IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
“Televisão Digital: Matrizes Teóricas no Espaço Ibero-Americano”
(Venezuela, Bolívia, Paraguai e Equador)1
Wagner Benito ALVES2
Pedro Santoro ZAMBON3
Viviane Lindsay CARDOSO4
Resumo:
A proposta desse artigo é apresentar como se deu o processo de discussão sobre televisão digital, escolha
do padrão e em que passo estão as implantações do novo sistema em Venezuela, Bolívia, Paraguai e
Equador. Para isso, serão análisados os artigos levantados no Acervo Ibero-americano de TV Digital,
repositório eletrônico que pretende arquivar toda produção voltada para essa nova tecnologia no espaço
ibero-americano. Foi respeitado o recorte temático, para a seleção de obras, entre os anos de 1995 e 2012.
Além desses artigos, ainda foram análisados conteúdos jornalíticos dos países que não retornaram
trabalhos.
Palavras-chave: Comunicação, Televisão Digital, Acervo de TV Digita
Abstract:
The purpose of this paper is to show how was the process of discussion about digital TV, choose the
pattern and where are the step implementations of the new system in Venezuela, Bolivia, Paraguay and
Ecuador. For this, we will analyze the articles collected in Acervo Ibero-americano de TV Digital,
electronic repository that want to archive the entire production for this new technology in Ibero-America.
It was respected thematic focus for the selection of works from the years 1995 and 2012. Besides these
articles, the contents of newspapers were analyzed for the countries that haven’t articles.
1 Trabalho apresentado no GT3 – Indústrias midiáticas, IV Encontro Nacional da ULEPICC-Br.
2 Autor. Estudante de Graduação 3º semestre em Comunicação Social – Jornalismo (Unesp – Bauru). Membro do
Grupo de Pesquisa Lecotec (Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã) da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (FAAC/Unesp), email: [email protected] 3 Coautor. Estudante de Graduação 7º semestre em Comunicação Social – Jornalismo (Unesp – Bauru). Membro do
Grupo de Pesquisa Lecotec (Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã) da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (FAAC/Unesp), email: [email protected] 4 Co-orientadora: Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo (Puc-Campinas), Especialista em Docência no Ensino
Superior (Unifeob), mestranda em Comunicação pela Unesp na linha de pesquisa – Gestão e Política da Informação e da Comunicação Midiática. Bolsista Fapesp. Membro do Grupo de Pesquisa Lecotec (Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã) da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (FAAC/Unesp), email: [email protected]
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Introdução
A ampliação da televisão digital no mundo e, principalmente, a necessidade de
se escolher determinado padrão fez com que as pesquisas acadêmicas com base nesse
assunto ganhassem força, com intensidades variáveis (inclusive no espaço ibero-
americano). Estudar as diferentes realidades envolvidas e o caso peculiar de cada país é
necessário para que se possa estabelecer quais são os variados estágios de implantação.
Este artigo apresenta os resultados da pesquisa “Televisão Digital: Matrizes Teóricas no
Espaço Ibero-Americano (Venezuela, Bolívia, Paraguai e Equador)” em que buscou-se
reunir as publicações científicas existentes, estabelecendo as matrizes teóricas e
organizando o material científico que estiver disperso sobre o assunto.
A partir do levantamento bibliográfico (documentação direta), recolheu-se a
maior quantidade de obras possível, publicadas dentro dos países escolhidos
(Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai) ou por pesquisadores destas localidades. Vale
frisar que a escolha destes países se deve ao fato de todos terem realidades históricas e
políticas semelhantes, além da proximidade continental. Notam-se pontos convergentes
desde a política quanto às características sociopolíticas da população e isso monta um
panorama curioso para se estudar os pontos semelhantes e divergentes da realidade
tecnológica e da comunicação.
Esta pesquisa buscou também fornecer subsídios conceituais, teóricos e
históricos sobre o tema, auxiliando no debate sobre o uso e implantação
da televisão digital em cada um dos países estudados. As publicações
foram analisadas de maneira quantitativa e qualitativa. Na primeira
análise as obras encontradas foram classificadas a partir dos
macrodescritores (Gestão da Informação, Políticas Públicas e Economia
Política) o que teve como objetivo começar a entender os temas mais
debatidos e as maiores preocupações que a televisão digital gerava em
cada país. Na segunda análise, o pesquisador pôde entrar em contato
com os textos para identificar a existência de matrizes teóricas
(CLETO; CARVALHO, 2010)
Para isso, foram levantadas produções sobre televisão digital em periódicos,
dissertações e livros.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
A pesquisa apresentada neste artigo representa a continuidade da pesquisa
“Televisão digital: matrizes teóricas no espaço ibero-americano”, que foi iniciada em
2009 com o estudo da Argentina (Patrícia Benetti Ikeda), do Chile e do Peru (Gabriela
Reis Cleto). Posteriormente, a pesquisa continuou com o levantamento bibliográfico
documental de países ainda não pesquisados, para que se pudesse entender quais são as
matrizes teóricas e conceituais que guiam as pesquisas em televisão digital no espaço
ibero-americano e a partir das quais elas se orientam. O trabalho foi concluído com a
pesquisa apresentada nesete artigo e com a do bolsista Pedro Santoro Zambon.
Metodologia
A metodologia escolhida se baseia, principalmente, na realização de pesquisa
bibliográfica e documental por meio do método da documentação indireta. Por questões
geográficas e financeiras, se tem na internet o principal canal para a listagem e obtenção
das obras sobre televisão digital publicadas nos países escolhidos. Justamente por esse
motivo, também seriam utilizados, em menor escala, documentos de fontes primárias
(documentação direta), quando fossem encontrados desafios na localização ou ausência
de digitalização.
Foi respeitado o recorte temático, para a primeira seleção de obras, entre os anos
de 1995 e 2009. Analisar o número de produções científicas em cada ano foi importante
para que se pudesse entender como evoluiu a quantidade de produções e o próprio
sistema de televisão digital dentro de cada país.
Construção do Acervo
O levantamento bibliográfico proveniente dessa pesquisa foi analisado e está
disponível no Acervo Ibero-Americano de TV Digital, o qual se trata de uma base de
dados virtual que engloba produções científicas sobre TV digital no espaço ibero-
americano, formando assim uma ferramenta de busca para aqueles que pretendem
estudar o tema.
