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Date post: 09-Aug-2020
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM DEPARTAMENTO DE LETRAS TIPOS DE DISCURSO E RECURSOS LINGUÍSTICOS: análise comparativa entre português e espanhol NATAL - RN 2015
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

DEPARTAMENTO DE LETRAS

TIPOS DE DISCURSO E RECURSOS LINGUÍSTICOS: análise comparativa entre

português e espanhol

NATAL - RN

2015

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LUANA VITAL DOS SANTOS

TIPOS DE DISCURSO E RECURSOS LINGUÍSTICOS: análise comparativa entre

português e espanhol

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Estudos da Linguagem da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN) como requisito de conclusão do

mestrado em Estudos da Linguagem.

Orientador: Prof. Dr. Clemilton Lopes

Pinheiro.

Natal - RN

2015

3

UFRN. Biblioteca Central Zila Mamede.

Catalogação da Publicação na Fonte

Santos, Luana Vital dos Santos.

Tipos de discurso e recursos linguísticos: análise comparativa entre português e espanhol / Luana

Vital dos Santos. – Natal, RN, 2015.

66 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Clemilton Lopes Pinheiro.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências

Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem.

1. Gênero discursivo – Dissertação. 2. Produção textual – Dissertação. 3. Interacionismo

sociodiscursivo – Dissertação. 4. Análise do discurso – Dissertação. I. Pinheiro, Clemilton

Lopes. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 81’232

4

RESUMO

O presente trabalho toma como objeto de estudo os tipos de discurso, umas das noções centrais

do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD). Segundo o ISD, a linguagem assume um ponto

central no desenvolvimento do ser humano e o texto é concebido como uma unidade

comunicativa global que movimenta recursos linguísticos de determinada língua natural,

adotando e adaptando determinado modelo textual (os gêneros textuais). Os tipos de discurso

são definidos como segmentos, em número finito, que entram necessariamente na composição

dos gêneros e, consequentemente, de cada texto empírico, nos quais semiotizam diferentes

mundos discursivos particulares ou diferentes atitudes de locução. A identificação dos tipos de

discurso é possível a partir das unidades linguísticas que neles ocorrem. Considerando essas

noções, partimos da hipótese formulada por Miranda (2008) segundo a qual, de acordo com os

gêneros, os tipos de discurso apresentam especificidades no plano da configuração do tipo

linguístico, que, por sua vez, podem variar nas diferentes línguas naturais. Nosso objetivo é,

portanto, detectar o tipo de discurso que predomina no gênero painel do leitor e depreender as

unidades e mecanismos linguísticos que se associam ao tipo de discurso ou tipos de discurso

predominantes, comparativamente em relação ao português e ao espanhol. O trabalho se

caracteriza por sua natureza exploratória e pretende tratar a questão com vistas a torná-la mais

explícita para a discussão de hipóteses. Para atingir esse objetivo, analisamos um corpus

composto por 30 painéis de leitores, 15 extraídos do jornal El periódico de Catalunya, em língua

espanhola, e 15 do jornal Folha de São Paulo, em língua portuguesa.

Palavras-chave: Gênero textual; Interacionismo sociodiscursivo; Tipos de discurso

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ABSTRACT

The object of study in this research are the types of discourse from the theoretical and

epistemological framework of the socio-discursive interactionism (ISD). According to ISD,

language has a central point in the development of the human being and the text is designed as

a global communicative unit that moves linguistic resources of a natural language, adopting and

adapting a textual composition (the text genres). The types of discourse are defined as segments

in finite number, which necessarily enter in the composition of genres and consequently in each

empirical text. They semiotize particular different discursive worlds or different attitudes of

expression. Identifying the types of discourse is possible from the language units that occur in

them. Considering these notions, we start from the assumption made by Miranda (2008) that,

according to genres, types of discourse have specificities in the level of the linguistic type,

which, in turn, may vary in different natural languages. Our goal is therefore to describe the

kind of discourse that dominates the genre reader panel and inferred units and linguistic

mechanisms that are associated to the type of discourse or types of discourse dominants. We

also intend to relate the description of the type of discourse and language units associated with

different natural languages: Portuguese and Spanish. The work is characterized by its

exploratory nature and intends to address the issue in order to make it more explicit to discuss

hypotheses. To achieve this goal, we analyze a corpus composed of 30 panels of readers, 15

extracted from the newspaper El periódico de Catalunya, in Spanish, and 15 of the newspaper

Folha de São Paulo, in Portuguese.

Key-words: Text genres; Socio-discursive Interactionism; Types of discourse

6

“Tenho o privilégio de não saber quase tudo, e

isso explica o resto.”

Manoel de Barros

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar à Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as

coisas.

