Date post: | 06-Dec-2015 |
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
LIDIANE APARECIDA ALVES
MERCADO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA:
Especificidades de sua Dinâmica e Características de seu
Entorno
Uberlândia
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
LIDIANE APARECIDA ALVES
MERCADO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA:
Especificidades de sua Dinâmica e Características de seu
Entorno
Monografia apresentada ao Instituto de Geografia da
Universidade Federal de Uberlândia, como requisito à
obtenção do título de bacharel em Geografia.
Orientador: Professor Dr. Vitor Ribeiro Filho
Uberlândia
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
Lidiane Aparecida Alves
MERCADO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA:
Especificidades de sua Dinâmica e Características de seu
Entorno
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Vitor Ribeiro Filho (Orientador/ UFU)
Prof.ª Dra Beatriz Ribeiro Soares (UFU)
Prof. Dr.William Rodrigues Ferreira (UFU)
Uberlândia, 16 de dezembro de 2009.
À minha família, especialmente aos
meus país, José Eustáquio e Helena, a
base de tudo.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, pelas bênçãos concedidas, por me acompanhar e iluminar
os meus passos, proporcionando forças para superar todas as adversidades e conseguir
alcançar os meus objetivos.
Á todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a que a realização deste
trabalho se concretizasse. Aos amigos, familiares, professores, instituições, entre outros,
minha gratidão. Dentre esses, agradeço especialmente:
Ao Professor Vitor Ribeiro Filho, pela orientação profissional e justa, pelos conselhos,
amizade, paciência pelo apoio nos momentos difíceis e de incertezas durante a realização do
trabalho.
Aos professores, William Rodrigues Ferreira e Beatriz Ribeiro Soares, que aceitaram
participar da banca examinadora;
Aos professores do Instituto de Geografia da UFU, que acompanharam minha trajetória e
muito contribuíram para minha formação;
Aos funcionários do Instituto de Geografia da UFU, especialmente a secretária Mizmar, por
sua dedicação e gentileza nos esclarecimentos de dúvidas, que às vezes apareciam;
A todos os integrantes do LAPUR ((IG/UFU) pelo companheirismo e amizade;
As coleguinhas de apartamento Cintia, Delcilene e Michelly, por todos os momentos que
experimentamos juntas;
Aos colegas e amigas(os) da 50ª turma do amigos do curso de Geografia, Artur, André,
Cintia, Renata, Mariah, Dayane, Michelly, Andrêza, Kássia, Camilla, Elaine...
Aos amigos das demais turmas do curso de Geografia Matteus, Naiara, Alécio, Marcus,
Rosi, Luizão, Flávia...
A minha família (meus, pais, irmãos, tios e primos) grandes incentivadores da continuidade
nessa jornada, grandes amigos, conselheiros, meu porto seguro.
A todos os entrevistados que gentilmente forneceram as informações solicitadas, sem as
quais essa pesquisa não teria sido possível;
A todos meu muito obrigada!
As cidades, como sonhos, são const ituídas por desejos e medos,
ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que suas regras
sejam absurdas, as suas perspect ivas enganosas, e que todas as co isas
escondam uma outra coisa.
Ítalo Calvino, As cidades Invisíveis.
RESUMO
Esta pesquisa tem como escopo analisar a dinâmica do Mercado Municipal de
Uberlândia e de seu entorno ao longo dos 65 anos de sua existência. A fim de
compreender as transformações socioespaciais, bem como o papel do Mercado
Municipal de Uberlândia no decorrer do período considerado, fez-se necessário a
realização de um resgate sobre o processo de reestruturação urbana, os processos de
centralização e descentralização e suas respectivas formas, a questão do centro e da
centralidade urbana e suas transformações. Foram também pesquisados trabalhos
acadêmicos que abordassem o processo de urbanização, os aspectos relevantes para o
desenvolvimento, bem como o processo de reestruturação espacial de Uberlândia, com
o intuito de buscar compreender a estruturação do seu centro. Além disso, foram
realizados trabalhos de campo. A partir da concretização desse trabalho conclui-se que o
Mercado Municipal de Uberlândia, assim como a área em seu entorno assumiu, distintas
configurações, de acordo com os desígnios de determinado período histórico. Assim, o
Mercado Municipal de Uberlândia foi inicialmente uma centralidade no comércio
atacado e varejista de hortifrutigranjeiros, atravessou um período de crise, e, nos últimos
anos enquanto patrimônio histórico cultural e com a revitalização adquiriu um novo
poder polarizador. A área em seu entorno, por sua vez, inicialmente residencial,
atualmente centraliza significativa quantidade de serviços ligados à saúde.
Palavras-chave: Uberlândia, Dinâmica, Área central, Mercado Municipal.
ABSTRACT
This research has the aim to analyze the dynamics of the Mercado Municipal de
Uberlândia and its neighbourship area over 65 years of its existence. In order to
understand the socio-spatial processing, as well as the role of the Mercado Municipal de
Uberlândia during the period considered, was necessary to carry out a rescue on the
process of urban restructuring, the processes of centralization and decentralization and
their forms, the question of central and of centrality urban and its transformations. We
also studied studies that approach the urbanization process, the points relevant for the
development and the process of spatial restructuring of Uberlândia, with intention to try
to understand the structure of its central. Moreover were carried out fieldwork. With
execution this study, concluded that the Mercado Municipal de Uberlandia, as well its
neighbourship won different configurations, according to the designs of certain
historical period. Thus, the Mercado Municipal de Uberlândia was initially a central
position in the retail and wholesale trade of fruits and vegetables, went through a period
of crisis, and in recent years as cultural inheritance and revitalizing won a new power
polarizer. Its neighbourship area, initially residential, now centralizes a lot of healthcare
services.
Keywords: Uberlândia, Dynamics, Dowtown, Mercado Municipal de Uberlândia.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Teoria das Zonas Concêntricas ------------------------------------------- 19
Figura 2: Teoria dos Setores -------------------------------------------------------- 21
Figura 3: Teoria dos Núcleos Múltiplos-------------------------------------------- 22
Figura 4: Uberlândia-MG - localização da cidade-------------------------------- 44
Figura 5: Uberberabinha- MG – Planta da Cidade em 1927-------------------- 54
Figura 6- Projeto do Mercado Municipal elaborado pelo arquiteto Celso José
Werneck, sem data. Belo Horizonte
56
Figura 7 Uberlândia- MG – Mercado Municipal na década de 1940---------- 57
Figura 8: Uberlândia- MG – Mercado Municipal durante seu período de
crise -------------------------------------------------------------------------
63
Figura 9: Uberlândia – MG – Variedade de Produtos comercializados no
Mercado Municipal-------------------------------------------------------
65
Figura 10: Uberlândia- MG – Mercado Municipal durante processo de
restauração -----------------------------------------------------------------
69
Figura 11: Uberlândia – MG – Eventos promovidos após a Revitalização do
Mercado Municipal ------------------------------------------------------
70
Figura 12: Uberlândia- MG –Mercado Municipal após o processo de
Restauração ---------------------------------------------------------------
72
Figura 13: Uberlândia- MG –Box de Seu Chico no Mercado Municipal ------ 73
Figura 14: Uberlândia- MG - Estabelecimentos de serviços de saúde no
entorno da Avenida Getúlio Vargas – Zona Central -----------------
76
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: População por situação de domicílio em Uberlândia MG
(1950 – 2007) --------------------------------------------------------
45
Tabela 2: População residente em Uberlândia, por local de nascimento:
1991 e 2000 ----------------------------------------------------------
46
Tabela 3: Uberlândia-MG: Evolução dos Estabelecimentos por
Atividade Econômica – 2001 – 2006------------------------------
46
Tabela 4: Uberlândia-MG: População ocupada por setores 1991 e 2000- 47
Tabela 5: Uberlândia- MG: Estrutura Fundiária/Propriedades Rurais
(2005)------------------------------------------------------------------
47
Tabela 6: Uberlândia - MG: Efetivo do Rebanho (2007) ------------------ 48
Tabela 7: Uberlândia – MG: Total de Empresas Formais por Subsetores
do Setor Terciário de Atividade Econômica - 2001/2006 -----
49
Tabela 8: Uberlândia - MG: produto interno bruto (PIB) a preço de
mercado corrente total, em reais (1999-2005)-------------------
49
Tabela 9 Estabelecimentos Ligados à Área da Saúde – Zona
Central/Uberlândia --------------------------------------------------
76
SUMÁRIO
1. A REESTRUTURAÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO
INTRA-URBANO
1.1. Os Conceitos e Modelos sobre a Organização Interna das Cidades --------- 18
1.2. O Processo Espacial de Centralização e a Formação da Área Central ------ 24
1.3. A Reestruturação Urbana: O Processo Espacial de Descentralização e as
Novas Centralidades --------------------------------------------------------------
28
1.4. Área Central: Núcleo Central e Zona Periférica do Centro ------------------ 30
1.5. Área Central: Decadência versus Revitalização?------------------------------ 35
2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS ASPECTOS DO PROCESSO DE
REESTRUTURAÇÃO ESPACIAL EM UBERLÂNDIA
2.1. As Transformações Políticas e Econômicas no Século XX e seus
Reflexos em Uberlândia ---------------------------------------------------------
39
2.2. Caracterização Sócio-demográfica de Uberlândia no Contexto Atual------ 43
3. O MERCADO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA E SEU ENTORNO:
PERMANÊNCIAS E TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS
3.1. Origem do Mercado Municipal de Uberlândia e as Principais
Características de seu entorno ---------------------------------------------------
51
3.2. Os Períodos de Transição Atravessados pelo Mercado Municipal de
Uberlândia ------------------------------------------------------------------------
60
3.3. O Mercado Municipal de Uberlândia e seu Entorno ------------------------- 67
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS---------------------------------------------------- 78
5. REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------ 81
6. APENDICE - Roteiro de entrevista utilizado na pesquisa de campo-------- 87
12
INTRODUÇÃO
O período atual, chamado por vários atores de pós-modernidade, é marcado pela
a intensificação do processo de urbanização, e pela consolidação e desenvolvimento de
um extenso número de cidades e vilas, concentrando o alto volume populacional que se
classifica como urbano. Esse processo ocorre em escala mundial, contudo há que se
destacar que seus efeitos apresentam particularidades de acordo com o nível de
desenvolvimento de cada país. Diante desse quadro, somos colocados diante de vários
desafios e inquietações conceituais e metodológicas, concretizando um campo fértil
para estudos sobre os fenômenos urbanos, bem como sobre a dinâmica das cidades.
No âmbito das transformações dos espaços urbanos Carlos (2004, p.9) aponta,
dentre outros, como principais desafios impostos àqueles que se dedicam a esses
estudos: a necessidade de redefinição desse espaço, colocando no debate a diferenciação
entre cidade/urbano, nesse ponto devem ser consideradas as contribuições de Santos
(1996, p.70) onde o urbano revelaria o “abstrato, o geral, o externo”, enquanto a cidade
pertenceria ao “concreto, o particular, o interno”; as constantes transformações na
morfologia do espaço urbano fruto de seu processo de reestruturação, sendo nesse caso
comum a busca pelo novo como sinônimo de progresso e modernidade1; o
estabelecimento de novas relação espaço-tempo e de gestão do espaço da cidade, como
produto da inovação da racionalidade imposta pelo novo processo produtivo; a criação
de uma nova urbanidade, marcada pela valorização dos objetos e pelo individualismo; o
aumento da apropriação do espaço por estratégias capitalistas, onde o espaço destinado
ao consumo passa a ser consumido para a reprodução do capital; o deslocamento das
atividades de comércio, serviços e lazer gerando a implosão da cidade e a criação de
novas centralidades.
As cidades são conceituadas por Souza (2005, p.26) como assentamentos
humanos extremamente diversificados, onde predominam as atividades econômicas que
não dependem da fertilidade do solo para se realizarem, como a produção industrial e as
atividades terciárias; além disso, caracterizam se como espaços de gestão do território,
sob a óptica da economia, do poder e da cultura, portanto, na medida em que nas
1 Em relação à modernidade desejada pelas cidades, Santos (1996, p.35) coloca que não existe apenas
uma, mas uma sucessão de modernidades, assim, seria adequada à utilização da terminologia
modernizações sucessivas, cada uma com suas formas próprias.
13
cidades ocorre à apropriação e transformação do espaço pelo homem, estas constituem
entidades socioespaciais complexas, produzidas historicamente.
Assim sendo, a cidade e seus espaços internos apresentam-se em constante
movimento segundo suas leis próprias, revelando permanências, transformações,
deteriorações, revitalizações e refuncionalizações de acordo com os valores adotados
pela sociedade impostos pelo novo modo de produção capitalista. Os processos da
dinâmica urbana, nas cidades capitalistas, seriam determinados pelas ações dos agentes
sociais produtores do espaço, cujas ações, grosso modo, estariam vinculadas aos
desígnios mercadológicos, visto que as cidades são ambientes privilegiados para a
produção e consumo de bens e mercadorias, necessitando para tanto de espaços
específicos para a concretização desses processos. As atividades urbanas possuem
grande capacidade de adaptação de acordo com a demanda, como isso cada momento é
marcado por diferentes padrões de produção e consumo, assim como de relações sociais
que, por conseguinte reflete em diferenciações espaciais.
Na atualidade, verifica-se nas cidades a presença de novos padrões de consumo,
e paralelamente, a materialização de diferentes tempos históricos. No processo de
globalização, visto enquanto um meio para a reprodução capitalista, o mercado faz com
que seja crescente a necessidade de consumo, nesse caso, insere-se o dispêndio de
espaços por meio da apropriação da arquitetura e tradição de elementos históricos para
fins turísticos, econômicos e culturais. Em relação aos espaços destinados ao consumo,
também faz-se cada vez mais comum a suas refuncionalização e/ou a revitalização.
Como exemplos, do primeiro processo pode-se citar a reestruturação e
refuncionalização de antigas construções para a acomodação de atividades de caráter
mercadológico, como os shopping centers. No contexto brasileiro, o Shopping Muller2
localizado na cidade de Curitiba e o Paço Alfândega3 na cidade de Recife demonstram a
concretização desse processo. Quanto à revitalização de espaços destinados as
atividades comerciais, esse processo ocorre com maior constância, visto que a
dinamicidade da cidade demanda a necessidade de mudanças com maior freqüência a
2 Esse shopping foi inaugurado no ano de 1983, após reestruturação do edifício que data do ano de 1878,
e que outrora abrigava a fundição Marumby, também conhecida como a fábrica dos irmãos Muller. Para
mais detalhes: HTTP://www.shoppingmuller.com.br.
3 Esse shopping foi inaugurado no ano de 2003, após a reestruturação de um edifício construído em 1732,
destinado inicialmente a abrigar um convento e posteriormente uma alfândega.
14
fim de assegurar a permanência de atividades tradicionais, além da inserção de outros
novos usos. A recente revitalização do Mercado Municipal de Uberlândia, e de outros
mercados, inserem nesse caso.
Um dos pontos de partida fundamentais para os estudos de Geografia Urbana
consiste no domínio conceitual das categorias de análise geográficas, assim como dos
conceitos de forma, função, estrutura e processo, afinal a cidade e o urbano consistem
em objetos de estudo complexos, e para tanto, necessita para a sua compreensão de um
ponto de vista holístico, que permita a apreensão do particular, sem negligenciar o geral.
Assim, torna-se possível ver cidade enquanto totalidade, que reúne, ao mesmo tempo,
elementos gerais e particulares, cuja estrutura é reflexo do modo como se concretiza a
vida urbana, a produção de formas e estruturas pelo homem, as quais resultam o urbano,
que nada mais é que a condição, meio e produto das ações realizadas pela sociedade ao
longo do tempo.
Em relação ao conceito de espaço, a sua utilização em qualquer que seja o foco
do estudo é essencial, pois a partir dele apreendemos a dimensão histórica, ou seja, a
mutabilidade espaço-temporal. Apesar da multiplicidade de sentidos atribuída ao
“espaço”, acredita-se que sob um viés geográfico, a definição de Santos (1996, p.110)
segundo a qual o espaço é a “reunião dialética de fixos e de fluxos; o conjunto
contraditório, formado por uma configuração territorial e por relações de produção,
relações sociais, formado por um sistema de objetos e um sistema de ações” apresenta-
se satisfatória.
Todavia, o espaço reflete a situação presente, sendo assim e diante da
dinamicidade que marca o espaço urbano, somente esse conceito pode mostrar-se
insuficiente, fazendo necessário, complementarmente, a utilização de outras categorias.
Nesse sentido, a adoção de pressupostos da categoria “paisagem” mostra-se muito
adequada, visto que a paisagem está contida no espaço mantendo suas especificidades,
podendo, dessa maneira enriquecer as analises que abarquem objetos presentes no
espaço geográfico.
Em relação à paisagem, Santos (1996, p.68-69) afirma que esta é transtemporal,
ou seja, diz respeito ao conjunto de formas naturais e artificiais de diferentes momentos
históricos, passíveis de serem vistos, que caracterizam uma área. Além disso, as
paisagens são únicas e materialmente constituídas, sendo suas formas e objetos
determinados por condições técnicas específicas, podendo coexistir diferentes
15
momentos históricos. Nesse sentido, se comparadas com o espaço que é um sistema de
valores e, portanto, está em permanente transformação e com formas abrigando funções
atuais, as paisagens por serem sistemas materiais apresentam certa imutabilidade, visto
acumulação de diferentes momentos.
Partindo desse raciocínio, de que a paisagem representa a acumulação de formas
de vários tempos históricos, deve-se compreender que a mesma, simultaneamente,
representa o passado e o presente, e assim, conforme destacado por Santos (1996) de
acordo com o funcionamento da sociedade apresenta o seu funcionamento. Daí a
importância de abordar nos estudos que envolvem formas/paisagens urbanas o processo
de criação e desenvolvimento das mesmas, indicando sua evolução histórica, pois as
formas retomam elementos do passado, e dentro de certos limites, assinala um vínculo
do presente com o passado, principalmente por meio das memórias.
Para apreender a concretização de diferentes formas e funções, é necessário além
do domínio da dialética das noções relacionadas à base material, o espaço e a paisagem,
que sejam realizadas periodizações, ou seja, que o tempo seja divido em períodos a fim
de permitir o entendimento do decorrer e da trama dos acontecimentos. Os períodos de
acordo com Milton Santos
(...) são pedaços de tempo submetidos à mesma lei histórica, com a
manutenção das estruturas. (...) Assim as periodizações podem ser muitas, em virtude das diversas escalas de observação. Mas, em qualquer que seja o
momento, é indispensável fazer muitas periodizações. O mundo, como um
todo, nos permite uma periodização; a formação social e econômica,
representada pelo Estado e a Nação, uma outra periodização; e a cidade
permitirá uma nova periodização, em um nível inferior. (SANTOS,1996,
p.70)
Há uma reciprocidade em relação às noções de tempo e espaço, uma vez que
ambas estão diretamente vinculadas às ações do homem, que são diferentes em cada
período e produzem objetos que se acumulam e/ou sucedem no espaço, o que confirma
que essas noções não devem ser tratadas de forma separada. Assim, para compreender a
dinâmica espacial no momento presente é necessário considerar as transformações
empreendidas pela sociedade desde outrora, cujas mudanças possuem características
distintas em cada período.
A partir do contexto apresentado, o presente estudo possui como objetivo geral
compreender a dinâmica do Mercado Municipal de Uberlândia e de seu entorno. E
como objetivos específicos: a) verificar as transformações funcionais concretizadas no
âmbito do Mercado Municipal de Uberlândia, b) identificar quais os novos comércios e
16
serviços que estão presentes no Mercado Municipal após as transformações atravessadas
por ele, c) analisar o papel desempenhado pelo Mercado Municipal na cidade de
Uberlândia e na região no momento atual.
