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ATLAS DAS PAISAGENS DO VALE DO MINHO

Date post: 08-Jan-2017
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ATLAS DAS PAISAGENS DO VALE DO MINHO
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ATLAS DAS PAISAGENS DO VALE DO MINHO

Introdução

Biogeografia

Ecossistemas

Prancha de Ilustrações

Projecto - Promoção e Sustentabilidade das Paisagens do Vale do Minho Associação de Municípios do Vale do Minho, ©2011

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O Vale do Minho, representa um rico e complexo mosaico paisagístico, correspondendo a uma significativa porção da Rede Fundamental de Conservação da Natureza. Ao longo da área de influência do rio Minho, desde que entra em Portugal até à sua foz, encontra-mos duas áreas protegidas, das quais uma é o único Parque Nacional do país, cinco Sítios de Importância Comunitária e duas Zonas de Protecção Especial.

O rio Minho, fronteira natural com Espanha, é um dos rios nacionais que apresenta menor implantação de empreendimentos hidráulicos, sendo a sua bacia hidrográfica, uma das mais importantes para a conservação de espécies piscícolas migradoras.

As montanhas que delimitam o vale, albergam unidades vegetais riquíssimas e de elevada biodiversidade, que por sua vez suportam uma importante comunidade animal. Veja-se a título de exemplo o corredor ecológico que passando pelo Corno do Bico liga o Gerês à Serra de Arga, tornando esta no local mais a Noroeste do país com território favorável para a ocorrência de lobo.

Pretende-se que este Atlas da Paisagem do Vale do Minho, centrado geograficamente no território compreendido pelos concelhos de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira, funcione como um guia ilustrado de consulta rápida, permitindo a quem visita o território uma melhor interpretação e compreensão da paisagem. Assim, seleccionaram-se sete habitats que se consideram, pela sua dimensão e importância, serem os mais representativos da paisagem do Vale do Minho.

Falar da paisagem do Vale do Minho é também falar da sua população, da sua etnografia, que influenciou e foi influenciada, que unificou e complementou, até se consubstanciar no binómio que hoje conhecemos. O património impar que representam as veigas, as brandas e inverneiras ou os socalcos e terraços, de elevado valor etnográfico e pai-sagístico, está intimamente ligado à ocupação humana do território e à necessidade de conservação do recurso solo!

Introdução

Prancha de Ilustrações

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Relevo

Litografia

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Os grandes eventos geológicos como as glaciações, migração de continentes, recuo marítimo e formação de montanhas, originaram áreas com padrões comuns a nível clima-térico, tipologia de solos e nutrientes, disponibilidade de água, entre outros, permitindo suportar diferentes comunidades animais e vegetais.

O estudo biogeográfico destes factores, dos diferentes tipos de paisagem e de comuni-dades, bem como das etapas ecológicas que as antecederam permitiram criar unidades homogéneas - as bioregiões, que por sua vez se desmultiplicam em unidades geografica-mente menores, mas de maior especificidade de parâmetros.

Portugal Continental distribui-se por duas regiões biogeográficas: a Região Eurosiberiana e a Região Mediterrânica. O Vale do Minho situa-se na primeira, mais concretamente na Superprovincia Atlântica, Sector Galaico-Português.

O Vale do Minho apresenta-se aberto sob a forma de planície aluvionar na zona ocidental, onde se verificam as cotas mais baixas, tornando-se progressivamente mais acidentado para Sul. No sentido Este, verifica-se também um encaixe do rio, com um estreitar acen-tuado do vale e declives mais abruptos. Em Castro Laboreiro registam-se as cotas mais altas do território: 1330 m.

A região apresenta uma litologia predominantemente granítica (72,4 %), distribuída de forma homogénea. Intercalado um pouco por todo o território e sobretudo em cotas mais elevadas, encontra-se xisto-grauvaque (22 %), que origina solos finos e pouco férteis. É aqui que se localizam as cabeceiras da maioria dos afluentes, enquanto que as bacias dos rios Minho e Coura se situam em geologia predominantemente granítica. Destaque ainda para a presença de aplito-pegmatito associado a xisto, em Covas e Castro Laboreiro, que representam um estádio tardio de cristalização do magma.

Nos concelhos de Vila Nova de Cerveira, Valença e Monção existem ainda importantes formações sedimentares, dos tipos areias e cascalheiras (4,8 %) e aluviões (0,8 %).

