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6-KOSSOY, Boris. As fontes fotográficas

Date post: 22-Oct-2015
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• Comunicações • História ~área&~.WW • Administração • Antropologia • Artes • Ciências • Civilização • Direito • Economia • Educação • Enfermagem • Estética • Farmácia • Filosofia • Geografia • Lingüística • Literatura • Medicina • Odontologia • Política • Psicologia • Saúde • Sociologia Boris Kossoy FOTOGR,AFIA E HISTORIA
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• Comunicações • História

~área&~.WW

• Administração • Antropologia • Artes • Ciências• Civilização • Direito • Economia • Educação• Enfermagem • Estética • Farmácia • Filosofia• Geografia • Lingüística • Literatura • Medicina• Odontologia • Política • Psicologia • Saúde• Sociologia

Boris KossoyFOTOGR,AFIAE HISTORIA

3As fantes fotográficase os estudos históricos

As fontes fotográficas e o objeto dainvestigação

É este o momento de estabelecer as devidas distinçõesteóricas quanto aos objetos de investigação, tanto no pla­no da história da fotografia como no da história atravésda fotografia. A primeira diz respeito ao estudo sistemáti­co desse meio de comunicação e expressão em seu proces­so histórico, a um gênero de história que flui entre a ciên­cia e a arte. A segunda remete de imediato ao emprego daiconografia fotográfica do passado, nos mais diferentes gê­neros de história e mesmo em outras áreas da ciência nasquais os pesquisadores venham a utilizar-se desta fonte plás­tica como instrumento de apoio à pesquisa, como meio deconhecimento visual da cena passada e, portanto, comouma possibilidade de descoberta.

A gênese e história dos documentos fotográficos, assimcomo os fragmentos do mundo visível que esses mesmos do­cumentos preservam congelados, dão margem a essas duasvertentes distintas de investigação que, todavia, não se disso-

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ciam, posto que ambas têm como núcleo central os própriosdocumentos fotográficos. A mesma matéria e expressão queos constituem trazem informações decisivas de um passadoque é comum para os dois ramos do conhecimento histórico.

Em ambas as propostas - delimitadas as fronteirasdos objetos específicos da investigação -, são as múltiplasfaces do passado que se pretende desvendar e compreender,os documentos fotográficos constituindo as fontes básicastanto para uma como para outra, razão por que se interpe­netram, se complementam numa definitiva relação interdis­ciplinar. Em vista disto, uma retroalimentação contínuade informações e conhecimento é o que de fato ocorre àmedida que as investigações se aprofundam nas suas especi­ficidades próprias, disto resultando uma acumulação subs­tancial de novos elementos para o estudo da história da fo­tografia, bem como para o estudo do passado através dasfontes fotográficas.

Contudo, o emprego da iconografia fotográfica no tra­balho histórico se deparará com enormes dificuldades namedida em que a própria história da fotografia não tenhasido objeto de investigações abrangentes e.aprofundadas.

História da fotografia e história atravésda fotografia: diferenciação necessária

A partir do conteúdo documental que encerram, as fo­tografias que retratam diferentes aspectos da vida passadade um país são importantes para os estudos históricos con­cernentes às·mais diferentes áreas do conhecimento. Essasfontes fotográficas, tomadas como objeto de um prévio exa­me técnico-iconográfico e interpretativo, prestam-se defini­tivamente para a recuperação das informações.

Assim, as imagens que contenham um reconhecido va­lor documentário são importantes para os estudos específi-

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cos nas áreas da arquitetura, antropologia, etnologia, ar­queologia, história social e demais ramos do saber, pois re­presentam um meio de conhecimento da cena passada e,portanto, uma possibilidade de resgate da memória visualdo homem e do seu entorno sócio-cultural.

Já para a história da fotografia, o critério obviamen­te não é o mesmo. Interessam fundamentalmente os artefa­tos representativos dos diferentes períodos para que possamservir de exemplificação das etapas sucessivas da tecnologiafotográfica, dos estilos e das tendências de representaçãovigentes num certo momento histórico de um determinadopaís. Interessam sobretudo as imagens que documentam adiversidade de assuntos que foram objeto de registro nopassado, na medida em que representam exemplos da utili­zação da fotografia nas mais diferentes áreas. Também sãoimportantes para essa história as próprias circunstâncias li­gadas ao processo que deu origem a estas imagens, bem co­mo o uso que delas se fez enquanto testemunho visual decerta situação ou fato. Nesse particular, as fotografias pu­blicadas, por exemplo, pelas revistas alemãs da década de1930 ou aquelas estampadas em Life são preciosas fontespara o estudo do uso dirigido da imagem enquanto mensa­gem político-ideológica. O estudo das diferentes aplicaçõesque a fotografia conheceu ao longo de sua história não po­derá, pois, ser levado a efeito apenas como fenômeno "ilus­trativo" isolado do contexto sócio-político e cultural parti­cular em que tais aplicações tiveram lugar.

Cabe aos historiadores desse meio, segundo seus crité­rios pessoais e seus repertórios culturais, a difícil tarefa de,a partir da multidão de imagens que têm a oportunidadede pesquisar, destacar as obras que considerem prioritáriaspara a história própria da fotografia.

Embora toda imagem fotográfica do passado seja emprincípio importante para a história da fotografia, é óbvioque, na elaboração de um trabalho científico nessa área,

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as imagens de importância específica para a própria histó­ria deste meio de comunicação e expressão terão, num crité­rio de seleção, um maior interesse; e a recíproca é válida pa­ra a história.

É óbvio que certas imagens significativas para a histó­ria do país, realmente únicas e decisivas no registro deum fato histórico, tornam-se, por tal razão.igualmente im­portantes para a história da fotografia; isto não quer di­zer, porém, que todas as imagens do passado sejam signi­ficativas para a história da fotografia. Esta7íamos diantede um equívoco teórico. Não se pode conf~ndir a históriada fotografia de um país com a história de um país atra­vés da fotografia.

As fontes fotográficas e a pesquisahistórica

Todo projeto que visa abranger determinado períodoou temática da manifestação fotográfica de um país, e quepretenda realmente contribuir como obra de referência pa­ra a história da fotografia local, nacional e internacional,não é tarefa simples. Excluem-se aqui os países que se preo­cuparam, no passado, com suas memórias fotográficas na­cionais e possuem uma vasta ou ao menos razoável biblio­grafia histórica na área, ou aqueles cujas instituições cultu­rais mantêm registros específicos cuidadosamente armazena­dos em bancos de dados, onde as informações via computa­dor, ou por outros meios; encontram-se organizadas e dis­poníveis aos pesquisadores. Trata-se aqui dos casos ondeinexistem levantamentos anteriores criteriosamente conduzi­dos, onde nada ou quase nada tem sido pesquisado, ondepraticamente não existe bibliografia específica· sobre o te­ma, quando tudo está por fazer. Essa tarefa é na realida­de prolongada e complexa, e sobre isto poderiam prestar ex-

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celentes depoimentos todos os historiadores, mesmo os dosgrandes centros, que se dedicaram a esta tarefa de investiga­ção pioneira.1

Uma das tarefas mais importantes, provavelmente afundamental para a futura elaboração do trabalho históri­co, é o levantamento dos fotógrafos que atuaram numa re­gião e em determinado período, assim como a localizaçãodo que sobreviveu de sua produção fotográfica original,muitas vezes esparsa em inúmeros acervos distantes, e aténo exterior, além das imagens que foram reproduzidas pe­la via impressa, cujo conteúdo, por ter sidq.multiplicado,pelo menos preservou a informação de um assunto específi­co da vida passada.

