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O Médico e o Monstro

Date post: 24-Nov-2015
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Coleção Aventuras Grandiosas Coleção Aventuras Grandiosas Coleção Aventuras Grandiosas Coleção Aventuras Grandiosas Coleção Aventuras Grandiosas O Médico e o Monstro O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde Robert Louis Stevenson Robert Louis Stevenson Robert Louis Stevenson Robert Louis Stevenson Robert Louis Stevenson Adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez 1 a edição edição edição edição edição
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  • Coleo Aventuras GrandiosasColeo Aventuras GrandiosasColeo Aventuras GrandiosasColeo Aventuras GrandiosasColeo Aventuras Grandiosas

    O Mdico e oMonstro

    O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde

    Robert Louis StevensonRobert Louis StevensonRobert Louis StevensonRobert Louis StevensonRobert Louis Stevenson

    Adaptao de Ana Carolina Vieira Rodriguez

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    Captulo 1Captulo 1Captulo 1Captulo 1Captulo 1

    A Porta Misteriosa

    O Sr. Utterson era um homem de muitos amigos. Alto, magro e de FEIESFEIESFEIESFEIESFEIESharmoniosas, o advogado se destacava pela simpatia e ao mesmo tempo pela se-riedade. Apreciava bons vinhos e, vez por outra, organizava reunies com os ami-gos para que pudessem conversar, beber e comentar assuntos da sociedade. Erauma pessoa trabalhadora e rgida quando se tratava de ajudar algum; na verda-de, um homem em quem se podia confiar cegamente.

    Ele e o Sr. Richard Enfield eram primos distantes e mantinham uma amizadede longa data. Como os dois eram bastante calados, pouco se falavam, mas nodispensavam suas caminhadas pelas ruas de Londres aos domingos. Saam no fi-nal da tarde e no tinham hora para voltar.

    Em um desses domingos, quando passeavam por ALAMEDASALAMEDASALAMEDASALAMEDASALAMEDAS de um bairrocheio de lojas e vitrines, o Sr. Enfield apontou para uma determinada casa e per-guntou ao Sr. Utterson:

    Est vendo aquela porta? Sim, j reparei nela outras vezes.Era uma porta pesada, feita de madeira macia. A fechadura estava bem en-

    ferrujada devido s AGRURASAGRURASAGRURASAGRURASAGRURAS da chuva e do vento mido que costumavam assolarLondres. Podia-se imaginar o rangido seco que se ouvia ao abri-la ou fech-la.

    Pois ento continuou o Sr. Enfield. Vou contar-lhe um fato que meaconteceu aqui e que me deixou bastante impressionado.

    O advogado ficou curioso e incentivou o primo. A expresso do Sr. Enfieldtinha algo de misterioso e enigmtico:

    Diga, o que aconteceu? Bem, uma noite, era tarde, por volta de trs horas da madrugada, eu havia

    chegado de viagem e caminhava em direo minha casa, quando vi dois vultos.O frio e a neblina da noite me davam medo e eu torcia para que houvesse umpolicial por perto. O fato que esses vultos eram um homenzinho, que andavadepressa e parecia mancar, e uma garotinha de uns 10 anos, que tinha ido chamarum mdico para algum familiar doente. Os dois se chocaram na esquina e, da,no gosto nem de lembrar a cena a que assisti.

    O que foi, primo? Est me deixando nervoso.

    FEIES FEIES FEIES FEIES FEIES: rosto, semblante

    ALAMEDAS ALAMEDAS ALAMEDAS ALAMEDAS ALAMEDAS: ruelas

    AGRURAS AGRURAS AGRURAS AGRURAS AGRURAS: dificuldades, obstculos, dissabores

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    O tal homem, numa atitude monstruosa, derrubou a menina no cho episoteou-a sem pena, abandonando-a largada na calada. Os gritos ecoaram nanoite, assim como o som dos golpes BRUSCOSBRUSCOSBRUSCOSBRUSCOSBRUSCOS na ossatura frgil da criana.

    Meu Deus, o que voc fez? Gritei e corri atrs do sujeito, consegui agarr-lo pela roupa e lev-lo at o

    local onde ele tinha cometido as ATROCIDADESATROCIDADESATROCIDADESATROCIDADESATROCIDADES de antes. Familiares j socorriam amenina, atrados pelo choro e desespero de sua voz. Inconformados, queriam vin-gana. Logo que o mdico examinou a garotinha, certificou-nos de que ela estavabem, apesar de assustada. Foi s ento que reparamos com mais cuidado na cria-tura que a maltratara. Ele nos observava com ar de deboche, levava um sorrisinhonos lbios, que por sinal tinham uma colorao estranha. O homem todo era es-quisito; no fcil descrev-lo, mas posso assegur-lo de que a ESTATURAESTATURAESTATURAESTATURAESTATURA baixa ecurvada e o seu olhar que parecia tentar se ESQUIVARESQUIVARESQUIVARESQUIVARESQUIVAR do nosso causavam-nos ar-repios. O impressionante que ele transmitia uma enorme REPUGNNCIAREPUGNNCIAREPUGNNCIAREPUGNNCIAREPUGNNCIA, apesarde, fisicamente, no ser compreensvel o porqu de aquele homem ser to dife-rente e ASQUEROSOASQUEROSOASQUEROSOASQUEROSOASQUEROSO.

    E o que vocs fizeram com ele? Decidimos que teria de pagar cem libras para a famlia da menina. Ele

    aceitou, pois no queria ser levado polcia. E a que entra o mais curioso. Sabede onde ele tirou o dinheiro?

    De onde? indagou o Sr. Utterson. Exatamente daquela porta pela qual acabamos de passar. Tirou uma cha-

    ve do bolso, entrou na casa e voltou com dez libras em ouro, mais um cheque denoventa libras assinado por uma pessoa muito importante, conhecida de todosque lem jornal, cujo nome no posso revelar. Olhamos para ele com extremadesconfiana. Compreendendo nossa preocupao, o tal sujeito props que pas-sssemos a noite acordados, juntos, at a hora de o banco abrir, assim podera-mos descontar o cheque. E foi o que fizemos. No caminho para o banco, eu pen-sava: Como uma pessoa to distinta pde assinar um cheque de to alto valor eentreg-lo a uma criatura MACABRAMACABRAMACABRAMACABRAMACABRA como esta?. A simples companhia daquelehomem nos dava mal-estar, por isso a relao que havia entre ele e aquela assina-tura parecia INCOMPATVELINCOMPATVELINCOMPATVELINCOMPATVELINCOMPATVEL.

    Como as coisas se passaram no banco? perguntou, ansioso, o advogado. Acredite ou no, o cheque foi facilmente descontado.

    BRUSCOS BRUSCOS BRUSCOS BRUSCOS BRUSCOS: violentos

    ATROCIDADES ATROCIDADES ATROCIDADES ATROCIDADES ATROCIDADES: maldades, atos de crueldade

    ESTATURA ESTATURA ESTATURA ESTATURA ESTATURA: altura

    ESQUIVAR ESQUIVAR ESQUIVAR ESQUIVAR ESQUIVAR: fugir, evitar

    REPUGNNCIA REPUGNNCIA REPUGNNCIA REPUGNNCIA REPUGNNCIA: asco, nojo

    ASQUEROSO ASQUEROSO ASQUEROSO ASQUEROSO ASQUEROSO: nojento

    MACABRA MACABRA MACABRA MACABRA MACABRA: triste, fnebre, sombria

    INCOMPATVEL INCOMPATVEL INCOMPATVEL INCOMPATVEL INCOMPATVEL: inconcilivel, aquilo que no se pode harmonizar

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    O Sr. Utterson, impaciente, quis saber: Voc investigou a casa, o nome que assinou o cheque? Fiz isso do meu jeito, discretamente, sem ALARDEALARDEALARDEALARDEALARDE. Acho que esses assun-

    tos OBSCUROSOBSCUROSOBSCUROSOBSCUROSOBSCUROS podem ser perigosos. Uma nica informao errada que se espa-lhe por a pode sujar a reputao de um homem, at de uma famlia inteira. S oque descobri que a casa tem fundos para um ptio comum a outras residncias.Do outro lado do ptio h trs janelas que sempre esto fechadas, mas h umachamin constantemente FUMEGANDOFUMEGANDOFUMEGANDOFUMEGANDOFUMEGANDO. A nica pessoa que entra por aquela por-ta o sujeito de quem lhe falei.

    Tem razo em no querer chamar ateno respondeu o Sr. Utterson. Ainda assim, se me permite perguntar, gostaria muito de saber o nome do ho-mem que pisoteou a menina de madrugada.

    Est bem respondeu seu primo. Acho que no h problema nisso. Onome dele Hyde. Como lhe disse, no fcil descrev-lo. Ele no parece torto, nemdeformado, mas causa repulsa. uma apario incrvel que no me sai da cabea.

    Os dois amigos caminharam mais um pouco em silncio antes de irem parasuas casas. Combinaram, no final do passeio, que no iriam comentar mais o as-sunto, pois era melhor no remexerem em algo to INSLITOINSLITOINSLITOINSLITOINSLITO. Ao se despedirem,no entanto, o Sr. Utterson fez uma ltima pergunta, que martelava sua mente:

    Tem certeza de que o tal Hyde tinha a chave da porta? Eu o vi usando-a novamente na semana passada respondeu o Sr.

    Enfield.

    Captulo 2Captulo 2Captulo 2Captulo 2Captulo 2

    O Testamento

    Assim que chegou em casa, o Sr. Utterson pediu que seu jantar fosse servi-do no quarto. Uma espcie de depresso se abatera sobre ele depois da conversaque teve com o Sr. Enfield. Uma questo importante continuava a lhe importunar,por isso, depois de comer pouco, dirigiu-se ao escritrio no andar de baixo e abriua gaveta da escrivaninha. Tirou de dentro um documento escrito Testamento doDr. Jekyll na capa.

    ALARDE ALARDE ALARDE ALARDE ALARDE: chamar a ateno

    OBSCUROS OBSCUROS OBSCUROS OBSCUROS OBSCUROS: sombrios, tenebrosos

    FUMEGANDO FUMEGANDO FUMEGANDO FUMEGANDO FUMEGANDO: exalando fumaa

    INSLITO INSLITO INSLITO INSLITO INSLITO: extraordinrio, anormal

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    O Dr. Henry Jekyll, mdico respeitado em Londres, alm de ser bacharel emDireito e membro da Real Academia, era amigo do Sr. Utterson h muitos anos. Oadvogado aceitou guardar o testamento escrito pelo prprio mdico, mas no con-seguia entender seus ltimos desejos. De acordo com o documento, todos osbens pertencentes ao Dr. Jekyll deveriam ser passados ao seu amigo e assistenteEdward Hyde aps sua morte. Isso tambm deveria ocorrer em caso de desapa-recimento do mdico por mais de trs meses consecutivos. De posse dos bens,o Sr. Hyde no teria qualquer tipo de obrigao, a no ser pagar seus empregados.

    O Sr. Utterson nunca ouvira falar do tal assistente antes daquela noite.Quem seria esse novo amigo de Jekyll, a quem ele desejava deixar tudo?, pensa-va. O Hyde que pisoteara a criana e o herdeiro de Jekyll tinham o mesmo sobre-nome. Seriam parentes? Seriam a mesma pessoa, ou isso no passava de umasimples coincidncia?, indagava-se. Havia algo de errado nessa histria. Esse tes-tamento o incomodava h tempos.

    Intrigado, o advogado resolveu sair. Depois de consultar o relgio e consta-tar que ainda era cedo, pouco depois das 8 horas da noite, colocou um casaco etomou a direo da casa do Dr. Lanyon, seu grande companheiro dos tempos decolgio. Lanyon deve saber de alguma coisa, disse para si prprio.