Biogeografia

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Temperaturas médias anuais

Precipitação

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O clima no Vale do Minho é fortemente influenciado pelo efeito amenizante do Oceano Atlântico, com uma amplitude térmica pouco acentuada - invernos amenos e verões suaves.

As temperaturas médias anuais mais elevadas verificadas na região, com valor na ordem dos 17ºC, registam-se nas zonas baixas adjacentes aos rios Minho e Coura. Com o avanço para o interior, começa a verificar-se já alguma influencia climática continental, com uma temperatura média anual menor e com um período de geada mais extenso. Começa igualmente a verificar-se uma mudança na vegetação (natural ou culturas agrí-colas), condicionado não tanto pela precipitação, bastante elevada, mas pela existência de um período favorável de crescimento, mais curto.

As temperaturas médias anuais mais baixas que se verificam no território, são de cerca de 7ºC, nas zonas mais altas e com especial incidência em encostas viradas a Norte.

A precipitação anual é bastante elevada, mantendo-se uma razoável disponibilidade hídri-ca durante o período estival. Verifica-se uma menor precipitação (1200 mm) na zona ocidental do vale, onde este é mais aberto, aumentando progressivamente com a altitude e a deslocação para Este, culminando em cerca de 3000 mm anuais na zona de Castro Laboreiro, em Melgaço.

Em zonas relativamente pequenas, como por exemplo entre as encostas de uma mon-tanha, é possível registar interessantes variações meteorológicas. Tal facto prende-se com os ventos atlânticos dominantes, carregados de humidade, que são forçados a as-cender ao contactarem com uma montanha, originando precipitação na encosta Oeste. O ar aquece após transpor o cume - efeito de Foënh, tornando-se mais quente e seco que o inicial, pelo que ocorre menor precipitação na encosta Este. Assim, facilmente se percebe a biodiversidade que em alguns casos existe entre as encostas de uma mesma montanha.

Biogeografia

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O relevo e a tipologia dos solos, as condições meteorológicas e a proximidade aos rios Minho e Coura, condicionaram a ocupação humana do vale. Assim, constata-se que as sedes de concelho, tal como os principais núcleos populacionais, são sobranceiras aos rios, em zonas de vale mais aberto.

Verifica-se também que a ocupação do território em solos mais favoráveis (as zonas apla-nadas do vale) apresenta um padrão concêntrico, em que no centro estão os povoados, rodeados de campos agrícolas, que por sua vez estão rodeados por manchas florestais. Por outro lado, nos concelhos de Melgaço e Paredes de Coura, mais montanhosos, as zonas de campos apresentam-se essencialmente sob a forma de socalcos ou terraços, conferindo o elevado valor estético e ambiental ao território adverso de montanha.

Estatisticamente, verifica-se que 7 % do território corresponde a área artificializada, 1 % a planos de água, 21 % a zonas agrícolas (dos quais 7 % são dedicados ao cultivo de vinha), 29 % a zonas florestais e 41 % do território é terreno inculto/ improdutivo (utilizado essencialmente para a silvopastorícia).

Ocupação do solo

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As características biogeográficas abordadas no presente capítulo, tornaram o Vale do Minho num importante centro de endemismos (espécies com uma distribuição geográ-fica altamente localizada), principalmente ao nível da flora, permitindo igualmente a ma-nutenção de algumas bolsas de vegetação climácica (vegetação original). Por sua vez, es-tas manchas de vegetação permitem a existência de uma importante comunidade animal.

A biodiversidade e características paisagísticas do território justificaram a criação de diferentes zonas protegidas situadas total ou parcialmente no Vale do Minho: Parque Nacional da Peneda-Gerês (B), Paisagem Protegida do Corno do Bico (A), Sítios de Im-portância Comunitária do Rio Minho (E), do Corno do Bico (G), das Serras da Peneda e Gerês (F), Zonas de Protecção Especial da Serra do Gerês (D) e dos Estuários do Rio Minho e Coura (C).

Biogeografia

Áreas Protegidas

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Melgaço

Neste Atlas da Paisagem do Vale do Minho, aborda-se a região mais montana do vale, de clima Atlântico com alguma influência Continental, excluindo-se assim a área litoral e estuarina, coincidindo a área de estudo com o território formado pelos Municípios de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira.

O atlas apresentado pretende ser uma ferramenta de apoio à visitação e compreensão do território. Assim, foram excluídos alguns habitats que não seriam tão facilmente apreen-didos, como as turfeiras e charnecas húmidas, ou as comunidades permanentes de leitos de cheia rochosos, o que em nada lhes deverá retirar valor e relevância conservacionista. A metodologia seguida não foi no entanto cartesiana, compartimentada, procurando-se sim obter uma imagem fiel do Vale do Minho através de uma selecção dos habitats que pela dimensão ou características específicas mais contribuem para a paisagem.

