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UNIVERSIDADE DE LISBOA
PROVAS DE AGREGAO
RELATRIO DO PROGRAMA
GEOGRAFIA DA NOITECONHECER, COMPREENDER E REPENSAR OS TERRITRIOS
TERESA ALVES
ABRIL DE 2009
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NDICE
PGINA
O PORQU DE UMA GEOGRAFIA DA NOITE ................................................................................ 5
PARTE I ORGANIZAO DA UNIDADE CURRICULAR ...................................................................11
1. OBJECTIVOS E CONTEDOS ....................................................................................................... 13
2. RESULTADOS ESPERADOS E COMPETNCIAS A DESENVOLVER ........................................................... 16
3. ESTRATGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM .................................................................................. 18
4. RECURSOS PEDAGGICOS ......................................................................................................... 21
5. ESTRUTURA DO PROGRAMA ...................................................................................................... 23
6. PLANIFICAO DAS SESSES ...................................................................................................... 24
7. AVALIAO ............................................................................................................................ 27
PARTE II DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA.........................................................................29
GEOGRAFIA DA NOITE .........................................................................................................31
I. CONHECER OS TERRITRIOS NOITE ....................................................................................35
1. NOITE NO APENAS UMA QUESTO DE TEMPO........................................................................... 37
2. REPRESENTAES E EXPERINCIAS ARTSTICAS .............................................................................. 473. A NOITE NO UM ESPAOTEMPO IGUAL AO DIA ........................................................................ 63
II. COMPREENDER OS TERRITRIOS NOITE .............................................................................67
1. NOVOS CONTEXTOS DE USO DO TEMPO E DO ESPAO .................................................................... 69
2. NOVAS PRTICAS INDIVIDUAIS E COLECTIVAS ................................................................................ 85
3. SERVIOS E ECONOMIA DA NOITE ............................................................................................... 95
III. REPENSAR OS TERRITRIOS NOITE ................................................................................ 109
1. NOITE E POLTICAS PBLICAS ................................................................................................... 111
2. INICIATIVAS E BOAS PRTICAS DE GESTO DO TERRITRIO NOITE ................................................. 134
3. A NOITE COMO UM ESPAOTEMPO DE CRIATIVIDADE ................................................................. 159
BIBLIOGRAFIA GERAL E BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA PARA LEITURA ........................................... 163
STIOS NA INTERNET ......................................................................................................... 165
BIBLIOGRAFIAS ESPECFICAS ............................................................................................... 169
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................ 171
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espaos 24h /7 dias. Novos ritmos, novos valores, novas atitudes trazem noite novos
actores sociais. A pertinncia de uma Geografia da Noite est precisamente na necessidade
de reflectir sobre as implicaes nos territrios destas mudanas.
Apesar de a noite ser uma dimenso mais ou menos esquecida deu j origem a obras
remarcveis como L (1977) de Anne Cauquelin, G (1997)
de Luc Bureau, L 24 24 (2003) e L
(2005) de Luc Gwiazdzinski, que contribuiram para uma abordagem multidisciplinar deste
espaotempo. A reflexo de grupos de trabalho como o da DATAR T T
produziu abundante material sobre as implicaes no territrio das mudanas dos tempos
de vida sem que tenha sido abordada a questo do espaotempo noite. Mais
recentemente R N. R, C E M
N E (2007), deunos uma viso de outras vertentes da noite. Na produo
cientfica e poltica, com origem no Reino Unido, a economia da noite limitase, quasesempre, ao comrcio das bebidas alcolicas, do sexo, das drogas e ao jogo. Mas a
regenerao de muitos dos centros das cidades que tinham perdido vitalidade com o fim
do modelo econmico baseado na indstria transformadora, partiram muitas vezes de
investimentos que promoveram o crescimento de actividades econmicas, cujo perodo de
consumo predominantemente a noite (OConnor 1997; Helms 2008). Em Portugal, Joo
Teixeira Lopes (1998), na tese de doutoramento A :
, estudou as representaes e as prticas culturais na noite do
Porto. No trabalho N L E R D U (1999), um dos casos de
estudo foi a vida nocturna na cidade de Coimbra.
O interesse pelo espaotempo noite e pela relao entre arte e territrio surgiu com o
trabalho na equipa que organizou e coordenou trs eventos culturais: L C
N (2001) (Caeiro 2001) ; L I B A L L (2004) (Caeiro
2004) e L II B A L L (2006) (Caeiro 2007). No
primeiro caso, a interveno centrouse nos espaos pblicos urbanos e na forma como a
arte efmera podia contribuir para a sua revitalizao, promovendo uma reflexo sobre o
que as pessoas queriam para os seus espaos de vida colectiva, numa rea problemtica de
Lisboa a freguesia de Marvila. Nas duas edies de L a noite foi o palco dos eventos,pois na arte da luz a escurido a tela onde a arte se inscreve. As questes relacionadas
com a requalificao dos espaos pblicos continuaram a ser o cerne das intervenes,
mas a abordagem teve de ser necessariamente diferente, pois o facto de o evento ser
nocturno colocounos em contacto com outro tipo de problemas.
A participao na equipa de coordenao da rea de formao da L permitiume
contactar com cerca de uma centena de especialistas nacionais e internacionais em temas
como o pensamento e a histria, os espaos pblicos, o planeamento e gesto territorial,
as mobilidades, a segurana, a percepo do espao, o urbanismo, os problemas sociais
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como a excluso social e os semabrigo, a economia da noite, a cronobiologia, a iluminao
artstica e ambiental, a arte da luz, entre outros. A aprendizagem realizada ao longo dos
atelis, dos ciclos de conferncias e do Congresso da Noite permitiume aprofundar os
conhecimentos relacionados com as questes da noite e contribuiu para elaborar oprojecto de investigao N: O I T (NOIT)
(PTDC/GEO/64240/2006) que financiado pela FCT. no mbito deste projecto, iniciado
em 2008 e a concluir em 2010, que se tem desenvolvido a investigao que fundamenta
este programa. Deste modo, este programa concretiza um dos objectivos definidos como
prioritrios na organizao da Universidade de Lisboa, promover a articulao entre a
investigao cientfica e o processo de ensino e aprendizagem.
A Universidade define como rumo estratgico a abertura sociedade e uma poltica
activa de transferncia de conhecimento e de inovao (). (Estatutos da Universidade de
Lisboa, http://www.ul.pt/pls/portal/docs/1/177050.pdf em 12102008). Este programa ,por outro lado, produto de uma intensa ligao entre Universidade e empresas /
associaes / organismos da Administrao Pblica. Os eventos culturais L foram
fruto de parcerias entre a E, e a Cmara
Municipal de Lisboa, e contaram com a participao da Universidade de Lisboa, atravs da
Faculdade de Letras, do Jardim Botnico, do Museu Nacional de Histria Natural e de
investigadores do CEG. Ao longo dos ltimos 7 anos as temticas relacionadas com a noite,
nas mais diversas vertentes, tm sido trabalhadas em reunies com instituies de Ensino
Superior e Investigao, Empresas, Associaes, organismos da Administrao Central e
Autarquias Locais.
As mudanas na Universidade de Lisboa, os desafios em que nos lanmos na Geografia e a
riqueza da experincia da coordenao e das aulas nos cursos interdepartamentais de
Estudos Europeus, levaramme a decidir elaborar uma Unidade Curricular que, alm de
satisfazer as necessidades de conhecimento dos alunos do 1 ciclo de Geografia, pudesse
servir tambm alunos de outras reas cientficas. Como por exemplo, alunos de diferentes
reas da Faculdade de Letras com interesses em polticas pblicas, nomeadamente as
europeias, ou em assuntos relacionados com a Cultura e as mudanas sociais. Mas,
tambm, alunos da Faculdade de Belas Artes que pretendam desenvolver a sua
aprendizagem em domnios como o papel da Arte na dinamizao dos espaos pblicos
colectivos ou nas formas de mediao do conhecimento do territrio atravs da Arte. A
reunio numa mesma turma de pessoas com diferentes formaes e com interesses
partida muito diversos um desafio e, ao mesmo tempo, algo que s pode enriquecer as
abordagens destas temticas, gerando um processo de coaprendizagem muito mais
dinmico. A opo por uma unidade do 1 ciclo devese ao facto de entendermos que este
nvel continua a ser fundamental para a formao dos nossos alunos e que uma poltica de
sobrevalorizao dos 2 e 3 ciclos, em detrimento do 1 ciclo, incorrecta. Sem uma
slida formao do 1 ciclo dificilmente haver condies para assegurar 2 e 3 ciclos de
qualidade.
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O programa que agora se apresenta procura ser suficientemente aberto s sugestes dos
alunos, quer quanto aos temas, quer ao mtodo a utilizar, de modo a procurar
corresponder aos seus interesses e s suas expectativas, em termos de desenvolvimento
dos conhecimentos. Ao longo dos ltimos anos, tenho utilizado as temticas relacionadascom o territrio noite para ilustrar questes sobre as dinmicas territoriais,
nomeadamente a reestruturao das actividades econmicas e o desenvolvimento de
servios destinados a servir novas procuras, e a reaco dos alunos tem sido excelente. A
cidade nocturna , para a grande maioria dos nossos alunos, um mundo que conhecem
relativamente bem, pela sua prpria experincia, ou que pensam conhecer. Pelo que as
temticas da Geografia da Noite permitem mobilizar as suas experincias o que torna
muito mais fcil () darlhes condies para um pleno desenvolvimento das suas
capacidades e dos seus talentos. (E U L,
http://www.ul.pt/pls/ portal/docs/1/177050.pdf em 12102008).
