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O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DA … · 2010-12-10 · O PAPEL DO PROFESSOR NA...

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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Educação Especial Inclusiva ILOIZA ELENA POTOMATTE DENIS O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DA CRIANÇA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA LINS SP 2010
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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Educação Especial Inclusiva

ILOIZA ELENA POTOMATTE DENIS

O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO

INCLUSIVA DA CRIANÇA PORTADORA DE

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

LINS – SP

2010

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ILOIZA ELENA POTOMATTE DENIS

ILOIZA ELENA POTOMATTE DENIS

Denis, Iloiza Elena Potomatte

O papel do professor na educação inclusiva da criança portadora de deficiência auditiva / Iloiza Elena Pottomatte Denis. – – Lins, 2010.

53p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós-Graduação em Educação Especial Inclusiva, 2010.

Orientadores: Paulo Sérgio Fernandes; Heloisa Helena Rovery da Silva.

1. Inclusão. 2. Deficiência auditiva. 3. O papel do professor.

CDU 376

D459p

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ILOIZA ELENA POTOMATTE DENIS

O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DA CRIANÇA

PORTADORA DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação Especial Inclusiva sob a orientação dos Professores M.Sc. Paulo Sérgio Fernandes e Profª M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva.

LINS – SP

2010

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ILOIZA ELENA POTOMATTE DENIS

O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DA CRIANÇA

PORTADORA DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Especialista em Educação Especial Inclusiva.

Aprovada em: ____/____/______

Banca Examinadora:

Orientador Prof. M.Sc. Paulo Sérgio Fernandes

Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela UNESP

_________________________________

Profª Heloisa Helena Rovery da Silva

Mestre em Administração pela CNEC / FACECA - MG.

_________________________________

LINS – SP

2010

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A Deus, pois sem sua ajuda nada seria possível. Aos meus familiares Agradeço de forma carinhosa a vocês me apoiaram e incentivaram para cumprir mais uma etapa em minha vida

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador M.Sc. Paulo Sérgio Fernandes que compreendeu minha proposta de trabalho e, com sua orientação objetiva, fez com que me mantivesse dentro do escopo dessa proposta. À Prof. M.Sc Heloisa Helena Rovery da Silva pela amizade, orientação e incentivo constante, pelas contribuições e críticas. Aos mestres pela competente atuação no curso, forçando reflexões que fundamentam o entendimento sobre fenômenos que cotidianamente estão presentes nos ambientes de trabalho ou das salas de aula, Ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium - Unisalesiano que possibilitou o meu crescimento profissional.

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RESUMO

Muito tem se debatido sobre inclusão na área educacional e, nesse contexto, a educação da pessoa com deficiência auditiva. A deficiência auditiva é considerada como a diferença existente entre o desempenho do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora de acordo com padrões estabelecidos causada pela perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras. As mudanças decorrentes do mundo globalizado propõem uma reflexão mais apurada acerca do papel da escola no seu atendimento igualitário a todos os estudantes que se matriculam. Nos termos da inclusão as oportunidades devem estar disponíveis a toda a sociedade e pessoas, principalmente a quem possui deficiência. Porém, é notório que os professores ainda não encontram-se preparados para atender ao aluno com deficiência e, no em relação ao deficiente auditivo as dificuldades dizem respeito à comunicação e ao processo de ensino e aprendizagem. Para atender ao aluno deficiente auditivo há a necessidade de se valorizar as singularidades de cada criança para que o aluno as tenha respeitadas, quando considerado em relação ao seu ritmo e às suas características pessoais. Desta forma, o presente estudo descreve e discute o papel do professor no processo de inclusão de crianças com deficiência auditiva e tem por objetivo fazer uma reflexão sobre a importância do professor de crianças com deficiência auditiva, tendo em vista que um contingente bastante significativo de alunos precisa de uma orientação específica para vencer as dificuldades que suas limitações lhes impõe. O estudo traz uma revisão bibliográfica, visando definir, caracterizar, ilustrar e analisar inclusão da criança com deficiência auditiva e a importância do professor nesse processo, para obtenção da formação de uma base conceitual necessária ao trabalho em estudo.

Palavras-chave: Inclusão. Deficiência auditiva. O papel do professor.

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ABSTRACT

Much has been discussed on inclusion in education and in this context, the education of people with hearing loss. Hearing impairment is considered as the difference between the performance of the individual and the normal ability to detect sound in accordance with established standards caused by partial or complete loss of hearing sound possibilities. Changes arising from the globalizing world offer a more accurate reflection on the role of school in their equal treatment to all students who enroll. In terms of inclusion opportunities should be available to the entire society and people, especially to those who have disabilities. However, it is clear that teachers still are not prepared to meet the disabled student and, for the hearing impaired difficulties relating to communication and the teaching and learning. To accommodate the deaf student is a need to appreciate the uniqueness of each child so that the student has complied with, when considered in relation to their pace and their personal characteristics. Thus, this study describes and discusses the role of the teacher in the process of inclusion of children with hearing loss, and aims to reflect on the importance of teacher of children with hearing loss, given that a fairly significant contingent of students need specific guidance for overcoming the difficulties that the limitations imposed on them. The study includes a literature review, to define, characterize, analyze and illustrate inclusion of children with hearing loss and the importance of the teacher role to achieve the formation of a conceptual base needed to work in the study. Keywords: Inclusion. Hearing Loss. The teacher's role.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Anatomia do ouvido ........................................................................... 17

Figura 2: Alfabeto manual da Língua de Sinais Brasileira ................................ 31

Figura 3: Professor explorando o conteúdo curricular sobre o universo e o

movimento do sistema solar com recursos diversos para os alunos com

surdez ............................................................................................................... 43

Figura 4: Professor, explorando conteúdo curricular sobre civilizações

antigas com recursos específicos em Libras para alunos com surdez ............. 43

Figura 5: Professor explorando com o aluno com surdez o conteúdo

curricular sobre o município de Uberlândia com recursos específicos em

Libras ................................................................................................................ 44

Figura 6: Professor ministrando aula em Língua de Sinais dos conteúdos

curriculares oficiais ........................................................................................... 44

Figura 7: Professor explicando termos científicos do contexto em estudo e

dos conteúdos curriculares oficiais em Língua de Sinais .................................. 44

Figura 8: Professor explorando conteúdos curriculares em Libras com os

devidos recursos didáticos ................................................................................ 45

Figura 9: Maquetes sobre o conteúdo em estudo ............................................. 45

Figura 10: Alunos com surdez no Atendimento Educacional Especializado

em Libras .......................................................................................................... 46

Figura 11: Professores analisando conceitos dos termos científicos em

Língua de Sinais ............................................................................................... 47

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Diferentes tipos de classificação do grau de surdez ........................ 21

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANSI - American National Standards Institute

DA - Deficiência auditiva

Libras - Língua Brasileira de Sinais

LSB - Língua de Sinais Brasileira

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12

CAPÍTULO I - DEFICIÊNCIA AUDITIVA .......................................................... 15

1 AUDIÇÃO ............................................................................................... 15

1.1 Definição de Deficiência Auditiva (DA) ................................................... 15

1.1.1 A diferença entre surdez e deficiência auditiva ...................................... 16

1.2 Anatomia do ouvido humano .................................................................. 16

1.3 Patologias ............................................................................................... 17

1.4 Tipos de deficiência auditiva .................................................................. 18

1.4.1 Deficiência auditiva condutiva ou de transmissão .................................. 18

1.4.2 Neurossensorial (surdez do nervo, surdez da cóclea ou do nervo

auditivo) ............................................................................................................ 19

1.4.3 Mista ....................................................................................................... 19

1.4.4 Central ou surdez central ....................................................................... 20

1.5 Etiologia da surdez ................................................................................. 20

1.6 Classificação .......................................................................................... 20

CAPÍTULO II - EDUCAÇÃO INCLUSIVA DO ALUNO COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA ................................................................................. 22

2 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL .............................................. 22

2.1 A inclusão escolar do aluno surdo .......................................................... 24

CAPÍTULO III - O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO ALUNO COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA E O PAPEL DO PROFESSOR ............................... 29

3 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO ................. 29

3.1 Métodos de treinamento ......................................................................... 29

3.2 Comunicação com a criança surda ........................................................ 34

3.3 O papel do professor .............................................................................. 36

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3.3.1 O professor no Atendimento Educacional Especializado em Libras

na Escola Comum ............................................................................................. 42

3.3.2 O professor no Atendimento Educacional Especializado para o

ensino de Libras ................................................................................................ 46

CONCLUSÃO ................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 50

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INTRODUÇÃO

A educação da pessoa com deficiência auditiva é um tema bastante

polêmico e preocupante.

Muito se tem debatido sobre inclusão nos últimos anos, principalmente

na área educacional. Porém são poucas as propostas concretas para tornar a

escola inclusiva uma realidade. (MORIN, 1998).

Com as rápidas mudanças no mundo atual é preciso (re)pensar intensa

e profundamente o papel da escola, no seu atendimento igualitário, a todos os

estudantes que se matriculam. (RODRIGUES, 2006).

Na última década, as práticas inclusivas evoluíram, ainda que os

princípios políticos e sociais que regem a inclusão não tenham sido

incorporados completamente no cotidiano da sala de aula. O fato causa

inquietação no meio educacional e insegurança dos pais da criança deficiente,

talvez pela falta de conhecimento e/ou pelo preconceito enraizado em relação

às pessoas com necessidades especiais. (BEVILACQUA; MORET, 2005).

No início dos anos 80 as práticas de inclusão foram estabelecidas, mais

concretizaram-se realmente na década de noventa.

