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OS REQUADROS QUE (NÃO) ME DEFINEM: UMA ANÁLISE INTERMIDIÁTICA DA GRAPHIC NOVEL DE … · 2020....

Date post: 31-Dec-2020
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Curitiba, Vol. 8, nº 15, jul.-dez. 2020 ISSN: 2318-1028 REVISTA VERSALETE VELHO, E. M.. Os requadros que... 168 OS REQUADROS QUE (NÃO) ME DEFINEM: UMA ANÁLISE INTERMIDIÁTICA DA GRAPHIC NOVEL DE O CONTO DA AIA FRAMES THAT (DO NOT) DEFINE ME: AN INTERMIDIATIC ANALYSIS OF THE GRAPHIC NOVEL THE HANDMAID’S TALE Eduardo Moura Velho 1 RESUMO: A intertextualidade e a intermidialidade estão presentes em tudo que lemos, assistimos ou ouvimos. A partir dessa premissa, o objetivo deste artigo é analisar os dois primeiros capítulos da graphic novel de O Conto da Aia (2019), ilustrada e adaptada por Renée Nault. Analisaremos como o texto verbal, os requadros, a cor e os planos foram transpostos para a nova mídia. Utilizaremos teóricos como: Antonio Cagnin (2014) e Will Eisner (1990; 2010), que estudam arte sequencial e Linda Hutcheon (2013) e Irina Rajewsky (2012), teóricas da intermidialidade para fundamentar o estudo. Palavras-chave: adaptação; intermidialidade; arte sequencial. ABSTRACT: Intertextuality and intermidiality are in everything we read, watch or listen. Based on this assumption, the main objective of this paper is to analyze the first two chapters of The Handmaid’s tale Graphic Novel (2019), illustrated and adapted by Renée Nault. We will describe how the verbal text, the frames, the color, and the angles were transposed to the new media. We will be using theorists such as Antonio Cagnin (2014) and Will Eisner (1990; 2010) on sequential art, also Linda Hutcheon (2013) and Irina Rajewsky (2012) on intermidiality for the grounds of our study. Keywords: adaptation; intermidiality; sequential art. 1. INTRODUÇÃO O livro O Conto da Aia, da escritora canadense Margaret Atwood (2017), foi publicado em 1985 e trouxe muita reflexão acerca da violência contra a mulher e da 1 Graduado, Uniandrade.
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OSREQUADROSQUE(NÃO)MEDEFINEM:UMAANÁLISE

INTERMIDIÁTICADAGRAPHICNOVELDEOCONTODAAIA

FRAMESTHAT(DONOT)DEFINEME:ANINTERMIDIATICANALYSISOFTHE

GRAPHICNOVELTHEHANDMAID’STALE

EduardoMouraVelho1

RESUMO:Aintertextualidadeeaintermidialidadeestãopresentesemtudoquelemos,assistimosououvimos.Apartirdessapremissa,oobjetivodesteartigoéanalisarosdoisprimeiroscapítulosdagraphicnoveldeOContodaAia(2019),ilustradaeadaptadaporRenéeNault.Analisaremoscomootexto verbal, os requadros, a cor e os planos foram transpostos para a nova mídia. Utilizaremosteóricos como:Antonio Cagnin (2014) eWill Eisner (1990; 2010), que estudam arte sequencial eLindaHutcheon (2013)e IrinaRajewsky (2012), teóricasda intermidialidadepara fundamentaroestudo.Palavras-chave:adaptação;intermidialidade;artesequencial.ABSTRACT: Intertextualityandintermidialityare ineverythingweread,watchor listen.Basedonthis assumption, the main objective of this paper is to analyze the first two chapters of TheHandmaid’staleGraphicNovel(2019),illustratedandadaptedbyRenéeNault.Wewilldescribehowtheverbaltext,theframes,thecolor,andtheanglesweretransposedtothenewmedia.WewillbeusingtheoristssuchasAntonioCagnin(2014)andWillEisner(1990;2010)onsequentialart,alsoLindaHutcheon(2013)andIrinaRajewsky(2012)onintermidialityforthegroundsofourstudy.Keywords:adaptation;intermidiality;sequentialart.

1.INTRODUÇÃO

O livro O Conto da Aia, da escritora canadense Margaret Atwood (2017), foi

publicadoem1985etrouxemuitareflexãoacercadaviolênciacontraamulhereda

1Graduado,Uniandrade.

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opressão deminorias. Trata-se de uma distopiamarcada por um regime patriarcal,

teocráticoeextremista,emqueasmulheresperderamosdireitoseforamrealocadas

nanova sociedadedeacordocom funçõesadesempenhar: asAias são responsáveis

porgerarfilhos;asMarthassãoresponsáveisporfazeramanutençãodacasa,limpare

cozinhar;aEsposaéresponsávelporcriarobebêquesuaAiagerar,comosefosseseu

filho(a), e as Tias são responsáveis por doutrinar e punir as Aias, para que se

enquadremnosistemaecumpramasnormas.Enquantoisso,oComandanteéochefe

da casa, responsável pelo ato sexual e por administrar a sociedade. A obra já foi

adaptada para o cinema (1990), a rádio (2000), a TV (2017) e,mais recentemente,

paraagraphicnovel2(2019).