Em 2006, no mbito da L, II B L L, organizei o C N
(Alves 2007) com o objectivo de promover uma reflexo sobre o modo como a noite tem
sido sentida, representada e vivida, de modo a formular novas prospectivas para o
planeamento e a gesto da cidade 24/24 horas. Muitas das pessoas que convidei para
participarem fizeram imediatamente associaes do tipo Noite?! Vamos ter festa! A
noite para dormir! A noite e o submundo, mas quase ningum pensou no trabalho, no
valor econmico que gerado durante a noite, nos problemas sociais, como a solido e a
misria, que se agudizam com a falta de luz Aps os dois dias em que decorreram os
trabalhos no Instituto FrancoPortugus (entre as 16 e as 20h), os jantaresdebate (no
Teatro Taborda com vista para Lisboa noite) e as visitas de estudo que realizmos noitedentro, a atitude mudou e as pessoas aperceberamse que a noite um espaotempo
com problemticas especficas que afectam diariamente a vida de todos ns, mesmo
quando disso no temos conscincia.
Assim, as principais razes para apresentar o Programa de Geografia da Noite para a
obteno do ttulo acadmico de agregada em Geografia so:
•
a noite um espaotempo que precisa de mais ateno; por um lado, pelopotencial de desenvolvimento econmico e social que encerra e, por outro, pelo
potencial de conflito que pode gerar, se a continuarmos a ignorar; porque nos
parece muito importante que, na formao de pessoas que podem vir a intervir no
planeamento e na gesto territorial, na definio ou implementao de polticas
pblicas ou na gesto cultural, sejam transmitidos conhecimentos e se desenvolva
a capacidade de reflectir sobre as problemticas relacionadas com o espaotempo
noite;
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• o desenvolvimento de um programa de estudos com estes temas permite
desenvolver aquilo que hoje est definido como rumo estratgico da
Universidade de Lisboa: abertura sociedade e a transferncia de conhecimento e
inovao; transferncia de conhecimento e inovao dentro da Universidade pelapossibilidade de ligao entre investigao (NOIT PTDC/GEO/64240/2006) e
aprendizagem, mas tambm a abertura sociedade pelo facto do processo de
aprendizagem se centrar em temas que afectam a vida de todos e os
conhecimentos produzidos poderem ter valor para entidades pblicas e privadas
que actuam durante o espaotempo noite; o interesse destas entidades
manifestase desde j pela contribuio activa no projecto de investigao, mas
estamos em crer que ser fcil mobilizlas para uma participao activa no
programa de aulas, aproximando Universidade e sociedade, alunos e potenciais
empregadores;
• pela natureza dos assuntos a tratar, um programa centrado nestas temticas
permite a incorporao das experincias dos alunos facilitando o desenvolvimento
de competncias, contribuindo para uma viso mais humanista do trabalho na
Universidade, outro dos objectivos definido como fundamental nos Estatutos da
Universidade de Lisboa.
O R P G N: ,
est organizado em duas partes. Na primeira parte apresentamos a organizaogeral da unidade curricular: os objectivos e contedos, os resultados esperados e as
competncias a desenvolver, as estratgias de ensino e de aprendizagem, os recursos
pedaggicos, a estrutura do programa, a planificao das sesses e a avaliao. Na
segunda parte apresentamos o desenvolvimento do programa, a bibliografia e outras
fontes de informao.
R :
Alves T (2007) Congresso da Noite L: L . Alamada:VIAVerlag /Extramuros, pp. 261266.
Bureau L (1997) G . Montral:lHexagone.
Caeiro M; Alves T; Faro M M (ed) (2007) L L ,Lisboa: VIAVerlag/Extra]muros[.
Caeiro M; Alves T; Fernandes S R (ed) (2001) L C N. Almada:Extra]muros[.
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Caeiro M; Potiers M; Alves T; Fernandes S R (ed.) (2004) L, L. Almada: Extra]muros[.
Calafat A (org.) (1999), N L E R D U, IREFREA &
European ComissionCauquelin A (1977) L . Paris: PUF.
Gwiazdzinski L (2003) L 24 24 . Paris:Editions de lAube.
Gwiazdzinski L (2005) L . Paris:Editions de lAube.
Helms G (2008) T ? R OI C. Hampshire: Ashgate.
Lopes J T (1998) A : . Dissertao de Doutoramento em Sociologia, Universidade do Porto (BOCC Biblioteca Online de Cincias da Comunicao teixeirajoaolopes
cidadecultura.html).OConnor J (1997) Donner de lespace public la nuit. Les cas des centres urbains
en GrandeBretanha L A L R U 77 , pp. 4046.
Talbot D (2007) R N. R, C E M N E. Hampshire: Ashgate.
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Marc Chagall (1954) Q B
PARTE I
ORGANIZAO DA UNIDADE CURRICULAR
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1. OBJECTIVOS E CONTEDOS
O trabalho em Geografia procura responder ao e . Com a Geografia da Noite
procuramos mostrar a relevncia do para compreender a diversidade das
dinmicas de desenvolvimento territorial.
Num contexto de crescente internacionalizao e de aumento do valor do conhecimento e
da inovao, a sociedade desenvolve modos de vida cada vez mais diversificados em
termos de uso do tempo e do espao. Estas mudanas encerram, contudo, um potencial de
conflito que decorre em grande parte do facto dos territrios, em geral, e dos espaos
urbanos, em particular, terem sido quase sempre pensados para uma utilizao diurna. O
ritmo circadiano tradicional opese aos novos ritmos da vida, mais diversificados, mais
dificilmente articulveis, e coloca sob tenso os territrios onde uns dormem, outros
trabalham e outros se divertem.
O objectivo fundamental da unidade curricular Geografia da Noite compreender como as
dinmicas de desenvolvimento dos territrios so afectadas pela incorporao na esfera da
produo e do consumo de um espaotempo, a noite, que at h pouco tempo era visto
como improdutivo. Queremos, por um lado, identificar e analisar as mudanas que as
novas dinmicas introduzem nos territrios e, por outro, dar a conhecer iniciativas de
planeamento e boas prticas de gesto que revelam a diversidade de oportunidades de
desenvolvimento que se abrem com a vida dos territrios noite. Para tal devemos
comear por compreender a maneira como tem evoludo a percepo e o conhecimento
dos territrios noite.
C
Como que a evoluo dos conceitos de tempo e hora e a mediao atravs da arte
contriburam para mudar o nosso conhecimento dos territrios noite?
A noite de todos os momentos o que tem representaes mais negativas. A evoluo dos
valores e comportamentos e das necessidades sociais e econmicas fazem com que estas
perspectivas estejam a mudar. Para tal tem sido fundamental o papel de mediao
desempenhado por diferentes formas de arte que permitem melhorar o conhecimento da
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noite. O espaotempo noite tem vindo a ganhar novas representaes, mais poticas, que
se relacionam cada vez mais com aspectos como a liberdade e a criatividade. No entanto,
continuamos a verificar que as pessoas, as entidades pblicas e privadas e as organizaes
tm comportamentos diferentes conforme actuam de dia ou de noite e as dinmicas dosterritrios reflectem essas diferenas. Queremos, assim, perceber porque existem estas
diferenas o que faz os modos de actuar no territrio noite serem diferentes dos de
dia?
Os objectivos especficos desta parte do programa so:
• discutir a evoluo dos conceitos de tempo e de hora;
• discutir a definio/delimitao do espaotempo noite;
•
mobilizar conhecimentos para discutir criticamente a construo dos preconceitos
e mitos associados noite;
• conhecer a contribuio de diferentes formas de arte para a mediao do territrio
noite;
• perceber como que as mudanas nos valores atribudos noite contriburam
para uma mudana nos modos como se vive o territrio;
• discutir em que medida o espaotempo noite diferente do espaotempo dia.
C
Como que as mudanas nos contextos de uso de tempo e de espao e nas prticas
individuais e colectivas ajudam a compreender as dinmicas de desenvolvimento dos
territrios noite, em particular, o crescimento dos servios?
A incorporao na esfera da produo e do consumo do espaotempo noite traduzse no
s no alargamento de horrios de trabalho de actividades diurnas, como tambm no
surgimento de novas actividades para responder a novas necessidades de procura.
Queremos compreender como os novos contextos de uso do tempo e do espao se
traduzem em novos tipos de prticas sociais. Queremos conhecer os factores de mudana
na procura e na oferta das actividades de servios que se desenrolam predominantemente
de noite. Ao mesmo tempo, pretendemos avaliar as consequncias nas dinmicas de
desenvolvimento dos territrios dessas diferenas o que que o territrio noite tem de
diferente do de dia? Outros ritmos, outras prticas, outras actividades, outras culturas,
outras pessoas? Como que isto vai condicionar o territrio em que vamos viver quando o
sol nasce? Como que as especificidades ligadas noite podem influenciar as decises de
localizao dos servios?