    Chegando na linda casa de Cavendish Square, onde o Dr. Lanyon morava etambm recebia seus pacientes, o Sr. Utterson foi recebido pelo mordomo, quelogo o levou companhia do mdico.

    Quem bom v-lo, querido Utterson. Espero no estar doente para vir mi-nha casa assim, to inesperadamente disse o doutor.

    Estou bem, amigo. Peo-lhe desculpas pela visita REPENTINAREPENTINAREPENTINAREPENTINAREPENTINA. No diga isso, sempre muito bom ter algum ESTIMADOESTIMADOESTIMADOESTIMADOESTIMADO para conversar.Aps alguns comentrios triviais, o advogado resolveu ir direto ao assunto

    que o levara at l: Lanyon, voc tem visto Henry Jekyll? Caro Utterson, acho que ns dois sempre fomos os melhores amigos de

    Jekyll. Eu, inclusive, tive projetos mdicos em parceria com ele, mas, desde que co-meou a lidar com suas experincias anticientficas, afastei-me. Pelo que sei, Jekyllacabou isolando-se, distanciando-se dos amigos e da sociedade.

    De fato, h tempos no o vejo respondeu Utterson, certo de que osdois mdicos deveriam ter tido apenas alguma DESAVENADESAVENADESAVENADESAVENADESAVENA profissional.

    Mas por que me pergunta isso? Gostaria de saber se voc conhece um tal de Edward Hyde, assistente de Jekyll. Hyde? Nunca ouvi falar dele respondeu o Dr. Lanyon.Chateado, o Sr. Utterson foi para casa caminhando devagar. Pensava na his-

    tria da garotinha pisoteada, chegava a escutar seu choro, sentia o desespero dos

    REPENTINA REPENTINA REPENTINA REPENTINA REPENTINA: sbita, inesperada

    ESTIMADO ESTIMADO ESTIMADO ESTIMADO ESTIMADO: querido

    DESAVENA DESAVENA DESAVENA DESAVENA DESAVENA: briga

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    pais e imaginava a cara TENEBROSATENEBROSATENEBROSATENEBROSATENEBROSA do homem que a machucara. Como seria essemonstro, capaz de bater em uma criana? E ser que Jekyll iria lhe deixar toda asua herana?

    De sbito, uma idia lhe veio mente. Resolveu mudar seu caminho e diri-giu-se porta escondida entre as vitrines da rua de lojas, local onde seu primoEnfield havia visto o Sr. Hyde entrar. Parou e ficou de SENTINELASENTINELASENTINELASENTINELASENTINELA para ver se eleaparecia. A neblina tpica de Londres caiu sobre a noite. O frio aumentou, mas oadvogado continuou escondido atrs de um muro, observando as poucas pessoasque passavam sob a luz tnue das lamparinas balanando ao vento, escutando omenor rudo no ar.

    Cerca de trs horas depois, o Sr. Utterson ouviu passos descendo a rua. Apessoa que vinha devia MANCARMANCARMANCARMANCARMANCAR, pois era ntido o som de um sapato se arrastan-do mais longamente aps a primeira pisada. Foi fcil observar de longe quando ohomem baixinho e curvado pegou uma chave no bolso e dirigiu-se portamisteriosa. Fazia isso com naturalidade, como normalmente pegamos a chave aonos aproximarmos de casa.

    Boa-noite disse o Sr. Utterson, aproximando-se e tocando levemente oombro do sujeito.

    O homem assustou-se, mas logo SE RECOMPSSE RECOMPSSE RECOMPSSE RECOMPSSE RECOMPS e, de cabea baixa, com avoz rouca, respondeu:

    O que quer? O senhor se chama Edward Hyde? Sim, sou eu mesmo. E voc, quem ? perguntou RUDEMENTERUDEMENTERUDEMENTERUDEMENTERUDEMENTE. Sou Utterson, amigo do Dr. Jekyll. Vejo que est entrando e resolvi apro-

    veitar a oportunidade para entrar tambm e fazer-lhe uma visita. O Dr. Jekyll no est. Alm do mais, tarde, o senhor deveria ir para casa

    dormir disse, dando uma debochada gargalhada no final. Isso no jeito de falar, rapaz. J disse, v para casa respondeu Hyde, fechando a porta.O Sr. Utterson foi mais rpido e colocou o p na porta, impedindo que o as-

    sistente a fechasse. Mostre-me pelo menos seu rosto pediu o advogado.O Sr. Hyde, ento, levantou brevemente os olhos, permitindo que o Sr. Utterson

    tivesse uma das piores vises de sua vida. O sujeito no tinha nenhum defeito fsico,mas seu SEMBLANTESEMBLANTESEMBLANTESEMBLANTESEMBLANTE causava pavor, arrepio e nojo. Chegava a provocar nuseas. Lem-

    TENEBROSA TENEBROSA TENEBROSA TENEBROSA TENEBROSA: assustadora, terrvel

    SENTINELA SENTINELA SENTINELA SENTINELA SENTINELA: ato de vigiar, espiar, guardar

    MANCAR MANCAR MANCAR MANCAR MANCAR: andar firmando o passo mais de um lado que de outro, em decorrnciade alguma deficincia fsica

    SE RECOMPS SE RECOMPS SE RECOMPS SE RECOMPS SE RECOMPS: voltou ao normal

    RUDEMENTE RUDEMENTE RUDEMENTE RUDEMENTE RUDEMENTE: de modo rude, grosseiro

    SEMBLANTE SEMBLANTE SEMBLANTE SEMBLANTE SEMBLANTE: aparncia, fisionomia, aspecto

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    brando-se da descrio que o Sr. Enfield fizera do homem que maltratara uma crianaindefesa, no teve dvidas: o herdeiro de Jekyll e ele eram o mesmo monstro.

    Como sabe meu nome? perguntou o sujeito. Temos amigos em comum. Jekyll, por exemplo. Jekyll nunca lhe falou nada! concluiu o Sr. Hyde, fechando a porta com

    violncia.CONSTERNADOCONSTERNADOCONSTERNADOCONSTERNADOCONSTERNADO com os desaforos do assistente, o Sr. Utterson rapidamente

    deu a volta no quarteiro e dirigiu-se a uma das casas que ficavam do outro ladodo grande ptio. Tocou a campainha. Passado algum tempo, o mordomo Pooleabriu a porta de pijamas, bocejando de sono.

    Boa-noite, Sr. Utterson. Aconteceu alguma coisa? Caro Poole, preciso falar com seu patro, o Dr. Jekyll, com urgncia. Diga-

    lhe que me perdoe pela hora.Poole subiu as escadas, depois de acomodar o advogado no sof, mas vol-

    tou em seguida com a notcia de que o mdico no estava no quarto. O doutor deve estar trabalhando no laboratrio, depois do ptio. Quando

    ele est l, tenho ordens explcitas de no incomod-lo sob hiptese nenhuma. Acabei de ver o Sr. Hyde entrar l. Ah, sim, ele tem a chave. O doutor gosta muito dele e disse que todos os

    empregados devem trat-lo bem. Fomos informados de que o Sr. Hyde pode en-trar e sair da casa a hora que quiser.

    RESIGNADORESIGNADORESIGNADORESIGNADORESIGNADO, o advogado olhou para baixo. Colocou as mos na cabea, numgesto de preocupao e, sentindo que no poderia fazer nada diante dos fatos, disse:

    Est bem, obrigado, Poole. Amanh tentarei falar com ele. Boa-noite.O Sr. Utterson foi finalmente para casa, mas no conseguiu dormir, pensando

    no estranho testamento e revivendo a terrvel sensao que teve na presena do Sr.Hyde. Pobre Jekyll, pensou, deve estar em apuros e no sabe como pedir ajuda.

    Captulo 3Captulo 3Captulo 3Captulo 3Captulo 3

    Visita ao Dr. Jekyll

    No dia seguinte, bem cedo, o Sr. Utterson recebeu um envelope contendoum convite para jantar na casa do Dr. Jekyll na prxima semana. Embora tivesse

    CONSTERNADO CONSTERNADO CONSTERNADO CONSTERNADO CONSTERNADO: profundamente triste, de nimo abatido

    RESIGNADO RESIGNADO RESIGNADO RESIGNADO RESIGNADO: conformado

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    vontade de falar com o amigo o mais rpido possvel, resolveu esperar at a noitedo jantar. Afinal, h muito tempo Henry Jekyll no convidava os amigos para umareunio.

    O advogado tocou a campainha da casa do mdico, pontualmente, uma se-mana depois. Foi muito bem recebido. O jantar, regado aos melhores vinhos im-portados, e a alegria das conversas fizeram todos se lembrarem dos velhos tem-pos. No final da noite, quando os convidados comearam a ir embora, o Sr.Utterson pediu ao mordomo Poole que o acompanhasse at o escritrio de Jekyll.Aguardou com pacincia a presena do amigo at que o ltimo convidado sasse.A lareira acesa criava um local aquecido e aconchegante para a espera.

    Que bom que resolveu ficar mais um pouco disse o mdico, assim queentrou no escritrio.

    Eu preciso lhe falar afirmou o Sr. Utterson, com ar SOLENESOLENESOLENESOLENESOLENE. sobre oseu testamento.

    Caro Utterson, pensei que j tivesse superado esse assunto. Por que voce aquele desagradvel do Lanyon no param um pouco de se preocupar comigo?

    Desculpe-me, mas se antes j no aprovava seu testamento, agora tenhomais motivos ainda para acreditar que alguma coisa sria est lhe acontecendo,algo que no pode revelar. Escute, Jekyll, quero que saiba que pode confiar emmim, seria incapaz de tra-lo.

    Sobre o que voc est falando? Que motivos so esses? perguntou omdico, EMPALIDECENDOEMPALIDECENDOEMPALIDECENDOEMPALIDECENDOEMPALIDECENDO subitamente e desviando o olhar para o canto da sala.

    Soube coisas terrveis sobre aquele seu protegido, Edward Hyde.O Dr. Jekyll pensou alguns segundos, depois mudou o tom de voz e disse,

    de modo ENFTICOENFTICOENFTICOENFTICOENFTICO: Utterson, perdoe-me, mas esse um assunto meu. No quero mais

    discuti-lo. Voc tem razo disse o advogado, baixando a cabea. Para sua tranqilidade, saiba que posso me livrar de Hyde na hora em

    que eu quiser. Sei que vocs se encontraram, ele me contou. Sei tambm que eleno teve muito bons modos na sua presena. Peo que o desculpe, em nome denossa amizade.

    No gosto dele, Jekyll. Temo que lhe faa mal. No h perigo, Utterson, meu interesse por ele exclusivamente profissional.

    No o obrigo a gostar dele, mas conto com sua dignidade para fazer valer meutestamento, caso eu no esteja mais entre vocs.

    Sim, caro Jekyll, como lhe disse, pode contar comigo. Peo-lhe somenteuma coisa.

    SOLENE SOLENE SOLENE SOLENE SOLENE: pomposo, formal

    EMPALIDECENDO EMPALIDECENDO EMPALIDECENDO EMPALIDECENDO EMPALIDECENDO: perdendo a cor, ficando plido

    ENFTICO ENFTICO ENFTICO ENFTICO ENFTICO: com nfase, com determinao

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    E o que seria essa coisa? Quero saber o endereo do seu assistente, pois posso precisar entrar em

    contato com ele. Acho que uma CAUTELACAUTELACAUTELACAUTELACAUTELA necessria, no acha? Sim, sim respondeu o mdico, rabiscando o endereo de uma casa no

    Soho em um pedao de papel, apesar de seu rosto demonstrar que fazia isso REVELIAREVELIAREVELIAREVELIAREVELIA.

