Universidade de Brasilia
Surfe: uma análise pedagógica e uma proposta desportiva
Por:
Carlos Alberto de Mendonça Junior
Orientadora: Giannina do Espírito-Santo
Rio de Janeiro, 2007.
Carlos Alberto de Mendonça Junior
SURFE: UMA ANÁLISE PEDAGÓGICA E UMA PROPOSTA DESPORTIVA
Monografia realizada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar, pelo Centro de Ensino a Distância, da Universidade de Brasília.
Orientadora: Giannina do Espírito-Santo
Rio de Janeiro, 2007.
Mendonça, Carlos Alberto Junior
Surfe: uma análise pedagógica e uma proposta desportiva.
xxp.
Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. CEAD,
2007.
1. Surfe 2. Mar 3. Educação
Carlos Alberto de Mendonça Junior
Surfe: uma análise pedagógica e uma proposta desportiva
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de
Especialista em Esporte Escolar, pelo Centro de Ensino a Distância, da
Universidade de Brasília, pela Comissão formada pelos professores:
Presidente:
Profa. Giannina do Espírito-Santo Centro Universitário Celso Lisboa
Membro:
Kátia Cristina Montenegro Passos Universidade Veiga de Almeida
Rio de Janeiro, 2007.
iv
Dedico este trabalho à nossa grande mãe, a Natureza.
Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida.
Agradeço muito especialmente à minha querida
mãe SUELY DE OLIVEIRA MENDONÇA que
sempre me apoiou, incentivou e à luz de sua
sabedoria me fez enxergar tanta coisa.
Agradeço imensamente ao meu falecido pai
CARLOS ALBERTO DE MENDONÇA que interou
financeiramente na compra de minha primeira
prancha em 1986, incentivando e oportunizando o
momento sublime do aprendizado.
Agradeço aos tão queridos mestres, tutores,
orientadores e amigos, que ao longo da minha
jornada acadêmica fizeram questão de orientar
sempre “com o peito aberto”.
Gratas recordações de ensinamentos para a vida
com as irmãs CARLA MENDONÇA e LUCIANA
MENDONÇA.
vi
“O fogo , que é nossa essência, vem das estrelas, e é às estrelas que nossas essências retornarão. A Terra é a mãe , que nos concedeu nossos corpos. Após nossa caminhada pela Terra nossos corpo a ela retornarão. Nossos espíritos pertencem ao vento, assim como nossa respiração. Nossas palavras são aquilo que respiramos, e é por isso que são sagradas.”
Jamie Sams
vii
Mendonça, C. A. JR. Surfe: uma análise pedagógica e uma proposta desportiva. Relato de experiência, Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Esporte Escolar, Centro de Educação a Distância, Universidade de Brasília, Rio de Janeiro, 2007. O presente trabalho propôs-se a analisar o surfe quanto à sua prática educativa,
representado por uma nova e crescente realidade profissional, que são as escolinhas
de surfe. Nesse sentido, foram levantadas questões como: • Como são estruturados os
conteúdos das propostas de ensino aplicadas nas escolinhas de surfe do município do
Rio de Janeiro? •Podem estas propostas ser consideradas como perfeitamente
operacionalizáveis, adequando-se a todas as possibilidades de público-alvo? • Existe
coerência entre as propostas de ensino declaradas pelos instrutores via entrevista e as
respostas dos alunos ao questionário ou, em outras palavras, existe coerência entre
discurso e ação, entre a proposta teórica e a ação verificada na prática? Em função da
relação direta entre a exeqüibilidade de uma proposta de ensino e a capacitação dos
instrutores, propôs-se também as seguintes questões: • Qual a formação que têm estes
instrutores? • Pode esta formação ser considerada suficiente às demandas da prática
educativa do surfe? A importância deste trabalho baseia-se nos seguintes fatos: •
carência de conhecimentos sistematizados nesta área de pesquisa; • pode ser
aproveitado por instrutores e coordenadores das escolinhas de surfe, professores de
Educação Física Escolar e pessoas responsáveis pela implementação de programas
comunitários de lazer e atividades físicas a níveis municipal, estadual e federal; •
contribuir na reversão da antiga imagem do surfe ligada a preconceitos e estereótipos
para uma nova imagem que é a de um esporte que além de promover a saúde, está
intrinsecamente ligado à natureza e, conseqüentemente, à causa ecológica. A área
delimitada para a aplicação da pesquisa foi o município do Rio de Janeiro. Para análise
das propostas de ensino, foram considerados apenas os conteúdos referentes à fase
de iniciação, desconsiderando os fundamentos pertinentes à fase de aperfeiçoamento
ou aprimoramento das técnicas básicas iniciais. A referida análise centrou-se nas
propostas de ensino utilizadas pelas escolinhas investigadas e teve como critério as
ciências: Didática e Pedagogia; Sociologia, Filosofia e Psicologia da Educação e a
Fisiologia do Exercício - considerando suas aplicações ao surfe. Obteve-se, como
subproduto da investigação, informações referentes ao perfil dos instrutores, suas
viii
experiências e capacitação para desempenhar tal função. A investigação realizou-se
em duas etapas. A primeira constou de um levantamento bibliográfico acerca do que já
existe documentado sobre propostas de ensino do surfe. A segunda etapa se deu por
meio de uma pesquisa de campo, na qual foram realizados: • um questionário fechado
que foi respondido por aprendizes – visando identificar o nível de aceitação dos
procedimentos didático-pedagógicos adotados por seus instrutores; e • uma entrevista
semi estruturada realizada com instrutores em exercício – com o objetivo de definir os
padrões técnicos, didático-pedagógicos e metodológicos utilizados nas escolinhas.
Como resultado do estudo foram obtidos 3 propostas de ensino via revisão bibliográfica
e 7 referentes à pesquisa de campo, da qual participaram 7 instrutores, 46 alunos e 7
escolinhas de surfe. Concluímos que a formação dos instrutores, que atuam nas
escolinhas de surfe do município do Rio de Janeiro, não é condizente com as propostas
de ensino destas escolinhas, uma vez que verificamos faltar aos instrutores
conhecimentos imprescindíveis a uma pessoa que se propõe a exercer a função de
instrutor de surfe – considerando-se as suas devidas responsabilidades profissionais.
Palavras chaves: Surfe, Mar, Educação.
ix
Mendonça, C. A. JR. Surf: a pedagogical analysis and a proposal porting. Report of
experience, Program of Master’ s degree Lato Sensu in School Sport, Center of Education the Distance, Universidade de Brasília, Rio de Janeiro, 2007.
The present work intended to analyze the surf as for his/her educational practice,
represented by a new and growing professional reality, that you/they are the surf
schools. In that sense, were lifted up subjects as: (As the contents of the teaching
proposals are structured applied at the schools of surf of the municipal district of Rio de
Janeiro? (Can these intended be considered as perfectly operacionalizáveis, being
adapted her/it all of the public-objective possibilities? (Does coherence exist among the
teaching proposals declared by the instructors road interview and the answers of the
students to the questionnaire or, in other words, does coherence exist between speech
and action, between the theoretical proposal and the action done verify in practice? In
function of the direct relationship between the exeqüibilidade of a teaching proposal and
the instructors' training, did he/she also intend the following subjects: (Which the
formation that you/they have these instructors? (Can this formation be considered
enough to the demands of the educational practice of the surf? The importance of this
work bases on the following facts: (lack of knowledge systematized in this research
area; could be taken advantage of by instructors and coordinators of the surf schools,
teachers of School physical education and responsible people by the implementation of
community programs of leisure and physical activities at levels municipal, state and
federal; (to contribute in the reversion of the old image of the surf linked to prejudices
and stereotypes for a new image that is the one of a sport that besides promoting the
health, it is linked intrinsecamente to the nature and, consequently, to the ecological
cause. The area delimited for the application of the research was the municipal district of
Rio de Janeiro. For analysis of the teaching proposals, they were just considered the
contents regarding the initiation phase, disrespecting the pertinent foundations to the
improvement phase or aprimoramento of the techniques basic initials. Referred her
analysis was centered in the teaching proposals used by the investigated schools and
he/she had as criterion the sciences: Didacticism and Pedagogy; Sociology, Philosophy
and Psychology of the Education and the Physiology of the Exercise - considering their
x
applications to the surf. It was obtained, as by-product of the investigation, information
regarding the instructors' profile, their experiences and training to carry out such
function. The investigation took place in two stages. The first consisted of a
bibliographical rising concerning what exists already documented on proposed of
teaching of the surf. The second stage felt through a field research, in the which
you/they were accomplished: (a closed questionnaire that was answered by
aprendizes–seeking to identify the level of acceptance of the didactic-pedagogic
procedures adopted by their instructors; and (an interview structured semi accomplished
with instructors in exercise–with the objective of defining the patterns technical, didactic-
pedagogic and methodological used at the schools. As a result of the study 3 were
obtained proposed of teaching through bibliographical revision and 7 regarding the field
research, of the which you/they announced 11 instructors, 46 students and 7 surf
schools. We ended that the instructors' formation, that you/they act at the schools of surf
of the municipal district of Rio de Janeiro, it is not in keeping with the proposals of
teaching of these schools, once we verified to lack the instructors indispensable
knowledge to a person that intends to exercise surf instructor's function–being
considered their owed professional responsibilities.
KEY WORDS: IT SURFS, SEA, EDUCATION
xi
SUMÁRIO
1 O PROBLEMA .............................................................................................. 12
1.1 INRODUÇÃO ................................................................................................. 12
1.2 SITUAÇÃO-PROBLEMA .............................................................................. 15
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................... 16
1.4 QUESTÕES A INVESTIGAR ........................................................................ 16
1.5 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 17
1.6 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ...................................................................... 18
1.7 METODOLOGIA ........................................................................................... 18
1.8 DEFINIÇÃO DE TERMOS ............................................................................ 19
2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 20
2.1 O SURFE ......................................................................................................... 20
2.1.1 Origem ............................................................................................................ 22
2.1.2 O Surfe no Havaí ........................................................................................... 23
2.1.3 O Resgate do Surf no início do Século XX .................................................. 23
2.1.4 A Chegada do Surfe ao Brasil ...................................................................... 25
2.1.5 Didática, Pedagogia e o Processo de Ensino-Aprendizagem 27
3 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 33
3.1 IDENTIFICAÇÃO E SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES ........................... 33
3.2 INSTRUMENTOS DE MEDIDA ................................................................... 33
3.3 COLETA DE DADOS .................................................................................... 34
3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................ 36
xii
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................... 37
4.1 SONDAGEM .................................................................................................. 37
4.2 ASPECTOS FILOSÓFICOS ........................................................................... 38
4.3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ....................................................................... 39
4.4 ASPECTOS DIDÁTICO-SOCIAIS ................................................................ 40
4.5 ASPECTOS FISIOLÓGICOS ......................................................................... 42
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................... 44
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 47
ANEXOS ........................................................................................................ 50
xiii
CAPÍTULO I
O PROBLEMA
1.1 Introdução
As inúmeras praias existentes no litoral do Estado do Rio de Janeiro propiciam a
prática de vários esportes. O futebol, o voleibol, o futevolei e o frescobol, são os mais
praticados, mais difundidos e historicamente os mais antigos. Além desses, existem os
que podem e costumam ser denominados esportes radicais, por apresentarem
aparentemente maior grau de complexidade e de riscos de acidentes. São exemplos: o
skateboard, o vôo livre e o surfe e suas variações.
O surfe, objetivo desse estudo, é o esporte que consiste no ato de “andar sobre
as ondas, deslizar sobre as ondas, cortar as ondas” (ARIAS & ARAÑA, s/d, p.1).
Sua prática apresenta um considerável grau de dificuldade por envolver de três
variáveis dependentes entre si: o praticante, sua prancha e a onda por ele surfada.
O praticante, procurando manter-se equilibrado sobre sua prancha, desliza por
sobre a superfície de uma onda, massa de água que se movimenta constantemente em
direções definidas segundo o comportamento de variáveis geográficas e
meteorológicas. Essas variáveis são: a direção e a velocidade de ventos, as
ondulações e a posição e formação geográfica da costa litorânea. O grau de habilidade
e a experiência do praticante estão diretamente relacionados com o tempo de
permanência do mesmo em uma onda.
O primeiro registro oficial desta atividade foi feito por James Cook, Capitão da
Marinha Real Britânica, em 1778 (LORCH, 1980, p.2). Entretanto, apenas no início do
século XX, começou a ganhar popularidade com o esportista Duke Paoa Kahanamoku.
Duke, exímio remador e nadador foi medalhista de ouro e recordista mundial nos 100m
nado livre nos jogos de Estocolmo em 1912 e Antuérpia em 1920 tornando-se assim
uma celebridade (FLUIR, ed.144, 1997, p.66). Convidado a fazer demonstrações de
xiv
natação, introduziu o surfe em vários lugares que visitou. Foi assim que a Califórnia e
Austrália tiveram o primeiro contato com o esporte que se tornaria um dos principais
esportes dos seus litorais. Em homenagem ao seu trabalho, Duke é considerado como
o pai do surfe moderno.
Desde então o surfe vem sendo passado de geração a geração, basicamente
pela tradição. Muitos iniciantes contam com a ajuda de algum amigo ou parente que
lhes orientam, facilitando seu aprendizado. Outros adeptos são autodidatas,
aprendendo o esporte somente com sua vivencia pessoal imitando os que já
demonstram alguma habilidade.
