UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
THAYSE MAYAN ALARCÓN FERREIRA
ABORDAGENS DIDÁTICAS DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO OLÍMPICA NA
IBERO-AMÉRICA
VITÓRIA
2018
THAYSE MAYAN ALARCÓN FERREIRA
ABORDAGENS DIDÁTICAS DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO OLÍMPICA NA
IBERO-AMÉRICA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação Física do
Centro de Educação Física e Desporto da
Universidade Federal do Espírito Santo,
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Educação Física, na
área de concentração de Estudos
Olímpicos.
Orientador: Prof. Dr. Otávio Guimarães Tavares
da Silva.
VITÓRIA
2018
THAYSE MAYAN ALARCÓN FERREIRA
ABORDAGENS DIDÁTICAS DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO OLÍMPICA NA
IBERO-AMÉRICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação
Física do Centro de Educação Física e Desporto da Universidade Federal
do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Educação Física, na área de concentração de Estudos
Olímpicos.
Aprovada em _____ de _____________ de 2018.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Otávio Tavares da Silva Universidade
Federal do Espírito Santo Orientador
___________________________________________________
Profa. Dra. Liana Romero
Universidade Federal do Espírito Santo
Profa. Dra. Ana Maria de Freitas Miragaya
Universidade Estácio de Sá - Petrópolis
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meus pais, Juan e Clarinda pelo incentivo, amor, zelo e compreensão.
As minhas irmãs, Mayra, Tamara e Ianara por estar sempre comigo.
A meu filho Juan, que muitas vezes precisou compreender que eu não podia brincar nem sentar para ver desenhos e que tinha que ficar em silêncio.
Ao meu esposo Gabriel, por ser meu parceiro de todas as horas, me proporcionando sua amizade, cumplicidade e companheirismo.
A minha amiga Rayane, pela amizade, compreensão e presença incondicional.
Ao ARETE, pelos conhecimentos e experiências vividas.
Ao meu orientador, Otávio Tavares, pela paciência infinita e amizade sincera.
Ás professoras Ana Miragaya e Liana Romero pelas contribuições ao trabalho.
Aos membros das Academias Olímpicas da Argentina, Colômbia Equador, Guatemala e Porto Rico, por disponibilizar tempo e disposição, possibilitando a realização da minha pesquisa.
A CAPES, pelo apoio financeiro, sem o qual, seria mais difícil pensar em fazer mestrado.
A todos vocês, muito obrigado.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Matriz de associação entre os valores educacionais do Movimento
Olímpico segundo o OVEP (IOC, 2008) e os Temas Transversais (BRASIL,
1999). ............................................................................................................... 28
Figura 3– Nome dos Programas de Educação OlímpicaErro! Indicador não
definido.
Figura 4– Os objetivos dos projetos .................... Erro! Indicador não definido.
Figura 5– Os grupos-alvo dos projetos ............... Erro! Indicador não definido.
Figura 6– Aspectos metodológicos dos projetos . Erro! Indicador não definido.
Figura 7– Valores dos projetos ............................ Erro! Indicador não definido.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
1 MAS AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO OLÍMPICA? ................................... 14
1.1 BASES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO OLÍMPICA ............................ 15
1.2 O MOVIMENTO OLÍMPICO E SEUS VALORES ................................ 20
1.3 CONCEITOS DE EDUCAÇÃO OLÍMPICA .......................................... 25
1.4 CATEGORIZAÇÕES DA EDUCAÇÃO OLÍMPICA NA PRÁTICA ....... 31
2 ESPORTE EDUCAÇÃO ................................................................................ 34
2.1 O QUE É A TEORIA CRÍTICA? .............................................................. 35
2.1.2 Teoria Crítica do Esporte .................................................................. 36
2.2 TEORIA POSITIVA DO ESPORTE ......................................................... 44
2.2.1 Valores em Crise: o relativismo axiológico ....................................... 54
3 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS ................................................. 59
3.1 TIPO DE PESQUISA E LIMITAÇÕES DO ESTUDO .............................. 59
3.2 PROCEDIMENTOS ............................................................................. 59
3.2.2 Protocolo de Coleta de Dados .......................................................... 60
3.2.3 Instrumentos de Coleta de Dados..................................................... 61
4.1 OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO OLÍMPICA ..................................... 64
4.2 OBJETIVOS PARA UMA EDUCAÇÃO OLÍMPICA ............................. 64
4.3 OS PARTICIPANTES NO PROJETO ................................................. 65
4.4 METODOLOGIA DOS PROJETOS ........................................................ 66
4.5 VALORES NA EDUCAÇÃO OLÍMPICA .................................................. 68
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................ 71
5.1 PROJETOS DESENVOLVIDOS NA ARGENTINA ................................. 71
5.1.1 Objetivos específicos do Projeto ....................................................... 71
5.1.2 Organização e os conteúdos do projeto ........................................... 72
5.1.3 O público-alvo do Projeto .................................................................. 73
5.1.4 Metodologia ...................................................................................... 75
5.1.5 Valores adotados no projeto ............................................................. 76
5.1.6 Jogos de Rio 2016 ............................................................................ 76
5.1.7 Avaliação .......................................................................................... 77
5.2 PROJETOS DESENVOLVIDOS NA COLÔMBIA ................................... 78
5.2.1 Objetivos específicos dos Projetos ................................................... 79
5.2.2 Organização e os conteúdos dos projetos ........................................ 80
5.2.3 O público-alvo dos Projetos .............................................................. 82
5.2.4 A Metodologia ................................................................................... 83
5.2.5 Valores adotados nos projetos ......................................................... 85
5.2.6 Jogos de Rio 2016 e os projetos ...................................................... 85
5.2.7 Avaliação .......................................................................................... 86
5.3 PROJETOS DESENVOLVIDOS NO EQUADOR .................................... 87
5.3.1. Objetivos específicos dos projetos ................................................... 87
5.3.2 Organização e os conteúdos dos projetos ........................................ 88
5.3.3 O público-alvo dos projetos .............................................................. 89
5.3.4 Metodologia ...................................................................................... 90
5.3.5 Valores .............................................................................................. 91
5.3.6 Rio de Janeiro 2016 .......................................................................... 91
5.3.7 Avaliação .......................................................................................... 92
5.4 PROJETOS DESENVOLVIDOS NA GUATEMALA ................................ 92
5.4.1 Objetivos específicos do projeto ....................................................... 92
5.4.2. Forma de organização e os conteúdos do projeto ........................... 94
5.4.3 O Público-alvo dos projetos .............................................................. 96
5.4.4 Metodologia ...................................................................................... 98
5.4.5 Valores adotados pelos projetos ....................................................... 99
5.4.6 Jogos de Rio 2016 .......................................................................... 100
5.4.7. Avaliação ....................................................................................... 101
5.5 PROJETO DESENVOLVIDO EM PORTO RICO .................................. 101
5.5.1 Objetivos específicos ...................................................................... 102
5.5.2 Organização e os conteúdos do projeto ......................................... 102
5.5.3 O público-alvo do projeto ................................................................ 103
5.5.4 Metodologia .................................................................................... 104
5.5.5 Valores adotados ............................................................................ 104
5.5.6 Avaliação ........................................................................................ 105
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 106
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 111
ANEXO I ......................................................................................................... 118
ANEXO II ........................................................................................................ 119
8
INTRODUÇÃO
O mundo atual é dinâmico, as mudanças ocorrem com tamanha
velocidade que as pessoas são levadas a se adaptar constantemente. Sendo
assim, a sociedade é definida pelo movimento e pelo transitório. A falta de
orientações e ideologias sólidas acaba por desencadear em uma realidade de
relativismo axiológico e insegurança, em um quadro considerado por alguns
estudiosos como de crise social (GERVILLA apud QUEIRÓS, 2004). Com isso,
a deterioração de alguns valores antes vistos como nobres e necessários para
um bom convívio social ocorre de maneira simultânea ao surgimento de outros,
modificando as relações sociais.
Nesse contexto estabelecido de valores em crise, Neto (2009) indica que
certos valores sociais e morais estão em um processo de reconstrução na sua
definição e/ou forma de expressão, para se adequar ao momento histórico.
Assim, traçar orientações que sirvam para crianças e jovens é um processo
contínuo. Algumas iniciativas ganham destaque como prováveis saídas para tal
situação, sendo a educação uma dessas alternativas (SANMARTIN, 1995). Os
estudos relacionados a valores morais e a seus processos de transmissão
indicam que valores não existem por si só como objetos materiais de estudo.
Eles dependem da relação com alguém que os valoriza, tornando difícil limitar-
se a uma única teoria que os defina (SANMARTIN, 1995). Para este estudo
consideramos a definição de DaCosta (2007, p. 13) para quem valores são “[...]
uma crença coletiva consensual de duração estável que influencia sentido e
significado das relações sociais e culturais”.
Em quase todas as sociedades contemporâneas, se difundiu a crença
do esporte como ferramenta pedagógica de educação. Esta ideia é tão antiga
como a própria educação. Segundo DaCosta (2007, p. 13) “desde a Antiga
Grécia até a origem do esporte moderno em meados do século XIX, as
atividades atléticas e o esporte têm sido considerados importantes elementos
de veiculação de influências valorativas entre as pessoas”. Mas, de acordo com
Steenbergen; De Knoop; Elling (2001), o esporte ensina de maneira implícita,
9
por que têm significados, valores, regras e normas intrínsecas, logo, durante a
prática esportiva, o sujeito vivencia essa dimensão do esporte como um
portador de valores1. Em vista disso, os projetos esportivos de caráter social e
educativo, além do contexto escolar, reforçam ou ampliam a crença no poder
de mudança social e pessoal do esporte. Entretanto, parecem ser escassas as
sistematizações de atividades, métodos e avaliações de ensino para tais
objetivos (BAILEY, 2005; STIGGER; THOMASSIM, 2013).
A Carta Internacional de Educação Física e Esporte, adotada pela
UNESCO em 1978, é o marco de transição, onde o conceito de esporte ganhou
uma nova abrangência social, e o direito às práticas esportivas passou a ser
exercido sob a forma de Esporte-Educação (TUBINO, 2010), entre outras. O
Esporte-Educação2 tem como objetivo desenvolver a formação tendo a
cidadania como referência principal (TUBINO, 2010). Contudo, mapeamentos
dos principais periódicos da Educação Física brasileira, como, a Revista
Brasileira de Ciências do Esporte, Revista Movimento, Revista Pensar a
Prática, Revista de Educação Física (UEM) e a Revista Motriz, mostram que
poucos estudos avançam no sentido de apresentar propostas práticas,
sistematizadas de caráter didático-metodológico, visando à operacionalização
de uma educação em valores por meio do esporte.
Neste contexto, uma das possibilidades de manifestação do esporte
educacional é a chamada “Educação Olímpica”. Pierre de Coubertin, criador do
Movimento Olímpico entendia que o esporte poderia ser uma ferramenta de
educação e transformação individual e social. Porém, apenas se praticado
segundo um conjunto de valores orientadores e de uma ética própria
(DaCOSTA; TAVARES, 1998). Estes valores e esta ética são chamados de
maneira ampla de “Valores Olímpicos”. De fato, como está estabelecido no
estatuto do Comitê Olímpico Internacional (Princípio Fundamental Nº 3), “O
objetivo do Olimpismo é colocar em todo o lugar o esporte a serviço do
1 Carrier of values, no original.
2 Também chamados de esporte educacional ou esporte escolar.
10
desenvolvimento harmonioso da humanidade” (Comitê Olímpico Internacional,
2015).
É necessário destacar que o esporte moderno e os seus valores têm
relação direta com o desenvolvimento do Movimento Olímpico e a sua
ideologia. De fato, as formas legítimas de praticar esporte e os valores que
atribuímos a ele são, em boa medida, produtos do desenvolvimento do
Movimento Olímpico e do esporte olímpico (TAVARES; ABREU, 2011), ainda
que autores como Meinberg (2007) e Gomes (2009) expliquem que muitos são
os espectadores dos Jogos Olímpicos, porém poucos são aqueles que
realmente conhecem os conceitos e a história que antecede a realização dos
Jogos, bem como os seus efeitos.
“Educação Olímpica” é um termo que apareceu pela primeira vez no
campo acadêmico da pesquisa olímpica apenas na década de 1970 (MÜLLER,
2008, p. 305), como uma proposta de sistematizar uma educação em valores
por meio do esporte, embasado no Movimento Olímpico. Podemos definir a
Educação Olímpica como “[...] propostas de educação em valores através do
esporte tendo como referência o Movimento Olímpico, seus valores declarados,
seu simbolismo, sua história, seus heróis e suas tradições” (TAVARES, 2009,
p. 192). Olhando para o contexto escolar, Tavares e Abreu (2011) entendem
que “a Educação Olímpica deve ter um caráter multidisciplinar e flexível,
podendo envolver toda a escola atingindo de maneira transversal, sempre que
possível, as diferentes disciplinas”. Tubino (2010), por outro lado, compreende
a Educação Olímpica como uma esfera de expressão estética, moral e
comunicativa da atitude humana, o que possibilita pensá-la em uma dimensão
que vai além do âmbito escolar. Fazendo um paralelo como uma teoria
pedagógica mais bem estabelecida, estas iniciativas de Educação Olímpica
têm que ter por objeto de educação não só o “saber fazer” (Dimensão
Procedimental), mas também para o “ser” (Dimensão Atitudinal) (COLL et al.,
2000; 2006).
Tomando as obras de Oliveira e Perim (2008; 2009) como referências
centrais contemporâneas para a educação em valores em ambientes
educacionais não escolares, uma análise inicial indica a baixa sistematização
11
do ensino em valores, além do seu caráter incidental e exortativo (KNIJNIK;
TAVARES, 2012). Segundo estes autores ainda são pouco conhecidas as
formas efetivas e sistematizadas de desenvolvimento pedagógico destes
projetos como propostas de Educação Olímpica, não sendo possível encontrar
orientações conceituais ou metodológicas para a sistematização do ensino na
dimensão atitudinal. De fato, a literatura internacional sobre educação em
valores por meio do esporte chega a conclusões semelhantes (BAILEY, 2005;
JANSSENS et al., 2004).
O crescente espaço dedicado ao esporte nas últimas décadas seja em
políticas públicas, seja como setor da indústria e do comércio, assim como na
imprensa (nacional e internacional), dá uma ideia de sua importância na
sociedade moderna. Neste sentido, sediar uma grande competição esportiva
internacional, especialmente a olímpica, acaba por tornar-se uma espécie de
reconhecimento de desenvolvimento e modernidade. No caso de países
periféricos no sistema internacional como o Brasil, isto se concretiza com a
realização dos Jogos Olímpicos em 2016, sediados no Rio de Janeiro (por
primeira vez na América do Sul) e na escolha de Buenos Aires, na Argentina,
para sediar os Jogos Olímpicos da Juventude em 2018.
Como consta na apresentação da Candidatura da cidade do Rio de
Janeiro aos Jogos Olímpicos de 2016,
O nível de excelência e o entusiasmo dos Jogos Rio 2016 irão
garantir que uma nova geração, no Brasil e na América do Sul, possa
descobrir o esporte e os Movimentos Olímpicos, [...] inspirando a 180
milhões de jovens por toda a América do Sul (Comitê Olímpico
Brasileiro, 2009).
Assim, aumenta a atenção para a temática dos esportes olímpicos e do
Movimento Olímpico no Brasil (TAVARES; ABREU, 2011). Todavia, segundo
Todt (2009) o Brasil é um país olímpico sem Educação Olímpica. O mesmo
parece ser possível afirmar para Ibero-América. Isto somado à crise de valores
acima citada aponta para um novo cenário de desafios educacionais.
Em nosso estudo, propomos conhecer as metodologias e
sistematizações utilizadas em projetos de Educação Olímpica em países da
12
Ibero-América, tendo como uma das justificativas para a escolha do universo
da pesquisa a relevância que teve os Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro em
2016 no continente americano e percebendo que ainda são poucos os
trabalhos encontrados com esta temática.
Em vista do supracitado, essa iniciativa mostra-se pertinente, tendo em
vista que a ideia de uma educação em valores através do esporte é um
conceito preconizado na Educação Olímpica. Um segundo objetivo, de caráter
secundário, é o de investigar a existência de alguma influência da realização
dos Jogos Olímpicos Rio 2016 nas iniciativas de Educação Olímpica na Ibero-
América, tal como colocado como um dos objetivos propostos na candidatura
brasileira.
A fim de alcançarmos nossos objetivos, propusemos como caminho
metodológico um estudo qualitativo descritivo (RICHARDSON, 1999).
Inicialmente foi enviado um questionário com seis perguntas para cada
Academia Olímpica Nacional dos países da Ibero-América, sendo que dentro
dos 19 países contemplados (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica,
Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua,
Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai,
Venezuela) cinco responderam: Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala e
Puerto Rico. Como será detalhado adiante, após a abordagem inicial, se entrou
em contato com os dirigentes das cinco Academias Olímpicas Nacionais que
se dispuseram a participar da pesquisa, por meio de uma entrevista para
melhor conhecer os projetos em desenvolvimento e compreender como são
pensadas e executadas as diferentes sistematizações.
O processo estrutural da dissertação a fim de esclarecer e aprofundar
essas discussões divide-se em cinco capítulos. O primeiro, “Educação
Olímpica”, será feita uma revisão sobre o Movimento Olímpico e a Educação
Olímpica, seus conceitos, abordagens e iniciativas mundiais. O objetivo
principal para este capítulo é esclarecer pontos que possam ser de pouco
conhecimento entre aqueles menos familiarizados com o tema.
13
No segundo capítulo, “Esporte e Educação”, busca sistematizar a
evolução e a conceituação deste debate a partir dos estudos de autores da
chamada Teoria Crítica do Esporte e daquilo que estamos chamando de
campo da Teoria Positiva do Esporte3. Neste debate, buscamos mapear as
contribuições e os limites que estabelecem as diferentes teorias, destacando
que nessa discussão acerca da relação educação, valores e esporte
perpassam divergências e complementaridades.
Apresentamos no terceiro capítulo nosso caminho metodológico, bem
como nossos procedimentos de pesquisa, intitulado “Encaminhamentos
Metodológicos”. Explicaremos o tipo de estudo, os instrumentos e as
etapas/dimensões que envolvem o trabalho.
No quarto capítulo, “Apresentação dos dados”, caracterizamos as
Academias Olímpicas Nacionais participantes da pesquisa sendo feita uma
apresentação dos programas de Educação Olímpica desenvolvidos por eles, e
que é o objeto de análise do presente estudo.
Já no quinto capítulo, será nossa “Discussão dos dados”, onde
analisaremos as informações coletados junto com a literatura utilizada como
referencial desta pesquisa, procurando estabelecer relações, afirmações e
contrapontos para esclarecer e suprir nossos questionamentos e objetivos. Por
fim, o capítulo sexto, “Considerações finais”, tem a finalidade de esclarecer
resultados, limitações e apontar perspectivas de futuras investigações.
3 Chamamos assim o conjunto de autores que de alguma maneira compartilham a perspectiva
de uma positividade essencial da prática esportiva.
14
1 MAS AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO OLÍMPICA?
Segundo Tavares et al. (2005, p. 751)
“‘Estudos Olímpicos’ é o nome dado ao conjunto de estudos de caráter acadêmico que tem como tema, lócus ou viés de análise dos fenômenos esportivos os Jogos Olímpicos e/ou o Movimento Olímpico em suas mais diversas manifestações. Assim, pode configurar-se tanto em um tema em si quando estuda especificamente os Jogos e/ou o Movimento Olímpico, quanto se servir da dimensão histórica e alcance global do Movimento Olímpico como referência para estudar o fenômeno esportivo e a Educação Física a partir de diferentes abordagens (histórica, geográfica, econômica, sócio-antropológica, pedagógica e outras) comparadas ou não”.
Para DaCosta, no Brasil houve um aumento no interesse pela temática
olímpica, o que levou o país a se posicionar como um dos “[...] líderes na
pesquisa e na formação voltadas para os temas olímpicos em abrangência
internacional” (DACOSTA, 2007, p. 93). Este movimento ganha significativo
empuxo com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 20164,
aumentando a atenção para a temática dos esportes olímpicos e do Movimento
Olímpico no Brasil (TAVARES; ABREU, 2011) e em todo o continente.
Nesta perspectiva, se encontram diversos temas que podem ser
pesquisados dentro da área dos Estudos Olímpicos. Neste trabalho se outorga
destaque à Educação Olímpica. Para Franceschi Wacker (2009, p. 29), mesmo
o assunto não sendo relativamente novo,
[...] ainda não existe uma definição precisa do que é Educação Olímpica, seus objetivos e proposta pedagógica. [...] Existem projetos chamados de Educação Olímpica em várias partes do mundo, mas, por falta de esclarecimentos em torno da temática, poucos são realmente de Educação Olímpica.
Em vista da problematização apresentada anteriormente, se pretende
neste capítulo apresentar e elucidar pontos importantes que permitam uma
melhor compreensão e entendimento quanto ao tema sobre Educação
Olímpica, Movimento Olímpico e o Olimpismo.
4 Um levantamento feito no indexador SCIELO.BR com os termos de busca ‘legados’ e
‘megaeventos’ encontrou 5 artigos publicados entre 2014 e 2015.
15
1.1 BASES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO OLÍMPICA
Pierre de Coubertin foi o restaurador dos Jogos Olímpicos na
modernidade. Nascido na capital francesa em uma família aristocrática estudou
arte, filosofia e direito, mas veio a interessar-se especialmente pela educação.
Coubertin acreditava que a educação era uma ferramenta fundamental para a
reforma das sociedades e dos indivíduos e a paz social. Como consequência
de muitas influências e de uma formação pessoal acidentada, tentou instaurar
o esporte como meio educativo em seu país, a França (TODT, 2005).
Inicialmente o Barão se dedicou a buscar fundamentos que o ajudassem
a executar uma reforma no sistema educacional francês.
[...] Coubertin desejava renovar a sociedade francesa de seu tempo, para que esta pudesse afirmar como uma potência mundial. O caminho que deveria garantir essa renovação chamava-se educação. Um novo tipo de educação devia melhorar o estado precário da sociedade. Mas não era qualquer tipo de educação que poderia realizar tal feito. Por isso Coubertin exigia uma educação abrangente, que incluía uma transformação das bases intrínsecas da própria educação (MEINBERG, 2007, p. 62).
Para alcançar isto, Coubertin procurou em diversos países por iniciativas
que contribuíssem e dessem suporte teórico para o que tinha por ideário
educativo, tendo como base “[...] um ensino sólido, atividades esportivas e na
religião” (PORTELA e TAVARES, 2000, p. 149).
Para o Barão, a educação tinha que ser focada nos homens, isto pelos
valores que prevaleciam na época. Por este motivo, ao visar os Jogos
Olímpicos modernos, o mesmo escolheu seguir a tradição dos Jogos Antigos
reverenciando a figura do herói antigo com suas próprias virtudes físicas e
morais extraordinárias. Desta forma, as primeiras Olimpíadas modernas não
tiveram nenhuma atleta do sexo feminino5 (MIRAGAYA, 2002a).
5 Esta questão foi se modificando como consequência da revolução industrial e as grandes
guerras mundiais, ocorridas entre segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, o que levou as mulheres a ocupando os espaços que os homens deixaram nas indústrias. Por este motivo, as mulheres começaram a participar da vida moderna, com novos empregos e status, iniciando movimentos por direitos sociais, como o voto e inclusão como
16
Na busca de Coubertin por seu ideário educativo, se destacou o modelo
inglês de educação, o qual usava como base a atividade física e o esporte
como instrumento educativo. Neste contexto, ele foi bastante influenciado na
formulação de suas propostas pela obra a desenvolvida por Thomas Arnold na
Rugby School,
Essa proposta atentava para inúmeros fatores que eram comumente desprezados nas propostas gerais de ensino, como por exemplo, as inter-relações dos estudantes, onde de certa forma uma série de normas e códigos de conduta eram criados e executados expondo valores e comportamentos tidos como significantes para a sociedade de então. [...] Arnold creditava ao esporte um potencial singular de transformação e construção de caráter de seus alunos, uma vez que, envolvidos no ambiente esportivo com todas as suas inerentes manifestações, eles eram submetidos a processos de formação e revisão de seus conceitos, num constante processo de revaloração de ideais nas práticas coletivas, nos inter-relacionamentos, no desenvolvimento individual, etc. (FUTADA, 2007, p. 15 a 16).
Esta proposta educacional tinha fundamentação valorativa da época,
sendo assim a educação moral era introduzida apenas para crianças e
adolescentes do sexo masculino por meio do esporte. Isto por que,
O esporte sempre foi um constructo masculino no qual muito raramente mulheres participam. As crenças tradicionais sempre sustentaram que esforço físico e competição eram contrários aos da natureza de uma mulher. Além disso, acreditava-se que o lugar da mulher era em casa, cuidando da casa e dos filhos (dentro de casa) e que o lugar do homem estava fora de casa, funcionando como o único provedor da família (ao ar livre) (MIRAGAYA, 2002a, p. 308-309).
Como anteriormente citado, os valores que estão em crise começam a
se modificar em vista das transformações sociais da época, o que levou a uma
sociedade que busca a não discriminação e uma maior inclusão dos indivíduos
que a compõe, porém estas mudanças não foram rápidas, levaram décadas
para se propagar.
Embora não fosse um intelectual no sentido estrito do termo, Coubertin
desenvolveu durante toda sua vida um conjunto de ideias, princípios e valores
que deveriam condicionar a prática esportiva. Em princípio sua proposta
educacional foi pensada exclusivamente para a França, porém suas ideias
cidadãs (MIRAGAYA, 2002b). Dentro deste contexto, a mulher começa a se integrar nas competições olímpicas.
17
foram rejeitadas como um estrangeirismo em uma França de forte caráter
nacionalista.
Como consequência do acima apresentado, Coubertin transferiu seu
ideário para o âmbito internacional, o que levou, anos mais tarde, a que fosse
conhecida sua proposta genericamente por Olimpismo. Um dos motivos pela
rápida difusão do Movimento Olímpico internacional se outorga ao cenário das
últimas décadas do século XIX e início do século XX, onde o cenário mundial
apontava para a criação e expansão de organizações de caráter
internacionalistas, com objetivos voltados para a obtenção e promoção da paz
mundial6 (TAVARES, 2003).
