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3 resíduos relativos a industrialização da uva - UFRGS

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0 A SUSTENTABILIDADE DA VITIVINICULTURA ATRAVÉS DE SEUS PRÓPRIOS RESÍDUOS THE USAGE OF GRAPE RESIDUES FOR A SUSTAINABLE WINE CULTURE AUTOR – FERRARI, Valdecir. (Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul – Campus Universitário da Região dos vinhedos – Bento Gonçalves – RS) ORIENTADOR – Prof. Dr. José Carlos Köche Bento Gonçalves, 2010
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A SUSTENTABILIDADE DA VITIVINICULTURA ATRAVÉS DE

SEUS PRÓPRIOS RESÍDUOS

THE USAGE OF GRAPE RESIDUES FOR A SUSTAINABLE WINE

CULTURE

AUTOR – FERRARI, Valdecir. (Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul – Campus Universitário da Região dos vinhedos – Bento Gonçalves –

RS)

ORIENTADOR – Prof. Dr. José Carlos Köche

Bento Gonçalves, 2010

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RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de estudar a uva in natura e seus resíduos pós-

processo de vinificação, buscando informações quanto aos nutrientes obtidos e a

presença de metais pesados em cada etapa do processamento da fruta.

Com este estudo será possível definir, o quanto de nutrientes poderemos devolver

ao sistema de produção de uva através da compostagem e também checar a

qualidade do produto quanto a contaminantes. Além disso, será verificada a

viabilidade da produção de fertilizantes com os resíduos da própria uva.

Os trabalhos mais recentes nesta área foram feitos e publicados por CATALUÑA,

(1984) e GOBBATO, (1942), no entanto nenhum deles aborda diretamente os

nutrientes e os contaminantes, dados essenciais para compreender a eficiência da

compostagem como método de produção sustentável.

Palavras-chave: Uva, Mosto de Uva, Borra Filtrante, Resíduos, Bagaço, Engaço

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ABSTRACT

The present article considers the grape in its in natura format and its

residues after the vinification process, trying to understand the nutrition

facts obtained and the presence of metal substances in every processing

stage of the fruit.

The study will verify the amount of nutrients that is possible to keep in the

wine production process using the compostagem method, and also verify

the pureness of the product by detecting the contaminant substances.

Besides that, the study intends to check the viability of using the grape

residues from the vinification process to produce fertilizers.

The most recent studies in this area were done and published by

CATALUÑA, (1984) and GOBBATO, (1942). However, none of them

speak directly about the nutrients and the contaminant substances, both

essential facts to understand the eficiency of the compostagem as a

sustainable production method.

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INTRODUÇÃO

Na sociedade atual fala-se em sustentabilidade, porém entre a conversa e a

prática existe uma lacuna muito grande. Este trabalho visa buscar dados bem

simples, dados estes que apontem para a viabilidade sustentável da cultura da uva

em termos de reposição de nutrientes e matéria orgânica através da compostagem

de seus próprios resíduos.

Os dados produzidos especificamente na uva no Brasil avaliando a produção,

a composição da uva como tal e seus produtos e subprodutos foi realizada em 1942

por Celeste Gobatto. As tecnologias avançaram e hoje estudos sobre

sustentabilidade da uva como um todo não são produzidos, foca-se outras

pesquisas e deixa-se esta questão em mera poesia.

Com uma visão bem pratica este trabalho resgata os estudos feitos no

passado e agrega estudos realizados no trabalho que avaliam a uva in natura, seu

suco bruto, o suco limpo, o bagaço e engaço, além dos outros resíduos filtrados,

quantificando nutrientes e contaminantes em cada etapa do processo de produção.

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1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

RESÍDUOS RELATIVOS À INDUSTRIALIZAÇÃO DA UVA

1.1 Conceito de resíduo

Resíduo é todo material descartado, individual ou coletivamente, pela ação

humana, animal ou por fenômenos naturais, que seja nocivo à saúde, ao meio

ambiente e, ao bem-estar da população.