Os pesquisadores terão condições de viabilizar essa ta­refa através de consulta às mais diversificadas fontes, de pa­ciente organização e fichamento das informações obtidasdo cruzamento dessas informações entre si e com aquelasque serão descobertas ao longo de futuras pesquisas, de for­ma a aferir continuamente e com maior precisão os múlti­plos dados e fatos que deverão ser, posteriormente, objetoda necessária interpretação. Essa tarefa é, repito, básicapor várias razões:

• para que se possa estabelecer uma cronologia desses fotó­grafos e seus sucessores, e assim obter um mapeamentoda atividade fotográfica nas diferentes regiões e períodos;

• para que se tenha um contato abrangente e familiariza­do com os artefatos fotográficos do passado, a diversida-

1 Apesar de aspectos vários da história da fotografia no Brasil terem si­do objeto de algumas investigações, as quais resultaram em publicaçõesnos últimos anos, é ainda reduzida a produção historiográfica nesta área,o que se comprova pelos poucos títulos disponíveis. Por outro lado, de­ve-se mencionar que, diferentemente dos Estados Unidos, da Inglaterra,França e de outros países europeus, não houve no Brasil publicações es­pecíficas sobre a fotografia durante o século XIX, fato que torna nãoapenas complicada a pesquisa nos seus múltiplos aspectos, como peno­sa a tentativa de reconstituição histórica.

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de temática, os estilos e as tecnologias empregadas nosdiferentes períodos;

• para se obter um mapeamento da documentação fotográ­fica existente, através do levantamento dos acervos foto­gráficos públicos e privados.

Detectados a trajetória desses fotógrafos no espaço eno tempo, as tecnologias por eles empregadas e os assuntosregistrados, obter-se-á um levantamento que será certamen­te útil como referência aos historiadores e a outros pesqui­sadores de diferentes áreas das ciências e das artes; tal le­vantamento fornecerá subsídios para a determinação das da­tas aproximadas, local de origem, autoria e pistas para aidentificação dos temas registrados nas fotografias do passa­do que venham a ter em mãos e possibilitará o empregoda iconografia fotográfica como fonte histórica em pesqui­sas específicas. Por outro lado, os dados coletados trarãonovos elementos para a interpretação do fenômeno da ex­pansão deste meio de comunicação e expressão e de suasmúltiplas ap1icações.

4As fantes fato gráficas-e a recuperaçao

das informações:metodologia da pesquisa

A heurística

Uma vez levantada e conhecida a bibliografia referen­te ao tema que será objeto da pesquisa, tem início o traba­lho histórico. Esse início reside na procura das fontes, quesão os meios de conhecimento. A localização e seleçãodas fontes é a primeira etapa do trabalho do historiador:a heurística.

A história particular da 'fotografia requer um conheci­mento amplo da produção fotográfica do passado, facil­mente obtido através da historiografia específica disponível,mas principalmente na medida em que o historiador se pu­ser a levantar e selecionar a documentação fotográfica so­brevivente, além da necessária consulta a uma ampla e di­versificada bibliografia que possa conter toda a iconografiafotográfica utilizada a título de "ilustração". A descober­ta dos documentos é uma verdadeira "arte", como afirmaHenri Marrou: "Muitas vezes a existência da documenta­ção só se revela no dia em que um historiador, o primeiroa interessar-se por esse problema, a reclame, a procure, a

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faça surgir mediante processos engenhosos, imaginados comessa finalidade" 1.

É esta, no entanto, apenas uma parte da tarefa; aqui se­rá abordada uma das fontes a serem localizadas: as fotogra­fias do passado. Os dados específicos à produção destas foto~grafias, isto é, informações documentais relacionadas aosprocessos que lhes deram origem, são igualmente importan­tes, "não basta saber onde e como encontrá-los, é necessáriotambém, e sobretudo, saber que documentos procurar" 2.

Neste sentido, as fotografias que sobreviveram interessamnão apenas à história deste meio mas também às demais fon­tes que possam transmitir informações acerca dos assuntosque foram objeto de registro em dado momento histórico,dos fotógrafos que atuaram nos diferentes espaços e perío­dos e das tecnologiasparticulares empregadas nas várias épocas.

A descoberta de documentos escritos (de ordem biográ­fica, técnica etc.), de objetos e equipamentos utilizados pa­ra o ofício fotográfico do período em estudo, os testemu­nhos orais de descendentes dos fotógrafos e eventuais con­temporâneos, além de registros comerciais, recibos de paga­mento de impostos, anúncios dos estabelecimentos e da bi­bliografia histórica no seu contexto mais amplo, tudo issoé imprescindível para a reconstituição de um período deter­minado da atividade fotográfica ou para os trabalhos cen­trados na vida e obra de um fotógrafo, assim como paraa investigação das circunstâncias que envolveram a produ­ção de uma fotografia no passado.

São várias, pois, as fontes que devem ser consideradas einvestigadas; procurou-se agrupá-Ias segundo suas diferentesnaturezas. O critério que se segue, sugerido para os estudoshistóricos da fotografia, pode ser válido também, em algunsde seus itens, para os demais estudiosos que pretendem, entre

I MARROU, Henri-Irenée. Sobre o conhecimento histórico, p. 61. (V. Biblio­grafia comentada.)

2 Idem, ibidem, p. 61.

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outras fontes, utilizar o testemunho fotográfico em seus tra­balhos específicos e necessitem de pistas para a sua localização.

São quatro os grandes grupos de fontes a serem pes­quisadas:1) pesquisa bibliográfica;2) pesquisa em busca de documentos (registros) originais

(fontes primárias);3) depoimentos e entrevistas (história oral);4) pesquisa em busca dos "restos" fotográficos.

A pesquisa bibliográfica

As pesquisas bibliográficas compreendem a bibliogra­fia de caráter geral e específico.

