+ All Categories
Home > Documents > PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização...

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização...

Date post: 03-Jun-2020
Category:
Upload: others
View: 9 times
Download: 0 times
Share this document with a friend
155
0 MICHELINE FREIRE DONATO PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E ELETROFISIOLÓGICA DA TOXINA Mic6c7NTX DA PEÇONHA DA SERPENTE Micrurus ibiboboca (MERREM, 1820) JOÃO PESSOA – PB 2008 [Escreva uma citação do documento ou o
Transcript
Page 1: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

0

MICHELINE FREIRE DONATO

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA

E ELETROFISIOLÓGICA DA TOXINA Mic6c7NTX

DA PEÇONHA DA SERPENTE

Micrurus ibiboboca (MERREM, 1820)

JOÃO PESSOA – PB

2008

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 2: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CI

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA FARMACÊUTICA

“PROF. DELBY FERNANDES DE MEDEIROS

PROGRAMA DE PÓS

NATURAIS E SINTÉTICO

MICHELINE FREIRE DONATO

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E

ELETROFISIOLÓGICA DA

PEÇONHA DA SERPENTE

Micrurus ibiboboca

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA FARMACÊUTICA

PROF. DELBY FERNANDES DE MEDEIROS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUTO

NATURAIS E SINTÉTICOS BIOATIVOS

MICHELINE FREIRE DONATO

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E

ELETROFISIOLÓGICA DA TOXINA Mic6c7NTX DA

PEÇONHA DA SERPENTE

icrurus ibiboboca (MERREM, 1820)

JOÃO PESSOA – PB

2008

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA FARMACÊUTICA

PROF. DELBY FERNANDES DE MEDEIROS”

GRADUAÇÃO EM PRODUTOS

S BIOATIVOS

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E

TOXINA Mic6c7NTX DA

(MERREM, 1820)

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 3: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

2

MICHELINE FREIRE DONATO

PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E ELETROFISIOLÓGICA

DA TOXINA Mic6c7NTX DA PEÇONHA DA SERPENTE

Micrurus ibiboboca (MERREM, 1820)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos. Área de Concentração: FARMACOLOGIA.

Orientador: Prof. Dr. Demetrius Antônio Machado de Araújo

JOÃO PESSOA – PB 2008

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o resumo

Page 4: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

3

D677p Donato, Micheline Freire.

Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) / Micheline Freire Donato. - - João Pessoa : [s.n.], 2009.

156f. : il.

Orientador: Demetrius Antônio Machado de Araújo. Dissertação (Mestrado) – UFPB, LTF, Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos.

1. Farmacologia. 2. Micrurus ibiboboca. 3. Neurotoxina. 4. Neurônios DRG.

UFPB/BC CDU: 615(043)

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 5: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

4

MICHELINE FREIRE DONATO PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E ELETROFISIOLÓGICA

DA TOXINA Mic6c7NTX DA PEÇONHA DA SERPENTE

Micrurus ibiboboca (MERREM, 1820)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos. Área de Concentração: FARMACOLOGIA.

Aprovado em 29 de agosto de 2008.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Demetrius Antônio Machado de Araújo

Universidade Federal da Paraíba Presidente

Prof. Dr. Eduardo de Jesus Oliveira

Universidade Federal da Paraíba Examinador Interno

Profa. Dra. Jeanne Claine de Albuquerque Modesto

Universidade Federal de Pernambuco Examinadora Externa

Prof. Dr. Cosme Rafael Martínez Salinas

Universidade Federal da Paraíba Suplente

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 6: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

5

“A“A“A“A minha minha minha minha maravilhosa maravilhosa maravilhosa maravilhosa mãe, mãe, mãe, mãe, MarinaldaMarinaldaMarinaldaMarinalda –––– mulher guerreiramulher guerreiramulher guerreiramulher guerreira ----, p, p, p, pela ela ela ela amizade, força e amor que me amizade, força e amor que me amizade, força e amor que me amizade, força e amor que me transformatransformatransformatransforma em um ser humano em um ser humano em um ser humano em um ser humano cada vez melhor, repletcada vez melhor, repletcada vez melhor, repletcada vez melhor, repletoooo de coragem de coragem de coragem de coragem eeee sonhossonhossonhossonhos,,,,

A minha querida filha, A minha querida filha, A minha querida filha, A minha querida filha, Gabriella,Gabriella,Gabriella,Gabriella, ‘‘‘‘minha doce minha doce minha doce minha doce meninameninameninamenina’’’’,,,, plenitudeplenitudeplenitudeplenitude dddda ternura ea ternura ea ternura ea ternura e do do do do amoramoramoramor verdadeiroverdadeiroverdadeiroverdadeiro,,,,

Ao meuAo meuAo meuAo meu pai, José Leonardo, pai, José Leonardo, pai, José Leonardo, pai, José Leonardo, a a a a quem tanto admiro e quem tanto admiro e quem tanto admiro e quem tanto admiro e estimoestimoestimoestimo,,,,

AAAAoooo Evandro, Evandro, Evandro, Evandro, esposo, esposo, esposo, esposo, amigo e amigo e amigo e amigo e companheiro de todcompanheiro de todcompanheiro de todcompanheiro de todoooos s s s os momentosos momentosos momentosos momentos, , , , pela paciência, apoio e credibilidadepela paciência, apoio e credibilidadepela paciência, apoio e credibilidadepela paciência, apoio e credibilidade,,,,

A A A A tiatiatiatia----madrinha, Profa. madrinha, Profa. madrinha, Profa. madrinha, Profa. Dra. Dra. Dra. Dra. Marinalva Marinalva Marinalva Marinalva Freire, pessoaFreire, pessoaFreire, pessoaFreire, pessoa que sempre que sempre que sempre que sempre me motiva a procurar o caminho do me motiva a procurar o caminho do me motiva a procurar o caminho do me motiva a procurar o caminho do conhecimentoconhecimentoconhecimentoconhecimento,,,,

A A A A todos todos todos todos os pesquisadores os pesquisadores os pesquisadores os pesquisadores quequequeque,,,, incansavelmente, incansavelmente, incansavelmente, incansavelmente, ffffaaaazem dazem dazem dazem da ciênciaciênciaciênciaciência uma fonte de dedicação e uma fonte de dedicação e uma fonte de dedicação e uma fonte de dedicação e ‘‘‘‘inquietudeinquietudeinquietudeinquietude’’’’, e nela encontram uma , e nela encontram uma , e nela encontram uma , e nela encontram uma forma de servir à humanidadeforma de servir à humanidadeforma de servir à humanidadeforma de servir à humanidade””””,,,,

DDDDedicoedicoedicoedico....

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 7: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

6

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Demetrius Antônio Machado de Araújo, pela orientação,

amizade e confiança de anos. Por me permitir galgar em busca do novo e

diferente e, sobretudo, partilhado tamanho desafio e fascínio no “mundo das

toxinas”.

Ao Prof. Dr. Adriano A. M. Pimenta, Laboratório de Venenos e Toxinas

Animais (ICB/ UFMG), professor colaborador. Pessoa que tanto me ensinou

sobre “práticas de bioquímica (coisa que jamais havia pensado em trabalhar), a

quem depositei meus questionamentos, reflexões e que sempre me retribuiu

confiança e conhecimento. Pela oportunidade de purificar e caracterizar

bioquimicamente a peçonha dessa serpente e apoio financeiro à pesquisa.

Ao Prof. Dr. Jáder Cruz, Laboratório de Membranas Excitáveis e Fisiologia

Cardiovascular (ICB/ UFMG), pela oportunidade de execução dos

experimentos eletrofisiológicos de patch clamp, pela paciência,

questionamentos científicos instigantes, correções. Pessoa a quem tanto

admiro intelectualmente!

Ao Ms. Gentil Pereira Filho, Laboratório de Herpetologia (DSE/ UFPB), pelas

coletas dos animais, informações taxonômicas, extração da peçonha -

momentos de bravura partilhados -, amizade e apoio técnico.

Aos Ms. Paula Ciscotto (LVTA/ ICB/ UFMG) e Hugo Leonardo (LAMEX/ ICB/

UFMG), pelos ensinamentos, paciência e contribuições bioquímicas e

eletrofisiológicas (respectivamente), essenciais para o desenvolvimento desse

trabalho.

Ao Michael Richardson, técnico do Centro de Pesquisa Professor Carlos R.

Diniz (FUNED/ MG), pela contribuição com o seqüenciamento protéico do N-

terminal da toxina.

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 8: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

7

Ao Prof. Dr. Nelson Jorge da Silva Jr., Universidade Católica de Goiás, pelas

considerações sobre a taxonomia e filogenética da serpente, pelos exemplares

dos artigos presenteados.

Ao Prof. Dr. Lourival Possani, Universidade Nacional Autónoma de México,

pela simplicidade e generosidade em contribuir com um de seus artigos – o

mais relevante até o presente momento sobre purificação e caracterização

eletrofisiológica de α-neurotoxinas de Micrurus sp.

A Profa. Dra Maria Elena de Lima, Laboratório de Veneno e Toxinas Animais

(ICB/ UFMG), pelo acolhimento aconchegante em sua “morada científica” e

pela credibilidade a mim depositada.

Ao Prof. Dr. Paulo Beirão, Laboratório de Membranas Excitáveis (ICB/ UFMG),

pelo consentimento do uso de seu laboratório e empréstimo de teses.

Aos professores Dra. Jeanne Claine (UFPE), Dr. Eduardo de Oliveira (LTF/

UFPB) e Dr. Cosme Rafael (DBM/ UFPB) pelo interesse em compartilhar seus

conhecimentos para aprimorar este trabalho. Agradeço a ajuda e as

contribuições concedidas.

Aos meus pais, Marinalda Freire e José Leonardo Donato, por sempre me

oferecerem todas as oportunidades possíveis, pelos ensinamentos reflexivos

sobre a vida que me fizeram ser “gente grande”, pelo exemplo de dedicação e,

acima de tudo, amor como exemplo de doação, renúncia e soberania.

Ao meu esposo Evandro Brandão pelos exemplos da “luta diária em busca

dos ideais”, de coragem e competência e, pelo suporte financeiro.

A minha pequena Gabi, que com sua meiguice e ternura me faz sentir a

pessoa mais feliz do mundo. Como o fruto de uma árvore, nasceu quando o

tudo ainda era nada e acompanhou-me pelo “universo biológico” de

descobertas e conquistas me ajudando a compreender as transformações da

vida, do mundo científico, da pesquisa.

[Escreva

uma

citação

do

Page 9: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

8

Aos meus familiares maternos, em especial a minha avó Marina Freire, ao

meu tio Sebastião Filho (Tião), minhas tias Marinalva e Magda Freire, as

primas queridas Gionara Freitas, Marina Ísis e Daiane Farias pelo amor,

credibilidade e porto-seguro.

Aos meus familiares paternos, em especial a minha avó Alice Nunes (in

memorian) e meus pequenos irmãos Leonardo e Vinícius Donato pelo

carinho eterno.

Aos “amigos muito especiais”, que partilharam tamanha cumplicidade, risos,

ansiedades, felicidade... Pessoas que me fazem crer na real importância e

riqueza da verdadeira amizade: Andréa Cristina Silva (Déa), Thaís Porto

(Portolina), Rafael Nunes (Rafinha), Josenilson Feitosa (Nilson), Fabrícia

Montenegro (Fabris), Ionaldo Diniz, Isabella Arruda, Rubens do Monte,

Fabíolla Alencar, Luana Resende, Anabelle Camarotti.

Aos grandes amigos e companheiros de jornada científica do Laboratório de

Eletrofisiologia (LTF/ UFPB), Juan Carlos Gonçalves, Aron M. H. Alves,

Anna Ericka V. de Araújo, pelas reflexões, descobertas e superação dos

desafios; pelo auxílio na confecção de gráficos e figuras; pelo carinho, cafés e

sorrisos divididos durante os intempéries momentos de estresse com a linha de

base e gaps (risos). Foi muito gratificante tê-los como parceiros de trabalho e

sempre como grandes amigos!

Aos colegas da Biologia Molecular (DBM/ UFPB), Marilene, Marcos Medeiros,

Amely Branquinho, Tereza Cristina, Aletéia, Gláucia Faheina, Renata,

Itácio, Bruno pelos momentos de descontrações nas reuniões,

questionamentos, e por propiciarmos o crescimento científico coletivo do grupo.

Aos amigos sistemáticos do Laboratório de Herpetologia (DSE/ UFPB),

Gindomar, Rômulo, Washington, Fagner – entre serpentes, sapos, lagartos e

pererecas - pelas informações taxonômicas, desenhos, descontração (com

direito a bolo de chocolate durante a coleta de campo) e, sobretudo, bravura

em lidar com os “maravilhosos peçonhentos”.

[Escre

va uma

citação

do

Page 10: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

9

Aos novos amigos do LVTA (ICB/UFMG), em especial Juliana Cassoli,

Thiago Verano e sua ilustre companheira Marcela, Alexandre Dutra, Victor

Mineli, Breno Rates, Gabriela Montandon, Fernanda Torres, Rodrigo,

Agenor pela amizade e pelos momentos de descontração, almoços coletivos,

cafés expressos, ensinamentos, artigos, músicas... tudo saboreado com

tamanha alegria!

Aos técnicos Jamil (Laboratório de Purificação) e Júlio (Laboratório de

Venenos e Toxinas Animais) da UFMG, pelo apoio e pela competência

profissionais.

A nova-grande-amiga Karla Ferraz, com sua simplicidade, sagacidade e

companheirismo me acolheu de braços abertos (no “lar dos sapinhos”), em

todos os momentos de estadia em BH.

A encantadora cidade de Belo Horizonte/ MG, que com suas belezas naturais

inigualáveis, seu povo acolhedor e uma apreciável culinária fez sentir-me

acalentada e feliz, mesmo estando longe de casa – Amo Bh Radicalmente!

Aos professores do curso de pós-graduação e pesquisadores do Laboratório de

Tecnologia Farmacêutica, em especial Bagnólia A. Silva, Reinaldo N. de

Almeida, Isaac Medeiros e Luís Fernando pelos ensinamentos acadêmicos

prestados e incentivos científicos.

Aos funcionários do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (UFPB), em

especial à secretária Tânia M. Araújo, José Crispim, Luís Cordeiro e

Adriano Silva, pelo suporte técnico oferecido junto ao Biotério Thomas

George, e a Gilmar e Pio pelos serviços ligados ao departamento financeiro.

Ao LTF, a CAPES e a FAPEMIG pelo suporte financeiro prestados.

A todos que direta ou indiretamente colaboraram na execução desse trabalho

e que em vários momentos deram suporte a minha caminhada.

[Escreva

uma

citação

Page 11: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

10

RESUMO DONATO, M. F. Purificação, Caracterização Bioquímica e Eletrofisiológica da Toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820). 2008. p. Dissertação (Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Farmacologia) Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa/PB. Brasil. As serpentes da família Elapidae possuem uma peçonha com alta atividade neurotóxica e capacidade de letalidade. Fazem parte dessa família as serpentes corais americanas (gênero Micrurus) com suas peçonhas contendo cerca de 90-95% de componentes protéicos, sendo na sua maior parte neurotoxinas com baixa massa molecular (6-8 kDa), podendo ser destacadas as neurotoxinas com ação pós-sinápticas ou α-Neurotoxinas (α-NTX). A Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) é uma serpente da família Elapidae, comum na região Nordeste. Apesar da grande diversidade de espécies do gênero Micrurus sp., escassos trabalhos envolvendo atividade de toxinas isoladas e puras destas peçonhas e sistema nervoso têm sido desenvolvidos em nível bioquímico, farmacológico ou eletrofisiológico. O objetivo desse estudo foi purificar a toxina Mic6c7NTX da peçonha de M. ibiboboca, caracterizar bioquímicamente e investigar com ferramentas eletrofisiológicas a ação da toxina no Sistema Nervoso Periférico (SNP) de ratos avaliando alterações no Potencial de Ação Composto (PAC) do nervo isquiático isolado e a atividade da toxina nos canais para sódio dependentes de voltagem (Nav) em neurônios do gânglio da raiz dorsal (DRG). A peçonha da M. ibiboboca foi extraída de serpentes coletadas no Estado da Paraíba (Brasil). Inicialmente, ensaios eletrofisiológicos com o método de current clamp utilizando a técnica de “single sucrose gap” foram realizados com a peçonha bruta (100 µg/mL). Os resultados mostraram que a peçonha bruta nessa concentração promoveu redução na amplitude do PAC (25%). Esse efeito da toxina na excitabilidade do nervo levantou o questionamento: Que componentes da peçonha estariam causando essa diminuição da excitabilidade? A peçonha foi purificada por meio de Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC), de troca catiônica (CIEX) e fase reversa (RPC). Na sequência, os picos da CIEX foram submetidos à RPC e posteriormente analisados por espectrometria de massas (MALDI-TOF/MS) que detectou a massa molecular da toxina Mic6c7NTX de 7.047,56 Da. Em seguida, foi determinado o seu N-terminal por Degradação de Edman que apresentou 31 resíduos de aminoácidos e serviu de estudo para a bioinformática na busca por similaridade em banco de dados proteômicos com outras toxinas protéicas, demonstrando que a toxina Mic6c7NTX apresentou similaridade (65%) com α-NTXs de cadeia curta de serpentes elapídicas australianas. Posteriormente, foi investigado o efeito da toxina isolada no SNP. Os estudos eletrofisiológicos em “single sucrose gap” demonstraram que a toxina Mic6c7NTX (1 µM) reduziu a excitabilidade do nervo isolado de forma similar à observada pela peçonha bruta. Não foram observadas alterações significantes em outros parâmetros do PAC, como velocidade de despolarização (VDPAC), tempo de repolarização (τPAC) e tempo de pico (PTPAC), sugerindo que a toxina atuasse num sítio de ligação específico dos

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 12: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

11

canais Nav no SNP. Para a confirmação dessa hipótese foram realizados experimentos de voltage clamp com a técnica de “whole cell patch-clamp” em cultura primária de neurônios DRG da medula espinhal de ratos. Os resultados mostraram que a toxina Mic6c7NTX (1 µM) aboliu completamente as correntes dos canais Nav sensíveis à tetrodotoxina (TTX-S). Também foi investigado o efeito da toxina sobre a população de canais Nav resistentes à TTX (TTX-R), utilizando previamente TTX (100 nM) para bloquear os canais Nav TTX-S. Os registros com a toxina Mic6c7NTX (100 nM) demonstraram um bloqueio total da corrente nos canais Nav TTX-R dos DRGs e uma IC50 da toxina em torno de 30 nM. Também foi observado que essa toxina se liga aos canais Nav de forma lenta e irreversível. O presente estudo caracterizou bioquímica e eletrofisiologicamente uma α-NTX da serpente elapídica Micrurus ibiboboca. Farmacologicamente, trata-se de uma potente toxina com afinidade aos canais Nav TTX-S e TTX-R do SNP. Essa é a primeira α-NTX isolada e caracterizada da peçonha da serpente Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820). Palavras-chave: Micrurus ibiboboca. α-Neurotoxina. SNP. Nervo isolado. Potencial de Ação Composto. Neurônios DRG. Canais Nav TTX-S e TTX-R.

[Escreva

uma

citação

do

Page 13: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

12

ABSTRACT DONATO M. F. Purification, Biochemical and Electrophysiological Characterization of the Toxin Mic6c7NTX from the Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820). 2008. Dissertation (Post-Graduation in Natural Products and Synthetic Bioactives. Pharmacology). Laboratory of Pharmaceutical Technology, Federal University of Paraiba, João Pessoa/PB. Brazil. Snake venoms contain a complex arsenal of protein bio-active components, many of these being neurotoxins (NTXs). These snakes have high neurotoxic activity venom, corresponding to the Elapidae family, which includes coral snakes (Micrurus) whose venom contains circa 90-95% of low molecular mass protein components. Among these, several are postsynaptic neurotoxins or α-NTXs (MM = 6-9 kDa). The Micrurus ibiboboca (Merren, 1820) is a snake of the Elapidae family witch is quite common in the Northeast of Brazil. In spite of the great diversity of species of Micrurus, scarce works involving the nervous system with isolated and pure toxins of those serpents has been developed in level biochemical, pharmacological and electrophysiological. The aim of this study was to purify the toxin Mic6c7NTX of the Micrurus ibiboboca venom, characterize to biochemically and electrophysiologically the toxin Mic6c7NTX in the peripheral nervous system (PNS) of rats, evaluating alterations in the record of the Compound Action Potential (CAP) of the isolate nerve and the toxin activity on the voltage-dependent sodium channels (Nav) in the neurons of the dorsal root ganglion (DRG). The venom was extracted from the Micrurus ibiboboca collected in Paraiba State (Brazil). Initially, electrophysiological tests (current clamp method) using the “single sucrose gap” technique were accomplished with crude venom (100µg/mL). It was observed that – in this concentration – the crude venom caused reduction in the CAP amplitude (25%). This neurotoxity led into an intriguing question: what components of the venom would promote to reduction in the excitability of the nerve? Based upon this question, I decided to purify the venom throughout the Liquid Chromatography of the High Performance (HPLC) of the Cation Exchange Chromatography (CIEX) and the Reverse Phase Chromatography (RPC). The molecular mass (MM) of the raw toxin was determined by mass-spectrometry (MALDI-Q-TOF/MS) and N-terminal sequence by means of Edman’s Degradation. The search for similarity with other toxins was accomplished against proteomic data bank. The CIEX profile showed 19 fractions and the highest peak fraction was used for the second dimension. The toxin Mic6c7NTX obtained by RPC showed elution in 26.7%of the acetonitrile (ACN) and MM 7.047.56Da. The obtained partial N-terminal sequence showed 31 aminoacid residues. The search for similarity of structure and function showed great similarity (65%) with other short chain α-NTXs Australian elapids snakes. The electrophysiological studies (single sucrose gap technique) showed that the toxin Mic6c7NTX (1 µM) reduced the excitability of the isolate nerve similarly to the reduction observed in the crude venom about 21%. Other CAP parameters such as despolarization speed (DSCAP), repolarization time (τCAP) and peak of time (PTCAP) did not show alterations. This suggests that the toxin may be affecting the Nav channels. For the confirmation of that hypothesis experiments were accomplished with whole

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 14: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

13

cell patch-clamp technique in DRG neurons. This results showed that the toxin Mic6c7NTX (1 µM) abolished completely the current of Nav channels sensitive the tetrodotoxin (TTX-S). Also the Nav channels TTX resistant (TTX-R) were investigated in the presence of the Mic6c7NTX toxin previously using TTX (100 nM). This results showed that the toxin Mic6c7NTX (100 nM) abolished completely the current of Nav channels TTX-R and IC50 = 30nM. However, reversion of this blocking was not observed. The present study biochemically and electrophysiologically characterized an α-NTX of the Micrurus ibiboboca elapid snake. Furthermore, it showed a potent toxin with affinity Nav channels TTX-S and TTX-R of the PNS. This is the first α-NTX isolated and identified of the venom from the Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) snake. Key words: Micrurus ibiboboca. α-Neurotoxin. PNS. Isolated nerve. Compound action potential. DRG neurons. Nav channels TTX-S and TTX-R.

[Escrev

a uma

citação

do

Page 15: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

14

LISTAS DE SIGLAS E ABREVIATURAS

A/D

Analógico/ Digital

APAC Amplitude do potencial de ação composto em mV

ACN Acetonitrila

α-NTX Alpha neurotoxina

IC50 Concentração de uma droga que inibe 50% da resposta máxima de um

agonista

ºC Graus celsius

cm centímetro

CIEX Cation ion exchange chromatography

DRG Gânglio da raiz dorsal

DL50 Dose letal 50%

DMEM Dubelcco’s modified Eagle medium

Da Dalton

EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético

e.p.m. Erro padrão da média

g Gramas

HEPES Ácido-N-[2-Hidroxietil]-Piperazina-N’-[2-Etanosulfônico]

HPLC High performance liquid chromatography

Hz Hetz

IIII Corrente

i.p. Intraperitoneal

i.v. Intravenoso

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 16: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

15

IC50 Concentração inibitória mediana

Kg Quilograma

kD Kilodalton

Kv Canais para potássio dependentes de voltagem

MALDI-

TOF-MS

Matrix assisted laser desorption/ionization time off light tandem time

mAChR Receptor muscarínico para acetilcolina

mg Miligramas

min. Minuto

mL Mililitros

mM Milimolar

ms Milisegundo

mV Milivolt

MM Massa Molecular

mU Milhau

Mic6c7NTX Neurotoxina Mic6c7

µµµµL Microlitro

µµµµg Micrograma

µµµµM Micromolar

nAChR Receptor nicotínico para acetilcolina

nM Nanomolar

n Número de experimentos

Nav Canais para sódio dependentes de voltagem

NTX Neurotoxina

PLA2 Fosfolipase A2

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 17: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

16

pH Potencial hidrogeniônico

PTH Phenylthiohydantoin

PITC Fenilisotiociananto

pA Pico ampère

RPC Reverse phase chromatography

s Segundo

s.c Subcutânea

SNP Sistema nervoso periférico

SNC Sistema nervoso central

TFA Ácido trifluoroacético

TPPAC Tempo para atingir o pico do potencial de ação composto em ms

TTX Tetrodotoxina

TEA Tetraetilamônio

ττττrep Constante de tempo de repolarização em ms

VDPAC Velocidade de despolarização do potencial de ação composto em V/s

V Voltz

x ±±±± e.p.m Média ± erro padrão da média

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 18: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

17

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Arquitetura das toxinas: dobramentos encontrados nas toxinas animais............................................................................................................................

49

Tabela 2: As subunidades α dos canais para sódio de mamíferos................................ 58

Tabela 3: Isoformas dos canais Nav presentes em neurônios DRG e suas características..................................................................................................................

61

Tabela 4: Relação entre os sítios dos canais Nav alvos das NTXs e o efeito sobre o canal................................................................................................................................

64

Tabela 5: Efeito da peçonha bruta (100 µg/mL) sobre os parâmetros do PAC após incubação (0–45min) no nervo isquiático de rato............................................................

100

Tabela 6: Proteínas similares à proteína Mic6c7NTX, M.M. 7.047,56 Da isolada do veneno de M. ibiboboca..................................................................................................

105

Tabela 7: Efeito da toxina Mic6c7NTX (1 µM) sobre a despolarização (TPPAC e VDPAC)

e a repolarização (τrep) do PAC.......................................................................................

108

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 19: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

18

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Aparelho inoculador de peçonha das serpentes Elapidae..................................................................................................................

30

Figura 2: Fotos das principais espécies de serpentes coral presentes no território brasileiro...................................................................................................

35

Figura 3: Desenho esquemático de um exemplar fêmea de Micrurus ibiboboca (UFPB 4360)...........................................................................................................

36

Figura 4: Comportamento defensivo da Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820).......

37

Figura 5: Diferentes tipos de dobramentos das toxinas de várias espécies animais...................................................................................................................

48

Figura 6: Dados estruturais e farmacológicos das toxinas animais nos canais para K+....................................................................................................................

50

Figura 7: Representação do modelo estrutural 3-D das toxinas animais que agem sobre os canais para Ca2..........................................................................

51

Figura 8: Dados estruturais e farmacológicos das toxinas animais que agem nos canais para Ca2...............................................................................................

52

Figura 9: Dados estruturais e farmacológicos da toxina de escorpião que age nos canais para Cl-.................................................................................................

53

Figura. 10: Estrutura do canal para sódio dependente de voltagem....................

55

Figura 11: Mecanismo de inativação do canal para sódio dependente de voltagem.................................................................................................................

56

Figura 12: Esquema da medula espinhal em associação aos nervos raquidianos.............................................................................................................

59

Figura 13: Esquema do neurônio do gânglio da raiz dorsal (DRG)......................

60

Figura 14: Correntes TTX-R de Nav1.8 apresentam maior despolarização dependente de voltagem que correntes TTX-S em neurônios DRG......................

62

Figura 15: Proposta dos arranjos transmembranares da subunidade α dos canais para sódio...................................................................................................

64

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 20: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

19

Figura 16: Representação do modelo estrutural 3-D das toxinas animais que agem sobre os canais para Na+..........................................................................

67

Figura 17: Estruturas tridimensionais de toxinas três-dedos de peçonhas de serpentes................................................................................................................

69

Figura 18: Esquema da extração da peçonha da Micrurus ibiboboca (Merren, 1820)......................................................................................................................

76

Figura 19: Aparelho de espectrofotômetria..........................................................

77

Figura 20: Aparelho de HPLC AKTA Explorer 100............................................... 79

Figura 21: Aparelho utilizado para a análise de massas (MALDI-TOF-MS)......... 81

Figura 22: Aparelho utilizado para seqüenciamento protéico..............................

82

Figura 23: Banco de dados de Proteínas: Expasy Proteomics Server................. 83

Figura 24: Ratos albinos machos Wistar............................................................... 84

Figura 25: Aparato da técnica de single sucrose gap........................................... 85

Figura 26: Câmara experimental para captação do PAC...................................... 86

Figura 27: Representação esquemática da montagem experimental da técnica de single sucrose gap............................................................................................

87

Figura 28: Esquema representativo de um registro típico do PAC obtido por meio da técnica de single sucrose gap e seus parâmetros de análises................

88

Figura 29: Representação esquemática da série de registro de vinte PAC para a observação do efeito uso-dependente....................................................................

89

Figura 30: Capela de Fluxo Celular......................................................................................................................

91

Figura 31: Registros do potencial de ação composto obtidos pela técnica de single sucrose gap no nervo isquiático de rato incubado com a peçonha bruta.......................................................................................................................

98

[Escrev

a uma

citação

do

Page 21: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

20

Figura 32: Cromatografia Líquida de Alta performance: Troca catiônica (CIEX).....................................................................................................................

101

Figura 33: Cromatografia Líquida de Alta Performance: Fase reversa (RPC) das frações da cromatografia de troca catiônica.................................................................................................................

102

Figura 34: Perfil da Toxina Mic6c7NTX no Espectrometro de Massas MALDI-Q- TOF........................................................................................................................

103

Figura 35: Sequência parcial do N-terminal da neurotoxina Mic6c7NTX presente na peçonha da serpente M. ibiboboca (Merrem, 1820)..........................

104

Figura 36: Alinhamento da proteína de 7047, 56 Da do veneno de M. ibiboboca com proteínas homólogas......................................................................................

104

Figura 37: Alinhamento da proteína Mic6c7NTX 7047 Da contra a proteína Short neurotoxin 3FTx-Oxy3 precursor (NXS3_OXYMI), da peçonha de Oxyuranus microlepidotus......................................................................................

106

Figura 38: Alinhamento da proteína Mic6c7NTX 7047 Da contra a proteína Short neurotoxin SNTX-1 precursor (Toxin 3) (NXS1_OXYSC), da peçonha de Oxyuranus scutellatus scutellatus..........................................................................

106

Figura 39: Registros do PAC obtidos pela técnica de single sucrose gap da toxina Mic6c7NTX no nervo isquiático de rato.......................................................

107

Figura 40: Registros do PAC obtidos após 45 min de incubação com a toxina Mic6c7NTX (1 µM) aumentando-se a freqüência de estimulação.........................

110

Figura 41: Esquema do protocolo-teste utilizado em whole cell patch-clamp para corrente de sódio em neurônios DRG............................................................

111

Figura 42: Efeito da Mic6c7NTX sobre as correntes de sódio em neurônios DRG de ratos..........................................................................................................

112

[Escrev

a uma

citação

do

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 22: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

21

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Comparativo enzimático das peçonhas de Micrurus sp...........................

42

Quadro 2: Fármacos comercializados produzidos a partir de toxinas de serpentes.....................................................................................................................

44

Quadro 3: Solução de Locke Modificado................................................................... 84

Quadro 4: Solução Tyrode......................................................................................... 92

Quadro 5: Solução Externa I......................................................................................

92

Quadro 6: Solução Externa II.....................................................................................

93

Quadro 7: Solução Interna.........................................................................................

93

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 23: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

22

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Efeito da peçonha bruta (100 µg/mL) sobre a amplitude do PAC após incubação (0–45 min) em nervo isquiático de rato..............................................................................................................................

99

Gráfico 2: Efeito da toxina Mic6c7NTX (1 µM) sobre a amplitude do PAC após incubação (0–45 min) em nervo isquiático de rato.....................................................

108

Gráfico 3: Comparação entre os efeitos da peçonha bruta (100 µg/ mL) e da toxina Mic6c7NTX (1 µM) incubadas separadamente sobre APAC.............................

109

Gráfico 4: Influência do aumento da freqüência de estimulação (50 e 100 Hz) sobre os efeitos da toxina Mic6c7NTX (1 µM) em nervo isolado de rato...................

110

Gráfico 5: Decurso temporal do efeito da Mic6c7NTX (1 µM) sobre as correntes de sódio de neurônios DRG de ratos das fibras tipo C..............................................

113

Gráfico 6: Curva concentração-resposta da toxina Mic6c7NTX............................... 114

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 24: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

23

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 28

1.1

ACIDENTES OFÍDICOS: EPIDEMIOLOGIA, ENVENENAMENTO E

SINTOMATOLOGIA.........................................................................................

28

1.2 FAMÍLIA ELAPIDAE......................................................................................... 30

1.3 O GÊNERO Micrurus sp................................................................................... 33

1.3.1 Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)........................................................ 36

1.4 PEÇONHAS OFÍDICAS – CARACTERÍSTICAS GERAIS............................... 38

1.5 AS TOXINAS E OS ESTUDOS FARMACOLÓGICOS E

PROTEÔMICOS.........................................................................................................

43

1.6 OS CANAIS IÔNICOS E AS TOXINAS............................................................ 45

1.6.1 A Ação das Toxinas nos Canais Iônicos............................................ 47

1.6.2 A Ação dasToxinas nos Canais para Cálcio....................................... 50

1.6.3 A Ação das Toxinas nos Canais para Cloreto.................................... 52

1.7 OS CANAIS PARA SÓDIO: PRINCIPAIS ALVOS MOLECULARES DAS

NEUROTOXINAS.......................................................................................................

54

1.7.1 A Estrutura do Canal para Sódio......................................................... 54

1.7.2 Os Canais para Sódio Dependentes de Voltagem e os Neurônios

do Gânglio da Raiz Dorsal.............................................................................

59

1.7.3 Os Canais para Sódio e as Neurotoxinas........................................... 63

1.8 AS NEUROTOXINAS PRESENTES NO GÊNERO Micrurus sp..................... 68

2 OBJETIVOS..................................................................................................... 73

2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................... 73

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................,,,,,,,,,,. 73

3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................... 75

3.1 EXTRAÇÃO DA PEÇONHA DA Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820).............. 75

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 25: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

24

3.2 ESTIMATIVA DO CONTEÚDO PROTÉICO POR

ESPECTROFOTOMETRIA..........................................................................................