Aos meus familiares, em especial, aos meus pais Ana Lúcia e João Vital pelo esforço

contínuo para me proporcionarem uma boa formação moral e acadêmica, e ao meu esposo

Wellington Nouschangs pelo apoio e paciência em todas as horas.

Aos meus companheiros de trabalho da escola estadual prof. Anísio Teixeira pelo

incentivo e compreensão nos momentos necessários a reflexão, e aos amigos da EaD do IFRN

pelas trocas de experiências e amizade.

A todos os professores do mestrado que contribuíram na minha formação acadêmica.

Um agradecimento especial ao meu orientador prof. Dr. Clemilton Lopes Pinheiro pela

dedicação e apoio em todas as revisões e sugestões que foram fundamentais para a conclusão

deste trabalho.

Enfim, agradeço a todos que de alguma forma colaboraram e estiveram presentes nesta

jornada.

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................09

2 PANORAMA TEÓRICO......................................................................................................11

2.1 Classificações e tipologias textuais.....................................................................................11

2.2 O ISD e os tipos de discurso...............................................................................................20

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................................25

4. ANÁLISE COMPARATIVA DE PAINÉIS DE LEITORES EM PORTUGUÊS E

ESPANHOL..............................................................................................................................29

4.1. O contexto de produção.....................................................................................................29

4.2. O plano global do conteúdo temático................................................................................31

4.3. Os tipos de discurso e os recursos linguísticos..................................................................31

4.3.1. Análise dos painéis em português...................................................................................31

4.3.2. Análise dos painéis em espanhol....................................................................................45

4.3.3. Comparação entre português e espanhol.........................................................................63

5. CONCLUSÃO......................................................................................................................65

REFERÊNCIAS........................................................................................................................67

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INTRODUÇÃO

O interacionismo sociodiscursivo (ISD) é um quadro teórico-epistemológico que coloca

a linguagem como o foco do desenvolvimento humano. Suas influências são percebidas não

apenas nos estudos linguísticos, mas também nas diversas áreas do conhecimento. Dessa forma,

o ISD, como afirma Bronckart (2009, p.10) “não é uma corrente propriamente linguística, nem

uma corrente psicológica ou sociológica; ele quer ser visto como uma corrente da ciência do

humano”. Nesse sentido, insere-se como uma variante do interacionismo social, corrente das

ciências humano-sociais que sustenta que o desenvolvimento humano acontece através de dois

processos inseparáveis, o processo de socialização e individuação. O ISD também coloca as

questões da educação como ponto central das ciências humanas e critica a divisão dessas

ciências em várias disciplinas.

Na busca de entender como as práticas de linguagem situadas afetam o desenvolvimento

humano, Bronckart (2009) organiza um modelo de análise dos textos chamado de modelo da

arquitetura textual, dividido em três níveis. O nível mais profundo é o da infraestrutura textual

que compreende o plano geral do conteúdo temático e os tipos de discurso. O segundo nível é

o da textualização em que se encontram os mecanismos de coesão e coerência textual. O nível

mais superficial é da responsabilidade enunciativa.

O texto é concebido como “uma unidade comunicativa” que movimenta recursos

linguísticos de determinada língua natural, levando em consideração os modelos textuais

(gêneros) encontrados na memória coletiva da sua comunidade linguística (arquitexto). O

agente/produtor do texto, ao encontrar-se em uma determinada situação de ação linguageira,

escolherá o modelo (gênero de texto) que acredita ser o mais adequado a situação, adaptando-

o aos seus objetivos comunicativos. Outra característica dos gêneros de texto é o seu movimento

em mundos discursivos.

Esses mundos discursivos se materializam no texto como os tipos de discurso, no nível

mais profundo do modelo de arquitetura textual, entrando necessariamente na constituição dos

gêneros e de todo texto empírico. Logo, quais seriam as relações possíveis entre tipos de

discurso e gêneros? Os gêneros possuem tipos de discurso que lhes são peculiares? E os tipos

linguísticos são determinados pelo gênero de texto, pelo tipo de discurso, ou pelo sistema da

língua natural?

Este trabalho se situa no campo desses questionamentos. Nosso objeto de estudos são

os tipos de discurso, e partimos da hipótese de que, de acordo com o gênero de texto, os tipos

de discurso podem apresentar especificidades no plano da configuração dos recursos

10

linguísticos relativamente a uma língua natural. Nosso objetivo é, portanto, identificar os tipos

de discurso e suas respectivas unidades linguísticas em duas línguas naturais distintas. Nesse

último caso, fazemos então, uma análise comparativa entre o português e o espanhol.

Dadas às inúmeras possibilidades de escolha de gêneros textuais para a análise, optamos

pelo gênero painel do leitor. Identificamos, então, os tipos de discurso nos painéis das duas

línguas e, em seguida, comparamos os tipos linguísticos, estabelecendo a relação entre eles e

os tipos de linguísticos.

