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Geografia Da Noite - Secureted

Date post: 06-Jul-2018
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    UNIVERSIDADE DE LISBOA

    PROVAS DE AGREGAO

    RELATRIO DO PROGRAMA

    GEOGRAFIA DA NOITECONHECER, COMPREENDER E REPENSAR OS TERRITRIOS

    TERESA ALVES

    ABRIL DE 2009

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     NDICE 

    PGINA 

    O PORQU DE UMA GEOGRAFIA DA NOITE ................................................................................ 5

    PARTE I  ORGANIZAO DA UNIDADE CURRICULAR ...................................................................11

    1. OBJECTIVOS E CONTEDOS ....................................................................................................... 13

    2. RESULTADOS ESPERADOS E COMPETNCIAS A DESENVOLVER ........................................................... 16

    3. ESTRATGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM .................................................................................. 18

    4. RECURSOS PEDAGGICOS ......................................................................................................... 21

    5. ESTRUTURA DO PROGRAMA ...................................................................................................... 23

    6. PLANIFICAO DAS SESSES ...................................................................................................... 24

    7. AVALIAO ............................................................................................................................ 27

    PARTE II  DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA.........................................................................29

    GEOGRAFIA DA NOITE .........................................................................................................31

    I. CONHECER OS TERRITRIOS NOITE ....................................................................................35

    1. NOITE NO APENAS UMA QUESTO DE TEMPO........................................................................... 37

    2. REPRESENTAES E EXPERINCIAS ARTSTICAS .............................................................................. 473. A NOITE NO UM ESPAOTEMPO IGUAL AO DIA ........................................................................ 63

    II. COMPREENDER OS TERRITRIOS NOITE .............................................................................67

    1. NOVOS CONTEXTOS DE USO DO TEMPO E DO ESPAO .................................................................... 69

    2. NOVAS PRTICAS INDIVIDUAIS E COLECTIVAS ................................................................................ 85

    3. SERVIOS E ECONOMIA DA NOITE ............................................................................................... 95

    III. REPENSAR OS TERRITRIOS NOITE ................................................................................ 109

    1. NOITE E POLTICAS PBLICAS ................................................................................................... 111

    2. INICIATIVAS E BOAS PRTICAS DE GESTO DO TERRITRIO NOITE ................................................. 134

    3. A NOITE COMO UM ESPAOTEMPO DE CRIATIVIDADE ................................................................. 159

    BIBLIOGRAFIA GERAL E BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA PARA LEITURA ........................................... 163

    STIOS NA INTERNET ......................................................................................................... 165

    BIBLIOGRAFIAS ESPECFICAS ............................................................................................... 169 

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................ 171

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    espaos 24h /7 dias. Novos ritmos, novos valores, novas atitudes trazem noite novos

    actores sociais. A pertinncia de uma Geografia da Noite est precisamente na necessidade

    de reflectir sobre as implicaes nos territrios destas mudanas.

    Apesar de a noite ser uma dimenso mais ou menos esquecida deu j origem a obras

    remarcveis como L   (1977) de Anne Cauquelin, G    (1997)

    de Luc Bureau, L 24 24  (2003) e L  

    (2005) de Luc Gwiazdzinski, que contribuiram para uma abordagem multidisciplinar deste

    espaotempo. A reflexo de grupos de trabalho como o da DATAR T T 

    produziu abundante material sobre as implicaes no territrio das mudanas dos tempos

    de vida sem que tenha sido abordada a questo do espaotempo noite. Mais

    recentemente R N. R, C E M

    N E  (2007), deunos uma viso de outras vertentes da noite. Na produo

    cientfica e poltica, com origem no Reino Unido, a economia da noite limitase, quasesempre, ao comrcio das bebidas alcolicas, do sexo, das drogas e ao jogo. Mas a

    regenerao de muitos dos centros das cidades que tinham perdido vitalidade com o fim

    do modelo econmico baseado na indstria transformadora, partiram muitas vezes de

    investimentos que promoveram o crescimento de actividades econmicas, cujo perodo de

    consumo predominantemente a noite (OConnor 1997; Helms 2008). Em Portugal, Joo

    Teixeira Lopes (1998), na tese de doutoramento  A :

      , estudou as representaes e as prticas culturais na noite do

    Porto. No trabalho N L E R D U (1999), um dos casos de

    estudo foi a vida nocturna na cidade de Coimbra.

    O interesse pelo espaotempo noite e pela relao entre arte e territrio surgiu com o

    trabalho na equipa que organizou e coordenou trs eventos culturais: L C

    N (2001) (Caeiro   2001) ; L I B A L L (2004) (Caeiro

       2004) e  L II B A L L   (2006) (Caeiro    2007). No

    primeiro caso, a interveno centrouse nos espaos pblicos urbanos e na forma como a

    arte efmera podia contribuir para a sua revitalizao, promovendo uma reflexo sobre o

    que as pessoas queriam para os seus espaos de vida colectiva, numa rea problemtica de

    Lisboa a freguesia de Marvila. Nas duas edies de L a noite foi o palco dos eventos,pois na arte da luz a escurido a tela onde a arte se inscreve. As questes relacionadas

    com a requalificao dos espaos pblicos continuaram a ser o cerne das intervenes,

    mas a abordagem teve de ser necessariamente diferente, pois o facto de o evento ser

    nocturno colocounos em contacto com outro tipo de problemas.

    A participao na equipa de coordenao da rea de formao da L  permitiume

    contactar com cerca de uma centena de especialistas nacionais e internacionais em temas

    como o pensamento e a histria, os espaos pblicos, o planeamento e gesto territorial,

    as mobilidades, a segurana, a percepo do espao, o urbanismo, os problemas sociais

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    como a excluso social e os semabrigo, a economia da noite, a cronobiologia, a iluminao

    artstica e ambiental, a arte da luz, entre outros. A aprendizagem realizada ao longo dos

    atelis, dos ciclos de conferncias e do Congresso da Noite permitiume aprofundar os

    conhecimentos relacionados com as questes da noite e contribuiu para elaborar oprojecto de investigao N: O I T (NOIT)

    (PTDC/GEO/64240/2006) que financiado pela FCT. no mbito deste projecto, iniciado

    em 2008 e a concluir em 2010, que se tem desenvolvido a investigao que fundamenta

    este programa. Deste modo, este programa concretiza um dos objectivos definidos como

    prioritrios na organizao da Universidade de Lisboa, promover a articulao entre a

    investigao cientfica e o processo de ensino e aprendizagem.

    A Universidade define como rumo estratgico a abertura sociedade e uma poltica

    activa de transferncia de conhecimento e de inovao (). (Estatutos da Universidade de

    Lisboa, http://www.ul.pt/pls/portal/docs/1/177050.pdf em 12102008). Este programa ,por outro lado, produto de uma intensa ligao entre Universidade e empresas /

    associaes / organismos da Administrao Pblica. Os eventos culturais L  foram

    fruto de parcerias entre a E,   e a Cmara

    Municipal de Lisboa, e contaram com a participao da Universidade de Lisboa, atravs da

    Faculdade de Letras, do Jardim Botnico, do Museu Nacional de Histria Natural e de

    investigadores do CEG. Ao longo dos ltimos 7 anos as temticas relacionadas com a noite,

    nas mais diversas vertentes, tm sido trabalhadas em reunies com instituies de Ensino

    Superior e Investigao, Empresas, Associaes, organismos da Administrao Central e

    Autarquias Locais.

    As mudanas na Universidade de Lisboa, os desafios em que nos lanmos na Geografia e a

    riqueza da experincia da coordenao e das aulas nos cursos interdepartamentais de

    Estudos Europeus, levaramme a decidir elaborar uma Unidade Curricular que, alm de

    satisfazer as necessidades de conhecimento dos alunos do 1 ciclo de Geografia, pudesse

    servir tambm alunos de outras reas cientficas. Como por exemplo, alunos de diferentes

    reas da Faculdade de Letras com interesses em polticas pblicas, nomeadamente as

    europeias, ou em assuntos relacionados com a Cultura e as mudanas sociais. Mas,

    tambm, alunos da Faculdade de Belas Artes que pretendam desenvolver a sua

    aprendizagem em domnios como o papel da Arte na dinamizao dos espaos pblicos

    colectivos ou nas formas de mediao do conhecimento do territrio atravs da Arte. A

    reunio numa mesma turma de pessoas com diferentes formaes e com interesses

    partida muito diversos um desafio e, ao mesmo tempo, algo que s pode enriquecer as

    abordagens destas temticas, gerando um processo de coaprendizagem muito mais

    dinmico. A opo por uma unidade do 1 ciclo devese ao facto de entendermos que este

    nvel continua a ser fundamental para a formao dos nossos alunos e que uma poltica de

    sobrevalorizao dos 2 e 3 ciclos, em detrimento do 1 ciclo, incorrecta. Sem uma

    slida formao do 1 ciclo dificilmente haver condies para assegurar 2 e 3 ciclos de

    qualidade.

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    O programa que agora se apresenta procura ser suficientemente aberto s sugestes dos

    alunos, quer quanto aos temas, quer ao mtodo a utilizar, de modo a procurar

    corresponder aos seus interesses e s suas expectativas, em termos de desenvolvimento

    dos conhecimentos. Ao longo dos ltimos anos, tenho utilizado as temticas relacionadascom o territrio noite para ilustrar questes sobre as dinmicas territoriais,

    nomeadamente a reestruturao das actividades econmicas e o desenvolvimento de

    servios destinados a servir novas procuras, e a reaco dos alunos tem sido excelente. A

    cidade nocturna , para a grande maioria dos nossos alunos, um mundo que conhecem

    relativamente bem, pela sua prpria experincia, ou que pensam conhecer. Pelo que as

    temticas da Geografia da Noite permitem mobilizar as suas experincias o que torna

    muito mais fcil () darlhes condies para um pleno desenvolvimento das suas

    capacidades e dos seus talentos. (E U L,

    http://www.ul.pt/pls/ portal/docs/1/177050.pdf em 12102008).

