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Sistema Vestibular Semiologia

Date post: 18-Nov-2015
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Sistema Vestibular Semiologia
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Sistema vestibular semiologia Cristiana B. Pereira
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  • Sistema vestibular

    semiologia

    Cristiana B. Pereira

  • Sistema vestibular: semiologia

    1

    Sistema vestibular: semiologia

    INTRODUO

    Vertigem e tontura so sintomas que podem estar envolvidos no comprometimento de

    mltiplos sistemas e em diferentes sndromes. Na Lngua Portuguesa estes dois termos so

    sinnimos: "vertigem: estado mrbido em que a pessoa tem a impresso de que tudo lhe gira em

    tornoo; tonteira, e tontura: estado de tonto, zonzo ". Porm do ponto de vista mdico

    importante diferenciar entre ambos. Para evitar confuses, deve-se estar atento ao que o paciente

    descreve e no ao termo utilizado.

    Tontura um termo inespecfico usado em diferentes situaes: sensao de rodar ou

    balanar, desequilbrio, pr-sincope, e sensaes inespecficas como sensao de cabea vazia ou

    de mal-estar. As propores aproximadas dos diferentes diagnsticos nosolgicos em pacientes

    com queixa de vertigem/ tontura so as seguintes: 40% apresenta sndrome vestibular perifrica,

    10% tem uma leso vestibular central, 15% tem algum transtorno psiquitrico e 25% se encaixa em

    doenas no neurolgicas com pr-sincope ou tem desequilbrio. Em at 10% dos casos o

    mecanismo pode permanecer indefinido.

    O aspecto mais importante da avaliao do paciente com tontura a histria, e dentre os

    aspectos da anamnese, a definio de qual a sensao que o paciente est apresentando. Atravs

    da anamnese cuidadosa possvel identificar corretamente a vertigem (decorrente de distrbio

    vestibular) em 87% dos casos, pr-sincope em 74%, transtornos psiquitricos em 55% e

    desequilbrio em 33% dos pacientes.

    No grupo pacientes com distrbios vestibulares aproximadamente 75% apresenta um dos

    seguintes diagnsticos (por ordem de frequncia): vertigem de posicionamento paroxstica

    benigna, vertigem postural fbica, sndrome vestibular central, vertigem associada a enxaqueca,

    neurite vestibular, doena de Menire, vestibulopatia bilateral e paroxismia vestibular.

    De uma maneira geral, o exame fsico e neurolgico geralmente confirma a hiptese, mas

    considerado de maneira isolada no estabelece o diagnstico.

    O objetivo deste texto discutir aspectos importantes da histria do paciente com tontura e

    descrever os principais testes e sinais semiolgicos.

  • Sistema vestibular: semiologia

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    ANAMNESE

    Na anamnese de um paciente com queixas de vertigem alguns aspectos so importantes,

    como por exemplo o tipo de vertigem, sua durao, sintomas associados e desencadeantes.

    O tipo de vertigem o aspecto mais importante no incio de um raciocnio clnico (tabela

    1). A diferenciao entre rotao e oscilao melhor feita solicitando-se ao paciente que

    estabelea uma comparao: a sensao de estar no meio de um redemoinho, de um furaco, de

    um carrossel, ou se parece mais com a sensao de estar em um barco, ou pisando em falso?

    A vertigem rotatria surge nas leses vestibulares unilaterais, sejam elas centrais ou

    perifricas. Nas leses unilaterais ocorre um desbalano do tnus vestibular, com uma assimetria

    entre direita e esquerda, o que responsvel pela sensao de vertigem, assim como nistagmo e

    tendncia a queda. Tentar definir a direo da vertigem no faz muito sentido e pode ser muito

    difcil, pois o paciente pode estar se referindo vertigem propriamente dita, alterao visual (tem

    oscilopsia e v o ambiente rodar) ou ao lado para o qual preferencialmente desequilibra.