A legislação brasileira através do Decreto nº 98.816/90, conceitua resíduo

como “toda substância ou mistura de substâncias remanescentes ou existentes em

alimentos ou no meio ambiente, decorrente do uso ou não de agrotóxicos e afins,

inclusive qualquer derivado específico, tais como produtos de conversão e de

degradação, metabólitos, produtos de reação e impurezas, considerados

toxicológica e ambientalmente importantes”.

No processo de industrialização da uva são gerados restos, a estas sobras

denominam-se tecnicamente como resíduos. Eles podem ser sólidos ou líquidos.

Assim todos os materiais sólidos ou semi-sólidos que não têm utilidade, nem

valor funcional ou estético para o gerador e são originados em residências,

indústrias, comércio, instituições, hospitais e logradouros públicos, constituem

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resíduos, indesejados ou descartados, cuja composição ou quantidade de líquido

não permite que se escoe livremente.

Tecnicamente, a NBR nº 10.004 da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT) define como resíduos “todo material nos estados sólido e semi-

sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,

comercial, agrícola, de serviços e de varrição”. Ainda, segundo a Resolução

CONAMA nº 5, de 5 de agosto de 1993, ficam incluídos nesta definição os lodos

provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em

equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados

líquidos cujas peculiaridades tornem inviável seu lançamento na rede pública de

esgotos ou corpos d’água.

1.2 Resíduos sólidos da uva

Os resíduos sólidos da uva processada industrialmente e que podem ter

algum interesse econômico potencial são o engaço, o bagaço,sementes, material

filtrado dos líquidos e outros.

O engaço é formado pela armação do cacho da uva que suporta o fruto.

Contém grande concentração de tanino, que se mastigado possui um sabor áspero

e adstringente. É conveniente que o tanino não se incorpore ao vinho, devendo

desengaçar a uva antes de ser bombeada às tinas de fermentação. O engaço

representa de 3% a 7% do peso total do cacho. (CATALUÑA, 1984, p.40).

Segundo Celeste Gobbato (1942, p. 50), em geral sobre 100 partes de

engaço se encontram:

de 50 a 80 partes de água;

de 15 a 41 partes de substâncias lenhosas;

de 0,8 a 2,5 partes de tanino;

de 0,9 a 1,6 partes de flobafena ou anidrido do tanino;

de 0,5 a 1,2 partes de ácidos livres expressos em ácido tartárico;

de 0,7 a 1,6 partes de cremor de tártaro; e

de 0,8 a 3,4 partes de substâncias minerais.

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O bagaço é constituído pela película, as sementes e os restos da polpa da

uva, sendo o resultado do esmagamento do grão através de um processo de

separação do suco ou mosto. Em condições normais, o bagaço equivale a 15% do

peso do grão (CATALUÑA, 1984, p.40).

A composição química do bagaço de uva, dependendo da intensidade da

prensagem sofrida no processo industrial, é mostrada na (Tabela 1), segundo

análises de Muentz e Degrully.

Tabela 1

Composição do bagaço de uva, em diversas condições de prensagem,

segundo Muentz e Degrully.

Componentes

Segundo Muentz Segundo Degrully Prensagem

natural Prensagem

total Prensada Não

Prensada Água e vinho

Matéria nitrogenada

Matéria graxa

Matéria extrativa

Celulose (lenhosa)

Cinzas

Álcool

57,20%

4,28%

1,01%

19,06%

8,13%

-

6,50%

63,70%

4,16%

1,00%

17,86%

8,13%

-

traços

70,00%

3,35%

2,36%

17,45%

4,06

2,93%

-

70,00%

2,92%

3,28%

16,30%

4,65%

2,76%

-

1.3 Outros resíduos da indústria vinícola

Os materiais utilizados na filtragem compreendem as sílicas e os filtros de papel

ou rochas de origem vulcânica com baixíssima densidade, utilizados para filtrar e

beneficiar o vinho ou sucos, além de utilizarem o método de decantação e

centrifugação.

