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Dinâmica recente no espaço rural do município de Nossa Senhora ...

Date post: 09-Jan-2017
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Dinâmica recente no espaço rural do município de Nossa Senhora da Glória/SE Recent dynamics in the rural environment at the Municipality of Nossa Senhora da Glória - SE MOTA, Dalva Maria da 1, SÁ, Cristiane Otto de 2, SÁ, José Luiz de 3 1 Embrapa Amazônia Oriental, Belém/PA - Brasil, [email protected]; 2 Embrapa Semi-Árido, Petrolina/PE - Brasil, [email protected]; 3 Embrapa Semi-Árido, Petrolina/PE - Brasil, [email protected] RESUMO O objetivo desse artigo é analisar a dinâmica recente no espaço rural de um município do semi-árido sergipano, reconhecido pelo dinamismo da sua economia que gira em torno da produção e processamento do leite por agricultores familiares, a despeito da inexistência de políticas específicas e continuadas para esse fim. A área de pesquisa é o município de Nossa Senhora da Glória localizado no Alto Sertão sergipano. A metodologia privilegiou o contato com atores-chave através de entrevistas, observações de campo, caminhadas transversais para observação da paisagem, participação em reuniões e levantamento de dados secundários. Os principais resultados demonstram que o município de Glória contem na sua totalidade três unidades de desenvolvimento com dinâmicas particulares a depender das estratégias dos agricultores, acesso e qualidade dos recursos naturais e vinculação com os mercados (trabalho, produto e financeiro). PALAVRAS-CHAVE: agricultura familiar, leite, agroecologia, semi-árido. ABSTRACT The objective of this paper was to analyze the recent dynamics in the rural environment in a municipality in the Sergipe State semi-arid region, recognized for its dynamic economy based on the production and processing of milk by small scale farmers, despite a lack of specific and continuous policies for this purpose. The research area is the municipality of Nossa Senhora da Glória located at the Alto Sertão Sergipano. The methods emphasized the contact with the key- players through interviews, field observations, transversal walkings for landscape description, meetings and survey of secondary data. The main results demonstrated that Nossa Senhora da Glória municipality has in this totality three development units with unique dynamics depending on the farmers´ strategies, access to and quality of natural resources, and the degree of involvement with markets (labor, product, and financial). KEY WORDS: family-based agriculture, dairy, agroecology, semi-arid. Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia. 5(2): 126-138 (2010) ISSN: 1980-9735 Correspondências para: [email protected] Aceito para publicação em 09/08/2010
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Dinâmica recente no espaço rural do município de Nossa Senhora daGlória/SERecent dynamics in the rural environment at the Municipality of Nossa Senhora daGlória - SE

MOTA, Dalva Maria da 1, SÁ, Cristiane Otto de 2, SÁ, José Luiz de 3

1Embrapa Amazônia Oriental, Belém/PA - Brasil, [email protected]; 2 Embrapa Semi-Árido,Petrolina/PE - Brasil, [email protected]; 3 Embrapa Semi-Árido, Petrolina/PE - Brasil,[email protected]

RESUMOO objetivo desse artigo é analisar a dinâmica recente no espaço rural de um município dosemi-árido sergipano, reconhecido pelo dinamismo da sua economia que gira em torno daprodução e processamento do leite por agricultores familiares, a despeito da inexistência depolíticas específicas e continuadas para esse fim. A área de pesquisa é o município de NossaSenhora da Glória localizado no Alto Sertão sergipano. A metodologia privilegiou o contatocom atores-chave através de entrevistas, observações de campo, caminhadas transversaispara observação da paisagem, participação em reuniões e levantamento de dadossecundários. Os principais resultados demonstram que o município de Glória contem na suatotalidade três unidades de desenvolvimento com dinâmicas particulares a depender dasestratégias dos agricultores, acesso e qualidade dos recursos naturais e vinculação com osmercados (trabalho, produto e financeiro).

PALAVRAS-CHAVE: agricultura familiar, leite, agroecologia, semi-árido.

ABSTRACTThe objective of this paper was to analyze the recent dynamics in the rural environment in amunicipality in the Sergipe State semi-arid region, recognized for its dynamic economy basedon the production and processing of milk by small scale farmers, despite a lack of specific andcontinuous policies for this purpose. The research area is the municipality of Nossa Senhora daGlória located at the Alto Sertão Sergipano. The methods emphasized the contact with the key-players through interviews, field observations, transversal walkings for landscape description,meetings and survey of secondary data. The main results demonstrated that Nossa Senhora daGlória municipality has in this totality three development units with unique dynamics dependingon the farmers´ strategies, access to and quality of natural resources, and the degree ofinvolvement with markets (labor, product, and financial).

KEY WORDS: family-based agriculture, dairy, agroecology, semi-arid.

