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Semana Santa em Braga - Agência ECCLESIA · 2015-04-02 · essencial de todo o processo, a...

Date post: 18-Jan-2020
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04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião Miguel Oliveira Panão22 - Opinião: Elias Couto24 - Semana de.. Octávio Carmo26 - Dossier Ressurreição28 - Entrevista: Padre Nuno Santos

62 - Ano da Vida Consagrada66 - Multimédia68 - Estante70 - Vaticano II72 - Agenda74 - Por estes dias76 - Por outras palavras77 - YouCat78 - Programação Religiosa79 - Minuto Positivo80 - Liturgia82 - Fundação AIS84 - Lusofonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Semana Santa emBraga[ver+]

Papa lembramártires de hoje[ver+]

Histórias deressurreição[ver+]

Paulo Rocha | Elias Couto |Fernando Cassola Marques |Manuel Barbosa |Paulo Aido | TonyNeves | Octávio Carmo | MiguelOliveira Panão | Adelino Ascenso

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Não está aqui

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

As referências à paixão e morte de Cristo, nosEvangelhos, são mais extensas, muito mais, doque as notas, breves, sobre a ressurreição. D.António Couto, no livro “A Nossa Páscoa”, afirmaque, para os quatro evangelistas, a paixão é “umrelato” e a ressurreição “uma notícia”. E aocontrário de outros acontecimentos onde oresultado final é o que basta para memóriafutura, no caso do itinerário de Jesus as maioresatenções fixam-se nas descrições do processoque leva à notícia, não na notícia. No Jesus daHistória, o drama da morte de Deus encerra comfrequência crónicas e opiniões sobre dor,sofrimento, solidão, não atingindo a notíciaessencial de todo o processo, a passagem, anova vida, a Páscoa.A notícia completamente nova, há dois mil anoscomo hoje, está no facto de Jesus aparecerdiante daqueles que com Ele viveram e, nãosendo reconhecido, ter de se anunciar. Porquede facto era uma novidade o que estava aacontecer. A reação imediata, nomeadamente dequem O procurou no túmulo e recebeu anovidade “ressuscitou, não está aqui”,corresponde a um recomeço, a algo novo aacontecer na pessoa a quem o ressuscitado seanunciou. Ouvir “não está aqui” não significou fimda história, mas a passagem para uma novahistória, sem fim, com nova vida. E aí está a forçade uma notícia, da notícia!As considerações teológicas ao que aconteceu apartir de quem as investiga são o recurso parafixar o valor da notícia da ressurreição. Comotodas

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as notícias, a brevidade com que étransmitida dá-lhes maior impacto, anovidade grande alcance e orealismo rapidamente se converteem poder transformador. Tudoassim aconteceu em torno destanotícia: “ressuscitou, não está aqui!”.Hoje, o desafio é repetir esta“manchete”. Mais do que acentuar orelato dos acontecimentosanteriores à Páscoa, é urgente darrelevo à notícia principal. E o perigoé mesmo esse: após a Páscoa, tudoparece ter acabado!A ressurreição exige prolongar osoar das campainhas pascais nãosó pelo dia, a oitava ou o TempoPascal, mas em todos os dias; e as festasao Espírito Santo, tradições quedecorrem da alegria e solidariedadepascais, podem alcançar o relevode outros tempos e contagiar umnúmero crescente de recetores danotícia pascal. Caso contrário,quando qualquer cidadão procurereferências ao realismo daressurreição nos ambientes onde foicomunicado ao longo das geraçõespode encontrar apenas portasfechadas, nos templos ou noscorações. Nessas situações não seafirma “ressuscitou”. Apenas sesabe dizer “não está aqui”.

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“Temos uma grandeambição: Portugal, para além de terum dos melhores serviços nacionaisde saúde do mundo e de ter umnível de Estado social que noscoloca seguramente entre asnações mais desenvolvidas, possatambém ser uma das economiasmais competitivas, quer na Europa,quer no mundo” Primeiro-ministro,Pedro Passos Coelho, sobre osfundos comunitários Portugal 2020,Rádio TSF, 31 março 2015 “Muitas pessoas aqui pegam emcrianças, fazem-lhes umaautêntica lavagem cerebral eimpõem-lhes a suas filosofiasradicais. Depois elas crescemcom o ódio e a divisão na mentee estão mesmo prontas a matarou a morrer em nome dareligião, este é o grandeproblema.” Paul Bhatti, antigoministro paquistanês para asminorias, Agência Ecclesia, 28Março 2015

“A chamada Primavera árabe teveefeito negativo para nós. Setivéssemos tido a possibilidade detrabalhar em harmonia com omosaico de religiões e gruposétnicos que compõem a nossaregião, teríamos visto odesenvolvimento de uma forçacapaz de conduzir a região rumo àpaz, a estabilidade e o progresso.”Patriarca da Igreja Caldeia noIraque, D. Louis Sako, no Conselhode Segurança das Nações Unidas,em Nova Iorque, 27 março 2015 “Se a cruz inaugura a teologia, aPietà funda a humanologia. EmJesus morto, jacente nos braçosda mãe, há sentido. No Jesusmorto, habita o sentido”. PauloRangel, Eurodeputado português;jornal Público, 31 março 2015 “Os resultados apurados, em termosde votos, estão certos, o programadevia ter operado sobre esse totale, em vez disso, operou sobre ototal da ilha da Madeira ignorando ailha do Porto Santo” João Almeida,delegado da Comissão Nacional deEleições, sobre as eleições naRegião Autónoma da Madeira; jornalDiário de Notícias, 31 março 2015

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FOTO DA SEMANA

Segundo a BBC, queconversou com o autor

- Osman Sagirli, a fotografia agora viral

foi tirada em dezembrode 2014. Hudea, de

4 anos, vivia com a mãee dois irmãos, num campo

de refugiados a 150 kmda sua cidade Hama.

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Semana Santa em Braga,mais do que turismoO arcebispo de Braga disse àAgência ECCLESIA que ascelebrações da Semana Santa nacidade devem ser mais do que um“acontecimento do turismo”,ajudando a motivar para a“construção de um mundo novo”. D.Jorge Ortiga referiu que o queacontece em Braga no interior dostemplos e sobretudo asmanifestações de rua fazem daSemana Santa na cidade um“grande acontecimento turístico”,que atrai milhares de visitantes, nãosó de Portugal.“Teremos de privilegiar um poucomais a qualidade das celebraçõeslitúrgicas, estando nelas o centro, efazer com que as manifestações derua, nomeadamente as procissões,tenham um sentido e sirvam deevangelização a partir dacelebração da paixão e da morte doSenhor”, afirmou D. Jorge Ortiga,em declarações que são hojetransmitidas no ProgramaECCLESIA (RTP2).As Semana Santa em Braga é vividanão só nas celebrações de Domingode Ramos, do Tríduo Pascal eDomingo de Páscoa, comuns a todaa liturgia católica, mas também pelaparticipação de milhares de pessoas

nas procissões de rua e com váriasexposições e concertos.No Domingo de Ramos realiza-se a“Procissão dos Passos”; na quarta-feira da Semana Santa a Procissãode Nossa Senhora da “Burrinha”, umcortejo bíblico sobre o tema “Vóssereis o meu povo”, organizadodesde 1998, pela Paróquia e pelaJunta de Freguesia de S. Victor.Na Quinta-feira Santa percorre acidade de Braga a Procissão doSenhor “Ecce Homo”, ou “Senhor daCana Verde”, que recorda ojulgamento de Jesus num cortejoque abre com o exótico grupo dosfarricocos, recordando antigospenitentes.O dia da morte de Jesus, Sexta-feiraSanta, é recordado pela adoraçãoda cruz e pela Procissão Teofórica

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do Enterro, na Sé de Braga.O Domingo de Páscoa, depois dacelebração da ressurreição naVigília Pascal, é assinalado com o“Compasso” ou “Visita Pascal” queconsiste no anúncio da ressurreiçãoe bênção das casas, realizadatambém nos Paços do Conselho, emBraga.Para o arcebispo de Braga, énecessário que todos osacontecimentos da Semana Santa

“centralizem” as pessoas no que secelebra, “a paixão e morte dosenhor”, e possibilitem chegar à“realidade da ressurreição”, quepassa também pela “obrigação deconstruir um mundo novo nostempos que correm”.As informações sobre celebraçõeslitúrgicas e as manifestações de ruadurante a Semana Santa em Bragaestão na página da internet www.semanasantabraga.com

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Viver a Páscoa na promoção dajustiçaA Cáritas Portuguesa divulgou umamensagem para a Páscoa na qualalerta que ainda são “muitos” osque esperam a “madrugada de umavida nova”, porque se encontram nacruz, e apela a “lutar” por maisjustiça e amor.“O desemprego e o medo de nãovoltar a encontrar trabalho ou denem tão cedo iniciar uma atividadelaboral; de perder a casa quehabitam ou viver nela às escuras ousem água ou possibilidades decozinhar; de adiar a toma demedicamentos ou realizartratamentos por não ter forma de ospagar”, são alguns casosenumerados pela organização.O documento, enviado à AgênciaECCLESIA, a instituição católica decaridade refere que atualmente as“injúrias” a quem está pregado nacruz são diferentes das usadascontra Jesus, e exemplifica: “Sóestão crucificados porque viveramacima das suas possibilidades”,entre outras justificações.A Cáritas Portuguesa recorda as“crianças que dependem da escolapara tomar uma refeição adequada”e as vítimas de “de depressõespsíquicas que levam, algumas

vezes, a atitudes violentas contra sipróprios ou contra outros”.A instituição explica que os cristãossão chamados “a viver comoressuscitados” hoje, porque é algoque pode fazer-se “acontecer navida diária”.Nesse sentido, destaca que naPáscoa se celebra comocomunidade, na “alegria daRessurreição”.Na mensagem de Páscoa, a CáritasPortuguesa destaca queressurreição de Jesus é umacontecimento “claro e concreto” aque os cristãos são chamados afazer acontecer todos os dias,através da “luta por mais justiça epela vivência do amor”.

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Museu Diocesano de Santarémrecebe prémio

O projeto do Museu Diocesano deSantarém venceu a oitava edição doPrémio Vasco Vilalva, atribuídoanualmente pela FundaçãoGulbenkian, que reconhece o papelda nova instituição para “adinamização cultural da região”. Emcomunicado, a Gulbenkianacrescenta que a distinção, no valorde 50 mil euros, este prémio,distingue ainda as obras derecuperação e conservação dacatedral realizadas no âmbito desteprojeto.O júri foi unânime na decisãosublinhando a "importância eabrangência do patrimóniorecuperado", bem como o "resgateda perda iminente de um conjuntode peças de arte sacra" queincorpora

agora o acervo do museu.O diretor do Museu Diocesano,padre Joaquim Ganhão, manifestoua sua alegria pela distinção,assumida com “profundo sentido deresponsabilidade”, exprimindo odesejo de que as “portas abertas”desta museu possam constituir “umveículo de inspiração e fonte deesperança para a valorização dopatrimónio cultural português”.O responsável realçou ainda “omérito profissional das empresasenvolvidas e dos seus técnicos, cujaqualidade e experiência ditaram osucesso de todas as intervenções”.O novo museu dispõe de três salaspara exposições permanentes etemporárias e ainda uma sala dereservas.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Cuca Roseta e Ricardo Carriço dão voz ao Tríduo Pascal no «Passo-a-Rezar»

Viver e atualizar a Semana Santa ()

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Papa lembra «mártires»contemporâneos que imitam JesusO Papa recordou no Vaticano oscristãos perseguidos em váriospaíses, numa catequese dedicadaàs celebrações do Tríduo Pascal,que se iniciam esta quinta-feira.“Ainda hoje há tantos homens emulheres, verdadeiros mártires, queoferecem a sua vida com Jesus paraconfessar a fé, apenas por estemotivo. É um serviço, o serviço dotestemunho cristão até aoderramamento de sangue”, disse,durante a audiência públicasemanal que reuniu milhares depessoas na Praça de São Pedro.O Tríduo Pascal “da paixão, morte eressurreição de Cristo” foiapresentado por Francisco como omomento culminante de “todo o anolitúrgico” e da “vida cristã”.As celebrações começam na tardede quinta-feira, com a Missa da Ceiado Senhor, na qual se comemora ainstituição da Eucaristia e o lava-pés, um “gesto profético” de Jesusque, segundo o Papa, “manifesta osentido da sua vida e da sua paixão,como serviço a Deus e aos irmãos”.“Se vamos receber a santaComunhão sem

estar sinceramente dispostos a lavaros pés uns aos outros, nãoreconhecemos o Corpo do Senhor”,precisou.Francisco afirmou depois que aliturgia de Sexta-feira Santa recordao “mistério da morte de Cristo”, coma adoração da cruz. “Ao longo dosséculos, houve homens e mulheresque com o testemunho da suaexistência refletiram um raio desteamor perfeito, pleno,incontaminado”, acrescentou.Nesse sentido, evocou o martírio dopadre italiano Andrea Santoro,missionário na Turquia que foiassassinado em Trebisonda, no dia5 de fevereiro de 2006. “Esteexemplo e tantos outros nos apoiemao oferecer a nossa vida como domde amor aos irmãos, imitandoJesus”, apelou.O Papa falou depois do SábadoSanto como o dia em que a Igreja“contempla o descanso de Jesus notúmulo, após o vitorioso combate dacruz”, convidando os cristãos amanter viva a fé, como Maria,mesmo perante a “escuridão”.“Sabemos que a noite é mais noite eé mais escura pouco antes decomeçar

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o dia. Mas precisamente nessaescuridão está Cristo, que vence”,referiu.Francisco apresentou, por isso, aVigília Pascal como a celebração daressurreição de Jesus, “centro e fimdo cosmos e da história”, uma festade esperança “de quem se abre aum presente cheio de futuro”. “Anossa vida não acaba diante dapedra de um sepulcro, vai maisalém, com a esperança”, observou.