A bibliografia de caráter geral trata de referências es­pecíficas acerca da atividade fotográfica do passado no queconcerne ao eixo central das investigações: os temas foto­grafados, os autores e a tecnologia empregada ou algunsdesses elementos isoladamente. Situam-se neste caso:• a história social, as crônicas e as histórias das cidades eoutras obras históricas em geral de autores contemporâ­neos e posteriores aos fatos históricos, quando trazem in­formações a respeito dos costumes e tradições de umaépoca. Não se pode desconhecer também a importânciada literatura como fonte da história;

• as publicações que contenham imagens fotográficas (ourepresentações gráficas originadas de fotografias, como li­tografias, xilografias, off-set etc.), isto é, no caso de sehaver empregado a fotografia enquanto ilustração - emsua forma original ou impressa - dos mais diferentes as­suntos que compõem o universo do visível fotográfico.Descobre-se, assim, ao menos, imagens que retratam as­pectos do passado que podem hoje não existir em acer­vos, constituindo seus conteúdos (os assuntos representa­dos) importantes registros iconográficos. Épossível - em­bora não seja freqüente - encontrar alguma menção ao

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fotógrafo, autor dessas imagens. Situam-se neste tipo defonte: as publicações históricas, como as já referidas, aspromocionais, editadas pelas administrações dos gover­nos estaduais, típicas do início do século, as publicaçõesreferentes à exploração antropológica, botânica, geológi­ca, geográfica, etnográfica, aos relatos de viajantes etc.,bem como as revistas ilustradas, os jornais e periódicosem geral, os cartões postais etc;

• os periódicos da época (representados, basicamente, pe­los jornais e almanaques locais). A pesquisa dessas fontesé essencial por conter informações acerca dos fotógrafos,seus endereços, tipos de serviço prestado, bem como aépoca em que atuavam em certa localidade, a tecnologiaempregada etc. Tais dados geralmente constavam de seusanúncios comerciais junto a esses meios de comunicação.A pesquisa de hemeroteca, por outro lado, também é im­portante, pois os periódicos podem conter eventualmen­te artigos acerca da fotografia enquanto manifestação ar­tística, ou comentários sobre a obra de determinado fotó­grafo da cidade etc.;

• catálogos de exposições (comerciais, industriais, científi­cas, históricas, artísticas etc.) provinciais, nacionais e in­ternacionais. 3

A bibliografia de caráter estritamente específico com­preende:• publicações do passado dedicadas exclusivamente à foto­grafia em seus múltiplos aspectos", as que tratam da his-

3 Essas publicações geralmente traziam os nomes dos fotógrafos partici­pantes. Exemplo desse tipo de fonte é o Catálogo da Exposição de Histó­ria do Brasil, referente a essa mostra realizada na Biblioteca Nacionaldo Rio de Janeiro em 1881-1882.

4 No Brasil tais publicações não ocorreram no século passado. Cumpreressaltar a importãncia das publicações especializadas sobre a fotografiaexistentes nos grandes centros, como oAmerican Journal of Photography,The Photographic Art Journal, The Daguerrean Journal, por exemplo,todas publicadas em Nova· York desde o início da década de 1850 e quesão hoje para o historiador um excelente manancial de informações.

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tória da fotografia local, nacional e internacional, incluin­do-se as histórias da técnica.

A pesquisa em busca de documentos originais(fontes primárias)

A pesquisa em busca de registros originais (escritos eiconográficos), pertinentes ao eixo de investigações (assun­tos, fotógrafos, tecnologia) ou a um desses elementos isola­damente, caracteriza-se assim como a pesquisa bibliográfi­ca explicitada no bloco anterior, pela sua ampla diversida­de e dificuldade.

Entre as fontes escritas que devem ser consultadas, es­tão: os registros de lançamentos de impostos, obituários, re­gistros de entrada de estrangeiros no país etc. A localizaçãode documentos originais - escritos de próprio punho pelosfotógrafos, como diários pessoais e comerciais, registrosde compra de equipamentos fotográficos, anotações acer­ca de materiais fotossensíveis empregados, cartas avulsaspessoais e comerciais e outros elementos referentes à suaatividade - é, evidentemente, da maior importância paraque o pesquisador possa esboçar o perfil de seu biografa­do, além de suprir a pesquisa com substanciais informa­ções quanto à tecnologia empregada. São raros os documen­tos deste tipo que sobreviveram, cabendo sua localizaçãomais ao plano do acaso. Felizmente, alguns descendentesde fotógrafos preservaram a documentação relativa à vidae à obra de seus antepassados. 5

5 O exemplo mais significativo a ser assinalado é o da existência, ainda ho­je, dos diários, desenhos e cópias realizadas por processos fotográficos,de autoria de Hércules Florence, documentação essa que nos possibilitoucomprovar histórica e tecnicamente a ocorrênci'!l de uma descoberta inde­pendente da fotografia.Sobre o assunto ver: Kossov, Boris. Hércules Ftorence; 1833, a desco­berta isolada da fotografia no Brasil. 2. ed. São Paulo, Duas Cidades, 1980.

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A documentação referente a eventuais contratos deprestação de serviços entre o fotógrafo e firmas contratan­tes - tais como instituições oficiais (empresas concessioná­rias de serviços públicos, como companhias de eletrificação,estradas de ferro etc.) e firmas comerciais -, quando en­contrada, fornece também excelentes dados para a históriada fotografia.

· Finalmente, pela localização de fotografias avulsas- como retratos, álbuns de família, vistas de propriedadesdo campo e da cidade e acervos fotográficos, junto a cole­cionadores, descendentes dos fotógrafos, museus, departa­mentos de iconografia pertencentes às administrações muni­cipais, estaduais e federais, bibliotecas, arquivos públicose em outras instituições -, os pesquisadores têm a possibi­lidade de coletar, através do devido exame técnico-iconográ­fico, uma série de informações quanto aos elementos quedeterminaram a materialização dessas fontes primárias nopassado, bem como pontos de partida para a compreensãoe reconstituição da vida passada.

Depoimentos e entrevistas (história oral)

Decorre diretamente do que foi exposto nos itens ante­riores a necessidade de entrevistar descendentes dos fotógra­fos do passado - se porventura existirem - que mante­nham ou não sob sua posse documentos originais escritospelo antepassado ou a ele referentes, bem como fotografiasavulsas, álbuns e quaisquer outras fontes originais. Identica­mente, o mesmo procedimento de entrevistas se faz necessá­rio: junto aos contemporâneos dos fotógrafos, que podemeventualmente trazer elementos para um esboço biográfico,junto às pessoas da comunidade que podem tqi.zer pistas pa­ra a identificação dos cenários e personagens registradosnas imagens, bem como os estudiosos familiarizados comos conteúdos dessas imagens, além daqueles envolvidos es­pecificamente com a história da fotografia.

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A pesquisa em busca dos "restos" fotográficos

Estariam nesta .categoria todos os vestígios materiaisque sobreviveram à ação do tempo. Essas fontes diferemem essência das anteriores, pois não se originaram com opropósito de transmitir informações ou conhecimentos pa­ra os pósteros. Justamente por isto são as que possuemmaior valor objetivo. No contexto amplo da história e dasdemais ciências que investigam o passado, essas fontes sãocomo as que compreendem os monumentos arquitetônicosde toda natureza, as ossadas humanas e de animais, os cos­tumes, vestuários, a língua, as moedas, armas, as produ­ções de arte, as realizações da técnica. No que toca à foto­grafia, apesar de ter sido inventada há apenas cento e cin­qüenta anos, o tempo tem se encarregado de tornar históri­cos os diferentes modelos de câmara utilizados para a pro­dução das imagens, suas lentes e demais acessórios alémdos recipientes e objetos utilizados nos laboratórios de ou­trora. Os materiais empregados para a prodµção dos daguer­reótipos e dos demais sistemas fotográficos que se sucede­ram também poderiam ser mencionados. Isto sem falar doscenários de fundo pintados, dos estúdios fotográficos e domobiliário característico de diferentes épocas que compu­nham o décor de um ambiente em cujo interior os diferen­tes tipos sociais de todas as latitudes eram retratados.