Em vista de o contexto favorecer o surgimento de organizações
internacionalistas, junto com a recusa inicial da França sobre sua proposta
educacional baseada no esporte, Coubertin viu a possibilidade de implementar
uma reforma mais abrangente. Desta forma, conseguiria que jovens de todas
as partes do mundo tivessem a possibilidade de se beneficiar dos efeitos de
uma pedagogia esportiva, a qual tinha por objetivo a formação física, mental e
do caráter. Esse projeto internacionalista de Coubertin veio a se desenvolver a
partir do que se chamou de Movimento Olímpico.
Além da proposta inglesa de Thomas Arnold, Coubertin teve interesse
em algumas características e elementos da sociedade da antiga Grécia bem
como dos Jogos Olímpicos nessa época. Desta forma, ele se apropriou disso
como referência para a criação do seu projeto. Uma das primeiras
características é a utilização das atividades atléticas como meio pedagógico
baseada na Paideia7 grega clássica de formação de um tipo ideal de homem
por meio de prática constante de exercícios gímnicos e de jogos. Os gregos
6 Como exemplo dessas organizações, podemos citar o Movimento Escoteiro e o Movimento
internacional da Cruz Vermelha. 7 A Paideia remete ao ideal educativo grego, uma formação geral que tinha como objetivo
construir o homem tanto quanto homem quanto como cidadão. O termo significa a própria cultura construída a partir da educação. Era o ideal que os gregos cultivavam do mundo, para si e para sua juventude. Uma vez que o governo próprio era muito valorizado pelos gregos, a Paideia combinava ethos (hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado quanto como governante. O objetivo não era ensinar ofícios, mas sim treinar a liberdade e nobreza.
18
buscavam uma formação do indivíduo em sua totalidade, sem a exclusão ou
priorização do biológico, psicológico ou social, escolhendo o esporte como uma
ferramenta para a efetivação dessa educação (MARILIER, 2000).
Para DaCosta (2009, p. 20), “[...] a educação grega fundamentava-se no
cultivo de virtudes idealizadas, como acontecia, por exemplo, com a busca da
excelência ou da perfeição (aretê) pelos educandos”. Um dos meios para
alcançar isto eram as atividades atléticas, que difundiram as ideias valorativas
e apresentariam os modelos e exemplos de comportamentos ideais por toda a
sociedade helênica.
A esta ideia se soma o fato de que os Jogos Olímpicos da Antiguidade,
ao pôr em destaque as atividades atléticas, promoviam nexos valorativos entre
os gregos, por meio da comparação dos tipos de excelência, comportamentos,
ideais e atitudes entre aqueles que participavam dos Jogos (DACOSTA, 2009).
Desta forma, Coubertin pensa em ter como referência os Jogos Olímpicos da
Antiguidade na Modernidade, isto por identificar nos Jogos da Antiguidade
ideias similar à dele. Assim, para além da dimensão estética que lhe agradava
muito, o esporte tinha ainda um valor simultaneamente físico e moral,
esculpindo o corpo e dando ao homem autoconfiança (MARILLIER, 2000, p.
59).
Destacam-se também, como elementos da cultura helênica que
chamaram a atenção de Coubertin, para a formulação do seu projeto mundial,
o caráter agonístico8 da sociedade grega clássica, e por consequência, dos
Jogos, e a ideia de trégua olímpica9.
8 Baseado em Durantez (1977), Futada vai dizer que “[...] o princípio da agonística é
caracterizado como toda atividade em que exista confronto ou mútua oposição entre os protagonistas que dela participem, apresentada em forma de disputa pacífica ou amistosa, própria e característica do certame desportivo, mantendo respeito ao competidor que associava o próprio desempenho às virtudes do adversário, valorizando o respeito e a dignidade da competição. Esta dependência significa uma necessidade recíproca do enfrentamento do obstáculo, pois é somente dessa forma que os próprios limites e capacidades podem ser superados. O competidor compreende ser parte de um ciclo transformador e, portanto, comporta-se com a citada ética esportiva, participando de forma justa, respeitando o adversário, as regras de competição e o valor onipresente do embate” (2007, p. 20). 9 A trégua olímpica, em grego ekecheiria, procurava garantir o cessar de guerras entre os
diferentes grupos e estados durante as celebrações dos Jogos Olímpicos da Antiguidade.
19
Assim, como base nos Jogos Olímpicos da Grécia antiga, em um
primeiro momento, a participação das mulheres permaneceu vetada nos Jogos
Olímpicos Modernos, consequência de crenças e valores tradicionais da época,
restando-lhes unicamente assistir às provas. Isto posto, Coubertin, nunca
desvinculou os Jogos Olímpicos do seu ideário educacional, tendo este como o
meio para propagar o mesmo.
Desta forma, em 1892 Coubertin apresentou pela primeira vez a
proposta de reavivar os Jogos Olímpicos no quinto aniversário da União das
Sociedades Francesas de Esportes Atléticos, no anfiteatro da Sorbonne, porém
a resposta obtida foi “[...] uma indiferença educada e generalizada”
(MARILLIER, 2000, p. 61). Apesar disso, dois anos depois, em 16 de junho de
1894, novamente na Sorbonne, em Paris, no Congresso Esportivo-cultural,
apresentou novamente sua proposta acrescentando a ideia de criar uma
instituição que desse suporte humano e material para a efetivação de tal ideia.
Ao contrário do acontecido dois anos antes, a proposta conquistou adeptos, o
que possibilitou que em 23 de junho do mesmo ano fosse criado o Comitê
Olímpico Internacional10 (COI), qual tinha a função de organizar os Jogos
Olímpicos e normatizar as modalidades que iriam compor tal evento. Em
decorrência disso, no ano de 1894, foi instituído publicamente o Movimento
Olímpico.
Para além do desenvolvimento do Movimento Olímpico, para com o qual
tem uma relação pragmática entre idealismo e prática, Coubertin, na busca na
produção de textos continuar a desenvolver suas ideias e propostas. Assim, no
Apesar de fontes históricas que afirmam a existência dessa trégua olímpica, é difícil aceitar a hipótese do seu total cumprimento, principalmente devido à grande extensão do território grego (MARILLIER; 2000, p. 38). 10
Segundo Rubio (2007, p. 154), “[...] o COI foi constituído por representantes de várias
nacionalidades indicados pelos participantes do encontro da Sorbonne. A proposta de criação da instituição nessas bases guardava preocupações com a isenção, autonomia e independência de um movimento que se propunha internacional, apolítico e apartidário. O receio de lidar com conflitos internos e o ceticismo com a democracia levou Coubertin a estruturar e organizar o COI como uma instituição unipartidária, em um modelo próximo ao oligárquico, tendo como documento norteador de sua prática a Carta Olímpica, elaborada pelo fundador do movimento olímpico em aproximadamente 1898”. Atualmente a missão do COI é de administrar e legislar os Jogos Olímpicos, além de deter os direitos de autor sobre a simbologia Olímpica.
20
ano de 1922, lança o livro intitulado Pedagogie Sportive, no qual lança as
bases de uma pedagogia do esporte e através do esporte. Ainda assim, o autor
nunca escreveu sobre uma “educação olímpica”, mas sobre um “esporte
educacional".
Desde 1900, e não exclusivamente nas escolas, ele vinha incentivando a
ideia de tornar o esporte acessível para adolescentes e até mesmo para
pessoas mais velhas como parte de uma educação completa (MÜLLER, 2008).
Coubertin, quando elabora sua perspectiva educacional, compreende que o
esporte era parte da educação de qualquer jovem assim como a ciência, a
literatura e as artes (MIRAGAYA 2009, p.41). Isto decorre da associação que
faz entre a prática esportiva como uma ferramenta para a mudança social e via
de desenvolvimento educacional do homem. Isto posto, o Barão defendia uma
Pedagogie sportive para atuar sobre corpo e mente de forma conjunta, e ao
mesmo tempo que estimulava a elite, a burguesia e a classe trabalhadora a
praticarem esporte (PARRY, 1998; MacALOON, 1981).
Em síntese, para Tavares (2007, p. 185), o projeto educacional global de
Coubertin, se resume na
Combinação criativa do papel do esporte no modelo educacional inglês do séc. XIX aos fundamentos humanísticos dos Jogos esportivos da Grécia clássica resultou em uma proposta de prática esportiva universal, fundada nos conceitos de excelência e equilíbrio, condicionados por uma ética positiva [...].
1.2 O MOVIMENTO OLÍMPICO E SEUS VALORES
Em termos simples, definimos o Movimento Olímpico como o conjunto
de organizações e pessoas que compartilham do movimento esportivo que
21
reúne os princípios e valores Olímpicos expostos na Carta Olímpica11
(DACOSTA, 2007; RÚBIO, 2009; TAVARES, 2008).
O Movimento Olímpico tem sua filosofia apoiada não apenas em uma excelente programação de atividades esportivas, mas, sobretudo na utilização do esporte como um fator de aprimoramento do homem. Associar o esporte com a cultura e a Educação, o Olimpismo se propõe criar uma atitude de vida baseada na alegria do esforço, o valor educativo do bom exemplo e o respeito pelos princípios éticos fundamentais universais (TODT, 2009, p.375).
Apesar de o Movimento Olímpico estar longe de ser o único elemento a
influenciar a prática esportiva, quando pensamos no esporte, em sua forma
tradicional e a crença que se tem no seu potencial educativo, percebemos
como este ideário foi formado e universalizado com o importante auxílio deste
Movimento e de seu criador, o Barão Pierre de Coubertin. Isto provavelmente
reside no fato de que, de maneira diferente de qualquer outro grande
movimento esportivo do século XX, o Movimento Olímpico possui um conjunto
de valores declarados, genericamente conhecidos como “Olimpismo”.
A palavra Olimpismo e seu conceito não existiam na antiguidade. No
entanto, se pode afirmar que a cultura gerada após a celebração dos Jogos
Olímpicos Antigos quase mil anos antes (776 a.C. a 394 d.C.) deu lugar a uma
atitude que hoje ganha força na era contemporânea. O Olimpismo é um
conceito moderno, que surgiu após a restauração dos Jogos Olímpicos em
1894. Ao analisar a obra de Coubertin, Tavares (1999, p. 6) conclui que para
ele:
[...] o esporte deveria ser um empreendimento físico, moral e social destinado a reformar o homem e a sociedade, fundado nos conceitos de excelência e equilíbrio e condicionado por uma ética positiva. Este corpus de valores ele chamou de Olimpismo.
De acordo com a atual Carta Olímpica, o Olimpismo é uma "filosofia de
vida" e possui sete princípios fundamentais (COI, 2015, p. 13-14):
1. O Olimpismo é uma filosofia de vida que exalta e combina com equilíbrio as qualidades do corpo, as vontades e a mente. Misturando esporte com cultura e educação, o Olimpismo busca criar um modo de vida baseado na alegria do esforço, no valor educacional do bom
11
O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem como documento oficial a Carta Olímpica. Ela
governa a organização e a operação do COI e do Movimento Olímpico, assim como estipula as condições para a celebração dos Jogos Olímpicos.
22
exemplo, na responsabilidade social e respeito pelos princípios éticos fundamentais e universais.
2. O objetivo do Olimpismo é colocar o esporte a serviço do desenvolvimento harmonioso da humanidade, tendo em vista a promoção de uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana.
3. O Movimento Olímpico é a ação concertada, organizada, universal e permanente, efetuada sob a autoridade suprema do COI, de todos os indivíduos e entidades que são inspirados pelos valores do Olimpismo. Ele abrange os cinco continentes. Atinge o seu auge com a reunião dos atletas do mundo no grande festival de esportes, os Jogos Olímpicos. Seu símbolo são cinco anéis entrelaçados.
4. A prática do esporte é um direito humano. Cada indivíduo deve ter a possibilidade de praticar esporte, sem discriminação de qualquer tipo e no espírito olímpico, que requer a compreensão mútua com um espírito de amizade, solidariedade e fair play.
5. Reconhecendo que o desporto ocorre no âmbito da sociedade, as organizações desportivas no âmbito do Movimento Olímpico terão os direitos e obrigações de autonomia, que incluem livremente que estabelecem e controlam as regras do esporte, que determinam a estrutura e governo das suas organizações, gozando do direito de eleições livres de qualquer influência externa e a responsabilidade de assegurar que os princípios da boa governabilidade serão aplicados.
6. O gozo dos direitos e liberdades estabelecidos nesta Carta Olímpica deve ser assegurado sem discriminação de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, orientação sexual, idioma, religião, opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, nascimento ou qualquer outra condição.
7. A pertença ao Movimento Olímpico requer o cumprimento da Carta Olímpica e reconhecimento pelo COI.
O termo Olimpismo faz alusão às dimensões pedagógicas e filosóficas
do Movimento Olímpico e não à estrutura organizacional e aos aspectos
formais e/ou burocráticos desse Movimento ou dos Jogos Olímpicos (MÜLLER
apud TODT et al. 2007). Desta forma, apresenta-se como um conjunto de
ideias, princípios e valores, materializados em ritos e símbolos12, mas não
como uma proposta organizada. Não é, portanto, coincidência que tenhamos
diferentes definições do que seriam os valores olímpicos pelo próprio Comitê
Olímpico Internacional. Para esta instituição, são três os valores fundamentais
12 Sobre isso, Rubio (2009) vai apontar que no processo de formulação do Olimpismo,
Coubertin identificou a importância da criação de ritos e símbolos como forma de impulsionar o esporte para que este pudesse se tornar uma ferramenta pedagógica e solidificar-se em âmbito internacional. Isso porque a criação de uma simbologia própria e bem definida para o Olimpismo contribuiria na universalização de valores e não somente de regras que determinariam as relações competitivas.
23
do Olimpismo: Excelência, entendida como fazer sempre o melhor possível, em
todos os aspectos da vida, valorizando a participação, mais do que a vitória;
Amizade, entendida como a compreensão do esporte como um instrumento
para o entendimento mútuo entre as pessoas de todo o mundo; Respeito,
compreendido como o respeito pela própria pessoa, seu corpo, as outras
pessoas, o esporte, suas regras e regulamentos e o meio ambiente (IOC, 2008,
p. 01). Entretanto, a proposta do Comitê Olímpico Internacional para uma
Educação Olímpica13 apresenta cinco capítulos temáticos: vida ativa, fair play,
respeito pelos outros, busca da excelência e equilíbrio entre corpo, vontade e
mente.
Isto posto, percebemos a importância que tem a Educação Olímpica
para a estrutura valorativa do Movimento Olímpico. Não é coincidência que o
plano de desenvolvimento estratégico do Movimento Olímpico, intitulado
“Agenda Olímpica 2020”, publicada em dezembro de 2014, possui entre suas
recomendações a Recomendação nº 22, que faz referência a Educação
Olímpica e seus valores:
22. Disseminar a educação baseada em Valores Olímpico
Disseminar a educação baseada em Valores Olímpicos
1. O COI passa a reforçar a sua parceria com a UNESCO para incluir o esporte e seus valores nos currículos escolares em todo o mundo.
2. O COI elaborará uma plataforma eletrônica para compartilhar programas de Educação Olímpica baseadas nos valores olímpicos de diferentes CONs e outras organizações.
3. O COI passa a identificar e apoiar as iniciativas que podem ajudar a difundir os valores Olímpicos. (IOC, 2014)
Para autores como Meinberg (2007, p. 66), o Olimpismo não só busca
se caracterizar por ter um princípio ético que norteia a prática esportiva com
seu conjunto de valores como também se caracteriza como um estilo e uma
forma de vida que ultrapassa a âmbito esportivo.
A ética e educação olímpicas não deviam referir-se tão somente aos que atuam na competição esportiva. O espírito olímpico devia contagiar a todos, especialmente os jovens, na mesma medida. A
13
Olympic Values Education Program (OVEP).
24
educação esportiva como educação olímpica visa não somente aos heróis do esporte de alto rendimento e aos gladiadores, mas, o que não é uma contradição para Coubertin os que estão preparados para, através da educação olímpica, atingir aquela atitude interior e espiritual que Coubertin elegeu como objetivo do olimpismo. E tal educação deveria se modelar também no sentido de que outros setores da existência e outros campos de atuação, e por fim toda a vida se orientasse pelo espírito olímpico.
As objetivações de Meinberg também são de uma maneira ou de outra,
compartilhadas por muitas pessoas. Assim, é bastante compreensível que se
uma das dimensões do esporte é a educacional, uma das possibilidades de um
conjunto de referências para a educação em valores por meio do esporte é a
do esporte olímpico e do olimpismo.
Todavia, estas objetivações não se fazem sem críticas. Por exemplo,
para Guginsky e Godoy (2007, p. 160) a Educação Olímpica,
Além de promover os valores de formação moral e ética, deve também ser responsável pela formação de um cidadão consciente, ou na sociedade do espetáculo de um consumidor consciente e não alienado sob jugo de antigas filosofias de Fair Play que mascaram uma realidade que produz uma demanda de produtos esportivos totalmente desconectada de funções educacionais e de promoção de valores humanos.
Para conseguir isto, é necessária uma sistematização de intervenção
sócio-educativa. Porém ainda é difícil de encontrar tal metodologia. Como
questiona Todt (2009, p. 377):
Como os valores Olímpicos podem ser trazidos para discussão e então se fixarem como parte de um projeto Olímpico [...]? Como proclamar e ‘fixar’ valores universais considerando a diversidade cultural e social? Em uma perspectiva epistemológica, para que futuro é possível conduzir estes valores?
Como anteriormente mencionado, desde o começo dos Jogos Olímpicos
Modernos, em 1986, até a atualidade, mudanças valorativas sociais
aconteceram. O Movimento Olímpico há mudado seus preceitos para
acompanhar tais mudanças e os valores Olímpicos também seguem este
processo de universalização. Desta forma, o Comitê Olímpico Internacional
procura também incentivar na busca por uma sociedade mais igualitária que
respeita a diversidade cultural e social. Para alcançar isto, na Agenda Olímpica
2020, destacam-se as recomendações 11 e 14,
25
11. Promover igualdade de gênero
Promover igualdade de gênero
1. O COI passa a trabalhar com as Federações Internacionais para alcançar a participação de 50 por cento do sexo feminino nos Jogos Olímpicos e para estimular a participação das mulheres e a participação no esporte, criando mais oportunidades de participação nos Jogos Olímpicos.
2. O COI passa a incentivar a inclusão de eventos da equipe mista em gênero.
14. Reforçar o 6º Princípio Fundamental do Olimpismo
O COI passa a incluir a não-discriminação por orientação sexual no Princípio Fundamental 6 do Olimpismo. (IOC, 2014)
1.3 CONCEITOS DE EDUCAÇÃO OLÍMPICA
Em 1961, foi criada a Academia Olímpica Internacional14, com o intuito
de dar continuidade nas investigações, avançando e desenvolvendo, de forma
sistematizada, uma pedagogia esportiva com referencial nas propostas de
Coubertin. Porém, embora Coubertin tenha usado o termo ‘Educação
Esportiva’ no início do século XX, foi apenas em 1970 que o historiador alemão
Norbert Müller15 criou a expressão ‘Educação Olímpica’ (FUTADA, 2007). Para
este historiador alemão do esporte e especialista em estudos olímpicos, a
Educação Olímpica:
[...] empenha-se em prover uma educação universal, o desenvolvimento do ser humano como um todo em contraste com a educação cada vez mais especializada encontrada em muitas disciplinas especializadas. Logo, somente pode ser baseada nos valores fundamentais da personalidade humana (MÜLLER, 2008, p. 309).
14 A Academia Olímpica Internacional (AOI), bem como as suas respectivas Academias
Olímpicas Nacionais (AONs), são instituições formadas por expertos em Estudos Olímpicos que se dedicam na produção e disseminação do conhecimento relacionado ao Olimpismo e seus ideais (MESQUITA, 2007). 15
Norbert Müller pode ser considerado um dos maiores estudiosos do Movimento Olímpico.
26
A partir deste momento foi constatado um movimento paradoxal em
relação aos estudos, publicações e sistematização de propostas relacionadas à
Educação Olímpica. Se, por um lado, tem aumentado o número de
especialistas que discutem a temática, como também aumentou o número de
projetos chamados de Educação Olímpica, não existe de forma definitiva uma
delimitação do que seja a Educação Olímpica com os seus objetivos e seus
modelos e propostas pedagógicas (FRANCESCHI WACKER, 2009).
Neste sentido, é necessário fazer o esforço inicial de buscar conceitos
que permitam uma melhor definição e esclarecimento do termo, destacando
alguns autores que têm contribuído na busca por esta conceituação.
Como veremos a seguir, duas características importantes são
compartilhadas por muitos autores. A primeira é a do fundamento humanista da
Educação Olímpica. Ou seja, apesar de lastreada em um movimento esportivo
centrado no rendimento e na técnica, a maioria dos autores, se não todos,
entendem a Educação Olímpica como uma iniciativa de formação humana
global. A segunda característica reside na pretensão de sua universalidade,
ainda que ajustada a projetos e compreensões locais. Todavia, devemos
reconhecer que a literatura consultada apresenta definições nem sempre
rigorosas, o que confirma a constatação Franceschi Wacker anteriormente
mencionada.
Assim, autores como Futada (2007) e Todt (2009), por exemplo, limitam
suas definições ao campo dos fundamentos, apresentando definições não
problematizadas do que seria a ‘filosofia do olimpismo’ e de como seria
possível ensiná-la. Baseado nas ideias de Brownlee, Futada (2007, p. 17 a 18)
menciona que “[...] a Educação Olímpica é um processo que busca trazer vida
à filosofia do Olimpismo, através do ensino dos ideais Olímpicos”. Todt (2009)
compartilha dessa mesma definição, mas faz uma relação entre Educação
Olímpica e as políticas públicas, quando afirma que,
A Educação Olímpica nada mais é do que o processo que traz a filosofia do Olimpismo para todos através do ensinamento dos ideais olímpicos. Baseada no Olimpismo pode representar uma política pública para alcançar o objetivo de um desenvolvimento humano e social mais justo, igual e fraterno através do esporte.
27
Outra vertente importante é aquela que pensa a Educação Olímpica
como a proposta de uma antropologia filosófica, ou que pelo menos,
contribuísse para isto. Assim, Gomes (2009, p. 174) contribui ampliando a
abordagem da Educação Olímpica esclarecendo que esta tem um grande
potencial multidisciplinar e multicultural, sendo esta uma “Educação do homem
por meio de um tema gerador (esporte) e educação para um tema (esporte) a
partir da formação de um certo homem, aquele dotado de humanidade que só
se constrói nas relações intersubjetivas estimuladas culturalmente”.
Na mesma linha de abordagem, Moretti e Tapetti (2007, p. 77) afirmam
que a Educação Olímpica se utiliza do esporte olímpico para alcançar um tipo
ideal de homem baseado nos ideais do Olimpismo: “[...] honestidade, honradez,
valorização do esforço, compreensão, tolerância, respeito ao próximo, são
valores oriundos do ideário olímpico, que através do esporte podem ser
incluídos no processo educacional”. Esses autores ainda afirmam que as
propostas de Educação Olímpica buscam trabalhar com valores humanistas
considerados universais, ou seja, comum a todas as culturas, adaptando esses
valores às condições específicas de cada nação, tornando o desenvolvimento
dessas propostas mais próximas da realidade concreta. Nesta perspectiva,
para desenvolver uma proposta pedagógica de Educação Olímpica, há que ter
presente que é um movimento ambivalente de difusão de valores éticos
universais adaptados à diversidade cultural das diferentes sociedades.
Um esforço de definição também foi feito por Tavares (2006; 2009), no
qual se observa a tentativa de avançar na direção de uma demarcação mais
clara e ‘operacional’ do que afinal é a Educação Olímpica. Em um primeiro
momento, para este autor, a Educação Olímpica podia ser definida como um
conjunto de atividades educativas de caráter multidisciplinar e transversal tendo
como eixo integrador o esporte olímpico (TAVARES, 2006). Como podemos
observar, esta definição dialoga com a lógica proposta de ‘temas transversais’,
identificando interfaces entre os valores olímpicos presentes no Olympic Values
Education Program - OVEP: vida ativa, fair play, respeito pelos outros
(multiculturalismo), busca da excelência e equilíbrio entre corpo, vontade e
mente (IOC, 2008) e, os seis temas transversais propostos nos Parâmetros
28
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999): ética, saúde, meio ambiente,
pluralidade cultural, orientação sexual e trabalho e consumo).
OVEP ASSOCIAÇÃO TEMAS
TRANSVERSAIS
Vida ativa SIM Saúde
Fair play SIM Ética
Multiculturalismo SIM Pluralidade cultural
Equilíbrio corpo,
mente e vontade
SIM Saúde
Busca da
excelência
NÃO Meio ambiente
NÃO Orientação sexual
NÃO Trabalho e consumo
Figura 1 Matriz de associação entre os valores educacionais do Movimento Olímpico segundo o OVEP (IOC, 2008) e os Temas Transversais (BRASIL, 1999).
Uma segunda definição do que é a Educação Olímpica é lançada pelo
mesmo autor posteriormente. Segundo Tavares (2009), a Educação Olímpica
pode ser definida como qualquer proposta pedagógica sistematizada de
educação em valores por meio do esporte, referenciadas no Movimento
Olímpico, nos seus valores, símbolos, história, heróis e tradições. Tal definição
não parece se opor à primeira, podendo até mesmo ser considerada como
completar àquela uma vez que enquanto a primeira define uma abordagem
29
pedagógica (multidisciplinar e transversal), a segunda delimita um pouco
melhor o conjunto básico de conteúdos que caracteriza e singulariza o que é ou
pode ser a Educação Olímpica. Tal distinção ajuda a compreender porque se
toda iniciativa de Educação Olímpica possui relações com a educação em
valores por meio do esporte, nem toda iniciativa de educação em valores por
meio do esporte pode ser definida como Educação Olímpica.