Diante dessa perspectiva busca-se extrapolar o mistério das formas, e verificar
como as transformações ocorreram na organização espacial, bem como resgatar o papel
do Mercado Municipal ao longo dos anos. Para tanto, busca-se aproximar dos diferentes
contextos e a partir daí tentar reconstruir o significado de uma realidade, composta por
fragmentos do passado e por novos objetos, relevando transformações e permanências.
Para a elaboração do presente estudo fez-se necessário recorrer a diversos
procedimentos metodológicos, tais como: pesquisas bibliográficas e documentais,
visitas à órgãos públicos e trabalhos de campo.
Na primeira etapa referente ao levantamento de referências bibliográficas sobre
os temas abordados neste trabalho, procurou-se para o primeiro capitulo, títulos que
tratassem do processo de reestruturação urbana, os processos de centralização e
descentralização e suas respectivas formas, a questão do centro e centralidade urbana e
suas transformações. Além disso, para o segundo e terceiro capítulos pesquisou-se
trabalhos acadêmicos que abordassem o processo de urbanização, bem como os
aspectos relevantes para o desenvolvimento, e o processo de reestruturação espacial de
Uberlândia, com o intuito de buscar compreender a configuração e expansão de seu
centro. Além da literatura geográfica, fez-se necessário recorrer a fontes de dados
históricos, como o Arquivo público e de dados secundários como o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e a Prefeitura Municipal de Uberlândia.
A segunda etapa do estudo, por sua vez consistiu na realização de trabalhos de
campo para o reconhecimento in loco do objeto de estudo e levantamento de dados,
num primeiro momento fez-se necessário, ainda que a grosso modo, um reconhecimento
do espaço a ser estudado, principalmente, através da identificação de alguns elementos
que caracterizam e particularizam esse espaço. Posteriormente, o objetivo dos trabalhos
de campo foi a realização de entrevistas (modelo vide apêndice), sobretudo com os
comerciantes mais antigos, os quais vivenciaram as diferentes fases atravessadas pelo
Mercado Municipal de Uberlândia e seu entorno, cujas entrevistas contribuíram
mormente para o entendimento das transformações ocorridas na área em questão. Além
disso, foram realizados levantamentos das atividades comerciais, enfim levantamento de
dados primários.
17
E assim, a terceira etapa do trabalho contou com os dados previamente
coletados. Esta fase refere-se a análise e interpretação dos mesmos, ou seja, análises dos
dados primários e secundários, do referencial teórico e documental levantado, e dessa
forma a redação da presente monografia.
A fim de atender os objetivos propostos, o trabalho está estruturado em três
capítulos, mais introdução e considerações finais. Neste sentido, na introdução é
realizada uma breve contextualização do objeto de estudo, são apresentados os
objetivos, materiais e métodos e referencial teórico adotados.
No primeiro capítulo foi realizada uma contextualização mais ampla do tema
estudado e, para tanto, foram apontado e analisados os principais modelos propostos
para explicar a organização interna das cidades, assim como os principais processos
transformadores do espaço intraurbano. Nesse sentido, é realizado um apanhando sobre
os modelos propostos pelos estudiosos da Escola de Chicago de Sociologia Urbana, os
quais buscam explicações gerais da configuração espacial e das relações espaciais
urbanas. Além disso, ainda são expostas as noções dos processos espaciais e suas
respectivas formas. Por último, nesse capítulo é apresentada de forma geral as
tendências de transformação pelas quais a áreas centrais tendem atravessarem, diante do
contexto atual, em conseqüência dos processos econômicos e políticos em curso.
O segundo capítulo destina-se a realização de uma breve contextualização dos
principais processos ocorridos ao longo do século, cujos reflexos repercutiram na
estruturação da cidade de Uberlândia-MG. Neste capítulo, também foram abordados os
principais elementos políticos, sociais, e econômicos que marcam a cidade no contexto
atual.
A seguir, o terceiro capítulo destina-se ao estudo da dinâmica do Mercado
Municipal e seu entorno, nos últimos 65 anos, considerando as transformações com
parte do processo de reestruturação do espaço urbano. Neste sentido, é realizada uma
análise do papel desse empreendimento em três momentos distintos, no período de sua
inauguração, no momento em que perde parte de suas funções com a inauguração da
Ceasa, e por fim, no momento atual após seu tombamento e sua revitalização.
Por fim, tem-se as considerações finais, onde de modo geral, é realizada uma
abordagem sobre a dinâmica que vem marcando a processo de urbanização e
estruturação do espaço urbano de Uberlândia, as modificações e tendências no que
concerne, fundamentalmente à área central.
18
1. A REESTRUTURAÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES DO
ESPAÇO INTRA-URBANO
1.1. Os Conceitos e Modelos sobre a Organização Interna das Cidades
Pode-se enumerar uma gama de estudos, considerados como clássicos para o
entendimento da estruturação e consolidação da morfologia urbana, dentre os quais
merecem destaque os estudos desenvolvidos nas escolas francesa e anglo-saxônica de
Geografia. Todavia, há que se destacar o papel e o pioneirismo da Escola de Chicago de
Sociologia Urbana, fundada na primeira metade do século XX, nos estudos urbanos e na
busca do estabelecimento de conceitos, metodologias e modelos de uma forma
particular e inovadora. Essa Escola adotou um viés pautado na analogia dos processos
da vida vegetal com os processos da vida humana, denominado de ecologia humana. No
entanto, apesar de críticas aos estudos ecológicos da cidade, como o fato de que os
processos econômicos, como a industrialização, que exercem grande influência no
processo de urbanização e estruturação das cidades capitalistas serem relegados, foram
produzidas importantes e ricas obras acerca da estruturação interna da cidade segundo
os usos do solo e seus problemas sociais.
O reconhecimento da sucessão das escolas de pensamento e da evolução no
entendimento da dinâmica espacial é fundamental, pois as características da morfologia
urbana são distintas em cada momento histórico. Contudo, conforme apontado por Silva
(2006, p.34) os conceitos elaborados pelos autores em determinado contexto devem ser
avaliados e entendidos, pois a desconsideração dos mesmos, dificulta a compreensão de
alguns processos importantes para o entendimento da realidade (o desconhecido). Neste
sentido, cabe destacar os modelos propostos pelos estudiosos da Escola de Chicago de
Sociologia Urbana, os quais buscam explicações gerais da configuração espacial e das
relações espaciais urbanas.
Os principais modelos clássicos, embasados na realidade das cidades norte
americanas nas décadas de 1920 e 1930, que buscaram representar a configuração
espacial são o modelo das zonas concêntricas de Ernest Burgess, o modelo dos setores
19
de Homer Hoyt e o modelo dos núcleos múltiplos de Chauncy D. Harris e Edward L.
Ullman.
O modelo das zonas concêntricas foi proposto em 1924 pelo sociólogo Ernest
Burgess, um dos criadores da Escola de Chicago e constituiu por certo tempo a
referência básica para explicar a estrutura da cidade. O objetivo desse modelo era
apresentar a organização da cidade como uma estrutura em expansão, em termos de
processos de expansão, de invasão, de sucessão e de concentração e descentralização
(EUFRASIO 1999. p.79). Assim, o estudioso pensava a cidade como viva e crescendo
como um organismo, daí a conclusão de que as cidades não crescem somente em seus
limites, mas também por meio dos processos de invasão, dominação e sucessão há
concretização do crescimento no seu interior a partir do bairro comercial para a zona
adjacente de forma concêntrica, de onde advêm a“teoria das zonas concêntricas”.
Conforme a figura 1, no modelo das zonas concêntricas proposto por E. W.
Burgess em 1923, a cidade é divida em cinco “anéis” distintos, dispostos da seguinte
maneira:
Figura 1: Teoria das Zonas Concêntricas. Fonte: (EUFRASIO, 1999, p.81). Adaptado por: ALVES, L. A.
20
Z.1. a área mais interna do modelo consiste no centro da cidade, o CBD, denominado
por Burgess de Loop, corresponde à área onde estariam os principais bancos, comércio
e serviços;
Z.2. constitui na área que circunda o anel 1, essa caracteriza-se como a área de transição
do CBD para as área residenciais, a qual é invadida pelo comércio e pela indústria leve
e ocupada pelas classes de baixo status;
Z.3. é caracterizada pela presença de residências de trabalhadores industriais, que
conseguiram viver próximo ao local de trabalho, porém fora das péssimas condições
presentes no anel 2;
Z.4. essa área também constitui um anel residencial, porém voltada para as classes
média e alta, nela localizam as residências mais novas e amplas para uma só família;
Z.5. essa é a zona mais externa do modelo, está além da área edificada e constitui as
áreas suburbanas e cidades satélites, é ocupada pela população de alto poder aquisitivo
que se desloca para trabalhar no centro, sendo o tempo de deslocamento variável entre
30 e 60 minutos.
Após o modelo das zonas concêntricas proposto por Burgess surgiam outras
vertentes teóricas sobre o espaço urbano focando fundamentalmente a dimensão
socioeconômica. Dentre, as quais tem-se a proposta de Maurice Davie de 1937, que
nega o padrão das zonas concêntricas da estrutura urbana e propõe a idéia de que a
cidade era formada por diversas áreas de acordo com variáveis como a renda e
nacionalidade, por exemplo. Esse estudioso
(...) não apercebeu que a teoria de Burgess é da estrutura e do
desenvolvimento da organização espacial da cidade e não uma teoria da estrutura urbana sem dimensão temporal. Desse modo, quando rejeita a
seqüência das zonas concêntricas rejeita a dimensão dinâmica nela implícita
(...). (EUFRASIO, 1999 p.195)
Outra perspectiva lançada nessa conjuntura é a de James Quinn em 1940, a qual
embasava na interpretação socioeconômica dos índices espaciais da estrutura urbana
conforme colocado por Freitas (2004).
Dentre as teorias de estruturação do espaço urbano de viés socioeconômico
merecem maior relevância, a teoria posposta pelo economista Homer Hoyt em 1939,
segundo a qual a estrutura urbana é composta por setores, cada qual caracterizado pela
presença de determinado uso do solo, conforme a figura 2.
21
Figura 2: Teoria dos Setores.
Fonte: (EUFRASIO 1999, p.231). Adaptado por: ALVES, L. A.
O objetivo principal desse modelo era representar o movimento do crescimento
áreas residenciais de diferentes rendas, sendo o crescimento da cidade comandado pelas
áreas residenciais de alta renda. Além disso, o estudioso apontou as seguintes
considerações
a. O crescimento das áreas residenciais de alto padrão tendem a seguir
determinada direção ao longo de vias de transporte mais rápido e/ ou em
direção á centros comerciais;
b. As zonas das áreas de alta renda tendem em progredir em direção aos
terrenos com anemidades, e onde há espaços livres de barreiras naturais ou
artificiais;
c. O crescimento continua na mesma direção por um longo período de
tempo;
d. As áreas dos apartamentos de luxo de alta renda tendem a estabelecer próximo do centro comercial em áreas residenciais antigas;
e. Os empresários de imóveis podem desviar a direção do crescimento residencial de alto padrão; (EUFRASIO, 1999, p. 221).
A teoria de Hoyt refletiu uma ampliação do conhecimento, ao indicar, conforme
colocado por Eufrasio (1999), que a diferenciação dos setores urbanos em diversas
épocas permite determinar diferentes fases históricas do desenvolvimento da estrutura
da cidade.
Merece destaque também a teoria dos núcleos múltiplos proposta pelos
geógrafos Chauncy D. Harris e Edward L. Ullman em 1945, figura 3. Essa teoria
constituiu um avanço nos modelos anteriormente propostos, e apresentava como
pressuposto básico a idéia de que a cidade não apresentava um único centro comercial,
mas ao contrário possuía vários núcleos internos a partir dos quais ocorreria a expansão
22
urbana, bem como em torno de cada setor que compõem o tecido urbano nota-se a
predominância de certo padrão no uso do solo, ou seja, há uma tendência a concentração
de atividades similares em áreas específicas da cidade.
Figura 3: Teoria dos Núcleos Múltiplos.
Fonte: (EUFRASIO 1999, p.231). Adaptado por: ALVES, L. A.
Para explicarem o surgimento dos vários núcleos no interior e o padrão de uso
do solo na cidade, esses teóricos enumeram a combinação de quatro fatores distintos
1. Certas atividades exigem facilidades específicas como, o distrito varejista
requer um ponto de maior acessibilidade, os distritos manufatureiros
necessitam de grandes quadras de terrenos e conexões de transporte, e assim
por diante;
2. Certas atividades tendem a se agruparem a fim auferirem lucros com a
coesão, como exemplo pode-se citar os distritos varejistas que concentram várias lojas, e, por conseguinte diversos clientes, e os distritos financeiros e
escritórios que buscam a manutenção da comunicação, neste os postos de
gasolina constituem exceção a essa tendência;
3. Certas atividades distintas são prejudiciais umas as outras, nesse caso ao
contrário da proximidade constituir um beneficio, esta é maléfica para
atividades antagônicas como, por exemplo, para fábricas e residências de alta
classe;
4. Certas atividades são incapazes de proporcionar as altas rendas dos sítios
mais desejáveis, ou seja, a localização dos usos é determina por sua
capacidade de pagar pelo preço do terreno. (EUFRASIO, 1999, p.231-232).
Além disso, os estudiosos colocam que a quantidade de núcleos presentes na
cidade é resultante de seu desenvolvimento histórico e econômico, sendo que tomando
23
como base as cidades norte americanas, Harris e Ullaman colocam que as cidades se
desenvolveram ao redor de seis tipos núcleos diferentes, a saber: o CBD (ponto de
acessibilidade máxima da cidade), o distrito atacadista e de indústrias leves (localizado
em um setor adjacente ao CBD onde há acesso ao transporte, disponibilidade de
construções e acesso aos mercados e a mão de obra), o distrito de indústrias pesadas
(localizadas na periferia da cidade), o distrito residenciais (mantêm certa coesão e
variam a localização de acordo com a classe econômica, sendo que os mais antigos
localizados nas margens internas da cidade são os mais suscetíveis a invasão daqueles
marginalizados socioeconomicamente), os núcleos menores (incluem os núcleos
culturais, universidades, parques e áreas de recreação, distritos comerciais externos, etc)
e os subúrbios e satélites (podem ser residenciais ou industriais, sendo o surgimento do
automóvel e melhoramentos dos transportes estimularam o desenvolvimento dos
mesmos).
Conforme apontado por Eufrasio (1999, p.138) a escola de Chicago ao estudar a
cidade sob a perspectiva da ecologia humana a considera como “uma entidade composta
de diversas partes interrelacionadas e dotada de uma dinâmica própria de formação e
desenvolvimento”. Com efeito, reconhece-se que os três principais modelos de
estruturação do espaço urbano apresentam seu mérito e devem ser encarados como
“guias” para pensar na estrutura das cidades. O primeiro ao apresentar a expansão nas
zonas concêntricas reflete o dinamismo do espaço urbano; o segundo acentua a análise
nos movimentos dos usos do solo, principalmente, ao propor a setorização dos mesmos;
e o terceiro ao agrupar elementos de ambas as teorias anteriores e propor, ainda que de
forma rígida, a existência de núcleos distintos na cidade consiste no modelo mais
completo dentre os três. Todavia, ambos os modelos se aplicam a cidade monocêntrica,
onde segundo Eufrasio (1999, p.236) “os usos do solo se organizam simetricamente em
torno de um centro único”, portanto com uma estrutura distinta da que vêm se
instalando, a partir da década de 1970, nas cidades de porte médio e grandes.
Em decorrência de que cada cidade apresenta particularidades em relação a sua
situação e sitio4 geográfico, não exclui a possibilidade de que elementos dos três
4 Relacionam-se a fatores de localização dos centros urbanos, sendo a situação geográfica referente a
posição de uma cidade no espaço, ou seja, uma relativização do fenômeno urbano, e o sitio geográfico
concernente ao substrato natural que envolve a sociedade e a natureza, e portanto em constante
transformação.
24
modelos propostos pela escola de Chicago sejam encontrados nas cidades. A esse
respeito Strohaecker (1968) destaca que os processos de invasão, sucessão e
descentralização apareceriam mais efetivamente nas cidades norte americanas do que
nas latino-americanas. Segundo a autora, isso se explica porque as cidades latino-
americanas, principalmente as menores apresentam certa cristalização da estrutura
interna decorrente da industrialização tardia. Assim, nas cidades latinoamericanas seria
mais aplicável o modelo dos setores de Hoyt.
1.2. O Processo Espacial de Centralização e a Formação da Área
Central
O espaço urbano é palco da concretização de uma gama de processos sociais,
dentre os quais Corrêa (1995) destaca a acumulação de capitais e a reprodução social,
constituindo uma realidade objetiva, produzida pela sociedade e em constante
transformação. Sendo assim, nos estudos sobre o espaço deve-se sempre considerar a
relação com a sociedade, que age produzindo formas, funções e estruturas espaciais, de
acordo com as mudanças sofridas, criando uma nova organização espacial. Afinal, cada
tempo histórico imprime diferentes estruturas decorrentes da transformação espacial, as
quais devem ser consideradas para a compreensão da realidade atual.
Para estudar a organização espacial, Santos (2008) destaca a necessidade de um
ponto de vista holístico em que sejam considerados como “ingredientes analíticos”, os
conceitos de “forma, função, estrutura e processo”, pois ao contrário de possuir
diferentes nuanças de sentidos, interagem inseparavelmente permitindo uma análise
mais pormenorizada de determinado espaço.
Segundo ele esses conceitos combinados oferecem “uma base teórica e
metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade”.
Sendo que, o primeiro refere-se ao “aspecto visível, a um padrão, um arranjo de
objetos”; a função diz respeito “às tarefas esperadas de uma forma”; a estrutura
relaciona-se com “o modo de organização, localização relativa dos elementos ou
construção”; e por fim, o processo “constitui um conjunto de ações continuas da
sociedade”.
25
No que diz respeito aos processos espaciais e suas respectivas formas, os quais
influênciam na organização do espaço urbano, Corrêa (1995), destaca os seguintes: a
centralização e a área central; a descentralização e os núcleos secundários; a coesão e as
áreas especializadas; a segregação e as áreas sociais; a dinâmica espacial da segregação;
e a inércia e as áreas cristalizadas. Dentre os quais será considerado com mais afinco o
processo de centralização e sua respectiva forma espacial, a área central.
O processo de estruturação das áreas centrais encontra-se condicionado a uma
série de elementos, que exercem diferentes influências no contexto geral da cidade. Sob
um viés econômico Corrêa (1995, p,38) coloca que a área central tem a sua origem
condicionada pelo capitalismo industrial, onde os vínculos, e, por conseguinte “fluxos
de capitais, mercadorias, pessoas e idéias” da cidade com seu exterior ampliaram, sendo
os meios de transportes essenciais para assegurar essas ligações. A rigidez espacial dos
meios de transportes – sobretudo o ferroviário - que condicionou aos locais próximos
aos terminais, um maior privilégio para o desenvolvimento das economias de
aglomeração, visto que a fim de reduzir custos os terminais de transporte concentravam
próximos uns dos outros, bem como atraíram uma gama de atividades, como comércio
atacadista, depósitos, escritórios, e a indústria.
