O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
Uma intervenção pedagógica, promovendo ações com os alunos do ensino médio do Colégio Estadual Novo Horizonte, para sensibilização e prevenção contínua da dengue na comunidade do Bairro Jardim Coopagro, Toledo, PR
Norimar Pedro Gatto1
Luis Francisco Angeli Alves2
RESUMO
O ensino de biologia das escolas públicas estaduais precisa de elementos que proponham temas de intervenção quanto a doenças de cunho endêmico e de perigo epidêmico. Sensibilizar o educando sobre o tema dengue, capacitando-o para a intervenção em sua comunidade significa internalizar conhecimentos teóricos e práticos, com ações criativas, de saber científico e de caráter preventivo. O presente trabalho observou adendos ao planejamento de 2º ano do ensino médio no que tange ao estudo do filo Artropoda, oferecendo ações de cunho teórico-prático para o conhecimento e sensibilização na prevenção da dengue e febre amarela na comunidade do Jardim Coopagro em Toledo, Paraná. Também foram oferecidos, conhecimentos teóricos sobre os tipos de vírus causadores dessas doenças e a sua condição de parasitas intracelulares. As ações em destaque, que buscaram a sensibilização dos estudantes foram: Informações teórico-científicas sobre o Aedes aegypti, indagações sobre a doença com a participação de professores das diversas áreas de conhecimento, palestras com técnicos do setor de combate à dengue do Município de Toledo, reconhecimento das fases de desenvolvimento do Aedes no laboratório da escola, confecção de “arapucas” para instalação nas residências, escola e terrenos baldios, recolha e análise das armadilhas no laboratório da escola, medidas de profilaxia nos locais onde larvas do mosquito Aedes aegypti foi encontrado e preparação de palestras para alunos do ensino fundamental demonstrando através de slides, como prevenir a dengue em cada residência. Em todo o trabalho, tentou-se demonstrar, que muitas vezes a prevenção pode ser feita sem a utilização de químicos, os quais podem interferir na saúde humana. Sendo a dengue uma enfermidade de cunho epidêmico em alguns municípios, a prevenção através do conhecimento e sensibilização poderá ser efetuada, com a adaptação do planejamento de ciências e biologia.
Palavras-chave: Dengue, educação, sensibilização, comunidade escolar.
1 Professor da rede pública do Estado do Paraná, integrante do programa PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) . 2 Professor Doutor do Curso de Ciências Biológicas da UNIOESTE.
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ABSTRACT
The teaching of biology of public schools needs elements that propose subjects of intervention as the hallmark of epidemic diseases and dangerous epidemic. Sensitizing the students about dengue, enabling him to intervene in his community to internalize knowledge and skills, creative actions, in scientific knowledge and preventive character. This work observed addition to the planning of the 2nd year of high school in regard to the phylum Arthropod, offering shares to the theoretical-practical knowledge and awareness in the prevention of dengue and yellow fever in the community of Garden Coopagro in Toledo, Paraná . Were also offered, theoretical knowledge about the types of viruses that cause these diseases and the condition of intracellular parasites. The actions highlighted, which sought to raise awareness of the students were: theoretical and scientific information on the Aedes aegypti, questions about the disease with the participation of teachers from different areas of knowledge, lectures by experts from industry to combat dengue in the city of Toledo , recognition of the development stages of Aedes in the school laboratory, manufacturing "traps" for installation in homes, schools and vacant lots, collection and analysis of pitfalls in the school laboratory, prophylaxy measures in places where the Aedes aegypti mosquito larvae was found and preparing lectures for elementary school students and demonstrated through slides, how to prevent dengue in each residence. Throughout the work, we tried to demonstrate that prevention can often be made without the use of chemicals, which can interfere with human health. Being the dengue a disease of epidemic nature in some counties, prevention through knowledge and awareness can be done with the adaptation of the planning of science and biology subject.
Keywords: Dengue, education, awareness, community education.
1 Introdução
Doenças como dengue e febre amarela, sempre foram consideradas
enfermidades de clima equatorial ou tropical, já que seus vetores, Aedes aegypti e
Aedes albopictus, são artrópodes, da classe insecta e ordem díptera, com
adaptação para clima cálido.
O avanço dessas enfermidades para áreas geograficamente subtropicais,
trazem atenção à algumas hipóteses, como a de mudanças climáticas, aquecimento
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global e a adaptação dos vetores de vírus em zonas temperadas, na relação com a
temperatura.
O fato principal é que, independentemente das hipóteses citadas, estas
doenças estão atingindo o Estado do Paraná em níveis já elevados.
A região oeste do estado vive sob o alerta com estas doenças, já que, é a
entrada do estado para pessoas advindas do norte do País, via Mato Grosso, além
de estar inserida às margens do lago de Itaipu. Reservatório que trás condições para
proliferação de mosquitos.
Cidades, como Santa Helena, Toledo e Marechal Cândido Rondon,
localizadas no extremo oeste do Paraná, já registram em suas estatísticas de anos
anteriores, centenas de casos da dengue, além da ocorrência de febre amarela.
As considerações acima nos reportam a uma intervenção pedagógica, onde
as atitudes de prevenção possam ser contínuas e não meramente de campanha.
Os conteúdos estruturantes para o ensino de biologia (2008), observados nas
Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná
em biologia, relatando sobre os mecanismos biológicos dizem: “Nestas diretrizes,
considera-se que esse conhecimento isolado, é insuficiente para permitir ao aluno
estabelecer relações entre os diversos mecanismos para manutenção da
vida.”(DCE, 2008).
A utilização da disciplina de biologia favorecerá a atitude pedagógica nesse
relevante tema, formando grupos de intervenção no 2º ano do ensino médio do
Colégio Estadual Novo Horizonte, que instruirão adolescentes para medidas
profiláticas necessárias ao controle de doenças, cujo vetor é o mosquito.
Preparar alunos, para instruir colegas através de sensibilização, exige
planejamento e prática de ações contidas no programa de implementação
pedagógica. As citadas ações são pela ordem, Apresentação do projeto pelo
professor para a comunidade escolar, repasse de conhecimento teórico pelo
professor regente e de técnicos do Setor de Combate a Dengue da Secretaria
Municipal de Saúde do Município de Toledo, Testar os conhecimentos teóricos
através de questionários, perguntas diretas com palavras cruzadas, auxilio
interdisciplinar dos professores da escola, reconhecimento das fases de
desenvolvimento do inseto e o comportamento em laboratório, instalação de
armadilhas e análise em laboratório. Além disso, preparação, por parte dos
estudantes inseridos no projeto, de palestra utilizando tecnologia do laboratório de
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informática, para que discentes do ensino fundamental possam ser sensibilizados e
atuem na prevenção da dengue no bairro.