Outros resíduos sólidos são as borras e o sarro. A borra se origina no fundo das

pipas, é denso e proveniente dos processos de depuração do vinho armazenado. Já

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o sarro ou tártaro é sólido e se deposita nas paredes dos recipientes (pipas) usados

para envelhecer o vinho. Os resíduos líquidos resultam das lavagens e dos

derramamentos de matéria-prima. Estes devem ser tratados, através do tratamento

de efluentes nas cantinas.

1.4 Definição econômica dos resíduos

Os resíduos da industrialização da uva, se bem trabalhados podem se tornar

matérias-primas para outras atividades, como por exemplo a compostagem para uso

agrícola ou similar. Uma vez compostado, torna-se um bem econômico, isto é, um

produto comercial lucrativo, e então, serve de auxílio no custeio dos tratamentos

recomendados.

1.5 Definição técnica dos resíduos

Técnicamente os resíduos sólidos do processo de industrialização da uva,

quando mal dispostos são agressivos ao meio ambiente. Tais resíduos liberam

quantidades significativas de efluentes líquidos, quando dispostos no solo.

Este líquido contém alto teor de nutrientes, matéria orgânica e outros elementos

que, podem alterar o meio, principalmente de arroios e fontes, causando a morte de

seres aquáticos. No entanto, se bem utilizados podem constituírem-se em matéria-

prima para outras finalidades.

1.6 A produção de uvas no Brasil.

A produção de uvas no Brasil desenvolve-se nas regiões Sul, Sudeste e

Nordeste, com destaque para o Rio Grande do Sul que detém aproximadamente

70% da produção total e da área cultivada. A produção gaúcha se destina

principalmente à vinificação (cerca de 90% do total nacional de uvas vinificadas e

83% da área plantada para esta finalidade).

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Para as uvas de mesa o destaque pertence ao Estado de São Paulo, onde

se localiza dois terços da produção e cerca de 60% da área cultivada para este fim.

A vitivinicultura é uma atividade de grande importância econômica e social

sobretudo na Encosta Superior da Serra do Nordeste gaúcho, onde se destacam

como municípios maiores produtores Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Garibaldi,

Farroupilha, Caxias do Sul, Antonio Prado, São Marcos, Cotiporã, Nova Roma do

Sul, Veranópolis, Carlos Barbosa, Fagundes Varela e Vila Flores.

A uva é produzida pela videira (parreira) – botanicamente classificada como

Vitis spp -, e hoje mais de 10.000 variedades são conhecidas no mundo. Destas

mais de uma centena delas são cultivadas no Rio Grande do Sul. É uma planta que

se encontrada em todos os continentes, principalmente em climas temperados,

porém o Brasil, através das pesquisas, tem desenvolvido o seu cultivo na região

nordeste (clima tropical), com variedades próprias para climas quentes.

1.7 A produção de uvas Garibaldi, Bento Gonçalves e no Rio Grande do Sul.

Nos municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi e no estado, segundo

dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) foram produzidas e

processadas na safra 2004, as quantidades de uva mostradas na Tabela 2.

Tabela 2

Produção de uva e, quantidade industrializada em toneladas – Safra 2004

DISCRIMINAÇÃO PRODUÇÃO

(toneladas)

INDUSTRIALIZAÇÃO

(toneladas)

BENTO GONÇALVES 117.250 192.921

GARIBALDI 43.893 43.927

TOTAL DOS DOIS MUNICIPIOS 161.143 236.848

RIO GRANDE DO SUL 578.744 578.755

Fonte: IBRAVIN, 2005.

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1.8 As análises realizadas na safra 2010 com uvas viníferas industrializadas.

