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FRANCIELE LOURENÇO A POLÍTICA SALARIAL...

Date post: 07-Oct-2018
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MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO FRANCIELE LOURENÇO A POLÍTICA SALARIAL NAS MONTADORAS RENAULT/ NISSAN E VOLKSWAGEN, NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS, NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO CURITIBA 2011
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MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO

FRANCIELE LOURENÇO

A POLÍTICA SALARIAL NAS MONTADORAS RENAULT/ NISSAN E

VOLKSWAGEN, NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS, N A REGIÃO

METROPOLITANA DE CURITIBA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

CURITIBA

2011

FRANCIELE LOURENÇO

A POLÍTICA SALARIAL NAS MONTADORAS RENAULT/ NISSAN E

VOLKSWAGEN, NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS, N A REGIÃO

METROPOLITANA DE CURITIBA

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, do Programa de Mestrado Acadêmico em Organizações e Desenvolvimento, FAE Centro Universitário.

Orientador: Prof. Dr. Lafaiete Santos Neves

Co-orientador: Prof. Dr. José Henrique de Faria

CURITIBA

AGOSTO 2011

Dedicado as pessoas a quem eu mais amo...minha família!

Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus por me amparar nos momentos difíceis e me dar força interior;

Aos meus pais, Selma e Pedro pelo dom da vida e pelas oportunidades que me proporcionaram, para que eu chegasse até aqui e pudesse realizar o sonho de estudar...sempre;

Ao Prof. Dr. Lafaiete Santos Neves, orientador desta dissertação, por todoempenho, sabedoria, compreensão e, acima de tudo, exigência.

Ao prof. Dr. José Henrique de Faria, co-orientador, pela sua paciência, comentários e franqueza.

Aos membros da banca Prof. Dr. Antoninho Caron; Prof. Dr. Cesar Sanson e a Profa. Dra Sieglind Kindl da Cunha pelos comentários e críticas pertinentes.

A todos os meus amigos que participaram direta e indiretamente.

RESUMO

LOURENÇO, Franciele. A política salarial nas montadoras Renault/Nissan e

Volkswagen, no município de São José dos Pinhais, n a Região Metropolitana de

Curitiba . 113p. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) - FAE

Centro Universitário. Curitiba, 2011.

O presente trabalho tem como problema de pesquisa: “Quais as relações concretas entre

o Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba – SIMEC e as Comissões de Fábrica que

interferiram na política salarial das montadoras Renault/Nissan e Volkswagen, no

município de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba entre os anos de

1990 a 2009. Com o intuito de satisfazer a pesquisa, o objetivo principal será o de ampliar

os debates a respeito da política salarial criada dentro das montadoras Renault/Nissan e

Volkswagen, no município de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba,

bem como identificar o papel da comissão de fábrica e do Sindicato dos Metalúrgicos da

Grande Curitiba – SIMEC, na construção da pauta de reivindicações e nos acordos

coletivos da categoria metalúrgica da indústria automotiva e; Demonstrar lutas

reivindicativas da categoria metalúrgica das montadoras Renault/Nissan e Volkswagen na

busca de conquistas por melhores salários e condições de trabalho para a categoria. A

fim de conhecer os perfis dos trabalhadores do meio automotivo da Região Metropolitana

de Curitiba foram analisados, para fins de acordos salariais, conceitos como perfil,

interesses, atitudes, reações, participação e negociação, visando à sua utilização

aplicada ao estudo da política salarial nas indústrias automotivas. O setor automotivo foi

escolhido por sua importância considerável, neste caso, os avanços salariais históricos,

que servem de exemplo para todo o país, mesmo que estes tenham sido lentos e o

automóvel ser um dos produtos de maior valor agregado pelo consumidor brasileiro. Para

a realização da pesquisa, foi aplicado um questionário qualitativo e quantitativo às

montadoras Renault/Nissan e Volkswagen, cujo critério de escolha para aplicação dos

questionários levou em consideração os trabalhadores de chão de fábrica, que participam

da Comissão de Fábrica nas duas montadoras, devido a esses trabalhadores estarem

acompanhando sistematicamente as negociações salariais e por estarem articulados com

o Sindicato dos Metalúrgicos. Em um segundo momento, também foram aplicados

questionários para os trabalhadores que não pertenciam à Comissão de Fábrica, para

que possam ser confrontados os resultados. O universo utilizado foi de 33 trabalhadores,

divididos em 14 funcionários da Volkswagen e 19 da Renault. Tanto a metodologia

quanto os resultados encontrados poderão contribuir para o sindicato e as comissões de

fábricas, definir estratégias de políticas salariais que satisfaçam os interesses da classe

trabalhadora, de forma rápida e eficiente, reduzindo assim a exploração da força de

trabalho.

Palavras-chave : desenvolvimento; acordos salariais; política salarial, sindicatos e

comissões de fábrica.

ABSTRACT

LOURENÇO, Franciele. The wage policy makers in the Renault / Nissan and

Volkswagen in the city of São José dos Pinhais, in the Metropolitan Region of

Curitiba . 113p. Thesis (MA in Development Organizations) - FAE University Center.

Curitiba, 2011.

The present work is to research problem: "What are the concrete relations between the

United Steelworkers of Curitiba - SIMEC and Ptant Commissions wage policy that

interfered with the automakers Renault / Nissan and Volkswagen in the city of São José

dos Pinhais, in Region of Curitiba between the years 1990 to 2009. DicionárioIn order to

meet the research, the main objective will be to broaden the debate about the wage policy

established within automakers Renault / Nissan and Volkswagen in the city of St. Joseph

of the Pines, in the Metropolitan Region of Curitiba, as well as identifying the role the plant

committee of the Metalworkers Union and the Greater Curitiba - SIMEC in building the list

of demands and the collective agreements of the category of the automotive industry and

metallurgy; Demonstrate the auto workers protest struggles of automakers Renault /

Nissan and Volkswagen in the pursuit of achievement for better wages and working

conditions for the category. In order to know the profiles of workers in the automobile

through the Metropolitan Region of Curitiba were analyzed for purposes of wage

agreements, concepts such as profile, interests, attitudes, reactions, participation and

negotiation in order to use applied to the study of wage policy in the automotive industry.

The automotive sector was chosen for its considerable importance in this case historical

salary advances, which serve as example for the entire country, even if they have been

slow and the car is one of the products with higher added value by Brazilian consumers.

To conduct the survey, a questionnaire was applied to qualitative and quantitative

automakers Renault / Nissan and Volkswagen, whose selection criterion for application of

the questionnaires took into account the shop floor workers who participate in the Factory

Commission in the two automakers, because these workers are systematically monitoring

wage negotiations and are articulated with the United Steelworkers In a second stage,

questionnaires were also applied to workers who were outside the Factory Commission,

that the results can be confronted. The universe was set at 33 employees, divided into 14

employees of Volkswagen and Renault 19.

Both the methodology and the results may contribute to the union and the factory

committees, to define strategies for wage policies that meet the interests of the working

class, quickly and efficiently, thereby reducing the exploitation of the workforce.

Keywords : development; wage agreements, wage policy, trade unions and factory

committees.

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 - CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO PREDOMINANTE EM

CADA FASE HISTÓRICA NO DECORRER DO CAPITALISMO ................................ 23

QUADRO 02 - COMPARATIVO ENTRE A PLANTA DA GM E A PLANTA DA TOYOTA .................. 26

QUADRO 03 - TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS E IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO

PROFISSIONAL ........................................................................................................... 58

QUADRO 04 - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS INTERESSES SINDICAIS ..................................... 65

QUADRO 05 - A SITUAÇÃO DOS MOVIMENTOS GREVISTAS OCORRIDOS ENTRE 1964-

1987 ............................................................................................................................. 68

QUADRO 06 - MUDANÇAS NO MERCADO DE TRABALHO ............................................................. 87

QUADRO 07 - ACORDOS COLETIVOS REALIZADOS ENTRE SMC E INDÚSTRIAS RENAULT

E VOLKSWAGEN-AUDI - PARANÁ: 1998-2004 ......................................................... 95

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO BRASIL ..................................................................... 37

TABELA 02 - TAXA DE PRODUTIVIDADE OFICIAL PARA EFEITO DO REAJUSTE E

VARIAÇÃO DO PIB PER CAPITA (1968-1975). ......................................................... 90

TABELA 03 - PISO SALARIAL MONTADORAS INSTALADAS NA RMC – 1999 A 2009 ............... 106

LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 - VARIAÇÃO DA ESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

E DO MERCADO DETRABALHO .................................................................................. 56

GRÁFICO 02 - A EVOLUÇÃO POR REGIÃO DO RENDIMENTO, DO EMPREGO, DA POBREZA

E DA DESIGUALDADE DE RENDA DE 2003 A 2008 ................................................... 93

GRÁFICO 03 - TEMPO DE EMPRESA COMPLETO EM ANOS ............................................................ 98

GRÁFICO 04 - FAIXA SALARIAL ............................................................................................................ 98

GRÁFICO 05 - RENDA FAMILIAR........................................................................................................... 99

GRÁFICO 06 - SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO AO SALÁRIO ATUAL ...................................................... 99

GRÁFICO 07 - ADEQUAÇÃO ENTRE REMUNERAÇÃO E ATIVIDADE EXERCIDA .......................... 100

GRÁFICO 08 - SEGURANÇA EM RELAÇÃO À ESTABILIDADE DE EMPREGO ............................... 100

GRÁFICO 09 - A RELAÇÃO ENTRE LUTAS TRAVADAS PELO SINDICATO/ DELEGAÇÃO

SINDICAL (COMISSÃO DE FÁBRICA) E A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES

SALARIAIS DENTRO DA EMPRESA. ......................................................................... 101

GRÁFICO 10 - RELAÇÃO ENTRE EXISTÊNCIA DA COMISSÃO DE FÁBRICA E

DO SINDICATO E A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SALARIAIS ..................... 101

GRÁFICO 11 - A IMPORTÂNCIA DO SINDICATO DOS METALÚRGICOS NA EMPRESA ................ 102

GRÁFICO 12 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMBIENTE FÍSICO DE TRABALHO .......................... 102

GRÁFICO 13 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A REMUNERAÇÃO EXERCIDA

POR PROFISSIONAIS DA MESMA ÁREA .................................................................. 103

GRÁFICO 14 - CARACTERIZAÇÃO SOBRE OS BENEFÍCIOS OFERECIDOS PELA EMPRESA

(VALE TRANSPORTE, VALE REFEIÇÃO, PLR, ETC) ............................................... 103

GRÁFICO 15 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O INVESTIMENTO DA EMPRESA

EM TREINAMENTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E

PESSOAL DOS FUNCIONÁRIOS ............................................................................... 104

GRÁFICO 16 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O DIÁLOGO COM OS GESTORES

E/OU COMPANHEIROS DE TRABALHO .................................................................... 104

GRÁFICO 17 - DEVOLUTIVA SOBRE O RECEBIMENTO DE SUGESTÕES DE MUDANÇA POR

PARTE DE SEU CHEFE / GESTOR / GERENTE ....................................................... 105

GRÁFICO 18 - ORGANIZAÇÃO/PAPEL DA COMISSÃO DE FÁBRICA E DO SINDICATO NA

CONSTRUÇÃO DA PAUTA DE REIVINDICAÇÕES E OS ACORDOS

COLETIVOS DA CATEGORIA METALÚRGICA .......................................................... 105

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14

2 OS MODELOS DE PRODUÇÃO E GESTÃO NA INDÚSTRIA AUTOMO TIVA ......... 18

2.1 O NASCIMENTO E A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA .......................... 18

2.2 O MODELO FORDISTA DE PRODUÇÃO E GESTÃO ............................................... 19

2.3 O MODELO TOYOTISTA DE PRODUÇÃO E GESTÃO ............................................. 24

2.4 O MODELO SUECO DE PRODUÇÃO E GESTÃO..................................................... 28

3 A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL ................................................................ 32

3.1 O CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

NO BRASIL .................................................................................................................. 32

3.1.1 A Fase de Expansão da Indústria Automotiva: 1970 – 1985 ................................. 37

3.1.2 A Concentração em São Paulo ................................................................................. 40

3.1.3 A Organização do Setor Metalúrgico: as Autopeças ............................................. 43

3.2 O RESSURGIMENTO DO SINDICATO DOS METALÚRGICOS: 1977 – 1988 ......... 45

3.2.1 A Nova Fase da Indústria Automotiva: 1990 – 1999 ............................................... 48

3.2.2 O Modelo de Produção Flexível nas Indústrias Automo tivas ............................... 50

4 A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO PARANÁ .............................................................. 55

4.1 O SURGIMENTO DA VOLVO...................................................................................... 59

4.2 A EXPANSÃO RECENTE: RENAULT, VOLKSWAGEN E CHRYSLER ..................... 60

4.3 OS SINDICATOS E AS COMISSÕES DE FÁBRICA NO BRASIL .............................. 63

4.3.1 A Relação dos Trabalhadores com as Comissões de Fáb rica e o Sindicato

no Brasil e Paraná ...................................................................................................... 65

4.3.2 O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba – S MC e as Comissões

de Fábrica ................................................................................................................... 68

5 TRABALHO, SALÁRIOS, E POLÍTICA SALARIAL NA INDÚSTRI A

AUTOMOTIVA ............................................................................................................. 76

5.1 O SALÁRIO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO ......................................................... 76

5.1.1 As Transformações Político-Econômicas do Salário ............................................ 82

5.2 A POLÍTICA SALARIAL NO BRASIL ........................................................................... 89

5.3 A POLÍTICA SALARIAL NO PARANÁ ......................................................................... 94

6 RESULTADOS E MÉTODOS ...................................................................................... 97

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 107

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 110

14

1 INTRODUÇÃO

A abertura comercial dos anos 90 criou uma realidade que permeia

profundas transformações na economia global. A característica inicial desse

processo foi o imenso impacto que a mudança dos processos de produção –

fordista para toyotista, causaram principalmente na força de trabalho. Essas

mudanças foram determinantes para a expansão da indústria e dos direitos

trabalhistas da categoria.

A indústria automobilística sem dúvida nenhuma se tornou a “indústria das

indústrias” e, nesses últimos anos percebemos duas grandes e fundamentais

mudanças no contexto produtivo – as formas de produção e a maneira como

pensamos, compramos e como vivemos, muda-se o significado das carreiras

profissionais, assim como sua valorização.

Novos significados e sinônimos são apresentados e as lutas sindicais,

trabalhistas e patronais têm sido travadas em relação às novas exigências de

mercado, modificadas constantemente pela condição de renda do trabalhador

e/ou do consumidor, caracterizando o aumento/redução do desenvolvimento

econômico.

A renovação das sociedades e das totalidades culturais sustenta, a longo

prazo, o desenvolvimento econômico, isto é, mantém a mudança das estruturas

mentais e dos hábitos sociais e as transformações institucionais que permitem o

crescimento do produto real global e que traduzem avanços particulares em um

progresso da totalidade do social (PERROUX et al., 1967).

Todas essas mudanças citadas acima acabam incrementando o consumo

e as condições materiais da vida, essas condições são ampliadas à medida que

aumenta o progresso da totalidade do social.

E ainda: o que se propõe a esses conjuntos de mudanças não são então,

unicamente, a elevação do nível de vida e o enriquecimento, mas a vantagem e a

superioridade coletiva de uma nação, averiguada pelo novo sentido histórico da

adaptação da força de trabalho.O esforço face às lutas por novas propostas

salariais, seus desdobramentos econômicos e sua contribuição para a redução de

15

desigualdades é objeto desta dissertação, buscando contextualizar dentro da

conjuntura a instalação da indústria automobilística no Paraná e suas

negociações salariais.

Este estudo justifica-se pelas estratégias e mudanças no processo de

trabalho e das relações com os trabalhadores, tais como: qualificação do

trabalhador, motivação, modificações da jornada de trabalho e banco de horas,

Participação sobre Lucros e Resultados-PLR, treinamento e trabalho em equipe,

política salarial, benefícios ofertados etc.

De acordo com entrevista realizada com o Sr. Jamíl Dávila, Secretário

Geral do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC):

O mesmo reajuste nas montadoras, pede-se nas auto-peças, além de ser uma negociação difícil, as montadoras não concordam em padronizar os acordos; quando os trabalhadores metalúrgicos do Estado do Paraná fazem greve, os outros estados tiram proveito. Além disso, os salários altos não ficam com a mão-de-obra local (DÁVILA, 2003).

A importância de estudar e comparar as políticas salariais entre

Renault/Nissan e Volkswagen se fundamenta no fato de que a evolução da

Política Salarial se deve pela organização e luta dos trabalhadores,

principalmente a partir do ano de 2004, que foi quando as greves começaram a

aconteceram todos os anos. Por conta da data-base, esta está acordada da

seguinte forma: montadoras, no mês de setembro; autopeças, no mês de outubro,

e metalúrgicas, no mês de dezembro.

Assim, com o intuito de alcançar o objetivo deste trabalho, avaliando a

eficiência das mobilizações trabalhistas em relação às conquistas obtidas pela

influência das comissões de fábrica e do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande

Curitiba sobre os trabalhadores, será realizado um estudo de caso único, de

natureza exploratória-descritiva, com abordagem quantitativa e qualitativa por

meio de questionários estruturados, observação e análise de documentos com o

objetivo de responder ao problema de pesquisa: “Quais as relações concretas

entre o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba – SMC e as Comissões de

Fábrica e como essas interferiram na política salarial das montadoras

Renault/Nissan e Volkswagen, localizadas no município de São José dos Pinhais

na Região Metropolitana de Curitiba, entre 1999 e 2009?.”

16

Para a realização deste estudo, será utilizada a Pesquisa Bibliográfica,

como forma de roteiro de estudo, e o Estudo de Caso, visto como o detalhamento

do estudo.

De acordo com Yin (2001, p.54),

Nas ciências, durante muito tempo, o estudo de caso foi encarado como procedimento pouco rigoroso, que serviria apenas para estudos de natureza exploratória. Hoje, porém, é encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos.

Por se tratar de um estudo sobre Política Salarial, a pesquisa será

histórico-dialética - abordagem metodológica sobre a sociedade, economia e

história e, além disso, da repartição do produto entre os grupos que compõem a

categoria metalúrgica da indústria automotiva.

No levantamento histórico, será identificada a construção da pauta de

reivindicações e os acordos coletivos da categoria metalúrgica da indústria

automotiva, passando também por uma análise documental, na qual será

realizado um levantamento sobre as lutas reivindicativas da categoria metalúrgica,

seguido de uma análise bibliográfica que abordará os conceitos da teoria

existente sobre o tema.

Para a realização da pesquisa, foi aplicado um questionário qualitativo e

quantitativo nas montadoras Renault/Nissan e Volkswagen, cujo critério de

escolha para aplicação dos questionários levou em consideração os

trabalhadores de chão de fábrica, que participam da Comissão de Fábrica nas

duas montadoras; devido a esses estarem acompanhando sistematicamente as

negociações salariais e por estarem articulados com o Sindicato dos

Metalúrgicos.

Em um segundo momento, também foram questionados os trabalhadores

que não pertenciam à Comissão de Fábrica, para que possam ser confrontados

os resultados. A amostra utilizada na pesquisa é de 33 funcionários, sendo 14

funcionários da Volkswagen e 19 da Renault.

O interesse pela investigação qualitativa ou pela preocupação metodológica centrada no controle experimental é determinado pela concepção epistemológica acerca da relação entre sujeito e objeto. O pressuposto positivista-empirista da realidade constituída por fatos puros que se refletem como se sempre estivessem ali e o pesquisador apenas recolhe e descreve o objeto seguramente

17

não encontrará sua coerência metodológica na investigação qualitativa. Toda interpretação pelo fato de sê-la, nem reflete nem traduz a realidade (SILVA; GODOI; MELLO, 2006, p.92).

A distinção popular quantitativo / qualitativo está enraizada simplesmente

na separação entre representações numéricas e representações não-numéricas

(STABLEIN, 2001 citado por SILVA; GODOI; MELLO, 2006).

Por fim, o propósito da pesquisa será atendido pelos seguintes objetivos:

geral e específicos: analisar a política salarial das montadoras Renault/Nissan e

Volkswagen, no município de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de

Curitiba; Identificar a organização/papel da comissão de fábrica e do sindicato

SMC na construção da pauta de reivindicações e os acordos coletivos da

categoria metalúrgica da indústria automotiva e; Demonstrar as lutas

reivindicativas da categoria metalúrgica das montadoras Renault/Nissan e

Volkswagen.

A dissertação está organizada em cinco capítulos.

O objetivo do capítulo 1 é analisar os modelos de produção e gestão na

Indústria Automotiva, o nascimento da Indústria Automotiva, o modelo Fordista,

Sueco e Toyotista.

No capítulo 2, será exposta a Indústria Automotiva no Brasil, seu contexto

histórico e nascimento no Brasil; a fase de expansão e organização e, por fim, a

interferência dos sindicatos e comissões de fábrica.

No capítulo 3, será abordada a Indústria Automotiva no Paraná, bem como

o surgimento das montadoras, sua expansão e a relação dos trabalhadores com o

sindicato e comissões de fábrica no Brasil e no Estado.

O capítulo 4 irá abordar os seguintes temas: Trabalho, Salários e a Política

Salarial na Indústria Automotiva, enfim, descrever o Salário e as relações de

trabalho, a Política Salarial no Brasil e a Política Salarial das montadoras.

Finalmente, no capítulo 5, serão demonstrados os Resultados da pesquisa.

18

2 OS MODELOS DE PRODUÇÃO E GESTÃO NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

2.1 O NASCIMENTO E A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

Em 1890, os automóveis eram montados por artesãos habilidosos, que

montavam cuidadosamente à mão um pequeno número de carros – conhecendo

assim as minúcias e os princípios da mecânica e dos materiais com os quais

trabalhavam. As peças eram montadas uma a uma até a conclusão do veículo,

que no início era composto por um motor na frente, tracionando as rodas

traseiras, com passageiros sentados em fileiras atrás dele. Sem dúvida nenhuma,

foi a manufatura que criou condições para a introdução das máquinas.

A dificuldade estava em enquadrar os moldes da produção, pois, como a

concepção final do carro era realizada manualmente, os carros sempre se

diferenciavam uns dos outros – ajustando-se assim às exigências individuais do

comprador. Fetiches como velocidade e personalização não eram exigências já

que o “protótipo” era de fácil manutenção e dirigibilidade.

Em 1903, Henry Ford começa demonstrar seus primeiros esforços em

relação às mudanças nas plataformas de montagens; o trabalho antes minucioso

e exclusivo de um só trabalhador começa a permitir um processo mais eficiente.

Mesmo que a maioria dos trabalhadores não falasse a mesma língua, as

transformações de Ford resultaram em um trabalhador, que trabalhava de cabeça

baixa, e que possuía uma única tarefa: ajustar duas porcas em dois parafusos ou,

talvez, colocar uma roda em cada carro. O restante do processo era realizado por

outras pessoas, logo o tempo de produção era reduzido e, além disso, havia o

monitoramento do trabalhador e a economia da mão-de-obra.

Dada as condições de trabalho, surgiu um batalhão de trabalhadores

indiretos pouco qualificados: mecânicos, inspetores de qualidade, faxineiros,

especialistas em reparos, além do supervisor e engenheiro de produção.

19

Dessa forma, o modelo Taylorista - sistema semi-artesanal sofre algumas

mudanças e passa a ser a base para a introdução do modelo Fordista de

produção e gestão.

2.2 O MODELO FORDISTA DE PRODUÇÃO E GESTÃO

Vários acontecimentos de importância histórica transformaram o cenário

social da vida humana como os modos de produção, as transformações no

trabalho e do mercado de trabalho, os hábitos e costumes, a cultura entre outros.

Se houve alguma transformação na economia política do capitalismo no final do século XX, cabe-nos estabelecer quão profunda e fundamental pode ter sido a mudança. São abundantes os sinais e marcas de modificações radicais em processos de trabalho, hábitos de consumo, configurações geográficas e geopolíticas, poderes e práticas do Estado etc. (HARVEY, 2008, p. 117).

“Nenhuma idéia surge do vácuo. Pelo contrário, novas idéias emergem de

um conjunto de condições em que as velhas idéias parecem não mais

funcionarem” (WOMAC; JONES; ROOS, 1992, p.7).

Em Marx, o que apreendemos são os fenômenos da “apendicização” do homem à máquina, da objetivação do processo de trabalho, da transformação do processo de trabalho em uma aplicação tecnológica da ciência, da transformação do trabalho vivo em coisa supérflua (NETO, 2003, p.18).

Ou seja, a divisão do trabalho cria condições para o surgimento da

maquinaria e para a perda do conteúdo do trabalho, que passa a se preocupar

com os mecanismos coletivos e não mais com o ofício manual.