    A sensao de estar oscilando em vrias direes pode traduzir um comprometimento no

    vestibular como nas neuropatias perifricas e nas leses cerebelares difusas. frequentemente

    encontrada nos casos de vertigem fbica, que apesar de no se tratar de um distrbio vestibular

    propriamente dito, o segundo diagnstico mais comum em ambulatrios especializados.

    tipo de vertigem principais doenas

    rotatria VPPB

    neurite vestibular

    doena de Menire

    leses centrais unilaterais

    vertigem associada a

    enxaqueca

    oscilatria vertigem fbica

    nistagmo vertical e outras

    leses centrai

    vestibulopatia bilateral

    causas no vestibulares

    Tabela 1: Principais doenas e tipo de vertigem associada.

  • Sistema vestibular: semiologia

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    Leses vestibulares perifricas bilaterais ou leses centrais que acometem estruturas dos

    dois lados podem levar a oscilao no sentido ntero-posterior. Neste caso como as estruturas esto

    comprometidas bilateralmente no h um desbalano direita-esquerda, e o paciente no se queixa

    de vertigem rotatria.

    Escurecimento visual e sensao de pr-sncope e sncope so tambm referidos como

    tontura, e ocupam um importante lugar no diagnstico diferencial deste tipo de queixa, mas por

    fugirem do mbito deste texto no sero discutidos.

    Uma vez definido o tipo de vertigem, o passo seguinte caracterizar a durao da crise, e a

    tem de se diferenciar entre ataques de curta durao e uma queixa constante. Os ataques podem

    durar de segundos a minutos nos casos de vertigem de posicionamento paroxstica benigna

    (VPPB), paroxismia vestibular, fstula perilinftica; ou minutos a horas na doena de Menire,

    vertigem associada a enxaqueca e episdios isqumicos transitrios. Uma queixa mais prolongada

    de vertigem rotatria de at dias pode ser encontrada nas leses perifricas, como na neurite

    vestibular, ou nas leses centrais, como infartos unilaterais de tronco. Alguns pacientes podem

    relatar queixas mais duradouras, de semanas a meses, mas nestes casos referida uma tontura

    oscilatria ou apenas um desequilbrio (tabela 2).

    durao principais doenas

    episdios recorrentes segundos a minutos VPPB

    paroxismia vestibular

    fstula perilinftica

    minutos a horas doena de Menire

    vertigem associada a

    enxaqueca

    vertigem fbica

    ataque isqumico transitrio

    episdio nico dias neurite vestibular

    leses de tronco e cerebelo

    semanas a meses leses de tronco e cerebelo

    psicognica

    Tabela 2: Principais doenas e durao da vertigem.

  • Sistema vestibular: semiologia

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    O terceiro aspecto fundamental na anamnese do paciente com queixa de vertigem o

    reconhecimento dos fatores desencadeantes. A VPPB, por exemplo, tipicamente desencadeada

    por movimentos rpidos da cabea, enquanto outras formas de nistagmo/vertigem posicionais

    centrais ocorrem em determinadas posies, independente do movimento realizado, da a

    denominao e diferenciao entre vertigem de posicionamento (dependente do movimento) e

    posicional (dependente da posio). Pacientes com vertigem fbica tm muitas vezes um forte

    componente de agorafobia e relatam uma piora acentuada da tontura e do desequilbrio em lugares

    fechados e com multido, associados ou no a distrbios autonmicos, como sudorese e

    taquicardia. Fstula perilinftica um diagnstico raro, mas deve ser lembrado, principalmente

    naqueles casos em que o ataque de vertigem ou desequilbrio de curta durao desencadeado por

    algum tipo de manobra de Valsalva (tabela 3).

    fator desencadeante principais doenas

    movimentos rpidos da cabea

    (virar a cabea para os lados e para cima)

    VPPB

    paroxismia vestibular

    posies especficas

    (decbito dorsal ou lateral)

    vertigem posicional central

    compresso/ contato com VIII nervo

    situaes especficas

    (lugares com multido, pontes, locais abertos,

    supermercados)

    vertigem fbica

    manobras de Valsalva fstula perilinftica

    Por fim, deve-se identificar possveis sintomas associados. Zumbido e hipoacusia indicam

    uma leso perifrica e se acompanhados de presso no ouvido sugerem comprometimento de

    labirinto como na doena de Menire. Sintomas de tronco enceflico auxiliam, mas no esto

    obrigatoriamente presentes no distrbio vestibular central. Ateno deve ser dada presena de

    cefaleia, mas devido alta frequncia da queixa de dor de cabea, deve-se ter cautela ao se fazer

    uma associao entre a cefaleia e vertigem. Nuseas e vmitos esto presentes em diferentes

    doenas vestibulares perifricas e centrais, mas tambm no so sintomas obrigatrios, e portanto

    no auxiliam no diagnstico diferencial.

