FOTOTRANSFORMAÇÃO: NADA É O QUE REALMENTE APARENTA
Phototransformation: nothing is really what seems to be
Anderson Daniel Lima Massambani; Marcus Alves Meira Gentil Faria; Michael
Dias Nascimbem; Thiago Campos de Souza1; Daniel Issamu Pinto da Costa2
Drausio Vicente Camarnado Junior; Marcelo Falco de Deus3
RESUMO
O presente artigo busca relatar o desenvolvimento de duas animações, uma
para web de sessenta segundos, e uma para celular de trinta segundos, a partir
das linguagens utilizadas pelo fotografo Geraldo de Barros para compor seus
trabalhos. Buscamos enfatizar a nova linguagem criada por Barros através do
conhecimento adquirido com o estudo da Teoria da Gestalt e dos princípios da
Arte Concreta. Realizamos uma pesquisa iconográfica e bibliográfica que nos
auxiliaram no desenvolvimento da Pesquisa Referencial Teórica onde foram
listadas as técnicas, os princípios e as influências sofridas pelo fotografo em
questão. A partir de então foi desenvolvido o conceito de criação para as peças
finais. Para auxiliar no desenvolvimento das animações, elaboramos uma
Proposta Projetual, onde foram definidos os storyboards das animações assim
como a tipografia que seria aplicada. As pesquisas nos conduziram a nova
1 Acadêmicos do 2º Período do Curso de Graduação – Habilitação Design Digital – Turma NA2, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010/1. E-mail: [email protected] Acadêmicos do 3º Período do Curso de Graduação – Design de Games – Turma MB3, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010/1. E-mail: [email protected] Orientadores: Projeto Interdisciplinar II do Curso de Graduação – Habilitação Design Digital – Turma NA2, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010/1. E-mail: [email protected]
linguagem que foi desenvolvida por Barros mesclando duas técnicas que
tinham conceitos distintos. A identidade visual do trabalho foi feita em cima da
técnicas do desenho com ponta seca sobre negativo diferentemente da
animação que foi idealizada em torno da linguagem expressiva de que nada é
o que realmente aparenta ser criada por Barros através da união de conceitos
da Teoria da Gestalt e da Arte Concreta
Palavras-chave: Arte Concreta, Gestalt, Geraldo de Barros.
Abstract
The aim of this article is to present, the main picture composition techniques
used by the photographer Geraldo de Barros. Through his photographic
experimentations, Geraldo de Barros made important discoveries and
transformed existing techniques, thus creating their own expressive language.
Barros was extremely important for the evolution of Brazilian photography,
influenced by the Gestalt technique that was submitted in 1948 by Mario
Pedrosa, Barros definitely changed the character of their productions, in Gestalt
design idea does not represent a visible and objective images that formed by
factors like the clarity and visual harmony. In Gestalt and Concrete Art in the
search for representing elements in their essential forms was constant. Barros
merged their knowledge with the principles of Concrete Art, and Gestalt theory
and formulated his own ideas which sought to photograph objects so they do
not seem to be what they really were, an abstract idea that in practice did not
Keywords: Concrete Art, Gestalt, Geraldo de Barros.
INTRODUÇÃO
O presente artigo descreve as principais técnicas de composição de
imagem utilizadas pelo fotografo Geraldo de Barros e como ele as manipulou
para formar novas linguagens e novas realidades que o posicionaram como
artista concreto de grande importância para a fotografia brasileira.
Para Geraldo de Barros a fotografia nada mais era que um processo de
gravura, acreditava que na exploração do erro e no domínio do acaso que se
residia a criação fotográfica. Barros preocupou-se em conhecer a técnica
apenas o suficiente para se expressar, acreditava também que a exagerada
sofisticação técnica e o culto da perfeição levava a um empobrecimento dos
resultados, da imaginação e da criatividade4.
O artigo tem como objetivo descrever o processo de planejamento e
desenvolvimento de uma animação bidimensional sonorizada para web com 1
minuto, e uma para dispositivos móveis (celular) com 30 segundos de duração,
a partir do conhecimento obtido sobre a construção da imagem fotográfica do
fotógrafo Geraldo de Barros, isto é, a linguagem apresentada em sua
produção. Paralelamente ao desenvolvimento da Pesquisa Teórica Referencial
elaborou-se uma Proposta Projetual contendo os seguintes elementos: dados
de identificação do grupo; o título do trabalho, o conceito de criação das
animações; o levantamento iconográfico, com referências e devidamente
justificado, que subsidiou a apresentação e composição da paleta de cores e
da tipografia utilizadas; storyboard para composição das animações; os
processos e linguagens tecnológicas utilizadas.