77

3.3 FRACIONAMENTO DA PEÇONHA E ISOLAMENTO DA TOXINA

Mic6c7NTX.................................................................................................................

78

3.3.1 Fracionamento Bidimensional – Primeira Dimensão: Cromatografia

Líquida de Troca Catiônica (CIEX)..................................................................

79

3.3.2 Fracionamento Bidimensional – Segunda Dimensão: Cromatografia

Líquida de Fase Reversa (RPC).......................................................................

80

3.4 DETERMINAÇÃO DA MASSA MOLECULAR POR ESPECTROMETRIA DE

MASSAS......................................................................................................................

80

3.5 SEQUENCIAMENTO PROTÉICO DO N-TERMINAL DA TOXINA

Mic6c7NTX........................................................................................................

81

3.6 BIOINFORMÁTICA: BUSCA POR SIMILARIDADE............................................ 83

3.7 ENSAIO ELETROFISIOLÓGICO: POTENCIAL DE AÇÃO COMPOSTO (single

sucrose gap)................................................................................................................

84

3.7.1 Solução Fisiológica................................................................................ 84

3.7.2 Animais.................................................................................................... 84

3.7.3 A Técnica de single sucrose gap.......................................................... 85

3.7.3.1 Investigação do Efeito Tônico............................................................... 88

3.7.3.2 Investigação do Efeito Fásico (Uso-dependência)................................ 89

3.8 CULTURA PRIMÁRIA DE NEURÔNIOS DO GÂNGLIO DA RAIZ DORSAL

(DRG)...........................................................................................................................

90

3.8.1 Animais.................................................................................................... 90

3.8.2 Cultura..................................................................................................... 90

3.9 ESTUDOS DE ELETROFISIOLOGIA (whole cell patch-

clamp)..........................................................................................................................

92

3.9.1 Soluções Eletrofisiológicas para Corrente de

Sódio.................................................................................................................

92

3.9.2 A Técnica de whole cell patch-clamp...................................................... 94

3.10 ANÁLISES ESTATÍSTICAS............................................................................... 95

4 RESULTADOS.................................................................................................. 98

[Esc

reva

uma

Page 26: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

25

4.1 ENSAIOS ELETROFISIOLÓGICOS COM A PEÇONHA BRUTA DA Micrurus

ibiboboca (Merrem, 1820) – CURRENT CLAMP (single sucrose

gap)..............................................................................................................................

98

4.1.1 Efeito da Peçonha Bruta sobre a Excitabilidade do Nervo Isolado

de Rato (Efeito Tônico)....................................................................................

98

4.2 PURIFICAÇÃO DA PEÇONHA BRUTA DE Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)

POR MEIO DE CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA PERFORMANCE

(HPLC)...................................................................................................................

100

4.2.1 Fracionamento Bidimensional – Primeira Dimensão: Cromatografia

Líquida de Troca Catiônica (CIEX)..................................................................

100

4.2.2 Fracionamento Bidimensional – Segunda Dimensão: Cromatografia

Líquida de Fase Reversa................................................................................

101

4.3 DETERMINAÇÃO DA MASSA MOLECULAR – ESPECTROMETRIA DE

MASSAS........................................................................................................................

102

4.4 SEQUENCIAMENTO PROTÉICO DO N-TERMINAL DA TOXINA

Mic6c7NTX....................................................................................................................

103

4.5 BIOINFORMÁTICA: BUSCA POR SIMILARIDADE............................................ 104

4.6 ENSAIOS ELETROFISIOLÓGICOS COM A TOXINA Mic6c7NTX DA Micrurus

ibiboboca (Merrem, 1820) – CURRENT CLAMP (single sucrose

gap)...............................................................................................................................

106

4.6.1 Efeito da Toxina Mic6c7NTX sobre a Excitabilidade do Nervo

Isolado de Rato (Efeito Tônico).......................................................................

106

4.6.2 Efeito da Toxina Mic6c7NTX sobre as Características do PAC......... 108

4.6.3 Comparação do Efeito Tônico da Peçonha Bruta com a Toxina

Mic6c7NTX da Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)..........................................

109

4.6.4 Investigação do Efeito Uso-dependente) da Toxina Mic6c7NTX

(Efeito Fásico)...................................................................................................

109

4.7 ENSAIOS ELETROFISIOLÓGICOS COM A TOXINA Mic6c7NTX DA Micrurus

ibiboboca (Merrem, 1820) – VOLTAGE CLAMP...........................................................

111

4.7.1 Efeito da Toxina sobre os Neurônios do Gânglio da Raiz

Dorsal................................................................................................................

111

[Escreva

uma citação

do

documento

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 27: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

26

5 DISCUSSÃO...................................................................................................... 116

6 CONCLUSÕES.................................................................................................. 135

7 PERSPECTIVAS................................................................................................ 138

8 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 141

ANEXOS............................................................................................................. 154

[Escreva

uma citação

do

documento

ou o

Page 28: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

27

IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

Page 29: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

28

1 INTRODUÇÃO

1.1 ACIDENTES OFÍDICOS: EPIDEMIOLOGIA, ENVENENAMENTO E

SINTOMATOLOGIA

A Organização Mundial de Saúde (OMS), calcula que ocorram em nível

mundial aproximadamente 2,5 milhões de acidentes por serpentes

peçonhentas em cada ano, com 125 mil casos de óbitos (CHIPPAUX, 1998;

PINHO, OLIVEIRA e FALEIROS, 2004).

Na América do Sul, o Brasil é o país com o maior número de acidentes

ofídicos, com cerca de 20 mil casos por ano seguido pelo Peru (4.500),

Venezuela (2.500-3.000), Colômbia (2.675), Equador (1.200-1.400) e Argentina

(1.150-1.250) (ROJAS, GONÇALVES e ALMEIDA-SANTOS, 2007).

Os acidentes por animais peçonhentos no Brasil, de acordo com as

estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas,

ocupam o segundo lugar nas intoxicações humanas, sendo apenas

ultrapassados pelos medicamentos (PINHO, OLIVEIRA e FALEIROS, 2004;

ROJAS, GONÇALVES e ALMEIDA-SANTOS, 2007).

No Brasil, o primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos foi

realizado por Vital Brazil, em 1901, quando levantou o número de óbitos por

picadas de serpentes peçonhentas no Estado de São Paulo (BOCHNER e

STRUCHINER, 2003).

A maior parte dos acidentes causados por serpentes peçonhentas no

Brasil é atribuída principalmente às serpentes do gênero Bothrops (jararaca),

que representa 90% das espécies envolvidas neste tipo de agravo, seguidas

pelos gêneros Crotalus (cascavél) 7,7%, Lachesis (surucucu) 1,4% e Micrurus

(coral) 0,5% (ROJAS, GONÇALVES e ALMEIDA-SANTOS, 2007).

Os acidentes com Micrurus sp. só são perigosos se a serpente

conseguir implantar as presas e morder a vítima (SOURENSE, 2000), sendo

mais comuns em regiões do corpo como pés e mãos (PINHO, OLIVEIRA e

FALEIROS, 2004). Além disso, são relativamente dóceis podendo responder

Page 30: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

29

agressivamente com uma mordida, se provocadas (PETERSON e DVM,

2006).

Em 1996, foi relatado que apenas 1% dos acidentes ofídicos em São

Paulo correspondeu ao gênero Micrurus (VITAL BRAZIL e VIEIRA, 1996). No

Estado da Paraíba, o Centro de Atendimento Toxicológico (CEATOX) de João

Pessoa (HU/UFPB-Campus I) registrou poucos acidentes por Micrurus sp. nos

últimos três anos, apenas 20 casos sem nenhum caso de óbito.

Acidentes por Micrurus sp. são relativamente raros (PETERSON e

DVM, 2006). Todavia, no Brasil apesar dos acidentes serem de 0,4%, seu

coeficiente de letalidade é de 0,36% (MORAES, et al., 2003), e com frequência

extremamente sérios (AIRD e DA SILVA JR, 1991).

A severidade dos acidentes por Micrurus sp. pode variar de trivial a

extremamente grave dependendo de alguns fatores como o tamanho da

serpente, quantidade de peçonha injetada e tamanho da vítima (ALAPE-

GIRÓN, et al., 1994). A dose letal para humanos adultos é em torno de 4 a 5

mg da peçonha injetada, sendo uma serpente adulta capaz de injetar até 20 mg

por picada (PETERSON e DVM, 2006).

As peçonhas das corais são primariamente neurotóxicas, com pequena

reação tecidual local ou dor na região da picada. O conjunto de efeitos da

neurotoxicidade é como a Síndrome Curariforme, que induz depressão do

sistema nervoso central, paralisia muscular e instabilidade vasomotora

(PETERSON e DVM, 2006). O início dos sinais de pós-acidente pode ser

demorado, levando um tempo de 10 a 18 horas (MARKS, MANNELA e

SCHAER, 1990; KITCHENS e VAN MIEROP, 1987). Ocasionalmente, pode

ocorrer dor local e parestesia na região. A vítima inicia apresentando alterações

no estado mental, fraqueza generalizada e fasciculação muscular, seguida de

uma paralisia progressiva dos membros e músculos respiratórios (KITCHENS e

VAN MIEROP, 1987). Os sinais são consistentes, com disfunção bulbar e o

paciente corre riscos de bloqueio respiratório, com espasmos faringeais,

hipersalivação, cianose e trismus (espasmos nos músculos mastigadores)

(PETERSON e DVM, 2006).

Estudos experimentais sugerem um extenso espectro de atividades da

peçonha, como neurotóxica (VITAL BRAZIL, 1987; CECCHINI, et al., 2005);

hemolítica e pro-inflamatória (TAMBOURGI, et al., 1994); cardiotóxica e

Page 31: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

30

miotóxica (GUTIÉRREZ, et al., 1992; BARROS, et al., 1994); edematogênica

(BARROS, et al., 1994; CECCHINI, et al., 2005).

Os sinais e sintomas de acidentes por Micrurus sp. são resultantes de

um bloqueio progressivo das placas motoras neuromusculares, através do

bloqueio dos receptores nicotínicos para acetilcolina (nAChR) pelas α-

neurotoxinas (α-NTX) presentes na peçonha (OLIVEIRA, et al., 2000;

CECCHINI, et al., 2005). Ou seja, se não tratado em curto tempo por soro anti-

elapídico específico o paciente pode vir a falecer (OLIVEIRA, et al., 2003).

O soro anti-elapídico comercializado e usado para o tratamento em

humanos é produzido através da imunização em cavalos com as peçonhas de

M. corallinus e M. frontalis (MORAES, et al., 2003).

As espécies M. corallinus, M. frontalis, M. ibiboboca e M. spiixi são

consideradas as responsáveis pela maioria dos acidentes em humanos

causados por esse gênero (HIGASHI, et al., 1995).

1.2 FAMÍLIA ELAPIDAE

A família Elapidae compreende serpentes dotadas de um aparelho

inoculador do tipo proteróglifo (protero = dianteiro, glyphé = sulco), ou seja, um

par de presas frontais e fixas com um sulco central, pouco desenvolvido para

injeção da peçonha (figura 1) (SOURENSE, 2000; HODGSON e

WICKRAMARATNA, 2001).

Figura 1: Aparelho inoculador de peçonha das serpentes Elapidae. A figura representa uma serpente com a dentição proteróglifa, ou seja, as presas estão localizadas na parte anterior do maxilar.

Page 32: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

31

O comportamento alimentar natural das serpentes envolve duas

estratégias: (a) forrageamento; (b) emboscada e captura da presa. A primeira

estratégia, dentre outras, é característica das serpentes Colubridae e Elapidae,

enquanto que a segunda é mais utilizada pelas famílias Boidae e Viperidae

(URDANETA, BOLAÑOS e GUTIÉRREZ, 2004). Devido a muitas serpentes se

alimentarem de presas maiores, elas desenvolveram mecanismos que

minimizam os riscos de fuga da presa a serem capturadas por elas e de

potenciais predadores que as possam predar. Os mecanismos mais

importantes são: bote e agressão mecânica, constricção e injeção da peçonha

secretada. As serpentes Elapidae, Colubridae e Boidae fazem uso da

constricção, porém a maioria das Elapidae e Colubridae combina constricção e

injeção da peçonha para a captura da presa e defesa (GREENE e

BURGHART, 1978).

A família Elapidae é amplamente distribuída pelo mundo com

aproximadamente 250 espécies (CARDOSO et al., 2003). Filogeneticamente,

as serpentes Elapidae são classificadas em seis subfamílias distribuídas

mundialmente: Hydrophiinae (serpentes marinhas e Elapidae australianas),

Bungarinae (cobras, kraits e mambas), Laticaudinae, Calliophiinae, Maticorinae

(serpentes coral da Ásia) e Elapinae (serpentes coral da América) (ALAPE-

GIRÓN, et al.,1996).

As serpentes Elapidae australianas são conhecidas por possuírem as

peçonhas mais potentes do mundo. As dez mais peçonhentas Elapidae estão

presentes nesse continente (BROAD et al., 1979 apud FRY, 1999). As Elapidae

australianas com maior importância clínica, foco da maioria das pesquisas,

estão classificadas em cinco maiores grupos: serpentes marrons (gênero

Pseudonaja), e as principais são a P. textillis (eastern brown snake) e P. guttata

(speckled brown snake); serpentes tigres (gênero Notechis), como

representantes a N. ater niger (peninsula tiger snake) e N. ater ater (krefft`s

tiger snake); serpentes negras (gênero Pseudechis), espécies P. australis

(mulga), P. guttatus (spotted black snake); víbora da morte (gênero

Acanthophis), como A. antarticus (common death adder); serpentes taipans

(Oxyuranus), O. microlepidotus (inland taipan), O. scutellatus (coastal taipan),

estas compreendem os representantes terrestres dessa família (FRY, 1999;

Page 33: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

32

HODGSON, DAL BELO e ROWAN, 2007). As serpentes marinhas

Hydrophiidae dos gêneros (Aipysurus, Enhydrina, Lapemis, Laticauda) são os

representantes aquáticos das serpentes australianas (HODGSON e

WICKRAMARATNA, 2001). O aparato da dentição dessas serpentes associado

com a alta letalidade das suas peçonhas fazem com que elas sejam

consideradas extremamente perigosas (HODGSON e WICKRAMARATNA,

2001).

As serpentes Elapidae asiáticas de importância médica estão

representadas principalmente pelos gêneros: Naja (cobra), com três espécies;

Bungarus (kraits), com três espécies; a king cobra do gênero Ophiophagus.

Outras serpentes Elapidae importantes são as serpentes marinhas e a coral

asiática do gênero Calliophis, que apesar de possuir uma peçonha altamente

potente, raramente está envolvidas em acidentes com humanos. Todas essas

possuem peçonhas com atividade neurotóxica (CHANHOME, et al., 1998).

As serpentes Coral (subfamília Elapinae) constituem um grupo

taxonômico e são as representantes da família Elapidae nas Américas

agrupadas em três gêneros: Micrurus, Leptomicrurus e Micruroides

(CARDOSO et al., 2003; DA SILVA JR e SITES JR, 2001(b)).

Os menores gêneros incluem o Leptomicrurus (três espécies), restrito ao

noroeste e oeste da bacia Amazônica e o Micruroides, gênero monotípico, do

sudoeste dos Estados Unidos e noroeste do México (DA SILVA JR e SITES

JR, 2001(b)). O gênero Micrurus reúne 57 espécies e mais de 120

subespécies (ALAPE-GIRÓN, et al., 1994; BARROS, et al., 1994; AIRD e DA

SILVA JR, 1991), sendo este o principal gênero com espécies distribuídas dos

Estados Unidos, México e América Central para a Argentina, atingindo uma

maior diversidade nas latitudes tropicais (DA SILVA JR e SITES JR, 2001(a)).

No vasto território brasileiro são descritas 18 espécies do gênero

Micrurus com muitas subespécies (MORAES, et al., 2003).

Page 34: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

33

1.3 O GÊNERO Micrurus sp.

As Micrurus são popularmente conhecidas no Brasil como “cobras

corais”. Incluem organismos pequenos (menores que 700 mm) ou grandes

(com até 1,5 m) (HARVEY, APARICIO e GONZALEZ, 2003).

Muitas espécies de Micrurus possuem uma coloração padrão com

algumas combinações de vermelho (ou laranja), branco (ou amarelo) e preto,

disposta em anéis que circundam todo o corpo do animal (DA SILVA JR e

SITES JR, 2001; HARVEY, APARICIO e GONZALEZ, 2003). Os anéis pretos

tendem a estar dispostos isoladamente ou em tríades, com algumas poucas

exceções (SOURENSE, 2000; CARDOSO et al., 2003). O padrão de coloração

comum das serpentes da América do Sul é representado por anéis na

sequência: vermelho-preto-branco-preto-branco-preto-vermelho (padrão das

tríades) (DA SILVA JR e SITES JR, 2001).

Morfologicamente, essas serpentes apresentam a cabeça oval,

recoberta por grandes placas simétricas (referência habitual para serpentes

não-peçonhentas), não apresentam fosseta loreal, os olhos são pequenos e

pretos com pupilas elípticas verticais e quase sempre focalizadas numa faixa

preta da cabeça (HARVEY, APARICIO e GONZALEZ, 2003). O pescoço não é

bem pronunciado, devido ao desenvolvimento da musculatura cervical

adaptada para a escavação, e os ossos cranianos são fortes. O corpo cilíndrico

é recoberto por escamas lisas e a cauda curta dá nome ao principal gênero

Micrurus (grego = pequena cauda) (SOURENSE et al, 2000).

São animais de hábitos semi-fossoriais (AIRD e DA SILVA JR, 1991),

habitando principalmente a camada superficial do solo ou sob a serrapilheira

que cobre o chão das matas. Eventualmente, saem à superfície a procura de

alimento, para acasalar ou após as chuvas fortes. A dieta é composta por

pequenas serpentes e outros répteis serpentiformes, em alguns casos há

dietas específicas de algumas espécies como, por exemplo, M. lemniscatus

(peixes do tipo muçum, Synbranchus marmoratus) e M. surinamensis (peixes

elétricos, Gymnotus carapo) (SOURENSE, 2000; CARDOSO et al., 2003).

Quanto à reprodução são animais ovíparos, as fêmeas põem entre 2 e

10 ovos em buracos no chão, formigueiros ou no interior de troncos de árvores

Page 35: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

34

em decomposição. Os filhotes nascem após dois meses de incubação medindo

cerca de 17 cm de comprimento (CARDOSO et al., 2003).

As presas inoculadoras de peçonha possuem um tamanho aproximado

de 2,5 mm, num animal medindo cerca de 90 cm. Devido ao hábito alimentar e

as adaptações da osteologia e musculatura craniana ao hábito fossorial, não

apresentam uma grande abertura bucal, atingindo um ângulo aproximado de

30o. Apresentam, então, uma injeção da peçonha difícil e superficial, mas é

compensada pelo hábito de morder a presa sem soltar, prolongando o tempo

de inoculação. Essas características juntamente com a baixa agressividade das

espécies do gênero corroboram para a baixíssima incidência de acidentes

elapídicos em humanos (CARDOSO et al., 2003).

As espécies de Micrurus presentes no Brasil são: M. albicinctus, M.

altirostris, M. averyi, M. brasiliensis, M. corallinus, M. decoratus, M. filiformis, M.

frontalis, M. hemprichii, M. ibiboboca, M. lemniscatus, M. mipartitus, M.

ornatissimus, M. paraensis, M. putumayensis, M. spixii, M. surinamensis, M.

tricolor, M. wehnerorum (DA SILVA JR e SITES JR, 2001) (figura 2).

Page 36: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

35

1.3.1 Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)

(a) Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820). Distribuição geográfica: Nordeste, MA a BA. Mata do Buraquinho JP/PB (Fonte: PEREIRA-FILHO, 2007, 156f).

(b) Micrurus lemniscatus (Linnaeus). Distribuição geográfica: vale amazônico, cerrados do Brasil central e litoral atlântico (RG ao RJ). Mata do Buraquinho JP/PB (Fonte: PEREIRA-FILHO, 2007, 156f).

(c) Micrurus altirostris (Cope). Distribuição geográfica: Sul do país (PR ao RS), se estendendo ao Uruguai e algumas províncias do norte da Argentina (Fonte: www.venomousreptiles.org/libraries/download/1).

(d) Micrurus frontalis (Duméril, Bibron e Duméril). Distribuição geográfica: MG, SP, MT, MS. Serra da Canastra / MG (Fonte: www. Arthurgrosset.com).

(e) Micrurus corallinus (Merrem). Distribuição geográfica: região Sul e Sudeste (faixa litorânea). (Fonte: www. Saudeanimal). com.br/imagens/coral_da_mata).

(f) Micrurus surinamensis (Cuvier). Distribuição geográfica: região amazônica. (Fonte: www. http://bnoonan.uta.edu/grppgs/snake).

Figura 2: Fotos das principais espécies de serpentes coral presentes no território brasileiro. (a) Micrurus ibiboboca; (b) Micrurus lemniscatus; (c) Micrurus altirostris; (d) Micrurus frontalis; (e) Micrurus corallinus; (f) Micrurus surinamensis.

Page 37: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

36

1.3.1 Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)

É uma espécie característica da caatinga do Nordeste brasileiro, do

Maranhão à Bahia (figura 3). A característica mais marcante dessa espécie é o

focinho quase totalmente branco, levemente manchado por pequenas marcas

escuras. Morfologicamente, é muito semelhante a M. lemniscatus e em regiões

de transição entre a Zona da Mata e a Caatinga é de difícil diferenciação

(PEREIRA-FILHO, 2007, 156f). Possui um comprimento de aproximadamente

60 cm (CARDOSO et al., 2003).

Quanto à descrição da espécie, o número de tríades pode variar de 8 no

corpo e uma na cauda até 9 no corpo e uma tríade 1/3 na cauda. Escamas

ventrais com amplitude de 220 a 231 escamas subcaudais de 25 a 28. Escama

cloacal dividida, 15 fileiras de escamas dorsais sem redução, 7 escamas

supralabiais, sendo a terceira e quarta em contato com a órbita, 7 escamas

infralabiais, 1 escama pré-ocular, 2 pós-oculares, 1 + 1 escamas temporais

(PEREIRA-FILHO, 2007, 156f).

Micrurus ibiboboca é uma espécie que usualmente apresenta poucas

tríades no corpo, a superfície ventral de sua cabeça é vermelha com exceção

Figura 3: Desenho esquemático de um exemplar fêmea de Micrurus ibiboboca (UFPB 4360). Serpente coletada na Mata do Buraquinho, João Pessoa/ PB, escala de 2 cm (Desenho de Washington Luiz, 2007 apud PEREIRA-FILHO, 2007,156f).

Page 38: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

37

de espécimes ocasionalmente com pigmentos pretos restritos (queixo sempre

com alguns pigmentos pretos, infralabiais anteriores, e como um escudo no

queixo) (HARVEY, APARICIO e GONZALEZ, 2003).

Biologicamente, apresenta um comportamento defensivo realizando

movimentos erráticos, escondendo a cabeça nas dobras do corpo e achatando

a região dorso ventral do terço posterior do corpo, além de erguer a cauda

enrolada (figura 4). Em áreas de Caatinga, essa serpente se alimenta de

presas cilíndricas como outras serpentes e anfisbenídeos (PEREIRA-FILHO,

2007, 156f).

Um estudo comparativo realizado por SILVA JR e AIRD, (2001), mostrou

que a M. ibiboboca apresenta uma maior toxicidade da sua peçonha do que a

serpente Colubridae Liophis typhlus (DL50= 0,5 µg/g – i.m; DL50= 0,3 µg/g – i.p)

e ao anfisbenídeo Amphisbaena cunhai (DL50= 0,6 µg/g – i.m; DL50= 0,4 µg/g –

i.p) comparada ao camundongo (DL50= 1,8 µg/g – i.m; DL50= 1,5 µg/g – i.p).

Isso corrobora com os estudos que afirmam que a composição da peçonha das

serpentes é influenciada por fatores importantes como filogenética, origem

geográfica, idade, sexo, estação e preferência alimentar.

Figura 4: Comportamento defensivo da Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820). Achatamento dorso ventral do terço posterior do corpo e elevação da cauda. (Foto: Micheline Donato, 2007).

Page 39: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

38

1.4 PEÇONHAS OFÍDICAS – CARACTERÍSTICAS GERAIS

O termo peçonha é utilizado para designar toda substância tóxica

(veneno) produzida e injetada por aparato inoculatório presente no organismo

peçonhento.

A evolução das funções das peçonhas das serpentes e a diversificação

dessas toxinas tem sido uma fonte de pesquisa interessante e de debate. As

toxinas presentes nessas peçonhas envolvem um recrutamento de eventos

protéicos do arsenal químico da serpente. As toxinas sofrem freqüentemente

variações significantes da estrutura e seqüência, contudo tipicamente

conservam a base molecular da proteína ancestral (FRY e WÜSTER, 2004).

As peçonhas provêm em uma variedade de vantagens para os animais,

incluindo habilidade para captura e digestão eficiente da presa e defesa contra

os predadores (MENEZ, STÖCKLIN e MEBS, 2006). Compreendem uma

mistura heterogênea e complexa de substâncias iônicas simples como cálcio

(importante cofator de algumas enzimas proteolíticas e fosfolipases A2 (PLA2)),

magnésio e zinco (íons importantes para as metaloproteases), cobre, ferro,

potássio, manganês, sódio, fósforo e cobalto (COMINETTI, PONTES e

SOUZA, 2007); e outras substâncias orgânicas como carboidratos (em

glicoproteínas), lipídios (em fosfolipídeos), aminas biogênicas (como a

bradicinina, N-metil-5-hidroxitriptamina), nucleotídeos e aminoácidos

(BJARNASON e FOX, 1994). Essa combinação confere uma ordem

formidável nas propriedades tóxicas em que proteínas e polipeptídeos são os

maiores responsáveis pela variedade dessas propriedades (KOH, ARMUGAM

e JEYASEELAN, 2006). Sendo as proteínas majoritárias nas peçonhas das

serpentes, principalmente as enzimas e neurotoxinas que são as principais

responsáveis pela atividade tóxica da peçonha, correspondendo a cerca de

90% a 95% do seu peso seco. (MARKLAND, 1998; COMINETTI, PONTES e

SOUZA,, 2007).

Analisando o conteúdo enzimático são encontradas cinco classes de

enzimas na peçonha das serpentes, sendo a maior parte delas de natureza

hidrolítica:

- Oxidorredutases: responsáveis pelas reações de oxidação, tais como as

enzimas L-aminoácido oxidase e a Lactato desidrogenase. As L-aminoácido

Page 40: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

39

oxidases estão presentes de forma muito ativa em muitas peçonhas, devido a

presença da riboflavina (seu cofator) proporcionando a cor amarela à peçonha

seca (DAL BELO, 2004, 244f).

- Hidrolases: são enzimas que hidrolisam ligações fosfomonoéster e

fosfodiéster dos nucleotídeos e nucleosídeos. As principais são as

fosfodiesterases, NAD nucleosidases, ATPases, 5-nucleotidase, fosfatase

específica encontrada na maioria dos venenos de serpentes (DAL BELO, 2004,

244f; COMINETTI, PONTES e SOUZA, 2007).

- Glicosidases: a hialuronidase é uma enzima que catalisa as reações do

ácido hialurônico. A difusão das toxinas do sítio da picada para a circulação é

essencial para o sucesso do envenenamento, sendo essa enzima um fator

chave nesta difusão. A hialuronidase não apenas aumenta a potência das

outras toxinas, mas também danifica o tecido local (KEMPARAJU e GIRISH,

2006; LOKESHWAR e SELZER, 2008).

- Proteases: apresentam atividade enzimática tendo outras proteínas como

substrato. Os principais exemplos de proteases presentes nas peçonhas são

as metaloproteases e as serinoproteases (COMINETTI, PONTES e SOUZA,

2007). As metaloproteases possuem um papel importante nas desordens

hemostáticas e nos danos teciduais locais causados pela mordida da serpente.

A ação dessas metaloproteases envolve propriedades catalíticas e anti-

adesivas, bem como ativação celular direta e/ou liberação de componentes

bioativos endógenos (MOURA-DA-SILVA, BUTERA e TANJONI, 2007). Várias

serinoproteases demonstram atividade fibrinogenolítica que não são

suscetíveis a heparina e talvez para a maioria dos inibidores endógenos

dessas proteínas, formando coágulos de fibrina anormais (MATSUI,

FUJIMURAY e TITANI, 2000). As peçonhas das serpentes das famílias

Crotalidade e Viperidae contêm muitas metaloproteases (COMINETTI, et al.,

2003).

- Lipases: são enzimas responsáveis pela degradação de lipídeos. As

principais lipases das peçonhas de serpentes são as fosfolipases A2 (PLA2),

que são produzidas pelas glândulas de peçonha da serpente e possui uma

função digestiva. Além dessa função, apresentam muitas atividades

farmacológicas importantes como: neurotoxicidade pré e pós-sináptica,

miotoxicidade local e sistêmica, cardiotoxicidade, atividade anticoagulante,

Page 41: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

40

atividade hemolítica, edematogênica, hipotensiva, convulsivante (DAL BELO, et

al., 2005). Podem ser divididas em dois grupos independentes : de alto e de

baixo peso molecular. As de baixo peso molecular do tipo PLA2 do grupo I (tipo

pancreática), englobam as isoladas das peçonhas elapídicas (FRY e WÜSTER,

2004); as PLA2 do grupo II (tipo sinovial) são encontradas nas peçonhas de

serpentes crotálicas, da família Viperidae (HEINRIKSON et al., 1977 apud FRY

e WÜSTER, 2004).

Algumas peçonhas de serpentes Elapidae (Bungarus fasciatus) e as

Viperidae (Bothrops jararacussu, Bothorps jararaca, Crotalus atrox, Lachesis

muta stenophyrs, dentre outras) contêm várias proteínas como as lectinas do

tipo C (dependentes de cálcio) do grupo VII, as que apresentam domínios de

reconhecimento dos carboidratos (CRDs), capazes de se ligar aos sacarídeos;

e as proteínas tipo-C (CLPs), que possuem outras atividades biológicas como

indução ou inibição da aglutinação plaquetária, e inibição dos fatores de

coagulação (OGAWA, et al., 2005; ABREU, et al., 2006).

As peçonhas variam seus constituintes em função do gênero da

serpente e em cada espécime. Em geral, a predominância das classes

bioquímicas das substâncias presentes na peçonha determina efeitos distintos

de sua toxicidade, sendo divididos em três categorias, de acordo com a

toxicidade: (i) hemotoxinas, promovem hemorragia primária, inchaço e

necrose; (ii) neurotoxinas, incapacidade da contração muscular, parada

cardíaca e respiratória e (iii) cardiotoxinas, toxicidade específica às célula

musculares cardíacas, causando despolarização irreversível das membranas

celulares (LI, et al., 2004).

As peçonhas das serpentes Viperidae do gênero Bothrops sp.

apresentam ação proteolítica, coagulante e hemorrágica; o gênero Lachesis sp.

proteolítica, coagulante, hemorrágica e neurotóxica; o gênero Crotalus sp.

neurotóxica, miotóxica, hemolítica e coagulante (SOURENSE, 2000). A

peçonha de Micrurus sp. é conhecida por sua alta neurotoxicidade,

mionecrose, efeito hemorrágico e cardiovascular (AIRD e DA SILVA JR,

1991).

As serpentes Elapidae australianas apresentam três principais

componentes nas suas peçonhas: enzimas ativadoras de protrombina, lipases

Page 42: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

41

potentes com inúmeras atividades e poderosas neurotoxinas peptídicas (FRY,

1999).

Em 2005, CECHINI e col. publicou um estudo comparativo da variedade

das respostas hemolíticas, miotóxicas, neurotóxica entre as peçonhas de

quatro espécies de corais: M. frontalis frontalis, M. surinamensis surinamensis,

M. lemniscatus carvalhoi e M. nigrocinctus nigrocinctus. Esse estudo

demonstrou que as peçonhas de M. frontalis frontalis e M. nigrocinctus

nigrocinctus apresentam uma maior atividade anticoagulante e fosfolipásica;

em relação a atividade miotóxica, a peçonha de M. surinamensis surinamensis

apresentou baixa atividade comparada às demais; M. nigrocinctus nigrocinctus

mostrou uma maior indução na formação de edema. Relacionando a letalidade

das peçonhas, numa dose em rato de 20 µg/g tanto por administração intra-

peritonial (i.p.), como intra-muscular (i.m.) todas as peçonhas foram letais a

todos os animais, nas doses de 5 e 10 µg/g as peçonhas de M. frontalis

frontalis e M. surinamensis surinamensis apresentaram uma maior letalidade

por ambas as vias. A peçonha de M. lemniscatus carvalhoi produziu um rápido

e progressivo bloqueio na contração muscular em preparação de músculo

biventer de pintainhos e em preparação neuromuscular de ratos. Além disso,

foi completamente abolida a resposta para acetilcolina (Ach) nas preparações

neuromusculares de pintainhos, indicando um bloqueio dos nAchR da placa

motora.

Um estudo comparativo do conteúdo enzimático das peçonhas das

Micrurus presentes no Brasil foi desenvolvido por AIRD e DA SILVA JR,

(1991), com as espécies: M. albicinctus, M. corallinus, M. frontalis altirostris, M.

frontalis brasiliensis, M. frontalis frontalis, M. ibiboboca, M. lemniscatus, M.

rondonianus, M. spixii spixii e M. surinamensis surinamensis, M. fulvius fulvius,

em que foram investigadas a presença de várias enzimas distintas. Esse

estudo mostrou os graus de similaridades e diferenças bioquímicas entre as

espécies do gênero Micrurus (quadro 1).

Page 43: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

42

ENZIMAS

Espécies de

Micrurus sp.

Acetil Hialuron L-

aminodes

5`-nucleo Fosfodies PLA2 Prote Leu

M. albicinctus traços fortes traços fortes traços

moderados

traços

moderados

traços

leves

M. corallinus traços fortes traços fortes traços

moderados

traços

moderados

traços

leves

M. f. altirostris traços fortes traços

moderados

traços

leves

M. f.

brasiliensis

traços fortes traços

moderados

traços

leves

M. f. frontalis traços fortes traços fortes traços fortes traços

leves

M. ibiboboca traços fortes traços fortes traços fortes traços

leves

M. lemniscatus traços

leves

traços fortes traços fortes traços

leves

M. rondonianus traços fortes traços

moderados

traços

leves traços

fortes

M. s. spixii traços fortes traços

moderados

traços

leves

M. s.

surinamensis

traços leves traços leves traços

leves traços

fortes

M. f. fulvius traços fortes traços

moderados

traços

moderados

traços

leves

A biblioteca natural de toxinas está estimada em milhões de toxinas

diferentes (SIEW, et al., 2004). A complexidade desses compostos frente à

diversidade de peptídeos e proteínas presentes, juntamente com o número de

espécies peçonhentas conhecidas, indica que apenas uma inconspícua fração

(menos de 1%) das moléculas bioativas foi identificada e caracterizada

biologicamente (MENEZ, STÖCKLIN e MEBS, 2006).

