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Aristóteles e Platao- Poesia

Date post: 06-Jul-2018
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  • 8/17/2019 Aristóteles e Platao- Poesia

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    Aristóteles / Poética

    Poética (gr. Περὶ Ποιητικῆς) é um dos mais influentes — e controvertidos —textos legados pela Antiguidade. Nele, Aristóteles analisou e sistematizou, pela

    primeira vez, o formato e a estética de dois importantes gêneros literários

    gregos, a tragédia e a epopeia com isso, praticamente fundou a disciplina

    con!ecida atualmente por "teoria literária".

    # tratado pertence, aparentemente, $ categoria dos escritos esotéricos

    ("internos") evidências presentes na %oética em outras o&ras aristotélicas,

    notadamente a Retórica e a Política, situam a data de cria'o por volta de **+.

     Aparentemente, o filósofo ocuparase de uest-es literárias anteriormente, a ulgar pelo t/tulo de um diálogo perdido, Περὶ ποητῶν (Sobre os Poetas).

    #riginalmente, a Poética compreendia dois volumes, dos uais apenas o

    primeiro c!egou até nós. 0á evidências de ue o volume perdido tratava

    da poesia i1m&ica e da comédia. A perda ocorreu, provavelmente, antes do

    século 23.

    4en'o $ parte merecem os estudos e comentários so&re a Poética efetuados

    pelos eruditos do 5enascimento. # irlandês 6onat!an 78ift, nas Viagens de

    Gulliver  (cap. 9, :;lu&&du&dri&... 3ronias $ parte, eles muito contri&uiram para a divulga'o

    das doutrinas aristotélicas no #cidente.

    # texto exp-e, de forma ordenada e coerente, as idéias do filósofo so&re a

    composi'o poética dado, porém, seu caráter expositivo, semel!ante ao de

    uma prele'o oral, no é de estran!ar ue apresente incoerências, lacunas e

    o&scuridades, alimento fecundo de controvérsias ue á duram séculos...

    !ttp?@@[email protected]

    http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0422http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0254http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0160http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0225http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0255http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0254http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0160http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0225http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0255http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0422

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    ARTE POÉTICA

    Arte poética é expressão que remete, em primeiro lugar, para Aristóteles (384-322a. C.) e para o seu conecimento trata!o so"re a poesia. Ao que se pensa e #ulga sa"er,este trata!o, composto na parte $inal !a %i!a ao autor, re%ela !o car&cer acrom&tico !eimportante parte !o corpo textual aristotélico. 'ecorre, contu!o, a um texto anterior,

     pro!ui!o em contexto muito mais a"erto, o !i&logo Dos Poetas, on!e alguns !osmoti%os estrutura!ores !a arte poética aristotélica, como a imita*ão+ ou a catarse+,tinam si!o #&, ao que parece, %isto que o !i&logo se per!eu e só muito posteriormente$oi reconstitu!o, expostos e !esen%ol%i!os.

    A Arte oética !e Aristóteles era, na sua origem, constitu!a por !ois li%ros e nãoapenas por aquele que o#e conecemos e a tra!i*ão nos legou e que passa por ser o

     primeiro !os !ois. anto as par&$rases &ra"es !o texto, !a autoria !e A%icena (séc. /0) e

    !e A%erróis (séc. /00), como a %ersão siri&ca em que am"as se inspiram (séc. 100), !eque resta o#e um $ragmento, !esconeciam #& a existncia !o segun!o li%ro !a Poética. car&cter acroam&tico !o texto, muito mais !estina!o ao esclarecimento !e !iscpulosque ao manuseamento !o p"lico, explica, pelo menos em parte, o !esaparecimento !oli%ro, que %ersaria, ao que se sa"e, a comé!ia, como o primeiro %ersa a tragé!ia.

    A Arte Poética !e Aristóteles, tal como o#e a conecemos, !i%i!e-se em !uas partes. A primeira !esen%ol%e um conceito !e poesia como imita*ão !e ac*5es , que sea$asta, ou mesmo contrap5e, ao !e latão, para quem a poesia era narra*ão e nãoimita*ão (c$. 6i%ro 000, A República). A arte poética em Aristóteles requer opera!ores!irectos, agentes ou personagens, enquanto em latão exige (apenas) recita!ores. A

    imita*ão aristotélica, processan!o-se por meios, o"#ectos e mo!os !i$erentes, não secon$un!e, porém, com cópia ou repro!u*ão $iel !a reali!a!e, carrean!o antes, pela percep*ão !o geral a que $iloso$icamente aspira, cria*ão autónoma e trans$igura*ãoeterogénea. A segun!a parte !a Poética, a mais extensa, estu!a a tragé!ia, uma !asespécies ou géneros !a poesia !ram&tica, e $a a compara*ão !a tragé!ia e !a epopeia,um género !a poesia narrati%a ou não-!ram&tica.