Estes aprendizes deparam-se com a hostilidade de surfistas experientes, em
função destes não admitirem a possibilidade de terem que dividir as ondas com os
iniciantes rotulados de “pregos”. Cria-se dessa forma um desestímulo aos novos
surfistas. Devido a esse fato, a partir da década de 90, ocorreu o aparecimento das
escolinhas de surfe, que tiveram enorme receptividade e aceitação.
No dia 1° de julho de 1991, em Santos, estaria ocorrendo, conforme anunciava o
Jornal da Orla (30 de junho de 1991), a inauguração da Escola Radical de Santos
(ERS), a primeira escolinha municipal de esportes radicais, estando a frente como
instrutores Árias e Aranã, ambos professores formados em Educação Física. Esses
dois professores encontraram dificuldades no início do projeto. O surfista carregava o
estereótipo de indivíduo que não trabalhava vivendo nas areias das praias sem
disciplina e condutas pré-estabelecidas pela sociedade. Este fato, segundo os
professores, impôs e continua muitas das vezes impondo barreiras à evolução do
esporte.
ARIAS, citado pelo Jornal da Orla (1991), afirmou ser verdade que muitas
pessoas lamentavelmente ainda rotulavam o surfista como um ser alienado. Em
contrapartida, afirmava que a organização e a estruturação do esporte como atividade
pedagógica começava a ganhar espaço no início da década de 90: “... a modalidade
reúne pessoas sérias e aplicadas em seu todo [...] e o aluno, além da técnica do
esporte, ainda tem a oportunidade de aprender [...] noções de biologia marinha,
ecologia, nutrição e primeiros socorros”.
xv
Com relação ao surgimento de novas escolinhas, Guilayn (1997) citou o Projeto
Surfe Escola do Colégio Paula Barros coordenado pelo instrutor-professor Caio
Monteiro e com sede na praia do Leblon (RJ). Grillo (1995, p.46) afirmou que o surfe
continuava a se desenvolvendo e “as Escolas de Surf, cada vez mais profissionais,
estavam proliferando no eixo São Paulo - Rio”.
Em função do crescente processo de iniciativas de escolinhas de surfe, a
Federação de Surfe do Estado do Rio de Janeiro (FESERJ), com o apoio da
Associação Brasileira de Surfe Amador (ABRASA), organizou o I Curso de Capacitação
para Técnicos e Instrutores de Surfe da Australian Surfriders Association (ASA).
Realizado em setembro de 1997 no Rio de Janeiro, com o objetivo de oferecer aos
candidatos uma instrumentalização profissional baseada no esquema nacional de
credenciamento de técnicos da Surfing Australia (SA). O curso teve âmbito nacional,
contando com a presença de instrutores de várias partes do litoral brasileiro. Pela
oportunidade surgida a partir desse curso, foi criada a Associação de Técnicos de Surfe
do Brasil, integrada pelos técnicos recém formados. (FLUIR, 1997, p.44)
Um curso profissionalizante se propõe a capacitar determinado grupo para
exercer determinada profissão. O curso então realizado teve como objetivo introduzir
conhecimentos de pedagogia para o ensino da prática do esporte seguindo a linha dos
cursos universitários de graduação e pós-graduação.
A importância de conduzir uma prática educativa se funda originariamente no
fato de ser esta uma profissão que interfere diretamente na formação de indivíduos. No
caso da prática educativa de um esporte, a responsabilidade e o poder de interferir na
realidade dos alunos não serão menores. O que se pensar então de uma prática
relativamente recente que são as escolinhas de surfe? Como um instrutor deve atuar,
quanto às singularidades dos praticantes tais como: sexo, idade, experiência anterior,
posição sócio-econômica, composição corporal e características comportamentais? A
formação que estes instrutores receberam, fruto de suas práticas é suficiente para uma
atuação segura, consciente e comprometida com as reais necessidades de cada
situação? Qual a importância de um instrutor ter a fundamentação teórica alicerçada
numa visão multidisciplinar que envolvesse as chamadas ciências do esporte?
xvi
1.2 Situação-Problema
As pessoas estão cada vez mais descobrindo as
potencialidades desse esporte [o surfe], que hoje é
abordado sob vários aspectos: competitivo, recreacional
e terapêutico. O advento das Escolas Radicais
proporcionou o acesso de pessoas que admiravam o
esporte, mas não tinham a coragem de aderir a ele.
(SEMES, 1997, p.33)
Em referência à contribuição social que estas escolinhas podiam oferecer,
ARANÃ (comunicação pessoal, 13 de agosto de 1996) explicou que aqueles que
procuravam a ERS para aprender a surfar receberam uma orientação na qual se
relevavam fatores fundamentais à aprendizagem e à vida do indivíduo, tais como: a
relação do aluno com os demais alunos; a relação do mesmo com o professor; e sua
relação com a vida e com o mundo, procurando auxiliá-lo em suas dificuldade
existenciais.
ÁRIAS, citado pelo Jornal da Orla (1991), frisou a importância da experiência
direta no aprendizado técnico do esporte, dizendo: “... o surfe se aprende sozinho,
entrando no mar para ganhar experiência e habilidade, mas na escolinha a criança
aprende a importância do surfe, encarando esse esporte como uma forma de
relacionamento com a natureza”.
Buscando-se uma reflexão sobre essa nova realidade profissional que são as
escolinhas de surfe, há necessariamente que se pensar na seguinte questão: existe
um processo de ensino-aprendizagem que se evidencia pela relação direta entre
instrutor e aluno? É importante atentar para o fato de que uma relação de ensino-
aprendizagem bem sucedida depende diretamente da capacitação do instrutor e da
proposta de ensino utilizado. Essa capacitação, por sua vez, implica em detenção de
determinados conhecimentos, dentre os quais as ciências aplicadas ao esporte: a
Fisiologia, a Sociologia, a Psicologia, a Filosofia, a Didática e a Pedagogia do ensino.
Além destas faz-se necessário um domínio do conteúdo relativo às técnicas do
esporte.
xvii
Levando-se em conta os conhecimentos supracitados, realizar-se-á ao longo
desse estudo uma análise das propostas de ensino aplicadas nas escolinhas de surfe.
Dessa forma pretende-se suscitar as seguintes reflexões:
• Considerando o potencial educativo dos esportes em geral e do surfe em
especial, questiona-se como a capacitação dos instrutores ou a sua falta ou
deficiência poderá influenciar o processo educativo?
• Para um esporte em rápida e constante ascensão no Brasil e no mundo
como é o surfe, qual devera ser a importância a curto, médio e longo prazo
de uma organização e estruturação do esporte em termos de práticas
educativas oferecidas por variadas instituições (escolas, escolinhas, clubes
e, particulares) à sociedade em geral?
1.3 Objetivos Gerais
O presente estudo tem como objetivo fomentar a importância do profissional de
Educação Física na iniciação do desporto Surfe. Analisara vários aspectos acadêmicos,
científicos e práticos no que tange o desporto propriamente dito em nosso litoral.
1.4 Questões a Investigar
Diante das questões relatadas e com o objetivo de se provocar uma reflexão
quanto à qualidade do ensino nas escolinhas de surfe, foram levantadas outras
questões, que servirão como diretrizes para esse estudo. São elas:
• Como são estruturados os conteúdos das propostas de ensino aplicadas
nas escolinhas de surfe do município do Rio de Janeiro?
• Tais propostas podem ser consideradas como perfeitamente
operacionalizáveis, adequando-se a todas as possibilidades de público-
alvo?
xviii
• Existe coerência entre discurso e ação, entre a proposta teórica e a ação
verificada na prática, declaradas pelos instrutores?
• Como referido anteriormente, a exeqüibilidade de uma proposta de ensino
dependerá diretamente da capacitação do instrutor?
• Qual a formação que têm estes instrutores deverão ter e se tal formação
poderá ser considerada condizente com os fins almejados?
1.5 Justificativa
O surfe, apesar de apresentar raízes bem antigas, é um esporte relativamente
novo para a mídia e a sociedade em geral. As vias formais e institucionais de ensino
desse esporte, que até alguns anos atrás praticamente inexistiam no Brasil, começam
atualmente não só a aparecer como se multiplicar rapidamente por todo país.
Tendo em vista que as escolinhas de surfe se propõem ao ensino de um esporte
que começa a reverter profundamente um quadro de estigmas, preconceitos e
estereótipos à uma imagem de esporte radical com grandes benefícios à saúde e
profunda relação com a natureza e que esse esporte encontra-se hoje com ampla
aceitação pela sociedade e principalmente por indivíduos em idade escolar ou de
formação, uma pesquisa sobre a qualidade do ensino oferecido por estas instituições (
escolinhas de surfe) é necessária e relevante.
Somando-se a isto, a realização deste estudo apresenta a possibilidade de
contribuição social, de acordo com as seguintes considerações:
• uma organização sistemática do ensino do surfe pode vir a preencher uma
grande lacuna de pesquisa na área das manifestações do esporte-
performance, do esporte-participação e do esporte-educação (TUBINO,
citado por MOREIRA, 1993, p.133).
• O presente estudo agregara conhecimento à professores e técnicos das
escolinhas de surfe, professores de Educação Física Escolar e pessoas
responsáveis pela implementação de programas comunitários de lazer e
atividades físicas a níveis municipal, estadual e federal.
xix
Pretende-se, dessa forma, atingir as três dimensões sociais do esporte distintas
e inter atuantes, referidas por TUBINO e citadas por MOREIRA (1993), como: esporte-
performance, objetivando rendimento; esporte-participação, visando o bem-estar e o
lazer para todas as pessoas e o esporte-educação, com objetivos claros de formação e
construção da cidadania.
1.6 Delimitação do Estudo
O presente trabalho, apesar de apresentar na sua base teórica autores de
diferentes pontos do Brasil e do mundo, terá como área de abrangência, tanto na ida a
campo como na aplicação da pesquisa, o município do Rio de Janeiro, onde serão alvo:
os instrutores e alunos das escolinhas de surfe. Para essas propostas de ensino, serão
considerados apenas os conteúdos referentes à fase de iniciação, desconsiderando os
fundamentos pertinentes à fase de aperfeiçoamento ou aprimoramento das técnicas
básicas iniciais.
1.7 Definição de Termos
Os termos abaixo estão definidos conforme o significado pretendido para o
presente estudo:
Instrutor-professor - instrutor que possui formação acadêmica em Educação
Física ou alguma outra formação que o habilite oficialmente a atuar como professor.
Shaper – indivíduo responsável pela modelagem e confecção das pranchas de
surfe.
Surfista – indivíduo praticante do esporte surfe, como profissão ou amador. Ao
longo desse trabalho foram utilizados termos diferenciadores para o caso do iniciante.
Ex: surfista iniciante, aprendiz etc.
xx
CAPÍTULO II
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O Surfe
O surfe é um esporte que esta em plena ascensão. Seus praticantes, atletas ou
não, estabelecem um contato íntimo com a natureza, freqüentam praias por todas as
partes do mundo e usufruem da feliz coincidência de terem como os melhores locais
para a prática do surfe exatamente regiões famosas mundialmente por sua beleza e
exoticidade. Podem ser citados locais como: Havaí, Indonésia, Taiti, diversos pontos
dos litorais europeu, sul e norte americano dentre outros.
O surfe é um esporte que pela sua plasticidade e beleza, é visto por muitas
pessoas como uma forma de dança sobre as ondas. Uma atividade que envolve
complexidade e imprevisibilidade. Sua inclusão entre os esportes olímpicos esta sendo
um trabalho dos profissionais envolvidos com o esporte.
De fato, essa estranha confraria que reúne homens e mulheres, jovens e velhos em países dos cincos continentes, possui um sentimento exclusivo, muitas vezes egocêntrico. São criaturas da terra que vivem conectadas com o mar, procurando manter sempre o contato do primeiro ao quinto grau. Já foram chamados de uma tribo nômade, o que pode ser verdade. Outros explicam que os surfistas vivem num mundo espiritual diferente. Entretanto ninguém conseguirá, surfista ou não, definir o significado da palavra surf e muito menos identificar o surfista. (GUTENBERG, 1989, p.7)
O que se sabe é que surfistas têm descido ondas por muitos anos. Pescadores
polinésios aproveitavam as ondas da arrebentação para retornar mais rápido à terra
com seus barcos. Lendas e histórias havaianas relatam que há aproximadamente 1500
anos essa atividade vem sendo praticada em quase toda a costa do Pacífico.
No século XX, o surfe se irradiou pelo mundo, a partir do Havaí, chegou aos
EUA, depois Austrália, Europa, América do Sul. “Hoje se trata de um complexo esporte
xxi
que envolve alta tecnologia para a fabricação de pranchas, calções, cordinhas e roupas
de neoprene, equipamentos indispensáveis aos surfistas do fim do século”.
