os pesquisadores urbanos?”. E ele mesmo respondia: “Nada disto. Ninguém de bom-

senso decepa um pé por causa de uma unha encravada”. Ora, a CLASSE MÉDIA,

“carioca”, encaixa-se nesses e nestes dizeres de Carlos Santos sobre “questões

abertas”:

Você poderia imaginar a classe média, realmente, funcionando como fator de transformação social? Eu não consigo. Pela sua própria característica de estar no meio, ela absorve tudo que pode haver de ruim, na esperança de ganhar alguma coisa de bom, no final de contas. (...) Especialmente porque o problema não é só econômico. Não é só um problema de salário. É de ideologia também. Trata-se, em suma, das boas maneiras à mesa. (UFF, 2017c pp. 90-91)

Com meu conhecimento de problema urbano e alijando pressões ideológicas

afrancesadas (jacobinas ou girondinas), diferente de Carlos Nelson, aqui, eu não só

imagino a “classe média” funcionando realmente como fator de transformação

social efetiva como também o faço na condição de elemento de “família” dessa

CLASSE ESPREMIDA entre “condomínios de luxo” e “condomínios de lixo”,

esquecida por “lixo do luxo” e/ou “luxo de lixo”, e NÃO EXPRIMIDA

“cientificamente” por teorias e/ou estudos de caso. Uma “classe média” à qual

uma dita “filósofa” brasileira - Marilena de Souza Chaui, “especialista” na obra de

Baruch Espinoza, escritora e “professora emérita” de Filosofia Política e Estética da

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

(USP) –, em evento promovido pela Fundação Maurício Grabois, no dia 13 de maio

de 2013, se referiu assim15:

Eu odeio a classe média. A classe média é o atraso de vida. A classe média é a estupidez; é o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. É uma coisa fora do comum. (...) A classe média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação

15 Nota: fala completa em gravação acessível em https://www.youtube.com/watch?v=fdDCBC4DwDg. Essa “professora emérita”- em palestra no Colégio Oswald, São Paulo, SP, em 27 de setembro de 2016, também soltou esta pérola: “Quem defende a família é uma besta”.

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ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante.

Tendo tudo isso em mente, com REPÚDIO como horizonte humano

interescalar e “ESTRELA” Vénus em horizonte científico e escalar, no entanto, este

meu estudo científico é “DIVERSÃO” feita com gosto para ser útil a mim e a outros. É

dissertação com cara de tese sem tese, na qual, de forma (auto)controlada e num

aprofundamento de compreensão teórica de humano em ser humano, interagem

pesquisador (sujeito acadêmico que observa) e observado (comunidade de seres

humanos em condomínio vertical ou condomínio edilício) em locus de escala celular

urbana (prédio urbano aparentemente legal) fora de qualquer estatística oficial,

nacional ou internacional. É pesquisa antrópica condominial que destaca um ser

humano hipermetapluridisciplinar (“EU”, ponto complexo móvel) e outros seres

humanos (cada um, também ponto complexo móvel) em artefato urbano (edifício -

onde esse “eu” reside” - ponto complexo imóvel), para contribuição teórico-prática

acerca de algumas condições exoendogenas e ações humanas nesse LUGAR DE

VIVER, CONVIVER E SOBREVIVER - incorporado, projetado, construído, adquirido

e habitado, como resultado de produção, ocupação e gestão aparentemente legais,

em ambiente urbano legado em uma só contemporaneidade (a minha). Beneficiando

de inter(intra)disciplinaridade acadêmica e observando práxis local - justificadas por

complexidade de/em questões urbanas e cujo exercício objetiva inserção social,

profissional e acadêmica, valorizando responsavelmente (tanto algum caráter teórico

quanto aspectos experimentais) ideias sem espaço em lugar e espaços sem ideias

de lugar. Lembrando aqui de Ermínia Maricato (2000 p. 188):

Mesmo considerando o esvaziamento das instâncias políticas, substituídas crescentemente pela mídia, e a fragilização das instâncias de planejamento urbano, o momento de transição é favorável ao debate, pois apresenta um vazio preenchido apenas, por enquanto, pela perplexidade dos funcionários públicos e professores envolvidos com o tema. Não vamos esperar passivamente que um novo "modelito" ocupe esse vazio, para depois nos restringirmos a fazer nossas brilhantes críticas em mais um congresso nacional e internacional, com o patrocínio das agências de fomento. A crise do planejamento urbano e a busca de uma nova matriz teórica constitui um momento importante para uma produção intelectual comprometida com a democracia no Brasil.

Este trabalho acadêmico é ponte concreta de duas mãos disciplinares

“entre arquitetura e economia”, sobre rio sinuoso de conhecimento acadêmico

“enviesado” em direção a mar turbulento de ciência humana “engarrafada” por

suas “crias paradigmáticas” em paisagem cultural, até o limite do ilustre

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“desconhecido” (i)material. Por isso, trata-se aqui de iniciativa para respirar fora de

cátedras obsoletas e de redes globais forjadas por poucos para todos no sentido de

alegada economia global e suposto desenvolvimento sustentável de fado urbano em

“floresta problemática” neste mundo meu contemporâneo de “modelitos” em

pseudodemocracias.

Em abordagem por processos em perspectiva antropológica condominial e

como agente de alternativas, faço tentativa de citologia no(do) urbano na construção

de NOVA MATRIZ TEÓRICA “CITO-URBE-HUMANA” sob forma de Matriz de

AutoControle Condominial (MACC) a partir de Matriz de Sustentabilidade

Condominial (MSC). Porquanto cada unidade habitacional é unidade econômica e

célula viva em morfologia urbana de paisagem metacultural – ponto ou nó complexo

fixo, mas de IMOBILIDADE VITAL, o qual é produto de (re)produção de alta

complexidade humana cruzada a qual, por sua vez, é outro ponto ou nó complexo

móvel, porém, de MOBILIDADE VITAL (ser humano como “criatura-natural” que

também é “criado-social” urbano ou não-urbano. Esta minha tentativa de INTERAÇÃO

ESTÁTICO-DINÂMICA abrange estrutura e metabolismo de cosmohéliolunageotopo

urbano: um edifício vertical composto por partes privadas (unidades de habitação) e

partes comuns (acessos, garagens, lazer e cobertura aberta), em autogestão

condominial por administração representada por Síndico eleito por Assembleia

Geral. Assim sendo, entre fenômenos (re)vividos, vívidos, (re)imaginados e

(re)projetados, a partir de QUADRO PLURIDISCIPLINAR - que destaca arquitetura,

engenharia, economia e direito em ramos de árvore de conhecimento em PAISAGEM

CULTURAL ANTROPOLÓGICA, voltadas para mônadas familiares vivas amarradas

num urbano vertical enrodilhado e “morto” por política baixa e permitido por

fiscalização barata -, esta minha dissertação é sobre ECONOMIA URBANA e

reposicionamento arquitetônico local sustentável de MICROFORMA URBANA,

essencial a vidas humanas, em entropia também urbana. Em TESE é ENTROPIA na

qual há vetores antrópicos (pós)modernos, pouco humanos ou sociais, que

(não)(des)conhecem, (não)oprimem ou (não)condicionam O SUSTEINISMO,

(não)subvertem ardilosamente O ARQUITETÔNICO e neste (não)são omissos ou

conflituosos em (não)(re)construção ou (não)restauro ou (não)manutenção de

MICROFORMAS URBANAS ELEMENTARES essenciais a algum tipo de MATRIZ

DE VIDA HUMANA alotrópica e heterotrófica em entropia urbana. VETORES que

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têm interagido de forma (in)sustentável em subprocessos, claros ou escuros, de

contaminação estrutural e de enclausuramento, corrosivos, de vidas humanas em

edifício sob condomínio vertical. No caso aqui em estudo, esses subprocessos são

observáveis desde precisa incorporação imobiliária até necessário reposicionamento

arquitetônico local. Recomendo aqui conjunto de obras16 - do ilustríssimo

antropólogo Gilberto Cardoso Alves Velho17 - com cujos títulos eu interajo, de “velho”

para “novo”, com intuito de evidenciar estes CINCO ASPECTOS RELEVANTES DE

MINHA DISSERTAÇÃO: 1) individualismo e subjetividade (minha) em sociedade

complexa por cultura de metamorfose (que não é minha); 2) antropologia de

sociedade contemporânea (minha); 3) (dis)(u) [eu]topia urbana em experiência

de geração (minha); 4) pesquisa urbana (minha e de outros); 5) antropologia

urbana por antropólogo residente (eu), há muito tempo, em CIDADE

MARAVILHORROROSA (Rio de Janeiro) de PATOLOGIA SOCIAL em cultura,

política, conflito e crítica; PROJETO (de outros), EMOÇÃO (minha e de outros) e

ORIENTAÇÃO (minha e de outros) em sociedade complexa com DESVIO (meu e de

outros) e DIVERGÊNCIA (minha e de outros).

Assim, por tamanha abordagem por processos em minha perspectiva

antropológica condominial, como agente de alternativas em PESQUISA-AÇÃO, pude

perceber que há “poder” local que tem sido REFÉM de processo de

“GLOCALIZAÇÃO” e “LOCBALIZAÇÃO” que vão estabelecendo NOVAS

16 “Subjetividade e Sociedade: uma experiência de geração”, “Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea”, “Projeto e Metamorfose: Antropologia das sociedades complexas”; “Projeto, emoção e orientação em sociedades complexas – Ensaio”; “Desvio e Divergência: uma crítica da patologia social”; “A Utopia Urbana: um estudo de antropologia social”; “Pesquisas urbanas: Desafios do trabalho antropológico”; “Antropologia Urbana: cultura e sociedade no Brasil e em Portugal”; “Um antropólogo na cidade: Ensaios de antropologia urbana”; e “Rio de Janeiro: cultura, política e conflito”. Disponível em https://br.99ebooks.net/by/gilberto-velho/. Acesso em 04/12/2018. 17 Gilberto Cardoso Alves Velho (Rio de Janeiro, 15 de maio de 1945 – Rio de Janeiro, 14 de abril de 2012) foi um antropólogo brasileiro, pioneiro da Antropologia Urbana no país. Graduado em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1968). Mestre em Antropologia Social também pela UFRJ (1970). Especializou-se em Antropologia Urbana e das Sociedades Complexas na Universidade do Texas, em Austin (1971). Doutor em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo (1975). Atuou nas áreas de Antropologia Urbana, Antropologia das Sociedades Complexas e Teoria Antropológica. Em 2000 tornou-se membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2000) e com a Comenda da Ordem de Rio Branco (1999). Foi colaborador e professor visitante em várias universidades brasileiras e estrangeiras. Orientou cerca de 100 dissertações de mestrado e teses de doutorado. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Gilberto_Velho, em 27/04/2019.

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HIERARQUIAS DE ESPAÇOS18 que confundem projetos, emoções e orientação em

SOCIEDADES COMPLEXAS. Um processo estático-dinâmico de

HiperMetaPluriCULTURA HUMANA “reificada“ em URBANO (CULTURA

URBANA). É em espaço-mundo antrópico aparentemente estático que se

(não)(des)equilibram dinamicamente ecossistemas e assentamentos humanos em

(não)(des)ordem (dis)(u)(eu)tópica de pessoas - que se identificam (ou são

identificadas) por local e/ou região onde se sedentarizaram (ou foram sedentarizados

ou serão sedentarizados) para própria (sobre)(con)vivência. É pela própria

(não)(sobre)(con)vivência que cada pessoa, individualmente e/ou em grupo, deve

equilibrar ou, ao menos, ajustar dinamicamente estas quatro dimensões filosóficas

em HIPERMETATETRAPENSAMENTO ANTRÓPICO COMPLEXO: praxeologia,

epistemologia, axiologia e ontologia. Pensamento complexo de cada um “dando

primazia” a uma(umas) ou outra(s) conforme “sensibilidade” em cada (des)(con)texto

(da)na arquitetura de COMPLEXIDADE ANTRÓPICA URBANA.

É mergulhado nesta complexidade que “nado agarrado” em DIAGRAMAÇÃO

COLORIDA - e não em “figuras de nada” nem “paradigmas de ocasião” que se tornam

dominantes ou prioritários nem em “dilemas falaciosos” - pela qual procuro

compreender e fazer entender alguma ciência humana normal (não fechada) em que

se “encaixam” tanto significados de fazer pesquisas acadêmicas como discursos de

Ciências Sociais (em geral) e de Arquitetura e Urbanismo (em especial).

Nessa INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS, estou “ser-em-mim” em “mundo-em-

mim” neste “mundo-em-si” de (NÃO)(DES)AGREGAÇÃO SOCIAL de

(não)(sub)conjunto(s) formado(s) por cada “ser-em-si”. (Não)(Des)Agregação

desenhada e cristalizada por história “humana” “(des)continuada” fragmentada e

fragmentante em espaço-tempo (des)contínuo banalizada por “metacultura humana”

de atores em omissões, estagnações e dinâmicas urbanas, sem identidade local e

sem relação de planejamento e projeto arquitetônico com participação de diretamente

interessados. Um desenho cristalizado por POLÍTICAS “PÚBLICAS” E “NÃO-

PÚBLICAS” ditas urbanas que pretendem ter algum sentido em (não)(re)estruturação

e (não)(nova)gestão (in)sustentáveis de “ambiente construído” em “espaço urbano”,

bem como na transformação, preservação e memória urbanas. Além disso, qualquer

18 Da Globalização ao Poder Local: a Nova Hierarquia dos Espaços (DOWBOR, 1996).

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que seja o “mundo-em-que-vivemos” (mesmo que seja no “mundo-da-lua”), ausência,

ineficiência ou ineficácia de “fontes de energia renováveis” agridem ambiência

urbana, local, e não permitem espaços construídos que sejam autossustentáveis

ou autogestionários. Essa agressão e não-permissão aliam-se a “consumo humano”

irresponsável. ALIANÇA alavancada enorme e fatalmente por ciberespaço global de

MUNDO-AVATAR, para constituírem um SISTEMA ESPÚRIO de matriz

problemática minha contemporânea.

Enfim, motivação, relevância e justificativa desta minha “dissertação” são

“motores de propulsão” em minha busca em algo mais “particular”, mas integrado

como parte hologramática conectada mais ou menos fortemente a outras partes

complementares ou suplementares, hologramáticas e em dialógica, inter(intra)agindo,

recursiva ou dialeticamente, por força(s) implícita(s), forma “espontânea”, ou por

força(s) explícita(s), forma “não-espontânea”. É mais uma busca no sentido de algo

mais “geral” ou “universal” de teoria científica estruturada, mas não-paradigmática,

ou melhor, com paradigma único – PARADIGMA SEM PARADIGMAS. Uma Teoria

de Tudo (UTT) ou Teoria de Todo (TdT) ou Teoria Humana Unificada (THU) ou

“Teoria Unificadora” (TU) ou “Teoria de Grande Unificação (TGU) ou Grande Teoria

Unificada (GTU) ou Teoria de Campos Unificados (TCU) ou Teoria de Campos

Integrados (TCI). Entre campos quânticos e campos astronômicos, integrados ou não

por mais ou menos vizinhança de proximidade, estão CAMPOS HUMANOS que “são”

campos de escala humana, em termos de vivência, convivência e sobrevivência.

1.3 OBJETIVOS E PROPÓSITO ESSENCIAL DE ESTUDO

Para enfrentar algum problema crítico (ou principal ou central) em

VIZINHANÇA DE PROXIMIDADE evidenciada “por/em” campos à ESCALA HUMANA

de vivência, convivência e sobrevivência - (sobre)(con)vivência - há que pensar e agir

em REFORMA DE EDIFICADO, mas por arquitetura urbana como instrumento de

intervenção humana via “Ciências Sociais” aplicadas de forma metódica em PONTO

COMPLEXO FIXO, pertinente a sistema complexo estático-dinâmico (concreto e

abstrato, estático e dinâmico, humano e não humano...) onde SUJEITOS NAVEGAM

INERTES em espaço-tempo (des)contínuo – e, ao menos por isto, “sujeitos-objetos”

e PONTO COMPLEXO MÓVEL. Mais especificamente, é imprescindível perceber

principais conceitos, métodos, indicadores e racionalidade, tudo em diretrizes de

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sustentabilidade por ARQUITETURA ECOLÓGICA ou bioclimática em economia

urbana mais humana, praticada por SER LIBERTÁRIO usuário de “espaço-tempo”

próprio de” ser-em-si” e de “ser-com-outro(s)”.

Para tanto, inicialmente, convém agrupar elementares e principais vetores

sociais por CATEGORIAS DE ANÁLISE MATRICIAL de “sustentabilidade humana” -

de urbano contíguo (na horizontal e na vertical), porém descontinuo, em espaço-

tempo contínuo, por “ser fragmentado” em determinado ponto complexo de

(NÃO)LUGAR. Após isso, nesse “ponto” de alta COMPLEXIDADE (NÃO)HUMANA,

devem ser identificados e enquadrados nessas categorias principais VETORES

SOCIAIS insustentáveis (legais, técnicos, construtivos e de convivência humana) em

ARQUITETURA ECOLÓGICA. Posteriormente, em espaço vivido ou vívido do Edifício

“Residências Villa Real” (ERVR), há que alinhar: incorporação; projetos arquitetônico

e de engenharia; construção com “habite-se”; implantação do condomínio; decisões

de Assembleias Gerais; e práticas de Síndicos, Subsíndicos, Conselheiros e

Condôminos. Finalmente, em nível de generalidade de minha investigação, há que

agregar legalidade, critérios e transparência à “autogestão” e “autocontrole” do ERVR

- através de cibercultura, análises matriciais integradas e novos indicadores

socioeconômicos de autossustentabilidade e autocontrole. Daí - lembrando que, tal

qual tese, dissertação “sustenta-se” em trabalho de pesquisa, mas “não se confunde”

com este19 - resulta FORMULAÇÃO PRECISA de objetivos de pesquisa-ação,

acadêmica e popular, subjacente a este meu trabalho.

Um objetivo (não)principal, consiste em definição do que se deseja alcançar

e, por isso, é qualitativo. Para medir e indicar se um objetivo foi atingido ou não, usam-

se resultados-chaves que são quantitativos. Assim, perante tudo o que expus até

aqui, numa perspectiva antropológica de cidade maravilhorrorosa20 em geotransgiro,

o OBJETIVO GERAL desta pesquisa-ação é conhecer quintessência21 urbana em

edifício ocupado por condomínio vertical, visando a autorreforma possível

“hoje”: um Edifício Condominial Auto-Sustentável em termos de Construção e

Habitat, privados e em comum (ECASCHpc). Esse conhecimento possibilitará

eventuais projeto e execução de retroprofit sustentável, por vetores sociais humanos,

19 Não basta descrever resultados, é preciso interpretá-los e enunciá-los teoricamente. 20 Ver tópicos “Matriz Cidade “Maravilhorrorosa” (MCM)” e Glossário. 21 Ver tópico “Ambiente Natural” e Glossário.

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nesse edifício condominial - em alinhamento cosmo-topo-geo-(a)bio-antropo AGORA

INSUSTENTÁVEL.

Para alcançar esse objetivo geral, será necessário atingir, pelo menos, estes 8

(oito) objetivos específicos:

(1) analisar a alotropia urbana do lugar vivido e vívido – em termos de

amparo legal, suporte técnico, características patrimoniais e organização

condominial;

(2) perceber a entropia urbana do lugar vivido e vívido – no que tange a

conhecimento, ideias, habitat, vida, costumes e organização;

(3) verificar matricialmente vetores legais, vetores técnicos e vetores

econômicos, que foram aplicados na construção arquitetônica desse lugar;

(4) identificar matricialmente vetores culturais, que se têm evidenciado na

ocupação e no convívio condominiais nesse lugar;

(5) diagnosticar matricialmente descumprimentos legais, falhas técnicas,

desvalorização patrimonial e inibição de relacionamento humano sadio;

(6) construir diversas matrizes, sucessiva e interativamente, em processo

integrado que culmine em novo indicador socioeconômico de bem-estar

em assentamento humano: Índice de Vivência e Convivência Condominial

(IVCC);

(7) priorizar problemas diagnosticados matricialmente (PEST, SWOT, GUT,

CANVAS, 6W2H e PDCA) visando ao retrofrofit.

A FINALIDADE de expor este estudo de caso é alertar para desintegração

humana em microforma urbana “cristalizada” por processo urbano exoendógeno

que se volve, revolve, envolve e desenvolve22, num presente contínuo, em cujo bojo

convivem e se isolam pessoas que pouco ou nada se conhecem - incluindo o próprio

pesquisador, eu. Uma exoendogenia que “prima” por ausência, inefetividade,

ineficiência ou ineficácia de fontes de energia “renováveis”, como a energia solar

intertropical, bem como não captação de água das chuvas nem reuso de águas

condominiais. Com isso, agride-se o ambiente e não se permite que esse espaço

construído seja autossustentável ou seja autogestionário. Aliás, a tudo isso “alia-se”

consumo humano irresponsável para constituírem SÉRIO PROBLEMA “meu

22 Em síntese complexa: (des)en(re)volve.

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contemporâneo” merecedor de PESQUISA-AÇÃO. Visando introduzir e disseminar

nova concepção de economia urbana sustentável em complexidade de arquitetura

ecológica e bioclimática de um lugar, meu PROPÓSITO ESSENCIAL (fig.8 abaixo),

com este estudo, é investigar “produção de ambiente urbano” em condomínio

edilício e refletir sobre processo urbanístico bem específico no qual “grupos de

agentes sociais” técnico-legais “engendraram” para vincular grupo(s) de

famílias a certo tipo de ambiência urbana em edifício “moderno” de forma

pertinente aparentemente legal, de incorporação a habite-se. Numa busca no

sentido de usar gestão e tecnologia de projetos, em MICRODIMENSÃO HUMANA DE

HABITAT ESQUECIDO por teorias de grandes números, de pesquisas sociais e de

habitações de dito “interesse social”, e lembrado por teorias de “oferta e procura” em

dito “mercado imobiliário” - economia humana “esquecida” por (pseudo)interesse

social forjado (pseudo)politicamente em ECONOMIA URBANA.

Figura 8- Diagrama de Meu Propósito Essencial Fonte: Autor, maio de 2018

Enfim, este meu trabalho é sobre arquitetura e urbanismo para melhorar

“BEM-ESTAR” de CONSTRUÇÃO EXISTENTE em interação e intercepção

complexas de economia (política, urbana e familiar) em ambiente com ambiência

resultantes de (mau)planejamento herdado e de sustentabilidade tardia ou

esquecida ou adulterada, que oprimem e são oprimidos por ECONOMIA FAMILIAR

“enclausurada” e que “enclausura”, em CONDOMÍNIO VERTICAL de “CLASSE

MÉDIA’ em bairro na “Zona Norte” da cidade “maravilhorrorosa” Rio de Janeiro

que “crucifica” o ser-em-mim que é também ser-em-outro, ser-neste-mundo e

ser-noutro-mundo.

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1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Quando você está inspirado por um grande propósito, por um projeto extraordinário, todos os seus pensamentos rompem seus limites. (PATANJALI) 23

Esta dissertação é monografia24 - porque escrita apenas por um - na primeira

pessoa do singular e desenvolvida, entre estes prolegômenos25 e um poslúdio26,

mediante quatro partes distintas, mas hologramáticas e integradas recursivamente.

É escrita após e durante metodologia de estudo e de pesquisa, por ciências sociais

(Arquitetura e Urbanismo, Economia, Direito e Antropologia) aplicadas em ponto

complexo, via eu “sujeito-objeto” - imerso em cultura humana “reificada" em urbano

de práticas de poder, produção e consumo relativos a mobilidade e condomínio

exclusivo - que evidencia um estudo de caso trivial de construção urbana vertical,

existente em bairro de “classe média” na cidade Rio de Janeiro (tida ainda como

“cidade maravilhosa”), com proposta de “retroprofit” ou, no mínimo, retrofit. Ao longo

desta dissertação, penso, analiso, exponho, explico e demonstro - de forma

fundamentada -, bem como pratico, teorizo e proponho, responsavelmente. Em tudo

isto estou guiado por pensamento crítico de alta complexidade e movido por

“vetor” de paradigma sem direção nem sentido nem intensidade (isto é, Vetor

Nulo ou SEM PARADIGMA – nem mesmo o brilhante “paradigma da complexidade”).

Em suma, esta é a estrutura de minha dissertação (primeiro nível na fig.9, abaixo;

segundo nível, no Apêndice “A”; terceiro nível, não foi possível fazer figura sinótica

por limitação técnica): 1) PROLEGÔMENOS, com assunto, tema e objeto de estudo,

motivação, relevância e justificativa de pesquisa, objetivos e propósito essencial de

23 Extraído em 14-04-2019 de https://epocanegocios.globo.com/Vida/noticia/2017/06/46-frases-de-grandes-filosofos-para-te-inspirar.html. Patanjali, viveu entre 200 aC a 400 dC, e tem a reputação de ser o autor dos Yoga Sutra - In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Patandjáli [consultado em 14-04-2019]. 24 Monografia pode ser um trabalho escrito, pormenorizado, em que se pretende dar informação completa sobre algum tema particular de um ramo de conhecimento. In Dicionário Michaelis https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/monografia/. [consultado em 14-04-2019]. 25 Prolegômenos (Brasil) ou prolegómenos (Portugal) - do grego prolegómenai, noções preliminares; de prolégô, escolher, preferir, predizer, dizer antes, proclamar. Substantivo masculino plural: 1) Introdução circunstanciada que precede uma obra; 2) Conjunto das noções preliminares de uma ciência. In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/prolegómenos [consultado em 14-04-2019]. 26 Poslúdio (pos- + [pre]lúdio). Substantivo masculino [Música]: 1) Peça musical que serve de encerramento a uma obra musical. 2. Peça musical destinada ao encerramento de uma cerimônia. 3) Parte final de uma peça instrumental. In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/poslúdio [consultado em 14-04-2019].

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estudo, e [esta própria] estrutura da dissertação; 2) METODOLOGIA DE ESTUDO E

DE PESQUISA, com ciências “sociais” aplicadas em ponto complexo

(“realidade”- percepção e pensamento humanos, concepções de “conhecimento”

humano, pensamento e método “complexos”, “lógica” de investigação científica e

pesquisa “participante e ação”) e eu “sujeito-objeto” (ser “libertário” usuário de/em

“espaços-tempos”, método e pesquisa de “estudo” e método e pesquisa de “campo”);

3) HIPERMETAPLURICULTURA “REIFICADA" EM URBANO, com testemunhos

“humanos” (trans)culturais (ser “vivo” e ser “humano” sob “ordens”, sociedade de

“nômade” a “sedentária”, de cidade-estado a cidade “maravilhorrorosa”, de local “sem

arquiteto” a arquitetura “global” e “casas-jaula” ou “casas-caixão”), economia

“oprimida”, “opressora” e ”libertária” (economia “real” e economia “humana”,

economia “política” e economia “urbana”, e economia “familiar” e economia “comum”),

arquitetura “oprimida”, “opressora” e ”redentora” (“sistema”, forma, espaço,

tempo, ordem em arquitetura, conteúdo e “interpretações” em arquitetura , arquitetura

“kitsch” e arquitetura de “ação” e arquitetura “ecológica” e ecologia “urbana”), urbano

“opressivo”, “oprimido” e solidário (sementes urbanas em “inércia histórica” de

urbano, cidade como “lugar” de poder, produção e consumo e “direito” urbanístico e

ditadura de “minoria”), antropologia urbana “hipermetapluricultural” (“função

social”, “explosão” e “mobilidade” urbanas, condomínio “exclusivo” e ambiência

“privada” e comum, quando “casa” vira apartamento e quando casa vira “patrimônio”)

e topo de “viver” em economia “comum” (tempo-espaço-tempo “topológico”,

abordagens de “lugar” em (pós)modernidade, quando lugar vira “cidade”,

“susteinismo” (re)adaptativo de “ponto-em-cidade”, arquitetônica de “topo” em

“teleologia-no-ponto”, “topo” – modelos, vetores, matrizes e indicadores); 4) ESTUDO

DE “CASO” URBANO (ECU), com “logradouro” de estudo (escala “cidade” em

“região”, escala “bairro” em “zona norte” da cidade, escala “rua” de “quarteirões”,

escala musical em “calçada”, escala humana em “edifício” e “escala” quali-quant-

percent (QQP) , “construção” urbana vertical existente (edifício “incorporado”

por “outros-para-mim”, edifício “projetado” por “outros-para-mim”, edifício “construído”

por “outros-para-mim”, e edifício “legal” esterilizado por “outros-para-mim” ), edifício

“herdado” e habitado pelo “sujeito-objeto” (“participação” de condôminos em

assembleias, “administração” do prédio, “autovistoria” do prédio e “bem-estar”

condominial) e “proposta” de retroprofit pelo “sujeito-objeto” (“participação” de

moradores e outros e edifício condominial “autossustentável”); e 5) POSLÚDIO. A

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tudo isto, acrescentei: antes do texto, DEDICATÓRIA, AGRADECIMENTOS,

EPÍGRAFE, RESUMO, ABSTRACT, SUMÁRIO e CONTEÚDO; e depois do texto,

OBRAS CITADAS, APÊNDICES e ANEXOS - por problemas técnicos retirei daqui

GLOSSÁRIO, ÍNDICE DE AUTORIDADES e ÍNDICE REMISSIVO.

Figura 9- Diagrama de Estrutura desta Dissertação – Tópicos de Nível 1

Fonte: Adaptação do Autor desta dissertação, 29 de maio de 2019

Com esperança de que não seja escrita de mais um "mono" a acrescentar ao

já putrefato "lixo acadêmico" que polui (e estruma) o "ambiente acadêmico" que

respiro diariamente, na formatação do texto de minha dissertação: 1) recorro a outras

cores para além do branco, do preto e do cinza, para dar nova matiz a mundo

antrópico, caleidoscópico, que paira, simultaneamente, em trevas de desconhecido e

em cinza de incerteza e de ignorância humanos, sob luz ofuscante de

(pseudo)conhecido, de (pseudo)certeza e de (pseudo)sapiência humanos; e 2) uso

negritos, sublinhados, itálicos, "aspas", 'plicas', MAIÚSCULAS, SIGLAS, prefixos em

simultâneo, ilustrações e emoções (emoji27, como estes ☺), para que cada leitor

desta “monografia” – incluindo eu - perceba, mais facilmente, o que quero dizer ou o

que considero mais relevante, pois procuro não deixar margem que possa permitir a

algum leitor ter "sua própria interpretação" daquilo que quero dizer ou desviar-se do

que considero relevante em citações que usei (independentemente de eventual

corrente “ideológica” ou “doutrinária”, ou meramente “partidária” ou “sectária”). No

27 Emoji (絵文字, lit. pictograma) é uma palavra derivada da junção dos seguintes termos em japonês:

e (絵, "imagem") + moji (文字, "letra"). Com origem no Japão, os emojis são ideogramas e smileys

usados em mensagens eletrônicas e páginas web, cujo uso está se popularizando para além do país. Eles existem em diversos gêneros, incluindo: expressões faciais, objetos, lugares, animais e tipos de clima. Sua popularização se dá principalmente pela inclusão internacional em iPhones, que foi seguida pela adoção em sistemas Android, e por sua vez, nos demais sistemas operacionais. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Emoji, em 01/05/2019.

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caso de citações, aquele uso em palavra ou expressão do autor citado será atribuído

especificamente a este: “formatação no original”. Porém, fora de minhas citações,

curtas ou longas, em se tratando de meu uso de “aspas”, aparentemente abusivo, o

contexto onde se inserem é que determinará ambiguidade de termo ou expressão e/ou

minha ironia “sem termo” e/ou caminho a seguir (ou a evitar), no texto ou na estrutura

de tópicos. Minha ironia também se aplica no caso do uso de minhas e SIGLAS. No

mais, procurarei seguir tanto “Normas Técnicas - Informação e documentação -

Trabalhos acadêmicos – Apresentação” da ABNT- Associação Brasileira de Normas

Técnicas (2011) como “Apresentação de Trabalhos Monográfcos de Conclusão de

Curso” da UFF- Universidade Federal Fluminense (2012).

Ao fim e ao cabo, O AUTOR SOU EU, LEITOR É UM OUTRO, EU SOU

OUTRO e ESCREVO PARA LER COMO OUTRO!

BOA LEITURA!

MELHOR ENTENDIMENTO DE RACIOCÍNIO DESTE AUTOR! “OUTRO”

QUE LÊ... QUE TAMBÉM SOU “EU” !

Sempre lembrando deste “eco”:

Fazer uma tese [dissertação] que se torne útil é fazer dela o início de uma pesquisa mais ampla que prosseguirá... É fazer estudo científico que se debruce sobre objeto definido de tal maneira que seja reconhecível igualmente por outros e diga desse objeto algo que ainda não foi dito ou o reveja sob uma ótica diferente - até sobre um tema pouco erudito e pobre se pode executar um trabalho científico, útil aos outros, inserível numa pesquisa mais ampla e indispensável a quem queira aprofundar o tema. Para que esse estudo possa violar regras ou opor-se a elas importa antes de tudo conhecer tais regras. Enfim, fazer uma tese [dissertação] significa divertir-se lembrando que tese é como porco: nada se desperdiça - o importante é fazer as coisas com gosto. (ECO, 1998 pp. 4, 21,22,32,48,169; adaptação minha).

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2 METODOLOGIA DE ESTUDO E DE PESQUISA

Christopher Alexander28, vivendo desde 1936, afirmou (2006 p. 1; tradução

livre): “EU sou um CIENTISTA” e que “nós, CIENTISTAS, ainda não estabelecemos

um MODO DE PENSAR que nos dê base de AÇÃO CUIDADOSA E TERNA que

lide com VIDA COTIDIANA, faça SENSO COMUM e leve a AÇÕES que tornem a

TERRA mais completa em seu POVO e em seu SOLO e SUBSTÂNCIA”. E ele

acrescenta, sem rodeios que, de fato, a filosofia da ciência nos trouxe tão longe, mas

também tornou mais difícil abordar essas questões, porquanto DESCOBERTAS

feitas por CIÊNCIA separaram intencionalmente PROCESSO DE FORMAÇÃO DE

MODELOS MECÂNICOS da Física de PROCESSO DE SENTIR E DE

APRECIAÇÃO de todo Poético que forma NOSSA PRÓPRIA EXISTÊNCIA. Para

Alexander (ibidem), a ciência dos últimos quatro séculos - especialmente a ciência

dos últimos 150 anos - moldou profundamente nossa cultura e nossa civilização

e, agora, vive-se em mundo definido por grupo “amplamente aceito” de “declarações”

e tipo de conhecimento antes “inexistente” os quais MUDARAM “NOSSA VISÃO” DO

QUE É “SER HUMANO”. Alexander (ibidem) prossegue atestando que

RAMIFICAÇÕES DE CIÊNCIA MUDARAM “FORMA” de: olhar para o “SER-EM-SI”

[e o “SER-EM-OUTRO”]; pensar ; sentir ; e ver - instituições sociais, instituições

políticas, amor, guerra, raça, crianças, velhice, arte, criação de coisas, bem como

nascimento e morte de cosmos. Alexander (ibidem), apesar deste “surto exuberante

e fascinante de ciência moderna, com toda sua autoridade e poder” é taxativo ao dizer

que: “divisão entre fato e valor permanece praticamente inalterada”. Por isto

Questões sobre o que devemos fazer, como resolver problemas, como agir para moldar nossa existência, como podemos alcançar forma pacífica de existência em que uma pessoa vive tranquila em seu coração, como agir para proteger o planeta, como agir de modo a proteger e ajudar desgraçados da Terra, como trazer gentileza amorosa a local de trabalho - essas questões dificilmente foram mudadas. Se alguma coisa mudou, estas tornaram-se mais extremas, e todos os dias mais dolorosas. A ciência raramente nos ajuda com esses assuntos.

28 Cristopher Alexander, é arquiteto, matemático e urbanista austríaco. É professor emérito da Universidade da Califórnia em Berkeley. Foi um dos críticos da arquitetura moderna apontando a desagregação social causada por ela. Seus estudos contribuíram para a utilização de padrões geométricos e matemáticos no urbanismo e arquitetura. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Christopher_Alexander, em 06/05/2019.

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Não obstante o fato, a meu ver, mais que evidente, de que ciência raramente

ajuda com os tipos de assuntos elencados na “citação” que fiz de Alexander – e até

para contrariar isso - uso este meu estudo e pesquisa para tentar identificar,

categorizar e verificar metodicamente questões que se tornaram mais ou menos

extremas, bem como mais ou menos dolorosas, mormente no que tange a: o que

fazer, como fazer ou como agir para resolver problemas no sentido de ajudar

pequenos grupos de seres humanos sedentarizados em assentamentos não tão

humanos a: “moldar” própria existência; “alcançar” forma pacífica de existência

em que cada pessoa viva “tranquila em seu coração”; “proteger” desgraçados da

Terra; “trazer” gentileza amorosa a local de trabalho; e “proteger” o próprio planeta.

Além disso, este meu estudo científico é “diversão” feita com gosto para ser útil

a mim e a outros. Esta “utilidade” perpassa SISTEMATIZAÇÃO INTEGRADA de

alguma SABEDORIA ERUDITA, consagrada por MACRO-ÁREAS de conhecimento

científico29 (em particular Ciências Sociais Aplicadas stricto sensu), mas limitada

pela área de Arquitetura e Urbanismo e afunilada por interação destas MICRO-

ÁREAS (por ordem alfabética) atinentes a vários conhecimentos humanos

considerados no todo científico aplicado parcialmente em ponto de alta complexidade

humana: antropologia urbana; construções urbanas e ambiência; conservação da

natureza; construção civil; direito privado; ecologia aplicada; economia do bem-estar

social; economia doméstica; economia regional e urbana; engenharia econômica;

epistemologia; ética; fundamentos da arquitetura e urbanismo; fundamentos do

planejamento urbano e regional; fundamentos e crítica das artes; geografia humana;

história moderna e contemporânea; lógica; matemática aplicada; métodos e técnicas

de planejamento urbano e regional; métodos quantitativos em economia; morfologia

de grupos recentes; mutagênese dirigida; paisagismo; pesquisa operacional; projetos

de arquitetura e urbanismo; psicologia do desenvolvimento humano; psicologia social;

saneamento ambiental; saúde pública; serviços urbanos e regionais; sistemas de

computação; sociologia do conhecimento; sociologia do desenvolvimento; sociologia

urbana; tecnologia de arquitetura e urbanismo; teologia sistemática; teoria

29 Estas são as 8 (oito) macro-áreas de sabedoria erudita (pós-graduação stricto sensu) no Brasil: Ciências Exatas e da Terra; Ciências Biológicas; Engenharias; Ciências da Saúde; Ciências Agrárias; Ciências Sociais Aplicadas; Ciências Humanas; e Lingüística, Letras e Artes. (Fonte: FAPERJ- Fundação (Carlos Chagas Filho) de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro)

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antropológica; teoria da comunicação; teoria da informação; teoria do direito; teoria e

filosofia da história; teoria econômica; teoria política; e tratamento de águas de

abastecimento e residuárias.

Esse ponto de alta complexidade humana (co)existe em área de concentração

referente a Produção e Gestão do Ambiente Urbano, em campo de confluência de

Projeto e Vida, andando principalmente nesta linha de pesquisa30: Espaço

Construído, Sustentabilidade e Ambiente.

Nesse CAMPO DE CONFLUÊNCIA valho-me de Gadamer, citado por Jeff

Malpas (2018 pp. 3-4; tradução livre), o qual desenvolveu HERMENÊUTICA

FILOSÓFICA que fornece “explicação de base apropriada” para a COMPREENSÃO,

usando como ponto de partida essencial phronesis e dialógica. Contudo, rejeitando

tentativa (em relação a “espírito científico” ou a qualquer outro “lugar”) de encontrar

entendimento sobre qualquer método ou conjunto de regras. No entanto, isso não é

rejeição da importância de preocupações metodológicas, mas, sim, insistência

em papel limitado de qualquer MÉTODO e em prioridade daquela

“compreensão” como ATIVIDADE dialógica, prática e situada. Malpas disse que

Gadamer trabalhou através de textos platônicos de forma que não apenas entra em

“diálogo” e em “dialética” (estabelecidos nesses textos) mas também repete

MOVIMENTO DIALÓGICO em tentativa de compreender como tal. Malpas refere a

influência de Heidegger em Gadamer que, também, assumiu - como um elemento

central em seu pensamento - a ideia de PHRONESIS (SABEDORIA PRÁTICA)31 que

aparece em Aristóteles. E, ainda segundo Malpas, para Heidegger, o conceito de

phronesis é importante como meio de dar ênfase a "ser-no-mundo" prático em

relação a apreensão teórica e como modo de discernimento de própria situação

concreta desse “ser “- tanto em SITUAÇÃO PRÁTICA como, mais

fundamentalmente, em SITUAÇÃO EXISTENCIAL - consequentemente phronesis

constitui modo de AUTOCONHECIMENTO.

30 No embalo do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal Fluminense (UFF): criado pela Resolução UFF nº 71 de 03 de julho de 2002, tem como “área de concentração” a Produção e Gestão do Ambiente Urbano, revelando forte empenho na investigação sobre diferentes vertentes de gestões atuais, bem como no que concerne à reflexão sobre os processos e agentes sociais, em sua vinculação com a produção do ambiente construído. Possui três “linhas de pesquisa”: (1) Projeto, Planejamento e Gestão da Arquitetura e da Cidade; (2) Cultura e História da Arquitetura, da Cidade e do Urbanismo; e (3) Espaço Construído, Sustentabilidade e Ambiente. 31 APÊNDICE B- Sabedoria Prática - Frônese ou Phronesis.

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Como “autoconhecimento”, para Pradeep Bhatta (2013 pp. 1-2; tradução livre;

negritos e itálicos meus), phronesis é virtude intelectual mais que virtude moral

porque aprende-se através de instrução e não de prática, mas está intimamente ligada

a virtudes morais. Sem phronesis, seria impossível praticar as virtudes morais

corretamente, pois uma pessoa que tem “todas as virtudes morais certas” sabe

o que acaba buscando - mas sem phronesis, essa pessoa não saberá como buscar

os fins certos. Além disso, também segundo Bhatta, pessoas começam com situação

ou questão que consideram em relação ao que pensam para prosperidade humana -

o bem. Elas são guiadas por disposição moral para agir de maneira verdadeira e

correta – phronesis, como hábito de tomar decisões corretas para ações corretas em

um contexto, na busca incessante de excelência para o “bem comum”, visando

alcançar um fim, entregar uma transformação e melhorar vida(s). Isso permite que

elas se envolvam com essa situação como pensadores e atores comprometidos -

práxis.

Figura 10- Diagrama de Processo de Interação Humana Local (PIHL)

Fonte: Autor desta dissertação, 02 de abril de 2019

O resultado é um processo (interação) a que chamarei Processo de Interação

Humana Local (PIHL) – fig.10 acima. Ainda segundo Bhatta, esse é PROCESSO

CIRCULAR, com conhecimento de mudança e variabilidade -TECHNE; ação baseada

Processode

InteraçãoHumana

Local(PIHL)

Processode

InteraçãoHumana

Local(PIHL)

1PROSPERIDADE

HUMANA(O BEM)

1PROSPERIDADE

HUMANA(O BEM)

2DISPOSIÇÃO MORAL

PARA AGIRDE MANEIRA

VERDADEIRA E CORRETA

(PHRONESIS)

2DISPOSIÇÃO MORAL

PARA AGIRDE MANEIRA

VERDADEIRA E CORRETA

(PHRONESIS) 3PENSADORES

EATORES

COMPROMETIDOS(PRÁXIS)

3PENSADORES

EATORES

COMPROMETIDOS(PRÁXIS)

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em princípios para engajar incerteza – também como PRAXIS; e raciocínio prático

sobre impacto da ação no curso da mudança - também como PHRONESIS. Por fim,

Batta afirma que “o exercício de sabedoria prática vem de liberdade de um indivíduo

para deliberar melhor curso de ação a ser seguido em um conjunto de circunstâncias

específicas”. VETOR INTEGRADO: conjunto de regras ou princípios empregado

na arte de dirigir meu espírito na investigação de alguma verdade. sirvo aqui

INTERESSES MINORITÁRIOS e indago ASPECTOS LOCAIS (aparentemente pouco

transcendentes de ponto de vista de conjunto social mais global), mas calejados e

ainda prenhes de (TRANS)CULTURALIDADE

Ora, nesse exercício de “sabedoria prática”, METODOLOGIA pode ser uma

destas três definições: 1) conjunto de regras ou princípios empregados no ensino de

uma ciência ou arte; 2) parte da lógica que estuda métodos das diversas ciências;

e/ou 3) arte de dirigir o espírito em investigação da verdade. Nesta dissertação, uso

este VETOR INTEGRADO: conjunto de regras ou princípios empregado na arte

de dirigir meu espírito na investigação de alguma verdade. Adicionalmente,

também para esse exercício, Raúl Rojas Soriano (2004 p. 13) afirmou que pesquisas

realizadas em campos de economia política, sociologia, antropologia, psicologia social

e outras disciplinas permitiram [e permitem] estruturar sistemas teóricos, criar

melhores métodos e aprimorar técnicas para análise de problemas nacionais.

Todavia, para ele, ciências que estudam “sociedade” - assim como outras vertentes

do conhecimento humano - têm sido utilizadas por vezes para servir a interesses

minoritários ou indagar aspectos pouco transcendentes de ponto de vista de

conjunto social.

Não obstante estes últimos dizeres de Soriano, naquela arte investigatória em

busca de verdade, de valorização de ideias e de raciocínio lógico (não

necessariamente nesta ordem nem linearmente), sirvo aqui INTERESSES

MINORITÁRIOS e indago ASPECTOS LOCAIS (aparentemente pouco

transcendentes de ponto de vista de conjunto social mais global), mas calejados e

ainda prenhes de (TRANS)CULTURALIDADE. Por isso, “viajo” por quadrantes já

dantes navegados em história fragmentada da HUMANIDADE que ainda é [está?]

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dividida em “Oriente” e “Ocidente” por “Meridiano Principal (Greenwich)”32 e em “Norte”

e “Sul” pela “Linha do Equador (Terrestre)”. Nessa fragmentação histórica, a

FILOSOFIA balançava entre concepções antagônicas (pelo menos

aparentemente) de materialistas, idealistas, empiristas, racionalistas, vitalistas e

especuladores - Filosofia em Corda Bamba (FCB) estendida no ar respirado por

funâmbulos de conhecimento humano que se deslocam “evoluindo” (fig.11 abaixo).

Figura 11- Diagrama de Filosofia em Corda Bamba (FCB)

Fonte: Autor desta dissertação, 17 de abril de 2019

Entretanto, tentando fugir de antecipação de infelicidade ou preparação para

catástrofe nessa “corda bamba”, “viajei também” até Antiguidade Fragmentada de

Humanidade e desse Passado Controlado Remotamente, “singrando” em

Presente Contínuo e “parando” em CADA CAIS HISTÓRICO como PONTO DE

REFLEXÃO, “retornei” por LINHA METODOLÓGICA NÃO PARADIGMÁTICA de

Filosofia do Futuro. Isso porque a quase totalidade de pensamentos, valores,

convicções e ações humanos já faz parte, sem que o saibamos, de GRANDES

VISÕES DE MUNDO já elaboradas e estruturadas ao longo de fragmentos de história.

Portanto, é indispensável compreendê-las para apreender sua lógica, seu alcance e

suas implicações. Lembrando-me aqui que David Hamlyn (1990 p. 5; negritos e

32 Meridiano que passa sobre a localidade de Greenwich onde fica o Observatório Real - nos arredores de Londres, Reino Unido. Por isso, chamado “Meridiano de Greenwich”.

HISTÓRIA FRAGMENTADA DA

HUMANIDADE

ANTROPOGEODIVISORES(cosmogeoantropo-ordem)

ANTROPOGEODIVISORES(cosmogeoantropo-ordem)

Filosofiaem

Corda Bamba(FCB)

Filosofiaem

Corda Bamba(FCB)

• ORIENTE

• OCIDENTE

• NORTE

• SUL

• MERIDIANO PRINCIPAL(GREENWICH)

• LINHA DO EQUADOR(TERRA)

•MATERIALISTAS

•IDEALISTAS

•EMPIRISTAS

•RACIONALISTAS

•VITALISTAS

•ESPECULADORES

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itálicos meus) afirma que HISTÓRIA DE FILOSOFIA não deve ser apenas HISTÓRIA

DE IDEIAS ou “mero” RAMO DE HISTÓRIA, mas deve ser também FILOSOFIA.

Segundo Hamlyn (ibidem) é importante um autor tentar imaginar-se em situação da

qual emergiram ideias, mas não é suficiente apenas mostrar influência de tais sobre

outras pessoas. Porquanto, fazer isto, exclusivamente, pode ser prejudicial a

entendimento de contribuição dessas ideias para a Filosofia como um todo. Portanto,

parece ser necessário “equilíbrio” entre aquela “situação” e aquela “influência” para

um autor imaginar-se, por sua vez, em mente de filósofo do “passado” (conhecer não

só sua biografia, mas o ambiente em que viveu, tanto social como intelectual), porém,

não é evidente que precisemos de tudo isto a fim de compreender-lhe pensamento

como contribuição a Filosofia. Tendo isso em mente, recordo que David Hume (1983

pp. 185; negritos, itálicos e sublinhados meus), que viveu de 1711 a 1776, dizia que a

maior parte da Humanidade pode ser dividida em duas “classes”: a dos

PENSADORES SUPERFICIAIS, que ficam aquém da verdade, e a dos

PENSADORES ABSTRUSOS, que vão além dela. Hume prosseguia dizendo que

esta última classe é muito mais rara, útil e valiosa, pois fazem sugestões e apontam

dificuldades, as quais talvez lhes falte talento para resolver. E arrematava afirmando

que essas sugestões e dificuldades apontadas podem propiciar belas descobertas,

quando tratadas por pessoas que tenham modo de pensar mais justo.

Em suma, EU, em algum “CAIS” HISTÓRICO, antes de “tudo”, ESTOU

SIMULTANEAMENTE ser humano, ser-em-si e ser-em-outro, e em “tudo”, ESTOU

TAMBÉM “CIENTISTA” DE SABEDORIA PRÁTICA, em exercício ENTRE FATOS E

VALORES, estabelecendo MEU MODO DE PENSAR dando base de ação

cuidadosa o bastante e eventualmente terna ao lidar com MINHA VIDA

COTIDIANA, fazendo SENSO COMUM com OUTROS e levando a AÇÕES que

tornem o PLANETA TERRA melhor - ao menos em PARTE SINGULAR de seu

POVO em ESPAÇO e AMBIENTE. EU, brandindo um VETOR INTEGRADO -

conjunto de regras ou princípios empregado na arte de dirigir meu espírito na

investigação de alguma verdade – em processos de SISTEMATIZAÇÃO TAMBÉM

INTEGRADA de alguma sabedoria erudita mais focada em ECONOMIA DO “BEM-

ESTAR” SOCIAL que leve em conta: construção civil, direito privado, ecologia

aplicada e; ética; paisagismo; projetos de arquitetura e urbanismo; tecnologia de

arquitetura e urbanismo; e tratamento de águas de abastecimento e residuárias.

“Tudo” isto como TODO CIENTÍFICO (co)existente em área de concentração

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referente a PRODUÇÃO E GESTÃO DE AMBIENTE URBANO, em campo de

confluência de PROJETO E VIDA MAIS HUMANA aplicado parcialmente em PONTO

DE ALTA COMPLEXIDADE HUMANA. EU, paralelamente a “tudo” - no intuito de

ajudar PEQUENO GRUPO de seres humanos (do qual minha vida cotidiana é tanto

“parte interessada” quanto “fração ideal”, em processo sedentário de

ASSENTAMENTO NÃO TÃO HUMANO). EU, nem “pensador superficial” (que fica

aquém da verdade) nem “pensador abstruso” (que vai além da verdade) da

verdade. Ao contrário! EU, “apenas” PENSADOR E ATOR comprometido como uma

“parte interessada” e com HÁBITO de tomar decisões corretas para ações corretas

em determinado contexto, mas permitindo que OUTRAS PARTES INTERESSADAS

também se envolvam com esse hábito, TODOS em busca incessante de excelência

para o “BEM COMUM”, visando: alcançar um fim, entregar uma transformação e

melhorar vida(s)! EU, em MOVIMENTO DIALÓGICO de SABEDORIA PRÁTICA tanto

em SITUAÇÃO PRÁTICA como, mais fundamentalmente, em SITUAÇÃO

EXISTENCIAL, sirvo aqui INTERESSES MINORITÁRIOS e indago ASPECTOS

LOCAIS - aparentemente pouco transcendentes de ponto de vista de conjunto social

mais global -, mas “calejados e ainda prenhes” de (TRANS)CULTURALIDADE.

Enfim, em “tudo” isso, MINHA INSISTÊNCIA é de que qualquer “MÉTODO” -

em prioridade de “COMPREENSÃO” - tenha PAPEL LIMITADO a ATIVIDADE

DIALÓGICA e PRÁTICA, situada em HISTÓRIA FRAGMENTADA da humanidade.

Dessa maneira, segui (e ainda sigo) “caminho árduo” de METACONHECIMENTO33

amenizado por HIPER(CIBER)ESPAÇO, ao garimpar literatura sobre meu tema e sua

problemática, para conhecer seu estado de arte ou encontrar pistas - em documentos

ou obras originais (fontes primárias) ou interpretações (fontes secundárias). Leituras

exploratórias ou levantamentos bibliográficos desaguaram em leituras e

levantamentos mais sistemáticos com abordagens macro e microscópicas - revisão

bibliográfica e referencial teórico.

Este tópico - METODOLOGIA DESTA DISSERTAÇÃO - segue estrutura (fig.12

abaixo) - já devidamente explicitada no tópico “1.4” (estrutura da dissertação). Destaco

33 METACONHECIMENTO. Conhecimento mutante que vai resultando de diversos conhecimentos. Usualmente metaconhecimento é “reflexão sobre o processo de conhecimento” (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/metaconhecimento [consultado em 27-08-2018]. Usado por mim, aqui, no sentido de metamorfose (mudança de forma) e meta-análise (combina resultados de vários estudos).

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agora apenas os dois tópicos de 2º nível: 1) ciências “sociais” aplicadas em ponto

complexo; e 2) eu “sujeito-objeto”.

Figura 12- Diagrama de Estrutura Metodologia de Estudo e de Pesquisa

Fonte: Adaptação do Autor desta dissertação, 29 de maio de 2019

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2.1 CIÊNCIAS “SOCIAIS” APLICADAS EM PONTO COMPLEXO

Nesse “caminho árduo” de METACONHECIMENTO amenizado por

HIPER(CIBER)ESPAÇO, no qual estou “CIENTISTA” de SABEDORIA PRÁTICA, em

exercício entre FATOS e VALORES em TODO CIENTÍFICO como sendo

(co)existente em “área de concentração” onde “produção e gestão de ambiente

urbano” acontece em CAMPO DE CONFLUÊNCIA de projeto e vida mais humana

aplicado parcialmente em ponto de alta complexidade humana. Nesse “todo”

mantenho minha insistência de que qualquer MÉTODO - em prioridade de

“compreensão” - tenha papel limitado a atividade dialógica e prática, situada em

HISTÓRIA FRAGMENTADA da Humanidade.

Martin Heidegger (2009 pp. 1-9), vivendo de 1889 a 1976, em “introdução à

Filosofia” evidencia o SER, a FILOSOFIA e a CIÊNCIA, em que SER “HOMEM” já

significa filosofar e “introduzir” significa pôr o filosofar em curso, em pré-compreensão

de filosofia para relacionar esta com “ciência”, “visão de mundo” e “história”.

Nessa pré-compreensão de Filosofia, arguo com FILOSOFIA DO NÃO, de

Gaston Bachelard (1978 pp. 4-5). Este afirmou que a FILOSOFIA DE CIÊNCIAS fica

muitas vezes acantonada em duas extremidades de SABER: no estudo, feito pelos

filósofos, dos princípios muito gerais; e no estudo, realizado pelos cientistas, dos

resultados particulares. ENFRAQUECE-SE contra dois OBSTÁCULOS

EPISTEMOLÓGICOS contrários que limitam todo pensamento: o geral e o imediato.

Continuando com Bachelard, este prossegue dizendo que ora se valoriza o a priori,

ora o a posteriori, abstraindo de transmutações de VALORES EPISTEMOLÓGICOS

que o pensamento científico contemporâneo permanentemente opera entre o a priori

e o a posteriori, entre os VALORES EXPERIMENTAIS e os VALORES RACIONAIS.

Bachelard é fulminante em seu “parecer” de que claramente que não se dispõe de

filosofia de ciências que mostre em que condições – simultaneamente

subjetivas e objetivas – os princípios gerais conduzem a resultados

particulares, a flutuações diversas ou, “inversamente”, em que condições os

resultados particulares sugerem generalizações que os completem e dialéticas

que produzam novos princípios. Bachelard a polaridade epistemológica é prova de

que cada doutrina filosófica que “se esquematiza” pelos nomes de EMPIRISMO e

RACIONALISMO é complemento efetivo da outra - uma acaba a outra. Para

Bachelard, PENSAR CIENTIFICAMENTE é por-se em CAMPO EPISTEMOLÓGICO

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INTERMEDIÁRIO entre TEORIA e PRÁTICA , no qual “conhecer cientificamente”

uma lei natural é conhecê-la simultaneamente como FENÔMENO e como

NÚMERO. Portanto Bachelard é de opinião que “uma das duas direções metafísicas

deve ser SOBREVALORIZADA: a que vai do RACIONALISMO à EXPERIÊNCIA”.

Em termos de “racionalismo”, entre “fatos” e “valores”, Willian Stanley Jevons

(JEVONS, 1983 p. 29), que viveu entre 1835 e 1882, depois de reflexão detida e

pesquisa, estas levaram-no à “opinião, de alguma forma inédita, de que o valor

depende inteiramente da utilidade”, enquanto que as opiniões prevalecentes faziam

(e, equivocadamente, ainda fazem) do trabalho a origem do valor. Segundo Jevons,

“há mesmo aqueles que claramente afirmam que o trabalho é a causa do valor”

quando o que se verifica frequentemente é que “o trabalho determina o valor, mas

apenas de maneira indireta, ao variar o grau de utilidade da mercadoria por meio de

um aumento ou limitação da oferta”.

Adicionalmente, Alfred Marshall (1982 pp. 33, 40, 51, 52), vivendo entre 1842

e 1924, relaciona uma Ciência Social – ECONOMIA - com “forças sutis e sempre

mutáveis de natureza humana”, mas que:

Naturalmente a Economia não se pode comparar com as ciências físicas exatas, pois ela se relaciona com as forças sutis e sempre mutáveis da natureza humana. A vantagem que a Economia leva sobre os demais ramos da Ciência Social parece, então, decorrer do fato de que o seu campo específico de trabalho dá maior oportunidade de aplicação aos métodos precisos. Refere-se, principalmente, a esses desejos, aspirações e outras manifestações da natureza humana, cujas exteriorizações aparecem como incentivos à ação, em forma tal que a sua força ou quantidade pode ser avaliada e medida com uma certa exatidão, e que, por conseguinte, se presta a ser estudada por meios científicos. Cria-se uma oportunidade para os métodos e exames científicos tão depressa a força dos motivos de uma pessoa – não os motivos em si mesmos – possa ser aproximadamente medida pela soma de dinheiro que essa despenderá para obter uma desejada satisfação, ou, do mesmo modo, pela soma necessária para induzi-la a suportar uma certa fadiga.

Marshall afirmava que, em verdade e tal como todos os que estudam Ciências

Sociais, ECONOMISTA tem que se ocupar de INDIVÍDUOS sobretudo como membros

de ORGANISMO SOCIAL em que a VIDA EM SOCIEDADE HUMANA é algo mais

que mera soma de VIDA DE INDIVÍDUOS. Para ele, é também verdade que um

economista deve preocupar-se grandemente, e cada vez mais, com motivos

relacionados com a propriedade coletiva de bens e com a consecução coletiva

de certos fins importantes. Prossegue Marshall dizendo que a razão de ser a

ECONOMIA como ciência distinta é que ela trata principalmente de parte de ações

humanas mais sujeitas a motivos mensuráveis e que, por conseguinte, se presta mais

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que todas as outras a raciocínios e análises sistemáticos. E ele ainda dizia que o

melhor processo para fazer avançar a CIÊNCIA é o que grupa num conjunto TODOS

FATOS e RACIOCÍNIOS análogos por sua natureza, de sorte que o ESTUDO de

“cada um desses fatos” possa esclarecer os que lhe são “vizinhos”.

Por seu turno, Carlos Santos (2017b p. 70 e 81) “puxou a brasa para a sua

sardinha” afirmando que ARQUITETURA tem UMA VANTAGEM frente a outras áreas

de conhecimento: não tem como iludir porque só existe quando se realiza e,

quando se realiza, se revela por inteira. Por isso, ele disse que se os estudos dele

desmistificassem pretensos poderes de conhecimento de arquitetos e se pudessem

aclarar certos escuros em conhecimento real, ele já ficava muito satisfeito.

E recorro a Edgar Morin34 que trata CIÊNCIA COM CONSCIÊNCIA abordando

“conhecimento de conhecimento científico” e ideia de progresso de conhecimento,

mediante epistemologia de TECNOLOGIA e responsabilidade de PESQUISADOR

perante a SOCIEDADE e o SER HUMANO levando em conta teses sobre ciência e

ÉTICA e comparando antiga e nova TRANSDISCIPLINARIDADE, bem como

considerando ERRO de subestimar erro e uma RAZÃO ABERTA.

Enfim, ABRAÇO: Filosofia, com “seus” VALORES EXPERIMENTAIS e

VALORES RACIONAIS, mas com direção metafísica que vá de RACIONALISMO a

EXPERIÊNCIA; Economia, de “VALOR-UTILIDADE” e minha “pitada” de

“LIBERDADE ECONÔMICA”; e Arquitetura, com sua REVELAÇÃO POR INTEIRO.

E faço-as interagir em PONTO COMPLEXO, com minha RAZÃO ABERTA e ÉTICA

aceitável, em TRANSDISCIPLINARIDADE na qual considero ERRO.

34 Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum (Paris, 8 de julho de 1921), é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita. Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Autor de mais de trinta livros, entre eles: “O método” (6 volumes), “Introdução ao pensamento complexo”, “Ciência com consciência” e “Os sete saberes necessários para a educação do futuro”. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. É considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos do campo de estudos da complexidade, que inclui perspectivas anglo-saxônicas e latinas. Sua abordagem é conhecida como "pensamento complexo" ou "paradigma da complexidade". Morin não se identifica como "teórico da complexidade" nem pretende limitar seus estudos às chamadas "ciências da complexidade". Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Morin, em 06/05/2019.

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2.1.1 “REALIDADE” - PERCEPÇÃO E PENSAMENTO HUMANOS

Figura 13- Diagrama de Mundo antrópico em realidade “espaço-temporal”)

Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

Entre um “nada-tudo” (ou “tudo-nada”) e um “tudo” há uma realidade “espaço-

temporal” dinâmica onde dois mundos se interceptam – um mundo natural (ou

mundo real) e um mundo percebido (ou mundo virtual ou mundo de representações

ou mundo de signos) por seres vivos que incluem o humano da(na) “natureza” –

num mundo representativo da “Natureza” (ou mundo real virtual) do qual se destaca

aqui o mundo antrópico. (fig.13 acima).

Figura 14- Diagrama de Mundo antrópico como Espaço Cosmo-HélioLunaGeo-AntropoTopo

Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

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Esse mundo de representações humanas é heptatriádico. A primeira tríade é

“horizontal” e (re)(de)(con)forma um Espaço Cosmo-HélioLunaGeo-AntropoTopo

em realidade (des)conhecida: esferas, pensamentos (dis)(u)tópicos e ações também

(dis)(u)tópicas. A segunda tríade é “vertical”, já nesse espaço-mundo antrópico, e

“(re)(en)volve” três esferas de “mobilidade humana”: abiosfera, biosfera e noosfera.

A terceira tríade, também “vertical”, é de três “focos primordiais” de pensamento

humano integrado: coisas do corpo, da alma e do espírito. A quarta tríade, ainda

“vertical”, é de três “modos essenciais” de ação humana: co-operação; co-liderança;

e co-responsabilidade. As demais três tríades alinham-se na “horizontal” em relação

à primeira tríade. Assim, a quinta tríade relaciona o pensar das coisas do corpo na

abiosfera através da co-operação humana. Enquanto a sexta tríade relaciona o pensar

das coisas da alma na biosfera através da co-liderança humana. E a sétima tríade

relaciona o pensar das coisas do espírito na noosfera através da co-responsabilidade

humana. (fig.14 acima).

É nesse espaço-mundo antrópico que se (des)equilibram dinamicamente

ecossistemas e assentamentos humanos em (des)ordem (dis)(u)tópica de

pessoas - que se identificam (ou são identificadas) pelo local e/ou região onde se

sedentarizaram (ou foram sedentarizados) para própria (sobre)(con)vivência. (fig.15

abaixo).

Figura 15- Diagrama de Mundo antrópico como espaço (des)ordenado

de assentamentos humanos em Ecossistemas Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

É pela própria (sobre)(con)vivência que cada pessoa, individualmente e/ou em

grupo, deve equilibrar estas quatro dimensões filosóficas em seu

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hipertetrapensamento antrópico complexo: Praxeologia, Epistemologia, Axiologia

e Ontologia (PEAO). Dando primazia a um(uns) ou outro(s) conforme sua

“sensibilidade” em cada (con)texto da(na) Arquitetura da Complexidade

Antrópica (ACA). (fig.16, abaixo).

Figura 16- Diagrama de Pensamento complexo e dimensões filosóficas

Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

Nessa “complexidade antrópica” em seu(s) espaço(s) de origem cósmica no

caos universal que é percebido cada ser humano (corpo e espírito hiper-integrados

na própria alma), em ambiente de “lugar” integrado em “estrado verde-cinza”.

Primeiro, em sua “ecografia natural” (ou ecoGeografia) como humano da Natureza

que escreve sua própria “casa” (ou incubadora humana natural). Segundo, em sua

vivência, como humanos na Natureza, individualmente ou em grupo(s), são partes

hologramáticas, diacrónicas, dialógicas e recursivas organizacionais, de

“ecossistemas peristálticos“ (ou ecoGeossistema) aproveitando contrações e

relaxamentos naturais. Terceiro, como humanos na Sociedade Humana,

individualmente ou em grupo(s), em sua convivência, integram-se (ou não) nesses

ecossistemas por “antropossistemas peripatéticos”. E quarto, almeja-se o humano

da própria Sociedade Humana em sua reprodução humana sexuada (ou até por

manipulação genética) em sua sobrevivência no espaço-tempo contínuo (Espaço

Cosmo-HélioLunaGeo-AntropoTopo em presente contínuo). (fig.17 abaixo).

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Figura 17- Diagrama de “humano” no Espaço Cosmo-HélioLunaGeo-AntropoTopo

Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

2.1.2 CONCEPÇÕES DE “CONHECIMENTO” HUMANO

Faço aqui um corte temporal a partir do helenismo que foi caracterizado pelo

florescimento, expansão e domínio da cultura grega no mundo antigo, tendo como

base a fusão entre a tradição grega e a cultura oriental35. Nessa expansão, evoco

Carlos Nelson Santos (UFF, 2017a p. 191) que, ao abordar um de seus tópicos no

qual “desordem é só uma ordem que exige uma leitura mais atenta”, destacou

As categorias de significado urbano são de uso comum. Uso, aqui, implica não só o recurso a representações teorizadas (em conceitos e no discurso), mas a sua prática através de situações cotidianas. Desde logo, se destaca a enorme possibilidade de confusões e de manipulações. O que é conhecido por todo mundo e o que todo o mundo sabe, sempre é muito vago e abrangente. Se quem se apropria deste conhecimento não faz referências precisas e não esclarece os limites do próprio uso, o uso vira abuso e aos bem intencionados apreciadores de lebre acaba-se servindo gato.

Para “enquadrar” a arquitetura (e o urbanismo) como “ciência”, ou mais

especificamente como “ciência social”, a partir do “helenismo”, valho-me de Karl

Raimund Popper36 (1980b pp. 130-151; itálicos no original), vivendo de 1902 a 1994,

35 APÊNDICE C- Filosofia em Concepções de Conhecimento “Humano”. 36 Karl Raimund Popper foi um filósofo e professor austro-britânico. Amplamente considerado um dos maiores filósofos da ciência do século 20, Popper é conhecido por sua rejeição das visões indutivistas clássicas sobre o método científico em favor do falsificacionismo. Uma teoria nas ciências empíricas nunca pode ser provada, mas pode ser falsificada, o que significa que pode e deve ser examinada por experimentos decisivos. Popper também é conhecido por sua oposição à explicação

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ao explicitar ”três concepções acerca do conhecimento humano”, aborda a “ciência de

Galileu e sua nova traição” e destaca “o problema em jogo”, a partir de “instrumento

de cálculo”, de Copérnico, e contra a “descrição verdadeira do mundo”, de Galileu -

“concepção instrumentalista” ou “concepção oficial” da teoria física.

A respeito de 1ª concepção sobre conhecimento humano, Popper disse que

o “essencialismo” faz parte da filosofia galileana de ciência e, nesta, podem

distinguir-se estes três elementos (ou doutrinas):

(1) O cientista aspira a encontrar uma teoria ou descrição verdadeira do mundo (e especialmente de suas regularidades ou “leis”), que seja também uma explicação dos fatos observáveis. (Isto significa que uma descrição destes fatos deve ser dedutível da teoria em conjunção com certos enunciados, os chamados “condições iniciais”) Esta é a doutrina que desejo defender. Ela tomará parte em nossa “terceira concepção” (2) O cientista pode ter sucesso em estabelecer finalmente a verdade de tais teorias além de toda dúvida razoável. Penso que esta segunda doutrina requer correção. Tudo o que o cientista faz, em minha opinião, é testar suas teorias e eliminar todas aquelas que não resistem aos mais severos testes que ele possa planejar. Porém, ele nunca pode estar muito certo de que novos testes (ou mesmo que um nova discussão teórica) não o levem a modificar, ou descartar, sua teoria. Neste sentido todas as teorias são e permanecem hipóteses: são conjeturas (dóxa) opostas ao conhecimento indubitável (epistéme). (3) As melhores teorias, as verdadeiramente científicas, descrevem as “essências” ou as “naturezas essenciais” das coisas – as realidades que estão por trás das aparências. Tais teorias não precisam nem são susceptíveis de uma explicação ulterior: elas são explicações últimas e encontrá-las é o objetivo final do cientista. Esta terceira doutrina (em conexão com a segunda) é aquela que denominei “essencialismo”. Acredito que, como a segunda doutrina, ela está errada. (...) Segundo o essencialismo, devemos distinguir entre (i) o universo da realidade essencial, (ii) o universo dos fenômenos observáveis e (iii) o universo da linguagem descritiva ou da representação simbólica. (p.133-134, 138, itálicos no original)

No que tange à 2ª concepção sobre conhecimento humano, Popper (p.138-

139, 141) explicitou que, segundo a concepção instrumentalista, devemos distinguir

entre (ii) universo de fenômenos observáveis e (iii) universo de linguagem

descritiva ou de representação simbólica - excluindo (i) universo de realidade

essencial. E disse que uma lei universal ou uma teoria é “uma regra, ou um conjunto

de instruções, para a derivação de enunciados singulares de outros enunciados

justificacionista clássica do conhecimento, a qual ele substituiu pelo racionalismo crítico, a saber, "a primeira filosofia não-justificativa da crítica na história da filosofia". No discurso político, ele é conhecido por sua vigorosa defesa da democracia liberal e pelos princípios da crítica social que ele chegou a acreditar tornar possível uma florescente sociedade aberta. Sua filosofia política abraça ideias de todas as principais ideologias políticas democráticas e tenta reconciliá-las, a saber, socialismo / social democracia, libertarianismo / liberalismo clássico e o conservadorismo. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Popper, em 01/05/2019.

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singulares” – por isto, uma lei universal ou uma teoria não é um enunciado

propriamente dito. Popper criticou o “instrumentalismo” das teorias científicas em

seu argumento retirado da relatividade geral porque este baseou-se em engano. Pois,

do ponto de vista de “relatividade geral” existe um sentido completo (até mesmo

sentido absoluto) ao se dizer que o planeta Terra gira:

ela gira precisamente naquele sentido em que gira a roda de uma bicicleta. Em outras palavras, gira com relação a algum sistema inercial local escolhido. Na verdade, a relatividade descreve o sistema solar de tal maneira que desta descrição podemos deduzir que qualquer observador situado em qualquer corpo físico em movimento livre suficientemente distante (tal como nossa lua, ou outro planeta, ou uma estrela exterior ao sistema) veria a terra girando, e poderia deduzir, dessa observação, que para seus habitantes existiria um movimento diurno aparente do sol. Mas está claro que este é precisamente o sentido das palavras “ela se move” que está em questão; pois, parte da questão era se o sistema solar era um sistema como o de Júpiter e suas luas, apenas maior; e se ele pareceria a esse sistema, se visto de fora. Em todas essas questões, Einstein apoia Galileu de modo não ambíguo. (...) Ambos investigaram os sistemas físicos e seus movimentos. Somente o filósofo instrumentalista afirma que o que eles discutiram ou “realmente pretenderam” discutir, não eram os sistemas físicos, mas apenas os resultados de observações possíveis; e que os seus chamados “sistemas físicos”, que pareciam ser seus objetos de estudo, eram na realidade somente instrumentos para predizer observações. (141-142; itálicos no original)

E Popper resume sua crítica à “concepção instrumentalista” - das teorias científicas

- desta maneira:

Pode-se formular o instrumentalismo como a tese de que as teorias científicas – as teorias das chamadas ciências “puras” – nada mais são do que regras de computação (ou regras de inferência); do mesmo caráter, fundamentalmente, que as regras de computação das chamadas ciências “aplicadas”. (Poderíamos até mesmo formulá-lo como a tese segundo a qual o nome de ciência “pura” está errado, e de que toda ciência é “aplicada”). Ora, minha resposta ao instrumentalismo consiste em mostrar que há diferenças profundas entre as teorias “puras” e as regras de computação tecnológica, e que o instrumentalismo pode apresentar uma descrição perfeita dessas regras, mas é incapaz de explicar a diferença entre elas e as teorias. Desta forma o instrumentalismo cai por terra. (...) O que desejo discutir é o fato de que se testam as teorias mediante as tentativas de refutá-las (tentativas das quais aprendemos muito), ao passo que não existe nada que corresponda estritamente a isto no caso das regras tecnológicas de computação ou de cálculo.(...) o importante é que negligenciando o falseamento, e reforçando a aplicação, o instrumentalismo demonstra ser uma filosofia tão obscurantista quanto o essencialismo. Pois, é somente procurando as refutações que a ciência pode ter a esperança de aprender e de avançar. É somente considerando como suas várias teorias resistem aos testes, que ela pode distinguir entre as teorias melhores e piores e encontrar deste modo um critério de progresso. (...) Resumindo, podemos dizer que o instrumentalismo é incapaz de explicar a importância para a ciência pura de testar severamente até mesmo as mais remotas parte do cientista puro pela verdade e falsidade (sic). Em contraste com a atitude altamente crítica que é requisito do cientista puro, a atitude do instrumentalismo (como aquela da ciência aplicada) é uma atitude de complacência diante do sucesso das aplicações. Desta forma, ela pode muito bem ser responsável pela estagnação recente da teoria quântica. (Isto foi escrito antes da refutação da paridade). (p.142-145, itálicos no original)

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Quanto à 3ª concepção sobre conhecimento humano, a do próprio Popper, este

afiança que

(...) preserva a doutrina galileana de que o cientista aspira a uma descrição verdadeira do mundo, ou de alguns de seus aspectos, e a uma explicação verdadeira dos fatos observáveis; e combina esta doutrina com a concepção não galileana de que embora esta seja a aspiração do cientista, ele nunca pode saber com certeza se suas descobertas são verdadeiras, embora ele possa algumas vezes estabelecer com razoável certeza que uma teoria é falsa. Pode-se formular brevemente esta “terceira concepção” das teorias científicas dizendo-se que elas são conjeturas genuínas – suposições altamente informativas acerca do mundo que embora não sejam verificáveis (isto é, embora não seja possível mostrar que são verdadeiras), podem ser submetidas a severos testes críticos. Elas são tentativas sérias de descobrir a verdade. (...) Limitar-me-ei a mencionar apenas uns poucos aspectos de minha “terceira concepção”, e apenas aqueles aspectos que a distinguem do essencialismo e do instrumentalismo (...) se uma teoria é testável, então ela implica que eventos de um certo tipo não podem acontecer; e desta forma ela afirma que alguma coisa acerca da realidade. (...) Não somos oniscientes e, sem dúvida, muito do que é real é desconhecido por todos nós. (...) a ciência é capaz de descobertas reais (...) Porém, não caio no erro de Parmênides – de negar a realidade a tudo que é conhecido, variado, individual, indeterminado e indescritível em nosso mundo. (...) Sustento que a maioria das observações são mais ou menos indiretas e que é duvidoso de que a distinção entre incidentes diretamente observáveis e que qualquer coisa que seja indiretamente observável conduza-nos a algum lugar.(...) Em minha opinião, todos os universais são disposicionais. Se “quebrável” é disposicional, então também o é “quebrado” (...) “toda descrição usa...universais; todo enunciado tem o caráter de uma teoria, de uma hipótese...” (...) Não acredito que uma linguagem sem universais seja eficaz; e o uso dos universais nos obriga a afirmar, e desta forma (pelo menos) a conjeturar, a realidade das disposições – não das disposições últimas e inexplicáveis, isto é, das essências. Podemos expressar tudo isto dizendo que a distinção costumeira entre os “termos observacionais” (ou os “termos não teóricos”) e os termos teóricos está errada, uma vez que todos os termos são em algum grau teóricos, embora alguns sejam mais teóricos do que outros; assim como dissemos que todas as teorias são conjeturais, embora algumas sejam mais conjeturais do que outras. (p.145, 146, 148-151; itálicos no original)

Esta terceira concepção de Karl Popper é aqui complementada com esta frase

de Carlos Nelson Santos (UFF, 2017a p. 24): “conhecer o urbano deveria ser

também agir sobre ele para depois recuperar o conhecimento”.

2.1.3 PENSAMENTO E MÉTODO “COMPLEXOS”

O primado de pensamento de ser humano remonta a primitivismo em que

aquele não passava de metafísica fundada em medo de “natural” e “sobrenatural” que

confundia corpo, alma e espírito em constante mal-estar humano.

Ao paradigma de simplificação e, portanto, em alternativa a “princípios de

inteligibilidade da Ciência Clássica”, Edgar Morin (2005 pp. 330, 332-334) evidencia

PARADIGMA DE COMPLEXIDADE dizendo que:

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É evidente que não existe um "paradigma de complexidade'' no mercado. Mas o que aparece aqui e ali, nas ciências, é uma problemática da complexidade, baseada na consciência da não eliminabilidade daquilo que era eliminado na concepção clássica da inteligibilidade; essa problemática deve animar uma busca dos modos de inteligibilidade adequados a essa conjuntura Formulo a hipótese de que um paradigma de complexidade poderia ser constituído na e pela conjunção dos seguintes princípios de inteligibilidade (...)

E Morin apresenta estes treze PRINCÍPIOS DE INTELIGIBILIDADE:

1. Validade, mas insuficiência do princípio de universalidade. Princípio

complementar e inseparável de inteligibilidade a partir do local e do singular.

2. Princípio de reconhecimento e de integração da irreversibilidade do tempo

na física (segundo princípio da termodinâmica, termodinâmica dos fenômenos

irreversíveis), na biologia (ontogênese, filogênese, evolução) e em toda problemática

organizacional. Necessidade inelutável de fazer intervirem a história e o

acontecimento em todas as descrições e explicações.

3. Reconhecimento da impossibilidade de isolar unidades elementares simples

na base do universo físico. Princípio que une a necessidade de ligar o conhecimento

dos elementos ou partes ao dos conjuntos ou sistemas que elas constituem.

4. Princípio da incontornabilidade da problemática da organização e — no que

diz respeito a certos seres físicos (astros), os seres biológicos e as entidades

antropossociais — da auto-organização.

5. Princípio de causalidade complexa, comportando causalidade mútua inter-

relacionada (Maruyama), interretroações, atrasos, interferências, sinergias, desvios,

reorientações. Princípio da endo-exocausalidade para os fenômenos de auto-

organização.

6. Princípios de consideração dos fenômenos segundo uma dialógica

Integração, por conseguinte, não só da problemática para o pensamento complexo da

organização, mas também dos acontecimentos aleatórios na busca da inteligibilidade.

7. Princípio de distinção, mas não de separação, entre o objeto ou o ser e seu

ambiente. O conhecimento de toda organização física exige o conhecimento de suas

interações com seu ambiente. O conhecimento de toda organização biológica exige o

conhecimento de suas interações com seu ecossistema

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8. Princípio de relação entre o observador/concebedor e o objeto

observado/concebido. Princípio de introdução do dispositivo de observação ou de

experimentação — aparelho, recorte, grade — (MugurTachter) e, por isso, do

observador/concebedor em toda observação ou experimentação física Necessidade

de introduzir o sujeito humano — situado e datado cultural, sociológica, historicamente

— em estudo antropológico ou sociológico.

9. Possibilidade e necessidade de uma teoria científica do sujeito.

10. Possibilidade, a partir de uma teoria da autoprodução e da auto-

organização, de introduzir e de reconhecer física e biologicamente (e sobretudo

antropológicamente) as categorias do ser e da existência

11. Possibilidade, a partir de uma teoria da autoprodução e da auto-

organização, de reconhecer cientificamente a noção de autonomia

12. Problemática das limitações da lógica. Reconhecimento dos limites da

demonstração lógica nos sistemas formais complexos (Gõdel, Tarski). Consideração

eventual das contradições ou aporias impostas pela observação/experimentação

como indícios de domínio desconhecido ou profundo1 da realidade

13. Há que pensar de maneira dialógica e por macroconceitos, ligando de

maneira complementar noções eventualmente antagônicas.

Edgar Morin (2005 p. 334), segundo ele mesmo, esforçou-se por

extrair um princípio de complexidade comportando esses treze "mandamentos". Decerto que uma descrição puramente local ou um estudo estritamente analítico podem ignorá-los. A reintegração do objeto isolado e do estudo analítico em seu contexto, entretanto, exige-os. O paradigma de complexidade não "produz" nem "determina" a inteligibilidade. Pode somente incitar a estratégia/inteligência do sujeito pesquisador a considerar a complexidade da questão estudada. Incita a distinguir e fazer comunicar em vez de isolar e de separar, a reconhecer os traços singulares, originais, históricos do fenômeno em vez de ligá-los pura e simplesmente a determinações ou leis gerais, a conceber a unidade/multiplicidade de toda entidade em vez de a heterogeneizar em categorias separadas ou de a homogeneizar em indistinta totalidade. Incita a dar conta dos caracteres multidimensionais de toda realidade estudada.

Assim, em meu processo complexo de interdependência funcional em sistema

integrado, destaca-se este subprocesso de Valoração Material Humana (VMH) ou

VEXALENAN: Valores de Existência - valores potenciais de subsistência,

convivência e sobrevivência, que condicionam demais valores funcionais; Valores

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Alotrópicos37 - condicionam valores funcionais de existências; Valores Entrópicos -

condicionam os valores funcionais de existências alteradas; e Valores Antrópicos -

condicionam valores sociais de produção (efetividade, concorrência, eficiência,

eficácia), distribuição (concorrência e solidariedade), consumo (concorrência,

consciência e responsabilidade), desperdício (intolerância e responsabilidade) e

resíduo (redução, reutilização, reciclagem, recuperação), bem como valores morais,

éticos, espirituais e de direito.

Valoração Não-Material Humana (VNMH): vida de cada ser humano em

comunhão amorosa com o Criador e com os demais seres humanos, respeitando a

Criação e a própria vida.

Entretanto, a partir de matriz disciplinar de Teoria Geral de Sistemas, de

Laszlo38 apud Reber (2010 p. 5), emergem estes quatro “supravalores humanos”: 1)

Holismo; 2) Interação do conhecimento científico; 3) Unidade da natureza; e 4)

Humanismo. (fig.18 abaixo)

Figura 18- Diagrama de “Supravalores Humanos” Fonte: Autor, 17 de maio de 2019

Sob esses supravalores, destaco alguns valores de homo sapiens sapiens, de

cérebro muito desenvolvido e capacidade de raciocínio (auto-consciência,

racionalidade, sabedoria, linguagem, introspecção, concorrência, competição e

resolução de problemas) em democracia genuína (soberania popular direta ou por

37 ALOTROPIA. Na Física e Química: propriedade que têm certos elementos químicos de se apresentar em formas diferentes, cada uma delas com características próprias, como é, por exemplo, o caso do diamante e da grafite, formados do mesmo elemento - o carbono. (INFOPÉDIA s/d, s/nº; grifos meus) 38 LASZLO, Ervin. 1972. Editor. The relevance of general systems theory: Papers presented to Ludwig von Bertalanffy on his seventieth birthday. New York, NY: George Braziller, Inc. – pp. 5 e 6.

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representantes), contrariando os de pseudo democracia de homo ludicus demens

(vaidade, cobiça, mentira, roubo, corrupção, impunidade, prepotência e violência).

2.1.4 “LÓGICA” DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Episteme39 é conjunto de conhecimento, metodologicamente construído de

determinados assuntos em um determinado momento histórico, para delinear campo

de relações (des)continuidades entre “práticas discursivas”. Opõe-se a opiniões

individuais, mas não objetiva construir sistema de postulados e axiomas.

Karl Popper (1980a) embrenha-se por Lógica da Ciência (p.3-26) apresentando

“panorama de alguns problemas fundamentais“ (p.3-20) e ”problema de uma

teoria de método científico” (p.21-26). Naquele “panorama de problemas”, Popper

evidencia: “problema de indução” com “eliminação de psicologismo” e “teste dedutivo

de teorias”; “problema de demarcação” com “experiência como um método” e

“falseabilidade como um critério de demarcação”; e “problema da ‘base empírica’ ”

com “objetividade científica e convicção subjetiva”. Já a respeito de “problema de

teoria de método científico”, Popper indaga “por que decisões metodológicas são

indispensáveis?” e faz “abordagem naturalista de teoria de método” com “regras

metodológicas como convenções”.

Além disso, Popper destaca alguns componentes estruturais de uma teoria de

Experiência (p.27-124). Teorias: causalidade, explicação e dedução de predições (27-

29); universalidade estrita e numérica (29-30); conceitos universais e conceitos

individuais (31-34); enunciados estritamente universais e estritamente existenciais

(35-36); sistemas teóricos (37); algumas possibilidades de interpretar um sistema de

axiomas (38-39); níveis de universalidade - modus tollens (40). Falseabilidade:

algumas objeções convencionalistas (43); regras metodológicas (46-47); investigação

lógica de falseabilidade (48-49); falseabilidade e falseamento (50); acontecimentos –

“occurances” - e eventos (51-53); falseabilidade e consistência (54-55). Problema de

base empírica: experiências perceptivas como base empírica - psicologismo (56);

chamadas “sentenças protocolares” (57-59); objetividade de base empírica (60-61);

enunciados básicos (62-64); relatividade de enunciados básicos – solução do trilema

de Fries (65-66); teoria e experimento (67-71). Grau de testabilidade: programa e

39 Extraído de “https://pt.wikipedia.org/wiki/Episteme“ em 19/04/2019.

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ilustração (72-); como comparar classes de possíveis falseadores (73); comparação

de graus de falseabilidade por meio de relação de subclassificação (74-); estrutura de

relação de subclassificação – probabilidade lógica (75-77); conteúdo empírico,

implicação e graus de falseabilidade (78); níveis de universalidade e graus de precisão

(79-80); âmbitos lógicos – notas acerca de teoria de mensuração (81-82); comparação

de gruas de testabilidade considerando dimensões (83-85); dimensão de conjunto de

curvas (86-87); duas maneiras de reduzir número de dimensões de conjunto de curvas

(88-90). Simplicidade: eliminação de conceitos estético e pragmático de simplicidade

(91); problema metodológico de simplicidade (92-93); simplicidade e grau de

falseabilidade (94-95); figura geométrica e forma funcional (96); simplicidade de

geometria euclidiana (97); convencionalismo e conceito de simplicidade (98). E

Corroboração (ou como uma teoria resiste a testes): chamada verificação de

hipóteses (99-101); probabilidade de hipótese e probabilidade de eventos – crítica à

lógica probabilística (102-108); lógica indutiva e lógica probabilística (109-110); teoria

positiva de corroboração – como uma hipótese pode “provar sua têmpera“ (111-112);

corroborabilidade, testabilidade e probabilidade lógica (113-117); observações

concernentes a uso de conceitos de “verdadeiro” e “corroborado” (118-119); curso da

ciência (120-124).

A respeito do “curso da ciência”, Popper, em sua investigação, traçou várias

consequências de decisões e convenções, em particular do “critério de demarcação”

(...) minha principal razão para rejeitar a lógica indutiva é precisamente que ela não proporciona um marco discriminador apropriado do caráter empírico, não-metafísico, de um sistema teórico; ou, em outras palavras, que ela não proporciona um “critério de demarcação” apropriado. (...) admitirei um sistema como empírico ou científico somente se ele for suscetível de ser testado pela experiência. Estas considerações sugerem que se deve considerar como um critério de demarcação, não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema. Em outras palavras, não exigirei de um sistema científico que ele seja suscetível de ser selecionado, de uma vez por todas, em um sentido positivo; mas requererei que sua forma lógica seja tal que ele possa ser selecionado, por meio de testes empíricos, em um sentido negativo: deve ser possível refutar pela experiência um sistema científico empírico (Deste modo, não se considerará o enunciado “choverá ou não choverá aqui amanhã”) como empírico, simplesmente porque não se poderá refutá-lo; enquanto se considerará o enunciado “choverá aqui amanhã” como empírico. (...) minha proposta baseia-se em uma assimetria entre a verificabilidade e a falseabilidade; uma assimetria que resulta da forma lógica dos enunciados universais. Pois estes nunca são dedutíveis dos enunciados singulares, mas os enunciado singulares podem contradizê-los. Conseqüentemente (sic), é possível, valendo-se das ingerências

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puramente dedutivas (com a ajuda do modus tollens40 da lógica clássica), provar a partir da verdade dos enunciados singulares a falsidade dos enunciados universais. Tal argumento que chega à falsidade dos enunciados universais é o único tipo de inferência estritamente dedutiva que procede, por assim dizer, em uma “direção indutiva”, isto é, dos enunciados singulares aos enunciados universais. (...) o método de falseamento não pressupõe nenhuma inferência indutiva, mas somente as transformações tautológicas da lógica dedutiva cuja validade não se discute. (...) Deve-se chamar “empírica” ou “falseável” a uma teoria se ela divide a classe de todos os enunciados básicos possíveis de maneira não ambígua nas duas subclasses não vazias que se seguem. Primeiro, a classe de todos aqueles enunciados básicos em relação aos quais ela é inconsistente (ou ela exclui, ou proíbe): chamamos a esta classe de falseadores potenciais da teoria; e, em segundo lugar, a classe daqueles enunciados básicos que ela não contradiz. (ou que ela “permite”). Podemos expor isto de modo mais breve, dizendo: uma teoria é falseável se a classe de seus falseadores potenciais não é vazia. O velho ideal científico de epistéme – do conhecimento absolutamente certo, demonstrável – provou ser um ídolo. A exigência de objetividade científica torna inevitável que todo enunciado científico permaneça provisório para sempre. Pode-se de fato corroborá-lo, mas toda corroboração é relativa aos outros enunciados que, novamente, são provisórios. Somente podemos estar “absolutamente certos” de nossas experiências subjetivas de convicção, de nossa fé subjetiva. Com o ídolo da certeza (incluindo-se os graus de certeza imperfeita ou probabilidade) cai um dos baluartes do obscurantismo que barra o caminho do avanço científico, reprimindo a audácia de nossas questões e pondo em perigo o rigor e a integridade de nossos testes. A concepção errada da ciência trai-se em sua pretensão de ser correta; pois, o que faz o homem de ciência não é sua posse do conhecimento, da verdade irrefutável, mas sua indagação persistente e temerariamente crítica da verdade. (ibidem, p.9, 14-16, 48, 123-124)

Gilberto Velho (2011 pp. 174-175), destaca o transitar entre diferentes

correntes teóricas e interpretativas como ajuda a antropólogos e a cientistas sociais

em geral para o desenvolvimento de suas ideias e formulações:

(...) ecletismo que julgo positivo. O fato de transitar entre diferentes correntes teóricas e interpretativas pode ajudar não só os antropólogos, mas os cientistas sociais em geral para o desenvolvimento de suas ideias e formulações. A acusação é, portanto, a dramatização de relações que envolvem diferentes atores. Basicamente, temos acusados e acusadores. Mas há alguma variação quanto a matizes, nuances, mudanças de papel e de desempenho, com o potencial elevado de levantar questões e hipóteses sobre processos sociais mais abrangentes (...) Na realidade, tratava-se de lidar com uma política do cotidiano, com passagens entre vários níveis, incluindo os aparentemente mais íntimos até instâncias de poder estatal (...) voltava a ser fundamental para que, através de uma reflexão crítica sobre cultura e vida social, pudéssemos comparar não só diferentes sociedades mas, no nosso caso, tentar desvendar as diferenças internas das

40 Modus tollens (Latim: modo que nega por negação) ou negação do consequente, é o nome formal para a prova indireta, também chamado de modo apagógico. É um argumento comum, simples: Se P, então Q; Q é falso; Logo, P é falso. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Modus_tollens, em 03/05/2019. Apagogia: método de demonstração de um raciocínio por meio da seleção dos argumentos da tese contrária e, a seguir, a refutação de cada um. Extraído de http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=apagogia, em 03/05/2019.

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sociedades complexas moderno-contemporâneas, como a brasileira (...) Nesse sentido, a própria problemática do desvio e das acusações poderia ser analisada, levando em conta, de um modo mais sistemático, linguagem, códigos e redes de significado. Portanto, de algum modo, retomava o ponto de vista de relativismo cultural, procurando estabelecer vínculos com um pensamento mais crítico-sociológico.