Ressalta-se, no ato introdutório, que trabalhos de prevenção e sensibilização
exigem longo prazo de avaliação para obtenção de elementos práticos que
suponham resultados positivos
2 Fundamentação teórica
A dengue é uma enfermidade causada por um vírus do gênero Flavivirus,
sendo que atualmente, através de análise laboratorial se divide em quatro tipos;
DEN – 1, DEN – 2, DEN – 3 e DEN – 4. É definida por Andrade (1999) como uma
“enfermidade febril aguda com duração em torno de dez dias. É também chamada
de febre ‘quebra-ossos’, pois classicamente provoca dores nas articulações, dores
de cabeça, dores retro-orbitais, mialgias, fraqueza e prostração.”
O quadro de sintomas pode avançar para hemorragias e até para a morte da
pessoa infectada.
Ainda, segundo Andrade (1999), “Dependendo da forma como se apresenta,
a dengue é ainda classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como,
dengue clássica (DC), dengue hemorrágica (DH) ou síndrome de choque da dengue
(SCD)”.
Observamos a gravidade da doença e o perigo de epidemias, pois o vetor do
vírus é um díptero (mosquito) das espécies A. aegypti ou A. albopictus, cuja
reprodução é favorecida pelo clima quente, com a presença de água parada e limpa.
“Sendo assim, países com clima tropical são os mais atingidos por epidemias”,
conforme relatam Silva; Mariano; Scopel (2007).
2.1 Histórico
Os registros históricos da dengue e febre amarela, nos transportam a séculos
atrás.
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Segundo Andries (2006), “o primeiro relato de caso semelhante a dengue, foi
registrado numa enciclopédia chinesa da dinastia Chin (265 a 420 a.C.). Por achar
que a doença estava associada a insetos, eles denominaram de veneno da água”.
Storer. T T. T. (2005) nos relata que: “Muitas espécies de animais têm sido
transportadas pelo homem a regiões onde não eram nativas, algumas
deliberadamente e outras acidentalmente”. O autor orienta para um estudo histórico
da presença do Aedes no Brasil.
O Manual de Instruções para o Combate ao Vetor da Dengue (Funasa 2001),
documento produzido pelo Ministério da Saúde e distribuído pela Vigilância
Epidemiológica dos Estados Federativos, nos diz que “o A. aegypti, transmissor de
dengue e de febre amarela urbana é, provavelmente, originário da África tropical,
tendo sido introduzido nas Américas durante a colonização”.
O mesmo documento descreve o primeiro registro de epidemia de febre
amarela, doença também provocada pela picada do mosquito Aedes, aconteceu em
1685, na cidade de Recife em Pernambuco, o que faz supor que o vetor da dengue
e febre amarela urbana, tenha sido trazido através de navios negreiros da África
para o Brasil.
Para doença em questão, Costa (2001), nos remete as primeiras e prováveis
epidemias:
“- Epidemia na Ilha de Java em 1779.
- Epidemia nos Estados Unidos em 1780.
- Epidemia no Continente Europeu em 1784.
- Epidemia em Cuba em 1782.”
No Brasil, o mosquito Aedes aegypti, principal transmissor da doença, foi
eliminado de muitas cidades no início do sec. XX com a utilização de inseticidas.
Porém essa não é a melhor medida, inclusive para a saúde humana.
No início dos anos oitenta, uma epidemia em Boa Vista, Roraima, nos trouxe
de volta o problema. “A dengue voltou a ser registrada no Brasil, depois de mais de
50 anos sem notificação, foi uma epidemia em Boa Vista, Roraima (1981 – 1982),
que durou mais de um ano acometendo 12000 pessoas.” Observação feita por
Andrade (2002).
Na atualidade, o principal vetor (A. aegypti), é encontrado em todos os
Estados brasileiros, e a educação tem sido a ferramenta mais clássica de trabalho
com as comunidades, nos diz Andrade (2002).
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2.2 Equilíbrio ambiental e a dengue
Sendo o A. aegypti um inseto exótico, se adaptou rapidamente ao clima
tropical e úmido de nosso País, pois encontrou clima adequado, alimentação farta e
condições para sua reprodução.
“As fêmeas se alimentam mais frequentemente de sangue, servindo como
fonte de repasto, a maior parte dos animais vertebrados, mas mostra marcada
predileção pelo homem (antropofilia)” FUNASA, (2001).
Apesar de parecer para um leigo, ser estranho um animal se alimentar de
sangue, os mosquitos hematófagos só sugam sangue, porque precisam de
proteínas específicas para o desenvolvimento de seus ovos, portanto, é um instinto
de manutenção da espécie. Sabe-se que o sangue não é o único alimento do
mosquito Aedes, assim como os machos desse gênero, as fêmeas também se
alimentam de seiva vegetal.
Importante também que, para o equilíbrio de todas as teias alimentares são
necessárias relações, as quais podem ser consideradas harmônicas ou
desarmônicas para a visão humana. O “parasitismo primário” Storer (2005),
realizado pela fêmea do Aedes para obter proteínas, deve ser considerado como
uma relação ambiental e não como “maldade” do inseto.
Segundo as instruções para pessoal de combate ao vetor do Ministério da
Saúde (2001), esta relação desarmônica acontece da seguinte forma:
Em geral, a fêmea faz uma postura após cada repasto sanguíneo. O intervalo entre a alimentação sanguínea e a postura é, em regra, de três dias, em condições de temperatura satisfatórias. Com freqüência, a fêmea se alimenta mais de uma vez, entre duas sucessivas posturas, em especial quando perturbada antes de totalmente ingurgitada (cheia de sangue). Este fato resulta na variação de hospedeiros, com disseminação do vírus à vários deles. (FUNASA, 2001).
2.3 Tipos de vírus causadores de febre amarela e dengue
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Todos os vírus são agentes infecciosos de células, pois dependem do
metabolismo celular para se reproduzir. Por isso, são considerados como parasitas
intracelulares obrigatórios.