Esta pesquisa tem o intuito de fazer uma breve análise dos dois primeiros

capítulos,intitulados“Noite”e“Compras”,dagraphicnoveldeOContodaAiaadaptada

em 2019 por Renée Nault. Essa artista canadense é conhecida por suas ilustrações

oníricas, de cores vivas em aquarela e tinta, como se pode ver na contracapa da

graphicnovel(ATWOOD,2019).Ao trabalharmoscomumamídiaderivadadeoutra,

voltamos nossos olhos para o conceito de intermidialidade que, segundo Irina

Rajewsky(2012,p.24),“[...]temavercomomododecriaçãodeumproduto,istoé,

comatransformaçãodeumdeterminadoprodutodemídia(umtexto,umfilmeetc.)

[...] emoutramídia”. Para isso, ela atribui onomede “[i]ntermidialidadeno sentido

mais restrito de transposiçãomidiática” (2012, p. 18). É importante ressaltar que a

análiseaquiapresentadanãotemporobjetivosalientarasdiferençasentreumamídia

e outra, ou questionar os elementos que foram subtraídos e/ou adicionados. Linda

Hutcheon(2013,p.43)caracterizaoprocessodeadaptaçãocomo“[...]umprocessode

2Utilizaremosnesteartigoo termoGraphicNovel (NovelaGráfica),pois éoque constana capadaobraanalisada.Sabe-sequeasterminologiasvariammuito,todavia,demodogeral,“HQstradicionais[...]seassemelha[m]aoconto(comumaformadenarraçãonormalmenteobjetiva;personagenscompaíses definidos; e uma situação básica resolvida no final), [enquanto] a graphic novel apresentamuitosplotsediferentesnarradores.”(SANTOS,1992,p.72).

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apropriação,detomadadepossedahistóriadeoutrapessoa,queéfiltrada,decerto

modo,porsuaprópriasensibilidade,interesseetalento”.

Considerando agora o texto-fonte, a narrativa é dada a Offred, nossa

protagonistaque,pormeiodereflexõesepensamentosacercadasociedade,nosrelata

sua experiência como Aia. Há poucos diálogos e as cenas transitam em pontos

geográficos determinados. Sendo assim, o foco deste trabalho é perceber como a

quadrinista capturou o texto-fonte e o adaptou para a novamídia, considerando os

recursosdisponíveisenecessárioscapazesdecausardeterminadoefeitonosleitores.

Utilizaremos como fundamentação teórica os livros: A linguagem dos

quadrinhos, de Roberto dos Santos e Waldomiro Vergueiro (2015); Os quadrinhos:

linguagemesemiótica,deAntonioLuizCagnin(2014);eQuadrinhoseartesequencial,

de Will Eisner (2010). Os textos abordam conceitos e métodos de análise de

quadrinhos, apresentados por Eisner e pelo pioneiro nos estudos na área noBrasil,

Cagnin. Ressalva-se que as histórias em quadrinhos “[...] apresentam uma

sobreposição de palavra e imagem, e, assim, é preciso que o leitor exerça suas

habilidades interpretativas, visuais e verbais” (EISNER, 2010, p. 02). A partir disso

dividiremosnossaanáliseemquatropartes,nasquaisabordaremos:otextoverbalna

adaptação,osrequadros,ascoreseosplanosvisuais.

2.OTEXTONAADAPTAÇÃO

Assim como afirmaCagnin (1975 apudSANTOS; VERGUEIRO, 2015, p. 05), “a

HQ,aindaqueidentificadapelaimagem,[...]vemacompanhadadotexto,doelemento

linguístico, que se funde com a imagem e forma o código narrativo quadrinizado”.

Dessa forma, o texto nas HQs é tão importante quanto as imagens, pois auxilia na

interpretação delas. Na adaptação de O Conto da Aia, apesar de o texto ter muita

importância, ele não é o foco da obra. A quadrinista optou por manter a narração

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original de Offred (protagonista da história), que por vezes descreve ambientes e

ações como, por exemplo: “no final do vestíbulo, acima da porta da frente, há uma

bandeirasemicirculardevidrocolorido:floresvermelhaseazuis”(ATWOOD,2017,p.

17);apresentareflexõesoulembrançasdapersonagem,comoem:“bailesteriamsido

realizados ali, a música permanecia, um palimpsesto de sons jamais ouvidos [...]”

(ATWOOD, 2017, p. 11); como também reproduz discursos alheios: “de qualquer

maneiraelasestãofazendoissoportodasnós,disseCora[...]”(ATWOOD,2017,p.19).

Sendo assim, Nault fez fragmentações dos pontos-chave da distopia que se

completassem com as ilustrações, pois, segundo Eisner (1990, p. 132, tradução

minha): “O artista deve ser livre para omitir diálogos ou narrações que podem ser

claramente interpretadas visualmente.”3NaGraphic novel analisada, a narração está

contidanoschamadosrecordatórios“[...]elestêminformaçõesnecessáriasparaqueo

leitorcompreendaahistóriaepossaprosseguircomaleitura.”(SANTOS;VERGUEIRO,

2015,p.30).Contudo,nemtodosestãoabrigadosempainéis,algunsestãofundidosàs

ilustrações,comoseobservanasilustrações1e2:

ILUSTRAÇÃO1—TEXTOFORADERECORDATÓRIO(ATWOOD,2019,p.9)

ARTEDERENÉENAULT.

3No original: “The artist should be free to omit dialogue or narrative that can clearly bedemonstratedvisually”.(EISNER,1990,p.132).