2.1.5 PESQUISA “PARTICIPANTE E AÇÃO”

As etnografias da história da antropologia, que fui lendo no decorrer de minha formação, me indicavam a necessidade de procurar ir um pouco mais fundo na dimensão cognitiva e no ethos dos grupos e das categorias sociais que buscava entender. As camadas médias foram e continuam sendo para mim e diversos orientandos tema prioritário. Mas logo se evidenciou a importância de compreendê-las em diversas instâncias e contextos de relacionamento (...) Para isso, a tradição antropológica do trabalho de campo e da observação participante era uma referência crucial. (VELHO, 2011 p. 165)

Minha pesquisa social é em grupo de categoria social em “camada média” da

sociedade carioca, no Brasil. Michel Thiollent (2003 pp. 7-8), a respeito de

metodologia de pesquisa social, enfatiza pesquisa-ação enquanto linha de pesquisa

associada a formas de ação coletiva orientada em função de resolução

problemas ou de objetivos de transformação. No entanto, ele alerta que “pesquisa-

ação” ainda está em discussão e não é objeto de unanimidade entre cientistas

profissionais de diversas áreas a busca de interação entre pesquisadores e membros

de situações investigadas - busca essa que é justamente valorizada na concepção de

“pesquisa-ação”. Para Thiollent, o estudo de sua metodologia é apenas mais um

tópico entre diferentes tópicos de metodologia de ciências sociais; e um dos aspectos

sobre os quais não há unanimidade é o da própria dominação da proposta

metodológica, pois as expressões “pesquisa participante” e “pesquisa-ação” são

frequentemente dadas como sinônimas, mas, para ele, não o são. ISSO porque

“pesquisa-ação”, além da participação, supõe uma forma de ação planejada de caráter

social, educacional, técnico ou outro, que nem sempre se encontra em proposta de

“pesquisa participante”. Seja como for, Thiollent considera que “pesquisa participante”

procede de uma mesma busca de alternativas ao padrão de pesquisa convencional.

E acrescenta que “acha” que outro modo de designação possa ser cogitado, mas

ainda não o encontrou...

O que importa é que, ainda segundo Thiollent (ibidem), “pesquisa-ação” e

“pesquisa participante” estão ganhando grande audiência em vários meios sociais,

mesmo tendo, do lado oposto, alguns partidários da metodologia convencional que

vêm na “pesquisa-ação” e na “pesquisa participante” um grande perigo: o perigo de

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rebaixamento do nível de exigência acadêmica, devido a efetivos riscos e exageros

em concepção e organização de pesquisas alternativas (como abandono de ideal

científico, manipulação política...). E ele diz que o desafio consiste em mostrar que

“tais riscos, que também existem em outros tipos de pesquisa, são superáveis

mediante um adequado embasamento metodológico”. Para esse autor, com

desenvolvimento de suas exigências metodológicas, propostas de pesquisa

alternativa (participante e ação) poderão vir a desempenhar um importante papel

em estudos e em aprendizagem de pesquisadores e de todas pessoas ou grupos

implicados em situações problemáticas, pois:

Um dos principais objetivos dessas propostas consiste em dar aos pesquisadores e grupos de participantes os meios de se tornarem capazes de responder com maior eficiência aos problemas da situação em que vivem, em particular sob forma de diretrizes de ação transformadora. Trata-se de facilitar a busca de soluções aos problemas reais para os quais os procedimentos convencionais têm pouco contribuído. Devido à urgência de tais problemas (educação, informação, práticas políticas, etc.), os procedimentos a serem escolhidos devem obedecer a prioridades estabelecidas a partir de um diagnóstico da situação na qual os participantes tenham voz e vez.

Michel Thiollent (2003 pp. 8-9), para evitar alguns equívocos quanto ao real

alcance da “pesquisa-ação”, limitou sua pertinência a faixa intermediária entre o

que é geralmente designado como “nível microssocial” (indivíduos, pequenos

grupos) e o que é considerado como “nível macrossocial” (sociedade,

movimentos e entidades de âmbito nacional ou internacional). Em que essa faixa

intermediária corresponde a uma grande diversidade de atividades de grupos e

indivíduos no seio ou à margem de instituições ou coletividades (como educação,

trabalho, comunicação, lazer). A “pesquisa – ação” é apenas um instrumento de

trabalho e de investigação de grupos, instituições, coletividades de pequeno ou

médio porte.

Michel Thiollent (2003 pp. 9-10), esclarece que, contrariamente a certas

tendências da pesquisa psicossocial, aspectos sociopolíticos parecem-lhe ser

mais pertinentes que aspectos psicológicos de “relações interpessoais”. Por

isso, em abordagem de INTERAÇÃO SOCIAL, adotada por Thiollent e corroborada

por mim: realidade sociopolítico é privilegiada, mas isso não quer dizer que

alguma realidade psicológica e existencial seja desprezada. Thiollent afirma que,

de ponto de vista sociológico, a proposta de pesquisa-ação dá ênfase a análise das

diferentes formas de ação, em que aspectos estruturais de alguma realidade social

não podem ficar desconhecidos e a ação só se manifesta por conjunto de relações

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sociais estruturalmente determinadas. E, ainda segundo ele, para analisar tal

conjunto, são necessários outros enfoques de caráter mais específico, mas limitados

a contexto de pesquisa com base empírica - isto é, pesquisa com descrição de

situações concretas e para intervenção ou ação orientada em função de

resolução de problema(s) efetivamente detectado(s) em grupo ou coletividade

sob análise. Sem que com isso, diz Thiollent, se esteja desprezando qualquer

“pesquisa teórica” pois ela é sempre de importância fundamental, mas, como é

preciso começar por um dos lados possíveis, ele escolheu o “lado empírico” (com

observação e ação em meios sociais delimitados, principalmente com referência a

campos constituídos, como educação, comunicação e organização). A Thiollent , entre

diversos níveis de análise, não lhe parece que ser dedução (de geral a particular) nem

indução (de particular a geral), pois trata-se de estabelecer um constante vaivém no

qual níveis mais privilegiados são acessíveis a pesquisador.

Michel Thiollent (1997 p. passim), afirma que o compromisso da pesquisa-

ação é geral na busca pela autonomia coletiva. Em termos de metodologia da

pesquisa-ação, esse autor diz que, para diagnosticar problemas e buscar soluções

para uma organização, o pesquisador deve conduzir os atores locais a formular

perguntas sobre a situação em que vivem. Adicionalmente, ele assevera que a

informática apresenta-se como uma ferramenta bastante eficiente e eficaz no

processo de captação e organização de dados - e que a tendência é que ela possa

auxiliar cada vez mais no aprimorando dos procedimentos, no ganho de tempo e no

aumento da segurança das informações coletadas.

Adicionalmente ao que já referi no primeiro tópico (“prolegômenos”) nesta

dissertação, refiro-me agora a Carlos Santos, em texto de coautoria com Rogério

Aroeira, (UFF, 2017a pp. 222-224; negritos e itálicos meus), em abordagem a “um

tema dos mais solicitados” - qual seja “como e o quê pesquisar favelas” – também

responde a suas próprias perguntas com esta parte:

Pesquisas, de acordo com o seu uso, podem ser, além de sérias e úteis, vias de disseminação do poder. Podem, portanto, ajudar a criar consciência e práticas democráticas. É o que acontece quando são feitas respeitando um compromisso básico com as pessoas investigadas. Nenhuma questão, por mais nacional ou internacional que seja, deixa de se manifestar de uma forma particular e única em cada lugar específico. É bem o caso da habitação e mais em particular da habitação para as camadas de mais baixa renda... Para estudar uma favela é necessário, antes de mais nada, distingui-la, particularizá-la frente a outras possíveis formações urbanísticas. Dentre os muitos fatores de caracterização, dois são

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fundamentais: a ilegalidade do ponto de vista jurídico e a irregularidade do ponto de vista urbanístico. Estas são condições que geralmente definem um aglomerado como sendo uma favela. É claro que não são intrínsecas e dependem de classificações externas... O mundo das favelas é rico em matizes e em variações. Configura-se como um gradiente que, em um lugar com tantos aglomerados como a cidade do Rio de Janeiro, desenha-se com perfeição entre vários extremos.

Ainda pensando em “favelas” e “classe baixa”, Carlos (UFF, 2017a pp. 225-

232; negritos e itálicos meus) afirma que “a diversidade e heterogeneidade das

formações faveladas recomendam investigações adequadas a cada situação

específica”, mediante um “levantamento preliminar” por mapeamentos que

considerem três aspectos: 1) fisicoambientais; 2) jurídicos; e 3) socioeconômicos.

Porém, pensando eu em “CLASSE MÉDIA”, adaptei algumas distinções - feitas por

Carlos Santos para mapas que facilitem cadastramento sumário de edificações

existentes e de famílias que nelas residam - e esbocei mapeamento por

Levantamento Preliminar de Diversidade e Heterogeneidade (LPDH) - fig.19

abaixo – que procurei seguir no estudo de caso desta dissertação.

Figura 19- Diagrama de “Levantamento Preliminar de Diversidade e Heterogeneidade” (LPDH)

Fonte: Autor desta dissertação, 20 de abril de 2019

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Nesta pesquisa, busco “SABEDORIA PRÁTICA” atinente a processo complexo

de interdependência funcional, a partir de “sabedoria científica” interagindo com

“sabedoria popular” em ethos condominial bem singular. Uma sabedoria integrada

sistêmica e localmente, mas resultante de hipermetacultura humana (de “sistema

integrado de alta complexidade”) da qual – contrariando “retóricas”, “pregações” ou

“pregões” de pseudo democracia do homo ludicus demens travestido de criminoso

arrogante (um terror, um horror) - extraio alguns PRINCÍPIOS de homo sapiens

sapiens muito apregoados em “democracia genuína”: 1) Auto-organização; 2)

Autoplanejamento; 3) Autogestão; 4) Automonitoramento; 5) Autocontrole; 6)

Corporação ortogonal (vertical e horizontal); 7) Coliderança; 8) Cooperação; 9)

Corresponsabilidade. E extraio também alguns VALORES HUMANOS para servirem

de “orientação voluntária” em processo complexo de interdependência funcional em

sistema integrado. Destacando-se este subprocesso de Valoração Material Humana:

Valores de Existência - valores potenciais de subsistência, convivência e

sobrevivência, que condicionam demais valores funcionais; Valores Alotrópicos -

condicionam valores funcionais de existências; Valores Entrópicos - condicionam os

valores funcionais de existências alteradas; e Valores Antrópicos - condicionam

valores sociais de produção (efetividade, concorrência, eficiência, eficácia),

distribuição (concorrência e solidariedade), consumo (concorrência, consciência e

responsabilidade), desperdício (intolerância e responsabilidade) e resíduo (redução,

reutilização, reciclagem, recuperação), bem como valores morais, éticos, espirituais e

de direito. E este sobreprocesso de Valoração Não-Material Humana: Valor de Vida

de cada Ser Humano “em comunhão amorosa” com o Criador e Grande Arquiteto (seu

nome, YAH) e com demais seres humanos, respeitando a Criação e a própria Vida.

2.2 EU “SUJEITO-OBJETO”

Ainda nesse “caminho árduo” de METACONHECIMENTO amenizado por

HIPER(CIBER)ESPAÇO, resgato MODO DE PENSAR para lidar com MINHA VIDA

COTIDIANA, fazendo senso comum com outros e levando a ações que tornem o

planeta Terra melhor - ao menos em PARTE SINGULAR de seu povo em espaço e

ambiente. EU, brandindo um VETOR INTEGRADO - conjunto de regras ou

princípios empregado na arte de dirigir meu espírito na investigação de alguma

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verdade – em processos de SISTEMATIZAÇÃO TAMBÉM INTEGRADA de alguma

sabedoria erudita mais focada em ECONOMIA DO “BEM-ESTAR” SOCIAL que leve

em conta: construção civil, direito privado, ecologia aplicada e; ética; paisagismo;

projetos de arquitetura e urbanismo; tecnologia de arquitetura e urbanismo; e

tratamento de águas de abastecimento e residuárias. E EU PENSADOR e ATOR

comprometido como uma “parte interessada” e com HÁBITO de tomar decisões

corretas para ações corretas em determinado contexto, mas permitindo que OUTRAS

PARTES INTERESSADAS também se envolvam com esse hábito, TODOS em busca

incessante de excelência para o “BEM COMUM”, visando: alcançar um fim, entregar

uma transformação e melhorar vida(s). Alertado por Maurice Merleau-Ponty41 que,

vivendo de 1908 a 1961, afirmou:

O mundo está ali antes de qualquer análise que eu possa fazer dele, e seria artificial fazê-lo derivar de uma série de sínteses que ligariam as sensações, depois os aspectos perspectivos do objeto, quando ambos são justamente produtos da análise e não devem ser realizados antes dela. (MERLEAU-PONTY, 1999 p. 5)

Merleau-Ponty (ibidem) partiu de estudo de “percepção” para reconhecer que

"corpo próprio" não é apenas “coisa” como objeto potencial de estudo para “ciência”,

mas é também condição permanente de experiência constituinte de abertura

perceptiva para mundo - enfatizando consciência e corpo – em que primazia de

percepção significa primado de experiência, na medida em que a percepção tem

dimensão ativa e constitutiva.

Por sua vez, Werther Holzer (2012 p. 295) alerta para o fato de que

(...) o mundo é um campo de relações estruturado a partir da polaridade entre o eu e o outro; ele é o reino onde a história ocorre, onde encontramos as coisas, os outros e a nós mesmos; é desse ponto de vista que deve ser apropriado pela geografia,

Apropriado ou não por Geografia, em império de “mundo-real” no qual uns e

outros pretendem reinar em “mundo-geoantrópico” onde, de forma “espontânea” ou

não, interagem “coisas”, outros e uns, “nós” mesmos e “eu” mesmo, percebem-se

41 Maurice Merleau-Ponty: filósofo fenomenólogo francês. O desenvolvimento do seu trabalho estabelece, assim, um reconhecimento marcação análise como uma corporalidade da consciência da intencionalidade corporal, contrastando com o dualista categorias ontologia corpo/mente de Rene Descartes, filósofo a quem Merleau-Ponty permaneceu atento apesar das diferenças significativas entre eles. Ele então começou um estudo da encarnação do indivíduo no mundo, tentando superar a alternativa de pura liberdade e determinismo puro, como a diferença entre o próprio corpo e os demais corpos. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Maurice_Merleau-Ponty, em 05/05/2019.

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histórias, isoladas ou em simultâneo (sincronizado ou não), de tríade-mundo: “mundo-

solidário”, “mundo-não-tão-solidário” e “mundo-não-solidário”. Tudo em

hipermetarelações (des)estruturadas de “estar” nessa tríade mundial a partir de

pluripolaridades como “coisa” e/ou “ser” (“eu” cogito ou não): “eus-em-si”; “outros-em-

si”; entre “eus”, entre “outros”, entre “outro(s)” e “eu”, e entre “eu” e “outro(s)”. O que

“faz de mim” mais que “sum”: um “SUJEITO-OBJETO” adentrando fase de

Reproblemização Antrópica Complexa (RAC) em Ambiente Hostil em Espaço-Tempo

Contínuo (AHETC). Nesse “mundo trifásico”, uma fase “com lugar” para Humanidade

genuína e “sem tempo” para pseudociência de mitologias e paradigmas, com

idolatrias letrinhas e dancinhas ridículas: “MUNDO-SOLIDÁRIO” entre “eus-em-si”

com “outros-em-si” e “coisas-em-si”, isto é, “MUNDO-GEOANTRÓPICO-EM-SI”.

Em “uni-multi-verso”, Gilberto Velho (2011 p. 178) afirmou que o próprio

PESQUISADOR é, em parte, personagem de histórias e de narrativas que colhe,

pois, assim como pessoas de “universo pesquisado”, desloca-se entre diferentes

planos e níveis da realidade, num jogo retrospectivo e prospectivo de memórias e

projetos em que subjetividade está sempre presente.

Já Martin Heidegger (2009 p. 64), vivendo de 1889 a 1976, a respeito de

PROBLEMA DA RELAÇÃO “SUJEITO-OBJETO” aponta para “relação predicativa” e

“relação veritativa” após ter indagado: com que direito podemos afirmar que UM TODO

DE RELAÇÕES não é determinado em sua totalidade, não é nem mesmo

problematizado? E ter respondido que esse todo de relações é conquistado ao olhar-

-se laço que congregue “todas relações” que se acham entre dois polos extremos, ao

conectarem-se esses dois polos extremos desse todo de relações: na Antiguidade,

ALMA e COISA ou, hoje, SUJEITO e OBJETO. Desse modo, para Heidegger é em

relação “sujeito-objeto” que reside TOTALIDADE ESPECÍFICA daquele TODO.

Heidegger (idem, p.65) afirma que é preciso dizer o seguinte: justamente o tão

discutido PROBLEMA de relação sujeito-objeto com todas suas variantes é INDÍCIO

de que não se foi além de velho ponto de partida e não se tocou no PROBLEMA

CENTRAL. Heidegger segue dizendo que esse problema só pode ser formulado

depois que se tiver compreendido que a questão de relação sujeito-objeto e,

com maior razão toda "teoria do conhecimento" repousam sobre PROBLEMA

DE VERDADE - não o inverso (como reza a opinião usual). Heidegger (ibidem)

considerando que “sempre podemos INVENTAR novas “teorias” para a solução do

problema sujeito-objeto”, mas que essas INVENÇÕES só têm o mérito duvidoso de

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aumentar a confusão e fornecer sempre novas provas de que não se está

manifestamente de posse de “problema decisivo”. Neste ponto de alta complexidade

teórico-científica, Heidegger (ibidem) considera que esse PROBLEMA SUJEITO-

OBJETO consiste apenas em formulação de pergunta por ESSÊNCIA DE VERDADE,

isto é, ao mesmo tempo na pergunta por pressupostos e por problema originário

de determinação essencial de verdade.

No que concerne a relação com de sujeito com outro(s), Heidegger (2009 p.

154), destaca que COMUNIDADE só se torna possível sobre base de “UM-COM-O-

OUTRO” - não o contrário, pois não é comunidade de "EUS" que primeiro constitui

esse “um-com-o-outro”. Para Heidegger (ibidem), falar em constituição de “um-com-

o-outro” é algo AMBÍGUO, uma vez que próprio conceito de “constituição” facilmente

se torna ambíguo. Assim, para ele, “um-com-o-outro” não pode ser deduzido como

algo elementar, mas precisa ser aclarado em vista de elementos essenciais que lhe

são pertinentes - e são todos co-originários. No interior desta consistência

essencial que pertence a todo SER-AÍ SINGULAR não há lugar para EMPATIA, pois

esta só terá algum lugar se sob pressuposição de que precisamente o "EU" pode estar

de INÍCIO em sua esfera "EGÓICA" e, a partir daí, passar para interior de outros e de

esfera destes. Dessa maneira, o "EU" nem começa saindo de SI porque já está

fora, nem irrompe em meio a outros porque já está fora com outros – ele é

justamente AÍ em sentido autêntico. Portanto, segundo Heidegger (ibidem), “um-com-

o-outro” não deve ser explicado por meio de relação “EU-TU” e a partir dela. Ao

contrário, é esta relação “EU-TU” que antes pressupõe para sua “possibilidade

interna” o FATO de o SER-AÍ - tanto o ser-aí que se mostra como “eu”, quanto o que

se mostra como “tu” - já ser sempre A CADA VEZ determinado como “SER-UM-

COM-O-OUTRO”.

“Retirando” desse “ser-um-com-o-outro”, adaptando de artigo do Prof. Antônio

Celso Mendes (2012 p. 1), o “EU” é interdependente a partir de quatro dimensões

(fig.20, abaixo): SER e sua "ciência" como parte de metafísica que trata de natureza,

realidade e existência de entes (Ontologia, do uno, do próprio ser e do devir); ESTAR

e sua "ciência" (Axiologia); SABER e sua "ciência" (Epistemologia e Vernáculo);

FAZER e sua "ciência" (Praxeologia, com ou sem Ataraxia).

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Figura 20- Diagrama de Dimensões da Filosofia

Fonte: Autor desta dissertação, 17 de abril de 2019

Nessa interdependência, o “EU” é EXISTIR por autopoiese hermenêutica da

qual resultam características críticas de sua personalidade - tais como: obsessão por

SOBREVIVÊNCIA; superestimação de violência; simulação; exageros

comportamentais; e indiferença. E o “eu” VIVE e CONVIVE de natureza dinâmica e

simbólica exodependente, produto de intercâmbio possível que se estabelece

entre (re)ações fisiológicas, autonomia subjetiva, influências culturais e

condicionamentos sociais. Dessa forma, essa estrutura complexa interagente no

Mundo Real do “Eu” (MRE) pode ser assim redimensionada (fig.21 abaixo): 1)

dimensão corporal do “eu” por exterioridade física obtida mediante intercâmbio

permanente do “eu” com o próprio meio ambiente, através dos sentidos; 2) dimensão

subjetiva do “eu” pela sua consciência e vivência interiores, através de introspecção,

bem como por refúgio do “eu” em sua substancialidade mais profunda; 3) dimensão

social do “eu” por resultado de sua integração com as exigências coletivas, gerando

comportamentos gregários; e 4) dimensão cultural do “eu”, fruto da vivência

compreensiva do eu no mundo da cultura, fazendo surgir valores reconhecidos, ideais

políticos e práticas religiosas.

Ainda para Mendes (2012 p. 2; negritos e itálicos meus):

Através de um processo crítico, importa reconhecer que a realidade do eu oscila permeio a essas dimensões diferenciadas, mas que se complementam. Ora, com isso, torna-se claro que a realidade substancial do eu (self) é sobretudo simbólica, um halo refratário de nossa presença

DIMENSÕES DA

FILOSOFIA

1SER

2ESTAR

3SABER

4FAZER

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no mundo da vida, que não deveria merecer qualquer outra preocupação, senão aquela de superar os atavismos inerentes às nossas condições.

Figura 21- Diagrama de Mundo Real do “Eu” (MRE) Fonte: Autor desta dissertação, 17 de abril de 2019

Entretanto, Steve Mann (s/d p. 1; tradução livre; negritos meus) remete-me

para uma PRAXISTEMOLOGIA como “prática de pesquisa autêntica para

Tecnologia e Sociedade” como se fosse um tripé suportado em todas estas três

"pernas" (PEQ): Prática (P); Existencialidade (E); e Questões (Q).

É para pesquisa “autêntica” e com “pernas para andar” que me torno,

simultaneamente, “sujeito” que existe pensando em questões neste mundo e “objeto”

de prática em minha própria pesquisa acadêmica: eu-aprendiz-em-mim.

Principalmente, aprendiz acadêmico pluridisciplinar de: Linguística e Semiologia;

Teologia; Matemática; Cosmologia; Físico-Química; GeoCiências; Biologia; Filosofia;

Antropologia; Psicologia; Sociologia; Direito; Economia; Arquitetura e Urbanismo;

Administração de Empresas. Um “sujeito-objeto”, em exercícios “praxistemológicos”,

analisando processos “estáticos-dinâmicos” de mundos sincréticos - macro ou micro,

exo ou endo, acima ou abaixo, sobre ou sub, maior ou menor, superior ou inferior, à

esquerda ou à direita... E buscando linha de aprendizado acadêmico (mas não só)

MUNDO REALDO“EU”

1DIMENSÃO CORPORAL

2DIMENSÃO SUBJETIVA

3DIMENSÃO

SOCIAL

4DIMENSÃO CULTURAL

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em autoprocesso caleidoscópico42 de aprendiz HiperMetaDisciplinar. Autoprocesso

que usa pequeno “tubo” de construção teórica contendo ínfimos fragmentos

“espelhados” de teorias aprendidas (não-paradigmáticas) em “ângulos” diferentes -

inclinados por honestidade intelectual. Através desse tubo faz-se passar “luz exterior”

(não doutrinária) de modo a refletir-se nesses “espelhos” e, a cada movimento nesse

“tubo”, obter-se: formas caleidoscópicas de efeito visual com combinações variadas

e agradáveis; padrões de desenho ou ornamentais. Em suma, em concepção de

universo triádico (físico, biológico e antropossocial), entre paradigma de simplificação

(ciências “clássicas”, naturais e humanas) e paradigma de complexidade (ciência do

“complexo” natural e humano), tento despertar de “admiração universal” por tecnologia

e da/para a sociedade: eu-aprendiz-de-outro e eu-aprendiz-para-mim-e-outro.

Muito mais que em FaceBook, sigo sendo mais um “rosto na multidão” com intuito de

responder de alguma forma a questões de campos naturais hologramáticos com

forças interagentes: Campo Elétrico, Campo Magnético e Campo Gravitacional.

2.2.1 SER “LIBERTÁRIO” USUÁRIO DE/EM “ESPAÇOS-TEMPOS”

Enquanto Ego meditante, posso distinguir muito bem de mim o mundo e as coisas, já que seguramente eu não existo à maneira das coisas. Devo até mesmo afastar de mim o meu corpo, entendido como uma coisa entre as coisas, como uma soma de processos físico-químicos. Mas a cogitatio que assim descubro, se está sem lugar no tempo e no espaço objetivos, não está sem lugar no mundo fenomenológico. O mundo que eu distinguia de mim enquanto soma de coisas ou de processos ligados por relações de

42 Um caleidoscópio ou calidoscópio é um aparelho óptico formado por um pequeno tubo de cartão ou de metal, com pequenos fragmentos de vidro colorido, que, através do reflexo da luz exterior em pequenos espelhos inclinados, apresentam, a cada movimento, combinações variadas e agradáveis de efeito visual. O nome "caleidoscópio" deriva das palavras gregas καλός (kalos), "belo, bonito", είδος (eidos), "imagem, figura", e σκοπέω (skopeō), "olhar (para), observar". História: O caleidoscópio foi inventado na Inglaterra, em 1817 pelo físico escocês Dawid Brewster (1781-1868). Cerca de doze ou dezesseis meses mais tarde ele despertava a admiração universal. Afirma-se que o caleidoscópio já era conhecido no século XVII. Conta-se que, na época, um rico francês adquiriu um caleidoscópio por 20.000 francos. Era feito com pérolas e gemas preciosas ao invés de pedaços de vidro colorido. Durante muito tempo o caleidoscópio foi um divertido brinquedo. Hoje é usado para fornecer padrões de desenho. Inventou-se um dispositivo para fotografar as formas do caleidoscópio, registrando assim, mecanicamente, os mais diversos padrões ornamentais. O caleidoscópio de Brewster consistia em um tubo com pequenos fragmentos de vidro colorido e três espelhos que formavam um ângulo de 45 a 60 graus entre si. Os pedaços de vidro refletiam-se nos espelhos, cujos reflexos simétricos, provocados pela passagem da luz, criavam a imagem em cores. Atualmente o caleidoscópio é formado por um pequeno tubo, no fundo do qual há pedaços coloridos de vidro ou de outro material e três espelhos dispostos de tal forma que, ao se movimentar o tubo, visualizam-se diferentes figuras coloridas em imagens multiplicadas que se formam em arranjos simétricos. Estes espelhos podem ser dispostos em ângulos diferentes: a 45°, cada um dos três espelhos formava oito imagens duplicadas. A 60°, formava seis imagens e a 90°, formava quatro imagens. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Caleidoscópio, em 20/05/2019.

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causalidade, eu o redescubro "em mim" enquanto horizonte permanente de todas as minhas cogitationes e como uma dimensão em relação à qual eu não deixo de me situar. O verdadeiro Cogito não define a existência do sujeito pelo pensamento de existir que ele tem, não converte a certeza do mundo em certeza do pensamento do mundo e, enfim, não substitui o próprio mundo pela significação mundo. Ele reconhece, ao contrário, meu próprio pensamento como um fato inalienável, e elimina qualquer espécie de idealismo revelando-me como "ser no mundo". (MERLEAU-PONTY, 1999 p. 9; itálicos no original)

Ser “libertário” por “ser-para-si” e “ser-no-mundo”, para Merleau-Ponty

Deve-se dizer que é sob o mesmo ponto de vista: eu compreendo o mundo porque para mim existe o próximo e o distante, primeiros planos e horizontes, e porque assim o mundo se expõe e adquire um sentido diante de mim, que dizer, finalmente porque eu estou situado nele e porque ele me compreende. Nós não dizemos que a noção do mundo é inseparável da noção do sujeito, que o sujeito se pensa inseparável da idéia do corpo e da idéia do mundo, pois, se só se tratasse de uma relação pensada, por isso mesmo ela deixaria subsistir a independência absoluta do sujeito enquanto pensador e o sujeito não estaria situado. Se o sujeito está em situação, se até mesmo ele não é senão uma possibilidade de situações, é porque ele só realiza sua ipseidade sendo efetivamente corpo e entrando, através desse corpo, no mundo. Se, refletindo na essência da subjetividade, eu a encontro ligada à essência do corpo e à essência do mundo, é porque minha existência como subjetividade é uma e a mesma que minha existência como corpo e com a existência do mundo, e porque finalmente o sujeito que sou, concretamente tomado, é inseparável deste corpo-aqui e deste mundo-aqui. O mundo e o corpo ontológicos que reconhecemos no coração do sujeito não são o mundo em idéia ou o corpo em idéia, são o próprio mundo contraído em uma apreensão global, são o próprio corpo como corpo-cognoscente. (MERLEAU-PONTY, 1999 p. 547; itálicos no original)

Intelectual eclético como Gilberto Velho (2011 p. 172)

Mas eu, como outros colegas, com certeza, não recebemos bem as tentativas de rotulação e classificação simplificadoras. Houve uma época em que eu me considerava marxista, lá pelos 17, 18 anos de idade. Hoje, vejo-me como um intelectual eclético, espero que no melhor sentido. Por uma série de circunstâncias e, até certo ponto, por projeto, desenvolvi um perfil em que o interacionismo e a fenomenologia são muito evidentes. Sobre esta última, cabe sublinhar a riqueza que encontrei na obra de Alfred Schutz (1971) que me proporcionou pontes entre várias áreas e interesses de conhecimento, inclusive a própria arte. Indiretamente, através das leituras dos autores da tradição de Chicago, relacionei-me também com o pragmatismo, sem jamais aprofundar-me especificamente. No entanto, o diálogo de Schutz com os trabalhos de William James, entre outros, deixou-me alerta para a formação intelectual da ciência social norte-americana, cujas relações com a Europa eram bem mais complexas do que supunha. Creio que seja importante, embora não tão original agora, lembrar das próprias reflexões antropológicas que desenvolvemos. Deslocamo-nos através de nossas redes sociais entre vários mundos e níveis de realidade. Assim, literatura, história, filosofia, entre outras, são áreas que estão permanentemente presentes aflorando, ora de modo quase inconsciente, ora chamadas de forma deliberada e consciente para um trabalho de maior reflexão. O grande desafio é como orquestrar essa variedade de um modo minimamente consistente e proveitoso.

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Maria Lúcia Malard43 (2006 pp. 25-56) procura entender natureza de espaço

arquitetônico através de corpo como sujeito “moderno” em espaço arquitetônico,

vivido [e vívido], como “espacializações” de relações sociais em totalidade triádica de

harmonia [desarmonia] entre fruir, usufruir e construir, em tempos marcados desde o

mundo “antigo” e seus padrões culturais [dominantes e dominadores] (re)desenhados

por “aparências” arquitetônicas [e urbanísticas].

Quanto a “espacializações e padrões culturais”, Malard (ibidem, 43-44, 46)

afirma que

No seio de uma mesma cultura, as atividades do dia-a-dia se especializam de maneira similar. Comer, cozinhar, dormir, assistir TV, ler, estudar etc. são atividades ritualísticas, pois ocorrem sempre de um mesmo modo, envolvendo os mesmos procedimentos, os mesmos objetos, a mesma estrutura espacial. Constituem-se, pois, em espacializações-padrão (...) cada padrão de evento tem uma forma que lhe é peculiar. O espaço que abriga o evento deixa-se conformar por ele, ao mesmo tempo que o acolhe e o afeta. Cada padrão de atividade cotidiana tem um ou mais correspondentes físico-espaciais (...) O edifício é construído para atender a algum propósito, público ou privado, que é fruto de uma demanda do contexto cultural. Por outro lado, ele é construído num lugar específico que possui sua própria identidade física como tal. Todo arquiteto tem, então, de considerar esses dois aspectos. Seu projeto será determinado pelo fato de que o edifício deve servir a um propósito (ditado pela cultura ou modo de vida) e se adaptar aos dados naturais do entorno. Programa e sítio são os dois componentes essenciais da arquitetura. Se dermos a devida atenção ao programa, chegaremos no usuário. Observando o sítio, encontraremos a forma de inscrição adequada, definitiva, marcante (...) O processo cultural, que cria os lugares da Arquitetura, é dinâmico. Na cultura ocidental, por exemplo, o desenvolvimento tecnológico tem constantemente colocado em pauta novos objetos, que suscitam novas interações e, consequentemente (sic), novos eventos e novas espacializações.

Quanto aos “tempos marcados e espacialização”, Malard (ibidem, 47-51) diz

que

Além de espaço, os eventos precisam de tempo para acontecer (...) As expressões “tempo de estudo”, “tempo de trabalho” e “tempo de férias” são relacionadas a tempo, embora elas não se refiram ao tempo linear quantificável e dividido em dias, horas e minutos, mas ao tempo vivido no cotidiano. Essa noção de tempo vivido é fundamental para que se compreenda o papel do tempo nas espacializações (...) As estruturas sociais definem a organização do tempo social, isto é, elas estabelecem o que deve ser feito e quando deve ser feito, enquanto o tempo físico já nos é dado, uma vez que ele é parte do mundo natural (...) O tempo vivido é o tempo físico organizado de acordo com as prescrições sociais, para atender às conveniências e prioridades que a sociedade estabelece (...) o tempo vivido também afeta, de volta, a forma social, uma vez que a temporalidade é uma característica essencial do homem como “ser-no-mundo” (...) Além dos

43 Maria Lúcia Malard diplomou-se em arquitetura em 1966 e doutorou-se pela School of Architectural Studies da Universidade de Sheffield, Inglaterra, em 1992.Professora titular, desde 1995 na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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condicionantes meramente ambientais, tempos e ritmos de uso podem afetar – positiva ou negativamente – as relações sociais (...) São frequentes (sic) tais conflitos nos espaços urbanos de uso misto (residencial e lazer) (...) o homem especializa seus desejos (ou intenções) desenvolvendo atividades nos espaços (...) processo chamado de espacialização (...) os espaços nos quais as espacializações acontecem são espaços vividos – em vez de entidades geométricas – e que as atividades ocorrem somente se houver tempo disponível para elas. Assim, tempo, espaço e eventos são fortemente interligados e não podem ser considerados separadamente quando se projeta o ambiente construído (sic) (...) os ambientes são projetados tendo como objetivo primordial a organização de dois elementos: o tempo vivido e o espaço vivido.

A respeito de Métodos de Pesquisa Arquitetônica (MPA), Linda Groat e David

Wang (2013 p. passim; tradução livre) explicitam sete estratégias de pesquisa: 1)

Pesquisa Histórica; 2) Pesquisa Qualitativa; 3) Pesquisa Correlacional; 4) Pesquisa

Experimental ou Quase Experimental; 5) Pesquisa de Simulação; 6) Argumentação

Lógica; 7) Estudos de Caso. Mas admitem Estratégias Combinadas. Nesta

dissertação optei por este método – híbrido de sete estratégias em uma. Um

hibridismo estratégico no/pelo qual, a partir de Umberto Eco (1986 p. passim; tradução

livre), observo, evoco e uso sinais, dicionários, enciclopédias, metáforas, símbolos,

códigos, em processos de isotopia44 com espelhos que 'congelam' imagens até eu

chegar a algum experimentum crucis45. Lembrando-me aqui de Gaston Bachelard que

44 Em Lingüística, "isotopia" (do grego isos, igual, semelhante, e topos, plano, lugar) significa plano de sentido, leitura que se faz de uma frase ou texto. Se, por exemplo, uma frase permite apenas uma leitura, é dita monoisotópica; diisotópica se permite duas; triisotópica, se três; etc. Dessa forma, em "Ganhei esta caneta do meu pai" e "Nas últimas férias, descansei bastante" temos duas frases monoisotópicas, isto é, cada uma com apenas um significado. Em "Há muito televisor que precisa melhorar a imagem" e "Ronan, a Márcia chegou com seu pai", cada frase admite duas leituras. No primeiro exemplo, imagem = representação televisionada de pessoas e coisas e também conceito. No segundo, seu = de Ronan ou de Márcia. Já em "Empresas negam oferecimento de propina", temos frase triisotópica, em que, negam oferecimento = recusam oferecer; desmentem ter oferecido e desmentem ter recebido oferecimento. O mesmo ocorre em "Acadêmicos viram monólitos", em que viram = flexão do verbo ver, de virar-1 (transformar-se) e de virar-2 (mudar de posição). A multiplicidade de planos de sentido é geralmente produzida por homonímia ou polissemia. É importante notar que o conceito de isotopia pertence à Lingüística - particularmente à Semântica, um ramo seu -, ciência que descreve os fatos da língua sem impor normas nem se preocupar com certo e errado. Assim, para a Semântica, é indiferente se a pluralidade de significados de uma frase ou texto é produzida intencionalmente ou não. Entretanto, para a Gramática, normativa que é, a duplicidade de sentido será encarada como recurso de estilo se for produzida intencionalmente com objetivos estéticos ou expressivos. Em caso contrário, será considerada ambigüidade, vício sintático, que deve ser evitado. Extraído de http://www.paulohernandes.pro.br/dicas/001/dica031.html, em 05/05/2019. 45 «Experimentum crucis» significa literalmente «experiência da cruz». Trata-se de uma expressão de uso frequente no meio científico, para designar uma experiência que demonstra cabalmente a legitimidade de determinada hipótese ou teoria. Esta expressão terá sido cunhada por Isaac Newton (1643-1727), pois aparece pela primeira vez na sua New Theory about Light and Colors(1) (Nova Teoria da Luz e das Cores), publicada em 1672. Falta perscrutar a raiz etimológica da expressão e tentar perceber o que tem a cruz que ver com a ciência… Em latim clássico, crux, crucis era termo genérico

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dizem ter criado a expressão “ruptura epistemológica” para explicar a

descontinuidade do conhecimento científico, bem como de momentos de ruptura

epistemológica e de criação de novas teorias - designado pelo filósofo da ciência

Thomas Khun com a expressão de “revolução científica”.

2.2.2 MÉTODO E PESQUISA DE “ESTUDO”

Descartes (1979 pp. 64-65; negritos e itálicos meus), em seu “discurso de

método”, primeiro, procurou encontrar princípios em geral – primeiras causas de

tudo quanto existe ou pode existir, no mundo, sem nada considerar para respectivos

efeitos (a não ser o Criador de tudo), nem tirá-las de outras partes (exceto certas

sementes de verdades que existem naturalmente em nossas almas). Segundo,

examinou quais os primeiros e mais ordinários efeitos que se podiam deduzir

dessas causas primeiras. Terceiro, quando quis descer às causas que eram mais

particulares, estas apresentaram-se-lhe tão diversas que ele não acreditou que fosse

possível ao espírito humano distinguir formas ou espécies de corpos que existem

sobre a Terra, a não ser indo ao encontro de causas pelos efeitos e recorrendo a

muitas experiências particulares.

Muito tempo depois, Bruno Zevi (1996 p. 17 e 18), colocou o “espaço” como

protagonista de ARQUITETURA e disse que esta não é apenas arte ou imagem de

vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros, mas é também – e sobretudo

– “AMBIENTE” como “cena onde vivemos a nossa vida”. Para Zevi,

A falta de uma história da arquitetura que possa ser considerada satisfatória deriva da falta de hábito da maior parte dos homens de entender o espaço, e do insucesso dos historiadores e dos críticos da arquitetura na aplicação e difusão de um método coerente para o estudo espacial dos edifícios. Todos aqueles que, ainda que fugazmente, refletirem sobre

que designava vários instrumentos de tortura, entre os quais a cruz. Por natural extensão de sentido, crux queria também dizer «tormento», acepção que se mantém nos correspondentes vocábulos românicos, reforçada pelos padecimentos sofridos por Jesus Cristo. Em latim medieval, crux interpretum («cruz dos intérpretes») designava um trecho de difícil interpretação, que desafiava a argúcia dos comentadores, ou seja, um tormento intelectual… Esta expressão, aliás, deu origem ao termo inglês crux, que designa o busílis ou cerne de uma questão. «Experimentum crucis» refere-se, por isso mesmo, a uma experiência que “quebra a cruz”, ou seja, que resolve o problema, que arruma a questão de vez. É a experiência definitiva, conclusiva, crucial, decisiva. É a “prova dos nove” ou a “prova de fogo”. Aparece frequentemente traduzida por «experiência crucial» ou «experiência decisiva». Qualquer das duas expressões é aceitável, mas prefiro a segunda, pois o adjectivo decisivo apresenta um espectro semântico mais restrito, mais preciso, e em matéria de ciência a precisão de linguagem é essencial. Extraído de https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-traducao-da-expressao-latina-experimentum-crucis/22549, em 05/05/2019.

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esse tema, sabem que o caráter essencial da arquitetura – o que a distingue de outras atividades artísticas – está no fato de agir com um vocabulário tridimensional que inclui o homem. A pintura atua sobre duas dimensões, a despeito de poder sugerir três ou quatro delas. A escultura atua sobre três dimensões, mas o homem fica de fora, desligado, olhando do exterior as três dimensões. Por sua vez, a arquitetura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha. Quando queremos construir uma casa, o arquiteto nos apresenta uma perspectiva de uma de suas vistas exteriores e possivelmente outra da sala de estar. Depois apresenta-nos plantas, fachadas e secções, isto é, representa o volume arquitetônico, decompondo-o nos planos que o encerram e o dividem: paredes exteriores e interiores, planos verticais e horizontais. Do uso desse método representativo, utilizado nos livros técnicos de história da arquitetura e ilustrado nos textos populares de história de arte com fotografias, provém, em grande parte, a nossa falta de educação espacial.

Acerca desse método representativo, Bruno Zevi (idem, p.18) afirma que a

arquitetura provém precisamente do vazio, do espaço encerrado, do espaço

interior em que os homens andam e vivem - não provém de um conjunto de

larguras, comprimentos e alturas dos elementos construtivos que encerram o espaço.

Posteriormente, sobre estudo individual (e ensaio), Carlos Nelson Santos

opinou:

(...) estudo individual. Eu sou a favor. Considero que é mais do que válido. Brasileiro tem mania de esnobar uma das coisa mais bonitas da atividade científica que é o ensaio. O ensaio é exatamente aquele exercício de imaginação feito em cima do conhecimento já fundamentado que consegue derrubá-lo para criar novos conhecimentos. Isto é resultado de ação individual. E é o que dá caráter científico à ciência. Dialoga. Faz a ciência dialogar consigo mesma. (2017c pp. 46; negritos, e itálicos meus)

Carlos (UFF, 2017b p. 51) disse que “é preciso descobrir como andar para a

frente olhando para trás, retroalimentando o pensamento”, lembrando-se ele que:

Teoria sobre cidades terão de ser político-antropológicas. Terão de entender espaços, suas alterações de significado através do tempo e os conflitos que surgem sobre e a partir deles. Terão de lidar sempre com o imprevisto e o inédito. Não poderão ser arrogantes; seu destino é mesmo correr na cauda do objeto de pesquisa, com toda humildade. (itálico no original)

Iná Elias de Castro46 (2014 p. 92 e 96) aborda escala como problema para

reflexão em construção do objeto e em pesquisa, tomando alguns pontos de partida

necessários para sua utilização como recurso metodológico:

1. A escala não existe, o que existe é o fenômeno; 2. A escala é uma estratégia intelectual para abordar o real; 3. A escala como medida é uma abstração ou convenção; 4. A escolha da escala define o que é significativo no fenômeno, o que terá visibilidade; 5. Quando a escala muda, as variáveis

46 Professora Titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisadora CNPQ e FAPERJ. Rio de Janeiro, Brasil.

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significativas do fenômeno mudam; 6. As variáveis explicativas para fenômenos numa escala não são transferíveis, seja para o mesmo fenômeno ou para outro, em outra escala; 7. Não há hierarquias entre escalas, cada escala revela um conjunto de causalidades específicas; 8. A microescala não é menos complexa do que a macroescala.

Assim, segundo Castro (ibidem), em perspectiva conceitual, é possível, por

meio da escala, refletir sobre problema de polimorfia de espaço, sendo articulação

entre escalas um complexo jogo de relações entre fenômenos de amplitude e

natureza diversas. Castro destaca “flexibilidade espacial” que institui, portanto, dupla

questão: pertinência de relações; pertinência de medida em sua relação com seu

espaço de referência. Adicionalmente, Castro (ibidem) sinaliza que em debate sobre

escala em geografia política é interessante perceber que há algumas tensões que

revelam pontos de partida diferentes com relação à perspectiva de fenômeno político

como operador de escalas.

Se a política é aceita como um recurso organizativo das sociedades complexas, que se revela e revela as muitas escalas possíveis da interação social, o recurso didático de utilização de uma escala hierárquica dos recortes micro aos macros espaciais globais pode organizar a demonstração, mas arrisca-se a aprisionar o olhar e dificultar ver que há fenômenos multiescalares, que devem ser analisados considerando esta característica. Da mesma forma, focar a escala política como uma construção social abstraindo todo o conteúdo de disputas, conflitos e interesses sociais, horizontais e verticais, na institucionalidade dos recursos de poder que habitam o processo decisório na estrutura dos estados contemporâneos é abdicar de uma dimensão explicativa necessária para a compreensão dos recortes territoriais. As análises em geografia focadas nos temas sociais muitas vezes subestimam o fato de que não há como separar o político institucional do social. Este é, na realidade, um sonho anarquista, bem elaborado como fundamento filosófico, mas ainda não realizado na prática.

As rápidas mudanças contemporâneas favorecem a recorrência do problema

central da modernidade – a velocidade das transformações. No entanto, deduzir daí a

fluidez do espaço e a impossibilidade de estabelecer recortes significativos para a

análise é ir de encontro à realidade cotidiana, que se move, mas deixa rastros. Castro

(ibidem) conclui que: jogo de escalas é jogo de relações entre fenômenos de

amplitude e natureza diversas; e compreensão de escala (como pertinência de

medida para análise) permite estabelecer recortes espaciais nos quais

investigação de fenômeno propicia respostas mais adequadas. E, para Castro,

uma vez que fatos sociais são necessariamente relacionais, o desafio está em buscar

compreensão de articulação de fenômenos em diferentes escalas.

Em minha dissertação, marcarei uma CIBERCIDADE como

HIPERMETACIBERPOLIS de integração humana sistêmica de dependência

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hiperfuncional, por Ciber-Integração e Interdependência Antrópicas (CIIA), via

adaptação sociocientífica em espaço construído de uma “cidade-maravilhosa”

(a cidade cosmopolita chamada Rio de Janeiro, desde a colonização portuguesa).

Figura 22- Matriz de sete eixos temáticos e vinte campos de pesquisa

Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

Netto et al. (fig.22 acima) "Produção em pesquisa urbana no Brasil: uma

leitura inicial" (apresentação em PowerPoint para o XVII Encontro Nacional da

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e

Regional - ENANPUR).

Figura 23- Matriz com Recorte de quatro eixos temáticos e oito campos de pesquisa

Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

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A partir dessa matriz destacarei e imbricarei quatro dos sete eixos temáticos

e oito de seus vinte campos de pesquisa (fig.23 acima).

Desses campos em seus respectivos eixos, realço vinte e quatro subcampos

(fig.24 abaixo) - que nortearam parcialmente minha dissertação, aos quais aplicarei

hipertetrapensamento antrópico complexo à Arquitetura da Complexidade Antrópica

(PEAO).

Figura 24- Diagrama de vinte e quatro subcampos em oito campos de pesquisa

Fonte: Autor desta dissertação, 23 de julho de 2017

No EIXO 2 - Espaço urbano, Espaço público e Dinâmicas sociais -

destaquei apenas os campos 4, 5 e 6, com seis subcampos, em que o: campo 4 trata

de morfologia urbana e dinâmicas sociais e, nestas, condições da caminhabilidade

(subcampo 1) e viagens a pé (subcampo 2); campo 5 aborda urbanidade e relações

entre sociedade e espaço e, nestas, “crise nas matrizes espaciais” (subcampo 3),

“tramas da prática e seus espaços” (subcampo 4) e cidades como sistemas de

encontro, comunicação e interação material (subcampo 5); e campo 6 versa sobre

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esfera pública, espaço público e sistemas de espaços livres e, em particular, relação

entre cidade e vida social (subcampo 6).

No EIXO 3 - Cidade e Cultura – separei somente os campos 10 e 11, com

nove subcampos, em que o: campo 10, aborda lugar, território e identidade e, nestes,

conceito multidimensional de ‘lugar’ (subcampo 7), geografia em aproximação

(subcampo 8), filosofia (subcampo 9), estudos urbanos focadas no sentido

(subcampo 10) e expressão e corporeidade do lugar (subcampo 11); e campo 11

trata de alteridades e corporeidades, imaginário e “cybercultura” e, nestes,

sensibilidade interpretativa desenhada (subcampo 12), posição de sujeitos em

diferentes contextos e condições (subcampo 13), formas de inclusão sistemática do

múltiplo, do diverso e do incerto (subcampo 14) e “cybercultura”, interfaces de

espaços urbanos e redes digitais (subcampo 15).

No EIXO 6 - Ambiente e Sustentabilidade - apartei só os campos 17 e 18,

com sete subcampos, em que o: campo 17 abrange paisagem e ambiente e, nestes,

relações sistêmicas entre morfologia e sistemas biofísicos (subcampo 16),

biodiversidade, sistemas hidrológicos e rios urbanos (subcampo 17), sistemas de

espaços livres (subcampo 18) e lógicas de movimento dos corpos em apropriação do

espaço (subcampo 19); e campo 18 abarca sustentabilidade e, nesta, dependência

e impactos de padrões de ocupação urbana sobre ecossistemas (subcampo 20),

crítica do discursos (subcampo 21) e ‘resiliência’ ou ‘desempenho ambiental’

(subcampo 22).

EIXO 7 - Ensino e Novas tecnologias - isolei exclusivamente no campo 20 -

novas tecnologias e meios de exploração de processos urbanos e planejamento - dois

subcampos: transformações urbana que envolvem ampla escala no tempo e no

espaço (subcampo 23); e cidades como territórios digitais, espaço aumentado e

redes tecnológicas (subcampo 24).

Essa abordagem ajustada nesta dissertação é subordinada ao meu tema

inserido em recorte de “(não)(des)construção de (hélio)(luna)(geo)(antropo)espaços

para (sobre)(con)vivência humana” e este, por sua vez, adapta-se ao meu assunto

fincado em uni(a)(bio)(di)(an)versidade em ambientes (dis)(u)tópicos (no)(do)

presente contínuo...

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2.2.3 MÉTODO E PESQUISA DE “CAMPO”

Vincent Berdoulay e J. Nicholas Entrikin (2012 pp. 93-113) colocam estas duas

questões: 1ª) “A modernidade e seus avatares, na medida em que envolvem uma

reorganização territorial da sociedade contemporânea, não solicitam a pesquisa de

conceitos mais apropriados à consideração do contexto cultural imposto por esta

modernidade?”; 2ª) “Como podem tais conceitos acomodar a exigência

contemporânea que os indivíduos fazem de ter uma participação maior na construção

de sua própria identidade?”. Para refletir sobre alcance de conceito de lugar para

certas questões, esses autores dedicam-se a sublinhar algumas insuficiências de

análise territoriais, ver sobre o que a noção de lugar atrai atenção e voltam-se para a

relação que sujeito e identidade mantém com certos aspectos de territorialidade

contemporânea. Isso, em termos de perspectivas teóricas de lugar e sujeito: 1)

territórios sem sujeito – constata-se debilidade ou inexistência de lugar ocupado por

preocupação com indivíduo, considerado em sua complexidade, com a pessoa capaz

de iniciativas e decisões, com o sujeito que, em suma, contribui para forjar sua própria

vida; 2) lugar de sujeito e sujeito de lugar – conceito de lugar com preocupação

maior com território e espaço social do que com paisagem e, sobretudo, vontade de

apreender construções espaciais ligadas a atividade de sujeito, inclusive em

“produção do próprio sujeito”, insistindo em parte ativa de sujeito que se transforma

ao transformar o mundo onde se insere, em construção de “entre-dois”; 3) lugar e

consciência de si mesmo – a especificidade espaço-temporal de experiência e de

memória coletiva que veiculam lugares molda-se bem de maneira narrativa, é por

intermédio de relato que sujeito organiza seus laços com ambiente e com coletividade,

aponto de uma trama narrativa aparecer como estruturante em vida de sujeito

moderno; 4) moral – tensão entre “pesquisa de universalidade” em espaço público

[ou privado comum] e “cultura de pertencimento” a um lugar singular favorece a “vida

democrática” e o exercício de “sujeito responsável”.

Bruno Zevi (1996 pp. 18-19) alerta quem quer iniciar-se em estudo de

Arquitetura:

Deve, antes de mais nada, compreender que uma planta pode ser abstratamente bela no papel; quatro fachadas pode parecer bem estudadas pelo equilíbrio dos cheios e dos vazios, dos relevos e das reentrâncias; o volume total do conjunto pode mesmo ser proporcionado, e no entanto o edifício pode resultar arquiteturalmente pobre. O espaço interior, o espaço que (...) não pode ser representado perfeitamente em nenhuma forma, que não pode ser conhecido e vivido a não ser por experiência

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direta, é o protagonista do fato arquitetônico. Tornarmo-nos senhores do espaço, saber “vê-lo”, constitui a chave que nos dará a compreensão dos edifícios. Enquanto não tivermos aprendido não só a compreendê-lo teoricamente, mas também como elemento substancial na crítica arquitetônica, uma história e, consequentemente (sic), um prazer proporcionado pela arquitetura apenas nos serão vagamente permitidos.

Carlos Santos (UFF, 2017c pp. 46-47; negritos, e itálicos meus exceto desde

que seja mau empirismo) evoca sua posição de urbanista e antropólogo para se

declarar “violentamente a favor” de ESTUDOS DE CASO, pois:

Conhecimento urbano que pretenda ser brasileiro, ter validade local e contornar o problema da teoria estrangeira tem de ser estudo de caso. Cada cidade é um caso, cada bairro de cada cidade é um caso, cada rua de cada bairro é um caso. O urbanista tem de levantar esta bandeira o quanto antes (...) Acho que a única maneira de fazer com que o povo participe do conhecimento que a gente gera sobre espaço urbano é ligá-lo a cada caso particular. Assim, o povo poderá sentir que aquilo diz respeito à sua vida, ao seu bairro, à sua associação de moradores, sei lá o quê... Sou a favor do estudo de caso e acho que conhecimento sobre o urbano que, o tempo inteiro, não se aplica às cidades reais não pode ser científico, porque não é dialético. Ele [estudo de caso] terá de ser usado sobre meios urbanos, saber o que estes meios estão fazendo com o que se pensa sobre eles e recuperar os resultados para produzir mais teoria... Isto é muito melhor que ficar chocando teorias sempre, sempre, sempre...(...) Também sou contra o empirismo, desde que seja mau empirismo. É preciso adjetivar um pouco as afirmações para não cair em simplismos maniqueístas.

Carlos Santos (UFF, 2017a p. 14) apela para que haja atividade intelectual de

militante criativo de cidade – mas não de partidos ou correntes - em especial da

cidade Rio de Janeiro (que ele diz ter amado muito)

Há uma atividade intelectual incessante e profícua, que se expõe de várias formas, e dela emerge o Homem[e a Mulher], o Arquiteto [e a Arquiteta], o Urbanista [e a Urbanista], o[a] Mestre em Antropologia, às vezes tradicionalista ou conservador, às vezes demolidor, mas sempre criativo e militante.

Carlos Santos (UFF, 2017b pp. 56-57) “viaja” em campos do século XX a partir

de “JÁ EXISTE” (“realidade construída” na cabeça de quem é capaz de lê-la) e destino

a “DEVE EXISTIR” (projetos de “realidade inventada” no mundo por planos locais e

setoriais de desenho urbanístico) via: “DISCURSOS SINTÉTICOS”- cidades com suas

contradições e conflitos milimétricos; “TEORIAS PRÁTICAS” - de grandes

conversores de utopias, que, entendendo as cidades como metáforas exemplares de

modo de vida, trazem para a prática cotidiana conjuntos de significados a incorporar

como novo “real”); “PRÁTICAS TEÓRICAS” – pensamentos que respondem a

pensamentos sobre pensamentos, sacramentados por “centros acadêmicos

superiores” ou “”academia científica na qual se gera e se gerencia a “cultura erudita

oficial”, tudo em cima de um objeto de referência original que é o espaço intraurbano

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– modos de pensar que fornecem, em alegada excelência, “MÉTODOS DE ANÁLISE

E DE REFLEXÃO CRÍTICA”.

Ainda no tocante a “EXISTE”, René Descartes (1979 p. 64; negritos meus), que

viveu entre 1596 e 1650, notara que

[experiências] são tanto mais necessárias quanto mais avançado a gente está no conhecimento. Pois, no começo, mais vale servir-se apenas das que se apresentam por si mesmas aos nossos sentidos, e que não poderíamos ignorar, contanto que lhes dediquemos o pouco que seja de reflexão, em vez de procurar as mais raras e complicadas; a razão disso é que as mais raras nos enganam muitas vezes, quando [não] se conhecem ainda as causas das mais comuns, e que as circunstâncias das quais dependem são quase sempre tão particulares e tão pequenas, que é muito penoso adverti-las.

Minha pesquisa de campo leva em conta a integração de duas acepções

distintas da palavra ETHOS transliterada de duas grafias em grego, numa adaptação

a partir de Ribeiro et al (2008 p. 127; negritos meus):

O vocábulo ethos é uma transliteração dos dois termos gregos ethos (çèïò – com eta inicial) e ethos (åèïò – com épsilon inicial). Essas duas grafias de ethos existentes no grego dão origem a duas acepções distintas dessa palavra. O ethos grafado com eta (ç) inicial designa a morada do homem e do animal (zóon) em geral. Este sentido de um lugar de estada permanente e habitual, de um abrigo protetor (morada), é a raiz semântica que origina a significação do ethos como costume, estilo de vida e ação. Por sua vez, o ethos com épsilon (å) inicial refere-se ao comportamento que resulta de um constante repetir-se dos mesmos atos, um comportamento que ocorre freqüentemente, mas não sempre, tampouco em decorrência de uma necessidade natural. O ethos expressa, nesse caso, uma constância no agir contraposta ao impulso do desejo, denotando uma orientação habitual para agir de certa maneira. Ele se desdobra, assim, como espaço da formação do hábito, entendido como disposição permanente para agir de acordo com os imperativos de realização do bem, tornando-se lugar privilegiado de inscrição da praxis humana.

Dessa maneira, o locus de pesquisa de meu eu como “sujeito-objeto” é tanto

lugar de estada permanente e habitual quanto espaço de formação de hábito e

inscrição da praxis humana. Nesse locus tento observar eventual “existência” de

cultura de vergonha ou cultura da culpa como subdivisões de cultura humana que

interiorizem alguma noção de erro ou falta moral, ainda a partir de Ribeiro et al (2008

p. 132; negritos e itálicos meus):

O homem homérico não possuía um conceito unificado de alma ou personalidade (ele não possui interioridade), bem como buscava explicar seu caráter e sua conduta exclusivamente em termos racionais. Logo, todos seus impulsos não racionais lhes eram alheios, e conseqüentemente, atribuídos a uma origem externa, o que virtualmente impossibilita a interiorização de uma noção de erro ou falta moral. Ora, sabemos muito bem que sem a interiorização de uma idéia de falta, isto é, sem a existência de uma consciência moral internalizada, não há espaço algum para a experiência da culpa. Não obstante, propomos, em seguida, delinear alguns aspectos da cultura homérica (uma cultura da vergonha), que permitirão

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ulteriormente (na Grécia Arcaica) o estabelecimento de uma cultura da culpa.

Fiz análises sistematizadas, consolidadas por integração escalar: primeiro,

da endogênese ou endogenia do logradouro onde moro; a seguir, da exogênese ou

exogenia deste; e, finalmente, de sua exoendogenia. No entanto, a endogênese ou

endogenia é aparente, pois emerge de implantação e funcionamento condominial

“modulares”. Enquanto a exogênese ou exogenia é inercial, porquanto, pelo menos

desde imposição colonial de cultura greco-romano, é “obediência” a diretrizes

estabelecidas por aparatos legal, técnico e convencional. Mais precisamente, esses

programas são externos à “organização interna” e à “autogestão” desses telecentros.

Por fim, a exoendogenia resulta de simultaneidade de endogenia e exogenia,

observadas em pesquisas (fontes primárias), em fontes secundárias e em análises de

dados.

Levando em conta José Guilherme Cantor Magnani47 para “olhar de perto e de

dentro” baseado em arranjos de próprios atores sociais - formas em que estes

confiam.

Um desafio para todos aqueles cuja temática de estudo é a cidade contemporânea é, portanto, construir modelos analíticos mais econômicos, capazes de impedir que o pesquisador reproduza no plano do texto interpretativo a fragmentação através da qual grandes metrópoles são frequentemente retratadas na mídia, a fina artes, fotografia e intervenções artísticas em espaços públicos. De qualquer forma, em vez de um olhar passageiro que segue as escolhas e o caminho do próprio pesquisador, o que se propõe aqui é olhar de perto e de dentro, mas com base nos arranjos dos próprios atores sociais, ou seja, as formas em que eles confiam, para circular pela cidade, usufruir de seus serviços, fazer uso de seus equipamentos e realizar reuniões e intercâmbios entre uma ampla gama de atividades: religiosidade, trabalho, lazer, cultura, participação política ou associativa, etc. um investimento em ambas as extremidades da relação; de um lado, nos atores sociais, o grupo e a prática, todos em estudo; e, por outro lado, a paisagem na qual essa prática é realizada, definida não apenas como um cenário, mas como uma parte integral do ângulo analítico escolhido. É isso que caracteriza o foco da antropologia urbana, distinguindo-a das abordagens

47 Professor Titular do Departamento de Antropologia da FFLCH da USP, Pesquisador nivel 1-B (CNPQ). é mestre em Sociologia pela Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO/CHILE), concluiu o doutorado em Ciências Humanas (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo em 1982, defendeu tese de Livre-Docência em 2010 e de Titular em 2012 nessa Universidade. Recebeu o prêmio Erico Vanucci Mendes CNPQ - SBPC, 1989 e Mérito De Humanidades, em comemoração aos 80 anos do Setor de Ciências Humanas (SCH) da UFPR, Curitiba, 2018. Atua na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Urbana. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção são: antropologia urbana, etnografia, cidade, sociabilidade, lazer, religiosidade.É coordenador do Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana da USP (Lab/NAU/USP), de sua revista eletrônica Ponto.Urbe, e da coleção "Antropologia Hoje", da Nau/Editora Terceiro Nome e Grama. Extraído de http://lattes.cnpq.br/9198706302142338, em 05/05/2019.

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de outras disciplinas e até de outras alternativas antropológicas (MAGNANI, 2005 p. 10; tradução livre)

Porém, Magnani alerta para o risco de pesquisador “permanecer aprisionado”

dentro dos limites estreitos de um estudo de caso

Mas se um segmento claramente definido da sociedade é um pré-requisito para o exercício adequado da etnografia, a necessidade de totalidade vai além da necessidade de poder confiar no objeto de pesquisa dentro de limites claramente definidos. Uma incursão na etnologia indígena pode ajudar a esclarecer questões: se fronteiras espaciais concretas - a aldeia, o campo, uma porção definida do território, a montante ou a jusante de tal e tal rio - é uma base indispensável para a observação etnográfica, outros limites estabelecidos , embora possam ser mais amplos, são empregados para situar, avaliar e comparar os detalhes das etnografias. Assim, referências como "a paisagem amazônica", "as planícies sul-americanas" e outras encontradas em textos sobre etnologia indígena permitem determinar recorrências e padrões mais amplos de intercâmbio e comunicação nos planos da cosmologia, xamanismo, mitologia, rituais, etc. .: sem essa passagem, corre-se o risco de permanecer aprisionado dentro dos limites estreitos de um estudo de caso. Assim, a questão da totalidade envolve múltiplos planos e escalas. Uma segunda característica da totalidade como pressuposto etnográfico diz respeito à sua dupla face: de um lado, a maneira pela qual ela é vivenciada pelos atores sociais e, de outro, como é percebida e descrita pelo pesquisador. (MAGNANI, 2005 pp. 11-12; tradução livre)

E Magnani aponta para contribuição específica por enfoque etnográfico a partir

de modo como outras perspectivas e disciplinas abordam questão urbana:

Como um propósito mais geral, este artigo postulou que a antropologia tem uma contribuição específica para a compreensão das questões urbanas contemporâneas, e que é bastante diferente, graças ao enfoque etnográfico, a partir do modo como outras perspectivas e disciplinas abordam a questão. Essa proposição também previa a imposição deliberada de certos limites ao amplo e amplo campo conhecido como "antropologia das sociedades complexas", reservando o título de antropologia urbana, no sentido estrito da expressão, para o estudo de grupos sociais e suas práticas, como inscrito apropriadamente na textura da cidade, isto é, articulado na e com a paisagem, equipamentos e instituições urbanas, considerado não apenas como um cenário, mas como parte integrante dessas práticas. Esta é uma primeira abordagem à complexidade da dinâmica urbana contemporânea. Nesse plano, a unidade de análise da antropologia urbana consiste de práticas diferentes, e não da cidade como um todo ou de uma forma específica de assentamento, configurando algo que é antropologia dentro da cidade, em vez de - pelo menos por enquanto - da cidade. Para identificar essas práticas e seus agentes, foi proposta uma estratégia que foi chamada de observação de perto e de dentro, em oposição a visões que foram classificadas como observando de fora e de longe. Com base nos próprios arranjos desenvolvidos pelos atores sociais em seus múltiplos contextos de atividade e uso do espaço e das estruturas urbanas, essa forma de exame vai além da fragmentação que à primeira vista parece caracterizar a dinâmica das grandes cidades, tentando identificar as regularidades e padrões que presidem ao comportamento dos atores sociais. Baseia-se em segmentos com limites claramente definidos que permitem o exercício habitual de cuidadosa descrição etnográfica. Identificar essas práticas significa que a seção escolhida faz sentido tanto para os próprios atores quanto para o analista: trata-se de uma totalidade empiricamente definida, mas capaz de ter os elementos que os estruturam reconhecíveis como padrões, que podem ser

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descritos e formalizados, constituindo um modelo mais geral. Aponta para uma lógica que transcende o contexto original, com poder descritivo e explicativo. (MAGNANI, 2005 p. 19; tradução livre)

Entretanto, acerca de “família de categorias”, Magnani destaca código duplo:

Essas totalidades são identificadas e descritas por categorias que têm um código duplo, como dito acima: elas aparecem como resultado do reconhecimento de sua presença empírica, na forma de arranjos concretos e efetivos entre os atores sociais, mas também podem ser descritas em um plano mais abstrato. Nesse caso, eles constituem um tipo de modelo aplicável a contextos diferentes daqueles em que foram originalmente identificados. (MAGNANI, 2005 pp. 12-13; tradução livre)

Por seu turno, Rheingantz, et al. (2009 pp. 14, negritos meus) em

PROCEDIMENTOS para a Avaliação Pós-Ocupação (APO), ao observar a Qualidade

de Lugar, afirma que:

Cabe observar que, por mais bem elaborados e aplicados que sejam, os instrumentos não garantem o sucesso de uma avaliação de desempenho, uma vez que são incapazes de, por si só, apreender a experiência que é produzida em um mundo que não é pré-definido e que não depende do observador. Acreditamos que a realidade de relevante ou percebido é o produto inseparável do entrelaçamento do observador imerso na situação ou experiência que ele se propõe a relatar ou traduzir. Assim, os resultados da aplicação de um conjunto de instrumentos devem ser vistos como complementos capazes de corroborar a experiência reflexiva e intuitiva vivenciada durante a observação. Conforme lembra Francisco Varela (1992: 95), “a reflexão [o relato de uma APO] não é apenas a experiência, mas que ela é uma forma de experiência e que é possível realizar semelhante forma reflexiva de experiência graças à consciência intuitiva.”

Neste trabalho, analisei e, de alguma forma, vali-me de todos diferentes tipos

de APO detalhados por Rheingantz, et al. - desde Walkthrough (2009 pp. 23-34)

Originária [sic] da Psicologia Ambiental, pode ser definida [sic] um percurso dialogado complementado por fotografias, croquis gerais e gravação de áudio e de vídeo, abrangendo todos os ambientes, no qual os aspectos físicos servem para articular as reações dos participantes em relação ao ambiente. Criado por Kevin Lynch, é um instrumento de grande utilidade tanto na APO quanto na programação arquitetônica, uma vez que possibilita que os observadores se familiarizem com a edificação em uso, bem como que façam uma identificação descritiva dos aspectos negativos e positivos dos ambientes analisados. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 12)

Mapa Comportamental (RHEINGANTZ, et al. 2009, 35-42)

Também originário da Psicologia Ambiental, concebido para o registro gráfico das observações relacionadas com as atividades dos usuários em um determinado ambiente, este instrumento possibilita: (a) identificar os usos, os arranjos espaciais, os fluxos e as relações espaciais observados; (b) indicar as interações, os movimentos e a distribuição das pessoas em um determinado ambiente. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13)

Poema dos Desejos ou Wish Poem (RHEINGANTZ, et al. 2009, 43-49)

Desenvolvido por Henry Sanoff, permite que os usuários de um determinado ambiente declarem, por meio de um conjunto de sentenças escritas ou de desenhos, suas necessidades, sentimentos e desejos relativos ao edifício ou

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ambiente analisado. É um instrumento que se baseia na espontaneidade das respostas de fácil elaboração e aplicação que, de um modo geral, produz resultados ricos e representativos das demandas e expectativas dos usuários. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13)

Mapeamento Visual (RHEINGANTZ, et al. 2009, 50-55)

Concebido por Ross Thorne e J. A. Turnbull, possibilita identificar a percepção dos usuários em relação a um determinado ambiente, com foco na localização, na apropriação, na demarcação de territórios, nas inadequações a situações existentes, no mobiliário excedente ou inadequado e nas barreiras, entre outras características. Apesar de concebido para ser utilizado em ambientes internos, o mapeamento visual pode ser aplicado com facilidade em ambientes urbanos. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13)

Mapa Mental ou Mapeamento Cognitivo (RHEINGANTZ, et al. 2009, 56-62)

Formulado nos anos 50 por Kevin Lynch, consiste na elaboração de desenhos ou relatos de memória representativas das idéias ou da imageabilidade que uma pessoa ou um grupo de pessoas têm de um determinado ambiente. Os desenhos tanto podem incorporar a experiência pessoal como outras informações, quanto experiências relatadas por outras pessoas, pela imprensa falada e escrita, ou pela literatura. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13)

Seleção Visual ou Visual Preferences (RHEINGANTZ, et al. 2009, 63-70)

Valendo-se de um conjunto de imagens referenciais pré-selecionadas, é um instrumento concebido por Henry Sanoff adequado para identificar os valores e os significados agregados pelos usuários aos ambientes analisados. Ele possibilita fazer emergir o imaginário, os símbolos e aspectos culturais de um determinado grupo de usuários, bem como avaliar o impacto causado por determinadas tipologias arquitetônicas, organizações espaciais, cores e texturas sobre a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13)

Entrevista (RHEINGANTZ, et al. 2009, 71-78)

Muito utilizada no campo das ciências sociais, pode ser definida como um relato verbal ou uma conversação voltada para atender a um determinado objetivo, que resulta em um conjunto de informações sobre os sentimentos, crenças, pensamentos e expectativas das pessoas. O sucesso de sua aplicação depende tanto da qualificação e da competência dos pesquisadores – que precisam ter agilidade para informar sua avaliação e reconhecer a contribuição daqueles que colaboraram com o trabalho – quanto da sua sensibilidade e capacidade de interação com o respondente. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13)

Questionário (RHEINGANTZ, et al. 2009, 79-90)

Largamente utilizado nas avaliações de desempenho, é um instrumento de grande utilidade quando se necessita descobrir regularidades entre grupos de pessoas por meio da comparação de respostas relativas a um conjunto de questões (Zeisel 1981), que contém um conjunto de perguntas relacionadas a um determinado assunto ou problema. As perguntas devem ser respondidas por escrito sem a presença do pesquisador e os questionários podem ser entregues pessoalmente, enviados por correio, por e-mail, ou ainda disponibilizados em páginas de internet. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13)

Matriz de Descoberta (RHEINGANTZ, et al. 2009, 91-102)

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É um instrumento de análise que permite identificar e comunicar graficamente as descobertas, especialmente aquelas relacionadas com: (a) as adaptações e improvisações decorrentes de falhas de projeto ou de execução; (b) a incompreensão e o desconhecimento dos seus diversos grupos de usuários, que dificultam a operacionalidade necessária no dia-a-dia de um ambiente. Concebido por Helena Rodrigues e Isabelle Soares (Rodrigues, Castro, Rheingantz 2004) e aperfeiçoada pela equipe técnica do Programa de APO da Dirac/Fiocruz (Castro, Lacerda, Penna 2004). Por reunir e apresentar graficamente um resumo das principais descobertas de uma avaliação de desempenho, facilita a leitura e a compreensão dos resultados por parte dos clientes e usuários. Seu sucesso depende da hierarquização das informações e descobertas produzidas em uma avaliação de desempenho. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 13-14)

Observação Incorporada (RHEINGANTZ, et al. 2009, 103-110)

Desdobramento prático da abordagem experiencial, procura lidar com os aspectos subjetivos das observações, ao incorporar as emoções e reações dos lugares, entendidos como “coletivos” (Latour 2001) que são configurados pela mistura de homens, ambiente contruído [sic] e técnicas, cujo movimento “apaga” as fronteiras entre sujeito e objeto (Pedro 1996) presentes em qualquer experiência vivenciada da realidade. Além de uma mudança de atitude do observador em relação ao ambiente observado, incorpora a experiência humana aos instrumentos e procedimentos tradicionalmente utilizados em uma APO. Ao assumir uma postura menos distanciada e neutra, o observador passa a ter consciência da subjetividade das emoções e reações que são vivenciadas com os usuários no ambiente, que também devem ser considerados como sujeitos ou protagonistas da experiência. (RHEINGANTZ, et al. 2009, 14)

3 HIPERMETAPLURICULTURA “REIFICADA" EM URBANO

(...) os ecossistemas nativos dominaram a quase totalidade da história da vida e da humanidade. (...) há culturas que cultivam o equilíbrio entre as antropossociedades e a natureza não-humana e aquelas que vivem em ou criam situações de desequilíbrio. (SOFFIATI NETTO, 2011 pp. 3-4)

Para Aristides Arthur Soffiati Netto48, história de “vida” e de “humanidade” foi

dominada por ecossistemas nativos, porém, culturas ”humanas” cultivam

“equilíbrios” e “desequilíbrios” na natureza (humana e não-humana).

Gilberto Velho (2011 p. 175) disse que, através de cultura e conjuntura

histórica, temos elementos para colocar em questão noções de normalidade e

anormalidade – em que diferenças culturais e transformações históricas levam-

48 Possui Graduação em História pela Faculdade de Filosofia de Campos (1973), Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e Doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). Atualmente é Professor Associado I, aposentado, da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de História Social, com ênfase em História Ambiental. Extraído, em 27/04/2019, de http://lattes.cnpq.br/0182309888886434. CV Lattes certificado pelo autor em 07/12/2018.

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nos a dar atenção a particularidades, mas também a visão mais universalista de

sociedades humanas.

Alberto Ribeiro Lamego49 (1974a p. passim) e (1974b p. passim),

especificando mais “história de homem” em uma região – Goitacá, hoje, região

Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro) mostra tanto culturas que cultivavam

o “equilíbrio’ entre as sociedades humanas e a natureza não humana - o “índio” - como

culturas que criaram/criam ou viveram/vivem em situações de “desequilíbrio” - Homo

Sapiens Sapiens.

Aldo Rossi (2001 p. passim) considera destruições e demolições,

expropriações e bruscas mudanças de uso do solo, assim como especulação e

obsolescência, como meios mais conhecidos da DINÂMICA URBANA. E, remetendo-

-se a desenvolvimento sistemático de certo programa específico, Rossi procurou

deter-se particularmente em problemas históricos e em métodos de descrição de

FATOS URBANOS - em relações entre os FATORES LOCAIS e CONSTRUÇÃO

desses FATOS URBANOS - na identificação das forças principais que agem sobre

cidades, entendidas como forças que estão em ação de modo permanente e universal.

Entretanto, Carlos Nelson Santos50, ao abeirar-se de “humanização” de

cidades desequilibradas por e desequilibradoras de Homo Sapiens Sapiens e

para “abordar o fenômeno urbano nas suas expressões mais características,

toma a espacialidade como fato social relevante do qual resultam “MORFO-

LÓGICAS”. Uma destas formas é a existência real da “aglomeração

metropolitana” do Rio de Janeiro que se realiza e é percebida por todos como um

determinado espaço que assumiu forma singular por agregação ao “suporte

49 Alberto Ribeiro Lamego (Campos dos Goytacazes, 09 de abril de 1896 – Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1985) foi um geógrafo, pesquisador e geólogo brasileiro; renomado por seus trabalhos publicados em quatro obras sociogeográficas da série "O Homem e o Meio Ambiente", onde descreve sobre a geologia e a história do estado do Rio de Janeiro, e pelos livros "O Homem e o Brejo", "O Homem e a Restinga", "O Homem e a Guanabara" e "O Homem e a Serra". Tal publicação tornou-se referência em sua área de conhecimento científico. Por ter o nome quase homônimo ao de seu pai, Alberto Lamego em algumas obras é conhecido como Lamego Filho. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Ribeiro_Lamego, em 27/04/2019. 50 A aglomeração metropolitana do Rio de Janeiro existe concretamente. Ela se realiza e é percebida por todos como um determinado espaço que assumiu forma singular. Ao suporte natural foram agregados mais de quatro séculos de trabalho humano, dentro de parâmetros culturais que se fixavam à medida que se expressavam. A grande cidade resultante é síntese e metáfora de sua própria sociedade e economia. Permite que aconteça a história porque lhe ofereceu um lugar significativo: um sítio. (UFF, 2017a p. 257)

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natural” de mais de quatro séculos de trabalho humano, dentro de parâmetros

culturais que se fixavam à medida que se expressavam. A grande cidade

resultante é síntese e metáfora de sua sociedade e economia, e é ela que permite

que aconteça “história” porque lhe ofereceu um lugar significativo: um sítio.

Tudo isso eu incluo em processo de cultura humana “reificada” em urbano, no

qual, ainda segundo Carlos Nelson Santos 51, mas, este, agora falando na dupla

qualidade de urbanista e de antropólogo, urbanização é tanto processo social

como questão epistemológica – que deve analisar cuidadosamente problema

urbano afeto a área de ciência social que já se autopesquisou bastante tentando

resolver o que teria de “científica” e de “não-científica”, em busca de “verdade” por

modo mais positivista ou mais idealista. Carlos disse que o problema científico não

está em denunciar o que é e o que não é empírico - mostra que a posição mais

atual de cientistas sociais é denunciar em que ponto está situado, em contínuo

desenvolvendo-se entre extremos de positivismo e de idealismo, o enunciante

de discurso que pretende ser científico. Se conseguir definir bem em que ponto

está e de que perspectiva faz suas descrições e reflexões, para Carlos, estará sendo

científico e isso aplica-se muito bem à área urbana. Carlos afirma que o problema está

em que “todo objeto da ciência social é, de fato, um sujeito”, pois material de

investigação não responde na qualidade de objeto uma vez que “ciência social” pode

“positivar” determinados achados, mas sempre os idealiza antes e depois de encontrá-

los. Carlos adverte que esta ciência não é alinhável com “ciências naturais” - “positivas

51 (...) urbanização é processo social. Corretíssimo, mas, se isto é verdade, a questão epistemológica levantada a seguir requer análise cuidadosa. O problema urbano seria afeto à área da ciência social. Ora, a ciência social já se autopesquisou bastante, tentando resolver o que teria de científica e de não científica... Aqui falo na dupla qualidade de urbanista e de antropólogo (...) O problema científico não está em denunciar o que é e o que não é empírico. A questão, aliás, ficará melhor colocada se se balizar de um lado o positivismo, prática “científica” muito em voga na França do século XIX, e do outro lado o idealismo. A posição mais atual dos cientistas sociais é que dizer a verdade não consiste em ser mais positivista ou mais idealista, mas em denunciar em que ponto está o enunciante de um discurso que pretenda ser científico. Ele estará sempre situado em um contínuo que se desenvolve entre extremos de positivismo e de idealismo. Se conseguir definir bem em que ponto está, de que perspectiva faz suas descrições e reflexões estará sendo científico. Todo objeto da ciência social é, de fato, um sujeito. Aí reside o problema. Nosso material de investigação não nos responde na qualidade de objeto. Em outros termos: a ciência social não é alinhável com as ciências naturais, positivas por essência. Pode “positivar” determinados achados, mas sempre os idealiza antes e depois de encontrá-los. O único recurso verdadeiramente científico com que conta é esta dialética: objetivizar sujeitos para depois decodificar esta objetivação e transformá-la em novas teorias. Tudo isso se aplica muito bem à área urbana. (UFF, 2017c pp. 45-46) – itálicos no original.

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por essência” – e, por isso, o único recurso verdadeiramente científico com que conta

é esta “dialética”: objetivizar sujeitos para depois decodificar esta objetivação e

transformá-la em novas teorias.

Tal como Carlos Nelson Santos considero “urbanização” processo social, mas

neste reconheço também subprocessos “arquitetônicos”. Além disso, a minha posição

coincide - em parte - com a posição mais atual de cientistas sociais: dizer a verdade

consiste em definir bem, neste meu discurso e reflexões que pretendo científicos, em

que ponto estou situado em espaço complexo por tempo contínuo que, em minha

perspectiva, se desenvolve entre extremos de “idealismo” e de “positivismo”. Nesse

ponto e nessa perspectiva enfrento o problema de que todo objeto da ciência social é

um sujeito ao obter ou usar meu material de investigação que não me responde na

qualidade de objeto. Todavia, considero ciências sociais alinháveis parcialmente

entre si e com ciências naturais (mesmo estas sendo consideradas “positivas por

essência”). Além disso, recurso verdadeiramente científico com que conto em área

urbana não se reduz a dialética, mas, principalmente, exacerba a dialógica como um

dos princípios de pensamento complexo.

Entretanto, Carlos Santos (UFF, 2017a p. 24) enfatiza que boa teoria passa a

ser a que melhores possibilidades de “conexão” ofereça, aquela que deixe

caminhos apontados, através dos quais ela mesma possa ser virada do avesso.

E que, no caso de ORDEM URBANA em cidade:

Por que a cidade para mim apresenta significados próprios, autônomos que permitem que isole a sua ordem frente a outras muito maiores, como a dos sistemas econômicos, políticos e mesmo sociais? Por uma razão relativamente simples: porque, funcionando como síntese de todos os outros códigos, o espaço urbano ganha um poder próprio; anda na direção inversa das análises. Todo mundo sabe (ou devia saber...) que o capitalismo não nasceu em cidades, mas, logo depois de surgir, gostou delas e praticou uma apropriação bestial. Daí resultou que, apesar de preexistirem de muito ao capitalismo, haja dúvidas sobre a sobrevivência dos centros urbanos depois dele. Mas por que houve uma entrega tão fácil das ordens urbanas às ordens econômicas do capitalismo? Porque a síntese já estava pronta nas cidades, elas já eram o mercado e isso foi percebido de imediato. Como qualquer outra forma de organização da sociedade humana, o capitalismo é um sistema com cultura. Tendemos a uma concessão sociocêntrica e achamos que essa história de cultura é um passadismo do qual podemos nos livrar. Agimos como se acreditássemos que o capitalismo é a primeira ordem histórica que prescinde de determinações simbólicas. Não é não. Acontece que nossos símbolos dominantes e determinantes são econômicos e emascarados de materialidade incontestável. Outros sistemas se estruturaram a partir de valores religiosos, familiares etc. ... O nosso cometeu a proeza de elevar ao mais alto posto dinheiro e mercadorias. Pois bem, ao fazê-lo erigiu a cidade em seu lugar ideal. Com seus atributos sintéticos e metafóricos, os centros urbanos sumarizam em expressões densas, rápidas e impositivas, o que é o

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capitalismo em si mesmo, com seus podres e virtudes (...) Para conter os excessos das diversas unidades de capital competindo no e pelo mercado (nas e pelas cidades...) aparece o Estado. Seu papel é, como arena política, fomentar as condições ideias de equilíbrio para que se salvem os princípios. Quase arriscaria dizer que para todos os Estados modernos a manutenção dos princípios (o desenvolvimento, a acumulação, a preservação de mercados e de seus suportes) é muito mais importante do que qualquer outra coisa. É por isso que gostam tanto de planejamento, nome elegante que traduz ordem e controle. Ordem e controle de quem? Para quê? (UFF, 2017b p. 23; negritos e itálicos meus)

Um urbano ao qual Carlos Santos (UFF, 2017b p. 41; negritos e itálicos meus)

se refere como “síntese eficiente a partir de relações e sobreposições

metafóricas” em que

Os lugares para serem, por algum tempo, como são dizem de uma só vez uma porção de coisas para um monte de gente, apresentam conformações cumulativas. Estão no presente, mas demonstram como foi e como, talvez, será. São FORMA que informa e com-FORMA. O espaço fala de uma organização econômica, sem dúvida. Esta, por seu turno, se refere a uma estruturação social, realizada através de um modo de vida singular. A última expressão é uma das formas de nomear CULTURA. Cultura é isso mesmo: milhões de obviedades sem as quais a vida seria incompatível e impossível. Participar de uma cultura é, de certa forma, habitá-la, “estar em casa” e deixar-se possuir por ela, ser sua casa, como os “cavalos” da umbanda. Para tanto é preciso dominar códigos de classificação que, quanto mais básicos, mais abrangentes. Entre os conhecimentos fundamentais que permitem que milhares de pessoas e interesses convivam nas áreas tão restritas das cidades modernas, está a atribuição de um mínimo de significados coincidentes a um coleção de lugares. Para viabilizá-lo, são necessárias convenções que, para os membros de um mesmo agrupamento urbano, metropolitano, regional ou nacional são referências estruturais. (ibid)

Referências que estão (ou deveriam estar) em ALINHAMENTO

CONSTITUCIONAL de DIREITOS e OBRIGAÇÕES HUMANOS EFETIVOS

subordinados a VALORES e PRINCÍPIOS condizentes com HUMANIDADE EFICAZ,

por Constituição do Brasil (BRASIL, Câmara dos Deputados 2005)

realmente cidadã e localista. A Constituição do Brasil em vigor desde 1988 – mas já

com cerca de 100 (cem) “emendas” - já traz em seu bojo esse “alinhamento” que

carrega em si a ESPERANÇA de uma “constituição-cidadã” e também de uma

“constituição- municipalista”. Nesse “alinhamento” institucional devem estar:

Constituição de Unidade Federativa (UF) do Brasil; Lei Orgânica de Município; Código

Civil (CC); Estatuto Federal de Cidade (EFC); Plano Diretor Municipal Participativo

(PDMP); e Normas Técnicas (NT). Contudo, esse “alinhamento” carrega

simultaneamente o CINISMO da “armadilha para o município” (com deveres e

responsabilidades, mas sem gente capacitada nem verba necessária) e da “armadilha

para o cidadão” (ilusão de poder que emana do povo sufocado por representações

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políticas supostamente legais e legítimas). Além de estar “armadilhado”, esse

“alinhamento” deve acolher resoluções globais das Organização das Nações Unidas

(ONU).

Com forte e crescente tendência de concessão sociocêntrica em cidade como

“lugar ideal” de conformações cumulativas com símbolos culturais dominantes e

determinantes, econômicos e emascarados de materialidade incontestável - com

“excessos contidos” em arena política por Estado Planejador “equilibrista de

princípios” para “urbano sintético” de milhões de obviedades sem as quais a vida seria

incompatível e impossível -, metodologicamente consegui “livrar” a cultura humana

de desvarios da Economia (Neo)Clássica onde impera a má divisão de trabalho em

cada nação e entre nações, o peso do governo e a dialética de qualquer um ou

qualquer coisa com qualquer oposto – em especial a dialética destrutiva do confronto

forçado intelectual e fisicamente entre “capital” e “trabalho” que envereda por luta

política entre “capitalismo” e “socialismo”. Mas ainda não consegui libertar

estoicamente a cultura humana do urbano opressivo que também é oprimido -

mesmo com minha opção por ensino, pesquisa e extensão de Metaescola

Austríacoestóica ou Escola de Viena “estoicizada”, porque esta opção é apenas um

“balão intelectual” de libertação autocontrolada de opressões paradigmáticas atuais.

Ainda para “libertar” a cultura humana do urbano que - síntese eficiente a partir

de relações e sobreposições metafóricas - oprime e, também, livrar esse urbano de

quem e do que o oprime, usando meu “espírito universitário estóico” (mas nem tanto),

a essa “metaescola” certamente ignorada ou desprezada por paradigmas dominantes

e aberrantes (que abomino), alio tanto “escola” de arquitetura Kitsch (também é

desprezada por arquitetura paradigmática) como “escola” de arquitetura ecológica

como “escola” de arquitetura vernacular (“sem arquitetos”). Numa ligação penta-

angular complexa de libertação humana autocontrolada e autogerida:

Conhecimento→Propriedade→Ação Humana→Arquitetura→Bem-Estar Local

3.1 TESTEMUNHOS “HUMANOS” (TRANS)CULTURAIS

Ludwig von Mises (2014 pp. 139-266?), vivendo de 1881 a 1973, abordou

“problemas epistemológicos da história” e “curso da história”, capitulando-os em

termos de: conceito de individualidade histórica (dados irredutíveis da história,

papel do indivíduo na história, quimera da mente coletiva e planejando a história);

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historicismo (significado de historicismo, rejeição da economia, busca por leis de

mudança histórica, relativismo historicista, dissolvendo a história, desfazendo a

história e desfazendo a história econômica); desafio do cientificismo (positivismo,

behaviorismo, dogma coletivista, conceito das ciências sociais e natureza dos

fenômenos de massa); psicologia e timologia (timologia e psicologia naturalista,

timologia52 e praxeologia, timologia como disciplina histórica, história e ficção,

racionalização e introspecção); significado e utilidade do estudo da história

(porquê da história, situação histórica, história do passado remoto, falsificando a

história, história e humanismo, história a ascensão do nacionalismo agressivo, história

e julgamentos de valor); características epistemológicas da história (previsão nas

ciências naturais, história e previsão, compreensão específica da história, experiência

timológica e tipos reais e tipos ideais); interpretações filosóficas da história

(filosofias da história e interpretações filosóficas da história, ambientalismo,

interpretação igualitária da história, interpretação racial da história, secularismo da

civilização ocidental, rejeição do capitalismo pelo antissecularismo); e tendências

atuais e o futuro (inversão da tendência rumo à liberdade, ascensão da ideologia da

igualdade de riqueza e renda, quimera de um estado perfeito da humanidade, suposta

tendência contínua rumo ao progresso, supressão da liberdade “econômica” e

incerteza do futuro).

Luís Felipe Bellintani Ribeiro (2008), mostra “quatro épocas em que a história

ocidental se subdivide” (antiga, medieval, moderna e contemporânea) e destaca parte

de “História da Filosofia Antiga: filosofia pré-socrática (pp.33-76) de monistas e

pluralistas, dualismo pitagórico, imobilismo dos eleatas e atomismo de Demócrito;

sofistas e Sócrates (pp.81-110), considerando “sofistas como pré-socráticos” e

“Sócrates como sofista”; metafísica clássica (pp.115-136) de Platão e Aristóteles;

filosofias do helenismo (pp.139-173) – Estoicismo, Epicurismo e Ceticismo; e

neoplatonismo (pp.177-191).

Nessa mesma história ocidental, Wielfried Koch53 (1996 pp. 230-231), em seu

dicionário de Estilos Arquitetônicos, “enquadra” grande história arquitetônica

52 Na economia austríaca, a timologia é o estudo de aspectos humanos que precedem ou causam comportamento humano intencional. Traduzido livremente de https://en.wikipedia.org/wiki/Thymology, em 03/05/2019. 53 Wilfried Koch (nascido em 24 de janeiro de 1929 em Duisburg) é artista alemão, historiador de arte e escritor. Como historiador de arte, Wilfried Koch tornou-se conhecido por uma ampla audiência

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especificando Arquitetura Europeia desde a antiguidade até o presente - uma

cronologia de testemunhos (trans) culturais antrópicos alinhados por/em espaços-

tempos dominantes desde 1000 a.C.54

3.1.1 SER “VIVO” E SER “HUMANO” SOB “ORDENS”

Certos seres vivos caracterizam-se por ter capacidade de produzir seu próprio

alimento a partir de material inorgânico, por meio de fotossíntese ou quimiossíntese -

autotrofismo. Estão entre eles: bactérias (Cyanobacteria), protistas (algas) e plantas

- seres autótrofos ou seres autotróficos. Ao passo que outros seres vivos se

caracterizam por não ter capacidade de produzir seu alimento a partir de material

inorgânico, e por isso se alimentam de outros seres - heterotrofismo. São seres

heterótrofos ou seres heterotróficos, chamados mais informalmente de

consumidores). São exemplos disso: todos os animais, a maioria dos fungos e

algumas plantas (apenas parcialmente e de forma muito limitada). Os seres humanos

inserem-se no grupo de “animais” incapazes de usar diretamente energia luminosa

e matéria inorgânica disponíveis no seu “meio-ambiente” para produzir seus

próprios alimentos e demais substâncias necessárias a seu desenvolvimento e

sua proteção.

O SER HUMANO é alotrópico porque se apresenta em formas diferentes -

cada uma delas com características próprias. E é heterótrofo ou heterotrófico ou

consumidor natural porque é ser vivo incapaz de usar diretamente energia luminosa

e matéria inorgânica - disponíveis no seu ambiente e no seu tempo - para produzir

seus próprios alimentos e demais substâncias necessárias a seu desenvolvimento e

sua proteção. Esse SER, antes de qualquer ordem urbana ou ordem rural ou ordem

política, é ser vivo SUJEITO-OBJETO de três tipos de ordens: Ordem Natural; Ordem

Espiritual; e Ordem Social.

internacional com “Pequeno Estilo de arquitetura” (1967) e a Grande História Arquitetônica - Arquitetura Européia desde a antiguidade até o Presente (1982). O trabalho padrão para arquitetos ("The Cook") também é compreensível para leigos. Ele contém 2800 desenhos de caneta arquitetônica do autor. Esses dois livros foram publicados mais de 80 vezes em alemão e traduzidos para mais de 20 idiomas, incluindo russo, chinês e japonês. A circulação total excede um milhão. Extraído de https://de.wikipedia.org/wiki/Wilfried_Koch, em 17/05/2019 (tradução livre de alemão para português). 54 Ver ANEXO “A”.

