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Date post: 18-Feb-2016
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Bolsa de Valores e Instituições Financeiras
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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras Índice 1.Introdução..................................................3 2.Mercado Monetário e Mercado de Capitais..................5 3.O que é a Bolsa de Valores?...............................7 3.1.Funcionamento da Bolsa.............................7 3.2.Intervenientes......................................9 3.3.Critérios de entrada na Bolsa....................12 3.4.Vantagens.......................................... 13 4.Como surgiram as Bolsas de Valores?.....................14 5.Mercado Bolsista Português de Valores Mobiliários......19 5.1.História........................................... 19 5.2.Índices Bolsistas (PSI Geral e PSI 20)...........24 5.3.Banco de Portugal..................................25 5.4.Comissão do Mercado de Valores Mobiliários......26 6.Os principais Índices Bolsistas Mundiais................28 6.1.Os índices norte-americanos.......................28 6.1.1.DOW JONES......................................28 6.1.2.NASDAQ.........................................29 6.1.2.S&P 500........................................29 6.2.Os índices europeus.............................30 6.2.1.DAX 30.........................................31 João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 1
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Page 1: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Índice

1.Introdução...............................................................................................................................3

2.Mercado Monetário e Mercado de Capitais.......................................................................5

3.O que é a Bolsa de Valores?..................................................................................................7

3.1.Funcionamento da Bolsa.......................................................................................7

3.2.Intervenientes.........................................................................................................9

3.3.Critérios de entrada na Bolsa..............................................................................12

3.4.Vantagens..............................................................................................................13

4.Como surgiram as Bolsas de Valores?...............................................................................14

5.Mercado Bolsista Português de Valores Mobiliários.......................................................19

5.1.História..................................................................................................................19

5.2.Índices Bolsistas (PSI Geral e PSI 20)..................................................................24

5.3.Banco de Portugal................................................................................................25

5.4.Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.................................................26

6.Os principais Índices Bolsistas Mundiais...........................................................................28

6.1.Os índices norte-americanos..............................................................................28

6.1.1.DOW JONES..................................................................................................28

6.1.2.NASDAQ........................................................................................................29

6.1.2.S&P 500.........................................................................................................29

6.2.Os índices europeus........................................................................................30

6.2.1.DAX 30...........................................................................................................31

6.2.2.CAC 40...........................................................................................................32

6.2.3.FOOTSIE 100.................................................................................................33

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

7.Mitos e Realidades da Bolsa de Valores............................................................................34

7.1.A Crise Financeira Transnacional de 2008.........................................................34

7.2.As maiores Fraudes Financeiras.........................................................................36

7.3.Segredos para Investir na Bolsa..........................................................................44

7.4.Bulls and Bears......................................................................................................46

8.Instituições Financeiras.......................................................................................................47

8.1.Instituicões Financeiras Monetárias..................................................................47

8.2.Instituições Financeiras Não Monetárias..........................................................47

8.3. Banco Central Europeu, a Política Monetária e o Mercado Bolsista.............48

9.Activos Financeiros...............................................................................................................51

9.1.Acções....................................................................................................................51

9.2.Obrigações.............................................................................................................53

10.Derivados Financeiros........................................................................................................54

10.1.Mercado e Contrato de Futuros.......................................................................54

11.Formas de Financiamento.................................................................................................56

11.1.Factoring..............................................................................................................56

11.2.Leasing.................................................................................................................56

11.3.Sociedades de Capital de Risco.........................................................................56

12.Glossário..............................................................................................................................58

13.Conclusão............................................................................................................................59

14. Referências.........................................................................................................................60

14.1.Bibliográficas.......................................................................................................60

14.2.Sitografia.............................................................................................................60

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

1.Introdução

Para o ano de 2009/2010, na disciplina de Área de Projecto, o grupo escolheu

como tema a abordar - o Mercado Financeiro. Quais as razões que nos levaram à

escolha do tema? Quais são os nossos objectivos?

Em virtude dos acontecimentos que se têm vindo a suceder, como a crise

financeira que se iniciou no ano de 2008 e que ainda se faz sentir nos vários domínios

da esfera económico-social, o Mercado Financeiro é um tema amplamente divulgado

nos meios de comunicação social, nos dias de hoje. No entanto, nem sempre a

informação é compreendida pelo cidadão comum e, como tal existe uma necessidade

de esclarecer o público em geral.

A ideia pré-concebida destes cidadãos associa o mercado financeiro a algo

muito complexo e fora das suas capacidades de compreensão, para isto contribuem a

utilização de estrangeirismos como factoring, free float, brokers, etc. Contudo a

explicação para estes conceitos é mais simples do que inicialmente se pode pensar.

O tema escolhido constituía um desafio para todos os elementos do grupo,

uma vez que subsistiam algumas dúvidas sobre o Mercado Financeiro (conceitos e

funcionamento), esclarecidas ao longo do ano lectivo não só pela pesquisa efectuada

mas também pelo trabalho desenvolvido, sempre motivado pelo interesse e ambição

em saber mais.

Por último mas não menos importante, a escolha deste tema foi motivada pela

vontade que todos os elementos do grupo demonstram em aprender novas formas de

aplicação de poupanças mais rentáveis, ou seja, potenciadores de uma melhor

qualidade de vida futura.

Como indica o título do trabalho, Anatomia do Mercado Financeiro,

procedemos à distinção dos dois mercados constituintes – Mercado Monetário e

Mercado de Capitais.

No entanto, dentro do Mercado Financeiro, o Mercado de Capitais é o core

issue do projecto, onde se destacam amplamente todos os conceitos relativos ao

segmento accionista da Bolsa de Valores.

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Relativamente à Bolsa de Valores, incidiremos na explicação do seu

funcionamento, dos diversos intervenientes, dos critérios de entrada, das razões da

sua existência, bem como ainda das vantagens e desvantagens para as sociedades

cotadas em Bolsa.

Por razões óbvias, o Mercado Bolsista Português de Valores Mobiliários assume

particular relevo no projecto pelo que abordaremos também a sua história e os seus

reguladores.

Visto que o mercado de capitais português tem pouca visibilidade a nível

internacional, torna-se essencial a inclusão dos principais índices bolsistas mundiais

porque são aqueles que exercem maior atracção na maior parte dos investidores a

nível global.

Ainda, incluímos algumas curiosidades relativas ao Mercado Bolsista como por

exemplo os Bulls and Bears.

Neste projecto, aparecem ainda os activos financeiros e os derivados

financeiros, como exemplo de aplicações financeiras do Mercado de Capitais, e as

formas de financiamento como exemplo de aplicações financeiras do Mercado

Monetário.

Por último, ainda abordámos as instituições financeiras e criámos um glossário

onde figuram alguns conceitos que estão inseridos ao longo dos vários capítulos.

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2.Mercado Monetário e Mercado de Capitais

As instituições financeiras disponibilizam vários produtos financeiros onde os

aforradores poderão aplicar as suas poupanças: acções, obrigações, fundos de

investimento, certificados de aforro e depósitos a prazo, entre outros. Estes produtos

distinguem-se entre si em função de indicadores como o risco, a rendibilidade e a

liquidez.

A segurança de uma aplicação financeira está ligada à noção de risco. Uma

aplicação é arriscada quando o seu valor pode sofrer alterações, tanto para mais como

para menos, de um momento para o outro. A segurança da aplicação traduz-se na

possibilidade do investidor vir a recuperar, pelo menos, a totalidade do dinheiro

aplicado: mesmo que não se verifiquem ganhos significativos, não há risco de grandes

perdas.

A rendibilidade é o principal objectivo de quem aplica as suas poupanças.

Numas aplicações, como é o caso dos depósitos a prazo, das obrigações e dos

certificados de aforro o rendimento pode ser pré-estabelecido, com uma taxa fixa ou

variável. A taxa fixa significa que a rendibilidade do investimento se mantém

constante, durante o prazo de aplicação. A taxa variável quer dizer que a rendibilidade

pode aumentar ou diminuir de acordo com o mercado.

Noutras aplicações, o rendimento não é garantido à partida, como é o caso das

acções, em que o rendimento depende do mercado e dos resultados das empresas.

Por liquidez entende-se a possibilidade de, a qualquer momento, se poder

reaver o dinheiro aplicado. Quanto maior for a rapidez na conversão do título em

dinheiro maior será a liquidez.

É com base nos indicadores referidos que o aforrador deverá escolher as

aplicações financeiras das suas poupanças, inseridas em mercados distintos conforme

os produtos escolhidos, Mercado Monetário e Mercado de Capitais.

Mercado Monetário

O Mercado Monetário é um segmento do Mercado Financeiro constituído por

instrumentos financeiros com liquidez elevada, um período de vida inferior a um ano e

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baixa rendibilidade. Aceites Bancários, Papéis Comerciais, Certificados de Aforro e

Depósitos a Prazo são alguns exemplos de títulos transaccionados neste mercado.

Mercado de Capitais

O Mercado de Capitais é um segmento do Mercado Financeiro constituído por

instrumentos financeiros com liquidez reduzida, um período de vida superior a um ano

e de alta rendibilidade. Acções, Obrigações e Títulos de Dívida Pública são alguns

exemplos de títulos transaccionados neste mercado.

Estes títulos podem ser objecto de transacção, isto é, podem ser transmitidos a

outros titulares, daí poderem chamar-se valores mobiliários. A compra e venda destes

títulos são realizadas num mercado criado para esse efeito: a Bolsa de Valores.

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3.O que é a Bolsa de Valores?

3.1.Funcionamento da Bolsa

O intuito de negociar em bolsa centra-se na troca de acções, logo, de

participações no Capital Social de empresas. Esta troca constante de títulos é

indispensável a uma economia desenvolvida, servindo de motor ao crescimento

económico, pois fornece fundos para financiar a formação e reposição de capital. A

emissão de valores mobiliários é uma das formas que as empresas públicas e privadas

têm para se financiar, obtendo os fundos de que necessitam para crescimento da sua

actividade. Do outro lado da negociação, os investidores, ao comprarem os valores

mobiliários, potenciam a rentabilidade das suas poupanças, através da compra de

activos líquidos, muito negociados, e com exposição à economia real, obtendo

melhores retornos que os tradicionais depósitos a prazo.

Longe vão os tempos em que as ordens transmitidas aos corretores pelos

investidores eram executadas de viva-voz, presencialmente, e transaccionadas em

papel. Actualmente, com a utilização dos meios informáticos, uma transacção bolsista

é realizada através de sistemas electrónicos que procedem ao encontro das ordens

compradoras e vendedoras.

O investidor transmite ao seu corretor (também designado por broker) a sua

intenção de comprar ou vender um determinado título. Chegada a ordem, e de acordo

com o preço fixado pelo investidor, ela é hierarquizada no sistema informático que

cruza as ordens de compra e venda constantes na plataforma de trading. Quando

existe coincidência entre o preço de venda (offer ou ask) de um lado e o preço de

compra (bid) de outro, a ordem é executada.

Regra geral, nem todo o Capital de uma empresa se encontra disperso em

bolsa. É comum haver investidores estratégicos que possuem nas suas carteiras de

investimento acções que representam uma importante percentagem de Capital, não

estando estas acções disponíveis para negociação. Surge assim o conceito de free float,

que consiste na parte do Capital Social que está admitido a cotação e pode livremente

ser transaccionado em bolsa entre os investidores. É este free float que pode mudar

diariamente de mãos, sendo comprado e vendido de forma anónima.

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Associado ao número de acções que se encontra disperso em mercado, é

importante conhecer o conceito de capitalização bolsista, que resulta da multiplicação

do número de acções admitidas a cotação pelo preço do título. Assim torna-se fácil de

entender por que existe uma flutuação tão dinâmica da capitalização bolsista: ela

varia também com a flutuação da cotação.

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

3.2.Intervenientes

Na Bolsa de Valores intervêm vários agentes económicos:

As empresas, que procuram obter meios financeiros ou adquirir participações

noutras empresas;

Os bancos e as sociedades financeiras, que colocam os seus fundos e efectuam

operações financeiras;

O Estado, que procura meios financeiros para satisfazer os seus compromissos

a curto prazo ou para financiar projectos de investimentos;

Agentes económicos estrangeiros, que podem ser instituições, empresas e

particulares;

O público, que recorre à Bolsa para aplicar grande parte das suas poupanças.