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ILUSTRAÇÃO2—TEXTOEMRECORDATÓRIO(ATWOOD,2019,p.13)

ARTEDERENÉENAULT

Os recordatórios são intercalados com balões de fala, que seguem a seguinte

norma:“Obalãoéindicadoporumsignodecontorno,alinhaqueoenvolve”(SANTOS;

VERGUEIRO, 2015, p. 29, grifo meu). Esse signo representa a função do balão:

cochicho, pensamento, tremido etc. Nos capítulos analisados foi notada a presença

apenasdebalõesdefalatradicionais,ouseja,aquelescomlinhacurvas,equepossuem

um apêndice saindo da boca da personagem que enuncia. Um detalhe a ser

consideradoéa existênciade recordatóriosebalõesde fala emrequadrosde fundo

preto.Entendemosporrequadrouma“molduradentrodaqualsecolocamobjetose

ações[...]”(EISNER.2010,p.44).Particularmente,osdefundopretorepresentamas

vozes das Tias — personagens secundárias no texto-fonte, mas que têm muito

significadonainterpretaçãodotexto—,nacabeçadeOffred:“Eucostumavaserruim

emesperar.Elestambémservemquemficaparadaeespera,diziaTiaLydia.Elanos

faz memorizar isso” (ATWOOD, 2017, p. 29, grifo meu). Por vezes esse “dizia Tia

Lydia” aparece no texto-fonte, pois faz parte do treinamento pelo qual as Aias

passaramantesdeseseremrealocadas.OqueTiaLydiadizélei,easAiassabemque

devemsegui-la,casocontrárioserãopunidas.

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Osrequadrosnãoseguemumalinearidadedeaparições,mascomplementamo

sentido das ilustrações e da narração apresentadas na página em que está/estão

presentes. Essas narrações podem estar dentro ou fora dos balões de fala, como se

observanailustração3:

ILUSTRAÇÃO3—TEXTOEMBALÃODEFALA(ATWOOD,2019,p.32)

ARTEDERENÉENAULT

3.OSREQUADROSNAADAPTAÇÃO

Muitoseevoluiudesdeo lançamentodosprimeirosquadrinhos.Digo issonão

somente em relação às histórias, como também em relação às formas de as

representarpormeiodos recursosdisponíveis atreladosàarte sequencial.Umadas

característicasdashistóriasemquadrinhoséapresençadequadroserequadrosnos

quaisanarrativaacontece;“[...]osquadrosfuncionamdemaneiraaconteravisãodo

leitor, nadamais”4 (EISNER, 1990, p. 43, traduçãominha). Segundoomesmo autor,

elespodemapresentarlayoutscomuns,“nosquaisambosoformatoeaproporçãodos

quadros permanecem rígidos”5, como também diferentes formas: “os formatos dos

4Nooriginal:“[…]thepanelsacttocontainthereader’sview,nothingmore”.(EISNER,1990,p.43).5Nooriginal:“[...]inwhichboththeshapeandproportionoftheboxremainrigid”.(EISNER,1990,p.43).

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quadros (ou ausência de um) podem se tornar parte da história […] transmitindo

aspectos relacionados ao som, emoção ou clima das cenas“6 (EISNER, 1990, p. 46,

tradução minha). Isso é muito perceptível na adaptação de Renée Nault, pois os

requadrosde layoutcomumnãodariamcontaderepresentarotexto-fonteporsisó.

Foi, então, por meio do formato dos requadros, que muitos efeitos puderam ser

melhorobservados.Oprimeiropontoaseconsideraréaausênciaderequadrosque,

segundoEisner(2010,p.44),“[...]expressaespaçoilimitado.Temefeitodeabrangero

quenãoestávisível,masquetemexistênciareconhecida”,comosenotanailustração

4, em que Offred está deitada sem requadro, com narração em fundo preto e

focalizaçãonasmãos.Ofundopretocompletaosespaçosdasarjeta(espaçosentreum

requadro e outro) e, dessa forma, os requadros funcionam como pensamentos da

personagemefazempartedatemáticaapresentadaporela.

ILUSTRAÇÃO4—AUSÊNCIADEREQUADRONAPÁGINADIREITA(ATWOOD,2019,p.9-10)

ARTEDERENÉENAULT

6Nooriginal: “the frame’s shape (orabsenceofone) canbecomeapartof the story […] to conveysomething of the dimension of sound and emotional climate in which the action occurs […]”.(EISNER,1990,p.46).

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Há, ainda, a ausência de requadro com quadros sobrepostos. Esse recurso foi

utilizadonareferidailustraçãocomoformaderepresentaraspersonagens,delimitaro

local emque seenunciaeapresentarum flashback, sendoqueesteúltimoentraem

umacategoriadeanálisetemporal,percebida“comoumasequênciadeumanteseum

depoisemimagensquesesucedem”(SANTOS;VERGUEIRO,2015,p.17).

Na ilustração 5 temos a representação do ritual diário deOffred em se vestir

para ir às compras e, por meio disso, observa-se que a vestimenta oculta

completamente seu corpo, o que vai ao encontro de sua própria fala: “as toucas

brancas [...] são destinadas a nos impedir de ver e também de sermos vistas”

(ATWOOD,2017,p.16).Nota-sequeofundobrancoéneutroparaqueodestaqueseja

nacordaroupa.