    Tabela 3: Algumas doenas e seus principais fatores desencadeantes.

  • Sistema vestibular: semiologia

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    EXAME NEUROLGICO

    O exame neurolgico especfico de um paciente com queixa de vertigem inclui a avaliao

    do equilbrio esttico e dinmico, da coordenao, da motricidade ocular e a verificao de

    diferentes formas de nistagmo. Neste texto sero abordados os testes de avaliao de equilbrio, de

    nistagmo e reflexo vestbulo ocular e uma vez que a motricidade ocular foi discutida em detalhes

    em outro texto, seu exame ser abordado de maneira sucinta.

    Exame do equilbrio esttico e dinmico

    Na avaliao do equilbrio esttico o paciente colocado em com os ps paralelos e

    inicialmente com olhos abertos. Em seguida solicitado ao paciente que feche os olhos. Pode-se

    sensibilizar o teste habitual do equilbrio esttico solicitando-se ao paciente que estique os braos

    para frente e se mantenha apoiado em apenas uma perna, ou que estenda a cabea para trs.

    Enquanto o paciente estiver de p com os olhos fechados e braos estendidos o examinador pode

    ainda distra-lo escrevendo nmeros nos seus braos.

    Pacientes com leses vestibulares unilaterais apresentam tendncia a queda para o lado

    comprometido, que aparece com curto perodo de latncia aps fechar os olhos. Esta alterao

    denominada de sinal de Romberg vestibular. Leses centrais com nistagmo vertical levam a

    oscilao para frente e par trs e pacientes com distrbios psicognicos diminuem as oscilaes ao

    serem distrados.

    A avaliao do equilbrio dinmico realizada solicitando ao paciente que caminhe em

    linha reta de olhos abertos e em uma segunda etapa de olhos fechados. Deve-se observar se h

    desvios na direo da marcha com olhos fechados o que indicativo de leso vestibular do lado

    para o qual o paciente apresenta o desvio. Um sinal clssico a marcha em estrela ou de Babinski-

    Weill, que apesar de no ser patognmica sugestiva de leso vestibular unilateral. A marcha de

    estrela obtida da seguinte maneira: o paciente orientado a dar de 8 a 10 passos para frente e

    para trs, de olhos fechados, por 5 vezes consecutivas. Aqueles com leso vestibular unilateral

    apresentam desvio para o lado da leso ao andar para frente e para o lado oposto ao andar para trs,

    o que leva a um desenho de estrela. Se, no entanto, o paciente apresentar uma ntida lateropulso o

    resultado da marcha para frente e para trs pode ser um ziguezague, pois o desvio se mantm para

    o mesmo lado, independente do fato do paciente antar para frente ou para trs.

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    Avaliao das nove posies do olhar

    O exame dos olhos nestas nove diferentes posies permite avaliar o alinhamento ocular,

    capacidade de fixao, presena de nistagmo e amplitude do movimento. O exame pode ser

    realizado com um objeto, ou preferencialmente com o auxlio de uma lanterna. O uso de uma

    lanterna neste exame traz a vantagem de proporcionar o reflexo da luz nas pupilas. Facilita assim a

    deteco de desalinhamentos e permite ao examinador saber se o paciente tem uma fixao uni ou

    binocular no olhar lateral.

    Na posio primria deve-se estar atendo aos desalinhamentos dos eixos oculares e a

    presena de movimentos oculares anormais como nistagmo, square-wave-jerks, opsoclonus ou

    flutter ocular. As principais alteraes esto descritas na tabela 2.

    Como dito anteriormente, o uso de uma lanterna neste exame facilita a deteco de

    desalinhamentos e permite ao examinador saber se o paciente tem uma fixao uni ou binocular no

    olhar lateral. Nistagmo evocado pelo olhar deve ser diferenciado do nistagmo da posio extrema.

