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Psicologia Da Aprendizagem

Date post: 09-Jan-2016
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Skinner: condicionamento e aprendizagem

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Psicologia da aprendizagemPsicologia da aprendizagemSkinner: condicionamento e aprendizagemEnsino o arranjo das contingncias de reforo que acelera a aprendizagem. Um aluno aprende sem que lhe ensinem, mas aprender mais eficientemente sob condies favorveis. Skinner

Este primeiro captulo dedicado ao behaviorismo ou comportamentalismo, destacando principalmente as contribuies de Skinner para a compreenso do comportamento e dos processos de aprendizagem considerados relevantes para a educao.Os behavioristas, na busca por compreender o comportamento (behavior, em ingls) observvel ou manifesto, enfatizam as relaes entre este e o ambiente, ou seja, enfocam em seus estudos o papel e a influncia dos estmulos ambientais na determinao de nossas aes. A opo terica e metodolgica do behaviorismo, de apenas estudar (observar e descrever) o comportamento observvel como forma de ajust-lo ao meio, pode ser entendida em razo de que, nos anos 1950, os Estados Unidos (palco central do behaviorismo) vivenciava um crescente processo de urbanizao, com o avano industrial e a expanso do sistema escolar. Processo que contribuiu para que a Psicologia tivesse um papel ativo em conformidade com a exigncia de adequao dos indivduos s escolas, s fabricas, colaborando nos exames, na classificao, na seleo, no controle sobre o indivduo, necessrios nesses novos espaos. O behaviorismo constitui um conjunto de teorias, com muitas variantes (comportamentalismo, anlise objetiva, anlise do comportamento), que focalizam o comportamento como o mais adequado objeto de estudo da Psicologia. Nesse caso, os sentimentos, os pensamentos, a inteligncia, a conscincia e outros estados mentais ou subjetivos no so tomados em sua abordagem terica, na medida em que no podem ser estudados empiricamente, motivo pelo qual o corpo (visto como uma caixa preta) e seu funcionamento so caracterizados como algo que no pode ser conhecido e ao mesmo tempo como irrelevante para explicar as relaes entre os estmulos e o comportamento.Desse modo, para o behaviorismo, explicar um fenmeno significa demonstrar sua funcionalidade, ou seja, demonstrar sob que condies ele ocorre e com quais caractersticas, que mudanas no ambiente resultam nele, numa busca por compreender por que fazemos o que fazemos, e o que devemos e no devemos fazer. O que pode resultar disso, segundo esta vertente terica, o fato de que explicar o comportamento assumir controle sobre ele. Se pensarmos no nosso aluno, sabemos que exercemos controle sobre seus comportamentos, na medida em que o conhecemos, em que sabemos quais consequncias tm um valor reforador para ele (como, por exemplo, a ateno do professor, a nota) e, a partir disso, planejamos uma sequncia (a cada etapa da atividade realizada passo por sua carteira e lhe fao um elogio), de tal modo que aumente a possibilidade de que ele passe a se comportar em acordo aos objetivos previamente estabelecidos na relao ensino aprendizagem em questo.Essa viso contrariava movimentos tericos existentes em fins do sculo xix, dentre eles a escola funcionalista de William James (1842-1910), que buscava explicar o comportamento e a aprendizagem humana atravs da anlise introspectiva da experincia, e responder o que fazem os homens e por que o fazem, tomando a conscincia como foco das preocupaes. Temos ainda Edward Bradford Titchener (1867-1927), que se opunha ao estudo experimental dos processos fisiolgicos, no negando a existncia da mente, mas destacando que ela perde sua autonomia, na medida em que depende sempre e se explica completamente em termos de sistema nervoso.

Precursores do BehaviorismoNa busca por mtodos objetivos embasados na experimentao, Edward Lee Thorndike (1874-1949) ficou conhecido por sua Lei do efeito, a qual preconizava que o indivduo responde punio ou recompensa. Qualquer resposta que o organismo considera satisfatria tende a se repetir, pois se associa a essa situao, e qualquer resposta que resulta num efeito desagradvel dificilmente se repetir. H, portanto, uma nfase nas sensaes agradveis e desagradveis, como importantes fixadoras das respostas dadas pelos indivduos. Verifica-se que o efeito do prazer o que fixa a resposta. Em suma, destacava-se nessa lei a associao entre uma resposta ou um comportamento e suas consequncias, ou seja, o papel das consequncias na aprendizagem, base para o behaviorismo de Skinner.John Broadus Watson (1878-1958), o primeiro a usar o termo behaviorismo em 1913, com a publicao do artigo Psicologia: como os behavioristas a veem, declarava que o grande foco da Psicologia, enquanto cincia objetiva, deveria ser o comportamento concreto do ser humano, visando sua previso e controle. D incio a uma srie de publicaes que dissemina a sua abordagem terica, que se estende at meados de 1950, quando o behaviorismo tido como a fora dominante na Psicologia, principalmente nos Estados Unidos (Lefranois, 2008).Assim, essa cincia do comportamento, fundada por Watson, veio a ser chamada de anlise comportamental, ainda que pensadores tal como Baum (2006) acreditem que o behaviorismo no cincia em si, mas uma Filosofia da cincia.

