VIRTUALIZAÇÃO DO PRODUTO TURÍSTICO:
UM ESTUDO DE CASO
Resumo:
O mundo dos negócios vem percebendo rapidamente o imenso potencial da Internet e do
Comércio Eletrônico (CE). A utilização do CE é uma das melhores estratégias das quais as
empresas podem lançar mão hoje em dia para ganhar vantagem competitiva frente os seus
concorrentes.
A Internet e o CE trazem uma série de oportunidades de negócios e desafios para as empresas
que atuam no setor de turismo. Este trabalho apresenta uma analise do processo de virtualização
da distribuição dos serviços turísticos através de um estudo de caso, com o intuito de mostrar a
situação atual dos serviços oferecidos, face às contribuições do CE aplicados ao setor de turismo
no Brasil. A empresa analisada distribui seus produtos e serviços pela Internet, utilizando-a como
ferramenta para promover e facilitar o contato entre os consumidores potenciais do produto
turístico e os diversos provedores destes produtos/serviços.
Palavras-chave:
Turismo; Cadeia de Distribuição; Virtualização; Comércio Eletrônico
1. Introdução
O uso de Tecnologia da Informação (TI) está cada vez mais intenso, dentro e fora das
organizações e, tem possibilitado a muitas empresas modificarem seu perfil competitivo.
Internamente, a TI proporciona agilidade, flexibilidade, controle de todos os processos de
negócio da empresa, informações em real time e uma análise consolidada das mesmas para
tomada de decisões. Externamente, como não poderia deixar de ser, a TI pode ser vista como
mais um fator competitivo, abrindo novos canais de vendas, agilizando e personalizando
processos com clientes e fornecedores.
As TIs modificaram sensivelmente o relacionamento entre organizações,
fornecedores e clientes, assim como as modalidades internas de organizar e tratar os fluxos de
informação. Essas modificações vêm sendo sentidas de perto pelo setor de turismo, desde a
integração/interconexão possibilitada pela Internet e em virtude do desenvolvimento de novos e
sofisticados sistemas operacionais, com destaque para os sistemas de reservas de passagens
aéreas, carros e hotéis.
Cada vez mais as empresas de turismo têm percebido a necessidade de criar a captura
eletrônica da transação no ponto de distribuição, integrando fornecedores e distribuidores. Desta
forma, a aplicação de tecnologia de informação é tida como catalisadora dos sistemas de
distribuição em turismo. As principais vantagens são: informação rápida e atual a todos os níveis
de distribuição e conexão nos sistemas de reservas computadorizados.
A Internet traz uma série de oportunidades de negócios e desafios para as empresas
que atuam na indústria do turismo, principalmente para aquelas que pretendem atuar no
marketspace e realizar a distribuição dos seus produtos/serviços via Internet. Neste contexto,
surge o Comércio Eletrônico (CE) como nova e principal ferramenta para agregar valor e
vantagem competitiva às organizações do setor de turismo.
Entende-se por Comércio Eletrônico, segundo Albertin (2002), a realização de toda
cadeia de valor dos processos de negócio num ambiente eletrônico, através da aplicação intensa
das tecnologias de informação, atendendo os objetivos de negócio. Desta forma, o uso do CE
implica na integração de todos os processos de negócio da empresa, através de seus sistemas de
informação. Portanto, esta integração se torna crucial para que o CE agregue o valor esperado.
As companhias aéreas já possuem diversos recursos para estabelecer uma base de
reservas de viagens via Internet como, por exemplo, o grupo Sabre (SABRE, 2003). O
easySABRESM é um serviço on-line que oferece acesso a horários de mais de 700 companhias;
acesso a informações sobre mais de 60 locadoras de carros; capacidade de fazer reservas em
mais de 350 companhias; e acesso a informações sobre mais de 27.000 hotéis. Em 1999, SABRE
lançou um website que possibilita a qualquer pessoa acesso on-line a informações customizadas
sobre qualquer destino escolhido.
2. Potencial e Importância do Turismo no Brasil
Segundo dados da Embratur (2004), o Brasil possui apenas 0,54% do mercado
mundial, o que equivale a 700 milhões de turistas por ano no mundo. Entretanto, o imenso
potencial de crescimento que o Brasil dispõe, está transformando a atividade turística em um
importante setor de desenvolvimento nacional. Números oficiais divulgados pela Organização
Mundial de Turismo (OMT) mostram que o turismo externo, no Brasil, cresceu cerca de 34%
nos últimos anos.