Incluíram-se cinco habitats naturais e dois com origem na ocupação humana. Seria im-pensável restringir este atlas aos “habitats naturais”, dada a ocupação humana que o Vale do Minho apresenta desde há vários milénios. Se por um lado a presença humana induz a profundas alterações na paisagem (impermeabilização de solos e de margens, indústria extractiva, florestas de produção, entre outros), por outro, as práticas agrícolas tradicio-nais estão na base da criação de um mosaico de campos e levadas de água, ladeados por sebes e bosques que, para além da sua beleza paisagística, albergam uma elevada biodi-versidade animal e vegetal.

A flora local integra-se na Flora Atlântica, possuindo como principais unidades o Carva-lho-alvarinho (Quercus robur), o Bidoeiro (Betula celtiberica), o padreiro ou falso-plátano (Acer pseudoplatanus), bem como diversas espécies e associações de tojos e urzes.

No Vale do Minho existem ainda, espécies características da Flora Mediterrânica muito bem adaptadas, testemunhos de migrações vegetais em épocas mais quentes que a actual, como o Sobreiro (Quercus suber), o Loureiro (Laurus nobilis), o Medronheiro (Arbutus unedo), ou a Gilbardeira (Ruscus aculeatus).

Ecossistemas

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Lontra

Vila Nova de CerveiraParedes de Coura

Lontra

Chapim-rabilongo

Ecossistemas-Bosques Ribeirinhos

Os bosques ribeirinhos ou ripícolas, encontram-se ao longo de rios, ribeiras e das tradi-cionais levadas de água. Naturalmente desenvolvem-se no sentido longitudinal, acompa-nhando o curso de água, sendo a sua largura condicionada essencialmente pelo declive do talude. Em taludes encharcados e mais sombrios, a galeria ripícola pode atingir uma largura considerável (ver Prancha de Ilustrações).

Estes bosques constituem uma complexa associação de espécies vegetais, capazes de albergar uma importante comunidade animal, que a utiliza de forma tridimensional como corredor ecológico. Geralmente são dominados por um estrato arbóreo composto por Amieiro (Alnus glutinosa) e Freixo (Fraxinus excelsior), encontrando-se também Carva-lho-alvarinho (Quercus robur) e nas margens do rio Minho Sobreiros (Quercus suber). O sub-bosque é rico, com a presença de Azevinho (Ilex aquifolium) e Pilriteiro (Crataegus monogyna), bem como diferentes fetos, hepáticas e musgos. Nas margens do rio Coura, destaque para a presença do endemismo ibérico Narcissus cyclamineus. As galerias de vales encaixados, mais torrenciais, possuem um sub-bosque mais pobre, sendo o estrato arbóreo dominado por Bidoeiro (Betula celtiberica) e Salgueiro (Salix spp.).

As galerias ripícolas, para além do habitat que representam, têm diferentes funções ecológicas de elevada importância: tais como a estabilização de taludes impedindo a erosão dos solos, regulação de nutrientes e retenção de poluição, controlo de cheias, in-put de matéria orgânica (através do carbono contido em folhas e troncos) nas linhas de água, que após conversão pelas comunidades fotossintéticas, vai suportar toda a cadeia alimentar do rio.

A fauna associada aos bosques ripícolas e às próprias linhas de água é bastante rica e diversificada. Para além de inúmeras espécies de répteis, anfíbios e aves como o Chapim-rabilongo (Aegithalus caudatus) ou o Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula), estas galerias repre-sentam locais de abrigo e reprodução para importantes espécies de mamíferos, como a Lontra (Lutra lutra) ou a Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), que encontra nas mar-gens dos afluentes do rio Minho um habitat de excelência.

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G

arça-real

G

uarda-rios

Valença

Valença

A Veiga da Mira constitui um ecossistema impar na área de estudo. Correspondendo a cerca de 300 ha de linhas de água, lagoas temporárias, bosques palustres e campos agrí-colas ladeados por sebes vivas, que apresentam no seu todo uma elevada biodiversidade e muita relevância para a conservação de aves aquáticas invernantes. Justifica-se assim a sua protecção através de diferentes diplomas como a Rede Natura 2000, Reserva Ecológica e Agrícola Nacional e Domínio Público Hídrico.