Além dessas atividades voltadas para o mercado externo, foram atraídas outras
como as lojas de departamento, o comércio varejista e a prestação de serviços,
ampliando o mercado de trabalho, e a quantidade dos transportes intra-urbanos servindo
essa área, com isso emergiu um local de grande acessibilidade dentro da cidade. Em
decorrência dessas características, o preço da terra e dos imóveis sofreu expressiva
valorização, o que condicionou a seletividade das atividades que permaneceriam no
centro (CORRÊA, 1995, p.38-40). Pois, conforme afirma Castells (2000)
permaneceriam nessa área as atividades capazes de transformar os custos locacionais e
acessibilidade proporcionada pela centralização em uma potencialidade para a
maximização dos lucros.
Sob uma perspectiva socioespacial Villaça (1998) aponta que a origem do centro
está condicionada à possibilidade de otimização dos deslocamentos, socialmente
condicionados, assegurada pela acessibilidade oferecida por essa área do espaço urbano.
26
O centro surge então à partir da necessidade de afastamentos indejesados mas
obrigatórios. Ele, como todas as “localizações” da aglomeração, surge em
função de uma disputa pelo controle (não necessariamente minimização) do
tempo e energia gastos nos deslocamentos humanos (VILLAÇA, 1998, p.
239).
Assim, surgem como fruto de processos sociais, nesse sentido, Castells (2000) coloca
que os mesmos designam ao mesmo tempo “um local geográfico e um conteúdo social”.
No âmbito da dimensão político-institucional, Castells (2000) afirma que a
emergência do centro está vinculada ao estabelecimento dos pontos fortes dos aparelhos
de Estado, como as prefeituras, ministérios, órgãos econômicos, e aparelhos
ideológicos. Beaujeu-Garnier (1997), igualmente sublinha a intensidade das ações dos
agentes financeiros e políticos concentrados na área central.
Para complementar, cabe destacar a origem da área central em nível ideológico,
onde a preexistência de signos, como uma capela e a sede do poder público,
condicionou a centralidade5. Neste caso, a área central se classificaria mais como centro
histórico, do que como centro principal propriamente dito, visto que conforme
observado por Attux (2001), “o centro principal nem sempre é um centro histórico, mas
o centro histórico provavelmente deve ter sido, em tempos passados, um núcleo central,
quando originou a cidade”. Desse modo,
O centro urbano, aquele que guarda a memória da cidade, histórico, este
permanece. Já a centralidade é mutável no tempo, embora vários aspectos
concorram para a sua permanência, tais como a rede viária e a própria
produção do espaço para determinados usos. (PINTAUDI, 2009, p.58).
As características mais marcantes do centro das cidades, nos países
subdesenvolvidos, são de “constituir o módulo principal da rede de vias urbanas (...) e
de apresentar uma forte concentração de serviços de todos os níveis, especialmente
comerciais” (SPOSITO, 1991, p.2). Dessa forma, conforme aponta Castells (2000), o
centro é, simultaneamente, “integrador e dispersor” das atividades desenvolvidas no
interior da cidade; afinal é para ele que se dirigem, principalmente, as atividades de
administração e gestão e, é a partir dele que essas atividades buscam a interação com as
demais desenvolvidas em outros setores da cidade. Portanto, tem-se que o centro das
5 Cordeiro (1980) destaca a presença do Estado e da Igreja nas praças centrais é fruto da tradição histórica
da cultura ibérica, todavia, recentemente devido a multiplicação e a desarticulação na sua distribuição
espacial dos setores da administração pública, estes vêem passando pelo processo de descentralização.
27
cidades, corresponde à área para onde (con)divergem todos os fluxos, sejam eles
comerciais, financeiros e de pessoas.
A área central constitui a “Região Funcional” da cidade, pois conforme coloca
Beaujeu-Garnier (1997)
(...) é a própria extensão do poder urbano, o coração vivo da cidade. Pela sua
localização e extensão, pelos tipos de atividades nele concentrados, o estado
de modernismo ou de abandono que revela, os trabalhos que asseguram a
permanência, o progresso ou a reconquista, o centro de negócios traduz as
fases da vida urbana, a sua continuidade ou alternância, os efeitos da política
administrativa, assim como os das capacidades financeiras locais, nacionais
e, por vezes, internacionais (BEAUJEU-GARNIER, 1997, p.26).
Com efeito, de acordo com a colocação de Sá (2000) a área central personifica a
própria cidade, visto que ideologicamente representa a área mais desenvolvida do
espaço urbano, onde é maior a materialização do meio “técnico-científico-
informacional”, sua imagem, por vezes, é usada em cartões postais, além disso, é
comum o uso pelos moradores da periferia da expressão popular “ir à cidade”, em
detrimento “à expressão ir ao centro da cidade,” principalmente nas cidades médias e
grandes demonstrando pujança dessa área.
A área central é caracterizada como espaço, onde o índice de edificações e de
atividades ligadas aos setores econômicos e de gestão é máximo. Ademais, é a partir
desse ponto que ocorre a expansão urbana, seja vertical ou horizontal, sendo a primeira
inicialmente6 concentrada no centro para atender a demanda de moradia das classes
mais abastadas ou para instalação de salas comerciais; e a segunda nas áreas periféricas
para atender a demanda, fundamentalmente de moradia das classes menos favorecidas.
Inicialmente, as cidades eram monocêntricas – apresentavam um único centro -,
contudo, a partir dos desdobramentos do processo de acumulação de capitais, pela
intensa urbanização, pela expansão da mancha urbana e pela difusão dos meios de
transporte, estas vêm transformando-se em policêntricas, cujo processo será mais
aprofundado no próximo tópico.
6 Destaca-se inicialmente, visto que na medida em que a área central foi perdendo as amenidades, em
decorrência da concentração de diversas atividades, as classes mais abastadas buscaram instalar-se nas
áreas periféricas onde fosse possível encontrar as amenidades que deixaram de existir na área central.
28
1.3. A Reestruturação Urbana: o Processo Espacial de
Descentralização e as Novas Centralidades
Nos períodos precedentes ao capitalismo industrial, prevalecia nas cidades a
estabilidade nos usos do solo urbano, eram poucas as mudanças em detrimento à
permanência dos usos (VAZ,1994). Todavia, conforme foi verificado por Corrêa (2005)
nas últimas décadas do século XIX e inicio do século XX, como reflexo e condição do
desenvolvimento capitalista, ocorreram intensas transformações na área central das
cidades. Estas transformações foram mais claras nas cidades com grande expansão
econômica, demográfica e espacial, e ocorreram no âmbito social, político e cultural;
cujas mudanças foram responsáveis por modificações na forma, conteúdo, funções e
significados do centro pré-industrial.
Em decorrência de transformações, tanto no âmbito do espaço urbano, como a
busca por “amenidades” e o crescimento espacial da cidade; quanto econômicas, tais
como o aumento da mobilidade e a possibilidade de compras além do contato direto,
tem-se a concretização do processo de descentralização das atividades de comércio e
serviços (CASTELLS, 2000, p.320), cujo processo
(...) é mais recente que o de centralização. Aparece em razão de vários
fatores. De um lado, como medida das empresas visando eliminar as
deseconomias geradas pela excessiva centralização na área central. De outro,
resulta de uma menor rigidez locacional no âmbito da cidade em razão do
aparecimento de fatores de atração em áreas não centrais (CORRÊA, 1995,
p.45).
O crescimento demográfico e espacial da cidade é fator desencadeador de uma
série de transformações nos equipamentos urbanos, uma vez que, são exigidos novos
modelos de oferta de serviços, comércio e de transportes oferecidos, de acordo com os
padrões socioeconômicos da população localizada em cada setor da cidade. Sendo
assim, a fim de vencer a concorrência, assegurar a maximização dos lucros são criadas,
nos novos bairros distantes do centro, filiais das firmas localizadas no centro, ou mesmo
atividades que já surgem descentralizadas.
Para a concretização do processo de descentralização, Colby apud Corrêa (1995,
destaca que influenciaram os fatores de repulsão da área central, como: o aumento do
29
preço da terra, impostos e alugueis; os congestionamentos e altos custos dos sistemas de
transporte e comunicação; a redução de espaços para a expansão; o aumento das
restrições legais e perdas de amenidades; e também mudanças nas áreas não centrais,
como: terras não ocupadas e com menor preço; presenças de infra-estrutura e de
transportes; fatores atrativos naturais – relevo, controle no uso do solo; possibilidade de
controle do uso da terra e amenidades.
Além disso, o desenvolvimento dos meios de transporte, consubstanciado na
popularização dos veículos particulares; os interesses dos proprietários fundiários e
promotores imobiliários; a proximidade da mão de obra; e a própria dinâmica
capitalista, viabilizam sobremaneira na concretização do processo de descentralização.
Assim ao contrário do que ocorria anteriormente, a área central deixa de ser um
local privilegiado concorrencialmente para muitas atividades comerciais. Pois, segundo
Corrêa (1995. p.47) “no capitalismo monopolista há centralização do capital e
descentralização espacial, diferente, portanto do que ocorria no capitalismo
concorrencial, onde a centralização espacial derivava de uma dispersão de capitais”.
Desenvolve-se assim, uma reorganização e complexificação do espaço urbano a partir
do surgimento de diferentes categorias de núcleos secundários, cujas categorias são
determinadas, dentre outros fatores, pela condição socioeconômica da população e pelo
tipo de serviço oferecido.
Ocorre uma relativa perda de influência da área central sobre toda a cidade, visto
a presença dos fluxos de transportes que passam por ela, bem como, pela presença de
sedes de administração e gestão de empresas que se encontram espalhadas pela cidade,
apesar da redução da função comercial, que restringe conforme aponta Castells (2000)
“à manutenção de alguns grandes mercados geralmente destinados ao público popular e,
na outra extremidade (...) a localização de boutiques especializadas em venda de
produtos a uma clientela sem localização precisa”, de acordo com Mello (1997 p.54),
minimizando o peso da variada carga da oferta e da demanda de funções. Assim, a área
central se define cada vez mais pelo papel de “gestão e informação” Castells (2000),
pelo comércio de produtos de baixa qualidade, serviços especializados, e atividades
culturais “noturnas”.
Por outro lado, nas demais áreas do espaço urbano aumenta-se a potencialidade
de valorização, visto o redirecionamento do fluxo de consumidores para onde ocorre a
expansão do centro, a emergência de novas centralidades e a formação dos subcentros,
30
conforme colocado por Spósito (1991), “provocando e permitindo a separação
socioespacial e a fragmentação no interior da cidade”, visto que são instituídos novos
espaços de consumo para atender aos anseios de determinados grupos sociais.
Diante do exposto, tem-se que com o crescimento urbano, e paralelamente com a
busca da população em atender as necessidades básicas, através de um processo as
“áreas tornam-se ou deixam de ser centros”, pois nem todos podem aglomerar em um
único ponto, surgindo a necessidade de afastamentos (VILLAÇA, 1998). A partir dessa
lógica surge a cidade poli(multi)nucleada, produzida e ao mesmo tempo reprodutora da
nova lógica que marca a presente fase da sociedade capitalista.
1.4.Área Central: Núcleo Central e Zona Periférica do Centro
Dentre os setores que compõem o espaço urbano, a área central possui
significativa magnitude enquanto forma espacial. Ela é facilmente reconhecida no
tecido urbano por uma série de fatores, dos quais se destacam a sua capacidade
funcional devido à complexidade de suas funções e a concentração de comércio e
serviços. Em conseqüência dessas e outras características, conforme destaca Attux
(2001, p,16).a área central faz-se sempre presente na mente das pessoas, principalmente
nas cidades de pequeno e médio porte devido a constante vivência com esse espaço.
A área central apresenta dois setores distintos em forma e conteúdo, mas ao
mesmo tempo complementares. O primeiro é conceituado por Horwood e Boyce (1959)
de núcleo central (core, central business district ou CBD, área central de negócios ou
ACN), e o segundo denominado de zona periférica do centro (Frame, zona de transição,
de obsolescência, ou deteriorada), de acordo com Vaz a Silveira (1999) formando uma
franja de usos diversificados e separando o CBD dos demais bairros.
Assim como há diferenças entre o núcleo central e a ZPC, internamente o
primeiro também apresenta certa heterogeneidade na diversidade e intensidade de suas
formas e funções, ou seja, ocorre certa setorização dos usos, concentração variada dos
mesmos. Sobre isso Murphy at all (1955), coloca que há um grupo de lojas de
departamento aqui, um aglomerado de cinemas ali e uma série de bancos em um outro
local; sendo essa setorização decorrente da interferência de fatores como: o valor do
31
solo, que determina seus usos; as variações em âmbito vertical, que influencia na
intensidade comercial e os aspectos dinâmicos, fluxos de trafego e pedestres.
O núcleo central é caracterizado por Horwood e Boyce (1959) pelos seguintes
aspectos:
1) uso intensivo do solo, por concentrar a maioria das atividades de comércio e serviços
da cidade desencadeando, assim também a valorização da terra; 2) ampla verticalização,
já que estão concentrados edifícios de escritórios e administração numa pequena
dimensão espacial; 3) limitada escala e crescimento horizontal, uma vez que predomina
reduzidos limites espaciais e por isso seu crescimento ocorre por meio da verticalização;
4) concentração diurna, em função da pequena extensão e porque os deslocamentos são
para fins de comércio e serviços; 5) foco dos transportes intra-urbanos, pois possui
maior acessibilidade da cidade; e ser 6) área de decisões, em conseqüência da presença
de instituições incumbidas pelas atividades de administração e gestão pública e
privadas. Segundo Murphy apud Beaujeu-Ganier (1997) é o nó onde os preços do solo
atingem os valores mais altos.
Ao considerar as características e o conceito do núcleo central, convém destacar
os estudos de Castells (2000), o qual considera que torna se adequada a designação
“centro de negócios” à esta área, sendo entendido como negócios, em um sentido mais
amplo, as atividades de gestão política, pública e administração; assim o núcleo central
é o meio de decisões. Ainda, de acordo com esse autor, a especialização do núcleo
central deve-se às inovações tecnológicas concentradas nessa área e aplicadas nas
atividades nela desenvolvidas e a descentralização de algumas atividades comerciais.
Exercendo função de complementaridade espacial, e em alguns casos funcional,
do núcleo central identifica-se em seu entorno uma zona, inicialmente, denominada de
transição. A terminologia zona de transição usada por Griffin e Preston (1966) deve-se
ao fato de que acreditava-se que com a expansão do núcleo central ocorreria a
substituição das atividades nela presentes, a qual também viria a tornar se núcleo
central, porém, isso não se concretizou; e, posteriormente esta área recebeu outras
designações, como zona periférica do centro.
A maior pujança no desenvolvimento da ZPC foi nas últimas décadas do século
XIX e inicio do século XX, quando se verificou um intenso crescimento tanto
demográfico quanto espacial das cidades em conseqüência da intensificação da
urbanização. Esse crescimento urbano, a partir da área central gerou aumento na
32
demanda por solos. Dessa forma, foi notável a expansão lateral do núcleo central para
áreas de uso de solo menos intensivo em seu entorno. Paralela a essa expansão do
núcleo central ocorreu a expansão dos usos de solo menos intensivos dessa área para
áreas externas a ela, geralmente áreas residenciais. Assim, instalou o processo de
invasão sucessão em zonas concêntricas, conforme apontado por Burgess (1925).
Essas transformações no âmbito da área central foram enumeradas por Engels
(1985), ao estudar a questão urbana e condições de vida em Manchester na Inglaterra.
Esse autor aponta que os processos de industrialização e urbanização conduziram à
alterações nos padrões espaciais dessa cidade. Neste contexto, o centro que fora
habitado pela elite passa à população de baixa renda, isto é, as mudanças observadas nas
condições de vida dos trabalhadores são refletidas na organização física e social dos
espaços ocupados por eles. Processo similar foi apontado por Ward apud Strohaecker
(1968) ao analisar a formação de cortiços próximos ao núcleo central em cidades norte
americanas. Esse autor ressalta a busca, por grande parte dos migrantes, em residir
próximo ao emprego e onde se pode ter acesso à infraestrutura do núcleo central.
Após o final do século XX, a dinâmica das forças atuantes no tecido urbano são
distintas daquelas do passado. Assim, na ZPC deixou de predominar o processo de
invasão sucessão, gerando a estagnação dessa área que de acordo com Griffin e Preston
(1966), passou a se caracterizar por usos de solo mistos e incompatíveis, com tendência
à deterioração.
Em substituição ao padrão de expansão concêntrico, instala-se uma forma de
crescimento dessa área, cujo crescimento se concretiza para fora da ZPC, irregular e
com interrupções. Essa nova forma de crescimento foi possibilitada por
desenvolvimentos que incluíam segundo Griffin e Preston (1966): 1) melhoria nos
transportes, que permite maior mobilidade; 2) valorizações artificiais dos terrenos, por
meio da exclusão de certas atividades; 3) a expansão vertical do CBD; 4) as tendências
de relocalização em áreas não centrais das atividades industriais e comerciais varejistas
e atacadistas e 5) a mudança na postura do morador urbano frente ao centro agora
desfavorável para residir. Esses progressos resultaram na redução da demanda por
terrenos no CBD.
Posteriormente, na era do automóvel, o crescimento das áreas periféricas do
espaço urbano foi responsável pela cristalização das características da ZPC. No entanto
muitos proprietários imobiliários na ZPC ainda acreditam na valorização imobiliária
33
desta área e mantêm locais para futura geração de lucros sem dispêndio de capitais, o
que leva a sua deterioração física e social. Sobre isso Sposito (1991) aponta que as áreas
no entorno do CBD tem relação direta com os processos imobiliários, sendo
aproveitados nesta área elementos como: preço/localização, disponibilidade/acesso a
outras áreas que passam cumprir os mesmos papeis a preços menores, a possibilidade de
investimentos do Estado e capacidade do mercado promover recuperação dessa área.
Os estudos de Horwood e Boyce (1959) sobre a ZPC, a caracteriza como: 1) uso
semi intensivo do solo, com atividades fortemente vinculadas ao CBD; 2) ampla escala
horizontal, já que as atividades ai instaladas ocupam amplos espaços não ocorrendo a
verticalização; 3) limitado crescimento horizontal, uma vez que nesta área não se nota
grande concentração de atividades, visto que a mesma apresenta poucas amenidades; 4)
área residencial de baixo status , em decorrência da perda de amenidades; 5) foco de
transportes interregionais, pois é nesta área que localizam os terminais de transportes,
justificando a presença de garagens e hotéis baratos.
Griffin e Preston (1966) ao estudar a ZPC de cidades norte americanas,
consideram que nesta área existem praticamente todos os tipos de usos do solo com
predomínio de alguns específicos, que se destacam em relação a magnitude de espaço
ocupado. Todavia, os autores destacam que, tanto quanto ou mais importante do que os
tipos de usos individuais, é a aglomeração dos mesmos, cujas principais são: 1)
atacadistas com almoxarifados, armazenagem particular e comercial, instalações para
meios de transportes e estabelecimentos industriais; 2) vendas e serviços automotivos e
estacionamentos; 3) estabelecimentos públicos, empresariais e escritórios de matrizes de
empresas; 4) estabelecimentos de alimentação, comércio de serviços e varejos diversos;
5) estabelecimentos financeiros, escritórios gerias, lojas de variedades e residências de
pessoas em transito; 6) distritos de indústrias pesada homogêneos (GRIFFIN E
PRESTON, 1966).
Ainda de acordo com Griffin e Preston (1966), tomando como base a ZPC das
cidades estadunidenses, a variabilidade nas dimensões do processo de expansão urbana,
além de particularidade nos usos de solo, a ZPC é setorizada, cujos setores são: o setor
de assimilação ativa, o setor de assimilação passiva e o setor de inatividade geral.