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Em termos de ORDEM NATURAL, a partir da UNIÃO dO NADA [o ‘conjunto’

do que não existe] e dO TODO 55 [o conjunto de tudo quanto existe], tem-se O

UNIVERSO, parte VAZIO [sem forma] e parte OCUPADO [com forma], coexistindo

em determinados ESPAÇOS e TEMPOS ou TODOS-RELATIVOS ou multiversos [o

oposto da teoria de um multiverso 56]. Então, o PLANETA TERRA é um TODO-

RELATIVO ‘algures’ naquele UNIVERSO composto por ‘mares’, ‘atmosfera’ e ‘solo’

[uma abiosfera 57] sob ‘regência’ de um Sol e de uma Lua. Nesta ABIOSFERA 58

surgiram diferentes espécies de ORGANISMOS VIVOS 59 [uma BIOSFERA 60] com

capacidades transformadora e reprodutora: uns com corpo e alma [tais como: peixes

na ‘água’, aves no ‘ar’, ovelhas no ‘solo’], outros com corpo, mas sem alma [tais como

ervas e árvores de fruto]; e ainda outros com corpo, alma e espírito, OS SERES

HUMANOS. O que vai regendo a Natureza é resultado do que foi formado inicialmente

e respectivas alterações até o momento em que se pretenda e constitui algo que

transcende o simples [e complexo] pensamento humano acerca da descoberta de Leis

da Natureza [e não mais Leis de Natureza, porque o início com inúmeras e variadas

alterações - isto é, O PASSADO - jamais poderão ser observadas novamente !] Para

o seu bem-estar físico, o ser humano deve ser o guardião da sua própria biosfera e,

em todas as suas atividades econômicas e outras, deve IMPEDIR a degradação dela:

pelo efeito estufa; pelas chuvas ácidas; pelas ilhas de calor na cidades; pelo buraco

de ozônio; pela poluição dos oceanos; pela grande extensão dos desmatamentos [que

rompem a relação entre a vegetação e o solo que possibilita o desenvolvimento da

55 O conjunto de partes que constituem uma unidade [1] 56 Na teoria do multiverso [profundamente complexa]: multiverso é uma entidade multiramificada, fractal e gigantesca, ou seja, um conjunto de muitos ‘universos’ e o nosso universo seria apenas uma componente do multiverso (MCT, Observatório Nacional). 57 Abiosfera - Zona do planeta Terra [por analogia com a biosfera] onde não nascem, crescem, reproduzem-se e morrem seres vivos. 58 Independentemente da crença de cada um, não é razoável pensar na criação de seres vivos [biosfera] primeiro que a criação de matéria ‘sem vida’ [abiosfera]. 59 [...] os níveis de organização entre os seres vivos... o nível mais simples é o do protoplasma, que é definido como substância viva. O protoplasma é o constituinte da célula... a unidade básica e fundamental dos seres vivos. Quando um conjunto de células, com as mesmas funções estão reunidas, temos ali... um tecido. Vários tecidos formam um órgão e um conjunto de órgãos formam um sistema. Todos os sistemas reunidos dão origem a um organismo. Quando vários organismo da mesma espécie estão reunidos em uma mesma região, temos uma população. Várias populações em um mesmo local temos uma comunidade. Tudo isto reunido e trabalhando em harmonia temos um ecossistema. Todos os ecossistemas reunidos em um mesmo sistema... temos a biosfera. (in WIKIPÉDIA, 2007) 60 Biosfera é a zona descontínua que envolve o planeta Terra [abrange o solo, o ar e a hidrosfera], onde nascem, crescem, reproduzem-se e morrem todos os seres vivos.

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vida vegetal e animal]; pela extinção de espécies animais; pelo rápido esgotamento

dos recursos não-renováveis. E evitar ou controlar adequadamente Resíduos sólidos

e tóxicos com as consequentes: poluição do ar; escassez do ar; poluição da água;

escassez da água; poluição da terra; escassez da terra fértil; degradação do solo;

mudanças atmosféricas; e vida terrena insalubre, pobre ou miserável. Em suma, em

termos de BEM-ESTAR FÍSICO DE SER HUMANO, sociedades humanas são

sistemas complexos adaptáveis, mas são aninhadas em ecossistemas adaptáveis até

mesmo mais complexos. O conjunto de elementos terrestre, aquático, aéreo, e

subterrâneo dos ecossistemas de interação por todo o mundo fornece a sustentação

básica requerida para a vida humana. Limburg, et al. (2002 p. 410; tradução minha)

diz que “nós” colocamos valor em funções do ecossistema porque elas são essenciais

para a continuação da existência humana. Nós também colocamos valor em

ecossistemas para as nossas necessidades culturais e emocionais. Assim, durante o

seu ciclo de vida física, cada ser humano deverá ser responsável pelas suas

atividades de: pensar; utilizar os recursos na Natureza, evitando os desperdícios; e

controlar tanto as diferentes velocidades e diversos ritmos, quanto os resíduos de sua

atividade de ordem natural ou artificial, ajustando aqueles e reciclando ou eliminando

estes. Mesmo agindo desta maneira, a obediência e respeito à ordem natural

conduzirá apenas ao bem-estar de cada ser humano num determinado contexto

‘espaço-temporal’ de satisfação de suas necessidades, mas não garantirá o seu

próprio bem-estar enquanto viver fisicamente e nem o bem-estar de suas gerações

vindouras e dos que estão associados a ele. Portanto, mesmo a ordem econômica

obedecendo à ordem natural, o fim do ecossistema humano apenas será postergado,

até que alguma(s) grande catástrofe(s) provoque(m) um fim fulminante da BIOSFERA;

mas, enquanto tal não acontece, compete ao ser humano, pelo menos, impedir que

na conciliação do seu desenvolvimento tecnológico com a sua eventual carência de

recursos naturais [vitais ou não] a natureza seja deslocada para um novo ‘estado de

equilíbrio’ 61 do qual a espécie humana [e outras] não faça mais parte ou, sendo

unidades de carbono, dele façam parte, mas como meros fósseis datáveis pelo

61 Muitos, senão mais, sistemas são meta-estáveis e podem submeter-se a transições rápidas para um novo estado de equilíbrio. (2002 p. 411; tradução minha))

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método do ‘carbono 14’ 62 ou algum dos conflitantes métodos ‘estratigráficos’ 63 .

Finalmente, ainda segundo Limburg, et al. (2002 pp. 409; tradução, grifos, itálicos e

negritos meus) “naturalmente, sistemas econômicos 64 são subsistemas dos sistemas

sociais humanos 65, que, por sua vez, trazem a estrutura através de NORMAS, de

INSTITUIÇÕES 66, e de CRENÇAS”.

CRENÇAS remetem para Ordem Espiritual que emana de domínio espiritual e

só poderá ser descodificada de forma limitada pelo próprio ser humano e

relativamente a ele próprio, em visão antropocêntrica influenciada por raízes comuns

da fé judaico-cristã-islâmica67 e de outras68.

Para este trabalho, vali-me do ‘livro’ denominado Bíblia [na realidade, um

conjunto de livros de histórias, profecias, cânticos, provérbios, poesias e cartas] por

causa de dois motivos fundamentais em termos antropocêntricos: primeiro, por ter

sido, até hoje, o mais lido, o mais relido, o mais dissecado e o mais discutido em todo

o mundo humano; e segundo, porque, o seu mau uso [doloso ou não] e abuso pelos

seres humanos têm deturpado o verdadeiro código espiritual nele cristalizado e cuja

descodificação [vivificação] só pode ser feita via espírito humano. Pela Bíblia (1992 p.

62 Quando o ser vivo morre inicia-se uma diminuição da quantidade de carbono 14 devido a sua desintegração radiativa... Como essa desintegração ocorre num período de meia-vida de 5730 anos é possível fazer a datação radiométrica de objetos ou materiais arqueológicos com idades dentro desta ordem de grandeza. O método não é por isso adequado à datação de fósseis que têm idades na casa dos milhões de anos e que são datados por métodos estratigráficos. (in WIKIPÉDIA, 2007) 63 Uma escala de tempo geológico que representa a linha do tempo desde o presente até a formação da Terra, dividida em éons, eras, períodos, épocas e idades, que se baseiam nos grandes eventos geológicos da história do planeta. Embora devesse servir de marco cronológico absoluto à Geologia, não há concordância entre cientistas quanto aos nomes e limites de suas divisões. (ibid) 64 [...] focamos os sistemas econômicos porque estas são atualmente as arenas principais onde a valoração ambiental é debatida e quantificada. (LIMBURG et al., 2002, p.409; tradução, grifos, itálicos e negritos meus) [...] Ecologia Humana que estuda as relações entre o Homem e a Biosfera, principalmente do ponto de vista da manutenção da sua saúde, não só física, mas também social. (in WIKIPÉDIA, 2007) 66 [...] os conceitos de Conservação e do Conservacionismo que se impuseram na actuação dos governos, quer através das ações de regulamentação do uso do ambiente natural e das suas espécies, quer através de várias organizações ambientalistas que promovem a disseminação do conhecimento sobre estas interações entre o Homem e a Biosfera. (ibid) 67Nas religiões do livro, quer dizer, nas religiões que têm por base o Antigo Testamento (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), o antropocentrismo é evidente, pois aí a criação, segundo diz o Genesis, existe para o homem. (in WIKIPEDIA, 2006; tradução, grifos, itálicos e negritos meus) 68O antropocentrismo encontra-se mesmo nas doutrinas orientais, como o Budismo ou o Hinduísmo, que muito embora façam do homem apenas um ser entre todos os outros, tão imortal como eles, porque em todos os seres existe o princípio divino e imortal que vai reencarnando para um aperfeiçoamento gradual, reconhece que esse aperfeiçoamento culmina no homem, pois é o único ser que pode libertar-se da cadeia da reencarnação. Por esta razão se considera aí o homem superior mesmo às divindades ou anjos, que só se podem libertar da corrente do tempo se encarnarem na forma de homem. (ibid)

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passim), a ordem espiritual é informada a seres humanos como segue: Criação Divina;

Proibição Divina; Justiça Divina; Lei Divina; Esperança de Salvação de Seres

Humanos; e Igreja Divina. Em suma, em termos de BEM-ESTAR ESPIRITUAL DO

SER HUMANO

[...] Não o que pensamos, mas o que fazemos, tem sido o padrão do mundo: por isso, tentei isolar-me de Deus com um muro de atos. E ainda assim sua luz flameja dentro de mim. (BOULDING, 1945)

Assim, o bem-estar espiritual não se obtém com seres humanos abrindo

pseudo ‘igrejas’ ou praticando ‘boas ações’ ou atribuindo eventos a uma pseudo ‘mão

divina’ ou entregando dízimos ou ofertas alçadas ou fazendo ‘milagres’, porquanto isto

é tentar agradar [em vão] a YAH por mentira ou perversidade ou engano... Mas

começa com o ser humano sabendo distinguir o que é da VONTADE de YAH [as

Escrituras vivificadas pelo RUACH HA KODESH] e o que é mera manifestação do

SEU PODER DIVINO [as ‘leis da natureza’ que regem tudo o que existe - inclusive o

ser humano - e têm sido ‘descobertas’ por seres humanos]; e, em conhecendo ESSA

VONTADE, como SERVO, abre mão de sua própria vontade e OBEDECE. Portanto,

embora a Sua Palavra e Seus Sinais, hoje, só possam ser discernidos mediante

inspiração do RUACH HA KODESH, o bem-estar espiritual obtém-se ‘diretamente’

pela graça de YAH. Só este bem-estar permitirá a cada ser humano: negar a sua

própria vontade, carregar a sua própria cruz 69 e perseverar até o fim nO CAMINHO

[onde o fardo é leve] 70. E, assim, manter viva a chama da esperança de sua VIDA

ETERNA 71, até se tornar, tal como o apóstolo Pedro ['pedra] 72, mais uma ‘pedra’ na

construção da IGREJA de YAH. Logo, cada ser humano, não deverá carregar

qualquer cruz que não seja a sua e nem forçar quem quer que seja a enveredar pelO

CAMINHO, mas, enquanto não vier o fim deste mundo, deverá dar a conhecer, em

69 “[...] Jesus... dizia: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”(YAH, ‘apud’ YAHUSHUA. Evangelho. Bíblia, 1999: ‘apud’ Mateus, c.16, v. 24, p.888; ‘apud’ Marcos, c.8, v. 34, p.914; e ‘apud’ Lucas, c.9, v. 23, p.939) 70 “[...] Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (YAH, ‘apud’ Mateus, Evangelho, c.11, v.30; Bíblia, 1999, p.882) 71 “[...] E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” (YAH, ‘apud’ Mateus, Evangelho, c.24, v.12 e 13; Bíblia, 1999, p.896) 72 “[...] Respondeu-lhes Jesus:... E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;” (YAHUVAH, ‘apud’ Mateus, Evangelho, c.16, v.17 e 18; Bíblia, 1999, p.888)

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nome de YAHUSHUA, a Ordem Espiritual, A PALAVRA de YAH 73, aos que quiserem

ouvir .Finalmente, o bem-estar espiritual não conflita com a ciência, como pretendeu

a pseudo ‘Igreja’ na ‘Idade Média’ ou ‘Idade das Trevas’ [e outras atualmente]; mas, o

progresso rápido da ciência é ‘até necessário’ como sinal do fim do mundo, que

conhecemos como ‘mundo natural’.

Por fim, NORMAS e INSTITUIÇÕES remetem a Ordem Social Humana

Enquanto a ordem Espiritual e a ordem da Natureza independem de seres

humanos e conduzem a ‘Exa-Atto‘ esferas específicas que os transcendem, a ordem

social é uma ‘Exa-Atto‘ ponte móvel onde os seres humanos tentam organizar-se para

sua própria conservação, mas levando uma vida melhor do que se cada um estivesse

livre e só perante a influência que sofrem dos dois mundos distintos, o Mundo

Espiritual e a Biosfera Humana. O ser humano deve conservar a sociedade onde

nasceu, não só por necessidade, inclinação natural ou hábito, mas também porque,

conscientemente deve instituir uma sociedade política para permitir a administração

de justiça humana e poder ter: paz, segurança, ordem e relações mútuas. Como as

evidências mostram, nenhum ser humano é igual a outro [nem mesmo os sósias ou

os gêmeos univitelinos] e nem é livre de fazer o que quiser; por isto, as sociedades

são heterogêneas e hierarquizadas e os seres humanos aceitam, tacitamente

[MORAL] ou não [DIREITO], restrições ao exercício da sua liberdade formalizadas

num conjunto de regras de convívio 74 a cumprir por todos os integrantes dessa

sociedade [SEM EXCEPÇÃO]. Assim, a ordem social estabelece-se entre vários seres

humanos através de um subprocesso de Hierarquia de Forças de Domínio Humanas,

cuja estrutura, fruto de delegação de poderes [ou não] e composta por um governo e

determinadas instituições sociais, recebe inputs sob a forma de obrigações e direitos

e deve gerar como output o bem-estar social de comunidades locais neste planeta. O

ser humano passa então de um ‘estado de natureza física’ com vontade humana

própria para um ‘estado de natureza civil’ com metavontade multicefalóide e, nesta

‘mudança de estado’, o instinto humano é substituído pela justiça, o impulso físico pelo

73 “[...] E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” (ibid, v.14) 74 Moral é um conjunto de regras no convívio. O seu campo de aplicação é maior do que o campo do Direito. Nem todas as regras Morais são regras jurídicas. O campo da moral é mais amplo. A semelhança que o Direito tem com a Moral é que ambas são formas de controle social (WIKIPÉDIA, 2006)

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dever, o apetite pelo direito, as inclinações individuais pela inclinação coletiva [tudo

isto, pelo menos intencional ou formalmente]. Mas essa nova ‘realidade’ e seus

conceitos e formas [como, um Território, uma Nação ou Povo, um Governo, uma

Constituição, uma Soberania Humana] só são apreendidos e, eventualmente,

‘valorizados’ pelos próprios seres humanos, apesar da sua existência poder apressar

ou abrandar ou anular ou extinguir causas ou efeitos das esferas reais ‘espiritual’ ou

‘natural’ ou, mesmo, da ponte virtual social. Em que deveres de seres humanos estão

consubstanciados em conjunto de leis e direitos [que garantem a cidadania] e devem

ser seguidos pelos cidadãos tais como (in WIKIPÉDIA, 2007): Votar para escolher

nossos governantes e nossos representantes no Poder Executivo e Legislativo;

Cumprir as leis; Respeitar os direitos sociais de outras pessoas; Educar e proteger

nossos semelhantes; Proteger a natureza; Proteger o patrimônio público e social do

país; e Colaborar com as autoridades.

Quanto a Direitos Humanos, destaco Declaração Universal dos Direitos do

Homem75 enuncia os direitos fundamentais76, os direitos civis, os direitos políticos e os

direitos sociais [que incluem os direitos econômicos] de que devem gozar todos os

seres humanos, sem discriminação [de raça, sexo, nacionalidade ou outra],

independentemente do país onde viva ou do regime nele instituído. A previsão de

direitos e garantias visa a limitar os poderes dos Estados sobre os indivíduos ou sobre

as comunidades; poderes esses que, embora o pareçam, não são absolutos77. Para

resguardar os direitos individuais indispensáveis ao ser humano, foram-lhes atribuídas

75 Declaração Universal dos Direitos do Homem - Carta de princípios, proclamada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948, onde se afirma a preocupação internacional com a preservação dos direitos humanos e se define quais são esses mesmos direitos. A Declaração surgiu como um alerta à consciência humana contra as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Desta forma, inscrevia-se no objetivo fundador da ONU, a luta pela paz e pela boa convivência entre as diferentes nações, credos, raças, ideologias, etc. A Declaração Universal dos Direitos do Homem enuncia os direitos fundamentais, civis, políticos e sociais de que devem gozar todos os seres humanos, sem discriminação de raça, sexo, nacionalidade ou de qualquer outro tipo, qualquer que seja o país que habite ou o regime nele instituído. A noção de direitos humanos tem-se afirmado, na segunda metade do século XX, como um dos conceitos políticos basilares. Contudo, e apesar de todos os estados-membros da ONU serem signatários da Declaração, muitos são os que, alegada ou comprovadamente, continuam a não respeitar os seus princípios. (INFOPÉDIA, 2006) 76 Direitos Fundamentais são aqueles considerados indispensáveis à pessoa humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual. (in WIKIPÉDIA, 2007) 77 O Direito e as garantias surgem na idéia de proteção do homem contra o poder exercido pelo Estado. O poder delegado pelo povo a seus representantes não é absoluto, conhecendo várias limitações, dentre elas, a previsão de direitos e garantias individuais e coletivas. Na visão moderna da democracia, os direitos fundamentais estão indissoluvelmente ligados à noção de limitação do poder. (in WIKIPÉDIA, 2007)

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as características (in WIKIPÉDIA, 2007): Inalienabilidade [direitos intransferíveis e

inegociáveis]; Imprescritibilidade [não deixam de ser exigíveis em razão do não uso];

Irrenunciabilidade [nenhum ser humano pode abrir mão de possuir direitos

fundamentais. Pode até não usá-los, mas não pode renunciar à possibilidade de

exercê-los]; Universalidade [todos os seres humanos têm direitos fundamentais que

devem ser respeitados]; e Limitabilidade [os direitos fundamentais não são absolutos.

Podem ser limitados sempre que houver uma hipótese de colisão de direitos

fundamentais]. Nos países ditos democráticos, tais direitos individuais indispensáveis

ao ser humano são os seguintes direitos básicos (in WIKIPÉDIA, 2007): direito à Vida

78; direito à Liberdade 79; direito à Igualdade 80; direito à Segurança 81; direito à

Privacidade 82; e direito à Propriedade 83 . Assim, bem-estar social de ser humano

78 Direito à vida: Vida = bem jurídico de maior relevância tutelado pela ordem constitucional. O exercício dos demais direitos depende de sua existência. É pré-requisito à existência e exercício dos demais direitos fundamentais. Seria inútil tutelar a liberdade, a igualdade e o patrimônio de uma pessoa sem que fosse assegurada a sua vida. Possui caráter abrangente, incluindo o direito de nascer, de permanecer vivo, de defender a própria vida, enfim, de não ter o processo vital interrompido, senão pela morte espontânea e inevitável. Protege, inclusive, a vida uterina, desde a nidação. Nidação = fixação do óvulo no útero materno. Concepção = fecundação do óvulo pelo espermatozóide. (ibid) 79 Direito à liberdade: Faculdade que uma pessoa possui de fazer ou não fazer alguma coisa. Envolve o direito de escolher segundo sua própria vontade. Não é absoluto. Deve ser entendido com o Princípio da Legalidade... Apenas as leis podem limitar a liberdade individual. Existem diversas modalidades: Liberdade do Pensamento... Direito de Resposta... Liberdade de Consciência; Liberdade de Expressão da Atividade Intelectual; Liberdade de Culto, de Cátedra, de Informação Jornalística, Científica e Artística; Liberdade de Locomoção; Liberdades de Expressão Coletivas (reunião, associação); Liberdade de Ação Profissional. (in WIKIPÉDIA, 2007) 80 Direito à igualdade: É direito individual básico. Consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade. Tratar igualmente os desiguais seria aumentar a desigualdade existente. Hipóteses válidas de tratamento diferenciado; aposentadoria com idade menor e menos tempo de contribuição para mulheres; exclusão de mulheres do serviço militar obrigatório em tempo de paz. Existência de um pressuposto lógico e racional que justifique a desequiparação efetuada, em consonância com os valores tutelados pela Constituição. Ex.: reserva de assentos em coletivos, preferência em filas de Bancos. (ibid) 81 Direito a segurança: É a tranqüilidade do exercício dos direitos fundamentais. É dever do Estado assegurar a todos o exercício do direito à vida, á integridade física, à liberdade, à propriedade, etc. Abrangem Direitos Subjetivos em Geral e Direitos Relativos à Segurança Pessoal. (ibid) 82 Direito à privacidade:... compreende a tutela da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas. Proteção contra os avanços tecnológicos e a crescente intromissão na vida íntima das pessoas. Intimidade; aquilo que é interior a cada ser humano. Ex.: direito de estar só, de não ser perturbado em sua vida particular, diários, desejos, relacionamentos sexuais, etc. Vida Privada; é o relacionamento de uma pessoa com seus familiares e amigos; é o oposto da vida pública, é a que se vive no recesso do lar e em locais fechados. Honra; é um atributo pessoal; pode ser subjetiva e objetiva. Honra Subjetiva é consideração que uma pessoa tem de si mesma. Honra Objetiva é conceito de uma pessoa no meio social. Imagem; possui duas acepções. Imagem-Retrato; é o retrato-físico; é a representação gráfica, fotográfica, televisionada ou cinematográfica. Imagem-Atributo; é o retrato-social; a forma pela qual uma pessoa é vista no meio em que vive; imagem de bom profissional, pessoa de boa índole, leal, honesto. Este conceito alcança a pessoa jurídica. (ibid) 83 Direito a propriedade:... Faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha... Abrange: direito de colher os frutos da

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consegue-se através do desenvolvimento sustentável e equitativo, que deve ser feito

protegendo o meio-ambiente local e global mediante políticas adequadas, em que tais

políticas para serem adequadas devem atribuir responsavelmente prioridades a

determinados grupos.

Todavia, o bem-estar social não depende apenas das políticas do Estado ou

da existência de um exército maior do que o necessário para defesa territorial perante

inimigos externos, mas também dos próprios membros da sociedade, que não devem

desperdiçar seus esforços e talentos em prejudicar outros ou proteger-se de outrem.

Também não depende só das vantagens naturais [ou adquiridas] de um país sobre

outro ou, até, da produção e da renda de tal país que tenham origem tripartida em três

categorias sociais [proprietários de terra com a renda da terra, mão-de-obra com os

salários e proprietários dos meios de produção com o lucro do capital, sejam ou não

seus respectivos interesses os mesmos da sociedade] e de cujas receitas derivam as

rendas das demais categorias sociais. Nem está, tampouco, no aumento constante

do valor de troca de mercadorias produzidas e distribuídas. Em suma, a felicidade de

um povo não depende somente da quantidade de bens desfrutáveis ou, até mesmo,

do valor destes. O bem-estar social deve ter em conta a forma como alguém se

apropriou da terra ou do capital ou do trabalho ou da posição de outrem e, se tiver

sido de forma ilícita [descumprindo seus deveres], esse membro prevaricante deverá

ver cerceados seus ‘direitos adquiridos’. Mesmo com a ‘evidente’ impossibilidade de

se desenhar uma função social que satisfaça tudo e todos 84, os seres humanos não

coisa; direito de explorá-la economicamente; direito de vender ou doar a coisa... É direito amplo, abrangendo todo direito de conteúdo patrimonial e econômico; tudo que possa ser convertido em dinheiro, alcançando créditos e direitos pessoais... Função social Não mais prevalece a concepção do direito de propriedade como direito absoluto. A utilização e o desfrute de um bem devem ser feitos de acordo com a conveniência social da utilização da coisa. - direito do dono X interesse da sociedade Caso de conflito: - prevalece o interesse social sobre o individual. Ex.: propriedade rural improdutiva → desapropriação para fins de reforma agrária... Intervenção do Estado na Propriedade Privada Toda e qualquer atividade estatal que, amparada em lei, tenha por fim ajustá-la aos inúmeros fatores exigidos pela função social a que está condicionada. Ao Estado será lícito intervir na propriedade toda vez em que não esteja cumprindo seu papel no seio social. (ibid) 84 Em sistemas de voto, o teorema da possibilidade geral [teorema do impossibilidade de Arrows ou o paradoxo de Arrows] demonstram que nenhum sistema de votos baseado em preferências ordenadas pode possivelmente encontrar um determinado conjunto de critérios razoáveis quando há três ou mais opções de escolha. Estes critérios são chamados domínio irrestrito ou universal [a função do bem-estar social deve criar uma ordem social determinística, preferências de grandes grupos sociais completas de cada conjunto possível de ordens de preferências individuais. Em outras palavras: o voto deve ter um resultado que ordena todas as escolhas possíveis relativas a cada um, o mecanismo de votos deve poder processar todos os conjuntos possíveis de preferências dos eleitores, e deve consistentemente dar o mesmo resultado para o mesmo perfil de votos - nenhuma aleatoriedade é

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devem descansar enquanto pelo menos um só deles estiver alijado do ‘progresso’ da

sociedade a que pertencerem... Nem que, para isso, tenham de mudar os hábitos de

suas classes sociais, privando-se até de muitas vantagens que possam ter para que

todos se tornem iguais por convenção ou direito, pois, mesmo em sociedades

modernas em que os elementos de estabilidade sejam dados pela propriedade

privada e pela hereditariedade, é a faculdade dada a todos de subir o quanto for

possível na hierarquia social que conduz aos elementos de mutabilidade ou de

seleção. Portanto, a sociedade tem que ser ‘hierarquizada’ para poder ‘lidar’ com o

dilema moral em que, de um lado, está a estratificação e, do outro lado, o ideal moral

da igualdade. Ora, o mecanismo para ‘corrigir’ tais desigualdades é a própria

‘organização’, cujo formalismo de relações têm que ter graus e tipos ‘adequados’.

Deste modo, o bem-estar social não deve advir de uma corrente de elos monetários

ou elos de medo, mas deve ser fruto de organizações que atendam às necessidades

da sociedade. Finalmente, o bem-estar social é possível mesmo com o controle dos

membros da sociedade, pois tal controle não atua , pelo menos diretamente, sobre o

corpo, apesar da ‘punição social’ em termos penas latentes [antes da transgressão a

um norma ou lei] ou em termos penas efetivas [após a transgressão a um norma ou

lei]. Ou seja, a desobediência dos seres humanos, individualmente, é um subprocesso

que gera punição...

Sob essas três ordens e por elas, fui gerado a partir de verdadeiro genoma

humano metagênico do qual resultou um-ser-em-mim - meu ser consciente

permitida no processo.], não-imposição ou soberania do cidadão [cada possível ordem de preferências do grande grupo social deve ser atingida por algum conjunto de ordens de preferências individuais. Isto significa que a função do bem-estar social é sobrejectiva: Tem um espaço-alvo irrestrito], não-ditadura [a função do bem-estar social não deve simplesmente seguir a ordem de preferências de um indivíduo especial enquanto ignora todos os outros. Isto significa que a função do bem-estar social é sensível a mais do que os desejos de um único eleitor], monotonicidade ou associação positiva de valores sociais e individuais [se um indivíduo modificar o seu ou sua ordem de preferências promovendo uma certa opção, a seguir a ordem de preferências do grande grupo social deve responder somente promovendo essa mesma opção ou não mudando, nunca colocando-a mais abaixo do que antes. Um indivíduo não deve poder ferir uma opção ao ordená-la mais alto], e independência de alternativas irrelevantes [se nós restringirmos a atenção a um subconjunto das opções e aplicarmos a função do bem-estar social somente àquelas, então o resultado deve ser compatível com o resultado para o conjunto todo de opções. Mudanças na ordem dos indivíduos relativamente a alternativas irrelevantes (aquelas fora do subconjunto) não devem ter impacto algum na ordem do grande conjunto social do subconjunto relevante. Esta é uma limitação na sensibilidade da função do bem-estar social]... O teorema de Arrow diz que se o corpo de tomada de decisão tiver pelo menos dois membros e pelo menos três opções para decidir entre elas, então é impossível desenhar uma função do bem-estar social que satisfaça a todas estas condições simultaneamente. (ARROW, 1951. In: WIKIPEDIA, 2007, tradução minha)

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hipermetatrino sujeito a essas três ordens que marcaram profunda e indelevelmente

minha tríade de hipermetafaces antrópicas que culminam em: 1) face antrópica “geo-

socio-político-cidadã”; 2) face antrópica “socio-religiosa-cristã”; e 3) face antrópica

“socio-econômica-vivida”. Um ser representado por mais um “rosto hipermetaalterado”

em rasto de história humana, fragmentada e (mal)(não)contada.

Primeiro, minha face antrópica “geo-socio-político-cidadã” foi retalhada, parte

por “inércia histórica” - muito antes de eu ter nascido - em duas faces

envergonhadas. Uma face antrópica geopolítica, cujos contornos assustadores

foram delineados principalmente pela Bula Inter Coetera - definida como um tratado

em Maio de 1493, do Papa Alexandre VI, onde determinava que o “novo mundo” era

dividido entre Portugal e Espanha – e ratificados na Conferência de Berlim, de 15 de

novembro de 1884 a 26 de fevereiro de 1885. Após o “aborto” do projeto Mapa cor-

de-rosa pelo Ultimato Britânico de 1890 (que ameaçou guerra a Portugal) os matizes

sombrios desse alvará papal evoluíram para: uma cor imposta por insano processo

colonial português; outra cor insurgindo-se, depois do fim da II Grande Guerra Mundial

em 1945, nos anos 1950, impulsionada por processos de descolonização iniciados

em África, com o início da articulação de uma resistência multifacetada contra a

dominação colonial. Uma face antrópica sociopolítica, desenhada pela perseguição,

política e administrativa, bem como tortura a meu avô materno – o português

alentejano Francisco da Costa, o “Chico Fama”, o “Fuscamata” republicano e

democrata genuíno – que, durante a ditadura do estadista nacionalista português

António de Oliveira Salazar, foi desterrado para uma das colônias portuguesas:

ANGOLA.

Num flash dessa história, nasci Da Costa Ferreira em 26 de novembro de

1957, em Angola, já marcado: “colono português” de além-mar, em Vila Luso85 - Da

Costa por parte de minha mãe biológica e Ferreira por parte de meu pai biológico.

Como qualquer ser humano não clonado, comecei de alguma forma embrionária

incubado em útero materno, nadando, esbracejando e esperneando em cultura de

caldo materno - líquido amniótico que me protegia de choques mecânicos e térmicos.

Até eu “ser” parido naturalmente sob gritos de dor de minha querida mãe e meus

85 Hoje, Luena, cidade e capital da província do Moxico - então, distrito. Próximo da fronteira com o oeste da Zâmbia. E com o sul da República Democrática do Congo - então Congo Belga (1908-1960); depois, República do Congo (1960) e Zaire (1971-97).

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próprios gritos tanto “lamentando” a saída de meu conforto natural como “reclamando”

da entrada no desconforto hospitalar de cultura de caldo social. Este é verdadeiro

testemunho humano de transculturalidade: meu primeiro deslocamento, forçado

naturalmente.

No quarto ano do meu presente contínuo - a partir de 1961 - aquela face

histórica geopolítica era retalhada e bombardeada por beligerantes em combate

armado: de um lado, o colonizador Portugal; do outro lado, uma resistência que visava

a transformação da colónia de Angola em país independente. Em 1962, uma “ala

liberal” da política em Portugal tentou uma operação de cosmética86 tanto ao conceder

direitos de cidadão a todos os habitantes de Angola como ao expandir enormemente

o sistema de ensino. Os primeiros desses combates aconteceram na região do Luena,

onde eu vivia, e tiveram uma consequência direta para mim outro verdadeiro

testemunho humano de transculturalidade:: o meu segundo deslocamento, forçado de

modo não-natural. O destino forçado foi a cidade de Nova Lisboa87, onde a minha vida

continuou, mas com “normalidade” colonial, limitada por algumas medidas de

segurança.

Nessa “normalidade”, pese embora aquela longa guerra de “libertação”, eu

acreditava que, nesse período de meu (des)envolvimento humano, estava num

“paraíso” colonial. Longe de quezílias de política de esquerda, centro e direita, de

“metrópole” portuguesa, e bem mais afastado da chamada Guerra Fria entre as duas

únicas potências militares do mundo de então: EUA- Estados Unidos da América do

Norte; e URSS- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. E essa crença

“paradisíaca” cimentou-se quando, nos primeiros anos da década de 1970, tornaram-

se muito fracas (mesmo quase nulas) as hipóteses dos três movimentos de

“libertação” de Angola conseguirem a independência desta pela força de “suas”

armas. Enquanto isso, aquela face antrópica sociopolítica era suavizada porque

cresci no aconchego de uma família tradicional portuguesa. Complementarmente,

estudei num sólido sistema de ensino público de Portugal aplicado às suas colónias,

tendo concluído integralmente o Ensino Secundário no Liceu Nacional General Norton

de Matos em meados de 1975.

86 “Cosmética”: de "colónia" passou a "província" e mais tarde a "Estado de Angola". 87 Hoje, cidade do Huambo, no então distrito do Huambo (hoje, província), no Planalto Central de Angola.

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No entanto, nas ondulações suaves e modorrentas desse caldo cultural,

enquanto eu já escolhia o lugar para fazer meu primeiro curso “superior”, aquelas duas

faces antrópicas históricas transfiguravam-se completamente e revolviam esse caldo.

Primeiro, por uma onda exógena gigante. Logo em seguida, por ondas endógenas

fortes entrecruzadas, de fluxos ou contrafluxos avassaladores e letais, principalmente

para as populações locais. Essa onda gigante formou-se na metrópole Portugal, em

25 de abril de 1974, no momento em que o Movimento das Forças Armadas (MFA)

liderou a Revolução dos Cravos e iniciou um processo “socio-geo-politico-militar“

que culminaria com a implantação pacífica de um regime democrático civil (de

transição militar) e a vigência de Nova Constituição Portuguesa - promulgada em 25

de abril de 1976, com certa “orientação socialista”. Porquanto, uma das intenções logo

manifestada por aqueles “golpistas revolucionários” foi anunciar sua intenção de

permitir a independência imediata de todas as “colónias” portuguesas. E aquelas

ondas fortes entrecruzadas foram impulsionadas por tal perspectiva de independência

e de fim imediato unilateral dos combates por parte das forças militares portuguesas

em Angola. Tais “ondas” foram ganhando corpo avassalador à medida que eram

acirradas e descontroladas as lutas armadas pelo poder, entre os três

autodenominados “movimentos de libertação” angolanos (e seus aliados). Entornou-

se o caldo cultural de Angola, comigo lá dentro !

Entretanto, fracassaram todos os esforços do novo regime português para a

constituição de um governo de “unidade nacional” em Angola. Esses fracassos

conduziram tanto ao repatriamento para Portugal de muitos portugueses então

radicados em Angola (os retornados) como também a fugas principalmente para a

África do Sul e o Brasil (os refugiados de guerra). Eu integrava o agregado familiar de

meu pai repatriado como retornados de África. Lisboa, no final de agosto de 1975, foi

a cidade de destino forçado do meu terceiro deslocamento, forçado também de modo

não-natural. Mais um verdadeiro testemunho humano de transculturalidade. Assim,

como resultado do irresponsável processo de descolonização e independência dessa

então província portuguesa, passei a ser considerado retornado de África ou

refugiado de guerra. Na primeira condição, como português de segunda categoria

ou português bastardo, em Portugal, de agosto de 1975 a dezembro de 1976. Na

segunda condição, como irmão angolusitano ou lusoangolano, em metrópoles do

Brasil: até julho de 1978, na cidade de São Paulo; e, até abril de 1990, na cidade do

Rio de Janeiro. Nesse ponto de meu presente contínuo, eu estava alma dividida entre

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“português natural de segunda” e “irmão adoptivo de brasileiro”, enquanto meu espírito

dormia prisioneiro em meu corpo humano ameaçado por turbilhões culturais

lusófonos.

No Brasil, uma inevitável face socioeconômica, não menos envergonhada,

juntou-se àquelas duas faces geossociopolíticas de conjurações antrópicas. De 1976

a 1984, esta “sobrepujou” aquelas outras duas. Mas a face sociopolítica voltou a

evidenciar-se, a partir de diversas manifestações populares em muitas cidades

brasileiras, num movimento político democrático88 Diretas Já (1983-1984), mas de

eleições indiretas89 em 15 de janeiro de 1985 e das tão esperadas eleições diretas em

198990, para Presidente da República Federativa do Brasil. Mormente, por ter-me sido

reconhecida em 1986 a igualdade de direitos e obrigações civis e o gozo de

direitos políticos no Brasil91. Fui envolvido por aquelas manifestações (e sua

frustação), fiquei indiferente àquelas “indiretas” e, pela primeira vez, votei em “diretas”

para Presidente da República do Brasil. Porém, a face socioeconômica voltou a

ganhar contornos enormes e preponderantes quando, em 25 de abril de 1990, recém-

casado, fui contratado para a direção administrativa e financeira de uma indústria de

agronegócio em Elvas, Alentejo, Portugal. Por isso, retornei a Portugal92, terra da

minha parentela, naquele que foi o meu quarto deslocamento e único não-forçado.

Outro verdadeiro testemunho humano de transculturalidade.

Segundo, minha face antrópica “socio-religiosa-cristã”, em Portugal, após a

primeira metade da década de 1990, uma inevitável quarta face, não menos

envergonhada, juntou-se àquelas três faces “geo-socio-politico-economicas”,

88 Este movimento era favorável e apoiava a emenda constitucional do deputado federal Dante de Oliveira que restabeleceria as eleições diretas para Presidente da República Federativa do Brasil. Foram feitas passeatas e comícios que contaram com a participação de milhares de brasileiros e outros. Em 25 de abril de 1984, essa emenda foi colocada em votação. Porém, para a desilusão do povo brasileiro, ela não foi aprovada. 89 Tancredo Neves foi eleito indiretamente Presidente da República Federativa do Brasil. Todavia, como ele faleceu por doença antes de assumir o cargo, tomou posse o seu vice, José Sarney – que se tornou o primeiro presidente civil após o regime de Ditadura Militar (1964-1985). 90 Após ter sido estabelecida na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988. 91 Conforme Portaria nº 530, de 10 de outubro de 1986, do Ministro da Justiça, publicada na Seção I do DiárioOficial da União (DOU) de 13 de outubro de 1986. 92 Onde também estive como Gestor de Contas de Clientes Internacionais da trading japonesa Marubeni UK Plc-Lisbon Branch e Consultor Técnico de Gabinete de Arquitetura. E destaco o meu projeto de Modernização e Integração da Área Administrativa da empresa SOPOL (janeiro de 2004 a fevereiro de 2006, no município do Seixal, no distrito de Setúbal), bem como minha produção técnico-científica na elaboração de Mapa Estratégico (2004) usando o Balanced ScoreCard (BSC).

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valorizando conjurações de meu presente contínuo: uma face

socioreligiosapentecostal, que se sobressaiu de 1995 até meados da primeira década

do século XXI (e 3º Milênio) dC. Nesta, depois de ter ouvido falar do Criador do

Universo, conheci-O e amadureci com Ele, Seu Espírito e Sua Palavra. Foi nos anos

2005 e 2006 que, diante de mim, despontaram, mui fortemente, dois tipos de faces

não-antrópicas, a um tempo com e sem faces visíveis: Face do Criador e face de

Sua Criação. Em especial este alinhamento-mestre de teoria-reversa e prática-

recursiva:

...

NadaTudo ↔TempoEspaço ↔ CaosCosmo ↔ HélioLuna ↔ GeoAntropoTopo

...

Em 19 de fevereiro de 2006, por ordem divina direta inter spiritus, o Criador,

YAH (EU SOU), mandou-me largar tudo e voltar imediatamente para o Brasil. Em

obediência, depois de dar todos meus bens materiais, exceto algumas roupas,

cheguei no meu destino93 ao fim de três dias. Foi o meu quinto deslocamento forçado,

mas o primeiro de modo sobrenatural. Voltei para o estado brasileiro do Rio de Janeiro

(ERJ) e fui seguindo minha trilha espiritual, em Campo Novo94. Só após isso

reapareceram conjurações antrópicas, mas de faces mais cavadas, particularmente

profundas.

Terceiro, minha face antrópica socioeconômicavivida foi retalhada, face

antrópica

Uma face socioacadêmica, extremamente preponderante. Em 17 de abril de

2007, obtive bacharelato em Ciências Econômicas (DA COSTA FERREIRA, 2006-

2007). Tornei-me especialista: em 09 de maio de 2011, Logística Portuária, com

minha monografia intitulada “Economia Humana: Por Onde Anda a Responsabilidade

Social?” (DA COSTA FERREIRA, 2011); e, em 14 de maio de 2013, Meio-Ambiente e

Desenvolvimento Regional (DA COSTA FERREIRA, 2008a), (DA COSTA FERREIRA,

2008b), (DA COSTA FERREIRA, 2008c), (DA COSTA FERREIRA, 2009 a), (DA

COSTA FERREIRA, 2009 b), com minha monografia intitulada “Ambiente Homo-

Antrópico: Incubadora Tecnológica de Integração Humana” (DA COSTA FERREIRA,

93 Com esposa; e cão e gato - dois rafeirus sortudus, um caninus, outro felinus. 94 Localidade no interior Norte/Nordeste Fluminense – município de Campos dos Goytacazes.

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2012). Entretanto, com essas duas “especializações” enveredei por variantes de

economia que priorizassem vidas humanas integradas em seu habitat, com dignidade

e responsabilidades, individuais e coletivas – Economia Humana: Economia

Ecológica; Economia Solidária; Economia Urbana.

Uma face socioeconômica. Desde janeiro de 2007, como Consultor em

Desenvolvimento Departamental, Empresarial, Local, Regional e Global - Integração

Dinâmica de Uni(Di)versidade, em Ciber “Tempo-Espaço” (CTE) ou Ciber

“Espaço-Tempo” (CET), por Sistemas AutoGestionários (SAG), via algumas

Ciências Sociais Aplicadas: Ciência da Informação; Ciência do Conhecimento;

Economia Regional; Economia Urbana; Economia Humana; Planejamento

Institucional; Planejamento Departamental; Planejamento Regional; Planejamento

Local; e Planejamento Urbano. Desde janeiro de 2008, como Consultor

Credenciado95 para a Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia (UAIT) do

SEBRAE96 Nacional: Incubadoras Tecnológicas, Polos e Parques Tecnológicos. De

março a dezembro de 2010, Perito Economista na 2ª Vara Cível da Comarca de

Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. E, desde 01 de junho de 2011, Técnico

Universitário Especializado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

que, a partir de fevereiro de 2017, ficou ligado a projetos do Núcleo de Estudos

Avançados e Desenvolvimento (NEAD) da Coordenadoria de Estudos Estratégicos e

Desenvolvimento (CEED).

Ademais, ainda no sentido de alguma continuidade acadêmica, no início de

2011, iniciei meu projeto de desenvolvimento local e regional por processo de

incubação territorial e humana. Desde 201297, optei também por escrever artigos e

livros, científicos, sobre pesquisa de Economia Humana: vidas humanas assistidas

por técnicas e tecnologias de ponta, em Ciber-Incubadora de Integração Humana

(CIIH). No início de 2013, iniciei também meu projeto de pesquisa para enfrentar

“realidades complexas” de forma integrada hipermetadisciplinar, do qual

resultou um artigo que escrevi com minha esposa (FERREIRA, et al., 2014) -

publicado na Revista Poéticas Visuais. Em 2015, foi aceite e publicado meu artigo

95 De setembro a dezembro de 2013, realização de estudos técnicos em incubadoras de empresas aprovadas no Edital 01/2011 - CERNE 1. 96SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 97 Antes de começar a escrever meu primeiro livro sobre Economia Política - ainda no prelo.

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científico “Enfrentando a Complexidade Real do Lugar: um Novo Tipo de Incubadora

Tecnológica” (DA COSTA FERREIRA, 2015). Ainda nessa senda acadêmica, desde

março de 2014, tenho estado Pesquisador Especialista na área de Planejamento

Urbano e Regional, no Grupo de Pesquisa98 Interinstitucional de Desenvolvimento

Municipal / Regional- ITEP / UENF / UNIFLU: Cientificidade e Incubadora Tecnológica

de Empreendimentos para o Desenvolvimento Harmônico Integral, Solidário e

Sustentável. E Pesquisador Especialista Coordenador na área de Integração

Humana, em Subgrupo de Pesquisa Economia Humana: Vidas humanas assistidas

por técnicas e tecnologias de ponta em Incubadora Tecnológica de Integração

Humana. Destacando-se minha participação no I Congresso de Pesquisadores de

Economia Solidária (CONPES) com o artigo científico “Da Economia Solidária à

Economia da Informação: a Mediação de Telecentros Autogestionários“ (DA COSTA

FERREIRA e PORTELA, 2015).

Enfim, EU "SOU" um ser trino, de espírito “livre” prisioneiro de corpo humano

"iludido" pela própria alma e almas de outros humanos - Ser Consciente

HiperMetaTrino. EU “ESTOU” - et pluribus unum et ipso facto – um entre muitos e,

pelos próprios fatos, também três em um em termos de geocontinentes -

afreuramericano (do sul) - e de estados-nações (do sul), angolusobrasileiro. Contudo,

desde 2016, soltando mais meu espírito e minha alma, reféns de meu corpo em

processo de envelhecimento, anseio por uma ciberincubação de processo (a)biótico

de integração humana tópica (local, regional e global) em (macro)(sub)(micro)bacias

hidrográficas, a partir de atuais países “unidos” por hipocrisia de nações, suas

constituições, bandeiras, hinos e contradições, de “direito” e de fato.

Essa UNI(DI)VERSIDADE99, desde meu nascimento até o advento do atual

ciberespaço descontrolado, envolveu-me em “ambiente humano” mutante e tentou

moldar-me inexoravelmente ameaçadoramente. - em PONTO DE RUPTURA DE

98 Grupo de pesquisa certificado pelo CNPq. 99 Uni(di)versidade: neologismo criado por mim para designar tanto a diversidade numa unidade, percebida ou a perceber pela “universidade”, quanto a unidade nessa diversidade, percebida, pensada ou catalisada por uma “universidade” (qualidade ou condição de universal). O “(di)” representa quer os princípios dialógico e diacrônico do pensamento complexo, na relação complexa diversidade↔universidade, quer a espiral (intra)(inter)(retro)ativa de excludentes complementares (ou complementaridades excludentes) de saber dito erudito e de saber dito popular. Esse neologismo representa um possível choque cultural sincrético: ...→ local ↔ regional ↔ global →...

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HISTÓRIA INERCIAL, sinto, penso, diagramo e ajo como Homo Antropos Ecleticus

Responsabilis Matrioscas (HAERM).

3.1.2 SOCIEDADE DE “NÔMADE” A “SEDENTÁRIA”

Kevin Andrew Lynch100 (1960 p. 23), vivendo de 1918 a 1984, disse que

O homem primitivo era forçado a melhorar o seu meio ambiente adaptando a sua percepção à paisagem existente. Podia efetuar transformações de menor importância com túmulos, fogueiras ou sinais nas árvores, mas transformações substanciais para uma clareza ou interligação visuais estavam limitadas a locais para construção de casas ou recintos religiosos. Só civilizações poderosas podem começar a atuar no seu meio ambiente de um modo significante. Apenas recentemente se tornou possível a consciente remodelação em larga escala de meios ambientes físicos e, por isso, o problema da imageabilidade ambiental é novo. Do ponto de vista técnico, é possível criar paisagens novas num curto espaço de tempo, como, por exemplo, os diques holandeses. Aqui, os desenhadores encontram-se já ocupados com a questão de como poderão formar o panorama total de modo a que se torne fácil para o observador humano identificar as partes e estruturar o todo.

Lívia de Oliveira (2012 pp. 9-10; itálico no original) diz que Joseph Muntañola

(1973 pp. 45-51) escreve sobre história de lugar chamando atenção para

NOMADISMO e SEDENTARISMO.

Povos que viveram ou vivem uma vida nômade se estruturavam em um lugar sociofísico de aspecto itinerante; enquanto os povos de economia agrícola sedentária concebiam um lugar predominante radiante. Além disso, todos os povos tiveram de equilibrar o itinerante e o radiante do lugar, sem isso sua mobilidade teria sido, sociofisicamente falando, nula (...) aborígenes australianos cuja noção de lugar reside na qualidade de estar aqui e não acolá, acentuando a separação entre o interior e o exterior, o que revela a ideia de envolvimento como essencial ao lugar. Entre esses povos não é a gente que possui a terra, e sim a terra que possui a gente. Assim, as propriedades não são medidas, mas conhecidas. O exemplo citado de sedentarismo mitológico radiante são os lugares dos impérios mesopotâmico e egípcio. Não são mais os fatos naturais que dirigem as relações do habitar com o falar, mas os fatos construídos com seus

100 Kevin Andrew Lynch foi um urbanista e escritor. Lynch estudou na Yale University, no estúdio Taliesin (com Frank Lloyd Wright) e no Instituto Politécnico Rensselaer. Graduou-se em planejamento urbano pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 1947. Começou a lecionar no MIT no ano seguinte, tornou-se professor assistente em 1949 e professor em 1963. Sua importante contribuição ao planejamento urbano se deu através de pesquisas empíricas sobre como os indivíduos observam, percebem e transitam na paisagem urbana. Seus livros exploram questões tais como a presença do tempo e da história no ambiente urbano, como os ambientes urbanos afetam as crianças ou como aguçar a percepção humana acerca da forma física das cidades e regiões, constituindo assim uma base conceitual para um bom desenho urbano. O seu livro mais famoso A Imagem da Cidade, publicado em 1960, resultou de cinco anos de estudos sobre o modo pelo qual as pessoas percebem e organizam informações aleatórias quando trafegam pelo espaço urbano. A Imagem da Cidade teve uma importante e durável influência no planejamento urbano, na arquitetura e na psicologia ambiental. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Kevin_Lynch, em 19/05/2019.

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armazéns, ferramentas, transportes, palácios, templos. Todos esses fatos são artifícios que ignoram o acordo sociofísico nos povos nômades. Sabemos, agora, que o lugar nunca é inteiramente itinerante nem radiante, mas sim uma mescla de ambos os tipos de união sociofísica. O lugar industrializado é um exemplo das complexas misturas possíveis. Nestas não é fácil culpar as pessoas concretas pelos erros e injustiças do lugar. Cada um dos setores econômicos primários (mineração e agricultura), secundários (indústria) e terciários (circulação e de serviços) exigem um equilíbrio entre o lugar radiante e itinerante, de naturezas diferentes, sendo o cruzamento sociofísico total um cruzamento entre as três uniões.

E Lívia de Oliveira (2012 p. 16) arremata ajuizando que

Talvez a mais significativa dimensão do lugar seja a sociofísica, na qual o conceitual e o figurativo se equilibram entre intinerância (sic) e a radiância, pois almejamos a aventura do nômade de conhecer novos lugares, novos mares, novas gentes e, ao mesmo tempo, desejamos um “lar” onde chegar, estabelecer e acalentar nossos sonhos e fantasias.

Bela H. Banathy (1996 p. 13; tradução livre)101 afiançou que “estamos em

momento crítico da evolução social, onde satisfação humana sem precedentes, bem

como perda de direção, desespero e destruição, são igualmente possíveis”. No

entanto, Banathy (ibidem) reconheceu que

não estamos à mercê de forças evolutivas, mas temos potencial e oportunidade de dar direção à evolução social através de projeto sistêmico, desde que criemos uma visão evolutiva para o futuro e desenvolvamos vontade e competência para realizar essa visão, em nossas vidas, em nossas famílias, nos sistemas em que vivemos, em nossas comunidades e sociedades, assim como no sistema global da humanidade.

Entretanto, Reber102 (2010) argumenta que, “para fomentar uma sociedade

economicamente letrada, é necessário incorporar o pensamento sistêmico à

experiência de aprendizagem de crianças, jovens e adultos, uma vez que é a peça

central de uma compreensão fundamentada de questões econômicas”.

Murray Newton Rothbard (pp. 13-16), vivendo de 1926 a 1995, esmiúça

otimismo e pessimismo de “conservadores” e afirma que “número excessivo de

libertários vincula de modo errôneo o prognóstico da liberdade ao do movimento

101 Apud REBER (2010, 12): We are at a critical juncture of societal evolution where unprecedented human fulfilment as well as a loss of direction, despair, and destruction, are equally possible. However, we are not at the mercy of evolutionary forces but have the potential and the opportunity to give direction to societal evolution by [systemic] design, provided we create an evolutionary vision for the future and develop the will and the competence to fulfil that vision in our lives, in our families, in the systems in which we live, in our communities and societies, and in the global system of humanity. 102 No original: I argue that in order to foster an economic literate society, it is necessary to incorporate systems thinking into the learning experience of children, youth, and adults since it is the centerpiece of a grounded understanding of economic issues.

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conservador, mais forte na aparência e supostamente um aliado”. Numa vinculação

que “torna fácil de compreender o pessimismo característico do libertário moderno

quanto ao futuro a longo prazo”. Rothbard mostra derrocada de “Velha Ordem” - como

concepção da história segundo a qual existiu na Europa Ocidental antes do século

XVIII (e continua a existir fora do Ocidente) - que, quer tenha assumido forma de

feudalismo ou de despotismo oriental, caracterizou-se por tirania, exploração,

estagnação, castas estanques, desesperança e fome para maior parte de povo. Em

suma, Rothbard evidencia vida “sórdida, brutal e curta” em “sociedade do status’’

de Maine e “sociedade militar” de Spencer, nas quais classes ou castas

dominantes governavam pela conquista e persuadindo massas de pretenso

imprimatur103 divino conferido a seu poder. Para Rothbard, “Velha Ordem foi, e

ainda é, o grande e poderoso inimigo da liberdade”.

Rothbard (pp. 17-19), apontando para ascensão e declínio do “liberalismo”,

afirma que “LOGO TOMARAM CORPO na Europa ocidental duas grandes

ideologias políticas, centradas nesse novo fenômeno revolucionário. Uma delas foi

o liberalismo, o partido da esperança, do radicalismo, da liberdade, da revolução

industrial, do progresso, da humanidade; a outra foi o conservantismo, o partido da

reação, o partido que almejava restaurar a hierarquia, o estatismo, a teocracia, a

servidão e a exploração de classe próprios da Velha Ordem”. Prossegue Rothbard

dizendo que uma vez que razão estava manifestamente do lado de liberalismo,

conservadores turvaram atmosfera ideológica apelando para romantismo, tradição,

teocracia e irracionalismo - as ideologias políticas se polarizaram, com liberalismo em

extrema “esquerda” e conservantismo em extrema “direita” de espectro ideológico.

Dessa forma, Rothbard (pp. 21-26) demonstra que o “liberalismo” foi

relegado dentro de suas próprias fileiras e que já não havia partido de esperança

no “mundo ocidental” - nenhum movimento de “esquerda” - para levar à frente

uma luta contra o estado e contra os remanescentes ainda intactos da Velha

Ordem. Nessa brecha criada pelo esvaziamento do liberalismo radical,

103 Imprimātur é um termo latino que se refere à permissão ou autorização concedida por autoridades eclesiásticas (antigamente, também pelos censores régios) para que determinado texto seja impresso. Essa autorização deve então figurar no verso da página de rosto ou do anterrosto. A palavra corresponde a uma substantivação do latim imprimātur ('que se imprima'), Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Imprimatur, em 03/05/2019.

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introduziu-se um novo movimento: o “socialismo”. E Rothbard contraria

pensamento e ideologias atuais – falsa transculturalidade – ao dizer que

Os libertários de hoje estão habituados a pensar no socialismo como diametralmente oposto ao credo libertário. Mas este é um grave equívoco, responsável por séria desorientação ideológica dos libertários no mundo atual. como vimos, o conservantismo era o oposto absoluto da liberdade, e o socialismo, embora à “esquerda” do conservantismo, era essencialmente um movimento confuso, de cunho intermediário. Era de cunho intermediário, e ainda o é, por tentar alcançar fins liberais pelo uso de meios conservadores. Em suma, Russell Kirk, para quem o socialismo foi o herdeiro do liberalismo clássico, e Ronald Hamowy, que o vê como herdeiro do conservantismo, estão ambos certos, dependendo de que aspecto desse confuso movimento centrista estejamos focalizando. À semelhança do liberalismo, e em oposição ao conservantismo, o socialismo aceitou o sistema industrial e as metas liberais de liberdade, razão, mobilidade, progresso, padrões de vida mais elevados para o povo, e um basta à tecnocracia e à guerra; mas tentou chegar a esses fins utilizando meios conservadores, incompatíveis com eles: estatismo, planejamento centralizado, comunitarismo etc. Ou, antes, para ser mais preciso, houve desde o início duas tendências dentro do socialismo. Uma era a corrente de direita, autoritária, desenvolvida a partir de Saint-Simón, que glorificava o estatismo, a hierarquia e o coletivismo, sendo portanto um prolongamento do conservantismo, e empenhando-se em adaptar-se à nova civilização industrial e em dominá-la. A outra era a corrente de esquerda, relativamente liberal, representada em suas diferentes modalidades por Marx e Bakunin, revolucionária, muito mais interessada na consecução das metas libertárias do liberalismo e do socialismo, e, sobretudo, na destruição do aparelho de estado, de modo a chegar ao “definhamento do estado” e ao “fim da exploração do homem pelo homem”. (itálicos no original)

Rothbard continua contrariando pensamento e ideologias atuais ao sinalizar

que esta frase de Marx - “substituição do governo de homens pela administração

de coisas” - pode ter sua origem reconstituída, por uma via tortuosa, a partir dos

grandes liberais radicais franceses do laissez-faire, do início do século XIX:

Charles Comte (nenhuma relação com Auguste Comte) e Charles Dunoyer. E o

mesmo pode ser feito com o conceito de “luta de classes”, com a diferença de que,

para Dunoyer e Comte, as classes inerentemente antitéticas eram, não empresários

versus operários, mas aqueles que têm função produtiva na sociedade

(abrangendo livres-empresários, operários, camponeses etc.) versus as classes

exploradoras que constituíam o aparelho estatal e eram por ele privilegiadas.

Rothbard (ibidem) apesar de ter constatado “oscilações reacionárias no sentido

de um retorno ao estatismo", considerava que o “mundo” mantinha-se em plano muito

superior ao do “mundo do passado”

Quando consideramos também que, de uma maneira ou de outra, a velha Ordem do despotismo, do feudalismo, da teocracia e do militarismo dominou todas as civilizações humanas até a civilização ocidental do século XVIII, o otimismo quanto ao que o homem conquistou e pode conquistar deve tornar-se ainda maior. É possível retrucar, entretanto, que

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esse árido registro histórico de despotismo e estagnação apenas reforça o pessimismo das pessoas, pois mostra a persistência e a durabilidade da velha Ordem e a pretensa fragilidade e o esmorecimento da Nova, sobretudo em vista do retrocesso ocorrido no século passado. Mas uma análise de tal superficialidade deixa de considerar a grande mudança ocorrida com a revolução da nova Ordem, mudança claramente irreversível. Pois a velha Ordem pôde persistir ao longo de séculos em seu sistema de escravidão apenas porque não despertava quaisquer expectativas ou esperanças nas mentes de populações imersas na penúria; o quinhão que lhes cabia era viver e subsistir em animalesca labuta na escravidão, enquanto obedeciam de forma incondicional às ordens de seus senhores, designados por deus.

Em especial, Rothbard (ibidem) evidenciou que “a revolução liberal implantou

de modo indelével no espírito dos povos – não apenas do Ocidente, mas

também no mundo subdesenvolvido ainda sob domínio feudal – um ardente

desejo de liberdade”.

De terra para o campesinato, de paz entre as nações, e, talvez acima de tudo, de mobilidade e de padrões de vida ascendentes, que só lhes podem ser assegurados por uma civilização industrial. As classes subalternas jamais voltarão a aceitar a servidão insensata da velha Ordem; e, dadas essas exigências que o liberalismo e a revolução industrial vieram despertar, a vitória final da liberdade é inevitável. Apenas a liberdade, apenas um mercado livre, podem organizar e preservar um sistema industrial; e quanto maior é a população, mais necessário se faz o funcionamento desembaraçado dessa economia industrial. O laissez-faire e a exigência de um mercado livre [laisser-passer] tornam-se mais evidentes à medida que um sistema industrial amadurece; desvios radicais provocam colapsos e crises econômicas.

Rothbard (ibidem) elucidou que “a crise do estatismo torna-se em especial

dramática e aguda em sociedades de todo socializadas” e, segundo ele, “por isso,

o colapso inevitável do estatismo tornou-se flagrantemente notório em primeiro

lugar nos países do campo socialista (i.e., comunista)”.

Pois o socialismo defronta-se de maneira mais direta com as contradições internas do estatismo. Tenta com desespero cumprir as metas que anuncia em relação ao crescimento industrial, a padrões de vida mais elevados para a população, e ao definhamento final do estado – e, cada vez mais, torna-se incapaz de alcançá-las mediante seus meios coletivistas. Donde o colapso inevitável do socialismo. No entanto, a progressiva falência do planejamento socialista foi em parte obscurecida de início, e isto porque os leninistas tomaram o poder não num país capitalista desenvolvido (como Marx erroneamente o previra), mas em um país submetido à opressão do feudalismo. Em segundo lugar, por muitos anos após a tomada do poder, os comunistas não tentaram impor o socialismo à economia – na Rússia soviética, não o fizeram até que a coletivização forçada implantada por Stalin no início da década de 1930 viesse anular a sabedoria da Nova Política Econômica de Lênin, que Bukharin – o teórico favorito do próprio Lênin – teria ampliado na direção de um mercado livre. Mesmo os supostamente fanáticos líderes comunistas da China não impuseram uma economia socialista àquele país até fins da década de 1950. Em todos esses casos, a crescente industrialização provocou uma série de colapsos econômicos de tal gravidade que os países comunistas, contrariando seus

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princípios ideológicos, tiveram de afastar-se passo a passo do planejamento central e retornar a diversos graus e formas de um mercado livre.

Rothbard (ibidem) apontou o inevitável processo de dessocialização em

países para lá da Cortina de Ferro:

O Plano Liberman para a União Soviética ganhou enorme notoriedade; mas o inevitável processo de dessocialização foi muito mais longe na Polônia, na Hungria e na Tchecoslováquia. A Iugoslávia, porém, foi o país que mais avançou: liberta da rigidez stalinista mais cedo que esses outros países, promoveu sua dessocialização em apenas doze anos, em ritmo tão acelerado e levando-a a tal ponto que hoje sua economia mal pode ser considerada mais socialista que a da França. O país continua sendo governado por pessoas que se intitulam “comunistas”, mas isso é irrelevante para o plano dos fatos sociais e econômicos básicos. O planejamento central virtualmente desapareceu na Iugoslávia. O setor privado não só predomina na agricultura, como é forte também na indústria; o próprio setor público foi tão radicalmente descentralizado e submetido às provas da livre arbitragem dos preços e do lucro e perda, bem como à propriedade de cada fábrica pela cooperativa de seus trabalhadores, que mal se poderia falar da sobrevivência de um verdadeiro socialismo. Só resta por ser dado, no caminho que leva ao capitalismo completo, o passo final de converter o controle sindical dos trabalhadores em cotas individuais de propriedade. A China comunista e os abalizados teóricos marxistas de Monthly Review perceberam claramente a situação e lançaram o alarme de que a Iugoslávia deixara de ser um país socialista.

Rothbard (ibidem) destaca tanto “notável previsão feita pelo Professor Ludwig

von Mises meio século atrás” como uma antevisão “romântica” por discípulo deste

para processo de dessocialização em países comunistas

Poder-se-ia pensar que os economistas do mercado livre fossem festejar a confirmação e a crescente relevância da notável previsão feita pelo Professor Ludwig von Mises meio século atrás: a de que os estados socialistas, sendo necessariamente desprovidos de um sistema de preços genuíno, não teriam condições de calcular em termos econômicos, e, em consequência, seriam incapazes de planejar sua economia com qualquer grau de sucesso. Na verdade, um discípulo de von Mises anteviu esse processo de dessocialização num romance escrito há alguns anos. E, no entanto, nem esse autor nem qualquer outro economista do mercado livre deu o mais leve indício de sequer admitir – que dirá aclamar – a ocorrência desse processo nos países comunistas. Talvez porque sua posição quase histérica em face da pretensa ameaça do comunismo os impeça de admitir qualquer dissolução no suposto monopólio que os ameaça. Os países comunistas estão, portanto, progressiva e inexoravelmente fadados a dessocializar-se, e acabarão, assim, por chegar ao mercado livre.

Rothbard (ibidem) avança em seu “constante otimismo libertário” para países

não desenvolvidos, dizendo que

A situação dos países não desenvolvidos é também motivo de constante otimismo libertário; pois, em todo o mundo, os povos das nações não desenvolvidas encontram-se empenhados em derrubar sua velha Ordem feudal. É verdade que os Estados Unidos fazem o que podem para sufocar processos revolucionários análogos àqueles mesmos que, outrora, permitiram à própria nação norte-americana e à Europa Ocidental escapar aos grilhões da velha Ordem. Torna-se, no entanto, cada vez mais claro que

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mesmo uma esmagadora força bélica é incapaz de sufocar o desejo dos povos de forçar sua entrada no mundo moderno.

Karl Raimund Popper (1980c pp. 155-236), em busca de uma sociedade aberta

e tentando identificar inimigos desta, foca “a ética de Karl Marx” - abordando a “teoria

moral do historicismo” e suas “consequências” em termos de “sociologia do

conhecimento”, “filosofia oracular” e “revolução contra a razão” - para concluir

perguntando: “existe um sentido da história?”. Pergunto eu: quem seriam os

inimigos que Popper percebia para uma democracia liberal, com princípios de

crítica social, em uma sociedade aberta? Respondo eu, mas com alguns trechos

de Popper (ibidem)...

(...) da mesma forma que na ciência, também nas história é impossível evitarmos um ponto de vista; e a crença de que podemos nos leva necessariamente a enganarmos a nós mesmos e a abandonarmos o cuidado crítico. Qualquer descrição histórica de fatos em particular será simplesmente verdadeira ou falsa, independente do grau de dificuldade de se dizer se é verdadeira ou falsa. (p.217)

Do nosso “ponto de vista”, não podem existir leis históricas [ciências históricas] (...) nossa concepção explica por que, na história, nos defrontamos, muito mais que nas ciências generalizantes, com ao problemas de seu “objeto infinito”. É que as teorias ou leis universais da ciência generalizante implicam unidade, além de um “ponto de vista”: elas criam, para cada uma das ciências generalizantes, seus problemas – e seus centros de interesse e de pesquisa – de construção lógica e de apresentação. Na história porém não temos essas teorias unificadoras: na verdade a infinidade de leis universais triviais que usamos são admitidas como dadas; são praticamente desprovidas de interesse e totalmente incapazes de ordenar o objeto da ciência. (221-222)

Eu disse antes que as interpretações podem ser incompatíveis; porém, enquanto as considerarmos meramente como cristalizações de pontos de vista, elas não são incompatíveis. Por exemplo, a interpretação de que o homem progride ininterruptamente (em direção à sociedade aberta ou algum outro objetivo) é incompatível com a interpretação segundo a qual ele ininterruptamente regride ou retrocede. Porém, o “ponto de vista” de alguém que encara a história da humanidade como a história do progresso não é necessariamente incompatível com o daquele que a encara como como a história do retrocesso; quer dizer, poderíamos escrever uma história do progresso da humanidade em direção à liberdade (contendo, por exemplo, a história da luta contra a escravidão) e outra história do retrocesso e da opressão (contendo talvez coisas como o impacto da raça branca sobre as de cor). Essas duas histórias não têm necessariamente que conflitar; ao contrário, elas podem complementar uma à outra, da mesma forma que aconteceria com duas vistas tomadas da mesma paisagem de dois pontos diferentes. (224)

As interpretações que são necessárias, e justificadas, uma ou outra das quais iremos acabar adotando, podem, disse eu, ser comparadas a um holofote. Deixamos que ele incida sobre nosso passado e esperamos que ele ilumine o presente com seu reflexo. Ao contrário disso, a interpretação historicista pode ser comparada a um holofote que voltamos sobre nós mesmos. Fica difícil, senão impossível, ver qualquer coisa à nossa volta, e a luz paralisa nossas ações. Traduzindo a metáfora: o historicista não reconhece que

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somos nós que selecionamos e ordenamos os fatos da história – ele acredita que “a própria história” ou a “história da humanidade” determina por suas leis inerentes – a nós próprios, nossos problemas, nosso futuro e mesmo nosso ponto de vista. Em vez de reconhecer que a interpretação histórica deveria atender a uma necessidade surgida dos problemas práticos e das decisões com que nos defrontamos, o historicista acredita que em nosso desejo de interpretação histórica se exprime a profunda intuição de que, contemplando a história, poderemos descobrir o segredo, a essência do destino humano. O historicismo está à procura do Caminho que a humanidade está destinada a trilhar; está à procura da Chave da História (como diz J. Macmurray), ou do Sentido da História. (225-226)

(...) a história não tem sentido. Para dar minha razões para essa opinião, tenho que primeiro dizer alguma coisa sobre essa “história” em que as pessoas estão pensando quando perguntam se ela tem sentido. Até aqui falei sobre “história” como se ela não necessitasse de qualquer explicação. Isso não é mais possível: quero deixar claro que a “história”, no sentido em que a maior parte das pessoas fala dela, simplesmente não existe. Esta é pelo menos uma das razões por que eu digo que ela não tem sentido. (...) As pessoas recebem lições sobre ela [“história”] na escola, na universidade. Lêem (sic) livros sobre ela. Vêem (sic) o que aparece nos livros com o título “história do mundo” ou “história da humanidade” e se acostumam a encará-la como uma série de fatos mais ou menos precisos. E esses fatos constituem, crêem (sic) as pessoas, a história da humanidade. Já vimos, porém, que o reino dos fatos é infinitamente rico e que tem necessariamente que haver seleção. (...) Aquilo em que as pessoas pensam quando falam de na história da humanidade é a história do império do Egito, da Babilônia, da Pérsia, da Macedônia, de Roma, e assim por diante, até os nossos dias. Em outras palavras: elas falam da história da humanidade, mas o que querem dizer e o que aprenderam na escola é a história do poder político. Não existe história da humanidade, existe apenas uma quantidade indefinida de histórias de todos os tipos de aspectos da vida humana. E uma dessas é a história do poder político, que se vê alçada à posição de história do mundo. Isso, porém, afirmo eu, é uma ofensa a qualquer concepção decente de humanidade. Não é muito melhor do que tratar a história dos desfalques ou dos roubos ou dos envenenamentos como sendo a história da humanidade. É que a história da política das grandes potências constitui apenas a história do crime internacional e do assassínio em massa (incluindo, é verdade, algumas das tentativas de suprimi-los). Essa história é ensinada nas escolas, e alguns dos maiores criminosos são exaltados como seus heróis (226-227, itálicos no original)

Por que, porém, foi selecionada exatamente a história do poder e não, por exemplo, a da religião, ou a da poesia? Há diversas razões. Uma é que o poder afeta a todos nós e a poesia só a alguns. Outra é que os homens têm uma inclinação a cultuar o poder. Não pode haver dúvida, porém, de que o culto do poder é uma das piores espécies de idolatria humanas, uma relíquia do tempo de jaula, da servidão humana. O culto do poder nasce do medo, uma emoção que é justamente desprezada. Uma terceira razão por que a política das grandes potências se tornou o centro da “história” é que os detentores do poder queriam ser cultuados e estavam em condições de impor sua vontade. Muitos historiadores escreveram sob supervisão dos imperadores, dos generais e dos ditadores. (227)

Sei que essas opiniões vão encontrar violenta oposição vinda de muitos lados, inclusive de alguns apologistas do cristianismo. Apesar de quase nada haver no Novo Testamento que sirva de embasamento para essa doutrina, é freqüente (sic) considerar-se como dogma cristão que Deus se revela na história, que a história tem sentido e que esse sentido são os designíos de Deus. O historicismo, dessa forma, aparece como um elemento necessário

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da religião. Eu, porém, não admito isso. Afirmo que essa opinião constitui pura idolatria e superstição, não só do ponto de vista racionalista ou humanista, mas do próprio ponto de vista cristão. (...) Não nego que seja justificável interpretar a história de um ponto de vista cristão, da mesma forma como o é de qualquer outro ponto de vista, e se deveria por certo enfatizar, por exemplo, quantos de nossos objetivos e finalidades, o humanitarismo, a liberdade, a igualdade, devemos à influência do cristianismo. Ao mesmo tempo, porém, a única atitude racional e ao mesmo tempo cristã, inclusive com relação à história da liberdade, é que nós próprios somos responsáveis por ela, no mesmo sentido em que somos responsáveis por aquilo que fazemos de nossas vidas, e que somente nossa consciência pode nos julgar, não nosso sucesso mundano. (...) Afirmar que Deus Se revela no que é chamado geralmente de “história” , na história do crime internacional e do assassínio em massa, é realmente blasfémia: o que acontece de fato no âmbito das vidas humanas quase não é tocado por esse enfoque cruel e ao mesmo tempo infantil. A vida do homem esquecido, do indivíduo desconhecido, suas dores e suas alegrias, seu sofrimento e morte, isso é o conteúdo real da experiência humana através de todos os tempos. Se isso pudesse ser contado pela história, então certamente eu não diria que é blasfémia ver o dedo de Deus nisso. (...) A sugestão de que o sucesso mundano da Igreja constitui um argumento em favor do cristianismo claramente revela falta de fé. Os cristão primitivos não tinham estímulo mundano dessa espécie. (eles acreditavam que a consciência tem que julgar o poder e não ao contrário.) Aqueles que afirmam que a história do sucesso dos ensinamentos cristão revela a vontade de Deus deveriam perguntar-se se esse sucesso foi realmente o sucesso do espírito cristão e se esse espírito não triunfou quando a Igreja foi perseguida, ao invés de quando a Igreja se viu triunfante. Qual Igreja incorporou esse espírito de forma mais pura: a dos mártires ou a Igreja vitoriosa da Inquisição? (...) Minha insistência no sentido de que o sucesso não deve ser cultuado, que ele não deve servir para nos julgar e não devemos nos deslumbrar com ele, e em particular minhas tentativas de mostrar que ao adotar essa atitude estou em conformidade com aquilo que acredito ser os verdadeiros ensinamentos do cristianismo, não devem ser mal compreendidas. (227-230)

(...) de fato, nossa educação, tanto intelectual como ética, é corrupta. É pervertida pela admiração do brilho, do modo como as coisas são ditas, em lugar da avaliação crítica das coisas que são ditas (e das coisas que são feitas). É pervertida pela idéia (sic) romântica do esplendor do palco da história onde somos os atores. Somos educados para representar olhando para a galeria. Todo o problema de educar o homem para uma avaliação sã de sua própria importância com relação à dos outros indivíduos está completamente obnubilado por essa ética da fama e do destino, por uma moralidade que perpetua um sistema educacional que ainda se baseia nos clássicos, com sua visão romântica da história do poder e com sua moralidade tribal romântica que vem desde Heráclito: um sistema cuja base, em última instância, é a adoração do poder. E vez de uma sóbria combinação de individualismo e altruísmo (...) uma combinação romântica de egoísmo e coletivismo é que é aceita sem discussão. (...) existe um elemento neurótico, histérico, nessa ênfase exagerada da importância da tensão entre o eu e o coletivo, e não duvido que essa histeria, essa reação ao esforço da civilização, seja o segredo do forte apelo emocional da ética do culto ao herói, da ética da dominação e da submissão. No fundo de tudo isso existe uma dificuldade real. (...) o professor (...) Apesar de que ele não deve impor sua escala de valores “elevados” a seus alunos, ele certamente deve tentar estimular o interesse deles por esses valores. (232)

A história (...) Podemos interpretá-la, pensando nos problemas políticos cuja solução escolhermos procurar em nosso tempo. Podemos interpretar a história da política das potências do ponto de vista de nossa luta pela

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sociedade aberta, pelo domínio da razão, pela justiça, liberdade, igualdade e pelo controle do crime internacional. Apesar de a história não ter objetivos, podemos impor a ela esses nossos objetivos; e apesar de a história não ter sentido, podemos dar-lhe um sentido. É o problema da natureza e da convenção que encontramos de novo aqui. Nem a natureza nem a história podem nos dizer o que deveríamos fazer. Os fatos, sejam da natureza, sejam da história, não podem tomar a decisão por nós, não podem determinar os fins que iremos escolher. Somos nós que damos propósito e sentido à natureza e à história. (...) A própria história – quero dizer a história da política das potências, é claro, não a história inexistente do desenvolvimento da humanidade – é desprovida de objetivo ou sentido, mas nós podemos decidir dar-lhe ambos. Podemos fazer com que sejam nossa luta pela sociedade aberta e contra seus inimigos (que, quando acuados, sempre elevam seus protestos de sentimentos humanitários, de acordo com os conselhos de Pareto); e podemos interpretá-la de acordo. Em última instância, podemos dizer o mesmo sobre o “sentido da vida”. Depende de nós decidir qual será nosso propósito na vida, determinar nossos fins. Esse dualismo de fatos e decisões é, creio eu, fundamental. Os fatos como tais não têm significado, só podem adquiri-lo através de nossas decisões. (...) Essa ênfase no dualismo dos fatos e das decisões determina também nossa atitude para com idéias (sic) tais como o “progresso”. Se pensamos que a história progride, ou que estamos destinados a progredir, cometemos os mesmos erros daqueles que acreditam que a história tem um sentido que pode ser descoberto nela e que não necessita ser dado a ela. Progredir é mover-se no sentido de alguma espécie de fim, na direção de um fim que existe para nós enquanto seres humanos. A “História” não pode fazer isso; só nós, os indivíduos humanos, podemos fazê-lo; podemos fazê-lo defendendo e fortalecendo as instituições democráticas de que a liberdade – e com ela o progresso – depende. E o faremos muito melhor à medida que nos tornarmos mais completamente cônscios do fato de que o progresso fica por conta de nós mesmos, de nossa vigilância, de nossos esforços, da clareza com que concebemos nossos fins e do realismo de sua escolha. Ao invés de nos arvorarmos em profetas, temos que nos tornar os forjadores de nosso próprio destino. Temos que aprender a fazer as coisas o melhor possível e a estar atentos a nossos erros. E quando tivermos abandonado a idéia (sic) de que a história do poder é que nos julgará, quando tivermos deixado de nos preocupar com se a história irá nos justificar ou não, então um dia talvez possamos conseguir controlar o poder. Dessa forma, poderemos até justificar a história, por nossa vez. Ela precisa muito mesmo de uma justificação. (234-235)

Mansell e Tremblay (2015) afirmaram que o contexto de governança e políticas

para sociedades do conhecimento é cada vez mais imprevisível e também apresenta

muitos novos desafios. Por isso, segundo eles, o ambiente de políticas públicas

precisa ser flexível o suficiente para garantir que atores não fiquem presos em

caminhos insustentáveis como resultado da falta de reflexão e ação

direcionados aos problemas conforme eles surgem.

Ninguém, hoje em dia...pode se dizer um cidadão livre e responsável, apto a votar e a discutir como gente grande, se não está informado das técnicas de manipulação da linguagem e da consciência, que certas forças políticas usam para ludibriá-lo, numa agressão mortal à democracia e à liberdade. Em outras palavras: Você não precisa ser um gênio. Mas

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convém descobrir qual é O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota104. (CARVALHO, 2013 p. 17; negritos e itálicos meus)

Eu descobri que, para “não ser um idiota”, o “mínimo” que alguém precisa saber

- sendo eremita ou vivendo mesmo em sociedade fechada ou aberta (pelo menos

aparentemente) -, independentemente de qualquer ser, é que qualquer estar -

humano ou não - é “ponto complexo” oprimido por dentro e/ou por fora, mas

também oprime em “espaço complexo” – antrópico ou não - seu e/ou de outrem!

E parafraseio Carlos Nelson Santos105 (UFF, 2017a p. 26; negritos e itálicos meus)

dizendo que “a questão básica é saber quem determina qual é o bem-estar mais

conveniente em uma sociedade dada”. Considerando eu que “sociedade dada” ou

“sociedade em processo evolutivo” é abstração categórica que resultou de “fantasia

dialética e dialógica” entre amigos e inimigos, para dividir a “Humanidade” com o único

fito – consciente ou não – de controle primitivo de seres humanos fisicamente fracos

por “seres” fisicamente fortes (humanos, ou não, como deuses) e controle deliberativo

de seres humanos politicamente fracos por “seres” politicamente fortes (humanos, ou

não, como assentamentos, assembleias, bancadas e partidos).

Contudo, a história da Humanidade e a preparação do futuro desta têm

mostrado que esse significado e essa ideia são subvertidos ou subversivos. Assim,

entre o caos e a ordem, naturais e sociais, para reverter essa “história insustentável”

e preparar um “futuro sustentável”, a Carta da Terra (Earth Charter) foi recomendada

em 1987 para estabelecer os principais fundamentos do “desenvolvimento

sustentável”. Essa carta (CONSELHO DA TERRA; CRUZ VERDE INTERNACIONAL,

2008a) e (CONSELHO DA TERRA; CRUZ VERDE INTERNACIONAL, 2008b) é uma

declaração universal de princípios éticos fundamentais para construir-se uma

sociedade humana global justa, sustentável e pacífica, no século XXI e 3º milênio.

Nessa carta foram destacados os desafios futuros a enfrentar mediante

104 Em grego, idios quer dizer “o mesmo”. Idiotes, de onde veio o nosso termo “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez. (CARVALHO, 2013 p. 16) 105De fato, os escritos de Carlos Nelson denotam, apesar de produzidos há décadas, uma contemporaneidade digna de grandes pensadores e inovadores, com constatações que só presentemente frequentam encontros e discussões sobre habitações, cidade, arquitetura e urbanismo, aglomerações metropolitanas, favelas e periferias. O que hoje se diz “junto e misturado” já encontrava fundamento nos seus critérios e proposições, seja pela consideração da inserção das reinvindicações de moradores nas soluções requeridas, seja contra a norma rígida de locar e afastar atividades utilitárias, cerceando-as dentro de zonas e setores. (UFF, 2017a p. 14; negritos meus)

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necessárias mudanças fundamentais em nossos valores, nossas instituições e

nossos modos de vida. Por essa carta, “a escolha é nossa”: 1) formar uma aliança

global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da

diversidade da vida; e 2) quando as necessidades básicas forem supridas, o

desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais. E

é para “um novo sentido de interdependência funcional e de responsabilidade

universal” da sociedade humana integrada globalmente que essa carta aponta “o

caminho adiante”: desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de

vida sustentável, nos níveis local, nacional, regional e global, em que diferentes

culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão.

Porém, a “humanidade” está podre e implode em CRISE moral e DESAJUSTE

moralético de “democracias” e “sustentabilidades” antrópicas. Essa crise e esse

desajuste são referendados pela HIPOCRISIA das Nações no regime de

(des)governo, mais ou menos democrático de cada "nação". Em que “Bem-estar”

conveniente a “nações abertas” em planeta Terra é o que pretende a “Carta da Terra”.

Esta é a “linha do tempo” de iniciativa internacional de adesão dessas nações via

Conselho da Terra e Cruz Verde Internacional (2008a pp. 1-2)... Em 1987, a Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (conhecida

como "Comissão Brundtland") recomenda a criação de uma declaração universal

sobre proteção ambiental e desenvolvimento sustentável na forma de uma “nova

carta” que estabelecerá os principais fundamentos do desenvolvimento sustentável.

Em 1992, a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro indica como meta, entre outras, criar

uma Carta da Terra aceita internacionalmente. Em 2000: no mês de março, a

Comissão da Carta da Terra se reúne em Paris, França, para acordo sobre a versão

final do documento; no mês de junho acontece o lançamento público oficial da Carta

da Terra, no Palácio da Paz, em Haia, Holanda. Em 2006, é constituído um novo

Conselho Internacional da Carta da Terra, com 23 membros para substituir o Comitê

Diretivo e supervisionar os programas centrais e a Secretaria; esse novo Conselho

juntamente com a Secretaria são reorganizados como Carta da Terra Internacional.

Em 2008, essa Carta da Terra, já traduzida para 40 línguas e subscrita por 4.600

organizações, representa os interesses de centena de milhares de pessoas; e o

Conselho da Carta da Terra Internacional adota um novo plano estratégico de longo

prazo que enfatiza a expansão descentralizada dessa Iniciativa.

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Uma dessas nações é o BRASIL, fruto de desavença entre pai e filho, em terra

alheia. Hoje, com sua constituição de 1988 que apelidei de Constituição-Autofágica

e Constituição-Geni. Até final de 2016, essa “constituição” sofreu cerca de 100

emendas. Entretanto, após longo isolamento tem sido brandida a esmo e fatiada,

entre outras ações reprováveis por cidadãos sensatos e responsáveis. Aqui, sem

adentrar em sua origem, natureza e contradições, sinalizo a oportunidade e urgência

dessa “Constituição Cidadã e Municipalista” ser substituída por uma nova

constituição - verdadeiramente CIDADÃ e LOCALISTA - rumo a democracia de

direito e de fato. Uma nova “Carta Magna”, baseada em “Carta da Terra” e VIDA

HUMANA, por Ciber-Assembleia Constituinte de Cidadãos, sem partidos nem políticos

de "ocasião" ou "carreira".

Passando do lado “oriental” do Oceano Atlântico - inclui a “Europa Ocidental”,

pseudo continente que não passa de “grande península ocidental” da Ásia - para o

lado “ocidental” desse oceano, em termos de testemunho cultural no “Brasil”, Alberto

Ribeiro Lamego (LAMEGO, 1974b p. 84) afirma que “Porque o índio é, afinal, um

homem. Também o Homo Sapiens”. E ele (LAMEGO, 1974a pp. 72-73 e 85) e

(LAMEGO, 1974b p. 120) evidencia que, no “DESCOBRIMENTO”, a costa

fluminense de restingas era habitada também [sic] pelo “índio”: Tamoio (na zona

de lagunas e de enseadas, de Angra dos Reis a Cabo Frio, de ódio perpétuo ao

“índio” Goitacá, dono absoluto das planícies de restingas fluminenses); Aimoré

(na cordilheira, numa faixa da longitude da Guanabara que se aperta entre os rios

Grande e Paraíba, e que de jusante de Itaocara estende-se para o Espírito Santo);

Coropó; e Botocudo (do Piracicaba no Estado de Minas Gerais até Colatina, no

Estado do Espírito Santo).

Dentre as primeiras culturas da região fluminense, destacam-se estes homens:

o nômade ou das cordilheiras ou das serras; e o de sedentarismo primitivo ou dos

aluviões ou dos brejos ou das restingas. Das segundas culturas, destacam-se estes

homens: das naus ou da globalização por mar ou do tombo do Globo106; de

sedentarismo colonial (donatário de capitania hereditária, colono de sesmarias, da

pesca, do ciclo da pecuária e do ciclo da cana); o empreendedor ou da oferta (senhor

106 O “tombo do Globo” que se faz pela primeira vez. Os noviços da Escola Náutica de Sagres - a matriz dos continentes, em Portugal -, amestrados na ciência náutica e endurecidos no ascetismo, que entram pelos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. (LAMEGO, 1974a pp. 89-90)

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de engenhoca e do engenho, dono de usina e loteador de terras); o político ou

administrador ou do poder (que se impõe como príncipe, limitando, dominando,

preparando e impondo o meio, local ou regional ou nacional); e o cidadão ou do

trabalho ou do consumo (pessoas ricas ou pobres ou miseráveis).

Gilberto Velho (2011 p. 167)

Na realidade, podemos ver como são complexas, confusas até certo ponto e eventualmente contraditórias as origens e as bases para o desenvolvimento de um modo próprio de olhar e analisar o mundo. Os artistas, em geral, e alguns escritores, em particular, independentemente de uma discussão mais de natureza estética, desenvolveram através de suas obras análises, captando, muitas vezes com grande sutileza e argúcia, características fundamentais da sociedade em que viviam.

Em REALIDADE HUMANA onde percebo (Da Costa Ferreira, 2015) o

ambiente social como uma PSEUDODEMOCRACIA - controlada por "poderes

demagógicos distantes" - na qual “representações dúbias” de diversas populações

subvertem as relações de poder democrático a partir de complexa

"cadeia↔(in)(e)volutiva". Num "emaranhado" de DESCENDÊNCIA HUMANA

organizada em/a partir de "PRÓTESES TERRITORIAIS" e "PRÓTESES

DISCIPLINARES" que emergiram desta "CADEIA CULTURAL" de influências ou

propagações recíprocas que vêm cozinhando o caldo antrópico global 107: ... sino ↔

hindu ↔ persa ↔ mesopotâmico ↔ egípcio ↔ fenício ↔ cretense ↔ heleno↔

romano ↔ teuto ↔ anglicano ↔ americano ...

Assim, uma vez que a DEMOCRACIA REPRESENTATIVA (ou moderna)

concedeu a ilusão da prerrogativa da "voz ativa" e da quimera do poder de mando dos

cidadãos de um local, de uma região e de uma nação, a meu ver, só poderão acabar

com essa ilusão "AGENTES DE MUDANÇA" comprometidos com uma genuína

sociedade humana de DEMOCRACIA EFETIVA e que estejam disponíveis para a

uni(a)(bio)(di)(an)versidade em ambientes (dis)(u)tópicos no(do) presente

contínuo...

107Dessa mixórdia de culturas e contra-culturas, (pseudo)dominantes e (pseudo)paradigmáticas, destaca-se aqui uma tetra-influência de alguns signos e traços herdados pelo mundo contemporâneo da cultura heleno-romana, mais conhecida por cultura greco-romana, bem como da cultura anglicano-americana. Que no Brasil assume a forma falsa de penta-influência, com a inclusão da herança colonial portuguesa que, na transição dos séculos XV e XVI, transportou no "ventre" de seus navios os germes (e vermes) daquela cultura greco-romana e "iniciou" o processo de globalização que atingiu seu "ápice" na nossa contemporaneidade.

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E, em “pesadelo” e “pesar” desse ambiente social, destaco de forma

“exuberante” (Da Costa Ferreira, 2015) um subambiente científico que é controlado

por uma "DOCENTOCRACIA" na qual "doutores" de cada cátedra comandam e

administram aristotelicamente projetos de pesquisa em universidades (financiados por

recursos de terceiros, públicos e/ou privados), mas para atender apenas às "suas"

linhas de pesquisa científica. Principalmente em projetos de pesquisa executados com

recursos de erário, paradoxalmente, o objetivo ambicioso que “interessa” é o de

"doutor-pesquisador" - mesmo que esse objetivo não esteja alinhado com os

“objetivos de unidade disciplinar autônoma” pela qual ele é responsável, nem com os

“objetivos maiores de universidade pública”.

O “pesadelo” e “pesar” acadêmicos são “refletidos” por aquilo que se observa

(Da Costa Ferreira, 2015): um pseudoconjunto de cátedras de Academia Moderna

Aristotélica (AMA) que transformam quer o Passeio Socrático Aleatório (PSA) quer a

Academus "Platónica" (AP) em Ilhotas Catedráticas de Enxertos Acadêmicos em

Enclaves Urbanos (ICEAEU). Em que a "empiria contemporânea”, consubstanciada

em "trabalhos de campo", tem tido papel de "mero coadjuvante" nas teses de

"doutores", dissertações de "mestres", monografias de "especialistas" e trabalhos de

conclusão de curso de "graduados". Mesmo os casos raros de "devolutiva aos do

campo" acrescentaram pouco ou nada "aos do campo" - e estes continuam "virando"

dados e números estatísticos "significativos". Por tudo isso, o pensar de forma

metódica, mas livre, mortificou-se em "tortura acadêmica de muitos" instituída por

“tão poucos”. Neste sentido, na dicotomia teoria versus empiria, o PENSAR é tanto

um ato de rebeldia de muitos quanto um ato de pseudo-cidadania de poucos!

Desse modo, a CIÊNCIA tem contribuído de sobremaneira para a

(pseudo)democracia alimentando "fazedores" de (pseudo)política e "prometedores"

de (pseudo)bem-estar social!

No entanto, o que se tem de observar - como já disse antes (Da Costa Ferreira,

2015) - são objetivos maiores da universidade 108 que devem levar em conta

preocupações com primordial interesse de outro como indivíduo e de uma sociedade

humana como um todo 109 (que banca indiretamente as pesquisas desenvolvidas por

108A universidade como manifestação concreta do "saber metódico" não necessariamente "cartesiano". 109A sociedade humana como manifestação concreta do "saber ingênuo" não necessariamente "sem método".

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aquela), nas tentativas de organização humana mutante no imbricar caos humano, no

caos da informação, no caos da tecnologia, no caos social, no caos da natureza...

Apesar desses dois “pesadelos” e “pesares” ambientais, (Da Costa Ferreira,

2015) um pesquisador universitário genuíno entenderá que suas "tessituras

teóricas" - para de fato explicar a nossa contemporaneidade - passam forçosamente

pela sua "metafórica saída” do âmbito “cidade" e de sua categoria "urbano". Ele

atentará para as "reais fontes primárias" que estarão como matéria-prima na ponta

de seus dedos através de um ciber-espaço que servirá de meio de fortalecimento

de identidade e luta social em cada lugar. E será esse pesquisador que aproximará

de forma inteligível "saber científico" de "saber popular", para ajudar a enfrentar a

complexidade da realidade humana através de ciência e de política genuínas, as

quais são indissociáveis das questões humanas em cada lugar de viver. Num percurso

que bifurca em: uma trilha para atender as demandas do status quo; e um caminho

que possibilite verdadeiramente apresentar alternativas de transformação de vida na

realidade presente.

A partir de uma “questão-base”, uma “questão-transformação” e uma “questão-

entrave”, fiz emergir (Da Costa Ferreira, 2011) esta QUESTÃO INTEGRADA: Como

se mantém unida uma SOCIEDADE HUMANA formada por pessoas INCAPAZES,

desfrutando do seu TEMPO como um recurso não-renovável, objetivando sua

VIDA ANTROPO-ÉTICA com QUALIDADE e querendo assumir seu DESTINO,

estando bem informadas, articuladas, organizadas e preparadas mediante

SISTEMA de redes, usando TECNOLOGIAS SOFISTICADAS de informação e de

comunicação (sem se submeter a elas), de âmbito LOCAL e REGIONAL, e

contando com escassos seres humanos CRIATIVOS?