Segundo Amabis (2004), “a maioria dos vírus mede menos de 200 nm,
podendo ser observados apenas ao microscópio eletrônico”. Os vírus são diferentes
de outros seres vivos, não apenas pelo fato de não conseguirem se reproduzir
sozinhos, mas também por serem acelulares. Basicamente são formados por uma
cápsula protéica e um tipo de ácido nucléico. Portanto os vírus podem ser de RNA
ou de DNA.
“O genoma viral pode ser um ácido nucléico de cadeia simples ou de cadeia dupla. Exemplos de vírus de DNA com cadeia simples são o bacteriófago X174, um vírus que ataca bactérias, e o parvovírus, causador de uma virose em cães. No caso dos vírus de RNA, a maioria têm cadeia simples, apesar de existirem alguns de cadeia dupla, como grande parte dos vírus que atacam plantas, e o reovírus, que causa diarréia em seres humanos. Os vírus de RNA de cadeia simples podem ser divididos em três tipos básicos, conhecidos como: vírus de cadeia +(positiva), vírus de cadeia –(negativa) e retrovírus.(AMABIS, 2004).
Para melhor compreensão dos vírus que provocam a dengue e a febre
amarela, estes são respectivamente vírus de RNA, de cadeia simples e de cadeia
+(positiva).
Importante salientar, que os vírus causadores de febre amarela e dengue são
considerados arbovírus (arthropod borne vírus), pois antes da contaminação
humana, eles passam pelo aparelho bucal de insetos hematófagos.
Observamos também, que após o processo de contaminação, os vírus
utilizam células de seus hospedeiros para replicação de seu material genético, e
geralmente levam as células parasitadas à morte.
Os vírus que provocam a febre amarela, são classificados na família
Flaviviridae e pertencem ao gênero Flavivírus.
Quanto aos vírus que provocam a dengue, também são considerados
arbovírus, pertencendo a mesma família (Flaviviridae) e ao mesmo Gênero
(flavivírus) do parasita da febre amarela, porém, no caso da dengue existem quatro
tipos de sorotipos: DEN 1, DEN 2, DEN 3 e DEN 4.
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Fica evidente que a fabricação de uma vacina é difícil para o caso da dengue,
pois teria que encampar cepas de quatro sorotipos. Já no caso da febre amarela, a
vacina foi fabricada, pois existe apenas um tipo de vírus.
2. 4 Vetores de febre amarela e dengue
A. aegypti e A. albopictus são os vetores de todos os tipos de dengue, além
da febre amarela urbana.
As duas espécies são consideradas insetos alados da ordem Díptera,
subordem Nematocera e Família Culicidae. Os insetos são caracterizados por Storer
(2002) como sendo, “mosquitos, delgados, delicados; probóscide longa e picadora
em fêmeas; corpo corcunda; asas franjadas por escamas;”
Seu desenvolvimento é do tipo holometabólico, sendo as larvas aquáticas
(preferem água limpa e parada), e durante seu desenvolvimento passam por vários
instares. Após passar por profundas mudanças morfológicas e fisiológicas
(metamorfose), se transformam em pupa e desta, o inseto adulto. Os adultos são
alados e suas fêmeas se tornarão hematófagas.
2.5 Índices de ocorrência no Paraná
Segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SESA) do Estado do
Paraná, nos anos de 1991 e 1992 foram registrados no Paraná apenas 19 casos de
dengue, todos importados de outros estados do Brasil.
Os casos autóctones começaram a aparecer em 1994 (1 caso), subindo para
1519 casos em 1995.
No ano de 2007, o Estado do Paraná registrou 25.988 casos de dengue
dentro de suas fronteiras, o que nos indica um dado alarmante, e já considerado
epidêmico.
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ESTADO DO PARANÁ Secretaria de Estado da Saúde – SESA Superintendência de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Ambiental Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores
DENGUE - CASOS NOTIFICADOS E CONFIRMADOS AUTÓCTONES E IMPORTADOS PARANÁ - 2002 A 2008*
ANO NOTIFICADOS CONFIRMADOS AUTÓCTONES IMPORTADOS TOTAL
1991 161 - 16 16 1992 59 - 3 3 1993 59 3 3 6 1994 69 1 7 8 1995 3.595 1.519 342 1.861 1996 5.178 3.049 146 3.195 1997 1.192 3 10 13 1998 2.747 534 49 583 1999 1.314 266 43 309 2000 4.419 1.708 143 1.851 2001 3.845 1.164 124 1.288 2002 13.167 4.731 433 5.164 2003 23.890 9.230 208 9.438 2004 3.392 57 50 107 2005 4.831 882 107 989 2006 5.380 830 311 1.141 2007* 50.160 25.070 918 25.988 2008* 9.849 435 111 546
FONTE: SESA/SVS/DEVA/DVDTV
* Dados em 12/05/2008 sujeitos a alteração
Tabela 1 - Dengue - casos notificados e confirmados / Paraná.
Salienta-se, que o número de casos é variado para mais e para menos, mas
alcançam incidência de grande monta nos últimos anos.
2.6 Sensibilização dos estudantes
Segundo Severino (1998) “a instituição escolar deve-se instaurar como
espaço-tempo, como uma instância social que sirva de base mediadora e
articuladora de dois tipos de projetos que tem a ver com o ser humano: de um lado o
projeto político de sociedade e, de outro, os projetos pessoais dos sujeitos
envolvidos na educação”.
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Sobre isso, entende-se como parte de um projeto de sociedade o tema atual,
onde a sensibilização do estudante possa ser aguçada, para prevenção contínua de
dengue em suas residências e em sua comunidade.
Vasconcelos (1998) orienta as escolas ao: “Menor temor e distanciamento da
equipe da escola em relação aos pais e busca de colaboração da comunidade;”
A sugestão do autor nos remete a participação dos pais para medidas
profiláticas, que diminuam a reprodução de mosquitos em suas casas, além da
parceria com os filhos no cuidado com suas casas e seus quintais.
Ainda Vasconcelos (1998) quanto à conscientização nos diz: “... o trabalho
com o conhecimento é fruto de um movimento que tem origem na consciência – a
partir de sua interação com a realidade, e se dirige ao mundo para aprende-lo.”
