A PROVIDÊNCIA DE DEUS NA ALIANÇANUMA PERSPECTIVA REFORMADA
Fernando Eduard FrîncuMiami Internacional Seminary
2012
Miami International Seminary14401 Old Cutler Rd.
Miami, Florida, 33158, USA786-573-7000 (office)
305-238-2045 (fax)[email protected]
CONTEÚDO
PREFÁCIO..........................................................................................................................5
LIÇÃO 1: INTRODUÇÃO..................................................................................................6
1.1 Definição de Termos............................................................................................8
PERGUNTAS:.................................................................................................................9
LIÇÃO 2: PANORAMA BÍBLICO I................................................................................11
2.1 A Providência Dentro da Aliança........................................................................11
2.2 A Unidade da Aliança.........................................................................................13
2.2.1 As características do estabelecimento da aliança demonstram unidade. ....13
2.2.2 A unidade da aliança também é vista através de uma ministração
genealógica.................................................................................................................14
2.2.3 A história do povo de Deus indica que a Aliança é uma só.........................15
2.2.4 O relacionamento de Deus com seu povo através da Aliança.....................16
2.2.5 O tema unificador da Bíblia........................................................................17
PERGUNTAS:...............................................................................................................18
LIÇÃO 3: PANORAMA BÍBLICO II...............................................................................19
3.1 A Providência dentro da Aliança.........................................................................19
3.3.1 A Providência e a Aliança no tempo de Abraão.........................................19
3.1.2 A Providência e a Aliança no tempo de Moisés..........................................25
3.1.3 A Providência e a Aliança no tempo de Davi..............................................27
3.1.4 A Providência e a Aliança cumprida em Cristo...........................................30
PERGUNTAS:...............................................................................................................32
LIÇÃO 4: PANORAMA CRISTOLÓGICO.....................................................................33
4.1 Cristo, a providência e aliança.............................................................................34
4.2 Cristo, a providência e o povo eleito...................................................................38
2
4.3 Cristo, a providência e o mundo..........................................................................39
PERGUNTAS:...............................................................................................................41
LIÇÃO 5: PANORAMA HISTÓRICO............................................................................43
5.1 O Início e os Pais da Igreja..................................................................................43
5.2 O Modelo Agostiniano........................................................................................44
5.3 A Idade Média.....................................................................................................45
5.4 Os Reformadores e a Teologia Reformada.........................................................45
5.5 Outra Visão – Arminianismo...............................................................................46
5.6 Teísmo Aberto.....................................................................................................47
PERGUNTAS:...............................................................................................................48
LIÇÃO 6: PANORAMA TEOLÓGICO............................................................................49
6.1 A Providência nas Institutas de Calvino..............................................................49
6.2 Providência na Confissão de Fé de Westminster................................................50
6.3 Providência no Catecismo Maior........................................................................51
6.4 A Providência por R.C. Sproul............................................................................52
6.5 Nossa Posição.....................................................................................................52
6.5.1 A Preservação Divina...................................................................................53
6.5.2 O Concursus Divino (Cooperação)..............................................................53
6.5.3 O Governo de Deus.....................................................................................54
PERGUNTAS:...............................................................................................................55
LIÇÃO 7: A QUESTÃO DA ORAÇÃO...........................................................................56
7.1 Extremos..............................................................................................................56
7.2 Perigos.................................................................................................................57
7.3 Soluções...............................................................................................................58
PERGUNTAS:...............................................................................................................61
LIÇÃO 8: CONCLUSÃO..................................................................................................62
8.1 Sugestões.............................................................................................................63
3
PERGUNTAS:...............................................................................................................64
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................66
4
PREFÁCIO
Em janeiro de 2008 as famílias Oliveira e Dutra, da qual faz parte também minha esposa,
passaram por um triste episódio no qual o rev. Ailton Dutra e seus três filhos morreram,
num trágico acidente, inexplicável.
A presença e a atuação providencial de Deus na sua criação é algo muito nítido nas
Escrituras e os próprios líderes da igreja e teólogos perceberam isso e se preocuparam
com essa doutrina chamada de “Doutrina da Providência”. A Confissão de Fé de
Westminster, reconhecendo a existência e o valor deste tema, dedicou a ele um capítulo
inteiro em eu conjunto.
Ainda assim, diante de acontecimentos negativos, as pessoas têm dificuldades em
entender e aceitar a soberania de Deus através de sua providência devido a uma falha de
compreensão entre a relação da ação providencial de Deus, seu propósito e a ligação
direta com o homem.
Por isso se faz necessário enxergar a relação entre a providência de Deus conosco através
de sua aliança, pois a providência não é algo isolado, mas relaciona-se aos propósitos de
Deus para com seu povo.
Este material foi escrito para ajudar na orientação das pessoas em sua vida de oração.
Propõe-se também a ajudar às pessoas a se conformarem à realidade das coisas, mas não
de forma aleatória, e sim como algo bem definido, controlado e que tem um propósito
importante por cumprir os planos de Deus, fazendo assim com que elas glorifiquem a
Deus por tudo o que acontece e procurem-no em oração buscando fazer sua vontade,
ajudar os professores de Escola Dominical e líderes a ter um melhor entendimento sobre
Deus e suas ações sabendo assim dar uma direção aos seus liderados para que possam
passar os momentos de dificuldades em suas vidas e compreender melhor a realidade da
vida cristã.
Deus nos ajude a isso!
Fernando Eduard Frîncu
5
ORIENTAÇÕES AOS ESTUDANTES
Este material intenta contextualizar o aluno no âmbito bíblico e histórico quanto à
doutrina da Providência e, principalmente, tendo-a em vista, através da aliança de Deus
com seu povo.
Desejamos assim, que o aluno tenha uma boa compreensão da doutrina da Providência e
da Aliança, entendendo seu desenvolvimento nas Escrituras, histórico, sua utilidade, os
perigos e os extremos relacionados a essa doutrina, como também soluções práticas.
Com isso, esperamos que o aluno alcance uma visão correta e abrangente quanto à
realidade do mundo e à maneira com a qual Deus age na sua criação e, assim, tenha uma
base sólida no ministério pastoral e de aconselhamento em suas diversas situações, sendo
essa doutrina a melhor resposta de Deus para as questões do ser humano.
Indicamos como leituras adicionais a obra de R.C. Sproul, A mão invisível de Deus, e de
Robert Petterson, O Cristo dos Pactos.
Avaliação do curso:
1. Participação do aluno. Por cada hora que o aluno assistiu se designa um ponto (15%).
2. Tarefas. Por cada tarefa cumprida para as 8 lições, podem ser dados dois pontos (15%). Se o aluno cumpre com todas as tarefas pode receber um ponto extra ao final.
3. Leituras obrigatórias. Os alunos do programa de licenciatura lerão 400 páginas, e devem entregar um relatório de leitura de 3 páginas. Os alunos do programa de mestrado lerão 600 páginas, e devem entregar um relatório de leitura de 5 páginas (20%).
4. Projeto especial do aluno. O escritor fará um projeto especial, seja realizar uma pesquisa, escrever um relatório, realizar entrevistas, e outras atividades de aprendizagem que façam colocar em prática o aprendido (30%).
5. Exame final. O aluno demonstrará seu conhecimento dos conceitos e conteúdos dos materiais do curso (20%)
Damos glória ao Deus justo, santo e misericordioso, Todo-poderoso que, por sua providência, nos capacitou para compreensão e propagação de sua palavra e a criação
6
deste material e pedimos sua graça para as aulas que serão ministradas e sobre todos os alunos que estudarão este material para que sejam levados à compreensão do mesmo e glorifiquem a Deus em suas vidas por aquilo que ele é, pelo que faz e pela maneira que escolheu para se relacionar com sua criação.
7
LIÇÃO 1: INTRODUÇÃO
Olhando ao redor de tudo o que acontece, muitas vezes sem uma lógica e ordem aparente,
o mundo parece cada vez mais perdido, sem esperança e direção e cheio de dúvidas.
Infelizmente essa realidade está afetando muitos líderes de igrejas e consequentemente as
igrejas. As coisas parecem andar aleatoriamente e sem rumo e as pessoas são tentadas a
gritar em coro: “O mundo está descontrolado e sem Deus”!
As perguntas mais frequentes revelam o medo, a confusão e a dúvida: “Quem está por
trás dos acontecimentos? Alguém está dirigindo esses acontecimentos? Qual a proporção
na qual alguém conduz esses acontecimentos? Onde está Deus em tudo isso? Estando
Deus no controle, as coisas aconteceriam dessa forma?”
Alguns, diante de toda a confusão e dúvida sobre os acontecimentos e fatos no nosso
mundo e nossa vida, se abandonam nas mãos do “azar”, “sorte”, ou “destino” vivendo da
maneira que consideram melhor ou aproveitando a vida dentro de seus desejos. Outros
tentam fazer algo para mudar o rumo das coisas e controlar a vida, enquanto, existe outro
tipo de pessoas que mesmo sem ter todas as respostas e sem entender tudo, confiam que
tudo está sob o controle de Deus e que todas as coisas têm um fim e propósito bem
definido. Essa última categoria de pessoas busca reconhecer e se aceitar os propósitos de
Deus sem tentar mudar o curso das coisas – uma vez que isso é impossível – mas
tentando ser responsável dentro daquilo que Deus quer realizar em sua vida e no mundo,
tendo assim paz em seu coração, estando confiante no governo providencial de Deus.
A pergunta que vem a seguir é sobre que tipo de pessoa nós somos ou queremos ser.
Podemos nos deixar ser levados por sentimentos, teorias místicas, filosóficas ou
humanistas ou ideias pessoais e lógicas, mas sem chegar à paz e a um bom fim, ou
podemos buscar e conhecer a verdade e isso nos libertará e nos guiará com sabedoria em
nossa vida a um fim glorioso.
Jesus falando a certa categoria de pessoas criticou sua falta de conhecimento das
Escrituras e do poder de Deus como sendo a raiz do erro humano e perdição (Mt 22: 29).
Noutro lugar, ele convidou as pessoas a conhecerem as Escrituras considerando que nelas
encontrariam a essência da vida eterna. O apóstolo Paulo várias vezes mostra a
8
importância de conhecer a Deus e sua vontade e sempre estava orando pelos crentes a
terem um espírito de conhecimento e sabedoria (Ef 1: 17; Cl 1: 9, 10).
Ao longo desse estudo, somos convidados a conhecer e compreender um pouco mais
sobre a Providência de Deus que sustenta, dirige e governa o mundo em toda a sua
existência e em todos os seus atos. Além disso, estabelecer a importância da oração qual a
sua relação com a doutrina da Providência.
É importante adiantar que:
a. O mundo tem um dono e que tudo está controlado, funcionando para o
cumprimento de um grande propósito. Deus é o Rei dos reis (I Tm 6:15, Sl 2:2-4)
e ele reina sobre tudo e todos abrangendo todas as áreas. Em tudo Deus reina e faz
tudo com um propósito (Pv 16:4) sendo o propósito maior a sua própria glória (Is
42: 8 e 48: 11).1
b. Deus tem participação em tudo que acontece e nenhum evento está fora de sua
providência.2
c. Deus não apenas tem um propósito, mas esse propósito é bom.
d. A providência de Deus opera em constantemente com todos os seus demais
atributos.
A primeira pergunta do Catecismo Maior diz qual é o fim supremo e principal do homem:
glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente.3
Portanto, é importante entender sobre a providência de Deus que mostra que as coisas
operam conforme sua vontade e para sua glória, e nos conformar com essa realidade,
procurando nosso papel dentro do propósito de Deus e glorificá-lo para sempre. Dessa
forma não vivemos mais centrados em nós mesmos, mas na glória de Deus e entendemos
melhor a vontade de Deus e suas ações em seu relacionamento conosco, tendo paz em
nossos corações, direção, esperança, sabedoria vivendo com confiança, podendo assim
ajudar outros a conhecerem a verdade e glorificar a Deus para sempre, confiando no Deus
1 Campos de, Heber Carlos, O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, São Paulo: Editora Cultura. Cristã, 1999.
2 Campos de, Heber Carlos, O Concursus Providencial de Deus – extraído do site www.monergismo.com
3 A Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, Casa Editora Presbiteriana, 1ª edição, 1991, p. 165.
9
Soberano, Santo, Justo e Misericordioso em meio aos problemas de um mundo
aparentemente confuso.
1.1 Definição de Termos
Para um melhor aproveitamento da leitura do trabalho e seu entendimento, seguiremos
com a definição de alguns termos chave que serão encontrados com frequência.
a. Providência
Relaciona-se às obras soberanas de Deus. Significa o exercício de todo o cuidado e
controle que a infinita previsão de Deus de seus próprios fins e seu conhecimento que
seus instrumentos apontados podem sugerir.4
Embora o termo “providência” não se encontre nas Escrituras, tem sido tradicionalmente
usado para resumir a contínua relação de Deus com sua criação. 5
Tal relação foi claramente relatada dentro do capítulo V da Confissão de Fé de
Westminster, que mostra que os líderes da igreja reconheceram a existência e importância
da providência na Bíblia.
b. Aliança
Deus não apenas age soberanamente através de sua providência na criação e história, mas
ele se relaciona de forma específica com todas as coisas e, principalmente, com seu povo.
O relacionamento de Deus com seu povo é definido através da aliança que ele estabelece
com este. Em virtude dessa aliança e dos propósitos de Deus representadas por ela, Deus
age de maneira providencial em e sobre tudo o que existe.
Usando as palavras do rev. O. Palmer Robertson:
A aliança é um pacto de sangue soberanamente administrado. Quando Deus
entra em relação de aliança com os homens, de maneira soberana institui um
pacto de vida e morte. A aliança é um pacto de sangue, ou um pacto de vida e
morte, soberanamente administrado.6
4 Hodge, A.A. Banner of Truth, Evangelical Theology, 1990, p. 31.
5 Gruden, Wayne A, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 247.
6 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 10.
10
A aliança representa a força do relacionamento de Deus com seu povo, seu propósito e a
garantia do cumprimento das promessas de Deus através da providência mostrando assim
as bênçãos e as responsabilidades para o povo de Deus como também os castigos e
penalidades quando o povo não guardava essa aliança.
c. Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos Maior e Breve
Os Catecismos são um sistema de doutrina cristã baseados na Escritura e notáveis por sua
coerência em todas as suas partes. Foram elaborados por um grupo de teólogos eruditos
entre 1643 - 1649 em Londres, na Abadia de Westminster. A Confissão de Fé
Westminster segue o plano adotado no tempo da reforma, é mais elaborada e apresenta
um pequeno sistema de teologia. A Confissão não tem autoridade similar à da Bíblia; ela
apenas nos ajuda a observar melhor a teologia bíblica, sendo aceita enquanto permanecer
fiel às Escrituras, essas sim infalíveis e nossa regra de fé e prática. 7
O compêndio teológico da Confissão de Fé de Westminster resume aquilo que chamamos
de teologia reformada
d. Teologia Reformada
Refere-se basicamente à doutrina desenvolvida no período da Reforma do século XVI por
homens de Deus como João Calvino, Lutero, Zwinglio. Os reformadores tiveram como
ênfase exaltar o valor das Escrituras e fundamentar sua doutrina naquilo que a Bíblia
ensina. Uma das frases conhecidas que revela essa realidade é Sola Scriptura.
A Teologia Reformada nos dá uma ensino bíblico quanto à providência de Deus, sendo
essa doutrina resumida na Confissão de Fé de Westminsiter no capítulo V, confissão essa
que faz parte dos símbolos de fé e base da doutrina de todas as igrejas reformadas.
PERGUNTAS:
1. Explicar o sentido da “aparência do mundo”.
2. O que a aparência do mundo representa?
3. Quais são as três categorias de pessoas diante da realidade aparente do mundo?
Explique a ação de cada uma deles.
4. Como a doutrina da providência pode ser aproveitada em nossa vida e
ministério? Explique a razão.
7 A Confissão de Fé de Wesminster, Editora Cultura Cristã, 2001, p. 7, 8.
11
5. Onde encontramos essa doutrina na Bíblia?
6. O que a providência significa?
7. O que a aliança significa?
8. A que se refere “teologia reformada”?
9. O que é a Confissão de Fé de Westminster?
10. Que capítulo da Confissão de Westminster tratada sobre providência?
12
LIÇÃO 2: PANORAMA BÍBLICO I
Quando tratamos da providência de Deus na Bíblia, tratamos da presença de Deus com
sua criação, de sua atividade, do seu governo e seu relacionamento com tudo o que existe,
seu envolvimento em todos os atos. Mas para entender melhor a providência de Deus,
praticamente devemos entender a forma através da qual ele se relaciona com o homem e
seu propósito para o qual serve a providência.
Caso não tenhamos um bom entendimento do relacionamento de Deus com o homem,
mal poderemos falar da providência e sua importância para nós em nosso relacionamento
com Deus e muito menos poderemos ver o verdadeiro valor da vida cristã. Sem a
providência de Deus o mundo fica confuso e sem rumo, Deus agindo apenas de vez em
quando, mas sem grandes efeitos. Por outro lado, providência sem relacionamento seria
como um mundo solitário afundando em confusão e Deus fazendo e controlando as coisas
e as pessoas sem que ninguém se desse conta para um propósito isolado que não teria
nenhuma relação conosco. É como se não houvesse nenhuma ligação direta entre Deus e
sua criação, ou melhor, nós.
Deus apenas faria suas coisas por trás de toda a humanidade sem ninguém saber e nós
apenas viveríamos nossa vida da maneira em que achássemos melhor. Claro que nenhuma
das posições mostradas é viável e nem parece ser a linha bíblica. Providência e o
relacionamento de Deus com o homem andam juntos e são temas principais, vitais e
claros ao longo da Escritura.
Trataremos da providência divina através de toda a Bíblia como uma ação contínua de
Deus por sua aliança com o homem, na qual Deus conduz todas as coisas soberanamente
para o cumprimento de seus propósitos e suas promessas e nós temos nossas
responsabilidades conforme o mesmo propósito. Assim temos um mundo controlado e
bem definido indo para certo fim e o homem e sua responsabilidade no seu
relacionamento com Deus.