A dificuldade estava em enquadrar os moldes da produção, pois como a

concepção final do carro era realizada manualmente, os carros sempre se

diferenciavam uns dos outros – ajustando-se assim às exigências individuais do

comprador.

Dadas essas condições, a manufatura veio a se desenvolver, sendo assim,

Neto (2003, p.19) observa que:

Ela é uma etapa necessária do trabalho sob a forma burguesa, e o seu desenvolvimento é a máquina, que é, ao mesmo tempo, a sua negociação: a máquina surge da manufatura e a nega, arrancando a o instrumento de trabalho das mãos do trabalhador e colocando-o em um mecanismo, fazendo com que o processo de produção seja agora uma aplicação tecnológica da ciência.

20

Dessa forma, o Fordismo acaba por limitar a aumento da produtividade,

quando limita a potencialidade da divisão do trabalho e a interdependência do

trabalho, dado o fato que Ford considera o aumento a produtividade social do

trabalho mediante divisão de tarefas. O desdobramento histórico do

desenvolvimento da manufatura se deu da seguinte forma:

A data inicial simbólica do Fordismo deve por certo ser 1914, quando Henry Ford introduziu seu dia de oito horas e cinco dólares, como recompensa para os trabalhadores da linha automática de montagem de carros, que ele estabelecera no ano anterior em Dearbon, Michigan. Mas o modo de implantação geral do fordismo foi muito mais complicado do que isso (HARVEY, 2008, p.121).

Mesmo a data de o Fordismo ser 1914, já se sabia que o fordismo, ou

melhor, a produção artesanal já tinha se iniciado anteriormente com as primeiras

produções de veículos, mesmo que esses tenham sido considerados apenas

como “esforços”.

Os primeiros esforços de Ford na montagem de seus carros, começando em 1903, compreendiam a introdução das plataformas de montagem, sobre os quais um carro inteiro era construído, geralmente por um só ajustador. (...) Cada trabalhador montava grande parte de um carro, antes de prosseguir com o próximo (WOMACK; JONES; ROOS, 1992, p.15).

O primeiro passo dado por Ford para tornar esse processo mais eficiente

constituiu em levar as peças a cada estação de trabalho, permitindo aos

montadores ficarem no mesmo local o dia todo.

Em 1908, tendo Ford conseguido a perfeita intercambialidade das peças,

decidiu que o montador executaria uma única tarefa, movimentando-se de veículo

para veículo através da área de montagem.

Dadas as condições de trabalho, surgiu um batalhão de trabalhadores

indiretos pouco qualificados: mecânicos, inspetores de qualidade, faxineiros,

especialistas em reparos, além do supervisor e engenheiro de produção.

Nesse novo sistema, o trabalhador do chão de fábrica não tinha uma

carreira pela frente, podendo no máximo chegar a supervisor. Mas, nas novas

profissões de engenharia, havia uma carreira a ser escalada.

Ford tinha em mente produzir o carro completo num só lugar e vendê-lo

para todo o mundo. Mas os sistemas de transporte daquela época não eram

21

capazes de deslocar grande número de automóveis prontos de maneira

econômica e sem danificá-los.

Vários problemas surgiram na época, mas Ford não se preocupou de fato

com a psicologia do consumidor, o produto não se adaptava a todos os mercados

do mundo, os pesados impostos sobre a gasolina, a reclamação por carros

menores, o aumento das tarifas sobre peças e veículos acabados da Alemanha e

França, entre outros.

O Fordismo é um sistema racional de produção em massa, que transformou radicalmente a indústria automobilística na primeira metade do século XX. Uma das marcas do Fordismo foi o aperfeiçoamento da Linha de Montagem. Com isto, os automóveis eram construídos em esteiras rolantes que funcionavam enquanto os operários ficavam, praticamente, parados nas “estações”, quando realizavam pequenas etapas da produção. Desta forma não era necessária quase nenhuma qualificação dos trabalhadores (MANSUR, 2007, p.01).

Ford promoveu novas tecnologias para o período histórico, ou seja, criou o

mercado de massa para os automóveis. Seu grande objetivo era o de ter um

produto muito barato, para que todos pudessem comprá-lo.

Em 1908, apresentou o famoso Modelo T, o sucesso desse automóvel foi

tão grande que, num período de 12 meses, foram vendidas 10 mil unidades. Com

certas inovações, frente às demais marcas, foi o primeiro automóvel com volante

à esquerda. Também, era equipado com um câmbio de engrenagens e com duas

marchas para a frente e uma à ré, além do acelerador.

O slogan de Ford era: - “Ford é o melhor automóvel, não porque é mais

barato, mas porque vale mais” (MANSUR, 2007, p.1), ou seja, oferece mais

utilidades para o usuário, pois o valor é atribuído pelo consumidor e não pela

fábrica.

Dessa forma, obteve sucesso naquela época, mesmo tendo uma produção

relativamente reduzida e com preço baixo. Ford idealizou sua produção

baseando-se no trabalho dos empacotadores de carne, em Chicago, onde os

pedaços de carne se moviam em ganchos, que corriam pela Linha, para que a

carcaça do animal fosse desmontada. Assim, juntando com as teorias do

Taylorismo, Ford pensou na reversão do processo, ou seja, a Linha de Produção

para montagem de automóveis.

22

A produção era estendida ano a ano, mas parte de seu grande sucesso

ocorreu quando a produção fazia com que cada peça chegasse ao trabalhador

que tinha função específica, proporcionando a redução de tempo de montagem

de cada veículo.

Com isso, a partir de 1913, a produção Fordista fez com que cada

automóvel fosse montado em 93 min. Nesse contexto, em 1914, Ford lançou sua

mais famosa frase: “Quanto ao meu automóvel, as pessoas podem tê-lo em

qualquer cor, desde que seja preta!” Acontece que, para a Linha de Produção

Fordista, a cor preta é o que secava mais rápido (MANSUR, 2007, p.1).

A partir de 1915 o custo do Modelo T passou de US$ 850,00 para US$

490,00, no entanto, a Linha de Produção Fordista era entediante. Com isso, por

anos, cada trabalhador estava apenas numa execução de tarefas. Mas Ford,

tomando consciência disso, em 1914, lançou o Cinco Dólares/dia; baixou de 10

horas para 8 horas/dia, também criou as regras de convivência para seus

trabalhadores. E, em 1924, para alegria dos consumidores, o Modelo T custava

US$ 290,00 (MANSUR, 2007, p.1).

Vitórias em cima de vitórias se sucederam e, em 1955, a indústria

automobilística se difundiu; três grandes empresas dominavam o mercado – Ford,

General Motors e Chrysler.Essas empresas correspondiam a 95% de todas as

vendas e 80% de todos os carros vendidos. Todos os vestígios de produção

artesanal, que outrora dominara toda a indústria, haviam desaparecido nos

Estados Unidos.

A partir desse momento, a produção em massa foi muito além dos

domínios nativos da Ford, difundindo-se em outras companhias. Essas ofereciam

produtos bem diversos do carro e pick-ups.

Eles também se concentravam – diferentemente de Detroit nessa época – na introdução de novos elementos em seus produtos. As inovações européias dos anos 60 e 70 incluíam a tração dianteira, freios a disco, injeção de gasolina, carrocerias monobloco, transmissões de cinco marchas e motores altamente possantes em relação ao peso (...). Os norte-americanos, em contraposição, lideravam nos itens de conforto: sistemas de ar- condicionado, direções hidráulicas, aparelhos de som stereo, transmissões automáticas e possantes motores (porém suaves) (WOMACK; JONES; ROOS, 1992, p.34).

As indústrias automobilísticas começavam a experimentar certo sabor de

crise do sistema, a começar pelo trabalhador, o trabalho de produção em massa

23

era provisório e muitas vezes essas pessoas recorriam à abertura de seu próprio

negócio, insatisfeitos e inquietos com a situação de trabalho.

Todo esse momento de instabilidade foi causado pela flexibilização da

produção da empresa General Motors, lançando diversos modelos de veículos e

de atuação da empresa baseada na gestão profissionalizada. Com isso, a Ford

perdeu espaço, logo veio a crise do petróleo e a entrada de competidores

japoneses no mercado automotivo, fundamentando ainda mais a crise do

fordismo.

Por mais que os salários fossem crescentes e a jornada semanal de

trabalho em constante diminuição, as empresas já não estavam suportando - a

estagnação da produção em massa dava início a uma nova maneira se produzir,

que chamamos de produção toyotista, também chamada de enxuta.

QUADRO 01 - CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO PREDOMINANTE EM CADA FASE HISTÓRICA NO DECORRER DO CAPITALISMO

Fases Grande Indústria Organização Científica do

trabalho

Produção Flexível ou Enxuta

Momento Histórico Séc. XVIII (1830-1880) Séc.XX (1910-1950) Séc.XX (Após 1970)

Caráter da Mudança Qualitativo (meios de trabalho

Qualitativo (linha de produção)

Qualitativo (Células de produção)

Atividade Divisão de trabalho entre máquinas

Produção em massa Produção em células

Objeto de Trabalho Aperfeiçoamento Controlado pela fábrica Controlado pela fábrica/ Terceirizado

Meio de Trabalho Da máquina-ferramenta à máquina universal

Máquina universal. Padronização da maquinaria

Tecnologia de Base microeletrônica.

Produto Aperfeiçoamento Produção em série Produção flexível

Condições Materiais de Trabalho

Redução relativa ao aumento excessivo da escala

Ditada pela produção. Dependente das condições gerais da acumulação

Ditada pela demanda. Manufatura Integrada por Computação

Força produtiva Nova Concentração entre máquinas aparece como necessária

Organização do Trabalho, da Produção e Tecnologia de Gestão

Microeletrônica, Sistemas Gerenciais, Gestão Sofisticada do Trabalho

Controle e Propriedade de Capital

O capital. Aparecimento do técnico, do empresário e da gerência

Gestão Profissional, Sociedades por ações, Aparecimento dos CEOs (Chief Executive Officer)

Gestão Profissional. Sociedade por ações. Participação em Lucros e Resultados

Classe Operária

Operário especializado. Gradual desaparecimento do controle subjetivo das máquinas e equipamentos. Surgimento do supervisor

Trabalhadores operários. Elite operária. Categorias diferenciadas de trabalhadores por tipo de indústria

Trabalhadores operários. Trabalhadores Qualificados. Trabalhadores do conhecimento. Trabalhador diferenciado por tipo de tecnologia de produção

Mecanismo Predominante de Extração de Mai-valia Relativa (subsunção real) Relativa (subsunção

real)

Relativa (subsunção real e subsunção real de caráter subjetivo)

Vantagens das Passagens Nivelamento dos diferentes trabalhadores concretos

Padronização da produção

Integração da rede de fornecedores (cadeia produtiva) em tempo real

FONTE: Adaptado de Faria (2009, p.52-53)

24

2.3 O MODELO TOYOTISTA DE PRODUÇÃO E GESTÃO

Os obstáculos não foram poucos quando os fabricantes japoneses de

autoveículos resolveram, no imediato do pós-guerra, dedicar-se mais ao mercado

civil de caminhões e à ampliação da produção de automóveis (NETO, 2003, p.77).

Em razão de algumas características que se revelaram como impasses à

adaptação às tecnologias e às exigências, as economias de escala foram

substituídas pela flexibilidade. Flexibilidade esta que ajusta a oferta à demanda,

eliminando estoques e reduzindo o tempo de fabricação.

Logo, uma “nova civilização” estava emergindo em nossas vidas, a qual

trouxe consigo novos modos de produzir, organizar e de viver da sociedade.

Emmeados da década de 1960, conseguimos perceber, claramente, que os

efeitos da automação surgiram de forma exageradaprincipalmente nos EUA, os

trabalhadores viram-se acuados pelo desemprego tecnológico.

As mudanças tecnológicas já vinham ameaçando milhões de trabalhadores

americanos, logo, as empresas tinham como objetivo aumentar a produtividade,

reduzir os custos com mão-de-obra e favorecer as negociações.

A mão-de-obra não-qualificada e semiqualificada executavam os serviços

de acordo com o sistema de administração científica de Frederick Taylor –

separação do trabalho físico do trabalho mental. Mesmo na era da produção em

massa padronizada, o processo produtivo era baseado na divisão do trabalho e

na dependência do controle absoluto por parte da gerência.

Em 1980, o poder americano foi desafiado por novos concorrentes

armados de novas tecnologias de informação, refletidas pelo modelo de produção

pós-fordista.

Em decorrência das mudanças exigidas pelo mercado e pelo nível de

concorrência que vinha aumentando com o passar do tempo, viu-se a

necessidade de implantação de um novo sistema que atendesse às expectativas

de forma rápida e eficiente.

Foi nos anos 80 que o toyotismo conseguiu alcançar um poder ideológico e estruturante considerável, passando a representar o “momento predominante” do complexo de reestruturação produtiva na era da mundialização do capital. Assumiu, a partir daí, a posição de objetivação universal da categoria da

25

flexibilidade, tornando-se valor universal para o capital em processo (ALVES, 2000, p.29).

Mas não bastava somente implantar mudanças baseadas na economia

americana, dessa necessidade criou-se o sistema Toyotista - com intuito de

lançar no mercado um modo de produção enxuta, baseada em novas técnicas

gerenciais acompanhadas de um novo maquinário.

A Toyota é uma companhia japonesa – localizada em ilha de Nagoya. A

Toyoda, ou melhor, Toyota, depois de escolher um novo nome a companhia que

de início tinha como significado japonês – “arrozal abundante”, idealizou-se a

famosa empresa de produção flexível, os responsáveis: Taiichi Ohno e Eiji

Toyoda.

Por vários anos, sua força de trabalho era composta por agricultores

denominados “bando de caipiras”, no entanto, hoje, é considerada uma das

empresas mais eficiente e de melhor qualidade do mundo.

De uma simples empresa têxtil, a Toyota passou a ser especialista em

caminhões militares e, por fim, na fabricação em larga escala de carros e

caminhões comerciais, porém se deparou com uma série de problemas. Abaixo,

alguns dos problemas encontrados.

O mercado doméstico era limitado; havia uma vasta demanda por

determinadas gamas de veículos – adequação de consumo; a posição dos

trabalhadores foi alterada – inserção de leis trabalhistas e apoio sindical;

necessidade de capitais e trocas comerciais - o mundo exterior estava repleto de

concorrentes dispostos a defender seus territórios.

A tecnologia, por ser a geradora da mudança, abala os alicerces da

sociedade, inclusive a conduta individual, problema que acaba colocando o

indivíduo, e às vezes a própria nação, dentro de um clima de incertezas e

ansiedades (OLIVEIRA, 1987, p.19).

A história mostra que, em todas as épocas, a tecnologia exerceu um

verdadeiro fascínio sobre o homem. Não sem razão, pois grandes transformações

experimentadas pela humanidade estão associadas, intimamente, à descoberta

de novos produtos ou processos de produção (CASTOR, 1983, p.40).

26

Dessa forma, o Toyotismo, implantado nas décadas de 50 a 70, surge

como nova organização do trabalho, que pareceu ser tão competitiva quanto a

Ford. Em respeito ao novo modelo de organização produtiva, Piore e Sabel (1984,

p.181) citado por Caron (2009):

Assim, as revoluções tecnológicas recentes provocam uma transformação do modelo de produção taylorista-fordista, baseado na produção em massa, para um modelo alternativo de especialização flexível, que incorpora com mais massa, para um modelo alternativo de especialização flexível, que incorpora com mais facilidade e rapidez as invenções e inovações e que, por ser mais flexível em termos de máquinas, produtos e trabalhadores, responde com maior eficiência e eficácia as constantes mudanças das técnicas e processos de produção e as novas exigências dos consumidores.

As revoluções nas fábricas só têm utilidade se disponíveis para todos. A

montagem de veículos de tamanhos diversos e com diferentes equipamentos

opcionais, de acordo com a necessidade dos consumidores reflete suas

mudanças no modo de produção. Percebemos a transformação através do

quadro comparativo abaixo:

QUADRO 02 - COMPARATIVO ENTRE A PLANTA DA GM E A PLANTA DA TOYOTA A Planta da General Motors em Framingham versus a Pla nta da Toyota em Takaoda, 1986

GM Framingham Toyota Takaoka

Horas Brutas de Montagem por Carro 40,7 18

Horas Ajustadas de Montagem por Carro 31 16

Defeitos por Montagem por 100 Carros 130 45

Espaço de Montagem por Carro (m2) 0,75 0,45

Estoques de Peças (média) 2 semanas 2 horas

FONTE: Womack, Jones e Roos (1992, p.71)

Takaoka era quase duas vezes mais produtiva, e três vezes mais precisa

do que Framingham, para o mesmo conjunto de atividades padrão em nosso

carro padrão. Em termos de espaço de fabricação, era 40 por cento mais

eficiente, e seus estoques correspondiam a uma mínima fração dos de

Framingham (WOMACK; JONES; ROOS, 1992, p.70).

Podemos perceber no quadro acima a adaptação das empresas à nova

forma de organização, ou seja, produzir a partir do que for consumido - Just in

time. O novo sistema Just in time, de estoque zero, acaba por combater

desperdícios como:

27

- Flexibilidade – relação entre os trabalhadores, multi-funcionalismo,

redução de tempo por meio da automatização;

- Melhorias na logística - transporte, produção, estocagem e controle de

qualidade;

- Implantação do Kanban - placa que indica a peça, ou elemento, à qual

está ligada, painel de peça reserva para o carro que está sendo

montado.

O principal objetivo do sistema era produzir muitos modelos diferentes da

mesma linha de montagem. Para completar o ciclo, outros tipos de relação são

necessários à adaptação desse sistema, como: proximidade dos fornecedores

(proximidade de 20km); vantagens dos fabricantes na fixação de preços

garantindo a concorrência; redução da burocracia; provoca variações da

demanda; integração entre trabalho e trabalhadores - caracterizado pelos cinco

zeros: Zero de atrasos; Zero estoques; Zero defeitos; Zero panes; Zero papéis.

Enfim, a produção Toyotista engloba todas as atividades desde a alta

gerência, passando pelos trabalhadores e os outros atores participantes. A

qualidade, o custo reduzido, o aumento da produção e o estoque zero são alguns

dos pontos favoráveis a esse sistema.

E assim, a saturação de mercado e a crise econômica japonesa foram

enfrentadas, e as organizações foram se adaptando às mudanças tecnológicas

com flexibilidade e integração no sistema de produção. Para tal, a Toyota, ao

contrário da Ford, preferiu usar em suas fábricas máquinas simples, confiáveis,

que não acarretassem pane. Não quis apostar apenas no uso de máquinas

sofisticadas inteiramente robotizadas. Isso fez com que a Toyota se tornasse um

importante modo de produção para todas as organizações e uma nova forma de

opção para os consumidores.

Gounet (1999) afirma que: “Afinal o grande objetivo dos capitalistas, além

de aumentar a exploração dos operários, seria vencer a concorrência. Por isto

buscavam os métodos mais eficientes. Se ele não o faz será abatido por seus

rivais que racionalizarão a produção.”

28

O que Gounet (1999) quer dizer é que: com o advento da modernidade e

da tão em voga globalização, as mudanças na intimidade e na vida das pessoas

parecem constantes. Nesse contexto, duas características polares passam a

permear todos os aspectos da vida cotidiana: confiança e risco.

A confiança estaria baseada em analisar o que é verdadeiro, em

contrapartida tem-se o risco, o qual pode ser traduzido pelos fatores que se

opõem à realização de certo objetivo.

Em meio à confiança e ao risco, o modelo flexível se fez famoso e importante

para a economia a partir de 1970, fazendo com que a “economia” por si

descobrisse quão importante e necessária era a reforma produtiva. Ao mesmo

tempo em que geramos novos produtos também aumentamos o desejo e a

necessidade de consumo por parte da sociedade. O ciclo está formado, e os

indivíduos ficam cada vez mais dependentes dos produtos e das inovações

tecnológicas.

2.4 O MODELO SUECO DE PRODUÇÃO E GESTÃO

O período da década de 70 e o início dos anos 80 trouxeram muitas

mudanças, influenciadas pelo modelo japonês de produção. Esse rompimento de

paradigma trazia consigo o estabelecimento de tarefas individualizadas, a divisão

do trabalho e a padronização dos métodos e a nova situação dos postos de

trabalho.

O Brasil teve o primeiro impulso desse novo modelo a partir dos anos 80, já

que era um dos países que mais aceitava o novo modelo, e a aceitação foi

aumentando com o passar dos anos.

Com isso, surge o Modelo Sueco de Produção, ou também chamado de

Volvismo- sistema voltado basicamente à participação do funcionário.

Sobre a Participação, Motta (1983) citado por Faria (2009, p.78) argumenta

que:

Participação é um conceito ambíguo, que reflete múltiplas realidades, pois assume tantos significados quanto os contextos específicos nos quais se desenvolve. Referindo-se a uma proximidade com o poder, a participação precisa ser vista ‘em termos de questões técnicas, organizacionais, bem como já

29

adianta que a maior parte das formas participativas se restringe ao nível técnico’. Ao nível técnico ou econômico, apontado por Motta, é necessário acrescentar os níveis jurídico-político e ideológico, que formam o quadro geral onde o processo de participação ocorre.

A participação na gestão do trabalho implica em definir a própria gestão, já

que o capitalismo impõe uma rígida estrutura hierárquica.

Segundo Fleury e Fischer (1987, p.181) “A grande invasão japonesa e boa

parte da discussão sobre o uso de modelos participativos nos locais de trabalho

foram devidos à introdução e difusão dos círculos de controle de qualidade

(CCQ)”.

Esse programa se resumia em grupos de funcionários que se reuniam para

analisar e propor ideias em busca de melhorias e modificações no sistema

operacional da empresa. Vale lembrar que as mudanças não alteravam a

estrutura organizacional e não era considerado um trabalho em grupo.

Sobre o funcionamento dos círculos de controle do CCQ, Fleury e Fischer

(1987, p.182) enfatizam que:

Basicamente, os círculos reúnem-se para levantar um problema, analisá-lo e propor soluções, consolidando o trabalho numa espécie de projeto escrito. Todas as atividades são norteadas por uma metodologia própria, ensinada aos circulistas. Essa metodologia caracteriza-se por uma abordagem atomística (estudo das partes), sendo uma simplificação de técnicas estatísticas, de análise de problemas e racionalização do trabalho, tradicionalmente utilizadas pela engenharia de produção”.

O interessante é que o CCQ não altera o padrão tradicional, mantém

simples e individualizado o planejamento e a execução de tarefas, podendo a

gerência substituir rapidamente os operários e, além disso, a opinião dos

trabalhadores é “mediada” pela gerência, e esta é controlada.

Sendo o CCQ um modelo que não altera a organização e administração do

trabalho, de forma que haja a descentralização do poder, entra em cena o Just in

time/ Kanban.

De acordo com Fleury e Fischer (1987, p.190-191):

O sistema Just in time/kanban é associado a uma política de redução do estoque de matérias-primas através de sua entrega em intervalos e lotes menores. Na realidade, o sistema é muito mais abrangente do que essa característica “externa”. Internamente à fábrica, há mudanças do trabalho e no sistema de informações. (...) Just in time seria produzir o que é necessário, na quantidade necessária e no momento necessário.

30

É importante ressaltar que esse sistema chega no momento em que o

processo produtivo está em constante mudança, devido às novas exigências do

mercado, sem falar na nova forma de tratamento do processo produtivo, que

agora passa a transformar o Fordismo e o Toyotismo, otimizando o número de

peças utilizadas e o tempo de montagem dos veículos, evitando desperdício e

favorecendo a rápida circulação dos produtos – estoque zero

Segundo Fleury e Fischer (1987, p.192), “Os processos produtivos são

projetados de acordo com a tecnologia de grupos, conhecida também pelos

nomes de ilhas de fabricação, sistema-célula ou group technology”.

E ainda, esse processo utiliza-se de algumas ferramentas, tais como: a

padronização de tarefas; a produção nivelada; controle dos defeitos; automação e

administração do próprio sistema just in time.

Por fim, percebe-se que essa nova forma faz com que a circulação do

capital seja mais rápida e que os estoques sejam reduzidos a zero, facilitando o

atendimento das exigências de mercado, ou seja, se adapta mais facilmente a

essas necessidades.

Devido à aceleração do tempo histórico e da necessidade de globalização,

tem-se aperfeiçoado cada vez mais as técnicas de produção, principalmente no

que diz respeito ao setor automotivo.

As perspectivas de lucros e de novos investimentos levaram as grandes

empresas a redimensionar suas atividades de forma que as máquinas e o

trabalhador fossem adequados ao capital, bem como o ajuste da forma social.