Assim, os inúmeros objetos empregados para o ofíciofotográfico em épocas passadas - num tempo em que a fo­tografia era essencialmente artesanal, e cujos exemplares re­manescentes podem ser apreciados nos museus especializa­dos - são exemplos de ''restos'' fotográficos, fontes impres­cindíveis para o estudo das técnicas do passado. Entre es­sas instituições cabe especial destaque: na Alemanha Oci­dental, ao Museu da Agfa em Leverkusen, que reuniu a ex­celente coleção Foto-historarna, e ao Fotomuseum de Muni­que; e, nos Estados Unidos, ao International Museum ofPhotography/George Eastman House. Museus com caracte-

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rísticas .semelhantes existem na França, Inglaterra e outrospaíses. A Sala Hércules Florence, criada em 1981nas depen­dências do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, repre­senta a pioneira tentativa da formação de um museu da foto­grafia no país. O acervo inicial foi constituído de peças doa­das pelo Museu da Agfa mencionado.

Estudo técnico-iconográfico

Introdução

Situa-se este estudo no nível técnico e descritivo, oqual fornecerá elementos seguros e objetivos para a ulte­rior interpretação. Aqui foi englobado, de uma certa for­ma, aquilo que a metodologia clássica da história denomi­nou "crítica externa", exame que não tenho conhecimen­to de ter sido desenvolvido conceitualmente em relação àsfontes fotográficas, aprisionados que eram os historiadoresque se aprofundaram na crítica histórica aos documentosescritos. Nossa perspectiva é, todavia, ir além da crítica,na medida em que consideramos ser este um estudo especí­fico para o entendimento das fontes fotográficas e não a fi­nalidade da história, seja a história da fotografia, seja ahistória através da fotografia.

Isso posto, é a natureza do documento que interessaneste estudo, o "ser" do documento, como observou Mar­rou: "procuramos saber o que ele é, em si e por si mes­mo". Não se trata aqui de ·"estabelecer o que o documen­to não é", atitude típica do espírito positivista, desconfian­do, suspeitando sempre de seus testemunhos, mas "o queo documento na realidade é"; tal se dará, necessariamente,pelo esforço contínuo de compreensão do documento. 6

6 MARROU, Henri-Irenée, op. cit., p. 86.

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Procedência e trajetória do documento fotográfico

Tal compreensão abrange a pesquisa da própria proce­dência do documento fotográfico. Trata-se da "determina­ção científica do achado", procedimento inicial que, segun­do Bauer, tem por objetivo "registrar com exatidão a exis­tência, o conteúdo e os caracteres da fonte, tal como de mo­mento se apresentam ao pesquisador, com a indicação daépoca e do lugar do achado, a investigação da origem dafonte quanto ao tempo e ao lugar de que procede e a histó­ria das vicissitudes pela qual passou" 7•

As fotografias, como todos os documentos, monumen­tos e objetos produzidos pelo homem, têm atrás de si umahistória, como já foi dito antes. Referindo-se ao valor autô­nomo da obra de arte como "um documento da históriada sensação, do gosto e pensamento", Berenson sugere

seguir o destino de uma obra-prima desde o momento de suacriação, através de todas as suas fases de glória bem comode ocultação, até o presente. O estudo de suas vicissitudes,as mudanças de atitude para com ela, os altos e baixos daapreciação e as razões para estas mudanças são questõesque deveriam chamar a atenção como uma parte séria denossas buscas.e

Esta trajetória é importante de ser recuperada, pois trarápistas para a an~se preliminar e interpretação que se segui­rão. A determinação da origem do documento, entretanto,nem sempre será possível pois verificar-se-á, no decorrerda pesquisa, que as informações a ele referentes, contidasnos arquivos, não raro são errôneas ou imprecisas ou, en­tão, inexistentes. Isto não impede em absoluto o prossegui-

7 BAUER,Guillermo. Introducción ai estudio de la historia. 4. ed. Barcelo­na, Bosch, 1970. p. 223-4.

8 Conforme BERENSON,Bernard. Estética e história. São Paulo, Perspecti­va, 1972. p. 227.

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mento das pesquisas na medida em que importantes elemen­tos para o estudo da procedência da fonte poderão ser obti­dos através dos diferentes critérios sugeridos na etapa daheurística. O próprio exame técnico-iconográfico poderátambém trazer respostas às dúvidas iniciais.

Dupla linha de investigações

No senso comum, quando alguém se refere a uma foto­grafia, na realidade refere-se à sua expressão: à imagem,ao assunto nela representado. A fotografia, porém, não éapenas um documento por aquilo que mostra da cena passa­da, irreversível e congelada na imagem, o assunto; faz sa­ber também de seu autor, o fotógrafo, e da tecnologia quelhe proporcionou uma configuração característica e viabili­zou seu conteúdo.

Vimos que a fotografia guarda uma relação indivisívelentre matéria e expressão; em outras palavras, entre o arte­fato e o registro visual, condição dual que a caracteriza.São as partes de um todo que se articulam conjuntamentereunindo um somatório amplo de informações implícitas eexplícitas:

• acerca de sua própria gênese e história enquanto documento;• acerca de um fragmento (selecionado) da realidade passa­da, registrada visualmente através de procedimentos técni­cos específicos.

É desnecessário ressaltar que esta última peculiarida­de que as fotografias apresentam, ou seja, carregaremem si e autonomamente a imagem refletida do seu referen­te (a primeira realidade), já as diferencia em essência dasdemais fontes históricas, incluídas as tradicionais represen­tações pictóricas.

Uma dupla arqueologia do documento fotográfico seimpõe para a recuperação daquelas informações:

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• a reconstituição dó processo que gerou o artefato, mo­mento em que procuramos determinar seus elementos cons­titutivos; e

• a determinação dos elementos icônicos que compõem oregistro visual.

É nessa dupla linha de investigações que se encaminha­rá o presente estudo, com o propósito de reunir uma sériede elementos para, num segundo momento, através da in­terpretação mais profunda do documento, alcançar o senti­do maior da fração da vida representada naquilo que elanão tem de visível fotograficamente.

Análise técnica e análise iconográfica

O exame aqui proposto visa reunir o maior númerode dados seguros para a determinação do assunto, fotógra­Jo e tecnologia (os elementos constitutivos) que deram ori­gem a uma fotografia num preciso espaço e tempo (as coor­denadas de situação). Essa determinação se fará atravésda análise técnica (análise do artefato, a matéria, ouseja,o conjunto de informações de ordem técnica que caracteri­zam a configuração material do documento) e da análiseiconográfica (análise do registro visual, a expressão, isto é,o conjunto de informações visuais que compõem o conteú­do do documento).

A separação entre análise técnica e análise iconográfi­ca dá-se apenas para efeito didático. Na prática, esta du­pla análise (que corresponde ao exame técnico-iconográfi­co) se realiza conjuntamente, e seu resultado será tantomais rápido e eficaz, quanto maior for a experiência dopesquisador quanto mais intensa for sua convivência comas fontes fotográficas. É justamente pelo contínuo cruza­mento das informações implícitas e explícitas do documen­to como um todo que se poderá reconstituir o processo

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que culminou com a materialização iconográfica de um ar­tefato fotográfico num particular lugar e época. É óbvioque tal elaboração requer o conhecimento especifico dahistória da fotografia no seu contexto regional, nacionale internacional

• para que se possa determinar os fotógrafos - autoresdas fontes em estudo - que estiveram em atividade na re­gião e no país nas diferentes épocas; e

• para que se possa reconhecer a tecnologia empregada.