2.1 A Providência Dentro da Aliança
Conforme definição do rev. O. Palmer Robertson:
13
Pela criação Deus uniu-se ao homem em relação de aliança. Depois da queda
do homem no pecado, o Deus de toda criação graciosamente uni-se ao homem
outra vez mediante a promessa de redimir um povo para si mesmo do meio da
humanidade perdida. Da criação à consumação, a aliança tem determinado a
relação de Deus com seu povo. A extensão das alianças divinas alcança do
princípio do mundo ao fim dos tempos. 8
Afirmamos porem que a aliança de Deus é eterna e não depende de criação ou pecado
sendo apenas ela revelada de varias formas em vários momentos na historia da redenção.
Por mais que notemos vários momentos nos quais Deus afirmou sua aliança, eles estão
unidos num único relacionamento (com detalhes que são variados existindo de fato uma
linha de progresso). Através dessa aliança contínua Deus revela seus fiéis propósitos, age
soberanamente para o cumprimento destes, guia e abençoa seu povo, guia o mundo e
julga conforme sua justiça. Deus mostra de forma especial sua providência no
cumprimento e desenvolvimento da sua aliança com seu povo. Não é que a providência
de Deus é reduzida ao seu povo (como se o resto do mundo existisse sem a determinação
de Deus), mas o povo de Deus é o coração da providência devido a graça de Deus que
entende que a providência e um ato divino conforme a visão de um grande teólogo
contemporâneo, R.C. Sproul em sua obra A mão invisível de Deus.
A providência é manifestada na vida de outros povos principalmente quando Deus fala
deles e quando o povo de Deus se relaciona de alguma forma com eles. Outros povos são
apenas instrumentos nas mãos de Deus, seja para abençoar ou disciplinar seu povo ou
como instrumentos da sua justiça e misericórdia.
Deus se relacionou com Adão e nele com a humanidade em termos da aliança mesmo que
esse termo não tenha sido mencionado. Da mesma forma foi feito com Abraão quando o
termo começou a ser introduzido de forma mais clara. A partir daquele momento
podemos destacar no Antigo Testamento três momentos nos quais Deus afirmou sua
aliança com o homem, através de três grandes representantes que são Abraão, Moisés,
8 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 29.
14
Davi e seus descendentes (Gn 6: 18, 15: 18, Ex 24: 8, Sl 89: 3, Jr 31: 31, Lc 22: 20) e essa
aliança foi cumprida no Novo Testamento em Cristo.
À medida que progride a história, observando o relacionamento de Deus com seu povo,
torna-se claro a unidade do Pacto da Aliança. Embora Deus tenha trabalhado
distintamente por meio de Abraão, Moisés e Davi, percebemos a ênfase, a unidade e
continuidade do relacionamento entre Deus e seu povo.
É importante ver Deus continuamente em relacionamento de aliança com seu povo e,
principalmente numa aliança contínua evidenciada durante a história culminando coma
vinda de Cristo, porque assim se faz mais clara a providência de Deus através de sua
presença e atuação específica com o determinado fim e propósito claro no meio do seu
povo e toda a sua criação, enfaticamente sua igreja:
(Como a providência de Deus se estende, em geral, a todos os crentes, também de modo
especial, ele cuida da igreja e tudo dispõe a bem dela.) 9
2.2 A Unidade da Aliança
A unidade da aliança mostra que Deus sempre teve um só propósito em todos os tempos e
pode ser demonstrada de várias formas.
2.2.1 As características do estabelecimento da aliança demonstram unidade. 10
Deus mostra seu interesse e seu propósito em separar um povo para si mesmo e
estabelece sua aliança com Abraão como representante do povo de Deus (Gn 15: 17).
Considerando sua aliança e sua promessa a Abraão, Deus providencia a liberdade dos
israelitas da escravidão do Egito sob o comando de Moisés (Ex 2: 24). Em Êxodo 6: 4-8,
é importante observar a origem do relacionamento de Deus com seu povo Israel sob o
comando de Moisés.
Deus age em cumprir sua aliança revelada a Abraão e no decorrer do tempo renova-a
através de Moisés e Israel que firma e mostra o progresso em relação à aliança e o
propósito de Deus.
9 A Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, Casa Editora Presbiteriana, 1ª edição, 1991, p. 56.
10 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 32.
15
A aliança mosaica, feita no Sinai, conecta-se claramente com a libertação do Egito que já
estava prometida dentro da aliança com Abraão. Tal libertação torna-se a base do
Decálogo em Êxodo 20. Os dez mandamentos são o coração da Aliança que se firma na
libertação do Egito.
As promessas de Deus chegam a Davi, o rei de Israel e as palavras de Deus para Davi e
de Davi para Deus refletem a experiência passada da libertação do Egito que Deus
concedeu a Israel como seu povo (II Sm 7: 6).
Em seu canto em I Crônicas 16: 17-18, Davi relaciona certo evento com o cumprimento
da promessa de Deus a Abraão. Ao falar com Salomão em seus últimos momentos de
vida, Davi ordena obediência às leis de Deus escritas por Moisés como fundamento de
sua Aliança (I Reis 23).
2.2.2 A unidade da aliança também é vista através de uma ministração genealógica.Deus seguindo o critério genealógico. Observa-se esse princípio quando se fez referência
ao conceito “semente” (Gn 15: 18, Ex 20: 5,6 Dt 7:9 e II Sm 7: 12) no quadro amplo da
aliança reafirmada com Abraam, Moises e Davi. Também se dá ênfase ao aspecto
genealógico da aliança ao ser mostrado que ela não se relacionava com o que estava
presente fisicamente, mas com toda a semente dos que estavam lá, bem como de outros
que ainda iriam fazer parte de Israel (Dt 5: 2, 3, 29: 14 e Hebreus 5: 13).
De acordo com a Escritura a promessa da Aliança até mil gerações implica uma aliança
eterna (Dt 7:9). Vemos que Êxodo 26 sustenta a mesma idéia. Isso implica muito tempo,
inclusive o nosso tempo. Mas a Aliança, em sua dimensão genealógica, não se relaciona
apenas com coisas externas, mas inclui o dom do Espírito Santo ao povo de Deus (Is 59:
21).
Esse texto concernente ao dom do Espírito Santo, numa linha genealógica encontra mais
luz no Novo Testamento que indica que a bênção de Abraão relaciona-se com o
recebimento do Espírito Santo. De acordo com Paulo, o dom do Espírito Santo aos
crentes na Novo Testamento vem em cumprimento das promessas da Aliança com
Abraão (Gl 3: 13, 14).11
11 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 42.
16
Um princípio importante para entender a continuidade da Aliança, seu caráter
genealógico e a presença de outras pessoas e nós é o princípio “enxerto”. O princípio
enxerto já se faz presente com Abraão (Gn 17: 12, 13). Israel não se resume apenas a uma
comunidade étnica, mas inclui o prosélito que não pertence a Israel segundo a carne, mas
é absorvido em Israel pelo processo do enxerto. No Novo Testamento os gentios podem
também fazer parte do povo de Deus pela fé (Rm 11: 17-19). Pessoas de todas as nações
podem tornar-se “israelitas” (Gl 3: 29).
2.2.3 A história do povo de Deus indica que a Aliança é uma só. A aliança de Deus com Abraâm, Moises e Daví não apenas são unidas entre si, mas
também encontram sua consumação e finalidade em Cristo. A relação da aliança em
Cristo com a aliança abraâmica, mosaica e davídica (reafirmada com esse grandes lideres)
encontra desenvolvimento explícito tanto nas profecias do Antigo Testamento
relacionadas à Aliança, quanto nas realizações do Novo testamento dessa Aliança
consumada. 12 Em Jeremias 31: 31 a profecia de Jeremias relaciona claramente a Nova
Aliança referendos a cumprimento da aliança com seu povo expressa no velho
testamento. No capítulo seguinte, Jeremias 32: 39- 41, Jeremias combina a referência à
cumprimento de Aliança em Cristo Jesus com alusão à aliança feita com Abraão.
Também a perspectiva da Aliança cumprida em Cristo Jesus se funde com a aliança
davídica (Ez 34: 20, 23 e 24).
O profeta Ezequiel combina alusões à aliança abraâmica, mosaica e davídica com uma
palavra de profecia concernente às expectações futuras de aliança de Israel. Por
inspiração divina ele antecipa a ideia em que: “o meu servo Davi reinará sobre eles, todos
eles terão um só pastor (alusão à reinado de Deus da aliança), andarão nos meus juízos,
guardarão os meus estatutos e os observarão (alusão à lei do Deus da aliança), habitarão
na terra que dei a meu servo Jacó, na qual vossos pais habitaram (alusão à família da
Aliança) e farei com eles aliança de paz que será aliança perpétua (alusão à povo
redimido).” Ezequiel 37: 24-26.13
Podemos dizer que a aliança reafirmada em Abraám, Moises e Davi cumprem-se
plenamente numa realidade da Aliança em Cristo do dia presente.14
12 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 44.
13 Idem, p.45.
17
2.2.4 O relacionamento de Deus com seu povo através da Aliança.Por reafirmar a Aliança ao longo do tempo com seu povo, vemos que Deus se implica no
mundo do começo ao fim de uma maneira contínua e com um propósito claro.
Deus tem um propósito ao longo do tempo e através de sua aliança, se implica pessoal e
ativamente nos acontecimentos e fatos para o cumprimento do seu propósito e
desenvolvimento de sua aliança. A presença de Deus no mundo e seu relacionamento com
o homem, a aliança com seu povo e a unidade, continuidade e progresso dessa aliança
como também o cumprimento dela são elementos vitais que sustentam a verdade de que
Deus está presente e age soberanamente no mundo de maneira contínua, não aleatória,
seguindo e dirigindo para um propósito exato. E isso define a providência de Deus: Deus
presente, envolvendo-se nos acontecimentos de todas as coisas continuamente para o
cumprimento de seus propósitos. À medida que o propósito de Deus e a aliança ficam
mais claros, a providência também se faz mais visível. A aliança de Deus e sua ação
providencial determinam e ensinam às pessoas como se relacionar com ele conforme os
termos da mesma. Isso modificou o jeito do povo de Deus na maneira em que se
aproxima e se relaciona com Deus. Por exemplo, as orações do povo de Deus várias vezes
tinham como ênfase as promessas da Aliança, clamando para que Deus agisse conforme a
mesma, cumprindo assim as orações de seu povo.
Já está claro que o propósito de Deus é sua própria glória e nosso propósito deve ser
também a glória de Deus. Ele não ficou distante do homem, mas se relacionou
continuamente com ele sob a forma da Aliança mostrando seu interesse e propósito com
este numa frase que se repete constantemente em todas as vezes em que a Aliança é
renovada: “eu serei vosso Deus e vós sereis o meu povo”. Essa frase pode ser considerada
o “Princípio Emanuel” da Aliança. O coração da Aliança é a declaração de que “Deus
está conosco”.15
Isto reflete o jeito providencial de Deus agir “serei vosso Deus” – o que conduz, e
também mostra nosso jeito de nos relacionar “vós sereis o meu povo” – seguimos o Rei.
Isto ajuda a entender um pouco sobre o fato de que em nossas orações seguimos e não
conduzimos a Deus.
14 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 46.
15 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 48.
18
2.2.5 O tema unificador da Bíblia.O grande tema do Antigo Testamento é Deus escolhendo um povo para ser o seu povo,
conduzindo esse povo para uma terra prometida – Canaã – para que lá habitasse no meio
dele e eles vivessem em sua presença em obediência e adoração. A mesma coisa
encontramos no Novo Testamento. Cristo escolhendo um povo para ser seu, conduzindo-
o para Canaã celestial, para que lá possa estar com ele para sempre. Encontramos assim o
tema “eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo” explicitamente em conexão com a
aliança em tempo do Abraám, Moises, Daví e seu cumprimento em Cristo. Encontramos a
frase pela primeira vez em Gênesis 17:7 em relação ao estabelecimento da circuncisão
como selo da aliança abraâmica na qual Deus afirma sua intenção de ser o “seu Deus e da
sua descendência”, ser o Deus do povo que viria de Abraão. A intenção de Deus ter um
povo para si é expressa também em tempo de Moises e é relacionada à libertação de Israel
da servidão do Egito (Ex 6: 7, 19: 4, 5, Lv 11: 45, Dt 4: 20 e 29: 13). Dentro da
reafirmação da aliança no tempo de Davi vemos a mesma ênfase “Deus e seu povo”.
Ezequiel 34: 24 no qual Davi é o representante legal do povo. No Novo Testamento
também vemos esse propósito de ter um povo exclusivamente seu que é chamado a seguir
a santidade de Deus (Hb 8: 10 e II Co 6: 16).
Deus age no mundo com um propósito claro orientado ao seu povo. Deus forma e
sustenta, governa e conduz seu povo. Isso mostra não apenas uma ação isolada, mas a
providência divina que se manifesta claramente na formação e governo desse povo
escolhido. Ele intencionou não apenas liderar um povo, mas se relacionar de forma
íntima, morar com ele e esse povo estar em sua presença.
A intenção de moradia é mostrada na construção do tabernáculo em Êxodo 25: 8 onde
havia um lugar de encontro com Deus (Ex 29: 42 e 44). Ezequiel fala sobre o futuro
mostrando a mesma realidade da moradia de Deus com seu povo (Ez 37: 26, 28). Temos
também o templo que Jesus chamou de “casa do Pai” e “casa de oração”. Mais uma vez a
morada de Deus com o povo enfatiza a liberdade e oportunidade do povo em viver a vida
na presença de Deus O Princípio Emanuel como essência da Aliança desempenha
também um papel central na representação do tabernáculo e que se revela na pessoa de
Jesus Cristo quando o verbo se fez carne e veio habitar entre nós (Jo 1: 14). Mais tarde o
templo passou a ser formado pelos próprios cristãos, não sendo apenas um espaço físico,
mas sendo formado pelo povo de Deus, edificado como habitação de Deus pelo Espírito
(Ef 2: 22).
19
Mas tudo isso não foi algo apenas temporário e sim algo que Deus desejou para sempre,
algo para a eternidade. Deus conduzia as coisas e seu povo para esse fim e as promessas
mostravam essa realidade futura na qual o povo estará na presença do próprio Deus (Jo
14: 1,2 e Ap 21: 1-3). Percebemos que a providência de Deus em todos os atos na vida do
seu povo de fato conduz a um grande propósito.
Esse propósito de Deus é fortalecido através da própria vinda e sacrifício de Jesus Cristo
que sela o cumprimento da aliança. Cristo garante nossa moradia eterna na presença do
Pai e nossa preservação até o fim (Fp 4: 6).
PERGUNTAS:
1. Qual o propósito final da Providência?
2. Qual é o coração dessa doutrina?
3. Através de que podemos enxergar de forma clara a doutrina da Providência?
4. Por que é importante destacar as características da Aliança para compreender a
providência de Deus?
5. Quais são essas características?
6. Quando, de modo específico, percebemos a atuação providencial de Deus em
outros povos?
7. Qual a ênfase que se percebe dentro da aliança em todos os tempos?
8. Quais os grandes representantes da aliança, ao longo do tempo, através dos
quais Deus reafirmou e progrediu?
9. Quantas alianças percebemos ao longo da história do povo de Deus?
10. Qual o fim do povo da aliança?
20
LIÇÃO 3: PANORAMA BÍBLICO II
3.1 A Providência dentro da Aliança
Analisaremos a Providência na Bíblia de maneira específica através do relacionamento de
Deus com o homem pela aliança sob alguns aspectos. As promessas de Deus e as
responsabilidades do povo, o caminho conduzido para o cumprimento das promessas e o
próprio cumprimento das promessas, que na verdade revela o sustento e a preservação de
Deus na sua criação e de todas as coisas conforme seus propósitos e suas promessas.
Além disso, a cooperação dEle no caminho para cumprir seus decretos e seu governo
sobre todas as coisas revelado no cumprimento das promessas.
3.3.1 A Providência e a Aliança no tempo de Abraão
Deus mostra seu interesse e propósito em formar um povo e abençoá-lo. Em Gênesis 12:
1-9, Deus revela um interesse específico em se relacionar com Abraão e sua descendência
de uma forma especial. Deus chama Abraão a sair de sua terra para algo que havia sido
preparado para ele. É revelado a Abraão que Deus tinha um plano tanto para ele como
para sua descendência. Abraão é chamado a confiar em Deus e descansar na sua
providência para algo que aconteceria apenas no futuro. Deus não mostrava apenas um
carinho temporário e isolado por Abraão, mas algo muito mais complexo. Deus estava
interessado em algo contínuo ao longo do tempo. Estava de fato interessado em formar
um povo que viria da descendência de Abraão.
Abraão é chamado para experimentar e acreditar na providência e soberania de Deus que
conduziria todas as coisas para o cumprimento das promessas feitas. Deus chama a
Abraão há desfrutar e fazer parte da aliança através da qual ele seria abençoado bem
como sua descendência. Deus mostra claramente que estaria presente de maneira ativa na
história do mundo para cumprir esse propósito dessa aliança. Deus não mostra apenas o
que vai acontecer, mas o que ele vai fazer para que isso aconteça (Gn 12: 2, 3 e 7). Isso já
evidencia um ato específico da providência conduzindo as coisas ao seu acontecimento
com certo propósito. Essa aliança mostra a presença, atividade e envolvimento de Deus
no curso da história, portanto a importância da providência de Deus. Mas também a
providência atrai a responsabilidade do homem. Abraão começa a viver e se relacionar
com Deus em função do que Deus, em sua providência, prometeu fazer.