(GUTENBERG, 1989, p.7)
No meio competitivo, observa-se que os atletas são patrocinados pelas indústrias
envolvidas com o próprio esporte. São, em geral, amigos de seus patrocinadores,
viajam juntos e recebem o apoio necessário para participar dos campeonatos. A
dinâmica da evolução do esporte ocorre normalmente da seguinte forma: os fabricantes
de artigos de utilizados para a prática do surfe patrocinam surfistas famosos, que
utilizam seus calções, camisetas e pranchas. Novos surfistas ficam atraídos pela idéia
de se tornarem campeões no futuro e compram os artigos utilizados pelos surfistas de
destaque. Dessa forma, o esporte se desenvolve em conjunto com a indústria desses
artigos.
Tentou-se aqui elucidar um pouco da relação “surfista × mar”, conforme referida
por Gutenberg (1989) no seguinte texto:
Nesse confronto entre o mar e sua complexa composição vegetal-animal- mineral, que gera uma energia impossível de ser medida, contra frágeis humanos edificados em corpos com 75% de água, o resultado é assustador: uma troca de energia solitária, quase unilateral, pois o mar não se abala, apenas desperta uma paixão única naquele humano, transformando-o num surfista.(p.7)
2.1 1 Origem
Embora possa parecer um esporte novo, o surfe apresenta uma história bem
antiga. Há milhares de anos, pequenos grupos populacionais procurando um local para
se estabelecerem, escolheram como residência regiões banhadas por mares bravios,
de clima tropical e alimentação abundante (GUTENBERG, 1989, p.13).
Esses primeiros imigrantes do Pacífico foram os polinésios. Existem teorias que
os apontam como descendentes dos índios peruanos que viajavam pelas correntes
daquele oceano. O que se pode afirmar sobre este povo é que foram grandes
marinheiros, exímios pescadores e mergulhadores além de construtores habilidosos de
barcos com complementos de grande estabilidade. (GUTENBERG, 1989, p.13)
xxii
A necessidade de trabalhar no mar e viver dele fazia com que os nativos
navegassem sob quaisquer condições do mar. Não se sabe exatamente quando o
trabalho se tornou lazer. A verdade é que alguém decidiu que poderia se divertir sobre
tábuas de madeira em cima de ondas. Os escritos mais antigos sobre a atividade, que
anos depois começou a ser chamada de surfe (do inglês “surf”), datam de 400 a 500
D.C. (GUTENBERG, 1989, p.13)
2.1.2 O Surfe no Havaí
Por volta do século X, em uma de suas aventuras exploratórias, os polinésios
encontraram um arquipélago cujas ondas ficariam famosas mundialmente pela sua
altura e “energia concentrada”: o Havaí. (GUTENBERG, 1989; LORCH, 1980; SEMES,
1997)
Existem algumas lendas de provável veracidade sobre estas pioneiras aventuras.
Uma delas conta a história de Moikeha, um rei do Taiti que resolveu navegar até o
Havaí em busca de ondas para surfar. Estabeleceu-se em uma das ilhas que
constituem o arquipélago havaiano chamado Kauai. No decorrer de sua estada, casou-
se com as duas filhas do rei local e tornou-se mais tarde rei desta ilha. Segundo a
lenda, a história de Moikeha transformou-se em um canto e assim sobreviveu até os
dias de hoje. (LORCH, 1980)
O surfe tinha profundas raízes religiosas, culturais e sociais. No Havaí, somente
os reis e suas famílias podiam surfar em pé e sem restrições. A plebe tinha dificuldades
para conseguir as madeiras para praticar o esporte. Além de ter que encontrar a
madeira apropriada, derivada de antigas árvores havaianas chamadas Koa ou Wiliwili,
os antigos polinésios deveriam passar por um pequeno, mas delicado ritual ao cortar a
árvore: um peixe vermelho deveria ser enterrado na sua base, sobre as raízes. Era um
sinal de respeito à natureza que significava o nascimento de outra árvore no local. Os
polinésios e havaianos perpetuavam essa arte ou esporte através de cantos e danças
simbólicas. Havia competições, festivais e até mesmo lutas mortais por causa do surfe.
(GUTENBERG, 1989)
xxiii
Segundo Lorch (1980) os primeiros navegadores a chegar ao Havaí foram os
polinésios das ilhas Marquesas, em aproximadamente 400 D.C, trazendo consigo a arte
do paipo, que consistia em descer uma onda deitado sobre uma pequena prancha
arredondada. O segundo grupo de imigrantes, vindos do Taiti,- cuja data não é precisa,
introduziu na região o paka, que consistia em manter-se de pé sobre uma prancha
colocada em cima de duas canoas de guerra. Com a inevitável fusão do paka ao paipo
surgiu o surfe no Havaí. (SEMES, 1997)
Quando James Cook, Capitão da Marinha Real Britânica, aportou no arquipélago
havaiano em 1778 ocorreu o descobrimento do surfe. Em seu diário de bordo, o
explorador descreveu cenas de vários indígenas deslizando em alta velocidade sobre
ondas de quatro a cinco metros de altura em um lugar chamado Waimea Bay. O fato
dos indígenas praticarem o esporte totalmente nus provocou imediato preconceito e
condenação de missionários religiosos que tentavam propagar sua fé e costumes pelo
mundo. No afã de conquistar a região, a cobiça do homem branco trouxe as doenças, o
subjugo, a miscigenação e a conseqüente dizimação da população nativa e de seus
costumes, dentre os quais a prática do surfe. (SEMES, 1997)
2.1.3 O Resgate do Surfe no Início do Século XX
O surfe só foi resgatado por volta de 1907, quando pessoas como George
Freeth, na época o principal surfista do Havaí, Jack London, aventureiro e escritor
americano e Alexandre Ford, organizador do primeiro clube de surfe e canoagem das
ilhas (Outrigger Canoe and Surfboard Club), resolveram difundir a prática do esporte,
ainda que temendo as possibilidades de rejeição, que eram significativas em outros
continentes. (MARTINS JR,1992)
O processo de difusão do surfe teve como fator decisivo o desempenho do
nadador havaiano Duke Paoa Kahanamoku. Esse excepcional atleta quebrou dois
recordes olímpicos e conquistou três medalhas de ouro e duas de prata, participando
de quatro olimpíadas, a partir de 1912, em Estocolmo. Devido à sua fama de atleta
olímpico, viajou para os EUA a convite do governo, para participar de competições de
xxiv
natação. A partir da ocasião introduziu o surfe na área continental e nas costas leste e
oeste. Em 1915, levou o esporte para Austrália. (GUTENBERG,1989).
Outro fato marcante na vida de Duke foi ter-se tornado amigo de um americano
chamado Tom Blake, cuja engenhosidade e interesse pelo esporte levou-o a inovar,
sendo citado como primeiro surfista a utilizar uma quilha fixada na superfície inferior de
sua prancha. Pode-se dizer também que Blake foi o responsável pela diminuição do
tamanho e do peso das pranchas. Assim, as pranchas ficaram menores, mais leves,
ocas e, conseqüentemente, mais velozes. Blake venceu, em 1928, o primeiro
campeonato de surfe disputado na Califórnia e ainda veio, indiretamente, a prestar
importante contribuição social, quando, no final dos anos 30, o governo americano
adotou suas pranchas para todos os salva-vidas em todas as praias do país
(GUTENBERG, 1989; SEMES, 1997).
As pranchas, assim como o próprio surfe, passaram por várias transformações
quanto à forma e estrutura. Essas transformações tiveram sua evolução influenciada
por acontecimentos históricos e sociais, tais como a chegada do homem branco ao
Havaí, a revolução industrial com a conseqüente manufatura de derivados de petróleo,
a evolução e contribuição de áreas de estudos como a hidrodinâmica, a engenharia etc.
Nesse sentido, houve, de um extremo ao outro, uma evolução desde as pranchas feitas
pelos polinésios de enormes e pesados troncos de madeira até os modelos mais atuais,
nesse final do século XX, feitos de espuma de poliuretano e recobertos por uma
camada de fibra de resina acrílica, que chegam a pesar entre 2 e 4 kg
aproximadamente (SEMES, 1997).
O surfe começa a ser difundido pelo mundo no início do século XX e já para
meados do mesmo século começam a aparecer regras mais precisas e objetivas para
as competições, apontando para uma maior organização a nível mundial. Atualmente, o
esporte é praticado em qualquer lugar do mundo, onde haja ondas propícias.
Destacam-se locais como as costas da Indonésia, Austrália, África do Sul, Taiti e Havaí
(GUTENBERG, 1989).
A partir da década de 60, o nível das competições se tornou mais técnico,
exigindo modelos mais leves e modernos de pranchas. Na década de 70, aconteceram
as primeiras competições internacionais ainda não oficiais e foi fundado nos EUA, no
xxv
ano de 1970, pelos surfistas Fred Hemmings e Randy Rarick, o International
Professional Surfing (IPS), primeiro organismo internacional de surfe e órgão
responsável mundialmente pela estruturação do esporte em todos os níveis de
competições (LORCH, 1980). A partir de 1976 surgiram os primeiros campeões mundiais, revelações vindas da
Austrália, África do Sul e Havaí. O IPS desapareceu em 1983 dando lugar à Association
of Surfing Professional (ASP), representando, a partir de então, uma nova era de
significativa ascensão para o surfe a nível mundial. (SEMES, 1997)
2.1.4 A Chegada do Surfe ao Brasil
Em 1938 três surfistas, Osmar Gonçalves, João Roberto Haffers (Jua) e Sílvio
Manzoni se lançavam ao mar na praia do Gonzaga em Santos, para surfar com a
primeira prancha construída no Brasil feita por eles próprios, seguindo as orientações
de uma revista de mecânica americana. Em 1947, Luis Carlos Vital, usando uma tábua
oca de madeira compensada apelidada DC-4 (maior avião comercial da época), devido
às suas proporções, se equilibrava nas ondas do Arpoador, no Rio de Janeiro. Na
década seguinte Bruno Hermany, George Grande, Jorge Paulo Lehmann, Paulo
Preguiça e outros surfistas iniciavam a história do surfe no Rio de Janeiro. (LORCH,
1980; GUTENBERG, 1989; SEMES, 1997)
O surfe para os brasileiros consistia até então, apenas em descer as ondas e
manter-se em pé. Em 1964 Peter Troy, australiano e na época professor de Educação
Física nos EUA, apareceu no Arpoador e fez uma exibição de surfe com um estilo de
cortar as ondas jamais visto pelos brasileiros. Troy não apenas se mantinha em pé na
prancha, mas realizava diversas manobras na superfície das ondas. Sua prancha
também apresentava uma forma muito mais moderna e versátil do que as utilizadas
pelos brasileiros na época. Sua exibição proporcionou novos rumos ao surfe nacional
(SEMES, 1997).
Em 1965 um pequeno grupo de adeptos do surfe incluido Yllen Kerr, Walter
Guerra, Fernanda Guerra e Maria Helena Beltrão, tentaram criar uma federação para
cuidar da estruturação e difusão do esporte. O primeiro campeonato organizado por
xxvi
este grupo no mesmo ano, sagrou os campeões Jorge Bally e Fernanda Guerra,
considerada a primeira surfista do Brasil. (LORCH, 1980; GUTENBERG, 1989; SEMES,
1997)
Com referência ao surfe feminino, eram raras as matérias ou notícias que
chamassem atenção da imprensa e dos meios de comunicação. O espaço na mídia
concedido às mulheres era reduzido às vezes nulo que demonstrava a característica de
esporte masculino. Dizeres populares como “surfe é esporte pra homem” ou “não
adianta, mulher não leva jeito para o surfe” refletem bem este tipo de postura. Vale
ressaltar que nos dias de hoje, apesar das dificuldades, o surfe feminino no âmbito
competitivo, já conta com um circuito mundial profissional, não das mesmas proporções
que o circuito masculino, mas que notoriamente representa um avanço significativo.
Paralelamente às competições, vê-se atualmente um elevado número de mulheres
praticando o esporte voluntariamente ou por meio de uma escolinha (LORCH,1980).
Em 1966, Fernando Sefton levou o surfe para o sul do país. No ano seguinte,
pela primeira vez, um brasileiro participou de uma competição no Havaí. O surfista
Penho participou do Meeting Internacional Makaha, ocasião em que conheceu Duke
Kahanamoku, surfista citado em todas as bibliografias que retratam a história do surfe
em função da grande contribuição prestada ao desenvolvimento do esporte. (LORCH,
1980; GUTENBERG, 1989; SEMES, 1997)
A partir de 1970, o surfe começou a ser difundido no nordeste e estruturou-se
como esporte, com associações e locais para competições. Surgiu o interesse
comercial de algumas empresas que descobriram no esporte uma grande oportunidade
de lucros. Os veículos de comunicação abriram espaço para o esporte e algumas
publicações especializadas começaram a circular para o público afim, como por
exemplo: a Brasil Surf, a Surf Sul, a Surf News etc. (LORCH, 1980; GUTENBERG,
1989; SEMES, 1997)
O final da década de 70 não foi muito positivo para o surfe brasileiro e
internacional. Raros campeonatos, indiferença de empresas e meios de comunicação e
o encerramento da Brasil Surf, a pioneira e maior publicação sobre surfe do país,
marcou um desinteresse de patrocínio para o esporte. Em 1986 foi fundada a
Associação Brasileira de Surfe Profissional (ABRASP) e as perspectivas se tornaram
xxvii
melhores para os surfistas brasileiros. No ano seguinte abriram-se as portas para o
amadorismo em circuito conjunto com o profissional. Neste período surgiram novas
revelações do esporte e o Brasil voltou à cena das grandes competições internacionais.