Deve-se por outro lado entender que a imagem fotográ­fica é um meio de conhecimento pelo qual visualizamos mi­crocenários do passado; contudo, ela não reúne em si o co­nhecimento do passado. O exame das fontes fotográficas ja­mais atingirá sua finalidade se não for continuamente ali­mentado de informações icoriográficas (necessárias aos estu­dos comparativos) e das informações escritas de diferentesnaturezas contidas nos arquivos oficiais e particulares, pe­riódicos da época, na literatura, nas crônicas, na históriae nas ciências vizinhas. De outra forma, jamais traremoselementos sólidos de apoio e as pistas necessárias para acorreta identificação dos assuntos representados. É um en­gano pensar-se que o estudo da imagem enquanto proces­so de conhecimento poderá abdicar do signo escrito. Escla­rece bem este ponto Jean Keim quando afirma:

Se a fotografia julga-se um documento e quer ser apresenta·da como tal, as informações escritas são de primordial. lm­portância. Esta verdade elementar é freqüentemente esqueci·da pelos que consideram que a fotografia basta-se a si rnes­ma. Ora, tais informações são indispensáveis em todos1.oscasos, seja quando o clichê é i,!lilizadq num trabalho de pes·quisa, seja para fins educativos, seia para denunciar uma si·tuação a título de informaçãd, 9

9 KEIM, Jean, op. cit:, p. 84.

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Uma das categorias gerais de fontes fotográficas maisfreqüentes é

• a dos originais fotográficos tal como foram produzidos-no passado, os artefatos de época, encontrados principal­mente de forma avulsa ou como parte integrante de álbunsde família ou mesmo de uma variada gama de publicações.

Não é incomum encontrar-se livros, relatórios e outras pu­blicações contendo cópias fotográficas de época coladasnas páginas dos mesmos a título de ilustração. Incluem-seainda nesta categoria as coleções de vistas, retratos e ou­tros temas lançados comercialmente pelas editoras ou mes­mo por estabelecimentos fotográficos do passado. Nessasedições·comerciais as imagens compunham conjuntos colo­cados no mercado em diferentes séries, como por exemplo:as vistas estereoscópicas (obtidas em suportes de vidro e,principalmente, em papel e coladas em cartões rígidos, asquais foram maciçamente produzidas e distribuídas em to­do o mundo) para serem apreciadas em visores apropriadose os cartões-postais confeccionados em papel fotográfico.

Outra categoria muito freqüente de fontes fotográficas é

• a das imagens fotográficas impressas, publicadas.

Referimo-nos às imagens reproduzidas através de técnicaslitográficas, xilográficas e out~ em uso no século passa­do e, mais tarde, com a introdução do haljtone, pelos pro­cessos mais modernos de reprodução fotomecânica, comoa fototipia, além dos variados processos contemporâneos.Incluem-se nesta categoria as imagens fotográficas aplica­das em livros, revistas, jornais, periódicos em geral, car­tões-postais, cartazes e demais impressos.

Interessa-me sobretudo desenvolver esta análise em re­lação aos originais fotográficos do passado com o objeti­vo de demonstrar em que medida o artefato traz em si indí­cios para a recuperação de seus elementos constitutivos.

O processo específico que envolveu a produção deuma fotografia não pode ser isolado como se fora objeto

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de estudo de uma ciência experimental. Cada imagem do­cumenta um assunto singular num particular instante dotempo, e o registro deu-se unicamente em função de umdesejo, uma intenção ou necessidade do fotógrafo, de seucontratante ou de ambos. Como ficou visto no capítulo 2,há indicadores constantes em todos os processos, os quaisestabelecem fatos de repetição; é em razão disto que o es­tudo técnico-iconográfico aqui proposto permite objetivi­dade na análise:

Quanto mais pontos comuns um documento apresentar comuma série bem homogênea de documentos análogos e já co­nhecidos, com tanto mais facilidade e segurança chegaremosà sua interpretação (isto é, ainda uma vez à compreensão da­qui lo que na realidade ele é, do seu quid sit). É aquilo que cons­titui a força e a utilidade prática das disciplinas especializa­das que chamamos as ciências auxiliares da história (arqueo­logia, numismática, epigrafia, paleografia, diplomática, sigilo­grafia etc.), as quais repousam na comparação sistemáticade uma certa categoria de documentos; observam as constan­tes em matéria de analogia e formulam regras, ou melhor, leisque se baseiam nesse elemento de generalidade que os ca­sos singulares assim confrontados apresentam.J?

Os elementos constitutivos de um artefato fotográficodeixam de ser puramente descritivos no momento em quese conhecem detalhes de sua história particular. Vários ti­pos de representações fotográficas podem se apresentar aopesquisador. A tecnologia empregada na produção de·uma:fotografia pode ser sempre detectada pelas característicastécnicas que lhe são inerentes. Tal determinação é básicaporque as mencionadas características são típicas a determi­nados períodos:

É importante o conhecimento das formas evolutivas, que po­dem distinguir-se, no tempo, da classe de fontes de que setrata. Nas obras de arte, falamos no estilo peculiar de uma

10 MARROU, Henri-Irenée, op. cit., p. 90.

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época. Dentro de cada uma das classes de fontes, a estilísti·ca varia de uma maneira peculiar. Com relação a isto, a ar­quitetura, as artes industriais, a arte poética, o documento,a inscrição, a crônica, as memórias ou o jornal têm, enquan­to tais, sua história própria, com uma forma característicapara cada período determinado. Desde logo, pode-se deter­minar, com segurança aproximada, a antigüidade de cadafonte em partlcular."

A evolução dos processos fotográficos impôs, Identica­mente, padrões formais típicos ao produto fotográfico co­mo um todo. Esses padrões foram imediatamente absorvi­dos pelos fotógrafos em todo o mundo, disto resultandouma estética internacionalmente homogênea e peculiar aosdiferentes períodos. Através da identificação da tecnologiaempregada, podemos portanto recuperar, com relativa apro­ximação, a época da produção da fonte. Torna-se pois fun­damental - tanto para aqueles que se iniciam na históriada fotografia, quanto aos estudiosos que pretendam utili­zar fotografias do século XIX em suas pesquisas específi­cas - o reconhecimento dos processos fotográficos empre­gados no passado.

A partir da década de 1860, por ~emplo, quando o re­trato fotográfico sobre papel se disseminou por todo o mun­do através de vários formatos-padrão como a carte-de-visi­te, o cabinet-portrait etc., o retratado tinha por hábito ofe­recer seu retrato (com a devida dedicatória, assinatura e da­ta) para alguém, em sinal de "amizade", "recordação" etc.É evidente que muitos retratos do tipo carte-de-visite nãocontêm dedicatórias, nem a data da produção da foto, em­bora· se saiba de antemão que o documento em estudo nãopode ser anterior a 1850, já que essa modalidade de repre­sentação - que obedecia a uma estética típica em sua apre­sentação - somente surgiu por volta de 1854 através de

11 BAUER,Guillerrno, op. cit., p. 276.

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Disdéri, na França, mas que se proliferou de forma maci­ça em todo o mundo apenas a partir da década seguinte.Algumas pistas quanto a uma possível determinação da da­ta de sua produção podem, entretanto, surgir durante a en­trevista com a pessoa que mantém o retrato sob sua guar­da ou posse, ou com o responsável pelo arquivo onde se es­tá pesquisando, bem como pelo conhecimento das datas bio­gráficas do retratado.