Revista Brasileira de AgroecologiaRev. Bras. de Agroecologia. 5(2): 126-138 (2010)ISSN: 1980-9735

Correspondências para: [email protected] para publicação em 09/08/2010

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“Hoje o nosso sertão aqui... o que é umafonte que dá mais desenvolvimento e maistranqüilidade para o homem do campo é apecuária, o leite. O leite hoje transmite umcrescimento na sociedade em emprego,porque hoje nós temos muitas micro-empresas,queijeiros. Todos eles têm a sua atividade...que o leite dá sustentação na vida de cada umdeles” (G. S, político local, 55)

Introdução

Em se tratando da atividade pecuária no semi-árido, a literatura mostra que no processo deocupação do interior nordestino, a pecuária foi aatividade primordial, como apontam diversosestudos (ANDRADE, 1986; FURTADO, 1987;SZMRECSÁNYI, 1998; ALMEIDA, 1984, 1991 eSANTOS & ANDRADE, 1992). Em Sergipe, nãofoi diferente e afirma-se que “o gado ia aonde aroça não tinha condições de chegar” (SANTOS &ANDRADE, 1992). Não obstante as oscilações daatividade por razões, predominantemente,endógenas1, a pecuária nunca deixou de ser aatividade fundamental em articulação com aprodução de culturas alimentares no interior dasgrandes propriedades pecuaristas ou nos seusarredores.

Muito embora a afirmação anterior sejaadequada para o contexto em análise, foi entre asdécadas de 80 e 90 do século XX, que o municípiode Nossa Senhora da Glória se destacou pelaintensificação da atividade leiteira,predominantemente, nos estabelecimentosfamiliares a partir de uma cadeia produtiva em quea produção do leite para a fabricação do queijo dáorigem, simultaneamente, a produtos artesanaismuito valorizados no mercado regional (queijocoalho e requeijão) e ao soro, subproduto paraalimentação de suínos (CARVALHO FILHO et al.,2000).

A origem da bacia leiteira de Nossa Senhorada Glória é bem conhecida na literatura, assim

como, as diferentes etapas de estruturação dasatividades econômicas locais, segundo CarvalhoFilho et al. (2000) estimada em 04 grandes fasesque vão de 1960 a 1993. Ou seja, de umaprodução voltada essencialmente para o consumobaseada na articulação minifúndio/latifúndio até aemergência da bacia leiteira cujos elementoscentrais foram as políticas públicas (ProjetosSertanejo e Chapéu de Couro), o declínio deoutras atividades agrícolas (como exemplo adecadência da lavoura de algodão causada peloataque do bicudo), a iniciativa de agricultoresproprietários de pequenos estabelecimentosprodutores de leite e dos proprietários defabriquetas (ambos criadores de porcos com osoro produzido na fabricação do queijo), apavimentação da rodovia Aracaju/Glória, acesso amercados regionais e mudanças tecnológicasprovenientes da assistência técnica e da iniciativade produtores mais capitalizados e o surgimentode indústrias de laticínios.

Como visto, diferentes elementos interferirampara a estruturação e dinamização da bacialeiteira, considerada resultante de um conjunto deiniciativas que parecem orquestradas,predominantemente, pelos atores locais, a reveliada iniciativa pública que teve papel secundário econcentrado no desenvolvimento de ações quevisavam mais a dotação de infra-estruturas dearmazenamento de água e aquisição de terras, doque propriamente, a dinamização dos diferenteselos da cadeia produtiva do leite. Nas palavras deum agrônomo: “a bacia leiteira existe e caminha,apesar do estado” (CARVALHO FILHO et al.,2000)

Nos anos recentes, considera-se que ascaracterísticas da dinâmica agrária local apontampara a 5a fase da bacia leiteira no marco dastransformações que vêm se dando nos espaçosrurais, cada vez mais, lugar de múltiplos fazeres,agrícolas ou não, consequentemente, objeto

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de observação de consumidores preocupadostanto com a qualidade dos produtos, comotambém, com cuidados ambientais. Nessestermos, inauguram-se modos de análise que,necessariamente, englobam da produção aoconsumo.

Considera-se essa 5a fase como iniciada nofinal dos anos 90 e ainda em vigência em 2007,momento em que os agricultores produzem umtipo de queijo de coalho muito apreciado porconsumidores da Paraíba, Pernambuco, Alagoase Bahia e, como tal, são reconhecidos nãosomente entre os consumidores, mas também naliteratura extra regional (ABRAMOVAY, 2000).

Segundo depoimento dos técnicosentrevistados, no início dos anos 90, muitosinvestimentos foram realizados para melhorar aqualidade do queijo de coalho e reconhecer osaber-fazer dos queijeiros locais, a exemplo doworkshop do queijo2, e dotar os estabelecimentosagrícolas de condições que amenizassem avulnerabilidade nos períodos secos (alimentaçãopara o gado). No entanto, proprietários defabriqueta contestam e afirmam que nuncaparticiparam de atividades desta natureza, o quedemonstra um desencontro nas informações,provavelmente por ser esta uma atividade sob umtipo de pressão que ocasiona movimentos desístole e diástole segundo as épocas. Exemplodisso é que as fabriquetas abrem e fecham deacordo com a disponibilidade de leite e ascondições do mercado (SCHMITZ, 2005).