(LORCH, 1980; GUTENBERG, 1989; SEMES, 1997)
A década de 90 se iniciou com a participação vitoriosa de surfistas brasileiros
nos maiores circuitos mundiais e, pela primeira vez, o país conseguiu que o surfista
Renato Phebo, competisse em um circuito mundial integralmente.
Atualmente o surfe brasileiro está bem estruturado, com regras definidas, escolinhas por todo o país e fundamentado em conceitos ecológicos e filosóficos. Começa a organizar-se como disciplina universitária, coincidentemente com uma nova fase do curso de Educação Física que visa a formar não apenas o professor, mas o profissional de Educação Física, abrindo maiores perspectivas para a profissão que se estendem para as modalidades esportivas e, neste caso específico, para os esportes radicais. (SEMES, 1997, p.12)
Nos dias de hoje, em que as escolinhas de surfe estão surgindo e se
multiplicando rapidamente, faz-se então relevante a análise do conteúdo das propostas
de ensino de surfe existentes.
2.1.5 Didática, Pedagogia e o Processo de Ensino-Aprendizagem
Esta seção destina-se à abordagem da Didática e das ciências diretamente afins,
considerando sua aplicação ao surfe.
Um professor de surfe é antes de tudo um professor. Ele deve dominar além da
técnica do esporte, outros conhecimentos que se fazem imprescindíveis à prática
educativa de uma modalidade esportiva: as ciências pedagógicas (Filosofia da
Educação, Psicologia da Educação, Sociologia da Educação e outras correlatas) e a
Fisiologia do Exercício, todas considerando sua aplicação ao esporte em questão.
Estabelecendo-se uma correlação entre a formação profissional para o
magistério, proposta por Libâneo (1993) e uma formação profissional à ação docente
nas escolinhas de esportes, aplicam-se suas palavras:
É verdade que muitos professores manifestam especial tendência e gosto pela profissão, assim como se sabe que mais tempo de experiência ajuda no desempenho profissional. Entretanto, o domínio das bases teórico-científicas e
xxviii
técnicas, e sua articulação com as exigências concretas de ensino, permitem maior segurança profissional, de modo que o docente ganhe base para pensar sua prática e aprimore sempre mais a qualidade do seu trabalho. (p.20)
A fim de servir como orientação para tarefas docentes comuns e fundamentais
ao processo de ensino da modalidade em questão, a Didática é aqui abordada como
ciência sintetizadora ou integradora dos conhecimentos e práticas desenvolvidos nas
ciências supracitadas.
Pode-se entender a Didática como uma mediação ou uma ponte entre o
conhecimento e a atuação do professor.
A Didática descreve e explica os nexos, relações e ligações entre o ensino e a aprendizagem; investiga os fatores co-determinantes desses processos; indica princípios, condições e meios de direção do ensino, tendo em vista a aprendizagem, que são comuns ao ensino das diferentes disciplinas de conteúdos específicos. (LIBÂNEO, 1993, p.16)
Deve-se compreender as ciências envolvidas no processo de ensino-
aprendizagem, não de forma estanque ou isolada, mas como áreas de conhecimento
diretamente interligadas e dependentes mutuamente. As relações assim estabelecidas
entre alunos e professores serão originariamente relações sociais. Estas, por sua vez,
serão norteadas segundo a ideologia que subentende à concepção filosófica de ensino
adotada pelo professor, sem desconsiderar a influência de fatores psicológicos como
motivação (extrínseca e intrínseca), ansiedade, auto-estima dentre outros.(LIBÂNEO,
1993, p.17)
A Filosofia traduz fundamentalmente a ideologia predominante, os objetivos da
prática educativa. O professor da escolinha de surfe pode optar por diferentes
abordagens, voltando-as para rendimento e competição e para objetivos sócio-
educativos. Esta opção é feita de acordo com a concepção filosófica de cada professor
sobre o que sejam o mundo, o homem e suas inter-relações. Dentre inúmeros possíveis
exemplos dessas relações, está o foco deste estudo que é o surfe, especificamente ou
uma modalidade esportiva (MOREIRA, 1993).
O esporte traz consigo um grande potencial educativo. O que se espera então do
professor é um esforço no sentido de utilizar este potencial para despertar no aluno
xxix
atitudes como lealdade, solidariedade, preservação do meio ambiente dentre outras
que podem ser cativadas como Freire descreveu: “clima de respeito que nasce de
relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as
liberdades dos alunos se assumem eticamente [autenticando] o caráter formador do
espaço pedagógico” (FREIRE, 1996, p.103).
Consciente da situação sócio-político-econômica que envolve o contexto de sua
prática e da característica, inerente a qualquer esporte e de reprodução dos valores
sociais dominantes, cabe ao professor trazer para o cotidiano de suas aulas,
discussões ou situações que reflitam esses valores. No outro extremo, pode o professor
não problematizar estas questões, embora tal decisão já caracterize uma opção
político-pedagógica. A opção feita pelo professor seja ela qual for, apontará para a
filosofia de ensino adotada, que por sua vez estará relacionada com a abordagem dos
aspectos sociais, psicológicos dentre outros envolvidos no processo de ensino.
A Sociologia se preocupa, em sua essência, com as sociedades e toda a gama
de relações estabelecidas pelas mesmas. Porém este trabalho busca ater-se no foco
das relações sociais educativas (MOREIRA, 1993).
Entendendo educação como processo social “em que homem e sociedade
formam uma unidade dialética em constante transformação” (GONÇALVES, 1994,
p.123), o professor, quanto melhor dominar esse conhecimento sobre o Homem e suas
relações, mais elementos terá que o possibilite aproximar de seus objetivos. Libâneo
afirma coerentemente que “a própria sala de aula é um ambiente social que forma, junto
com a escola como um todo, o ambiente global da atividade docente organizado para
cumprir os objetivos de ensino” (LIBÂNEO, 1993, p.24).
A Psicologia tem também fundamental contribuição para a efetivação do
processo de ensino-aprendizagem. O domínio pelo professor dessa área de
conhecimentos lhe possibilita uma melhor adequação dos meios de ensino utilizados
em função das variáveis que interferem diretamente no processo, como: a relação entre
os estágios de desenvolvimento dos alunos conforme idades e a velocidade ou o ritmo
de assimilação de conhecimentos e habilidades; a capacidade de organização e auto-
organização do grupo; as motivações extrínseca e intrínseca, a relação do aluno com
seus medos, ansiedade e auto-estima (MOREIRA, 1993).
xxx
Como fator de contribuição ao processo de ensino-aprendizagem, pode-se citar,
o referido potencial educativo presente nos esportes em geral, que em se tratando do
caso específico do surfe, estabelece-se um contato direto e integral entre o praticante e
a natureza. Nesse sentido Giffoni, Santos, Ajdelsztajn & Valladares (1996) atentam para
o fato de que o “homem [...] em contato com a natureza tem maior possibilidade de se
deparar com a grandiosidade e beleza do mundo que o cerca”, possibilitando-o rever,
dentre outras concepções possivelmente equivocadas, a falsa “ilusão de superioridade
sobre o mundo”. (p.7)
Considerando o contexto pedagógico e social de sua prática, o professor tem
ainda como possibilidade oferecer uma orientação sobre educação sexual, drogas e
cidadania. Conteúdos que em muitos casos são colocados à parte do processo
educativo, mas que podem ajudar tanto o aluno quanto seus familiares e amigos a
prevenir e evitar uma infinidade de problemas eminentes dentro da esfera das relações
sociais. Essa orientação só se fará possível na medida em que seja contextualizada à
realidade histórica, social, cultural e psicológica dos alunos (GONÇALVES, 1994). Nesse sentido, o professor, não só dominando, mas tendo a capacidade de
estabelecer vínculos e conexões entre os conhecimentos citados em seqüência e ainda
tendo a clareza de saber aplicá-los no momento oportuno de sua prática educativa,
estará capacitado a empregar a Didática na sua função primordial de estabelecer
procedimentos estratégicos fundamentados que orientem, com segurança, a
formulação de objetivos e de seleção de conteúdos e métodos adequados a esses
objetivos (GONÇALVES, 1994). Os conteúdos se interdependem, bem como os métodos utilizados para pô-los
em prática. Essa relação entre objetivo e conteúdo, representa basicamente um ‘o que
fazer’ ou ‘o que ensinar’, traduzindo intenções e ideais do professor, dos alunos e para
o caso deste estudo da escolinha de surfe. Os métodos utilizados significam uma ponte
entre os objetivos e os conteúdos e os alunos, representando assim o ‘como ensinar’,
ou seja, qual a melhor forma de garantir a apreensão dos conteúdos pelos alunos (LIBÂNEO, 1993, p.54).
Os objetivos direcionam o processo educativo, representam metas a serem
atingidas ao longo e ao final do processo. São expressos na forma de “conhecimentos,
xxxi
habilidades e hábitos (conteúdos) a serem assimilados pelos alunos” (LIBÂNEO 1993).
Os conteúdos, conforme citado na referência anterior, compõem-se basicamente de
conhecimentos sistematizados, habilidades e princípios éticos. Podem ser subdivididos
e organizados em unidades a serem desenvolvidas segundo períodos pré-
determinados de tempo (ex: semanal, mensal, bimestral...).
Os métodos apontam para variadas maneiras de se atingir os objetivos. Cabe ao
professor analisar e optar pelo método mais coerente com a sua prática (ex: exposição,
demonstração, questionamentos e problematizações permanentes).
É intenção deste estudo, que pessoas que exercem uma profissão na qual se faz
o intermédio entre o surfe com suas possibilidades educativas e alunos que aspiram a
inserir a prática do esporte no contexto de suas vidas, entenda-se vida em sua
concepção sistêmica que “vê o mundo em termos de relações e integração” (CAPRA,
1982, p.260) e que adquiram elementos e parâmetros que norteiem sua prática docente
no sentido de se buscar uma autocrítica permanente. Nesse sentido, são pertinentes as
seguintes questões: Quais os conteúdos que devem fazer parte de um “programa de
ensino” de uma escolinha de surfe? Por quê dar preferência a determinados conteúdos
em detrimento de outros? Como pode uma escolinha de surfe contribuir no
desenvolvimento de uma sociedade mais justa e mais ética, menos excludente e menos
individualista? O que tem essa escolinha a ver com estes assuntos? Vale citar Freire:
Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. (FREIRE, 1996, p.37)
O cotidiano das atividades docentes do professor ou da escolinha de surfe pode
suscitar ainda questões elementares como: Qual a importância para um professor de
dominar áreas de conhecimento como as comentadas no presente estudo? Que
melhorias uma boa formação, um bom domínio e uma boa atualização de
conhecimentos referentes à totalidade da prática educativa pode representar para um
professor?
xxxii
CAPÍTULO III
3 MATERIAL E MÉTODO
Este capítulo aborda os procedimentos metodológicos adotados no presente
estudo. Neste, incluem-se as seguintes seções: identificação e seleção dos
participantes, instrumentos de medidas, coleta de dados, tratamento e análise dos
dados e limitações do método.
3.1 Identificação e Seleção dos Participantes
Participaram do estudo, instrutores e alunos das escolinhas de surfe em
atividade no município do Rio de Janeiro. Na data da realização da pesquisa de campo
(abril/2007) foram encontradas em atividade um total de sete escolinhas. Responderam
ao questionário um total de 46 alunos e foram entrevistados no total sete instrutores.
Pretendeu-se investigar as escolinhas do município em função do número das
referidas instituições. Foram consideradas para realização da pesquisa tanto as
escolinhas que operam oficialmente quanto as que operam de forma não oficial (sem
registro).
3.2 Instrumentos de Medida
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram um questionário e uma entrevista
semi-estruturada, conforme presentes nos anexos.
O questionário, destinado aos alunos, constou de perguntas objetivas com
respostas diretas (sim ou não; opção ‘a’ ou ‘b’ ou ‘c’ ou ‘d’ ou ‘e’). Este visou a identificar
o grau de aceitação, por parte dos alunos, dos procedimentos pedagógicos adotados
xxxiii
pelos seus respectivos instrutores. Ficou estabelecido no questionário que os alunos
poderiam responder somente uma opção.
A entrevista semi-estruturada, realizada com os instrutores, seguiu um roteiro
pré-estabelecido no qual foram abordados os aspectos filosóficos, didáticos, sociais,
psicológicos e fisiológicos inerentes à pratica educativa do surfe. O formato semi-
estruturado se fez oportuno por criar a possibilidade de ‘fugir’ do roteiro, sem, no
entanto divergir do tema e dos objetivos do estudo. Com efeito, esta entrevista teve
como objetivos: definir os padrões técnicos, didático-pedagógicos e metodológicos
utilizados nas escolinhas; e verificar a coerência entre estes padrões definidos pelos
instrutores com as respostas dos alunos ao questionário.
Para efeito de validação, o questionário foi previamente submetido a uma
análise, quanto à objetividade, feita por três professores com mestrado na área de
educação e a realização de um pré-teste feito com cinco alunos de uma determinada
escolinha que apresentavam características próximas às dos alunos alvo do
questionário.
A entrevista teve como processo de validação um pré-teste ou um ‘ensaio’
realizado com professores de características próximas às dos entrevistados
efetivamente.