Sendo uma área essencialmente inundável, a entrada de água é feita a partir do rio Minho, das ribeiras de Favais, Pedreira e Formigosa, que se ramificam numa complexa rede de canais. A Veiga da Mira é um importante local para a conservação da Lontra (Lutra lutra).

A vegetação arbórea é dominada por bosques paludosos de amieiro (Alnus glutinosa) e Salgueiro (Salix spp.), que rodeiam algumas lagoas, sendo o estrato herbáceo de grandes dimensões. Nos meses de verão, parte dos terrenos adjacentes encontram-se cultivados essencialmente com milho, no entanto, no inverno transformam-se em área alagada.

Pensa-se que no passado os bosques paludosos estariam fortemente representados nos terraços de aluvião dos grandes rios portugueses. Actualmente, estas associações ve-getais são relíquias.

Este ecossistema é um importante habitat e local de observação de pequenos pas-seriformes como a Escrevedeira-dos-caniços (Emberiza schoeniclus), o Rouxinol-peque-no-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus) ou a Alvéola-amarela (Motacilla flava), de aves aquáticas como o Guarda-rios (Alcedo atthis), o Pato-real (Anas platyrhynchos) ou a Gar-ça-real (Ardea cinerea), de limícolas como Abibe (Vanelus vanelus) e de rapinas como o Tartaranhão-ruivo-dos-pauis (Circus aeruginosus).

As zonas húmidas são dos ecossistemas mais ricos e produtivos, possuindo uma elevada biodiversidade e consequentemente muita relevância conservacionista. No entanto, são ecossistemas extremamente sensíveis, encontrando-se fortemente ameaçados pela pressão humana (poluição, urbanização, intensificação da agricultura e piscicultura), pelo que urge aplicar na integra as directrizes resultantes da Convenção RAMSAR – relativa à conservação e uso sustentável das zonas húmidas e seus recursos, assinada no Irão em 1971 e ratificada por Portugal em 1975.

Ecossistemas-Veiga da Mira

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G

arça-real

G

uarda-rios

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Ecossistemas

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Carvalho-alvarinhoCastanheiro

Texugo

Valença

Ecossistemas - Carvalhais de

Carvalho-alvarinho

Os carvalhais de Carvalho-alvarinho (Quercus robur), encontram-se predominantemente em solos profundos e frescos, de origem granítica ou xistosa, moderadamente ácidos e ricos em nutrientes, localizados na base de encostas de vales encaixados. Sendo uma espécie tipicamente atlântica, encontra-se essencialmente abaixo dos 600 m de altitude, onde a influência climácica é maior. Maior é também a perturbação humana, uma vez que é também em solos profundos e abaixo dos 600 m que se encontram os terrenos com melhores características para as actividades agrícolas.

Os carvalhais traduzem-se em importantes associações vegetais (ver Prancha de Ilus-trações). Assim, os carvalhais de maior influência atlântica - carvalhais climácicos apre-sentam entre outras espécies, Castanheiro (Castanea sativa), Aveleira (Corylus avellana), Pilriteiro (Crataegus monogyna), Azevinho (Ilex aquifolium) e Gilbardeira (Ruscus aculeatus). Nas encostas mais expostas a Sul, é frequente uma associação de cariz mais medite-rrânico - carvalhais termófilos - isto é, com espécies como o Sobreiro (Quercus suber), o Medronheiro (Arbutus unedo) ou o Loureiro (Laurus nobilis).

O carvalhal climácico, é uma associação vegetal que se encontra na etapa clímax, isto é, num estado de conservação original. Alguns dos ecossistemas presentes no Vale do Minho resultam da sucessão ecológica da degradação (em relação à etapa clímax) de um carvalhal, o que não lhes retira necessariamente valor ao nível da biodiversidade! Por exemplo, um aveleiral natural (típico do Noroeste de Portugal) corresponde a um bosque climácico secundário, um giestal à primeira etapa de degradação de um carvalhal, os matos a etapas mais avançadas.

A fauna associada aos carvalhais locais é bastante diversificada, destacando-se alguns carnívoros como o Texugo (Meles meles), a Raposa (Vulpes vulpes) e a Fuínha (Martes foina), ungulados como o Javali (Sus scrofa) e aves como a Trepadeira-azul (Sitta europaea), que se destaca por possuir a capacidade de se deslocar ao longo dos troncos, quer no sentido ascendente como descendente.