Fonte: Adaptado de AIRD e DA SILVA JR, 1991.

Quadro 1: Comparação do conteúdo enzimático das peçonhas de Micrurus sp. As abreviações dos nomes das enzimas correspondem a: Acetil= acetilcolinesterase; Hialuron= hialuronidase; L-aminodes= L-aminodesidrogenase; 5-nucleo= 5-nucleotidase; Fosfodies= fosfodiesterase; PLA2= fosfolipase; Prote= protease; Leu= Leucina aminopeptidase.

Page 44: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

43

1.5 AS TOXINAS E OS ESTUDOS FARMACOLÓGICOS E PROTEÔMICOS

O Reino Animal inclui mais de 100 mil espécies venenosas espalhadas

pelos Filos, principalmente entre os cordados (répteis, peixes, anfíbios e

mamíferos), nos equinodermos (estrela-do-mar; ouriço-do-mar), moluscos

(caracóis, polvos), anelídeos (sanguessugas), artrópodes (aracnídeos, insetos,

miriápodes) e cnidários (anêmonas do mar, celenterados e recifes de corais)

(SIEW, et al., 2004).

A biodiversidade, particularmente a disponível no Brasil, expõe a valiosa

oportunidade na pesquisa de moléculas farmacologicamente ativas e possibilita

o acesso a soluções para patologias que a natureza, em seus bilhões de anos

de evolução, foi capaz de gerar. No caso específico das serpentes, os seres

vivos mais estudados em toxinologia, o tempo de evolução é de 130 milhões de

anos, possibilitando a formação de peçonhas altamente evoluídas em

componentes bioativos (SELISTRE-DE-ARAÚJO e DE SOUZA, 2007 (org)).

Esta variedade de moléculas representa uma rica biblioteca

farmacológica acumulada pela natureza ao longo da escala evolutiva. As

relações entre presa x predador geraram um arsenal molecular, dotado de

inúmeras variantes naturais (isoformas), finamente desenhadas para interagir

com seus alvos e deferir suas ações tóxicas, que podem potencialmente ser

utilizadas em benefício do homem (KING, NICHOLSON e SWEEDLER, 2006).

Os estudos com a peçonha e as toxinas das serpentes têm como foco

um ou mais objetivos: (i) determinar o modo e o mecanismo de ação das

toxinas; (ii) encontrar formas de neutralizar a toxicidade e os efeitos adversos

do envenenamento pelas serpentes; (iii) desenvolver ferramentas de pesquisa

específicas que sejam úteis ao entendimento dos processos fisiológicos

normais em níveis celular e molecular; (iv) desenvolver protótipos de agentes

farmacêuticos baseados nas estruturas das toxinas (KINI, 2002).

Fisiologicamente, as peçonhas são interessantes para o ser humano por

serem úteis no estudo dos sistemas fisiológicos como sistema nervoso central

(SNC) e periférico (SNP), sistema cardiovascular, processo de coagulação

sanguínea, a homeostase do organismo, sistema endócrino e de forma ampla o

sistema imune (MENEZ, STÖCKLIN e MEBS, 2006)

Page 45: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

44

Farmacologicamente, as peçonhas são uma fonte primária de fármacos.

Sabe-se que há fármacos derivados de componentes de peçonhas presentes

no mercado (quadro 2), e dúzias de princípios ativos com finalidades

farmacêuticas que atualmente estão sendo avaliados em testes pré–clínicos ou

clínicos (MÉNEZ, STÖCKLIN e MEBS, 2006).

FÁRMACO / NOME COMERCIAL

ALVO E FUNÇÃO / TRATAMENTO ESPÉCIE DE ORIGEM

Captopril; enalapril Inibidor da ECA / hipertensão Bothrops jaracusa

Integrilin (eptifibatide) Inibição da agregação plaquetária/ síndrome aguda coronariana

Sisturus miliarus barbouri

Aggrastat (tirofiban) Inibidor da GPIIb-IIIa / infarto do miocárdio, isquemia refratária

Echis carinatus

Ancrod (Viprinex) Inibidor de fibrinogênio Agkistrodon rhodostoma

Defibrase Inibidor de trombina e protrombina / infarto cerebral agudo, angina peitoral inespecífica

Bothrops moojeni

Hemocoagulase Efeito similar a trombina e atividade tromboplastínica / prevenção e tratamento de hemorragia

Bothrops atrox

Protac / Ativador da Proteína C Ativador da proteína C / diagnóstico clínico de distúrbios hemostáticos

Agkistrodon contortix contortix

Reptilase Diagnóstico de desordens de coagulação sanguínea

Bothrops jararaca

Ecarin Ativador da protrombina / diagnóstico Echis carinatus Exanta / ximelagatran Anticoagulante, inibidor da trombina Cobra

A utilização de toxinas de peçonhas na farmacologia pode ser observada

em várias fisiopatologias. Como exemplo, enzimas da peçonha de Naja sp. e

neurotoxinas que reconhecem os receptores muscarínicos para acetilcolina

(mAchR) isoladas de mambas, demonstraram-se promissoras na elucidação de

doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer’s (MULUGETA, et

al., 2003); a crotoxina (PLA2 citotóxica) isolada da peçonha da serpente

Viperidae Crotalus durissus terrificus tem apresentado eficácia na redução de

tumores em estudos clínicos de Fase I em pacientes com estágio avançado de

câncer (CURA, et al., 2002); inibidores da colagenase induzida pela agregação

plaquetária: as PLA2 Acantin I e II da peçonha da serpente australiana

Acanthophis antarcticus estão sendo utilizadas como potentes substâncias

anticoagulantes (HODGSON e WICKRAMARATWA, 2006).

Fonte: Adaptado de KOH, ARMUGAM e JEYASEETAN, 2006.

Quadro 2 – Fármacos comercializados produzidos a partir de toxinas de serpentes

Page 46: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

45

Portanto, a elucidação da especificidade do perfil proteômico das

peçonhas das serpentes pode ter uma vasta aplicabilidade à medicina (LI, et

al., 2004).

Além disso, algumas toxinas como α-neurotoxinas (α-NTX) têm sido

usadas como ferramentas farmacológicas importantes, como por exemplo, para

o isolamento e caracterização dos nAchR do terminal da placa motora

(TSETLIN e HUCHO, 2004) ou caracterização dos canais iônicos (GROLLEAU,

et al., 2001).

Para elucidar o mecanismo da toxicidade das peçonhas é necessário a

identificação e caracterização das proteínas da peçonha (venômica) de cada

serpente (KING, NICHOLSON, e SWEEDLER, 2006). Tradicionalmente,

proteínas e peptídeos de peçonhas são mensurados por reconhecimento de

anticorpos ou pelo seqüenciamento da extremidade N-terminal. Todavia, esses

métodos são insuficientes para analisar a peçonha como um todo e por isso,

nos últimos anos, a avaliação do seqüenciamento genômico, a eletroforese

bidimensional (SDS-PAGE) e cromatografias de múltiplas dimensões são

utilizadas para separar a complexa mistura das proteínas das peçonhas.

Avanços nos métodos de espectrometria de massas (MS) e o desenvolvimento

de métodos computacionais possibilitaram a identificação de proteínas

expressas em células em várias condições e, vários estudos com peçonhas

das serpentes têm sido realizados a partir de estratégias proteômicas (ALAPE-

GIRÓN, et al., 1994 e 1996; BRUHN, et al., 2001; LI, et al., 2004; SELISTRE-

DE-ARAÚJO e DE SOUZA, 2007 (org)).

Tendo em vista o objetivo do trabalho que era descobrir quais os

componentes que estavam envolvidos no mecanismo de neurotoxicidade da

peçonha de M. ibiboboca foi necessário realizar ensaios bioquímicos de

purificação da peçonha e caracterização bioquímica dos constituintes isolados.

1.6 OS CANAIS IÔNICOS E AS TOXINAS

Canais iônicos são proteínas integrais de membrana formadoras de

poros que abrem ou fecham em resposta a diferentes estímulos (SHOROFSKY

e BALKE, 2001).

Page 47: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

46

As funções das proteínas canais dependentes de voltagem podem ser

divididas em três aspectos complementares: condutância iônica, o gating do

poro e regulação (YU, et al., 2005). Todos os membros da família dos canais

possuem em parte uma modificação do poro, com variações apropriadas para

determinar suas diferentes seletividades iônicas. A cristalografia por raio X de

alguns desses canais demonstra que a abertura do poro é formada por alças

entre os segmentos M1 e M2, enquanto que a extensão do poro é formado por

um pacote inclinado, com arranjo de uma “tenda indígena invertida” dos

segmentos M2. Essa estrutura sugere que o poro é fechado na região

intracelular e funciona como um filtro de seletividade iônica na sua região

extracelular. Este modelo de formação do poro se ajusta bem a riqueza da

estrutura-função dos canais iônicos dependentes de voltagem (CATTERALL,

et al., 2007).

A abertura e o fechamento dos canais dependentes de voltagem para

sódio (Nav), potássio (Kv) e cálcio (Cav) são inicialmente ativados por

mudanças no potencial de membrana, causada pelo movimento de cargas no

gating através da membrana, promovendo mudanças conformacionais na

abertura e fechamento do poro (HODGKIN e HUXLEY, 1952 apud

CATTERALL, 2000). Esses sensores de voltagem e gating de dependência de

voltagem dependem dos segmentos S1 a S4 desses canais, que podem ser

vistos como uma evolutiva adição dos segmentos formadores do poro

(CATTERALL, 2000).

Os membros dessa superfamília de proteínas mantêm de forma crucial a

homeostase iônica em diferentes tipos celulares, participam na sinalização do

cálcio às células não excitáveis, são responsáveis pelo impulso nervoso e

contrações musculares. Devido a essa importância em muitos aspectos da

regulação celular e transdução de sinais, os canais iônico dependentes de

voltagem são alvos moleculares de uma extensa gama de potentes toxinas

biológicas, incluindo as toxinas modificadoras do gating que alteram a cinética

e a ativação/inativação dependente de voltagem (CATTERALL, et al., 2007).

Toxinas protéicas de animais são conhecidas por perturbar os processos

fisiológicos ao se ligarem a elementos chaves como a um receptor, canal iônico

ou uma enzima (TRÉMEAU, et al., 1995).

Page 48: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

47

.A estrutura de abertura dos canais, suas ativações dos sensores de

voltagem, o movimento do gating do canal e suas mudanças conformacionais

nos estados aberto-fechado-inativado funcionam como alvos para a ação das

toxinas (CESTÈLE e CATTERALL, 2000).

Detalhando a estrutura e função de inúmeras toxinas animais prevê-se

várias pesquisas interessantes relacionando a arquitetura protéica ao potencial

terapêutico ou tóxico dessas toxinas. Primeiramente, dependem das

descobertas dos determinantes moleculares específicos das toxinas animais,

que são capazes de reconhecer com alta afinidade os diversos tipos de canais

iônicos. Isto porque, geralmente as toxinas exibem uma vasta gama de alvos

para canais iônicos (Nav, Kv, Cav, e cloreto (Cl)), porém, talvez apenas

algumas possuam valor terapêutico (MOUHAT, et al., 2004).

1.6.1 A Ação das Toxinas nos Canais para Potássio

Os canais para potássio (K+) fazem parte da mais extensa família dos

canais iônicos no genoma humano e são marcados pela sua diversidade.

Canais Kv são produtos de 40 genes em 12 subfamílias distintas baseadas na

homologia da sequência de aminoácidos (Kv1 até Kv12) (JAN e JAN, 1997).

Relacionando-os com os canais para potássio ativados pelo cálcio (KCa), estes

são codificados por 8 genes em 4 subfamílias (KOHLER, et al., 1996). Tais

canais são ativados pela despolarização, ocorrendo o efluxo dos íons K+, e em

seguida repolarização da membrana (YU e CATTERALL, 2004).

As subfamílias Kv 1-9 são as mais bem relatadas, apresentam como

principal função a seletividade ao efluxo de K+. Em células eletricamente

excitáveis, os canais Kv possuem o papel de restaurar o potencial de

membrana, repolarizando as células durante o caimento da fase do potencial

de ação, e hiperpolarizando-as entre os potenciais de ação (JAN e JAN, 1997).

Nas células não excitáveis, como linfócitos, os canais Kv regulam o potencial de

membrana celular e assim controlam a direção na entrada do Ca2+ (CAHALAN,

WULFFE e CHANDY, 2001). Essa regulação tem importância nas diversas

funções celulares. Nas células epiteliais da pele, cóclea auditiva, e outros

Page 49: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

48

tecidos, participam de transportes iônicos transepiteliais, bem como da

sinalização celular (YU, et al., 2005).

As toxinas animais que agem sobre canais para potássio vêm sendo

isoladas de várias espécies de animais como gastrópodes marinhos (κ-PVIIA),

aranhas, escorpiões (maurotoxina), anêmonas do mar e serpentes

(dendrotoxina I) (MOUHAT, et al., 2004). Essas toxinas contêm entre 22 e 60

resíduos de aminoácidos e podem apresentar de duas a quatro pontes

dissulfeto. Elas podem ser classificadas em até oito categorias dependendo do

tipo de dobramento estrutural que apresentem (Figura 5).

Figura 5: Diferentes tipos de dobramentos das toxinas de várias espécies animais que agem em canais Kv. Estruturas em hélice são demonstradas em vermelho (α-hélices) ou em laranja (310 hélice); folhas β-pregueadas em azul e pontes dissulfeto em verde. As extremidades N- e C-terminal estão indicadas. Todas as estruturas 3-D das toxinas são de domínio público. (Adaptado de: MOUHAT et al., 2004).

Page 50: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

49

Esses dobramentos contêm entre dois e quatro elementos definidos da

estrutura secundária (tabela 1) e uma gama de combinações das folhas β

(figura 6). Essas toxinas com diferentes dobramentos são capazes de

reconhecer vários subtipos de canais Kv e podem ter algum determinante

molecular chave em comum (MOUHAT, et al., 2004).

Os canais para potássio do tipo ether-à-go-go (Kv10, Kv11 e Kv12), que

participam da repolarização do potencial de ação cardíaco em humanos,

também são alvos de toxinas peptídicas das peçonhas de escorpião, aranha e

venenos de anêmona do mar (WANKE e RESTANO-CASSULINI, 2007).

ESTRUTURA/ DOBRAMENTO/ MOTIVO

DESCRIÇÃO

310 Hélice à direita do tipo 310 (três resíduos de aminoácidos em volta da hélice).

Α Hélice à direita do tipo 3.613 (3,6 resíduos de aminoácidos em volta da hélice), também denominada α-hélice.

310α Hélice do tipo 310 seguida por α-hélice dentro de uma estrutura peptídica ou protéica (N para C-terminal).

Αα Duas α-hélices consecutivas dentro de uma estrutura protéica ou peptídica.

Β Folha β anti-paralelas em filamento.

Ββ Duas folhas β anti-paralelas em filamento.

Βββ Três folhas β anti-paralelas em filamento.

β1β1β2 β2 β2 Duas folhas β consecutivas e anti-paralelas dentro de uma estrutura protéica ou peptídica (a primeira é formada por duas folhas β a segunda por três folhas).

Αββ Combinação de uma α-hélice (N-terminal) seguida de duas folhas β.

Βαββ O primeiro filamento de α-hélice (N-terminal), segundo e terceiro filamentos (C-terminal) de três fios de folhas β.

α/β andaime O motivo da arquitetura em que a estrutura helicoidal está conectada a uma folha β por duas pontes dissulfeto.

Adaptado de: MOUHAT et al., 2004.

Tabela 1: Arquitetura das toxinas: dobramentos encontrados nas toxinas animais

Page 51: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

50

1.6.2 A Ação das Toxinas nos Canais para Cálcio

Os canais Cav no sistema nervoso, cardiovascular e endócrino medeiam

o influxo de Ca2+ em resposta a despolarização da membrana e regulam os

processos intracelulares como contração muscular cardíaca e lisa, liberação de

hormônios, neurotransmissão e expressão gênica (McDONOUGH, 2007).

Os canais para cálcio têm sido caracterizados bioquimicamente e

correspondem a proteínas complexas compostas por quatro ou cinco

subunidades distintas, que são codificadas por múltiplos genes (ERTEL, et al.,

2000). A subunidade α1 de 190-250 kDa é a maior subunidade, a qual possui

dez tipos de genes distintos que caracterizam a diversidade dos canais:

Figura 6: Dados estruturais e farmacológicos das toxinas animais nos canais Kv. São demonstradas as estruturas primárias, a posição relativa das estruturas secundárias e as ligações entre as cisteínas. As espécies animais, o tamanho das cadeias polipeptídicas, a correspondência do tipo de dobramento e a atividade farmacológica sobre os canais K+. Os canais do tipo IK são canais para K+ ativados pelo Ca2+, de condutância intermediária; canais SK são canais para K+ ativados pelo Ca2+, de baixa condutância; BK são canais para K+ ativados pelo Ca2+, de alta condutância; Kv são os canais para K+ ativados por voltagem (Adaptado de: MOUHAT et al., 2004).

Page 52: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

51

Cav1.1-1.4, Cav2.1-2.3 e Cav3.1-3.3. A subunidade α1 incorpora o poro, o

sensor de voltagem e o aparato do gating, além disso compreende os sítios

conhecidos de regulação do canal por segundos mensageiros, drogas e toxinas

(McDONOUGH, 2007). Uma subunidade β intracelular e uma subunidade

transmembrana complexa α2δ são componentes da maioria dos tipos de canais

para cálcio. A subunidade γ tem sido localizada em canais para cálcio dos

músculos esqueléticos e subunidades relacionadas são expressas no coração

e cérebro (ERTEL, et al., 2000).

Considerando o envolvimento dos canais para cálcio nos processos

fisiológicos eles são alvos de grande interesse na farmacologia. Com a

exceção da classe de dihydropyridina de pequenas moléculas, os melhores

ligantes conhecidos são peptídeos ou poliaminas isoladas das peçonhas de

serpentes (figura 7c), aranha ou escorpião (McDONOUGH, 2007).

Toxinas que agem sobre os canais para cálcio podem ser classificadas

em até quatro tipos de dobramentos (figura 8). Estas incluem dobramentos

peptídicos do tipo ββ (bicho Ptu 1), βββ (ω-conotoxina, de gastrópode cônico),

β1β1β2β2β2 (toxina de serpente, FS2) e β1ααβ2β1β1β2αβ1β1 (toxina viral fúngica,

KP4) e serve apenas para ilustrar a complexidade das toxinas que agem nos

canais para cálcio (MOUHAT, et al., 2004).

Figura 7: Representação do modelo estrutural 3-D das toxinas animais que agem sobre os canais Cav. (a)-(c) Diferentes tipos de dobramentos das toxinas de várias espécies animais; (d) Exemplo representativo de uma toxina viral fúngica (Fonte: MOUHAT et al., 2004).

Page 53: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

52

Estudos mostram que mais de 50 toxinas peptídicas inibem o

funcionamento dos canais para cálcio (McDONOUGH, 2007). Uma toxina

isolada do escorpião Parabuthus transvaalicus, kurtoxina (dobramento do tipo

α/β) age sobre os canais para cálcio ativados por baixa voltagem (Cav do tipo

T) (McDONOUGH, 2007), apresenta parcialmente similaridade estrutural com

as α-toxinas de escorpião e age reduzindo a velocidade de inativação dos

canais para sódio e cálcio (OLAMENDI-PORTUGAL, et al., 2002). A ω-

conotoxina, produzida pelo gastrópode cônico marinho, é similar a algumas

toxinas que agem sobre os canais para potássio e possui ação bloqueadora do

poro do canal para cálcio (MOUHAT, et al., 2004).

1.6.3 A Ação das Toxinas nos Canais para Cloreto

Os canais para cloreto (ClC) – homodímeros com um poro de passagem

em cada subunidade – tiveram suas propriedades moleculares evidenciadas a

partir da isoforma ClC-0, presente no músculo do peixe elétrico. Esses canais

são específicos para pequenos íons aniônicos monovalentes (Cl-, Br-, I-, NO3-,

Figura 8: Dados estruturais e farmacológicos das toxinas animais que agem nos canais Cav. São apresentadas estruturas primárias, posição relativa da estrutura secundária e ligações de cisteínas (Adaptado de: MOUHAT et al., 2004).

Page 54: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

53

SCN-, mas não o F-). Entre esses, apenas o Cl- é abundante biologicamente

(exceto em plantas). Experimentos usando uma mistura de íons sugerem que

vários íons ocupam simultaneamente o poro durante a condução (MILLER,

2006).

Os canais ClC abrem e fecham por dois processos separados chamados

“gating rápido” e “gating comum”. A ação na escala de tempo, em

milisegundos, corresponde a uma simples mudança conformacional na

abertura e fechamento que ocorre com uma subunidade independente da outra

(MILLER, 2006).

A grande importância funcional desses canais ClC é evidenciada devido

a descoberta de uma crescente variedade de doenças humanas relacionadas

aos genes que codificam estas proteínas, como por exemplo a isoforma ClC-

156, presente na membrana plasmática dos miócitos, estando associada a

muitas miopatias causando hiperexcitabilidade muscular; ClC-257, difundido na

membrana plasmática das células causando epilepsia idiopática; ClC-760,

difundida no endossomo e lisossomo das células, estando associada a

osteoporose, causando densidade e fragilidade nos ossos e insuficiência

lisossomal (MILLER, 2006).

Duas toxinas têm sido descritas que agem sobre os canais para cloreto.

Uma pelos seus 36 resíduos de aminoácidos, a clorotoxina (figura 9) e a Bm-

12, ambas extraídas de escorpião, apresentam dobramentos do tipo

sanduíche α/β. Essas toxinas de cadeias curtas possuem quatro pontes

dissulfeto unindo suas estruturas (MOUHAT, et al., 2004).

Figura 9: Dados estruturais e farmacológicos da toxina de escorpião que age nos canais para ClC. (a) Representação do modelo estrutural 3-D da clorotoxina; (b) Estrutura primária, posição relativa da estrutura secundária e ligações de cisteínas (linhas horizontais pretas). Está indicado, a espécie animal, o tipo de dobramento da toxina e atividade farmacológica (Adaptado de: MOUHAT, 2004, p. 722).

Page 55: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

54

1.7 OS CANAIS PARA SÓDIO: PRINCIPAIS ALVOS MOLECULARES DAS

NEUROTOXINAS

1.7.1 A Estrutura do Canal para Sódio Dependente de Voltagem

Os canais Nav são especializados na sinalização elétrica, sendo

responsáveis pelo rápido influxo transiente de íons sódio (Na+), que gera o

potencial de ação (PA) em nervos, músculos e células endócrinas (YU e

CATTERALL, 2004). No genoma humano, dez genes são responsáveis pela

tradução das subunidades α dos canais Nav, sendo que nove fazem parte de

uma família que apresenta mais de 70% de identidade na sequência dos

aminoácidos que compõe a região transmembrana do canal (GOLDIN, et al.,

2000). Estes canais são grandes complexos multiméricos correspondendo a

proteínas transmembrana e consistem de um poro formado por associação de

uma subunidade α, que contém quatro domínios (I-IV) homólogos, cada um

com seis segmentos transmembrana (S1-S6) em forma de hélices

(aproximadamente 260 kDa), que pode está associada com até quatro

subunidades β (β1-β4) menores (30-40 kDa), auxiliares (figura 10)

(CATTERALL, 2000; YU e CATTERALL, 2004; YU, et al., 2005).

Os segmentos S5 e S6 de cada domínio da subunidade α compreendem

a região formadora do poro do canal e os segmentos S4 de todos os domínios

contêm cargas positivas em seus resíduos de aminoácidos sempre na terceira

posição, que são as peças-chave para a ativação do canal, chamado então de

sensor de ativação do canal (GUY e SEETHARAMULU, 1986 apud BOSMANS

e TYTGAT, 2007). A pequena alça ligada aos domínios homólogos III e IV,

particularmente uma pequena sequência de resíduos hidrofóbicos funciona

como o gate de inativação do canal (YU, et al., 2004). As subunidades β dos

canais Nav são responsáveis por duas funções: modulação do gating do canal

e interação célula-célula (STEVENS, et al., 2001).

Page 56: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

55

Durante o PA, os canais Nav transitam por três estados: fechado, aberto

e inativado. A ativação dos canais Nav é mediada pela hélice S4 do sensor de

voltagem de um domínio, ao passo que uma modificação localizada na alça

dos domínios III e IV promove a inativação (EKBERG, CRAIK e ADAMS, 2007).

Quando as membranas das células excitáveis são despolarizadas em

milivolts (mV), ocorre ativação da população de canais Nav seguida de uma

inativação em milésimos de segundos (ms) (figura 11). O influxo dos íons Na+

Figura 10: Estrutura do canal para sódio dependente de voltagem (Nav). (a) Esquema representativo das subunidades do canal. A subunidade α do canal Nav 1.2 está ilustrada junto a subunidade β1 e β2, que interagem com as alças da subunidade α. Os algarismos I-IV representam os quatro domínios; S5 e S6 estão representados em verde e são os segmentos formadores do poro; as hélices S4, representadas em amarelo, compõem o sensor de voltagem. Os círculos azuis dos domínios III e IV indicam o gate de inativação do canal e os círculos em vermelho os sítios de ligação para as proteínas cinase A e C. (b) Estrutura tridimensional do canal Nav. (c) Esquema representativo de uma canal Nav em bactérias (NaChBac) (Adaptado de: YU e CATTERALL, 2003).

Page 57: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

56

pelas proteínas transmembrana formadoras do canal constitui a corrente

elétrica que produz uma mudança na diferença de potencial de membrana,

despolarizando-a, ocorrendo propagação do PA (YU, et al., 2004).

As propriedades passivas dessa atividade elétrica podem ser

caracterizadas completamente pela Lei de Ohm, que estabelece uma relação

entre corrente (I), voltagem (V) e resistência (R). Enquanto que as

propriedades elétricas ativas estão relacionadas aos componentes citados,

Figura 11: Mecanismo de inativação do canal para sódio dependente de voltagem. (a) O esquema mostra a alça intracelular ligada aos domínios III e IV do canal Nav formando um dobramento crítico com um resíduo de fenilalanina que fecha a abertura do poro durante a inativação (b) Estrutura tridimensional do segmento central do gate de inativação do canal Nav determinado por ressonância magnética nuclear multidimensional. Os resíduos do motivo IFM (Ile-Fen-Met), importantes para o fechamento da boca do canal estão representados em amarelo (Fonte: YU e CATTERALL, 2003).

Page 58: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

57

porém com uma complexidade maior adicionando a dependência de voltagem

e tempo para as mudanças na condução da membrana (HILLER, 2001).

O estado de excitabilidade é indicado pela habilidade de uma corrente

despolarizante em deflagrar um PA que esteja acima do limiar de excitabilidade

(threshold), onde a permeabilidade da membrana passa a ser dominada por

uma condutância Na+. O limiar de excitabilidade é o valor do potencial de

membrana no qual a corrente de entrada de Na+ é igual à corrente de saída de

K+, logo, qualquer despolarização acima desse valor promoverá uma mudança

não linear na condutância ao Na+ resultando numa rápida despolarização da

membrana (HILLER, 2001). A quantidade de corrente necessária para se

atingir o limiar de excitabilidade denomina-se reobase (LANCASTER e

WEINREICH, 2001). Quando o PA é deflagrado ocorre um influxo de íons

positivos (cerca de 10 a 20 vezes mais permeáveis ao Na+ do que ao K+

promovendo uma mudança na polaridade da membrana, que de negativa na

sua porção interna (repouso) passa a uma polaridade positiva (despolarização).

Essa polaridade é restaurada num evento denominado repolarização, devido

ao bloqueio do influxo de íons positivos e simultâneo efluxo de íons K+ por

difusão e canais Kv (HILLER, 2001).

A variedade dos diferentes canais Nav tem sido identificada por registros

eletrofisiológicos, purificação bioquímica e clonagem molecular (GOLDIN, et al.,

2000). Foram identificadas nove subunidades α de Nav em mamíferos (Nav1.1-

Nav1.9) distribuídos de forma e em tecidos diferentes (tabela 2), com

propriedades biofísicas e sensibilidade à toxina TTX distintas (EKBERG,

CRAIK e ADAMS, 2007).

Page 59: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

58

TIPO DO Nav NOME

FORMAL

SIMBOLO DO GENE LOCALIZAÇÃO

CROMOSSÔMICA

TECIDO

PRIMÁRIO

Nav1.1 ratI; HBSCI; GPBI; SCN1A

SCN1A

Camundongo 2 Humano 2q24

SNC SNP

Nav1.2 ratII HBSCII HBA

SCN2A Camundongo 2 Humano 2q23-24

SNC

Nav1.3 ratIII SCN3A Camundongo 2 Humano 2q24

SNC

Nav1.4 SkM1, µ1 SCN4A Camundongo 11 Humano 17q23-25

Músculo esquelético

Nav1.5 SkM2 H1

SCN5A Camundongo 9 Humano 3p21

Músculo esquelético, coração

Nav1.6 NaCh6 PN4 Scn8a CerIII

SCN8A Camundongo 15 Humano 12q13

SNP,SNC

Nav1.7 NaS hNE-Na PN1

SCN9A Camundongo 2 Humano 2q24

SNP, Células de Schuwann

Nav1.8 SNS PN3 NaNG

SCN10A Camundongo 9 Humano 3p22-24

DRG

Nav1.9 NaN SNS2 PN5 NaT SCN12A

SCN11A Camundongo 9 Humano 3p21-24

SNP DRG

Nax Nav2.1 Na-G SCL11 Nav2.3

SCN7A SCN6Ab

Camundongo 2 Humano 2q21-23

Coração, útero, músculo esquelético, astrócitos, DRG

A partir da análise filogenética dos canais Nav utilizando a sequência de

aminoácidos de cada proteína canal foi observado que os canais Nav1.1,

Nav1.2, Nav1.3 e Nav1.7 compreendem um grupo de canais geneticamente

Tabela 2: As subunidades α dos Canais para Sódio de Mamíferos

(Adaptado de: GOLDIN, et al., 2000; RUSH, CUMMINS e WAXMAN, 2007).

Page 60: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

59

mais próximos, em que todos apresentam alta sensibilidade a TTX e são

amplamente expressos em neurônios. Esses genes estão localizados no

cromossomo humano 2q23-24 e partilham de uma mesma origem evolutiva. Os

canais Nav1.5, Nav1.8 e Nav1.9 apresentam grande similaridade genética entre

si e resistência a graus variados de TTX, estando localizados no coração e

neurônios do gânglio da raiz dorsal (DRG), e o gene responsável é o 3p21-24.

Os canais Nav1.4 (expresso primariamente em músculos esqueléticos) e

Nav1.6 (expresso no SNC) encontram-se geneticamente isolados dos dois

outros grupos de Nav (GOLDIN, et al., 2000; CATTERALL, 2000).

1.7.2 Os Canais para Sódio Dependentes de Voltagem e os Neurônios do

Gânglio da Raiz Dorsal da Medula Espinhal

Os canais Nav1.8 e Nav1.9 mediados pelas correntes de Na+ resistentes

a TTX são comuns em alguns neurônios sensibilizados para a nocicepção,

como os neurônios do gânglio nodoso (MOREIRA, 2005, 109f) e neurônios do

gânglio da raiz dorsal (DRG) (GORDON e GUREVITZ, 2003).

Os neurônios DRG estão presentes nos gânglios que se localizam nas

raízes dorsais dos nervos raquidianos (figura 12). Esses gânglios apresentam

sobretudo uma característica de possuir os corpos celulares de neurônios

aferentes primários sensitivos (KANDEL, et al., 2003).

Figura 12: Esquema da medula espinhal em associação aos nervos raquidianos. A figura mostra o gânglio da raiz dorsal dos nervos raquidianos (Adaptado de: KANDEL et. al., 2003).

Page 61: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

60

Os neurônios DRG são pseudounipolares, com dois axônios, sendo um

dirigido à periferia para fazer a enervação sensitiva dos tecidos e o outro

voltado para a medula espinhal (KANDEL, et al., 2003).

Neurônios aferentes primários (neurônios sensoriais) são altamente

especializados em carregar informações sensoriais da periferia para o sistema

nervoso central. Os corpos celulares desses neurônios sensoriais são

encontrados no gânglio da raiz dorsal, localizados nos espaços intervertebrais.

Os processos periféricos desses neurônios se estendem para os músculos e

pele, e seus processos centrais são encaminhados pela medula espinhal e

raízes dorsais (TANG, et al., 2003). O soma do neurônio DRG é esférico e está

localizado ao lado da substância branca do axônio principal (figura 13).

Neurônios DRG constituem uma população de diferentes classes e

tamanhos celulares importantes na diferenciação desses neurônios quanto à

população de canais Nav, a velocidade de condução e, consequentemente, o

tipo de informação a ser transmitida (DEVOR, 1999).

Os neurônios com pequenos diâmetros do axônio e corpos celulares são

os responsáveis pela transmissão de informações de temperatura e nocicepção

e neurônios com grande diâmetro do axônio e corpos celulares estão

associados a informações sobre mecanocepção (DEVOR, 1999).

Quanto à velocidade de condução das fibras dos neurônios DRG, estes

podem ser classificados em quatro grupos: Aα (30-55 ms), Aβ (14-30 ms), Aδ

(2.2-8 ms) e fibras C (menor que 1,4 ms) (HARPER e LAWSON, 1985 apud

Figura 13: Esquema de um neurônio do gânglio da raiz dorsal (DRG). Representa um neurônio pseudounipolar e sua ligação com o SNC e SNP (Adaptado de: KANDEL et al., 2003)

Page 62: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

61

RUSH, CUMMINS e WAXMAN, 2007). As fibras que transmitem a informação

para os mecanoceptores do músculo e esqueleto são as Aα e Aβ;

mecanoceptores cutâneos e subcutâneos (Aβ e Aδ) e nocicepção (Aδ e C).