Ainda naquela época, havia um grande debateentre técnicos, agricultores e queijeiros quanto àaplicação das medidas sanitárias propostas pelalegislação, o que implicaria, praticamente, nodesmantelamento das fabriquetas3 e,consequentemente, da cadeia produtiva.Passados 10 anos, as condições de produção (doleite e do queijo) continuam da mesma forma, oqueijo não tem nenhum problema de mercado eos agricultores produtores de leite continuam

vulneráveis aos efeitos da seca, particularmenteno que diz respeito a grande dependência quetêm do mercado de ração. Mesmo assim, aeconomia local está totalmente aquecida, mas alegislação e a fiscalização, cada vez mais, fechamo cerco em decorrência das precárias condiçõesde higiene observadas desde a ordenha até otransporte do queijo. Os últimos encontrospromovidos por instituições do Estado com osprodutores de queijo tiveram uma característicaameaçadora o que ocasionou o fechamento dealgumas fabriquetas e uma fuga dos produtoresde queijo destas reuniões, como comentado poruma proprietária que tem no queijo a sua principalfonte de renda.

Tendo em vista essa problemática, o objetivodesse artigo é analisar a dinâmica agrária recenteno município de Nossa Senhora da Glória,reconhecido pelo dinamismo da sua economiaque gira em torno da produção e processamentodo leite por agricultores familiares, a despeito dainexistência de políticas específicas e continuadaspara esse fim e das constantes ameaças quanto àqualidade dos produtos, cristalizadasrecentemente pela Instrução Normativa 514.

Material e métodosa) Construção Social da DemandaA pesquisa foi desenvolvida como parte das

ações de um Projeto mais amplo que visa ofortalecimento da produção familiar em sistemaagroecológico na Bacia Leiteira de Glória,resultante da demanda levantada por ocasião darealização de um diagnóstico no semi-áridosergipano (MOTA & VASCONCELOS, 2005) ereforçada em 02 encontros com técnicos eagricultores que atuam na região (SCHMITZ,2005). Nos encontros, as principais dificuldadesapresentadas foram a crescente dependência deinsumos externos para a manutenção do rebanhoe a inexistência de alternativas viáveis de

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produção de alimentos para o mesmo napropriedade, considerando o pequeno tamanhodas áreas, a duração de 9 meses de seca noverão e a exigência de dispor do alimento do gadorapidamente para não comprometer a principalatividade (leite). Confrontadas as expectativas edificuldades dos produtores com as possibilidadestécnicas e de atuação da equipe do projetolevantou-se a possibilidade de desenvolvimento deações conjuntas e participativas para buscaralternativas de melhoria dos atuais sistemas deprodução, a partir do contato intenso da equipecom alguns produtores para fazer experiênciasconjuntas que deverão ser socializadas com osdemais. Para os agricultores é claro que elesquerem viver daquilo que produzem e que,futuramente, possam repassar essa atividade parafilhos e netos.

Nesse contexto, esse artigo retrata osresultados de uma etapa da primeira fase depesquisa, realizada no período de março a outubrode 2005, cujo objetivo é atualizar uma base deinformações e conhecimento já existentes(CARVALHO FILHO et al., 2000; CERDAN &CARVALHO FILHO, 1998; SABOURIN & CARON,2003) como também, manter contato comdiferentes atores no intuito de conhecê-los e de sefazer conhecer para iniciar a construção deespaços de diálogos rumo à construção deparcerias para refletir e agir sobre à problemáticado desenvolvimento sustentável na perspectivaagroecológica, segundo as demandas levantadas.

b) Procedimentos de PesquisaCom este intuito, a metodologia selecionada foi

o uso de entrevistas com atores-chave5, cujosprincípios estão detalhados em Mota et al. (1997),e tem como características centrais a demarcaçãoe valorização dos saberes dos atores sobre umdeterminado espaço a que estes mesmos atoresafirmam pertencer e a superposição destes

saberes construindo sínteses. A pesquisa se deuvia entrevistas semi-estruturadas individuais ecoletivas a partir de um mapa e de um roteiro emque apenas os temas são indicados6. Osentrevistados foram selecionados dentre osagricultores familiares que participaram de umencontro para a construção da demanda na sededo sindicato de trabalhadores rurais em NossaSenhora da Glória. A proporção que iam sendoentrevistados nos seus lugares de residência, elesiam indicando outros agricultores que poderiamtambém ser entrevistados. O tempo de conversafoi variável e as entrevistas foram gravadas. Oproduto de cada entrevista é uma transcriçãosistematizada e um mapa indicando o território aque o ator afirma pertencer. A partir dasentrevistas concluídas, mapas e informaçõesforam superpostos gerando um conhecimento noqual se pretendeu considerar as diferentesopiniões e conhecimentos. No total foramrealizadas 09 entrevistas analisadas a luz dateoria pertinente e enriquecidas com dadossecundários.