    Em 2006, no mbito da L, II B L L, organizei o C N 

    (Alves 2007) com o objectivo de promover uma reflexo sobre o modo como a noite tem

    sido sentida, representada e vivida, de modo a formular novas prospectivas para o

    planeamento e a gesto da cidade 24/24 horas. Muitas das pessoas que convidei para

    participarem fizeram imediatamente associaes do tipo Noite?! Vamos ter festa! A

    noite para dormir! A noite e o submundo, mas quase ningum pensou no trabalho, no

    valor econmico que gerado durante a noite, nos problemas sociais, como a solido e a

    misria, que se agudizam com a falta de luz Aps os dois dias em que decorreram os

    trabalhos no Instituto FrancoPortugus (entre as 16 e as 20h), os jantaresdebate (no

    Teatro Taborda com vista para Lisboa noite) e as visitas de estudo que realizmos noitedentro, a atitude mudou e as pessoas aperceberamse que a noite um espaotempo

    com problemticas especficas que afectam diariamente a vida de todos ns, mesmo

    quando disso no temos conscincia.

    Assim, as principais razes para apresentar o Programa de Geografia da Noite para a

    obteno do ttulo acadmico de agregada em Geografia so:

    • 

    a noite um espaotempo que precisa de mais ateno; por um lado, pelopotencial de desenvolvimento econmico e social que encerra e, por outro, pelo

    potencial de conflito que pode gerar, se a continuarmos a ignorar; porque nos

    parece muito importante que, na formao de pessoas que podem vir a intervir no

    planeamento e na gesto territorial, na definio ou implementao de polticas

    pblicas ou na gesto cultural, sejam transmitidos conhecimentos e se desenvolva

    a capacidade de reflectir sobre as problemticas relacionadas com o espaotempo

    noite;

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    •  o desenvolvimento de um programa de estudos com estes temas permite

    desenvolver aquilo que hoje est definido como rumo estratgico da

    Universidade de Lisboa: abertura sociedade e a transferncia de conhecimento e

    inovao; transferncia de conhecimento e inovao dentro da Universidade pelapossibilidade de ligao entre investigao (NOIT PTDC/GEO/64240/2006) e

    aprendizagem, mas tambm a abertura sociedade pelo facto do processo de

    aprendizagem se centrar em temas que afectam a vida de todos e os

    conhecimentos produzidos poderem ter valor para entidades pblicas e privadas

    que actuam durante o espaotempo noite; o interesse destas entidades

    manifestase desde j pela contribuio activa no projecto de investigao, mas

    estamos em crer que ser fcil mobilizlas para uma participao activa no

    programa de aulas, aproximando Universidade e sociedade, alunos e potenciais

    empregadores;

    •  pela natureza dos assuntos a tratar, um programa centrado nestas temticas

    permite a incorporao das experincias dos alunos facilitando o desenvolvimento

    de competncias, contribuindo para uma viso mais humanista do trabalho na

    Universidade, outro dos objectivos definido como fundamental nos Estatutos da

    Universidade de Lisboa.

    O R P G N: ,

     est organizado em duas partes. Na primeira parte apresentamos a organizaogeral da unidade curricular: os objectivos e contedos, os resultados esperados e as

    competncias a desenvolver, as estratgias de ensino e de aprendizagem, os recursos

    pedaggicos, a estrutura do programa, a planificao das sesses e a avaliao. Na

    segunda parte apresentamos o desenvolvimento do programa, a bibliografia e outras

    fontes de informao.

    R :

    Alves T (2007) Congresso da Noite  L: L . Alamada:VIAVerlag /Extramuros, pp. 261266.

    Bureau L (1997) G . Montral:lHexagone.

    Caeiro M; Alves T; Faro M M (ed) (2007) L L ,Lisboa: VIAVerlag/Extra]muros[.

    Caeiro M; Alves T; Fernandes S R (ed) (2001) L C N. Almada:Extra]muros[. 

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    Caeiro M; Potiers M; Alves T; Fernandes S R (ed.) (2004) L, L. Almada: Extra]muros[.

    Calafat A (org.) (1999), N L E R D U, IREFREA &

    European ComissionCauquelin A (1977) L . Paris: PUF.

    Gwiazdzinski L (2003) L 24 24 . Paris:Editions de lAube.

    Gwiazdzinski L (2005) L . Paris:Editions de lAube.

    Helms G (2008) T ? R OI C. Hampshire: Ashgate.

    Lopes J T (1998)  A : . Dissertao de Doutoramento em Sociologia, Universidade do Porto (BOCC Biblioteca Online de Cincias da Comunicao teixeirajoaolopes

    cidadecultura.html).OConnor J (1997) Donner de lespace public la nuit. Les cas des centres urbains

    en GrandeBretanha L A L R U 77 , pp. 4046.

    Talbot D (2007) R N. R, C E M N E. Hampshire: Ashgate.

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    Marc Chagall (1954) Q B  

    PARTE I

    ORGANIZAO DA UNIDADE CURRICULAR

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    1. OBJECTIVOS E CONTEDOS

    O trabalho em Geografia procura responder ao  e . Com a Geografia da Noite

    procuramos mostrar a relevncia do   para compreender a diversidade das

    dinmicas de desenvolvimento territorial.

    Num contexto de crescente internacionalizao e de aumento do valor do conhecimento e

    da inovao, a sociedade desenvolve modos de vida cada vez mais diversificados em

    termos de uso do tempo e do espao. Estas mudanas encerram, contudo, um potencial de

    conflito que decorre em grande parte do facto dos territrios, em geral, e dos espaos

    urbanos, em particular, terem sido quase sempre pensados para uma utilizao diurna. O

    ritmo circadiano tradicional opese aos novos ritmos da vida, mais diversificados, mais

    dificilmente articulveis, e coloca sob tenso os territrios onde uns dormem, outros

    trabalham e outros se divertem.

    O objectivo fundamental da unidade curricular Geografia da Noite compreender como as

    dinmicas de desenvolvimento dos territrios so afectadas pela incorporao na esfera da

    produo e do consumo de um espaotempo, a noite, que at h pouco tempo era visto

    como improdutivo. Queremos, por um lado, identificar e analisar as mudanas que as

    novas dinmicas introduzem nos territrios e, por outro, dar a conhecer iniciativas de

    planeamento e boas prticas de gesto que revelam a diversidade de oportunidades de

    desenvolvimento que se abrem com a vida dos territrios noite. Para tal devemos

    comear por compreender a maneira como tem evoludo a percepo e o conhecimento

    dos territrios noite.

    C

    Como que a evoluo dos conceitos de tempo e hora e a mediao atravs da arte

    contriburam para mudar o nosso conhecimento dos territrios noite?

    A noite de todos os momentos o que tem representaes mais negativas. A evoluo dos

    valores e comportamentos e das necessidades sociais e econmicas fazem com que estas

    perspectivas estejam a mudar. Para tal tem sido fundamental o papel de mediao

    desempenhado por diferentes formas de arte que permitem melhorar o conhecimento da

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    noite. O espaotempo noite tem vindo a ganhar novas representaes, mais poticas, que

    se relacionam cada vez mais com aspectos como a liberdade e a criatividade. No entanto,

    continuamos a verificar que as pessoas, as entidades pblicas e privadas e as organizaes

    tm comportamentos diferentes conforme actuam de dia ou de noite e as dinmicas dosterritrios reflectem essas diferenas. Queremos, assim, perceber porque existem estas

    diferenas o que faz os modos de actuar no territrio noite serem diferentes dos de

    dia?

    Os objectivos especficos desta parte do programa so:

    •  discutir a evoluo dos conceitos de tempo e de hora;

    •  discutir a definio/delimitao do espaotempo noite;

    • 

    mobilizar conhecimentos para discutir criticamente a construo dos preconceitos

    e mitos associados noite;

    •  conhecer a contribuio de diferentes formas de arte para a mediao do territrio

    noite;

    •  perceber como que as mudanas nos valores atribudos noite contriburam

    para uma mudana nos modos como se vive o territrio;

    •  discutir em que medida o espaotempo noite diferente do espaotempo dia.

    C

    Como que as mudanas nos contextos de uso de tempo e de espao e nas prticas

    individuais e colectivas ajudam a compreender as dinmicas de desenvolvimento dos

    territrios noite, em particular, o crescimento dos servios?

    A incorporao na esfera da produo e do consumo do espaotempo noite traduzse no

    s no alargamento de horrios de trabalho de actividades diurnas, como tambm no

    surgimento de novas actividades para responder a novas necessidades de procura.

    Queremos compreender como os novos contextos de uso do tempo e do espao se

    traduzem em novos tipos de prticas sociais. Queremos conhecer os factores de mudana

    na procura e na oferta das actividades de servios que se desenrolam predominantemente

    de noite. Ao mesmo tempo, pretendemos avaliar as consequncias nas dinmicas de

    desenvolvimento dos territrios dessas diferenas o que que o territrio noite tem de

    diferente do de dia? Outros ritmos, outras prticas, outras actividades, outras culturas,

    outras pessoas? Como que isto vai condicionar o territrio em que vamos viver quando o

    sol nasce? Como que as especificidades ligadas noite podem influenciar as decises de

    localizao dos servios?