Por fim, uma contribuição significativa ao debate do tema foi feita pelo
pedagogo alemão Roland Naul (2008). Este autor, com base na forma como os
conteúdos pedagógicos e as atividades são trabalhadas, propõe quatro
possíveis abordagens referentes a programas de Educação Olímpica, sendo
estas:
- Abordagem orientada para o conhecimento (the knowledge-oriented
approach): Nesta abordagem busca-se desenvolver a Educação Olímpica por
meio do legado histórico e educacional do ideário olímpico. De acordo com
Naul, esta abordagem é a mais difundida em todo o mundo, centrando-se na
apresentação de informações referentes aos Jogos Antigos e Modernos,
destacando nomes, datas e fatos;
- Abordagem experiencial (the experiential approach): Nesta abordagem
procura-se realizar encontros dentro e fora do ambiente escolar, através de
jogos, festivais esportivos, de arte e de música, enfatizando a participação de
crianças e jovens nestes festivais e nas competições “Olímpicas” escolares. A
abordagem experiencial tem dado ênfase especial no ensino do fair play;
- Abordagem realização física através do esforço (the physical achievement
through effort approach): Concentra-se na ideia de que o desenvolvimento
individual e social ocorre por meio de esforços intensos para se alcançar a
superação própria por meio do esforço físico e da competição condicionados
pelos princípios do fair play e da equidade. Voltando seu olhar para o
treinamento e para a prática física sistemática, busca oferecer uma plataforma
para o desenvolvimento holístico do corpo, mente e espírito. Esta abordagem
situa a Educação Olímpica no currículo da Educação Física e no esporte
extracurricular e interescolar;
30
- Abordagem orientada ao mundo da vida (the lifeworld-oriented approach):
Esta abordagem procura estabelecer uma ligação entre os princípios olímpicos
próprios da experiência social no esporte com as experiências de outras áreas
da vida. Esta abordagem interpreta os ideais olímpicos como uma motivação
para atividades de aprendizagem em todos os aspectos da vida, por meio da
participação ativa no esporte e na atividade física.
O autor, com sua categorização, procurou abranger as diversas formas
de se apropriar da Educação Olímpica, porém as abordagens propostas não
são mutuamente excludentes. Entre elas existem pontos de comunicação. Por
este motivo é possível que um mesmo projeto de Educação Olímpica possa ter
características presentes em mais de um tipo de abordagem. Desta forma, ao
classificar um programa dentro da proposta de Naul, pode ser considerada a
característica que mais se sobressai entre as quatro abordagens, enquanto a
sua metodologia pedagógica.
Percebemos que os autores que estudam o tema concordam quanto à
conceptualização do que seja essa proposta educacional, já que todos
reconhecem o esporte referenciado no Movimento Olímpico como meio
pedagógico para conseguir uma educação pautada em valores. Neste sentido,
as ideias desenvolvidas pelos estudiosos da área possuem um caráter de
complementação e não de embate entre opiniões antagônicas. Isto posto,
compreendemos que há um distanciamento entre o plano conceitual e a
materialização enquanto proposta pedagógica sobre o que é Educação
Olímpica. Como visto, parece haver certo grau de consenso quanto ao conceito
de Educação Olímpica, porém, diferentes formas e possibilidades de colocar os
princípios em prática. Assim, parece importante que se examine como as
iniciativas de Educação Olímpica podem ser classificadas estruturalmente.
31
1.4 CATEGORIZAÇÕES DA EDUCAÇÃO OLÍMPICA NA PRÁTICA
Segundo Futada (2007), os programas de Educação Olímpica podem
variar em termos de forma, tipo e grau de institucionalização, bem como na
abordagem dos conteúdos pedagógicos, dos temas e das atividades, já que
são diversas as possibilidades de desenvolvimento de uma iniciativa desse
caráter. Podemos pensar ainda que estas iniciativas podem estar presentes em
diferentes campos sociais (escolas, clubes, projetos sociais, entre outros); com
diferentes propostas de duração (temporária, permanente, intercalada) e
vinculadas a diferentes tipos de institucionalização (governamentais, não
governamentais, internacionais). Para fins deste estudo se tenta categorizar as
diferentes possibilidades de organização desses programas considerando a
categorização estrutural de Moretti e Tapetti (2007).
Um tipo de categorização de iniciativas de Educação Olímpica foi
proposto por Moretti e Tapetti (2007), que buscam acompanhar a mesma
classificação utilizada na definição dos tipos educacionais. Desta forma os
autores propõem classificar as iniciativas de Educação Olímpica como formais,
não formais e informais.
A Educação Olímpica formal se dá em programas de educação formal,
como são as pré-escolas, escolas e universidades, sujeita a uma pedagogia
teoricamente orientada, métodos de ensino próprios, regras estabelecidas,
duração e horários bem definidos, bem como a presença de executores
especializados. Ou seja, dentro do sistema formal e oficial da educação
nacional.
Neste contexto, podem ser pensadas as disciplinas ou unidades de
disciplinas ofertadas no ensino formal em qualquer nível. Exemplos deste tipo
de manifestação é o programa ‘Educação Olímpica no Ensino Fundamental’,
desenvolvido pela professora Letícia Godoy no curso de Educação Física da
UFPR ainda em 1999 (TAVARES, 2006), ou ainda a oferta de unidades
curriculares do tipo ‘Atividade Interativa de Formação’ (ATIF) no curso de
32
licenciatura em Educação Física da UFES pelo professor Otávio Tavares em
2014 e 2015.
A Educação Olímpica não formal é aquela que se materializa como os
cursos profissionalizantes extracurriculares, cursos de esporte, projetos sociais,
entre outros. Apesar de não estar no ambiente regular de ensino e, portanto,
não possuir um marco legal que discipline a atividade, este tipo ação
educacional não dispensa objetivos e métodos bem definidos.
Neste contexto, são exemplos significativos desta categoria os
programas de Educação Olímpica ligados a Comitês Olímpicos Nacionais tais
como: British Olympic Association’s Olympic Education Pack16, o The Canadian
Olympic School Program Team17 e o australiano A.S.P.I.R.E school
network18assim como o programa de Educação Olímpica dos Jogos Rio 2016
(Transforma). Outro exemplo significativo de iniciativas de Educação Olímpica
de caráter não formal são projetos esportivos de caráter social, reconhecidos
como programas de Educação Olímpica como a Estação Conhecimento Serra,
localizado no município de Serra (ES), mantido pela Fundação Vale19 ou o
projeto social da Fundação Tênis20, desenvolvido no Rio Grande do Sul e em
São Paulo.
Por fim, a Educação Olímpica informal, na visão dos autores acima, vai
ao encontro da noção de educação informal, já que ocorre de forma não
intencional durante as diversas relações sociais, não possuindo sistemas ou
métodos claramente definidos. Sendo assim, ela se materializa pelo ensino e
aprendizagem dos valores olímpicos por meio da mídia, ao assistir as
competições, ou por conta da participação da população na prática de jogos
que carregam consigo o ideário olímpico. Neste sentido, além do muito que a
mídia constrói em termos de narrativas sobre valores do esporte e dos Jogos
Olímpicos, podemos pensar que os jogos e olimpíadas escolares com seus
16
www.olympic.org.uk 17
www.olympicschool.ca 18
www.olympics.com.au 19
www.fundacaovale.org/ 20
www.fundacaotenis.org.br
33
rituais que emulam os rituais olímpicos, exemplos da abordagem orientada à
experiência de Naul, são bons exemplos desta educação informal.
Isto posto, há de ter clareza a relevância das diferentes sugestões de
categorizações para as iniciativas de Educação Olímpica, por entender que
existem diversos contextos de possibilidades para implantação de projetos
desse tipo, seja pelo grau de institucionalização, pela sua duração ou pela
forma de trabalhar os conteúdos.
O que percebemos, especialmente, nas iniciativas brasileiras, acima
citadas, é que, mesmo que a Educação Olímpica seja teoricamente
considerada uma temática multidisciplinar e transversal, parece haver um
predomínio no desenvolvimento de projetos deste tipo no âmbito da Educação
Física. Apesar de compreender que o interesse da Educação Olímpica é
auxiliar à educação em valores tendo o esporte como referência, este
importante e multifacetado elemento da vida contemporânea.
Desta forma, ao pensar na Educação Olímpica vemos como podem
variar as definições dos conteúdos que a compõem entre as diferentes
propostas. Isto porque, apesar dos principais valores proclamados como
pertencentes ao Movimento Olímpico, para eles não há uma única definição,
sendo o grande desafio ajustar esses valores tidos como universais extraídos
do Olimpismo a um contexto local próprio de particularidades culturais e aos
interesses das diversas necessidades nacionais e regionais.
34
2 ESPORTE EDUCAÇÃO
Este capítulo tem por finalidade mostrar que ainda se encontram na
educação física duas teorias, a Teoria Crítica do Esporte e a Teoria que
chamaremos de Teoria Positiva do Esporte. Isto posto, apresentaremos ambas
as teorias e sua relação com o esporte e a sociedade a partir de autores da
Educação Física, para então, relacioná-las com projetos de Educação
Olímpica.
Percebemos que com as rápidas transformações sociais, culturais,
econômicas e tecnológicas ocorridas ao longo do século XX, acabaram por
influenciar significativamente o esporte, gerando diferentes manifestações para
a sua prática. Desta forma, na década de 1980, Brasil, no que se refere ao
âmbito acadêmico, sofre com questionamentos com relação ao papel da
Educação Física e do Esporte. Como resultado deste contexto epistemológico,
surge uma das principais elaborações teóricas com o reconhecimento da
Educação Física escolar e da influência do esporte nesse processo (BRACHT,
1997). Estas reflexões finalizaram em discussões sobre o conteúdo educativo
do esporte e os valores que são transmitidos por eles.
Desta forma, o esporte é um fenômeno moderno que tem como
característica ser uma prática corporal construída, vivenciada e ressignificada
por meio das relações entre os sujeitos, reproduzindo seus valores e gerando
novos. Sendo assim, podemos compreende que “os valores não são
essencialmente do esporte, mas se refletem no esporte e são também gerados
a partir dos significados que os indivíduos e grupos sociais dão à prática
esportiva” (DaCOSTA et al., 2007, p. 15)21.
Com base no já citado, faremos a discussão sobre esporte e educação
relacionando-as com ambas as teorias, pelo que serão elaborados dois tópicos:
[1] apresentação da perspectiva da Teoria Crítica do Esporte, fundamentando-
se nos autores Valter Bracht (1997; 2005), Alexandre Fernandez Vaz (2001;
21
Destaque do autor.
35
2005); e [2] discutiremos a Teoria Positiva do Esporte, corrente divergente à
Teoria Crítica do Esporte principalmente o sentido outorgado ao esporte no
contexto escolar, por meio de autores como Gaya e Torres (2004) e Bento
(2004).
2.1 O QUE É A TEORIA CRÍTICA?
A Teoria Crítica teve como base os estudos realizados na Alemanha no
Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, comumente
conhecido como Escola de Frankfurt, a qual foi criada no ano de 1923. Estes
estudos utilizaram como principais referências às teses marxistas, pensadores
e cientistas sociais, pelo que apresentam uma abordagem ou ótica do conflito,
que analisa a sociedade a partir de suas contradições (BRACHT, 1987). Isto
posto, pretendia mostrar a dominação exercida pelo capitalismo nas
instituições sociais como na cultura, na ciência e nas ações dos Estados.
“[...] a dialética da razão iluminista e a crítica à ciência, a dupla face da cultura e a discussão da indústria cultural, e a questão do Estado e suas formas de legitimação na moderna sociedade de consumo. [...] Os três temas se permeiam, entrelaçam e confundem, tanto na realidade analisada quanto na obra dos autores” (FREITAG, 1988, 32-33).
Desta forma, teve grande repercussão inicialmente na Europa e na
América do Norte e, logo após, influencia a Ibero-américa. Entre as décadas de
1960 e 1970, principalmente na Europa, há um processo de crítica sócio
filosófica do esporte, que tem como base referencial o Neomarxismo
Frankfurtiano, mais conhecida por Teoria Crítica, tendo como principais autores
Herbert Marcuse, Theodor Adorno, Max Horkheimer e Jürgen Habermas.
As principais críticas feitas pela Teoria Crítica são à falta de autonomia
dos indivíduos, chamando isto de o ‘mundo alienado’, onde há maior
burocratização e mecanismos de controle social. Esta era constituída pela “tese
da coisificação ou alienação” e a “tese da repressão e manipulação” (BRACHT,
2005). Tais teses têm por fundamento,
36
a) a tese da coisificação ou alienação. Essa tese resumidamente propõe que a sociedade e os homens não são aquilo que em função de suas possibilidades e sua natureza poderiam ser. Isso transparece nas sociedades industriais principalmente no mundo do trabalho. Como causa, temos um tipo de pensamento que se efetiva na razão instrumental ou racionalidade técnica. Isto é, as relações sociais em seu conjunto são norteadas por uma razão instrumental, coisificando-as;
b) a tese da repressão e manipulação. De acordo com essa tese, a sociedade moderna altamente tecnologizada, industrializada e desenvolvida, representa um sistema de repressão, dominação e manipulação (BRACHT, 2005, p. 28-29).
Observa-se, assim, um movimento que vai da crítica marxista tradicional
à dimensão estética, em que inicialmente os temas estavam relacionados
diretamente à Marx, à classe operária, à razão e à ciência, houve uma
transição desses temas na direção dos assalariados e pequenos produtores,
da cultura e da indústria cultural (ASSOUN, 1991).
Depois que a cultura se transformou gradativamente em indústria cultural, depois que a arte perdeu sua aura, dissolvida no consumo de massa, e depois que a filosofia e a ciência se reduziram ao positivismo, em que sua pobreza somente permite a reflexão afirmativa do existente, restam poucas alternativas à sociedade moderna de assegurar sua auto-reflexão e crítica. Uma delas seria a estética, e mais especificamente a música, que preserva ainda, segundo Adorno, a utopia de um mundo melhor, implicando, assim, um potencial crítico do passado e do presente. (FREITAG, 1988, p.81).
Tendo como fundamento central estas ideias, foram inseridos também
outros aspectos sociais dentro da Teoria Crítica, sendo um destes fenômenos
sociais o esporte. Ainda assim, as críticas feitas pelos teóricos da Nova
Esquerda22 apresentavam-se de forma indireta, principalmente o que estava
relacionado à economia, à política e à indústria cultural.
2.1.2 Teoria Crítica do Esporte
A partir da década de 1960 os trabalhos da Escola de Frankfurt
começam a ter como um dos temas principais o esporte, fundando assim a
22
Horkheimer, Adorno e Marcuse, seus estudos são a base para o desenvolvimento da Teoria Crítica do
Esporte.
37
Teoria Crítica do Esporte, tendo como principais representantes da Alemanha
Gerard Vinnai e Bero Rigauer, e da França Jean-Marie Brohm (BRACHT, 2005;
TORRI; VAZ, 2005; 2006).
A Teoria Crítica do Esporte surge da rejeição das ideias positivo-
funcionalistas do esporte moderno. Desta forma, até a década de 1960, “[...] o
esporte e sua aura de “pureza” oriunda do ideal olímpico permaneciam quase
inquestionáveis como fenômenos positivos para as sociedades modernas”
(VAZ, 2003, p. 2). Assim, era defendido que o positivismo e funcionalismo
presente no esporte, “[...] deveria ser substituído pelo ‘materialismo histórico’,
visão social de mundo que seria privilegiada, porque transformadora e
vinculada aos interesses dos subalternos (VAZ, 2001, p.88)”.
Na perspectiva da Teoria Crítica do Esporte não houve crítica ao esporte
praticado pela burguesia capitalista, mas sim ao esporte em si mesmo.
Entretanto, o esporte é concebido como um produto da sociedade burguesa,
assim sendo, ele é reprodutor de seus valores e um de seus principais
legitimadores. Desta forma, o esporte foi alvo de importantes críticas,
principalmente em sua prática voltada para as Olimpíadas.
[...] tratava-se de questionar o esporte de alto rendimento e de espetáculo em sua inteireza, considerando que os ideais olímpicos constituíam um engodo para reforçar as condições de dominação impostas tanto às classes subalternas quanto, de um ponto de vista mais particular, ao corpo. [...] ele educaria para a submissão e para o comportamento autoritário [...] uma expressão da sociedade capitalista (VAZ, 2003, p. 4).
Complementando esta ideia, para Brohm (1989, p. 77) a presença do esporte
na sociedade capitalista pode ser resumida como:
“O esporte é um aparelho ideológico do Estado que cumpre um triplo papel: reproduz ideologicamente as relações sociais burguesas, tais como hierarquia, subserviência, obediência etc.; em segundo lugar ele propaga uma ideologia organizacional específica para a instituição esportiva, envolvendo competição, recordes e outputs; em terceiro lugar ele transmite, em larga escala, os temas universais da ideologia burguesa, como o mito do super-homem, individualismo, ascensão social, sucesso, eficiência etc.”.
As elaborações desta corrente teórica questionam o esporte enquanto
um elemento estritamente positivo do ponto de vista pedagógico e social.
Nesse sentido, a Teoria Crítica do Esporte se propõe analisar o esporte e o
38
ideal olímpico, que era pouco questionado até então.
Os ensaios de Jürgen Habermas sobre a relação que há entre trabalho e
tempo livre levaram as primeiras críticas ao esporte por ser entendido como
expressão da sociedade burguesa, sendo reprodutor de seus valores e um de
seus principais legitimadores. Torri e Vaz (2005, p. 3) consideram que,
A Teoria Crítica do Esporte não desejava, então, criticar o esporte ‘capitalista’, ou mesmo ocidental, mas sim as condições que faziam com que ele acontecesse, sua lógica de dominação e repressão, a alienação por ele reforçada. Reconheciam os teóricos críticos, portanto, que tanto o esporte praticado no capitalismo, quanto aquele que fazia parte do socialismo real, serviam para aumentar a dominação.
Por este motivo, de uma forma geral, foi alvo de críticas tanto o esporte
praticado nas sociedades capitalistas quanto aquele praticado no socialismo
‘militar’, principalmente quando relacionado ao esporte de alto rendimento e ao
espetáculo, a exemplo disso estão os Jogos Olímpicos.
A Teoria Crítica do Esporte apesar de ter surgido na Alemanha, suas
produções forma difundidas por toda Europa, América do Norte e na Ibero-
américa. No Brasil, nos anos de 1980, os discursos de superação do
tecnicismo pedagógico junto com a resistência ao regime ditatorial fizeram com
que as ideias críticas em relação ao esporte encontrassem um espaço junto à
Educação Física. Desta forma, entra no país, como forma de um apoio teórico
e político para a tentativa de compreensão do esporte nacional, tanto em sua
versão no lazer quanto na escolarização, ambos mediados pelo Estado
(TORRI; VAZ, 2006). Assim, as discussões sobre a Teoria Crítica do Esporte
no Brasil começam com Cavalcanti (1981) e Bracht (1987).
Como acima citado, os estudos de Jürgen Habermas acerca da relação
entre trabalho e tempo livre levaram a criticar o esporte por ser considerado um
mecanismo de repressão e alienação, sendo estes vinculados ao trabalho na
sociedade capitalista e ao desenvolvimento esportivo, ambos fundamentados
no princípio do rendimento. Como coloca Vaz (2001, p. 89),
Em linhas muito gerais, a Teoria Crítica do Esporte procura mostrar a correspondência estrutural e a identificação conceitual entre esporte e trabalho, sobretudo no que se refere aos processos de
39
racionalização. O trabalho junto à linha de produção seria uma imagem correspondente àquele do atleta submetido aos princípios do treinamento esportivo, às repetições coordenadas das calculadas cargas de esforço. Nesse contexto, poderia ser dito que o esporte reproduz a lógica do trabalho, reforçando seu caráter de mercadoria, de reificação e de disseminador de ideologia. Além disso, seria ele repressivo, canalizando energias pulsionais potencialmente libertadoras, para fins que perpetuariam a dominação individual e de
classe.
Para os autores da Teoria Crítica do Esporte, o esporte em si, tem
características da sociedade capitalista, sendo estes, a competição, a
racionalidade instrumental, a disciplina, a burocratização, dentre outras.
Portanto, é caracterizado por elementos próprios do mundo da industrialização
e seus objetivos formam a base para o desenvolvimento do esporte moderno e,
em decorrência disso, contribui como um legitimador do capitalismo burguês.
O esporte não é um sistema à parte, mas de diversas formas interligado com o desenvolvimento social, cuja origem está na sociedade burguesa e capitalista. Embora constitua um espaço específico de ação social, o esporte permanece em interdependência com a totalidade do processo social, que o impregna com suas marcas fundamentais: disciplina, autoridade, competição, rendimento, racionalidade instrumental, organização administrativa, burocratização, apenas para citar alguns elementos. Na sociedade industrial, formas específicas de trabalho e produção tornaram-se tão dominantes como modelo, que até o chamado tempo livre influenciaram normativamente [...] (RIGAUER, apud VAZ, 2003, p.7).
Reconhecendo o esporte por sua “multifacitude”23, a prática do esporte
de alto rendimento e/ou de espetáculo parece dominar e influenciar as diversas
manifestações esportivas, como acontece no esporte escolar. O mesmo
ocorreria com o esporte praticado no tempo livre como atividade de lazer, o
qual, segundo esta visão, também reproduz os aspectos estruturais do esporte
de alto rendimento.
Com base na Teoria Crítica do Esporte, o esporte é vinculado à ideia de
um mecanismo atenuador das tensões sociais, podendo considerar seu ‘papel
social’ como um estabilizador do sistema. De forma complementar a isto,
encontra-se no esporte o seu processo de mercadorização, estabelecido pelo
valor atribuído ao trabalho do atleta, sendo este, a sua superação, a
23
Bracht (2005, p. 16) simplifica para melhor compreensão o esporte em um esquema dual: a)
Esporte de alto rendimento ou espetáculo; b) Esporte enquanto atividade de lazer.
40
mecanização dos movimentos e os produtos comercializados. Para os teóricos
da Nova Esquerda, a mercadorização demonstra a tendência presente na
sociedade capitalista de reificação dos fenômenos sociais.
[...] a Teoria Crítica do Esporte procura mostrar a correspondência estrutural e a identificação conceitual entre esporte e trabalho, sobretudo no que se refere aos processos de nacionalização. O trabalho junto à linha de produção seria uma imagem correspondente àquela do atleta submetido aos princípios do treinamento esportivo, às repetições coordenadas das calculadas cargas de esforço. Nesse contexto, poderia ser dito que o esporte reproduz a lógica do trabalho, reforçando seu caráter de mercadoria, de reificação e de disseminador de ideologia. Além disso, seria ele repressivo, canalizando energias pulsionais potencialmente libertadoras, para fins que perpetuariam a dominação individual e de classe (VAZ, 2001, p.89).
Cabe mencionar que a reificação do corpo não é efetivada apenas na
forma mercadoria, mas quando o corpo é comparado e associado com uma
maquinaria. Isto ocorre pela supervalorização da racionalidade, o que levou a
pensar no corpo humano como um objeto, o qual é apto para ser moldado,
preparado e aperfeiçoado, desprovido de sentimentos e emoções.
A redução da força de trabalho à forma mercadoria, abstrata e quantificada, [implica] na concreta reificação da ação humana. As relações humanas baseadas na troca de mercadorias coisificam-se na forma de objetos mensuráveis e formalizados. À reificação do rendimento esportivo corresponderia o trabalho alienado, no qual o trabalhador domina apenas uma parte do processo de produção (RIGAUER, 1979, p. 141).
Estas críticas empreendidas ao esporte pela Teoria Crítica do Esporte, por
consequência, acabam por entrar no âmbito escolar. Em decorrência disso,
encontramos na obra de Bracht, Educação Física e Aprendizagem Social (1997),
artigos que abordam a legitimidade e a função social da Educação Física,
transcorrendo os princípios e códigos do sistema esportivo no campo educacional.
Para Bracht (1997) o esporte praticado pelos jovens e crianças tem
como finalidade difundir valores burgueses, evidenciando o respeito
incondicional e impensado das regras como forma de socialização na
sociedade capitalista. Por este motivo o autor, em seu livro, se posiciona
contrário à abordagem de incluir a Educação Física nos currículos escolares.
Assim, podemos dizer que a socialização através do esporte escolar pode ser considerada uma forma de controle social, pela adaptação
41
do praticante aos valores e normas dominantes com condição alegada para a funcionalidade e desenvolvimento da sociedade. Um dos papéis que cumpre o esporte escolar em nosso País, então, é o de reproduzir e reforçar a ideologia capitalista, que por sua vez visa fazer com que os valores e normas nela inseridos se apresentem como normais e desejáveis. Ou seja, a dominação e a exploração devem ser assumidas e consentidas por todos, explorados e exploradores, como natural (BRACHT, 1997, p. 61).
Pelo que, o esporte, quando pensado em seu papel positivo-funcional no
processo educativo acaba também por abranger à sociedade, já que as
atitudes, normas e valores adquiridos na prática esportiva estão vinculados a
um amplo sistema de significados. Desta forma, o esporte ao condicionar seus
praticantes a seguir regras impostas, sem questioná-las, desenvolve a atitude
de respeito incondicional a todas as regras, tanto no esporte quanto na vida em
sociedade (BRACHT, 2005). No contexto do esporte escolar, Bracht (1997)
reforça que, estas características que o esporte apresenta não são geradas no
seio do próprio esporte, e sim, são o reflexo mediatizado da estrutura social em
que ele se realiza, ou seja, da sociedade capitalista.
[...] o papel do esporte consiste em inculcar o espírito de disciplina, de obediência, fazendo abstração da própria pessoa. Como meio de integração e adaptação do indivíduo à sociedade, o esporte contenta-se em celebrar e não em contestar. Como instituição de compensação, a sua principal função é a de preparação para o trabalho e a recuperação da força de trabalho. [...] O esporte também consiste num meio bastante eficaz de manutenção da ordem pública na medida em que exerce um controle ideológico profundo sobre as massas e, além disso, contribui para minimizar as barreiras sociais temporariamente, por ocasião dos encontros esportivos (CAVALCANTI, 1981, p. 305-306).
