Nutriçãoe HIV/AIDS
HIV
Nutr. Paulo Prati e Prof. Dr. Sandra Maria Lima Ribeiro
2018
2
Estágios do HIV/AIDS
Estágio CD4/mL Condições Clinicas
1 >500 Sem sintomas Dermatites, linfadenopatia
2 350 – 500 Poucos sintomas Dermatites, linfadenopatia
3 200 – 350 Algumas Infecções
Oportunistas (I.O)
Candidíase oral e vaginal, Neuropatia
periférica, Displasia cervical, Herpes
zoster, Febre, diarréia
4 <200 I.O. e AIDS Infecções recorrentes ocasionadas por
fungos (na pele, boca e garganta);
Diarreia crônica há mais de 30 dias, com
perda de peso; Pneumonia; Tuberculose
disseminada; Neurotoxoplasmose;
Neurocriptococose; Citomegalovirose;
Pneumocistose.
Situação da PVHA nos dias atuais
• Diferença entre pacientes vivendo com HIV e com AIDS
• PVHA fazem parte da sociedade produtiva
• Enfrentam os mesmos desafios em comum dos soronegativos
3
4
Mudança do fenótipo da PVHADécada 1980 Hoje
AVANÇOS DAS TARVs
Classes de drogas e principais efeitos colaterais com importância nutricional
ITRN
• Tenofovir
• Zidovudina
• Abacavir
• Lamivudina
• Emtricitabina
ITRNN
• Efavirenz
• Nevirapina
• Etravirina
• Rilpivirina
Inibidores de Protease
• Atazanavir
• Ritonavir
• Darunavir
• Lopinavir
• Tipranavir
Inibidores de Entrada
• Enfuvirtida(Fusão)
• Maraviroque / vicriviroc (correceptores)
Inibidores da Integrase
• Dolutegravir
• Raltegravir
• Elvitegravir
• Cabotegravir
Toxicidade
Mitocondrial
Hipersensibilidade e
hepatotoxicidade
Alterações
metabólicas
e lipodistrofia
Menor ocorrência de efeitos
colaterais
Santos Corraliza & Fuertes Martín. 2006
HIV + TARV = desregulação metabólica complexa
▹Alterações:
▸No gasto de energia
▸No metabolismo lipídico
▸No balanço hormonal
▸Na função imunológica
▸Na composição corporal
6
Mudanças nas necessidades
de macro e micronutrientes
Fields-Gardner Campa A and American Dietetics Association. 2010
Alterações (que se assemelham ao envelhecimento) e o Quadro de
inflamação sistêmica
1. SISTEMA IMUNE
Imunosenescência/
Inflammaging
3. INTESTINO
Alterações na microbiota intestinal
Reflexos na permeabilidade intestinal
Entrada na circulação de fragmentos bacterianos
Inflamação
2. TECIDO ADIPOSO
Agregação de células
imunológicas no tecido
adiposo
HIV e Intestino
Maynard et al. Nature 2012; 489:231-2; Tiihonen K et al. Ageing Res Reviews 2010; 9:107-116; Belkaid &
Naike Nature Immunol 2013; 14(7): 646-653; Borlioux et al. Am J Clin Nutr. 2003; 78: 675-83Belkaid & Naike Nature Immunol 2013; 14(7): 646-653
Intestino: sistema complexo que inclui: células (incluindo células do sistema imune), nutrientes e
microbiota
Sonnenburg JL, Bäckhed F. Nature. 2016 Jul
6;535(7610):56-64.
Função metabólica do intestino: Microbiota, fermentação de carboidratos e
modulação do metabolismo
Acetato
Propionato
Butirato
Carboidratos fermentáveis na dieta
↑ Diversidade
da microbiota
↑ Liberação de
AGCC
AGCC- Energia
para colonócitos
Liberação de
hormônios
(GLP1)
AGCC
gliconeogênese
GLP1- neurônios
hipotalâmicos
GLP1- insulina
Maynard et al. Nature Immunol 2013; 231-241.
Função de proteção do intestino
Danos intestinais não são totalmente revertidos pelas TARVs
11
Mudd, Brenchen, 2014
HIV e tecido adiposo- Lipodistrofia
• Desordens do tecido adiposo, caracterizadas pela alteração seletiva de gordura de várias partes do corpo
• Alterações metabólicas semelhantes ao observado na “síndrome metabólica”
• ↑ Colesterol Total • ↑ LDL-col• ↑ VLDL-col• ↓ HDL-col• ↑ TAG • ↑ Glicose
12
http://www.aids.gov.br/pcdt/10
▹Lipoatrofia: redução da gordura em regiões periféricas,como braços, pernas, face e nádegas
▹Lipo-hipertrofia ou lipoacumulação: acúmulo de gordurana região abdominal, presença de gibosidade dorsal,ginecomastia nos homens e aumento de mamas em mulherese acúmulo de gordura em diversos locais do corpo, como asregiões submentoniana e pubiana etc.;
▹Forma mista: associação de lipoatrofia e lipohipertrofia.