Condicionamento clssicoIvan P. Pavlov (1849-1936), um fisiologista russo, deu incio em 1902 ao desenvolvimento dos estudos do chamado condicionamento clssico. Ele considerado um dos primeiros cientistas da rea da Psicologia a deixar de estudar os fenmenos subjetivos do comportamento humano. Pavlov realizou uma srie de experimentos que resultou na base desse conceito. Estudou o comportamento reflexo, que envolve as respostas no voluntrias (o sugar do beb quando lhe colocado um objeto na boca, arrepiar quando sente o ar frio etc.), e demonstrou que, atravs da aprendizagem, um novo estmulo, definido como estmulo neutro, pode vir a eliciar uma resposta reflexa j existente (reflexo condicionado). Para melhor compreender o funcionamento do condicionamento, pensemos no experimento de Pavlov com ces: verificou que esses animais, em presena de uma comida, apresentavam o reflexo de salivao, sem que houvesse a necessidade de aprendizagem para que assim ocorresse. No entanto, descobriu que tocando uma campainha e apresentando imediatamente a comida ao co, aps seguidas associaes, o som ouvido passava a evocar a mesma resposta que a comida, ou seja, a salivao. O som era um estmulo neutro, mas ao ser pareado com a comida tambm passava a eliciar a resposta de salivao; mesmo sem a apresentao do alimento o animal j salivava.E como poderia ser retirado esse comportamento de salivar mediante o som do repertrio do co? Isso ocorreria se, ao soar seguidas vezes a campainha, no mais fosse apresentado o alimento ao co. Teramos, ento, a extino da resposta de salivao mediante a exposio do som.A importncia do condicionamento clssico para a escola behaviorista foi a de demonstrar que possvel controlar respostas involuntrias-reflexas associando-as a determinados estmulos.Vale mencionar que a dita teoria no explica as aprendizagens vinculadas aos nossos comportamentos voluntrios. Assim, se pensarmos, por exemplo, em comportamentos como escrever um texto, assistir a um programa de televiso, veremos que estes so realizados pelo indivduo como forma de influenciar o seu ambiente, ou seja, estamos diante de comportamentos operantes, definidos como respostas (comportamentos) determinadas por suas relaes com as consequncias. Condicionamento operante: SkinnerAo condicionamento clssico de Pavlov, tambm chamado condicionamento respondente, apoiado no comportamento reflexo, Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), acrescentou o seu conceito-chave de condicionamento operante, compreendendo o comportamento dos organismos no influenciado apenas por alteraes ambientais antecedentes. Nesse caso, o indivduo, ao comportar-se, provoca alteraes no ambiente e este, ao mesmo tempo, altera o modo como ele se comporta (Glassman e Hadad, 2006).Skinner foi um dos psiclogos mais conhecidos dos Estados Unidos. Nascido na Pensilvnia, numa famlia em que o pai era um advogado reconhecido, j na sua infncia demonstrou grande interesse pela leitura, boas habilidades manuais e um reconhecido talento para literatura. Graduou-se em Harvard e passou a dedicar-se pesquisa. No entanto, foi apenas aps seu doutorado, em 1931, e muitas pesquisas, que Skinner difundiu o que ele denominou anlise experimental do comportamento e foi o propositor do behaviorismo radical, que considerava os estados mentais inacessveis ao estudo cientfico. Realizou experimentos com ratos em laboratrio, colocando-os em caixas-gaiolas, em que eles, ao tocar uma alavanca, recebiam alimento, gua. Ou seja, os ratos aprendiam a associar o comportamento de pressionar uma alavanca com o recebimento de alimento. Da, sempre que estivessem com fome, pressionavam a alavanca.Sua teoria resulta na convico de que os comportamentos podem ser governados. E o que ele busca so as leis que permitem tal controle. Para Skinner (2007), as causas do comportamento esto fora do organismo e o que o homem faz resultado de condies especficas, que, sendo descobertas, suas aes podem ser determinadas, sugerindo que todo o comportamento pode ser previsvel e, portanto, controlvel. O que exige conhecer as contingncias, ou seja, como se do as interaes das aes do indivduo com o seu meio e as alteraes produzidas a partir destas, sob determinadas condies. Desse modo, considerar essas contingncias que permite compreender os comportamentos do indivduo. Nesse contexto, ao