    Na posio extrema o paciente mantm a fixao apenas com o olho abduzido e surge um

    nistagmo fisiolgico. Este nistagmo, de posio extrema do olhar, tem baixa amplitude, baixa

    frequncia e esgotvel.

    O nistagmo evocado pelo olhar surge no olhar lateral e no olhar para cima e raramente no

    olhar para baixo, e decorrente de um comprometimento no sistema de fixao visual. Para manter

    os olhos em uma posio excntrica (lateral ou para cima) necessrio que haja uma contrao

    tonica da musculatura ocular extrnseca, o que desencadeado pelo sistema de fixao visual. Se

    Figura 1: Exame das 9 posies do olhar.

  • Sistema vestibular: semiologia

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    estas vias estiverem comprometidas a cada tentativa de manter os olhos em uma posio

    excntrica, os tecidos da rbita exercem uma fora elstica que levam os olhos de volta a posio

    central (movimento lento), e um movimento rpido leva os olhos novamente para posio

    desejada. Estruturas importantes para manter os olhos nas posies laterais so o ncleo prepsito

    do hipoglosso e o ncleo vestibular medial, e no olhar vertical o ncleo intersticial de Cajal. Alm

    destas estruturas o cerebelo participa tambm desta funo.

    tipo movimento ocular caracterstica clinica significado patolgico

    nistagmo horizonto

    rotatrio

    (inibido pela fixao

    visual)

    o nistagmo mais acentuado se

    examinado com culos de Frenzel ou

    com oftalmoscpio, e diminui com a

    fixao visual

    leso perifrica do lado

    oposto direo do nistagmo

    nistagmo vertical

    para cima

    presente na posio piora ao olhar para

    cima, diminui ao olhar para baixo, no

    modifica no olhar lateral

    leso bilateral de estruturas de

    tronco enceflico: ncleo

    prepsito do hipoglosso,

    fascculo longitudinal medial,

    pednculo cerebelar superior

    nistagmo vertical

    para baixo

    presente na posio primaria piora ao

    olhar para baixo, no olhar lateral

    associado a nistagmo evocado pelo

    olhar e adquire aspecto oblquo

    leso bilateral de regio

    flculo-nodular

    square-wave-jerk sries de pequenas sacadas

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    Pesquisa de nistagmo espontneo

    O nistagmo espontneo traduz um desbalano do tnus vestibular central ou perifrico e

    neste ltimo pode ser completamente suprimido pela fixao visual, da a importncia de se usar os

    culos de Frenzel, que tm lentes que impedem esta fixao (+16 dioptrias). Outra maneira de se

    pesquisar o nistagmo espontneo com o uso de oftalmoscpio: enquanto se faz a fundoscopia em

    um dos olhos, cobre-se o outro. Uma vez que a retina est atrs do centro de rotao do olho os

    movimentos observados no exame de fundo de olho so opostos aos do nistagmo, ou seja, um

    nistagmo para esquerda visto na fundoscopia com a fase rpida para direita (figura 2).

    Pesquisa de nistagmo de provocao

    Enquanto o nistagmo espontneo traduz um dficit esttico de desbalano vestibular, o

    nistagmo de provocao corresponde a um dficit dinmico, e ocorre tanto nas leses perifricas

    como centrais. Em primeiro lugar se verifica se h nistagmo espontneo, em seguida pede-se ao

    paciente que vire rapidamente a cabea de um lado para outro de 10 a 20 vezes e por ltimo se

    verifica novamente a presena de nistagmo com culos de Frenzel (figura 3).

    Figura 2: Exame do nistagmo espontneo inibido pela fixao visual. Ao e

    solicitar que o paciente olhe para frente no se nota o nistagmo, que se

    torna evidente com o uso dos culos de Frenzel.