Cuja RESPOSTA foi esta (Da Costa Ferreira, 2011)... CADA PESSOA FÍSICA

deve ser um holograma, Homo Antropus Ecleticus Responsabilis Matrioscas

(HAERM), auto-consciente, teleológico, empreendedor, interdependente, integrado,

fluído e persistente, mediante “co-responsabilidade” social de todos nos "quesitos

humanos" de participação, coesão, solidariedade, submissão, comprometimento,

conformidade, consenso, mutualidade e “co-operação”, num PROCESSO

TECNOLÓGICO ANTROPO-ÉTICO que “co-integrará” a sistematização interativa

de (a)(bio)topos locais em Rede Social Antropo-Vital Digital (ReSoAnViDi), e “re-

estabelecerá” um sentimento de pertença local/regional. Isso mediante a

disponibilização de ACESSO REMOTO INDIVIDUAL LOCAL a um ciber-espaço

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(integrado nessa/por essa ReSoAnViDi) que catalisará (e assistirá) o

(des)envolvimento de GENTE (IN)CAPAZ que valorizará o TEMPO SOCIAL de

CADA UM na sua (inter) (intra)dependência em “co-operação” com/de OUTROS

HOLOGRAMAS.

Em suma, dessa forma, qualquer pessoa de um mesmo lugar de viver,

"dominante-incluído" e/ou "dominado-excluído", devidamente (re)educado e

(in)formado, decide e comunica, livre e responsavelmente, sozinho ou em equipe,

sobre seu(s) caminho(s), de forma intuitiva, afetiva e racional, e de maneira efetiva,

eficiente e eficaz. Tudo isso sem submissão à tecnosfera, mas com os indivíduos

de um "lugar" a saberem viver em simbiose com a esfera tecnológica para:

satisfazer as suas necessidades intelectuais e vitais de conhecer o mundo como

mundo ; (sobre)viver através da convivialidade de ideias e mitos, individuais ou de

grupos ; (con)viver de diversas (hiper)(meta)atividades que mantêm unido e fazem

funcionar um lugar de viver na uni(a)(bio)(di)(an)versidade, não se obstruindo

entre eles e prestando apoio uns aos outros ; e ser cidadão nesse lugar e no mundo,

mas sem transferir a respectiva cidadania para níveis mais amplos ou distantes . (Da

Costa Ferreira, 2015).

Dominique Gauzin-Muller (2011 p. 48) alertando sobre urbanismo e

desenvolvimento sustentável de sociedade contemporânea é taxativa

Nossa vida mudou de escala com a globalização dos intercâmbios e da comunicação, e com a tomada de consciência dos riscos ecológicos que ameaçam o planeta [Terra] e seus habitantes. Além de novas estratégias energéticas e da introdução de uma abordagem ambiental no planejamento e no projeto de construções, nesse início do século XXI nos vemos diante de uma verdadeira escolha sobre o tipo de sociedade que queremos.

3.1.3 DE CIDADE-ESTADO A CIDADE “MARAVILHORROROSA”

Há cerca de 6.000 anos as primeiras “cidades-estado” começaram a se

desenvolver na região da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates - atual Iraque.

A Estela dos Abutres (2450 a.C.) é o mais antigo monólito de pedra - no qual se

destaca uma escrita cuneiforme -, cujo texto relata a história de fronteiras traçadas

entre cidades-estados da Suméria (Lagash e Umma - Baixa Mesopotâmia) 110. O

arquivista de Enmetena (2404-2375 a.C.), príncipe de Lagash, relata a história da

110 Texto extraído e traduzido livremente de https://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/cone-enmetena-king-lagash, em 19/05/2019.

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disputa desde seu início no tempo em que Mesalim, rei de Kish, governou toda a

Suméria. O povo de Umma não manteve o tratado de aliança. Enmetena resolveu a

diferença e reconstruiu o canal estreito. Com o seu crescimento foi natural o

surgimento de conflitos entre essas cidades pelo controle de terras irrigáveis, disputas

de fronteiras e pela necessidade de se obter matérias-primas básicas como madeira,

metais como cobre e estanho e pedras. O constante ambiente de conflito gerou o

desenvolvimento de técnicas e tecnologia militar muito adiantadas a qualquer outro

lugar do mundo durante alguns séculos, assim como as primeiras muralhas e

fortificações para defender os perímetros urbanos.

Durante o governo de Hamurabi, no primeiro império babilônico, organizou-se

um dos mais conhecido sistema de leis escritas da antiguidade: O Código de

Hamurábi, conjunto de leis escritas, oriundo da Mesopotâmia. Acredita-se que foi

escrito pelo rei Hamurábi, aproximadamente em 1772 a.C. Outros códigos, (Código

de Ur-Nammu), haviam surgido entre os sumérios que viveram entre 4.000 anos a.C.

a 1900 a.C. na Mesopotâmia. No entanto, o Código de Hamurabi foi o que chegou até

nós de forma mais completa - os sumérios viviam em pequenas comunidades

autônomas, o que dificultou o conhecimento desses registros.

Código Civil vem sendo “culturalizado” desde o Código de Hamurabi, na

antiga Mesopotâmia (hoje região do atual Iraque), passando pela Lei de Moisés para

o seu povo Hebreu (hoje, povo Judeu em Israel). O Código de Hamurabi111 representa

Conjunto de leis escritas, sendo um dos exemplos mais bem preservados desse tipo de texto oriundo da Mesopotâmia. Acredita-se que foi escrito pelo rei Hamurábi112, aproximadamente em 1772 a.C. Foi encontrado por uma expedição francesa em 1901 na região da antiga Mesopotâmia, correspondente à cidade de Susa, no sudoeste do Irã. É um monumento monolítico talhado em rocha de diorito, sobre o qual se dispõem 46 colunas de escrita cuneiforme acádica, com 282 leis em 3600 linhas. A numeração vai até 282, mas a cláusula 13 foi excluída por superstições da época. A peça tem 2,25 m de altura, 1,50 m de circunferência na parte superior e 1,90 m na base. Os artigos do Código de Hamurabi descreviam casos que serviam como modelos a serem aplicados em questões semelhantes. Para limitar as penas, o Código anotou o princípio de Talião, sinônimo de retaliação. Por esse princípio, a pena não seria uma vingança desmedida, mas proporcional à ofensa cometida pelo criminoso. E sendo assim "olho por olho, dente por dente".

111 Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Código_de_Hamurabi, em 15/05/2019. 112 Hamurábi ou “Khammu-rabi” em babilônico, foi o sexto rei da Suméria (região do atual Iraque) por volta de 1750a.C. Ele foi quem uniu semitas e sumérios fundando o império babilônico.

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Segundo a mesma fonte, a sociedade de então era dividida em três classes,

que também pesavam na aplicação do código.

Awilum: Homens livres, proprietários de terras, que não dependiam do palácio e do templo; Muskênum: Camada intermediária, funcionários públicos, que tinham certas regalias no uso de terras. Wardum: Escravos, que podiam ser comprados e vendidos até que conseguissem comprar sua liberdade.

E estes eram os pontos principais desse código: “Não cumprimento de

contrato; lei de talião (olho por olho, dente por dente); falso testemunho; roubo e

receptação; estupro; família; escravos; ajuda de fugitivos”. Estes é um exemplo

“urbano” de disposição contida no código (Art. 25, § 227): "Se um construtor edificou

uma casa para um Awilum, mas não reforçou seu trabalho, e a casa que

construiu caiu e causou a morte do dono da casa, esse construtor será morto"

(ibidem). Em suma, o objetivo de tal código foi homogeneizar juridicamente um reino

e garantir uma cultura comum – que depois se evidenciou (trans)cultural por sua

disseminação total ou parcial entre diferentes povos. Em seu epílogo, Hamurabi

afirmou que elaborou esse conjunto de leis no intuito de que “forte não prejudique

mais fraco”, a fim de “proteger viúvas e órfãos" e para “resolver todas disputas e sanar

quaisquer ofensas".

Carlos Nelson Santos (UFF, 2017a pp. 105-109; negritos e itálicos meus,

exceto "polis" e "projetadas") apresentou uma “gênese de morfologias urbanas”,

dizendo que “não foram os gregos que inventaram as cidades e, muito menos, as

cidades planejadas...e outra coisa que não foi inventada pelos gregos foi a

matemática”:

(...) os egípcios caprichavam nas suas necrópoles – residências para mortos. Era fácil: cadáveres e múmias não têm o hábito de sair sozinhos de onde os colocam. Os espaços mantinham suas hierarquias e ordens, através de um compromisso com a eternidade. Parece que alguns modelos arquétipos traziam embutida a imobilidade, vantagem divina (...) Na Mesopotâmia, não podiam faltar maquetes de cidade feitas em barro (...) o pessoal de lá adorava destruir e reconstruir monumentais sedes de impérios. A organização, é claro, seguia os caprichos disciplinadores dos reis. Babilônia, por exemplo, se estruturava sobre duas avenidas largas que se entrecruzavam, sendo usadas para desfiles triunfais e procissões. De novo, reis e deuses conjugados. A cidade expressando uma transcendência que podia ser trazida para a terra. Naturalmente tudo muito autoritário e imutável (...) talvez 2.000 anos antes de Cristo, a Índia tenha resolvido o problema que encostou o Ocidente na parede até o Renascimento. Inventou um sistema de castas que punha, em definitivo, os mais “puros” acima do resto. Em compensação, separou as áreas da superioridade: aos brâmanes já bastava a supremacia religiosa. Reis e administradores eram justificados pelo bom ou mau desempenho. Os deuses não tinham nada a ver com isso (...) Em outra vertente, na China, a questão foi enfrentada pela redução da religiosidade a sistemas filosóficos quase abstratos. Não importava ao poder a crença das pessoas, já que o

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máximo era não acreditar em nada. As cidades resultaram em produtos, para nossa cabeça, esquisitos. Quanto mais central uma área, mais vazia e exclusiva (p.105...) Durante 3.000 anos, lugares como Pequim se organizaram à maneira de caixinhas dentro de caixas e caixas dentro de caixotes. No miolo, nada e, quanto mais distante dele, maior a misturada de atividades e multidão (...) matemática (...) mesopotâmicos eram mestres no assunto. Só que preferiram virá-lo para cima. Especializaram-se em astronomia e em medidas cósmicas. Na Grécia, tomaram os números e os esparramaram pelo chão, criando aplicações não religiosas, cuidando dos assuntos profanos do dia a dia. Inauguravam, assim, a interpretação bidimensional do espaço. Tudo isso aconteceu em um momento de grande confusão e cinismo. A Guerra do Peloponeso e as disputas internas nas principais cidades estressaram aquele modelo cultural até seus limites. Parecia que ia se perder tudo. Foi quando se iniciou a expansão helênica. Filósofos e filósofos-urbanistas começaram a se preocupar com formas de organização política e formas de cidades. Platão113 e Hipódamo114 propõem suas versões: uma ideal e a outra pragmática. Surgia, assim, polis, modelo de relações de poder e modelo de relações características do urbanismo. O resto foi feito pelas colônias e pela expansão de Alexandre. Os romanos, conquistadores e herdeiros, se extasiavam com a ordem de Alexandria, Pérgamo e Antioquia. Eram enormes, mas não repetiam a bagunça de Roma, cidade que crescia pelo amontoamento desordenado de formas e bairros. Os administradores admiravam, antes de tudo, a qualidade do desenho das cidades geradas pelo pensamento helenístico. O conceito de política entre os gregos vai-se confundir com o de pertinência àquele espaço. Acreditavam em uma isonomia ideal entre cada casa e o conjunto, o que era coletivo (...) A simbologia propõe uma equidistância que permitia o surgimento da assembleia democrática. O traçado urbanístico regulador, ao surgir, traduzia um ideal metafórico. Clístenes115, no final do século VI a.C.,

113 Platão (em grego antigo: Πλάτων, transl. Plátōn, "amplo", Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles. Platão era um racionalista, realista, idealista e dualista e a ele tem sido associadas muitas das ideias que inspiraram essas filosofias mais tarde. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Platão, em 27/04/2019. 114 Hipódamo ou Hipódamo de Mileto (em grego: Ἱππόδαμος ὁ Μιλήσιος; Mileto, ca. 498 a.C. — 408 a.C.) foi um grego antigo, arquiteto, planeador urbano, médico, matemático, meteorologista e filósofo. Tendo vivido no auge do período clássico, é considerado o "pai" do planeamento urbano em quadrículas, designado por "hipodâmico" em sua homenagem. Os projetos de Hipódamo para cidades da Grécia antiga caracterizaram-se por princípios de ordem e regularidade que contrastavam com os traçados intrincados e confusos comuns às cidades de seu tempo, inclusive Atenas. Introduziu

um tipo de planificação baseado em ruas largas (5 a 10 metros) que se cruzavam em ângulos retos. É visto como o criador do conceito de que a planta de uma cidade pode formalmente materializar e explicitar uma ordem social racional. Hipódamo - tendo concebido a cidade ideal como habitada por 10.000 cidadãos (indivíduos naturais da cidade, do sexo masculino, livres), enquanto que a população em geral, incluindo mulheres, crianças, estrangeiros e escravos, atingiria as 50.000 pessoas - estudou os problemas funcionais das cidades e correlacionou-os com sistema de administração do Estado. Como resultado, dividiu os cidadãos em três classes (soldados, artesãos e "lavradores"), com o solo urbano também dividido em três (sagrado, público e privado). Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Hipódamo_de_Mileto, em 27/04/2019. 115 Clístenes (em grego: Κλεισθένης, translit. Kleisthénês; Atenas, 565 a.C. — Atenas, 492 a.C.) foi um político grego antigo, que levou adiante a obra de Sólon e, como este último, é considerado um dos pais da democracia. Embora fosse um membro da aristocracia ateniense, além de liderar uma revolta popular, reformou a constituição da antiga Atenas em 508 a.C. Realizou uma verdadeira reforma

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já propõe reformas geometrizantes do espaço físico. Até então, Atenas, Tebas ou Corinto, por exemplo, faziam tudo para imitar nossas favelas. As ruas se desenvolviam sem ordem rígida, sulcadas por esgotos e entupidas por monturos de lixo, onde não eram incomuns os cadáveres de crianças, método local de resolver a limitação de natalidade. Mármores, colunas e estátuas em Atenas só mesmo na Acrópole. O resto era construído com técnicas assemelhadas à nossa velha taipa (p.106...) Quando, no século V a.C., os gregos resolveram enfrentar seus dilemas urbanos, fizeram aquela passagem da aritmética mesopotâmica à geometria. Abriram uma senda para a ciência, trocando o fatalismo do céu pelos desejos humanos (...)As cidades-livres e cidades-Estado pioneiras na Itália, nos Países Baixos e na Alemanha teriam prenunciado o modernismo. Aos poucos irá ser substituída a forma típica de crescimento medieval, por acréscimos de traçado, através de agregações sucessivas. O privilégio da geometria não é mais incontestável como na Grécia e em Roma. Restava, porém, uma nostalgia de ordem conciliadora da vertigem da assembleia e da necessidade de organizar para dentro (polícia, repressão) e para fora (expansão territorial, orgulhos nacionais e guerras defensivas e de conquista). O Renascimento sonhou com uma organização que ainda não tinha condições de realizar. Não percebeu que a harmonia exigia, como corolário, uma bela repressão. As cidades ideais renascentistas são produtos da erudição, têm mais de erudição do que de urbanismo. As realizações resultantes parecem brinquedos; maquetes que não conseguiram sair de todo das páginas dos tratados inspiradores. Nos séculos XV e XVI, príncipes e arquitetos se divertiam projetando estrelas e cidades radiais com esquemas de defesa tidos como perfeitos. Enquanto isso, os europeus se expandiam pela região que chamavam de Novo Mundo, vista como um vazio onde tudo era viável e possível. Foi assim que, no período barroco, voltaram aos traçados reguladores geometrizantes, simples e, no entanto, abertos a infinitas possibilidades. As ordenações filipinas dão às cidades da América Espanhola padrões fechados, concebidos para evitar descontinuidades e vazios intraurbanos. As soluções são em série e se adaptariam bem a qualquer demanda local. Os portugueses, embora mais discretos, também adotaram o mesmo procedimento (...) As raízes das cidades latino-americanas mantiveram, durante séculos, a lógica original. A racionalização, simples e esperta, vai mantendo, sem traumas, o traçado de origem. Não é comum que se inclua o Brasil entre os países com cidades planejadas desde os tempos coloniais. É preciso distinguir, no entanto, as disposições de Lisboa que descreviam, com minúcias, como deveriam ser as praças centrais e que prédios teriam de abrigar. Diretrizes administrativas comandavam e resolviam as questões relativas ao desenho. Isto sem contar com inúmera cidades que vieram prontas, projetadas. Foi assim que se povoou a faixa ao longo do rio Amazonas. As intenções defensivas eram óbvias. Predominavam fortificações, mas havia também um esforço disciplinar marcante. Não (p.108...) é por acaso que, durante alguns séculos, os brasileiros se habituaram a traçados ortogonais, fazendo-os corresponder à própria idealização de cidade. As implantações em acrópole se mantêm como traço arcaizante, funcional para os interesse portugueses em alguns lugares. As cidades implantadas no vazio norte-americano também são tabuleiros de xadrez (...) o princípio da malha uniforme chega ao auge no plano de Nova York, datado de 1811. Aí, o entrecruzamento de ruas e avenidas gera quarteirões e lotes capazes de suportar atividades futuras e suas transformações, sem grandes dificuldades, durante quase 200 anos. A cidade cresce com regularidade, seja por extensão horizontal ou adensamento vertical. Também no século XIX

política que proporcionou aos cidadãos, independentemente do critério de renda, o direito de voto e ocupação dos mais diversos cargos. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Clístenes, em 27/04/2019.

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aparece o plano de Haussmann para Paris. Trata-se de uma renovação urbana que, não obstante a inspiração autoritária, fará sucesso em todo o mundo. Viena e Rio de Janeiro, por exemplo, vão tentar se “vestir” por essas modas. Em Barcelona, Ildefonso Cerda faz um plano básico em tabuleiro reto, cortado por diagonais, que até hoje funciona a contento. No século XX, encobertas pelas proposta racionalistas de Le Coorbusier e Lúcio Costa, continuam se impondo as persistentes grelhas, só que, desta vez, dissimuladas sob a forma de macroestruturas. Há um gosto pela escala-sobre-humana e preferências deslumbradas e explícitas pelo veículo motorizado individual. (p.109).

Gilberto Velho (2011 p. 164)

As pesquisas que fiz ou supervisionei foram feitas predominantemente em grandes cidades, principalmente no Rio de Janeiro, mas certamente lidavam com questões e temas que se aproximavam do que estava sendo conhecido como Antropologia das sociedades complexas. Esta classificação sempre foi muito problemática, pois fazia parte do ideário antropológico da época reagir contra o evolucionismo tradicional, salientando que nenhuma sociedade poderia ser considerada simples, mas procurou-se entender que a ideia de complexidade remetia a uma combinação de dimensão, presença do Estado, heterogeneidade sociocultural e diferenciação social marcante. Assim, claramente, o Império Romano era uma sociedade complexa. O mesmo poder-se-ia dizer de diversas outras, como a chinesa, a indiana, a Europa medieval, as civilizações pré-colombianas etc. Fixava-me mais no estudo da sociedade moderno-contemporânea, podendo estendê-la desde o final da Idade Média e Renascimento até o tempo presente. O Brasil, portanto, fazia parte do conjunto de sociedades complexas moderno-contemporâneas, apresentando as características da presença do Estado, de território vasto ocupado por populações e grupos social e culturalmente diferenciados.

Gilberto Velho (2011 p. 176)

O que tem ocorrido nas últimas décadas é a disseminação de uma “cultura da violência” que veio se avolumando, assumindo proporções que colocam em xeque o cotidiano de praticamente todos os segmentos sociais. Assaltos, sequestros, roubos, agressões, assassinatos são algumas das modalidades pelas quais se manifesta o fenômeno. É inegável que essa expansão da criminalidade e dos riscos inerentes aparece associada ao tráfico de drogas e de armas.

Ao analisar ”como o pensamento produz espaços na periferia”, Carlos Nelson

Santos (UFF, 2017b pp. 269-270) afirma que

Desde o início do século [XX] até agora, a moderna cultura ocidental e industrialista tem promovido uma notável e persistente separação na área das práticas e conhecimentos sobre o urbano. De um lado estão geógrafos, economistas e cientistas sociais em geral que, alarmados e pessimistas frente a explosões urbanas inéditas na história, construíram e validaram, com foros mais ou menos científicos, uma série de teorias sobre as razões de crescimento e de mudanças nas cidades. Sucedem-se as explicações economicistas, ecologistas, neoclássicas, neomarxistas, neopolíticas, que vão formando escolas, campos de interpretação autolegitimados que se respondem uns aos outros (...) Configura-se, em pleno sentido da expressão, uma PRÁTICA TEÓRICA avançada (...) Em contrapartida, desde fins do século XIX registra-se um esforço por parte de outro grupo de profissionais – sanitaristas, urbanistas, arquitetos e engenheiros – no sentido de solidificar teorias respeitáveis e de alcance o mais universal possível. Aqui o esforço se faz na direção contrária a (sic) do anterior: as transformações almejadas para o mundo e a sociedade partem de intervenções localizadas e realizáveis

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concretamente em determinados espaços singulares. Trata-se de “cientificizar” a experiência, o que inclui um desinteresse pelas questões muito abrangente relativas à região, à economia ou à cultura. Estes fatores são vistos como metas prospectivas, algo a moldar através de ações que se fazem aqui e agora, nesta cidade e neste lugar (...) Neste segundo caso, os responsáveis pela forma em que devem ser produzidos os espaços urbanos de verdade trabalham com TEORIAS PRATICADAS. A diferença consiste em valorizar, exageradamente, métodos de síntese em detrimento de métodos de análise. Os urbanistas do século XX, como talvez todos os seus antecessores, são conversores de utopias. Sua preocupação principal é transformar as “cidades de nuvens” de filósofos, reformadores sociais e propositores de códigos morais em cidades de pedra.

François Ascher (2010 pp. 21-23), em seu livro “Os novos princípios do

urbanismo”, destaca a FALTA DE SINCRONIA entre a MUTAÇÃO cada vez mais

rápida da sociedade contemporânea e o processo mais lento de transformações

do CONSTRUÍDO. Complementarmente, Marsh aponta para GEOMUDANÇAS tão

lentas que a envoltória desse construído é percebida como CONSTANTE. Nesses

três “descompassos” mutantes, Ascher diz que “MODERNIDADE” é um PROCESSO

DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL que tem a “mudança” como seu princípio essencial

(não a “tradição”). Enquanto afirma que “MODERNIZAÇÃO” é um ESTADO (ou

estágio) NESSE PROCESSO, que resulta da interação de três dinâmicas

socioantropológicas retroalimentadoras: individualização; racionalização; e

diferenciação social. A INDIVIDUALIZAÇÃO é a representação do MUNDO A

PARTIR DE CADA PESSOA E DA RESPECTIVA PERSPECTIVA - e não do “grupo”

a que ele “pertence”. É uma topia do “eu” em vez de (dis)(u)topia do “nós’! A

RACIONALIZAÇÃO é uma forma de “desencantamento do mundo antrópico” que

substitui progressivamente “tradição” por “razão” na determinação de atos

humanos. É a “repetição” sendo substituída por “escolhas”. Estas pressupõem

preferências e projetos individuais e coletivos, usando conhecimento derivado da

experiência e saberes científicos, enquanto mobilizam técnicas. Finalmente, a

DIFERENCIAÇÃO SOCIAL é um processo de diversificação de funções de

indivíduos e grupos numa mesma sociedade cada vez mais complexa.

Em minha dissertação, marcarei uma CIBERCIDADE como

HIPERMETACIBERPOLIS de integração humana sistêmica de dependência

hiperfuncional, por Ciber-Integração e Interdependência Antrópicas (CIIA), via

adaptação sociocientífica em espaço construído de uma “cidade-maravilhosa”

(a cidade cosmopolita chamada Rio de Janeiro, desde a colonização portuguesa).

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3.1.4 DE LOCAL “SEM ARQUITETO” A ARQUITETURA “GLOBAL”

Josep Maria Montaner (2001 p. 259) ressalta que, do fim de 45 anos de “guerra

fria” ao finalizar de período temporal até 1992, “uma série de profundas

transformações políticas definiam uma mudança transcendental de época” –

iniciando-se um novo período com características e alcance ainda imprevisíveis, mas

que “nestes últimos anos”

O campo da arquitetura foi caracterizado por uma série de experimentos, abertos para direções múltiplas e que em muitas ocasiões soube romper dicotomias estabelecidas durante o século: obras preocupadas com a técnica, mas às vezes pensadas de maneira singular e adaptáveis ao contexto; arquiteturas que desenvolveram de forma uníssona ingredientes abstratos e figurativos, como a nova abstração formal, baseada no jogo hedonista e formal de repertórios abstratos; ou certos classicismos que reinterpretaram a figuração clássica usando atitudes irônicas, fragmentação ou abstração. Se as formulações dos anos sessenta são monotemáticas e coerentes (...) ao contrário os arquitetos dos anos oitenta e noventa [e os dos anos setenta?] apresentam uma visão mais híbrida, mais aparentemente contraditória, na qual se conciliam diversos conceitos (...) não explicáveis através de idéias (sic) estritas e únicas, senão como síntese evolutiva de várias tendências: minimalismo, hedonismo pós-moderno, referências vernáculas, tecnologia, ecologia, comunicação, figuração e artisticidade, tudo isto assumido ao mesmo tempo.

Montaner (ibidem) pretendeu “superar o esquematismo e a pobreza de

interpretar a arquitetura dos anos oitenta e noventa usando somente a dupla

alternativa exclusiva de ‘pós-modernismo’ e ‘desconstrução’”, ao tentar mostrar “a

enorme diversidade de possibilidades que a arquitetura dispõe dentro de uma

situação contemporânea caracterizada pelo pluralismo“.

Atualmente, seguindo um espírito crítico e ecletista, é possível desenvolver a experiência de eleger para cada encargo e lugar concreto um sistema arquitetônico definido, que varia quando as condições do encargo e do lugar mudam. Estaríamos, portanto, no momento de entender a fundo as implicações do pluralismo cultural sem cair ingenuamente em um reacionário relativismo.

Montaner (ibidem) objetivou “apresentar de forma ordenada e articulada,

através de três períodos, os fatos que mais influenciaram no panorama

internacional da arquitetura desde 1945 até 1992”. Um período no qual se insere a

influência internacional no estudo de caso desta dissertação – edifício incorporado,

projetado e construído na década de 1980, e apresentado de forma bem específica

mais adiante.

Sem dúvida, um dos temas centrais e de permanente debate foi a relação da arquitetura com o passado. Seja este passado entendido de maneira restritiva, como o período caracterizado pela ruptura proposta pelas vanguardas e que definiu por muitos anos um “depois do Movimento

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Moderno”; seja entendendo o passado de uma forma ampla e aberta. Montaner (ibidem)

Enfim, Montaner (ibidem) tentou também mostrar “como foi evoluindo a forma

de entender e fazer arquitetura”

Ao longo dos anos quarenta e cinqüenta (sic) predominou a idéia (sic) de continuidade em relação à nova tradição do Movimento Moderno. Uma continuidade que tendia para duas direções: por um lado, o maneirismo e o formalismo acrítico do Estilo Internacional e, por outro lado, uma paulatina, respeitosa e inteligente revisão que foi colocando em crise a ortodoxia. Ao final dos anos cinqüenta (sic) e princípio dos sessenta começa a evidenciar-se a definitiva crise e ruptura em relação à herança do Movimento Moderno. Depois das dúvidas e da decomposição da unidade da arquitetura moderna surgiram diversas alternativas metodológicas. Assim, grande parte da arquitetura dos anos sessenta e setenta tomará, como referências, diretrizes metodológicas totalmente novas, alternativas ao método internacional gerado pelas vanguardas (...) Estas posturas metodológicas, porém, foram perdendo força ao longo dos anos oitenta, expandindo-se em vários discípulos e diluindo-se em um panorama de individualidades. Sobretudo entre os arquitetos mais jovens o princípio dos anos noventa caracterizou-se pelo abandono da confiança das metodologias e pelo predomínio de atitudes raivosamente ecléticas que tomam referências fragmentadas fora de seu contexto, se nutrem de imagens desconexas dentro de uma cultura eminentemente visual, onde cada vez mais predominam os perigosos mecanismos de transculturação, de incorporação acrítica de contribuições de contextos díspares. Tudo isto se manifesta em projetos que destacam-se (sic) pela incoerente mistura de referências heterogêneas - tipologias, imagens, materiais, poéticas – que se contradizem por desconhecer os autores, as diversas implicações e raízes de cada tipo, forma e linguagem utilizados. E é nesta encruzilhada de ecletismos difusos sem método que se encontra a arquitetura atual.

Montaner (2001 p. 260 e 263), finalmente, acrescenta que, na década dos anos

noventa,

(...) detectamos duas novas posturas arquitetônicas [minimalismo e ecologia], cansadas tanto dos excessos decorativos, simbólicos e da linguagem da arquitetura mais eclética e pós-moderna, como do intelectualismo, elitismo e formalismo vazio de certas arquiteturas da nova abstração formal, também chamada “desconstrução”. Assistimos ao ressurgimento da sensibilidade para arquiteturas ecológicas. Reaparecem arquiteturas que primam pela busca de um sentido comum tectônico116 presente no uso rigoroso e asséptico dos materiais, na recriação de espaços diretos e puros, na utilização de formas volumétricas e geométricas simples, na austera utilização de repertórios significativos, na economia de materiais e energias, e na integração com o entorno. Diante da superabundância e da dúvida, opta-se pelo mínimo e pelo relacionado ao meio ambiente. Em relação ao minimalismo, trata-se da recuperação de uma poética da simplicidade, do silêncio e do contextualismo (...) Postura que encontrou sua expressão na lição do minimalismo estrutural, sentido comum e vocação regionalista do arquiteto indiano Balkrishna Doshi (1927), discípulo de Le Corbusier e Louis I. Kann. Alguns exemplos recentes no panorama internacional evidenciam esta tendência que propõe a contenção face à redundância, a unidade frente às ambições transculturalistas (...)

116 Tectônico: que diz respeito à arte de construir edifícios.

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Definitivamente, os próprios avatares117 da arquitetura destas últimas décadas nos mostram como sua evolução se baseia na busca de um difícil e necessário equilíbrio entre os valores da permanência, da continuidade e da tradição – respeitando as leis do sentido comum e os modelos da história – e os da renovação e ruptura – ou seja, a iniludível busca de elementos surpresa, de traços de contemporaneidade e de uso das novas tecnologias-. (sic). Ao mesmo tempo, cada vez mais a arquitetura e o urbanismo têm uma maior responsabilidade na resolução dos graves problemas ecológicos ocasionados pela exploração e o desgaste do planeta.

Bruno Zevi (1996 p. 217) informa que:

(…) reflorescerá também a cultura arquitetônica: correremos aos grandes monumentos do passado para extrair deles as essenciais lições espaciais, já idôneos para distinguir o autêntico da cópia, o passado do presente, a nossa vida de hoje da de ontem; e, à luz desse passado e da sua crítica, as teorias da arquitetura contemporânea, que, já com o movimento da arquitetura orgânica procuram libertar-se das fórmulas racionalistas de esperanto estrutural, enriquecer-se-ão com uma linguagem plenamente humana. A instância de uma moderna história da arquitetura é colocada por todos os fatores vivos do mundo contemporâneo: pelo direcionamento coletivista do pensamento social, pelo nascimento, pela evolução da psicologia científica, pela trágica constatação extraída da experiência de duas guerras de que a própria existência material dos documentos relativos à edificação da nossa cultura arquitetônica depende da solução dos nossos problemas atuais, da moderna crítica figurativa, dos esforços integradores do pensamento e da identificação, adquirida na teoria quando não nos fatos, entre cultura e sistema de vida; e, sobretudo, pela arquitetura moderna que, aprofundando os problemas espaciais, indica aos historiadores e aos críticos o segredo da realidade da arquitetura. Entre as promessas, as tarefas, as esperanças, as virtualidades do nosso obrar coletivo existe também a nova história da arquitetura (...)

Flávia Brito do Nascimento (2016 p. 222), falando sobre “blocos de memórias”,

diz que:

Entender os processos de modernização da cidade, a relação entre os homens livres (brancos e ex-escravos) e seu lugar na trama urbana, a história das transformações urbanas e suas relações com o habitar popular são ambição dos trabalhos de arquitetos e historiadores.

Para Malard (2006 p. 22) este é um conceito de aparência:

A aparência – sendo aquilo que traz ao mundo o pensamento do artista, seja pela Pintura ou pela Fotografia, seja pela Arquitetura – não é capaz, portanto, de esconder pensamentos, intenções, sentimentos, desejos ou outra subjetividade qualquer. Se não há nada que possa estar escondido, não há nada para ser revelado através de uma interpretação. A subjetividade

117 Avatar é uma manifestação corporal de um ser imortal segundo a religião hindu, por vezes até do Ser Supremo. Deriva do sânscrito Avatāra, que significa "descida", normalmente denotando uma das encarnações de Vishnu (tais como Krishna), que muitos hinduístas reverenciam como divindade. Muitos não-hindus, por extensão, usam o termo para denotar as encarnações de divindades em outras religiões.

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poderia ser, nesse entendimento, captada e sentida pela subjetividade do fruidor, e não por qualquer outra objetividade intelectual.

Entre “subjetividade de fruidor” e “objetividade intelectual de quem quer que

seja”, Malard (2006 p. 117) aponta para este mito de aparências: “os países

periféricos são assim chamados porque nunca estão no centro das decisões

econômicas, das inovações tecnológicas e dos movimentos artísticos de vanguarda

do mundo ocidental”. Ela diz que esse é o caso do Brasil e

É natural, portanto, que a arte e a arquitetura chamadas “barrocas” do Aleijadinho ocorram quase 100 anos depois do barroco italiano, e que o modernismo de Warchavchik chegue 10 anos depois de Gropius (chegou relativamente cedo, porque ele era europeu). O pós-modernismo de Maia, Podestá e Vasconcellos chegou de navio, pelas revistas e livros, uma vez que nas décadas de 1970 e 1980 não havia Internet. Hoje, a influência é “online, in real time”, manifestando-se claramente nos trabalhos escolares dos estudantes de Arquitetura. Raramente essas idéias (sic) se transformam em obras e, no caso de serem edificadas, têm de passar por um crivo técnico-construtivo tão rigoroso que as descaracteriza totalmente (...) Entretanto, as impressões visuais que os desenhos veiculam são fascinantes e, por isso, poderosas.

Sob essa “influência online, in real time”, Malard (ibidem) acrescenta que

aparências de edifícios (visualizações interiores e exteriores) incorporam

imediatamente novidades de vanguarda internacional, mesmo que tais inovações não

se traduzam, de imediato, em novas e diferentes articulações espaciais. Segundo

Malard (ibidem)

Primeiro vem o novo visual e se instala, causando estranhamento; em seguida vem a adequação do gosto, a apreciação, a fruição; por último vem o mercado e seus tentáculos gigantes, apropriando-se comercialmente do visual, desgastando-o. Nesse momento é gerado um novo ciclo novidadesco. O tempo histórico haverá de nos dizer o que ficou e o que foi com ele consumido. Em resumo, o tempo é a única instância isenta no julgamento da qualidade arquitetônica de uma obra. Assim foi com o Barroco, com o Neoclassicismo e com o Modernismo. Foi nessa trajetória que no Brasil, ao final dos anos 1970, começaram a aparecer manifestações pós modernistas aqui e ali, primeiro em decorações de lojas e restaurantes, depois em residências (nos bairros elegantes dos grandes centros urbanos), agências bancárias e edifícios de escritórios, para finalmente tomarem de assalto a arquitetura comercial promovida pela especulação imobiliária.

Tendo o tempo como “única instância isenta” em julgamento de qualidade

arquitetônica de uma obra, Malard (2006 pp. 57-93) passa a olhar o sujeito moderno

e sua expressão no ambiente construído, recordando: antecedentes;

Renascimento; espacialização pós-renascentista; Barroco; Iluminismo; Revolução

Industrial; e Movimento Moderno. E Malard (idem, p.92) “registra” reencontro desse

sujeito com objeto de seu tempo.

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A cobertura plana, o ritmo modulado da estrutura, as paredes rasgadas em vidro são elementos de uma linguagem absolutamente revolucionária que se instala e se desenvolve no século XX. É nesse momento que o sujeito moderno se reencontra com a História, utilizando os materiais de seu tempo, as técnicas de seu tempo, os requisitos de uso de seu tempo e combinando-os dentro de regras compositivas também de seu tempo. Foi um encontro que custou muito a se efetivar, pois já estava marcado desde quando o sujeito moderno começou a se conformar há, pelo menos, cinco séculos. Com o Movimento Moderno, ao contrário do que parte da crítica apregoa, a Arquitetura faz as pazes com a História, inserindo-se nas idéias (sic) e na base material de seu tempo.

3.1.5 “CASAS-JAULA” OU “CASAS-CAIXÃO”

Jaula – “humanidade” com “cidadão” enclausurado na vertical

Caixão – “humanidade” com “cidadão” com “vida” enterrada em horizontal entre

madeiras

3.2 ECONOMIA “OPRIMIDA”, “OPRESSORA” E ”LIBERTÁRIA”

Economia ou Economia Política é um estudo da Humanidade em atividades correntes de vida; examina ação individual e social em seus aspectos mais estreitamente ligados à obtenção e ao uso de elementos materiais de bem-estar. (MARSHALL, 1982 p. 23)

Marshall (1982 p. 33) esclarece mais a substância da Economia ao dizer que

“ECONOMIA é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos

assuntos ordinários da vida”.

Por um lado, dos diversos significados para “sociedade” (do latim societate),

optei por um significado dado pela Sociologia para a Sociedade Humana (SocHum):

“Organização dinâmica de indivíduos autoconscientes e que compartilham objetivos

comuns e são, assim, capazes de ação conjugada”. Por outro lado, a palavra

“economia” tem origem no grego (oikonomía, -atos, “gestão da casa”), formando uma

ideia de harmonia entre as diferentes partes de um corpo organizado como sistema

integrado e de interdependência funcional humanos. Por isso, posso asseverar que

a Economia Social (EcoSoc) é (auto)gestão pacífica e harmoniosa de um lugar

de (con)viver, por indivíduos autoconscientes em organização dinâmica

integrada sistemicamente para interação conjugada visando alcançar objetivos

comuns.

(DOWBOR, 1996)

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Da Globalização ao Poder Local - a Nova Hierarquia dos Espaços

3.2.1 ECONOMIA “REAL” E ECONOMIA “HUMANA”

Que relações devem existir entre a ação individual e a ação coletiva numa fase da civilização como a em que nos achamos?... O economista precisa das três grandes faculdades intelectuais – percepção, imaginação e razão; porém, mais do que tudo, precisa de imaginação que o coloque na pista dessas causas de acontecimentos visíveis, que estão distantes ou ocultas, e desses efeitos de causas visíveis, os quais se escondem sob a superfície... Em questões de pequena importância a simples experiência sugerirá o que não se vê...O fato é que quase todos os fundadores da Economia moderna foram homens de temperamento gentil e compreensivo, tocados de Humanidade. (MARSHALL, 1982 pp. 53, 54, 55 e 57)

A partir de Paul Samuelson (1975 p. passim), da “introdução” no livro de Carl

Menger (1983 pp. 213-224), de apresentações de Roberto Campos (PETTY, 1983 p.

X) e (QUESNAY, 1983 pp. 252-253), e de outros, diagramei Árvore Genealógica da

Economia (AGEco)118 no sentido de perceber como cultura humana foi “reificada” em

urbano que oprime o “natural”, a maioria de conhecimentos, pensamentos e

atividades humanas. Em especial a Economia e a Arquitetura, que, embora

oprimidas pelo “natural” e pelo próprio “urbano”, também oprimem ambos por

processos aparentemente independentes - lembrando de “grande cidade”, como

“inspiração” para efeitos de economia de “bem-estar” efetivamente humano, no caso

do Brasil e segundo Carlos Nelson Santos (UFF, 2017a p. 26; negritos e itálicos

meus):

As grandes cidades brasileiras se apresentam, no momento, como um singular feixe de paradoxos. Como principais centros da produção e do consumo são também os loci da expressão do poder. Têm de ser disciplinadas para garantir o bom funcionamento do sistema. São os vértices do cone da dependência, através delas se exercendo a intermediação de dentro para fora e de fora para dentro.

Observando minha realidade enquanto ser vivo - que vive, pensa, idealiza,

imagina, diagrama e age sobre assuntos ordinários da vida -, economia real é

conjunto de necessidades humanas satisfeitas, de uma só vez ou priorizadas ao longo

do tempo, por ações humanas empreendidas individualmente ou em grupo(s). No

entanto, a Humanidade crê que tem “progredido” em termos de bem-estar, pelo menos

desde a época do surgimento da Economia Política (EcoPol) sob ótica de vários

118 APÊNDICE D - Árvore Genealógica da Economia (AGEco).

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autores e discípulos119, com seus elementos, princípios, valores, ensaios, tratados,

teorias, métodos e paradigmas.

Nos séculos XVII e XVIII: o “mercantilista” e “cameralista” William Petty, vivo

de 1623 a 1687, com destaque de Roberto Campos (PETTY, 1983 p. X) para seu

tratado sobre impostos e contribuições em 1662 e, posteriormente, sua contribuição

pioneira sobre metodologia do cálculo de renda e riqueza nacional e dos primórdios

do cálculo estatístico; o “économiste” e “fisiocrata” François Quesnay, vivo de 1694

a 1774, ao qual Roberto Campos (QUESNAY, 1983 pp. 252-253) atribui, como

contribuições positivas para a “evolução do pensamento econômico”, defesa do deixai

fazer, promoção do “utilitarismo”, valorização da liberdade competitiva, conceituação

de concorrência perfeita e ensaio de Econometria. Adam Smith (SMITH, 1983 p. XII),

vivo de 1723 a 1790, é o “fundador” da Escola Clássica de Economia, com destaque

para a riqueza ou o bem-estar das nações serem identificados com seu produto anual

per capita que, dada sua constelação de recursos naturais, sendo determinado pela

produtividade do trabalho “útil” ou “produtivo” (que pode ser entendido como aquele

que produz um excedente de valor sobre o seu custo de reprodução) e pela relação

entre o número de trabalhadores empregados produtivamente e a população total.

Em 1983, Roberto Campos (QUESNAY, 1983 p. 253; negritos meus) apontava

para os três últimos séculos de “história ocidental” que assistiram ao “nascimento da

Economia como ‘ciência’ no sentido schumpeteriano, isto é, um corpo de análise

independente de proposições metafísicas ou ‘influências metafísicas’” em que

somente “o mercantilismo, o marxismo, este em grau extremo, e, modernamente, o

keynesianismo, partilharam com a Fisiocracia a honra, aliás, duvidosa, de poderem

ser classificados como ‘seitas’ econômicas’ – considerando-se que uma “’seita

econômica’ é mais que uma doutrina porque é também uma ‘mensagem’ e, no caso

do marxismo, uma poderosa mensagem política”.

Modernamente, sustentabilidade constitui um assunto em pauta desde que a

ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, em 1987, como presidente de uma

comissão da Organização das Nações Unidas, publicou um relatório120, que

relacionava meio ambiente com progresso. Nessa publicação, fazendo um diagnóstico

119 APÊNDICE E - Tópicos de Economia abordados por alguns Economistas. 120 “Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future”, disponível em http://www.un-documents.net/our-common-future.pdf. Acesso em 2016/11/21.

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a partir dos sintomas de um futuro da humanidade ameaçado pela própria atividade

“humana” e de suas causas prováveis, apresentou novas abordagens de interesse

comum mundial para o “ambiente” e o “desenvolvimento” – que permita um

desenvolvimento sustentável da economia mundial no meio ambiente. Então,

escreveu-se pela primeira vez o CONCEITO121 desse tipo de desenvolvimento:

“O desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento que satisfaz as

necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de

satisfazerem as suas próprias necessidades. Contém dois conceitos-chave: o

conceito de "necessidades", em particular as necessidades essenciais dos pobres do

mundo, a que deveria ser dada prioridade absoluta; e a ideia de limitações impostas

pelo estado da tecnologia e da organização social sobre a capacidade do meio

ambiente de atender às necessidades presentes e futuras”. Esse tipo de

desenvolvimento é um PROCESSO de longo-prazo122 com início urgente. Em

essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança em que a

exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do

desenvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais estão em harmonia, e

aumentam tanto o potencial atual como o futuro para atender às necessidades e

aspirações humanas.

Também constam desse relatório publicado há cerca de duas décadas, como

DESAFIOS COMUNS para esse desenvolvimento, as escolhas de energia - em

especial, o potencial inexplorado da energia renovável e a manutenção de eficiência

energética - os valores econômicos em jogo e, como nova abordagem, antecipar

e prevenir. Além desses (e outros), esse relatório destaca o desafio urbano em termos

de crescimento das cidades, países em desenvolvimento e cooperação

internacional. Constam ainda desse famoso e sempre presente relatório, pelo menos

no discurso, os ESFORÇOS COMUNS, dos quais se destacam o espaço como uma

chave para a gestão planetária e o stress ambiental como fonte de conflito.

121 Sustainable development is development that meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs. It contains within it two key concepts: the concept of 'needs', in particular the essential needs of the world's poor, to which overriding priority should be given; and the idea of limitations imposed by the state of technology and social organization on the environment's ability to meet present and future needs. 122 In essence, sustainable development is a process of change in which the exploitation of resources, the direction of investments, the orientation of technological development and institutional change are all in harmony and enhance both current and future potential to meet human needs and aspirations.

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Mansell e Tremblay (2015), renovando a visão das sociedades do

conhecimento para a paz e o desenvolvimento sustentável afirmam que a relação

entre os avanços na tecnologia digital e a transformação social não é nada simples. E

que o investimento em hardware e software não pode servir como substituto para a

habilidade das pessoas de entender seu ambiente de informação e comunicação. E

alegam que uma base global de conhecimento universal não reduz as

desvantagens sociais e econômicas, mesmo que seja acessível por meio das

redes mundiais. Porquanto uma parte desse conhecimento é apenas parcialmente

composto de informações. Enquanto a outra parte é composta por um mix de

compreensão pessoal, interpessoal e contextualizada, o qual é adquirido por meio da

aprendizagem. E, tendo em vista a ênfase excessiva que vem sendo colocada na

tecnologia em muitas esferas políticas das sociedades do conhecimento, eles

recomendam a importância crucial das pessoas, da educação e da aprendizagem

(formal ou informal) e das políticas necessárias para reforçar a capacidade

dessas pessoas para a autodeterminação.

(DOWBOR, 2014)

Mecanismos Econômicos

(DOWBOR, 2009)

Inovação social e sustentabilidade

3.2.2 ECONOMIA “POLÍTICA” E ECONOMIA “URBANA”

Como arquitetura provoca efeitos econômico? De forma simples e direta. Uma fachada para a rua movimentada serve para botar anúncio, para transformar casa em loja. (UFF, 2017b p. 37; Carlos Nelson Santos)

No entender de Rockwell Jr.123 (2006 pp. 1; tradução livre; negritos, itálicos e

sublinhados meus), o mal-entendido mais comum sobre economia é que ela é “apenas

123 No original: The most common misunderstanding about economics is that it is only about money and commerce. The next step is easy: I care about more than money, and so should everyone, so let's leave economics to stock jobbers and money managers and otherwise dispense with its teachings. This is a fateful error, because, as Mises says, economics concerns everyone and everything. It is the very pith of civilization. This is a confusion sown by economists themselves, who postulate something called "economic man" who possesses a psychological propensity to always behave in ways that maximize wealth. Their mathematical models, predictions, and analysis of policy are based on this idea. In the real

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sobre dinheiro e comércio”, quando economia é mais do que dinheiro e, citando

Mises, a economia diz respeito a tudo e todos – “é o próprio cerne da civilização”.

Rockwell Jr. vai mais além ao afirmar que esse mal-entendido “é semeado pelos

próprios economistas ao postularem algo chamado ‘homem econômico’ (homo

economicus) que possui propensão psicológica para sempre se comportar de

maneira a maximizar riqueza”. E conclui que modelos matemáticos, previsões e

análises de política desses economistas “baseiam-se nessa ideia (homo economicus)”

que não acontece no mundo real - este envolve “busca de lucro, mas também atos

extraordinários de caridade, sacrifício, doações não pecuniárias e voluntarismo

(embora eu [ele] não goste desse termo, já que todas as trocas comerciais são

voluntárias também!)”. Ainda segundo Rockwell Jr.124, a abordagem austríaca da

economia dispensa a ideia de "homem econômico" e amplia o significado da

economia para “incluir toda a ação que ocorre em uma estrutura de escassez” pois

“escassez requer que economizemos em algo de tudo que fazemos, mesmo quando

a riqueza não é a motivação”. Portanto, analisam-se ações de indivíduos, não

maximização de protótipos.

Por essa mesma abordagem, Dorobăț (2018 pp. 1; tradução livre; negritos,

itálicos e sublinhados meus)125 diz que “os economistas de corrente principal também

são culpados por desconsiderar aspectos essenciais da ação humana na busca pela

perfeição matemática em seus modelos”. Dorobăț afirma que esses economistas,

usando esses modelos para prever e remodelar a economia, não podem lidar com

coisas ‘imprevisíveis’. Eles tratam variáveis imensuráveis - como tempo, valores

morais e incentivos não monetários - como se elas fossem menos importantes, na

verdade, como se fossem inexistentes, eliminando-as completamente de seus

world, however, we know this not to be the case. The world as we know involves profit seeking but also extraordinary acts of charity, sacrifice, non-pecuniary giving, and voluntarism (though I dislike that term since all commercial exchanges are voluntary too!). 124 No original: The Austrian approach to economics dispenses with the idea of "economic man," or rather broadens the meaning of economics to include all action, which takes place in a framework of scarcity. Scarcity requires that we economize on something in all that we do, even when wealth is not the motivation. For this reason, Austrians analyze acting individuals, not maximizing prototypes. 125 No original: But mainstream economists are also guilty of disregarding essential aspects of human action in the quest for mathematical perfection in their models. As they use these models to predict and re-shape the economy, they cannot deal with "unpredictable" things. They do treat unmeasurable variables—like time, moral values, and non-monetary incentives — as if they matter less, in fact, as if they are non-existent, eliminating them completely from their idealized models.

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modelos idealizados. Tendo isso em sua mente, Dorobăț126 compreende que o

propósito da ciência econômica não é resolver todos os problemas sociais, nem tem

ferramentas apropriadas para isso. O que a economia pode fazer é explicar como

empreendedores e consumidores, por meio de sua interação no mercado,

resolvem eles próprios algumas dessas questões.

Entretanto, Salin127 (2009 pp. 1; tradução livre; negritos, itálicos e sublinhados

meus) diz que existe uma única teoria econômica, mas, no entanto, há um fenômeno

estranho na teoria econômica:

embora todos os economistas partam do mesmo pressuposto básico, o de um indivíduo racional que é capaz de fazer escolhas, há muitas escolas econômicas diferentes e até completamente opostas. Parece ser um paradoxo, uma vez que, se os economistas estão partindo das mesmas suposições iniciais e se são capazes de raciocinar logicamente, devem chegar às mesmas conclusões.

Mais especificamente, Jane Jacobs128 (2011 pp. 15-16; negritos e itálicos meus)

é incisiva ao afirmar que “o raciocínio econômico da reurbanização atual é um

embuste” porquanto os meios que a reurbanização planejada tem utilizado são tão

deploráveis quanto seus fins. Meios e fins, em que

a economia da reurbanização não se baseia unicamente no investimento racional através de subsídios públicos, como proclama a teoria da renovação urbana, mas também em vastos e involuntários subsídios, arrancados de vítimas locais indefesas.

Jane Jacobs (2011 p. 16; negritos e itálicos meus) acrescenta que não há nada

que seja econômica ou socialmente inevitável quer em declínio de “cidades

tradicionais” quer em recém-inventada decadência de “nova urbanização inurbana”.

126 No original: The purpose of economic science is not to resolve all social problems, nor does it have appropriate tools for this. What economics can do is to explain how entrepreneurs and consumers, through their interaction in the market, resolve some of these issues themselves. 127 No original: There is one single economic theory. However, there is a strange phenomenon in economic theory: although all economists start from the same basic assumption, that of a rational individual who is able to make choices, there are a lot of different and even completely opposite economic schools. It seems to be a paradox, since, if economists are starting from the same initial assumptions and if they are able to reason logically, they ought to arrive at the same conclusions. 128 Jane Butzner Jacobs (Scranton, 4 de maio de 1916 — Toronto, 25 de abril de 2006) foi uma escritora e ativista política do Canadá, nascida nos Estados Unidos. Sua obra mais conhecida é Morte e Vida de Grandes Cidades (The Death and Life of Great American Cities, 1961), na qual critica duramente as práticas de renovação do espaço público da década de 1950 nos Estados Unidos. Numa etnografia jornalística, a autora procurou, nesse livro, identificar no quotidiano de grandes cidades norte-americanas as razões da violência, da sujeira e do abandono, ou, ao contrário, a boa manutenção, a segurança e a qualidade de vida de lugares que constituíam a cena real das metrópoles, em simetria ao esquematismo dos modos de vida que os planejadores previam em seus modelos urbanos ideais. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Jane_Jacobs, em 20/05/2019.

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Para ela, nenhum outro aspecto da economia e da sociedade tem sido mais

intencionalmente manipulado por todo um quarto de século “com o fim de atingir

exatamente o que conseguimos”: alto nível de monotonia, esterilidade e

vulgaridade. E, ainda segundo ela, “as várias décadas de discursos, textos e

exortações de peritos serviram para convencer a nós e aos legisladores de que

uma gororoba dessas deve fazer-nos bem, desde que esteja coberta de

gramados”.

A oportunidade que abre a urbanização, em termos de facilidade de gestão descentralizada e menos burocrática, é particularmente importante. O que transparece também, nas diversas áreas analisadas, é que, contrariamente ao ditado popular de que tamanho não é documento, em economia o tamanho importa muito. (DOWBOR, 2015b)

No entanto, o conhecimento flui para uma “hélice tripla” (ETZKOWITZ, 1996),

em dinâmica de inovação Universidade, Indústria e Governo (ETZKOWITZ, et al.,

2000). E as vidas humanas, sem as quais não há universidades, nem indústrias, nem

governos ?

Rena129 (2014 p. 4) diz que, em relações de poder no espaço de metrópoles

nossas contemporâneas, o “Estado-Capital” expande a exploração de “mais-valia”

por toda a cidade – na qual as “biopolíticas” implementadas vão consolidando

dinâmicas complexas de “produção do espaço” em que se realizam “processos de

exclusão social” em diversos níveis. Para ela, compreender essas dinâmicas é

fundamental para mapearmos os campos de luta mais importantes nas nossas

metrópoles.

[...] nos interessa pensar portanto, junto com Lazzarato, que é possível sair desta lógica binária entre socialismo estatal totalitarista-universal ou neoliberalismo generalizado do Estado-capital financeiro. Para compreender as relações de força na sociedade contemporânea e realizar um diagnóstico mais próximo da realidade das lutas globais, seria preciso investirmos em um pensamento-ação, através da filosofia-práxis, que possa nos abrir um campo teórico mais complexo fora do universo da totalidade e que nos permita “entrar no mundo do pluralismo e da singularidade, onde as conjunções e as disjunções das entre as coisas são em cada momento contingentes, específicas e particulares e não remitam à [sic] nenhuma essência, substância ou estrutura profunda que as possam fundar” (LAZZARATO, 2006, p:19) Este pensamento-ação nos permite compreender-experimentar a

129 Professora Doutora - Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: [email protected]

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realidade política atual a partir das relações exteriores, fora dos fundamentos, das raízes profundas, dos modelos arborescentes nos quais cada relação só expressa um dos aspectos de alguma coisa. Aqui uma escolha pela teoria pós-estruturalista da multiplicidade, que afasta as relações binárias para compreensão do mundo político, social e econômico, nos lança num campo de pensamento complexo e configurado em múltiplos platôs que se conectam transversalmente. (RENA, 2014 pp. 9-10)

Fora da lógica dos movimentos viciados da esquerda clássica, que acredita na ideia unitária de povo, e fora da lógica do mercado que só pensa nos cidadãos como massa, a multidão é plural e atua no trabalho vivo e imaterial produzido em rede coletivamente e criativamente. Portanto, estancar a força motriz que move estes movimentos não vai ser tarefa fácil para o Estado-capital, já que o que os movem é o amor e o afeto e o próprio sentido ativo da vida. (RENA, 2014 p. 14)

3.2.3 ECONOMIA “FAMILIAR” E ECONOMIA “COMUM”

(DOWBOR, 2015c) ECONOMIA FAMILIAR - Ladislau Dowbor

Nessa “nova hierarquia”, Dowbor destaca, no espaço global, a cidade como

base da organização social e política, bem como o resgate da dimensão comunitária

por espaços articulados para uma gestão descentralizada da reprodução social.

(DOWBOR, 2001c) Descentralização e Participação - as novas tendências

3.3 ARQUITETURA “OPRIMIDA”, “OPRESSORA” E ”REDENTORA”

Para Ching130, Ciência é um ramo de conhecimento que lida com “um corpo de

fatos ou verdades” obtidos por observação direta, investigação experimental e estudo

metódico, organizado sistematicamente e mostrando a validade de leis gerais. Em

que, adaptando de Ching (1995 p. 9), um desses ramos é a Arquitetura como ciência

e arte de desenhar e construir edifícios, desenvolvendo-se principalmente por

profissão de projetar edifícios e outros ambientes habitáveis, privados ou comuns, em

ato consciente para formar coisas numa estrutura unificadora e coerente, como

produtos ou frutos de trabalho arquitetônico respeitando estilo e método de construir

característicos de uma população, lugar ou tempo (fig.25 abaixo).

130 Science - A branch of knowledge dealing with a body of facts or truths obtained by direct observation, experimental investigation, and methodical study, systematically arranged and showIng the operatIon of general laws. (CHING, 1995 p. 11; tradução minha; negritos e itálicos meus).

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Figura 25- Diagrama de Arquitetura – arte e ciência de desenhar e construir edifícios Fonte: (CHING, 1995 p. 9)

Neste ramo de conhecimento, Ching131 esclarece que: desenhos

arquitetônicos são tipicamente executados em escala reduzida para caber em certa

folha de papel, pergaminho ou cartolina - até mesmo impressoras digitais e plotadoras

têm limitações de tamanho de papel; a escala de um desenho determina quantos

131 Scale and detail - Architectural drawings are typically executed at a reduced scale to fit onto a certain size sheet of paper, vellum, or illustration board. Even digital printers and plotters have paper size limitations. The scale of a drawing determines how much detail can be included in the graphic image. Conversely, how much detail is desirable determines how large or small the scale of a drawing should be. (CHING, 2015 p. 42; tradução minha; negritos e itálicos meus).

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detalhes podem ser incluídos na imagem gráfica; e reciprocamente, quanto detalhe é

desejável determina quão grande ou pequena a escala de um desenho deve ser.

Colin (2000 pp. 21-28) conceitua arquitetura como esta tríade de complexidade

alta: profissão (a partir da raiz grega arkhitektôn - arquiteto - que significa ”artífice

superior” ou “grande carpinteiro”); produto cultural; e arte. (fig.26 abaixo)

Figura 26- Diagrama de Conceituação de Arquitetura Fonte: Autor desta dissertação, 04 de abril de 2019

Neste trabalho, a partir Colin (2000 pp. 21-28), traço um diagrama (fig.27

abaixo) pelo qual se pode perceber a ponta do iceberg que “oprime” a arquitetura por

características “intrínsecas” à própria profissão de arquiteto na busca de excelência

estética.

Em sua crítica arquitetônica, Bruno Zevi (1996 pp. 19-20) coloca estas quatro

perguntas imediatas : 1) “o que é arquitetura?”; 2) “o que é a não-arquitetura?”; 3)

“é correta a identificação entre arquitetura e edificação artística, e entre não-

arquitetura e edificação feia? Em outras palavras, a distinção entre arquitetura e

não-arquitetura baseia-se numa apreciação meramente estética?”; 4) o que é

espaço protagonista da arquitetura e quais são suas dimensões?

CONCEITUAÇÃO DE ARQUITETURACONCEITUAÇÃO DE ARQUITETURA

PROFISSÃO

PROCESSODE

PRODUÇÃO

EXCELÊNCIAESTÉTICA

ARQUITETURA COMO PRODUTO CULTURALARQUITETURA COMO PRODUTO CULTURAL

PONTO DE VISTA DE

DESEMPENHO

PONTO DE VISTA

ANTROPOLÓGICO

ARQUITETURA COMO ARTEARQUITETURA COMO ARTE

LIMITAÇÕESTÉCNICAS

PRETEXTOFUNCIONAL

CONTATOOBRIGATÓRIO

EDFÍCIO COMO

OBRA DE ARTE

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Figura 27- Diagrama de Arquitetura em prática (re)conceitual

Fonte: Adaptação do Autor desta dissertação, 01 de abril de 2019

Às quais ele mesmo responde (idem, pp.20-24): dizer que arquitetura é

edificação “bela” e não-arquitetura é edificação “feia” não tem qualquer sentido

esclarecedor, porque o belo e o feio são relativos e porque, de qualquer maneira, seria

necessário dar antes uma definição analítica de edificação; bela arquitetura será

aquela que tem um espaço interior que nos atrai, nos eleva, nos subjuga

espiritualmente; feia arquitetura será aquela que tem um espaço interior que nos

aborrece e nos repele; e, em arquitetura de cada edifício, continente é invólucro mural,

conteúdo é espaço interior, com representação gráfica de três dimensões (altura,

profundidade e largura), e o homem, movendo-se no edifício, estudando-o de pontos

de vista sucessivos, cria, por assim dizer, a quarta dimensão, suficientes para definir

o volume arquitetônico, isto é, o invólucro mural que encerra o espaço, mas este, em

si, como essência da arquitetura, transcende os limites da quarta dimensão.

Entretanto, Zivi (idem, pp.24-26) adverte sobre dois graves equívocos que tornariam

ridícula a interpretação espacial da arquitetura que devem ser imediatamente

dissipados

1) que a experiência espacial arquitetônica só é possível no interior de um edifício, ou seja, que o espaço urbanístico praticamente não existe ou não tem valor; 2) que o espaço não somente é o protagonista da arquitetura, mas esgota a experiência arquitetônica, e que, por conseguinte, a interpretação espacial de um edifício é suficiente como instrumento crítico para julgar uma obra de arquitetura. (...) A experiência espacial própria da arquitetura

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prolonga-se na cidade, nas ruas e praças, nos becos e parques, nos estádios e jardins, onde quer que a obra do homem haja limitado “vazios”, isto é, tenha criado espaços fechados. (...) Ora, visto que todos os volumes arquitetônicos, todos os invólucros murais, constituem um limite, um corte na continuidade espacial, é óbvio que todos os edifícios colaboram para a criação de dois espaços: os interiores, definidos perfeitamente pela obra arquitetônica, e os exteriores ou urbanísticos, encerrados nessa obra e nas contíguas. (...) O segundo equívoco leva o raciocínio aos seus limites extremos e ao absurdo, com ilações totalmente estranhas às intenções dos que defendem a interpretação espacial da arquitetura. Dizer que o espaço interior é a essência da arquitetura não significa efetivamente afirmar que o valor de uma obra arquitetônica se esgota no valor espacial. Cada edifício caracteriza-se por uma pluralidade de valores: econômicos, sociais, técnicos, funcionais, artísticos, espaciais e decorativos, e cada um tem a liberdade de escrever histórias econômicas da arquitetura, histórias sociais, técnicas e volumétricas (...) Mas a realidade do edifício é consequência de todos esses fatores, e uma história válida não pode esquecer nenhum deles.

A arquitetura está demasiadamente ligada à vida para que os seus preconceitos não se reflitam diretamente na vida: as perspectivas da arquitetura e da sua crítica são as perspectivas da comunidade moderna. E não nos cansaremos de repetir que enquanto a história da arquitetura não tiver dominado os vínculos filológicos e arqueológicos, não só a arquitetura do passado não adquirirá historicidade, isto é, atualidade, e não suscitará interesses e emoções vivas, como também o público continuará a pensar que a arquitetura se encontra apenas nos monumentos, que a instância da arquitetura aparece apenas nos casos em que se constrói “para a beleza”, e que existe um decisivo desprendimento entre a forma de julgar uma obra-prima do passado e a casa em que vivemos, o espaço de uma igreja bizantina e o espaço do quarto ou do apartamento onde estamos lendo agora. Quer se queira, quer não, assistimos a uma profunda alteração na consideração da arte relativamente à vida (...) O mundo moderno, mostrando o balanço de um século de cisão entre vida e cultura, de um século de arquitetura concebida como peça de museu (...) exige que arquitetos e críticos da arquitetura assumam suas responsabilidades sociais, anuncia a eminente aniquilação de toda posição cultural que não sirva à vida, de toda atividade artística que se mantenha isolada de crescimento social da civilização, de toda edificação infecunda de melhores temas de vida. (ZEVI, 1996 p. 199)

Construção Formal

(...) O conceito de construção formal, fundamental para a

concepção moderna, continua sendo de extrema utilidade para a prática e o

ensino de arquitetura. Sem ignorar os aspectos social e tecnológico da arquitetura

moderna, é importante enfatizar a ruptura metodológica que ela introduziu em relação

aos modos de produção artística anteriores, substituindo a imitação por uma idéia

autônoma de forma, desvinculada de qualquer sistema prévio ou exterior.

Há quase cem anos a mímese classicista pode ser substituída pela construção

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formal, a qual é “exercida pela ação formativa do sujeito, que busca dar

sentido e consistência ao produto da sua concepção”. A construção formal

é uma conseqüência lógica do pensamento artístico que exige a participação do

sujeito para o seu complemento. “O objeto moderno reclama a inteligência

do espectador, tornando-o participante do seu jogo”. Aquela ação

formativa do sujeito que concebe, para que possa ser recriada pelo sujeito que

dela desfruta, deve não apenas se fundamentar em idéias genéricas e

inteligíveis, assim como deve tornar explícito o modo em que o objeto está

feito.

A ruptura metodológica introduzida pela modernidade foi acompanhada por uma

transformação radical na natureza do artefato arquitetônico, como descreve

Carlos Martí Arís:

“Na arquitetura tradicional os diferentes subsistemas que compõem o edifício

(estrutura portante, esquema distributivo, organização espacial, mecanismos de

acesso, relação com o exterior, etc.) coincidem entre si, se sobrepõem de modo

exato e unívoco, estabelecendo nitidamente sua forma tipológica. Na

arquitetura moderna todos esses subsistemas podem ser isolados e abstraídos,

podem ser pensados de modo autônomo segundo suas estratégias particulares as

quais, embora cúmplices, não precisam ser necessariamente coincidentes. Na

arquitetura tradicional os diversos subsistemas convergem univocamente na

definição do tipo e este, ao ser fixado, determina e constrange, por sua vez a

configuração daqueles, subordinando-os à diretriz estabelecida pelo tipo. Na

arquitetura moderna, em troca, os subsistemas não se identificam com o tipo

[ou a estrutura formal] nem são pré-determinados por ele” (20).

Se na arquitetura tradicional todos os subsistemas convergem e se confundem

com a estrutura formal, na arquitetura moderna a sua independência permite o

abandono da imitação como procedimento fundamental, possibilitando o uso de

esquemas ordenadores de qualquer origem, até da própria história da

arquitetura. (...)

(MAHFUZ 2004, 18)

Sentido e Consistência

Sentido e consistência formal são qualidades essenciais

a qualquer obra de arquitetura. O sentido de uma obra arquitetônica tem a ver

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com a orientação da sua incidência na realidade, seja ela geográfica,

cultural, histórica, tecnológica, ideológica, etc. A obra adquire um sentido

em função da posição tomada pelo projetista em relação ao seu entorno (em termos

abrangentes) ou, dito de outro modo, aos materiais com os quais deve

lidar, os condicionantes de um projeto.

Embora a maioria das obras, mesmo as conceitualmente equivocadas, tenha

um sentido, a consistência formal é a marca da arquitetura de qualidade.

Uma obra consistente está vertebrada por um sistema de relações internas que

garantem sua identidade formal, respeitando e transcendendo os requisitos

funcionais. A consistência formal é o aspecto específico que, na

medida em que fundamenta a identidade de uma obra, incide de modo direto sobre

o sentido ou sentidos que sua presença gera.

A consistência formal tem como conseqüência a correção estilística, noção

raramente associada à arquitetura moderna, supostamente a-estilística. O

estilo de uma obra ou de um arquiteto se define como a freqüência de certos

elementos visuais que derivam de um modo específico de abordar os problemas da

arquitetura. Se tais convenções são de natureza formal, o estilo tem uma

dimensão construtiva, criativa; se, ao contrário, essas características

visuais são de natureza figurativa, o estilo responderá a uma atitude

mimética. No primeiro caso, o caráter do objeto deriva da sua estrutura formal

e da sua constituição material; no segundo, é algo aposto, desvinculado da sua

organização e materialidade, logo inautêntico. (MAHFUZ 2004, 20-21)

Edson da Cunha Mahfuz 132 (MAHFUZ 2004) - Reflexões sobre a construção

da forma pertinente

Voltar a discutir o projeto arquitetônico se justifica e interessa não apenas

porque se supõe que o ensino de arquitetura esteja em crise, e sempre está,

mas por dois outros motivos que me parecem de particular relevância. Em

primeiro lugar, porque nossa profissão passa por uma crise disciplinar sem

precedentes, que ameaça torná-la obsoleta ou alterar radicalmente sua

natureza. Em segundo lugar, porque não há consenso sobre os procedimentos

projetuais que podem conduzir à boa arquitetura, e muito menos sobre o que

132 Edson da Cunha Mahfuz é professor titular de Projetos da FAU / UFRGS.

163 / 365

caracteriza obras de qualidade superior no início deste novo século. Em uma

época em que, aparentemente, vale tudo, é fundamental um olhar introspectivo

para tentar entender a essência da disciplina. Só assim será possível praticar

e ensinar uma arquitetura autêntica, que preserve seu papel social e cultural.

(MAHFUZ 2004, 10)

Criação de Ambiente Mais Propício à Vida

Criação de um ambiente mais propício à vida e intencionalidade estética são

as características estáveis da arquitetura. Esses aspectos evidenciam-se em toda

pesquisa positiva e iluminam a cidade como criação humana. Mas, por dar forma

concreta à sociedade e sendo intimamente ligada a ela e à natureza, a arquitetura é

diferente, e de um modo original, de todas as outras artes e ciências. (ROSSI, 2001

p. 1)

A oposição entre particular e universal e entre individual e coletivo emerge da

cidade e da construção da própria coisa: a sua arquitetura. Ela se manifesta sob

diversos aspectos, nas relações entre esfera pública e privada, na oposição entre

projeto racional da arquitetura urbana e os valores do “locus”, entre edifícios públicos

e edifícios privados. (ROSSI, 2001 p. 2)

A arquitetura da cidade é parte integrante do homem, é a sua construção. A

arquitetura é a cena fixa das vicissitudes do homem, carregada de sentimentos de

gerações, de acontecimentos públicos, de tragédias privadas, de fatos novos e

antigos. O elemento coletivo e o elemento privado, sociedade e indivíduo,

contrapõem-se e confundem-se na cidade, que é feita de inúmeros pequenos seres

que procuram uma acomodação e, junto com ela, formando um todo com ela, um seu

pequeno ambiente mais adequado ao ambiente geral. (ROSSI, 2001 p. 3)

Destruições e demolições, expropriações e bruscas mudanças do uso do solo,

assim como especulação e obsolescência, estão entre os meios mais conhecidos da

dinâmica urbana. (ROSSI, 2001 pp. 3-4)

...programa para o desenvolvimento da ciência urbana: descrição e história

das cidades existentes, pesquisa das forças que agem de maneira permanente e

universal em todos os fatos urbanos. E, naturalmente, sua necessidade de delimitar-

se e definir-se. (ROSSI, 2001 p. 5)

Remetendo a um desenvolvimento sistemático de um programa desse tipo,

procurei deter-me particularmente nos problemas históricos e nos métodos de

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descrição dos fatos urbanos, nas relações entre os fatores locais e a construção dos

fatos urbanos, na identificação das forças principais que agem sobre as cidades,

entendidas como forças que estão em ação de modo permanente e universal. (ROSSI,

2001 p. 5)

De fato, estou convencido de que uma parte importante de nossos estudos

deveria ser dedicada à história da ideia de cidade, em outras palavras, à história das

cidades ideais e à história das utopias urbanas. Pelo que sei, as contribuições nesse

sentido são escassas e fragmentárias, embora existam pesquisas parciais no campo

da arquitetura e da história das ideias políticas. (ROSSI, 2001 p. 5)

A cidade como campo de aplicação de diferentes forças. Afirmei várias vezes

que a cidade só pode ser definida com referência precisamente ao espaço e ao tempo;

só assim podemos compreender de que fato urbano estamos nos ocupando. (ROSSI,

2001 p. 209)

Mutações, mudanças, simples alterações têm, pois, tempos diferentes;

fenômenos particulares, acidentais como as guerras ou as expropriações, podem

subverter em tempo situações urbanas que pareciam definitivas, ou essas mudanças

podem se produzir em tempos mais longos e por modificações sucessivas, às vezes

de elementos e partes isoladas. Em todas essas modificações, atuam muitas forças

que se aplicam à cidade; essas forças podem ser de natureza econômica, política ou

outra. (ROSSI, 2001 p. 210)

Assim, o problema principal, de nosso ponto de vista, não é tanto o de conhecer

essas forças em si, mas saber: a) como elas se aplicam; b) como sua aplicação produz

mudanças diferentes. Essas mudanças dependerão, de um lado, da natureza dessas

forças, de outro da sua situação local, do tipo de cidade, etc. Devemos, pois,

estabelecer uma relação entre essas forças e a cidade e conhecer os modos das

transformações. (ROSSI, 2001 p. 211)

Carlos Santos133 pondera ser-se “contra apenas uma arquitetura” e alerta para

“o perigo de planejarmos uma sociedade democrática sob medida para nossas

133 “Não importando as previsões desanimadoras (e não ouvi poucas), eu via a arquitetura como atividade nobre e digna, cheia de possibilidades excitantes que tinham a vantagem de ser sérias e, ao mesmo tempo, bastante divertidas. A faculdade tratou logo de pôr nos trilhos excitações e entusiasmos. Não se poderia esperar muito mais de uma instituição legitimadora, tão comprometida com a manutenção dos dogmas do próprio saber, garantidores de um prestígio autoalardeado e até hoje muito respeitado por todos nós brasileiros, deslumbrados natos com a superioridade intrínseca ao ser

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conveniências”. Nessa ponderação, implicitamente, ele destaca três situações: por um

lado, arquitetura “oprimida” em âmago de seu “ensino superior”; por outro lado,

arquitetura “opressora” de algum modo por ação de “arquiteto” (e/ou “urbanista”); e,

ainda por outro lado, arquitetura “redentora” por ação “contaminadora” de “arquiteto”

(e/ou “urbanista”).

Leonardo Benevolo (2001 pp. 35-208; passim) destaca o nascimento da cidade

industrial e seu desenvolvimento via mudanças nas técnicas de construção durante

a Revolução Industrial134 por: progressos científicos e ensino; aperfeiçoamento de

sistemas de construção tradicionais; novos materiais; progressos técnicos de

construção comum; engenharia; e neoclassicismo. Mudanças em era de

reorganização e de origens da urbanística moderna, com: reformas políticas;

primeiras leis urbanísticas; movimento neogótico; ecletismo e racionalismo na época

de Haussmann; e crise do ecletismo na Arquitetura e na Engenharia, na segunda

metade do século XIX. Cidade industrial que foi motivo de debates por utopistas e

movimento para reforma de Artes aplicadas.

Naquele desenvolvimento, Benevolo (2001 pp. 209-266; passim) evidencia os

Estados Unidos com sua Arquitetura Colonial tradicional, o seu Classicismo, a Escola

doutoral ou ao ser professoral (...) Há quem considere que, não podendo fazer tudo, nada resta como ação digna de um arquiteto. Seria o caso de propor uma inversão: se pudessem fazer tudo, o que proporiam arquitetos e urbanistas que fosse diferente do que estão fazendo agora? Aumentariam seu poder ou tentariam passá-lo adiante? Há também quem argumente que não existe poder nenhum e, portanto, a questão é improcedente. Nisto discordo. O arquiteto tem na nossa sociedade o poder de nomear espaços e de dizer o que é e o que não é arquitetura. Deixei de lado as questões da extensão, profundidade e respeitabilidade deste poder, pois não interferem em sua efetividade. Podemos agir como entesouradores, retirando de todos as categorias que o senso comum usa para classificar, distinguir, dominar e se apropriar dos espaços. Um exercício de acumulação do gênero resultaria em empobrecimento geral, não importando as boas intenções expressas que o motivem. Poderemos, por outro lado, usando nossos privilégios instrumentais de especialistas, fazer análises e intervenções contaminadoras que não só abram os espaços à maior participação possível como estimulem o surgimento de novas formas de nomeá-las e de lhes conferir significados. Isto corresponderia a permitir a tomada de consciência individual e coletiva através da crítica aos elementos do cotidiano”. (UFF, 2017a pp. 143, 155 e 156). 134 Revolução Industrial que se desenvolve em quatro etapas. Revolução Industrial 1.0 – de 1760 a 1860 - iniciada na Inglaterra, foi conjunto de mudanças ocorridas na Europa, nos séculos XVIII e XIX, cuja principal particularidade foi substituição de trabalho artesanal por trabalho assalariado usando máquinas. Revolução Industrial 2.0 – de 1860 a 1960 -, na Alemanha, França, Rússia e Itália, com estes destaques “revolucionários” nos séculos XIX e XX: emprego de aço; utilização de energia elétrica e de combustíveis derivados de petróleo; invenção de motor a explosão e de locomotiva a vapor; e desenvolvimento de produtos químicos. Revolução Industrial 3.0 – de 1960 a 2000 –, com estas principais inovações tecnológicos no século XX: computador; fax; engenharia genética; internet; e celular. Revolução Industrial 4.0 – de 2000 até agora – com o advento, no século XXI, de novas tecnologias de informação e comunicação, entre pessoas, entre pessoas e coisas, entre coisas, e entre coisas e pessoas.

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de Chicago e sua “vanguarda” de então. No que se refere aos movimentos de

vanguarda na Europa, de 1890 a 1914, Benevolo (2001 pp. 267-370; passim) aponta

para: novas teorias sobre a Arte, em face de insatisfação geral com o ecletismo;

contribuição da França com seu legado técnico e cultural; a Art Nouveau; progresso

de leis e de experiências urbanísticas, de 1890 a 1914. Nesse progresso e nessas

experiências, Benevolo evidencia ensinamentos de Camillo Sitte, movimento de

cidades-jardim, cidade linear de Arturo Soria e atividade urbanística de Berlage.

Benevolo (2001 pp. 371-740; passim) envereda então pelo movimento moderno no

qual mostra: condições de partida e formação desse movimento (1918-1927) com a

Staatliches-Bauhaus (uma escola de design, artes plásticas e arquitetura na

Alemanha), exórdio de Le Corbusier, herança da vanguarda alemã e herança

holandesa; primeiros relacionamentos com o público, através de concursos,

exposições, publicações e o primeiro Congresso Internacional da Arquitetura Moderna

(CIAM) – este realizado na cidade de La Sarraz, Suíça, em 1928, e organizado por Le

Corbusier; abordagem de problemas urbanísticos, com legislação e esperiências

urbanísticas no pós-guerra, primeiras aplicações de novos padrões no pós-guerra

alemão, urbanística de Gropius, de Le Corbusier e dos CIAM; compromisso político e

conflito com regimes autoritários (União Soviética, Alemanha, Áustria, Itália e França);

progressos de Arquitetura na Europa entre 1930 e 1940, com mestres alemães na

Inglaterra, renascimento da arquitetura inglesa, resultados de pesquisas marginais na

França e na Itália, e progressos nos Países Baixos (Holanda), Países Escandinavos

e Suiça; arquitetura moderna nos EUA com seus anos ruidosos (the roaring years),

obra de Richard Neutra, exemplo de Wright, New Deal e contribuição de ex-mestres

da Bauhaus, obra de Mies van der Rohe e desenvolvimentos de arquitetura norte-

americana pós-New Deal. Finalmente, Benevolo (2001 pp. 741-790; passim) conclui

com intervenção tipológica e controle tanto de produção industrial como de

transformações urbanas.

3.3.1 “SISTEMA”, FORMA, ESPAÇO, TEMPO, ORDEM EM ARQUITETURA

Analisando obras de Christopher Alexander, em termos de morfologia urbana

(fig.28 abaixo), percebi síntese de “forma” em desenho “urbano” visando

atemporalidade de “construir” com linguagem de “padrões” por sistemas gerando

“sistemas” para privacidade de “comunidade” em processo de “luta pela vida” via

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cidade “humana” em estrutura “ambiental terrestre.135 Atentando, especialmente, para

suas notas de síntese de forma:

Hoje, quase dez anos depois que escrevi este livro, uma ideia se destaca claramente para mim como a mais importante do livro: a ideia dos diagramas. A ideia de um diagrama ou padrão é muito simples. É um padrão abstrato de relações físicas que resolve um pequeno sistema de forças interagentes e conflitantes, e é independente de todas as outras forças e de todos os outros diagramas possíveis. Muitos leitores se concentraram no método que leva à criação dos diagramas, não nos próprios diagramas, e até mesmo fizeram um culto a seguir esse método. (ALEXANDER, 1973 pp. V-VI; tradução livre).

Figura 28- Diagrama de Forma e Desenho Urbano em Edifício em Condomínio Vertical

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 09 de setembro de 2017

Christopher Alexander (1973 pp. 1-134; tradução livre) aponta para: 1)

necessidade de racionalidade, em processo de design - para inventar coisas físicas

que apresentem nova ordem física, organização, forma, em resposta à função – no

qual designers tentem entender esse processo analiticamente; 2) ajuste e processo

- qualidade de ajuste, fonte de bom ajuste, processo não-consciente, processo

autoconsciente – de modo a que contexto defina “problema” e forma seja “solução”

para esse problema; 3) programa, definições e solução - realização de programa e

definições para solução – sabendo-se que existe profunda e importante

135 Notes on the Synthesis of Form (ALEXANDER, 1973); A pattern language: towns, buildings, construction (ALEXANDER, et al., 1977); e The timeless way of building (ALEXANDER, 1979). Estes dois livros são duas metades uma só obra formam um todo indivisível.

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correspondência estrutural subjacente entre “padrão” de problema e “processo” de

criação de forma física que responda a esse problema; 4) diagramas ou padrões -

como chaves para processo de criação de forma, criando padrões abstratos que

estudem implicação de sistemas de forças limitados, criando novas formas através de

combinação livre desses padrões, com FOCO NOS DIAGRAMAS-EM-SI, não no

método que leva à criação desses diagramas. Christopher Alexander (ibidem)

estabelece, como REGRA GERAL, que todos os aspectos de uma forma, sejam

semelhantes a peças ou padrões, podem ser entendidos como uma estrutura de

componentes. Todo objeto é uma hierarquia de componentes, os grandes

especificando o padrão de distribuição dos menores, os pequenos, embora à primeira

vista mais claramente como um fragmento, de fato padrões que especificam o arranjo

e a distribuição de componentes ainda menores ... Diz ele que é o culminar da tarefa

do designer para fazer com que cada diagrama seja um padrão e uma unidade. Como

uma unidade, ela se encaixará na hierarquia de componentes maiores que estão

acima dela; como um padrão, especificará a hierarquia de componentes menores dos

quais ela própria é feita.

Figura 29- Diagrama de “Teoria” e “Prática” em Arquitetura e Urbanismo Fonte: Adaptação do Autor desta dissertação, 04 de dezembro de 2017

Christopher Alexander (1979 pp. 3-549; tradução livre), por um lado, descreve

um modo atemporal de construir mediante: 1) entender natureza de processo de

construção; 2) teoria e instruções para uso de linguagem de padrões; 3) explica

disciplina que permite usar esses padrões para criar edifício ou cidade. Origem e

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prática de modo atemporal de construir cidades e edifícios vivos, mas só se

feitos por todas as pessoas na sociedade. Por outro, complementarmente,

Alexander (1977 pp. IX – XLIV, 3-457; tradução livre) também descreve, sucintamente,

uma linguagem padrão mediante: 1) construir uma linguagem de padrão real e

possível; 2) linguagem para construção e planejamento; 3) padrões detalhados para

cidades, bairros, casas, jardins e salas. Um livro de referência de modo atemporal

de construir para uma linguagem padrão - entre muitas outras -, mas

compartilhada por todos e viva em si. Um equilíbrio desenhado entre “teoria” e

“prática” (fig.29 acima).

Entretanto, Colin (2000 pp. 31-48), a partir de Marcos Vitrúvio Polião136, aponta

para estas divisões da arquitetura: aquilo que é significado (SIGNIFICADO); aquilo

que significa (SIGNIFICANTE); sistema de estrutura e envoltório físico de edifício

(FIRMITAS ou SOLIDEZ); funções da arquitetura (UTILITAS ou UTILIDADE); e

preocupação com a forma (VENUSTAS ou BELEZA). É um “pentagrama” que servirá

de pauta geral para esta dissertação (fig.30 abaixo) e serão vetores arquitetônicos que

comporão uma matriz arquitetônica com “espírito” de homem vitruviano.

Figura 30- Diagrama de “Sistemas” de Arquitetura

Fonte: Adaptação do Autor desta dissertação, 01 de abril de 2019

136 Em latim, Marcus Vitruvius Pollio. Foi um arquiteto romano que viveu no século I a.C. e deixou como legado a obra "De Architectura" (10 volumes, aprox. 27 a 16 a.C.), único tratado europeu do período grego-romano que chegou aos nossos dias e serviu de fonte de inspiração a diversos textos sobre Arquitetura e Urbanismo, Hidráulica, Engenharia, desde o Renascimento. Inserido de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitrúvio. Acesso: 2019/04/01.

170 / 365

Em seu estudo de forma arquitetônica, Sílvio Colin (2000 pp. 51-52), abordando

forma entre matéria (forma é a configuração dada à matéria com a finalidade de obter

um objeto individualizado) e conteúdo (forma de um objeto é aquilo que se apresenta

aos nossos sentidos imediatamente, antes de qualquer reflexão que possamos ter

sobre este objeto; aquilo que podemos ver, tocar, ouvir), volume, espaço e superfície,

sintetiza "categorias formais", dizendo que: "A forma de um edifício é, pois, sua

silhueta, sua massa, sua cor e textura, seu jogo de luzes e sombras, a relação e

disposição de seus cheios e vazios". E que, como primeiros passos no vasto terreno

do estudo da forma arquitetônica, impõem-se duas importantes abordagens: 1)

discernindo e analisando seus principais elementos constituintes, o volume, o espaço

e a superfície (estes 3 em itálico no original); 2) sistematizando as diversas

categorias da forma arquitetônica.

E Colin (ibidem) acrescenta que

Podemos ver o objeto arquitetônico sob ângulos diferentes. Podemos vê-lo de fora, observando as relações que estabelece com o meio ambiente, observando sua silhueta, sua composição de massa; quando fazemos, consideramos a forma volumétrica do edifício. Em seguida, estando em seu interior, desaparecem as relações exteriores e somente poderemos considerar o edifício e seus elementos entre si e relacionados com a nossa própria pessoa; neste momento estaremos voltados para a forma espacial. Finalmente, poderemos dirigir nossa atenção para aquilo que separa o interior do exterior e que organiza e divide os ambientes interiores, o muro divisório; estamos neste caso considerando forma mural ou superficial. Em uma mesma obra, raramente estes três elementos têm igual peso; o mais comum é dar-se relevo a um deles em detrimento dos outros. A forma arquitetônica nasce de um conjunto de idéias (sic) que o arquiteto possui a respeito da arquitetura em si, de sua relação com o meio, da importância de sua história, de sua técnica, do programa que vai abordar-se etc Este conjunto de idéias (sic), variável de acordo com a época, local e outras condições, alinha-se em determinadas categorias, que cumpre sejam conhecidas para um melhor entendimento do objeto arquitetônico.

Quanto à abordagem para discernir e analisar principais elementos

constituintes de forma arquitetônica (volume, espaço e superfície), para Sílvio Colin

(2000 pp. 53-67; itálicos no original), a forma volumétrica - “que considera a

aparência externa do edifício em seu conjunto, em sua totalidade” - obtém-se por

quatro tipos de VOLUME: REAL (“definido completamente pelo envoltório de paredes

de edifício...um sólido”) ou VIRTUAL (“fica sugerido por alguns elementos” e apenas

percebemos edifício como volume, visto que continente lateral desse edifício - suas

“paredes” - são imaginárias”); SIMPLES (volumes geométricos simples, como cubo,

paralelepípedo, cilindro, pirâmide) ou COMPOSTO (associação de diversos volumes

simples, em composição por justaposição, articulação e interseção). Em volume

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composto, justaposição é forma mais comum, mas as outras também são frequentes

– sendo a articulação um elemento intermediário faz a conjugação de volumes

simples. No caso de conjuntos arquitetônicos, volumes podem ser relacionados de

maneira virtual, sem uso de elementos físicos. Colin diz que

Qualquer que seja a configuração ou a situação de um edifício, é certo que jamais teremos uma apreensão total imediata de sua forma volumétrica; nossa percepção será sempre parcial e distorcida, devido a deformações perspectivas; o que nos dá a impressão de termos compreendido o volume real e totalmente é um dispositivo mental chamado pela psicologia de “constância da forma”. Por meio deste dispositivo sabemos, por exemplo, que uma mesa é redonda, apesar de sempre percebermos a forma de uma elipse, com a qual o círculo se projeta em nosso aparelho visual. Esta consideração tem grande importância, pois nos leva à constatação de que a atividade projetual tem muito de abstrato: a exigência de que determinadas partes do edifício se conjuguem com outras de tal ou qual maneira jamais terá uma representação na realidade.

Colin (ibidem) termina esta abordagem evidenciando a importância de forma

volumétrica que, em determinadas circunstâncias, “assume papel de maior

relevância em comparação com outros sistemas da arquitetura tomados em conta no

projeto”. É o mais importante “quando se trata de marcos arquitetônicos, edifícios de

grande função representativa na sociedade, tais como edifícios institucionais

(prefeituras, foros), marcos comemorativos (monumentos e memoriais) etc”. E é

importante “quando o edifício se situa em um contexto fraco, isto é, pouco construído

ou sem elementos naturais marcantes”.

Nessa mesma abordagem - para discernir e analisar principais elementos

constituintes de forma arquitetônica (volume, espaço e superfície) - Sílvio Colin

(ibidem) distingue na forma espacial: ESPAÇO EXTENSO (“lugar-continente de

todos os corpos... e coisa extensa”); e ESPAÇO ARQUITETÔNICO (“paredes de um

edifício criam uma nova escala para as atividades humanas”). E assinala alguns

pontos sobre esse tipo de forma arquitetônica: caracterização de espaço (categorias

para primeira caracterização que poderão ser expressas por polaridades – como

interior/exterior, público/privado, coberto/descoberto, aberto/fechado, livre/restrito,

amplo/confinado); tensões (força dinâmica que alimenta expressividade de espaço

orientado, espaço centrípeto e espaço centrífugo, e inexpressividade de espaço

isotrópico); sintaxe espacial (quatro principais sistemas de organização de ambientes

que se conjugam entre si, sistema clássico ou sistema palladiano, sistema orgânico,

sistema aberto e sistema funcionalista); interior/exterior (muros de edifício separam

espaço exterior, extenso e “ilimitado”, de espaço construído à feição de determinado

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uso, criando “pequeno-mundo” diferente de exterior, com “passagem gradativa”,

“passagem mais dramática” ou “passagem mais amena”); espaço e luz (efeitos de

iluminação natural em apreensão de espaço, “parte controlável” e “parte

incontrolável”).

A respeito de “tensões”, Colin (ibidem) explica que: em “espaço orientado”, um

feixe de elementos ou linhas dominantes “converge paralelamente” para um ponto

principal, foco de composição; “espaço centrípeto” implica ambiente de forma circular,

semicircular ou assemelhada e polo de atenção fica no centro; em “espaço centrífugo”,

atenção parte de centro e se dispersa em várias direções. Porém, Colin (ibidem)

assinala forma espacial - eleita pela arquitetura moderna - na qual não há tensões

evidentes: “espaço isotrópico”.

Acerca de “sintaxe espacial”, Colin (ibidem) esclarece que: “sistema clássico” é

espaço central de distribuição dando acesso a ambientes implantados à sua volta;

“sistema orgânico” é conjunto de espaços justapostos engenhosamente segundo

critério de conveniência recíproca; “sistema aberto” – preferido pela arquitetura

modernista – são espaços que não estão rigidamente separados, mas

intercomunicam-se em sucessão ininterrupta; “sistema funcionalista” caracteriza-se

por elemento de ligação entre ambientes, corredor de circulação, hall de distribuição

ou galeria.

No que concerne a “interior/exterior”, Colin (ibidem) ilustra algumas de múltiplas

maneiras de passar de espaço interior para espaço exterior (e vice-versa), no intuito

de resolver um dos grandes problemas de arquitetura: “passagem gradativa” – jardins,

pórticos e varandas marcam a passagem de público/aberto/descoberto para

privado/fechado/coberto; “passagem mais dramática”, como em igrejas góticas, de

praça ampla e aberta para espaço confinado e pouco iluminado, e. logo em seguida,

nave principal, ampla, monumental e plena de luz; “passagem mais amena”, à maneira

moderna, pela qual fluidez de espaço e grandes áreas envidraçadas mantém

constante relação interior/exterior.

Em termos de “espaço e luz”, Colin (ibidem) ressalta duas partes: uma,

“controlável” – determinar forma de sala, posição de elementos de iluminação, janelas,

claraboias, aberturas, e providenciar para que estas sejam as mais adequadas a efeito

que se desejar, apenas funcional ou de atributos poéticos; outra, “incontrolável” – luz

diurna varia com hora, estação de ano e condições climáticas, e espaço acusa essas

variações que mudam suas características. Colin aclara que espaço bem iluminado

173 / 365

parece maior e que “climas ambientais” e dimensões aparentes variam com

quantidade de luz - em “gradiente de iluminação” ligado a forma espacial.

Ainda nessa abordagem - para discernir e analisar principais elementos

constituintes de forma arquitetônica - Sílvio Colin (ibidem) chama forma mural (ou

forma superficial) a conjunto de elementos que animam superfícies e muros – e

estes, juntamente com espaço e volume, compõem sistema de forma em arquitetura.