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Os objectivos especficos a alcanar na segunda parte so:
• identificar os factores que contribuem para o desenvolvimento de uma sociedade
em contnuo e discutir o papel das novas tecnologias de comunicao;
• relacionar sociedade em contnuo com a dinmica dos territrios noite, ao nvel
das diferentes esferas da sociedade (economia, cultura e poltica);
• relacionar as mudanas no domnio do consumo com as transformaes ao nvel
da produo durante a noite;
• relacionar as mobilidades nocturnas e as dinmicas territoriais;
• compreender a relevncia da economia noite para o emprego;
• discutir como que as dinmicas de localizao dos servios, predominantemente
nocturnos, afectam o desenvolvimento dos territrios.
R
Como que os processos de planeamento e de gesto do territrio podem incorporar as
especificidades da noite de modo a repensar o territrio para que este possa ser vivido
com qualidade 24/24h e de uma forma sustentvel?
Pretendemos dar a conhecer polticas com incidncia no territrio e iniciativas e boas
prticas de gesto que revelam a diversidade de oportunidades de desenvolvimento que
se abrem com a vida dos territrios noite. Ser dado particular destaque arte e luz na
requalificao dos territrios.
Os objectivos especficos a alcanar na terceira parte so:
• identificar experincias de polticas com incidncia nos territrios ligadas noite;
•
identificar iniciativas e boas prticas de gesto territorial que promovem umdesenvolvimento sustentvel do territrio de modo a que possa ser vivido
24h/24h;
• conhecer experincias de animao dos espaos pblicos noite;
• relacionar a iluminao ambiental e artstica, a sustentabilidade, a qualidade dos
espaos pblicos e processos de regenerao urbana;
• discutir o potencial do conceito noite como espao de criatividade.
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2. RESULTADOS ESPERADOS E COMPETNCIAS A DESENVOLVER
Os resultados esperados desta Unidade Curricular expressamse ao nvel do
desenvolvimento de conhecimentos e de competncias tcnicas e instrumentais
especficos da Geografia, mas tambm do desenvolvimento de competncias pessoais,
mais gerais, ao nvel das atitudes, valores e comportamentos.
Ao nvel do conhecimento geogrfico os alunos devem no fim desta Unidade Curricular ser
capazes de:
• desenvolver, discutir e aplicar os conceitos fundamentais da Geografia e usar a
terminologia geogrfica adequada aos temas em anlise;
• conhecer as dinmicas nocturnas dos territrios, mobilizar saberes de outras
unidades curriculares para desenvolver uma perspectiva integrada que permita
interpretlas;
• compreender a relevncia da dimenso tempo na concepo de iniciativas de
desenvolvimento territorial;
• identificar e interpretar as grandes linhas das polticas pblicas com incidncia no
territrio que possam relacionarse com o espaotempo noite;
• identificar e compreender os riscos da ausncia de medidas de planeamento e
gesto, tendo em conta as especificidades dos territrios noite.
Ao nvel do conhecimento instrumental (mtodos e tcnicas) esta unidade deve contribuir
para que os alunos adquiram as seguintes capacidades:
• adequar os mtodos e as tcnicas aos temas em estudo;
• recolher, tratar e representar grfica e cartograficamente de forma crtica
informao de base territorial;
• dominar as metodologias e as tcnicas do trabalho de campo;
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• realizar diagnsticos e participar na elaborao de estratgias e intervenes de
desenvolvimento territorial com incidncia no espaotempo noite;
• utilizar mtodos e tcnicas adequados para a comunicao escrita e oral de
resultados.
Ao nvel do desenvolvimento de competncias em termos de atitudes, valores e
comportamentos sero privilegiadas as que contribuam para criar indivduos capazes de
num contexto geral de crescente incerteza e imprevisibilidade, dar respostas adequadas
aos desafios na vida pessoal e profissional, tais como:
• autonomia, capacidade de iniciativa,
• atitude colaborativa, capacidade de trabalhar em grupo,
• participao, participar activamente nas decises e actividades do grupo,
• mobilizao, capacidade de mobilizar o grupo para os objectivos, promovendo a
cooperao e a solidariedade,
• negociao, aprender a gerir situaes de incerteza ou de adversidade,
• tolerncia, respeito pela diversidade,
•
atitude crtica, saber questionar de forma pertinente factos e ideias,
• criatividade, inovar na resoluo dos desafios,
• rigor cientfico, empenhamento na qualidade do trabalho.
O nosso objectivo contribuir para que os alunos depois de frequentarem esta Unidade
Curricular sintam que adquiriram conhecimentos, mas tambm competncias que lhes
permitem fazer face a um mundo em contnua mudana, tanto ao nvel profissional, como
pessoal.
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3. ESTRATGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM
O Processo de Bolonha modificou a organizao curricular dos diferentes ciclos de estudos
na Universidade de Lisboa ao mesmo tempo que lanou novos desafios em termos do
processo de ensinoaprendizagem.
No Departamento de Geografia o 1 ciclo, de 3 anos, transformouse numa formao com
carcter generalista e as especializaes foram remetidas para os 2 e 3 ciclos. O processo
de ensinoaprendizagem alterouse ao nvel da definio dos contedos programticos
(que devem resultar dos objectivos a atingir e das competncias que os alunos devem
desenvolver) e dos papis a desempenhar por professores e alunos.
O professor deve ser cada vez mais um facilitador que orienta e incentiva a
aquisio de conhecimentos e de competncias.
Os alunos devem ter cada vez mais responsabilidades no processo de
aprendizagem.
A introduo do European Credit Transfer System (ECTS) que permite a comparabilidade,
garante a mobilidade e assegura as creditaes escala do Espao Europeu de Ensino,
estabeleceu que o tempo de trabalho dos alunos deve ser dividido em dois blocos: o
tempo de contacto com o professor (diversos tipos de sesses) e o tempo de trabalho
autnomo (estudo, trabalho de campo, projecto).
Nesta Unidade Curricular o tempo de contacto directo dever ser constitudo por sesses
tericoprticas, prticas, e tutoria:
• sesses tericoprticas
o podem ter nuns casos um carcter mais expositivo, quando centradas na
reflexo e debate terico e conceptual e nas questes de metodologia,
sempre em ligao com as sesses de carcter mais prtico e com os
projectos a desenvolver pelos alunos; podem ser conferncias de
especialistas convidados;
o podem destinarse a apresentar casos ilustrativos dos temas que
contribuam para alcanar os objectivos e os resultados, tanto ao nvel dos
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conhecimentos como em termos das competncias a promover; devem ser
utilizados recursos como: vdeos, filmes, textos ou outros; podem ser
apresentaes de planos ou de iniciativas ou projectos;
• as sesses prticas destinamse a desenvolver os projectos que devem ser
centrados em situaes/problemas; o objectivo desenvolver um programa que
proponha solues adequadas; os temas dos projectos sero escolhidos pelos
alunos; os projectos devem ser o resultado de trabalho de grupo; o trabalho de
campo deve desempenhar um papel central como metodologia;
• a apresentao dos projectos pode ser realizada em sesses tipo . Os
projectos podem ser agrupados por grandes temas e seria pedido aos alunos que
organizassem as sesses de trabalho;
• as sesses tutoriais destinamse ao apoio a pequenos grupos e aos projectos.
R
T N
Sesses tericoprticas 26
Sesses prticas 20
Sesses em 9
Visita de estudo 4
Sesses de tutoria 14
Avaliao 2
Balano final da UC 2
T 77
T 63
TOTAL DE HORAS DE TRABALHO (5 ECTS) 140
A visita de estudo tem por objectivo colocar os alunos em contacto com iniciativas que
contribuam para a promoo do desenvolvimento territorial centrado no espaotempo
noite. Pode assumir diferentes formas: visita a uma equipa responsvel pela elaborao ou
implementao de um dado projecto; visita a uma dada rea onde tenha sido
implementada uma iniciativa de gesto que tenha por foco o uso do espao noite e
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perceber no local os problemas, as dificuldades, mas tambm as potencialidades deste
perfil de utilizao (tanto pode ser uma rea tipo Bairro Alto, como a rea de implantao
de um Centro Cincia Viva para observao do cu).
Os alunos sero estimulados, sempre que possvel, a completar as suas aprendizagens com
a participao em seminrios, conferncias ou eventos culturais. Os alunos sero tambm
incentivados a organizar um pequeno ciclo de conferncias, uma exposio ou um ciclo de
exibies de filmes ou de documentrios onde possam: i) cimentar os conhecimentos
adquiridos, ii) divulgar e sensibilizar a comunidade escolar que no participa na Unidade
Curricular para os temas, iii) desenvolver ligaes com entidades, quer no interior, quer no
exterior da Universidade.
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unidade curricular. A bibliografia especfica visa aprofundar o estudo dos temas do
programa. A bibliografia est dividida: em obras utilizadas para fundamentar os contedos
(R ) e nos textos recomendados para leituras dos alunos
(B ). De acordo com o trabalho de cada grupo poderainda ser fornecida outra bibliografia, mais orientada para os domnios em estudo.
O acesso bibliografia revelase, no entanto, difcil. Por um lado, porque na Biblioteca do
Centro de Estudos Geogrficos da Universidade de Lisboa, por excelncia o local de
consulta mais utilizado pelos alunos, s est disponvel um exemplar de cada obra e, por
outro, porque o CEG no dispe de meios financeiros para adquirir as obras mais recentes.