O mercado da Bolsa de Valores está aberto a todos os agentes económicos com

capacidade de poupança visando frutificar os fundos aplicados, isto é, obter ganhos de

capital ou mais-valias. O mercado financeiro necessita de intermediários para que as

transacções se efectuem e se desenvolvam:

1. Os Bancos

É junto destas instituições que se manifesta o interesse em negociar. Nos seus

serviços há sempre pessoas especializadas que nos podem dar os elementos

necessários para a transacção, que concedem informações sobre a evolução das

cotações dos títulos a transaccionar e as operações a efectuar.

A ordem dada é transmitida para o departamento de títulos, que, por sua vez, a

canaliza para os corretores.

2. Sociedades de corretagem (brokers)

O investidor poderá dirigir-se imediatamente aos corretores, evitando pagar a

comissão bancária. Contudo, o normal é começar a operação numa instituição de

crédito.

Os corretores são intermediários do mercado financeiro que têm por função

comprar ou vender valores mobiliários em Bolsa e por conta dos seus clientes.

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Constituíram-se algumas empresas de corretores que canalizam as ordens dos

seus clientes para os corretores oficiais das Bolsas de Valores, podendo igualmente

administrar o património dos clientes.

3. Jobbers

São intermediários que não têm um contacto directo com os clientes. Efectuam

transacções com títulos com base nas ordens dadas pelos brokers. Têm função de

market maker na Bolsa de Londres, que entretanto foram extintos.

Uma das funções apontadas para estes intermediários financeiros diz respeito à

regulação do mercado, isto é, actuam de modo a estabilizar as cotações e a evitar as

oscilações bruscas dos títulos.

Por exemplo, em caso de queda do preço de uma acção, o jobber compra o

título a um preço tal que inverte o movimento e de seguida dá ordem de venda a

preço superior. É evidente que também intervém no caso de a cotação da acção estar

num movimento de ascensão. Neste caso lança no mercado uma certa quantidade de

títulos, fazendo parar a subida.

4. Sociedades financeiras de corretagem (dealers)

São intermediários que fazem a gestão dos títulos ou das moedas por iniciativa

própria. Podem comprar ou vender divisas e proceder a depósitos em moeda. Além

disso, desenvolvem operações nos mercados à vista (spot) e a prazo (forward). Os

dealers, tal como os outros intermediários, actuam em vários tipos de mercado. No

caso de actuarem no mercado cambial, eles têm a função de rendibilizar as operações

que realizam. O dealer difere do broker. Este aufere uma comissão sobre o montante

da transacção, enquanto o dealer compra para venda. O dealer é um especialista que

efectua transacções em nome de terceiros e para carteira própria.

As sociedades dealers distinguem-se das sociedades corretoras ou brokers

porque têm a possibilidade de comprar e vender valores mobiliários, conceder

financiamentos a clientes para a aquisição de valores mobiliários, colocar valores

mobiliários no mercado.

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Page 11: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Na Bolsa todas as transacções de valores mobiliários são executadas por

corretores ou pelas referidas sociedades, a quem compete as seguintes funções:

Recolher as ordens de venda e compra;

Confrontar essas ordens durante a sessão;

Garantir a execução das ordens ao preço formado - cotação.

A lei estipula que é obrigatória a intervenção de um corretor a partir do

momento em que o aforrador pensa investir na Bolsa.

Os corretores são seleccionados e nomeados pelo ministro das Finanças, as

sociedades de corretagem têm que ser previamente registadas no Banco de Portugal e

na Bolsa respectiva e as sociedades financeiras de corretagem (dealers) dependem,

para a sua constituição, da autorização do ministro das Finanças, além do respectivo

registo na Bolsa respectiva.

3.3.Critérios de entrada na Bolsa

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Os critérios de admissão à negociação de acções no mercado de cotações

oficiais estão presentes no ordenamento jurídico português.

Qualquer entidade que tem por objecto a admissão à negociação no mercado

de cotações oficiais tem de requerer entrada à entidade gestora da bolsa, através de

um intermediário financeiro de interligação (banco autorizado e filiado no sistema de

liquidação, compensação, registo e controlo de valores mobiliários).

Logo que receba o pedido de admissão, a entidade gestora da bolsa fará inserir

no boletim de cotações da bolsa a que a admissão é requerida, informação sobre esse

facto.

Após o início deste processo a entidade emitente incorre no cumprimento das

seguintes regras:

As informações a fornecer às autoridades competentes devem ser prestadas

pelo meio mais rápido ao dispor da entidade emitente ou do intermediário financeiro

de interligação com a emitente e, quando enviadas por telefax ou por via telemática,

confirmadas por carta devidamente assinada por quem a responsabilize;

As entidades emitentes devem apresentar a informação económica e financeira

de acordo com as normas portuguesas ou com os princípios contabilísticos

internacionalmente aceites;

Os relatórios de auditoria devem ser elaborados por auditores com reconhecida

capacidade técnica, meios humanos, materiais e financeiros que assegurem um

trabalho de independência baseado nas normas internacionais de auditoria.

3.4.Vantagens

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Admitindo que o mercado é um mecanismo coordenador da actividade

económica capitalista, isso permite-nos afirmar que a Bolsa tem desde há muito tempo

um papel importante em todo este processo de troca. A sua importância e utilidade

podem resumir-se no seguinte:

- A Bolsa promove e favorece a troca. Este organismo proporciona um encontro

fácil entre compradores e vendedores;

- É um organismo útil para o nivelamento dos juros e dos lucros e para a

formação dos preços;

- Dentro das funções do mercado no sentido económico, a Bolsa actua como

factor importante na repartição de recursos e na optimização da aplicação da

poupança dos particulares;

A admissão à cotação de valores mobiliários traduz-se em vantagens para os

diversos intervenientes. No entanto, não basta haver valores mobiliários cotados, é

necessário, ainda, que haja uma correcta actuação e a prática duma verdadeira política

de abertura ao mercado. As principais vantagens são, em síntese, as seguintes:

- Valorização dos títulos;

- Liquidez dos valores mobiliários. A entidade emitente com valores cotados

consegue obter liquidez para os seus valores quanto maior for a informação e mais

diversificados sejam os seus titulares;

- Equilíbrio financeiro da empresa. Em face do endividamento crescente, a

obtenção de recursos financeiros na Bolsa (aumento do capital social ou emissão de

empréstimos) aumenta a solvabilidade da empresa;

- Nova e melhor imagem da empresa. A publicidade feita diariamente nos

órgãos de comunicação social permite que as cotações sejam conhecidas mas também

que o nome da empresa seja divulgado. Surge uma nova imagem perante o público, o

que facilita a sua expansão;

- Facilita a captação de capital estrangeiro;

- Benefícios fiscais para as entidades com valores cotados e para os seus

detentores.

4.Como surgiram as Bolsas de Valores?

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A palavra Bolsa, segundo alguns, surge no século XIV e deriva do nome de uma

família de banqueiros, os Van der Burse, de Bruges, em casa dos quais se reuniam

armadores, mercadores, agentes de câmbio, etc., e onde se realizavam com frequência

operações financeiras. Outros afirmam que a referida palavra deriva não do nome da

família mas das insígnias do solar que habitavam. Estas eram constituídas por três

bolsas em relevo. Ia-se aos Burse e assim passou-se a «ir à Bolsa».

Segundo outra versão corrente, a palavra Bolsa tem origem na actividade

exercida por cambistas e banqueiros que actuavam no Norte de Itália e no facto de

estes guardarem os seus valores em pequenas bolsas.

No entanto, a actividade desenvolvida nas Bolsas é muito mais antiga.

Efectivamente, a troca, como acto fundamental da actividade económica, nasceu da

divisão do trabalho e desenvolveu-se ao longo dos tempos. Contudo, não podemos

afirmar que os lugares onde os comerciantes se reuniam e efectuavam as diversas

transacções se assemelhassem às instituições que hoje designamos por Bolsas de

Mercadorias, de Valores ou de Câmbio, mas foram sem dúvida antecedentes históricos

muito importantes.

Um desses antecedentes diz respeito às reuniões efectuadas antes da Era

Cristã, nas arcadas do porto de Pireu, na praça de Corinto ou no Collegium

Mercantorum em Roma. Pode dizer-se que foram os romanos os primeiros a dar um

estatuto oficial às operações comerciais e financeiras.

O desenvolvimento do comércio originou na Idade Média um maior contacto

entre comerciantes e povos nas principais cidades portuárias, onde se negociavam

mercadorias diversas, letras de câmbio, moeda e metais preciosos.

Todo este processo de comercialização, as feiras, iniciado na Idade Média,

continuou até aos meados do século XVII, mas adaptado às novas realidades e

necessidades. As feiras mais importantes foram as de Castela, Frankfurt, Lyon,

Antuérpia e Génova, onde, e após as transacções de mercadorias, se efectuavam os

pagamentos ou vencimentos das obrigações, letras de câmbio, etc. Neste circuito

circulavam letras de câmbio e instrumentos mercantis necessários para a

regulamentação de todo o comércio europeu ou os acordos realizados pelos reis para

fazerem face às inúmeras despesas militares.

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Após o aparecimento da economia nacional, os reis impulsionaram todo este

circuito internacional de feiras de modo a facilitar o comércio, a regularizar os

negócios e a criar um mercado de crédito. Verifica-se que há mudanças, não no

aspecto organizativo, mas naquilo que se transacciona. As feiras deste período

distinguem a contratação de mercadorias da transacção de dinheiro, o que converterá

a feira medieval em Bolsa de Capitais tal como existe hoje.

A negociação das mercadorias exigia a intervenção do dinheiro, fazendo com

que estes dois aspectos coexistissem nas feiras medievais. Contudo, à medida que a

especulação se foi desenvolvendo, surge a diferenciação entre feiras e Bolsas.

A primeira Bolsa – Nieuve Beurse – surge na Antuérpia, em 1531. Ali se realizam

negócios puramente especulativos:

- Desenvolveram-se as apostas sobre diversos acontecimentos (chegada de

barcos);

- Realizavam-se jogos de azar como a moderna lotaria;

- Intensificavam-se várias operações financeiras (empréstimos).

No entanto, a Bolsa propriamente dita surge em Amesterdão no século XVII.

Era o mercado mais importante de títulos de empréstimos de Estados da Europa. Os

negócios a prazo, com todos os seus pormenores, nasceram na Bolsa de Amesterdão.

Além do papel do Estado cotavam-se acções, como resultado do desenvolvimento das

sociedades por acções. A Bolsa de Amesterdão foi, nos séculos XVII e XVIII, o primeiro

mercado europeu de títulos e valores. Um dos primeiros boletins de cotações surge no

século XVIII e faz referência às cotações de vinte e cinco classes de obrigações do

Estado, de três acções nacionais e de outros valores estrangeiros, num total de

quarenta e quatro classes de valores.

Havia agentes de câmbio e remisiers, que faziam a ligação entre os corretores e

a clientela que, sentada nos cafés circundantes, esperava pelos resultados da Bolsa. A

especulação era intensa, utilizando vários expedientes (boatos, falsos alarmes) para

influenciar as cotações e permitir ao bom estratego tirar o máximo rendimento da

baixa e da alta.

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Page 16: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

No século XV não havia em Londres um edifício privativo da Bolsa, mas uma

Rua da Bolsa, a Rua dos Lombardos, a cidadela dos italianos ou a Avenida dos

Cambistas, em plena City.

Em 1567, o chanceler do Tesouro apresentou à rainha Isabel um relatório muito

pessimista sobre a Bolsa da Antuérpia, que estava muito afectada pelas guerras

religiosas desencadeadas na Europa.

Toda a desordem financeira que afectava a referida Bolsa tinha reflexos em

vários países da Europa, entre os quais a Inglaterra. Este país teve necessidade de

constituir uma Bolsa própria para proteger a sua economia. Surge então em 1571 a

Bolsa de Londres (Royal Exchange), na City, à esquina da Threadneedle Street, onde

mais tarde se iria construir o Banco de Inglaterra.