Fazendo-se novamente um pequeno levantamento histórico, temos: de um

lado o Taylorismo, baseado na especificidade das tarefas, de forma que essas

sejam pormenorizadas, dessa forma o trabalhador recebe as instruções e as

ferramentas para executar e preparar suas tarefas. Logo, o trabalhador é

controlado, assim como seu tempo e movimento de trabalho.

Dá-se o Fordismo, que daria continuidade ao Modelo de Taylor – no qual

valorizava a produção em massa, ou seja, a “diminuição do esforço do

trabalhador”, ou seja, o trabalhador é fixo em um posto de trabalho e há o

31

desenvolvimento da manufatura, deixa-se de lado o trabalho manual e parte-se

para o trabalho coletivo voltado para a inserção da maquinaria.

Esse movimento faz com que o trabalho braçal perca seu valor, desse

modo, insere-se a maquinaria, sob a perspectiva burguesa, dá-se a revolução do

processo produtivo e da qualidade, iniciaria-se a condição capitalista. Nesse

momento, insere-se o Toyotismo, quando os trabalhadores se tornaram

multifuncionais e flexíveis. Não existindo a separação hierárquica antes

percebida, já que a hierarquia administrativa se torna horizontal.

Percebe-se que os modelos foram sendo aperfeiçoados a partir da

necessidade do mercado, e os trabalhadores tiveram que se adaptar às novas

formas de trabalho e correr o risco do desemprego e da “obsolescência de

funções”.

A respeito das mudanças nos contratos de trabalho, Harvey (2009, p. 126)

argumenta que:

Contudo, as mudanças técnicas e organizacionais produzidas pela Segunda Revolução Industrial demandaram crescente institucionalização dos contratos de trabalho, rompendo sua dimensão individual. A constituição das grandes empresas produziu a conformação de um exército de trabalhadores organizados em estruturas ocupacionais crescentemente complexas e muitas vezes distribuídos em diversas plantas produtivas.

Todas essas mudanças reforçam a ideia de que o trabalhador, com toda a

sua autonomia, em termos de conquistas trabalhistas, começa a possuir

igualdade, equidade e ao mesmo tempo desigualdades perante a classe patronal,

e os conhecimentos e as tecnologias utilizados no processo produtivo afirmam

que a riqueza criada pelo proletariado ainda não é totalmente socializada do jeito

que deveria, piorando as condições de vida da população mundial, ou seja, do

trabalhador.

32

3 A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL

3.1 O CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL

Mesmo que o Brasil já tenha nascido da dependência externa, a

cafeicultura movimentava a economia brasileira, porém com a ajuda dos aportes

financeiros e do fornecimento dos produtos manufaturados pela Inglaterra. Mas

esse modelo se esgotou, e o Governo de Getúlio Vargas deu início a um processo

de nacionalização dos setores considerados estratégicos.

Esse projeto teve uma difícil implantação, já que precisaria de

financiamento. Então a única maneira de se alavancar a indústria era a produção

de bens de capital, incrementar a importação de máquinas e equipamentos e o

aumento dos financiamentos dos gastos públicos e dos investimentos.

Esse conjunto de medidas mostrava o movimento do nacionalismo

Varguista, mas a cada dia que se passava, o governo enfraquecia e a oposição

era reforçada. Percebe-se, então, que foi na década de 1930 que a economia

brasileira foi modificada, antes era uma economia rural voltada para uma

concentração maior de produção e de pessoas, na qual deu origem a economia

urbano-industrial.

O grande fator dessa modificação foi o êxodo rural, estimulado pela

expansão da atividade industrial iniciada entre o final do século XIX e início do

século XX, ou seja, era o surgimento do capitalismo no Brasil.

Mas não foi somente esse o motivo de modificação do contexto. Com a

industrialização, as máquinas passaram a substituir a mão-de-obra do campo; os

pequenos proprietários perderam todo o apoio técnico e financeiro, e os direitos

trabalhistas geraram o desemprego, devido aos gastos incorridos pelos benefícios

salariais.

Com relação ao desenvolvimento industrial tardio no Brasil, Pires (2010,

p.43) enfatiza que:

33

O ponto de vista do capitalismo tardio sugere que o desenvolvimento latino-americano seria um desenvolvimento capitalista, subordinado primeiro a fatores internos e depois a fatores externos. Assim, enfatizando que a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado, dentro da economia primário-exportadora, marca a emergência de um novo modo de produção (capitalista). Já o ponto de vista do capitalismo tardio substituiria a dicotomia fatores externos versus fatores internos como motores do crescimento, para uma interpretação que visualizaria o crescimento industrial como primordialmente um resultado processo de acumulação de capital no setor agrícola exportador. Este por sua vez, dependeria da procura externa.

Por sua vez, o crescimento da população urbana e do complexo industrial,

advindo do êxodo rural, fez com que muitas cidades crescessem e virassem

grandes centros urbanos. A infraestrutura precária era transformada a cada dia, e

o Governo voltava-se ao prestígio das obras públicas e da iniciativa privada

nacional.

Várias obras foram realizadas, a infraestrutura do país se lapidava

conforme os interesses da industrialização, tais como construção de portos;

estradas; instalação de algumas empresas, sendo por iniciativa do capital

estrangeiro ou vindo a ser concedidas a este.

Em 31 de janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek assume a presidência do

país, introduzindo uma política conhecida como desenvolvimentista, que consistia

em incentivar o progresso econômico do país estimulando a industrialização.

Em 1956, o Brasil instituiu um plano pioneiro buscando a instalação de uma

indústria automotiva nacional. O projeto restringia as importações e obrigava as

montadoras transnacionais a optarem entre abandonar o lucrativo mercado

brasileiro ou a iniciarem, num prazo de cinco anos, contando com incentivos

financeiros, a produção de veículos que contivessem de 90 a 95% de peças

nacionais (SHAPIRO; ARBIX; ZILBOVICIUS, 1997).

A Implantação da Indústria Automotiva Brasileira foi um dos objetivos

principais da industrialização, acompanhada naquela época pelo sentimento do

progresso e da riqueza nacional.

Contudo, o Governo de “50 anos em 5” não garantia o país como sendo

competitivo no mercado internacional, logo, a oferta era somente interna,

caracterizando o conservadorismo por parte do Governo, diferentemente do

proposto no início da implantação.

34

O Governo otimista com o passar do tempo ia se transformando em mito, já

que o progresso precisava de empréstimos e de emissão de moeda para suprir a

demanda por matérias-primas fundamentais, dessa forma a pressão inflacionária

aumentava cada vez mais.

Assim, o estrangulamento externo e o processo de substituição de

importações caracterizaram a ideia de construção nacional. Ao longo do tempo o

processo foi sendo implementado e a industrialização foi tomando um rumo

avassalador, rodeados de dificuldades, tais como: a tendência ao desequilíbrio

externo; o aumento da participação do Estado; o aumento da concentração de

renda e, a escassez de fontes de financiamento.

No entanto, não se pode negar que, em meio a tantos problemas, o setor

automotivo foi essencial para o processo de desenvolvimento do país. E todos os

investimentos obtidos pelo setor eram pulverizados em outras indústrias, por isso,

o Governo de Juscelino Kubitschek condecorou a fase de modernidade e

desenvolvimento com o nome de "Anos Dourados ".

É importante lembrar que antes do Governo Kubitschek não se fabricavam

veículos no Brasil, havia apenas a montagem, que era feita com as peças

importadas ou até mesmo com a ajuda das autopeças do país.

Logo, pode-se afirmar que, para a indústria automotiva se firmar no solo

brasileiro, um dos grandes responsáveis foi a Instrução 113 da SUMOC, dadas as

várias vantagens de importação de equipamentos para a indústria de veículos.

Desde a primeira fase de sua ampliação, nos anos 1950 e 1960, até inícios da década de 1990, a indústria automobilística foi um dos setores privilegiados pelo desenvolvimento no brasil. em razão de políticas industriais verticais características do modelo de substituição de importações, que procuravam impor externalidades, oferecer subsídios e criar regras de comportamento para setores da indústria identificados como estratégicos para o desenvolvimento nacional, o complexo automotivo como um todo gozou, de forma perene, de forte proteção interna, fartos subsídios e rígido controle das decisões de investimento de seus principais atores, incluindo montadoras e autopeças (CARDOSO, 2001, p.110).

O estímulo ao investimento motivado pela inflação teve um efeito negativo,

pois atingiu diretamente os assalariados, transferindo toda a sua renda para o

empresariado, logo, a concentração de renda era cada vez maior. As

disparidades setoriais e regionais foram aumentando à medida que os

investimentos eram realizados em determinados setores, considerados mais

35

rentáveis. Com isso, o desemprego aumentou, alguns setores permaneceram

praticamente estagnados e os investimentos eram especulativos e concentrados,

e o nível de vida da população cai cada vez mais.

O resultado dessa política era a fácil penetração das multinacionais e o

maior controle estrangeiro, gerando o agravamento do desequilíbrio no Balanço

de Pagamentos, enfim foi a representação de um período de crise e estagnação

da atividade industrial, marcada por uma economia associada e dependente do

capital externo.

Na época, foi criado o Grupo Executivo para a Indústria Automotiva –

GEIA, responsável pela interlocução e negociação entre as montadoras e

Governo. Essa relação foi muito conturbada, por o país não possuir uma política

industrial bem definida, com isso os países onde eram instaladas eram

pressionados para que houvesse a integração entre os atores sociais, de forma

que a política industrial se tornasse eficaz e bem sucedida.

Diante dos fatos, dois pontos foram muito importantes na estratégia do

setor automotivo: o acirramento competitivo e a necessidade, em partes, suprida

pelas importações. Essa nova configuração da indústria fez com que as empresas

se preocupassem com a produção de carros populares, dados os desafios

impostos pela globalização e pela regionalização.

A forma de organização anterior dá lugar a um novo segmento, o de

transferência de padrão tecnológico das montadoras para os fornecedores,

externalizando o processo produtivo.

Não foi somente o processo produtivo que sofreu alterações, mas a

economia como um todo, já que as montadoras viriam se houvesse ou não as

benesses, pois a intenção era ultrapassar fronteiras e obter uma maior parcela de

lucro.

A fim de manter os empregos e aumentar a concentração de investimentos

advindos das montadoras, a população começou a se aglomerar nas regiões

metropolitanas, logo, as cidades, que não estavam preparadas para tal

crescimento demasiado, sofreram grandes impactos no que diz respeito à

demanda da serviços e da própria infraestrutura.

36

Segundo Sanson e Carvalho (1998, p.29),

A tendência e a queda da qualidade e agravamento das condições de vida nas grandes metrópoles. Problemas com habitação, saneamento, abastecimento de água potável, trânsito e violência estarão presentes com intensidade na agenda da próxima década. A imagem, que através do marketing publicitário o governo vende, de um Estado que oferece oportunidades para todos não corresponde à realidade.

Para Humphrey (1982, p.17) “Os trabalhadores da indústria automobilística

foram colocados diante de um sistema de organização do trabalho ao qual se

opuseram, mas no qual tiveram que trabalhar e portanto aceitar.”

Deu-se um colapso financeiro, já que o governo não conseguia por meio da

arrecadação estabilizar a economia, devido à dependência aos investimentos

externos.

Enfim, inicia-se a década de 1960, caracterizada pela grande crise

econômica no Brasil em sua fase industrial, acompanhada da queda dos

investimentos e da taxa de crescimento da renda.

Nesse momento, o Brasil vive a crise do populismo e adota uma política

restritiva até meados de 1967. A Economia Estagnacionista, as Reformas

Institucionais e o Plano de Ação Econômica do Governo – Paeg tinham o objetivo

de combater a inflação por meio da política monetária, do arrocho salarial e da

redução dos gastos públicos, conforme orientações do Fundo Monetário

Internacional - FMI, o que determinou uma fase recessiva da economia.

O Paeg acabou por reduzir as taxas inflacionárias e em preparar o Brasil

para a retomada do crescimento.

Em virtude da nova fase de crescimento, Arbix e Zilbovicius (1997, p.72)

expõem que:

Somente em 1967-68, quando surgia um novo ciclo de crescimento e os subsídios haviam sido restabelecidos, teve início uma nova fase de investimentos. Os incentivos, portanto, aumentaram as barreiras de entrada para aquelas empresas que não tinham investido durante o programa do GEIA e, por exigirem grandes investimentos em um curto período de tempo, ampliavam também os custos de saída.

Era iniciada então uma fase de esperança em torno do investimento

estrangeiro e dos subsídios, já que a marcha do desenvolvimento era cada vez

mais apressada pelo Governo JK. A necessidade de realizar o governo de “50

37

anos em 5” pulava etapas para o alcance de seus objetivos, com isso acontece o

Milagre Econômico.

3.1.1 A Fase de Expansão da Indústria Automotiva: 1 970 – 1985

De acordo com Pires (2010, p.193), “As políticas implementadas pelo

Governo Castello Branco possibilitaram a reestruturação da economia brasileira e

viabilizaram a expansão econômica no período do chamado milagre econômico,

verificado entre 1968 e 1973.”

O Milagre Econômico foi evidenciado por apresentar uma das mais altas

taxas de crescimento e da estabilidade dos preços. Nesse momento, o Estado

teria sua intervenção reduzida, valer-se-ia a Lei dos Mercados, acompanhada de

investimentos em setores diversificados que induziriam o país ao

desenvolvimento novamente, sem falar nos projetos destinados a causar

impactos à sociedade.

Segundo Gremaud et al. (2004, p.400):

Tanto no setor de bens de capital como no de bens intermediários, a expansão econômica gerava pressão por importações, causada pela insuficiência de oferta interna. Essa pressão importadora ainda foi estimulada pela política do Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), que concedeu incentivos de forma indiscriminada e foi bastante liberal nas importações, e pode ter contribuído inclusive para o atraso na produção interna de bens de capital, cujo crescimento ocorreu apenas depois de 1970.

Naquele momento, o Brasil era beneficiado pelo equilíbrio da balança

comercial, no entanto, o endividamento externo crescia e resultava em um

coeficiente de vulnerabilidade, fator gerado pela falta de financiamento e por

problemas conjunturais da economia.

TABELA 01 - DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO BRASIL População Remunerada Participação

% 1960 1970 1976

50% mais pobres 17,71 14,91 11,80

30% seguintes 27,92 22,85 21,10

15% seguintes 26,66 27,38 28,00

5% mais ricos 27,69 34,86 39,00

Total 100,00 100,00 100,00

FONTE: Guimarães (1981) citado por Faria, Marques e Berutti (1989)

38

A tabela acima demonstra que com o passar dos anos a população mais

rica (5%) vem aumentando, a sua participação/remuneração entre os anos 1960 e

1976 aumentou um pouco mais de 40%; já a população dos mais pobres (50%)

reduziu em 35% a sua participação/remuneração entre os anos 1960 e 1976.

Esse resultado demonstra o quanto a participação da população mais pobre

reduziu.

Esse resultado acima obtido demonstra que o período do milagre

econômico teve crescimento, mas este, acompanhado com o endividamento e a

concentração de renda.

Alguns “motivos” traduzem o crescimento acelerado da economia nesse

momento, desse modo, Pires (2010, p.201-202) elenca os seguintes aspectos:

Em suma, as bases para o acelerado crescimento da economia brasileira no período 1968-1973 foram as seguintes: 1) aumento da demanda interna por bens de consumo duráveis, garantida pela alta concentração de renda e pela ampliação do crédito ao consumidor; 2) ampliação do setor de construção civil; 3) aumento das exportações, conseguido graças à expansão do comércio internacional e à política de estímulo governamental às exportações, calcada em fortes subsídios; 4) entrada de volume considerável de capitais estrangeiros e; 5) aumento dos investimentos.

O crescimento econômico era visível no setor industrial, apesar de sua

expressiva significância, “o milagre econômico” era resultado de uma elevação

dos investimentos estrangeiros estatais.

Mesmo havendo desproporcionalidades setoriais, as importações cresciam

e o saldo das exportações não era suficiente para cobrir os gastos com

importações, sem falar no endividamento externo, que também crescia em

valores exorbitantes nesse período.

Em virtude do aumento da dívida externa, o desenvolvimento não podia ser

financiado e, além disso, o setor da agropecuária não conseguiu acompanhar o

crescimento da indústria e da política salarial.

Os anos 70 foram um período conturbado, pois a economia brasileira

entrou em recessão, devido à crise da dívida externa, que se acentuou com a

ocorrência do choque do petróleo e o rompimento do acordo de estabilização da

taxa de câmbio internacional.

39

A situação brasileira ficava cada vez mais difícil, já que dependia de a

situação externa ficar favorável e, além disso, o país apostava no crescimento

com endividamento.

Porém, a alta inflação, a crise do petróleo e a dependência ao setor externo

colaboraram para o declínio do “milagre econômico” e para um longo período de

recessão, quando os preços e o desemprego aumentavam, ocorria a

desaceleração do crescimento do PIB, a perda do dinamismo econômico entre

outros fatores não menos importantes.

Com a entrada do Governo Geisel, em 1974, os objetivos eram voltados

para os problemas sociais encontrados naquela época, ou seja, acabar com o

subdesenvolvimento do país, tendo como ferramentas: o combate à inflação e aos

desequilíbrios das contas externas, a prorrogação do crescimento econômico e do

II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento.

O resultado foi a aplicação de uma política de crescimento e

endividamento externo, logo, fica evidente que houve a deteriorização das

finanças públicas, desacelerando assim, em 1977, a economia e os projetos

acerca dos problemas encontrados na época.

Em 1979, entra no Governo João Baptista de Oliveira Figueiredo, em meio

às crises externas, Figueiredo primeiramente pretendia adotar um governo de

mudanças, que, segundo Pires (2010, p.219), se traduziam nos seguintes pontos:

Dar continuidade ao processo de democratização, iniciado no Governo Geisel. Em segundo lugar, buscava acelerar o crescimento econômico, enfatizando a modernização da agricultura, o aumento do poder de compra o salário mínimo; implementar um grande programa de habitação popular sob responsabilidade do Banco Nacional de Habitação (BNH); diversificar as exportações; diminuir a dependência de capitais estrangeiros; e, por fim, conter o processo inflacionário, que vinha em ascensão desde 1975.

Como se já não bastassem os problemas econômicos, percebia-se o

grande aumento da população em relação ao número de empregos que eram

gerados na época. Segundo Costa (2007, p.167),

Nos anos do regime militar a população brasileira quase dobrou de tamanho, passando de 78 milhões em 1964 para 133 milhões em 1985. Ao mesmo tempo cresceram a taxa de urbanização e a classe média, estimuladas pelos anos de crescimento acelerado e pela modernização do setor produtivo.

Sobre a modernização das fábricas, Arbix (1996, p.39) destaca que:

40

Nos anos 80, a indústria brasileira não seria incluída em nenhuma estratégia especial das grandes corporações, que voltaram suas atenções para fábricas modernas, mais produtivas e sem tradição de organização sindical. À diminuição do peso estratégico das filiais brasileiras somava-se a secundarização do mercado nacional e latino-americano, uma vez que os investimentos comerciais decisivos estavam sendo alocados em uma verdadeira “guerra de reconquista” dos mercados americano e europeu.

Mas de nada adiantaria a modernização se havia as políticas

contracionistas externas, proporcionadas pelo II choque do petróleo, que

pioravam ainda mais a situação do Brasil, principalmente no que diz respeito às

finanças públicas. Logo, entre os anos de 1979 e 1982, a quebra financeira foi

inevitável ao Brasil.

Em 1982, o Brasil recorre ao Fundo Monetário Internacional – FMI, com o

compromisso da “carta de intenções” – reduzir o déficit público, a eliminação de

subsídios e as desvalorizações cambiais em busca do incentivo às exportações,

tudo isso significaria resgatar a capacidade de pagamento.

Em resumo, os anos entre 1981 e 1985 são lembrados pelo

estrangulamento externo; pela forte queda na renda da população, no nível de

emprego e da oferta agregada, sem mencionar os planos fracassados dos

governos, a submissão do Brasil às condições macroeconômicas impostas pelo

FMI e pelos países credores, que nos remetiam a um gosto amargo de anestesia

para os problemas da época, que não foram solucionados.

3.1.2 A Concentração em São Paulo

A região do ABC representa um grande centro econômico, formado pelos

municípios de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul,

Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

O processo de industrialização desse grande centro econômico se deu a

partir do século XX, favorecido pela expansão da indústria paulista e pela

localização privilegiada.

Segundo Leite (2003, p.168), “O grande desenvolvimento econômico

verificado a partir de então fez da região a base fundamental das altas taxas de

crescimento industrial que marcaram a economia brasileira nas décadas

seguintes.”

41

Apesar de ser fruto de um alto amadurecimento institucional o ABC paulista

passou por dificuldades econômicas e sociais na década de 1980, o que

ocasionou o encerramento das atividades por parte de algumas empresas e a

transferência para outras regiões devido à perda do dinamismo de alguns setores.

Leite (2003, p.168) expõe fatores que são condicionantes para os

problemas sofridos pela região do ABC paulista:

- A forma como o país vem se inserindo no processo de

globalização econômica e suas implicações para a estrutura

industrial e;

- O esgotamento de parte importante dos recursos locais.

Todo esse movimento criou a condição de um longo processo de

resistência e luta por parte dos trabalhadores, os quais eram contrários ao

autoritarismo político e ao arrocho salarial.

Assim, as lutas começaram a ser travadas, em busca de melhores

condições e pela reconstrução de antigas formas de organização – comissões de

fábrica, dando início a um importante movimento social. Nesse momento, houve

um amadurecimento por parte dos envolvidos, que passaram a se respeitar e a

reconhecer os interesses uns dos outros.

É importante salientar que a região do ABC paulista é composta por uma

grande concentração de trabalhadores, um amplo desenvolvimento industrial e

uma ação sindical que se diferencia das demais do país, pelo fato de ter havido a

redemocratização no final dos anos 70. Esse movimento foi contínuo do período

de 1978 a 1989, os trabalhadores tomaram a frente no que diz respeito à relação

capital/trabalho.

Santana e Ramalho (2003, p.301) explicam que

No final da década de 1970, Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo se notabilizou na esfera pública ao defender a liberdade e autonomia sindical; a organização dos empregados nos locais de trabalho; o fim do controle do Ministério do Trabalho sobre os sindicatos; o direito de greve; a negociação direta entre outros aspectos.

42

O que era, até então uma greve de ação ampla, passa a ser uma

discussão em âmbito interior no ano de 1990. As lutas agora são travadas diante

da problemática trabalho, vinculada à gestão e organização do trabalho.

Esse período foi marcado por instabilidade econômica e pelo aumento do

contingente de desempregados e da precarização do mercado de trabalho. A

dificuldade de relacionamento entre governo e sindicato ocasionou uma tensão

ainda maior no início de 1995, quando da greve dos petroleiros.

Em 1999, ocorreu um amplo movimento de paralisações e mobilizações

dos trabalhadores tendo como principal foco as plantas automobilísticas e o

Contrato Coletivo Nacional de Trabalho, esse processo iria ter abrangência

nacional, além disso, houve também a tentativa de ação conjunta entre CUT e

Força Sindical.

Iniciou-se um “festival de greves”, até que, em novembro de 2000, os

indicadores econômicos apresentaram melhora no emprego formal, nas questões

financeiras das empresas, na retomada do crescimento industrial e no incremento

das margens de lucro.

No dia 07 de novembro de 2000, as centrais sindicais realizaram a “greve

de advertência”, que mobilizou 100 mil trabalhadores, quando foi concedido

reajuste de 10% nos salários dos metalúrgicos das montadoras, 90 dias de

estabilidade no emprego e o não desconto dos dias não trabalhados durante a

greve.

Como resultado dessa greve, foram realizados 200 acordos por empresa

no setor de autopeças, contemplando os 10% de aumento salarial e o aumento de

trabalhadores sindicalizados.

Os acordos cobrem uma gama variada de temas, tais como: flexibilização

da jornada de trabalho, banco de horas, terceirização, horas extras, salários,

produtividade, participação nos lucros e resultados, saúde e segurança no

trabalho, produtividade, organização sindical na empresa, condições de trabalho,

organização do trabalho no interior da empresa, enfim, aspectos relacionados à

reestruturação produtiva e tantos outros (SANTANA; RAMALHO, 2003).

43

Pode-se dizer que o ABC paulista obteve um crescimento na implantação

de montadoras e de fornecedoras de autopeças e um intenso desenvolvimento do

sindicalismo na região, abrangendo tanto o interno quanto o externo da empresa.