dar nfase ao mundo exterior ao organismo, a educao revelada como de grande importncia por propiciar as contingncias favorveis, num modelo que d conta do sucesso do indivduo.A partir dessa abordagem terica, para compreender os comportamentos-respostas dos alunos em sala de aula, por exemplo, devemos entender como certas consequncias assumiram valor reforador para eles, o que, por outro lado, envolve recorrer sua histria de interaes passadas com o seu ambiente a fim de explicar e conhecer essas particularidades, ou seja, por que, para eles, determinadas consequncias (a nota, o elogio, o castigo etc.) so reforadoras, enquanto outras no exercem influncia sobre o seu comportamento. Condicionamento operante: alguns conceitosDe acordo com Skinner (2007), o comportamento operante realiza-se sem nenhum estmulo externo observvel. Nesse caso, a resposta do organismo aparentemente espontnea, pois ainda que haja um estmulo provocando tal reao, ele no detectado com a emisso da resposta. No entanto, comportamento no qualquer ao do indivduo, mas aquela que afeta o ambiente e afetada por ele. Assim, os comportamentos (as respostas emitidas pelo organismo) resultando em uma ao no ambiente so do tipo operante. E so as consequncias do comportamento, ou seja, os eventos que se seguem a uma resposta, que interferem na probabilidade de ele ocorrer novamente. Tais consequncias so os chamados reforadores.Glassman e Hadad (2006) esclarecem que os reforadores considerados bsicos (primrios) so os relacionados sobrevivncia, como gua, comida, roupa quando se est com frio. Por outro lado, h diversos eventos ambientais que no so baseados na sobrevivncia biolgica e que, no entanto, funcionam como reforadores, so estmulos que foram associados a um reforador primrio e que so denominados reforadores condicionados, como o dinheiro, a ateno, o elogio. Uma aprendizagem operante, para Baum (2006), ocorre como consequncia de uma relao entre um estmulo e uma atividade. Se uma ao ocorre a fim de evitar uma consequncia, estamos diante de uma relao (comportamento e resultado) negativa, diminuindo as chances de a resposta se repetir. Pelos resultados insatisfatrios, aversivos decorridos, esse processo definido como reforamento negativo; se houve uma diminuio da resposta pelo reforamento negativo, ocorre o que Skinner chama de punio. Por outro lado, agimos tambm para obtermos uma consequncia positiva, uma recompensa (reforador positivo), que torna mais provvel a resposta futuramente (reforamento positivo). Por exemplo, se o aluno ganhar do professor um carimbo no caderno (com significado de elogio), ao realizar sua tarefa de casa, isso aumenta a probabilidade de ele realizar a tarefa novamente.Ser possvel pensar que um reforador negativo pode aumentar a probabilidade de um comportamento ocorrer novamente? Digamos que uma criana punida, repreendida, por no comportar-se bem na sala de aula e, com isso, ainda que a inteno fosse eliminar tal conduta, houve um aumento da frequncia de sua resposta; isso possvel devido repreenso significar, para essa criana, ateno (olhar, falar com...), ou seja, um reforador positivo e, por outro lado, ficar quieta, manter-se sentada na cadeira etc., pode no resultar nessa mesma ateno e o professor pode, nesse momento, no se dirigir ao aluno, mas, ao contrrio, imediatamente o fazer diante de um mau comportamento. Em suma:Reforador positivo = aumenta a resposta (recompensa) Retirada = reduo da respostaReforador negativo = aumenta a resposta (fuga, esquiva, alvio) Punio = reduo da resposta (castigo, penalidade)Esses conceitos envolvem a compreenso de que dentro do condicionamento operante, o foco est sobre o que o indivduo faz, as circunstncias sob as quais faz e as consequncias de sua ao. Essa trade, em seu conjunto, definida por Skinner por contingncias do comportamento e deve ser objeto de anlise, o que permite compreender por que determinadas aes acontecem em situaes distintas e com determinadas consequncias. Enfim, quando um reforador se d imediatamente depois de uma resposta, resulta num aumento ou diminuio na probabilidade de que essa resposta ocorra novamente sob circunstncias similares. Devemos lembrar que o valor (a importncia) do reforador determinado pela prpria pessoa e depende da privao do organismo para determinado estmulo. No seu experimento com