A atitude de criar a Bolsa de Londres mostra que não há poder económico

liberal sem um mercado financeiro organizado e regulamentado. A partir de então, os

capitalistas podiam colocar o seu dinheiro em empréstimos do Estado. A Royal

Exchange contratava empréstimos do Estado e possivelmente ali se cotaram as

primeiras acções da East India Company. Desde o início, a Bolsa de Londres foi o centro

nervoso do Império. Sem a Bolsa, este Império não se teria mantido. Para além dos

capitalistas e dos comerciantes que se dedicavam às trocas com a Índia, havia uma

multidão de intermediários, pequenos especuladores e corretores que actuavam na

Bolsa londrina.

A especulação bolsista intensificou-se com o desenvolvimento da East India

Company a partir de 1666, com a entrada de judeus vindos das outras Bolsas da

Europa, e com as alterações estruturais provocadas pela revolução de 1688. O

ambiente da Bolsa de Londres alterou-se completamente, fazendo com que a

aristocracia do comércio detestasse os recém-chegados que falavam muito alto e

perturbavam a paz que até então existia. O Parlamento inglês promulgou algumas leis

sobre o funcionamento da Bolsa.

Muitos frequentadores da Bolsa, os brokers, os jobbers e outros, refugiaram-se

em cafés circundantes, onde intensificaram as suas operações, pondo em causa o

normal funcionamento da Royal Exchange. Foi pedido o seu regresso, mas os

elementos expulsos recusaram e constituíram a Stock Exchange. Com os seus próprios

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 16

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

meios adquiriram os terrenos onde mais tarde foi erguido o edifício da Stock Exchange

de Londres.

A Bolsa de Londres irá sofrer um impulso significativo nos séculos XVIII e XIX

com o desenvolvimento industrial que provocou alterações no mercado de capitais. Ela

desempenhou igualmente um papel importante nos seguintes bens: cobre, estanho,

chumbo, lã, algodão, etc.

No entanto, o prestígio e a importância das Bolsas de mercadorias diminuem

com a intervenção do Estado após a crise de 1929. As cotações mundiais são

determinadas por intermédio de acordos internacionais, em que os Estados Unidos

desempenham um papel preponderante, assim como através de transacções livres.

Na França, apesar da criação em 1664 das companhias comerciais das Índias

Orientais e Ocidentais e da circulação de algumas obrigações da Coroa, como os billets

de l'épargne, a Bolsa no sentido moderno só surgiu mais tarde. O nome do local onde

se especulava, a Rue Quincampoix, dá-nos uma ideia das operações que os banqueiros

efectuavam. É neste período do século XVII e princípios do século XVIII que o escocês

John Law se toma figura importante em todo este movimento especulativo.

Devido a alguns resultados menos felizes, a Bolsa de Paris foi criada

oficialmente por um decreto de 1724, mas durante muitos anos “vagueou” de local em

local na procura de um edifício próprio.

Como já se referiu anteriormente, a expansão da indústria no século XIX atraiu

muitos investidores, que canalizavam as suas poupanças para o desenvolvimento da

rede ferroviária. Este desenvolvimento reflectiu-se nas Bolsas europeias e ainda na de

Nova lorque. A paixão pelos negócios da Bolsa era também a paixão pelo progresso.

Especulava-se desenfreadamente com acções, só pelo gosto do jogo, sem averiguar a

rendibilidade dos projectos. Não se compravam acções para investir dinheiro, mas

apenas para especular. Por outro lado, o desenvolvimento do sistema bancário e o

aparecimento da Bolsa de Valores facilitou a aplicação do capital privado. Na

realidade, o pequeno investidor pode investir pode investir em sociedades de

transportes, industriais e comerciais, através da aquisição de títulos da Bolsa.

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Apesar de ser pouco frequente, no início do século XX, as sociedades

recorrerem à Bolsa para obterem capitais privados, algumas delas conseguiram

também captar somas significativas.

Até ao início da Primeira Guerra Mundial, as sociedades industriais recorrem a

um número reduzido de capitalistas que constituem o grupo dos accionistas iniciais. A

Bolsa, através da emissão de títulos, foi importante para a expansão das empresas já

existentes, e raramente era utilizada para a formação de novas sociedades. Assim, até

finais do século XIX, as Bolsas da Europa ou dos Estados Unidos emitiam sobretudo

títulos governamentais ou de sociedades públicas, para fazer face às despesas públicas

crescentes ou a despesas militares, sem contudo esquecer as sociedades industriais.

A expansão da rede ferroviária faz-se sobretudo com o recurso à pequena

poupança atraída pela emissão de títulos da Bolsa, o que mostra a importância deste

tipo de mercado na Europa e nos Estados Unidos.

Os mercados financeiros anteriormente caracterizados sofreram quebras no

ritmo de funcionamento, o que é natural em consequência não só da sua actividade

especulativa mas também de factores económicos, políticos, sociais, psicológicos, etc.,

que os afectam.

Muitas crises podem ser mencionadas, tais como:

- a quebra do ouro em Wall Street no ano de 1867;

- o desastre financeiro da Bolsa de Viena em 1873;

- a sexta-feira negra de Berlim em Maio de 1927;

- o pânico de outra sexta-feira negra de Nova Iorque em 1929. A maior

catástrofe da história financeira, no meio de uma atmosfera de euforia económica

mantida artificialmente pelo governo americano.

Estas quebras na Bolsa, que afectaram não só a economia dos países mas

também o público, lançaram no desemprego e na miséria milhares de pessoas, o que

torna a Bolsa um mundo complexo onde os especuladores arriscam tudo por tudo à

procura de serem milionários, o que pode acontecer, mas os riscos que correm podem

lançá-los na miséria.

.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 18

Page 19: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

5.Mercado Bolsista Português de Valores Mobiliários

5.1.História

Em Portugal, a primeira Bolsa (Lisboa e Porto) surge no reinado de D. Dinis e

desenvolve-se principalmente no reinado de D. João I.

A Bolsa de Valores de Lisboa foi constituída em 1 de Outubro de 1901 como

instituição pública onde se transaccionavam títulos de crédito.

A Bolsa de Valores, como toda a economia portuguesa, sofreu os efeitos da

nova conjuntura política surgida após o 25 de Abril de 1974. A paralisação do mercado

secundário foi devida não só a factores políticos mas também psicológicos. A

conjuntura económica, política e social desfavorável não permitiu um funcionamento

normal desta instituição. É somente em 1976 que se dá a reabertura para o mercado

de obrigações e em 1977 para o mercado de acções.

Na década de 80, há boas perspectivas para o bom funcionamento deste tipo

de mercado concorrendo para que as empresas encontrassem aqui os meios

financeiros necessários para responderem às necessidades de actividade e expansão.

Verifica-se que o mercado de capitais (obrigações, acções, títulos de participação,

unidades de participação, etc.) tem um peso cada vez maior no financiamento da

economia do País, apesar de algumas dificuldades conjunturais tanto ao nível nacional

como ao nível internacional.

Nas últimas décadas, os mercados bolsistas sofreram profundas e rápidas

alterações na maior parte dos países, em consequência do aumento das necessidades

crescentes de investimento das economias nacionais. Surgem novas “espécies” de

valores mobiliários, que, juntamente com a informatização do mercado, facilitam a sua

expansão e contribuem para a sua internacionalização.

O mercado bolsista português não é excepção. Verifica-se nestes últimos anos

após 1974 um aumento do volume de transacções, das emissões de valores mobiliários

e uma evolução dos mercados financeiros internacionais. Estas e outras razões aliadas

à nossa adesão à CEE e à instituição de um mercado único europeu com uma moeda

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 19

Page 20: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

única, tal como foi estabelecido nos acordos de Maastricht, determinaram a

necessidade de uma nova legislação e de um novo dinamismo do mercado de capitais.

Como consequência dessas grandes alterações e da perspectiva de se instituir

um mercado único europeu foi criada em 1988, no âmbito do Conselho Nacional das

Bolsas de Valores, uma secção especializada presidida pelo Dr. Luís Sapateiro que

redigiu um novo regulamento - Diploma-Quadro do Mercado de Valores Mobiliários.

A presente reforma pretende dotar o mercado de normas sistematizadas que

devem reger a estrutura e o funcionamento dos mercados primário e secundário e

regular os comportamentos dos diversos intervenientes.

Na fase de aplicação do novo regulamento, o mercado de capitais nacional não

funcionava. Muito se falou sobre as causas da apatia do mercado de capitais e das

formas de o revitalizar. Apatia que, de um modo geral, ainda se verifica actualmente.

Quanto às causas, há a considerar sobretudo as seguintes:

- Factores de natureza intrínseca às empresas cotadas e ao mercado de

capitais;

- Factores conjunturais de natureza macroeconómica.

Em resumo:

1 - Verifica-se um baixo nível de liquidez de elevado número de papéis, em

resultado de baixos níveis de dispersão de capital. As empresas com menor número de

liquidez têm uma dispersão bem menor do que aquela que seria desejável para a

existência de um mercado com funcionamento regular. É necessária uma maior

dispersão do capital das empresas cotadas. Se as empresas precisam do mercado de

capitais para se capitalizarem têm que promover a dispersão do capital para conseguir

um mercado regular para as suas acções e um sistema eficiente dos preços e das

cotações;

2 - Falta de uma verdadeira cultura do mercado, que se traduz na falta de

conhecimento e atitudes dos investidores perante o mercado;

3 - A passividade de algumas empresas cotadas que entraram no mercado para

somente obterem benefícios fiscais;

4 - Falta de postura no mercado por parte das empresas cotadas no que diz

respeito à informação e tratamento dos accionistas;

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 20

Page 21: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Uma informação deficiente da informação prestada aos investidores é fruto de

deficiências estruturais dos sistemas de informação e gestão. As empresas cotadas

terão que apresentar uma nova postura de modo a atrair as poupanças dos

investidores. A cultura de mercado que ainda não existe em Portugal e nos

intervenientes afecta o funcionamento e desenvolvimento do mercado.

5 - Ausência de uma correcta política de remuneração de investidores por via

dos dividendos. A política de dividendos adoptada pela maioria das empresas é um

factor condicionante do imobilismo da Bolsa. O investidor português interessa-se

muito pela distribuição do lucro da empresa, num país em que não existe uma

verdadeira política de distribuição dos dividendos;

6 - Falta de confiança por parte dos investidores, em particular dos pequenos

aforradores. É importante esta confiança para investirem na Bolsa. É uma situação

difícil de ultrapassar em consequência do crash de 1987, onde muitos investidores

foram enganados e perderam muito dinheiro. É difícil aplicar as poupanças em

produtos que não estão a funcionar;

Há necessidade de tomar medidas que invertam a situação, uma vez que os

pequenos investidores são importantes na reanimação do mercado de capitais, não só

pelos investimentos que fazem directamente através de campos de acções e

obrigações como também indirectamente através dos fundos de investimentos ou

fundos de pensões.

Estes fundos de investimento terão um peso significativo no mercado se

tiverem meios financeiros para isso. Haverá necessidade de captar essas poupanças

dos pequenos aforradores. Em conclusão, poderá dizer-se que a reanimação do

mercado passa pela confiança dos pequenos investidores.

7 - A existência do imposto sobre as mais-valias é nefasto para o bom

funcionamento e desenvolvimento do mercado. Ele devia ser abolido para evitar que

muitos dos potenciais interessados se retraiam em investir ou a evitar que o façam;

8 - A dupla tributação dos dividendos. A distribuição dos dividendos é feita após

se terem tributado os lucros à taxa de 40%. Por sua vez, os dividendos são tributados a

25%.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 21

Page 22: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

9 - A ausência de uma correcta política de remuneração dos investidores

através dos dividendos, agravada pela tributação desfavorável;

10 - A manutenção de elevadas taxas de juro permite a aplicação de poupanças

em produtos com alta remuneração e com baixo risco (exemplos: Certificados de

Aforro, Bilhetes do Tesouro e outros títulos da dívida pública).

A baixa taxa de juro é importante para o mercado de acções porque diminui os

encargos financeiros das empresas industriais e porque são transferidos para aquele

mercado investidores e quantias do mercado de obrigações.