Os cristãos, prosseguiu, são“chamados a ser sentinelas damanhãs, que saibam discernir ossinais do ressuscitado”.Aos peregrinos de línguaportuguesa, o Papa desejou “umTríduo Pascal verdadeiramentesanto” que os ajude “a viver aPáscoa, cheios de alegria,consolação e esperança, comoconvém a quantos ressuscitaramcom Cristo”.“Boa Páscoa”, concluiu.

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São João Paulo II morreu há 10anosA Igreja Católica recorda hoje odécimo aniversário de morte de SãoJoão Paulo II (1920-2005), que oPapa Francisco apresentou aosperegrinos reunidos esta quarta-feira na Praça de São Pedro como“grande testemunha de Cristo”.“Amanhã [2 de abril] ocorre odécimo aniversário da morte de SãoJoão Paulo II. Recordamo-lo comogrande testemunha de Cristosofredor, morto e ressuscitado, epedimos-lhe que interceda por nós,pelas famílias, pela Igreja, para quea luz da ressurreição resplandeçasobre todas as sombras da nossavida e nos encha de alegria e depaz”, declarou, durante a audiênciapública semanal desta semana, quereuniu milhares de pessoas.Na tradicional saudação final aosjovens, doentes e recém-casadospresentes no Vaticano, Franciscoafirmou que o “exemplo e otestemunho” do Papa João Paulo IIestão “sempre vivos”, lembrando oseu “ardor e entusiasmo”.Karol Jozef Wojtyla, eleito Papa a 16de outubro de 1978, assumindo onome de João Paulo II, nasceu emWadowice (Polónia), a 18 de maiode 1920, e morreu no Vaticano, a2 de abril de 2005. Entre os seus

principais documentos, contam-se14 encíclicas, 15 exortaçõesapostólicas, 11 constituiçõesapostólicas e 45 cartas apostólicas;realizou 104 viagens internacionais,incluindo três visitas a Portugal, em1982, 1991 e 2000.O Papa polaco foi beatificado porBento XVI, seu sucessor, a 1 demaio de 2011 e foi canonizado a 27de abril de 2014, por Francisco.A Igreja Católica celebra a memórialitúrgica de João Paulo II a 22 deoutubro, data que assinala o dia deinício de pontificado de KarolWojtyla, em 1978, pouco depois deter sido eleito Papa. Na habitualresenha biográfica que éapresentada no calendário dossantos e beatos, João Paulo II élembrado pela “extraordináriasolicitude apostólica, em particularpara com as famílias, os jovens e osdoentes”.

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Via-Sacra no Coliseu vai lembrarcristãos perseguidosA Via-Sacra desta Sexta-feira Santa,no Coliseu de Roma, vai lembrar oscristãos perseguidos e aescravatura moderna, em reflexõesescritas, a pedido do Papa, por D.Renato Corti, bispo emérito deNovara, Itália.“Há homens e mulheres que sãopresos, condenados ou até mesmotrucidados, só porque são crentesou comprometidos em prol da justiçae da paz. Não se envergonham davossa cruz. São, para nós,admiráveis exemplos a imitar”, podeler-se no texto, divulgado peloVaticano.Os participantes na tradicionalcelebração, com início marcadopara as 21h15 (menos uma emLisboa), vão rezar pelo “direitofundamental à liberdade religiosa”.A evocação da prisão, julgamento econdenação à morte de Jesus vaiseguir o esquema clássico das 14‘estações’, lembrando “situaçõesterríveis” da humanidade de hoje,como “o tráfico de seres humanos, acondição das crianças-soldado, otrabalho que se torna escravidão,as crianças e os adolescentesdespojados de si mesmos, feridosna sua intimidade, barbaramenteprofanados”.“Quando será abolida a pena demorte, praticada ainda hoje emnumerosos Estados? Quando será

eliminada toda a forma de tortura ea supressão violenta de pessoasinocentes? O vosso Evangelho é amais firme defesa do homem, decada homem”, escreve D. RenatoCorti.O bispo italiano convida os fiéis aser “guardiões de toda a criação, detodas as pessoas, especialmentedas mais pobres”. “Julgar é fácil;mais importante, porém, é pormo-nos no lugar dos outros e ajudá-losaté onde nos for possível”, pode ler-se.A reflexão tem como título ‘A cruz,ápice luminoso do amor de Deusque nos guarda. Chamados,também nós, a sermos guardiõespor amor’.Entre os temas escolhidos estãotambém a família, o sofrimento e asmulheres, com textos do Papa PauloVI, do cardeal Carlo Maria Martini oude Shahbaz Bhatti, ministropaquistanês assassinado em 2011.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Papa «une-se ao luto dos familiares das vítimas» da queda do Airbus A320

Domingo de Ramos no Vaticano

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60+

Miguel Oliveira Panão Professor Universitário

No passado dia 28 de março, uma grande parteda população humana se une para dar umamensagem ao mundo: se não fizermos algumacoisa pelas alterações climáticas, perdemos aoportunidade de o fazer - dizia Mark Ruffalo (atorque faz de Hulk no filme Avengers da Marvel).A ideia: desligar as luzes. É esse o sinal queveicula a mensagem.A grande motivação? Pelas palavras de Obama(presidente dos EUA) no filme promocional:"somos a primeira geração que tem de lidar comas alterações climáticas e a última que podefazer alguma coisa por isso".Penso que este tipo de iniciativas tem a suaimportância, de modo a tomarmos cada vez maisconsciência dos desafios ecológicos queenfrentamos e que a pessoa comum pode ficaralheia. Não sei se desligar as luzes é o melhorsinal, sobretudo pelo desperdício de energia queisso acarreta, pois, podemos todos desligar a luz,mas isso não significa que essa não continue aser produzida. E, não sendo consumida, terá deser desperdiçada ... Por outro lado, muitos irãoacender velas que são constituídas por parafina,um combustível fóssil dos mais poluentes. Eucompreendo que a mensagem seja no sentido dereduzir o consumo de energia, mas segundoalguns críticos, não deixa de ser curioso que adivulgação desta iniciativa tenha dependido daelectricidade que, com a mesma iniciativa, sepretende "demonizar". Depois, ao desligar datecnologia, há quem observe que esta podepassar por ser

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uma iniciativa anti-tecnológica,quando serão, precisamente, asnovas tecnologias que mais irãocontribuir para a redução doconsumo de energia. Por último, éuma mensagem que pretendeiluminar as mentes, mergulhando-asna escuridão...Ao longo dos anos, osorganizadores do evento forammelhorando a forma de transmitiresta mensagem, pois, após aescuridão, cada pessoa podeacender uma luz e, hoje, existemalternativas às velas, como osLEDs, onde a energia vem de nósmesmos, podendo simbolizar que amudança depende de cada um denós. A minha dúvida é se os estilosde vida mudam alguma coisa após ainiciativa, e se esta não corre o riscode banalizar a mensagem com ainculturação de uma Happy Hour deboa disposição digna de fotos paracolocar nas redes sociais, masficando por aí.Talvez se o mesmo número de

pessoas experimentasse um diainteiro, ou mais dias, sem qualquerfonte de energia elétrica, seentendesse melhor o drama vividopor uma parte significativa dahumanidade que faz essaexperiência ano após ano. Talvez seo mesmo número de pessoasinvestisse em tecnologia quepermitisse reduzir substancialmenteo consumo de energia no seuquotidiano, o impacte fosse maissignificativo. Lembro-me do título dolivro de E. F. Schumacher "Small isbeautiful" quando penso que umpequeno ato de amor ecológicomultiplicado por milhões de pessoaspode, efetivamente, mudar o mundoe produzir a maior alteraçãoclimática de sempre: uma relaçãomais profunda entre nós e oambiente. Mas, para isso, é precisoum tsunami cultural. Porém, isso éum assunto que fica para umapróxima oportunidade.

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Cuidar da Criação

Para que as pessoasaprendam arespeitar a criação ea cuidá-la comodom de Deus. [Intenção universaldo Papa para o mêsde Abril]

1. A discussão sobre a existência ou não dealterações climáticas planetárias provocadaspela actividade humana está mais viva do quenunca. Para a maioria, trata-se de um factocientificamente estabelecido; mas um gruponão desprezível de cientistas defende tratar-sede uma teoria por demonstrar, tendo em contaa complexidade do clima terrestre e avariedade de factores que o influenciam. Emalguns casos, a origem humana das mudançasclimáticas tornou-se uma espécie de religião,sendo publicamente pedidas sanções para oshereges que a põem em causa. Noutros, arecusa desta origem leva a desvalorizar demodo acrítico a acção humana e as suasconsequências na natureza. 2. Nenhuma destas posições extremistas ésensata – mas compreendem-se numa culturaem que a ideia de “criação” deixou de ter lugar,e a Terra passou a ser olhada ou como umaespécie de “deusa mãe” agredida peloshumanos, ou como um enorme pedaço dematéria cujo fim é ser explorado até à exaustãopelos seus habitantes. Face a estes doisextremos, importa recuperar a sensatez deuma relação com o planeta como casa detodos os humanos, para ser cuidada eprotegida, de modo a continuar habitável. 3. O conceito de “criação”, próprio da tradiçãojudaico-cristã, é o mais capaz de proporcionar

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um equilíbrio na relação doshumanos com a Terra, pois implicareconhecer a naturezacomo dom criado por Deus econfiado aos humanos. Estatranscendência – não da criação,mas do Criador – torna o respeito eo cuidado pela natureza umaobrigação de todos, haja ou nãoalterações climáticas, porque acriação tem uma dignidade própria,fruto da sua origem exterior aoshumanos – os quais estãochamados a torná-la sempre maishabitável, não

a deixá-la intocada nem a explorá-lade forma insensata. 4. A Intenção do Santo Padre paraeste mês coloca a questãoprecisamente aqui: aprender arespeitar a criação, cuidando-acomo dom de Deus. Fora destaperspectiva, é tudo uma questão deinteresses ou de ideologias mais oumenos anti-humanas, mesmoquando se reivindicamprofundamente ecológicas.

Elias Couto

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Tempo de esperança

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

Como madeirense, estes têm sido dias muitoespeciais, no acompanhamento à distância dastransformações políticas ligadas à eleição doterceiro presidente da Região Autónoma. Deseja-se que o vencedor inaugure de facto uma novaforma de fazer política, como tem vindo aprometer, e sobretudo que o novo Governoentenda que o setor público está ao serviço dapopulação e que Estado não significa 'dopartido'.O arquipélago tem muitas especificidades queajudam a explicar fenómenos como o resultadodo movimento ‘Juntos Pelo Povo’, com tantosdeputados como o Partido Socialista, e também ocriticado falhanço das sondagens, eventualmentemal ‘calibradas’ face ao que é a realidaderegional. Certo é que o debate político secentrou, desde logo, nos vencedores e vencidosda noite eleitoral, esquecendo muitas vezes osproblemas e desafios que se colocam à novaAssembleia Regional, face às durasconsequências da crise que, como em todo opaís, se fazem sentir na Madeira e Porto Santo.O tempo de passar das promessas à ação éaquele que define a nobreza dos atores políticose o único, em última instância, que lhes poderádevolver o respeito e a estima que a populaçãofoi perdendo, desesperançada por tantosescândalos e discursos incoerentes, que hojeasseguravam uma coisa para amanhã fazer oseu contrário. Esta determinação de cumprir epromover o bem comum é que tem de ser, elasim, absoluta.