O objetivo desta pesquisa é de levantar dados como foco na produção de

fertilizantes com os resíduos da industrialização da uva. As análises apresentadas

nas (Tabelas 3; 4; 5; 6; 7; 8 e 9) trazem informações técnicas sobre nutrientes e

possíveis contaminantes químicos, controlados pelo Ministério da Agricultura em

fertilizantes, substratos e condicionadores de solo.

As análises foram realizadas com uvas industrializadas pela empresa MOET

HENNESSY DO BRASIL-VINHOS E DESTILADOS LTDA. Foi amostrado as

variedades Riesling Itálico e Trebbiano, na proporção de 83% da primeira e 17% da

segunda. Estas variedades representam aproximadamente 30% da uva

industrializada pela empresa.

Tabela 3. Dados de volumes de uva e seus derivados

DADOS GERAIS

DESCRIÇÃO UNIDADE QUANTIDADE PERCENTUAL

Uva Riesling Itálico Kg. 16271 83%

Uva Trebbiano Kg. 3332 17%

Total de Uva Kg 19603 100%

DESCRIÇÃO UNIDADE QUANTIDADE DENSIDADE g/L

Mosto Bruto L 14700 1.059

Mosto Bruto Kg. 15567,30 1.059

Bagaço, engaço e

sementes de uva.

Kg. 4100 580

Total Mosto Bruto e

Bagaço, engaço e

sementes de uva

Kg 19667,30

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DESCRIÇÃO UNIDADE QUANTIDADE PERCENTUAL

Total de Uva Kg 19603 100%

Total Mosto Bruto e

Bagaço, engaço e

sementes de uva

Kg 19667,30 100,33%

Diferença Uva – Bagaço,

engaço, semente e Mosto

Kg 64,30 0,33%

Esta diferença de 64,30 Kg, que representa um total de 0,33% é possível pois os

métodos de medição e pesagem utilizados são para grandes volumes, portanto em

medições e pesagens menores como estas é possível ter estas diferenças.

DESCRIÇÃO UNIDADE QUANTIDADE DENSIDADE g/L.

Mosto Bruto L 14700 1.059

Mosto Bruto Kg. 15567,30 1.059

Mosto Limpo L 14480 1.057

Mosto Limpo Kg. 15305,36 1.057

Borras da filtragem Kg 261,94

DESCRIÇÃO UNIDADE QUANTIDADE PERCENTUAL

Total de Uva Kg 19603 100%

Bagaço, engaço e

sementes de uva.

Kg. 4100

Corrigido: Bagaço, engaço

e sementes de uva.

Kg 4035,70 20,59%

Mosto Bruto Kg. 15567,30 79,41%

Mosto Limpo Kg. 15305,36 78,08%

Borras da filtragem Kg 261,94 1,34%

Fonte: Empresa MOET HENNESSY DO BRASIL – VINHOS E DESTILADOS LTADA

e análises no Laboratório Alac. Dados estes levantados para o trabalho.

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As análises das (Tabelas 4; 5; 6; 7; 8 e 9) foram realizadas no mês de Março

de 2010 e os parâmetros utilizados nos Ensaios Físico-Químicos são:

Métodos Ensaios Físico-Químicos

Acidez em solução Normal: Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz – Métodos

Físico e Químicos para Análise de Alimentos – 4ªed. São Paulo – 2005, item 016/IV

Densidade a 25 C: Massa Volúmica

Extrato Seco a 105 C:Gravimetria

Matéria Orgânica: LANARV – Laboratório Nacional de Referência Vegetal –

Métodos Oficiais Ministério da Agricultura – Secretaria Nacional de defesa

Agropecuária, 1988.

Nitrogênio Total: Digestão Kjedahl e Volumetria

pH a 25 C:Potenciometria

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Os parâmetros dos Ensaios de Elementos Minerais são:

Métodos Ensaios de Elementos Minerais

Alumínio:Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Arsênio:Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Boro: Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Cádmio: Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Cálcio: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Chumbo: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Cobalto: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Cobre: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Cromo: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Enxofre: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Ferro: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Fósforo: Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Magnésio: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-

OES)

Manganês: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-

OES)

Mercúcio: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Molibdênio: Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-

OES)

Níquel: Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Potássio: Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Selênio: Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

Zinco: : Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry (ICP-OES)

A uva foi amostrada antes do esmagamento, numa proporção

equivalente ao total das duas variedades citadas, resultando as análises da (Tabela

4).