O crescimento da ZPC no setor de assimilação ativa ocorre na medida em os
usos não residenciais invadem áreas anteriormente residenciais de melhor qualidade e
ao longo das principais vias do CBD. As atividades vão aglomerar-se em torno de
34
algum uso público que exerce papel centralizador, como por exemplo, um museu, uma
praça, uma igreja, uma parque. As residências em torno do “uso centralizador” vão
passar as funções de domicílios jurídicos, médicos ou fraternais e posteriormente
atividades comerciais, como lojas de antiguidades ou raridades, escritórios nos andares
térreos dos edifícios de alto padrão. Além de restaurantes, lojas de artigos femininos e
masculinos de alta qualidade, livrarias, ocasionais lojas de antiguidades ou galerias de
arte, revendedoras automotivas ou estacionamentos.
O setor de assimilação passiva é a contraparte do anterior, o seu crescimento é
baseado num processo mais lento e gradual. Anteriormente ao declínio da área central
esse setor concentrava funções da mesma; contudo, após a saída de algumas atividades
centrais dessa área, ocorre uma conversão paulatina para usos de menor importância
econômica. O setor caracteriza-se pela presença de terminais de transporte, de hotéis
que foram de luxo e hoje oferecem estadias a preços baixos, antigos prédios públicos
que antes estavam centralizados e agora dividem espaço com o comércio varejista de
baixa qualidade, como lojas de quinquilharias, itens de rápida circulação, automóveis
usados. Cujas atividades estão no andares térreos e voltadas para as ruas que servem ao
CBD, e as residências estão nos andares superiores, ou em pequenos bairros residenciais
circundados pelos usos não residenciais.
Finalmente, o setor de inatividade geral separa as regiões de assimilação ativa e
passiva, e em comparação a elas, caracteriza-se por apresentar certa imobilidade. As
forças de mudança no mesmo são menos ativas, fazendo com que os usos de solo
resistam à assimilação e a conversão ao longo de tempo, buscando beneficiar se
principalmente da mão de obra barata para manter a capacidade competitiva mesmo
localizada próximo ao CBD, onde o preço da terra é alto. A conversão nesse setor
ocorre somente em torno da periferia de sua concentração industrial, quando atacadistas
ou almoxarifados mudam para ai em busca de espaços mais amplos e baratos. Nas
antigas áreas residenciais de baixa qualidade não nota conversão, as quais representam
significativa taxa de uso de solo, sendo representadas pelas pensões, residências
multifamiliares, residenciais pequenas que acomodam varias famílias. É nesse local que
formam os guetos. Na parte frontal principal do setor é comum a saída de usos
intensivos do solo do CBD para usos semi intensivos na ZPC, além da presença de
prédios públicos institucionais antigos, como: ginásio, posto policial, bombeiros. Na
parte de trás é comum a presença de hotéis para transeuntes, hospedarias com
35
moradores permanentes, lojas com pontas de estoque de mobílias e vestuário, além dos
estacionamentos que freqüentemente separam o CBD e a ZPC.
No contexto brasileiro, Cordeiro (1980), em seu estudo sobre o processo de
expansão do centro da metrópole paulistana, observa a existência dessa complexa
“moldura” do núcleo central, e utiliza para a sua distinção interna três sub-setores: o
sub-setor de assimilação, o sub-setor de degradação e o sub-setor de transição de
remanejamento, que correspondem, respectivamente, aos setores propostos pelos
estudiosos da escola de Chicago na década de 1960, acima descritos.
Quanto aos limites da ZPC, Murphy e Vance Jr (1967), destacam que os mesmos
são gradativos e que para a identificação deles é imprescindível considerar onde ocorre
a quebra de continuidade dos usos de solo, e/ou a presença de estabelecimentos que
tendem a concentrar nestes limites ou próximos a estes.
1.5. Área Central: Decadência versus Revitalização?
Ainda que, com o crescimento da cidade, as áreas centrais atravessem por
significativas transformações, que resultam como conseqüência socioespacial, na
substituição das antigas residências da classe aristocrática por residências deterioradas
ocupadas pelas classes marginalizadas sócio-economicamente e por lojas varejistas para
atender a população assalariada, refletindo uma imagem de decadência desqualificação.
Por vezes, nos setores mais valorizados aglomeram-se as atividades de administração,
gestão e financeiras, bem como parte da elite permanece a estimar essa área, afinal
Dominar o centro e o acesso a ele representa não só uma vantagem material
concreta, mas também o domínio sobre toda uma simbologia. Os centros
urbanos principais são, portanto (ainda são, em que pesem suas recentes
decadências), pontos altamente estratégicos para o exercício da dominação
(VILLAÇA, 1998, p.30).
No período de desvalorização da área central é diminuta a quantidade de pessoas
que permanecem nessa área, pois conforme afirmou Toledo (1996) apud Attux (2001,
p.19), “os mais ricos desinteressaram pelo centro e foram criar seus próprios sistemas
particulares,” onde há amplas áreas ainda desocupadas, infraestrutura e outras
amenidades. Resultando numa conjuntura, que em conseqüência da ligação da classe
36
dominante, estado e promotores imobiliários, é beneficiado sobremaneira os
investimentos nesses novos espaços em detrimento da área central. Soma-se também
como contribuinte para o abandono das áreas centrais o aumento da mobilidade,
proporcionada pela difusão do uso do automóvel particular. Assim, de modo geral
A Área Central não tem o mesmo significado para a elite e a classe média.
Para elas, essa é uma área decadente, deteriorada e saturada, com grandes
fluxos de pessoas e veículos. Por isso, buscam a centralidade em outros locais
com maior tranqüilidade, segurança, conforto, estacionamento e fácil
acessibilidade, como os shopping centers e os eixos comerciais
especializados. (RIBEIRO FILHO, 2004, p.174).
Como conseqüência desse processo aumenta-se volume do comércio varejista
popular, e do setor informal, corroborando para a popularização da área central e para o
aumento fluxo de pessoas e veículos. Neste contexto, conforme colocado por Villaça
(1998), ocorre a retomada da área central pela população de baixa renda, assinalando o
que muitos chamam de “crise”.
Diante desse quadro, tornou-se comum nas médias e grandes cidades brasileiras
a concepção de área central, como sinônimo de deterioração ou decadência, ou seja, as
condições infraestruturais tornam-se inviáveis para a manutenção de certas funções,
levando a concretização de investimentos em outras áreas, contribuindo para a
decadência do centro, conforme colocado por Magalhães (2001) revelando-se ao mesmo
tempo, causa e conseqüência de diversas alterações ali ocorridas.
Outrossim, considerando que as relações econômicas, sociais e espaciais
apresentam um movimento dialético, capaz de impulsionar modificações nas formas,
conteúdos e significados dos espaços na/da cidade, um lugar pode passar por um
processo de desvalorização, e momentos depois, por um processo de revalorização, e
assim consecutivamente, já que esse constitui um processo que mostra-se em constante
movimento.
Além disso, espacialmente é possível verificar a criação de uma dupla
organização das atividades comerciais, nas áreas centrais. Um setor concentrando,
fundamentalmente o comércio popular e informal, e outro centralizando o comércio de
luxo. Essa espacialização é evidente na área central de Uberlândia-MG, onde o primeiro
setor corresponde á área que estende do terminal de integração do transporte coletivo à
Praça Tubal Vilela, e o segundo corresponde ao Bairro Fundinho.
37
A partir do final da década de 1970, nas grandes cidades iniciaram as ações de
requalificação das áreas centrais, as políticas urbanísticas e de planejamento desde então
buscam intervir nas áreas centrais, para reverter a situação instaurada, promovendo a
recuperação e preservação das mesmas no âmbito dos aspectos físicos, sociais,
econômicos e culturais, e contribuindo para a preservação da história do lugar, tendo em
vista a concepção de centro nas cidades européias, o valor simbólico, a humanização e
sua importância para toda a cidade.
Além das modificações no espaço físico, ideologicamente são necessárias
modificações no plano social, sendo que para concretizar essas modificações o Estado
agiria removendo as classes de menor poder aquisitivo. O fenômeno resultante desse
processo recebe a denominação de “gentrification”, ou “enobrecimento”, que significa o
atendimento das necessidades e a criação de possibilidades para a fixação das classes de
maior poder aquisitivo nas áreas renovadas.
Considerando as ações para a promoção de revitalização do centro das cidades,
no contexto brasileiro, pode se citar como exemplos, aquelas empreendidas no centro do
Rio de Janeiro, o Projeto Corredor Cultural, Rio Cidade e Favela Bairro, que segundo
Magalhães (2001) consistem em ações que “vêm propiciando uma reversão da
tendência a perda de atividade econômica (...) criando uma sinergia capaz de provocar a
atração de capitais e uma série de outros investimentos (...)”, os movimentos e projetos
realizados no centro da Cidade de São Paulo, como aqueles empreendidos pela
Associação Viva Centro. E por outro lado, as medidas aplicadas no Pelourinho em
Salvador, haja vista que foram mais drásticas, e no sentido de realçar aspectos culturais,
acometidos pelo turismo.
Sobre essas transformações no interior destas cidades, (Santos, 1996, p.76),
destaca “um híbrido da plasticidade do passado e da rigidez do presente”, ao conciliar a
absorção de novas mudanças, sem, no entanto promover grandes alterações físicas, ou
seja, “os novos modos de ser se adaptaram às velhas formas de ser”, com a nova
intencionalidade que exige a criação de novas formas.
O processo de revitalização urbana conduz a uma revalorização dos espaços
modificados. Nesse sentido, ocorrem, estrategicamente, transformações de velhas
formas e funções criando paisagens, a fim de que atendam novas necessidades geradas
pela nova lógica do sistema econômico, onde são vendidos além do espaço,
propriamente dito, mas também o que ele representa. Conforme colocado por Santos
38
(1996, p.78) “trata-se de uma racionalidade sem outra razão que a do lucro, ainda que
não se manifeste exclusivamente de forma mercantil. O simbólico se torna um
coadjuvante precioso do mercadológico.”
O sistema capitalista de acumulação flexível possibilitou mudanças na estrutura
de muitas cidades. Dentre as transformações Harvey apud Frúgoli Jr. (2000) aponta a
exploração do embelezamento das áreas centrais para fins turísticos e de consumo, cujo
processo pode ser observado em escala global, visto que, a associação da área central
com a “marca”, a identidade, da cidade viabiliza a apropriação desse espaço para a
reprodução do capital. Nesse sentido analisando a revalorização do centro de São Paulo
segundo Seabra (2004) apud Lozano (2008, p.27) “o centro renasce como fruto de
políticas de espaço, a partir de uma concepção que visa o seu ordenamento para
viabilizar as conexões sistêmicas em escala nacional (o imobiliário), mas, sobretudo
internacional (economia simbólica)”.
Ao contrário da fragmentação socioespacial que se estabelece na maioria dos
casos, fruto da associação poder econômico e público, para atender aos imperativos do
mercado e das classes médias e altas, o desejável como conseqüência da concretização
dos processos de renovação urbanística seria a concretização de uma consonância entre
as velhas e as novas paisagens, com a possibilidade de usufruo desses espaços por toda
a população.
39
2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS ASPECTOS DO
PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO ESPACIAL EM
UBERLÂNDIA
2.1. As Transformações Políticas e Econômicas no Século XX e seus
Reflexos em Uberlândia
Para compreender as atuais características da região do Triângulo Mineiro, e
especificamente a dinâmica de Uberlândia faz-se necessário compreender a base
econômica que marcou o país antes e, principalmente após a década de 1950; uma vez
que essa década, de acordo com Guimarães (1990, p.17) marca um período de
significativas “mudanças tecnológicas na economia brasileira, consubstanciadas na
industrialização pesada, supremacia rodoviária e desenvolvimento do capital
financeiro”, bem como na nova política e projetos agrícolas, promovidos pelo governo
federal. O desenvolvimento de novas tecnologias exerceu papel preponderante na
ocorrência de transformações econômico-espaciais, como a reestruturação produtiva e o
desenvolvimento de novas infra-estruturas, cujas mudanças possibilitaram a
intensificação da circulação dos fluxos, que
(...) desempenha um papel fundamental na organização e na dinâmica do
espaço, refletindo, de um lado, o estágio de desenvolvimento das forças produtiva; e as demandas por articulação entre as regiões, entre as cidades,
entre as cidades e o campo; e, por outro lado condicionando a continuidade
ou mudança de determinados padrões de organização espaciais (...) (BESSA
2007, p. 113).
Inicialmente, a partir do fim do século XIX, com a consolidação de uma base
infraestrutural, a região do Triângulo Mineiro, de acordo com o REGIC (2002)
fortemente vinculada a São Paulo, absorveu os impulsos da economia cafeeira, e
posteriormente a desconcentração das atividades agropecuárias e industriais desse
Estado; fator que possibilitou a consolidação da função de “entreposto comercial”,
segundo Bessa (2007) ora comercializando com São Paulo produtos primários goianos e
mato grossenses, ora fornecendo produtos industrializados de São Paulo à Goiás e Mato
Grosso, exercendo segundo Guimarães (1990, p.17) “papel de articulação comercial e
produtiva de forma a complementar a economia paulista”.
40
A transferência da Capital Federal para o Brasil Central7, ocorrida durante o
governo de Juscelino Kubitschek, garantiu ao Triângulo Mineiro uma posição de
privilégio, visto que, foram adotadas para essa região políticas estratégicas de
planejamento e desenvolvimento8 e viabilizado um conjunto de investimentos infra-
estruturais (energia, transportes, comunicações, armazenamento, etc.) que beneficiaram
Uberlândia.
A construção de Brasília, e, por conseguinte, as políticas de ampliação da rede
rodoviária do plano de Metas, visando a integração da Capital Federal com o Centro
Oeste, resultou na priorização, a partir da década de 1960, da malha rodoviária em
detrimento à rede ferroviária, que a partir de então passou a ser essencial para o
estabelecimento dos fluxos no espaço. Esse fator viabilizou a “ascensão definitiva” de
Uberlândia, afinal foi instalada no Triangulo Mineiro uma extensa malha rodoviária9.
Além disso, a elite local tinha a consciência da necessidade de uma eficiente malha
rodoviária para a consolidação da função de “entreposto comercial” da cidade, bem
como essas ações beneficiaram sobremaneira na ampliação dos mercados polarizados
por Uberlândia, conforme aponta Bessa (2007, p.150) “localizada entre a sede do poder
federal – Brasília – e a sede do poder econômico – São Paulo”. A área de influência de
Uberlândia abarca os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul,
cujos municípios mais influenciados são de acordo com o REGIC (2002), Uberaba,
Patos de Minas, Itumbiara, Ituiutaba, Araxá, Araguari, Monte Carmelo, Patrocínio, São
Gotardo e Frutal, no estado de Minas Gerais; Itumbiara, Catalão e Goiatuba, no Estado
de Goiás; Ituverava, Guaíra, Batatais e Franca, no Estado de São Paulo; e Paranaíba no
Mato Grosso do Sul.
Ainda de acordo com Bessa (2007)
Brasília além de promover a interiorização da infraestrutura, fomentou várias atividades de apoio a sua própria construção. O papel do Triângulo Mineiro
foi bastante ampliado em função da experiência como entreposto comercial,
o que gerou excedentes, como sugere Brandão (1989). Em Uberlândia,
ocorreu importante incremento do comércio, com destaque para as
7 A escolha da construção da Capital Federal na região do Brasil Central, nas áreas de Cerrado visavam promover o desenvolvimento dessa região e sua integração regional. 8 De acordo Ganem (2008, p.10) et all, dentre as políticas para desenvolvimento regional destaca a
criação em 1967 da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO). 9 Das rodovias viabilizadas na região neste período, a mais importante foi a BR-050, ligando São Paulo a Brasília, que passou por Uberaba e Uberlândia, num trajeto parecido com o da Estrada de Ferro Mogiana. Também se destacam a BR-262 (Uberaba – Belo Horizonte – Vitória), a BR-153 (Araraquara – Frutal – Goiânia), a BR-363
(Montes Claros – Uberlândia – Canal de São Simão) e a BR-452 (Uberlândia –Araxá). (MARTINS, 1998, p.178).
41
distribuidoras de madeira, combustível e peças de reposição, e também na indústria, principalmente fabricas de cerâmicas, telhas, tijolos, ladrilhos,
manilhas, cal e cimento (BESSA, 2007, p. 156).
Além disso, foi possibilitado à Uberlândia a realização de investimentos nos
sistemas de telecomunicação e energia. Foi viabilizada a criação da Companhia
Telefônica do Brasil Central – CTBC no ano de 1954, assegurando a Uberlândia sua
ligação as capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, através da realização das
atividades de telefonia, telex, TV em outras. No que concerne à oferta energética, a
partir da década de 1950 a elite Uberlandense passou a usufruir da energia gerada pela
hidrelétrica de Cachoeira Dourada – Rio Paranaíba – administrada pelas Centrais
Elétricas de Goiás – Celg, pela requisição da construção de uma linha de transmissão
entre essa hidrelétrica e Monte Alegre de Minas e sua retransmissão a Uberlândia;
também foi proposto junto ao governo federal, a interligação dos sistemas hidrelétricos
de furnas (rio Grande) e Pai Joaquim (Rio Araguari) (BESSA, 2007).
Outro fator que exerceu significativa influência na ascensão e consolidação da
função de “entreposto comercial” de Uberlândia foram as políticas de modernização
agrícola. Com efeito, a busca pela modernização agrícola do país após o ano de 1965,
também uma das diretrizes do Plano de Metas, iniciou-se com a criação do Sistema
Nacional de Crédito Rural, Lei nº 4.829/1965, que viabilizava o acesso ao pacote
tecnológico - mecanização e adoção de culturas de exportação -, e com a criação de
indústrias fornecedoras de insumos e processadoras de alimentos. Posteriormente, a
década de 1970 foi marcada pelo investimento em pesquisas tecnológicas e científicas10
e fomento às políticas e projetos oficiais e regionais.
Visando abastecer os centros urbanos, fornecer matéria-prima para as indústrias
e exportar insumos agrícolas foi instituído em 1971 o Programa de Desenvolvimento do
Centro-Oeste (PRODOESTE), além disso, no ano de 1972 foi criado o Programa de
Crédito Integrado e Incorporação dos Cerrados, pelo Banco de Desenvolvimento de
Minas Gerais, e em 1975, foi criado o Programa de Desenvolvimento do Cerrado
(Polocentro) a fim de alavancar a produção agropecuária, e finalmente no final da
década de 1970, resultante de um acordo em Brasil e Japão, foi criado o Programa de
Cooperação Nipo-Brasileiro para Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER). A
10 Neste sentido destaca-se a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA),
criada na década de 1970.
42
implantação dessas políticas agrícolas viabilizou a realização de investimentos, como
construção de estradas, eletrificação rural, rede de estocagem e comercialização nessas
áreas, cuja infraestrutura assegurou a integração territorial, a materialização de uma
nova base econômica e a consolidação de importantes centros urbanos (GANEM,
2008).
As transformações no campo, orientadas pelas políticas de modernização
agrícola, e as transformações na cidade, fundamentalmente em Uberlândia, por meio da
instalação de complexo-agroindustriais e de investimentos em diversos setores da
economia, ocorreram paralelamente; possibilitando a esse centro urbano implementação
e consolidação de novas atividades do setor terciário, como o alargamento do comércio
varejista e atacadista, o que lhe conferiu uma posição de destaque no contexto regional e
nacional, bem como a expansão de outras atividades como a prestação de serviços
variados (saúde, educação, transporte de cargas e passageiros, entre outros).