O crescimento da receita gerada com o turismo é impressionante se comparado a
outros itens importantes da pauta de exportações brasileira. Em 1997 e 1998, o aumento da
receita gerada pelo turismo foi de 41%, 28 pontos percentuais acima do crescimento da receita
do minério de ferro exportado no mesmo período e 30 pontos acima do valor gerado com a
exportação de açúcar. A performance refletiu-se na receita de US$ 3,6 bilhões em divisas, em
1998, com o ingresso de 4,8 milhões de turistas estrangeiros no país, só perdendo para a
arrecadação obtida pelos exportadores de veículos (US$ 4,9 bilhões). Em 1999, o Brasil pulou do
43° lugar em 1994 para 34° no ranking da Organização Mundial de Turismo (OMT) de destino
turístico mais demandado no mundo (Embratur, 2004).
No plano interno, o número de passageiros desembarcados em aeroportos nacionais
foi de 13 milhões em 1994, saltando para 26 milhões em 1998. O turismo emissivo no Brasil
cresceu 495% nos últimos 15 anos, contra 17% do turismo receptivo. Desde 1996, as ações do
Governo Federal estão direcionadas para a expansão do turismo receptivo. E até 2007, está
prevista a aplicação de US$ 12 bilhões em novos investimentos privados. Mas, se comparado às
potencialidades brasileiras, o atual panorama do turismo ainda é limitado.
Após 7 anos de crescimento contínuo, o número de turistas estrangeiros no Brasil
caiu consideravelmente nos 2 últimos anos, segundo a Embratur (2004). A crise econômica
mundial, em especial a crise Argentina, o baixo crescimento do Brasil e os atentados de 11 de
setembro, contribuíram para que tivéssemos em 2002 apenas 3,8 milhões de turistas visitando o
Brasil, o pior resultado dos últimos 5 anos e gerou uma receita de 3,12 bilhões de dólares.
O Plano Nacional do Turismo (PNT), para o período 2003-2007, tem por meta atingir
o número de 9 milhões de turistas estrangeiros, mas, para tanto, será necessário agregar novos
produtos turísticos aos que hoje são oferecidos nos mercados internacionais, com aumento de
qualidade e diversidade. Através de ações como o estimulo das articulações entre agentes
públicos e privados para realizar ações consistentes de promoção, a Embratur pretende
disponibilizar recursos e ainda desenvolver os canais de comercialização. Desta forma, o
governo pretende alcançar taxas de crescimento acima de 15% ao ano, atingindo 9 milhões de
turistas em 2007.
Este plano tem entre seus objetivos gerar US$ 8 bilhões de divisas, aumentar para 65
milhões a chegada de passageiros nos vôos domésticos e Criar condições para gerar 1.200.000
novos empregos e ocupações
Estudos da Organização Mundial do Turismo mostram que enquanto na indústria
automobilística são necessários R$ 170 mil para gerar um emprego, no turismo apenas R$ 40 mil
possibilitam um emprego direto num hotel; R$ 10 mil empregam uma pessoa num restaurante e
R$ 50 podem garantir matéria-prima e emprego a um artesão.
3. Produto Turístico
De acordo com Kuazaqui (2000) “turismo é o conjunto de diversas atividades
econômicas (pois gera renda e divisas), sociais (como geradora de empregos) e comerciais (como
geradoras de vendas), incluindo atividades locais, regionais ou mesmo nacionais e internacionais,
como agenciamento de viagens, transporte e práticas de lazer, além de outras ações que
produzem riquezas e geram qualidade de vida de muitas regiões e países”.
Já o produto turístico (figura 1) é definido da seguinte forma por Vaz (1999):
conjunto de benefícios que o consumidor busca em uma determinada localidade e que são
usufruídos tendo como suporte estrutural um complexo de serviços oferecidos por diversas
organizações.
O sistema de produção de turismo é composto por quatro agentes principais:
1. Produtores: linhas aéreas, hotéis, provedores e serviços locais.
2. Distribuidores: operadoras, agentes receptores e agentes de
viagem.