Apesar do já apresentado, o autor reforça que a postura que ele assume
na perspectiva teórica não pretende mudar o sistema (capitalista), mas, ‘fazê-lo
funcionar melhor’. Desta forma, Bracht (1997, p.74) acredita que, o “educador,
quer queira quer não, é um veiculador de valores”. Por este motivo, exige que
haja uma postura política por parte dos educadores, a fim de concretizar um
projeto pedagógico que seja, de fato, questionador e, consequentemente,
possa resultar em transformações sociais.
Isto posto, o trabalho de Bracht (1997) faz uma forte crítica ao esporte,
por ele reforçar as características da sociedade burguesa, tendo como algumas
das características o individualismo e a concorrência, perpetuando normas e
42
valores da classe social dominante e desenvolvendo sujeitos reprodutores da
ordem social vigente. Desta forma, para o autor, a educação exercida no/pelo
esporte se constitui como alienante,
[...] realmente o esporte educa. Mas, educação aqui significa levar o indivíduo a internalizar valores, normas de comportamento, que lhe possibilitarão adaptar-se à sociedade capitalista. Em suma, é uma educação que leva ao acomodamento e não ao questionamento. Uma educação que ofusca, ou lança uma cortina de fumaça sobre as contradições da sociedade capitalista. Uma educação a serviço da classe dominante. Uma educação que não leva à formação [...]
(BRACHT, 1997, p. 63).
O pensamento do autor questiona todos os tipos de competições por
acreditar que estas práticas incentivam a querer ganhar cada vez mais
visibilidade por parte de quem as organiza, seja esta escola, escolinha
desportiva, academias ou clubes. Desta forma, é gerado certo estímulo para
que os praticantes ganhem e, consequentemente, há exclusão dos menos
talentosos. Pelo que, legitima as diferenças sociais e promove o individualismo
e a competitividade, que interessam diretamente ao sistema capitalista
(BRACHT, 1987). Porém, para o autor o esporte e as competições não devem
ser abolidos, mas precisam ser modificados enquanto a sua sistematização e
conteúdos. Assim,
Se, por um lado, o individualismo resultante da comparação de performances, a competição desmedida, o respeito irrefletido às regras, são valores de nossa sociedade que são reforçados pelo esporte e, consequentemente, pelo esporte escolar, acreditamos ser possível, por outro lado, reorientar esse ensino e esse esporte no sentido do desenvolvimento do coletivismo (entendido como a ação pessoal comprometida prioritariamente com o bem comum), do desenvolvimento da consciência da relatividade das normas e da possibilidade de sobre elas agir, e de reorientar a competição esportiva destituindo-a da finalidade precípua de indicar a supremacia de uns sobre os outros (discriminar melhores dos piores) através da análise crítica do significado da competição (BRACHT, 1997, p. 109).
Desta forma, a Teoria Crítica do Esporte, é uma das vertentes que
analisa o esporte e suas interligações com os valores sociais, sendo promotor
da ideologia burguesa, o esporte tem como uma de suas funções, estabilizar o
sistema capitalista, apresentando estreita ligação com o modelo do trabalho
industrial.
[...] o esporte desenvolveu-se em afinidade com o processo social global, o que determinou suas características, por exemplo, a
43
disciplina, autoridade, concorrência, rendimento, organização, entre várias outras. Esses aspectos, que fazem parte da estrutura da sociedade capitalista, impregnaram o esporte, principalmente o de alto rendimento, mas também o de lazer. Essa afinidade se daria por um paralelismo nos sistemas de ação do esporte e do trabalho, no cientificismo de ambos, na execução repetitiva, na sobrecarga comum aos dois e no caráter de mercadoria que possuem (RIGAUER, apud TORRI e VAZ, 2006, p.190).
Percebe-se desta forma que o esporte educa, porém, os elementos que
compõem esta educação são reprodutores do sistema capitalista burguês. Os
valores universais do esporte refletem os valores e elementos da ideologia
burguesa, encobrindo a dominação e exploração de classe e tornando toda
sorte de injustiças sociais como algo aceitável, natural e, portanto,
inquestionável.
Entretanto, Hugo Lovisolo (2002) fez algumas observações com relação
aos autores neomarxistas e como eles analisam os fenômenos sociais, dando
maior ênfase ao esporte. Para o autor, estes teóricos, ao elaborarem seus
discursos, acabaram por se distanciar dos efeitos dos fenômenos sociais.
Assim, entendesse que os autores ao analisar a dinâmica social de forma
crítica, tomam uma postura de superioridade pelo que acabam se eximindo
deste processo, que, por sua vez, é uma construção social.
Ainda a respeito da postura de superioridade, o autor descreve esta
perspectiva e a que questiona a partir de três axiomas:
a) todas as regras existentes na sociedade são funcionais para a reprodução da dominação do capital e da ordem social vigente; b) todas as regras que regem os esportes e as atividades de educação física compartilham dessa propriedade e, c) portanto os esportes e seu ensino (em clubes, academias e escolas) desenvolvem competências adequadas ao funcionamento do capitalismo (LOVISOLO, 1995, p. 84).
Isto posto, o referido autor acredita que é impossível pensar nas
mudanças e nos conflitos sem se considerar que qualquer coisa seja funcional
para a integração do ‘sistema’. Ele pondera que,
[...] não somos menos funcionais se afirmamos a funcionalidade das regras em relação à dominação de classe ou à formação de personalidades sociais adaptadas as competições da economia, da cultura ou da política. [...] De fato, há muitas crenças, hábitos, regras, leis, costumes e usos que são funcionais para alguma instância do social. Entretanto, há crença outras que não possuem nenhuma
44
funcionalidade, sendo afuncionais ou francamente disfuncionais, e que ao invés de integrar ou solidificar sistemas induzem processos desagregativos, de conflito e de mudança social (LOVISOLO, 1995,
p. 85).
Lovisolo (1995) chama de dogmática toda postura que afirme que é o
capital quem estipula as regras, sempre a favor de seu próprio benefício. Desta
forma, é questionado pelo autor o segundo axioma o qual faz referência a que
as regras dos esportes são funcionais ao capitalismo, isto por ignorar as lutas
pela limitação do poder das elites econômicas, sociais e políticas.
Por conseguinte, percebemos, ao estudar o que chamamos de ‘Esporte
educação’, como a Teoria Crítica tem contribuído e também suas limitações
frente a este assunto. Desta forma, analisaremos as concepções de Bento
(2004) e Gaya e Torres (2004) para assim abranger mais sobre este tema, mas
com uma abordagem diferente à já estudada, isto por ter uma visão plural do
fenômeno esportivo.
2.2 TEORIA POSITIVA DO ESPORTE
Com o objetivo de melhor compreender o que chamamos de Teoria
Positiva do Esporte, desenvolveremos as principais ideias de Bento (2004),
Gaya e Torres (2004) e Tavares (2007), por terem uma perspectiva diferente à
Teoria Crítica do Esporte, com relação ao esporte e os valores que lhe são
inerentes e que são considerados socialmente positivos, como são
considerados a amizade, a excelência, o respeito, a cooperação
(GAYA;TORRES, 2004; BENTO, 2004; TAVARES 2003; TODT, 2009;
DaCOSTA, 2007), como também, a compreensão de que, o esporte é pensado
e adequado para quem o pratica.
Como afirma Bento (2004, p. 37-38), “[...] o desporto é um lugar pedagógico
por excelência, [...] torna evidentes as nossas fraquezas, insuficiências,
mazelas e contradições, pondo a nu e convidando a cultivar o que nós falta”.
Nesse sentido, ao compreender que as dimensões motoras e corporais são
integradas às dimensões cognitivas, afetivas e sociais dos indivíduos, nos
45
permite compreender por sua vez que as capacidades de formação humana
podem ser potencializadas.
Desta forma, o autor apresenta diferentes possibilidades educativas dentro
do esporte, pelo que ressalta sua eficácia para a construção da ‘forma
humana’. Entretanto, são consideradas todas as dificuldades e necessidades
presentes nos diferentes contextos das sociedades. Isto posto, um meio para
alcançar a ‘forma humana’ é a educação, já que, um dos objetivos da educação
é formar “Homens” saudáveis na sua totalidade. Como Bento (2004, p. 35 - 36)
diz,
Não estou a referir apenas ao nosso mero aparato físico, à nossa couraça óssea e muscular, à nossa forma externa. Estou a pensar em tudo quanto nos perfaz por dentro e por fora, nos pensamentos e actos, nos sentimentos e gestos, ideais e palavras, emoções e reações. Estou a pensar no Homem-Todo, na pessoa de fora e na expressão da sua beleza e grandeza na pessoa de dentro. E a esse entendimento e estado holístico da forma humana eu atrevo-me a
chamar de saúde.
Contudo, há de ser trabalhada de forma individual a formação enquanto
homem, ao mesmo tempo em que há a necessidade de produzir e aumentar a
humanidade compartilhada que é por sua vez o uso das novas tecnologias, os
progressos e bens que estão no contexto dos sujeitos. A partir disso, o autor
percebe no esporte uma potência para conseguir a criação da forma humana,
que tem por base esforço e suor, sacrifício, disciplina, renúncia, afinco, rigor,
respeito de compromissos, obrigações, deveres, normas, princípios e valores
morais e universais (BENTO, 2004).
Entretanto, para a Teoria Crítica do Esporte os elementos supracitados
(esforço, sacrifício, disciplina, renúncia, respeito, obrigações, deveres, normas,
princípios e valores morais e universais) acabam por repetir a formação
alienante exercida pelo esporte e, por consequência, leva ao sujeito adotar
normas de conduta e valores da classe dominante e com isso se adapta à
sociedade capitalista.
Desta forma, é para o esporte um desafio alcançar a formação do homem.
Bento (2004, p. 38) se refere ao esporte quando diz,
46
“Certamente que ele torna evidentes as nossas fraquezas, insuficiências, mazelas e contradições, pondo a nu e convidando a cultivar o que em nós falta. Mas, por isso mesmo, é educativo. Funda e reforça também a convicção de que o caminho mais longo é o homem como pessoa moral. É para ela que vale verdadeiramente a pena trabalhar [...] que seja a exaltação simbólica e celebre o anseio e a consciência da necessidade do homem estar sempre a procurar uma forma nova e superior [...] o desporto configura um teste da nossa forma e desafia-nos a melhorá-la constantemente”.
Porém, não podemos afirmar que o esporte é socialmente positivo por
natureza, este ponto de vista pode levar a um essencialismo. Desta forma, o
esporte se apresenta como uma prática potencialmente educativa. O autor
referenciado concorda com esta concepção quando diz que,
Ora o desporto é pedagógico e educativo quando proporciona oportunidades para colocar obstáculos, desafios e exigências, para se experimentar, observando regras e lidando correctamente com os outros; quando fomenta a procura de rendimento na competição e para isso se exercita, treina e reserva um pedaço da vida; quando cada um rende o mais que pode sem sentir que isso é uma obrigação imposta do exterior; quando cada um não assume mais do que é capaz, mas simultaneamente esgota as suas possibilidades de empenhamento e rendimento. É educativo quando não inspira vaidades vãs, mas funda uma moral do esforço e do suor, quando se afirma como uma verdadeira escola do auto-rendimento; quando socializa crianças e jovens num modelo de pensamento e vida, assente no empenhamento e disponibilidade pessoais para a correcção permanente do erro; quando forja optimismo na dificuldade, satisfação pela vitória pessoal e admiração pelo sucesso alheio (BENTO, 2004, p. 54).
Deste modo, aspectos próprios da conduta humana podem ser
problematizados por meio da vivência do jogo, da competição, do risco, da
comunicação e cooperação, da convivialidade e sociabilidade. Destacamos que
esta problematização tem por finalidade uma análise social na sua ‘totalidade’,
por este motivo compreendemos o esporte como parte da sociedade, assim
como a sociedade fazendo parte do esporte. Isto porque, intrinsecamente há
na relação entre esporte e experiência social a aquisição e desenvolvimento de
valores os quais podem influenciar as reações, as atitudes, o cumprimento de
princípios e regras e o respeito para com o direito dos semelhantes.
Ainda mais, o esporte permite refletir as tensões e contradições das
sociedades, fazendo com que os indivíduos estejam aptos para compreender
e/ou modificar as mesmas. Neste sentido, ter competição no esporte é
indispensável, já que se compreende a necessidade de aprender a competir,
47
uma vez que,
“A competição é base e pressuposto para a cooperação. Quem não sabe competir não sabe cooperar. Seja entre pessoas, seja entre instituições, cidades e países. Do que estamos carecidos é de uma sólida aprendizagem da competição susceptível de enraizar profundamente uma ética do jogo e do jogador” (BENTO, 2004, p. 46).
Por este motivo, percebe-se que o esporte tem a competição como uma de
suas características que pode ser utilizada para ensinar. Entendendo que a
competição é uma característica presente em todas as manifestações
esportivas, pelo que surge a necessidade de adaptar as diferentes
modalidades, para melhor atender aos diferentes praticantes, com a finalidade
de qualificar a competição a serviço da formação.
Mas para Bracht (1997) a competição dentro do esporte escolar acaba por
incentivar a busca exacerbada pela vitória, às vezes a qualquer custo. Esta
característica leva a que sejam desconsideradas as possibilidades de criação
no esporte, já que o que se procura melhorar é o rendimento por meio da
execução de técnicas. Entretanto, para Heinemann e Puig (1991), o esporte é
entendido como um ‘sistema aberto’, desta forma, eles argumentam que o
esporte, na contemporaneidade, possui diferentes dimensões constitutivas
referentes à organização, à legitimidade, às motivações e os impactos
produzidos pelo mesmo.
Isto posto, o esporte tem quatro modelos que o constituem: [1] competitivo,
este vem do modelo tradicional, pelo que mantém seus regulamentos
universais e uma uniformidade na estrutura dos valores (fair play, espírito de
equipe, experiência de ganhar ou perder), está orientado para a conquista de
um objetivo e é legitimado pelas metas alcançadas; [2] expressivo, este segue
as mudança de valores nas sociedades modernas, onde as práticas são pouco
organizadas e sujeitas à inovação e diversificação, sendo valido por meio da
satisfação individual, já que em muitos casos, é uma compensação perante o
excessivo planejamento da vida cotidiana; [3] instrumental, o qual tem por
finalidade o cuidado do corpo, pelo que a saúde e o envelhecimento são
componentes importantes para a motivação dos praticantes, já que a
gratificação se obtém pela resposta que os outros vão dar frente ao corpo do
48
praticante, pelo que a academia é parte essencial em este modelo; e [4]
espetáculo, o qual é fundamentado a partir das leis de mercado e é orientado
para o entretenimento, tem um regulamento estrito (regulamentos das
federações, controle antidoping) e um corpo de profissionais responsáveis pelo
seu cumprimento (juízes, árbitros, comissões disciplinares). Sua promoção é
justificada por um desejo lucrativo, promovendo o desenvolvimento de uma
cidade ou de um país (o caso dos Jogos Olímpicos de Barcelona '92),
reconstruindo identidades em áreas periféricas de grandes áreas
metropolitanas, exaltando as virtudes de um Estado (HEINEMANN E PUIG,
1991).
Com base nestes modelos, são encontradas seis dimensões que tem por
base as divergências em que transitam nas atividades esportivas, estas são:
unifuncionalidade de objetivos/multifuncionalidade de objetivos,
competição/não-competição, performance/não-performance,
regulamentação/não-regulamentação, internacional/local e organizado/não-
organizado (HEINEMANN E PUIG, 1991, p. 128). Desta forma, apesar do
esporte ser pensado principalmente como uma atividade competitiva, esta
também poderá ser pensada como uma prática corporal não-competitiva, pelo
que, ao pensar na competição no esporte sempre terá uma visão positiva, ao
mesmo tempo que sempre a visão negativa estará sujeita reavaliações.
Entretanto, destacamos que para Bento (2004) o esporte é um fenômeno
social moderno, pelo que assume diversas funções com relação aos diferentes
espaços em que está presente e, por sua vez, apresenta diferentes sentidos
para cada praticante. Por este motivo, se outorga uma pluralidade de sentidos
e significados para o esporte.
Nesta mesma linha de pensamento, Gaya e Torres (2004) definem o
esporte como fenômeno polissêmico e polimorfo, em outras palavras, o esporte
possui uma diversidade de sentidos e formas que despertam diferentes
intencionalidades e finalidades para a prática esportiva, entendida esta como
perspectiva plural.
Para estes autores, apesar de compreender as diversas formas e sentidos
49
do esporte, apresenta-se um conjunto de categorias essenciais presentes em
todas as suas manifestações, sendo estas: o rendimento, os regulamentos e a
competição. Por conseguinte, estas categorias são configuradas ou enfatizadas
de diferentes maneiras pelas diversas expressões do esporte. Como explicam
Gaya e Torres (2004, p. 61):
● o esporte de alto rendimento ou esporte de excelência, onde predominam os aspectos parciais do comportamento corporal e motor, objetiváveis e mensuráveis, aos quais se aplicam os propósitos fundamentais de padronização, sincronização e maximização (COSTA, 1987), onde as categorias rendimento, regulamentos institucionalizados e competição são maximizadas;
● o esporte escolar, onde se valorizam as possibilidades normativas na formação sobre valores, atitudes, habilidades e conduta humana. Nessa perspectiva as categorias rendimento, competição e regulamentos ficam submetidas a princípios de educação e formação de crianças e jovens;
● o esporte de lazer, onde se enfatizam as tarefas higiênicas de saúde e de catarse, minimizam-se a formalidade e o rigor típico dos regulamentos institucionalizados e abre-se oportunidade para a modificação na forma, no espaço, na técnica e na participação;
● o esporte de reabilitação e reeducação, onde se consideram as diversas possibilidades físicas, motoras e orgânicas dos praticantes, e a partir dessas necessidades se reorganizam formas diferenciadas de regulamentos e competições, conferindo ao esporte a possibilidade de se configurar como coadjuvante de elevado significado nas estratégias de saúde pública e promoção da saúde.
Nesta forma de categorização se compreende que não há esporte sem
rendimento corporal, sem regulamentos e sem competição. Entretanto, são
diferentes as formas como estas categorias se configuram nas práticas
esportivas. No esporte de alto rendimento, o talento esportivo é uma exigência,
de tal forma que as categorias são elevadas ao máximo, já que também se faz
presente questões mercadológicas. Gaya e Torres (2004), não concordam em
que o esporte seja reduzido ao modelo do alto de rendimento, entretanto busca
esclarecer que dentro de este modelo existe a possibilidade de formação e
educação, como também desenvolver a moral e a sociabilidade de seus
praticantes. Os autores acreditam que,
[...] grande parte das divergências que permeiam os debates sobre o esporte na comunidade acadêmica decorre do fato do esporte ser conjugado no singular. Tantas vezes percebe-se, descreve-se e discute-se o esporte pela via única de sua expressão de alto rendimento. Tudo se resume ao alto rendimento. E ainda mais, tantas
50
vezes, principalmente quando interesses ideológicos permeiam os debates, se interpreta o esporte exclusivamente pelos desvios morais e por um quadro de referências éticas que em nada o dignificam. [...] Tal perspectiva claramente não faz justiça à grandeza e à relevância social do esporte como expressão da cultura (GAYA; TORRES, 2004, p. 62).
Entretanto, no esporte de lazer a participação e a inclusão são
predominantes, para isto, é incentivado o auto-rendimento (rendimento
próprio), por conseguinte, sua regulamentação pode ou não seguir padrões
externos, assim como a competição não assume como a vitória sua finalidade
única. Por sua vez, o esporte escolar é praticado por crianças e jovens, pelo
que as categorias (rendimento, regulamentos e competições) devem ser
usadas como meio de educação e formação, por isto é necessário utilizar uma
pedagogia que possibilite oportunidades de participação e aprendizado de
forma geral.
Todavia, cabe destacar que na concepção de esporte para Gaya e Torres
(2004) identifica-se uma tensão enquanto a este ser polissêmico, polimorfo e
plural, concomitantemente em que é determinado por características
entendidas como essenciais, como são, o rendimento, os regulamentos e a
competição. Por este motivo o esporte tem que ser estudado como uma
manifestação cultural, já que é expresso de diversas maneiras, tendo diferentes
objetivos, sentidos e anseios de seus praticantes. Do mesmo modo, Bracht
(2005, p. 16) identifica a “multifacitude” do esporte, mas trabalha com um
esquema dual que compreende o esporte de rendimento ou espetáculo e o
esporte enquanto atividade de lazer. Isto posto, percebemos uma certa
resistência dos autores em reconhecer o impacto da noção de polissemia sobre
suas propostas teóricas.
Com respeito ao esporte escolar, os referidos autores defendem a sua
inclusão como disciplina do currículo complementar, separadamente da
educação física escolar e do esporte de rendimento, por compreender que o
esporte possui uma relevância cultural e social. Contudo, o objetivo da
disciplina deve ser fundamentalmente a ampliação da vivência e da
aprendizagem das modalidades esportivas.
Gaya e Torres (2004) abordam no seu texto a temática de esporte de
51
rendimento na infância e na adolescência. Com relação ao esporte de
rendimento/excelência, os autores adotam a definição proposta por DaCosta
(1987, p. 3):
É uma expressão na qual predominam aspectos parciais do comportamento corporal e motor, objetiváveis e mensuráveis. Expressão corporal e motora em que se evidencia um fluxo contínuo de ações com comportamentos ordenados e estáveis, aos quais se aplicam os propósitos fundamentais de padronização, sincronização e maximização.
Os autores destacam que o esporte de excelência tem objetivos bem
definidos, maximizando o desempenho dos praticantes e, por consequência,
torna-se inadequado para ser conteúdo da Educação Física escolar (GAYA;
TORRES, 2004). Quanto a isso, encontramos discrepância entre Gaya e
Torres (2004) e os autores da Teoria Crítica, por apontar seus estudos aos
aspectos negativos que esta prática pode proporcionar aos mais jovens. Ainda
mais, o discurso da Teoria Crítica do Esporte não é claro ao delimitar o que é
entendido por esporte de rendimento. De forma que, pode-se questionar:
[...] uma criança ou jovem que participa de uma escolinha esportiva duas ou três horas por semana ou um jovem tenista que pratica seu esporte diariamente podem ser considerados como praticantes de esporte de rendimento ou de alto rendimento? Podemos considerar atletas de jogos escolares em geral como atletas participantes de esportes de excelência? (GAYA; TORRES, 2004, p. 69).
Os autores não negam que há desvios éticos no treinamento de crianças,
entretanto eles compreendem que se deve combater por meio da produção de
conhecimentos, a qual precisa orientar a prática pedagógica dos professores
com a finalidade de adaptar as diferentes modalidades esportivas para atender
as especificidades dos praticantes, resguardando-os. Desta forma, é
necessário produzir conhecimentos capazes de adequá-lo às exigências
biológicas, psicológicas e sociais inerentes aos diversos estágios de
desenvolvimento da criança e do jovem, sendo esta a função dos
pesquisadores e pedagogos do esporte (GAYA; TORRES, 2004).
Em vista disso, percebe-se que o esporte possui objetivos bem definidos,
apesar de ser voltado para crianças e adolescentes, possibilitando aspectos de
alto sentido formativo e educacional. Dado que,
52
● O esporte na escola enquanto componente do currículo complementar não se confunde com a educação física e tampouco com o esporte de rendimento. Sua finalidade é oportunizar às crianças e jovens um aprofundamento das práticas esportivas. Pressupõe processos de inclusão e participação e deve ser desenvolvido através de princípios de formação e educação das crianças e jovens nas diferentes modalidades esportivas.
● O esporte de rendimento para crianças e jovens constitui-se num espaço amplo de formação e educação. Embora se constitua numa prática seletiva sob o ponto de vista do talento esportivo, não se pode negar sua potencialidade em propiciar oportunidades diversas para o desenvolvimento social e moral de seus praticantes (GAYA; TORRES, 2004, p. 73).
Desta forma, a prática esportiva, independente do praticante, sejam
crianças, jovens, adultos, idosos, possui múltiplos sentidos, motivações e
manifestações, que devem estar voltados para a (auto) aprendizagem e (auto)
realização (GAYA; TORRES, 2004; BENTO, 2004).
Embora Tubino (2010) utilize as definições “tradicionais”, sendo estas,
esporte-rendimento (desempenho), esporte-participação (lazer) e esporte-
educação, no seu trabalho considera os diferentes objetivos, valores e
motivações dos seus praticantes, sejam individual, grupal ou institucional. Ao
igual que Gaya e Torres (2004), Tubino (2010) trabalha na perspectiva do
esporte como fenômeno social contemporâneo polissêmico.
O autor explica em seu trabalho que as diferentes manifestações esportivas
são diretamente relacionadas a um ou mais princípios específicos: Esporte-
Educação, Esporte-Lazer e Esporte de Desempenho. Tubino (2010, p. 42 - 43)
descreve melhor esta ideia,
a) Esporte-Educação (voltado para a formação da cidadania) está dividido em: Esporte Educacional e Esporte Escolar. O Esporte Educacional [...], pode ser oferecido também para crianças e adolescentes fora da escola [...] deve estar referenciado nos princípios da: inclusão, participação, cooperação, co-educação e co-responsabilidade. [...] O Esporte Escolar está referenciado nos princípios do Desenvolvimento Esportivo e do Desenvolvimento do Espírito Esportivo.
b) Esporte-Lazer, também conhecido como Esporte Popular, praticado de forma espontânea, tem relações com a Saúde e as regras. Estas podem ser oficiais, adaptadas ou até criadas, pois são estabelecidas entre os participantes. [...] tem como princípios: a participação, o prazer e a inclusão.
53
c) Esporte de Desempenho, conhecido também como Esporte de Competição, Esporte-Performance e Esporte Institucionalizado, é aquele praticado obedecendo a códigos e regras estabelecidos por entidades internacionais. Objetiva resultados, vitórias, recordes, títulos esportivos, projeções na mídia e prêmios financeiros. A ética deve ser uma referência nas competições e nos treinamentos.