3.3 Coleta de Dados
Utilizou-se como meio para esta coleta a entrevista e o questionário explicitados
na seção anterior.
O período de coleta de dados se estendeu desde 07/04 até 29/04 de 2007. Este
período foi um pouco maior que o previsto devido as dificuldades encontradas para a
realização da mesma. As dificuldades encontradas foram: a disponibilidade dos
entrevistados e dos questionados; o não comparecimento de alunos e instrutores às
aulas coincidindo com dias de investigação e a dificuldade de locomoção entre as
escolinhas, impossibilitando a realização da pesquisa em mais de uma no mesmo dia.
xxxiv
Os dados provenientes da entrevista com os professores foram obtidos através
de notas. As anotações foram feitas simultaneamente à fala dos entrevistados. O
questionário respondido por via escrita, foi em sua maioria respondido pelos próprios
alunos, exceto nos casos em que estes se encontravam molhados e então o
pesquisador fez as perguntas oralmente marcando ele próprio as respostas escolhidas
pelo aluno.
O roteiro utilizado na entrevista foi dividido em 5 fases, conforme explicitadas nos
parágrafos abaixo.
Na 1a fase denominada sondagem, perguntou-se sobre a origem da escolinha e
a experiência dos instrutores para capacitá-los a desempenhar tal função.
A 2a fase retevesse aos aspectos filosóficos. Perguntou-se aos instrutores
quais as suas concepções sobre o surfe; quais os objetivos e a filosofia de ensino da
escolinha em que atuam; qual a abrangência do atendimento (idade, sexo); qual a
importância do trabalho realizado pelas escolinhas; e o que buscam através da
utilização das relações de respeito ao mar e à natureza desenvolver a consciência
ecológica de seus alunos.
A 3a fase contemplou os aspectos psicológicos. As questões referentes a esta
fase foram as seguintes: a forma de abordar as relações dos alunos com seus próprios
medos, ansiedade e auto-estima e como desenvolver com os alunos relações de
respeito entre aluno e professor, entre aluno e aluno de modo a semear um ambiente
coletivo solidário.
Na 4a fase abordou-se os aspectos didáticos e sociais. Nesta propôs-se aos
instrutores questões como: o que se ensina (conteúdos); como se ensina (métodos);
quem e quantos são os professores; se há e como é feita a divisão da aula; se utilizam
em suas aulas algum tipo de material didático (apostilas, livros, vídeos); se suas
escolinhas possuem uma sede fora as instalações próprias de aula na praia; se eles
(instrutores) utilizam alguma fonte permanente de consulta e ou atualização; se
oferecem aos seus alunos uma orientação educacional (drogas, sexualidade,
solidariedade, incentivo aos estudos); se percebem em suas escolinhas possíveis
falhas no atendimento e, conseqüentemente, se vêem perspectivas de melhorias.
xxxv
A 5a fase destinou-se aos aspectos fisiológicos. Nesta perguntou-se aos
instrutores que tipos de cuidados especiais podem e devem ser tomados com o corpo
antes, durante e depois do exercício, como: alongamentos no início e ao final da aula,
aquecimento, proteção solar, hidratação; e se são realizados com freqüência exercícios
abdominais.
Possibilitou-se ainda um espaço livre para que os instrutores comentassem
sobre algum assunto ou questão de sua preferência e que não tivesse sido
satisfatoriamente abordado ao longo da entrevista.
O questionário aplicado aos alunos, assim como a entrevista, seguiu uma
seqüência quanto aos aspectos filosóficos, psicológicos, didáticos e sociais e
fisiológicos, respectivamente.
3.4 Tratamento e Análise dos Dados
As informações obtidas através das respostas da entrevista foram organizadas
de acordo com o seu referido roteiro.
Com as respostas referentes ao questionário dirigido aos alunos, utilizou-se uma
forma estatística, para uma melhor interpretação dos mesmos.
A apresentação dos resultados obtidos foi feita em 5 fases, conforme citadas
anteriormente. As respostas de cada fase foram dispostas em dois momentos (1º:
instrutores; 2º: alunos), excetuando-se a sondagem que foi realizada apenas com os
instrutores.
Em seguida, foram realizadas com os dois momentos citados uma comparação e
uma análise que utilizou como critério os conhecimentos advindos de áreas de estudos
como as que compuseram a base teórica deste estudo, considerando sua aplicação ao
surfe. São elas: a Didática, a Pedagogia, as Sociologia, Filosofia e Psicologia da
Educação e a Fisiologia do Exercício.
xxxvi
CAPÍTULO IV
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo estão apresentados os resultados obtidos por meio da pesquisa
de campo.
A apresentação foi dividida em 5 fases: Sondagem, Aspectos Filosóficos,
Aspectos Psicológicos, Aspectos Didático-Sociais e Aspectos Fisiológicos – conforme o
roteiro seguido na entrevista. Excetuando-se a Sondagem que foi dirigida
exclusivamente aos instrutores, cada uma das demais fases foi organizada em dois
momentos, sendo o primeiro referente às respostas da entrevista aplicada aos
instrutores e o segundo referente às respostas dos alunos ao questionário.
4.1 Sondagem
• Experiência ou perfil inicial dos instrutores.
Verificou-se nesta fase que todos os sete
entrevistados (cada entrevistado representando
uma escolinha de surfe) são surfistas experientes,
quatro acumulam a função de shaper, também
dois ministram ou já ministraram aulas particulares
xxxvii
de surfe, dois atuam concomitantemente como
salva-vidas e quatro são competidores ou, em
outras palavras, surfistas profissionais. Todos os
itens questionados nessa fase são independentes,
acarretando mais de uma função para o
entrevistado de acordo com seu currículo.
Nesse sentido, os dados acima evidenciam
que a experiência e a formação dos instrutores
está predominantemente baseada na prática de
atividades ligadas ao surfe e ao mar.
Sobre suas formações profissionais, nenhum dos instrutores citou possuir
embasamento teórico consistente para um profissional que atue na área de esportes.
4.2 Aspectos Filosóficos • 1º Momento: Instrutores
• Objetivos adotados pelas escolinhas.
Nesse momento houve unanimidade dos entrevistados quando se tratou de
desenvolvimento do esporte, conseqüência de acontecimentos como: aumento
significativo de praticantes do sexo feminino tanto nas escolinhas quanto nas
competições; criação de diversas associações de escolas de surfe e de técnicos;
inclusão do surfe no currículo de algumas escolas e universidades por todo o Brasil;
presença freqüente de professores de educação física atuando no surfe tanto na área
de treinamento quanto na educativa etc.
Os objetivos como educação, competição, ecologia e segurança foram citados
por 6 entrevistados como filosofia de trabalho.
Verificou-se também que um entre os sete instrutores entrevistados objetivou um
atendimento social gratuito, denotando nesses termos uma atitude filantrópica.
É importante ressaltar que as sete escolinhas afirmaram oferecer suas atividades
para indivíduos de todas as idades (a partir dos sete anos) e ambos os sexos.
xxxviii
• Concepções de surfe (o que representa?).
Em todas as escolinhas o surfe é concebido como um estilo de vida e também
como uma forma de se aprender a respeitar o mar e seus perigos potenciais.
Observou-se que duas das escolinhas consideram o surfe como uma
oportunidade de desenvolver a consciência corporal. Já a concepção de surfe enquanto
meio de conscientização ecológica foi apontada por seis das escolinhas.
xxxix
• 2º Momento: alunos
Verificou-se que 50% dos alunos consideram que o surfe é um esporte que
ensina a respeitar a natureza e as outras pessoas. Consideram o esporte como uma
forma de cuidar da saúde 22% dos alunos entrevistados e 28% outros.
Quando perguntados se consideravam importante freqüentar uma escolinha para
aprender a surfar, 96% dos alunos responderam que sim.
Quanto à conscientização ecológica, 91% dos alunos relataram que recebem
ensinamentos no sentido de não sujar as praias e de cuidar da natureza.
A quase unanimidade entre os instrutores (com apenas uma discordância),
quando perguntados sobre segurança e respeito ao mar, foi confirmada pelos alunos
que responderam que nas aulas de surfe aprendem a respeitar o mar e seus perigos.
4.3 Aspectos Psicológicos • 1o Momento: instrutores
• Estratégias de ensino (relativas à parte psicológica).
Todas as escolinhas entrevistadas apresentaram alguma forma de incentivo par:
competições internas e externas, passeios e apresentação de vídeos. Foi também
consenso entre as sete escolinhas a relevância dada ao desenvolvimento de atitudes
de solidariedade e integração entre os alunos.
Ainda nesta fase, observou-se que 6 das escolinhas afirmaram utilizar, em suas
aulas, abordagens específicas quanto aos medos, ansiedades e à auto-estima dos
alunos. As relações de respeito dos alunos entre si e professores com alunos também
foram observadas. Citaram como exemplo de tais abordagens, debates freqüentes
sobre experiências de vida, acompanhamentos individuais, definição prévia dos limites
de comportamento e atitudes.
xl
• 2º Momento: alunos
Observou-se que 65% dos alunos classificaram como excelente a relação
professor x aluno estabelecida entre eles e seus instrutores, 30% como boas, 3% como
razoável e apenas 2% consideram como ruim. Quanto à relação entre alunos, 50% dos
alunos a classificaram como excelente, 41% como boa, 6% razoável e 3% ruins. Este
alto índice de aprovação está em concordância com o fato de 96% dos alunos terem
relatado que recebem orientações no sentido de respeitar seus colegas.
Outro fato merece destaque por apontar para uma possível contradição. 15% dos
alunos afirmaram que não se preocupam se seus colegas também estão aprendendo,
todavia apenas 4% disseram não os ajudar aos que precisam.
Observou-se ainda que 94% dos alunos dizem ser orientados no sentido de
manter a calma em situações de perigo, dado que aponta para a influência das
escolinhas de surfe no autocontrole do aluno, levando-o a identificar e lidar com mais
naturalidade com suas limitações, medos e ansiedades.
4.4 Aspectos Didático-Sociais
• 1º Momento: instrutores
• Postura didático-social das escolinhas de surfe.
Observou-se que em 4 das escolinhas as atividades são ou já foram orientadas
por um professor de educação física, no entanto verificou-se também que nenhuma
delas mantinha o referido profissional em seu quadro permanente ou ao menos,
atuando de forma sistemática na orientação das atividades.
Quanto à organização e planejamento das atividades, observou-se que todas as
escolinhas utilizam algum tipo de seqüenciamento das aulas e também todas as
escolinhas realizam uma sessão de aula teórico prática na areia antes de iniciarem as
atividades no mar.
xli
Seis escolinhas afirmaram fazer uso, no decorrer do curso, de materiais didático-
teóricos, como apostilas e circulares.
Verificou-se também que quatro das escolinhas possuem uma sede
administrativa, além da barraca que é montada na praia no momento da realização das
aulas.
Quanto aos parâmetros apontados pelos instrutores como a base da orientação
educacional que oferecem aos seus alunos, tem-se que: 5 das escolinhas dizem
acompanhar a situação familiar do aluno. Em relação ao acompanhar a conduta ou
comportamento do aluno todas se mostraram preocupadas com este item.
Em referência à qualidade do atendimento prestado, 6 das escolinhas admitiram
a existência de falhas, apresentando todavia em paralelo alternativas a serem seguidas
como perspectivas de melhoria. Foram citadas como exemplo as seguintes alternativas:
reuniões sistemáticas do quadro de instrutores, padronizações e auto-avaliações. • 2º Momento: alunos
A conceituação do ensino em função das respostas dos alunos indicou que 74%
consideraram excelente a forma como as escolinhas que freqüentam ensinam a surfar.
Nenhum dos alunos classificou a forma de ensino como sendo ruim: 17%
consideraram-na boa e apenas 9% como razoável.
Contradizendo as respostas dos instrutores, 47% dos alunos informaram nunca
receberam qualquer tipo de material didático como: apostilas, circulares, folhetos ou
alguma forma de recurso semelhante. Com base nestes dados, pode-se afirmar que
muitas vezes a intenção de ação dos instrutores não está se verificando na prática.
Do total de 46 alunos questionados, 96% afirmaram realizar as atividades num
primeiro momento na areia, passando posteriormente para a execução das atividades
no mar. Este fato corrobora a resposta dos instrutores que também afirmaram fazer uso
de tal procedimento.
Apesar de 98% dos alunos terem respondido que estão satisfeitos com a
atuação de seus professores, 67% consideram que a escolinha da qual participam
poderia de alguma maneira melhorar a forma de ensinar.
xlii
4.5 Aspectos Fisiológicos • 1º Momento: instrutores
• Fisiologia e cuidados com o corpo.
Quanto à abordagem fisiológica, observou-se que 5 das escolinhas realizam
alguma forma de aquecimento no início das aulas e que 6 incluem ainda uma sessão
de alongamento antes de iniciar a parte principal da aula. Iguais, 6 das escolinhas,
afirmam que orientam seus alunos a hidratarem-se constantemente a fim de evitarem
os males de uma desidratação.
Estes dados indicam a princípio a existência de um trabalho consciente quanto a
determinados ‘cuidados fisiológicos’ que devem fazer parte das aulas de surfe.