3. Facilitadores: serviços financeiros.
4. Consumidor: passageiros, turistas.
Neste trabalho estaremos focando um dos agentes do sistema de produção de turismo
no Brasil: o distribuidor, especificamente as agências de viagens que comercializam seus
produtos e serviços na Internet.
O Papel das Agências de Viagem
As agências de viagem funcionam como intermediários no processo de compra, mas
embora o papel principal dessas agências seja o de providenciar o melhor local para a compra, o
real problema é fazer com que as informações sobre os produtos sejam realmente adequadas. O
produto turístico não pode ser visto, tocado ou fisicamente inspecionado antes da compra. Isto
significa que o consumidor é dependente da informação. As agências de viagens podem oferecer
aos consumidores opções de comparação, informações de consumo, restrições de viagens,
seguros, dentre outras coisas.
Assim sendo, essas empresas devem se preocupar em fornecer informações sobre
tipos de produtos, datas, localizações, moedas estrangeiras e, baseado nestas informações, dar
aconselhamento aos clientes.
Figura 1: O Produto Turístico
Fonte: VAZ (1999)
4. Canal Virtual de Valor
Porter (1986) define a cadeia de valor como um modelo que descreve as atividades
da empresa relacionando o suprimento à demanda. É uma ferramenta que possibilita à empresa
identificar atividades que criam valor para o cliente. A análise da cadeia de valores é um ótimo
instrumento de avaliação de todas as atividades executadas na organização, pois permite que
sejam identificados pontos fortes e oportunidades de melhoria em termos de custo ou de
diferenciação de produtos. A cadeia de valor físico proposta é composta de uma seqüência linear
de atividades, classificadas em primárias (logística interna, operações, logística externa,
marketing e vendas) e secundárias ou de apoio (aquisição, desenvolvimento e tecnologia,
gerência de recursos humanos e infra-estrutura da empresa). Na cadeia de valor físico, a
informação é considerada como atividade secundária ou de apoio à tomada de decisão e à
execução das atividades primárias (responsáveis pela agregação de valor ao produto).
Com a crescente evolução da automação e da tecnologia de informação e a
disseminação das ferramentas de informática e dos meios de comunicação, os processo reais
estão cada vez mais apoiados ou até mesmo sendo substituídos pelos virtuais. No processo
virtual o produto ou serviço existe sob a forma de informação digital cuja disponibilização pode
ser realizada eletronicamente. Segundo Rayport e Sviokla (1995), todos os negócios, atualmente,
competem em dois mundos: o físico de recursos que o administrador pode ver e tocar e o virtual
da informação. Sendo que este último fez surgir um novo local de criação de valor: o
marketspace. As empresas precisam investir na criação de valor tanto no mundo físico quanto no
mundo virtual. No entanto, os processos de criação de valor não são os mesmos nestes dois
mundos.
As transformações ocorridas com o marketspace são sentidas em diversas formas.
Quanto ao conteúdo, observa-se uma substituição física do bem por informações sobre o bem;
quanto ao contexto nota-se que o contato físico entre vendedor, comprador é substituído pela
interação eletrônica; e quanto à infra-estrutura as mudanças referem-se aos lotes de produtos
substituídos por computadores e linhas de comunicação. As conseqüências destas transformações
no marketspace são: mudanças na forma de comprar e entregar produtos; mudanças na lealdade
do consumidor e mudança de forma radical na criação e percepção do valor.
Segundo Rayport e Sviokla (1995) a lógica das cadeias de valores na dimensão real e
na dimensão virtual é diferente. Na cadeia de valor virtual, as entradas e saídas de recursos e
produtos ou serviços não ocorrem de forma linear. Necessidades podem ser acessadas através de
vários canais e a própria tecnologia de informação constitui fonte de criação de valor. A
agregação de valor é considerada virtual quando é realizada através da informação, ou
eletronicamente.
A criação de valor de uma cadeia virtual envolve cinco atividades principais: coleta
de dados, organização, seleção, consolidação e distribuição da informação. Estas atividades
estabelecem a seqüência através da qual os subsídios são obtidos e a informação disponibilizada
e são identificadas as linhas de ação que levem ao aumento de valor. Uma possível cadeia de
valor para uma empresa distribuidora de serviços turísticos poderia ser definida como a descrita
na figura 2.