13
Lipodistrofia e HIV 14
16 a 83% com uso de Inibidores de Protease
658 Arq Bras Endrocrinol Metab 2008;52/4
15
Drogas antirretrovirais e seus efeitos metabólicos e na distribuição de gordura
Classe Molécula Abreviatura Lipoatrofia Lipo-hipertrofia DislipidemiaResistência à
insulina
ITRN
Estavudina d4T +++ ++ ++ ++
Zidovudina AZT ++ + + ++
Didanosina ddI +/- +/- + +
Lamivudina 3TC 0 0 + 0
Abacavir ABC 0 0 + 0
Tenofivir TDF 0 0 0 0
Emtricitabina FTC 0 0 0 0
ITRNNEfavirenz EFZ +/- +/- ++HDL ↑ +
Nevirapina NVP 0 0 +HDL ↑ 0
IP
Ritonavir RTV +/- + +++ ++
Indinavir IDV +/- + + +++
Nelfinavir NFV +/- + ++ +
Lopinavir LPV +/- + ++ ++
Amprenavir/fosam
prenavirAPV/FPV +/- + + +/-
Saquinavir SQV +/- + +/- +/-
Atazanavir ATV 0 ++ +/- 0
Darunavir DRV 0 + +/- +/-
Inibidor de
FusãoEnfuvirtida T20 ? ? 0 0
Inibidor CCR5 Maraviroque MVC ? ? 0 0
Inibidor de
IntegraseRaltegravir RAL ? ? 0 0
Fonte: Adaptado de CAPEAU, J., 2002.
Efeitos colaterais específicos dos Inibidores de Protease
Fatores potencializadores:
• Sedentarismo
• Dificuldade locomotora
• Dieta com rica em alimentos processados
16
↑ TNF-alfa e
IL-6
↓ da função do GLUT-4
↑ da função osteoclastos
↓ adiponectina
↑ Ácidos Graxos Livres e Triglicerídeos
↑ Resistência a insulina no
tecido adiposo
Resistência à ação da insulina no
fígado e músculo
Potencial inflamatório do tecido adiposo
Mol Cell Endocrinol 2010;316(2):129-39; Mol Aspects Med. 2012;33(1):26-34.
HIV e Imunosenescência -Envelhecimento normal e com HIV
18
Zapata, Shaw, 2014
-Ambos são acompanhados por um
ambiente inflamatório
-Elevação dos PAMP (pathogen-
associated molecular patterns) e DAMP
(damage-associated molecular patterns)
-Receptores de TLRs e IFN - respostas
de citocinas induzidas por ligações a
esses receptores (células dendríticas
(DC), monócitos e monócitos derivados
de células dendríticas)
Abreviaturas: IFN- interferon; mDNA- DNAS
mitocondrial; TERT- transcriptase reversa de
telomerase; NRTIs= inibidores de transcriptase
reversa nucleotéideos; LPS- lipopolissacarídeos
Sobreposição das contribuições para as doenças metabólicas: TARV, HIV e inflamação sistêmica19
Srinivasa & Grinspoon, 2014
Desnutrição e HIV- energia e proteínas20
HIV- aumento das
necessidades nutricionaisAlimentação
deficiente
Deficiência imunológica
- Menor resistência à ação do
HIV
- Desnutrição proteico
energética secundária
Maior vulnerabilidade a infecções
Deficiência de Micronutrientes
▹Muitas vezes acompanha doenças infecciosas e diarréia crônica:
▹Anemia ferropriva
▹Vitamina D - Mudança do metabolismo dos ossos e cálcio
▹Vitamina A - susceptibilidade à infecção, associada à progressão da
doença e aumento da mortalidade, aumento da transmissão materno-
fetal
21
Fatores associado às deficiências nutricionais e HIV/AIDS
▹Transtornos mentais (cognição e depressão)- motivação reduzida e
capacidade de acesso e preparação de alimentos
▹Instabilidade na estrutura da família ou baixo nível sócioeconômico-
acesso reduzido a alimentos
▹HIV, infeccções orais induzidas por medicação - anorexia e
náuseas, deglutição alterada (esofagite, disfagia, candidiase,
ulcerações, etc)
22
Conduta dietoterápica no HIV/AIDS23 Doença/ acometimento Mecanismos patofisiológicos
Mecanismos metabólicos-
relação com metabolismo
de energia (como e
quanto?) e nutrientes
(quais, como e quanto?)
As recomendações para pessoas
“sem a doença/acometimento”
atendem às necessidades criadas
por essa nova situação?
Quais recursos de avaliação
nutricional podem auxiliar nesse
sentido?
