História do Brasil 1500-1627
Frei Vicente do Salvador
5 • Historia do Brasil 1500-1627 - BBB (504) PRETO sol.indd 1 07/10/14 14:16
América Latina: a pátria grandeDarcy Ribeiro
Prefácio: Eric Nepomuceno
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História do Brasil 1500-1627
Frei Vicente do Salvador
Prefácio: Marcus Venicio Ribeiro
América Latina: a pátria grandeDarcy Ribeiro
Prefácio: Eric Nepomuceno
5 • Historia do Brasil 1500-1627 - BBB (504) PRETO sol.indd 3 07/10/14 14:16
Os Correios, reconhecidos por prestar serviços postais com
qualidade e excelência aos brasileiros, também investem em
açõesquetenhamaculturacomoinstrumentodeinclusãosocial,
pormeiodaconcessãodepatrocínios.Aatuaçãodaempresavisa,
cadavezmais,contribuirparaavalorizaçãodamemóriacultu-
ralbrasileira,ademocratizaçãodoacessoàculturaeofortaleci-
mentodacidadania.
ÉnessesentidoqueosCorreios,presentesemtodooterritório
nacional, apoiam, com grande satisfação, projetos da natureza
desta Biblioteca Básica Brasileira e ratificam seu compromisso
emaproximarosbrasileirosdasdiversas linguagensartísticase
experiênciasculturaisquenascemnasmaisdiferentesregiões
dopaís.
A empresa incentiva o hábito de ler, que é de fundamental
importância para a formação do ser humano. A leitura possibi-
litaenriquecerovocabulário,obterconhecimento,dinamizaro
raciocínioeainterpretação.Assim,osCorreiosseorgulhamem
disponibilizaràsociedadeoacessoalivrosindispensáveisparao
conhecimentodoBrasil.
Correios
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Os Correios, reconhecidos por prestar serviços postais com
qualidade e excelência aos brasileiros, também investem em
açõesquetenhamaculturacomoinstrumentodeinclusãosocial,
pormeiodaconcessãodepatrocínios.Aatuaçãodaempresavisa,
cadavezmais,contribuirparaavalorizaçãodamemóriacultu-
ralbrasileira,ademocratizaçãodoacessoàculturaeofortaleci-
mentodacidadania.
ÉnessesentidoqueosCorreios,presentesemtodooterritório
nacional, apoiam, com grande satisfação, projetos da natureza
desta Biblioteca Básica Brasileira e ratificam seu compromisso
emaproximarosbrasileirosdasdiversas linguagensartísticase
experiênciasculturaisquenascemnasmaisdiferentesregiões
dopaís.
A empresa incentiva o hábito de ler, que é de fundamental
importância para a formação do ser humano. A leitura possibi-
litaenriquecerovocabulário,obterconhecimento,dinamizaro
raciocínioeainterpretação.Assim,osCorreiosseorgulhamem
disponibilizaràsociedadeoacessoalivrosindispensáveisparao
conhecimentodoBrasil.
Correios
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O livro, essa tecnologia conquistada, já demonstrou ter a
maiorlongevidadeentreosprodutosculturais.Noentanto,mais
queossuportesfísicos,asideiasjádemonstraramsobreviverain-
damelhoraosanos.EsseéocasodaBibliotecaBásicaBrasileira.
EsseprojetoculturalepedagógicoidealizadoporDarcyRibeiro
tevesuassementeslançadasem1963,quandoforampublicados
osprimeirosdezvolumesdeumacoleçãoessencialparaoconhe-
cimentodopaís.SãotítuloscomoRaízes do Brasil,Casa-grande
& senzala,A formação econômica do Brasil,Os sertõeseMemórias de
um sargento de milícias.
Esse ideal foi retomado com a viabilização da primeira fase
dacoleçãocom50títulos.Aotodo,360milexemplaresserãodis-
tribuídos entre as unidades do Sistema Nacional de Bibliotecas
Públicas,contribuindoparaaformaçãodeacervoeparaoacesso
públicoegratuitoemcercade6.000bibliotecas.Trata-sedeuma
iniciativaousadaàqualaPetrobrasvemjuntarsuasforças,cola-
borandoparaacompreensãodaformaçãodopaís,deseuimagi-
nário e de seus ideais, especialmente num momento de grande
otimismoeprojeçãointernacional.
Petrobras - Petróleo Brasileiro S. A.
5 • Historia do Brasil 1500-1627 - BBB (504) PRETO sol.indd 6 07/10/14 14:16
O livro, essa tecnologia conquistada, já demonstrou ter a
maiorlongevidadeentreosprodutosculturais.Noentanto,mais
queossuportesfísicos,asideiasjádemonstraramsobreviverain-
damelhoraosanos.EsseéocasodaBibliotecaBásicaBrasileira.
EsseprojetoculturalepedagógicoidealizadoporDarcyRibeiro
tevesuassementeslançadasem1963,quandoforampublicados
osprimeirosdezvolumesdeumacoleçãoessencialparaoconhe-
cimentodopaís.SãotítuloscomoRaízes do Brasil,Casa-grande
& senzala,A formação econômica do Brasil,Os sertõeseMemórias de
um sargento de milícias.
Esse ideal foi retomado com a viabilização da primeira fase
dacoleçãocom50títulos.Aotodo,360milexemplaresserãodis-
tribuídos entre as unidades do Sistema Nacional de Bibliotecas
Públicas,contribuindoparaaformaçãodeacervoeparaoacesso
públicoegratuitoemcercade6.000bibliotecas.Trata-sedeuma
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borandoparaacompreensãodaformaçãodopaís,deseuimagi-
nário e de seus ideais, especialmente num momento de grande
otimismoeprojeçãointernacional.
Petrobras - Petróleo Brasileiro S. A.
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h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r ix
sumário
Apresentação xxiii
Prefácio–MarcusVenicioRibeiro xxv
Dedicatóriadoautor 3
Livro primeiroEm que se trata do descobrimento do Brasil, costumes dos naturais, aves, peixes, animais, etc., do mesmo Brasil 6 1º –Comofoidescobertoesteestado 7
2º –DonomedoBrasil 9
3º –Dademarcaçãodaterra,ecostadoBrasil
comadoPerueÍndiasdeCastela 12
4º –DoclimaetemperamentodoBrasil 16
5º –Dasminasdemetaisepedraspreciosas
doBrasil 18
6º –DasárvoresagrestesdoBrasil 20
7º –Dasárvoreseervasmedicinais,eoutras
qualidadesocultas 26
8º –DomantimentodoBrasil 28
9º –DosanimaisebichosdoBrasil 30
10º–Dasaves 35
11º–DeoutrascoisasquehánomareterradoBrasil 38
12º–DaorigemdogentiodoBrasil,ediversidade
delínguasqueentreeleshá 41
13º–Desuasaldeias 44
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14º–Dosseuscasamentosecriaçãodefilhos 47
15º–Dacuradosseusenfermoseenterrodosmortos 51
16º–DomododeguerrearogentiodoBrasil 54
17º–Dosquecativamnaguerra 57
Livro segundoDa história do Brasil no tempo do seu descobrimento 60 1º –Decomosecontinuouodescobrimentodo
Brasil,esedeuordemasepovoar 61
2º –Dascapitaniaseterras,queEl-Reidooua
PeroLopeseMartimAfonsodeSousa,irmãos 64
3º –DaterraecapitaniaqueEl-Reidooua
PedrodeGóis 67
4º –DaterraecapitaniadoEspíritoSantoque
El-ReidoouaVascoFernandesCoutinho 69
5º –DacapitaniadePortoSeguro 72
6º –DacapitaniadosIlhéus 74
7º –DacapitaniadaBahia 76
8º –DacapitaniadePernambuco,queEl-Reidoou
aDuarteCoelho 80
9º –DecomoDuarteCoelhocorreuacostadasua
capitania,fazendoguerraaosfrancesesepaz
comoogentioesefoiparaoreino 85
10º–DecomonaausênciadeDuarteCoelhoficou
governandoJerônimodeAlbuquerquea
capitaniadePernambucoedoquenela
aconteceunestetempo 88
11º–DacapitaniadeTamaracá 92
12º–DoqueaconteceunacapitaniadeTamaracá
depoisquedelasefoiodonatárioPeroLopes
deSousa 96
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13º–DaterraecapitaniaqueEl-ReiD.Joãoterceiro
doouaJoãodeBarros 99
14º–DaterraecapitaniadoMaranhãoqueEl-Rei
D.JoãoterceirodoouaLuísdeMelodaSilva 101
Livro terceiro Da história do Brasil do tempo que o governou Tomé de Sousa até a vinda do Governador Manuel Teles Barreto 104 1º –DecomoEl-Reimandououtravezpovoar
aBahiaporTomédeSousa,Governador-Geral
daBahia 105
2º –Deoutrasduasarmadas,queEl-Reimandou
comgenteeprovimentoparaaBahia 109
3º –DosegundoGovernador-GeralqueEl-Rei
mandouaoBrasil 111
4º –DeumanaudaÍndiaquearribouaestaBahia
notempodoGovernadorD.DuartedaCosta 113
5º –DeoutranaudaÍndiaquearribouàBahia 115
6º –DoterceirogovernadordoBrasilquefoi
MemdeSá 118
7º –Decomomandouogovernadorseufilho
FernãodeSásocorreraVascoFernandes
Coutinhoeomatouláogentio 120
8º –DaentradadosfrancesesnoRiodeJaneiroe
guerraquelhefoifazerogovernador 122
9º –DecomoogovernadortornoudoRiode
JaneiroparaaBahia,eosucessoqueteve
umanaudaÍndiaqueaelaarribou 125
10º–DoapertoemqueostamoiosdoRiodeJaneiro
puseramacapitaniadeSãoVicente,eo
governadorlhesmandoufazersegundaguerra 129
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11º–DaviagemquefezJorgedeAlbuquerquede
Pernambucoparaoreinoecasosquenela
sucederam 134
12º–DecomooGovernadorMemdeSátornouao
RiodeJaneiroefundouneleacidadede
SãoSebastiãoedomaisqueláfezatétornar
àBahia 140
13º–DecomoogovernadortornouparaaBahiae
deumanauqueaelaarribouindoparaaÍndia 143
14º–Decomoostamoiosefrancesesdepoisda
vindadogovernadorforamdoCaboFrioao
RiodeJaneiroparatomaremumaaldeiaedo
quelhessucedeu 145
15º–Dasguerrasquehouvenestetempoem
Pernambuco 148
16º–DecomovinhaporgovernadordoBrasil
D.LuísFernandesdeVasconcelos,eomataram
nomaroscorsários 153
17º–DamortedoGovernadorMemdeSá 155
18º–DecomoEl-ReiD.SebastiãomandouCristóvão
deBarrosporcapitão-moragovernaro
RiodeJaneiro 159
19º–DoquartogovernadordoBrasilLuísdeBrito
deAlmeidaedesuaidaaoRioReal 161
20º–Dasentradasquenestetemposefizerampelo
sertão 163
21º–Dasdiferençasqueogovernadoreobispo
tiveramsobreumpresoqueseacolheuàigreja 167
22º–Doprincípiodarebeliãoeguerrasdogentio
daParaíba 169
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23º–DecomodividiuEl-ReiogovernodoBrasil
mandandooDoutorAntoniodeSalema
governaroRiodeJaneirocomoPortoSeguro
emaiscapitaniasdoSul,eoGovernador
LuísBritocomaBahiaeasoutrasdoNortee
quefosseconquistaraParaíba 173
24º–DecomooGovernadorLuísdeBritomandou
oOuvidor-GeralFernãodaSilvaàconquista
daParaíba,edepoisiaelemesmoenãopôde
chegarcomventoscontrários 175
25º–Deumaentradaquenessetemposefezde
