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Saúde e nutrição: desafios e perspectivas · Saúde e nutrição: desafios e perspectivas O...

Date post: 17-Jun-2020
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Editorial O Mundo da Saúde, São Paulo - 2013;37(3):251-252 252 * Doutor em Teologia/Bioética. Pós-graduado em Clinical Pastoral Education and Bioethics at St Luke’s Medical Center. Docente do Pro- grama Stricto sensu em bioética (Mestrado e Doutorado) do Centro Universitário São Camilo, São Paulo. E-mail: [email protected] Saúde e nutrição: desafios e perspectivas O campo da saúde abrange diferentes áreas, sendo a nutrição reconhecida como uma área interdiscipli- nar que procura identificar a interação e a integração entre os alimentos, o meio ambiente, os fatores sociais e econômicos na busca da qualidade de vida e saúde do homem contemporâneo. A nutrição alcança questões do indivíduo e da coletividade, buscando os direitos e as possibilidades para cada questão em especial. Pode-se discutir o excesso da ingestão de alimentos, assim como sua falta absoluta, comprometendo o fornecimento do mínimo de nutrientes necessários para a vida. Segundo dados da FAO (2010), cerca de 852 milhões de pessoas, ou uma em cada oito, sofrem de subnutrição crônica. A grande maioria que passa fome vive nos países em de- senvolvimento, e 16 milhões vivem nos países intitulados desenvolvidos. Discussões têm ocorrido nas agências internacionais junto aos governos de todo mundo para encontrar caminhos para erradicar a fome. Nos últimos anos, somamos às discussões da fome a nova problemática da área da nutrição. A obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis também têm destaque na Organização Mundial da Saúde, agendas de governo, e de pesquisadores. Até que ponto a globalização trouxe padrões menos saudáveis de alimentação e, por consequência, o aumento das doenças crônicas não transmissíveis? Por outro lado, a estimativa de vida do homem aumentou, devido à transição epidemiológica que diminui a alta mortalidade por doenças infectocon- tagiosas, proporcionando uma estimativa de vida maior. De acordo com o IBGE (2009), a média de vida de um cidadão brasileiro é de 72,7. A esperança de vida ao nascer da população brasileira teve um ganho de 2,6 anos, passando de 66 anos, em 1991, para 68,6 anos, em 2000. Mediante a esse fato, vale refletir sobre a qualidade de vida e o padrão alimentar de nossa população, principalmente a denominada população da terceira idade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% dos óbitos no mundo são por doenças crônicas (particularmente as cardiovasculares). Em 2001, elas contribuíram com aproximadamente 60% das 56,5 milhões de mortes reportadas no mundo e com 46% da carga global das doenças. A estimativa é que essa proporção aumente para 57% em 2020. As doenças crônicas são, em grande parte, evitáveis. Entre os fatores de risco modificáveis, o padrão alimentar pode ser entendido como um dos principais. A ida- de, sexo e predisposição genética são fatores de risco não modificáveis. O padrão alimentar da população brasileira e o sedentarismo estão entre os fatores modificáveis das doenças crônicas não transmissíveis que podem ser observados pela transição nutricional. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, há um aumento contínuo de excesso de peso e obesidade na popula- ção brasileira. O excesso de peso quase triplicou entre homens, de 18,5% em 1974-75 para 50,1% em 2008-09. Nas mulheres, o aumento foi menor: de 28,7% para 48%. Já a obesidade cresceu mais de quatro vezes entre os homens, de 2,8% para 12,4%, e mais de duas vezes entre as mulheres, de 8% para 16,9%. Esses dados apontam a necessidade urgente de intervenções efetivas do setor público para o controle da epidemia da má alimentação. Importante enfatizar a bioética, que alcança questões públicas na busca pela garantia dos direitos humanos, perpassando pela segurança alimentar e nutricional, pelo desenvolvimento sustentável, ao trabalhar a inclusão social dos Agricultores Familiares por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), inovação na construção de proposta de segurança alimentar e nutricional centrada na comercia- lização de alimentos e geração de renda, e pelo tratamento paliativo, pelo direito à vida, pela qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença, por meio da prevenção e alívio do sofri- mento, sendo o alimento e a alimentação itens essenciais, considerando a doença, assim como os fatores sociais, psicológicos e espirituais. Esta edição apresenta estudos que corroboram com as estratégias de alimentação e nutrição em temas diversos da saúde, do direito humano e alimentação, considerando a abrangência e a interdisci- plinaridade da nutrição. Concluímos agradecendo aos autores, colaboradores e à Profa. Dra. Andrea Polo Galante, coordenado- ra científica da edição, que contribuiu, com sua competência e dedicação, para a construção deste número. Leo Pessini*
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* Doutor em Teologia/Bioética. Pós-graduado em Clinical Pastoral Education and Bioethics at St Luke’s Medical Center. Docente do Pro-grama Stricto sensu em bioética (Mestrado e Doutorado) do Centro Universitário São Camilo, São Paulo. E-mail: [email protected]