Um aspecto que deve ser considerado nessametodologia é que a visão dos atores (agricultorese pesquisadores, por ex.) se forma pelas suasexperiências, formações ou pelas expectativas7

que se elaboram nos jogos de interação comodiscutido tão bem por Goffman (1999) e quedemandam reflexividade contínua. Gestos,palavras e silêncios orientam a ação do outro.Pretende-se também chamar a atenção para estaproblemática neste artigo.

Resultados e discussãoDinâmica Local em Nossa Senhora da Glória:

a visão dos atoresEm consonância com a literatura, todos os

entrevistados originários de Nossa Senhora daGlória afirmam que o gado sempre estevepresente nas atividades desenvolvidas no

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município, muito embora reconheçam que oincremento da atividade leiteira é relativamenterecente (anos 80). Para eles, antes dos anos 60coexistia a criação de gado bovino, caprinos eovinos, todos criados extensivamente. Naquele

tempo, “as terras ainda eram de héreu”, ou seja,apropriava-se das mesmas quem primeirochegasse e se estabelecesse, normalmente, emvinculação com uma grande propriedade ondeprestavam serviços a partir de diferentes relações.

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A possibilidade de ocupação era maior quantomais distante fosse a terra dos centros decomercialização e serviços e os recursos naturaisfossem de menor qualidade para a agricultura.

Nestes termos, os entrevistados são unânimesem afirmar que a menor dinamização da economiano município está exatamente nas áreas em queos recursos (especialmente a qualidade dos solos)são mais restritivos e distantes da sede municipal.Sem contar que em decorrência dessas condiçõeso povoamento se deu de forma mais dispersa,argumento para a menor intensidade da ação daspolíticas públicas e da instalação dos pequenosnegócios, tipo as fabriquetas. Seguindo esseraciocínio, os atores-chave entrevistadosidentificam três tipos de dinâmicas agrárias,conforme pode ser visto na Figura 1.

a) Região dos assentamentosSegundo os entrevistados a estrutura fundiária

dessa região passou recentemente portransformações profundas em decorrência dadesapropriação de 01 grande fazenda paraassentamento. Atualmente Nossa Senhora daGlória possui 06 assentamentos, formados por290 famílias. Mesmo assim, restam ainda 02fazendas grandes que têm cerca de 1000ha cadauma. As propriedades consideradas pelosentrevistados de tamanho médio (cerca de 80ha)são muitas, mas predominam as pequenas quetêm entre 20 e 50ha. Reconhecem que depois daação da reforma agrária na região são poucos osque não têm terra, muito embora as opiniõessejam divergentes quanto a adequação dessapolítica para pessoas que têm procedimentos tãodiferenciados. Para alguns dos entrevistados, aprópria noção de trabalho é relativa tendo poucaspessoas que valorizam o trabalho e uma maioriaque só quer “brincar” como demonstra um dosdepoimentos:

“Uns querem alguma coisas e uns não

querem nada. Nesses assentamentos dossem-terra se o cara acha 10% dos homens quequeira trabalhar é muito. Eles tão ali pra pegaruma infância , aquele projeto ali, mas trabalhonão querem nada”.

É uma região que sofre mais os efeitos daseca por ser mais árida e ter solos de piorqualidade do que a região central, pois os solosembrejam e não são muito bons para plantio dofeijão. Mesmo assim, as roças de milho e feijãoestão presentes na maioria das pequenaspropriedades e, também, nos lotes da reformaagrária, sendo que, a produção épredominantemente para o consumo da família eo leite para venda a fabriquetas locais queproduzem diferentes tipos de queijo. Segundo osentrevistados a agricultura e a pecuária têm umcaráter de “subsistência”, porque os recursosnaturais são mais restritivos e há predominânciade pequenos estabelecimentos. Emconseqüência, os agricultores dependem muito davenda de mão de obra a outros agricultores e aosmaiores proprietários. A maior parte dosagricultores e filhos vende dia de serviço, mesmoque seja corrente a carência de mão de obra a sercontratada em decorrência, segundo osentrevistados que assalariam, das políticas sociaisdo governo federal que tem influenciado para queas pessoas ganhem sem trabalhar. Para algunsentrevistados, essa prática rompe com um padrãode socialização em que havia uma valorizaçãomuito grande do trabalhador sertanejo, inclusive,em outras regiões do estado e do Brasil.