Elaboração da conduta nutricional
“padrão”
Dieta e HIV1. Estado nutricional
▹Bom estado nutricional▹Melhor controle viral▹Melhor resposta imunológica
24
▹Indicadores do bom estado nutricional▹IMC na faixa adequada para a idade▹Massa celular adequada-destaque para a massa magra (chave para o metabolismo, principalmente de proteínas)
Etapas da avaliação nutricional
Anamnese detalhada
Antropometria/Comp. Corporal
(A)
Dados bioquímicos (B)
Dados clínicos (C)
Dados dietéticos (D)
1.Avaliação Nutricional
2.Diagnóstico nutricional
3.Conduta nutricional- Plano dietético
4.Monitoramento/Reavaliação
Dados clínicos (C)- informações necessárias
• Histórico pessoal e familiar de doenças• Comorbidades (hepatites, doença renal, doenças pulmonares, diabetes,
DCV, doenças neurológicas, osteopenia/osteoporose)• Doenças oportunistas• Sinais e sintomas específicos (sintomas gastrintestinais, sono,
disposição, rotina, humor, intolerâncias etc.)• Esquema da TARV (de preferência atual e pregressa)• Estilo de vida e fatores de risco (fumo, drogas ilícitas e lícitas, prática
sexual)
26
Avaliação Clínica (C)- interação drogas-nutrientes27
28
Antropometria e Composição corporal (A)
▹IMC= monitoramento do peso corporal
▹Síndrome da redistribuição de gordura e perda de massa magra▹Muitas dúvidas quanto ao melhor método técnica de avaliação▹DEXA (padrão ouro?), bioimpedância (possibilidade de predição da massa celular), medidas antropométricas básicas
29
Avaliação Bioquímica (B)
▹Disfunção imunológica- marcadores de inflamação (PCR)
▹Alterações do metabolismo proteico- creatinina, nitrogênio urinário, albumina,
transtiretina; hormônios anabólicos (ex. GH e IGF-1)
▹Alterações na sensibilidade insulínica (glicose e insulina)
▹Alteração lipídica (colesterol e frações, TAG)
▹Toxicidade da mitocôndria (marcadores de estresse oxidativo)
▹Acidose láctica (pH sanguíneo)
▹HIV – carga vital (contagem do CD4)
▹Outros efeitos colaterais das TARVs e outros medicamentos (hemoglobina,
hematócrito, tranferrina, vitamina B12, etc)
30
Exames Laboratoriais Rotineiros do SEAP
• Hemograma
• Perfil lipídico fracionado
• Glicemia de jejum e Hb glicada
• Carga viral e CD4/CD8 (quando CV detectável)
• Hormônios da tireoide
• Testosterona
• TGO, TGP, Amilase bilirrubina direta e indireta
• Zinco sérico, Selênio sérico, Vitamina B12
• Função renal: uréia, creatinina
• PCR
• Albumina sérica
31
Avaliação da dieta (D)
▹Alimentos, suplementos esquema de refeições (método de avaliação de
acordo com o perfil da pessoa- R24h, QFA, combinação)
▹Avaliação da capacidade de adesão ao plano alimentar
▹Atenção especial: vitaminas do complexo B, vitaminas A,D, E, selênio
zinco
▹Aspectos afetivos e situacionais da ingestão de alimentos
32
Dieta e HIV/AIDS2. Conduta dietoterápica
▹Prevenção, redução ou melhora da subnutrição
▹Prevenção ou manejo das doenças crônicas associadas, possivelmente por meio do controle da inflamação sistêmica
33
▹Essencial o processo educativo
▹Aconselhamento= estabelecimento de metas
▹Recomendável a busca de suportes (grupos de apoio, equipamentos públicos, etc.)