3.1.3 A Organização do Setor Metalúrgico: as Autope ças

Nos anos 20, várias montadoras iniciaram o processo de montagem de

veículos no país, logo, essas empresas necessitavam de peças de reposição, foi

assim que, mesmo com dificuldades de sobrevivência, as autopeças começaram

a brotar no país.

O governo almejava por constituir uma indústria automobilística no país

com a utilização de componentes nacionais. Porém, somente em 1951 as

autopeças criaram o Sindicato Nacional da Indústria de Peças para Veículos

Automotores – Sindipeças, mesmo com a implantação do sindicato, as autopeças

encontravam-se abaixo dos níveis exigidos pelas montadoras, já que essas

possuíam modernas técnicas de produção.

Em meados de 1952, foi instituída a primeira oportunidade para as

autopeças. As empresas que declarassem ser capazes de produzir determinada

peça iriam eliminar a importação da mesma. Dessa forma, seria implantada a

Indústria Automotiva no Brasil e o fortalecimento do setor de autopeças.

Nesse mesmo momento o Governo determinou que as autopeças se

qualificassem/ capacitassem para atender à demanda das montadoras, assim,

essas produziriam os componentes principais e as autopeças, o restante.

Com relação às mudanças sofridas pelas autopeças, Arbix e Zilbovicius

(1997, p.392) destacam que:

Ao longo da história, o setor brasileiro de autopeças tornou-se cada vez mais diferenciado. A partir de uma estrutura piramidal, um grupo restrito de companhias passou a fornecer para as montadoras, exportando para os países industrializados e desenvolvendo habilidades tecnológicas inovadoras para os padrões locais. A maior parte dessas companhias competitivas é constituída de empresas de capital estrangeiro ou de grandes firmas nacionais. Ao fornecer para os mercados de maior demanda, tanto no Brasil como no exterior, estas empresas foram levadas a atualizar a qualidade e o design de seus produtos e métodos de produção, procurando acompanhar os padrões internacionais.

Logo, esses arranjos horizontais proporcionaram uma relação mais

cooperativista entre montadoras e autopeças, devido às novas exigências, sem

falar na transferência de conhecimento. Dado o fato de que o controle estatal

inseriu os projetos do Grupo Executivo para a Indústria Automobilística – GEIA,

44

essas negociações “obrigaram” as montadoras a ajudar os fornecedores a

estabelecer, organizar, fortalecer e adequar a produção em menor escala para

fortalecer as fábricas de autopeças.

Em 1960, esse quadro se alterou, com a entrada do Governo João Goulart,

as montadoras reagiram à recessão se desvencilhando das autopeças, alegando

os altos preços de custo; com isso romperam os contratos.

Com o Golpe Militar em 1964, as dificuldades aumentaram ainda mais, já

que o Governo não fazia mais o papel de intermediador, e as vantagens das

montadoras propiciadas pela política protecionista cresciam a cada dia.De acordo

com Arbix e Zilbovicius (1997, p.141):

Em 1973, os Benefícios Especiais para o Financiamento da Exportação (Befiex) permitiram às montadoras assinarem acordos de dez anos, envolvendo grandes volumes de exportação. Em contrapartida, teriam permissão para importar peças e equipamentos que totalizassem até um terço do valor das exportações, recebendo ainda descontos adicionais e incentivos fiscais.

Esse momento ajudou as montadoras – recebendo descontos adicionais e

incentivos fiscais, e propiciou uma ameaça para os fornecedores, levando-os a

reduzirem seus preços e melhorarem a distribuição. Toda essa fase significou a

insegurança e frustração do setor.

Segundo Arbix e Zilbovicius (1997, p.142),

Enquanto as fusões e o programa Befiex colocaram os fornecedores em desvantagem, as medidas anti-inflacionárias adotadas pelo governo permitiram, ainda que involuntariamente, que uma parcela dos fornecedores impusesse umsistema funcional equivalente à horizontalização: os cartéis.

As autopeças, agora participantes de cartéis, tornaram-se fortes

exportadoras, acentuando assim as diferenças entre grandes e pequenos

fornecedores. A expectativa aumentava já que os fornecedores se tornavam mais

independentes.

Nesse cenário, a relação montadoras versus fornecedores criou uma

relação de dependência mútua entre as empresas, porém as pequenas empresas

não são ajudadas, e o grande número de falências são constantes; pode-se dizer

que as alianças estratégicas continuam firmes e fortes, mesmo tendo que se

abster de contratos de longo prazo.

Outro importante fato foi a modificação desse setor – que acabou por gerar

uma produção de peças nacionais voltada para uma integralização da indústria,

cujo resultado foi a intensa oferta de uma nova gama de produtos.

45

Essa integralização de empresas tornou-se parte integrante da cultura das

empresas, já que essas buscavam reduzir custos e terceirizar suas produções.

Outra importante questão é a instalação das autopeças, essas se instalam

próximas às montadoras para evitar a perda de seus contratos de fornecimento.

A partir de meados dos anos 80, as montadoras diminuem o número de

fornecedores diretos para tornar o processo produtivo mais seleto e mais estável.

Essa prática é realizada por programas de avaliação, que acabam por eliminar

produtores e ao mesmo tempo causar uma dependência ainda maior,

principalmente no que diz respeito à tecnologia.

Enfim, a cooperação e conflito são as palavras-chave utilizadas para

descrever o processo entre montadoras e fornecedores no Brasil, ou seja, a

relação entre crescimento e consolidação.

3.2 O RESSURGIMENTO DO SINDICATO DOS METALÚRGICOS: 1977 – 1988

Devido à expansão e à modernização ocorridas na indústria naquele dado

momento, os trabalhadores, contrários ao sistema de trabalho ao qual foram

colocados, juntamente com o crescimento da indústria, iniciaram um período de

re-estruturação do capital e do trabalho, o que provocou vários conflitos.

Todo esse movimento se deu como resultado da política

desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. Em meio a tantas mudanças, as

questões políticas eram deixadas de lado, assim como as perspectivas do futuro

da própria política econômica, industrial e financeira que até então eram

indefinidas e precárias.

Em meio a tantas mobilizações e passeatas de insatisfação

dostrabalhadores, o sindicalismo vinha ganhando forças em meio à repressão.

Segundo Humphrey (1982, p.154):

Em conseqüência de seu compromisso a longo prazo com um sindicalismo mais ativo, e de sua história anterior de luta, os dirigentes metalúrgicos de São Bernardo conseguiram tirar vantagem dos espaços abertos pelo abrandamento da repressão em 1977. A preparação para a campanha salarial de 1978 era uma área na qual o sindicato foi capaz de avançar mais do que os outros, por causa de suas atividades anteriores.

46

Outro fato que colaborou para a luta pela resolução dos problemas de

baixos salários e da precariedade do trabalho foi a capacidade dos trabalhadores

metalúrgicos.

Os trabalhadores metalúrgicos tinham os mesmos problemas que os

trabalhadores dos setores tradicionais, porém os metalúrgicos possuíam uma

maior capacidade de resolver seus problemas por meio da ação coletiva, dada a

sua capacidade de se organizar.

De acordo com Humphrey (1982, p.159):

O sindicato encontrava um terreno favorável nas fábricas. Os trabalhadores da indústria automobilística estavam no centro das contradições do milagre econômico. O crescimento rápido da produção, da produtividade e do lucro não impediu que os salários continuassem sob controle, aumentando, algumas vezes, menos que o índice de inflação. (...) E ainda, o sucesso alcançado pela indústria automobilística foi conseguido às custas dos operários: aumento do dia de trabalho, trabalho intensificado, controle de salários e rotação de mão-de-obra (...). A reivindicação também refletia o senso de injustiça com respeito às recompensas cada vez menores a seus esforços de crescimento.

Em 1978, as greves eclodiram, o quê até então era desconhecido,

aconteceu. Naquele momento as empresas não sabiam como proceder,

principalmente no que diz respeito às negociações coletivas. A administração

adotou uma linha mais dura de negociação, mas mesmo assim foi forçada a

ceder. O acordo foi feito com o sindicato, que, a partir daquele momento, tornou-

se negociador.

Do ponto de vista do sindicato, ficou interessante parar as máquinas, já que

assim os empresários se obrigariam a ceder às negociações.

Em 1979, outra greve é iniciada e as pequenas e médias empresas não

conseguiam mais sustentar a greve, eles queriam uma resolução rápida da greve.

Parte dos empresários era favorável à não-interferência do Estado, já outra parte

discordava, uma vez que aproveitava o momento para tentar barrar a ação do

sindicato.

O motivo da greve era o futuro dos dirigentes metalúrgicos de São

Bernardo, pois queriam que o sindicato mantivesse o controle. A greve terminou

sem resultado imediato, então o sindicato foi obrigado a negociar, mesmo com o

funcionamento das máquinas.

47

Quanto à situação do sindicato, entre 1978 e 1979 Humphrey (1982, p.

219) comenta que:

As firmas automobilísticas apressaram a promoção e reduziram os diferenciais de salários em certas categorias. Ao mesmo tempo, fizeram até maiores esforços para marginalizar o sindicato, quer impedindo representantes sindicais, quer tentando resolver os pequenos problemas através do Departamento de Relações Industriais.

Conforme Neves (2003, p.38),

O sindicalismo em nível mundial, diante das transformações econômicas capitalistas recentes, demonstra uma queda acentuada no número de trabalhadores sindicalizados, com repercussões imediatas nas greves que têm diminuído significativamente. Estes fatos têm um impacto imediato cuja conseqüência é o enfraquecimento do poder sindical.

Face ao novo modelo produtivo – flexível, a sindicalização, principalmente

do ramo de automóveis, apresentou uma taxa de declínio a partir de 1980. Os

EUA e a França, dentre os países desenvolvidos, foram os que apresentaram a

taxa mais elevada de perda dos trabalhadores sindicalizados.

Segundo Neves (2003, p.40),

A explicação para essas transformações no movimento sindical mundial situam-se na natureza da organização sindical, na qual a institucionalização das negociações supera as relações de conflitos. Desenvolveu-se nesses países um sindicalismo como instituição, com uma organização sindical burocratizada, que perde a articulação com a organização dos trabalhadores por empresa.

Já nas economias subdesenvolvidas, o movimento operário deu origem ao

chamado novo sindicalismo. Essa articulação produziu formas de organização

política e sindical mais avançadas como o Partido dos Trabalhadores (PT), em

1980, e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983.

As greves desse período apresentaram um grande crescimento devido ao

grande poder do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, o qual

tinha uma alta taxa de sindicalização, um alto poder de mobilização e um amplo

apoio da sociedade civil.

Por outro lado, o poder sindical e a capacidade de organização podem

gerar disputas entre sindicatos, e foi isso que aconteceu no Brasil em 1980, essa

disputa gerou duas centrais sindicas: a CUT, em 1983, e a Força Sindical, em

1991.Essas duas centrais tiveram como base de sustentação inicial o Sindicato

48

dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (CUT) e do Sindicato dos

Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical).

Percebe-se que quanto maior a estrutura sindical de uma categoria, maior

seu poder, do contrário, a queda da taxa de sindicalização favorece o

enfraquecimento do poder dos sindicatos por fragilizar os conflitos

capital/trabalho.

Quanto ao enfraquecimento da sindicalização, Neves (2003, p.42) comenta

que:

As variáveis estruturais que determinam as mudanças econômicas, atingem a estrutura sindical ampliando sua crise e o seu declínio. Os sindicatos mais atingidos pelas mudanças estruturais são aqueles que possuem o maior contingente de trabalhadores, mais organizados nos setores de ponta da economia, como é o caso dos metalúrgicos da indústria automobilística, que revelaram nas últimas décadas uma grande capacidade de organização, mobilização e confronto com o capital.

A expansão da produção, o enxugamento das plantas de produção, as

novas formas de gestão da produção, a reorganização do trabalho e a inovação

tecnológica também foram fatores que colaboraram para a fragilização do

sindicalismo.

A expansão do modelo de produção flexível acaba por reduzir custos e a

própria força de trabalho, o que leva à perda de direitos e à redução do poder dos

sindicatos, assim, os sindicatos não têm como representar esses trabalhadores, já

que as relações de trabalho distanciam os trabalhadores da representação

sindical.

3.2.1 A Nova Fase da Indústria Automotiva: 1990 – 1 999

Com o novo choque de competitividade imposto pelas transformações

neoliberais no início dos anos 90, o novo complexo de reestruturação produtiva no

Brasil adquiriu um novo impulso. As grandes empresas passaram a incorporar um

conjunto de novas estratégias produtivas que atingiram, com maior integração, e

intensiva amplitude, o mundo do trabalho (ALVES, 2000).

49

Nesse momento, a indústria automotiva vive uma crise de acumulação do

capital e da superprodução, quando a capacidade de produção ultrapassava a

necessidade de mercado.

Após um árduo período de conflitos, nos anos de 1992 e 1993 foram

adotados acordos automotivos emergenciais, com o objetivo de incentivar a

produção de veículos populares.

Como o preço dos veículos estava crescendo e as vendas internas

diminuindo, algumas atitudes foram tomadas de imediato, são elas: redução

nominal dos preços dos automóveis; manutenção do nível de emprego e a

correção mensal de salários pela inflação integral.

Várias manobras foram utilizadas pelas empresas para tentar incluir novos

veículos à categoria popular e assim, entre um erro e outro, em 1992 e 1993, a

indústria automotiva vivenciou um grande crescimento, dada a redução de preços,

alíquotas e a margem de lucro; aumentando dessa forma a demanda de veículos.

Entretanto, de 1994 a 1995, dada a exposição à concorrência internacional

e à redução real dos preços dos veículos no atacado, fato esse decorrente da

correção abaixo da inflação, outro detalhe importante é de que as montadoras

faziam pressão para que os fornecedores baixassem seus preços, caso contrário,

deixariam de comprar dos fornecedores nacionais para aderir aos internacionais.

Logo, os aumentos das alíquotas de importação reduziram os preços dos

automóveis internos, esses tiveram uma redução de 46% ao final do ano de 1995.

O desenvolvimento da crise política (e ideológica) das estratégias de classe

contribuiu para o desenvolvimento do novo complexo de re-estruturação produtiva

no Brasil. Estamos diante de uma relação dialética, na medida em que o próprio

desenvolvimento do novo complexo de re-estruturação produtiva, por

conseguinte, tendeu a aprofundar a crise do sindicalismo de classe (ALVES,

2000).

Por outro lado, outro problema que assolava a economia brasileira era o

aumento das importações e os estímulos as exportações, medida provisória

adotada pelo governo a fim de estabelecer uma nova política industrial.

50

Dessa forma, em 1996, as montadoras e os fornecedores de autopeças

contribuíram para o desenvolvimento econômico e social do país, pois cresceram

juntos, mesmo que essa relação esteja se estreitando cada vez mais. As

montadoras estão selecionando grupos de fornecedores para firmar contratos

estáveis e cooperativos, desenvolvidos por meio de programas de avaliação que

acabam por melhorar a qualidade e modernizar os sistemas de manufatura

dessas empresas.

Nos tempos atuais, isso significa que as autopeças estão sendo utilizadas

como isca para o aumento de investimentos e, de outro lado, as montadoras

estão se tornando cada vez mais sólidas e ditadoras em relação ao futuro das

autopeças.

3.2.2 O Modelo de Produção Flexível nas Indústrias Automotivas

O choque da competitividade imposta pelo neoliberalismo culminou nos

anos 90, novas estratégias produtivas foram colocadas em prática devido ao

avanço qualitativo e quantitativo das inovações tecnológicas; nesse sentido,

novos investimentos foram promovidos face à concorrência internacional.

Com isso, o Brasil entrou na década de 90, também chamado de década

perdida, acompanhado de suas fragilidades econômicas e estruturais – a

economia brasileira mostrou a incapacidade de atender às novas demandas

internacionais.

Segundo Arbix (1996, p.40), “Em meio ao chamado “ciclo virtuoso” da

economia capitalista mundial, o Brasil havia se urbanizado, metropolizado e

alterado todas as estruturas básicas do país a partir de um intenso processo de

industrialização”.

Toda essa “globalização” fez com que o país se industrializasse, ao mesmo

tempo em que representou uma avanço para o país, também demonstrou o

retrocesso por meio das desigualdades, miséria e a extrema concentração de

renda.

Por outro lado, a expectativa era grande, já que a globalização e as novas

formas de economia de mercado vinham marcando o mundo inteiro com

51

mudanças significativas, tais como: o direito a voto, privilegiadas aposentadorias

para servidores públicos e militares, incentivos empresariais, universidade

gratuita, etc.

A respeito da redemocratização, Costa (2007, p.170) argumenta que:

Os dois primeiros governos após a redemocratização ficaram marcados mais pelas soluções desastrosas para os problemas econômicos do que por aperfeiçoamentos institucionais. Incapazes de lidar com as causas reais, os governos Sarney e Collor aplicaram planos de estabilização econômica encharcados de pirotecnia econômica. Culminaram no governo Sarney com uma moratória externa que iria gerar custos elevados para economia nas décadas seguintes e um incompreensível confisco de liquidez de toda a população no governo Collor.

A nova política industrial adotada acaba por não proteger a produção

nacional, dada a liberação comercial desregulada e a valorização de empresas

transnacionais. Os primeiros passos da abertura comercial e do dinamismo da

acumulação do capital no Brasil eram necessários haja vista a política econômica

adotada no Governo Sarney.

A liberalização comercial prossegue sob o governo de Itamar Franco e o de Fernando Henrique Cardoso, tornando-se a pedra fundamental da era neoliberal. Um novo salto na acumulação capitalista no Brasil é capaz de ocorrer apenas, segundo a ótica neoliberal, pela constituição de novos vínculos com a mundialização do capital, da integração plena à nova lógica do capital mundial (ALVES, 2000, p.187).

A abertura colocada em prática por Collor gerou um cenário de crise para

a indústria nacional, principalmente a indústria automotiva, já que essa perdeu

uma série de incentivos. As empresas começaram a cortar custos relacionados

aos trabalhadores.

Quanto ao cenário da economia brasileira, Alves (2000, p.196-197)

destaca:

O cenário da economia brasileira sob o governo Collor, caracterizado pela recessão, crescente desemprego na indústria – principalmente nos pólos organizados da classe operária – e o predomínio da racionalização predatória de custos das empresas, constituiu, de certo modo uma ‘acumulação primitiva’ que preparou o capital para a adoção de novas estratégias de negócios (quando a economia retomasse o crescimento, o que veio a ocorrer a partir de 1993).

A partir de 1994 foi iniciada uma nova fase, foi eleito Fernando Henrique

Cardoso, que marcava o fim do monopólio petrolífero; a modernização das

instituições políticas - o tamanho do Estado começou a ser reduzido; a criação do

52

Plano Real; houve a ordenação das finanças públicas; melhorias na educação,

saúde e beneficiamento assistencial, etc.

O objetivo de tal política era a estabilidade monetária, porém o crescimento

econômico era muito baixo e, além disso, vinha acompanhado das altas taxas de

desemprego. Logo, dentre várias mudanças praticadas, a economia não

conseguiu o resultado esperado, e o crescimento que deveria ser significativo não

foi constatado pela população.

A economia precisava de mudanças e do retorno do dinamismo econômico

e, em 2002, acontecem às eleições quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito,

com a proposta de estabilidade, geração de empregos e do retorno do

crescimento.

A conjuntura internacional “sorriu” para Lula, pois várias dificuldades que

foram encontradas no governo FHC, nesse momento, passaram a não existir

mais. A economia mundial começou a crescer, assim como as relações

diplomáticas.

Em resumo, o Estado criou novas formas de manutenção do poder e da

“inclusão” social, a respeito das novas “funções” e do crescimento e

desenvolvimento da economia, Costa (2007, p.184-185) destaca que:

Formam-se institutos de pensão e aposentadoria, que têm função social indiscutível, mas no seu bojo foram criados privilégios para militares e funcionários públicos, em detrimento dos demais (e muito mais numerosos) trabalhadores dos setores privado, urbano e rural. Criaram-se programas assistencialistas, com ênfase insuficiente nos vetores de inclusão dos muito pobres, que são a educação e a geração de empregos. Foram distribuídas terras, mas sem um processo efetivo de fixação do homem nelas. Criaram-se estímulos a produção, mas estes foram muitas vezes distribuídos a poucos empresários, penalizando os compradores de seus produtos.

Nesse momento há a instalação de novas plantas industriais, que passam

a exigir um processo de modernização tecnológico-organizacional, como é o caso

do ABC Paulista. Assim, novas formas de contratação são colocadas à prova,

crescendo assim o número de terceirizações.

Enfim, essa nova política é frágil, pelo fato de até o momento não ter tido

condições de realizar uma distribuição de renda justa, de forma que o crescimento

sustentado e a distribuição dos recursos fortaleçam o desenvolvimento

econômico.

53

A política salarial é uma das alternativas de equilíbrio, pois, com o aumento

do poder de compra, a economia acaba por se fortalecer e proporcionar o

crescimento da oferta de empregos, mantendo assim o ciclo vicioso da economia

capitalista.

Sobre o desenvolvimento de novos paradigmas tecnológicos e da

industrialização, Arbix (1996, p. 48-49) relata que:

Desde meados dos anos 80 uma nova ordem industrial vem se constituindo em todo o mundo por meio de um inédito e integrado sistema internacional de produção, que está se alimentando e sendo alimentado pelo desenvolvimento de novos paradigmas tecnológicos. (...) O desempenho do setor automobilístico e dos ramos diretamente correlatos vem se destacando com um peso tão grande no processo de desenvolvimento da indústria acabaram por dar forma a um verdadeiro “estilo de industrialização”, chegando a ser considerado o motor do crescimento econômico e a principal fonte do estímulo à competitividade.

Esse novo estilo de produzir veio também colocar em prova a

facilidade/dificuldade que temos para solucionar problemas de ordem econômica

e social, mostrando que essa grande transição política e produtiva não foi

planejada nem ao menos executada ao fim que estava destinada. Por outro lado,

a política de FHC tentou aliar o consentimento dos trabalhadores, novos padrões

de qualidade e de produtividade.

Paradigma esse, cerceado de desigualdades, novidades e precariedades.

As empresas responsáveis e participantes dessas características acima citadas

incrementam qualidade e a produtividade, reduzindo assim custos que serão

apropriados pelos oligopólios.

Nesse meio tempo, algumas empresas abriram mão da terceirização

devido à incidência de defeitos nas peças feitas por empresas contratadas, não

contribuindo assim para os novos ganhos das empresas transnacionais.

Após 1994, vários programas organizacionais foram implantados, tais

como: Programas de Qualidade, Sistema Just in time e Kanban, ganhos

vinculados à lucratividade etc. Para o momento, a política industrial utilizada

favoreceu a produção flexível, devido às mudanças nas pautas sindicais e na

captura da subjetividade do trabalhador. Dá-se o novo e precário mercado de

trabalho.

54

A nova flexibilidade deu asas às novas de leis de trabalho e, em 1998, a

Consolidação das Leis do Trabalho – CLT passou a ser “substituída” por novos

contratos flexíveis, rígidos e que diminuem os direitos trabalhistas, ou seja, a Lei

do Contrato de Trabalho Temporário.

Sobre a precarização e flexibilização do trabalho, pode-se concluir que a

instalação de novas plantas industriais fez crescer os investimentos produtivos,

porém, ao mesmo tempo, acelerou e alterou a qualificação do trabalhador,

àqueles que possuem “qualificações obsoletas” – escassez de mão-de-obra para

alguns setores e exclusão permanentemente do mercado de trabalho para os que

não se enquadrarem às necessidades do mercado.

55

4 A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO PARANÁ

A indústria automobilística se instalou no Estado do Paraná a partir de

1970 com as empresas New Holand e Volvo e, no final da década de 1990, chega

a Audi e a Volkswagen. Esse processo exigiu trabalhadores capacitados para a

atividade, logo, os níveis de salários tiveram que ser reconfigurados, vantagens

tiveram que ser oferecidas para que se conseguissem atrair os trabalhadores e as

multinacionais.

No início da implantação da indústria automobilística, além dos salários

elevados, a capacitação e os treinamentos dos trabalhadores eram necessários,

já que o campo de trabalho era carente de profissionais especializados, além

disso, era outra forma de garantir o aproveitamento dos trabalhadores em outros

cargos da indústria.

O Paraná, que antes estava ligado à produção agrícola, começa a construir

um novo paradigma produtivo, principalmente após a construção da Cidade

Industrial de Curitiba – CIC, a qual exigiu uma nova expansão devido à nova

concorrência internacional.

Naquele momento, a política desenvolvimentista - chamada de Milagre

Econômico, era posta em prática, com isso, em 1991, houve a abertura

econômica da economia brasileira de Fernando Collor de Mello, decorrente de

conjunturas e negociações internacionais, tais como o Consenso de Washington e

o Liberalismo Econômico.