A diferenciação de Uberlândia, até mesmo no contexto em que o país
atravessava um período de recessão, explica-se de acordo com Bessa (2007, p.190) pela
“presença de fatores endógenos que permitiram a articulação entre os diversos capitais
(agropecuário, comercial e industrial) conciliada com a capacidade de reinvestimento do
excedente”, bem como,
(...) pela significativa distância física em relação à área de influência dos
principais pólos nacionais, permitindo uma certa proteção de mercado ao
crescimento dos capitais locais/regionais. (...) pela infra-estrutura de acesso aos principais mercados, que permitiu sua localização estratégica na
articulação da economia de São Paulo com o interior brasileiro,
principalmente com o Centro-Oeste, abrindo perspectivas de expansão e
diversificação da base produtiva, incluindo o fomento agroexportador
(GUIMARAES, 1990, p.18).
Dessa forma, a partir da concentração de uma grande diversidade de atividades
terciárias, Uberlândia apresenta ampla capacidade de polarização, classificada dentro do
Estado de Minas Gerais por Faria (200?) como um pólo econômico forte apresentando,
tomando as palavras de Castells (2000) uma ampla concentração dos fluxos
socioeconômicos. A Cidade assume posição inferior apenas a capital Belo Horizonte e
sua Região Metropolitana que constitui um Pólo Muito Forte ou Máximo dentro do
Estado.
43
2.2. Caracterização Sócio-demográfica de Uberlândia no Contexto
Atual
Uberlândia localiza-se sob as coordenadas 18º 55’07” Sul e 48º 16’38” Oeste, no
Triângulo Mineiro, a figura 4, em uma das dez regiões de planejamento do Estado de
Minas Gerais, configura-se na segunda maior cidade do estado (menor apenas que a
capital Belo Horizonte). Apresenta, de acordo com a contagem populacional de 2007,
um contingente populacional de mais de 600 mil habitantes e uma área territorial de
4.115,822 km². A área urbana apresenta 219km² e compreende também os distritos de
Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos, Tapuirama e Miraporanga. O contingente
populacional urbano de Uberlândia ultrapassa 95% do total populacional (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2009).
O município limita geograficamente com Araguari e Tupaciguara ao norte; Prata
e Monte Alegre de Minas a Oeste; Indianópolis a leste; e Uberaba e Veríssimo ao sul.
Suas principais estradas de acesso são: BR 050, que liga o município à Brasília (GO) e
São Paulo (SP); a BR 365, que faz a ligação com a cidade de Montes Claros (MG) e São
Simão (GO); a BR 452, que faz a ligação com os municípios de Rio Verde (GO) e
Araxá (MG); a BR 455, que une o município aos municípios de Planura (MG) e Campo
Florido (MG); e por fim a BR 497, que liga Uberlândia à Iturama (MG) e Paranaíba
(MS) (Banco de Dados Integrados - BDI, 2008).
A cidade de Uberlândia, atualmente classificada como uma cidade média,
historicamente é caracterizada por um intenso processo de urbanização e incessante
busca pela modernidade e progresso, emancipada em 1888, já na década de 1970 a
cidade contava com a presença de uma base infraestrutural consolidada, que a colocava
como importante pólo de desenvolvimento do Brasil Central. Esse dinamismo é
consubstanciado em constantes modificações no espaço intraurbano, sendo a área
central, a porção da cidade que reflete claramente por meio de mudanças espaciais e
funcionais as reestruturações urbanas, afinal conforme colocado por Cordeiro (1980,
p.7) a área central representa a seção mais significativa da cidade, aquela que melhor
evidencia o status do conjunto urbano.
44
Figura 4 – Uberlândia-MG - localização da cidade Fonte: ALVES, L.A., 2008.
Sempre esteve presente no ideário da elite uberlandense a busca pela
concretização da modernização e desenvolvimento da cidade, tomando como referência
as cidades de modelo capitalista de produção avançado e eficiente processo de
planejamento, gestão e ordenamento territorial. Esse desejo sempre propagado em
meios de comunicação, tais como jornais, apresentações teatrais11
, pelos representantes
políticos, empresários locais, e educadores convertendo-se numa vontade geral dos
residentes no município.
As inovações técnicas e tecnológicas possibilitadas pela concretização do meio
técnico-cientifico-informacional, no final do século XX, permitiram a inserção do país
em uma nova fase de desenvolvimento, cujas transformações políticas e econômicas
surtiram efeitos na cidade de Uberlândia, como a possibilidade de implantação das
primeiras indústrias, e desse modo absorver o contingente de trabalhadores, que em
decorrência da modernização do campo deslocavam-se para a cidade, pois conforme
11 Como exemplo, pode citar a apresentação de 4 de dezembro de 1912 intitulada “Uberabinha Chic”,
escrita por Honório Guimarães, a qual apresentava o seguinte enredo: “O Progresso está para chegar
outra vez em Uberabinha”. Onde Castro, typo local apresentará os melhoramentos da cidade; a scena passa-se na praça Dr. Duarte; ouvem-se vivas ao progresso de Uberabinha; entra na praça o sr. Progresso
e o seu companheiro o dr. Apreciável; os recém chegados explicam o motivo do seu retardo por esta terra
que é a Política a qual entra em scena; Castro em seguida apresenta ao sr. Progresso os melhoramentos
locaes. Passam pela scena figuras representando a imprensa local [...] A terceira parte foi a apontheose
representando Instrução, Grupo Escolar, e Progresso no centro de honra; [...] (O Progresso, 14 dezembro
1912. Ano 4. nº. 269 apud Lopes, 2007.)
45
Endlich (2009, p. 408) “toda atuação de alcance econômico possui implicações
espaciais”.
Com efeito, a partir da década de 1930, quando ocorre a consolidação do
capitalismo industrial que se desdobra em modernizações, no município de Uberlândia
eram visíveis as transformações ligadas aos processos de industrialização e urbanização,
as quais viabilizaram o desenvolvimento de atividades relacionadas ao comércio
(atacadista e varejista), bem como de serviços, expressando a dinâmica da economia
desse município.
Em relação ao crescimento demográfico e a taxa de urbanização, Uberlândia,
caracteriza por apresentar índices elevados, com expressivas taxas de crescimento,
possibilitados pelas altas taxas de natalidade e de migração. Conforme ilustrado pela
tabela 1, entre 1970 e 1980, a população uberlandense cresceu cerca de 50% e a taxa de
urbanização foi de 6,7% ao ano; e entre 1991 e 2000 os índices mantiveram positivos
com taxa urbanização de 3,6% ao ano. Esses índices ficaram acima dos verificados para
o estado de Minas Gerais (1,5% e 1,4% a.a, respectivamente) e do Brasil (2,5% e 1,6%
a.a.). Em 2000, a população residente do município de Uberlândia-MG somava 500.095
habitantes, representando o dobro de pessoas que residiam neste município em 1980, e
quatro vezes a população de 1970.
Tabela 1: População por situação de domicílio em Uberlândia MG (1950 – 2007).
Anos Urbana Rural Total Taxa de Urbanização (%)
1950 35.799 19.185 54.984 66.11
1960 71.717 16.565 88.282 81.24
1970 111.466 13.240 124.706 89.38
1980 231.598 9.363 240.961 96.11
1991 358.165 8.896 367.067 97.58
2000 487.887 12.208 500.095 97.56
2005(1) - - 585.262 -
2007 - - 608.369 -
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
(1) Dados preliminares
De acordo com dados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, o
município de Uberlândia apresentava em 2000, 2,80% da população do Estado, e 0,30%
da população do país, cujos índices de crescimento populacional e de urbanização
tendem a se manterem, de acordo com projeções do (CEPES/IEUFU).
46
Desde sua origem, Uberlândia é um pólo de atração populacional; na década de
70, era expressivo o contingente de imigrantes de Ituiutaba – MG, enquanto nos anos 80
foi Patos de Minas – MG, o grande fornecedor de migrantes para Uberlândia. Nas
décadas de 90 e 2000, confirmando essa posição de atração populacional, o censo
mostrou que cerca de 21,24% da população uberlandense era de outros Estados, com
maior participação de Goiás, São Paulo, Bahia, Mato Grosso e Distrito Federal. Dessa
forma pode se observar que o contingente de migrantes de outros Estados para
Uberlândia aumentou de 18.60% em 1991 para 21.24% em 2000, como pode ser
observado na tabela 2.
Tabela 2: População residente em Uberlândia, por local de nascimento: 1991 e 2000.
Local de Nascimento 1991 Proporção da população residente em 1991(%)
2000 Proporção da população residente em 2000(%)
Uberlândia 181.671 49,49 237.198 47,32
Outros mun. mineiros 116.335 31,69 156.750 31,27
Outros mun. brasileiros 68.272 18,6 106.436 21,24
Exterior 784 0,21 830 0,17
Total 367.062 100 501.214 100
Fonte: IBGE – Censo Demográfico de 1991
Elaboração CEPES/IEUFU.
O motivo da maioria das migrações foi a busca por empregos (cerca de 64.6%) e
o acompanhamento de parentes (cerca de 21.5%) que, certamente, também buscaram
emprego, educação e outros recursos que este município pode oferecer.
No que concerne à política econômica adotada pelo município de Uberlândia,
esta foi voltada para assegurar os interesses da elite local, viabilizou a implantação de
diversos projetos e investimentos, que possibilitaram o progresso e a modernização da
cidade. De acordo com dados do Banco de Dados Integrados (BDI, 2008) do município
de Uberlândia observa-se o predomínio de atividades ligadas ao setor terciário, seguido
do setor secundário e finalmente do setor primário da economia em relação ao número
de estabelecimentos por atividades econômicas durante o período de 2001 a 2006,
conforme, ilustrado na tabela 3.
Tabela 3: Uberlândia-MG: Evolução dos Estabelecimentos por Atividade Econômica – 2001 – 2006.
Anos 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Setor Primário 1.095 1.096 1.234 1.157 1.236 1.374
Setor Secundário 3.061 3.212 3.316 3.182 3.185 3.425
Setor Terciário 19.927 16.681 21.958 22.775 23.284 23.887
Fonte: BDI, 2008.
47
Em relação às atividades que ocupam maior quantidade da população
economicamente ativa – PEA-, a tabela 4, demonstra que predomina a ocupação nas
atividades urbanas, principalmente nas atividades do setor terciário da economia. Neste
sentido, observa-se que as atividades de comércio e serviços juntas, no ano de 1991,
ocupavam cerca de 70% da PEA, e no ano de 2000 ocupavam 73,5% da PEA.
Tabela 4: Uberlândia-MG: População ocupada por setores 1991 e 2000
Setores Número de pessoas
1991 2000
Agropecuária, extração vegetal e pesca 9.167 10.192
Industrial 39.256 48.944
Comércio de mercadorias 33.072 52.280
Serviços 81.657 111.161
Total 163.152 115.577
Fonte: OLIVEIRA, H. C.M, 2008, organizado de IBGE, 2000.
A cidade de Uberlândia apresenta uma importante ampliação e diversificação
das atividades econômicas – setores primário, secundário e terciário da economia. O
desenvolvimento desses setores pode ser averiguado pela participação de cada um na
arrecadação de tributos, bem como pelo aumento do número dos estabelecimentos e de
produção em cada setor.
Em relação ao setor primário, verifica-se que o município de Uberlândia contava
em 2005 com um total de 2.878 propriedades rurais. As pequenas propriedades, com até
50 ha, somavam um total de 1.488 propriedades (52,3% do total), no entanto ocupavam
uma área de 28.756,8 ha (7,233% da área total). Em contrapartida as grandes
propriedades, com mais de 1000 ha, somavam um montante de 57 propriedades (1,69%
do total) e ocupavam uma área de 94.484,3 (25,49 %) da área rural total.
Tabela 5: Uberlândia- MG: Estrutura Fundiária/Propriedades Rurais (2005)
Tamanho
da Área (ha)
Número de
Propriedades
% no total de
Propriedades
Área Total
(ha)
% Sobre Área
Total
Até 10 518 18,5 2.393,1 0,593
10,1 a 50 970 33,80 26.363,7 6,64
50,1 a 100 489 17,04 34.950,7 8,80
100,1 a 500 733 25,55 161.279,8 40,64
500,1 a 1.000 111 3,87 77.475,0 19,53
Acima de 1.000 57 1,69 94.484,3 25,49
Total 2.878 100 396.946,6 100
Fonte: BDI, 2008.
Com efeito, verifica-se a ocorrência do processo de concentração de terras no
48
município, pois as grandes propriedades ocupam a maior parte da área rural de
Uberlândia. Além disso, são nestas propriedades que se localizam as empresas
agropecuárias, as agroindústrias, as quais apresentam-se em crescente evolução. No
período de 2001 a 2006, o número de empresas do setor primário passou de 1.095 para
1.374, com um incremento de 279 novas empresas.
No que diz respeito à produção agrícola, Bessa (2001) destaca que sobressaem
os cultivos demandados pelas agroindústrias, dentre quais, os principais produtos de
lavouras perenes e temporárias cultivados no município de Uberlândia, destacam se os
seguintes: banana, café, laranja e manga nas lavouras perenes e milho, soja e cana de
açúcar nas lavouras temporárias. A pecuária, assim com a agricultura está diretamente
ligada às agroindústrias, neste caso sobressai à produção de gêneros alimentícios
produzidos a partir de carnes e laticínios. Neste sentido, destaca-se a criação de
rebanhos bovinos, suínos e de aves.
Tabela 6: Uberlândia - MG: Efetivo do Rebanho (2007).
Tipo de Rebanho Bovino Eqüino Suíno Frangos Galinhas Outros**
Total de Cabeças 228.565 6.169 645.843 3.639.786 2.325.917 4.576
Nota da Tabela: ** bubalino, asinino, muar, caprino, ovino, codornas e coelhos.
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário Municipal, 2007.
Quanto ao setor secundário, em decorrência de investimentos dos grupos
econômicos dominantes locais vem apresentando ao longo dos anos significativos
crescimentos. Sendo maior o acréscimo dos estabelecimentos industriais ligados aos
gêneros alimentícios, metalurgia, mecânica e têxtil. Cabe destacar ainda que, o setor
secundário apresenta grande importância à economia de Uberlândia, garantido posições
de destaque em relação ao PIB e ao ICMS em âmbito estadual e federal.
As atividades do comércio atacadista e varejista, bem como as atividades de
prestação de serviços, compõem o setor terciário da economia. Setor que ocupa mais de
80% do total de estabelecimentos da cidade.
A pujança das atividades do setor terciário em Uberlândia, deve-se a ampliação
do consumo, tanto o material quanto o não material. A tabela 7, mostra o crescimento
no número de estabelecimentos ligados ao comércio e a prestação de serviços.
Neste sentido, verifica-se que no período de 2001 a 2006, o número de empresas
formais do setor terciário saltou de 19.927 para 23.887, com um crescimento de 16,57%
no referido período.
49
Tabela 7: Uberlândia – MG: Total de Empresas Formais por Subsetores do Setor Terciário de Atividade Econômica - 2001/2006.
Subsetores de Atividade
Econômica do Setor Terciário
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Comércio varejista 9.111 5.235 9.914 10.181 10.397 10.418
Comércio atacadista 1.964 1.960 2.071 2.138 2.197 2.716
Instituições de crédito, seguros e
capitalização
338 332 386 412
414
406
Com. e administração de imóveis,
valores mobiliários, serv. técnico...
3.391 3.705 3.958 4.151
4.259
4.096
Transportes e comunicações 1.283 1.305 1.333 1.421 1.473 1.564
Serv. de alojamento, alimentação,
reparação, manutenção, redação
2.489
2.689
2.808
2.930
2.995
3.040
Serviços médicos, odontológicos e veterinários
908 1.014 1.040 1.069
1.072
1.131
Ensino 398 389 395 424 435 469
Administração pública direta e
autárquica
45 52 53 49
42
47
Total 19.927 16.681 21.958 22.775 23.284 23.887
Fonte: BDI, 2008.
O nível das atividades econômicas de determinada localidade pode ser ilustrado
pela produção interna e arrecadação de tributos. O PIB constitui de acordo com a
Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de
Uberlândia, o indicador que traduz o valor da produção realizada dentro de determinada
fronteira geográfica, num determinado período independentemente da nacionalidade das
unidades produtivas. Como pode ser observado na tabela 8, o setor terciário da
economia destaca-se com os maiores índices do PIB.
Tabela 8: Uberlândia - MG: produto interno bruto (PIB) a preço de mercado corrente total, em reais
(1999-2005).
Ano Agropecuária Indústria Serviços Outros Total
1999 174.247 1.422.416 2.284.293 945.385 4.826.341
2000 159.450 1.988.604 2.528.696 1.009.397 5.686.147
2001 215.842 1.909.794 2.767.840 1.123.184 6.016.660
2002 233.319 2.265.527 3.074.799 1.132.082 6.705.727
2003 263.840 2.896.573 3.479.413 1.449.583 8.089.409
2004 365.223 2.891.595 3.800.764 847.027 7.904.609
2005 250.858 2.016.857 5.372.402 1.550.556 9.190.673
Fonte: CEPES, 2007 apud OLIVEIRA, 2008.
Dentre os setores que compõem o PIB de Uberlândia, o terciário destaca-se e
vem se elevando gradativamente. A contribuição do setor terciário, no ano de 1999,
correspondia a 47% do total, sendo que, no ano de 2005, chegou a atingir 58%. Em
segunda posição está o secundário, que no ano de 1999 apresentou participação de 29%
e em 2005 caiu para 22%.
50
Ainda considerando o PIB do município de Uberlândia, segundo dados de 2006
da Fundação João Pinheiro – FJP-, esse município apresentava médias superiores às
estaduais e nacionais. Sendo assim, de acordo com a fundação no ano de 2004, entre os
municípios mineiros e considerando os três setores da economia, o PIB de Uberlândia
ocupava a primeira posição no setor primário, a quinta no setor secundário e a segunda
no setor terciário. Além disso, de acordo com informações do BDI da Prefeitura
Municipal de Uberlândia o índice de crescimento médio do PIB de Uberlândia de
8,46% ao ano.
As consecutivas transformações, como os expressivos crescimentos demográfico
e econômico, a implantação de infraestruturas, dentre outras, viabilizaram a
consolidação de Uberlândia como “nó” na rede urbana que exerce grande influência em
nível regional, e até mesmo em outras regiões do país
51
3. O MERCADO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA E SEU
ENTORNO: PERMANÊNCIAS E TRANSFORMAÇÕES
SÓCIOESPACIAIS
3.1. Origem do Mercado Municipal de Uberlândia e as Principais
Características de seu Entorno
Desde o inicio do século XX, a presença de ideais de desenvolvimentistas que
visavam uma cidade planejada e organizada foram essenciais para a concretização de
importantes obras na então, cidade de Uberabinha. Partindo desse pressuposto, no ano
de 1917 já se cogitava que a implantação de um Mercado Municipal seria um
melhoramento necessário à cidade. A construção do mercado representaria uma forma
de modernização e colaboraria, dentre outros aspectos, para a higienização da cidade na
medida em que permitiria a comercialização dos produtos rurais, periodicamente em um
único espaço e de forma organizada.