    Os dois se despediram com um forte abrao. O doutor aproveitou para fazeruma ltima RECOMENDAORECOMENDAORECOMENDAORECOMENDAORECOMENDAO:

    Espero que esse assunto esteja finalmente encerrado. Est bem respondeu o Sr. Utterson, saindo pela rua escura, at sumir na

    neblina.

    Captulo 4Captulo 4Captulo 4Captulo 4Captulo 4

    Um terrvel assassinato

    Quase um ano depois daquele jantar, a cidade de Londres amanheceumanchada por um assassinato sem PRECEDENTESPRECEDENTESPRECEDENTESPRECEDENTESPRECEDENTES. Atormentada, uma empregadadomstica mal conseguiu descrever as barbaridades que testemunhou. Ela voltavapara casa depois de um longo dia de trabalho. Abriu a janela do quarto de dormirpara ver a lua, que naquela noite brilhava cheia no cu, quando observou dois ho-mens caminhando em direo ao beco nos fundos de sua casa. Um deles era ve-lho, contou; parecia sereno e bem-educado. O outro, ela reconhecera, era o Sr.Hyde, que algumas vezes havia visitado seu patro. Segundo ela, o rapaz manca-va, levava uma bengala na mo direita, era baixinho, curvado e tinha um aspectoDEPLORVELDEPLORVELDEPLORVELDEPLORVELDEPLORVEL.

    Pois bem, os dois se cruzaram e pararam para conversar. O senhor pareciaestar perguntando algum endereo ou coisa parecida, pois fazia gestos com amo. De repente, o Sr. Hyde foi tomado de uma CLERACLERACLERACLERACLERA que o fez derrubar o ou-tro homem, pisar e bater nele at que seu corpo fosse chutado para a SARJETASARJETASARJETASARJETASARJETA,

    CAUTELA CAUTELA CAUTELA CAUTELA CAUTELA: cuidado

    REVELIA REVELIA REVELIA REVELIA REVELIA: contra a vontade

    RECOMENDAO RECOMENDAO RECOMENDAO RECOMENDAO RECOMENDAO: aviso, advertncia

    PRECEDENTES PRECEDENTES PRECEDENTES PRECEDENTES PRECEDENTES: que precedem, que vm antes; antecedentes

    DEPLORVEL DEPLORVEL DEPLORVEL DEPLORVEL DEPLORVEL: detestvel, abominvel

    CLERA CLERA CLERA CLERA CLERA: raiva, ira

    SARJETA SARJETA SARJETA SARJETA SARJETA: escoadouro, nas ruas e praas pblicas, para as guas da chuva; vala

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    ensangentado e INERTEINERTEINERTEINERTEINERTE. Em seguida, o agressor fugiu, deixando para trs um pe-dao da bengala, que se partira diante de tanta violncia.

    A empregada, depois de se recuperar de um estado de choque, chamou apolcia. O homem morto no carregava documentos, apenas um relgio de ouro eum envelope fechado com o nome e o endereo do Sr. Utterson.

    Logo de manh cedo, o advogado recebeu a carta. Leu-a e constatou serum convite de um cliente seu. Disse que no diria nada, at ver o corpo. Depoisde tomar seu caf e se vestir, foi levado delegacia.

    Meu Deus! exclamou, assim que se deparou com o morto. ele mes-mo, o Sr. Danvers Carew, membro do Parlamento.

    No possvel! indignou-se o delegado. Ser que o senhor pode nosajudar a pegar o criminoso?

    Logo o Sr. Utterson escutou toda a histria relatada pela empregada. Em se-guida, vendo a metade quebrada da bengala, seus olhos cresceram e ele sentiuum arrepio na espinha. A bengala havia sido um presente seu para Henry Jekylltempos atrs, e agora Edward Hyde era o responsvel pelo crime. Mais uma vez,havia uma estranha ligao entre eles.

    No percamos tempo, senhores disse o advogado aos policiais. Eusei onde esse Hyde mora.

    Quando chegaram ao bairro do Soho, no endereo que Henry Jekyll haviaanotado, a neblina noturna ainda no tinha levantado, o que tornava o local pobree sujo ainda mais sombrio. A umidade do ar deixava um cheiro ACREACREACREACREACRE pelas ruasENLAMEADASENLAMEADASENLAMEADASENLAMEADASENLAMEADAS. Bateram na porta com insistncia e, ento, uma senhora com as-pecto DESLEIXADODESLEIXADODESLEIXADODESLEIXADODESLEIXADO e cabelos brancos os atendeu.

    Sim, aqui que mora Edward Hyde. Cuido da casa e da limpeza disse. Qual foi a ltima vez que a senhora o viu? Esta noite. Chegou tarde, andou de um lado para o outro durante um lon-

    go tempo e saiu hoje bem cedo. Ele assim, no tem rotina. Para se ter uma idia,estava h dois meses sem aparecer.

    Precisamos revistar o quarto dele afirmou o delegado.Amedrontada com a presena da polcia, pois parecia que algo de importan-

    te estava para acontecer, a senhora permitiu a passagem dos homens para dentroda casa. O quarto de Hyde estava todo revirado. Havia roupas espalhadas e o ar-mrio estava aberto. At os quadros da parede estavam cados no cho. A outrametade da bengala foi encontrada embaixo da cama. Na lareira, um monte de cin-zas indicava que papis tinham sido queimados. Um dos policiais chamou a aten-o dos outros:

    H um canhoto de cheque no meio das cinzas. Deve ter escapado do fogo.

    INERTE INERTE INERTE INERTE INERTE: sem se mexer

    ACRE ACRE ACRE ACRE ACRE: de aroma forte, spero, seco

    ENLAMEADAS ENLAMEADAS ENLAMEADAS ENLAMEADAS ENLAMEADAS: cheias de lama

    DESLEIXADO DESLEIXADO DESLEIXADO DESLEIXADO DESLEIXADO: desarrumado

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    Deixe-me ver disse o delegado. Certo, vamos at o banco. Uma horaou outra ele ter de aparecer, pois dinheiro essencial. Tudo prova que ele foimesmo o assassino do Sr. Danvers Carew.

    No encontraram nenhuma fotografia do fugitivo, mas o descreveram minu-ciosamente aos caixas e funcionrios do banco. Assim que vissem um homemcom NDOLENDOLENDOLENDOLENDOLE to m, que lhes causasse arrepios mesmo de longe, a polcia deve-ria ser ACIONADAACIONADAACIONADAACIONADAACIONADA.

    Captulo 5Captulo 5Captulo 5Captulo 5Captulo 5

    As duas cartas

    Depois da manh agitada, o Sr. Utterson almoou e foi bater na porta deHenry Jekyll. Poole o conduziu, pela primeira vez em anos, ao laboratrio domdico, pois, segundo o mordomo, seu patro no se sentia disposto paraatravessar o ptio at o outro lado da casa. A ante-sala do laboratrio era parti-cularmente escura, cheia de vidros contendo lquidos coloridos e aparelhos dequmica. As paredes estavam descascadas e o frio era intenso. Ao atravessa-rem a ante-sala, o ambiente ficou um pouco mais quente, pois o fogo ardia nalareira. Um lampio tambm estava aceso, pois at l dentro havia um poucode neblina.

    O Dr. Jekyll parecia mesmo doente. Sentado em uma poltrona alta, nem le-vantou para cumprimentar o advogado. Estendeu a mo gelada, ajeitou uma man-ta sobre as pernas e fez sinal para que Poole os deixasse sozinhos.

    J sei de tudo, Utterson disse, com a voz rouca. As pessoas passamaqui ao lado, na rua, gritando a manchete do jornal.

    Danvers Carew tambm era meu cliente, por isso tenho o dever de per-guntar. Voc est, de alguma forma, escondendo esse assassino?

    Utterson, juro por tudo o que mais sagrado. Nunca mais quero ver estehomem. Ele est a salvo, mas prometo-lhe que sumiu para sempre.

    Escute, Jekyll, seu nome pode aparecer, caso haja um processo. Acredite em mim, caro amigo. No sei onde ele est, mas recebi uma car-

    ta hoje que tenho medo de mostrar polcia. Ser que posso entreg-la a voc?Julgue como quiser. Temo apenas pela minha reputao.

    NDOLE NDOLE NDOLE NDOLE NDOLE: temperamento, carter

    ACIONADA ACIONADA ACIONADA ACIONADA ACIONADA: posta em ao, chamada

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    A carta era realmente bastante estranha. Com uma letra esticada, EdwardHyde a assinava e dizia que seu mestre, o Dr. Henry Jekyll, no deveria se preocu-par com a sua segurana, pois ele tinha meios de fugir sem deixar RASTRORASTRORASTRORASTRORASTRO. Pediatambm desculpas por ter sido to ingrato diante de toda a ajuda e generosidaderecebidas durante o tempo em que trabalharam juntos.

    Desconfiado, o advogado perguntou pelo envelope. Queimei-o sem pensar. No tinha carimbo, foi entregue em mos. Uma ltima pergunta disse o Sr. Utterson. Foi Hyde quem lhe ditou o

    testamento, especialmente aquela parte de em caso de desaparecimento pormais de trs meses?

    Sim disse o mdico, envergonhado. Eu sabia, voc escapou da morte por pouco.Cauteloso, o Sr. Utterson perguntou a Poole sobre a pessoa que entregara

    uma carta de manh, mas o mordomo assegurou o advogado de que apenas ocorreio havia deixado alguns impressos naquele dia. A carta chegou pelo labora-trio, pensou. Ser que Hyde ainda tem a chave?

    Chegando em casa, o Sr. Utterson foi direto para seu escritrio. Uma des-confiana lhe causava certo nervosismo, por isso resolveu tirar a limpo suasdvidas. Abriu a gaveta da escrivaninha e retirou o convite que recebera do Dr.Jekyll para jantar um ano atrs. O advogado era um homem extremamente or-ganizado, gostava de guardar tudo o que pudesse ser importante. Na ocasiodo jantar, resolveu manter o convite por intuio; talvez ele lhe servisse parasolucionar algum mistrio.

    Eu estava certo! exclamou para si prprio, com uma mistura de surpresae medo.

    A comparao da carta de Hyde com o convite de Jekyll mostrava que as le-tras eram quase idnticas. A do mdico era ligeiramente deitada, enquanto a deseu assistente parecia meio deformada, esticada para o alto. Mas o formato dasletras e o estilo tinham muita semelhana.

    Naquela noite, no conseguiu dormir sequer um minuto. Henry Jekyll podeter forjado aquela carta para proteger um assassino perigoso, pensava sem parar,sentindo CONSECUTIVOSCONSECUTIVOSCONSECUTIVOSCONSECUTIVOSCONSECUTIVOS arrepios de pavor.

    RASTRO RASTRO RASTRO RASTRO RASTRO: pista

    CONSECUTIVOS CONSECUTIVOS CONSECUTIVOS CONSECUTIVOS CONSECUTIVOS: vrios, diversos, um atrs do outro

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    CaCaCaCaCaptulo 6ptulo 6ptulo 6ptulo 6ptulo 6

    O Dr. Lanyon tem um choque

    Dois meses se passaram e a recompensa a ser paga pela captura do Sr.Hyde aumentava de valor. Apesar disso, o assassino havia, de fato, sumido domapa. Nas ruas, as pessoas falavam de sua NOTRIANOTRIANOTRIANOTRIANOTRIA crueldade, de sua falta decarter e de sua aparncia assustadora.