A redução da taxa de juro é mais um elemento significativo no alcance de

competitividade, em que a sobrevivência das empresas implica expansão, que por sua

vez implica financiamentos, sobretudo capitais próprios, sem os quais a situação

financeira se agravará.

Esta redução das taxas de juro implicará, como se compreende, maior recurso

ao mercado de acções por parte dos investidores devido às seguintes razões:

- Aumentará a propensão em investimentos em acções, uma vez que estes

títulos proporcionam maior rendibilidade. Contudo, terá que se rever a política de

distribuição de dividendos por parte das empresas;

- As empresas aumentarão o valor dos capitais próprios, fonte de

financiamento que lhes permitirá dinamizar o processo de expansão sem grandes

rupturas financeiras;

11 - Muitas empresas com peso significativo na economia ainda se

encontravam nas mãos do Estado. A competitividade e a eficiência aumentarão com a

reprivatização, que proporcionará outras alternativas aos investidores da Bolsa.

No início de 1993 o mercado bolsista em Portugal continuava com carências e

limitações. Os problemas que enfrentava eram os seguintes:

- Pouca liquidez do mercado;

- Pouca acção do pequeno investidor;

- Fraca importância do sector industrial. As Bolsas portuguesas são dominadas

pelos sectores financeiro e de distribuição ao contrário do que acontece nos países

evoluídos em que predomina o sector industrial. Em Portugal, por outro lado, as

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 22

Page 23: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

grandes empresas industriais são, ainda, estatais. As privatizações começaram pelo

sector financeiro. O dinamismo da Bolsa passa pelo sector industrial;

- Fraca informação sobre as empresas cotadas. As empresas não prestaram

informações atempadas e claras sobre a sua actividade. A fiscalização das suas contas

era para muitos, inadequada e, cria reservas à credibilidade do trabalho do revisor

oficial de contas;

- Elevados custos de transacções. Muitos investidores e operadores pensam

que é o próprio mercado que afasta os investidores. Os custos elevados não favorecem

o investimento;

- Regulamentação adequada para novos produtos financeiros. O mercado

bolsista precisa de ser dinamizado. O aparecimento de novos produtos atrai

investidores e aumenta a liquidez do mercado. Contudo é necessária regulamentação

que facilite a introdução de novos produtos financeiros no mercado;

A bolsa portuguesa integra, desde 2002, a Euronext, facto que lhe permitiu

adquirir um maior protagonismo a nível internacional, maior liquidez e participação no

sistema de negociação mais avançado do mundo. A Euronext é o primeiro mercado

bolsista pan-europeu e um dos maiores do mundo. Foi inicialmente criado pela fusão

das Bolsas de Valores de Paris, Bruxelas e Amesterdão, tendo sido alargado ao

mercado de derivados de Londres em 2001 e em 2002 às Bolsas de Lisboa e do Porto.

A Euronext veio conferir o nível de internacionalização e globalização

necessários para que a bolsa portuguesa e as empresas integrantes pudessem fazer

parte, de uma forma mais simples, das carteiras de investimento das grandes casas

mundiais de gestão de activos. Desta forma, Portugal pode acompanhar o

desenvolvimento das bolsas internacionais, beneficiando quer os investidores

nacionais, quer as empresas admitidas à cotação, introduzindo um factor fundamental

para o bom funcionamento do mercado de capitais – a liquidez.

Mais recentemente, a New York Stock Exchange (NYSE) – a maior bolsa norte-

americana – e a Euronext aliaram-se, criando-se assim holding cuja admissão a cotação

aconteceu em Abril de 2007. A NYSE Euronext opera o maior e mais líquido grupo de

bolsas do mundo e oferece o leque mais alargado de produtos financeiros e serviços.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 23

Page 24: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

5.2.Índices Bolsistas (PSI Geral e PSI 20)

Um índice bolsista é constituído por um cabaz de acções onde cada uma delas

detém um peso diferenciado, em função da sua capitalização bolsista. Isto significa que

podemos ter quantos índices quisermos, bastando para tal agrupar um conjunto de

acções com as características que se entender.

Em simultâneo com a existência dos índices bolsistas generalistas, podemos

ainda considerar os índices sectoriais que agrupam num mesmo cabaz as empresas

que actuam na mesma área de negócio (sector de actividade). Assim, é possível

conhecer, de uma forma isolada, apenas o desempenho das sociedades financeiras,

das empresas de construção ou das tecnológicas, entre outras.

Comecemos por falar dos índices mais conhecidos, partindo depois para

possíveis variações dos mesmos. O PSI 20 por exemplo, agrupa as 20 empresas de

maior capitalização bolsista cotadas na bolsa portuguesa, ou seja, são as 20 maiores

empresas de direito português, cotadas em bolsa, cujo capital se encontra disperso por

vários accionistas. O método de determinação da sua entrada no índice é, à

semelhança de outros índices, a dimensão do free float multiplicado pela cotação

(capitalização bolsista), tendo sempre em linha de conta a sua liquidez.

O PSI 20 é actualmente, o índice de referência da Bolsa Portuguesa, tal como o

BVL 30 o foi há uns anos atrás, até à integração da bolsa nacional na Euronext. Existe

ainda, para além do PSI 20, um outro índice mais alargado, denominado PSI Geral,

constituído por todas as acções admitidas à cotação no mercado de cotações oficial.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 24

Page 25: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

5.3.Banco de Portugal

O Banco de Portugal é o banco central do estado português sedeado em Lisboa.

Possui ainda uma filial no Porto, diversas agências no Continente e duas delegações

regionais (Madeira e Açores).

Fundado em 19 de Novembro de 1846, surge de uma fusão entre o Banco de

Lisboa e a Companhia Confiança Nacional. Até 1974, era uma sociedade anónima e

após o 25 de Abril foi nacionalizado.

De acordo com a sua Lei Orgânica, são órgãos do Banco o Governador, o

Conselho de Administração, o Conselho de Auditoria e o Conselho Consultivo.

O Banco de Portugal integra, desde o seu início, em 1998, o Sistema Europeu de

Bancos Centrais (SEBC) – constituído pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelos bancos

centrais nacionais da União Europeia (UE).

Nessa qualidade, o Banco de Portugal prossegue os objectivos e participa no

desempenho das atribuições cometidas ao SEBC.

É um banco com as seguintes missões:

Autorizar a formação de instituições e sociedades financeiras;

Colocar em circulação as moedas metálicas, incluindo as comemorativas;

Receber as reservas de caixa das instituições financeiras;

Supervisionar as actividades das instituições e sociedades financeiras, com o

objectivo de garantir/assegurar a estabilidade financeira das empresas;

Fiscalizar as instituições de crédito, através das câmaras de compensação de

títulos de crédito. Estas instituições funcionam junto dos bancos emissores e

proporcionam a liquidação de cheques que possuem, umas sobre as outras;

Acompanhar permanentemente as actividades das empresas financeiras após a

entrada no mercado financeiro, através de acções de inspecção.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 25

Page 26: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

5.4.Comissão do Mercado de Valores Mobiliários

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, mais conhecida pelas siglas

CMVM, é um organismo público independente, que foi instituído no mês de Abril de

1991 com o objectivo de supervisionar e regular os instrumentos financeiros derivados

e por conseguinte os mercados de valores mobiliários.

O grande papel da CMVM é a supervisão, que pode ser feita de várias maneiras:

Acompanhar constantemente a actividade das pessoas ou entidades que

intervêm no mercado de capitais com o intuito de descobrir actos ilícitos no que toca

às transacções em bolsa;

Fiscalizar o se os intervenientes cumprem as regras;

Aplicação de coimas aos infractores.

As pessoas ou entidades que estão sujeitas à supervisão por parte da CMVM

são:

Os emitentes de valores mobiliários;

Os intermediários financeiros;

Os consultores autónomos;

As entidades gestoras de mercados, de sistemas de liquidação e de sistemas

centralizados de valores mobiliários e entidades cujo objecto social seja a

compensação de operações em mercados de derivados sobre mercadorias;

Os investidores institucionais;

Os fundos de investimento;

Os titulares de participações qualificadas em sociedades abertas;

Os fundos de garantia, os sistemas de indemnização dos investidores e as

respectivas entidades gestoras;

Os fundos e as sociedades de titularização de créditos e ainda as sociedades

gestoras de fundos de titularização de créditos;

Outras pessoas que exerçam, a título profissional ou acessório, actividades

relacionadas com valores mobiliários.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 26

Page 27: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Esta supervisão é realizada presencialmente, ou seja, nos estabelecimentos das

instituições, através da Internet ou de outros meios electrónicos.

Outra das funções da CMVM é a regulação, que consiste na elaboração de

normas de modo a garantir o bom funcionamento de um sector da actividade

económica.

A regulação estende-se assim ao funcionamento dos mercados de valores

mobiliários, à realização de ofertas públicas e à actuação de todos as entidades que

operam nesses mercados.

Essa função é executada através de quatro grandes meios:

Regulamentos;

Instruções;

Recomendações;

Pareceres genéricos.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 27

Page 28: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

6.Os principais Índices Bolsistas Mundiais

Para quem negoceia em bolsa, mesmo que apenas na bolsa portuguesa, é

importante conhecer quais as principais bolsas mundiais e respectivos índices.

Neste capítulo, ilustram-se alguns dos mais importantes índices e respectivas

praças financeiras, assim como as principais empresas nelas cotadas. O critério da

escolha das praças financeiras e empresas que constam do quadro baseou-se na

importância que possuem na estrutura da economia mundial.

6.1.Os índices norte-americanos

A dimensão e importância das empresas cotadas, aliada a uma activa

participação no mercado accionista dos investidores norte-americanos, são alguns dos

factores que explicam a importância dos índices bolsistas deste país para o mundo dos

mercados financeiros. A forte e competitiva economia empresarial dos Estados Unidos

reflecte-se num mercado bolsista dinâmico e atractivo.

6.1.1.DOW JONES

Congrega as trinta maiores empresas industriais norte-americanas,

transaccionadas na New York Stock Exchange (NYSE). Os seus trinta componentes são,

por excelência, os títulos mais líquidos e com maior volume de transacções no mundo

dos mercados de capitais. Estão presentes em qualquer fundo ou carteira de

investimento em acções norte-americanas.

Designação da acção em

BolsaEmpresa correspondente Peso relativo

MCD UN Equity McDonald's Corp 4,79 %

KO UN Equity Coca-Cola Co/The 4,03 %

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 28

Page 29: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

JNJ UN Equity Johnson & Johnson 4,67 %

BA UN Equity Boeing Co/The 4,51 %

MSFT UW Equity Microsoft Corp 2,08 %

6.1.2.NASDAQ

É simultaneamente uma Bolsa de Valores e um índice de empresas

tecnológicas. São cerca de 3200 empresas de dimensões tão variadas como uma

Microsoft ou um pequeno site de venda de comida para animais. Aqui é preciso

separar o trigo do joio, dados os reduzidos requisitos que são necessários para ter uma

empresa admitida a cotação. Talvez seja mais prudente olhara apenas para as

empresas que integram o Nasdaq 100, que é um índice mais restrito, do qual fazem

parte as 100 empresas não financeiras com maior volume de negociação, capitalização

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 29

Fig. 1 - Evolução do DOW JONES entre 01-01-2007 e 31-12-2009

Page 30: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

bolsista e, consequentemente, liquidez. A sua negociação é praticamente contínua,

durante os períodos horários de laboração nos cinco continentes.

6.1.2.S&P 500

Criado inicialmente pela agência de rating Standard & Poors, com o objectivo

de reunir num índice mais alargado as 500 maiores empresas norte-americanas,

rapidamente foi adoptado pelos profissionais como referência.

Designação da acção em

BolsaEmpresa correspondente Peso relativo

AAPL UW Equity Apple Inc 15,26 %

GOOG UW Equity Google Inc 4,88 %

EBAY UW Equity eBay Inc 1,37 %

VOD UW Equity Vodafone Group PLC 0,77 %

ERTS UW Equity Electronic Arts Inc 0,34 %

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 30

Page 31: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

6.2.Os índices europeus

No contexto europeu, assumem um papel importante os índices nacionais das

maiores economias europeias, como o DAX na Alemanha, o CAC em França ou o

FOOTSIE no Reino Unido. Não se trata, portanto de índices com relevância

exclusivamente mo país a que pertencem.

