+ All Categories
Home > Documents > Releitura, Citação, Apreciação ou o que?

Releitura, Citação, Apreciação ou o que?

Date post: 10-Dec-2015
Category:
Upload: caroline-santana
View: 29 times
Download: 10 times
Share this document with a friend
Description:
Parte do livro
4
I' H1' d' . "e' hístory ano iheory of :REEDBERG, D. Toe pflwer (l imogr:s: S~\I. ies m ,0 .. I . Ch'r"go' Univcr.;ity of chICago Press, 1989. re5IJO:1St".· I...,.. . . I and V:"U;i! culture in art da:;srooms. f o c.:n' 1A'" K lnlerpre:mg genc er ,- lU-L-L'" an, . . 3 l57-]70. SlIldies irl Art Edl~catiol1, 1984, v. 35, n. ,p. . . lar culture. New York: GIROUX, H. A. Distttrbing plecoSures. learntng popu . Houl\etÍge, 1994. . . .... R .. iir. 'a"as' s OC I a llv Ncw York: ROlltlc .•ge, 1992. L Dl1.AN, R. eac.mg -. . . GO . . I I •. ChiclgO' Unlvcrsl- ••• i g IIteratunt an insUlulIona .11:;(01')'.' . GRAFf, G. PIV J e5S II . ty of Chicago Press, 1987. . h ry Toward 011 . L' ntstory as a challcngc to lnerary t eo . JAUSS, H. J. IterJry· T.d T IJahti. Minncsota: University or aesrbelic 01 recoptton. rau. . Minnesota Press, 1970, 1982, p. 3-15. . . .'- B' h' M'nnesota: Um- . Toward an aestbeüc of receptlO n . I rad. T. a n. t ~ersity of Minnesota P~css, 1982. . . '. di ul cultural studles. New York: MORLEY, D. Televlsion, au iences, ar· Roulledge, 1992. . . CROWLEY l>OSTri.; ~~;~~~~r~~f(~~~~~~~~;:~i~~:;;~:~~y;:;~y. Stanford; S~nford Universíty_Prcss, ~994, p. 173- 1 92... & "'PSON J B Social theory and lhe media. 10: CRO\VLEY, D. d THOiV; ,., d Sl4mforu' Stanfor MITCHELL,D. (eds.), Communicatio ll tbeory to ay. University Press, 1994, p. 27-49. d i d meaning in W1LLlAMSON! J. Decoding advertisernellts: i co ogy an d .. New York: Marion Uoyars, 1978. a vertlsmg. . .,'. HURWITZ A' WILSON M. Teaching draunng [rom art. W'ILSON, B.; ,., ' Worcester, MA: Davis, 1987. . .' f the imagery sources of the , ON B' WILSON M. An iconoc\astlc view o VILS ,.,' 7 30n1p r·ll '. drnwing of young people. Art Educa/ion, 197 . v. , . , ./ . r <- :~. ." ~ , . _ .•~- ~ •••• 4 •••.•• r" -- 5 Releitura, citação, apropriação ou o quê? Ana Amália Tavares Bastos Barbosa .... No anos 80, foi criad~~ c diJ?l1pi?la~no ;I3ps.iE~~r,a' abor~~g§ ?6', ensino dei arte ..que' passou a-ser. çQn:~ckh ç(),tij:Mét()dolé>giáTriâii~· ... < ... gular e que hoje mais córretamentê châm'iim6s-1T(ti)réi·pd~ta··tri;rig~~· lar. Ess,a abordagem vinha quebrar com o conheCido~isÚ!rn~de ensino-de arte, especialmente visual, em que o aluno era "Ievéldo apenas a se expressar, e propunha que se trabalhasse com três ações rnersal e sensorialmente básicas quais sejam: criação (fazer artístico), . leitura da obra de arte e contextuaiizaçào (Barbosa, 1998: ).3). Mas O que vem a ser isso? A contextualízaçãopropõe que' se coútextualize a obra de arte não só pela via histórica; mastambém social, biolpgica, psicológica, ecológ'ca, antropológica etc., pois con- textualizar não é só contar a história, ·da vida do artista que fez a obra, mas também estabelecer relações dessa ou dessas obras com 6 mundo ao redor, é pensar sobre a obra de arte de forma mais am- pla. A leitura da obra de arte (que recentemente tem sido chamada de apreciação) propõe lima leitura do mundo e de nós neste mun- do, uma leitura que é, na verdade, uma interpretação cultural. J~ bom lembrar que não existe, segundo Umberto Eco, uma interpreta- .... ção correta. O que existe sãointerpretações l]1ais:~óti'menCis';ldê(l~a-; das, mais' ou menos relacionadas co~ o objeto a ser interpretado, .- .1 I I
Transcript
Page 1: Releitura, Citação, Apreciação ou o que?