Pernambucoaosertão 177
26º–DamortedoGovernadorLourençodaVeiga 183
Livro quartoA história do brasil do tempo que o Governou Manuel Teles Barreto até a vinda do Governador Gaspar de Sousa 186 1º –DecomoveiogovernaroBrasilManuelTeles
Barretoedoqueaconteceuaumasnaus
francesaseinglesasnoRiodeJaneiroe
SãoVicente 187
2º –DaarmadaquemandouSuaMajestadeao
EstreitodeMagalhães,emquefoipor
GeneralDiogoFloresdeValdezeosucesso
queteve 189
3º –DosocorroquedaParaíbasemandoupedir
aoGovernadorManuelTeleseoassentoque
sobreissosetomou 193
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4º –DecomoolicenciadoMartimLeitão,ouvidor-
-geral,foipormandadodogovernadorcom
oGeneralDiogoFloresdeValdezàconquista
daParaíbaesefeznelaaFortalezadaBarra 196
5º –Dossocorrosqueporindústriadoouvidor-
-geralsemandaramàParaíba 199
6º –DecomooOuvidor-GeralMartimLeitãofoià
Paraíbaaprimeiravez,edaordemdajornada
eprimeirorompimentoecercatomada 202
7º –DecomosetentaramaspazescomoBraçode
Peixeeporasnãoquererselhedeuguerra 206
8º –DecomooGeneralMartimLeitãochegandoao
fortemandouoCapitãoJoãoPaesàBaíada
TraiçãoedepoissetornaramparaPernambuco 210
9º –DecomooCapitãoCastejonfugiuelargouo
forteeoouvidor-geraloprendeueagasalhou
ossoldados 212
10º–DecomooBraçodePeixemandoucometer
pazespedindosocorrocontraospotiguarese
oouvidor-geraltornouàParaíbaecomeçou
apovoação 215
11º–Decomooouvidor-geralfoiàBaíadaTraição 219
12º–DecomodaBaíadaTraiçãoforamao
TujucupapoetornaramparaPernambuco 222
13º–DavindadoCapitãoMoralesdoreinoetornada
doouvidor-geralàParaíba 225
14º–Decomooouvidor-geralfoidaParaíbaà
Copaoba 229
15º–DecomodestruídaaCopaobaforamao
Tujucupapo 232
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16º–Decomodespedidaagenteoouvidor-geral
fezofortedeSãoSebastião 235
17º–DeumagrandetraiçãoqueogentiodeCerigipe
fezaoshomensdaBahiaeaguerraqueo
governadorfezaosaimorés 237
18º–DamortedoGovernadorManuelTelesBarreto
ecomoficaramemseulugargovernandoo
BispoD.AntônioBarreiros,oProvedor-Mor
CristóvãodeBarros,eoouvidor-geral 240
19º–Detrêsnausinglesasquenestetempovieram
àBahia 242
20º–DaguerraqueCristóvãodeBarrosfoidarao
gentiodeCerigipe 245
21º–Deumaentradaquesefezaosertãoembusca
dosgentiosquefugiramdasguerrasdeCerigipe
eoutros 249
22º–DecomosecontinuaramasguerrasdaParaíba
comospotiguaresefrancesesqueosajudavam 253
23º–ComoFranciscoGiraldesvinhaporgovernador
doBrasilepornãochegaremorrerveio
D.FranciscodeSousa,quefoiosétimo
governador 256
24º–DajornadaqueGabrielSoaresdeSousafazia
àsminasdosertão,queamortelheatalhou 259
25º–DecomoveioFelicianoCoelhodeCarvalho
governaraParaíba,efoicontinuandocomas
guerrasdela 262
Capítulosperdidos:26º / 27º / 28º / 29º 264
30º–... 265
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31º–DecomoManuelMascaranhasHomemfoi
fazeraFortalezadoRioGrandeedosocorro
quelhedeuFelicianoCoelhodeCarvalho 267
32º–DecomoacabadoofortedoRioGrandee
entregueaoCapitãoJerônimodeAlbuquerque
setornaramoscapitães-moresdePernambuco
eParaíba,ebatalhasquenocaminhotiveram
comospotiguares 273
33º–DecomoJerônimodeAlbuquerquefezpazes
comospotiguaresesecomeçouapovoar
oRioGrande 276
34º–Decomofoiogovernador-geralàsminasde
SãoVicenteeficougovernandoaBahiaÁlvaro
deCarvalhoedosholandesesqueaelavieram 280
35º–Daguerradosgentiosaimorésecomosefizeram
aspazescomelesemtempodoCapitão-Mor
ÁlvarodeCarvalho 283
36º–Doquefezogovernadornasminas 285
37º–DooitavogovernadordoBrasileoprimeiro
queveioporPernambuco,quefoiDiogo
Botelho;ecomoveioaliteragentedeuma
naudaÍndiaqueseperdeunaIlhade
FernãodeNoronha 288
38º–DaentradaquefezPeroCoelhodeSousada
ParaíbacomlicençadogovernadoràSerrade
Boapaba 291
39º–DozeloqueoGovernadorDiogoBotelhoteve
daconversãodosgentiosequesefizessepor
ministériodereligiosos 296
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40º–DecomoogovernadorveiodePernambuco
paraaBahiaemandouoZorobabé,quese
tornavacomosseuspotiguaresparaaParaíba,
dessedecaminhonosnegrosdeGuinéfugidos,
queestavamnospalmaresdoRioItapucurue
decomosecomeçaramaspescariasdasbaleias 299
41º–DecomoZorobabéchegouàParaíbaepor
suspeitaderebeliãofoipresoemandado
aoreino 303
42º–Doqueaconteceuaumanauflamengaque
pormercanciaiaàcapitaniadoEspíritoSanto
carregardepau-brasil 307
43º–DasegundajornadaquefezPeroCoelhode
SousaàSerradeBoapabaeruimsucessoque
teve 310
44º–Damissãoejornadaqueporordemdo
GovernadorDiogoBotelhofizeramdoispadres
daCompanhiaàmesmaSerradeBoapabae
comodeferiaaosrogosdosreligiosos 313
45º–DecomooGovernadorD.DiogodeMenezes
veiogovernaraBahiaepresidiunotribunal
queveiodarelação 315
46º–DecomoD.FranciscodeSousatornouao
BrasilagovernarascapitaniasdoSulede
suamorte 318
47º–Danovainvençãodeengenhosdeaçúcar,que
nestetemposefez 320
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Livro quintoDa história do Brasil do tempo que o governou Gaspar de Sousa até a vinda do Governador Diogo Luís de Oliveira 328 1º –DavindadodécimogovernadordoBrasil
GaspardeSousaecomoveioporPernambuco
adarordemàconquistadoMaranhão 329
2º –DecomomandouogovernadoraJerônimo
deAlbuquerqueconquistaroMaranhão 331
3º –DaguerradoMaranhão,evitóriaquese
alcançou 334
4º –Dastréguasquesefizeramentreosnossos
eosfrancesesnoMaranhão 337
5º –DosocorroqueoGovernadorGaspardeSousa
mandouporFranciscoCaldeiradeCastelo
BrancoaoMaranhão 342
6º –DecomooCapitãoBaltasardeAragãosaiu
daBahiacomumaarmadacontraosfranceses
eseperdeu 346
7º –DavindadoGovernadorGaspardeSousade
PernambucoàBahiaedoqueemelafez 349
8º –DecomoogovernadortornouparaPernambuco
emandouAlexandredeMouraaoMaranhão 351
9º –Deumaarmadadeholandesesquepassou
peloRiodeJaneiroparaoEstreitode
Magalhãesedeoutradefranceses,quefoi
carregardepau-brasilaoCaboFrio,etcetera 353
Capítulosfaltantes:10º / 11º / 12º / 13º / 14º /
15º / 16º / 17º 355
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18º–Decomo,estandoprovidoHenriqueCorreia
daSilvaporgovernadordoBrasilnãoveio;
acausaporqueecomoveioemseulugar
DiogodeMendonçaFurtado 356
19º–DachegadadoGovernadorDiogodeMendonça
àBahiaeidadeseuantecessorD.Luísde
Sousaparaoreino 358
20º–DecomoAntonioBarreiros,filhodo
provedor-mordafazenda,foiporprovisãodo
Governador-GeralDiogodeMendonçaFurtado
governaroMaranhão,BentoMacieloGrão-Pará
eoCapitãoLuísAranhaadescobri-lopeloCabo
doNortepormandadodeSuaMajestade 360
21º–Dasfortificaçõeseoutrasboasobrasquefez
oGovernadorDiogodeMendonçaFurtadona
Bahiaedúvidasquehouveentreeleseobispo
eoutraspessoas 366
22º–DecomoosholandesestomaramaBahia 369
23º–DecomooGovernadorDiogodeMendonça
foipresodosholandeses,eoseuCoronel
D.JoãoVandortficougovernandoacidade 374
24º–Decomoobispofoieleitodopovoporseu
capitão-morenquantoseavisavaaPernambuco
aMatiasdeAlbuquerquequeeragovernador 377
25º–Decomofoimortoocoroneldosholandeses
D.JoãoVandort,elhesucedeuAlbertoScutis,
eobispoassentouoseuarraialeestânciaspara
osassaltar 379
26º–Dosassaltosquesederamenquantogovernou
obispo 382
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27º–Deoutrosassaltosquesederamàbeira-mar
aosholandeses 385
28º–Dosnaviosqueosholandesestomaramna
Bahiaeoquefizeramdagentequecativaram 389
29º–DecomoMatiasdeAlbuquerquedepoisque
recebeuaprovisãodogovernotratoudo
socorrodaBahiaefortificaçãodePernambuco,
ondedeteveaFranciscoCoelhodeCarvalho,
governadordoMaranhão 392
30º–DecomooGovernador-GeralMatiasde
AlbuquerquemandoudePernambucopor
capitão-mordaBahiaaFranciscoNunes
Marinhoedamortedobispo 395
31º–Dosencontrosquehouvecomosholandeses
notempoquegovernouonossoarraialo
Capitão-MorFranciscoNunesMarinho 398
32º–DecomoveioD.FranciscodeMourapor
mandadodeSuaMajestadesocorreraBahia
egovernaroarraial 401
33º–DamortedoCoronelAlbertoScutisecomo
lhesucedeuseuirmãoGuilhelmoScutise
secontinuaramosassaltos 405
34º–DaarmadaqueSuaMajestademandoua
socorrererecuperaraBahiaedosfidalgos
portuguesesqueseembarcaram 408
35º–Daajudadecustaquederamosvassalosde
SuaMajestadeportuguesesparaarmada 413
36º–ComoaarmadadePortugalveioaoCabo
VerdeesperararealdeEspanhaedaívieram
juntasàBahia. 416
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37º–DecomoSalvadorCorreiadoRiodeJaneiro
eJerônimoCavalcantidePernambucovieram
emsocorroàBahiaeoquelhesaconteceu
comosholandesesnocaminho 419
38º–Comodesembarcaramosdaarmadaeos
holandeseslhesforamdarumassaltoa
SãoBento,dondesecomeçouadara
primeirabateria 423
39º–DasegundabateriaquesefezdoMosteirodo
CarmoondeassistiuoGeneralD.Fadrique
deToledo,eoutrasduasquedelasederivaram 427
40º–Deoutrastrincheirasquesefizeramdaparte
deSãoBentoecomosecomeçaramadividir
osfrancesesdeholandeses 430
41º–Decomoselevantaramossoldadosholandeses
contraoseuCoronelGuilhelmoScutise
depondo-odocargoelegeramoutroem
seulugar 432
42º–Decomoseentregaramosholandesesa
concerto 434
43º–Decomosetomouentregadacidadee
despojos;graçasquesederamaDeuspela
vitóriaeavisoquesemandouàEspanha 437
44º–DaguerraqueoGovernadorMatiasde
AlbuquerquemandoudaraogentiodaSerra
daCopaobaqueserebelounaocasiãodos
holandeses 442
45º–DaarmadaqueveiodeHolandaàBahiaem
socorrodosseusedomaisquesucedeuatéa
partidadanossa 445
5 • Historia do Brasil 1500-1627 - BBB (504) PRETO sol.indd 21 07/10/14 14:16
a � � r i c a l at i n a – a �át r i a � r a n d e | d a r c � r i b e i r o xi
apresentação
AFundaçãoDarcyRibeirorealiza,depoisde50anos,osonho
sonhado pelo professor Darcy Ribeiro, de publicar a Coleção
BibliotecaBásicaBrasileira–aBBB.