As verbas do projecto NOITe esto a possibilitar colmatar esta lacuna, permitindo a
aquisio de algumas das obras mais relevantes.
Em complemento da bibliografia fornecida uma lista de endereos electrnicos onde os
alunos podem encontrar informaes teis para a unidade curricular, nomeadamente
organismos e projectos relacionados com os temas.
Entre os recursos pedaggicos sero utilizadas, de forma sistemtica, imagens: fotografias
e filmes. O uso de suportes de audiovisual permite aproximar mais os alunos dos temas a
tratar. A plasticidade dos ambientes nocturnos tem sido objecto de inmeras obras de arte
e revela um enorme potencial para a utilizao deste tipo de suportes como recurso
pedaggico.
A utilizao dos meios audiovisuais fundamental para o sucesso do trabalho na Unidade
Curricular. Na Faculdade de Letras continuamos a no ter acesso a estes meios tcnicos em
todas as salas e a fiabilidade dos que esto instalados muito baixa, sendo muito
frequentes as vezes em que no funcionam.
O acesso Internet na sala de aula tambm importante. A instalao da rede
permite colmatar a falta de pontos de acesso na rede fixa, mas obriga a que os alunos ou o
professor tenham o seu computador pessoal na aula. O nmero de alunos com
computadores pessoais na aula cresceu muito, mas estamos ainda muito longe da situao
ideal em que cada aluno tem o seu computador.
Outro aspecto prendese com a necessidade de mudana dos espaos de aula, onde a
deficiente propagao do som no permite que as aulas sejam um frum de debate. No
podemos continuar a ter aulas em anfiteatros onde o som se propaga apenas numa
direco.
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5. ESTRUTURA DO PROGRAMA
I.
CONHECER OS TERRITRIOS NOITE
1. Noite no apenas uma questo de tempo2. Representaes e experincias artsticas3. A noite no um espaotempo igual ao dia
II.
COMPREENDER OS TERRITRIOS NOITE
1. Novos contextos de uso do tempo e do espao
2. Novas prticas individuais e colectivas3. Servios e economia da noite
III. REPENSAR OS TERRITRIOS NOITE
1. Noite e polticas pblicas2. Iniciativas e boas prticas de gesto dos territrios noite3. A noite como um espaotempo de criatividade
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6. PLANIFICAO DAS SESSES
1A UC.A UC.D .
2
1
I. C
N Tempo e planeamento: uma relao socialHora e territrio: uma questo de polticaGeografia do espaotempoEmpregos do tempo e usos do espaoNoite: uma questo cultural?
2
2
I. C
R A noite atravs da arteA arte na noite
A
2
Apresentao dotrabalho de grupo;
as fontes deinformao.
2 1
3
II. C
N Usos do tempoTempo de trabalho, ritmos de vida, novas lgicas depertenaO trabalho das mulheres e o tempo dos serviosUsos do espao numa sociedade em contnuoConflitos e tenses
2
Acompanhamentoda elaborao doplano do trabalho
de grupo.
2 1
4
II. C
N O homem tem de ser necessariamente um animal diurno?
Idades e usos do tempoComportamentos cada vez mais individualizadosNovos valores e nveis de instruo mais elevadosValorizao das prticas culturais e desportivasA utilizao das tecnologias de informao e comunicao
2
Acompanhamento
da elaborao doplano do trabalhode grupo.
2 1
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5
II. C
S Actividades cujos horrios se prolongam pela noiteServios que pela sua natureza tm de funcionar 24 horaspor diaServios relacionados com os tempos livres
2
Discusso dosplanos dos
trabalhos degrupo.
2(*) 1
6
II. C
S Servios induzidos pelas dinmicas do trabalho nocturnoA noite como um espaotempo para o turismo
Economia da cultura
2
Discusso dosplanos dos
trabalhos degrupo.
2(*) 1
7
III. R
N O espao pblico est em crise?O que que torna um espao pblico num lugar desucesso?Porque fracassam tantos espaos pblicos?Como podemos levar as pessoas a participar navalorizao dos espaos pblicos?Politicas relacionadas com o tempo
2 Visita de Estudo 4 1
8
III. R
N Politicas relacionadas com a iluminaoPolticas relacionadas com a eficincia energtica
A lei do Cu das CanriasPolticas culturais
2
Acompanhamentodo trabalho de
grupo: elaboraode inquritos e de
planos deentrevistas.
4 1
9 SEMANA DE TRABALHO DE CAMPO
10
III. R
I
Nova Iorque: a noite como imagem de marcaChicago: arte e espaos pblicosXangai: a qualidade dos territrios noite depende da
conciliao entre iniciativas privadas e pblicas
2
Acompanhamento
do trabalho degrupo.
2 1
11
III. R
I Atenas: como um planoluz criou a cidade nocturnaLyon: a cidade da luz
2Acompanhamento
do trabalho degrupo.
2 1
* nmero de horas depende do nmero de grupos de trabalho
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12
III. R
I Berlim: a Fnix renascidaRurgebiet: a iluminao artstica na regenerao dos
territriosLuzboa: arte e luz na animao dos espaos pblicosStromboli: o triunfo da luz natural
2Acompanhamento
do trabalho degrupo.
2 1
13
III. R
A 2
Acompanhamentodo trabalho de
grupo.2 1
14 SEMANA DE ESTUDO
15 Apresentao oral e discusso dos trabalhos 3(**) 116 Apresentao oral e discusso dos trabalhos 3(**) 1
17 Apresentao oral e discusso dos trabalhos 3(**) 118 SEMANA DE ESTUDO
19 TESTE DE AVALIAO 220 BALANO FINAL DA UC 2
TOTAL 24 35 14 4
** nmero de horas depende do nmero de grupos de trabalho, a proposta de 1h por grupo, partimos do princpio que teremos 3 grupos por sesso.
Na planificao das sesses foram consideradas 20 semanas, 3 das quais dedicadas
exclusivamente ao trabalho autnomo. Nas restantes, as sesses so de diversos tipos
(tericoprticas, prticas, , visita de estudo e tutoria) com cargas horrias que
permitam responder aos objectivos que nos propomos atingir com a unidade curricular1.
No caso da sesso prtica de discusso dos planos de trabalho e nos de
apresentao oral e discusso dos trabalhos o nmero de horas previstas apenas
indicativo pois vai depender do nmero de grupos e de alunos a frequentar a unidade
curricular.
1 Quadro com repartio da carga horria por tipo de sesso e de trabalho na pgina 19.
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7. AVALIAO
A avaliao desta unidade curricular centrarse no processo de aquisio de
conhecimentos e de desenvolvimento de competncias. A avaliao deve ser diversificada
de modo a poder valorizar o potencial (talentos) de cada aluno. A avaliao ser
constituda pelos seguintes elementos:
1) Teste escrito, tericoprtico, individual e presencial para avaliar a aquisio de
conhecimentos ao nvel dos conceitos, mtodos, tcnicas, capacidade de anlise e
de relacionar a teoria e a prtica, sobre as diferentes temticas.
2)
Trabalho de grupo escrito em que se avaliam as capacidade de saber fazer
(interpretar a realidade, relacionando teoria e prtica; rigor cientfico;
empenhamento na qualidade do trabalho) e de resolver problemas. O trabalho de
grupo serve tambm para avaliar o desenvolvimento de competncias ao nvel da
capacidade de mobilizar o grupo para os objectivos, promovendo a cooperao e a
solidariedade, assim como a capacidade de negociao, de tolerncia e de respeito
pela diversidade de opinies.
3)
Exposio oral e discusso do trabalho de grupo onde se avalia a capacidade de
comunicar resultados, mas tambm as atitudes e comportamentos (atitude
colaborativa e participativa; promoo da cooperao e da solidariedade; respeito
pela diversidade de opinies).
4)
Participao nas aulas (atitude colaborativa e participativa; promoo da
cooperao e da solidariedade; atitude crtica, saber questionar de forma
pertinente factos e ideias; respeito pela diversidade de opinies).
5)
Participao em actividades na Universidade ou fora que tenham relevncia para
as temticas. Entrega de um pequeno ensaio sobre a contribuio das actividades
desenvolvidas para a aprendizagem na UC.
6)
Participao na organizao de eventos na Universidade ou fora com pertinncia
para a aquisio de competncias. Entrega de um pequeno relatrio sobre as
actividades desenvolvidas.
Na primeira aula da Unidade Curricular a professora deve apresentar uma proposta do
peso dos diferentes elementos que ser discutida e ajustada com os alunos.
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P
T %
Teste tericoprtico 30
Trabalho de grupo 30
Apresentao oral do trabalho de grupo 20
Participao nas aulas 10
Participao em actividades naUniversidade ou fora
5
Participao na organizao de eventos naUniversidade ou fora
5
TOTAL 100
Ao nvel da avaliao o principal problema que deve ser evitado a impossibilidade de um
conhecimento personalizado dos alunos. O nmero muito elevado de alunos por unidade
curricular, muitos grupos ou grupos com muitos elementos, reduz a capacidade de
trabalho dos grupos, diminui a oportunidade de participar e impede o professor de
conhecer as dinmicas da turma. Numa UC com um nmero reduzido de alunos possvel
estabelecer relaes de maior proximidade com reflexos positivos nas actividades lectivas,
mas tambm outras ligadas vida acadmica, gerandose dinmicas de grupo mais fortes.