A elevada dimensão e escala de actuação global das empresas que compõem

estes índices confere-lhes um protagonismo e importância a nível mundial que, por

exemplo, o PSI-20 não tem, sendo considerado um índice local.

6.2.1.DAX 30

Índice composto pelas trinta empresas alemãs com maior capitalização bolsista.

Designação da acção em

BolsaEmpresa correspondente Peso relativo

SIE GY Equity Siemens AG 10,80%

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 31

Fig. 2 - Evolução do S&P 500 entre 01-01-2007 e 31-12-2009

Page 32: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

ADS GY Equity Adidas AG 1,50 %

ALV GY Equity Allianz SE 7,18 %

DBK GY Equity Deutsche Bank AG 5,64 %

BAYN GY Equity Bayer AG 8,04 %

6.2.2.CAC 40

Índice composto pelas quarenta empresas francesas com maior capitalização

bolsista.

Designação da acção em

BolsaEmpresa correspondente Peso relativo

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 32

Fig. 3 - Evolução do DAX 30 entre 01-01-2007 e 31-12-2009

Page 33: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

RNO FP Equity Renault SA 0,95 %

OR FP Equity L’Oreal SA 2,68 %

BN FP Equity DANONE 3,55 %

FTE FP Equity France Telecom SA 4,48 %

SGO FP Equity Compagnie de St-Gobain 2,10 %

6.2.3.FOOTSIE 100

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 33

Fig. 4 - Evolução do CAC 40 entre 01-01-2007 e 31-12-2009

Page 34: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Índice composto pelas cem empresas inglesas com maior capitalização bolsista.

Designação da acção em

BolsaEmpresa correspondente Peso relativo

BARC LN Equity Barclays 2,49%

RR/ LN Equity Rolls-Royce Group 0,67 %

BAY LN Equity British Airways 0,19 %

BATS LN Equity British American Tobacco 3,07 %

BRBY LN Equity Burberry Group 0,20 %

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 34

Fig. 5 - Evolução do FOOTSIE 100 entre 01-01-2007 e 31-12-2009

Page 35: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

7.Mitos e Realidades da Bolsa de Valores

7.1.A Crise Financeira Transnacional de 2008

Começou por ser uma crise num segmento do mercado de crédito imobiliário

norte-americano, o subprime (credito hipotecário de alto risco), mas tornou-se num

furacão financeiro que, para vários especialistas, só tem comparação com 1929. E já

exigiu medidas extremas.

A profundidade da crise deve-se à conjugação de novos instrumentos

financeiros com uma bolha especulativa no mercado imobiliário. No curto prazo,

quando há uma bolha especulativa, embora as instituições saibam que um activo está

sobrevalorizado, se consideram que ficará ainda mais, então, é um bom investimento.

Mesmo que seja uma coisa sem valor, é uma mera questão de incentivos.

Foi o que aconteceu nos últimos anos. O furacão tem raízes profundas.

Esta crise surge na sequência de 30 anos de desregularão financeira. No que

toca aos produtos derivados, em particular, a sua expansão nos anos 90 levou vários

especialistas a recomendar maior regulação.

Mas Alan Greenspan opôs-se sempre, acreditando na auto-regulação de Wall

Street. As críticas ao antigo presidente da Reserva Federal Americana (entre 1987 e

2006) abrangem ainda a manutenção de juros muito baixos, durante muito tempo, o

que inflacionou a bolha imobiliária.

As instituições com exposição directa ao subprime começaram por reavaliar

esses activos em forte baixa, efectuando depois provisões. O impacte fez-se sentir nos

resultados e na situação de capital. Por falta de capital, os bancos viram-se forçados a

reduzir a sua actividade, e isso induziu uma queda ainda maior do preço dos activos, o

que, por sua vez provocou perdas ainda maiores, gerando um ciclo vicioso de

desalavancagem.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 35

Page 36: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Os maiores bancos tentaram contrariar este feito, reforçando o seu capital.

Os fundos soberanos (instrumentos adoptados por alguns Estados, com base

nas suas reservas internacionais) de países emergentes, com destaque para os Estados

produtores de petróleo, tomaram participações em grandes instituições financeiras

norte-americanas. Mas os dados estavam lançados e este movimento não foi

suficiente para quebrar o ciclo vicioso, reforçado pela perda de confiança nos bancos,

inclusive uns nos outros.

A resposta das autoridades tardou. Os líderes da Zona Euro pareciam incapazes

de uma resposta concertada. Nos Estados Unidos, o secretário do Tesouro, Henry

Paulson, anunciou um plano de resgate de 700 mil milhões de dólares, assente na

aquisição de activos tóxicos (instrumentos financeiros de alto risco) às instituições. Um

projecto muito criticado, que apenas passou no Congresso à segunda votação, após a

introdução de várias alterações.

Para Paul Krugman, o caminho seguido deveria ter sido diferente. O

economista advoga injecções directas de capital nas empresas financeiras. Deste

modo, o governo proporcionaria assim aos bancos o capital necessário para

funcionarem, travando a espiral descendente, em troca de uma participação

Os resultados foram visíveis de imediato. No dia 13 de Outubro de 2008, as

Bolsas subiram 10%, a nível global, na maior valorização diária de sempre, e o avaliar

das tensões possibilitou, por fim, a descida das Euribor (taxas de juro de mercado na

Europa). Mas, o problema não está resolvido. É preciso muito trabalho nas instituições,

nomeadamente na limpeza das carteiras.

Até isso ser feito, persistem muitos riscos. São preocupações partilhadas pelos

investidores e pela população em geral. Até porque a crise já se estendeu à economia

real. Cada vez mais economistas apontam para a possibilidade de uma recessão global.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 36

Page 37: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

7.2.As maiores Fraudes Financeiras

ALLEN STANFORD e BERNARD MADOFF: Os protagonistas de duas das maiores fraudes financeiras de todos os tempos

têm lugar de destaque na imprensa, lado a lado com os gestores dos grandes bancos e

fundos de investimento. Os resultados do modus operandi de uns e de outros são mais

parecidos do que poderia imaginar-se. Para os analistas, como o Nobel da economia

Paul Krugman, a linha que separa os crimes financeiros dos esquemas legais dos

grandes operadores nos mercados financeiros é cada vez menos perceptível.

Há burlões e vigaristas para todos os gostos entre os maiores casos de fraudes

financeiras dos últimos cem anos. Uns montaram esquemas piramidais ou de bola de

neve, como Bernard Madoff, uma versão de Robin Hood, que roubou aos ricos até

ficarem pobres. Outros na esperança de grandes lucros, bónus e prémios, limitaram-se

a fazer astronómicos negócios ruinosos, como Nick Leeson ou Jérôme Kerviel, ou a

falsificar os relatórios de contas das empresas, como o Kenneth Lay, o fundador da

Enron.

Entres esses e outros, o maior de todos em engenho e energia criminosa terá

sido o português Alves dos Reis, um falsificador de cheques que, a partir da prisão,

planeou e, depois, protagonizou, com meia dúzia de cúmplices, a maior fraude

financeira da época, a ponto de ter provocado uma crise de confiança no sistema

financeiro português.

A adrenalina dos maiores burlões, falsificadores e especuladores da História

tem sempre o seu equivalente na ingenuidade do lado das vítimas. Mas o que leva as

pessoas a roubar uma caixa de esmolas, um fundo de pensões, a falsificar relatórios de

contas ou, do outro lado da barricada, a entregar as suas poupanças a um estranho é,

no fundo, o mesmo mecanismo: a ganância. A selecção destas dez caras não podia

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 37

Page 38: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

obedecer a um critério quantitativo, já que, na maioria das fraudes, não se sabe ao

certo quanto dinheiro foi roubado, destruído, desviado, ao bolso, disperso ou, no caso

de relatórios de contas forjados, "inventando" e "fabricado". Ao incluir a D.ª Branca,

que não podia faltar, a perspectiva é obviamente portuguesa. De fora ficam casos

como o de Ramón Báez Figueroa, um ex-ministro da República Dominicana, que

fundou, e mais tarde afundou, um dos maiores bancos do país (num esquema tão

familiar como o do PBN ou o do BPP) ou as fraudes cometidas com cumplicidade dos

governos, como as privatizações na Rússia ou o desvio de fundos públicos de Angola ao

Zimbabué. Quanto à energia criminosa que pode libertar-se no mundo da alta finança,

há que ter em conta opiniões avisadas, como a do prémio Nobel da Economia Paul

Krugman, que, num artigo publicado no The New York Times, coloca a questão de

"qual é realmente a diferença entre a história de Madoff e a indústria de investimentos

num todo? ", para, logo de seguida, dar a resposta, "Madoff saltou uns passos,

simplesmente roubando o dinheiro dos clientes em vez de cobrar grandes comissões

para expor os investidores a riscos que não podiam “compreender" e, acrescenta, "no

fim, o resultado foi o mesmo: os gestores de fundos enriquecem; os investidores viram

o seu dinheiro desaparecer". Ao olhar para o estilo de vida dos grandes criminosos

(iates, ilhas paradisíacas, esqui e jactos particulares), convém não perder de vista o que

andam a fazer os gestores de fundos honestos, que se movem dentro da legalidade

(esqui, ilhas paradisíacas, iates e jactos particulares). Para Krugman, os custos da "Era

Ponzi", em que vivemos na últimas décadas, vão "muito além do desperdício de

dólares" e resultaram na corrupção generalizada do sistema, com os supervisores e os

políticos "a olhar para o lado quando o dinheiro fala". A análise da mecânica interna

dos crimes financeiros permite por vezes ver numa luz diferente, esquemas

contributivos perfeitamente legais. Num cartoon de Gary Varvel para o The Star, que

correu o mundo, Madoff está a ser interrogado por dois agentes num quarto escuro

sob a luz forte de um holofote. "Muito bem, Madoff, onde foste buscar essa ideia de

pagar a velhos investidores com o dinheiro de novos investidores?" Madoff acaba por

confessar, cabisbaixo: "Ao sistema de segurança social."

Charles Ponzi foi o padrinho de baptismo da fraude financeira em sistema bola

de neve. O seu esquema, no início do século passado, nos Estados Unidos, prometia

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 38

Page 39: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

uma rendibilidade de 50% em 45 dias e assentava num único mecanismo: pagar com o

dinheiro dos novos clientes os "lucros" dos velhos clientes. Como a bola de neve que

vai crescendo de tamanho enquanto rola, e só rola enquanto cresce de tamanho, a

coisa acabou por desfazer-se em flocos. Quando foi preso pela primeira vez, em 1920,

tinha 32 anos de idade e milhões de dólares de depositantes que continuavam a fazer

fila para lhe entregar as suas poupanças ao ritmo de 250 mil dólares por dia, uma

fortuna colossal na época. O esquema apresentava uma explicação lógica para os

lucros que prometia gerar. Tratar-se-ia de um negócio de arbitragem, em que Charles

Ponzi, comprando selos postais de resposta internacional fora dos Estados Unidos,

beneficiaria dos diferenciais das cotações franquias postais, conseguindo lucros, por

operação, na casa dos 400%. Ironicamente, a sua empresa chamava-se SEC, a mesma

sigla da actual polícia da bolsa norte-americana, criada no ano em que Ponzi saiu da

prisão. A bola de neve só parou de rolar quando um colaborador de Ponzi vendeu a

notícia ao jornal Boston Post. Num primeiro processo, Ponzi foi condenado a cinco

anos de prisão, mas interpôs recurso e saiu sob fiança. Foi de Nova Iorque para a

Florida, onde montou outro esquema: a venda de terrenos pantanosos com a

promessa de se valorizarem 200% em sessenta dias. Acabou por ser novamente preso

até 1934, ano em que foi deportado para Itália, o seu país de origem. Os italianos

receberam-no como herói e o governo de Musssolini arranjou-lhe um emprego na área

financeira. Mas Ponzi voltou a fazer tantas e tão boas que acabou por ter de fugir para

a América do Sul. Morreu no Rio De Janeiro em 1949, pobre e quase cego.