Desde 2008, com a pesquisa “Televisão Digital: uma perspectiva histórica”, o
arquivamento de produções científicas vem sendo realizada. Cinco bolsistas de inciação
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
científica já participaram do projeto nos seus quatro anos de existência (Flaviana de
Freitas Oliveira, Patrícia Benetti Ikeda Gabriela Estefano Reis Cleto, Juliano Ferreira de
Sousa e Raphael Rodrigues do Nascimento). O acervo apresenta periódicos, artigos,
livros teses, relatórios e dissertações sobre TV digital, sendo algumas produções com
resumos e resenhas para facilitar a utilização do usuário. O acervo possui produções
sobre Brasil, México, Argentina, Chile, Peru, Costa Rica, Uruguai, Espanha, Colômbia
e Cuba. No último semestre, a biblioteca foi abastecida com produções desta pesquisa
(Equador, Venezuela, Paraguai e Bolívia) e pelos países pesquisados pelo bolsista Pedro
Zambon (Andorra, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Porto Rico,
Portugal e República Dominicana). Tais materiais podem ser acessados de forma fácil
através do software Zotero5.
Resultados obtidos
A partir do início da procura pelos artigos acadêmicos pelos quatro países
citados, a busca já se apresentou bastante difícil devido à escassez de produção voltada
para televisão digital no espaço geográfico apresentado. O Equador foi o país que se
mostrou mais inteirado com a televisão digital em termos acadêmicos. A Venezuela,
embora com menos artigos, também retornou bons resultados que possibilitaram a
produção de um Estado da Arte sobre o país.
Contudo, o mesmo não se pode dizer sobre Paraguai e Bolívia, uma vez que a
pesquisa em ambos países não retornou sequer um artigo sobre a televisão nesses
países. Para então possibilitar uma produção do Estado da Arte desses dois locais, foi
realizada uma vasta procura em produções jornalísticas relacionadas à televisão digital e
que pudessem documentar e evolução da nova tecnologia nesses dois países. Devido à
semelhança com a falta de produções, optou-se nesse Relatório unir os dois em um
capítulo apenas.
Equador
Na divisão anual, igualmente às produções venezuelanas, a pesquisa no
Equador não apresentou resultados relativos ao século passado. No entanto, diferentes
5 https://www.zotero.org/groups/lecotec/items/collectionKey/Z9VT37IA
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
da Venezuela (o que poderá ser observado mais a diante neste relatório), as produções
equatorianas se mostram mais intensas a partir de 2005 e seguem, com pelo menos
uma produção anual até 2011. O pico de produção no ano passado se deve a resolução
e início da implantação da TDT no país. Antes disso houve preocupação em estudar
qual era melhor sistema, apresentando trabalhos acadêmicos sobre os sistemas DVB-T
e ATSC e a transição para o sistema nipo-brasileiro.
1995/2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
0 1 0 1 0 3 3 0 2 1 2 5 0
Entre 2005 e 2006, há estudos sobre possibilidade de implantação de quatro
padrões diferentes de TV Digital, seus benefícios e qualidades prioritárias de cada um
deles. Os estudos apresentam parâmetros técnicos e impactos sociais da implantação
no Equador de cada um dos tipos de padrões. Em caráter social, a maioria dos artigos
apresenta a capacidade educativa da interação do espectador como ponto bastante
relevante.
Ainda, há estudos que apontam custos para transição tecnológica em relação à
mudança de infraestrutura, transmissão e recepção. A bibliografia mostra que o custo
para montar uma nova emissora de TV digital é de cerca de um milhão e quinhentos
mil dólares. Já para a população o custo do aparelho fica entre 30 a 270 dólares, para
os decodificadores, e entre 550 a 4.500 dólares para uma televisão com decodificador
acoplado, sendo que os equatorianos se mostram mais receptivos pela compra dos
decodificadores. 6
A bibliografia levantada apresenta uma padronização. Até 2006, como dito, há
estudos técnicos e especulação do processo digital no país. A partir de 2009, ano da
escolha do padrão nipo-brasileiro, as pesquisas se viraram para interesses econômicos,
sociais e políticos, ressaltando a falta de legislação no setor. Já em 2011, as pesquisas
focam em questão de mobilidade e, sobretudo, de interatividade.
6 MERA, L. P. D, ESPÍN, D. A. G. Análisis del impacto técnico y económico de la implementación de
televisión digital en el distrito metropolitano de Quito. Escuela Politécnica Nacional, 2011.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Como o governo equatoriano ainda não definiu padrões de middleware, os
acadêmicos se preocuparam em estudar qual se mostra mais interessante e adequado
ao padrão nipo-brasileiro.
Venezuela
A comunidade acadêmica venezuelana apresenta poucos estudos sobre o tema
no país. Houve bastante dificuldade em encontrar trabalhos totalizando apenas seis
artigos.
Na divisão por anos, há um vazio de produções até 2001 quando se encontra o
primeiro trabalho sobre o tema. Somente de 2007 a 2010 que se encontram mais
trabalhos relacionados a este assunto, com pelo menos um por ano.
1995/2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
0 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0
Quanto ao conteúdo dos trabalhos há uma grande diversificação e, diferente do
apresentado no acervo equatoriano, apresenta poucos artigos técnicos. A bibliografia
venezuelana relacionada à TV Digital é voltada, sobretudo, para as áreas das ciências
sociais, com apenas um artigo de caráter técnico.
Um termo citado exclusivamente nesse no acervo venezuelano é economia
digital. Tal conceito enfatiza a possibilidade de novos mercados através das capacidades
criadas pelo padrão digital, sobretudo em relação à interatividade. Além da
possibilidade de se criarem novos produtos, podem surgir novas formas de compra
diretamente através da TV, como é feito atualmente por sites de compras.
Es decir, la llegada de las tecnologías de la información y de la
comunicación (TIC) ha hecho surgir, por ejemplo, una nueva economía,
lá economía digital, con nuevos modelos de negocios en los medios
digitales, así como también ha posibilitado el desarrollo de nuevos
medios, como es el caso de los celulares, los videojuegos en red, la
radio y la televisión digital. (CASTRO, 2009)
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
As características dessa economia digital foram apresentadas no informe sobre
Indústrias de Contenidos en Latinoamérica y Caribe (Cepal). Esse conceito engloba a
capacidade de conhecimento através da inclusão digital; a imediatez de transmissão de
informações entre lugares distantes; a digitalização dos meios; a virtualização das
atividades econômicas; a integração em rede, sobretudo pela internet; a convergência
das plataformas; e a inovação possível através da criação de novas plataformas e
possibilidades de usá-las (CASTRO, 2009).