Em suma, o esporte, por ser um fenômeno social complexo, é alvo de um
abrangente e sólido debate, contendo pontos de concordância e discrepância
entre os autores de diferentes áreas do conhecimento. Logo, fica interessante
relativizar o discurso, já que as diferentes teorias buscam, com suas
particularidades, compreender a totalidade deste fenômeno, o que leva a uma
visão parcial da temática, ou seja, é apenas capaz de interpretar uma parte do
todo (GAYA, 2000). Isto posto, o esporte tem que ser estudado sendo
perspectivado como uma atividade da sociedade, já que o esporte é a própria
sociedade por ser apresentado a partir de certa perspectiva, regras, relações,
objetos, gestos, ideologias, etc.
No que diz respeito à relação entre esporte e valores, percebemos
diferentes visões sobre um mesmo assunto, compreendido por uma corrente
como um aspecto positivo e por outra como um fator negativo. No obstante, a
potencialidade de transmitir valores por meio do esporte é genuína.
Vamos perceber que os distintos sentidos, manifestações e motivações intrínsecas às diversas práticas esportivas oportunizam a todos, independentemente das motivações que os movem e de seu grau de performance, encontrar na prática esportiva espaço de auto-apredizagem, auto-realização. Isso porque, como afirma Bento (apud GAYA, 1994, p. 10), no esporte podemos encontrar e cultivar os valores da corporalidade, da condição física e saúde, do rendimento, do empenhamento, da persistência, da ação, da dificuldade e da realização, da tensão, do dramatismo e da aventura, é um espaço de expressão e comunicação, de estética, de impressões e experimentações, de cooperação e intenção (GAYA; TORRES, 2004, p. 63).
Neste sentido, Bento (2004, p. 54), enfatiza “a necessidade de reafirmar o
desporto como um projecto axiológico. São seus princípios e valores que
perfazem o teor da sua missão”. Perante esta conjuntura, podemos destacar
que, na atualidade, o sentido da realização pessoal acaba por modificar a
função utilitária do esporte, e desta forma, os valores primários (individuais) e
valores secundários (sociais) precisam ser combinados para alcançar o ideal
de “felicidade” (BENTO, 2004, p. 40).
54
Isto provém da crise ideológica e axiológica que se tem vivido desde há
algumas décadas. Esta chamada ‘crise de valores’ que propicia experiências e
vivências efêmeras, como o usufruto do sucesso a todo custo em detrimento à
disciplina, o esforço, o dever e a renúncia, provém da complexidade que é
definir um conjunto de valores, relacionados a princípios humanistas,
civilizacionais e culturais.
[...] estamos a assistir mais ou menos em todo o mundo ocidental ao florescimento de uma desclassificação ou desordem cultural e a um ecletismo estilístico, que se traduzem numa competição intensa entre uma ampla variedade de noções de cultura e numa redução da capacidade de impor uma hierarquia de valores. Este fenômeno é referido como uma crise das atitudes em face dos valores.
Por via disso a vida parece estar se comandando por uma espécie de ética indolor, de acentuado pendor hedonista, colocando fora de moda o dever, a renúncia, o sacrifício, a disciplina, a perseverança, o trabalho, o esforço, o suor e o respeito de compromissos e obrigações e valorizando as experiência e vivências passageiras e momentâneas, isto é, a fruição do presente, o vale tudo, o sucesso a todo custo, como se os fins justificassem todos os meios (BENTO, 2004, p. 48).
Desta forma, o esporte como meio para a educação em valores é uma
temática complexa em vista das sociedades atuais serem axiologicamente
muito complicadas e, por vez, diversificadas. Nesta perspectiva,
apresentaremos um quadro axiológico do esporte para crianças e jovens com
base no trabalho de Queirós (2004). A esta discussão acrescentaremos as
contribuições de Tavares (2007) advindas dos estudos sobre os valores
olímpicos no mundo contemporâneo.
2.2.1 Valores em Crise: o relativismo axiológico
Com base na perspectiva histórica, o Esporte Moderno surge no final do
século XIX, tendo sua base no esporte dentro das escolas inglesas, o
associacionismo esportivo e a ideologia olímpica. Com o passar do século XX e
início do século XXI aconteceram transformações nas sociedades, nas
culturas, na econômica e muitos avanços tecnológicos, os quais levaram a
alterações nas crenças e princípios em que se apoiavam o mundo moderno e,
desta forma, refletindo no esporte moderno. Para tentar compreender esta fase
55
surgiram diversas definições, para tentar abranger os diferentes objetivos,
valores e motivações.
Este período de mudanças sociais foi denominado de pós-modernidade,
porém este termo gerou muitas críticas por defender uma ruptura entre os
tempos. Entretanto, trabalharemos com as abordagens que negam a pós-
modernidade como sendo um diferente período histórico e superando a ideia
de ruptura. Para Tavares (2007, p. 188), “[...] não há um novo rumo e uma
ordem social distinta da moderna. Seria mais adequado então pensarmos
numa radicalização da modernidade (Giddens) ou na incompletude do seu
projeto (Rouanet)”.
Entretanto, não é do nosso interesse debater qual é a terminologia mais
correta, mas discutir, com relação à sociedade contemporânea, como suas
características (pluralismo, heterogeneidade, individualismo, hedonismo,
carência de ideologias sólidas, a insegurança, entre outras) acabam por
influenciar as diferentes práticas esportivas, como também, seus praticantes.
Para Queirós (2004, p. 187),
Em face deste contexto que parece ser de insegurança, ante um (suposto) relativismo axiológico, a questão da reflexão acerca dos valores assume-se como fundamental no sentido de se constituir como guia e referência para a existência humana. Podemos considerar que os valores são intrínsecos a toda a vida humana e que algumas atividades onde existe um sentido normativo implícito, como é o caso da educação ou do desporto, não são equacionáveis nem resolúveis sem incluir os valores.
Para o autor, é evidente a importância de fazer esta reflexão por parte de
educadores como também dos agentes e intervenientes do fenómenos
desportivo, por eles serem quem dirige e orientam atividades com aspectos
normativos implícitos, como a educação e o esporte. Ainda, por compreender
que os valores são inerentes à vida humana e, desta forma, a formação não
pode se isentar de ter um referencial axiológico. Certamente, são construídas
nas diferentes relações sociais, em um processo contínuo os distintos
referenciais axiológicos.
Portanto, é errôneo afirmar que a sociedade carece de valores, pois,
certamente, há uma pluralidade dos mesmos em decorrência da abundância de
56
referenciais sociais e culturais. Isto posto, pode ser entendido como se os
valores se esgotassem e não conseguissem dar respostas às exigências das
sociedades, porém os valores são mais plurais e heterogêneas na conjuntura
atual (QUEIRÓS, 2004).
Para explicar melhor isso, Queirós (2004, p. 191) faz referência Gervilla
(1997), ao compreender que aumenta as possibilidades de ‘valores’ quando
abrangem sua pluralidade e/ou relativismo, “não vivemos pois numa sociedade
cega perante os valores, mas sim numa sociedade com tantos valores que se
torna difícil ou impossível diferenciar o valor do antivalor”. Desta forma, os
valores se reconfiguram, identificando neste contexto, uma sociedade mais
tolerante com relação às singularidades subjetivas, passado a serem
fundamentais as necessidades individuais e a realização pessoal.
No esporte, a ideologia que envolve os Jogos Olímpicos Modernos se
estabeleceu como referência ao vincular valores à prática esportiva, tendo hoje,
valores específicos que a legitimam. Segundo Tavares (2007) o esporte,
apesar de ter surgido no século XIX, apenas na segunda metade do século XX,
com a ajuda do Movimento Olímpico, se difundiu em uma dimensão global e se
promoveu como uma prática associada a valores. A expansão do Movimento
Olímpico uniu o papel educativo do esporte aos valores da sociedade moderna,
inspirado pela ideia do humanismo. Contudo, não podemos menosprezar que
houve tanto impactos como apropriações locais diversas acerca da ideologia
olímpica (TAVARES, 2007).
Esta perspectiva não se aproxima apenas à ideologia olímpica, mas,
amplia-se às interpretações sobre os valores que transpõe aos esportes,
podendo ocorrer tensões e contradições. A exemplo disso, encontramos entre
os jovens, como valores fundamentais, os de teor individualista e hedonista, e
com anseios de experimentar atividades livremente.
Há uma ânsia de liberdade nas actividades dos indivíduos, de fazer desporto como querem, quando querem, sem estarem limitados a certos lugares, a uma disciplina rígida e coletiva imposta do exterior. Cada um faz desporto acima de tudo para si, seja para manter a forma e a linha, seja para se ultrapassar no esforço, seja para progredir a título pessoal, ou seja simplesmente por prazer. O crescimento do desporto como atividade de lazer e entretenimento, e
57
já não como escola de vontade e de moralidade [...] (QUEIRÓS, 2004, p. 192).
Percebemos que surgiram novos sentidos e significados atribuídos às
práticas esportivas, como exemplo está a crescente procura por atividades
físicas de aventura. Para Tavares (2007, p. 193) este fenômeno está
acontecendo pela,
“[...] atomização dos valores das práticas esportivas e a predileção dos esportes individuais e alternativos em detrimento dos esportes coletivos tradicionais. No âmbito olímpico tais evidências já são visíveis na adoção de modalidades ‘radicais’ e/ou de contato com a natureza como o beach volley, mountain bike e o snowboard, como parte do programa dos Jogos para modernizá-lo e atender novas demandas”.
Percebendo com isto que, no que diz respeito ao âmbito olímpico, é
evidenciado o interesse de atender às novas exigências e expectativas dos
praticantes. Mas para alcançar o objetivo de melhor atender os anseios dos
diferentes praticantes nos diferentes âmbitos esportivos, primeiro é necessário
conhecer as mudanças de sentido, de entendimento, de valores e de motivos
que geram o desenvolvimento do esporte, diante da atual conjuntura social
axiológica, na qual se destaca pelo efêmero e transitório.
Como coloca Bento (2004), na atualidade, os valores são mais humanos e
pouco orientados pelo futuro e os sujeitos, assim como, seus interesses,
necessidades e objetivos são plurais. Queirós (2004, p. 190) confirma esta
ideia ao afirmar que,
Numa época em que vivemos sob os signos da mudança e da incerteza e em que reina o pluralismo cultural, cada uma das crianças, dos adolescentes e dos jovens, carece fundamentalmente de encontrar no desporto (ou na pluralidade dos desportos), acompanhamento e sinais claros para a sua própria orientação, mas num modelo coexistencial de desporto, onde caiba o respeito pela identidade de cada um, pelo diferente e complementar, enfim, pela pessoa de cada um.
Desta forma, os praticantes de esportes na atualidade são caracterizados
pela heterogeneidade, associada a uma rede de fatores, que norteiam os
sentidos desta prática. Destaca-se a necessidade de uma visão que inclua
todos os tipos de praticantes, já que o esporte existe independentemente de
quem o pratica. Por este motivo, para Queirós (2004), não se deve seguir
58
desconsiderando as mudanças que advêm do sistema social e do sistema
tradicional do esporte, uma vez que ambos estão sofrendo influências das
transformações valorativas, ao igual que outros sistemas da sociedade
contemporânea. Diante disso, entendemos que,
[...] os tempos atuais são de mudanças, e essas mudanças decorrentes das transformações mais gerais operadas nas sociedades ocidentais fazem-se igualmente sentir no campo das atividades físicas e desportivas, criando algum desconforto que começa a ser perceptível sobretudo pelos diversos agentes intervenientes neste domínio, e que se começam a interrogar até que ponto as atividades físicas e desportivas se ajustam às novas sensibilidades e expectativas dos praticantes desportivos (QUEIRÓS, 2004, p. 192- 193).
Entretanto, é errôneo afirmar que não existem valores tradicionais
orientando a prática esportiva. Fundamentamo-nos da percepção que
permanece uma tensão entre valores tradicionais do esporte e valores
hedonistas, como são disciplina e esforço, e o prazer, a diversão. Em vista
disso, percebe-se que variam os valores presentes na prática esportiva
conforme as demandas das diferentes instituições que organizam os eventos
esportivos em vista de seus praticantes/participantes, envolvendo um conjunto
de práticas, valores, atitudes, etc. Nesse sentido, Turini e DaCosta (2002, p.
65) sinalizam que, “a organização do esporte moderno tornou-se cada vez mais
complexa operando a partir de diversas formas institucionais que assumem
perspectivas políticas, econômicas, sociais, educativas, etc.”.
Considerando tais argumentações, buscaremos compreender a relação que
se estabelece entre esporte e valores nos projetos de Educação Olímpica na
Ibero-América, tornando mais tangível as discussões aqui explanadas.
59
3 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 TIPO DE PESQUISA
O presente trabalho pretende examinar de forma sistemática os
programas de Educação Olímpica existentes na Ibero-América. Para isto, foi
realizado um estudo na modalidade de pesquisa qualitativa descritiva
(RICHARDSON, 1999). A dissertação adotou uma coleta transversal
apresentando análises de um determinado momento no tempo, mas não
tratando da evolução do fenômeno estudado. Volta-se assim para o conteúdo
interpretativo, procurando compreender o fenômeno segundo a perspectiva dos
participantes da realidade estudada (POUPART et al., 2008). Em base às
respostas obtidas, a análise e discussão desenvolvidas neste trabalho, não são
conclusivas, mas nos permitem ter uma perspectiva inicial do que está sendo
realizado dentro da temática de Educação Olímpica.
3.2 PROCEDIMENTOS
3.2.1 Os Sujeitos da Pesquisa
Faziam parte do universo da pesquisa as entidades responsáveis das
diferentes Academias Olímpicas Nacionais da Ibero-América: Argentina,
Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala,
Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República
Dominicana, Uruguai, Venezuela. Como uma das justificativas para a
realização da pesquisa é fazer análise da influência que tiveram os Jogos
Olímpicos de Rio de Janeiro em 2016 no continente americano, por este motivo
não foram incluídos na pesquisa os países da Ibero-América do continente
europeu, Espanha e Portugal.
60
Foi realizado um primeiro contato, via e-mail, com os representantes de
todas as Academias Olímpicas Nacionais. A partir desta primeira abordagem,
representantes das entidades de Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala e
Porto Rico (cinco países) se dispuseram a participar da pesquisa (figura 2).
Neste sentido, a pesquisa se caracteriza por uma amostra voluntária.
PAÍS DE ORIGEM NOME CARGO
Argentina Silvya Dalotto de
Marcó
Diretora do Programa de Educação Olímpica / Comitê
Olímpico Argentino
Colômbia Néstor Ordoñez
Saavedra
Representante do setor Acadêmico da
Academia Olímpica Colombiana
Equador Liza Portalanza Diretora da Academia Olímpica
Equatoriana
Guatemala Maria Esterlem Diretora Executiva da
Academia Olímpica Guatemalteca
Porto Rico Ramon Luis Alvarez
Feliciano Diretor Associado do
Departamento de Kinesiologia da Universidade Mayagüez
Figura 2 – Nome e cargo dos respondentes da pesquisa
3.2.2 Protocolo de Coleta de Dados
A coleta de dados, cronologicamente, aconteceu da seguinte forma: em
uma primeira etapa, entramos em contato com as Academias Olímpicas
Nacionais por meio de correio eletrônico para fazer o convite e dar as primeiras
explicações sobre a participação no estudo. A lista de contatos utilizada foi
disponibilizada pela International Olympic Academy por ocasião da Sessão
Internacional para Diretores de Academias Olímpicas Nacionais de 2016 para o
orientador desta dissertação, Prof. Otávio Tavares, palestrante naquele evento.
Nesta primeira etapa, realizada em junho de 2017, enviamos uma carta a qual
apresentava a pesquisadora, o tema e os objetivos da pesquisa e as garantias
61
de uso exclusivamente acadêmico dos dados coletados (ANEXO I). Na mesma
correspondência eletrônica foi enviado em anexo também o questionário a ser
respondido pelos diretores e/ou coordenadores do projeto (ANEXO II). Após 15
dias do envio da primeira correspondência, um segundo correio eletrônico foi
enviado. Após estas duas ondas, o número de participantes da pesquisa foi
definido (n=5).
Uma segunda etapa, realizada no primeiro semestre de 2018, envolveu
a aplicação de entrevistas com os sujeitos que responderam ao questionário
inicial da pesquisa de forma a obter descrições mais detalhadas de seus
projetos. Um segundo contato foi feito com as entidades participantes da
pesquisa para concretizar sua participação no estudo, marcando uma
entrevista via Skype ou Whatsapp.
Para que as entrevistas fossem desenvolvidas de forma adequada,
foram seguidos os procedimentos indicados por Laville e Dionne (1999), tais
como: organização adequada do meio de coleta, de forma a favorecer a
estabilidade da comunicação e o clima relaxado das discussões; cuidados
metodológicos do entrevistador, que deve fazer encaminhamentos e
intervenções que facilitem a obtenção dos dados desejados, entre outras. Os
respondentes foram convidados por meio de correio eletrônico, sendo inseridos
na amostra de acordo com seu interesse e disponibilidade. A coleta de dados
ocorreu entre os meses de março a maio de 2018, em dia e horário
previamente agendados com o entrevistado e as entrevistas foram realizadas
em espanhol.
3.2.3 Instrumentos de Coleta de Dados
Para a coleta de dados propriamente dita utilizamos dois instrumentos:
Em primeiro lugar aplicamos um questionário semiestruturado (RICHARDSON,
1999), que permitiu fazer um mapeamento inicial dos projetos de Educação
Olímpica em andamento nas diferentes Academias Olímpicas Nacionais
participantes do estudo. O uso de questionário no contexto da pesquisa permite
diagnosticar e possibilitar um significativo número de informações
62
generalizadas, podendo subsidiar uma análise qualitativa em um segundo
momento (GIL, 2010). Este questionário se encontra no Anexo II.
O primeiro momento para elaboração do instrumento foi a construção e
análise da matriz analítica (capítulo 1), permitindo formular questões
pertinentes aos objetivos do estudo. Os itens foram construídos a partir da
análise dos referenciais teóricos sobre as bases históricas da educação
olímpica, os valores do Movimento Olímpico, os conceitos e as tipologias de
educação olímpica. Esse processo possibilitou a construção da matriz
estruturada a partir dos objetivos específicos da pesquisa (conteúdos, formas
de organização, metodologia utilizada, tempo de duração, público-alvo) e das
quatro abordagens didáticas de educação olímpica de Naul (2008): [1]
Abordagem orientada ao conhecimento; [2] Abordagem orientada à
experiência; [3] Abordagem orientada ao esforço físico; e [4] Abordagem
orientada ao ‘mundo da vida’.
A partir desses indicadores, foram formuladas 6 questões semi-
estruturadas. Essa versão foi apresentada e discutida junto ao Grupo de
Estudos Olímpicos ARETE, composto, na época, por 3 estudantes de
doutorado e 2 de mestrado que desenvolvem estudos e pesquisas
relacionados à educação olímpica. Os integrantes responderam e analisaram
as questões em relação à clareza redacional do item, pertinência temática,
dificuldades de preenchimento, necessidade de ajustes ou supressão de
perguntas e organização e sistematização das questões. Após a definição final
do instrumento, este foi vertido para o espanhol pela própria autora da
pesquisa, em face de sua proficiência no idioma dos participantes do estudo.
Em segundo lugar, foi realizada uma entrevista para “[...] recolher dados
descritivos na linguagem do próprio sujeito” (BODGAN; BIKLEN, 1994, p. 134),
permitindo-nos conhecer melhor a organização e estrutura dos projetos.
Considerando os respondentes da investigação, segundo Feres e Klein (s/d),
utilizamos um tipo de entrevista definido como “entrevista de elite”. Este tipo de
entrevista é caracterizado por seu formato fluido, com questões fraseadas para
atender as características ou status do respondente. Os entrevistados são
pessoas que têm uma visão singular por causa de sua vivência, especialidade,
63
insight, posição, ou têm informações especiais por estarem numa determinada
posição num grupo. O objetivo das entrevistas era esclarecer, ampliar e
detalhar as informações apresentadas no questionário respondido
anteriormente.
64
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS
4.1 OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO OLÍMPICA
A base para a realização do presente estudo são os programas
desenvolvidos pelos diferentes países participantes nesta pesquisa. Desta
forma, foi necessário, que, por parte de cada Academia Olímpica, fosse
preenchido uma ficha para os distintos projeto, e assim melhor conhecê-lo.
Os projetos apresentados pelos cinco países participantes da pesquisa
como resposta para nosso questionário foram:
PAÍS DE ORIGEM NOME DO/S PROJETO/S
Argentina Programa de Educação Olímpica
Colômbia Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias
Olímpicas
Equador Semana Olímpica; Sou Olímpico
Guatemala Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play
Guatemala
Porto Rico OVEPUR- Programa para a Educação no Olimpismo e seus valores em Puerto Rico
Figura 3 – Nome dos Programas de Educação Olímpica
4.2 OBJETIVOS PARA UMA EDUCAÇÃO OLÍMPICA
Buscamos investigar os objetivos dos diferentes projetos tendo como
referência as abordagens de Educação Olímpica propostas por Naul (2008) e
65
Binder (2012) base alguns pontos que são necessários para alcançar o
desenvolvimento de uma Educação Olímpica, desta forma, apresentamos
quatro objetivos: [1] Conhecimento sobre o Movimento Olímpico; [2]
Conhecimento sobre os Valores Olímpicos; [3] Educação em Valores
Olímpicos; e [4] Incentivo às práticas de desportos. Nas diferentes perguntas
apresentadas no questionário o participante teve a opção de marcar mais de
uma resposta como sendo certa, já que todas são complementares.
OBJETIVOS PROJETOS
Conhecimento sobre o Movimento Olímpico
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana
Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala
Conhecimento sobre os Valores Olímpicos
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana
Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Educação em Valores Olímpicos
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana
Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Incentivo às práticas de desportos
Semana Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala
Figura 4 – Os objetivos dos projetos
4.3 OS PARTICIPANTES NO PROJETO
Para compreender melhor os objetivos empregados pelos diferentes
projetos é necessário saber para quem está sendo pensado e orientado o
mesmo. Desta forma foi necessário conhecer quais eram os grupos-alvo. Para
isso, no questionário foram apresentadas sete opções: [1] professores de
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Educação Física; [2] professores de outras disciplinas; [3] alunos de educação
infantil; [4] alunos de ensino fundamental; [5] alunos de ensino médio; [6]
alunos universitários; e [7] atletas amadores ou profissionais. Ainda foi dada a
opção de colocar outra opção, escrevendo sua resposta por extenso.
GRUPO-ALVO PROJETOS
Professores de Educação Física
Programa de Educação Olímpica; Semana Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory;
OVEPUR
Professores de outras disciplinas
Programa de Educação Olímpica; Semana Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory
Alunos de educação infantil
Hope Factory; United Play Guatemala
Alunos de ensino fundamental
Cátedra de Estudos Olímpicos; Semana Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory;
United Play Guatemala; OVEPUR
Alunos de ensino médio Semana Olímpica; Sou Olímpico; Hope Factory;
United Play Guatemala
Alunos universitários Programa de Educação Olímpica; Cátedra de
Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana Olímpica; Sou Olímpico; Hope Factory; OVEPUR
Atletas amadores ou profissionais
Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Figura 5 – Os grupos-alvo dos projetos
4.4 METODOLOGIA DOS PROJETOS
Como já apresentada no capítulo I, nossa pesquisa tem por referencial o
autor Roland Naul no que diz respeito à sistematização do ensino da Educação
67
Olímpica, o qual apresentou quatro abordagens didáticas: [1] O conhecimento
orientado, busca explicar a ideia olímpica por meio do seu legado histórico e
educativo (NAUL, 2008, p. 118) através da transferência e processamento de
conhecimentos em uma perspectiva nacional e internacional; [2] A experiência
orientada, promove os princípios olímpicos, as regras de honestidade e justiça,
familiaridade e respeito por diferentes culturas (NAUL 2008, p. 118), por meio
de encontros e eventos organizados tanto dentro como fora da escola; [3]
Orientação para a aptidão física, defende que a Educação Olímpica é um
objetivo educacional dentro da educação física, trabalhando competição,
equidade e respeito mútuo; e [4] O ensino orientado para a vida, liga os
princípios olímpicos para a própria experiência social no esporte e as
experiências em outras áreas de sua vida. Quando trabalhados os quatro
métodos em forma conjunta, conseguem englobar a extensa temática de
Educação Olímpica em sua totalidade, sendo que a última integra as outras
três abordagens.
Nesta perspectiva elaboramos no questionário quatro estratégias
metodológicas podendo ser adotadas pelos diferentes projetos: [a] Ensino do
Movimento Olímpico - Ensino de fatos, história, nomes e datas de
acontecimentos do Movimento Olímpico, que diz a respeito da abordagem
didática ao “conhecimento orientado”; [b] Eventos e festivais - Organização de
mini olimpíadas, acampamentos olímpicos e atividades semelhantes, que diz a
respeito da abordagem didática à “experiência orientada”; [c] Prática de
atividades físicas - Organização de escolinhas desportivas e competições
desportivas, que diz a respeito da abordagem didática “orientação para a
aptidão física”; e [d] Princípios olímpicos ligados à experiência social - Uso do
material didático do Olympic Values Education Programme (OVEP) ou
semelhantes, e/ou atividades que busquem criar conexões entre as práticas
desportivas e a vida cotidiana, que diz a respeito da abordagem didática do
“ensino orientado para a vida”.
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METODOLOGIA PROJETOS
Ensino do Movimento Olímpico
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana
Olímpica; Sou Olímpico; Mi amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Eventos e festivais Semana Olímpica
Prática de atividades físicas
Sou Olímpico;
Princípios olímpicos ligados à experiência
social
Programa de Educação Olímpica; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala;
OVEPUR
Figura 6 – Aspectos metodológicos dos projetos
4.5 VALORES NA EDUCAÇÃO OLÍMPICA
Como última questão colocada no questionário (anexo II) do presente
estudo, buscamos saber quais valores são ensinados de forma sistemática e
exortativa, e não só incidental. Assim colocamos os três valores principais do
Movimento Olímpico: [1] Excelência; [2] Amizade; [3] Respeito. A esta questão,
foram acrescentados também os valores educacionais do Movimento Olímpico:
[a] Equilíbrio entre corpo, vontade e mente; [b] Alegria do esforço; [c] Busca
pela excelência; [d] Jogo limpo; [e] Respeito pelos outros.