    O Dr. Jekyll, por outro lado, estava mudado. Voltara a receber os amigoscom freqncia, a sair de casa de vez em quando, a ser um homem caridoso ereligioso. Visitava pessoas doentes e as ajudava, fosse com seus conhecimentosde medicina ou apenas com palavras de ENCORAJAMENTOENCORAJAMENTOENCORAJAMENTOENCORAJAMENTOENCORAJAMENTO.

    No dia 8 de janeiro, o mdico resolveu organizar um jantar. O Sr. Utterson eo Dr. Lanyon foram convidados. Os trs companheiros se olhavam com satisfao,como nos velhos tempos. Quatro dias depois, porm, no dia 12, o Sr. Utterson ba-teu na porta do amigo, com quem costumara conviver quase diariamente nos lti-mos dois meses, e foi informado por Poole de que o doutor j estava em seusaposentos. Isso ocorreu novamente nos dias 14 e 15.

    Como Utterson ficou preocupado, com medo de que o Dr. Jekyll estivessevoltando ao isolamento, resolveu ir casa do Dr. Lanyon para discutir o assunto.Chegando l, levou um susto: o mdico parecia ter contrado uma terrvel doena.Estava bem mais magro do que na semana anterior, tinha perdido muitos fios decabelo e aparentava ter envelhecido SUBITAMENTESUBITAMENTESUBITAMENTESUBITAMENTESUBITAMENTE. O pior que levava no rostoplido uma profunda expresso de terror.

    Meu Deus, Lanyon, o que houve com voc? perguntou o advogado. Estou condenado respondeu o mdico, sem RODEIOSRODEIOSRODEIOSRODEIOSRODEIOS. Levei o maior

    choque da minha vida e sei que nunca vou me recuperar. Deixarei este mundoem questo de semanas.

    Embora curioso, o Sr. Utterson ficou constrangido em perguntar que choque se-ria aquele. Calou-se por alguns instantes e depois resolveu mudar de assunto:

    Jekyll no quer me receber. Sabe se ele tambm est doente?O Dr. Lanyon teve praticamente um ataque de raiva e disse, quase aos

    berros: Rompi relaes com essa pessoa e gostaria que seu nome no entrasse

    nesta casa. Para mim, ele est morto.

    NOTRIA NOTRIA NOTRIA NOTRIA NOTRIA: conhecida de todos

    ENCORAJAMENTO ENCORAJAMENTO ENCORAJAMENTO ENCORAJAMENTO ENCORAJAMENTO: ato ou efeito de encorajar

    SUBITAMENTE SUBITAMENTE SUBITAMENTE SUBITAMENTE SUBITAMENTE: de modo sbito; repentinamente, de repente

    RODEIOS RODEIOS RODEIOS RODEIOS RODEIOS: desculpas, evasivas, vias indiretas de abordar um assunto

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    Assim estou ficando desesperado. O que posso fazer para ajudar vocs dois?Somos trs velhos amigos, Lanyon. Por que voc no me conta o que aconte-ceu?

    Voc no pode fazer nada. Saber de tudo um dia, depois que eu me for.Agora falemos sobre outra coisa ou, por favor, deixe-me sozinho, caro Utterson.

    A voz trmula do Dr. Lanyon contrastava com a determinao com que rejeitavaa lembrana de Jekyll. O advogado percebeu que no iria arrancar-lhe nenhuma expli-cao. Foi, por fim, embora, ofendido, e resolveu escrever uma carta ao Dr. Jekyll, per-guntando o motivo de ele e o Dr. Lanyon terem rompido seus laos de amizade. Emresposta, o mdico enviou outra carta, a qual continha explicaes misteriosas.

    Tambm estou condenado, meu velho amigo. Talvez Lanyon tenha razoem no querer me ver, dizia o mdico. Atra para mim o pior castigo que podeacontecer a um ser humano e, por isso, terei de conviver com ele. A partir de ago-ra, viverei TRANCAFIADOTRANCAFIADOTRANCAFIADOTRANCAFIADOTRANCAFIADO em meu laboratrio. No duvide da nossa amizade e domeu apreo por voc, mas, por favor, respeite minha necessidade de RECLUSORECLUSORECLUSORECLUSORECLUSO.Sou o maior sofredor que j existiu.

    O advogado no acreditava no que lia. Imaginou tratar-se de loucura, masas palavras de Lanyon sugeriam algo mais grave. Ser que Jekyll voltou a convivercom Hyde? Seria esse o grande mistrio? Por que o mdico abdicaria de uma ve-lhice feliz e produtiva em favor de ms companhias?, pensava.

    Trs semanas depois, o Dr. Lanyon morreu. Deixou uma carta ao Sr.Utterson, em um envelope lacrado. O advogado teve medo de abri-lo, pois, nafrente, estava escrito: Confidencial. Para o Sr. J. G. Utterson. Caso ele morra antesde mim, destruir sem ler..... Mesmo assim, tomou-se de coragem e arrancou o lacre.Ele no acreditou no que viu. Dentro havia outro envelope escrito: Somente deveser aberto aps a morte ou desaparecimento do Dr. Henry Jekyll..... Novamente, apalavra desaparecimento estava ligada ao nome do Dr. Jekyll. Qual seria o senti-do disso? Em seu ponto de vista, Hyde a escrevera no testamento para aceleraruma possvel herana, mas por que Lanyon a escreveria? Uma vontade enorme deromper o segundo lacre se apossou do Sr. Utterson. Ele ficou horas com o envelo-pe numa mo e a esptula na outra, ansioso para ler o contedo da carta. Porm,a INTEGRIDADEINTEGRIDADEINTEGRIDADEINTEGRIDADEINTEGRIDADE profissional falou mais alto dentro dele, fazendo-o guardar a cartano cofre. O Sr. Utterson era CENTRADOCENTRADOCENTRADOCENTRADOCENTRADO o bastante para dominar sua curiosidade.

    Depois daquele dia, o advogado ainda tentou falar com o Dr. Jekyll algumasvezes, mas, como nunca era recebido, acabou ESPAANDOESPAANDOESPAANDOESPAANDOESPAANDO as visitas. A nica not-cia que recebia de Poole era que o mdico andava triste, calado e passava a maiorparte do tempo no laboratrio.

    TRANCAFIADO TRANCAFIADO TRANCAFIADO TRANCAFIADO TRANCAFIADO: fechado, preso

    RECLUSO RECLUSO RECLUSO RECLUSO RECLUSO: priso, crcere

    INTEGRIDADE INTEGRIDADE INTEGRIDADE INTEGRIDADE INTEGRIDADE: imparcialidade, pureza

    CENTRADO CENTRADO CENTRADO CENTRADO CENTRADO: controlado, comedido

    ESPAANDO ESPAANDO ESPAANDO ESPAANDO ESPAANDO: aumentando o espao ou intervalo de tempo

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    Captulo 7Captulo 7Captulo 7Captulo 7Captulo 7

    Terror na janela

    Certo domingo tarde, o Sr. Enfield foi casa do Sr. Utterson cham-lo paramais uma caminhada. Saram andando em silncio, como de costume e, depoisde meia hora, passaram, por acaso, ou talvez inconscientemente, em frente por-ta do laboratrio do Dr. Jekyll.

    Voc deve me achar um tolo, primo, por ter lhe contado aquela histriada menina pisoteada, sem mencionar que esta a porta que d fundos para acasa do Dr. Jekyll disse o Sr. Enfield.

    Quando descobriu ser meu amigo mdico o dono desta porta? pergun-tou o advogado.

    Logo depois da nossa conversa. Em parte pelo seu espanto diante do queeu contei, resolvi perguntar pela vizinhana e acabei descobrindo.

    J que voc sabe, vamos tentar dar uma espiada na janela de Jekyll peloptio? Ele est adoentado e no quer receber ningum, mas talvez sinta-se melhorcom a presena de um amigo, mesmo que de longe.

    Vamos, sim. Pobre Jekyll.Os dois conseguiram entrar no ptio escuro e frio, um lugar de atmosfera

    SINISTRASINISTRASINISTRASINISTRASINISTRA, onde a neblina ficava acumulada. Logo viram o mdico sentado pertoda janela, com o olhar fundo, como se sofresse de uma dor aguda.

    Como vai, Jekyll? perguntou o Sr. Utterson. Viemos lhe fazer uma visita. Ol, Utterson. Ol, Enfield. bom v-los. Est melhor? Ainda me sinto muito fraco, mas sinto que o fim de tudo isso est prxi-

    mo, graas a Deus.O Sr. Enfield INTERCEDEUINTERCEDEUINTERCEDEUINTERCEDEUINTERCEDEU: No gostaria de vir caminhar conosco, Jekyll? O exerccio faz bem, traz

    DISPOSIODISPOSIODISPOSIODISPOSIODISPOSIO. Voc, como mdico, deve saber disso. Sei sim e agradeo o convite, mas realmente no tenho condies de sair.

    Gostaria de convid-los para entrar, mas a ocasio no apropriada. No se preocupe. Podemos conversar com voc daqui mesmo falou o

    Sr. Utterson.

    SINISTRA SINISTRA SINISTRA SINISTRA SINISTRA: ameaadora, temvel

    INTERCEDEU INTERCEDEU INTERCEDEU INTERCEDEU INTERCEDEU: interveio, pediu

    DISPOSIO DISPOSIO DISPOSIO DISPOSIO DISPOSIO: nimo, sade

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    Que bom ver rostos amigos disse o mdico, ESBOANDOESBOANDOESBOANDOESBOANDOESBOANDO um sorrisonos lbios.

    Mal disse isso e seu sorriso se transformou, quase instantaneamente, emuma expresso de horror. Os dois primos sentiram um arrepio gelado atravessarsuas espinhas medida que a janela do quarto do Dr. Jekyll se fechava com fora,no se sabe se pelas mos do mdico ou por alguma fora EXTRA-SENSORIALEXTRA-SENSORIALEXTRA-SENSORIALEXTRA-SENSORIALEXTRA-SENSORIAL. Semfalar nada, deixaram o ptio e desceram a rua, em passos largos, at chegarem emum local iluminado, onde mais gente estivesse circulando. Entreolharam-se e dis-seram, quase ao mesmo tempo:

    Deus do cu!Continuaram a caminhar calados, apavorados, at chegarem em suas casas.No domingo seguinte, o terror assistido do ptio naquela noite pareceu se

    confirmar, quando se ouviram batidas firmes e secas na porta do Sr. Utterson. Poole, por misericrdia, o que faz aqui? perguntou, em tom de deses-

    pero, o advogado, assim que viu o mordomo. Tem alguma coisa errada, Sr. Utterson respondeu Poole, tremendo de

    frio e pavor. Sente-se, aquea-se perto da lareira e me responda: o seu patro est

    doente? No sei, mas estou com muito medo. No agento mais, j faz uma

    semana. Pelo amor de Deus, Poole, diga-me o que h. O doutor est trancado no laboratrio e e acho que aconteceu um cri-

    me disse, por fim, olhando para o cho, sem coragem de encarar o advogado.O Sr. Utterson se levantou imediatamente, pegou o casaco e disse: Vamos para l agora, Poole. O que voc est me dizendo? Que crime esse? Graas a Deus! Eu temia que o senhor no quisesse ir. No tenho cora-

    gem de contar, preciso enxergar com os prprios olhos.Os dois saram caminhando rpido. Um vento fora do comum estava so-

    prando, fazendo as rvores se ENVERGAREMENVERGAREMENVERGAREMENVERGAREMENVERGAREM contra as cercas e as pessoas se tran-carem em casa. O barulho da ventania, a escurido da noite e o deserto das ruasfaziam o Sr. Utterson sentir o sangue gelando nas veias e Poole secar o suor friodo rosto sem parar.