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    Os objectivos especficos a alcanar na segunda parte so:

    •  identificar os factores que contribuem para o desenvolvimento de uma sociedade

    em contnuo e discutir o papel das novas tecnologias de comunicao;

    •  relacionar sociedade em contnuo com a dinmica dos territrios noite, ao nvel

    das diferentes esferas da sociedade (economia, cultura e poltica);

    •  relacionar as mudanas no domnio do consumo com as transformaes ao nvel

    da produo durante a noite;

    •  relacionar as mobilidades nocturnas e as dinmicas territoriais;

    •  compreender a relevncia da economia noite para o emprego;

    •  discutir como que as dinmicas de localizao dos servios, predominantemente

    nocturnos, afectam o desenvolvimento dos territrios.

    R

    Como que os processos de planeamento e de gesto do territrio podem incorporar as

    especificidades da noite de modo a repensar o territrio para que este possa ser vivido

    com qualidade 24/24h e de uma forma sustentvel?

    Pretendemos dar a conhecer polticas com incidncia no territrio e iniciativas e boas

    prticas de gesto que revelam a diversidade de oportunidades de desenvolvimento que

    se abrem com a vida dos territrios noite. Ser dado particular destaque arte e luz na

    requalificao dos territrios.

    Os objectivos especficos a alcanar na terceira parte so:

    •  identificar experincias de polticas com incidncia nos territrios ligadas noite;

    • 

    identificar iniciativas e boas prticas de gesto territorial que promovem umdesenvolvimento sustentvel do territrio de modo a que possa ser vivido

    24h/24h;

    •  conhecer experincias de animao dos espaos pblicos noite;

    •  relacionar a iluminao ambiental e artstica, a sustentabilidade, a qualidade dos

    espaos pblicos e processos de regenerao urbana;

    •  discutir o potencial do conceito noite como espao de criatividade.

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    2. RESULTADOS ESPERADOS E COMPETNCIAS A DESENVOLVER

    Os resultados esperados desta Unidade Curricular expressamse ao nvel do

    desenvolvimento de conhecimentos e de competncias tcnicas e instrumentais

    especficos da Geografia, mas tambm do desenvolvimento de competncias pessoais,

    mais gerais, ao nvel das atitudes, valores e comportamentos.

    Ao nvel do conhecimento geogrfico os alunos devem no fim desta Unidade Curricular ser

    capazes de:

    •  desenvolver, discutir e aplicar os conceitos fundamentais da Geografia e usar a

    terminologia geogrfica adequada aos temas em anlise;

    •  conhecer as dinmicas nocturnas dos territrios, mobilizar saberes de outras

    unidades curriculares para desenvolver uma perspectiva integrada que permita

    interpretlas;

    •  compreender a relevncia da dimenso tempo na concepo de iniciativas de

    desenvolvimento territorial;

    •  identificar e interpretar as grandes linhas das polticas pblicas com incidncia no

    territrio que possam relacionarse com o espaotempo noite;

    •  identificar e compreender os riscos da ausncia de medidas de planeamento e

    gesto, tendo em conta as especificidades dos territrios noite.

    Ao nvel do conhecimento instrumental (mtodos e tcnicas) esta unidade deve contribuir

    para que os alunos adquiram as seguintes capacidades:

    •  adequar os mtodos e as tcnicas aos temas em estudo;

    •  recolher, tratar e representar grfica e cartograficamente de forma crtica

    informao de base territorial;

    •  dominar as metodologias e as tcnicas do trabalho de campo;

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    •  realizar diagnsticos e participar na elaborao de estratgias e intervenes de

    desenvolvimento territorial com incidncia no espaotempo noite;

    •  utilizar mtodos e tcnicas adequados para a comunicao escrita e oral de

    resultados.

    Ao nvel do desenvolvimento de competncias em termos de atitudes, valores e

    comportamentos sero privilegiadas as que contribuam para criar indivduos capazes de

    num contexto geral de crescente incerteza e imprevisibilidade, dar respostas adequadas

    aos desafios na vida pessoal e profissional, tais como:

    •  autonomia, capacidade de iniciativa,

    •  atitude colaborativa, capacidade de trabalhar em grupo,

    •  participao, participar activamente nas decises e actividades do grupo,

    •  mobilizao, capacidade de mobilizar o grupo para os objectivos, promovendo a

    cooperao e a solidariedade,

    •  negociao, aprender a gerir situaes de incerteza ou de adversidade,

    •  tolerncia, respeito pela diversidade,

     

    atitude crtica, saber questionar de forma pertinente factos e ideias,

    •  criatividade, inovar na resoluo dos desafios,

    •  rigor cientfico, empenhamento na qualidade do trabalho.

    O nosso objectivo contribuir para que os alunos depois de frequentarem esta Unidade

    Curricular sintam que adquiriram conhecimentos, mas tambm competncias que lhes

    permitem fazer face a um mundo em contnua mudana, tanto ao nvel profissional, como

    pessoal.

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    Relatório do ProgramaAbril de 2009

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    3. ESTRATGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

    O Processo de Bolonha modificou a organizao curricular dos diferentes ciclos de estudos

    na Universidade de Lisboa ao mesmo tempo que lanou novos desafios em termos do

    processo de ensinoaprendizagem.

    No Departamento de Geografia o 1 ciclo, de 3 anos, transformouse numa formao com

    carcter generalista e as especializaes foram remetidas para os 2 e 3 ciclos. O processo

    de ensinoaprendizagem alterouse ao nvel da definio dos contedos programticos

    (que devem resultar dos objectivos a atingir e das competncias que os alunos devem

    desenvolver) e dos papis a desempenhar por professores e alunos.

    O professor deve ser cada vez mais um facilitador que orienta e incentiva a

    aquisio de conhecimentos e de competncias.

    Os alunos devem ter cada vez mais responsabilidades no processo de

    aprendizagem.

    A introduo do European Credit Transfer System (ECTS) que permite a comparabilidade,

    garante a mobilidade e assegura as creditaes escala do Espao Europeu de Ensino,

    estabeleceu que o tempo de trabalho dos alunos deve ser dividido em dois blocos: o

    tempo de contacto com o professor (diversos tipos de sesses) e o tempo de trabalho

    autnomo (estudo, trabalho de campo, projecto).

    Nesta Unidade Curricular o tempo de contacto directo dever ser constitudo por sesses

    tericoprticas, prticas,  e tutoria:

    •  sesses tericoprticas

    o  podem ter nuns casos um carcter mais expositivo, quando centradas na

    reflexo e debate terico e conceptual e nas questes de metodologia,

    sempre em ligao com as sesses de carcter mais prtico e com os

    projectos a desenvolver pelos alunos; podem ser conferncias de

    especialistas convidados;

    o  podem destinarse a apresentar casos ilustrativos dos temas que

    contribuam para alcanar os objectivos e os resultados, tanto ao nvel dos

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    conhecimentos como em termos das competncias a promover; devem ser

    utilizados recursos como: vdeos, filmes, textos ou outros; podem ser

    apresentaes de planos ou de iniciativas ou projectos;

    •  as sesses prticas destinamse a desenvolver os projectos que devem ser

    centrados em situaes/problemas; o objectivo desenvolver um programa que

    proponha solues adequadas; os temas dos projectos sero escolhidos pelos

    alunos; os projectos devem ser o resultado de trabalho de grupo; o trabalho de

    campo deve desempenhar um papel central como metodologia;

    •  a apresentao dos projectos pode ser realizada em sesses tipo . Os

    projectos podem ser agrupados por grandes temas e seria pedido aos alunos que

    organizassem as sesses de trabalho;

    •  as sesses tutoriais destinamse ao apoio a pequenos grupos e aos projectos.

    R

    T N

    Sesses tericoprticas 26

    Sesses prticas 20

    Sesses em   9

    Visita de estudo 4

    Sesses de tutoria 14

    Avaliao 2

    Balano final da UC 2

    T 77

    T 63

    TOTAL DE HORAS DE TRABALHO (5 ECTS) 140

    A visita de estudo tem por objectivo colocar os alunos em contacto com iniciativas que

    contribuam para a promoo do desenvolvimento territorial centrado no espaotempo

    noite. Pode assumir diferentes formas: visita a uma equipa responsvel pela elaborao ou

    implementao de um dado projecto; visita a uma dada rea onde tenha sido

    implementada uma iniciativa de gesto que tenha por foco o uso do espao noite e

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    perceber no local os problemas, as dificuldades, mas tambm as potencialidades deste

    perfil de utilizao (tanto pode ser uma rea tipo Bairro Alto, como a rea de implantao

    de um Centro Cincia Viva para observao do cu).

    Os alunos sero estimulados, sempre que possvel, a completar as suas aprendizagens com

    a participao em seminrios, conferncias ou eventos culturais. Os alunos sero tambm

    incentivados a organizar um pequeno ciclo de conferncias, uma exposio ou um ciclo de

    exibies de filmes ou de documentrios onde possam: i) cimentar os conhecimentos

    adquiridos, ii) divulgar e sensibilizar a comunidade escolar que no participa na Unidade

    Curricular para os temas, iii) desenvolver ligaes com entidades, quer no interior, quer no

    exterior da Universidade.

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    unidade curricular. A bibliografia especfica visa aprofundar o estudo dos temas do

    programa. A bibliografia est dividida: em obras utilizadas para fundamentar os contedos

    (R ) e nos textos recomendados para leituras dos alunos

    (B ). De acordo com o trabalho de cada grupo poderainda ser fornecida outra bibliografia, mais orientada para os domnios em estudo.