Ainda uma outra pista importante: os retratos desse ti­po contêm, em geral, no verso do cartão rígido sobre osquais se encontram colados, indicações que permitem deter­minar a autoria (o fotógrafo e o respectivo endereço do seuestabelecimento) 12, possibilitando por conseqüência a deter­minação aproximada da data da obtenção do registro e dolocal de origem (isto quando se conhece a época em que ofotógrafo esteve em atividade naquela localidade específica).

Pelo conhecimento da época em que o fotógrafo atuounum certo local pode-se, portanto, estabelecer por aproxi­mação ou exatidão, dependendo do caso, a data em que de­terminada fotografia foi produzida, qualquer que seja o as­sunto nela representado. Vê-sepois a necessidade de um am­plo mapeamento da atividade fotográfica no país, cornojá foi referido antes.P

As vistas de paisagens urbanas e rurais costumam tra­zer o nome do fotógrafo. Ao examinar uma fotografia origi­nal, encontrada de forma avulsa ou como parte integrantede um álbum, ou relatório, por exemplo, deve-se procurar o

12 Os versos desses cartões eram impressos e cuidadosamente elaborados,constituindo-se em veículos de propaganda do estabelecimento fotográfico.

13 Nesse sentido - relação de fotógrafos atuantes no Brasil no século XIX,assim como dados biográficos e informações concernentes a obras devários destes -, ver: Kossov, Boris. Origens e expansão da fotografiano Brasil; século XIX. (V. Bibliografia comentada.) A mencionada re­lação situa a trajetória dos fotógrafos no espaço e no tempo - hojeconsideravelmente-ampliada - e tem propiciado subsídios para a icono­grafia fotográfica brasileira. A tarefa está, todavia, apenas no início.

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nome do autor, o qual pode estar inscrito na foto sob for­ma manuscrita, impressa, carimbada, em alto-relevo etc.Se porventura não existir nenhuma referência quanto à au­toria, os próprios caracteres internos - o conjunto de in­formações visuais que compõe o conteúdo da imagem foto­gráfica - fornecem indicações, pois, identificada a vista,tem-se, em decorrência, o local em que foi tomado o regis­tro e, possivelmente, a respectiva época. Por outro lado, ca­da fotógrafo sempre tem um estilo particular, uma preocu­pação estética característica que o diferencia dos demais.Nesse sentido é importante comparar a imagem em estudocom outras do mesmo local e época cujo autor acredita-seser o fotógrafo procurado.

Somando-se a esses fatores, o conhecimento da épocaem que o fotógrafo atuou na localidade (representada naimagem) é indício de pista correta para a atribuição da au­toria à fonte. Os mesmos procedimentos devem conduziro pesquisador para a determinação da autoria de imagensfotográficas impressas nas publicações do passado que,em geral, não mencionavam o nome do fotógrafo. Guilher­me Gaensly, o mais importante fotógrafo da paisagem urba­na e rural de São Paulo dos fins do século XIX e princípiodeste, exemplifica bem esta questão. Imag(M'\5de sua auto­ria foram consideravelmente reproduzidas em publicaçõesbrasileiras e estrangeiras de diferentes naturezas. À exceçãodos cartões-postais da época, editados pelo próprio Gaensly,seu nome era raramente mencionado pelas publicações. 14

A determinação da época em que foi produzida umafotografia cuja imagem representa uma vista urbana é rela­tivamente simples pela natureza do próprio assunto repre­sentado. A partir do exame da tecnologia empregada naprodução da fotografia, tem-se uma idéia inicial do perío­do em que esta foi realizada. De outra parte, ao se encon-

14Acerca da obra deste fotógrafo, ver: Kossov, Boris. São Paulo, 1900;imagens de Guilherme Gaensly. São Paulo, Kosmos/CBPO, 1988.

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trar alguma referência acerca do fotógrafo, autor da fonte,pode-se precisar - através do conhecimento de sua obra fo­tográfica e da época em que se encontrava em atividadena região -, com razoável proximidade, a época da obten­ção do registro.

No entanto, é fundamental a análise do conteúdo. Is­to implica a verificação de todos os detalhes das imagens,o exame continuadamente alimentado por informações da­das a conhecer através dos periódicos da época, atas ofi­ciais emanadas pelo poder público, relatórios da administra­ção municipal e das secretarias de Estado, plantas de arqui­tetura, crônicas da cidade, entre outras fontes. Tal pesqui­sa tem por objetivo recuperar as datas: a) de construçãoou reformas de prédios residenciais, comerciais e públicos(início e término das obras), demolições, transformações ar­quitetônicas ocorridas nas igrejas e em outras edificaçõesmarcantes da cidade15; b) de implantação de trilhos de bon­de, iluminação pública, postes telefônicos, calçamento, ar-. borização e demais melhoramentos urbanos. A comparação.dos conteúdos das imagens em estudo com outras do mes­, mo local, cujas datas são reconhecidamente corretas, é ou­' tr"à:possibilidade que deve ser explorada.~. l\1 Deve-se ainda examinar éuidadosamente as imagensem busca de informações escritas, tais como: nomes deruas, placas comerciais nas fachadas de lojas, numeraçãodos prédios, cartazes afixados nas paredes anunciando al­gum acontecimento, como por exemplo a estréia de algu­ma companhia teatral. As histórias das cidades, do teatro,

15 Através da análise de um Álbum de photographias do Estado de SãoPaulo, 1892, demonstrei como a data de "1892" aposta à capa do origi­nal poderia induzir o intérprete menos avisado a lamentáveis erros quanto à datação das fotos. A combinação das análises técnica e iconográfica, conforme explicitada neste estudo, levou-me à determinação aproxirnada das diferentes datas de produção dos artefatos fotográficos cons­tantes do "Álbum". Ver: Kossov, Boris. Álbum de photographias doEsrado de SãoPaulo, 1892;estudo critico. São Paulo, Kosmos/CBPO, 1984.

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da música, as notícias e os anúncios dos jornais e almana­ques constituem-se neste sentido em ricas fontes de informa­ções que não podem deixar de ser consultadas.

Através da reunião dos dados coletados por essas pes­quisas, surgirão parâmetros seguros para a determinaçãoda data e do local de produção das fotografias do passadoalém de informações substanciais para a determinação daautoria desses documentos, da tecnologia que foi neles em­pregada e para a decifração de seus conteúdos. A constitui­ção e o preparo de equipes de trabalho, compostas de pes­quisadores com formação em diferentes áreas, são da maiorimportância para o sucesso da pesquisa iconográfica poiso estudo das fontes fotográficas, como já foi observado,demandará sempre um enfoque inter e multidisciplinar.