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O mundo continua a ser sacudidopelo desastre aéreo que provocou150 vítimas nos alpes franceses.Questiono até que ponto não serácontraproducente cumprir o desejode notoriedade de quem teráarrastado para a morte sereshumanos inocentes. Há outrashistórias a contar, embora situaçõescomo estas sejam noticiáveisapenas até certo ponto: o dramaindividual, a perda de um filho, nãose quantificam, mesmo quequeiramos, não se explicam. Decerta forma, perante toda ainformação que nos chega, só anoção de que estamos unidos nestabusca de respostas, na fragilidadedo

quotidiano, permiteestar efetivamente junto destaspessoas. E assim respeitar, contraventos e marés mediáticas, a suadignidade. Uma nota final menos ‘séria’, parasaudar o ambiente que se vive àvolta da seleção nacional de futebol.Foi possível ver na reportagemtelevisiva antes do jogo de domingo,contra a Sérvia, que muitos dos quese deslocaram ao estádio não eramsequer adeptos “fanáticos”,querendo apenas viver a festa dodesporto junto da equipa maispopular, neste momento, emPortugal. Que sirva de inspiraçãopara todos.

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Ressuscitar A celebração da Páscoa é o pano de fundodesta edição do Semanário ECCLESIA,que apresenta uma grande entrevistaao padre Nuno Santos, a estudar em Roma,sobre o significado da ressurreição no quotidiano.Esse mesmo ressuscitar que está por trásde várias histórias aqui contadas, desdea portuguesa que vai ser batizada pelo Papaa quem visita doentes, partilhandoos seus sofrimentos. Do Japãochega ainda um testemunhode um missionário portuguêssobre o que significa falarda nova vida em Jesusnuma cultura diferente.

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Papa Francisco «trouxe umaesperança» que já é «sinal de

ressurreição»

O Padre Nuno Santos, a completar um doutoramento na UniversidadePontifícia Gregoriana de Roma, falou com a Agência ECCLESIA

sobre a Páscoa, uma experiência de todos os dias.

Entrevista conduzida por José Carlos Patrício

Agência ECCLESIA (AE) – Atemática da ressurreição é o grandedogma da Igreja Católica? Padre Nuno Santos (NS) – Eu diriaque é um dos principais se nãomesmo ‘o dogma da Igreja’, se bemque temos de dizer sempre queentre ressurreição e encarnação háde facto uma dialética, uma relaçãopermanente entre um Deus que sefaz carne e um Deus que depoisressuscita, numa expressão quetemos que precisa de ser explicada, ressuscita na carne. Essa relação faz o essencial do dogmacristão, associadodepois ao da SantíssimaTrindade. Ou seja, estátudo relacionado, Deussendo Trindade faz-se

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carne no meio dos homens, habita anossa terra, acampa - como aexpressão grega insiste - no meiodos homens e este encarnar nahistória é um encarnar que depoisnos eleva na ressurreição. AE – O que é que significaressurreição? Estamos a falar deuma dimensão física ou espiritual?NS – Penso que entramos no temamais delicado e principalmente nalinguagem, a questão da linguagemé claramente uma questão difícil.Gostaria de começar por dizer o quenão é. Pensar uma ressurreiçãocomo a ressurreição de um cadáverpenso que é muito pobre eclaramente percebemos que não épossível. Um cadáver é uma matériacomposta, se quisermos, um corponeste sentido biológico, e chegadaa hora da morte a experiência quetodos nós fazemos é de facto a dadecomposição.Portanto, a ressurreição não éclaramente a ressurreição de umcadáver. Só que depois temosmuitas dificuldades com alinguagem, porque a gramática, emparte é imperfeita.Temos primeiro uma herançaprópria bíblica e cristã que juntaduas tradições, uma tradição da

imortalidade da alma, grega e muitona base do dualismo platónico,corpo e alma; e num quase discursoduplo, temos também a ressurreiçãodo corpo. E isso dificulta a nossaperceção hoje.É interessante que nós possamosdizer de forma mais simplificada queo que ressuscita é a pessoa, na suatotalidade, não o cadáver, não estadimensão biológica, os ossos, acarne que reveste os ossos, ostendões, tudo isso, não nessesentido mas no da totalidade dapessoa, ressuscita uma pessoa.É interessante também distinguir aressurreição da reanimação. Muitasvezes dizemos que Lázaroressuscitou, mas Lázaro nãoressuscitou, Jesus reanimou Lázaro,isto é, deu-lhe vida, ele retomou avida e depois mais tarde acabou pormorrer como qualquer outra pessoa.Jesus que morreu, não foisimplesmente reanimado, Jesusressuscitou isto é, ganhou vida novana comunhão da Trindade, ganhouvida nova e uma vida que depois semanifesta aos discípulos.

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se

AE – A questão do batismo comovida nova, também está ligada aessa ressurreição para uma vida emplenitude?NS – Diria que o batismo é o iníciodessa ressurreição. Quandocomeça a ressurreição seria umapergunta difícil de responder, mastalvez a nossa ressurreição comeceno batismo em Cristo, porque aícelebramos a morte para o pecadoe isso significa desde logo que opecado é a negação da vida,portanto nós no batismo celebramoso início dessa comunhão de vida. Éo início da ressurreição que depoisa plenitude atingimos com a nossaprópria morte biológica, e nessemomento diríamos que é a plenitudedo encontro, desse encontro quenos ressuscita inteiramente. AE – Na Bíblia há uma passagemque associa a questão daressurreição ao acordar de umsono. O que é que significa estasimbologia?NS – No Novo Testamento temostrês momentos em que Jesusenfrenta a morte humana. Um é namorte de Lázaro, o seu amigo e porquem ele chora, relatada numapassagem muito bonita doevangelho de São João, capítulo 11.Estamos a falar de um momentomuito intenso, em que

Jesus vê o seu amigo morrer.Depois, restabelece essa relação,há uma reanimação.Esse mesmo facto acontece com ofilho da viúva de Naim, aí Jesustoma a iniciativa. É muito bonitoporque Jesus vai ao encontrodaquela mãe que sofre, sem ela lhepedir nada, ao contrário de qualqueroutra circunstância, e oferece-lhe avida. Diz ‘o teu filho está vivo’.O terceiro caso de reanimação émuito forte, simbólica eexistencialmente, em termos deconceito metafórico, que é acapacidade de Jesus dar vida à filhade um chefe hebreu, Jairo. É muitointeressante porque todos à volta jáestão com sinais de cortejo fúnebre,as flautas que tocam em sinal demorte, e quando Jesus diz que ‘elanão está morta, está a dormir ’,todos gozam com ele e nãopercebem que a relação com Deusé mais forte do que a morte.Em todo o caso estamos aqui a falarnão de ressurreição, nestes relatos,mas sempre de reanimação, estaspessoas foram reanimadas.Eu sei que é difícil explicar isso, masnós temos hoje, até na Saúde,pequenos elementos que nos falamde como o toque, a relação, odiálogo,

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podem dar vida àquele que está nahora da morte.Quem cuida do doente, daquele queestá na hora da morte, muitas vezessabe da importância relevante emtermos de vida, de poder estar aolado. Porque as pessoas morremfundamentalmente também desolidão, de desespero, dedesilusão, de não terem futuro, deestarem sós. E Jesus o que nosdeixa é uma porta de ressurreição,um sinal de ressurreição.É que não deixemos ninguémadormecer sozinho, ninguém

sozinho numa cama de um hospitala morrer, que não sejamosindiferentes se quisermos usar estalinguagem muito própria, insistentedo Papa Francisco, porque aindiferença é que mata, ou matamais do que muitas doenças.E portanto Jesus deixa-nosclaramente um sinal de vida, o estarao lado. Ele toca na mão da filha deJairo e diz ‘Talita kum’, ou seja‘levanta-te e anda’, e este tocar,esta palavra é muito forte. Um Deusque nos toca é um Deus que nos dáa vida.

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AE – Estes episódios são sinaishoje de que as pessoas nuncaestão demasiado afastadas dasalvação de Deus, da suaesperança e misericórdia?NS – Esse sinal de esperança que aressurreição é para nós, cristãos, éclaramente a afirmação de um Deusque não desiste de nós, que cuidade nós a todas as horas e de ummodo muito especial na hora dasnossas ‘mortes’ e depois na hora danossa morte definitiva.

Muitas vezes dizemos que ocontrário da morte é a vida, umaexpressão comum entre nós. Mas seformos rigorosos, o contrário damorte não é a vida, é o nascimento,antes de nascermos já começámosuma vida, ainda que intrauterina.Portanto o primeiro sinal deesperança é esta vida que começa,a confirmação de que depois donascimento há vida. Desde quenascemos estamos a morrer mastambém estamos a ressuscitar, sequisermos.

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E esta presença de Deus é umapresença sempre de esperança,não de uma esperança distante,que um dia quando morrermos seconfirma, é verdade, mas umaesperança que se vive hoje no dia-a-dia, uma ressurreição que secomeça a viver hoje.Dando um exemplo muito concreto:os sacramentos ou a eucaristia deum modo tão especial, o que sãosenão um momento de ressurreiçãoe vida, de comunhão plena?É muito bonito todos os domingos,de um modo tão especial, nóscelebrarmos a ressurreição.Celebramo-la sempre que estamosna eucaristia, mas o domingo é oprimeiro dia da semana, o dia emque a comunidade se reúne parafestejar essa ressurreição. AE – O conceito da ressurreiçãocontinua a ser muito difícil decompreender por parte daspessoas. No Evangelho esteceticismo está representado pelasdúvidas de São Tomé. Como é quea Igreja pode esclarecer estasdúvidas?NS - Eu diria que a primeira coisa éque as dúvidas fazem parte da fé,quem não tem dúvidas não se

questionou. Quando nóscomeçamos a pensarprofundamente a fé que nos habitae a que celebramos, temos dúvidas,levantamos questões.Afinal o que é isso da ressurreição,o que é que ressuscita quandoressuscitamos, que parte de mim, éa alma, é o corpo… essasperguntas habitam-nos.Sobre o episódio de Tomé, ele éconhecido na Bíblia como o Dídimo,que quer dizer ‘gémeo’, e eu gostomuito dessa imagem porque todossomos um bocadinho gémeos deTomé, aliás no Evangelho nãosabemos quem era o seu gémeo.Portanto não sabendo dá espaçopara, numa abordagem muitoalargada, que se calhar cada um denós que aqui está hoje sejamos umbocadinho dessa dúvida.

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NS - Não é pecado ter dúvidas, nãoé mau ter dúvidas, elas fazem-nospensar mais profundamente. Aquestão depois é se não refletimosmais profundamente sobre ascoisas, isto é, se ficamos na dúvida,na ausência da comunidade, comoTomé nos primeiros oito dias,quando a comunidade se reúne aprimeira vez ele não estava.Não estar na comunidade significater a dúvida mas não a procurar,estar significa ‘tenho dúvidas masprocuro uma resposta’, não só pormim nem pela minha capacidadeintelectual, mas através da relaçãocom os outros.Porque a ressurreição é claramenteantes de mais uma experiência decomunhão, não a fazendo ficamosmuito mais fragilizados para depoispercebermos o que é aressurreição.Porque não é um conceitoabsolutamente abstrato ou teórico,a ressurreição é essa plenitude decomunhão e de vida com Deus ecom os irmãos, e nunca podemosesquecer isso, com Deus e com osirmãos.A experiência de Deus é umaexperiência profunda, umaexperiência muito interior emuito comunitária, e essaexperiência não se explica, isto é,também não posso

demonstrar a ninguém o que é aressurreição. Isso a Igreja já tentouvárias vezes e penso queerradamente, demonstrar que Jesusressuscitou.Mas posso mostrar, posso mostrarcom a minha vida. Foi assim quecomeçou o cristianismo, com 12vidas e mais, com todos os outrosdiscípulos que foram para oconcreto das suas vidas manifestar,mostrar o que é uma experiênciaprofunda da relação com Deus ecom os irmãos.E é isso que pode convocar alguémpara a experiência de Deus, e nãoapenas um silogismo qualquermental, racional, porque aressurreição e Deus não secompadecem apenas com umaabsolutização da razão. AE – É nessa experiênciacomunitária que a Igreja Católicatem que apostar hoje, no contextode um cristianismo maisenfraquecido, sobretudo naEuropa?NS – A Europa como contexto socialtem experiências muito fortes masestá muito instalada, e muitoenvelhecida. Por exemplo o contextoportuguês é muito envelhecido, nasnossas comunidades

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demograficamente continuamosinfelizmente a bater recordes de nãonascimento de crianças, compequenas oscilações é óbvio, commuita gente a emigrar e a sair donosso país.Todos estes contextos têm influênciana comunidade, porque comunidadeé comunidade humana. Umacomunidade humana que não tememprego, que se sente defraudadanas expetativas, que se senteobrigada a sair do seu país não poropção mas porque tem que ir àprocura de trabalho, que nãoencontra acolhimento nacomunidade cristã, na suaindiferença e no estarmosinstalados, também não se sentetocada.