21
Assim que Abraão recebe o chamado e a promessa, ele sai de sua terra. Deus mostra claro
seu propósito em escolher um povo para levá-lo a uma terra onde ele habitaria no meio
dele (vs. 7). O propósito de Deus é uma prova da providência na qual ele vai agir segundo
algo que foi prometido. Até aqui vemos que Deus faz conhecido seu interesse para
Abraão e sua descendência. Temos a promessa de uma terra, de um povo e da bênção de
Deus na vida deles e temos por parte de Abraão o compromisso de seguir conforme essas
promessas. Por mais que Deus fosse cumprir seu propósito, Abraão é chamado a sair de
sua terra. O que percebemos aqui é que Deus é a causa principal pela qual as coisas irão
acontecer e também pela saída de Abraão de seu país, mas, no entanto Abraão sai pela
graça de Deus a obedecer a Ele dentro da responsabilidade que recebeu.
Depois de mostrar seu interesse, Deus firma sua aliança com Abraão através de uma
cerimônia típica em Gênesis 15:7-20. A aliança é feita e, desta vez, temos claramente as
promessas de Deus e seus propósitos a Abraão estabelecidos. Esse é o começo daquilo
que viria acontecer.
Deus prometeu em sua aliança a descendência, mas Abraão não tinha filhos; então Deus
promete um filho, mas isso era contrário à natureza, pois Abraão e Sara tinham idade
avançada. Novamente temos aqui a providência de Deus por trás de sua promessa (Gn 15:
2-4). O problema de um filho para assegurar sua descendência estava já resolvido. Depois
vem o problema do poder e autoridade de sua descendência, o que garante que as coisas
realmente aconteceriam conforme o prometido (vs.8). Deus responde com a oficialização
de sua aliança com Abraão. Em outras palavras “a minha aliança com você é a garantia”
(vs. 10 e 12) e é por causa dessa aliança que Deus vai agir e conduzir as coisas (vs. 13-
20). Deus mostra sua promessa e assim sua providência e depois mostra seu plano e como
vai agir e assim sua ação soberana e providencial (vs. 13-16). Deus prometeu que o
desenvolvimento do seu plano levaria um tempo e seguiria certo trajeto, mas exatamente,
quatrocentos anos de escravidão até que fossem libertados e levados de volta à Terra
Prometida.
Outra promessa se faz mais clara de um povo liberto e levado por uma terra onde Deus
habitaria no meio deles. Nessas promessas, percebemos a relação com outros povos e a
ação providencial de Deus na vida deles como, por exemplo, o julgamento de Deus sobre
o Egito (vs. 14) e amonitas (vs. 16). Pode-se observar que a providência é estendida a
outros povos principalmente quando de alguma forma esses povos se cruzam ou entram
22
em relação com o povo de Deus. Mesmo que Deus esteja operando providencialmente na
condução de seu povo, ele também providencia e guarda o rumo das coisas no outro lado
do mundo (vs. 16). Em Gênesis 17 temos novamente as promessas de Deus feitas ainda
mais claras “eu serei seu Deus e vocês serão meu povo”. As promessas são feitas e
fortalecidas: bênção, descendência, um filho e a terra. Deus age para cumprir o que ele
prometeu ao seu povo (vs. 2, 6, 7, 8 15 e 16) e também de forma clara mostra sua
providência para com outros povos que não o seu povo quando faz referência a Ismael,
mostrando que ele mesmo o abençoaria e o faria crescer (vs. 20).
Deus fez as promessas, mas também responsabilizou Abraão a sair de sua terra (Gn 12: 1)
e obedecê-lo (Gn 17:9-14). Quando olhamos o versículo 7 do capítulo 15, Deus fala que
ele tirou Abraão da terra. Parece uma contradição, mas na verdade é outro indício da
providência. Deus era aquele que causou a saída de Abraão, mas por outro lado Deus
usou a responsabilidade e obediência de Abraão para que ele saísse. Deus abraçou a
Abraão para cumprimento de seu propósito.
Em Gênesis 21: 1 e 2, conforme a promessa feita, Deus providencia Isaque como filho da
promessa e afasta Ismael em Gênesis 21:8 mostrando seu interesse específico na
descendência de Abraão com Sara como fora dito em Gênesis 17: 21. Ao mesmo tempo
vemos que a promessa de Deus se cumpre na vida de Ismael como cuidado divino
Gênesis 21:17-21. Em Gênesis 22:15-19 Deus promete agir conforme havia prometido e
no capítulo 24 ele abençoa Isaque com uma esposa da família de Abraão. Deus iria
abençoar a semente de Abraão, mas já no primeiro descendente temos um problema:
Rebeca, esposa de Isaque, era estéril. Esperamos que isso jamais devesse acontecer. Mas
o que vemos é Isaque orando e Deus respondendo à sua oração. Deus deu filhos a Isaque
e Rebeca porque eles oraram? Deus mudou em relação à Rebeca? O que de fato
aconteceu em Gênesis 25: 21? Temos a onipotência e misericórdia de Deus que
providência de maneira complexa e bonita o que é preciso . Por um lado temos Deus que
prometeu descendência através de Isaque a Abraão em Gênesis 17: 21 e dando filhos à
Rebeca conforme essa promessa. Por outro lado temos Isaque orando e Deus atendendo,
mudando a condição de Rebeca, sendo a oração de Isaque um meio usado por Deus
naquilo que ele queria fazer e não um meio para mudar os planos ou o coração de Deus.
Mais tarde percebemos a providência de Deus manifestada na vida do seu servo quando
Deus muda a decisão em relação à bênção que Isaque deu aos seus filhos.
23
Isaque teve uma vontade que não era a de Deus e mesmo por meios estranhos, Jacó
chegou a ser abençoado sendo ele a continuação da descendência da promessa (Gn 27:
28, 29). É registrado um episódio aparentemente triste no qual Isaque é enganado pelo seu
próprio filho e embora Jacó tenha sido abençoado como fruto de sua mentira e enganação,
pelo qual ele não deixou de ser responsável, por trás de tudo isso estava a providência de
Deus que conduziu Isaque a fazer aquilo que ele não conseguia ver como sendo a vontade
de Deus. Nessa situação toda, parecia que Deus havia permitido uma injustiça acontecer,
mas na verdade a aliança de Deus estava se cumprindo mesmo através desses fatos
terríveis, mostrando assim a soberania de Deus sobre tudo o que havia acontecido e sobre
como eles cooperam de maneira direta para o cumprimento dos propósitos de Deus.
Isaque, ao invés de ficar aborrecido com o que acontecera, parece entender a providência
de Deus que havia dirigido tudo e orienta e abençoa Jacó em conformidade à aliança
estabelecida (Gn 28: 1-5).
O fato de tudo ocorrer controlado e dirigido por Deus se confirma mais ainda em Gênesis
28: 3-15 quando Deus faz claro e abençoa sua aliança através da descendência de Jacó.
As promessas feitas deixam claro que mesmo Jacó peregrinando e passando por vários
lugares, e talvez enfrentando dificuldades, Deus estava com ele conduzindo àquilo que ele
havia planejado. O vs. 15 do capítulo 28 mostra que Deus estava envolvido de maneira
direta no curso da história e nos acontecimentos que levam ao cumprimento e sua aliança.
Mandou Jacó voltar para seu país (Gn 31: 3) e mandou Labão não tocar em Jacó (vs. 23)
Deus agiu na vida de Jacó que era escolhido e na vida de Labão, que não. Deus falou com
os dois (Gn 31: 34-29). Em Gênesis 32: 24-29, Deus abençoa Jacó porque isso estava
dentro da promessa dele, mas não era isso que dava a entender à primeira vista. Jacó lutou
com Deus e parecia que por causa disso ele conseguiu a bênção de Deus, mas sabemos
que a oração de Jacó foi o meio providencial de Deus para abençoá-lo conforme o que já
estava prometido. A aliança de Deus e sua promessa ganha proporções em cumprimento
dele uma vez que Deus abençoa Jacó com doze filhos conforme Gênesis 35: 23-26 que
mais tarde formam a base da estrutura do povo de Deus organizado em doze tribos.
Do capítulo 37-46 de Gênesis temos a história providencial de Deus através da qual a
família da aliança era trazida ao lugar da escravidão, o Egito. Uma história de ódio,
tragédia e ironia na qual parecia que tudo estava perdido. Sabemos, no entanto, que Deus
estava conduzindo as coisas conforme sua aliança. No capítulo 46, Deus mostra seu
24
propósito de Jacó e sua família serem levados ao Egito e que Deus mesmo estava presente
com eles (vs. 1 – 7). Deus estava presente acompanhando e trabalhando para o
cumprimento do seu plano prometido à Abraão e transmitido para frente através de Isaque
e Jacó. No capítulo 48: 21. Jacó transmite a promessa de Deus de trazer o povo à terra
prometida novamente e no capítulo 50: 24 José faz referência à saída do povo para o
Egito como cumprimento da promessa da promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó. José
entendeu que Deus teve um plano para preservar seu povo e que conduziu tudo com sua
providência, não sendo isso apenas um acaso ou a maldade dos irmãos que fizeram com
que ele chegasse ao Egito (Gn 50: 19-21). José entendeu que Deus era a causa principal
pela qual eles estavam ali, mas Deus se valeu da maldade dos irmãos de José, que foi a
causa aparente, mas secundária do ocorrido. Os irmãos de José agiram assim por causa de
sua maldade e não com o desejo de cumprir a vontade de Deus, por isso são responsáveis
e culpados por suas ações, independente de Deus tê-las usado para cumprir seus decretos.
Mas a graça de Deus foi manifestada de maneira soberana sobre todos os atos, inclusive
os maldosos, para que o seu bom plano se cumprisse com seu povo.
O povo finalmente chegou ao Egito conforme a promessa de Deus em Gênesis 15 e ali ele
cresceu e se multiplicou, formando-se como um povo debaixo da escravidão (Ex 1: 8-12).
Por longo tempo o povo sofreu por causa da maldade dos egípcios. O povo da promessa
foi enganado pelos egípcios e parecia que tudo havia dado errado. Enquanto os egípcios
pareciam ter o controle do povo de Deus, Deus por sua providência cuidava de sua
promessa, não sendo os egípcios que realmente conduziam a vida dos israelitas, mas
Deus, que estava presente amando seu povo e cumprindo a sua aliança com Abraão.
Depois de todo o sofrimento e anos previstos, Deus reafirma sua aliança em razão da qual
vai agir para a libertação dos israelitas (Ex 2: 23-25, 3: 7-10 e 15-17). Ao mesmo tempo
os gritos dos israelitas pareciam sensibilizar Deus e fazê-lo agir em favor deles. E Deus
agiu soberanamente exatamente naquele tempo manifestando sua providência em relação
à sua promessa e também fez uso das orações de seu povo como um meio para se mover
em ação, mostrando assim sua misericórdia e amor para com seu povo. Por exemplo:
Deus poderia tirá-los do Egito a qualquer momento sem nenhum clamor, mas ele
escolheu conduzir o povo à oração e a oração deles, o pedido que fizessem, na verdade
seria o cumprimento daquilo que o Senhor já prometera realizar.
A necessidade disso é o relacionamento que Deus quer ter com o seu povo. Em Êxodo 3:
1-13 Deus reafirma sua aliança e o cumprimento da mesma, revista todas as promessas e
25
faz claro seu plano de formar um povo e levá-lo para a terra prometida para morar no
meio deles. Deus tinha prometido e agora estava se cumprindo. Novamente Deus mostra
como a providência se estende sobre outros povos e até mesmo sobre seus atos e desejos
(Ex 6: 1). Até o capítulo 12 de Êxodo Deus mostra sua providência sobre a natureza,
sobre seu povo e sobre o Faraó de maneira clara e objetiva. Ele faz uso do sacrifício para
tirar seu povo, mostrando assim o valor da aliança e o valor deles o que serviria de
testemunho para gerações futuras como uma garantia da seriedade da promessa de Deus e
cumprimento dela na escolha de um povo e a responsabilidade do povo para com Deus
(Ex 12: 25-28).
A Páscoa que foi celebrada mostra a força da aliança de Deus com seu povo e vai
acompanhando desse povo ao longo do tempo tendo seu cumprimento final no sacrifício
de Cristo em favor de seu povo. Em êxodo 13: 3,4 o Senhor confirma sua promessa a
Abraão depois de haverem passado 400 anos de escravidão, sua descendência sai do Egito
para ser o povo de Deus caminhando para a terra prometida. De forma visível e iniciante
Deus alcança a promessa em Êxodo 13: 21 (Deus junto com seu povo). Em Êxodo 14: 14
o Senhor mesmo luta pelo seu povo, isso sendo uma clara manifestação da providência de
Deus que opera para o benefício do seu povo no cumprimento da aliança.
Até chegarem à Canaã, Deus preparou o povo para estar em sua presença. Passou muito
tempo e situações, mas Deus continuava na condução desse povo e agia em sua vida. Ele
fortaleceu essa aliança com Moisés, mostrando o progresso e a continuidade da aliança de
Deus revelada a Abraão. Em Josué 3 Israel entra em Canaã e começa a dominar a terra. A
providência de Deus possibilitou a Israel, à descendência de Abraão, chegar à terra que
ele havia prometido. Agora, uma vez que as promessas foram cumpridas, as coisas
continuam e Deus parte a parte dá a terra a eles sob a liderança de Josué.
A vida corria normalmente, mas todos os acontecimentos eram controlados e conduzidos
soberanamente por Deus. Seu povo se relacionou com ele conforme a aliança e a
santidade de Deus revelada, e esta continuou ativa na vida do povo ao longo do tempo e
na vida daqueles que têm fé em Cristo.
26
3.1.2 A Providência e a Aliança no tempo de Moisés.
O Deus soberano reafirma sua aliança com o povo de Israel em Êxodo do capítulo 20 ao
24. Isso quer dizer que a aliança em tempo do Abraão parou de funcionar ou a aliança
em tempo do Moises era melhor? Nenhuma dessas posições é verdadeira. Deus não
esqueceu ou abandonou sua aliança com Abraão, pelo contrário! Deus age continuamente
em favor de sua Aliança. A aliança mosaica com o povo de Israel de fato mostra a
continuidade e o cumprimento da aliança abraâmica. A aliança em tempo do Moises
representa uma renovação que fortalece a mesma aliança em tempo de Abraão. Deus fez
sua aliança com Abraão, mas fortalece isso lembrando a aliança a Isaque, Jacó e agora a
Israel, que era a descendência de Abraão. A aliança no tempo de Moises é importante e
mostra o preparo na nacionalização do povo da aliança. Até então o tratamento de Deus
tinha sido com a família da aliança, mas agora ele estabelece uma aliança com uma nação
que vem da família da aliança.16 Sem uma lei exatamente codificada, tal aliança nacional
era impossível. O contexto imediato da cerimônia da ratificação da aliança de Moisés
enfatiza a formação de Israel em uma nação que deveria ser do próprio Deus. Escolhe-se
entre o povo setenta anciãos representativos (Ex 24 1), erguem-se doze pilares para
representar as doze tribos de Israel (Ex 24: 4). O efeito dessa cerimônia formal já havia
sido solenizado pelas palavras anteriores de Deus dirigidas a Israel por intermédio de
Moisés (Ex 19: 5 e 6). A revelação definitiva da vontade de Deus para conduzir seu povo
era essencial à solidificação nacional desse povo para ser o povo de Deus.
O coração e o fundamento dessa aliança são as dez palavras do Decálogo, as dez leis de
Deus dadas através de Moisés para Israel. Deus quis e prometeu a formação de um povo
para morar em sua presença. O que Deus fez através dessa aliança foi revelar sua vontade
externa para seu povo. Deus está preparando gradualmente o povo para estar na sua
presença. As leis mostravam responsabilidade e a condição do povo em estar na presença
de Deus. Em várias ocasiões Deus se relacionou com os homens, mas mostrou que na sua
presença era exigida certa postura e santidade (exemplo Ex 3: 5, 19: 10-15). Israel não era
mais um povo qualquer e sim um povo especial que deveria estar no lugar onde o próprio
Deus estaria no meio deles. Isso exige uma vida e caráter especiais por parte do povo.
Não poderia viver de qualquer jeito na presença de Deus e sim deveria viver a obediência
e pureza. O pecado não era adequado na terra em que Deus habitava. A terra toda e todos
os povos pertenciam a Deus e a santidade era requerida o tempo inteiro, como disse 16 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p.
173, 174.
27
Paulo, Deus revelou-se na natureza, por isso ninguém é desculpável (Rm 1: 20 e At 14:
16, 17).
Deus escolhe Canaã para morar com seu povo. Mas antes disso acontecer, outros povos
moravam em Canaã e esses tinham uma conduta totalmente pecaminosa que não era
tolerada por Deus e ele julgou o pecado deles (Gn 15: 16). Através da aliança mosaica
Deus prepara o povo moralmente para ter condições de estar em sua presença na terra de
Canaã. Eles deveriam experimentar uma vida diferente e através das leis e princípios de
Deus teriam seu fundamento no relacionamento entre si e com Deus e teriam a base da
constituição de Israel.
O povo teria que experimentar um alto nível de vida e santidade para desfrutar da
presença de Deus e sua bênção prometida na aliança.
Através dessa aliança Deus revela também seu caráter santo e o caráter requerido do seu
povo. Ele não deixa o povo viver na ignorância do pecado, pois a lei faz o pecado
conhecido bem como a vontade de Deus. A Lei da aliança revelada no tempo de Moises
se faz presentes como condição moral do povo de Deus em todos os tempos.
As promessas dessa aliança não são novas ou outras, elas apenas fazem parte da promessa
e desejo originais de Deus que foram transmitidos: “serei seu Deus e vós sereis meu
povo”. Deus prometeu abençoar e morar com eles, mas requereu sua obediência. As leis e
todas as regulamentações operam no preparo do cumprimento das promessas.
Ao longo da história bíblica, percebemos que o povo de Deus teve muitas oscilações. Às
vezes obtiveram grande vitória e foram prósperos, mas muitas outras vezes o povo era
castigado, sendo submetidos à dominação estrangeira. Deus os deixava nas mãos de
outros povos que eram enviados por ele mesmo para disciplinar seu povo (Dn 1: 2; Is 11:
11; Jr 27:19-22). Da mesma forma quando havia arrependimento, Deus os trazia de volta
à sua terra.