Os museus, arquivos e a Universidade devem operarem conjunto no levantamento dos artefatos fotográficos,bem como na identificação de seus conteúdos. É fundamen­tal para essa tarefa o contato permanente com a comunida­de. As pessoas mais idosas e os cronistas do lugar devemser consultados, pois possivelmente terão condições paraidentificar e relatar as circunstâncias que envolveram os ce­nários documentados e os personagens retratados. Seus tes­temunhos são insubstituíveis porque contemporâ'Íibs - ouentão, menos afastados no tempo - da época em que fo­ram tomadas as fotos. E esses depoimentos devem ser co­lhidos com urgência; caso contrário, são incontáveis os ce­nários e personagens que permanecerão desconhecidos eanônimos nas fotografias do passado.

Somente pelo contínuo cruzamento das informaçõesexistentes (implícitas e explícitas) nos caracteres externose internos do objeto-imagem poder-se-á determinar comprecisão 'os componentes do processo que geraram essafonte histórica. Qualquer que seja a fotografia a ser sub­metida ao exame técnico-iconográfico, a inter-relação en­tre os caracteres externos e internos deve ser constantemen­te realizada.

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Para se determinar a autenticidade de uma fonte foto­gráfica, não é suficiente a simples análise iconográfica doseu conteúdo nem o estrito conhecimento ou da tecnologiaempregada na sua produção ou da biografia do fotógrafo­autor. Aqui não se trata de aferir a fidedignidade ou nãodo conteúdo; um documento fotográfico pode ser precisodo ponto de vista iconográfico, porém pode não ser umexemplar autêntico, isto é, quando se tratar de uma repro­dução realizada com materiais e técnicas coincidentes comas da época da qual o assunto registrado parece proceder,mas obtida, de fato, em épocas posteriores.

Em relação às fontes escritas, Bauer assinala - quan­do se refere aos caracteres externos - a importância de severificar se o material empregado para a elaboração da fon­te coincide com a época e o local de origem desta elabora­ção: a investigação da tinta empregada, do papel, assim co­mo o exame da escrita, da linguagem etc.I"

É possível encontrar fotografias de personalidades derelevo, retratadas por determinado fotógrafo e que apare­cem montadas em cartão sem identificação de autoria. Taisimagens podem constituir reproduções do original executa­das por outros fotógrafos, já que, no passado. os.retratosde celebridades eram comumente comercializados, como ob­jetos de coleção. O preço de uma fotografia desse tipo va­riava "com a fama e popularidade do retratado" 17•

Em relação aos caracteres internos, esclarece aindaBauer que as contradições de conteúdo - que se encontramem oposição com a época de que se quer fazer proceder afonte, com o lugar de que parece proceder, com a pessoaque parece ser o seu autor ou ainda com os caracteres e aetapa evolutiva em que deva encontrar-se o gênero de fon-

16BAUER, Guillermo, op. cit., p. 290-1.11 GERNSHEIM, Helmut. A concise history of photography, New York,

McGraw-Hill, 1969. p. 118.

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tesa que a falsificação pertence - podem trazer pistas quan­to à autenticidade ou falsidade da representação. is

No caso da fotografia tais contradições afloram natu­ralrnente quando se leva a efeito um exame crítico e técni­co acurado: quando se examina com igual rigor científicosua forma e seu conteúdo.

A sistematizacão das informacões.Sugestão de roteiros ,

Os roteiros que se seguem definem um modelo de siste­ma de informações cuja finalidade é o registro e a recupera­ção de dados referentes à procedência, à conservação e-àidentificação do documento fotográfico, além das concer­nentes aos seus elementos constitutivos. O conjunto destes·roteiros reúne os tópicos essenciais para o exame técnico­iconográfico. Num primeiro momento resultam numa sériede dados puramente descritivos, que são, neste estágio, ape­nas o ponto de partida para posteriores desdobramentosde cada item em particular, bem como para o estudo desuas inter-relações.

É a operacionalização do conjunto das informaçõesreunidas que se pretende, razão por que esses roteiros nãoterão sentido se desvinculádos do conteúdo deste livro.

Este modelo, por outro lado, já poderia se mostrar efi­caz para a elaboração de uma iconoteca (fotográfica) pelasdiferentes possibilidades que oferece para a recuperaçãode informações do artefato fotográfico e do registro visualnele contido.

A informatização deste modelo - por exemplo, co­mo um banco de dados - é recomendada, principalmentepor duas razões: primeiro por permitir um maior rendimen-

18 BAUER, Guillermo, op. cit., p. 292.

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to das pesquisas e, segundo, por facilitar a disseminaçãodas informações. O esforço de padronização de informa­ções entre instituições locais, nacionais e mesmo internacio­nais deve ser prestigiado, pelos benefícios evidentes para apesquisa histórica e o intercâmbio cultural.

1 REFERÊNCIA VISUAL DO DOCUMENTO

Reprodução do documento-matriz - frente e verso,se for o caso - para fins de estudo (Reprodução em dife­rentes suportes, conforme a necessidade: fotografia, foto­cópia, meios eletrônicos etc.)

li PROCEDÊNCIA DO DOCUMENTO

Local onde se encontra (museu, arquivo, biblioteca, co­leção particular etc.)

1.1 Código de referência (número de tombo)

2 Origem da aquisição (de quem foi adquirido?)2.1 Tipo de aquisição, data e demais detalhes (compra, per­

muta, doação, empréstimo etc.; em se tratando de insti­tuição pública, especificar o número do processo e de­mais detalhes, se forem importantes para a elucidaçãoda história do documento)

2.2 Foi adquirido juntamente com outros documentos? (sim,não)2.3 É peça avulsa ou faz parte de um conjunto de fotos?

3 Informações adicionais sobre a procedência do docu­mento (trajetória do documento ao longo do tempo)

Ili CONSERVAÇÃO DO DOGUMENTO

Estado atual de conservação (bom, regular, mau, péssimo)

2 Condições físicas em que se acha armazenado (pasta,envelope, arquivo de madeira, aço etc.)

3 Condições ambientais em que se acha armazenado (lo­cal climatizado ou não)

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IV IDENTIFICAÇÃO DO DOCUMENTO

Informações concernentes aos elementos constitutivos(ASSUNTO, FOTÓGRAFO, TECNOLOGIA) e às coordena­das de situação (ESPAÇO, TEMPO), anotad§R

1.1 Na ficha (referente à foto), existente na instituição1.2 No envelope ou pasta em que a foto se acha armazenada1.3 Na própria foto

2 Se o documento fotográfico for parte integrante de umálbum ou de uma publicação - em que foram utiliza­das cópias fotográficas originais ou reproduções sobdiferentes meios, a título de ilustração -, recuperaros dados bibliográficos necessários.

VI INFORMAÇÕES REFERENTES AO FOTÓGRAFO(autor do registro)

[As informações concernentes às coordenadas de situação(ESPAÇO, local onde se deu o registro, e TEMPO, data, épo­ca em que se deu o registro) estão implícita ou explicitamen­te evidenciadas no documento.]