Entretanto observou também alguns procedimentos falhos e ou perigosos no tocante à
integridade física dos alunos. Dentre eles, pode-se citar os que merecem maior
destaque:
• Nenhuma das escolinhas entrevistadas inclui o alongamento ao término da
aula como prática sistemática em suas atividades;
• Os exercícios físicos abdominais não foram citados como prática constante
por três das escolinhas.
• Três das escolinhas não orientam seus alunos a utilizarem filtros solares e ou
outro tipo de proteção contra os prejuízos causados pela exagerada
exposição ao sol em horários não recomendados;
Este fato pode ser decorrente de uma capacitação insuficiente por parte do
responsável por planejar as atividades de ensino da escolinha.
2º Momento: alunos
Sobre a prática de exercícios de alongamento, verificou-se que: no início das
aulas, 85% dos alunos sempre o fazem e 15% disseram que nunca fazem; e ao final da
xliii
aula, 70% dos alunos afirmaram que nunca fazem, 26% que só fazem às vezes e
apenas 4% disseram que fazem sempre. Estes números confirmam com coerência a
resposta dos instrutores.
A prática de exercícios físicos abdominais nas escolinhas de surfe ainda não é
tida como uma constante, visto que apesar de 4 das escolinhas afirmarem incluir uma
sessão destes exercícios em todas as suas aulas, 39% dos alunos questionados,
menos da metade afirmaram fazer estes exercícios sempre, 13% disseram que fazem
quase todas as vezes, 30% afirmaram que só fazem às vezes e 19% afirmaram não
fazer nunca.
Quando perguntados se são aconselhados por seus instrutores a utilizarem
algum tipo de proteção solar no sentido de se evitar danos à saúde, 65% responderam
que sim e 35% afirmaram não receber qualquer orientação nesse sentido. Neste caso,
há breve concordância entre as respostas dos instrutores e as dos alunos.
Perguntou-se também aos alunos se são orientados quanto à hidratação.
Embora não caracterize uma contradição, constatou-se uma diferença significativa entre
o que disseram os instrutores e o que disseram os alunos. Enquanto 6 das escolinhas
dizem orientar sistematicamente seus alunos quanto à hidratação, 63% dos alunos
afirmaram serem sempre orientados a se manterem hidratados e 27% afirmaram serem
orientados apenas às vezes.
xliv
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com base na análise dos dados feita no capítulo anterior, foram elaboradas
conclusões e recomendações no que tange à questão da qualidade do ensino oferecido
pelas escolinhas de surfe do município do Rio de Janeiro.
Concluímos em relação à fase de sondagem, que apesar de todos os instrutores
apresentarem grande experiência e conhecimento do mar, estes não têm uma
formação suficiente.
Verificou-se que diversos conhecimentos fundamentais ao ensino do surfe,
conforme já referidos neste trabalho, não eram dominados pelos instrutores.
As grandes preocupações demonstrada pelas escolinhas à respeito do
desenvolvimento do esporte são:
• Criação de associações de escolas de surfe e de técnicos;
• Inclusão do surfe no currículo de algumas escolas e universidades por todo o
país;
• Aumento significativo de praticantes do sexo feminino, tanto nas escolinhas
quanto nas competições;
• Presença constante de professores de educação física, tanto na área de
treinamento quanto na educativa;
• Aparecimento cada vez mais freqüente do surfe na mídia;
• A possível e esperada inclusão do surfe no rol de esportes olímpicos.
Concluímos que o surfe é um esporte intimamente ligado à conscientização
ecológica e que as escolas de surfe têm grande influência sobre os alunos neste
aspecto.
Citamos como ponto positivo, o fato das escolinhas terem destinado grande
atenção às questões referentes a segurança e respeito ao mar, o que confirmou
novamente a grande influência do trabalho das escolinhas, positivamente, na formação
de opinião dos alunos.
xlv
Outro fato que notoriamente também está contribuindo com o desenvolvimento
do esporte é a abrangência do atendimento oferecido pelas escolinhas quanto a sexo e
idade. Notamos a presença de alunos de várias idades, de ambos os sexos e diferentes
situações sócio-econômicas. Ainda vimos ao longo da pesquisa de campo que existem
casos de atendimento a portadores de deficiência e até gratuito para crianças de baixa
renda.
Verificamos coerência entre as estratégias citadas pelos instrutores na fase dos
aspectos psicológicos e a aceitação destas pelos alunos. No entanto, pudemos
constatar também que estas estratégias não apresentavam nenhum tipo de
fundamentação teórica. Tal fato aponta para uma formação deficiente ou até mesmo a
falta de uma formação adequada por parte dos instrutores.
Apesar dos dados na pesquisa indicarem uma participação cada vez maior do
professor de educação física na orientação das atividades físicas nas escolinhas,
nenhuma delas apresenta o referido profissional no quadro permanente de instrutores.
Embora todas as escolas tenham informado que suas aulas possuem algum tipo
de seqüenciamento, notamos que estas obedeciam mais a experiência prática dos
instrutores do que a parâmetros científicos.
Verificamos incongruência em relação à utilização de materiais didáticos.
Enquanto os instrutores, em sua grande maioria, relataram fazer uso sistemático deste
recurso, quase a metade dos alunos contra disseram essa informação.
Podemos concluir que as escolas de surfe não estão interessadas somente no
ensino do surfe, mas também na educação dos alunos por meio deste.
Destacamos o fato de que 6 das escolinhas admitiram a existência de falhas
quanto a qualidade do atendimento que prestam aos alunos, demonstrando coerência
com a opinião dos alunos. Vale lembrar que as escolinhas mencionaram formas para
buscar essa melhoria.
No que se refere aos aspectos fisiológicos, vimos que há um conhecimento muito
limitado pelos instrutores. Sem sombra de dúvidas, é o instrutor o responsável direto
pela preservação da saúde de seus alunos, pelo menos no que diz respeito aos
cuidados com o corpo nas aulas de surfe.
xlvi
Nenhuma escola utiliza exercícios de alongamento ao final das aulas ou algum
tipo de sistematização de programas de condicionamento físico. Fatos como esse, nos
fizeram concluir que os alunos das escolinhas investigadas estão permanentemente
sujeitos a uma orientação física deficiente. Dessa forma, além de não gozar dos
benefícios de uma atividade física bem orientada, também estão se expondo a riscos
de saúde.
Essa deficiência quanto à orientação física, abrange além da já citada ausência
de alongamentos ao final das aulas, também o fato de não haver uma prática regular de
exercícios abdominais, bem como a orientação inadequada quanto à proteção solar.
xlvii
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIAS, M. & ARAÑA, F.A.A. (s/d). Esportes Radicais (Surf). Apostila, Escola Radical de Santos, Santos. CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1982. - FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GIFFONI, C.G.S., SANTOS, E.L., AJDELSZTAJN, H. & VALLADARES, M.V.M. Educação Física e Natureza: Uma Proposta de Formação e Construção do Ser (sumário). Anais do Congresso Latino Americano de Esporte para Todos, 1996. GONÇALVES, M.A.S. Sentir, Pensar e Agir - Corporeidade e Educação. Campinas, SP: Papirus, 1994. GRILLO, O. Escolas de Surf no eixo SP-RIO. Revista Hardcore, 1995, p. 46-53. GUILAYN Jornal O Globo, caderno Zona Sul.1997. GUTENBERG, A. A História do Surf no Brasil. São Paulo: Azul, 1989. LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Editora Cortez, 1993.
xlviii
LORCH, C.K. Surfe: Deslizando Sobre as Ondas. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1980. MARTINS Jr., M.C. Escola Radical. A Gazeta Esportiva, 1992, p. 16-18. MOREIRA, W.W. (Org). Educação Física & Esportes. Campinas, SP: Papirus, 1993. SANTOS GANHA A 1ª ESCOLA DE ESPORTES RADICAIS Jornal da Orla, 1991. SECRETARIA MUNICIPAL DE SANTOS A História do Surfe em Santos. Caderno SEMES. (vol.3). Santos: Autor, 1997. Técnicos Formados Revista Fluir, edição 144, 1997, p 44. TUBINO, M.J.G. (1979). Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. São Paulo: Ibrasa, 1979.
xlix
ANEXOS
ANEXO 1
Entrevista - Roteiro
• Sondagem
origem da escolinha experiência • Aspectos Filosóficos
o que é o surfe objetivos, filosofia de ensino (educação, treinamento, abrangência (sexo,
idade)...) importância da escolinha consciência ecológica (respeito: mar e natureza) • Aspectos Psicológicos
medos, ansiedade, autoestima (como abordar) incentivação relações - respeito: ao professor e ao grupo consciência de coletividade: solidariedade • Aspectos Didáticos e Sociais
professores (quem e quantos são)
o que se ensina como se ensina divisão da aula (seqüência pedagógica) material didático (apostilas, livros, vídeos etc) possui sede fontes de consulta, estudo (docente) orientação educacional falhas, perspectivas de melhorias • Aspectos Fisiológicos
como preparar o corpo (cuidados especiais) alongamentos (pré e pós) abdominais proteção solar hidratação
l
•Outros (livre)
ANEXO 2
Questionário
Sexo: Idade: Bairro de moradia: Nome da escolinha: Tempo que é aluno da escolinha: Data: Freqüência semanal (no de aulas por semana):
Nas perguntas abaixo, assinale a alternativa que melhor expressa sua opinião: 1.O que é o surfe para você? ( ) um esporte como qualquer outro. ( ) uma forma de esquecer de tudo e de todos. ( ) uma forma de cuidar da saúde. ( ) um esporte que ensina a respeitar a natureza e as outras pessoas. ( ) outros: _______________________________.
2.Você acha importante, para aprender a surfar, freqüentar uma escolinha? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 3. Nas aulas de surfe, você aprende a não sujar a praia e a cuidar da natureza? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 4. Nas aulas de surfe, você aprende a respeitar o mar e seus perigos? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________.
5. Como é a relação com seu professor? a) excelente. b) boa. c) razoável.
li
d) ruim. e) outros: _______________________________.
6. Como é a relação com seus colegas da escolinha? a) excelente. b) boa. c) razoável. d) ruim. e) outros: _______________________________. 7. Nas aulas de surfe, você aprende a respeitar seus colegas? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 8. Nas aulas de surfe, você se preocupa se o seu colega também está
aprendendo a surfar? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 9. Nas aulas de surfe, você ajuda seus colegas quando eles precisam? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 10. Nas aulas de surfe, você aprende a se manter calmo em situações de perigo? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________.
11.Você considera a maneira como a escolinha ensina a surfar: a) excelente. b) boa. c) razoável. d) ruim. e) outros: _______________________________. 12. Nas aulas de surfe, você costuma receber algum tipo de material para ler,
como apostilas, circulares, folhetos explicativos?
lii
a) sim, já recebi várias vezes. b) sim, já recebi uma ou duas vezes. c) não, nunca recebi nenhum tipo de material. d) outros: _______________________________. 13. Nas aulas de surfe, você aprende a surfar: a) pegando a prancha e indo direto para o mar. b) fazendo primeiro os movimentos na areia e depois no mar. c) outros: ________________________________. 14.Você está satisfeito com a atuação de seu (s) professor (es)? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: _______________________________. 15.Você acha que a escolinha pode melhorar a maneira como ensina? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: _______________________________. 16.Nas aulas de surfe, antes de surfar, você faz exercícios de alongamento? a) nunca. b) às vezes. c) quase todas as vezes. d) sempre. e) outros: ________________________________.
17.Nas aulas de surfe, depois de surfar, você faz exercícios de alongamento? a) nunca. b) às vezes. c) quase todas as vezes. d) sempre. e) outros: _______________________________. 18. Nas aulas de surfe, você costuma fazer exercícios abdominais? a) nunca. b) às vezes. c) quase todas as vezes. d) sempre. e) outros: _______________________________.
liii
19. Nas aulas de surfe, você é aconselhado a utilizar protetor solar? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________.
20.Nas aulas de surfe, você é aconselhado a se hidratar (beber água, sucos etc)? ( ) sim, sempre. ( ) às vezes. ( ) uma vez ou outra. ( ) nunca.
( ) outros: _____________________________
liv
CAPÍTULO III
3 MATERIAL E MÉTODO
Este capítulo aborda os procedimentos metodológicos adotados no presente
estudo. Neste, incluem-se as seguintes seções: identificação e seleção dos
participantes, instrumentos de medidas, coleta de dados, tratamento e análise dos
dados e limitações do método.
3.1 Identificação e Seleção dos Participantes
Participaram do estudo, instrutores e alunos das escolinhas de surfe em
atividade no município do Rio de Janeiro. Na data da realização da pesquisa de campo
(abril/2007) foram encontradas em atividade um total de sete escolinhas. Responderam
ao questionário um total de 46 alunos e foram entrevistados no total sete instrutores.
Pretendeu-se investigar as escolinhas do município em função do número das
referidas instituições. Foram consideradas para realização da pesquisa tanto as
escolinhas que operam oficialmente quanto as que operam de forma não oficial (sem
registro).
3.2 Instrumentos de Medida
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram um questionário e uma entrevista
semi-estruturada, conforme presentes nos anexos.
O questionário, destinado aos alunos, constou de perguntas objetivas com
respostas diretas (sim ou não; opção ‘a’ ou ‘b’ ou ‘c’ ou ‘d’ ou ‘e’). Este visou a identificar
o grau de aceitação, por parte dos alunos, dos procedimentos pedagógicos adotados
lv
pelos seus respectivos instrutores. Ficou estabelecido no questionário que os alunos
poderiam responder somente uma opção.