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VALORES PROJETOS
Excelência
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana Olímpica; Soo
Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Amizade
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana Olímpica; Sou
Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala
Respeito
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana Olímpica; Sou
Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Equilíbrio entre corpo, vontade e
mente
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana Olímpica; Sou
Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Alegria do esforço
Programa de Educação Olímpica; Semana Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play
Guatemala; OVEPUR
Busca pela excelência
Programa de Educação Olímpica; Semana Olímpica; Sou Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play
Guatemala
Jogo limpo
Programa de Educaçãoción Olímpica: Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana Olímpica; Sou
Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala; OVEPUR
Respeito pelos outros
Programa de Educação Olímpica; Cátedra de Estudos Olímpicos; Tertúlias Olímpicas; Semana Olímpica; Sou
Olímpico; Meu amigo Olímpico; Hope Factory; United Play Guatemala
Figura 7 – Valores dos projetos
70
Além disso, foi colocada a opção de acrescentar outros possíveis
valores a serem adotados pelos projetos, pelo que nos projetos desenvolvido
por Na Academia Olímpica Colombiana adotam a paz como valor institucional.
Já na Academia Olímpica Guatemalteca trabalham institucionalmente os três
Valores Olímpicos oficiais mais o valor da universalidade.
71
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
“A diferença básica entre as propostas de educação através do esporte e de Educação Olímpica são os princípios e os valores do Olimpismo. Educação Olímpica é mais do que o esporte como meio de educação” (Neto-Wacker, 2009).
Como foi objetivado no presente trabalho, analisaremos os diferentes
projetos Ibero-americanos, tendo por base melhor conhecer os objetivos
específicos de cada um dos programas, seus conteúdos e formas de
organização, para que públicos são pensadas as atividades, a metodologia
utilizada, os valores que permeiam nas atividades realizadas, a influência
exercida pelos Jogos de Rio 2016 dentro dos projetos e conhecer os tipos de
avaliação dos programas ou compreender a ausência dele.
5.1 PROJETOS DESENVOLVIDOS NA ARGENTINA
O Comitê Olímpico Argentino apresentou um projeto chamado de
‘Programa de Educação Olímpica’, no qual são realizadas quatro atividades,
estas são: Campús 20/18 (desenvolvido com os atletas); Seção da Academia
Olímpica Argentina (desenvolvido com as Federações Desportivas Nacionais);
Escolas de iniciação desportiva e Capacitação docente (desenvolvido com os
professores). Pelo que, o projeto tem uma abrangência nacional, assim,
analisaremos os aspectos mais importantes de este programa, tentando
dialogar com as quatro abordagens didáticas desenvolvidas por Roland Naul.
5.1.1 Objetivos específicos do Projeto
Foi colocado no questionário respondido pelo Comitê Olímpico
Argentino, que o programa trabalha com três dos objetivos apresentados no
mesmo, sendo estes, o conhecimento sobre o Movimento Olímpico,
conhecimento sobre os valores Olímpicos, educação em valores Olímpicos,
72
porém, o incentivo às práticas de desportos não são abordados dentro das
atividades do projeto. Isto se deve ao fato do público-alvo ser, exatamente os
atletas.
Entretanto, o ‘Programa de Educação Olímpica’ é realizado à medida
que surja uma demanda por parte de alguma instituição, pelo que os objetivos
trabalhados nas diferentes atividades do programa são flexíveis para melhor
atender as necessidades dos solicitantes das mesmas. Desta forma, os
objetivos em qualquer instância do programa são, “precisos, concreto,
possíveis de serem realizados por meio de poucas atividades, a qual pode
realizar” (Sra. de Marcó).
Assim, quando o ‘Programa de Educação Olímpica’ é solicitado por uma
instituição, se faz uma avaliação dos recursos humanos, é analisado o contexto
em que será efetuada a atividade, entre outros, para assim escolher os
objetivos específicos a desenvolver na atividade, como também qual terá mais
importância dentro da mesma. Em vista de ter uma preocupação em envolver
em todos os aspectos os sujeitos na prática, como coloca Turini (2009), a
Educação Olímpica tem que ser pensada sob o enfoque multicultural, pelo que
precisam mediar particularidades locais com valores do Olimpismo. Em este
processo de pensar as particularidades, também é necessário analisar no que
se precisa ter (como material) e fazer (prática) para alcançar os todos os
objetivos propostos.
5.1.2 Organização e os conteúdos do projeto
No ano de 2017 foi implementado o ‘Programa de Educação Olímpica’
em todo o país, pelo que se diversificaram os temas trabalhados pelo programa
como também, diferem as atividades de uma para outra, já que, como
apresentado anteriormente, é respeitado o contexto em que estão inseridos os
sujeitos/instituições. Para a Sra. de Marcó, “isso é o mais valioso, quando você
tenta implementar um programa deste tipo, ver com quem você está
trabalhando e o que pode ajudar ao grupo com quem você está trabalhando, do
que você quer fazer”.
73
O Programa, para alcançar tamanha dimensão, utilizou uma plataforma
educativa do Comitê Olímpico Argentino. Com este recurso foi possível
mensurar o ingresso à plataforma, a interação e a participação em atividades
que eram propostas aos sujeitos dentro da mesma. Desta forma, conseguiram
avaliar o impacto, já que “é uma forma economicamente fácil e tecnicamente
viável” (Sra. de Marcó) para fazer isso.
Dentro dos temas trabalhados pelo programa se encontram os
conhecimentos do Movimento Olímpico, Olimpismo, oficinas com os temas de
dopagem e, promoção dos Valores Olímpicos. Assim, em uma das
programações foram desenvolvidas atividades do OVEP do Comitê Olímpico
Internacional, trabalhando os cinco valores educacionais do Movimento
Olímpico acima mencionados.
“Todo o que está em torno dos Jogo Olímpico é tomado como de alto rendimento, mas na realidade os Jogos Olímpicos é a ponta do iceberg, é apenas o que se vê, é o 10% que é nada mais o que flutua, e 90% está por baixo da linha de flutuação, o Movimento Olímpico é a ferramenta para trabalhar com esse 90% que nunca vai chegar aos Jogos Olímpicos em si. Pelo que é necessário fazer bom uso do vemos nos Jogos, os aspectos positivos e os negativos também, para fazer a transposição didática e aplicá-los pedagogicamente, ou seja, basicamente e como é levado ao contexto da nossa realidade e o aproveitamos para ensinar” (Sra. de Marcó).
5.1.3 O público-alvo do Projeto
Por serem desenvolvidas diferentes atividades dentro do mesmo
programa, o público-alvo é bem diverso. No questionário foi colocado que o
público-alvo eram os professores de educação física, professores de outras
disciplinas e alunos universitários. Mas, em vista dos Jogos da Juventude
2018, que acontecerá em Buenos Aires, na Argentina, no ano de 2017 foi
realizado um campo de treinamento onde participaram durante 10 dias mais de
500 atletas, alguns destes já classificados e outros com a possibilidade de
integrar a delegação Argentina para estes jogos. Pelo que o ‘Programa de
Educação Olímpica’ foi ampliado para os atletas, com idades entre 14 e 17
anos.
74
A respeito dos universitários, o Comitê Olímpico percebeu a
necessidade de tentar inseri-los dentro do programa, tendo em vista que, na
Argentina carece de acadêmicos nesta área, pois ainda, de uma forma geral,
no âmbito universitário, não é trabalhado o Movimento Olímpico como tema de
estudo. Isto posto, se pretende com este público-alvo atingir diferentes espaços
acadêmicos, como arquitetura, advocacia, nutrição, finanças, ou seja, por
entendendo que, os “Jogos Olímpicos podem ser olhados, analisados e
estudados em diferentes aspectos, não somente do mundo do esporte” (Sra.
de Marcó). Em vista de que,
[...] a universalidade, a diversidade e a multiculturalidade são valores vivos no Olimpismo e que o esporte, integrado à educação, pode contribuir com a promoção do bem-estar do ser humano e com a construção de uma sociedade melhor e em paz. (Comitê Olímpico Internacional, 2004).
Assim, o programa oportunizar o desenvolvimento de ações educativas
formais que podem contribuir com a autonomia e com a consciência dos
sujeitos em relação ao esporte e ao lazer. Para isto, foi feito um convênio entre
o Comitê Olímpico Argentino e uma das universidades mais importantes do
país que é a Universidade Nacional del Litoral, onde já foi inserido um centro
de Educação Olímpica, com a pretensão de avançar nos estudos na temática
Olímpica, tendo este espaço como um multiplicador do conhecimento a
respeito do Movimento Olímpico.
Com os professores de educação física se realizou um programa
especial. Para isto foi assinado um convênio do Comitê Olímpico Argentino
com o governo municipal de Buenos Aires. Assim, foram organizadas as
capacitações dirigidas, a nível nacional, aos 1900 professores que já
trabalhavam com a iniciação esportiva. Nesta parceria, se promoveu aos
professores a informação a respeito do Movimento Olímpico, e desta forma,
possibilitou que trabalhassem os valores Olímpicos e com Educação Olímpica.
Para conseguir alcançar os 1900 professores dispersos pelo país, se utilizou a
ferramenta da plataforma educativa, a qual facilitou o acesso à informação por
parte de todos os sujeitos envolvidos.
75
5.1.4 Metodologia
No que se refere à metodologia empregada, é interessante ressaltar que
a estratégia foi a de desenvolver jogos e brincadeiras, especificamente com os
atletas, já que, em vista da rotina de exercícios imposta a eles, não têm tempo
para brincar e assim se perceber que há outras formas de aprendizado.
No questionário aplicado ao Comitê Olímpico Argentino foi colocado que
as metodologias utilizadas tiveram por base o uso do material didático Olympic
Values Education Programme - OVEP. Certamente, esse tipo de metodologia
faz referência às abordagens didáticas de Naul, orientada para o conhecimento
e ao mundo da vida.
Encontramos no material didático desenvolvido pelo Comitê Olímpico,
informações que remetem às duas abordagens didáticas de Naul. Este referido
material foi desenvolvido em 2010 pela primeira vez, mas tem sido atualizado,
principalmente após cada edição dos Jogos. A exemplo disso, após os Jogos
de Rio, o material foi atualizado com as novas informações dos medalhistas, a
mascote, entre outros. Esse material foi impresso (5 mil exemplares),
entretanto, também foi disponibilizado online, sendo encontrado na página
web24 do Comitê Olímpico Argentino, dando a possibilidade de ser baixado
como PDF por quem queira trabalhá-lo.
Além desse material, os professores são incentivados a aceder à
informação a respeito da Educação Olímpica por meio da Plataforma
Educativa, a qual desenvolve temas básicos como: os anéis Olímpicos, a
bandeira Olímpica, emblemas. Este material é utilizado para nivelar o
conhecimento dos professores a respeito da temática Olímpica antes de
começar um curso presencial, já no encontro presencial são desenvolvidos os
temas mais atuais, os temas são mais aprofundados. Todo este processo
educativo tem como base a abordagem orientado para o conhecimento, já que
é necessário que os professores compreendam toda a fundamentação história
do Movimento Olímpico para assim conseguir difundir esta ‘filosofia’ em seu
campo de trabalho.
24
http://www.coarg.org.ar
76
Pelo incentivo do Comitê Olímpico Internacional, também foi utilizado o
material didático OVEP 2.025. Este material se destaca por ter uma boa
fundamentação, além de ter várias propostas de atividades didáticas
trabalhando os conceitos do Olimpismo. Para sua utilização ser efetiva o
‘Programa de Educação Olímpica’ adapta, às diferentes propostas de
atividades, ao contexto em que será desenvolvido o encontro, como também os
sujeitos participantes.
Em síntese, no caso argentino, a metodologia centra-se na abordagem
orientada ao conhecimento, centrando-se na transmissão de informações.
5.1.5 Valores adotados no projeto
A respeito dos valores trabalhados no ‘Programa de Educação
Olímpica’, se constatou que, de diferentes formas todos os valores, sendo os
três valores oficiais e os cinco valores educacionais do Movimento Olímpico,
são trabalhados, independente da atividade e do contexto já que o ”processo
de educação é entendido de uma forma ampla, não estando restrita ao espaço
da escola” (NETO-WACKER, 2009).
Contudo, os valores não são desvinculados da prática por compreender
que fazem parte das diretrizes do Comitê Olímpico Internacional, “o comitê
Olímpico internacional promove e nós, como o Comitê Olímpico Argentino,
estamos alinhados com esta proposta” (Sra. de Marcó). Ou seja, o caráter
burocrático e sistêmico da organização determina que os valores adotados
venham ‘de fora para dentro’, dando pouca ou nenhuma margem para uma
redefinição local.
5.1.6 Jogos de Rio 2016
O ‘Programa de Educação Olímpica’ trabalhou a temática dos Jogos de
Rio 2016. O interesse despertado a raiz dos Jogos deu destaque ao programa, 25
A mais recente versão do programa OVEP, lançada em 2016.
77
por incentivar aos professores os quais solicitaram capacitação a respeito da
temática Olímpica. Pelo que foi necessário atualizar os conteúdos das
capacitações em função dos Jogos e do que eles ofereceram. Os Jogos do Rio
oportunizaram “falar dos esportes, sobre as instalações, mascote, do que
culturalmente o Brasil podia projetar, das dificuldades que estava passando o
Brasil nos últimos tempos para que o Rio pudesse organizar os Jogos” (Sra. de
Marcó), enfim, uma série de temas das transformações que teve Rio para os
Jogo 2016.
As capacitações sobre Educação Olímpica sempre são vinculadas aos
Jogos por ser do interesse entre os participantes. Desta forma, os Jogos de Rio
foram importantes, em vista de que os Jogos em Brasil foram o que
regionalmente ficou mais próximo da Argentina, proporcionando um sentimento
de maior proximidade entre os participantes.
A respeito do material didático desenvolvido no Rio 2016, o Transforma,
não chegou a ser trabalhado dentro do ‘Programa de Educação Olímpica’ por
não ter tido acesso ao mesmo, como também pouco se ouviu falar a seu
respeito.
5.1.7 Avaliação
As avaliações são feitas em algumas atividades desenvolvidas pelo
‘Programa de Educação Olímpica’, pelo que varia muito, há avaliação de
múltipla escolha, possibilitando fazer uma avaliação concreta do que foi
realizado. Para isto, é preenchido, em forma individual e sem identificação, um
formulário, no qual se avalia as atividades, os conteúdos, os palestrantes, a
alimentação, o espaço, o equipamento audiovisual, pelo que é uma forma de
avaliar o curso em todos seus aspectos, e “por meio de feedbacks, se há
modificado as atividades em alguns aspectos. Segundo a respondente, esta é
uma ferramenta que se utiliza muito porque se acredita que é uma ferramenta
que realmente nos permite melhorar” (Sra. de Marcó).
78
Outro tipo de avaliação é a feita a partir da capacitação aos professores
de educação física, a qual consiste em que após 40 dias de ter finalizado o
curso é realizada uma atividade de Educação Olímpica pelos mesmos
professores, eles preenchem um formulário e enviam ao Comitê fotos das
atividades que foram realizadas. Isto possibilita avaliar o que foi compreendido
nas capacitações e como conseguem os professores contextualizar a sua
prática, já que a capacitação não consegue abordar todas as realidades
sociais.
Também há indicadores, como exemplo disso se tem os 1900
professores dentro das escolas de iniciação desportiva em diversos lugares da
Argentina que utilização da plataforma educacional. Esta ferramenta possibilita
ver quantos realizaram as atividades, quem utilizou o material didático.
Como pudemos observar, é na Argentina que se encontra a maior
preocupação com a avaliação dos projetos realizados. Todavia, fica claro que o
foco da avaliação está no processo (gestão) e não no produto (educação em
valores). Assim, não permite avaliar o eventual impacto de uma educação em
valores por meio do esporte que tenha o Movimento Olímpico como referência.
5.2 PROJETOS DESENVOLVIDOS NA COLÔMBIA
No questionário respondido pela Academia Olímpica Colombiana, foram
apresentados dois projetos, ‘Cátedra de Estudos Olímpicos’ e ‘Tertúlias
Olímpicas’ que serão analisados no presente estudo, percebendo suas
singularidades. Ao mesmo tempo em que, tentaremos ver em quais pontos
estes programas aproximam-se das abordagens de Naul (2008).
79
5.2.1 Objetivos específicos dos Projetos
A Academia Olímpica trabalha no marco da Carta Olímpica pelo que
difunde os princípios do Movimento Olímpico como uma “filosofia de vida, que
exalta e combina um conjunto harmônico às qualidades do corpo, caráter e
espírito” 26. Neste sentido, estabeleceu os seguintes objetivos específicos, que
foram descritos no ‘Informe da Academia Olímpica Colombiana 2017- 2018’,
em uma forma geral:
● Investigar o Movimento Olímpico em todas suas etapas, desde a
antiguidade até a época atual, analisando sua influência no
desenvolvimento do homem, a sociedade e o desporto.
● Promover o Movimento Olímpico no setor educativo do país, como uma
cátedra complementária nos conteúdos curriculares, buscando incentivar
na juventude o interesse pela prática e o estudo dos esportes Olímpicos.
● Difundir o Movimento Olímpico em todos os setores do país, gerando com
isso, uma maior participação nas diferentes instâncias do Sistema
Nacional do Desporto.
● Capacitar líderes colombianos dentro do espírito Olímpico, gerando uma
maior consciência do papel que deve cumprir no desenvolvimento
desportivo do país e a observância dos valores.
Ainda, foi respondido no questionário que eram trabalhados três dos
quatros objetivos propostos por nós, sendo sistematizado o conhecimento
sobre o Movimento Olímpico, conhecimento sobre os valores Olímpicos e
educação em valores Olímpicos. Isto pode ser compreendido em vista de que,
inicialmente, foi pensado para os projetos ‘Cátedra de Estudos Olímpicos’ e
‘Tertúlias Olímpicas’, trabalhar com instituições de ensino superior, as quais
permitiam trabalhar integral e substancialmente o que é o Movimento Olímpico
e todos os elementos que o englobam.
26
Carta olímpica, Comité Olímpico Internacional, versão español, Lausana, Suiza (2015, p. 13).
80
Na entrevista foi questionado o plano de importância dos objetivos, se
tinham igual valor ao pensar nas atividades, ao que foi respondido que “a
prioridade é o conhecimento sobre o Movimento Olímpico, mas conhecer o
Movimento Olímpico também significa conhecer os valores, então o Movimento
Olímpico é o tudo e as partes são os valores e a educação” (Sr. Saavedra). A
respeito do objetivo “incentivo às práticas desportivas”, foi colocado que não é
tão estimulado por acreditar que a Academia Olímpica tem uma função
“sociológica, filosófica e educativa” (Sr. Saavedra).
Como pudemos perceber, se um dos objetivos das ações é a
‘investigação’, o que aponta para um caráter mais acadêmico do trabalho, os
objetivos de ‘promover’ e ‘difundir’ o Movimento e os valores Olímpicos,
indicam o caráter dogmático da educação olímpica. É claro que não é possível
se pensar criticamente sobre o que não se conhece. Assim, a abordagem
orientada ao conhecimento parece ser imprescindível. Todavia, ela não esgota
todas as possibilidades educativas da educação olímpica.
5.2.2 Organização e os conteúdos dos projetos
No projeto ‘Cátedra de Estudos Olímpicos’, desenvolvido desde 2005,
são organizados seminários ao longo do ano, onde a Academia Olímpica
Colombiana realiza, uma vez por mês, alguma de suas atividades27, porém as
‘cátedras’ são as que têm mais número de encontros por ano, acontecendo em
diferentes instituições universitárias28, como também na atual sede da
Academia Olímpica Colombiana. Nesses encontros, tem se exibido temas que
coadjuvam no esforço nacional de criar uma cultura de paz, como também
auxiliar na construção social. Pelo que são oferecidos diferentes temáticas a
cada encontro que contribuam em certo modo, a alcançar isso.
27
Podendo ser, as ‘Cátedras de Estudios Olímpicos’, ‘Tertúlias Olímpicas’, ‘Sesiones de la
Academia Olímpica Colombiana’, Participação ‘Convocatória Academia Olímpica Internacional’; ‘Visitas a la Academia Olímpica Colombiana’, entre outras atividades. 28
Universidad de Córdoba; universidad de la Guajira; Universidad de Cundinamarca.
81
Os assuntos trabalhados nas diferentes encontros são: temas
relacionados com Olimpismo, missão da Academia Olímpica colombiana em
prol da formação de futuros profissionais do setor educativo desportivo, os
Jogos Olímpicos na antiguidade, Jogos Olímpicos modernos. Para trabalhar
estes assuntos, foram realizadas as seguintes conferências: os meios de
comunicação social, o Jogo Olímpico da antiguidade, o Movimento Olímpico,
Carta Olímpica e estrutura do esporte associado nacional e internacional,
história do esporte colombiano, programa de solidariedade Olímpica.
Percebemos que o programa desenvolvido pela Academia Olímpica
Colombiana tem como base a abordagem didática de Naul (2008) ‘orientada
para o conhecimento’ já que tem por finalidade ensinar o legado histórico e
educacional do ideário olímpico, encontrado em todos os temas tratados nos
diferentes encontros. Em suma, a ‘Cátedra de Estudos Olímpicos’ é um espaço
acadêmico de discussão e reflexão da filosofia de vida expressada por
Coubertin. Pelo que cumpre com um dos princípios do Olimpismo “associar o
esporte com a cultura e a educação”29.
Entretanto, no início de 2018 nos projetos ‘Cátedra de Estudos
Olímpicos’ começam a serem sistematizadas as atividades com foco nas
escolas de ensino fundamental. Assim, no dia 12 de abril, foi realizada por
primeira vez a ‘Cátedra de Estudos Olímpicos’ em uma instituição de educação
básica e média, sendo organizado o encontro na escola Agustín Fernández. O
tema desenvolvido foi “A função da educação física na formação da cultura
desportiva, cimentada nos valores olímpicos” (Sr. Saavedra). Sendo que foi a
primeira vez que o encontro tem por objetivo alcançar alunos escolares.
O projeto ‘Tertúlias Olímpicas’ acontece desde 2003, com encontros
organizados esporadicamente ao longo do ano. É uma atividade acadêmica
que acontece dentro de instituições universitárias, como foi na Universidade
Pontifícia Bolivariana, o encontro denominado ‘Pierre Barón de Coubertin: el
humanista’. Pelo que o projeto tem se convertido em um espaço de discussão
inerente ao Movimento Olímpico, onde são tratados temas como: O que é
29
Carta Olímpica, Comitê Olímpico Internacional (2015, p. 13.)
82
Olimpismo?, Jogos Olímpicos da antiguidade, vida e obra do Barão Pierre de
Coubertin, símbolos Olímpicos, Jogos Olímpicos modernos, Colômbia nos
Jogos Olímpicos, Glórias Olímpicas, Colômbia nos Jogos Olímpicos 1936-
2004, jogos esportivos nacionais, estrutura do Movimento Olímpico, jogos
mundiais, memorabilia Olímpica, jogos desportivos bolivarianos, filatelia
Olímpica, meio ambiente e esporte, Jogos Olímpicos de inverno, mulher e
esporte, pioneiros do Olimpismo em Colômbia, Valores Olímpicos,
comercialização e Jogos Olímpicos, jogos desportivos sul americanos 2006,
esporte e sociedade, ciclo Olímpico, o dia Olímpico, valores do esporte,
educação Olímpica e desportiva, agenda 2020, entre outros.
Percebemos que, tal como o projeto ‘Cátedra de Estudos Olímpicos’, as
‘Tertúlias Olímpicas’ desenvolvem suas temáticas com fundamentação na
compreensão da abordagem orientada para o conhecimento, em vista de todos
os temas tratados em torno do ideário Olímpico, do Movimento Olímpico,
envolvendo sua história, suas referências, entre outros temas tratados dentro
da temática Olímpica. Isto parece reforçar o caráter limitadamente dogmático
de iniciativas de educação olímpica desenvolvidas por organismos oficiais da
‘família olímpica’.
5.2.3 O público-alvo dos Projetos
Ambos os projetos analisados no presente estudo, tinham como
público-alvo os universitários, porém, a começo deste ano 2018, o projeto
‘Cátedra de Estudos Olímpicos’ se expandiu para abordar alunos de ensino
fundamental das séries finais. Isto aconteceu pela iniciativa dos professores,
em vista de que em Bogotá existe um programa que se chama Tempo Escolar
Complementário (TEC), onde “os alunos fazem a prática esportiva extraescolar,
mas também nessa prática querem trabalhar todo sobre valores e Educação
Olímpica” (Sr. Saavedra), pelo que escola e professores começaram a procurar
por este tipo de conhecimento e, por sua vez, a Academia Olímpica atendeu
esta necessidade que surgiu.
83
Já com relação à categoria universitários, entram aqui diretivos,
professores e estudantes das universidades. No ‘Informe de 2017-2018’ foi
apresentado um total de 430 participantes, sendo 330 pessoas que assistiram
às ‘Cátedras de Estudos Olímpicos’ e 100 nas ‘Tertúlias Olímpicas’. O grande
número de participantes se deve, em parte, a aliança feita pelo Comitê
Olímpico com a Academia e as Universidades. Sendo que a escolha deste
primeiro grupo-alvo se deve à complexidade da temática, “já que não é fácil
desenvolver um assunto tão filosófico, não sendo associado ao esporte, ao
lazer, mas ao saber e ao saber ser” (Sr. Saavedra). Desta forma, se busca
trabalhar a temática com “estudantes de programas na área de educação
física, ciência do desporto ou cultura física” (Sr. Saavedra), e especialistas na
área.
Na entrevista foi questionado como chegaram a contatar o público-alvo,
ao que foi explicado que o Comitê Olímpico Nacional desenha o projeto, este é
oferecido às distintas instituições, pelo que a iniciativa de participar é por parte
das instituições. Após anos de parceria com as instituições universitárias, a
Academia Olímpica já tem uma rede de universidades30 participantes nos
projetos, o que indica um esforço na formação continuada específica de
professores, mas, como veremos adiante, com caráter essencialmente
‘informativo’.