Outro tema renitente no acervo venezuelano é uma nova plataforma educacional
através da TV digital. Como a educação venezuelana é ainda bastante deficiente, alguns
acadêmicos consideram o televisor como um meio de diminuir as necessidades
educativas no país. Nesta perspectiva, observa-se a capacidade interativa do meio digital
Outro ponto destacado aqui - e por muitos artigos equatorianos, como em
Márquez7, Santiago
8 e Concha
9 – é o melhor aproveitamento do espectro
eletromagnético com a compressão digital. Ainda as possibilidades de melhores sinais,
qualidade de imagem e som são bastante citadas de forma secundária.
Através dos artigos é possível perceber que mesmo a comunidade acadêmica
pouco foi abordado sobre o real andamento da implantação da TV digital na Venezuela.
Há uma divisão temática muito clara que acompanha a anual. Até 2007, – antes do
início dos estudos pelo governo e entidades particulares – os artigos apresentam apenas
especulações sobre as capacidades da TV digital na Venezuela, enfatizando as
qualidades e dificuldades que o quadro do país apresentava até então. A partir de 2007,
os artigos se mostram mais cientes do que é e quais são as características da
digitalização da TV.
Contudo, ainda se mostram bastante distantes dos meios práticos e da real
implantação do novo sistema no país. Somente em 2010, observasse um artigo que
7 MÁRQUEZ, H.S.G. Estudio de factibilidad para la implementación del servicio de televisión
ISDB-T (integrated services digital broadcasting - terrestrial) en el Ecuador. Projeto de
conclusão de curso em engenharia eletrônica e telecomunicações. Escuela Politécnica do
Ejército. Sangolqui, Equador. 2011. 8SANTIAGO, E.V.C. Estudio de factibilidad para la implementación del servicio de televisión ATSC. Projeto de conclusão de curso em engenharia eletrônica e telecomunicações. Escuela Politécnica do Ejército. Sangolqui, Equador. 2006. 9CONCHA, L.W.T. Estudio de factibilidad para la implementación del servicio de televisión DVB-
T (digital vídeo broadcasting – terrestrial) en el Ecuador. Projeto de conclusão de curso em
engenharia eletrônica. Escuela Politécnica do Ejército. Sangolqui, Equador. 2005.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
estudou a implantação em si e trace um panorama histórico e uma perspectiva de futuro
sobre como será a transmissão televisiva digital.
Paraguai e Bolívia
Assim como alguns dos trabalhos anteriores e mesmo na atual pesquisa na
América central feita por Pedro Santoro Zambom, a incessante procura por artigos
acadêmicos relacionados à televisão digital se mostrou inconclusiva em ambos os
países, para os quais não foi encontrado nenhum trabalho acadêmico.
As procuras por artigos se iniciaram com os principais acervos de trabalhos
acadêmicos como o Periódicos Capes10
, o Scientific Eletronic Library Online (Scielo)11
,
além do Google Acadêmico12
. Nesses principais acervos foram procuradas as palavras
chaves “TV Digital”, “Televisión Digital”, “ATSC”, “ISDB-T”, “DVB-TH”, “Apagón
Analógico”, bem como a combinação entre eles utilizando os termos “Paraguay”,
“Ecuador”, “Bolivia” e “Venezuela” em cada um deles em separado para dividir a
procura entre os países.
Terminada essa fase, sem êxito para Paraguai e Bolívia, a procura foi
direcionada para portais específicos em estudos latino-americanos e que deram
resultados relevantes em outras pesquisas sobre TV digital na América Latina como a
de Juliano Ferreira de Sousa (México, Colômbia e Costa Rica) e Raphael Rodrigues do
Nascimento (Uruguai, Cuba e Espanha), Patrícia Benetti Ikeda (Argentina) e Gabriela
Reis Cleto (Chile e Peru). A busca se voltou para o portal da Asociación
Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), dedicado o
desenvolvimento de materiais críticos para a produção, debate e divulgação em matéria
de comunicação na América Latina. Novamente, foram procuradas as palavras chaves
citadas acima sem encontrar trabalhos acadêmicos sobre Paraguai e Bolívia.
Desse modo, como foi dito no início desse tópico, embora exaustiva e com
vários pontos de procura, a pesquisa não trouxe resultados de artigos tanto no Paraguai
quanto na Bolívia acerca de TV digital.
10
http://www.periodicos.capes.gov.br/ 11
http://www.scielo.org/php/index.php 12
http://scholar.google.com.br/
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Esgotadas as possibilidades de mecanismos de procura e contato com
pesquisadores e universidades desses dois países, a pesquisa se voltou para a busca de
materiais jornalísticos nos sites das principais empresas de comunicação. Sabe-se, no
entanto, que a comunidade científica prioriza a utilização de materiais jornalísticos com
finalidade acadêmica, sobretudo para essa pesquisa. Contudo, devido à situação
apresentada de escassez de produções acadêmicas, após procura e contato em todos os
meios possíveis, o levantamento de material jornalístico se mostra importante na
apresentação de um panorama sobre o início das discussões, a escolha do modelo, a
implantação do sistema digital e a atual situação da TV digital em cada um dos países
desprovidos de material acadêmico.
Reconhecida essa necessidade, foram pesquisados os sites dos principais jornais
bem como o de jornais mais periféricos de ambos países, pois assim é possível se ter
uma visão mais fiel sobre o cenário de TV digital. Com essa bibliografia de material
jornalístico foram apresentados os dois panoramas seguintes.
Em relação ao Paraguai, foram pesquisados nove jornais os quais possuíam uma
vasta produção na internet, uma vez que a busca pelo meio físico se tornaria muito
trabalhosa e provavelmente tão inconclusiva quanto a procura por trabalhos acadêmicos.