Apesar da institucionalizao na Universidade de Lisboa, ao nvel do 1 Ciclo, da realizao
de inquritos para avaliar e garantir a qualidade do processo de ensinoaprendizagem, na
ltima sesso procederemos a um balano sobre o modo como funcionou a unidade
curricular. O objectivo ter em tempo til propostas que permitam melhorar no futuro
esta unidade curricular e outras pelas quais sou responsvel.
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Rene Magritte (1949) T E L I
PARTE II
DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA
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GEOGRAFIA DA NOITE
Em cidades como Munique, Berlim, Lausanne, Anvers e Lisboa, todos os anos, so
organizados eventos chamados N M. Em 2005, o Museu de Arte Antiga, em
Lisboa, recebeu mais de 5 mil visitantes. No Porto, Serralves em Festa, 40 horas nonstop,teve o seu momento mais alto, em 2007, com as 15 mil pessoas que por l passaram
durante a noite. Na noite de inaugurao do Museu Berardo, em 2007, entre as 23 e as 9
horas da manh, o Centro Cultural de Belm recebeu mais de 10 mil pessoas. A
retrospectiva sobre a obra de Amadeu de Sousa Cardoso, na Fundao Calouste
Gulbenkian, em 20062007, teve mais de 100 mil visitantes, muitos dos quais nos ltimos 3
dias em que a exposio esteve aberta continuamente.
Berlim promoveu, em 2006, a primeira Noite Europeia da Cincia. Em Copenhague ocorre
a N C que, em 2008, envolveu mais de 300 entidades. F L, em
Lyon, L A, em Turim, L, em Lisboa, e N B, em Paris, Bruxelas,So Petersburgo ou Roma, convidam atravs da arte da luz descoberta da cidade
nocturna e incitam ao debate sobre a noite na cidade. Os eventos culturais nocturnos
impemse como um meio de animao das grandes metrpoles e um utenslio nas
polticas de territorial.
Mas a vida das cidades noite no tem apenas a ver com festa, diverso ou cultura. H
muito que as grandes unidades industriais funcionam em contnuo para rendibilizar o
investimento em capital fixo. Nos servios o trabalho aps as 20h . Calculase que
mais de 20% da populao activa dos pases desenvolvidos trabalhe em horrios que
incluem perodos significativos entre as 20 e as 8 horas da manh (Gwiazdzinski 2003). Nasgrandes metrpoles os transportes funcionam por perodos de tempo cada vez mais
longos. Em Nova York o metropolitano funciona toda a noite. Em Lisboa, Londres, Berlim,
Budapeste ou Paris foram criados circuitos nocturnos de transportes pblicos.
Na larga maioria dos pases europeus os horrios de funcionamento das actividades
comerciais liberalizaramse. Na Polnia as grandes superfcies podem laborar 24 horas por
dia. As pequenas mercearias de bairro, em Lisboa, permanecem abertas durante mais
horas para poderem concorrer com as lojas de e os supermercados. As lojas de
convenincia implantamse nos principais bairros residenciais, mas tambm nas reas de
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servio dos distribuidores de combustveis. As noites especiais no comrcio, como os
saldos nocturnos, fazem furor. Os bares e restaurantes que s funcionam noite so em
nmero crescente e concorrem com um nmero cada vez mais vasto de unidades de
cadeias de que oferecem os seus produtos durante, pelo menos, uma parte danoite. Os distribuidores automticos, inicialmente s de bebidas e produtos alimentares,
chegam ao mercado dos vdeos, dos livros e dos produtos de sade e bemestar e
permitem consumir continuamente.
Nos Estados Unidos, os ginsios, as bibliotecas, as creches e mesmo os tribunais
funcionam, em algumas cidades, de dia e de noite. Nas periferias de Lisboa os pavilhes
gimnodesportivos e as piscinas pblicas animamse com actividades que se prolongam por
vezes para l das 24 horas. No Parlamento de Estocolmo h uma creche que funciona
enquanto duram as sesses nocturnas para que os deputados e funcionrios possam ter
onde deixar os filhos enquanto trabalham. A maior parte das grandes decises polticasocorrem durante a noite. s 00.45 chegouse a acordo sobre o Tratado de Lisboa2 Era j
noite alta quando o plano do Presidente Obama foi aprovado pelo Senado3.
Os modos de vida mudam. Os ritmos biolgicos alteramse. Hoje, em Frana, as pessoas
dormem, em mdia, menos 1 hora e deitamse, em mdia, 2 horas mais tarde do que h
50 anos (Espinasse e Buhagiar 2004). As cadeias de televiso e de rdio funcionam
continuamente. Sem sair de casa atravs dos novos sistemas de comunicao acedemos a
servios e produtos 24 horas por dia, 7 dias por semana: procuramos informaes,
executamos e distribumos trabalho, damos ordens s entidades bancrias,
encomendamos comida, pagamos impostos, marcamos exames mdicos, fazemos ascompras no portal do supermercado, reservamos bilhetes de avies, hotis e restaurantes,
assistimos a espectculos, participamos na vida poltica, exercemos os nossos direitos de
cidadania, participamos em grupos de discusso O tempo em contnuo da economia e
das redes sobrepemse ao ritmo circadiano dos nossos corpos e das nossas cidades. O
tempo global impese ao tempo local. A separao entre tempo de trabalho e tempo
pessoal tornase cada vez mais tnue e difusa.
Ao emanciparemse dos constrangimentos naturais, atravs das novas tecnologias de
iluminao e de comunicao, as cidades animamse sob a influncia de modos de vida
cada vez mais dessincronizados. A iluminao ao controlar a obscuridade alterou a nossapercepo dos ritmos da sucesso do tempo. A luz, pouco a pouco, apoderase do espao
nocturno, controlando ameaas e imprimindo novas dinmicas s diferentes esferas da
sociedade: economia, poltica e cultura. Definitivamente, a noite deixou de poder estar
associada ao tempo em suspenso, ao recolher obrigatrio.
2 Ttulo da 1 pgina do jornal P em 20102007.
3 Notcia do telejornal N (RTPN) em 1022009.
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medida que a separao entre dia e noite se atenua, e como este processo mais
evidente nas grandes reas urbanas, a tendncia para associar cidade a luz e reas rurais
a escurido ou a noite. O facto de se continuar a poder ver estrelas nas nossas aldeias no
significa que durante a noite no haja vida para alm do tempo livre.
Nas reas rurais, em Portugal, a noite esteve associada, at h bem pouco tempo,
realizao de trabalhos agrcolas colectivos como as desfolhadas ou as pisadelas do vinho,
e servia tambm de espao e de momento do convvio social. Muitas das festas religiosas
tinham os momentos altos noite como acontecia com os Autos da Paixo ou as
procisses das velas. No Natal, o madeiro ainda hoje continua a arder durante dias no adro
da igreja, mas o ponto alto noite, apesar das temperaturas quase sempre negativas. As
Festas dos Rapazes em TrsosMontes encerram com a queima do Entrudo que ocorre
quase sempre de noite, para prolongar o mais possvel a festa, mas tambm para tirar
partido da beleza do espectculo do fogo. A tradio obriga que as romarias acabem comum belo fogodeartifcio e este para surtir efeito tem de ser lanado j a noite vai
avanada. tambm nas reas rurais que se instalam as actividades de observao do cu.
A obrigatoriedade de se localizarem em stios sem poluio luminosa levaas para longe
das reas urbanas.
O primeiro grande festival de msica ligeira, em Portugal, realizouse na pacata aldeia de
Vilar de Mouros em Agosto de 1971. Assistiram milhares de pessoas e o ambiente que se
viveu s foi possvel no contexto poltico da poca porque o poder no acreditou que as
pessoas se deslocassem para um stio to remoto. Hoje, os chamados festivais de Vero
continuam a procurar reas afastadas dos grandes centros urbanos, como a Ilha do Ermal,em Vieira do Minho, as Andanas em Carvalhais, S. Pedro do Sul, o Sudoeste na Zambujeira
do Mar ou Boom Festival na Barragem Marechal Carmona, em IdanhaaNova. Os
objectivos so, por um lado, reduzir os impactos em termos sonoros, pois os espectculos
prolongamse pela noite dentro e provocam muito barulho mas, tambm, porque s assim
se consegue reunir condies para concentrar as multides que movimentam.
Mais recentemente o trabalho agrcola nocturno impsse de novo. A apanha das folhas de
tabaco ou das flores do lpulo, por exemplo, tem de ocorrer num espao de tempo muito
limitado se se quer garantir a qualidade atravs de um determinado grau de maturao, o
que frequentemente obriga a que o trabalho seja realizado de forma contnua seminterrupo noite. No caso do vinho algumas empresas desenvolveram nos ltimos anos
produes especficas em que as uvas so vindimadas durante a noite para que a
fermentao possa ocorrer em condies ideais de temperatura, o que confere ao produto
final caractersticas nicas. Processo semelhante ao que se passa com o da
Pennsula de Nigara, no Canad, que produzido com uvas recolhidas ainda durante a
noite quando, no incio do Outono, ocorrem as primeiras temperaturas negativas e que,
pela qualidade, consegue preos muito elevados no mercado.
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No passado os indivduos que viviam nas grandes cidades erguiamse s 6 horas da manh
para iniciar a jornada de trabalho, hoje s 6 da manh deitamse os que vm da festa ou os
que trabalharam duramente durante a noite para preparar a cidade para o dia que nasce.