Já na ilustração 6, notamos um conjunto de requadros com diferentes

focalizações sobrepostos emum fundomarcadopelas floresdo jardim,delimitando,

assim, o local em que as personagens estão: “o jardim é o domínio da Esposa do

Comandante [...]. Muitas das Esposas têm jardim desse tipo, é alguma coisa para

organizarememanterecuidar,darasordens”(ATWOOD,2017,p.21).

Enquantonailustração7aEsposaestáforaderequadroemumfundoazul,há

quatroquadros sobrepostos com sarjetas tambémemazul (essemesmo recurso foi

aplicadonailustração4).Dessaforma,aquadrinistatrouxe,apartirdessesquadros,

flashbacksdavidadeSerenaJoy(Esposa)antesdeGilead.

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ILUSTRAÇÃO5—REQUADROSSOBREPOSTOS:REPRESENTAÇÃODAAIA(ATWOOD,2019,

p.14)ARTEDERENÉENAULT.

ILUSTRAÇÃO6—QUADROSSOBREPOSTOS:LOCALDEFALA,JARDIM(ATWOOD,2019,p.17-18)

ARTEDERENÉENAULT.

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ILUSTRAÇÃO7—QUADROSSOBREPOSTOS:FLASHBACK,ANTESDEGILEAD(ATWOOD,2019,

p.21)ARTEDERENÉENAULT.

Nailustração8épossívelobservarorecursodepáginainteira,denominadopor

Randy Duncan e Matthew Smith (2009 apud SANTOS; VERGUEIRO, 2015) como

“encapsulamento”. Isso consiste na seleção de vinhetas7 da narração tidas como

pontosprincipaisparaa interpretaçãoeefeitode recepção,que sãodelimitadosem

umespaço restrito.Observa-seapresençade camasenfileiradasem linhasverticais

que se estendem pela página causando a impressão de continuidade em ambas as

extremidades. O fundo é desfocado e as expressões das mulheres deitadas vão

sumindodeacordocomadistância:“[...]enquantotentávamosdormir,noscatresdo

exército que haviam sido dispostos em fileiras, espaçados de modo que não

pudéssemosconversar”(ATWOOD,2017,p.12).SegundoCagnin:

7Nooriginal: “[...] (muitograndeemrelaçãoàpágina,obviamente).Asvinhetas têm,portanto,umdesenvolvimento sobretudo horizontal e se prestam mais para representar cenas inteiras quepersonagensisoladosouprimeirosplanos”(BARBIERI,2017,s/p).

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Nashistóriasdepágina inteira, osquadrinhos, livresda imposiçãodo reduzidoespaço das tiras, variam de forma e tamanho [...] orientam a criatividade doquadrinista [...] que levam a destacar, em tamanho e forma, as imagens dosmomentosmais impactantes da ação. Se os quadrinhos perdem o seu formatobem-comportado,ganhamembelezaeemoção.(CAGNIN,2014,p.102).

ILUSTRAÇÃO8—PÁGINADUPLA(ATWOOD,2019,p.7-8)

ARTEDERENÉENAULT.

4.ACORNAADAPTAÇÃO

Comojámencionadoanteriormente,oadaptadortemaliberdadedeescolheros

recursos quemelhor traspõem o conteúdo e o sentimento presentes no texto-fonte

para a obra adaptada, causando determinado efeito de recepção nos leitores. Um

dessesrecursosque,alémdedarvidaàobra-fonte,tambémagregaumasingularidade

e identidade própria à adaptação é o estilo gráfico do cartunista/adaptador, pois,

assim como afirma Cagnin (1975 apud SANTOS; VERGUEIRO, 2015, p. 43), “os

desenhostêmoestiloprópriodecadaartista;diferemeidentificamoseuautor,sendo

possível falar em desenho deste ou daquele desenhista.” Renée Nault traz em suas

ilustrações cores vivas em aquarela que, como veremos a seguir, auxiliam na

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interpretação da obra, já que a delimitação de cores faz parte da realocação das

mulheresnaobrafonte.

A paleta de cores dos quadrinhos tem muito a ver com o estilo gráfico do

quadrinista,assimcomoaescolhadotraçadonasilustrações.Podemosterquadrinhos

monocromáticos ou coloridos, traços finos, grossos ou hachuras, desenhos realistas,

abstratosoucartoonizados8.Nagraphicnovelanalisada,percebemosqueaquadrinista

possuiumestilográficodelinhasclaras,caracterizadoporSantoseVergueiro(2015,

p.44)como:“[...]ousodelinhafinanocontornodosdesenhos(tantodospersonagens

comodoscenários,quesãoclean)[...]”.Essaescolhadelinhapermitequeailustradora

crieexpressõesfaciaisapáticasetristes,bemcomodêênfaseemdetalhesimportantes

paraanarrativa.Umdessesdetalhessãoasroupasdaspersonagens.Nasociedadede

Gilead,asmulheressãodivididasporfunçõesecores;asAiassãorepresentadaspelo

vermelho:“[...]évermelho:dacordosangue,quenosdefine”(ATWOOD,2017,p.16);

já as Tias são representadas pelomarrom: “Tia Elizabeth [...] com a touca de freira

marrom[...].Vestindoaqueleuniformemarrom[...]”(ATWOOD,2017,p.161-289).As

Esposaspeloazul:“umbomnúmerodeEsposasjáestãosentadas,comseusmelhores

vestidosbordados azuis” (ATWOOD,2017, p. 254);Econoesposaspelo listrado: “[...]

algumascomosvestidoslistrados,devermelho,azuleverde,ordináriosefeitoscom

poucotecido,quesãotípicosdasmulheresdoshomensmaispobres”(ATWOOD,2017,

p.35);easMarthaspeloverde: “elaestácomseuvestidohabitualdeMartha,queé

verdedesbotadocomoumtrajecirúrgicodostemposanteriores”(ATWOOD,2017,p.