    7eria, contu!o, $lagrante in#usti*a %er apenas no texto !e Aristóteles um có!icetécnico !e !ois géneros poéticos, a tragé!ia e a epopeia, como aconteceu !urante muitose muitos anos, on!e so"ressaem os !o 'enascimento com as suas par&$rases normati%as,ou um sistema !e ela"ora!as regras, capa !e constituir um cnone compositi%o, seguro

    e per$eito. A Arte Poética !e Aristóteles aparece-nos o#e, !epois !o romantismo e !osmo!ernismos, não só como exemplo !e rigor e $un!amento !e estu!os cl&ssicos, o quenunca !eixou !e ser, mas, so"retu!o, como o primeiro texto que tentou com xitocompreen!er e pro"lematiar a singulari!a!e !o $enómeno poético. li%ro !o estagirita!e!ica!o 9 poesia tem o enorme mérito !e ser um estu!o emprico e !escriti%o, que

     parte quase sempre !os $enómenos para as leis e não !estas para aqueles, o que leassegura uma pereni!a!e in%e#&%el. rata-

    -se !e uma poética generati%a, se assim po!emos !ier, e não normati%a, !ostextos poéticos.

     :este senti!o, a re$lexão aristotélica não terminou ain!a; a arte poética continua%i%a e !e excelente sa!e. 7e, por um la!o, a Poética continua a ser in!ispens&%el para

    http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=811&Itemid=2http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=811&Itemid=2

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    aqueles que queriam conecer o $uncionamento não !a tragé!ia enquanto génerouni%ersalmente %&li!o, o que $oi o erro !as poéticas latinas e renascentistas, !e ilamo?it ou !e :ietsce!i$icilmente po!eriam ter si!o escritos, por outro, o li%ro !o grego mostra-se, em termos

    !e teoria !a literatura, o primeiro elo !e uma ca!eia que, até aos seus mais recentes!esen%ol%imentos, !e @ao"son a o!oro%, nunca o !ispensou, até quan!o contra ele pensa, o que, !iga-se, poucas %ees tem aconteci!o.

    Bntre nós, António elmo, na lina !e um neo-aristotélico como l%aro 'i"eiro,!eu recentemente 9 estampa um li%ro cama!o Arte Póetica  (DEF3; DEE3), on!e se

     perce"e a actualia*ão, em termos !e mo!erni!a!e liter&ria portuguesa, !e essoa aCesarinG, !a matri aristotélica, e isso mesmo quan!o o autor, que preten!e passar !euma $iloso$ia especulati%a a uma $iloso$ia operati%a, !e tipo !ram&tica, con!uin!o o

     pensamento 9 linguagem e !etectan!o nesta uma energia acti%a, nos lem"ra, por su"rep*ão, as concep*5es lingusticas !o Crátilo !e latão.

    ttpHII???.e!tl.com.ptIin!ex.ppJoptionKcomLmtreeMlinLi!K8DDHarte-

     poeticaMtasK%ie?lin 

    ..assim começa Aristóteles a Poética

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      Como o nosso tema é a poética propomo-nos falar não só da poéticaem si, mas também das suas espécies e das suas respectivascaracterísticas do m!t"os #da trama re$uerida% para compor um belo

     poema& do número e da nature'a das partes constitutivas de um poema,e também dos restantes aspectos $ue di'em respeito a esta investi(a)ão*  +e(uindo pois a ordem natural e come)ando pelas primeirasobserva)es de base, verificamos $ue Nas técnicas !as OusasP a epopeiae a poesia trá(ica, assim como a comédia, o ditirambo e, em (rande

     parte a técnica de tocar a flauta e a cítara, consideradas de um modo (eral, são todas fi(ura)es da realidade* as, ao mesmo tempo diferementre si em tr.s aspectos se/a pela diferente classe de meios , se/a

     pelos objectos , se/a ainda pelo modo como reali'am as suas fi(ura)es*

      NComo a pintura e a escultura - seguin!o latãoP Pois assim como acor e a forma são usadas como meios por $uem - se/a por uma técnica,

     se/a pela e0peri.ncia da sua prática, - fi(ura e desen"a diversosob/ectos mediante a sua a/uda& e, como a vo' é empre(ada por outros&assim também, para o (rupo das técnicas $ue mencionámos, os meiossão, na sua generali!a!e, a linguagem, a harmonia e oritmo,empregues muito simplesmente em si mesmo, ou em!etermina!as com"ina*5es. 

    Nota: As Técnicas das Musas (as músicas, além !a msica e !o canto, incluiam a poesia, o !rama, a !an*a e o espect&culo em geral), são aquelas suscept%eis !e criarumespírito de corpo en%ol%en!o o seu p"lico, crian!o a$iciona!os, entusiasman!o,!ominan!o o p"lico ligan!o-o entre si e com o espírito da obra no espect&culo(numacadeia de aneis ma(neti'ados).

      A nossa alternativa foi apresentarmos um breve resumo da nossainterpretaçãodo texto da Poética, que realizmos a partir da leitura de vriastraduç!es do texto de Aristóteles. "ão se trata de uma tradução, nem sequer de

    transcriç!es, mas deuma leitura resumida que fizemos a partir da anlise do texto

    #nos textos dispon$veis%, tendo em vista a descrição da arte dramática que faz oautor da Poética.