O tempo tem hoje ritmos diferentes dos do passado e as mudanas no dizem apenasrespeito ao uso do espaotempo noite. O repouso semanal e os dias feriados propcios s
prticas sociais festivas, culturais ou de lazer j no so respeitados e os reflexos na
utilizao dos espaos pblicos esto vista. O longo perodo de frias anual, que
justificava a sada dos locais habituais de residncia, raramente acontece e as frias so
repartidas por perodos curtos que j no surtem o efeito de descanso do passado. Os
novos ritmos decorrentes dos horrios de trabalho flexveis levam dessincronizao dos
tempos de vida social e familiar e geram novas necessidades em termos de funcionamento
das actividades econmicas e sociais, obrigando a deslocaes que promovem cada vez
mais a utilizao dos meios de transportes individuais. Os novos ritmos no s modificam
as relaes sociais e os comportamentos individuais, como esto a alterar as relaes como territrio.
Com este programa pretendese, em primeiro lugar, contribuir para o conhecimento dos
territrios noite. Em segundo lugar, a partir da identificao dos factores de mudana
dos usos do tempo vamos procurar compreender quais os reflexos sobre a organizao dos
territrios noite. Por fim, pretendemos a partir de exemplos e casos de boas prticas no
planeamento e na gesto do territrio noite, reflectir sobre o modo estes conhecimentos
e experincias podem ser incorporados para criar melhores condies de vida e promoverum desenvolvimento sustentvel dos territrios.
R :
Espinasse C; Buhagiar P (2004) L . V . Paris: Editions L'Harmattan.
Gwiazdzinski L (2003) L 24 24 . Paris: Editions de lAube.
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Van Gogh (1889) N E, New York: The Museum of Modern Art (MoMA)
I. CONHECER OS TERRITRIOS NOITE
A noite sugere, no mostra. A noite perturbanos e surpreendenos pela sua
estranheza, liberta em ns foras que durante o dia so dominadas pela razo.
Bϊ. Editions Centre Pompidou, Paris, 2000: 157
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1. NOITE NO APENAS UMA QUESTO DE TEMPO
A temporalidade uma estrutura organizada, e esses trs pretensos "elementos"
do tempo, passado, presente, futuro, no devem ser considerados como uma
coleco de "dados" cuja soma deve ser feita por exemplo, como uma srie infinitade "agora", alguns dos quais ainda no so, outros que no so mais , mas como
momentos estruturados de uma sntese original. Seno encontraremos, em primeiro
lugar, este paradoxo: o passado no mais, o futuro ainda no , quanto ao
presente instantneo, todos sabem que ele no tudo, o limite de uma diviso
infinita, como o ponto sem dimenso.
JP S, 'O S N' 4
T :
Esquecida durante muito tempo, noite comea por ser, para o planeamento, uma questo
de tempo. Hoje, afirmase, cada vez mais, como uma questo de espao de vida.
A noo de tempo, como hoje a conhecemos no mundo ocidental, surge no sculo XVIII,
com a filosofia das luzes (Guyau 1998). A ideia de tempo passou a assentar no princpio
que o presente tinha as suas razes no passado, mas podia projectarse no futuro. A
previso do futuro fundada na razo que ento se desenvolveu opunhase profecia queera o modo dominante de relao com o futuro at poca. Em ruptura com o passado, a
concepo moderna do tempo construiuse em torno da noo de progresso.
O tempo tornouse matria de planificao e os homens passaram a impor a sua marca
sobre o curso dos acontecimentos. O presente construase com base no passado e
afirmavase pelo futuro. O futuro estava aberto aco humana (Lippincott 2000). O
futuro era previsvel a partir do conhecimento do presente e de tcnicas racionais de
planear. Quase todo o sculo XX foi caracterizado por esta noo de tempo. Mas esta
4 http://acrosstheunivers3.wordpress.com/2008/03/13/friedenimkrieg/.
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concepo entrou em crise porque, de acordo com R. Koselleck (1990), a separao entre
espaos de experincia e horizontes das expectativas no parou de crescer. As
expectativas sobre o futuro ficaram cada vez mais distantes das experincias do presente.
Para responder s expectativas sobre o futuro, o presente deixou de poder basearseapenas nos recursos do passado. Podese dizer que o passado j no fornece sentido
aco presente e que o futuro est cada vez mais dependente de novos investimentos, de
novos sentidos, de novas estratgias para que seja capaz de fazer face incerteza e
imprevisibilidade do mundo em que vivemos (Lippincott 2000). O mundo nos ltimos 20
anos mudou muito e a um ritmo nunca antes experimentado. As novas necessidades
sociais valorizam a fluidez, a flexibilidade e a capacidade de adaptao (Landry 2000). Para
responder aos contextos de crescente incerteza e imprevisibilidade so necessrias novas
abordagens sustentadas em recursos como a criatividade, a iniciativa, a diversidade, a
capacidade de negociar e de mobilizar os actores para objectivos comuns. Isto no significa
que as condies do passado deixem de pesar sobre o presente, mas o que temos de fazer dalhes novos sentido, inovar no modo como as utilizamos para serem um potencial para
o futuro.
Uma das razes do desfasamento entre experincias e expectativas ao nvel dos territrios
o facto de se continuar a planear sem ter em conta as necessidades presentes
decorrentes dos novos ritmos e dos novos modos de viver. Este desfasamento ocorre em
muitas situaes, mas evidente no facto de na maior parte dos processos de
planeamento territorial no se ter em conta, um perodo de tempo, a noite. Como a
relao entre tempo e territrio tem implicaes em todas as esferas da sociedade
(economia, poltica, cultura) no ter em conta a noite nos processos de planeamento como amputar aos territrios uma parte da sua vida.
A noite um espaotempo com caractersticas especficas que tm de ser tidas em conta
no planeamento territorial para que comecemos a concretizar no presente as expectativas
de qualidade de vida que na perspectiva do passado s poderiam ser alcanadas num
futuro longnquo.
H :
Planear o tempo no territrio comeou por ser uma questo de regular horas. Hoje,
acima de tudo uma questo de articular ritmos de vida cada vez mais dessincronizados. O
que interessa no planeamento territorial compreender as expectativas e os modos como
os actores se comportam nos territrios, tendo em conta os ritmos do tempo.
A regulao do tempo atravs do estabelecimento de uma hora comum uma inveno
recente e foi uma forma de controlar de forma centralizada os ritmos nos territrios
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(Paquot 2000; Levine 1997). O desenvolvimento dos meios de transportes no sculo XIX ao
permitir deslocaes mais rpidas, teve como efeito colocar em contacto territrios que
viviam sob temporalidades diferentes. Perante a necessidade de uniformizao dos
tempos locais, o estado nacional procurou criar um sistema que regulasse a hora nos seusterritrios.
Em princpios do sculo XIX Portugal, semelhana de outros pases europeus, adoptou o
Tempo Solar Mdio, definido a partir do meridiano de Lisboa, para uniformizar a Hora
Legal no territrio nacional5. Mas a deficiente circulao da informao levou a que ao
nvel local a vida continuasse a ser regulada pelos ritmos naturais, sucesso dos dias e
noites, sequncia das estaes do ano e pelos calendrios religiosos. Em Portugal, os
primeiros servios a terem de obedecer s instrues regulamentares relativas s horas e
durao do tempo de trabalho foram as estaes dependentes da Direco Geral dos
Correios, Telgrafos e Faris, a partir de 1881.
A partir de 1 de Janeiro de 1912, a definio da hora em Portugal deixou de ter como base
o meridiano de Lisboa6 e passou a regerse pelo Fuso das 00:00 horas (Greenwich). Assim,
a Hora Legal em Portugal Continental foi adiantada de 36m 44s 68, correspondendo
diferena de longitudes entre os meridianos do Observatrio Astronmico de Lisboa e de
Greenwich (www.oal.ul.pt).
Em 1986, com a entrada na CEE, a definio da Hora Legal passou a ser estabelecida em
conformidade com as directivas da Comunidade Europeia pelo chamado Tempo Universal
Coordenado (UTC), j em uso legal na maior parte dos pases. As mudanas e definiesactuais so regulamentadas pela coordenao exigida dentro da Unio Europeia (Stima
Directiva no 94/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio de 1994). Na
UE continua a haver um debate muito vivo sobre a harmonizao da hora legal (mudar ou
no mudar a hora no Vero, estabelecer ou no uma hora nica para todo o territrio que
j abrange 3 fusos horrios) que tem sido estimulado pelos problemas que se levantam
com a diversidade de horas para os trabalhadores transfronteirios, as empresas de
transportes e o funcionamento dos mercados financeiros, revelando a importncia da
escala na dimenso da Europa.
O tempo uma noo subjectiva e a definio da hora legal uma questo poltica. NaRssia, um pas com 9 horas legais diferentes, e nenhuma igual da China, ali mesmo ao
lado, os horrios dos comboios so estabelecidos em todo o territrio com a hora de
5 Sobre a evoluo da hora em Portugal ver www.oal.ul.pt .
6 Em Portugal o meridiano de lugar sempre foi definido pelo meridiano que passa no Observatrio
Astronmico de Lisboa (Universidade de Lisboa), mas um caso raro. Em muitos pases da Europa omeridiano de lugar era definido por um ponto que passava dentro de uma igreja. Os primeirosrelgios tambm foram instalados dentro das igrejas. O que revela como a Igreja no queria deixar
de ser a dona do tempo.