Este artigo ressalta a importância que Geraldo de Barros teve sobre a
4 BARROS, Geraldo de. Fotoformas: Geraldo de Barros. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
fotografia brasileira e que dois quesitos primordiais a ele ainda são utilizados
por profissionais da área até a presente data, são eles: a socialização da arte e
o trabalho em equipe.
1 BIOGRAFIA: GERALDO DE BARROS
Geraldo de Barros, nascido no ano de 1923 em Chavantes, foi um
importante artista concreto brasileiro.
Durante os anos de 1946 e 1947, Barros inicia suas pesquisas no campo
da fotografia. Ingressa no Foto Cine Clube Bandeirante e monta um pequeno
laboratório p&b. Nesta época, Barros segue a mesma linguagem representada
por artistas como Man Ray e Moholy Nagy mesmo sem ter contato com as
experimentações fotográficas praticadas por eles.
Barros passa a freqüentar a Biblioteca Municipal de São Paulo, lugar
onde entra em contato com a arte moderna. Ao conhecer Mário Pedrosa, em
1948, conhece a teoria da Gestalt, teoria geral da forma, que o influenciaria e
mudaria definitivamente as características de sua produção5.
2 ARTE CONCRETA E GESTALT
O movimento concretista parte do pensamento artístico de Theo Van
Doesburg direcionado em denominar uma arte que se desamarrava de um
registro documental da natureza. Doesburg 1930 (apud GULLAR, 1999, p. 212)
ressalta que, a pintura deve ser concreta e não abstrata, porque já se passou o
período das pesquisas e experiências especulativas. Em busca da pureza,
eram os artistas obrigados a abstrair as formas naturais que escondiam os
elementos plásticos.5 ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural. São Paulo, 2005. Disponível em: <http://itaucultural.org.br>.
Acesso em: 15/04/2010.
Essa pureza refere-se a uma preocupação com a estrutura das formas
em um caminho que foge em relatar o que é pré-existente e se preocupa mais
em criar, a partir de uma idéia, uma nova realidade: “Pintura concreta e não
abstrata, porque nada mais concreto, mais real que uma linha, uma cor, uma
superfície". (DOESBURG 1930 apud GULLAR, 1999, p. 212)
O que nos ressalta a idéia de que a arte concreta se desenvolve em uma
direção totalmente descompromissada do figurativo. O concretismo é um
movimento que busca representar seus elementos nas suas formas essenciais,
sem atribuições à natureza ou partes da mesma. Na arte concreta a linha é
uma linha e um plano é um plano, e estes não nos trazem à memória o que
conhecemos como real, constituindo assim uma nova verdade.
Abaixo podemos observar a obra concretista criada por Theo Van
Doesburg em 1930.
Fig 01: Theo van Doesburg, Composição Aritimética
Disponível em: <http://gogeometry.com>.
Segundo Wolfgang Köhler (1980) e Kurt Koffka (1999) a Gestalt é uma
teoria da psicologia que considera os fenômenos psicológicos como um
conjunto autônomo, indivisível e articulado na sua configuração, organização e
lei interna. A teoria foi criada nos princípios do século XX. Funda-se na idéia de
que o todo é mais do que a simples soma de suas partes. Segundo a Gestalt:
"Existem quatro princípios a serem seguidos para a percepção de objetos e
formas: a tendência à estruturação, a segregação figura-fundo, a boa forma e a
constância perceptiva”. (KOFFKA, Kurt. Princípios da Psicologia da Gestalt.
1999)
3 TÉCNICAS UTILIZADAS POR GERALDO DE BARROS
3.1 Solarização do negativo
A técnica de solarização é de extrema importância para o
desenvolvimento das animações, pois todo o trabalho de Geraldo foi realizado
em laboratório P&B, as animações possuem palheta de cores com variações
de preto e branco para dar profundidade e volume aos objetos. A solarização
do negativo (fig. 02) também é conhecida como efeito Sabattier, em referência
ao seu inventor, o francês Armand Sabattier que o concebeu em 1862. A
solarização consiste na inversão dos valores tonais de algumas áreas da
imagem fotográfica, que pode ser obtido basicamente através da rápida
exposição à luz da imagem durante o processo de revelação.
O degrade acima representa fielmente todas as cores que foram
utilizadas para a confecção do trabalho.
3.2 Superposição do negativo
Geraldo costuma fazer a superposição do negativo, ou seja, tirava uma
foto, rebobinava o filme e tirava outras fotos por cima de um mesmo negativo,
ou batia diversas fotografias e no momento da revelação ele sobrepunha os
negativos, manipulando essas imagens para formar uma de diversas
dimensões. Geraldo criava imagens completamente diferente das originais,
sobreposições de imagens eram conhecidas como fotogramas (fig. 03), dando
assim uma nova referencia as linhas, formas, texturas, luz e sombra. Essa
técnica forneceu a idéia de que nada é o que realmente aparenta, a partir dela
começamos a formular o storyboard da nossa animação que apresenta
elementos bem definidos e a medida que a animação avança estes elementos
se modificam sutilmente, transformando-se em outros completamente
diferentes. Abaixo (fig. 04) representado está uma das cenas de transformação
citadas, onde uma simples mesa octogonal transforma-se em um guarda-
chuva, que posteriormente irá se transformar em outro objeto.