I'

H1'

d' . "e' hístory ano iheory of:REEDBERG, D. Toepflwer (l imogr:s: S~\I. ies m ,0 ..I . Ch'r"go' Univcr.;ity of chICago Press, 1989.

re5IJO:1St".· I...,.. .• . I and V:"U;i! culture in art da:;srooms.

fo c.:n' 1A'" K lnlerpre:mg genc er ,-lU-L-L'" an, . . 3 l57-]70.

SlIldies irl Art Edl~catiol1, 1984, v. 35, n. ,p. .. lar culture. New York:

GIROUX, H. A. Distttrbing plecoSures. learntng popu .

Houl\etÍge, 1994. . ..... R .. iir. 'a"as' ·s··OC···I·a·llv· Ncw York: ROlltlc .•ge, 1992.

LDl1.AN, R. eac.mg - . . .GO . . I I • . ChiclgO' Unlvcrsl-••• i g IIteratunt an insUlulIona .11:;(01')'.' .GRAFf, G. PIVJe5S II .

ty of Chicago Press, 1987. . h ry Toward 011. L' ntstory as a challcngc to lnerary t eo .

JAUSS, H. J. IterJry· T . d T IJahti. Minncsota: University oraesrbelic 01 recoptton. rau. .Minnesota Press, 1970, 1982, p. 3-15. .

. .'- B' h' M'nnesota: Um-. Toward an aestbeüc of receptlOn. I rad. T. a n. t

~ersity of Minnesota P~css, 1982. .. '. di ul cultural studles. New York:

MORLEY, D. Televlsion, au iences, ar·

Roulledge, 1992. . . CROWLEY

l>OSTri.; ~~;~~~~r~~f(~~~~~~~~;:~i~~:;;~:~~y;:;~y.Stanford;

S~nford Universíty_Prcss, ~994, p. 173-192... &"'PSON J B Social theory and lhe media. 10: CRO\VLEY, D. d

THOiV; ,., d Sl4mforu' StanforMITCHELL,D. (eds.), Communicatioll tbeory to ay.·

University Press, 1994, p. 27-49.di d meaning in

W1LLlAMSON! J. Decoding advertisernellts: i co ogy an

d .. New York: Marion Uoyars, 1978.a vertlsmg. ..,'. HURWITZ A' WILSON M. Teaching draunng [rom art.W'ILSON, B.; ,., '

Worcester, MA: Davis, 1987. ..' f the imagery sources of the

, ON B' WILSON M. An iconoc\astlc view oVILS ,.,' 7 30 n 1 p r·ll'. drnwing of young people. Art Educa/ion, 197 . v. , . , . / .

r

<-

:~. ."~ , .

_ .•~-~ •••• 4 •••.•• r"

--

5

Releitura, citação, apropriação ou o quê?