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NS - Para mim como cristão e comopadre, e reconheço que outrosterão uma opinião muito maisfundamentada, a evangelização éuma comunidade que celebra bem,que é acolhedora e que tem no seupároco um homem presente na vidadas pessoas.É uma comunidade que só por sievangeliza, mais do que cursos,preparações teóricas sobreconceitos abstratos da ressurreiçãoou explicações teóricas sobre ocredo.Uma comunidade que não ésensível à realidade do outro não ésinal de ressurreição nem deesperança. E não o sendo,claramente não haverá mais nadaque assim possa resolver.Eu conheço muitas pessoas quefalam dessa experiência, que équando percorrem outros países esão acolhidas, o pároco acolhe àentrada, despede à saída, está umcristão e diz ‘não o conheço, estácá, precisa de ajuda?’. Quando nós viajamos, essa ajuda éjá um milagre, quando chegamos auma comunidade e alguém nospergunta o nome, para nós aressurreição é aquele encontro, éum pedaço de ressurreição, bementendido. E esse

para mim é um ponto que nós temosque refletir profundamente na Igreja.As pessoas querem Deus, disso eunão tenho dúvidas, as pessoas quepensam um bocadinho sobre a vidaquerem Deus, não sabem é como,têm medo, têm percursos que paranós não são o esperado, queríamosum percurso muito ortodoxo, muitocertinho, não.Esses caminhos já não existem, emabstrato, em totalidade. Mas Deustambém nunca quis isso, Jesus nomeio da Terra o que encontrou foias situações mais complexas, maisdiferentes e ele acolheu-as semprecom o mesmo coração.Eu gosto muito dos sacramentos,dos batismos, casamentos, dosfunerais, é estranho dizê-lo, massão para mim sempre momentos emque a comunidade é ou não é sinalde esperança.É ali que, na minha opinião e nãodescurando outras realidades, sejoga uma marca fortíssima da nossaidentidade cristã.

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AE – Acompanhando de perto emRoma o pontificado do PapaFrancisco, qual tem sido o seupapel nesta reanimação comunitáriada Igreja? NS – Tenho oportunidade de,estando em Roma, de contactarmais proximamente com a suaexperiência. É óbvio que ele, pelamediatização, acaba por ser muitosentido em todo o mundo, éverdade. Diria que um pormenorque muitas vezes não éreconhecido, é que o Papa falamuito bem, tem uma proximidademuito grande, mas o maior dom delenão é tanto a palavra, é mais ogesto, é a marca do gesto.

É ele saber que um gesto valemuitas palavras.O Papa trouxe uma esperança enão sei se nós, europeus, estamosa acompanhar essa esperança, seestamos preparados para o desafioem si, decorrente de muitas outrascircunstâncias, da nossa história, danossa identidade, do que somos.Também não temos que imitarninguém, temos que olhar para nóse permanentemente pedir a graçada conversão, mas é um homem daAmérica Latina, um jesuíta, umhomem que tem uma experiênciacomunitária muito forte, massobretudo um homem de sinais.

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NS - Antes tivemos uma experiênciamais da palavra, com Bento XVI,com muita profundidade e graça,mas que depois não nosgalvanizava como comunidade emgeral, porque pelo menos hojepodemos dizer que faltaram algunsgestos concretos.Agora com o Papa Francisco, é ogesto, a marca do gesto, de fazeraquilo que nós hoje muitas vezestemos dificuldade em fazer,ajoelharmos, beijarmos o pédaquele a quem lavamos os pés,visitarmos quem está numa favelaou bairro de lata.Ir, como agora em Nápoles e tiveoportunidade também de estar aí,almoçar com os presos, o modocomo o Papa começa o diálogo ali‘chegámos atrasados, estamos paracomeçar’, já não me recordo daspalavras precisas, mas ‘vamoscomeçar e depois conversamos’.Não há formalismos, e não se pedeisso a um Papa, a um Papaesperava-se um formalismo, o sairno seu carro diplomático, ele comosabem tem o carro mais simples doVaticano, muito mais modesto doque todos os outros, tem umapostura permanentemente

simples, e isso marca as pessoas.As pessoas estão cansadas doformalismo e do discurso semprática concreta, sem gestosconcretos, acho que isso é que nostoca, pessoalmente isso marca-mebastante, como cristão em primeirolugar, e como padre. AE – Será muito ousado dizer que oPapa Francisco está a mostrar osignificado da ressurreição hoje?NS – Penso que o Papa Franciscoestá a aproximar o cristianismo davida concreta das pessoas. A certaaltura, na Europa em particular queé a realidade que conheço melhor, ocristianismo passou a parecer quaseuma elite existencial, não apenas depessoas mas de acontecimentos.Eu ao domingo vou à missa, naSemana Santa participo em algumascelebrações, ou assisto numaperspetiva mais errada. O PapaFrancisco penso que tem tido acapacidade de agarrar nocristianismo e torná-lo quotidiano,de uma forma ainda mais visível.Aliás, segue aqueles que têm sidoos passos de Jesus e de tantosapóstolos ao longo da história. Oque ele faz é

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simplesmente dizer que a eucaristiadiária, a relação com o outro, tudoisto é sacramental, pode ser sinalde Deus. E nesse sentido sim, diria,tudo isto é sinal de ressurreição.Só quem vive profundamente aressurreição e se deixa tocar por elapode ter uma vida assim tão plena.Isto é próprio dos santos, a Igrejaestá felizmente cheia de histórias desantos.Mas há testemunhos hoje de gentena Síria, no Afeganistão, na Nigéria,de cristãos em tantas partes domundo que são perseguidos, noIraque, na República CentroAfricana, em tantos lugares.Gente que está a serpermanentemente perseguida, queveem os seus familiares a seremmortos, e continuam com umaesperança cristã.Que resposta é que podemos dar aesta gente, que não no mínimovivermos no quotidianoagradecendo a Deus o tanto quenos é dado e principalmentepodendo rezar com eles e por eles,pedir a graça de que essetestemunho tão grande possa tocara nossa vida, para nos

Só quem viveprofundamente aressurreição e se deixatocar por ela pode teruma vida assim tão plena.Isto é próprio dos santos,a Igreja está felizmentecheia de histórias desantos. desacomodar e darmos umbocadinho de nós. E o Papa nissodiria que é muito lúcido.Os seus gestos, penso que é claropara ele, são muito anunciar essaesperança, esse entusiasmo.E eu sinceramente gostava que aressurreição representasse esseentusiasmo, essa vida que traz umavida dentro que dá sentido, que é opróprio Cristo ressuscitado, e é esseo contexto que eu vejo no PapaFrancisco.

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AE – Que experiências deressurreição é que já teve na suavida?NS – Pessoalmente tenho aexperiência do contacto com amorte, que me marcou semprebastante, não só de familiares, dealguns amigos. Tive oportunidadede estar durante oito dias, ainda nofinal do meu percurso de seminário,numa unidade de cuidadospaliativos a fazer um trabalho sobreo luto e a acompanhar aqueles quemorriam, e isso marcou-me sempremuito.E nessa hora os sinais daressurreição são muito mais visíveis.Para mim ela tem a ver com essavida que se sente e se ganha nahora da morte, quando o cenário éapenas a desilusão ou a morte.Tenho a experiência de muitosdoentes que visitei e acompanhei,que me contaram vidas, muitaspessoas que em horas dedesespero, desanimadas, emdepressão ou angustiadas, em quedepois do diálogo houve umaesperança diferente.E depois já um ou outro caso muitotocante, um exemplo muito simplesque há tempos me contaram, queeu já não me recordava, um familiar.Alguém que estava há alguns anossem falar, e que depois da visita

do padre, do diálogo com ele, de lhelevar a esperança, essa pessoavoltou a falar.Este é um pequeno milagre que nãoé nosso, que é de Deus, um Deusque se serve da comunidade, decada um de nós, para levar umbocadinho mais de vida a cada umdos outros. AE – O padre Nuno Santos tem umblogue onde vai apresentando assuas reflexões. Que papel é que asnovas tecnologias podem ter naapresentação da ressurreição e damensagem cristã?NS - Para já escolheria um primeiroaspeto que é a questão dalinguagem. A linguagem que usamosem Igreja, de um modo geral e emcontextos muito formais, é umalinguagem que já não comunica outem um poder de comunicação muitoreduzido.Hoje precisamos de novasmetáforas, de aprofundar muito bemos conceitos, até no sentido maisprofundo e teológico, e o Papa nissoacaba por dar uma ajuda, comalgumas comparações que faz.Eu estudo Dogmática, é uma áreaque gosto e é uma oportunidadeque a Igreja me permite deaprofundar conceitos mais difíceis, oque depois

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permite-me usar metáforas maisajustadas.Isto não é de hoje, o São Pauloquando teve de falar deressurreição na comunidade doscoríntios, e encontramos isso nocapítulo 15, o que ele diz é ‘o que éum corpo?’.Por exemplo a palavra corpo é umaimensidão, às vezes não pensamos,há o corpo docente, que é umaentidade, há o corpo de bombeiros,há um

corpo de polícias, há umaidentidade.E São Paulo vai desconstruindo asimagens para depois as construircom um exemplo muito bonito, que éaquele da natureza: ‘lançar asemente à terra e se ela não morrenão nasce vida’. Isto é umaexperiência do dia-a-dia para aquelagente, todos quantos estão a ouvirsabem o que é lançar a semente àterra e ela renascer.

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NS - Hoje faz algum sentido euchegar a uma cidade e dizer ‘lançara semente à terra e que elarenasça’? Se estiverem lá pessoasde 80 anos, que eram das aldeias,talvez a ideia passe. Mas seestiverem jovens da minha idade oumais jovens do que eu, se calharnão passa. Eu ainda sei porquenasci numa aldeia, mas quantosdestes, os meus sobrinhos ououtros, sabem efetivamente o que élançar um grão à terra que depoisrenasce?Temos de encontrar novasmetáforas, este é um primeiroaspeto muito importante.Depois elas têm também de atingirnovos contextos. Eu uso astecnologias, haverão outros que têmoutra perspetiva, há muitaciberteologia, muita reflexão nessesentido.Mas considero-as para já, se calharpobremente, apenas como uminstrumento, sou mais do concreto,do real, e o virtual é apenas uminstrumento para chegar a isso, masessas metáforas têm que ocuparnovos contextos, novos espaços.

Os blogues, os twitters, o facebook,tudo isto tem que estar lá, com alinguagem de lá. E aqui começao problema, porque muitas vezespomos os conceitos lá com alinguagem de outro tempo.E é como andar com uma roupa doséculo XVIII, é bonita mas não é dehoje, e então parece um museu. E aIgreja tem esta dificuldadepermanente das novas metáforas.O segundo ponto, para mim maisimportante do que este, é o gestoconcreto, é uma Igreja que faz umgesto antes de dizer a palavra, queantes de anunciar o que se devefazer já o fez.Devemos ser misericordiosos, eessa Igreja que o diz já o é.Devemos ser alegres, e essacomunidade já o é.