Após a procura, foi observada a relevância de cada um dos materiais e cruzadas
as informações entre as matérias encontradas a fim de se conferir a veracidade dos
conteúdos. Dessa forma, apenas alguns dos periódicos foram usados como referência
para a produção do panorama paraguaio sobre TV digital no próximo tópico.
Já em relação à Bolívia, assim como aconteceu com a quantidade de
universidades, o número de jornais procurado foi maior, somando 21 sites jornalísticos
com conteúdo guardado na web e que possuem um mecanismo de busca.
Estados da Arte
Equador
O Equador aderiu à tecnologia nipo-brasileira no dia 26 de março de 2010,
quando Fabián Jaramillo, Superintendente de Telecomuniçoes, apresentou ao Conselho
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Nacional de Telecomunições (Conatel) a proposta de implantação desta tecnologia13
. As
faculdades do país foram as que se mostraram mais preocupadas em pesquisar o tema
Televisão Digital.
Para poder elegir el estándar adecuado para el Ecuador, la
Superintendencia de telecomunicaciones Supertel fue el organismo
que se encargó de realizar una investigación profunda sobre el tema,
realizando pruebas técnicas, analizando el impacto socioeconómico, la
cooperación internacional, aspectos políticos de integración regional e
regulatorios. Además la Supertel especificó los criterios que empleó
para la evaluación de estos distintos aspectos según el grado de
importancia subjetiva dada a cada uno de ellos. (TOLEDO, 2011)
Antes do início da digitalização, o Equador utilizava o sistema NTSC de
padrão analógico. O país passava, e ainda passa, por um problema de falta de espaço
disponíveis para novos canais e a mudança para o padrão digital se mostra necessária,
uma vez que otimiza a utilização do espectro eletromagnético. (SANTIAGO, 2006)
O governo equatoriano iniciou os estudos de implantação do novo modelo e
através do Conatel, conselho criado em 1995 para regulamentar o setor no país. Em
2006 o conselho montou o Grupo Técnico de Televisión Digital (GTTVD) - integrado
por representantes das operadoras de televisão do país, do Comando Conjunto de las
Fuerzas Armadas y Organismos Técnicos interessados no tema – para testar os
diferentes tipos de padrões disponíveis até então.14
Contudo, em outubro de 2007, uma reforma no Regulamento Geral na Lei de
Radiodifusão e Televisão, passou a responsabilidade para a Superintendência de
Telecomunicações (Supertel). Esse último órgão fez testes de cobertura, qualidade de
imagens, som e testes com equipamentos fixos e móveis de 20 de fevereiro a 10 de
Júlho de 2009, com aproximadamente cinco meses para a escolha dos padrões (ISDB-T,
DVB-T, ISDB-T Internacional, DTMB). O sistema americano ATSC, chegou a ser
cogitado, mas não testado, por conta da falta de mobilidade. (SANTIAGO, 2006)
Em 25 de março de 2010, o Conatel resolveu adotar o sistema ISDB-T nipo
brasileiro. No dia seguinte foi anunciada a escolha. O teste do padrão brasileiro SBTVD
13
TOLEDO, N. R. G. Análisis del transport stream para el estándar de televisión digital ISDB-TB. Escuela Politécnica Del Ejército, 2011. 14
MERA, L. P. D, ESPÍN, D. A. G. Análisis del impacto técnico y económico de la implementación de televisión digital en el distrito metropolitano de Quito. Escuela Politécnica Nacional, 2011.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
foi iniciado em 29/06/2009 e concluído em 10/07/2009. O Conatel realizou um teste de
transmissão móvel em 20 pontos de Quito e em uma unidade móvel.15
Os fatores decisivos para a escolha do padrão brasileiro foram os estudos e
provas técnicas; impacto socioeconômico, aqui considerando não somente os custos de
compras para as empresas de telecomunicações, mas também para os espectadores;
cooperação internacional, levando em conta os benefícios que o país obteria de fora com
a utilização de determinado padrão; e o desenvolvimento do padrão dentro do Equador.
Dos quatro sistemas em competição, o nipo-brasileiro se estabeleceu em
primeiro no ponto socioeconômico e em segundo nos demais de acordo com a tabela.16
O país pretende chegar ao apagão analógico em 2017, contudo ainda não tem
uma data oficial para o fim da transição. Um dos factores para o final da transição é a
capacidade econômica para a população adquirir os equipamentos necessários para a
transmissão digital. A Supertel estima um tempo de sete anos para isso.
De acordo com uma pesquisa da Escuela Politécnica Nacional realizada na
região metropolitana de Quito (MERA, ESPÍN, 2011), a população se encontra disposta
a fazer a mudança para o meio digital, contudo, há um grande desconhecimento sobre o
tema. Mesmo as pessoas que tenham ouvido, ao menos uma vez falar sobre televisão
15
TOLEDO, N. R. G. Análisis del transport stream para el estándar de televisión digital ISDB-TB. Escuela Politécnica Del Ejército, 2011. 16
Idem, p 25.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
digital, não sabem ao certo quais são os benefícios que ela pode trazer (MERA, ESPÍN,
2011).
Embora já se tenha começado o processo de digitalização, sendo que, seguindo
os modelos internacionais, as capitais das províncias e Quito já possuem transmissão
digital concomitante à analógica, ainda não houve mudanças na legislação para
telecomunicações que pudesse regulamentar a produção com essa nova tecnologia, de
forma que essas se equiparam legalmente às analógicas.
Venezuela
Através da história, é possível percebe que a Venezuela é um país de tradição
em telecomunicações. Basta perceber que iniciou a produção televisiva em 1953,
apenas três anos após a tecnologia ganhar força no EUA. Assim, o país se consolida
entre os nove primeiros a ter um serviço televisivo regular17
.
Nesse caminho ainda se segue o interesse político dos governos populistas
venezuelanos, atualmente representados pela política ditatorial de Hugo Chavez, os
quais sempre enxergaram nas telecomunicações uma forma de domínio político.
Contudo, em relação à tecnologia digital para a televisão, os venezuelanos se
mostram ainda em estágio bastante inicial e com passo curtos. Os fatores que
explicam esse atraso são, sobretudo, de ordem política e econômica, intimamente
ligados ao capital proveniente do petróleo.
“Al respecto, cabe señalar que el desarrollo de los medios masivos en la
Venezuela del presente es correlativo a la explotación comercial de los
hidrocarburos y especialmente a la presencia de la riqueza petrolera.