Ana Amália Tavares Bastos Barbosa

....No anos 80, foi criad~~ c diJ?l1pi?la~no ;I3ps.iE~~r,a'abor~~g§ ?6',

ensino dei arte ..que' passou a-ser. çQn:~ckh ç(),tij:Mét()dolé>giáTriâii~· ...< ...gular e que hoje mais córretamentê châm'iim6s-1T(ti)réi·pd~ta··tri;rig~~·lar. Ess,a abordagem vinha quebrar com o conheCido~isÚ!rn~deensino-de arte, especialmente visual, em que o aluno era "Ievéldoapenas a se expressar, e propunha que se trabalhasse com três açõesrnersal e sensorialmente básicas quais sejam: criação (fazer artístico), .leitura da obra de arte e contextuaiizaçào (Barbosa, 1998: ).3).

Mas O que vem a ser isso? A contextualízaçãopropõe que' secoútextualize a obra de arte não só pela via histórica; mastambémsocial, biolpgica, psicológica, ecológ'ca, antropológica etc., pois con-textualizar não é só contar a história, ·da vida do artista que fez aobra, mas também estabelecer relações dessa ou dessas obras com 6mundo ao redor, é pensar sobre a obra de arte de forma mais am-pla. A leitura da obra de arte (que recentemente tem sido chamadade apreciação) propõe lima leitura do mundo e de nós neste mun-do, uma leitura que é, na verdade, uma interpretação cultural. J~bom lembrar que não existe, segundo Umberto Eco, uma interpreta- ....ção correta. O que existe sãointerpretações l]1ais:~óti'menCis';ldê(l~a-;das, mais' ou menos relacionadas co~ o objeto a ser interpretado,

.-

.1II

Page 2: Releitura, Citação, Apreciação ou o que?

144 ANA MA! BARBOSA

pois qualquer obra é aberta a diversas interpretações e dependemuito do ponto de vista, do ponto de largada do leitor/espectador.

E o fazer? Como ficou o fazer nessa nova abordagem do ensinoda arte? Ficou sendo a tal da releitura, mas 2-e onde veio? Queminventou? Conversei com inúmeras pessoas que trabalham comreleitura, professores/as de sala de aul(l' e perguntei-lhes de ondevinha essa tal da releitura. Todos me disseram que era da aborda-gem triangular. Li e reli o livro A imagem no. ensino da arte,da.professora Ana Mae Barbosa, com a intenção de encontrar um mo-mento em que ela falasse dessa tal releitura. Não encontrei no texto,mas nas legendas dos desenhos das crianças. Conversando com a

. própria Ana Mae sobre a origem. do termo releitura, ela me disseque provavelmente da prática, do trabalho diário no museu. Notexto, o que encontrei, foi o seguinte (Barbosa, 1991: 107): .

Quando o aluno observa obras de arte e é estimulado e não obrigadoa escolher uma delas como suporte de seu trabalho plástico a sua,expressão individual se realiza da mesma maneira que se organizaquando o suporte estimulador é a paisagem que ele vê ou a cadeira

~ de seu quarto .... - fi o)-y{,-(,,{ (õ importante é que o professor não exija representação fiel, pois a~I$-I ~ íj1{fI~ ) obra observada é suporte interpretativo e não modelo para os alunos

1.10,,'0 I ~1'(1~.~opiarem. . '. ._'(\ f) J.ft . t-Assim estaremos ao mesmo tempo preservando a livre-expressão,

_l~·J importante conquista do modernismo ['..J e nos tornando contem--\Y . porâneos,}}.I('10

.Mas não é bem isso o que tenho visto por aí. Em vários lugaresem que fui lecionar nestes últimos anos, tanto em São Paulo como

arl! d I h' - c" em outros estados o Brasi , o que ten o Visto sao proressores quetrabalham a releitura como cópia. Mas por que será que isso estáacontecendo/ Acho até que o fazem de boa-fé, pois acreditam estarfazendo uma releitura. Colocam determinado quadro (e, na maioriadas vezes, tenho visto Tarsilas, Portinaris ou Anitas) na frente dosalunos. Conversam com 'os alunos sobre o que estão vendo, contamalguma coisa da história do artista ou do quadro e pedem para osalunos criarem algo a partir deste quadro. Isso é abordagem triangu-

. ··lar?· Eu diria que é redução e não .interpretação. Os resultados-são-

••• - • • __ • __ o _. • __ • ._ • __ • - •••• ,.

trabalhos.em que o aluno tenta agradar o professor copiando a obraou o próprio professor acha que o melhor resultado é o que seencontra mais próximo representacionalmente da obra, em questão.