Saúde e nutrição: desafios e perspectivas

O campo da saúde abrange diferentes áreas, sendo a nutrição reconhecida como uma área interdiscipli-nar que procura identificar a interação e a integração entre os alimentos, o meio ambiente, os fatores sociais e econômicos na busca da qualidade de vida e saúde do homem contemporâneo. A nutrição alcança questões do indivíduo e da coletividade, buscando os direitos e as possibilidades para cada questão em especial. Pode-se discutir o excesso da ingestão de alimentos, assim como sua falta absoluta, comprometendo o fornecimento do mínimo de nutrientes necessários para a vida. Segundo dados da FAO (2010), cerca de 852 milhões de pessoas, ou uma em cada oito, sofrem de subnutrição crônica. A grande maioria que passa fome vive nos países em de-senvolvimento, e 16 milhões vivem nos países intitulados desenvolvidos. Discussões têm ocorrido nas agências internacionais junto aos governos de todo mundo para encontrar caminhos para erradicar a fome.

Nos últimos anos, somamos às discussões da fome a nova problemática da área da nutrição. A obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis também têm destaque na Organização Mundial da Saúde, agendas de governo, e de pesquisadores. Até que ponto a globalização trouxe padrões menos saudáveis de alimentação e, por consequência, o aumento das doenças crônicas não transmissíveis? Por outro lado, a estimativa de vida do homem aumentou, devido à transição epidemiológica que diminui a alta mortalidade por doenças infectocon-tagiosas, proporcionando uma estimativa de vida maior. De acordo com o IBGE (2009), a média de vida de um cidadão brasileiro é de 72,7. A esperança de vida ao nascer da população brasileira teve um ganho de 2,6 anos, passando de 66 anos, em 1991, para 68,6 anos, em 2000. Mediante a esse fato, vale refletir sobre a qualidade de vida e o padrão alimentar de nossa população, principalmente a denominada população da terceira idade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% dos óbitos no mundo são por doenças crônicas (particularmente as cardiovasculares). Em 2001, elas contribuíram com aproximadamente 60% das 56,5 milhões de mortes reportadas no mundo e com 46% da carga global das doenças. A estimativa é que essa proporção aumente para 57% em 2020. As doenças crônicas são, em grande parte, evitáveis. Entre os fatores de risco modificáveis, o padrão alimentar pode ser entendido como um dos principais. A ida-de, sexo e predisposição genética são fatores de risco não modificáveis.

O padrão alimentar da população brasileira e o sedentarismo estão entre os fatores modificáveis das doenças crônicas não transmissíveis que podem ser observados pela transição nutricional. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, há um aumento contínuo de excesso de peso e obesidade na popula-ção brasileira. O excesso de peso quase triplicou entre homens, de 18,5% em 1974-75 para 50,1% em 2008-09. Nas mulheres, o aumento foi menor: de 28,7% para 48%. Já a obesidade cresceu mais de quatro vezes entre os homens, de 2,8% para 12,4%, e mais de duas vezes entre as mulheres, de 8% para 16,9%. Esses dados apontam a necessidade urgente de intervenções efetivas do setor público para o controle da epidemia da má alimentação.

Importante enfatizar a bioética, que alcança questões públicas na busca pela garantia dos direitos humanos, perpassando pela segurança alimentar e nutricional, pelo desenvolvimento sustentável, ao trabalhar a inclusão social dos Agricultores Familiares por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), inovação na construção de proposta de segurança alimentar e nutricional centrada na comercia-lização de alimentos e geração de renda, e pelo tratamento paliativo, pelo direito à vida, pela qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença, por meio da prevenção e alívio do sofri-mento, sendo o alimento e a alimentação itens essenciais, considerando a doença, assim como os fatores sociais, psicológicos e espirituais.

Esta edição apresenta estudos que corroboram com as estratégias de alimentação e nutrição em temas diversos da saúde, do direito humano e alimentação, considerando a abrangência e a interdisci-plinaridade da nutrição.

Concluímos agradecendo aos autores, colaboradores e à Profa. Dra. Andrea Polo Galante, coordenado-ra científica da edição, que contribuiu, com sua competência e dedicação, para a construção deste número.

Leo Pessini*

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