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O convite do Papa para uma vidanovaA portuguesa Helena Lobato, daDiocese de Setúbal, parte hoje parao Vaticano, onde no sábado vai serbatizada durante a vigília pascalpelo Papa Francisco.Em entrevista à Agência ECCLESIA,a pintora de 44 anos confessa-secom “nervoso miudinho” pela“cerimónia pública” mas calma eentusiasmada em relação aoencontro com o Papa e à receçãodo sacramento, um “momentoparticular, seu”.“Acho que vai ser um dia muito feliz,uma reorientação, um ponto deviragem na vida, com uma novamaneira de estar, maisacompanhada e com maisferramentas para seguir caminho”,confidencia a artista.Tudo começou há mais de um ano,quando Helena Lobato decidiuescrever uma carta a Francisco,numa altura em que atravessava umperíodo mais difícil. Apesar de nãoestar ligada à Igreja, a maneira deser do Papa argentino, simples epróxima dos problemas daspessoas, encorajou-a àquele gesto,quase de forma “inconsciente”, naemoção do momento.Para a pintora radicada em Setúbal,Francisco era “sinal de uma Igreja

diferente”, capaz de ir ao encontrodo “sofrimento” das pessoas, noquotidiano.Um sentimento que confirmou com aresposta do Papa argentino, que aconvidou a acolher uma nova “luz”,sendo batizada por ele em Roma.“É essa a esperança que o Papanos passa, por vezes na Igreja haviaum distanciamento que levava aspessoas a esmorecer. Aquilo queaconteceu comigo acho que seriaimpensável em outra fase da Igreja,esta abertura, a receção que oPapa faz a muitas pessoas, a suapostura toca almas e corações epuxa, tem um magnetismo muitogrande”, realça a catecúmena.Uma vez no Vaticano, Helena Lobato

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vai sábado de manhã à Basílica deSão Pedro para conhecer efamiliarizar-se com osprocedimentos da cerimónia debatismo.A acompanhá-la vai estar o padreJosé Gil Pinheiro, pároco da Covada Piedade, onde Helena sepreparou para receber osacramento da iniciação cristã, eque vai ser também padrinho daartista.O sacerdote destaca uma “históriade conversão, de alguém que foitocado por Deus e que seaproximou da Igreja”.“Graças a Deus a Igreja tem tidovárias experiências destas. O quefaz a história da Helena serdiferente é ela

ter escrito ao Papa e eleresponder com um convite. É umsinal de uma Igreja que está abertae que convida a descobrir Jesus”,apontou.Já José Peneda, um doscoordenadores do grupo depreparação para o batismo deadultos que acolheu Helena Lobato,destaca o facto de “cada vez maispessoas procurarem a Igreja naidade adulta”.“Há uma semente, um sentimentodentro delas, e nós alimentamosesta semente”, frisa aqueleresponsável.Já sobre o gesto do Papa, acreditaque ele contém “muitosensinamentos”, assim saiba a IgrejaCatólica “descodifica-la e pensá-la”.

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O renascimento fundadoem amizades verdadeirasJosé Dias, funcionário daComunidade Vida e Paz há trêsmeses, recorda um processo derenascimento depois de viveremoções fortes pela perda doemprego, dos pais, e a passagemcurta mas “difícil” pela condição desem-abrigo.“Depois de estar aqui quase trêsanos foi-me dada a oportunidade depassar a funcionário, isso é umrenascer e o mais importante”,explicou José Dias.À Agência ECCLESIA, revela quenão está “diferente” mas “maispreparado, consciente para a vida”porque passou por situações queapenas conhecia de ouvir falar masnão as tinha vivido.“O tempo de rua e aqui acrescenteià minha vida experiências que aenriquecem, não sei se fazem demim melhor pessoa mas pelo menosmais rica”, acrescenta oentrevistado que depois de seismeses na Comunidade Vida e Paz(CVP) “estava mais restabelecido”do seu estado emocional eencontrou “paz”.Neste contexto, José Dias consideraque “cresceu” com as dificuldades edescobriu o verdadeiro significadoda palavra amigo porque estes

encontram-se quando a pessoa“está mal”.“Aqui encontrei pessoas que não meconhecia de lado nenhum e ao fimde pouco tempo, sabendo asminhas dificuldades e necessidades,ajudaram-me sem eu pedir”,desenvolve quem agora “prezamuito mais” o significado destapalavra.Outro fator que ajudou no processode reaprendizagem e renascimentodo entrevistado foi participar naoficina de olaria, uma área “que jágostava” e frequentemente ia aexposições.O agora funcionário da ComunidadeVida e Paz, na Quinta do EspiritoSanto, em Sobral de Monte Agraço,recordou um percurso de vidaestável, fundada em alicercesfamiliares fortes, que começou adesmoronar quando ficoudesempregado e passado poucotempo o pai faleceu.As duas situações, por volta dos 41anos, destabilizaram a vida de quemprofissionalmente fazia medições eorçamentos de obras de construção civil.José Dias conta que foi viver com amãe, que era o seu “suporte de vidasobretudo emocional”, que ao ver o

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filho desempregado perguntava-lhe:“O que será de ti meu filho quandoeu falecer?”Foi este acontecimento, há trêsanos, e o facto de estar “desiludidocom a vida” porque não encontravatrabalho que resultou na “pior fase”da sua vida onde passou, durante12 dias, pela situação de pessoasem-abrigo até encontrar ajuda naCVP.“Pedir ajuda não custa, tem que seter coragem, temos de assumir queprecisamos. Difícil era o que mexiainteriormente, a autoestima a

destruir. Sempre ouvi falar dissomas agora era eu”, explica.Para o interlocutor “complicado” nãofoi viver na rua mas gerir asemoções, “o que se vê, asconversas que se ouvem, sabercomo lidar com as pessoas”.José Dias disse ainda que quandoassinou contrato com a CVP,escreveu na rede social Facebook àsua mãe, para dizer que “com aajuda de alguém ia recomeçar avida”.“Agora acredito que já está adescansar em paz”, concluiu.

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A escrita para a ressurreiçãoA escritora Maria Teresa MaiaGonzalez percebeu “aos poucos”que Deus lhe dava a conhecer a“missão” de escrever através de umprocesso de construção eintervenção em áreas como a“espiritualidade”, que ajuda asuperar as dificuldades.“Todos somos templos emconstrução e é para mim umprivilégio poder ajudar a construiresses templos maravilhosos quesão os seres humanos. Aespiritualidade é o grande tema quemais me interessa desenvolver nacriança e no jovem”, explica àAgência ECCLESIA.Para a autora de livros paracrianças e adolescentes o “campodos afetos” e os “combates do dia-a-dia” são áreas que fazem partedos assuntos que aborda nos seuslivros onde percebe-se que asituação de dor - doença, divórcios,abandono, medos – está associadaa um processo de ressurreição, deultrapassar as dificuldades.“Não é possível fazer isso sem falardas perdas. Elas podem causargrande sofrimento, e causam, massão elementos indispensáveis naconstrução do templo que todosestamos destinados a ser”,considera Maria Teresa MaiaGonzalez, para

quem Deus “não espera menos” quetodos sejam menos do que “templosgrandes, catedrais”.Neste processo, a escritora comentaque antes existem “muitos combatesa travar” onde é preciso “aprender”a lidar com as perdas e a perceberque mesmo no “falhanço” se podeaprender, por isso, a situação demorte, integral ou não, prevê a“ressurreição, o ressurgir mais forte”.“Sou cristã, católica, tenhoesperança e o fundamento é Cristoque ressuscitou e me prometeu aressurreição”, acrescenta.Como escreve nas histórias dosseus livros, Maria Teresa MaiaGonzalez acredita que um “desaire”pode contribuir para que a pessoasaía “mais forte, mais capaz, maisresiliente” e é isso que tentatransmitir, a “esperança” e a ideia deaprendizagem a partir das perdas.

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Para a entrevistada esta missão deajudar através da escrita é“fundamental”, uma vez queconsidera “errada” a ideia desucesso transmitida pelos meios decomunicação social e mesmo nasescolas.“Para alguns jovens ter sucesso énunca perder, é ganhar muitodinheiro, ter roupas na moda, sermuito bonito e quando perdemalguma destas coisas transforma-senuma fatalidade sem solução”,exemplifica.Segundo a autora “é preciso ajudar”

a construir seres humanostransmitindo a ideia de que osucesso “é uma conquistapermanente” e ser feliz “não tem aver com o não sofrer”.Neste contexto, os livros de MariaTeresa Maia Gonzalez veiculamvalores, e valores cristãos, “àsvezes” sem que os leitores“percebam” porque estes podem“nunca ter ouvido” falar neles.“Em certas escolas, bibliotecas, dá-me a sensação que os pais nuncafalaram de certos valores e osprofessores agradecem porque elesprecisavam”, disse ainda.

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De uma vida desregradaà ressurreição do encontroJoaquim Mexia Alves foi-seafastando da Igreja Católica, daeducação dos pais, no início de vidaadulta, tendo vivido “sem sentido”,mas antes do “abismo” sentiu quedevia mudar e tornou-se apóstolodos outros.“Houve alguma coisa que me fezsentir que deveria mudar. Foirelativamente simples porquelembrei-me da maneira como tinhasido educado e na hora do almoço,sem ninguém, ia sentar-me econversava com o sacrário, ou comDeus, na Igreja Matriz de MonteReal”, começa por recordar àAgência ECCLESIA.O entrevistado revela que foipercebendo que havia umapresença que lhe “dava forças paraconseguir mudar” porque viu-se acair “num abismo” do qual “nãoconseguiria sair” e começou aresistir a algumas situações.Neste percurso conheceu o padreLapa, do Movimento CarismáticoCatólico, a quem escreveu a pedirajuda e foi convidado para assistir auma assembleia do Renovamento

Carismático da Pneuma Vita, emFátima.“Fui desconfiado mas espantou-me.A certa altura pensei que estava nomeio de gente meia louca, amaneira como o movimento rezamas fui-me sentido bem, que deviaficar ali”, disse José Mexia Alves,atualmente coordenador da equipadiocesana do RenovamentoCarismático de Leiria.“A espiritualidade muito aberta elivre mas muito preenchida e cheiado movimento ajudou-me apercorrer um caminho”, acrescentaquem sentiu Deus e Jesus Cristo“muito próximo”.“Estava ali para me abraçar,acompanhar, não queria que eudeixasse de ser o Joaquim que eramas que algumas prioridadesmudassem para ser mais feliz”,observa o também coordenador docurso Alpha na Vigararia da MarinhaGrande.Neste contexto, fala “quase” de uma“ressurreição” porque teve uma vidanova a partir do momento quedeixou-se “encontrar por Deus” e “Oencontrou”.“Uma vida nova, com sentido,

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direção, sobretudo não só paraDeus mas em Deus para os outros.Para pensar nos outros e em tudoaquilo que no reúne”, acrescenta.Segundo Joaquim Mexia Alves umdas partes “importantes” destecaminho foi o “entendimento do queé a Igreja verdadeiramente” econsidera que se tornou umapessoa “bem mais bem-disposta emais alegre”.“A alegria não da gargalhadaruidosa mas de Deus, serena etranquila. A

Igreja dá-nos a dimensão devivermos em comum, perseguirmosos mesmos valores, vivermos juntospara o mesmo Deus e com Elepresente em nós”, desenvolveu.O interlocutor, que desde há um anoajudou a criar um grupo de reflexãopara divorciados ou recasados,comenta ainda que esta mudançatornou-o apóstolo para os outros aquem “tenta dar” o que recebeu deDeus, a “ressurreição neste mundo”.

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A obra de misericórdia de serpalavra, companhia e sentido depertençaA Paróquia do Campo Grande, noPatriarcado de Lisboa, procura queos seus voluntários em saúde sejamrosto e palavra da comunidade navisita às pessoas doentes rompendoo silêncio, solidão e sofrimento como “remédio” de Cristo.“Alegram-me sempre. Penso que memudam um bocado aos domingos.Há sempre qualquer coisa de bomque vem depois daquele momento”,explica Cristina Allen Revês, sobre avisita semanal.A paroquiana do Campo Grande

sofre com uma doença que aimpossibilita de sair de casa durantelongos meses, mas revela quemesmo estando “muito longe dosrestantes fiéis”, no momento davisita “não” e “não é só a Manuela(visitadora) que vem”.À Agência ECCLESIA, a professorareformada, que também foipsicóloga na luta contra a droga,assinala que aos 72 anos continuacom “força de viver” e preocupa-secom o mundo à sua volta.Por isso, as conversas com a

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visitadora são também sobre aatualidade, de “tudo”, passando por“receitas de culinária”, sobre “osamigos e das missas”.Manuela Leitão comenta aresponsabilidade do seu serviço erevela que quando a outra pessoaestá triste tem de ser alegria, dá acomunhão mais cedo e depois“conversa muito mais à vontade”.“A Comunhão muda muito e pensoque depois de sair da igreja, daparóquia, tendo recebido aComunhão do prior sinto-me umapartícula de Missa que vem a casada doente”, assinala a visitadora,que faz

voluntariado em saúde há cerca de15 anos.Já a coordenadora do voluntariadoem saúde, da paróquia lisboeta,explica este serviço tem duascomponentes, uma “muito humana”de dar à pessoa a possibilidade deconversar e a outra de ajudar essamesma pessoa a ter uma “noção depertença a um grupo, de sentido devida”.“Visitar doentes é a maneira quetemos de fazer com que as pessoasque não podem sair de casa e estãono fundo afastadas sintam-se dentrodeste corpo que é a Igreja e possamter algum nível de sociabilização”,frisa Helena Presas.