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      Aristóteles $a as seguintes o"ser%a*5es so"re a tragé!ia, a comé!ia,a s&tira e a epopeia (o poema épico). Bm geral, tragédia re$ere-seao drama(inclui portanto a comé!ia) e, quan!o não as !i$erencia é

     porque as consi!era semelantesH

    D) Quanto 9 métrica !os %ersos, a própria naturea se encarregou !eencontrar o que é mais ade$uado 9 tragé!ia, isto é, o /1mbico Nna lnguagrega !a épocaP, segun!o sa"emos o mais flexível de todos os metros.   :o incio !e quinentos, na lngua portuguesa, - o mais $lex%el !e to!os osmetros, o mais próximo !e uma linguagem natural e coloquial, - consi!erou-se seraredondilha maior , com %ersos que"ra!os quan!o necess&rio... (:ão o ser& ain!a o#eJ)

      2) Quanto ao mo!o como se diferencia !a epopeia, a tragé!ia procuramanter-se, sem que isso se#a priorit&rio ou %inculati%o, mas tanto quanto poss%el, !entro !e um ciclo solar ou nesta me!i!a aproxima!a.

      3) Quanto 9 ri$ue'a comparati%a entre a epopeia e a tragé!ia,%eri$ica-se ain!a que, a tragé!ia contém to!os os elementos !a epopeia,mas esta não comporta to!os os !a tragé!ia. B por isso a tragé!ia ésuperior 9 epopeia.

      autor !a Poética especi$ica ain!a antes, que as diferen)as entre asartes que in%estiga, no que respeita aos processos!e fi(ura)ão (mimesis), se concretiamH pela !e$ini*ão !osseus o&'ectos( pelos meios que utiliam; e pelos modos comoos fi(uram (narram, apresentam ou representam).

      AssimH  D) Quanto aos modos, esta"elece entãoH  (a) a diferen)a entre a comédia e a tra(édiaH

    enquanto a tragé!ia fi(ura o ser umano, o

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    Conceitos $un!amentais

      ...pela Poética, na arte !ram&tica (no eatro), nem a tragé!ia é umatragé!ia real, nem o temor nem a compaixão, são outros que não se#amos cria!os ($igura!os) na mente umana ao assistir a uma ac)ãodramáticaque !esen%ol%e um drama trá(ico, numa fi(ura)ão darealidade, e portanto, purgar resulta numa $igura !e estilo, !iramos que!e uma outra $igura !e estilo.

    temor  e a compaixão tr&gicos, !a arte dramática, são fi(urativos,não são causa!os pelas nossas próprias liga*5es a$ecti%as, são em ca!amomento, a poss%el fi(ura)ão !elas, serão sempre um resulta!o !onosso)er, pela nossa leitura, !a nossa fi(urada entra!a (imitada, %i%i!aem pensamento) no mun!o fi(urativo !a ac)ão dramática !a pe*a, !asua aceita*ão, %i%ncia %irtual e compreensãoR B assim ser& tam"émacatarse que se !e%e pro!uir no nosso esprito. Bsta catarse %aiacontecer com a tomada de consci.ncia (clari%i!ncia) !o nosso 7erquan!o alcan*ar 1er - perce"er e compreen!ero 1ma(o (a hipon!ia grega) !a pe*a - numa leitura completa !o

    seu mthos, com a resolu*ão !a situa*ão fi(urativa cria!a na ac)ãodramática.

    sentir  !esta catarse (resolu*ão emocional) realia-se no pensamento do leitor  (especta!or) da ac)ão dramática,

     porquanto pensar e sentir  são uma e mesma entidade. seu sentido est&na continui!a!e !aac)ão dramática e !o seu !esenlace, encontra-se no!es$eco que o cria!or !a o"ra, atra%és !as peripécias, sou"e criar para$ecar a pe*a, numa re%ira%olta capa !e resol%er as situa*5es

    intro!ui!as !urante as partes prece!entes, !e suposto(porque fi(urativos) temor  e compaixão,que !ecorrem !a concep*ão!o m!t"os !a pe*a. Bsta catarse est& assim !epen!ente !a mestriacoloca!a nas $ormula!as peripécias, que culminam numconclusi%o reconhecimento (por clari%i!ncia), - tal como orecordar  !ealgo, uma toma!a !e conscincia !e uma recorda)ão %i%i!a por parte !o

     p"lico - $orneci!o pelas mu!an*as !e rumo %eri$ica!as com o!esenlace.

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      Sestacamos ain!a...

      A mais importante !as seis partes constituintes é a combina)ão dos

    incidentesH o mthos. A tragé!ia é, na sua essncia, uma fi(ura)ão, nãodas pessoas, mas da ac)ão e da vida, da felicidade e da desdita. o!a a$elici!a!e !o

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    +latão e a +oesia na ep-&lica

     

    Maria da +enha )illela/+etit

     

    012M3

    latão não é o inicia!or, e sim o er!eiro !a T%ela !i%ergnciaT entre $ilóso$os e poetas. A moti%a*ão ético-teológica, que #& anima%a /enó$anes,%ai se reatualiar na'ep"lica. ara po!er apreciar o senti!o !essa reatualia*ão, importa que não seconsi!ere o 6i%ro / isola!amente, mas se atente para os primeiros li%ros !o !i&logo.

     :eles, e com %istas a uma melor !etermina*ão !o #usto Uque é o que est& em pautaU,latão mostra a necessi!a!e !e se !iscutir as a$irma*5es !os poetas. rata-se assim !e!estitu-los !a autori!a!e !e que ain!a goam na e!uca*ão e na opinião comum. 7ógra*as 9 !iscussão $ilosó$ica e a uma e!uca*ão por ela inspira!a Uo que pressup5e a

     pro!u*ão ou a sele*ão !e mitosU é que se po!e esperar uma maior realia*ão !a #usti*a, tanto no plano !o in!i%!uo (!o go%erno !e sua alma) quanto no n%el !a ci!a!e.A leitura aqui proposta !as Tra5esT !e latão na 'ep"lica não impe!e querecone*amos a importncia !a tragé!ia para a compreensão !a existncia umana,inclusi%e no que toca 9 i!éia !o !i%ino.