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Monção

Vidoeiro

Carvalho-negral

Corço

Paredes de Coura

Os carvalhais galaico-portugueses de Carvalho-alvarinho (Q. robur) e Carvalho-negral (Q. pyrenaica) constituem uma comunidade vegetal autóctone, que representa um impor-tante ecossistema pela biodiversidade que encerra.

Enquanto que os carvalhais de Q. robur são preferencialmente climácicos, típicos de solos profundos e vales encaixados, os carvalhais galaico-portugueses situam-se em zo-nas mais elevadas, geralmente a partir dos 600 m de altitude, onde se verifica alguma influência continental.

Naturalmente, as associações vegetais que os compõem são também diferentes dos an-teriores, variando com a exposição, precipitação, qualidade do solo, entre outros. Tipica-mente, possuem uma elevada cobertura arbórea, pelo que o seu sub-bosque é húmido e sombrio, com pouca variação de temperatura. Assim, apresentam um baixo coberto arbustivo, composto essencialmente por Pereira-brava (Pyrus cordata), Arando (Vaccinium myrtillus) e Pilriteiro (Crataegus monogyna), sendo o sub-bosque dominado por espécies geófitas - que persistem no subsolo sob a forma de bolbos, rizomas ou tubérculos du-rante os períodos desfavoráveis ao crescimento. São exemplo de espécies geófitas, que aqui encontram o seu habitat, os endemismos ibéricos Narcissus cyclamineos e Narcissus pseudonarcissus nobilis.

As especificidades térmicas e hídricas do sub-bosque dos Carvalhais Galaico-portu-gueses, tornam-nos ainda num local de excelência a nível micológico, sendo inúmeras as espécies aqui representadas, algumas de valor comercial como Boletus edulis ou C. cibarius.

Em algumas bolsas localizadas a maior altitude, verifica-se uma associação dos carvalhais galaico-portugueses com vidoeiros (Betula celtiberica), o que representa um testemunho da época de glaciação da Península Ibérica.

Ao nível da fauna destaque para espécies como o Corço (Capreolus capreolus), a Geneta (Genetta genetta), o Esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris) e o Lobo (Canis lupus signatus).

Ecossistemas - Carvalhais Galaico- portugueses

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Narcissus cyclamineus - PPCB

Rã-ibérica

Paredes de Coura

Salamandra-lusitânica

Os Lameiros ou Prados de Rega de Lima, são ecossistemas semi-naturais, em socalcos ladeados por bosquetes de carvalho e levadas de água ou ribeiras, de grande valor pai-sagístico e biogenético. Possuem ainda um elevado valor etnográfico na medida em que representam uma centenária prática da agricultura tradicional de montanha.

Localizam-se geralmente a uma cota superior a 500 m, em solos férteis e de abundante disponibilidade hídrica. Aliás, o termo “Prado de Lima” encontra-se ligado a esta dis-ponibilidade hídrica - a rega de lima traduz-se na escorrência constante de água a toda a superfície do solo, passando de socalco para socalco (ver Prancha de Ilustrações), pro-movendo a regulação térmica, reduzindo assim a formação de geada durante o Inverno e permitindo um crescimento mais rápido na Primavera.

A composição vegetal dos lameiros depende da sua utilização humana, podendo ser lameiro de pasto, de erva, ou de feno - os mais interessantes ecologicamente. A uti- lização dos lameiros pelo gado e o corte anual (“segagem”) do feno ou da erva pro- movem o equilíbrio nas sucessões vegetais que os compõem.

Desempenhando uma importante função de regulação dos ciclos da água e dos nutri-entes, supõe-se que este ecossistema ancestralmente já existisse, na forma de prados em pequenas clareiras de bosques mantidos por herbívoros. No entanto a forma e abundância que hoje se verifica, deve-se ao homem. Evidência disso é o facto deste eco-ssistema se encontrar em recessão devido ao êxodo rural - os lameiros mais afastados das povoações, que representam o habitat de espécies mais raras, encontram-se ao abandono e as espécies herbáceas anuais que os compunham estão a ser substituídas naturalmente por arbustos.

Os lameiros são muito ricos em insectos, pelo que a nível faunístico representam um habitat de excelência para espécies insectívoras como o Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) e para os endemismos Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica) e Rã-Ibé-rica (Rana iberica).

Ecossistemas - Lameiros

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Lebre

Melgaço

Monção

Lebre

As Brandas e Inverneiras são um complexo ecossistema semi-natural, composto por prados de feno, pequenas hortas (logradouros) e alguns bosquetes de Carvalho. Este ecossistema de montanha tem a sua origem numa ímpar estratégia de povoamento do Alto-Minho caracterizado por uma sazonalidade na ocupação humana de vales e cabeceiras de montanha ao longo do ano.