O sistema nociceptivo de mamíferos está baseado em axônios aferentes

compostos por fibras Aδ mielinizadas e algumas sub-populações de fibras C

amielínicas (ERNE-BRAND, et al., 1999)

Muitas dessas características têm sido associadas com a expressão de

subtipos particulares de canais Nav nas subclasses específicas dos neurônios

DRG. As populações heterogêneas de canais para sódio estão correlacionadas

ao tipo e tamanho celulares (tabela 3). As células com diâmetro maior,

envolvidas com a mecanocepção, predominantemente expressam os canais

Nav sensíveis à tetrodotoxina (TTX) do tipo Nav1.1, Nav1.6 e Nav1.7 com a

expressão de alguns canais Nav resistentes à TTX (TTX-R) do tipo Nav1.8. As

células com diâmetro menor expressam canais Nav sensíveis à tetrodotoxina

(TTX-S) em conjunto com os TTX-R Nav1.8 e Nav1.9 (RUSH, CUMMINS e

WAXMAN, 2007).

ISOFORMA DO CANAL Nav

TIPO (FARMACOLOGIA/CINÉTICA)

CARACTERÍSTICA BIOFÍSICA EM DRG

PAPEL NA GERAÇÃO DO PA

Nav1.1 TTX-S, rápida Desconhecida Desconhecido

Nav1.2 TTX-S, rápida Ativação/inativação na despolarização nos canais TTX-S; pode produzir reaparecimento da corrente

Pode manter os disparos quando mal expressos em neurônios com danos

Nav1.3 TTX-S, rápida Repressão rápida; corrente persistente; correntes rampa; pode produzir reaparecimento da corrente

Disparos ectópicos quando mal expressos em axotomi/SCI

Nav1.4 TTX-S, rápida Nenhuma Nenhum

Nav1.5 TTX-R, rápida Desconhecido Desconhecido

Nav1.6 TTX-S, rápida Repressão rápida; corrente persistente; pode produzir reaparecimento da corrente

Mantém alta freqüência de disparos quando presente

Nav1.7 TTX-S, rápida Lentifica a inativação conduzindo as correntes rampa; lentifica a repressão.

Amplifica as correntes rampa com pequenas contribuições

Nav1.8 TTX-R, lenta Ativação muito despolarizante/ inativação, rápida repressão

Maiores contribuintes do PA e disparos contínuos em neurônios pequenos

Nav1.9 TTX-R, lenta Ativação hiperpolarizante; sobreposição das curvas de ativação/inativação, inativação muito lenta.

Amplifica os PA e/ou mantém a ativação dos canais Nav1.8

Tabela 3: Isoformas dos canais Nav presentes em neurônios DRG e suas características

Adaptado de: RUSH, CUMMINS e WAXMAN, 2007

Page 63: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

62

Recentemente foram observados padrões distintos na recuperação das

correntes de inativação dos neurônios DRG. As correntes TTX-S dos neurônios

DRG grandes (normais) tendem a ter características de repressão

relativamente rápidas correlacionando essas correntes a expressão dos Nav1.6

nesses neurônios (EVERILL, et al., 2001). Enquanto que as correntes TTX-R

em neurônios DRG pequenos (normais) associados à nocicepção, apresentam

uma lenta inativação (RUSH, CUMMINS e WAXMAN, 2007) (figura 14).

Mudanças na excitabilidade dos neurônios DRG são importantes em

inúmeras condições patológicas. Por exemplo, em modelos animais da dor

neuropática, que produz hiperalgia e alodinia, os neurônios DRG com

freqüência exibem sinais de hiperexcitabilidade, como descargas espontâneas

ectópicas, uma redução na reobase e um número maior de PAs evocados por

correntes despolarizantes contínuas (ABDULLA e SMITH, 2001).

Sabe-se que os canais Nav1.7, Nav1.8 e Nav1.9 são amplamente

expressos em nervos periféricos e possuem relação direta com a dor (DIB-

HAJJ, et al., 2007). Estudos com fibras C de neurônios DRG ligados ao nervo

isquiático apontaram que eles podem gerar picos lentos dependentes de Na+

que são resistentes à TTX (BUCHANAN, HARPER e ELLIOTT, 1996), e

posteriormente, descobriu-se que a principal isoforma do canal Nav TTX-R

Figura 14: Correntes de Nav1.8 TTX-R apresentam maior despolarização dependente de voltagem que correntes TTX-S em neurônios DRG. (a) Corrente total de Na+ em neurônios DRG usando um potencial de holding de –100 mV (25 ms), passando para potencial de -80 mV e para um pulso despolarizante de +40 mv; (b) Correntes TTX-R farmacologicamente isoladas usando TTX (100 nM); (c) Correntes TTX-S obtidas por subtração (b-a). Adaptado de: RUSH, CUMMINS e WAXMAN, 2007

Page 64: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

63

responsável por essas correntes são os Nav 1.8 (AKOPIAN, SIVIOLITTI e

WOOD, 1996).

Devido às propriedades e importância fisiológica dos canais Nav para o

sistema nervoso, esses canais acabam sendo alvos moleculares para vários

grupos de NTXs que provocam forte alteração funcional do canal por se

ligarem aos sítios receptores específicos do canal (CESTÈLE e CATTERALL,

2000; CATTERALL, et al., 2007).

1.7.3 Os canais para Sódio e as Neurotoxinas

As NTXs agem em seis diferentes sítios distintos dos canais Nav (figura

15) (CATTERALL, et al., 2007). Inicialmente, apenas quatro sítios (sítio 1, 2, 3

e 4) do canal Nav teriam sido identificados como alvos das toxinas, e as

alterações observadas foram apenas na permeabilidade iônica ou do gating

dependente de voltagem. Posteriormente, estudos comprovaram evidências

das NTXs agindo sobre os sítios 5 e 6 do canal (CESTÈLE e CATTERALL,

2000; CATTERALL, et al., 2007).

Os sítios receptores nos quais as toxinas afetam o gating foram

localizados por estarem acoplados alostéricamente, o que sugere que a

mudança conformacional induzida pela ligação da toxina altera o equilíbrio

entre os estados de abertura/fechamento/inativação do canal, bem como, na

sua conformação e afinidade às outras NTXs (CATTERALL, et al., 2007).

Farmacologicamente, as NTXs podem ser classificar em três grupos,

baseados em seus efeitos funcionais nos canais Nav e pela localização dos

seus sítios receptores: (i) toxinas bloqueadoras do poro; (ii) toxinas que afetam

o gating dos sítios receptores imersos na membrana; (iii) toxinas que afetam o

gating dos sítios receptores extracelulares (CESTÈLE e CATTERALL, 2000)

(tabela 4).

Page 65: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

Sítio Receptor Neurotoxina

Sítio 1 Tetrodotoxina Saxitoxina µ-conotoxina

Sítio 2 Batracotoxina Veratridina Grayanotoxina Aconitina

Sítio 3 α-toxina de escorpiãoToxina de anêmona do mar Atracotoxina

Sítio 4 β-toxina de escorpião

Sítio 5 Brevetoxina

Sítio 6 δ- conotoxina

Figura 15: Proposta dos arranjos transmembrana da subunidade α dos canais para sde voltagem. Localização dos sítios receptores para as NTXs em canais Nareceptores dos sítios 3 e 4, apenas alguns segmentos responsáveis pelos cinco primeafinidade ao ligante são realçados (Adaptado de:

Tabela 4: Relação entre os sítio

Neurotoxina Efeito Funcional

Tetrodotoxina Saxitoxina

conotoxina

Bloqueio do poro

Batracotoxina Veratridina Grayanotoxina Aconitina

Ativação persistente; aumento da ativação e bloqueio da ativação

toxina de escorpião Toxina de anêmona do

Atracotoxina

Inativação lenta

toxina de escorpião Aumenta da ativação

Brevetoxina Aumento da ativação e bloqueio da inativação

conotoxina Inativação lenta

dos arranjos transmembrana da subunidade α dos canais para s. Localização dos sítios receptores para as NTXs em canais Nav de mamíferos. Para os

receptores dos sítios 3 e 4, apenas alguns segmentos responsáveis pelos cinco primeAdaptado de: CESTÈLE e CATTERALL, 2000).

sítios dos canais Nav alvos das NTXs e o efeito sobre o canal

(Adaptado de: CATTERALL, et al., 2007)

64

Ativação persistente; aumento da ativação e

Aumento da ativação e bloqueio da

dos arranjos transmembrana da subunidade α dos canais para sódio dependentes de mamíferos. Para os

receptores dos sítios 3 e 4, apenas alguns segmentos responsáveis pelos cinco primeiros dobramentos de

e o efeito sobre o canal

Sítio 1

CATTERALL, et al., 2007)

Page 66: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

65

As neurotoxinas bloqueadoras do poro compreendem as toxinas que

se ligam ao sítio 1. Dois diferentes grupos de NTXs se ligam a esse sítio: as

guanidinas heterocíclicas (hidrossolúveis): a TTX isolada dos tecidos de mais

de 40 espécies de peixes e de moluscos, caranguejos, cefalópodes e sapos da

América Central e a saxitoxina (STX), isolada do dinoflagelado Gonyaulax

catenella, mas podendo ser encontrada em mexilhões e moluscos bivalves que

deles se alimentam; e o grupo dos peptídeos tóxicos µ-conotoxina isolados de

Conus geographus (molusco gastrópode) (KEIZER, et al., 2003).

Por se ligarem ao sítio 1 bloqueiam a condutância do canal para o íon

Na+. Os resíduos de aminoácidos que formam os receptores para NTXs do sítio

1 estão localizados na alça do poro e apresentam a forma específica para a

seletividade iônica (CESTÈLE e CATTERALL, 2000; CATTERALL et al., 2007).

As toxinas que alteram o gating ligando-se aos sítios receptores

intramembranares do canal compreendem as toxinas solúveis em lipídeos

que agem nos receptores para os sítios 2 e 5 dos canais Nav. Estas toxinas são

moduladoras alostéricas da função do canal, e se ligam aos sítios que são

distintos do poro ou do sensor de voltagem favorecendo o estado aberto do

canal por meio de interação alostérica indireta (CATTERALL, et al., 2007).

Algumas toxinas oriundas de plantas, como a grayanotoxina (encontrada em

plantas da família Ericaceae), os alcalóides veratridina (Liliaceae), aconitina (da

planta Acotinum nepellus) e batracotoxina (extraída da pele do sapo

colombiano Phyllobates aurotaenia) ligam-se aos receptores do sítio 2. Elas

interagem preferencialmente com o estado ativado do canal Nav causando uma

ativação persistente, o que leva ao bloqueio da inativação do canal Nav

alterando a dependência de voltagem da ativação para um potencial mais

negativo (CESTÈLE e CATTERALL, 2000).

As toxinas solúveis em lipídeos, brevetoxina e ciguatoxina extraídas,

respectivamente, dos dinoflagelados Karenia brevis (anteriormente,

Gymnodinium breve ou Ptychodiscus brevis) e Gambierdicus toxicus, realçam a

atividade nos canais Nav nos receptores do sítio 5, causando uma mudança na

ativação do canal para um potencial de membrana mais negativo e um

bloqueio da inativação (CATTERALL, et al., 2007).

Page 67: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

66

As toxinas polipeptídicas modificadoras do gating para os sítios

receptores extracelulares abrangem os grupos das toxinas que se ligam aos

sítios 3, 4 e 6 dos canais Nav.

O receptor para NTX de sítio 3 é ocupado por vários grupos de toxinas

polipeptídicas: α-toxinas de escorpião, toxinas de anêmonas do mar e algumas

toxinas de aranhas. Essas toxinas lentificam ou bloqueiam a inativação do

canal Nav. As α-toxinas de escorpião são uma família com estrutura e função

relacionadas aos peptídeos neurotóxicos contendo de 60 a 70 resíduos de

aminoácidos interligados por quatro pontes dissulfeto, que são seletivas às

células e tecidos de mamíferos (BOSMAN e TYTGAT, 2007). Elas podem ser

divididas em duas classes: α-toxinas de escorpião, que promovem uma lenta

inativação (GORDON e GUREVITZ, 2003), cuja ação específica dessas toxinas

implica na inativação do potencial de membrana afetando a estrutura do sítio 3

do canal Nav do cérebro de rato, evitando a mudança conformacional

requerida pela inativação rápida (CATTERALL et al., 2007). E as β-toxinas de

escorpião, que aumentam a ativação do canal e se ligam ao sítio 4 do receptor.

Estas são compostas de 60 a 65 resíduos de aminoácidos interligados por

quatro pontes dissulfeto. As β-toxinas de escorpião induzem uma mudança na

dependência de voltagem na ativação do canal direcionando-o à

hiperpolarização e a uma redução no pico da amplitude da corrente de Na+

(LEIPOD, et al., 2006). Recentemente a toxina da aranha Macrothele gigas,

Magi toxina 5, demonstrou ligação ao sítio 4, sendo a primeira toxina de aranha

a apresentar essa atividade (CATTERALL, et al., 2007).

A NTX que se liga ao sítio 6 é a δ-conotoxina. Ela lentifica a inativação

do canal Nav por interagir com um grupo de resíduos de aminoácidos no

segmento IVS4, próximo ao sítio 3 do receptor. Sua ação e ligação são

sinérgicas às α-toxinas de escorpião, provavelmente porque ambas se ligam ao

sensor de voltagem IVS4 numa conformação similar (EKBERG, CRAIK e

ADAMS, 2007).

Estruturalmente, oito diferentes dobramentos das toxinas que agem

sobre os canais Nav já foram descritos (figura 16). O dobramento mais simples

inclui três famílias baseado nas estruturas das folhas β pregueadas dos tipos

ββ (huwentoxina IV, de aranha), βββ (ACTX-HiOB4219, de aranha) e ββββ

(ATX Ia, de anêmona do mar), e uma família baseada na estrutura da α-hélice,

Page 68: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

67

do tipo grampo-helicoidal αα (toxina B-IV de verme marinho). Os tipos mais

complexos de dobramentos incluem βββ310 (δ-atracotoxina-Hv1, de aranha),

βαββ (AahII, de escorpião), αβββ (crotamina, de serpente) e βααββα (Bj-xtrIT,

de escorpião). Geralmente, as toxinas que agem sobre os canais Nav

apresentam cadeias polipeptídicas com comprimentos maiores que as toxinas

que agem sobre os canais Kv (MOUHAT, et al., 2004).

Devido à alta afinidade e especificidade das NTXs aos canais Nav, estas

representam uma poderosa ferramenta para o estudo da estrutura e funções

desses canais.

Figura 16: Representação do modelo estrutural 3-D das toxinas animais que agem sobre os canais Nav. Oito diferentes dobramentos estruturais das toxinas. (Adaptado de: MOUHAT, et al., 2004).

Page 69: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

68

1.8 AS NEUROTOXINAS PRESENTES NO GÊNERO Micrurus sp.

As NTXs isoladas das peçonhas das serpentes compreendem um grupo

de toxinas peptídicas que fazem parte de uma superfamília de proteínas

denominada família das alças (dobramentos) três-dedos (figura 17). Faz

parte dessa família proteínas do tipo curaremiméticas ou α-neurotoxinas (α-

NTXs) (antagonistas dos nAchR nos músculos) (CHANGEUX, 1990), κ-

bungarotoxinas (se ligam especificamente ao nAchR (α3β4) neuronais, e

possuem cinco pontes dissulfeto) (GRANT, 1985 apud KINI, 2002), toxinas

muscarínicas (que se ligam com alta especificidade aos mAChR, e são

similares as α-NTX de cadeias curtas) (KARLSSON, et al., 2000) , fasciculinas

(inibem a acetilcolinesterase), calciseptinas (bloqueiam os Cav do tipo-L),

cardiotoxinas (citotoxinas) (bloqueiam o poro das membranas) e dendrotoxinas

(antagonizam os processos de adesão celular e ligam seletivamente aos canais

Kv1.1, 1.2 e 1.6 (HARVEY, et al., 1998; KINI, 2002).

As NTXs correspondem a uma família de polipeptídeos não-enzimáticos

que contém de 60-74 resíduos e aminoácidos e apresentam massa molecular

(MM) entre 6-9 KDa. Esta família de proteínas é apenas encontrada em

peçonhas de serpentes elapídicas (cobras, kraits, mambas e corais) e

hidrofídicas (serpentes marinhas) (KINI, 2002), que agem interferindo na

transmissão colinérgica em vários sítios pós-sinápticos no Sistema Nervoso

Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP) (CHANGEUX, 1990).

Serpentes Elapidae têm sido amplamente estudadas como fontes de

PLA2 de atividade neurotóxica pré-sinápticas e NTX pós-sinápticas (FRANCIS,

et al., 1997). A peçonha das serpentes do gênero Micrurus é composta por

NTXs de baixo peso molecular, além de conter várias PLA2 que induzem

miotoxicidade, hemorragia, inflamação e neurotoxicidade pré-sináptica

(URDANETA, et al., 2004).

Page 70: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

69

As α-NTXs se ligam aos nAchR do músculo (subunidade α1) e inibem a

ligação da acetilcolina ao seu receptor impedindo a transmissão neuromuscular

(CHANGEUX, 1990), imitando o efeito do alcalóide curare. Nesse grupo das α-

NTXs fazem parte duas classes distintas: uma classe com 60/62 resíduos de

aminoácidos – “toxinas de cadeia-pequena” (short-chain toxins), com quatro

pontes dissulfeto; outra com 70/74 resíduos de aminoácidos – toxinas de

cadeia-longa” (long-chain toxins), com cinco pontes dissulfeto (TRÉMEAU et.

al., 1995; TSETLIN e HUCHO, 2004). As toxinas de cadeia longa apresentam

grande afinidade a subunidade α7 do nAchR dos neurônios. Toxinas de cadeia

curta e longa apresentam diferenças em seus alvos devido ao acréscimo de

uma ponte dissulfeto a mais nas NTXs de cadeias longas (KINI, 2002;

SERVENT, et al., 2000).

Das NTXs pré-sinapticas (β-neurotoxinas) estudadas do gênero

Micrurus, foi encontrada uma Fosfolipase A2 (PLA2) na espécie M. corallinus

(CECCHINI et al., 2005), estas são proteínas de massa molecular variada. A

Figura 17: Estruturas tridimensionais de toxinas do tipo alça três-dedos de peçonhas de serpentes. A- Erabutoxina (1QKD); B- α-bungarotoxina (2ABX) ; C- Cardiotoxina V4 (1CDT); D- κ-bungarotoxinas (1KBA); E- Candoxina (1JGK); F-Fasciculina 2(1FAS); G- toxina muscarínica MT-2 (1FF4); H- FS2 toxina (1TFS); I- Dedroaspina (1DRS) (Fonte: KINI, 2002).

Page 71: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

70

peçonha de M. corallinus apresenta atividades pré e pós-sináptica (VITAL-

BRAZIL, 1987). Esse mecanismo não é antagonizado pelas substâncias

anticolinérgicas, logo a letalidade das NTXs pré-sinápticas são maiores. Como

exemplo, a β-bungarotoxina com 12 kDa (DL50 em camundongos 0,02 mg/kg

i.p), taipoxina 56 kDa (DL50 em camundongos 0,002 mg/kg i.v), com pH básico

ou moderadamente ácido, ambas apresentam atividade do tipo PLA2 (VITAL

BRAZIL, 1980; DAL BELO, 2004).

A peçonha de M. frontalis e M. lemniscatus possui apenas NTXs pós-

sinápticas e o bloqueio neuromuscular que provoca em símios, cães e pombos

é revertido pela neostigmina, edrofônio e outras drogas anticolinérgicas (VITAL

BRAZIL, 1982; CECCHINI, et al., 2005).

Foram caracterizadas da peçonha de M. nigrocinctus nigrocinctus três

PLA2 neurotóxicas (MOCHCA-MORALES, et al., 1990) e algumas α-NTXs,

PLA2 (ROSSO, et al., 1996). Nesse mesmo estudo foram isoladas NTXs de M.

alleni yatesi e M. multifasciatus.

Ainda, em 1996, ALAPE-GIRÓN e col., conseguiu demonstrar que a

peçonha da serpente M. nigrocinctus nigrocinctus apresenta proteínas ligantes

aos múltiplos nAchR e PLA2 similares às atividades pré-sinápticas das PLA2s

das toxinas das peçonhas da subfamília Bungarinae, sugerindo também que

seu efeito neurotóxico não está associado a um simples componente

majoritário, mas é resultante da combinação da ação de várias toxinas.

Uma PLA2 de M. dumerilli carinicauda denominada MiDCA1 (DAL BELO,

et al., 2005) foi isolada e apresentou bloqueou irreversível dos canais Kv do

terminal nervoso motor similar à crotoxina, e ativação irreversível dos canais

Nav em neurônios DRG promovendo despolarização no terminal nervoso e na

fibra muscular.

Um estudo recente com a peçonha de M. surinamensis purificou e

caracterizou eletrofisiologicamente a atividade de seis novas α-NTXs de cadeia

curta (OLAMENDI-PORTUGAL, et al., 2008).

Apesar da grande diversidade de espécies do gênero Micrurus sp. no

Brasil e no continente Americano poucos estudos em nível molecular foram

desenvolvidos com os componentes tóxicos puros dessas peçonhas, quer seja

em nível bioquímico, eletrofisiológico ou neurotóxico. Isto parece ser algo

Page 72: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

71

intrigante, tendo em vista que a sintomatologia do acidente elapídico é

predominantemente neurotóxica.

Sabe-se que alguns fatores limitantes dificultam o avanço nas pesquisas

com essas peçonhas: (i) a captura da serpente e sua manutenção em cativeiro;

(ii) a extração da peçonha, por apresentar risco elevado de acidente; (iv) o

pequeno volume de peçonha obtido em cada extração; (v) a necessidade de

uma quantidade relativamente elevada de toxina pura para os ensaios in vitro

e sobretudo in vivo.

Apesar dos inúmeros desafios, esse trabalho revela dados inéditos da

caracterização bioquímica e eletrofisiológica de uma toxina pura da peçonha de

Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820), sendo o primeiro trabalho que investigou o

mecanismo neurotóxico da peçonha dessa serpente. Além disso, contribuíu

para a descoberta de novas fontes de ferramentas farmacológicas usadas em

canais iônicos.

Page 73: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

72

ObjetivosObjetivosObjetivosObjetivos

Page 74: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

73

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo desse trabalho foi purificar, caracterizar bioquímica e

eletrofisiológicamente a toxina Mic6c7NTX da peçonha da serpente Micrurus

ibiboboca (Merrem, 1820).

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Avaliar eletrofisiologicamente o efeito da peçonha bruta de Micrurus ibiboboca

sobre a excitabilidade do nervo periférico isolado de rato, utilizando o método

de current clamp com a técnica de “single sucrose gap”;

- Purificar a peçonha de Micrurus ibiboboca por meio de cromatografia líquida

de alta performance (HPLC);

- Determinar a massa molecular da toxina Mic6c7NTX por espectrometria de

massas;

- Determinar a sequência protéica do N-terminal (seqüenciamento total ou

parcial) da toxina Mic6c7NTX pura isolada da peçonha;

- Identificar a toxina Mic6c7NTX através de busca por similaridade em banco

de dados de proteínas com outras sequências de toxinas de serpentes do

gênero Micrurus e família Elapidae;

- Investigar com ensaios eletrofisiológicos o efeito da toxina Mic6c7NTX no

Sistema Nervoso Periférico de ratos pelo método de current clamp (single

sucrose-gap), e voltage clamp (patch clamp) em cultura primária de neurônios

do gânglio da raiz dorsal.

Page 75: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

74

Materiais Materiais Materiais Materiais e Métodose Métodose Métodose Métodos

Page 76: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

75

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 EXTRAÇÃO DE PEÇONHA DA Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)

A peçonha da Micrurus ibiboboca foi extraída de cinco animais adultos,

entre 58-62 cm, sendo três machos (UFPB 4356; 4357; 4363) e duas fêmeas

(UFPB 4360; 4362) coletados na Mata do Buraquinho (reserva de Mata

Atlântica de João Pessoa/PB – Brasil) (Licença do IBAMA-RAN no 22/06, Ms

Gentil Alves Pereira Filho, processo 02010.000218/2006-74) (PEREIRA-FILHO,

2007, 156f).

Os animais eram acomodados em recipientes plásticos fechados com

orifícios de passagem de ar onde ficavam encarcerados durante quatro ou

cinco dias e se mantinham em jejum durante esse tempo. Durante esse

período eram realizadas duas extrações de peçonha em intervalos de tempo de

quatro dias, e após a última extração os animais eram sacrificados, tombados e

depositados na Coleção Herpetológica do Departamento de Sistemática e

Ecologia (DSE), do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN) da

UFPB.

Para a extração eram utilizados capilares de vidro finos (1,0x1,5 mm de

espessura com 75 mm de comprimento), pipetas de Pasteur, tubos tipo

eppendorfs, luvas e pinças cirúrgicas, pipeta automática de 10 µL e ponteiras,

isopor com gelo e uma câmara resfriada para paralisação temporária e prévia

da serpente (figura 18).

A serpente era inicialmente colocada durante 20 minutos na câmara fria

a – 20oC, em seguida era imobilizada e suas glândulas de peçonha eram

massageadas (FIX e MILTON JR, 1976). Com o auxílio de pinça cirúrgica a

boca da serpente era aberta e o capilar (ou ponteira acoplada à pipeta de 10

µL) era inserido em suas presas onde eram pressionadas ligeiramente para a

liberação da peçonha. Após a retenção da peçonha no capilar, era utilizada

uma pipeta de Pasteur para exercer uma pressão positiva para despejo da

peçonha no interior do tubo tipo eppendorf, que era inserido instantaneamente

no isopor com gelo para evitar a perda das atividades biológicas e

desnaturação das proteínas contidas na peçonha.

Page 77: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

As peçonhas coletadas

câmara fria a -20 oC, e em seguida

posteriores purificações

Outras duas serpentes cedidas pelo CEATOX/ HU/ UFPB também foram

utilizadas para extração d

interior da Paraíba, na região de Brejo

O pool de peçonha

eletrofisiológicos foi de 2

serpentes.

I

Figura 18: Esquema de1820). I- Serpente acomodada em reservatório de plástico; após período de exposição à câmara friapinça cirúrgica e localização das presas pipeta automática (10 µL)da peçonha (em média 2armazenamento em eppendor para posterior liofilização e estocagem a (Fotos: Fagner, 2007).

peçonhas coletadas foram individualmente armazenad

em seguida, feito um pool de peçonha para liofilização

e ensaios biológicos.

serpentes cedidas pelo CEATOX/ HU/ UFPB também foram

utilizadas para extração da peçonha. Além de três serpentes coletadas no

interior da Paraíba, na região de Brejo.

de peçonha utilizado para a purificação, ensaios bioquímicos e

eletrofisiológicos foi de 25 mg de peso seco de peçonha, num to

e extração da peçonha de Micrurus ibibobocaSerpente acomodada em reservatório de plástico; II- Animal imobilizado

após período de exposição à câmara fria sendo feita a abertura do maxilar com pinça cirúrgica e localização das presas inoculadoras de peçonha; III- Sucção com pipeta automática (10 µL) da peçonha na presa proteróglifa da serpente;

(em média 2,5 mg de peso seco da peçonha por extração e armazenamento em eppendor para posterior liofilização e estocagem a

III

76

foram individualmente armazenadas numa

para liofilização,

serpentes cedidas pelo CEATOX/ HU/ UFPB também foram

rês serpentes coletadas no

ensaios bioquímicos e

, num total de dez

II

IV

Micrurus ibiboboca (Merrem, Animal imobilizado

bertura do maxilar com Sucção com

proteróglifa da serpente; IV- Coleta ,5 mg de peso seco da peçonha por extração e

armazenamento em eppendor para posterior liofilização e estocagem a -20 oC.

Page 78: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

77

3.2 ESTIMATIVA DO CONTEÚDO PROTÉICO POR

ESPECTROFOTÔMETRIA

As concentrações protéicas da solução de peçonha total e das frações

cromatográficas foram estimadas por espectrofotometria (RATES, et al., 2007,

79f) (figura 19). As amostras foram lidas na absorbância de 280 e 260 nm, visto

que o comprimento de onda a 260 nm revela a presença de ligações peptídicas

e o comprimento de 280 nm revela a presença de aminoácidos com anéis

aromáticos.

Foi utilizada uma cubeta de quartzo de 200 µL e eram feitas diluições das

amostras em água deionizada, quando necessário. Para calcular a estimativa

protéica usou-se a fórmula: C (mg/mL) = (1,55 x A280) – (0,76 x A260), em que C

representava a concentração da amostra, A280 o valor da leitura a 280 nm e

A260 o valor da leitura a 260 nm.

Figura 19: Espectrofotômetro no UV/visível usado para estimar a quantidade de proteínas da peçonha total, frações e toxinas puras. Foto: Micheline Donato, 2008)

Page 79: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

78

3.3 FRACIONAMENTO DA PEÇONHA E PURIFICAÇÃO DA TOXINA

Mic6c7NTX:

Visando investigar quais os componentes da peçonha são os

responsáveis pela redução de APAC, e para garantir uma boa separação das

proteínas do veneno, este foi submetido à cromatografia bidimensional. Essa

técnica consiste no uso seqüencial de cromatografia de troca catiônica (CIEX)

(primeira dimensão), seguida pela cromatografia de fase reversa (RPC)

(segunda dimensão) das frações obtidas na cromatografia.

A quantidade total de peçonha da Micrurus ibiboboca utilizada no

processo de purificação correspondeu a um pool contendo 23 mg de peçonha,

previamente liofilizada.

Todas as análises cromatográficas foram realizadas no sistema de

Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC) ÄKTA Explorer 100

(Amersham Biosciences, Uppsala, Suécia) (figura 20), controlado pelo software

UNICORN 4.11. As frações foram coletadas pelo coletor automático de frações

Frac920 (Amersham Biosciences, Uppsala, Suécia) ou placas de 96 poços

(deep well) com volume de 0,5 ou 1,0 mL. A eluição foi acompanhada através

do monitoramento das absorbâncias a 214 e 280 nm.

A peçonha foi inicialmente fracionada por cromatografia líquida de troca

catiônica (CIEX) e as frações obtidas foram novamente purificadas por

cromatografia líquida de fase reversa (RPC).

Page 80: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

79

3.3.1 Fracionamento da Peçonha - Primeira etapa: Cromatografia Líquida

de Troca Catiônica (CIEX)

Na CIEX, a coluna utilizada era a TSK-Gel® CM-SW (15 cm x 4,6 mm)

(Tosoh Biosep, Montgomeryville, EUA) acoplada ao aparelho de HPLC e

equilibrada com uma solução de Acetato de sódio (20 mM) (Sigma, Sto Louis,

Mo, EUA) (eluente A), em pH 5,0 e fluxo de 0,75 mL/min. A peçonha de M.

ibiboboca (2 mg para cada cromatografia) era dissolvida na mesma solução e

aplicada à coluna. A eluição era obtida com um gradiente linear de cloreto de

sódio (0 a 1 M) (Sigma, Sto Louis, Mo, EUA) em acetato de sódio 20 mM, em

pH 5,0 (eluente B), sendo coletados 0,4 mL em cada poço das placas ou tubo

eppendorf.

Figura 20: Aparato de Cromatografia de alta performance AKTA Explorer 100. Usado para purificação da peçonha de Micrurus ibiboboca. Foto: Micheline Donato, 2008.

Page 81: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

80

3.3.2 Fracionamento da Peçonha – Segunda etapa: Cromatografia Líquida

de Fase Reversa (RPC)

As RPCs eram realizadas utilizando a coluna C18 Source™ 5 4,6/150

(Pharmacia Biotech, Uppsala, Suécia), cujo equilíbrio foi realizado com uma

solução aquosa de TFA (Vetec, Rio de Janeiro/RJ, Brasil) 0,1% (eluente A).

Posteriormente, de cada fração as frações provenientes da CIEX eram

aplicadas à coluna. A eluição das amostras foi realizada num gradiente linear

de 10 a 80% de solução de ácido Trifluoroacético (TFA) 0,1% em Acetonitrila

(ACN) (Merck, Darmstadt, Alemanha) (eluente B). Foram coletados 0,5 mL das

frações por tubo, num fluxo de 1 mL/min. As amostras puras obtidas nessa

etapa foram submetidas à análise em espectrometria de massas.

3.4 DETERMINAÇÃO DA MASSA MOLECULAR POR ESPECTROMETRIA

DE MASSAS

Para as análises de Matrix assisted laser desorption/ionization time of

flight mass spectrometry (MALDI-TOF-MS) foi utilizado o aparelho Ultraflex II

(Bruker Daltonics, Alemanha) (figura 21), controlado pelo programa FlexControl

2.4.30.0 (Bruker Daltonics, Alemanha). As amostras isoladas foram misturadas

com uma solução saturada de matriz ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico (Sigma,

Sto Louis, Mo, EUA) (1:3) e foram gotejadas (spotted) em uma placa de

amostras (MTP AnchorChip 600/384). Os espectros de MS obtidos em modo

positivo/refletido, com a frequência do laser ajustada em 50 Hz. O aparelho foi

calibrado com padrões externos (Protein Calibration Standard I, Bruker

Daltonics, Alemanha) para análise de peptídios (numa faixa até 3.000 Da),

proteínas de baixo peso molecular (numa faixa de 3.000 a 13.000 Da) e

proteínas de alto peso molecular (acima de 13.000 até 80.000 Da). Os dados

foram analisados utilizando o programa Flexanalysis 2.4 (Bruker Daltonics,

Alemanha).

Page 82: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

81

3.5 SEQUENCIAMENTO PROTÉICO DO N-TERMINAL DA TOXINA

Mic6c7NTX

A seqüência dos resíduos de aminoácidos da extremidade N-terminal da

toxina foi determinada pelo método de Degradação de Edman. Utilizando o

seqüenciador automático de proteínas Shimadzu, PPSQ-21A (figura 22) a

toxina Mic6c7NTX (21 µg de proteína) foi seqüenciada pela degradação do seu

resíduo N-terminal, deixando o restante da cadeia polipeptídica intacta.

Figura 21: Espectrometo de massas: MALDI-TOF-MS. Utilizado para a análise das massas protéicas das toxinas purificadas por HPLC. Foto: Micheline Donato, 2008.

Page 83: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

82

Cerca de 50 µL de amostra em solução de 0,1(TFA): 0,5 (H2O): 0,5 (ACN)

foram aplicados num disco de fibra de vidro contendo o polímero SEQUA-

BRENE (Sigma, Sto Louis, EUA), previamente tratado de acordo com os

procedimentos padronizados do equipamento PSSQ-21A. A derivatização foi

feita com o reagente de Edman, o fenilisotiocianato (PITC) (Wako, Osaka,

Japão) em n-heptano (5%) na presença de solução de TFA e trimetilamina

(Wako, Osaka, Japão) a 12%. A sucessiva etapa tratou da conversão do

intermediário tiazolina em feniltiohidantoína aminoácido (PTH-aminoácido) por

uma solução aquosa de TFA (25%). A separação dos PTH-aminoácidos

ocorreu numa coluna de fase reversa (WAKOSIL-PTH 25 cm x 4,6 mm, Wako,

Japão) com a eluição conduzida em condição isocrática por uma solução

denominada de “PTH-AA mobile phase” (Wako, Osaka, Japão). A identificação

dos PTH-aminoácidos foi realizada pelos tempos de retenção, comparados a

um padrão (AZEVEDO, 2006).