Com a entrada de Fernando Henrique Cardoso no Governo, a política

industrial foi descentralizada para os Estados e Municípios, utilizando como

estratégia competitiva a redução de custos e a ocupação dos mercados, logo, a

indústria automotiva foi incentivada pelo Governo FHC.

Vários incentivos e benefícios fiscais foram instituídos, assim, as

multinacionais deslocaram para o Brasil montadoras de automóveis, que

possuíam plantas enxutas e com uma tecnologia de ponta capaz de satisfazer

56

tanto o mercado interno, com custos menores, quanto o mercado internacional,

dadas as técnicas utilizadas.

Segundo Neves (2003, p.119),

Entre os benefícios concedidos às montadoras, tivemos o de caráter fiscal, prazos de cinco anos depois prorrogados por mais cinco para o recolhimento do ICMS extensivo à rede de fornecedores, de caráter financeiro com a participação do Estado no capital da empresa Renault, além de investimentos em infra-estrutura.

Os benefícios não pararam por aí, o Governo prometia também: estrutura

moderna e em expansão; localização estratégica; ambiente de negócios e de

cooperação, infraestrutura adequada; qualidade de vida etc.

A contrapartida por parte das montadoras era a geração de empregos,

porém, esta não aconteceu, já que a produção de automóveis aumentava a cada

dia e as demissões também. Essa movimentação pode ser percebida pelo gráfico

a seguir:

GRÁFICO 01 - VARIAÇÃO DA ESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO E DO MERCADO DETRABALHO

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

Ocupação Desemprego Produção física Capacidade Instalada

FONTE: IBGE/PIM/PME; FGV/Conjuntura Econômica; citado Dávila, 2003. NOTA: 1991 = 100

(1) O desemprego corresponde ao total da população desempregada de 15 anos ou mais. (2) A ocupação corresponde ao total dos trabalhadores na indústria de transformação.

As montadoras contrataram milhares de trabalhadores no primeiro

momento, porém se pode perceber que num segundo momento o desemprego foi

muito expressivo em relação às demais variáveis. Enquanto a produção física

crescia, a ocupação reduzia-se, devido à grande descentralização de tarefas do

57

processo produtivo, assim como a capacidade instalada, que cresceu a passos

lentos no decorrer dos anos.

A transformação econômica que as montadoras tinham oferecido ao

governo transformou-se na verdade em carências, carências essas enfatizadas

pelo capitalismo e pela mistificação e expectativa criadas pelo desenvolvimento

tão sonhado.

Nesse sentido, o cenário do país foi reconfigurado para atender à demanda

interna, manter a estabilidade monetária e a fatia de mercado conquistada no

exterior; tudo isso priorizando a abertura de capital.

Essa ideia fez com que as montadoras priorizassem a mão-de-obra

qualificada e capacitada, que soubessem operar com tecnologias de ponta;

impulsionando a preparação dos trabalhadores em cursos profissionalizantes. Já

que estariam proporcionando a capacitação dentro das plantas, ou seja, a seu

“benefício próprio” e, o mais importante, com custos reduzidos.

Dessa forma, tornou-se difícil a tarefa de minimizar os reflexos setoriais e

regionais, no que diz respeito à mão-de-obra rural transformada em urbana, logo,

a política liberal acabou aumentando o desemprego, que, segundo o governo, era

decorrente do baixo nível de escolaridade dos trabalhadores e da regulação dos

contratos de trabalho.

Segundo Guimarães, Hirata e Sugita (2009, p.137),

Ademais, no auge do desemprego, demandaram aos sindicatos a aceitação da remuneração por resultados (Participação nos Lucros e Resultados – PLR), da adoção da jornada de trabalho flexível (banco de horas), do enxugamento das estruturas de cargos e salários, da redução dos salários e da realização de trabalho aos domingos.

Mas foi somente a partir do ano de 2000 que a política salarial começou a

ser revista, a fim de reverter o processo de flexibilização de trabalho e prover a

ajuda ao trabalhador, já que as questões trabalhistas são de questão social.

Percebe-se ainda que a organização e funcionamento do mercado de

trabalho não protegem o trabalhador e não são suficientes para a redução do

desemprego e da exploração da mão-de-obra.

58

A falta de educação profissional e a fase de instabilidade causada pela

inovação tecnológica colocam o trabalhador em circunstâncias difíceis, dada a

não participam da “repartição do bolo”. Os trabalhadores não conseguem ter uma

distribuição de renda igualitária e que possa adicionar um excedente a sua renda

e melhorar a condição de consumo e de poder aquisitivo do trabalhador.

Podem-se notar no gráfico a seguir as implicações causadas pelas

transformações econômicas aos trabalhadores:

QUADRO 03 - TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS E IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Economia Tradicional Nova Economia Implicações para a formação

Estabilização do padrão tecnológico

Instabilidade no padrão tecnológico

Importância da transferência tecnológica

Campo tecnológico diversificado

Campo tecnológico interconexo Programas interdisciplinares

Competição internacional regulada

Competição Internacional desregulada

Consistência das novas condições de competição

Focalização no mercado interno

Focalização no mercado global Consciência das novas cultura e linguagem

Produto padronizado para o mercado de massa

Produtos diversificados para consumos segmentados

Necessidade de suporte tecnológico e organizativo para os negócios

Recurso humano como fator de produção

Recurso humano como fator de competição

Sistema educativo revalorizado

Pequena variação nas habilidades dos trabalhadores

Maiores variações nas habilidades dos trabalhadores

Educação continuada

Expansão da ocupação direta na grande empresa

Redução da ocupação direta na grande empresa

Educação para empregabilidade

Crescimento econômico fundado no setor industrial

Crescimento econômico fundado na inovação

Formação em novas tecnologias

FONTE: Moro (1998)

As transformações sofridas a partir de 1990 indicam que dada à força de

trabalho estar fragilizada devido à falta de preparo para enfrentar as novas

condições de trabalho, sem falar no ritmo da produção e das vendas, que contrata

e demite trabalhadores a qualquer momento, já que o custo das demissões é

baixo e a legislação permite.

É evidente que, no Brasil, seria necessária uma negociação estruturada e

ampla que pudesse ser viável tanto para as empresas, quanto aos trabalhadores,

de forma que a democracia e a equidade social fossem possíveis. Sonho cada

vez mais distante!

59

4.1 O SURGIMENTO DA VOLVO

Foi na década de 1970, com a criação da Cidade Industrial de Curitiba, que

a industrialização de Curitiba teve um grande impulso, ao mesmo tempo foi

instalada a fábrica de caminhões e chassis de ônibus Volvo.

Exatamente em 24 de outubro de 1977 foi constituída a Volvo do Brasil

Motores e Veículos S.A., dando início a uma nova fase na história da marca no

País.A escolha por parte da Volvo se deu pelas boas escolas técnicas e mão-de-

obra especializada encontradas no Paraná, especificamente na Região

Metropolitana de Curitiba.

Em 1979, os funcionários deram início às atividades na CIC - Cidade

Industrial de Curitiba. Nesse momento o governo do Paraná desenvolveu um

arrojado projeto de cidade industrial pré-planejada – acompanhado de uma

infraestrutura propícia - energia, telecomunicações, vias pavimentadas para

acesso rápido à cidade etc.

Em 1980, foram realizados estudos sobre as exigências e tendências de

mercado do país. No que diz respeito a transporte rodoviário de cargas, foi

decidida a produção de um caminhão pesado, que já era vendido na Europa. Não

demorou muito para a empresa perceber que o atendimento pós-venda seria

muito difícil, dada a falta de empresas que prestassem tal atendimento. Então, em

1981, a Volvo cria o Voar - Volvo Atendimento Rápido, o qual oferecia

atendimento emergencial, 24 horas por dia, para todos os veículos da marca, em

qualquer ponto do País.

Desse momento para frente, especificamente em 1983, a Volvo lança o

Velox - sistema de entrega emergencial de peças de reposição, que propunha

entregar peças em qualquer capital do País em prazos reduzidos.

Nos anos a seguir, várias mudanças surgiram no que diz respeito a

camihões e ônibus. Ao final de 1987, nasce e é consolidada, dentro da Volvo, a

primeira Comissão de Fábrica das empresas da Cidade Industrial de Curitiba.

Nos anos seguintes, mesmo a situação do Brasil não sendo tão boa, a

Volvo continuou lançando produtos e apostando na recuperação da economia

brasileira, devido ao momento estar sofrendo várias experiências em relação ao

60

transporte. A Volvo foi bem sucedida, pois começou a fabricar carrocerias com

chassis para o ônibus biarticulado, um dos fatores que nomeou Curitiba como a

capital do transporte coletivo.

Os biarticulados melhoraram a qualidade de vida das grandes cidades, por

meio de um transporte mais eficiente. Além disso, trouxeram ganhos ambientais,

pois diminuíram a emissão de poluentes por passageiro transportado.

Com a abertura às importações, a Volvo anunciou a chegada dos

caminhões suecos, sendo considerada a primeira montadora a introduzir

caminhões com motor eletrônico no Brasil.

De acordo com dados históricos da Volvo, em 1994, foi decidido importar

também o moderno chassi chassis de ônibus B12, o primeiro da montadora com

motor traseiro. Os funcionários também ganharam o direito ao plano de

previdência privada em que a Volvo passou a investir cotas para garantir um

futuro mais tranquilo aos seus empregados.

Segundo dados históricos da Volvo, entre os anos de 1995 a 1999 foram

adotadas várias melhorias, são elas: adoção da jornada de trabalho de 40 horas

semanais para empregados da produção; definição da PLR aos funcionários;

introdução de um moderno sistema de pintura e utilização de materiais nobres; a

nacionalização dos caminhões FH12; introdução do conceito de Equipes

Autogerenciáveis – EAGs, etc.

Do ano de 1999 em diante, várias novidades de sucederam no que diz

respeito à atualização da linha de produtos, contando com uma avançada

tecnologia de eletrônica; treinamento de pessoal e de clientes. Em 2002, foram

introduzidos conceitos de manufatura enxuta, otimizando processos, diminuindo

estoques e gerando espaços na área fabril.

4.2 A EXPANSÃO RECENTE: RENAULT, VOLKSWAGEN E CHRYSLER

Mesmo a indústria automotiva tendo sido implantada somente no final da

década de 1990 na Região Metropolitana de Curitiba, a fase de abertura

econômica da economia brasileira pressionou as empresas de tal forma que elas

61

se adaptaram às novas formas de produção e à concorrência internacional, já que

ela ocupava cada vez mais mercados.

Em relação à fase de expansão e à política industrial adotada, Neves

(2003, p.118) destaca que:

Essa nova fase de expansão das multinacionais do ramo automotivo se deve às pressões competitivas da concorrência internacional, que tinha como estratégia competitiva a redução de custos e a ocupação dos mercados. Um outro fator determinante foi a mudança da política industrial do Governo Fernando Henrique Cardoso, que, para equacionar o déficit crescente no balanço de pagamentos, baixou medida provisória para beneficiar o ramo automotivo. Essa medida provisória altera totalmente a política industrial, que deixa de ser centralizada no governo federal e passa a ser descentralizada para os Estados e Municípios da Federação.

O Governo FHC instituiu uma série de incentivos e benefícios fiscais.

Diante desse fato, novas plantas enxutas e com tecnologia suficiente para

produzir carros mundiais para o mercado interno a um custo menor se instalaram

no Brasil e favoreceram a exportação.

Com isso, iniciou-se uma grande guerra fiscal, o que levou o Governo da

época a elaborar projetos de lei que autorizavam a concessão de estímulos fiscais

e financeiros para atrair as montadoras para a Região Metropolitana de Curitiba.

O que na verdade só colaborou para a chegada das montadoras, essas já

analisavam a possibilidade de vir para o Brasil, não só pelos incentivos, mas

pelas características do mercado brasileiro.

Novas plantas foram atraídas, primeiro a Renault e após a Volkswagen-

Audi e por último a Chrysler. O último foi um projeto fracassado, pois sua estadia

durou muito pouco, dada a não aceitação do veículo pelo mercado brasileiro e

internacional, em função principalmente do elevado preço.

Uma nova discussão se inicia. Com a retirada da empresa Chrysler do

mercado brasileiro, o governo passou a exigir o ressarcimento aos cofres do

Estado, os investimentos feitos para a instalação da montadora.

A Renault inaugurou a sua planta Ayrton Senna, em dezembro de 1998,

em São José dos Pinhais, optando por produzir modelos populares para competir

no mercado nacional. Em 2002, a empresa começou a produzir, juntamente com

a Nissan, a camioneta Máster e a pick-up Frontier, que é complementar à linha de

produtos da Nissan.

62

A empresa é considerada um condomínio industrial que opera em uma

linha de produção enxuta e flexível, e tem como configuração organizacional o

formato firma-rede, por centralizar o foco em determinadas atividades e

descentralizar outras como fabricação de peças e serviços de apoio aos seus

fornecedores, porém um grande problema enfrentado pela empresa é a demora

no prazo de entrega das peças, gerando assim um prejuízo na produção e nas

vendas.

Logo, percebe-se que há a desnacionalização da indústria nacional,

especialmente no que diz respeito ao setor de autopeças fortemente dominado

por empresas fornecedoras mundiais com estratégias próprias definidas

mundialmente, ou seja, as decisões são centralizadas nas matrizes.

Já a Volkswagen-Audi foi instalada no ano de1999, dotada de uma

tecnologia de ponta, considerada uma das mais avançadas plantas do Grupo

Volks - Audi no mundo. Sem falar que as empresas fornecedoras estão instaladas

juntamente com a montadora.

Segundo Neves (2003, p.123),

É uma planta desverticalizada, no modelo de condomínio industrial, que adota o modelo de produção flexível, enxuta, transferindo para os terceirizados a montagem dos componentes em sistemas, com um elevado nível de inovações tecnológicas e organizacionais.

A capacidade produtiva é de 700 carros por dia, atingindo atualmente a

produção de 390 unidades diárias em dois turnos. O modelo de produção utilizado

é o flexível e integrado, acompanhado do método just-in-time interno e externo.

De acordo com Neves (2003, p.123):

Os fornecedores que estão instalados na área da montadora têm o regime de comodato por 25 anos e pagam aluguel para a montadora. (...) É muito baixo o índice de nacionalização, sendo grande parte dos componentes importados pelas fornecedoras, que montam os chamados sistemas.

Observa-se que essas empresas expandem as suas sedes, transferem

suas instalações industriais e focalizam a adaptação dessas atividades ao

mercado local. Trazendo consigo novas formas de produção e relacionamento

entre os envolvidos.

63

4.3 OS SINDICATOS E AS COMISSÕES DE FÁBRICA NO BRASIL

Historicamente, não é de hoje que as lutas sindicais brasileiras vêm sendo

parte integrante de todas as mobilizações trabalhistas. Alguns autores relatam

que um dos primeiros movimentos sindicais aconteceu em 1720, e de lá pra cá

várias têm sido as lutas e mobilizações - das Sociedades de Socorro e Ajuda

Mútua à União Operária, a qual deu origem ao sindicato atual e suas divisões/

organizações.

Devido à intensa exploração dos trabalhadores e à intensa luta contra o

capitalismo, surgem os sindicatos. Os quais atuam em lutas cotidianas da classe

operária e pela supressão do trabalho assalariado.

Segundo Antunes (1985, p.12), “Os sindicatos têm como finalidade primeira

impedir que os níveis salariais coloquem-se abaixo do mínimo necessário para a

manutenção e sobrevivência do trabalhador e de sua família”.

A partir do momento em que os trabalhadores se constituíram em

organizações de classe, ficou mais difícil os capitalistas aumentarem as jornadas

de trabalho e a supressão salarial, pois os sindicatos iniciaram um grande

movimento de regulamentação e fiscalização dos salários, da jornada de trabalho

e da legislação social, dando uma resistência maior aos trabalhadores, quando

pela busca de segurança em seu emprego.

Assim, a única função do sindicato é a de “representar os interesses dos

trabalhadores sob determinada jurisdição, visando o seu bem-estar”. Supõe-se

que tal representação é necessária, porque, se os trabalhadores enfrentassem

individualmente o empregador, o governo, etc., alcançariam resultados, no

mínimo, insatisfatórios (LOBOS TRONCOSO, 1988, p.9).

A representação dos interesses trabalhistas está firmada pelo contrato

coletivo, o qual toca em todas as categorias envolvidas.

O contrato coletivo pode ser uma convenção coletiva (pacto entre

sindicatos de empregadores e de empregados) ou um acordo coletivo (pacto de

uma ou mais empresas, de um lado, e um ou mais sindicatos, de outro);

obviamente, no sentido lato, a primeira inclui a segunda (LOBOS TRONCOSO,

1988, p.66).

64

Cabe ressaltar que há várias funções e interpretações quanto aos

sindicatos, porém dentro de suas limitações, estes só poderão exercer sua função

concretizada de acordo com as “leis” de um país para o outro, seja pelo ambiente

socioeconômico e pelo sistema político ou por poder ideológico, assim, evita-se a

transposição de barreiras.

Fatores históricos ou conjunturais podem induzir o sindicato a adotar uma

atitude passiva, defensiva ou ofensiva, contudo isso vai depender do regime

político e do sistema econômico adotado.

Outro fator determinante quanto à relação sindical é o fato de que os

acordos coletivos são demorados, e as reivindicações acabam por se acumular,

tanto pelo demorado “bom acordo”, quanto pelo lado genérico, confuso ou

insatisfatório das relações.

Para os trabalhadores, o sindicato tem o significado de proteção,

informação e sensibilização, logo, os trabalhadores se sentem mais fortes, já que

o sindicato tem sentido coletivo. Os atrativos principais dos sindicatos, em relação

aos trabalhadores, são: união, segurança, participação, reconhecimento,

benefícios e status.

Já do ponto de vista da empresa, o sindicato promove o diálogo social,

este, muitas vezes acaba por comprometer a monopolização das decisões a

serem tomadas nos campos estratégico e/ou operacional, já que também fazem

parte dos instrumentos das empresas para manipular políticas do governo. As

empresas vivem sob pressão diante do estreito relacionamento empresa versus

sindicato versus trabalhadores.

Como neutralizar o avanço sindical? Muito embora não estejam dispostos a

reconhecê-lo publicamente, não são poucos os empresários ou altos executivos

que gostariam de ver o sindicato longe de suas fábricas, escritórios etc. A rigor,

aqueles que se pronunciam a favor do sindicato e, inclusive, de um sindicato

atuante, fazem-no mais para evitar uma situação potencialmente explosiva do que

por qualquer outro motivo. E nem por serem favoráveis deixam de pensar em

exercer sobre o sindicato algum tipo de controle ou pressão que permita

influenciar o seu crescimento (LOBOS TRONCOSO, 1988, p.18).

65

Face aos acontecimentos, o sindicato sabe o quanto é necessária a

existência da empresa, mas também valoriza o trabalhador e as mudanças a que

estão suscetíveis. É o que demostra o quadro a seguir:

QUADRO 04 - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS INTERESSES SINDICAIS

RECUPERACAO DA ATIVIDADE SINDICAL E GREVISTA 1980 - Atual PARTICIPAÇÃO NAS DECISÕES 1960 - 1980 SATISFAÇÃO NO TRABALHO (1950 – 1960) CONDIÇÕES SALARIAIS E EMPREGO (1900 – 1950)

CONDIÇÕES DE TRABALHO Século XIX FONTE: Lobos Troncoso (1988)

E assim, as lutas sindicais vêm tendo um resultado dentro do esperado, em

virtude de sua evolução histórica e da própria participação dos trabalhadores junto

aos sindicatos.

Por mais nítidas e difíceis que sejam, é certo que estão em curso formas

de relação de trabalho que propiciem aos trabalhadores algum grau de controle

sobre os elementos do trabalho, de forma que a concentração de capital

patronalseja repartida igualitariamente ao trabalho e ao próprio saber, realizado

pelos trabalhadores.

4.3.1 A Relação dos Trabalhadores com as Comissões de Fábrica e o Sindicato no Brasil e Paraná

No Brasil, a origem das classes operárias teve início a partir do século XIX,

as influências de Marx e Engels também ocorriam no Brasil, em função da luta de

classes, nesse mesmo período.

Em 1823, surgiram as primeiras associações operárias, organizadas

simploriamente, cujo objetivo era o aspecto econômico e a ajuda mútua. Até

1833, muitas associações foram nascendo e dando lugar às chamadas: “Uniões

Operárias” – voltadas para os interesses dos associados, somente em 1853 é que

66

foi constituído o primeiro sindicato dos operários – “Associação de Operários de

Tipografias da Capital”.

Registros mostram que, em 1858, no Rio de Janeiro, eclodiu a primeira

greve contra as injustiças patronais e pela reivindicação de aumentos salariais. A

partir desse momento, iniciam-se as lutas por melhores condições e salários,

fundamentadas inicialmente pelo anarquismo. Após, as lutas começaram a

aumentar, e, junto, também outras formas de organização surgiram.

A partir desse momento, cada Estado teve sua ascensão sindicalista e, no

entra governo, sai governo, o sindicalismo foi permanecendo e se estruturando

ainda mais, a cada conquista.

Muitas reivindicações foram alcançadas total ou parcialmente, mas o

resultado não era tão satisfatório assim, haja vista a extensão do movimento. As

limitações teórica, ideológica e política do anarquismo se refletiam em suas lutas,

as quais negavam sempre as leis do Estado, o que os deixava a mercê de novos

grupos que viriam após. Exemplo disso foi a fundação, em 1922, do Partido

Comunista Brasileiro, com vistas a assumir as lutas do movimento operário.

Superado o anarquismo, na Revolução de 1930, iniciou-se uma nova fase

do sindicalismo brasileiro – essa fase foi marcada pela criação do Ministério do

Trabalho, que acabava por trazer o movimento operário e sindical para dentro do

Estado e, além disso, a conciliação entre capital e trabalho.

Nesse momento fervoroso, várias conquistas de sucederam, tais como: a

criação da Lei de Sindicalização em 1931; Lei de férias; Descanso semanal

remunerado; Jornada de 8 horas; Regulamentação do trabalho da mulher e do

menor, etc.

De acordo com Antunes (1985, p.62-63),

Em 1939, visando consolidar ainda mais a estrutura sindical subordinada ao Estado, promulgou-se o Decreto-Lei nº 1.402 que instituiu o enquadramento sindical; uma categoria, para ser reconhecida enquanto tal teria de ser aprovada pela Comissão de Enquadramento Sindical, órgão governamental vinculado ao Ministério do Trabalho.

Estava constituída a estrutura sindical brasileira, vertical e subordinada ao

Estado.

67

Nos primeiros anos da década de 1940, houve o surgimento das lutas

sindicais, duas frentes lutavam: uma liberal e burguesa e outra nacional e popular,

várias conquistas sucederam e a classe operária avançou em favor do movimento

sindical.

Os anos se passavam e, entre 1940 a 53 os movimentos operários foram

crescendo e as medidas repressivas do Governo também. Foram, sem dúvida,

anos de avanço de organização da classe operária. Suas reivindicações

fundamentais voltavam-se contra a fome e a carestia, mas não se limitavam ao

plano econômico.

Passados vários anos, em 1978, metalúrgicos do ABC, inesperadamente,

iniciaram uma greve que abriria uma sucessão de outras greves, com vistas a

negar a força de trabalho às empresas e a conquistar a democracia no Brasil. Era

a chamada “década de ouro” do sindicalismo, nos anos 1980, no que diz respeito

ao aumento do número de sindicatos.

No Brasil, o movimento sindical é diferenciado, por ser uma negociação

descentralizada e que, desde seu início, privilegiou as relações individuais em

detrimento das coletivas.

De acordo com Carvalho Neto (2001, p.102), “A estrutura sindical e o

sistema de negociação coletiva brasileiros são segmentados por região e

ocupação, e não por ramos de produção, como nos países centrais, levando a

uma estrutura sindical fortemente pulverizada”.

Assim, a década de 1980 é um marco de novidades para o sindicalismo,

como podemos analisar no quadro a seguir:

68

QUADRO 05 - A SITUAÇÃO DOS MOVIMENTOS GREVISTAS OCORRIDOS ENTRE 1964-1987

1964-1977

1.Exclusão absoluta dos sindicalistas da cena política; 2.Repressão às greves e às lideranças, as intervenções seletivas nos sindicatos atuantes e o controle estatal dos reajustes salariais e das negociações coletivas; 3.Sindicatos transformados em agências prestadoras de serviço; 4.Sindicatos passam a ser passivos, voltados exclusivamente para as atividades assistenciais, e com baixo poder de mobilização em favor de políticas governamentais.