    +alavras/chave4 latão, 'ep"lica, poesia, mito, religião, e!uca*ão.

    A51TA6T

    lato is not te initiator, "ut rater te eir o$ te Tol! quarrelT, "et?een pilosopersan! poets. e etical an! teological moti%ation tat !ro%e /enopanes is "rougt to!ate in te 'epu"lic. 0n or!er to realie tat, one must tae into account te ?ole o$ te!ialogue U ?ere te !e$inition o$ #ustice is at stae U an!, more preciselG, its $irst

     "oos. ere, lato so?s o? important it is to put te poetsV claims to question. e point is, a$ter all, to !epri%e tem o$ te autoritG teG en#oG in ?at concernse!ucational matters as ?ell as ?it pu"lic opinion. 0t is onlG troug an e!ucation?ic is inspire! "G pilosopical questioning U ?ic also implies te pro!uction an!selection o$ mGts U tat one can expect more #ustice "ot on te in!i%i!ual (tegou%ernment o$ is soul) an! on te citG le%els. e rea!ing ?e propose o$ latoVsTreasonsT in te 'epu"lic !oes not eep us $rom recogniing te part trage!G plaGs in a

     "etter un!erstan!ing o$ uman existence, inclu!ing te i!ea o$ te !i%ine.

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-512X2003000100005&script=sci_arttext#asthttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-512X2003000100005&script=sci_arttext#ast2http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-512X2003000100005&script=sci_arttext#asthttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-512X2003000100005&script=sci_arttext#ast2

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    7e* 8ords4 lato, 'epu"lic, poetrG, mGt, religion, e!ucation.

     

    9. A :velha diverg;ncia: entre filosofia e poesia

    Como compreen!er a alusão !o 6i%ro / !a República 9 %ela !i%ergncia ( palai2diap"orá) entre poesia e $iloso$iaJ Con%ém não esquecermos que, em seus primór!ios,

     "oa parte !o que %ir& a ser cama!o !e $iloso$ia $ora enuncia!o em poemas. A!i%ergncia a que se re$ere latão não tem pois a %er com o $ato !e o pensamento serenuncia!o em %ersos, ou se#a, so" uma $orma poem&tica, em"ora, para ele, essa não

     possa ser mais o mo!o !e exposi*ão !o $iloso$ar, por não ser congruente com a pr&tica

    !o dialé(est"aiD que, a partir !e 7ócrates, passou a caracteriar o pensamento $ilosó$ico.

    A "em !ier, ao $alar !e poesia, latão não est& se re$erin!o a tu!o aquilo que seapresenta como poema. ToesiaT no contexto !a República tem a %er com ascomposi*5es !os gran!es poetas !a tra!i*ão, e, so"retu!o, com a poesia mimética, se#aela épica ou tr&gica. Antecipa-se !e certo mo!o aqui o que ser& explicitamenteenuncia!o na Poética !e Aristóteles, isto é, que nem tu!o o que é exposto em %erso !e%eser consi!era!o como poesia. $ato !e escre%er em %ersos não "asta para !e$inir oTpoetaT.

    TCostuma-se U!i AristótelesU camar assim aqueles que exp5em em metros umassunto !e me!ecina ou !e istória natural; e no entanto

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    or outro la!o, quan!o mencionamos o $ato !e que em sua origem "oa parte !o pensamento T$ilosó$icoT ou Tpré-$ilosó$icoT $ora $ormula!o em poemas, o nome que primeiro nos ocorre é o !e armni!es. Oas #& /enó$anes, origin&rio !e Cólo$on, ci!a!eiWnica, que emigrara para a Zran!e Zrécia, on!e armni!es teria si!o seu !iscpuloF, seexprimira tam"ém em poemas, como sói acontecer com os porta!ores !e pala%ras

    essenciais numa comuni!a!e on!e pre!omina a tra!i*ão oral.

    7egun!o Siógenes 6aércio, /enó$anes Tescre%eu %ersos épicos, elegias e #am"os contra

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    em-se a a e%i!ncia !e que na atitu!e !os primeiros pensa!ores em rela*ão a

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    %er!a!eira posi*ão !e latão em rela*ão 9 poesia, que é "em mais complexa !o quesugere o $amoso tópico !a expulsão !os poetas.

    1e#amos pois a República na or!em em que se apresenta. :o primeiro 6i%ro, latãoes"o*a as circunstncias !o !i&logo. 7ócrates se encontra no ireu on!e $ora participar

    !e uma $esta religiosa em onra !e rtemis. Cumpri!as as o"riga*5es rituais e pronto para retornar a Atenas, ce!e contu!o ao pe!i!o !os #o%ens e %ai 9 casa !e Cé$alo, o rico pai !e um !eles, que le o$erece ospitali!a!e. religioso constitui assim o pano !e$un!o !o !i&logo. 0sto prepara o leitor para não estranar que #& !e sa!a a questão !o!i%ino %ena 9 tona. Além !o mais a a"ertura !a con%ersa entre 7ócrates e seusan$itri5es é #ocosamente entremea!a !e express5es ou $órmulas $eitas e recorrentes na

     poesia. Se Cé$alo, o !ono !a casa, !i-se que !e%i!o 9 i!a!e ele #& não po!ia percorrer,Tcom pé le%eT o camino até Atenas.