Mudanças no metabolismo energético
▹Mudança no metabolismo de repouso- o ideal é uma avaliação objetiva, ou um controle específico da ingestão/gasto
34
Calculo Enérgetico – AmbulatorialAlterações no metabolismo de repouso
▹20 - 25 kcal/kg de peso atual - Redução do Peso
▹30 - 35 kcal/kg de peso atual - Manutenção do Peso
▹35 - 40 kcal/kg de peso atual - Aumento do Peso, Hipertrofia Muscular, Terapias de Resgate, Sintomáticos
35
Calculo Energético – Acamados
▹TMB▹Harris & Benedict Homens: 66,5 + (13,75 x P) + (5 x E) – (6,77 x I)
▹Mulheres: 655,1 + (9,65 x P) + (1,85 x E) – (4,68 x I)
▹Fator injúria AIDS = 1,4 ou + 40%
▹Necessidade energética = TMB x Fator Atividade (FA) x Fator Injúria (FI) x Fator Térmico (FT)
36
Fator Térmico: 38 ºC = 1,1 39 ºC = 1,2 40 ºC = 1,3
Metabolismo de carboidratos
▹Alterações na sensibilidade à insulina▹Geralmente baixa ingestão de fibras (como na maioria da população)
37
Aconselhamento sobre a importância das
fibras
Ajustes no padrão alimentar e hábitos
Carboidratos de baixo índice glicêmico
Metabolismo lipídico
▹Ajustes na proporção de ácidos graxos (saturados, poli e mono)▹Ajustes na relação w-3 /w-6 (poucos estudos ainda)
38
• Mudanças no estilo de vida: exercício físico com ganho de
massa muscular, educação nutricional
• Ajustes na TARV
• Tratamento farmacológico para as alterações metabólicas
ou tratamentos cirúrgicos
Metabolismo proteico
▹Fundamental para a imunidade▹Necessidades aumentadas? (ainda há controvérsias)▹Avaliação atrelada a exames bioquímicos e de composição corporal
39
Calculo Proteico
▹1,1-1,5 g/kg peso atual – Manutenção do peso
▹1,5 – 2,0 g/kg peso atual – Sintomáticos, Hipertrofia muscular por treino, hepatite crônica
▹0,6 a 1,0 g/kg peso atual - Insuficiência Renal- conduta conservadora
40
Uso de alimentos proteicos como carnes, feijões, cereais integrais, leites e queijos
inclusive leite em pó fracionados em todas as refeições , manter pool proteico de
aminoácidos;
Suplementos comerciais quando necessário
Micronutrientes
✓ HIV- condição inflamatória crônica✓ Necessidade aumentada de
micronutrientes em especial(potencialmente anti-inflamatórios).
✓ Garantir a oferta pela dieta✓ Dieta Variada e Colorida✓ Educação Nutricional
41
CD4+
Zinco
Vit C
Selênio
B12
Vit A
Vit E
Suplementações Utilizadas no SEAP
▹Vitamina D – 7000UI / semana▹Vitamina C – 500mg/dia▹Sulfato Ferroso – 40 mg/dia▹Sulfato de Zinco – 70mg / dia▹Complexo B (50% das RDIs por cápsula) – 1 a 2 cápsulas /dia▹Glutamina – 10 a 20 g/dia
42
Avaliar
necessidade
Outras Recomendações
▹Necessidade de Líquidos: 30-35 mL/kg de peso
▹Diarréia: reduzir fibras insolúveis, glutamina, lactose, gorduras , alimentos fontes de caféina
▹Estimular atividades físicas com foco em ganho de massa muscular
▹Consumo de Micronutrientes
43
Manejo dietético na pratica
• Fracionamento das refeições
• Distribuição dos nutrientes (macro e micros)
• Aumento calórico quando necessário: uso de óleos vegetais, leites em pós, hipercalóricos (lembrando da importância do azeite de oliva extra-virgem)
• Preparações estratégicas como sucos, bolos, vitaminas, caldos, etc
• Atenção ao uso excessivo de açúcar!
44
Manejo de complicações
▹Monitoramento do peso corporal e da composição corporal
▹Monitoramento dos lipídeos plasmáticos
▹Monitoramento da sensibilidade à insulina
▹Monitoramento da perda óssea
▹Intervenção no estilo de vida
45
46
Evitar cafeína
Evitar leite; queijos devem ser
consumidos conforme tolerância
Evitar alimentos formadores de
gases (gorduras, açúcar,certos
vegetais)
Suplementação de TCM,
glutamina, zinco e fibras solúveis
Dieta com consistência branda , preferir
raízes , tubérculos e carnes magras
Ingestão de líquidos (sucos, sopas,
bebidas isotônicas, e soro caseiro)e
garantir 200 mL de líquidos a cada
evacuação.
Fracionamento da dieta, 5 a 8 refeições
Manejo das fibras dietéticas: aumentar
solúveis e reduzir insolúveis (evitar
cascas e folhas cruas)
Diarréia
Inapetência
▹Aumento do número de refeições por dia, 5 a 8 pequenas refeições.
▹Grande densidade energética proteica por refeição
▹Sucos, que podem ser combinados com suplementos
▹Refeições em temperatura ambiente a fria
47
Deglutição Alterada
▹Alimentos líquidos, pastosos ou de consistência macia (purê de batatas, sopas, caldos, iogurte, ricota, massas, com queijo, ovos mexidos, cremes, mingau Ingerir os alimentos frios ou a temperatura ambiente)
▹Estimular o apetite com alimentos preferidos, podem ser amassados ou batidos.
▹Evitar fibras cruas como saladas e frutas duras
▹Evitar alimentos ácidos (frutas cítricas, refrigerantes), alimentos salgados, condimentados e picantes.
48
Desfechos Neurológicos
▹Dietas pastosas
▹Possivelmente alimentação será assistida
▹Nutrição Enteral
49