18).

Nault decidiu criar uma indumentária com uma silhueta que não mostra as

curvasdasmulheres,jáqueseusdesejosevaidadenãoserviamparanovasociedade,

comopercebemosnanarraçãodeOffred, “modéstiaé invisibilidade[...].Oquevocês

devem ser, meninas e impenetráveis” (ATWOOD, 2017, p. 41). Na ilustração 11,

8Neologismoquefazreferênciaaquadrinhosestilizadosemformatodecartoon,semseguirformasfixasdeboca,olho,nariz,corpoetc.

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percebe-seovestidodeOffredemumquadroqueinvadeoseguinte.Oformatoéde

pirâmidesemmarcaçãodebustoecintura;háumatoucacobrindooscabeloseuma

ababrancaimpedindoavisãolateral,easmãossãocobertascomluvasatéocotovelo.

Dessa forma, sua silhueta foi pensada para que não houvesse traços femininos que

despertassemdesejoscarnaisconsideradosimpróprios,masquefossemúteisdurante

agravidezque,afinal,eraseupropósito.

ILUSTRAÇÃO11—AIA(ATWOOD,2019,p.15)

ARTEDERENÉENAULT.

A mesma silhueta é aplicada para as demais mulheres, pois as regras de

vestimenta se aplicavam a todas, com a exceção das Tias, que tinham outros

privilégios: “para toda regra sempre existe uma exceção: com isso também se pode

contar.AsTiastêmpermissãoparalereescrever”(ATWOOD,2017,p.127).Contudo,

o traçoutilizadoemsuasexpressões faciais funcionacomoummarcadordegênero,

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pois as demaismulheres ainda possuíam certa feminilidade, algo retirado das Tias.

Comoessaseramresponsáveispeladoutrinação,seustraçossãomasculinizadosesua

postura é sempre ereta, como a de um soldado: “a cabeça ereta pode representar

frieza, altivez, superioridade” (CAGNIN, 2014, p. 86). Isso pode ser observando nas

ilustrações12e13:

ILUSTRAÇÃO12—TIAEMCORPOERETO(ATWOOD,2019,p.30)

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ILUSTRAÇÃO13—ROSTODATIAEMDESTAQUE(ATWOOD,2019,p.35)

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Comojávistoanteriormente,ascorespossuemfunçãoprimordialnanarrativa,

e, segundo Cagnin (2014, p. 71), “a cor empregada no fundo nos quadrinhos pode

muitas vezes desempenhar a função de índice”. Esses índices ajudam o leitor a se

situarnanarração.Nocasodaobraanalisada,acortemduplafunção:representaras

personagensassimcomooslocaisaosquaispertencem.Apáginasemesclacomseus

vestidosgerandoumcontrastedecores,atravésdoqualoleitorpercebealocalização

espacialedepoderdaspersonagens,comonotamosnailustração14,naqualvemos

umtapeteesapatosemvermelhovivocontrastandocomofundobranco.Opontode

destaque na ilustração são os dois objetos que marcam o território de Offred,

utilizados paramostrar seu quarto. Na ilustração 15 podemos notar uma sala com

papel de parede e tapete azuis, em tom próximo ao vestido da Esposa, com uma

cadeirapretadocomandanteaolado(eleusaternopreto).Percebe-sequeoambiente

pertenceàesposapelapredominânciadoazul.Opontodecontrasteéovermelho,ou

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seja, Offred está invadindo o ambiente “inimigo”. Por fim, na ilustração 16, há duas

Marthasconversandonacozinha,epode-seconstatarqueacordeseusvestidosédo

mesmotomqueoverdequerecobreasparedes.Sendoassim,infere-sequeacozinha

éoambientedasMarthas.

ILUSTRAÇÃO14—QUARTODAAIA(ATWOOD,2019,p.12)

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ILUSTRAÇÃO15—SALADAESPOSA(ATWOOD,2019,p.19)

ARTEDERENÉENAULT.

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ILUSTRAÇÃO16—COZINHADASMARTHAS(ATWOOD,2019,p.16)

ARTEDERENÉENAULT.

Alémdeexistiremessespontosdecontrasteentreumapersonagem“invadindo”

o local da outra, notamos a ausência de cores ou o uso da cor neutra (branco) nos

corpos pendurados nomuro, como se apresenta na Ilustração 17. Essa ausência de

coresnoscorpos,emcontrastecomacorescurado fundo, representaamorte,pois

não há mais vida em seus corpos, e a razão de estarem lá apresenta um sentido

negativoparaasociedadedeGilead:“[...]láestáacoisaquenaverdadeviemosver:o

Muro. [...] Não faz mal olharmos. Espera-se que olhemos: é para isso que estão lá,

penduradosnomuro”(ATWOOD,2017,p.44).