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Tabela 4. Amostra da uva in natura, 83% Riesling Itálico e 17% Trebbiano

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Acidez em solução Normal g/Kg 132

Densidade a 25° C g/cm³ 1,11

Extrato Seco a 105° C % 13,5

Matéria Orgânica % 11,8

Nitrogênio Total % 0,103

pH a 25° C - 3,59

ENSAIOS DE ELEMENTOS MINERAIS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Alumínio mg/Kg 4,72 0,007

Arsênio mg/Kg n.d. 0,007

Boro mg/Kg n.d. 0,018

Cádmio mg/Kg n.d. 0,002

Cálcio mg/Kg 231 0,004

Chumbo mg/Kg n.d. 0,003

Cobalto mg/Kg n.d. 0,002

Cobre mg/Kg 11,0 0,002

Cromo mg/Kg n.d. 0,002

Enxofre mg/Kg 84,8 0,320

Ferro mg/Kg 10,5 0,002

Fósforo mg/Kg 287 0,038

Magnésio mg/Kg 120 0,001

Manganês mg/Kg 4,9 0,001

Mercúrio mg/Kg n.d. 0,0002

Molibdênio mg/Kg n.d. 0,006

Níquel mg/Kg 0,370 0,003

Potássio mg/Kg 2146 0,004

Selênio mg/Kg n.d. 0,009

Zinco mg/Kg 3,42 0,003

Fonte: Próprias, Relatório de Ensaio nº 5855/2010 (Laboratório ALAC ).

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O bagaço, engaço e a semente foram prensados a 2 kg durante 30minutos e após

misturados e coletada uma amostra que seguiu para análise conforme (Tabela 5).

Tabela 5. Bagaço, engaço e sementes de uva, após a extração do mosto bruto

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Acidez em solução Normal g/Kg 97,0

Densidade a 25° C g/cm³ 580

Extrato Seco a 105° C % 20,4

Matéria Orgânica % 19,2

Nitrogênio Total % 0,406

pH a 25° C - 4,21

Page 16: 3 resíduos relativos a industrialização da uva - UFRGS

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ENSAIOS DE ELEMENTOS MINERAIS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Alumínio mg/Kg 7,46 0,007

Arsênio mg/Kg n.d. 0,007

Boro mg/Kg 4,53 0,018

Cádmio mg/Kg n.d. 0,002

Cálcio mg/Kg 810 0,004

Chumbo mg/Kg n.d. 0,003

Cobalto mg/Kg n.d. 0,002

Cobre mg/Kg 19,3 0,002

Cromo mg/Kg n.d. 0,002

Enxofre mg/Kg 243 0,320

Ferro mg/Kg 23,0 0,002

Fósforo mg/Kg 777 0,038

Magnésio mg/Kg 351 0,001

Manganês mg/Kg 16,3 0,001

Mercúrio mg/Kg n.d. 0,0002

Molibdênio mg/Kg n.d. 0,006

Níquel mg/Kg 0,489 0,003

Potássio mg/Kg 4550 0,004

Selênio mg/Kg n.d. 0,009

Zinco mg/Kg 4,77 0,003

Fonte: Próprias, Relatório de Ensaio nº 5859/2010 (Laboratório ALAC).