Deus mostrava sua soberania, justiça e santidade agindo não apenas na vida deles, mas
também em outros povos que eram usados e dirigidos por Deus seja na disciplina ou
recuperação de Israel.
A providência não é apenas um ato de conseqüência de algumas ações, mas realmente
conduz as coisas ao seu fim.
28
Podemos dizer que o povo de Deus não era capaz de guardar a Lei e também não era
capaz de se arrepender por si mesmo depois de pecar. Deus mesmo agia pela Lei,
demonstrando a incapacidade e plena dependência que o povo tinha de Deus e também
sua graça era revelada através dos meios que Deus deixou para se recuperarem.
Tanto na Lei que impossibilitava o povo de cumprir a vontade de Deus, como também no
arrependimento, vemos que Deus teve um propósito claro na vida do seu povo. Ele
mantinha a vida do povo sob controle e providenciou tanto a Lei que fez o povo cair
quanto o arrependimento e possibilidade do povo voltar.
O que podemos dizer sobre a aliança mosaica é que ela é contínua e faz os propósitos de
Deus para seu povo mais claros. No decorrer do tempo Deus conduziu seu povo através
de líderes, profetas e juízes conforme as estipulações da Lei. Nisto, o povo teve grandes
bênçãos e vitórias e a terra era frutífera e também o povo foi castigado. Várias mudanças
foram registradas no curso da história de Israel, mas nenhuma mudança referente ao plano
original de Deus. Ele continuava agindo, ouvindo suas orações de acordo com sua
aliança. As orações de arrependimento de Israel faziam parte dessa aliança conforme
estava escrito na inauguração do templo quando Deus disse que “se o povo se
arrependesse... Deus os ouviria”. Mesmo quando Deus não ouvia, ou melhor, quando não
agia conforme seu clamor, o fazia para cumprir sua aliança e castigá-lo por sua
desobediência. Em todos os casos o povo precisava orar para Deus agir, mas a oração
deles não mudaria as decisões de Deus; apenas refletiriam o que Deus havia prometido.
Podemos concluir que a aliança mosaica mostra o caráter santo de Deus que é requerido
de seu povo na formação e estruturação da nação de Israel, preparando e mostrando a
condição requerida do povo através das leis para estar na presença de Deus.
3.1.3 A Providência e a Aliança no tempo de Davi
Deus estava presente e andava junto ao seu povo, identificando-se com ele (II Sm 7: 6 e I
Cr 17: 5).
Deus estava presente como parte da sua promessa e para preservar e cumprir sua aliança
com seu povo. Deus tirou o povo do Egito conforme a aliança estabelecida no tempo de
Abraão desenvolveu e fez mais claros seus propósitos através de Moisés com o povo
liberto, na qual estabelece as bases da formação do povo da promessa, como uma nação
santa, e agora sob Davi, Deus desenvolve a aliança com seu povo.
29
Ele atinge o estado culminante da realização no Antigo Testamento de sua aliança e seus
propósitos de redimir um povo para si mesmo (II Sm 7). Sob Davi o reino chega a
estabelecer a forma pela qual Deus mesmo governa seu povo. O próprio rei vem e o
Princípio Emanuel se faz presente de novo (II Sm 7: 9). Deus mesmo associa sua realeza
com o trono de Davi. Existem muitas passagens que ajudam a entender o fato de Deus
renovar a aliança com Davi e que ela era também uma continuidade das promessas
antigas dele e se relacionava com a aliança feita em outros tempos (I Rs 2: 1-4; 8; 9). De
acordo com Clemente, todas as três promessas principais associadas a Abraão devem ser
vistas como resultado da situação política da época de Davi. A promessa a respeito da
“terra” resultou da expansão do estado territorial de Davi.
A promessa da “descendência” desenvolve-se da realidade de uma entidade
nacional formada sobre Davi. A Promessa Abraâmica com respeito à “bênção”
aos povos não israelitas pressupõe a existência de nações sujeitas a Davi.17
Dentro da no tempo de Davi duas promessas com pontos interligados se faz presente: a
linhagem de Davi no trono e Jerusalém como lugar dos reis no trono.
A história da monarquia de Davi tal como se acha registrada no livro dos Reis enfatiza
repetidamente esses dois pontos. Apesar de todos os acontecimentos, Deus tinha uma
atenção especial para Davi e Jerusalém (I RS 11: 11, 13, 32, 34; 14: 21; 15: 4; II Rs 8: 19;
19: 34: 20: 6; 21: 4, 7).18
Através dos detalhes e estipulações particulares e específicos de cada aliança até agora,
percebemos o propósito pleno de Deus para seu povo, o progresso das promessas iniciais
e a providência de Deus operando na vida e história do seu povo para o cumprimento de
forma perfeita do propósito e aliança de Deus.
Sob Davi a monarquia era instituída, Deus mostrava seu reinando sobre seu povo que
exteriormente agora era um povo completo, formado de todos os pontos de vista. Existia a
terra, o povo, as leis, o lugar do trono em Jerusalém, o rei Davi que representava ao
mesmo tempo o povo e o reinado de Deus. Analisando cuidadosamente a monarquia de
Israel nos livros dos Reis, percebemos a providência de Deus que controlava e dirigia os
17 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 227.
18 Robertson, O. Palmer, O Cristo dos Pactos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 220.
30
reis em função e como cumprimento da palavra da aliança. Tudo o que acontecia com os
reis era conforme a palavra do Yahweh Deus preservava tanto o trono de Jerusalém
quanto a descendência de Davi. Os próprios castigos revelam o cumprimento providencial
da aliança. Toda a monarquia de Israel depende da palavra do Senhor. Desde o primeiro
castigo contra Salomão até a deportação final da nação, a palavra da aliança controla a
história. O próprio Davi, influenciado pela providência de Deus pede em oração algo que
Deus já disse que iria fazer (II Sm 7: 25-29). Se for pensar logicamente, não havia
necessidade de Davi pedir isso, mas a providência de Deus o levava a orar corretamente,
se conformando assim com a vontade dele.
A aliança de Deus não estava limitada apenas à atuação humana, ou ela teria falido.
Sabemos que o povo de Deus falhou no cumprimento da aliança ao logo do tempo e a
própria dinastia de Davi falha e leva a um pior estágio o povo da aliança “ser afastado da
terra prometida”. Parece que as coisas foram longe demais e era como se a providência
tivesse falhado, mas então se percebe que, de fato, Deus estava no controle de tudo e
tinha em vista a restauração do povo inteiro espiritualmente, debaixo do reinado do
Messias.
Em Davi ficou mais claro que o próprio Deus viria pessoalmente conduzir e reinar sobre
o povo. O desejo de Deus também é claro: um povo escolhido para ser santo, vivendo em
sua presença, onde ele reina sobre eles. Esse desejo providencial de Deus é mostrado no
final da história e como um fato que irá acontecer em Apocalipse 21: 2, 3. Em Cristo,
Deus cumpre e acha a finalidade, consumação e plenitude da sua aliança para com seu
povo.
3.1.4 A Providência e a Aliança cumprida em Cristo
Assim como se pode perceber, a história é a história de Deus, uma história de redenção,
visto que tudo é dirigido em função disso através da aliança de Deus cumprida e mantida
pela sua providência e soberania.
Deus estava presente de maneira ativa em nosso mundo, se relacionando sob a forma da
aliança, criando e sustentando tudo e dirigindo conforme sua vontade e desejo de ter um
povo para si mesmo. A aliança ao longo do Antigo Testamento tem continuidade no
Novo Testamento onde é renovada na pessoa de Cristo e em Lucas a achamos sob o
31
termo “Nova Aliança"19. A história de Israel o castigo de Deus, o cativeiro, mostram a
decadência do povo e sua falha em guardar a aliança. Mesmo através de castigos, Deus
demonstrava sua fidelidade e providência.
As promessas dentro da Nova Aliança alcançam o mais alto nível e a própria ação
providencial é mostrada de maneira mais elevada através do sacrifício de Cristo em favor
da redenção do povo escolhido. Cristo como representante de Deus e também do povo
escolhido, revela a providência do Deus cumprindo todas as funções da Aliança, de
Profeta, Sacerdote e Rei.
Cristo, como cumpridor da Aliança, já era prometido e profetizado mostrando assim o
caráter desta (Jr 31: 30-34). Era uma aliança que refletia a graça e a providência de Deus,
o caráter interno através do qual a Lei e o conhecimento de Deus atuava no coração do
povo e falava de perdão dos pecados de forma definitiva e completa. Textos como
Ezequiel 37: 12-26 vêm ajudar o entendimento da Aliança na qual Deus traz a fruição dos
propósitos redentores de Deus revelados através dos séculos. A Nova Aliança profetizada
está diretamente relacionada com a atividade ressuscitacional realizada pelo Espírito de
Deus. Deus dará vida ao seu povo e o Espírito agirá na vida do mesmo, transformando-o
no povo da Aliança a partir do íntimo do seu coração (Jr 31: 33).
Em Lucas 22: 20 temos a celebração da Aliança feita pelo próprio Jesus. O interesse de
Deus em redimir um povo para si, demonstrado de forma graciosa através do próprio
sangue de Cristo que selou a Nova Aliança. Não foi o sangue de um animal, mas foi o
próprio sangue do filho de Deus que providenciava o cumprimento pleno do propósito de
Deus. Por isso a Nova Aliança não era mais uma, mas nela estava cumprido todo o
propósito de Deus
A promessa de Deus feita a Abrão ganha forma e cumprimento através do Evangelho no
Novo Testamento: Deus redimindo um povo, formando-o de todas as nações. Em João 1:
11 e 12 vemos que não apenas os judeus, mas os gentios podem fazer parte da família ou
povo de Deus. Em Mateus 28: 19 e 20 Jesus manda seus discípulos pregarem o
Evangelho a todas as nações. Esse mandamento sendo uma ferramenta da graça de Deus
dada providêncialmente em relação à promessa feita a Abraão e também ao desejo de
Deus de redimir um povo. Em Atos 1: 8 outro fato revela a providência de Deus quando o
Espírito de Deus é dado aos discípulos para o cumprimento do desejo de Cristo. Cristo
19 Lucas 22.20
32
não apenas deu um mandamento externo, mas preparou internamente seus discípulos para
arcar com esse mandamento.
Assim a Aliança em Cristo demonstra uma força muito grande e também a reta final na
história da redenção. Deus providenciou o sacrifício perfeito e completo através de qual o
povo era redimido e a aliança era guardada e cumprida completamente (Lc 22: 20). Deus
providenciou meios para a redenção ser recebida através da pregação do evangelho (Mt
28: 19, 20 e Rm 10: 14-17). Também Deus providenciou meios para que a pregação possa
ser feita e eficaz na vida dos que crêem (At 1: 8, Ef 2: 7,8 e 4: 6). Deus estava se
implicando diretamente na redenção do seu povo, ou seja, nós, por causa de nossa
condição espiritual de mortos em pecados e delitos, o que nos impossibilita a fazer algo
(Ef 2: 1). Ele nos providenciou a salvação, nos tirando as trevas e nos colocando no seu
Reino (Cl 1: 13), nos comprando com sangue de Cristo (I Co 6: 20), nos dando vida (Ef 2:
7) e nos perdoando dos pecados (Hb 10: 15-17 e I Jo 2: 2, 12). Deus começou sua obra de
redenção na vida de seu povo e ele a sustenta e preserva dirigindo até o fim (Fp 1: 6). A
Aliança e o cumprimento dela sendo providenciados pela obra de Deus que nos fez
também ser seu templo (Ef 2: 21, 22), mostrando a habitação de Deus na vida do seu
povo até que sejamos levados à nossa habitação celestial na presença do próprio Deus (Jo
14: 1-3 e I Ts 4: 13-17).
Os beneficiários da aliança de Deus são chamados à obediência da sua palavra (o que
mostra o caráter daqueles que estão na presença de Deus), a confiar nas promessas e
aceitar o reinado de Jesus Cristo em suas vidas (I Pe 3: 15), esperando a vinda de Cristo
como consumação final na Aliança que é a redenção do seu povo e celebrando em virtude
do cumprimento da Aliança a Santa Ceia, lembrando da morte de Cristo, através de qual
nos foi providenciada a graça e os benefícios da salvação na Aliança em Cristo (I Co 11:
25).
Percebemos ao longo da Bíblia tanto no Antigo quanto no Novo Testamento
características importantes da providência de Deus através de: presença direta de Deus no
mundo, seu envolvimento contínuo do início até o fim de todas as coisas, sua direção e
seu governo sobre tudo conforme seus planos. Deus decreta seus estatutos e seus
propósitos (redimir um povo), sustenta, conduz e controla soberanamente ao longo do
tempo esse propósito. Deus opera seus propósitos através da sua aliança com seu povo.
Deus mostra sua providência e graça escolhendo um povo, sustentando e preservando-o
33
para o cumprimentos das promessas, preparando seu caráter, dirigindo e governando esse
povo para um fim glorioso cumprido na pessoa de Jesus Cristo.
PERGUNTAS:
1. Quais são os aspectos que revelam a Providência dentro da Aliança?
2. Qual a importância da Aliança no tempo de Abraão do ponto de vista da
Providência?
3. Quais são os elementos específicos dessa Aliança que evidenciam a ação
providencial de Deus ao longo do tempo?
4. Que podemos dizer em relação a Deus e ao homem quanto às suas
responsabilidades do ponto de vista da Aliança?
5. Qual a importância da reafirmação da Aliança no tempo de Moisés?
6. Como a estipulação da Aliança no tempo de Moisés demonstra a providência
de Deus?
7. Qual a importância da reafirmação da Aliança no tempo de Davi no quadro do
desenvolvimento da Aliança de Deus?
8. Quais são os elementos providenciais no tempo de Davi?
9. Qual a relevância e o significado da Aliança em Cristo no quadro do
desenvolvimento da Aliança?
10. Quais são os elementos presentes na afirmação da Aliança no tempo de Cristo?
11. Por que ela é chamada de Nova Aliança?
34
LIÇÃO 4: PANORAMA CRISTOLÓGICO
Vamos usar para este capítulo a história bíblica de Gênesis do capítulo 37 até 50, sobre
José e a como Deus usou sua vida de maneira soberana e providencial no cumprimento da
sua aliança beneficiando o povo da mesma e outros povos de maneira geral. Deus
preserva, coopera e governa sobre sua criação de maneira justa, graciosa e soberana. Isto
nos confere uma base sólida para compreender, interpretar e aceitar os acontecimentos ao
nosso redor, tanto positivos quanto negativos, de modo que podemos confiar e descansar
num Deus amoroso e deixar que Ele conduza nossas vidas. O doutor Ismael Quintero
Rojas escreve o seguinte no seu livro Refugiados sob suas asas: “Devemos descansar
debaixo da graça soberana do Senhor para com seus filhos” 20.
Embora Deus haja soberanamente com sua providência sobre toda a criação, entendemos
que desde a eternidade Ele tem um propósito específico para um determinado grupo de
pessoas, que são seus eleitos, povo escolhido de Deus, assim como Pedro diz em sua I
epístola, capítulo 2, vs. 9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus...”.
Desta forma, podemos afirmar que o coração da providência divina é o povo de Deus e o
instrumento ou eixo da providência é o Cristo Redentor. Para mostrar isto de maneira
mais clara, vamos usar, como dito antes, a história de José por ser um exemplo tipológico
e protótipo de Jesus Cristo. De fato a história de José mostra de forma clara a maneira de
Deus agir soberanamente e providencialmente sobre o mundo, cumprindo sua aliança,
visando o seu povo e tudo isto através de José, seu servo. Esta também é uma imagem
profética da forma como Deus agirá de forma plena com sua providência através de
Cristo. Em relação a esta história identificamos o aspecto cristológico da providência de
Deus através de 3 pontos que serão discutido a seguir, que são:
a. Cristo, providência e aliança.
b. Cristo, providência e o povo eleito.
c. Cristo, providência e o mundo.
4.1 Cristo, a providência e aliança20 ROJAS, Ismael Quintero. Refugiados bajo sus alas, Bogotá: Editorial Buena Semilla,2009, p.
23.
35
José era ainda somente um menino de 17 anos (Gên. 37:2) quando a promessa de Deus
foi feita a ele, promessa de que teria um papel importante na família.
Mas ele não tinha ideia da dimensão daquilo que a promessa significava e de essa não
visava em si apenas o seu próprio engrandecimento, mas sim o amor de Deus para com
seu povo. Deus iria abençoá-lo com vista de cuidar providencialmente de seus amados da
aliança, o que envolveria um processo de sofrimento pra ele.
Todos os acontecimentos que se seguem na sua vida tiveram de fato a ver com essa
promessa e por trás dela com a aliança de Deus. Aparentemente José era uma pessoa
normal, de uma família normal, mas, além disso, ele era uma pessoa da aliança, de uma
família da aliança, levando a sua vida na terra da aliança (terra prometida, Canaã –
Gênesis 37:1). Isto fazia de fato toda a diferença, porque embora ele seguisse sua vida
normalmente com seus altos e baixos, Deus soberana e graciosamente agia em função da
sua aliança cuidando deles. Isto deve ser um conforto para nós hoje que somos povo da
aliança, embora levemos uma vida normal, como outros, Deus tem um plano para nossas
vidas e dirige todas as coisas conforme diz (Rom. 8:28 – “Todas as coisas cooperam para
o bem daqueles que amam a Deus”).
Um dos elementos da aliança de Deus que determina sua atividade providencial é a
promessa. Desde Gênesis 3:15 Deus promete um Libertador, um Messias. Durante a
história Deus prepara a vinda do Messias e a promessa dele é cumprida na vinda de
Cristo. Entre outros Deus se revelou a Abraão afirmando e firmando sua aliança com este
ao qual fez, também, a promessa quanto à sua descendência, garantindo sua presença,
crescimentos e libertação, ser um povo (Gênesis 15).