E Colin (ibidem) – assinalando que a forma mural é de natureza mais evidente e de

apreensão mais fácil e imediata que as formas espacial ou volumétrica – considera

que “muro” pode ser: REAL (“elemento contínuo que promove o cerramento de um

espaço”); ou VIRTUAL (elementos descontínuos ou intermitentes, que separam dois

espaços, mas não o vedam completamente, como colunatas de templo e naves de

igrejas). Colin considera também importante o DESEMPENHO ESTRUTURAL de

muro em construção: PORTANTE (quando recebe cargas estruturais); e VEDANTE

(quando não recebe cargas estruturais). Sinalizando o “conceito modernista” de

ESTRUTURA INDEPENDENTE pela qual “os pilares modernos apenas suportarão

cargas, e as paredes apenas separarão os espaços”. Finalmente, Colin (ibidem)

distingue três categorias de elementos para trabalho formal com um muro:

CARACTERÍSTICAS MATERIAIS (muro composto de pedra, tijolos cerâmicos,

madeira, concreto...); ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO (simetria, ritmo, relação de

cheios e vazios e fenestração); e DECORAÇÃO APLICADA A SUPERFÍCIES

(modinaturas, baixo-relevos, afrescos e mosaicos). Sobre aqueles elementos, Colin

não esclarece essa “Relação de cheios e vazios”, mas esclarece que “Simetria” é

forte recurso para consecução de equilíbrio em composição, pelo qual elemento de

referência é sempre perpendicular ao plano considerado - e divide-se em: simetria

estática (fachada apresenta mesma configuração em ambos os lados de pano de

referência); simetria dinâmica (elementos de fachada são tensionados em direção a

eixo, muito usados a partir do Renascimento e, sobretudo, em arquitetura barroca);

ou falsa simetria (elementos não são exatamente iguais, mas funcionam como tal em

composição). “Ritmo” é repetição de elementos (colunas, pilastras, edículas, janelas)

a espaços regulares. E “Fenestração” é composição pela qual vãos (de acesso,

ventilação e/ou iluminação) são dispostos. A respeito dessa decoração, para Colin

“modinaturas” são conjuntos de formas abstratas (frisos, perfis, linhas escalonadas)

geralmente esculpidas em pedra, mas também moldadas em estuque, dispondo sobre

elementos arquitetônicos (arquitraves, colunas, capitéis, tímpanos, jogo controlado de

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luz e sombra). “Baixo-relevos” são motivos também esculpidos ou modelados usados

em pontos arquitetônicos predeterminados (frontões, métopas, tímpanos) cuja

temática e inspiração (figurativa ou geométrica) varia com época, estilo e ideologia.

“Afrescos” são pinturas aplicadas às paredes com seu revestimento ainda não curado,

geralmente representando cenas mitológicas, histórica ou bíblicas. E “mosaicos” é

técnica, usada especialmente em arquitetura de influência muçulmana, como a

bizantina, que consiste em aplicar pequenas peças vítreas, coloridas, diretamente

sobre revestimentos, principalmente em paredes internas de edifícios. Decoração

mural inclui também “painéis de azulejo muito ligados à arquitetura tradicional

portuguesa”.

Depois de considerar essa tríade sistêmica de espaço, volume e muro de

forma em arquitetura, Colin (2000 pp. 68-72) passa à abordagem para sistematizar

principais categorias dessa forma arquitetônica como objeto complexo com base em

modos fundamentais ou princípios de relação com fontes externas ou internas dos

quais se extrai ideia inicial para configuração de edifício ou conjunto de edifícios. Para

entender fenômeno complexo de forma arquitetônica, Colin chama CATEGORIAS DE

FORMA ARQUITETÔNICA a estruturas elementares de conceitos sob os quais vasto

conjunto de edifícios constitui domínio de arquitetura (fig.31 abaixo): FORMA

TIPOLÓGICA (derivada de tipos arquitetônicos, como basílica cristã, casa romana ou

casa de pátio porticado e edifício residencial multifamiliar); FORMA GEOMÉTRICA (é

a forma preferida em arquitetura moderna, de formas simples como prismas, cilindros,

paralelepípedos e, eventualmente, hiperboloide de revolução, usados “isoladamente

ou em conjunto”); FORMA ABSTRATA (sem qualquer referente imediato, atende a

requisitos modernistas de inovação, originalidade e funcionalidade); FORMA

TOPOLÓGICA (extrai uma ou mais características de um local onde se implantará

edifício – como, por exemplos, linha tortuosa, diretriz de volume do Conjunto

Habitacional do Pedregulho, no Rio de Janeiro, que segue curva do próprio terreno, e

movimento de telhados, em cidades coloniais do Sul de Minas, como consequência

de relevo local); FORMA ANALÓGICA (inspira-se em objeto externo a universo de

arquitetura, como cesto ornado de folhas de acanto, de capitel coríntio, e forma de

águia alusiva a voo de longo alcance e a país, no Terminal de Passageiros da TWA

nos Estados Unidos); FORMA TECTÔNICA (determinada por necessidade técnica –

por exemplos, “telhado” inclinado para facilitar escoamento de água ou neve, e “arco”

de arquitetura tradicional); FORMA ORGÂNICA (quando configuração final de edifício

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é a posteriori por ter resultado de posicionamento de unidades espaciais justapostas

à maneira de células de tecido orgânico - como numerosas prairie houses de Frank

Lloyd Wright, residências suburbanas para famílias únicas, de alta classe média, no

Leste dos EUA, de 1900 a 1917); e FORMA SISTÊMICA (resulta de abordagem tecno-

científica de arquitetura e responde por melhores soluções de construção

industrializada).

Figura 31- Diagrama de Categorias de Forma Arquitetônica

Fonte: Adaptação do Autor desta dissertação, 12 de maio de 2019

Colin (ibidem) diz que a forma tipológica “edifício residencial multifamiliar” constitui-

se no mais comum em cidades brasileiras e seus elementos componentes

caracterizam um “tipo arquitetônico” por guardarem sempre a mesma relação

posicional: “elementos coletivos” (portaria, elevadores, circulações); e “elementos

privados” (salas, quartos etc). Acerca de “forma abstrata” Colin diz que é forma

também muito usada em arquitetura moderna por atender “à perfeição” a requisitos

modernistas de: “inovação” (busca de formas não conhecidas como exigência para

criação de novo código, desvinculado de passado); “originalidade” (atendimento a mito

romântico de maneira “original” como oposição a passado recente de obediência

clássica – ou seja, obediência normativa); e “funcionalidade” (a forma deve “seguir a

função” e, por isso, não pode ser a priori, mas consequência de estudo de problema).

E Colin (ibidem) finaliza com SUPERPOSIÇÃO DESSAS CATEGORIAS

Deve-se considerar que nem sempre será possível o enquadramento de um edifício em apenas uma categoria; é freqüente (sic) acontecer uma superposição: uma forma será ao mesmo tempo abstrata e tectônica,

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geométrica e sistêmica, e assim por diante; porém, a análise de uma obra arquitetônica deve principiar por sua correta caracterização formal.

Por seu turno, Francis D. K. Ching (2002 pp. 180-187) aborda organização de

“forma” e de “espaço”, destacando estes quatro tipos de RELAÇÕES ESPACIAIS

em Arquitetura (fig.32 abaixo): 1) espaço dentro de espaço; 2) espaços

interseccionais; 3) espaços adjacentes; e 4) espaços ligados por espaço comum.

Figura 32- Diagrama de Formas de Relações Espaciais

Fonte: Autor desta dissertação, 02 de abril de 2019

Ching (2002 pp. 196-220) mostra estas cinco formas de organização de

edifícios em espaço urbano (fig.33 abaixo): 1) ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA

(espaço dominante em redor do qual se agrupam espaços secundários); 2)

ORGANIZAÇÃO LINEAR (Normalmente consiste em espaços repetitivos,

semelhantes em termos de tamanho, forma e função, mas pode também consistir em

espaço linear único que organiza, ao longo de seu comprimento, uma série de

espaços que diferem em termos de tamanho, forma e função - expressa direção e

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significa movimento, extensão e crescimento); 3) ORGANIZAÇÃO RADIAL

(combinação de espaço central dominante – “organização centralizada” -, geralmente

de forma regular, a partir do qual “organizações lineares” de espaço se estendem de

maneira radial, podendo manter regularidade de forma global de organização ou

braços irradiados diferindo uns dos outros para atender exigências individuais de

função e de contexto); 4) ORGANIZAÇÃO AGLOMERADA (relação por proximidade

física de “espaços celulares repetitivos” - com funções semelhantes e característica

visual comum como “formato” ou “orientação” – ou “espaços dessemelhantes” em

termos de tamanho, forma e função, mas relacionados também por proximidade física

ou por recurso de “ordenação” como simetria ou eixo); 5) ORGANIZAÇÃO EM MALHA

(formas e espaços cujas posições e relações entre si são reguladas por padrão ou

campo em malha tridimensional – criada por dois conjuntos de retas paralelas,

geralmente perpendiculares, que estabelecem padrão regular de pontos em suas

intercepções e, projetado em sua terceira dimensão, transforma-se em conjunto de

unidades de espaço repetitivas e modulares). Colin (ibidem) informa que, em

Arquitetura, uma “malha” é estabelecida mais frequentemente por sistema estrutural

composto por colunas e vigas.

Ching (2002 pp. 227-275) aborda também CIRCULAÇÃO como movimento

através de espaço, em que a via de movimento pode ser concebida como “linha

perceptiva que conecta espaços de edifício ou qualquer série de espaços internos e

externos” – apresentando estes principais componentes de sistema de circulação de

edifício como elementos “positivos” que afetam percepção de formas e espaços deste

(fig.34 abaixo): ACESSO (vista distante – frontal, oblíquo e espiral); ENTRADA (de

fora para dentro – entrar em edifício, em sala de edifício ou em campo definido de

espaço externo envolve ato de penetrar em “plano vertical” que distingue um espaço

de outro e separa “aqui” de “ali”); CONFIGURAÇÃO DE VIA (sequência de espaços –

linear, radial, espiral, malha, rede e composta – para não criar labirinto desorientador,

há que estabelecer ordem hierárquica entre “vias” e “nodos” de edifício mediante

diferenciação de escala, forma comprimento e localização); RELAÇÕES “VIA-

ESPAÇO” (borda, ponto central e terminação de via – isto é, vias de circulação podem

“passar por espaços”, “passar através de espaços” ou “terminar em espaço”); FORMA

DE ESPAÇO DE CIRCULAÇÃO - corredor, salão, galeria, escada e sala – (“fechado”,

conexão com entrada em plano de parede; “aberto em um dos lados”, continuidade

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visual e espacial junto a espaços que conectam; e “aberto em ambos os lados”,

formando passagem colunada que se torna extensão física de espaço que atravessa).

Figura 33- Diagrama de Formas de Organização de Edifícios em Espaço Urbano

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 12 de maio de 2019

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Ching (2002) aborda também PRINCÍPIOS DE ORDEM

Figura 34- Diagrama de Circulação entre Espaços

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 12 de maio de 2019

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Entretanto, Edson da Cunha Mahfuz137 (2004 pp. 11-17), diz que, até meados

do século XVIII, “a boa arquitetura seria aquela que apresentasse um equilíbrio entre

os três componentes da tríade vitruviana: Firmitas (solidez) e Utilitas (adequação

funcional), que fazem parte da esfera racional do conhecimento e Venustas (beleza,

no entendimento de alguns)”. E que no século XIX, soma-se àquela concepção

outro entendimento de boa arquitetura.

Para que um edifício pudesse ser considerado de qualidade, deveria apresentar composição correta, referente à sua organização formal/espacial em duas e três dimensões, e caráter adequado, conceito usualmente associado apenas ao aspecto expressivo e simbólico da arquitetura, mas que depende tanto de sua materialidade quanto dos seus aspectos compositivos e de sua relação com o entorno. (ibidem)

Atualizando essas interpretações de “boa arquitetura”, Mahfuz diagrama um

“QUATERNO CONTEMPORÂNEO” como foco em “forma pertinente” (fig.35

abaixo), tentando redefinir aspectos essenciais de arquitetura por: três “condições

internas” a problema projetual (programa, lugar e construção); e uma “condição

externa”, repertório de estruturas formais que fornece meios de sintetizar na forma as

outras três. Sem preocupação com “beleza” - porque o conceito de beleza é algo tão

relativo e mutante que varia a cada época e lugar, até mesmo de pessoa para pessoa

– pareceu a Mahfuz ser mais apropriado objetivar a criação de artefatos marcados por

pertinência ou adequação de sua forma.

Nesse quaterno contemporâneo, Mahfuz (2004 p. 18) afirma que a essência da

arquitetura é a resolução de um “programa” em termos formais e que “um

programa é o maior vínculo que um projeto mantém com a realidade”. E Mahfuz

(ibidem) reflete sobre construção de “FORMA PERTINENTE”.

A construção formal pode ser definida com mais precisão como o procedimento por meio do qual se obtém a síntese dos vários subsistemas que compõem uma obra de arquitetura, em uma estrutura formal que possua identidade, sentido e consistência. Trata-se de um procedimento que vai armando a forma como se tratasse de um quebra-cabeça, passo a passo, num processo de tentativa e erro, ao invés de adotá-la como uma totalidade importada de outra situação. O empenho construtivo moderno se caracteriza por situar o marco de legitimidade da obra no âmbito do objeto, buscando a lógica da sua constituição como artefato ordenado por

137 Graduado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1978), pós-graduado pela Diploma School da Architectural Association School of Architecture (Londres,1980) e doutorado pelo Doctoral Program In Architecture da University of Pennsylvania (Filadélfia,1983). Atualmente é Professor Titular de Projetos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde leciona na graduação e na pós-graduação (PROPAR). Tem experiência prática e acadêmica na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto e Teoria da Arquitetura. Extraído de http://lattes.cnpq.br/2757009040611202, em 06/05/2019.

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leis que lhe são próprias. Essa lógica não é de modo algum alheia aos aspectos programáticos e técnicos de cada situação específica. Porém, longe de determinarem a forma, a técnica, o lugar e a função são a sua condição de possibilidade. Na medida que condicionam a forma, técnica, lugar e função estimulam a sua síntese. Na origem de toda obra verdadeiramente moderna há um empenho construtivo (no sentido formal) capaz de conter o programa funcional da obra sem que sua forma seja determinada por ele.

Figura 35- Diagrama de Quaterno Contemporâneo

Fonte: Mahfuz (2004 p. 12)

Mahfuz (2004 pp. 11-20; itálicos no original) relaciona então FORMA e

IDENTIDADE FORMAL, dizendo que

Mesmo não sendo o objetivo exclusivo da arquitetura, a forma é seu resultado inevitável. Livres das inibições dos pioneiros modernistas, podemos afirmar o formalismo da concepção arquitetônica, tanto porque a definição formal deve ser uma preocupação central de todo projeto como porque a qualidade essencial de um arquiteto é o sentido da forma. O conceito de forma tem se prestado a muita confusão, pois lhe são atribuídos dois significados de sentido oposto. Enquanto para muitos o termo forma se refere à aparência de um objeto, ao seu aspecto ou conformação externa, tornando-se sinônimo de figura (gestalt, em alemão), na arquitetura moderna forma se identifica com o conceito moderno de estrutura (eidos, em grego). O formal sempre se refere à estrutura relacional ou sistema de relações internas e externas que configuram um artefato ou episódio arquitetônico e determinam a sua identidade. Esse sentido relacional da forma é, no âmbito da arquitetura moderna, uma consequência (sic) da sua renúncia aos valores de objeto como algo fechado em si mesmo. A idéia (sic) de forma como relação entre elementos é válida para todos os níveis ambientais, pois a forma não tem escala, pois afasta de vez a crença de que os objetos modernos são indiferentes ao entorno em que se inserem, o que violaria, se fosse verdade, um princípio essencial do pensamento criativo da modernidade. Além de possuir um sentido estrutural e relacional, a forma de uma obra não deve ser entendida como algo externo aos condicionantes do problema arquitetônico nem como algo que deriva diretamente deles. É mais adequado entender a forma como uma síntese do programa, da técnica e do lugar, obtida por meio da ordem visual. Nesses termos adquire um sentido mais claro o conceito de identidade formal, que é a ordem específica de

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cada obra, aquela condição de estrutura constitutiva própria de cada obra e independente de fatores externos. A identidade é a qualidade que determina a essência de algo, não devendo ser confundida com a singularidade, que é o conjunto de características que diferencia um objeto dos demais. Atingir a identidade formal é o objetivo maior da concepção arquitetônica, pois é um valor essencial da obra de arquitetura. Parece evidente que a identidade formal de uma obra depende da presença de uma estrutura formal que defina sua organização espacial e as relações com o seu entorno. É a presença dessa estrutura formal que separa a arquitetura de qualidade daquele funcionalismo barato que deriva a planta do organograma funcional, tão comum nas décadas de 60 e 70 do século passado.

Mahfuz (ibidem) prossegue, agora relacionando FORMA e LUGAR.

A relação com o lugar é fundamental para a arquitetura; nenhum projeto de qualidade pode ser indiferente ao seu entorno. Projetar é estabelecer relações entre partes de um todo; isso vale tanto para as relações internas a um projeto quanto para as que cada edifício estabelece com seu entorno, do qual é uma parte. A inserção de um artefato arquitetônico – edifício, conjunto de edifícios ou espaço aberto planejado – em um sítio qualquer nunca se dá sem consequências importantes. Se, por um lado, a arquitetura é sempre construída em um lugar, por outro lado, ela constrói esse lugar, isto é, modifica a situação existente em maior ou menor grau. Todo lugar é algo complexo, composto de topografia, geometria, cultura, história, clima, etc. Porém, por mais força que possua um lugar, o projeto não será nunca determinado por ele. Assim como não há relação direta entre programa e forma, as relações entre lugar e forma também dependem da interpretação do sujeito que projeta.

Mahfuz (ibidem) ressalta que a CONSTRUÇÃO é instrumento fundamental

para conceber - não apenas uma técnica para resolver problemas – e sua importância

para a arquitetura é tanta que se poderia afirmar que não há concepção sem

consciência construtiva. Para Mahfuz, é essa “consciência que separa a

verdadeira arquitetura da pura geometria e das tendências que preferem abstrair

a realidade física dos artefatos que projetam”. E Mahfuz diz que, “em busca de

reorientação do pensamento projetual num momento de dúvidas, é para a arquitetura

moderna que nos voltamos, por mais paradoxal que isso possa parecer, pois ela

tem sido considerada morta e ultrapassada há pelo menos trinta anos”.

3.3.2 CONTEÚDO E “INTERPRETAÇÕES” EM ARQUITETURA

Sílvio Colin (2000 pp. 75-78), ao falar de “conteúdo” (ou, sem maior rigor

semântico, “significado” ou “mensagem”): 1) acusa certa capacidade que tem a

arquitetura de representar para pessoas algo mais que sua simples presença; 2)

orienta sua atenção não para evidências materiais, mas para outro plano, do qual

estas são suporte, e que comporta enunciados que serão veiculados por suas formas;

3) reconhece que se se experimenta a arquitetura como linguagem, e que elementos

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físicos de objeto arquitetônico fornecem instrumentos de comunicação pelos quais

outras ideias, alheias ao universo estrito de ajustes formais, podem ser transmitidas.

Sílvio Colin (2000 pp. 76-77) é taxativo ao afirmar que, durante muito tempo, toda e

qualquer tentativa de interpretação dividia-se entre conteúdos formal e

histórico:

O conhecimento das ordens clássicas, dos métodos matemáticos de composição e de informações históricas que pudessem complementar o conhecimento do edifício preenchiam as necessidades dos analistas e historiadores da arquitetura. O século XIX vai trazer novas aspirações, novas teorias e, conseqüentemente (sic), novos conteúdos. Às preocupações formais vão juntar-se os predicativos de ordem social e psicológica, como convinha a uma sociedade já então orientada pela tecnociência e profundamente influenciada pelos trabalhos científicos nestas duas áreas. As constantes crises do século XX, os inumeráveis movimentos e tendências nas artes plásticas e na arquitetura, uma crescente perplexidade e desapontamento do público ante um hermetismo e auto-referência da produção artística fizeram com que os teóricos da arquitetura voltassem a atenção para problemas de linguagem e comunicação, acrescentando àquelas matérias, que já faziam parte de seu corpo crítico, a linguística (sic) e a semiótica. Simultaneamente, inspirados mesmo por novas formas de pensar o ser humano, a sociedade e seu espaço, começam a aparecer trabalhos que se caracterizam pela aplicação do método fenomenológico à arquitetura. Assim se constituiu um novo corpo crítico que inclui história, sociologia, psicologia, fenomenologia, semiótica e, naturalmente, a estética arquitetônica de obediência formalista.

No entanto, Colin (idem, 77-78), assevera que não é de hoje a ideia de encarar

a arquitetura como fenômeno complexo porque “Vitrúvio já dizia que o arquiteto, além

de ter prática com desenho e geometria – seus instrumentos imediatos de trabalho

– deveria ser versado em história, filosofia, música, medicina, ciências jurídicas,

astronomia e astrologia“. Suplementarmente, Coli (ibidem) considera que

(...) o conteúdo de uma obra arquitetônica é múltiplo e indivisível, e tanto mais o será quanto maior for a sua intenção poética. Uma das características do discurso poético é sua constante capacidade de surpreender, de multiplicar os significados, de infringir os códigos de comunicação, visando o acesso a instâncias mais profundas no plano do conteúdo. Apesar disso, temos de recorrer a divisões para facilitar a sua abordagem, mesmo sabendo serem essas divisões meramente instrumentais; ninguém pode pretender conhecer o conteúdo de uma obra sem nada saber dos meios que foram utilizados para veiculá-lo, ou mesmo sem conhecer algo acerca dos laços que têm sido estabelecidos entre a arquitetura e estas matérias; somente pela prática do estudo isolado pode-se chegar à identificação de determinada mensagem [conteúdo] no conjunto de nossa percepção do objeto, cujas primeiras manifestações são geralmente confusas e enganosas.

A partir disso, Sílvio Colin (2000 pp. 79-117) “divide” (e “subdivide”) múltiplo e

indivisível conteúdo de obra arquitetônica - fig.36 abaixo - em: 1) CONTEÚDO

FORMAL – trabalho suplementar com a forma, característico de “objeto estético”, com

quatro tendências baseadas em tradição greco-romana-cristã como vertente cultural

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mais forte e mais estudada (“Classicismo na Antiguidade”, da arquitetura grega

helénica de sistema técnico trilítico, de duas pedras verticais e uma horizontal de

ligação, e arquitetura romana, de expressivas formas espaciais, “Paleo-Cristão-

Bizantino”, de integridade espacial de ambiente e decoração superficial por mosaicos

com motivos figurativos ou geométricos, “Gótico” como princípio de forma sistêmica

cujo resultado final é consequência de justaposição de elementos e expressão cultural

de um novo sistema socioeconômico-político com crescente poder de Igreja e sua

associação com poderes seculares de feudalismo em decadência e mercantilismo em

ascensão, “Classicismo no Renascimento e Barroco”, sistema formal clássico que

reaparecerá no século XV com a descoberta da perspectiva, artifício projetual que

imita a visão espacial humana, e a crescente valorização da figura do autor, e

“Conteúdo Formal Moderno”, modernismo, que valorizará volume preferencialmente

a espaço concebido por critérios exclusivamente funcionais ou a superfície cuja

decoração será completamente eliminada, valorizando modernas tecnologias pelas

quais toda forma é possível); 2) CONTEÚDO HISTÓRICO – manifestação cultural de

valor histórico de edifício ou de elementos arquitetônicos, formas, figuras, tipos

espaciais, maneiras de conjugar espaços e de iluminar, usados para rememorar

determinado período histórico (“Revivalismo”, busca de um e apenas um estilo do

passado que fosse o paradigma de excelência capaz de conter soluções para novos

programas, tais como “neogrego”, “neo-romano”, “neo-renascimento”, “neobarroco”,

“Historicismo”, criação de “código trans-histórico” de modo a que a cada programa

correspondesse um estilo ideal, como bancos adotando “estilo gótico” para simbolizar

estabilidade, confiabilidade e solidez, e igrejas adotando ou estilo românico ou gótico

representando período de superioridade da “Igreja Católica” sobre poderes seculares,

“Ecletismo”, mistura visando apenas “relações formais” de elementos de

procedências diversas, em um mesmo edifício, como “arquitetura mourisca” e

“arquitetura bizantina” do Oriente Próximo, e “arquitetura indiana”, “arquitetura

chinesa” e “arquitetura japonesa” do Extremo Oriente”, “Conteúdo Histórico no

Modernismo”, impõem-se, nas primeiras décadas do século XX, “espírito

revolucionário”, “científico”, “racional” e “utilitário”, que fez surgir “arquitetura

moderna”, ainda impregnada de “consciência histórica”, mas, depois de seus

criadores mais conhecidos, foi disseminada como “estilo internacional” por gerações

de arquitetos seguintes, responsáveis pelo “esvaziamento de conteúdo histórico” em

objetos arquitetônicos, e “Historicismo Recente”, em fins dos anos 1960, “figuras

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históricas” reaparecerão na arquitetura, em parte objetivando recuperação de centros

históricos europeus abalados pela II Grande Guerra Mundial e divulgando “novos

conceitos” de conservação e defesa de “patrimônio histórico”, em parte como reação

à severidade estética de “racionalismo-funcionalismo do estilo internacional” opondo

a este humor e ironia de “pós-modernismo historicista”); 3) CONTEÚDO SOCIAL –

inspiração “progressista” ou “revolucionária”, prezando, principalmente, gostos,

necessidades e interesses de classes inferiores às classes dominantes, em estrutura

social, para estabelecer critério de valor de arquitetura (Utopistas, teóricos

“iluministas” e “cientificistas” para criar sociedade ideais, com espaço, luz, ventilação,

áreas verdes e aparência ordenada, como um familistério138; Culturalistas, de “caráter

regressivo” para cidade medieval e organizações sociais medievais; Ruralistas, como

“negação de cidade”, para “sociedade rural” que compatibilizasse “desenvolvimento

econômico” e vida voltada para a “natureza”; Modernistas, após ideias conservadoras

de reorganização formal por grandes intervenções de “planos reguladores”, que nos

anos 1850 e 1860 construíram “grandes artérias” ou “grandes boulevards retilíneos”,

e hierarquizaram espaços de cidade por “zoneamento” dividindo áreas funcionais

como centro comercial, bairro industrial, bairro proletário e outros, passou-se a

acreditar em desempenho de arquitetura de orientação social no sentido de aproximar

cidadão do povo e grande arquitetura com desempenho técnico, “construções pré-

fabricadas”, “autoconstrução”, “aspecto estético”, “economia de escala” e “concepção

espacial” com participação maior de comunidade na produção e após ocupação de

moradias); 4) CONTEÚDO PSICOLÓGICO – em termos de emoções que se

constituem em conjunto possível de mensagens de indivíduos e grupos, em encontro

de psicologia e arquitetura em três níveis (necessidades subjetivas de usuários e

natureza de percepção humana de espaços e formas; recentes conquistas de

diversas teorias psicológicas para processo de criação, em que o edifício é fonte

138 Familistério: construções para habitação de operários e suas famílias entre 1859 e 1880, tendo “cooperação” como princípio, para assegurar salubridade de alojamento, com todos elementos fundamentais que eram garantidos pela arquitetura própria de edifícios, incluindo cuidado do próprio corpo: luminosidade dos apartamentos; circulação de ar; acesso a água potável em cada piso; uma lavandaria, situada perto do curso de água, na qual se lava e seca a roupa (evitando odores de umidade em alojamentos); chuveiros; e uma piscina (com uma prancha móvel, para permitir às crianças aí nadar em total segurança). Além disso, prática de sistema de proteção social via “caixas de seguros” que protegiam contra a doença, de acidentes laborais e asseguravam reforma aos 60 anos. Adaptado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Familist%C3%A9rio_de_Godin, em 17/05/2019.

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inesgotável de associações com sentimentos e figuras que povoam a mente

inconsciente; atividade crítica, com aplicação de conhecimentos sobre psicologia

para especular, sobre motivações profundas de arquiteto para tal ou qual

solução, considerando subjetividade, autoridade e tema do próprio arquiteto); 5)

SEMIÓTICA ou SEMIOLOGIA139 – a arquitetura é linguagem e, como tal, capaz de

transmitir mensagens, recolocando antigos problemas sob nova ótica e depurando

linguagem específica (ordens gregas resultado de lento aperfeiçoamento formal de

seu sistema construtivo, o trilítico, e romanos usaram essa ordens, mas apenas para

efeito decorativo e simbólico, mesmo significante toma significados diferentes); 6)

COMUNICAÇÃO – abordagem linguística de arquitetura aponta crise de

comunicabilidade que chegou ao limite nos anos 1960 (modernismo com proposta

de renovação completa e absoluta de códigos, de inspiração “funcionalista-

racionalista”, queria formas arquitetônicas abstratas, desligadas de conteúdos

tradicionais e históricos, comunicação de massas ou mass media que é persuasiva,

coercitiva e autoritária, em polarização entre “comunicação fácil e necessária” e

“comunicação poética e refletida”).

Figura 36- Diagrama de “Conteúdos em Arquitetura”

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 16 de maio de 2019

139 Semiótica: “ciência geral de signos”. Semiologia: . (COLIN, 2000 p. 116)

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António Fidalgo e Anabela Gradim (FIDALGO, et al., 2004/2005), em seu

Manual de Semiótica, ...

Entretanto, Bruno Zevi (1996 pp. 137-193) já apresentava estas nove

interpretações em Arquitetura (fig.37 abaixo): interpretação política; interpretação

filosófico-religiosa; interpretação científica; interpretação econômico-social;

interpretação materialista; interpretação técnica; interpretação fisiopsicológica;

interpretação formalista; interpretação espacial.

Figura 37- Diagrama de “Interpretações de Arquitetura”

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 14 de maio de 2019

Christopher Alexander et al (1977 p. passim; tradução livre) explicam seu

método de uso de linguagem de padrões para cidades, edifícios e construção: 1)

IMAGEM DE PADRÃO - exemplo arquétipo de padrão; 2) PARÁGRAFO

INTRODUTÓRIO - ajuda a completar determinados padrões maiores como contexto

para esse padrão; 3) INÍCIO DE PROBLEMA - marca com três diamantes; 4)

ESSÊNCIA DO PROBLEMA - título em negrito em uma ou duas frases; 5) CORPO

DO PROBLEMA – antecedentes empíricos do padrão, evidência de sua validade e

variedade de sua manifestação; 6. SOLUÇÃO EM NEGRITO - coração do padrão,

relações físicas e sociais necessárias para resolver o problema declarado no contexto

declarado e instrução para que se saiba exatamente o que é preciso fazer para

construir o padrão; 7) SOLUÇÃO NA FORMA DE UM DIAGRAMA - rótulos indicando

seus principais componentes; 8) CORPO PRINCIPAL DO PADRÃO FINALIZADO -

mostrado por outros três diamantes; e 9) PARÁGRAFO que liga o padrão a todos os

padrões menores na linguagem - estes são necessários para completar esse padrão,

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embelezá-lo ou preenchê-lo. Christopher Alexander et al (ibidem) dizem que se deve

compreender a coleção de TODOS os 253 PADRÕES DE LINGUAGEM como um

TODO de grande variedade de COMBINAÇÕES e apresentar PROBLEMA e

SOLUÇÃO de cada padrão para julgá-lo e modificá-lo, mas sem perder a ESSÊNCIA

que é central para tal padrão.

Eu me sinto em boas relações com os meios urbanos, não pelo que está por trás deles, pelo que traduzem, mas pelo que são em si mesmos. Vistos do meu ângulo, são linguagens e códigos tão respeitáveis como outros quaisquer, que dizem certa coisas melhor do que ninguém, exigindo que outras formas de expressão humana (a língua, a economia, as próprias relações sociais) encontrem correspondências. Acho que arquitetos e urbanistas no mundo inteiro e no Brasil estão, há algumas décadas, usando e abusando de métodos errados para a abordagem de suas questões específicas. (UFF, 2017b p. 13; Carlos Nelson Santos; negritos e itálicos meus)

Maria Lúcia Malard140 (2006 pp. 13-15) discute aspectos visuais de Arquitetura

como imagens de pensamento susceptíveis de se tornarem visíveis e examina o

objeto arquitetônico como uma totalidade que é fruída em sua dimensão artística,

usufruída em sua dimensão funcional e construída em sua dimensão tecnológica, num

processo de mediação de relações sociais pelas quais se constituem dois grandes

estatutos das aparências em Arquitetura: o antigo e o moderno. O antigo cobre o

período Pós-Medieval, do Renascimento ao Ecletismo do século XIX. No

Renascimento, Malard argumenta que é nesse período que se constitui o mito de

aparências porquanto a arquitetura passa de artefato (ars mechanica) a arte liberal

(ars liberalis), em edifícios eclesiásticos: dimensão artística impõe-se a necessidades

funcionais de liturgia (prioridade passa a ser representar ideais platônicos de beleza,

em detrimento de ritualística de culto); dimensão tecnológica é invocada para

reafirmar a centralidade em templo e erigir majestosas cúpulas que marcarão sua

presença; arquiteto afasta-se de canteiro de obras e constitui-se mestre de desenho

– mago de aparências. No Barroco, diz Malard: dimensão artística de Arquitetura

presta-se a espacialização e a propaganda de poder de Igreja e de Estado, revelando-

se como “aparência” de poder; dimensão de uso é subestimada porque função

primeira de palácios e igrejas é estética – para reafirmar glória de “Deus”, através de

Papa, e glória de homens através de soberano absoluto – e, embora progresso

140 Maria Lúcia Malard diplomou-se em arquitetura em 1966 e doutorou-se pela School of Architectural Studies da Universidade de Sheffield, Inglaterra, em 1992.Professora titular, desde 1995 na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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científico desse período seja espantoso, ele não contamina arquitetos de Rei e de

Papa. Só o poder se expressa. Nos “neo-ismos” do século XIX, Malard afirma que

aparência se degenera em simulacro. Arquitetos - que já haviam abandonado o

canteiro de obras – não mais dominam técnicas de construção. Por isso, dimensão

tecnológica afasta-se de dimensão de uso e passa a atender apenas ao simbólico -

como no tempo de catedrais - não havendo mais correspondência entre usufruir e

construir. Para Malard, neste ponto, Arquitetura, enquanto totalidade, está

praticamente morta e, reencontro objeto arquitetônico/sujeito moderno acontece no

Movimento Moderno pelo qual um novo estatuto é formulado, tentando reunificar,

num discurso totalizador, Arte, funcionalidade e técnica, em tríade harmônica: fruir-

usufruir-construir. E gerar a grande narrativa arquitetônica do século XX: Estilo

Internacional. No entanto, Malard diz que, no pós-guerra, iniciou-se conformação de

sujeito pós-moderno pela qual objeto arquitetônico e sujeito começaram a distanciar-

se novamente porque, enquanto se esgotavam propostas modernistas, quebra-se

totalidade de objeto. Malard destaca três pontos principais nos quais a crítica à

arquitetura moderna centra seu foco para dizer que esta falhou porque: 1) não

soube dialogar com o povo; 2) foi reduzida à sua dimensão funcional; e 3) foi

totalizadora. Malard diz que, aqui, Arquitetura volta a viver um novo ecletismo - em

fascinante jogo de aparências – que se manifesta através de diversas tendências:

Pós-Modernismo Historicista, revivendo passado e voltando a simulacros; High-

Tech, como extrema estetização de construir; e Desconstrutivismo, como tentativa

de dar autonomia a repertório formal modernista, desmaterializando Arquitetura.

Malard prenuncia esse neo-ecletismo como novo discurso que compreenda a

Arquitetura em sua complexidade e em suas naturezas diversas, desatando-lhe

amarras estetizantes. E Malard pergunta: “Seria uma outra grande narrativa

arquitetônica, à semelhança do Movimento Moderno, ou estaremos realmente

vivenciando o fim da História, como alguns críticos prenunciam?”

Malard (2006 pp. 94-115), “deixando de lado a vanguarda holandesa”, aborda

a atual polêmica entre Modernismo em Arquitetura e Pós-modernismo (Pós-

modernismo historicista, High-Tech e Desconstrutivismo).

Em termos de aparências, era bastante fácil se obter um bom projeto moderno: plantas retangulares, superfícies planas, fachadas em cortina de vidro e coberturas planas. Essa era uma receita perfeita para um projeto de sucesso junto à crítica especializada. Mas o movimento moderno não pode ser reduzido às suas regras estéticas. Ao contrário, sua força reside no seu discurso social. Ele foi revolucionário quando se libertou

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dos estilos. Símbolos e signos que pertenciam às elites – o ecletismo burguês – e estabeleceu uma nova estética, baseada nas demandas populares por habitação, escola e hospitais, e inspirada na racionalidade industrial. Os CIAM eram preocupados com as condições de vida dos moradores das grandes cidades, principalmente a classe trabalhadora. A Carta de Atenas estabeleceu os parâmetros para o planejamento urbano e as políticas que a arquitetura moderna deveria adotar. Nela existem algumas recomendações que certamente não foram do agrado dos empreendedores imobiliários, dos proprietários de terra urbana e dos especuladores imobiliários em geral: “(...) O interesse privado estará subordinado ao interesse coletivo” (...) Pode-se deduzir, a partir disso, por que e por quem uma possível morte da arquitetura moderna haveria de ser tão celebrada. (idem, p.99)

Malard (2006 pp. 128-130) conclui que, após a utopia de um socialismo

internacional ter cedido lugar à globalização capitalista com transações financeira

virtuais prescindindo de “espaço real”, a Arquitetura parece procurar seu tempo.

Para Malard, é um tempo no qual pessoas se comunicam muito mais e com maior

frequência , mas quase não se veem nem se falam, numa sociedade de informação

que “começamos a viver e que precisamos entender” e da qual “não sabemos como

se espacializa, se é que ela se especializa”. Porém, Malard alerta que

A Arquitetura não se constitui apenas em aparências, mas é a sua dimensão aparente que está nas ruas, dialogando com o público. Quando olhamos um prédio, o que vemos é aquela imagem que se nos oferece e que fala aos nossos sentidos. A primeira apreensão da arquitetura é, sem dúvida nenhuma, estética. É a apreensão que a aparência nos propicia. Só posteriormente vêm outras percepções. Jamais saberemos se nos sentimos bem – ou mal – num edifício, ou numa cidade, se não tivermos oportunidade de vivenciá-los, isto é, de viver “dentro” deles. O “dentro” de um edifício é formado por seus espaços, suas luzes, suas cores, seus cheiros, suas texturas, suas pessoas, seus lugares. O “dentro” de uma cidade é formado pelas aparências dos edifícios, principalmente. É um “dentro” aparente. As aparências em Arquitetura são, por tudo isso, supervalorizadas, mistificadas mesmo.

Bruno Zevi (1996 pp. 1-4), em termos de “ignorância da Arquitetura”, inicia seu

estudo de crítica ou de história da arquitetura apontando para estas quatro “diatribes”:

público, que não se interessa por arquitetura, mas por pintura, música, escultura e

literatura; imprensa, para a qual a arquitetura continua sendo a grande esquecida;

propaganda não existe de forma adequada para difundir boa arquitetura; censura,

não existem instrumentos eficazes para impedir a realização de edifícios horríveis ou

evitar escândalos urbanísticos e arquitetônicos cujas consequências são bem graves

e prolongadas. Mas Zevi (ibidem) destaca estas três “apologias”: ninguém pode fechar

os olhos diante das construções que constituem o palco da vida citadina e trazem a

marca do homem no campo e na paisagem; desinteresse de público pela arquitetura

não pode ser considerado fatal e inerente à natureza humana ou à natureza da

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produção de edifícios de tal forma que tenhamos de nos limitar a constatá-los; é tarefa

da segunda geração de arquitetos modernos, uma vez superada a ruptura psicológica

do ato de gestação do movimento funcionalista, restabelecer uma ordem cultural –

uma cultura orgânica para dar base e história ao homem moderno, disperso e sem

raízes, bem como integrar exigências individuais e sociais que se apresentam hoje

em forma de antítese entre liberdade e planejamento, cultura e prática, adotando

mesmos critérios de avaliação para arquitetura contemporânea e para a que foi

edificada nos séculos que nos precederam.

Bruno Zevi (1996 p. 195) tentando ensinar a saber ver arquitetura – em sentido

de história moderna – lamenta que “volumes de estética da arquitetura, mesmo os

mais recentes, são, em sua maior parte, de caráter grosseiramente empírico,

estranhos ao pensamento filosófico contemporâneo, obscuros em sua postura”.

No caso de obras de caráter didático, Zevi (ibidem) percebe esforço por estabelecer

regras e princípios de tão aborrecida correção sintática, de tão árida anonimidade e

de tão ingênua dogmática que, mesmo “pessoas mais apaixonadas”, encontram

dificuldades em penetrar nelas completamente. E Zevi (idem, p.197) afirma que “a

maioria absoluta mesmo de pessoas cultas não sente sequer a necessidade de

conhecer o nome dos autores dos cem edifícios diante dos quais passa todos os dias:

no planeta das artes, a arquitetura parece o hemisfério do anonimato”.

3.3.3 ARQUITETURA “KITSCH” E ARQUITETURA DE “AÇÃO”

Lauro Cavalcanti (2006 p. 12) - entre “ditadura política de ‘direita’ “ e

“autoritarismo cultural simétrico de ‘esquerda’ que buscava padronizar e organizar

expressões mais livres de camadas populares” – aprendeu que, com sua ousadia de

estruturas, sua vivacidade de cores e seu frescor de produção, a Arquitetura Kitsch:

1) “dá certeza” que sempre haverá alternativas e alegria ante quadro oficial

desanimador; 2) permitia “discurso sociológico rudimentar” que romanceava o popular

contentando-se em “copiar soluções vernaculares141, nem sempre tão felizes assim”;

141 Arquitetura Vernacular ou Arquitetura Vernácula: “é aquela feita pelo povo, por uma sociedade qualquer, com seu limitado repertório de conhecimentos num meio ambiente definido, que fornece determinados materiais ou recursos em condições climáticas bem características. Com o seu próprio e exclusivo ‘saber fazer’ essa sociedade providencia suas construções, suas casas, satisfazendo a peculiares necessidades expressas em programas caracterizados por próprios e únicos usos e costumes. A casa vernácula é, portanto, uma expressão cultural. Só pode ser daquele povo e daquele

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e 3) pode estabelecer dialética e arejar produção erudita mediante exame de

arquitetura popular. Dinah Guimaraens e Lauro Cavalcanti (2006 p. 14)

Dinah Guimaraens e Lauro Cavalcanti (2006 pp. 50-53) procuraram agregar à

ARQUITETURA KITSCH (fig.32) elemento de interligação de alguma ARQUITETURA

“ESPONTÂNEA”, realizada por habitantes-construtores, classificando esta em

quatro tipos: 1) “arquitetura sem arquitetos”, em que o dado de inventividade, de

elaboração de espaço individualizador que transmitisse visão de mundo ou, pelo

menos, marca própria de seu “criador”; 2) “arquitetura instintiva”, baseada

principalmente em instinto de sobrevivência, em impulso emocional que leva um ser

humano a conceber o próprio abrigo – em resposta a “arquitetura tecnológica”; 3)

“arquitetura doce”, com todos os modos de execução arquitetônica que se

recusassem a empregar formas de produção de outra arquitetura, geralmente

autoconstruída com meios de produção artesanais, substituindo “projeto de espaço”

por “prática de espaço”, recusando divisão entre intelectual e manual, e respeitando

seu próprio ecossistema, negando-se desperdício de energia e materiais (não se

confunde com “arquitetura popular” e opõe-se a arquitetura “bruta” intimamente ligada

a processos industriais e a divisão de trabalho que organiza sua produção); e 4)

“arquitetura selvagem” cujos “criadores” são trabalhadores mais explorados aos

quais foi negada quase toda possibilidade de expressão cultural e de poder sobre o

espaço.

Guimaraens e Cavalcanti (2006 pp. 53-61) fazem breve incursão em maneira

de construir desde início do “capitalismo” - enfocando principalmente a sociedade pós-

Revolução Industrial e, após abordar a “revolução Patriarcal” relativamente ao

Matriarcado em “mundo primitivo”, passando por fortalecimento de tecnologia

avançada: colocando a Arquitetura Kitsch, oriunda de processo antropofágico, como:

transição entre arquitetura oficial e popular; passível de ser inserida em novo contexto

de apreciação cultural; necessidade de criação individual, personalização e afirmação

social. Esses autores concluem que o Kitsch vem sendo geralmente encarado por

meio de elementos esparsos e quase nunca é analisado de forma mais globalizante e

sítio. É uma arquitetura que percorre gerações. É funcional. Está fora dessas questões ligadas a estilos arquitetônicos. É a oca do índio brasileiro, é o iglu esquimó, é a tenda árabe e pode ser a casa de pedra do camponês de Trás-os-montes ou do saloio do Algarve. Quase sempre é casa rural, porque a arquitetura erudita, com seus estilos e modismos, instala-se inicialmente nas cidades.” (LEMOS, 1996 pp. 15-16; itálicos no original)

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sistemática – levantando faceta ignorada de complexa realidade cultural, registrando

existência de novo estilo arquitetônico surgindo em camadas populacionais em

ascensão com alguns traços próprios de grande originalidade e encarando a estrutura

que o envolve como um todo. E afirmam que

A revelação de soluções espaciais inovadoras e revolucionárias, mesmo se realizadas com conhecimentos construtivos rudimentares no plano teórico e técnico, funciona como uma tentativa de anexá-las ao quadro da arquitetura no Brasil, elevando-as a uma possibilidade de investigação crítica por parte dos estudiosos ou interessados no assunto. (idem, 61)

Enfim, Guimaraens e Cavalcanti (2006 pp. 63-139), através de pesquisa de

campo e registro visual abrangente de Arquitetura Kitsch e de análise direta e

comparativa, percebem-na em seus traços característicos, nos planos espacial,

estético e social, e mostram-na como: I) “visão de mundo”; II) “visão poética”; III)

“religiosa”; IV) “influente” em arquitetura moderna; e V) “visionária”. (fig.38 abaixo).

Figura 38- Diagrama de “Arquitetura Kitsch”

Fonte: Adaptação pelo autor desta dissertação, 18 de maio de 2019

Josep Maria Montaner (2017 pp. 7,16,17), rumo a “arquitetura de ação”, vai de

diagrama a experiências, usando conceitos, ferramentas e estudos de caso, em

“intencionalidade vetorial”, para fazer síntese contemporânea capaz de combinar: 1)

tradição de abstração ao projetar interpretando dados de realidade, usando croquis,

desenhos, diagramas, planos, representações e maquetes, no intuito de passar de

conceitos e ideias para formas de projeto; 2) complexas e essenciais interpretações

de experiências humanas; e 3) intenções, ações e práticas de criadores e entidades

coletivas para intervenção ativa e ética que procure melhorar a realidade. Montaner,

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diz que um projeto objetivo de coletivo consiste justamente em alcançar conhecimento

objetivável e compreensível, com procedimentos de complexidade, intersubjetividade

e interdisciplinaridade, em processo de mudança epistemológica e vocabulário

renovado, enriquecido por: exigências de projeto participativo; exigências de

ecologia; novas relações entre público e privado; arquitetura entendida como processo

aberto; arquitetura interpretada como sistema complexo; três conceitos-chave

(diagrama, experiência e ação); e outros conceitos (mapeamento, camadas,

graduações, links, inter-relação, transformação, ambientes, matéria, energia,

atmosferas...). Para Montaner, todos estes “outros conceitos” introduzidos

intensivamente por sua capacidade de exprimir processos, imaterialidades, redes,

relações, áreas com funções em aberto, oportunidades e espaços ambientais que não

são determinados por apriorismos formalistas. E todos eles “nos aproximam do

espaço e do contexto, da vida e da ação, sem ser definidos por formas específicas”.

Tendo como referência geral e base, ainda segundo Montaner

(...) um mundo a ser interpretado por a partir de quatro epistemes distintas que se entrecruzam, caracterizadas sempre pelos diferentes tipos de exploração e, ao mesmo tempo, pelas correntes críticas de rebeldia e liberação que carregam: a interpretação econômica, da luta de classes e dos campos de poder; a feminista, que revela um recorrente predomínio histórico de um patriarcado que tenta não ser visível; a visão critica da ecologia, que questiona a exploração selvagem da natureza e de seus recursos; e as interpretações pós-coloniais em um novo espaço geopolítico não unívoco nem eurocêntrico, que deseja ser policêntrico, baseado na diversidade cultural e que revela as novas estratégias imperialistas. Quatro epistemes ou verdades do conhecimento distintas que lutam para ser prioritárias e que têm como base os diferentes sistemas de exploração: de classe, de gênero, dos recursos naturais e de certas nacionalidades e culturas por outras. Além disso, uma série de mudanças significativas caracterizam, atualmente, circunstâncias bastantes distintas daquelas em que se encontravam as vanguardas do século XX, que podemos resumir em três: os grandes movimentos migratórios atuais no contexto das sociedades pós-coloniais, o impacto das redes e das relações de simultaneidade criado pelas novas tecnologias de informação e comunicação, e os graves problemas ecológicos que se concentram em fenômenos como as mudanças climáticas e o aumento dos desastres e da poluição.

Montaner (ibidem), finaliza dizendo que, em sentido vital e criativo, deve ser

inversa esta ordem: “abstração → experiência → ação humana”. Isto, porque, para

ele

O ser humano analisa de forma crítica por meio da ação, enriquece e presume isso através da experiência, e tudo isso lhe permite elaborar, como síntese, conceitos e diagramas. Faz sentido ter os diagramas operacionais como ponto de partida, se for a partir do registro da realidade, da riqueza da experiência e da vontade sistemática da ação; isto é, enquanto ponto culminante do conhecimento sobre a vida e das aspirações da ação.

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3.3.4 ARQUITETURA “ECOLÓGICA” E ECOLOGIA “URBANA”

Dominique Gauzin-Muller (2011 p. 26) aponta para mudanças climáticas que

se iniciaram no século XX e se tornam cada vez mais evidentes, representando grande

perigo para a Humanidade e exigindo tomada de consciência de necessidade de se

proteger o meio ambiente. Em especial, abordar urbanismo e arquitetura por enfoque

de respeito ao meio ambiente - uma abordagem ecológica cidadã via “arquitetura

ecológica”. Tudo isso, recordando que

A busca da qualidade ambiental é uma atitude ancestral que visa estabelecer um equilíbrio harmonioso entre o homem e a natureza que o cerca. Praticada por necessidade durante séculos, em particular na arquitetura doméstica e vernacular, caiu em desuso após a Revolução Industrial [1ª], em uma época em que o homem acreditou na sua omnipotência e explorou, sem controle, os recursos do planeta [Terra].

Gauzin-Muller (2011 pp. 48-49) assinala estas oito diretrizes para eventual

“reestruturação urbana ecológica”: 1) ética e respeito ao ser humano; 2) participação

e democratização; 3) organização em redes; 4) retorno à natureza e às experiências

sensoriais; 5) uso misto e densidade urbana controlada; 6) respeito ao genius loci -

espírito do lugar); 7) ecologia e economia; 8) cooperação internacional. Essa autora

diz que são FERRAMENTAS DE ECOLOGIA URBANA essas diretrizes aliadas a: I)

estratégia de desenvolvimento ecológico de bairros; II) estabelecimento de

“ecoestações” – centros de informação, comunicação, atividades e de cultura; III) uma

série de vinte e sete medidas distribuídas em três setores de intervenção – “concepção

urbanística e técnicas urbanas”, “efeito sobre a ecologia e democracia local” e

“economia e ecologia”. E Gauzin-Muller (idem, p.49) alerta para o fato de que

“urbanismo sustentável” depende de responsabilidade política de homens e mulheres,

assim como de competência de profissionais de cidade, de meio ambiente, de

serviços públicos, de arquitetura e de construção – permitindo valorizar patrimônio

construído e paisagem, riqueza social e econômica de um município, com

consequências positivas sobre o cotidiano de cidade: cidade limpa, menos barulhenta

e menos poluída; tráfego que prioriza pedestres e ciclistas; espaços públicos mais

agradáveis; e vida social e senso cívico estimulados.

Gauzin-Muller (2011 pp. 30-32) refere-se a conscientização de necessidade de

“arquitetura ecológica”, dizendo que esta existe há várias décadas – mesmo antes

da midiatização da Rio 1992 – com confrontos frequentes entre low e high tech. E

essa autora indicam estas tendências para esse tipo de arquitetura: 1) pioneiros de

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low-tech, trabalho com materiais naturais; 2) estrelas de high-tech, simbolizada por

prédios de escritórios e por grandes equipamentos espetaculares de metal e vidro;

humanismo ecológico, imagem contemporânea, favorecida por combinação racional

de materiais tradicionais e de produtos industriais inovadores; ecologia democrática

e social, destinada a usuários conscientes e responsáveis, valorizando materiais

locais e técnicas tradicionais; e minimalismo ecológico, técnicas e produtos

inovadores em construções fincadas na modernidade, sem explicitar fatores

relacionados a economia de energia e a ecologia porque suas construções já

incorporam esses parâmetros como elementos de projeto.

Agradecendo ao Grande Arquiteto do Universo e sob o lema “Por uma

arquitetura ‘verde’, para um mundo azul”, Heliomar Venâncio (2010 pp. 75, 87, 109,

131, 157, 175 e 197) solta 7 (sete) “ecos” para construção responsável de casa

sustentável que ele usou para planejar e construir a própria casa (fig.39 abaixo): 1)

Ecoeficiência do Projeto Arquitetônico; 2) Ecoeficiência da Água; 3) Ecoeficiência

Energética; 4) Ecoeficiência de Recursos Naturais; 5) Ecoeficiência de Materiais; 6)

Ecoeficiência de Acessibilidade; e 7) Ecoeficiência de Resíduos.

Figura 39- Diagrama de EcoEficiência em construção residencial responsável

Fonte: Adaptação pelo autor desta dissertação, 01 de maio de 2019

Na primeira ecoeficiência, a de Projeto Arquitetônico, Venâncio (ibidem, p.76-

85) destaca duas figuras. Empreendedor - a quem aponta retorno de investimento

em três vias: valorização do imóvel com itens sustentáveis; redução do custo de

manutenção operacional da casa, gerando alto pay-back; e qualidade de vida dos

moradores em contato direto com as ecotecnologias e o bem que se faz à natureza

ao reduzir a extração de seus recursos naturais. E arquiteto empenhado em solução

sustentável para apresentar ao cliente, em termos de: forma (integração da

arquitetura com a paisagem); orientação (janelas e portas bem situados para captar

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e circular bastante ventilação, bem como para absorver equilibradamente o melhor

dos raios solares); proporção (lidar corretamente com as dimensões, aplicando a

Proporção Áurea – número de ouro igual a 1,618 gerado pela relação entre largura e

comprimento de uma criação); suíte canadense (banheiro comum a dois quartos);

setorização de áreas hidráulicas (agrupando “áreas molhadas”, banheiros, cozinha,

área de serviço, para diminuir perdas de pressão hidráulica); parede hidráulica

(circulação em uma única parede das tubulações de banheiro); cores (paredes com

grande exposição ao sol devem ter cor clara e as faces menos ensolaradas devem ter

tons mais escuros); desníveis (em terrenos inclinados, movimentar o mínimo de terra,

buscando uma arquitetura interessante).

Na segunda ecoeficiência, a de Água, Venâncio (ibidem, p.86-107) evidencia:

índices de consumo doméstico e pluviométricos; aproveitamento de água de chuva

para usar em descarga de vasos sanitários, máquina de lavar roupa, irrigação de

jardins, lavagem de carros, lavagem de calçadas – diminuindo enchentes,

preservando efetivamente o ambiente natural e permitindo economia na conta de

água; cálculo de potencial de armazenamento de um telhado; equipamentos

economizadores de água como vasos de caixa acoplada (com duplo acionamento e

botões de três litros para líquidos e seis litros para sólidos), torneiras temporizadas

(para regular o tempo de vazão da água após saída do usuário), torneira com sensor

de presença (para interromper fluxo de água logo após a saída do usuário), aerador

(na saída da torneira, reduz fluxo em até 30%, deixando água mais espumante);

atitudes sustentáveis com uso de água encanada para “economizar” ao lavar e

ensaboar louça (abrindo torneira só para enxaguar), ao usar máquina de lavar louça

ou de lavar roupas só quando estiverem cheias, ao controlar uso da torneira do

tanque, ao escovar dentes na pia do banheiro com torneira fechada, no uso

diferenciado de válvula de descarga para líquidos e sólidos, em banho de 15 minutos,

ao vedar buraco de encanamento, ao controlar gotejamento de torneira, ao molhar

plantas com regador (não usar mangueira), ao cobrir piscina para reduzir evaporação,

ao usar baldes para lavar carro e ao usar água de lavatórios ou lavadoras para lavar

calçada. Venâncio alerta para algumas precauções visando a melhor funcionamento

e segurança desse sistema de captação e aproveitamento de águas pluviais: suporte

de Arquiteto ou Engenheiro; manter tubulações distintas para água tratada e água da

chuva; identificar torneiras de jardim que sejam de água de chuva; captar água de

chuva só de superfícies apropriadas, evitando lugares com possíveis contaminantes;

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e proteger o reservatório contra vazamentos, agentes externos, calor e luz. E

recomenda alguns procedimentos para corrigir vazamentos de água: entre o

reservatório e os canais de água; entre o reservatório e os ramais de água; e na

piscina.

Na terceira ecoeficiência, a Energética, Venâncio (ibidem, p.110-128) assinala-

a como um dos pilares de sustentabilidade de uma residência por ser a solução mais

econômica, eficaz e rápida para diminuir os impactos ambientais do uso incorreto de

fontes energéticas, de emissão de carbono (CO2) e tornar a manutenção do imóvel

mais barata. Ele diz que essa solução pode ser obtida por: aproveitamento de recursos

naturais; aquecimento solar da água; energia fotovoltaica; energia eólica; e sistemas

– como sensores de presença, minuteria / timer, dismerizadores142 para acender ou

apagar luzes conforme for necessário e lâmpadas LED (evitando lâmpadas

incandescentes, que consomem muita energia elétrica, e lâmpadas fluorescentes, que

demoram a acender).

Na quarta ecoeficiência, a de Recursos Naturais, Venâncio (ibidem, p.132-155),

referindo-se a uma arquitetura saudável e sustentável, diz que devem-se considerar:

ventos – fazendo estudo do terreno para verificar ventos dominantes da região e se

existem elementos naturais (montanhas) ou artificiais (prédios) que podem influenciar

na intensidade e na direção dos mesmos; vegetação – beleza estética, isolante

térmico, filtro e redutor de calor dos raios solares, conforto visual, isolante acústico e

absorvente de partículas geradas por poluição; sol – luz natural (10.000 lux143) que

torna residência mais econômica ao reduzir o consumo energético, diminui as cargas

térmicas provenientes de luminárias, produz efeitos estimulantes a habitantes de uma

casa e níveis de iluminação superiores à iluminação artificial, ajuda o organismo na

produção de Serotonina, vitamina D e outras substâncias; e água. Venâncio, em

termos de conforto lumínico, “escalona” níveis de iluminação em interior de

edificação, até 2.000 lux (ruim, regular, bom e muito bom), e, a partir da NBR

142 “Para saber se a sua lâmpada é dimerizável, você pode conferir a embalagem ou a descrição na própria lâmpada! Todas vem marcadas se são ou não dimerizáveis. Busque sempre por termos como dimerizável, dimmable, DIM, atenuadores, regulável ou termos semelhantes”. Extraído de https://www.bluelux.com.br/o-que-sao-lampadas-dimerizaveis/, em 01/05/2019. 143 Venâncio (ibidem, p.153, itálico no original) informa que “num dia ensolarado, tem-se, em média, 10.000 luxes no exterior do edificado” e que “destes, aproximadamente 400 luxes seriam a quantidade razoável no interior da residência”. Para ele, “o ideal é que haja afastamento entre o brise e a casa para que seja diminuído o efeito da radiação solar, com o vento circulando entre as superfícies”.

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5413/1982, apresenta parâmetros de iluminação natural por tabela de lux por

ambiente, de 20 a 20.000 lux. Em termos de conforto térmico, mostra que a

temperatura no interior de edificação agradável às 09:00 (sol da manhã), média às

12:00 (sol do meio-dia) e mais quente às 15:00 (sol da tarde ou sol indesejado). Assim,

o “sol-vilão” (digo eu) é o das 15:00 – para o qual Venâncio indica alguns tipos de boa

proteção - principalmente para cômodos que o receberiam diretamente sem proteção:

áreas molhadas; garagens; beirais mais longos ou projetados; “lajota deitada”,

dobrando espessura de parede para retardar passagem de calor para dentro de

ambiente144; pergolado e brise soleil antes dos raios solares atingirem esquadrias ou

vãos com vidro, para controlar a entrada de radiação em um ambiente; “prateleira de

luz” para que raios solares possam aquecer (e iluminar), naturalmente e de modo mais

eficiente, cômodos profundos; revestimentos e cores de fachadas para aumentar ou

diminuir temperatura de edificação - refletância térmica – em que “superfícies claras”

absorvem cerca de 30% de calor proveniente de incidência (lateral ou zenital) de raios

solares e “superfícies escuras” absorvem cerca de 70% desse tipo de calor; lanternim

ou clerestório ou mansarda, que também oferecem boa distribuição de luz solar e

ventos; rebatedores; e condutores, como “túnel de luz”; CARTA SOLAR para verificar

trajetórias aparentes em projeção estereográfica, durante o ano (calendário

gregoriano), sobre plano de horizonte de observador, para latitude considerada. Em

termos de conforto termo-lumini-acústico, Venâncio (ibidem, p.155, sobre

“conforto termo-acústico”) atenta para “desastre” decorrente de esquadrias mal

posicionadas e/ou em local inapropriado, exemplificando o como deve ser no caso de

quarto de dormir: “esquadrias vedantes de som” (PVC) e uma boa proteção contra

iluminação (cortina blackout). E apresenta “tabela de desempenho de esquadrias” na

forma de matriz 6x4: seis tipos de desempenho (manutenção, isolamento acústico,

isolamento térmico, corrosão, vidro duplo e preço); quatro tipos de material usado em

fabricação de esquadrias (PVC, madeira, alumínio e ferro); e três “emoji”: ☺BOM;

REGULAR; e RUIM. Venâncio (ibidem, p.155, itálico no original), ainda no que

concerne a ecoeficiência energética, finaliza citando Marcos Vitrúvio Polião:

144 Venâncio (ibidem, p.147) informa que a “radiação solar leva três horas para atravessar uma parede de 10cm, portanto, ao dobrarmos a espessura de uma parede com incidência do sol, minimizamos o calor neste ambiente”.

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(...) deve-se agir de tal forma que, a partir de qualquer que seja a zona do céu que possa ser alcançada, nessa direção se deixarão os locais das janelas; assim, as construções ficarão iluminadas.

Na quinta ecoeficiência, a de Materiais, Venâncio (ibidem, p. 158-171), diz que

a sustentabilidade está na moda e faz uma Análise de Ciclo de Vida (ACV) de

ecoproduto (fig.4º abaixo): extração (avaliação de impacto na natureza, durante a

extração de produto, principalmente no ambiente onde foi retirado); transformação

(avaliação de substâncias usadas no processo de fabricação, poluentes liberados e

gasto energético para transformação, bem como o tipo de embalagem do produto

final); uso e [re]uso (mínimo de geração de resíduos possíveis, bem como economia

de energia e não liberação de poluentes – a embalagem deve ir para reciclagem); e

reciclagem (após vida útil, produto retornará à natureza de forma sustentável – sem

danos – ou será reaproveitado em outra obra). Venâncio [com logística implícita]

informa que, ao se optar por produto fabricado na região de construção de imóvel,

contribui-se, no transporte [e retransporte], com menor consumo de combustíveis

fósseis e, consequentemente, menor emissão de CO2 (sabendo que, em geral,

transporte de materiais/matéria-prima é responsável pela maior emissão de gás

carbônico da cadeia produtiva).

Figura 40- Diagrama de EcoProduto em construção residencial responsável

Fonte: Adaptação pelo autor desta dissertação, 01 de maio de 2019

Venâncio (ibidem) apresenta alguns produtos disponíveis, então, no “mercado”

(fig.41 abaixo): areia reciclada (entulhos de obra moídos e secados, exceto gesso);

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cimento (CPIII substitui clínquer145 por escórias, estas, resíduos de produção

siderúrgica); fôrmas (de madeira certificada ou plástico reciclado, polipropileno, ou

aço); pavimentação permeável (piso de concreto intertravado em obras de

urbanização, com ou sem grama, para favorecer infiltração de água no solo e redução

do efeito “ilha de calor”; instalação elétrica (cabo flexível fabricado, sem chumbo nem

metais pesados, a partir de embalagens de agrotóxicos descartáveis e recicláveis);

lâmpada fluorescente (economia de cerca de 80% de consumo de energia elétrica

em relação a lâmpada incandescente); LED (diodo emissor de luz, livre de raios ultra-

violeta e de calor, de tamanhos variados, é considerada a lâmpada do futuro); tijolo

de solo-cimento (terra local, sem processo de queima, evita desmatamento e

poluição de ar); instalação hidrossanitária (tubulação flexível feita de polietileno de

alta densidade, polipropileno ou garrafas PET recicladas com conexões em PVC,

triturador que diminui volume de resíduos orgânicos de residência, mini-estação de

esgoto e sistema de reaproveitamento de água); cerâmica, ladrilho e pastilhas

(cerâmica de baixo impacto, usando matérias-primas minerais reaproveitadas, sem

pigmentos de metais pesados, com água tratada e reciclada dentro da própria

empresa, ladrilho hidráulico fabricado a partir de pó de mármore, cimento Portland,

areia e óxido de ferro, pastilha de bambu, e pastilha de coco -esta produzida a partir

de resíduos de agroindústria de coco -, fixadas com cola branca); piso emborrachado

(executado com sobras de pneus de borracha reciclados misturadas com resina à

base de poliuretano pigmentado, usado em exterior ou interior de edifício,

principalmente, em play-ground e academia, tem a “virtude” de ser antiderrapante e

amortecedor de impactos); parede (estruturas como Dry Wall e Steel Frame, de aço,

eventualmente reciclado, construída a seco com mínima produção de entulhos em

obra, grande velocidade desta e economia de água); madeira (madeira plástica,

produzida a partir de plásticos reciclados e fibras vegetais como sisal e bambu, para

usar em decks, piers, móveis e pergolados, ou madeira de eucalipto de

reflorestamento, de grande resistência, ótimo acabamento e belas tonalidades,

desenvolvido a partir de plantios sustentáveis, como o Liptus); telha (telha tetra-tubo

produzida com 75% de embalagem de “leite longa vida” e 25% de tubos de “creme

145 Clínquer – “existe como mercadoria independente, transacionada mundialmente, porque não é tão sensível à humidade como o cimento Portland e, como tal, facilita a sua armazenagem, manuseio e transporte”. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Clínquer, em 01/05/2019.

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dental”, telha madeira fabricada de madeira pinus de reflorestamento, e telha de fibras

fabricada com fibras naturais ou materiais reciclados – esta muito usada na

substituição de telhas de amianto, porque tem baixa transmissão térmica / acústica e

é de fácil manuseio); verniz à base de água (produto inodoro que não agride a

camada de ozônio e garante boa qualidade interna de ar – substitui similares

convencionais à base de solventes voláteis); telhado verde ou ecotelhado (espécie

de jardim suspenso que contribui para redução de emissão de CO2, melhora a

acústica, cria microclima interno tornando o ambiente mais fresco -

consequentemente, reduz o consumo energético de refrigeração -, ajuda a controlar

fluxo de água pluvial e atrai fauna local); fachada verde ou ecoparede (tem as

mesmas vantagens do telhado verde); e tinta (fabricada a partir de matérias-primas

naturais, sem componentes sintéticos derivados de petróleo – tinta mineral, tinta

vegetal, insumos de animais, tinta acrílica à base de água para áreas internas e

externas, tinta sem solvente, vernizes acrílicos à base de água com baixa emissão de

VOC146).

Finalizando, Venâncio (ibidem, p.171) diz que

Todos estes ecomateriais apresentados, além de suas características sustentáveis, tem um grau de índice de reaproveitamento em caso de demolição de uma obra. Uma edificação deve, via de regra, “renascer” em outro local, sendo 95% de aproveitamento do material um número excepcional. Outro aliado no desempenho sustentável de uma obra é a sua certificação por empresas que avaliam criteriosamente os itens de construção e, ao final, lhes concedem o selo de edificação sustentável.

Na sexta ecoeficiência, a de Acessibilidade, Venâncio (ibidem, p. 176-194)

apresenta três “tipologias” predominantes em edificação que se pretenda segura e

com “acessibilidade”: pessoas com necessidades especiais (casa com ergometria

especial, conforme NBR 9050/1994, para uso de equipamentos de locomoção, como

bengala de apoio, de orientação ou muletas, cadeira de rodas com seu módulo de

referência e de manobra em cômodos, rampas de acesso e vagas de

estacionamento); terceira idade e crianças (piso antiderrapante, ladrilho hidráulico

tátil ou não, piso sem desnível, ou com este vencido por capacho, e sem tapete,

móveis com cantos arredondados, iluminação indireta, árvores e plantas com galhos

146 VOC: Volatile Organic Compounds – tinta que libera hidrocarbonetos aromáticos que agridem a camada de ozônio, prejudicam a saúde de quem a manipula e contamina o ambiente onde é aplicada. (VENÂNCIO, 2010 p. 171)

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largos com área de projeção limitada ao alinhamento do meio-fio, interfones com

numeração grande, visível e versão em Braille, escadas “confortáveis” com largura

livre mínima de 1,20cm, inclusive patamares, altura do espelho do degrau entre 16 e

18cm, largura do piso do degrau entre 28 e 32cm, e mudança de direção, no máximo,

a cada 3,20m de altura, quarto com criado-mudo mais alto do que a cama, interruptor

three way, iluminação noturna de balizamento, tomadas, interruptores e luz de

emergência em corredores, banheiros e cozinha).

Figura 41- Diagrama de EcoProdutos disponíveis em “mercado”

Fonte: Adaptação pelo autor desta dissertação, 01 de maio de 2019

Na sétima ecoeficiência, a de Resíduos, Venâncio (ibidem, p. 198-) mostra dois

tipos de geração de resíduos numa edificação. Durante a obra, resíduos provenientes

de construção civil e de reformas - esse tipo de resíduos divide-se em quatro classes:

A) alvenarias, concreto, argamassas e solos, podem ser reutilizados na forma de

agregados; B) restos de madeira, metal, plástico, papel, papelão e vidros, podem ser

reutilizados no próprio canteiro de obra ou encaminhados para reciclagem; C)

resíduos sem tecnologia para reciclagem, tais como gesso e seus derivados; e D)

resíduos perigosos, tais como tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles

contaminados oriundos de obras em clínicas radiológicas, hospitais e instalações

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industriais. Após a obra, resíduos de lixo doméstico – em média, 5kg semanais por

gerado por consumo de residente (lixo úmido, restos de comida, e lixo seco, vidros,

papéis, metais, plásticos, papelões) – com destino a aterro sanitário (lixo depositado

e espalhado por tratores em camadas intercaladas por terra, usando extensas áreas),

incineradora (lixo de alto risco contaminante, com alto custo de implantação e

liberação de gases tóxicos); compostagem (transformação em adubo de resíduos

orgânicos presentes no lixo, também com alto custo de implantação); e reciclagem

(com descarte especialmente cuidadoso, em recipientes próprios, com cores

padronizadas de latas de lixo, conforme Resolução Conama nº 275, de 19/06/2001,

para beneficiar meio-ambiente e saúde humana); e esgoto doméstico - águas cinzas

(resultantes de lavatórios, pias, tanques, máquinas de lavar louças, máquinas de lavar

roupas, chuveiros e banheiros), águas negras (resultantes de vasos sanitários) e

águas pluviais (resultantes de chuvas). Venâncio (ibidem, p. 208-209) destaca o

sistema de tratamento de esgoto doméstico no local onde é gerado, transformado em

água limpa e desinfetada, e devolvido, sem risco, ao ambiente ou reaproveitado –

economizando água potável para “fins mais nobres”. Ele explicita tempos de

degradação, referenciais, de alguns materiais e sinaliza uma tendência mundial

para ecoficiência de resíduos.

Benedito Abbud (2006 p. 15) analisa “espaço em paisagismo” através de

mundo de sentidos em “essência do espaço”

O paisagismo é a expressão artística em que participam os cinco sentidos do ser humano. Enquanto a arquitetura, a pintura, a escultura e as demais artes plásticas usam e abusam apenas da visão o paisagismo envolve também o olfato, a audição, o paladar e o tato, que proporciona rica vivência sensorial, ao somar as mais diversas e completas experiências perceptivas. Quanto mais um jardim consegue aguçar todos os sentidos melhor cumpre seu papel.

Para Abudd (2006 pp. 18-19) essa “essência de espaço” resulta de matéria-

prima distinta, obtida de elementos e condicionantes da natureza: ar (que tudo envolve

e faz viver os seres, é espaço e espaço é fundamental para paisagem); água (centro

de atenções em jardim, fascina pessoas, espelha o céu e as tranquiliza quando em

superfícies horizontais sem movimento); fogo (traz luz, calor e aconchego à noite,

quando em tochas, piras, fogueiras e mesmo em lareiras ao ar livre); terra (habitat de

flora e fauna, que funciona como base em projeto de paisagismo); flora (fornece o

principal material de trabalho para arquiteto paisagista); fauna (vive e contribui para

equilíbrio de área ajardinada); e tempo (espiral ascendente, muda paisagem, faz

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transformar, crescer e amadurecer projeto de paisagismo ao longo de quatro estações

e ao longo de anos). Afirma Abudd (ibidem)

Portanto, trabalhando-se com esses elementos dinâmicos, não é possível nem desejável planejar ambientes geometricamente precisos e permanentes. No jardim, sempre se deve ter em mente que as formas espaciais são fluidas, livres e instáveis, como uma bolha de ar que se expande com desenho caprichoso e imprevisível e se relaciona com uma bolha de ar maior, que é a abóbada celeste, o teto mais alto de todas paisagens.

Abudd (2006 p. 65 e 67), em termos de conjuntos homogêneos afirma que

É possível extrair resultados interessantes com o plantio de grupos de árvores da mesma espécie, formando conjuntos homogêneos (...) dissimula uma área maior da paisagem. Assim, o maciço de árvores de copa vertical mostra-se mais eficiente como elemento de vedação. Em compensação, um renque de árvores horizontais libera, em geral, a parte superior da paisagem, permitindo a visualização das montanhas ou do topo de edifícios interessantes.

Em termos de um tipo de “ecologia urbana”, continuamos com Abudd (2006 pp.

72-73), desta feita atentando para a relação que ele faz entre “árvores” e “cidade”.

É por meio dos vazios urbanos, especialmente do sistema viário (ruas, calçadas, largos, rotatórias, praças, etc.), que conhecemos e formamos uma opinião sobre a qualidade de uma cidade. Um dos principais papéis das árvores no espaço público é dar harmonia, regularidade e unidade à paisagem, afastando aquela impressão de caos sugerida pela massa construída descontínua e irregular dos prédios e melhorando as visuais e as escalas para o pedestre.

Acrescentando “corredores verdes” também referidos por Abudd (2006 pp. 76-

77)

As formas lineares, paralelas e geométricas dominantes nas áreas livres urbanas frequentemente induzem a plantios igualmente lineares, paralelos e geométricos. Isso pode ser bom ou ruim. (...) Para desenhar alamedas sombreadas, aléias de árvores com copas horizontais proporcionam uma escala interessante e minimizam a presença ostensiva de elementos construídos. Para se obter canyons verdes, tão severos como os de pedras, árvores de copas verticais são as mais indicadas. Para formar túneis, os bambus e arbustos altos funcionam muito bem. Tomando certos cuidados, essas estratégias podem ser adotadas em todos os elementos do sistema viário, começando pelas calçadas e chegando aos canteiros centrais e praças rotatórias. Ao longo das ruas o plantio de árvores verticais desenha túneis verdes também verticais, que podem equilibrar a presença de edificações, especialmente se forem muito próximas e altas. Porém, podem atrapalhar as vistas e a insolação de casas e apartamentos, principalmente se o recuo frontal desses imóveis for pequeno e a calçada, estreita. O plantio lado a lado de árvores horizontais nas vias permite que suas copas se toquem como um pergolado ou um túnel que filtra a luz em algumas partes, proporcionando escala humana e sombra para quem transita a pé ou de carro. Esses elementos diluem a visão da parte superior dos edifícios, o que torna a paisagem mais harmônica.

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Abudd (2006 p. 134 e 136), após ter exposto potencial de uso de vários estratos

vegetais, focalizou o paisagismo em materiais naturais, dos quais destaco aqui:

“pedras portuguesas”, “folhetas”, “britas”, “pedriscos”, “saibros” e “areias”.

As pedras portuguesas ou petit-pavés são pequenos cubos irregulares com cerca de 6x6x6 cm. Os de calcário tem cores bege, branco, vermelho e preto; os de granito, cinza e rosa. Podem ser assentados sobre mistura de areia com cimento seco, base de terra compactada ou lastro de concreto e é o revestimento que se adapta melhor a desenhos elaborados e não ortogonais. As folhetas são peças de pedra natural cortadas em pequenas placas de 11x22cm, com espessura entre 1 e 3cm. Também cortadas à mão, são normalmente de granito (em cinza) ou pedra madeira (em bege), e sua fina espessura exige que sejam assentadas sobre base de concreto. Com várias cores e texturas britas, pedriscos, saibros e areias são bons materiais para preencher trilhas e áreas sem tráfego pesado, deixando percolar naturalmente a água.

3.4 URBANO “OPRESSIVO”, “OPRIMIDO” E SOLIDÁRIO

Os que fazem as leis no Brasil raramente se dão ao trabalho de sistematizar as leis anteriores: quando surge um interesse determinado, e havendo o poder político e financeiro suficiente para obter a votação, faz-se uma lei que assegure este direito, e o texto da lei termina com um lacônico “revogam-se as disposições em contrário”, o que evita ao autor do texto jurídico o trabalho de consolidar os textos jurídicos anteriores. São “camadas” de disposições que se recobrem parcialmente, gerando um cipoal que poucos entendem. E quanto mais denso o cipoal, mais os advogados se tornam indispensáveis. (DOWBOR, 2014 p. 31; negritos meus)

(..) desenvolvimento urbano, é revelada grande expectativa quanto à aprovação de uma lei específica. Antes de ficar muito entusiasmado, convém refletir sobre o efeito de leis recentes, carregadas de boas intenções, como a 6.766 que regula o parcelamento das terras urbanas. A população urbana no Brasil está precisando mais de aumentar seu grau de consciência política na e através da vivência nas cidades do que de belas leis, resolvidas em arenas totalmente fora do seu dia a dia. (UFF, 2017c pp. 103; Carlos Nelson Santos; negritos, e itálicos meus)

Ainda para Carlos Santos,

As cidades não são pensadas. Elas existem e têm existido por meio de processos adaptativos que a experiência histórica tem demonstrado ser, no mínimo, eficientes. São poucos e excepcionais os casos em que houve controle de intencionalidades sobre um número grande de variáveis, que se julgava fundamental à formação e funcionamento de uma cidade. (UFF, 2017a p. 23; negritos meus)

Se, por um lado, “cidades não são pensadas” e “existem e têm existido por meio

de processos adaptativos”, por outro lado, Jane Jacobs (2011 p. 14) ataca

fundamentos de planejamento urbano e de reurbanização “vigentes”, numa

tentativa de introduzir novos princípios em planejamento urbano e em

reurbanização. Princípios esses que são diferentes daqueles que são ensinados em

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todos os lugares, de escolas de arquitetura e urbanismo a suplementos dominicais e

revistas femininas, e até mesmo conflitantes em relação a eles. Esse ataque feito por

Jane Jacobs não se baseia em “tergiversações sobre métodos de reurbanização ou

minúcias sobre modismos em projetos”. Mais que isso, ela afirma que seu ataque é

“uma ofensiva contra os princípios e os objetivos que moldaram o planejamento

urbano e a reurbanização modernos e ortodoxos”.

Ao apresentar princípios diferentes, escreverei principalmente sobre coisas comuns e cotidianas, como, por exemplo, que tipos de ruas são seguros e quais não são; por que certos parques são maravilhosos e outros são armadilhas que levam ao vício e à morte; por que certos cortiços continuam sendo cortiços e outros se recuperam mesmo diante de empecilhos financeiros e governamentais; o que faz o centro urbano deslocar-se; o que é – se é que existe – um bairro, e que função – se é que há alguma – desempenham os bairros nas grandes cidades. Resumindo, escreverei sobre o funcionamento das cidades na prática, porque essa é a única maneira de saber que princípios de planejamento e que iniciativas de reurbanização conseguem promover a vitalidade socioeconômica nas cidades e quais práticas e princípios a inviabilizam.

E Jane Jacobs (2011 p. 17; negritos e itálicos meus), pondera, sem acreditar,

que “talvez tenhamos nos tornado um povo tão displicente, que não mais nos

importamos com o funcionamento real das coisas, mas apenas com a

impressão exterior imediata e fácil que elas transmitem”. Designadamente no

planejamento urbano, Jane Jacobs dizia que, embora havendo alguma corrupção e

considerável cobiça por vinha de próximo, “é óbvio que uma grande quantidade de

pessoas sérias e sinceras se preocupa profundamente com construção e

renovação”. Porém, Jane Jacobs alerta:

Planejadores, arquitetos do desenho urbano e aqueles que os seguem em suas crenças não desprezam conscientemente a importância de conhecer o funcionamento das coisas. Ao contrário, esforçaram-se muito para aprender o que os santos e os sábios do urbanismo moderno ortodoxo disseram a respeito de como as cidades deveriam funcionar e o que deveria ser bom para o povo e os negócios dentro delas. Eles se aferram a isso com tal devoção, que, quando uma realidade contraditória se interpõe, ameaçando destruir o aprendizado adquirido a duras penas, eles colocam a realidade de lado.

3.4.1 SEMENTES URBANAS EM “INÉRCIA HISTÓRICA” DE URBANO

Carlos Santos (UFF, 2017a p. 107 e 109; negritos e itálicos meus)

(...) no século XV a,C. (...) Hipódamo oferece, pela primeira vez aos concidadãos, um plano urbanístico cobrindo todo o território da cidade. Faz um avanço pragmático sobre Clístenes, cujo centro cívico propunha uma integridade uma integração indiferenciada. Polis seria de todos os cidadãos. Quando Hipódamo tem de pensar como desenhador de cidades, é obrigado a traduzir o espaço político em físico. O entrelaçamento se daria por conta da identidade e diferenciação de cada morador (...)

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tentativa hábil e discreta (...) A constância da esquadria em Mileto permite que as vias se adaptem com alguma liberdade ao terreno e às necessidades funcionais. O Ocidente sofre, neste momento, uma inflexão nas suas práticas urbanas. Acabou o improviso: orientação, forma e dimensão dos quarteirões resultam de atos pensados em avanço, passam a representar a aplicação de racionalidade. Curiosamente, as cidades norte-americanas dos séculos XVII e XVIII vão retornar a esta fórmula que permitiria uma hipotética extensão infinita dos tecidos urbanos. As envoltórias e os contornos geométricos admitem certa complexidade, sem prejuízo para o padrão-interno de ruas, quadras e quarteirões, na aparência, muito simples. Esses traçados geométricos, carregados de normas disciplinares, encantaram os romanos. Impondo seu modo de vida ao mundo mediterrânico, usarão as cidades como emblemas. Quem chegasse a um lugar dominado logo percebia que estava em um espaço regido por leis e concepções romanas que, por um paradoxo, era oposto ao da urbs máxima, que segundo Nero147, só teria saída se destruída e refeita a partir do zero. Os donos do Império não perdiam muito tempo com o que não lhes interessava: clima, tradições, expectativas (...) A cidade-paradigma fazia parte do que consideravam processo civilizatório (...) No fundo a inspiração vinha de formas simples de parcelamento rural e da ordem dos acampamentos militares. Tudo parecendo fácil de dominar, claro, mas cheio de ambiguidades perigosas. A oposição entre rigidez e liberdade das quadrículas, sua banalidade que servia bem a fins mesquinhos ou gloriosos serão usadas como um carimbo desde o litoral do Atlântico até o interior da Síria (p.107...) A base deixada pelos romanos vai funcionar como inconsciente obsessivo no Ocidente. (p.108...) Le Coorbusier e Lúcio Costa terão tal influência no Brasil que, mesmo já adentrando nos anos 1990, é quase impossível aos urbanistas brasileiros conceber cidades que não sejam à sua maneira. Afinal, a persistência histórica do xadrez ou da grelha não é uma evidência? Por que a preocupação com o desenho das cidades? As indagações são pertinentes, apesar da repetição cíclica dos dilemas tradição/ modernidade, cultural/ progressista, liberal/ repressor. (p.109)

Nota-se, desde as origens, a primeira ação da terra sobre o homem. O meio físico intervém na vida social. Impõe-se o [ao] índio nômade (sic) e o impele a novas contingências. (LAMEGO, 1974a p. 128)

Carlos Santos (UFF, 2017b pp. 173-174; itálico no original)

Há duas maneiras de percepção do fenômeno urbano. A primeira é dada pelo senso comum e é cultural e historicamente elaborada. Há milhares de anos as cidades fazem parte do cotidiano da humanidade e, sob o ponto de vista do conhecimento e da percepção, representam um problema relativamente banal: todo mundo tem uma noção do que sejam. Cidade e urbano são mesmo categorias ancilares, estruturais e estruturantes das formas de pensar o espaço e de classificá-lo. A segunda maneira de pensar o urbano é recente, não tem mais de uns 200 anos, e é de domínio restrito e excludente. Trata-se da ideologia sobre a cidade, estabelecida pela ciência de forma disciplinar. Ele vem se formando desde o Renascimento quando as explicações totalizantes religiosas (a cidade dos homens correspondente à Jerusalém Celeste) têm de ceder lugar às interpretações políticas, logo seguidas das econômicas. A ciência sociocêntrica, produto de adesões ou questionamentos críticos ao modelo cultural capitalista e ao campo de ideias que suscita, vê a cidade como o locus da produtividade econômica por excelência (...) A esta visão, que fornece a apropriação da cidade pelo

147 Nero

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individualismo e a considera apenas como base propícia e ideal para o desenvolvimento de um sistema industrialista, é preciso contrapor a ideia da cidade como o locus da criatividade.

Para Alberto Ribeiro Lamego (1974a p. 87; negritos e itálicos meus), “a

primeira função social do brejo sobre o índio compele este a melhorar-se”. Do

homem de sedentarismo primitivo, Lamego (1974a pp. 71, 81-82, 87-88, 128 e 129;

negritos e itálicos meus) destaca o índio goitacá, que dominava tanto a planície de

aluviões (“com lagoas que esburacavam a floresta“) quanto a planície de restingas,

por seiscentos quilômetros de litoral brasileiro. Foi na região Goitacá que se iniciou a

reação do homem contra o determinismo da ambiência. Essa reação foi provocada

pela ação do brejo sobre o índio goitacá. As inundações das planícies deram-lhe a

"ideia de pouso sobre esteios" e levaram-no a aprumar cada pequena cabana sobre

um só apoio, coberta de palha a que chamam tábuas e porta pequena148, isolando-a

nas águas das lagoas. Foi esse isolamento que, ainda segundo Lamego, “solidificou

a estabilidade de cada família e restringiu a poligamia, nesse lugar”.

Mas foi o homem do "tombo do Globo" que trouxe pelo oceano Atlântico a

herança colonial da paisagem cultural do mundo europeu para as terras dos

ameríndios e novo mundo. Uma herança colonial que, adaptando de Holzer (2012 p.

283), permitiu transpor a paisagem cultural greco-romana para as paisagens

naturais locais e, consequentemente, a sobreposição, anulação e encobrimento

destas. Mas não sem longa luta contra a reação dos indígenas locais (paisagem

cultural estrangeira contra paisagem cultural local) e contra a Natureza (paisagem

cultural estrangeira contra paisagem natural local). Portanto, paradoxalmente, o

homem do "tombo do Globo" sobrepôs, anulou e encobriu a paisagem cultural

nativa com a transposição da paisagem cultural dos descobridores europeus.

Em luta contra reação de indígenas locais: de um lado, o homem de

sedentarismo primitivo, antigo dono da planície Goitacá, o índio goitacá que, segundo

Lamego (1974a pp. 85-86), de adversário inconquistável na defesa do seu lugar,

paradoxalmente, continuou a protegê-lo ao defender o branco e a civilização deste,

148 Era preciso "entrar de gatinhas". (LAMEGO, 1974a p. 81)

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em certos momentos históricos; do outro lado, o homem de sedentarismo colonial, do

qual se destacam os donatários de capitanias hereditárias149.

Em paisagem cultural greco-romana transposta para paisagens naturais locais,

recorto a paisagem cultural semeada pelo urbano no município Rio de Janeiro – do

qual Carlos Santos (UFF, 2017a p. 264) conta “uma história que não é de hoje”:

O Rio de Janeiro tem uma triste e longa vocação para não cuidar de si mesmo. O Município Neutro virou Distrito Federal, servindo à União. Depois do luxurioso interregno de Estado da Guanabara, foi rebaixado à condição de município falido, sede de uma região que metropolitana das mais problemáticas, cercada por uma periferia miserável. Com 150 anos de administradores impostos (as exceções representadas por Lacerda e Negrão de Lima se dão no contexto excepcional do Estado da Guanabara), a população se habituou a fazer pouco do que é local. Muito orgulhosa de sua politização (pelo menos no que se refere a grupos de elite), prefere não ser provinciana e se ocupar das grandes questões nacionais. Talvez por essa razão seja tão grande a desvinculação entre a prática do poder estabelecido e as necessidades e aspirações ligadas ao dia a dia. Há movimentos de cidadãos, no entanto, que revelam claro desejo de envolvimento em questões locais. Começaram na primeira década do século XX. Chamavam-se Associações Beneficiadoras. Eram típicas de classe média, sendo que houve um segundo surto, nos anos 1950, que se prolongou para os anos 1960, sob a forma de Sociedade de amigos de Bairro. Assistencialistas. Colaborando com o governo, essas entidades se retraem quando as Regiões Administrativas, seguindo o modelo de administração descentralizada proposto por Lacerda se tornam muito ativas.

Mais especificamente sobre “sementes urbanas”, em tópico referente àquilo

que diria um arqueólogo a respeito de “condomínios exclusivos”, Carlos Nelson

Santos (UFF, 2017a p. 200; negritos e itálicos meus) afirma que

Em fins do século XIX, na Europa e nos EUA as tentativas de sistematização científica do pensamento urbanístico geraram duas principais correntes orientadoras da teoria e da prática no setor: o racionalismo progressista e o organicismo culturalista (...) A produção planejada dos espaços urbanos se orientará a partir de tal dualismo, que terá força suficiente para impregnar a estrutura e a forma das cidades consideradas “modernas” por excelência: aquelas organizadas a partir e a favor da economia industrial e da cultura de massas. As duas opções, racionalismo e culturalismo, são modelos universais de desenvolvimento de cidades que, através de uma existência histórica até então inédita (No século XX as sociedades humanas vão assistir a uma urbanização sem precedentes e um aumento extraordinário da importância das cidades em todos os campos de significado), nos fizeram, nos últimos 80 anos, chegar às formações urbanas tais como se nos apresentam atualmente. O poder contaminador destes modelos determina as formas de pensar e fazer a cidade para qualquer agente e em qualquer nível (órgãos do estado, unidades de Capital, grupos de cidadãos e de moradores). A sua influência é tamanha que eles são, ao mesmo tempo, válidos para as sedes metropolitanas dos países cêntricos e periféricos. Servem

149 Em particular, Pêro de Góis que, segundo Lamego (1974a, p.90), é um dos moços capitães na frota de colonização em 1530, a quem foi doada a capitania de São Tomé.

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igualmente para orientar a expansão de aglomerados urbanos de países capitalistas e socialistas (...) Como é comum nas oposições diádicas fortemente marcadas, há uma alternativa que as transforma em tríades. No caso do urbanismo moderno o terceiro elemento é o que Choay (1965) chama de “crítica sem modelo”.

Carlos Santos deixa, por um lado, perceber que há poder contaminador de

“racionalismo progressista”, “organicismo culturalista” e “crítica sem modelo” como via

modeladora de “inércia histórica do urbano” na atualidade. Em outro momento, Carlos

Santos (UFF, 2017a pp. 291-293) disse que

Para concluir minha opiniões sobre os modismos correntes, falta dizer que não aceito a vulgaridade reducionista que deseja ver no urbano um mero epifenômeno do que quer que seja. Se aceitasse isto, teria de considerar meu trabalho terminado. Como é que alguém pode gostar do que é desprezível por não ter caráter próprio? Do que só merece atenção por encobrir o que é, de fato, importante? Para mim, cidades são representações específicas e, como tais, têm de ser tratadas. Representações específicas mergulhadas em um caldo grosso de cultura, determinadas pelas relações de troca do homem com a natureza (economia) e do homem com o homem (sociedade). Sei que as cidades se fundamentam no que se poderia chamar de desenho básico da formação social. Isto, porém, só reforça sua autonomia. Cada meio urbano particular obriga a que venha para fora, a que se evidencie este desenho através de uma expressão espacial concreta. Configura assim uma linguagem que, acessível e decodificável por todos, lhes ensina como estão sendo e os estimula a sonhar com outras possibilidades e a tentar realizá-las (...) A ambiguidade do que, para todos, tem de ser em parte coincidente e em parte livre, abre as chances para a sedição, a desobediência civil, a “desordem”, a não aceitação dos princípios hegemônicos. Torna o urbano uma espécie de máquina, poética e libertária por excelência. Linguagens e discursos obedecem a um conjunto padrão de regras: uma sintaxe. A pretensão da sintaxe urbanística oficial é colocar cada termo da oração em seu devido lugar. É fazer sujeitos e predicados concordarem com a elegância de necessária ao sistema. A sintaxe ideal é a que se inspira em ordens favoráveis a quem manda. O problema é que, uma vez iniciados os diálogos urbanos, fala quem pode e do jeito que pode. E nem sempre se fala como se deve. Há muitas vozes que se fazem ouvir, mesmo sem permissão, e todos têm de executá-las. Quem anda por uma rua é bombardeado sem parar por informação e aprende sem perceber. O discurso urbano é fortemente metafórico, isto é, diz muito com poucos recursos.

Nessa “máquina poética e libertária”, há esperança

Se é verdade que o gênero humano, cuja dialógica cérebro/ mente não está encerrada, possui em si mesmo recursos criativos inesgotáveis, pode-se então vislumbrar para o terceiro milênio a possibilidade de nova criação cujos germes e embriões foram trazidos pelo século XX: a cidadania terrestre. E a educação, que é ao mesmo tempo transmissão do antigo e abertura da mente para receber o novo, encontra-se no cerne dessa nova missão. (MORIN, 2000 p. 72; itálicos no original)

Para Vinicius M. Netto et al. (2018 pp. 1-2)

Sistemas complexos em relação: mentes, cidades e sociedades. Olhe para fora da sua janela. Você verá diferenças nas formas e tamanhos entre os edifícios, talvez alguns mais altos e mais concentrados em certas partes

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da cidade. Você verá que esses edifícios estão conectados a ruas e que algumas dessas ruas também são diferentes entre si. Mesmo se você nunca esteve nessa cidade ou área antes, você pode andar por ali e encontrar alguém ou algo de que você precisa em uma rua movimentada a um par de esquinas de distância. Você pode encontrar o caminho de volta. Quando você escolhe um lugar, você se junta a uma situação que culmina redes de interações anteriores nas quais você nunca pensou, mas que eram uma condição para você estar lá naquele momento. Todas essas situações são parte de uma estrutura maior. De fato, você está vivendo dentro de um padrão - a interação de relações reconhecíveis e variações surpreendentes, de hierarquia e contingência. Como esses padrões envolvem espaços tangíveis, atividades sociais e possibilidades de ação, isso é uma interação material, cognitiva e social - tudo de uma só vez. Você está vivendo na interação de mentes, cidades e sociedades. Embora essas três coisas sejam sistemas complexos por si só, o interessante é que elas acabam se relacionando umas com as outras. Trabalhando juntas, mentes, cidades e sociedades de alguma forma “se fundem” em um sistema imensamente interativo.