Durante um ciclo desta reação, o primeiro resíduo do N-terminal foi

removido como derivado de PTH-aminoácido e, depois da remoção, foi

identificado o primeiro resíduo N-terminal. O polipeptídio foi deixado com um N-

Figura 22: Aparato Shimadzu PPSQ-21A. Utilizado para o seqüenciamento protéico da toxina Mic6c7NTX. Foto: Micheline Donato, 2008.

Page 84: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

83

terminal livre passando por uma repetição da mesma série de reações até

completar o máximo da extremidade N-terminal.

3.6 BIOINFORMÁTICA: BUSCA POR SIMILARIDADE

A busca por similaridade em banco de dados de proteínas foi feita por

homologia da extremidade N-terminal dos aminoácidos seqüenciados da toxina

em comparação às seqüências de toxinas depositadas em bancos de dados.

Os banco de dados protéicos acessados foram SWISS-PROT

(http://www.ebi.ac.uk/fasta33/) (PEARSON, 1990) e o ExPASy Proteomics

Server (http://ca.expasy.org/), com uso da ferramenta Fasta3 (figura 23).

Figura 23: Banco de dados de Proteínas Expasy Proteomics Server. Utilizado como ferramenta de bioinformática para busca por similaridade de sequência da proteína Mic6c7NTX com outras proteínas previamente depositadas.

Page 85: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

84

3.7 POTENCIAL DE AÇÃO COMPOSTO (SINGLE SUCROSE GAP)

3.7.1 Solução Fisiológica

Quadro 3: Locke Modificado

Sais Concentração

(mM)

Laboratório

NaCl 150 Vetec, Brasil

KCl 4 Vetec, Brasil

CaCl2 1 Vetec, Brasil

MgCl2 0,5 Vetec, Brasil

HEPES 10 Sigma, Sto Louis, EUA

Glicose 10 Vetec, Brasil

O pH da solução era ajustado para valor de 7.4 com solução de NaOH

(1 M). No preparo das soluções era utilizada água deionizada.

3.7.2 Animais

Ratos Wistar (figura 24) (Rattus novergicus), machos, pesando entre 250

- 300 g oriundos do biotério Prof. Delby Fernandes de Medeiros (LTF/UFPB),

alimentados com dieta completa (Labina) foram eutanasiados por

deslocamento cervical (CEPA) e tiveram seus nervos isquiáticos removidos.

Figura 24: Ratos albinos machos Wistar.

Page 86: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

85

3.7.3 A Técnica de single sucrose gap

Essa metodologia descrita inicialmente por STAMPFLI, 1954 utiliza o

nervo isolado de animais vertebrados cordados como Rana catesbeina (CRUZ,

1991; SILVEIRA, 1992) e Rattus novergicus (GONÇALVES, et al., 2008).

O aparato utilizado na técnica eletrofisiológica de single sucrose gap

(STÄMPFLI, 1954) era constituído por um estimulador (CF Palmer, modelo

8048, Reino Unido), uma câmara de registros eletrofisiológicos, uma caixa de

aquisição de sinal acoplada a um amplificador, e uma placa conversora de

sinais analógico/digital (A/D) (Lynx/Brasil) conectada a um computador PC-

compatível (Figura 25).

O estimulador era composto por cinco botões que permitiam ajustar o

tipo de estímulo (único ou repetitivo), a duração do pulso (0,05–5,0 ms), a

freqüência de estimulação (1–100 Hz) e a voltagem aplicada (0,1–25 V). Outro

botão permitia ao experimentador disparar os estímulos manualmente.

A câmara experimental para captação do PAC era feita de acrílico e

composta por cinco compartimentos que se comunicavam entre si, unicamente

Figura 25: Aparato da técnica de single sucrose gap. a) estimulador (CF Palmer, modelo 8048,Reino Unido); b) câmara experimental para captação do PAC; c) pré-amplificador de ganho fixo/variável; d) placa conversora A/D (Lynx/Brasil) + PC-compatível. (Foto: Juan Carlos Gonçalves, 2008)

Page 87: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

86

por meio de uma linha sulcada disposta perpendicularmente aos mesmos, que

era utilizada para acomodar o tronco nervoso do animal. Por meio de eletrodos

de níquel-cromo conectavam-se ao estimulador, os compartimentos I e II, e ao

pré-amplificador (de ganho fixo/variável), os compartimentos III e V. Por sua

vez, o pré-amplificador era conectado à placa conversora A/D (Lynx/Brasil), e

acoplava-se ao computador, permitindo o armazenamento dos registros do

PAC. O compartimento IV, perfurado nas extremidades, era utilizado para a

perfusão da solução de sacarose (292 mM), que caracteriza esta técnica. Um

bloco de madeira sob a câmara de acrílico fornecia suporte e isolamento

elétrico aos elementos descritos (Figura 26).

Para esta metodologia, descrita inicialmente por STÄMPFLI (1954),

utilizou-se o nervo isquiático de ratos Wistar (sacrificados por deslocamento

cervical), retirando-se o tronco nervoso, que era imediatamente imerso em

solução fisiológica de Locke modificada (DE SOUSA et al., 2006;

GONÇALVES et al., 2008). Após o isolamento do tronco, retirou-se a bainha

conjuntiva que o envolvia com auxílio de um microscópio estereoscópico. Em

seguida, o tronco nervoso era cuidadosamente acomodado sob a linha sulcada

(perpendicular) da câmara de registros eletrofisiológicos (Figura 27), e

totalmente envolto por vaselina sólida (para o isolamento da corrente), nas

suas interseções com os compartimentos I a V (preenchidos com solução de

Locke modificada), de modo que o percurso da corrente elétrica ocorresse

Figura 26: Câmara experimental para captação do PAC. Os cinco compartimentos (I – V) que formam a câmara, de acrílico (centro) sob o suporte de madeira, estão indicados na figura. (Foto de Juan Carlos Gonçalves, 2008)

Page 88: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

87

apenas através do nervo. No compartimento IV havia um fluxo constante de

sacarose isotônica (290 mM; ~1 mL/min), usado para gerar um aumento na

resistência elétrica do nervo, impedindo dessa forma, a sua captação pelo

eletrodo conectado ao compartimento V (Figura 22), obtendo-se assim um

registro do PAC amplificado e do tipo monofásico (Figura 23) (DE SOUSA et

al., 2006; GONÇALVES et al., 2008).

Para provocar o estímulo do nervo, eram disparados manualmente

estímulos elétricos supramáximos (7–8 V), com pulsos quadrados de 0,1 ms de

duração, permitindo-se selecionar as fibras mielínicas Aα de condução rápida

(CRUZ et al., 2000). Após a seleção dessas fibras, os registros controle eram

obtidos quando apenas a solução fisiológica era submetida ao nervo, e em

seguida, a incubação separadamente da peçonha bruta (100 mg/mL) e da

toxina Mic6c7NTX (1 µM) no compartimento III era realizada substituindo-se a

solução fisiológica por três lavagens consecutivas. Os registros do PAC foram

obtidos nos intervalos de 15, 30 e 45 min após a incubação do nervo com a

peçonha bruta e a toxina Mic6c7NTX, analisados com softwares adequados de

aquisição e análise dos dados.

Figura 27: Representação esquemática da montagem experimental da técnica de single sucrose gap. Acima à direita está representado o estimulado. O retângulo maior representa a câmara experimental formada por cinco compartimentos (I-V), e o tronco nervoso disposto entre eles no centro da câmara. Acima à esquerda está representado o amplificador (triângulo) conectado à placa conversora A/D e ao sistema de aquisição de dados. (Adaptado de Guven et al.,2006).

Page 89: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

88

3.7.3.1 Investigação do Efeito Tônico

Para análise do efeito tônico (pulso único) da peçonha bruta e da toxina

Mic6c7NTX, foram utilizados quatro parâmetros distintos, que permitiram

avaliar as mudanças provocadas por esta peçonha e toxina sobre os eventos

de despolarização e repolarização do PAC (Figura 28). Tais parâmetros foram:

a) a amplitude do PAC (APAC), expressa em milivolts (mV) e medida pela

diferença de voltagem entre a linha de base e o pico do potencial;

b) o tempo para atingir o pico do PAC (TPPAC), expresso em milisegundos (ms)

e obtido pela diferença de tempo existente entre o valor de início e valor de

pico do PAC;

c) a velocidade de despolarização do PAC (VDPAC), adquirido como o resultado

da relação entre o valor máximo da amplitude e o tempo necessário para atingir

esse valor (APAC / TPPAC), expresso em volts por segundo (V/s);

d) e a constante de tempo de repolarização (τrep), definida pela equação:

V=V0*exp (-t/τ), usando-se regressão não linear aplicada à fase de repolarização

do PAC, onde V era a medida da amplitude; V0 era o valor da amplitude que

cruza o eixo das ordenadas; t era o tempo de repolarização (ms); e τ a

constante de tempo de repolarização obtida (ms) (DE SOUSA et al., 2006;

GONÇALVES et al., 2008).

Figura 28: Esquema representativo de um registro típico do PAC obtido por meio da técnica de single sucrose gap e seus parâmetros de análises. A linha de base está representada pela linha tracejada e as setas duplas indicam como a amplitude (APAC) e o tempo para atingir o pico (TPPAC) do PAC foram medidos. Os quadrados vazados na fase de repolarização (descendente) representam os pontos utilizados para

o ajuste da constante de repolarização (τrep) (Adaptado de: Guven et al., 2006).

Page 90: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

89

3.7.3.2 Investigação do Efeito Fásico (Uso-dependência)

Para a investigação de um possível efeito dependente de freqüência

(uso-dependente) da neurotoxina Mic6c7NTX sobre o PAC, denominado de

efeito fásico, foi utilizado o mesmo protocolo do efeito tônico sendo variado

apenas a freqüência nominal de estímulos em 50 e 100 kHz nos registros

controle e após 45 minutos de incubação com a neurotoxina. Tais estímulos

foram gerados automaticamente pelo estimulador, de modo que foi obtido um

total de 20 potenciais de ação para cada registro (Figura 29). O efeito fásico foi

observado calculando-se a percentagem da amplitude do vigésimo potencial de

ação dos registros (controle e da neurotoxina, incubados separadamente), e

comparando-os com o primeiro potencial dos registros obtidos antes e após a

incubação, respectivamente, por meio da equação: %Bloqueio=[(APACc–

APACd)/APACc]*100 (adaptado de GUVEN et al., 2006; MERT et al., 2002),

considerando-se APACd a amplitude do PAC após 45 minutos de incubação com

a toxina Mic6c7NTX e APACc a amplitude medida sob condições controle.

Figura 29: Representação esquemática da série de registro de vinte PAC para a observação do efeito uso-dependente. À esquerda, os registros numa freqüência de 100 Hz controle e na direita, os potenciais obtidos após incubação com a neurotoxina. (Adaptado de: GUVEN, 2006).

Incubação com

a peçonha e

com a toxina

Mic6c7NTX

Page 91: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

90

3.8 CULTURA PRIMÁRIA DE NEURÔNIOS DO GÂNGLIO DA RAIZ

DORSAL (DRG)

3.8.1 Animais

Ratos Wistar (Rattus novergicus), machos, pesando entre 90 - 150 g

foram eutanasiados por decaptação utilizando-se uma guilhotina. Para cada

cultura foram utilizados dois ratos separadamente.

3.8.2 Cultura

Os gânglios neuroniais de onde emanam as raízes do nervo isquiático

na medula espinhal: região lombar (L4 e L5) e sacral (S1) foram dissecados,

removidos cirurgicamente e transferidos imediatamente para dois tubos Falcon

15 mL (sendo um para cada rato) contendo 4 mL de solução HBSS com Ca2+ e

Mg2+ livres (Hank’s Modificado), gelado (aproximadamente 4oC), acrescido de

1% de uma mistura de antibióticos contendo penicilina/estreptomicina (SIGMA,

St. Louis, Mo, EUA) de composição em mM: NaCl 137,93 (J.J. BAKER,

México); KH2PO4 0,44 (MERCK, Darmstadt, Alemanha); KCl 5,33 (SIGMA, St.

Louis, Mo, EUA); NaHCO3 4 mM (SIGMA, St. Louis, Mo, EUA); Na2HPO4 0,3

(SIGMA, St. Louis, Mo, EUA); Glucose 5,6 (SIGMA, St. Louis, Mo, EUA); CaCl2

1,8 mM (SIGMA, St. Louis, Mo, EUA); MgCl2 1 mM (LABSYNTH, Diadema / SP,

Brasil) ajustado para pH 7,4 com NaOH (1 M).

Em ambiente estéril (Figura 30), os gânglios foram lavados com a

mesma solução de Hank’s Modificado e gelado, num total de quatro repetições

para cada tubo Falcon.

Os gânglios foram transferidos para tubos Falcon contendo 5 mL de

meio Dullbeco`s Minimum Essential Medium (DMEM) contendo alta

concentração de glicose (11 mM) (SIGMA, St. Louis, Mo, EUA), acrescido de

1% de uma mistura de antibiótico penicilina/estreptomicina suplementado com

1 mg/mL da enzima colagenase (Tipo 1) (SIGMA, St. Louis, Mo, EUA), sendo

incubados por 75 minutos, a 37°C em banho-maria. Ao final do período, os

gânglios foram lavados com meio DMEM alta glicose acrescido de 1% de uma

mistura de antibiótico penicilina/estreptomicina, num total de três repetições.

Page 92: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

91

Posteriormente, os gânglios foram incubados com uma solução

contendo 0,25% de tripsina (SIGMA, St. Louis, Mo, EUA) e 0,025% de EDTA

(ECIBRA, Sto Amaro/SP, Brasil) em HBSS sem Ca2+ e Mg2+ por um período de

15 minutos, a 37°C, em banho-maria. Após o período de incubação, os tubos

foram lavados com 5 mL de meio DMEM alta glicose acrescido de 1% de uma

mistura de antibiótico penicilina/estreptomicina acrescido de 10% de Soro

Bovino Fetal (SBF) (CULTILAB, Brasil) – DMEM completo, para inativação

enzimática, num total de três lavagens.

Os gânglios então foram cuidadosamente triturados com uma pipeta de

Pasteur em 1,5 mL de meio DMEM completo para induzir a dissociação

mecânica do tecido. O diâmetro da ponta da pipeta correspondia a dois terços

do diâmetro dos gânglios.

As células dissociadas e em suspensão foram colocadas em lamínulas

de vidro (22 x 22 mm) (CORNING, México) (200 µL) pré-recobertas (período

mínimo de 24 horas) com poli-L-lisina (SIGMA, St. Louis, Mo, EUA). O excesso

de poli-L-lisina foi removido das lamínulas antes das células serem plaqueadas.

As lamínulas com as células aderidas foram introduzidas em placas de Petri

(35 x 10 mm) (Sarstedt, Newton, USA), as células foram mantidas a 37 °C em

Figura 30: Fluxo celular. Ambiente esterilizado utilizando luz UV. Apropriado para cultura de células.

Page 93: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

92

uma atmosfera umidificada a 100% e areada a 95% O2 e 5% CO2 durante um

período de 120 minutos. Posteriormente, foi acrescido 2 mL de meio DMEM

completo em cada placa de Petri.

Os experimentos eletrofisiológicos foram realizados num período de 6 a

12 horas após o término da cultura.

3.9 ESTUDOS DE ELETROFISIOLOGIA (whole cell patch – clamp)

3.9.1 Soluções Eletrofisiológicas para Corrente Total de Sódio

No preparo de todas as soluções foi utilizada água deionizada, na

temperatura ambiente.

Quadro 4: Solução Tyrode

Sais Concentração

(mM)

Laboratório

NaCl 130 J.T.Baker, México

KCl 5 Sigma, Sto Louis, EUA

CaCl2 2 Sigma, Sto Louis, EUA

MgCl2 1 Labsynth, Diadema/SP, Brasil

HEPES 10 USB, Clevelend, EUA

Glicose 10 Sigma, Sto Louis, EUA

Ajuste do pH em 7,4 com NaOH (1 M).

Quadro 5: Solução Externa I

Sais Concentração

(mM)

Laboratório

NaCl 115 J.T.Baker, México

CsCl 10 Sigma, Sto Louis, EUA

CaCl2 2 Sigma, Sto Louis, EUA

MgCl2 1 Labsynth, Diadema/SP, Brasil

Page 94: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

93

HEPES 10 USB, Clevelend, EUA

TEA-Cl 20 Sigma, Sto Louis, EUA

CdCl2 0,2 Sigma, Sto Louis, EUA

NiCl2 0,2 Sigma, Sto Louis, EUA

Glicose 10 Sigma, Sto Louis, EUA

Ajuste do pH em 7,4 com NaOH (1 M)

Quadro 6: Solução Externa II

Sais Concentração

(mM)

Laboratório

ChoCl 100 J.T.Baker, México

CsCl 10 Sigma, Sto Louis, EUA

CaCl2 2 Sigma, Sto Louis, EUA

MgCl2 1 Labsynth, Diadema/SP, Brasil

HEPES 10 USB, Clevelend, EUA

TEA-Cl 20 Sigma, Sto Louis, EUA

CdCl2 0,2 Sigma, Sto Louis, EUA

NiCl2 0,2 Sigma, Sto Louis, EUA

Glicose 10 Sigma, Sto Louis, EUA

Ajuste do pH em 7,4 com NaOH (1 M) ou HCl (1 N).

Quadro 7: Solução Interna

Sais Concentração

(mM)

Laboratório

CsF 100 Sigma, Sto Louis, EUA

NaCl 10 Sigma, Sto Louis, EUA

MgCl2 5 Labsynth, Diadema/SP, Brasil

HEPES 10 USB, Clevelend, EUA

TEA-Cl 10 Sigma, Sto Louis, EUA

EGTA 11 J.T.Baker, México

Ajuste do pH em 7,2 CsOH (1 M),

Page 95: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

94

3.9.2 A Técnica de whole cell patch-clamp

Os experimentos eletrofisiológicos com neurônios DRG foram realizados

no modo whole cell voltage-clamp utilizando a técnica de patch-clamp (Hamill,

1981).

As células foram transferidas para a platina de um microscópio invertido

(Olympus IX, Japão). O conjunto experimental encontrava-se protegido por

uma gaiola de Faraday e assentado sobre uma mesa anti-vibratória (TMC,

Pealoody, MA, EUA) que continha um micromanipulador mecânico (MZT, WPI,

EUA) para a movimentação do eletrodo usado para o registro experimental e

um outro micromanipulador mecânico usado para a movimentação da pipeta do

sistema de perfusão das soluções externas controle e experimental . O

amplificador utilizado foi o EPC9 (HEKA Instruments, Alemanha) e a aquisição

dos dados foi feita através de uma placa conversora Analógica/Digital

(INSTRUTEC, Alemanha) residente em um computador Power Macintosh

9500.

Na construção das micropipetas foram utilizados capilares de vidro

(Perfecta, São Paulo, Brasil) de comprimento 75 mm, com diâmetro interno de

1 mm e diâmetro externo de 1,5 mm previamente lavados (por sonicação) com

clorofórmio, álcool absoluto e água deionizada por um período de 60 minutos.

Estes tiveram suas extremidades polidas por calor através de um bico de

Bunsen.

Posteriormente, os capilares foram confeccionados para os

experimentos de patch clamp usando-se um estirador (puller) de pipetas (dois

estágios) (Narishige PP830, Japão) o que gerou pipetas com a resistência em

torno de 2,5 MΩ. Os neurônios DRG apresentaram capacitância de 30 a 40 pF.

Para evitar perda no controle do potencial de membrana a resistência em série

foi compensada (50 – 70%). A frequência de amostragem foi de 10 kHz.

A lamínula cortada em quatro partes contendo os neurônios DRG

aderidos foi transferida para uma placa de Petri descartável contendo 2 mL de

solução Tyrode, sendo uma parte utilizada para cada sequência experimental.

A perfusão 1 (controle) consistia em 15% de solução externa I acrescida

de 85% de solução externa II. A perfusão 2 (experimental) era a mesma da

Page 96: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

95

perfusão 1 com o acréscimo da toxina Mic6c7NTX na concentração de 1 µM. O

fluxo da perfusão foi de 280 µL/min.

Nos testes com as demais concentrações de 100 nM, 30 nM, 10 nM e 1

nM da Mic6c7NTX foi adicionado tetrodotoxina (TTX) (CALBIOCHEM, EUA) na

solução externa, na concentração de 100 nM (CAMPOS et al., 2004) com o

intuito de bloquear apenas os canais para Na+ sensíveis a TTX (Nav TTX-S),

desse modo, analisou-se apenas os canais para sódio resistentes a TTX (Nav

TTX-R) nas fibras do tipo C dos neurônios DRG.

Os resultados após análise foram representados na forma de gráficos

onde foi acompanhado o decurso temporal. A curva concentração-resposta foi

obtida utilizando-se a equação logística para o ajuste dos resultados visando a

determinação da concentração que inibe 50% da corrente de sódio medida

(CI50) .

Nos experimentos de voltage clamp foram mensuradas apenas as

correntes de Na+, as demais correntes iônicas dependentes de voltagem foram

bloqueadas por ferramentas farmacológicas.

O protocolo de estimulação para as medidas de corrente macroscópica

de sódio nos neurônios DRG foi:

• O potencial de membrana dos neurônios DRG foi mantido em -80 mV, e em

seguida era dado um pré-pulso condicionante para o valor de -100 mV com a

duração de 300 ms. Posteriormente, era dado um pulso despolarizante de 0

mV por 300 ms (Figura 41).

• O potencial de holding (-80 mV) foi escolhido em função do comportamento

cinético das correntes a serem inibidas.

3.10 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os dados experimentais obtidos in vitro (n=4) pela técnica de single

sucrose gap foram analisados estatisticamente empregando-se o teste “t” de

Student não-pareado. Utilizou-se o programa GraphPad Prism 4.0 (GraphPad

Software Inc., EUA) para análise dos dados, considerando como significativos

os valores que apresentaram um valor de p<0,05.

Page 97: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

96

Os resultados obtidos pelo whole cell patch-clamp foram analisados

estatisticamente empregando-se o teste “t” de Student . Utilizou-se o programa

Sigma Plot versão 10, considerando como significativos os valores que

apresentaram um valor de p<0,05.

Page 98: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

97

ResultadosResultadosResultadosResultados

Page 99: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

98

4 RESULTADOS

4.1 ENSAIOS ELETROFISIOLÓGICOS COM A PEÇONHA BRUTA DA

Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) – CURRENT CLAMP (single sucrose gap)

4.1.1 Efeito da Peçonha Bruta sobre a Excitabilidade do Nervo Isolado de

Rato (Efeito Tônico)

Utilizando-se a técnica de single sucrose gap foi verificado que a

peçonha bruta da serpente M. ibiboboca (Merrem, 1820), na concentração de

100 µg/ mL exerceu uma atividade sobre o nervo isolado promovendo uma

redução na excitabilidade desse nervo, diminuição de APAC (Figura 31).

O gráfico 1 representa a amplitude do PAC relacionada ao tempo de

incubação do nervo com a peçonha bruta. Os valores obtidos nesta preparação

correspondem à peçonha bruta na concentração de 100 µg/mL nos tempos de

incubação de 15, 30 e 45 minutos. Os valores do PAC no controle e após 15

minutos de incubação foram 36,33 ± 4,6 mV e 33,95 ± 3,42 mV,

respectivamente. Observou-se que após 15 minutos de incubação com a

peçonha não houve efeito significativo sobre APAC. O efeito de redução da

Figura 31: Registros do potencial de ação composto obtidos pela técnica de single sucrose gap no nervo isquiático de rato incubado com a peçonha bruta. Esta figura mostra as alterações induzidas pela peçonha bruta (100 µg/mL) no período de 15 a 45 minutos de incubação. O registro controle foi obtido quando o nervo estava submetido apenas à solução fisiológica (Locke). Parâmetros do ensaio: 7-8 V/ 0,1 ms.

Peçonha bruta 100 µg/ mL

Page 100: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

99

amplitude foi observado a partir de 30 minutos de incubação, alterando a

amplitude para 29,15 ± 4,2 mV (n=4). Aos 45 minutos de incubação verificou-se

que a peçonha bruta reduziu ainda mais APAC para 27,35 ± 5,1 mV. A

percentagem média de redução obtida a partir da normalização corresponde a

25 % da amplitude.

Convém ressaltar que não foram observadas alterações significativas

sobre os parâmetros do PAC quando o nervo foi submetido apenas à solução

fisiológica de Locke, durante um tempo de incubação de 60 minutos (dados

não apresentados).

0 15 30 45

10

20

30

40

50

Tempo de incubação (min)

* *

APAC

(mV

)

A tabela 5 mostra os valores dos parâmetros do PAC como o Tempo de

Pico (TPPAC), Velocidade de Despolarização (VDPAC) e Tempo de

Repolarização (τrep), que não apresentaram alterações significantes.

Gráfico 1: Efeito da peçonha bruta (100 µg/mL) sobre a amplitude do PAC após incubação (0–45min) em nervo isquiático de rato (n=4),*p<0,05; controle (0 min)

Page 101: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

100

4.2 PURIFICAÇÃO DA PEÇONHA BRUTA DE Micrurus ibiboboca (Merrem,

1820) POR MEIO DE CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA PEFORMANCE

(HPLC)

4.2.1 Fracionamento Bidimensional - Primeira Dimensão: Cromatografia

Líquida de Troca Catiônica (CIEX)

O cromatograma do perfil da CIEX da peçonha de M. ibiboboca está

apresentado na figura 32. A peçonha bruta (2 mg) foi aplicada na coluna TSK-

Gel®CM-SW 15 cm x 4,6 mm para realização da CIEX, equilibrada com 20 mM

de acetato de sódio, em pH 5,0 com um fluxo de 1 mL/min. As amostras foram

eluídas com um gradiente linear de NaCl (0 a 1 M), sendo coletado 0,4

mL/tubo. A eluição foi monitorada a uma absorbância de 214 nm. A CIEX de M.

ibiboboca gerou 19 frações.

Incubação com a peçonha bruta

(100µg/ mL)

Parâmetros analisados do PAC TPPAC (ms) VDPAC (V/s) τrep (ms)

0 min 0,55 ± 0,10 75,34 ± 19,68 0,43 ± 0,07 15 min 0,55 ± 0,10 69,67 ± 15,93 0,44 ± 0,03 30 min 0,52 ± 0,13 69,34 ± 19,51 0,51 ± 0,08 45 min 0,57 ± 0,13 59,15 ± 19,43 0,58 ± 0,13

Tabela 5: Efeito da peçonha bruta (100 µg/mL) sobre os parâmetros do PAC após incubação (0–45min) no nervo isquiático de rato. Os valores foram expressos como a média ± e.p.m. (n=4),*p<0,05; controle (0 min) (Teste “t” de Student pareado).

Page 102: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

101

4.2.2 Fracionamento Bidimensional – Segunda Dimensão: Cromatografia

Líquida de Fase Reversa (RPC)

A figura 33 mostra o cromatograma do perfil da RPC de cada uma das

frações obtidas por CIEX. O pico indicado pela seta corresponde à toxina

Mic6c7NTX. Esta toxina é oriunda da fração 2F5F10 obtida da CIEX e coletada

dos poços c6 e c7 do coletor, sendo eluída em 26,7 % de ACN.

0 20 40 60 80 100

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Volume (mL)

AB

S 2

14

nm

(mA

u)

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0N

aCl [M

]

Figura 32: Cromatografia Bidimensional: Troca catiônica (CIEX). A peçonha bruta de M. ibiboboca (2 mg) foi aplicada na coluna TSK-Gel®CM-SW 15 cm x 4,6 mm para a realização da CIEX. A seta em vermelho indica a fração 2F5F10, a qual foi submetida à RPC, da qual foi isolada a toxina de interesse .

Page 103: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

4.3 DETERMINAÇÃO DA MASSA MOLECULAR

MASSAS

Cada uma das frações obtidas p

espectrometria de massas (MALDI

foi mais pronunciado pela RPC, teve sua massa determinada c

a 7.047,56 Da. O espectro de massas

34.

Figura 33: Cromatografia Bidimensional: Fase reversa (RPC) das frações da cromatografia de troca catiônica. na coluna de fase reversa Source 15 4.6/1000,1%. As frações foram eluídas em um gradiente linear de 10 a 80% de 0,1% TFA/ACN. Foram coletados 0,5 mfoi monitorada a uma absorbância de 214 nm, com ao pico da neurotoxina

4.3 DETERMINAÇÃO DA MASSA MOLECULAR – ESPECTROMETRIA DE

Cada uma das frações obtidas pela RPC foi analisada utilizando

espectrometria de massas (MALDI-Q-TOF MS). A toxina de interesse, cujo pico

iado pela RPC, teve sua massa determinada correspondendo

a 7.047,56 Da. O espectro de massas dessa toxina está representado na figura

Cromatografia Bidimensional: Fase reversa (RPC) das frações da cromatografia de troca catiônica. As frações da troca catiônica foram aplicadas na coluna de fase reversa Source 15 4.6/100, equilibrada com solução de TFA 0,1%. As frações foram eluídas em um gradiente linear de 10 a 80% de 0,1% TFA/ACN. Foram coletados 0,5 mL por tubo, com um fluxo de 1 mL/min.foi monitorada a uma absorbância de 214 nm, com leitura de 1.998 mAu

Mic6c7NTX.

Mic6c7NTX

102

ESPECTROMETRIA DE

ela RPC foi analisada utilizando

A toxina de interesse, cujo pico

orrespondendo

dessa toxina está representado na figura

Cromatografia Bidimensional: Fase reversa (RPC) das frações da As frações da troca catiônica foram aplicadas

solução de TFA 0,1%. As frações foram eluídas em um gradiente linear de 10 a 80% de 0,1%

/min. A eluição 1.998 mAu referente

Page 104: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

103

4.4 SEQUENCIAMENTO PROTÉICO DO N-TERMINAL DA TOXINA

Mic6c7NTX

A toxina Mic6c7NTX foi submetida ao seqüenciamento utilizando o

método de degradação de Edman. A seqüência foi determinada parcialmente

sendo obtidos 31 resíduos de aminoácidos do seu N-terminal, como mostra a

figura 35. Os aminoácidos presentes foram: uma leucina (L), quatro isoleucinas

(I), três cisteínas (C), duas fenilalaninas (F), três ácidos aspárticos (D), uma

serina (S), uma prolina (P), quatro treoninas (T), uma alanina (A), uma histidina

7047.566

3516.920

0.0

0.5

1.0

1.5

4x10

Inte

ns.

[a.u

.]

2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000m/z

Figura 34: Perfil da Toxina Mic6c7NTX no Espectrometro de Massas MALDI-Q- TOF. A figura mostra o pico mais alto referente à pureza da toxina com massa molecular de 7047,56 e um pico menor anterior representando a sua dupla carga.

Page 105: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

104

(H), duas valinas (V), uma glutamina (Q), duas argininas (R), uma glicina (G),

uma tirosina (Y), uma metionina (M), uma lisina (K), um triptofano (W).

NH2-LICFIDFSPT AHIVDDCQRG ITTCYMKTWR V-COOH

4.5 BIOINFORMÁTICA: BUSCA POR SIMILARIDADE

Para investigar a atividade biológica da proteína seqüenciada, buscas

por similaridades foram realizadas em banco de dados protéicos como o

ExPASy Proteomics Server (http://ca.expasy.org/), formato Fasta3. O

alinhamento é mostrado a seguir na figura 36.

MI7047,56 LICFIDFSPTAHIVDDCQRGITTCYMKTWRV 1 SW:NXS3_OXYMI MTCYNQQSSQAKTTTTCSGGVSSCYRKTWSD 2 SW:NXS1_OXYSC MTCYNQQSSEAKTTTTCSGGVSSCYKKTWSD 3 SW:NXS4_OXYMI MTCYNQQSSEAKTTTTCSGGVSSCYKETWYD 4 SW:NXS1_ACAAN MQCCNQQSSQPKTTTTCPGGVSSCYKKTWRD 5 SW:NTXRI_BUNFA RICLNQQSSEPQTTETCPNGEDTCYNKTWNT 6 SW:NXL37_OPHHA LICFI--SPHDSVT--CAPGENVCFLKSWCD 7 SW:NXSA2_NAJSP LECHNQQSSQAPTTTGCSGGETNCYKKSWRD 8 SW:NXSC_LATSE RICFNHQSSQPQTTKTCSPGESSCYHKQWSD 9 SW:NXSB_LATSE RICFNHQSSQPQTTKTCSPGESSCYHKQWSD

10 SW:NXL28_OPHHA LICFI----SSHDSVTCAPGENVCFLKSWCD

A tabela 6 representa as toxinas homólogas à Mic6c7NTX (M.M.

7.047,56); fonte; classe da toxina (neurotoxina); organismo do qual a toxina é

componente da peçonha; número de resíduos de aminoácidos (AA);

percentagem de identidade, isto é, os resíduos iguais e na mesma posição da

Figura 35: Sequência do N-terminal da neurotoxina Mic6c7NTX presente na peçonha da serpente M. ibiboboca (Merrem, 1820). Foram sequenciados 31 resíduos de aminoácidos pelo método de degradação de Edman.

Figura 36: Alinhamento da proteína de 7047, 56 Da da peçonha de M. ibiboboca com proteínas homólogas. As toxinas foram alinhadas pelos resíduos de Cisteína (C). Os trechos que possuem traços sucessivos (---) correspondem à parte da sequência que não obteve alinhamento. As proteínas homólogas estão presentes nas peçonhas de algumas espécies de serpentes da família Elapidae. As siglas NX referem-se a neurotoxinas. OXMI (Oxyuranus microlepdotus); OXYSC (Oxyuranus scutellatus); ACAAN (Acanthophis antarticus); BUNFA (Bungarus fasciatus); (Ophiophagus hannah); NAJSP (Naja naja sputatrix); LATSE (Laticauda sp.).

Page 106: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

105

sequência; percentagem de similaridade, ou seja, a homologia dos resíduos de

aminoácidos pelo tipo e polaridade; sobreposição, que são os resíduos que se

sobrepõem; o escore ou erro E(); a classificação filogenética, que corresponde

aos clados gênero ou família do organismo do qual as toxinas que

apresentaram homologia foram purificadas.