Sua reflexão continua: “... uma das exigências para que o ensino seja
significativo é que o aluno participe da finalidade (além da necessidade e plano de
ação). É preciso envolver o aluno na sua intencionalidade.”
A intenção ao que nos reporta o autor, no atual trabalho é prevenir a
proliferação de dengue em uma comunidade, sendo que os alunos do Colégio
Estadual Novo Horizonte participaram ativamente de todo o desenvolvimento do
projeto.
A Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (2007) nos relata que:
“A progressão da dengue depende de condições ecológicas e sócio-ambientais que
facilitam a dispersão do vetor. Na ausência de uma vacina eficaz, o controle da
transmissão do vírus da dengue requer o esforço conjunto de toda a sociedade no
combate ao vetor. Dada a extraordinária capacidade de adaptação do A. aegypti ao
ambiente, esta tarefa nem sempre produz resultados previsíveis”.
Visando a participação dos alunos em toda finalidade do projeto e com
intenção de que, este seja o principal ator oferecemos na escola, uma metodologia
onde o educando estivesse presente em todas as ações.
3 Aplicação do projeto
Segundo as Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do
Estado do Paraná (2008), “dentre os Conteúdos Estruturantes de Biologia está
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elencado a organização dos seres vivos, conteúdo exposto no planejamento para o
segundo ano do ensino médio”.
Conforme as DCE (2008), “O estudo dos organismos – vírus, bactérias,
protozoários, fungos, animais e vegetais – possibilita conhecer a VIDA como
manifestação de sistemas organizados e integrados em constante interação com o
ambiente físico-químico”.
Importante para isso, uma atitude pedagógica, para que os estudantes
inseridos na implementação entendam as relações que acontecem entre o vírus e o
Aedes, entre o Aedes e o homem e entre o vírus e o homem.
Para que isso aconteça, aulas teóricas sobre vírus, insetos e relações
ecológicas entre os seres vivos devem ser feitas.
Após o conhecimento teórico sobre vírus, mosquito Aedes, dengue, febre
amarela e medidas de prevenção, os alunos foram acompanhados ao laboratório
escolar, onde através de instrumentais adequados como lupas, microscópio, pinças,
seringas e lâminas, puderam observar o desenvolvimento indireto do Aedes,
passando pela fase de ovo, larva, pupa e adulto. O reconhecimento implica
posteriormente, na observação de focos no Bairro.
Os alunos receberam instruções de técnicos da vigilância sanitária, para que
possam intervir em suas respectivas residências e de seus vizinhos, implantando
armadilhas para mosquitos e detectando possíveis criadouros.
A educação, segundo Andrade (2002), tem sido a ferramenta mais clássica de
trabalho com as comunidades para conseguir motivação. Projetos de todo o tipo são
desenvolvidos, mas nenhum deles tem sido avaliado do ponto de vista
entomológico, quanto a redução dos criadouros.
Andrade (1999) nos relata ainda:
Muitas pessoas sabem que a transmissão se faz pela picada do mosquito infectado. Sabem que esses mosquitos picam de dia, que são pretinhos com manchas brancas nas patas e no tórax. E o mais importante: sabem que se criam principalmente dentro das casas, em vasos de flores por exemplo, ou fora delas, em pneus, vasos, garrafas e caixas d’água destampadas (ANDRADE, 1999).
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A pergunta que fazemos é: Se sabem, por que não tomam atitudes para
prevenção?
Andrade (1999) nos fornece a resposta:
O que as pessoas não sabem, e a informação e educação governamental não diz, é que a quantidade de mosquitos em um bairro ou vila podem ser medidas com vários índices, e assim pode-se avaliar o risco que aquela comunidade tem de sofrer uma epidemia. (ANDRADE, 1999).
Para tanto, nesse passo, os alunos confeccionarão armadilhas, com o
aproveitamento de material reciclável, no intuito de aprisionar mosquitos e
acompanhar o desenvolvimento de larvas, observando a quantidade da infestação
nas respectivas residências.
Os resultados foram resumidos em planilha eletrônica no laboratório de
informática da escola.
Utilizando o mapa do Bairro Jardim Coopagro, os alunos reconheceram os
focos e com o auxílio da vigilância sanitária, acompanharam as medidas que foram
tomadas pelas autoridades municipais e estaduais na profilaxia à doença.
Os alunos do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Jardim Coopagro,
repassaram todos os conhecimentos adquiridos para seus colegas de escola,
através de oficinas e mini-palestras, agendadas e adequadas ao calendário escolar
e em parceria com os professores de ciências (ensino fundamental), e biologia
(ensino médio).
3.1 Desenvolvimento prático do projeto
Para realização do trabalho foi encaminhada a 1ª ação, na qual, foi
socializada e divulgada a proposta de implementação pedagógica, aos gestores do
estabelecimento, equipe pedagógica, e professores, para que houvesse
desenvolvimento cooperativo e comprometido durante aplicação e avaliação da
unidade didática “Denque – para combater temos que conhecer e nos unir”.
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Após a socialização do projeto com a equipe de educadores e instâncias
colegiadas em funcionamento no Colégio Estadual Novo Horizonte, o projeto foi
apresentado aos alunos do 2º ano do ensino médio.
Notou-se então a empolgação inicial, já que estariam realizando na escola,
algo diferente do dia-a-dia e da rotina escolar.
O desenvolvimento do projeto contou com a participação inicial de dezoito
alunos, vindo a concluir-se com quinze alunos, pois três alunos pediram
transferência da escola por motivos pessoais.
A realização dos trabalhos teóricos sobre a transmissão da doença, estudos
do Aedes aegypti, estudos do vírus, conseqüências de uma epidemia e sintomas da
doença ocuparam o contra turno dos alunos durante alguns dias. Reuniões e aulas
aconteceram na biblioteca escolar, laboratório de ciências, pátio da escola e quadra
de esportes.
Um questionário inicial foi aplicado para constatar o conhecimento inicial dos
alunos sobre dengue. Constava de perguntas simples como:
1- Você sabe o que é dengue? ( ) sim ( ) Não.
2- Sabe como se transmite a dengue? ( ) sim ( ) Não.
3- Sabe identificar o mosquito transmissor da dengue? ( ) Sim ( ) Não.
4- Você poderia citar três sintomas da doença? ( ) Sim ( ) Não.