A inclusão, segundo Rios; Novaes (2009) pressupõe:

Mudanças na sociedade, para que esta se torne capaz de receber e acolher adequadamente as pessoas portadoras de necessidades especiais; portanto, baseia-se no modelo social. Segundo este conceito, a escola leva em consideração a necessidade do aluno, ocorrendo adaptação do ambiente físico e dos procedimentos educacionais, sendo que todas as pessoas devem ter a oportunidade de serem incluídas na escola comum. (RIOS; NOVAES, 2009, p. 82).

A inclusão preconiza que as oportunidades devem ser acessíveis a toda

a sociedade e pessoas, principalmente a quem possui deficiência. Com a

equiparação de oportunidades, há igualdade de condições, eliminam-se

barreiras que bloqueiam o caminho da inclusão. (SASSAKI, 2000).

Todavia, muitos professores ainda não têm formação adequada para

atuar com os alunos deficientes, no caso da criança com deficiência auditiva,

nota-se dificuldades no que diz respeito à comunicação e ao processo de

ensino e aprendizagem. (RIOS; NOVAES, 2009).

Deficiência auditiva é definida por Silva (2008, p. 159) como “a perda

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total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala,

através do ouvido”.

Diante do aluno com deficiência auditiva, Silva (2008) salienta que o

professor deve ter conhecimento da necessidade de se valorizar as

singularidades de cada criança para que o aluno as tenha respeitadas, quando

considerado em relação ao seu ritmo e às suas características pessoais. É

através da visualização da individual da criança portadora de necessidades

especiais que se pode contribuir, com ações concretas, para que a criança

tenha assegurada a sua aprendizagem, no âmbito de suas possibilidades.

Sobre o assunto Góes; Laplane (2004) apontaram alguns aspectos da

inclusão dessas crianças, focalizando duas preocupações:

A primeira diz respeito ao risco de que a instituição tome a presença desses alunos como acessória, sem afetar o projeto da escola, o que se reflete na realização de pequenos ajustes ao aprendiz e na atribuição dessa responsabilidade quase exclusivamente ao professor. A segunda preocupação vincula-se à escassa atenção que a escola parece estar dando a uma perspectiva mais ampla de formação pessoal do aluno especial, sobretudo àqueles enquadrados entre as deficiências. (GÓES, LAPLANE, 2004, p. 52).

São várias as formas de realização da inclusão. No entanto, é notório

que a maioria dos alunos surdos sofreu uma escolarização pouco responsável,

como destacou Lacerda (2006).

Isso aconteceu, segundo Rios; Novaes (2009), em decorrência das

dificuldades de linguagem, pois as crianças surdas encontram-se defasadas no

que diz respeito à escolarização, sem o adequado desenvolvimento e com um

conhecimento aquém do esperado para sua idade. Disso advém a necessidade

de elaboração de propostas educacionais que atendam às necessidades dos

sujeitos surdos, favorecendo o desenvolvimento efetivo de suas capacidades.

O estudo de Lacerda (2006), sobre a inclusão de aluno surdo em escola

regular, com a presença de intérprete de língua de sinais, apontou o

desconhecimento do professor sobre a surdez e sobre suas implicações

educacionais, além de dificuldades na interação professor/intérprete e a

incerteza em relação ao papel dos diferentes atores nesse cenário

Guarinello et al. (2006) comenta que a inclusão de surdos significa mais

do que apenas criar vagas e proporcionar recursos materiais. Para que

realmente aconteça a inclusão da criança com deficiência auditiva é necessário

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que a escola e a sociedade sejam inclusivas, assegurando igualdade de

oportunidades a todos os alunos e contando com professores capacitados e

compromissados com a educação de todos.

O presente estudo descreve e discute o papel do professor no processo

de inclusão de crianças com deficiência auditiva e tem por objetivo fazer uma

reflexão sobre a importância do professor de crianças com deficiência auditiva,

tendo em vista que um contingente bastante significativo de alunos precisa de

uma orientação específica para vencer as dificuldades que suas limitações lhes

impõe.

Parte-se então da seguinte pergunta-problema: Em que medida as

estratégias e recursos utilizados pelos professores de alunos deficientes

auditivos possibilitam a inclusão dos mesmos?

Em tese, no Brasil, um número significativo de sujeitos surdos

apresentam deficiências na competência para aspectos acadêmicos, aquém do

desempenho de alunos ouvintes, apesar de suas capacidades cognitivas

iniciais serem semelhantes. O fato evidencia a inadequação do sistema de

ensino para estes indivíduos, revelando a urgência de medidas que favoreçam

o desenvolvimento deles. (LACERDA, 2006).

Para a elaboração deste trabalho, foi realizada a revisão bibliográfica,

visando definir, caracterizar, ilustrar e analisar inclusão da criança com

deficiência auditiva e a importância do professor nesse processo, para

obtenção da formação de uma base conceitual necessária ao trabalho em

estudo.

O trabalho foi assim dividido:

Capítulo I fala sobre a deficiência auditiva, definição, tipos, patologias e

classificação.

Capítulo II traz comentários sobre a educação inclusiva do aluno com

deficiência auditiva.

Capítulo III relata o processo de aprendizagem do aluno com deficiência

auditiva e o papel do professor neste cenário.

As Considerações Finais sintetizam os conceitos vistos e

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CAPÍTULO I

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

1 AUDIÇÃO

Importante sentido para o desenvolvimento humano, a audição é o

primeiro sentido a ser apurado desde o nascimento, responsável pelas

interações intra e interpessoais sendo essencial para a aquisição da linguagem

falada. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

A audição e a fala são importantes na aceitação social do indivíduo, ou

seja, primordialmente sentimentos de segurança pessoal, auxiliando o

indivíduo na aprendizagem. (FREJMAN, 1998).

Além disso, a deficiência na audição “influi no relacionamento da mãe

com o filho e cria lacunas nos processos psicológicos de integração de

experiências, afetando o equilíbrio e a capacidade normal de desenvolvimento

da pessoa”. (REDONDO;CARVALHO, 2000, p. 5).

Consequentemente, a perda da audição, “além de fazer com que os

sons da vida permaneçam desconhecidos para o indivíduo, impede-o de

dominar a língua falada pelos seus pais, seus irmãos e pelos demais

indivíduos”. (FREJMAN, 1998).

O sistema linguístico em pessoas surdas acontece a partir do

processamento das informações visuais-verbais (FREJMAN, 1998).

Nas pessoas surdas, o estabelecimento de um sistema linguístico

deverá partir do processamento das informações visuais-verbais, pois só desta

forma, elas poderão acessar a simbolização e os conceitos.

1.1 Definição de Deficiência Auditiva (DA)

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Conhecida por surdez, a deficiência auditiva causa a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir. Num indivíduo surdo a audição não é funcional na

AVDs (atividades da vida diária), já o indivíduo parcialmente surdo tem

capacidade de ouvir, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese

auditiva. (FREJMAN, 1998).

Bevilacqua; Moret (2005, p. 15) definem deficiência auditiva “(também

conhecida como hipoacusia) como a incapacidade parcial ou total de audição.

Pode ser de nascença ou causada posteriormente por doenças”.

Ávila; Szadkoski; Costa (2009) observam ainda que além de indicar a

perda de audição ou diminuição na capacidade de escutar os sons, a

deficiência auditiva indica problema em alguma das partes do ouvido.

Deficiência auditiva é considerada pela American National Standards

Institute (ANSI, 1989, apud SILVEIRA; VENÂNCIO, 2007, p. 28), como “a

diferença existente entre o desempenho do indivíduo e a habilidade normal

para a detecção sonora de acordo com padrões estabelecidos”.

No Brasil, segundo o Decreto 3298, em seu artigo 4º estabelece que a

deficiência auditiva é a “perda parcial ou total das possibilidades auditivas

sonoras”. (BRASIL, 1999, p. 1).

1.1.1 A diferença entre surdez e deficiência auditiva

É comum as pessoas confundirem surdez com deficiência auditiva.

Apesar de sinônimas, a surdez tem origem congênita na qual o indivíduo não

tem a capacidade de ouvir nenhum som. Já o deficiente auditivo possui um

déficit adquirido, ou seja, nasce com uma audição perfeita e devido a lesões

traumáticas ou doenças, a perde. Na maioria das vezes a surdez ocorre nos

primeiros anos de vida. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

O deficiente auditivo pode recorrer ao uso de aparelhos auditivos ou a

intervenções cirúrgicas (dependendo do grau da deficiência auditiva) a fim de

minimizar ou corrigir o problema. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

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1.2 Anatomia do ouvido humano

Segundo Redondo; Carvalho (2000), o ouvido humano é constituído de

ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno e cada uma dessas partes

desempenha funções específicas.

O ouvido externo é composto pelo pavilhão auricular e pelo canal auditivo, que é a porta de entrada do som. Nesse canal, certas glândulas produzem cera, para proteger o ouvido. O ouvido médio é formado pela membrana timpânica e por três ossos minúsculos, que são chamados de martelo, bigorna e estribo, pois são parecidos com esses objetos. Em contato com a membrana timpânica e o ouvido interno, eles transmitem as vibrações sonoras que entram no ouvido externo e devem ser conduzidas até o ouvido interno. No ouvido interno está a cóclea, em forma de caracol, que é a parte mais importante do ouvido: é responsável pela percepção auditiva. Os sons recebidos na cóclea são transformados em impulsos elétricos que caminham até o cérebro, onde são entendidos pela pessoa. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 7).

A audição é prejudicada por ocorrer qualquer tipo de problema em uma

das partes do ouvido, o que pode acontecer em maior ou menor grau. Há

diferentes tipos de perda auditiva, conforme o local afetado (ouvido médio,

interno e outros).

A Figura 1 demonstra a anatomia do ouvido com seus principais

componentes.