Proteína ID:Database Fonte Organismo AA Identi Similari Sobrepo E() Classifi dade (%) dade (%) sição cação

1 SWNTXS3_OXYM Short neurotoxin 3FTx-Oxy3 precursor

Oxyuranus microlepidotus 83 34.48 65.517 29 9.90E-02 Elapidae

2 SWNTXS1_OXYSC Short neurotoxin SNTX-1 Oxy4 precursor (Toxin 3)

Oxyuranus scutellatus 83 34.48 65.517 29 9.90E-02 Elapidae

3 SWNTXS4_OXYM Short neurotoxin 3FTx-Oxy4 precursor

Oxyuranus microlepidotus 83 31.034 65.517 29 2.90E-01 Elapidae

4 SWNXS1_ACAAN Short neurotoxin 1 (Toxin Aac)

Acanthophis antarcticus 62 35.714 57.143 28 4.30E-01 Elapidae

5 SWNTXRI_BUNFA Neurotoxin 3FTx-RI precursor

Bungarus fasciatus 83 39.286 57.143 28 6.90E-01 Elapidae

6 SWNXL37_OPHHA Long neurotoxin OH-37precursor

Ophiophagus hannah 91 41.379 65.517 29 9.30E-01 Elapidae

7 SWNXSA2_NAJSP Alpha-neurotoxin NTX-2 precursor

Naja sputratix 83 40 56.667 30 1.10E+00 Elapidae

8 SWNXSC_LATSE Erabutoxin c precursor Laticauda semifasciata 83 35.714 53.571 28 1.30E+00 Elapidae

9 SWNXSB_LATSE Erabutoxin b precursor Laticauda semifasciata 83 35.714 53.571 28 1.30E+00 Elapidae

10 SWNXL28_OPHHA Long neurotoxin LNTX28 precursor

Ophiophagus hannah 91 37.931 62.069 29 1.40E+00 Elapidae

As figuras 37 e 38 correspondem às toxinas que apresentaram maior

identidade e similaridade com a toxina em estudo Mic6c7NTX. Correspondem

às sequências completas das toxinas SWNTXS3_OXYM e

SWNTXS1_OXYSC, respectivamente alinhadas aos 31 resíduos de

aminoácidos da toxina em estudo.

Tabela 6 - Proteínas similares à proteína Mic6c7NTX, MM 7.047,56 Da isolada da peçonha de Micrurus ibiboboca.

Page 107: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

106

10 20 30 7047 Da LICFIDFSPTAHIVDDCQRGITTCYMKTWRV . :. . : :. . :. :...:: ::: SW:NXS MKTLLLTLVVVTIVCLDLGYTMTCYNQQSSQAKTTTTCSGGVSSCYRKTWSDIRGTIIER 10 20 30 40 50 60 SW:NXS GCGCPSVKKGIERICCGTDKCNN 70 80

10 20 30 7047 Da LICFIDFSPTAHIVDDCQRGITTCYMKTWRV . :. . : :. . :. :...:: ::: SW:NXS MKTLLLTLVVVTIVCLDLGYTMTCYNQQSSEAKTTTTCSGGVSSCYKKTWSDGRGTIIER 10 20 30 40 50 60 SW:NXS GCGCPSVKKGIERICCRTDKCNN 70 80

4.6 ENSAIOS ELETROFISIOLÓGICOS COM A TOXINA Mic6c7NTX DA

Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) – TÉCNICA DE SINGLE SUCROSE GAP

4.6.1 Efeito da Toxina Mic6c7NTX sobre a Excitabilidade do Nervo Isolado

de Rato (Efeito Tônico)

Após a confirmação da massa molecular, da obtenção da sequência N-

terminal da toxina Mic6c7NTX e pela identificação da neurotoxina durante a

busca por similaridade e homologia contra outras neurotoxinas de serpentes da

família Elapidae resolveu-se utilizar a técnica de single sucrose gap, método de

current clamp, para avaliar sua neurotoxicidade sobre o sistema nervoso

periférico (SNP). Observou-se que a neurotoxina na concentração de 1 µM

Figura 37: Alinhamento da proteína Mic6c7NTX 7047 Da contra a proteína Short neurotoxin 3FTx-Oxy3 precursor (NXS3_OXYMI), da peçonha de Oxyuranus microlepidotus. Os dois pontos (:) indicam similaridade dos aminoácidos das duas toxinas.

Figura 38: Alinhamento da proteína Mic6c7NTX 7047 Da contra a proteína Short neurotoxin SNTX-1 precursor (Toxin 3) (NXS1_OXYSC), da peçonha de Oxyuranus scutellatus scutellatus. Os dois pontos (:) indicam identidade dos aminoácidos das duas toxinas.

Page 108: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

promoveu uma redução na excitabilidade do nervo isquiático desses animais,

diminuindo a amplitude do PAC (

O gráfico 2 representa o efeito da toxina Mic6c7NTX

de 1 µM nos tempos de incubação

38,98 ± 5,7 mV e após 15 minutos de incubação com a toxina o

não houve redução significativ

observada a partir de 30 minutos de incubação alterando a amplitude

32,68 ± 4,62 mV (n=4). A

reduziu mais APAC para 30,63

A percentagem da média de redução da amplitude é de 21 %.

Figura 39: Registros do PAC obtidos pela técnica de Mic6c7NTX no nervo isquiático de rato.neurotoxina nos tempos de 15 a 45 minutos de incubação no nervo periférico isolado de rato. O registro controle foi obtido quando o nervo estava submetido (Locke). Parâmetros do ensaio: 7

promoveu uma redução na excitabilidade do nervo isquiático desses animais,

diminuindo a amplitude do PAC (APAC) (Figura 39).

O gráfico 2 representa o efeito da toxina Mic6c7NTX na

nos tempos de incubação de 15, 30 e 45 min. No controle obteve

e após 15 minutos de incubação com a toxina observou

significativa de APAC (34,3 ± 4,15 mV). Essa redução só foi

observada a partir de 30 minutos de incubação alterando a amplitude

=4). Aos 45 min de incubação verificou-se que a neurotoxina

30,63 ± 4,03 mV.

A percentagem da média de redução da amplitude é de 21 %.

Registros do PAC obtidos pela técnica de single sucroseMic6c7NTX no nervo isquiático de rato. Esta figura mostra as alterações induzidas pela neurotoxina nos tempos de 15 a 45 minutos de incubação no nervo periférico isolado de rato. O registro controle foi obtido quando o nervo estava submetido apenas à solução fisiológica (Locke). Parâmetros do ensaio: 7-8 V/ 0,1 ms.

107

promoveu uma redução na excitabilidade do nervo isquiático desses animais,

a concentração

No controle obteve-se

bservou-se que

4,15 mV). Essa redução só foi

observada a partir de 30 minutos de incubação alterando a amplitude para

se que a neurotoxina

A percentagem da média de redução da amplitude é de 21 %.

single sucrose gap da toxina Esta figura mostra as alterações induzidas pela

neurotoxina nos tempos de 15 a 45 minutos de incubação no nervo periférico isolado de rato. apenas à solução fisiológica

Page 109: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

108

0 15 30 45 0

10

20

30

40

50

* *

Tempo de incubação (min)

AP

AC (

mV

)

4.6.2 Efeito da Toxina Mic6c7NTX sobre as Características do PAC

Com a finalidade de se obter uma análise mais detalhada dos efeitos da

toxina Mic6c7NTX sobre os eventos de despolarização e repolarização do

PAC, as mudanças nos parâmetros TPPAC, VDPAC e τrep, conforme descritos

anteriormente (seção 3.7.3.1), foram avaliadas. Os valores obtidos a partir dos

registros controle (com apenas a solução Locke) e após 45 min de incubação

com a neurotoxina (1µM), foram devidamente expressos na tabela 2.

De acordo com os parâmetros de despolarização analisados TPPAC e

VDPAC observou-se que a Mic6c7NTX não provocou nenhuma alteração

significativa, bem como no parâmetro de repolarização. Também não foi

observada alteração significativa no τrep (Tabela 7).

Incubação com Mic6c7NTX (1µM)

Parâmetros analisados do PAC TPPAC (ms) VDPAC (V/s) τrep (ms)

0 min 0,59 ± 0,05 72,6 ± 12,72 0,41 ± 0,01 15 min 0,59 ± 0,06 62,26 ± 10,05 0,40 ± 0,03 30 min 0,61 ± 0,04 56,61 ± 11,48 0,40 ± 0,04 45 min 0,61 ± 0,39 53,95 ± 10,21 0,40 ± 0,04

Gráfico 2: Efeito da toxina Mic6c7NTX (1 µM) sobre a amplitude do PAC após incubação (0–45min) em nervo isquiático de rato (n=4),*p<0,05; controle (0 min)

Tabela 7: Efeito da toxina Mic6c7NTX (1 µM) sobre a despolarização (TPPAC e VDPAC) e a repolarização (τrep) do PAC. Os valores foram obtidos durante 45 min de incubação com a neurotoxina sobre o nervo isquiático de rato, e expressos como a média ± e.p.m. (n=4) 0 min (controle) (Teste ”t” de Student pareado). Não houve significância em nenhum dos parâmetros analisados.

Page 110: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

109

4.6.3 Comparação do Efeito Tônico da Peçonha Bruta com a Toxina

Mic6c7NTX da Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)

A comparação entre o efeito tônico da peçonha bruta (100 µg/mL) e a

toxina Mic6c7NTX (1µM) sobre a excitabilidade do nervo isolado foi realizada

incubando-se essas substâncias separadamente no nervo isquiático de rato,

conforme descrito em materiais e métodos (seção 3.7.3.1), tomando-se como

parâmetros os valores de APAC.

O gráfico 3 mostra comparativamente a percentagem de redução de

APAC da peçonha bruta com a toxina obtida a partir da normalização durante os

45 minutos de incubação. Nesse tempo de incubação, a toxina Mic6c7NTX

apresentou uma percentagem de redução semelhante a da peçonha bruta,

sendo de 21% da toxina contra 25% da peçonha bruta.

0 15 30 45

50

75

100

125

Veneno BrutoMic6c7NTX

Tempo de incubação (min)

APAC

(%)

4.6.4 Investigação do Efeito Uso-dependente da Toxina Mic6c7NTX (Efeito

Fásico)

Os resultados obtidos durante a investigação do efeito da toxina

Mic6c7NTX (1 µM) após 45 minutos de incubação sobre a percentagem de

bloqueio de APAC (seção 3.6.3.2), variando-se a freqüência (efeito fásico) do

estímulo no nervo isolado foram de: 25,72 ± 2,47%; 27,63 ± 3,37%, nas

Gráfico 3: Comparação entre os efeitos da peçonha bruta (100 µg/ mL) e da toxina Mic6c7NTX (1 µM) incubadas separadamente sobre APAC. Os valores foram expressos em percentagem obtidos através de normalização. Controle (0 min).

Peçonha bruta

Page 111: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

110

freqüências de 50 e 100Hz, respectivamente. A figura 40 mostra os registros do

PAC obtidos por este método usando as freqüências de 50 e 100 Hz. A

redução do PAC promovida pela toxina no efeito uso-dependência não foi

significativa quando comparada à redução promovida durante estimulação

tônica (pulso único) (Gráfico 4).

0 50 1000

10

20

30

40Efeito tônicoEfeito fásico

Frequência (Hz)

Blo

qu

eio

do

PA

C (

%)

Figura 40: Registros do PAC obtidos após 45 min de incubação com a toxina Mic6c7NTX (1 µM) aumentando-se a freqüência de estimulação. O APAC do controle está representado por C; O APAC corresponde ao registro na freqüência de 11 Hz, com pulso único; os registros com 50 e 100 Hz foram obtidos após um trêm de pulsos no nervo isquiático de rato incubado durante 45 minutos com a neurotoxina. Parâmetros de estimulação: 7–8 V/0,1 ms. O intervalo de tempo entre os trêns de pulso nas freqüências com 50 e 100 Hz foi de 5 minutos.

Gráfico 4: Influência do aumento da freqüência de estimulação (50 e 100 Hz) sobre os efeitos da toxina Mic6c7NTX (1 µM) em nervo isolado de rato. Os valores foram obtidos após 45 min de incubação e expressos como a média ± e.p.m. (n=4) a partir da equação: %Bloqueio=[(APACc–APACd)/APACc] 100*, em que APACd a amplitude do PAC após 45 minutos de incubação com a toxina Mic6c7NTX e APACc a amplitude medida sob condições controle e comparados com os efeitos da toxina Mic6c7NTX (1 µM) obtidos quando o nervo era estimulado por pulso único (efeito tônico), com 11 Hz (Teste “t” de Student pareado).

Page 112: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

111

4.7 ENSAIOS ELETROFISIOLÓGICOS COM A TOXINA Mic6c7NTX DA

Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) – TÉCNICA DE PATCH CLAMP

Após a investigação do efeito da toxina Mic6c7NTX no nervo isolado e

constatação da sua ação sobre a excitabilidade do nervo fazia-se necessário

estudar o seu efeito em nível das correntes dos canais para avaliar se os

canais Nav, responsáveis pelo potencial de ação, estariam envolvidos no

mecanismo de ação dessa toxina. Para testar esta hipótese de forma direta

foram feitos experimentos de patch clamp, método de voltage clamp.

4.7.1 Efeito da Toxina Mic6c7NTX sobre os Neurônios do Gânglio da Raiz

Dorsal (DRG)

A figura 42 mostra os registros obtidos utilizando a modalidade whole

cell da técnica de patch clamp em fibras do tipo C de neurônios DRG (cultura

primária). Em A tem-se um registro da amplitude da corrente com a toxina

Mic6c7NTX (1 µM) na ausência de TTX, sendo observada a ação bloqueadora

da toxina na população total de canais para sódio presentes nesse tipo celular.

O protocolo-teste utilizado está representado na figura 41.

Figura 41: Esquema do protocolo-teste utilizado em whole cell patch-clamp para corrente total de sódio em neurônios DRG.

Page 113: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

112

O registro representado na figura acima mostra que a toxina Mic6c7NTX

na concentração de 1 µM promoveu uma completa inibição das correntes totais

dos Nav do tipo TTX-S (Nav 1.1, Nav 1.2, Nav 1.3, Nav 1.4, Nav 1.5, Nav 1.6, Nav

1.7) e TTX-R (Nav 1.8 e Nav 1.9) .

Sendo observada a inibição completa das correntes totais de sódio pela

toxina Mic6c7NTX na concentração de 1 µM resolveu-se estabelecer o perfil de

decaimento da corrente em relação ao tempo de exposição à neurotoxina.

O gráfico 5 mostra o decurso temporal do efeito da Mic6c7NTX (1 µM)

sobre as correntes de sódio de neurônios DRG de ratos das fibras do tipo C.

Observou-se que a neurotoxina obteve o seu efeito máximo a partir de 700 s, e

que após o período de lavagem não houve reversão do seu efeito bloqueador.

Figura 42: Efeito da Mic6c7NTX sobre as correntes de sódio em neurônios DRG de ratos. As correntes foram registradas através de um protocolo de despolarização. A partir de um potencial de holding de -80 mV, foi feito um pré-pulso de –100 mV, e em seguida o pulso teste de -80 mV foi despolarizado para 0 mV por 300 ms. O pulso era desligado para o potencial de -80 mV. Foi utilizada a toxina Mic6c7NTX na concentração de 1 µM na ausência de TTX. O traçado em azul correspondem ao controle; o traçado vermelho correspondem à amplitude da corrente na presença de Mic6c7NTX.

Page 114: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

113

A fim de observar a possível dependência da concentração dos efeitos

da toxina Mic6c7NTX (1-1000 nM) os valores da inibição das correntes de

sódio foram normalizados a partir do controle e expressos como a percentagem

de bloqueio da corrente de sódio, de acordo com a seguinte relação:

%Bloqueio= 100 - (I(700s)/I(cont)*100), sendo I o valor das correntes em cada

concentração.

Posteriormente, os valores obtidos foram aplicados, por regressão não-

linear, à equação logística na forma: f=Min+(Max-Min)/1+10(logIC50-[Mic6c7NTX]*n),

onde Min e Max são os valores mínimo e máximo da percentagem de bloqueio

da corrente, respectivamente, em função do log da concentração da toxina

Mic6c7NTX ([Mic6c7NTX]). O coeficiente de Hill é representado por n.

A partir dos dados obtidos, observou-se que o efeito da neurotoxina

sobre o bloqueio da corrente de sódio dos canais Nav das fibras tipo C de

neurônios DRG apresenta uma concentração bloqueadora intermediária (IC50)

de aproximadamente 30 nM, e um valor de n igual a 1,00 ± 0,04 (R2= 0,99)

(Gráfico 6).

Gráfico 5: Decurso temporal do efeito da Mic6c7NTX (1 µM) sobre as correntes de sódio de neurônios DRG de ratos das fibras tipo C. A figura mostra a variação do pico da corrente medida em 0 mV em relação ao tempo. O intervalo de estimulação usado foi de 15 s. Os círculos vazados correspondem ao período controle e a partir desse período aplicou-se a toxina (círculo cheio) na concentração de 1 µM. Quando se atingiu uma condição estacionária foi cessada a perfusão da toxina e iniciada a perfusão com a solução externa (período de lavagem).

Page 115: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

114

Gráfico 6: Curva concentração-resposta da toxina Mic6c7NTX. Os valores do pico da corrente de sódio foram normalizados. A curva representada no gráfico foi obtida, por regressão não-linear, usando a equação logística na forma: f=Min+(Max-Min)/1+10(logIC50-[Mic6c7NTX]*n), onde Min é o valor mínimo e Max é o valor máximo para o bloqueio. As concentrações utilizadas foram de 1, 10, 30, 100 e 1.000 nM de Mic6c7NTX.

Page 116: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

115

DiscussãoDiscussãoDiscussãoDiscussão

Page 117: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

116

5 DISCUSSÃO

Os acidentes causados por serpentes peçonhentas representam

significativo problema de Saúde Pública, especialmente em países tropicais,

pela freqüência com que ocorrem e pela morbi-mortalidade que ocasionam

(PINHO, et al., 2004).

Envenenamento por serpentes Elapidae são menos freqüentes do que

por serpentes Viperidae, mas representam uma verdadeira emergência médica

devido à progressão rápida da Síndrome da Cobra (CHIPPAUX, 2007) (que se

caracteriza, principalmente por estresse respiratório, formigamento na região

da picada, às vezes anestesia local que se estende por todo o membro

afetado, além de sinais não específicos como: angústia, náusea, vômitos, dor

epigástrica, cefaléia, sede, convulsão e perda da consciência (LARRÉCHÉ, et

al., 2008), o que corresponde a um quadro severo em humanos caracterizado

por uma neurotoxicidade de rápida evolução, que pode ser fatal (OLIVEIRA, et

al., 2008).

O veneno elapídico contém α-NTXs que paralisam a musculatura

estriada, especialmente a torácica. O envenenamento é resultado de um

bloqueio progressivo da transmissão neuromuscular nas placas motoras, e em

casos graves resulta na morte por uma parada respiratória, que pode ocorrer

dentro de algumas horas e preceder sintomas neurológicos como parestesia

local e paralisia progressiva dos nervos cranianos (CHIPPAUX, 2007;

LARRÉCHÉ, et al., 2008).

As Micrurus sp. e as suas respectivas DL50 em camundongos, M.

corallinus (DL50 = 7,10 ± 0,83 µg/g), M. frontalis (DL50 = 19,30 ± 3,13 µg/g), M.

ibiboboca (Merrem, 1820) (DL50 = 19,80 ± 2,07 µg/g) e M. spiixi (DL50 = 6,70 ±

1,25 µg/g) que são consideradas as responsáveis pela maior parte dos

envenenamentos em humanos causados por serpentes do gênero e suas

peçonhas contêm algumas neurotoxinas junto às enzimas responsáveis pelo

efeito neurotóxico (HIGASHI, et al., 1995).

Investigando a neurotoxicidade da peçonha de M. ibiboboca sobre o

SNP, o presente estudo utilizou ensaios eletrofisiológicos in vitro do tipo current

clamp (single sucrose gap). No método de current clamp são aplicados pulsos

de corrente medindo-se o potencial de membrana (CRUZ, et al., 1994), o que

Page 118: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

117

possibilita o estudo de substâncias que agem perifericamente. Utilizando

eletrodos externos associados a um nervo isolado, que passavam pulsos

supramáximos de voltagem isolados (STAMPLIF, 1954), observou-se que a

peçonha apresentou um efeito bloqueador significante sobre a excitabilidade do

nervo periférico isolado de rato (gráfico 1). A soma algébrica de vários

potenciais de ação, resultantes da estimulação de vários axônios presentes em

uma fibra nervosa denomina-se potencial de ação composto (PAC), o significa

que a partir do primeiro pico (A) gerado em um nervo e suas subdivisões (Aα,

Aβ, Aγ, Aδ) como a soma da atividade elétrica das fibras mielínicas de rápida

condutância (PERL, 2007). Um pico observado de condutância muito lenta (C)

foi proposto como a representação da atividade das fibras amielínicas.

Diferentemente do potencial de ação gerado em um único axônio, o PAC é

uma resposta graduada, cuja magnitude aumenta com a intensidade do

estímulo. Isso ocorre devido ao fato de que diferentes axônios presentes na

fibra nervosa possuem diferentes limiares de excitabilidade e diâmetros, sendo

mais rápidas e excitáveis as fibras que possuem menor limiar e maior diâmetro

(Aα>Aβ> Aγ>Aδ>B>C) (PERL, 2007). Essa redução da amplitude do PAC

observada pelo efeito da peçonha deve está associada à redução na

excitabilidade das fibras Aα do nervo isquiático de rato (figura 1).

Logo, a diminuição da excitabilidade do nervo ou redução da amplitude

do PAC deve está relacionada ao bloqueio dos canais para sódio presentes

nos nodos de Ranvier das fibras mielínicas (SILVEIRA, et al., 1995), os quais

são estruturas altamente especializadas presentes nos nervos mielinizados de

vertebrados e que apresentam uma densidade de canais Nav em torno de

1.900 canais/µm2 (CONTI, et al., 1976). Esta alta densidade parece ser

necessária para que ocorra a despolarização rápida (milissegundos) da

membrana internodal, assegurando a propagação eficiente dos potenciais de

ação entre os nodos de Ranvier (CRUZ, 1991).

Em humanos o nervo isquiático, o maior do corpo, é responsável por

grande parte da inervação das estruturas musculares, cutâneas e articulações

do membro inferior, inervando os músculos posteriores da coxa. Além disso,

seus ramos (nervos tibial e fibular comuns) são responsáveis pela inervação do

compartimento posterior da coxa, de todos os músculos da perna e do pé; e

também pela inervação da pele do pé e da maior parte da perna, além de

Page 119: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

118

contribuir na inervação das articulações do joelho, tornozelo e pé

(GARBELOTTI JR e PELOZO JR, 2003). Possivelmente, os sintomas

neurológicos como parestesia local do membro afetado (formigamento ao redor

da picada, anestesia local que rapidamente abrange às regiões vizinhas, dentre

outros inespecíficos) (LARRÉCHÉ, et al., 2008), deve ser gerado pelo bloqueio

da excitabilidade do nervo periférico afetado.

A técnica de single sucrose-gap permite o estudo in vitro de toxinas e

peçonhas de animais vertebrados e invertebrados que tenham efeito sobre a

despolarização das fibras nervosas (o que sugere envolvimento dos canais

Nav) e/ou sobre a repolarização do nervo (o que indica um possível

envolvimento dos canais Kv).

A lista de toxinas que atuam no nodo de Ranvier é vasta. Algumas

classicamente estudadas como as toxinas guanidínicas (tetrodotoxina e

saxitoxina), que bloqueiam os potenciais de ação em nervo (DETTBARN, et al.,

1960; KAO, 1966), ambas agem nos canais Nav do nodo de Ranvier,

bloqueando o poro do canal (CATTERALL, et al., 2007) quando aplicadas pelo

lado externo da fibra nervosa (HILLE, 1966).

Vários trabalhos fizeram uso dessa técnica para elucidar atividades

eletrofisiológicas de várias espécies peçonhentas, como os estudos realizados

com a peçonha bruta e frações da peçonha do escorpião Tityus serrulatus,

utilizando fibras nervosas do nervo vago de coelho (RICCIOPPO NETO, 1983),

com nervo isquiático de rã (Ranas catesbeiana) e a fração tityustoxina

(SILVEIRA, 1995; CRUZ, et al., 2000) e do escorpião Opisthacanthus

cayaporum, utilizando nervo isolado de rato e de barata (inseto) (SCHWARTZ,

et al., 2008); com a peçonha da aranha Lycosa erythognatha em nervo

isquiático de rã (CRUZ, et al., 1994); com o veneno de anêmona do mar

(Bunodosoma cangicum) em nervo sensorial da pata de caranguejo

(Callinectes danae) (LAGOS, et al., 2001); com uma PLA2 da peçonha da

serpente Micrurus dumerilli carinicauda (DAL BELO, et al., 2005) em nervo

isquiático de camundongo.

Alguns efeitos farmacológicos foram investigados acerca da

neurotoxicidade da peçonha das serpentes do gênero Micrurus, com o objetivo

de elucidar o mecanismo de ação dos componentes neurotóxicos desta

Page 120: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

119

peçonha. Todavia, poucos estudos têm sido desenvolvidos com os venenos

dessas serpentes (OLAMENDI-PORTUGAL, et al., 2008).

Quimicamente, as peçonhas das serpentes corais têm sido pouco

investigadas. Em parte, devido ao hábito fossorial dessas serpentes o que

dificulta sua obtenção. Outra dificuldade é a sua manutenção em cativeiro em

virtude da dieta especializada e restrita. Quase todas as Micrurus se alimentam

de outras serpentes ou de anfisbenídeos, enquanto outras caçam

preferencialmente peixes ou onicóforos (DA SILVA JR e AIRD, 2001). Sobre a

composição das peçonhas das serpentes, a relação presa-predador é um

determinante importante (DA SILVA JR, 2001; OLAMENDI-PORTUGAL, et al.,

2008). Além do mais, a produção da peçonha é pequena e a extração é

geralmente difícil (AIRD e DA SILVA JR, 1991; ROSSO, et al., 1996).

Neste trabalho a quantidade total de peçonha obtida nas extrações e

utilizada para os ensaios eletrofisiológicos e bioquímicos foi de 23 mg de peso

seco de peçonha. A extração da peçonha foi realizada com o uso de

microcapilares de vidro, liofilizados e armazenados a uma temperatura de

-20oC, de acordo com metodologia descrita por DA SILVA JR e AIRD, (2001).

Após a observação do efeito inibitório da peçonha bruta em ensaios

eletrofisiológicos de current clamp com nervo isolado de rato decidiu-se

investigar qual seria o componente principal ou majoritário da peçonha

responsável pela inibição da excitabilidade do nervo. Logo, para purificar os

componentes da peçonha escolheu-se como método de purificação a

cromatografia líquida bidimensional, baseado em trabalhos anteriores com

peçonhas de serpentes.

A toxinologia vem se detendo a métodos cada vez mais sofisticados de

fracionamento e subseqüente identificação e caracterização de proteínas das

peçonhas de serpentes, e que proporcione uma compreensão dos proteomas

dessas peçonhas (FOX, et al., 2006).

As peçonhas das serpentes são misturas complexas de proteínas

farmacologicamente ativas e toxinas polipeptídicas que provocam alterações

específicas em nos mecanismos fisiológicos de suas presas (URDANETA, et

al., 2004). Esses componentes majoritários são tipicamente polipeptídeos e

proteínas de tamanho pequeno, ricos em cisteína e com alvos moleculares

Page 121: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

120

específicos, correspondendo a 90-95% do peso seco da peçonha (St PIERRE,

et al., 2005).

Na purificação e identificação das peçonhas de serpentes Elapidae têm

sido utilizados, de forma mais especializada, métodos cromatográficos

eficientes como HPLC. Um dos estudos pioneiros com as peçonhas de

algumas Elapidae, desenvolvido por BOUGIS e col., (1986), observou que o

uso de RPC-HPLC foi particularmente efetivo, tendo em vista que todos os

componentes conhecidos das peçonhas até o presente estudo (α-NTX, PLA2 e

cardiotoxinas) podiam ser purificados em uma única cromatografia, na ordem

de eluição de: α-NTX, PLA2 e cardiotoxinas, com uma recuperação total de

absorbância e toxicidade.

O perfil da primeira dimensão, a cromatografia de troca catiônica CIEX

(TSK-Gel®CM-SW 15 cm x 4,6 mm) representado na figura 2 apresenta as

dezenove frações obtidas dessa peçonha. Em cada cromatografia foram

utilizados 2 mg da peçonha bruta, totalizando dez cromatografias. A coluna foi

monitorada a 214 nm para não negligenciar moléculas pequenas destituídas de

resíduos aromáticos (DA SILVA JR e AIRD, 1991; RATES, et al., 2007).

Um estudo comparativo de perfis cromatográficos da peçonha de M.

ibiboboca com outras Micrurus sp. desenvolvido por DA SILVA JR e AIRD,

(1991) utilizando Cromatografia de Gel Filtração (coluna Superose 12 HR (1.0 x

30 cm) equilibrada em 50 mM de Na2HPO4/ H3PO4 (pH 7.0) contido em 150

mM de NaCl, com um fluxo de 0,5 mL/min) e RP (coluna Vydac C4 (1.0 x 5.0

cm,15 µm) equilibrada com 0,1% de TFA) ambas monitoradas a 214 nm,

mostrou que essas peçonhas após filtração em gel apresentaram poucos

peptídeos com massa molecular inferior a 1 kDa. Na RPC. Poucos

componentes dos venenos elapídicos eluíram em altas concentrações de ACN

(maior que 45%), os principais componentes eluíram em concentrações de

ACN entre 13 e 36%. Isso também foi observado nos cromatogramas de M.

ibiboboca obtidos através do nosso estudo, bem como nosso perfil da RPC

(figura 3) apresentou picos similares aos da RPC do estudo comparativo de DA

SILVA JR e AIRD, (1991; p. 123).

A toxina em estudo de nome Mic6c7NTX (Mi= Micrurus ibiboboca; c6c7=

poços de coleta do eluído da RPC c6 e c7 e NTX= neurotoxina) tem sua

nomenclatura similar à utilizada por OLAMENDI-PORTUGAL, e col., (2008),

Page 122: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

121

com toxinas obtidas da serpente Micrurus surinamensis. A toxina foi obtida da

fração 2F5F10 da CIEX e eluída em 26,7 % de ACN. Essa percentagem de

eluição indica uma baixa hidrofobicidade da neurotoxina. Segundo ROSSO,

(1996), α-NTX eluem no início do gradiente de ACN. O pico correspondente a

Mic6c7NTX (1.998 mAu) apresentou base e ápice estreitos, o que indica o alto

grau de pureza e representa uma alta quantidade dessa neurotoxina presente

na peçonha.

Com o avanço de técnicas de espectrometria de massas torna-se

possível analisar quantidades minuciosas de proteínas (FOX, et al., 2006).

A massa molecular (MM) da toxina Mic6c7NTX, igual a 7.047,56 Da e o

seu grau de pureza foram determinados pela espectrometria de massas. Essa

massa molecular corresponde às massas moleculares de neurotoxinas obtidas

nas peçonhas de outras Micrurus sp e Elapidae. O espectrograma da

neurotoxina exibido na figura 4 mostra um pico maior referente à toxina com

sua MM e um pico menor referente à dupla carga (M+2)2+ da toxina

polipeptídica. PERKINS e TOMER, (1995) em estudo comparativo das frações

de baixa massa molecular das peçonhas das serpentes Elapidae Dendroaspis

jamesoni kaimosae e Micrurus fulvius, observou que massas moleculares

peptídicas podem ser representadas na presença de dois estados de carga

separados, indicados por picos que migram subindo e descendo exatamente

ao mesmo tempo. Adicionalmente, os diferentes estados de carga do peptídeo

podem ser indicados pela relação: x= [M1/(M1-M2], em que M1 representa a alta

carga iônica (m/z) e M2 a baixa carga iônica (m/z).

Na família Elapidae as peçonhas dos gêneros Naja sp. e Hemachatus

sp. contêm neurotoxinas e cardiotoxinas com massa molecular entre 6-9 kDa,

junto com PLA2 (com massa molecular em torno de 13 kDa) (BOUGIS, et al.,

1986).

O estudo de OLAMENDI-PORTUGAL e col. (2008), com a peçonha de

M. surinamensis, obteve mais de cem moléculas diferentes, sendo sessenta e

duas com massas moleculares entre 6 e 8 kDa referentes às cardiotoxinas e

neurotoxinas através de MALDI-TOF/MS e ESI-IT/MS. Dessas, seis novas

toxinas foram seqüenciadas: Ms1 (MM= 6.553,0), Ms2 (MM= 7.299,0), Ms3

(MM= 6.938,0), Ms4 (MM= 7.303,0), Ms5 (MM= 7.178,0) e Ms11 (MM=

6.671,0), o que corrobora com o resultado em questão.

Page 123: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

122

A quantidade da toxina Mic6c7NTX obtida no final de cada cromatografia

a partir de 2 mg da peçonha bruta correspondeu a 52 µg de peso seco,

equivalendo a uma percentagem de 2,6% dessa neurotoxina na peçonha.

A informação disponível nos poucos estudos com a peçonha do gênero

Micrurus mostra a presença de PLA2 (POSSANI, et al., 1979; AIRD, 1991; DA

SILVA JR e AIRD, 1991; ROSSO, 1996; FRANCIS, et al., 1997) e α-NTXs

(ROSSO, 1996; FRANCIS, et al., 1997; DE OLIVEIRA, et al., 2000) da família

das alças três-dedos (ALAPE-GIRON, et al., 1999).

Poucos componentes dos venenos de Micrurus sp. foram purificados e

caracterizados bioquimicamente. POSSANI e col., (1979), obteve a sequência

de 12 resíduos do N-terminal de uma PLA2 do veneno de M. fulvius

microgalbineus. MOCHCA-MORALES e col., (1990), determinou o N-terminal

de três PLA2 da peçonha de M. nigrocinctus. ROSSO e col., (1996), purificou a

peçonha de M. nigrocinctus nigrocinctus, M. alleni yatesi e M. multifasciatus

caracterizando sete α-NTX, seis dessas toxinas de cadeias-curtas (59-61

resíduos de aminoácidos com oito resíduos de cisteína) e uma de cadeia-longa

de M. alleni yatesi (74 resíduos de aminoácidos e dez resíduos de cisteína), e

cinco PLA2, sendo obtida a sequência primária da α-NTX majoritária de M.

nigrocinctus nigrocinctus.