A BBB foi formulada em 1962, quando Darcy tornou-se o
primeiroreitordaUniversidadedeBrasília–UnB.Foiconcebida
comoobjetivodeproporcionaraosbrasileirosumconhecimento
maisprofundodesuahistóriaecultura.
Darcy reuniu um brilhante grupo de intelectuais e profes-
sorespara, juntos,criaremoqueseriaauniversidadedofuturo.
Eraosonhodeumageraçãoqueconfiavaemsi,quereivindicava
–comoDarcyfezaolongodavida–odireitodetomarodestino
emsuasmãos.DessaentregagenerosanasceuaUniversidadede
Brasíliae,comela,muitosoutrossonhoseprojetos,comoaBBB.
Em1963,quandoministrodaEducação,DarcyRibeiroviabili-
zouapublicaçãodosprimeiros10volumesdaBBB,comtiragem
de15.000coleções,ouseja,150millivros.
A proposta previa a publicação de 9 outras edições com 10
volumescada,poisaBibliotecaBásicaBrasileiraseriacomposta
por100títulos.AcontinuidadedoprogramadeediçõespelaUnB
foiinviabilizadadevidoàtruculênciapolíticadoregimemilitar.
Comamissãodemantervivosopensamentoeaobradeseu
instituidore,sobretudo,comprometidaemdarprosseguimento
àssuaslutas,aFundaçãoDarcyRibeiroretomouapropostaea
atualizou,configurando,assim,umanovaBBB.
Aliada aos parceiros Fundação Biblioteca Nacional e Editora
UnB, a Fundação Darcy Ribeiro constituiu um comitê editorial
que redesenhou o projeto. Com a inclusão de 50 novos títulos,
46º–Dosucessodanossaarmadaparaoreinoe
dosholandesesparaasuaterra 449
47º–DecomooGovernadorMatiasdeAlbuquerque
mandoubuscaracargadeumanaudaÍndia
queseperdeunaIlhadeSantaHelena 456
48º–Dosholandesesqueandavamporestacosta
daBahiaatéàParaíbanoanode1626eda
idadoGovernadorFranciscoCoelhode
CarvalhoparaoMaranhão 458
Último –DecomoDiogoLuísdeOliveiraveio
governaroBrasilesefoiseuantecessor
MatiasdeAlbuquerqueparaoreino 462
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h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r xxiiia � � r i c a l at i n a – a �át r i a � r a n d e | d a r c � r i b e i r o xi
apresentação
AFundaçãoDarcyRibeirorealiza,depoisde50anos,osonho
sonhado pelo professor Darcy Ribeiro, de publicar a Coleção
BibliotecaBásicaBrasileira–aBBB.
A BBB foi formulada em 1962, quando Darcy tornou-se o
primeiroreitordaUniversidadedeBrasília–UnB.Foiconcebida
comoobjetivodeproporcionaraosbrasileirosumconhecimento
maisprofundodesuahistóriaecultura.
Darcy reuniu um brilhante grupo de intelectuais e profes-
sorespara, juntos,criaremoqueseriaauniversidadedofuturo.
Eraosonhodeumageraçãoqueconfiavaemsi,quereivindicava
–comoDarcyfezaolongodavida–odireitodetomarodestino
emsuasmãos.DessaentregagenerosanasceuaUniversidadede
Brasíliae,comela,muitosoutrossonhoseprojetos,comoaBBB.
Em1963,quandoministrodaEducação,DarcyRibeiroviabili-
zouapublicaçãodosprimeiros10volumesdaBBB,comtiragem
de15.000coleções,ouseja,150millivros.
A proposta previa a publicação de 9 outras edições com 10
volumescada,poisaBibliotecaBásicaBrasileiraseriacomposta
por100títulos.AcontinuidadedoprogramadeediçõespelaUnB
foiinviabilizadadevidoàtruculênciapolíticadoregimemilitar.
Comamissãodemantervivosopensamentoeaobradeseu
instituidore,sobretudo,comprometidaemdarprosseguimento
àssuaslutas,aFundaçãoDarcyRibeiroretomouapropostaea
atualizou,configurando,assim,umanovaBBB.
Aliada aos parceiros Fundação Biblioteca Nacional e Editora
UnB, a Fundação Darcy Ribeiro constituiu um comitê editorial
que redesenhou o projeto. Com a inclusão de 50 novos títulos,
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b i b l i o t e c a b á s i c a b r a s i l e i r a – c u lt i v e u m l i v r oxxiv b i b l i o t e c a b á s i c a b r a s i l e i r a – c u lt i v e u m l i v r oxii
a Coleção atualmente apresenta 150 obras, totalizando 18 mil
coleções, o que perfaz um total de 2.700.000 exemplares, cuja
distribuiçãoserágratuitaparatodasasbibliotecasqueintegram
oSistemaNacionaldeBibliotecasPúblicas,eocorreráaolongo
detrêsanos.
A BBB tem como base os temas gerais definidos por Darcy
Ribeiro: O Brasil e os brasileiros; Os cronistas da edificação;
Culturapopulareculturaerudita;EstudosbrasileiroseCriação
literária.
Impulsionados pelas utopias do professor Darcy, apresenta-
mos ao Brasil e aos brasileiros, com o apoio dos Correios e da
Petrobras, no âmbito da Lei Rouanet, um valioso trabalho de
pesquisa,comodesejodequenosreconheçamoscomoaNova
Roma, porém melhor, porque lavada em sangue negro, sangue
índio, tropical.ANaçãoMestiçaqueserevelaaomundocomo
uma civilização vocacionada para a alegria, a tolerância e a
solidariedade.
Paulo de F. RibeiroPresidente
FundaçãoDarcyRibeiro
5 • Historia do Brasil 1500-1627 - BBB (504) PRETO sol.indd 24 07/10/14 14:16
h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r xxvb i b l i o t e c a b á s i c a b r a s i l e i r a – c u lt i v e u m l i v r oxii
a Coleção atualmente apresenta 150 obras, totalizando 18 mil
coleções, o que perfaz um total de 2.700.000 exemplares, cuja
distribuiçãoserágratuitaparatodasasbibliotecasqueintegram
oSistemaNacionaldeBibliotecasPúblicas,eocorreráaolongo
detrêsanos.
A BBB tem como base os temas gerais definidos por Darcy
Ribeiro: O Brasil e os brasileiros; Os cronistas da edificação;
Culturapopulareculturaerudita;EstudosbrasileiroseCriação
literária.
Impulsionados pelas utopias do professor Darcy, apresenta-
mos ao Brasil e aos brasileiros, com o apoio dos Correios e da
Petrobras, no âmbito da Lei Rouanet, um valioso trabalho de
pesquisa,comodesejodequenosreconheçamoscomoaNova
Roma, porém melhor, porque lavada em sangue negro, sangue
índio, tropical.ANaçãoMestiçaqueserevelaaomundocomo
uma civilização vocacionada para a alegria, a tolerância e a
solidariedade.
Paulo de F. RibeiroPresidente
FundaçãoDarcyRibeiro
prefácio – marcus venicio ribeiro
Um imenso Portugal
Aocomentaravastabibliografiaquetomoucomoreferência
paraescreverOs brasileiros.Teoria do Brasil (1969),DarcyRibeiro
destacou os nomes de Euclides da Cunha, Sílvio Romero e
CapistranodeAbreu.Foram“ostalentosmaissólidoseautênticos
queoBrasilproduziu”,afirmou.DeCapistranodeAbreuextraiua
epígrafeparaOs brasileiros:“(...)amimmeinteressaopovohátrês
séculoscapadoerecapado,sangrandoeressangrando...”
Pois foi o historiador cearense Capistrano de Abreu, profun-
do conhecedor de fontes documentais e antigo funcionário da
BibliotecaNacional,oprincipalresponsávelportornarconhecida,
emduasedições (em1889,nosAnais da Biblioteca Nacional, eem
1918,naEditoraMelhoramentos,naqualestaediçãosebaseia),a
História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador, o primeiro livro a
oferecerumainterpretaçãosistemáticada“históriadoBrasil”.
Escritopartenametrópole,partenacolônia,omanuscritofi-
couignoradonoBrasil,masnãointeiramenteemPortugal,onde
circularamalgumascópias.Aideiadeseescrevê-loteriasidodo
eruditoportuguêsManuelSeverimdeFaria,queconvidouofrei
paraaempreitada,comocompromissodepublicá-lo,oquenão
fez. Por quê? Capistrano, autor dos prefácios das duas edições,
aventou, no primeiro deles, os possíveis motivos: o manuscrito
nãoteriachegadoàsmãosdeSeverimdeFaria(paraele,omais
provável);otomcoloquialdaobranãoteriaagradadoaoerudito,
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b i b l i o t e c a b á s i c a b r a s i l e i r a – c u lt i v e u m l i v r oxxvi
eaindaofatodeotextodifundirinformaçõesdemasiadassobre
acolônia(oquenãoeradointeressedaCoroa)etambémfalardo
Brasilnum“tom”que“pregavasuagrandeza,suaindependência
dorestodomundo”.
Uma cópia do manuscrito chegou à Biblioteca Nacional em
1881,àsvésperasdainauguraçãodagrandeExposiçãodeHistória
doBrasilpromovidapela instituição,ea tempodenelafigurar.
Foi feita pelo escritor João Francisco Lisboa, a quem o governo
imperial, na década de 1850, havia encarregado de transcrever
documentos sobre o Brasil existentes em Portugal. Lisboa che-
gou a mandar um capítulo para o historiador Francisco Adolfo
deVarnhagen,queopublicounaRevista Trimestral doIHGBem
1858.DepoisdeanossobopoderdoMarquêsdeOlinda,ministro
do Império, a cópia foi arrematada em leilão por um livreiro e
doadaàBibliotecaNacional.CapistranoeAlfredodoValleCabral,
outroimportantefuncionáriodacasa,chegaramapublicarparte
domanuscritono Diário Oficial,masaobraintegral,excetoalguns
capítulosnuncaencontrados,sóviriaàluzem1889nosAnais da
Biblioteca Nacional.