1978-1984

1. Recuperação da função básica dos sindicatos de defesa dos salários e da própria definição de estratégia grevista como forma de reconquista da cidadania política; 2.Greves de caráter inaugural estouraram; 3.Retração do movimento grevista em função de alterações políticas e econômicas; 4.Retomada das greves do setor privado e extensão desse conflito para o setor público. 5. Surgimento da CGT e CUT;

1985-1987

1. Ampliação das greves e disseminação para categorias até então passivas; 2.Direito de greve entre empresários x trabalhadores e trabalhadores x Estado; 3.Divisão dos trabalhadores: sindicalistas dos setores que sofriam rígidos controles de preços e negociações pouco transigentes com os empresários e; de outro lado, escassez de mão-de-obra para os empresários dos setores sujeitos aos controles de preços; 4.O desemprego foi a ameaça que sinalizou a necessidade de cautela da liderança sindical. 5.Rigidez das negociações em respeitar aquilo que impunha ao setor privado ou pela crise das finanças públicas; 6.O ano de 1987, foi considerado o ano das greves dos funcionários públicos.

1988 - 1999

1. Violência da classe em tempos de democracia; 2. Greve da Companhia Siderúrgica Nacional;

Presença ativa das Comissões de Fábrica, responsáveis pela mobilização e organizaçãodos trabalhadores no período;

4. Violência dissimulada da Nova República: explosão de greves; 5. Prelúdio do significado real da democracia para a classe trabalhadora ;

Ampliação da exploração e opressão da classe trabalhadora, submetida a um regime de acumulação flexível de capital;

7. Início do Novo Sindicalismo; 8. Luta pela emancipação da classe trabalhadora.

2000 - Atual

1. Recuperação da atividade sindical e grevista; Alterações na conjuntura econômica, política e ideológica – propiciam a recuperação do sindicalismo;

3. Greves de caráter ofensiva; 4. Greves e paralisazões de caráter menor, porém, com resultados mais expressivos; 5. Ação e política das centrais sindicais; 6. Mudanças nas relações entre movimento sindical e governo após a eleição de Lula.

FONTE: A autora (2011)

4.3.2 O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curiti ba – SMC e as Comissões de Fábrica

Segundo dados históricos do SMC, “Um grupo de fundidores que

trabalhava na Indústria Muller Irmãos se encontra pela primeira vez para

organizar a categoria e, criam a Liga Internacional dos Fundidores do Paraná,

filiada à Liga de Trabalhadores Europeus da época.”

Desde então várias mudanças alteraram nome, categorias abrangidas e de

base territorial, além disso, muitas lutas foram travadas, vários anos se passaram

e, fruto das mobilizações e das lideranças sindicais, em 1920, nasce o Sindicato

dos Metalúrgicos da Grande Curitiba - SMC.

69

Os objetivos do SMC são: as lutas por melhores salários, melhores

condições de trabalho, redução da jornada de trabalho, mais saúde e segurança

nas fábricas, Participação nos Lucros ou Resultados (PLR), entre outros (SMC, no

Portal da CNTM)

Nesse mesmo momento, acontece a primeira reunião, e, de lá para cá,

vários fatos sucederam até a organização ser o que é hoje. O SMC lutou contra o

Neoliberalismo, contra a Emenda 3 que ameaçava retirar direitos dos

trabalhadores.

Passado algum tempo, entre os anos de 1945-47, em São Paulo, deram-se

os primeiros indícios de comissões de fábrica no Brasil, principalmente nas

categorias metalúrgicas, têxteis e ferroviárias.

Segundo Antunes e Nogueira (1981, p.7-8),

A comissão de fábrica possibilita aos operários unirem-se em torno de reivindicações imediatas por melhorias das condições de trabalho, aumentos salariais jornada de trabalho, até reivindicações mais avançadas como direção, controle de produção e autogestão dos trabalhadores dentro das suas empresas.

De acordo com Rodrigues (1990, p.41),

A comissão de fábrica, geralmente, é um organismo eleito em assembleia ou votação secreta – pelo conjunto de empregados de uma determinada fábrica, com o objetivo de representar seus interesses junto à direção da empresa. Normalmente seus representantes são escolhidos por seção, setor ou área, como forma de melhor representar todos os trabalhadores; possui estatuto próprio e é reconhecida pela companhia como organismo de representação operária.

O que se pode afirmar ainda hoje sobre as Comissões de Fábrica é o que

se podia afirmar desde o início da década de 1980 no Brasil. As Comissões de

Fábrica constituem formas de mobilização e de luta dos trabalhadores nas

fábricas e fora delas, constituem um espaço político e, como tal, são um terreno

no qual se desenvolvem relações de poder entre trabalhadores e

gestores/capitalistas (FARIA, 2009).

A respeito dos objetivos sindicais, comuns e do reconhecimento da

necessidade de alcançá-los, Rodrigues (1990, p. 69-70) expõe que é preciso:

I. Instituir um canal efetivo de comunicação entre a empresa, os empregados e os seus representantes, bem como aprimorar o relacionamento entre a empresa e o sindicato;

II. Assegurar tratamento justo e imparcial aos empregados, com fundamento na aplicação uniforme das normas contratuais, legais e os procedimentos vinculados às relações de trabalho;

70

III. Melhorar o relacionamento entre os empregados e a supervisão, com base na cooperação e respeito mútuos;

IV. Manter relacionamento harmonioso na fábrica, de forma a reduzir ou eliminar tensões, desentendimentos e confrontos;

V. Solucionar internamente, através de entendimentos diretos, as divergências eventualmente surgidas no seu relacionamento.

Toda essa iniciativa de instituir as comissões de fábrica veio da

desigualdade entre o capital e o trabalho. O capitalismo sem dúvida nenhuma foi

uma mola propulsora para o início das lutas trabalhistas. Apesar de existirem

diversas formas de organização, a que mais chama atenção são as comissões de

fábrica.

Sabe-se que as empresas, por serem capitalistas, acabam por incentivar a

concorrência dentro da própria empresa, fixando salários diferentes, bem como

funções. Nesse caso, o papel das comissões de fábrica é responder rapidamente

a esse tipo de problema interno.

As comissões nasceram da busca pela unificação operária e da resistência

à dominação capitalista, enfim, elas lutam por objetivos em comum, nascem

espontaneamente ou de forma organizada. Diversas são as formas de

organização, desde comitês de bairros até os sindicatos e partidos. É importante

frisar que aqui as comissões de fábrica estão sendo tratadas como organização

dos trabalhadores em seus locais de trabalho.

É importante lembrar, também, que São Paulo foi o berço das comissões

de fábrica, representando 70% das paralisações no que diz respeito ao setor

automobilístico e metal mecânico.

Várias greves eclodiram, e as comissões de fábrica era quem organizava

os movimentos. As empresas, se vendo acuadas pelo avanço das lutas

trabalhistas, recorreram à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e ao

Governo e iniciaram uma grande luta contra as pressões exercidas pelos

trabalhadores.

A partir de 1947, o Governo Dutra deu início à repressão a esses

movimentos, causando o retrocesso das lutas, porém, várias associações

paralelas foram criadas até 1952. Em 1953, houve a greve dos 300 mil, em São

Paulo, quando as reivindicações eram apresentadas diretamente aos patrões,

71

após se sucederam outras greves, que construíram a história da organização da

classe trabalhadora no Brasil.

De acordo com Antunes e Nogueira (1981, p. 88), “A greve de 1953 foi um

momento de unificação destas lutas parciais e locais da classe operária e as

comissões contribuíram para o trabalho de conscientização da massa através de

piquetes, discussões de fábrica, etc.”

As lutas trabalhistas parciais ou de curta duração foram se modificando e

os motivos se estenderam – insalubridade, periculosidade, higiene, etc., e fizeram

parte da pauta de reivindicações das comissões de fábrica, juntamente com os

sindicatos.

Entre 1964 e 1968, houve uma grande repressão sobre o movimento

operário. A exploração do trabalho, a resistência e a violenta coerção patronal e

policial e a legislação trabalhista favorável ao patronato foram propulsores para

que os trabalhadores passassem a sabotar máquinas e peças, com o objetivo de

forçar o patronato a negociar.

Com o golpe de 64 o movimento operário foi colocado à margem da vida nacional. Somente no final dos anos 70 a classe trabalhadora voltou à cena política com mais ímpeto. Ecos surdos de sua luta já vinham de antes. No entanto, foi nesse período que esses trabalhadores se mostraram por inteiro e trouxeram consigo, no bojo de suas demandas, novas/velhas formas de reivindicarem e de se organizarem, que contribuirão decisivamente para o aprendizado do conjunto do movimento operário na luta por seus direitos, em particular no direito à sua organização autônoma no interior da empresa (RODRIGUES, 1990, p. 39-40).

Na década de 1970, as organizações voltam a nascer nas fábricas e, em

meio às dificuldades encontradas, surge a reivindicação pela existência de um

delegado sindical, que Antunes e Nogueira (1981, p.100) descrevem como: um

representante operário que teria estabilidade, o que lhe permitiria dirigir as lutas

sem o risco da perda do emprego, e que seria no início do processo de formação

de organismos de base, dentro das empresas.

A implantação do delegado sindical foi uma luta violenta de oposição

patronal. pesar de estar escrita nas leis da CLT, a classe patronal sabia que da

implantação dar-se-ia o avanço da luta sindical e operária no Brasil. Logo, a

recusa pela existência do delegado sindical e das comissões de fábrica era

unânime.

72

O surgimento e a institucionalização das comissões de fábrica, no Brasil,

revelam que, sem dúvida, ocorreu na década de 1980 um processo de alteração

substantivamente objetivo nas relações de trabalho comparativamente às que

anteriormente prevaleciam (FARIA, 2009).

Faria (2009) ainda ressalta que essas novas formas de participação

expressam novas formas de relações de poder que exigem, dos trabalhadores e

das gerências, a definição de estratégias capazes de renovar constantemente

suas ações, dada a dinâmica embutida nessas relações.

A partir de 1978, as reivindicações começaram a deixar de ser de caráter

quase que exclusivamente econômico, para pleitos de ordem política, buscando

uma maior participação do trabalhador (PENTEADO NETO, 1986).

Em virtude das novas estratégias empresariais, no final da década de

1980, foi reconfigurado o desfecho das lutas trabalhistas - um novo

empreendimento lançado por meio de uma empresa multinacional chamada

Volkswagen. O sistema de representação dos empregados era um novo

empreendimento, que de início significou aprovação e reprovação ao mesmo

tempo por parte dos dirigentes sindicais.

O objetivo do sistema de representação dos empregados era promover a

“integração e harmonia no ambiente de trabalho”.Com vistas a reduzir a

participação sindical, tal representante teria como atribuições apresentar

sugestões, no que diz respeito a: benefícios, jornada de trabalho, assistência

médica, seguros, alimentação, transporte, lazer, etc.

Mas esses “abonos” salariais foi uma tomada de decisão a médio prazo, o

intuito era o de reduzir as mobilizações coletivas em consonância com a

desvalorização da moeda e o adiantamento dos acordos anuais. Logo, os

trabalhadores não viam a necessidade de intervenção coletiva, a não ser que as

exigências e os resultados viessem de problemas de maior extensão e de difícil

resolução individual, então a necessidade de intervenção coletiva.

A finalidade dos interesses patronais em negociar diretamente mediante a

representação dos empregados visava à fragmentação do sindicato, a fim de

73

facilitar a negociação interna, já que os sindicatos, além de independentes, eram

contrários aos interesses patronais.

O movimento sindical brasileiro cumpriu o papel de irradiador de conquistas

sociais por todo o país. Metalúrgicos, bancários, petroleiros e funcionários

públicos foram setores profissionais que marcaram época.

Hoje, a situação mudou. A visão da decadência do sindicalismo brasileiro

vem amparada por vários elementos, desde a brutal redução do número de

greves até a perda de conquistas importantes com a precarização do trabalho

imposta pelo neoliberalismo no Brasil, suplementada pelo nascimento das

comissões de fábrica.

À luz dos problemas de plano político e ideológico, Antunes e Nogueira

(1981, p.112-113) versam sobre as comissões de fábrica:

A criação das comissões de fábrica mostra-se como o caminho decisivo para a democratização dos sindicatos e para o seu fortalecimento junto às massas urbanas e rurais, visando à criação e consolidação de uma Central Única dos Trabalhadores, massiva, democrática e unitária, que dirija as lutas sindicais, como o objetivo de conquistar uma efetiva democratização da sociedade, nos seus níveis econômico, social e político.

As comissões de fábrica assumem a defesa dos interesses dos

trabalhadores e o enfraquecimento do elo unificador, que é o sindicato - esse tem

caráter coletivo.

Devido à preocupação com o entrosamento entre empresa, trabalhadores e

comissão de fábrica, Penteado Neto (1986, p.57) enfatiza que:

Essa preocupação é politicamente válida, pois o perfeito entrosamento entre os representantes dos empregados e a direção da empresa poderá determinar a marginalização da atividade sindical e a redução de sua força reivindicatória, o que traz também como conseqüência o desinteresse dos empregados em se associarem ao sindicato.

A representação dos trabalhadores nos locais de trabalho facilitou as

negociações e suas atribuições, as comissões de fábrica são interessantes às

empresas, pois evitam a ocorrência de paralisações e de movimentos constantes

na empresa. Dessa forma, o patronato terá maior controle sobre os sindicatos e

comissões de fábrica, se porventura a situação fugir do controle do próprio

patronato.

74

Já na relação entre representante/ representado há uma grande

preocupação no que diz respeito à dependência que os trabalhadores sentem em

relação às comissões, essas só irão ter iniciativa se os próprios trabalhadores se

mostrarem interessados nas negociações com o patronato.

Desse modo, conquistas estão sendo realizadas, sejam por melhores

salários, condições de trabalho, tratamento dado dentro da empresa, diminuição

do poder hierárquico, etc.

Diante de todas essas preocupações, o SMC realizou uma greve

importante no ano de 1979, que coincidentemente foi referência no que diz

respeito a manifestações, esse movimento se espalhou por todo o país, e, nessa

época, a organização dos trabalhadores da construção civil e dos metalúrgicos de

Curitiba era realizada pela Pastoral Operária (PO), ligada à Igreja Católica.

Segundo Neves (2003, p.142),

A Pastoral Operária passou a atuar intensamente nas fábricas, mobilizando os trabalhadores para a campanha salarial cuja data base era em 1o de dezembro de 1979. Era fundamental para o êxito da campanha salarial e o fortalecimento da Oposição Sindical Metalúrgica que os trabalhadores participassem das assembléias do Sindicato, em setembro do mesmo ano para preparar a pauta salarial da categoria.

Sindicalistas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul vieram

participar de um encontro, organizado pela Pastoral Operária, no qual dividiram

suas experiências de organização de campanha salarial, e logo surgiu uma

comissão.

Boletins e informativos foram divulgados, dessa maneira os trabalhadores

foram sendo mobilizados e, em setembro de 1979, já se tinha um total de 2.500

metalúrgicos participando da assembleia, ou seja, o número de metalúrgicos

crescera 900% com relação à assembleia anterior.

Propostas foram discutidas, bem como os rumos da campanha salarial, e

quase todas as propostas foram aprovadas, contudo a Pastoral Operária

esperava uma participação maior da diretoria do sindicato. Vendo que o sindicato

não assumia sua postura, a PO passou a organizar a oposição sindical

metalúrgica.

75

Em dezembro de 1979, os trabalhadores eclodiram novamente uma greve,

que proporcionou um resultado positivo, pois foi vitoriosa, e o reajuste foi dado e o

piso salarial reajustado; a greve foi considerada uma grande vitória econômica e

organizativa.

De acordo com Neves (2003, p. 144),

Mesmo sendo uma greve considerada legal, os patrões não respeitaram as decisões da justiça da Justiça do Trabalho. E o pior aconteceu, as fábricas começaram a repressão quinze dias após a greve, demitindo 50 operários, muitas empresas não pagaram os dias parados, atrasaram o pagamento do 13o salário.

Nesse meio tempo, o sindicato e a PO brigavam pela onda de demissões

que ocorriam nas fábricas. Com esse advento, a Oposição Sindical Metalúrgica

vinha se fortalecendo junto aos trabalhadores metalúrgicos pela sua prática

combativa e de enfrentamento em relação ao sindicato e aos patrões.

E por fim, o SMC também participou dos protestos do “Fora Collor” em

1992, lutou pela aprovação do salário mínimo regional no Paraná, entre outras

mobilizações. Liderou também grandes greves por melhores salários e condições

de trabalho em diversas indústrias do setor.

Em meio às transformações ocorridas na conjuntura como um todo, o perfil

da classe trabalhadora também mudou, principalmente após a instalação das

montadoras no Estado do Paraná, quando outras práticas são adotadas pelo

sindicato, a demanda do trabalhador já não é mais a mesma.

Além do nível de exigência ser maior pelos trabalhadores, o sindicato

também passou de um mero representante dos trabalhadores das pequenas e

médias empresas metalúrgicas para ser representante das montadoras da Região

Metropolitana de Curitiba, no que diz respeito às negociações coletivas.

76

5 TRABALHO, SALÁRIOS, E POLÍTICA SALARIAL NA INDÚST RIA AUTOMOTIVA

5.1 O SALÁRIO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO

Denomina-se salário mínimo a remuneração mínima devida a todo

trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de

satisfazer, em determinada época e região do país, as suas necessidades

normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte (SABOIA,

1985).

Sabóia (1985, p.14) diz que esse conceito, mantido até hoje, entrou

posteriormente em choque com a Constituição de 1946, que menciona um salário

mínimo “capaz de satisfazer as necessidades normais do trabalhador e as de sua

família”.

Já para Nascimento (1996), salário é o pagamento efetuado pelo

empregador (sujeito ativo) ao empregado (sujeito passivo) para que possa

aproveitar o trabalho dessa pessoa, sem que necessariamente o faça; à

obrigação de pagar o salário corresponde o direito com o trabalhador em ocasiões

normais.

Mesmo esses trabalhadores conquistando seus direitos paulatinamente,

dentro desse contexto, fica muito difícil definir uma política salarial que possa

permitir a melhoria das condições socioeconômicas dos trabalhadores, sendo

assim, há uma contradição muito grande entre salário e lucro, que acaba

reduzindo a fatia do “bolo” que os próprios trabalhadores produzem.

Assim sendo, o sistema econômico é regido por várias distinções de

pagamento e da forma como que é possuída a propriedade, distribuição,

produção e a divisão do trabalho, além disso, constantemente esse sistema

salarial sofre alterações pelo sistema industrial. Os trabalhadores têm tido suas

oportunidades de escolha trabalhista cada vez mais reduzida, principalmente no

sistema industrial moderno.

Segundo Dobb (1966, p.17),

77

A limitação de escolha, com efeito, já não é mais uma limitação legal, como em tempos idos; é uma limitação econômica, tão efetiva por sua natureza quanto às compulsões legais que suplantou, e consiste no fato de ser o trabalhador, nas condições do capitalismo moderno, membro de uma classe sem propriedades: um fato que lhe reduz a liberdade de escolha, restringindo-a aos meios de ganhar a vida que dispensam a posse de uma terra ou de um capital – ou até, na maioria dos casos, que dispensam em grau considerável de instrução ou adestramento.

Sendo assim, o homem nunca é livre para fazer suas escolhas, a natureza

as impõe, e o trabalhador é essencial no processo de industrialização. A menor

liberdade econômica do trabalhador o coloca sempre como dependente do

capitalista capitalismo, por outro lado, pode-se perceber que no sistema salarial

moderno é difícil encontrar indivíduos que queiram contrariar o modelo imposto,

deixando de ser um capitalista para se tornar um trabalhador assalariado; até

porque tal sistema não seria capaz de abranger tantos trabalhadores.

Sobre o desenvolvimento de um proletariado, Dobb (1966, p.20) destaca

que

Pode-se dizer, por conseguinte, que duas coisas são necessárias ao advento de um sistema salarial plenamente amadurecido. Primeira, a remoção das restrições legais que vinculam o trabalhador a um patrão. Segunda, o desenvolvimento de uma classe sem propriedades, ou proletariado, disposta a empregar-se em troca de um salário por não ter outro meio de granjear a própria subsistência.

Essa grande fase industrial fortaleceu ainda mais o capitalista, que passou

a pagar um salário ainda menor aos trabalhadores. Em decorrência dessa

situação, os trabalhadores se subordinavam cada vez mais aos caprichos dos

capitalistas.

Profundas foram e continuam sendo as transformações a que o capitalismo

remete os trabalhadores e o próprio conceito de trabalho. As forças de mercado

caracterizam movimentos desiguais no que diz respeito à qualidade dos postos de

trabalho, à regulação do mercado de trabalho e ao desenvolvimento tecnológico

que assumem grande relevância, principalmente históricas e econômicas.

O trabalhador, ao se deparar com essas transformações, advindas do

progresso econômico, faz com que a condição do trabalhador se torne próspera

ou duvidosa. Quanto maior o acúmulo de capital e a expansão da indústria, maior

a contratação de mão-de-obra, sendo assim o trabalhador teria uma condição

próspera, mesmo que essa fosse momentânea. Já para a empresa, quanto mais

78

pobre forem os trabalhadores e menos gastarem para sua sobrevivência, menor

será o preço da sua força de trabalho.

O nível de salário e a oferta da mão-de-obra são regidos pela necessidade

tanto do trabalhador, quanto da empresa; essa influência faz com que haja a

queda dos salários.

As empresas irão distribuir seus ganhos em suas instalações e em

aquisição de matéria-prima e mão-de-obra. Se o seu retorno for tão grande

quanto o esperado, haverá o aumento de salário; porém, se for ao contrário, é

possível que o resultado final seja a queda no nível de emprego.

Dobb (1966) explica que a queda dos salários gera o aumento da oferta de

mão-de-obra partindo-se dos seguintes pontos: forçando um número maior de

mulheres e menores premidos pela pobreza a buscar emprego, e pressionando

os assalariados existentes a fim de que trabalhem maior número de horas ou

aumentem a intensidade do seu trabalho.

Os trabalhadores, tendo a obrigatoriedade de suprir suas necessidades,

acabam por empregar mulheres e crianças, face às novas condições que as

máquinas trouxeram consigo, assim, a jornada de trabalho é prolongada, bem

como sua sede por trabalho alheio.

A máquina nas mãos do capital cria, por consequência, motivos novos e

poderosos para prolongar desmensuradamente a jornada de trabalho. Alistando

sob as ordens do capital, elementos da classe operária, mulheres e crianças,

antes respeitadas e deixando disponíveis os operários substituídos pela máquina,

produz uma população operária superabundante, que se vê obrigada a deixar

ditar a lei (MARX, 2008).

Enfim, o objetivo da empresa é de que o trabalhador realize sua atividade

promovendo a satisfação econômica e estratégica da mesma. Em outras

palavras, o trabalho e o capitalismo caminham juntos a fim de aumentar a

circulação internacional do capital.

Devido ao avanço expressivo do capitalismo, houve uma simulação da

participação dos trabalhadores na tomada de decisão empresarial, no que diz

respeito à gestão de produção, apresentando assim um crescimento rápido no

79

Brasil após a década de 1960. Hoje, duas formas de participação se destacam: a

busca pela integração do trabalhador à empresa, consequentemente a redução

das frustrações trabalhistas, e a outra, a cooperação no que diz respeito à

resolução de problemas de ordem operacional da empresa.

Assim, percebe-se a importância de empresários e trabalhadores

sobreviverem juntos, já que estes participam da relação entre detenção dos meios

de produção e de renda, transformados em salário e lucro. Conforme Sabóia

(1985, p.11), ao mesmo tempo em que se realiza a produção, está sendo gerada

uma determinada quantidade de renda. A participação de cada indivíduo no

produto social depende da distibuição de renda.

O desenvolvimento da participação requer mudanças na tomada de

decisão e no tratamento entre as pessoas. Essa mudança não é fácil, o próprio

ser humano não é muito suscetível a mudanças repentinas, tornando-se

resistente às incertezas.

No caso dos administradores e supervisores, as rejeições encontram-se no

dinamismo de decisões, limitação da autonomia ou ameaça profissional. Já os

trabalhadores, têm medo da própria novidade e acabam por desconfiar da atitude

participativa entre empresa e trabalhadores, personalidade ou apatia.

A respeito da não participação dos trabalhadores, Fleury e Fischer (1987,

p.143) dizem que:

Marx considerava a alienação como sendo inerente ao modo capitalista de produção, caracterizado pela propriedade privada, pela divisão entre trabalho manual e intelectual e pela utilização de trabalho como uma mercadoria submetida às leis de mercado. Para ele, a alienação seria eliminada somente com a abolição da propriedade privada dos meios de produção. (...) A alienação, no pensamento marxista, é um fenômeno que transcende os limites da firma individual. Mesmo que uma firma passe a ser de propriedade dos trabalhadores, a alienação dos mesmos persistirá, porque o regime de propriedade privada no restante da economia continuará determinando preços e salários, através de forças impessoais de mercado.