De acordo com Vaz (1999) o impacto do canal virtual de valor nas empresas de
turismo pode ser provado com o marketing de serviços. O serviço pode ser criado por uma
empresa e vendido por outra. Exemplo: as passagens aéreas são vendidas por agências, mas o
serviço é feito pelas companhias aéreas.
A Internet pode ter um profundo efeito nas estratégias de distribuição e varejo de um
produto e oferece um canal de venda direta aos consumidores, um canal virtual de valor. Tom
Vassos (1998) apresenta alguns possíveis cenários na era pós-Internet, para o setor de turismo
(figura 3):
Figura 3: Cenários na era Pós-Internet
Fonte: VASSOS (1998)
Cenário 1: quando o prestador de serviço começa a usar a Internet, ele acredita que
fará um trabalho mais eficiente vendendo diretamente os serviços.
Cenário 2: os varejistas de serviços podem usar a Internet para capitalizar seu
relacionamento com os consumidores, e por serem suficientemente fortes, podem decidir
somente representar prestadores de serviços que não vendem diretamente aos consumidores.
5. Formulação do Problema de Pesquisa
De acordo com Vaz (1999), o ecossistema do mercado turístico pode ser dividido em
três grandes áreas de influência: ambiente interno, microambiente externo e macroambiente
externo. O ambiente interno é a própria organização turística. O microambiente externo é
composto pelos turistas e pelas empresas que formam o trade turístico direta ou indiretamente
ligado à localidade. O macroambiente externo é composto por fatores que influenciam todas as
organizações que fazem parte do microambiente: demográfico, econômico, político-legal,
sociocultural, tecnológico e ecológico.
Apesar de considerar relevante as demais variáveis que compõem o macroambiente
do ecossistema do turismo — que em muitos casos são determinantes da adoção de novas formas
de negócios e dos relacionamentos entre os participantes de uma cadeia de distribuição — este
trabalho focará nos aspectos tecnológicos que afetam o turismo e a integração entre os
participantes da cadeia.
Neste trabalho estaremos analisando a cadeia de distribuição de produtos turísticos a
partir de um dos agentes desse sistema: o distribuidor, especificamente uma agência de viagem
que comercializa seus produtos e serviços na Internet.
As agências funcionam como intermediários no processo de compra, mas embora o
papel principal dessas empresas seja o de providenciar o melhor local para a compra, o real
problema é fazer com que as informações sobre os produtos sejam realmente adequadas.
Entretanto, como uma agência de turismo não possui aviões, hotéis e restaurantes, ela precisa
escolher muito bem seus parceiros, para conseguir viabilizar uma oferta variada e confiável dos
diferentes produtos e informações turísticas.
Além da dependência das parcerias com os fornecedores dos produtos turísticos, um
outro aspecto importante a se considerar é que os demais participantes da cadeia de turismo
atuam ao mesmo tempo como parceiros e concorrentes das agências de turismo, uma vez que
todos, com exceção de algumas poucas operadoras, comercializam diretamente com o
consumidor final do produto turístico. Muitas dessas organizações já iniciaram os seus negócios
on-line, como é o caso das Companhias Aéreas e de alguns hotéis, facilitando ainda mais o
contato direto com o consumidor final.
É razoável supor que as mudanças que estão ocorrendo no setor de turismo podem
repercutir tanto na interação e relacionamento entre os parceiros e fornecedores dos produtos
turísticos, quanto na interação e relacionamento desses provedores com os clientes e, com os
clientes potenciais. Considerando as questões e tendências até aqui expostas, bem como a
atualidade e relevância do setor para a economia nacional, a problemática de estudo proposta
para análise neste trabalho é:
"De que forma irão ocorrer as mudanças no mercado de turismo no Brasil com o
início da comercialização e distribuição do produto turístico pela Internet e da utilização do
Comércio Eletrônico?"
O objetivo deste trabalho é estudar o processo de virtualização da distribuição dos
serviços turísticos através de um estudo de caso, analisando os serviços oferecidos por uma
agência de viagens, chamada Gateone, com sede em São Paulo, capital.