    O acesso bibliografia revelase, no entanto, difcil. Por um lado, porque na Biblioteca do

    Centro de Estudos Geogrficos da Universidade de Lisboa, por excelncia o local de

    consulta mais utilizado pelos alunos, s est disponvel um exemplar de cada obra e, por

    outro, porque o CEG no dispe de meios financeiros para adquirir as obras mais recentes.

    As verbas do projecto NOITe esto a possibilitar colmatar esta lacuna, permitindo a

    aquisio de algumas das obras mais relevantes.

    Em complemento da bibliografia fornecida uma lista de endereos electrnicos onde os

    alunos podem encontrar informaes teis para a unidade curricular, nomeadamente

    organismos e projectos relacionados com os temas.

    Entre os recursos pedaggicos sero utilizadas, de forma sistemtica, imagens: fotografias

    e filmes. O uso de suportes de audiovisual permite aproximar mais os alunos dos temas a

    tratar. A plasticidade dos ambientes nocturnos tem sido objecto de inmeras obras de arte

    e revela um enorme potencial para a utilizao deste tipo de suportes como recurso

    pedaggico.

    A utilizao dos meios audiovisuais fundamental para o sucesso do trabalho na Unidade

    Curricular. Na Faculdade de Letras continuamos a no ter acesso a estes meios tcnicos em

    todas as salas e a fiabilidade dos que esto instalados muito baixa, sendo muito

    frequentes as vezes em que no funcionam.

    O acesso Internet na sala de aula tambm importante. A instalao da rede  

    permite colmatar a falta de pontos de acesso na rede fixa, mas obriga a que os alunos ou o

    professor tenham o seu computador pessoal na aula. O nmero de alunos com

    computadores pessoais na aula cresceu muito, mas estamos ainda muito longe da situao

    ideal em que cada aluno tem o seu computador.

    Outro aspecto prendese com a necessidade de mudana dos espaos de aula, onde a

    deficiente propagao do som no permite que as aulas sejam um frum de debate. No

    podemos continuar a ter aulas em anfiteatros onde o som se propaga apenas numa

    direco.

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    5. ESTRUTURA DO PROGRAMA

    I. 

    CONHECER OS TERRITRIOS NOITE

    1. Noite no apenas uma questo de tempo2. Representaes e experincias artsticas3. A noite no um espaotempo igual ao dia

    II. 

    COMPREENDER OS TERRITRIOS NOITE

    1. Novos contextos de uso do tempo e do espao

    2. Novas prticas individuais e colectivas3. Servios e economia da noite

    III. REPENSAR OS TERRITRIOS NOITE

    1. Noite e polticas pblicas2. Iniciativas e boas prticas de gesto dos territrios noite3. A noite como um espaotempo de criatividade

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    6. PLANIFICAO DAS SESSES

     

     

    1A UC.A UC.D .

    2

    1

    I. C

    N Tempo e planeamento: uma relao socialHora e territrio: uma questo de polticaGeografia do espaotempoEmpregos do tempo e usos do espaoNoite: uma questo cultural?

    2

    2

    I. C

    R A noite atravs da arteA arte na noite

    A

    2

    Apresentao dotrabalho de grupo;

    as fontes deinformao.

    2 1

    3

    II. C

    N Usos do tempoTempo de trabalho, ritmos de vida, novas lgicas depertenaO trabalho das mulheres e o tempo dos serviosUsos do espao numa sociedade em contnuoConflitos e tenses

    2

    Acompanhamentoda elaborao doplano do trabalho

    de grupo.

    2 1

    4

    II. C

    N O homem tem de ser necessariamente um animal diurno?

    Idades e usos do tempoComportamentos cada vez mais individualizadosNovos valores e nveis de instruo mais elevadosValorizao das prticas culturais e desportivasA utilizao das tecnologias de informao e comunicao

    2

    Acompanhamento

    da elaborao doplano do trabalhode grupo.

    2 1

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    5

    II. C

    S Actividades cujos horrios se prolongam pela noiteServios que pela sua natureza tm de funcionar 24 horaspor diaServios relacionados com os tempos livres

    2

    Discusso dosplanos dos

    trabalhos degrupo.

    2(*) 1

    6

    II. C

    S Servios induzidos pelas dinmicas do trabalho nocturnoA noite como um espaotempo para o turismo

    Economia da cultura

    2

    Discusso dosplanos dos

    trabalhos degrupo.

    2(*) 1

    7

    III. R

    N O espao pblico est em crise?O que que torna um espao pblico num lugar desucesso?Porque fracassam tantos espaos pblicos?Como podemos levar as pessoas a participar navalorizao dos espaos pblicos?Politicas relacionadas com o tempo

    2 Visita de Estudo 4 1

    8

    III. R

    N Politicas relacionadas com a iluminaoPolticas relacionadas com a eficincia energtica

    A lei do Cu das CanriasPolticas culturais

    2

    Acompanhamentodo trabalho de

    grupo: elaboraode inquritos e de

    planos deentrevistas.

    4 1

    9 SEMANA DE TRABALHO DE CAMPO 

    10

    III. R

    I

    Nova Iorque: a noite como imagem de marcaChicago: arte e espaos pblicosXangai: a qualidade dos territrios noite depende da

    conciliao entre iniciativas privadas e pblicas

    2

    Acompanhamento

    do trabalho degrupo.

    2 1

    11

    III. R

    I Atenas: como um planoluz criou a cidade nocturnaLyon: a cidade da luz

    2Acompanhamento

    do trabalho degrupo.

    2 1

    * nmero de horas depende do nmero de grupos de trabalho

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    12

    III. R

    I Berlim: a Fnix renascidaRurgebiet: a iluminao artstica na regenerao dos

    territriosLuzboa: arte e luz na animao dos espaos pblicosStromboli: o triunfo da luz natural

    2Acompanhamento

    do trabalho degrupo.

    2 1

    13

    III. R

    A 2

    Acompanhamentodo trabalho de

    grupo.2 1

    14 SEMANA DE ESTUDO

    15 Apresentao oral e discusso dos trabalhos 3(**) 116 Apresentao oral e discusso dos trabalhos 3(**) 1

    17 Apresentao oral e discusso dos trabalhos 3(**) 118 SEMANA DE ESTUDO

    19 TESTE DE AVALIAO 220 BALANO FINAL DA UC 2

    TOTAL 24 35 14 4

    ** nmero de horas depende do nmero de grupos de trabalho, a proposta de 1h por grupo, partimos do princpio que teremos 3 grupos por sesso.

    Na planificao das sesses foram consideradas 20 semanas, 3 das quais dedicadas

    exclusivamente ao trabalho autnomo. Nas restantes, as sesses so de diversos tipos

    (tericoprticas, prticas, , visita de estudo e tutoria) com cargas horrias que

    permitam responder aos objectivos que nos propomos atingir com a unidade curricular1.

    No caso da sesso prtica de discusso dos planos de trabalho e nos   de

    apresentao oral e discusso dos trabalhos o nmero de horas previstas apenas

    indicativo pois vai depender do nmero de grupos e de alunos a frequentar a unidade

    curricular.

    1 Quadro com repartio da carga horria por tipo de sesso e de trabalho na pgina 19.

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    7. AVALIAO

    A avaliao desta unidade curricular centrarse no processo de aquisio de

    conhecimentos e de desenvolvimento de competncias. A avaliao deve ser diversificada

    de modo a poder valorizar o potencial (talentos) de cada aluno. A avaliao ser

    constituda pelos seguintes elementos:

    1)  Teste escrito, tericoprtico, individual e presencial para avaliar a aquisio de

    conhecimentos ao nvel dos conceitos, mtodos, tcnicas, capacidade de anlise e

    de relacionar a teoria e a prtica, sobre as diferentes temticas.

    2) 

    Trabalho de grupo escrito em que se avaliam as capacidade de saber fazer

    (interpretar a realidade, relacionando teoria e prtica; rigor cientfico;

    empenhamento na qualidade do trabalho) e de resolver problemas. O trabalho de

    grupo serve tambm para avaliar o desenvolvimento de competncias ao nvel da

    capacidade de mobilizar o grupo para os objectivos, promovendo a cooperao e a

    solidariedade, assim como a capacidade de negociao, de tolerncia e de respeito

    pela diversidade de opinies.

    3) 

    Exposio oral e discusso do trabalho de grupo onde se avalia a capacidade de

    comunicar resultados, mas tambm as atitudes e comportamentos (atitude

    colaborativa e participativa; promoo da cooperao e da solidariedade; respeito

    pela diversidade de opinies).

    4) 

    Participao nas aulas (atitude colaborativa e participativa; promoo da

    cooperao e da solidariedade; atitude crtica, saber questionar de forma

    pertinente factos e ideias; respeito pela diversidade de opinies).

    5) 

    Participao em actividades na Universidade ou fora que tenham relevncia para

    as temticas. Entrega de um pequeno ensaio sobre a contribuio das actividades

    desenvolvidas para a aprendizagem na UC.

    6) 

    Participao na organizao de eventos na Universidade ou fora com pertinncia

    para a aquisio de competncias. Entrega de um pequeno relatrio sobre as

    actividades desenvolvidas.

    Na primeira aula da Unidade Curricular a professora deve apresentar uma proposta do

    peso dos diferentes elementos que ser discutida e ajustada com os alunos.