Fonte: Redondo; Carvalho (2000, p. 7)

Figura 1: Anatomia do ouvido

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1.3 Patologias

Coll et al. (2004) explicam que as principais patologias do ouvido

humano são:

As ligadas à membrana timpânica, a deficiência de transmissão sonora no sistema tímpano-ossicular, a rigidez nos ligamentos de suporte ossicular, a timpanoesclerose, a fixação do martelo, a ausência no reflexo estapediano, a paralisia do nervo do músculo estribo, a complacência da membrana timpânica ou a sua rigidez, a lesão retrocloclear e a surdez psicogênica que é um dos distúrbios psicogênicos. (COLL et al., 2004, p. 23).

De acordo com Coll et al. (2004) a patologia mais comumente

encontrada é a impedância acústica do ouvido médio que causa a resistência

dessa à energia sonora que penetra no conduto auditivo externo.

As patologias ligadas à Trompa de Eustáquio podem ser muito aberta ou

obstruída que causam sintomas como autofonia e a percepção sonora da

respiração pelo indivíduo. (COLL et al., 2004).

1.4 Tipos de deficiência auditiva

Há quatro tipos de deficiência auditiva: condutiva ou de transmissão,

neurossensorial ou de percepção, mista e auditiva central também chamada

disfunção auditiva central ou ainda, surdez central.

1.4.1 Deficiência auditiva condutiva ou de transmissão

Esse tipo de DA ocorre quando o problema se localiza no ouvido externo

ou no ouvido médio, ou seja, das partes móveis do ouvido. Afeta, na maioria

das vezes, todas as frequências do som, porém não causa uma perda de

audição severa. (COLL et al., 2004).

As causas mais comuns da deficiência auditiva condutiva ou de

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transmissão são: corpos estranhos no conduto auditivo externo, tampões de

cera, otite externa e média, mal formação congênita do conduto auditivo,

inflamação da membrana timpânica, perfuração do tímpano, obstrução da tuba

auditiva entre outras. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Certas doenças ou lesões podem levar à incapacidade de ossos

saudáveis de uma orelha interna, como os ossículos: martelo, bigorna e estribo

a não vibrarem adequadamente, impedindo a detecção das informações

sonoras. Ou, pode ter origem numa lesão da caixa do tímpano ou do ouvido

médio. Nas crianças, a otite média (inflamação do ouvido médio) é a causa

mais comum de perda de audição condutiva. (COLL et.al., 2004).

Muitas das deficiências auditivas condutivas pode ser corrigida através

de tratamento clínico ou cirúrgico. (COLL et.al., 2004).

1.4.2 Neurossensorial (surdez do nervo, surdez da cóclea ou do nervo auditivo)

A DA neurossensorial ocorre quando o nervo auditivo está danificado,

impedindo assim a obtenção de informações auditivas para o cérebro. Os

ossos do ouvido interno podem vibrar corretamente, mas os nervos são

incapazes de transmitir essa informação adequada mente para o cérebro.

Desta forma, há uma impossibilidade de recepção do som por lesão das

células ciliadas (sensoriais) da orelha interna ou do nervo auditivo. (COLL et

al., 2004).

Esse tipo de DA pode ser de origem hereditária como problemas da mãe

durante o pré-natal tais como a rubéola, sífilis, herpes, toxoplasmose,

alcoolismo, toxemia, diabetes entre outros. (NIELSEN, 1999).

Outro fato que pode causar a DA neurossensorial é a “sujeição a ruídos

excessivos e persistentes causando o aumento da pressão numa parte do

ouvido interno – o labirinto – e, consequentemente na perda de audição que

pode variar entre ligeira e profunda”. Nestes casos, o recurso à amplificação do

som pode não solucionar o problema, uma vez que é possível que se verifique

distorção do som (NIELSEN, 1999, p. 43).

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1.4.3 Mista

A DA mista ocorre quando “há um problema no ouvido médio causando

uma alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial associada à

lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo”. Ou seja, ocorre quando há

ambas as perdas auditivas: condutivas e neurossensoriais. (MONDELLI;

BEVILACQUA, 2002, p. 48)

Nesse tipo de DA a audiometria revela limiares de condução óssea

abaixo dos limites níveis normais apesar do comprometimento menos intenso

do que nos limiares de condução aérea (MONDELLI; BEVILACQUA, 2002).

Na deficiência auditiva mista verifica-se, conjuntamente, “uma lesão do

aparelho de transmissão e de recepção, ou seja, quer a transmissão mecânica

das vibrações sonoras, quer a sua transformação em percepção estão

afetadas/perturbadas”. (SILVEIRA; VENÂNCIO, 2007, p. 23)

1.4.4 Central ou surdez central

Esse tipo de deficiência auditiva é decorrente de alterações nos

mecanismos de processamento da informação sonora no Sistema Nervoso

Central manifestando-se por diferentes graus de dificuldade na compreensão

das informações sonoras. (MONDELLI; BEVILACQUA, 2002, p. 48)

1.5 Etiologia da surdez

São várias as causas que levam à deficiência auditiva que podem ser

dividias em: pré-natais, perinatais e pós natais. (WIKIPÉDIA, 2009).

As causas pré-natais são hereditárias ou adquiridas pela mãe durante a

gravidez, tais como: rubéola, sífilis, toxoplasmose, citomegalovirus, herpes,

intoxicações intra-uterinas, agentes físicos (como, por exemplo, os raio-x),

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alterações endócrinas (diabetes ou tiróide), carências alimentares. As causas

perinatais podem ser: traumatismos obstétricos, anóxia. Já as causas pós-

natais podem advir de doenças infecciosas, bacterianas (por exemplo:

meningites, otites, inflamações agudas ou crónicas das fossas nasais e da

naso-faringe), virais, intoxicações e trauma acústico. (WIKIPÉDIA, 2009).

1.6 Classificação

São várias as classificações do grau de surdez. O Quadro 1 resume os

tipos de classificação segundo alguns autores.

AUTOR TIPO DE SURDEZ LIMIARES TONAIS

Bureau International d‟Audiophonologic (BIAP)

Leve entre 20 e 40 dB

Média entre 40 e 70 dB

Severa entre 70 e 90 dB

Profunda mais de 90 dB

1º Grau 90 dB

2º Grau entre 90 e 100 dB

3º Grau mais de 100 dB

Davis; Silverman (1966)

Normal 0 a 24 dB

Leve 25 a 40 dB

Moderna 41 e 70 dB

Severa 71 e 90 dB

Profunda acima de 90 dB

Roeser; Downs, Martinez (2000)

Normal 0 a 15 dB*

Suave 16 a 25 dB*

Leve 26 a 40 dB*

Moderada 41 a 55 dB*

Moderadamente severa 56 a 70 dB*

Severa 71 a 90 dB*

Profunda acima de 91 dB*

Decreto 3298, de 20 de dezembro de 1999

Leve

Moderada 25 a 40 dB

Acentuada 41 a 55 db

Severa 56 a 70 db

Profunda 71 a 90 db

* Média dos limiares tonais em 500, 1.000 e 2.000 Hz

Fonte: Adaptado de (MONDELLI; BEVILACQUA, 2002).

Quadro 1: Diferentes tipos de classificação do grau de surdez

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CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO INCLUSIVA DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

2 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL

Atualmente, a educação inclusiva é uma realidade em muitos países.

Fato ressaltado na Declaração de Salamanca (1994), resultado da Conferência

Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em Salamanca

na Espanha que defendeu o compromisso da escola em educar cada

estudante, indistintamente, pois todos os alunos deverão estar dentro da escola

regular, independente de sua origem social, étnica ou linguística. (LACERDA,

2006).

Segundo a Declaração de Salamanca, “as escolas comuns, com essa

orientação integradora, representam o meio mais eficaz de combater atitudes

discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras, construir uma sociedade

integradora e dar educação para todos”. (UNESCO, 1995, p. 142).

O princípio da integração já vinha sendo discutido desde a década de

1960. Marques (1992, p. 75) definia o termo integrar como “abrir as portas da

participação social a todos os indivíduos indistintamente, quer na educação

regular, quer no mercado de trabalho, nas atividades de lazer, na cultura, na

política, assim como em todos os setores da vida social”.

Na opinião de Santos et al. (2001, p. 2) a aplicação desse princípio

incorreu num grande equívoco, pois “o processo de integração foi centrado no

indivíduo, provocando uma seleção entre os deficientes que conseguiam ou

não se ajustar aos padrões estabelecidos pelas instituições”.

Desta forma, a visão da educação inclusiva veio resgatar essa discussão

na tentativa de superação desse equívoco. Além disso, o aluno com deficiência

exige que a educação de maneira geral reveja seu papel e seus objetivos, a fim

de que se possa otimizar o processo de aprendizagem, uma vez que não se

enquadram nos padrões de normalidade estabelecidos hoje pela sociedade.

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(SANTOS et al., 2001).

A discussão sobre a matrícula do aluno com deficiência no ensino

regular não é recente. Desde a Constituição Brasileira de 1988 até a nova Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, orientam que a

educação de crianças com deficiência se dê preferencialmente na rede regular

de ensino. (SANTOS et al., 2001).

A inclusão não envolve apenas a surdez, mas remete a uma reflexão mais ampla da sociedade, buscando formas de melhor se relacionar com sujeitos de outra cultura, que falam outra língua, que professam outra fé religiosa, entre outros. Trata-se de um tema muito debatido atualmente e que busca refletir sobre formas adequadas de convivência, ampliando os conhecimentos sobre a realidade cultural do outro, sem restrição ou exigência de adaptação às regras do grupo majoritário. Trata-se de uma discussão sobre os modos de convivência dos grupos humanos nas suas diferenças que não é simples e que não se mostra ainda bem resolvida, seja na esfera política, religiosa, econômica ou educacional. (LACERDA, 2006, p. 181).

Para Sousa (1999, p. 65), a inclusão no ambiente escolar consiste em:

“possibilitar à criança um desenvolvimento dentro de seus limites pessoais, e

não de padrões impostos socialmente e, acreditar que a criança portadora de

necessidades especiais é capaz de uma aprendizagem rica e construtiva”.