ratos, estes apresentam maior possibilidade de apertar a alavanca para obter gua se estiverem sem beber gua por algum tempo. Com isso, importante que seja observado o tipo do reforador presente e a sua relao com a resposta.Assim, nessa teoria, ao ensinar uma criana a ler, por exemplo, necessitamos elaborar um programa de reforos educacionais, em que as respostas adequadas, em suas unidades, sejam reforadas com frequncia, a fim de se chegar ao objetivo comportamental. At porque no se aprende a ler um texto de um momento para o outro; pode-se aprender as letras, as slabas, as palavras, as frases etc., e, em cada etapa a criana vai sendo reforada (com elogios, ateno, notas) at chegar resposta desejada de ler o texto. Skinner (2007) chamou esse processo de modelagem, ou seja, um processo de reforamento por aproximao sucessiva de uma resposta (esperada), em que o operante o resultado de um contnuo processo de modelagem. O condicionamento operante modela o comportamento como o escultor modela a argila (p. 101).Para Baum (2006), o convvio de uma criana numa cultura humana necessita de uma modelagem contnua, sem a qual seria provavelmente impossvel aprender tudo de que precisa. Num processo de aquisio de uma nova resposta, o instrumento fundamental da modelagem o reforo, ou seja, a consequncia de uma ao quando ela percebida por aquele que a pratica. No entanto, essa necessidade de reforo, na medida em que o comportamento ocorre, pode ser modificada. Por exemplo, a criana que est na alfabetizao inicialmente tem seu comportamento de ler reforado pelo professor ou pelos pais e, posteriormente, pode ser reforada pelo fato de conseguir ler sozinha seus textos, seus livros de histria, no havendo mais a necessidade daqueles reforadores.Dentro do condicionamento operante, um fator a ser considerado que o reforamento deve obedecer contiguidade, isto , ele deve ocorrer imediatamente aps a resposta pretendida, aumentando a frequncia da mesma. Desse modo, quando o aluno, por exemplo, que resiste em ir ao quadro negro escrever algo que lhe foi solicitado, se ele o faz, ainda que reclamando, o professor dever elogiar de imediato essa conduta, aumentando as chances de essa resposta de ir ao quadro, quando solicitado, acontecer de novo. E o que ocorre se uma pessoa que recebia reforamento por um determinado comportamento, no o receber mais? H a possibilidade de que acontea uma queda na resposta, uma cessao, quando o reforamento descontinuado, podendo resultar na extino do comportamento. Por outro lado, se o comportamento j estiver instalado, ele pode se manter por bastante tempo sem necessidade de estmulo reforador frequente, como o caso do comportamento de birra em que os pais acabam dando o doce para que a criana pare de gritar, espernear, chorar, ainda que no a reforcem todas as vezes com o doce solicitado. No futuro, em condies semelhantes, provvel que a criana repita o mesmo comportamento, pois em algum momento obteve a consequncia esperada: o doce.Vemos, portanto, que, em nosso cotidiano, nem sempre um reforo dado continuamente, ainda assim aprendizagens ocorrem e os comportamentos persistem, mesmo com um reforo intermitente. A exemplo disso, nem sempre somos elogiados quando cozinhamos, mas continuamos a faz-lo. H vrias possibilidades de reforamento, que Skinner definiu por esquemas de reforamento, como reforar sempre, ou a cada perodo, ou a cada determinado nmero de respostas. Quando, por exemplo, estou com sede (em pleno vero) e vou at a geladeira buscar por gua. E assim o fao, pois, em minha histria de vida, a resposta que mais me proporcionou reforadores (acabar com a minha sede). No entanto, pode no haver gua nesse local, e o que farei ir buscar sanar minha sede de outras formas: tomar gua da torneira, compr-la em uma lanchonete, no supermercado, ou seja, vou recorrer a outros comportamentos que foram reforados anteriormente diante da situao de sede.Por fim, lembramos que os reforadores e punidores podem ser diversificados, diferem de cultura para cultura e, ao longo da vida, a pessoa pode mudar em relao a eles o que era reforador pode deixar de s-lo. Baum (2006) explica que na sociedade, certas aes so reforadas ou punidas por membros do grupo, assim, so reforados comportamentos definidos como normais para determinada cultura e punidos os considerados desviantes.