6. Metodologia
Além do levantamento bibliográfico para a construção do referencial teórico
(Malhotra, 1999), a metodologia utilizada neste trabalho foi o estudo de caso — devido às
questões básicas de pesquisa, ausência de controle dos eventos comportamentais e ênfase nos
eventos contemporâneos (Yin, 2001). O estudo considerou e respeitou os vários aspectos,
condições, recomendações, componentes e requisitos, definidos por vários autores, dentre eles
Yin (2001).
Um estudo de caso é um questionamento empírico que investiga um fenômeno
contemporâneo com seus contextos de vida real, quando as fronteiras entre fenômeno e contexto
não são claramente evidentes, e nos quais fontes múltiplas de evidência são usadas (Yin, 2001).
A aplicação da metodologia de estudo de caso foi realizada por meio de uma série de
entrevistas com executivos da empresa em questão, utilizando um protocolo elaborado
especificamente para este fim. Este protocolo considerou a necessidade de conhecer a
organização e seus processos de integração. O caso em estudo é de uma é uma agência de
turismo on-line, criada para possibilitar que o cliente escolha seu próprio roteiro, obtenha
informações sobre o destino desejado e faça reservas sem sair de casa. A empresa na verdade é
um portal vertical de turismo, que disponibiliza uma grande quantidade de informações turísticas
e abrange diversos segmentos do mercado turístico, buscando integrar todos os produtos
turísticos e as suas respectivas informações.
A definição por este modelo de investigação baseado em estudo de caso se justifica
porque o uso da Internet no setor de turismo ainda não está numa fase madura de sua utilização,
visto que as empresas que o utilizam só o fazem a relativamente pouco tempo e o número de
usuários compõem atualmente uma porcentagem minoritária dentro do universo total dos
usuários dos serviços turísticos.
A empresa analisada chama-se Gateone Turismo e seu endereço na Internet é
www.gateone.com.br. Neste estudo utilizamos o modelo teórico Estrutura de Análise de
Comércio Eletrônico (Albertin, 2002), para analisar a aplicação da TI e do CE no setor de
turismo.
7. Análise do Caso
A empresa analisada foi constituída como uma agência estruturada, que conta com
registro em órgãos do trade turístico tais como EMBRATUR, ABAV (Associação Brasileira de
Agências de Viagem) e IATA (International Air Transport Association), entre outros. A empresa
comercializa todo tipo de produto turístico nacional e internacional, como por exemplo, pacotes
turísticos, passagens aéreas e terrestres, locação de veículos, reservas de hotéis, cadastro de guias
turísticos, dentre outros. Entretanto, a empresa tem seu foco dirigido aos seguintes
produtos/serviços: conteúdo de informações turísticas variadas e diversificadas; pacotes
turísticos nacionais e internacionais; reservas de passagens aéreas, inclusive on-line;
desenvolvimento de pacotes taylor made, realizado através de site e/ou com o auxílio dos
agentes. A empresa disponibiliza os serviços de entrega em São Paulo, por meio de motoboy e
para demais localidades através do serviço postal, via SEDEX. Para clientes residentes no
exterior a entrega é sempre via correio.
A agência oferece ainda um banco de dados completo, com links e informações úteis,
desde atrações turísticas, passeios e clima até dados geográficos e históricos das diversas
localidades. Pacotes, cruzeiros e cursos, assim como os roteiros de ecoturismo, são outras opções
disponibilizadas pela agência, que está conectada on-line e em tempo real a hotéis, companhias
aéreas e locadoras de automóveis.
A empresa atua no segmento Business to Consumer (B2C) e Business to Business
(B2B), sendo assim, os clientes da empresa são pessoas físicas e jurídicas. A empresa busca
atender a uma clientela com o seguinte perfil:
B2C – indivíduos das Classes A e B, entre 25 e 60 anos, na sua maioria
com curso superior completo, bem-informados, exigentes e que fazem viagens curtas e
freqüentes, com ou sem a família;
B2B – empresas de porte médio que atuem na grande São Paulo.
O canal de venda principal é a Internet, mas no caso dos clientes corporativos, é
desenvolvido um atendimento diferenciado, nas empresas e por telefone.
8. Análise do Modelo de Referência
O modelo Estrutura de Análise de Comércio Eletrônico (figura 4) apresenta os
aspectos a serem considerados na utilização de CE e as contribuições que a utilização de CE
oferece às organizações. A estrutura do CE pode ser estudada a partir de quatro dimensões:
clientes e fornecedores; produtos e serviços; a própria organização e a tecnologia. Cada um
desses aspectos foi individualmente analisado para a empresa objeto deste estudo.