5.2.4 A Metodologia
No questionário foram apresentadas quatro opções metodológicas, no
qual foi respondido que o conteúdo utilizado nos dois projetos apresentados
pela Academia Olímpica são o ensino de fatos, história, nome, datas de
acontecimento do Movimento Olímpico, o conhecimento e ensino dos valores
Olímpicos, sendo relacionados à primeira abordagem didática de Naul (2008),
‘orientada para o conhecimento’, e à qual percebemos dentro das temáticas
30
Universidad de Córdoba; Universidad de Guajira; Universidad de Cundinamarca; Universidad
de ciencias aplicadas y ambientales; Universidad Pontificia Bolivariana; Universidad Distrital Francisco José de Caldas; Universidad Pedagógica Nacional; entre outras.
84
ensinadas nos projetos por ter uma temática tão específica e que abrange
tantos conteúdos do Movimento Olímpico.
Ao fazer a entrevista, procuramos saber as estratégias utilizadas nos
programas. Ao que foi explicado que um projeto contribui com o outro. Desta
forma, nas atividades com os alunos de ensino fundamental, há um líder, esses
líderes (professores) são capacitados pela Academia Olímpica dentro das
‘Cátedras de Estudos Olímpicos’. Isto, por compreender que os professores de
educação física e de outras áreas, não tem essa formação em Olimpismo, na
graduação, pelo que é necessário fazer esta complementação.
Dentro das capacitações feitas nas ‘Cátedras de Estudos Olímpicos’, é
o espaço de troca de experiências vivida, trocas de sistematizações entre os
líderes de turma, “já que tem que perceber uma coisa que é chamada de
liberdade de cátedra, liberdade de ensinar” (Sr. Saavedra). Neste espaço
também é entregue aos líderes materiais didáticos a serem utilizados nas
escolas. Pelo que, o material é disponibilizado, mas a forma de utilizá-lo cabe
ao professor escolher.
Isto posto, cabe destacar que o material é desenvolvido pela Academia
Olímpica Colombiana, por meio de “diferentes grupos especialistas em
Olimpismo, antigo, moderno, jornalistas, educadores, de diferentes formações”
(Sr. Saavedra), e o espaço que permite a produção do materiais é dentro das
‘Tertúlias Olímpicas’. É importante colocar que a Academia Olímpica possui
uma biblioteca própria que funciona em Bogotá e tem um acervo extenso
dentro da temática Olímpica, a qual é disponibilizada para as aulas/atividades
nas escolas.
Devemos reconhecer, em síntese, que existe na Colômbia algum avanço
metodológico. Apesar de tomar como referência os valores e histórias da
organização, observamos um espaço de desenvolvimento docente dado pela
possibilidade de adequações às necessidades locais e a troca de experiências.
85
5.2.5 Valores adotados nos projetos
Os projetos desenvolvidos pela Academia Olímpica Colombiana têm por
princípio os três valores oficiais do Movimento Olímpico, excelência, amizade e
respeito, como também os relacionados aos valores educacionais do
Movimento Olímpico, sendo trabalhados os valores de ‘equilíbrio entre corpo,
caráter e mente’, ‘jogo limpo’, ‘respeito pelos outros’, e ainda, foi acrescentado
o valor da paz.
A escolha desses valores foi explicada da seguinte forma: ”A paz para
nós, é vista como um fim, o propósito, então todos os outros valores são como
um meio para poder chegar lá, é uma contribuição para criar uma cultura de
paz”. Desta forma, percebemos que o valor da paz é institucional da Academia
Olímpica Colombiana, por este motivo nenhum dos seus projetos podem se
isentar de ter este valor como norteador de suas práticas.
Entretanto, os valores não marcados no questionário - ‘alegria do
esforço’ e ‘busca da Excelência’- para a Academia estes valores estão
implícitos nos valores oficiais, “quando você diz excelência e ‘busca pela
excelência’, aí já está, o mesmo quando se fala de alegria do esforço” (Sr.
Saavedra). Neste sentido, para os colombianos não se pode desvincular os
valores oficiais dos educacionais, ambos estão inter-relacionados, o que é
compreensível em função da generalidade formal dos valores oficiais do
Movimento Olímpico.
5.2.6 Jogos de Rio 2016 e os projetos
Dentro da programação do projeto ‘Tertúlias Olímpicas’ foi abordada a
temática dos Jogos Olímpicos que aconteceram no Rio de Janeiro em 2016.
Neste momento acadêmico foi estudado, basicamente, o desempenho de
Colômbia, o antes e depois dos Jogos, projeções feitas no que diz respeito ao
desempenho dos atletas e os resultados concretos.
86
Entretanto, nos projetos das ‘Cátedras de Estudos Olímpicos’ quanto
das ‘Tertúlias Olímpicas’, apesar de tomar conhecimento a respeito do material
educacional desenvolvido nos Jogos 2016, o “Transforma”, não chegaram a
conhecer pelo que não realizaram nenhuma atividade utilizando o mesmo.
Cabe destacar que até a data em que aconteceram os Jogos, o grupo-alvo era
exclusivamente de adultos, universitários, pelo que pode ter influenciado o não
procurarem o material de educação olímpica dos Jogos Rio 2016 para assim
usa-lo.
5.2.7 Avaliação
O encontro das ‘Tertúlias Olímpicas’ além de ser um espaço acadêmico,
é um espaço avaliativo, onde os participantes deste programa - professor,
acadêmicos, especialistas na temática - discutem sobre o que há sido
desenvolvido e quais são as perspectivas futuras para os diferentes projetos
realizados pela Academia Olímpica Colombiana.
Dentro das instituições universitárias, nas ‘Cátedras de Estudos
Olímpicos’, a avaliação é realizada institucional e individualmente, porém
anualmente é feito um balanço a nível nacional e a nível internacional, para isto
é enviado a Olímpia o ‘Informe da Academia Olímpica Colombiana 2017- 2018’
que é desenvolvido pela própria Academia, o mesmo acontece para o
congresso Pan Ibérico.
Há outro espaço avaliativo, o ‘Pleno da Academia’, onde a Academia
tem que estar avaliando-se e avaliando os projetos que estão desenvolvendo.
Isto posto, as avaliações serviram para fazer ajustes nos programas,
“inicialmente os projetos começaram muito ambiciosos, principalmente em
conteúdos, com temas muito difíceis de serem desenvolvidos, especialmente
porque os professores não tinham esse conhecimento” (Sr. Saavedra). Foi
necessário eliminar conteúdos dentro das ‘Cátedras de Estudos Olímpicos’, em
vista de que os temas muito avançados não estavam sendo assimilados pelos
professores, e desta forma não conseguiam ensinar esse tipo de
conhecimento. Ou seja, a característica informativa da formação não permitiu o
87
desenvolvimento de pensamento acadêmico mais aprofundado, apesar do
objetivo de investigação anteriormente mencionado.
Neste contexto, tal como na Argentina, os processos de avaliação em
Colômbia situam-se mais nos processos do que nos produtos, não produzindo
elementos que permitam inferir se existem mudanças valorativas efetivas na
vida daqueles grupos-alvo dos projetos.
5.3 PROJETOS DESENVOLVIDOS NO EQUADOR
A Academia Olímpica Equatoriana, ao responder a solicitude para a
participação do presente trabalho, enviou para análise o ‘Informe de atividades
da Academia Olímpica Equatoriana’ no qual tinham diversas atividades
desenvolvidas pela mesma, porém, metodologicamente se faz interessante
desenvolver especificamente os projetos chamados de ‘Semana Olímpica’ e
‘Sou Olímpico’ em vista do grupo-alvo como as estratégias utilizadas e
sistematizações utilizadas.
5.3.1. Objetivos específicos dos projetos
Os projetos realizados pela Academia Olímpica Equatoriana trabalham
com os quatro objetivos apresentados no questionário: o conhecimento sobre
Movimento Olímpico, conhecimento sobre os valores Olímpicos, educação em
valores Olímpicos e o incentivo às práticas do desporto. Em vista das
atividades realizadas dentro dos projetos serem esporádicas, torna inviável
trabalhar o incentivo às práticas do desporto da mesma forma e proporção que
os outros objetivos.
88
5.3.2 Organização e os conteúdos dos projetos
O projeto ‘Semana Olímpica’ acontece desde antes do ano de 199731, e
são desenvolvidas atividades como: missa de Ação de Graças32, oferenda
floral33, concurso de pintura e projeção de filme. As atividades de oferenda
floral e a missa de Ação de Graças são realizadas pela Academia Olímpica de
forma tradicional.
O concurso de pintura é realizado todos os anos com várias escolas, em
2017 foram 9 escolas, já em 2018 participaram 13. Para desenvolver esta
atividade é proposto um tema central, em 2017 foi a participação de Equador
nos Jogos Bolivarianos e, este ano (2018), o tema central é a alegria do
esforço desde a perspectiva de Pierre de Coubertin ou do Olimpismo. Esta
atividade foi desenvolvida, inicialmente, para crianças e adolescentes e, a partir
deste ano, para universitários. O concurso conta com votação nas redes
sociais, pelo que promove ainda mais a filosofia Olímpica e o projeto de
educação Olímpica.
De forma paralela ao concurso, com a finalidade de motivar o Espírito
Olímpico, se oferece uma palestra sobre os valores Olímpicos e o significado
dos símbolos Olímpicos, fazendo referência à abordagem ao ‘conhecimento’ de
Naul, pelo tipo de assunto abordado como também a ‘experiencial’ por levar
este conhecimento ao âmbito da competição escolar, fora do espaço escolar e
relacionando-o com as artes (outro tipo de conhecimento/habilidade).
Além de estas atividades organizadas na ‘Semana Olímpica’ também
são tratados nos diferentes encontros temas como: Olimpismo, Movimento
Olímpico, valores Olímpicos, Educação Olímpica, a história do esporte
equatoriano, organização do esporte no Equador, princípios Olímpicos, história,
filosofia e símbolos Olímpicos, missão dos Jogos, Jogos Olímpicos da
31
A entrevistada não soube dizer ao certo desde quando acontece
32
Acontece em honra aos desportistas que viajam aos Jogos Olímpicos e em memória dos
desportistas e dirigentes que faleceram. 33
Ato solene para homenagear ao busto do Barão Pierre de Coubertin, que se encontra na
Praça Olímpica, a cerimônia é encerrada com o hino Olímpico.
89
Juventude, esportes Olímpicos de inverno, os valores na gestão desportiva,
entre outros.
No âmbito escolar, é desenvolvido o programa ‘Sou Olímpico’, onde são
visitadas as escolas para fazer a demonstração de um esporte e também é
dada uma palestra sobre valores Olímpicos, ambas instâncias desenvolvidas
por membros do Comitê Olímpico. É um dia com diversas atividades realizadas
para um grupo de alunos, sendo que estes são escolhidos pela própria escola.
Esta atividade se caracteriza por abordar duas didáticas ‘orientada ao
conhecimento’ e ‘realização física por meio do esporte’, pelo que se objetiva
promover o desenvolvimento individual e grupal por meio da prática de deporte.
5.3.3 O público-alvo dos projetos
São desenvolvidas atividades em que participem professores de
educação física, professores de outras disciplinas, alunos de ensino
fundamental, alunos de ensino médio e alunos universitários.
Há incentivos por parte da Academia Olímpica em trabalhar com
‘replicadores’, sendo estes, professores tanto universitários, como de escolas.
Para isto, se fez contato direto com as universidades34 das quais sempre a tido
cooperação a Academia. Entretanto, por parte das escolas, é trabalhado
diretamente com as escolas particulares, ao mesmo tempo em que foi feito um
convênio com o Ministério da Educação para ter abertura com as escolas
públicas, porém esta parceria finalizou no ano de 2017 e estava até a data da
entrevista35 em análise para ver se voltariam a fazer a parceria ou se
conseguiam trabalhar de forma desagregada ao ministério.
Em vista das atividades realizadas serem diversas, o grupo-alvo é
específico para cada uma delas. Explicando melhor esta ideia, dentro da
‘Semana Olímpica’ são realizados diferentes atividades, como o concurso de
34
Facultas de Educación Física Deportes y Recreación da Universidad Estatal; Universidad
Casa Grande. 35
14 de junho de 2018.
90
pintura. Nesta atividade o grupo-alvo é categorizado por idade: de 8 a 10 anos,
de 11 a 14 anos, de 15 a 18 anos e os universitários. Já na atividade da
projeção do filme é planejado para crianças até 10 anos. Cabe destacar que,
todos os alunos envolvidos nas diferentes atividades procedem do mesmo
grupo de escolas, já que acabam por desenvolver uma parceria, tornado os
grupos fechados.
Entretanto, no ‘Sou Olímpico’ o público-alvo são os alunos escolares,
sem faixa etária, em vista de que é a escola que escolhe o grupo que realizará
a atividade, pelo que estas já são sistematizadas de tal forma que independe
quem seja o praticante e ouvinte, a atividade acontece igualmente.
De todo modo, os grupos alvo prioritários são crianças e jovens. Neste
caso, os universitários são antes de tudo são agentes das ações.
5.3.4 Metodologia
Apesar de não ter sido respondido o questionário, percebemos que a
estratégia metodológica adotada pelo projeto ‘Semana Olímpica’, das
abordagens didáticas, são sistematizadas a orientada para o conhecimento e a
experiencial. Já no ‘Sou Olímpico’ também é trabalhada a didática orientada
por o conhecimento, mesmo que seja incentivada a prática esportiva no âmbito
escolar pelo que se percebe a sistematização da abordagem da realização
física por meio do esporte na instituição,
No ‘Sou Olímpico’ é utilizado um material didático impresso, o qual em
sua maioria foi desenvolvido pela Academia Olímpica, mas também é
compartilhado material com as Academias Olímpicas da Argentina e Costa
Rica. Ao contrário do programa da ’Semana Olímpica’ o qual não tem nenhum
material didático para utilizar como base, só a troca de experiência dos
replicadores e as palestras. Isto posto, em todas as atividades realizadas pela
Academia Olímpica se busca promover o Movimento Olímpico, introduzindo a
filosofia do Olimpismo, seja com material didático, na prática de esporte ou na
realização de palestras. Ou seja, tal como vimos anteriormente, temos uma
91
metodologia de tipo francamente expositiva, baseada na oferta de informações
e no ‘depósito’ de conhecimento, caracterizando-se mais como conhecimento
dos valores olímpicos do que uma educação em valores olímpicos.
5.3.5 Valores
A Academia Olímpica em todas suas atividades realizadas, nos
diferentes projetos desenvolvidos, têm a responsabilidade de promover todos
os valores oficiais, como também os valores educacionais do Movimento
Olímpico. Inserir esta temática e ensiná-la dentro das distintas atividades é
parte do dever da Academia Olímpica.
Tal como vimos anteriormente, isto parece ser uma característica
comum a organizações que possui uma missão declarada e valores ‘oficiais’.
Defender e propagar seus valores é mais importante do que submete-los a um
exame crítico.
5.3.6 Rio de Janeiro 2016
Os Jogos de Rio não tiveram como ser esquecido na hora de
sistematizar as atividades, pelo que tomou forma esta ideia dentro do concurso
de pintura com a temática a ser desenvolvida pelos estudantes sobre “A
participação de Equador nos Jogos Olímpicos de Rio 2016”. Assim, antes do
concurso, como é sistematizado o projeto, antes de ser realizada a pintura, na
sala de aula o “replicador” explicou tudo o relacionado com os Jogos de Rio,
assim foram tratados temas geográficos, culturais, políticos, entre outros.
A respeito do material Transforma, não chegaram a tomar conhecimento
da existência do material, pelo que a Academia Olímpica lamenta que a
divulgação não fosse feita nas distintas Academias Olímpicas da Ibero-
América, por considerar que o material, ao ser escolar, teria contribuído no
projeto “Sou Olímpico”.
92
5.3.7 Avaliação
De fato, não há avaliação, porém são utilizados os indicadores postos
pela Solidariedade Olímpica36, para ver como foi a gestão. Segundo os
respondentes, com estes indicadores se há conseguido modificar, em alguns
aspectos, as atividades realizadas pela Academia Olímpica Equatoriana.
Todavia, nenhum esclarecimento foi dado sobre quais seriam os indicadores e
no que eles teriam impactado na Educação Olímpica.
5.4 PROJETOS DESENVOLVIDOS NA GUATEMALA
A Academia Olímpica Guatemalteca realiza três projetos que estão se
consolidando por meio de bons resultados, tanto no âmbito acadêmico
universitário como escolar. Os projetos são chamados de ‘Meu Amigo
Olímpico’, ‘Hope Factory’ e ‘United Play Guatemala’. Tendo muitos pontos
convergentes entre eles e em certa medida, podem ser pensados como
atividades complementares entre elas.
5.4.1 Objetivos específicos do projeto
Nos questionários respondidos pela Academia Olímpica Guatemalteca,
foi colocado que os três programas possuem os mesmos objetivos,
conhecimento sobre o Movimento Olímpico, conhecimento sobre valores
Olímpicos, educação em valores Olímpicos e incentivo às práticas de desporto.
No projeto ‘Meu amigo Olímpico’ é trabalhado dentro das salas de aula,
com o auxílio do professor e incentivo de um atleta as diferentes temáticas em
torno do que é o Olimpismo, sendo estes, conhecimento do Movimento
Olímpico, como nasceu o olimpismo, as questões históricas do Movimento
Olímpico, é falado também sobre os valores Olímpicos, para o qual, se
36
Fundação que patrocina varias atividades desenvolvidas pela Academia Olímpica
Equatoriana.
93
desenvolve um valor por lição, para assim ter uma maior compreensão sobre o
valor em todos seus contextos. Entretanto, há um plano de importância entre
os objetivos, pelo que o incentivo às práticas é incidental, por ter como
referencial um atleta, o aluno pode se identificar e acabar procurando o tal
esporte praticado pelo mesmo.
Da mesma forma, o projeto ‘Hope Factory’, por trabalhar questões no
âmbito, principalmente, escolar, desenvolve as temáticas de forma simples
para ser mais bem compreendida, como o conhecimento sobre o Movimento
Olímpico e todo o que lhe diz respeito. No mesmo sentido, o objetivo do
conhecimento e ensino dos valores são inseridos nos diferentes módulos do
programa, por entender que uma das finalidades para o ‘Hope Factory’ é a
construção da paz, pelo que as questões apresentadas no aplicativo são
explicadas e trabalhadas pelo professor. E como um objetivo de menor peso, o
incentivo às práticas desportivas, trabalhado em um módulo do aplicativo, o
qual é considerado mais prático, porém é virtual, trata de temas como natação,
atletismo, judô, esporte de combate, basquete, entre outros, mas não são
aprofundados.
Pelo contrário, o programa ‘United Play Guatemala’, incentiva totalmente
a prática dos esportes, oferecendo gratuitamente materiais esportivos (um
esporte específico por evento) nas comunidades carentes onde são realizados
os encontros. Promovendo e sistematizando a prática desportiva, para que,
apesar de não ter a presença de membros da Academia Olímpica
frequentemente, ainda seja desenvolvida a prática do esporte que foi levado à
comunidade. Já os Valores Olímpicos, são trabalhados tanto na rápida palestra
ministrada como também no meio da atividade prática, como forma de
intervenção “quando têm o acontecimento de algo questionável” (Entrevistado
4)37. E como um objetivo menos presente, ensinar sobre o Movimento Olímpico
simplificadamente e estando em um segundo plano, por compreender que a
temática não é simples para um grupo que não tem nenhum conhecimento
prévio.
37
Knijnik; Tavares (2012) denominaram este tipo de abordagem educativa de “incidental”.
94
5.4.2. Forma de organização e os conteúdos do projeto
O projeto ‘Meu amigo Olímpico’, que acontece há quase três anos, tenta
simplificar algumas teorias conhecidas no Movimento Olímpica, em vista da
idade dos participantes, como são os temas sobre o meio ambiente, o valores -
excelência, respeito e amizade, os hábitos de vida saudável, sendo trabalhados
em oito lições, um por mês. Os alunos recebem, por meio dos seus
professores, os quais participam de reuniões de capacitados, uma lição
fazendo uso de um “meio tecnológico”, pois é gravado um vídeo com um atleta
de rendimento quem será o padrinho da turma, o qual fala sobre os temas
supracitados, como também sobre o Olimpismo, Educação Olímpica, a sua
história, entre outros.
O material desenvolvido pelo atleta é de cinco a dez minutos, sendo que
a durabilidade da intervenção varia com relação à disponibilidade do professor.
É por meio do vídeo que o atleta se apresenta à turma escolar, criando uma
proximidade entre eles, como consequência do intercâmbio de vídeos, com
questões, novidades, interesses, entre eles, ao longo do ano. Pelo que, “o
atleta manda para o grupo [o vídeo] e o grupo responde ao atleta’ (Entrevistado
4). Este tipo de organização acontece em vista de que não se pretende usar o
tempo físico do atleta, porém, para participar desta atividade, ele [o atleta]
precisa capacitar-se, pelo que se realiza uma reunião, onde é conversado a
respeito das temáticas a serem trabalhadas ao longo do ano. Após as oito
lições é realizado um encontro presencial com o atleta.
O projeto ‘Hope factory’ foi desenvolvido pelo Comitê Olímpico
internacional na Suíça, como um módulo virtual, para o qual foram
desenvolvidas questões capciosas que tem por finalidade abordar o valor da
paz, pelo que “a intenção é de que você como participante do módulo seja um
construtor da paz” (Entrevistado 4). Pelo que se busca trabalhar dentro das
questões o não julgamento, o não preconceito, o respeito às diversidades,
respeito de uma forma geral, a não generalização, que a pessoa “seja um
pouco mais flexível” (Entrevistado 4).
95
O projeto é um aplicativo educativo incrementado nas escolas a partir de
novembro de 2016, pelo que o professor tem o papel de mediador no uso do
aplicativo. Desenvolvido em cinco módulos, nos quais são realizadas de 5 a 9
questões, as temáticas no aplicativo não chegam a ser aprofundadas pelo que,
quando é falado sobre o Movimento Olímpico é de uma forma geral, não
ensinando suas especificidades em vista dos indivíduos participantes. São
trabalhados dentro dos diferentes módulos temas como a tocha Olímpica, a
chama Olímpica, símbolos Olímpicos, como a bandeira, o hino, há também um
módulo a respeito do Barão Pierre de Coubertin, entre outros assuntos.
O ‘United Play Guatemala’ é realizado há quase dois anos e é um
projeto que consiste em levar para as comunidades marginalizadas,
implementação esportiva, para que, desta forma, as crianças tenham a
oportunidade de praticar o esporte e, como uma finalidade do programa, tentar
de que as crianças tenham mudanças de atitudes. O problema ou limitação de
iniciativas deste tipo reside em que, tal como observado por Bailey (2004),
está na grande dificuldade em isolar a variável ‘esporte’ e atribuir aquela prática
esportiva qualquer mudança valorativa de crianças e jovens.
Pelo que, não só basta à prática como também o olhar atento dos
replicadores, para assim intervir nas atividades e conseguir as almejadas
mudanças de atitudes por parte dos indivíduos praticantes. Este trabalho foi
possibilitado também, por parte dos conteúdos desenvolvidos e trabalhados no
‘Meu amigo Olímpico’, por ser simplificado e acessível, mas tem que se
contextualizado à realidade da comunidade.
No dia da atividade é levado, junto com o grupo que realiza a
intervenção, muito material esportivo. Mas antes de ir para a parte prática, que
é o ápice do evento, é falado sobre o Movimento Olímpico, mesmo que seja de
forma bem simples, em vista de não ser fácil trabalhar esta temática com
crianças pequenas. Já a respeito dos valores, conhecer e ensinar eles, isso já
estão inseridos em todas as atividades desenvolvidas pela Academia Olímpica
Guatemalteca. No projeto, ocorrem intervenções no meio da prática esportiva,
para remeter aos valores Olímpicos, e explicar assim, o que é certo e errado.
96
Somos de opinião que o trabalho desenvolvido da Guatemala é o que
mais se aproxima de uma proposta de educação em valores por meio do
esporte. Como afirma Turini (2009, p. 159)
[...] não existe uma receita mágica para ensinar valores. Em esportes e jogos, o julgamento de valores e o comportamento de valores se processam o tempo todo. É importante que o professor esteja atento para ajudar as crianças e os jovens a desenvolverem respeito, aceitação e comportamento correto [...] Que considerem que a educação moral é algo a ser planejado através de estratégias de intervenção. Sendo assim, não podemos considerar simplesmente que a participação pura e simples em atividades de Educação Física e Esportes promovam a educação moral. Que estejam atentos a situações de dilemas morais que podem ocorrer nessas atividades e que intervenham com análises, reflexões e diálogos morais junto com os alunos.
5.4.3 O Público-alvo dos projetos
No questionário respondido pela Academia Olímpica Guatemalteca
foram colocados que no projeto ‘Meu amigo Olímpico’ estão envolvidos
professores de educação física, professores de outras disciplinas, alunos de
ensino fundamental e atletas amadores. No que diz respeito aos professores, é
priorizado pela Academia Olímpica a participação do professor de educação
física para desenvolver o projeto dentro da sala de aula, porém ainda, em
muitas escolas da Guatemala, não tem professores da área pelo que os
professores regentes das classes, que são de outras disciplinas,
desempenham o papel de liderança.
No que diz respeito aos alunos, por ter uma melhor compreensão e
raciocínio, se prioriza trabalhar com os alunos do 5° a 6° ano, em detrimento de
alunos de ensino infantil. Já os conhecimentos ensinados são muito básicos
para o entendimento de alunos de ensino médio, tornando a atividade muito
simples. Normalmente participam escolas públicas, mas não se exclui às
particulares. E por último, os atletas, este é parte fundamental para a
realização do programa por ser quem apadrinha e incentiva a turma no
desenvolvimento das atividades.
97
Isto posto, para Academia Olímpica, o projeto ‘Hope Factory’ tem um
grande potencialidade pela possibilidade ser desenvolvido por todos os
indivíduos que tenham interesse, pelo que no questionário, foram marcadas
todas as opções de grupos-alvo: Professores de educação física e outras
disciplinas, alunos de ensino infantil, fundamental e médio, universitários e
atletas. Mas atualmente, ao igual que no ‘Meu Amigo Olímpico’, quem faz uso
da aplicação educacional são os professores tanto da educação física como de
outras disciplinas, alunos de ensino fundamental e atletas, sendo incluídos
nesta lista os universitários, por já ter sido apresentado o aplicativo dentro de
algumas universidades.