Assim, comecei a pensar sobre o que eu fazia e como fazi~ com. meus alunos. Percebi que existem várias maneiras de se trabalhar are~eitllra: pode-se abordar apenas a questão da. representação, ouseja, pedir que os alunos observem a imagem na obra e que partam

-_del<l-j--rxxl@-se--partirde elementos formais: cor, linha, rirmo, é pro-por que observem isso na obra e que utilizem esses elementos emseu trabalho; pode-se pedir que comparem artistas de épocas dife-rentes, da mesma época, semelhantes ou não; enfim, existem diver-sas maneiras de propor a releítura e, talvez, a questão seja exata-mente es~a: como conduzimos nossas aulas? Como conduzimos aaprendizagem de nosso aluno?

~ O que. quer dizer releitura? Reler, ler novamente, dar novo sig-~~ado, remterpretar, pensar mais uma vez. Mais uma vez fui leva-

âãã refletir sobre minha experiência. Sou artista plástica e trabalhomuito COI\l apropriação e citação, algo muito próprio de nossacon-temporaneidade pós-moderna. Aproprio-me de imagens da Históriada Arte e incluo-as em minha obra, ou seja, tiro a imagem de seulocal de origem e a utilizo para construir outra imagem. Tambémcito m~ito- em meu trabalho, cito artistas de que gosto, cito síruaçõese movimentos da História da Arte. Qual é a diferença? Quando ;citonão existe referência direta. Posso utilizar o modo de trabalhar dacor mais comum do artista ou da obra que e;tou citando. No entan-to, quando me aproprio da imagem, ela está contida em meu traba-lho, inteira ou desconstruída, mas está presente. Uma das coisasmais importantes que aprendi com meu trabalho é que nunca penso

. em uma obra só, um artista só. Faço relações o tempo todo, inclusi-ve do que vejo na realidade com o que vejo no mundo.da arte'.

.. Isso tudo é releítura. É olhar o mundo a nosso redor e criar a ~~vpartir de tantas coisas que vemos no mundo na arte na 1"'1 C'f' "\ í, ,< v '" en rrn ~ ~tudo aquilo que nossa retina registra pode ser usado. ~\

r-=-E~ minhas aulas,' nunca peço ao aluno para fazer algo em ~ ....••~\ f~ente a obra que esta sendo discutida. Trabalhocolll a memória

CiS~:,~~:se~:emV~~~<J~~mà;de,~~i~i ;Úi~5úí,'para qlJC p.(:SS'I;~l~:~)J~~-·

ARTE/fliucAçAo CONHMPORÁNEA

. i

\ i

145

Page 3: Releitura, Citação, Apreciação ou o que?

146 ANA MAf BARBOSA

parar, mesclar, pensar melhor sobre as questões propostas. Maisuma vez isso é uma questão de escolha, de metodologia de trabalhodo professor. É ele quem deve escolher com que artista ou artistasvai trabalhar, como e por quê.

De qualquer maneira, gostaria de relatar uma expenencia emsala de aula que tive recentemente. Estava lecionando um curso deMetodologia do Ensinadas Artes Visuais na Universidade Regionaldo Cariri, curso que deveria levar os professores/alunos presentes apensa .•.sobre seu processo criador e seu aluno, sobre suas aulas, suametodologia e como ela se encaixa na atual corrente de ensino daarte. Um curso teórico e prático, em que produzíamos arte e discu-tíamos ;IS aulas, a metodologia utilizada, os sentimentos e os tralxi-lhos realizados. Um curso bastante intenso, portanto.