Além de ser um processo dinâmico e gradual, a inclusão escolar pode

tomar formas diversas a depender das necessidades dos alunos, já que se

pressupõe que essa integração/inclusão possibilite a construção de processos

linguísticos adequados, de aprendizado de conteúdos acadêmicos e de uso

social da leitura e da escrita, sendo o professor responsável por mediar e

incentivar a construção do conhecimento através da interação com ele e com

os colegas. (LACERDA, 2006).

De acordo com Mazzota (1993),

A implementação da inclusão tem como pressuposto um modelo no qual cada criança é importante para garantir a riqueza do conjunto, sendo desejável que na classe regular estejam presentes todos os tipos de aluno, de tal forma que a escola seja criativa no sentido de buscar soluções visando manter os diversos alunos no espaço escolar, levando-os a obtenção de resultados satisfatórios em seu desempenho acadêmico e social. (MAZZOTA, 1993, p. 45).

Apesar da relevância da proposta inclusiva nota-se que as metas e

intenções não condizem com a realidade educacional brasileira, que, conforme

observam Góes, Laplane (2004), é caracterizada por classes superlotadas,

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instalações físicas insuficientes, quadros docentes cuja formação deixa a

desejar.

Ainda sobre o assunto Góes, Laplane Laplane (2004) colocam que:

O elogio da inclusão apresenta a vantagem de arrolar argumentos para a defesa das políticas inclusivas. Mas para que seja realmente eficaz é preciso que o discurso se feche sobre si próprio, aparecendo como uma totalidade que não admite questionamentos. A fragilidade das propostas de inclusão, neste sentido, reside no fato de que, frequentemente, o discurso contradiz a realidade educacional brasileira, Essas condições de existência do sistema educacional põem em questão a própria idéia de inclusão como política que, simplesmente, propõe a inserção dos alunos nos contextos escolares presentes. Assim, o discurso mais corrente da inclusão a circunscreve no âmbito da educação formal, ignorando as relações desta com outras instituições sociais, apagando tensões e contradições nas quais se insere a política inclusiva, compreendida de forma mais ampla. (GÓES; LAPLANE, 2004, p. 17).

2.1 A inclusão escolar do aluno surdo

O aluno surdo geralmente encontra-se em desigualdade linguística em

sala de aula, pelo fato de não compartilhar uma língua com seus colegas e

professores resultando na dificuldade de acesso aos conhecimentos

trabalhados, aspectos que, em geral, não são problematizados ou

contemplados pelas práticas inclusivas. (LACERDA, 2006).

A educação da pessoa surda não envolve somente às questões

referentes aos seus limites e possibilidades, mas também aos preconceitos

existentes nas atitudes da sociedade para com ela. As pessoas com surdez

enfrentam inúmeros entraves para participar da educação escolar, decorrentes

da perda da audição e da forma como se estruturam as propostas educacionais

das escolas. Muitos alunos com surdez podem ser prejudicados pela falta de

estímulos adequados ao seu potencial cognitivo, sócio-afetivo, linguístico e

político-cultural e ter perdas consideráveis no desenvolvimento da

aprendizagem. (DAMÁZIO, 2007).

São evidentes as dificuldades de comunicação dos surdos. No Brasil as

leis nº 10.436 de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a língua de sinais

brasileira, e mais recentemente o Decreto 5626/05, que regulamenta as leis

10.098/94 e 10.436/02 e orientações para o atendimento à pessoa surda

promovem conhecimento suficiente para que o aluno surdo que frequenta uma

escola de ouvintes seja acompanhado por um intérprete. Mas, só isto não é

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suficiente para uma inclusão satisfatória, é premente e necessária uma série de

outras providências para que este aluno possa ser atendido adequadamente.

Dentre elas a adequação curricular, aspectos didáticos e metodológicos,

conhecimentos sobre a surdez e sobre a língua de sinais, entre outros.

(LACERDA, 2006).

Crianças surdas possuem peculiares estratégias de comunicação, pois a

maioria vem de lares ouvintes que não possibilitam um desenvolvimento

linguístico no patamar das crianças ouvintes. Assim, elas partem de uma

exposição e de estratégias de linguagem diferentes, estando expostas a um

ambiente que usa simultaneamente pistas visuais e auditivas, impondo a elas

opções, dividindo sua atenção. (LACERDA, 2006).

Os recursos de comunicação adotados pelo surdo, seja ele mais ou menos oralizado, não podem ser usados para caracterizá-lo como pessoa. É preciso levar em conta seu percurso de vida e a forma pela qual seu modo de se comunicar possibilita sua integração nos diferentes meios sociais que frequenta, fazendo com que se sinta mais feliz. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 36).

Poker (2001) afirma que as trocas simbólicas entre esses alunos

favorecem o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento através da

capacidade representativa que acontecem em ambientes heterogêneos de

aprendizagem.

A inclusão da criança com surdez na escola regular requer uma boa

preparação tanto do aluno quanto da escola, para que ambos se sintam

capacitados a participar dessa integração que deve ocorrer de forma gradativa.

(REDONDO; CARVALHO, 2000).

Atualmente, as crianças portadoras de necessidades educacionais

especiais têm direito de ser matriculadas em qualquer escola da rede regular.

Essa mudança gerou um intercâmbio de experiências, de profissionais e de

material, provocando a aproximação dos dois sistemas educacionais: o

especial e o regular. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Mas, existem posições contrárias à inclusão de alunos com surdez nas

turmas comuns, baseados no entendimento das formas de representação da

surdez como incapacidade ou das propostas pedagógicas, desenvolvidas

tradicionalmente para atendê-las que não consideram a diversidade linguística.

(DAMÁZIO, 2007).

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De acordo com Lacerda (2006, p. 181), apesar na presença física do

aluno surdo em sala de aula, muitas vezes ele não é considerado criando-se

uma falsa imagem de que a inclusão é um sucesso. No ensino fundamental a

inclusão torna-se ainda mais restritiva para o aluno surdo, oferecendo

oportunidades reduzidas de desenvolvimento de uma série de aspectos

fundamentais (linguísticos, sociais, afetivos, de identidade, entre outros) que se

desenvolvem apoiados nas interações que se dão por meio da linguagem. “A

não partilha de uma língua comum impede a participação em eventos

discursivos que são fundamentais para a constituição plena dos sujeitos”.

Sobre isso, Damázio (2007) coloca que a escola comum deve viabilizar

sua escolarização em um turno e o Atendimento Educacional Especializado em

outro, contemplando o ensino de Libras, o ensino em Libras e o ensino da

Língua Portuguesa.

É na escola que as crianças aprendem ou aperfeiçoam formas de narrar, de descrever, modos adequados de usar a linguagem em diferentes contextos, ampliando seu conhecimento linguístico, e experimentam regras de convivência social, regras de formação de grupo e de valores sociais fundamentais para a adaptação da vida em sociedade. É também na escola que emoções e afetos são vividos de forma mais aberta, menos protegida, propiciando sucesso, insucesso, ciúmes, competição, raiva; sentimentos importantes de serem conheci dos e exercitados para o convívio social. Além disso, é nesta etapa da vida que os processos identificatórios se consolidam e o aluno surdo, sozinho no ambiente escolar, em sua condição de surdez, pode, por isso mesmo, enfrentar uma série de dificuldades. (LACERDA, 2006, p. 177).

A tarefa é criar espaços educacionais onde a diferença esteja presente,

onde se possa aprender com o outro, sem que aspectos fundamentais do

desenvolvimento de quaisquer dos sujeitos sejam prejudicados. A escola, para

além dos conteúdos acadêmicos, tem espaço para atividades esportivas, de

lazer, de artes e de criação, nas quais poderiam conviver crianças com

diferentes necessidades, desde que as atividades fossem preparadas e

pensadas para isso. Não se trata de inserir a criança surda nas atividades

propostas para ouvintes, mas de pensar atividades que possam ser

integradoras e significativas para surdos e ouvintes. (LACERDA, 2006).

Conforme Skliar (1999, apud DAMÁZIO, 2007, p. 14) “o modelo

excludente da Educação Especial está sendo substituído por outro, em nome

da inclusão que não respeita a identidade surda, sua cultura, sua comunidade”.

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Estas questões, segundo Damázio (2007) geram polêmica entre muitos

estudiosos, profissionais, familiares e entre as próprias pessoas com surdez.

Àqueles que defendem a cultura, a identidade e a comunidade surda apóiam-se no discurso das diferenças, alegando que elas precisam ser compreendidas nas suas especificidades, porém, pode-se cair na cilada da diferença, que em nome da diferença, pode-se também segregar. (DAMÁZIO, 2007, p. 14).

Diante disso, é importante buscar novos caminhos para reconhecer e

valorizar as diferenças criando processos curriculares e pedagógicos que

permitam uma escola aberta para todos e, portanto, verdadeiramente inclusiva.

(LACERDA, 2006).

Segundo Damázio (2007), a inclusão do aluno surdo deve acontecer

desde a educação infantil até a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo,

utilizar os recursos de que necessita para superar as barreiras no processo

educacional e usufruir seus direitos escolares, exercendo sua cidadania, de

acordo com os princípios constitucionais brasileiros.

Além disso, a inclusão de pessoas com surdez na escola comum requer

que se busquem meios para beneficiar sua participação e aprendizagem tanto

na sala de aula como no Atendimento Educacional Especializado.

Conforme Dorziat (1998), o aperfeiçoamento da escola comum em favor

de todos os alunos é primordial, no caso dos alunos surdos, os professores

precisam conhecer e usar a Língua de Sinais, embora a simples adoção dessa

língua não seja suficiente para escolarizar esse aluno. A escola comum precisa

implementar ações que tenham sentido para os alunos em geral também para

os alunos com surdez.