    ESBOANDO ESBOANDO ESBOANDO ESBOANDO ESBOANDO: deixando entrever

    EXTRA-SENSORIAL EXTRA-SENSORIAL EXTRA-SENSORIAL EXTRA-SENSORIAL EXTRA-SENSORIAL: que no se efetua pelos sentidos

    ENVERGAREM ENVERGAREM ENVERGAREM ENVERGAREM ENVERGAREM: curvarem, arquearem

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    Captulo 8Captulo 8Captulo 8Captulo 8Captulo 8

    Suspense no laboratrio

    Assim que chegaram na casa do mdico, Poole bateu na porta. Quem ? perguntou, em tom de choro, uma voz feminina. Sou eu, Poole. Graas a Deus, Poole, voc trouxe o Sr. Utterson respondeu a arruma-

    deira da casa, abrindo a porta.Todos os empregados estavam na sala da casa, com cara de pavor. A cozi-

    nheira comeou a soluar assim que o advogado chegou; seus gemidos aumenta-vam, beirando a histeria, e todos foram se desesperando ainda mais. At quePoole a sacudiu com fora e gritou:

    Controle-se, pelo amor de Deus! V buscar uma vela e vamos resolverlogo isso.

    Os outros empregados se assustaram com a rigidez do mordomo, mas o cli-ma de terror ficou mais ameno depois disso. Assim que a vela chegou, Poole le-vou o advogado at o laboratrio. Atravessaram o ptio escuro, o anfiteatro onde,anos antes, o Dr. Jekyll MINISTRARAMINISTRARAMINISTRARAMINISTRARAMINISTRARA aulas de medicina, chegaram perto da escadae da porta do gabinete do mdico. No cho, havia caixas espalhadas e besouroscaminhando. Poole advertiu o Sr. Utterson:

    Escute, apenas escute com ateno. Se lhe pedir para entrar, por favor,no v.

    O advogado, que estava cada vez mais apreensivo diante de tantos mis-trios, CONSENTIUCONSENTIUCONSENTIUCONSENTIUCONSENTIU com a cabea, enquanto Poole colocava o castial no corri-mo da escada e batia na porta.

    Dr. Jekyll, sou eu, Poole. O Sr. Utterson est aqui. Veio visitar-lhe. Diga-lhe que no quero ver ningum respondeu uma voz rouca e tr-

    mula l de dentro.Poole fez sinal para que o Sr. Utterson o acompanhasse at a cozinha, onde

    puderam conversar. Ouviu a voz do meu patro? perguntou o mordomo, ansioso. Ouvi e no a reconheci respondeu o advogado. Exatamente! exclamou Poole. Era isso que eu queria lhe dizer. Meu

    patro foi morto h uma semana e aquela pessoa l dentro o matou. Todos nsouvimos seus gritos de pavor.

    Mas Poole, se Jekyll est morto, o que faria o assassino ficar no local docrime por mais de uma semana?

    MINISTRARA MINISTRARA MINISTRARA MINISTRARA MINISTRARA: dara, administrara

    CONSENTIU CONSENTIU CONSENTIU CONSENTIU CONSENTIU: concordou, aprovou

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    Escute, senhor, vou contar-lhe o que se passou. Durante os ltimos oitodias, recebi bilhetes do meu patro, passados por baixo da porta do gabinete, pe-dindo-me que lhe arranjasse um tipo especfico de droga. Fui a diversos farmacu-ticos da cidade, mas toda vez que eu comprava o medicamento e o deixava naporta do laboratrio, recebia outro bilhete pedindo que voltasse e trouxesse umadroga mais pura. Acontece que, em um desses dias, resolvi esperar escondido queele abrisse a porta do gabinete para pegar a droga. Desconfiei de algo e queria vercomo meu patro estava.

    E ento? perguntou, aflito, o advogado. Eu o vi, senhor, eu o vi. A coisa mais horrvel. No era o meu patro, que

    conheo h mais de vinte anos. Era quase um ano, parecia levar uma mscara norosto; tinha algo de deformado. No agentei e gritei. Aquela coisa, no sei se eraum homem ou um bicho, quando me viu, saiu correndo e se trancou de novo.

    Poole, diga-me. Essa pessoa era quem eu estou pensando?O mordomo deixou escapar uma lgrima dos olhos e respondeu: Sim, Sr. Utterson, s uma pessoa neste mundo at hoje me causou pnico.

    Parecia um animal feroz procurando a droga atrs da porta. Era ele tenho quasecerteza era o Sr. Hyde. O senhor, que j se encontrou com ele, pode confirmar:no uma criatura que faz o sangue gelar e as pernas perderem a fora?

    Sim, caro Poole, Hyde medonho, e eu acredito em voc. Alis, era exa-tamente isso que eu temia. Meu pobre amigo deve mesmo estar morto e seu ter-rvel assassino est a dentro, escondido.

    O que faremos, senhor? perguntou o mordomo, agora quase chorandode verdade.

    Vamos arrombar a porta. Mas, senhor Escute, Poole, estamos em uma situao muito delicada. Assumirei todas

    as responsabilidades por nossos atos. Seja l o que acontea depois de derrubar-mos a porta, voc no ser prejudicado. Agora acalme-se e descubra alguma coisaque nos ajude a coloc-la abaixo.

    Poole respirou, aliviado, e foi buscar o machado dentro do anfiteatro.

    Captulo 9Captulo 9Captulo 9Captulo 9Captulo 9

    A noite DERRADEIRA

    Bradshaw, o copeiro, foi chamado. O rapaz apareceu assustado. Fique calmo, Bradshaw disse o Sr. Utterson. Poole e eu vamos arrom-

    bar a porta, mas precisamos da sua ajuda. Quero que saia da casa e vigie a porta

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    do laboratrio por fora. No podemos correr o risco de o assassino fugir. Se quiser,leve o jardineiro junto.

    Enquanto o rapaz se dirigia para o lado de fora da casa, o advogado e omordomo atravessaram novamente o ptio, desta vez carregando o castial e omachado. A lua estava parcialmente coberta pelas nuvens. O ptio se transformaraem um verdadeiro poo de neblina e sombras. Ao atravessarem o anfiteatro, ouvi-ram os passos entrecortados dentro do laboratrio.

    Esta criatura caminha dia e noite, senhor. Escute bem, estes passos pesa-dos no so do doutor alertou Poole.

    No h nenhum outro barulho a dentro? Uma vez escutei um choro agudo, parecia um soluo de mulher. Era um ge-

    mido de desespero, to alto que me fez ficar angustiado. Quase chorei tambm. Por Deus, Poole, isso cruel demais! Mas no vamos mais perder tempo.

    Acho que chegou a hora disse o advogado. Bradshaw j deve estar em seuposto.

    Poole pegou o machado, o Sr. Utterson colocou o castial sobre uma mesae gritou, com energia:

    Jekyll, sou eu, Utterson! Quero v-lo!Uma voz trmula e rouca respondeu l de dentro: Utterson, por misericrdia, j lhe pedi, deixe-me em paz Esta no a voz de Jekyll, a de Hyde. Arrombe a porta, Poole.O machado entrou com RIGIDEZRIGIDEZRIGIDEZRIGIDEZRIGIDEZ na madeira slida da porta. Fez-se um ba-

    rulho ENSURDECEDORENSURDECEDORENSURDECEDORENSURDECEDORENSURDECEDOR. Poole levantava o machado acima dos ombros e DESFERIADESFERIADESFERIADESFERIADESFERIAgolpes certeiros perto das dobradias. GRUNHIDOSGRUNHIDOSGRUNHIDOSGRUNHIDOSGRUNHIDOS de horror saam do laborat-rio, como se um animal estivesse sendo ameaado por um caador. Por fim, apso quinto ou sexto golpe, a pesada porta tombou no cho, espalhando poeira portodo lado e causando um ESTRONDOESTRONDOESTRONDOESTRONDOESTRONDO s ouvido em locais de demolio.

    Depois de alguns segundos, Poole e o Sr. Utterson adentraram a sala. A la-reira estava acesa. A chaleira apitando indicava que o ch j tinha fervido. Havialoua sobre a mesa e alguns papis espalhados. O ambiente, estranhamente, pa-recia de muita paz, no fosse pela viso que tiveram alguns passos adiante.

    O corpo de um homem jazia no cho, bem prximo janela. Ao chegaremmais perto, reconheceram tratar-se de Edward Hyde, todo encolhido, como se ti-vesse sofrido dores ATROZESATROZESATROZESATROZESATROZES antes de morrer, vestido com roupas largas, maioresdo que ele. Abaixaram-se e retiraram o vidro que estava em uma das mos dele.

    DERRADEIRA DERRADEIRA DERRADEIRA DERRADEIRA DERRADEIRA: ltima

    RIGIDEZ RIGIDEZ RIGIDEZ RIGIDEZ RIGIDEZ: dureza, rigor

    ENSURDECEDOR ENSURDECEDOR ENSURDECEDOR ENSURDECEDOR ENSURDECEDOR: que ensurdece, deixa surdo

    DESFERIA DESFERIA DESFERIA DESFERIA DESFERIA: aplicava, dava

    GRUNHIDOS GRUNHIDOS GRUNHIDOS GRUNHIDOS GRUNHIDOS: vozes que lembram a do porco ou a do javali

    ESTRONDO ESTRONDO ESTRONDO ESTRONDO ESTRONDO: grande barulho ou rudo

    ATROZES ATROZES ATROZES ATROZES ATROZES: desumanas, brbaras, cruis

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    veneno, Poole disse o advogado, aps cheirar o frasco. Este ho-mem se matou.

    Chegamos tarde, Sr. Utterson. Agora precisamos encontrar o corpo do Dr. Jekyll.Procuraram por toda parte, abriram armrios cheios de teias de aranha, des-

    truram o assoalho, subiram ao sto e nada. A mesa perto da porta do gabineteestava cheia de um p branco.

    Esta a droga que eu lhe trazia apontou Poole.Na escrivaninha, o advogado estranhou ver livros religiosos, que o Dr. Jekyll

    tanto admirava, rabiscados com palavras pecadoras e VEXATRIASVEXATRIASVEXATRIASVEXATRIASVEXATRIAS. Mais adiante,encontraram um espelho.

    Para que Jekyll usava este espelho, Poole? S Deus sabe, senhor, mas acredito que este espelho tenha testemunha-

    do cenas das mais LGUBRESLGUBRESLGUBRESLGUBRESLGUBRES.Observando o corpo de Hyde de vez em quando, continuaram a caminhar

    pelo laboratrio at encontrarem um grande envelope com o nome do Sr.Utterson, escrito com a letra do Dr. Jekyll. Dentro, havia vrios papis. O primeiroera um novo testamento, no qual Henry Jekyll passava todos os seus bens ao Sr.Gabriel John Utterson aps sua morte ou desaparecimento. O advogado olhoupara o cadver e disse:

    No entendo, Poole. Hyde sabia do testamento e estava de possedele h dias. Por que no o destruiu antes de morrer, depois de ter matado seupatro? Por que no quis ficar com a herana?

    Continuou a folhear os papis e encontrou um bilhete do mdico. Olhe, Poole, um bilhete de Jekyll com data de hoje. Ele estava vivo hoje!

    O que ter acontecido? Ser que Jekyll matou Hyde e fugiu? Meu Deus Leia o bilhete, Sr. Utterson, por Deus!O advogado chegou perto do fogo da lareira e leu, em voz alta:Querido amigo Utterson,Quando estiver de posse deste papel, j terei desaparecido. No posso cal-

    cular o que ir acontecer, mas sinto que o fim est prximo. Lanyon me disse quelhe escreveu um relato. Leia-o primeiro, depois, se quiser, leia a minha confisso.