A alienação é um processo que exige condicionantes que gerem

“consciência participativa”, estes podem ser mediante treinamentos em relações

humanas, programas de comunicação, enfim, a integração das metas individuais

às metas organizacionais.

Mesmo os esforços organizacionais tendo que ser lapidados de ser

humano para ser humano, na maioria das vezes essa lapidação é confundida,

80

logo, torna-se difícil descobrir a causa, tomar decisões e resolver os problemas,

então, muitas vezes perde-se muito tempo e dinheiro, enquadrando as pessoas

no trabalho participativo.

A participação é refletida na capacidade e confiança por parte do

trabalhador. Se a sua contribuição for vista beneficamente pela empresa, os

resultados surgirão rapidamente, seja pelo aumento de produtividade, pela

satisfação no trabalho ou pela expectativa dos trabalhadores.

Caso contrário, a ruptura das tradicionais formas de organização produtiva

será marcada pela precariedade do trabalho (doenças, encurtamento da vida de

trabalho), insegurança do trabalhador e pela elevada concorrência (inovação,

habilidades, qualificação, especialização, etc.), que juntos acabam por causar o

desemprego.

À luz desses acontecimentos surgem as instituições que tentam garantir o

direito dos trabalhadores. Marx via nos sindicatos, antes de tudo, centros

organizadores, focos de agrupamento das forças proletárias, organizações

destinadas a dar-lhes sua primeira educação de classe. O fato de os proletários

dispersos e em concorrência mútua começarem a atuar conjuntamente, parecia-

lhe de fundamental importância. Via aí a garantia de transformação da classe

proletária em uma força independente (LOSOVSKY, 1989).

A caracterização de um sistema de relações de trabalho passa pela

compreensão da forma como agem e interagem seus atores: trabalhadores,

empregadores e o Estado. No caso brasileiro, a forma como se constituíram os

sindicatos (patronais e dos trabalhadores) e o poder conferido à Justiça do

Trabalho ajudam a explicar por que as relações de trabalho no Brasil são tão

regulamentadas e, ao mesmo tempo, tão flexíveis (TUMA, 1999).

O processo de industrialização do país transformou seu vasto contingente

de mão-de-obra rural, com poucos laços de assalariamento, em um extenso

mercado de trabalho urbano. O inchaço do mercado de trabalho urbano exerceu

uma forte pressão sobre os salários de base e favoreceu a abertura do leque

salarial, devido às condições de trabalho flexíveis impostas pela quebra de

paradigmas.

81

A abertura do leque salarial se deu por conta do desigual progresso

técnico, e, as empresas por si só, utilizavam-se da situação para montar sua

própria base salarial, esta continha baixa remuneração aos “desqualificados” e,

aos que estivessem em nível hierárquico “melhor” ou que tivessem a devida

qualificação, tinham salários mais favoráveis. Com relação à política salarial de

hoje, não mudou muita coisa, a não ser a defensão coletiva por parte dos

sindicatos e a redução cada vez maior dos postos de trabalho.

A indústria automobilística tem provocado a redução do nível de emprego,

devido o foco ser os grandes investimentos em modernização e a busca de

plantas cada vez mais robotizadas e enxutas. A terceirização de atividades,

restrita inicialmente a serviços de apoio, passou a ser realizada nas áreas de

produção, manutenção e ferramentaria, por exemplo.

Face ao exposto acima, o que se percebe é que os trabalhadores estão em

meio a uma crise de identidade, na qual os sindicatos e as lutas coletivas vão

perdendo espaço, e o individualismo gerado pelo capitalismo e pelo rompimento

dos paradigmas passam a ser sua nova forma convivência trabalhista.

Muitas vezes as empresas preferem realizar negociações diretas com seus

funcionários e evitar uma provável greve ou reivindicação coletiva, já que estas

muitas vezes divergem do próprio interesse individual.

Diante dessa transformação dos paradigmas, está havendo uma perda

considerável de postos de trabalho nesse setor. A mesma reorganização da

produção e inovação que “obrigou” os trabalhadores da Região Metropolitana de

Curitiba a se tornarem urbanos, mais jovens e de um nível de escolaridade mais

elevado, não agregou suficientemente toda essa mão-de-obra racionalizada e

integrada entre trabalho e produtividade.

Muitos são os fatores das perdas de postos de trabalho, principalmente no

que diz respeito à desvinculação salário/produtividade visualizada nas diferenças

salariais entre as diversas plantas no país, inclusive entre Renault e Volkswagen.

O ritmo de trabalho, as multitarefas, a qualidade de trabalho, condições de

trabalho, nível de escolaridade etc.

82

Essa agressiva modernização do trabalho e das relações produtivas

geraram efeitos que foram revertidos em diferenças salariais atreladas a essa

precarização do fator trabalho devido à flexibilização do contrato de trabalho e,

assim, a queda salarial.

Para Pochmann (2000) citado por Cario, Pereira e Brollo (2002), ao longo

dos anos 1990, quando as políticas neoliberais foram amplamente aplicadas no

Brasil, surge o argumento de que o custo do trabalho era muito elevado, o que

inviabilizava a modernização do país, além de produzir informalidade nas relações

trabalho e desemprego. Apesar de provocar maior flexibilização dos contratos de

trabalho e estimular a desregulamentação das relações de trabalho, com sérios

impactos negativos.

Considerado como um mito, o “custo do trabalho” foi produzido pelo

neoliberalismo como forma de tornar ainda mais baixo o peso dos salários nas

despesas das empresas, sem que isso estimulasse a geração de mais empregos.

A limitação do aumento dos salários ao incremento da taxa de

produtividade representa um elemento para dificultar o aumento dos salários.

5.1.1 As Transformações Político-Econômicas do Salá rio

Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford Motor Company e do Fordismo -

modelo baseado na produção em massa, foi o propulsor do modelo de produção

que revolucionou a indústria automobilística.

Além de revolucionar o modo de produção, contratando mão-de-obra sem

qualificação e agilizando a produção, Ford tentou baratear o preço e o custo do

automóvel, de tal forma que possibilitaria a todos a sua compra.

Tal desenvolvimento da indústria pesada proporcionou a expansão do

assalariamento, com isso, houve a destruição do modo de vida tradicional devido

à separação da força de trabalho do conjunto de suas condições de existência.

Dando condições a um novo modelo de consumo e de uma produção em larga

escala.

O ano de 1914 é a data que simboliza o Fordismo – novo modelo de

consumo e de produção em larga escala, quando Henry Ford estabeleceu uma

83

nova forma de trabalho: democrática, racional, moderna e popular; a qual utilizava

novos métodos de trabalho, tais como: a racionalização das velhas tecnologias, a

divisão do trabalho e o trabalho massificado e mais produtivo - colocando o

trabalhador em posição fixa.

O objetivo de Ford era fazer com que os trabalhadores se tornassem

disciplinados e dependentes do sistema econômico, podendo assim administrar

sua renda e tempo de lazer. Esse ciclo vicioso faria com que os trabalhadores

consumissem aquilo que fizessea produção, logo surgiram os indícios ainda mais

claros do controle do mercado de trabalho, imposto principalmente pelo Estado.

A relação salarial estava fundamentada pela interação entre Governo,

Empresários e Sindicatos, na forma de convenções coletivas de trabalho

baseadas no Estado de Bem-Estar. Nessa época, várias pessoas foram

contratadas por um salário de US$ 5 por dia, com uma jornada de trabalho de 8

horas.

Os salários adaptavam-se ao custo de vida por meio da venda diária da

força de trabalho individual, caracterizada por uma estrutura de qualificação

profissional relativamente estável, já que nesse momento algumas mudanças com

relação ao reconhecimento dos direitos dos trabalhadores foram expressivas.

As relações salariais sofreram várias transformações. esse período foi

marcado pelo aumento da produtividade do trabalho e por um novo modelo de

consumo, que alterou significativamente a formação do salário, ou seja, a relação

entre capital e trabalho, tendo em vista que a produção em massa almejava a

demanda agregada.

Os trabalhadores – reféns do trabalho massificado foram beneficiados pela

seguridade social, salário mínimo, promoções, etc. Outro fato importante foi a

elevação do salário real, a qual permitiu o acesso da classe trabalhadora às

novas mercadorias, anteriormente restritas às classes sociais mais abastadas

financeiramente.

Os passos do Fordismo caminhavam para a diminuição do desperdício de

tempo, com isso, os trabalhadores seriam mais produtivos, porém a produtividade

era controlada, já que o funcionário não podia produzir a mais. Os empregadores

passaram a utilizar estratégias para reduzir o custo do trabalho, assim

84

centralizavam e concentravam o capital, fixando seus preços de oferta e

tendenciando à precarização do trabalho, ou seja, o aumento da insegurança, a

instabilidade e a falta de direitos e benefícios sociais.

Devem-se acrescentar a isso todos os insatisfeitos com o terceiro mundo com um processo de modernização que prometia desenvolvimento, emancipação das necessidades e plena integração ao Fordismo, mas que, na prática, promovia a destruição de culturas locais, muita opressão e numerosas formas de domínio capitalista em troca de ganhos bastante pífios em termos de padrão de vida e de serviços públicos, a não ser para uma elite nacional muito afluente que tinha que decidir colaborar ativamente com o capital internacional (HARVEY, 2008, p. 133).

Na década de 60, o Fordismo se mostrava enfraquecido e vários

problemas começaram a surgir, tais como, mercado saturado, enfraquecimento

da demanda efetiva e o problema de rigidez dos investimentos. Algumas

estratégias foram utilizadas para tentar conter a deflação e a crise daquele

momento.

Em consequência, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento sociale político. No espaço social criado po todas essas oscilações e incertezas, uma série de novas experiências nos domínios da organização industrial e da vida social e política começou a tomar forma. Essas experiências podem representar os primeiros ímpetos da passagem para um regime de acumulação inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentação política e social bem distinta (HARVEY, 2008, p.140).

A partir da década de 1970, o Fordismo entra em declínio. A General

Motors começa a lançar variados modelos de veículos e de cores. Com isso, a

GM ultrapassa a Ford, como a maior montadora do mundo, e a Toyota – empresa

japonesa, entra no mercado automobilístico, colocando fim no Fordismo, em

2007.

Nasce o Toyotismo, criado no Japão por Taiichi Ohno, é um Modelo

Produtivo Flexível, que se caracteriza pela polivalência do trabalhador e da alta

qualificação do mesmo - que passa a desempenhar múltiplas tarefas, eliminando-

se, assim, a porosidade da jornada de trabalho.

Com isso, nascem novas formas produtivas, de desenvolvimento e de

acumulação, tais como: um Sistema Flexível de Mecanização – a fim de evitar o

desperdício; a implantação do sistema de qualidade total em todas as etapas de

produção; a aplicação do sistema Just in Time e o Uso de pesquisas de mercado

para adaptar os produtos às exigências dos clientes.

85

O Toyotismo, além de planejar e separar as funções, desenvolve um

trabalhador intelectual – resumido em trabalho e estudos constantes, de forma

que esses utilizem o raciocínio e a criatividade ao contrário do Fordismo, que

continha uma mão-de-obra braçal.

Atualmente o Toyotismo caminha conforme as exigências do mercado,

flexibilizando o trabalho, incentivando a inovação tecnológica e a competitividade,

quando o trabalhador precisa estar preparado para uma vida globalizada,

possuindo aptidões suficientes para enfrentar o acirramento da concorrência

trabalhista.

Em meio à radical mudança do mercado de trabalho, os empregadores

tiram proveito do enfraquecimento sindical e da própria flexibilidade do trabalho,

utilizando-se de margens de lucro maiores e de regimes e contratos de trabalho

mais flexíveis. Sem falar no aumento crescente dos trabalhadores em tempo

parcial, temporário e subcontratado.

Observa-se, no novo e precário mercado de trabalho, que os

empregadores têm um maior controle sobre os trabalhadores e, estes, por sua

vez, além de competirem entre si, possuem um envolvimento maior em suas

funções. Ao contrário, os empregadores sentem-se no direito de fazer demissões

em massa, modificar e fragmentar a estrutura da classe trabalhadora, seja por

necessidade ou estratégia de sobrevivência.

Nesse momento, observa-se também a diminuição do poder sindical por

conta da descentralização do mercado de trabalho e da diminuição dos postos de

trabalho nas montadoras.

As condições e ganhos de capital favorecem o empregador, a partir do

momento em que ele pode se apropriar dos ganhos de produtividade auferidos

pelo processo produtivo e de trabalho.

A maior expressão de flexibilidade conquistada pelas empresas manifestou-se através da mudança na forma de remuneração do trabalho de uma remuneração por produção, que estimulava o aumento da produtividade diária, transita-se para uma remuneração horária ou mensal. Essa forma de remuneração, ao se fundar na estabilidade do salário nominal e em um regime de produtividade crescente, passava a permitir uma desvalorização progressiva do salário real e, portanto, uma distribuição progressivamente desigual do excedente em favor do capital (GUIMARÃES; HIRATA; SUGITA, 2009, p.125-126).

86

As condições criadas pela globalização direcionaram as empresas à

Divisão Internacional do Trabalho e à desigualdade, proporcionando assim a

facilidade de entrada de empresas multinacionais no país, bem como benesses

para que estas aqui se instalassem.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitas empresas começaram a instalar

filiais em diferentes países do mundo, alterando assim o quadro das relações

comerciais. Em resumo, o custo do produto final seria menor, aumentando assim

os lucros.

As tentativas de resolver os problemas gerados pela crise do capitalismo

(1960-70) são os próprios geradores das mudanças no mercado de trabalho, ou

seja, a degradação das condições de trabalho, do próprio trabalhador e dos

direitos trabalhistas.

Em meio a tantas mudanças na estrutura sindical, produtiva e política,

instaurou-se a guerra da competitividade e da acumulação do capital. Os países

desenvolvidos, em busca de uma maior fatia de mercado, passaram a reduzir o

número de trabalhadores nas fábricas e a instaurar o trabalho em equipe, como

representativo de pressão sobre cada líder, obrigando-os a desempenhar sua

função com qualidade e sem desperdícios.

Dessa maneira, os trabalhadores são levados a se sentirem como

participantes da empresa, a partir do momento em que assumem um posto de

liderança frente a um grupo, porém não deixam de trabalhar sob pressão, e o

tempo para o lazer e para a vida familiar é excluído dos planos do trabalhador,

assim, o tempo livre é dedicado ao repouso e à recuperação dos problemas

físicos e psicológicos gerados pelo excesso de trabalho.

Por ser o capitalismo orientado para o crescimento – e este se referir em

valores reais, Harvey (2008, p.166) enfatiza que: “o crescimento em valores reais

se apoia na exploração do trabalho vivo na produção. Isso não significa que o

trabalho se aproprie de pouco, mas que o crescimento sempre se baseia na

diferença entre o que o trabalho obtém e aquilo que cria”.

Sendo o trabalho a apropriação e/ou prêmio pela capacidade de

organização, o quadro a seguir explana as mudanças ocorridas no trabalho

baseado na produção em massa e a acumulação flexível:

87

QUADRO 06 - MUDANÇAS NO MERCADO DE TRABALHO FORDISMO TOYOTISMO

Realização de uma única tarefa pelo trabalhador Múltiplas tarefas Pagamento pro rata (baseado em critérios da definição do emprego)

Pagamento pessoal (sistema detalhado de bonificações)

Alto grau de especialização de tarefas Eliminação da demarcação de tarefas Pouco ou nenhum treinamento no trabalho Longo treinamento no trabalho Organização vertical do trabalho Organização mais horizontal do trabalho Nenhuma experiência de aprendizagem Aprendizagem no trabalho Ênfase na redução da responsabilidade do trabalhador (disciplinamento da força de trabalho)

Ênfase na co-responsabilidade do trabalhador

Nenhuma segurança no trabalho Grande segurança no emprego para trabalhadores centrais (emprego perpétuo). Nenhuma segurança no trabalho e condições de trabalho ruins para trabalhadores temporários.

FONTE: Adaptado de Harvey (2008)

Sobre a acumulação flexível, segundo Harvey (2008, p.174),

Aqui, a acumulação flexível parece enquadrar-se como uma recombinação simples das duas estratégias de procura de lucro (mais-valia) definidas por Marx. A primeira, chamada de mais-valia absoluta, apóia-se na extensão da jornada de trabalho com relação ao salário necessário para garantir a reprodução da classe trabalhadora num dado padrão de vida. A passagem para mais horas de trabalho associadas com uma redução geral do padrão de vida através da erosão do salário real ou da transferência do capital corporativos de regiões de altos salários para regiões de baixos salários representa uma faceta da acumulação flexível de capital.

Percebe-se, então, que o Sistema Capitalista privilegia as classes mais

abastadas e cria novos sistemas de produção e de mercado de trabalho, dando

abertura à globalização, empreendedorismo e à precarização do trabalho.

Já quando se fala na Política Salarial adotada hoje nas montadoras, nota-

se que, em meio à exploração do trabalho, várias foram as paralisações em busca

de melhores condições de trabalho, entre elas: Reposição salarial; Participação

nos Lucros e Resultados - PLR; Jornada de trabalho; Hora-extra; Demissões; etc.

Entre os maiores geradores de conflitos estão: falta de rodízio de

trabalhadores; Excesso de trabalho, convocação de hora-extra e de mudança de

turno; Alta rotatividade de mão-de-obra e trabalho sob pressão; Terceirização,

entre elas a mais velha das reivindicações – a redução do tempo de trabalho, etc.

Sobre a nova relação da condição operária, Castel (2009, p.419) leciona

que

Podem-se caracterizar assim os principais elementos dessa relação salarial do início da industrialização, correspondendo ao que se acaba de chamar de condição proletária: uma remuneração próxima de uma renda mínima que assegura apenas a reprodução do trabalhador e de sua família e que não permite investir no consumo.

88

Castel (2009, p.420-434) destaca ainda que, para assegurar a passagem

da relação salarial que prevalece no começo da industrialização, é necessária a

reunião de cinco condições, são elas:

a) Uma nítida separação entre os que trabalham efetiva e

regularmente e os inativos ou os semiativos que devem ser

excluídos do mercado de trabalho ou integrados sob formas

regulamentadas;

b) A fixação do trabalhador em seu posto de trabalho, e a

racionalização do processo de trabalho no quadro de uma

“gestão do tempo exata, recortada e regulamentada”;

c) Acesso por intermédio do salário a “novas formas de consumos

operários”, através do que o próprio operário se torna usuário da

produção de massa;

d) O acesso à propriedade social e aos serviços públicos – o

trabalhador é também um sujeito social suscetível de participar

do estoque de bens comuns, não comerciais, disponíveis na

sociedade;

e) A inscrição em um direito do trabalho que reconhece o

trabalhador como membro de um coletivo adotado de um

estatuto social além da dimensão puramente individual do

contrato de trabalho.

As condições acima citadas refletem a frágil e flexível condição do

assalariado, Assim, de acordo com Castel (2009, p.444):

Seria possível, portanto caracterizar o lugar que a condição operária ocupa na sociedade [...]. Os fatores de pertencimento foram sublinhados: seguros sociais, direito do trabalho, ganhos salariais, acesso ao consumo de massa, relativa participação na propriedade social e até mesmo no lazer. O traço comum dessas conquistas é que contribuíram para estabilizar a condição operária, instaurando uma distância em relação à imediatidade da necessidade. Neste sentido, a condição operária difere muito da condição proletária do começo da industrialização, marcada por uma vulnerabilidade de todos os momentos. E também nesse sentido, pode-se falar de integração: a classe operária foi repatriada da posição de quase exclusão que ocupava quando na margem extrema da sociedade.

89

O assalariado veio desempenhando um novo papel, papel este que hoje se

preocupa com a diferenciação e a própria condição salarial, sendo ela propiciada

pelo Estado, que acaba por fortalecer e intermediar a relação entre empregado e

empregador, fazendo-se de “parceiro social”.

A essas disposições que dizem respeito à estrutura profissional e ao direito

de trabalho, é preciso associar os esforços tentados para repartir os frutos da

expansão (CASTEL, 2009).

5.2 A POLÍTICA SALARIAL NO BRASIL

Até 1940, o controle dos salários era realizado pelo Governo, não existia

política salarial definida. A partir de 1965, o Governo passou a atuar efetivamente

no controle salarial, tanto no âmbito público quanto no privado.

Fica claro o funcionamento do sistema produtivo, a renda e a taxa de lucro

determinaram a participação do indivíduo, ou seja, é a distribuição de renda que

garantirá a participação do indivíduo no produto social.

Segundo Sabóia (1985, p.13),

O Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a possuir uma legislação específica sobre o salário mínimo. A Constituição de 1934 o incorporava em seu Artigo 121. A Lei 185, de Janeiro de 1936, definia o conceito de salário mínimo e instituía as Comissões de Salário Mínimo.

O conceito de salário mínimo entra em choque e é configurada uma “nova”

política salarial – salário como provedor das necessidades básicas. Foi afixado o

teto mínimo e máximo dos salários, de acordo com as regiões. Naquele momento,

havia 14 níveis distintos de salários, beneficiando, assim, cada vez mais a

acumulação capitalista, pouco tempo depois os níveis salariais passaram de 14

para 34, aumentando ainda mais o arrocho salarial, face também à situação

econômica vivida pelo país.

O salário mínimo deveria ser ajustado a cada 3 anos, porém, entre 1943-

51, os salários sequer sofreram alterações. No Governo de João Goulart, no

período entre 1957-59, foi que o salário começou a ser reajustado anualmente, o

que não significa que sua deteriorização e precariedade seriam reduzidas.

De acordo com Sabóia (1985, p.20),

90

A situação modificou-se completamente a partir do governo de Castelo Branco, quando foram definidas regras bastante precisas para os reajustes salariais. A nova sistemática excluía apenas o funcionalismo público, incluindo, todavia, os empregados das empresas estatais e todo o setor privado.

Entre a criação do Programa de Ação Econômica do Governo – PAEG e a

alteração da legislação, modificada mediante a Lei 5.451 em 1968 – tornando a

política salarial permanente, a queda dos salários eram sucessivas. Então, os

trabalhadores fizeram várias manifestações, entre as que mais se destacaram foi

a de Osasco e de Contagem, por outro lado, a economia estava vivenciando o

período do “milagre econômico”, que perduraria até meados da década de 70.

O governo afirmava que o efeito do PAEG seria elevar os salários pelo

aumento da produtividade e pela aceleração do desenvolvimento, porém, as taxas

de crescimento não foram repassadas aos trabalhadores (SABÓIA, 1985, p. 29).

A exploração do trabalhador e o aumento da acumulação de capital podem

ser percebidos pela seguinte tabela:

TABELA 02 - TAXA DE PRODUTIVIDADE OFICIAL PARA EFEITO DO REAJUSTE E VARIAÇÃO DO PIB PER CAPITA (1968-1975).

Período Variação do PIB per capita (%)

Produtividade oficial para efeito do reajuste (%)

1968/69 6,0 2,0

1969/70 6,5 3,0

1970/71 6,0 3,5

1971/72 8,9 3,5

1972/73 6,7 3,5

1973/74 8,3 3,5

1974/75 6,7 4,0 FONTE: DIEESE (1975) citado por Sabóia (1985, p.31)

Face à indignação dos trabalhadores, por não ter o repasse do crescimento

da economia aos salários, importantes movimentos grevistas surgiram e algumas

transformações na política salarial se sucederam, então, em 1978 e 1979, a

política salarial foi derrubada e os índices salariais maiores do que os oficiais

foram negociados.

Em 1979, no governo Figueiredo, uma nova política salarial foi imposta e a

Justiça do Trabalho recuperara o seu poder normativo. A ilusão que os

trabalhadores teriam, advinda da nova política salarial de reajustes semestrais,

mantinha a grande rotatividade de mão-de-obra, demissões por justa causa e

91

uma parcela de 50% da população desempregada até meados da década de

1984.

Sobre a atual Legislação Salarial, Sabóia (1985 p. 62-64) comenta que,: “A

cada reajuste há uma queda no poder aquisitivo da massa de salários. Voltando à

imagem inicial do “bolo”, isso significa que, a cada reajuste, a fatia dos

trabalhadores tende a ficar mais fina, mesmo que haja crescimento do “bolo”.

Portanto a primeira providência a ser tomada seria a correção deste efeito.”

Em vez de o trabalhador ter que se “sujeitar” a algumas circunstâncias,

causadas pela exploração da sua mão-de-obra e pelo almejo de um lucro maior,

por parte do empresariado, os reajustes deveriam ser superiores à inflação, assim

as desigualdades seriam reduzidas.