    Ses!e o come*o, $ica patente que latão enten!e con$rontar o sa"er tra!icional $or#a!o pelas pala%ras !os poetas com o pensamento !ialético, que se es$or*a não em repetir,

     por ou%ir !ier, como as coisas se passaram ou se passam, mas em !eterminar melor ascoisas !e que se $ala. Que tal con$ronto este#a !e sa!a em pauta as primeiras trocasentre Cé$alo e 7ócrates o con$irmam. Ao contr&rio !o que ocorre com tantos !os seusamigos, Cé$alo !i aceitar plenamente e sem queixas a %elice. B o $a contentan!o-seem repetir com a maior a!mira*ão e lou%or as pala%ras ou%i!as !e 7ó$ocles que,solicita!o a se pronunciar so"re as !es%antagens !a i!a!e a%an*a!a, a%ia replica!o H

    T:em me $ale amigo, estou encanta!o !e ter escapa!o ao amor, como se ti%esseescapa!o !as mãos !e um senor $urioso e sel%agemT ( Resp. 32E C).

    ra se 7ócrates aquiesce a Cé$alo quan!o este a$irma que a maneira como a %elice é%i%i!a !epen!e !o car&ter !os omens, tal%e não apro%e senão !a "oca para $ora as

     pala%ras !e 7ó$ocles no que !i respeito ao amor. or quJ orque elas traem um pensamento que re!u o amor exclusi%amente ao carnal. al concep*ão não $a #usti*aa 9ros. =asta pensar no ensino !o :an$uete so"re a rela*ão que une a "elea ao amor

     para que se compreen!a o quanto a !eclara*ão !e 7ó$ocles não po!ia ser assim tão grataaos ou%i!os !e 7ócrates.

    $aen!o, em segui!a, re$erncia 9 $ortuna !e Cé$alo Uque seus amigos tm como$ator !ecisi%o !e sua aceita*ão sem queixumes !a %eliceU que 7ócrates relan*a acon%ersa so"re o tema central !o !i&logo H a #usti*a.

    Surante o pouco tempo em que 7ócrates con%ersa com o !ono !a casa, que não %aitar!ar a se retirar, %-se que este é incapa !e pensar por conta própria. Cé$alo contenta-se em repro!uir as $rases !os poetas que sa"e !e cor e que entram em sintonia comsuas !isposi*5es !o momento. latão caracteria assim !e maneira magistral a cultura!e seus contemporneos, !an!o a %er em que consiste o pensamento !o %ulgo, !os quenão pensam, e como os oportunistas, os !emagogos (o#e !iramos os especialistas emcomunica*ão) po!em !isso se ser%ir. Bm sua época, essa cultura ou esse sa"errepousa%a em gran!e parte so"re as pala%ras !os poetas, que goa%am !e um imenso

     prestgio e que eram $reqXentemente utilia!as para nortear a %i!a e a a*ão poltica.

    Que, por to!a sorte !e ra5es, inclusi%e pelo a!%ento !essa outra $orma !e pensamentoque !eu origem 9 $iloso$ia, o sa"er tra!icional esti%esse em crise, é o que so"ressai

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    tam"ém quan!o 7ócrates tenta mostrar a insu$icincia !a concep*ão !a #usti*a!e$en!i!a por 7imWni!es. Concep*ão segun!o a qual Té #usto restituir a ca!a um aquiloque se le !e%eT ( Resp. 33D B) e que o #usto é T$aer o "em a seus amigosT e o Tmal aseus inimigosT ( Resp. 332 S).

    Antes !e mais na!a, o propósito !e 7ócrates é le%ar os #o%ens a %er que não !e%ema!mitir as pala%ras que les são transmiti!asD[ sem su"met-las a exame e "uscarapreci&-las em $un*ão !a pertinncia (ou não) !o que nelas se !i. @& nessa primeiracena, em que se constitui o 6i%ro 0, latão e%oca

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    omem #usto que, !espo#a!o !e tu!o, perse%era na #usti*a ain!a que ao pre*o !a própria%i!a (3FD=-S).

    ra, é $aen!o apelo a squilo que latão apresenta o personagem !o #usto.

    TColoquemos, sugere ele, !iante !e nós pela imagina*ão o omem #usto que, como !isquilo, quer não aparecer mas ser um omem !e "emT (3FD =).

    1eri$ica-se por a que a oposi*ão entre ser e aparecer que, em sua 

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    encontra. :em em seus atos nem em sua alma olincio onrou a @usti*a. Bssainsolncia le%a por sua %e Btéocles a per!er a ca"e*a.

    A pe*a !e squilo gira%a assim em torno !a #usti*a que é precisamente a questão !o!i&logo. que espanta é que muitos !os comenta!ores !a República não tenam !a!o

    mais aten*ão ao poema tr&gico, tanto mais que latão não se pri%a !e a!otar as pala%ras!o %i!ente An$iaraos.