O pai de Alves dos Reis foi declarado insolvente no seu negócio de cangalheiro

quando o filho tinha dezassete anos. A partir dessa altura, Alves dos Reis começou a

dar provas de que preferia fazer dinheiro com os vivos. Migrou para Angola em 1916

com um diploma de Oxford falsificado. A rigor, não se tratava bem de uma falsificação,

mas sim de uma fabricação, porque a Polytechnic School of Engineering nem sequer

existia. Tornou-se num próspero e conceituado homem de negócios depois de

comprar a companhia dos Caminhos de Ferro Transafricanos de Angola com um

cheque sem cobertura. Já regressado a Lisboa, acaba por ser preso por desfalque e

tráfico de armas quando passa novamente cheques sem cobertura para comprar

outras empresas. Passa menos de dois meses na prisão por falhas processuais, mas o

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 39

Page 40: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

tempo é suficiente para engendrar o plano que o tornou numa incontornável

referência mundial entre os maiores burlões do planeta.

Até aos 28 anos, altura em que foi preso, teve a proeza de falsificar "notas

verdadeiras" num valor astronómico: duzentas mil notas de 500 escudos, o

equivalente a mais de 1 % do PIB de Portugal, a maior falsificação da história da banca,

utilizando um contrato falsificado do Banco de Portugal mas validado por autoridades

consulares alemãs, inglesas e francesas, e impressas por máquinas legítimas no Reino

Unido. Depois, não só as pôs em circulação, corria o ano de 1925, como ainda tentou

com esse dinheiro comprar a maioria das acções do Banco de Portugal, na altura uma

entidade parcialmente privada, e assim controlar o banco que tinha burlado. Acaba

por ser desmascarado por um artigo publicado em Dezembro de 1925 no jornal 0

Século. É condenado a vinte anos, oito de prisão e doze de degredo, e morre dez anos

mais tarde, já em liberdade, aos 58 anos.

Estima-se que o esquema de fraude tipo Ponzi que Bernard L. Madoff montou

derreteu mais 50 mil milhões de dólares dos seus clientes naquela que é actualmente

considerada a maior fraude financeira feita por um único burlão. Como conseguiu

Madoff enganar prémios Nobel, realizadores e actores de Hollywood, e banqueiros

espanhóis do Santander? Para quem já é rico, e esse era o perfil dos seus clientes, a

suprema felicidade e a garantia de taxas de rendibilidade de dois dígitos. Era isso que

Madoff vendia, o sonho de uma cornucópia incessantemente a “produzir” dinheiro. A

fórmula financeira que utilizava para conseguir taxas acima da média do mercado, mas

não muito acima para não levantar suspeitas, era tão secreta quanto inexistente:

Madoff não investia dinheiro: e a sua muito admirada estratégia de investidor era pura

ilusão. Limitava-se a angariar depósitos de investidores a quem ia pagando "lucros"

com o dinheiro de novos depositantes, que, por sua vez, eram pagos com as entradas

de sempre novos clientes. Filho de uma família de classe média e sem contactos

relevantes, mas já com fama de ser um jovem com futuro, dono da sua própria

empresa financeira, Madoff consegue ser admitido como sócio do Palm Beach Country

Club no início dos anos 60. A partir daí, vai aumentando, de ano para ano, a sua lista de

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 40

Page 41: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

clientes ricos. O princípio do fim do esquema de Madoff deu-se no final do ano

passado, quando um dos maiores investidores individuais do seu esquema Ponzi

pretendeu levantar sete mil milhões de dólares. O castelo de cartas desabou e Madoff,

aos 71 anos de idade, terá nessa altura confessado a burla aos seus filhos, que o

denunciaram às autoridades. Acabou por ser condenado a 150 anos de prisão em

Junho deste ano.

Kenneth Lay, o fundador da norte-americana Enron, foi condenado por fraude

financeira, mas morreu, aos 64 anos, dias antes de ser afixada a pena de prisão. A

implosão da Enron em 2001, um multinacional do sector energético com projecção

mundial, foi uma das maiores fraudes da História. Nos três anos antes de ser detectada

a gigantesca marosca contabilística, que acabou por arrastar consigo a empresa de

auditoria Arthur Andersen, Kenneth Lay vendeu mais de 300 milhões de dólares em

acções próprias, sabendo que a empresa estava tecnicamente falida. Nesses mesmos

anos, com base em números falsificados, convencia os empregados da empresa a

comprar acções. A empresa que estava avaliada em 66 mil milhões de dólares, depois

de desmascarada a fraude, ficou reduzida a cinzas, deixando dezenas de milhares de

funcionários sem poupanças e sem reformas.

Nick Leeson, responsável pelo mercado de derivados do banco Baarings,

conseguiu, a partir do seu escritório em Singapura, levar a centenária instituição

bancária à falência em poucas semanas e causou um prejuízo de mais de 827 milhões

de libras. À semelhança da fachada legal de Charles Ponzi, Leeson era suposto ganhar

dinheiro para o Barings com negócios de arbitragem, aproveitando as diferenças de

valor entre vários mercados. Em vez disso, e nisso distinguia-se de Ponzi, que se

limitava a desviar o dinheiro dos investidores, Leeson estava a comportar-se como um

jogador num casino, apostando dinheiro, que o Barings não tinha, na evolução futura

do mercado japonês e escondendo os prejuízos das apostas que ia perdendo, até que

o prejuízo arruinou o banco. Ainda tentou fugir à justiça, mas acabou por ser preso em

1995 no aeroporto de Frankfurt. Tinha, na altura, 27 anos e foi condenado a seis anos

de prisão que cumpriu parcialmente em Singapura. Por boa conduta, saiu após quatro

anos e, hoje, além de presidente do clube de futebol irlandês Galway United, é um

conferencista de sucesso no Reino Unido.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 41

Page 42: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

O corretor Jérôme Kerviel tinha causado, ao seu empregador, o banco francês

Société Générale, um prejuízo de quase cinco mil milhões de euros quando foi preso,

no início do ano de 2008. Sem o banco aparentemente se aperceber, Kerviel, na altura

com os seus 32 anos, montou uma carteira de negócios que correram mal no valor de

50 mil milhões de euros. Foi libertado depois de cinco semanas em prisão preventiva e

as autoridades francesas só concluíram as investigações no início deste ano. Deverá

voltar a tribunal em 2010, acusado de abuso de confiança, fraude informática e

falsificação de documentos. Entretanto, trabalha como consultor da empresa de

informática LCA, em Paris. A sua motivação continua a ser desconhecida, mas, numa

sondagem de Fevereiro de 2008, 77% dos franceses considerava Kerviel mais como

vítima do que como criminoso. E, para muitos, Jérôme Kerviel é uma espécie de anti-

herói, que conseguiu ludibriar os banqueiros elitistas da Société Générale, tendo sido

recentemente editada uma banda desenhada que o tem como figura principal.

Bernard John "Bernie" Ebbers, filho de um marinheiro e licenciado em Educação

Física, foi condenado, aos 63 anos de idade, a uma pena de 25 anos de prisão por

falsificação das contas da WorldCom, empresa da qual era presidente. A fraude

inflacionou o valor real da WorldCom em 11 mil milhões de dó1ares e, quando foi

detectada, em 2002, levou a empresa de telecomunicações à falência. A queda da

WorldCom desencadeou um dos maiores escândalos na história da bolsa norte-

americana e foi decisiva para a aprovação do Sarbanes-Oxley Act, uma lei para

melhorar a qualidade da informação divulgada pelas empresas cotadas nos Estados

Unidos. Pelo que se viu nos anos seguintes, a nova lei não serviu de muito.

Sergei Panteleevich Mavrodi fundou, em 1988, em Moscovo, a empresa MMM,

que prometia, aos seus investidores juros de 3000% (três mil por cento) ao ano. No

auge da sua actividade, a MMM chegou a ter 140 escritórios espalhados pela Rússia e

mais de dez milhões de clientes. A empresa não passava de um esquema Ponzi

particularmente descarado e que beneficiava da inexistente cultura económica da

população russa na era pós-soviética. Depois de o esquema desmoronar, em 1994,

Mavrodi, na altura com 39 anos, terá pressionado o governo a assumir os pagamentos

aos seus clientes, sob a ameaça de poderem causar uma guerra civil. 0 Kremlin

recusou-se, mas Mavrodi conseguiu ser eleito em 1994, ano em que o seu esquema

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 42

Page 43: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

implodiu, como deputado ao parlamento russo, como defensor dos depositantes que

tinha enganado.

A imunidade parlamentar de Mavrodi foi anulada em 1995 e o ex-deputado

andou fugido às autoridades até 2003. Condenado a várias penas sucessivas, acabou

por sair da prisão em Maio de 2007, depois de ter pago uma multa de 400 euros.

Aos 59 anos, o texano Allen Stanford viu-se, este ano, acusado de ter montado

um esquema Ponzi no valor de mais de 7 mil milhões de dó1ares. Foi detido pelo FBI

em Junho e apresentado em tribunal, onde se declarou inocente. Poucos analistas

duvidam, no entanto, que venha ser condenado e a polícia da bolsa norte-americana,

SEC, tem um sólido dossier que põe as suas operações a nu. Sir AlIen, distinguido com

o grau de cavaleiro pelo governo de Antígua e Barbuda, um país, nas Caraíbas, que o

bilionário dominava através de investimentos e empréstimos, apresentava-se como

descendente de uma família de banqueiros e familiar afastado do fundador da

Universidade de Stanford. Na realidade, Allen Stanford entrou no mundo dos negócios

com a Total Fitness of Temple, Inc., um ginásio em Waco, no Texas, e, em 1983, foi

condenado por ter 32 mil dólares de rendas em atraso. A entrada de Stanford no

mundo das finanças dá-se com a criação de uma empresa financeira off-shore em

Monserrate, outro pequeno território britânico nas Caraíbas, com o nome de Guardian

International Bank. Em 1986, funda o Stanford International Bank em Antígua e

começa a captar investidores na América do Sul e no México com campanhas de

anúncios em revistas e jornais prestigiados nos quais promete rendibilidades acima da

média. Nos últimos dez anos, tinha várias mulheres com quem vivia em vidas paralelas.

Levou algumas vezes congressistas e senadores norte-americanos a conhecer o seu

império em Antígua, mas, pelos vistos, o lobby político não resistiu às provas reunidas

pelo FBI e pela SEC.

Maria Branca dos Santos, descendente de uma família pobre e praticamente

analfabeta, mais conhecida por Dona Branca, operou, entre 1970 e 1984, um esquema

Ponzi em Portugal que pagava uma taxa de juros mensal de dez por cento, contra os

30% anuais do sistema bancário legal. Em Março de 1983, o jornal Tal & Qual publica

um artigo sobre as actividades de Dona Branca, mas, em vez de ficarem apreensivos,

os leitores acorrem em massa aos escritórios e o número de depósitos quadruplica em

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 43

Page 44: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

poucos meses. Pouco tempo depois, é Ernâni Lopes, o ministro das Finanças, quem

alerta para os riscos deste tipo de "investimentos". Agora sim, os depositantes,

assustados, invadem os escritórios de Dona Branca para reaver o seu dinheiro - tarde

demais para a maioria deles. A "Banqueira do Povo" acaba por ser presa em 1984, aos

82 anos, e condenada, em 1988, (a justiça portuguesa mói devagar) a dez anos de

prisão. Por razões de saúde, a sua pena é reduzida e sai em liberdade para morrer em

1992.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 44

Page 45: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

7.3.Segredos para Investir na Bolsa

Definir e estruturar uma carteira de investimento, que tire partido dos

momentos de subida das bolsas e simultaneamente possua uma estratégia que a

defenda dos ciclos de baixa, é talvez o maior paradigma de qualquer gestor de

carteiras.

De facto não existe uma carteira ideal, existem várias. Tudo depende do seu

perfil de risco e da sua autodeterminação em alcançar um objectivo, como por

exemplo, ganhar dinheiro em Bolsa de forma sustentada.