    De seu triste e fiel amigo,Henry Jekyll.Por fim, o Sr. Utterson pegou o ltimo documento que estava dentro do

    envelope, o que devia ser a confisso mencionada no bilhete. Em seguida, dis-se ao mordomo:

    Poole, preciso ir para casa ler a carta de Lanyon e tambm esta aqui, escri-ta por Jekyll. So dez horas. Vamos sair deste gabinete e trancar a porta da ante-sala do laboratrio. Volto no mximo meia-noite. Espero ter alguns esclarecimen-tos importantes, ento poderemos chamar a polcia.

    VEXATRIAS VEXATRIAS VEXATRIAS VEXATRIAS VEXATRIAS: que provocam vexame, vergonha

    LGUBRES LGUBRES LGUBRES LGUBRES LGUBRES: escuros, sombrios, sinistros, tristes, fnebres

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    Ainda sentindo todo o impacto da situao, Poole e os outros empregadosreuniram-se na sala de estar da casa, perto da lareira, aguardando ansiosos a voltado advogado.

    Captulo 10Captulo 10Captulo 10Captulo 10Captulo 10

    Um apelo desesperado

    O Sr. Utterson correu para casa. No caminho, a ansiedade atropelava mi-lhes de dvidas em sua mente. Mal podia se conter quando entrou no escritrioe pegou a carta que havia guardado no cofre. Tirou apressadamente o lacre e co-meou a ler:

    No dia 9 de janeiro, quatro dias atrs, recebi uma carta do meu amigo ecolega de profisso Henry Jekyll, em envelope registrado. A formalidade da cartame intrigou, pois eu havia jantado em sua casa na noite anterior e ele nada haviamencionado. De qualquer maneira, o contedo das informaes era bastante mis-terioso. Jekyll me fazia o seguinte pedido:

    Caro Lanyon,Sei que temos algumas desavenas profissionais, mas te-

    nho-o como um grande e estimado amigo. Sendo assim, querodizer-lhe que dependo de voc para me ajudar esta noite. Mi-nha honra, minha sanidade e, principalmente, minha vida, es-to em suas mos. Sei que vai se assustar com estas palavras,mas, por favor, julgue-me como achar melhor.

    Peo que cancele todos os seus compromissos e leveesta carta minha casa. Meu mordomo, Poole, vai estar espe-rando-o junto com um serralheiro. Vocs devem arrombar aporta do meu gabinete, mas somente voc deve entrar l.Abra, ento, a gaveta com a letra E, que a terceira, de baixopara cima, no armrio perto da mesa. Ela contm alguns ps,um frasco e um caderno. Quero que leve esta gaveta, INTACTAINTACTAINTACTAINTACTAINTACTA,para sua casa.

    meia-noite, voc dever aguardar uma pessoa que ba-ter sua porta em meu nome. Certifique-se de que seus em-pregados estejam dormindo e receba-o sozinho, em seu con-

    INTACTA INTACTA INTACTA INTACTA INTACTA: intocada

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    sultrio. Entregue-lhe a gaveta e voc ter, finalmente, toda aminha gratido. Depois de cinco minutos, voc entender oporqu dos meus pedidos aparentemente fantsticos.

    Lanyon, tenho certeza de que voc no ir me faltar. Mi-nhas pernas perdem a fora s de imaginar que algo d errado.Estou completamente tomado por uma angstia profunda e te-nebrosa. S voc pode me salvar. Ajude-me, por favor.

    De seu amigo,H. J.P.S.: Caso o correio falhe e entregue esta carta somente

    amanh, faa os favores que lhe pedi na hora em que acharmais apropriada e aguarde meu mensageiro meia-noite. Seele no vier, porque pode ter sido tarde demais. Sendo assim, possvel que nunca mais veja Henry Jekyll. Adeus

    De fato, aquela carta me assustou. Pensei que Jekyll estivesse ficando louco,mas, diante de um pedido to CONTUNDENTECONTUNDENTECONTUNDENTECONTUNDENTECONTUNDENTE, no pude deixar de atend-lo. Fuiimediatamente casa de meu amigo. O mordomo tambm recebera uma cartapela manh com instrues e j me aguardava com o serralheiro.

    Atravessamos o ptio e chegamos ao gabinete. O serralheiro, depois deduas horas de trabalho duro, conseguiu arrombar a slida fechadura. Ansioso, reti-rei a gaveta com a letra E e levei-a para casa. Dentro dela, encontrei uma espciede sal cristalino e um lquido de cor vermelha escura. Tinha um cheiro forte, pode-ria ser fsforo ou algum tipo de ter. No caderno, havia anotaes feitas duranteum perodo de vrios anos. H cerca de um ano, as notas foram ficando mais es-paadas, e a palavra dupla aparecia de vez em quando. Mais abaixo podia-se lera informao FRACASSO TOTAL em letras grandes.

    Refleti e no consegui compreender como aquele material poderia compro-meter a honra, a sanidade e a vida de um RENOMADORENOMADORENOMADORENOMADORENOMADO mdico. Em estado desuspense que me encontrava, mandei os empregados irem dormir e carregueimeu revlver, somente por PRECAUOPRECAUOPRECAUOPRECAUOPRECAUO. Depois sentei-me em meu consultrio,esperando a meia-noite.

    CONTUNDENTE CONTUNDENTE CONTUNDENTE CONTUNDENTE CONTUNDENTE: incisivo, agressivo

    RENOMADO RENOMADO RENOMADO RENOMADO RENOMADO: de bom nome; boa reputao

    PRECAUO PRECAUO PRECAUO PRECAUO PRECAUO: cuidado

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    Captulo 11Captulo 11Captulo 11Captulo 11Captulo 11

    A Revelao do Dr. Lanyon

    O Sr. Utterson lia o documento com a testa enrugada e os olhos apertados.Seu amigo Lanyon estava morto e Jekyll desaparecera. Ele lia cada palavra como sedelas pudesse brotar uma soluo para sua angstia.

    Quase imediatamente aps o relgio da sala soar doze badaladas, escuteialgum bater na porta. Abri e me deparei com um homem muito baixinho, todocurvado, como se sofresse de algum mal da coluna.

    Venho da parte de Henry Jekyll disse, sem mostrar o rosto.Deixei-o entrar. Antes, porm, ele olhou para trs, como se tivesse medo de que

    algum estivesse em sua perseguio. Enquanto nos encaminhvamos para o consul-trio, mantive as mos na arma, dentro do bolso. Finalmente, atravessamos a sala, ocorredor e entramos no meu local de trabalho, bem mais iluminado. A ento pude v-lo com clareza. Fiquei completamente impressionado, pois em tantos anos de medici-na, nunca havia visto um ser humano to repugnante. Chamou-me a ateno o fatode a musculatura de seu rosto parecer repulsivamente rgida e flcida ao mesmo tem-po. Senti imediata queda de presso, o que fez minhas pernas ficarem trmulas e meusuor gelar. Nunca havia sentido isso antes e me espantei com esses sintomas to re-pentinos. As roupas do sujeito eram grandes demais para ele, a cala estava enroladana bainha e a manga do palet era to longa, que revelava apenas a ponta dos dedos.Tentei ser simptico e convidei-o para sentar, mas a criatura parecia aflita:

    Onde est? falou, quase gritando, com a voz rouca. O-N-D-E E-S-T-? Calma, senhor. Eu ainda no o conheo.O tal homem comeou a ficar desesperado. Colocou a mo na garganta,

    como se estivesse a ponto de sufocar e disse: Quero a gaveta! Aqui est disse eu, entregando-a, pois alm de ter ficado com certa

    pena do visitante, achei que no agentaria mais tanta curiosidade.De posse da gaveta, o homem se comportou como um co diante de um

    prato de carne crua. Salivou, seus olhos saltaram, seus dentes rangeram. Fiquei PE-PE-PE-PE-PE-TRIFICADOTRIFICADOTRIFICADOTRIFICADOTRIFICADO diante daquela cena.

    Comporte-se disse eu, sem poder me conter.Ele soltou um sorriso horroroso e CNICOCNICOCNICOCNICOCNICO. Pegou o frasco com o lquido ver-

    melho e acrescentou um p branco. A mistura comeou a borbulhar, como algo

    PETRIFICADO PETRIFICADO PETRIFICADO PETRIFICADO PETRIFICADO: imvel ou estupefato de susto ou medo; paralisado

    CNICO CNICO CNICO CNICO CNICO: sem escrpulos, hipcrita, sarcstico e oportunista

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    efervescente, e a mudar de cor. De vermelho passou a branco, depois virou cor devinho e, finalmente, terminou em um lquido verde-claro. O homenzinho olhava astransformaes, maravilhado. Terminado o preparo da poo, perguntou-me:

    A partir de agora, voc poder salvar um homem da angstia de um siln-cio mortal e traar os caminhos da fama. Quer aprender algo que ir abrir-lhe asportas para uma regio completamente revolucionria do conhecimento, ou prefe-re que eu saia de sua casa agora?

    Senhor, no acredito nesta encenao de horror respondi, tentandoaparentar calma. No entanto, acho que pedidos inexplicveis demais me foramenviados hoje. No pretendo ficar sem uma explicao.

    Ento, veja com seus prprios olhos! exclamou, em tom de deboche.Pegou o frasco com as duas mos e bebeu todo o contedo verde em um

    s gole.Em seguida soltou um grito de dor; comeou a se contorcer, at cair no

    cho. Meu instinto de mdico me fazia ter vontade de ajudar, julgando que a cria-tura estivesse sofrendo uma convulso, mas a cena era aterrorizante demais parame fazer levantar da poltrona. Seu rosto inchava e desinchava repetidas vezes, osolhos avermelhavam-se e a pele mudava de cor, revezando entre tons escuros eplidos.

    Meu Deus! Meu Deus! gritei, sem parar, finalmente conseguindo correrat a janela.

    Minha respirao ficou difcil, meu corao disparou, pois, em vez daquelacriatura medonha, um outro homem se mostrava aos meus olhos INCRDULOSINCRDULOSINCRDULOSINCRDULOSINCRDULOS.Abatido, trmulo, quase sem enxergar direito, com ares de quem tivesse acabadode ressuscitar, estava Henry Jekyll.

    O que ele me contou depois, no tenho coragem de relatar. Vi tudo, ouvitudo e basta! Desde aquela noite, no consigo mais dormir. Aquela cena se re-pete sem parar em minha mente, como um tormento. Sei que vou morrer logo,pois no poderei conviver com esse ESTIGMAESTIGMAESTIGMAESTIGMAESTIGMA de terror me acompanhando. Quan-to a Jekyll, sua moralidade me causa arrepios. S quero dizer-lhe uma coisa,Utterson. No sei se voc ir acreditar em mim, mas a criatura que adentrou minhacasa naquela noite, segundo as palavras do prprio Henry Jekyll, era Edward Hyde,o homem perseguido pelo assassinato de Danvers Carew.

    Hastie Lanyon

    INCRDULOS INCRDULOS INCRDULOS INCRDULOS INCRDULOS: que no acreditam, no crem

    ESTIGMA ESTIGMA ESTIGMA ESTIGMA ESTIGMA: cicatriz, marca

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    Captulo 12Captulo 12Captulo 12Captulo 12Captulo 12

    a explicao detalhada dodr. henry jekyll

    Sempre tive tudo o que quis. Nasci em uma famlia rica, freqentei boasescolas e me destaquei pela inteligncia e sabedoria. Tornei-me um homem res-peitado. Meu nico problema era que gostava de aproveitar as boas coisas davida, que, na minha opinio, eram INCONCILIVEISINCONCILIVEISINCONCILIVEISINCONCILIVEISINCONCILIVEIS com a posio sria que euocupava na sociedade. Depois de me tornar adulto, passei a levar uma verdadeiravida dupla, pois, diversas vezes, fazia loucuras que tinha vergonha de contar aosmeus melhores amigos. Andava com ms companhias, freqentava locais de mfama, destrua e sujava bens pblicos. Tudo isso dava um prazer incrvel, mas meenchia de remorso no dia seguinte.