O que mais tarde vimos a presenciar na história de José é uma amostra clara da fidelidade
de Deus no cumprimento da sua aliança. A promessa feita a José era parte do
cumprimento da promessa feita a Abraão e da maneira como Deus providencialmente iria
cumprir sua aliança. A história de José começa com aquilo que é prometido. Da mesma
forma a história de Jesus começa com as promessas que Deus fez em relação a Ele desde
o início até à sua vinda, vinda que por sua vez foi conforme tudo o que foi profetizado ao
seu respeito. A vida de Cristo, morte e ressurreição foi em concordância com aquilo que
as escrituras nos diz e isto é a essência do evangelho (ICor. 15:2).
36
José tenta levar uma vida normal, mas o que vem a seguir, após ele revelar suas visões
aos seus irmãos é algo que parece contrário à tudo que era de ser esperar acontecer. Ele
chega a ser vendido por seus próprios irmãos, fora de casa e da terra prometida, escravo,
preso... parecia que tudo estava perdido, ele mesmo poderia ter se perguntado: como vou
ser líder nessas condições? Ou, como Deus permite tudo isto? Muitas outras perguntas
poderiam ser feitas e até seus próprios irmãos poderiam pensar que conseguiram obstruir
os planos que José afirmava que Deus tinha pra ele. Fizeram tudo pra eliminar qualquer
condição de que José se tornasse líder deles. Porém assim como Gerard Van Groningen
escreve no seu livro: “José entendeu tão bem como qualquer pessoa a qual a Bíblia fala,
que Deus Yahweh considera e usa as próprias atitudes e feitos pecaminosos do seu povo
pactual, pelos quais são considerados totalmente responsáveis e simultaneamente cumpre
graciosa e soberanamente seus propósitos do reino por meios dessas emoções, decisões e
atividades pecaminosas” 21.
Nisso percebemos a cooperação divina que é um dos elementos da providência. A sua ida
para o Egito era um ato da providência de Deus para o seu povo. Uma vez no Egito estava
já iniciado o cumprimento da promessa feita a Abraão na expressão da aliança (de que
sua descendência seria levada ao Egito...). Tudo aquilo que parecia contrário
aparentemente operava de maneira graciosa para o cumprimento da aliança. A priore são
vistas emoções e atos negativos como ciúme, ódio, traição, injustiça..., mas olhando pelo
prisma da aliança tudo isto ganha outra conotação de cuidado, de amor providencial de
Deus para o povo da aliança. Deus usou tudo isto porque amava seu povo e queria
abençoá-lo. A aparente tragédia familiar era de fato amor e cuidado divinos para uma
grande família e povo. É difícil de entender e aceitar as tragédias, porém coma
compreensão sobre a doutrina da aliança podemos ser confortados que além e muito mais
profundo que as tragédias em si, existe o cuidado e o amor de Deus para com seus eleitos.
Mais tarde a família inteira de Jacó, pai de José, chega ao Egito, os irmãos se dobram
diante de José e o povo da aliança é preservado e desenvolvido. A descendência de
Abraão chega como prometido no Egito, Deus providenciando cumprimento da sua
aliança, José chega a reconhecer a doutrina da providência em Gênesis 50:20, quando, em
seu relacionamento com seus irmãos, mostra que ele está lá por causa do cuidado de Deus
para com eles e sua descendência.conforme Groningen “José, particularmente, serviu em
21 GRONINGEN, Gerard Van. Criação e consumação: o reino, a aliança e o mediador, Vol I, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p.. 298.
37
uma qualidade mediadora. Ele fez isso tipologicamente (com referência ao futuro), mas
ao viver e servir representava Deus Yahweh”22.
Jesus como filho da aliança veio no meio do povo da aliança (João 1:10,11) e foi um
instrumento providencial de Deus para seu povo. Cristo, assim como José, não foi
reconhecido pelos seus, foi vendido pelo seu discípulo (João 13:26), foi preso nas mãos
de estrangeiros por meio dos quais foi crucificado. Tudo parecia contrário o que o povo
esperava em relação ao Messias ou grande libertador. Seus inimigos, e o próprio Satanás,
poderiam pensar que venceram e destruíram sua obra redentora, conforme o que estava
prometido. Mas exatamente através de tudo e como aconteceu Jesus cumpriu a promessa
do Pai, libertou o povo e se sentou à destra do Pai. Ele recebeu toda a autoridade no céu e
na terra (Mateus 28:18) muito mais do que José recebeu quando foi quando colocado
como governador do Egito. I Coríntios 15:24-28 mostra como todas as coisas e os
inimigos de Cristo serão submissos à sua autoridade. Assim através de Cristo Deus
providencia de forma plena o cumprimento da sua aliança com seu povo, sendo esta
aliança feita e selada com o próprio sangue de Cristo (I Cor. 11:25).
Outro elemento importante para a aliança, além da promessa, é a presença de Deus no
meio do seu povo e com seu ungido. Embora José tenha sido vendido e ido para o Egito,
pode-se ver claramente que Deus estava com José em todos os momentos. O próprio José
deu prova de perceber esta presença. Em Gênesis 39:9 ele entende que vive na presença
de Deus e se guarda de pecar contra Ele; em Gênesis, 39:2 e 21 se encontra uma fórmula
da aliança “Yahweh estava com José...”; no capítulo 39:3, Potifar reconhece a presença de
Deus na vida de José; no capítulo 41:38, 39, Faraó reconhece que Deus estava com José;
ainda no capítulo 41 José dá prova de consciência da presença providencial de Deus
quando fala dos nomes dos seus filhos; em 46:4, Deus mesmo fala pra Jacó que estava
presente com seu povo no Egito. A presença de Deus com José e com seu povo, devido à
sua aliança, era muito claro que poderia ser visto e reconhecido, não somente pelo povo
da aliança, como também por aqueles que não pertenciam a este povo. Mesmo os irmãos
de José quando tiveram seus primeiros contatos com José, após tê-lo vendido,
reconhecem que Deus estava agindo por trás de tudo o que aconteceu.Deus se envolve
pessoalmente no desfecho da história por causa da sua aliança.
22 idem
38
Da mesma forma como foi visto na história de José, de forma plena, vemos a presença de
Deus em e com Jesus, no meio da sua criação. O próprio Deus se encarnou (João 1), Ele
mesmo veio da forma mais íntima possível para libertar o seu povo eleito desde a
eternidade. A escritura nos dá vários registros de fatos que Deus estava com aquele que o
representava de forma plena, Jesus, através do qual Ele providenciou a libertação,
salvação e formação do povo da aliança que inclui judeus e gentios. Registros claros da
comunhão de Deus com Jesus e que de fato Deus estava com Ele, andava com Ele,
encontramos no seu batismo, quando foi ouvida a voz de Deus em relação ao seu Filho
(Lucas 3:21, 22); no milagre da ressurreição de Lázaro em João 11, como também em
outros milagres, na sua própria pregação em João 8:28, 29 e até quem não o conhecia
afirmou que Deus estava com Ele, porque de outra forma não poderia fazer o que fez
(João 9:33) e também foi reconhecido por seus inimigos após sua morte na cruz (Lucas
23: 47).
Devido à sua aliança com seu povo, Deus se compromete a estar presente para
providenciar tudo o que é concernente a esta aliança. “Deus estava em Cristo
reconciliando consigo mesmo o mundo”. Em João 14:16 – 18, Jesus conforta os seus
discípulos prometendo-lhes que não seriam deixados sozinhos e que enviaria outro
Consolador. Após a sua ressurreição e enviar o seus discípulos ao mundo para pregar o
evangelho (formação, crescimento e expansão do seu povo) promete sua presença com
eles todos os dias. Quanto à reunião dos que procuram seu nome, ele também fala da sua
presença no meio deles (Mateus 20:18). Deus cumpre sua promessa de Gênesis 3:15,
promessa feita a Abraão e a outros depois dele, na pessoa de Cristo, providenciando nele
a libertação plena dos seus eleitos que são inseridos na aliança cujo sinal dela é o próprio
sangue de Cristo (I Cor 11:25), sangue com o qual também fomos comprados para
pertencermos a Deus (I Cor. 6:20).
Deus providenciou tudo que precisamos em Cristo, assim como a Bíblia diz que nEle
temos tudo que necessitamos, tudo que precisamos Deus providenciou em e através de
Cristo. Efésios 1:4 e 5 mostra que Deus nos escolheu em Cristo: “... assim como nos
escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele;
e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade...”; o vs 7 diz que nele foi providenciado nosso
resgate, perdão dos pecados: “... no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão
dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, ...”; e no vs 11, que, também nele, fomos
39
feitos herdeiros: “... nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados
segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua
vontade...”.
Como podemos ver, Deus providenciou tudo em relação ao seu povo desde a eternidade
até que seu povo chegue a herdar o seu reino. Enquanto isto Deus conduz aqui na terra
seu povo através de Cristo, sendo Ele feito a cabeça da igreja (Colossenses 1:18).
Podemos concluir esta parte dizendo que Cristo é o elemento central da providência de
Deus através do qual Deus cumpre suas promessas, se faz presente no meio do seu povo,
honrado sua aliança e suprindo as necessidades do seu povo, até que ele chegue à sua
presença.
4.2 Cristo, a providência e o povo eleito
Um olhar superficial sobre os acontecimentos da vida de José pode levar a entender que
tudo aconteceu em função de uma questão pessoal e familiar, embora Deus agisse na vida
pessoal de José e sua família, Ele não trabalhava somente com a consequência do que
tinha acontecido, nem como resposta a José em relação aos seus irmãos, Deus cooperava
com todos os acontecimentos e guiava tudo com vistas a um bem maior que era o povo
prometido (descendência de Abraão). José mesmo mostra entendimento sobre o motivo
pela qual tudo tinha acontecido, seja o ódio ou a traição dos irmãos, a ida para o Egito e
tudo o que lá aconteceu, ele mostra que, de fato, tudo teve a ver com o cuidado
providencial de Deus aos seus eleitos (Gênesis 45:5-7; 50:20). Ele, quando se refere ao
cuidado de Deus, pelo qual entende que passou tudo o que passou, não se refere somente
aos seus irmãos, mas a muitas pessoas visando o povo inteiro. A providência divina
operou através de José usando a sua vida com suas circunstâncias, visando de maneira
específica o bem prometido dentro da aliança para o povo que Deus escolheu.
A vinda, vida e morte de Jesus teve por sua vez em vista de maneira específica os eleitos.
Aqueles que por sua vez foram eleitos antes da fundação do mundo (Efésios 1:4). Deus
enviou Jesus para que assim, através dele, providenciasse a libertação e salvação dos seus
eleitos. Em João 6:37-39 as escrituras mostra como Deus providenciado o cuidado do seu
povo oferecendo este povo na mão de Cristo para seu cuidado, mais uma vez Cristo é
mostrado como vindo para fazer a vontade de Deus cuidando dos seus eleitos, que foram
dados a Ele. Em João 17:9 como no restante do capítulo, mostra o interesse específico nos
discípulos e naqueles que viriam a crer. Tudo o que seus eleitos precisam Deus
40
providenciou em Cristo: “Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo
principado e potestade” (Colossenses 2:10). Em Romanos 8:28-39 mostra mais uma vez
como aquilo que Deus planejou pra nós está providenciado em e através de Cristo, e o
texto fecha com o amor que Deus tem por seus eleitos, amor que por sua vez é
providenciado também em Cristo.
João 10:10 mostra como Jesus vem com propósito específico, este sendo suas ovelhas
(eleitos) para dar-lhes vida. Em João 10:11 mostra a relação pessoal entre Cristo e as
ovelhas e de novo como Ele veio dar-lhes vida. Em João 10:28 aparece fortalecida a
mesma ideia de que Jesus veio para suas ovelhas, para dar-lhes vida e vida eterna e para
garantir que nada tiraria isto delas. Pode-se ver que a vinda de Cristo é uma ação
providencial de Deus para seus eleitos pra que desfrutem dos benefícios da aliança
daquilo que Deus tem em vista pra eles. João 14:6 mostra mais uma vez que Deus
providenciou o caminho, a verdade e a vida através do seu Filho Jesus. Até o retorno de
Cristo (João 14:1-3; I Tessalonicenses 4:16 e 17) te sua grande ênfase em beneficiar os
eleitos de Deus levando-os para o paraíso eterno, desfrutando da herança preparada e
prometida. Podemos dizer que a providência ou seu conteúdo está concentrada em Cristo
e visa de maneira específica os eleitos.
4.3 Cristo, a providência e o mundo
Deus levou José ao Egito devido á sua aliança, visando o cuidado específico de Deus para
com seu povo, no entanto, durante os acontecimentos na história de José, Deus também
providenciou cuidado pela sua misericórdia e graça, sobre outros povos que não era povo
de Deus. Embora o povo da aliança era o propósito específico de Deus, pelo qual José foi
ao Egito, os egípcios e o mundo inteiro foi também abençoados através de José. Ele se
torna uma bênção logo no início da sua chegada no Egito até o fim. Em Gênesis 39:5 e 6,
mostra como Deus estava abençoando a casa de Potifar e tudo o que ele tinha por causa
de José. No mesmo capítulo vs 29 e 23, embora José em prisão Deus continua
abençoando sua vida e a outros ao redor por sua causa.
Deus cuidou providencialmente de todas estas pessoas usando a vida de José, mostrando
sua graça comum. Em Gênesis 41 é mostrado de forma clara a extensão da providência de
Deus sobre outros povos. Deus revela e prepara o Faraó e o Egito para enfrentar a grande
fome que estava por vir. Deus mostra assim sua providência também para o Egito, usando
José em avisar e preparar o país para o que estava para acontecer. Em Gênesis de 31:39-
41
44 é visto como o próprio Faraó reconhece que José é um instrumento de Deus em cuidar
do Egito e como consequência disto o coloca como governador do país. Em Gênesis
41:46-49, José trabalha pra providenciar alimentos pra que a fome não destrua o país. No
capítulo 41:53-57, se percebe um mundo inteiro necessitado, não somente o Egito, vindo
a Faraó em busca alimento, mas de forma tão bela, este encaminha seu povo para José
mostrando que ele é o elemento providencial necessário para o que precisam.Tudo estava
centralizado em José é dependia dele. Quando perguntamos quanto à maneira de Deus
providenciar cuidado para o mundo, considerando a história que falamos, a resposta é
simples: José, Deus mandou José.
Do capítulo 43 em diante é visto que tanto os filhos da aliança como o Egito e o mundo
inteiro, foi cuidado providencialmente através de José.
Esta história na verdade, é uma bela imagem sobre Cristo e o cuidado providencial de
Deus através dele sobre toda a criação. E quando pensamos na criação como um todo a
Bíblia nos esclarece que tudo foi criado por Cristo e através dele. Em outras palavras toda
criação foi providenciada em Cristo (Colossenses 1:16). Quanto à manutenção da criação
também isso é providenciado em Cristo, sendo que tudo se mantém através dele, até a
própria vida (Colossenses 1:17; I Cor. 8:6). No Evangelho de João mostra repetidas vezes
que Jesus é a fonte de vida. Deus providenciou vida através de Cristo, lembrando como
começou a história de José lembramos, também, sobre Cristo que foi rejeitado pelos seus
(João 1:10,11) e a graça de Deus foi estendida para todos, incluindo os gentios que o
receberam. Durante sua vida Jesus foi uma bênção de Deus providenciando o que era
necessário, tanto pra judeus como para gentios. Muitos foram curados, tiveram suas
necessidades supridas, mesmo não sendo todos parte dos seus eleitos. Agora Cristo vem
com um propósito específico, como vimos no outro capítulo, em salvar e dar vida às suas
ovelhas, no entanto abençoou a todos por onde passou, inclusive seus inimigos ou aqueles
que mais tarde iria crucificá-lo. Deus providencia um grande cuidado até hoje através de
Cristo para o mundo inteiro apesar de nem todos serem eleitos. Ele quer estar presente na
vida dos seus eleitos, no meio da sua igreja, mandou os seus em sua igreja ser bênção
neste mundo, amar o próximo e até os inimigos, cuidar dos necessitados. A própria
presença da palavra de Deus pregada pela igreja no meio da sociedade, é um meio
providencial de Deus para que as pessoas na sociedade tenham uma vida digna. Tanto é
que para a necessidade humana Deus tem uma resposta humana: Jesus, Deus enviou a ele
(João 3:16). Em Mateus 11:28-30, Jesus convida a todos vir a ele para serem supridos.
42
A aliança de Deus é fundamental para nossa segurança em relação ao que Deus prometeu
e também em relação ao planos de Deus para conosco e da sua ação providencia por trás
de todos os acontecimentos. Como Palmer Robertson comenta em seu livro sobre a
resposta de garantia de que Deus fará o que prometeu a Abraão: “IO Senhor ofereceu a
certeza mais profunda possível ao fazer uso do procedimento então comum de se fazer
aliança. O fato de os animais terem sido cortados e Deus passando entre as partes
comprometia o próprio Senhor mediante o mais solene juramento” (alusão à Gen. 15).
“Que eu seja cortado em pedaços como estes animais mutilados se eu falhar em cumprir
minhas promessas, proclamava o antigo procedimento”23.
Podemos finalizar este capítulo dizendo que embora a providência divina atende toda a
criação, ela no entanto tem uma ênfase específica no povo da aliança, sendo a providência
muito relacionada a esta.
O objeto, o foco da providência é o povo eleito que está num relacionamento de aliança
com Deus, aliança providenciada em e através de Cristo que é o instrumento central e
principal da providência divina, sendo Ele através do qual Deus cuida, preserva e governa
a sua criação e todas as coisas para sua própria gloria.
A Ele toda glória!
PERGUNTAS:
1. Por que a história de José é significativa para a doutrina da providência?
2. O que torna José um ser tipológico de Cristo?
3. Qual é o elemento central da providência?
4. De que forma Cristo se relaciona com a aliança e com a providência?
5. Qual é o principal foco da ação providencial de Deus?
6. De que forma Cristo se relaciona com seus eleitos?
7. Em que aspecto Cristo é importante como ação providencial de Deus para o
mundo?