FreiVicentedoSalvador,ouVicenteRodriguesPalha,nasceu,
aoquesesabe,emMatoim,próximoaSalvador,nacapitaniada
Bahia de Todos os Santos. Cursou o colégio dos jesuítas, onde
estudou teologia, direito, filosofia, artes, literatura e história.
Ordenado padre, chegou a ser governador do Bispado da Bahia.
Em 1859 ingressou na ordem franciscana, tendo atuado como
missionárioemPernambuco,ParaíbaeRiodeJaneiro,ondepresi-
diuoconventocriadopeloscapuchosnomorrodoCarmo,depois
chamadoSantoAntônio.Em1612,foiparaPortugal,quandoco-
nheceuSeverimecomeçouaredigirolivro.Em1621,játendore-
tornadoaoBrasil,foipresopelosholandesesaochegaraSalvador.
Depoisdelibertado,oconcluiuporvoltade1627.
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h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r xxvii
AobraédivididaemcincolivrosededicadaaSeverimdeFaria.
AdedicatóriaéimportanteporquerevelaaconcepçãodeHistória
praticadapelosautoresseiscentistas,entreosquaisofradefran-
ciscano,edefinidapelooradorepolíticoromanoCícero,emDe
Oratore:“oslivroshistóricossãoluzdaverdade,vidadamemória
emestresdavida(...)”.CaberiaàHistóriadifundirverdades,dar
vidaaopassadoe,como“mestradavida”,guiaroshomensemdi-
reçãoaofuturo.Eladeveria,pois,terutilidadepolíticaepedagó-
gica,criticandooserroseexaltandoosbonsexemplossobretudo
dosgovernantes.
Olivroprimeiroepartedosegundotratamdaterra–nome,
clima, minas, árvores, ervas, mantimentos, bichos, aves, peixes,
além do “gentio” e seus costumes –, tal como já haviam feito
Caminha, Pero Lopes Souza, Pero Gândavo e outros. Com uma
diferença. Frei Vicente censura o imediatismo dos colonos (ou
departedeles)e,sobretudo,omodoigualmenteimprevidenteda
políticadoEstadoportuguêsparaoBrasil,àexceçãodeD.JoãoIII,
que“omandoupovoaresoubeestimá-lo”.
A este respeito, algumas passagens, em especial nos primei-
ros capítulos, tornaram-se antológicas, e, provavelmente, foi o
que mais entusiasmou Capistrano de Abreu e estudiosos como
Manoel Bomfim, José Honório Rodrigues e Francisco Iglésias.
Pautadospelodesejodedarumfimàsnarrativasdeexaltaçãoà
colonização portuguesa (e protagonizadas apenas pelas elites
tradicionais),eles identificaramnessaspassagens“sementes”de
umpensamentonativistaoumesmo,comochegaramasugerir
BomfimeIglésias,asprimeirasmanifestaçõesde“nacionalismo”
jánoséculoXVII.Umnacionalismoavant la lettre,porcerto.
Edestemesmomodo–escreveuofrei–sehãoospovoa-
dores,osquaes,pormaisarraigadosquenaterraestejame
maisricosquesejam,tudopretendemlevaraPortugale,si
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b i b l i o t e c a b á s i c a b r a s i l e i r a – c u lt i v e u m l i v r oxxviii
as fazendas e bens que possuem souberam falar, também
lheshouveramdeensinaradizercomoospapagaios,aos
quaesaprimeiracousaqueensinamé:papagaiorealpêra
Portugal,porquetudoqueremparalá.(...)queunseoutros
usamdaterra,nãocomosenhores,mascomousufrutuários,
só para a desfrutarem e a deixarem destruída. (...) Donde
nascetambémquenemumhomemnestaterraérepublico,
nemzelaoutratadobemcommum,sinãocadaumdobem
particular.
Frei Vicente reprova também o desinteresse da Coroa em in-
centivaraocupaçãoeexploraçãodointeriordacolônia.Omais
conhecidoetambémumdosmaisexpressivosdaobrafigurano
capítulo3doprimeirolivro:“DalarguraqueaterradoBrasiltem
paraosertãonãotrato,porqueatéagoranãohouvequemaandas-
sepornegligênciadosportuguezes,que,sendograndesconquista-
doresdeterras,nãoseaproveitavamdellas,mascontentam-sede
asandararranhandoaolongodomarcomocaranguejos.”
Buscando valorizar a terra, nosso autor refuta a opinião “de
Aristótelesedeoutrosphilosofosantigos”deque“azonatórrida
erainhabitavel”eafirmaque“ÉoBrasilmaisabastadodemanti-
mentosdoquequantasterrashánomundo,porquenellesedão
osmantimentosdetodasasoutras”,eque“podesustentar-secom
seusportosfechadossemsocorrodeoutrasterras”.Encaminhava
assimasugestãoquepoderiasignificarumtirocerteironosiste-
macolonialportuguês–atransferênciadasededoImpériopara
Salvador,ocoraçãoda“pomba”,formaestaqueteriaoterritório
brasileiro,navisãomísticadopadre:
(...) o Brasil, com ser grande, fica em tal distância e tal
fácilanavegação,quecommuitafacilidadepodemcávir
tornarquandoquiseremouficar-sedemorada,poisagente
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h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r xxix
que cabe em menos de cem léguas de terra que tem todoPortugalbemcaberáemmaisdemilquetemoBrasil,ese-riaesteumgrandereinotendogente,porqueadondeháasabelhasháomel(...)
Aessessinaisde“amoràterranatal,àcertezadoseufuturo”,Capistrano de Abreu, ainda no prefácio à primeira edição daHistória do Brasil,agregavaoutrasvirtudes,comoahabilidadedoautornaorganizaçãodolivro,aelegânciaeagraçadecertostre-chos,aconvivênciacomasváriasclassessociaise,emespecial,“otomemquefalladoBrasil(...),omodo[arriscado]porquepregavasua grandeza, sua independência do resto do mundo.” Haverianãosósementesdenativismo,comoumahistóriasensívelàvidasocialematerialdopovo,ànecessidadededesbravareconhecerosertão,aoscultivos,àpecuáriaetc.
Estariaofradebaianopregandoouimaginando,jánoséculoXVII,aseparaçãodoBrasildePortugal,comosugeremasleiturasdeCapistranoeoutros?Não,noSeiscentosistoestavaforadeco-gitações.Aintençãoprincipaldoautor,decunhopolítico-teológico(esferasqueaindanãohaviamsidoseparadaspeloIluminismo),como demonstram dois importantes estudos recentes – A nar-rativa da vontade de Deus: a História do Brasil de Frei Vicente doSalvador, de Luiz Cristiano O. de Andrade. Dissertação de mes-trado. InstitutodeFilosofiaeCiênciasSociais /UFRJ (2006)eA HistóriadoBrasil de Frei Vicente do Salvador.HistóriaepolíticanoImpérioPortuguêsdoséculoXVII,deMariaLêdaOliveira.RiodeJaneiro:Versal;SãoPaulo:Odebrecht,(2009)–eratornaroBrasil,deacordocomsupostosdesígniosdivinos,ocentropolíticoead-ministrativodoImpérioportuguês(oudoImpériodualluso-es-panhol,quevigoravaquandoolivrofoiescrito),reerguendo-odoabismoeconômicoepolíticoemqueseprojetavadesdeasegun-dametadedoséculoXVI.Erarealizar,medianteumaquaseinver-sãodarelaçãometrópole-colônia,osonhodehaverum“imenso
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b i b l i o t e c a b á s i c a b r a s i l e i r a – c u lt i v e u m l i v r oxxx
Portugal”.Criar,aCoroa,umgrande“Impériodafé”,cujocoraçãoestaria,noentanto,emoutraterra,oBrasil,dádivaoferecidaporDeusaosreisportuguesesequeestavasendodesperdiçada.
Olivroencarnava,pois,arazão de Estado,deumEstadocatólico pós-tridentino,conformeaorientaçãoadotadaeminúmerosescri-tosdaépoca–comoDella raggion di Stato(1589),deJoãoBottero,Do sitio de Lisboa (1608),deLuísMendesdeVasconcelos,De historia para entenderla y escrivirla (1611), de Luís Cabrera de Córdoba, eDiscursos varios políticos (1624), do próprio Severim Faria. Estaorientação se consubstancia no fato de que o fio condutor damaioria dos capítulos do livro segundo são as guerras dos portu-guesescontraosíndioseaformaçãodeuma“nobrezadaterra”,enquantoosdemaissãoprotagonizadospelos governadores ge-rais,comfoco,igualmente,nas“guerrasjustas”contraosíndiosqueresistiamecontraosheregesfranceseseholandeses.
Na prosa histórica e política seiscentista, como observa LuizCristiano, os acontecimentos estavam submetidos à hermenêu-tica cristã, isto é, à vontade divina e aos desígnios sagrados dahistória.Históriaescatológica,segundoesteautor,queremeteaS.TomásdeAquino:“aprovidênciadeDeusnadamaisédoquea razão da ordenação das causas a seu próprio fim”. Esta incluinão só a razão da ordem das coisas, como a execução dessa or-dem,quecabe,emprimeirolugaraosgovernos.Osreiscatólicosseriaminstrumentosespeciaiseprivilegiadosdavontadedivina,acabeçadosimpérioscatólicos.Aosgovernadorescaberiaexecu-tarnacolôniaavontadedosreis,logo,deDeus.ÀHistória,como“mestradavida”,caberiaanarrativaencomiásticadosacertoseacríticapedagógicadoserros.
FreiVicenteviveunoperíododaUniãoIbérica,quandooepi-centrodopodersedeslocouparaMadri.Comonaépocaoreinoportuguêsteriaficadoemsegundoplano,muitosletradoslusita-nos,etambémofrei,quiseramvalorizarasautoridadespatrícias,sobretudo os governadores. Assim, Tomé de Souza, o primeiro
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h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r xxxi
governadordoBrasil,“eraoprimeiroquelançavamãodopilãoparaostaipaeseajudavaalevaraseusombrososcaibrosema-deiraspêraascasas,mostrando-seatodoscompanheiroaffavel(partemuinecessárianosquegovernamnovaspovoações)”,alémdetersugeridoaD.JoãoIIIatransferênciaparaoBrasildasededoreino;DuartedaCosta“(...)trabalhoumuitoporfortaleceredefenderestanovacidadedaBahiacontraosbárbarosgentios...”;Mem de Sá, “com razão pode ser espelho dos governadores doBrasil porque, concorrendo nelle letras e esforço, se signaloumuitonaguerraejustiça.”;D.FranciscodeSousafoi“omaisben-quistoerespeitado”;D.LuísdeSousadeixou“atodossaudososcomsuaabsência”e“foimuitoricosemtomaroalheio”,enquan-toLourençodaVeiga“pormaisnegóciosquetivesse,nãodeixavadeouvirmissa”.
Evidencia também a visão político-teológica da colonizaçãoportuguesaomodocomoofreiconsideravaosnativos.Mododi-cotômico,quesepodedemonstrar,porexemplo,peloqueafirmasobreMemdeSá:fezpazescomosíndios,“comcondiçãodequeseabstivessemdecarnehumana”,determinouque“recebessememsuasterrasospadresdaCompanhia”,alémde“mandardarli-berdadeatodososquecontraajustiçaeramtratadoscomoescra-vos”;poroutrolado,aíndiosnãocristianizadosquezombaramdeumaordemparaqueentregassemoscompanheirosquehaviammatadoíndiosaculturados,“ogovernadorempessoaoscometteudentrodesuasterras,efeitasnellasgrandematançaequeimadasmaisdesetentaaldeias,osdesfez”.Emoutraspassagens,descre-ve,semqualquerlamento,achacinadeíndiosporexpediçõesdogoverno.