Pero también es importante acotar que los cambios que se han
producido en el “paisaje mediático” del país se han debido
fundamentalmente a los distintos vaivenes políticos que hemos vivido y
al contexto político que han emergido de esas transformaciones.”
(BISBAL, 2007)
A crise de 2009, justamente no ano em que o país decidiu qual padrão
implantará, derrubou o preço do petróleo e com ele os investimentos em
telecomunicações no país.
17
BISBAL, M. Los medios en Venezuela. ¿Dónde estamos? Espacio Abierto, outubro-dezembro, vol
16, n 04. PP 643-668. Maracaibo, Venezuela. 2007.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Vale ressaltar, no entanto, que o interesse pela modificação e estudo da
tecnologia digital também foram tardios. Embora em 2001 a comunidade acadêmica
venezuelana já discutisse TV digital, antes de 2007, nem o setor estatal (muitas das
empresas de comunicação são do Estado), nem o privado se mostraram interessados
na nova tecnologia. 18
Assim, somente em 2007 a Venezuela começa a caminhar para
a transmissão digital de televisão. Os primeiros testes para avaliação do desempenho
técnico dos padrões acontecem na capital Caracas, inicialmente apenas com dois
deles: o nipo-brasileiro (ISDB-Tb) e o europeu (DVB-TH).19
Na bibliografia, há uma análise sobre o segundo padrão, bem como a
possibilidade de implantação na Venezuela. Outro padrão bastante estudado na
bibliografia foi o americano (ATSC), rejeitado antes da fase de teste pelo governo
venezuelano. Baseado nos interesses esquerdistas bolivarianos do governo Chávez, já
era de se imaginar essa atitude de rejeição ao sistema norte-americano, em vista das
trocas de ameaças e farpas durante os últimos anos entre os dois governos.
No ano seguinte, foi incluído o padrão chinês DTMB nos testes.20
Assim, em
outubro de 2009, a Venezuela escolheu a norma ISDB-T21
para televisão digital
terrestre, sendo o quinto país sul-americano a escolher essa tecnologia.
Apesar de passados cinco anos desde o início dos estudos para implantação da
televisão digital na Venezuela e três da escolha do sistema nipo-brasileiro, a transição
ainda caminha a passos bastante lentos, sendo que somente, no ano passado, na capital
Caracas, foi iniciada a primeira transmissão digital aberta. Nesse quadro, o Conselho
Nacional de Telecomunicações marca para 2021 - ou seja, dez anos - o apagão
analógico no país.
Paraguai
A discussão sobre TV digital no Paraguai se inicia em 2007 quando a Comissão
Europeia envia proposta ao governo paraguaio para a adoção do sistema DVB,
18
Idem. 19
UZCÁTEGUI, J. R., TORRES J. F., GARCÍA, N. P., DUQUE, L., BRUZUAL, Z. Directrices para
la elaboración de un plan para la migración a Televisión Digital Terrestre en Venezuela.
Telematique, vol. 9, núm. 2, maio-agosto, pp 1-11. Zulia, Venezuela. 2010. 20
Idem. 21
Ibdem
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
tornando-se assim o primeiro a apresentar a tecnologia oficialmente ao país.22
Já em
cinco de dezembro de 2008, o governo japonês apresentou o padrão de TV digital nipo-
brasileiro ao presidente da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) -
responsável pela escolha, implantação e fomento da TV digital no país –, Jorge Seall, e
propôs uma cooperação técnica e financeira com o governo paraguaio, que incluem
treinamento e capacitação de técnicos para a transição dos sistemas do digital ao
analógico, além de fornecimento de especialistas para fomentar o conhecimento em TV
digital no Paraguai.
Na questão econômica, o Japão garantiu ajuda financeira e linhas de crédito para
as empresas que se interessaram em fazer a mudança de sistema. Entre as qualidades do
padrão ISDB-T, o diretor da Divisão Econômica Internacional japonesa, Eiji
Makiguchi, enfatizou aos paraguaios a qualidade da transmissão móvel, sobretudo para
utilização em celulares.23
“El estándar japonés-brasileño, además, ofrece servicios de
interactividad que permiten al usuario con un monitor fijo o móvil
realizar compras; extracciones, depósitos bancarios; utilizar como ticket
para pasajes y reservas para restaurantes, entre otros.” (ULTIMA
HORA, 2011)
Dois anos depois, em abril, uma comitiva integrada pelo diretor de Planificação
Tecnológica do Ministério da Comunicação do Japão, Yasushi Furokawa, e pela
diretora da NHK TV Pública, Keika Motohashi, levou uma proposta de criação de uma
emissora pública paraguaia de TV digital que seria apresentada oficialmente até 2011,
funcionando como televisão experimental para a inserção da tecnologia digital no país e
uma espécie de show room para as outras emissoras.24
Contudo, somente em primeiro de junho de 2010 o presidente Fernando Lugo
assinou o decreto 4.483, oficializando, assim, a adoção do sistema ISDB-T (nipo–
brasileiro) após analise da Conatel, tornando o Paraguai o sétimo país a adotar o sistema
22
Paraguay inicia el debate sobre la televisión digital. Disponível em
http://www.ultimahora.com/notas/74305-Paraguay-inicia-el-debate-sobre-la-television-digital. Acesso em
13/12/2011 23
Japón propone a Paraguay adoptar su estándar de televisión digital. Disponível em
http://www.ultimahora.com/notas/177200-Japon-propone-a-Paraguay-adoptar-su-estandar-de-
television-digital. Acesso em 13/12/2011. 24
Televisión digital: Paraguay recibe promotores de sistema japonés-brasileño. Disponível
em: http://www.ultimahora.com/notas/311672-Television-digital:-Paraguay-recibe-promotores-
de-sistema-japones-brasileno. Acesso em 13/12/2011.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
na América do Sul. Assim como Argentina, Chile, Venezuela, Equador e o Brasil. Os
paraguaios nem mesmo chegaram a cogitar a utilização do padrão ATSC norte-
americano, pela falta de qualidade no sinal móvel. A Conatel justifica a escolha do
padrão ISDB-T pelas vantagens econômicas e políticas advindas de acordos com Japão
e Brasil e por ser a escolha da maioria dos países da América Latina, possibilitando,
assim, negociações paralelas.25
Embora, escolhido padrão, cinco meses depois do
anúncio ainda não havia data definida para o início das transmissões. Em 16 de
novembro de 2010 o diretor da Conatel afirmou que ainda não havia uma data definida
para a chegada do sinal digital, pois as normas técnicas, a estrutura regulatória e outros
fatores ainda precisavam ser definidos.26
Somente passados nove meses após a adoção do sistema ISDB-T, o governo
paraguaio inicia a primeira transmissão digital em caráter experimental. Em 21 de
março de 2011, no Palacio de López, durante a reunião do conselho de ministros, onde
foram instalados televisores e disponibilizados celulares, ambos com captação de sinal
digital, foi realizado o primeiro teste de transmissão digital.27
El ministro de Comunicación, Augusto dos Santos, aclaró que se trata
de "la primera emisión de señal digital en la historia de Paraguay por
aire, todavía no estamos hablando de la televisión pública" (ULTIMA
HORA, 2011)
A transmissão digital só viria a se tornar pública em agosto do mesmo ano. No
dia 15, a TV Pública Pagraguay começou a transmissão de sinal digital no canal 15, o
que configura o início da TV digital no país, com uma capacidade de sinal para um raio
de 25 km partindo o centro da capital Assunção. A TV Pública Paraguay, contudo,
continua com sua transmissão analógica no canal 14, em fase de transição.28
25
Paraguay adopta la norma de televisión digital japonesa- brasileña. Disponível em:
http://www.ultimahora.com/notas/326947-Paraguay-adopta-la-norma-de-television-digital-
japonesa--brasilena. Acesso em 13/12/2011. 26
Conatel aún no maneja fechas para que la televisión digital llegue a canales paraguayos.