MichelPastoureau(2014apudSANTOS,2017,p.33),arespeitodacorpretaque

seapresentanofundodorequadro,afirmaque“naAntiguidade[...]coabitavamobom

preto e omaupreto. Por um lado, a cor estava associada à humildade, temperança,

autoridade ou dignidade e por outro era remetida para omundo dosmortos e das

trevas, para os pecados e para as forças domal”. Esse recurso foi empregado pela

ilustradorapossivelmenteparacausarumefeitodeverdadeaoleitor,bemcomopara

asAiasqueencaramomuro,pois,segundoEvaHeller(2012apudSANTOS,2017,p.

31), “a expressão ‘preto no branco’ é um argumento muito usado, de modo a

transmitirumamaiorcredibilidade,ouseja,oqueestáimpressopareceincorporarum

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teormuitomaiordeverdade”.Dessaforma,averdadeseriaarealidadequequalquer

pessoaquenãoseadequasseàideologiaGileadianateriadeenfrentar:amorte.

ILUSTRAÇÃO17—CORPOSNOMURO(ATWOOD,2019,p.35)

ARTEDERENÉENAULT.

Ascores,comoobservadasnasanálisesacima,estãomuitoligadasàsimbologia

dos elementos e são extremamente importantes para narrativas sequenciais, pois

dissociam o leitor do texto, não sendo este estritamente necessário nesses casos. A

respeito da simbolização, Cagnin (2014, p. 71) nos diz que “[...] é um signo

convencional. O significado denotativo e o conotativo são transpostos para outra

esfera;eafiguraoufatorepresentadopassaasignificarumsegundoreferente[...]”.A

partirdisto,oleitorfazinferênciasaolongodanarrativasequencialpormeiodessas

metáforasvisuais,quepodemestarpresentesnosobjetosemdestaque,nascores,nos

personagens,auxiliando-onainterpretaçãodahistória.

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5.OSPLANOSNAADAPTAÇÃO

Adentramosnossoúltimopontodeanálise: osplanos.NaadaptaçãodeRenée

Nault, são trabalhados diferentes planos e ângulos em seus requadros e quadros.

Comootextofontepossuimaisde350páginas,essefoiumdosrecursosutilizadosa

fim de atribuir um sentido que se aproximasse ao original, sem a necessidade de

manter o número de páginas do texto-fonte, já que isso não é uma norma. A partir

disso, Cagnin (2014, p. 104)nosdiz que “algumasposiçõesdo objeto, representado

por um ponto de vista escolhido intencionalmente pelo quadrinista, merecem

destaque pelo resultado estético ou pelo possível enriquecimento do conteúdo

semânticoqueacomposiçãopodeapresentar[...].”

É possível notar que na graphic novel em questão há muitas focalizações de

mãosepésdapersonagemOffred.DeacordocomCagnin(2014),asmãostêmforte

significado expressivo, independentemente da função que desempenham. Notamos

issonailustração18,naqualduasmãosestãoprestesasetocar,fazendoreferênciaà

seguinte passagem do texto-fonte: “na quase-escuridão podíamos esticar nossos

braços,quandoasTiasnãoestavamolhando,etocarasmãosumasdasoutrassobreo

espaço” (ATWOOD, 2017, p. 12). Esse gesto foi muito representado por Nault, pois

demostra uma sororidade que lhes era retirada, uma vez que vínculos eram uma

ameaça ao sistema. Já na ilustração 19, o close nas mãos nada mais é que uma

estratégiaparaevitarafocalizaçãonorostodaspersonagens(EsposaeAia)eopouco

diálogo que mantinham, já que a Aia é totalmente subalterna à sociedade e é,

principalmente,umafiguraquecausarepulsaàEsposa,comoseobservanoseguinte

excerto:“elanãofalacomigo,amenosquenãopossaevitar.Souumavergonhapara

ela;eumanecessidade.[...]Querovervocêomínimopossível,disseela.Esperoquese

portedamesmaformacomrelaçãoamim”(ATWOOD,2017,p.22-25).

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ILUSTRAÇÃO18—MÃOS(ATWOOD,2019,p.10)

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ILUSTRAÇÃO19—MÃOSCOMLUVAS(ATWOOD,2019,p.18)

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Algunsdosdiálogosnãoapresentamcontatovisual justamentepela linguagem

serrestritaepelofatodevínculosnãopoderemserestreitadosentreaspersonagens,

como é possível perceber na narração de Offred: “as Marthas não devem

confraternizarconosco.Confraternizarsignificacomportar-secomoumirmão.Lukeme

disse isso”(ATWOOD,2017,p.20,grifonooriginal).Nocasoda ilustração20,anão

focalizaçãodabocadapersonagempoderepresentarque:o textoporelaenunciado

não é verdadeiro; ela não tinha permissão de enunciar seu próprio discurso; e a

resposta não foi dela, e sim uma imposição do sistema, como observamos a seguir:

“Offglennãodiznada.Háumsilêncio,masàsvezesé igualmenteperigosonão falar.

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[...]Tenhoquedizeralgumacoisa.Queoutracoisapossodizer?”(ATWOOD,2017,p.

41).

ILUSTRAÇÃO20—AIASEMBOCA(ATWOOD,2019,p.32)

ARTEDERENÉENAULT.