Osíndioseramtidos,segundoatrágicanoçãopredominantenaépoca,“comoumagentebárbara”,que“sósedistinguememseremunsmaisbárbarosqueoutros”(p.52).FreiVicenterepeteosensocomum,jápresenteemPeroGândavo,aoafirmarque“ca-recemdefé,deleiederei”eobservarque“jamaisusamdepesos
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b i b l i o t e c a b á s i c a b r a s i l e i r a – c u lt i v e u m l i v r oxxxii
emedidas,nemtêmnúmerosporondecontemmaisquecinco”;
equandoaprisionamíndiosinimigososvendemaosbrancosou
osengordamparadepoiscomer.Índiobomeraoquesealiavaaos
portuguesesesedeixavaconverter.FreiVicentechegaadescrever
hábitosquepoderíamosconsideraraltamentecivilizados–“sem
teremcaixasnemfechadura,eosranchossemportas,todosaber-
tos,sãotãofieisunsaosoutrosquenãoháquemtomeoubula
emcousaalgumasemlicençadeseudono”–,masnãodemonstra
valorizá-los.
Apenasemumcapítulo(odenº47,livroIV)versasobreoaçú-
car,“otratoenegóciodoBrasil”.Dizendosebasear“emumlivro
antigo”, resume a evolução dos equipamentos de fabricação do
açúcar,saúdaaintroduçãodeumainovação,a“entrosa”,einfor-
maonúmerodeengenhosexistentesnascapitaniasprodutoras,
porém parece não valorizar aquele que era o principal produto
brasileirodeexportação:“masqueaproveitafazer-setantoassu-
carsiacopia[concorrência]lhetiraovalor,elhedãotãopouco
preçoporellequenemocustosetira?”.“Eistovem–elejáassi-
nalaranolivroprimeiro,aosereferiràfaltadegênerosnapraça,
ooutroladodaeconomiacolonialexportadora–denãotratarem
doquehacádeficar,sinãodoquehãodelevarparaoreino”.
Em Dialética da colonização (1992), Alfredo Bosi classifica os
primeirosescritossobreoBrasilemdoisgrupos:osprovidosde
“discurso orgânico”, interessados “nos meandros contábeis da
produçãocolonial”,eosde“discursotradicional”,“defundoético
pré-capitalista”,a“verberarnoscolonosasededelucroeafalta
dedesapegocristão”.Ondesituar,casoquiséssemos,aHistória do
Brasil,deVicenteSalvador?
ComoadverteopróprioBosi,aescritacolonialnãoconstitui
um todo uniforme. A História do Brasil, pode-se supor, seria um
casoàpartee,talvezporisso,oautordeDialética da colonização,
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h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r xxxiii
intencionalmenteounão,nãoatenhaincluídoemnenhumdos
grupos.Atotalindiferençaemfacedaeconomiaagráriaexportadora,
acríticarecorrente,emborasemprebreveesutil,aocapitalmer-cantil,acensuraquefezaonomedoBrasil,atribuindo-oàaçãododemônio–que“trabalhou[para]queseesquecesseoprimeironomeelheficasseodeBrasil,porcausadeumpáuassimchama-dodecorabrasadaevermelha(...)queodaquelledivinopau,quedeutintaevirtudeatodosossacramentosdaIgreja(...)[motivodeterficado]tãopoucoestável”–sãotraçosmarcantesdolivroquepoderiamjustificaroseuenquadramentonosegundogrupo.
Mas as análises contemporâneas sobre a obra – e aspectosigualmentefortesdanarrativadeFreiVicenteSalvador,comoavalorização do índio convertido e aculturado, a distinção entreaquelesqueseintegraramàterraeosoutrosquenãoavaloriza-ram,aexaltaçãoaCaramuru,“oqueconservouapossedaterratantosannos”eaproximouTomédeSousaaogentio,“fazendo-oservir aos brancos” ou, ainda, a exceção concedida a D. João III,que deu início ao povoamento – conferem ao livro um statusespecial.Nãopropriamenteodearticuladordosinteressesfisca-listasdoEstadoportuguês,masodearquitetodeumaprofundareorganização,embasespolítico-teológicas,dessemesmoEstado.Discursoarticuladordeumgrande“Impériocatólico”,cujocen-tronãofossenemLisboa,nemMadri,masacidadebrasileiradeSalvador.DiscursodeumprojetoousadoimaginadoparaoBrasilePortugal,que,talcomoolivronaépocaemquefoiescrito,nãoaconteceu.
Marcus Venicio ribeiro é Bacharel em ciências sociais e especialista em história social pela uff – universidade federal fluminense. além de professor é pesquisador da fundação BiBlioteca nacional.
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História do Brasil 1500-1627
Frei Vicente do Salvador
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h i s t ó r i a d o b r a s i l ( 1 5 0 0 - 1 6 2 7 ) | f r e i v i c e n t e d o s a lva d o r 3
dedicatória
Ao Licenciado Manuel Severim de Faria Chantre na Santa Sé de Évora.
O motivoqueteveAristótelesparasedivertirdaespecu-lação,aqueoseugênioeinclinaçãonaturalolevava,comoconstadasuaLógica,Física,eMetafísica,edar-seaescre-verlivroshistóricosemorais,quaisassuasÉticas,ePolíticaseaHistóriadeanimais,alémdelhomandarograndeAlexandre,elhefazerasdespesas,foivertambém,queestimavatantoolivrodeHomero,emquesecontamosfeitosheroicosdeAquiles,edeoutrosesforçadosguerreirosque(segundoreferePlutarcoinvitaAlexandri)deordináriootraziaconsigo,ou,quandoolargavadamãoofechavaemescritórioguarnecidodeouro,epedrasprecio-sas, melhor peça que lhe coube dos despojos de Dario, ficando--lhenamãoachave,quedeninguémafiava.Ecommuitarazão,porque(comodizTúlio2,de Oratore),oslivroshistóricossãoluzdaverdade,vidadamemória,emestresdavida;eDiodoroSiculodizin proemio sui operis,queestesigualamosmancebosnaprudên-ciaaosvelhos,porqueaqueosvelhosalcançamcomlargavidaemuitosdiscursos,podemosmancebosalcançarempoucashorasdelição,assentadosemsuascasas.
EisaquiarazãoporqueograndeAlexandretantoestimavaolivrodeHomero,esehojehouveramuitosAlexandres,tambémhouveramuitosHomeros,porquecomodizOvídio,
Scribentem juvat ipse favor, minuitque laborem: Cumque suo crescens pectore fervet opus.
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Ofavorajudaoescritor,alivia-lheotrabalho,anima-o,edá-lhe
fervorasuaobra;porémoqueagoravemoséquequerendotodos
ser estimados, e louvados dos escritores, há mui poucos que os
louvemeestimem,emenosquelhesfaçamasdespesas,sótemos
a V. M. em Portugal que os estima e favorece tanto como se vê
nasualivraria,quequasetodatemocupadadelivroshistóricos,
e principalmente no que fez de louvores dos três historiadores
portugueses,LuísCamões,JoãodeBarroseDiogodoCouto,favor
tãograndeparaescritoresdehistórias,quesepodedizer,eassim
é,queaosmortosdavida,ressuscitando-lhesamemória,quejáo
tempolhestinhasepultada,eaosvivosexcita,dáânimoefervor,
paraquesaiamàluzcomseusescritos,efolguecadaumdecontar
ecomporsuahistória.Este foiomotivoquetiveparasaircom
estadoBrasil, juntocomVossaMercêmaquererfazerdetomar
aimpressãoàsuacustaparaemtudoseparecercomAlexandre.
Outrotive,quefoipedir-moVossaMercê,epeloconseguinte
mandar-mo, pois os rogos dos senhores tem força de preceitos:
Glos. il unica, et in L. I.a ff., quod jussu,dondeéaqueleverso:
Est rogare ducum species violenta jubendi.
Eassimfoiestedetantaforçaquenãosóexecuteipormim,mas
inciteiaumamigoqueamesmahistóriacompusesseemverso,
desortequepudessedizeroquedisseSantoAgostinhoaoSanto
BispoSimpliciano,que,havendo-lhepedidoumtratadobreveem
declaraçãodecertasdificuldades,lheofereceudoislivrosinteiros,
desculpando-seainda,comseraleituratanta,quepuderacausar
fastio, de não satisfazer que lhe foi pedido, conforme ao desejo
dosuplicante.Sãosuaspalavrasasqueseseguem:Vereor ne ista,
quae sunt a me dicta, et non satisfecerint expectationi et taedio fuerint
gravitati tuae, quandoquidem et tu ex omnibus, quae interrogasti unum
a me libellum mitti veles, ego duos libros, eosdemque longissimos misi, et
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fortasse quaestionibus nequaquam expedite diligenter respondi. Aug.lb.
2º quœstion. ad Simplic.
Desta maneira, havendo-me Vossa Mercê pedido um tratado
das coisas do Brasil, lhe ofereço dois, leitura que pudera causar
fastio,seodiversométodoanãovariara,ederaapetite;econtudo
receiodenãosatisfazeracuriosidadedeVossaMercê,segundosei
quegostadestaiguaria.Dondetomeitambémmotivoparaade-
dicaraVossaMercê,enãoaoutrem,lembrando-meque,pordar
JacóaIsaacseupaiumadequegostavaalcançouabênçãocomoa
mãelhohaviacertificado,dizendo:Nunc ergo, fili mi, acquiesce con-
siliis meis: et pergens ad gregem, after mihi duos hœdos ut faciam ex eis
escas patri tuo, quibus libenter vescitur; quas cum intuleris, et comederit
benedicat tibi.
Bemenxergouosantovelho,aindaquecego,queJacóoenga-
nava,poisoconheceupelavoz:vere quidem vox Jacob est;mas,le-
vadodogostodaiguariaaqueeraafeiçoado,depoisdainspiração
docéulheconcedeuabênção.EstapeçoeuaVossaMercê,ecom
elanãotenhoquetemeramaldizentes.
NossoSenhorvida,saúdeeestadoconserveeaumenteaVossa
Mercê,comoosseuslhedesejamos.
Bahia,20dedezembrode1627.
Servo de Vossa Mercê
Frei Vicente do Salvador
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LIVRO PRIMEIRO
EMQUESETRATADODESCOBRIMENTODOBRASIL,COSTUMESDOSNATURAIS,
AVES,PEIXES,ANIMAIS,ETC.,DOMESMOBRASIL.
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1º
como foi descoberto este estado
A terra do Brasil, que está na América, uma das quatropartes do mundo, não se descobriu de propósito, ede principal intento, mas acaso, indo Pedro Álvares Cabral, por
mandado de El-Rei D. Manuel, no ano de 1500 para a Índia por
capitão-mor de onze naus. Afastando-se da costa de Guiné, que
jáeradescobertaaoOriente,achouestoutraaoOcidente,daqual
não havia notícia alguma; foi a costeando alguns dias com tor-
mentaatéchegaraumportoseguro,doqualaterravizinhaficou
comomesmonome.