A entrevista semi-estruturada, realizada com os instrutores, seguiu um roteiro
pré-estabelecido no qual foram abordados os aspectos filosóficos, didáticos, sociais,
psicológicos e fisiológicos inerentes à pratica educativa do surfe. O formato semi-
estruturado se fez oportuno por criar a possibilidade de ‘fugir’ do roteiro, sem, no
entanto divergir do tema e dos objetivos do estudo. Com efeito, esta entrevista teve
como objetivos: definir os padrões técnicos, didático-pedagógicos e metodológicos
utilizados nas escolinhas; e verificar a coerência entre estes padrões definidos pelos
instrutores com as respostas dos alunos ao questionário.
Para efeito de validação, o questionário foi previamente submetido a uma
análise, quanto à objetividade, feita por três professores com mestrado na área de
educação e a realização de um pré-teste feito com cinco alunos de uma determinada
escolinha que apresentavam características próximas às dos alunos alvo do
questionário.
A entrevista teve como processo de validação um pré-teste ou um ‘ensaio’
realizado com professores de características próximas às dos entrevistados
efetivamente.
3.3 Coleta de Dados
Utilizou-se como meio para esta coleta a entrevista e o questionário explicitados
na seção anterior.
O período de coleta de dados se estendeu desde 07/04 até 29/04 de 2007. Este
período foi um pouco maior que o previsto devido as dificuldades encontradas para a
realização da mesma. As dificuldades encontradas foram: a disponibilidade dos
entrevistados e dos questionados; o não comparecimento de alunos e instrutores às
aulas coincidindo com dias de investigação e a dificuldade de locomoção entre as
escolinhas, impossibilitando a realização da pesquisa em mais de uma no mesmo dia.
lvi
Os dados provenientes da entrevista com os professores foram obtidos através
de notas. As anotações foram feitas simultaneamente à fala dos entrevistados. O
questionário respondido por via escrita, foi em sua maioria respondido pelos próprios
alunos, exceto nos casos em que estes se encontravam molhados e então o
pesquisador fez as perguntas oralmente marcando ele próprio as respostas escolhidas
pelo aluno.
O roteiro utilizado na entrevista foi dividido em 5 fases, conforme explicitadas nos
parágrafos abaixo.
Na 1a fase denominada sondagem, perguntou-se sobre a origem da escolinha e
a experiência dos instrutores para capacitá-los a desempenhar tal função.
A 2a fase retevesse aos aspectos filosóficos. Perguntou-se aos instrutores
quais as suas concepções sobre o surfe; quais os objetivos e a filosofia de ensino da
escolinha em que atuam; qual a abrangência do atendimento (idade, sexo); qual a
importância do trabalho realizado pelas escolinhas; e o que buscam através da
utilização das relações de respeito ao mar e à natureza desenvolver a consciência
ecológica de seus alunos.
A 3a fase contemplou os aspectos psicológicos. As questões referentes a esta
fase foram as seguintes: a forma de abordar as relações dos alunos com seus próprios
medos, ansiedade e auto-estima e como desenvolver com os alunos relações de
respeito entre aluno e professor, entre aluno e aluno de modo a semear um ambiente
coletivo solidário.
Na 4a fase abordou-se os aspectos didáticos e sociais. Nesta propôs-se aos
instrutores questões como: o que se ensina (conteúdos); como se ensina (métodos);
quem e quantos são os professores; se há e como é feita a divisão da aula; se utilizam
em suas aulas algum tipo de material didático (apostilas, livros, vídeos); se suas
escolinhas possuem uma sede fora as instalações próprias de aula na praia; se eles
(instrutores) utilizam alguma fonte permanente de consulta e ou atualização; se
oferecem aos seus alunos uma orientação educacional (drogas, sexualidade,
solidariedade, incentivo aos estudos); se percebem em suas escolinhas possíveis
falhas no atendimento e, conseqüentemente, se vêem perspectivas de melhorias.
lvii
A 5a fase destinou-se aos aspectos fisiológicos. Nesta perguntou-se aos
instrutores que tipos de cuidados especiais podem e devem ser tomados com o corpo
antes, durante e depois do exercício, como: alongamentos no início e ao final da aula,
aquecimento, proteção solar, hidratação; e se são realizados com freqüência exercícios
abdominais.
Possibilitou-se ainda um espaço livre para que os instrutores comentassem
sobre algum assunto ou questão de sua preferência e que não tivesse sido
satisfatoriamente abordado ao longo da entrevista.
O questionário aplicado aos alunos, assim como a entrevista, seguiu uma
seqüência quanto aos aspectos filosóficos, psicológicos, didáticos e sociais e
fisiológicos, respectivamente.
3.4 Tratamento e Análise dos Dados
As informações obtidas através das respostas da entrevista foram organizadas
de acordo com o seu referido roteiro.
Com as respostas referentes ao questionário dirigido aos alunos, utilizou-se uma
forma estatística, para uma melhor interpretação dos mesmos.
A apresentação dos resultados obtidos foi feita em 5 fases, conforme citadas
anteriormente. As respostas de cada fase foram dispostas em dois momentos (1º:
instrutores; 2º: alunos), excetuando-se a sondagem que foi realizada apenas com os
instrutores.
Em seguida, foram realizadas com os dois momentos citados uma comparação e
uma análise que utilizou como critério os conhecimentos advindos de áreas de estudos
como as que compuseram a base teórica deste estudo, considerando sua aplicação ao
surfe. São elas: a Didática, a Pedagogia, as Sociologia, Filosofia e Psicologia da
Educação e a Fisiologia do Exercício.
lviii
CAPÍTULO IV
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo estão apresentados os resultados obtidos por meio da pesquisa
de campo.
A apresentação foi dividida em 5 fases: Sondagem, Aspectos Filosóficos,
Aspectos Psicológicos, Aspectos Didático-Sociais e Aspectos Fisiológicos – conforme o
roteiro seguido na entrevista. Excetuando-se a Sondagem que foi dirigida
exclusivamente aos instrutores, cada uma das demais fases foi organizada em dois
momentos, sendo o primeiro referente às respostas da entrevista aplicada aos
instrutores e o segundo referente às respostas dos alunos ao questionário.
4.1 Sondagem
• Experiência ou perfil inicial dos instrutores.
Verificou-se nesta fase que todos os sete
entrevistados (cada entrevistado representando
uma escolinha de surfe) são surfistas experientes,
quatro acumulam a função de shaper, também
dois ministram ou já ministraram aulas particulares
lix
de surfe, dois atuam concomitantemente como
salva-vidas e quatro são competidores ou, em
outras palavras, surfistas profissionais. Todos os
itens questionados nessa fase são independentes,
acarretando mais de uma função para o
entrevistado de acordo com seu currículo.
Nesse sentido, os dados acima evidenciam
que a experiência e a formação dos instrutores
está predominantemente baseada na prática de
atividades ligadas ao surfe e ao mar.
Sobre suas formações profissionais, nenhum dos instrutores citou possuir
embasamento teórico consistente para um profissional que atue na área de esportes.
4.2 Aspectos Filosóficos • 1º Momento: Instrutores
• Objetivos adotados pelas escolinhas.
Nesse momento houve unanimidade dos entrevistados quando se tratou de
desenvolvimento do esporte, conseqüência de acontecimentos como: aumento
significativo de praticantes do sexo feminino tanto nas escolinhas quanto nas
competições; criação de diversas associações de escolas de surfe e de técnicos;
inclusão do surfe no currículo de algumas escolas e universidades por todo o Brasil;
presença freqüente de professores de educação física atuando no surfe tanto na área
de treinamento quanto na educativa etc.
Os objetivos como educação, competição, ecologia e segurança foram citados
por 6 entrevistados como filosofia de trabalho.
Verificou-se também que um entre os sete instrutores entrevistados objetivou um
atendimento social gratuito, denotando nesses termos uma atitude filantrópica.
É importante ressaltar que as sete escolinhas afirmaram oferecer suas atividades
para indivíduos de todas as idades (a partir dos sete anos) e ambos os sexos.
lx
• Concepções de surfe (o que representa?).
Em todas as escolinhas o surfe é concebido como um estilo de vida e também
como uma forma de se aprender a respeitar o mar e seus perigos potenciais.
Observou-se que duas das escolinhas consideram o surfe como uma
oportunidade de desenvolver a consciência corporal. Já a concepção de surfe enquanto
meio de conscientização ecológica foi apontada por seis das escolinhas.
lxi
• 2º Momento: alunos
Verificou-se que 50% dos alunos consideram que o surfe é um esporte que
ensina a respeitar a natureza e as outras pessoas. Consideram o esporte como uma
forma de cuidar da saúde 22% dos alunos entrevistados e 28% outros.
Quando perguntados se consideravam importante freqüentar uma escolinha para
aprender a surfar, 96% dos alunos responderam que sim.
Quanto à conscientização ecológica, 91% dos alunos relataram que recebem
ensinamentos no sentido de não sujar as praias e de cuidar da natureza.
A quase unanimidade entre os instrutores (com apenas uma discordância),
quando perguntados sobre segurança e respeito ao mar, foi confirmada pelos alunos
que responderam que nas aulas de surfe aprendem a respeitar o mar e seus perigos.
4.3 Aspectos Psicológicos • 1o Momento: instrutores
• Estratégias de ensino (relativas à parte psicológica).
Todas as escolinhas entrevistadas apresentaram alguma forma de incentivo par:
competições internas e externas, passeios e apresentação de vídeos. Foi também
consenso entre as sete escolinhas a relevância dada ao desenvolvimento de atitudes
de solidariedade e integração entre os alunos.
Ainda nesta fase, observou-se que 6 das escolinhas afirmaram utilizar, em suas
aulas, abordagens específicas quanto aos medos, ansiedades e à auto-estima dos
alunos. As relações de respeito dos alunos entre si e professores com alunos também
foram observadas. Citaram como exemplo de tais abordagens, debates freqüentes
sobre experiências de vida, acompanhamentos individuais, definição prévia dos limites
de comportamento e atitudes.
lxii
• 2º Momento: alunos
Observou-se que 65% dos alunos classificaram como excelente a relação
professor x aluno estabelecida entre eles e seus instrutores, 30% como boas, 3% como
razoável e apenas 2% consideram como ruim. Quanto à relação entre alunos, 50% dos
alunos a classificaram como excelente, 41% como boa, 6% razoável e 3% ruins. Este
alto índice de aprovação está em concordância com o fato de 96% dos alunos terem
relatado que recebem orientações no sentido de respeitar seus colegas.
Outro fato merece destaque por apontar para uma possível contradição. 15% dos
alunos afirmaram que não se preocupam se seus colegas também estão aprendendo,
todavia apenas 4% disseram não os ajudar aos que precisam.
Observou-se ainda que 94% dos alunos dizem ser orientados no sentido de
manter a calma em situações de perigo, dado que aponta para a influência das
escolinhas de surfe no autocontrole do aluno, levando-o a identificar e lidar com mais
naturalidade com suas limitações, medos e ansiedades.
4.4 Aspectos Didático-Sociais
• 1º Momento: instrutores
• Postura didático-social das escolinhas de surfe.
Observou-se que em 4 das escolinhas as atividades são ou já foram orientadas
por um professor de educação física, no entanto verificou-se também que nenhuma
delas mantinha o referido profissional em seu quadro permanente ou ao menos,
atuando de forma sistemática na orientação das atividades.
Quanto à organização e planejamento das atividades, observou-se que todas as
escolinhas utilizam algum tipo de seqüenciamento das aulas e também todas as
escolinhas realizam uma sessão de aula teórico prática na areia antes de iniciarem as
atividades no mar.
lxiii
Seis escolinhas afirmaram fazer uso, no decorrer do curso, de materiais didático-
teóricos, como apostilas e circulares.
Verificou-se também que quatro das escolinhas possuem uma sede
administrativa, além da barraca que é montada na praia no momento da realização das
aulas.
Quanto aos parâmetros apontados pelos instrutores como a base da orientação
educacional que oferecem aos seus alunos, tem-se que: 5 das escolinhas dizem
acompanhar a situação familiar do aluno. Em relação ao acompanhar a conduta ou
comportamento do aluno todas se mostraram preocupadas com este item.
Em referência à qualidade do atendimento prestado, 6 das escolinhas admitiram
a existência de falhas, apresentando todavia em paralelo alternativas a serem seguidas
como perspectivas de melhoria. Foram citadas como exemplo as seguintes alternativas:
reuniões sistemáticas do quadro de instrutores, padronizações e auto-avaliações. • 2º Momento: alunos
A conceituação do ensino em função das respostas dos alunos indicou que 74%
consideraram excelente a forma como as escolinhas que freqüentam ensinam a surfar.
Nenhum dos alunos classificou a forma de ensino como sendo ruim: 17%
consideraram-na boa e apenas 9% como razoável.
Contradizendo as respostas dos instrutores, 47% dos alunos informaram nunca
receberam qualquer tipo de material didático como: apostilas, circulares, folhetos ou
alguma forma de recurso semelhante. Com base nestes dados, pode-se afirmar que
muitas vezes a intenção de ação dos instrutores não está se verificando na prática.