Disponível em: http://www.ultimahora.com/notas/378222-Conatel-aun-no-maneja-fechas-para-
que-la-television-digital-llegue-a-canales-paraguayos. Acesso em 13/12/2011. 27Paraguay realiza su primera transmisión experimental de TV Digital en la Sicom. Disponível em: http://www.ultimahora.com/notas/410502-Paraguay-realiza-su-primera-transmision-experimental-de-TV-
Digital-en-la-Sicom. Acesso em 13/12/2011. 28
TV Pública comienza a emitir señal e inaugura era digital de aire. Disponível em:
http://www.ultimahora.com/notas/454054-TV-Publica-comienza-a-emitir-senal-e-inaugura-era-digital-de-
aire. Acesso em 13/12/2011.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
No entanto, no final do mesmo ano, surgem problemas políticos relacionados à
transmissão digital. Em 24 de novembro, as operadoras dos canais de TV aberta
questionaram a Conatel sobre o regulamento para a implantação da TV digital
afirmando que o tempo para a transição, regulada pela Conatel para 2022, é muito curto,
já que as empresas possuem pouco capital para a mudança e pretendem fazer de forma
lenta. Os membros da Câmara de Teledifusoras do Paraguai afirmam que, na aprovação
da norma, não foram levadas em conta suas opiniões.29
A polêmica em torno da regulamentação sobre TV digital chega ao governo no
mês seguinte. No dia 16 de dezembro, a Câmara de Teledifusoras do Paraguai pediu
explicações na Câmara dos Deputados sobre os acordos com Japão e Brasil, mostrando-
se preocupada com a implantação da nova tecnologia.
Los legisladores piden informes y documentos sobre la formalización
de la asistencia técnica y la cooperación de los Gobiernos del Brasil y
Japón en el proceso de digitalización. Ambos países a principios de año
hicieron un fuerte cabildeo para lograr que Paraguay eligiera la norma
japonesa y dejara la norma europea de digitalización. (ÚLTIMA
HORA, 2011)
Assim, Eduardo Gross Brown, presidente da Câmara de Teledifusoras,
questionou que os custos do processo de digitalização são muito altos e pediu a
renovação automática das licenças para utilização do espectro eletromagnético como
demonstração de apoio do governo.30
Em 14 de janeiro de 2012, o ministro de Planificação da Argentina, De Vido, se
encontrou com Fernando Lugo para oferecer ajuda na implantação do projeto de TV
digital paraguaio, ressaltando que os técnicos argentinos podem ajudar as autoridades
paraguaias com detalhes do plano que levou a argentina a ter 70% de seu território com
cobertura digital. Ainda o governo argentino propôs a instalação de empresas argentinas
para a produção de decodificadores no Paraguai. Ambas as propostas ainda estão em
estudo pelo governo de Lugo. 31
Bolívia
29
Canales de TV cuestionan reglamento de la Conatel. Disponível em:
http://www.abc.com.py/nota/canales-de-tv-cuestionan-reglamento-de-la-conatel/. Acesso em 20/12/2011. 30
Idem. 31
Hablan de pactos sellados y TV digital. http://www.abc.com.py/nota/hablan-de-pactos-sellados-y-tv-digital/ Acesso em 20/12/2011.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
O primeiro debate sobre TV digital na Bolívia se inicia em 22 de novembro de
2007, na Primeira Jornada Boliviana “Hacia la Tv Digital”, para apresentação e
conhecimentos técnicos, de normas internacionais e implicações sociais, educativas,
econômicas e legais para a implantação da TV digital, organizado pela Superintendência
de Telecomunicações (Sittel) órgão responsável pelo setor na Bolívia.32
Com um abismo de dois anos sem discussões sobre o tema, somente em de julho
de 2009, o governo boliviano prepara um seminário para apresentação dos padrões de
TV digital existentes, a fim de avançar com o Plano Nacional de Televisión Digital, o
qual pretende não somente implantar a nova tecnologia em solo boliviano como
aperfeiçoar a utilização do espectro eletromagnético e democratizar a produção
televisiva, sobretudo para os povos indígenas do país.33
Nesse mesmo seminário, o governo Japonês forneceu apoio à Bolívia para a
transição com equipamentos mais baratos, disponibilidade de técnicos e conhecimentos
sobre a implantação do sistema no Japão. 34
Com forte pressão japonesa, dois anos depois, o estado boliviano e o governo do
Japão firmaram um acordo para a implantação da TV digital na Bolívia, oficializando a
escolha do padrão ISDB-T, em 21 de julho de 2010, sendo o nono país a adotar esse
padrão. O ministro de Obras Públicas, Walter Delgadillo, explicou que após a análise
dos testes com os quatro padrões (europeu, americano, nipo-brasileiro e chinês), o
governo escolheu o nipo-brasileiro por ser uma tendência latino-americana e acreditar
que o sistema seja o melhor para países em desenvolvimento.35
O plano de transição para sinal digital acordado entre os dois países previa o
início para 2011 – em fase de testes apenas - e teria duração de 10 anos (após a
assinatura do acordo), com o prazo para apagão analógico em 2020. Contudo, assim
como na Venezuela, o prazo de dez anos causou contradições entre o governo e as
empresas de telecomunicações. O diretor executivo da Autoridade de Fiscalização e
32
TV Digital incursiona en Bolivia. Disponível em: http://www.eldiario.net/noticias/2007/2007_11/nt071122/3_02ecn.php. Acesso em 04/11/2011. 33