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    Exame do reflexo vestbulo-ocular (sinal de Halmagyi)

    Halmagyi e Curthoys descreveram em 1988 um teste para o reflexo vestbulo-ocular (VOR)

    para ser realizado beira do leito. A manobra se assemelha a dos olhos de boneca, mas realizada

    no paciente consciente. Pede-se ao paciente que mantenha os olhos fixos no nariz do examinador e

    rapidamente vira-se a cabea do paciente primeiro para um lado e depois para outro. No indivduo

    normal, este movimento rpido da cabea gera um movimento ocular na mesma velocidade e

    direo oposta. Por exemplo, ao se virar a cabea do paciente para direita se observa um nico

    movimento ocular para o lado esquerdo, e vice-versa. Neste exemplo se diz que o VOR normal

    bilateral.

    Em um paciente com leso vestibular perifrica, ao se virar a cabea para o lado da leso, o

    movimento ocular desencadeado pelo VOR lento e de pequena amplitude. Para que a imagem do

    objeto de interesse se mantenha fixa, necessria uma sacada de correo, ou seja, ao se

    movimentar a cabea para o lado da leso surgem dois movimentos na direo oposta, o primeiro

    o VOR patolgico e o seguido uma pequena sacada de correo. Por exemplo, ao se virar a cabea

    do paciente com uma leso a direita para a direita notam-se dois movimento oculares para

    Figura 3: Exame do nistagmo de provocao. Com o uso dos culos de Frenzel, em

    um primeiro momento nos e nota o nistagmo. Em seguida realizado movimentos

    com a cabea do paciente , de um lado para outro e em um segundo momento nota-se

    o nistagmo de provocao.

  • Sistema vestibular: semiologia

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    esquerda, um VOR curto e lento e uma sacada de correo. E ao se virar a cabea deste mesmo

    paciente para a esquerda se obtm um nico movimento ocular para direita VOR normal. Ao se

    descrever esta situao se diz que o VOR alterado a direita e normal a esquerda. Dito de outra

    maneira, o VOR descrito pelo lado estimulado, ou seja, pelo lado para o qual se vira a cabea

    (figura 4).

    Manobra Dix-Hallpike e manobra de posicionamento lateral

    A manobra de posicionamento lateral (figura5 - A1 e A2) e a de Dix Hallpike (figura 5 - B1

    e B2) so na pesquisa de VPPB. Na manobra de posicionamento lateral o paciente sentado tem a

    cabea rodada 45 para o lado oposto quele que e deseja examinar. Em seguida deitado para o

    lado examinado. Ao final da manobra o paciente est em decbito lateral com a cabea rodada,

    olhando na direo do examinador (figura 5 - A2). Na manobra de Dix-Hallpike o paciente sentado

    tem a cabea rodada 45 para o lado que se deseja examinar e em seguida deitado para trs. Ao

    final da manobra a cabea fica levemente pendurada e rodada para o lado examinado (figura 5-

    B2).

    Figura 4: Exame do reflexo vestbulo-ocular normal e com leso perifrica a direita

  • Sistema vestibular: semiologia

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    Ambas as manobras devem ser realizadas rapidamente, uma vez que movimentos lentos

    no desencadeiam o ataque de VPPB, e se possvel deve-se usar culos de Frenzel. O objetivo de

    cada uma delas realizar um movimento com a cabea no plano do CSC posterior, aumentando

    assim a eficcia da manobra em deslocar o clculo e provocar o nistagmo e vertigem tpicos.

    Independente da manobra utilizada, quando positiva, o que se observa um nistagmo com

    componente vertical para cima e outro componente rotatrio batendo no sentido do ouvido de

    baixo. Na VPPB do canal posterior direito o componente rotatrio ento no sentido anti-horrio

    (visto pelo examinador), e no posterior esquerdo horrio. Outras caractersticas tpicas do

    nistagmo na VPPB so: (1) a latncia de pouco segundos at seu aparecimento; (2) durao curta,

    de at 40 segundos; (3) inverso da direo quando o paciente colocado novamente sentado; (4)

    diminuio na intensidade e eventual desaparecimento com manobras repetidas, isto ,

    fatigabilidade.

    Figura 5: Manobra de posicionamento lateral (A1 e A2) e de Dix-Hallpike (B1 e B2). Em ambos os casos, o

    paciente est sendo examinado do lado esquerdo.