FOTÓGRAFO (e/ou estabelecimento) autor do registro1.1 Endereço(s) do fotógrafo e/ou estabelecimento (se o en­

dereço não constar do documento, pode o mesmo serdeterminado pela pesquisa relativa à época em que ofotógrafo atuou no local em que a foto foi produzida)

2 Autoria por atribuição (no caso de não se achar inscri­to o nome do fotógrafo ou estabelecimento fotográfi­co no documento em estudo, verificar algum indícioque possa mostrar-se revelador através do estudo com­parativo com outras fotografias cuja autoria é conheci­da; as informações obtidas conforme o roteiro abaixopoderão fornecer pistas para a determinação da autoria)

2.1 Tipo de montagem da fotografia (vide roteiro VI1, tópico 1.8)2.2 Cenários de estúdio no caso de retratos (verificação

do mobiliário e das peças que compõem a decoração:mesas, cadeiras, colunas, cortinas, cenários pintadosde fundo e demais elementos)

2.3 Características de estilo (verificação de alguma peculia­ridade na tomada do registro - composição, ilumina­ção, ângulo de tomada etc. - que se assemelha como estilo de algum fotógrafo cuja obra é conhecida)

2.4 Fotógrafos atuantes no local à época em que a fotogra­fia foi produzida (este levantamento, associado às infor­mações dos subitens anteriores, poderá levar, por elimi­nação, ao fotógrafo cuja autoria pretendemos atribuir)

3 Pistas que levem à determinação do CONTRATANTEdo serviço fotográfico

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V INFORMAÇÕES REFERENTES AO ASSUNTO(tema representado na imagem fotográfica)

[As informações concernentes às coordenadas de situação(ESPAÇO, local onde se deu o registro, e TEMPO, data, épo­ca em que se deu o registro) estão implícita ou explicitamen­te evidenciadas no documento.]

Arrolamento sistematizado dos elernent.rs ícônicos quecompõem o conteúdo da imagem, visando à recupera­ção de informações múltiplas de cada elemento em par­ticular (pesquisa· iconográfica combinada à pesquisahistórica: levantamentos junto às mais diversificadasfontes, considerando inclusive:

- os títulos e/ou legendas impressas ou manuscritasreferentes à identificação do ASSUNTO; e

- as notas marginais, comentários, dedicatória, datae local, e outras informações anotadas, conforme oroteiro IV.

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VII INFORMAÇÕES REFERENTES À TECNOLOGIA(processos e técnicas empregados na elaboraçãoda fotografia, incluindo detalhes de acabamento

e características físicas)

[As intormações concernentes às coordenadas de situação(ESPAÇO, local onde se deu o registro, e TEMPO, data, épo­ca em que se deu o registro) estão implícita ou explicitamen­te evidenciadas no documento.)1 Quando se tratar de um ORIGINAL FOTOGRÁFICO DE

ÉPOOA1.1 Equipamento utilizado (tipo de cãmara, modelo, objeti-

va, acessórios diversos etc.)1.2 Natureza do original (negativo ou positivo)1.3 Suporte da superHcie fotossensível (metal, vidro, papel etc.)1.4 Processo fotográfico empregado (daguerreótipo; calóti-

po; ferrótipo; negativo em chapa de vidro: base de albú­men, colódio úmido ou seco, gelatina; negativo filme: ni­trato de celulose, filme de segurança, poliéster; positi­voem papel:basede albúmen, carbono, gelatina, platina; etc.)

1.5 Textura da superfície do papel fotográfico (mate, semi­mate, seda, brilhante etc.)

1.6 Tonalidade (sépia, marrom, arroxeada, preto e branco,cores; viragens em diferentes cores; aplicação manualde cores)

1.7 Formato da imagem (altura X largura, em centímetros)1.8 Características da montagem - materiais, adornos e

formato do produto final (tipo de estojo e demais deta­lhes de acabamento no caso de daguerreótipos e ambró­tipos; passepartout de cópias fotográficas: desenho ecor; acabamento de cartes-de-visite e cabinet-portraits etc.)

2 Quando se tratar de uma REPRODUÇÃO (em papel foto­gráfico, impressa ou por outros meios) fornecer indica­ções sumárias Keferentes às:

2.1 características técnicas da reprodução2_2 pistas que possam levar à identificação da TECNOLO­

GIA empregada noORIGINAL (objeto da REPRODUÇÃOem estudo)

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1conografia e iconologia

A análise iconográfica tem o intuito de decupar, inven­tariar e classificar o conteúdo da imagem em seus elemen­tos icônicos formativos; o aspecto literal e descritivo preva­lece, o assunto registrado é perfeitamente situado no espa­ço e no tempo, além de corretamente identificado.

A análise iconográfica, entretanto, situa-se ao nívelda descrição, e não da interpretação, como ensinou Pa­nofsky. Este, referindo-se à representação pictórica, reviveo "velho e bom termo" iconologia como um "método deinterpretação que advém da síntese mais que da análise'' eque seria o plano superior, o da interpretação iconológicado significado intrínseco.19

A análise iconográfica, no caso da representação foto­gráfica, situa-se a meio caminho da busca do significadodo conteúdo; ver, descrever e constatar não é o suficiente.É este o momento de uma incursão em profundidade na ce­na representada, que só será possível se o fragmento visualfor compreendido em sua interioridade. Para tanto, é neces­sária, a par de conhecimentos sólidos acerca do momentohistórico retratado, uma reflexão centrada no conteúdo, po­rém, num plano além daquele que é dado ver apenas peloverismo iconográfico. É este o estágio mais profundo da in­vestigação, cujos limites não são cristalinamente definidos.Não raro o pesquisador se surpreende refletindo neste pla­no pós-iconográfico, buscando os elos para a compreensãoda vida que foi.

19 PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. 2. ed. SãoPaulo, Pers­pectiva, 1979.

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ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA

iconoqrafia

momento r ' meio dehistórico comunicação

iconografia

0 ~--~/ '-.

// "/ -,/ \/ \/ \

/ FONTE \I PLÁSTICA "linguagem" \ .momento/ . \ meio de

histórico da imagem comunicação(político, social, (informação/expressão)econômico, cultural)

iconografia (nível descritivo)r>. ---~ ~\..::_,; // <,

·/ ~/. \/ \/ \I \I . FONTE "I' ,, \PLÁSTICA mquaqern

história / da imagem 1 ciências da

hu(~!~~~ª! r(interdisciplinaridjade das ciências), ~~t~~nicação/soclals) \

o-iconologia (nfvel interpretativo)

5Recuperação iconológica:caminhos da interpretação

Cumpre desvendar agora, através do assunto registra­do no documento (segunda realidade), a situação que en­volveu o referente que o originou no contexto da vida pas­sada (primeira realidade). Aqui, busca-se o significado inte­rior do conteúdo, no plano da interpretação iconológica, to­mando emprestado o termo de Panofsky. Para tal busca,a reflexão foi centrada, de início, no indivíduo enquanto in­térprete de sua própria história.

A imagem fotográfica: fonte de recordaçãoe emoção

Existe melhor exercício para reviver o passado que aapreciação solitária de nossas próprias fotografias?

A experiência visual do homem quando diante da ima­gem de si mesmo, retr.atado por ocasião das mais corriquei­ras e importantes situações de seu passado, leva à reflexãodo significado da fotografia na vida das pessoas.

Quando o homem vê a si mesmo através dos velhos re­tratos nos álbuns, ele se emociona, pois percebe que o tem-


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