A experiência de inclusão parece ser muito benéfica para os alunos ouvintes que têm a oportunidade de conviver com a diferença, que podem melhor elaborar seus conceitos sobre a surdez, a língua de sinais e a comunidade surda, desenvolvendo-se como cidadãos menos preconceituosos. Todavia, o custo dessa aprendizagem/elaboração não pode ser a restrição de desenvolvimento do aluno surdo. Será necessário pensar formas de convivência entre crianças surdas e ouvintes, que tragam benefícios efetivos para ambos os grupos. (LACERDA, 2006, p. 179).

Para Damázio (2007), mais do que a utilização de uma língua, os alunos

com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem

o pensamento, explorem suas capacidades, em todos os sentidos e, que,

acima de tudo favoreça o aproveitamento escolar.

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Os estudos de Poker (2001) sobre o assunto revelam que o ambiente

em que a pessoa com surdez está inserida, principalmente o da escola, deve

oferecer condições para que se estabeleçam trocas simbólicas com o meio

físico e social. Para a pesquisadora, a natureza do problema cognitivo da

pessoa com surdez está relacionado à:

[...] deficiência da trocas simbólicas, ou seja, o meio escolar não expõe esses alunos a solicitações capazes de exigir deles coordenações mentais cada vez mais elaboradas, que favorecerão o mecanismo da abstração reflexionante e consequentemente, os avanços cognitivos (POKER, 2001, p. 300).

A proposta de educação escolar inclusiva é um desafio que deve ser

efetivado através da redução dos problemas de escolarização das pessoas

com surdez ao uso desta ou daquela língua, mas sim de ampliá-la para os

campos sócio políticos. (BUENO, 2001).

Na proposta inclusiva atual a criança com surdez participa do sistema

educacional juntamente com os professores e toda a escola contando com

dispositivos que auxiliem seu pleno desenvolvimento escolar. (REDONDO;

CARVALHO, 2000).

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CAPÍTULO III

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA

AUDITIVA E O PAPEL DO PROFESSOR

3 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO

O atendimento escolar comum e especializado deve desenvolver o aluno

e ensinar a ele o conteúdo programático escolar ajudando-o a adquirir

conhecimento do mundo e de si mesmo (social/escolar/psíquico), em todos os

níveis escolares: infantil, fundamental, médio e superior. (REDONDO;

CARVALHO, 2000).

Todo aluno, surdo ou não, possuem uma capacidade de aprendizagem e

esse potencial deve ser desenvolvido (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Conforme expõe Marques (1999, p. 38), “o obstáculo sensorial cria

situações comunicativas específicas para o surdo, sem impedi-lo de adquirir

uma linguagem e desenvolver sua capacidade de representação”.

3.1 Métodos de treinamento

Há vários métodos para o desenvolvimento da linguagem de deficientes

auditivos empregados no Brasil.

Segundo Lacerda (2006) os métodos são oral unissensorial, oral

multissensorial, comunicação total e bilinguismo.

O método oral unissensorial, de acordo com Lacerda (2006) usa apenas

a pista auditiva. Por meio do aparelho auditivo, integra a audição à

personalidade da criança com perda auditiva; não enfatiza a leitura labial, nem

utiliza a língua de sinais. Têm-se como exemplos os métodos Pollack e

Perdoncini.

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O método oral multissensorial usa todos os sentidos: audição com apoio

de aparelhos auditivos, visão com apoio da leitura labial, tato e outros; também

não utiliza a língua de sinais. Por exemplo, método áudio + visual de

linguagem.

O método oralista, de acordo com Mondelli; Bevilacqua (2002), baseia-

se na aquisição de linguagem oral, sem intervenção de gestos estruturados.

Redondo; Carvalho (2000), observam ainda que as escolas comuns ou

especiais, pautadas no oralismo, visam a capacitação da pessoa com surdez

para que possa utilizar a língua da comunidade ouvinte na modalidade oral,

como única possibilidade linguística, de modo que seja possível o uso da voz e

da leitura labial, tanto na vida social, como na escola.

O oralismo, não conseguiu atingir resultados satisfatórios, porque, de

acordo com Sá (1999), ocasiona déficits cognitivos, legitima a manutenção do

fracasso escolar, provoca dificuldades no relacionamento familiar, não aceita o

uso da Língua de Sinais, discrimina a cultura surda e nega a diferença entre

surdos e ouvintes.

O método de comunicação total, segundo Ciccone (apud LACERDA,

2006) é uma filosofia e não outro método, que utiliza tudo o que seja

necessário para o indivíduo com deficiência auditiva como meio de

comunicação, tais como: oralização, prótese auditiva, gestos naturais,

linguagem de sinais, expressão facial, alfabeto digital, leitura labial, leitura da

escrita, enfim, tudo aquilo que sirva de meio para ajudar a desenvolver o

vocabulário, linguagem e conceito de idéias entre o indivíduo surdo e o outro.

Na comunicação total os surdos devem ter acesso a todas as modalidades de comunicação disponíveis, escolhendo aquela, ou aquelas, que atende melhor a suas necessidades de fala; escrita; pista auditiva que consiste no aproveitamento dos resíduos de audição, por meio de aparelhos de amplificação sonora; leitura orofacial que é a leitura dos movimentos dos lábios e dos músculos do rosto; expressão corporal; sinais através de movimentos com as mãos representando idéias, usados por comunidades de surdos; e, alfabeto digital que são movimentos com as mãos que representam as letras do alfabeto. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 32).

Entre os muitos instrumentos usados para comunicação total, figura a

linguagem dos sinais, criada por um monge beneditino francês, morador de um

mosteiro onde imperava a lei do silêncio. Adotada há mais de cem anos, no

Brasil é chamada de Libras. (MONDELLI; BEVILACQUA, 2002).

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Os sinais começaram a ser adotados na educação dos surdos na forma

sintática da língua portuguesa. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Os sinais são extraídos da Língua de Sinais Brasileira: o professor, ao

ler um texto, se expressa em sinais. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

A língua de sinais não segue a mesma organização da língua

portuguesa, pois não possui a mesma sintaxe, nem as mesmas regras

gramaticais. Por exemplo: na língua de sinais diz-se aula, ir, na língua

portuguesa diz-se (eu) vou à aula. Ao ter acesso à língua de sinais e à língua

portuguesa, o surdo tem a seu alcance um leque mais amplo de recursos

linguísticos, que atendam melhor a suas necessidades. (REDONDO;

CARVALHO, 2000).

Fonte: Redondo; Carvalho (2000, p. 36)

Figura 2: Alfabeto manual da Língua de Sinais Brasileira

A comunicação total considera as características da pessoa com surdez

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utilizando todo e qualquer recurso possível para a comunicação, a fim de

potencializar as interações sociais, considerando as áreas cognitivas,

linguísticas e afetivas dos alunos. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Os resultados obtidos com a comunicação total são questionáveis

quando observamos as pessoas com surdez frente aos desafios da vida

cotidiana. A linguagem gestual visual, os textos orais, os textos escritos e as

interações sociais que caracterizam a comunicação total parecem não

possibilitar um desenvolvimento satisfatório e esses alunos continuam

segregados, permanecendo agrupados pela deficiência, marginalizados,

excluídos do contexto maior da sociedade. Esta proposta, segundo Sá (1999),

não dá o devido valor a Língua de Sinais, portanto, pode-se dizer que é outra

feição do oralismo. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Os dois enfoques, oralista e da comunicação total, negam a língua

natural das pessoas com surdez e provocam perdas consideráveis nos

aspectos cognitivos, sócioafetivos, linguísticos, político culturais e na

aprendizagem desses alunos. A comunicação total, em favor da modalidade

oral, por exemplo, usava o Português sinalizado e desfigurava a rica estrutura

da Língua de Sinais. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

A reivindicação dos surdos em utilizar a língua de sinais obrigou a

algumas escolas a se especializarem em alunos surdos utilizando o bilinguismo

na educação.

No bilinguismo, a criança surda é exposta à língua de sinais desde pequena, por uma pessoa que domine essa forma de comunicação, de preferência um surdo. A língua portuguesa, em sua forma oral e/ou escrita, é ensinada como segunda língua. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 37).

A abordagem do bilinguismo pretende que ambas as línguas – os sinais

(LSB, a Língua de Sinais Brasileira) e a oral (português) – sejam ensinadas e

usadas sem que uma interfira/prejudique a outra. Elas se destinariam a

situações diferentes. (LACERDA, 2006).

De acordo com Redondo; Carvalho (2000), o bilinguismo visa capacitar a

pessoa com surdez para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na

vida social, quais sejam: a Língua de Sinais e a língua da comunidade ouvinte.

As experiências escolares, de acordo com essa abordagem, no Brasil, são

muito recentes e as propostas pedagógicas nessa linha ainda não estão

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sistematizadas. Acrescenta-se a essa situação, a existência de trabalhos

equivocados, ou seja, baseados em princípios da comunicação total, mas que

são divulgados como trabalhos baseados na abordagem por meio do

bilinguismo.