8. Qual a principal razão pela qual José foi para o Egito?
9. Qual a causa primária pela qual Cristo veio ao mundo?
10. Qual a responsabilidade da igreja frente ao mundo, aos olhos da providência?
23 ROBERTSON, Palmer. Alianças. São Paulo: Cultura Cristão, 2010, p. 34
43
44
LIÇÃO 5: PANORAMA HISTÓRICO
A Providência de Deus sempre foi um assunto polêmico e controverso por causa de sua
complexidade e sua importância. Apesar das dificuldades que a doutrina da Providência
apresenta houve, no entanto, certo consenso entre os cristãos sobre o fato de que Deus
cuida da natureza e da história. (Os cristãos sempre creram que o único Deus verdadeiro,
criador do céu e da terra, também é Senhor soberano da criação. Tanto a natureza quanto
a história lhe pertencem e ele os guarda e sustenta).24
5.1 O Início e os Pais da IgrejaOs líderes e pensadores cristãos desde os pais da igreja antiga, no período
medieval e na Reforma, até a igreja moderna e contemporânea concordam
unânimes em que nada acontece ou pode acontecer sem a permissão de Deus e
que a vontade suprema de Deus jamais pode ser contrariada; no fim, Deus
sempre atende ao seu objetivo. 25
Embora tenha havido uma visão comum sobre a soberania de Deus e sua providência,
nem sempre os cristãos concordaram em todos os detalhes da providência. Os pais da
igreja antiga, os pensadores medievais, os reformadores protestantes, os teólogos cristãos
da pós-reforma confessaram a fé consensual cristã de que a natureza e a história são
soberana e providencialmente governadas por Deus e que nada acontece nem pode
acontecer sem a permissão de Deus. Os primeiros cristãos, por serem de posição contrária
à doutrina do destino e em seu desejo de proteger a santidade de Deus, exageraram em
dar ênfase ao livre arbítrio do homem, sendo assim comprometido o governo providencial
de Deus.
No entanto, os pais da igreja afirmaram que Deus está dirigindo a natureza e a história
para o cumprimento dos seus propósitos. Irineu, um dos primeiros verdadeiros teólogos
do cristianismo afirmou tanto a livre deliberação humana quanto a disposição e o arranjo
divino de todos os acontecimentos. Tanto Irineu quanto os pais orientais da igreja antiga
aceitaram tanto a providência divina quando a habilidade da escolha humana como duas
verdades conflitantes, mas ambas inegavelmente verdadeiras. Tertuliano, apesar de seguir
24 Olson, Roger E., História das Controvérsias na Teologia Cristã, Editora Vida, p. 247.
25 Idem, p. 248.
45
a tendência geral dos pais da igreja oriental como Irineu, explica a providência de uma
forma mais clara e ampla do que qualquer outro teólogo até Agostinho. Tudo o que
acontece é com a previsão e permissão divina, Deus mesmo intervindo diretamente em
certos casos, e ao mesmo tempo a soberania de Deus nunca retira a liberdade e
responsabilidade moral dos seres humanos. Tertuliano acentua a unidade com distinção
da vontade absoluta de Deus e da vontade permissiva, insistindo que os cristãos cressem
que Deus realizava de maneira absoluta alguns fatos e apenas tolerava passivamente
outras coisas como o pecado e o mal. 26
Por um bom tempo, por mais que a providência de Deus fosse bem aceita, era apresentada
de forma simples que coloca peso idêntico entre a soberania de Deus e a liberdade
humana limitada.
5.2 O Modelo Agostiniano
No século V, pela primeira vez a providência de Deus é apresentada de forma racional,
inclusiva e sistemática através do teólogo Agostinho. Ele foi um dos que enfatizaram a
doutrina da providência contra o destino e acaso. Na perspectiva de Agostinho, a
providência divina era como planejamento e controle absoluto e meticuloso de todos os
acontecimentos. O mundo era preservado e governado por Deus conforme a sua vontade,
Deus estando sempre no controle de tudo.
Quando Roma caiu, várias perguntas sobre a soberania divina surgiram. Muitos pensaram
que a vontade de Deus estava sendo contrariada por identificar Roma com Reino de Deus
que não poderia ser destruído. Nesse período de controvérsias, Agostinho escreveu a obra
A Cidade de Deus com ênfase na providência divina, mostrando que o Reino de Deus não
pode ser identificado com nenhuma sociedade humana e que Deus, soberanamente,
levanta u coloca por terra qualquer império humano conforme a sua vontade. Ele
demonstra assim que, de fato, a vontade de Deus não havia sido contrariada e que Roma
era apenas um império humano que caiu pela providência de Deus por ser aquele o
propósito dele.
Embora ele não pretendesse negar o livre-arbítrio e argumentasse contra o
fatalismo, o grande pai da igreja deixou pouco espaço para contingência na
história. Os cristãos simplesmente devem confiar que tudo o que acontece é, de
algum modo, a concretização do plano divino soberano. Mesmo o que parece
26 Olson, Roger E., História das Controvérsias na Teologia Cristã, Editora Vida, p. 255.
46
ser mal é parte desse grande plano divino. Embora Deus não cause o mal, ele o
planeja e controla. Até mesmo Satanás é instrumento de Deus. Agostinho,
portanto, é o verdadeiro pai da doutrina cristã da “providência meticulosa.”27
5.3 A Idade Média
Durante a Idade Média, apesar de todas as especulações, todos os teólogos seguiram em
linhas gerais o conceito da providência elaborado por Agostinho. Tomás de Aquino, um
dos mais conceituados teólogos da Idade Média segue o modelo de Agostinho
sustentando que a vontade de Deus determinada por seus perfeitos desígnios preserva e
governa todas as coisas criadas.28
Tomás de Aquino junto aos teólogos católicos medievais creram no controle soberano de
Deus sobre a natureza e história, promovendo-a intensamente, de tal maneira que nada
escapasse ao plano, provisão e o governo de Deus.29
5.4 Os Reformadores e a Teologia Reformada
Os reformadores protestantes não contestaram o consenso cristão antigo e medieval sobre
a fé na soberania e providência de Deus. Apesar de algumas diferenças de opinião em
alguns pontos, tanto Lutero quanto Zwinglio afirmavam de forma muito clara e sem medo
de ser contrariado que nada se move além da jurisdição divina, pois se isso acontecesse,
Deus não seria Deus.
Zwinglio era um grande adepto da providência meticulosa, modelo desenvolvido por
Agostinho, e afirmava que a única alternativa a essa perspectiva é o ateísmo. Não é
apenas uma opinião, mas isso é tão forte que para Zwinglio não havia outra possibilidade
de ver Deus, a natureza e a história a não ser através da providência meticulosa. Deus está
controlando, sustentando e governando tudo de forma minuciosa de acordo com tudo o
que planejou e dirige tudo o que existe e todas as ações sem poder ser julgado sendo que
Deus não se submete a nenhuma lei humana, Deus apenas dirige e age em tudo para o
cumprimento de seus planos soberanos.
Outro grande reformador que consolida a doutrina reformada sobre a providência
trazendo à luz, esclarecendo sobre esta é João Calvino que oferece um entendimento
bíblico e pastoral sobre a providência nas Institutas, capítulos 16 e 18. Ele liga a criação 27 Olson, Roger E., História das Controvérsias na Teologia Cristã, Editora Vida, p. 256.
28 Ferreira, Franklin; Myatt, Alan, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, p. 302.
29 Olson, Roger E., História das Controvérsias na Teologia Cristã, Editora Vida, p. 257.
47
de Deus à providência que governa e preserva todas as coisas, regendo toda parte ao seu
propósito. Calvino vê Deus como o que criou tudo com um propósito, cuida e sustenta
aquilo que foi criado, governa e dirige tudo para um fim determinado.
Calvino critica o fatalismo e o deísmo através da doutrina da providência. Ele
pondera que na concepção cristã, o Senhor Deus não é uma força impessoal,
mas o criador infinito e pessoal do Universo, que em sua sabedoria decretou,
desde a eternidade, o que iria fazer e agora em seu poder realiza o que decretou.
Pois quando se diz no Salmo 115: 3 que “ele faz tudo quanto quer”, trata-se de
uma vontade definitiva e liberada. 30
Também Calvino reforça a idéia de que Deus está continuamente envolvido em sua
criação. Ele reconhece a responsabilidade e esforço humano como meio empregado por
Deus para fazer seu propósito.
Geralmente a teologia reformada seguindo Agostinho, Zwinglio e Calvino, afirma o
controle divino e soberano sobre a natureza e história de forma detalhada.
Muitos teólogos cristãos protestantes depois das fases iniciais da Reforma do século XVI
tentaram abrandar a interpretação Agostinho/reformada da soberania divina afirmando
uma distinção semelhante à de Tertuliano entre a ordenação prévia de Deus e permissão. 31
5.5 Outra Visão – Arminianismo
Além da doutrina reformada que contribui para a formação da doutrina da providência,
está destacada outra doutrina que influenciaria o mundo cristão: a doutrina Arminiana.
Essa doutrina foi iniciada através do teólogo holandês João Armínio do século XVII que
afirmava intensamente a providência de Deus ao ponto de insistir em que nada pode
acontecer na natureza e na história sem consentimento divino, mas ao mesmo tempo
argumentou a favor da auto-limitação divina para permitir o genuíno livre-arbítrio
humano e explicar como Deus é soberano e apesar disso não responsável pelo pecado e
mal.32
30 Ferreira, Franklin; Myatt, Alan, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, p. 303 (extraído de João Calvino, As Institutas I 16.3.)
31 Olson, Roger E., História das Controvérsias na Teologia Cristã, Editora Vida, p. 257.
32 Olson, Roger E., História das Controvérsias na Teologia Cristã, Editora Vida, p. 259.
48
Gradativamente, abriu-se a alargou-se uma fenda entre protestantes que afirmavam a
soberania divina e a providência meticulosa e os que como Armínio e seus seguidores
afirmavam o controle divino limitado somente sobre os acontecimentos de tal maneira
que Deus apenas permite, mas não predestina ou causa os atos pecaminosos e maus ou o
sofrimento. Uma vez estabelecida essas duas visões sobre a providência divina, a visão
reformada e a visão arminiana, o mundo cristão passa a fundamentar seus credos sobre a
providência em volta de uma dessas perspectivas.
5.6 Teísmo Aberto
No último século apareceu uma terceira visão sobre a providência que é o teísmo aberto.
De acordo com o teísmo aberto, Deus não sabe com certeza absoluta tudo o que
o futuro contém, mas ele é capaz de predizer acontecimentos e reagir de tal
modo que sua vontade última e final para o futuro, nunca sendo contrariada. 33
Conforme a visão teísta, Deus, sem saber com exatidão o futuro, resulta no fato de ele não
ser onisciente e isso contradiz a doutrina reformada e também limita o poder de Deus.
Quase todos os teístas creram anteriormente na providência limitada, sendo considerado
por muitos apenas um ajuste da mesma. Os teístas abertos crêem através de relatos
bíblicos (ex. I Sm 15:11; 15:35; Jn 3:10; Dt 30:19; Mc 16:16; I Tm 2:4; 4:10 e Lc 7:30)
que Deus muda de opinião quando seus servos oram suplicantes e interpretam a
providência como resposta poderosa de Deus à humanidade.34
Essa visão, no entanto não foi bem aceita no cristianismo ortodoxo e especificamente no
meio reformado que crê naquilo que a Confissão de Fé de Westminster afirma:
Pela mui sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e
imutável conselho de sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as
coisas, para o louvor da glória de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e
misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as
ações delas e todas as coisas desde a maior até a menor.35
PERGUNTAS:
33 Idem, p. 257.
34 Idem, p. 256
35 A Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, Casa Editora Presbiteriana, 1ª edição, 1991, cap. V. p. 47.
49
1. Qual era a posição dos pais da igreja acerca da providência?
2. Quais são as dificuldades que eles encontraram nessa doutrina?
3. Quando a doutrina da providência foi definida de maneira clara?
4. Defina o modelo agostiniano.
5. Qual a importância desse modelo para a igreja no momento e o longo dos
séculos?
6. Defina a visão reformada sobre providência.
7. Qual é o erro arminiano e o que o causou?
8. Qual problema nos apresenta o Teísmo Aberto e qual seu erro em relação aos
textos que usa para fundamentar sua teologia?
9. Qual é a alternativa que Zwinglio dá à providência meticulosa, da qual era
adepto?
10. Defina a posição de Tomás de Aquino e católicos medievais sobre a
providência.
50
LIÇÃO 6: PANORAMA TEOLÓGICO
A providência de Deus, a sua aliança e o sacrifício de Cristo, constituem a base do
relacionamento e envolvimento de Deus na sua criação e com os homens, especialmente
com seu povo.
Vamos, no entanto, nos concentrar na doutrina da providência. Apesar de Deus não nos
dar um capítulo específico falando da doutrina da providência, Ele deixou evidências
claras sobre a mesma. Os teólogos e a igreja se preocuparam em destacar, definir e
organizar as doutrinas bíblicas, logo a da providência também, através de confissões de
fé, catecismos e teologias sistemáticas para que assim o povo de Deus pudesse ter uma
visão clara e sistematizada de Deus e seus ensinos.
Portanto, a doutrina da providência é uma doutrina bíblica aceita por todos os teólogos,
apesar da divergência dos pontos de vista em sua interpretação.
6.1 A Providência nas Institutas de Calvino
Para Calvino, Deus não apenas criou as coisas, mas ele é o governador e preservador de
tudo.36 Para ele o mundo criado, sem a presença do criador, não faz sentido. Tudo está
debaixo dos cuidados especiais de Deus (At 17: 28). Deus está envolvido nos mínimos
detalhes na vida de sua criação (Mt 10: 30). Nada do que acontece é por acaso, e sim está
controlado por Deus.
Calvino mostra que todas as coisas agem em primeiro lugar por causa dos decretos de
Deus, através e conforme sua natureza, Deus sendo assim, a causa principal de tudo o que
acontece. Para Calvino, se alguma coisa não é dirigida por Deus, é como se sua glória
fosse roubada.37 Deus governa o Universo, regendo tudo conforme seus decretos, de
forma que o mundo não age por determinação própria e sim por determinação de Deus.
Deus está presente e conduzindo por sua vontade soberana cada fenômeno da natureza, no
entanto Calvino reconhece que o governo de Deus se concentra principalmente no ser
humano.38
36 Calvino, João, As Institutas, Livro I, cap. 16, p. 198.
37 Idem, p. 201
38 Calvino, João, As Institutas, Livro I, cap. 16, p. 205.
51
Contudo, o homem nem sempre consegue ver a providência atrás dos acontecimentos de
sua vida. Com certeza as coisas acontecem por causa da sua própria natureza, no entanto,
todas essas ações estão debaixo da providência divina, sendo controladas e dirigidas,
determinadas para cumprir os decretos eternos e secretos de Deus.
O ser humano continua responsável por seus atos e pecados, pois ele age livre conforme
seus desejos e natureza e não por cumprir a vontade de Deus. Para Calvino a providência
de Deus mostra que todas as coisas são divinamente ordenadas39 conforme os propósitos
divinos. A providência é contínua em todo tempo, tanto no passado como no presente e
futuro. Deus mantém seu cuidado ao gênero humano e principalmente à sua igreja. Ele,
por sua providência, opera livremente, fazendo uso de meios ou não. A providência leva à
confiança em Deus e seus propósitos para nós, sendo que nada acontece por acaso e que
nós nada podemos acrescentar em nossa vida e nem evitar.
6.2 Providência na Confissão de Fé de Westminster
A Confissão de Westminster mostra em relação à providência que Deus age e se relaciona
soberanamente sobre todas as criaturas e todas as coisas da menor à maior. Deus age e se
relaciona não apenas com uma parte do seu Universo, mas com tudo através da seguinte
forma: sustentando, dirigindo, dispondo e governando tudo para sua glória. Deus sustenta
tudo o que existe e conduz para o resultado desejado por si mesmo, ele pode usar tudo e
faz uso de todas as coisas da forma que ele quer, lidera tudo para o cumprimento dos seus
propósitos.
Deus usa a própria liberdade e a natureza das coisas sendo assim ele mesmo a causa
primária de tudo o que acontece. Todas as coisas seguem o cumprimento do decreto de
Deus e ao mesmo tempo todas as coisas agem livremente conforme sua natureza.40
Deus, apesar de ser suficiente em si mesmo e não precisar de nada escolheu empregar
meios para cumprir seus decretos. Ainda assim ele não depende de nada para sua
satisfação.41
39 Idem, p. 211.
40 A Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, Casa Editora Presbiteriana, 1ª edição, 1991, p. 29.
41 A Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, Casa Editora Presbiteriana, 1ª edição, 1991, p. 30.
52
Em nenhum caso Deus é autor do pecado nem responsável ou aquele que aprova. O
homem é responsável pelo seu pecado, por não querer em seu coração fazer a vontade de
Deus. Deus, ainda que o homem peque, dirige tudo conforme seus planos e seus
desígnios.42
Deus permite situações difíceis e pode deixar seus santos caírem com um propósito
específico. Até a própria queda dos seus filhos e a sua consumação têm um propósito bom
e operam para o bem do povo de Deus.43
Deus age na vida dos ímpios também tirando os dons deles e deixando-os cair e pecar,
mas isso sendo para sua condenação.44
Com a relação a providência a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo
afirma que a providencia de Deus se estende a todas as coisas, mas tem como ênfase
específica seu povo, ou seja, a Igreja.45
6.3 Providência no Catecismo Maior
O Catecismo Maior se preocupa em mostrar a presença e ação de Deus no mundo de
maneira santa, sábia e poderosa através de sua providência, sendo ela vista sob três
aspectos:
a. A preservação na qual Deus mantém e sustenta tudo com um propósito.
b. O governo no qual ele dirige soberanamente tudo conforme sua vontade.
c. A concorrência de Deus através da qual ele ordena todas as criaturas e todas as
suas ações para a sua glória.46
6.4 A Providência por R.C. Sproul
R.C. Sproul é um dos maiores teólogos reformados do nosso tempo. É importante ver
como em nossos dias a providência é vista da perspectiva reformada. A providência é
explicada por Sproul com base em escritos da reforma. Ele mostra que, de fato, só
42 Idem, p. 31.
43 Idem, p. 32.
44 Idem, p. 33.
45 Idem, p. 35.
46 A Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, Casa Editora Presbiteriana, 1ª edição, 1991, p. 176.
53
podemos entender e aceitar as coisas pelo prisma da providência. Toda a história está nas
mãos de Deus e debaixo de sua supervisão.47 O homem é livre apenas quanto Deus
permita.48
Deus deixou a responsabilidade moral do homem, portanto quando o homem peca é
porque ele quer e deseja fazê-lo, fato que atrai também as responsabilidade. Também
mostra a relação da providência com a obra da criação de Gênesis 1: 1 e com o fato de
Deus manter e sustentar tudo conforme Hebreus 11: 3. Para R.C. Sproul tudo é conduzido
soberanamente por Deus, mas como já falamos, o homem permanece moralmente
responsável por seu pecado. Deus tem um propósito em tudo, mesmo quando as coisas
ruins acontecem.