Nesta época a cidade era administrada pelo farmacêutico João Severiano
Rodrigues da Cunha12
, que havia residido na cidade do Rio de Janeiro e vivenciado as
ações da Revolta da Vacina, liderada por Oswaldo Cruz, bem como a reforma Pereira
Passos, ocorrida no período de 1902-1906, cujo movimento espelhado nas reformas
realizadas em cidades européias, como a realizada em Paris pelo Barão de Haussmann,
buscava o embelezamento e higienização dos espaços urbanos. As ações desse agente
executivo apresentavam significativas influências da vivência de tais transformações no
espaço urbano, da então capital federal.
Além disso, a construção de um Mercado Municipal se justificava pelo fato de
que haveria um maior controle sobre os preços das mercadorias comercializadas e
possibilitaria ao município a arrecadação de impostos, conforme pode ser averiguado
nos documentos oficiais desse período
12O agente executivo João Severiano Rodrigues da Cunha, permaneceu na administração municipal no
período de 1912-1922.
52
A construcção de um edifício para Mercado seria uma optima medida a ser tomada e tornar-se-ia também, estou certo, dentro de pouco tempo, fonte de
renda para o município (CÂMARA MUNICIPAL, Uberabinha, Minas
Gerais. Acta da sessão ordinária realizada no dia 3 março de 1917. pg
28/verso)
É também outro melhoramento inadiável, factor magnífico de renda e do qual
a cidade tem absoluta necessidade. Numa espocha anormal como a que
estamos atravessando com a especulação elevada ao seu mais alto grão, o
mercado de gêneros de consumo, como cereaes, aves, verduras, carnes, seria
o thermometro legitimo do preço e nelle além da facilidade de obtensão de
indispensável, se abasteceria francamente a população pobre, que, segundo é corrente, já não supporta o fornecimento da renda. (CÂMARA MUNICIPAL,
Uberabinha, Minas Gerais. Acta da sessão ordinária realizada no dia 3
setembro 1921. pg 46/verso.)
A partir da década de 1920 já se faz notável a expansão urbana em Uberlândia,
impulsionada, mormente pela presença do entreposto ferroviário, das charqueadas - o
fr igor ífico Omega- e da empresa de tecelagem – Cia. Industrial de Tecidos –. Nessas
circunstâncias, são notáveis significativas transformações no que diz respeito à
fragmentação socioespacial, a qual era objetivo das intervenções urbanas, afinal
conforme colocado por Soares (1995) era preciso planejar o espaço urbano com áreas
apropriadas ao comércio, ao lazer e à residência das populações mais ricas. Diante do
exposto, enquanto no Fundinho permanecia parte da elite urberlandense, nas novas
avenidas da cidade, em substituição às antigas residências de taipa e palhoça voltadas a
população de menor poder aquisitivo, estabeleceu a construção de imóveis comerciais
nas avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto e de belas e luxuosas residências nas
avenidas Cipriano Del Fávero e João Pinheiro, cujas avenidas eram beneficiadas com
serviços públicos básicos.
Neste período, a periferia da cidade era constituída pelos bairros operários
(vulgas vilas operárias) Patrimônio, a Vila Operária hoje bairro Nossa Senhora
Aparecida, e a Vila Martins, implantados na primeira metade da década de 1920 e
voltados para a classe de baixa renda, sobretudo operários. Assim, verificava-se uma
cidade fragmentada, onde barreiras naturais como os Córregos Cajubá (atual Av.
Getulio Vargas) e São Pedro (atual Av. Rondon Pacheco) 13
assinalavam tal divisão.
Além disso, cabe ressaltar que a proximidade dos córregos representava que os terrenos
eram menos valorizados pelas classes de maior poder aquisitivo, visto a probabilidade
13
Anteriormente, na ocasião de suas aberturas essas avenidas eram denominadas Av. São Pedro e Av. Rio
de Janeiro, respectivamente.
53
de ocorrência de alagamentos. Assim, sendo, nesta área também existiam residências
precárias.
Durante o processo de expansão e fragmentação do espaço urbano, merece
destaque o papel da empresa imobiliária, na medida em que, por meio de
financiamentos, age facilitando a aquisição de terrenos. A Empresa Uberlandense de
Imóveis, de propriedade de Tubal Vilela da Silva, surgiu nesse período e, a partir de
então contribuiu em grande medida para esse processo, visto a grande demanda por
habitação.
Nos anos seguintes foram intensificadas as transformações no âmbito do espaço
urbano, sendo que a partir de meados da década de 1930, já era notável a presença da
elite com suas mansões, sobretudo nas Av. João Pinheiro e Cipriano Del Fávero, cujas
avenidas buscavam representar por meio dos projetos arquitetônicos, ajardinamento e
limpeza a modernidade, bem como a presenças das atividades de comércio e serviços
nas Av. Afonso Pena e Floriano Peixoto. Assim, na década de 1940 conforme colocado
por Soares (1995) “no universo entre as praças da Estação da Mogiana (atual Sérgio
Pacheco) e Antônio Carlos (atual Clarimundo Carneiro), e as avenidas Afonso Pena e
Floriano Peixoto, consolidou-se o principal setor de comércio varejista, de serviços e
lazer da cidade”, fato constatado pela presença de importantes construções, como por
exemplo, o Fórum, a Matriz de Santa Terezinha, o Mercado Municipal, a Estação
Rodoviária e o Paço Municipal.
Cabe destacar, que a fim de assegurar os preceitos higiênicos, dentre outros
motivos, Uberlândia teve um outro Mercado precedente ao atual Mercado Municipal de
Uberlândia, segundo consta o jornal Tribuna apud Lopes (2007, p. 27) tal Mercado foi
inaugurado em 1942, “embora de caráter provisório, pois Uberlândia terá futuramente
prédio próprio destinado àquele fim, o Mercado que entrega ao público irá, por certo,
satisfazer as exigências impostas pelo momento”. Esse Mercado certamente estava
localizado nas mediações da atual Praça Adolfo Fonseca, pois conforme afirma Lopes
(2007, p.18) a Praça Dom Pedro II, atual Praça Adolfo Fonseca, foi conhecida como
Largo do Mercado.
O local destinado à construção do novo Mercado Municipal de Uberlândia,
segundo informações oficiais deveria ser na parte da nova cidade. De acordo, com a
planta do aglomerado urbano, elaborada pelo engenheiro inglês da Mogiana, Sr. James
John Mellor em 1908, o primitivo núcleo urbano, o Fundinho, representava a porção
54
velha da cidade, com ruas estreitas e tortuosas com glebas se estendendo ao longo dos
ribeirões São Pedro e Cajubá. A fim de estabelecer ligação dessa porção da cidade com
a estação ferroviária, instalada em 1895, ao norte da cidade, foi proposto um novo
traçado urbano a partir da Praça Clarimundo Carneiro com avenidas e ruas largas,
extensas arborizadas, num traçado xadrez, o qual correspondia à cidade nova. (LOPES,
2002). De acordo com Soares (1995), inicialmente foram abertas cinco avenidas
paralelas - Afonso Pena, Floriano Peixoto, Cipriano Del Fávero, João Pinheiro e Cesário
Alvim -, na direção Norte/Sul, oito ruas transversais, figura 5, dentre elas a Rua
Olegário Maciel, onde anos mais tarde seria instalado o Mercado Municipal.
Figura 5- Uberberabinha- MG – Planta da Cidade em 1927 Fonte: SOARES, B. R.1988.
55
O primeiro projeto para a construção do mercado municipal apresentava duas
propostas, sendo uma de um espaço mais amplo e outra de espaço mais restrito, com
obras orçadas em 128:889$500 e 70:982$500, respectivamente conforme a Ata da
sessão ordinária realizada no dia 3 setembro 1921. pg 53/frente. Decorridos cinco anos,
em 1923 por meio de um Decreto de 13 de janeiro foi autorizada a construção do
Mercado Municipal de Uberlândia. Todavia, a edificação foi efetivada 11 anos após sua
autorização, na década de 1940, período que conforme colocado por Soares (1995:159)
“a obsessão da elite local pelo progresso, mediado pela ordem e estética urbana,
existente desde o início da ocupação do município, quando a cidade é considerada um
entreposto comercial é acirrada”. Conforme indicado em sua placa de inauguração, o
projeto da construção é de autoria de Dr. Luis Rocha e Silva, sendo a construção
executada por Silvio Rugani, com arquitetura moderna e pinturas representando os
comerciantes e trabalhadores locais do artista Geraldo Queiroz em algumas das paredes
externas do prédio.
Contudo, conforme ressaltado por Lopes (2007, p.23) em decorrência da
subordinação dos municípios ao Governo Estadual na construção de obras públicas, é
possível inferir que o projeto do Mercado Municipal, foi elaborado pelo engenheiro
arquiteto Celso José Werneck, de Belo Horizonte, conforme a figura 6. Porém, esse
projeto sofreu algumas modificações, que conforme afirma a autora, não
descaracterizaram o projeto, e possivelmente foram realizadas por Dr. Luiz Rocha e
Silva, não sendo, portanto autores do projeto.
56
Figura 6- Projeto do Mercado Municipal elaborado pelo
arquiteto Celso José Werneck, sem data. Belo Horizonte Fonte: LOPES, V.M.Q.C, 2009.
A inauguração do Mercado Municipal de Uberlândia localizado na área central
da cidade, na Rua Olegário Maciel, 255, em seu cruzamento com a atual Avenida
Getúlio Vargas ocorreu em 25 de dezembro de 1944, e conforme anunciado pela
impressa local, constituía um “presente de natal para os pobres”, ao mesmo tempo
enfatizando que a obra consistia em uma realização do então prefeito Vasconcelos Costa
(1943-1945). Além disso, cabe destacar que, conforme noticiado na ocasião de
inauguração do Mercado Municipal de Uberlândia, ocorreu distribuição de presentes de
natal.
57
Figura 7- Uberlândia- MG – Mercado Municipal na década de 1940 Fonte: Arquivo Público – Acervo Roberto Cordeiro
Considerado como um melhoramento necessário à distribuição de alimentos na
cidade de Uberlândia, as vantagens do Mercado Municipal eram destacadas, sendo que
dentre as principais destacam a garantia dos preceitos higiênicos na comercialização de
hortifrutigranjeiros, assegurada pela facilidade de execução de uma fiscalização mais
efetiva, visto que os comerciantes encontram-se aglomerados, e a possibilidade de
maior de diversidade de produtos a disposição dos consumidores, o que estimularia um
consumo maior.
O Mercado Municipal caracteriza-se como espécie de centro ou feira comercial,
o qual de acordo com o decreto nº 132 de 08 de agosto de 1945,
(art. 1º e 2º) (...) se destinava ao comércio varejista de produtos alimentícios
da pequena indústria agropecuária, avícola ou extrativa, sendo permitida a
venda, nas lojas, de artigos de armarinho a baixos preços, tecidos grossos,
peças de vestuário, instrumentos de lavoura e utensílios domésticos. (art. 6º) após as dez horas era permitida a venda a atacado dos produtos que não
haviam sido comercializados. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
UBERLÂNDIA. Decreto nº 132 de 08 de agosto de 1945).
No momento de sua inauguração o prédio que abrigava o Mercado Municipal
contava com espaços destinados às lojas, sanitários e bares na porção central do
pavimento térreo, o pavimento superior destinava-se a Banda Municipal. No entorno,
estavam espaços reservados aos depósitos, além de um pátio central ocupada pelo
Ceasa, onde até 1977 ocorria a comercialização de hortifrutigranjeiros no atacado.
Nesse período, conforme narrado por Sr. Chico, o comerciante mais antigo no mercado,
o piso era asfalto, e assim permaneceu por cerca de 10 anos, quando por ocasião das
reformas este piso foi modificado.
58
Após a década de 1950, em decorrência das transformações atravessadas pelo
país, como a interiorização da economia possibilitada pela abertura de vias e a
construção de Brasília, o incremento das atividades industriais e o fortalecimento da
ideologia desenvolvimentista, Uberlândia experimenta uma nova fase de crescimento,
tanto demografia quanto espacialmente, como nunca visto anteriormente, refletindo em
transformações na área central, a qual passa por um processo de expansão. Todavia,
conforme destacado por Soares (1995) a maior concentração populacional e de serviços
estava, sobretudo nos bairros Fundinho, Martins, Operário, Centro e Patrimônio, onde já
se pode observar o processo de verticalização a partir da construção de edifícios com
mais de cinco pavimentos, sendo o andar térreo destinado a atividades de comércio e
serviços, como bancos, e os demais para usos residenciais.
Neste contexto, de intenso crescimento da cidade, e conseqüentemente
populacional, logo se fez necessário a realização de obras de ampliação do prédio que
abrigara o Mercado Municipal, visto que seu espaço mostrava cada vez mais restrito.
Assim, durante a década de 1950 foram realizadas as primeiras intervenções na
estrutura do prédio. Inicialmente entre os anos de 1951 e 1955 foi construído um prédio
anexo composto por dois pavimentos, voltado para atual Av. Getúlio Vargas, cujo
objetivo era abrigar um restaurante popular e uma estufa para o amadurecimento de
verduras.
Todavia, em decorrência da não conclusão do projeto devido à inviabilidade
desse espaço para as atividades pretendidas, o mesmo passou readequações sendo que, o
pavimento térreo foi transformado em um espaço destinado a abrigar lojas e o
pavimento superior foi cedido à UESU (União dos Estudantes Secundaristas de
Uberlândia) que permaneceu neste local até o ano 1964, quando por ocasião da ditadura
militar foi fechada por se classificar uma entidade ilegal. Com a saída dessa associação,
o espaço foi ocupado por uma escola de música, que aí permaneceu até o ano de 1986,
quando a UESU voltou a ocupar o esse espaço até o ano de 1995. E por fim, esse espaço
passou a abrigar a Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas de
Uberlândia.
Posteriormente, em 1959 foi realizada mais uma intervenção no prédio do
Mercado Municipal, desta vez, foram construídos seis cômodos, na lateral esquerda do
prédio principal, destinados à instalação de açougues, além de novos sanitários
59
localizados no pátio. Além disso, mais tarde em 1972, foi construído, anexo aos
depósitos, mais um cômodo que se destinava a esse fim.
No que concerne aos parâmetros legais referentes ao processo de planejamento
urbano, cabe destacar a atenção que os mesmos destinavam segundo Soares (1995) ao
controle e tamanho das edificações no centro da cidade; ao alinhamento das casas e, em
certa medida, ao seu uso e qualidade, ainda
Os Códigos de Obras e Posturas de 1950 e 1970 de Uberlândia legislavam
apenas quanto às questões de eugenia e higiene do espaço público, ao decoro
urbano, ao controle e à observação de leis de trânsito e à algumas regras para
a construção civil. (SOARES, 1995, p. 137).
Neste sentido, o Código de Posturas de 1950 por meio de 8 artigos – Art. 452 a
468 - disponha sobre questões referentes aos padrões de exposição e organização dos
produtos comercializáveis; sobre as condições e taxas de locação; sobre as restrições
indispensáveis para a manutenção da disciplina e ordem do ambiente, etc.
Durante a década de 1940 até meados da década de 1970, o Mercado Municipal
exercia grande poder centralizador das atividades comerciais de gêneros alimentícios,
visto que agrupava em um mesmo local uma gama de produtos – de hortifrutigranjeiros
à secos e molhados -, além disso, ainda era incipiente a quantidade de estabelecimentos
comerciais que oferecesse uma variedade de produtos similar, bem como seu entorno
constituía uma área residencial. Esse fato é comprovado pela narrativa de Sr.
Aguinaldo (conhecido como Sr. Bebé), o segundo mais antigo entre os comerciantes do
mercado municipal, que comercializa secos e molhados desde a inauguração do
estabelecimento.
Segundo o comerciante, outrora a movimentação na barraca era intensa, vendia
muito para todos aqueles que iam ao mercado comprar hortifrutigrangeiros, pois
naquela época não havia supermercados em Uberlândia, além de sua barraca, em frente
ao mercado, havia um comércio atacadista e varejista de secos e molhados denominado
“Barros e Borges”, de posse de dois irmãos da cidade de Uberaba. Além, dessa loja em
frente ao mercado municipal havia mais outras 3 lojas em Uberlândia, e lojas em
Uberaba. Dentre outros motivos, a chegada de grandes redes de supermercado na cidade
de Uberlândia, como o Pão de Açúcar e o Carrefour, levou os irmãos encerrarem suas
atividades nesta cidade na década de 1980, e na cidade de Uberaba na década de 1990.
A concretização de transformações, a exemplo às narradas pelo comerciante,
representadas pela difusão das redes de supermercado, os quais modificaram os hábitos
60
de compras e desestabilizaram parte do mercado local, surtiu reflexos na estrutura do
Mercado Municipal de Uberlândia, bem como na cidade como um todo, conforme será
melhor explanado a seguir.
3.2. Os Períodos de Transição Atravessados pelo Mercado Municipal
de Uberlândia
Como já colocado, a busca pelo progresso e a modernidade sempre foi uma meta
a ser alcançada, presente no ideário da sociedade uberlandense, a qual, num circulo
vicioso, sempre procurou a concretização de fatos novos que representassem o
desenvolvimento. O contexto político e econômico que marcou o país e o estado, a
partir da década de 1970, possibilitou a concretização de uma série de transformações
na cidade de Uberlândia.
Dentre os principais acontecimentos, destaca-se a ação do governo estadual,
tendo com aliado financeiro o Banco de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais
(BDMG), na criação da Companhia de Distritos Industriais (CDI) com o objetivo de
promover a descentralização, e simultaneamente incrementar o parque industrial de
Minas Gerais, a partir do oferecimento de acessória na implantação e administração de
áreas industriais. Uberlândia foi beneficiada nesse processo, sobretudo, porque o então
governador do Estado, Rondon Pacheco, era natural dessa cidade. Na ocasião da
implantação do Distrito Industrial, em 1972, em parceria os governos estadual e
municipal, ofereciam uma série de benefícios: como gratuidade de partes substancial do
terreno, isenção de impostos municipais durante 10 anos, infra-estrutura básica do
projeto, assessoria econômica e técnica, entre outros, a fim de atrair indústrias e
empresas para Uberlândia, o que de fato aconteceu, visto que foram atraídas várias
empresas, conseqüentemente um grande contingente populacional (SOARES, 1995).
Além do desenvolvimento industrial, a autora destaca as transformações
engendradas na estrutura agrária, instalação da Universidade Federal de Uberlândia
(1978) e a intensificação comercial em nível regional como grandes propulsores do
movimento migratório rural e urbano de municípios vizinhos para Uberlândia, gerando
61
conforme já exposto, um crescimento populacional urbano vertiginoso, situado numa
faixa de 6,5% ao ano.
Outro aspecto relevante na década de 1970 foi a criação de políticas públicas,
como a Política Nacional de Desenvolvimento, com o intuito de promover a
planificação urbana, através da desconcentração das atividades econômicas e da
população das grandes cidades em direção aos centros urbanos de porte médio, e assim
evitar a concretização do processo de metropolização precoce, e minimizar os problema
socioeconômicos.
A diversidade econômica e atração populacional presentes na cidade geraram
reflexos na estrutura urbana. Assim, na década de 1970, assistimos, agora com maior
vigor, a continuidade da lógica de abertura de novos loteamentos, distantes da área
central e destinados aos grupos de menor renda iniciado na década anterior.
(...) entre os anos de 73- 83 foram abertos 107 novos loteamentos com 53.579
terrenos, incluindo-se as chácaras, destas pelo menos 44 são denominadas
periferias. Nesta relação não estão sendo considerados os bairros construídos
pelos conjuntos habitacionais - 18 no total, que em sua maioria não possuem
bens de consumo coletivo, exceção feita aos COHAB, que dada sua
obrigatoriedade são implantados com alguns deles. (SECRETARIA DE
OBRAS DA PREFEITURA, apud SOARES, 1988).