3.4.2 CIDADE COMO “LUGAR” DE PODER, PRODUÇÃO E CONSUMO

Cidade é receptáculo para vida. Complexidade de semilattice150 é substituída por forma de árvore mais simples e facilmente compreendida. Designers não podem atingir a complexidade de um semilattice em ato mental único. Árvores estão sendo propostas e construídas como cidades. Para mente humana, árvore é veículo mais fácil para pensamentos complexos. Mas cidade não é, não pode e não deve ser árvore. (ALEXANDER, 1965 p. passim; tradução livre)

Carlos Santos (UFF, 2017a p. 291), relacionando espaço e poder, afirma que

Pela simples existência, qualquer cidade revela muitas ordens significativas, impossíveis de emascarar. Estando colocadas face a face, não há alternativa senão decodificá-las e digeri-las de qualquer maneira. Nos primeiros aglomerados urbanos são inventados o templo, o palácio e a fortaleza. Os lugares da opressão, sem dúvida. Mas também foi aí que apareceram, pela primeira vez, o mercado, a praça e a esquina que acabaram virando um dia a biblioteca, a assembleia e a universidade – locais da liberação, por essência.

Carlos Santos (UFF, 2017a pp. 289-291) é “contra as tendências mais fáceis”

em termos de espaço e poder. A esse respeito, ele disse:

Anda na moda não gostar muito de cidades. Elas se tornaram um tema out. Não são muitos os que se dispõem a defendê-las (...) Apesar de não ser

150 Em matemática, semilattice de junção (ou semilattice superior) é conjunto parcialmente ordenado que possui junção (limite mínimo superior) para qualquer subconjunto finito não vazio. Duplamente, semilattice de encontro (ou semilattice inferior) é conjunto parcialmente ordenado que tem encontro (ou maior limite inferior) para qualquer subconjunto finito não vazio. Cada semilattice de junção é semilattice de encontro na ordem inversa, e vice-versa. Lattice (rede ou malha) é estrutura abstrata estudada em subdisciplinas matemáticas de teoria de ordem e de álgebra abstrata - consiste em conjunto parcialmente ordenado no qual cada dois elementos têm um supremo exclusivo (também chamado de limite mínimo ou junção superior) e um mínimo único (também chamado de maior limite inferior ou de encontro). Extraído de https://en.wikipedia.org/wiki/Semilattice e de https://en.wikipedia.org/wiki/Lattice_(order), em 06/05/2019.

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bonito expressar amor por cidades, é julgado mais do que atual e oportuno pensar no assunto. Nada pode ser mais coerente como atividade humana que o pensamento. Só que sua prática excessiva está, no caso, matando na fonte o objeto justificador. Enquanto há tanta gente parada, condenando, reprovando, explicando por que para as cidades não há futuro, elas continuam em volta de nós, vivas o quanto podem, armando e desarmando questões intrigantes (...) Considero que, nas cidades, está impresso e expresso um ideal de ordem. Embutido nele há uma quantidade enorme de alternativas, de “outras ordens” que almejam virá-lo do avesso e que, às vezes, o conseguem. É assim que as diversas expressões urbanas têm sobrevivido e mantido sua validade por séculos e, em alguns casos, por milênios (...) Desde que foi inventada, a cidade tem-se apresentado na história como o lugar da ironia e do não conformismo. Um mecanismo caleidoscópico e transformador por natureza que, ao surgir, marca indelevelmente o destino do homem. Uma carreira que, pelo indícios conhecidos, começou há mais de 10 mil anos e tem se mantido coerente: as cidades fixam e mudam; fazem e desfazem a si mesmas, as sociedades que abrigam e as civilizações que sintetizam (...) Agora estamos vivendo um grande dilema: - será que este produto histórico, que depois de aparecer passa a filtrar a história, ainda tem futuro? Uma questão inquietante, pois a invenção do urbano nunca deixou de ser considerada perigosa. Um escândalo, uma bomba de tempo de explosão e detonador desconhecidos para os que tiverem de usá-la para conseguir e consagrar o seu poder. Porque se se pode afirmar algo a respeito de cidades é que elas têm sido, sempre, campos singulares de disputa de poder (...)

Como invenção humana as cidades já existem há uns 10 mil anos. Podem ou não ter futuro. Desde que foram criadas se revelaram inquietantes e perigosas. Logo se propuseram como campos de disputa de poder. Nelas, ficou evidente a existência de muitas ordens de significados e a necessidade de ajustá-las. Colocadas face a face, tais ordens tiveram de ser decodificadas e digeridas de qualquer maneira. Eis porque a cidade é toda estruturada a partir de antíteses: a casa e a rua; o público e o privado; a fortaleza e a praça; o templo e a esquina; o palácio e o mercado. A opressão dialogando com a liberação através das formas que reproduzem um espaço que só antes de ocupado (isto é, percebido) pode ser imaginado neutro. Essa essência do urbano como um campo de disputa de poder transparece no cotidiano. Em nenhuma outra parte o poder está tão à vontade. Pode ser opressivo e brutal, sublinhando sua própria força, mas, em nenhum caso, prescinde de contratos. A forma urbana reflete, viabiliza, inspira e denuncia as negociações. O desafio dos que mandam na sociedade pós-neolítica (a nossa...) sempre foi como manter o comando, como justificar a disciplina nas cidades. (UFF, 2017b p. 15; Carlos Nelson Santos; negritos e itálicos meus)

Em outro momento, Carlos Santos (UFF, 2017b p. 13; negritos e itálicos meus),

“observando” o Rio de Janeiro como cidade-fenômeno que transforma e que é

transformada, pondera e indaga

CIDADES SÃO FENÔMENOS. Amantes da natureza, militantes políticos conscientizados, meios de comunicação, especialistas, grande público não andam gostando muito de cidades. Falar bem delas, defendê-las, parece reacionário e pouco inteligente. Afinal, havendo coisas mais importantes a tratar, por que perder tempo com o que não passa de um invólucro mistificador dos tolos que se contentam com o que veem na superfície? É confortante e fácil tratar os espaços que nos rodeiam e que servem de suporte ao dia a dia como epifenômenos. Epifenômeno: “fenômeno cuja

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ausência não altera o fenômeno que se toma sobretudo em consideração” (AURÉLIO, 1980:684). Adaptando ao caso específico: forma dos lugares – evidência que pode dispersar maiores análise e reflexões, pois o que importa mesmo são as causas estruturais condicionantes.

Jane Jacobs (2011 p. 15; negritos e itálicos meus) faz leituras integradas de

produção e consumo de “concreto urbano” sob auspícios de poder local e renda

“disponível”.

Mas veja só o que construímos com os primeiros vários bilhões: conjuntos habitacionais de baixa renda que se tornaram núcleos de delinquência, vandalismo e desesperança social generalizada, piores do que os cortiços que pretendiam substituir; conjuntos habitacionais de renda média que são verdadeiros monumentos à monotonia e à padronização, fechados a qualquer tipo de exuberância ou vivacidade da vida urbana [como é o caso em estudo nesta dissertação]; conjuntos habitacionais de luxo que atenuam sua vacuidade, ou tentam atenuá-la, com uma vulgaridade insípida; centros culturais incapazes de comportar uma boa livraria; centros cívicos evitados por todos, exceto desocupados, que têm menos opções de lazer do que as outras pessoas; centros comerciais que são fracas imitações das lojas de rede suburbanas padronizadas; passeios públicos que vão do nada a lugar nenhum e nos quais não há gente passeando; vias expressas que evisceram as grandes cidades. Isso não é reurbanizar as cidades, é saqueá-las.

Jane Jacobs (2011 pp. 15-16; negritos e itálicos meus) prossegue sua leitura

dizendo que para alojar pessoas de modo planejado “pregam-se etiquetas de preço

na população, e cada coletividade etiquetada e segregada passa a viver com

suspeição e tensão crescentes em relação à cidade circundante”. Usando uma

expressão irônica - “Quando duas ou mais dessas ilhas hostis são justapostas,

denomina-se o resultado ‘bairro equilibrado’" -, essa autora ataca de forma

contundente o “planejamento urbano”.

As cidades são um imenso laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e desenho urbano. É nesse laboratório que o planejamento urbano deveria aprender, elaborar e testar suas teorias. Ao contrário, os especialistas e os professores dessa disciplina (se é que ela pode ser assim chamada) têm ignorado o estudo do sucesso e do fracasso na vida real, não têm tido curiosidade a respeito das razões do sucesso inesperado e pautam-se por princípios derivados do comportamento e da aparência de cidades, subúrbios, sanatórios de tuberculose, feiras e cidades imaginárias perfeitas – qualquer coisa que não as cidades reais.

Carlos Santos (UFF, 2017b p. 42; negritos e itálicos meus) disse que “Pensar

nas cidades e no que revelam a partir de suas formas é ser MORFO-lógico. Um

entendimento (um conhecer-se...) tão bom quanto outro qualquer, com a vantagem

de ser acessível e compartilhável com facilidade”. Pois

Os meios urbanos são como livros abertos que dizem a cada instante aos que neles estão, onde estão, quem são e quem são os outros. Uma jornada diária banal, implicando deslocamentos, passagens de ambientes

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mais privados aos mais públicos, frequência aos locais onde se produz, se consome, se circula, se descansa, equivale a uma dose de informação das mais completas. Cidade sem atividades diversas, que se complementam a partir dos mesmos objetos referenciais, não pode existir. Arquitetos e urbanistas incapazes de entender isso, também não. (ibidem)

3.4.3 “DIREITO” URBANÍSTICO E DITADURA DE “MINORIA”

Entendo o urbano como um campo de tensões. Uma invenção humana que conseguiu articular de forma compacta e comprovadamente eficiente, face à evidência histórica, tendências opostas à ordem e à desordem... Uma instituição que materializa um estado de crise permanente e que serve ambiguamente à produção (escolha de uma ordem significativa única tida por real) e à criação (especulação sobre todas as possibilidades de significado). (UFF, 2017a p. 51; Carlos Nelson Santos; negritos e itálicos meus)

Carlos Santos (UFF, 2017a p. 291) acrescenta que

Poder e cidades parecem ser correquisitos. A capital é a sede do Príncipe que manda por ser o seu dono. Um mandato, a mais das vezes brutal, sempre fascinado pela tirania ou pelo despotismo garantido por muralhas que, justificadas como defesa contra os de fora, acabam por não deixar sair os que estão dentro. Um poder ambíguo, porém, que precisa ser negociado sob forma de contratos, de LEIS consolidadoras da solidariedade de quem se identifica a partir de um estatuto de cidadania.

Carlos Santos (UFF, 2017b p. 191) diz que

Não creio que a nova Constituição deva ser recheada de lembretes sobre cidades e condições de moradias precárias. Para falar a verdade, o ideal para a lei maior seria fazê-la tão sucinta quanto possível. Assim, corresponderia bem ao nosso momento e ao grau de conscientização política da maioria. Se saíssem algumas regras apenas que pudessem ser decoradas com facilidade na escola primária, estaria atingida a meta democrática. De que adiantam estatutos “perfeitos” na forma e conteúdo que ninguém conhece? Foi assim tantas vezes antes...

Claude Frédéric Bastiat - vivo entre 30 de junho de 1801 e 24 de dezembro de

1850 - foi economista e jornalista francês. A maior parte de sua obra foi escrita durante

os anos que antecederam e que imediatamente sucederam a Revolução

Francesa de 1848. Nessa época, eram grandes as discussões em torno do

socialismo, para o qual a França pendia fortemente. Como deputado, teve a

oportunidade de se opor vivamente às ideias socialistas, fazendo-o através de seus

escritos, vazados em estilo cheio de humor e sátira. Entre os economistas franceses,

Frédéric Bastiat ocupa um lugar de destaque. Sua obra completa se compõe de sete

volumes. Um princípio domina sua obra: A lei deve proteger o indivíduo, a liberdade e

a propriedade privada. É desta forma que Bastiat analisa o funcionamento do Estado,

esta "grande ficção através da qual todos se esforçam para viver às custas dos

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demais". Para ele, protecionismo, intervencionismo e socialismo são as três forças de

perversão da lei.

Segundo o Instituto Ludwig von Mises - Brasil ("IMB"), uma associação voltada

à produção e à disseminação de estudos econômicos e de ciências sociais que

promovam os princípios de livre mercado e de uma sociedade livre, “Frédéric Bastiat

foi o grande proto-austrolibertário cujas análises polêmicas ridicularizavam

todos os clichês estatistas. Seu desejo primordial como escritor era passar às

pessoas, da maneira mais prática possível, a urgência moral e material da liberdade”

Carlos Santos (UFF, 2017b pp. 184, 186-189; itálico no original)

Eis o dilema brasileiro. Trata-se do “país descoberto” que recebeu todas as suas leis prontas, inclusive as que são a base das regulamentações urbanas. A lei de verdade, porém, deve ser a formalização de comportamentos. Primeiro o consenso e o comportamento; em seguida a lei, que é como uma eternalização ritual. Nosso país se habituou com leis não oriundas do comportamento ou consenso da população. E, por falar em desenvolvimento urbano, o que pode ser consenso e comportamento em cem anos de frenesi? Explico melhor: o único acerto possível parece ser o próprio frenesi da urbanização feita “na marra”. Estou lidando com a noção de diversidades dentro de uma hegemonia (...) De repente, diante de uma proposta hegemônica de urbanização que visava chegar inevitavelmente onde estamos chegamos, houve milhões de propostas caudatárias se encaixando. Todas elas, no fundo, muito vorazes. Sem nenhum pieguismo, os pobres vêm para a cidade com a mesma fome da classe média e dos “novos mandões”, que são os velhos de sempre. Todos perceberam que a cidade era o emblema e, ao mesmo tempo, o que representava: o momento histórico. Como fazer, em cima disso, emergir “leis”? (...) Sugiro que se discuta profundamente com as bases populares para acabar com essa história de leis incompreensíveis e inatingíveis. Esse assunto é democrático por excelência. O conhecimento da cidade se confunde com suas regras de formação e desenvolvimento que têm obrigatoriamente de ser muito simples. SÓ assim poderão todos jogar. Além disso, as normas precisam conter mecanismos para sua autodestruição, isto é, revisões automáticas (...) há dois tipos de conhecimento: o da sapiência e o da experiência. Então, que o povo entre com a experiência do sofrimento da urbanização, que temos pouquíssima, e nós entremos com o saber. Por enquanto nenhum dos lados conhece bem o que o outro domina (...) Nossas cidades já foram zoneadas e rezoneadas ad nauseam. A zona é uma “zona”. Para que continuar perdendo tempo com princípios que não deram certo nem nas suas origens? Geraram o quê? Só mais segregação mesmo (...) Sempre que se fala em zoneamento, há uma certa ambiguidade, nunca se sabe se a base é a densidade ou a funcionalidade (...) O zoneamento a partir de densidades, ainda posso entender e aceitar. O por funções, vamos ter a coragem de dizer que é burrice, que é um ato de autoritarismo insuportável e que não dá certo. Tirando, é claro, alguns casos muito especiais. Mas se são casos especiais, a própria comunidade deveria reclamar e exigir, como quando houver extrema poluição ou perigo ambiental. Isso não deveria ficar por conta da lei ou de especialistas. Em lugar de zonas, proporia um procedimento mais de acordo com nossa realidade sócio-histórico-cultural: o reconhecimento das tendências à centralização que levam, em linha reta, à ideia de abairramento. Certos estudos (...) mostram como é importante no cotidiano urbano a noção de abairramento, de centro do bairro mantendo relações de interdependência com o espaço que domina (...) Nunca falei mal da Lei de Desenvolvimento Urbano. Acho que como reforço mais alto é útil e necessária. Sozinha lá em

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cima, porém, não serve para nada (...) A ausência absoluta de lobbies populares. Nem lobbies municipalistas existem em torno dessa lei (...) Na ocasião, os advogados ficavam discutindo se a lei era lei, se era direito fazê-la assim, se era ou não programática... Ouvi aquilo tudo e disse mais ou menos o que repeti aqui: a Lei me parecia nascida artificialmente de um consenso político esclarecido e não de uma ação gradual que partisse do muito simples e cotidiano e fosse sacramentando cada vez mais comportamentos “ritualizados”.

Carlos Santos (UFF, 2017a pp. 305-306) mostra esperança

Na ilha de Utopia, inventada por Thomas Morus no século XVI, as cidades seriam todas iguais, com moradores iguais, atentos para pôr nos eixos qualquer desvio desequilibrador. Todos ali viveriam uma vida padrão, desfrutando de uma felicidade padrão. Apesar de sublinhar bem que a capital de sua fantástica ilha não passava de uma “cidade dos sonhos”, Morus fabricou um modelo que sempre excitou a imaginação dos que, depois dele, tiveram o encargo de cuidar do porvir urbano. Como em Utopia, querem cidades onde se possa ao mesmo tempo representar tudo e ver tudo de todas as perspectivas e ângulos possíveis. Cidades onde todos não tenham remédio senão aceitar uma ordem transcendental e fora de seu alcance. À diferença das cidades feitas com nuvens, as nossas, feitas com asfalto, concreto, automóveis e enormes desigualdades sociais não são de molde a propiciar muita felicidade a nenhum de seus habitantes. Que Deus nos livre de termos de vê-las cristalizadas, tais como estão, para sempre. E que Ele mantenha nossa esperança em poder alterá-las, todos e o tempo todo, confiantes de que depende TAMBÉM de nossa consciência e de nossa ação torná-las melhores.

Carlos Santos (UFF, 2017b pp. 179-181; itálicos no original) ironiza seriamente

Diretor é uma palavra de peso: significa comando e traduz força. Quando a gente fala em Plano, está-se referindo a ações ordenadas para um determinado fim. Duas expressões das mais perigosas, em um país tão fascinado pelo mando e pelas regras (A maioria, no entanto, ignoradas e só evocadas quando há referência “a meus direitos”) e sempre à procura de um modelo de ordem que venha de cima (...) Técnicos e especialistas têm de tirar da cabeça de políticos (e do povo) a ideia de que um plano é UM PLANO. O que importa são diretrizes gerais que vão sendo feitas como for possível, sem megalomanias, estudos e desenhos inúteis (...) Muitos dos profissionais especializados no Brasil fazem olhares de horror, quando ouvem falar em Plano Diretor Integrado. A maioria, datado da segunda metade dos anos 1960, não serviu para nada e só entrou em uma roda viva para inecessários endividamentos (...) É preciso evitar a ideia: chegou-se a um grau de sofisticação tal, que eram exigidos estudos geográficos, financeiros, sociológicos que não se aplicavam a nada, foram parar em gavetas e lá ficaram até hoje. O povo deve ser chamado, através de slides, desenhos e montagens para palpitar tão concretamente quanto possível sobre o que será feito.

3.5 ANTROPOLOGIA URBANA “HIPERMETAPLURICULTURAL”

A arte, a técnica e a ciência, em perspectiva dialógica, podem contribuir para a constituição de procedimentos mentais capazes de apontar a emergência de modelos da realidade urbana, visando a restituir formas de sociabilidade pautadas pela apropriação e fruição de espaços e temporalidades múltiplas e reafirmando o direito à cidade como apelo, como exigência. (LIMENA, 2001 p. 43; negritos meus).

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Antropologia151 deve estudar “ser humano” hologramático em sua “humanidade”

- em perspectiva dialógica de “complementariedades excludentes e de excludências

complementares”, que abranja dimensões física e cultural que não separe “ciência

natural” de “ciência social”. Isto é, que não esfacele esse estudo em subprocessos de

autoenclausuramento como: Antropologia física; Antropologia cultural; Antropologia

Biológica; Antropologia Pré-Histórica; Antropologia Linguística; Antropologia

Psicológica; e Antropologia Social.

Para Jane Jacobs (2011 pp. 15-16), toda arte e ciência em planejamento de

realidade(s) urbana(s) “são incapazes de conter a decadência – e a falta de vitalidade

que a precede – de porções cada vez maiores das cidades. Essa decadência não

pode nem mesmo ser atribuída, como consolo, à falta de oportunidade de aplicar a

arte do planejamento”.

Entretanto, para “humanizar a cidade” (fig.42 abaixo), Carlos Santos (UFF,

2017a pp. 269-271; negritos e itálicos meus), em 1983, sobre o Rio de Janeiro, disse

que “basta descobrir as maneiras mais eficientes de fazer todos os que moram e

trabalham no espaço metropolitano terem alguma forma de domínio reconhecido

sobre ele – serem cidadãos”. E Carlos faz uma série de proposições - das quais

selecionei algumas que considero pertinentes para o meu estudo de caso - nestas

quatro áreas específicas: 1) urbanística - “melhorar as condições de circulação de

pedestres, sem que isso implique em isolamentos absolutos e indesejáveis

pedestre/veículo” e “articular a legislação urbanística aos padrões preexistentes em

cada local”; 2) representação comunitária – “garantir a representatividade jurídica”,

“abrir espaço nos planos técnicos para avaliação, crítica e contribuição de

representantes de moradores e usuários afetados” e “articular ação tecnológica

151 A antropologia (do grego ἄνθρωπος, anthropos, "homem"; e λόγος, logos, "razão", "pensamento", "discurso", "estudo") é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. A divisão clássica da antropologia distingue a antropologia cultural da antropologia física (ou biológica), já a divisão norte-americana, conhecida como Four Fields ("quatro campos"), divide a antropologia em arqueologia, linguística, antropologia física e antropologia cultural. Cada uma destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento. Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características físicas do homem. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações das propriedades físicas do ser humano. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia, em 20/05/2019.

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inovadora e experimental com as ações autônomas de movimentos de cidadãos

(convênios com universidades e centros de pesquisa)”; 3) saúde pública – “coletar e

tratar adequadamente o lixo”, “insistir, na educação básica, em regras de higiene e

cuidados sanitários vis a vis a habitação e o seu entorno”, “criar áreas de lazer e

fruição da natureza”, “combater as diversas formas de poluição ambiental urbana” e

“aumentar a segurança, através de melhorias no tráfego e combate ao crime”; e 4)

construção civil – “simplificar a burocracia de aprovação do projeto e de habite-se”,

“articular e coordenar as exigências das concessionárias”, “evitar o repasse ao

comprador de custos adicionais apresentados pelos exageros da máquina

administrativa” e “articular legislação e tipo de público a ser atingido”.

Figura 42- Diagrama de Humanização de Cidade (HC)

Fonte: Autor desta dissertação a partir de Carlos Santos, 19 de abril de 2019

Gilberto Velho (2011 p. 162)

(...) é importante assinalar que foi meu ponto de partida para o tipo de Antropologia urbana que vim a desenvolver. Afinal de contas, eu e minha mulher éramos moradores, mesmo que tivesse sido apenas por um ano e meio, do prédio de conjugados. Éramos copacabanenses vivendo num tipo de habitação predominantemente ocupado por pessoas de pequena classe média, alguns estudantes e também certos tipos sociais que viriam a ser importantes na minha carreira, caracterizados na literatura como desviantes (...) “Anthropology at home” (...) No meu caso, era “home” mesmo, pois tinha como foco de minhas pesquisas o prédio em que morava. Embora tivesse feito incursões a outros edifícios de conjugados e, com a ajuda de alunos,

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buscasse contato com uma população mais diversificada de Copacabana, é inegável que, favorecido por circunstâncias, exercitei o meu papel de antropólogo no lugar onde morava, prédio, vizinhança, bairro e cidade, ou seja, antropólogos ou não, éramos, como os outros, moradores do prédio.

Gilberto Velho (2011 pp. 165-166)

Assumimos o estudo de nosso meio, de nossas vidas, como algo relevante para a antropologia que, por sua vez, contribuiria de modo significativo para uma compreensão mais rica e sutil da sociedade em que vivíamos (...) colocava em questão a natureza do conhecimento diante do familiar. Afirmava que ter familiaridade com fatos, situações e mesmo pessoas não significava conhecê-las, pois se tratava de outra ordem de significados. Conhecer exigiria de nós um esforço de aproximação e distanciamento que poderia fornecer indicações para uma compreensão mais complexa dos fenômenos em que estávamos diretamente envolvidos, através de experiência, emoções, sentimentos e formas de classificação internalizadas. Isto era visto como um grande desafio, mas enfrentá-lo era essencial para que pudéssemos estabelecer pontes entre a tradição antropológica e, em geral, a produção de conhecimento sobre a nossa sociedade. (p.165-166)

Gilberto Velho (2011 pp. 177-178)

(...) não estou falando de Antropologia urbana enquanto subárea, mas como ponto de encontro de pesquisas e análises em que o universo simbólico e de representações seja cada vez mais incorporado às pesquisas e às políticas públicas. Creio que, com todas as precauções e modéstia, trata-se de um dos caminhos mais importantes para o desenvolvimento e a maior relevância de nossa área de investigação, através da recuperação, da renovação e da aproximação das análises de significados e dos processos de ação e interação social. Ou seja, é importante cruzar as fronteiras disciplinares e as tradições específicas, num esforço de aproximar diferentes contribuições que possam ampliar nossa concepção de trabalho intelectual. Tenho buscado comparar experiências e visões de mundo de diferentes gerações do universo de camadas médias. Trata-se de um relativo privilégio poder conhecer e lidar com categorias socioetárias distintas. Mais do que nunca, o recurso a distintas áreas do conhecimento tem se revelado necessário e crucial em função da complexidade das questões envolvidas.

Gilberto Velho (2011 p. 178)

A antropologia nas metrópoles e nos grandes centros urbanos em geral defronta-se cada vez mais com novos e velozes sistemas de comunicação e informação, que se agregam e interagem com redes de relações e categorias sociais das mais variadas características. Embora isso se desenvolva nas sociedades como um todo, num processo de interação entre correntes de tradição cultural, mais ou menos longevas (Barth 1989), é no meio urbano contemporâneo, com sua complexidade e dinamismo, que esses fenômenos aparecem com mais intensidade e nitidez. O estudo das gerações, seus valores, atitudes e projetos sugerem trilhas e possibilidades de conhecimento em que a interdisciplinaridade torna-se cada vez mais prioritária.

3.5.1 “FUNÇÃO SOCIAL”, “EXPLOSÃO” E “MOBILIDADE” URBANAS

De vez em quando me perguntam qual o maior problema urbano brasileiro. Nem é preciso pensar duas vezes: é terra! Todo mundo precisa morar, inclusive a massa predominante dos que não têm recursos. A única porta estabelecida é a compra do direito a ocupar um pedaço de terra, seja na sua tradução direta (um lote), seja na idealizada (uma fração de condomínio). (...) No que diz respeito à urbanização, o essencial é terra. Uma redefinição nos

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conceitos de propriedade, ainda impregnados de visões rurais e remontando a eras manuelinas, já bastaria. Só isso já faria um bem imenso às cidades como são de verdade. (UFF, 2017b p. 190; Carlos Nelson Santos)

Carlos Santos (UFF, 2017b p. 91)

Durante o século XX predominou, no continente, a mística de que era possível atender às necessidades das camadas de migrantes recém-chegados aos meios urbanos, sem enfrentar os dilemas relativos à propriedade da terra. Foram mantidos os piores preconceitos e privilégios de um panorama rural já anacrônico. Os espaços das cidades foram reduzidos a colagens de direitos individuais transcendentes e impositivos.

Acerca de “explosão urbana”, Dominique Gauzin-Muller (2011 p. 48) diz que a

explosão demográfica dos últimos cem anos é um fenômeno sem precedentes

na história da humanidade.

Por volta de 1900, apenas 14% da população mundial moravam nas cidades, ou seja, cerca de 200 milhões de pessoas. No início do século XXI, metade da população se concentra nas cidades. Para mais de 70% dos habitantes da União Europeia, a qualidade de vida já depende da qualidade do ambiente urbano. Porém, a principal explosão urbana que está por vir ocorrerá em países em desenvolvimento. O Banco Mundial prevê que, em 2025, 80% da população desses países viverão em cidades. Essa expansão galopante e não controlada provoca muitas vezes a destruição das terras cultiváveis, indispensáveis para assegurar a alimentação da população, dando origem a imensas favelas, que serão, para uma considerável parcela dos homens do planeta, a primeira e única experiência de vida urbana moderna. A explosão urbana é tal que, em trinta anos, o homem construiu o equivalente ao que havia construído em toda sua história. Estima-se que, nos próximos quarenta anos, será preciso construir mil cidades de 3 milhões de habitantes, principalmente nos países em desenvolvimento. Tal perspectiva dá um sentido concreto à necessidade de incluir a construção do mundo de amanhã em uma lógica de desenvolvimento sustentável. Os políticos e os profissionais dos países industrializados devem se questionar sobre a melhoria das condições de vida nas cidades onde impera a intolerância social, étnica e religiosa, o desemprego e a violência. O desenvolvimento sustentável deve ser conseguido no longo prazo, tendo em mente o custo humano e econômico de um fracasso social da cidade. Se hoje esse custo é impossível de avaliar, é evidente que os investimentos necessários para corrigir os efeitos nocivos visíveis nos países industrializados e controlar os que aparecem nos países em desenvolvimento serão consideráveis. E, quanto mais esperarmos, mais alto será o preço.

Carlos Santos (UFF, 2017a p. 26; negritos meus) imaginava que

existem várias lógicas em jogo quando se está tratando de enormes aglomerados metropolitanos [como é o caso da Metrópole Rio de Janeiro] que atendem a um sem-número de determinações externas e internas. Quando é tomado um setor determinado como é o caso dos transportes, tentar atender a um conjunto de razões significa anular as vantagens ou os interesses de outros tantos.

Para efeitos desta dissertação evidencio: mobilidade por rua ou avenida com

calçada pública; entrada e saída de pedestres e veículos por logradouro; mobilidade

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interna por corredores, elevadores social e de serviço, escada enclausurada, pátios e

demais áreas livres.

3.5.2 CONDOMÍNIO “EXCLUSIVO” E AMBIÊNCIA “PRIVADA” E COMUM

O que interessa mesmo é saber se as construções feitas suportam as respostas da prática, se se dá ou não a esta última o direito de dizer NÃO ao discurso interpretativo, elaborado à sua custa e à sua revelia. (UFF, 2017a p. 24; Carlos Nelson Santos; negritos e itálicos meus)

Em outro momento, como uma “resposta de prática” sem direito de dizer “não”

por cidadão como indivíduo “simplificado para homo economicus”, Carlos Santos

(UFF, 2017a p. 200; itálicos meus), na sua pele de arqueólogo, afirma que esse

indivíduo “será semelhante a todos que puderem pagar pelos mesmos bens e

consumi-los da mesma forma” e que “o problema passa a ser então como convencer

estas pessoas, potencialmente assemelhadas, a quererem as mesmas coisas”.

Assim, segundo Carlos Santos (UFF, 2017a p. 210; negritos e itálicos meus):

Condomínio Exclusivo será oferecido às classes ascendentes nas novas sociedades urbanas brasileiras. Após um longo hiato, voltam a aparecer as expansões urbanísticas para os de maior poder aquisitivo. O desenvolvimento das cidades tornou a terra desejável cara, quase proibitiva. Os núcleos congestionados e “com a lotação esgotada” oferecem condições de vida que não são mais compatíveis com as aspirações de certas camadas. O capital lhes oferecerá uma solução para os dois problemas; uma fórmula que permite acesso à propriedade e realização de um estilo de viver e de morar qualificado de “exclusivo” e “especial”.

Carlos Santos (UFF, 2017a pp. 210, 213; negritos e itálicos meus) prossegue

mostrando a feição racionalista de inércia histórica de urbano, pela qual

O morador do condomínio é “homogeneizado” antes mesmo de existir. Os especialistas projetam o seu gosto e preveem as suas atividades. Junto com o espaço, é vendida uma fórmula de vida urbana. É fácil constatá-lo, através dos prospectos de propaganda que prometem verde, lazer, segurança, ordem, conforto, subsídios práticos para o cotidiano, etc. etc., tudo racionalmente programado. Será um igual entre os da sua mesma classe (...) A proposição de classificar e separar espaços e funções para melhor controlá-los é típica da postura racionalista.

Carlos Santos (UFF, 2017a pp. 211-212; negritos e itálicos meus), acrescenta

a feição culturalista de inércia histórica de urbano, pois para Carlos

O condomínio é culturalista porque propõe, desde o início, um mundo fechado, com medidas automaticamente limitadas. Há uma população cuidadosamente prevista, impossível de ultrapassar, já que as construções são determinadas por regras prefixadas. O número de moradias condiciona a oferta de infraestruturas e dimensiona os equipamentos. Completando tudo, há um muro, uma cerca com entradas vigiadas. Em alguns casos, há senhas: cartões de entrada, identificação eletrônica, circuito interno. Em outros há toques de recolher, como nas pequenas cidades medievais autocontidas. Os grupos de população urbana, tornados

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poderosos pelo “milagre”, desejam ficar conspícuos. Querem a sua fronteira clara e bem expressa. O que os tornará diferentes é a volta de valores simples, incompatíveis com a grande aglomeração: paz, tranquilidade, segurança, silêncio. A “comunidade”, como se vê, é organizada como uma unidade de vizinhança, ou como um conjunto de unidades.

Enfim, condomínios exclusivos, horizontais ou verticais, são práticas urbanas

atuais onde residem pessoas, condôminos ou não, em “unidades de vizinhança

privada” ou em “conjunto unidades de habitação privadas”, mas também com

vida em áreas comuns de unidade de construção regidas por: Código Civil;

Convenção de Condomínio; Regimento Interno; Assembleia Geral de Condôminos;

Administração Condominial por Síndico. E dependentes de serviços de portaria, de

limpeza, de manutenção, de conservação ou de reparos patrimoniais, mais ou menos

complexos.

Carlos Santos (UFF, 2017b p. 183)

Fico pensando que “outros tipos de peste” estão entrando nos condomínios exclusivos e nos conjuntos habitacionais para pobres, seus opostos simétricos no espaço e na hierarquia social, mas seus iguais quanto à proposição. Guetos iguais.

Retrofit - Encaixando no “passado”

A realidade exibe uma estrutura racional e objetiva, difícil de descobrir. Poucos

estão dispostos a estudar, distinguir e analisar. "Modernismo ou uma causa comum"

incorpora a objetividade crítica que encontra critérios verdadeiros dentro do próprio

objeto. O modernismo é uma tensão histórica que pensa e age com um sentimento

de emancipação e felicidade para a humanidade. Ao contrário das culturas locais, o

modernismo é uma civilização única e internacional: "Nem o velho nem o novo;

apenas o que é necessário" (V.Y. Tatlin.). A arquitetura sempre esteve associada ao

poder; servindo o "Poder Sentado" e subjugando a ele. A arquitetura liberada desse

poder fez com que a Forma se ajustasse à sua própria identidade: seu método de

construção. Isso a liberou como infraestrutura territorial, como estrutura econômica e

como superestrutura ideológica. No final do século XX, o pós-modernismo tornou-se

mais uma fase dentro do modernismo imortal. Foi arquitetura vestida à moda dos

tempos. O que é novo pode ser descrito como Contemporâneo, quando somos

incapazes de sentir sua qualidade. Devemos distinguir entre Civilização e

Modernismo, que a arquitetura verdadeira e superior serve. Ser contemporâneo não

é o mais importante para um trabalho de arquitetura; o difícil é que se torne "moderno".

Apenas algumas centenas de projetos podem ser considerados "modernos", livres dos

sistemas de poder, e combatê-los com verdade, gentileza e beleza; porque ser

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moderno é uma questão de qualidade, uma questão de genuína autenticidade. A

escassa tradição valiosa existente se sustenta na civilização. (MIRANDA, 2010 p. 23)

Nem pastiche, nem originalismo: objetividade. Nem ilusão, nem superstição:

Ilustração. Nem culturas nem contraculturas: civilização. Nem classicismo, nem

romantismo: modernidade. Nem utilitarismo nem formalismo: multifunções. Nem

produtivismo, nem artistismo: Poética. Nem dogmatismo nem relativismo: Dialética.

Nem fascismo nem liberalismo: democracia. Contra a superstição do originalismo, a

escassa tradição valiosa é o único fundamento firme sobre o qual podemos caminhar,

seguir em frente. Essa tradição é civilização. Pelo contrário, o lastro cultural contém a

imensa barganha tradicional de todas as gerações mortas que - como diz Marx -

oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. (MIRANDA, 2010 p. 27)

Retroprofit - Encaixando o “futuro”

Mascaró et al (2009 pp. 13-131) abordam temas como clima em geral, clima

urbano, recintos urbanos, ruas e praças. Em seu prólogo Mascaró et al (p.7)...Em sua

introdução Mascaró et al (p.9)... Mascaró et al (p.193) concluem...

Mascaró et al (p.167) abordam também o tema de ambiência urbana hoje...

3.5.3 QUANDO “CASA” VIRA APARTAMENTO

Em Paris, não há casas. Em caixas superpostas vivem os habitantes da grande cidade (...) O número da rua, o algarismo [algarismos] do andar, fixam a localização de nosso “buraco convencional”, mas nossa moradia não tem nem espaço a seu redor nem verticalidade em si mesma (...) A casa não tem raízes. Coisa inimaginável para quem sonha com casas: os arranha-céus não têm porão. Da calçada até o teto, os cômodos se acumulam e a tenda de um céu sem horizontes encerra a cidade inteira. Os edifícios só têm na cidade uma altura exterior. Os elevadores destroem os heroísmos da escada. Já quase não há mérito em morar perto do céu. E o em nossa casa não é mais que uma simples horizontalidade. Falta aos diferentes cômodos um abrigo num canto do andar, um dos princípios fundamentais para distinguir e classificar os valores de intimidade. À falta de valores íntimos de verticalidade, é preciso juntar a falta de cosmicidade da casa das grandes cidades. As casa não estão mais na natureza. As relações da moradia com o espaço se tornam fictícias. Tudo é máquina e a vida íntima foge por todos os lados (...) E a casa não conhece mais os dramas do universo. Às vezes o vento quebra uma telha do telhado para matar um pedestre na rua. Esse crime do telhado só visa ao pedestre atrasado. O relâmpago põe fogo por um instante nos vidros das janelas. Mas a casa não treme sob o ribombar dos trovões. Não treme conosco e por nós. Em nossas casas grudadas umas às outras, temos menos medo. A tempestade sobre Paris não tem contra o sonhador a mesma capacidade ofensiva que contra a casa de um solitário. Compreenderemos isso melhor quando tivermos estudado (...) a situação da casa no mundo, situação que nos dá, de uma maneira concreta, uma variante da situação, com frequência tão metafisicamente resumida, do homem no mundo. (BACHELARD, 1978 pp. 214-215; A Poética do Espaço)

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Gilberto Velho (2011 p. 163)

O ponto que quero sublinhar é que, partindo do tema da habitação (...) desloquei o foco do meu trabalho antropológico para um universo social de que, de alguma forma, eu participava diretamente. Mesmo que soubesse que a permanência no prédio de conjugados era temporária, isso não nos distinguiria de modo tão nítido de outros moradores. É inegável que a nossa origem social nos ligava às camadas médias superiores. O nosso apartamento era decorado de um modo condizente com esses padrões, assim como o nosso estilo de vida em geral. Mas vivíamos ali, convivendo com pessoas não só de origem mais modesta, mas de estilos de vida muito diferenciados. Os desviantes tornaram-se outro objeto privilegiado de pesquisa. De certa forma, representavam um tipo de outro que contrastaria com a normalidade convencional de uma moralidade de classe média.

Carlos Santos (UFF, 2017b p. 82 e 83)

O atual conceito de habitat urbano está centrado na habitação, mas abarca todas as infraestruturas e serviços que façam a intermediação entre o morar individualizado (atividade de abrigo do grupo familiar) e o morar coletivo (inter-relações urbanas). A questão habitacional nas cidades latino-americanas tem dois pontos sensíveis: 1) a dificuldade de enquadramento nos padrões jurídicos oficiais, do que resulta ilegalidade; 2) a integração incompleta com o desenho urbano estabelecido, traduzida em irregularidade. Políticos e especialistas têm concordado que é preciso superar estas barreiras, propondo formas de morar que absorvam e ultrapassem as experiências tentadas até hoje (...) É preciso não pensar mais na habitação como produto definitivo.

Em “mundo natural” de coisas em “mundo percebido” por sentir em espaço de

ser humano, há “corpo próprio” deste - em algum “lugar de viver”, como casa ou

apartamento - que mantém espetáculo continuamente em vida, animando-o e

alimentando-o interiormente em “mundo humano” (dele e de outrem), de ser-para-si e

de ser-no-mundo.

O corpo próprio está no mundo assim como o coração no organismo; ele mantém o espetáculo visível continuamente em vida, anima-o e alimenta-o interiormente, forma com ele um sistema. Quando caminho em meu apartamento, os diferentes aspectos sob os quais ele se apresenta a mim não poderiam aparecer-me como os perfis de uma mesma coisa se eu não soubesse que cada um deles representa o apartamento visto daqui ou visto dali, se eu não tivesse consciência de meu próprio movimento e de meu corpo como idêntico através das fases desse movimento. Evidentemente, posso sobrevoar o apartamento em pensamento, imaginá-lo ou desenhar sua planta no papel, mas mesmo então eu não poderia apreender a unidade do objeto sem a mediação da experiência corporal, pois aquilo que chamo de uma planta é apenas uma perspectiva mais ampla: é o apartamento "visto de cima", e, se posso resumir nela todas as perspectivas costumeiras, é sob a condição de saber que um mesmo sujeito encarnado pode ver alternadamente de diferentes posições. Responder-se-á talvez que, recolocando o objeto na experiência corporal como um dos pólos dessa experiência, nós lhe retiramos justamente aquilo que faz sua objetividade. (MERLEAU-PONTY, 1999 p. 273; itálico no original)

Witold Rybczynski (1996 p. passim), abordando o tema “casa” como pequena

história de uma ideia, desenvolve ideia de “casa-conforto” ou “casa-lar” ou “casa-

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família”, em termos de: comodidade, que resulta de “privacidade”, “intimidade” e

“domesticidade”; bem-estar físico, que altera “comodidade” ao incluir o conceito de

“firmeza” – associado a “estrutura” e “estabilidade”; conforto, que resulta de

“comodidade”, “luz”, “ar” e “eficiência”; e bem-estar geral, resultante de “bem-estar

físico”, “encanto”, “luz”, “ar”, “eficiência”, “estilo”, “essência” e “austeridade”.

Finalmente, a supracategoria “habitabilidade” procede da classificação de todas as

categorias de “casa-lar”. Para efeito de “bem-estar geral”, não incluo “conforto”

porque esta duplicaria o uso de “comodidade” já inclusa em “bem-estar físico”. Por

isso, só considero os outros três elementos de “conforto”. Dessa forma, pode ocorrer

um “bem-estar geral” pior que um “bem-estar físico”.

Perante ideias da arquitetura de então, Rybczynski (1996 pp. 7-8) tentou

descobrir o “significado de conforto" e o "conceito de lar" ambos através da "pequena

história" de uma ideia de casa. Para isso, esse autor observou aspectos relacionados

a nostalgia, privacidade, intimidade, domesticidade, comodidade, encanto, bem-estar

físico, luz, ar, eficiência, estilo, essência, austeridade, conforto e bem-estar geral.

Porém, dado o processo de apropriação do lugar estudado neste trabalho, apenas

não foram observados aspectos referentes a “nostalgia”. Porquanto, segundo

Rybczynski (idem, p.16, 17, 23 e 26, 221), a nostalgia é o desejo por tradições ou por

hábitos e rotinas, num mundo caracterizado por mudanças e inovações constantes,

em que “o mundo moderno é deixado de fora”. E é também um “sinal de insatisfação

com o presente”, em que as pessoas se voltam para o passado porque estão

procurando algo que não encontram no presente: conforto e bem-estar. Ora, no

estudo de caso mais adiante, a nostalgia poderia ser quanto muito “uma aparência ou

sensação que produz satisfação ao lembrar ou imaginar, intencionalmente, um

passado histórico que, não existindo, é inventado para levar a fazer parte dele

(re)vivendo, no imaginário, o que gostaria de ter vivido”. Privacidade (idem, p.32, 38,

40, 48, 54, 117), retém-se a ideia de associar uma função específica a um só cômodo,

no qual se pudesse ficar a sós ou fazer atividades específicas - "privacidades". E a

existência de um mundo interno do indivíduo com forte consciência do próprio ser e

da família. Intimidade (idem, p.31, 51, 55, 59, 61 e 63), não se confunde aconchego

com arrumação da casa, mas reflete-se a ocupação e a marca do morador,

identificando a casa exclusivamente com a vida familiar. A intimidade é consequência

da consciência humana entendendo a casa como o "centro da vida familiar", de marido

e esposa como um casal, e a presença dos filhos na casa e sua educação pelos pais.

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É o atual conceito da casa de família ou casa-família ou casa-lar. Esse senso de

intimidade doméstica foi uma das mais importantes invenções humanas, pois não

afeta somente o ambiente físico, mas também a consciência das pessoas.

Domesticidade (idem, p.63, 75-76, 81-85), olha-se a arrumação, o cuidado e a

limpeza no interior doméstico de uma casa, ou no próprio entorno desta. É a

administração e o trabalho doméstico especializado, valorizando a praticidade na casa

como mundo das mulheres. A domesticidade é a "feminização da casa" como um dos

eventos mais importantes na evolução do interior doméstico. Mas é também um

conjunto de emoções sentidas e a "imposição de um código específico de

comportamento" num lugar de abrigo, sob o controle feminino e incorporador de

sentimentos de família, intimidade e devoção ao lar. Comodidade (idem, p.100), o

primeiro dos três conceitos da doutrina152 proposta pela primeira vez pelo romano

Vitrúvio, designa "conveniência e adequação". Significa também "conforto" muito

peculiar. Encanto (idem, p.100 e 109), o segundo daqueles três conceitos dessa

doutrina, refere-se ao que seja "puramente estético", trazendo à mente humana a

elegância e a beleza. Bem-estar físico (idem, p.41, 87, 117-118, 127-129), liga-se à

evolução da quantidade e distribuição funcional do interior da casa e seu entorno –

uma evolução iniciada na Idade Média da Europa, com a "casa grande" como "lugar

social". Mas remete efetivamente para a noção francesa de casa, que orientou o

pensamento europeu da época rococó. Nessa ocasião os cômodos começaram a ser

vistos como "um local para se realizar atividades humanas" e "estavam se tornando

um lugar" - e não mais como um artefato ou obra de arte ou "espaço bonito". Assim,

o bem-estar físico, "para se tornar um lugar", requer, no mínimo, uma combinação

moderna, simples, de "cômodos comuns", "cômodos privados para os membros da

família", "corredores para a circulação" e móveis com funções específicas, "elegantes

e úteis". Luz (idem, p.131-132, 138, 146-147, 148, 150 e 159), durante o dia,

transforma o interior sombrio das casas em ambiente iluminado naturalmente por

janelas em grandes peças de vidro claro. Ar (idem, p.131, 139, 141 e 145), passa a

circular e a ventilar naturalmente as casas, por janelas em molduras que correm

152 Doutrina que o arquiteto de Luis XV (Blondel, fundador da primeira escola de arquitetura de tempo integral na Europa) insistia que fosse considerada como base para a "arquitetura bem-sucedida". Em que o terceiro conceito é "firmeza" e refere-se ao que seja "necessário à estrutura". (RYBCZYNSKI, 1996 p. 100).

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convenientemente. E a qualidade do ar é medida pela complexidade dos fatores que

influenciam o conforto atmosférico no interior de uma casa: temperatura, umidade

relativa, circulação, ionização, poeira, odores, oxigênio e dióxido de carbono.

Eficiência (idem, p.156-157,162-163, 176-178), vincula-se à falta de energia que, no

século XIX, limitava fortemente a tecnologia doméstica e a tornava ineficiente -

principalmente a ventilação e o aquecimento no interior das casas, por não estarem

desenvolvidos de modo a não dependerem das forças da gravidade e de convecções

naturais. Mas, no início do século XX, a "nova administração do lar" e os princípios da

"engenharia doméstica" passaram a sugerir como cada aspecto do serviço doméstico

podia ficar mais eficiente (cozinhar, lavar roupa, limpar, fazer o orçamento e as

compras). Estilo (idem, p.111-113, 118-119, 182,184 e 186), apreciado durante algum

tempo153, torna-se "fora de moda" e depois é esquecido ou apenas lembrado pelos

livros de história. No século XX: inicialmente, continuou o fascínio pela ideia de "recriar

o passado" com os "estilos Luís", mas a intenção era adaptar a história à vida

contemporânea, e não o contrário; e, em meados desse século, com a arquitetura

pós-moderna, houve o interesse de recuperar estilos, mas raramente com precisão

histórica, um estilo contemporâneo cuja ideia era "brincar com a história". Quando o

que se precisa é de "um estilo doméstico mais íntimo" que reflita o "símbolo do calor

familiar", um "estilo de vida mais à vontade". Essência (idem, p.184-186, 197-198), o

calor familiar que emerge do conjunto de casa pequena, "charmosa", "pitoresca",

aconchegante e confortável - com cômodos planejados e decorados de acordo com

as necessidades e atividades a desenvolver neles. A "casa de família" é guiada pela

conveniência e pelas personalidades e hábitos da família - não "uma máquina para se

morar" nem guiada pela tradição. Austeridade (idem, p.210 e 221), tanto visual

quanto táctil, liga-se a uma arquitetura minimalista, de "paredes lisas" e "cômodos sem

decoração", num empenho de racionalização e simplificação. Conforto (idem, p.34-

36, 133, 129, 223, 227, 230, 235-236), passa a incluir não somente o "encanto visual"

e o "bem-estar físico", mas também a "utilidade". E passa a ser considerado

"calmante", a parecer "natural" e a ser "cuidadosamente arquitetado". A noção de

153 O "tempo normal" é cerca de 50 anos, mas não se pode falar exatamente de "estilos de época" até o século XVIII - apesar da decoração de inspiração clássica refletir um apreço pelas culturas gregas e romana, não havia um precedente histórico para os interiores barrocos e, muito menos, para os do rococó que, em 1770, já haviam saído de moda e sido substituídos pelo neoclassicismo que tentou conscientemente recriar o estilo da Roma Antiga. (RYBCZYNSKI, 1996 pp. 46-47)

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conforto não deve ser confundida com a aparência externa dos cômodos (decoração

- um produto da moda) nem com o modo como esses cômodos são usados

(comportamento social - função de hábitos e costumes). Deve-se olhar o passado

levando em consideração a própria noção de conforto - não de um ponto de vista

estilístico -, repensando-se as tradições burguesas de conforto ao fazer uma crítica

implícita à modernidade, mas sem rejeitar a mudança. O conforto: não é o sentir-se

bem em termos de fisiologia humana ou de experiência subjetiva de satisfação; nem

é descoberto cientificamente, ao se medir os limites onde as pessoas começam a

sentir desconforto, como "uma condição em que se evitou o desconforto". O conforto

é uma invenção verbal ou um conceito cultural, ao mesmo tempo, simples e complexo,

que inclui diversas camadas transparentes de sentidos, como privacidade, bem-estar,

conveniência. Alguns mais profundos que os outros, conforme o contexto social

histórico154, que reagem a diversas forças externas - sociais, econômicas e

tecnológicas-, mas preservando a maioria de seus significados anteriores. Assim, em

qualquer época, o conforto é uma sensação que consiste em todas as camadas, não

só as mais recentes. E envolve uma gama de atributos (conveniência, eficiência, lazer,

bem-estar, prazer, domesticidade, intimidade e privacidade), bem como uma

combinação de sensações físicas, emocionais e intelectuais. Sem o conforto, as casas

realmente serão máquinas em vez de lares. Bem-estar geral (idem, p.223-224, 226-

228 e 236), dado pelo bem-estar doméstico como uma necessidade humana

fundamental155 profundamente enraizada nas pessoas. Uma necessidade que precisa

ser satisfeita mediante um "interior doméstico" que revele sensações de

domesticidade aconchegante - materiais simples, janelas do tamanho certo no lugar

certo, móveis embutidos e móveis práticos e confortáveis, incorporação de nova

tecnologia às casas, sem sacrificar os confortos tradicionais. Sensações de

privacidade, como gradação planejada, mas irregular, dos cômodos, de uma série de

pequenos lugares para sentar, e de lidar com a conveniência e eficiência sem criar

154 A noção de conforto tem-se desenvolvido historicamente: no século XVII, conforto significava privacidade, o que levou à intimidade e, por sua vez, à domesticidade; no século XVIII, o conforto passou a enfatizar o lazer e o bem-estar; no século XIX, o conforto passou a estar associado à mecânica para obter luz, calor e ventilação; no século XX, as "engenheiras domésticas" enfatizaram a eficiência e a conveniência. (RYBCZYNSKI, 1996 p. 235) 155 Na casa medieval europeia havia a combinação entre o primitivo (nível de civilização primitivo e pré-cristão, cheiro de sangue) e o refinado (nível de civilização cortês e religioso, cheiro de rosas). (RYBCZYNSKI, 1996 pp. 46-47)

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uma atmosfera fria e maquinal156. Sensações de intimidade, em que o "plano aberto"

não deve "fluir" de um cômodo para o outro, para que não "fluam" também o que se

vê e o que se ouve; ao contrário, o que se precisa é de muito mais cômodos pequenos

para se adequar a ampla variedade de atividades de lazer na "casa moderna". O bem-

estar doméstico é muito importante por ter sido sempre uma questão da família e do

indivíduo.

Carlos Lemos (1996), repensando uma história de casa brasileira, aborda o

tema “casa” e, depois de analisar a presença de “casa portuguesa” (pp.13-17),

sincretismos inevitáveis (pp.18-20), “casas coloniais” (pp.21-43), “casas do século

XIX” (pp.44-53) e “casas do século XX” (62-76), escreve sobre “apartamento”.

Sobre “casa”, Lemos (pp.9-10) assinala: função básica de casa é “função

abrigo”, pois casa tem que ser entendida como invólucro seletivo e corretivo de

manifestações climáticas, enquanto oferece mais variadas possibilidades de

proteção; “programa de necessidades” que detalha atos e expectativas de destinatário

em relação a “funções de habitação” com dependências compartimentalizadas

em três agrupamentos referentes a atividades humanas ligadas a lazer, repouso

noturno e serviços em geral – em que ato de projetar casa é interdisciplinar e

aspectos antropológicos são fundamentais.

Sobre “apartamento residencial”, Lemos (1996 pp. 77-81) assinala: sua

relação com processos de verticalização de grandes cidades, onde adensamento

populacional interfere em sua definição por variadíssimas expectativas programáticas

normais em sociedade fatalmente heterogênea; sua evolução baseia-se em

manipulação de variados “programas de necessidades” por promotores ou

incorporadores, que se regem mais por leis de mercado imobiliário do que por “usos”,

“costumes” e “anseios” próprios de determinado quadro cultural; em cidades em

processo de metropolização, resultam edifícios cujas plantas não participam de um

continuum; e sua breve história divide-se em três períodos (“fase heroica”, “boom

imobiliário” e “etapa inflacionária”). Na “fase heroica”: o apartamento penetrou na vida

brasileira através de sua aceitação pela classe média e, só depois, pela classe alta;

no fim da década de 1920, já eram comuns prédios de apartamentos, de muitos

156 Como a conveniência e a eficiência de ter as ferramentas descobertas em lugares acessíveis, próximas de onde o trabalho é realizado - não escondidas debaixo das bancadas ou em armários fundos e difíceis de alcançar. (RYBCZYNSKI, 1996 p. 228)

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andares, acessíveis por escadas e por elevadores importados; os primeiros edifícios

de apartamentos tiveram suas plantas norteadas por pela ideia de empilhar, em um

mesmo terreno, várias casas, todas iguais entre si, mas confortáveis e isentas de

promiscuidade que pudessem sugerir ao conjunto de moradias a pecha de

encortiçamentos; apartamentos amplos e cômodos, como se fossem realmente a

solução ideal, casa nobre, no coração da cidade, com circulações definidas, a social

e a de serviço; construções particulares para alugar suas unidades autônomas;

segregação de empregadas domésticas e de fornecedores, tornando o Brasil o

primeiro e único país a possuir edifícios com essa precaução separadora de

circulações, uma exclusividade nacional; em 1942 a “Lei do Inquilinato” congelou os

aluguéis e, junto com o início da II Guerra Mundial, o número de construções

diminuiu drasticamente, principalmente edifícios de concreto armado, o que

agravou muito a questão habitacional ligada à classe média. No “boom

imobiliário”: aceleração de processo de verticalização de cidade; popularização da

figura do condomínio, com vendas antes do início de obras; aparecimento de

“apartamento mínimo”, com planta reproduzindo quarto de hotel; a classe média era

mais que receptiva a “programa compacto” caracterizado por superposição “estar-

repouso”; a seguir vieram apartamentos de dois a cinco dormitórios e várias

salas, com predominância de apartamentos de dois dormitórios. E a “etapa

inflacionária” que pouco difere da anterior, mas nela: desestímulo de cooperativismo

para dar vida a grandes empreendedores ligados a poderosas instituições

financeiras; privilegiados grandes apartamentos para classe média alta; questão de

segurança de família em dias de medo e pânico; início de compreensão coletiva

de importância de “verde”, com a palavra “ecologia” entrando em vocabulário de

todos, provocando a saída de novos empreendimentos para fora de antigos

perímetros urbanos de alta densidade demográfica e opressiva poluição atmosférica;

edifícios não mais grudados uns nos outros, mas cercados de verde por todos

os lados, com apartamentos de três ou quatro suítes e três ou quatro boxes para

carros no subsolo, plantas de perímetros sinuosos cheios de reentrâncias e

saliências gerando cômodos delimitados por ângulos ocultos, profusão de

latrinas e chuveiros para classe pós-revolução militar cujo êxito se mede através de

metros quadrados de azulejos gastos em relação a áreas construídas.

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3.5.4 QUANDO CASA VIRA “PATRIMÔNIO”

Flávia Brito do Nascimento (2016 pp. 181, 182, 221, 222 e 237), citando Márcia

Chuva157, focando documentos de cultura - particularmente, “nexos entre história

operária e patrimônio” de vilas e congêneres -, de “condôminos de patrimônio” entre

comunidades e ambientes, para novos tombamentos sob novos dilemas -, diz que

“A ideia de que a manutenção do patrimônio cultural deve estar acompanhada da diversidade de usos, dentre os quais a moradia, é frequentemente citada por gestores, especialistas, estudiosos e interessados. (...) A ampliação da noção de patrimônio atinge um leque mais amplo e diversificado de bens para muito além da perspectiva da identidade nacional unívoca. Nesse borbulhar de transformações em que tudo era patrimônio, de bondes a pedras, de mercados a terreiros de candomblé, se dá a inclusão de programas arquitetônicos diferenciados. O papel central dos espaços urbanos e de suas ambiências e mesmo o alargamento da compreensão do que é entorno dos bens tombados permitiram que arquiteturas não monumentais fossem incluídas na lista de bens tombados pelo Iphan158. As formas históricas de morar tornaram-se exemplo dos processos de transformação urbana das cidades brasileiras e dos diversos períodos econômicos, como o da industrialização (segundo a visão corrente da historiografia da arquitetura vinculada à economia). (...) O processo de patrimonialização esteve também informado pela voga de pesquisas sobre o habitar proletário que inundou a academia nos anos 1980”.

Do “tombo” do globo, via navegação marítima de “descobridores” - que

“tombaram” os habitantes locais – e, recentemente, via navegação em “nuvem”,

passando pelo “tombo” de edificações e cidades do período colonial e o “tombo” de

edificações “modernas”, o que fazer para que “unidade habitacional” em “unidade

de vizinhança” e em “unidade de habitat” seja mantida, protegida, preservada,

conservada, restaurada ou atualizada com “espírito de moderno”, para que não se

extinga um “patrimônio de morar” nem tombe em “pauta musical” já tombada?

Cesare Brandi (2004 pp. 25-27), em sua teoria da restauração, para efeitos de

conceito de restauração, distingue “obras de arte” de outros artefatos humanos.

Em geral, entende-se por restauração qualquer intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto de atividade humana. Nessa concepção comum do restauro, que se identifica com aquilo que de forma mais exata deve denominar-se esquema preconceitual, já se encontra enucleada a ideia de uma intervenção sobre um produto da atividade humana; qualquer outra intervenção, seja na esfera biológica seja na física não entra, portanto, sequer na noção comum de restauro. Assim sendo, no progredir do esquema preconceitual de restauração ao conceito, é inevitável que a conceituação ocorra com referência à variedade dos produtos da atividade humana a que se deve aplicar a específica intervenção que se chama restauro. Ter-se-á, portanto, uma restauração relativa a aos

157 Márcia Chuva, “Ofício do Historiador: Sobre ética e Patrimônio cultural”, 2008, pp.36, 37 e 39. 158 IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

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manufatos industriais e uma restauração relativa às obras de arte; mas, se a primeira acabará por tornar-se sinônimo de reparação ou de restituição de um estado anterior, a segunda disso se diferenciará, não só pela diversidade das operações a serem efetuadas. Na verdade, quando se tratar de produtos industriais – entendendo-se isso na mais ampla escala, que parte do mais diminuto artesanato -, o escopo da restauração será evidentemente restabelecer a funcionalidade do produto, estando, por isso, a natureza da intervenção de restauro ligada de forma exclusiva à realização desse fim. Mas, quando se tratar, ao contrário, de obra de arte, mesmo se entre as obras de arte haja algumas que possuam estruturalmente um objetivo funcional, com as obras de arquitetura e, em geral, os objetos da chamada arte aplicada, claro estará que o restabelecimento da funcionalidade, se entrar na intervenção de restauro, representará, definitivamente, só um lado secundário ou concomitante, e jamais o primário e fundamental que se refere à obra de arte como obra de arte. Revelar-se-á, então, de pronto, que o produto especial da atividade humana a que se dá o nome de obra de arte, assim o é pelo fato de um singular reconhecimento que vem à consciência: reconhecimento duplamente singular, seja pelo fato de dever ser efetuado toda vez por um indivíduo singular, seja por não poder ser motivado de outra forma a não ser pelo reconhecimento que o indivíduo singular faz dele. O produto humano a que se volta esse reconhecimento se encontra ali, diante de nossos olhos, mas pode ser classificado de modo genérico entre os produtos da atividade humana, até que o reconhecimento que a consciência faz dele como obra de arte, excetue-o, definitivamente, do comum dos outros produtos. Essa é, sem dúvida alguma, a característica peculiar da obra de arte, quando não questionada na sua essência e no processo criativo que a produziu, mas quando começa a fazer parte do mundo, do particular ser no mundo de cada indivíduo. Tal peculiaridade não depende das premissas filosóficas de que se parte, mas quaisquer que sejam, deve ser de pronto evidenciado, apenas, que se aceite a arte como um produto da espiritualidade humana. Isso não deve levar a crer que se deva afastar de uma concepção idealista, porque mesmo pondo-se em seu polo oposto, em um ponto de vista pragmático, é igualmente essencial para a obra de arte o seu reconhecimento como obra de arte.

3.6 TOPO DE “VIVER” EM ECONOMIA “COMUM”

Em sua abordagem sobre “infinito, universo e mundos” (BRUNO, 1978)

Por sua vez, em sua abordagem sobre “mundo complexo” (WINNER, 1981)

(HALLACK, 2011)

Topologia Geral

Espaços métricos

Espaços normados

Espaços com produto interno

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EUTOPIA159 é um “espaço exterior” materializado em lugar de bem-estar ideal.

Um lugar idealmente perfeito, especialmente em seus aspectos “sociais” (inclui os

econômicos, os arquitetônicos e os urbanos), “políticos” e “morais” (adjacentes a

ética), mas com aspiração prática. Um topo de “viver” e “topo” viver160 percebido como

sendo suscetível de realizar valores e aspirações locais orientados por utopia e

fugindo de distopia.

Em termos de Ambiente Hostil em Espaço-Tempo Contínuo (AHETC), Harsanyi

e Kennedy (1992 p. 1; tradução livre) abordam capacidades ou potencialidades de

“nacionalismo” entre utopia e distopia.

A utopia tem sido usada para se referir a uma ideia, uma coisa para se sonhar, uma visão transcendente projetada para substituir um presente insatisfatório. Muitas vezes, essas visões têm como objeto de transcendência sociedades inteiras, cujo núcleo é fundamentalmente imperfeito, e que deveria ser substituído pela operação utópica161. A utopia é, portanto, uma forma de crítica que contém uma esperança de mudança prática. A distopia só pode existir com a utopia: a distopia é a requerida utopia que deu errado. Ela [distopia] é projetada para fazer o presente normativo162 parecer uma alternativa melhor para o que a utopia promete. Ao sancionar este presente estado de coisas, a distopia desencadeia os poderes da imaginação negativa, da mesma forma que a utopia desperta possibilidades mais generosas na imaginação humana. Utopia e distopia conotam um estado de capacidades [ou potencialidades] de “nacionalismo” proteicas. Elas parecem instáveis em relação uma à outra, em que uma tende a envolver a outra. Elas constantemente geram seus opostos, abrigando uma relação dialética entre si, mesmo sem produzir síntese. As visões distópicas só podem emergir da crítica das utópicas, mas as visões distópicas também romantizam o presente, dando ao momento presente uma qualidade eutópica, ou normativamente desejável. A distopia é,

159 Eutopia (grego eu, bem + grego topos, lugar + -ia) - Espaço exterior materializado percepcionado como suscetível de realizar os valores e aspirações locais. Extraído de "eutopia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/eutopia [consultado em 23-05-2019]. 160 Aqui “topo” é tempo de verbo “topar” em seu sentido de “aceitar”. 161 “É claro que existem muitas comunidades utópicas do tamanho de aldeias ou pequenas cidades, do Kibbutz aos Shakers, mas não queremos nos referir a tais experimentos na reconstrução da vida a nível face a face. Nossos comentários são principalmente dirigidos ao nível "societal" das nações e seus estados, em grande parte como as visões mais importantes do nacionalismo, liberalismo e socialismo foram dirigidas neste século.” (HARSANYI, et al., 1992 p. 1; tradução livre). 162 “Dizemos presente normativo para distinguir as condições reais da "normalidade" que deveria existir era o projeto utópico não engajado. Esta distinção é importante introduzir para levar em conta aqueles escritores (por exemplo, Eugene Zamyatin e George Orwell) criticando o distópico presente nas sociedades lideradas pelos comunistas com base em um presente imaginário "normal", embrionário na libertação das sociedades de seus opressores distópicos. O nosso trabalho é uma exploração da relação instável entre a utopia, a distopia e a eutopia, dentro de um contexto regional específico onde a potencialidade das visões alternativas é mais desenvolvida.” (HARSANYI, et al., 1992 p. 1; tradução livre). 162 Kovačević considerou: “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley; e "1984", de George Orwell.

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portanto, vista também como "anormal", tornando a normalidade não apenas extensiva, mas também boa.

Chintan Ambalal Mahida (2011 p. 1; tradução livre) aponta para “futuro

distópico na ficção científica contemporânea”.

Um simples equilíbrio entre fato e ficção em termos de ciência e tecnologia abre o caminho para as faculdades imaginativas da mente humana. Uma ficção científica é uma bela teia, entrelaçada de tal maneira que pode entreter de um lado e despertar a imaginação criativa do outro. No século XX, a Ciência entrou na ficção geral e no drama de várias formas. Escritores como Mary Shelly, H.G.Wells, Ray Bradbury, Isaac Asimov e Robert Heinlein são os pioneiros da escrita de ficção científica. A ficção científica é geralmente uma história de sociedades futuras em que o impacto da ciência e da tecnologia sobre a humanidade é um tema importante dela. “Utopia” e “Distopia” são dois mundos imaginários que foram adicionados na ficção científica como um instrumento de grande significado filosófico e social. Distopia em ficção científica apresenta uma visão negativa do futuro da sociedade e da humanidade. Os trabalhos utópicos tipicamente esboçam um futuro em que a tecnologia melhora a vida cotidiana dos seres humanos e avança na civilização, enquanto os trabalhos distópicos oferecem uma visão oposta (...) para analisar elementos distópicos em textos de ficção científica contemporâneos (...) Tomei alguns notáveis romances distópicos como “Brave New World” (“Admirável Mundo Novo”) de Aldous Huxley, “1984” de George Orwell, “We” (Nós) de Zamayatin e “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury. Entre todos esses romances, “Admirável Mundo Novo” representa o exemplo ideal do mundo distópico.

Slavica Kovačević (2013 p. 3; tradução livre), após análise específica de dois

gêneros de literatura163 que exploram estruturas sociais e políticas, explica ideia de

sociedade futurista que tem efeito alarmante de desumanização entre sociedade que

possui valores perfeitos (utopia164) e sociedade fictícia que é podre e aterrorizante

(distopia165): desumanização em Admirável Mundo Novo166. E Kovačević (ibidem) cita

o "The Oxford Companion to English Literature"

O nome "Utopia" ("nenhum lugar"), cunhado por More, passou para o uso geral e foi usado para descrever, retrospectivamente, a República de Platão, e muitas outras ficções, fantasias e esquemas para o futuro. A palavra "Distopia" ("lugar ruim") foi cunhada para descrever visões de pesadelo do futuro, como "Admirável mundo novo" de Huxley e “1984”, de Orwell, nas

163 Kovačević considerou: “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley; e "1984", de George Orwell. 164 Este termo foi usado pela primeira vez em grego para descrever a República de Platão. Durante o século XVI, Sir Thomas Moore escreveu um livro com o mesmo nome Utopia. Utopia é um composto da sílaba ou-, que significa “não” e topos que significa “lugar”, sugerindo que não existe tal lugar. Hoje esse conceito é usado na literatura para descrever a sociedade perfeita. (KOVAČEVIĆ, 2013 p. 3; tradução livre) 165 É o contrário da utopia. A palavra vem da palavra grega antiga dys-, significando “ruim” e topos-, significando lugar. Nesta sociedade as pessoas são desumanizadas e vivem em constante medo do governo. A sociedade distópica é privada de qualquer contato com o mundo natural. (KOVAČEVIĆ, 2013 p. 3; tradução livre) 166 No original: “Dehumanization In Brave New World”.

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quais tendências sociais, políticas e tecnológicas atuais são projetadas de forma extrema e desagradável.

Slavica Kovačević (2013 p. 8; tradução livre), conclui que

Esses romances tratam também dos efeitos dos avanços da ciência e tecnologia na sociedade humana. As pessoas perdem partes de si mesmas e, às vezes, nem sabem disso. Eles perdem a peça que faz deles quem eles são, sua humanidade e isso é tudo por causa do controle social totalitário, que obviamente é desumanizante. Em Orwell's 1984 e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, é visto que o controle social totalitário é de fato desumanizador. Huxley temia que nossa sociedade se tornasse inescrupulosamente doente, cheia de orgias, abuso de drogas e sexo dispensável. Orwell temia que nossa sociedade fosse governada pelas máquinas e pela alta tecnologia. Orwell estava ansioso com o medo e acreditava que seria o que nos arruinaria. Huxley se preocupou com o desejo e acreditou que nosso fim depende disso.

Ashraf Abdelbaky (2016 p. 1; tradução livre), “balançando” entre “Mundo

Perfeito” e “Mundo Opressivo”, faz estudo crítico de “utopia” e “distopia” como

subgêneros de ficção científica e em sua sinopse afirma:

Eu investigo o conceito de utopia e distopia na literatura desde o tempo de Platão e Thomas More e como se tornou um subgênero significativo de ficção científica (...) Eu enfatizo a função da ficção científica como uma ferramenta literária para descrever o quadro sombrio e as fraquezas das sociedades atuais, as distopias, e fornecer um aviso para o futuro dessas sociedades, apresentando sociedades alternativas pacíficas; utopias. Portanto, procuro investigar como os escritos utópicos desempenham um papel central na descoberta das deficiências das sociedades e na apresentação de uma crítica formativa em relação a elas.

Christopher Alexander, em quatro volumes para sua obra-prima The Nature Of

Order (2002-2005) dá ideia de que pessoas devem projetar casas, ruas e

comunidades para si mesmas, e destaca três perspectivas vitais em nosso mundo:

científica; beleza e graça; nossas intuições e nosso senso comum sobre vida

cotidiana. E Christopher Alexander (2006 pp. 1-2; itálicos no original; tradução livre)

diz que:

(...) ainda não encontramos modelo no qual possamos entender coisas em geral, um caminho sadio que seja tanto enraizado de fato, decifrado por esforço científico, como também nos dê base para pensamento e ação moral e cotidiana. Como resultado, para ser franco, não sabemos quem somos. Nós dificilmente podemos agir sem nos debater moral ou emocionalmente. Muitas vezes encontramo-nos em maior dor, porque coisas não se mantêm juntas. Não podemos encontrar imagem confortável de nossas ações diárias em relação a todo maior do planeta Terra e de universo. Em Natureza de Ordem, trabalho de quatro volumes escritos principalmente nos 30 anos de 1975 a 2005, tentei construir imagem coerente de vida no planeta Terra, que desse sentido a esses assuntos, e nos dá algo pelo que viver, e vale a pena viver (...) Primeiro, embora o livro seja muito longo, ele é modesto em intenção e lida com algo tão comum que a maioria das obras científicas nunca o toca, a saber: o mundo cotidiano ao nosso redor, o mundo dos quartos,

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ruas, casas e árvores (...) continuamente tenta descrever nosso mundo cotidiano em termos objetivos, mas, ao mesmo tempo, lida com mundo emocional que esse objetivo, mundo comum, suscita em todos nós. É uma exploração do modo como nós sentimos, criaturas emotivas interagindo com nosso entorno, e da maneira como essa interação leva-nos a compreender a nós mesmos e a natureza de nossas vidas, e, em última análise, até mesmo a entender, em parte, a natureza de nossas próprias almas. No curso dessa exploração e em seu coração, há linha de argumento lógica e empírica, que pode ser vista como núcleo de meus quatro livros, e que estabelece a necessidade de nova visão de nós mesmos em relação ao mundo. Essa visão nutre (e, se aceita, pode se tornar a base de) novo tipo de esperança - esperança que é ainda mais profunda porque une conhecimento da filosofia, ciência e religião, e nos ajuda a experimentar inteireza de um todo. Poderia até mesmo lançar luz sobre a forma como a totalidade ocorre no universo, de maneira suficientemente concreta, que poderíamos encontrar ajuda para lidar com a questão de Deus, e a natureza desse conceito, que foi explorado persistentemente nos últimos 2.500 anos; ainda permanece envolto em mistério e confusão. Pode até dar-nos um caminho para nosso próprio acesso a esse mistério, ainda que expresso em termos aceitáveis e concretos de referência científica.

Christopher Alexander (2006 pp. 2-11; negritos no original; tradução livre)

resume seus argumentos em cada um desses quatro livros:

Book 1: The Phenomenon of Life [O Fenômeno de Vida], resultados que resumem 30 anos de observação e experimento. Book 2: The Process of Creating Life [O Processo de Criar Vida], enfocando a lógica estabelecida. Book 3: A Vision of a Living World [Uma Visão de um Mundo Vivo], descrições de casos reais. Book 4: The Luminous Ground [O Chão Luminoso], algo dentro de espaço e de matéria pode ser despertado por presença de configurações apropriadas.

Carlos Santos (UFF, 2017b p. 190; itálico no original)

A maioria dos brasileiros não dá a menor atenção ao lugar onde vive. Tal desinteresse, ainda explicável pelas rupturas causadas nos cem últimos anos, dominados por um processo de urbanização inédito, é de se lamentar. Através de relações diretas e imediatas com seu entorno e sua vizinhança, o indivíduo pode ver e entender o resto do mundo. Assim, será capaz de ver e entender a si mesmo e se dispor a desempenhar papéis ativos. A experiência da vida urbana deveria ser, também, uma espécie de aprendizado que levasse as pessoas a se tornarem habitantes próprios e apropriados, ou, em outras palavras, que as tornassem cidadãos e políticos (membros participantes da assembleia da polis).

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3.6.1 TEMPO-ESPAÇO-TEMPO “TOPOLÓGICO”

Figura 43- Diagrama de “Idades de Espaço”

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 14 de maio de 2019

Bruno Zevi (1996 pp. 53-135) -várias idades do espaço (fig.44 abaixo)

Em tempo-espaço de (trans)culturalidade (inter)nacional, mas mais

especificamente relacionado a arquitetura (e urbanismo), recorto aqui alongamento

temporal em espaço topológico “dado” antropologicamente: Brasil. Para tanto, valho-

me de Paulo Ferreira Santos167 (1981 p. 13) que, vivendo de 1904 a 1988, descreveu

167 Não existe bibliografia básica referente à arquitetura moderna no Brasil que não inclua Quatro Séculos de Arquitetura de Paulo Santos. Há tempos esgotado, o compêndio de arquitetura carioca é a obra mais conhecida de um arquiteto de perfil muito específico na nossa historiografia, cuja contribuição como historiador soma-se à não menos extensa práxis projetual e construtiva. Celebrado como pesquisador e historiador a ponto de ter sido comparado por Lucio Costa a Robert Smith, Germain Bazin e Mário Chico,1 o carioca Paulo Ferreira Santos (1904-1988) teve atuação relevante também como arquiteto de prancheta e empresário da construção. Em 1926 concluiu a Escola Nacional de Belas-Artes na chamada "turma dos 5 Paulos": com ele estudaram Paulo Camargo, Paulo Antunes Ribeiro, Paulo Candiota e Paulo Pires. Com este último formou, no ano seguinte, a "Pires & Santos S.A.", empresa de projetos e construções até hoje em atividade no Rio e responsável a partir dos anos 30 por uma extensa lista de obras na cidade, dentre as quais o Instituto Militar de Engenharia, a Escola Central do Senai, vários dos edifícios que deram feição à avenida Presidente Vargas, além de mais de uma centena de casas e edifícios residenciais, hotéis e hospitais, fábricas e clubes. Extraído

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ema herança de quatro séculos de arquitetura no Brasil, afirmando ISTO: “Como na

História Política, a da Arquitetura da Cidade pode ser dividida em três períodos:

COLONIAL, IMPERIAL, REPUBLICANO”. Santos (idem, passim) destaca, no período

colonial: arquitetura militar; arquitetura religiosa; e arquitetura civil, com medidas

edilícias e urbanísticas. No período imperial, Santos (ibidem) separa: transferência da

família real e sua corte de Portugal para a cidade do Rio de Janeiro; cidade imperial;

cidade da independência até final do século XIX; arquitetura do neoclassicismo

(características e edificações); arquitetura do romantismo; e arquitetura do ecletismo.

E, no período republicano, Santos (ibidem) subdivide este em décadas: de 1900 a

1910 - arquitetura na Avenida Central - hoje, Av. Rio Branco – com variedade de

estilos - arquitetura do neogótico, arquitetura de estilos orientais, banimento do

colonial e arquitetura do art noveau; de 1910 a 1920 - técnica de transição (os artífices)

e máquina anula o homem; de 1920 a 1930 - Luiz XVI e estilos classicizantes,

arquitetura neocolonial (raízes, concursos de projetos, apogeu e saldo positivo) com

penetração de estilos hispânicos, reformas de casas coloniais e constantes de

sensibilidade; arquitetura segundo o Movimento Moderno (Agache, Le Corbusier); da

Revolução de 1930 à Eclosão do Movimento Moderno – “revolução de 1930”,

arquitetura moderna (em primeira fase) com primeiros ensaios da nova arquitetura,

“urbanismo” e congregação de arquitetos, (em segunda fase) no trabalho, na

intimidade, projetos de Le Corbusier e doutrina “razões da nova arquitetura”, (em

terceira fase, de 1938 em diante), superação de ortodoxia funcional e regularidade

geométrica de traçados rumo à procura de liberdade formal, numa incorporação de

novas ideias que, numa interpretação mais livre, enriqueceram, sem as destruir ou

deformar, as que se tinham afirmado como novidade na segunda fase da arquitetura

moderna, e aos slogans “racionalismo” e “funcionalismo” acrescentaram-se “intenção

plástica” e “qualidade plástica”. Ainda segundo Santos (1981 p. 14)

A década de 1920-1930, do Pós-Guerra, foi também para todo o Ocidente uma fase de renovação à procura de rumos. Na arquitetura, toda a América procurou renovar-se seguindo dois caminhos: um voltado para o passado, o Neocolonial; outro para o futuro, o Moderno, que acabaria por prevalecer. A arquitetura do Rio de Janeiro – porque no Brasil foi aqui, com arquitetos daqui, que a reviravolta se deu – rapidamente vai situar-se: não mais subserviente a Portugal, como no período Colonial; não mais subserviente à França, como

de http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/92/a-historia-entre-os-modernos-24381-1.aspx, em 19/05/2019.

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no período Imperial; mas dona de seus próprios destinos, no primeiro plano da arquitetura universal.

Josep Maria Montaner168 (2001 p. 7), considerando já pertencente à história o

período de vanguardas e suas imediatas consequências do Movimento Moderno,

decidiu partir desta permissa singular: “tratar da arquitetura da segunda metade do

século XX, ou seja, daquilo que é produzido a partir de 1945, depois da segunda

guerra mundial”. E dividiu essa “metade” em três [sub]períodos

As continuidades e revisões que aconteceram entre 1945 e 1965; a eclosão da consciência de uma nova situação, entre 1966 e 1977, que se autodenominou “pós-moderna” e que dispôs de métodos próprios; e as diversas posturas, divergentes e atomizadas, da arquitetura dos últimos anos, entre 1977 e 1992.

Montaner (ibidem) prossegue dizendo que cada um desses períodos tem

coerência interna própria - que requer leitura e distância crítica diferente – adquire

identidade própria.

Os anos imediatos, posteriores à guerra, que já formam parte de uma história suficientemente distante, mas ainda especialmente confusa, e que estão sobretudo dentro da dicotomia de continuidade ou ruptura; os anos sessenta, que geram uma série de propostas metodológicas e de alguma maneira seguem influindo na atualidade, já podem ser vistos com certa distância temporal e crítica; e a mais imediata atualidade, desde o final dos anos setenta, um período recente, de enorme diversidade e predomínio das individualidades, cuja análise requer maiores riscos por sua proximidade e sua própria desordem interna.

E Montaner (ibidem) acrescenta que seu esquema explicativo desenvolve-se a

partir de ideia de “postura arquitetônica” no sentido de descobrir quais são as regras

formais, tecnológicas, políticas e éticas que cada arquiteto segue e esclarecer se

predomina vontade de continuidade de tradição ou constante reinvenção.

(...) tudo isto pode permitir que se desvende quais são as normas para elaboração de conceitos e teorias. Isto significa que podem ser estabelecidas similitudes e diferenças relacionadas com as concepções arquitetônicas dominantes, para constatar se as diferentes atitudes relacionadas ao projeto, à relação com o lugar e o entorno urbano, à estrutura espacial adotada, aos materiais utilizados, ao uso de ornamentação ou não, à ideia desenvolvida de usuário etc., podem ser agrupadas em diversas posturas que mantenham uma coerência interna e que continuem, sintetizem ou se oponham às tradições culturais existentes.

Em termos de CONTINUIDADE OU CRISE, Montaner (2001 pp. 11-108)

aponta: 1) “o despertar de uma primeira evolução” (1930-1945), que inclui a

168 Catedrático Departamento de Composición Arquitectónica Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona.

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exposição “O Estilo Internacional” (1932), missão da segunda geração do Movimento

Moderno, retrocessos e desenvolvimentos classicistas e transição de “homem ideal”

para “homem comum”; 2) “a difusão do método internacional”, destacando-se aqui

contribuição da América Latina, desenvolvimento do “urbanismo racionalista”,

evolução dos Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna (CIAM)169, as

vicissitudes do Team 10170 e a “figura ideológica“ de “arquiteto liberal”; 3)

“características formais da arquitetura da terceira geração”, busca de novas

“formas expressivas”, crise do “paradigma da máquina” e mudanças de paradigma; 4)

“a revisão formal nos Estados Unidos”, com “mescla de culturas” da Europa à

América, formalismo e ecletismo, modernidade e tradição, panorama de

individualidades, e arranha-céus; 5) “arquitetura britânica do pós-guerra, ‘new

brutalism’ e ‘urban structuring’ ”, com centro de discussão sobre “cidade” e nova

169 Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna (do francês Congrès Internationaux d'Architecture Moderne ou simplesmente CIAM) constituíram uma organização e uma série de eventos organizados pelos principais nomes da arquitetura moderna internacional a fim de discutir os rumos a seguir nos vários domínios da arquitetura (Paisagismo, Urbanismo, Exteriores, Interiores, Equipamentos, Utensílios, entre outros). Fundados em 1928 na Suíça, os CIAM foram responsáveis pela definição daquilo que costuma ser chamado international style: introduziram e ajudaram a difundir uma arquitetura considerada limpa, sintética, funcional e racional. Os CIAM consideravam a arquitetura e urbanismo como um potencial instrumento político e econômico, o qual deveria ser usado pelo poder público como forma de promover o progresso social. Talvez o produto mais influente dos CIAM tenha sido a Carta de Atenas, escrita por Le Corbusier baseada nas discussões ocorridas na quarta conferência da organização. A Carta praticamente definiu o que é o urbanismo moderno, traçando diretrizes e fórmulas que, segundo seus autores, são aplicáveis internacionalmente. A Carta considerava a cidade como um organismo a ser planejado de modo funcional e centralmente planejada, na qual as necessidades do homem devem estar claramente colocadas e resolvidas (...) A cidade de Brasília, cujo plano piloto é de autoria do arquiteto e urbanista Lúcio Costa é considerada como o mais avançado experimento urbano no mundo que tenha aplicado integralmente todos os princípios da Carta. Crítica: Com a revisão do movimento moderno empreendida a partir dos anos 70, os CIAM e todo o seu ideário passaram a ser duramente criticados, seja pela dita "monotonia" das paisagens urbanas por ele criadas, seja pelo fato de a Carta alegadamente exagerar na quantificação das necessidades dos indivíduos. Experiências diversas ao redor do mundo que adotaram os ideais modernos em geral tenderam a criar "espaços-de-ninguém", nos quais a definição abstrata entre o espaço público e o espaço privado não fica clara, fazendo com que todo o espaço que teoricamente é de todos, passe a não ser de ninguém (...) A demolição do conjunto residencial de Pruitt-Igoe em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos é considerada por muitos como o golpe fatal ao modernismo dos CIAM. O Pruitt-Igoe foi um premiado projeto residencial da década de 1950 que testemunhou elevações preocupantes na taxa de violência interna e durante 20 anos passou por um grave processo de degradação. Na década de 1970 o conjunto foi demolido por ordem judicial, em um processo apoiado pela comunidade que ali vivia. Este episódio é também considerado como o ponto de início do PÓS-MODERNISMO. Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso_Internacional_da_Arquitetura_Moderna, em 21/05/2019. 170 TEAM 10 O Team 10 (também conhecido como Team X) refere-se a um grupo (sem vínculo formal) de arquitetos reunidos após a dissolução do CIAM com o objetivo de rever os seus conceitos (...) O grupo formava uma "geração mais jovem" que pretendia manter o espírito do CIAM através de uma revisão crítica.

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“cultura urbana”; 6) “arquitetura nórdica , ‘new empirism’ e arquitetura de detalhe”,

com o “empirismo” como nova postura arquitetônica; e 7) “cultura e arquitetura

italiana, Bruno Zevi, Ernesto Natan, Rogers e Giulio Carlo Argan”, com

ambiguidade do conceito “realismo”.

Em termos de CONDIÇÃO PÓS-MODERNA, Montaner (2001 pp. 109-176),

mantendo sua “numeração romana” para as suas três partes, distingue: 8) “novo

funcionalismo e arquitetura como expressão tecnológica”, com “proposta

radicais” do grupo Archigram, “metabolistas” japoneses, arquitetura neoprodutivista,

legado tecnológico dos anos 1970, megaestruturas, crises do otimismo tecnológico e

relação entre avanço tecnológico e forma arquitetônica; 9) “arquitetura e

antropologia”, com “nova aliança” entre design e cultura material, “herança” de

pensamento sociológico em arte e arquitetura alternativa, proposta de “suportes” de

John Habraken, os “patterns” de Christopher Alexander, problemas de “arquitetura

contemporânea” no Terceiro Mundo e relação entre arquitetura e cultura material e

simbólica; 10) “a busca da racionalidade na disciplina arquitetônica”, com

“arquitetura da cidade” de Aldo Rossi, “crítica tipológica”, contribuições de cultura

arquitetônica europeia nos anos 1960, duas vias de mecanismo de retorno e evolução

do conceito de “tipologia”; 11) “arquitetura como sistema de comunicativo”, com

complexidade e contradição de Robert Venturi, manifesto a favor de “arquitetura

equívoca”, aprendendo de Las Vegas, manifesto e mecanismos pós-modernos, e

evolução da ideia de arquitetura; e 12) “a arquitetura do conceito e da forma”, ao

encontro de nova “abstração formal” e questionando se a “modernidade” era projeto

acabado.

E (2001 pp. 177-258) (2001 pp. 177-258), conclui sua “numeração romana” e

finaliza as suas três partes, agora em termos de DISPERSÃO DE POSTURAS

ARQUITETÔNICAS, assinala: 13) “ ‘revival’ historicista e vernáculo”, com novo

protagonismo de “tradição histórica”, incluindo “fundamentalismo” europeu,

“classicismo” anglo-saxão, “grandiloquência” arquitetônica, “classicismo pós-

moderno” na América do Norte e valoração de diversos classicimos; 14) “a

continuidade do contextualismo cultural” – como Álvaro Siza Vieira em Portugal e

Rafael Moneo em Espanha - e o urbanismo contextualista; 15) “a versatilidade do

ecletismo” e a renovação formal através de “heterogeneidade” e

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“interdisciplinaridade”, incluindo “Strada Nuovíssima”171, bem como experiências no

campo de design e “desenho industrial”; 16) “a obra de arte, paradigma da

arquitetura” com transformações em “estatuto” de artista, diversidade de estratégias

e os intercâmbios entre arte e arquitetura; 17) “a nova abstração formal”, com fim do

classicismo, estratégia de geometria, mecanismos, pensamento e arquitetura; e 18)

“a saída pela alta tecnologia”, com “organicismo” e “artisticidade” em obra

tecnológica, “High-Tech” no design e na pesquisa, “arquitetura de alta tecnologia” e

tecnologia como “opção totalizadora”.

A respeito de tecnologia como opção totalizadora, Montaner (2001 p. 258)

afirma que

A arquitetura do nosso século [XX] se despede com o sentimento de insatisfação. Teve em suas mãos um enorme leque de possibilidades e, no entanto, não foi capaz de melhorar nem o entorno natural nem o construído, que cada dia estão mais degradados. Tal como ressaltaram diversos autores, desde Rousseau e Diderot até Heidegger, os mecanismos e o impulso da civilização mecânica foi distanciando o homem de uma possível situação de plenitude pessoal e de felicidade coletiva. A opção totalizadora da tecnologia e a capacidade de transformação do homem devem ser conjugadas com: a reflexão histórica, a consciência do valor dos símbolos e o respeito pelo entorno. Aqui está o grande desafio da arquitetura atual: saber progredir utilizando todas as disponibilidades da ciência e tecnologia sem esquecer a memória. Outorgar a cada obra seu papel sem cair em mitificações mecânicas nem em fundamentalismos historicistas. Um dos mais importantes desafios do nosso presente radica na capacidade da própria arquitetura de saber acomodar a pesada herança de sua tradição dentro das possibilidades futuras da tecnologia e ciência e, ao inverso, na capacidade de saber progredir sem esquecer o enorme esforço humano acumulado.

Montaner (2001 pp. 260, 262 e 263), por fim, acrescenta duas novas posturas

arquitetônicas que ele detectou na década de 1990: Minimalismo e Ecologia.

Entendemos por minimalismo – expressão procedente do terreno da escultura norte-americana dos anos setenta – a busca de uma arquitetura unitária, onde se utiliza um número de elementos, materiais e linguagens limitadas e articuladas de forma essencialista. A ornamentação está relacionada com a construção, a função e o significado. O que predomina é a qualidade material, tectônica, de cada obra. Sempre, porém, é uma arquitetura que, extrapolada do seu contexto original, perde seu significado primitivo e sua razão de ser, já que esta tendência ao minimalismo está estreitamente relacionada com a vontade de inserir cada obra em uma paisagem concreta. O “less is more” [menos é mais] de Mies

171 Segundo o próprio Montaner (2001 p. 204), “a Strada Nuovíssima, uma das manifestações mais claras deste espírito celetista, que trabalha por ‘collage’ e agregação, foi a exposição realizada em 1980 para a Bienal de Veneza com o título ‘A presença do passado’. Tratava-se na realidade de um claro manifesto em defesa da arquitetura contextualista, concebido pelo organizador Paolo Portoghesi como expressão do ‘fim do proibicionismo’. Assim se celebra o consenso e a síntese dos desenvolvimentos pós-modernos dos anos setenta“.

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van der Rohe volta a aflorar. Agora, no entanto, renunciou a toda pretensão de universalidade, à cega confiança na tirania da forma tecnológica e ao desprezo pelas variáveis que oferece o lugar. Ao que diz respeito à arquitetura com uma especial sensibilidade ecológica, destacam-se aquelas obras que recorrem às formas e tipos mais facilmente adaptáveis ao meio e com mais capacidade para relacionar-se com as energias do entorno: peles permeáveis e versáteis, como membranas, galerias exteriores, pátios interiores, edifícios em forma de estufas, geometrias de vidro e formas escalonadas para aproveitar ao máximo a energia solar, edifícios semi-enterrados e dispersos, estruturas leves, recicláveis e nômade.

Em termos de tecnologia e sociedade, Steve Mann (s/d p. 4; tradução livre)172

integra Internet de Pessoas (IdP - em inglês, IoP) e Internet de Coisas (IdC - em

inglês, IoT)

Internet de Coisas colocou sensores nas coisas que nos rodeiam. Mas agora muitos de nós também estão colocando sensores em nós mesmos. Esses sensores sobre as pessoas dão origem a uma Internet de Pessoas, Lugares e Coisas, não apenas Coisas! Colocar sensores nas pessoas criará grandes avanços em termos de saúde e bem-estar, para indivíduos que escolhem o automonitoramento. Por exemplo, um indivíduo pode agora transmitir ao vivo (ou capturado) ECG (eletrocardiograma), juntamente com vídeo em primeira pessoa, para um médico que pode ver o que o paciente está fazendo, enquanto examina as formas de onda de ECG correspondentes. Isso pode ajudar a determinar a causa-raiz dos problemas relacionados ao coração e identificar as causas do estresse no ambiente do paciente.