Vale ressaltar, que 100% dos alunos inseridos no projeto responderam sim
para todas as indagações iniciais.
Traçamos então o seguinte acordo: “Se sabemos, tomaremos atitudes em
nossa comunidade, buscando sensibilizar os outros e evitar a doença em nosso
bairro”.
Realizado o acordo, iniciamos as aulas de laboratório para implementar os
passos do projeto.
No laboratório do Colégio foi aplicado outro questionário. Cinco questões
descritivas foram respondidas. O questionário foi respondido pelos alunos antes da
realização e prática do projeto, e voltou a ser aplicado após a realização do projeto,
com o objetivo de medir o grau de compreensão e sensibilização sobre o assunto
em questão.
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3.1.1 Conhecendo o ovo do Aedes aegypti
Os ovos do Aedes aegypti medem, aproximadamente, 1 mm de comprimento e contorno alongado e fusiforme (Forattini, 1962). São depositados pela fêmea, individualmente, nas pares internas dos depósitos que servem como criadouros, próximos à superfície da água. No momento da postura os ovos são brancos, mas rapidamente, adquirem a cor negra brilhante. (FUNASA, 2001).
Segundo a Funasa, (2001), A capacidade de resistência dos ovos à
dessecação é um sério obstáculo para erradicação do mosquito. Foi observada a
eclosão de ovos de até 450 dias.
Sendo a resistência dos ovos, um entrave para o controle da proliferação do
mosquito, o aluno precisou reconhecer o ovo, buscando eliminar futuros focos nas
residências
3.1.2 Conhecendo a larva do A. aegypti
A fase larvária do A. aegypti, possui quatro estágios, e as larvas passam a
maior parte do tempo alimentando-se de material orgânico nos criadouros com água
parada.
A duração da fase larvária depende da temperatura, disponibilidade de alimento e densidade das larvas no criadouro. Em condições ótimas, o período entre a eclosão e a pupação pode não exceder a cinco dias. As larvas possuem quatro estágios evolutivos. Contudo, em baixa temperatura e escassez de alimento, o 4º estágio larvário pode prolongar-se por várias semanas.(FUNASA, 2001).
Segundo a Funasa (2001), a larva se movimenta em forma de serpente, vindo
à superfície para respirar. É sensível a movimentos bruscos na água e sob um feixe
de luz, desloca-se com rapidez, buscando o fundo do recipiente (fotofobia).
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Importante salientar, que a larva do A. aegypti se difere em comportamento
na sua posição de respiração na superfície da água, quando comparamos com
outras espécies de mosquitos, como nos mostra a ilustração a seguir.
Figura 1 – comportamento de larvas
Fonte: Funasa 2001
Além do comportamento ao respirar, as larvas do A. aegypti têm
características morfológicas e anatômicas diferentes de outras larvas, como nos
mostra o comparativo abaixo; destacando-se as espinhas em maior quantidade e
tamanho e o aparecimento de folíolos branquiais grandes, em relação as outras
espécies.
Figura 2 – Comparativo morfológico de larvas.
Fonte : Funasa 2001
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Buscou-se internalizar, com o reconhecimento da larva, que esse estágio é o
melhor para o combate do mosquito, pois não existe deslocamento além do
reservatório de água e, é a fase de maior vulnerabilidade do inseto.
A larva, no aspecto morfológico tem o corpo dividido em cabeça, tórax e
abdome, sendo essa última porção do corpo dividida em oito segmentos
3.1.3 Conhecendo a pupa do Aedes aegypti
A pupa é o estágio intermediário, onde acontece a metamorfose, ou seja, a
passagem do estágio larval para o estágio adulto.
Em boas condições, a fase de pupa, tem duração de três dias, e o inseto, se
mantém na superfície da água até a eclosão e primeira revoada.
3.1.4 Conhecendo o A. aegypti na fase adulta
O A. aegypti, em sua fase adulta, é um mosquito que mede menos de 1 cm
da cabeça ao abdome. Nessa fase o mosquito se dispersa e pode chegar numa
distância de 1000 metros, desde o nascedouro até o destino final.
Quanto a suas características morfológicas ele é definido assim:
O Aedes aegypti é escuro, com faixas brancas nas bases dos segmentos tarsais e um desenho em forma de lira no mesonoto. Nos espécimes mais velhos, “o desenho da lira” pode desaparecer, mas dois tufos de escamas branco-prateadas no clípeo, escamas claras nos tarsos e palpos permitem a identificação da espécie. O macho se distingue essencialmente da fêmea por possuir antenas plumosas e palpos mais longos. (FUNASA, 2001).
Como, a forma urbana de transmissão, da febre amarela e dengue é causada
pelo A. aegypti, o reconhecimento das diversas fases de desenvolvimento foi feita,
com exemplares desse inseto no laboratório do Colégio Estadual Novo Horizonte.
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3.1.4 Treinamento com setor de combate a dengue do Município de Toledo
Segundo Vasconcelos (1999). “A primeira dimensão a ser contemplada na
elaboração de projetos de ensino aprendizagem é a análise da realidade.” Com a
ciência de que, os alunos deveriam conhecer a realidade da doença e o grau de
prejuízo à saúde, estes receberam a palestrante Maria Goretty, técnica de saúde do
setor de combate à dengue da secretaria municipal da saúde de Toledo.
Na fala, a palestrante deixou claro, além dos prejuízos de uma epidemia, o
alto índice de infestação do mosquito A. aegypti na região oeste paranaense,
fornecendo assim subsídios, para que todos pudessem analisar e sensibilizar-se
com a realidade.
3.1.5 Confecção e implantação de armadilhas com recicláveis.
No mês de outubro de 2010, reunidos em contra turno escolar, no laboratório
de ciências do Colégio Estadual Novo Horizonte em Toledo, os estudantes
confeccionaram “arapucas” buscando subsídios para identificar possíveis focos de
mosquitos em suas residências, vizinhança e também no próprio estabelecimento
escolar onde estudam.
A confecção das armadilhas foi feita com os seguintes materiais recicláveis:
a – Uma garrafa tipo pet vazia de 2 litros ou mais.
b – Lacre da tampa da garrafa pet.
c – Tela de proteção para mosquitos 3×3cm.
d – Uma tesoura com ponta.
e – Lixa para madeira com 4×5cm.
f – Quatro grãos de arroz e uma unidade de ração de gatos.
g – Rolo de fita isolante.