Educao: aquisio de novos comportamentosNa concepo de Skinner (2007: 437), a educao vista como algo importante na vida da pessoa, tendo em vista que a mesma compreende o estabelecimento de comportamentos que sero vantajosos para o indivduo e para outros em algum tempo futuro. Nesse caso, para o efetivo estabelecimento de comportamentos, a escola proporciona a aplicao de condicionamentos atravs de uma gama variada de reforadores artificiais (elogios, notas, promoes, diplomas etc.).O autor esclarece que a educao trabalha muito mais com a aquisio de novos comportamentos do que com a sua manuteno e, nessa perspectiva, prepara seus alunos para situaes futuras, que provavelmente iro ocorrer em determinadas circunstncias, que j no estaro vinculadas ao mbito escolar. E determinando ou no a manuteno de tal comportamento, o qual definido pela sua utilidade para a famlia, para a sociedade. Os objetivos educacionais, ao serem definidos antecipadamente, devem buscar a possibilidade de projetar a modelagem de um adulto.Em suma, ensinar consiste no arranjo de contingncias de reforo sob as quais educandos aprendem, lembrando que a educao est relacionada com a cultura na qual o indivduo est inserido e que se compe de todas as variveis que o afetam de algum modo e que so dispostas por outras pessoas. Falcone (2006) esclarece que o condicionamento operante j nos anos de 1960 (nos Estados Unidos) foi aplicado na rea de educao, com a organizao do ensino programado, consistindo na apresentao de um material acadmico para cada aluno e imediatamente resposta deste, era apresentado o reforo. Se a resposta fosse correta, o aluno poderia continuar avanando, caso contrrio deveria voltar s questes anteriores. Skinner centrava-se na avaliao dos tipos mais adequados de sequncia das matrias a serem lecionadas e nas tcnicas de elaborao dos programas educativos que, segundo ele, ao se utilizar de materiais projetados para recompensar os avanos de cada um na aprendizagem, torna-a mais rpida e interessante.

Relao ensino-aprendizagemDe acordo com a perspectiva terica de Skinner, quando se objetiva proceder a uma avaliao no que tange adequao ou no de determinado procedimento de ensino, preciso centrar-se nas respostas emitidas em sua prtica, ou seja, no alcance ou no do resultado que o mesmo fornece em relao ao que era esperado, avaliando, assim, a sua eficincia (Luna, 2003). Em consonncia com esse enfoque, os aspectos internos, as variveis internas, so abandonados como explicao, pois de nada vale elucidar e associar as dificuldades dos alunos, por exemplo, ao seu desinteresse, sua desmotivao, pois estas no nos proporcionam o aprendizado sobre o modo como eles aprendem, revelam apenas quem est interessado em aprender. Assim, h nesse caso a necessidade de mudanas nas condies ambientais.Desse modo, deve-se analisar o comportamento do aluno a fim de verificar suas necessidades de aprendizagem, bem como o repertrio (de comportamentos, aprendizagens) que ele traz para as situaes de ensino e ainda as consequncias capazes de interagir com ele e manter seu comportamento e, assim, estabelecer quais so os estmulos capazes de reforar o comportamento desejvel de seus alunos. O professor teria como tarefa descrever o repertrio de seus alunos e, com isso, planejar o que seria necessrio para que estes atinjam o que se queira que eles alcancem. Aumentam as chances de esse professor obter sucesso se puder observar seus alunos em outros ambientes, como fora da sala de aula, nas brincadeiras, na rua, buscando compreender os esquemas de reforamento presentes. Tarefa essa que no nada fcil, pela necessidade e inviabilidade de organizar um experimento com todo o seu rigor cientfico; o que de modo algum exclui das escolas a presena do behaviorismo em seu cotidiano.Assim, de um modo geral e sob esta perspectiva, um bom ensino exige que o professor planeje as atividades dos educandos especificando o que eles devero fazer, e em que circunstncias, e estabelecer as consequncias. Nesse processo, dever haver avaliao e reviso das atividades, em consonncia aos objetivos fins. Como se pde constatar, um planejamento da atividade do aluno, mais do que da do professor.Analisando o processo ensino-aprendizagem, Skinner (1972) considera que simplesmente aprender fazendo no faz com que um aluno aprenda. Apenas praticar, no significa que o aluno tenha aprendido a fazer de modo eficaz e tambm no vai elevar a probabilidade de ocorrer novamente a resposta emitida. O autor alerta para a importncia da transmisso da cultura aos alunos e que aos mesmos deve ser propiciado o acmulo de conhecimentos, de prticas sociais, de aptides etc., o que no possvel por uma simples descoberta. Os alunos no aprendem exclusivamente fazendo, ou mesmo praticando; estar em contato com o ambiente no resulta diretamente na aprendizagem. Como j explicitamos, isso requer um comportamento e as suas consequncias diretas, numa utilizao de tcnicas especficas. Numa abordagem comportamental, as contingncias de reforo so essenciais para que ocorra a aprendizagem e o esquema em que essas contingncias surgem o que vai indicar a frequncia do comportamento aprendido.Para explicar o fato de que alguns alunos preferem determinadas atividades em sala de aula e no outras, como ler um livro de histria, realizar operaes matemticas, ou escrever um texto, importante que nos voltemos para a histria de interaes passadas desses alunos com o seu ambiente. Isso permite compreender por que certas consequncias so reforadoras, ou