Seguindo a mesma lógica de abertura de novos loteamentos, as décadas de 1970
e 1980 são marcadas pela intensificação do processo de verticalização, que de acordo
com a perspectiva de muitos ofertava mais habitações ao mesmo tempo em que
representava o progresso e modernidade. Neste sentido, para atender a demanda,
sobretudo das classes médias, que deixaram de considerar o centro atrativo, visto a
poluição e decadência presentes, os bairros do entorno do centro, sobretudo Martins,
Santa Maria e Fundinho, que apesar das ruas estreitas tornam atrativos, pela
proximidade do centro, pela comodidade de seus serviços e presença de infraestruturas
(TEMER, 2001).
Assim, apesar do expressivo crescimento da cidade, até meados da década de
1970 ainda era significativa a concentração do comércio varejista, da rede bancaria,
escritórios, órgãos da administração pública, consultórios médicos e dentários, cinemas,
restaurantes, imobiliárias, entre as avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto, no “novo
centro da cidade”, sendo que junto às vilas Martins e Operário existia um comércio
popular e atacadista, fato explicado pela presença da linha férrea que impedia a
expansão dessas atividades direção norte. No entanto, a inauguração da nova estação
62
ferroviária localizada no Bairro Custodio Pereira, em 1972, colocou fim ao
seccionamento da cidade em duas porções distintas (SOARES, 1995).
A partir desse momento ocorrem significativas mudanças com a expansão do
centro comercial, seja com a descentralização de algumas atividades para os bairros
mais periféricos, seja com a aglutinação espacial de atividades a fins, conforme
destacado por Singer (1979) seja para tirar proveito de sua complementaridade, seja
para facilitar a tomada de decisões por parte dos clientes, que desejem escolher entre um
número maior de ofertas. Neste contexto, segundo Soares (1988) as atividades ligadas
ao setor financeiro, administração e gestão deslocaram, sobretudo para a Av. Afonso
Pena, onde estavam as grandes lojas de eletrodomésticos, magazines populares e
escritórios diversos, os estabelecimentos comerciais varejistas, voltados para as classes
de maior poder aquisitivo, que estavam nas grandes avenidas deslocaram para as ruas
transversais e as atividades ligadas à saúde e estética concentraram nas Av. João
Pinheiro e Getúlio Vargas. Assim
Os consultores médicos e dentários, clínicas especializadas, salões de beleza,
hospitais e bares se aglutinam entre a Av. João Pinheiro e Getúlio Vargas,
nas antigas e luxuosas residências da cidade. Do mesmo modo, os escritórios,
escolas de idioma e outros serviços especializados, também se distribuem
nessa área com o fito de oferecer instalações atraentes em locais preferenciais. Dessa maneira, as residências mais “finas” são redirecionadas
para novas áreas, criadas especialmente pelos promotores imobiliários.
(SOARES, 1988, p. 99).
Em decorrência das transformações econômicas e sociais, estabelecimento de
zoneamentos no espaço urbano, necessidade de expansão, dentre outras questões, a
presença de certos usos em determinadas áreas do espaço urbano se torna inviável
impondo a necessidade de reestruturação. É nessa conjuntura que, no ano de 1976
ocorreu a inauguração da nova Rodoviária localizada no Bairro Martins, visto que a sua
presença no Bairro Fundinho já não era mais adequada considerando o aumento da
demanda. Outro uso que se torna incompatível, é a presença da Ceasa no pátio do
Mercado Municipal de Uberlândia, gerando transtornos, visto às mudanças atravessadas
pela sociedade e, por conseguinte, refletidas nessa área.
Diante do exposto, no ano de 1977 foi solicitado pelo então prefeito Virgilio
Galassi a construção de uma Ceasa. Assim, a partir desse ano o comércio atacadista de
hortifrutigranjeiros deixou de se realizar no centro da cidade, pois foi transferido para os
63
galpões do antigo parque de exposições, até a inauguração da nova Ceasa14
, em 21 de
Outubro de 1978.
A saída da Ceasa do pátio do Mercado Municipal de Uberlândia, deixando o
mesmo responsável apenas pelo comércio varejista, paralelamente à diversificação e
expansão do comércio varejista em Uberlândia, resultou na transformação de sua
dinâmica, visto que ele perdeu parte de seu poder centralizador, sendo julgado ao
esquecimento e chegando ao ponto de ser comparado a um pardieiro.
Figura 8- Uberlândia- MG – Mercado Municipal durante
seu período de crise, década de 1980. Fonte: Acervo Prefeitura de Uberlândia
Soma-se a esses aspectos o processo natural de valorização de outras áreas do
espaço urbano, deixando ao esquecimento locais, que outora foram importantes. Pois,
A procura por espaço, na cidade é formada por empresas, por
indivíduos ou por entidades que atendem as necessidades de
consumo coletivo. A procura das empresas objetiva o uso do
espaço para realizar: ou atividades produtivas (secundárias ou
terciárias) ou atividades de circulação comercial, financeira, etc.
Do ponto de vista das empresas, cada ponto do espaço urbano e
único, no sentido de proporcionar determinado elenco de
vantagens que influem em seus custos. (SINGER, 1979. p.24.)
14 A antiga Ceasa era denominada Central de Abastecimento da Região do Triângulo (CEART), porém
logo passou a ser chamada CeasaMinas-Uberlândia, a partir de sua incorporação pela Centrais de
Abastecimento de Minas Gerais S/A (CeasaMinas) uma empresa de economia mista, vinculada ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cujo volume de mercadorias
comercializadas apresenta crescimento significativo, passando de 4 mil na ocasião de sua inauguração
para 18 mil toneladas em 2007, necessitando assim de expansões.
64
O entorno do Mercado, sobretudo no bairro Fundinho, conforme colocado por
Attux (2001) na década de 1970 passou por intensas transformações, que alteraram a
paisagem urbana, no entanto não havia nenhuma preocupação em promover a
preservação de antigas edificações.
Inicialmente, cada boxe do Mercado era especializado na venda de determinadas
mercadorias, fundamentalmente frutas ou verduras, salvo algumas exceções como os
boxes de secos e molhados e alguns comerciantes que vendiam uma grande variedade
de hortifrutis
(...) dentro do Mercado quem trabalhava com frutas era só frutas, quem
trabalhava com legumes era só legumes e quem trabalhava com verduras de
folhas, trabalhava só com verduras de folhas. Então até uma certa altura eles
conseguiam manter dentro do mercado, tendo em vista que o mercado ainda
não tinha essa estrutura nova, ainda era o mercado velho, então naquela
época os custos eram mais baixos. No mercado o rateio15 era feito inclusive
com a parte de baixo, porque tinha mais lojas e a gente conseguia fazer um
rateio maior. E outra, condomínio não era tão caro, porque na época a gente
pagava menos, porque tinha mais lojas pra ta fazendo esse rateio, devido a
isso, esse pessoal não sentia muito esse custo. Mesmo eles trabalhando com
um produto, só eles conseguiam fazer o pagamento. Lá na parte do mercado eu já ficava fora, eu sempre fazia diferente, eu era o diferente, porque sempre
trabalhei com todos os tipos de produtos16.
A fim de assegurar a continuidade das atividades comerciais no Mercado
Municipal de Uberlândia, no período de crise a permissão para a diversificação de
produtos comercializados se tornou algo imprescindível. Dessa forma, a atual
diversidade de produtos encontrados no mercado é conseqüência de uma “saída”
encontrada pelos comerciantes para garantir a lucratividade e a permanência nessa
atividade.
O inicio do processo de diversificação dos produtos a ser comercializados no
mercado municipal foi relatado da seguinte maneira pela comerciante Dona Maria
Aparecida de Paula, esposa de Sr. Chico,
Primeiro eu comprei um doce para comer e decidi deixar aqui, no primeiro
dia vendi um, depois vendi dois, vi que ia dar certo e resolvi trazer mais doces e colocar na barraca. Depois, para ser vendido junto com o doce
coloquei o queijo. O artesanato é mais recente.
15 O rateio relatado por Sr. Airton refere-se à divisão dos custos, tais como água, energia, limpeza, entre
os comerciantes, sendo que o valor pago era equivalente ao tamanho do boxe. 16
Trecho de entrevista concedida pelo comerciante Airton Màquez de Oliveira à Mariane Maria Bahia de
Almeida em novembro de 2007.
65
Portanto, a reconfiguração do Mercado no âmbito dos produtos comercializados,
uma solução para a crise decorrente, dentre outros fatores, da saída da Ceasa, vem ao
longo dos anos aumentando a diversidade de produtos, visto que conforme relatado
pelos comerciantes “os turistas buscam no mercado os produtos da região e os
uberlandense, principalmente os mais idosos, frutas e verduras”. Dona Maria Aparecida,
destaca que os produtos comercializados se destinam a vários locais do país, bem como
para o exterior, segundo ela
Os produtos vão até para o Japão e Itália. Muitos taxistas conhecem a barraca
e, quando turistas procuram por um local onde possam encontrar produtos
típicos da região eles indicam ou trazem eles aqui para que possam comprar.
Figura 9: Uberlândia – MG – Variedade de Produtos comercializados no Mercado Municipal. A-Apiário Santa Rita. B-Box do Geraldo e Eliana. C-
Discon. D- Box do Seu Chico. E – Mercearia das Famílias. Fonte: Acervo sítio Mercado Municipal
Todavia, o oferecimento de diversos tipos de produtos, não evitou que o
Mercado atravessasse um período de crise, configurando um patrimônio completamente
esquecido e desvalorizado pela população, que costumeiramente prioriza o novo em
66
detrimento daquilo que representa fragmentos do passado. Neste contexto, durante as
décadas de 1970 e 1980, destacam-se como ações no âmbito do prédio que abriga o
Mercado Municipal, apenas a criação de mais um anexo em seu pátio, destinado a
receber a administração, o Programa Nacional de Voluntários (Pronav), além de mais
um cômodo destinado à depósito. A porção do prédio voltada para a Av. Getúlio
Vargas, em estado de deterioração ficou com as lojas do pavimento térreo fechadas por
tempos, sendo algumas utilizadas como depósitos.
Não obstante esse contexto de abandono do Mercado Municipal, no ano de 1986
já se reconheceu a importância de se preservá-lo visto o seu valor para a memória da
cidade, contudo, apesar do movimento em prol do tombamento da edificação como
patrimônio histórico do município, essa ação não foi concretizada, sobre isso o dossiê
de tombamento traz a seguinte passagem
Em 1986, a vereadora Olga Helena da Costa, membro do Conselho
Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Uberlândia, então recém
criado, encaminhou à Câmara Municipal de Uberlândia proposta de
Tombamento do Mercado (Projeto de proposta de lei nº 6.136/86). Como
justificativa apresenta seu valor histórico como memória das primeiras
tentativas de agrupar o comércio de hortifrutigranjeiros, as características
próprias de sua arquitetura e a existência de pinturas de bom valor artístico. A
proposta aponta a possibilidade de que o Mercado, após restaurado, possa
abrigar um comércio de artesanato regional e abrir espaço para artistas da
cidade. A proposta teve parecer favorável das comissões internas da Câmara de Serviços Públicos Municipais e de Finanças, Orçamento e Contas, porém
um dos membros da Comissão de Legislação e Justiça, o vereador Adriano
Bailoni Júnior deixou de assinar, argumentando que “o velho pardieiro onde
se situa o Mercado Velho precisa é dar lugar a outra edificação à altura de
nossa cidade”. Assim, o processo de tombamento não foi concluído.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA, Dossiê de Tombamento,
Decreto nº8130 de 29 de outubro de 2002).
O prédio do Mercado Municipal pertence à Prefeitura Municipal, assim como
inicialmente sua administração era de responsabilidade dessa instituição, porém a partir
de 01 de novembro de 1988 através de um Termo de Permissão de uso, sua
administração passou a ser de responsabilidade da Associação dos Locatários do
Mercado Municipal (ALMEM). A ALMEM consiste em uma administradora sem fins
lucrativos, composta por uma diretoria executiva, formada por três membros –
presidente, secretário e tesoureiro; e um conselho fiscal, sendo seus membros
comerciantes eleitos, através de eleições diretas e secretas.
Assim, apesar de algumas mudanças no modelo de intermediação entre
locatários e associação, desde então a ALMEM vem atuando na sublocação dos boxes
67
do Mercado Municipal, assim de acordo com Rafael Santos Paula, neto de Sr. Chico e
que atualmente cuida seu Box, “existe uma sublocação (a prefeitura aluga o local para a
ALMEM e a ALMEM aluga para os comerciantes”.
3.3. O Mercado Municipal de Uberlândia e seu Entorno
Durante as seis décadas e meia de sua existência o Mercado Municipal de
Uberlândia vivenciou várias modificações e apresentou diversas dinâmicas, passando de
entreposto de distribuição de hortifrutigranjeiros a espaço de comercialização de
diversos produtos e de mostras culturais, além ser tombado como Patrimônio Histórico
Municipal. Essas mudanças no âmbito do Mercado Municipal, assim como dos usos em
seu entorno, constituem um processo natural que ocorreu de maneira articulada e
simultânea às mudanças na/da sociedade, que em cada momento histórico aparece com
novos valores e demandas.
Indubitavelmente, ao longo das décadas de 1990 e 2000 ocorreram grande
transformações. Neste período assistimos importantes avanços, principalmente no que
concerne às telecomunicações, o estabelecimento e a estruturação de inúmeras redes,
aumento da mobilidade e acessibilidade à inúmeros objetos, consubstanciadas pelo
técnico-científico-informacional, uma das facetas do processo de globalização.
Testemunhamos reestruturações espaciais e, conforme coloca Santos (1996, p.73)
maiores diferenciações e disparidades de acordo com o grau de ciência, tecnologia e
informações presentes nos diferentes lugares.
Historicamente, os planos urbanísticos da cidade de Uberlândia estavam
pautados no trinômio ordenar, embelezar e sanear, sendo que sobressaia o objetivo do
embelezamento urbano, por meio da construção de avenidas, praças e jardins
arborizados, edificações de estrutura moderna, dentre outras infraestruturas.
Na década de 1990, a partir da elaboração do plano diretor de 1994, lei
complementar nº 078, no que concernem as diretrizes sobre a estruturação urbana,
algumas ações relacionadas à preservação do patrimônio cultural da cidade, foram
concretizadas, como a revitalização de parte do Mercado Municipal, a reativação do
COMPHAC – Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de
Uberlândia. Porém, inicialmente não foi concretizada nenhuma dentre as diretrizes de
68
reestruturação da área central, como por exemplo, seu art. 18 – VI, que previu “o
incentivo à preservação e revitalização do Fundinho (...)” (ATTUX, 2001).
A necessidade de restauração e preservação do Mercado Municipal era
inquestionável, tanto para assegurar a salubridade do ambiente, como para a
preservação da edificação. Nesse contexto, no ano de 1995 os prédios centrais, laterais
direito e dos fundos foram parcialmente restaurados. Segundo o comerciante Rafael
Essa reforma ocorreu a fim de promover a higienização do local, assim,
dentre as principais mudanças destaca-se a modificação da estrutura, a
colocação de forro de madeira no teto, a reforma do piso e retirada dos
banheiros e das cozinhas que existiam e eram utilizadas pelos comerciantes para fazer as refeições no local.
Essas mudanças ainda eram incipientes diante dos significados do Mercado e da
situação em que este se encontrava, afinal tomando como referência a perspectiva de
Silva (1996, p.165) de que a preservação enquanto uma trajetória de atuação, de uma
prática de intervenções, de um conjunto de decisões tomadas, ao longo de um tempo, à
luz de conceitos em permanente transformação, consiste em um conjunto de ações que
baseiam na identificação, registro, proteção, tombamento, divulgação e promoção do
que seja o patrimônio cultural da nação, ainda era preciso muito, no sentido de
manutenção material e da criação de identidade, para assim assegurar a existência desse
patrimônio para a posteridade.
Neste contexto, concretizando as aspirações já existentes de a década de 1980,
em 29 de outubro de 2002, o Mercado Municipal é oficialmente tombado como
patrimônio cultural de Uberlândia através da Lei Municipal nº 8.130 com registro no
Livro do Tombo Histórico, inscrição VII, pág. 9. Após o tombamento decorreram cerca
de três anos, com o Mercado à mercê do tempo, até o inicio das ações de revitalização.
Neste sentido,
É possível dizer que só faz sentido preservar algum objeto (e os objetos da
preservação podem ser materiais – móveis, imóveis; ou imateriais – modos
de fazer, costumes, ritos) diante da ameaça de perda. isto é, só existe a
preocupação de proteger alguma coisa se há risco de perdê-la. (SILVA, 1996,
p.165).
Assim, a partir do ano de 2005, juntamente com a restauração e revitalização de
outros bens culturais como o Coreto, o Museu Municipal, a Igreja de Nossa Senhora do
Rosário, a Praça Rui Barbosa, a Oficina Cultural e até a Casa da Cultura, começou a
69
recuperação desse patrimônio tombado. Cabe destacar que, segundo informações do
comerciante Rafael, primeiramente as ações ocorreram “na parte mais baixa, na
Avenida Getúlio Vargas onde é de responsabilidade da Secretária de Cultura, e que
ficou em desuso, abandonada, por mais de 10 anos”.
Figura 10- Uberlândia- MG – Mercado Municipal durante processo
de restauração década de 2000. Fonte: Acervo Prefeitura de Uberlândia
O edifício que abriga o Mercado Municipal é composto por duas porções, onde
estão os boxes, sob responsabilidade da Secretária de Agropecuária e Abastecimento e
pela ALMEM, devido a sublocação, e a ala de cômodos paralela a Avenida Getúlio
composta por dois pavimentos administrada pela Secretária de Cultura. Após a
revitalização o segundo pavimento dessa ala passou a abrigar uma galeria para
exposição de obras artísticas, fundamentalmente de artistas regionais, conforme
declarado pela administradora do espaço cultural ao jornal Correio de 27/05/2009
“nossa proposta é abrir portas do Mercado para artistas de Uberlândia e região” e assim,
como afirma a secretária municipal de cultura nessa mesma reportagem “a idéia é tornar
o Mercado um ponto de encontro de artistas regionais e da comunidade”. Além da
galeria foram criados um teatro de bolso com capacidade para 100 pessoas e um espaço
cultural destinado a abrigar oficinas, exposições e apresentações artísticas. Segundo,
informações da Prefeitura Municipal “durante a realização das reformas havia, entre os
engenheiros e arquitetos a preocupação em recuperar a arquitetura do prédio”.
70
A fim de promover a revitalização e o aumento da sociabilidade no Mercado
Municipal, destaca-se também a ocorrência da Feira Gastronômica17
nas terceiras
quintas-feiras de cada mês, da Arena do Samba18
, que acontecia nos terceiros sábados
de cada mês, execuções de happy hour com artistas locais, da exibição de filmes fora do
contexto comercial, por meio do projeto cineclube da esquina que acontece às quartas-
feiras, dentre outros.
Figura 11: Uberlândia – MG – Eventos promovidos após a Revitalização do
Mercado Municipal. A. Feira Gastronômica no Mercado Municipal. B. Arena do
Samba no Mercado Municipal Fonte: Acervo Sítio Mercado Municipal
17 Esse constitui um evento com amostras culinárias de diversos países, durante o qual também ocorrem
apresentações artísticas, que atrai pessoas de diversas classes sociais e culturas.