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Moscovo. Assim, quando se chega a Irkutsk, com uma hora legal de mais 4 h do que
Moscovo, ou Vladivostok, com mais 8 h do que Moscovo, os horrios dos comboios que se
encontram afixados na estao indicam a hora de Moscovo. Os relgios das estaes e os
relgios que existem dentro dos comboios que circulam em toda a Rssia exibem a hora dacapital, Moscovo.
Na China, um pas cortado por vrios meridianos, a hora legal no varia e sempre igual,
em todo o territrio, de Pequim. O que significa que os territrios mais afastados acabam
por se regular pela hora solar. Por exemplo, os trabalhadores de Yarkand, na parte mais
ocidental do pas, comeam a trabalhar s 4 h da manh de Pequim, mas s 8 h na hora
solar local.
A Monglia, localizada entre a Rssia e a China, mudou, recentemente, a hora legal.
Passando a utilizar a da China, em vez da hora Rssia. At 1989, a Monglia tinha uma
economia sustentada pela URSS como contrapartida do seu papel militar como barreira s
intenes expansionistas da China. Com o desaparecimento da URSS o pas entrou em
ruptura social, econmica e poltica, deixando a pouco e pouco a esfera de influncia da
Rssia e aproximandose da China. A mudana da hora legal expressa estas
transformaes.
O desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao vieram introduzir outras
mudanas na noo de tempo e de hora. Por um lado, temos o tempo dos fluxos de
informao, em que se englobam os fluxos financeiros, que circulam em tempo real e que
ignoram os territrios e os estados e, por outro, temos as horas da organizao materialdas empresas, dos processos de produo e da vida social e pessoal. Os conflitos so de
vrias ordem e a incapacidade dos Estados em controlar o tempo dos movimentos de
capitais contribuiu para a fuga para parasos fiscais, o descontrolo das receitas fiscais e a
delinquncia financeira que contagiou ao nvel mundial os mercados com produtos ditos
txicos quebrando a confiana e pondo em risco a economia de muitos pases e
empresas. A impossibilidade de conciliar os tempos da justia com a rapidez de reaco
dos sistemas fraudulentos s aumenta a instabilidade, acentuando a separao entre
lgicas temporais e lgicas territoriais.
O facto de a qualquer hora do dia e, em particular, noite, atravs das novas tecnologiasde informao e comunicao o nmero de pessoas que tm acesso a toda uma gama de
bens e servios estar a crescer revela a crescente separao entre lgicas de consumo
(reguladas por horas escala internacional) e as lgicas territoriais (reguladas por horas
escala regional ou local). medida que as prticas sociais (consumo, produo, lazer)
atravs da intermediao electrnica se vo desligando dos conceitos espaciais tradicionais
de distncia e proximidade, o controlo poltico sobre os territrios com base na hora tende
a atenuarse. Este facto torna ainda mais pertinente a necessidade de planear os
territrios para que possam ser vividos 24h/24h.
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A Geografia do espaotempo de Hagerstrand veio a ser determinante para o trabalho de
outros investigadores e, em particular, na constituio da teoria da estruturao (Gama
2007). Anthony Giddens, na Sociologia, e Alan Pred, Nigel Thrift e Derek Gregory, na
Geografia, procuraram desenvolver novas concepes em que se superasse a dualidadeentre prticas e estruturas e entre determinao e liberdade. O objectivo era encontrar
uma terceira via entre estruturas, relaes estruturais e sistmicas, por um lado e, por
outro, indivduos, prticas individuais e relaes interpessoais. Entre as vrias temticas
tratadas Giddens ocupouse das questes da produo social da vida quotidiana e recorreu
aos trabalhos da Geografia do espaotempo, embora tecendo muitas crticas (Gama
2007). Aos gegrafos interessava, sobretudo, a reflexo sobre a espacialidade da vida
quotidiana como expresso dos processos de socializao dos indivduos e dos lugares, das
relaes de poder e de reproduo cultural dos contextos scioespaciais (Gama 2007). As
prticas sociais do sentido aos lugares e o espao no apenas o suporte, mas participa
nas relaes sociais, cabendo a cada sociedade modos de organizao do espaoespecficos. Esta abordagem permitiu uma abordagem mais humanista, o lugar envolve
sempre uma apropriao, uma transformao do espao e da natureza que indissocivel
da reproduo e transformao da sociedade no tempo e no espao (Gama 2007).
Torsten Hgerstrand mostrou a pertinncia da questo tempo nas anlises do espao e as
suas consequncia sem termos econmicos e sociais. A inovao introduzida nas relaes
espaciais pelas tecnologias de informao e comunicao vem, precisamente, no sentido
de superar dois dos constrangimentos identificados ( e ): hoje com as
novas tecnologias de informao e comunicao podemos estar em mais de um lugar ao
mesmo tempo e para participar num evento no tem de haver simultaneidade entre lugare momento. Em contrapartida, as limitaes no territrio decorrentes de autoridades e
juridies no param de crescer com a privatizao dos espaos (condomnios privados,
centros comerciai...) mesmo dos espaos que deviam ser colectivos (encerramento de
espaos pblicos como parques urbanos, praas, ruas, para eventos como espectculos de
msica ou publicidade).
E
No passado o tempo dos territrios comeou por ser ditado pelos ritmos naturais, a
sucesso dos dias e das estaes do ano. Com a urbanizao da populao o tempo dos
territrios passou a depender da organizao industrial do trabalho e os fluxos passaram a
ter horas mais ou menos fixas, independentemente, da durao do dia e da noite (Godard
1997). Hoje, na sociedade dos servios, os ritmos so cada vez mais dessincronizados,
fragmentando os tempos sociais (Ascher 1997). Os impactos nos territrios so evidentes.
Na sociedade organizada pela indstria transformadora, as deslocaes tinham amplitudes
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reduzidas, os espaos de convvio social coincidiam com os espaos de trabalho e de
residncia. Os espaos de lazer como os T , das cidades da Europa Central e do Norte, e
as Feiras Populares, das cidades do Sul, por exemplo, estavam prximos dos locais de
residncia e de trabalho. Os cinemas localizavamse nos bairros onde as pessoashabitavam.
Na sociedade dos servios raramente vivemos no mesmo lugar onde trabalhamos, para
usufruir os espaos de lazer, como os grandes parques urbanos, as frentes de gua
requalificadas ou os centros comerciais, as pessoas tm de fazer deslocaes longas,
que implicam gastos em termos de tempo e de dinheiro. O desenvolvimento dos sistemas
de mobilidades, as novas tecnologias de informao e comunicao, a reduo do tempo
de trabalho e as polticas de flexibilizao da fora de trabalho, a crescente separao
entre locais de residncia e locais de estudo e de trabalho, transformaram profundamente
o diaadia das pessoas geraram novos ritmos na sociedade e nos territrios (Boulin 2000) e alteraram as necessidades de servios.
A abordagem econmica do espao e do tempo temse baseado numa lgica de
crescimento da acumulao que, muitas vezes, se limita esfera da produo (Ascher
1997). Hoje esta abordagem tem de ter em conta todo o tempo e todos os espaos para
alm da esfera da produo. Os grupos sociais e as actividades entraram em dinmicas de
desenvolvimento que modificam as relaes e as atitudes do diaadia que se relacionam
com o tempo e com o espao. Assim, para aumentar o seu espao til, os actores
econmicos e os indivduos desenvolvem novas formas de mobilidade, para disporem de
mais tempo racionalizam o emprego do tempo, acelerando os ritmos, economizandotempo, aumentando a produtividade (Godard 1997) e, acima de tudo, comprando o tempo
dos outros atravs do consumo de servios. A relao espaotempo ganha uma
importncia quer para a sociedade, quer para os indivduos e expressase de forma cada
vez mais evidente nos territrios em funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana e
365 dias por ano, onde os cidados gerem de forma cada vez mais individualizada o
emprego do tempo e os usos do espao.
Com novos empregos do tempo e novos usos dos territrios, a noite deixa de ser apenas o
tempo do descanso social e precisa de cada vez mais ateno em termos de planeamento
para que no se gerem novas presses e conflitos. A noite transformase num espaotempo com novos valores para a sociedade.
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N: ?
I ?C .
C ?D .
Eugne Guillevic7
A definio astronmica de noite o intervalo de tempo entre o pr e o nascer do Sol. Os
limites naturais da noite variam com a latitude e com a poca do ano mas, em mdia, a
noite dura sempre metade do tempo de um ano, a distribuio ao longo do ano que vai
variando. Em Portugal, a noite mais longa ocorre no solstcio de Inverno, entre 21 e 22 de
Dezembro, e a mais curta ocorre no solstcio de Vero, entre 21 e 22 de Junho.