Do total de 46 alunos questionados, 96% afirmaram realizar as atividades num
primeiro momento na areia, passando posteriormente para a execução das atividades
no mar. Este fato corrobora a resposta dos instrutores que também afirmaram fazer uso
de tal procedimento.
Apesar de 98% dos alunos terem respondido que estão satisfeitos com a
atuação de seus professores, 67% consideram que a escolinha da qual participam
poderia de alguma maneira melhorar a forma de ensinar.
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4.5 Aspectos Fisiológicos • 1º Momento: instrutores
• Fisiologia e cuidados com o corpo.
Quanto à abordagem fisiológica, observou-se que 5 das escolinhas realizam
alguma forma de aquecimento no início das aulas e que 6 incluem ainda uma sessão
de alongamento antes de iniciar a parte principal da aula. Iguais, 6 das escolinhas,
afirmam que orientam seus alunos a hidratarem-se constantemente a fim de evitarem
os males de uma desidratação.
Estes dados indicam a princípio a existência de um trabalho consciente quanto a
determinados ‘cuidados fisiológicos’ que devem fazer parte das aulas de surfe.
Entretanto observou também alguns procedimentos falhos e ou perigosos no tocante à
integridade física dos alunos. Dentre eles, pode-se citar os que merecem maior
destaque:
• Nenhuma das escolinhas entrevistadas inclui o alongamento ao término da
aula como prática sistemática em suas atividades;
• Os exercícios físicos abdominais não foram citados como prática constante
por três das escolinhas.
• Três das escolinhas não orientam seus alunos a utilizarem filtros solares e ou
outro tipo de proteção contra os prejuízos causados pela exagerada
exposição ao sol em horários não recomendados;
Este fato pode ser decorrente de uma capacitação insuficiente por parte do
responsável por planejar as atividades de ensino da escolinha.
2º Momento: alunos
Sobre a prática de exercícios de alongamento, verificou-se que: no início das
aulas, 85% dos alunos sempre o fazem e 15% disseram que nunca fazem; e ao final da
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aula, 70% dos alunos afirmaram que nunca fazem, 26% que só fazem às vezes e
apenas 4% disseram que fazem sempre. Estes números confirmam com coerência a
resposta dos instrutores.
A prática de exercícios físicos abdominais nas escolinhas de surfe ainda não é
tida como uma constante, visto que apesar de 4 das escolinhas afirmarem incluir uma
sessão destes exercícios em todas as suas aulas, 39% dos alunos questionados,
menos da metade afirmaram fazer estes exercícios sempre, 13% disseram que fazem
quase todas as vezes, 30% afirmaram que só fazem às vezes e 19% afirmaram não
fazer nunca.
Quando perguntados se são aconselhados por seus instrutores a utilizarem
algum tipo de proteção solar no sentido de se evitar danos à saúde, 65% responderam
que sim e 35% afirmaram não receber qualquer orientação nesse sentido. Neste caso,
há breve concordância entre as respostas dos instrutores e as dos alunos.
Perguntou-se também aos alunos se são orientados quanto à hidratação.
Embora não caracterize uma contradição, constatou-se uma diferença significativa entre
o que disseram os instrutores e o que disseram os alunos. Enquanto 6 das escolinhas
dizem orientar sistematicamente seus alunos quanto à hidratação, 63% dos alunos
afirmaram serem sempre orientados a se manterem hidratados e 27% afirmaram serem
orientados apenas às vezes.
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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com base na análise dos dados feita no capítulo anterior, foram elaboradas
conclusões e recomendações no que tange à questão da qualidade do ensino oferecido
pelas escolinhas de surfe do município do Rio de Janeiro.
Concluímos em relação à fase de sondagem, que apesar de todos os instrutores
apresentarem grande experiência e conhecimento do mar, estes não têm uma
formação suficiente.
Verificou-se que diversos conhecimentos fundamentais ao ensino do surfe,
conforme já referidos neste trabalho, não eram dominados pelos instrutores.
As grandes preocupações demonstrada pelas escolinhas à respeito do
desenvolvimento do esporte são:
• Criação de associações de escolas de surfe e de técnicos;
• Inclusão do surfe no currículo de algumas escolas e universidades por todo o
país;
• Aumento significativo de praticantes do sexo feminino, tanto nas escolinhas
quanto nas competições;
• Presença constante de professores de educação física, tanto na área de
treinamento quanto na educativa;
• Aparecimento cada vez mais freqüente do surfe na mídia;
• A possível e esperada inclusão do surfe no rol de esportes olímpicos.
Concluímos que o surfe é um esporte intimamente ligado à conscientização
ecológica e que as escolas de surfe têm grande influência sobre os alunos neste
aspecto.
Citamos como ponto positivo, o fato das escolinhas terem destinado grande
atenção às questões referentes a segurança e respeito ao mar, o que confirmou
novamente a grande influência do trabalho das escolinhas, positivamente, na formação
de opinião dos alunos.
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Outro fato que notoriamente também está contribuindo com o desenvolvimento
do esporte é a abrangência do atendimento oferecido pelas escolinhas quanto a sexo e
idade. Notamos a presença de alunos de várias idades, de ambos os sexos e diferentes
situações sócio-econômicas. Ainda vimos ao longo da pesquisa de campo que existem
casos de atendimento a portadores de deficiência e até gratuito para crianças de baixa
renda.
Verificamos coerência entre as estratégias citadas pelos instrutores na fase dos
aspectos psicológicos e a aceitação destas pelos alunos. No entanto, pudemos
constatar também que estas estratégias não apresentavam nenhum tipo de
fundamentação teórica. Tal fato aponta para uma formação deficiente ou até mesmo a
falta de uma formação adequada por parte dos instrutores.
Apesar dos dados na pesquisa indicarem uma participação cada vez maior do
professor de educação física na orientação das atividades físicas nas escolinhas,
nenhuma delas apresenta o referido profissional no quadro permanente de instrutores.
Embora todas as escolas tenham informado que suas aulas possuem algum tipo
de seqüenciamento, notamos que estas obedeciam mais a experiência prática dos
instrutores do que a parâmetros científicos.
Verificamos incongruência em relação à utilização de materiais didáticos.
Enquanto os instrutores, em sua grande maioria, relataram fazer uso sistemático deste
recurso, quase a metade dos alunos contra disseram essa informação.
Podemos concluir que as escolas de surfe não estão interessadas somente no
ensino do surfe, mas também na educação dos alunos por meio deste.
Destacamos o fato de que 6 das escolinhas admitiram a existência de falhas
quanto a qualidade do atendimento que prestam aos alunos, demonstrando coerência
com a opinião dos alunos. Vale lembrar que as escolinhas mencionaram formas para
buscar essa melhoria.
No que se refere aos aspectos fisiológicos, vimos que há um conhecimento muito
limitado pelos instrutores. Sem sombra de dúvidas, é o instrutor o responsável direto
pela preservação da saúde de seus alunos, pelo menos no que diz respeito aos
cuidados com o corpo nas aulas de surfe.
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Nenhuma escola utiliza exercícios de alongamento ao final das aulas ou algum
tipo de sistematização de programas de condicionamento físico. Fatos como esse, nos
fizeram concluir que os alunos das escolinhas investigadas estão permanentemente
sujeitos a uma orientação física deficiente. Dessa forma, além de não gozar dos
benefícios de uma atividade física bem orientada, também estão se expondo a riscos
de saúde.
Essa deficiência quanto à orientação física, abrange além da já citada ausência
de alongamentos ao final das aulas, também o fato de não haver uma prática regular de
exercícios abdominais, bem como a orientação inadequada quanto à proteção solar.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIAS, M. & ARAÑA, F.A.A. (s/d). Esportes Radicais (Surf). Apostila, Escola Radical de Santos, Santos. CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1982. - FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GIFFONI, C.G.S., SANTOS, E.L., AJDELSZTAJN, H. & VALLADARES, M.V.M. Educação Física e Natureza: Uma Proposta de Formação e Construção do Ser (sumário). Anais do Congresso Latino Americano de Esporte para Todos, 1996. GONÇALVES, M.A.S. Sentir, Pensar e Agir - Corporeidade e Educação. Campinas, SP: Papirus, 1994. GRILLO, O. Escolas de Surf no eixo SP-RIO. Revista Hardcore, 1995, p. 46-53. GUILAYN Jornal O Globo, caderno Zona Sul.1997. GUTENBERG, A. A História do Surf no Brasil. São Paulo: Azul, 1989. LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Editora Cortez, 1993.
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LORCH, C.K. Surfe: Deslizando Sobre as Ondas. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1980. MARTINS Jr., M.C. Escola Radical. A Gazeta Esportiva, 1992, p. 16-18. MOREIRA, W.W. (Org). Educação Física & Esportes. Campinas, SP: Papirus, 1993. SANTOS GANHA A 1ª ESCOLA DE ESPORTES RADICAIS Jornal da Orla, 1991. SECRETARIA MUNICIPAL DE SANTOS A História do Surfe em Santos. Caderno SEMES. (vol.3). Santos: Autor, 1997. Técnicos Formados Revista Fluir, edição 144, 1997, p 44. TUBINO, M.J.G. (1979). Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. São Paulo: Ibrasa, 1979.
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ANEXOS
ANEXO 1
Entrevista - Roteiro
• Sondagem
origem da escolinha experiência • Aspectos Filosóficos
o que é o surfe objetivos, filosofia de ensino (educação, treinamento, abrangência (sexo,
idade)...) importância da escolinha consciência ecológica (respeito: mar e natureza) • Aspectos Psicológicos
medos, ansiedade, autoestima (como abordar) incentivação relações - respeito: ao professor e ao grupo consciência de coletividade: solidariedade • Aspectos Didáticos e Sociais
professores (quem e quantos são)
o que se ensina como se ensina divisão da aula (seqüência pedagógica) material didático (apostilas, livros, vídeos etc) possui sede fontes de consulta, estudo (docente) orientação educacional falhas, perspectivas de melhorias • Aspectos Fisiológicos
como preparar o corpo (cuidados especiais) alongamentos (pré e pós) abdominais proteção solar hidratação
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•Outros (livre)
ANEXO 2
Questionário
Sexo: Idade: Bairro de moradia: Nome da escolinha: Tempo que é aluno da escolinha: Data: Freqüência semanal (no de aulas por semana):
Nas perguntas abaixo, assinale a alternativa que melhor expressa sua opinião: 2.O que é o surfe para você? ( ) um esporte como qualquer outro. ( ) uma forma de esquecer de tudo e de todos. ( ) uma forma de cuidar da saúde. ( ) um esporte que ensina a respeitar a natureza e as outras pessoas. ( ) outros: _______________________________.
2.Você acha importante, para aprender a surfar, freqüentar uma escolinha? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 4. Nas aulas de surfe, você aprende a não sujar a praia e a cuidar da natureza? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 5. Nas aulas de surfe, você aprende a respeitar o mar e seus perigos? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________.
6. Como é a relação com seu professor? f) excelente. g) boa. h) razoável.
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i) ruim. j) outros: _______________________________.
7. Como é a relação com seus colegas da escolinha? f) excelente. g) boa. h) razoável. i) ruim. j) outros: _______________________________. 8. Nas aulas de surfe, você aprende a respeitar seus colegas? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 9. Nas aulas de surfe, você se preocupa se o seu colega também está
aprendendo a surfar? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 10.Nas aulas de surfe, você ajuda seus colegas quando eles precisam? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________. 11. Nas aulas de surfe, você aprende a se manter calmo em situações de perigo? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________.
12.Você considera a maneira como a escolinha ensina a surfar: f) excelente. g) boa. h) razoável. i) ruim. j) outros: _______________________________. 13. Nas aulas de surfe, você costuma receber algum tipo de material para ler,
como apostilas, circulares, folhetos explicativos?
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e) sim, já recebi várias vezes. f) sim, já recebi uma ou duas vezes. g) não, nunca recebi nenhum tipo de material. h) outros: _______________________________. 14. Nas aulas de surfe, você aprende a surfar: d) pegando a prancha e indo direto para o mar. e) fazendo primeiro os movimentos na areia e depois no mar. f) outros: ________________________________. 15.Você está satisfeito com a atuação de seu (s) professor (es)? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: _______________________________. 16.Você acha que a escolinha pode melhorar a maneira como ensina? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: _______________________________. 17.Nas aulas de surfe, antes de surfar, você faz exercícios de alongamento? f) nunca. g) às vezes. h) quase todas as vezes. i) sempre. j) outros: ________________________________.
18.Nas aulas de surfe, depois de surfar, você faz exercícios de alongamento? f) nunca. g) às vezes. h) quase todas as vezes. i) sempre. j) outros: _______________________________. 19. Nas aulas de surfe, você costuma fazer exercícios abdominais? f) nunca. g) às vezes. h) quase todas as vezes. i) sempre. j) outros: _______________________________.
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20. Nas aulas de surfe, você é aconselhado a utilizar protetor solar? ( ) sim. ( ) não. ( ) outros: ________________________________.
21.Nas aulas de surfe, você é aconselhado a se hidratar (beber água, sucos etc)? ( ) sim, sempre. ( ) às vezes. ( ) uma vez ou outra. ( ) nunca.
( ) outros: _____________________________
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