    Refleti muito sobre isso e me dei conta de que meus dois lados eram com-pletamente sinceros. Eu era to autntico sendo o mdico talentoso e ntegro, co-nhecido de todos, quanto sendo o homem DEVASSODEVASSODEVASSODEVASSODEVASSO das noites de LUXRIALUXRIALUXRIALUXRIALUXRIA. Re-solvi estudar o assunto, realizei pesquisas que me levaram a um conhecimentomstico e transcendental. Algo me dizia que essas duas foras poderiam ser sepa-radas, vividas distintamente, evitando assim qualquer tipo de arrependimento ouvergonha. Por que o corpo humano escravizava os gmeos opostos presentesdentro de qualquer um? Por que o gmeo bom no poderia seguir seu caminho,realizando boas aes e se sentindo completo com isso, enquanto o mau viverialivre dos medos e da conscincia pesada imposta pelo outro?

    Foi ento que descobri que, misturando-se alguns componentes qumicos,era possvel criar reagentes capazes de transformar a carne humana, da mesmaforma que o vento transforma o formato das nuvens. No irei entrar em detalhesquanto aos reagentes, primeiro porque aprendi, depois de tanto sofrimento, que impossvel nos livrarmos dos nossos fardos e CARMASCARMASCARMASCARMASCARMAS. Segundo porque, comovoc vai descobrir durante a leitura, minhas experincias se mostraram incomple-tas, indignas de um registro cientfico srio.

    Tive muito medo de testar a droga que criei. Sabia que, ao menor erro de

    INCONCILIVEIS INCONCILIVEIS INCONCILIVEIS INCONCILIVEIS INCONCILIVEIS: que no se podem conciliar; incompatveis, inconcordveis

    DEVASSO DEVASSO DEVASSO DEVASSO DEVASSO: libertino, dissoluto

    LUXRIA LUXRIA LUXRIA LUXRIA LUXRIA: dissoluo, libertinagem

    CARMAS CARMAS CARMAS CARMAS CARMAS: nas filosofias da ndia, os conjuntos das aes dos homens e suas con-seqncias

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    dosagem, eu poderia ser totalmente desintegrado. No entanto, a curiosidade foimaior que o temor. Comprei grande quantidade de um determinado sal necess-rio para completar a poo e a preparei. Vi o lquido mudar de cor, efervescer esoltar fumaa. Depois, respirei fundo e bebi tudo de uma vez.

    Imediatamente, senti as piores dores que um ser humano capaz de sentir.Contorci-me, tive vontade de chorar, vomitar, gritar. Fui tomado de uma sensaode pavor que s deve ser experimentada no momento do nascimento ou da mor-te. Mas logo voltei ao normal. Uma onda de calor envolveu meu corpo; eu pareciamais moo, mais disposto. Podia observar uma srie de imagens sensuais na mi-nha mente. Senti-me livre das minhas obrigaes, experimentei algo novo, um so-pro de liberdade. Percebi, rapidamente, que eu era muito mais PERVERSOPERVERSOPERVERSOPERVERSOPERVERSO do queantes. Deliciei-me com esse momento como quem saboreia um copo de vinho.No entanto, notei que eu estava mais baixo.

    Como na poca no tinha espelho em meu gabinete, pois este, que estem minha frente, foi trazido para c mais tarde, precisei ir at meu quarto para meobservar. Atravessei o ptio escuro; a lua da madrugada fria de Londres pde ver,pela primeira vez, uma criatura daquela espcie. Chegando l em cima, sem fazerbarulho para no despertar os empregados, vi finalmente a aparncia de EdwardHyde.

    Imagino que o fato de ele ser baixinho, FRANZINOFRANZINOFRANZINOFRANZINOFRANZINO, inclusive mais moo doque Henry Jekyll, devia-se ao fato de eu ter passado a maior parte da minha vidatentando escond-lo. Meu lado virtuoso era muito mais exercitado e, por isso,mais desenvolvido. Edward Hyde tinha o mal estampado em todo o seu ser; algode deformado surgia por trs das mas do rosto, dos fios de cabelo e do contor-no do nariz. Contudo, eu sentia um prazer enorme em observar aquela apario.O homem refletido no espelho tambm era eu, um ser humano to natural quan-to qualquer outro. Ao longo do tempo, percebi que as pessoas sentiam repulsaquando se aproximavam dele. Acredito que isso seja devido ao fato de todos nscontermos o bem e o mal dentro de ns. No caso de Hyde, ele era puro mal.

    Depois de passar um bom tempo na frente do espelho, resolvi voltar aomeu gabinete. Era preciso testar a ltima parte do meu experimento. Tomei nova-mente a poo, sofri as mesmas dores da transformao, mas, por fim, tinha dadotudo certo: eu era Henry Jekyll de novo.

    A partir daquela noite, passei a ter um tipo de jia valiosa em minhas mos.Uma vez que eu no conseguia deixar de aproveitar os prazeres de uma vidamarcada por vcios, era necessrio preservar a imagem do mdico conceituado erespeitado. Eu s precisava tomar a poo para me libertar imediatamente dessertulo de AUSTERIDADEAUSTERIDADEAUSTERIDADEAUSTERIDADEAUSTERIDADE. Aluguei ento uma casa para Hyde, aquela no bairro doSoho, onde a polcia foi procur-lo. Mobiliei-a e coloquei uma senhora tomando

    PERVERSO PERVERSO PERVERSO PERVERSO PERVERSO: maldoso

    FRANZINO FRANZINO FRANZINO FRANZINO FRANZINO: fraco, frgil

    AUSTERIDADE AUSTERIDADE AUSTERIDADE AUSTERIDADE AUSTERIDADE: inteireza de carter; severidade, rigor

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    conta dela. Avisei meus empregados de que Hyde poderia circular livremente den-tro de minha casa e escrevi aquele testamento, o qual foi motivo de tantas crticassuas, para evitar qualquer perda financeira, caso algo me acontecesse na pele deHenry Jekyll. Alm disso, aps o episdio em que Hyde pisoteou a garotinha demadrugada, precisei abrir uma conta no banco em nome dele, pois o fato de eleter pago a famlia da menina com um cheque de Henry Jekyll foi um perigo.

    Veja que maravilha: eu podia cometer o crime que fosse sem ser descober-to! Bastava entrar pela porta do laboratrio e, em questo de segundos, eu passa-va a ser um homem acima de qualquer suspeita. Hyde fazia coisas das mais IN-IN-IN-IN-IN-DIGNASDIGNASDIGNASDIGNASDIGNAS. Eu me espantava com minha outra personalidade e, por vezes, apavora-va-me com suas aes. Contudo, acabava me acalmando, afinal de contas, eu notinha culpa de nada. Hyde era o responsvel por tais atitudes.

    Captulo 13Captulo 13Captulo 13Captulo 13Captulo 13

    Mdico ou monstro?

    Depois de algum tempo levando essa vida dupla, Edward Hyde comeou adar sinais de sua superioridade. Uma certa manh, acordei em meu quarto, famin-to, pronto para levantar e tomar caf, quando levei um susto. Alm de estar com asensao de ser Hyde, olhei para mim mesmo e dei de cara com a mo peluda,de unhas grandes, exatamente a mo de meu suposto assistente. Corri para o es-pelho e me dei conta de que havia ido dormir sendo Henry Jekyll e acordaraEdward Hyde.

    Assustado, precisei atravessar a casa, o ptio e o laboratrio de anatomia,vestido com roupas bem maiores que meu corpo, para chegar ao gabinete e pre-parar a droga. Poole olhou a cena com os olhos arregalados. Logo depois, recebeuo Dr. Jekyll na mesa, para servir-lhe o caf da manh.

    Estranhamente, esse episdio passou a se repetir de vez em quando. A dro-ga comeou a funcionar de maneira irregular. Para voltar a ser Jekyll, eu agora pre-cisava tomar doses duplas, at triplas da poo. Eu corria um grande risco de per-der, aos poucos, minha personalidade original e adquirir, definitivamente, meu se-gundo eu.

    Eu agora tinha de escolher entre os dois. Se optasse por Jekyll, no sabia seiria agentar viver sem os prazeres que j faziam parte das minhas noites. Dariaadeus liberdade e juventude. Se escolhesse Hyde, de uma s vez, ficaria isolado,

    INDIGNAS INDIGNAS INDIGNAS INDIGNAS INDIGNAS: inconvenientes, imprprias

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    sem o respeito das pessoas e sem amigos. Enfrentava um dilema comum entre osmortais e resolvi fazer o que, acredito, a maioria das pessoas faria. Preferi ficar com olado bom. Porm, por mais que eu tivesse tentado, no consegui conserv-lo.

    Durante cerca de dois ou trs meses, vivi sossegado, com a conscincia lim-pa, pois no tinha nada do que me envergonhar. Apesar disso, no devolvi a casado Soho, nem queimei as roupas de Hyde, como, a princpio, pensei em fazer. Efoi exatamente por ainda estar profundamente ligado ao meu outro eu que, umanoite, no resisti e preparei a poo. Os desejos da vida PROFANAPROFANAPROFANAPROFANAPROFANA me angustia-vam. Sentia-me tentado a beber o lquido efervescente como um alcolatra emABSTINNCIAABSTINNCIAABSTINNCIAABSTINNCIAABSTINNCIA diante de um copo de bebida.

    Assim que me transformei em Edward Hyde, um mal DESBRAVADORDESBRAVADORDESBRAVADORDESBRAVADORDESBRAVADOR se apo-derou de mim. Parecia que um monstro adormecido acordara com fome, comapetite para o vampirismo. Sa vagando pelas ruas, procura de emoes fortes.Foi nessa noite que me deparei com o Sr. Danvers Carew. Pobre homem, ataquei-opor nada. Minha ira era mais forte que eu e no me deixava parar de bater. Cadagolpe de bengala proporcionava um prazer incrvel aos meus sentidos.

    Quando finalmente matei a vtima, o medo tomou conta de mim. Corri paraa casa do Soho e queimei meus papis, para evitar que viessem a saber mais coi-sas sobre minha vida. Voltei, ento, rapidamente para o laboratrio e preparei abebida. Hyde tomou-a com avidez, como se bebesse o sangue quente de sua PRE-PRE-PRE-PRE-PRE-SASASASASA. Jekyll retomou sua personalidade chorando de arrependimento.

    Na manh seguinte, fiquei sabendo que o crime tivera uma testemunha. Isso,de certa forma, causou-me uma satisfao imediata. Por fim, Hyde nunca mais po-deria aparecer. Se meu lado mau colocasse os ps para fora, seria preso ou LINCHA-LINCHA-LINCHA-LINCHA-LINCHA-DODODODODO. Resolvi ser Jekyll, apenas Jekyll, e voc, Utterson, testemunha de que desem-penhei bem o meu papel. Trabalhei muito, ajudei pessoas, reuni os amigos.