Figura 4: Estrutura de Análise de Comércio Eletrônico
Fonte: baseado em Albertin, 2002
Adoção
A empresa utiliza estratégias de propaganda, promoção e fidelização dos membros
através de parcerias com os principais provedores de acesso à Internet; com os provedores de
conteúdo da Internet e da mídia impressa; e com as principais operadoras de turismo nacional. A
empresa busca estabelecer parcerias com portais verticais para atingir nichos de mercado. Conta
ainda com assessoria de imprensa terceirizada. Não comercializa banners para serem exibidos no
site da empresa, entretanto busca fortalecer a sua marca através da aliança com marcas já
estabelecidas na Internet. Uma das principais estratégias para estimular a adoção são as parcerias
com grandes nomes e provedores da Internet.
A URL da empresa será cadastrada nos principais sites de busca nacionais e
internacionais, facilitando a sua localização. A disponibilização de um espaço para comentários
sobre os serviços prestados e chats entre os visitantes do site, é utilizado como um meio de atrair
tráfego e, através da transparência, gerar confiabilidade quanto aos serviços prestados.
Alguns dos fatores que afetam a adoção de novas tecnologias são a resistência a
mudanças, a baixa penetração de PCs (custo) e a percepção dos benefícios oriundos da nova
tecnologia. Já, os fatores que impactam positivamente na adoção são o acesso gratuito e os
grandes investimentos de marketing dos principais provedores que atuam no mercado. A
empresa antes de lançar o seu site para vendas on-line, traçou as seguintes estratégias para
garantir a adoção de seus clientes, conforme mostra o quadro 1:
Quadro 1: Estratégias para garantir Adoção de seus Clientes CICLO MÉTODO
Desenvolvimento do
produto
Identificar as necessidades dos clientes.
Identificar o que os concorrentes estão fazendo.
Realizar um teste beta. Solicitar feedback do teste.
Proceder a um teste de conceito.
Lançar novos produtos.
Usar o feedback dos clientes para aprimorar os produtos/serviços.
Marketing Enviar mensagens diretas aos clientes potenciais, clientes atuais, consultores,
empresas parceiras, imprensa e outros.
Vendas Fornecer material de apoio.
Levar clientes através do ciclo de vendas. Vender.
Distribuir e permitir acesso a artigos e notas da imprensa.
Suporte Aprimorar o atendimento ao cliente (24 horas por dia, 7 dias por semana) ao
menor custo.
Necessidade de
comunicação
Aprimorar a comunicação interna na empresa, entre parceiros e clientes.
Relacionamento
a)Fornecedores
Como uma agência de turismo não possui aviões, hotéis e restaurantes, ela precisa
escolher muito bem seus parceiros, para conseguir viabilizar uma oferta variada e confiável dos
diferentes produtos turísticos. Neste sentido, a empresa realizou uma seleção e cadastramento da
hotelaria nacional e estrangeira, assim como de todas as demais empresas prestadoras de serviços
turísticos, como companhias aéreas e marítimas, agências de receptivo, administradoras de cartão
de assistência em viagens e restaurantes, entre outras. No caso dos pacotes turísticos, a empresa
estabeleceu parcerias com operadoras líderes nos diversos segmentos do mercado de turismo
para assegurar a confiabilidade dos produtos e serviços oferecidos.
b) Clientes
O foco da empresa é o Marketing one-to-one (Peppers, 2003), visando desenvolver
um relacionamento próximo com os clientes e clientes potenciais. Para dar suporte às ações de
relacionamento com os clientes, são utilizados dados e informações obtidas através do software
Webtrends que possibilita acompanhar e mensurar as visitas feitas ao site, as páginas acessadas e
qual a origem do acesso realizado pelo cliente.
O cliente ao enviar um e-mail solicitando informações sobre determinado destino
turístico recebe um e-mail da empresa com todas as informações solicitadas. Com base nas
informações passadas pelos clientes, o pessoal de vendas da empresa entra com os dados no
Sabre, e busca no banco de dados do sistema as informações solicitadas pelo cliente. Após cada
transação as informações sobre a compra e a preferência dos clientes são armazenadas de modo a
manter um histórico do cliente. Desta forma, a empresa pretende criar um tratamento
personalizado para o cliente, desenvolvendo um marketing personalizado.