A pesquisa está estruturada em três capítulos. No primeiro, faremos uma exposição das

diferentes classificações e tipologias textuais e discutiremos a noção de tipos de discurso a partir

do quadro do ISD. O segundo capítulo apresenta os procedimentos metodológicos e o último

contém a análise comparativa dos painéis em português e espanhol.

11

2 PANORAMA TEÓRICO

2.1 Classificações e tipologias textuais

Um ponto de partida essencial para nosso trabalho são as diferenças em relação às

classificações e tipificações dos textos. Essas diferenças de ordem conceitual se refletem em

nomenclaturas diversas: gêneros, tipos, espécies ou formas.

Segundo Coutinho (2003, p.57) “qualquer reflexão de ordem tipológica supõe

naturalmente o conhecimento prévio dos objetos a tipologizar”. Sendo assim, este capítulo se

propõe a discutir a noção de tipos textuais, gêneros de texto ou discurso e tipos de discurso,

correntes na literatura mais representativa sobre o tema. Nosso objetivo é apontar as diferentes

visões, relacionando pontos de divergências e convergências.

A análise textual dos discursos (ATD), proposta por Adam (2008, 2011), posiciona a

Linguística Textual como um subdomínio da análise do discurso. Adam reconhece a

necessidade de expandir os limites da linguística para além da frase, “ao mesmo tempo em que

pretende trazer respostas à demanda de proposições concretas sobre a análise de textos” (2008,

p.25). Assim, existem níveis de análise do objeto texto e níveis de análise do objeto discurso,

Adam (2008, p.25):

O texto é, certamente, um objeto empírico tão complexo que sua descrição

poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse

objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral que

temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das

diferentes ciências da linguagem, um novo quadro e uma indispensável

coerência.

É importante ressaltar que, quando Adam localiza a linguística textual no campo da

análise do discurso, não se trata da análise do discurso da escola francesa, mas daquela

delineada por Dominique Maingueneau. De acordo com Maingueneau (2006, p.02), a Análise

do discurso (AD) consiste em um “espaço de pleno direito dentro das ciências humanas e

sociais, um conjunto de abordagens que pretende elaborar os conceitos e os métodos fundados

sobre as propriedades empíricas das atividades discursivas”.

No esquema de análise proposto por Adam, interessa-nos as noções de sequência textual

(N5) e de gênero que aparece interligada entre os níveis textuais e discursivos.

12

Conforme Coutinho (2003, p.61) “na perspectiva de Adam, os tipos de texto

correspondem, de forma explícita, a tipos de sequências”. As sequências são esquemas

prototípicos transmitidos culturalmente, macroproposições que formam a estrutura

composicional dos textos.

Segundo Adam (2011, p. 205), “as macroproposições que entram na composição de uma

sequência dependem de combinações pré-formatadas de proposições”. Essas combinações de

natureza macrossemântica são memorizadas ao longo de nossa vida por meio da leitura e da

escrita transformando-se nos esquemas base conhecidos por sequências narrativa, descritiva,

argumentativa, explicativa e dialogal. Adam explica que a injunção não constitui uma sequência

prototípica, pois, sua forma de textualização varia bastante em função dos gêneros.

As sequências textuais são os constructos teóricos que permitem a análise dos textos

empíricos, ou seja, reconhecemos e estruturamos nossa informação textual através das

sequências. Dessa forma, Adam não apresenta uma teoria de classificação/tipificação textual,

na realidade, ele expõe claramente que a “teoria das sequências foi elaborada como reação à

excessiva generalidade das tipologias de texto” (2011, p.206).

Os tipos de sequências baseiam-se na teoria do protótipo de Rosch, do início da década

de 1970. As noções de protótipo, categoria e tipicalidade são também utilizadas pela ATD. As

sequências prototípicas funcionam como pontos de referência representativos das categorias

(narrativas, descritivas, argumentativas, etc.) e que, como admite o próprio Adam, raramente

FONTE: (ADAM, 2011, p.61)

Figura 1: Níveis ou planos da análise de discurso

13

serão encontradas nos textos concretos, mas que podem ser avaliadas numa escala de

tipicalidade de melhores e piores exemplos de uma categoria.

A sequência prototípica narrativa é marcada por uma sucessão de fatos, com uma

problemática, chegando a um clímax, para passar a uma transformação, concluindo com uma

avaliação final (a moral da história). Já a sequência prototípica descritiva é caracterizada por

uma série de operações: operações de ancoragem definem o tema da sequência; operações de

ordem aspectual dividem o todo em partes; operações de relacionamento delimitam o objeto no

tempo e no espaço além de relacioná-lo com outros objetos; e operações de encadeamento

constitui-se uma nova sequência. A sequência prototípica argumentativa caracteriza-se pela

relação entre argumentos e conclusão e a sequência prototípica explicativa inicia com uma

proposição, passa para uma problematização e conclui com a explicação. A sequência

prototípica dialogal seria marcada pelas fases do diálogo, ou seja, abertura, troca e fecho.