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Tabela 6. Mosto bruto, após o esmagamento das uvas e sem filtragem

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Acidez em solução Normal g/Kg 75,0

Densidade a 25° C g/cm³ 1,059

Extrato Seco a 105° C % 12,7

Matéria Orgânica % 12,1

Nitrogênio Total % 0,042

pH a 25° C - 3,47

Açúcar Total g/L 125

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ENSAIOS DE ELEMENTOS MINERAIS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Alumínio mg/Kg 3,68 0,007

Arsênio mg/Kg n.d. 0,007

Boro mg/Kg n.d. 0,018

Cádmio mg/Kg n.d. 0,002

Cálcio mg/Kg 91,0 0,004

Chumbo mg/Kg n.d. 0,003

Cobalto mg/Kg n.d. 0,002

Cobre mg/Kg 10,1 0,002

Cromo mg/Kg 0,484 0,002

Enxofre mg/Kg 66,0 0,320

Ferro mg/Kg 12,4 0,002

Fósforo mg/Kg 150 0,038

Magnésio mg/Kg 65,9 0,001

Manganês mg/Kg 1,84 0,001

Mercúrio mg/Kg n.d. 0,0002

Molibdênio mg/Kg n.d. 0,006

Níquel mg/Kg 0,194 0,003

Potássio mg/Kg 1017 0,004

Selênio mg/Kg n.d. 0,009

Zinco mg/Kg 3,00 0,003

Fonte: Próprias, Relatório de Ensaio nº 5849/2010 (Laboratório ALAC ).

O mosto Bruto passou por dois tipos de filtragem o primeiro através de uma

centrifugação, desta centrifugação resultou alguns resíduos que foram analisados e

os dados estão na (Tabela 7).

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Tabela 7. Borra retirados pela filtragem por centrifugação do mosto bruto

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Acidez em solução Normal g/Kg 2840

Densidade a 25° C g/cm³ 1,33

Extrato Seco a 105° C % 62,2

Matéria Orgânica % 37,6

Nitrogênio Total % 0,546

pH a 25° C - 3,72

ENSAIOS DE ELEMENTOS MINERAIS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Alumínio mg/Kg 75,5 0,007

Arsênio mg/Kg n.d. 0,007

Boro mg/Kg 10,2 0,018

Cádmio mg/Kg n.d. 0,002

Cálcio mg/Kg 155 0,004

Chumbo mg/Kg n.d. 0,003

Cobalto mg/Kg n.d. 0,002

Cobre mg/Kg 119 0,002

Cromo mg/Kg 1,39 0,002

Enxofre mg/Kg 561 0,320

Ferro mg/Kg 138 0,002

Fósforo mg/Kg 427 0,038

Magnésio mg/Kg 57,6 0,001

Manganês mg/Kg 130 0,001

Mercúrio mg/Kg n.d. 0,0002

Molibdênio mg/Kg n.d. 0,006

Níquel mg/Kg 0,693 0,003

Potássio mg/Kg 101525 0,004

Selênio mg/Kg n.d. 0,009

Zinco mg/Kg 15,1 0,003

Fonte: Próprias, Relatório de Ensaio nº 5857/2010 (Laboratório ALAC ).

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O mesmo mosto bruto seguiu então para a ultima filtragem, utilizando um filtro com

terra filtrante resultando em mais um resíduo analisado e aqui apresentado pela

(Tabela 8).

Tabela 8. Borra da Filtragem do mosto bruto com utilização da terra filtrante

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Acidez em solução Normal g/Kg 108

Densidade a 25° C g/cm³ 1,20

Extrato Seco a 105° C % 25,7

Matéria Orgânica % 3,84

Nitrogênio Total % 0,214

pH a 25° C - 3,54

Page 21: 3 resíduos relativos a industrialização da uva - UFRGS

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ENSAIOS DE ELEMENTOS MINERAIS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Alumínio mg/Kg 199 0,007