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Ressurreição em japonêsComo apresentar o tema daressurreição na complexidade docontexto cultural japonês? Épossível dialogar com a (mais oumenos) indiferente sociedadejaponesa no que diz respeito àquestão religiosa e – concretamente– à ressurreição? Eu diria que seránecessário rever a metodologia. O«rever a metodologia» implica oprocurar meios que nos ajudem apermitir que novas ideias desafiemas nossas convicções, para quepossamos descobrir Deus emcaminhos nunca antes imaginados,como diria o

teólogo norte-americano StanleyHauerwas.A ressurreição está intimamenteassociada a elementos históricos,mas transcende tempo e espaço.Não se trata de um mero evento dopassado ou que acontecerá nofuturo, depois de terminarmos onosso tempo neste mundo; aressurreição terá de serexperimentada no nosso quotidiano.A solidariedade no sofrimento – osofrimento voluntário pelos outros –é o testemunho mais poderoso dacompaixão de Deus através damorte e ressurreição de Jesus,evento que

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acontece totalmente na cruz.Viveremos momentos deressurreição se entendermos osímbolo da cruz como assunção detodo este mistério e se fizermosmemorial de Cristo na nossa vida,porque, no dizer da teóloga alemãDorothee Sölle, enquanto Cristoviver e for recordado, os seusamigos estarão ao lado da pessoaque sofre.Este impacto prático da ressurreiçãona nossa vida quotidiana comotestemunho da compaixão divinaestá nitidamente patente na ficçãodo escritor católico japonês Sh?saku End? (1923-1996),principalmente na solidariedade como fraco e no perdão do traidor.Acredito que este tipo deressurreição deverá ser realçado nocontexto de reinterpretação e

inculturação, para um diálogointercultural e inter-religioso eficaz,principalmente no contexto culturalnipónico. Penso que um dos pontosde partida para o aprofundamentodeste tipo de ressurreição comimpacto prático na nossa vida diáriaserá a ficção, pois esta ocupa-se dedramas próprios do campo pré-religioso do ser humano. Aí estão asbases antropológicas e,provavelmente, será aí – no campopré-religioso – que chegamos à soleira do nossoencontro com o diferente no solocultural e religioso japonês e – quemsabe – o elo de ligação entre aressurreição de Cristo e a nossaprópria ressurreição diária.

Adelino AscensoSociedade Missionária da Boa Nova

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Ressurreição e fé cristã segundoBento XVIO Papa emérito Bento XVI afirmavana sua obra «Jesus de Nazaré. DaEntrada em Jerusalém até àRessurreição» que “a fé cristã ficade pé ou cai” por causa da verdadeda sua doutrina sobre aressurreição de Cristo.“Se se suprimir isto, certamente queainda se poderá recolher datradição cristã uma série de ideiasdignas de nota sobre Deus e ohomem, sobre o ser do homem e oseu dever-ser (uma espécie deconceção religiosa do mundo), masa fé cristã estará morta”, assinala,no livro publicado em 2011.“Nesse caso, Jesus será umapersonalidade religiosa falhada”,acrescenta.Joseph Ratzinger considera que a féna ressurreição “não contesta arealidade existente”, mas afirma“uma dimensão ulterior”, sem queisso esteja “em contraste com aciência”.“Só poderá verdadeiramente existiraquilo que desde sempre existiu?”,questiona, antes de declarar que“na ressurreição de Jesus, foialcançada uma nova possibilidadede ser homem, uma possibilidadeque interessa a todos”.A obra refere que a ressurreição deJesus foi “a evasão para um génerode vida totalmente novo, para umavida já não sujeita à lei do morrer

e do transformar-se, mas situadapara além disso – uma vida queinaugurou uma nova dimensão deser homem”.Para Joseph Ratzinger, “se naressurreição de Jesus se tratasseapenas do milagre de um cadáverreanimado”, em última análise issonão interessaria “de forma alguma”.“Para as poucas testemunhas –precisamente porque elas própriasnão conseguiam capacitar-se disso–, foi um acontecimento tãorevolucionário e real, tão poderosoao manifestar-se-lhes que toda adúvida se desvaneceu, e elas, comuma coragem absolutamente nova,apresentaram-se diante do mundopara testemunhar que Cristoverdadeiramente ressuscitou”,prossegue.Bento XVI afirma que o sepulcroonde Jesus foi colocado após acrucifixão tem de estar vazio, atéhoje, vendo nisso “um pressupostonecessário para a fé naressurreição”.O segundo volume da trilogia deJoseph Ratzinger sobre «Jesus deNazaré» assinala que “se o sepulcrovazio, como tal, não podecertamente provar a ressurreição,permanece porém um pressupostonecessário para a fé naressurreição, uma vez que esta serefere precisamente ao corpo".

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Detalhe de painel central do «Tríptico da Ressurreição» de Hans Memling(c.1485) “Essencial é o dado de que, com aressurreição de Jesus, não foirevitalizado um indivíduo qualquermorto num determinado momento,mas se verificou um salto ontológicoque toca o ser enquanto tal”, apontaainda. Esta questão, sublinha, é "oponto decisivo" da sua pesquisasobre a figura de Jesus.O Papa emérito lembra que “erafundamental para a Igreja antigaque o corpo de Jesus não tivessesofrido a decomposição” e destacaa própria deposição no sepulcro, arespeito

da qual aborda, brevemente, o temado Santo Sudário.Três Evangelhos (os chamadossinópticos, dada a sua semelhança)falam num lençol com o qual seenvolveu Jesus, mas o texto de SãoJoão usa o plural – “«panos» delinho” - segundo o uso judaico.No capítulo da obra dedicado à«ressurreição de Jesus da morte»,Bento XVI refere que a mesma“ultrapassa a história, mas deixou oseu rasto na história”.

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Procissões com flores e criançasassinalam a Ressureição de Jesus noAlgarveNo Algarve, as celebrações doDomingo de Páscoa assumemparticular relevância, já que nestaregião tem lugar uma procissãoúnica no país: a Procissão dasTochas Floridas (S. Brás deAlportel), ou Procissão Real(Monchique e Silves), ou Procissãodas Flores (Silves), ou Procissãodas Campainhas (S. Clemente,Loulé), ou Procissão do Triunfo, ouProcissão da Ressurreição deCristo, ou, ainda, Procissão doSantíssimo Sacramento (Lagoa).Esta procissão assinala, seja qualfor a sua designação, a vitória deCristo sobre a morte e a Suarealeza.Os dados relativos às celebraçõesda Páscoa existentes no Algarveestão disponíveis no site da Diocesedo Algarve (www.diocese-algarve.pt/) ou o site da PastoralDiocesana do Turismo(www.turismo.diocese-algarve.pt/).Particular destaque tem a Procissãodas Tochas Floridas que se realizaem S. Brás de Alportel.Para além do seu sentido religioso,ela comemora um dos mais heroicosacontecimentos históricos doAlgarve: a expulsão, pela confrariados

moços solteiros, das tropas inglesascomandadas pelo duque de Essex,que em Julho de 1596 saquearam acidade de Faro e o seu termo.Outrora, as confrarias eramobrigadas a levar uma tocha acesaou luminária e opas vestidas.Posteriormente, a falta de ceralevou ao aparecimento de pauspintados e ornamentados comflores, no cimo do qual se colocavauma pequena vela. Mais tarde, como desaparecimento das confrarias,permanecem na procissão os pausenfeitados, as lanternas e as velasacesas ao lado do pálio e as opas,que ainda hoje são trajadas peloshomens que transportam o pálio.No final, as “tochas”, simples hastescoloridamente decoradas com flores(ramos de alfazema, rosmaninho eflores campestres) e transportadasexclusivamente por homens que eformam as alas da procissão, sãoprostradas na calçada juntando-seao vasto tapete florido, magníficotrabalho de mãos voluntariosas,sobre o qual o sacerdote caminhadurante mais de 1 km, ao mesmotempo que carrega o Santíssimo,numa Custódia. Para construir estaverdadeira

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obra de arte, são precisas trêstoneladas de flores, num trabalhoque resulta do esforço de umacentena de voluntários.As colchas nas janelas, as varandasengalanadas e o tapete florido,completam o cenário de uma dasmais belas e genuínas procissõesdo país.

Em seguida, o prior celebrauma missa campal à qual assistemmilhares de fiéis, na mais completadevoção.Também se realiza um concursoescolher as mais belas tochas evarandas da procissão, estratégiadefinida para melhor preservar estepatrimónio etnográfico de S. Brás.

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Páscoa é o teu nome Se percorres o deserto da noite só procurando a Luz,O Amor te diráQue ela está acesa já, na vontade do Pai; Ela virá. Se te diriges ao túmulo vazio perguntando pelo Teu Senhor,O Amor diráO teu nomeE tu o d’Ele. Se perguntas ao dia terceiro por que se calam as humanasvozes, os olhos não veem e o coração não acredita,O Amor te contará uma história de amorE sentirás arder o teu coração. Se perguntas ao Forasteiro, que contigo caminha, para onde vaie se não quer pernoitar contigoEle em tua morada entraráPartirá o pão, o abençoará e to entregará.Os teus olhos se abrirão e reconhecerás o Teu Senhor. E, se Lhe perguntas qual é o Seu nome,O Amor te dirá:Eu e tu, sempre. Eugénia Magalhães25|03|2015

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Olhar a Quinta-feira SantaA Quinta-feira Santa é um diaespecial em que os sacerdotes sereúnem, de manhã, à volta do seubispo na missa crismal e, ao fim dodia, recordam a instituição daEucaristia, onde é integrada acerimónia sugestiva e humilde dolava-pés. A Ecclesia procurou juntosde consagrados o significado destedia.A irmã Victória Monteiro é Escravada Santíssima Eucaristia e Mãe deDeus, consagrada há 23 anos, olhapara este dia em que valoriza ogesto de lava-pés.“Desde criança que este dia memarcou ainda nem eu sabia que iaser consagrada”, afirmou a irmãentre risos.O gesto de lava-pés é o que mais achama a atenção porque sintetizatoda a vida, toda a entrega deJesus, a humildade de servo” edepois as palavras Amai-vos unsaos outros como eu vos amei e opeso que vão ganhando na minhavida.É um dia que “preenche” estaconsagrada por também ser o diada Eucaristia, o “centro do mistério”,como diz.Já o consagrado marista, Irmão

António Leal, destaca o serviço e afraternidade presente neste dia e nasua vocação de irmãos.“Este é o dia do Mandamento novo:Jesus está com os seus, com a suacomunidade e dá-se todo a eles”,afirmou à Ecclesia.Através do olhar de 50 anos deconsagrada a irmã Julieta Dias, doSagrado Coração de Maria, intitulaeste dia como a Páscoa antecipada,o dia de entrega da vida.“A Quinta-feira Santa é para mim aPáscoa antes da Páscoa porque é odia em que Jesus se dá emalimento: dai-vos em alimento e dai-vos em serviço”, recorda aconsagrada.A morte de Jesus foi porque ele fezisso, era junto dos doentes,pecadores, cegos, coxos emarginalizados e dava-lhes vida,“alimentava-os, fazendo que a vidafosse mais vida”.Mas este dia recorda aquelemomento em que ele, juntos dosamigos próximos, ele se despediu edisse “como eu fiz, fazei vóstambém”, frase que a irmã Julietarecorda através do serviço.“É no alimento que eu tento ser

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para os outros, no serviço que eufaço em favor dos outros, é aí queencontro a vida, a vida verdadeira,que é a Ressurreição”, conta.É também a Quinta-feira Santa quemais entusiasma o sacerdotecarmelita Jeremias Vechina, o dia daEucaristia.“É o dia da Eucaristia, o maior domque Deus deu à sua Igreja, o

seu filho, e o dia do sacerdócio, poisnão há Eucaristia sem sacerdote”.Mas o consagrado de 74 anosrecorda que tudo isto tem de servivido em função da Ressurreição,“senão não faz sentido”.Perspetivas diferentes deconsagrados sobre este dia queinaugura o Tríduo Pascal deste anoda vida consagrada.