so incapazes de manter o comportamento, ou ainda aversivas para outros. Alm disso, agimos de determinados modos e, em relao a estes, h sempre consequncias. Se elas so positivas para o organismo, a tendncia repetir tais comportamentos.O comportamento de ler ser mantido, por exemplo, se houver algum valor reforador, como o elogio, a expresso, o sorriso do professor, dos pais. A leitura pode promover a habilidade de decifrar novas palavras e com o tempo o relaxamento, o prazer. Skinner (2007) ressalta que h muita diferena entre manter um aluno lendo pelo valor reforador no comportamento de ler ou pela possibilidade de ser reprovado se no o fizer. Por isso, o ensino deve ser cuidadosamente planejado para que gradativamente o aluno possa emitir o comportamento desejado mesmo sem que ocorram os reforadores externos.Mais uma vez destacamos que cabe a quem ensina ser capaz de arranjar as contingncias de reforo (e para isso deve ter uma boa formao e conhecimento da teoria comportamental) de forma a facilitar a aprendizagem. Nessa lgica, se o professor visto como quem ensina bem possvel indicar que ele facilita a aquisio de uma resposta pelo indivduo, pois para Skinner (1972: 4) ensinar o ato de facilitar a aprendizagem. A qualidade do ato de ensinar do professor, e do mtodo utilizado por ele, tem relao direta com o ato de aprender do aluno. Processo que facilitado com o conhecimento do professor de como o aluno aprende e, com isso, de qual a melhor forma de ensin-lo.Se o aluno no aprende, possivelmente porque o modo como ele aprende e o que faz com que ele aprenda, de alguma maneira, no foram compreendidos pelos responsveis pelo ensino.Por fim, Skinner (1972) considera que toda criana ao nascer possui potencial biolgico para aprender alguma coisa, o que no significa, por outro lado, que o conhecimento nasce junto com ela.

O professor e a instruo programada Ao proceder a uma anlise sobre o ensino empreendido, Skinner (1972) defende que deve ocorrer com a aplicao de um programa constitudo de uma sequncia do material educativo (textos programados), que resulta na diviso desse em pequenas partes, em unidades simples e, a serem ensinadas passo a passo. medida que cada etapa vencida, o aluno adequadamente reforado. Desse modo, para ele a organizao da programao do ensino orienta-se pela definio da sequncia do material educativo, pelos objetivos a serem almejados e pelo planejamento da avaliao do programa. Tal organizao envolve preocupaes, dentre outras, a de traar objetivos que sejam significativos e contedos que contemplem esta significao. A programao compreende, ainda, alguns elementos considerados bsicos, levando em conta contedos e objetivos especficos, aos quais o professor dever estar atento. Entre eles, tem-se:a) importante estabelecer, em cada disciplina, o que o aluno no sabe e organizar-se para ensin-lo, proceder a observaes, anlise e avaliao do grau de preparo, para determinadas aprendizagens, dos conhecimentos prvios.b) Ao considerar as dificuldades do aluno, devem-se ensinar as primeiras coisas primeiro, ou seja, organizar a sequncia de ensino numa progresso correspondente s suas dificuldades; definir que atividades o aluno dever realizar para atingir os objetivos propostos. Como, por exemplo, para poder realizar os clculos de multiplicao, a criana deve aprender noes de quantidade, dominar a aprendizagem somatria, de agrupamento, a tabuada etc.c) Ao organizar um ensino, deve-se planej-lo tendo em vista o aluno e mantendo-o permanentemente em atividade. d) necessrio que se criem condies para a auto avaliao e que a prtica do feedback seja constante, de modo a possibilitar, se necessrio, um replanejamento em busca do sucesso na aprendizagem; avaliao do programa, dos processos de ensino e dos alunos.e) O planejamento requer a ateno para que se organizem etapas pequenas e que s se avance com o domnio de etapas anteriores, haja vista que um acmulo de dificuldades pode resultar em desestmulo para o aluno.Para tornar o aluno competente em determinada matria, fundamental que os reforos sejam contingentes ao fim de cada passo (mesmo que pequeno), em que a concluso seja adequada. importante utilizar o reforador adequado para a resposta adequada. Assim, uma programao de ensino, se bem conduzida e planejada, poder levar ao sucesso do aluno. Skinner (1972) revela que o professor tem papel fundamental no planejamento das condies de aprendizagem, pois de sua responsabilidade que o aluno aprenda e, assim, uma avaliao do trabalho do professor deve estar relacionada ao que o aluno aprendeu e no ao que o professor ensinou.A parte mais representativa do sistema educacional o professor. Para compreend-lo preciso compreender as contingncias que reforam o seu comportamento de ensinar. Nessa esfera, ele afirma que a remunerao pode, em algum momento, ser um atrativo para o trabalho do professor, mas efetivamente o comportamento de ensinar emitido nas aulas reforado por outras consequncias, entre as quais se destaca o resultado da aprendizagem do aluno, ou seja, o efeito sobre o estudante a consequncia mais importante na modelagem do comportamento do professor (Skinner, 1972: 239). Para que o professor possa realizar-se preciso, ento, que no processo de ensinar ele d conta de organizar as contingncias de reforos essenciais para o alcance das respostas desejadas em relao ao aprendizado escolar. Quanto maior for a capacidade e eficincia dos professores, possivelmente mais fortes sero a apropriao e o desenvolvimento da cultura.