Em vista de tentar que ambos os projetos se complementem, ‘Mi amigo
Olímpico’ e ‘Hope Factory’, é pretendido inserir eles nos mesmos espaços
educativos, e assim, ser realizados pelos mesmos indivíduos. Para isto, a
Academia Olímpica Guatemalteca, ao realizar um programa de Conferências
Olímpicas, obtém o contato dos participantes do evento, que em parte são
membros diretivos de diferentes escolas, ao que a Academia Olímpica faz o
convite diretamente nas escolas, ou as escolas entram em contato para saber
como participar dos projetos, “é mais por contato direto” (Entrevistado 4). No
presente ano, já são 25 turmas participando do projeto, tendo, em números
aproximados, 150 alunos dentro dos programas escolares.
Já o ‘United Play’, é desenvolvido em comunidades de risco social,
sendo aberta a toda a comunidade e dirigido para todos os alunos (ensino
infantil, fundamental e médio), como também a atletas (amadores ou
profissionais). Desta forma, envolve crianças e adolescentes de 4 a 18 anos,
não tendo restrição etária.
Para a realização da atividade, a Academia Olímpica escolhe, de forma
aleatória, uma comunidade carente. No dia do evento, ao chegar ao local onde
iram acontecer às atividades, seja um espaço físico, grande ou pequeno (a
atividade é adaptada ao espaço), é feita uma divulgação na mesma hora, em
muitos casos, o líder comunitário auxilia para fazer esta convocatória.
98
Apesar de não ter inscrição, nem nenhum tipo de registro dos
participantes, se estima de que já chegou a ter em um único evento mais de
200 crianças participando. Sendo que, até a data da entrevista38, tinham
realizado a atividade para três comunidades, das quais duas receberam a
implementação esportiva, isto por que em uma comunidade não teve um
responsável que ficasse com o material esportivo.
5.4.4 Metodologia
Os três programas da Academia Olímpica Guatemalteca, realizam suas
atividades com base na sistematização do ensino de fatos, histórias, nomes,
datas de acontecimentos do Movimento Olímpico e a utilização do material
didático OVEP.
A respeito do projeto ‘Meu Amigo Olímpico’ os objetivos propostos foram
alcançados por meio de conversas e palestras ofertados aos alunos, pelo que
não houve uso de material didático impresso nas aulas. O único material
impresso neste projeto é o manual do programa que é o guia completo do
projeto e este fica com o professor.
As atividades desenvolvidas aos grupos são planejadas em oficinas de
leituras sobre o Movimento Olímpico, sobre os valores. Também são pensadas
as atividades práticas, já que estas fazem a conexão entre a prática e a vida “a
gente trata que na prática esportiva, na prática de algumas atividades, sejam
chamados à reflexão de qual valor eles estão trabalhando” (Entrevista 4). São
práticas que levam à reflexão dos alunos.
Já ‘Hope Factory’ trabalha com fatos, histórias, nomes, datas de
acontecimento, é uma base histórica. Este projeto tem uma sólida base de
valores, sendo utilizado o material didático do Manual do Programa dos
Valores. O projeto, quando incorporado ao programa de Educação Olímpica da
Guatemala, foi analisado a estrutura das suas questões, tudo o que estava
relacionado com o programa educativo, pelo que foram adaptadas as
38
28 de maio de 2018
99
perguntas à realidade do país, porém as questões tiveram que ser mantidas
em seu conteúdo, isto se deve, em parte, a que o Comitê Olímpico
Internacional proibiu que fosse mudada a linha de pensamento deles, o que é
típico das organizações dogmáticas.
A respeito do ‘United Play Guatemala’ é considerado mais prático que os
outros programas, porém não exclui a parte teórica “porque primeiro eles se
reúnem, fazem um tipo de palestra geral, ainda que seja com muitas crianças
de diferentes idades, falam de um tema específico e logo faz a prática em cima
disso” (Entrevistada 4). Este projeto tem uma metodologia “mais livre”, já que
se respeita o espaço e contexto das comunidades participantes, pelo que
podem surgir mudanças na sistematização no momento da atividade.
Em síntese, percebemos que há uma facilidade em abordar a didática
orientada para o conhecimento, como também é interessante para os
programas de Educação Olímpica utilizar as atividades encontradas no manual
do OVEP que, para Naul (2008) corresponde à abordagem didática orientada
ao mundo vida.
5.4.5 Valores adotados pelos projetos
No questionário respondido pela Academia Olímpica foram colocados
que são trabalhados todos os valores oficiais como também todos os valores
educacionais do Movimento Olímpico. Entretanto destaca-se que é os valores
da excelência, amizade e respeito junto com o valor da universalidade são tidos
como valores institucionais da Academia Olímpica Guatemalteca.
Isto posto, nos diferentes projetos de Educação Olímpica realizados na
Guatemala, todos os valores estão interligados, tem uma certa correlação, pelo
que se busca alinhar todos os valores dentro das atividades realizadas pela
Academia sempre em vista de promover as mudanças valorativas/morais por
parte dos praticantes.
100
Ou seja, tal como nos outros casos analisados, a vinculação institucional
tornou-se um marcador e um limitador importante do campo de valores
definidos. Isto indica um baixo grau de liberdade valorativa para iniciativas
educacionais de organizações do Movimento Olímpico.
5.4.6 Jogos de Rio 2016
Nos projetos ‘Meu Amigo Olímpico’ e ‘United Play’ os Jogos Olímpicos
Rio 2016 influenciaram em alguns aspectos aos programas, porém não
diretamente. O exemplo disso está no ‘Meu Amigo Olímpico’, “no período que
estava no meio dos Jogos Olímpicos, foi uma motivação a mais, tanto para os
alunos, por querer conhecer mais, quanto para atletas por ter temática certa a
ser conversada pelos vídeos” (Entrevistador 4) enviados às diferentes turmas,
possibilitando além de falar dos Jogos Olímpicos em si, como também,
trabalhando a temática de hábitos de vida saudável - a prática de esporte,
comer bem, dormir bem.
Todos os programas trabalharam a temática dos Jogos Olímpicos como
um exemplo, isto porque “foi um momento histórico” (Entrevistada 4) pelo
sentimento de cercania que teve os Jogos de Rio. Desta forma, foi utilizado
como recurso até para promover a prática desportiva.
No ‘Hope Factory’ que, ao invés de ser lançado em agosto de 2016 só
foi lançado em outubro do mesmo ano, ele tinha muito dos Jogos Olímpicos,
por ter sido pensado em ser lançado durante os Jogos de Rio 2016 com a
finalidade de que as crianças tivessem uma aproximação maior ao Comitê
Olímpico Internacional como também ao Nacional.
Ainda cabe mencionar que, o material didático desenvolvido nos Jogos
de Rio 2016, o Transforma, não chegou a ser conhecido pela Academia
Olímpica. Pelos motivos apresentados, não pode ser dito que houve influência
dos Jogos nos programas diretamente.
101
5.4.7. Avaliação
Os projetos ‘Hope Factory’ e ‘United Play’ não são avaliado pelos
participantes do programa. Contudo, ‘Meu Amigo Olímpico’ tem uma estrutura
curricular, pelo que exige compromisso tanto do atleta quanto do aluno. “A
Academia Olímpica não avalia o aluno neste projeto, mas é o professor quem
possivelmente o avalia” (Entrevistado 4), tendo como referência para fazer isto,
a mudança de comportamento.
Cabe destacar que apesar de o ‘Hope Factory’ não ser avaliado pelos
usuários do aplicativo, o programa passa pela avaliação do Ministério de
Educação. Em vista disso, o aplicativo sofreu muitas modificações com relação
à palavra, mudanças de contexto, por perceber que não seriam todas as
crianças que compreenderam, de forma íntegra, todas as questões.
Novamente, as iniciativas Guatemaltecas se distinguem de algum modo.
Ao contrário dos casos anteriormente analisados cuja avaliação estava
centrada no processo e não no produto, há entre os projetos desta Academia
Olímpica nacional a preocupação de tentar verificar, de algum modo, a
efetividade do que foi realizado em termos de educação em valores.
5.5 PROJETO DESENVOLVIDO EM PORTO RICO
A Academia Olímpica Porto-riquenha está desenvolvendo o projeto
‘OVEPUR- Programa para a Educação no Olimpismo e seus Valores em Porto
Rico’. O projeto tem como base sistemática o uso do material OVEP, pelo que
não há dúvida que se norteia sua atividade para a abordagem didática
“orientada ao mundo da vida”. Para melhor compreender isso, analisaremos os
diferentes elementos que compõe o programa.
102
5.5.1 Objetivos específicos
No projeto ‘OVEPUR’ é trabalhado, tendo por enfoque os Valores
Olímpicos, tanto para conhecê-los, quanto para ensiná-los. Desta forma, pode
ser tomado por um programa de valores.
O referido programa tenta ligar o novo conhecimento de Educação
Olímpica, com temas específicos como são os Jogos Antigos Gregos e que
muitas vezes, não são referenciados. O exemplo disso é a história de “Kinisca,
que era uma princesa que foi campeã olímpica, este fato o juntamos como uma
história de Porto Rico, o nosso Olimpismo, do nosso desporto porto-riquenho e
o levamos para sala de aula” (Entrevistado 5).
Em vista de o público-alvo atender a um grupo específico de atletas, é
que se estabeleceu a premissa de dois objetivos interligados, com o desejo de
trabalhar a educação em valores em vista de ser tema universal dentro do
cenário educacional. Neste sentido, se aproximam do que propôs Caminha
(2009, p. 65)
O Olimpismo propõe que, por meio do esporte, possamos adquirir e defender valores como a paz entre os povos, a democracia entre as nações e o respeito ao meio ambiente. Tais valores não devem ser ensinados como algo abstrato e distante do cotidiano dos atletas, tendo em vista que seus corpos vivenciam valores olímpicos na própria prática esportiva.
5.5.2 Organização e os conteúdos do projeto
Apesar de que as atividades são realizadas esporadicamente, o projeto
está sendo desenvolvido junto à escola chamada de Albergue Olímpico, desde
inícios do ano de 2017. Esta escola é considerada o centro de treinamento de
Porto Rico, pelo que os alunos durante a semana ficam, em tempo integral,
dentro da escola.
As intervenções feitas no programa são por meio de sessões, as quais
são dirigidas, começando com uma atividade física, que é chamada de
‘vigorante’, depois um jogo, o qual possibilita fazer algumas intervenções por
parte do facilitador para promover a reflexão dos alunos, assim no meio do jogo
103
se incentiva a organização de novas regras, porém sem um juiz, trabalhado o
respeito pelos outros, podendo também ser relacionado com o Jogo limpo.
A formação do caráter dentro desses preceitos se dá pelo
autoconhecimento, pelo autocontrole e pela autorrealização (RUBIO, 2009b, p.
97). Desta forma, após a atividade prática e a brincadeira, são realizadas
atividades de integração curricular, como são fazer atividades em inglês,
ciências, matemáticas, entre outras.
O programa de Educação Olímpica tem o seguinte modelo, primeiro é
realizada uma atividade física, logo se passa o conhecimento, depois disso, se
faz uma atividade significativa e por último uma atividade de integração
curricular.
5.5.3 O público-alvo do projeto
O projeto é desenvolvido formalmente para as escolas, sendo realizado
dentro da sala de aula suas atividades. Inicialmente o programa está sendo
vinculado com escolas especializadas em esporte, uma de beisebol e outra de
todos os desportos, ao mesmo tempo em que foi feita uma parceria com a
escola da delegação que vá para os Jogos Olímpicos da Juventude em Buenos
Aires.
O projeto envolve professores de educação física, alunos universitários
e alunos de ensino básico considerados atletas amadores, entre as idades de
12 a 18 anos. Cabe colocar que, tanto os professores quanto os universitários
são ‘facilitadores’ dentro do programa, pelo que foi realizado um curso em
março do presente ano, certificando aos participantes do evento como
‘facilitadores’ do projeto. Isto posto, o projeto recebe o apoio do Departamento
de Educação, o Departamento de relações e de esportes, como também da
universidade que está dirigindo o projeto chamada de Universidade de
Mayagüez de Porto Rico. E o impacto deste projeto em um ano de realização,
tem sido de 300 alunos de escolas e 600 no total.
104
5.5.4 Metodologia
O projeto trabalha em cima de duas abordagens didáticas, a orientada
ao conhecimento e a orientada ao mundo da vida, já que tem por objetivo
ensinar a temática do Movimento Olímpico ao mesmo tempo em que, para
desenvolver as atividades, utiliza do material encontravam no OVEP como
referencial.
Entretanto, não só é utilizado o material da OVEP, como também tem
muitos livros de história sobre esporte como referência. Também está o
material desenvolvido pela própria Academia Olímpica, chamado de Educação
Olímpica e que já está na quarta edição. O conteúdo deste livro vai desde a
Grécia até o porto-riquenho. Com cada ciclo Olímpico se renovam os dados do
livro, sendo que a última edição foi feita em 2016.
Cabe destacar que, a conexão entre experiência com a abordagem
orientada ao mundo da vida é alcançada com o auxílio do facilitador, por ser
quem faz perguntas e organiza dinâmicas para incentivar à reflexão, fazendo
com que o aluno pense em torno a como é feito o Jogo limpo, excelência ou
respeito, no cenário da vida.
5.5.5 Valores adotados
No questionário respondido pela Academia Olímpica, foram sinalizados
que dentro dos valores oficiais do Movimento Olímpico são trabalhados os
valores de excelência e respeito, com relação aos valores educacionais do
Movimento Olímpico, são trabalhados o equilíbrio entre corpo, caráter e mente,
a alegria do esforço e Jogo limpo. Os cinco valores escolhidos para a
realização do Projeto de Educação Olímpica são ensinados, tendo por base, o
programa OVEP.
Desta forma, é necessário ensinar em valores, em vista de que estamos
em um mundo marcado pelas diferenças não apenas culturais, mas também
105
econômicas e sociais, pelo que é necessário espaços que permitam trabalhar a
empatia por parte de todos.
5.5.6 Avaliação
Segundo o respondente, por serem as atividades realizadas
esporadicamente, ainda não foi pensada uma forma de avaliar as atividades
desenvolvidas, porém os ‘facilitadores’ futuramente passaram por uma
avaliação, mas ainda não foi sistematizado como será feito este procedimento.
106
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Movimento Olímpico apoia os princípios de Coubertin e, hoje, a educação através do Olimpismo tornou-se universal, essencialmente baseada nos valores humanos fundamentais. A educação ligada ao Olimpismo, ou seja, a Educação Olímpica, envolve duas orientações: (1) pesquisa sobre o Olimpismo (mundo acadêmico) e (2) ensino através do Olimpismo (crianças, adolescentes e atletas), por meio de programas acadêmicos e programas para a juventude (INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2008).
A presente pesquisa possibilitou conhecer distintos programas de
Educação Olímpica desenvolvidos em países Ibero-americanos, percebendo
suas semelhanças, seus pontos fortes e suas limitações. Em vista de a
temática ser complexa, são poucas as iniciativas concretas neste sentido.
As abordagens didáticas de Roland Naul (2008) sistematizam diferentes
aspectos que uma atividade de Educação Olímpica deveria ter, entendendo
que uma opção não exclui a outra e sim a complementa. Ao analisar os cinco
diferentes programas percebemos que a abordagem orientada para o
conhecimento é aquela mais frequente, enquanto que as outras três
abordagens didáticas: a experiencial, da realização física por meio do esporte e
a orientada ao mundo da vida, na grande maioria das vezes, estão em um
segundo plano.
Isto está relacionado ao fato de as academias olímpicas não serem
instituições educacionais stricto sensu. Assim, na maioria das vezes limitam
sua proposta educacional à transmissão de nomes, datas, fatos, narrativas e
histórias. Ou seja, uma educação conteudista.
Há um interesse por parte de todos os programas de trabalhar com
universitários e professores como replicadores de conteúdo e não como
produtores de conteúdo.
Na sua grande maioria, os projetos pesquisados na Ibero-América têm
por base as mesmas metodologias expositivas, dadas em palestras e
exposições, apesar de que em projetos como o ‘United Play Guatemala’ este
107
momento dentro das atividades seja rápido e secundário, ao contrário do que
foi relatado no projeto ‘Cátedras de Estudos Olímpicos’.
Os valores Olímpicos, temática importante quando se fala na construção
de um programa de Educação Olímpica. Percebemos que para as distintas
Academias Olímpicas, os valores são aqueles definidos pelo Movimento
Olímpico. Eles têm que estar presentes em tudo o que está realizado com as
mesmas, ou seja, são inerentes a elas. Assim, observa-se muito mais
‘conhecimento sobre valores olímpicos’ do que educação em valores olímpicos.
A respeito dos Jogos de Rio de Janeiro 2016, a pesar de ser temática
trabalhada nos projetos, ficou claro que não influenciaram ao público-alvo dos
programas, não conseguindo aumentar os participantes nem aumentar o
número de iniciativas que trabalham dentro da temática da Educação Olímpica.
Percebendo que sua inserção dentro dos projetos não se justificava pela
proximidade espacial dos Jogos de Rio com os países da Ibero-América, mas
por serem os Jogos Olímpicos, independendo do lugar. Os Jogos de Rio de
Janeiro 2016, apesar de ter anunciado que seriam os Jogos que incluiriam
todos os países próximos, os de língua hispana e português, não foi percebido
isto nas falas dos diferentes representantes das Academias Olímpicas. Desta
forma, para os programas não seu viu nenhum retorno feito da comunidade
para eles, sendo estes patrocínios, mais envolvimento, aumento no numero de
participantes, entre outros fatores.
Foi questionado também, a respeito das avaliações, pelo que
percebemos que ainda não acontecem de forma ideal. As ações de avaliação
são realizadas em alguns espaços, mas não em todos. De qualquer forma,
elas, quando acontecem, tem um caráter gerencial, observando muito mais o
processo do que o produto. Deste modo, não é possível afirmar sobre a
existência ou inexistência de qualquer efeito dos programas investigados sobre
atitudes e valores de seus respectivos públicos-alvo.
No presente trabalho conhecemos e nos apropriamos de diversos
conceitos e teorias. Mesmo tendo classificações e denominações distintas
quando tentamos compreender o fenômeno da Educação Olímpica. Neste
108
sentido, por ser um assunto complexo, muitas pessoas adotam uma
abordagem ampla, pelo que compreendem a Educação Olímpica como uma
temática multidisciplinar que pode permear distintas áreas do conhecimento,
tendo como ponto central o Esporte Olímpico, o internacionalismo e o fair play.
Outra abordagem tem conectado a Educação Olímpica com a Educação
Física ou até com a atividade física. Contudo, ambas só podem ser
caracterizadas como Educação Olímpica quando o esporte for o meio ou o fim
de suas atividades. Assim, a Educação Olímpica supõe a educação através do
esporte, baseada nos princípios e nos valores do Olimpismo, propostos por
Pierre de Coubertin. Pelo que o processo de educação é entendido de uma
forma ampla, não sendo restringida ao espaço da escola.
Isto posto, compreendemos como Educação Olímpica as propostas de
educação através do esporte tendo como referência o Movimento Olímpico,
seus valores declarados, seu simbolismo, sua história, seus heróis e suas
tradições (Tavares, 2008). Por entender que é uma definição mais completa,
mas não exclui as abordagens anteriores.
Para melhor compreender como se inseriu a Educação Olímpica nos
diferentes âmbitos esportivo-educacionais, foi necessário compreender o que é
a Teoria Crítica do Esporte e o que propagava. Para ela, o esporte tem
características da sociedade capitalista, como são: a competição, a
racionalidade instrumental, a disciplina, a burocratização, dentre outras. Pelo
que é caracterizado por elementos próprios do mundo da industrialização e
seus objetivos formam a base para o desenvolvimento do esporte moderno, ao
mesmo tempo em que, contribui como um legitimador do capitalismo burguês.
A Teoria Crítica do Esporte reconhece o esporte por sua prática do
esporte de alto rendimento e/ou de espetáculo, pelo que faz uma forte crítica
ao dizer que esta domina e influencia as diversas manifestações esportivas,
como acontece no esporte escolar ou nas atividades de lazer, o qual, segundo
esta visão, também reproduz os aspectos estruturais do esporte de alto
rendimento.
109
Para fazer uma ruptura desta ideia, veio a Teoria Positiva do Esporte, a
qual defende que esporte possui valores que lhe são inerentes e que são
considerados socialmente positivos, como são considerados: a amizade, a
excelência, o respeito, a cooperação. Esta Teoria tem presente que o esporte é
pensado e adequado para quem o pratica, sendo consideradas todas as
dificuldades e necessidades presentes nos diferentes contextos das
sociedades.
Desta forma, o esporte se apresenta como uma prática potencialmente
educativa, já que permite refletir as tensões e contradições das sociedades,
fazendo com que os indivíduos estejam aptos para compreender e/ou modificar
as mesmas. Ainda, esta Teoria defende a competição no esporte, já que
compreende a necessidade de aprender a competir. Contudo, o esporte tem
que ser pensado como uma atividade da sociedade, ao ser apresentado a
partir de certas perspectivas, regras, relações, objetos, gestos, ideologias.
Desta forma, o Movimento Olímpico se estabeleceu como referência ao
vincular valores à prática esportiva, tendo hoje, valores específicos que o
legitimam. Pelo que a expansão do Movimento Olímpico uniu o papel educativo
do esporte aos valores da sociedade moderna, inspirado pela ideia do
humanismo.
No atual contexto social e sua tamanha complexidade, percebe-se que
variam os valores presentes na prática esportiva conforme as demandas das
diferentes instituições que organizam os eventos esportivos em vista de seus
praticantes/participantes, envolvendo um conjunto de práticas, valores,
atitudes, etc.
Isto posto, ao conhecer os diferentes projetos de Educação Olímpica
desenvolvidos na Ibero-América, percebemos que os contextos sociais variam
de país a país, e dentro de este macro, são englobados distintas realidades
sociais, pelo que se fez necessário que cada atividade desenvolvida pelas
Academias Olímpicas respeitassem estas diferenças para, com isso, alcançar
seus objetivos de difusão do conhecimento sobre o Movimento Olímpico e com
isso seus valores.
110
Em suma, apesar de encontrarmos diferentes aspectos relevantes
dentro das distintas dinâmicas, nos projetos de Educação Olímpica, para que
este estudo tenha maior relevância, é necessária a participação de mais países
na pesquisa, para ver se, com uma maior numero de participantes na pesquisa,
os resultados seriam diferentes?
111
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118
ANEXO I
Estimado Señor Presidente de la Academia Olimpica Nacional
El Grupo de Pesquisa en Estudios Olímpicos del Centro de Educación Física y
Deportes de la Universidad Federal de Espírito Santo (ARETE/CEFD/UFES)
esta realizando una iniciativa de investigación junto a los Comités Olímpicos
Nacionales de Ibero América. El objetivo de la investigación es identificar,
describir y analizar proyectos de Educación Olímpica en Ibero América
teniendo como foco investigar los valores orientadores, sus objetivos
establecidos, los grupos focales, sus metodogías didácticas y las formas de
evaluación utilizados en los proyectos.
A pedido del Coordinador de la Investigación, el Prof. Dr. Otávio Tavares y de
la responsable por la investigación, la Prof. Thayse Alarcón, estamos enviando
a los Comités Olímpicos de Ibero América un cuestionario para ser respondido.
El cuestionario se puede responder en apenas 15 minutos. Por favor,
responder y enviar tan pronto como sea posible.
Las informaciones contenidas en el cuestionario serán analizadas de forma
confidencial, siendo utilizadas unicamente para fines académicos. Sólo los
resultados generales y conclusiones serán publicados.
La Universidad Federal de Espírito Santo y el grupo ARETE tienen un interés
en la realización de este estudio como una forma de perfeccionar el Movimiento
Olímpico en nuestro continente.
La responzable por la investigación, Prof. Thayse Alarcón está a completa
disposición, en caso de necesitar mayor aclaración, en la siguiente dirección:
Prof. Thayse Alarcón
Tel: (55) 27 99954-8264
E-mail: [email protected]
De antemano, gracias por su colaboración que, sin duda, mucho ayudará al
desenvolvimiento del Movimiento Olímpico.
Un cordial abrazo,
Prof. Dr. Otávio Guimarães Tavares da Silva
119
ANEXO II
PROJETOS DESENVOLVIDOS PELO SEU COMITÊ
Nombre del proyecto: __________________________________________________
Objetivos del proyecto (múltiples respuestas son posibles)
( ) Conocimiento sobre el Movimiento Olímpico;
( ) Conocimiento sobre los Valores Olímpicos;
( ) Educación en Valores Olímpicos;
( ) Incentivo a las prácticas de deportes.
¿Cuáles son los grupos focales del proyecto? (múltiples respuestas son posibles)
( ) Profesores de Educación Física
( ) Alumnos de educación infantil
( ) Alumnos de enseñanza media
( ) Atletas amadores o profesionales
( ) Profesores de otras disciplinas
( ) Alumnos de enseñanza básica
( ) Alumnos universitarios
Otros: _________________________________________________________
¿Cuáles son las estratégias metodológicas adoptadas? (múltiples respuestas son posibles)
( ) Enseñanza de hechos, histórias, nombres, fechas de acontecimientos del Movimiento Olímpico;
( ) Organización de mini-olimpíadas, acampamentos olímpicos y actividades semejantes;
( ) Organización de escuelas deportivas y competiciones deportivas;
( ) Uso de material didáctico del Olympic Values Education Programme (OVEP) o asemejados, y/o actividades que busquen crear conexiones entre las prácticas deportivas y la vida cotidiana.
120
¿Cuáles son los valores adoptados en el proyecto?
Valores oficiales del MO
( ) Excelencia
( ) Amistad
( ) Respeto
Otros:______________________________
Valores educacionales del MO
( ) Equilibrio entre cuerpo, voluntad y mente
( ) Alegría del esfuerzo;
( ) Busca por la excelencia;
( ) Juego limpio;
( ) Respeto por los otros