6.5 Nossa Posição
Deus não criou o mundo e o deixou sozinho, mas continua presente interagindo e se
relacionando de forma direta e indireta, de maneira bondosa e soberana, governando
sobre todas as coisas. Quando falamos na providência de Deus, falamos de fato de sua
presença de forma contínua e ativa e de seu propósito soberano sobre todas as coisas
através do qual ele opera.
Baseados na Confissão de Fé o nos pensadores reformados que foram cuidadosos na
observação da providência de Deus através das Escrituras, seguimos em nossa forma de
apresentação a estrutura usada pelo teólogo Louis Berkhof em sua obra A Summary of
Christian Doctrine.
A presente estrutura se apresentará como: a preservação divina, o concursus divino (ou
cooperação) e o governo divino.
6.5.1 A Preservação Divina
Berkhof define a preservação com aquela obra contínua pela qual ele mantém as coisas
que criou junto às propriedades e poderes com o quais os capacitou.49 Deus não apenas
criou as coisas, mas e está sustentando-as e fazendo-as funcionar continuamente. Deus
47 Sproul, R.C., Mana Invizibila a Lui Dumnezeu, Arad: Multimedia, 1999, p.98.
48 Sproul, R.C., Mana Invizibila a Lui Dumnezeu, Arad: Multimedia, 1999, p.70.
49 Berkhof, Louis, A Summary of Christian Doctrine, The Banner of Truth Trust, 2000, p. 55.
54
está preservando as características das coisas que ele mesmo criou (Cl 1: 17 e Hb 1: 3).
Sem a ação divina em sustentar e preservar as coisas, elas pereceriam logo sem poder
funcionar por si mesmas. Isso mostra um envolvimento contínuo de Deus em sua criação
e também seu cuidado especial com tudo o que foi criado.
6.5.2 O Concursus Divino (Cooperação)
Pode ser definido como a obra de Deus através da qual ele coopera com todas as suas
criaturas e faz com que ajam precisamente como estão agindo.50 Deus está envolvido em
cada ato e acontecimento de sua criação. Ele participa de tudo o que fazemos.51 (Para que
Deus preserve, sustente e dirija o mundo, torna-se necessária sua participação em todos os
eventos e decisões a fim de que todos os seus decretos sejam cumpridos.) 52
(Concursus é o suporte contínuo de Deus para a operação, dadas as causas secundárias
(sejam elas livres, contingentes ou necessárias) para o cumprimento de seus santos
propósitos.) 53 Berkhof define o concursus como a cooperação do poder divino com os
poderes subordinados de acordo com as leis preestabelecidas para sua operação, fazendo-
os atuar precisamente como fazem.54
Quando pensamos nisso, percebemos que são duas as causas que determinam os
acontecimentos, no entanto elas não são iguais. Por um lado Deus opera em cada ato da
criação e isso faz a criação agir também e por outro lado a criação age conforme a sua
natureza, isso sendo uma causa secundária, apesar de real, mas provocada pela ação de
Deus em cumprimento de seus decretos.
Então as coisas acontecem por ação livre, conforme a sua própria natureza e isso é
possível por causa do poder de Deus que opera em cada ato e controla conforme a sua
vontade. As causas secundárias são reais, mas são determinadas por Deus, que é a causa
primária. Assim, tudo o que acontece não é algo apenas natural tendo também uma
50 Idem à nota 41
51 Campos de, Heber Carlos, O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, São Paulo: Editora Cultura Cristã, p. 354.
52 Idem, p. 355.
53 Idem à nota 44
54 Campos de, Heber Carlos, O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, São Paulo: Editora Cultura Cristã, p. 356.
55
direção de Deus e que encontra nele seu propósito ou sua finalidade (Dt 8: 18; Sl 104: 20;
Am 3: 6; Mt 5: 45, 10:29; Fp 2: 13 e At 14: 17).
Apesar de haver uma cooperação dos atos dos homens e dos atos de Deus, não agimos
como se fôssemos uma equipe ou iguais a Deus. Nós dependemos de Deus em todas as
nossas ações e tudo o que fazemos é baseado no poder e vontade dele. Deus tem um plano
e opera em cumprimento desse plano, usa nossa natureza e nossas ações como meios
livres para o cumprimento de seus decretos.
6.5.3 O Governo de Deus
A atividade contínua de Deus através da qual ele governa todas as coisas para que elas
respondam ao propósito de suas existências.55 Deus é revelado tanto no Antigo quando no
Novo Testamento como Rei do Universo, Rei de toda a terra (Sl 47: 7,8; Jr 10: 7; Dn 4:
34, 35; Mt 5: 35; I Tm 6: 15). A atividade governamental de Deus diz mais a respeito do
propósito diretivo de Deus de toda a realidade e do curso da história para os fins que Deus
tem em mente.56 O governo tem especificamente a ver com a direção, propósito e meta
que Deus designa para cada componente da criação e para toda a história.57
Deus está sustentando e preservando todas as coisas, sendo envolvido em cada ato da
criação e cooperando com toda a natureza, conduzindo-a soberanamente e com sabedoria
conforme sua vontade e seus decretos, para o fim que constitui seu propósito, sendo isso
que revela a providência de Deus e seu governo providencial em relação direta à
preservação e cooperação de Deus, formando assim a doutrina da providência. Deus está
governando tudo conforme seus decretos, conforme seu poder e sua sabedoria (Ef 1: 11,
9; 3: 20).
PERGUNTAS:
1. Através de que Calvino entende e define a providência de Deus?
2. Em que termos a Confissão de Westminster trata a Providência?
3. Como é vista a questão do mal e do sofrimento?
4. Como é vista a responsabilidade humana dentro da perspectiva reformada da
Providência?
55 Berkhof, Louis, A Summary of Christian Doctrine, The Banner of Truth Trust, 2000, p. 56.
56 Gruden, Wayne A, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 280.
57 Idem à nota 48.
56
5. Quais são os elementos através dos quais nós definimos a doutrina da
Providência?
6. Como o Catecismo Maior mostra a doutrina da providência?
7. Quais são os três elementos que o Catecismo Maior evidencia quando trata de
providência?
8. Conforme R.C. Sproul, de que forma a história se relaciona com a providência
de Deus?
9. O homem continua responsável diante da doutrina da providência? Por quê?
10. Qual sua posição?
57
LIÇÃO 7: A QUESTÃO DA ORAÇÃO
Provavelmente nenhum aspecto da doutrina cristã sobre Deus entra tanto em conflito
quanto a concepção contemporânea sobre o mundo e a vida quando a questão da
providência de Deus.58
Os seres humanos sempre encontram dificuldades em aceitar e entender a Deus assim
como ele é e de uma forma especial muitos apresentam dificuldade na doutrina da
providência, mais diretamente com referência à visão reformada dessa doutrina. Deus é
difícil de ser compreendido por causa de sua natureza, complexidade, majestade e
eternidade e a doutrina da providência, por sua vez, apresenta dificuldade em ser
compreendida e aceita por causa do seu desenvolvimento e sua centralidade.
7.1 Extremos
Deus é Deus, Todo-Poderoso e mais fácil de ser aceito desse jeito não sendo algo muito
pessoal ou presente. O homem tem sua liberdade plena de ação e direção, mas quando se
pensa na providência divina, Deus é o centro das coisas e não o ser humano. Deus está
envolvido em cada ato e isso incomoda a liberdade humana visto que suas ações
primeiramente foram planejadas e dirigidas para certo fim. O homem já não está mais
sozinho nem é o ser principal dentro de suas ações, estando Deus presente em tudo e
sendo a razão principal daquilo que acontece.
Por causa disso, as pessoas têm a tendência de recusar a providência e aceitar a vontade
humana como principal ato determinador daquilo que acontece. Deus apenas intervém de
vez em quando aprovando ou desaprovando o que acontece. Isso faz do homem o autor
principal de todos os atos, tudo dependendo dele e sua vontade, o que representa um
extremo, colocando o homem no centro, agindo sozinho e conforme sua direção,
conferindo assim a ele e à sua vontade um poder imerecido e inexistente.
Uma das áreas em que esse extremo se reflete é a prática da oração.
58 Boice, James Montgomery, Fundamente Ale Credintei Crestine, Oradea: Editura Institutului Biblic, 2000, p. 169.
58
O homem pensa que por sua fé, através da oração, conduz as ações de Deus e aquilo que
acontece conforme sua própria necessidade, vontade e desejo, ou pensa que pode mudar
as decisões de Deus conforme o que lhe agrada.
Outro extremo representa o fato de um mal entendido dentro da doutrina da providência,
de que se Deus está por trás de tudo o que acontece e ele dirige tudo meticulosamente
para seu propósito, então dizem alguns que o homem não tem nenhuma responsabilidade
ou participação. Deus faz tudo independente de nossa resposta e ele cumpre fielmente
tudo aquilo que decretou (isso é verdade). Portanto, não é preciso de nenhuma ação nossa
e nem precisamos ficar preocupados em fazer alguma coisa (isso sendo mentira). E como
no primeiro extremo, umas das áreas profundamente afetadas é nossa prática de oração.
Fazendo e sabendo Deus tudo e sendo que tudo o que ele decretou será cumprido, dizem
alguns que não é necessário orar.
7.2 Perigos
Uma das principais raízes que nos leva a estar em perigo conforme os extremos
expressados acima é o fato de não perceber corretamente a relação entre a oração e a
providência de Deus.
Pensando no primeiro extremo, o perigo é representado através de pensar que somos o
centro das coisas e a causa principal daquilo que acontece, acreditando assim que temos
um poder maior do que o que possuímos em realidade. Considerar que Deus apenas é um
servo nosso e vive para nós, assumindo assim algo de fato pertence a ele.
Isso nos conduz a um orgulho muito grande, que nos faz tentar roubar a glória de Deus.
Devemos nos lembrar que Deus opera para sua própria glória e o próprio Breve
Catecismo nos ensina que nossa finalidade deve ser a glória de Deus. Não se pode pensar
que a oração é a chave para conduzir Deus e fazê-lo agir conforme nossos planos e
desejos, pois não se pode esquecer daquilo que Tiago ensina dizendo que muitas vezes
Deus não responde às nossas orações por pedirmos algo que não é da sua vontade (Tg 4:
3).
Deus não se deixa controlar ou dirigir por nossa vontade, mas sim por sua boa e soberana
vontade.
Outro perigo, conforme o segundo extremo é pensarmos que não precisamos nos dedicar
à prática da oração porque Deus já faz tudo. Assim deixamos de desfrutar dos benefícios
59
da oração, da comunhão com Deus e também mostramos rebelião em relação aos meios
que Deus escolheu para nossa vida espiritual e por meio dos quais decidiu agir. É como
desconsiderar o valor dos meios que Deus mesmo escolheu para operar através deles. Em
Lucas 18: 1-7, Jesus ensina não apenas a orar, mas mostra o valor da perseverança em
oração.
Nas epístolas somos ensinados a ser sábios e ganharmos tempo através da prática da
oração. Essa é uma prática importante, vital na vida do cristão e um bom entendimento da
providência de Deus nos ajuda a ter equilíbrio nela.
7.3 Soluções
Através da providência de Deus percebemos que ele tem um plano e está envolvido com
tudo o que acontece, sustentando e governando tudo para o cumprimento de seus planos e
decretos eternos.
Por um lado temos os que não fazem nada e por outro aqueles que fazem tudo, pensando
que através disso podem mudar o curso das coisas. Uns mostram que Deus é aquele que
faz tudo e nós não precisamos fazer nada e outros mostram que nós é que fazemos tudo e
Deus e nosso “ajudador”.
Mas o que precisamos enxergar é que a providência nos proporciona equilíbrio e nos dá
alegria em nossa prática de oração, como afirma a Confissão de Fé de Westminster:
Posto que, em relação à presciência e o decreto de Deus, que é a causa
primária, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela
mesma providência, Deus ordena que elas sucedam, necessária, livre ou
contingentemente, conforme a natureza das causas secundárias. 59
A oração, portanto, é um dos meios importantes que Deus escolheu e colocou à
disposição do cristão como uma ferramenta poderosa para nossa santidade.60 A oração é
um relacionamento com Deus e mostra comunhão e intimidade com ele, pois somos parte
de sua família (Jo 1: 12). Como filhos, o Espírito Santo nos faz chamar Deus de pai (Rm
8: 15, 26 e 27).
A oração, portanto é importante em nosso relacionamento com Deus. Ela faz sentido
quando nos relacionamos com Cristo, sendo um com ele e assim somos identificados com 59 A Confissão de Fé de Westminster, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, cap. V, p. 49.
60 Sproul, R.C., Mana Invizibila a Lui Dumnezeu, Arad: Multimedia, 1999, p. 173.
60
seus propósitos, frutificando para Deus Pai (Jo 15: 7, 8). Tiago mostra a oração como
vital para recebermos de Deus aquilo que ele quer nos dar (Tg 4: 2). A oração do justo
também é mostrada como tendo grande poder (Tg 5: 16) e tem vários resultados quando é
usada e feita corretamente (Jo 15: 7, 8, Tg 4: 2; 5: 16, Mt 26: 41).
Jesus ensina seus discípulos a orar em Lucas 11: 1-4 e ele mesmo faz uso da prática da
oração em vários momentos de sua vida, gastando noites em oração, como por exemplo,
na escolha dos Doze, ou antes, da crucificação (Mt 26: 40). A oração é importante e
necessária em nossa vida por ser o meio escolhido por Deus através do qual ele opera o
cumprimento providencial de seus decretos.
Também é importante por seu uma prática na vida de Jesus, ensinada por ele e por ser
crucial em nosso relacionamento com Deus Pai.
Devemos, no entanto, tomar cuidado para não cair noutro extremo por causa da
importância da oração, e pensar que esta pode mudar ou influenciar os planos eternos de
Deus. Precisamos entender como J. Packer disse:
(A oração cristã não é nenhuma tentativa de forçar a mão de Deus, mas um
humilde reconhecimento de nossa importância e dependência.) 61
Através da oração, nossos pensamentos são levados à presença de Deus e nossos corações
são inclinados para sua vontade.62 Através da oração, nossos planos são alterados e nos
identificamos com a vontade de Deus.
Jesus orou em Mateus 26: 40 para que o sofrimento fosse afastado dele, no entanto, ele
reconheceu e pediu para que a vontade de Deus prevalecesse sobre seu desejo. Em João
15: 7, 8 vemos a necessidade da identificação dos discípulos com Cristo, através do qual a
oração é valorizada e eficaz. Em Romanos 12: 1, 2 somos ensinados a transformar nossas
mentes para discernir a vontade de Deus. É importante conhecer a vontade de Deus e
assim orar conforme essa vontade. Quando sabemos a vontade de Deus e nos
identificamos com ela, e nossa oração se conforma à essa vontade, temos a certeza de que
Deus agirá, não porque oramos, mas em primeiro lugar, porque ele já manifestou seu
desejo de agir em seu propósito. Os planos e as promessas de Deus são a garantia daquilo
61 Packer, J.I., A Evangelização e a Soberania de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 9.
62 Sproul, R.C., Mana Invizibila a Lui Dumnezeu, Arad: Multimedia, 1999, p. 173.
61
que acontece e de nossas orações. Orando em conformidade com os planos de Deus, nós
de fato aceitamos aquilo que vem dele, confiamos nele baseados em sua palavra, e somos
cooparticipantes com ele desejando para nossa vida o mesmo, ou seja, a vontade de Deus.
Os homens de Deus, tendo uma visão do que Deus pretende fazer, oram para que isso
aconteça, por isso não somos nós que decidimos o que é feito e sim Deus. Essa é a
verdadeira realidade da oração. Por um lado a visão de que Deus cumpre o que promete e
por outro lado, nossa aceitação e desejo de que isso se cumpra em nós, orando baseados
nessas promessas.
A oração não está separada dos desígnios de Deus. Não é como se Deus e o homem
andassem paralelos e se cruzassem de vez em quando, mas andamos baseados nos planos
de Deus, sabendo que esses sãos os únicos a se cumprir. A vida de oração é a expressão
humana daquilo que Deus disse que faria. O que Deus, por sua providência, decidiu fazer,
acontecerá e ninguém pode frustrar isso, nem mesmo a oração de seus santos eleitos. Por
exemplo, Moisés, orando a Deus para entrar em Canaã, obteve a resposta de que não
adiantaria mais orar por isso, pois ele havia decidido que não entrariam. Outro exemplo é
o apóstolo Paulo, orando três vezes para que seu espinho na carne fosse retirado e Deus
respondendo diferente de seu pedido, dizendo a ele que sua graça lhe era suficiente.