Observam-se algumas áreas com mata,principalmente, nas propriedades maiores nasquais os donos não dependem exclusivamente daagricultura. No entanto, nos estabelecimentos dosagricultores, manter uma pequena área de matacomeça a se constituir num motivo de conflitosentre vizinhos e parentes porque como é umrecurso muito escasso, a pressão aumenta em

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busca de madeira para cerca, para cabos deenxada, para acender um fogo. Como a regiãonão dispõe mais de reservas, todos buscam nomesmo lugar, escondido ou abertamente, motivode constrangimento para muitos deles.

b) Região “mais dinâmica”Nessa região, a pecuária de leite é a principal

atividade e quanto mais próximo da sedemunicipal mais tecnificada é a forma de produção.À proporção que se afasta, o nível tecnológicodiminui. Há uma relação muito forte entre adisponibilidade de leite e a localização doestabelecimento. A família produtora tem umarelação muito especial com esse tipo de animal. “Équase um membro da família, tem nome, atençãoe também se penhora”. Dá menos trabalho emenor investimento em cerca quando comparadocom outros animais, como os ovinos e caprinos.Sem contar que produzir leite é motivo de orgulhopara uma família que também se dedica àfabricação artesanal de queijo de “coalho”. Algunstêm de 50 a 60 cabeças, mas a grande maioriatem 10 cabeças e o leite tem fluxo semanal. Énesta região, chamada de a mais dinâmica, queacontece todos os sábados uma importante feirapara o território do Alto Sertão, onde secomercializa entre outros produtos, o queijo deGlória.

A região tem uma excelente infra-estrutura emse tratando de água (adutora), estradas e energiaelétrica, talvez, por isso concentre o maior númerode fabriquetas do município que significa umamaior dinamização da economia. Além do maiorlaticínio, 18 das 24 fabriquetas em funcionamentono período do estudo, estão localizados nestaregião mais dinâmica.. Os solos são rasos, orelevo plano e quase não embrejam servindo paradiferentes culturas. Pode-se dizer que quase nãotem mais vegetação nativa.

A ovinocultura está voltando a fazer parte dos

sistemas de produção de forma complementar aoleite, portanto, nesta região se concentra tambémo comércio dos ovinos do município. Os ovinosrepresentam uma poupança que se dispõe nahora que se quer. O produtor começa a buscarnovas estratégias, sendo maior a aceitação entreos proprietários daquilo que faz parte da tradição.E é por isso que, embora a região seja propíciapara a caprinocultura, ela é quase que“empurrada” pelo SEBRAE, uma iniciativa umpouco forçada porque não tem um mercadointerno em decorrência do sergipano não apreciara carne e o leite. Apesar disso, está presentenesta região uma associação de caprinocultoresde grande força no município em função da suaforma de organização e atuação que prometemudar este cenário da caprinocultura. Já asuinocultura está atrelada ao leite e àsfabriquetas, criando vínculos mais intensos entreos diferentes tipos de produtores.

c) Região “mais pobre”Ali há um equilíbrio entre as roças (milho e

feijão predominantemente para consumo) e apecuária leiteira. Assim como acontece naprimeira região tratada neste artigo (região dosassentamentos), há um menor número defabriquetas. Por isso mesmo, é comum aprodução de queijos caseiros, principalmente osde feitio mais tradicionais, como o queijo coalho eo queijo manteiga que são comercializadosregionalmente nas feiras. É prática comum avenda de pequenos animais para subsidiar odinheiro da feira.

Esta região sofre mais os efeitos das secas,tem solos de pior qualidade e com tendência aocorrência de erosão do que a região central(região mais dinâmica), pois os solos embrejam enão são muito bons para feijão, o seja, asubsistência fica comprometida. Além do mais, éreconhecida como a que tem a pior infra-estrutura,

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inclusive falta água para consumo humano.Predominam pequenas propriedades, cujosproprietários vendem e compram dia de serviço.Muita gente planta palma e tomba a terra com usode trator, sendo que, o uso da tração animal temdiminuído drasticamente em todo o município. Osprodutores de leite reconhecem que a palma éuma cultura importante para a alimentação dogado, no entanto, ela não apresenta aprodutividade desejada. Os agricultores maisvelhos comentam que antigamente quando sederrubava e queimava a mata para plantar apalma, ela vinha forte, porém, hoje em dia elestêm dificuldade para implantar e mantê-las. Háuma clara divisão do trabalho entre homens emulheres, inclusive venda de trabalho por elas. Adependência de insumos externos é marcante,sendo que, a compra de ração para os animaisdiminui os ganhos e, o uso de bancos de proteínacomo por exemplo, a leucena (Leucaenaleucocephala) não é pratica conhecida, já que deacordo com os depoimentos, não compensaplantar, porque ela é muito seca, não produz noverão e verde o gado não come. Apesar dosprogramas governamentais estimularem omelhoramento do gado no município predomina ogado mestiço sem muita especialização nestaregião.

d) O que há em comum em experiências tãodistintas?

Apesar das particularidades de cada regiãodemarcada, os entrevistados apontam,características que reconhecem como sendocomuns e que dão singularidade ao município.

Reconhecem, por exemplo, que até os anos60, as propriedades eram maiores e todos osfilhos herdavam com a morte do pai. No entanto,havia uma tendência de maior investimento nosestudos para as mulheres, como observado porWoortman (1995) em seus estudos em diferentesespaços rurais do Brasil.