Avanzan en proyecto para implementar TV digital. Disponível em: http://www.lostiempos.com/diario/actualidad/economia/20090728/avanzan-en-proyecto-para-implementar-tv-digital_27852_44125.html. Acesso em 04/11/2011. 34
Bolivia recibirá apoyo de Japón para implementar tecnologías. Disponível em: http://www.eldiario.net/noticias/2009/2009_07/nt090730/3_03ecn.php. Acesso em 04/11/2011. 35
Bolivia recibirá apoyo de Japón para implementar tecnologías. Disponível em: http://www.lostiempos.com/diario/actualidad/nacional/20100720/presidente-en-diez-anos-bolivia-accedera-a-la-television_81294_154175.html. Acesso em 06/11/2011.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Controle Social de Telecomunicações e Transportes (ATT), Mario Sapiencia, enfatizou
que a necessidade de implementar equipamentos, treinar profissionais e compra de
tecnologia, segundo cálculos da ATT, forçaria a Bolívia em datar o apagão analógico
para 2025. Mesmo assim, o presidente Evo Morales firmou o apagão analógico para 10
anos. O mesmo acordo previa que o início da transição aconteceria no canal estatal
Bolívia TV.36
O início da transmissão para o público foi datado apenas para 2012. 37
Nesse mesmo mês de julho a classe acadêmica se manifesta, afirmando que o
sistema chegou ao país com nove anos de atraso, uma vez que o Japão começou as
transmissões em 2003, o Brasil adotou o sistema em 2006 e, em 2009, Argentina, Chile,
Venezuela, Equador, Costa Rica e Paraguai já tinham escolhido seu padrão, segundo o
chefe do curso de Engenharia de Telecomunicações da Universidad Simón I Patiño,
Iván Aguirre.38
O diretor de Telecomunicações, Gustavo Pozo, afirmou, em abril de 2011, que o
país terá que conviver com os sistemas analógico e digital ao mesmo tempo até que esta
segunda tecnologia seja universalizada. Nessa ocasião, o diretor afirmou que os
primeiros testes seriam realizados em junho do mesmo ano com ajuda de técnicos
japoneses e que o middleware utilizado seria o brasileiro “ginga”, uma vez que se
adapta melhor ao padrão ISDB-T. Ainda levantou que a popularização do sistema só
acontecerá com a queda do preço dos conversores, assim, o governo boliviano
subsidiaria a produção dos aparelhos para facilitar a adoção pelos consumidores.39
Apesar da estimativa do direto de Telecomunicações, somente em novembro,
aconteceu a primeira transmissão digital experimental durante o Seminário
Internacional sobre Televisão Digital na Bolívia. A Bolívia ainda não possui um canal
aberto com a nova tecnologia para a população. 40
36
Bolivia da otro paso más hacia la TV digital. Disponível em: http://www.lostiempos.com/diario/actualidad/economia/20100721/bolivia-da-otro-paso-mas-hacia-la-tv-digital_81448_154483.html. Acesso em 06/11/2011. 37
Bolivia ingresará a la era de televisión digital en 2012c. Disponível em: http://www.eldiario.net/noticias/2010/2010_07/nt100721/3_01ecn.php. Acesso em 07/11/2011. 38
Sistema llegará con 9 años de atraso. Disponível em: http://www.lostiempos.com/diario/actualidad/economia/20100718/sistema-llegara-con-9-anos-de-atraso_80908_153387.html. Acesso em 06/11/2011. 39
Televisión digital deberá convivir con la analógica hasta completarse reconversión. Disponível em: http://www.lapatriaenlinea.com/index.php?t=television-digital-debera-convivir-con-la-analogica-hasta-completarse¬a=64528. Acesso em 09/11/2011. 40
Primeras señales en televisión digital en el Canal 16 de Bolivia TV. Disponível em: http://www.bolivia.com/noticias/autonoticias/DetalleNoticia46218.asp. Acesso em 15/12/2011.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Conclusão
A partir do levantamento bibliográfico dos quatro países estudados é possível
sucitar diversas semelhanças no estudo e implantação da TV digital. Apesar de certa
defasagem de tempo, percebe-se que foram semelhantes os motivos que levaram os
países a escolherem o sistema nipo-brasileiro preterindo os demais. A melhor
capacidade de captação de sinais digitais através de celulares vinculada ao sistema
ISDB-T levou os governos a acreditarem na possibilidade de inclusão digital através
dos telefones portáteis, mais versáteis e baratos que os televisores. Soma-se a isso a
pressão do governo japonês na América Latina com uma grande oferta de subsídios,
equipamentos e pessoal especializado para o processo de digitalização. Ainda, a junção
da tecnologia brasileira, ou seja, de um país próximo e semelhante culturalmente,
estimulou não somente os quatro países estudados, mas vários outros latino-americanos
a trilhar pelo mesmo caminho.
Outra questão recorrente nos textos estudados para os países da pesquisa são os
motivos que incentivaram os governos à mudança de padrão de transmissão televisiva.
Não raro, foram levantadas questões sobre a possibilidade educativa da televisão a partir
da capacidade de interatividade do sistema digital, como forma de amenizar as falhas o
déficit do ensino nesses países.
Somado a esse fator, surge como ponto a favor do sistema digital a capacidade
de melhor aproveitamento do espectro eletromagnético através da compactação dos
dados, permitindo assim que um sinal de melhor qualidade chegue a pontos distantes e
populações rurais, qualidade destacada, sobretudo, para os países andinos como
Equador, Colômbia e Bolívia.