A ocupação humana deste território esteve desde sempre intimamente associada à pastorícia. Assim, as Inverneiras representam a povoação principal, situada em zonas de vale, onde o Inverno é menos rigoroso. Em meados de Maio, com o aumento da temperatura e a diminuição da disponibilidade de pastos, associado ao fim das lavouras e da necessidade dos bovinos para o auxílio da agricultura, ocorria a deslocação de alguns habitantes e do gado para as cabeceiras dos montes, geralmente acima dos 600 m, em busca das cabeceiras dos rios e de prados de feno - as Brandas, onde ficariam até meados de Setembro (ver Prancha de Ilustrações).

A ocupação humana das Brandas podia traduzir-se em simples abrigos de pastores e dos seus parcos haveres - os “cortelhos”, ou em alguns casos, em pequenos povoados que recebiam famílias inteiras e onde se cultivavam em pequenas hortas a batata e o centeio.

As Brandas e Inverneiras são mais um exemplo de ocupação sustentada do território, através de práticas tradicionais. Esta ocupação humana modificou a paisagem, criando novos biótopos, contribuindo assim para a diversidade biológica. Presentemente, a sazonalidade entre os vales e as cristas montanhosas já quase não se verifica, mas observa-se uma manutenção destes ecossistemas e da etnografia local com finalidades ecoturísticas.

A fauna local é bastante rica e diversificada, sendo possível avistar sem grande dificul-dade Coelhos (Oryctolagus cuniculus), Lebres (Lepus granatensis), Corvos (Corvus corax), bem como inúmeras espécies de aves de rapina como águias ou falcões.

Ecossistemas - Brandas e Inverneiras

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Tartaranhão caçador

Lobo

Paredes de Coura

Tartaranhão caçador

Ecossistemas - Tojais - urzais

O matos representam uma unidade paisagística associada a terrenos incultos, que como anteriormente foi referido, correspondem a uma etapa relativamente avançada da degra-dação de carvalhais. No entanto, muitas das associações que os compõem são biogené-ticamente ricas e bastante estáveis ecologicamente.

Os Tojais-urzais são um tipo dos vulgarmente designados matos (que também com-preendem giestais, charnecas húmidas, entre outros), que integram uma considerável porção da paisagem do Vale do Minho. Dominados pelo Tojo (geralmente Ulex europaeus e U. minor) em associação com Urze-roxa (Erica cinerea) e Torga (Calluna vulgaris), surgem de forma marginal a carvalhais e outras unidades florestais, até uma altitude de cerca de 700 m. A sua composição específica pode no entanto variar dependendo da exposição, tipo de solo e humidade.

Este ecossistema desempenha um importante papel de regulação do ciclo da água e dos nutrientes, para além de refúgio de biodiversidade, tendo como principais factores de pressão a pastorícia e as queimadas, muitas vezes ligadas às próprias práticas silvopas-toris.

Os Tojais-urzais, representam por diferentes condicionantes um bom habitat para diver-sas espécies animais: os situados na orla de zonas florestadas para o Gato-bravo (Felis silvestris), os situados na orla de campos de cereal para a Perdiz (Alectoris rufa).

O Lobo (Canis lupus signatus), espécie de distribuição bastante generalista, encontra tam-bém neste ecossistema um importante habitat, por este tender a ser um dos menos propícios à perturbação humana.

Curiosa é também a presença de Tartaranhão-caçador (Circus pygargus), rapina típica das grandes áreas cerealíferas do Alentejo, uma vez que caça e nidifica no solo, mas que aqui também encontrou um propício habitat.

27Melgaço

Brandas e Inverneiras

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Lameiros e Levadas

Galeria Ripícola - perfil

Prancha de Ilustrações

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Azevinho

Aveleira

Carvalhais Q. robur

LiquensHypericum androsaemum

Veronica montana

W

oodwardia radicans

Pilriteiro

Bétula Bordo

Carvalho Castanheiro

Musgos

Estrato herbáceo

Estrato muscinial/epífito

Estrado arbustivo

Estrato arboréo

30

Azevinho

Pilriteiro

Estrado arbustivo

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Edição Associação de Municípios do Vale do Minho

www.valedominho.pt [email protected]

Tel: +351251800550Fax: +351251800553

Conteúdos e ComposiçãoEcovisão - Tecnologias do Meio Ambiente, Lda.


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