Ali desembarcou o dito capitão com seus soldados armados,
parapelejarem,porquemandouprimeiroumbatelcomalguns
adescobrircampo,ederamnovasdemuitosgentiosqueviram;
porémnãoforamnecessáriasarmas,porquesódeveremhomens
vestidos e calçados, brancos, e com barba (do que tudo eles ca-
recem)ostiverampordivinosemaisquehomens,eassimcha-
mando-lhecaraíbas,quequerdizernasualínguacoisadivina,se
chegarampacificamenteaosnossos.
DondeassimcomoosíndiosdaNovaEspanha,quandoviram
desembarcar nela os espanhóis lhes chamaram viracoches, que
significa escumas do mar, parecendo-lhes que o mar os lançara
desicomoescumas,eestenomelhesficousempre,assimsomos
aindadestoutroschamadoscaraíbase respeitados maisqueho-
mens. Mas muito mais cresceu neles o respeito quando viram
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oitofradesdaordemdonossoPadreSãoFrancisco,queiamcom
PedroÁlvaresCabral,eporguardiãooPadreFreiHenrique,que
depoisfoibispodeCepta,oqualdissealimissaepregou,ondeos
gentiosaolevantardahóstiaecálixseajoelharamebatiamnos
peitoscomofaziamoscristãos,deixando-sebemnistovercomo
CristosenhornossonestedivinoSacramentodominaosgentios,
queéoqueaigrejacantanainvitatóriadesuasmatinas,dizendo:
Christum regem dominantem gentibus, qui se manducantibus
datspirituspinguedinem,venite,adoremus.
DodeusPã,diziamosantigosgentiosquedominavaeerase-
nhordouniverso,edisseramverdadeseoentenderamdestePão
divino;porquesemfaltaeleéoDeusquetudodomina,eapenas
há lugar em toda a terra onde já não seja venerado, nem nação
tãobárbaradequenãosejaqueridoeadorado,comoestesbrasis
bárbarosfizeram.
Bemquiseramosnossosfrades,pelafacilidadequenistomos-
traramparaaceitaremanossafécatólica,ficar-seali,paraosen-
sinaremebatizarem;masocapitão-mor,queoslevavaparaoutra
searanãomenos importante,partiudaíapoucosdiascomeles
paraaÍndia,deixandoaliumacruzlevantadacomotambémdois
portuguesesdegradadosparaqueaprendessemalíngua,edespe-
diuumnavioaPortugaldequeeraCapitãoGaspardeLemoscom
anovaaEl-ReiD.Manuel,quearecebeucomocontentamento,
quetãograndecoisa,etãopoucoesperadamerecia.
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2º
do nome do brasil
O dia em que o Capitão-Mor Pedro Álvares Cabral le-vantou a cruz, que no capítulo atrás dissemos, era3 de maio, quando se celebra a invenção da santa cruz, em que
CristoNossoRedentormorreupornós,eporestacausapôsnome
àterra,quehaviadescoberta,deSantaCruz,eporestenomefoi
conhecidamuitosanos.Porém,comoodemôniocomosinalda
cruzperdeutodoodomínioquetinhasobreoshomens,receando
perdertambémomuitoquetinhanosdestaterra,trabalhouque
seesquecesseoprimeironomeelheficasseodeBrasil,porcausa
deumpauassimchamado,decorabrasadaevermelha,comque
tingempanosqueodaqueledivinopau,quedeutintaevirtudea
todosossacramentosdaIgreja,esobrequeelafoiedificadaeficou
tão firme e bem-fundada como sabemos. E porventura por isto,
aindaqueaonomedeBrasilajuntaramodeestadoelhechama-
ramestadodoBrasil,ficoueletãopoucoestável,quecomnãoha-
verhoje100anos,quandoistoescrevo,quesecomeçouapovoar,
jásehãodespovoadosalgunslugarese,sendoaterratãograndee
fértilcomoadianteveremos,nemporissovaiemaumento,antes
emdiminuição.
DistodãoalgunsaculpaaosreisdePortugal,outrosaospovoa-
dores:aosreispelopoucocasoquehaviamfeitodestetãogran-
de estado, que nem o título quiseram dele, pois, intitulando-se
senhoresdeGuiné,porumacaravelinhaquelávaievem,como
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disseoreidoCongo,doBrasilnãosequiseramintitular;nemde-
poisdamortedeEl-ReiD.JoãoTerceiro,queomandoupovoare
soubeestimá-lo,houveoutroquedelecurasse,senãoparacolher
suasrendasedireitos.Edestemesmomodosehãoospovoadores,
os quais, por mais arraigados que na terra estejam e mais ricos
sejam, tudopretendemlevaraPortugale, seas fazendasebens
quepossuemsouberamfalar,tambémlheshouveramdeensinar
a dizer como os papagaios, aos quais a primeira coisa que ensi-
namé:papagaiorealparaPortugal,porquetudoqueremparalá.E
istonãotemsóosquedelávieram,masaindaosquecánasceram,
queunseoutrosusamdaterra,nãocomosenhores,mascomo
usufrutuários,sóparaadesfrutarem,eadeixaremdestruída.
Donde nasce também, que nem homem nesta terra é repú-
blico,nemzela,outratadobemcomum,senãocadaumdobem
particular.Nãonoteieuistotantoquantoovinotarumbispode
Tucuman da ordem de São Domingos, que por algumas destas
terraspassouparaacorte.Eragrandecanonista,homemdebom
entendimentoeprudênciaeassimiamuitorico.Notavaascoi-
sas e via que mandava comprar um frangão, quatro ovos, e um
peixe,paracomer,enadalhetraziam,porquenãoseachavana
praçanemnoaçouguee,semandavapedirasditascoisaseoutras
muitasàscasasparticulareslhasmandavam.Entãodisseobispo:
verdadeiramente que nesta terra andam as coisas trocadas, por-
quetodaelanãoérepública,sendo-ocadacasa.
E assim é que, estando as casas dos ricos (ainda que seja à
custaalheia,poismuitosdevemquantotêm)providasdetodoo
necessário,porquetemescravos,pescadores,caçadores,quelhes
trazemacarneeopeixe,pipasdevinhoedeazeite,quecompram
porjunto,nasvilasmuitasvezessenãoachaistoavenda.Poiso
queéfontes,pontes,caminhoseoutrascoisaspúblicaséumapie-
dade,porqueatendo-seunsaosoutros,nenhumasfaz,aindaque
bebamáguasuja,esemolhemaopassardosrios,ouseorvalhem
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peloscaminhos,etudoistovemdenãotrataremdoquehácáde
ficar,senãodoquehãodelevarparaoreino.
Estassãoasrazõesporquealgunscommuitadizem,quenão
permanece o Brasil nem vai em crescimento; e a estas se pode
ajuntaraqueatrástocamosdelhehaveremchamadoestadodo
Brasil,tirando-lheodeSantaCruz,comquepuderaserestado,e
terestabilidadeefirmeza.
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3º
da demarcação da terra, e costa do brasil com a do peru e índias de castela
G randes dúvidas e diferenças se começavam a moversobreasconquistasdasterrasdoNovoMundo,ehou-veramdecrescercadadiamais,seosreiscatólicosdeCastela,D.
Fernando, e D. Isabel, sua mulher, e El-Rei de Portugal, D. João
Segundo,queasiamconquistando,nãoatalharamcomumcon-
certo,queentresifizeram,dequetambémderamcontaaoPapa
ehouveramsuaaprovaçãoebeneplácito.Oconcertofoiquede
umadasilhasdeCaboVerdechamadaSto.Antão,semedissem
trezentasesetentaléguasparaoOestee,dalilançandoumalinha
meridianadeNorteaSul,todasasterraseilhasqueestavampara
descobrirdestalinhaparaapartedoorientefossemdacoroade
Portugal,easocidentaisdacoroadeCastela.
Conformeaisto,dizPedroNunes,famosocosmógrafo,quea
terradoBrasildaCoroadePortugalcomeçaalémdapontadoRio
Amazonas,dapartedooeste,noportodeVicentePinzónquede-
marcaemdoisgrausdalinhaequinocialparaonorte,ecorrepelo
sertãoatéalémdaBaíadeSãoMatias,porquarentaequatrograus,
poucomaisoumenos,paraosul,eporestamedida(dizomes-
mocosmógrafo)temoBrasilpelacostamilequinhentasléguas.
Porém,dadoqueassimsejana teoria,apráticaenãochegarao
BrasilmaisqueatéoRiodaPrata,queestaemtrintaecincograus,
econtudoaindatemmaisdemilléguasporcosta,porque,posto
queemalgumaspartescorredenorteasul,quesãoosgraussóde
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dezesseteléguasemeia,todaviapelamaiorparte,queéparaosul
doCabodeSantoAgostinhoatéoRiodaPrata,corredenordeste
asudoeste,quesãodevinteecincoléguaseparaonortedoCabo
BrancoatéoRioAmazonas,quasedelesteaoeste,ondesealterao
grau,semultiplicamasléguas,eassimnãoémuitoqueemtrinta
ecincograushajatantas.
Dondesecoligetambém,queéaterradoBrasildafigurade
umaharpa,cujapartesuperiorficamaislargaaonortecorrendo
doorienteaoocidente,eascolaterais,adosertãodonorteasul,e
dacostadonordesteasudoeste,sevãoajuntarnoRiodaPrataem
umapontaàmaneiradeharpa,comoseveránomapa-múndi,e
naestampaseguinte.
Da largura que a terra do Brasil tem para o sertão não trato,
porqueatéagoranãohouvequemaandassepornegligênciados
portugueses,que,sendograndesconquistadoresdeterras,nãose
aproveitamdelas,mascontentam-sedeasandararranhandoao
longodomarcomocaranguejos.
Depoisdosobreditoconcertoedemarcaçãosemoveramainda
novasdúvidassobreaconquistadestasterras,porqueumportu-
guêspornomeFernãodeMagalhães,homemdegrandeespírito
e de muita prática e experiência na arte de navegação, por um
agravoquetevedeEl-ReiD.Manuel,porlhenãomandaracres-
centarumtostãoàmoradiaquetinhaparaficarigualàdeseus
antepassados, se tirou do seu serviço e se passou ao Imperador
CarlosQuinto,oferecendo-sealhedarmaioresproveitosdaÍndia
dequetinhamosportugueses,eporviagemmaisbreveemenos
custosaeperigosaqueasua,porumestreitoqueelenovamente
descobriranacostadoBrasil,elhepôstambémasilhasdeMaluco
nademarcaçãodeCastela.Aoqueoimperadornãosomentedeu
orelhas,masadmitiuaoseuserviçoe,postoqueEl-Reilheescre-
veu logo fazendo-lhe as lembranças necessárias, não deixou de
dar navios e gente a Fernão de Magalhães, com que cometeu a
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viagemefoipeloestreitoàsilhasdeMaluco,ondetodosseperde-
ramexcetoumque,depoisdepassarmuitostrabalhoseperigos
ecincomesesdefomeestreitíssima,dequelhemorreramvintee
umapessoas,osqueficaramvivos,constrangidosdaextremane-
cessidade,arribaramàIlhadeCaboVerde,ondeosportugueses,
enquantonãosouberamdaviagemquetraziam,osagasalharam
e proveram com todos os mantimentos e refrescos necessários,
porque os castelhanos diziam virem das Antilhas. Mas depois
que entenderam a verdade, determinaram secretamente de lan-
çarmãodanau,eafizeramdeter,atédaremavisoaoreino,oque
tambémaventaramoscastelhanos,esefizeramàvelacomtanta
pressaquenãotiveramtempoderecolheroseubatel,eosdailha
otomaramcomtrezehomensqueestavamemterra,eosmanda-
ramlogoaEl-Reicomnovasdoquepassava.