Muito embora houvesse terra para a família,todas as atividades eram, predominantemente,voltadas para o consumo e as roças de milho,feijão e mandioca eram comuns em todas aspropriedades. Os animais, principalmente ovelhas,eram criados soltos e as roças é que eramcercadas. Gado só era criado para produzir umleite para o consumo da família, para manejar umarado ou para transportar as pessoas e produtos.Diferentemente de outras regiões, não há umaidealização do passado e todos afirmam que otempo presente é melhor em decorrência dotrabalho ser mais leve e existirem maisalternativas de remuneração dos serviços e dosprodutos, o que demonstra a dinamização daeconomia local e uma satisfação com asatividades que realizam. Parece contraditório queum tema que pontua todas as discussõestécnicas, (restrições legais e sanitárias aosqueijos), não aparente fazer parte das suaspreocupações, muito embora a gênese dodinamismo da economia esteja associada àsfabriquetas. Alguns atores chegam a afirmar que oqueijo é “de excelente qualidade” e parecemdesconhecer completamente a ameaça que osronda, principalmente, face as novas exigênciassanitárias e de consumo.

Os entrevistados também afirmam que ostempos atuais são diferenciados quanto ao acessoa serviços de assistência técnica. Atribuem essefato, a proliferação das associações que tantoconcentram a execução de políticas como,teoricamente, os que mediam nas suas relaçõescom os técnicos. Em Nossa Senhora da Glóriaexistem 59 entidades de organização socialrepresentativas dos agricultores familiares, sendo57 associações, 1 sindicato e 1 cooperativa.Geograficamente as associações são bemdistribuídas, abrangendo todos os povoados domunicípio, chegando, em alguns casos existirmais de uma entidade por povoado. Asassociações são fundadas por interesses

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diversos, mas, principalmente, por interessespolítico-partidários, se reunindo, muitas vezes,somente quando tem algum financiamento oubenefício em vista.

Na segunda região de maior área, estálocalizada a maioria dos povoados e associações.

Se por um lado, garante conquistas, por outro,excluí a possibilidade de interação, de trocas deexperiências e de situações de aprendizagens,outrora fundamentais. Está implícita nesta crítica acompreensão de que à formação de associaçõesé mais para viabilizar as políticas do que osagricultores. Assim, reconhecem que cada umdeve buscar solitariamente o que necessita, sejana Emdagro, nas lojas especializadas ou com osvizinhos.

Reconhecem também que há uma reação aotrabalho em grupo, à dependência de terceiros euma super valorização da independência, dacapacidade de ser e fazer só (HOLANDA, 1988),muito embora no passado as redes desolidariedades fossem exercitadastradicionalmente, a exemplo, dos batalhões.

Intensificação da dependência do mercadotanto de produtos como de insumos. Reconhecema melhoria da qualidade de vida quanto aotrabalho e piora quanto ao consumo, segurançaalimentar “hoje só come brefaia”

e) As Fabriquetas: alternativa e entravesOs entrevistados são unânimes em afirmar que

o destino do leite em Glória sempre estevevinculado à fabricação regional de queijostradicionais. A literatura reforça essa opinião e emdiagnóstico realizado em vários municípios quecompõem as bacias leiteiras do Sertão Sergipanoconstatou-se que de 50% a 70% do leite éabsorvido pelo setor queijeiro (CERDAN et al,1998). Segundo estudo realizado em NossaSenhora da Glória no ano de 2007, estaporcentagem caiu para 40%, indicando umafragilidade na produção artesanal de queijo que

pode trazer prejuízos para o equilíbrio da cadeiaprodutiva na região, já que diminui acompetitividade e, consequentemente, o preçopago pelo litro de leite ao produtor (OLIVEIRA,2007).

As fabriquetas estão em todas as três regiõesidentificadas, mas se concentram na segunda (18)em decorrência da disponibilidade de infra-estrutura e da facilidade de acesso para oscomerciantes. São pequenas unidades informaisde transformação que têm uma importânciafundamental na constituição do tecido socialdaquele território, seja porque prestam serviços,seja porque empregam ou ainda pelo fato deproduzirem produtos que pela sua qualidadegustativa são associados a uma região, condiçãomuito valorizada no atual contexto dereconhecimentos da importância das capacidadeslocais. O conhecimento do queijeiro é repassadode geração para geração, sendo esta a formapredominante do aprendizado para a confecçãodos queijos, principalmente os mais tradicionaisdo Nordeste como o queijo coalho e o requeijão.Portanto, é importante destacar que a emergênciadessas unidades assenta-se na existência de umsaber-fazer local da transformação de leite emqueijo. Essa condição nos faz recordar Sen (1993)e Abramovay (2000) na sua valorização dascapacidades locais como um dos principaispressupostos para a redução da pobreza.