Ainda a respeito de planos que visam representar a subalternidade das

personagens, é possível notar a presença de requadros em que a Aia se localiza no

fundo,comorepresentadopelailustração21.Percebe-sequeaAiaestáatrásdeoutro

personagemque,seguindoaideologiadeGilead,temmaispoderdoqueela.Outrofato

aacrescentaréque,alémdeestarsituadaemumânguloinferior,suacabeçaestá,na

maioriadasvezes,baixa.Arespeitodosdoisitensmencionados,Cagnin(2014,p.86)

nosdizqueacabeçainclinada“[...]representacansaço,tristeza,indisposição,doença

etc.”,enquantoafocalizaçãodapartedetrásdacabeça“[...]deveocultarorosto,queé

a identidade de uma personagem” (CAGNIM, 2014, p. 105). Como Offred é um

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patronímico do nome de seu comandante junto à preposição “of9”, seu verdadeiro

nomeéocultado,ouseja,suaidentidadeésubvertidatornando-seinexistente,assim

comoelamesmadiz: “[...]nãoéondequeroestar. [...]nãohácomoescapardisso.O

tempoéumaarmadilhaeestoupresanele.Tenhoqueesquecermeunomesecretoe

todososcaminhosdevolta.MeunomeagoraéOffred[...].”(ATWOOD,2017,p.173).

ILUSTRAÇÃO21—AIASEMROSTO(ATWOOD,2019,p.17)

ARTEDERENÉENAULT.

Apresençadealgunsplanosvisuaiséutilizadademaneiraacausarumefeitono

leitor que rompe determinado ciclo de leitura, pois será necessário um olhar mais

atentoàpágina.DeacordocomCagnin(2014,p.106),osplanosvisuais“sãousados

para ressaltar cenas e detalhes da história, focando pormenores do cenário ou dos

personagens”.Umdosplanos exploradosporNault é oplano emgrandedetalheou

pormenor(close),“[...]queabrangepartedorostodeumafigurahumanaoudetalhe

deumobjeto” (CAGNIN, 2014, p. 106), comoobservamosnoolhardasAiasparaos

mortosna Ilustração22, queapresenta trêspontosde foco: omuro, osmortos e as

Aias.Esseplanoampliadoserveparadarênfaseaoelementoimportantenanarrativa,

9Tradução: “de”. Sendoassim, seunomeéDeFred.AssimcomoasdemaisAias:DeGlen,DeWarrenetc.

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queéomuro,poislásãodispostostodosaquelesquetraíramosistema,comovimos

nailustração17.

ILUSTRAÇÃO22—PLANOEMGRADEDETALHE(ATWOOD,2019,p.33-34)

ARTEDERENÉENAULT.

Oplanomédioouaproximadotambéméutilizado,ele“contémumafigura,atéo

meiodopeitoouatéàcintura[...]mostradetalhadamenteafisionomiaparapermitira

percepçãodasexpressõesfaciais.”(CAGNIN,2014,p.107).Esseplanopodesernotado

nos requadros abaixo (ilustração 23). Nessas duas páginas, temos dois pontos de

focalização na Aia grávida. No primeiro, ela se encontra dentro de um requadro

circularqueimitaoformatodebarriga,levementedeslocadoparaesquerdaparaque

o leitor ainda identifique outros pontos de inferência. No segundo, temos ela

localizadaà frentedasdemais comsua cabeça invadindoo requadroacima.AsAias

atrásestãodiminuídas,poiselassãovistascomoincapazessecomparadasàquelaque

conseguiu engravidar: “Umadelas está enormede grávida [...].Háumamudançano

ambiente[...].Elaéumapresençamágicaparanós,umobjetodeinvejaedesejo,nósa

cobiçamos”(ATWOOD,2017,p.37).

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ILUSTRAÇÃO23—AIAGRÁVIDA(ATWOOD,2019,p.29-30)

ARTEDERENÉENAULT

Nessapágina,percebemos,antesmesmodelerotexto,queasAiasaofundotêm

um olhar diferente para a Aia grávida, posicionada à frente: esta é um ponto de

destaque e desejo das demais. De acordo com Eisner (2010, p. 92), “a função

primordial da perspectiva deve ser a de manipular a orientação do leitor para um

propósitoqueestejadeacordocomoplanonarrativodoautor”.Comisso,avisãodo

leitorédirecionadaparaafiguracentral,emseguidaparaasfigurassecundáriaspara,

sóentão,daratençãoaotexto,quecomplementaráasinferênciasjáfeitas.

O último plano a ser explorado é chamado por Cagnin (2014) de figura

hiperonímia. Segundo ele, há quadros que não dão conta de mostrar uma vinheta

(ação)completaeusammaisdeumrequadroparadarmovimentoaumaação,sendo

queépormeiodaaproximaçãoquesãoobtidososdetalhes,atéterminarememuma

açãopanorâmicadotodo.“Omovimentodaleituraélinear,dotodo[...]paraaspartes

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[...], e daspartespara o todoque finaliza a sequência” (CAGNIN, 2014, p. 111). Isso

podeserobservadonailustração24,quecontacomumconjuntodetrêsquadrosna

horizontalcomdiferentesplanos:primeiroospésdasAiascaminhando;emseguida,

suas cabeças baixas, como devem estar; e, por último, a imagem reduzida delas em

relaçãoaomuro.Esseúltimoantecedeapáginaseguinte,emqueéreveladaadireção

doolhardelas,comoapresentadopelailustração25;éaúltimapáginadagradaçãode

fatosqueestavasendoapresentadaaoleitor.

ILUSTRAÇÃO24—REQUADROSSEQUENCIAIS(ATWOOD,2019,p.32)ARTEDERENÉENAULT.