Arsênio mg/Kg n.d. 0,007

Boro mg/Kg n.d. 0,018

Cádmio mg/Kg n.d. 0,002

Cálcio mg/Kg 115 0,004

Chumbo mg/Kg n.d. 0,003

Cobalto mg/Kg n.d. 0,002

Cobre mg/Kg 26,0 0,002

Cromo mg/Kg 2,93 0,002

Enxofre mg/Kg 234 0,320

Ferro mg/Kg 143 0,002

Fósforo mg/Kg 195 0,038

Magnésio mg/Kg 64,2 0,001

Manganês mg/Kg 10,2 0,001

Mercúrio mg/Kg n.d. 0,0002

Molibdênio mg/Kg n.d. 0,006

Níquel mg/Kg 1,56 0,003

Potássio mg/Kg 1123 0,004

Selênio mg/Kg n.d. 0,009

Zinco mg/Kg 6,54 0,003

Fonte: Próprias, Relatório de Ensaio nº 5856/2010 (Laboratório ALAC).

Por fim temos o Mosto Limpo a ser utilizado no processo de produção de

espumantes, sua análise está na (Tabela 9).

Page 22: 3 resíduos relativos a industrialização da uva - UFRGS

21

Tabela 9. Mosto Limpo, após ter passado pela filtragem por centrifugação e com uso

da terra filtrante

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Acidez em solução Normal g/Kg 73,0

Densidade a 25° C g/cm³ 1,057

Extrato Seco a 105° C % 12,4

Matéria Orgânica % 12,9

Nitrogênio Total % 0,036

pH a 25° C - 3,47

Açúcar Total g/L 125

Page 23: 3 resíduos relativos a industrialização da uva - UFRGS

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ENSAIOS DE ELEMENTOS MINERAIS

Descrição do Ensaio Unidade Resultado Limite De Detecção

Alumínio mg/Kg 4,27 0,007

Arsênio mg/Kg n.d. 0,007

Boro mg/Kg 1,98 0,018

Cádmio mg/Kg n.d. 0,002

Cálcio mg/Kg 97,0 0,004

Chumbo mg/Kg n.d. 0,003

Cobalto mg/Kg n.d. 0,002

Cobre mg/Kg 10,1 0,002

Cromo mg/Kg 1,79 0,002

Enxofre mg/Kg 61,5 0,320

Ferro mg/Kg 20,4 0,002

Fósforo mg/Kg 151 0,038

Magnésio mg/Kg 66,9 0,001

Manganês mg/Kg 1,79 0,001

Mercúrio mg/Kg n.d. 0,0002

Molibdênio mg/Kg n.d. 0,006

Níquel mg/Kg 0,893 0,003

Potássio mg/Kg 992 0,004

Selênio mg/Kg n.d. 0,009

Zinco mg/Kg 2,48 0,003

Fonte: Próprias, Relatório de Ensaio nº 5851/2010 (Laboratório ALAC ).

Avaliando as tabelas 3; 4; 5; 6; 7; 8 e 9, constatamos as consentrações dos

elementos que ficam no produto final e nos resíduos. Para fins de comparatividade

comparamos os resultados da tabela 4 com os resultados da tabela 9 e aferimos os

mesmos com os resultados das outras tabelas citadas neste parágrafo. Construímos

para isso uma Tabela especifica que define as concentrações na uva in natura e no

mosto limpo, (Tabela 10).

Nesta tabela são apresentados os teores totais de cada elemento analisado e

o percentual do total.

Page 24: 3 resíduos relativos a industrialização da uva - UFRGS

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Tabela 10. Descrição Un.

Med.

Uva % Mosto

Limpo

% Total

Resíduo

%

Totais Analisados Kg 19603 100 15305,36 78,08 4297,64 21,92 Extrato Seco a 105° C Kg 2646,4 100 1897,9 71,72 748,5 28,28

Matéria Orgânica Kg 2313,2 100 1974,4 85,35 338,8 14,65

Nitrogênio Total Kg 20,2 100 5,5 27,23 14,7 72,77

Alumínio G 92,5 100 65,4 70,7 27,1 29,3

Arsênio G Nd nd nd

Boro G Nd ? 30,3 ? 26,5 ?