Marinakis e Doukas (2018 pp. 1, 13-14). Um sistema avançado baseado em

IoT para gerenciamento inteligente de energia em edifícios. O sector da energia está

estreitamente interligado com o sector da construção e as soluções integradas das

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para uma gestão de energia eficaz,

apoiando a tomada de decisões na construção, distrito e cidade são elementos

fundamentais para tornar uma cidade Inteligente. Os sistemas disponíveis são

projetados e destinados exclusivamente a um número predefinido de gabinetes e

sistemas, sem permitir expansão e interoperabilidade com outros aplicativos, em parte

devido à falta de semântica. Este artigo apresenta um sistema avançado de Internet

das Coisas (IoT) para gerenciamento inteligente de energia em edifícios. Uma

estrutura semântica é introduzida visando a modelagem unificada e padronizada das

172 No original: “The IoT (Internet of Things), has put sensors on the things around us. But now many of us are also putting sensors on ourselves. These sensors-on-people give rise to an Internet of People, Places, and Things, not just Things! Putting sensors on people will create huge strides forward in health and wellness, for individuals who choose self-monitoring. For example, an individual can now transmit live streaming (or captured) ECG (electrocardiogram), together with live first-person video, to a physician who can see what the patient is doing, while examining the corresponding ECG waveforms. This can help to determine the root cause of heart-related problems and identify causes of stress in the patient’s environment.”

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entidades que constituem o ambiente de construção. Regras adequadas são

formadas, visando a gestão inteligente de energia e o modus operandi geral do Smart

Building. Neste contexto, foi implementado um sistema baseado em IoT, que melhora

a interatividade dos sistemas de gerenciamento de energia dos edifícios. Os

resultados de sua aplicação piloto são apresentados e discutidos. O sistema proposto

amplia abordagens existentes e integra dados entre domínios, como dados do edifício

(por exemplo, sistemas de gerenciamento de energia), produção de energia, preços

de energia, dados meteorológicos e comportamento dos usuários finais, para produzir

planos de ação diários e semanais. para os usuários finais de energia com

informações personalizadas acionáveis. p.1

As soluções baseadas em TIC que exploram as tecnologias da Internet das Coisas (IoT) podem contribuir significativamente para a economia de energia, motivando e apoiando a mudança comportamental dos ocupantes dos edifícios. Neste contexto, o sistema baseado em IoT proposto facilita os usuários finais de energia a saber quanta energia é consumida no total e qual é a contribuição do usuário final específico e de outros pares para isso, assim como obter recomendações personalizadas de ações para conservação de energia e deslocamento de carga, juntamente com uma estimativa de seu impacto no uso de energia e no conforto do usuário. O principal objetivo era fornecer um sistema flexível, fácil de expandir e facilmente personalizável a partir de um administrador (todas as permissões) e de uma perspectiva de usuário (personalização de exibição) escalável, plataforma ICT. O sistema utiliza sensores de dados instalados no edifício e mede dados em tempo real no que diz respeito ao consumo de sistemas e equipamentos, dados de ocupação, dados comportamentais, set points, configuração do sistema, etc. Simplifica a complexidade das informações coletadas por esses sistemas e colocá-lo nas mãos de usuários finais de energia (ocupantes de edifícios), em contexto (por exemplo, os usuários finais sabem como melhorar o comportamento do edifício quando ele está no prédio, executando uma ação específica). Além disso, poderia ser usado pelas autoridades da cidade para o monitoramento e gerenciamento do status de energia da cidade em edifícios. As tecnologias da Web Semântica podem, na verdade, desempenhar um papel fundamental no rápido desenvolvimento de vários aspectos da infraestrutura da Cidade Inteligente, onde várias outras áreas de pesquisa poderiam entrar em ação. A interseção dos serviços da Web, da Web semântica e do gerenciamento de energia poderia ajudar as autoridades municipais a uma transição mais suave para o futuro das cidades. p. 13-14173

173 No original: “ICT-based solutions that exploit Internet of Things (IoT) technologies can contribute significantly to energy saving, by motivating and supporting behavioural change of the buildings’ occupants. In this context, the proposed IoT-based system facilitates energy end-users to know how much energy is consumed in total and what is the contribution of the specific end-user and other peers to that, as well as get personalized recommendations of actions for energy conservation and load shifting, along with an estimation of their impact on energy use and user comfort. The main aim was to provide a flexible, easy to expand and easily customizable system from an administrator (all permissions) and from a user perspective (view customization) scalable, ICT platform. The system uses data sensors that are installed in the building and measure real-time data as regards consumption of systems and appliances, occupancy data, behavioural data, set points, system setting, etc. It simplifies the complexity of the information gathered by those systems, and put it in the hands of energy end-

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Segundo Lívia de Oliveira (2012 p. 14) apud Kevin Lynch (1972 p. passim),

Temos consciência de que o tempo interior é diferente do tempo exterior. O tempo social que coordena as ações de muitas pessoas nem sempre estão de acordo com o tempo rítmico do corpo. Os relógios digitais são bem mais precisos, mas o tempo flui da mesma maneira. Procuramos alcançar o espaço-tempo para este mundo ou para preservar, ou para mudar, tornando visível nosso desejo. A imagem precisa ser flexível e consoante à realidade externa (o lugar) e à nossa natureza biológica para promover nosso bem-estar.

3.6.2 ABORDAGENS DE “LUGAR” EM (PÓS)MODERNIDADE

Lugar-nome como a toponímia – referência simbólica que esculpe o nome dos lugares; topofilia – referência de afeição ao lugar; topofobia – alusão ao medo do lugar; a heterotopoia – indicação de diferença de lugares a partir de um outro. E mais que isso: os lugares-memória que moram na pele dos indivíduos, advindo de suas passagens pelos recantos do mundo e que podem ser atualizados na circularidade incessante próprio da subjetividade de cada um. Tudo isso dá ao lugar um viés qualitativo por onde as diferenças, as desigualdades ou os conflitos do corpo se efetivam em significações sociais, tornando, por isso, corporeidades (CHAVEIRO, 2012 p. 269; itálicos no original)

Lívia de Oliveira (2012 pp. 4-7,9; itálico no original) consultou a palavra “lugar”

num dicionário e encontrou dezoito vocábulos para o designar - como “substantivo”

do latim logâr e lócus ou “adjetivo” do latim local – dos quais destacou: sítio, povoação,

localidade, região, país, posição, categoria, situação, origem, oportunidade, ensejo e

vez. Dizendo que “definição de lugar se mescla, se confunde com espaço ocupado”,

Oliveira afirma que:

Lugar e tempo se nos apresentam frequentemente intimamente ligados. Percebemos e sentimos a realidade temporal acoplada ao lugar, ao espacial (...) A concepção atual de lugar é de tempo em espaço; ou seja, lugar é tempo lugarizado, pois entre espaço e tempo se dá o lugar, o movimento, a matéria (...) É aceito universalmente que a lógica do lugar coincide sempre, em linhas gerais, com o paradigma que, em cada época, o Homem obteve sobre as interrelações entre si mesmo e seu meio ambiente. Em outras palavras, o lugar, como limite, é um balanço rítmico entre razão e história ou movimento e pausa (...) a noção sociofísica de lugar como síntese entre acontecimento e estrutura só pode ser real na medida em que as inter-relações entres as três significações [falar e habitar, meio físico e social, conceitualizar e figurar] forem

users (buildings’ occupants), in context (e.g., end-users know how to improve the building behaviour when he/she is in the building, performing a specific action). Moreover, it could be used from the city authorities for the monitoring and management of the city’s energy status in buildings. Semantic Web technologies could actually play a key role in the rapid development of various aspects of the Smart City infrastructure where various other research areas could come into play. The intersection of Web Services, Semantic Web and energy management could help city authorities towards a smoother transition to the future of cities.”

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descritas e analisadas em nível biográfico individual e em nível coletivo, tanto no sujeito como no objeto.

Lívia de Oliveira (2012 pp. 10-11) diz que Joseph Muntañola (1973 pp. 53-55)

faz uma primeira indagação básica [para mim, PRIMORDIAL]: “Que é um lugar para

viver?”. À qual ele mesmo responde, expressando que o lugar é uma

interpenetração sociofísica em que “falar e habitar”, “meio físico e meio social”

e “conceitualizar” e “figurar” se entrecruzam de forma simultânea, porém sem

“identificar-se”. E adicionalmente:

Uma segunda indagação básica é: “Como se estrutura esta interpenetração sociofísica?” A resposta é que ela se estrutura de várias maneiras simultaneamente, mas fundamentalmente de três maneiras que se equilibram duas a duas. Isto é174: A. Cruzando o falar e o habitar, o lugar assume a forma de itinerários sociofísicos, nos quais os fatos físicos exteriores e interiores ao corpo estão relacionados de antemão com o relato mítico de falar, transmitido oralmente de geração em geração; B. Cruzando o meio físico e o meio social, o lugar assume a forma de um campo funcional “radiante”, em que as linhas de força são as formas físicas do lugar e, às vezes, os possíveis itinerários funcionais que permitem esse lugar. As linhas expressam a ordem e a hierarquia sociofísica que o lugar possui, ou seja, seu poder simbólico real, ao mesmo tempo emocional; C. O lugar pode se estruturar cruzando a conceitualização e a figuração a fim de procurar um constante e incansável equilíbrio lógico entre inteligibilidade conceitual e figurativa do lugar, entre a itinerância e a radiância. Em resumo, o lugar é um signo constante de reconciliação sociofísica não apenas de razões, mas também de emoções.

Lívia de Oliveira (2012 pp. 11-12) lembra de Yi-Fu Tuan (1983 p. passim) para

explicar e ampliar essa noção de lugar, já que

Para esse geógrafo, a familiaridade com dada porção do espaço, pela experiência, faz torná-la lugar. Pois espaço e lugar são designações do nosso cotidiano, indicando experiências triviais, do dia a dia. Não há necessidade de fazer um esforço consciente para estruturar nosso espaço, uma vez que esse espaço em que nos locomovemos, integrante de nossa vida diária, é de fato nosso lugar. Conhecemos o nosso lugar; cada um tem seu lugar. Assim sendo, onde vivemos, nossa residência, nosso bairro inteiro, se tornam um lugar para nós. A própria pátria, vista como nosso lar, afetivamente se torna um lugar. “O lugar é segurança e o espaço liberdade”, ou ainda, “o espaço é movimento e o lugar pausa”, logo, o espaço é mais abstrato e o lugar mais concreto. A valorização do lugar provém de sua concretude; embora seja passível de ser engendrado ou conduzido de um lado para o outro, é um objeto no qual se pode habitar e desenvolver sentimentos e emoções. Tal realidade concreta é atingida por meio de todos os nossos sentidos, com todas as nossas experiências, tanto mediante a imaginação quanto simbolicamente. Conhecer um lugar é desenvolver um sentimento topofílico ou topofóbico. Não importa se é um local natural ou construído, a pessoa se liga ao lugar quando este adquire um significado mais profundo ou mais íntimo (...) Os lugares, ainda segundo Tuan, podem se fazer

174 As letras “A”, “B” e “C” foram corrigidas, por terem sido colocadas de forma equivocada no original – discrepante do demonstrado pela autora na página 9 de seu capítulo de livro.

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visíveis por meio de inúmeros meios: rivalidade ou conflito com outros lugares e manifestações de arte e de arquitetura.

Lívia de Oliveira (2012 p. 12) ainda citando Yi-Fu Tuan (ibidem) diz que é

também relevante relacionar o “espaço” e o “lugar”, com o “tempo”, pois em três

momentos “este” se torna “aqueles”: tempo como movimento, sendo lugar como

pausa; afeição ao lugar como função do tempo; e lugar como tempo tornado

visível ou lugar como lembrança. E que, em suma: “lugar é um mundo de

significados organizados, a um tempo estático e a outro dinâmico; são caminhos que

se tornam lugares significativos”.

Em seguida, Lívia de Oliveira (2012 pp. 12-14) diz que Kevin Lynch (1972 pp.

27-30) preocupava-se com a representação de lugares ligada a ritmo de vida, pois

presente, passado e futuro são costurados juntos em síntese de tempos

biológico, psicológico e social. Em que, para os indivíduos, a relação entre “tempo”

e “lugar” significa seus lares, suas residências, seus lugares de trabalho, de lazer,

enfim de todas suas ações num mundo que pulsa em ciclos grandes e pequenos

– como se nadássemos em corrente de tempo, de informação. Segundo Oliveira,

Lynch (ibidem) discute transformações de cidades como lugares em contínuas

mudanças

As urbes são modificadas por crises econômicas, catástrofes ecológicas, uso de materiais diferentes e inovadores, assimilação de novos estilos de vida, principalmente pela industrialização e adoção de áreas verdes (parques, jardins, alamedas, praças arborizadas) e, por que não, pela chegada de epidemias (no passado, pestes e as pragas; e, no presente, a dengue ou a gripe suína). A presença do passado, no perfil das cidades, é a valorização do meio ambiente natural, quer na reconstrução de conjuntos de antanho, quer na preservação de edifícios, ruas, praças e bairros inteiros (...) Nossas imagens do passado e do futuro são imagens do presente continuamente recriados. O cerne de nosso sentido de espaço-tempo é o sentido de “agora” e “aqui”. Temos dois tipos de evidência da passagem do tempo que se reflete no lugar: a repetição rítmica (as marés, os relógios, ciclos do sol e as fases da lua) e a mudança progressiva e irreversível (crescimento e decadência) não são recorrentes, mas a alteração do que amamos de fato não retorna, apesar de nossas esperanças e desejos de que as coisas mudem.

Eduardo Marandola Jr (2012 p. XIII) cita o geógrafo Armando Corrêa da Silva

para a expressão deste em 1978: “O Espaço Fora do Lugar”. Isso no intuito de fazer

esta indagação aparentemente banal (“Qual o espaço do lugar?”) que, segundo o

próprio Marandola, mais parece um trocadilho e, no entanto, expande-se em questão

profunda de significado ontológico.

Lugar é uma das ideias geográficas mais importantes atualmente. Transcende em muito a ciência geográfica, permitindo diálogos e conexões com a teoria social, a filosofia, a arquitetura, a literatura, a

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psicologia, o cinema. Mas por que esse interesse pelo lugar? De onde vem sua força? Qual o espaço do lugar no mundo contemporâneo [nosso]? Primeiramente, cabe lembrar que essa ênfase no lugar é algo muito recente. A geografia, enquanto ciência, deu pouca atenção ao lugar no decorrer de sua história. Seu ganho de importância coincide com dois processos: o surgimento de abordagens teóricas que procuravam enfatizar valores humanistas orientados pelas filosofias do espírito, dando atenção à diversidade, à heterogeneidade e à diferença (geografia humanista primeiramente, depois a geografia cultural); e o movimento de mundialização que forjou uma oposição entre global-local / mundo-lugar a partir da subjugação do segundo pelo primeiro. Enraizamento, identidade, sentido de lugar, casa, experiência e percepção são ideias e temas que se destacaram a partir do movimento humanista e cultural. Resistência, fluidez, soberania, empoderamento e territorialidade são ideias e questões discutidas na esteira da mundialização. O que têm em comum? O esforço de compreender uma escala próxima, ligada ao mundo vivido, à dimensão existencial da experiência geográfica, entendendo essa escala como potência criadora, emancipadora e autêntica de sociabilidade orgânica. Nos últimos dez anos, esses processos, até então relativamente paralelos, passam a se aproximar e, até certo ponto, retroalimentar-se. Mas mais do que isso. Há a dimensão ontológica (...) O cenário teórico contemporâneo [nosso] é de maior pluralidade em direção à superação da excessiva fragmentação (...) não vivemos uma era de ecletismo irresponsável, mas de potencialidades analíticas instigantes para se pensar o ser e (...) talvez até pensar a ontologia do espaço. O pensar ontológico nunca foi mais necessário (...) para buscar respostas aos problemas da sociedade contemporânea [nossa]. Os valores humanistas também nunca foram tão necessários frente a um mundo desumano e pernicioso. O lugar, em seus vários espaços e sentidos, é uma ideia-chave para enfrentar os desafios cotidianos. É no lugar que os problemas nos atingem de forma mais dolorida, e é também nele que podemos melhor nos fortalecer. (MARANDOLA JR, 2012 p. XIV e XVII)

Concomitantemente, Werther Holzer (2012 pp. 281, 290 e 291; itálicos no

original), em seu ensaio de geografia contemporânea, fenomenológica - ao discutir

conceitos de “mundo” e “lugar” e diversamente do que vem sendo amplamente

debatido por geógrafos (até mesmo os de vertente humanista), enuncia esta sua tese:

“o ‘lugar’, a partir da vida cotidiana das pessoas, não se opõe ao ‘espaço’. Na

experiência humana dos fenômenos ‘mundo’ cotidianamente se opõe e, muitas vezes,

abarca e engloba, o ‘lugar’ “. Em que

A geografia, como outras ciências, trata do “mundo”, mas de modo excepcional, pois trata diretamente de nosso conhecimento sobre “suporte físico” onde se assentam todas as coisas, ou seja, o que na disciplina chamamos de categorias ou conceitos espaciais. Como primitivamente se estabelece então o sentido de “mundo vivido” para a geografia? Afirmo, baseado na fenomenologia, que se estabelece a partir do corpo humano, o corpo-de-um-sujeito, o corpo que é o próprio sujeito-como-cogito. Assim, “[...] o ‘meu’ corpo representa a transição de ‘mim’ para meu mundo, que é o lugar em que me aproprio de meu mundo” 175 (...) Para a fenomenologia, mundo e

175 Wilhelmus Luijpen A. M. Introdução à Fenomenologia Existencial. São Paulo: EPU / EDUSP, 1973, (p.109).

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lugar são vistos como um par essencialmente inseparável, algo como o par espaço e lugar para a geografia. A dialética entre “mundo” e “lugar” é mais antiga e arraigada do que a do par “espaço” e “lugar”. Na geografia, esse par vem sendo discutido muito recentemente, e considero que envolve essências espaciais de natureza muito diversas (sic): o “lugar” está ligado a vivências individuais e coletivas a partir do contato do ser com seu entorno; enquanto o “espaço” é uma racionalização abstrata, uma construção mental, que busca uniformizar e homogeneizar o “suporte físico” (...) A geograficidade trata do conteúdo existencial do homem com o espaço terrestre e, na medida em que o homem se apropria desse espaço, ele se torna “mundo”. A partir da fixação das distâncias e das direções, onde os marcos referenciais são o corpo e a matéria onde ele se apoia, um espaço primitivo que, uma vez apropriado pelo homem, se torna “lugar”.

Esse “mundo vivido” e “mundo vívido” por ser humano ou não (com ou sem

“apropriação”, entre primitivo e não-primitivo, passível de “evolução natural” e/ou

“evolução social”, ou não, entre formal e não-formal, passível de “informalidade” ou

não, entre aberto e fechado, iluminado e não-iluminado, passível de “sombras” ou

não), evidencia espaços sem lugar ou lugares sem espaço, livres ou não-livres

(passíveis de libertação ou não), com ou sem tempo, entre continuidades e não-

continuidades, passíveis ou não de descontinuidades, entre absoluto(s) e relativo(s),

em mundo(s) de finitude observável ou não. “Espaços” e “lugares” em UNIVERSO

REAL de REALIDADE INFINITA (∞) - ao menos aparentemente. “O ESPAÇO”

RESILIENTE como “O TODO” ESTÁTICO-DINÂMICO de partes hologramáticas,

complementares e suplementares, em dialógica ou movimentos dialéticos, gerando

ou não “LUGAR(ES)”. Em gerando este(s), “lugar em mundo” e “mundo de lugar” em

complexidade de interação de seus próprios “tempo e espaço” (fronteiras ao longo do

tempo, naturais ou não) e “espaço e tempo” (tempos, naturais ou não, dentro dessas

fronteiras). Mais especificamente, sobre “espaço do lugar” motivado por “lugar sem

espaço”, em termos de Geografia “Humana”, humanista ou não, ou “Geografia

Cultural”, transcultural ou não,– isto é, AntropoGeoGrafia (AGG) - e Epistemologia e

Fenomenologia AntropoLógicoÉticas (EFALE). Tudo isto tendo em mente Idade de

Globalização em Espaço de Lugar (IGEL), “natural” ou não, e “apropriação” desse

espaço por “Aproximações Fenomenológicas e Existenciais Humanas” (AFEH), em

Tempo do Lugar (TdL) e/ou Tempo no Lugar (TnL) - quer dizer, Tempo nó do Lugar

e/ou Tempo dono de um Lugar.

Dussel (2002, p. 475; grifos meus) alerta para a evidência de que “estamos” na

idade de globalização e de exclusão que carece de ética de libertação porquanto "a

ciência humana ou social crítica se integra, articulada ou organicamente, à reflexão

prática da própria comunidade de comunicação das vítimas, permitindo o surgimento

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de uma consciência crítico-cotidiana ilustrada". Assim, em Dussel (2002, p. 561; grifos

meus), esta consciência deve considerar: a) juízo empírico-estratégico de fato sobre

o exercício do poder histórico-concreto do sistema dominador, cujo momento mais

fraco como crise acontece quando se manifesta exteriormente sua impossibilidade

intrínseca, sua contradição levada a um ponto de derrocada entrópica; b)

capacidade que a comunidade organizada das vítimas tem para realizar

empiricamente com "êxito", através de "meios" eficazes, os "fins" estratégicos

programados, tendo em conta os diagramas do poder; c) condições ou conjunturas

objetivas concretas a partir das quais é factível efetuar as transformações, parciais ou

totais, segundo tiverem relevância na originação (sic) da dita negatividade da vítima

como efeito de norma, ato, microestrutura etc - ainda que não sejam intencionais.

Lugar-Casa é idealização, imaginação, projeto ou construção em Lugar-

Espaço ocupado ou que pode ser ocupado, por um corpo ou mais, estático ou em

movimento.

O conceito de lugar torna-se um elemento central na conceituação de uma

arquitetura do pós-guerra, que se esforça para superar as coordenadas do Movimento

Moderno. É um conceito usado por Christan Norberg-Schulz, como um meio de

superar os conceitos de seu mestre Siegfried Giedion. Da ideia geral de um espaço

universal, evoluímos para a ideia específica de um lugar. Mas a complexidade do

conceito de lugar está em que não é nem genérico nem universal; sua essência está

em aprender e se acostumar com o contexto e seu processo. (MONTANER, 2011 p.

1)

Em definitivo, a ideia de lugar evita grandes definições, consensos e universais.

Não é um conceito, é uma elaboração específica. A ideia de lugar foi construída por

cada um desses arquitetos a partir da mesma experiência. E essa experiência do lugar

tem a ver com uma reinterpretação da arquitetura vernacular e com a busca de uma

materialidade relacionada à construção local. É uma modernidade desatualizada que

assume, de forma crítica e criativa, os modelos da arquitetura moderna e os vai

adaptando, modelando e inserindo até sua completa e definitiva evolução. É o

resultado desse aprendizado específico sobre o lugar. (MONTANER, 2011 p. 7)

3.6.3 QUANDO LUGAR VIRA “CIDADE”

Dos espaços sufocados pela distância, desconhecimento ou escuridão, partiremos para a extrema luminosidade dos lugares, conduzidos pelas relações do dia a dia, do labor, da arte, do lazer, da religiosidade e toda

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sorte de elementos, em meio à abnegação, ócio e prazer efetivados pelos seres humanos. Aqui é o meu lugar. Mas desconheço o que existe do outro lado da montanha. Amo o meu bairro e a minha cidade. Todavia não os conheço inteiramente. Estimo lugares onde nunca estive pessoalmente, porém a mim transmitidos por amigos, parentes ou pelo meios de comunicação tradicionais ou pela parafernália emitida pela computação. Ao lado disso, a pátria amada e até mesmo o planeta Terra – nestes tempos de consciência ecológica – adquirem simbolicamente o status [itálico no original] de lares ou lugares. (MELLO, 2012 p. 34)

Por um lado, Edward Relph (2012 pp. 21-27) faz reflexões de sobre

emergência, aspectos e essência de lugar – nas quais, segundo ele mesmo, não são

todos os aspectos, mas “são suficientemente comuns para sugerir que eles, no

seu conjunto, poderiam formar a base para uma teoria válida de lugar para a

compreensão tanto de lugares particulares como o fenômeno lugar e suas

limitações”. Para Relph, a distinção entre “lugar” e “lugares” é fundamental porquanto

geografia como estudo de: lugares se refere à descrição e comparação de

diferentes partes específicas do mundo; lugar baseia-se (e ao mesmo tempo

transcende) naquelas observações particulares para esclarecer as maneiras

como os seres humanos se relacionam com o mundo. Destaco aqui “os” aspectos

que ele nomeia e descreve como sendo alguns dos mais importantes ASPECTOS DE

LUGAR (fig.45 abaixo): 1) Lugar de Reunião – qualquer parte sem nome que não

reúna não é um lugar; 2) Localização – característica comum, mas não essencial de

lugar porque este pode ser entendido sem estar visivelmente fixado em um local –

como a internet e a mídia social; 3) Fisionomia do Lugar – sentido mais óbvio do

termo lugar que sugere própria forma, como colina, vale, construção, rua, letreiro e

todos os outros elementos de sua aparência, que funciona como e evidência para

quem vê de fora um lugar, incluindo arquitetos, planejadores, turistas e pessoas mais

interessadas em ambientes construídos; 4) Espírito de Lugar (Genius Loci) –

atualmente um termo associado a lugares excepcionais, usado para referência a lugar

que tenha uma identidade muito forte e onde todas as partes parecem funcionar

perfeitamente em conjunto; 5) Sentido de Lugar – capacidade inata, aprendida ou

melhorada de apreciar lugares e apreender suas qualidades; 6) Raízes e

Enraizamento – onde se tem nossas raízes, nosso pertencimento e nossa

imobilidade, mas, com base em “teoria rizomática” proposta por Deleuze e Guattari,

também reconsiderar que lugares podem se reproduzir por tubérculos que são

invisíveis, ainda que conectados a uma fonte original, ou seja, podemos ter raízes

simultaneamente em vários locais diferentes, mantendo todos estes conectados, em

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processo(s) de transitoriedade e transnacionalismo que agora parece permear a

experiência de lugar para muitos de nós [o que é o meu caso]; 7) Interioridade –

conhecendo o lugar de dentro para fora, diferente de como faz um observador ou

turista; 8) Lar – onde as raízes são mais profundas e mais fortes, onde se conhece

outros e se é conhecido por eles [ou alguns deles], o onde se pertence, em que os

“sem-teto” são uma enfermidade social; 9) Lugar-Sem-Lugaridade – fraca

capacidade de um lugar promover alguma reunião, em que a identidade de alguma

parte não é ser lugar ou “ausência-de-lugaridade”, mas expressão de equilíbrio entre

“particularidade” e “uniformidade”; 10) Não-Lugar – inexistente capacidade de um

lugar promover alguma reunião; 11) Nós de Redes –para além de lugares onde

indivíduos e/ou grupos possuem suas raízes e se sentem “mais em casa”, lugares são

nós de redes nacionais e internacionais; 12) Exclusão/Inclusão – a partir de crítica

de economia política a lugar, “mostra-se” que qualquer manifestação de forte apego a

lugar é uma atitude exclusivista de “este é o meu lugar e você é diferente (por causa

da renda, raça, crença política, gênero) então fique fora daqui”; 13) Sentido

Contaminado de Lugar – lugar e envolvimento com lugar têm aspectos

profundamente repulsivos; 14) Construção de Lugar – diferentes lugares só podem

ser feitos por quem vive e trabalha [ou estuda] neles, pois são tais pessoas que

conseguem entender, de forma conjunta, “construções”, “atividades” e “significados”;

15) Fabricação de Lugar – identidade de lugar tem sido manipulada e até mesmo

inventada por empresas de desenvolvimento que visam o lucro e por políticos de

cidade, para atrair investimento e turismo.

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Figura 44- Diagrama de Aspectos de Lugar

Fonte: Autor desta dissertação, 26 de maio de 2019

Continuando com essas reflexões de Edward Relph (2012 p. 27 e 31), ele

afirma a importância de “compreender que é por meio de lugares que que indivíduos

e sociedades se relacionam com o mundo, e que essa relação tem potencial para ser

ao mesmo tempo profundamente responsável e transformadora”. E que isto leva a

outra questão: essência de lugar.

Nossas experiências de lugar (...) parecem resistir ao tempo. Construções, estradas e costumes locais, que são as manifestações mais óbvias de uma lenta mudança do cenário variável de vidas individuais. Retornamos ao lugar onde [nascemos e] crescemos e (sic) embora possa haver novas construções e pessoas, isso permanece no mesmo lugar. No caso do lugar ter sido completamente [destruído e/ou] reconstruído, ficaremos consternados, pois lugar implica continuidade (...) Lugar não é meramente aquilo que possui raízes, conhecer e ser conhecido no bairro; não é apenas a distinção e apreciação de fragmentos de geografia. O núcleo do significado de lugar se estende, penso eu, em suas ligações inextricáveis com o ser, com a nossa própria existência. Lugar é um microcosmo. É onde cada um de nós se relaciona com o mundo e onde o mundo se relaciona conosco. O que acontece aqui, neste lugar, é parte de um processo em que o mundo inteiro está de alguma forma implicado. Isso é muito existencial e ontológico. Mas é também econômico e social, pois em toda parte estamos presos em maior ou menor grau (...)

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Figura 45- Diagrama de Antropossociedades – Dilemas “humanos” primordiais

Fonte: Autor desta dissertação, 09 de setembro de 2017

Por outro lado, de Caos Universal a Caos Local, delimita-se faixa observável

com alguma ordem cósmica e certa ordem social. Nessa faixa pontifica-se ordem

social de caos local: um “ponto complexo”, de “ambiência própria” em “ambiente

hostil” provocado por um “urbano” engessado e engessante. Nesse ponto, adaptando

de Ladislau Dowbor (1996 pp. 16, 22, 24 e 25), reconhece-se nova hierarquia de

espaços da globalização ao poder local: CIDADE como HiperMetaTexto. Neste

texto, cultura humana “civilizada” é reificada em assentamentos urbanos por

interações, visíveis ou não, destes seis tipos urbanos integrados de alguma forma:

Edifício Incorporado; Edifício Projetado; Edifício Construído; Edifício Legal; Edifício

Herdado; e Edifício Habitado. Em interação sob três desses dilemas (fig.46 acima)

que (des)orientam matriz (dis)(u)tópica de percepção em práticas para(nessa)

cidade como “CIDADE PAISAGEM”.

Em presente contínuo – sem “passado” nem “futuro” - “cidade-habitat” é

artefato antrópico que padece de ambiguidades e enfrenta dilemas importantes e de

resolução complexa de distopias de uma “história humana” de fragmentos (u)tópicos

do homo que é tanto sapiens sapiens como ludicus demens no planeta Terra. Em

particular, três desses dilemas (des)orientam uma matriz (dis)(u)tópica de percepção

em práticas para(nessa) cidade - “cidade-paisagem”. O primeiro dilema, tópico

(representado por um vetor de sustentabilidade ambiental original porque tem sua

“origem” e “intensidade” em ambiente na “direção” e no “sentido” da “cidade-habitat“),

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é este: deixa-se a natureza local intocada ou ocupa-se seu espaço com o urbano? O

segundo dilema, distópico (representado por um vetor que é de sustentabilidade

urbana original porque tem sua “origem” e “intensidade” em “cidade-habitat” na

“direção” e no “sentido” do ambiente), é este: deixa-se o espaço urbano insustentável

ou repõe-se a natureza local? O terceiro dilema, utópico (representado por um vetor

que é de sustentabilidade de direito original porque tem sua “origem”, “direção”,

“sentido” e “intensidade” tudo fora da cidade e do ambiente), é este: até que ponto o

direito à “cidade-habitat” (re)(en)volve o direito ao “ambiente” ou o direito ao

“ambiente” (re)(en)volve o direito à “cidade-habitat” ?

Entretanto, (a)(bio)(di)(an)versidade em ambiente local deve-se distinguir e

unir via ciberplataforma para construção, desconstrução ou não construção de

espaços de vivência, convivência ou sobrevivência humanas, em alinhamento(s)

(cosmo)(hélio)(luna)(geo)(a)(bio)antrópico(s) de homo sapiens sapiens. Isso é o que

minha pesquisa vai permitir fazer mediante “nova maneira” de o ser humano

pensar-Se, pensar o Outro e pensar a Natureza, em (inter)(intra)relações

pluriiádicas de relevância espaço-temporal.

... Contexto(s) ↔ Texto(s) ↔ Ponto(s) ↔ Outro(s) ↔ Eu ...

No sentido de construir, desconstruir ou reconstruir “CIDADANIA VÍVIDA”, essa

adaptação sociocientífica é uma forma viável capaz de forçar, em regime de

autocontrole local, a transformação social a partir de vivência de história moderna de

“terror” em democracia desumana no sentido de construção minha contemporânea de

“amor” em ciberdemocracia humana! Uma CIDADANIA TRIÁDICA por DOIS

LUGARES: lugar de “viver” (edifício-condomínio Residências Villa Real, em Vila

Isabel, Rio de Janeiro, RJ); e lugar de “trabalhar” (UERJ-Universidade Estadual do

Rio de Janeiro, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ). Em que LUGARES, conforme Tuan

(2011, p.12), são pausas humanas em movimentos humanos - mas, desde que a

rota seja seguida ano após ano com pequenas variações, com o tempo, o CAMINHO

e o TERRITÓRIO que o circunscreve adquirem o sentido de lugar. Tuan acrescenta

que “o ESPAÇO, desde que adquira familiaridade e propósito, é muito pouco

distinto do LUGAR”. E, ainda segundo esse autor, na SOCIEDADE MODERNA o

MOVIMENTO CIRCULAR está centrado em dois polos (em que a cidade é tempo

tornado visível), o da CASA e o do TRABALHO - experimentados muito mais como

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um CIRCUITO do que como um caminho linear porque a ida para o trabalho trata de

um tipo de experiência diverso da viagem de retorno a casa.

Para Cullen (1971 p. passim), o ambiente é construído de duas maneiras

complementares não oponentes: objetivamente, através do senso comum e da lógica

baseada nos princípios benevolentes da saúde, amenidade, conveniência e

privacidade; subjetivamente, pela execução da criação empregando os valores

próprios daqueles que habitarão (ou conviverão) no “mundo criado”. E ele considera

o ambiente tem três diferentes escalas: o mundo físico do comprimento, largura e

altura; a dimensão tempo; e a ambiência. Esse autor afirma que uma cidade é antes

do mais uma ocorrência emocionante (espaço construído) no meio-ambiente. É um

tremendo empreendimento multidisciplinar humano no concerto de uma infinidade de

fatores que possibilite a criação de uma organização funcional, viável e saudável

(sistema integrado por interdependência funcional). Mas, segundo ele, na cidade, em

lugar de um ambiente informe e fluido, tem-se um ambiente articulado resultante da

partição dos fluxos em atividade e lazer, em rua-corredor, praça-mercado, viela e

largo, e todas as suas variantes. Por isso, o resultado prático dessa articulação da

cidade em partes identificáveis está em que, mal se cria um “Aqui”, tem-se logo que

admitir um “Além”. E ele diz que é justamente no tratamento e jogo destes dois

conceitos espaciais que surge grande parte da expressividade urbana.

Aldo Rossi (2001 p. passim) assegura que muitas forças, de natureza

econômica, política ou outra, se aplicam em todas as modificações urbanas. Mas,

segundo ele, o problema principal não é tanto conhecer essas forças em si, mas

saber: a) como elas se aplicam; b) como sua aplicação produz mudanças diferentes.

Ele diz que essas mudanças dependerão, de um lado, da natureza dessas forças, de

outro, da sua situação local, do tipo de cidade... E que, por isso, deve estabelecer-se

uma relação entre essas forças e a cidade, bem como conhecer-se os modos dessas

transformações. Rossi garante que a arquitetura da cidade é parte integrante do

homem e é a sua construção. Ela é a cena fixa das vicissitudes do homem, carregada

de sentimentos de gerações, de acontecimentos públicos, de tragédias privadas, de

fatos novos e antigos. O elemento coletivo e o elemento privado, sociedade e

indivíduo, contrapõem-se e confundem-se na cidade, que é feita de inúmeros

pequenos seres que procuram uma acomodação e, junto com ela, formando um todo

com ela, um seu pequeno ambiente mais adequado ao ambiente geral.

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Kevin Lynch (1960 pp. 11-12) afirmou que, tal como uma obra arquitetônica, a

cidade é uma construção no espaço, mas uma construção em grande escala,

algo apenas perceptível no decurso de longos períodos de tempo; assim, design

de cidade é arte temporal, mas raramente pode usar sequencias controladas e

limitadas de outras artes temporais (por exemplo, a música), porquanto, em ocasiões

diferentes e para pessoas diferentes, a todo o passo, sequências são invertidas,

interrompidas, abandonadas ou anuladas. Lynch diz.

Legibilidade (1960 pp. 13, 15)

Este livro defenderá a tese de que a legibilidade é crucial na estrutura citadina:

analisá-la-á em pormenor e tentará mostrar como este conceito pode, hoje em dia, ser

usado quando se reconstroem as nossas cidades. Na realidade, um meio ambiente

característico e legível não oferece apenas segurança, mas também intensifica a

profundidade e a intensidade da experiência humana. Embora a vida no caos exterior

da cidade moderna esteja longe de ser impossível, a mesma ação diária poderia

adquirir um novo significado quando levada a cabo numa estrutura mais viva. A cidade

é potencialmente o símbolo poderoso de uma sociedade complexa. Se for bem

desenvolvida do ponto de vista óptico, pode ter um forte significado expressivo.

Construindo a imagem (1960 pp. 16-17)

As imagens do meio ambiente são o resultado de um processo bilateral entre o

observador e o meio. O meio ambiente sugere distinções e relações, e o observador

— com grande adaptação e à luz dos seus objectivos pró— selecciona, organiza e

dota de sentido aquilo que vê. A imagem, agora assim desenvolvida, limita e dá ênfase

ao que é visto, enquanto a própria imagem é posta à prova contra a capacidade de

registo perceptual, num processo de constante interacção. Assim, a imagem de uma

dada realidade pode variar significativamente entre diferentes observadores. Cada

indivíduo cria e sustenta a sua própria imagem, mas parece haver uma concórdia

substancial entre membros do mesmo grupo. São estas imagens de grupo, mostrando

o consenso entre um número significativo de membros, que interessam aos

planeadores de cidades aspirantes a um modelo de ambiente que muitos possam

desfrutar.

Estrutura e identidade (1960 pp. 18-19)

Uma imagem do meio ambiente pode ser analisada em três componentes:

identidade, estrutura e significado. Será útil imaginá-las num plano abstracto, com o

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fim de as analisar, pois, na realidade, estas três componentes aparecem juntas. Uma

imagem viável requer, em primeiro lugar, a identificação de um objecto, o que implica

a sua distinção de outras coisas, o seu reconhecimento como uma entidade separável.

Falamos de identidade, mas não no sentido de igualdade com outra coisa qualquer,

mas significando individualidade ou particularidade. Em segundo lugar, a imagem tem

de incluir a relação estrutural ou espacial do objecto com o observador e com os outros

objectos. Em último lugar, este objecto tem de ter para o observador um significado

quer prático quer emocional. Isto significa que existe também uma relação, mas uma

relação diferente da espacial ou estrutural. Se uma imagem deve ter um valor para a

orientação no espaço vivo, tem de ter diversas qualidades,' Tem de ser suficiente,

verdadeira num sentido pragmático, permitindo ao indivíduo operar dentro do seu

ambiente de acordo com um limite desejável. O mapa, quer exacto ou não, deve ser

suficientemente bom para que conduza uma pessoa a casa. Deve ser suficientemente

claro e bem integrado para que poupe o esforço mental: deve ser legível. Deveria ser

seguro, com um excedente de indicações para que as iniciativas próprias sejam

possíveis e o risco de insucesso não seja demasiado grande. Se uma luz intermitente

for o único sinal de uma situação crítica, uma falta de energia pode causar um

desastre. A imagem deveria, de preferência, possibilitar um fim em aberto, adaptável

à mudança, permitindo ao indivíduo continuar a investigar e a organizar a realidade:

deveriam existir espaços em branco onde ele poderia prolongar o plano por si próprio.

Em último lugar, deveria, em certa medida, ser comunicável a outros indivíduos. A

importância relativa destes critérios para uma boa imagem será variável segundo as

pessoas e as diferentes situações; uma apreciará um sistema económico e suficiente,

outra um sistema em aberto e comunicável.

Imaginabilidade (1960 pp. 19-20)

Uma vez que colocamos o ênfase no meio ambiente físico como a variável

independente, este estudo procurará qualidades físicas que estão relacionadas com

os atributos da identidade e estrutura da imagem mental. Isto leva à definição daquilo

a que podemos chamar imaginabilidade; àquela qualidade de um objecto físico que

lhe dá uma grande probabilidade de evocar uma imagem forte num dado observador.

É essa forma, cor, disposição que facilita a produção de imagens mentais vivamente

identificadas, poderosamente estruturadas e altamente úteis no meio ambiente.

Também pode ser chamada Iegibilidade ou talvez visibilidade em sentido figurado,

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onde os objectos se podem não apenas ver, mas também são apresentados de uma

forma definida e intensa aos nossos sentidos.

A nossa tese baseia-se no facto de que podemos desenvolver nossa imagem

do meio ambiente operando sobre a forma física externa, através de um processo de

aprendizagem interno. Na realidade, a complexidade do nosso meio força-nos a

proceder deste modo. (1960 p. 23)

A partir daqueles elementos de “imagem urbana” - como “imagem de meio

ambiente” - e focando a importância de descoberta de “forma física”, Lynch (1960 pp.

57-59), classificou-os em cinco tipos de elementos urbanos, sobrepostos ou

interligados constantemente: vias - canais ao longo dos quais o observador se move

usual, casual ou potencialmente (ruas, passeios, linhas de trânsito, canais, caminhos-

de-ferro); limites – elementos lineares não usados nem considerados pelos

habitantes como vias, funcionando como referências secundárias e com relevante

característica organizadora (fronteiras entre duas partes, interrupções lineares na

continuidade, costas marítimas ou fluviais, cortes do caminho-de-ferro, paredes, locais

de desenvolvimento, linhas ao longo das quais regiões se relacionam e encontram, e

delinear de cidade por parede ou água); bairros – regiões urbanas de tamanho médio

ou grande, concebidas como tendo extensão bidimensional, em que o observador

penetra (“para dentro de”) mentalmente e reconhece como tendo algo de comum e

identificável; cruzamentos - pontos como locais estratégicos de cidade pelos quais o

observador pode nela entrar e constituem intensivos focos para os quais e dos quais

o observador se desloca (junções, locais de interrupção de transporte, entrecruzar ou

convergir de vias, momentos de mudança de uma estrutura par outra, esquina de rua,

largo rodeado de outros elementos, nós de concentração ou “centros” e pontos focais);

pontos marcantes – referências externas ao observador normalmente representadas

por objeto físico definido de modo simples, a pequenas ou grandes distâncias (edifício,

sinal, loja ou montanha).

Carlos Santos (1988 pp. 185-186), alonga-se sobre a cidade como um jogo de

cartas...

O Brasil é um pais famoso por sua antropofagia; absorve novidades sem muita

relutância ou exame prévio. Pode ser verdade, mas também é um país teimoso:

depois que algo é erigido em verdade e modelo absolutos é aquilo ou nada. Há

cinquenta anos somos "modernos". O resto do mundo até já se converteu a um

duvidoso "pós-modernismo". Aqui, no entanto, nem isso surgiu de forma convincente.

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Vivemos numa estranha modernidade de antigamente - arcaica ou esclerosada? Nos

tempos que correm se desenha mais uma vez um desafio. Está ai uma nova

oportunidade desta sociedade dizer o que é e como se quer a si mesma. Irá aproveitá-

la? E os arquitetos, além dos habituais solos cheios de boas intenções

autocomplacentes, farão parte do coro? Desafinarão? Irão além, mantendo diálogos?

Contribuirão em algo para promover liberações? Abrirão seus jardins exclusivos?

Neles, que flores haverá? Tome-se o jogo de cartas com todos os elementos

constituintes, com seus padrões e estruturas. Troque-se lote por carta, quarteirão por

sequência, naipe por tipo de uso do solo, conjugação de ruas e quarteirões por "'mão"

e ' 'cartada". Em seguida, explique-se às pessoas que, se souberam o que é básico

para jogar a cidade, irão começar a ser, a se representar como cidadãos. Levarão

adiante atividades, no início bisonhas, mas de amplo alcance no tempo e no espaço.

(SANTOS, 1988, p.185)

Esse assunto é democrático por excelência. Saber sobre a cidade é ser dono

de suas regras de formação e desenvolvimento. Por isso, elas têm de ser

obrigatoriamente muito simples para garantir que todos possam jogar. Além disso, é

preciso previsões automáticas, mecanismos autodestruidores do jogo. É como se a

assembleia dos jogadores experientes pudesse criar formas de se reorganizar, ao

descobrir que as coisas não correm bem. Deve ter sido assim mesmo que os

elaboradíssimos jogos de cartas atuais se aperfeiçoaram através da história. Deve ter

sido assim mesmo que se fez a história. (SANTOS, 1988, p.186)

3.6.4 “SUSTEINISMO” (RE)ADAPTATIVO DE “PONTO-EM-CIDADE”

Minseo Kim et al. (KIM, et al., 2018)

"Residents’ Perception of Informal Green Space—A Case Study of Ichikawa

City, Japan."

Dominique Gauzin-Muller (2011 p. 48) aponta alternativa ecológica para o

urbanismo sob o signo de desenvolvimento sustentável do planeta Terra.

A alternativa ecológica vai muito além do campo da arquitetura. A abordagem ambiental, por meio da qual ela se concretiza, baseia-se em uma estratégia global e interdisciplinar que começa pela gestão do território e pelo planejamento urbano. Sua implantação causa impacto sobre: a infraestrutura; as escolhas energéticas; a produção industrial; o uso dos recursos naturais; a educação; a saúde; e a organização social. O objetivo do planejamento sustentável das cidades é melhorar as condições de vida dos seus 3 bilhões de habitantes, conciliando progressos técnicos e avanços nos

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setores sanitário, social e econômico. O que está em jogo é a satisfação das necessidades essenciais nas regiões em desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida nos países industrializados.

Vão decorrendo interações de matérias e energias em espaços-tempos, num

presente contínuo entre uma “origem necessária” e um “sabe-se lá qual fim” de um

Uni(Di)verso Caótico – “o” mundo real... Mas esse mundo tem sido sujeito a uma

ordem, organização, beleza e harmonia - o Uni(Di)verso Cósmico. Ou o mundo real

“evoluindo” no dinamismo da “ordem natural” do ambiente cósmico. Desse

dinamismo têm resultado “todos relativos” que são excludências complementares, ou

complementaridades excludentes, integrados num “todo absoluto” presente.

Por isso, a complexidade do “nosso” sistema solar é um desses todos relativos

que, pela “ordem natural”, surge “do” caos: o cosmo-hélioambiente, uma ínfima parte

imbricada no mundo real. Assim, tem sido num “desvio espaço-temporal” do caos

cósmico que esse todo relativo se tem tornado uma autêntica “armadilha cósmica”

formada por órbitas invisíveis e giros imperceptíveis, aparentemente infindáveis.

Essa armadilha cósmica, abiótica e não-consciente, “laçou” o planeta Terra

(Geo), mantendo-o girando sobre si mesmo em volta do seu Sol (Hélio) - um

(caco)(ou)topos, um espaço-tempo (a)biótico e não-consciente de lugares, não-

lugares, maus-lugares e lugares de dificuldade, dor, privação e infelicidade, no qual

grassa a (dis)(caco)(ou)topia. Na realidade, uma ”armadilha cosmo-hélio-geo” para

a (não) vida nesse planeta... Foi nessa armadilha triádica que “(sub)(e)mergiram” e

foram “confinados” os conjuntos uni(di)versos (auto)(hetero)bióticos num cosmo-

héliogeoambiente.

Nesse ambiente, dos heterobióticos, o subconjunto das antropossociedades

forma uma parte emergente bem frágil, na qual cada elemento ou agrupamento de

elementos não se autossustenta. Para se livrar dessa armadilha, este subconjunto de

sociedades de seres humanos, surfando em “ondas” de ordem natural, envolveu-se

“harmoniosamente” com a sua ambiência natural através de locus mobilis ou do

“antroponomadismo”, individual ou coletivo (tribal). Era um cosmo-

héliogeoantropoambiente onde os impactos do (sobre)(con)viver humanos, em

ambiência social itinerante, “testavam naturalmente” a resistência e a resiliência de

ambiente autóctone (a)biótico. Mas não se envolveu tão harmoniosamente em suas

relações insanas com o próprio semelhante, ao (tentar) dominar ou controlar o(s)

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outro(s) por força humana bruta ou uso de armas, ou, até mesmo, praticar a

antropofagia...

Mas, no cosmo-héliogeoantropoambiente, embora o (sobre)natural “durma”,

“ronrone” ou “mie”, também “ruge”, “funga”, “torce”, “dá sapatadas” e “arrebenta”... Por

isso, o medo a certos elementos ou conjuntos, (a)bióticos (sobre)naturais, o qual

domina a consciência humana, é o principal arquiteto da “antropossedentarização” em

ambiência social permanentemente fortificada e sob bênçãos divinas, através do

locus solus fortis e locus urbanus. Desde então, os impactos do (sobre)(con)viver

humanos passaram a “forçar para além dos limites” a resistência e a resiliência de

ambientes (a)bióticos (não)autóctones. Uma desnecessária e evitável “armadilha

social”, (a)biótica e (in)(sub)consciente. Num processo “evolucionário” humano pelo

qual os seres humanos (e não só) enrolam-se em “ondas” de ordem social e afundam-

se na sua “desarmonia” com a ambiência (sobre)natural...

Esse processo evolucionário humano cresceu exponencialmente à medida que

se foi “agregando” ao antropo os homines eretus, o faber, o habilis, o sapiens e mais

sapiens... Em suma, essa evolução está no atual HomoAntropus, quase nada

eclético, ainda pouco responsável e majoritariamente não integrado, que é mentor,

proprietário, construtor, mantenedor, usufrutuário e vítima de um ambiente social

humano autofágico!

Contudo, para redirecionar esse processo evolucionário autofágico, é

necessário reconhecer e enfrentar esse ambiente COMPLEXO mediante um

“reprocessamento” TELEOLÓGICO. Isto é, esse novo processo deve ser dirigido por

uma imagem do futuro na mente dos participantes ativos que, no seu lugar, sejam

capazes de influir sobre o sistema onde estão inseridos e no/com o qual interagem,

concorrendo, se opondo, se complementando ou suplementando, mas sem se

matarem uns aos outros em competições estúpidas e estupidificantes.

Assim, a interação inteligente de processos dinâmicos de alteração do mundo

herdado deve ser aplicada à produção e gestão de ambientes urbanos num "espaço-

tempo". Num processo multidisciplinar de arquitetura bioclimática e de economia

sustentável, que, sob a égide do direito (inter)nacional, deve enfrentar

teleologicamente a complexidade do lugar.

Em particular, será aplicado à administração pública e integrado

sistemicamente num processo transdimensional que "gera" um campo vetorial de

excludências complementares de interdependência funcional entre espaço construído

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e ambiente, nem sempre autossustentável. Esse processo compõe-se destes vetores:

4 geovetores considerados essenciais para cada ser humano vivo (terra, água, ar e

luz); e 4 antropovetores considerados substanciais para a coesão e funcionamento da

sociedade humana (praxeologia, epistemologia, axiologia e ontologia). Numa

interação dialética dessa matriz vetorial na complexidade de um lugar, que implique

uma prática humana harmoniosa, com base no conhecimento e valores do ser

humano, que respeite a vida.

Na complexidade de um lugar, o objeto de estudo é um “espaço olhado no

tempo” - locus de (não)viventes - que vai contextualizando um “espaço construído

no tempo" – locus de matéria e energia - por “apropriação” sendo feita pela

interdependência “funcional" de vivência, convivência e sobrevivência de seres

humanos – lugar de pessoas nas coisas. Isso, mediante diferentes conjuntos de

atividades de apoio uns aos outros, visando a coesão de algum grupo em particular e

da sociedade em geral num “espaço dado no tempo” - locus de coisas para pessoas.

No entanto, aquele “espaço olhado” ou esse “espaço dado” não são

necessariamente “espaço ocupado” ou “espaço vivido” ou “espaço construído", mas

são simultaneamente um “lugar-centro” e uma "parte-integrante" de uma

complexidade sistêmica de locus universitas urbs regionalis orbis universalis.

Todavia, é nesse “espaço construído" que se exacerba a problemática de

interdependência funcional na integração de sistemas (a)bióticos de convivência

humana voltada para o ensino, a pesquisa e a extensão considerados de nível

superior. Além disso, quer aquele “espaço olhado” quer esse “espaço dado” quer este

“espaço construído”, cada um é parte de “uma só” realidade ou “um só” mundo que

transcende o mero conhecimento humano - composto de tantas “realidades” ou

“mundos” quantos espaços-tempos nos tempos-espaços de cada ser vivente. Seres

como um urso, um leão, eu, o outro, um cão, um gato, uma barata, um mosquito, uma

bactéria... Todos no mesmo “fluir” tempo-espacial ou no mesmo flash ou paisagem

espaço-temporal. Porém, cada um intra-agindo no próprio “mundinho” e/ou

(retro)(inter)agindo com o(s) “mundinho(s)” do(s) outro(s). Desses, os seres humanos

têm introduzido um caldo cultural num planeta-incubadora imerso numa sopa

cósmica em fase de “expansão” num cosmo que “apazigua” relações de matéria e

energia nos vórtices espaço-temporais que “levam” ao caos no “Uni-diverso”... Dessa

“sopa” emergem raios vitais que são absorvidos pela atmosfera dessa “incubadora” e

aquecem aquele “caldo” de realidades humanas diversas... Realidades essas que se

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amontoam e conflitam em grandes espaços ocupados que foram delineados

historicamente por forças bélicas ou políticas de grupos de seres “humanos” prenhes

de “racionalidade” no seu “espaço olhado” ou “espaço dado” - o seu “espaço herdado

no tempo”!

Então, numa perspectiva antropocêntrica, uma QUESTÃO “SUBLIME” que

emerge dessa complexidade é esta: como fazer a integração humana, usando

racionalmente as relações de matéria e energia, em espaço herdado num

presente contínuo “delimitado” por uma herança histórica dominante e

“orientado” pela certeza da incerteza no espaço olhado? Uma resposta a essa

questão é o princípio II (integridade ecológica) estabelecido na “Carta da Terra”.

Outra resposta está em alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),

dos quais se destaca aqui a construção de instituições eficazes, responsáveis e

inclusivas em todos os níveis.

Entretanto, nesse “espaço herdado” observa-se que o “espaço construído”

passou a ser planejado e executado a partir de “certezas científicas”, mas levou ao

esgotamento de fontes “convencionais” de energia e de matéria. E isso incentivou o

estudo de fontes alternativas, bem como o uso racional delas.

Então, também numa perspectiva antropocêntrica, uma QUESTÃO “TÉCNICA”

que emerge dessa complexidade é esta: como integrar arquitetura, urbanismo e

paisagismo ao ambiente e à economia, em relações de matéria e energia num

espaço (1ª, 2ª e 3ª dimensões) ao longo do tempo (4ª dimensão), numa interação

dialética das quatro dimensões da filosofia visando a uma prática harmoniosa?

Uma resposta está na integração do uso racional dos recursos ambientais, na

arquitetura e urbanismo bioclimáticos, com a imagem, identidade e produção de

sentido nas políticas urbanas, visando a sustentabilidade do ambiente construído

(ou a construir). Mediante um projeto triádico de edifício com conforto térmico e

eficiência energética na arquitetura-cidade-paisagem.

A sustentabilidade abrange conceitos, projetos, estratégias e experiências em

torno de ambientes construídos. As pesquisas voltam-se para a “trans-multi-

dimensionalidade”: da sustentabilidade na concepção e na gestão de estratégica de

negócios; na gestão do processo de projetos; nas análises de cenários edificados

mais sustentáveis ou menos sustentáveis; e no desenvolvimento de materiais de

construção, de técnicas construtivas e de cadeias produtivas, no setor da construção

civil e rural, com a utilização de recursos locais e renováveis. Portanto, a

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sustentabilidade observada na tecnologia de construção, nos materiais de construção,

na produção do ambiente construído e na gestão estratégica nas organizações. Ora,

a conservação e o uso racional de energia, produção e gestão estratégica da

sustentabilidade de um espaço construído possibilitam obter um produto ou serviço

com menos consumo energético, eliminando desperdício, assegurando redução

global de custo de investimento, bem como a redução de impactos ambientais,

sociais, políticos e culturais.

Em termos de sustentabilidade, um desenvolvimento local (e regional) deve

ser observado em três dimensões: a social, a econômica e a ambiental. E essa

observação deve compreender a produção e a gestão de tecnologias do espaço

construído consideradas hoje como mais racionais e sustentáveis. E colaborar para

agregar competitividade ao ambiente organizacional, por responsabilidade social e

redução de gastos, na autoprodução, autogestão e autocontrole desse espaço.

Quanto às energias renováveis no espaço construído, devem-se entender

os conceitos, projetos, estratégias e experiências em torno de geração, uso e

aplicação dos recursos emergentes renováveis a partir de fluxos naturais como:

energia solar, energia hidráulica, energia eólica e energia da biomassa. As pesquisas

devem analisar e desenvolver tecnologias para aproveitamento de fontes energéticas

renováveis e de processos de gestão para geração, consumo e conservação eficiente

da energia renovável (como biocombustível e aplicação da energia solar).

Por sua vez, a eficiência energética no espaço construído, deve ser

compreendida em termos de conceitos, projetos, estratégias e experiências de

eficiência energética em edificações, em sistemas de energia na produção e no

saneamento. As pesquisas devem analisar e desenvolver construções

ambientalmente confortáveis, com sistemas de energia e de saneamento, em que haja

redução de consumo de energia, bem como a aplicabilidade de auditorias, simulações

e gestão energética eficiente (na engenharia hidráulica, no saneamento, em sistemas

de energia na produção, em edificações e no conforto ambiental).

O mundo e a razão não representam problemas; digamos, se se quiser, que eles são misteriosos, mas este mistério os define, não poderia tratar-se de dissipá-lo por alguma "solução", ele está para aquém das soluções. A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo, e nesse sentido uma história narrada pode significar o mundo com tanta "profundidade" quanto um tratado de filosofia. Nós tomamos em nossas mãos o nosso destino, tornamo-nos responsáveis, pela reflexão, por nossa história, mas também graças a uma decisão em que empenhamos nossa vida, e nos dois casos trata-se de um ato violento que se verifica exercendo-se. (MERLEAU-PONTY, 1999 p. 19)

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É “esquecer” prejuízos de “clássicos” e do que virou “história” – mesmo inercial

engessante e demolidora de “humanidade” – e “encadear” diversas e gradativas

sensações, associações, projeções de recordações, atenções, juízos, para fazer um

retorno a fenômenos de/para (re)adaptação de lugar de viver que faça um “caso” de

efetiva consagração de vida humana minimamente responsável e suportável. De

corpo como objeto de fisiologia mecanicista, experiência de psicologia clássica,

espacialidade própria, motricidade, ser de sínteses, sexuado, de significação por ato

expresso ou fala. Para Merleau-Ponty (1999 p. 270) “tudo o que está implicado na

redescoberta do corpo próprio (...) não é apenas um objeto entre todos, que

resiste à reflexão e permanece, por assim dizer, colado ao sujeito (...)

obscuridade atinge todo o mundo percebido”. E ele pondera e indaga:

(...) não cabe a nós sustentar a razão e, uma vez que a reconhecemos no fundo das coisas, resta-nos apenas agir e pensar no mundo. Mas, se nossa união com o corpo é substancial, como poderíamos sentir em nós mesmos uma alma pura e dali ter acesso a um Espírito absoluto? (MERLEAU-PONTY, 1999 pp. 269-270)

Ambiente hostil, por um lado, o ser humano observa e reage ao “mundo

(sobre)natural”, através de Mito e de Religião, idealizam e imaginam campo original

mutante espiritual em transformação biomental no planeta Terra. Por outro lado, Arte

e Tecnologia constroem ou representam instrumentos para agir

Nesse ambiente hostil, dos heterobióticos, o subconjunto das

antropossociedades forma uma parte emergente bem frágil, na qual cada elemento

ou agrupamento de elementos não se autossustenta. Para se livrar dessa armadilha,

este subconjunto de sociedades de seres humanos, surfando em “ondas” de ordem

natural, envolveu-se “harmoniosamente” com a sua ambiência natural através de

locus mobilis ou do “antroponomadismo”, individual ou coletivo (tribal). Era um cosmo-

héliogeoantropoambiente onde os impactos do (sobre)(con)viver humanos, em

ambiência social itinerante, “testavam naturalmente” a resistência e a resiliência de

ambiente autóctone (a)biótico. Mas não se envolveu tão harmoniosamente em suas

relações insanas com o próprio semelhante, ao (tentar) dominar ou controlar o(s)

outro(s) por força humana bruta ou uso de armas, ou, até mesmo, praticar a

antropofagia...

Mas, no cosmo-héliogeoantropoambiente, embora o (sobre)natural “durma”,

“ronrone” ou “mie”, também “ruge”, “funga”, “torce”, “dá sapatadas” e “arrebenta”... Por

isso, o medo a certos elementos ou conjuntos, (a)bióticos (sobre)naturais, o qual

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domina a consciência humana, é o principal arquiteto da “antropossedentarização” em

ambiência social permanentemente fortificada e sob bênçãos divinas, através do

locus solus fortis e locus urbanus. Desde então, os impactos do (sobre)(con)viver

humanos passaram a “forçar para além dos limites” a resistência e a resiliência de

ambientes (a)bióticos (não)autóctones. Uma desnecessária e evitável “armadilha

social”, (a)biótica e (in)(sub)consciente. Num processo “evolucionário” humano pelo

qual os seres humanos (e não só) enrolam-se em “ondas” de ordem social e afundam-

se na sua “desarmonia” com a ambiência (sobre)natural...

Esse processo evolucionário humano cresceu exponencialmente à medida que

se foi “agregando” ao antropo os homines eretus, o faber, o habilis, o sapiens e mais

sapiens... Em suma, essa evolução está no atual HomoAntropus, quase nada

eclético, ainda pouco responsável e majoritariamente não integrado, que é mentor,

proprietário, construtor, mantenedor, usufrutuário e vítima de um ambiente social

humano autofágico!

Contudo, para redirecionar esse processo evolucionário autofágico, é

necessário reconhecer e enfrentar esse ambiente COMPLEXO mediante um

“reprocessamento” TELEOLÓGICO. Isto é, esse novo processo deve ser dirigido por

uma imagem do futuro na mente dos participantes ativos que, no seu lugar, sejam

capazes de influir sobre o sistema onde estão inseridos e no/com o qual interagem,

concorrendo, se opondo, se complementando ou suplementando, mas sem se

matarem uns aos outros em competições estúpidas e estupidificantes.

Assim, a interação inteligente de processos dinâmicos de alteração do mundo

herdado deve ser aplicada à produção e gestão de ambientes urbanos num "espaço-

tempo". Num processo multidisciplinar de arquitetura bioclimática e de economia

sustentável, que, sob a égide do direito (inter)nacional, deve enfrentar

teleologicamente a complexidade do lugar.

Em particular, será aplicado à administração pública e integrado

sistemicamente num processo transdimensional que "gera" um campo vetorial de

excludências complementares de interdependência funcional entre espaço construído

e ambiente, nem sempre autossustentável. Esse processo compõe-se destes vetores:

4 geovetores considerados essenciais para cada ser humano vivo (terra, água, ar e

luz); e 4 antropovetores considerados substanciais para a coesão e funcionamento da

sociedade humana (praxeologia, epistemologia, axiologia e ontologia). Numa

interação dialética dessa matriz vetorial na complexidade de um lugar, que implique

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uma prática humana harmoniosa, com base no conhecimento e valores do ser

humano, que respeite a vida.

Considerando “cidade-em-si” como lugar de viver, para Carlos Santos (UFF,

2017b p. 51), no Brasil e na América Latina, em geral, falta tudo nas cidades e, quando

estas são grandes, só exponenciam ao máximo as ausências do que é imprescindível.

Isso remete ainda mais para “o que é prioritário?” ou seja “o que deve ser feito

antes?”. Estas duas questões - de adaptação ou readaptação, grosso modo, de/em

cidades - são feitas e respondidas pelo próprio Carlos: “qualquer coisa, pois todas

sempre serão, em alguma esfera e para algum grupo de pressão, urgentes e

fundamentais”. Portanto, Carlos, negando “uma posição cínica e absenteísta”, bem

como “função de experts direcionar cidades”, afirma que, no fundo, tratar-se-á sempre

de conhecimento de urbano só à posteriori - em haverá análise política e,

verificando-se prática democrática, esta levará a sínteses ilustrativas e

orientadoras. Continua Carlos de forma contundente, essa prática é de

responsabilidade de representantes eleitos que “terão de ter seus atos

avaliados e engolir as consequências”.

Enquanto isso, indo além de “cidade-em-si”, que impacta o “habitat-em-si”

como lugar de viver, o Arquiteto Domingo Acosta (2009 p. 18; tradução livre), busca o

“conceito” do World Commission on Environment and Development (em 1987) para

desenvolvimento sustentável (DS): "satisfaz as necessidades do presente sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias

necessidades". Enquanto percebe que o estilo atual de desenvolvimento

econômico não parece atender a nenhuma dessas duas necessidades - nem

atuais nem futuras – e que, agora, o conceito de DS tem como seus detratores, de

economistas ortodoxos, que o marca de ecolatría e o fundamentalismo, a Verdes que

o acusam de pusilânime e assinalam que a única coisa que vai proteger o meio

ambiente de excessos de produção industrial é crescimento zero. Acosta176 propõe

três elementos no conceito de DS: o primeiro é a integração de considerações

ambientais na tomada de decisão da política econômica. O segundo é que o DS

incorpora um inescapável compromisso com a equidade, com melhorias nos

padrões de vida dos pobres, com a distribuição justa da riqueza. A equidade não se

176 Citando Michael Jacobs em seu livro The Green Economy.

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refere apenas às gerações futuras, mas também às presentes. E o terceiro, que

"desenvolvimento" não deveria ser um conceito equivalente a "crescimento"; o

desenvolvimento incorpora elementos não monetários da qualidade de vida ou bem-

estar da população.

Construção sustentável de arquitetura e habitat

O motivo central que propomos como meta para buscar a sustentabilidade da

construção é muito simples: resolver os problemas atuais pensando no amanhã.

Lembre-se que muito dos nossos problemas atuais: a pobreza, a decadência das

cidades, bairros urbanos são o resultado de decisões, ações e boas omissões parte,

realizada pelas gerações anteriores para resolver os problemas do momento, sem

pensar muito em um amanhã que agora é nossa. (p.18)

BENTLY, et al. (2005 pp. 9-11; tradução livre) chamam “lugar responsivo” a

ambiente construído que forneça a seus usuários um ambiente essencialmente

democrático, enriquecendo suas oportunidades e maximizando grau de escolha

disponível para eles. Pensando em design de AMBIENTES RESPONSIVOS OU

SENSÍVEIS (fig.47 abaixo), eles afirmam que o design de um lugar afeta escolhas

que as pessoas podem fazer em muitos “níveis qualitativos”, mas apenas discriminam

estes sete: permeabilidade (afeta onde pessoas podem ir e onde não podem);

variedade (afeta gama de usos disponíveis para pessoas); legibilidade (afeta a

facilidade com que pessoas podem entender oportunidades que lhes são oferecidas);

robustez (afeta o grau em que pessoas podem usar determinado local para diferentes

propósitos); adequação visual (afeta se a aparência detalhada do local conscientiza

pessoas sobre escolhas disponíveis); riqueza (afeta escolha de pessoas por

experiências sensoriais); personalização (afeta medida em que pessoas podem

colocar seu próprio selo em um lugar). E, depois, junta-se tudo em abordagem para

projetar (em) locais responsivos, mas sem ser receita; por isso, essa abordagem deve

ser usada de forma criativa com todas ideias concebidas como “trampolins” para

design e não como capas retas em imaginação de designer. BENTLY, et al. (ibidem)

dizem que essas qualidades abrangem problemas principais para tornar lugares

responsivos e podem ser alcançadas no projeto de “edifícios” e “locais ao ar

livre”.

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Figura 46- Diagrama de “Ambiente Responsivo”

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 18 de maio de 2019

Dominique Gauzin-Muller (2011 pp. 36, 264-294) destaca Haute Qualité

Environnementale (HQE) – Alta Qualidade Ambiental (AQA) – em temos de prática,

atores, formação e obras HQE, inseridas em generalização da abordagem ambiental,

com 14 (catorze) Objetivos da Iniciativa HQE:

Controle dos Impactos sobre o Ambiente Externo

Ecoconstrução

1) Relação harmoniosa da construção com seu ambiente imediato 2) Escolha integrada de Sistemas e Materiais de Construção 3) Canteiros de Obras de Baixo Impacto

Ecogestão

4) Gestão de Energia 5) Gestão de Água 6) Gestão de Resíduos de Atividades 7) Conservação e Manutenção

Criação de um Ambiente Interno Satisfatório

Conforto

8) Conforto Higrotérmico 9) Conforto Acústico 10) Conforto Visual 11) Conforto Olfativo

Saúde

12) Condições Sanitárias 13) Qualidade do Ar 14) Qualidade da Água

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Tyler Watts (2009)177 afirma que sustentabilidade é um ataque à economia

por “verdes” que não são mais apenas “abraçadores de árvores” porque estão “nos”

intimidando a reciclar, comer soja, economizar energia, dirigir menos, andar de ônibus

e mil outras maneiras de "agir localmente" por muitos anos. Watts afirma que, apesar

da enorme popularidade de sua causa, ele não acha que os “verdes” estejam

satisfeitos, porque querem “nos” controlar e, se não “tomarmos cuidado”, essas

pessoas empenhadas em salvar o planeta acabarão por microgerenciar “nossas”

vidas diárias178. Apesar disso, Watts concorda com a ideia básica de que

sustentabilidade em si soa bastante benigna se implicar meramente que as

pessoas devem ter pensamento para frente, ser prudentes e ser parcimoniosas no

uso de recursos econômicos. Pois, para ele, essa ideia parece uma sabedoria

simples, associada a valores igualmente brandos e benevolentes, como

responsabilidade e generosidade.

Michael DeJong179 (2011 pp. passim, tradução livre) diz que, deixada a si

mesma, ao longo do tempo, a natureza tem tido meios para criar sua própria biosfera

autossustentável e nutritiva, reconhecida prontamente como ecossistema

autocontido que suporta organismos vivos que nele existem, em “cadeia alimentar”

177 PhD em Economia pela George Mason University em 2010. Atualmente, leciona economia na East Texas Baptist University e dirige o Institute for Economic Education (veja o canal do YouTube em https://www.youtube.com/channel/UCcPciz7Jpi5rATh3SqSrsrw), um alcance público focado na integração da economia com uma cosmovisão bíblica e fornecendo ferramentas de ensino exclusivas para estudantes de economia do ensino médio e da faculdade. 178 No original (WATTS 2009): “Sustainability: An Assault on Economics”. Ah, the greens. They're not just treehuggers anymore. They've been browbeating us to recycle, eat soy, save energy, drive less, ride the bus, and a thousand other ways to "act local" for many years now. Now they've even got a hip new huckster on the big screen: "No Impact Man," your conductor on a first-class guilt trip to ecoland. Despite the massive popularity of their cause, I don't think they're satisfied. They want to control us. If we don't watch out, these people hell-bent on saving the planet are going to end up micromanaging our daily lives. The idea of sustainability itself sounds pretty benign — it merely implies that people ought to be forward thinking, prudent, and thrifty in their use of economic resources. And I'm OK with this basic idea — on the surface, it sounds like simple wisdom, in league with similarly bland and benevolent values like responsibility and generosity. 179 Michael DeJong: ambientalista, artista e autor, nasceu em Chicago em 1962, ganhando seu mestrado pela Universidade de Illinois em 1987 antes de se mudar para Nova York. Uma vez estabelecido, para se sustentar como artista profissional, administrou um negócio de limpeza por 7 anos. Em resposta aos seus próprios desafios de saúde causados por múltiplas exposições diárias a produtos de limpeza domésticos tóxicos, ele começou a pesquisar alternativas mais saudáveis e naturais, usando as casas de seus clientes como seu "laboratório", formulando e testando suas receitas de limpeza ecológicas, amigáveis para o homem e para animais de estimação em seus clientes e seu sócio de 20 anos, Richard Haymes. Desde 2002, eles moram em uma casa histórica de 1833 em Jersey City, transformando criativamente uma casa de 180 anos em um espaço verde. Extraído de link em https://www.huffpost.com/entry/the-human-stain-on-sustai_b_807000, em 07/05/2019.

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de coma-ou-seja-comido como sistema original “de berço a berço”180 - onde nada foi

desperdiçado de começo a fim. “Criou” um ciclo de vida que eliminou fracos,

recompensou fortes e se aperfeiçoou em direção a grandes maquinações de eficiência

e biodiversidade. “Em sua infância, nosso pequeno orbe azul era um lugar perfeito

com serenata por pouco mais que sussurro de ventos e refluxo de marés oceânicas”.

Remata DeJong: “Homem-o-homem. Deve ter sido ótimo”. Contudo, DeJong (ibidem)

sinaliza o 1º baque na natureza: entram humanos...

Ele e ela, num piscar de olhos (evolucionários), tornaram-se caçadores ideais, coletores perfeitos, agricultores especialistas, conquistadores brutais, industriais gananciosos, acadêmicos de “publique-ou-pereça”, especialistas culturais ou políticos, e vendedores ambulantes do "novo e melhorado". Então, por pura necessidade, evoluiu o “eu sou louco como inferno e eu não vou aguentar mais” “salvadores” planetários que aplicaram todos aqueles conjuntos de habilidades de “usem-nos ou percam-nos” para combater o bom combate contra megacorporações egoístas e saqueadores de todos recursos naturais que antes eram nosso direito natural da Mãe Natureza. Por causa da confusão para a qual todos nós contribuímos, Grande Mãe está chateada, como ela deveria estar. Se você já ouviu metade do Zeitgeist do ambientalismo desde que Rachel Carson escreveu “The Silent Spring”, cerca de 50 anos atrás, você pode ter ouvido a Sra. Natureza assim que ela gritou no topo de seus pulmões asmáticos sobre sustentabilidade. Ela é deusa irritada cuja calcinha está retorcida porque, infelizmente, o que antes era objetivo de humanitários e ambientalistas - um ecossistema recuperado no qual nossos filhos poderiam existir, prosperar e acreditar - se tornou em civilização de lavagem cerebral para crença de que “viver melhor por química” seria resposta para todos problemas de nosso mundo. “Sustentismo” é apenas o mais recente de uma longa lista de termos (“novo desenho”, “desenho sustentável” e parte de movimentos culturais de “polimodernismo”, “supermodernismo” e “super-hibridismo”, identificados em recente peça do New York Times Arts de Alice Rawsthorn) sendo discutida enquanto tentamos debilmente definir como devemos viver, como devemos pensar, como devemos agir enquanto fazemos nossas mais sinceras tentativas de avançar, evitando ponto de inflexão sem retorno. Infelizmente, muitos pesquisadores suspeitam que isso já tenha acontecido, que já esteja próximo ou possa ser iminente na próxima geração - em outras palavras, em breve. Deveríamos ter ficado com medo porque enquanto não estávamos olhando, enquanto estávamos nos perguntando sobre isso ou aquilo, o céu ambiental já havia caído.

DeJong (ibidem) sinaliza o 2º baque na natureza: entram humanos...

180 “Cradle-to-Cradle” (de berço a berço).Uma frase inventada por Walter R. Stahel na década de 1970 e popularizada por William McDonough e Michael Braungart em seu livro de 2002 com o mesmo nome. Este quadro visa criar técnicas de produção que não são apenas eficientes, mas são essencialmente livres de resíduos. Na produção do berço ao berço, todas as entradas e saídas de materiais são vistas como nutrientes técnicos ou biológicos. Os nutrientes técnicos podem ser reciclados ou reutilizados sem perda de qualidade e nutrientes biológicos compostados ou consumidos. Por outro lado, “cradle-to-grave” o berço até a sepultura se refere a uma empresa que assume a responsabilidade pelo descarte de produtos que produziu, mas não necessariamente coloca os componentes constituintes dos produtos de volta ao serviço. Extraído de https://sustainabilitydictionary.com/2005/12/03/cradle-to-cradle/, em 07/05/2019.

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Sustainism: It's Got a Name, Now Do It

By ALICE RAWSTHORNJAN. 9, 2011

intervention design’s design theory: manifests and sustainism

your manifest leads to a design praxis

michiel schwarz: sustainism

principles of sustainist design: sharing, localism, connectedness, proportionality

Rafael Tello (2012) Guia CBIC de boas práticas em sustentabilidade na

indústria da Construção

3.6.5 ARQUITETÔNICA DE “TOPO” EM “TELEOLOGIA-NO-PONTO”

Para um desenvolvimento sistemático da ciência urbana, Rossi procurou

deter-se particularmente: nos problemas históricos e nos métodos de descrição dos

fatos urbanos; nas relações entre os fatores locais e a construção dos fatos urbanos;

e na identificação das forças principais que agem sobre as cidades - entendidas como

forças que estão em ação de modo permanente e universal.

Aldo Rossi (2001) convencia-se de que uma parte importante de estudos

urbanos deveria ser dedicada à história da ideia de cidade - história das cidades

ideais e história das utopias urbanas.

Em termos de outro ”pequeno ambiente”, Cullen (1971) acrescenta que um

edifício é arquitetura, mas dois já formam uma paisagem urbana porque a relação

entre dois edifícios próximos é suficiente para libertar a arte da paisagem urbana.

Ele assevera que a chave para o conceito de paisagem urbana reside num argumento

simples, mas surpreendente: os vários componentes da paisagem não podem ser

dissociados. Baseado nisso, esse autor alcunhou de Imediaticidade o contato visual

direto entre homem e ambiente. E diz que as relações entre os edifícios e com o

espaço entre eles são questões que imediatamente se afiguram importantes – e que,

multiplicadas à escala de uma cidade, obtém-se a arte do ambiente urbano.

Todavia, também para Cullen, as autoridades, quase por definição, estão mais

interessadas na arte de governar que na arte de urbanizar, e o que acontece à

paisagem urbana será a resultante política de várias forças de pressão. Por isso, ele

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afirma não ser surpreendente que as autoridades, tentando conciliar estas pressões

numa única resultante, recorram a grandes princípios que, duma maneira geral, ou

funcionam ou tentam fazer do mal o menos: a “regra geral" em urbanismo. Enfim, ele

atesta que o argumento central da paisagem urbana é que existe uma arte da

paisagem construída, mas lamenta que esta tenha sido perdida pelo caminho,

abafada por “certos urbanistas” que a tentaram desvirtuar e tipificar.

Finalmente, Rossi afirma que a criação de um ambiente mais propício à vida e

intencionalidade estética são as características estáveis da arquitetura. E estas

evidenciam-se em toda pesquisa positiva e iluminam a cidade como criação humana.

Mas, por dar forma concreta à sociedade e sendo intimamente ligada a ela e à

natureza, a arquitetura é diferente, e de um modo original, de todas as outras artes e

ciências.

Acerca de paisagem utópica em “desenho de Arcádia” e sua permanência na

prática da intervenção arquitetônica atual, Carlos Penim Loureiro181 (2013 p. 264)

afirma que

Arquitetura, Natureza e Paisagem, constroem a dinâmica que originará um novo vocabulário de lugar, consistindo também numa construção de uma integração e de dependência mútua, entre o modo artificial e os acontecimentos da natureza: fusão dos elementos com base numa modelação, de recortes do território.

E Loureiro (idem p.176) diz que elementos físicos componentes da paisagem

são conjunto de constituintes significativos de paisagem que, quando visionados num

só relance ou simples percepção, são reveladores de forma de lugar que

compõem. Estes descritores, aplicáveis em espaço tanto natural como urbano,

variam com a própria estrutura de paisagem - podendo ser pontos, eixos ou planos.

As pessoas devem projetar casas, ruas e comunidades para si mesmas. Esta ideia pode implicar uma transformação radical da profissão de arquiteto, mas surge simplesmente da observação de que a maioria dos lugares bonitos do mundo não foram feitos por arquitetos, mas pelo povo. (ALEXANDER, et al., 1977 p. tradução livre)

(fig. 49 abaixo)...

181 Professor Adjunto do ISEL, docente de Desenho Geral, Arquitectura e Urbanismo e Urbanismo e Território. Licenciado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa; mestrado em Arquitetura pela FA-UTL, na área de Reabilitação da Arquitetura e Núcleos Urbanos; doutorado pela FBA-UL, na Especialidade de Ciências da Arte. Investigação nos domínios da reabilitação da arquitetura, de espaços urbanos e rurais e análise e intervenção na Paisagem. Extraído de https://www.isel.pt/docentes/carlos-manuel-moura-penim-loureiro, em 09/05/2019.

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Figura 47- Diagrama de Forma Fundida com Coerência Dupla em Edifício em Condomínio Vertical

Fonte: Adaptação do autor desta dissertação, 09 de setembro de 2017

Carlos Santos (UFF, 2017a p. 113), como técnico sentiu-se obrigado a tomar

partido quando um campo do qual ele não fazia parte era convocado para legitimar

determinadas tomadas de posição182. E reclamava que

Há muita gente por aí se orgulhando de ser um profissional ainda à moda antiga: arquitetos e urbanistas de prancheta e lápis na mão. Pois bem, eu me orgulho de ser um urbanista dos que desenham rua no chão mesmo, com uma vareta na mão, e dos que não veem a gente para quem trabalham como uma estranha abstração estatística, mas como pessoas com quem conversam todos os dias, que têm cara e problemas cotidianos concretos. É um grupo de muito pouca gente, dando murro em ponta de faca para realizar um mínimo de trabalho decente, mas são os únicos profissionais, na minha área, cujo trabalho consigo respeitar sem restrições.

A partir de Ching183, na Arquitetura, esta dissertação aponta para Arquitetônica

(fig.50 abaixo) - vista como estrutura unificadora (ou conceito) de trabalho artístico

na(no) qual destaco: estética, ramo da filosofia que trata de natureza de arte, beleza

e gosto, com vistas a estabelecer significado e validade de juízos críticos sobre obras

de arte; arte, uso consciente do ofício de habilidade e imaginação criativa na produção

do que é belo, atraente ou de significância mais que comum; beleza, agregado de

182 Para desfazer qualquer equívoco, ele, arquiteto e urbanista, esclareceu que não era um teórico por vocação, nem se interessava por favelas e favelados desde uma perspectiva acadêmica. Ao contrário, só chegou a valer-se de teorias à medida que isso se fazia necessário para criticar, rever e aperfeiçoar sua práticas. (ibidem) 183 Ching (1995 pp. 9-11, 50, 52, 136, 179 e 227; tradução e adaptação minhas).

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qualidades em uma pessoa ou uma coisa que dá intenso prazer a sentidos ou

profunda satisfação à mente ou ao espírito, seja decorrente de harmonia de forma ou

cor, excelência de ofício, veracidade, originalidade ou outra propriedade muitas vezes

indiscutível; gosto, julgamento crítico, discernimento ou apreciação do que é

apropriado, harmonioso ou belo prevalecendo em uma cultura ou próprio de um

indivíduo; deleite, um alto grau de satisfação ou divertimento; desenho ambiental,

ordenação de ambiente físico por meio de arquitetura, engenharia, construção,

arquitetura paisagística, desenho urbano e planejamento urbano; arquitetura

paisagista, arte, negócio ou profissão de desenhar, organizar ou modificar recursos

de paisagem por motivos estéticos ou práticos; desenho, criação e organização de

elementos formais em obra de arte; desenho urbano, aspecto da arquitetura e

urbanismo que trata do desenho de estruturas e espaços urbanos; desenho de

interiores, arte, negócio ou profissão de planejar desenho de interiores arquitetônicos

e supervisionar execução deste, incluindo seus esquemas de cores, mobiliário,

acessórios, acabamentos e, às vezes, características arquitetônicas; planejamento

de cidade (também chamado de urbanismo, planejamento urbano), atividade ou

profissão de determinar futuro arranjo físico e condição de comunidade, envolvendo

avaliação de condições atuais, previsão de requisitos futuros, plano para cumprimento

desses requisitos e propostas de programas legais, financeiros e de construção para

implementar esse plano; planejamento de espaço, aspecto de arquitetura e desenho

de interiores que lida com planejamento, layout, design e mobiliário de espaços dentro

de edifício proposto ou existente; engenharia, arte e ciência de aplicar princípios

científicos a fins práticos em concepção e construção de estruturas, equipamentos e

sistemas; tectônica, ciência ou arte de modelar, ornamentar ou agregar materiais em

construção; construção, maneira pela qual materiais são ordenados, agregados e

unidos em um todo, como estrutura de construção; firmeza, estado ou qualidade de

ser solidamente construído; técnica, habilidade em arte(s) no geral; tecnologia,

ciência aplicada e ramo de conhecimento que lida com criação e uso de métodos e

materiais técnicos, e sua inter-relação com vida, sociedade e ambiente; ciência

comportamental, qualquer das ciências, como economia e antropologia, que buscam

descobrir verdades genéricas a partir de observação de comportamento humano em

sociedade; sociologia, ciência de instituições e relações sociais humanas -

especificamente, estudo de origem, desenvolvimento, estrutura, funcionamento e

comportamento coletivo de grupos organizados de seres humanos; antropologia,

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ciência dos seres humanos – especificamente, estudo de origens, desenvolvimento

físico e cultural, e relações ambientais e sociais da humanidade; sinal, marca ou figura

com significado convencional e usada em lugar de palavra ou frase para expressar

uma noção complexa; ordem, qualquer um dos cinco estilos de arquitetura clássica

caracterizados pelo tipo e arranjo de colunas e entablamentos empregados, como as

ordens dórica, jônica, coríntia, toscana e combinadas; casa, um edifício em que vivem

pessoas; e energia solar, aquecimento solar passivo, um sistema de aquecimento

solar usando o design e a construção de um edifício e o fluxo natural de calor para

coletar, armazenar e distribuir energia solar, com uso mínimo de ventiladores ou

bombas.

Figura 48- Diagrama de Arquitetura – Estrutura unificadora de trabalho artístico Fonte: Autor desta dissertação, 25 de abril de 2019

Christopher Alexander (1979 pp. 3-549; tradução livre), sinaliza que edifício ou

cidade só estará vivo na medida em que é governado por caminho atemporal (1)-

um processo - que traz ordem do nada além de nós mesmos - que não pode ser

alcançado, mas acontecerá por vontade própria, se apenas o deixarmos. Esse

“processo” tem qualidade (2-8), mas qualidade sem um nome (qualidade-em-si), para

ser vivo com padrões de eventos e de espaço - padrões que estão vivos em sua

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multiplicidade. E “usa” passagem ou portal (9-17). Um portal com flor e semente,

“nossas” linguagens-padrão reveladoras tanto de poder criativo quanto quebra de

linguagem. Padrões com objetividade, que podem ser compartilhados. Linguagem

com estrutura e evolução comum para uma cidade. Para “entrar” em caminho (18-

26) ao longo do qual se “manifestarão”: poder genético de linguagem; diferenciação

de espaço; padrão em tempo. Formando um edifício em grupo de edifícios - por

processo de construção e/ou processo de reparação – em lento surgimento de cidade

com “caráter de cidade sem idade”. E atingir âmago desse caminho (27), desistindo

de ideias e opiniões próprias, e fazer exatamente o que emerge de cada um. Mas

atuar como a “natureza” (a coisa mais comum do mundo), procurando “alinhar-se” de

forma escalar, de “fora” para “dentro” (fig.51 abaixo): 1) regiões; 2) cidades; 3) bairros;

4) quarteirões; 5) edifícios; 6) salas; 7) nichos; e 8) detalhes de construção.

Figura 49- Diagrama de “alinhamento integrado” de forma escalar, de “fora” para “dentro”

Fonte: Autor desta dissertação, 09 de setembro de 2017

Estabelecidos os conceitos fundamentais para a compreensão do ambiente construído (a espacialidade do ser e as espacializações como expressões, no espaço, dos eventos humanos), a tarefa seguinte é compreender o espaço arquitetônico em face desses conceitos. O processo de criar e modificar lugares para propósitos sociais é dinâmico e dialético. As formas arquitetônicas são moldadas na experiência vivida, seja do espaço, seja da distância ou do tempo. O espaço arquitetônico, como a concretização do espaço existencial, pode ser considerado em três dimensões: primeiramente, a dimensão simbólica, que é relacionada ao universo das percepções, emoções e crenças, isto é, o universo dos desejos. Estes produzem o impulso para o homem agir e criar lugares para suas ações, doando-lhes significado. As questões que a dimensão simbólica suscita são do tipo “Para que é?”. Em segundo lugar, a dimensão funcional (ou de uso) que se refere ao ordenamento das coisas no espaço para o desempenho das

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atividades cotidianas. As questões que pertencem a essa dimensão são do tipo “Como funciona?”. Finalmente, a dimensão tecnológica, ou pragmática como quer Broadbent (1973) (sic) que abarca todo o conhecimento técnico e habilidades que o homem desenvolve para poder criar lugares significativos e funcionais, adequados ao uso. As questões pertinentes a essa dimensão são as do tipo “Como fazer?”, Às vezes um nível é negligenciado, ou mesmo ignorado, e os outros dois são enfatizados. Quando isso ocorre, certos elementos arquitetônicos são eliminados (como supérfluos) ou são por demais simplificados, afetando a experiência do espaço (a experiência de habitar, no sentido mais amplo). Dessa forma, tais elementos (ausentes ou impróprios) tornam-se evidentes, É quando surgem os conflitos entre o objeto arquitetônico e os seus usuários. (...) A situação balanceada é, obviamente, a mais desejável para a maioria dos projetos de Arquitetura, embora em alguns casos uma dimensão deva ser privilegiada – ou negligenciada – em relação às outras. Abordagens derivadas das ciências explanatórias e que geralmente partem das questões do tipo “Como funciona?” e “Como fazer?” podem levar a uma visão empobrecida do todo arquitetônico. A abordagem fenomenológica, pelo fato de começar com a questão “Para o que é?”, parece ser mais apropriada para os propósitos arquitetônicos. (...) Podemos dizer que o objeto arquitetônico é fruído na sua dimensão artística, usufruído na sua dimensão utilitária e construído na sua dimensão tecnológica, reinterpretando a tríade vitruviana de venustas, utilitas e firmitas. É um objeto complexo. As aparências da Arquitetura – seus aspectos visuais, usualmente chamados de estéticos – não representam a sua complexa totalidade. Entretanto, são as aparências que marcam a presença do objeto arquitetônico no mundo e o tornam conhecido, apreciado, discutido, polêmico. (MALARD, 2006 pp. 52-55; itálicos no original)

Kaplan et al. (1998 pp. 163-165; tradução livre) elaborou “matriz” de padrões

(série de linhas alfanuméricas) e temas (quatro colunas - importância de

compreensão, necessidade de exploração, ter ambiente repousante e agradável e

oportunidades de participação significativa) para analisar design e gestão de “natureza

cotidiana” tendo em mente PESSOAS de maneira a que estas: possam enfrentar

desafios (com seus medos, preferências, modos de encontrar por desenhos ou

mapas e ambientes fortificantes); ter oportunidades de desenho e gestão (com

acessos, distribuição, trilhas, locomoção, visualizações, panoramas, lugares e seus

elementos); e se envolvam (em desenho e gestão).

3.6.6 “TOPO” – MODELOS, VETORES, MATRIZES E INDICADORES

Carlos Penim Loureiro (2013 pp. 179-184) - em sua abordagem quantitativa –

diz que:

Os territórios do meio natural são “administrados” (por parte dos particulares e pelo estado) por dois propósitos base:

• Para tirar proveito de certas comodidades concretas, tais como prestígio/imagem social, ou para fins da conservação biofísica, ou, ainda, para obter produtos, os quais podem ser a madeira, a água, o pasto ou mesmo a caça;

281 / 365

• Para a obtenção (e/ou exploração) de comodidades intangíveis, tais como a emoção do observador ao traduzir o significado do espaço. Estas “comodidades intangíveis” são aquelas (...) cuja quantificação está estreitamente dependente da capacidade da paisagem em transmitir ao observador o seu carácter.

Nessa abordagem, Loureiro (ibidem, p.180) prossegue

Ao admitir que a avaliação dos espaços naturais já não pode mais focar-se em exemplos extrema e moderadamente pitorescos deu-se início nas últimas décadas a uma mudança paradigmática no reconhecimento da paisagem que abrange as áreas naturais, rurais, urbanas e periurbanas. Muitos foram os critérios de avaliação formulados para estabelecem um panorama quantitativo da paisagem, variando de acordo com a área onde se destinam a ser aplicados. Destes, sobressaem três tipos de critérios, pela sua aplicação na disciplina da arquitetura; o primeiro avalia a vocação da paisagem para absorver alterações, o segundo quantifica as qualidades visuais inerentes à paisagem que contribuem para uma maior qualidade do ambiente, o último estabelece os seus indicadores com base nas preferências demonstradas pelas pessoas por certas características do espaço natural. Atualmente uma nova metodologia avaliativa - a Landscape Character Assessment184 - (com raiz nos critérios de qualidade visual) foi desenvolvida por diversas agências, que, face às crescentes alterações na paisagem, viram a necessidade de criar ferramentas suficientemente especificas para cada região e orientadas para partes interessadas locais: os stakeholders. A Avaliação do Carácter das Paisagens é usada no contexto da Comunidade Europeia como implementação política, bem como agenda de investigação, contando com as contribuições185 dos vários estados comunitários que, após compiladas num relatório186, fornecem uma visão geral, contudo suficientemente focada, da rápida evolução do carácter da paisagem na interface entre a política europeia e a identidade regional. Em geral, nesta abordagem, é usada para o reconhecimento e mapeamento de tipologias de paisagem, sendo analisado de acordo com um conjunto simples de categorias, nomeadamente fatores relacionados com a dimensão biofísica, socioeconómica-técnica, humana-estética e política.