    Bxaminemos agora alguns !os argumentos apresenta!os por A!imanto, que su"stituiZlauco no !i&logo com 7ócrates. Ble prop5e !e$en!er a tese !e que a #usti*a é pre$er%el9 in#usti*a pelo que tra !e recompensas !a parte !os !euses e !e %antagens #untos aosomens. ara ilustr&-la, $a apelo a !ieres, para l& !e ingnuos, T!o "om

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    Sa a proposi*ão que $a em segui!a 7ócrates a Zlauco e a A!imanto !e examinarem aquestão !a #usti*a. 0sso não signi$ica que este#am prestes a a"an!onar as consi!era*5esso"re a poesia e as artes, tanto mais que numa ci!a!e complexa como a pólis atenienseo papel !as artes é !a maior importncia. A e!uca*ão !os guar!iães !e%e repousar so"rea gin&stica e a mousi3é, a arte !as musas, em"ora a mais alta mousi3é se#a #ustamente a

    arte !o $ilóso$o. Bm torno !a no*ão !e imita*ão, cu#o papel é essencial quan!o se cogita!e arte, surge então no !i&logo a oposi*ão entre alet"és e pse?dos.

    dma simples tra!u*ão !esses termos por %er!a!eiroV e $alsoV não é su$iciente paracompreen!-los, como #& su"linara

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    !e mais ele%a!o. am"ém 7ó$ocles a p5e em rele%o, como o %emos em particularno @iloctetes em torno !a $igura !e dlisses22. latão sempre a isso retorna, pois a!issocia*ão entre pala%ra e a*ão era aquilo mesmo que caracteria%a o ensino !e gran!e

     parte !os so$istas, o que comprometia a #usti*a que !e%ia reinar na pólis.

    1oltemo-nos mais um pouco para o pro"lema !a metamor$ose !os !euses. eil. :a coletnea póstuma intitula!a eil, estou procuran!o !ier que nemto!a metamor$ose é repreens%el. o!e ser um meio !e ultrapassar as aparncias e !e$aer !esco"rir uma reali!a!e superior em rela*ão ao !i%ino. o!a%ia, quan!o 7ócratesa!%erte o poeta insistin!o para que Tnão %ena nos representar os !euses com os tra*os!e %ia#antes estrangeiros percorren!o as ci!a!es com tra%estimentos !e to!a a espécieT( Resp. 38D S), tem em %ista um contexto narrati%o on!e os !euses se trans$ormam como $ito !e cometer a*5es %is, enganan!o os omens. so"re essa reprenta*ão !os !eusesque recai sua crtica.

    assemos agora ao 6i%ro 000, on!e o que se questiona não é mais a representa*ão !os!euses mas a !os eróis que em princpio !e%eriam ser%ir !e mo!elo para os guar!iães,!os quais se espera que se#am cora#osos e capaes !e sacri$icar a própria %i!a pelaci!a!e. ara preencer tal o"#eti%o seria preciso coi"ir os !iscursos suscet%eis !e $aer

    temer a morte e pre$erir a !errota e a escra%i!ão. !i&logo en%ere!a então por aquelasrepresenta*5es !os poetas que !ão uma imagem terr%el !a mansão !os mortos. 7ãore%ela!oras, ali&s, !as cren*as so"re o que nos aguar!a !epois !a morte. Sentre as%&rias a$irma*5es que constam !o $lorilégio reuni!o por latão, encontramos os %ersosD`3-D`4 !o Canto //000 !a 

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     :os %ersos !e

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     plural U méleaB  e queria !ier os mem"ros !o corpo consi!era!os na suaarticula*ão. élos é uma articula*ão !e tons consi!era!os em sua !isposi*ão glo"al.

    Bm 3E8S, 7ócrates !eclara que um mélos se comp5e !e trs elementosH as pala%ras, aarmonia e o ritmo. Quanto 9s pala%ras (ló(oi), o $ato !e serem ou não canta!as não

    altera seu senti!o. :ão & pois na!a mais a acrescentar ao que #& $oi !ito a esse respeito. a armonia e o ritmo que !e%em ser agora le%a!os em conta !o ponto !e %ista ético- pe!agógico. So mesmo mo!o que, quan!o $oi a"or!a!a a representa*ão !os eróis,7ócrates te%e por "em inter!itar as lamenta*5es (t"r.noi) e as queixas (odurmoí ),tam"ém aqui preten!e eliminar !os cantos as armonias melancólicas ou lasci%as. Citacomo exemplos !e armonias a serem re#eita!as, a $im !e se e%itar um en$raquecimentogeral !o car&ter, a armonia l!ia mista ou agu!a assim como a armonia #Wnica.0mporta que se#am preser%a!as as armonias mais %iris e tam"ém aquelas queencora#am a sa"e!oria e a mo!era*ão. ais quali!a!es são inerentes 9s armonias !óricae $rgia e%oca!as por Zlauco.