Através do seqüenciamento por degradação de Edman a sequência

parcial do N-terminal da toxina polipeptídica Mic6c7NTX foi obtida (figura 5).

Dos 31 resíduos de aminoácidos seqüenciados houve uma predominância dos

aminoácidos polares (18 resíduos); 11 resíduos de aminoácidos polares sem

carga (Gly, Ser, Thr, Cys, Tyr, Glu), 4 resíduos de aminoácidos polares

carregados positivamente (Lys, Arg, His) e 3 resíduos de aminoácidos polares

negativos (Asp). Os aminoácidos apolares totalizaram 13 resíduos (Ala, Val,

Leu, Ile, Pro, Phe, Try, Met). A sequência não foi finalizada devido a pouca

quantidade de toxina disponível para os ensaios biológicos.

Apesar da toxina Mic6c7NTX ter apresentado uma massa molecular

equivalente a massa de uma neurotoxina, confirmou-se por meio de

ferramentas da bioinformática, com pesquisa em banco de dados ExPASy

Proteomics Server (maior banco de dados de proteínas), conforme (ABREU, et

al., 2006), através de buscas por similaridade com outras sequências de

neurotoxinas das serpentes do gênero Micrurus e família Elapidae.

Page 124: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

123

A figura 6 mostra o alinhamento da neurotoxina em estudo pelos

resíduos de cisteína com toxinas homólogas e sua similaridade às neurotoxinas

de serpentes Elapidae australianas dos gêneros Oxyuranus sp. (taipans) e

Acanthophis (death adders), asiáticas dos gêneros Naja (spitting cobra),

Ophiophagus (king cobra) e Bungarus, e a australiana marinha Hydrophiidae

do gênero Laticauda. As assinaturas estruturais dos peptídeos e proteínas das

peçonhas já conhecidas correspondem aos padrões conservados de cisteína, e

servem como guias ou ponto de partida para identificação das proteínas ou

domínios do genoma comparando-as com outras que possuem a mesma

assinatura estrutural (MENEZ, et al., 2006).

Então, pode-se afirmar que peptídeos e proteínas de peçonhas tendem

a usar a simples e funcional assinatura para reconhecer os seus alvos

fisiológicos (MENEZ, et al., 2006), o que representa um enorme reservatório de

componentes bioativos com os mesmos padrões de cisteína.

Nesse alinhamento com as toxinas homólogas não houve homologia de

nenhuma toxina do gênero Micrurus com a neurotoxina em estudo. Esse

resultado pôde ser justificado, tendo em vista que atualmente, apenas duas

sequências completas de toxinas do tipo PLA2 de Micrurus sp., Nigroxins A

(MM= 14.182,8 Da) e Nigroxins B (MM= 14.211,8 Da), obtidas de M.

nigrocinctus nigrocinctus, e uma α-NTX, NXH1_MICCO (57 resíduos de

aminoácidos) obtida através da biblioteca de cDNA da glândula de veneno de

M. corallinus, foram depositadas em bancos de dados (ALAPE-GIRON, et al.,

1999; DE OLIVEIRA, et al., 2000; OLAMENDI-PORTUGAL, et al., 2008).

No trabalho recente com análise proteômica da peçonha de M.

surinamensis, obteve-se a sequência total de seis novas neurotoxinas e

demonstrou, por meio de pesquisa em banco de dados, alta similaridade com

neurotoxinas e cardiotoxinas de Naja sp. e Dendroapsis sp (OLAMENDI-

PORTUGAL, et al., 2008), o que difere da toxina em estudo. Até o presente

momento, essas novas toxinas de M. surinamensis ainda não se encontram

depositadas em banco de dados.

A tabela 2 mostra as similaridades e identidades da toxina Mic6c7NTX

com outras neurotoxinas de Elapidae de cadeias longa e curta. A sequência

parcial do N-terminal da neurotoxina em estudo apresenta similaridade (65%)

significante com o precursor 3FTx_Oxy3 da neurotoxina de cadeia curta de

Page 125: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

124

Oxyuranus microlepidotus e com o precursor SNTX_1 (toxina 3) da neurotoxina

de cadeia curta de Oxyuranus scutellatus scutellatus. Um estudo feito por DE

OLIVEIRA e col., (2000), com uma toxina de M. corallinus (NXH1_MICCO),

através de pesquisa por similaridade em banco de dados mostrou

significativamente ter alta similaridade, entre 60 e 70%, com α-NTXs do tipo

short-chain nos resíduos conservados de aminoácidos.

Em menor proporção, a toxina Mic6c7NTX apresentou similaridade com

o precursor 3FTx_Oxy4 da neurotoxina de cadeia curta de Oxyuranus

microlepidotus; neurotoxina 1 de cadeia curta (toxina Aac) de Acantophis

antarticus e o precursor 3FTx_RI da neurotoxina de cadeia curta de Bungarus

fasciatus. Entretanto, a toxina Mic6c7NTX apresentou baixa similaridade com

as toxinas de cadeias longas como a NXL28_OPHHA e NXL37_OPHHA de

Ophiophagus hannah.

São conhecidas duas classes distintas de α-NTXs: uma classe com

60/62 resíduos de aminoácidos – “toxinas de cadeia-pequena” (short-chain

toxins), com quatro pontes dissulfeto; outra com 70/74 resíduos de

aminoácidos – toxinas de cadeia-longa” (long-chain toxins), com cinco pontes

dissulfeto. As duas classes de α-NTX se ligam aos receptores nicotínicos de

acetilcolina (AchR), causando paralisia flácida dos músculos estriados, e

possuem um grupo de resíduos estritamente conservados que são importantes

para a interação com o receptor (TRÉMEAU, et al., 1995; ALAPE-GIRON, et

al., 1999). Ambas possuem uma conformação estrutural do tipo três-dedos e,

majoritariamente com variação no C-terminal (GOLOVANOV, et al., 1993; ST

PIERRE, et al., 2007).

As neurotoxinas que apresentaram maior similaridade com a toxina

Mic6c7NTX são toxinas de serpentes australianas. Um estudo desenvolvido

por BROAD e col., (1979), determinou a DL50 em camundongos demonstrou

que estes são consideravelmente mais potentes que os venenos das serpentes

asiáticas Naja naja e Ophiophagus hannah (apud HODGSON, et al., 2007).

CRACHI e col., (1999), em preparação nervo-muscular de biventer

cervicis de pintainho, mediu o tempo de inibição da contração muscular em

90% e apontou uma ordem de potência das peçonhas das serpentes do gênero

Oxyuranus sp. (10 µg/mL de cada peçonha): O. microlepidotus (27 ± 3 min) o

Page 126: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

125

mais potente de todos, seguido por O. scutellatus ( 42 ± 3 min) e O. s. cannis

(48 ± 5 min).

Oxyuranus microlepidotus (inland taipan) é uma serpente Elapidae

australiana que possui o veneno mais potente que qualquer serpente terrestre,

com uma DL50 de 0,01 mg/kg (s.c. em camundongos) (SUTHERLAND e

TIBBALLS, 2001 apud CLARKE, et al., 2006). O trabalho de CLARKE e col.,

(2006) apresentou a sequência parcial do N-terminal de uma neurotoxina pós-

sináptica isolada da sua peçonha dessa serpente, com 30 resíduos de

aminoácidos denominada Oxyoleptoxin-1 (MM= 6.789,56 Da). Esta mostrou ter

alta homologia (93%) com duas neurotoxinas pós-sinápticas de Oxyuranus s.

scutellatus (Taipan toxin 1 e 2).

A figura 7 apresenta a sequência completa do precursor 3FTx_Oxy4 da

neurotoxina de cadeia curta de Oxyuranus microlepidotus comparada a

sequência parcial da toxina em estudo. Os aminoácidos (posição): C(3), S(8),

A(11), C(17), G(20), C(24), Y(25), K(27), T(28), W(29) da toxina em estudo

apresentam identidade com a o precursor 3FTx_Oxy4 nas posições: (24), (29),

(32), (38), (41), (45), (46), (48), (49), (50), respectivamente. Outros

aminoácidos apresentaram sobreposição por haver igual polaridade. Foram

eles: L(1) da toxina em estudo por M(22) do precursor, T(10) por Q(31), H(12)

por K(33), Q(18) por S(39), I(21) por V(42), T(22, 23) por S(43,44), R(30) por

S(51).

A Oxyuranus s. scutellatus (coastal taipan) é uma outra serpente

Elapidae australiana cuja peçonha é conhecida por ser a mais letal para

humanos do mundo, bem como possuir uma mistura complexa de

componentes (FOHLMAN, 1976; LIND e EAKER, 1982 apud ZAMUDIO, et al.,

1996). Estudos apontam fazer parte da constituição dessa peçonha toxinas

importantes como taipoxina e taicatoxina, além de neurotoxinas.

O trabalho de ZAMUDIO e col., (1996) isolou, caracterizou

bioquimicamente e obteve as sequências completas das toxinas Taipan toxina

1 (MM= 6.726 Da; 62 resíduos de aminoácidos) e a Taipan toxina 2 (MM=

6.781 Da; 62 resíduos de aminoácidos), em que suas sequências diferem

apenas em um único aminoácido na posição 32, Gly em Taipan 1 e Ile em

Taipan 2 . Curiosamente, a Taipan toxina 1 apresenta sua sequência idêntica a

Page 127: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

126

do precursor SNTX_1 (toxina 3) da neurotoxina de cadeia curta (todas de O. s.

scutellatus), que mostrou-se ter alta similaridade com a toxina Mic6c7NTX.

O trabalho desenvolvido por St PIERRE e col., (2007), sequênciou o

precursor SNTX_1 e, através de ensaios eletrofisiológicos de patch clamp e

empalamento, observou que este é mais potente que o precursor LNTX_1 de

Pseudonaja textilis. A figura 8 apresenta a sequência total dessa toxina

comparada à sequência parcial do N-terminal da toxina em estudo. Os

aminoácidos (posição): C(3), S(8), A(11), C(17), G(20), C(24), Y(25), K(27),

T(28), W(29) da toxina em estudo apresentam identidade com a o precursor

SNTX_1 (toxina 3) nas mesmas posições que a toxina anterior. Outros

aminoácidos também apresentaram sobreposições devido à semelhança de

polaridade, ambos idênticos à toxina anterior, com exceção do resíduo T(10) da

toxina em estudo, que não obteve correspondência com o resíduo do

precursor.

Um trabalho de revisão escrito por MOUHAT e col., (2004), classifica

estruturalmente a arquitetura das toxinas em três modelos: ICK (ββ ou βββ) e

três-dedos (β1β1β2β2β2) e sanduíche α/β (β1ααβ2β1β1β2αβ1β1). As primeiras, do

tipo ββ, são encontradas em toxinas que agem nos canais para sódio, uma vez

que o tipo βββ está presente em algumas toxinas que agem em qualquer canal

para sódio ou potássio. O segundo tipo é encontrado apenas em toxinas da

peçonha de serpentes Elapidae e Hydrophidae (cobras, mambas, kraits e

serpentes marinhas). É uma família de polipeptídeos não-enzimáticos que

contém de 60-74 resíduos de aminoácidos, e quatro ou cinco pontes dissulfeto,

sendo quatro pontes conservadas em todas as toxinas. Então, toxinas de alças

três-dedos exibem três giros β-ancorados (β-stranded) que se estendem de um

núcleo central contendo as quatro pontes dissulfeto conservadas, sendo essa

aparência estrutural o que nomeia o grupo. Esse dobramento três-dedos é

ilimitado nas toxinas das serpentes Elapidae e Hydrophidae (KINI, 2002).

Devido à significante similaridade da toxina Mic6c7NTX com

neurotoxinas de cadeias curtas previamente descritas, é suposto que essa

toxina apresente um arranjo estrutural do tipo alça três-dedos, característico de

α-NTXs de serpentes Elapidae.

Page 128: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

127

Toxinas protéicas de animais são conhecidas por perturbar os processos

fisiológicos ao se ligarem a elementos chaves como a um receptor, canal iônico

ou uma enzima (TRÉMEAU, et al., 1995).

As NTXs pós-sinápticas são uma família estrutural relacionada às

proteínas isoladas das peçonhas de serpentes Elapidae e Hydrophidae

(ZAMUDIO, et al., 1996). Essas toxinas se ligam com alta afinidade a certos

receptores nicotínicos de acetilcolina (nAchR) dos músculos esqueléticos e

tecidos nervosos, onde eles antagonizam a ação da Ach por competição. São

conhecidas duas subfamílias de NTXs pós-sinápticas, as κ- neurotoxinas que

se ligam mais avidamente às subunidades α3 ou α4 do receptor e α-NTXs, que

se ligam com maior potência à subunidade α1 do receptor dos músculos

esqueléticos (STROUD, et al., 1990; ST PIERRE, et al., 2007).

O estudo desenvolvido por ZAMUDIO e col., 1996, no qual isolou as

duas toxinas Taipan 1 e Taipan 2 de O. scutellatus observou que essas α-NTXs

exibiam baixa afinidade pelos nAchR do cérebro e músculo esquelético. Logo,

como a toxina Mic6c7NTX apresentou alta similaridade com as toxinas citadas,

optou-se inicialmente, por investigar o seu efeito sobre a excitabilidade do

nervo periférico, bem como auxiliar na elucidação do mecanismo de ação.

Além dos resultados apresentados no trabalho com as toxinas “taipans”, os

dados obtidos previamente nos ensaios de single sucrose gap com a peçonha

bruta colaboraram com essa problemática.

Fibras nervosas durante a estimulação são conhecidas por sofrerem

pequenas alterações em seus potenciais de membrana, o que gera o potencial

de ação modulando assim a excitabilidade (STYS e WAXMAN, 1994). Os

canais Nav são agrupados em alta densidade na membrana periférica do

axônio dos nodos de Ranvier, onde são recrutados para a geração do potencial

de ação. Em contraste, o número de canais cai rapidamente na região

internodal, abaixo da mielina (RASBAND e TRIMMER, 2001).

A toxina Mic6c7NTX diminuíu a excitabilidade do nervo isolado na

concentração de 1 µM (figura 9), significativamente a partir de 30 minutos de

incubação com a neurotoxina, o que corresponde ao Bloqueio tônico (gráfico

3). O Bloqueio tônico (não uso-dependente) ocorre quando compostos

anestésicos locais se ligam ocasionalmente aos sítios do canal Nav durante a

abertura espontânea do mesmo (TOKUNO, et al., 2004). Uma variedade de

Page 129: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

128

canais iônicos para Na+ e K+ participam da eletrogênese do potencial de ação

em axônios de nervos periféricos (GUVEN, et al., 2006). Esse efeito inibitório

da excitabilidade do nervo exercido pela toxina, observado também pela

peçonha bruta indica o envolvimento dos canais Nav.

Não foi observada alteração significativa dos outros parâmetros do PAC

durante incubação com a toxina Mic6c7NTX (tabela 2) e com a peçonha bruta

(tabela 1), o que sugere um possível não envolvimento dos canais para K+

dependentes de voltagem, tendo em vista que não afetam a velocidade e o

tempo de repolarização (τrep). Apesar de ter sido observada inibição da

excitabilidade do nervo com a toxina Mic6c7NTX na concentração de 1 µM não

foi observada a reversão de APAC após 30 minutos de lavagem (dados não

mostrados).

O estudo desenvolvido por ERNE-BRAND e col., 1999, investigou o

efeito da Clonidina sobre as propriedades eletrofisiológicas das fibras C

durante a estimulação repetitiva (trêm de pulsos).

A Resposta Fásica ou Bloqueio uso-dependente caracteristicamente

ocorre quando compostos anestésicos locais se ligam ao canal Nav durante a

despolarização após os canais estarem abertos. Substâncias como a lidocaína

e a cocaína apresentam bloqueio uso-dependente (TOKUNO, et al., 2004). É

bem conhecido que estímulos repetidos aumentam a inativação dos canais Nav

causando um bloqueio adicional da condução, o que caracteriza o Bloqueio

uso-dependente. Este mecanismo de bloqueio pode ser explicado pela

hipótese de modulação do receptor proposta por Hille (GUVEN, et al., 2006).

Em geral, os potenciais de ação são conduzidos normalmente em frequências

fisiológicas, sendo fortemente suprimidos quando estimulados em altas

freqüências (HONDEGHEM e KATZUNG, 1977).

O Bloqueio uso-dependente não foi observado durante a incubação com

a toxina Mic6c7NTX na concentração de 1 µM (figura 10), em freqüências altas

de 50 e 100 Hz (representado pelo 20o PAC), o que mostra que a toxina não

apresenta dependência de frequência, ou seja sua afinidade ao canal Nav é tão

alta independente do estado de ativação desse canal. Isso é evidenciado

quando se compara o Bloqueio tônico ao Bloqueio fásico (gráfico 4). O

resultado sugere que a neurotoxina apresente um efeito muito duradouro ou

Page 130: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

129

possua uma alta afinidade pelos lipídeos de membrana, devido à presença de

aminoácidos apolares em sua estrutura (TOKUNO, et al., 2004)(figura 5).

Quando comparado o Bloqueio tônico exercido pela toxina Mic6c7NTX

ao apresentado pela peçonha bruta pôde-se observar que possuem um efeito

quase que equivalente sobre a excitabilidade do nervo (gráfico 5).

A técnica de patch clamp tem sido bastante eficiente na elucidação de

atividades fisiológicas de toxinas de aranhas (GROLLEAU, et al., 2001),

escorpiões (GORDON, et al., 2003), moluscos (EKBERG, et al., 2007),

celenterados (BRUHN, et al., 2001) e serpentes (LIOU, et al., 2006;

HODGSON, et al., 2007), principalmente em se tratando de toxinas com

atividade neurotóxica.

Em serpentes do gênero Micrurus sp., poucos trabalhos até o presente

momento, fizeram uso dessa técnica para elucidar o mecanismo neurotóxico

das toxinas presentes nessas peçonhas. O trabalho de DAL BELO e col.,

(2005), estudou a atividade de uma PLA2 (MiDCA1, MM=15.552 Da) da

peçonha de M. dumerilli carinicauda em neurônios DRG, onde foi observado

que essa PLA2, nas concentrações de 0,6 e 2,4 µM promovem um bloqueio nas

correntes de K+ cerca de 30%, enquanto que nas correntes para Na+ não foi

observado nenhum efeito significante.

OLAMENDIO-PORTUGAL e col., (2008) obteve registros

eletrofisiológicos usando whole-cell patch clamp. Para isso, utilizou uma

linhagem celular denominada Rhabdomyosarcoma TE671 com o objetivo de

investigar os efeitos das toxinas puras de M. surinamensis nos receptores

musculares nAch. Nesse estudo foram observados graus variáveis de

bloqueios desses receptores de forma reversiva na sua maioria. Foram

testadas as neurotoxinas de cadeia curta (Ms1, Ms3 e Ms11) e as neurotoxinas

de cadeia longa (Ms2, Ms4 e Ms5), na concentração de 1 µM (n de 3 a 6

células). Observou-se que as toxinas Ms1 e Ms11 aboliram a corrente

completamente, enquanto que Ms3 apresentou inibição de 90%.

Numerosos estudos têm dado enfoque ao mecanismo de transdução de

sinal dos neurônios DRG responsáveis pela modulação da transmissão da dor

(TANG, et al., 2007).

Nos ensaios de whole cell patch clamp foram utilizadas culturas

primárias de neurônios DRG para investigar o envolvimento de diferentes

Page 131: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

130

populações de canais Nav presentes em fibras sensoriais e motoras,

previamente descritos (KOCSIS et al., 1986 apud TOKUNO, et al., 2004).

Neste estudo utilizou para a cultura apenas os neurônios dos gânglios dorsais

referentes ao nervo isquiático (região lombar L4 e L5, e sacral S1) e fez-se uso

para os experimentos eletrofisiológicos apenas das fibras do tipo C.

O efeito da toxina Mic6c7NTX na concentração de 1 µM sobre as

correntes de sódio dos Nav em fibras do tipo C de neurônios DRG obtidos de

cultura primária está representado na figura 11. Nesta concentração a toxina

aboliu completamente as correntes totais de sódio.

No estudo de (OLAMENDI-PORTUGAL e col., 2008), as toxinas Ms11 e

Ms3 de M. surinamensis apresentaram efeito reversivo após lavagem nos

tempos de 5 a 20 minutos, porém, Ms1 apresentou reversão em apenas 30%.

Um fato importante é que a toxina Mic6c7NTX não obteve reversão do efeito

inibitório após a lavagem com solução externa fisiológica, permanecendo

associada ao sítio-ligante do canal Nav, o que mostra o gráfico 7.

Comparativamente, a toxina Ms1 teve um efeito mais próximo ao apresentado

pela Mic6c7NTX, tendo em vista que reverte parcialmente à inibição. No

referido gráfico, observou-se que o efeito máximo da toxina Mic6c7NTX é

dependente de tempo, haja vista que para ser atingido foi necessário cerca de

700 s (pouco mais que 10 min) de incubação com a toxina.

No estudo de OLAMENDIO-PORTUGAL e col. (2008), as IC50 das

toxinas de cadeia curta para essa preparação foram de 48 nM para Ms1; 346

nM para Ms3 e 266 nM para Ms11. Já a toxina do presente estudo apresenta

uma IC50 de 30 nM observada nitidamente no gráfico 8. Esse gráfico reporta

sobre a curva concentração-resposta da neurotoxina em estudo (1-1.000 nM),

com um número de repetições (n) de 2 a 4 células, em que mesmo na menor

concentração estudada o bloqueio da corrente ocorre em 25%. Uma

concentração intermediária de 100 nM foi suficiente para promover uma

inibição total das correntes de sódio. Como o bloqueio da corrente nessa

concentração havia sido total, um n= 2 células foi suficiente para demonstrar

que na concentração de 1.000 nM o bloqueio esperado seria de 100% do

efeito. O resultado observado em relação à dependência de concentração

indica que, apesar de serem preparações fisiológicas diferentes, a toxina

Mic6c7NTX demonstra maior potência do que as α-NTXs de M. surinamensis.

Page 132: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

131

Os canais Nav são responsáveis pelo influxo de íons Na+ durante o

potencial de ação nos tecidos excitáveis (KEIZER, et al., 2003). Então, pôde-se

traçar um paralelo sobre os efeitos da neurotoxina observados nos registros

eletrofisiológicos extracelulares com o nervo isquiático e whole cell patch clamp

com neurônios da raiz dorsal constituintes desse nervo. Observou-se que a

toxina Mic6c7NTX não alcançou o efeito inibitório máximo sobre a amplitude do

PAC na concentração de 1 µM comparado à inibição completa das correntes

totais de Na+ dos canais Nav das fibras do tipo C, dos neurônios DRG, nessa

mesma concentração. Esse fato pode ser justificado por algumas hipóteses: a)

a preparação do nervo isquiático exige uma perfusão passiva da toxina na

região do nervo localizada no poço 3 (poço teste) da câmara para registro

eletrofisiológico; b) essa perfusão ocorre de forma lenta nas fibras nervosas; c)

por ser tratar de uma toxina polipeptídica, possui uma elevada massa

molecular (7,04 kDa) o que dificulta sua difusão.

Toxinas polipeptídicas interagem tipicamente com seus receptores-alvos

com alta potência e seletividade primorosa, e como tal, são ferramentas

valiosas para elucidar o tamanho e a forma dos seus cognatos sítios de ligação

(KEIZER, et al., 2003). A alta especificidade das neurotoxinas aos nAchR pode

ser utilizada como ferramenta para o conhecimento da estrutura e

funcionamento do sistema nervoso (KOH, et al., 2006).

WEST, e col., (2002), descobriu a µ-conotoxina SmIIIA, uma potente

toxina isolada de Conus stercusmuscarum que representou o primeiro

antagonista específico dos canais Nav TTX-R, pois bloqueou esses canais,

entretanto, apenas um pequeno bloqueio dos canais Nav TTX-S foi observado.

No estudo realizado por KEIZER e col., (2003), comparando a estrutura dessa

toxina com outras µ-conotoxinas de Conus sp. (PIIIA, GIIIA e GIIIB) foi

observado que o dobramento global e a disposição de espaço dos resíduos de

Arg conservados e Lys na superfície, permitem inferir algumas conclusões

sobre a base da seletividade de SmIIIA aos canais TTX-R. Isto foi confirmado

com o uso de quimeras com resíduos de aminoácidos alterados.

Os ensaios eletrofisiológicos com whole cell patch clamp em cultura

primária de neurônios simpáticos de anfíbios, que expressam canais Nav TTX-

R (WEST, et al., 2002), que foram realizados por KEIZER e col., (2003) com as

toxinas SmIIIA, PIIIA e suas quimeras Sm-P (sem Lys e Ser) e P-Sm (com Lys

Page 133: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

132

e sem Ser), todas na concentração de 1 µM, mostraram que a toxina SmIIIA

selvagem conseguiu abolir completamente a corrente desses canais nessa

concentração, ao passo que a toxina PIIIA e a quimera Sm-P não inibiram as

correntes de Na+ dos canais TTX-R. Evidencia-se que a toxina Mic6c7NTX, a

partir da concentração de 100 nM promoveu um bloqueio total dessas

correntes. Adicionalmente, a sequência parcial do N-terminal dessa

neurotoxina apresenta resíduos de aminoácidos básicos, que correspondem a

duas Arg (R), uma Lys (K) e uma His (H) e que podem estar envolvidos no sítio

dos canais Nav TTX-S e TTX-R, alvo da Mic6c7NTX.

Além do uso como ferramentas farmacológicas, as toxinas peptídicas

podem ser potencialmente usadas como drogas terapêuticas, por

apresentarem uma baixa imunogenicidade quando injetadas na ausência de

uma substância coadjuvante (MAILLÈRE, et al., 1993). Outra enorme

vantagem para o uso de toxinas na terapêutica refere-se a sua alta

especificidade, o que reduz os riscos de reações adversas (CURA, et al.,

2002).

Relacionando o potencial terapêutico das toxinas e os estudos com

toxinas envolvendo nocicepção, pode-se relatar que neurotoxinas isoladas das

peçonhas de Naja sp. têm demonstrado significante efeito analgésico em

modelos animais. Cobrotoxina (α-NTX de cadeia curta) e α-cobratoxina (α- NTX

de cadeia longa) isoladas da serpente elapídica Naja atra apresentaram efeito

analgésico (CHEN, et al., 2006) e uma α-NTX de Ophiophagus hannah (PU,

WONG e GOPALAKRISHNAKONE, 1995) está sendo utilizada como potente

analgésico.

O trabalho com as toxinas cobrotoxina (ligante específico da subunidade

α do nAchR dos músculos) e cobratoxina foi realizado com ensaios in vivo em

modelos animais para dor (roedores), utilizando os Testes da Placa quente e

do Ácido acético, e também o envolvimento das vias opióide e colinérgicas. Os

resultados obtidos foram um forte efeito analgésico central, com dose-

dependência da ação e um efeito anti-nociceptivo independente da via opióide.

Adicionalmente, esse estudo evidenciou que a cobrotoxina pode substituir a

morfina (um potente anestésico central) e suprimir seus efeitos indesejáveis

(CHEN, et al., 2006).

Page 134: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

133

Parece que as toxinas elapídicas apresentam perspectivas promissoras

como ferramentas farmacológicas para o bloqueio dos canais Nav associados à

nocicepção (TTX-R Nav), e em uso terapêutico como potentes fármacos

analgésicos.

Page 135: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

134

AnexosAnexosAnexosAnexos

ConclusõesConclusõesConclusõesConclusões

Page 136: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

135

6 CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos no presente estudo, pode-se concluir que:

• A peçonha bruta da serpente Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)

apresentou efeito inibitório sobre a excitabilidade do nervo periférico

isolado de rato.

• A purificação por meio de cromatografia líquida de alta performance em

duas dimensões CIEX-HPLC e RPC-HPLC obteve a toxina pura

Mic6c7NTX.

• A determinação da massa molecular da proteína obtida por

espectrometria de massas através do MALDI-TOF/MS apresentou um

espectrograma indicando um alto grau de pureza.

• O seqüenciamento do N-terminal da toxina polipeptídica Mic6c7NTX

pela degradação de Edman corresponde a cerca de 50-60% da

sequência total da toxina.

• A busca por similaridade em banco de dados de proteínas indicou alta

homologia com α-neurotoxinas de cadeia curta de serpentes Elapidae

australianas terrestres, as quais apresentam as peçonhas mais potentes

do mundo.

• Mic6c7NTX não apresentou similaridade significante com nenhuma

toxina de serpentes do gênero Micrurus sp. atualmente depositada em

bancos de dados proteômicos.

• O efeito neurotóxico da toxina Mic6c7NTX de Micrurus ibiboboca

(Merrem, 1820) sobre a excitabilidade do nervo isolado é similar ao

efeito observado pela peçonha.

• A toxina Mic6c7NTX na concentração de 1 µM nos ensaios de whole cell

patch clamp aboliu por completo as correntes totais de sódio das fibras

C dos neurônios DRG.

• A toxina MIc6c7NTX apresentou uma concentração-dependência sobre

as correntes de sódio dos canais TTX-R com crescente efeito inibitório a

partir de 1 nM.

• A IC50 da toxina Mic6c7NTX correspondeu a 30 nM o que indica uma

potência elevada comparada às toxinas mais potentes já estudadas.

Page 137: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

136

• Não foi observado efeito reversivo da toxina nos canais para sódio após

lavagem com solução fisiológica.

• Essa toxina Mic6c7NTX é uma poderosa ferramenta farmacológica

bloqueadoras de canais para sódio do tipo TTX-S e TTX-R.

Page 138: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

137

PerspectivasPerspectivasPerspectivasPerspectivas

Page 139: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

138

7 PERSPECTIVAS

• Confirmar imunologicamente se a toxina Mic6c7NTX é de cadeia curta (short-

chain toxin), utilizando anticorpos contra neurotoxinas de Elapidae como a

neurotoxina II de Naja naja oxiana e α-cobrotoxina de Naja naja atra.

• Sequenciamento total por degradação de Edman e espectrometria de massas

MALDI-TOF/MS da neurotoxina.

• Produção em quantidade da toxina por meio de clonagem por meio da

expressão de cDNAs utilizando RNA isolado da glândula de veneno da

serpente M. ibiboboca (Merrem,1820).

• Investigar a afinidade da neurotoxina aos nAchR, utilizando ferramentas

farmacológicas como o Carbacol (agonista exógeno dos AchR nicotínicos) e D-

tubocurarina (antagonista competitivo dos nAchR), por meio de ensaio de

neurotoxicidade com preparação nervo-muscular de biventer cervicis de

pintainho.

• Observar histologicamente a injúria tecidual causada pela toxina Mic6c7NTX na

junção neuromuscular pela preparação neuro-muscular de biventer cervicis de

pintainho.

• Calcular a potência da toxina Mic6c7NTX através da simulação Monte Carlo

(CLARKE, et al., 2006; CHRISTOPOULOS, et al., 1999) comparando a sua

potência com a de outras neurotoxinas.

• Avaliar fisiologicamente a capacidade de reversão do efeito pelo antiveneno

utilizado na terapêutica associado à peçonha bruta e a toxina Mic6c7NTX, por

ensaio eletrofisiológico de current clamp (single sucrose-gap) e neurotoxicidade

com preparação de músculo biventer cervicis de pintainho.

• Investigar eletrofisiologicamente in vivo o efeito da toxina Mic6c7NTX no SNP

envolvendo nocicepção, por injúria do nervo periférico ou mecanismos

inflamatórios promovendo edemas de pata nos ratos e choque elétrico.

• Observar o efeito da toxina sobre o PAC nas fibras C do nervo isquiático

utilizando tetrodotoxina para bloquear os canais TTX-S (KEIZER, et al., 2003).

• Elucidar o mecanismo de ação da neurotoxina nos nAchR, utilizando ensaios

eletrofisiológicos em patch clamp voltagem clamp, utilizando linhagem celular

Rhabdomyosarcoma TE671, que expressa receptores musculares nAch.

Page 140: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

139

• Investigar estruturalmente as regiões da sequência primária da toxina

Mic6c7NTX responsáveis pela ligação ao sítio específico dos canais Nav TTX-R

dos neurônios DRG, produzindo quimeras com resíduos de aminoácidos

alterados.

Page 141: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

140

ReferênciasReferênciasReferênciasReferências

Page 142: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

141

8 REFERÊNCIAS

ALAPE-GIRÓN, A.; LOMONTE, B.; GUSTSFSSON, B.; DA SILVA, N.J e THELESTAM, M. Electrophoretic and immunochemical studies of Micrurus snake venoms. Toxicon, v. 32, p.713-723, 1994. ALAPE-GIRÓN, A.; STILES, B., SCHMIDT, J.; GIRÓN-CORTES, M.; THELESTAM, M.; JORNVALL, H. e BERGMAN, T. Characterization of multiple nicotinic acetylcholine receptor-binding proteins and phospholipases A2 from the venom of the coral snake Micrurus nigrocinctus nigrocinctus. FEBS Letters, v.380, p. 29-32. 1996. AIRD, S.D. e DA SILVA JR, N.J. Comparative enzymatic composition of brazilian coral snake (Micrurus) venoms. Comparative Biochemistry and Physiology, v.99B, p. 287-294, 1991. ABREU, P.A; ALBUQUERQUE, M.G.; RODRIGUES, C.R. e CASTRO, H.C. Structure-function inferences based on molecular modeling, sequence-based methods and biological data analysis of snake venom lectins. Toxicon, v.48, p. 690-701, 2006. ABDULLA, F.A.; SMITH, P.A. Axotomy- and autotomy-induced changes in the excitability of rat dorsal root ganglios neurons. Journal Neurophysiology, v.85, p.630-43, 2001. AKOPIAN, A.N.; SIVIOLITTI, L.; WOOD, J.N. A tetrodotoxin-resistant voltge-gated sodium channel expressed by sensory neurons. Nature, v.379, p.257-62, 1996. BARROS, A.C.S.; FERNANDES, D.P.; FERREIRA, L.C.L. e SANTOS, M.C. Local effects induced by venoms from five species of genus Micrurus sp. (coral snakes). Toxicon, v.32, 1994. BRUHN, T.; SCHALLER, C.; SCHULZE, C.; SANCHEZ-RODRIGUEZ, J.; DANNMEIER, C.; RAVENS, U.; HEUBACH, J.F.; ECKHARDT, K.; SCHMIDTMAYER, J.; SCHMIDT, H.; ANEIROS, A.; WACHTER, E.; BÉRESS, L. Isolation and characterisation of five neurotoxic and cardiotoxic polypeptides from sea anemone Anthopleura elegantíssima. Toxicon, v.39, p.693-702, 2001. BOSMAN, F.; TYTGAT, J. Voltage-gated sodium channel modulation by scorpion alpha-toxins. Toxicon, v.49, p.142-58, 2007. BOCHNER, R. e STRUCHINER, C.J. Snake bite epidemiology in the last 100 years in Brazil: a review. Caderno de Saúde Pública, v. 19, p.7-16. 2003. BOUGIS, P.E., MARCHOT, P. e ROCHAT, H. Characterization of elapidae venom components using optimized reverse-phase high-performance liquid chromatographic conditions and screening assays for α-neurotoxin and phospholipase A2 activities. Biochemistry, v. 25, p. 7235-43, 1986.