Dentre as práticas das fabriquetas estão acoleta do leite no curral, pagamento semanal emespécie, a devolução de parte (50%) do soro aoagricultor para uma pequena exploração desuínos8, além do atendimento a estes produtoresem qualquer época do ano, independente dovolume produzido, o que diminui à vulnerabilidadedo agricultor nos períodos secos. Em contraste, asindústrias privilegiam maior volume de produçãodiário e regularidade da produção. Sem contatarque a concorrência entre elas contribui para umpreço do leite mais elevado para o produtor, que

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lhe permite intensificar a sua produção (BERTIN,1997).

De acordo com Cerdan & Carvalho Filho (1998)as fabriquetas atendem a um grande numero deprodutores, cada uma processando, entre 1.000 e5.000 litros por dia, num total de 60.000 litrosdiários, gerando em torno de 150 postos detrabalho diretos (CERDAN et al. 1998). Oencerramento das atividades da Parmalat em1998, contribuiu para consolidar o papel dasfabriquetas de queijos como absorvedoras emantenedoras da produção leiteira. Em pesquisarecente realizada no ano de 2006 foramidentificadas somente em Nossa Senhora daGlória 24 fabriquetas processando 50.000 litros deleite por dia proveniente de 1009 produtores(OLIVEIRA, 2007).

Além dos queijos tradicionais, são fabricadosprodutos como a mussarela, ou um produtoespecífico, o queijo pré-cozido9, que apresentamelhor aptidão (consistência) para ser grelhado nabrasa, além de menor perecibilidade, o que lhepermite alcançar mercados mais distantes comoRecife, Campina Grande, Fortaleza e Salvador. Sepor um lado, estes produtos evidenciam a altacapacidade dessas unidades de se adaptarem aocontexto e de encontrar novos mercados, poroutro, trata-se de um mercado muito instável, emque cada fabricante domina a fabricação de váriosqueijos para poder ter maior flexibilidade face àsquedas de preços (CERDAN et al., 1998).

A importância das fabriquetas para odesenvolvimento local e, consequentemente, paraa reprodução social das unidades familiares deprodução, se evidencia como uma unanimidadeentre os diferentes atores entrevistados. Noentanto, há também unanimidade quanto aosproblemas que impedem o reconhecimento legaldestas unidades: problemas de qualidade sanitária(só um pequeno número de fabriquetas atendeaos padrões mínimos exigidos) desde a ordenha ecoleta do leite, passando pelo processamento, até

o final da cadeia de comercialização.Apesar dessas barreiras, uma consulta junto

aos consumidores de Aracaju, realizada porChignier et. al. (1997), revelou a existência de umsegmento de mercado significativo para os queijosartesanais de identidade regional e a possibilidadede aumento de consumo e de agregação de valor,se melhoradas as condições de higiene em todosos segmentos da cadeia produtiva. Esta tendênciafoi particularmente evidenciada por consumidoresmais esclarecidos e de maior poder aquisitivo, quedesejariam, inclusive, poder comprá-los emsupermercados, desde que devidamentecertificados. Por outro lado, os custos de produçãonas fabriquetas são baixos, porque resultam detécnicas/equipamentos artesanais e dainformalidade da produção. A manutenção daestrutura de baixos custos torna-se estratégica aopermitir a comercialização dos queijos nosmercados a preços populares, conferindo, decerta forma, sustentabilidade à atividade (ROCHA,2004).

Apesar das dificuldades que enfrentam quantoao atendimento das exigências legais, nemsempre valorizadoras do saber-fazer local, osatores envolvidos na produção dos queijos têmdemonstrado um potencial para competição nosmercados regionais onde a capacidade deatendimento aos desejos do cliente é umacondição indispensável. Da apreciação de queijosmais calóricos para menos calóricos o mercadotem sinalizado e as fabriquetas se adequam.Importante ator nesse processo são osatravessadores, elo de ligação entre produtores emercados consumidores e responsáveis pelatransmissão dos atuais gostos e preferências(textura, cor, teor de sal, sabor, etc.). Realimenta-se, dessa forma, a relação entre atores diversos eposicionados em espaços múltiplos.

Tem-se, portanto, um ambiente competitivoque envolve a atuação de quatro agentes centrais:produtores de leite, proprietários de fabriquetas,

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atravessadores e consumidores, considerando-seque na última década, tem se valorizado o estudodo conjunto dos processos que vão da produçãoao consumo das diferentes mercadorias (MOTA &SILVA JÚNIOR, 2003). Outras característicasdesse ambiente – informalidade, técnicasartesanais e custos baixos – fazem parte dasestratégias adotadas.