Há poucas publicações científicas sobre o assunto, faltam professores

bilíngues, os currículos são inadequados e os ambientes bilíngues, quase

inexistentes. Não se podem descartar também outros fatores, tais como:

dificuldade para se formar professores com surdez num curto período de

tempo; a presença de um segundo professor de Língua Portuguesa para os

alunos surdos e a falta de conhecimento a respeito do bilinguismo. As

propostas educacionais dessa natureza começam a estruturar-se a partir do

Decreto nº 5.626/05 que regulamentou a lei de Libras. Esse Decreto prevê a

organização de turmas bilíngues, constituídas por alunos surdos e ouvintes

onde as duas línguas, Libras e Língua Portuguesa são utilizadas no mesmo

espaço educacional. Também define que para os alunos com surdez a primeira

língua é a Libras e a segunda é a Língua Portuguesa na modalidade escrita,

além de orientar para a formação inicial e continuada de professores e

formação de intérpretes para a tradução e interpretação da Libras e da Língua

Portuguesa. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

As propostas de atendimento a alunos com surdez contrariam o modelo

de integração escolar, que concebe o aluno com surdez, a partir dos padrões

dos ouvintes, desconsiderando a necessidade de serem feitas mudanças

estruturais e pedagógicas nas escolas para romper com as barreiras que se

interpõem entre esse aluno e o ensino. Em escolas comuns as propostas de

atendimento devem respeitar as especificidades e a forma de aprender de cada

um, não impondo condições à inclusão desses alunos no processo de ensino e

aprendizagem. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Também, a escola especial é segregadora, pois os alunos isolam-se

cada vez mais, ao serem excluídos do convívio natural dos ouvintes. Há

entraves nas relações sociais, afetivas e de comunicação, fortalecendo cada

vez mais os preconceitos. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Segundo alguns professores, é mais fácil ensinar em classes especiais das escolas comuns, pois, essas classes além do agrupamento ser constituído apenas por alunos com surdez, a comunicação e a metodologia de ensino da língua escrita e oral são as mesmas para todos. Entretanto nessas classes os alunos com

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surdez não têm sido igualmente beneficiados na aprendizagem. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 34).

3.2 Comunicação com a criança surda

Sobre a comunicação com a criança surda Lacerda (2006) observa que

é comum pais, professores e outros adultos tomam atitudes inadequadas em

relação a crianças com perda auditiva, ignorando suas reais limitações. Por

exemplo:

Com frequência tratam a pessoa com deficiência auditiva como se ela fosse incapaz de compreender. Falam de maneira pouco natural, apenas com gestos; se usam palavras, falam „como índio‟, sem artigos ou frases completas, utilizando apenas palavras soltas, como se o outro fosse incapaz de entender as formulações completas. Não conseguem agir com naturalidade. Não informam, por exemplo, o que está acontecendo: a mãe sai sem dizer onde está indo, como se a criança não pudesse participar da vida em comum. Ao conversar, viram o rosto para outro interlocutor, de modo que a criança não perceba o que está sendo falado. Além de ser uma falta de respeito, diminui a auto-estima da criança. Alguns pais enfatizam a deficiência auditiva, esquecendo que a criança tem um potencial a desenvolver. Já outros cobram excessivamente dos filhos, achando que devem compensar a deficiência com atitudes perfeccionistas. Ambos os extremos são prejudiciais. (LACERDA, 2006, p. 166).

É dever da escola, comum ou especializada, preparar a criança surda

para a vida em sociedade, dando a esta condições de aprender um código de

comunicação que permita seu ingresso na realidade sociocultural, com efetiva

participação na sociedade. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

O trabalho de linguagem é desenvolvido de forma a dar à criança surda

um instrumento linguístico que a torne capaz de se comunicar, tanto em língua

portuguesa (oral) quanto na Língua de Sinais Brasileira (LSB). Os principais

recursos utilizados nesse trabalho são atividades de imitação, jogos, desenhos,

dramatizações, brincadeiras de faz-de-conta, histórias infantis e outros. Essas

atividades possibilitam a aquisição de linguagem e a aprendizagem de

conceitos e regras de um código de comunicação quesitos importantes no

processo de integração escolar. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

A criança surda adquire sua linguagem ao relacionar a experiência que

está vivendo com a verbalização e/ou os sinais que ela observa em outra

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pessoa (colegas, pais, professores e outros), bem como ao relacionar o que

está sendo falado pelo outro com suas próprias experiências e também ao

comunicar seus pensamentos e experiências de forma oral, escrita ou com

sinais. (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Para Piaget (apud REDONDO; CARVALHO, 2000), a linguagem é um

sistema para representar a realidade. É ela que torna possível a comunicação

entre os indivíduos, a transmissão de informações e a troca de experiências.

Segundo Lacerda (2006, p. 167), a situação comunicativa ajuda a

criança a compreender melhor o conteúdo que se quer transmitir a ela. Toda

situação é boa para se falar de assuntos variados, de coisas que podem

acontecer ou aconteceram. Por exemplo: “quando a criança come, se lava, se

veste, ou passeia pela rua se oferecem ótimas ocasiões para falar com ela a

respeito das coisas que está vendo, de como as pessoas estão agindo, das

sensações dela e das nossas”.

A interação com a criança surda é importante para o seu aprendizado e

pode acontecer através de perguntas e respostas. A partir daí o professor e os

pais podem realizar atividades e brincadeiras que estimulem a interação com a

criança, mantendo sua atenção e ajudando-a a se expressar a partir de gestos,

sinais, atitudes corporais e linguagem oral. (LACERDA, 2006).

Pela repetição das palavras e pela vivência no dia-a-dia, as crianças aprendem a compreender uma língua e a usá-la. Isso vale tanto para as crianças ouvintes quanto para aquelas com perda auditiva. No entanto, as que têm perda auditiva precisam de mais estímulos, de mais repetições e de mais vivências. A partir do momento em que a criança surda percebe que cada coisa ou pessoa tem um nome, seu progresso se torna mais rápido. O jogo, o brincar de faz-de-conta e o relato de histórias infantis são experiências que permitem ampliar seu âmbito de informações e ajudá-la a buscar, a pedir, a fazer perguntas, enriquecendo cada vez mais sua comunicação. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 39).

As situações corriqueiras, principalmente aquelas vinculadas às idéias e

aos interesses da criança surda, pode ser útil para estimular e desenvolver seu

processo de comunicação. Por exemplo:

Se ela gosta de carros, de motos, ou de bonecas, seu brinquedo predileto pode servir de motivação para a aprendizagem. Ela irá se interessar por saber seus nomes, reproduzir o ruído que fazem, sentir as vibrações dos veículos que passam pela rua, observar as cores das diferentes motos, ou reproduzir com suas bonecas o cuidado materno, dando nome aos sentimentos – eu gosto, eu choro, eu estou triste, eu estou alegre e outros. A compreensão e a realização de uma tarefa exigem da criança surda um grande esforço de atenção. Por

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isso, é compreensível que ela não goste de fazer exercícios de articulação durante muito tempo. O ideal é apresentar esses exercícios disfarçados, na forma de jogos e brincadeiras. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 40).

As situações lúdicas podem favorecer a a aquisição linguística,

observando que essa estimulação não tem por objetivo criar um ouvinte

falante, suprimindo ou ignorando as características peculiares da criança surda.

(REDONDO; CARVALHO, 2000).

3.3 O papel do professor

De acordo com Redondo; Carvalho (2000), o principal papel do

professor consiste em promover a compreensão das informações para todos os

alunos. As propostas dos Parâmetros curriculares nacionais e o próprio

conteúdo curricular favorecem a integração, pois se baseiam na interação dos

alunos entre si ao longo das atividades – no grupo, na classe, na escola e na

comunidade.

Elemento chave na escola, o professor é um coadjuvante na tarefa de

traçar os rumos da educação e do desempenho dos alunos. Para isso, é

importante que entenda as individualidades da cada aluno e saiba lidar com

múltiplas possibilidades.

Nessa perspectiva, os alunos de uma classe não podem ser

considerados como uma massa amorfa, sem identidade, sem nome.

Fernandes (2006, p. 5), afirma que “a escola inclusiva tem o

compromisso com o respeito à pluralidade cultural e o acolhimento às

diferenças individuais”. No tocante ao aluno surdo deve-se reconhecer a

diferença linguística destes advindas da falta da audição.

Em algumas escolas, o ensino é transmitido pelos docentes numa

perspectiva tradicional, sem levar em consideração as limitações físicas ou

intelectuais de seus alunos, ou seja, transmitem um ensino técnico, totalmente

desarticulado da realidade dos alunos, fazendo com que os mesmos não

tenham uma aprendizagem significativa, visto que o conhecimento é um

processo em construção, e ainda, cada aluno apresenta uma forma

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diferenciada de ritmo que precisa ser respeitada. (SPENASSATO; GIARETA,

2009).

É importante que o professor entenda a diversidade cultural existente

numa classe e, mediante isso, elabore estratégias como: desenvolver novas

metodologias de ensino; utilizar recursos diferenciados e processos de

avaliação adequados, como forma de tentar minimizar a desigualdade e

trabalhar a diversidade. (SPENASSATO; GIARETA, 2009).

Além disso, o professor deve ter um objetivo e um programa concreto

para cumprir a meta a alcançar na área da linguagem. Para isso, é importante

conversar com os pais sobre os objetivos a fim de fazer a adequação do

programa, permitindo inclusive que a família colabore, aproveitando os

contextos naturais e cotidianos para estimular a linguagem do filho.

(REDONDO; CARVALHO, 2000).

A intervenção do professor no campo da comunicação e da linguagem

com a criança surda pequena não pode partir de programas rígidos quanto ao

conteúdo – como, por exemplo, listas preestabelecidas de palavras. O

desenvolvimento da linguagem de uma criança surda deve ser abordada em

toda sua variedade e em todas suas possibilidades, dando um papel

significativo às funções comunicativas que ela realiza com suas próprias

expressões e ao vínculo comunicativo que ela estabelece com o outro (adulto

ou criança). (REDONDO; CARVALHO, 2000).

Silva (2008) observa que o professor encontra-se no centro no processo

de aprendizagem, pois além de perceber em sua classe crianças com

deficiência, de condutas típicas ou de altas habilidades tem que estar

capacitado, se não a lidar com elas, a encaminhá-las para que recebam

atendimento adequado e tenham garantida a oportunidade de atingir e manter

um nível satisfatório de aprendizagem. Para isso, o professor deve estar aberto

a desafios:

Saber, de uma forma especial, dar atenção a esses alunos; oferecer um currículo mais variado; programar trabalhos que atendam a singularidade de cada criança; ser criativo; ter habilidades diferenciadas; saber usar o bom senso, entre outros. Sempre deve ter presente o interesse de cada criança, conversando com ela sobre o que vivenciou em casa, com os colegas ou com outros adultos. (SILVA, 2008, p. 164).