El-ReiquejánessetempoeraD.JoãoTerceiro,porfalecimentode
El-Rei D. Manuel, seu pai que havia um ano era morto, a 13
dedezembrode1521,mandoulogoquatrocaravelasembuscado
navio,mas,pormaiorpressaquesederam,acharamnovasquejá
eraaportadoemSevilha.
Pelo que determinou no seu Conselho de mandar pedir ao
imperador toda a especiaria que o navio trouxera das ilhas de
Maluco,porestaremdentrodasuademarcação,equenãoquises-
secomeçaradarmotivodesequebraremaspazesqueporambos
estavamratificadaseassimoescreveuaoimperador.EaLuizda
Silveira,quehaviamandadoporseuembaixadoraCastelasobre
casamentose lianças,escreveumudasseasubstânciadaembai-
xadaesótratassedestenegócio,comotambémomandoufazero
imperadorpeloseusecretárioqueestavaemPortugal,Cristóvão
Barroso.AoqualescreveuquefalasselogoaEl-Reielhedesseuma
cartaquesobreissolheescrevia,emquesequeixavamuitodeto-
dasessascoisas,eprincipalmentedeelemandaraoalcancedasua
nau,quevinhacarregadadeespeciariadasterrasquecabiamna
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suademarcaçãosemtocarportodaaÍndia,equeistoeraquebrar
ascapitulaçõesantigasenovasdaspazesqueestavamassentadas
ejuradasdeumreinoaoutro,sendotodososnaviosportugueses
porseumandadomuibemrecolhidosemtodososportosdeseus
senhorios.Porondelhepedia,quelhemandassesoltarospresose
castigarnailhaosqueosprenderam,àsquaisqueixasserespon-
deudeparteaparte,queseporiamemjuízoesejulgariaoque
fossejustiça.
Massemfaltasevieraonegócioaaveriguarpelasarmas,senão
seefetuassemnestetempooscasamentosd’El-ReicomarainhaD.
Catarina, irmã do imperador, e do imperador com a Imperatriz
D. Isabel, irmãd’El-Reicomqueficaramduasvezescunhadose
irmãos,epeloconseguinteemmuitapazeamizade.
TambémEl-ReiFranciscodeFrança,desejosodeterpartenos
grandes proveitos que diziam tirar-se destas terras, começou a
arguirnovasdúvidassobreademarcaçãoqueentresiosreisde
PortugalfizeramcomosdeCastela,daqualeleselançaradefora
sendorequeridoparaisso,eagorasentiamuitoarenunciaçãoque
tinhafeito.Dondeseveioadizerque,pelodesgostoquetinhades-
tesdoisreisdePortugaleCastelarepartirementresiomundoe
odemarcaremàsuavontade,consentiaandaremosseusvassalos
pelomartãosoltos,quenãosomenteroubavamosnavios,mas
cometiamasditasterraseasqueriampovoar,principalmenteas
doBrasil,comoadianteveremos.
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4º
do clima e temperamento do brasil
O pinião foi de Aristóteles e de outros filósofos antigosdequeazonatórridaerainabitável,porquecomoosolpassaporelacadaanoduasvezesparaostrópicos,parecia-lhesque com tanto calor não poderia alguém viver. E confirmavamsua opinião, porque o sol aquenta com os seus raiosuniformiter diformiter,maisaopertoqueaolonge,eporessacausanoinvernoaquentapouco,porqueandadistante;sed sic est,quenazonatem-perada,ondenuncaentra,sópeloacessoquefaznoverãoenfer-mamemorremoshomensdecalor;logoa fortiorinazonatórridadondenuncasaihádesermortífero.
Porém a experiência tem já mostrado que a zona tórrida éhabitável,equeemalgumaspartesdelavivemoshomenscommais saúde que em toda a zona temperada, principalmente noBrasil, onde nunca há peste, nem outras enfermidades comuns,senãobexigasdetemposemtempos,dequeadoecemosnegros,eosnaturaisdaterra,eistosóumavezsemasegundarnosquejáastiverame,sealgunsadoecemdeenfermidadesparticulares,émaisporsuasdesordensquepormalíciadaterra.Arazãodistoé porque, ainda que a terra do Brasil é cálida por estar a maiordelanazonatórrida,contudoéjuntamentemuitoúmida,comoseprovadeorvalhartantodenoitequenemdepoisdesairosolaquatrohorasseenxugamaservase,sealguémdormeaosereno,se levanta pela manhã tão molhado dele como se lhe houvera
chovido.
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Daquivemtambémnãopoderosaleoaçúcar,pormaisqueo
sequemeresguardem,conservar-sesemumedecer-se,eoferroe
açodeumaespadaounavalha,pormaislimpos,esacaladoque
sejam,seenchelogodeferrugem.Eestaumidadeécausadeque
ocalordestaterrasetempere,efazesteclimadeboacompleição.
Outraépelosventoslesteenordeste,queventamdomartodoo
verãodomeio-diapoucomaisoumenosatéameia-noite,elavam
erefrescamtodaaterra.
Aúltimacausaépelaigualdadedosdiasedasnoites,porque
(comodizemosfilósofos)aextensãofazintenção;donde,seum
pusesseoutivesseamãodevagarsobreumfogofracodeestopas
ou de palhas, se queimaria mais que se depressa a passasse por
umfogo forte.Epor istoemPortugal,postoqueocalorémais
remisso,sesentemaisporqueduramais,esãomaioresosdiasno
verãoqueasnoites,masnoBrasilaindaquemaisintenso,dura
menosenãoaquentatantoqueofriodanoiteonãoatalheque
nãocheguedeumdiaaoutro.
DondeserespondeaoargumentodeAristótelesdequeosol
aquenta mais na zona tórrida que na temperada intensivè, mas
nãoextensivè,equeestaintençãodecalorsemoderacomosven-
tos frescos do mar e umidade da terra, junto com a frescura do
arvoredodequetodaestácoberta;detalsortequeosqueahabi-
tamvivemnelaalegremente.Oemqueseverificaaopiniãodos
filósofosénascoisasmortas,porqueestandonasoutrasterrasa
carnetrêsouquatrodiassãeincorrupta,edamesmamaneirao
pescado,nestanãoestá24horasquesenãodaneecorrompa.
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5º
das minas de metais e pedras preciosas do brasil
J ánocapítuloterceiro,comeceiamurmurardanegligênciados portugueses, que não se aproveitavam das terras do
Brasilqueconquistaram,eagorameénecessáriocontinuarcom
amurmuração,havendodetratardasminasdoBrasil,poissendo
contíguaestaterracomadoPeru,queanãodividemaisqueuma
linhaimagináriaindivisível,tendoláoscastelhanosdescobertas
tantasetãoricasminas,cánemumapassadadãoporisso,equan-
dovãoaosertãoéabuscaríndiosforros,trazendo-osàforçaecom
enganosparaseserviremdeleseosvenderemcommuitoencargo
desuasconsciências.Eétantaafomequedistolevamque,ainda
quedecaminhoachemmostrasounovasdeminas,nãoascavam
nemaindaasveem,ouasdemarcam.
Umsoldadodecréditomedisseque,indodeSãoVicentecom
outros, entraram muitas léguas pelo sertão, donde trouxeram
muitosíndios,eemcertaparagemlhesdisseumquedaliatrês
jornadas estava uma mina de muito ouro limpo e descoberto,
dondesepodiatirarempedaços,porémquereceavaamortese
lha fosse mostrar, porque assim morrera já outro que em outra
ocasiãoaquiseramostraraosbrancos.Edizendo-lheestequenão
temesse,porquelherogariamaDeuspelavida,prometeuquelha
iriamostrar,eassentaramdepartirnodiaseguintepelamanhã,
porqueaqueleerajátarde.Comistoseapartouoíndioparaoseu
rancho,equandoamanheceuoacharammortoe,comomorreram
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todos,nãohouvemaisquemtivesseânimoparadescobriraquela
riqueza, que a mesma natureza (segundo dizia o índio) ali está
mostrandodescoberta.
OutraentradafezumAntônioDiasAdorno,daBahia,emque
também achou de passagem muitas sortes de pedras preciosas,
de que trouxe algumas mostras, e por tais foram julgadas dos
lapidários.
Decristalsabemosemcertohaverumaserranacapitaniado
EspíritoSantoemqueestãometidasmuitasesmeraldas,deque
MarcosdeAzevedolevouasmostrasaEl-Reie, feitoexamepor
seumandado,disseramoslapidáriosqueaquelaseramdasuper-
fície,eestavamtostadasdosol,masque,secavassemaofundo,
asachariamclarasefiníssimas.PeloqueEl-Reilhefezmercêdo
hábitodeCristo,ededoismilcruzados,paraquetornasseaelas,
osquaissenãoderam,eohomemeravelhoemorreusemhaver
maisatéagoraquemlátornasse.
Tambémháminasdecobre,ferroesalitre,mas,sepoucotra-
balhampelasdeouroepedraspreciosas,muitomenosfazempor
estoutras.
NãoponhoculpaaEl-Rei,assimporqueseiquenestamatéria
lhehãodadoalgunsalvitresfalsos,edizAristótelesqueépenados
quementemnãolhesdaremcréditoquandofalamverdade,como
tambémporquenãobastamandarEl-Reiseosministrosnãoobe-
decem,comoseviunodasesmeraldasdeMarcosdeAzeredo.
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6º
das árvores agrestes do brasil
H á no Brasil grandíssimas matas de árvores agrestes,cedros, carvalhos, vinháticos, angelins, e outras nãoconhecidasemEspanha,demadeirasfortíssimasparasepoderem
fazerdelasfortíssimosgaleõese,oquemaisé,quedacascadeal-
gumassetiraaestopaparasecalafetaremefazeremcordaspara
enxárciaeamarras,doquetudoseaproveitamosquequeremcá
fazernavios,esepuderaaproveitarEl-Reisecáosmandarafazer.
Masosíndiosnaturaisdaterraasembarcaçõesdequeusamsão
canoasdeumsópau,quelavramafogoeaferro;ehápaustão
grandes, que ficam depois de cavados com dez palmos de boca
debordoabordo,etãocompridosqueremamavinteremospor
banda.
São também as madeiras do Brasil mui acomodadas para os
edifíciosdascasasporsuafortaleza;ecomelasseachajuntamente
apregadura,porqueaopédasmesmasárvoresnascemunsvimes
muirijos,chamadostimbósecipós,que,subindoatéomaisalto
delasficamparecendomastrosdenavioscomseusovéns,ecom
estesatamoscaibros,ripasetodaamadeiradascasasquehou-
veramdeserpregadas,noqueseforramuitogastodedinheiro,e
principalmentenasgrandescercas,quefazemaospastosdosbois
dosengenhos,porquenãosaiamacomeroscanaviaisdoaçúcar
eosachemnopasto,quandooshouveremmisterparaamoenda,
asquaiscercassefazemdeestacasevarasatadascomestescipós.