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ILUSTRAÇÃO25—PÁGINADUPLACOMPLANOAMPLO(ATWOOD,2019,p.33-34)ARTEDERENÉENAULT.

É possível notar que, além de trabalhar com um jogo de requadros que se

ampliam,ailustradorautilizoudaperspectiva,poisasAiasatodomomentoestavam

sendo retratadasde cabeçabaixae somentenessa cenaelasa levantam, justamente

paraencararemarealidadedeumdestinopossívelcasoquebremasregrasdeGilead.

6.CONCLUSÃO

Nemdelonge,duranteaanálisedessaobra,fomoscapazesdeabordartodosos

recursos utilizados por Renée Nault em sua adaptação, muitomenos analisá-la por

completo. Todavia, a partir de algumas impressões dos capítulos analisados, foi

possívelperceberoquantoéimportantequeotextoverbal,ailustração,osângulos,as

cores, alémdeoutros elementos, estejam sincronizados, demaneira a acrescentar e

completarinformaçõeseinferênciasqueoleitorfazdurantealeituradagraphicnovel.

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Nessaadaptação,particularmente,o textoverbal temumsignificadoquasetão

grandequantonotexto-fonte,poisésabidoqueasmulheres,principalmenteasAias,

não possuem permissão e poder suficiente para enunciarem seus discursos. Sendo

assim, a representaçãovisual de subalternidade,mais a supressãodo textooriginal,

ampliam a sensibilidade do leitor em relação à(s) personagem(ns). Os ângulos

tambémprestamessesuporteparaanarrativasequencial,postoqueemmuitascenas

elesauxiliamdiretamenteoleitorsobrequaléopontodefocona(s)página(s),além

de delimitarem os sujeitos em suas posições de poder, ou seja, sujeitos mulheres

postados à frente, geralmente Tias ou Esposas, exercem poder sobre os sujeitos

mulheres postados ao fundo, quase sempre Aias. Lembrando que hámomentos em

queasposiçõesdepoderacontecemdentrodeummesmogrupo,comoobservamos

nailustração23.

Porfim,umdospontosmaisrelevantesdestapesquisafoiarepresentaçãodas

coresnaadaptação.Comocitadonaseção4,alémdasmulheresseremrepresentadas

majoritariamente por suas funções (Tia, Esposa, Martha, Aia), as cores de suas

vestimentassãooutra ferramentadeclassificaçãosocial,poiselas,aomesmo tempo

quedefinemsuasidentidadesnasociedadedeGilead,tambémasubvertem,poisnão

há como diferenciá-las, em um primeiro momento, dada a mesma totalidade dos

vestidos.Ditoisso,Nault,sabendodaimportânciadascoresparaotexto-fonte,optou

pormanteresseaspectoeaindautilizou-sedeoutrasestratégiasparadeixarissoclaro

naadaptação,comonotamosnasilustrações14,15e16.Apaletadecoresquedefine

cada sujeito consta não apenas nas roupas, mas também nos cômodos que

“pertencem”acadaenunciador.Issosemantémnodecorrerdanarrativa,fazendocom

que o leitor seja capaz de se localizar quanto às posições geográficas de poder dos

personagens.

Considerando que a adaptação analisada possui um filme e uma série de

televisão,é interessantenotarqueRenéeNault fezasuaversãodeOContodaAiaa

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partirdesualeituradadistopia,poishácenasnodecorrerdaobra(nãosomentenos

doiscapítulosanalisados)quesãorepresentadasdeformamuitomaisabrangentedo

quenotexto-fonte,pormeiodeváriosrecursosemumamesmapágina,possivelmente

porteremsidocenasquecausarammaioresefeitosnailustradoradurantesuaprópria

leitura, fazendo com que ela buscasse evocar esses efeitos no leitor de sua graphic

novel.

Importante mencionar ainda que o fato de ser uma adaptação não exclui a

importânciadeseconheceraobra-fonte,poisserápossívelfazermaioresinferências,

jáqueaperspectivadotextooriginalvirádela.Semmencionarquehámuitosaspectos

nas entrelinhas do texto, pois é uma narração em primeira pessoa, ou seja, temos

pensamentos, reflexões,memórias, diálogos e flashbacks de umapersonageme dela

em relação a outros. A partir disso, a leitura da graphic novel é, aomesmo tempo,

fluidaeatenta,poisépossívelobservarcomoessesaspectosdanarraçãoemprimeira

pessoa foram transpostos, visto que o leitor precisa entender quando é presente,

passado,sonhoeassimpordiante.

Com isso, encerramos esta análise afirmando que “há, portanto, pontos de

contatodaHQcomaliteratura,nomododeengajamentocomahistóriaenaadoção

de certas convenções de leitura comuns, o que não permite confundir as duas

linguagens” (OLIVEIRA, 2013, p. 74). Isso posto, apresentamos possibilidades aos

leitoresdeenxergarummundoque transcendeaesferaverbalepassaaenglobaro

não-verbal, considerando as duas mídias como distintas, mas que possuem um

objetivoemcomum:causarcomoção,alegria,tristeza,ouoqueoleitordesejarsentir.

Ainda, independentementedanaturezadotexto,odiscurso,sejaeleverbalounão,é

um dos instrumentos mais importantes, capaz de causar mudanças sociais, e é

consumindoliteraturaquenosapropriamosdele.

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REFERÊNCIAS

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