    Sessa pre$erncia em matéria !e armonia !ecorre ain!a a escola !os instrumentos aserem pri%ilegia!os. Sentre eles a lira, a ctara ou mesmo uma espécie !e $lauta !e an,enquanto outras $lautas !e%em ser preteri!as. :a %er!a!e constata-se aqui a pre$erncia

     pelos instrumentos apolneos em !etrimento !os associa!os ao culto !ionisaco. ^eitasessas recomen!a*5es no campo !a armonia, & que se consi!erar a questão !o ritmo.0ntimamente liga!o ao sopro %ital, o ritmo coloca o canto e a msica em geral emrela*ão com os mo%imentos corporais, como atesta o $ato !e que a uni!a!e rtmicarece"a o nome !e TpéT. Zlauco con$essa que, em"ora sai"a quais são as espécies !eritmo, ignora a correspon!ncia !e ca!a uma !elas com o car&ter, que é o que !e%e serle%a!o em conta na escola !os ritmos a serem encora#a!os. 7ócrates replica que so"reesse ponto eles consultarão S&mon para $icarem mais cientes !e quais as me!i!asrtmicas associa!as 9 "aixea, 9 %iolncia, ao !esregramento e quais as inerentes 9squali!a!es opostas (4``=). Bm tu!o isso, acrescenta latão, a excelncia !ecorre !asimplici!a!e !a alma, que não é a simplici!a!e !os tolos mas !aqueles cu#o car&ter alia

     "on!a!e e "elea.

    que #& nos $a %er esse !esen%ol%imento em torno !a poesia nos primeiros li%ros !o!i&logo é a uni!a!e pro$un!a que a"ra*a to!os os aspectos !a %i!a e como, na "usca !asa"e!oria, ca!a um !e%e ten!er a se uni$icar. :ot&%el é tam"ém por nos mostrar um$ilóso$o le%an!o em conta to!os os aspectos !as artes e não apenas aqueles que tm a%er com as signi$ica*5es expressas pela linguagem. or outro la!o, o !i&logo assume a

    rele%ncia !a arte para a %i!a e o seu e$eito so"re a alma. A arte (o que camamos !eTarteT) po!e ou não contri"uir para a conquista !a armonia que segun!o latãocaracteria a alma #usta.

     

    =. A :expulsão dos poetas: e o necessrio recurso ao mito no >ivro ?

    somente le%an!o-se em conta esse orionte !e consi!era*5es que se po!e proce!er auma leitura !o 6i%ro /, não o toman!o, sem mais, ao pé !a letra. Antes !e a"or!&-lo,seria con%eniente recor!ar as inmeras re$erncias 9 poesia e 9s artes em geral que

    comportam os li%ros centrais !o !i&logo. Como esquecer o papel pri%ilegia!o !a msicana e!uca*ãoJ , no entanto, 9 pintura que recorre latão ao $or#ar suas compara*5es,

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    como é o caso quan!o 7ócrates replica 9 o"#e*ão !e A!imanto segun!o a qual osguar!iães po!em não se sentir $elies com as inter!i*5es que le são $eitas (somente aeles e não a to!os, note-se). Ao !eclarar que o que !e%e primar na ci!a!e é a $elici!a!e!o to!o e não a !e ca!a uma !e suas partes, 7ócrates se ser%e !a compara*ão com a

     pintura !e uma est&tua. :ão & por que reser%ar as mais "elas cores 9s mais "elas partes

    !o corpo Uteramos então o olo pinta!o !e %ermeloU; o que importa é a "elea e a per$ei*ão !o to!o. (A questão que ca"eria le%antar aqui é uma !as mais essenciais em$iloso$ia moralH qual a rela*ão entre o singular, o uni%ersal e o to!oJ)

     :o 6i%ro 10 temos uma compara*ão magn$ica entre o pintor e o $ilóso$o, pois a, emY``B, o $ilóso$o é !ito ser como um pintor $aen!o sua o"ra com os olos %olta!os paraum mo!elo !i%ino. Bsta compara*ão %em logo !epois !e uma interpela*ão !e 7ócrates aA!imantoH TAcre!ita %oc que, quan!o se %i%e com aquilo que se a!mira, se#a poss%elnão imit&-loJT. %er"o mimest"ai, imitarV, é aqui emprega!o !e maneira totalmente

     positi%a.

    ra, essas nuances parecem !esaparecer no 6i%ro /. ̂ oi "asean!o-se nessa !i$eren*aque @ulia Annas em seu li%ro so"re a República2[ sugere que com o 6i%ro 0/ se encerraa argumenta*ão !o !i&logo e que o 6i%ro / teria si!o re!igi!o anteriormente e não

     passaria !e um a!en!o "em in$erior ao que prece!e. Bla !i%i!e o 6i%ro / em !uas partesH a primeira relati%a 9 Texpulsão !a poesiaT (YEYA-F`8C) ; a segun!a (F`8C-F2DS) seria uma espécie !e fourre-tout  on!e se retoma o tema !as recompensas !a

     #usti*a. Creio que @ulia Annas simpli$ica !emais as coisas so"retu!o por não conce!er aaten*ão !e%i!a ao mito !e Br, que termina o !i&logo. que se precisa compreen!er sãoas ra5es !e latão para manter o 6i%ro / como $eco !a República.

     :a passagem on!e se l que a poesia mimética !e%e ser expulsa !a ci!a!e, a ci!a!e !eque meta$oricamente se trata é antes !e mais na!a a !a nossa própria alma. ara que elase#a "em go%erna!a, con%ém li"er&-la !as cren*as e !os apegos incompat%eis com a

     #usti*a. latão est& sen!o irWnico quan!o in%erte os termos !a !enncia !a qual $oi%tima seu mestreH T%ocs não %ão me !enunciar aos poetas tr&gicos e aos outros artistasque praticam a imita*ãoT.