Mquinas de ensinar: uma possibilidade de aprenderSkinner (1972) aponta como mtodo eficaz em sala de aula as mquinas de ensinar, que so aparelhos com a utilizao de passos graduais no processo de aprendizagem. Assim, o reforo dado por um sinal indicando o acerto da resposta do aprendiz pergunta feita pela mquina, imediatamente aps cada resposta correta. A mquina programada de modo a permitir a apresentao gradual do contedo de forma a fazer a modelagem, como tambm pode resolver o problema de tornar o reforo contingente ao comportamento, apresentando-o imediatamente aps este.Skinner acreditava que, justamente por exercer funes simples, as mquinas iriam livrar os professores de tais tarefas. O papel da mquina consistiria em reforar ou no a resposta do aluno, cabendo aos educadores e instituio escolar definir a programao do estudo. Esse aspecto do uso da mquina de ensino representa para Skinner (1972: 25) que a professora pode comear a funcionar, no no lugar de uma mquina barata, mas atravs dos contatos intelectuais, culturais e emocionais daquele tipo todo especial que testemunham a sua natureza de ser humano.Para que essas mquinas possam ser utilizadas de maneira eficaz, necessrio que a resposta do aluno a algum questionamento, preferencialmente, no seja escolh-la entre mltiplas opes (reconhec-la), e sim lembr-la. Alm disso, para o aluno aprender um comportamento complexo, a mquina deve fornecer uma sequncia bem estruturada de passos, em que gradualmente o aluno se lance rumo a alcanar o objetivo final.Skinner (1972) afirma que possvel ensinar um aluno a estudar e que para tanto deve-se ensinar-lhe tcnicas de autogoverno, a fim de que possam ser aumentadas as possibilidades de que o que foi visto ou ouvido seja lembrado. Estudar por si mesmo tambm um comportamento e, portanto, tambm deve ter sido aprendido para poder ser realizado. Assim, ensinar o aluno a estudar por si mesmo fazer com que ele seja capaz de controlar o seu prprio comportamento de aprender.Por fim, de acordo com essa perspectiva, tanto a mquina de ensinar quanto a instruo programada buscam levar o aluno a estudar individualmente, sem interveno direta do professor, com apoio de um material previamente elaborado e organizado, com aplicao e reforamento gradual, adaptado s possibilidades do educando, segundo seu ritmo prprio, maturidade e conhecimentos anteriores.

Sala de aula: a punio e outros interferentesAo observarmos as salas de aula, verificamos, em boa medida, a escassez com que so apresentados os reforadores positivos aos alunos. Em alguns casos, o prprio aluno capaz de observar o sucesso de sua aprendizagem e ter seu comportamento de aprender reforado com isso, mas no incio do processo a principal fonte de reforamento o professor.No entanto, diante do mau comportamento ou, ainda, do mau desempenho escolar, os alunos so punidos verbal ou fisicamente, o que pode resultar em castigo (ficar num canto da sala), em repreenso verbal (com exposio e humilhao), em ameaa, expulso da sala, ou em penalidade, como a retirada do recreio ou de um passeio, da ateno, de um brinquedo.Mas o que dizer da utilizao da punio (resposta seguida de um reforador negativo) no cotidiano escolar? Skinner (2007) manteve-se contundente em sua condenao aplicao desta. Avalia que estes mtodos so bastante evidenciados nas escolas e outras instituies na busca de exercer controle sobre seus membros. Acredita que os estmulos aversivos (punio, castigo) resultam em efeitos colaterais indesejveis, principalmente, com respostas emocionais que podem levar ao comportamento esperado pelo professor, desencadeando, porm, de forma mais relevante, estados emocionais negativos associados a quem pune. Ainda que a punio tenha condies de eliminar ou enfraquecer algum comportamento inadequado, ela no tem papel instrutivo. Ento, mesmo que altere determinado comportamento, como a indisciplina, deixando o aluno quieto, isso no implica no seu aprendizado de prestar ateno. Alm disso, quando a punio suspensa, gradativamente o comportamento indesejado tende a reaparecer.Ao considerarmos essas questes, vemos que o professor detm o poder e a autoridade, e os alunos, muitas vezes, passam boa parte do tempo fugindo de tcnicas aversivas, com a realizao de atividades que no tm reforos positivos e que no tm motivao para execut-las. No por acaso, de acordo com essa perspectiva terica, que muitas vezes o aluno mantm o comportamento de desligado nas aulas, movimentando-se com frequncia na cadeira, entrando e saindo da sala, torna-se agressivo, no vem escola, chega