Um de meus objetivos nesse curso é sempre levar os professo-res a pensar a releitura, mas nunca falo sobre o assunto no início.Deixo que surja do grupo a discussão do trabalho realizado em salade aula. E assim foi. Nas aulas anteriores, vinha trabalhando elemen-tos do desenho, tais como linha, forma, cor e sua organização emuma composição, bem como questões metodológicas cio ensino daArte. Comecei a aula lendo um trecho de um poema de João Cabralde Mello Neto chamado O sim contra o sim. Escolhi o trecho em quefala de Miró e de Mondrian. Considero esse poema uma releituraque João Cabral (1986) fez desses artistas. Ele interpreta com pala-vras questões que ambos discutiam visualmente:

1...1

Miró sentia a mão direitademasiada sábia

e que de saber tantojá não podia inventar mais nada.

Quis então que desaprendcsse

o muito que aprendera,a fim de reencontrar

a linhaainda fresca da esquerda.

.c._. ••••• ~ __ ._·,_~____ T '·.c " ,

/~'O' /·,,'''''4.fí''ARJLlIDUf.AÇÁO «)NlfMI~J~ÁN[A ( " ,/ ''(1/. I ,1 u-c , t J I /1 [.0' I 'J~\.( ai r-'

",tvt"-n "', ~~ ",J;/.

'r/'~f;'1 . Pois que da não pôde, de p()s-sea desenhar com estaaté que, se operando,

no braço direito de a enxen.i.

A esquerda (se não se é canhoto)é mão sem habilidade:reaprende a cada linha,cada insta t" , n e a recomeçar-se.

..~..

Mondrian, também, da mão direitaandavçl desgostado'nào por ser da s;íhi;l:porque, sendo s;Íbia era Iácil.

Assim, não a trocou de hra~'():queria-a mais honestae por isso enxertou

outras mais s;íhia.~ dClltro dda.

Fez-se enxertar réguas, esquadrose outros utensíliospara obrigar a mão

a abandonar lodo improviso.

". Assim foi que ele ·'1 mã " - .-

" ,10 ( rrella'impôs tal disciplina: '. fazer o que sabia

como se o aprendesse ainda.1...1

A - • ipos a leitura dos textos perguntei I" " ;

Não foram muitos ' Cjl em conheCIa os artistas,, os que rcsp I· ' ' .,mos, em seguida <:nl-l '. ~n(.~lam aflrlllafiv;ul1en{(:'. Discuti-'

. ,. o () que slgnJ/lei ria () "suahzavam Com " Ieitur. d POC./ll,I, o que dcs vi- .

, a o poema. Mostrei ·11 ., Ie algumas de M I.', " '. gum<ls o rras de Miró .composição "> O:~("I1~ln. DISC~[.Hnl)S(lu~S{ó<;','j.dedclHcn(oscdt'

que estdvamos aprendendo n;IS aulas '111[ " .c <. c ellcHes, COI1-

Page 4: Releitura, Citação, Apreciação ou o que?

mA MAl BARBOSA

versamos sobre J obra de ambos como um todo à luz do que está-vamos. vendo e da leitura de João Cabral. Por fim, dei-Ihes algunsdados biográficos de cada artista pedindo sempre que relacionas-sem com a história mundial: o que estava acontecendo no mundoenquanto Mirá e Mondrian pintavam? Por que Mondrian foi morarem Nova York? Por que Miró não foi? Enfim, mostrar que o artistanão está isolado do mundo, ele é conseqüência de sua realid~de.