Obs: Uma régua escolar pode ser necessária.
Para confecção seguimos os seguintes passos:
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a – A garrafa pet deve ser escura, pois tanto a fêmea do A. aegypti quanto
sua larva, preferem locais sombreados A larva inclusive, possui fotofobia, pois
quando em presença de muita claridade tenta se esconder.
Sendo de 2 litros ou mais, a garrafa oferece maior amplitude de espaço para
a multiplicação de larvas.
b – Lacre: Será utilizado para fixar a tela no gargalo da garrafa.
c – Tela mosqueteira: A tela tem orifícios pequenos, e garante que o mosquito
não irá passar por ela.
Muitas pessoas utilizam o tule nas armadilhas para a larva do mosquito,
porém, a tela por ter orifícios menores, garante que o mosquito, quando na fase
adulta não escape da garrafa.
Obs. Se for utilizado o tule, a cada vez que lavar a armadilha (assepsia) o tule
deve ser trocado.
d – Tesoura: Deve ser uma tesoura afiada e com ponta, que permita a
perfuração da garrafa pet.
e – Lixa para madeira: Permitirá que a armadilha seja lixada internamente.
As fêmeas do A. aegypti conseguem “perceber” o melhor ambiente para a
postura de seus ovos. Elas preferem ambientes ásperos e úmidos, assim, lixar a
armadilha no seu interior permitirá que, a água evaporada permaneça nos sulcos
além de o ambiente se tornar áspero.
f – Quatro grãos de arroz e uma unidade de ração para gatos:
Através de testes anteriores com armadilhas, observamos que rações com
gordura (lipídios), não oferecem atrativos para a fêmea do A. aegypti fazer a postura
de ovos. O arroz é utilizado por ser seco e com grande quantidade de carboidrato,
permitindo assim, a nutrição de futuras larvas.
g – Fita isolante: Permitirá que você lacre as duas partes da armadilha.
Como fazer a armadilha:
- Medir treze centímetros da boca da garrafa para baixo e cortar com a
tesoura fazendo um funil
- Medir dezesseis centímetros a partir do fundo da garrafa, traçar uma linha e
cortar.
- Descarte a sobra do meio da garrafa.
- Com a lixa para madeira, lixe a parte interna do funil até que fique bem
áspera.
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- No gargalo do funil, coloque um pequeno pedaço de tela mosquiteira ou tule
e fixe com o lacre da garrafa pet.
- Coloque os grãos de arroz e a ração na parte de baixo da garrafa.
- Junte as duas partes, funil e fundo da garrafa e fixe com fita isolante.
- Encha de água até o gargalo do funil.
3.1.6 Implantação de armadilhas
No mesmo dia, implantamos quatro “arapucas” nas imediações da escola,
escolhendo estrategicamente os locais úmidos.
A – Arredores da cozinha.
B – Jardim em frente a escola.
C – Próximo as calhas da quadra de esportes.
D – Próximo aos banheiros.
Em novo encontro, o grupo saiu a campo, e houve a implantação de
“arapucas” nas residências de 13 alunos inseridos no projeto.
A prática de confecção de material pedagógico, saída a campo e implantação
de armadilhas, fez com os estudantes saíssem do cotidiano teórico e visualizassem
um rol de situações favoráveis ao desenvolvimento de larvas do A. aegypti.
Podemos analisar isso pelos depoimentos:
“Não sabia que minha casa tinha tantos locais onde o mosquito podia criar”
(Camila Dias de Souza)
“Que massa essa armadilha” ( Alexandre Weber de Andrade)
“Nós podíamos fazer outros projetos onde a gente saísse do colégio”
(Vandinéia Bonfim).
“Tanta coisa prá ver em nossa vila e nós ficamos lá sentados quase todo o
ano” ( Cristiano Scheneider).
20
3.1.7 Mapeamento dos focos de dengue encontrados e providências.
Observando todo o ciclo de vida do A. aegypti, locais de implantação de
armadilhas e agenda, todo o grupo reuniu-se, após vinte dias do implante de
armadilhas, no laboratório da escola. Todos os estudantes trouxeram suas
armadilhas para análise visual, com lupa manual e com lupa estereoscópica.
Em análise visual de ovos, larvas, pupas e mosquitos adultos obteve-se os
seguintes resultados:
Quadro demonstrativo dos resultados constatados na análise das armadilhas.
Nome do aluno
Presença de ovos Presença de larvas Presença de Pupas Presença do mosquito adulto
Análise visual
Análise em lupa
Análise visual
Análise em lupa
Análise visual
Análise em lupa
Análise visual
Análise em lupa
Ana Paula
Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Andressa Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Alexandre Negativo Positivo Positivo Positivo Negativo Negativo Negativo Negativo
Beatriz Negativo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Negativo Negativo
Cristiano Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Camila Negativo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Negativo Negativo
Franciele Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Lucas Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Kymberly Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Vandinéia Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Érica Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Jaqueline Não realizou a atividade
Vanessa Negativo Positivo Positivo Positivo Negativo Negativo Negativo Negativo Escola: Cozinha Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Escola: Quadra Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Negativo Negativo
Escola: Banheiro Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo
Frente da Escola Negativo Positivo Positivo Positivo Negativo Negativo Negativo Negativo
Quadro 1 - Demonstrativo constatado na análise das armadilhas.
Segue a representação gráfica
21
93,8%
62,5% 62,5% 62,5%
81,3% 81,3%
100,0% 100,0%
6,3%
37,5% 37,5% 37,5%
18,8% 18,8%
0,0% 0,0%
Análisevisual
Análise emlupa
Análisevisual
Análise emlupa
Análisevisual
Análise emlupa
Análisevisual
Análise emlupa
Presença de ovos Presença de larvas Presença de Pupas Presença do mosquitoadulto
% de loca
is
Negativo Positivo
Gráfico 1- Demonstrativo do percentual de focos encontrados nas residências e escola.
Ressalta-se que, após a tabulação dos dados, os alunos utilizaram o mapa do
Bairro Jardim Coopagro para assinalarem os locais onde foram identificados os
focos.
Em vermelho: Locais onde se encontrou ovos, larvas e pupas.
Em verde : Locais com pouca probabilidade de desenvolvimento larvário (sem
criadouros ).