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    P

    T %

    Teste tericoprtico 30

    Trabalho de grupo 30

    Apresentao oral do trabalho de grupo 20

    Participao nas aulas 10

    Participao em actividades naUniversidade ou fora

    5

    Participao na organizao de eventos naUniversidade ou fora

    5

    TOTAL 100

    Ao nvel da avaliao o principal problema que deve ser evitado a impossibilidade de um

    conhecimento personalizado dos alunos. O nmero muito elevado de alunos por unidade

    curricular, muitos grupos ou grupos com muitos elementos, reduz a capacidade de

    trabalho dos grupos, diminui a oportunidade de participar e impede o professor de

    conhecer as dinmicas da turma. Numa UC com um nmero reduzido de alunos possvel

    estabelecer relaes de maior proximidade com reflexos positivos nas actividades lectivas,

    mas tambm outras ligadas vida acadmica, gerandose dinmicas de grupo mais fortes.

    Apesar da institucionalizao na Universidade de Lisboa, ao nvel do 1 Ciclo, da realizao

    de inquritos para avaliar e garantir a qualidade do processo de ensinoaprendizagem, na

    ltima sesso procederemos a um balano sobre o modo como funcionou a unidade

    curricular. O objectivo ter em tempo til propostas que permitam melhorar no futuro

    esta unidade curricular e outras pelas quais sou responsvel.

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    Rene Magritte (1949) T E L I

    PARTE II

    DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA

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    GEOGRAFIA DA NOITE

    Em cidades como Munique, Berlim, Lausanne, Anvers e Lisboa, todos os anos, so

    organizados eventos chamados N M. Em 2005, o Museu de Arte Antiga, em

    Lisboa, recebeu mais de 5 mil visitantes. No Porto, Serralves em Festa, 40 horas nonstop,teve o seu momento mais alto, em 2007, com as 15 mil pessoas que por l passaram

    durante a noite. Na noite de inaugurao do Museu Berardo, em 2007, entre as 23 e as 9

    horas da manh, o Centro Cultural de Belm recebeu mais de 10 mil pessoas. A

    retrospectiva sobre a obra de Amadeu de Sousa Cardoso, na Fundao Calouste

    Gulbenkian, em 20062007, teve mais de 100 mil visitantes, muitos dos quais nos ltimos 3

    dias em que a exposio esteve aberta continuamente.

    Berlim promoveu, em 2006, a primeira Noite Europeia da Cincia. Em Copenhague ocorre

    a N C que, em 2008, envolveu mais de 300 entidades. F L, em

    Lyon, L A, em Turim, L, em Lisboa, e N B, em Paris, Bruxelas,So Petersburgo ou Roma, convidam atravs da arte da luz descoberta da cidade

    nocturna e incitam ao debate sobre a noite na cidade. Os eventos culturais nocturnos

    impemse como um meio de animao das grandes metrpoles e um utenslio nas

    polticas de  territorial.

    Mas a vida das cidades noite no tem apenas a ver com festa, diverso ou cultura. H

    muito que as grandes unidades industriais funcionam em contnuo para rendibilizar o

    investimento em capital fixo. Nos servios o trabalho aps as 20h  . Calculase que

    mais de 20% da populao activa dos pases desenvolvidos trabalhe em horrios que

    incluem perodos significativos entre as 20 e as 8 horas da manh (Gwiazdzinski  2003). Nasgrandes metrpoles os transportes funcionam por perodos de tempo cada vez mais

    longos. Em Nova York o metropolitano funciona toda a noite. Em Lisboa, Londres, Berlim,

    Budapeste ou Paris foram criados circuitos nocturnos de transportes pblicos.

    Na larga maioria dos pases europeus os horrios de funcionamento das actividades

    comerciais liberalizaramse. Na Polnia as grandes superfcies podem laborar 24 horas por

    dia. As pequenas mercearias de bairro, em Lisboa, permanecem abertas durante mais

    horas para poderem concorrer com as lojas de   e os supermercados. As lojas de

    convenincia implantamse nos principais bairros residenciais, mas tambm nas reas de

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    servio dos distribuidores de combustveis. As noites especiais no comrcio, como os

    saldos nocturnos, fazem furor. Os bares e restaurantes que s funcionam noite so em

    nmero crescente e concorrem com um nmero cada vez mais vasto de unidades de

    cadeias de   que oferecem os seus produtos durante, pelo menos, uma parte danoite. Os distribuidores automticos, inicialmente s de bebidas e produtos alimentares,

    chegam ao mercado dos vdeos, dos livros e dos produtos de sade e bemestar e

    permitem consumir continuamente.

    Nos Estados Unidos, os ginsios, as bibliotecas, as creches e mesmo os tribunais

    funcionam, em algumas cidades, de dia e de noite. Nas periferias de Lisboa os pavilhes

    gimnodesportivos e as piscinas pblicas animamse com actividades que se prolongam por

    vezes para l das 24 horas. No Parlamento de Estocolmo h uma creche que funciona

    enquanto duram as sesses nocturnas para que os deputados e funcionrios possam ter

    onde deixar os filhos enquanto trabalham. A maior parte das grandes decises polticasocorrem durante a noite. s 00.45 chegouse a acordo sobre o Tratado de Lisboa2  Era j

    noite alta quando o plano do Presidente Obama foi aprovado pelo Senado3.

    Os modos de vida mudam. Os ritmos biolgicos alteramse. Hoje, em Frana, as pessoas

    dormem, em mdia, menos 1 hora e deitamse, em mdia, 2 horas mais tarde do que h

    50 anos (Espinasse e Buhagiar  2004). As cadeias de televiso e de rdio funcionam

    continuamente. Sem sair de casa atravs dos novos sistemas de comunicao acedemos a

    servios e produtos 24 horas por dia, 7 dias por semana: procuramos informaes,

    executamos e distribumos trabalho, damos ordens s entidades bancrias,

    encomendamos comida, pagamos impostos, marcamos exames mdicos, fazemos ascompras no portal do supermercado, reservamos bilhetes de avies, hotis e restaurantes,

    assistimos a espectculos, participamos na vida poltica, exercemos os nossos direitos de

    cidadania, participamos em grupos de discusso O tempo em contnuo da economia e

    das redes sobrepemse ao ritmo circadiano dos nossos corpos e das nossas cidades. O

    tempo global impese ao tempo local. A separao entre tempo de trabalho e tempo

    pessoal tornase cada vez mais tnue e difusa.

    Ao emanciparemse dos constrangimentos naturais, atravs das novas tecnologias de

    iluminao e de comunicao, as cidades animamse sob a influncia de modos de vida

    cada vez mais dessincronizados. A iluminao ao controlar a obscuridade alterou a nossapercepo dos ritmos da sucesso do tempo. A luz, pouco a pouco, apoderase do espao

    nocturno, controlando ameaas e imprimindo novas dinmicas s diferentes esferas da

    sociedade: economia, poltica e cultura. Definitivamente, a noite deixou de poder estar

    associada ao tempo em suspenso, ao recolher obrigatrio.

    2 Ttulo da 1 pgina do jornal P em 20102007. 

    3 Notcia do telejornal  N (RTPN) em 1022009. 

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    medida que a separao entre dia e noite se atenua, e como este processo mais

    evidente nas grandes reas urbanas, a tendncia para associar cidade a luz e reas rurais

    a escurido ou a noite. O facto de se continuar a poder ver estrelas nas nossas aldeias no

    significa que durante a noite no haja vida para alm do tempo livre.

    Nas reas rurais, em Portugal, a noite esteve associada, at h bem pouco tempo,

    realizao de trabalhos agrcolas colectivos como as desfolhadas ou as pisadelas do vinho,

    e servia tambm de espao e de momento do convvio social. Muitas das festas religiosas

    tinham os momentos altos noite como acontecia com os Autos da Paixo ou as

    procisses das velas. No Natal, o madeiro ainda hoje continua a arder durante dias no adro

    da igreja, mas o ponto alto noite, apesar das temperaturas quase sempre negativas. As

    Festas dos Rapazes em TrsosMontes encerram com a queima do Entrudo que ocorre

    quase sempre de noite, para prolongar o mais possvel a festa, mas tambm para tirar

    partido da beleza do espectculo do fogo. A tradio obriga que as romarias acabem comum belo fogodeartifcio e este para surtir efeito tem de ser lanado j a noite vai

    avanada. tambm nas reas rurais que se instalam as actividades de observao do cu.

    A obrigatoriedade de se localizarem em stios sem poluio luminosa levaas para longe

    das reas urbanas.

    O primeiro grande festival de msica ligeira, em Portugal, realizouse na pacata aldeia de

    Vilar de Mouros em Agosto de 1971. Assistiram milhares de pessoas e o ambiente que se

    viveu s foi possvel no contexto poltico da poca porque o poder no acreditou que as

    pessoas se deslocassem para um stio to remoto. Hoje, os chamados festivais de Vero

    continuam a procurar reas afastadas dos grandes centros urbanos, como a Ilha do Ermal,em Vieira do Minho, as Andanas em Carvalhais, S. Pedro do Sul, o Sudoeste na Zambujeira

    do Mar ou Boom Festival na Barragem Marechal Carmona, em IdanhaaNova. Os

    objectivos so, por um lado, reduzir os impactos em termos sonoros, pois os espectculos

    prolongamse pela noite dentro e provocam muito barulho mas, tambm, porque s assim

    se consegue reunir condies para concentrar as multides que movimentam.