Algumas providências por parte de professores podem ser tomadas para

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facilitar o entendimento dos alunos surdo, como:

a) falar sempre de frente, utilizar todos os recursos de comunicação, e utilização de material concreto para facilitar a compreensão da linguagem oral;

b) procure falar em ritmo natural, nem muito rápido, nem muito devagar;

c) sublinhe os pontos mais importantes de uma aula; d) estimule os colegas a conversar com o portador de deficiência

auditiva.(BRASIL, 1995, p. 31).

Spenassato; Giareta (2009), embasados nos estudos de vários autores

apresentam algumas sugestões e estratégias de como o professor deve

trabalhar em sala de aula em práticas consideradas inclusivas. São elas:

a) a estratégia em que, enquanto a professora escreve no quadro e explica oralmente para os alunos ouvintes, o aluno surdo deve prestar atenção e após copiar o conteúdo, não se torna significativa para o aluno, pois ocasionará uma defasagem no tempo em relação aos outros;

b) na explicação, o professor nunca deve fazê-la de costas para os alunos, sempre de frente, possibilitando a leitura labial;

c) o professor, ao escrever no quadro, não pode passar o conteúdo e falar ao mesmo tempo, visto que o aluno surdo ou escreve ou presta atenção na tradução da intérprete;

d) organizar a sala em diferentes grupos e distribuir em fichas a atividade para os alunos, onde cada grupo deve escolher a forma de respondê-las e apresentá-las, seja utilizando cartazes, dramatização, música, texto escrito, gestos, objetos, desenhos e outros;

e) levar para a sala de aula recursos como: material concreto, cartazes para colar na parede, revistas, livros, figuras, brinquedos, e outros, relacionados ao conteúdo que será trabalhado. (SPENASSATO; GIARETA, 2009, p. 11).

Essas são algumas sugestões para que os alunos surdos possam

participar das aulas, pois há diferentes maneiras deles se expressarem, seja

mostrando, escrevendo no quadro, escrevendo no caderno, entre outros meios

de comunicação. Como os alunos surdos são muito visuais, eles necessitam

desse tipo de atividade que lhes chame a atenção, nas quais eles possam

participar ativamente e interagir com os colegas ouvintes, o que favorece o

processo de ensino-aprendizagem.

O professor deve utilizar a linguagem para transmitir diferentes intenções

para a criança, como pedir, afirmar, perguntar entre outros. Deve-se ainda

evitar transmitir apenas o nome dos objetos, procurando sempre mencionar

outros aspectos importantes que suscitem a curiosidade, tais como:

Perguntar (por quê? para quê? o que é?) e a expressar seus sentimentos (eu quero, eu não quero, eu gosto). Isso permitirá estabelecer uma comunicação mais completa, natural e próxima à da

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criança ouvinte, sem se limitar à mera nomeação verbal de objetos. É importante utilizar os mais variados recursos de comunicação: além da linguagem oral, recorrer sem restrições aos gestos, às expressões faciais e corporais e a um sistema estruturado de sinais. (REDONDO; CARVALHO, 2000, p. 26).

Delp (1963, apud ZANINI, 2007) salienta que existem três elementos

fundamentais para o professor de crianças que possuem necessidades

especiais: iniciativa, engenho e imaginação.

a) iniciativa: como prontidão capacidade de se tomar uma decisão rápida;

b) engenho: refere – se à iniciativa das pessoas se adaptarem as situações, habilidade de construir coisas e ações;

c) imaginação: corresponde ao ato de formar imagens mentais ou conceitos não presentes aos sentidos, criar novas imagens diferentes das conhecidas pela experiência através da recombinação das experiências anteriores. (DELP, 1963, apud ZANINI, 2007, p. 53)

Para que haja um ensino de qualidade para as pessoas surdas,

Sant‟Ana; Pereira (2005), citam três grandes correntes metodológicas utilizadas

em sala de aula por professores, sendo elas:

[...] O oralismo que para muitos profissionais é o meio mais adequado de ensino dos surdos. Nessa metodologia de ensino a aprendizagem da fala é o ponto central. A comunicação total que se trata de uma proposta flexível no uso de meios de comunicação oral e gestual. O bilinguismo que visa assegurar o acesso dos surdos a duas línguas, no contexto escolar, ou seja, respeitar a autonomia da Língua de Sinais e da língua majoritária do país, no nosso caso o Português (não paginado). (SANT‟ANA; PEREIRA, 2005, p. 4)

Fernandes (2006) afirma que o ambiente bilíngue ideal é aquele onde a

maioria das pessoas na escola conhece a língua de sinais. Embora o processo

de inclusão determine a oferta permanente de cursos de libras para a

comunidade, trabalho com as famílias, reorganização da proposta curricular

dentre outras uma série de ações ainda devem ser tomadas nesses sentidos.

Em curto prazo, existem algumas estratégias metodológicas e de organização

do ambiente da sala de aula para facilitar a interação/comunicação:

a) Combinar diferentes tipos de agrupamento de alunos, facilitando a visualização da sala toda pelo aluno surdo e sua consequente interação com os colegas (círculos, duplas, grupos e outros);

b) Introduzir métodos e estratégias visuais complementares à língua de sinais (alfabeto manual, gestos naturais, dramatização, mímica, ilustrações, vídeo/TV, retroprojetor e outros) no desenvolvimento das atividades curriculares, a fim de facilitar a comunicação e a aprendizagem dos alunos surdos;

c) Planejar atividades com diferentes graus de dificuldade e que permitam diferentes possibilidades de execução (pesquisa,

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questionário, entrevista e outros) e expressão (apresentação escrita, desenho, dramatização, maquetes e outros);

d) Propor várias atividades para trabalhar um mesmo conteúdo (vivências, observações, leitura, pesquisa, construção coletiva e outros);

e) Promover a interação dos professores do ensino regular e da educação especial para o desenvolvimento de atividades tais como: orientações sobre formas de comunicação/interação com os alunos surdos, indicação de práticas pedagógicas alternativas, participação em Conselhos de Classe, entre outros. (FERNANDES, 2006, p. 9).

O professor deve ser o ponto de equilíbrio para que a criança vença o

medo e enfrente desafios tendo a certeza de que não lhe faltará apoio. Desta

forma, aluno e professor caminharão paralelamente na construção da

identidade pessoal da criança desenvolvendo a independência e a

autoconfiança, fruto de um trabalho objetivo, consistente e realista que se

efetiva na ação integrada que favorece a evolução e o desenvolvimento dos

indivíduos. (SILVA, 2008).

Diante de um alunado que apresenta necessidades especiais, o

professor deve valorizar as singularidades de cada criança para que o aluno as

tenha respeitadas, quando considerado em relação ao seu ritmo e às suas

características pessoais. Somente visualizando a criança portadora de

necessidades especiais, dentro do parâmetro da individualização, é que se

poderá contribuir, com ações concretas, para que a criança tenha assegurada

a sua aprendizagem, no âmbito de suas possibilidades. (SILVA, 2008).

Outro fator importante no ensino a crianças com necessidades especiais

é a afetividade. Se essa criança, e dentre ela incluem-se as deficiente

auditivas, tem sua necessidade de afeto satisfeita, provavelmente saberá, de

forma diferente, enfrentar suas dificuldades. O sentimento de segurança, de

apoio, de sentir-se querida e amparada, por certo, reforçará a sua coragem, a

sua força e a autoconfiança, embora sabendo-se e sentindo-se limitada na sua

capacidade de estabelecer contato com o mundo e com as pessoas, ou

mesmo, não sendo compreendida nas suas possibilidades de realização.

(SILVA, 2008).

Para Fernandes (2006) deve-se combinar diferentes tipos de

agrupamento de alunos, facilitando a visualização da sala toda pelo aluno

surdo e sua consequente interação com os colegas (círculos, duplas, grupos,

entre outros).

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Lacerda (2006) relata a satisfação dos professores no fluxo geral dos

depoimentos diante dos resultados da experiência de dar aula numa classe de

quinta série do ensino fundamental, em uma escola da rede privada, que conta

com 29 alunos ouvintes, uma criança surda e a presença de duas intérpretes

de língua de sinais que se revezam neste trabalho.

Os relatos dos professores da pesquisa de Lacerda (2006) relataram

que as aulas transcorrem normalmente, as presenças do aluno surdo e

intérprete são facilmente assimiladas na rotina escolar; percebe-se um bom

relacionamento entre os alunos e um bom rendimento geral do aluno surdo.

Porém, Lacerda (2006), observa que:

Uma análise mais atenta do mesmo material revela paradoxalmente a falta de preparação para esta prática, desinformação geral acerca do argumento surdez e suas peculiaridades, ausência de planejamento de ações coordenadas que levem em conta a presença do intérprete e, talvez, o aspecto mais importante, a não consciência de que existem muitos problemas ocorrendo neste espaço, que mereceriam atenção e ações por parte dos professores. (LACERDA, 2006, p. 171).

Sobre isso Silva (2008) observa que os cursos de formação de

professores, nos diferentes níveis, devem incluir em seus currículos disciplinas

que possibilitem ao professor adquirir conhecimentos nessa área. Com isso os

objetivos da educação democrática podem ser atingidos e os alunos surdos

poderão receber orientações que possibilitem seu desenvolvimento, pois é

significativo o contigente de alunos que precisa de uma orientação específica

para vencer as dificuldades que suas limitações lhes impõe.

Na pesquisa de Lacerda (2006) o depoimento da professora de

Português revela dúvidas e reflexões após o contato com informações mais

aprofundadas sobre língua de sinais e educação de surdos, indicando que

percebe que há pontos obscuros que merecem ser repensados. Os

depoimentos do professores revelam e escondem problemas presentes nesta

prática, mas, de maneira geral, os entrevistados referem-se à experiência como

satisfatória.