Conselhos úteis para um portfolio equilibrado:

Estar atento às entidades reguladoras oficiais que supervisionam o

mercado, como a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários ou o Banco de

Portugal;

Cuidado com os boatos que por vezes surgem. Estar atento à contra-

informação que frequentemente invade as notícias financeiras e evitar ser vítima de

uma onda especulativa;

Atenção às «modas». É aconselhável contextualizar temporalmente a

empresa que está a pensar comprar. Por vezes existem determinadas acções que

entram na «moda», movimentando volumes muito significativos de títulos. Contudo,

algum tempo depois podem cair no esquecimento dos investidores, e tornarem-se

autênticos «monos». A consequência é a redução de liquidez com o consequente

aumento de risco de queda sem recuperação;

Acompanhe de perto o trabalho do seu gestor dedicado e seja um

crítico construtivo. Praticamente todos os bancos e sociedades financeiras possuem o

serviço de gestão de carteiras. Este serviço é, regra geral, um serviço de qualidade

mas, nem sempre é isento;

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 45

Page 46: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Preservação do capital. Certifique-se que quando optar por um produto

de capital garantido está realmente a investir numa estratégia em que o seu capital

está protegido na maturidade. Evite investir por um período superior a 3 anos neste

tipo de produtos, em que apenas o capital é garantido, não tendo uma rentabilidade

mínima assegurada.

Optar por acções defensivas. Estas acções estão normalmente

desenquadradas com actividade económica, ou seja, a sua performance não está

directamente ligada ao ritmo de crescimento da economia. É o caso de empresas que

prestam serviços indispensáveis, como o fornecimento energético ou as indústrias

alimentares. Empresas como a BRISA, REN e EDP em Portugal, IBERDROLA e a ENDESA

em Espanha, a SUEZ e o CARREFOUR em França ou a E.ON na Alemanha são empresas

cujas acções não sofrem tanto quando as praças financeiras atravessam momentos

difíceis. O reverso da medalha é que também, por norma, não sobem tanto quanto o

mercado em geral, quando os tempos são de prosperidade económica. No entanto,

são sempre bons títulos para ter em carteira, numa óptica de diversificação do

investimento.

A diversificação está igualmente ligada ao investimento em diferentes

classes de activos.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 46

Page 47: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

7.4.Bulls and Bears

É talvez uma das mais famosas expressões do mercado accionista. Não tendo

um fundamento técnico, a expressão foi adoptada para caracterizar os mercados do

ponto de vista da sua tendência.

Bull, o touro. Representa uma tendência positiva, de subida e de ganhos

anunciados (bullish). Um touro ataca com movimentos de baixo para cima, daí a

origem do termo para classificar uma tendência ascendente.

Bear, o urso. Caracteriza um cenário negativo dos mercados, onde são

esperados tempos difíceis para as acções (bearish). Um urso ataca com movimentos de

cima para baixo, sendo por isso usado para ilustrar uma tendência descendente.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 47

Page 48: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

8.Instituições Financeiras

8.1.Instituicões Financeiras Monetárias

Este tipo de instituições possui capacidade para criar moeda com base nos

depósitos recolhidos e multiplicados através do crédito.

Os bancos e outras instituições de crédito, para além das suas actividades

fundamentais ligadas à recolha de depósitos e à concessão de crédito, prestam um

conjunto variado de serviços financeiros:

Emissão e colocação de acções e obrigações;

Emissão de cheques e de cartões de crédito ou de débito;

Aluguer de cofres;

Administração de carteiras de títulos.

8.2.Instituições Financeiras Não Monetárias

Estas instituições não estão habilitadas a receber depósitos, mas podem

receber poupanças e aplicá-las. Prestam serviços de ordem financeira como, por

exemplo, oferecer garantias bancárias, participar no capital de empresas, financiar

investimentos, etc., desempenhando, deste modo funções de intermediários

financeiros.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 48

Page 49: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

8.3. Banco Central Europeu, a Política Monetária e o Mercado Bolsista

O Banco Central Europeu (BCE) é o órgão da União Europeia responsável pela

política monetária da Zona Euro. Tem a sua sede localizada na cidade de Frankfurt,

Alemanha.

O BCE foi instituído em 1 de Junho de 1998 através do Tratado de Amesterdão.

É um dos bancos centrais mais importantes do mundo e é também o responsável pela

moeda única, o euro.

Um dos grandes objectivos deste órgão comunitário é garantir a estabilidade

dos preços na Zona Euro ou, por outras palavras, manter a inflação o mais baixa

possível.

Mas para conseguir satisfazer as suas funções, o BCE utiliza a política monetária

como instrumento.

A política monetária consiste num conjunto de decisões tomadas pelo BCE

(neste caso) com a finalidade de controlar a massa monetária em circulação (a oferta

de moeda) e, deste modo, a inflação e a actividade económica.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 49

A política monetária pode ser expansionista, caso pretenda aumentar a massa

monetária em circulação para dinamizar a economia ou retraccionista, caso o

combate à inflação seja o objectivo prioritário.

Os instrumentos mais utilizados são os seguintes:

• Taxa de desconto;

• Taxa de juro;

• Open market, isto é, operações em mercado aberto;

• Reservas bancárias;

• Limites ao crédito;

• Taxa de câmbio.

Page 50: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

As medidas variam consoante se pretende aumentar ou reduzir a oferta de

moeda numa determinada economia.

A aplicação destas medidas origina o aumento da moeda em circulação, pois o

crescimento das disponibilidades monetárias dos bancos, aliado à redução das taxas

de juro, incentiva o recurso ao crédito, fazendo aumentar o consumo e o investimento.

Estas medidas promovem, assim, o crescimento económico, mas podem

provocar tensões inflacionistas e um agravamento do défice externo.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 50

Medidas de uma política monetária expansionista

• Redução da taxa de desconto, para facilitar o recurso ao crédito por parte dos

bancos comerciais;

• Redução das taxas de juro, para facilitar a procura do crédito;

• Compra de títulos em open market pelo Banco Central aos bancos comerciais -

obrigações do Tesouro - para aumentar a liquidez destes;

• Diminuição das reservas bancárias, para promover o crédito;

• Inexistência de limites ao crédito;

• Revalorização da moeda nacional. Deste modo, as importações tornam-se mais

baratas; no entanto, as exportações perdem competitividade, porque serão mais

caras no mercado internacional.Medidas de uma política monetária retraccionista (estas serão opostas às

anteriores, uma vez que os objectivos são a redução da inflação e do défice

externo)

• Aumento da taxa de desconto para dificultar o recurso ao crédito por parte dos

bancos comerciais;

• Subida das taxas de juro, para diminuir a procura do crédito;

• Venda de títulos em open market pelo Banco Central aos bancos comerciais -

obrigações do Tesouro - para reduzir a liquidez destes;

• Aumento das reservas bancárias para limitar o crédito;

• Imposição de limites ao crédito;

• Desvalorizarão da moeda nacional. Deste modo, as importações tornam-se mais

caras e as exportações ganham competitividade, porque serão mais baratas para os

clientes externos.

Page 51: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Estas medidas podem provocar uma diminuição do consumo e do investimento

(Procura Global) com efeitos no crescimento económico e no emprego - a actividade

económica poderá entrar em recessão e as taxas de desemprego subirão.

Estas medidas, também denominadas deflacionistas, ajudam a estabilizar os

preços e o défice externo, mas podem conduzir à estagnação da actividade económica.

Desde sempre que a evolução e comportamento das taxas de juros das

principais moedas possui uma forte relação com o mercado accionista. Os estudos

empíricos sobre o comportamento dos mercados accionistas e das taxas de juro,

provam a existência de uma correlação inversa entre a variação das taxas de juro e a

variação dos índices accionistas:

- Se as taxas de juro sobem, o mercado de acções reage negativamente.

- Se as taxas de juro descem, os mercados accionistas tendem a ter um

comportamento positivo.

Um cidadão comum consegue aperceber-se do papel que as taxas de juro têm

na vida quotidiana da economia familiar, afectando de forma muito directa factores

tão simples como o poder de compra ou o valor das prestações do crédito à habitação.

No entanto, para um investidor, a tendência do movimento das taxas de juro tem um

efeito ainda mais marcante, pelo impacto produzido nos seus investimentos

financeiros.

Uma alteração da tendência do movimento das taxas de juro, quer seja ela de

sentido ascendente ou descendente, pode obrigar a uma alteração da estratégia de

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 51

Page 52: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

investimento, levando à tomada de novas decisões para evitar perdas e aproveitar

oportunidades.

Se, por um lado, uma monitorização constante dos movimentos das taxas de

juro pode ajudar a tomar decisões de investimento, por outro pode resultar numa

certa confusão para o investidor, devido à elevada volatilidade do mercado de juros.

Contudo, no momento em que for possível identificar uma tendência mais

definida do movimento num horizonte temporal mais alargado, esta tendência pode

ajudar a definir qual o impacto das taxas de juro na carteira actual e investimentos

futuros.

9.Activos Financeiros

9.1.Acções

As acções constituem parcelas de capital de uma empresa, sob a forma de

sociedade anónima, que conferem ao seu titular a qualidade de accionista. As acções

representam, para quem as detém, um património e conferem-lhe determinados

direitos.

Na verdade, o accionista tem o direito de poder receber uma parcela dos lucros

da empresa distribuídos anualmente, parcela essa que é proporcional ao número de

acções que possui. Os lucros a distribuir por cada acção designam-se por dividendos e

variam de ano para ano, consoante os resultados obtidos pela empresa. O accionista,

em geral, também tem o direito de preferência na subscrição de novos aumentos de

capital, podendo, assim, adquirir acções a um preço mais vantajoso que o restante

público. Além destes direitos, o accionista tem também o direito de voto na

Assembleia Geral da Sociedade, de acordo com os estatutos da mesma.

A posse deste tipo de títulos permite aos seus detentores a obtenção de mais-

valias ou menos-valias, consoante a variação do seu valor no mercado. Na realidade, o

valor das acções varia de acordo com a sua maior ou menor procura e esta, por sua

vez, está dependente das taxas de juro praticadas, das expectativas quanto à inflação e

do risco específico que a empresa em causa pode representar.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 52

Page 53: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Assim, quando as acções representam uma quota-parte de uma empresa em

crescimento que apresenta boas perspectivas de lucro, haverá muita gente interessada

em adquiri-las e pouca interessada em vendê-las. Então, a cotação dessas acções

subirá na Bolsa.

No entanto, o preço destes títulos está também sujeito, devido a movimentos

especulativos, a subir e a descer com relativa rapidez. É o que se designa,

habitualmente de risco especulativo.

Outros dos riscos deste produto financeiro resulta do facto do rendimento das

acções, que se apresenta sob a forma de dividendos, depender dos resultados da

sociedade e da sua política de distribuição dos mesmos.

Caso a sociedade seja dissolvida, o accionista tem o direito de receber uma

parcela do resultado da venda dos bens da empresa, depois de satisfeitos os

compromissos com terceiros. A quantia a que cada accionista tem direito é

proporcional ao número de acções que detém no momento da dissolução da

sociedade.

O titular das acções pode, se desejar, reaver o capital aplicado mediante a

venda dos seus títulos em Bolsa ou fora dela, correndo, no entanto o chamado risco de

liquidez, pois pode acontecer que não haja comprador no momento em que o

detentor das acções as pretenda vender, tendo depois de aguardar por esse momento.

Regra geral, e centrando-se nas acções normalmente transaccionadas em

bolsa, denominadas «acções ordinárias», estas conferem ao seu detentor o direito a

um dividendo correspondente à sua participação nos lucros da empresa de que é

accionista. Os dividendos podem ser distribuídos pelos accionistas ou ficarem na

empresa, sob a forma de Capitais Próprios. Esta decisão é tomada em Assembleia-

Geral, que, por norma, reserva parte dos lucros para serem reinvestidos na actividade

da empresa, libertando uma parte para serem distribuídos como dividendos entre os

accionistas.

Contudo, existem outros tipos de acções, nomeadamente:

Acções preferenciais: acções com prioridade sobre as acções ordinárias na

distribuição de dividendos.