Cádmio G Nd nd nd

Cálcio Kg 4,5 100 1,5 33,33 3 66,67

Chumbo Nd nd nd

Cobalto Nd nd nd

Cobre G 215,6 100 154,6 71,71 61 28,29

Cromo G Nd 27,4 ? ? ?

Enxofre Kg 1,7 100 0,9 52,94 0,8 47,06

Ferro G 205,8 ? 312,2 ? 298,6 ?

Fósforo Kg 5,6 100 2,3 41,07 3,3 58,93

Magnésio Kg 2,3 100 1,0 43,48 1,3 56,52

Manganês G 96 100 27,4 28,54 68,6 71,46

Mercúrio Nd nd nd

Molibdênio Nd nd nd

Níquel G 7,3 100 3 41,09 4,3 58,91

Potássio Kg 42,1 15,2 36,10 26,9 63,90

Selênio Nd nd Nd

Zinco G 67 100 38 56,72 29 43,28

Fonte: Avaliações das (Tabelas 3; 4; 5; 6; 7; 8 e 9).

Avaliando os dados comparativos na (Tabela 10) e as análises de todos os

materiais, verificamos que no resíduo da vinificação da uva, encontra-se

aproximadamente 28% da matéria seca da uva in natura e entre 43 a 73 por cento

dos nutrientes essenciais para as plantas, no entanto também constatamos

Page 25: 3 resíduos relativos a industrialização da uva - UFRGS

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diferenças significativas nas análises de Boro, Cromo e ferro, além do alumínio,

diferenças essas que merecem maior atenção e investigação.

Quanto à presença de metais pesados, verificamos que a grande maioria não

foi detectada e os que foram estão presentes em níveis bem baixos para os padrões

de resíduos, no entanto o alumínio, cromo e cobre no mosto límpido apresentam

níveis que merecem atenção, nosso trabalho enfoca o resíduo para uso na produção

de fertilizantes. A matéria prima usada na produção de bebidas segue padrões não

estudados neste trabalho de pesquisa.

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CONCLUSÃO

O resíduo da vinificação na grande maioria das vezes é desprezado e

destinado ambientalmente de forma incorreta, pois pouco se estudou sobre este. O

presente trabalho traz a luz, várias informações novas que ainda não existiam,

informações estas que são fundamentais para a transformação de resíduo em

matéria prima para a produção de fertilizantes e a sustentabilidade da vitivinicultura.

O resíduo como um todo da vinificação apresenta grandes possibilidades

como uso para a produção de fertilizantes, pois tem condições de devolver à própria

videira mais de 50% dos nutrientes retirados, além de devolver com qualidade, pois

estes estão praticamente livres de contaminantes. Além da grande possibilidade de

uso na produção de fertilizantes os subprodutos da videira tem condições de tornar a

mesma menos dependente de insumos oriundos do extrativismo e sim devolver ao

ciclo seus próprios resíduos. Destacamos aqui a importância da ampliação da cadeia

produtiva, com um fator fundamental, que é a busca de um sistema de produção de

forma sustentável.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto nº 4.954, de 14 de janeiro de 2004. Aprova o Regulamento da Lei

nº 6.894, de 16 de dezembro de 1980, que dispõe sobre a inspeção e fiscalização da

produção e do comércio de fertilizantes, corretivos, inoculantes ou biofertilizantes

destinados à agricultura, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 15 jan. 2005.

CATALUÑA, Ernesto Veses. As uvas e os vinhos. 3.ed. São Paulo: Globo, 1991. 215 p. GOBBATO, Celeste. Manual do viti-vinicultor brasileiro – V.2 – Enologia. 4.ed. Porto Alegre: Livraria Globo, 1942. 473 p. INSTITUTO BRASILEIRO DO VINHO, Bento Gonçalves, RS. Dados estatísticos de produção de uva e de vinho e derivados. Bento Gonçalves: IBRAVIN, 24 abr. 2005. Informações fornecidas por e-mail. KOCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 20 ed. Petrópolis : Vozes, 2002.


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