Mesmo havendo a unificação do salário mínimo em 1984, as várias

políticas salariais adotadas pelo governo, entre 1982 e 1990, tiveram como

principal objetivo a estabilização, porém, a cada dia o poder aquisitivo era

reduzido.

A partir de 1990, esse quadro mudou. Mesmo havendo um alto índice de

inflação, o poder de compra do salário mínimo apresentou crescimento. Face à

estabilização do Plano Real.

No governo de Fernando Henrique Cardoso, “sucessor” de Fernando Collor

de Mello, um dos principais objetivos era a flexibilização das relações de trabalho,

ou seja, o fim dos direitos sindicais, trabalhistas e previdenciários, sobretudo nos

países da América Latina – dando início à fase do Neoliberalismo.

Do lado da inclusão social houve progressos na educação fundamental, na saúde e na racionalização de assistência às populações periféricas, com reforma da rede de instituições estatais e as articulações destas com entidades privadas. Os programas assistencialistas ganharam em qualidade com adoção de práticas que estimulam a inclusão social, como a obrigatoriedade de freqüência escolar, para os jovens, e a participação em programas sociais de saúde, para as mães (exames pré-natais, pesagem e vacinação de filhos pequenos, freqüência a aulas de orientação sobre nutrição dos agentes comunitários), como contrapartida do benefício recebido. O maior mérito nessa área foi o foco no apoio à população mais pobre do país. Nesse sentido, foi mais eficaz do que a histórica defesa do aumento do salário mínimo pelos populistas em geral, mecanismo que favorece os brasileiros que estão no quarto quartil da distribuição de renda, ou seja, pessoas que têm renda maior do que 30% da população (COSTA, 2007, p.172-173).

92

Ao fim do mandato de FHC, segundo Pires (2010, p.309), “O sentimento

generalizado era o de mudança; o país clamava pela volta do crescimento, do

emprego, enfim, do dinamismo econômico que fora sacrificado no altar da

estabilidade monetária”.

A estabilidade monetária foi a luta incessante do Governo de FHC, logo, as

eleições chegaram e o candidato da oposição saiu vitorioso. Luiz Inácio Lula da

Silva tinha como objetivo conter o baixo crescimento, o desemprego crescente,

manter a estabilidade e utilizar políticas macroeconômicas alternativas, para

assim conter os problemas herdados do Governo anterior.

Apesar dos vários programas e projetos implantados no Governo Lula, com

vistas a beneficiar a população de baixa renda, o que faltava era um projeto

nacional de desenvolvimento, o que se tinha visto até o momento era um

movimento de redemocratização da nação.

Tal redemocratização foi vista como sendo o início da crise do capitalismo

e seu resultado seria a tentativa de superá-la, seria pela ótica do próprio

capitalista, pois a esperança da classe trabalhadora era de que todos os seus

problemas seriam resolvidos, tais como: expectativas de emprego, aumento de

salário, reforma agrária, etc.

Em virtude da situação econômica, principalmente com relação à

concentração de renda no Governo Lula, Pires (2010, p.349) argumenta que:

Considerado a partir da perspectiva do desenvolvimento humano, um desenvolvimento baseado na crescente participação de commodities no conjunto das exportações, como no caso brasileiro, contribui pouco para a superação da pobreza relativa da população, na medida em que os resultados da atividade exportadora permanecem concentrados nas mãos de poucas empresas, que utilizam de forma intensiva recursos naturais e capital e que empregam relativamente pouca mão-de-obra. Além disso, a péssima distribuição dos direitos de propriedade sobre os recursos naturais, existente no Brasil, faz o crescimento baseado na exportação de commodities reforçar ainda mais o modelo concentrado de renda.

O Brasil, por ser, atualmente, um cenário da nova divisão internacional do

trabalho, vem tendo capacidade de desenvolver-se rapidamente a partir da

exportação dos produtos primários, esse novo desempenhar de papel exige a

globalização de processos e dos produtos.

93

Essa globalização mesmo sendo imposta parte pelas commodities, parte

pela necessidade de adaptação ao “novo mercado” – mercado este baseado no

assistencialismo ou na luta por um emprego informal, ainda não permite uma

estrutura igualitária, a começar pela propriedade dos recursos naturais e pela

detenção de capital.

Por isso, hoje, as commodities são importantes para a economia brasileira,

já que são produzidas em larga escala e comercializadas em nível mundial, ou

seja, quanto menos custos tiverem os fatores de produção, maior será a

remuneração desses fatores, promovendo assim a ampliação do desenvolvimento

do capitalismo. Pode-se perceber por meio dos gráficos abaixo que houve uma

melhora considerável na distribuição de renda, mas que ainda não é suficiente,

pois mais de 80% da população brasileira encontra-se abaixo da linha da

pobreza.

GRÁFICO 02 - A EVOLUÇÃO POR REGIÃO DO RENDIMENTO, DO EMPREGO, DA POBREZA E DA DESIGUALDADE DE RENDA DE 2003 A 2008

FONTE: PNAD/IBGE – Rais do Ministério do Trabalho e Ipea. Elaboração: Banco Central (2009) *O coeficiente de Gini varia de zero (desigualdade inexistente) a 1 (desigualdade absoluta)

Mesmo havendo melhora significativa de indicadores econômicos, no que

diz respeito à iniciativa assistencialista do Estado - com vistas na melhoria da

subsistência mínima, os gráficos revelam que o Brasil teve, sim, avanços sociais

significativos, porém isso ocorreu em regiões mais pobres do país, onde o poder

de compra foi protegido dada a estabilidade dos preços. As regiões Norte e

Nordeste foram as que mais reduziram a pobreza, aumentando o salário mínimo e

94

o número de contratos formais de trabalho; por ser a região que mais concentra

população pobre, percebe-se a melhoria na distribuição de renda, principalmente

nessas regiões.

5.3 A POLÍTICA SALARIAL NO PARANÁ

A esperança de expansão e de melhoria das condições de trabalho teve

seu momento histórico, quando da vinda das montadoras de automóveis para o

Estado do Paraná tanto o Governo quanto o restante dos atores esperavam

ansiosos pelas melhorias que seriam trazidas após a implantação de tais

montadoras.

Sobre a vinda das montadoras para o Estado do Paraná, Bridi (2005,

p.128) esclarece que:

Como foi dito, um dos atrativos do Paraná para a vinda das montadoras se constituía nos baixos salários locais, tanto que, quando vieram adotavam a média salarial da região, que era, aproximadamente, 60% menor do que a do ABC paulista, na época em torno de 1400 reais, segundo assessor sindical. Porém, as condições de trabalho, as exigências de produtividade, do cumprimento de metas e outros condicionantes levaram os trabalhadores à mobilização para conquistar melhorias salariais, condições de trabalho e benefícios sociais.

Sabe-se que a política de atração de indústrias por parte do Estado do

Paraná foi bem agressiva com a oferta de obras de infraestrutura, isenção e

prorrogação do recolhimento de impostos por até dez anos, facilitação dos

empréstimos com taxas abaixo do mercado, concedidos pelo Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A vinda de montadoras para o Estado do Paraná ocasionou aumento na

produção e empregos diretos (dentro da própria indústria automobilística) e

indiretos (principalmente gerados pelos fornecedores de autopeças, que se

deslocaram para as proximidades das montadoras).

Dados esses fatores, Curitiba comparada às demais capitais, já seria

considerada um dos locais mais bem preparados do país para receber indústrias

de grande porte, satisfazendo assim as necessidades de exportação e importação

que pudessem surgir, graças às suas condições estratégicas.

95

Mesmo diante de todos esses benefícios e incentivos que foram

concedidos às montadoras, tendo como contrapartida a geração de empregos,

percebe-se que o compromisso de geração de emprego não foi cumprido pelas

montadoras.

Sem falar na questão salarial, que funciona num nível bem abaixo do que o

de outros estados, de acordo com os dados da RAIS.

Em virtude da política salarial dessas montadoras serem “deficientes”,

precisando ser ajustadas no decorrer de todos esses anos pós-implantação, os

trabalhadores se veem forçados a lutar por melhorias em suas remunerações.

A seguir o quadro demonstra os Acordos Coletivos entre Montadoras e

Sindicato no período compreendido entre 1998 a 2004.

QUADRO 07 - ACORDOS COLETIVOS REALIZADOS ENTRE SMC E INDÚSTRIAS RENAULT E VOLKSWAGEN-AUDI - PARANÁ: 1998-2004

RENAULT

Assinado 07/2002 Vigência: 2002 – 2003

Acordo coletivo data-base

Julho de 2003 Acordo coletivo para estabelecimento do Programa de Participação nos Resultados.

Assinado 09/2003 Vigência: 2003 – 2004

Acordo coletivo – cláusulas econômicas.

Assinado 07/2003 Vigência: 2003 - 2004

Acordo coletivo para estabelecimento de flexibilização da Jornada Anual de Trabalho.

Assinado 07/2003 Vigência: 2003

Aditamento e adesão ao acordo e adesão ao acordo coletivo: Aumento salarial / concessão de abono pecuniário.

Assinado 12/2003 Vigência: 11/2004

Convenção coletiva – cláusulas econômicas e sociais.

Assinado 12/2005 Vigência: 11/2006

Convenção coletiva- categoria econômica

Assinado 09/2006 Acordo coletivo – abono salarial

Assinado 12/2006 Vigência: 11/2007

Convenção coletiva – cláusulas econômicas e sociais

Assinado 10/2007 Vigência: 08/2009

Acordo coletivo – cláusulas econômicas

VOLKSWAGEN

Em 01/06/2000 Acordo estabelecendo a flexibilização da jornada de trabalho / Banco de Horas.

Em 24/04/2000 Acordo coletivo estabelecendo a Redução do Intervalo de Repouso e Alimentação para 40 minutos

Vigência em 01/06//00 a 31/05/01.

Acordo para estabelecimento do Programa de Participação nos Resultados.

Vigência: 01/09/2000 a 31/08/2002.

Acordo de cláusulas econômicas e sociais.

Assinado 12/2003 Vigência: 11/2004

Convenção coletiva – cláusulas econômicas e sociais.

Assinado 12/2005 Vigência: 11/2006

Convenção coletiva- categoria econômica

Assinado 09/2006 Acordo coletivo – abono salarial Assinado 12/2006 Vigência: 11/2007

Convenção coletiva – cláusulas econômicas e sociais

Assinado 10/2007 Vigência: 08/2009

Acordo coletivo – cláusulas econômicas

FONTE: Adaptado de Bridi (2005)

96

Outro ponto importante é que, no decorrer dos anos, os acordos coletivos

vieram proporcionando algumas melhorias aos trabalhadores, mesmo esses

tendo que trabalhar de acordo com as exigências impostas pelas montadoras.

Vê se que o resultado das mobilizações para a conquista de melhorias

salariais, condições de trabalho e benefícios sociais vêm crescendo e sendo

benéficos constantemente, assim como a valorização do funcionário.

97

6 RESULTADOS E MÉTODOS

Para a realização da pesquisa foi aplicado um questionário qualitativo e

quantitativo às montadoras Renault/Nissan e Volkswagen, cujo critério de escolha

para aplicação dos questionários levou em consideração os trabalhadores de

chão de fábrica, que participam da Comissão de Fábrica nas duas montadoras;

devido a esses estarem acompanhando sistematicamente as negociações

salariais e por estarem articulados com o Sindicato dos Metalúrgicos.

Em um segundo momento, também foram aplicados questionários aos

trabalhadores que não pertenciam à Comissão de Fábrica, para que possam ser

confrontados os resultados.

A amostra utilizada na pesquisa é de 33 funcionários, sendo 14

funcionários da Volkswagen e 19 da Renault.

Os resultados apresentaram que 85% dos funcionários são do sexo

masculino e 63% casados, a maioria possui mais de 30 anos de idade e grande

parte dos funcionários tem no máximo 02 filhos. O grau de escolaridade está

entre Ensino Médio e Superior Completo, dessa forma os funcionários não

precisam de muita especialização/qualificação, dado o treinamento oferecido

pelas empresas.

Os gráficos a seguir demonstram as relações de trabalho dos funcionários

de ambas as montadoras:

Quanto ao tempo de empresa da maioria dos funcionários, 84% têm entre

1 a 10 anos de empresa. Isso indica que a maioria dos trabalhadores possue uma

certa estabilidade empregatícia, pois a pesquisa não demonstra rotatividade da

mão-de-obra.

98

GRÁFICO 03 - TEMPO DE EMPRESA COMPLETO EM ANOS

FONTE: Pesquisa de Campo

Dentre os funcionários, 42% recebem entre 04 e 10 salários mínimos.

Considerando que os funcionários não possuem um nível de escolaridade muito

alto, a faixa salarial é considerada alta, tendo em vista que a maioria dos

respondentes pertence ao chão de fábrica.

GRÁFICO 04 - FAIXA SALARIAL

FONTE: Pesquisa de Campo

Em relação à renda família, 42% dos funcionários têm sua renda familiar

compreendida entre 01 e 03 salários mínimos, fato esse que gerou uma

discrepância, já que a faixa salarial ficou situada entre 04 a 10 salários mínimos.

99

GRÁFICO 05 - RENDA FAMILIAR

FONTE: Pesquisa de Campo

Dentre os respondentes, 68% dos funcionários não estão satisfeitos com

seu salário atual, mesmo que no decorrer dos anos os acordos coletivos tenham

beneficiado os trabalhadores, por meio de conquistas de melhorias salariais,

condições de trabalho e benefícios sociais; os trabalhadores ainda sofrem com as

exigências impostas pelas montadoras – ajustadas quase que constantemente

após sua implantação.

GRÁFICO 06 - SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO AO SALÁRIO ATUAL

FONTE: Pesquisa de Campo

A remuneração do trabalho também é um fator decorrente da política

industrial oscilante das montadoras, pois 58% dos trabalhadores não estão muito

satisfeitos com a remuneração do trabalho que fazem, dadas as perdas salariais

no decorrer dos anos e a “obrigatoriedade” de lutar por melhorias constantes em

torno do salário e benefícios.

100

GRÁFICO 07 - ADEQUAÇÃO ENTRE REMUNERAÇÃO E ATIVIDADE EXERCIDA

FONTE: Pesquisa de Campo

Quanto à estabilidade de emprego, 55% dos funcionários não se sentem

seguros em relação a sua situação empregatícia, como dito anteriormente, os

funcionários se vêem acuados diante das exigências das montadoras.

GRÁFICO 08 - SEGURANÇA EM RELAÇÃO À ESTABILIDADE DE EMPREGO

45%

55% Sim Não

FONTE: Pesquisa de Campo

Quando perguntados sobre as lutas travadas pelo sindicato e da comissão

de fábrica, se essas ajudaram na redução das desigualdades salariais dentro da

empresa, 97% dos funcionários responderam que tal intercessão ajudou na

redução das desigualdades salariais, pois o movimento coletivo é mais poderoso,

igualado a lutas individuais e que, muitas vezes, até mesmo a montadora, que

não entra na discussão, acaba ganhando benefícios, sendo as lutas são travadas

em prol do resultado coletivo.

101

GRÁFICO 09 - A RELAÇÃO ENTRE LUTAS TRAVADAS PELO SINDICATO/DELEGAÇÃO SINDICAL (COMISSÃO DE FÁBRICA) E A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SALARIAIS DENTRO DA EMPRESA.

97%

3%

Sim Não

FONTE: Pesquisa de Campo

Desse mesmo modo, quando perguntados sobre as desigualdades

salariais e a não existência da comissão de fábrica e sindicatos, 91% dos

funcionários responderam que, se não existisse a comissão de fábrica e o

sindicato, os trabalhadores não conseguiriam reduzir as desigualdades salariais.

GRÁFICO 10 - RELAÇÃO ENTRE EXISTÊNCIA DA COMISSÃO DE FÁBRICA E DO SINDICATO E A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SALARIAIS

9%

91%

Sim Não

FONTE: Pesquisa de Campo

Todos os respondentes afirmaram que o sindicato é importante para a

empresa, pois facilita as negociações e os resultados, no que diz respeito às lutas

pelas desigualdades salariais, devido à facilidade de organização e mobilização

dos trabalhadores.

102

GRÁFICO 11 - A IMPORTÂNCIA DO SINDICATO DOS METALÚRGICOS NA EMPRESA

Sim Não

FONTE: Pesquisa de Campo

Em resumo, a maioria dos dados foi pontuada com a insatisfação dos

trabalhadores, a começar pelas condições ofertadas pela empresa:

Os trabalhadores consideram regular a situação do ambiente físico, da

remuneração e dos benefícios oferecidos pelas empresas, devido as mesmas

exploram os trabalhadores, aumentando a mais-valia, conforme mostram os

gráficos a seguir:

A maioria dos respondentes considera regular o ambiente físico de

trabalho.

GRÁFICO 12 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMBIENTE FÍSICO DE TRABALHO

FONTE: Pesquisa de Campo

103

A maioria dos trabalhadores entrevistados considera regular a sua

remuneração em relação a outros profissionais da mesma área.

GRÁFICO 13 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A REMUNERAÇÃO EXERCIDA POR PROFISSIONAIS DA MESMA ÁREA

FONTE: Pesquisa de Campo

A maioria dos respondentes considera regular os benefícios oferecidos

pela empresa, tais como: vale transporte, vale refeição, PLR, etc.

GRÁFICO 14 - CARACTERIZAÇÃO SOBRE OS BENEFÍCIOS OFERECIDOS PELA EMPRESA (VALE TRANSPORTE, VALE REFEIÇÃO, PLR, ETC)

FONTE: Pesquisa de Campo

104

Outro fato foi relação entre empregado versus empregador, os

respondentes consideram regular, já que demonstram a insatisfação por parte dos

empregados no que diz respeito aos investimentos em treinamentos, nem mesmo

com o diálogo social.

A maioria dos respondentes considera ruim o investimento da empresa em

desenvolvimento profissional e pessoal de seus funcionários.

GRÁFICO 15 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O INVESTIMENTO DA EMPRESA EM TREINAMENTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E PESSOAL DOS FUNCIONÁRIOS

FONTE: Pesquisa de Campo

A maioria dos respondentes considera regular o diálogo com os gestores

e/ou companheiros de trabalho

GRÁFICO 16 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O DIÁLOGO COM OS GESTORES E/OU COMPANHEIROS DE TRABALHO

FONTE: Pesquisa de Campo

A maioria dos respondentes considera regular o recebimento de sugestões

de mudança por parte de seu chefe / gestor / gerente.

105

GRÁFICO 17 - DEVOLUTIVA SOBRE O RECEBIMENTO DE SUGESTÕES DE MUDANÇA POR PARTE DE SEU CHEFE / GESTOR / GERENTE

FONTE: Pesquisa de Campo

Ao que diz respeito à participação do Sindicato e da Comissão de Fábrica

na luta por melhorias das condições de trabalho e salariais, os trabalhadores

responderam que o papel dessas “instituições” tem ajudado e muito ao final de

cada mobilização dos trabalhadores e que os resultados têm sido positivos,

apesar de ainda não serem satisfatórios

A maioria dos respondentes considera boa a organização/papel da

comissão de fábrica e do sindicato na construção da pauta de reivindicações e os

acordos coletivos da categoria metalúrgica.

GRÁFICO 18 - ORGANIZAÇÃO/PAPEL DA COMISSÃO DE FÁBRICA E DO SINDICATO NA CONSTRUÇÃO DA PAUTA DE REIVINDICAÇÕES E OS ACORDOS COLETIVOS DA CATEGORIA METALÚRGICA

FONTE: Pesquisa de Campo

106

TABELA 03 - PISO SALARIAL MONTADORAS INSTALADAS NA RMC – 1999 A 2009

Período Renault Volkswagen

1999/2000 500,00 543,00

2000/2001 600,00 652,14

2001/2002 - 652,14

2002/2003 - -

2003/2004 846,75 897,46

2004/2005 867,00 867,00

2005/2006 1.035,00 1.035,00

2006/2007 1.078,37 1.078,37

2007/2008 1.086,78 1.086,78

2008/2009 1.168,00 1.168,00

FONTE: Adaptado de BRIDI (2008 *A partir de 2004, as negociações passam a ser feitas entre o

SINFAVEA e o SMC na Convenção definindo o piso único para as duas empresas.

*Considerar que a data-base é de 01 de setembro até 31 de agosto do ano seguinte

Diante dos fatos, percebe-se que por muito tempo perduraram as

diferenças salariais entre Renault/Nissan e Volkswagen, razões essas que

levaram às mudanças na política salarial das montadoras, que não foram muitas,

a começar pela própria insatisfação dos funcionários, da desigualdade salarial

encontrada entre ambas e a própria busca incessante do sindicato e da comissão

de fábrica por meio das mobilizações trabalhistas, conforme visto acima nos

gráficos.

107

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O primeiro detalhe que se pode perceber é que as mobilizações e lutas

travadas pelo sindicato e comissão de fábrica estão virando referência nacional,

devido ao grande número de acordos realizados e da capacidade de organização

trabalhista, gerando o fortalecimento do Sindicato dos Metalúrgicos no Paraná e a

descentralização da indústria automobilística no Brasil.

As muitas lutas travadas em defesa dos trabalhadores expressam um

importante histórico de melhorias, por mais que essas ainda permaneçam

constantes, mesmo diante da relutância dos empresários.

Os dados demonstram que, com o processo da re-estruturação, em 1990,

muitos trabalhadores obtiveram perdas salariais e de postos de trabalho, tendo

em vista a estratégia empresarial das montadoras para reduzir custos. Essa

redução de custos levou os trabalhadores a reivindicarem por seus direitos –

principalmente a redução da disparidade/desigualdade salarial.

As montadoras que antes possuíam uma grande disparidade salarial, a

partir do ano de 2000, conquistaram por meio da ação coletiva: jornada de

trabalho de 40 horas, pisos salariais e índices de PLR (Participação nos Lucros e

Resultados) que se encontram bastante próximos.

Porém, os trabalhadores ainda não estão contentes com os resultados,

pois ainda há diferenças nas médias salariais e nas condições de trabalho nas

montadoras, esse fato explica a maior frequência de mobilizações com

paralisações e greves, principalmente na Renault/Nissan e na Volkswagen.

Outros descontentamentos também relatados pelos trabalhadores são: a

terceirização, a extensão da jornada de trabalho, alta rotatividade, demissão e

salários. Um dos que mais preocupam os trabalhadores e, é instrumento de

incessante luta, é a extensão da jornada de trabalho, que gera fortes pressões

para o trabalhador fazer hora extra, ocasionando diversos conflitos.

108

Esses conflitos são traduzidos pelo ritmo de trabalho intensificado e o

elevado número de trabalhadores afastados. Em virtude desses problemas,

alguns fatores de descontentamento são colocados pelos trabalhadores:

- O aumento dos ritmos de trabalho - crescimento da produtividade

com um menor número de trabalhadores;

- Competição pelo emprego;

- Ampliação da precarização do trabalho;

- Novas terceirizações;

- Repartição dos ganhos de produtividade - uma vez que a produção

enxuta e

- Flexível deveria distribuir entre trabalhadores, os ônus desse tipo de

produção.

Enfim, percebe-se que as razões que levaram às mudanças na política

salarial das montadoras Renault/Nissan e Volkswagen foram justamente a

insatisfação, superexploração e a disparidade salarial a que os trabalhadores são

submetidos, fato esse explicado pelo crescimento do setor e a “não-distribuição”

dos ganhos crescentes de produtividade.

Em virtude de as mobilizações e as luta dos trabalhadores serem

vantajosas quando realizadas em coletivo, é fundamental o papel da comissão de

fábrica e do Sindicato, pois esta vem comprovando sua eficácia no decorrer dos

anos.

Enfim, a ação da Comissão de Fábrica e do Sindicato assegura a

representatividade, pois os trabalhadores precisam desenvolver ações que

ultrapassem as questões internas da empresa, assim, as estratégias da indústria

automobilística são definidas e organizadas globalmente.

Mesmo que 100% dos trabalhadores considerem importante a intervenção

do sindicato e das comissões de fábrica na empresa, ainda existem dificuldades,

pois pode haver a ambiguidade, a alienação e o fetichismo entre os

trabalhadores, o que dificulta a determinação dos interesses coletivos. Apesar de

haver obstáculos, o confronto entre trabalho e capital motiva a luta coletiva.

Por fim, ainda existem desigualdades salariais a serem sanadas,

principalmente a busca pela igualdade dos benefícios obtidos pelos

109

colaboradores, porém esse processo leva um determinado tempo, para reduzir ou

sanar completamente todos esses problemas, o quê depende do acordo entre as

partes envolvidas, e que não é fácil.

110

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