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ABC da Vida Consagrada (8ª parte)VocaçãoA Vocação Batismal vive-se demuitas maneiras e por muitosCaminhos, são muitos os dons eserviços, (ministérios) com que oEspírito enriquece a Igreja. Procurardescobrir a vontade de Deus para avida é a missão de cada cristão,mas neste mundo nem sempre sepercebe a vontade de Deus comocritério de felicidade. Viver a vidaem chave vocacional é: assumir asantidade como projeto de vida;confiar no amor do Pai, seguir oexemplo de Jesus, deixar-se guiarpelo Espírito Santo; aceitar asmediações, aferir a vida com alguémque me possa dar uma orientaçãoespiritual; ser assíduo aossacramentos; estar atento àsmoções interiores, aos apelos doEspírito. E entender que nasdiversas vocações: no matrimónio,como leigo, missionário, sacerdote,ou como consagrado/a, cada umtem um caminho único para viver avontade de Deus.

Xadrez, o mesmo quecalabouço, grades,clausuraA clausura papal faz parte da vidadas Monjas, ou monges, o quedenominamos de Vidacontemplativa, é um espaçoreservado à comunidade, ondevivem os seus votos, durante a suavida, exceto alguma saída pormotivos extraordinários, segundo oparecer do superior e o direitopróprio. As grades físicas, existentesnalguns conventos são apenassímbolo disso, nalgumasconstruções mais moderna podemnem existir. Mas os Institutos de VidaApostólica estão dispensados dessaclausura, devendo “conservarclausura, segundo as suasconstituições” e o carisma, há umespaço reservado à comunidade,devendo os/as religiosos/aspermanecer na casa onde aobediência os coloca, mas háliberdade de movimentação e dereceber pessoas, mediante asnecessidades do apostolado e oaferido pela comunidade e pelossuperiores .[1]

[1] VFC nº 10 e cf. DC 674 [1] Cf. Perfectae Caritatis, Vaticano II; Nº 9 e 16

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Num mundo materialista é difícilentender a vida contemplativa. Oscontemplativos têm a sua vidaorganizada para a oração, mesmoquando trabalham, desempenham oseu papel missionário e deevangelização ao colocarem omundo na presença de Deus. Imitamo Cristo que procura o deserto, aoofertarem toda a sua vida sãotestemunho da primazia de Deus edo amor da Igreja pelo seu Senhor,contribuem com uma misteriosafecundidade apostólica para ocrescimento do povo de Deus. Zelo apostólico, MissãoPastoralO zelo apostólico é comum a toda avida consagrada, já que a missãoda Igreja é o anúncio, aevangelização. As implicaçõespráticas variam do Instituto declausura para o Instituto apostólico,no primeiro é realizado pela oração,pelo sacrifício, no segundo implicaum discernimento comunitário“praticado com fé

e seriedade” como facilitador dasdecisões necessárias para o bem davida fraterna e da missão. Acomunidade apostólica é chamada asaber inculturar-se, mas também aser contracorrente, e este aspeto, éum sinal visível da procura davontade de Deus, trata-se “não sóda evangelização da cultura, mastambém a inculturaçãoevangelizadora e a evangelizaçãoinculturada. Implica anunciar Cristo,mas sobretudo testemunha-Lo, nocuidado aos mais fracos, sendo vozdos sem voz segundo o carismapróprio de cada um.

Irmã Flávia DoresComunidade das Dominicanas de

Santa Catarina de Sena - AveiroPara o Correio do Vouga

e a Agência Ecclesia

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Semana Santa onlineEm plena Semana Maior para oscristãos, fiz uma pesquisa nainternet com as palavras “semanasanta”. Nessa busca encontrei doissítios que possuem estes termosnos seus endereços. No entanto éinteressante perceber que ambostentam, acima de tudo, mostrarcomo são as vivências locais equais as atividades que serãodinamizadas com a paixão, morte eRessurreição de Cristo.O sítio inteiramente renovado daSemana Santa da cidade dosarcebispos assume-se como “umaplataforma digital de qualidade,próxima dos visitantes e turistas,onde estes podem encontrarinformação sobre toda a realidadedo mais significativo e imponenteevento internacional da cidade deBraga”, assinala o presidente daComissão da Semana Santa deBraga, o cónego Jorge Coutinho.Ao digitarmos o endereçowww.semanasantabraga.comencontramos um espaço muito bemconcebido, com uma imagem gráficae conceção perfeitamenteadequados aos parâmetros atuaisda produção de sítios para ainternet, mas ao mesmo temposolene e perfeitamente

enquadrado com o tempo litúrgicoem que vivemos. Na página inicialtemos ao dispor um conjuntoenorme de recursos, quetransformam esta área como o palcoque nos transporta para asdiferentes propostas.Descendo agora uns bonsquilómetros chegamos a terras deSanta Maria da Feira onde tambémaí encontramos um sítiointeiramente dedicado a informar osutilizadores de como se viverá asemana central do ano litúrgicocristão. Que “conta com asrecriações da Entrada Triunfal deJesus em Jerusalém, a Última Ceia ea Via Sacra. Este ano, o destaquevai para a recriação do Ofício dasTrevas e ainda as visitas aopatrimónio religioso da cidade”.Na página inicial do endereço www.semanasanta.pt dispomos dosprincipais destaques que nosindicam os eventos desta semana.Ao clicarmos em programa, éapresentada a riqueza da “18ªedição da Semana Santa em SantaMaria da Feira, que decorre de 28de Março a 6 de Abril”. Emdestaques podemos descobrir que ogrande relevo deste ano passa pela“valorização do Património religiosoda cidade,

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que inclui, visitas pedonais que dãoa conhecer a Igreja Matriz, umfabuloso templo datado do séculoXVI, do estilo maneirista, e a Igrejada Misericórdia, que data do séculoXVIII, e que tem como principaisenfoques arquitetónicos ofontanário e a escadaria”.

Aqui ficam dois sítios que mostramum pouco do que são as vivênciasPascais de duas cidadesportuguesas que nos ajudam acontemplar o mistério de JesusCristo.

Fernando Cassola [email protected]

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Diretório HomiléticoA Paulus Editora lançou em Portugalo «Diretório Homilético» com que aSanta Sé quer oferecer a todos ossacerdotes orientações “comuns eprecisas” para a preparação dassuas homilias. “Trata-se de um textobem elaborado e de um útil eprecioso subsídio para a formaçãoinicial e permanente dos pregadoresbispos, presbíteros e diáconos”,assinala na apresentação da obra opresidente da Comissão EpiscopalLiturgia e Espiritualidade, D. JoséCordeiro, bispo de Bragança-Miranda.Num comunicado enviado à AgênciaECCLESIA, a Paulus Editoradestaca que a homilia deve ser“como que o anúncio dasmaravilhas de Deus na história dasalvação ou do mistério de Cristo”.O Diretório homilético é umdocumento da Congregação para oCulto Divino e a Disciplina dosSacramentos e está dividido emduas partes: na primeira – A Homiliae o âmbito litúrgico - descreve-se anatureza, a função e o contextopeculiar da homilia; depois, surge a‘Arte da pregação’, dividida em seiscapítulos onde se exemplificam ascoordenadas metodológicas que o

homileta deve conhecer nosdiversos tempos litúrgicos ao longodo ano.Nos apêndices tem-se acesso à“homilia e o Catecismo da IgrejaCatólica” e a fontes pós-conciliar“relevantes” sobre a pregação. Aobra foi apresentada a 10 defevereiro, no Vaticano, com oobjetivo de ajudar sacerdotes eseminaristas.O diretório vai ao encontro dapreocupação manifestada pelo PapaFrancisco acerca desta matéria, nasua exortação apostólica ‘A alegriado Evangelho’, onde refere que “apregação dentro da liturgia requeruma séria avaliação por parte dospastores”.A homilia, que acontece durante aMissa, após a proclamação doEvangelho, está reservada aos“ministros ordenados” (bispos,sacerdotes e diáconos), como um“serviço litúrgico”, segundo “a fé daIgreja e não de forma pessoal”.Após o Sínodo dos Bispos de 2008,dedicado à Palavra de Deus, o PapaBento XVI sublinhou a necessidadede melhorar a qualidade dashomilias, uma preocupaçãoretomada por Francisco, seusucessor.

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II Concílio do Vaticano: Os amigosportugueses da «Concilium»

Em janeiro de 1965 teve início a publicação, emPortugal, da revista «Concilium». Um marcoimportante na história da Editora Moraes e naevolução dos católicos que depositavam entusiasmose esperanças nas movimentações conciliares (1962-1965). A assembleia magna convocada pelo PapaJoão XXIII e continuada pelo seu sucessor foi umaautêntica primavera no seio da Igreja.Correspondendo a um desejo expressamentemanifestado pelos teólogos diretores e redatores foicriado, em Portugal, um grupo com a missão deassegurar a ligação com a direção central e com osassinantes da edição portuguesa. Nasceram assim os«amigos da Concilium», um grupo de pessoasconvidadas individualmente pelos editores – onzepadres ou religiosos e oito leigos – que se reunirampela primeira vez a 31 de março de 1965.O grupo dos «amigos» era composto pelo padre JoséFelicidade Alves, Manuel bagulho, padre FernandoBelo, frei Bento Domingues, padre Armindo Duarte,cónego Manuel Falcão, Castro Fernandes, JoanaLopes, padre Madureira, José Domingos Morais,Margarida Morais, frei Raimundo de Oliveira, padrePedro Pelletier, frei Mateus Cardoso Peres, padreHonorato Rosa, padre António Serrão, Alberto Vaz daSilva, Helena Vaz da Silva e Joana Veloso (In: JoanaLopes; «A aventura da Moraes»; Lisboa; CentroNacional de Cultura; página 83).Nessa reunião teceram-se muitas críticas aosprimeiros três números da revista «Concilium». Osparticipantes

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insistiram, principalmente, na“complexidade revelada notratamento dos problemas”, a qual,alegadamente, os tornaria“inacessíveis e estranhos para amaioria dos leitores”. Declarou-seser desejável que os artigos seapresentassem “não só com omínimo possível de terminologiatécnica e de citações em latim, comocom uma forma menos estática,menos essencialista” (In: JoanaLopes; «A aventura da Moraes»;Lisboa; Centro Nacional de Cultura;página 83).No encontro, os «amigos»dialogaram também sobre as váriasformas possíveis de ligação com osassinantes em Portugal - colóquios,grupos de

estudo, inquéritos -, tendo-sedecidido dar prioridade à primeiramodalidade. O primeiro colóquiorealizou-se no mês de maio seguintee teve como tema «A constituiçãodogmática da Igreja».Existem “muitos documentos”relacionados com a preparação doscolóquios. Uma das intervenientesdessas reuniões, Joana Lopes,realça que se fizeram “longuíssimosserões de discussão”, na sede daMoraes Editora, “muitas vezesacompanhados pelo barulho doscarrosséis e pelo cheiro a sardinhaassada da vizinha Feira Popular”.(Obra citada na pág. 85)

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Abril 2015Dia 03 abril 2015* Itália – Roma - Via Sacra noColiseu de Roma com meditaçõesredigidas pelo bispo italiano D.Renato Corti, antigo responsávelpela diocese de Novara.

* Aveiro - Paróquia de São Pedro daPalhaça (Praça de São Pedro) - Via-Sacra com Maria na paróquia deSão Pedro da Palhaça.

* Braga – Barcelos - Procissão dasEndoenças organizada pela SantaCasa da Misericórdia de Barcelos

*Porto - A Pastoral Universitária doPorto promove uma «Páscoaandante» (02 a 05) Dia 04 de abril 2015* Vaticano - Basílica São Pedro -Vigília Pascal presidida pelo PapaFrancisco com Batismo de umaportuguesa

Dia 05 de abril 2015* Lisboa - Sintra (Pêro Pinheiro) -Compasso pascal de mota

* Algarve – Loulé - Festa Pequenaem honra de Nossa Senhora daPiedade, popularmente evocadacomo Mãe Soberana, e que constituio ponto de partida daquela que éconsiderada a maior manifestaçãoreligiosa a sul do Tejo. Dia 07 de abril 2015* Braga – Fafe - Iniciativa «TerraJusta - encontro internacional decausas e valores da humanidade»onde o cardeal Óscar Maradiaga,Presidente da Cáritas Internacionale líder do “G8” do Papa, vai serhomenageado. (07 a 11)

Dia 08 de abril 2015* Vaticano - Congresso deformadores da vida consagrada (08a 11)

* Bragança - Macedo de Cavaleiros- Semana da espiritualidade sobre«Misericórdia e Alegria» promovidapelos Missionários Marianos (08 a12)

* Israel - Peregrinação «Nos Passosde Jesus» organizada pelaFaculdade de Teologia da UCP epela Agência ECCLESIA. (08 a 16)

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Dia 09 de abril 2015* Lisboa - Convento dos PadresDominicanos - Encerramento docurso «Conhecer e viver o holismo»orientado pelo frei Rui ManuelGrácio

* Vaticano - Conferência deimprensa para apresentar oPavilhão da Santa Sé na Bienal deArte de Veneza com a presença deGianfranco Ravasi, da responsávelda coleção de arte contemporâneados Museus do Vaticano e curadorada exposição de Veneza, Micol Forti,bem como do presidente da Bienal,Paolo Baratta.