    No entanto, o destino me pregou outra pea. Era uma bela manh de janei-ro; sa para uma caminhada e me sentei em um banco do Regents Park para des-cansar. Observava os passantes, imaginando a dualidade de cada um. De repente,uma terrvel sensao invadiu meu corpo. Senti nuseas, dores no peito e na cabe-a. Deitei-me na grama, respirei fundo at o mal-estar passar. Quando melhorei,sentei-me de novo no banco. Percebi que meus pensamentos estavam mais sol-tos, meus medos haviam desaparecido, assim como a angstia que me acompa-nhava desde o dia do assassinato do Sr. Carew. Olhei para baixo e percebi que mi-nha roupas estavam folgadas, minha mo tinha plos. De uma hora para outra, eume transformara no homem monstruoso que eu queria esquecer.

    PROFANA PROFANA PROFANA PROFANA PROFANA: contrria ao respeito devido a coisas sagradas

    ABSTINNCIA ABSTINNCIA ABSTINNCIA ABSTINNCIA ABSTINNCIA: privao de certos alimentos, bebidas, ou de algo que d prazer,por penitncia ou necessidade

    DESBRAVADOR DESBRAVADOR DESBRAVADOR DESBRAVADOR DESBRAVADOR: a pessoa que desbrava, explora

    PRESA PRESA PRESA PRESA PRESA: coisa ou pessoa arrebatada ou apreendida com violncia; vtima

    LINCHADO LINCHADO LINCHADO LINCHADO LINCHADO: morto sem julgamento

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    Como iria me livrar dessa situao? Aps a morte do parlamentar, resolvidestruir a chave do laboratrio, assim eu no cairia na tentao de sair por aquelaporta lateral fazendo maldades. Se entrasse pela porta da frente de minha casa,seria denunciado por meus prprios empregados. A nica coisa que eu ainda pos-sua da minha personalidade original era a letra, por isso, resolvi agir rpido.

    Arrumei minhas roupas o melhor que pude e, ESGUEIRANDO-MEESGUEIRANDO-MEESGUEIRANDO-MEESGUEIRANDO-MEESGUEIRANDO-ME pelas es-quinas, consegui chegar a um hotel. O recepcionista sorriu ao me ver com roupasto grandes. Sem mostrar os olhos, de cabea baixa, rangi os dentes, em um M-M-M-M-M-PETOPETOPETOPETOPETO de fria. Amedrontado, ele imediatamente me encaminhou a uma sala re-servada, como eu pedira, sem fazer sequer um comentrio. L escrevi duas cartas,uma para Lanyon e outra para Poole, contendo instrues. Eles eram minha nicasada. Pedi ao recepcionista que as registrasse e colocasse no correio. Passei o res-to do dia esperando, sentado perto da lareira do hotel, sem me dirigir a ningum,cobrindo o rosto para no ser desvendado.

    Quando a noite chegou, sa caminhando em direo casa de Lanyon. Eucontava os minutos para a meia-noite e fazia de tudo para controlar meus instin-tos. O dio que sentia era to grande, que quando uma senhora perguntou se euno gostaria de comprar fsforos, dei-lhe um tapa na cara e corri, cruzando a rua.Deliciado por essa atitude, olhei rapidamente para trs e a vi limpando o rosto en-sangentado. Sentia um prazer indescritvel em fazer o mal.

    Na casa de Lanyon, tomei a droga e voltei ao meu lado bom. Procurei expli-car a ele tudo o que estava se passando, mas uma espcie de sono insistente seabatia sobre mim. No sei se fui claro o suficiente, pois fui condenado por Lanyone sabia que Hyde tambm me condenara a viver eternamente com medo dele.Pelo menos cheguei em casa a salvo. Dormi pensando que tudo estava melhor;eu agora tinha a droga ao alcance das mos, caso o monstro se apoderasse demeu corpo mais uma vez.

    De manh, levantei-me com calma, tomei caf e fui aproveitar um pouco dear fresco no ptio. De repente, as dores que eu sentira no parque comearam denovo. Arrastei-me at o laboratrio e tomei uma dose dupla da poo. Voltei a serJekyll, porm, seis horas depois, precisei preparar uma dose tripla, pois Hyde esta-va l outra vez.

    Passei a viver em constante tormento; a qualquer instante, Hyde se apode-rava da personalidade de Jekyll. Se dormisse ou apenas cochilasse, acordava Hyde.Nem mesmo as dores da transformao eram to fortes. A passagem se dava emquesto de segundos. Hyde ia ficando mais poderoso medida que a sade deJekyll ia se debilitando. Fui ficando fraco, ANMICOANMICOANMICOANMICOANMICO, sem fome, sem foras para

    ESGUEIRANDO-ME ESGUEIRANDO-ME ESGUEIRANDO-ME ESGUEIRANDO-ME ESGUEIRANDO-ME: desviando, escapando, andando com cautela

    MPETO MPETO MPETO MPETO MPETO: manifestao sbita e violenta; impulso, ataque, fria

    ANMICO ANMICO ANMICO ANMICO ANMICO: pessoa que sofre de anemia (deficincia de hemoglobina no sangue);sem vigor, fraco

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    nada. Hyde destrua tudo de que no gostava; rabiscava meus livros, escrevia fra-ses pecaminosas nas pginas religiosas que eu tanto apreciava. Se eu no temes-se tanto a morte, teria destrudo esse homem h muito tempo.

    Meu desespero teria se prolongado eternamente, se no fosse algo que euno havia previsto. A quantidade do sal necessrio para a preparao da frmulaestava no fim. Mandei Poole comprar uma nova quantidade, mas o sal mostrou-seimpuro. O lquido ferveu, mas a cor no se alterou como deveria. Poole vasculhoua cidade de cabea para baixo, sem conseguir encontrar o p adequado. Perguntea ele, tenho certeza de que lhe contar tudo, falar sobre minha angstia.

    Uma semana se passou e eu agora estou sob efeito de uma dose preparadacom o resto do antigo sal. Assim sendo, esta a ltima vez que o mundo ver oDr. Henry Jekyll. Esperanoso, ainda toro por um milagre, mas sei que daqui a nomximo meia hora apenas Edward Hyde habitar este laboratrio. As transforma-es constantes tambm o afetaram; percebo que ele tambm sofre, por vezeschora como uma criana desconsolada. Tem medo de no conseguir viver semJekyll, tem medo de passar o resto de seus dias fugindo da polcia. No sei se elemorrer aqui ou se encontrar coragem para se libertar no ltimo momento. Seiapenas que esta a verdadeira hora da minha morte. Tudo o que ocorrer depois,ser relacionado a uma outra pessoa. Termino aqui minha confisso, lacrando oenvelope e pondo fim ao triste destino de Henry Jekyll.

    omedicoeomonstro 04.09.03, 9:2830

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    Ficha de Leitura

    1) Quais as caractersticas fsicas e psicolgicas de Henry Jekyll?

    2) Quais as caractersticas fsicas e psicolgicas de Edward Hyde?

    3) Pesquise o significado de palavras parecidas com Hyde e Jekyll em ingls e as asso-cie com os personagens.

    4) Quem o Sr. Utterson? Por que ele era considerado um homem confivel?

    5) O Dr. Lanyon entregou um envelope para o Sr. Utterson pedindo que este s fosseaberto aps a morte ou desaparecimento do Dr. Henry Jekyll. Se fosse voc quem otivesse recebido, teria aberto antes? Por qu? Por que no? O que voc achou daatitude do Sr. Utterson?

    6) Escolha uma cena do livro e, em grupo, apresente-a para seus colegas.

    7) Na sua opinio, um ser humano tem dois lados, um bom e outro mau, como acre-dita o Dr. Jekyll? Escreva qual o seu pior lado e qual o seu lado melhor. Depoisdebata sobre isso com seus colegas e seu professor. Os defeitos e qualidades deseus colegas so parecidos com os seus?

    8) Voc j teve vontade ou j fez alguma coisa que considerasse errada, m? O quevoc fez? Como voc se sentiu antes e depois?

    9) Se voc fosse o Dr. Jekyll, com qual personalidade voc escolheria ficar? Por qu?

    10) Por que o Dr. Lanyon morreu? Voc acha que ele tinha motivos para sentir-se toenfraquecido?

    11) Se voc fosse mdico, bilogo ou qumico, que tipo de coisa gostaria de descobrirsobre a espcie humana?

    12) Por que o Sr. Hyde era mais baixo que o Dr. Jekyll? Voc concorda com a hiptesedo Dr. Jekyll?

    13) Por que o Sr. Hyde causava averso nas pessoas? Voc acredita que existam pesso-as que sejam apenas boas ou apenas ms?

    14) Voc j encontrou algum cuja presena tivesse lhe causado mal? Se sim, por quevoc acha que isso aconteceu?

    15) Se as pessoas tiverem mesmo um lado bom e outro mau, qual seria, na sua opi-nio, uma soluo para o problema?

    16) Que tipo de pessoa, na nossa sociedade, teria uma ndole m?

    17) Voc j conheceu ou ouviu falar de algum ntegro, acima de qualquer suspeita,como o Dr. Jekyll, que tenha cometido um ato ruim?

    18) Qual a mensagem que a poo mgica do Dr. Jekyll pode passar para ns?

    19) Por que voc acha que o Dr. Jekyll escolheu ficar com seu lado bom e no conseguiu?

    20) Voc mudaria o final do livro? Junto com um grupo de colegas, decidam um desti-no diferente para o Dr. Jekyll e seu assistente, o Sr. Hyde.

    omedicoeomonstro 04.09.03, 9:2931

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    O Mdico e o MonstroO Mdico e o MonstroO Mdico e o MonstroO Mdico e o MonstroO Mdico e o Monstro

    O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. HydeO estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde

    Robert Louis StevensonRobert Louis StevensonRobert Louis StevensonRobert Louis StevensonRobert Louis Stevenson

    Biografia do autor

    Robert Louis Stevenson nasceu em Edimburgo, Esccia, em 1850. Seu pai,engenheiro importante da poca, queria que o filho seguisse sua profisso, masele preferiu a carreira de advogado. Formou-se em Direito, apesar de nunca terexercido o ofcio, e acabou tornando-se escritor. Durante a faculdade, teve umavida bomia, conheceu pessoas e locais interessantes, que mais tarde serviriam deinspirao para suas histrias.

    Por volta dos 20 anos de idade, Stevenson comeou a ter problemas respira-trios, que se agravaram devido ao clima frio e mido da Esccia. Para tentar aliviaros sintomas, ele passou a viajar em busca de climas mais amenos. Foi em umadessas viagens, enquanto estava na Frana, que conheceu sua esposa, FannyOsbourne, uma americana dez anos mais velha e me de dois filhos. Casaram-sedepois que o divrcio de Fanny foi oficializado e mudaram-se para a Califrnia, umlocal mais quente e favorvel sade de Stevenson.

    Apesar de ter escrito diversos artigos, relatos e textos autobiogrficos antes,seu romance de estria foi A Ilha do Tesouro, de 1883, um divertido livro de aven-turas. Seu reconhecimento como escritor foi renovado com a publicao de O M-dico e o Monstro, no ano de 1886. A idia de escrever essa histria de mistriopartiu de um pesadelo vivenciado pelo autor. Nela, Stevenson explora a questoda dupla personalidade e sugere que a alma humana pode ter uma natureza boae m ao mesmo tempo.

    Aps uma longa viagem pelo Pacfico, iniciada em 1888, Stevenson e sua fa-mlia estabeleceram-se em Samoa, na Polinsia. Foi nesse lugar, aps tornar-se umescritor respeitado, especialmente pelo povo local, que Stevenson morreu, em1894, vtima de hemorragia cerebral. Como romancista, ficou conhecido pelacriatividade e pelo cunho psicolgico de sua obra.

    omedicoeomonstro 04.09.03, 9:2932


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