    Mais recentemente o trabalho agrcola nocturno impsse de novo. A apanha das folhas de

    tabaco ou das flores do lpulo, por exemplo, tem de ocorrer num espao de tempo muito

    limitado se se quer garantir a qualidade atravs de um determinado grau de maturao, o

    que frequentemente obriga a que o trabalho seja realizado de forma contnua seminterrupo noite. No caso do vinho algumas empresas desenvolveram nos ltimos anos

    produes especficas em que as uvas so vindimadas durante a noite para que a

    fermentao possa ocorrer em condies ideais de temperatura, o que confere ao produto

    final caractersticas nicas. Processo semelhante ao que se passa com o  da

    Pennsula de Nigara, no Canad, que produzido com uvas recolhidas ainda durante a

    noite quando, no incio do Outono, ocorrem as primeiras temperaturas negativas e que,

    pela qualidade, consegue preos muito elevados no mercado.

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    No passado os indivduos que viviam nas grandes cidades erguiamse s 6 horas da manh

    para iniciar a jornada de trabalho, hoje s 6 da manh deitamse os que vm da festa ou os

    que trabalharam duramente durante a noite para preparar a cidade para o dia que nasce.

    O tempo tem hoje ritmos diferentes dos do passado e as mudanas no dizem apenasrespeito ao uso do espaotempo noite. O repouso semanal e os dias feriados propcios s

    prticas sociais festivas, culturais ou de lazer j no so respeitados e os reflexos na

    utilizao dos espaos pblicos esto vista. O longo perodo de frias anual, que

     justificava a sada dos locais habituais de residncia, raramente acontece e as frias so

    repartidas por perodos curtos que j no surtem o efeito de descanso do passado. Os

    novos ritmos decorrentes dos horrios de trabalho flexveis levam dessincronizao dos

    tempos de vida social e familiar e geram novas necessidades em termos de funcionamento

    das actividades econmicas e sociais, obrigando a deslocaes que promovem cada vez

    mais a utilizao dos meios de transportes individuais. Os novos ritmos no s modificam

    as relaes sociais e os comportamentos individuais, como esto a alterar as relaes como territrio.

    Com este programa pretendese, em primeiro lugar, contribuir para o conhecimento dos

    territrios noite. Em segundo lugar, a partir da identificao dos factores de mudana

    dos usos do tempo vamos procurar compreender quais os reflexos sobre a organizao dos

    territrios noite. Por fim, pretendemos a partir de exemplos e casos de boas prticas no

    planeamento e na gesto do territrio noite, reflectir sobre o modo estes conhecimentos

    e experincias podem ser incorporados para criar melhores condies de vida e promoverum desenvolvimento sustentvel dos territrios.

    R :

    Espinasse C; Buhagiar P (2004)  L . V .  Paris: Editions L'Harmattan.

    Gwiazdzinski L (2003) L 24 24 . Paris: Editions de lAube.

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    Van Gogh (1889) N E, New York: The Museum of Modern Art (MoMA)

    I.  CONHECER OS TERRITRIOS NOITE

    A noite sugere, no mostra. A noite perturbanos e surpreendenos pela sua

    estranheza, liberta em ns foras que durante o dia so dominadas pela razo.

    Bϊ. Editions Centre Pompidou, Paris, 2000: 157

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    1. NOITE NO APENAS UMA QUESTO DE TEMPO

    A temporalidade uma estrutura organizada, e esses trs pretensos "elementos"

    do tempo, passado, presente, futuro, no devem ser considerados como uma

    coleco de "dados" cuja soma deve ser feita por exemplo, como uma srie infinitade "agora", alguns dos quais ainda no so, outros que no so mais , mas como

    momentos estruturados de uma sntese original. Seno encontraremos, em primeiro

    lugar, este paradoxo: o passado no mais, o futuro ainda no , quanto ao

    presente instantneo, todos sabem que ele no tudo, o limite de uma diviso

    infinita, como o ponto sem dimenso.

     JP S, 'O S N' 4 

    T :

    Esquecida durante muito tempo, noite comea por ser, para o planeamento, uma questo

    de tempo. Hoje, afirmase, cada vez mais, como uma questo de espao de vida.

    A noo de tempo, como hoje a conhecemos no mundo ocidental, surge no sculo XVIII,

    com a filosofia das luzes (Guyau 1998). A ideia de tempo passou a assentar no princpio

    que o presente tinha as suas razes no passado, mas podia projectarse no futuro. A

    previso do futuro fundada na razo que ento se desenvolveu opunhase profecia queera o modo dominante de relao com o futuro at poca. Em ruptura com o passado, a

    concepo moderna do tempo construiuse em torno da noo de progresso.

    O tempo tornouse matria de planificao e os homens passaram a impor a sua marca

    sobre o curso dos acontecimentos. O presente construase com base no passado e

    afirmavase pelo futuro. O futuro estava aberto aco humana (Lippincott 2000). O

    futuro era previsvel a partir do conhecimento do presente e de tcnicas racionais de

    planear. Quase todo o sculo XX foi caracterizado por esta noo de tempo. Mas esta

    4  http://acrosstheunivers3.wordpress.com/2008/03/13/friedenimkrieg/.

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    concepo entrou em crise porque, de acordo com R. Koselleck (1990), a separao entre

    espaos de experincia e horizontes das expectativas no parou de crescer. As

    expectativas sobre o futuro ficaram cada vez mais distantes das experincias do presente.

    Para responder s expectativas sobre o futuro, o presente deixou de poder basearseapenas nos recursos do passado. Podese dizer que o passado j no fornece sentido

    aco presente e que o futuro est cada vez mais dependente de novos investimentos, de

    novos sentidos, de novas estratgias para que seja capaz de fazer face incerteza e

    imprevisibilidade do mundo em que vivemos (Lippincott 2000). O mundo nos ltimos 20

    anos mudou muito e a um ritmo nunca antes experimentado. As novas necessidades

    sociais valorizam a fluidez, a flexibilidade e a capacidade de adaptao (Landry 2000). Para

    responder aos contextos de crescente incerteza e imprevisibilidade so necessrias novas

    abordagens sustentadas em recursos como a criatividade, a iniciativa, a diversidade, a

    capacidade de negociar e de mobilizar os actores para objectivos comuns. Isto no significa

    que as condies do passado deixem de pesar sobre o presente, mas o que temos de fazer dalhes novos sentido, inovar no modo como as utilizamos para serem um potencial para

    o futuro.

    Uma das razes do desfasamento entre experincias e expectativas ao nvel dos territrios

    o facto de se continuar a planear sem ter em conta as necessidades presentes

    decorrentes dos novos ritmos e dos novos modos de viver. Este desfasamento ocorre em

    muitas situaes, mas evidente no facto de na maior parte dos processos de

    planeamento territorial no se ter em conta, um perodo de tempo, a noite. Como a

    relao entre tempo e territrio tem implicaes em todas as esferas da sociedade

    (economia, poltica, cultura) no ter em conta a noite nos processos de planeamento como amputar aos territrios uma parte da sua vida.

    A noite um espaotempo com caractersticas especficas que tm de ser tidas em conta

    no planeamento territorial para que comecemos a concretizar no presente as expectativas

    de qualidade de vida que na perspectiva do passado s poderiam ser alcanadas num

    futuro longnquo.

    H :

    Planear o tempo no territrio comeou por ser uma questo de regular horas. Hoje,

    acima de tudo uma questo de articular ritmos de vida cada vez mais dessincronizados. O

    que interessa no planeamento territorial compreender as expectativas e os modos como

    os actores se comportam nos territrios, tendo em conta os ritmos do tempo.

    A regulao do tempo atravs do estabelecimento de uma hora comum uma inveno

    recente e foi uma forma de controlar de forma centralizada os ritmos nos territrios

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    (Paquot 2000; Levine 1997). O desenvolvimento dos meios de transportes no sculo XIX ao

    permitir deslocaes mais rpidas, teve como efeito colocar em contacto territrios que

    viviam sob temporalidades diferentes. Perante a necessidade de uniformizao dos

    tempos locais, o estado nacional procurou criar um sistema que regulasse a hora nos seusterritrios.

    Em princpios do sculo XIX Portugal, semelhana de outros pases europeus, adoptou o

    Tempo Solar Mdio, definido a partir do meridiano de Lisboa, para uniformizar a Hora

    Legal no territrio nacional5. Mas a deficiente circulao da informao levou a que ao

    nvel local a vida continuasse a ser regulada pelos ritmos naturais, sucesso dos dias e

    noites, sequncia das estaes do ano e pelos calendrios religiosos. Em Portugal, os

    primeiros servios a terem de obedecer s instrues regulamentares relativas s horas e

    durao do tempo de trabalho foram as estaes dependentes da Direco Geral dos

    Correios, Telgrafos e Faris, a partir de 1881.

    A partir de 1 de Janeiro de 1912, a definio da hora em Portugal deixou de ter como base

    o meridiano de Lisboa6 e passou a regerse pelo Fuso das 00:00 horas (Greenwich). Assim,

    a Hora Legal em Portugal Continental foi adiantada de 36m  44s 68, correspondendo

    diferena de longitudes entre os meridianos do Observatrio Astronmico de Lisboa e de

    Greenwich (www.oal.ul.pt).

    Em 1986, com a entrada na CEE, a definio da Hora Legal passou a ser estabelecida em

    conformidade com as directivas da Comunidade Europeia pelo chamado Tempo Universal

    Coordenado (UTC), j em uso legal na maior parte dos pases. As mudanas e definiesactuais so regulamentadas pela coordenao exigida dentro da Unio Europeia (Stima

    Directiva no 94/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio de 1994). Na

    UE continua a haver um debate muito vivo sobre a harmonizao da hora legal (mudar ou

    no mudar a hora no Vero, estabelecer ou no uma hora nica para todo o territrio que

     j abrange 3 fusos horrios) que tem sido estimulado pelos problemas que se levantam

    com a diversidade de horas para os trabalhadores transfronteirios, as empresas de

    transportes e o funcionamento dos mercados financeiros, revelando a importncia da

    escala na dimenso da Europa.