João Fialho, Daud Habid e Duarte Martins 53

Page 54: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Acções com e sem direito de voto: que conferem ou não o direito ao seu

accionista de se fazer representar na Assembleia-Geral.

Golden shares: acções com privilégios especiais previstos em estatuto,

normalmente associadas a participações estatais estratégicas em empresas de

interesse nacional.

Acções convertíveis: acções que se convertem automaticamente em acções

ordinárias numa data específica.

Acções próprias: acções ordinárias da própria empresa readquiridas e mantidas

na carteira de investimento da empresa.

9.2.Obrigações

Uma outra forma muito comum de aplicar as poupanças é em obrigações. Estas

são títulos representativos de um empréstimo a uma empresa ou ao Estado e

conferem ao seu detentor a categoria de credor. As obrigações são remuneradas a

uma taxa de juro fixada na altura da emissão e são reembolsáveis dentro do prazo

fixado.

O investidor, ao adquirir uma obrigação, sabe o rendimento que vai obter, na

medida em que o juro é fixado na altura da emissão: a taxa de juro pode ser fixa

durante toda a vida da obrigação ou é indexada a certas taxas de referência,

nomeadamente à Euribor. O investidor sabe, também, quando e de que forma pode

reaver o dinheiro que aplicou (por sorteio, por pagamento total no termo do seu prazo

de vida, etc.) pois mo contrato de emissão ficam estabelecidas as formas e as

condições de reembolso.

As obrigações podem ser adquiridas, no momento do seu lançamento, ao

balcão das instituições de crédito que estão associadas à operação; caso estejam

cotadas, podem ser adquiridas através da Bolsa.

Caso se verifique liquidação da empresa, o investidor pode negociar as

obrigações que detém em Bolsa ou fora dela, reavendo, assim, o seu dinheiro. Na

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

qualidade de credor da empresa, o obrigacionista tem também possibilidade de

recuperar o seu investimento através da venda dos bens da empresa.

O risco que esta forma de aplicação das poupanças apresenta é variável, pois

depende do grau de solvabilidade da empresa emitente.

A emissão de empréstimos obrigacionistas tem como finalidade canalizar

directamente as poupanças para a actividade económica, proporcionando

financiamento sem necessidade de recurso ao crédito.

Existem diversos tipos de obrigações, dos quais destacamos os seguintes:

Obrigações de taxa fixa: para além de possuírem uma maturidade

predeterminada no momento da emissão, proporcionam um rendimento a

uma taxa de juro fixa;

Obrigações de taxa variável: neste tipo de obrigações, as taxas de cupão

de juro podem variar ao longo do período de vida do produto.

10.Derivados Financeiros

10.1.Mercado e Contrato de Futuros

O futuro é um contrato segundo o qual o comprador e o vendedor acordam um

preço relativo a uma transacção futura de um determinado produto (cereais, título da

dívida pública, etc.). Por exemplo na compra de cereais acordada hoje, a transacção e

o pagamento terá lugar ao fim de um certo tempo. Estamos perante a fixação de um

preço a prazo.

Há os mercados de futuros de produtos agrícolas, de futuros financeiros, etc.

Neste último caso, trata-se do mercado de futuros como instrumentos financeiros.

Se é possível a subida futura dos preços dos produtos, comprar-se-iam mais

futuros;

Se se verificar o inverso, a posição a tomar era de venda.

O objectivo a atingir nas duas situações anteriores era a obtenção de ganhos

com a flutuação dos preços.

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Page 56: Grupo 3

Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

A situação que se forma com o contrato de futuros é muito similar à das

opções:

- O investidor pode comprar ou vender um contrato. Se comprar regista lucros

se o preço subir e prejuízo se o preço descer;

- Só no momento do estabelecimento do preço de transacção é que há uma

relação directa entre o comprador e o vendedor. Depois disso surge a Bolsa como

intermediário.

Nos futuros os contraentes comprometem-se a entregar e aceitar um activo

numa certa data e local a um preço combinado previamente.

Este contratos dão direito a comprar ou a vender elementos activos:

- Financeiros (obrigações, acções, índices, divisas, taxas de juro e swaps);

- Commodities: bens ou mercadorias negociadas em Bolsa. Produtos como o

ouro, petróleo, café, trigo, açúcar, algodão, entre outros.

Os mercados estão em baixa. E depois? Uma das questões que frequentemente

que se coloca a qualquer investidor é o que fazer quando a Bolsa está em queda.

Existem vários instrumentos financeiros de uso mais generalizado, e que merecem o

devido destaque no nosso projecto, como os futuros, que permitem através de

posições curtas (short selling), tirar partido dos momentos de crise nos mercados.

No esquema seguinte aparece ilustrado a explicação de um dos métodos para

ganhar em Bolsa, num momento de quebra, designado de short selling.

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

11.Formas de Financiamento

11.1.Factoring

A actividade de factoring envolve três elementos: o factor, os cedentes dos

créditos e os devedores. As empresas aderentes a um contrato de factoring cedem os

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Fig. 6 – Como se faz short selling?

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

créditos que constituíram sobre os seus clientes (os devedores) ao factor, que

desempenha, desta forma, o papel de intermediário financeiro.

Ao tornarem os créditos em cobrança, podendo mesmo adquiri-los antes do

prazo de vencimento, estas sociedades (factor) estão a conceder crédito às empresas

que lhes transmitiram os seus títulos de crédito, as empresas cedentes, mediante a

aplicação de uma taxa de juro.

11.2.Leasing

O leasing ou a locação financeira é um tipo especial de financiamento do

investimento que consiste na cedência temporária do uso de um bem por parte do

proprietário, o locador ou sociedade de leasing, a um terceiro, o utente ou locatário,

mediante o pagamento de uma renda ou aluguer. O locatário, no termo de um prazo

convencionado, pode adquirir o bem cujo uso lhe foi cedido, mediante o pagamento

de um preço determinado. As sociedades de locação financeira podem exercer

operações de leasing mobiliário ou imobiliário.

11.3.Sociedades de Capital de Risco

As sociedades de capital de risco têm por função apoiar e promover projectos

de investimento e de inovação tecnológica em empresas, participando

temporariamente no respectivo capital, geralmente sob a forma de aumentos de

capital. Esses projectos, face à tecnologia utilizada ou ramo de actividade em que se

inserem, apresentam um risco mais elevado que a média dos projectos financiados

através dos empréstimos bancários.

Estas sociedades propõem-se, assim, assumir a incerteza inicial associada à

implementação de projectos de empresas que apresentem insuficiências financeiras,

mas tenham capacidade de gerar rendimento no futuro.

Para além da participação temporária no capital social das empresas a apoiar,

estas sociedades prestam também assistência na gestão financeira, técnica,

administrativa e comercial.

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

Os recursos das sociedades de capital de risco são obtidos através de

empréstimos, de capitais próprios fornecidos pelos accionistas e de lucros de

operações anteriores.

12.Glossário

Cotação de um título - preço de um título no mercado da Bolsa, resultante da

compatibilização das vontades de quem oferece e de quem procura.

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Crédito - cedência temporária de valores monetários mediante uma determinada

remuneração – juro.

Crédito a curto prazo – crédito concedido por prazo inferior a um ano.

Crédito a longo prazo – crédito concedido por um período superior a 5 anos.

Crédito a médio prazo – crédito concedido entre um a cinco anos.

Dividendos – lucros a distribuir pelos sócios ou accionistas.

Instituições financeiras – agente económico cuja principal função é financiar a

actividade dos agentes económicos. Prestam serviços financeiros.

Instituições financeiras monetárias – recebem depósitos e concebem financiamento

(crédito). Por exemplo, os bancos.

Instituições financeiras não monetárias – concedem financiamento mas não recebem

depósitos. Por exemplo, as sociedades de leasing, as bolsas, etc.

Liquidez – capacidade de conversão de um título em dinheiro. Um elevado grau de

liquidez significa que a conversão e fácil. Uma baixa liquidez significa dificuldade em

converter um título em dinheiro, por exemplo, é difícil vender um determinado

número de acções.

Market Maker – membro do mercado de futuros e opções que tem por função

específica assegurar liquidez para os contratos relativamente aos quais se compromete

a actuar nessa qualidade.

Mais-valia – ganho obtido pela diferença entre o preço de compra de um título (valor)

mobiliário.

Menos-valia – perda derivada do preço de venda do título mobiliário ser inferior ao

seu preço de compra.

Sociedades correctoras – compram e vendem valores mobiliários (acções ou

obrigações) em bolsa em resultado de ordens dadas pelos seus clientes.

13.Conclusão

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

A integração de Portugal na Europa e no Mundo passa pelas empresas. Elas

terão que adquirir dimensão, maior racionalidade e competitividade, diversificação de

actividades e fontes de financiamento e sobretudo capitais próprios. As pequenas e

médias empresas não têm capitais próprios suficientes, os grupos económicos estão a

ficar descapitalizados com a aquisição de empresas a reprivatizar. Resta o recurso à

Bolsa de Valores.

Um mercado de capitais e o seu desenvolvimento deve reflectir o universo

económico e empresarial de modo a contribuir para a modernização do tecido

empresarial. Ele será um espelho da economia que temos e da capacidade que o país

tem de ultrapassar os seus problemas estruturais, reduzindo a sua dependência dos

fundos e dos subsídios comunitários que, não devendo ser rejeitados não poderão ser

considerados como a salvação do país.

Na fase de reestruturação da economia portuguesa, a Bolsa é um importante

elemento de modernização de empresas e um instrumento indispensável na aferição

da sua dimensão e competitividade.

É certo que os mercados têm altos e baixos. Contudo, mesmo num momento

de queda generalizada das bolsas, um investidor pode ter lucros e virar a seu favor um

mercado accionista que teima em cair. E nada mais que seguir alguns dos conselhos e

das dicas que aqui deixámos, nomeadamente no subtema dos Mercado e Contrato de

Futuros, bem como no subtema dos Segredos para Investir na Bolsa.

As acções são por excelência o activo que faz a diferença numa carteira de

investimentos. São elas que, a longo prazo, dão o «empurrão» necessário aos, para

que o dinheiro ganho em Bolsa tenha realmente relevo e importância para o

investidor.

A palavra-chave de qualquer investimento é, sem dúvida, a diversificação. Seja

qual for o seu perfil de risco, mesmo sendo um investidor agressivo, não por todos os

ovos no mesmo cesto vai ajudá-lo a, mais do que ganhar nos mercados, não perder

desnecessariamente. No actual panorama financeiro, não existem motivos para

considerar que a Bolsa é só para os entendidos.

14. Referências

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Anatomia do Mercado Financeiro e Instituições Financeiras

14.1.Bibliográficas

PAIS, Maria João, OLIVEIRA, Maria da Luz, GÓIS, Maria Manuela, CABRITO e Belmiro

Gil, ECONOMIA A 10º, Texto Editores, Lisboa, 2007.

PAIS, Maria João, OLIVEIRA, Maria da Luz, GÓIS, Maria Manuela, CABRITO e Belmiro

Gil, ECONOMIA A 11º, Texto Editores, Lisboa, 2008.

PAIS, Maria João, OLIVEIRA, Maria da Luz, GÓIS, Maria Manuela, CABRITO e Belmiro

Gil, ECONOMIA C 12º, Texto Editores, Lisboa, 2009.

BELLETANTE, Bernard e TINTO, Germano Rio, DICIONÁRIO DA BOLSA E DOS

MERCADOS, Plátano Editora, Lisboa, 1997.

MATOS, Fernando Braga, GANHAR EM BOLSA, Dom Quixote, Lisboa, 2007.

14.2.Sitografia

http://www.euronext.com/landing/indexMarket-18812-EN.html

http://w3.ualg.pt/~fcardoso/Anexo%205%20-%20MMI.pdf

http://www.bcv.cv/_conteudo/AGMVM/apoioaoinvestidor/ApoioInvestidor.pdf

http://bolsa.rtp.pt/graphique.html?ticker=PSI20&pays=PT&TypeChart=5

http://www.cmvm.pt/NR/rdonlyres/37FA3721-0391-4B60-B6DA-

A12EAB190186/12039/EvolucaoGlobal.pdf

http://www.bloomberg.com

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