Os limites da noite so difceis de estabelecer pois podem ter diferentes naturezas e
variam conforme os lugares, as culturas e a sensibilidade pessoal (Paquot 2000). A noite
pode ser definida em funo da diminuio da intensidade das actividades econmicas e
das relaes da vida social no espao pblico e pelo crescimento das funes que se
orientam para a esfera privada. Um estudo realizado em Estrasburgo revelou que a cidade
parava apenas entre as 1h 30m e as 4h e 30m da manh (Gwiazdzinski 2007). A
distribuio do trfego da Internet, em Portugal, mostra que os picos de utilizao s
decaem depois das 3h da manh (www.marktest.pt). Mas h reas nas grandes cidades
que s ganham vida depois da meianoite, quando comeam a chegar os clientes das
discotecas e dos bares. As variaes nos limites da noite podem, assim, ser semanais,
mensais ou anuais. No caso das actividades de lazer nocturnos, em geral, as noites de
sextafeira e sbado so as mais animadas pois, h vida nos espaos pblicos e privados
at mais tarde. Contudo, o facto de numa dada cidade muitos destes utilizadores da noite
serem jovens estudantes, fora do seu local habitual de residncia e que se deslocam ao fim
de semana a casa, leva a que as noites de quintafeira possam ser das mais animadas. Ao
longo do ms existem tambm diferenas que se relacionam directamente com a
disponibilidade de dinheiro, com o momento em que se recebem as remuneraes. Aolongo do ano, as variaes nas temperaturas podem tornar mais ou menos convidativas
certas actividades, particularmente, as que decorrem ao ar livre, contribuindo para a
construo da noo de noite com limites cada vez mais tnues.
A noite pode ter limites legais quando se estabelece, por exemplo, que o trabalho
desenvolvido num determinado perodo de tempo considerado trabalho nocturno e,
portanto, tem de ter uma remunerao ou uma durao diferente. Quando a tarifa de txi
7 Citado em Lvy (2005: 28).
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ou o preo dos medicamentos aumenta a partir de uma dada hora, estamos perante
delimitaes legais de noite. Estes limites so muito diferentes conforme as actividades e
os pases e tm evoludo ao longo do tempo.
Nas sociedades onde ocorrem diferenas nas formas de educao segundo o gnero
frequente ser exigido s raparigas que cheguem a casa antes da escurido se instalar na
rua. A hora do recolher obrigatrio determinada pelo gnero, mas varia ao longo do
ano.
No Ramado o jejum tem de ser observado durante o perodo em que o Sol est acima do
horizonte. noite podese comer. E a noite que assinala o fim do Ramado uma das mais
animadas do ano, com a reunio da famlia para partilhar uma refeio em que se fazem
muitas iguarias especiais para aquele momento.
No Egipto, no Vero de 1995, assistimos a duas situaes que revelam a importncia das
condies de temperatura para as prticas dos indivduos. Em Assuo as ruas comerciais s
se animavam com o desaparecer do Sol, as temperaturas superiores a 40 graus durante o
dia convidavam ao recolhimento no conforto da sombra dos ptios das casas. noite,
milhares de pessoas, de todas idades e condies sociais, circulavam pelas ruas comerciais,
a passear ou a fazer as compras. No Cairo, s 3h da manh, dezenas de jovens jogavam
futebol nos parques de estacionamento do aeroporto. Aproveitavam o perodo mais
fresco, o espao vazio e os potentes holofotes da iluminao pblica para praticarem
desporto.
Para Gwiazdzinski (2007) existem trs tempos na noite que correspondem a trs formas
diferentes de ocupao dos espaos pblicos: das 20 s 1h e 30m a noite avana invadida
pelas actividades do dia, o perodo das sadas culturais, com os amigos, dos passeios,
podese ficar no espaos pblicos ou regressar a casa; das 1h 30m s 4h 30m o corao
da noite, o momento em que a cidade descansa, nos espaos pblicos ficam os noctvagos
e os trabalhadores com funes especficas, em geral, esto na noite para ficar; das 4h
30m s 6h a madrugada, a noite acaba e o dia comea, os que regressam da noite
encontramse com os que comeam o dia de trabalho.
No existe uma noite, mas mltiplas noites. A noite um espaotempo com limites fluidose com naturezas que variam de acordo com diversos aspectos, mas acima de tudo com as
diferentes culturas.
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B
Boulin JY (2000) Nouveaux rapports temps, espace et socit DATAR G.6.T&T. A B 2627 O 200, . 1618.
Godard F (1997) A propos des nouvelles temporalits urbaines L A LR U 77, . 714.
Paquot T (2000) Le sentiment de la nuit urbaine aux XIXe et XXe sicles L A L R U 87, . 815.
R
Ascher F (1997) Du vivre en juste temps au chronourbanisme L A L R U 77, . 113122.
Gama A (2007) Uma revisitao TimeSpace Geography G G. Lisboa: CEG, p. 99112.
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Gwiazdzinski L (2007) N E, .Belfort: Chantiers.
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Lvy R (2005) Penser la nuit in Espinasse C; Gwiazdzinski L; Heurgon L (coord.)L (). Paris: Ed. l'Aube.
Pred A (ed.) (1981) S : E TH . Lund: Gleerup.
S I
www.oal.ul.pt Observatrio Astronmico de Lisboa, Universidade de Lisboa.
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2. REPRESENTAES E EXPERINCIAS ARTSTICAS
Pareceme que a noite muito mais viva e ricamente colorida do que o dia.
Vincent Van Gogh, 8 de Setembro de 18888
A noite de todos os momentos, aquele que encerra as representaes mais negativas
(Heurgon 2005). Em quase todos os domnios do saber a noite surge como metfora da
ignorncia, da superstio e do fanatismo. Falamos da noite dos tempos para referir
perodos muito recuados no tempo sobre os quais pouco sabemos. A longa noite
fascista, a noite das facas longas, a noite de cristal, as noites do KKK, os
bombardeamentos em directo na TV na noite de Bagdade, povoam de terror a nossa
histria colectiva (Alves 2007b).
Por oposio, a luz e o dia esto associados quase sempre ao progresso, ao bem e
evidncia (Alves 2007b). Quando queremos esclarecer algo fazemos luz sobre a situao,
ou quando queremos saber mais vamos pr em dia os nossos conhecimentos. As
expresses derivadas de luz esto quase sempre associadas a algo de positivo: iluminar,
clarear, aurora, iluminismo, Sculo das Luzes, a noite cai, mas o dia nasce ou elevase...
Sem a noite, contudo, muitos dos progressos da humanidade no teriam acontecido (Alves
2007b). A noite por excelncia o momento da reflexo e da criao. Sem noite no teria
havido, por exemplo, as grandes viagens ocenicas, porque foi a noite que, ao permitir a
observao das estrelas, garantiu aos navegadores o sistema de orientao por mares
desconhecidos, permitindo dar novos mundos ao mundo. E porque ser que a maior
parte das revolues nascem de noite?
A noite , por excelncia, o espao das transgresses, dos ritos iniciticos, dos noctvagos,
dos artistas, dos sonhos e do amor. A noite fascinanos, perturbanos, porque no nosso
imaginrio colectivo a noite est associada aos momentos mgicos. Apesar de toda a carga
8 http://www.moma.org/exhibitions/2008/vangoghnight/
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negativa, da dimenso obscura que continua a inquietarnos, a noite tem vindo a ganhar
uma representao mais potica que valoriza aspectos como a liberdade e a criatividade.
As representaes artsticas da noite tm ajudado a entender o universo nocturno e
desempenharam um papel fundamental na renovao do modo como sentimos e vivemos
este espaotempo (Espinasse 2005). As ligaes entre arte e noite so fortes e tmse
manifestado em domnios to diferentes como: a pintura, a fotografia, o cinema, o teatro,
a literatura, a msica ou as artes plsticas .
V G C N (20082009) The Museum of Modern Art, Nova Yorkhttp://www.moma.org/exhibitions/2008/vangoghnight/
A
Na a noite comea por estar associada s trevas, aos demnios, a momentos de
dor e de perda como a morte. Nas obras de Caravaggio (15711610) o jogo entre o escuro
e o iluminado faz lembrar a luta entre as trevas e o dia, mas a noite no pretexto das
representaes. As personagens colocadas num fundo escuro so iluminadas por focos de
luz que fazem lembrar os primeiros raios do sol a nascer. S no sculo XIX a noite surge em
representaes associadas ao luar e s estrelas, o que contribuiu para construir uma viso
mais potica de uma realidade carregada de sentidos negativos (Goldberg 2005). Mas
muito difcil encontrar hoje obras com uma viso positiva da noite anteriores a N
E R (1888) a N E (1889) de Van Gogh. Entre Setembro de
2008 e Janeiro de 2009 o MoMA, The Museum of Modern Art, em Nova York, apresentou a
exposio V G C N que explorava precisamente a obra do
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P M N A M (http://collection.centrepompidou.fr/Navigart)
com o trabalho dos surrealistas, como Marc Chagal (18871985) e Rene Magritte (1898
1967), que a noite se torna num tema recorrente na pintura.
Na o negro a matriaprima, mas da unio com a luz que nascem as imagens
(Werner 2005), photo significa luz em grego. A fotografia tem tido um papel
fundamental na valorizao cultural do negro pois atravs do preto e branco que se tm
exprimido alguns dos maiores fotgrafos: Robert Doisneau, Sebastio Salgado ou Gerard
Castelo Lopes. A noite, especificamente, tem sido o tema de muitos trabalhos desde P
(1933) de Brassa a C (2002) de Nuno Cera e Diogo Lopes. De acordo com a
base de dados online do Centre Pompidou verificamos que a larga maioria dos trabalhos
artsticos com refern