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Ao longo do mar, e em algumas partes muito espaço dentro
dele,hágrandesmatasdemangues,unsdireitosedelgadosdeque
fazemestascercasecaibrosparaascasas,outrosquedosramos
lhesdescemasraízesaoladoedelassobemoutros,quedepoisde
cimalançamoutrasraízes,eassimsevãocontinuandoderamos
araízes,ederaízesaramos,atéocuparumgrandeespaço,queé
coisadeadmiração.
Nãoémenosadmiráveloutraplantaquenascenosramosde
qualquerárvoreealicresce,edáumfrutogrande,emuidocecha-
madocaragatá,eentresuasfolhas,quesãolargaserijas,seacha
todooverãoáguafrigidíssima,queéoremédiodoscaminhantes,
ondenãoháfontes.
Hámuitascastasdepalmeiras,dequesecomemospalmitos
eofruto,quesãounscachosdecocos,esefazdelesazeitepara
comereparaacandeia,edaspalmassecobremascasas.
NemmenossãoasmadeirasdoBrasilformosasquefortes,por-
queashádetodasascores,brancas,negras,vermelhas,amarelas,
roxas,rosadase jaspeadas,porém,tiradoopauvermelho,aque
chamamBrasil,eoamarelochamadotataiúba,eorosadoarari-
bá,osmaisnãodãotintadesuascores.Econtudosãoestimados
porsuaformosuraparafazerleitos,cadeiras,escritóriosebufetes,
comotambémseestimamoutros,porqueestilamdesióleoodorí-
feroemedicinal,quaissãoumasárvoresmuigrossas,altasedirei-
taschamadascopaíbas,que,golpeadasnotempodoestiocomum
machado,oufuradascomumaverrumaaopé,estilamdoamego
um precioso óleo, com que se curam todas as enfermidades de
humorfrio,esemitigamasdoresquedelasprocedem,esaram
quaisquerchagas,principalmentedeferidasfrescaspostocomo
sangue,detalmodo,quenemficadelassinalalgumdepoisque
saram.Eacertaàsvezesestarestelicortãodevezedesejosodesair
que,emtirandoaverruma,correemtantaquantidadecomose
tiraramotornoaumapipadeazeitePorém,nememtodasseacha
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isto,senãonasqueosíndioschamamfêmeas,eestaéadiferen-
çaquetemdosmachos,sendoemtudoomaismuisemelhante.
Nemsótêmestasárvoresvirtudenoóleo,mastambémnacasca,
eassimseachamordinariamenteroçadasdosanimais,queasvão
buscarpararemédiodesuasenfermidades.
Outrasárvoresháchamadascaboreíbas,quedãoosuavíssimo
bálsamocomquesefazemasmesmascuras,eoSumoPontífice
otemdeclaradopormatérialegítimadasantaunçãoecrisma,e
comotalsemisturaesagracomossantosóleosondefaltaoda
Pérsia.Estesetiratambémdandogolpesnaárvore,emetendone-
lesumpoucodealgodãoemquesecolhe,eespremidoometem
emunscoquinhosparaoguardaremevenderem.
Outrasárvoresseestimamaindaqueagrestes,porseussaboro-
sosfrutos,quesãoinumeráveisasquefrutificampeloscampose
matos,eassimnãopodereicontarsenãoalgumasprincipais.
Taissão:assassapocaiasdequefazemoseixosparaasmoendas
dos engenhos, por serem rijíssimas, direitas e tão grossas como
tonéis, cujos frutos são uns vasos tapados, cheios de saborosas
amêndoas,osquaisdepoisqueestãodevezsedestapame,comi-
dasasamêndoas,servemascascasdegraisparapisaradubosou
oquequerem.
Muçurandubas,queéamadeiramaisordináriadequefazem
astravesetodoomadeiramentodascasas,porserquaseincorrup-
tível;seufrutoécomocerejas,maioremaisdoce,maslançadesi
leite,comoosfigosmalmaduros.
Janipapos, de que fazem os remos para os barcos como na
Espanhaosfazemdefaia,temumfrutoredondotãograndecomo
laranjas,oqual,quandoéverde,espremidodáosumotãoclaro
como a água do pote; porém quem se lava com ele fica negro
comocarvão,nemselhetiraatintaempoucosdias.Destasepin-
tametingemosíndiosemsuasfestas,esaemtãocontentesnus,
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comosesaíramcomumaricalibré,eestefrutosecomedepoisde
maduro,sembotardelenadafora.
Giitiséfrutodeoutrasoqual,postoquefeioàvista,eporisto
lhechamamcoroe,quequerdizernodosoesarabulhento,contu-
doédetantosaborecheiroquenãoparecesimples,senãocom-
postodeaçúcar,ovosealmíscar.
Oscajueirosdãoafrutachamadacajus,quesãocomoverdiais,
masdemaissumo,osquaissecolhemnomêsdedezembroem
muitaquantidade,eosestimamtantoqueaquelemêsnãoque-
remoutromantimento,bebidaouregalo,porqueeleslhesservem
defrutaosumodevinho,edepãolhesservemumascastanhas
quevempegadasaestafruta,quetambémasmulheresbrancas
prezam muito, e secas as guardam todo o ano em casa para fa-
zeremmaçapãeseoutrosdoces,comodeamêndoas;edágoma
comoaArábia.Afiguradestaárvoreedoseufrutoéaseguinte:
• • •
Omesmotemoutraplantaqueproduzosananases,frutaque
emformosura,cheiroesaborexcedetodasasdomundo.Alguma
tachalhepõemosquetêmchagaseferidasabertas,porquelhas
assanhamuitoseacomem,trazendoalitodososruinshumores
queachanocorpo:porémistoantesargúiasuabondade,queé
nãosofrerconsigoruinshumoresepurgá-lospelasviasqueacha
abertas,comooexperimentamosenfermosdepedra,quelhades-
fazemareiaseexpelecomaurina,eatéaferrugemdafaca,com
queseaparaalimpa;afiguradaplantaefrutoéoseguinte:
• • •
Cultivam-se palmares de cocos grandes, e colhem-se muitos,
principalmenteàvistadomar,massóoscomemelhesbebema
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águaquetemdentro,semosmaisproveitosquetiramnaÍndia,
ondedizoPadreFreiGasparnoseuItinerárioa folhasquatorze,
quedaspalmeirassearmaumanauàvelaesecarregadetodoo
mantimentonecessáriosemlevarsobresimais,queasimesma.
Fazem-sefavaisdefavasefeijõesdemuitascastas,eas favas
secassãomelhoresqueasdePortugal,porquenãocriambicho,
nemtemacascatãoduracomoasdelá,easverdesnãosãopio-
res.Asuaramaéamododevimese,setemporondetrepar,faz
granderamada.
Maracujáséoutraplantaquetrepapelosmatos,etambéma
cultivamepõememlatadasnospátiosequintais;dão frutode
quatrooucincosortes,unsmaiores,outrosmenores,unsamare-
los,outrosroxos,todosmuicheirososegostosos.Eoquemaisse
podenotaréaflor,porque,alémdeserformosaedeváriascores,
émisteriosa:começanomaisaltoemtrêsfolhinhas,queserema-
tamemumglobo,querepresentaastrêsdivinaspessoasemuma
divindade,ou(comooutrosquerem)ostrêscravoscomqueCristo
foiencravado,elogotemabaixodoglobo(queéofruto)outras
cincofolhas,queserematamemumaroxacoroa,representando
ascincochagasecoroadeespinhosdeCristoNossoRedentor.
• • •
DasárvoreseplantasfrutíferasquesecultivamemPortugalse
dãonoBrasilasdeespinhocomtantoviçoefertilidade,quetodo
oanohálaranjas,limões,cidraselimasdocesemmuitaabundân-
cia.Hátambémromãs,marmelos,figos,euvasdeparreira,quese
vindimamduasvezesnoano;enamesmaparreira(sequerem)
temjuntamenteuvasemflor,outrasemagraço,outrasmaduras,
seaspodamapedaçosemtemposdiversos.
Hámuitasmelanciaseabóborasdequaresmaedeconserva;
muitosmelõestodooverão,tãobonscomoosbonsdeAbrantes,
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ecomestavantagemqueláentrecentosenãoachamdoisbons,e
cáentrecentosenãoachamdoisruins.
FinalmentesedánoBrasiltodaahortaliçadePortugal,horte-
lã,endros,coentro,segurelha,alfaces,celgas,borragens,nabose
couves,eestassóumavezseplantamdecouvinha,masdepois
dosolhosquenascemaopésefazaplantamuitosanos,eempou-
cosdiascrescemesefazemgrandescouves:alémdestasháoutras
couves da mesma terra, chamadas taiaobas, das quais comem
tambémasraízescozidas,quesãocomobatataspequenas.
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7º
das árvores e ervas medicinais, e outras qualidades ocultas
A lémdasárvoresdosalutíferobálsamo,eóleodecopaí-ba, de que já fiz menção no capítulo sexto, há outrasquedestilamdesimuiboaalmécegaparaasboticas,outrascha-
madassarsafraz,ouárvoresdefuncho,porquecheiramaelecujas
raízeseoprópriopauparaenfermidadesdehumoresfriosétão
medicinalcomoopau-da-china.
Háárvoresdecanafístulabrava,assimchamadaporquesedá
nosmatos,eoutraqueseplanta,eéamesmaquedasÍndias.
Háumasárvoreschamadasandaz,quedãocastanhasexcelen-
tesparapurgas,eoutrasquedãopinhõesparaomesmoefeito,
osquaistêmestemistérioque,seostomamcomumatonaepe-
lículasutilquetem,provocamovômito,e,selhatiram,somente
provocamacâmera.Mastem-sepormaisfácilemelhorapurga
dabatata,oumechuacão,quetambémhámuitapelosmatos.
Naspraiasdomarouaolongodelassedáumaervaque,senão
éasalsaparrilha,parece-secomela,etomadaemsuadourosfazos
mesmosefeitos.
Aervafedegosa,chamadadosgentioseíndiosfeiticeira,poras
muitascurasquecomelasefazem,eparticularmentedobicho,
queéumadoençamortífera.
As ambaíbas são umas figueiras bravas que dão uns figos de
dois palmos quase de comprido, mas pouco mais grossos que
umdedo,osquaissecomemesãomuidoces,eosolhosdessas
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árvores,pisadosepostosemferidasfrescascomosangue,assa-
rammaravilhosamente.
Afolhadafigueiradoinferno,postasobrenascidaseleicenços,
mitigaadoreasara.Asdejurubebasaramaschagas,easraízes
sãocontrapeçonha.Acarobasaradasboubas;ocipó,dascâmeras.
Enfimnãoháenfermidadecontraaqualnãohajaervasemesta
terra,nemos índiosnaturaisdelatêmoutraboticaouusamde
outrasmedicinas.
Outras há de qualidades ocultas, entre as quais é admirável
umaervazinhaaquechamamervaviva,elhepuderamchamar
sensitiva,seonãocontradisseraafilosofia,aqualensinaosensiti-
voserdiferençagenéricaquedistingueoanimaldaplanta,assim
sedefineoanimal,queécorpoviventesensitivo.Mascontraisto
vemosque,setocamestaervacomamãooucomqualqueroutra
coisa,seencolhelogoesemurcha,comosesentiraotoque,ede-
poisquealargam,comojáesquecidadoagravoquelhefizeram,
setornaaestendereabrirasfolhas.Deveistoseralgumaquali-
dadeoculta,qualadapedradecevarparaatrairoferro,enãolhe
sabemosoutravirtude.
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