Page 143: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

142

BJARNASON, J.B e FOX, J.W. Hemorrhagic metalloproteinases from snake venoms. Pharmacology and Therapeutics, v. 62, p. 325-72, 1994. BUCHANAN, S.; HARPER, A.A.; ELLIOTT, J.R. Differential effects of tetrodotoxin (TTX) and high external K+ on A e C fibre compound action potential peaks in frog sciatic nerve. Neuroscience Letters, v.219, p.131-34, 1996. CARDOSO, et al. Animais peçonhentos do Brasil. São Paulo: Sarvier, 2003. CATTERALL, W.A. From ionic currents to molecular mechanisms: the structure and function of voltage-gated sodium channels. Neuron, v. 26, p.13-25, 2000. CATTERALL, W.A.; CESTÈLE, S.; YAROV-YAROVOY, V.; YU, .H.; KONOKI, K.; SCHEUER, T. Voltage-gated ion channels and gating modifier toxins. Toxicon, v. 49, p.124-41. 2007. CAHALAN, M.D.; WULFF, H.; CHANDY, K.G. Molecular properties and physiological roles of ion channels in the immune system. Journal Clinical Immunology, v.21, p.235-52, 2001. CESTÈLE, S.; CATTERALL, W.A. Molecular mechanisms of neurotoxin action on voltage-gated sodium channels. Biochimic, v.82, p.883-92, 2000. CECCHINI, A.L.; MARCUSSI,S.; SILVEIRA, L.B.; BORJA-OLIVEIRA, C.R.; RODRIGUES-SIMIONI, L.; AMARA, S.; STÁBELI, R.G.; GIGLIO, J.R.; ARANTES, E.C. e SOARES, A.M. Biological and enzymatic activities of Micrurus sp. (Coral) snake venoms. Comparative Biochemistry and Physiology. Part A, v.140, p.125-134, 2005. CHANGEUX, J.P. The nicotinic acetylcholine receptor. An allosteric protein prototype of ligand-gated ion channels. Trends Pharmacology, v.11, p.485-92, 1990. CHANHOME, L.; COX, M.J.; WILDE, H.; JINTAKOON, P.; CHAIYABUTR, N. e SITPRIJA, V. Venomous snakebites in Thailand I: Medically important snakes. Military Medicine, v.163, p.310-17, 1998. CHEN, Z.X.; ZHANG, H.L.; GU, Z.I.; CHEN, B.W.; HAN, R.; REID, P.F.; RAYMOND, L.N. e QIN, Z.H. A long-form alpha-neurotoxin from cobra venom produces potent opioid-independent analgesia. Acta Pharmacologica Sinica, v.27, p.402-08, 2006. CHIPPAUX, J.P. Snake-bite: appraisal of the global situation. Bull World Health Organ, v.76, p.515-24, 1998. CLARKE, C.; KURUPPU, S.; REEVE, S.; SMITH, A.I. e HODGSON, W.C. Oxylepitoxin-1, a reversible neurotoxin from the venom of the irland taipan (Oxyuranus microlepdotus). Peptides, v. 27, p. 2655-60, 2006.

Page 144: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

143

COMINETTI, M.R.; PONTES, C.L.S. e SOUZA, D.H.F. Métodos cromatográficos e critérios de pureza. Em: Métodos em Toxinologia: toxinas de serpentes. SELISTRE-DE-ARAÚJO, H.S. e DE SOUZA, D.H.F. (org). EduFSCar: São Carlos, 2007, p. 11-23. COMINETTI, M.R.; RIBEIRO, J.U.; FOX, J.W. e SELISTRE-DE-ARAÚJO, H.S. BaG a new dimeric metalloproteinase/disintegrin from the Bothrops alternatus snake venom that interacts with alfa5beta1 integrina. Archives of Biochemistry and Biophysics, v. 416, p. 171-79, 2003. CONTI, F.; HILLE, B.; NEUMCKE, B.; NONNER, W. e STAMPFLI, R. Measurement of the conductance of the sodium channel from current fluctuations at the node of Ranvier. Journal of Physiology, v.213, p. 31-53, 1976. CRACHI, M.T.; HAMMER, L.W.; HODGSON, W.C. The effects of antivenom on the in vitro neurotoxicity of venoms from the taipans Oxyuranus scutellatus, O. microlepdotus and O. scutellatus canni. Toxicon, v. 37, p. 1771-78, 1999. CRUZ, J.S. Identificação e purificação parcial de uma neurotoxina da peçonha da aranha Lycosa erythrognatha (Lucas, 1836). Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte/ UFMG, 1991. CRUZ, J.S.; COTTA, G.; DINIZ, C.R.; BEIRÃO, P.S. Partial purification and pharmacological characterization of a NTX fraction isolated from the venom of the spider Lycosa erythognatha. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 11, p. 2653-59, 1994. CRUZ, J.S.; MATAVEL, A.C.S.; LEÃO-FILHO, H.M.; MORAES-SANTOS, T.;.BEIRÃO, P.S.L. Tityustoxin effect on nerve compound action potentials requires extracellular sodium. Neuroscience Letters, v.282,p.25-28, 2000. CUMMINS, T.R.; WAXMANN, S.G. Downregulation of tetrodotoxin-resistant sodium currents and upregulation of a rapidly repriming tetrodotoxin-sensitive sodium current in small spinal sensory neurons after nerve injury. Journal of Neuroscience, v.17, p. 3503-14, 1997. CURA, J.E.; BLANZACO, D.P.; BRISSON, C.; CURA, M.A.; CABROL, R. LARRATEGUY, L.; MENDEZ, C.; SECHI, J.C.; SILVEIRA, J.S.; THEILLER, E.; ROODT, A.R. e VIDAL, J.C. Phase I and Pharmakinetics study of crotoxin (cytotoxic PLA2, NSC-624244) in patients with advanced cancer. Clinical Cancer Research, v. 8, p. 1033-41, 2002. DA SILVA JR, N.J. e SITES JR, J.W. Phylogeny of South American triad coral snakes (Elapidae: Micrurus) based on molecular characters. Herpetologica, v. 57, p. 1-22. 2001(a).

Page 145: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

144

DA SILVA JR, J.N. e AIRD, S.D. Prey specificity, comparative lethality and compositional differences of coral snake venoms. Comparative Biochemistry and Physiology: Parte C, v. 128, p. 425-56. 2001(b). DAL BELO, C.A. Isolamento, Purificação e Caracterização Bioquímica e Farmacológica de Toxinas Obtidas do Veneno de Micrurus dumerilli carinicauda. Tese de Doutorado: UNICAMP/Campinas, 2004, 247f. DAL BELO, C.A.; LEITE, G. B.; TOYAMA, M.H., MARANGONI, S.; ROWAN, E.G.; HYSLOP, S.; RODRIGUES-SIMIONI, L. Pharmacological and structural characterization of a novel phospholipase A2 from Micrurus dumerilii caricauda venom. Toxicon, v.46, p. 736-50, 2005. DETTBARN, W.P.; HIGMAN, H.; ROSENBERG, P.; NACHMANSOHN, D. Rapid and reversible block of electrical activity by powerful marine biotoxins. Science, v.32, p. 300-10, 1960. DEVOR, M. Unexplained peculiaritiesof the dorsal root ganglion. Pain Suplement, v.6, p. s27-35, 1999. DIB-HAJJ, S.D.; CUMMINS, T.R.; BLACK, J.A.; WAXMANN, S.G. From genes to pain: Nav1.7 and human pain disorders. Trends in Neuroscience, v.30, p.555-63, 2007. EDITORIAL, NEURON. Nomenclature of Voltage-gated Calcium Channels. Neuron, v. 25, p.533-35, 2000. EKBERG, J.; CRAIK, D.J.; ADAMS, D.J. Conotoxin modulation of voltage-gated sodium channels. The International Journal of Biochemistry & Cell Biology, 2007. ERNE-BRAND, F.; JIROUNEK, P.; DREWE, J.; HAMPL, K. e SCHNEIDER, M.C. Mechanism of antinociceptive action of clonidine in nonmyelinated nerve fibres. European Journal Pharmacology, v.383, p. 1-8, 1999. EVERILL, B.; CUMMINS, T.R.; WAXMANN, S.G. e KOCSIS, J.D. Sodium currents of large (αβ-type) adult cutaneous afferent dorsal root ganglion neurons display rapid recovery from inactivation before and after axotomy. Neuroscience, v.106, p.161-69, 2001. FAVREAU, P.; MENIN, L.; MICHALET, S.; PERRET, F.; CHENEVAL, O.; STÖCKLIN, M.; BULET, P. e STÖCKLIN, R. Mass spectrometry strategies for venom mapping and peptide sequencing from crude venoms: case applications with single arthropod specimen. Toxicon, v.47, p. 676-87. 2006. FOX, J.W.; MA, L.; NELSON, K.; SHERMAN, N.E.; SERRANO, S.M.T. Comparison of indirect and direct approaches using ion-trap and Fourier transform ion cyclotron resonance mass spectrometry for exploring viperid venom proteoms. Toxicon, v. 47, p. 700-14, 2006.

Page 146: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

145

FRANCIS, B.R.; DA SILVA JR, N.J; SEEBART, C.; CASAIS E SILVA, L.L.; SCHMIDT, J.J. e KAISER, I.I. Toxins Isolated from the Venom of the Brazilian Coral Snake (Micrurus frontalis frontalis) include Hemorrhagic Type Phospholipases A2 and Postsynaptic Neurotoxins. Toxicon, v.35, p.1193-203, 1997. FRY, B.G. Structure-function properties of venom components from Australian elapids. Toxicon, v. 37, p.11-32. 1999. FRY, B.G. e WÜSTER, W. Assembling an arsenal: origin and evolution of the snake venom proteome inferred from phylogenetic analysis of toxin sequences. Molecular Biology and Evolution, v.21, p.870-83. 2004. GARBELOTTI JR, S.A. e PELOZO JR, O. Síndrome do piriforme e dor isquiática (ciática): revisão da literatura e a variação anatômica como fator etiológico. Revista de Fisioterapia do Centro de Universitário do UNIFMU, São Paulo, v. 2, p. 28-33, 2003. GREENE, H.W. e BURGHARDT, G.M. Behavior and phylogeny: constriction in ancient and modern snakes. Science, v. 200, p. 74-77. 1978. GROLLEAU, F.; STANKIEWICZ, M.; BIRINYI-STRACHAN, L.; WANG, X-H.; NICHOLSON, G.M.; PELHATE, M.; LAPIED, B. Electrophysiological analysis of the neurotoxic action of a funnel-web spider toxin, teta-atracotoxin-HV1a, on insect voltage-gated Na channels. The Journal of Experimental Biology,v. 204, p.711-21, 2001. GOLDIN, A.L.; BARCHI, R.L.; CALDWEEL, J.H.; HOFMANN, F.; HOWE, J.R.; HUNTER, J.C.; KALLEN, R.G.; MANDEL, G.; MEISLER, M.H.; NETTER, Y.B.; NODA, M.; TAMKUN, M.M.; WAXMAN, S.G.; WOOD, J.N.CATTERALL,W.A. Nomenclature of Voltage-Gated Sodium Channel, v. 28, p.365-68, 2000. GOLOVANOV, A.P.; LOMIZE, A.L.; ARSENIEV, A.S.; UTRIN, Y.N.e TSETLIN, V.I. Two-dimensional 1H-NMR study of the spatial structure of neurotoxin II from Naja naja oxiana. European Journal Biochemistry, v. 213, p. 1213-23, 1993. GORDON, D.; GUREVITZ, M. The selectivity of scorpion a-toxins for sodium channel subtypes is determined by subtle variations at the interacting surface. Toxicon, v. 41, p.125-28, 2003. GUTIÉRREZ, J.M.; ROJAS, G.; DA SILVA JR, N.J e NÚÑEZ, J. Experimental myonecrosis induced by the venoms of South American Micrurus (coral snake). Toxicon, v.30, p. 1299-1302. 1992. GUVEN, M.; BOZDEMIR, H.; GUNAY, I.; SARICA, Y.; KAHRAMAN, I. e KOC, F. The action of lamotrigine and levetiracetam on the conduction properties of isolated rat sciatic nerve. European Journal Pharmacology, v. 553, p. 129-34, 2006.

Page 147: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

146

HARVEY, M.B.; APARICIO E., J. e GONZALEZ A., L. Revision of the venomous snakes of Bolivia: Part I. The coralsnakes (Elapidae: Micrurus). Annals of Carnegie Museum, v.72, p.1-52. 2003. HONDEGHEM, L.M.; KATZUNG, B.G.. Time and voltage-dependent interactions of antiarrhythmic drugs with cardiac sodium channels. Acta Biochimica et Biophysica, v. 472, p. 373-98l, 1977. HIGASHI, H.G.; GUIDOLIN, R.; CARICATI, C.P., FERNANDES, I.; MARCELINO, J.R.; MORAIS, J.F.; YAMAGUSHI, I.K., STEPHANO, M.A.; DIAS-da-SILVA, W. e TAKEHARA, H.A. Antigenic cross-reactivity among components of Brazilian Elapidae snake venoms. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v.28, p. 767-771. 1995. HILLER, B. Ion Channels of Excitable Membranes. 3 ed. Massachusetts/ EU A: Sinauer, 2001, 814p. HODGSON, W.C. e WICKRAMARATNA, J.C. Snake venoms and theirs toxins: An Australian perspective. Toxicon, v.46, p.931-40. 2001. HODGSON, W.C.; DAL BELO, C.A.; ROWAN, E.G. The neuromuscular activity of paradoxin a presynaptic neurotoxin from the venom of the inland taipan (Oxyuranus microlepidotus). Neuropharmacology, v. 52, p. 1229-36, 2007. JAN, L.Y.; JAN, Y.N. Cloned potassium channels from eukaryotes and prokaryotes. Annual Review Neuroscience, v.20, p.91-123, 1997. KANDEL, E.R. et al. Princípios da Neurociência. 4.ed. São Paulo: Manole, 2003. KEMPARAJU, K. e GIRISH, K.S. Snake venom hyaluronidase: a therapeutic target. Cell Biochemistry and Function, v. 24,p. 7-12, 2006. KEIZER, D.W.; WEST, P.J.; LEE, E.F.; YOSHIKAMI, D.; OLIVERA, M.; BULAJ, G. e NORTON, R.S. Structural basis for tetrodotoxin-resistant sodium channel binding by u-conotoxin SmIIIA. The Journal of Biological Chemistry, v.278, p.46805-813, 2003. KITCHENS, C.e VAN MIEROP, L. Envenomation by the eastern coral snake (Micrurus fulvius fulvius): a study of 39 victims. Journal American Medicine Animal, v.258, p.1615-18. 1987. KINI, R.M. Molecular moulds with multiple missions: functional sites in three-finger toxins. Clinical Experimental Pharmacology and Physiology. Clinical Experimental Pharmacology and Physiology, v.29, p.815-22, 2002. KING, G.F.; NICHOLSON, M.G; SWEEDLER, J.V. Mass spectrometry in toxinology: a 21st-century technology for the study of biopolymers from venom. Toxicon, v.47, p.609-13, 2006.

Page 148: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

147

KOHLER, M.; HIRSCHBERG, B.; BOND, C.T.; KINZIE, J.M.; MARRION, N.V.; MAYLIE, J.; ADELMAN, J.P. Small-condutance, calcium-activated potassium channels from mammalian brain. Science, v.273, p.1709-14, 1996. KOH, D.C.I.; ARMUGAM, A. e JEYASEELAN, K. Snake venom components and their applications in biomedicine. Cellular and Molecular Life Science, v.63, p.3030-41. 2006. LAGOS, P.; DURAN, R.; CERVEÑANSKY, C.; FREITAS, J.C.; SILVEIRA, R. Identification of hemolytic and neuroactive fractions in the venom of the sea anemone Bunodosoma cangicum. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 34, p. 895-902, 2001. LARRÉCHÉ, S.; MION, G.; CLAPSON, P.; DEBIEN, B.; WYBRECHT, D.; GOYFFON, M. Neurotoxins from snake venom. Annales Françaises d`Anesthésie et de Réanimation, v.27, p. 310-16, 2008. LANCASTER, E.; WEINREICH, D. Sodium currents in vagotomized primary afferent neurones of the rat. Journal of Physiology, v. 536, p.445-58, 2001. LOKESHWAR, V.B. e SELZER,M.G. Hyalurondiase: both tumor promoter and supressor. Seminars in Cancer Biology, v.18, p. 281-87. 2008. LEIPOD, E.; HANSEL, A.; BORGES, A.; HEINEMANN, H. Subtype specificity of scorpion beta-toxin Tz1 interaction with sodium voltage-gated channels is determined by the pore loop of domain 3. Molecular Pharmacology, v. 70, p.340-47, 2006. LI, S.; WANG, J.; ZHANG, X.; REN, Y.; WANG, N.; ZHAO, K.; CHEN, X.; ZHAO, C.; LI, X.; SHAO, J.; YIN, J.; WEST, M.B.; XU, N. e LIU, S. Proteomic characterization of two snake venoms: Naja naja atra and Agkistrodon halys. Journal of Biochemistry, v.384, p. 119-27, 2004. MAILLÈRE, B.; COTTON, J.; MOURIER, G.; LEONETTI, M.; LEROY, S.; MÉNEZ, A. Role of thiols in the presentation of a snake toxin to murine T cells. Journal of Immunology, v. 150, p. 5270-80, 1993. MARKLAND, F.S. Snake venoms and the hemostatic system. Toxicon, v.36, p.1749-1800, 1998.. MORAES, F.V.; SOUSA-E-SILVA, M.C.C.; BARBARO, K.C.; LEITÃO, M.A e FURTADO, M.F.D. Biological and immunochemical characterization of Micrurus altirostris venom and serum neutralization of its toxic activities. Toxicon, v.41, p.71-79, 2003. MARKS, S.; MANNELLA, C.e SCHAER, M. Coral snake envenomation in the dog: report of four cases and review of the literature. Journal American Animal Hospital, v.26, p.629-34. 1990.

Page 149: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

148

MATSUI, T.; FUJIMURA, Y. e TITANI, K. Snake venom proteases afecting hemostasis and thrombosis. Biochemica et Biophysica Acta, v.1477, p.146-56, 2000. McDONOUGH, S.I. Gating modifier toxins of voltage-gated calcium channels. Toxicon, v.49, p.202-12, 2007. MERT, T.; GUNES, Y.; GUVEN, M.; GUNAY, I.; OZCENGIZ, D. Comparison of nerve conduction blocks by an opioid and a local anesthetic. European Journal of Pharmacology, v. 439, p. 77-81, 2002. MOURA-DA-SILVA, A.M.; BUTERA, D. e TANJONI, I. Importance of snake venom metalloproteinases in cell biology: effects on platelets, inflammmatory and endothelial cells. Current Pharmaceutical Disease, v.13, p.2893-905, 2007. MOCHCA-MORALES, J; MARTIN, B.M.; ZAMUDIO, F.Z.; POSSANI, L.D. Isolation and characterization of three toxic phospholipases from the venom of the coral snake Micrurus nigrocinctus. Toxicon, v.28, p.616-27, 1990. MOREIRA, T.H.V. Papel da Angiotensina II no Controle da Excitabilidade dos Neurônios do Gânglio Nodoso. Tese de Doutorado. Belo Horizonte/ UFMG, 2005, 109f. MÉNEZ, A.R.; STÖCKLIN, R. e MEBS, D. Venomics or: The venomous systems genome project. Toxicon, v.47, p.255-59, 2006. MILLER, C. ClC Chloride Channels Viewed Through a Transporter Lens. Nature, v.440. p.484-89, 2006. MOUHAT, S.; JOUIRON, B.; MOSBAH, A.; DE WAARD, M; SABATIER, J-M. Diversity of folds in animal toxins acting on ion channels. Journal of Biochemistry, v.378, p.717-26. 2004. MULUGETA, E.; KARLSSON, E.; ISLAM, A. KALARIA, R.; MANGAT, H.; WINBLAND, B. e ADEM, A. Loss of muscarinic M4receptor in hippocampus of Alzheimer patients. Brain Research, v. 960, p. 259-62, 2003. OGAWA, T.; CHIJIWA, T; ODA-UEDA, N.e OHNO, M. Molecular diversity and accelerated evolution of C-type lectin-like proteins from snake venom. Toxicon, v.45, p.1-14. 2005. OLIVEIRA, J.S.; SILVA, A.R.B.P.; SOARES, M.B.; STEPHANO, M.A.; DIAS, W,O.; LEE HO, P. Cloning and characterization of an alpha-neurotoxin-type protein specific for the coral snake Micrurus corallinus,v. 267. P. 887-91, 2000. OLIVEIRA, U.C.; ASSUI, A.; SILVA, A.R.B.P., OLIVEIRA, J.S. e LEE HO, P. Cloning and characterization of a basic phospholipase A2 homologue

Page 150: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

149

from Micrurus corallinus (coral snake) venom gland. Toxicon, v. 42, p.249-55, 2003. OLIVEIRA, D.A.; HARASAWA, C.; SEIBERT, C.S.; CASAIS E SILVA, L.L.; PIMENTA, D.C.; LEBRUN, I.; SANDOVAL, M.R,L. Phospholipases A2 isolated from Micrurus lemniscatus coral snake venom: Behavioral, electroencephalographic, and neuropathological aspects. Brain Research Bulletin, v. 75, p.629-39, 2008. OLAMENDI-PORTUGAL, T.; GARCIA, B.I.; LOPEZ-GONZALEZ, I.; VANDER WALT, J.; DYASON, K.; ULENS, C.; TYTGAT, J.; FELIX, R.; DARSZON, A.; POSSANI, L.D. Two new scorpion toxins that target voltage-gated Ca2+ and Na+ channels. Biochemistry and Biophysic Research Communication, v.299, p.262-68, 2002. OLAMENDI-PORTUGAL, T.; BATISTA, C.V.; RESTANO-CASSULINI, R.; PANDO, V.; VILLA-HERNANDEZ, O.; ZAVALETA-MARTÍNEZ-VARGAS, A.; SALAS-ARRUZ, M.C.; RODRÍGUEZ DE LA VEGA, R.C.; BECERRIL, B.; POSSANI, L.D. Proteomic analysis of the venom from the fish eating coral snake Micruru surinamensis: novel toxins, their function and phylogeny. Proteomic, v.8, p. 1919-32, 2008. PETERSON, M.E. e MS,DVM. Snake bite: coral snakes. Clinical Techniques in small animal practice, p.183-86, 2006. PEREIRA-FILHO, G. A. Composição Faunística, Ecológica e História Natural de uma Taxocenose de Serpentes de Floresta Atlântica da Paraíba, Brasil. Dissertação de Mestrado: UFPB/João Pessoa, 2007, 156f. PERKINS, J.R. e TOMER, K.B. Characterization of the lower-molecular-mass fraction of venoms from Dendroaspis jamesoni kaimosae and Micrurus fulvius using capillary-electrophoresis electrospray mass spectrometry. European Journal Biochemistry, v. 233, p. 815-27, 1995. PERL, E.R. Ideas about pain, a historical review. Nature Reviews Neuroscience, v. 8, p. 71-80, 2007. PINHO, F.M.O.; OLIVEIRA, E.S. e FALEIROS, F. Acidente ofídico no estado de Goiás. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 50, p. 93-6, 2004. POSSANI, L.D.; ALAGÓN, A.C. FLETCHER JR,P.L.; VARELA, M.J. e JULIÁ, J.Z. Purification and Characterization of a Phospholipase A2 from the Venom of the Coral Snake, Micrurus fulvius microgalbineus (Brown and Smith). Journal Biochemistry, v. 179, p. 603-06, 1979. PU, X.C.; WONG, P.T. e GOPALAKRISHNAKONE, P. A novel analgesic toxin (hannalgesin) from the venom of king cobra (Ophiophagus hannah). Toxicon, v.33, p.1425-31, 1995.

Page 151: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

150

RATES, B.; BEMQUERER, M.P.; RICHARDSON, M.; BORGES, M.H.; MORALES, R.A.V.; DE LIMA, M.E. e PIMENTA, A.M.C. Venomic analyses of Scolopendra viridicornis nigra and Scolopendra angulata (Centipede, Scolopendromorpha): shedding lignt on venoms from a neglected group. Toxicon, v. 49, p. 810-26, 2007. RASBAND, M.N. e TRIMMER, J.S. Developmental clustering of ion channels at and near the node of Ranvier. Development and Biology, v. 236, p. 5-16, 2001. RICCIOPPO NETO, F. Effects of the venom of the Brazilian scorpion (Tityus serrulatus) on the compound action potential of the rabbit vagus nerve fibres. Brazilian Journal Pharmacology, v. 78, p. 529-32, 1983. ROJAS, C.A.; GONÇALVES, M.R. e ALMEIDA-SANTOS, S.M. Epidemiology of snakebite in the northwestern region the state of São Paulo, Brazil. Revista Brasileira de Saúde e Produtividade, v.8, p. 193-204, 2007. ROSSO, J.P.; VARGAS-ROSSO, O., GUTIÉRREZ, J.M., ROCHAT, H. BOUGIS, P.E. Characterization of Alfa-neurotoxin and Phospholipase A2 Activities from Micrurus Venoms. European Journal Biochemistry , v.238, p.231-39, 1996. RUSH, A.M.; CUMMINS, T.R; WAXMAN, S.G. Multiple sodium channels and their roles in electrogenesis within dorsal root ganglion neurons. Journal of Physiology, v.579, p.1-14, 2007. SCHWARTZ, E.F.; CAMARGOS, T.S.; ZANUDIO, F.Z.; SILVA, L.P.; BLOCH JR, C.; CAIXETA, F.; SCHWARTZ, C.A.; POSSANI, L.D. Mass spectrometry analysis, amino acid sequence and biological activity of venom components from the Brazilian scorpion Opisthacanthus cayaporum. Toxicon, v. 51, p. 1499-1508, 2008. SELISTRE-DE-ARAÚJO, H.S. e DE SOUZA, D.H.F. (org). Métodos em Toxinologia: toxinas de serpentes. Edufscar: São Paulo, 2007. SERVENT, D.; ANTIL-DELBEKE, S.; CORRINGER, P.J.; CHANGEAUX, J.P.; MÉNEZ, A. Molecular characterization of the specificity of interactions of various neurotoxins on two distinct nicotinic acetylcholine receptors. European Journal Pharmacology, 393, p.197-204, 2000. SIEW, J.P.Y.; KHAN, A.M.; TAN, P.T.J.; KOH, J.L.Y.; SEAH, S.H.; KOO, C.Y., CHAI, S.C.; ARMUGAM, A.; BRUSIC, V. e JEYASEELAN, K. Systematic analysis of snake neurotoxins' functional classification using a data warehousing approach. Bioinformatics, v. 20, p. 3466-80, 2004. SILVEIRA, J.N.; HENEINE, I.F.; BEIRÃO, P.L. Reversion by polyclonal antibodies of alpha effects of Tityus serrulatus venom on frog sciatic nerve. Toxicology Letters, v.76, p. 187-93, 1995.

Page 152: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

151

STÄMPFLI, R. A new method for measuring membrane potentials with external electrodes. Experentia, v. 10, p. 508–509, 1954. STEVENS, E.B.; COX, P.J.; SHAH, B.S.; DIXON, A.K.; RICHARDSON, P.J.; PINNOCK, R.D.; LEE, K. Tissue distribution and functional expression of the human voltage-gatedsodium channel β3 subunit. Pflugers Archive, v.441, p.481-88, 2001. St PIERRE, L.; WOODS, R.; EARL, S.; MASCI, P.P. e LAVIN, M.F. Identification and analysis of venom gland-specific genes from the coastal taipan (Oxyuranus scutellatus) and related species. Cellular and Mollecular Life Science, v. 62, p. 2679-93, 2005. STROUD, R.M.; McCARTHY, M.P. e SHUSTER, M. Nicotinic acetylcholine receptor superfamily of ligand-gated ion channel. Biochemistry, v. 29, p. 1109-23, 1990. STYS, P.K.e WAXMAN, S.G. Activity-dependent modulation of excitability : implications for axonal physiology and pathophysiology. Muscle Nerve, v. 17, 969-77, 1994. SOURENSE, B. Acidentes por animais peçonhentos: reconhecimento, clínica e tratamento. São Paulo: Atheneu, 2000. SOUSA, D.P.; GONÇALVES, J.C.R.; QUINTANS JR, Lucindo; CRUZ, J.S.; ARAUJO, D.A.M.; ALMEIDA, R.N. Study of anticonvulsant effect of citronellol, a monoterpene alcohol, in rodents. Neuroscience Letters, v. 401, p. 231-235, 2006. TAMBOURGI, D.V.; SANTOS, M.C.; FURTADO, M.F.D.; FREITAS, M.C.W. SILVA, W.D. e KIPNIS, T.L. Pro-inflammatory activities in elapid snake venoms. Brazilian Journal Pharmacology, v.112, p. 723-27, 1994. TANG, H-B; INOUE, A.; HIDE, I; HIRATE, K. e NAKATA, Y. Effects of zaltoprofen on bradykinin-induced responses in primary afferent neurons. Journal Pharmacology Science, v.91, 2003. TANG, H-B; LI, Y-S e NAKATA, Y. Release of substance P from cultured dorsal root ganglion neurons requires the non-neuronal cells around these neurons. Journal of Pharmacology Science, v. 105, p. 264-71, 2007. TOKUNO, H.A.; BRADBERRY, C.W.; EVERILL, B.; AGULIAN, S.K.; WILKES, S.; BALDWIN, R.M.; TAMAGNAN, G.D. e KOCSIS, J.D. Local anesthetic of cocaethylene and isopropylcocaine on rat peripheral nerves. Brain Research, v. 996, p. 159-67, 2004. TRÉMEAU, O.; LEMAIRE, C.; DREVET, P.; PINKASFELD, S.; DUCANCEL, F.; BOULAIN, J-C. e MÉNEZ,A. Genetic engineering of snake toxins: the functional site of erabutoxin a, as delineated by site-directed

Page 153: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

152

mutagenesis, includes variant residues. The Journal of Biological Chemistry, v.207, p.9362-69, 1995. TRIGGLE, D.J. The pharmacology of ion channel: with particular reference to voltage-gated Ca2+ channels. European Journal Pharmacology, v. 375, 215-25, 2002. TSETLIN, V.I. e HUCHO, F. Snake and snail toxins acting on nicotinic acetylcholine receptors: fundamental aspects and medical applications. FEBS Letters, v.557, p.9-13, 2004. URDANETA, A.H.; BOLAÑOS, F. e GUTIÉRREZ, J.M. Feeding behavior and venom toxicity of coral snake Micrurus nigrocinctus (Serpentes: Elapidae) on its natural prey in captivity. Comparative Biochemistry and Physiology: Part C, v. 138, p.485-92, 2004. VITAL BRAZIL, O. Coral Snake Venoms: Mode of Action and Pathophysiology of Experimental Envenomation. Revista do Instituto de Medicina Tropical, v. 29, p.119-26, 1987. VITAL BRAZIL, O. e VIEIRA, R.J. Neostigmine in the treatment of snake accidents caused by Micrurus frontalis: report of two cases. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v.38, p.61-7. 1996. WANKE, E.; RESTANO-CASSULINI, R. Toxins interacting with ether-à-go-go related gene voltage-dependent potassium channels. Toxicon, p. 239-48, 2007. WEST, P.J.; BULAJ, G.; GARRET, J.E.; OLIVEIRA, B.M. e YOSHIKAMI, D. µ- conotoxin SmIIIA, a potent inhibitor of TTX-R sodium channels in Amphibian sympathetic and sensory neurons. Biochemistry, v. 41, p. 15388-93, 2002. YU, F.H. e CATTERALL, W.A. Overview of the voltage-gated sodium channel family. Genome Biology, v.4, p.207.1-207.7, 2003. YU, F.H.e CATTERALL, W.A. The VGL-Chanome: A Protein Superfamily Specialized for Electrical Signaling and Ionic Homeostasis. Science ‘s Stke, p.1-16, 2004. YU, F.H.; V., YAROV-YAROVOY; GUTMAN, G.A. e CATTERALL, W.A. Overview of molecular relationships in the voltage-gated ion channel superfamily. Pharmacologycal Review, v. 57, p.387-95, 2005. ZAMUDIO, F.; WOLF, K.M.; MARTIN, B.M.; POSSANI, L.D. e CHIAPPINELLI, V.A. Two novel alpha-neurotoxins isolated from the taipan snake Oxyuranus scutellatus, exhibit reduced affinity for nicotinic acetilcholine receptor in brain and skeletal muscle. Biochemistry, v. 35, p. 7910-16, 1996.

Page 154: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

153

AnexosAnexosAnexosAnexos

Page 155: PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E … total.pdf · Purificação, caracterização bioquímica e eletrofisiológica da toxina Mic6c7NTX da Peçonha da Serpente Micrurus

154

RESUMOS APRESENTADOS EM CONGRESSOS

- DONATO, M.F.; CISCOTTO,P.H.C.; GONÇALVES, J.C.R.; ALVES, A.M.H.,

PEREIRA-FILHO, G.A.; PIMENTA, A.M.; ARAÚJO, D.A.M. Avaliação

Eletrofisiológica de uma fração do veneno de Micrurus ibiboboca (coral

verdadeira) no sistema nervoso periférico de rato. XXII Reunião Anual das

Sociedades de Biologia Experimental –FeSBE. Águas de Lindóia/SP, 2007.

- DONATO, M.F.; CISCOTTO,P.H.C.; GONÇALVES, J.C.R.; ALVES, A.M.H.,

PEREIRA-FILHO, G.A.; PIMENTA, A.M.; ARAÚJO, A.E.V.; ARAÚJO, D.A.M.

Evaluation of a neurotoxin Mic12c14, obtained from the Coral Snake

Venom Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) on the Excitability of Isolated

Nerve. XXII Reunião Anual das Sociedades de Biologia Experimental –FeSBE.

Águas de Lindóia/SP, 2008.


Recommended