O Equador se mostrou o país com maior conhecimento acadêmico em TV
digital, sobretudo nas áreas de engenharia, o que deve garantir certa independência de
conhecimentos, estudos e pessoal capacitado que os outros países. O país se mostrou o
mais interessado no estudo da TV digital em nível acadêmico, apresentando o maior
número de trabalhos. De 2006 a 2010, ano da escolha do padrão nipo-brasileiro, a classe
acadêmica se pôs a pesquisas o principais padrões existentes considerando as qualidades
e desvantagens de cada um, além da necessidade econômica de implantação.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Entretanto, não somente a comunidade acadêmica, mas também o governo
equatoriano procurou estudar os quatro padrões antes da escolha, com uma divisão
política bem definida responsável pelos estudos, baseada na Conatel e Supertel.
A Venezuela, por sua vez, possui uma política de comunicação em poder estatal
que se mostra interessado na digitalização. No entanto, como a economia do país gira
em torno do petróleo, é de se esperar que a evolução da implantação do sistema digital
acompanhe a valorização da commodity no mercado. Sendo, assim, a crise de 2009
atrasou os estudos e intenções políticas para a implantação de TV digital no governo
Chavez. Aqui, talvez mais que no Equador, as discussões sobre transição digital-
analógica assumem um caráter mais político que social.
Na contramão, a área acadêmica venezuelana disserta, na maioria dos artigos e
trabalhos, sobre o caráter social e de capacidade de democratização da informação
através da TV digital, tendo em vista novamente que o Estado detém o poder sobre a
comunicação no país. Embora com uma modesta produção acadêmica sobre o tema na
Venezuela, os autores apostam na bilateralidade da comunicação entre produtor e
receptor através da interatividade como forma de diminuir a hegemonia estatal.
Já as comunidades acadêmicas de Paraguai e Bolívia se mostraram
desinteressados em estudar a implantação da tecnologia digital na telecomunicação de
seus países, uma vez que a busca não retornaram nenhum artigo sobre o tema. Contudo,
ambos os países estão em processo de digitalização, sendo que o Paraguai é mais veloz
na transição que a Bolívia, visto que em Assunção já há transmissão digital em parte da
cidade e os bolivianos esperam começar a transmissão até o final desse ano. Uma
semelhança entre os dois últimos países é a discussão em torno do prazo para o apagão
analógico, fixado em dez anos por ambos os governos. Tendo em vista que a transição
analógico-digital em ambos caminha a passos lentos, é provável que a capacidade
econômica, de infraestrutura e de transmissão digital não permita aos meios de
comunicação suprir a demanda necessária para o switch off que respeite o prazo
estipulado pelos governos.
11. REFERÊNCIAS
AGUIRRE, M. I. H. Estado del arte, generación y uso sobre Televisión Digital
Terrestre (TDT) en Colombia. Revista Razón y Palabra, ISSN: 1605-4806, v 70.
Colômbia, 2009. pgs 2-15.
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
AKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. São
Paulo: Atlas, 2001.
ALBERT, A. P. La televisión pública en la era digital. Madrid: Fundación
Alternativas, 2003.
ALCÁZAR, M. P. Las telecomunicaciones en Venezuela: el caso de Internet y los
nuevos mapas de consumo. Revista Latina de comunicación social, , Nº. 18,
ISSN 1138-5820,Venezuela: 1999.
BISBAL, M. Los medios en Venezuela. ¿Dónde estamos?. Espacio Abierto, Vol
16, No 4 ISSN: 1315-0006. Universidad del Zulia. Venezuela: 2007.
CARVALHO, J. M.; FREITAS, F; IKEDA, P.; SILVA, M. Televisão Digital no
Brasil: notas para um debate regulatório. In: Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação, XXXI, 2008, Natal.
CARVALHO, J.M ; IKEDA, P. B.; CLETO, G. E. R.. A poderosa plataforma para
Inclusão Social: um olhar sobre políticas públicas na implantação da televisão
digital. In: 2º Simpósio de Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã (Lecotec),
Bauru, 2009.
CARVALHO, J. M.; XAVIER, R.; CLETO, G. E.; IKEDA, P. B. Implantação da
Televisão Digital no Peru e no Chile. In: Celacom 2010 - XIV Colóquio Internacional
sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação. Universidade Metodista de São
Paulo. SP, 2010.
CEPEDA, D. A.. La introducción de la televisión Digital Terrestre en México. Mesa
de Trabajo de Indústrias Culturales y de la Información. VI ULEP-ICC , Universidad
Autônoma do México, 2007.
GARCÍA, R. U.. Televisión Digital Terrestre: Modelos de negocio en el mercado
Europeo. Global Midia Jounal, vol. 4, nº 08, Instituto Tecnológico y de Estudo de
Monterrey. México: 2007.
HERREROS, M. C. Nuevas modalidades de televisión. Revista Tecnología y
Comunicación Educativas, nº 42-43. Distrito Federal, México, 2006.
HUNG, E. S. Estado actual y perspectiva de la televisión digital en Venezuela.
Contratexto Digital. Año 5, N° 6. ISSN: 1993-4904. Universidad de Lima. Peru: 2006.
MERA, L. P. D, ESPÍN, D. A. G. Análisis del impacto técnico y económico de la
implementación de televisión digital en el distrito metropolitano de Quito. Escuela
Politécnica Nacional, 2011.
TOLEDO, N. R. G. Análisis del transport stream para el estándar de televisión
digital ISDB-TB. Escuela Politécnica Del Ejército, 2011.
UZCÁTEGUI, J. R., TORRES J. F., GARCÍA, N. P., DUQUE, L., BRUZUAL, Z.
Directrices para la elaboración de un plan para la migración a Televisión Digital
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
Terrestre en Venezuela. Telematique, vol. 9, núm. 2, maio-agosto, pp 1-11. Zulia,
Venezuela. 2010.
ZAMBON, P. S.. Importância e desafios da implementação do Acervo Ibero-
americano de TV Digital. In: GT4 – Produção de conteúdos educativos, de
Convergência, Novos Comportamentos, Comunicação e Cultura. Congresso
Panamericano de Comunicação. Brasilia, 2010.