    O tempo uma noo subjectiva e a definio da hora legal uma questo poltica. NaRssia, um pas com 9 horas legais diferentes, e nenhuma igual da China, ali mesmo ao

    lado, os horrios dos comboios so estabelecidos em todo o territrio com a hora de

    5 Sobre a evoluo da hora em Portugal ver www.oal.ul.pt .

    6 Em Portugal o meridiano de lugar sempre foi definido pelo meridiano que passa no Observatrio

    Astronmico de Lisboa (Universidade de Lisboa), mas um caso raro. Em muitos pases da Europa omeridiano de lugar era definido por um ponto que passava dentro de uma igreja. Os primeirosrelgios tambm foram instalados dentro das igrejas. O que revela como a Igreja no queria deixar

    de ser a dona do tempo.

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    Moscovo. Assim, quando se chega a Irkutsk, com uma hora legal de mais 4 h do que

    Moscovo, ou Vladivostok, com mais 8 h do que Moscovo, os horrios dos comboios que se

    encontram afixados na estao indicam a hora de Moscovo. Os relgios das estaes e os

    relgios que existem dentro dos comboios que circulam em toda a Rssia exibem a hora dacapital, Moscovo.

    Na China, um pas cortado por vrios meridianos, a hora legal no varia e sempre igual,

    em todo o territrio, de Pequim. O que significa que os territrios mais afastados acabam

    por se regular pela hora solar. Por exemplo, os trabalhadores de Yarkand, na parte mais

    ocidental do pas, comeam a trabalhar s 4 h da manh de Pequim, mas s 8 h na hora

    solar local.

    A Monglia, localizada entre a Rssia e a China, mudou, recentemente, a hora legal.

    Passando a utilizar a da China, em vez da hora Rssia. At 1989, a Monglia tinha uma

    economia sustentada pela URSS como contrapartida do seu papel militar como barreira s

    intenes expansionistas da China. Com o desaparecimento da URSS o pas entrou em

    ruptura social, econmica e poltica, deixando a pouco e pouco a esfera de influncia da

    Rssia e aproximandose da China. A mudana da hora legal expressa estas

    transformaes.

    O desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao vieram introduzir outras

    mudanas na noo de tempo e de hora. Por um lado, temos o tempo dos fluxos de

    informao, em que se englobam os fluxos financeiros, que circulam em tempo real e que

    ignoram os territrios e os estados e, por outro, temos as horas da organizao materialdas empresas, dos processos de produo e da vida social e pessoal. Os conflitos so de

    vrias ordem e a incapacidade dos Estados em controlar o tempo dos movimentos de

    capitais contribuiu para a fuga para parasos fiscais, o descontrolo das receitas fiscais e a

    delinquncia financeira que contagiou ao nvel mundial os mercados com produtos ditos

    txicos quebrando a confiana e pondo em risco a economia de muitos pases e

    empresas. A impossibilidade de conciliar os tempos da justia com a rapidez de reaco

    dos sistemas fraudulentos s aumenta a instabilidade, acentuando a separao entre

    lgicas temporais e lgicas territoriais.

    O facto de a qualquer hora do dia e, em particular, noite, atravs das novas tecnologiasde informao e comunicao o nmero de pessoas que tm acesso a toda uma gama de

    bens e servios estar a crescer revela a crescente separao entre lgicas de consumo

    (reguladas por horas escala internacional) e as lgicas territoriais (reguladas por horas

    escala regional ou local). medida que as prticas sociais (consumo, produo, lazer)

    atravs da intermediao electrnica se vo desligando dos conceitos espaciais tradicionais

    de distncia e proximidade, o controlo poltico sobre os territrios com base na hora tende

    a atenuarse. Este facto torna ainda mais pertinente a necessidade de planear os

    territrios para que possam ser vividos 24h/24h.

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    A Geografia do espaotempo de Hagerstrand veio a ser determinante para o trabalho de

    outros investigadores e, em particular, na constituio da teoria da estruturao (Gama

    2007). Anthony Giddens, na Sociologia, e Alan Pred, Nigel Thrift e Derek Gregory, na

    Geografia, procuraram desenvolver novas concepes em que se superasse a dualidadeentre prticas e estruturas e entre determinao e liberdade. O objectivo era encontrar

    uma terceira via entre estruturas, relaes estruturais e sistmicas, por um lado e, por

    outro, indivduos, prticas individuais e relaes interpessoais. Entre as vrias temticas

    tratadas Giddens ocupouse das questes da produo social da vida quotidiana e recorreu

    aos trabalhos da Geografia do espaotempo, embora tecendo muitas crticas (Gama

    2007). Aos gegrafos interessava, sobretudo, a reflexo sobre a espacialidade da vida

    quotidiana como expresso dos processos de socializao dos indivduos e dos lugares, das

    relaes de poder e de reproduo cultural dos contextos scioespaciais (Gama 2007). As

    prticas sociais do sentido aos lugares e o espao no apenas o suporte, mas participa

    nas relaes sociais, cabendo a cada sociedade modos de organizao do espaoespecficos. Esta abordagem permitiu uma abordagem mais humanista, o lugar envolve

    sempre uma apropriao, uma transformao do espao e da natureza que indissocivel

    da reproduo e transformao da sociedade no tempo e no espao (Gama 2007).

    Torsten Hgerstrand mostrou a pertinncia da questo tempo nas anlises do espao e as

    suas consequncia sem termos econmicos e sociais. A inovao introduzida nas relaes

    espaciais pelas tecnologias de informao e comunicao vem, precisamente, no sentido

    de superar dois dos constrangimentos identificados ( e ): hoje com as

    novas tecnologias de informao e comunicao podemos estar em mais de um lugar ao

    mesmo tempo e para participar num evento no tem de haver simultaneidade entre lugare momento. Em contrapartida, as limitaes no territrio decorrentes de autoridades e

     juridies no param de crescer com a privatizao dos espaos (condomnios privados,

    centros comerciai...) mesmo dos espaos que deviam ser colectivos (encerramento de

    espaos pblicos como parques urbanos, praas, ruas, para eventos como espectculos de

    msica ou publicidade).

    E  

    No passado o tempo dos territrios comeou por ser ditado pelos ritmos naturais, a

    sucesso dos dias e das estaes do ano. Com a urbanizao da populao o tempo dos

    territrios passou a depender da organizao industrial do trabalho e os fluxos passaram a

    ter horas mais ou menos fixas, independentemente, da durao do dia e da noite (Godard

    1997). Hoje, na sociedade dos servios, os ritmos so cada vez mais dessincronizados,

    fragmentando os tempos sociais (Ascher 1997). Os impactos nos territrios so evidentes.

    Na sociedade organizada pela indstria transformadora, as deslocaes tinham amplitudes

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    reduzidas, os espaos de convvio social coincidiam com os espaos de trabalho e de

    residncia. Os espaos de lazer como os T , das cidades da Europa Central e do Norte, e

    as Feiras Populares, das cidades do Sul, por exemplo, estavam prximos dos locais de

    residncia e de trabalho. Os cinemas localizavamse nos bairros onde as pessoashabitavam.

    Na sociedade dos servios raramente vivemos no mesmo lugar onde trabalhamos, para

    usufruir os espaos de lazer, como os grandes parques urbanos, as frentes de gua

    requalificadas ou os  centros comerciais, as pessoas tm de fazer deslocaes longas,

    que implicam gastos em termos de tempo e de dinheiro. O desenvolvimento dos sistemas

    de mobilidades, as novas tecnologias de informao e comunicao, a reduo do tempo

    de trabalho e as polticas de flexibilizao da fora de trabalho, a crescente separao

    entre locais de residncia e locais de estudo e de trabalho, transformaram profundamente

    o diaadia das pessoas geraram novos ritmos na sociedade e nos territrios (Boulin 2000) e alteraram as necessidades de servios.

    A abordagem econmica do espao e do tempo temse baseado numa lgica de

    crescimento da acumulao que, muitas vezes, se limita esfera da produo (Ascher

    1997). Hoje esta abordagem tem de ter em conta todo o tempo e todos os espaos para

    alm da esfera da produo. Os grupos sociais e as actividades entraram em dinmicas de

    desenvolvimento que modificam as relaes e as atitudes do diaadia que se relacionam

    com o tempo e com o espao. Assim, para aumentar o seu espao til, os actores

    econmicos e os indivduos desenvolvem novas formas de mobilidade, para disporem de

    mais tempo racionalizam o emprego do tempo, acelerando os ritmos, economizandotempo, aumentando a produtividade (Godard 1997) e, acima de tudo, comprando o tempo

    dos outros atravs do consumo de servios. A relao espaotempo ganha uma

    importncia quer para a sociedade, quer para os indivduos e expressase de forma cada

    vez mais evidente nos territrios em funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana e

    365 dias por ano, onde os cidados gerem de forma cada vez mais individualizada o

    emprego do tempo e os usos do espao.

    Com novos empregos do tempo e novos usos dos territrios, a noite deixa de ser apenas o

    tempo do descanso social e precisa de cada vez mais ateno em termos de planeamento

    para que no se gerem novas presses e conflitos. A noite transformase num espaotempo com novos valores para a sociedade.

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    N: ?

    I ?C .

    C ?D .