18 Esse evento fazia parte de um projeto da Prefeitura Municipal de Uberlândia apoiado pela Secretaria
de Cultura, que de acordo com o Jornal Correio de 13/04/2006, tinha por objetivo cultivar a tradição das
autenticas rodas de samba do começo do século XX.
71
A partir da realização das reformas objetiva-se além da preservação do Mercado,
que aumente o seu público, para além dos turistas e pessoas idosas, pois o lugar oferece
muitas vantagens, como a localização no centro da cidade, e, por conseguinte uma
significativa centralidade e acessibilidade, além de proporcionar valores de aluguel
relativamente reduzidos se comparados a outros estabelecimentos comerciais nesta área.
Desse modo conforme colocado pelo comerciante Rafael “hipoteticamente, é melhor
pagar R$ 500,00 de aluguel de um Box no mercado do que R$150,00 de um cômodo em
um bairro afastado”. Todavia, apesar dessas vantagens, os comerciantes destacam que é
essencial que se promova maior divulgação do mercado.
A secretária de cultura Mônica Debs reconhece que apesar do Mercado,
historicamente constituir uma referência na cidade, não tinha seu espaço bem
aproveitado, sendo que segundo ela a partir da restauração isso seria modificado.
Porém, apesar da restauração e do reconhecimento do Mercado Municipal como
patrimônio histórico cultural e importante ponto turístico de Uberlândia, diante, dentre
outros elementos, de seu valor histórico e pela presença de produtos típicos da região.
Para o comerciante Rafael “ainda é preciso de uma maior divulgação do mercado,
enquanto patrimônio histórico e enquanto local de comércio de produtos típicos da
região”. Certamente isso explica-se pelo ideário progressista da sociedade uberlandense,
onde é corrente uma maior valorização do novo em detrimento do velho, sendo uma das
conseqüências certo “esquecimento” do Mercado Municipal. Sobre isso, Rafael relata
que
Precisa de um entendimento do mercado com a cidade, não existem placas do
mercado na cidade, o mercado não tá na cidade. Por exemplo, do aeroporto pra cá não existe nenhuma placa do mercado, para ver placa do mercado tem
que vir até aqui. Em outros locais, como São Paulo e Belo Horizonte, por
exemplo, é diferente o mercado é destacado com um dos principais pontos
turísticos, em Uberlândia o Shopping e hotéis é que são destacados. A
prefeitura tem capacidade de divulgar o mercado.
De modo geral, os comerciantes aprovam o processo de revitalização do
Mercado, destacando principalmente o fato de que o ambiente tornou-se mais
“agradável”, além da grande diversidade de serviços, comércio e lazer concentrados no
mesmo ambiente, “o melhor do mercado é que aqui tem de tudo” essa frase do
entregador de verduras divulgada no jornal Correio de 27/05/09 justifica a importância
do Mercado.
72
Haja vista que para as intervenções de restauração e preservação do patrimônio
arquitetônico é essencial o apoio da população e da iniciativa privada,
fundamentalmente de pequenos e médios investidores, visto que os recursos públicos
geralmente são escassos, é fundamental que se tome o cuidado para que, apesar dessa
parceria, ocorra a priorização dos resultados sociais em detrimento dos lucros. Afinal, é
comum exemplos de cidades – Londres, Nova York, Paris, o Pelourinho - em que
ocorreram distorções em relação aos projetos de revitalização que contaram com a
participação da iniciativa privada, cujos espaços passaram a destinar exclusivamente ao
turismo. (ATTUX, 2001). E acrescenta
Na nossa realidade local, há pouca probabilidade de ocorrem distorções desse
porte, porque a cidade de Uberlândia não é uma cidade turística e
dificilmente atraíram grandes investimentos, pois o patrimônio histórico existente possui um valor mais local do que nacional, devendo os esforços da
revitalização estarem vinculados diretamente aos benefícios que trarão à
comunidade. (ATTUX, 2001, p.183).
Atualmente, o Mercado Municipal conta com uma área superior a 2.400 m², com
um total de 70 cômodos, onde estão presentes mais de 40 boxes, cerca de 10 depósitos,
além de espaços para estacionamento e outras atividades. Em relação aos produtos e
serviços, atualmente podem ser encontrados desde os produtos mais tradicionais e
regionais, como os doces, queijos, frutas, verduras, carnes, cachaças entre outros, até
produtos como comidas árabes e japonesas, choperias e cafés, além de serviços como
barbearia, sapataria, engraxataria, tabacaria, sebos e chaveiros, etc.
Figura 12- Uberlândia- MG –Mercado Municipal após o processo de Restauração Fonte: Acervo Sítio Mercado Municipal
Além da necessidade de transformação do ambiente, da divulgação dos produtos
comercializados, é essencial assegurar a qualidade das mercadorias oferecidas neste
tradicional espaço de lazer e compras de Uberlândia, para conseqüentemente atrair e
73
manter a clientela. Neste sentido, de modo geral, se estabelece certa
exclusividade/parceria entre comprador e fornecedor, onde o comerciante que busca por
produtos de boa qualidade se sujeita a pagar melhor por esses produtos, conforme
colocado por Rafael “os fornecedores são determinados pela demanda”. Neste caso,
pode citar como exemplo, o comércio de cachaças, onde se encontradas cachaças
artesanais de renome, tais como aquelas vindas das cidades mineiras de Salinas, Monte
Alegre, Tupaciguara, Araguari, etc. E os produtos do Box do Sr. Chico, onde a rapadura
de São Gotardo- MG, Goiabada de Uberaba-MG, Farinha de mandioca vinda de Monte
Alegre-MG, Queijo Minas de Cruzeiro da Fortaleza- MG e Doces de Leite vindos da
cidade do Prata-MG.
Figura 13- Uberlândia- MG –Box de Seu Chico no Mercado Municipal
Fonte: ALVES, L. A, 2009.
Diante dessas transformações socioespaciais ocorridas nos últimos anos, a
centralidade do Mercado Municipal de Uberlândia vem sendo transformada,
constituindo atualmente numa centralidade cultural, no sentido de resgatar valores da
cultura local, seja através dos produtos ali encontrados, seja por meio da busca pelo
resgate do papel desempenhado pelo Mercado no passado, quando centralizava as
atividades comerciais.
A área no entorno do Mercado Municipal, igualmente vem atravessando por
significativas transformações, sendo no período atual a materialização de uma
centralidade de produtos e serviços de saúde. Haja vista que o setor dos serviços de
saúde apresenta-se em multiplicação e diversificação, principalmente nos últimos 20
anos, em decorrência, dentre outros fatores, do desenvolvimento tecnológico, que
74
possibilitou o aperfeiçoamento dos procedimentos e dos equipamentos médico-
hospitalares.
A modificação dos usos presentes no entorno do Mercado Municipal constitui
um processo natural, de refuncionalização do espaço urbano, que pode apresentar
diversos significados ao longo dos anos. Esse processo foi observado e descrito por Sr.
Agnaldo da seguinte maneira
Com o tempo veio para essa área o hospital, depois os consultórios e as
farmácias, para atenderem a demanda do hospital e por último alguns
escritórios. A maioria dessas atividades está em antigas residências que
foram adaptadas.
Em relação aos serviços relacionados ao atendimento à saúde em Uberlândia, no
período de 1997 a 2007, houve uma expansão significativa no montante de hospitais,
clínicas e lojas especializadas no comércio de artigos e equipamentos hospitalares.
Neste período o número de hospitais passou de 11 unidades para 14, sendo que durante
esse dez anos ocorreu o encerramento das atividades de dois hospitais, no entanto outros
cinco novos foram abertos, demonstrando assim, um grande incremento no número de
hospitais. Em relação às clinicas médias, que incluem uma grande diversidade, desde as
estéticas até as de tratamento oncológico, houve um incremento de mais de 50%, visto
que passou de 73 unidades em 1997 para 137, cujo aumento concentrou-se
fundamentalmente na área central. Já no que concerne ao desenvolvimento de lojas
especializadas na comercialização de artigos e equipamentos hospitalares, passaram de
18 unidades para 22 no período considerado, representando um aumento de cerca de
20%. (OLIVEIRA, 2008)
Todavia, neste caso mais importante que observar esses significativos
incrementos no número de atividades relacionadas aos serviços de saúde, é notar que
esses estabelecimentos tendem a concentrarem espacialmente, “segundo uma lógica de
coesão de atividades”, sendo que os hospitais estabelecem primeiro, e como atividades
âncoras atraem para sua proximidade as demais atividades, como clinicas e lojas
especializadas, para assim, desenvolverem atividades complementares. Esse processo é
responsável pela reestruturação da cidade e pela criação de áreas especializadas, onde, a
proximidade dos diferentes agentes garante maior eficiência do setor, e a acessibilidade
aos mesmos (OLIVEIRA, 2008).
75
Ainda de acordo com esse autor, além da tendência de coesão de atividades, o
setor de saúde de Uberlândia, consideradas algumas exceções como a presença de áreas
especializadas em torno de grandes hospitais, concentra-se fundamentalmente no setor
central da cidade nos bairros Centro e Martins, conforme colocado pelo autor “a cidade
apresenta uma região concentrada de serviços de saúde, ao longo da Avenida Getúlio
Vargas e seu entorno (aproximadamente 4 quadras para cada lado da avenida), no bairro
Martins.”
Dentre os hospitais que exerceram papel fundamental para o estabelecimento da
centralidade médico-hospitalar na Avenida Getúlio Vargas, no entorno do Mercado
Municipal, destaca-se o Hospital Santa Catarina, inaugurado em janeiro de 1958, o qual
se destaca em tratamentos cardiológicos.
Além dos hospitais, que exercem grande poder centralizador, nos serviços de
saúde é significativa presença de outros equipamentos, figura 14 e tabela 9, como as
clínicas especializadas, representando 36% do total dos estabelecimentos, seguidas dos
consultórios odontológicos que representam 20,3% dos mesmos, de um total de 261
estabelecimentos, conforme identificado em campo por Silva (2009).
76
Figura 14- Uberlândia- MG - Estabelecimentos de serviços de saúde no entorno da Avenida Getúlio Vargas – Zona Central Fonte: SILVA, K. N. (2009).
Tabela 9– Estabelecimentos Ligados à Área da Saúde – Zona Central/Uberlândia Estabelecimentos Número de Estabelecimentos
Hospitais 9
Consultório Médico 22 Clínica Especializada 94
Consultório Odontológico 53
Serviços de Diagnóstico e Tratamento 35
Equipamentos e Produtos Médico/Odontológico/Hospitalares
14
Farmácia 34
Total 261 Fonte: SILVA, K. N. (2009).
Além dos estabelecimentos ligados aos serviços de saúde presentes no entorno
do Mercado Municipal, é importante destacar também a presença de escritórios, muitos
77
dos quais prestam assistência aos serviços de saúde, a presença do UTC - Uberlândia
Tênis Clube- criado em 15 de abril de 1943, da central dos Correios e de vários outros
equipamentos culturais, concentrados, sobretudo no Fundinho.
No que concerne ao Bairro Fundinho, reconhecido como centro histórico da
cidade de Uberlândia, onde estão localizados a maioria dos bens tombados dessa urbe,
nos últimos anos foram proeminentes suas transformações, principalmente em sua parte
alta, mais valorizada, onde o processo de verticalização ocorreu com maior intensidade
e estão importantes edificações de valor histórico, além de atividades comerciais
voltadas para um público específico. A parte baixa, também não ficou imune às
transformações, porém estas ocorreram de forma mais amena, visto que essa parte foi
originalmente ocupada pela população de classes de menor poder aquisitivo e que por
tanto, ai permaneceu por mais tempo sem realizar alterações nas edificações, por “falta”
de dinheiro ou talvez por laços afetivos. Sobre, a dinâmica recente do Bairro Fundinho
Attux (2001) faz a seguinte afirmação
Desde a década de 1990, o bairro vem sofrendo um processo de
requalificação de seus imóveis, pois várias residências estão sendo reformadas, ganhando um estilo “fashion”, voltadas para uma
população de maior poder aquisitivo, tais como lojas de objetos de
arte, decoração, antiguidades, boutiques finas, escritórios de arquitetura, galerias de arte, dentre outros (ATTUX, 2001, p. 138).
Contudo, como as transformações não se concretizam de modo homogêneo no
espaço, é possível encontrar, apesar das inúmeras modificações, espaços que se
mantiveram sem grandes alterações, conforme colocado por Santos (1996) constituindo
as inércias, os espaços opacos.
78
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade enquanto palco, e ao mesmo tempo, condicionante para a reprodução
das relações sociais, apresenta-se como um espaço composto por múltiplos usos, os
quais se mantêm em constante reestruturação de acordo com os anseios da sociedade ao
longo de cada período histórico. Assim sendo, nas formas presentes em cada sociedade
estarão impressas as principais características da mesma. A concretização de diferentes
formas e funções no interior da cidade é determinada, dentre outros elementos,
fundamentalmente pelo interesse dos agentes sociais (imobiliários, Estado e
proprietários de bens de produção e da terra).
De modo geral, no contexto brasileiro, assim como em outros países em
desenvolvimento da America Latina, a partir de influências do processo de globalização
“um paradigma para a compreensão dos diferentes aspectos da realidade
contemporânea” como afirma Santos (1996, p.48), concretizou um rápido processo de
urbanização, marcando um vertiginoso crescimento de muitas cidades, condicionado,
sobretudo pelo forte êxodo rural devido a modernização do campo, especialmente após
as décadas de 1940 e 1950.
O desenvolvimento do processo de industrialização também consiste em um
grande impulsionador desse processo, pois na medida em que as indústrias instalam em
determinada área, conseqüentemente são atraídos grandes contingentes populacionais
pela possibilidade de se conseguir emprego neste setor, além disso, simultaneamente
estas impulsionam o surgimento de outras atividades de comércio e serviços a fim de
atender as necessidades da população emergente.
As atividades de comércio e serviços, originalmente baseadas na economia de
aglomeração e na variedade de produtos, desencadeiam um forte poder polarizador nos
locais onde estão instaladas, assim, na medida em que atraem significativos
contingentes populacionais, imprimem modificações na organização espacial. No
entanto, paralelamente deve-se considerar também que no decorrer dos anos, os
diferentes processos econômicos e sociais em curso incitam novas dinâmicas às áreas
comerciais da cidade, que ganham novas funcionalidades.
79
O crescimento demográfico e espacial da cidade é fator desencadeador de uma
série de transformações nos equipamentos urbanos, uma vez que é exigida a oferta de
novos modelos de serviços, comércio e de transportes, gerando assim, deterioração,
refuncionalizações, ou mesmo o fim de certas formas espaciais, visto que conforme
colocado por Santos (1994) a cidade constitui, em si mesma, o lugar de um processo de
valorização seletivo.
O espaço urbano de Uberlândia é marcado por pujantes transformações. É
característica da cidade, desde seus primórdios, a constante busca pelo progresso e
modernidade, dessa forma sempre se fez presente a instalação de formas e funções que
representassem inovação para o período considerado. O progresso era apresentado como
um elemento natural da cidade, certamente essa ideologia combinada com a atuação da
elite política e econômica foi responsável pela diferenciação dessa cidade em relação às
demais da região.
A partir da década de 1970 acompanhando as transformações concretizadas em
nível nacional, como o processo de industrialização e a modernização agrícola,
Uberlândia dentro de suas especificidades acompanha esses processos, sendo marcada
por levados índices de desenvolvimento econômico e fluxos migratórios de diferentes
regiões, assinalando o crescimento da cidade, em termos espaciais e demográficos, o
que repercutiu em reestruturações urbanas. (SOARES, 1988). Conforme coloca Moura,
(2003. p.109) é proeminente ressaltar que a cidade permanece a atrair inúmeras pessoas
de toda a região, visto que criou através de vários símbolos (novas escolas superiores,
centros de convenções, hotéis de primeira categoria, etc.) uma imagem de progresso.
O intenso dinamismo econômico, político e social de Uberlândia desencadeou
reflexos em sua estrutura urbana, consubstanciados pela consolidação de estruturas que
representassem a modernidade, e dialeticamente pela permanência de algumas
estruturas que passaram refuncionalizações. Na área central, espaço onde ocorrem com
maior intensidade mudanças espaciais e funcionais e que melhor evidencia o status do
conjunto urbano, conforme afirma Cordeiro (1980) assistimos diferentes valorações,
signos e significados ao longo da segunda metade do século XX e inicio do século XXI.
O Mercado Municipal de Uberlândia, localizado na área central evidencia a
concretização desses processos, visto que na ocasião em que foi instalado, na década de
1940, era considerado um melhoramento imprescindível para cumprir a função de
entreposto comercial de produtos hortifrutigranjeiros, e agrupar num mesmo espaço o
80
comércio de gêneros, como frutas, verduras, pão e leite, etc, os quais eram
tradicionalmente vendidos através de ambulantes, chacareiros, à pé com as mercadorias
sobre os ombros em gamelas ou em carrinhos empurrados, constituía uma importante
centralidade comercial desses gêneros, cuja função foi cumprida até a década de 1970,
quando, a partir da construção da Ceasa, esta assumiu parte de suas atividades.
O período em que a Ceasa foi construída coincide com a concretização de uma
série de transformações em Uberlândia, tais como a intensificação do processo de
urbanização/industrialização e a ampliação do setor terciário, principalmente através da
implantação de várias modalidades de comércio varejista mais modernas, cujos
elementos impulsionam e a reestruturação do espaço urbano. Em decorrência da
concretização desses processos o Mercado Municipal de Uberlândia perde parte de seu
poder centralizador e atravessa um período de crise e estagnação.
Após o período de decadência, o Mercado Municipal foi reconhecido e tombado
como patrimônio histórico e cultural de Uberlândia, visto a importância e o valor para a
cidade, passando por um processo de revitalização, através de reformas em sua
estrutura, bem como por meio da instalação de novas atividades como uma galeria de
arte, um teatro de bolso, espaços para oficinas, exposições e apresentações artísticas,
além do oferecimento de serviços e produtos, como uma chopperia, um café, lojas de
artesanato, móveis rústicos, produtos rurais. A partir desse momento, o Mercado
Municipal de Uberlândia passa a constituir um novo poder centralizador, sendo
conforme colocado por Rodrigues (1996) mais que um testemunho do passado, é um
retrato do presente.
As transformações vivenciadas e os múltiplos papéis assumidos pelo Mercado
Municipal de Uberlândia, ao longo de seus 65 anos de história, decorrem do processo
natural de reestruturação do espaço urbano. Assim sendo seu entorno também assumiu
diferentes formas/funções ao longo desses anos, passando de uma área residencial a
uma importante centralidade nos serviços saúde de Uberlândia.
Esses processos, de modo geral, retratam as transformações pelas quais as áreas
centrais vêm atravessando, ganhando novos significados, mormente, face à alteração
das funções que essas desempenhavam na estrutura urbana.
81
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6. APENDICE
6.1 Roteiro de Entrevista
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA/UFU
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
ENTREVISTA - Comerciantes Mercado Municipal de Uberlândia
Graduanda – Lidiane Aparecida Alves
Orientador – Vítor Ribeiro Filho
1) Como era o Mercado Municipal no período de sua inauguração ?
2) Com era o entorno do Mercado Municipal de Uberlândia no periodo de sua
inauguração? Quais eram as atividades predominantes?
3) Como ficou o Mercado Municipal após a inauguração da Ceasa?
4) Atualmente como está o Mercado Municipal e seu entorno? Quais suas as
principais atividades do Mercado e em seu entorno?
5) O que pensa sobre o processo de Revitalização do Mercado Municipal?