Apesar de Rocha (2004) afirmar que asestratégias das fabriquetas fundamentam-se noenfoque de mercado nos consumidores de rendasmais baixas e, consequentemente, no atendimentodas demandas desse segmento, exigindoflexibilidade e agilidade de produção, acredita-seque a segmentação é um dos guias da atuação,considerando que são produzidos queijos comcertas características para cada grupo deconsumidor. Nas palavras de um proprietário deuma fabriqueta: “esse aqui é para a Bahia quegosta de um queijo mais duro, já esse é para aParaíba que prefere mais branco e com muitosfuros”. Essa capacidade, aliada ao atrelamento doproduto a uma identidade regional, é umdiferencial positivo nos novos tempos em que osconsumidores começam a querer mais do que umproduto exclusivamente saboroso. Nestes termos,o desafio é: como valorizar o saber-fazer local dosagricultores e dos proprietários de fabriquetas numpadrão em que a qualidade seja a tônica aexemplo do que ocorre em outras áreas do Brasil,como em Minas Gerais com o queijo Canastra. Adiversidade das unidades de beneficiamento doleite é importante para o equilíbrio da cadeiaprodutiva, sendo necessária uma legislaçãoadequada para as fabriquetas e produçõescaseiras, de modo a preservar a atividade e,também, estimular a produção do leite de formaartesanal com os devidos cuidados higiênico-sanitários, abandonando assim a clandestinidade,desejo da maioria dos queijeiros de Glória.

Considerações finais e pistas de pesquisa

As principais conclusões mostraram que:1. Há um reconhecimento por parte de todos

os atores de que a pecuária de leite, a produçãode queijo e a criação de porcos sãosimultaneamente dependentes e partes dosistema de produção que constitui a base daeconomia e da vida social local no município deNossa Senhora de Glória. Apesar dessereconhecimento, há uma identificação clara dasdiferenças e complementariedades entre osdiferentes atores que compõem o sistema;

2. A atividade das fabriquetas é considerada aque mais gera empregos e dinamiza a economialocal;

3. O acesso diferenciado (qualidade equantidade ) aos recursos naturais interferesignificativamente na dinâmica da vida local emdecorrência das populações que ali residemserem mais vulneráveis aos efeitos da seca econtarem menos com infra-estruturas que facilitemo processamento do queijo (água) e a chegadados compradores de queijo e de outros produtos;

4. O caráter funcional do associativismo é, aomesmo tempo, criticado por uns e valorizados poroutros. Há um consenso em torno da idéia de queas associações ao intermediarem a relação dosagricultores com o poder público diminui apossibilidade de contato de cada agricultor comagentes externos e, consequentemente, deconsideração das características individuais nodesenvolvimento de ações;

5. As duas regiões localizadas nos extremosleste e oeste concentram os menoresestabelecimentos e os agricultores com menorcapacidade de investimento;

Mota, Sá & Sá

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Notas

¹ A exemplo dos conflitos entre colonizadoresportugueses e holandeses a partir de 1637(Santos & Andrade, 1992).

² De 19 a 21 de outubro de 1999 realizou-seem Aracajú/SE o Workshop “Desenvolvimento doSetor Queijeiro no Nordeste Brasileiro” sob acoordenação da Secretaria de Agricultura doEstado de Sergipe, Empresa de DesenvolvimentoAgropecuário de Sergipe (EMDAGRO), EmbrapaSemi-Árido e Centro Internacional de Cooperaçãopara o Desenvolvimento da Agricultura (CIRAD).

³ Face aos altos preços para instalação dasplantas propostas.

4 Instrução Normativa no. 51, de 18 desetembro de 2002, publicada no Diário Oficial daUnião de 20/09/2002, Seção 1, Página 13 aprovaos regulamentos técnicos de produção, identidadee qualidade do leite tipo A, do leite tipo B, do leitetipo C, do leite pasteurizado e do leite crurefrigerado e o regulamento técnico da coleta deleite cru refrigerado e seu transporte a granel.

5 Agricultores familiares (homens e mulheres);técnicos; organizações dos agricultores familiares;movimentos sociais; ONG´s; instituições queatuam no espaço rural (saúde, educação, ater,pesquisa etc.)

6 Atividades produtivas, recursos naturais,estrutura fundiária, mão-de-obra, mercado ecomercialização, infra-estrutura e problemáticageral

7 Ao saberem que estão dialogando compesquisadores da Embrapa as questões tendem aser valorizadas quanto às atividadesagropecuárias. Mas, pelo lado dos pesquisadores,têm mais desenvoltura para conversar exatamente

sobre estas questões.

8 O que possibilita um aproveitamentoambientalmente menos danoso daquele resíduo;A produção de queijo está sempre associada àsuinocultura (a partir do soro) o que permite, narealidade, assegurar a viabilidade econômicadessas unidades (CERDAN & CARVALHOFILHO, 1998). Esta relação “simbiótica” entrequeijarias e suinocultura, conforme explica o fatode o município de N. S da Glória deter, em 1998,10% do efetivo de suínos do Estado (CERDAN &CARVALHO FILHO, 1998).

9 Normalmente vendido nas praias nordestinaspor vendedores ambulantes que levam consigopedaços de queijo enfiados em palitos de madeirapara serem assados diante do consumidor. Essaprática se generalizou nas praias nordestinas nasduas últimas décadas.

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