atrasado etc. Alm disso, muitas provas se consolidam em verdadeiras ameaas (ter nota ou no, ser aprovado ou no), numa exposio (negativa) do que os alunos no sabem e como armas para induzi-los a estudar. De acordo com a concepo de Skinner, quando se aplica uma prova como forma de ameaa, de punio, esta pode ser acompanhada de ansiedade, interferindo no desempenho do aluno.Assim, o reforo positivo, que falta muito em sala de aula, mais eficaz do que a punio quando se quer alterar algum comportamento (eliminar respostas indesejveis), quando se quer que algo seja aprendido. Alm disso, a punio desvia a ateno para o comportamento indesejvel, ao invs de indicar o comportamento desejvel. No contexto da sala de aula, o professor deve lembrar que sua aprovao ou feio funciona como reforador e que ele pode se utilizar de materiais e outros recursos que atraiam os alunos, tornando a aula mais interessante, como quebra-cabeas, brinquedos, jogos pedaggicos, livros de literatura, msicas, filmes. Essas atividades diferenciadas podem ajudar a manter o aluno trabalhando e ser utilizadas pelos educadores como reforadores, quando da apresentao de comportamentos adequados.Para Skinner (1972), o melhor processo para favorecer a aprendizagem do aluno o que ele denomina de reforamento pelo sucesso em sua capacidade de operar no meio. Nesse caso, esse processo ocorre quando o aluno aprende algo e esse algo capaz de fazer com que ele seja capaz de melhor compreender, modificar e agir no seu ambiente, sendo reforado por esse ambiente.Portanto, um dos grandes problemas do ensino, na concepo de Skinner (1972), consiste na utilizao de controle aversivo. O autor explica que as tcnicas aversivas continuam sendo aplicadas pela falta de desenvolvimento de alternativas que tenham resultados mais eficazes. Para substituir o controle aversivo nas salas de aula, entre outras coisas, preciso planejar uma forma de fazer com que a aprendizagem do aluno gere consequncias naturalmente reforadoras ao aprender. Mas por que ir aula j no mais to interessante? Ser que os reforadores que as crianas possuem em casa (televiso, computador, ateno dos pais) so mais eficientes que os da escola?Existem diversas maneiras de ensinar um indivduo a fazer algo. Como j vimos, a modelagem (mtodo de aproximao sucessiva) uma delas. Skinner (2007) afirma que, apesar de ser eficiente em vrias situaes, esse mtodo pode trazer alguns sentimentos aversivos (como o tdio). Um mtodo que pode ser mais rpido do que a modelagem a modelao por contingncias ou regras, em que fornecido um modelo de comportamento e toda vez que o aluno emite uma resposta bem prxima do modelo reforado (ou autorreforado). possvel ainda dizer ao aluno o que ele deve fazer e o professor refor-lo assim que o fizer; o que exige por outro lado, que o aluno tenha, previamente, em seu repertrio as respostas que sero exigidas pelo professor.Para Skinner (1972), como vimos, um comportamento pode ser eliminado (extinto) se no for reforado. Assim, quando um aluno que perturba a aula com risos e palavras tolas, e por isso tem a ateno dos colegas e do professor, perde est ateno, provavelmente deixar de emitir tal comportamento. H ainda a possibilidade de esse aluno ser reforado positivamente (o professor aproximar-se dele, passar a mo em sua cabea, elogiar sua conduta positiva sem fazer referncia negativa) quando no estiver emitindo tais comportamentos.Devemos lembrar que, para qualquer mtodo ou programao que a instituio de ensino for utilizar, necessrio o conhecimento dos interesses, da histria de vida do indivduo, pois so essas variveis que vo determinar o que reforador para uma pessoa. Alm disso, um bom planejamento das estratgias a serem utilizadas com comportamentos especficos mais eficaz do que as abordagens menos organizadas. Para isso preciso mostrar ao aluno que ele pode usar o que aprendeu num momento em situaes diferentes, tendo como referencial a sua histria de vida (e tambm as situaes em que foi reforado anteriormente). Lembremos que se o comportamento no existe no repertrio do aluno, ento ser preciso ensin-lo.Alm dessas consideraes, Skinner ressalta que um ensino eficiente deve compreender tanto o comportamento do aluno, quanto o de quem ensina (os pais, os professores etc.) e de todos os envolvidos no sistema educacional, os que estabelecem as polticas educacionais. preciso conhecer quais as contingncias e regras que influenciam o modo de agir e de pensar dos responsveis pela manuteno do sistema educacional.


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