  • Sistema vestibular: semiologia

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    Pesquisa de movimentos oculares

    Os movimentos oculares, as vias envolvidas, a semiologia e o significado de suas alteraes

    foram descritos em outro texto e sero abordos aqui de maneira resumida.

    Exame do nistagmo optocintico

    No exame do nistagmo optocintico (OKN) pode ser utilizado um tambor ou uma fita

    (figura 6). O exame auxilia principalmente na avaliao de pacientes no colaborativos e

    sonolentos. Deve-se pesquisar assimetrias: entre direita-esquerda em leses de hemisfrios

    cerebelares, e OKN vertical menos evidente que horizontal sugere paralisia supranuclear

    progressiva, dissociao entre os dois olhos ocorre na oftalmoparesia internuclear e OKN

    horizontal invertido encontrado em pacientes com nistagmo congnito. Este teste ainda bastante

    til na excluso de cegueira em pacientes com distrbio psicognico.

    Avaliao de seguimento ocular

    solicitado ao paciente que siga visualmente, sem mover a cabea um objeto que se

    desloque lentamente com velocidade de 10-20/s, no sentido horizontal e vertical (figura 7). Deve-

    se estar atento a movimentos desarmnicos, como intruses sacdicas, o que significa um dficit

    do sistema de seguimento. Do ponto de vista fisiolgico o seguimento vertical pior que o

    Figura 6: Exame do nistagmo optocintic0 horizontal e vertical

  • Sistema vestibular: semiologia

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    horizontal, e o vertical para baixo pior que para cima. Um dficit em todas as direes tem pouco

    valor localizatrio, pois h vrias estruturas envolvidas, e pode ser inclusive influenciado por nvel

    de alerta, uso de medicaes e idade. observado tambm em intoxicaes medicamentosas e

    doenas cerebelares degenerativas. No entanto, uma evidente assimetria indica leso central

    unilateral.

    Exame das sacadas

    Solicita-se ao paciente que olhe de um objeto para outro no sentido horizontal e vertical,

    mantendo a cabea imvel (figura 8).

    A velocidade, a acurrcia e a latncia para o incio do movimento devem ser observados.

    Sacadas lentificadas no sentido horizontal so encontradas em leses da formao reticular

    paramediana pontina, e vertical em leses do ncleo rostral interticial do fascculo longitudinal

    Figura 7: Exame do seguimento ocular horizontal e vertical

    Figura 8: Exame das sacadas horizontais e verticais

  • Sistema vestibular: semiologia

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    medial. Sacadas lentificadas e hipomtricas em todas as direes freqentemente no so causadas

    por uma leso estrutural, mas por diferentes medicaes e substncias txicas, e podem ser

    encontradas em doenas degenerativas. Leses cerebelares, em especial do ncleo fastigial e vias

    cerebelares, levam a sacadas hipermtricas, que so seguidas por sacadas corretivas de menor

    amplitude. Na sndrome de Wallenberg, por exemplo, h sacadas hipermtricas para o lado da

    leso, por comprometimento do pednculo cerebelar inferior, enquanto na leso do pednculo

    cerebelar superior as sacadas so hipermtricas para o lado oposto. Diferena entre os dois olhos

    na velocidade da sacada observada na OIN. Aumento na latncia para o incio do movimento,

    sem alterao na sua mtrica ou amplitude encontrado nas leses corticais.

    Exame da fixao-supresso do VOR

    O VOR pode ser suprimido pela fixao visual, o que pode ser testado. solicitado ao

    paciente que estenda os braos para frente unindo as mo e levantando o polegar. Em seguida deve

    virar o tronco e a cabea, em bloco de um lado para outro, fixando o olhar no polegar. No

    indivduo normal surge um movimento harmnico dos olhos semelhante ao de seguimento,

    enquanto nos pacientes com leses de flculo e paraflculo ou de vias cerebelares o movimento

    desarmnico com sacadas de correo (catch-up saccades). As mesmas vias e estruturas esto

    envolvidas no sistema de seguimento e na fixao supresso do VOR, portanto alteraes de um

    sistema so acompanhadas de alteraes do outro.

    Figura 9: Exame da fixao supresso do reflexo vestbulo-ocular


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