Contudo, mesmo com este atendimento personalizado sendo oferecido no site, a
empresa ainda não consegue customizar todo o pacote desejado pelo cliente, pois o poder da
cadeia, no caso do turismo, está nas mãos das companhias aéreas, e um pacote totalmente
customizado sairia muito caro para o cliente. Além disso, a empresa acredita que ? mais
customizam o serviço, mais comprometem a eficiência operacional do sistema como um todo.
Adequação
Para produtos e serviços, é necessária a adequação dos mesmos à nova forma de
divulgação, venda e distribuição. Uma vez realizada, proporciona a flexibilidade de mudar
conforme o mercado exige, tendo respostas dos clientes através da comunicação bi-direcional
que o sistema apresenta.
No caso do produto turístico, são três os fatores que concorrem para induzir o
consumidor a comprar: o apelo da destinação, a sua atratividade; o grau de confiança na
produção do pacote e serviços oferecidos; e o desempenho esperado, que tem em relação com o
atendimento às expectativas do cliente e à sua superação.
No caso da empresa, os serviços essenciais são: fornecer conteúdo específico sobre
destinos diversos e comercializar produtos turísticos on-line. Os serviços facilitadores são:
conteúdo variado, atualizado, organizado e indexado sobre uma gama de destinos nacionais e
internacionais; infra-estrutura tecnológica; suporte para e-commerce e ferramentas de
busca/pesquisa. E os serviços de suporte são: pacotes taylor made com a assessoria de agentes e
especialistas de turismo; reservas de passagens aéreas on-line; e etc.
Estratégia
Considerando os fatores críticos para o sucesso desta “nova forma de fazer negócio”
a empresa tem as seguintes preocupações: enfocar os clientes certos; agilizar os processos de
negócios que influenciam a percepção da qualidade do serviço pelo cliente; e prestar serviço
personalizado, ajudando os clientes a elaborarem seus próprios roteiros.
A empresa aposta e confia no poder da Internet como um poderoso canal de
divulgação e distribuição de produtos e serviços. A expectativa da empresa é que os negócios
através da Internet continuem crescendo e evoluindo, e que esta se torne cada vez mais uma
ferramenta indispensável à obtenção de informações e ao estabelecimento e desenvolvimento de
relacionamentos.
Para a empresa, a Internet não surge como uma ameaça às agências que atuam no
mundo dos átomos, mas sim como um poderoso instrumento para agregar valor aos serviços,
facilitando o contato com o cliente e a agilidade no atendimento às suas demandas e
expectativas, alavancando o crescimento dos negócios.
Privacidade e Segurança
Um dos maiores desafios para os negócios da era digital é assegurar a segurança e a
privacidade na troca de informações e dados através da rede. O crescimento da utilização da
Internet possibilita a conexão de qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo e o aumento das
transações comerciais e da importância do Comércio Eletrônico no cenário mundial são
acompanhados pelo receio de que o número de fraudes aumente. Sendo assim, faz-se necessário
adotar algumas ações que promovam a segurança.
O site utiliza servidor seguro com transmissão criptografada de dados com chave de
128 bits e não armazena, salva ou memoriza os dados dos cartões de crédito.
Sistema Eletrônico de Pagamento
No caso da empresa analisada o cliente pode pagar como quiser, pode dar um
cheque, que a empresa vai buscar na casa dele, pagar por boleto bancário, ou por cartão de
crédito. A falta de credibilidade por parte do cliente, ou melhor, a falta de confiança nos métodos
eletrônicos de pagamento, é fundamental para a estruturação/adoção de uma política de
pagamento pela empresa. A empresa acredita que no momento atual não adianta disponibilizar o
pagamento on-line, pois os clientes ainda não confiam na segurança desta forma de pagamento.
Mas, de toda forma, a empresa solicita o número do cartão de crédito do cliente para se precaver
contra fraudes e trotes e também, porque o Sabre, para aceitar uma reserva e para validar uma
reserva on-line, precisar do número de um cartão de crédito.