    Além !isso, o e$eito negati%o !a poesia mimética só parece atingir aqueles que não tmum ant!oto, que ain!a não estão imunia!os contra as aparncias. :ão se po!e tam"émexcluir que latão se#a crtico em rela*ão so"retu!o a Burpi!es pelos excessos !e seuteatro. B se !ele remonta até

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     poetas $ica%am $reqXentemente aquém !a i!éia !o !i%ino, examinemos a sugestão $eita por @ulia Annas !e que o 6i%ro 0/ po!eria muito "em encerrar o !i&logo.

    i%esse latão toma!o tal !ecisão, não apresentaria o !i&logo algo !e inaca"a!o e !einconseqXenteJ

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    'ichur !estaca ain!a dipo em Colono, on!e 7ó$ocles trata !o $im !a %i!a !o eróite"ano. :esta pe*a os !euses aparecem primeiro como in#ustos, protegen!o os omens%is, até se mani$estarem !e mo!o in%erso aos olos !o erói so$re!or, que po!e entãomorrer em pa. A tragé!ia se conclui por um ino !e reconecimento a beus.

    Bm outras pala%ras, a concep*ão !e um Seus mau !ar-se-ia como pólo intencional !euma %isão !eturpa!a, a !o omem torna!o cego por sua própria in#usti*a ou por umexcesso !e in$elici!a!e. Sien!o isso estou, é claro, !e$en!en!o a !imensão ética !atragé!ia. :ão & como negar que squilo e 7ó$ocles contri"uram gran!emente para

     promo%er uma %isão menos ru!imentar !o !i%ino. Bstaria eu por mina %e agra%an!o ocaso !e latão em sua con!ena*ão !a tragé!iaJ Acre!ito que não. que ele !enunciou$oi a am"i%alncia relati%a ao !i%ino que su"sistia nos tr&gicos e so"retu!o o uso que$aiam !os poetas tanto a opinião comum quanto os so$istas.

    7e latão preconia%a uma regula*ão !o uso !a pro!u*ão poética Ucomo o#e sãocama!os a $aer os comits !e ética em rela*ão 9s pro!u*5es tecnico-cient$icas ou 9s

     pro!u*5es !a m!ia no setor !a comunica*ãoU, não institua um tri"unal para con!enar!es%ios relati%os a uma orto!oxia, a um corpo !e !e$ini*5es !ogm&ticas, como aqueleque con!enara seu mestre 7ócrates. que ele queria tra*ar eram as coor!ena!as !e umae!uca*ão capa !e implantar na alma uma armonia e uma aspira*ão ao =elo e ao =om.

    A pergunta crucial a ser en!ere*a!a ao 6i%ro / !a República seria então a seguinteH ser&que a e!uca*ão po!e ser $eita a partir somente !e "ons exemplos, quan!oine%ita%elmente em nosssa experincia !a reali!a!e con$rontamos to!a espécie !econ!utaJ latão parece não ter po!i!o entre%er os e$eitos, muito !i%ersos, que pro!uemas $&"ulas so"re a alma !e ca!a um. :em tampouco $oi !e to!o capa !e a%aliar o que aalma umana comporta !e mean!ros, !e !es%ios e !e inclina*5es per%ersas. Son!e suacon$ian*a na e!uca*ão. al%e não ti%esse como %islum"rar a pro$un!i!a!e !o mal,!a "úbris que nos amea*a e, portanto, o que as nossas a*5es po!em ter !e in#usti$ic&%el

     #& que em ca!a alma ten!e a pre%alecer o amor in#usto ou ilusório !e ca!a um por simesmo ou pelos seus, mesmo ao pre*o !o "em !e%i!o aos outros.

    tr&gico resiste assim 9 $iloso$ia, ao amor !o $ilóso$o pela sa"e!oria, porquecorrespon!e 9 experincia, por um la!o, !a "úbris, por outro, !a in$elici!a!e que po!ese a"ater so"re o ser umano, mesmo inocente. Bsta ltima é que $a "rotar !o peito ogrito ou o murmrioH Tor quJ or que tal coisa me aconteceJT. am"ém no li%ro !e@o" encontramos um equi%alente !essa interroga*ão, que atinge seu clmax no Tor que

    me a"an!onasteJT !a Cru.

    Bm outras pala%ras, a tragé!ia en$renta o enigma, ou melor, o mistério !a existnciaque a "usca !a sa"e!oria pelo $ilóso$o não consegue !e to!o eliminar. Sa suacontri"ui*ão para o auto-conecimento !o omem e seu po!er teraputico, como oreconeceu Aristóteles. 7ó que quan!o o autor !a Poética nela a"or!a a tragé!ia, não o$a em termos !ialéticos. :ão est& a, como latão na República, 9 procura !e umamelor !e$ini*ão !o T#ustoT.

    Bm resumo, o que se po!e !ier é que se a poesia mimética o$erece um espeloma#estoso !a con!i*ão umana, nem por isso !ispensa o $ilóso$o !e clari$icar e reti$icar

    a diánoia !os poemas, com %istas 9s no*5es que norteiam e, !e certo mo!o, mol!am a

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    existncia !os omens, a come*ar pelas i!éias que se $aem !o !i%ino. ^oi o que latão,o !iscpulo !e 7ócrates, tão "em compreen!eu32.

     

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    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-512X2003000100005&script=sci_arttext#32http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-512X2003000100005&script=sci_arttext#32

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