Em azul: Locais onde não foram encontrados focos, porém com possibilidade
de desenvolvimento. (calhas, vasos, garrafas, etc.)
Figura 3 Foto - Mapeamento final de locais onde foram implantadas as armadilhas
22
O trabalho de campo realizado com implantação de arapucas, análise no
laboratório e mapeamento foi aleatório intencional, e não probabilístico às moradias
do Bairro Jardim Coopagro em Toledo, PR. Por isso, os resultados nos relatam a
situação das casas dos alunos inseridos no projeto, além da situação do
estabelecimento de ensino onde estudam.
Assim sendo, os alunos tiveram uma experiência interdisciplinar, pois além de
conferirem se a sua área de moradia têm mosquitos da dengue, aproximaram-se da
matemática e estatística, ao aprenderem fazer a leitura de tabelas e gráficos e da
geografia ao mapear sua área de moradia.
Vale ressaltar que, o tempo de fixação das armadilhas foi insuficiente, pois
não foram encontrados insetos adultos, apenas foram encontrados ovos, larvas e
pupas de mosquitos, demonstrando que as arapucas funcionam com indicadores de
desenvolvimento do mosquito.
O trabalho pedagógico no laboratório da escola permitiu com que os alunos,
se aproximassem e aprendessem a manusear equipamentos e vidrarias de cunho
científico.
Detectados os focos através da implantação das armadilhas, e a posterior
constatação da presença de ovos, larvas e pupas, os alunos promoveram
planejamento de mutirão, fazendo limpeza, poda e recolhimento de resíduos sólidos
nos locais, buscando assim eliminação natural do mosquito ao não permitir que ele
se reproduza.
3.1.8 Socialização dos resultados com colegas de outras turmas e com a
comunidade escolar
Após todo o trabalho, os alunos, utilizando as condições tecnológicas da
escola, organizaram palestra de sensibilização sobre dengue. Utilizaram para isso o
seu aprendizado sobre vírus, desenvolvimento do mosquito A. aegypti, sintomas da
dengue além dos resultados coletados na sua pesquisa de campo.
Professores do Colégio Estadual Novo Horizonte, direção e alunos das
quintas-séries do estabelecimento de ensino receberam os ensinamentos e
resultados.
23
A pedido da regência de classe, os alunos relataram seus depoimentos
levando em consideração seu pensamento sobre dengue, antes da participação na
unidade didática “Dengue-para combater temos que conhecer e nos unir”, e após a
participação.
Alguns dos depoimentos nos mostra, com clareza a evolução não apenas no
conhecimento sobre fases de desenvolvimento do mosquito, modo de transmissão
da doença e medidas profiláticas, mas também na sensibilização como alguns
depoimentos abaixo:
Quando feita a pergunta: “Como você poderia definir sua postura, seu
comportamento e sua prática para evitar a doença antes de participar do projeto
“Dengue-para combater temos que conhecer e nos unir”?
Resposta da aluna Vanessa: “Eu tinha um conhecimento bem superficial,
não sabia que era só a fêmea que transmitia a doença, não que tinham
varias formas da doença, não tinha muita noção das formas de prevenção,
etc.”
Resposta da aluna Beatriz: “Antes do projeto, eu nem dava muita atenção a
essa doença, porque pensava que era apenas um mal estar passageiro, no
entanto, não tinha muito cuidado com os recipientes que ajudassem na
reprodução do mosquito. Além de tudo achava que era apenas um mosquito
como qualquer outro, que transmitia um mal estar.”
Resposta da aluna kimberly: “Antes eu sabia as coisas básicas sobre a
dengue, que a doença mata e que não deveria deixar água parada. Não
fazia nenhuma idéia do porque o mosquito picar, os métodos e achava que
nunca iria chegar em minha cidade.”
Resposta da aluna Francielle: “Minha postura era irregular, porque não
sabia o suficiente para contribuir com melhoras em relação às precauções,
sabia como evitar por exemplo não deixando água parada em locais como
garrafas, pneus, vasos de plantas entre outros... Mas isso não era
suficiente.”
Resposta da aluna Ana Paula: Antes de participar do projeto eu não
conhecia a dengue, eu achava que a dengue não matava, só conhecia um
tipo da doença. Não conhecia a forma que o mosquito se reproduzia, não
24
sabia que era só a fêmea que transmitia a doença, não conhecia a forma
que o mosquito evoluía. Eu não tinha consciência de formas de evitar a
dengue, achava que eu nunca poderia ser picada pelo mosquito na verdade
eu não tinha consciência do perigo.
Quando feita a pergunta: Quais mudanças ocorreram com sua postura, seu
comportamento e sua prática após a participação no projeto?
Resposta da aluna Vanessa: ”Eu pude ver que a dengue está bem próxima
de mim e que devemos prevenir. Com a armadilha pude ver como é fácil o
desenvolvimento do mosquito e que dependendo do estágio da doença
pode até levar a morte. Aprendi que só a fêmea que transmite a doença e
só se estiver infectada. Com o projeto estou tendo a oportunidade de passar
o que aprendi a outras pessoas através das palestras. Que o mosquito é
diferente dos demais, voa mais baixo, etc.”
Resposta da aluna Beatriz: “Eu passei a cuidar, em qualquer lugar onde
estivesse, objetos e recipientes onde o mosquito poderia se reproduzir,
passei a informar amigos, parentes e vizinhos sobre os perigos transmitidos
pelo mosquito. Estou participando de um grupo de palestras sobre a
doença, passando para outros alunos meios de prevenção e cuidados.”
Resposta da Aluna Kimberly: “Agora vejo que a dengue é muito mais grave
do que eu imaginava. Sei o porque do mosquito fêmea picar o ser humano e
que há muitos métodos para combater. Sei como conversar com a
população sobre e tirar dúvidas que jamais saberia responder antes do
projeto. Foi essencial a ajuda de meu orientador (Norimar) e meus colegas,
e vimos que unidos podemos muito mais, nos proporcionando, tirar as
dúvidas em palestras e conversas.”
Resposta da aluna Francielle: “Minha postura passou a ser mais
responsável, pois passei a conhecer a doença em sua totalidade, como
sintomas, como ocorre o processo, como evitar, entre outros....Comecei a
perceber que somos vulneráveis à ela, e que pequenas atitudes podem
fazer a diferença.Contribuímos com pequenos gestos, e agora passaremos
para os outros o nosso conhecimento, para que esses possam fazer a
diferença.”