Aspectos de Implementação
Segundo a empresa, quanto maior o número de tecnologias associadas ao site,
maior o risco de perder o seu mercado porque o cliente pode não estar preparado para esse
avanço tecnológico. Como vantagens pode-se citar a atratividade e funcionalidade, na forma de
fotos, vídeos, fontes de áudio, ambientes 3D e comunicações em tempo real. O lado negativo é a
dificuldade de uso destas capacidades pelo usuário, exigindo boa conexão com a Internet.
Aspectos Legais
O fato de ser uma agência com registros nos principais órgãos nacionais e
internacionais do trade turístico, obriga de certa forma, a empresa a atender às expectativas e
necessidades individuais/específicas de seus clientes obedecendo a leis como o código de defesa
do consumidor.
A empresa conta com um departamento jurídico, que presta serviços tanto para a
empresa, como aos seus clientes, na eventualidade de ter alguma demanda judicial. Como por
exemplo, contra as companhias aéreas no uso abusivo e indiscriminado de overbooking em seus
vôos nas férias escolares.
9. Conclusão
O mundo está vivendo um momento em que as inovações tecnológicas e as
possibilidades de obtenção instantânea de informações estão alterando a maneira como as
pessoas se comunicam, se relacionam e efetuam transações. Essas mudanças merecem uma
atenção especial no caso da indústria do turismo, onde as negociações giram em torno de
serviços e informações que não podem ser testados ou experimentados antes da compra. O
objetivo dessas empresas é promover e facilitar o contato entre os consumidores potenciais do
produto turístico e os diversos provedores destes produtos/serviços. Neste contexto, a Internet
traz uma série de oportunidades de negócios e desafios para as empresas que atuam neste setor.
No Brasil, os modelos de negócios neste setor são diversos e em geral construídos a
partir de parcerias entre os diversos participantes da cadeia do turismo. As possibilidades de
negócios e transações ainda estão em aberto. Inicialmente o foco era na disponibilização de
informações, agora as empresas estão agregando novos serviços a fim de alavancar o
crescimento dos negócios, atrair e conquistar novos consumidores.
Uma grande mudança está se delineando na maneira como os produtos turísticos
são comercializados. O mercado brasileiro está acompanhando essa evolução e, embora não seja
possível prever, ou mesmo computar precisamente os resultados, este trabalho aponta algumas
evidências de que o caminho pode ser aberto.
Algumas dessas evidencias são: a Internet modificou o mundo dos negócios e a
abordagem da nova economia como fator de oportunidade para o fortalecimento da empresa
como agente de viagens na condição de consultor – um especialista capaz de conhecer as
necessidades de seus clientes e orientá-los na escolha dos produtos turísticos.
Outros desafios enfrentados pelas agências são os seguintes: os serviços oferecidos
por elas tendem a se transformar em commodities; a concorrência tem crescido drasticamente e
tudo isso associado à rapidez da evolução tecnológica.
As empresas virtuais podem ser vistas como uma nova maneira de organização de
atividades de negócio, onde "parceiros" diferentes e independentes exploram uma oportunidade
de negócio através do estabelecimento de uma cooperação. A virtualidade é, então, a habilidade
de oferecer aos consumidores um produto ou serviço completo, onde a empresa propriamente
dita, possui somente uma porção da competência. As outras competências necessárias são
adquiridas através da cooperação.
O Comércio Eletrônico e as tecnologias de informação permitem a formação e o
gerenciamento de cooperações dinâmicas entre diferentes parceiros numa dimensão global,
superando os limites de tempo e distância entre as empresas parceiras, ou entre a empresa e o
cliente, aumentando a abrangência da organização virtual.
Dentre os fatores considerados críticos ao posicionamento da empresa para a Era
Digital, podemos identificar: a rapidez da evolução tecnológica e a necessidade de atualização
constante da infra-estrutura tecnológica; as questões de segurança e as dificuldades para efetivar
pagamentos on-line e em tempo real; a inexistência de uma cultura de Internet e desatualização
tecnológica dos principais fornecedores de produtos turísticos; os custos para empresas e
consumidores; impossibilidade de reserva on-line de pacotes; dificuldade de transferir parte do
comissionamento para parceiros comerciais – portais e sites; aumento da concorrência e, por fim,
colocar os fornecedores no site da empresa, alimentando diretamente o site com os seus próprios
produtos.
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