    Eugne Guillevic7 

    A definio astronmica de noite o intervalo de tempo entre o pr e o nascer do Sol. Os

    limites naturais da noite variam com a latitude e com a poca do ano mas, em mdia, a

    noite dura sempre metade do tempo de um ano, a distribuio ao longo do ano que vai

    variando. Em Portugal, a noite mais longa ocorre no solstcio de Inverno, entre 21 e 22 de

    Dezembro, e a mais curta ocorre no solstcio de Vero, entre 21 e 22 de Junho.

    Os limites da noite so difceis de estabelecer pois podem ter diferentes naturezas e

    variam conforme os lugares, as culturas e a sensibilidade pessoal (Paquot 2000). A noite

    pode ser definida em funo da diminuio da intensidade das actividades econmicas e

    das relaes da vida social no espao pblico e pelo crescimento das funes que se

    orientam para a esfera privada. Um estudo realizado em Estrasburgo revelou que a cidade

    parava apenas entre as 1h 30m e as 4h e 30m da manh (Gwiazdzinski 2007). A

    distribuio do trfego da Internet, em Portugal, mostra que os picos de utilizao s

    decaem depois das 3h da manh (www.marktest.pt). Mas h reas nas grandes cidades

    que s ganham vida depois da meianoite, quando comeam a chegar os clientes das

    discotecas e dos bares. As variaes nos limites da noite podem, assim, ser semanais,

    mensais ou anuais. No caso das actividades de lazer nocturnos, em geral, as noites de

    sextafeira e sbado so as mais animadas pois, h vida nos espaos pblicos e privados

    at mais tarde. Contudo, o facto de numa dada cidade muitos destes utilizadores da noite

    serem jovens estudantes, fora do seu local habitual de residncia e que se deslocam ao fim

    de semana a casa, leva a que as noites de quintafeira possam ser das mais animadas. Ao

    longo do ms existem tambm diferenas que se relacionam directamente com a

    disponibilidade de dinheiro, com o momento em que se recebem as remuneraes. Aolongo do ano, as variaes nas temperaturas podem tornar mais ou menos convidativas

    certas actividades, particularmente, as que decorrem ao ar livre, contribuindo para a

    construo da noo de noite com limites cada vez mais tnues.

    A noite pode ter limites legais quando se estabelece, por exemplo, que o trabalho

    desenvolvido num determinado perodo de tempo considerado trabalho nocturno e,

    portanto, tem de ter uma remunerao ou uma durao diferente. Quando a tarifa de txi

    7 Citado em Lvy (2005: 28).

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    ou o preo dos medicamentos aumenta a partir de uma dada hora, estamos perante

    delimitaes legais de noite. Estes limites so muito diferentes conforme as actividades e

    os pases e tm evoludo ao longo do tempo.

    Nas sociedades onde ocorrem diferenas nas formas de educao segundo o gnero

    frequente ser exigido s raparigas que cheguem a casa antes da escurido se instalar na

    rua. A hora do recolher obrigatrio determinada pelo gnero, mas varia ao longo do

    ano.

    No Ramado o jejum tem de ser observado durante o perodo em que o Sol est acima do

    horizonte. noite podese comer. E a noite que assinala o fim do Ramado uma das mais

    animadas do ano, com a reunio da famlia para partilhar uma refeio em que se fazem

    muitas iguarias especiais para aquele momento.

    No Egipto, no Vero de 1995, assistimos a duas situaes que revelam a importncia das

    condies de temperatura para as prticas dos indivduos. Em Assuo as ruas comerciais s

    se animavam com o desaparecer do Sol, as temperaturas superiores a 40 graus durante o

    dia convidavam ao recolhimento no conforto da sombra dos ptios das casas. noite,

    milhares de pessoas, de todas idades e condies sociais, circulavam pelas ruas comerciais,

    a passear ou a fazer as compras. No Cairo, s 3h da manh, dezenas de jovens jogavam

    futebol nos parques de estacionamento do aeroporto. Aproveitavam o perodo mais

    fresco, o espao vazio e os potentes holofotes da iluminao pblica para praticarem

    desporto.

    Para Gwiazdzinski (2007) existem trs tempos na noite que correspondem a trs formas

    diferentes de ocupao dos espaos pblicos: das 20 s 1h e 30m a noite avana invadida

    pelas actividades do dia, o perodo das sadas culturais, com os amigos, dos passeios,

    podese ficar no espaos pblicos ou regressar a casa; das 1h 30m s 4h 30m o corao

    da noite, o momento em que a cidade descansa, nos espaos pblicos ficam os noctvagos

    e os trabalhadores com funes especficas, em geral, esto na noite para ficar; das 4h

    30m s 6h a madrugada, a noite acaba e o dia comea, os que regressam da noite

    encontramse com os que comeam o dia de trabalho.

    No existe uma noite, mas mltiplas noites. A noite um espaotempo com limites fluidose com naturezas que variam de acordo com diversos aspectos, mas acima de tudo com as

    diferentes culturas.

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    Relatório do ProgramaAbril de 2009

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    PROVAS DE AGREGAÇÃOTeresa Alves

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    2. REPRESENTAES E EXPERINCIAS ARTSTICAS

    Pareceme que a noite muito mais viva e ricamente colorida do que o dia.

    Vincent Van Gogh, 8 de Setembro de 18888 

    A noite de todos os momentos, aquele que encerra as representaes mais negativas

    (Heurgon 2005). Em quase todos os domnios do saber a noite surge como metfora da

    ignorncia, da superstio e do fanatismo. Falamos da noite dos tempos para referir

    perodos muito recuados no tempo sobre os quais pouco sabemos. A longa noite

    fascista, a noite das facas longas, a noite de cristal, as noites do KKK, os

    bombardeamentos em directo na TV na noite de Bagdade, povoam de terror a nossa

    histria colectiva (Alves 2007b).

    Por oposio, a luz e o dia esto associados quase sempre ao progresso, ao bem e

    evidncia (Alves 2007b). Quando queremos esclarecer algo fazemos luz sobre a situao,

    ou quando queremos saber mais vamos pr em dia os nossos conhecimentos. As

    expresses derivadas de luz esto quase sempre associadas a algo de positivo: iluminar,

    clarear, aurora, iluminismo, Sculo das Luzes, a noite cai, mas o dia nasce ou elevase...

    Sem a noite, contudo, muitos dos progressos da humanidade no teriam acontecido (Alves

    2007b). A noite por excelncia o momento da reflexo e da criao. Sem noite no teria

    havido, por exemplo, as grandes viagens ocenicas, porque foi a noite que, ao permitir a

    observao das estrelas, garantiu aos navegadores o sistema de orientao por mares

    desconhecidos, permitindo dar novos mundos ao mundo. E porque ser que a maior

    parte das revolues nascem de noite?

    A noite , por excelncia, o espao das transgresses, dos ritos iniciticos, dos noctvagos,

    dos artistas, dos sonhos e do amor. A noite fascinanos, perturbanos, porque no nosso

    imaginrio colectivo a noite est associada aos momentos mgicos. Apesar de toda a carga

    8 http://www.moma.org/exhibitions/2008/vangoghnight/ 

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    negativa, da dimenso obscura que continua a inquietarnos, a noite tem vindo a ganhar

    uma representao mais potica que valoriza aspectos como a liberdade e a criatividade.

    As representaes artsticas da noite tm ajudado a entender o universo nocturno e

    desempenharam um papel fundamental na renovao do modo como sentimos e vivemos

    este espaotempo (Espinasse 2005). As ligaes entre arte e noite so fortes e tmse

    manifestado em domnios to diferentes como: a pintura, a fotografia, o cinema, o teatro,

    a literatura, a msica ou as artes plsticas .

    V G C N (20082009) The Museum of Modern Art, Nova Yorkhttp://www.moma.org/exhibitions/2008/vangoghnight/

    A

    Na  a noite comea por estar associada s trevas, aos demnios, a momentos de

    dor e de perda como a morte. Nas obras de Caravaggio (15711610) o jogo entre o escuro

    e o iluminado faz lembrar a luta entre as trevas e o dia, mas a noite no pretexto das

    representaes. As personagens colocadas num fundo escuro so iluminadas por focos de

    luz que fazem lembrar os primeiros raios do sol a nascer. S no sculo XIX a noite surge em

    representaes associadas ao luar e s estrelas, o que contribuiu para construir uma viso

    mais potica de uma realidade carregada de sentidos negativos (Goldberg 2005). Mas

    muito difcil encontrar hoje obras com uma viso positiva da noite anteriores a N

    E R (1888)  a N E (1889) de Van Gogh. Entre Setembro de

    2008 e Janeiro de 2009 o MoMA, The Museum of Modern Art, em Nova York, apresentou a

    exposio V G C N que explorava precisamente a obra do

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    50

    P M N A M (http://collection.centrepompidou.fr/Navigart)

    com o trabalho dos surrealistas, como Marc Chagal (18871985) e Rene Magritte (1898

    1967), que a noite se torna num tema recorrente na pintura.

    Na  o negro a matriaprima, mas da unio com a luz que nascem as imagens

    (Werner 2005), photo significa luz em grego. A fotografia tem tido um papel

    fundamental na valorizao cultural do negro pois atravs do preto e branco que se tm

    exprimido alguns dos maiores fotgrafos: Robert Doisneau, Sebastio Salgado ou Gerard

    Castelo Lopes. A noite, especificamente, tem sido o tema de muitos trabalhos desde P

      (1933) de Brassa a C (2002) de Nuno Cera e Diogo Lopes. De acordo com a

    base de dados online do Centre Pompidou verificamos que a larga maioria dos trabalhos

    artsticos com refern


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