* Porto - Auditório do Centro deInvestigação Médica da FMUP -Jornadas de humanização sobre«Cuidar a Intimidade» promovidaspelo Serviço de Humanização doCentro Hospitalar de São João.

* Porto - Edifício da Reitoria daUniversidade do Porto (Sala doFundo Antigo) - Conferência sobre«Espiritualidade e organizaçãoclerical no Porto de setecentos» porHelena Osswald e integrada nascelebrações da recuperação daTorre dos Clérigos.

* Lisboa - Livraria Ferin -Lançamento do livro «Santo Ivo -sacerdote amigo dos pobres epadroeiro dos juristas» da autoriado padre Philippe Roche e comprefácio de D. Sean O´Malley.

* Lisboa - Colégio São Tomás deAquino - Lançamento do livro «Só oamor gera vida - Pessoa, Família eSociedade» da autoria do padreDuarte da Cunha e apresentação deD. Nuno Brás, Maria João eHenrique Leitão.

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- O Papa Francisco vai presidir à celebração da tardede Quinta-feira Santa no complexo da prisão romanade Rebibbia, um estabelecimento prisional em Romacom cerca de 2500 presos, 2100 homens e 350mulheres, acompanhados de 20 filhos menores de 3anos. A cerimónia religiosa inclui o rito do lava-pésque será concretizado a alguns detidos e a detidas deuma prisão feminina vizinha. A celebração insere-senas celebrações do Tríduo pascal. - As margens dos rios Tâmega e Douro vão estaquinta-feira ser iluminadas por 50 mil tigelinhas comvelas. Trata-se da celebração das Endoenças, umatradição secular na freguesia de Eja, no concelho dePenafiel, e constituem um evento ímpar de turismoreligioso. Esta procissão é acompanhada por «Barcosde Fogo» junto ao rio. - A Exposição «Paixão de sempre, Dores de hoje» estádisponível para visita até Domingo de Páscoa, noMuseu Pio XII. A escultura e pintura de RicardoCampos e Bruno Marques integram um vastoprograma organizado pela Comissão da Quaresma eSolenidades da Semana Santa em Braga. - O Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátimainaugurou a exposição de “Arte ReligiosaContemporânea” criada por um grupo de artistas daArquidiocese de Viena, na Áustria. Inserida naPeregrinação dos Artistas a Fátima, esta mostra vaiaberta ao público das 10h00 às 19h00 até ao dia 12de abril.

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SEMANA SANTA

Tríduo Pascal

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Podemos forçar alguém a crer emDeus?

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h18Domingo, dia 05 - Histórias deressurreição. RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 06-Entrevista a D. António Coutosobre a ressurreição ;Terça- feira, dia 07 -Informação e entrevista a freiFernando Ventura sobre aPáscoa;Quarta-feira, dia 08 -Informação e entrevista a Gisela Loureano sobre acomunicação do tema Páscoa na disciplina de EMRC;Quinta-feira, dia 09 - Informação e entrevista ao padreJoaquim Teixeira sobre o Ano da Vida Consagrada; Sexta-feira, dia 10 - Entrevista de apresentação daliturgia dominical com o padre Armindo Vaz e frei JoséNunes. Antena 1Domingo, dia 05 abril - 06h00 - A Ressurreição, aesperança e misericórdia nas comunidades com opadre Nuno Santos. Comentário à atualidade comJosé Miguel Sardica. Segunda a sexta-feira, 06 a 10 de abril - 22h45 -Alegria pascal: dia 06 - Helena Lobato, dia 07 -Joaquim Mexia Alves, dia 08 - Teresa Maia Gonzalez,dia 09 - Sérgio Canas, dia 10 - José Dias

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Ano B - Domingo de Páscoa Ver e acreditarque Cristoressuscitou

Cristo ressuscitou, aleluia! É o grito da liturgia destedomingo de Páscoa.O Evangelho da missa do dia coloca-nos diante deduas atitudes face à ressurreição: a do discípuloobstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sualógica, o amor total e a doação da vida não podem,nunca, ser geradores de vida nova; e a do discípuloideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seucaminho e a sua proposta. A este discípulo nãoescandaliza nem espanta que da cruz tenha nascido avida plena, a vida verdadeira; «viu e acreditou».A ressurreição de Jesus prova, precisamente, que avida plena, a vida total, a transfiguração total da nossarealidade finita e das nossas capacidades limitadaspassa pelo amor que se dá, com radicalidade, até àsúltimas consequências. Garante-nos que a vida gastaa amar não é perdida nem fracassada, mas é ocaminho para a vida plena e verdadeira, para afelicidade sem fim. É nessa direção que deveria serconduzida a caminhada da nossa vida.Pela fé, pela esperança, pelo seguimento de Cristo epelos sacramentos, a semente da ressurreição (opróprio Jesus) é depositada em nós. Revestidos deCristo, somos nova criatura: estamos, portanto, aressuscitar, até atingirmos a plenitude, a maturaçãoplena, a vida total, quando ultrapassarmos a barreirada morte física. Aqui começa a nova humanidade.Os outros textos da liturgia dão-nos indicaçõesprecisas quanto a esta centralidade da nossa vida emCristo.A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que“passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor,se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os

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discípulos, testemunhas destadinâmica, devem anunciar estecaminho a todas as pessoas. Aí estáum desafio para todos nós, hoje,tantas vezes mergulhados numambiente que não sintoniza comeste novo dinamismo deressurreição.A segunda leitura convida oscristãos, revestidos de Cristo pelobatismo, a continuarem a suacaminhada de vida nova, até àtransformação plena.O Evangelho da missa da tardedeste dia de Páscoa, com oepisódio dos discípulos de Emaús,convida-nos igualmente a estereconhecer a presença doRessuscitado em todas

as situações da vida, mas semprea partir da sua presençasacramental como Palavra e comoPão eucarístico.Já agora, lembremo-nos que umamaneira simples de testemunhar anossa fé na ressurreição de Cristono “primeiro dia da semana” é, paranós cristãos, não falar do domingocom fazendo parte do fim desemana! Para nós, o domingo não éo fim da semana, mas o seucomeço, o primeiro dia, o dia doSenhor. Que assim seja, nestaPáscoa e sempre!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.pt

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Índia: dias de ultraje e medo para a comunidade cristã

Esquecer é impossívelNa memória de todos está ainda aviolência de 2007 e 2008, emOrissa. O massacre de dezenas decristãos, a destruição de centenasde igrejas e casas, a fuga de maisde 50 mil pessoas. Muitos terão jáperdoado, sim. Mas esquecer équase impossível, principalmenteagora, quando a violência pareceter regressado em força.Praful Digal foi um dos que fugiu.Ele e a sua família, quando umamultidão enfurecida tomou contadas ruas da sua aldeia, Budruka,agredindo pessoas, queimandocasas. Matando. Praful não tevealternativa. Fugir era a únicasolução. Quando regressou àaldeia, ficou sem palavras. Só aslágrimas falaram por ele. Estavatudo destruído. Mas Prafularregaçou as mangas e fez-sepedreiro. A casa voltou a terparedes, telhado, janelas e porta.Até Agosto do ano seguinte. Aaldeia voltou a ser atacada. Denovo o cheiro a queimado, o fumonegro a confundir-se com as nuvensdo céu. Uma vez mais, Praful Digalfoi forçado a fugir. Uma vez mais,não teve alternativa. Pela segundavez, reergueu paredes, telhado…

Até Maio do ano passado.Novamente as ruas encheram-se degritos, de punhos no ar. Dedestruição. Como se a casa dosPraful tivesse de ser uma ruínapermanente. Na verdade, não énada contra eles, os Praful. É contratodos eles, os Cristãos. Violência sem fim2015. Dia 13 de Março. Umareligiosa, já septuagenária, foi vítimade violação colectiva no Conventode Jesus e Maria, em Ranaghat, apoucos quilómetros de Calcutá,quando tentava impedir um assalto.Dia 2 de Março. A estátua de NossaSenhora de Lourdes em Goaaparece destruída. Fevereiro. Umcemitério cristão, no sul da Índia, foiobjecto de vandalismo. EmMangalore, uma sala de oração, nossubúrbios da cidade, foi apedrejadae as janelas destruídas. Muita daviolência contra os cristãos tem deser entendida através do complexosistema de castas da Índia. Isso faz-se sentir junto dos maisdesfavorecidos, ou “intocáveis”: os“dalits”. São considerados seresinferiores, sem direitos. Serão

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mais de 300 milhões. São, noentanto, como fantasmas. Sãodiscriminados desde que nascem.São oprimidos até morrer. Não têmdireitos. Nos últimos anos, porém,são cada vez mais os “intocáveis”que se aproximam do cristianismo.Num país habituado a segregar, háuma religião que se empenha emdevolver a dignidade humanaàqueles que a sociedade exclui.Talvez isso explique esta onda deviolência. Aos que atacam oscristãos, D. Henry D'Souza,Arcebispo emérito de Calcutá,respondeu:

“vou rezar por eles. A melhormaneira de ajudar estas pessoas éamá-las e ser misericordioso”.Praful terá já perdoado àqueles quelhe destruíram a casa, mas nãoconsegue esquecer. Basta o grito dealguém, basta o barulho de umapequena multidão para regressaraos dias de medo quando foiatacado apenas por ser cristão.Praful terá já perdoado, masesquecer é impossível. Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Páscoa… contra a indiferença

Tony Neves Espiritano

Vem aí a Páscoa, a maior festa dos cristãos. Apalavra ‘Páscoa’ quer dizer ‘passagem’…primeiro, do Mar Vermelho para a terra de Israel,ou seja, da terra da escravatura para a terra daliberdade, da terra estrangeira para a nossaterra; depois, Páscoa significa, com Cristo,passagem da morte à vida, vitória sobre todas asformas de destruição que vitimam as pessoas poresse mundo além.Já que a primeira Páscoa tem ligação com oEgipto, gostaria de partilhar uma pequenahistória que recebi há algum tempo pela internet:‘Conta-se que, no século passado, um americanofoi à cidade do Cairo no Egipto, como turista.Surgiu-lhe a oportunidade de aí visitar umfamoso sábio e não a quis perder. Ficou, noentanto, muito surpreendido ao ver que o sábiomorava num quartinho muito simples e cheio delivros. As únicas peças de mobília eram umacama, uma mesa e um banco.- Onde estão seus móveis? Perguntou o turista.E o sábio, bem depressa olhou ao seu redor eperguntou também:- E onde estão os seus...?- Os meus?! Surpreendeu-se o turista - Masestou aqui só de passagem!- Eu também... - concluiu o sábio... A vida naTerra é somente uma passagem... Apesar disso,alguns vivem como se fossem ficar aquieternamente, e esquecem-se de ser felizes’.

O Papa Francisco pediu a todos que a nossaQuaresma combatesse a globalização daindiferença. Precisamos de nos comprometermais, ir até ao deserto, converter a vida epraticar a

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caridade. Sim, a Quaresma tem deser sempre um tempo forte deconversão aos valores doEvangelho, de uma oração maisintensa que ponha o nosso coraçãoa bater ao ritmo do coração deDeus, de uma solidariedade maiseficiente que traga os pobres dasperiferias e das margens até aocentro onde tudo existe ao alcancedas mãos.Lá no fim da linha está aglobalização da solidariedade.Resulta de uma Missão bemsucedida e o Papa Franciscodefiniu-a bem: é aquilo que o amornão pode calar.A Páscoa convida-nos à Festa, àAlegria, à Missão. Faço meus osgritos do Papa Francisco: ‘Não nosdeixemos roubar o entusiasmomissionário!(EG, nº80). Nãodeixemos que nos

roubem a alegria da evangelização!(nº83). Não deixemos que nosroubem a esperança! (nº86); Nãodeixemos que nos roubem acomunidade! (nº92); Não deixemosque nos roubem o Evangelho!(nº97); Não deixemos que nosroubem o ideal do amor fraterno!(nº101); Não deixemos que nosroubem a força missionária! (nº109). Desejo que a Vigília Pascal seja agrande noite e que a vida de CristoRessuscitado encha o coração detodos. Haja mais Vida, mais Luz,mais Fé, mais Fraternidade, maisCompromisso, mais Família, maisMissão.Uma Santa e Feliz Páscoa.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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