25
Resposta da aluna Ana Paula: “Após a participação no projeto eu criei
consciência, eu aprendi novos métodos de evitar o mosquito, aprendi os
sintomas que a dengue apresenta, e também conheci a forma que o
mosquito se reproduz. Aprendi que a dengue pode estar mais perto do que
eu pensava. Aprendi que devemos evitar a doença, pois ela pode se
transformar em uma epidemia. E após o projeto, com o conhecimento que
eu adquiri eu pude estar compartilhando com as outras pessoas em forma
de palestras, para que as outras pessoas conheçam a doença e que
possam estar evitando.”
Os depoimentos transcritos demonstram que, o aprofundamento do tema
proporcionou nos alunos um maior aprendizado e que o senso comum foi superado,
dando espaço para maior sensibilização e conhecimento científico.
Os alunos inseridos no projeto foram então, novamente submetidos ao
questionário de sensibilização, o qual fora aplicado antes do início dos trabalhos da
unidade didática.
Os estudantes responderam as seguintes perguntas:
- Qual a gravidade da dengue para a sociedade?
- Explique o que é uma epidemia.
- Qual o seu papel como cidadão, em alertar seus vizinhos e familiares sobre as
medidas profiláticas para evitar dengue?
- Como podemos investigar se em nossa casa e vizinhanças existe o Aedes
aegypti?
- Crianças e adolescentes poderiam ajudar em um programa de combate a dengue?
Os resultados nos mostram melhora no grau de compreensão dos alunos
como consta na tabela e gráfico percentual abaixo:
Compreensão Excelente
Compreensão Boa
Compreensão Regular
Compreensão Ruim
Compreensão Péssima
Não Respondeu
Antes da sensibilização 2,24% 18,90% 34,42% 26,68% 10,00% 7,80%
Após a sensibilização 12,24% 33,78% 30,90% 8,22% 1,12% 13,7%
Tabela 2: Comparativo de sensibilização
26
2,24%
18,90%
34,42%
26,68%
10,00%
7,80%
12,24%
33,78%
30,90%
8,22%
1,12%
13,76%
CompreensãoExcelente
Compreensão Boa
Compreensão Regular
Compreensão Ruim
CompreensãoPéssima
Não Respondeu
Antes da sensibilização Após a sensibilização
Gráfico 2 – Conhecimento e sensibilização antes e depois da implantação da pesquisa.
Na análise observamos que, em virtude da participação, dedicação e
acompanhamento dos alunos em todas as atividades do projeto o grau de
compreensão e sensibilização passou de 18,90% para 33,78% em boa
compreensão, havendo um aumento de 14,88%. No item “compreensão excelente”,
houve melhora de 10%. Os resultados de sensibilização nos levam a Menegazzo
(2009) que diz: “Ao entrar em contato com temas que geram discussão, muitos são
levados a assumir posturas. Não é possível sensibilizar sem se comprometer. O
comprometimento, deverá ser feito por quem quer sensibilizar, os comprometidos
devem ser os liderados.”
Observamos então, queda de percentuais nas compreensões ruim e péssima,
sobre os aspectos epidemia, dengue, conseqüências sociais e ajuda da comunidade
para evitar a dengue.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Considerando que a Unidade Didática “Dengue - Para combater temos que
conhecer e nos unir”, ofertou aos estudantes do 2º Ano do ensino médio matutino do
Colégio Estadual Novo Horizonte, um rol de conhecimentos teórico-práticos sobre o
mosquito A. aegypti, transmissão da dengue, medidas de profilaxia para a doença,
participação interdisciplinar com a utilização de elementos estatísticos (matemática),
elementos de mapeamento de focos no bairro (geografia), elementos teóricos do
histórico da dengue (história), além do aprofundamento da disciplina biologia com o
aproveitamento do tema transversal saúde, entende-se que, o aspecto do
conhecimento científico sobre o assunto, foi alcançado, bastando para isso, a
análise de resultados dos questionários aplicados e inseridos no presente trabalho.
O trabalho também elenca como objetivo, a preparação e sensibilização dos
alunos e seu envolvimento de forma voluntária, para ajuda comunitária na prevenção
e divulgação de medidas profiláticas da dengue. Neste ponto, os alunos
demonstraram nos resultados que, se sensibilizaram com o aumento de casos de
dengue na região oeste do Paraná e por consequência em Toledo,Pr.
A inserção dos alunos do ensino médio, como agentes voluntários no
combate a dengue é possível, bastaria que a sensibilização fosse feita de maneira
prática. Este seria “o envolvimento do aluno na intencionalidade” de que nos fala
Vasconcelos (1998).
O presente trabalho não se limitou ao aprofundamento de conteúdos sobre
dengue, pois inseriu o aluno em sua comunidade observando um problema de
saúde e buscando medidas para minimizar este problema. Assim, as respostas aos
questionários, a prática em sua própria residência e as palestras voluntárias que
transmitiram conhecimentos de profilaxia a dengue demonstraram que os objetivos
do presente trabalho foram alcançados.
5 Referências
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28
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ASTOLFI, J. P. A didática das ciências. Campinas: Papirus, 1991.
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MENEGAZZO, Raquel Cristina Serafin. Análise e Reflexão da Poluição Ambiental por Meio da Leitura/Compreensão de Textos; por alunos do ensino médio, Artigo, UTFPR-PG. 2009.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Manual de Normas Técnicas. Dengue, Instruções Para Pessoal de Combate ao Vetor. FUNASA – 3. Ed., rev. – Brasília: Fundação Nacional da Saúde, 2001.
ODUM, E. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Biologia para o Ensino Médio. 2008.
SEVERINO, Antônio J. O Diretor e o Cotidiano na Escola, in Idéias (nº 12). São Paulo, FDE, 1992.
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THOMAS, K. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais. São Paulo: Companhia das Letras. 1988.
29
VASCONCELLOS, Celso S. Avaliação da Aprendizagem: Práticas de Mudança – Por uma Práxis Transformadora. São Paulo, Libertad, 1998b.
_______. Superação da Lógica Classificatória e Excludente da Avaliação – do “é proibido reprovar” ao é preciso garantir a aprendizagem. São Paulo, Libertad, 1998b.
Sites relacionados:
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