Miró e Mondrian são artistas muito diferentes, mas têm umamaneira de tratar a linha, a cor primária e uma história que possuempontos de convergência. Nessa aula, é disso que preciso, artistasdiferentes, mas que o aluno possa encontrar maneiras de mesclá-105. Foi exatamente isso o que pedi que fizessem, que tentassemcolocar no papel características de Mirá e de Mondrian, não a irna- 'i'

gem, mas o jeito de trabalhar. Pedi que fizessem o trabalho em )J~~II..

grupo e que discutissem primeiro o que iriam fazer. Os resultados l'(\~Q.)-são trabalhos em que aparecem os quadrados de Mondrian e as c.<1(XI>-.

curvas de Miró, as cores e a maneira de organizar a composição, '.mas não são cópias. Apenas um grupo se apropriou da imagem deMondrian e a inseriu em seu trabalho. Os outros pareciam estarcientes de não haver nenhuma necessidade de que fosse óbvio deonde veio o trabalho deles, de qual era a referência. Parece que osgrupos entenderam que o que interessava era apropriar-se dos ele-mentos visuais e da maneira como esses artistas realizavam suascomposições, questões estas que estávamos discutindo nas aulasanteriores. Portanto, ligaram o que estavam aprendendo antes como que viram naquele momento em obras de arte. No final, fizemosnossa roda de leitura, analisamos os trabalhos do ponto de vistatécnico, estético e, por fim, metodológico.

O que foi que pedi que fizessem senão uma releitura? Quandoperceberam isso, a primeira pergunta foi: "mas se isso é releitura,então o que é que estou fazendo em minha sala de aula?". Diria que,na maioria dos casos, é cópia, em que a preocupaçào é ser o maisfiel à obra estudada, só como referência visual. Mas pode ser releitura,se o que estiver fazendo exija dos alunos que pensem sobre o queviram; que façam relações com outras coisas, obras ou não; e quetenham espaço para criar de ou sobre algo, como sempre fez. Cria-va-se da natureza, da mitologia ou da religião. O que propomos é

III·

I

.---- ..-----.1 .

~RTl'l[)~O CONTE~~EA I 1, ...t') 0\111,.\(6 te!) .- ~(" u: f? n"

que se crie também de outras obras. Que se dê a oportunidade aosnossos alunos de conhecer arte, ele ver arte, até para que possam,um dia, optar entre um programa ou outro de TV com mais critério.Porque alie não é apenas um objeto estético, arte serve para ensinarmuitas coisas: e a mais óbvia é que serve gara e~inar a VeFo rnun-do com mais cuidado e, também, a ver a nós mesmos. ;

Por isso, acredito que a questão da releitura é muito séria, poiso fazer artístico necessita de espaço para criar e para- aexpressão:"Mas os artistas não criam do nada. Vêem muita arte, estudam outrosartistas, pois precisam ver e saber o que veio antes deles no mundo.Para os alunos, isso é ainda mais sério. As novas gerações precisamconhecer o que aconteceu no mundo, cno mundo da arte, para quepossam se conhecer melhor culturalmente. Um povo precisa terdomínio de sua cultura. Também precisam saber expressar-se, nãocom um grito da alma e sim um expressar embasado, pensado. Umexpressar que junte o conhecimento com os sentimentos.

Tenho certeza de que ainda vou ver as pessoas repensarem areleitura. Não para rejeitá-Ia, mas para melhor se utilizarem dela,pois é um recurso didático!metodológíco muito rico se conduzidade maneira a que o aluno possa criar com ela, além de citar ou de seapropriar. Pois nunca é demais lembrar que devemos sempre esti-mular a criança a criar, porém nunca deixar de lhe dar subsídiospara que o faça.

Referências bibliográficas

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo/Porto Alegre:PerspeOiva/FundaçJo Ioschpe 1991... '

___ o Tópicos utópicos. Belo Horizonte: Editora C/Arte, 1998.MELONETO,]oão Cabral de. Poesia completa. 1940-1980. Imprensa Nado-

nal/Casa da Moeda, 1986.


Recommended