Fig. 04 Storyboard, Animação para Web
A animação para dispositivos móveis (celulares) segue o mesmo
princípio utilizado na animação para web, onde são mostrados objetos que no
decorrer da animação irão transformar-se em outros completamente distintos.
Abaixo (fig. 05) podemos visualizar os principais quadros da animação,
onde todos os movimentos ocorrem de forma que um quadro se transforme no
outro.
Fig. 05 Storyboard, Animação para Dispositivos Móveis
3.3 Desenho sobre negativo com ponta seca e nanquim
Barros utilizou também técnicas de pintura, riscando partes do negativo
com a ponta seca e pintava áreas do próprio com o nanquim, transformando
imagens sem muitos elementos em outra com diversos novos significados.
Como a foto: o gato e o rei (fig. 06) onde ele riscou com a ponta seca e pintou
com nanquim por cima. Este princípio foi a base para a criação da identidade
visual do projeto, assim como justifica da tipografia manuscrita que foi aplicada.
Fig. 02 Geraldo de Barros, Mulher no EspelhoDisponível em: <http://girafamania.com.br>
Fig. 03 Geraldo de Barros, Movimento Giratório
Disponível em: <http://bartschi.ch>
Fig 06: Geraldo de Barros, O Gato e o Rei 1949
Disponível em: <http://bartschi.ch>. Acesso em: 15/04/2010.
4 PROPOSTA PROJETUAL
As seções anteriores serviram de base para a idealização e confecção
da proposta projetual das animações, onde foi definido o conceito de criação
que é o principal parâmetro para o desenvolvimento do projeto.
4.1 Conceito de criação
O conceito de criação consiste em demonstrar que uma forma pode não
ser o que realmente aparenta, tendo como base a linguagem criada por Barros
em cima da arte concreta que por sua vez busca representar os elementos em
suas formas essenciais, sem atribuições à natureza ou partes da mesma.
4.2 Tipografia
Para a confecção do trabalho foram utilizadas duas tipografias, Arial
devido a sua fácil legibilidade e AndrewScript que representa a técnica de
desenho com ponta seca sobre negativo utilizada por Barros para compor suas
fotografias.
4.3 Os processos e linguagens tecnológicas utilizados
- Adobe Photoshop para o tratamento de imagens.
- Adobe Illustrator para a vetorização de imagens.
- Adobe Flash para a animação e edição do áudio
- CorelDRAW para ilustração digital
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo tem como objetivo explicar e exemplificar o processo de
idealização e confecção das animações buscamos por meio de pesquisas
referenciais e iconográficas entender e também explicar como o fotografo
Geraldo de Barros compunha suas imagens, as técnicas que ele utilizava,
como ele as manipulava para formar linguagens próprias e a importância
dessas manipulações para a evolução da fotografia no Brasil.
Por fim, mesclamos o conhecimento adquirido com as pesquisas, ao
conhecimento pratico, e construímos duas animações baseadas nas técnicas,
linguagens e iconografias do fotografo em questão.
Concluímos que a nova linguagem criada por Barros através de suas
experimentações e conhecimentos foi de grande proveito cultural devido a
forma com que a linguagem de foi desenvolvida, mesclou-se duas técnicas
distintas que teoricamente não poderiam ser unidas com o propósito de formar
outro meio de expressão.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, João. Arte concreta paulista: documentos, São Paulo: Cosac Naify
2002
BARROS, Geraldo de. Fotoformas: Geraldo de Barros. São Paulo: Cosac
Naify, 2006.
BARROS, Geraldo de. Sobras: Geraldo de Barros. São Paulo: Cosac Naify,
2006.
BILL, Max. O pensamento matemático na arte de nosso tempo. RJ: Funarte,
1977.
COSTA, Heloisa; SILVA, Renato Rodrigues da. A Fotografia Moderna no Brasil,
São Paulo: Cosac Naify, 2004.
FILHO; João Gomes. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma, São
Paulo: Escrituras, 2000.
GULLAR, Ferreira. Arte Concreta: Vértice e ruptura do projeto construtivo
brasileiro, Funarte, RJ, 1985.
KOFFKA, W. Princípios da Psicologia da Gestalt. Cultrix, SP.
KOHLER, W. Psicologia da Gestalt. Itatiaia. Belo Horizonte, 1980.