Rios, Novaes (2009) observam que muitos professores ainda não têm

sido devidamente formados para atuar com os alunos deficientes, sendo que,

no caso dos surdos, observa-se dificuldades no que diz respeito à

comunicação e ao processo de ensino e aprendizagem.

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Basicamente, segundo Zanini (2007), o motor crucial desse interesse

pela busca de aperfeiçoamento e qualificação desses professores aconteceu

após a regulamentação da lei federal prevista na LDB (Lei de Diretrizes e Base

da Educação Nacional) que aprovou a inclusão dos alunos portadores de

deficiência na rede pública e privada de ensino.

Zanini (2007), salienta que diante desse desafio construtivo, porém,

inesperado pela maioria dos professores, os educadores se debatem na

tentativa de amenizar e ou solucionar essa falta de preparo profissional, seja na

parte de fundamentação teórica metodológica ou ate mesmo didático

psicológica para se relacionarem com esses alunos.

3.3.1 O professor no Atendimento Educacional Especializado em Libras na

Escola Comum

Damázio (2007) apresenta momentos didático-pedagógicos para os

alunos com surdez incluídos na escola comum que acontece diariamente, em

horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum.

Na didática nota-se o uso de imagens visuais - mural de avisos e

notícias, biblioteca da sala, painéis de gravuras e fotos sobre temas de aula,

roteiro de planejamento, fichas de atividades e outros de todo tipo de

referências que possam colaborar para o aprendizado dos conteúdos

curriculares em estudo, na sala de aula comum para o Atendimento

Educacional Especializado. (DAMÁZIO, 2007)

Na escola comum, é ideal que haja professores que realizem esse atendimento, sendo que os mesmos precisam ser formados para ser professor e ter pleno domínio da Língua de Sinais. O Professor em Língua de Sinais, ministra aula utilizando a Língua de Sinais nas diferentes modalidades, etapas e níveis de ensino como meio de comunicação e interlocução. O planejamento do Atendimento Educacional Especializado em Libras é feito pelo professor especializado, juntamente com os professores de turma comum e os professores de Língua Portuguesa, pois o conteúdo deste trabalho é semelhante ao desenvolvido na sala de aula comum. (DAMÁZIO, 2007, p. 27)

As Figuras de 3 a 7 retratam a ação de professores no ensino-

aprendizagem de alunos surdos matriculados em escola comum. Nota-se a

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utilização das Libras.

Fonte: Damázio (2007, p. 26)

Figura 3: Professor explorando o conteúdo curricular

sobre o universo e o movimento do sistema solar com

recursos diversos para os alunos com surdez

Fonte: Damázio (2007, p. 26)

Figura 4: Professor, explorando conteúdo curricular sobre

civilizações antigas com recursos específicos em Libras

para alunos com surdez

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Fonte: Damázio (2007, p. 26)

Figura 5: Professor explorando com o aluno com surdez

o conteúdo curricular sobre o município de Uberlândia

com recursos específicos em Libras

Fonte: Damázio (2007, p. 27)

Figura 6: Professor ministrando aula em Língua de

Sinais dos conteúdos curriculares oficiais

Fonte: DAMÁZIO (2007, p. 27)

Figura 7: Professor explicando termos científicos do

contexto em estudo e dos conteúdos curriculares oficiais

em Língua de Sinais

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Segundo Damázio (2007), o Atendimento Educacional Especializado em

Libras fornece a base conceitual dessa língua e do conteúdo curricular

estudado na sala de aula comum, o que favorece ao aluno com surdez a

compreensão desse conteúdo. Nesse atendimento há explicações das idéias

essenciais dos conteúdos estudados em sala de aula comum. Os professores

utilizam imagens visuais e quando o conceito é muito abstrato recorrem a

outros recursos, como o teatro, por exemplo. Os recursos didáticos utilizados

na sala de aula comum para a compreensão dos conteúdos curriculares são

também utilizados no Atendimento Educacional Especializado em Libras.

As Figuras 8 a 10 retratam alguns recursos didático-pedagógicos

utilizados

Fonte: Damázio (2007, p. 29)

Figura 8: Professor explorando conteúdos curriculares em

Libras com os devidos recursos didáticos

Fonte: Damázio (2007, p. 29)

Figura 9: Maquetes sobre o conteúdo em estudo

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Fonte: Damázio (2007, p. 29)

Figura 10: Alunos com surdez no Atendimento

Educacional Especializado em Libras

De acordo com Damázio (2007),

No decorrer do Atendimento Educacional Especializado em Libras, os alunos se interessam, fazem perguntas, analisam, criticam, fazem analogias, associações diversas entre o que sabem e os novos conhecimentos em estudo. Os professores neste atendimento registram o desenvolvimento que cada aluno apresenta, além da relação de todos os conceitos estudados, organizando a representação deles em forma de desenhos e gravuras, que ficam no caderno de registro do aluno. (DAMÁZIO, 2007, p. 30)

3.3.2 O professor no Atendimento Educacional Especializado para o ensino de

Libras

Damázio (2007) também apresente o atendimento para os alunos com

surdez incluídos na escola comum que se inicia com o diagnóstico do aluno e

ocorre diariamente, em horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum.

O trabalho é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras

(preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de desenvolvimento da

Língua de Sinais em que o aluno se encontra após um planejamento a partir do

diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua de Sinais.

O professor e/ou instrutor de Libras organiza os trabalhos respeitando as

especificidades dessa língua, incluindo-se os termos científicos. Eles procuram

os sinais em Libras, investigando em livros e dicionários especializados,

internet ou mesmo entrevistando pessoas adultas com surdez, considerando o

seguinte:

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a) Caso não existam sinais para designar determinados termos científicos, os professores de Libras analisam os termos científicos do contexto em estudo, procurando entendê-los, a partir das explicações dos demais professores de áreas específicas (Biologia, História, Geografia e dentre outros);

b) Avaliam a criação dos termos científicos em Libras, a partir da estrutura linguística da mesma, por analogia entre conceitos já existentes, de acordo com o domínio semântico e/ou por empréstimos lexicais;

c) Os termos científicos em sinais são registrados, para serem utilizados nas aulas em Libras. (DAMÁZIO, 2007, p. 32)

Fonte: DAMÁZIO (2007, p. 32)

Figura 11: Professores analisando conceitos dos termos

científicos em Língua de Sinais

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CONCLUSÃO

Os valores e princípios da educação inclusiva são capazes de promover

instituições mais justas do que aquelas que fundamentaram a segregação.

Nesse cenário, a educação dos surdos é um tema polêmico que gera

discussões, pois alguns defendem as questões relativas à diferença lingüística,

à identidade surda, e os modos próprios de relação cultural (apreensão

discussões mundo) que os sujeitos surdos têm outros preocupam-se com a

inclusão deste grupo na comunidade majoritária, respeitando suas diferenças e

necessidades, mas atentando para que não se constitua como uma

comunidade à parte, marginalizada.

Para o sucesso do processo de aprendizagem há necessidade de existir

motivação entre colegas, professores, direção da escola e as demais pessoas

que fazem parte do convívio do aluno surdo. Aos educadores cabe a interação

e o conhecimento sobre como contribuir para a diversidade e o

desenvolvimento de habilidades intelectuais e do pensamento crítico e

reflexivo, tornando os cidadãos mais aptos a conviver em uma sociedade cada

vez mais exigente, garantindo direito de igualdade a todos, sem discriminação.

Para que a inclusão realmente aconteça na escola e na sala de aula, é

importante que o professor e os demais colegas ouvintes conheçam mais sobre

a cultura surda e busquem formas de estabelecer uma comunicação com os

colegas surdos, seja através da Libras ou outros meios de comunicação. Para

isso, e em resposta à pergunta-problema, há necessidade de desenvolver uma

metodologia diferenciada dos demais como, por exemplo, a utilização de

recursos visuais sempre que possível em suas aulas para favorecer o

aprendizado.

Na revisão bibliográfica verificou-se que são poucas as propostas

didáticometodológicas com características visuais desenvolvidas pelos

professores em sala de aula, o que pode ocasionar uma defasagem na

aprendizagem efetiva do aluno surdo, bem como falhas no domínio de

conteúdos básicos.

Desta forma, há a necessidade de profundas mudanças nas práticas

pedagógicas dos professores em sala de aula, a fim de capacitá-los para o

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processo de inclusão, entendendo que estes não estão sabendo desenvolver

metodologias adequadas que proporcionem uma aprendizagem significativa a

todos, que propicie inclusão dos alunos surdos ao conhecimento, respeitando

as competências individuais e as diferenças de cada um. Assim, incluir não é

só frequentar a sala de aula; é preciso atendê-los em suas necessidades e

favorecer uma educação de qualidade.

Mas, não só professores devem adequar-se, as escolas também devem

buscar novos recursos e apresentar uma infraestrutura capaz de atender aos

seus alunos com maiores dificuldades de aprendizagem. Para o aluno surdo, e

os demais alunos com necessidades educativas especiais, o acompanhamento

pedagógico especializado em turno inverso é necessário e também servirá

para auxiliar os professores que não estão preparados para atender este

alunado. Pois, em classes mistas, há necessidade de respeitar o ritmo dos

alunos surdos que, em comparação aos demais colegas, possuem um ritmo

mais lento no desenvolvimento de suas tarefas, uma vez que necessitam

entender a explicação dos professores por meio da intérprete, e somente

depois de concluída, copiam as anotações do quadro.

É preciso romper barreiras do ensino tradicional, favorecendo de alguma

forma a comunicação e possibilitando a participação do aluno surdo na

construção de sua aprendizagem. Isso exige adaptações no currículo escolar e

organização de uma didática favorável a este processo de inclusão de pessoas

surdas em classes regulares.

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