E quando a resposta à nossa oração é positiva, não é porque nossa ela mudou os planos de
Deus, mas porque de fato aquilo que oramos era o plano de Deus, como pode ser visto no
caso de Ezequias (II Rs 20: 1-11). Estava claro que Deus iria levar o povo de Israel ao
cativeiro e isso se deu com o começo do reinado de Manassés quando o povo foi levado à
idolatria. Manassés foi o filho que nasceu justamente no tempo “acrescentado” à vida de
Ezequias (II Rs 21: 1). Talvez alguém se pergunte a razão de Deus dizer a Ezequias que
ele morreria depois de sua humilhação e oração Deus parece ter mudado sua declaração e
acrescentado mais quinze anos à sua vida. Assim como falamos acima, um dos motivos
foi o próprio cativeiro, levando o povo a ser castigado por seu pecado e distanciamento de
Deus e trazer o arrependimento à sua vida e por outro lado, a declaração que Deus fez
levou Ezequias a ser humilde pois ele tinha um problema com seu orgulho, como se
percebe com a visita dos babilônios, quando ele mostrou toda a sua riqueza (II Rs 20: 12 -
19). Podemos concluir esse caso dizendo que a oração de Ezequias não mudou os planos
de Deus, mas Deus, por sua declaração apenas trabalhou o caráter dele, sendo o plano de
62
Deus para que ele vivesse exatamente quanto viveu. A oração foi um meio para Deus
continuar com a vida de Ezequias até onde ele havia planejado.
Exaltamos, portanto, o valor de conhecer a Deus e suas promessas, aceitar e desejar tais
promessas, para que assim não sejamos frustrados em nossa vida e expectativas. Sabendo
que a eficácia da oração depende das promessas de Deus e sua providência no
cumprimento de seus planos.
Não podemos mudar os planos de Deus pela oração, mas podemos conhecê-los e nos
fazer um com eles, valorizando-os e cumprindo-os.
PERGUNTAS:
1. Quais são os extremos em relação à doutrina da Providência?
2. Quais são os perigos na interpretação dessa doutrina?
3. Que soluções a Bíblia nos oferece?
4. Qual o papel da oração na perspectiva dessa doutrina?
5. O que é a oração?
6. O que a doutrina da providência nos proporciona em relação a essa prática?
7. Por que é importante orar?
8. O que determin a resposta da oração?
9. A oração fervorosa, feita pelo justo, muda o coração de Deus?
10. O que muda quando estamos verdadeiramente em oração?
11. O que devemos buscar para ter uma vida de oração sábia e eficaz?
63
LIÇÃO 8: CONCLUSÃO
Através do presente material, podemos concluir que tendo uma boa compreensão da
providência de Deus, as pessoas podem ter direção e propósito claro na vida, podem ter
um bom entendimento e aceitação do que acontece ao seu redor, podem confiar em Deus
e ter uma vida eficaz de oração, e ter paz no coração independente das circunstâncias e
situações.
O mundo não está abandonado e sem direção, mas Deus está sim, presente no mundo que
ele mesmo criou, sustentando, dirigindo, e governando todas as coisas para o fim
desejado por ele.
Nós não estamos nas mãos do destino, sorte ou acaso, mas nas mãos providenciais de
Deus, que conduz todas as coisas. Não dependemos de nós e nosso poder para alguma
coisa, mas do poder de Deus que faz com que as coisas aconteçam e se cumpram
conforme sua vontade. No entanto, permanecemos responsáveis por todos os nossos atos,
revelando assim a intenção do nosso coração. Podemos ter tranqüilidade em nossa vida e
em relação aos acontecimentos do mundo, sabendo que nada acontece ou está fora do
lugar ou do controle de Deus.
Nada daquilo que não deve acontecer, acontece; nada daquilo que deveria acontecer,
deixa de acontecer.
Nem tudo é fácil e agradável e nem sempre entendemos aquilo que se passa, mas
podemos ter a certeza de que tudo é necessário e conduz ao cumprimento dos bons
propósitos de Deus.
Deus não está distante de nossa vida e do mundo, nem passivo intervindo de vez em
quando. Ele está presente, ativamente. O mundo tem seu desfecho conforme o propósito
de Deus, portanto, o mundo e todos seus atos têm sim um propósito claro.
Deus determina tudo o que acontece, sendo sua causa primária, mas ele usa e age também
as causas secundárias. Deus revela e age em cumprimento dos seus planos de maneira
providencial através da sua aliança com seu povo. A aliança é a ligação entre Deus e suas
ações com seu propósito e com seu povo. A providência se estende a todos os povos e
64
atos, porém, o coração dela é a atenção para com seu povo. Todos os planos de Deus
visam sua própria glória. Ele age e opera em cumprimento das promessas feitas por seu
povo, por isso seu povo precisa entender e apreciar a providência divina, confiando em
Deus, se identificando e se relacionando com seus planos em oração.
A oração e a providência de Deus não são coisas separadas, mas de fato, estão
diretamente relacionadas, operando juntas para o cumprimento dos decretos divinos. A
providência de Deus nos dá um fundamento sólido para nos alegrarmos de uma vida
abundante de oração.
Em oração somos conduzidos aos planos de Deus que não nos frustram.
De várias formas, ao longo do tempo, se tentou frustrar a soberania absoluta de Deus em
favor da vontade humana, limitar Deus e seu poder, ou até eliminar Deus de nosso
universo. Por isso a visão reformada sobre a providência ajuda a ter uma imagem correta
dele, do universo, da vida e seus atos.
A visão reformada da providência nos ajuda a viver com confiança e eficácia, dando toda
glória a Deus por sua soberania, presença e atuação em sua criação.
A providência de Deus através da aliança mostra que Deus não apenas age soberanamente
para cumprir certos planos, mas esses planos têm uma relação direta conosco.
Podemos dizer que nosso trabalho nos ajuda a entender que apesar das dificuldades e
oposições ao logo do tempo em relação a Deus e sua providência, ele está presente de
forma ativa em nossa vida e toda a criação, toda a criação e o mundo segue uma ordem
clara, tudo que existe é preservado e sustentado por Deus, ele usa e coopera com tudo o
que existe para o cumprimento de seus decretos, tudo é governado por ele, sendo ele o
Rei do universo, tudo está debaixo de seu poder absoluto e sua vontade.
O Salmo 90: 1 revela que Deus sempre esteve presente na vida do seu povo de geração a
geração.
Baseado na graça de Deus em estar presente com seu povo e em seu caráter justo santo e
misericordioso pode ter confiança de que Deus providencia aquilo que é necessário prá
que seus planos soberanos se cumpram e assim podemos desfrutar de uma vida de oração
nos submetendo à mão soberana e sábia de Deus.
65
8.1 Sugestões
Diante de tudo isso, podemos tomar algumas atitudes.
Não nos deixar abalados por aquilo que acontece ao nosso redor e nem julgar a Deus por
isso, mas procurar saber a vontade dele em cada situação.
Confiar em Deus, sabendo que em tudo ele tem um propósito e mesmo as coisas
negativas contribuem para esse propósito e no fim, para a glória de Deus.
Procurar saber e conhecer melhor a vontade de Deus para nós e qual é o nosso papel
dentro dos planos de Deus e quais são nossas responsabilidades dentro da aliança de Deus
conosco.
Não deixar de orar, pois esse é um meio que Deus nos deixou em cumprimento do que ele
prometeu fazer.
Procurar sempre ter uma doutrina bíblica e verdadeira assim como ela é, porque essa é a
única que nos dá certeza acerca de Deus, nos dá paz e direção.
Não tentar mudar ou ter medo de alguma doutrina por causa de suas conseqüências.
Por isso a visão reformada é muito importante. Ela procura ser o mais próxima possível
da verdade bíblica independente de como ela se apresente, exaltando assim a Deus, sua
sabedoria e sua soberania.
Considerando, finalmente, a providência de Deus e sua aliança conosco, devemos:
a. Agradecer a Deus por todas as coisas (I Ts 5: 18).
b. Buscar a vontade de Deus em todas as coisas (Rm 2: 2).
c. Submeter-nos ao Deus Soberano (Tg 4: 7).
d. Confiar em Deus e em sua providência para com seu povo (Jo 14: 1, 2).
e. Confiar que Deus tem poder de salvar e guardar-nos pela eternidade e que ele
ouve nossas orações (Is 43: 13, 14; 11: 13, 27 e Fp 1: 6).
f. Glorificar a Deus por sua boa vontade e graciosos planos (Rm 12. 2; 8: 28).
PERGUNTAS:
66
1. Por que a providência é importante no ministério e vida cristã?
2. Como a providência mostra nossa responsabilidade diante de Deus e diante da
sociedade?
3. O que aprendemos e quais são as respostas que Deus espera de nós em relação
à Providência?
4. O que podemos concluir sobre o mundo e sua relação com Deus?
5. A que somos conduzidos em nossa prática de oração?
6. Por que a visão reformada sobre a providência é importante?
7. Que conforto a doutrina da providência traz frente aos sofrimentos da vida?
8. Devido à providência, qual são as atitudes lógicas pelas quais devemos
responder?
9. Qual nosso dever diante da providência e aliança?
10. Qual o principal motivo e finalidade de toda a ação providencial de Deus?
67
BIBLIOGRAFIA
A Confissão de Fé de Wesminster. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
A Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1991.
Bavinck, Hermann. Teologia Sistemática. Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2001.
Berkhof, Louis. A Summary of Christian Doctrine. Edinburgh: The Banner of Truth Trust,
2000.
BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do
Brasil, 1991.
BIBLIA, Sfinta Scriptura. Tradução de Cornilescu Dumitru. Romênia: Societatea Biblica.
Boice, James Montgomery. Fundamente Ale Credintei Crestine. Oradea: Editura Institutului
Biblic, 2000.
Calvino, João. As Institutas. Tradução de Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1985.
Campos de, Heber Carlos, O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência. São Paulo:
Editora Cultura. Cristã, 1999
Ferreira, Franklin & Myatt, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova.
Gruden, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
Olson, Roger E.. História das Controvérsias na Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida.
Packer, J.I.. A Evangelização e a Soberania de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã,
2002.
Robertson, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002.
Sproul, R.C.. Mana Invizibila a Lui Dumnezeu. Arad: Multimedia, 1999.
Campos de, Heber Carlos, O Concursus Providencial de Deus – extraído do site
68
www.monergismo.com
http://www.monergismo.com/?secao=providencia – Todos os artigos em “providência”.
69
APÊNDICE A
RESPOSTAS
LIÇÃO 1
1. Aquilo que parece ser, mas que não necessariamente é. O resultado de um olhar
superficial, lógico e humano.
2. Aquilo que a maioria conclui ser uma avaliação profunda. À vista de muitos, a
aparência do mundo é de descontrole e confusão.
3. São três categorias de pessoas frente à realidade do mundo: que se entregam ao
destino ou “azar”, aproveitando a vida à sua maneira, sem esperança de um porvir;
os que tentam e lutam para mudar o rumo das coisas, considerando que isso
depende de si, sendo o ser humano a causa primária do que acontece e por fim, os
que confiam em um Deus soberano, que controla e tem um propósito em tudo o
que existe e tenta conhecer, confiar e se conformar aos seus planos.
4. Nos ajuda a entender a razão daquilo que acontece, desenvolve um
relacionamento correto com tudo ao nosso redor, nos proporciona uma visão
ampla de aconselhamento e nos ajuda a enfrentar o ministério cristão com
eficácia. Porque Deus está no controle de tudo, dirigindo o que existe conforme
seus planos.
5. Nenhum, mas podemos percebê-la através da ação divina em seu relacionamento
com a criação.
6. A ação através de qual Deus dirige, controla e cuida de sua criação, conforme seus
planos.
7. Aliança é a maneira através da qual Deus se relaciona com o povo que ele
escolheu.
8. Doutrina desenvolvida no período da Reforma do século XVI e que tem como
grandes representantes Calvino, Lutero e Zwinglio.
9. Um sistema de doutrina cristã, baseado nas Escrituras, que foi elaborado por um
grupo de teólogos em Londres, na Abadia de Westminster, entre 1643 e 1649.
10. Capítulo V.
70
LIÇÃO 2
1. Glória de Deus.
2. Povo de Deus.
3. Aliança.
4. Demonstra que a aliança é uma só e contínua, demonstra unidade. No
desenvolvimento da aliança temos Deus agindo conforme suas promessas.
5. As características do estabelecimento da aliança, ministração genealógica, a
história do povo de Deus, a relação de Deus com seu povo e o tema unificador da
Bíblia.
6. Quando eles entram em contato com o povo de Deus.
7. Unidade.
8. Abraão, Moisés, Davi e Cristo.
9. Uma só.
10. Estar na presença de Deus e viver para sempre com ele em obediência e adoração.
LIÇÃO 3
1. As promessas de Deus, as responsabilidades por parte do povo e cooperação de
Deus no caminho no cumprimento de seus decretos.
2. A formação de um povo que se relacionaria e viveria na presença dele. As
promessas são feitas e as considerando Deus opera no seu cumprimento.
3. A presença, a atividade e o envolvimento de Deus no curso da história.
4. O homem é chamado a confiar, obedecer e andar conforme o chamado de Deus.
5. Mostra continuidade.
6. Mostra o preparo para nacionalização do povo de Deus.
7. Continuidade, formação do povo na terra prometida e o estabelecimento da
monarquia, revelando o governo de Deus.
8. A monarquia era instituída e o povo era formado de todos os pontos de vista.
9. A Nova Aliança reflete a graça de Deus; em Cristo todas as exigências da aliança
são cumpridas, portanto ela é plena e final.
10. O sacrifício de Cristo; através de seu sangue a aliança foi selada.
11. Porque é uma nova forma na qual ela se desenvolve, Cristo, como representante,
paga o preço pela punição da qual o povo é merecedor por descumprir a aliança
como também cumpre todas as exigências desta no lugar do povo e ao mesmo
71
tempo representa Deus em frente ao povo, sendo ele o mediador que assume o
papel de profeta, sacerdote e rei para todo o sempre.
LIÇÃO 4
1. Deus usa sua vida soberanamente para o benefício do povo da aliança, tudo o que
lhe acontece revela claramente a conexão com as promessas de Deus e seu
cuidado para com seu povo, sendo assim José um protótipo de Cristo.
2. A maneira na qual Deus agiu na vida de José revela a maneira como Deus agiria
posteriormente, através do Messias.
3. Soberania e cuidado de Deus.
4. Cristo veio no meio do povo da aliança sendo representante desta e também o
instrumento pelo qual Deus cumpre suas promessas e planos.
5. Os eleitos.
6. Os representa, se sacrifica por eles e os torna um consigo, governando-os até o
fim.
7. Através dele tudo foi criado e é sustentado com todo cuidado.
8. Beneficia o povo de Deus e cumprir a promessa feita a Abraão de que sua
descendência iria ao Egito, onde seria organizada como povo.
9. A vontade e glória do pai cumprindo a promessa.
10. Cuidado social para com todos, amor ao próximo e abençoando a sociedade
através das bênçãos que Deus nos deu.
LIÇÃO 5
1. Afirmava a soberania de Deus e ao mesmo tempo a liberdade humana. Eles não
concordavam com essa doutrina em todos seus detalhes.
2. A questão do pecado e o mal. Eles afirmavam que Deus somente tolera
passivamente isto.
3. Século V, através de Agostinho.
4. Planejamento e controle absoluto e meticuloso de todos os acontecimentos.
5. Foi a base em cima da qual, ao longo da história, se definiu a questão da
providência e foi a base principal para os reformadores definirem esta doutrina.
6. Modelo reformado afirma o controle divino e soberano sobre a natureza e história
de forma detalhada.
72
7. Tentou achar uma explicação lógica quanto à questão do pecado e do mal,
“justificando Deus” e conseguiu mostrar a limitação da ação de Deus sobre todos
os atos, de forma que ele somente permite e não predestina certos atos.
8. Limita o poder de Deus; interpretam os textos de maneira literária e isoladamente.
9. Ateísmo.
10. Controle soberano de Deus sobre a natureza e história, de tal maneira que nada
escape do plano, provisão e governo de Deus.
LIÇÃO 6
1. Através da criação, para Calvino, Deus não apenas criou as coisas, mas as governa
e preserva.
2. Deus sustenta, dispõe, dirige e governa tudo para sua glória.
3. Deus tem um propósito específico em tudo.
4. O homem é responsável moralmente diante da lei de Deus.
5. Preservação divina, concursus divino e o governo divino.
6. Preocupa-se em mostrar a presença e ação de Deus no mundo de maneira santa,
sábia e poderosa através de sua providência.
7. A preservação, o governo e a concorrência.
8. R.C. Sproul mostra que toda a história está nas mãos de Deus e debaixo de sua
supervisão, sendo o homem livre somente com a permissão de Deus.
9. Sim, porque a sua intenção é inclinada ao mal e não age em cumprimento da
vontade de Deus.
LIÇÃO 7
1. A vontade humana como fator determinante daquilo que acontece, a
irresponsabilidade do homem diante da providência.
2. Falta de compreensão correta na relação entre oração e a providência de Deus, ter
um valor maior que temos.
3. Equilíbrio, por conhecer as promessas de Deus e a nossa responsabilidade.
4. A oração é o elo e o meio que Deus escolheu para nossa vida.
5. Um relacionamento com Deus que denote intimidade.
6. Segurança, paz e equilíbrio.
7. Para nosso relacionamento com Deus e nos conformar ou conhecer os planos de
Deus.
73
8. Plano de Deus.
9. Não.
10. Nós, nossa visão e vontade.
11. Conhecer e querer a vontade de Deus.
LIÇÃO 8
1. Dá-nos direção e uma boa compreensão da realidade.
2. Através daquilo que Deus intenciona fazer, mostra também o que se espera de
nós.
3. Confiança e obediência.
4. O mundo está cuidado, dirigido e governado por Deus, com um propósito claro
em sua existência.
5. Aos planos de Deus.
6. Dá-nos uma imagem bíblica sobre Deus e sua atuação no universo.
7. Tudo tem um propósito, nada acontece aleatoriamente.
8. Conformar-nos e agir em conformidade com os planos de Deus.
9. Agradecer a Deus, buscar sua vontade, submeter-nos à sua soberania, confiar nele
e glorificá-lo.
10. A glória de Deus.
74