184 A “Avaliação do Carácter da Paisagem" (LCA) é o termo que tem sido usado pela Comunidade Europeia. A LCA é entendida, no âmbito deste projeto comunitário, envolvendo o uso de ferramentas de suporte tecnológico para a classificação dos Tipos de Paisagem e mapeamento de Áreas de Paisagem associadas às tipologias. Por exemplo Portugal encontra-se dividido em 128 Tipos Unitários de Paisagem, atribuídos a 22 Áreas de Paisagem, no Relatório Final da ELCAI datado de 2005. (ibidem) 185 O reconhecimento do panorama das paisagens de cada país é um estudo elaborado pelas diversas delegações nacionais que colaboram no projeto ELCAI (European Landscape Character Assessment Initiative). (ibidem) 186 WASCHER, D.M. - European Landscape Character Areas – Typologies, Cartography and Indicators for the Assessment of Sustainable Landscapes. Final Project Report as deliverable from the EU’s Accompanying Measure project. Wageningen (The Netherlands): Landscape Europe & ELCAI (European Landscape CharacterAssessment Initiative), 2005. (ibidem)

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Figura 50- Diagrama de Posicionamento ao longo de eixos de

Indicadores Visuais de Carácter de Paisagem Fonte: Carlos Penim Loureiro187. DESENHO DA ARCÁDIA p. 182 (Gráfico 1) – “de acordo com as

suas interelações”

Loureiro (ibidem, p.181) segue dizendo

Não obstante, os descritores visuais da paisagem encontram-se muito menos desenvolvidos do que os destinados a outras leituras da paisagem, mesmo tendo um recente aumento no desenvolvimento da aplicação de indicadores especificamente visuais em resposta à exigência de incorporar aspetos da perceção humana da paisagem. Esta abordagem, de enquadramento teórico, consiste em níveis distintos de abstração que ligam os descritores para conceitos estético-espaciais no âmbito da teoria da paisagem. Estes conceitos devem ser vistos como uma figura de chapéu-de-chuva sob o qual as diferentes dimensões e correspondências do conceito

187 Tradução de Carlos Penim Loureiro de esquema e conceitos segundo: ODE, Åsa ; TVEIT, Mari S. ; FRY, Gary - Capturing Landscape Visual Character Using Indicators: Touching Base with Landscape Aesthetic Theory. Landscape Research. Vol. 33, Nº. 1 (February 2008), p. 91.

283 / 365

são encontradas. Tanto o conceito como os níveis de dimensão são abstrações dos atributos físicos da paisagem, enquanto os indicadores representam o grau em que as particularidades da paisagem poderia ser medido e quantificado. Neste contexto, a investigadora em análise da paisagem, Mari Tveit (1975), identificou nove conceitos percetivos que, juntos, caracterizam a paisagem visual: Complexidade, Coerência, Perturbação, Manutenção, Imaginabilidade, Escala visual, Naturalidade, Historicidade e Efemeridade188 (fig.52 acima). Estes conceitos são suportados por diferentes teorias que explicam a experiência do sujeito do espaço natural. Enquanto esta abordagem enfoca o carácter da paisagem, as teorias desenvolvidas para explicar e predizer as preferências, fornecem uma base para o reconhecimento do que é, realmente, importante para a nossa experiência do Sítio.

Carlos Santos (UFF, 2017b p. 176)

A procura da cientificidade nas formas de classificação e abordagem do urbano se reduz a amarrar significantes e significados, tornando-os transparentes de modo arbitrário. No entanto, um determinado espaço urbano, independentemente das categorizações que lhe imponha a teoria, tem muitos significados diferentes. Sem se conflitarem, eles podem sobrepor-se e representar, ao mesmo tempo, os interesses distintos das classes, grupos e estamentos sociais que tenham de usá-lo.

É indiscutível que o processo de desenvolvimento da sociedade

contemporânea foi construído alicerçado em conceitos insustentáveis, pelo qual se

observa uma evidente demanda na busca de soluções que atenuem os problemas já

verificados. É também amplamente reconhecido que os principais centros de

desequilíbrio ambiental estão nos espaços urbanos e em suas edificações, onde se

concentram também os maiores provedores de facilidades e conforto humano.

Embora grande parte da promoção da sustentabilidade da edificação dependa da

sustentabilidade da cidade – e vice-versa os processos e critérios a serem

considerados são individuais e diferenciados, sendo neste artigo abordado

especificamente a vertente da sustentabilidade urbana. Observa-se ainda que os

instrumentos de avaliação de sustentabilidade urbana, geralmente, além de ignorarem

o fato das cidades já estarem consolidadas, ainda propõem métodos globais que não

consideram a realidade regional, e que tendem ao fracasso quando aplicados sem a

necessária adaptação às prioridades na escala local. O objetivo desta pesquisa foi

desenvolver indicadores de avaliação de sustentabilidade direcionados especialmente

para três situações: planejamento urbano de novas áreas de expansão; adensamento

188 ODE, Åsa, TVEIT, Mari S., FRY, Gary - Capturing Landscape Visual Character Using Indicators: Touching Base with Landscape Aesthetic Theory. Landscape Research. Vol. 33, Nº. 1 (February 2008), p. 91. [Acedido a 4 de Junho de 2012]. Disponível na Internet: http://dx.doi.org/10.1080/01426390701773854 . (ibidem)

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das existentes, e requalificação de zonas degradadas. A metodologia adotada

envolveu estudos sistemáticos desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar oriunda

de sete países ibero-americanos da Rede URBENERE. Os principais aspectos de

abordagem foram: forma urbana, densidade e compacidade, múltiplos usos do solo e

infraestruturas, ecologia e biodiversidade, energia, água, materiais e resíduos,

conforto exterior, segurança, amenidades, mobilidade, identidade e cultura locais,

emprego, e desenvolvimento económico. Como resultado foram estabelecidas as

seguintes categorias de análise: Forma Urbana, Ecossistema e Paisagem, Energia,

Água, Materiais e Resíduos, Conforto Exterior, Segurança, Amenidades, Mobilidade,

Identidade Local e Cultural, Desenvolvimento Económico, e Gestão Pública. Para

cada categoria foram propostos indicadores, resultando num total de 103, cuja

principal função é avaliar a situação consolidada e indicar possíveis

encaminhamentos. (BRAGANÇA, et al. p. 1)

Análise da Sustentabilidade Urbana no contexto das Cidades: proposição de

critérios e indicadores (MARTINS, et al., 2013)

Modelo de avaliação do nível de sustentabilidade urbana: proposta para as

cidades brasileiras (MARTINS, et al., 2015)

Modelos em Arquitetura

Modelo de Informações de Edifício

Matrizes

Rafael Tello (2012)

Indicadores de avaliação de sustentabilidade urbana para países Latino-

americanos (BRAGANÇA, et al.)

Os 7 R’s da Sustentabilidade em Ação – AUTOSSUSTENTÁVEL

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Figura 51- Diagrama de Conceituação de One Planet Living (Vivendo em Um Planeta) Fonte: http://singita.com/wp-content/uploads/2016/09/oneplanetliving-1024x858.png.

Extraído em 26 de abril de 2019.

http://www.gbcbrasil.org.br/referencial-casa.php

As Certificações GBC Brasil Casa® e Condomínio® foram projetadas para

enfrentar os desafios ambientais, respondendo às necessidades de um mercado

competitivo.

As certificações demonstram liderança, inovação, gestão ambiental e

responsabilidade social.

As residências e condomínios residenciais com certificação são projetados para

oferecer os seguintes benefícios:

Custos operacionais mais baixos e aumento do valor patrimonial

Redução de resíduos enviados para aterros sanitários

Conservação de energia e água

Ambientes mais saudáveis e produtivos para ocupantes, resultando em um

aumento da qualidade de vida, saúde e bem-estar

Redução das emissões de gases de efeito estufa

286 / 365

Qualificação para descontos fiscais, subsídios de zoneamento e outros

incentivos financeiros por parte do poder público

OBJETIVOS DA CERTIFICAÇÃO

As Certificações GBC Brasil Casa® e Condomínio® visam promover a

transformação do setor da construção por meio de estratégias desenvolvidas para

alcançar seis objetivos:

Mitigação da mudança climática global;

Melhoraria da saúde humana e bem-estar do ocupante;

Proteção e restauração de recursos hídricos;

Proteção e restauração da biodiversidade e os serviços ecossistêmicos;

Construção de economia verde;

Aumento da comunicação e educação, contribuindo para o aumento da

equidade; social, justiça ambiental, saúde comunitária e qualidade de vida.

Esses objetivos são a base para os pré-requisitos e créditos da Certificação,

que são classificados em 8 categorias: Implantação (IMP), Eficiência Energética (EA),

Uso Eficiente da Água (UEA), Materiais e Recursos (MR), Qualidade Ambiental

Interna (QAI), Requisitos Sociais (RS), Inovação e Projeto (IP) e Créditos Regionais

(CR).

Os objetivos também norteiam a ponderação dos pontos em direção à

certificação. Cada crédito possui uma pontuação com base na importância relativa de

sua contribuição para os objetivos listados. Os créditos que abordam mais diretamente

os objetivos mais importantes recebem o maior peso.

Para que uma residência ou condomínio residencial conquiste a certificação é

necessário atender a todos os pré-requisitos, itens obrigatórios, e uma quantidade

mínima de pontos através do atendimento dos créditos, demonstrando um

desempenho acima do convencional. A certificação é concedida em quatro níveis

(Verde, Prata, Ouro e Platina) para incentivar a busca por maiores resultados e um

rápido progresso em direção aos objetivos.

http://www.gbcbrasil.org.br/certificacao-condominio.php

Compreenda o GBC CONDOMÍNIO

A CERTIFICAÇÃO RESIDENCIAL DO GBC BRASIL

A Certificação GBC Brasil Condomínio® visa promover a transformação do

setor da construção por meio de estratégias desenvolvidas para alcançar seis

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objetivos: A Certificação GBC Brasil Condomínio® foi projetada para enfrentar os

desafios ambientais, respondendo às necessidades de um mercado competitivo.

São residências que demonstram liderança, inovação, gestão ambiental e

responsabilidade social e são projetados para oferecer: custos operacionais mais

baixos, aumento do valor patrimonial, redução de resíduos enviados para aterros

sanitários, conservação de energia e água, ambientes mais saudáveis e produtivos

para ocupantes, resultando em um aumento da qualidade de vida, saúde e bem estar,

redução das emissões de gases de efeito estufa e qualificação para descontos fiscais,

subsídios de zoneamento e outros incentivos financeiros por parte do poder público.

COMO FUNCIONA?

Mudanças Climáticas

Saúde e Bem-Estar

Benefícios Econômicos

Recursos Hídricos

Biodiversidade

Educação e Comunicação

Esses 6 objetivos são a base para os pré-requisitos e créditos da Certificação,

que são classificados em 8 categorias

Figura 52- Certificação GBC Brasil Condomínio - 6 objetivos base

Fonte: http://www.gbcbrasil.org.br/certificacao-condominio.php. Extraído em 26 de abril de 2019.

Créditos são ações sugeridas.

A medida que o empreendimento aplica as sugestões, recebe uma pontuação.

288 / 365

Pré-requisitos são ações obrigatórias em qualquer empreendimento que busca

a certificação. Não cumprindo um dos diversos pré-requisitos, é negada a

possibilidade do empreendimento buscar a certificação.

As 8 Categorias analisadas:

Energia e Atmosfera ...Pontos Possíveis 29

Implantação... Pontos Possíveis... 21

Uso Racional da Água ...Pontos Possíveis 13

Qualidade Ambiental Interna ...Pontos Possíveis 16

Materiais e Recursos ...Pontos Possíveis 14

Inovação e Projeto ...Pontos Possíveis 10

Requisitos Sociais ...Pontos Possíveis 5

Créditos Regionais ...Pontos Possíveis 2

110 pontos. Total de pontos possíveis. Os pontos são conquistados a medida

que o empreendimento aplica os créditos sugeridos pela certificação.

Distribuição dos pesos e ponderações entre os diversos créditos.

28%

22%

20%

12%

10%

8%

289 / 365

Figura 53- Certificação GBC Brasil Condomínio – Pesos e Ponderações de Créditos

Fonte: http://www.gbcbrasil.org.br/certificacao-condominio.php. Extraído em 26 de abril de 2019.

Certified 40 - 49 pontos

Silver 50 - 59 pontos

Gold 60 - 79 pontos

Platinum 80+ pontos

Figura 54- Certificação GBC Brasil Condomínio – Certificações por Faixas de Pontos

Fonte: http://www.gbcbrasil.org.br/certificacao-condominio.php. Extraído em 26 de abril de 2019.

Média de reduções no Brasil

40% Água

35% CO2

290 / 365

30% Energia

65% Resíduos

Figura 55- Certificação GBC Brasil Condomínio - Média de Reduções no Brasil

Fonte: http://www.gbcbrasil.org.br/certificacao-condominio.php. Extraído em 26 de abril de 2019.

Construindo um futuro sustentável

DOCUMENTOS PARA DOWNLOAD

Guia Prático - Condomínio

Guia Rápido - GBC Brasil Condomínio

Guia de Relações Públicas - Condomínio

Checklist Simples - GBC Brasil Condomínio

Checklist Projeto e Obra - GBC Brasil Condomínio

Documentos Necessários - GBC Brasil Condomínio

Tabela de Custos - GBC Brasil Condomínio

Formulários (Templates) GBC Brasil Condomínio

Manual de Marcas

Manual Profissional Acreditado

Glossário - GBC Brasil Condomínio

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4 ESTUDO DE “CASO” URBANO (ECU)

Para que nos postemos à soleira do ser, precisamos que o lugar seja o centro, na proximidade, para que possamos operar o cuidado e a proteção. E para isso, os processos de desencaixe são uma dificuldade, não uma indeterminação. Diante dessas possibilidades, o que ressurge é o lugar: forte, necessário, imprescindível para pensar uma experiência mais autônoma e menos autômata no mundo contemporâneo. Se circunstancialidade é de fato uma abertura para se compreender o sentido de lugar, então é nesta situação atual, nesta possibilidade, que o lugar deve ser entendido: no centro do mundo circundante da cotidianidade, enquanto fundamento espacial da existência. (MARANDOLA JR, 2012 p. 245; itálicos no original)

A autossustentabilidade de um espaço construído como lugar de conviver é

processo dinâmico de ambientes integrados e interagindo em complexidade desse

lugar, em determinado espaço-tempo que forma um campo. O caminho que se pode

apontar para tentar solucionar algum problema, passa necessariamente por

ALINHAMENTO mediante um autoplanejamento, autoexecução, autogestão e

autocontrole de ação direta no locus do problema aqui levantado. É nessa

complexidade de “lugar” em espaço-tempo contínuo que ambientes se integram ou

são integrados interagindo nesse mesmo lugar. Alinhando os diversos ambientes

reais, virtuais e digitais, e encaixando-os, redutoramente, nesta "ordem" e "peso", de

fora para dentro:

...hiper-ambiente cósmico → supra-ambiente terrestre →

→ ambiente humano (ou ambiente antrópico) →

→ sub-ambiente virtual → infra-ambiente digital...

Nesses ambientes assim “encastrados” em cada locus homoantropos, a massa

humana, numa espiral retroativa-recursiva e em dialógica com a massa biótica na

massa abiótica no mundo real, compõe, decompõe e recompõe

(des)(não)alinhamentos de mundo homoantrópico virtual e digital. Integração e

desenvolvimento humanos em ambiente homoantrópico real, virtual e digital,

encaixado em ambiente regional de mundo antrópico

Devemos então considerar que uma ciência geográfica fenomenológica deve partir do estudo do ser, do corpo que fixa os lugares, a partir dos quais vai se desvelar o mundo, não apenas do indivíduo, mas o ser-em-comum, com os quais, entre outras coisas, compartilhamos todos, como geógrafos (...) do espaço geográfico (HOLZER, 2012 p. 302)

Eu sou esse “ser” que fixa parte de “meu-mundo” como “meu-lugar” em espaço

geográfico fracionado – em frações de qualquer tipo estático-dinâmico - mas

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estabelecendo neste um “ser-em-comum”: ser-em-mim em mundo vivido com ser-

com-outro(s).

Tal como Carlos Santos189 percebi que os maiores problemas de morar NÃO

ESTÃO em objeto-casa ou mesmo objeto-apartamento “em si”. NEM ESTÃO em

cidade-sistema de relações condicionantes como “localizações diferenciadas”,

“segregações físicas” ou “segregações sociais”. TAMPOUCO ESTÃO em

determinação básica de econômico. Nesta dissertação, eu NÃO ENVEREDO por essa

“pista” - ainda que esta aparente ser “muito materialista” e pretenda levar à “verdade

última”. Enveredar por ela só me conduziria a “estratosferas” e a “vastíssimas

fronteiras”, de MACROZONAS DE OCUPAÇÕES CONTROLADAS, INCENTIVADAS,

CONDICIONADAS E ASSISTIDAS. Onde “casas estão fora de escala e não querem

dizer nada para ninguém”. Eu ENVEREDO por concreto que, em particular, tenha

muito a ver com significado e leituras que permitem encadeamentos de

significados urbanos para os maiores interessados: moradores, “em carne e

osso”, de habitações feitas de material sólido.

Como é o caso do condomínio edilício multifamiliar onde eu, como

“sujeito-objeto” em minha “geovida” de aparente mobilidade urbana, tenho

estado coproprietário e morador de meu “lugar de viver”. A maior parte desse

tempo, desinteressado ou omisso; grande parte ausente, no exterior ou em outra

cidade brasileira; só recentemente, participativo, como condômino; e ativo tanto na

qualidade de mestrando em Arquitetura e Urbanismo, do 1º semestre de 2017 ao 1º

semestre de 2019, quanto na qualidade de Síndico, administrador desse condomínio,

de 01/02/2017 a 31/12/2018. Trato aqui de condomínio exclusivo - de práticas

urbanas que são, principalmente, fruto de “sementes urbanas” germinando

continuamente por inércia histórica de urbano e não só – “REFÉM” de cultura

humana “reificada” em urbano “opressivo” e “oprimido” por sistemas de

arquitetura e engenharia também “oprimidos e opressores” condicionados por

189 Tenho pensado que os maiores problemas da moradia não estão no objeto-casa em si mesmo. Nem na cidade como sistema de relações condicionantes (localizações diferenciadas, segregações físicas e sociais), ou na determinação básica do econômico. Porque seguir por esta pista, ainda que pareça muito materialista e pareça levar à verdade última, só nos conduz a estratosferas e a vastíssimas fronteiras, onde casas estão fora de escala e não querem dizer nada para ninguém e, em particular, para os maiores interessados: os moradores em carne e osso de habitações feitas de material sólido. No caso, o concreto tem muito a ver com o significado e com as leituras que permitem os encadeamentos de significados urbanos. (UFF, 2017a p. 59; Carlos Nelson Santos)

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economia e direito. É uma construção urbana vertical “existente” na cidade Rio de

Janeiro190 – locus de poder, produção e consumo, em “antropologia urbana” que tem

sido percebida por “Ciências Sociais” seguidoras daquela “pista” assinalada por

Carlos Nelson Santos e pela qual há muito não enveredei.

Por isto, uso uma metodologia de estudo e pesquisa por diferentes

métodos em hibridismo de Ciências Sociais para aplicar nesse “espaço

topológico” de economia familiar e testemunho (trans)cultural. Tudo isso por

abordagens de lugar em “pós-modernidade” de arquitetônica “teleológica” e

susteinismo (re)adaptativo. Para conhecer, em diferentes escalas alinhadas em seu

logradouro, esse edifício que é, em si mesmo, um ponto complexo geoestacionário

fixo de “corpo” (com “alma”, mas sem “espírito”) - pelo menos até que, de algum

modo, esse edifício (legal, incorporado, projetado, construído e habitado) saia do atual

mapa urbano da cidade Rio de Janeiro. Uso essa metodologia como “sujeito-objeto”

que, entre mobilidade urbana e ambiência condominial privada e comum, é ser-em-

mundo, ser-com-outros e também ponto complexo geoestacionário, mas móvel

triádico de corpo, alma e espírito – um-eu-em-mundo que viu sua casa-mundo virar

um apartamento-mundo, de entrada, saída, vigilância, administração e gestão

pertencentes a eu-com-outros. Enfim, Ser-“nós”-no-mundo-em-“rede” ainda como

ponto complexo geoestacionário, mas convencional (sem “corpo” nem “alma”

nem “espírito”), onde, pelo menos aparentemente, “propriedade” desata “nós” de

função social, mas vicejam ditaduras de minorias variáveis de “nós”. Assim, este caso

estudará encontros e desencontros de três tipos de pontos complexos

geoestacionários: um, fixo, é o Edifício Residências Villa Real (ERVR); outro, móvel,

cada “eu-sem-outros”; e, outro, convencional, “eu-com-outros” ou Ser-“nós”-no-

mundo-em-“rede”.

190 A cidade de "São Sebastião do Rio de Janeiro" foi fundada por Estácio de Sá em 1° de março de 1565, quando desembarcou num istmo entre o Morro Cara de Cão e o Morro do Pão de Açúcar, erguendo uma paliçada defensiva. Na região da Praia Vermelha, Estácio também mandou erigir a igreja de São Sebastião, o primeiro templo religioso da cidade, embora feito de pau a pique. A vitória de Estácio de Sá, subjugando elementos remanescentes franceses (os quais, aliados aos tamoios, dedicavam-se ao comércio, ameaçando o domínio português na costa do Brasil), garantiu a posse do Rio de Janeiro, rechaçando, a partir daí, novas tentativas de invasões estrangeiras e expandindo, à custa de guerras, seu domínio sobre as ilhas e o continente. Extraído em 22/04/2019 diretamente de https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_cidade_do_Rio_de_Janeiro, mas sem formatação original.

294 / 365

Com essa metodologia, algumas teorias acadêmicas, algumas teorias minhas

e alguns ensaios meus, espero promover algum saber acadêmico não

paradigmático na direção, sentido e intensidade de saber humano genuíno

particular desse condomínio que também resulte de encontros transparentes inter

e entre algum saber popular local. Este saber a obter por minha participação-ação

direta e por participação livre qualitativa de moradores (proprietários de unidades

autônomas ou não) por entrevistas feitas por mim auxiliado por uma Arquiteta e

Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo PPGAU (Denise Ferreira, minha esposa e,

por isto, também parte interessada). Um saber humano “materializado” por mim

no intuito de obter alguns indicadores de sustentabilidade urbana que registrem

tanto autossustentabilidade quanto nível de “bem-estar” do meu condomínio,

mas “sem apartamentos”.

Enfim, eu nascido “português de Angola” em 26/11/1957 para fazer proposta

de “retroprofit” desse edifício nascido em 10/03/1986 para habitar-se numa avenida

nascida em 1875 com pauta musical num bairro nascido “à francesa” e para

abolicionismo histórico em 3/01/1872 numa cidade nascida em 1 de março de 1565

para maravilhar o mundo no Estado do Rio de Janeiro (ERJ) nascido originalmente

em 1534 - Capitania hereditária de São Vicente (1º lote) para manter terra em posse

de mesma família e protegendo essas terras e essa família de invasão por corsários

e piratas de outros países – e renascido em 1567 como Capitania Real do Rio de

Janeiro para incrementar o povoamento e defesa no Brasil Colônia. Um só Brasil

que, de 22/04/1500 a 14/11/1889, se metamorfoseou de monarquia sob comando de

monarcas de 16 monarcas (treze reis, uma rainha e dois imperadores) : 1) Colônia de

Portugal, até 1815, mas governado pela Espanha de 1580 a 1640; 2) Reino Unido de

Portugal, Brasil e Algarves, até 1822; e 3) Império independente, até 1889. E, desde

15/11/1889, vem-se metamorfoseando por “golpes” e “contragolpes” de Brasil

República Presidencialista de Estados Federativos: 1) República Velha ou

República das Oligarquias, de 15/11/1889 a 02/10/1930, com promulgação da

primeira constituição “brasileira” da era republicana, para “coronelismo” e “política do

café com leite”; 2) República da Era Vargas, de 02/10/1930 a 29/10/1945, com

tensão entre as oligarquias e militares (principalmente no Estado de São Paulo), para

Revolução Constitucionalista de 1932, Intentona Comunista de 1935 por “Aliança

Nacional Libertadora (ANL)” e derrubada do Presidente da República pelo Exército

em 1945; 3) República Populista, de 30/10/1945 a 31/03/1964, com Assembleia

295 / 365

Constituinte criando a quinta constituição brasileira que estabeleceu os poderes

Executivo, Legislativo e Judiciário, com retorno de Getúlio Vargas à Presidência da

República, de 1950 a 1954, e seu suicídio, bem como com Juscelino Kubitschek, em

01/01/1955 com sua promessa de realizar “cinquenta anos em cinco”; 4) República

de Governo Cívico-Militar, de 01/04/1964 a 14/03/1985, de promulgação de Atos

Institucionais, de cassação de mandatos político, de retirada de estabilidade de

funcionários públicos, de suspensão de direitos políticos dos cidadãos, de fecho de

sistema político, de ampliação de repressão social, de severa política de censura a

todos os meios de comunicação e expressão, mas, também, de Lei de Anistia e

restabelecimento de pluripartidarismo; 5) Nova República Bolivariana do Brasil, de

15/03/1985 até 31/12/2018, de aparente democratização política por eleição

presidencial indireta, de (des)estabilização econômica, do movimento “Diretas Já”

mobilizando milhões de brasileiros que pediam eleições diretas para Presidente da

República (em 1984), da promulgação da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988 que instituiu Estado Democrático de Direito e República

Presidencialista, da promessa de combate à corrupção (em 1989), de impeachments

de dois presidentes da “nova” república (1991 e 2016) e da prisão de outro (2018) e

do maior “aparelhamento” de Estado Democrático de Direito para seu assalto

orquestrado por “grandes” famílias, “grandes” partidos e “outras” facções, criminosos

comuns e/ou criminosos eleitorais, jamais visto no mundo da democracia (2002 a

2018); e 6) Brasil República em Transição Democrática por metamorfose atual, em

que parece despontar arduamente, desde 01/01/2019, um “eu-federativo-com-

estados-outros-e-municípios-e-cidadãos” – união de gente diversa em 26 (vinte e

seis) unidades federativas e 1 (um) distrito federal – ou Brasil República Federativa

renascida precocemente em 01/01/1988 para ser GRANDE “CONDOMÍNIO

CONSTITUCIONAL MODERNO” com “doses cavalares” de MUNICIPALISMO e

CIDADANIA. Essa metamorfose, ainda em curso inicial, “comportando todos” em

2013, “polarizando tudo” em 2015 e “ciber-elegendo um presidente improvável” em

outubro de 2018191, sinaliza empreendedorismo com responsabilidade cidadã e

política, local, estadual, regional e nacional, para reforma total contínua deste

191 Após “imprevista” ciber-eleição “libertária” do Presidente Jair Messias Bolsonaro, “carregando”, incrivelmente, senadores, deputados federais e governadores de estado, filiados a partidos sem expressão nacional, num processo de renovação, sem precedentes, do Congresso Nacional do Brasil.

296 / 365

“condomínio-brasil” de e por todos contra IMPUNIDADE de ATOS CRIMINOSOS

- como corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio, lavagem de cérebros

e ideologias divisionistas de “gênero” e “raça”, praticados por indivíduos

inescrupulosos e/ou organizações criminosas (partidárias ou não).

É com “esperança” nessa reforma total (profunda, mas, agora, de baixo para

cima) - política, administrativa, do judiciário e cívica - que emerge, no mundo real de

“Brasil-sem-paralelo”, uma proposta de “retroprofit” desse edifício elaborada por

eu-com-uma a ensaiar antes de ser levada a Assembleia Geral Extraordinária

para eventual aprovação total (ou parcial) por maioria qualificada de eu-com-

outros. Ou seja, maioria qualificada de condôminos em dia com pagamentos de

valores de respectivas “cotas” condominiais no ERVR e conforme convenção

condominial deste (CERVR).

Figura 56- Edifício Residências Villa Real (ERVR) – Vila Isabel – Rio de Janeiro, RJ

Fonte: FERREIRA, Denise, 2016.

297 / 365

4.1 “LOGRADOURO” DE ESTUDO

Carlos Nelson Santos192 parametriza tamanho de cidade em que escala não

deve ser problema. Para além de tamanho de cidade e de características físicas e

técnicas de habitação, ele193 evidencia identidade discriminada (e descriminada)

de morador decodificada imediatamente para quem conheça o mar de significados

de espaços nomeados na cidade Rio de Janeiro. Essa evidência resulta de comparar

“mesma cobertura” em “rua famosa” (Vieira Souto) e em rua de “bairro satirizado”

(Meier), ambas nessa cidade.

Francis D. K. Ching (2002 pp. 276-318) - Proporção e Escala

Etimologicamente, logradouro é encadeamento de significado urbano que

deriva de lograr – que, por sua vez. significa aquilo que pode vir a ser desfrutado,

usufruído ou logrado por um indivíduo ou grupo. Mais especificamente, do ponto

de vista de direito, economia, antropologia, urbanismo e arquitetura, logradouro

público é qualquer lugar que esteja regulamentado pela prefeitura de um

município como qualquer espaço público ao qual qualquer cidadão tem o direito

de livremente usufruir, tal como: alameda; ladeira; travessa; passarela; viaduto; rua;

avenida; parque; morro; rodovia. Enquanto isso, logradouro privado tem acesso

restrito. Exemplo comum de relação em díade recursiva de “simbiose imobiliária” é

logradouro em “parceria público-privada” - condomínio onde somente

192 O adjetivo enorme é explícito. Quase todo mundo se impressiona o número, o tamanho. Eis aí um parâmetro razoável para comparações sólidas. Cidades muito grandes deverão ter problemas comuns e talvez possam buscar soluções intercambiáveis para um futuro que parece irmaná-las. Se o problema é de escala, não há muito que discutir mesmo (...) O assunto já obriga a refletir: enorme em quê? Enorme por quê? Enorme para que ou quem? (UFF, 2017b p. 44) 193 Na cidade se aprende a nomear espaços. Habitação, por exemplo, é algo que ninguém conhece de verdade. É uma abstração de arquitetos, urbanistas e congêneres. Para pensar são usados discursos breves e eficientes, de quem manipula este objeto através de seus nomes reais e de suas consequências. Se eu me apresento como morador de uma cobertura na Vieira Souto, estou informando quem sou e me situando no mundo. Forneço uma identidade, decodificável de imediato para quem conheça o mar de significados que chamamos de Rio de Janeiro. No entanto, se descrever a mesma cobertura, mantendo as características físicas e técnicas e disser que fica na rua Uranos, no Meier, quem sabe como é o Rio e como se classificam seus moradores deduzirá que sou outra pessoa, bem diferente da anterior. Pode ser até que, como objetos, as duas coberturas sejam indistinguíveis. A capacidade de interpretação deste tipo de metáforas é um patrimônio comum aos moradores da cidade. Aliás, é justamente o que os caracteriza e os qualifica como tais. (UFF, 2017a p. 293)

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moradores e pessoas com permissão do condomínio podem usufruir do seu

espaço:

...rua ou avenida (pública) ↔ condomínio exclusivo (privado)...

Neste trabalho, logradouro é um Ponto Complexo Geoestacionário de

Escalas Antrópicas Fixas (PCGEAF) “alinhadas” como “limitações” urbanas

naturais, socioeconômicas e políticas. Nesse ponto, destaco condomínio

exclusivo em escala de hexade194 “decrescente” aninhada e aparentemente alinhada

com categorias “habitat”, “cidade”, “bairro”, “vizinhança”, “rua” e “edifício” (fig.57

abaixo).

Figura 57- Diagrama de Edifício em “alinhamento” top↔down - escalas em hexade

Fonte: Autor desta dissertação, 17 de maio de 2019

Esse “ponto fixo” é construção urbana vertical com função social mista

(habitação e comércio) e situa-se em Boulevard Vinte e Oito de Setembro - de 173 a

311 –, no lado ímpar de avenida principal em Vila Isabel, na Cidade Rio de Janeiro

(CRJ) de Unidade Federativa (UF) do País Brasil, Estado Rio de Janeiro (ERJ), e este

Código de Endereço Postal (CEP): 20551-085.

194A series of six numbers (série de seis números). Extraído de https://www.yourdictionary.com/hexade, em 28/04/2019.

HABITAT

CIDADE

BAIRRO

VIZINHANÇA

RUA

EDIFÍCIO

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4.1.1 ESCALA “CIDADE” EM “REGIÃO”

Gilberto Velho (2011 pp. 176-177)

Cartéis, quadrilhas e gangues surgem e se desenvolvem mais em algumas sociedades do que em outras. Lamentavelmente, o Brasil é um dos países que se destacam pelo volume e pela intensidade da atividade criminosa. É evidente que existe uma motivação econômica que vai além da luta pela sobrevivência mais elementar. Interesses diversificados multiplicam-se, alimentando e produzindo desdobramentos dessas redes que alcançam, de vários modos, uma dimensão internacional, numa perspectiva globalizada. O que mais tem me chamado a atenção é o uso da violência não só como meio, mas como fim em si mesmo, ou seja, há pessoas e grupos que se dedicam e possivelmente se comprazem com o exercício da violência. O Rio de Janeiro, como já foi dito, por uma série de circunstâncias que temos discutido e pesquisado, aparece como um dos casos limite da sociedade nacional. Diversos cientistas sociais e muitas pesquisas têm enfrentado esse desafio. O fenômeno apresenta múltiplas dimensões e produz efeitos variados. A questão básica da segurança pública implica considerar, prioritariamente, as relações do poder público com a sociedade civil. Assim, a corrupção, o abuso de poder, o uso indiscriminado da força e a ineficiência colocam em xeque não só os responsáveis diretos pelo combate à criminalidade, mas as mais diversas instâncias do mundo político-burocrático. Assim, a polícia, o Judiciário, o Legislativo e o Executivo têm sua legitimidade comprometida diante da continuidade e do recrudescimento das atividades criminosas. Sabe-se que parte considerável da região metropolitana do Rio de Janeiro é controlada por grupos criminosos, sejam traficantes, sejam milicianos. De uma forma ou de outra, a respeitabilidade e a confiança nos órgãos de segurança é mínima, chegando à desmoralização. Há quem fale em anomia e desorganização social. Certamente é inegável que, embora limitada, a expressão “crise de valores” sugere a necessidade de pensar a violência a partir de uma visão antropológica.

Peter Hall (2007 p. passim) aponta para treze “tipos de cidade” (fig.58 abaixo):

Cidade da Imaginação; Cidade da Noite Apavorante; Cidade do Desvio Variegado;

Cidade no Jardim; Cidade na Região; Cidade dos Monumentos; Cidade das

Torres; Cidade da Suada Eqüidade; Cidade à Beira da Auto­Estrada; Cidade da

Teoria; Cidade do Empreendimento; Cidade da Permanente Ralé; e Cidade da

Embaçada Belle Époque.

300 / 365

Figura 58- Diagrama de Tipos de Cidade

Fonte: A partir de Peter Hall, adaptação do autor desta dissertação, 21 de abril de 2019

Mais recentemente, para novo tipo de cidade (“Cidade Inteligente”), o Festival

Mundial de Arquitetura195 omo Festival Conference subordinada ao tema “FLOW -

People, Data, Nature, Power” (FLUXO - Pessoas, Dados, Natureza, Poder)

A maioria dos edifícios é estática, mas os usos para os quais são projetados ou para os quais respondem são tudo menos isso. Exemplos óbvios são os edifícios de transporte: a estação de trem ou aeroporto, lidando com milhões de passageiros todos os anos enquanto incorpora trechos e pistas para movimentar aviões e aviões. Um pouco menos óbvios, mas igualmente significativos, são os locais de trabalho que acomodam fluxos intermináveis de dados, bem como os próprios trabalhadores de escritório. Em um nível mais amplo, cidades (especialmente 'cidades inteligentes') são organizadas para gerenciar fluxos de tudo, desde o tráfego de rua até a água e esgoto, e para garantir a segurança dos cidadãos que vivem e trabalham em uma variedade de edifícios e ambientes diferentes. As políticas nacionais são projetadas para gerenciar fluxos de energia, pessoas e comércio - e para encontrar algum equilíbrio entre a conveniência de proteger a natureza e sua manipulação para evitar os piores efeitos do fluxo indesejado, por exemplo, inundações ou erosão costeira. Subjacente à administração de tudo isso está outro tipo de fluxo: o fluxo do poder e da responsabilidade políticos. Como acontece com qualquer outro tipo de fluxo, essa condição afeta a arquitetura e os arquitetos (...) tanto a natureza mutável de vários tipos de fluxo quanto a forma como os edifícios e ambientes estão sendo criados para responder a eles.

Todavia, evidências de “paisagem cultural” observadas a “olho nú” da(na)

cidade Rio de Janeiro - que transforma e é transformada – apontam para dois

195 World Architecture Festival (WAF) - em seu 12º ano, de 4 a 6 de dezembro de 2019, em Amsterdam. Extraído de https://www.worldarchitecturefestival.com/waf-2019-theme-flow, em 06/05/2019.

301 / 365

extremos de “cidade inteligente”: Cidade Maravilhosa e Horror de Cidade – CIDADE

MARAVILHORROROSA. E, entre tais extremos, observo cada um daqueles treze

atributos destacados por Peter Hall. Assim, desses “tipos de cidade” (all in one),

carrego todos os treze atributos para escala “condomínio” - passando pela escala

“bairro” e pela escala “rua” -, apenas substituindo a palavra “cidade” por “condomínio”.

Analogamente à cidade, entre maravilha e horror, tem-se BAIRRO

MARAVILHORROROSO, RUA MARAVILHORROROSA e CONDOMÍNIO

MARAVILHORROROSO.

4.1.2 ESCALA “BAIRRO” EM “ZONA NORTE” DA CIDADE

Conhecido em todo país pelos versos de Noel Rosa, o bairro reproduz, no calçamento da principal avenida, partituras de vários mestres da MPB. Nas décadas de 1920 e 1930, era o polo boêmio da cidade, onde se reuniam os apreciadores da boa música e, especialmente, do samba. (MACHADO, 2014 p. 1; negritos meus)

Segundo Sandra Machado (2014 p. 1; negritos e itálicos meus), desde 1565, o

atual bairro Vila Isabel em seus primórdios era propriedade da “Companhia de

Jesus” e era chamada “Fazenda dos Macacos”, dedicada a cultivo de cana-de-

açúcar, que tinha estes limites: Rio Joana; “Caminho do Cabuçu” (atual Rua Barão do

Bom Retiro) e “Serra do Engenho Novo”. Em 1759, essa área tornou-se propriedade

da Coroa Portuguesa - porque a ordem dos jesuítas foi expulsa do Brasil a mando

do Marquês de Pombal (em Portugal). Em 1829, D. Pedro I ofereceu aquelas terras à

própria esposa (casamento de segundas núpcias), Amélia de Beauharnais, a Duquesa

de Bragança. Foi apenas quando D. Pedro II viajava que esse bairro começou a

ganhar identidade durante as regências interinas da Princesa Isabel. Em 1872,

João Batista de Viana Drummond (15 anos mais tarde viria a se tornar o Barão de

Drummond) comprou a “Fazenda dos Macacos” e, posteriormente, com sua visão

empreendedora: solicitou permissão para estabelecer uma linha de bonde com tração

animal para ligar essa região ao centro da cidade do Rio de Janeiro; e fundou a

“Companhia Arquitetônica de Villa Izabel” para venda de loteamentos - surgindo o

primeiro bairro projetado da cidade Rio de Janeiro. Portanto, a chamada

“Redentora” Isabel já era homenageada por esse bairro muito antes do fim da

escravidão no Brasil (em 1888). Um bairro que sempre atraiu jornalistas e publicistas

por causa de sua agitação cultural, cuja atmosfera privilegiada transformou-o em

arena de ativistas do abolicionismo e sua memória ficou preservada “para sempre”

302 / 365

por próprios logradouros: Senador Nabuco; Visconde de Abaeté; Souza Franco;

Conselheiro Paranaguá; e Torres Homem. Mesmo sua principal avenida, Boulevard

28 de Setembro, foi batizada em referência à data da Lei do Ventre Livre - assinada

em 28 de setembro de 1871 pela princesa Isabel.

Para Gilberto Velho (2011 p. 176) :

Os bairros, as “regiões morais”, as diferentes áreas da cidade precisam ser compreendidas por suas identidades, não de modo estático, mas através dos trânsitos e das diferentes representações que geravam comunicação e também impasses com conflitos que poderiam colocar em questão a própria continuidade dos processos de interação social básicos. Assim, defrontei-me como pesquisador e cidadão com o acelerado agravamento do que se denominou violência urbana. Esse fenômeno atingiu, em termos amplos, a sociedade brasileira e, com particular dramaticidade, o Rio de Janeiro.

4.1.3 ESCALA “RUA” DE “QUARTEIRÕES”

4.1.4 ESCALA MUSICAL EM “CALÇADA”

Num pedaço da cidade Rio de Janeiro, “entre” Drummond empreendedor e

Noel poeta, há uma “rua” que é avenida principal refletindo a Lei do Ventre Livre e

evidenciando um caminho (trans)cultural de partituras de vários mestres da

Música Popular Brasileira (MPB) que faz do bairro Vila Isabel uma Terra de

Bambas196 (Sandra Machado): - “CAMINHO DE EMPREENDEDOR QUE DEU

SAMBA”. O principal cenário da infância de Braguinha, compositor mais conhecido

por suas inúmeras marchinhas de carnaval, foi o bairro de Vila Isabel, já que seu pai,

Jerônimo José Ferreira Braga Neto, era diretor da Fábrica de Tecidos Confiança.

Durante o curso de Arquitetura, que não chegou a concluir, Braguinha adotou o

pseudônimo de João de Barro, pássaro que é, também, um exímio construtor. Mais

um nome importante da MPB que nasceu em Vila Isabel foi Orestes Barbosa.

Jornalista influente, atuou como jurado do primeiro concurso de escolas de samba da

Praça Onze, em 1932. Um ano depois, publicou o livro Samba, precursor da

historiografia do gênero. Parceiro de vários compositores importantes, alcançou o

auge da fama ao escrever a letra de Chão de Estrelas, com melodia de Sílvio Caldas.

Mas, em Vila Isabel, o destaque absoluto está reservado para Noel Rosa. Já na

196 Bamba: pessoa que é muito boa no que faz.

303 / 365

entrada do bairro, um monumento em bronze ilustra a cena do cliente que bombardeia

o garçom com sua longa lista de demandas, descrita no clássico Conversa de

Botequim, de Noel e Vadico. Nascido em 11 de dezembro de 1910, morou por toda a

vida na mesma casa, na Rua Teodoro da Silva, onde também morreu, aos 26 anos,

vítima da tuberculose. Totalmente apaixonado pela Vila, eternizou esse sentimento

em versos inesquecíveis. Como “a Vila é uma cidade independente”, de Palpite Infeliz,

ou “São Paulo dá café, Minas dá leite e a Vila Isabel dá samba”, de Feitiço da Vila.

Por essas e outras é que o Poeta da Vila pode ser considerado um verdadeiro agente

de construção da identidade local. Outro expoente da MPB contemporânea que assina

suas obras usando o “sobrenome” do bairro é fruto de uma adoção. Na verdade,

Martinho da Vila nasceu em Duas Barras, RJ, em 1938. Músico e compositor, Martinho

também escreve para diversos jornais do país e já publicou 13 livros, alguns deles

infantis. No Salão do Livro de Paris, no ano que vem, será lançada a versão francesa

de seu romance Os Lusófonos. Intimamente relacionado à trajetória da escola de

samba Unidos de Vila Isabel, que integra desde 1965, criou para a agremiação vários

dos enredos mais consagrados, como Kizomba, a Festa da Raça, que deu à escola o

título de campeã no ano do centenário da abolição da escravatura (1988). A ligação

do bairro da Zona Norte com a música é tamanha que pode ser reconhecida até numa

simples caminhada. Para comemorar os 400 anos da cidade, em 1965, o arquiteto

Orlando Magdalena, membro do Lions Club de Vila Isabel, sugeriu, e o músico

Almirante selecionou 20 obras da MPB, cujos trechos de partituras foram desenhados,

com pedras portuguesas, no calçamento do Boulevard 28 de Setembro, onde estão

até hoje. Devoção religiosa ... Apesar da vocação natural para a boemia e para a

folia, Vila Isabel também guarda um espaço destinado à fé. A Matriz de Nossa

Senhora de Lourdes, por exemplo, teve origem numa capela que ficava na Praça

Barão de Drummond, antiga Praça Sete de Março. Até 1900, pertencia à paróquia de

São Francisco Xavier, mas foi emancipada com a criação da freguesia de Vila Isabel.

Dois anos depois, foi filiada à Confraria de Nossa Senhora de Lourdes, na França. Em

dezembro de 1914, autoridades políticas e eclesiásticas lançaram a pedra

fundamental da igreja, situada no Boulevard 28 de setembro, cuja construção só foi

concluída em 1943. Em maio de 1959, a matriz recebeu o título de Basílica Menor,

concedido pelo Papa João XXIII, e se tornou patrimônio histórico no ano de 1990. No

fim da avenida central do bairro fica o Convento de Nossa Senhora da Ajuda,

considerado a comunidade religiosa feminina mais antiga do país. A ordem data do

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século XVIII e se instalou definitivamente na Rua Barão de São Francisco na década

de 1920, depois que os projetos de urbanização reformularam o Centro do Rio.

Tombado em 2004, o convento abastece praticamente todas as igrejas da cidade com

sua produção de hóstias. Já a Igreja de Santo Antônio de Lisboa, inaugurada em 13

de junho 1902, está localizada no alto do morro de mesmo nome, com acesso por

uma escadaria na Rua Teodoro da Silva. Estrategicamente, Santo Antônio é, também,

o padroeiro da escola de samba Unidos de Vila Isabel.

Uma envolvente “secular, “religiosa” e ”“musical” de meu “lar”, onde há raízes

mais profundas e mais fortes que as minhas, onde conheço outros e sou conhecido

por alguns poucos, o onde a que pertenço não cantando, mas “dançando” junto com

gente “sem-teto” que são “enfermidade social” em metástase de escala

aparententemente incontrolável.

4.1.5 ESCALA HUMANA EM “EDIFÍCIO”

ACONTECE EM QUALQUER LUGAR. A literatura que tenta explicar os fenômenos urbanos atuais no Brasil cai com facilidade em imobilismos e esterilidades. Prefiro descrever e acompanhar de perto o que gente de verdade fez pelos espaços reais onde se desenrola o seu dia a dia. Fico pensando se não é mesmo fundamental, na época em que vivemos, iluminar bem esses dramas humildes e dar-lhes um certo tom épico, transformando-os em casos exemplares. (UFF, 2017b p. 37; Carlos Nelson Santos; negritos e itálicos meus),

Conhecer o meu lugar de viver de dentro para fora – em processo de

interioridade – examinando proporção e escala, pois aproveitando a explicação de

Benedito Abudd (2006 p. 25 e 27)

Não dá para falar de lugar sem referir a proporção e escala. Proporção é a relação harmoniosa entre as partes e os elementos que compõem o jardim [ou outros]. Toda proporção, e consequentemente, a sensação que ela nos causa, como aconchego, grandiosidade, pequenez, imponência, monumentalidade, bem-estar ou não, resulta do fato de que percebemos o mundo por meio de dois olhos, duas orelhas, um nariz e uma boca, localizados em uma cabeça a cerca de 1,50 m do chão, quando estamos em pé, e mais ou menos 1,00m, quando estamos sentados. Escala é a relação que se estabelece entre o tamanho dos espaços, sejam lugares ou não, e as pessoas. Já escala humana supõe espaços adequados às dimensões das pessoas. A escala pode causar várias impressões, como: não é agradável estar sozinho no meio de um grande estádio de futebol vazio, pois a escala é esmagadora. Também não é bom permanecer num espaço muito pequeno ou apertado. Nele é inevitável sentir-se mal e até ter claustrofobia (...) Nas cidades brasileiras, a vegetação poderia ser bem mais utilizada para corrigir e melhoras as proporções e escalas – frequentemente desumanas – dos espaços urbanos, em geral formados por massas de construções descontínuas, enorme quantidade de postes, muros, semáforos, fiações, outdoors e tanta poluição visual. Ao longo dos meus trinta anos de

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atividade profissional, tenho definido isso. Mas infelizmente nem todos pensam e agem assim. É comum ver muitas intervenções urbanas que não utilizam a vegetação nem se preocupam com o que deveria ser seu objetivo primeiro: atender e melhorar a vida das pessoas.

4.1.6 “ESCALA” QUALI-QUANT-PERCENT (QQP)

Em termos de avaliação de resultados de pesquisa-ação, Thiollent (1997 p.

passim) alerta que avaliação é mais qualitativa que quantitativa, pois “medição sem

conceito ou sem apreensão qualitativa dos fenômenos não faz sentido”. Portanto,

médias matemáticas não são suficientes. Assim sendo, nesta dissertação - para

evidenciar o nível quali/quant/percen de integração sistêmica e/ou de

interdependência funcional relativamente a todas observações de pesquisa-ação

pertinentes a matrizes e indicadores - uso integração escalar197 para medir

intuitivamente atitudes e equivaler grandezas (fig.27). Por alinhamentos nessa

“pequena” escala, parto de situação de informação inexistente para situação de

informação disponibilizada ou não disponível.

Figura 59- Quadro de Integração sistêmica e/ou de interdependência funcional.

Níveis quali / quant / percent “interativos” Fonte: Autor desta dissertação, 17 de janeiro de 2014

Em integração escalar de observações, entrada é sempre “qualitativa” (quali).

Porém, para determinar qualidade principal (“média”) usando fórmulas do Excel em

Microsoft Office 365, entrada é sempre “quantitativa” (quant) – pois, para meu

controle, uso fórmula de cálculo direto de “média” que só funciona com números. O

mesmo acontece para calcular diretamente e de forma controlada “somas”,

“contagens”, “médias” ou “outras medidas” quantitativas. Finalmente, para

proporcionalidades, entrada é sempre um “percentual” (percent).

197 Adaptada de técnica de (LIKERT, 1932)

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4.2 “CONSTRUÇÃO” URBANA VERTICAL EXISTENTE

Aqui analiso ALOTROPIA URBANA de um lugar vivido e vívido, em termos de

características patrimoniais, suporte técnico, organização condominial e amparo legal.

Trata-se de lugar em alinhamento de “rua” referente ao logradouro deste estudo

de caso, para perceber a fisionomia do meu lugar de viver sedentariamente – para

dentro de linha limítrofe entre a área pública (logradouro) e a privada (quadra) – fica

um conjunto de construções urbanas das quais destaco o edifício onde “julgo que

moro”: Condomínio do Edifício Residências Villa Real – CERVR. Um edifício

fabricado como lugar, mas com origem e identidade de lugar manipuladas e até

mesmo inventadas tanto por empresas de incorporação, projetos e construções

imobiliárias que visam lucro quanto por políticos da cidade/estado Rio de Janeiro e da

união federativa de estados chamada Brasil.

4.2.1 EDIFÍCIO “INCORPORADO” POR “OUTROS-PARA-MIM”

4.2.2 EDIFÍCIO “PROJETADO” POR “OUTROS-PARA-MIM”

(...) onde quer que exista uma perfeita experiência espacial a viver (...) nenhuma representação é suficiente, precisamos nós mesmos ir, ser incluídos, tornarmo-nos e sentirmo-nos parte e medida do conjunto arquitetônico, devemos nós mesmos nos mover. Todo o resto é didaticamente útil, praticamente necessário, intelectualmente fecundo; mas é mera alusão e função preparatória dessa hora em que, todos nós, seres físicos, espirituais e sobretudo humanos, vivemos os espaços com uma adesão integral e orgânica. Será esta a hora da arquitetura. (ZEVI, 1996 pp. 51-52)

4.2.3 EDIFÍCIO “CONSTRUÍDO” POR “OUTROS-PARA-MIM”

4.2.4 EDIFÍCIO “LEGAL” ESTERILIZADO POR “OUTROS-PARA-MIM”

Constituição do Brasil (BRASIL, Câmara dos Deputados 2005)

Métodos e princípios da interpretação constitucional (I. M. COELHO 2004)

Constituição do Estado do Rio de Janeiro como Unidade Federativa (UF) do

Brasil.

Lei Orgânica da Cidade do Rio de Janeiro

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Código Civil

Convenção de Condomínio

Regulamento Interno do Condomínio

(Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) 2011) da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

http://www.autovistoriapredial.com.br/duvidas-e-informacoes/obrigacoes-na-

prefeitura-do-rj/

Carlos Nelson Santos (UFF, 2017b p. 92)

As leis urbanas não podem ser “esterilizadas”, “frias”. Instruções relativas a edificações, parcelamentos e zoneamento, proteção do meio ambiente construído e natural têm de se calcar em comportamentos já estabelecidos e refletir consensos. Caso não haja forte participação popular, estatutos jurídicos por si mesmos nada mudaram na América Latina. Será mantida a tendência a escrever documentos formais, às vezes com aparência de muito avançados, mas sem refletir a experiência e as expectativas da massa. Na ausência de um grande envolvimento coletivo, as cidades continuarão regidas por normas ambiciosas que saem do nada e acabam desagradando até às elites acusadas, com frequência, de as manipularem, visando seus próprios fins. Pior de que uma lei injusta, só uma lei burocrática que não se sabe a que visa.

O decreto municipal nº 322, de 3 de Março de 1976, aprovou o regulamento

de zoneamento do Município do Rio de Janeiro (MRJ), no Estado do Rio de Janeiro

(ERJ).

Nova lei de calçadas - Decreto estabelece novas normas para a manutenção e

conservação de calçadas.

Lei de Condomínios e de Incorporações (LCI)...

Novo Código Civil (CC) que “retirou” a Lei de Condomínios desta e a

“incorporou” nele...

Ainda sob a Lei de Condomínios e de Incorporações, a incorporadora MGF

Incorporações Ltda e Outros requereram, em 1980, na Prefeitura Municipal do Rio

de Janeiro, LICENÇA DE CONSTRUCAO DE PRÉDIO sob processo nº

06/370.415/1980. Um processo que, conforme verifiquei diretamente no Sistema

Único de Controle de Protocolos (SICOP), teve nove tramitações198. A primeira

198 ANEXO “B” - Processo do CERVR – “todas” as tramitações.

308 / 365

tramitação, em 01/02/1995 (15:46), teve como despacho “exame de processos” e

órgão destino TIJUCAU/SPE/5-DLF-5 Departamento de Registro de

Licenciamento e Fiscalização. A “última” tramitação, em 22/05/2018 (15:34), teve

como despacho “desarquivado” e órgão destino UIH/SUBU/CGLF/GLF-TIJUCA

Gerencia De Licenciamento e Fiscalização. Pode-se constatar que, entre fevereiro

de 1995 e maio de 2018, só houve um exame desse processo no início deste. Com

esse processo “desarquivado” sabe-se lá para onde, pois naquele órgão de destino

disseram que lá não estava, em 15/05/2018, na qualidade de Síndico do CERVR,

desloquei-me à OUVIDORIA dessa Prefeitura. Onde uma funcionária, após emitir um

documento com os dados cadastrais do CERVR199, disse-me que estava “puxando” o

processo para ali e que ligaria para o meu celular tão logo tal processo chegasse às

suas mãos. Após esperar essa ligação para meu celular, durante cerca de três meses,

voltei ao SICOP e, em 8/8/2018 (12:01:36), usei o serviço Pedido Eletrônico “Push

Processo” (fig.21) - que, segundo a Prefeitura, “permite ao cliente o recebimento

automático, via e-mail, de informações atualizadas sobre a tramitação de processos

administrativos de qualquer natureza no âmbito municipal”. Minha “solicitação foi

atendida”, mas, até 21 de abril de 2019, não recebi nem telefonema da Ouvidoria nem

e-mail com informações atualizadas...

Figura 60- Comprovante de Pedido Eletrônico de “Push Processo” pelo Síndico do CERVR

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro, SICOP, 08 de agosto de 2018

Entretanto, ainda nessa mesma reunião, a meu pedido verbal, foi-me entregue

um documento200 no qual se evidenciam todos os diversos processos para a Avenida

Vinte e Oito de Setembro ou Av. 28 de Setembro ou Boulevard Vinte e Oito de

Setembro ou Boulevard 28 de Setembro. Nesse anexo, destaquei o número 185 em

dois processos de licenciamento distintos: um, o já referido processo nº

199 ANEXO C- Processo do CERVR – “dados” do Cadastro. 200 ANEXO D – Processos de Licenciamento para a Av. 28 de Setembro.

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06/370.415/80, de 13/10/1980, concernente ao licenciamento da construção do

CRVR com “habite-se” parcial em 10/03/1986 de unidades habitacionais 201 a

206 e 901 a 906 - exceto a Loja “A” (única loja); outro, processo nº 02/332482/92

atinente ao licenciamento de modificação com acréscimo de construção

transformando a unidade habitacional 905 do CRVR em duplex (conforme Lei

1796/91), com aceitação em 19/09/1995. Aquele “habite-se” parcial é uma das

questões a observar na análise daquele processo. Juntamente com a verificação da

unidade habitacional 903 relativamente a licença e aceitação de modificação com

acréscimo bem visíveis.

Registro de Imóveis.

4.3 EDIFÍCIO “HERDADO” E HABITADO PELO “SUJEITO-OBJETO”

Trata-se aqui de perceber entropia urbana de lugar vivido e vívido no que

tange a conhecimento, ideias, habitat, vida, costumes e organização, do ERVR. Para

“observar” se há espírito do meu lugar de viver sedentariamente - genius loci

envolvendo a interioridade de meu lar ou (des)governo inercial espaço-temporal por

pessoas geniosas que se revezam anualmente em assembleias “pífias” ou “extra-

pífias” em processos escusos de exclusão e/ou inclusão, com aspectos

profundamente repulsivos por “sentido contaminado de lugar” antes, durante e depois

de ser formalmente considerado lugar de “habitar e falar”...

4.3.1 “PARTICIPAÇÃO” DE CONDÔMINOS EM ASSEMBLEIAS

O imbecil coletivo não é apenas a soma de um certo número de imbecis individuais. É, ao contrário, uma coletividade de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior, que se reúnem com a finalidade precípua de imbecilizar-se umas às outras e obtêm nisto um razoável sucesso. (CARVALHO, 1999 p. 273)

Carvalho explica que “imbecil coletivo” trata de fenômeno coletivo de

imbecilização artificial (causada pela repetição obsessiva de lugares comuns e

cacoetes ideológicos) que, sem comprometer essencialmente “QI” de suas vítimas, as

deixa temporariamente impedidas de uso da própria inteligência - ao menos em

presença de certos assuntos. Por sua vez, Carlos Santos (UFF, 2017b p. 16) aborda

outro fenômeno coletivo ao afirmar que “Todos os moradores da cidade conhecem

a chave de suas metáforas espaciais. Se não forem bons decodificadores não

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serão bons moradores, irão se mover com dificuldade; sobreviverão em

desvantagem”.

Entre aquela “imbecilização” e essa “decodificação”, Carlos Nelson Santos

(UFF, 2017b p. 42) alerta para esta grande questão: “se, nos espaços urbanos, as

formas físicas falam de formas econômicas e sociais, não haverá dificuldades de

tradução? Termos irredutíveis, tempos e objetivos diversos, opostos mesmo?”. À qual

ele mesmo responde

Vivemos em centros inspirados no modelo da polis ocidental, com seus cidadãos e assembleias representativas e equalizadoras. Os entendimentos têm de existir para explicar o impossível de entender, conciliar a intolerância das óticas exclusivas e tornar a ambiguidade útil. Quando o coro das mil vozes urbanas consegue se encontrar na assembleias, tenta se afinar, se ajeita para dar chance aos timbres mais fracos, respeita as limitações e racionalidades da maioria e permite solos na hora certa. A essa situação ideal, têm correspondido nas cidades brasileiras outras possibilidades bem tristes. Tem sido favorecida uma disciplina fácil, mas falsa, baseada na exclusão e segregação no espaço. Têm sido calados quase todos em favor de privilégios de expressão a grupos poderosos. Com tal excesso de autoritarismo, os resultados não poderiam ser bons, mesmo se as vozes selecionadas fossem bonitas e de muito alcance. Já diziam os homens da Idade Média que o ar urbano era bom quando nele se respirava liberdade. (ibidem)

Matriz de Participação dos Condôminos (MPC) do ERVR.

Índice de Participação Condominial (IPC) do ERVR.

4.3.2 “ADMINISTRAÇÃO” DO PRÉDIO

4.3.3 “AUTOVISTORIA” DO PRÉDIO

http://www.autovistoriapredial.com.br/duvidas-e-informacoes/obrigacoes-na-

prefeitura-do-rj/

4.3.4 “BEM-ESTAR” CONDOMINIAL

Matriz de Vivência e Convivência Condominial (MVCC) do ERVR.

Índice de Vivência e Convivência Condominial (IVCC) do ERVR.

Matriz de “Bem-Estar” Condominial (MBEC) do ERVR.

Índice de “Bem-Estar” Condominial (IBEC) do ERVR.

311 / 365

4.4 “PROPOSTA” DE RETROPROFIT PELO “SUJEITO-OBJETO”

Tentativa de percorrer caminho atemporal de construção de um edifício

aparentemente formal e perceber, neste, “contornos” de espírito do meu lugar de viver

sedentariamente - com “sentido” de/em lugar, após sedimentação de processos

nômades de transitoriedade e transnacionalismo que vêm definindo minhas “raízes” e

meu enraizamento - por reuniões localizadas em áreas não previstas para

assembleias gerais do meu Condomínio. Tudo buscando “detetar” algum não-lugar ou

lugar-sem-lugaridade nesse edifício para, posteriormente, encontrar algum equilíbrio

visível entre “particularidade” e “uniformidade” em meu lugar de viver. No intuito de

elaborar proposta arquitetônica de “retroprofit” por um “sujeito-objeto” que, como “eu-

em-mim-com-outros”, teve ajuda de uma arquiteta para a questão de toda a parte

técnica de arquitetura e grande parte de entrevistas, todas livres, gravadas com

transliteração.

Constato que os jovens arquitetos, como sempre ocorre entre os jovens, estão interessados e ansiosos por uma nova ordem de coisas dentro de sua profissão. Isto é muito positivo (...) Sei que estes arquitetos já percebem que o que conta em arquitetura não é ela mesma, mas o que comporta e para o que serve um espaço materializado, para além da sua mera materialidade. Eles já descobriram que é preciso buscar a justificativa da obra arquitetônica nas atividades concretas, nos seus porquês práticos e simbólicos. Eles já dizem que um espaço é bom quando corresponde bem a tudo o que foi mencionado e que, além do mais, é capaz de se abrir a propostas novas e ajudá-las a que surjam, sem que seja preciso impô-las ou condicioná-las a uma única orientação rígida. Eles já acreditam mesmo que o bom habitat é o que pode servir até para o contrário do que foi projetado. Por consequência, andam à busca de um novo cliente interlocutor e têm a ambição de, ao mesmo tempo, promover a renúncia e a penitência dos muitos erros do passado. A tais jovens queria dizer que estou de acordo com o que desejam e pretendem, mas lembro que é bom que mirem cuidadosamente as estrelas que querem atingir antes de acionarem os mecanismos disparadores de seus foguetes. (UFF, 2017c pp. 114; Carlos Nelson Santos; negritos, e itálicos meus)

Gilberto Velho (2011 pp. 173-174)

Certamente, as minhas reflexões sobre projetos e campo de possibilidades levaram-me a prestar atenção nas tensões entre as motivações ditas racionais e a força dos fatores ditos irracionais. A importância da vida simbólica, a eficácia das crenças e dos mitos, o peso das tradições e dos costumes misturam-se às intenções de transformação, de planejamento e de interferência na vida social. Esse jogo de contradições pode configurar-se através do confronto entre grupos e categorias sociais, mas se dá internamente nos próprios indivíduos.

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4.4.1 “PARTICIPAÇÃO” DE MORADORES E OUTROS

Centros urbanos são, em si mesmos, fontes abertas e inesgotáveis de ideias que saltam de seu simbolismo escancarado e são todos os dias decodificadas, absorvidas e reelaboradas, nas ruas, nas praças, nos meios de transporte, nos locais de trabalho, em todo canto. Até nas periferias. A busca de uma vida melhor – objetivo final de qualquer estudo sobre o social é uma questão de responsabilidade coletiva. O melhor que um cientista-urbanista pode fazer é trepar no seu caixotinho e anunciá-lo no seu megafone. Pelo menos em todas as ocasiões em que lhe permitirem fazer uso deste luxuoso equipamento. (UFF, 2017b p. 66; Carlos Nelson Santos)

Os moradores do ERVR, condôminos ou não, devem conhecer a convenção201

do CERVR para não infringir seus termos. Semelhantemente, também estão sujeitos

ao Regulamento Interno do CERVR202.

A participação desses moradores deve permitir conhecer o grau de “coesão“

ou de consenso espontâneo destes, mediante entrevistas ou formulários, livres ou

abertos, levando em conta o que disse Carlos Nelson Santos (UFF, 2017b p. 156 e

159) e que eu, tal como ele, “não acredito no tipo de conceito de comunidade que nos

impingem e que engolimos às vezes ingenuamente, certos de estarmos adotando

posições progressistas, da mesma forma que empunhamos com entusiasmo

bandeiras como o verde, a ecologia, a preservação do monumento histórico e outras

mais de que não lembro”.

A comunidade seria “um agrupamento” (...) de base territorial (pessoas que se sentem interligadas por habitarem os mesmo espaços e usarem-no em comum, como nas vizinhanças, condomínios e bairros). O grupamento se caracteriza por “forte coesão”. Sucede que tais coesões dependem de conjunturas que, na maior parte dos casos, são armadas externamente ao grupo e funcionam como pressões aglutinadoras. Os elementos que se compõem em tais ocasiões são todos oriundos de, ou remetem a uma estrutura ampla da sociedade que, em certos casos (exatamente os dos grupos que têm de se juntar para se expressar ou se defender em comum), apresenta conflitos mais ou menos agudizados. O “consenso espontâneo dos indivíduos” não se dá, portanto, em cima de temáticas abstratas e soltas no ar, às quais se recorre como a um manancial generoso. Os indivíduos só abrem mão de suas individualidades quando sentem que não têm outra alternativa para garantir certos aspectos essenciais de sua sobrevivência. Ainda mais, para fazê-lo, recorrem sempre aos modelos de solidariedade, de reconhecimento e de confiança que já têm impressos e testados modelos culturais garantidos (...)

201 A convenção que rege o CERVR é um conjunto de normas privadas que deveria ter sido elaborada por escrito, implantada e registrada em Cartório de Registro de Imóveis para prevalecer contra terceiros. Não podendo ser contrária a parte da Lei 4.591/64 nem ao Novo Código Civil. 202 Regulamento Interno do CERVR, inserido na convenção, regula condutas internas de todos os moradores das unidades autônomas do ERVR, bem como funcionários, visitantes e prestadores de serviços, para garantir formalmente convivência harmoniosa entre todos

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As entrevistas, em três fases, foram agendadas, executadas e transcritas pela

Arq. Denise Ferreira, responsável pela análise e elaboração técnica de Arquitetura e

Urbanismo do ERVR.

Na primeira fase foram feitos convites aleatoriamente, à medida que a

entrevistadora, residentes e funcionários iam se encontrando na portaria e no elevador

do prédio, objeto de estudo. A base de cada entrevista era registrar constatações e

demandas que tinham acerca do ERVR por meio de “discurso livre”, relatando como

veem esse edifício, a partir de observações de espaços de uso comum: “como é o

edifício onde mora...”; e “como gostaria que ele fosse”... Estas foram as unidades dos

que responderam via entrevistas gravadas: unidade do funcionário porteiro residente;

203; 204; 205; 303; 402 (2 entrevistas); 405; 502; 503; 504 (2 entrevistas); 506; 602;

704; 806; 901; 903; 906. Foram entrevistados moradores de 17 unidades que, com

mais 2 entrevistados “adicionais”, totaliza 19 entrevistados. Quase todos aceitaram

que fosse gravada a respectiva entrevista. Duas entrevistas (na unidade 506) não

foram gravadas por problemas técnicos com o gravador da entrevistadora e apenas

um morador optou por entrevista sem gravação (unidade 906). Foram ainda

entrevistados estes funcionários: 2 porteiros da noite; 1 porteiro do dia; e 1 faxineiro

(total de entrevistados: 04).

Na segunda fase dessas entrevistas, como alguns residentes disseram querer

participar, mas, por não terem tempo, perguntaram se havia um questionário. Assim,

para que os moradores não entrevistados relatassem, a partir de suas observações e

anseios relativos a espaços em uso ou por usar, foi criado um formulário – “como é o

edifício onde mora” e “como gostaria que ele fosse” – no qual se solicitou que o

morador se identificasse e que sua resposta fosse depositada, até final de maio de

2019, na minha própria caixa de correio. Esse formulário foi colocado em caixa de

correio de cada um desses moradores - os não entrevistados. Estas foram as

unidades que receberam esse formulário para relato escrito: 201; 202; 301; 302; 304;

305; 306; 401;402; 403; 404; 406; 501; 505; 601; 603; 604; 605; 606; 701; 702; 703;

705; 801; 802; 803; 804; 805; 806; 902; 904; 905. (32 UNIDADES). No entanto, destas

unidades duas unidades foram convidados a darem mais uma entrevista (402 e 806)

para dar oportunidade a dois jovens ali residentes que não tinham participado.

Lebrando que há poucos jovens residentes e é importante a participação destes.

Embora seja também importante a participação de crianças e como não foi oportuno,

seus pais se encarregaram de se manifestar por eles. Entretanto, não se

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entrevistaram nem se entregou esse formulário a 2 residentes porque os mesmos não

quiseram participar, por questões pessoais. Destaca-se que destas unidades apenas

duas se manifestaram dizendo que não vão participar por motivos particulares e outros

porque não se sentem à vontade porque são inquilinos. Estas foram as unidades que

responderam e devolveram os respectivos formulários com relato escritos: 605, 902...

(? unidades).

Na terceira fase das entrevistas

A loja, apesar de ter sido convidada, informalmente, a participar de entrevista,

um dos gerentes do dia não se interessou por ser funcionário novo. Por isso, foi

entregue a gerente do dia formulários para relatos de trabalhadores dessa loja, porque

fazem parte da “população” do prédio ERVR e usarem espaços de uso comum, em

especial, garagem, portaria e elevadores) - com base em suas observações de lugar

em uso, para registrarem “como é o edifício onde trabalham” e “como gostariam que

ele fosse”, identificando-se ao final. Foi solicitado a esse gerente que as devolvesse

preenchidas para a minha caixa de correio.

Foram ainda entrevistados dois síndicos de outros condomínios nas

proximidades deste edifício, bem como uma administradora de imóveis, todos no

Bairro Vila Isabel.

Matriz de Participação de Moradores (MPM) do ERVR.

Índice de Participação de Moradores (IPM) do ERVR.

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4.4.2 EDIFÍCIO CONDOMINIAL “AUTOSSUSTENTÁVEL”

Neste tópico, em termos de ARQUITETURA ECOLÓGICA, tento identificar,

diagnosticar, verificar e matricialmente: 1) vetores legais, vetores técnicos e

vetores econômicos, que foram ou deveriam ter sido aplicados na construção

arquitetônica de meu lugar; 2) vetores culturais, que se têm evidenciado na

ocupação e no convívio condominiais nesse lugar; e 3) descumprimentos legais,

falhas técnicas, desvalorização patrimonial e inibição de relacionamento humano

sadio. Tudo mediante Matriz de Sustentabilidade Condominial (MSC) do ERVR

para apurar respectivo novo INDICADOR ARQUITETO-URBANÍSTICO em

assentamento HUMANO: Índice de Sustentabilidade Condominial (ISC) do ERVR.

Complementarmente, ao menos em sua vertente de “ECONOMIA” URBANA,

devo construir diversas matrizes, sucessiva e interativamente, em PROCESSO

INTEGRADO que leve em consideração a Matriz de Participação de Moradores

(MPM) do ERVR e participação de outros entrevistados conforme tópico

imediatamente anterior a este e culmine em Matriz de Vivência, Convivência e

Sobrevivência Condominial (MVCSC) do ERVR e permita apurar novo INDICADOR

SOCIOECONÔMICO de “BEM-ESTAR” em assentamento HUMANO: Índice de

Vivência, Convivência e Sobrevivência Condominial (IVCSC).

De toda a forma, para este trabalho ficar completo e visando a controle de

retrofrofit. devo PRIORIZAR PROBLEMAS diagnosticados matricialmente usando

estas ferramentas: PEST, SWOT, GUT, CANVAS, 6W2H e PDCA. Tudo isto integrado

por Matriz de AutoControle Condominial (MACC) do ERVR que permita apurar

novo INDICADOR SOCIOECONÔMICO de “CONTROLE” em assentamento

HUMANO: Índice de Autocontrole Condominial (IAC) do ERVR.

5 POSLÚDIO

Esta dissertação podia ter começado por prelúdio, mas, por princípio e porque

a “escala musical” viria só no meu estudo de caso, iniciei com prolegomena para

alinhar assunto, tema, objeto de estudo, minha motivação, relevância e justificativa de

minha pesquisa, objetivos e propósito essencial de estudo, e estrutura de minha

dissertação. Entre prolegómenos e poslúdio, desenvolvi um interlúdio em três trechos

interdependentes: metodologia de meu estudo e de minha pesquisa; cultura humana

“reificada" em urbano; e meu estudo de caso.

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Nesse interlúdio, coloquei-me como “sujeito-objeto” de ciências sociais

aplicadas em ponto complexo: uma construção urbana vertical existente, na forma de

edifício habitado (inclusive por mim) em logradouro de diversas escalas, que

resultou e ainda resulta de cultura humana “reificada" em urbano. Uma “reificação” ou

“coisificação” ou “fetichização” por testemunho (trans)cultural de sociedade aberta.

Uma sociedade prenhe de “inimigos” que, como economia, urbano, direito,

antropologia e arquitetura, tanto “oprimem” lugares de viver - em “condomínios

exclusivos” - como são “oprimidos” por esses lugares de viver. “Viajei” por fragmentos

de história registrada pela/da Humanidade com economia de informação em

economia solidária (pretendida supostamente por agentes urbanos privados), no

intuito de propor especificamente economia urbana mais humana mediante

projeto de “retroprofit” baseado em arquitetura ecológica a adotar por

assembleias gerais condominiais.

Uma proposta transformadora de mentes aparentemente insensíveis ou alheias

a ambiente natural e ambiência cultural - meus contemporâneos ultrajantes e

ultrajados, engessantes e engessados, estáticos e dinâmicos, inerciais e vivos,

globais e locais. Contudo, essa proposta de aproveitamento sustentável de áreas

abandonadas ou ambiências sufocadas ou inibidas tem esbarrado (e continuará

esbarrando) em “direito minoritário” ratificado por assembleias dominadas por

“grupos minoritários organizados” para administração e conselho

incompetentes - em conluio opressor de “direito maioritário”. Este direito de

maioria legal é constantemente largado por maioria omissa ou maioria silenciosa ou

maioria abúlica. Isto torna tal maioria responsável direta e legal por incúria

condominial edilícia que oprime ou endivida todos.

Apesar disso, atingi a maioria dos objetivos específicos desta minha

monografia dissertativa porquanto: (1) analisei alotropia urbana do lugar vivido e vívido

(amparo legal, suporte técnico, características patrimoniais e organização

condominial); (2) percebi entropia urbana do lugar vivido e vívido (conhecimento,

ideias, habitat, vida, costumes e organização); (3) verifiquei matricialmente vetores

legais, vetores técnicos e vetores econômicos, que foram aplicados na construção

arquitetônica desse lugar; (4) identifiquei matricialmente vetores culturais, que se têm

evidenciado na ocupação e no convívio condominiais nesse lugar; (5) diagnostiquei

matricialmente descumprimentos legais, falhas técnicas, desvalorização patrimonial e

inibição de relacionamento humano sadio; (6) construí diversas matrizes, sucessiva e

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interativamente, em processo integrado que culmine em novo indicador

socioeconômico de bem-estar em assentamento humano - Índice de Vivência e

Convivência Condominial (IVCC). Por manifesta falta de tempo, só não pude atingir

o sétimo objetivo específico (7): priorizar problemas diagnosticados matricialmente

(PEST, SWOT, GUT, CANVAS, 6W2H e PDCA) visando ao retrofrofit. Todavia, isto

não me impediu de atingir o meu objetivo geral desta dissertação, pois conheci

quintessência urbana em edifício ocupado por condomínio vertical, visando a uma

autorreforma possível “hoje” para Edifício Condominial Auto-Sustentável em termos

de Construção e Habitat, privados e em comum (ECASCHpc), possibilitando eventuais

projeto e execução de retroprofit sustentável, por vetores sociais humanos em

alinhamento cosmo-topo-geo-(a)bio-antropo sustentável. Além disso cheguei à

finalidade desta minha monografia dissertativa expondo o estudo de caso aqui

“tratado” para alertar sobre desintegração humana em microforma urbana

“cristalizada” por processo urbano exoendógeno que se volve, revolve, envolve e

desenvolve, em presente contínuo, e em cujo bojo convivem e se isolam pessoas que

pouco ou nada se conhecem - incluindo eu, condômino, morador, síndico e mestrando

em arquitetura e urbanismo. E alcancei meu propósito essencial com este estudo

quando investiguei “produção de ambiente urbano” em condomínio edilício e refleti

sobre processo urbanístico bem específico no qual grupos de agentes sociais técnico-

legais engendraram de modo a vincular um grupo de famílias a certo tipo de ambiência

urbana em edifício moderno de forma pertinente aparentemente legal, da

incorporação ao habite-se.

Todo este trabalho, desde a apresentação do assunto e tema de pesquisa

seguiu “trilha” construída a partir de minha epígrafe sobre “discurso do método” de

René Descartes (1979 pp. 7, 17-18), “morte e vida de grandes cidades” de Jane

Jacobs (2011 pp. 15-16) e “saberes necessários à educação do futuro” de Edgar Morin

(2000 p. 91). O início dessa trilha é um conjunto de regras ou princípios empregados

na arte de dirigir o meu espírito na investigação da verdade (“metodologia”). Esse

conjunto - que se baseia em alguns dos principais métodos já consagrados pela

Ciência Acadêmica – é meu próprio método para bem conduzir minha razão: Método

Complexo-Teleológico (rever Glossário).

A construção dessa trilha – testável e replicável, mas sempre sujeita a

refutações devidamente fundamentadas – teve como “contra-fortes” e “suportes”

construtivos uma exo-estrutura teórica voltada para defesa de tese minha em partes

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distintas da estrutura desta dissertação. Eu “batizei inicialmente” essa trilha, na

forma de título e subtítulo. Título: ECONOMIA HUMANA EM ARQUITETÔNICA E

SUSTEINISMO DE AMBIÊNCIA URBANA. Subtítulo: UM CASO COMPLEXO DE

CONDOMÍNIO EDILÍCIO, DA INCORPORAÇÃO AO RETROPROFIT. Ao ser forçado

a reduzir minha “dura” tese para transformá-la em “mera” dissertação, “rebatizei”

essa trilha. Aclarei Título: ARQUITETURA OPRIMIDA EM URBANO OPRESSIVO.

Humanizei Subtítulo: CONDOMÍNIO EDILÍCIO PARA CHAMAR DE “MEU” E

“NOSSO”. E fundi ou incorporei ou desloquei aqueles “contra-fortes” e “suportes” para

compor a estrutura e conteúdo desta dissertação.

Ao longo dessa trilha rebatizada, verifiquei, em espaço-tempo anterior a

Junho de 1986, que, sob “métodos” de discurso urbano de aparente “legalidade

municipal” e “eficiência urbana”, foram demolidas ? () casas e eliminados seus ? ()

acessos, para arquitetar e construir um prédio de 13 (treze) pisos - 8 (oito) pisos do 2º

ao 9º andares com 48 (quarenta e oito unidades autônomas para habitação), 3 (três)

pisos com garagens (G1, G2 e G3), 1 (piso) com playground e salão de festas, e 1

(piso) com portaria e 1 (uma) unidade autônoma para loja. Esse conjunto, sob a

designação pomposa de Edifício “Residências Villa Real” tem sido regido por

“Convenção Condominial” e “Regimento Interno” que não constam de Registro de

Imóveis e, por isso, sem eficácia legal contra terceiros. Completados em incomum

vermos muitos mandarem derrubar as suas para reconstruí-las, e até, por vezes, a

isso são obrigados quando elas correm o risco de cair por si mesmas e os alicerces

não estão muito firmes. A finalidade dessa trilha é alertar um “povo displicente” que

não se importa com o funcionamento real do “lugar onde vive”. Isso, porque há

esperança para “retrofit” e “retroprofit”, de construções não tão “antigas”, com

participação responsável de Condôminos na arquitetura e no urbano de economia

verdadeiramente humana em “meu” e “nosso” mundo que não se limita a este planeta.

Cada aglomerado de unidades autônomas de habitação com espaço comum, como o

caso do Condomínio Edilício no Edifício “Residências Villa Real”, é “um imenso

laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e

desenho urbano”. E nesse laboratório é que “o planejamento urbano deveria aprender,

elaborar e testar suas teorias”.

A navegação nessa trilha tem sido usando meu “metaconhecimento”, meu

“pensamento armado e aguerrido” e minha estratégia para “enfrentar a incerteza” em

“oceano de incertezas, entre arquipélagos de certezas”, com base em “saberes

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necessários” a correção de “passado inercial”, ratificação de “presente fluído” e a

“futuro idealizado”. Tudo tendo em mente isto: o que “comporta oportunidade

comporta risco, e o pensamento deve reconhecer as oportunidades de riscos como

os riscos das oportunidades”. Conduzi minha razão por método híbrido para mostrar

o derrubar de casas (não para reconstruí-las porque elas corriam risco de cair por si

mesmas, por seus alicerces não estarem muito firmes, e “perpetuar” o espírito de “vila”

em bairro carioca histórico) para “uns” erigirem casas destinadas a moradia e

comunhão de “outros” e estes refazerem o que aqueles construíram203. Num processo

de construção e desenho de “morte” e “vida” de edifício vetusto em grande cidade

maravilhorrorosa – ambos com pouca esperança devido a seu “povo” tão displicente

que não se importa com funcionamento real de coisas, mas apenas com impressão

exterior imediata e fácil que estas transmitem204. Povo que não percebe de estratégia

e é bronco de conhecimento em sua navegação em oceano de incertezas, entre

arquipélagos de certezas, mas que cujo pensamento, reconhecendo oportunidades

de riscos como riscos de oportunidades, deve armar-se e aguerrir-se para enfrentar

aquela incerteza205.

Por essa trilha, verifiquei que: Edifício “Residências Villa Real” (ERVR) foi e

é oprimido/condicionado por seu “passado” tecnolegal subvertido ardilosamente;

Condôminos desconhecem essa opressão, condicionalismo e subversão ardilosa no

ERVR, mas, “ao mesmo tempo”, têm sido omissos ou conflituosos em suas

Assembleias Gerais e práticas cotidianas; Condomínio do ERVR é insustentável e

está refém de seu “passado” e de seus “condôminos”; há pelo menos um projeto de

arquitetura em urbano de economia “humana” executado de forma ardilosa, em

“espaço-tempo” pontual em contínuo conflituoso e insustentável. Pensei reformas de

arquitetura, urbana ou não, como instrumento de intervenção humana “metódica” em

sistema complexo ? Percebi principais “conceitos”, “métodos”, “indicadores” e

“racionalidade” em diretrizes de sustentabilidade para arquitetura bioclimática em

203 Confrontar com 1ª epígrafe desta dissertação: Discurso do Método (DESCARTES, 1979 pp. 7, 17-18). 204 Confrontar com 2ª epígrafe desta dissertação: Morte e vida de grandes cidades (JACOBS, 2011 pp. 15-16) 205 Confrontar com 3ª epígrafe desta dissertação: Os sete saberes necessários à educação do futuro (MORIN, 2000 p. 91)

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economia urbana mais “humana” ? Agrupei principais “vetores sociais” por “categorias

de análise matricial” de sustentabilidade “humana” em “espaço-tempo” urbano ?

Identifiquei principais vetores sociais insustentáveis (legais, técnicos, construtivos e

de convivência humana) em arquitetura bioclimática ? Alinhei incorporação, projetos

arquitetônico e de engenharia, construção no “habite-se”, “implantação” do

Condomínio, decisões de Assembleias Gerais e práticas de Síndicos, Subsíndicos,

Conselheiros e Condôminos, tudo do/no espaço vivido ou vívido do Edifício

“Residências Villa Real” (ERVR) ? E agreguei legalidade, critérios e transparência à

“autogestão” e “autocontrole” do ERVR, através de cibercultura, análises matriciais

integradas e novos indicadores socioeconômicos de “autossustentabilidade” ?

Esta é a fase final de processo complexo que envolveu todo meu trabalho e

privilegiou os três principais princípios do pensamento complexo (hologramático,

dialógico e recursivo organizacional) - numa espiral aparentemente dialélica: estar

num mundo, sendo; perceber síncrese de metaciência “humana”; análise em ponto

controverso de alta complexidade; síntese por hiper-reflexão crítica; e superação, por

diacronia sincrónica, de conflitos conceituais e decontradições detectadas durante a

análise do problema.

Todo o esforço que desenvolvi até agora busca “trilhar” por uma economia

humana em ambiência urbana, via arquitetônica assente em susteinismo, de

incorporação privada a ocupação exclusiva (ou não).

Porque creio que a microescala é um “problema” no qual reside a essência da

própria “solução”, procurei deslindar um caso complexo de condomínio edilício. Isso,

no intuito de solucionar um problema de existências em convivência de confinamento

forçado - através de autovistoria e por autocontrole e autogestão condominiais para

retroprofit.

Um caso que me inclui como tríade de corpo, alma e espírito, ser trino, em estar

antropológico condominial, estar hexíade, bem sui generis: humano, urbano,

condômino, morador, síndico e pesquisador.

Como contribuição científica, pretendo que conceitos gerados por

movimento(s) entre ideias e práticas - tanto entendidas como características

incorporadas a vida social humana – sejam reconhecidos por estrutura que “convide”

a encontro com utopias cotidianas que exploram interação entre ideias-chaves

e atividades específicas, dentro de “rico” contexto de "espaço promissor"

específico. E, dessa forma, espero mostrar, a quem ler esta dissertação, que

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projetos contra-hegemônicos de “pequena escala” podem transformar

compreensão de “ser-se humano” em relação entre pensamento e ação, e

podem revitalizar “políticas progressistas” de abstrações "lá fora" para

concretos “cá dentro”.

E coloco “um” ponto final (que não “o” ponto final) nesta dissertação de

resultados “teórico-práticos” (por extensão de campo de conhecimentos para além de

“estado de conhecimentos em Arquitetura e Urbanismo, mas limitado tanto por

espaço-tempo imposto resolutivamente por faculdade acadêmica como por inépcia

significativa de partes direta ou indiretamente interessadas no domínio local escolhido

por mim, bem como por certas condições materiais adversas à execução de minha

pesquisa) que não foi (nem é, e nunca será) apresentação de análise arquiteto-

urbanística convencional de “relações equilibradas” [ou em busca de algum

equilíbrio] entre seres humanos e destes com eventual escassez na Natureza, na

tentativa de obter a solução que salve toda ou parte da Humanidade ou da Natureza.

Ao contrário, este trabalho [contundente, mas responsável] foi [e é] reflexão e

refração limpas [o mais que foi possível] de sujeito limpo o mais que lhe foi possível,

em que, de corpo, alma e espírito, este sujeito usou metodicamente uma lente

transparente [limpando-a quando notava sujeira] que ampliou parte - um objeto

ínfimo [jogado e desprezado, por sabedoria científica e por seus cientistas

‘historicamente’ relevantes, em “urbano civilizado”, mas em “tenebrosa paisagem”] em

meio “nanoburguês -, ao mesmo tempo em que reduziu o todo a uma bolha

mundial ‘intra-estratificada’ mas ‘multiosmótica’ [ou seja, a limitada e tenuemente

protegida Exa-Atto esfera], onde têm aumentado indesejáveis influências cosmo-

quimio-físico-bio-meta-antropológicas. Mas tais indesejáveis influências não precisam

[e muitas nem podem] ser contrariadas. Houve que caracterizá-las em sua essência,

modelá-las em seu ambiente e, só “agora”, analisar e explicitar ameaças,

oportunidades, pontos fracos e pontos fortes que fundamentarão decisão de

implementar [ou não] processo de transformação para, só no “futuro”, se poder

testar a solução desta minha conjetura e, finalmente, integrar o seu resultado em

alguma história de “humanidade”. Como ‘futuro’ mestre em arquitetura e urbanismo,

mais que a minha percepção, a minha imaginação e a minha razão, eu usei o meu

todo para o estudo de uma metodologia que, por sua vez, permitiu o meu estudo do

aspecto e condições vitais de um tipo de vida urbana, “privada em comum” e

relacionada a um diminuto “grupo social” cujo comportamento considero essencial

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para qualquer “nação”: CONVIVÊNCIA EM CONDOMÍNIO VERTICAL. Assim, neste

trabalho, a partir do alto, feito águia, delimitei um ‘campo de atuação’ em torno de

um edifício [localidade onde resido], por onde voei erraticamente feito borboleta

[‘Lepidoptera’ diurna, mas da superfamília 'Hesperioidea' do subgrupo informal

‘Rhophalocera’ e não uma noturna da superfamília 'Geometroidea' do subgrupo

informal ‘Heterocera’ (traça)] e, feito abelha, piquei sobre tudo o que parecia mexer,

incluindo documentos esquecidos e pensamentos (meus e de “outros”). Em suma,

posicionando e respeitando o que existe, estabelecendo ORDEM ‘amorosa’ e

controlando RESÍDUOS de processo, acredito que mostrei, o quanto baste,

evidência de que é possível PROGRESSO de COMUNIDADE ENGESSADA EM

CONSTRUÇÃO PROJETADA E EXECUTADA POR TERCEIROS de maneira

metódica, complexa, sustentável e valiosa. Adicionalmente, aqui, ACREDITO TER

RESGATADO EM VERDADE:

➢ DIZERES ORIGINAIS DA BANDEIRA DO BRASIL 206, o meu país de

coração - pois, o meu país de naturalidade foi ANGOLA e o meu país de

nacionalidade é PORTUGAL 207 ;

➢ DIZERES ORIGINAIS DO HINO DO BRASIL mais atinentes a este trabalho;

➢ CIÊNCIA como PROCESSO DE CONHECIMENTO HUMANO INTERATIVO;

➢ ECONOMIA, ARQUITETURA e URBANISMO como CIÊNCIAS de

ESPERANÇA E ADAPTAÇÃO SOCIAL RESPONSÁVEL;

➢ ECONOMISTA, ARQUITETO e URBANISTA como SER HUMANO

SOLIDÁRIO; e

➢ VIDA de AGENTE SOCIAL considerado “nano” na cidade Rio de Janeiro,

Região Metropolitana, RJ, BRASIL.

Enfim, por se tratar de dissertação em tema arquiteto-urbanístico “prenhe” de

conjecturas “poperianas” de sementes urbanas “carlonelsianas” observadas a partir

206 Como português, procuro retribuir à nação Brasil, através dos considerados ‘colaterais’ da ciência econômica, o que o técnico de futebol brasileiro Scolari fez, em tempos, com a nação Portugal através de um elemento também ‘considerado’ colateral da prática da atividade futebolística em si, a bandeira... 207 O que faz de mim, como ser trino de ‘corpo’- ‘alma’- ‘espírito’ [espírito, aqui, em sentido lato...], rigorosamente nesta ordem: em termos continentais, um afro- euro- americano [afreuramericano]; ou, em termos de nações, um angol- luso- brasileiro [angolusobrasileiro]; porquanto, no ‘dominó das cores de bandeiras nacionais’, o vermelho do sangue liga Portugal a Angola e o verde da esperança liga Portugal ao Brasil...

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de ações humanas “misesianas” em alta complexidade “moriana” em lugar de viver

“gilbertiano”, como “sujeito-objeto-usuário”, cito aqui MALARD (2006 p. 13):

(...) totalidade...a Arquitetura [e o Urbanismo], é um meio onde as relações sociais se tornam possíveis, se “espacializam”. Ela se revela, portanto, nas suas interações com o usuário. Nessas interações, usuários e objetos arquitetônicos [e urbanísticos] estarão em harmonia sempre que as três dimensões, a de fruição [dimensão artística], a do uso [dimensão funcional] e a da construção [dimensão tecnológica] estejam em equilíbrio [estático-dinâmico].

A propósito de bibliografia - recordando a seguir Edgar Morin -, nem todas as

obras consultadas por mim foram aqui citadas, mas sua consulta contribuiu, de

alguma forma, para a complexidade do meu pensamento aplicado neste trabalho.

- limitada a obras citadas.

Este texto de proposição e de reflexão não comporta bibliografia. Por um lado, a amplitude dos sete saberes remete a bibliografia considerável, que não seria possível mencionar nas dimensões desta publicação. Por outro, eu não saberia impor uma bibliografia seletiva curta. É facultado, a qualquer leitor interessado em formar a própria opinião, a realização de leituras. Finalmente, cada país dispõe de obras provenientes da própria cultura, e não seria o caso aqui de excluí-las, acreditando que algumas delas poderiam ser selecionadas. (MORIN, 2000 p. 116)

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Diagrama de Estrutura desta Dissertação - Tópicos de Nível 1 e Nível 2................. 351

APÊNDICE B- Sabedoria Prática - Frônese ou Phronesis ................................................................. 352

APÊNDICE C- Filosofia em Concepções de Conhecimento “Humano” ............................................. 353

APÊNDICE D- Árvore Genealógica da Economia (AGEco) ............................................................... 354

APÊNDICE E - Tópicos de Economia abordados por alguns Economistas ....................................... 355

351 / 365

APÊNDICE A - Diagrama de Estrutura desta Dissertação - Tópicos de Nível 1 e Nível 2

Adaptação do Autor desta dissertação, 29 de maio de 2019

352 / 365

APÊNDICE B- Sabedoria Prática - Frônese ou Phronesis

Fonte: Elaborado por mim, a partir de algumas obras em 13/05/2019.

353 / 365

APÊNDICE C- Filosofia em Concepções de Conhecimento “Humano”

Fonte: Elaborado por mim, a partir de algumas obras de parte da Coleção “Os Pensadores” na minha biblioteca, em 23/04/2019.

354 / 365

APÊNDICE D- Árvore Genealógica da Economia (AGEco)

Fonte: Elaborado por mim, a partir de algumas obras de parte da Coleção “Os Economistas” na minha biblioteca, em 23/04/2019.

355 / 365

APÊNDICE E - Tópicos de Economia abordados por alguns Economistas

356 / 365

Fonte: Elaborado por mim, a partir de algumas obras

de parte da Coleção “Os Economistas” na minha biblioteca, em 23/04/2019

357 / 365

ANEXOS

ANEXO A – Cronologia de Testemunhos (Trans) Culturais Antrópicos desde 1000 a.C. ................. 358

ANEXO B - Processo do CERVR – “todas” as tramitações ................................................................ 359

ANEXO C - Processo do CERVR – “dados” do Cadastro .................................................................. 361

ANEXO D – Processos de Licenciamento para a Av. 28 de Setembro .............................................. 362

358 / 365

ANEXO A – Cronologia de Testemunhos (Trans) Culturais Antrópicos desde 1000 a.C.

Fonte: (KOCH, 1996 pp. 230-231)

359 / 365

ANEXO B - Processo do CERVR – “todas” as tramitações

360 / 365

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro, em 21/04/2019, http://www2.rio.rj.gov.br/sicop/.

361 / 365

ANEXO C - Processo do CERVR – “dados” do Cadastro

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro, Ouvidoria, em 15/05/2018; entregue ao Síndico do CERVR

362 / 365

ANEXO D – Processos de Licenciamento para a Av. 28 de Setembro

CERVR

363 / 365

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro, Ouvidoria, em 15/05/2018; entregue ao Síndico do CERVR

Apto. 905

364 / 365


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