(Coutinho, 2003)

Para Adam a hipótese da existência de “tipos de texto” se deve ao que ele aponta por

efeito dominante. Este efeito dominante acontece quando o mesmo texto possui um número

maior de sequências de um mesmo tipo ou pelo tipo de sequência que abre e fecha o texto.

Logo, afirmar que “um texto pode ter uma dominante de um tipo ou de outro não tem nada a

ver com a hipótese demasiadamente geral da existência dos tipos de textos” Adam (2011, p.

277).

Em relação ao gênero, Adam coloca-o na fronteira entre o texto e o discurso. O gênero

não constitui um nível de análise propriamente dito, porém está fortemente relacionado à

formação discursiva. Adam argumenta que “toda ação de linguagem inscreve-se em um dado

setor do espaço social, que deve ser pensado como uma formação discursiva, ou seja, como um

lugar social associado a uma língua (socioleto) e a gêneros do discurso” (2008, p.63).

A noção de formação discursiva para Adam corresponde a de Pêcheux (1990), conceito

importante para a análise do discurso francesa.

[As] formações discursivas [...] determinam o que pode e deve ser dito

(articulado sob a forma de um discurso público, de um sermão, de um panfleto,

de uma exposição, de um programa etc.) a partir de uma dada posição, em

uma determinada conjuntura: o ponto essencial aqui é que não se trata apenas

da natureza das palavras usadas, mas também (e sobretudo) das construções

nas quais essas palavras se combinam, na medida em que elas determinam a

significação que assumem essas palavras [...], as palavras mudam de sentido,

segundo as posições defendidas por aqueles que as usam; [...] as palavras

“mudam de sentido” passando de uma formação discursiva para a outra.

(PÊCHEUX 1990 apud ADAM 2008, p.45).

14

O conceito de gêneros do discurso está vinculado aos estudos de Bakhtin (1992) que

considera a linguagem humana como uma ação social responsável por determinar a produção

dos enunciados que acontecem entre duas pessoas, por isso, dialógico. Nós produzimos

enunciados nas diversas esferas da atividade humana, sempre com um propósito comunicativo

e utilizando um determinado gênero. Os gêneros para Adam (2008, p.60) são discursivos, pois,

se tratam de “práticas discursivas institucionalizadas”, ou seja, ocorrem no espaço da interação

e regulados pelas formações discursivas de que fazem parte, sendo categoria de análise das

ciências do discurso e não do texto.

Por não ser seu foco de análise, Adam não se preocupa em fazer uma classificação dos

gêneros, porém, utiliza-se dos conceitos de gêneros primários e secundários de Bakhtin para

relacioná-los à teoria das sequências textuais. Os gêneros primários são mais simples e

responsáveis pela criação dos gêneros secundários, logo os gêneros primários seriam

correspondentes às sequências textuais prototípicas que formam os gêneros secundários mais

complexos.

Marcurshi (2005, 2008) preocupa-se com a tipologia textual. Para ele, a categoria tipo

textual é um aspecto fundamental para a análise da natureza linguística dos gêneros,

desconsiderando-se sua função social. Os tipos textuais são elementos fundamentais para a

organização sequencial do conteúdo temático do texto.

Marcurshi (2008) afirma que os tipos textuais são definidos por seus aspectos

composicionais (tempos e modos verbais, presença ou ausências de articuladores textuais,

aspecto, estilo, etc.) e abrangem as categorias que conhecemos como narração, descrição,

argumentação, exposição e injunção. Ele esclarece que os tipos textuais são construções teóricas

existentes nos textos, são modos textuais. Ainda nas palavras de Marcurshi (2008, p.154-155)

“[...] O conjunto de categorias para designar tipos textuais é limitado e sem tendência a

aumentar. Quando predomina um modo textual num dado texto concreto, dizemos que esse é

um texto argumentativo ou narrativo, ou expositivo ou descritivo ou injuntivo”.

Marcurshi classifica os gêneros como textuais, pois para Marcurshi (2005, p.29) os

gêneros “são muito mais famílias de textos com uma série de semelhanças”. Os gêneros textuais

são eventos linguísticos determinados pelas práticas sócio-discursivas, por isso, condicionados

e refletores de uma determinada cultura em um determinado período de tempo. A variação

cultural levaria, dessa maneira, a uma variação nos gêneros.

Os gêneros textuais são os textos materializados do nosso cotidiano, formas

relativamente estáveis que realizam linguisticamente objetivos específicos em situações

comunicativas recorrentes. Por isso formam contrariamente aos tipos, listagens abertas.

15

(Marcurshi, 2005). É importante deixar claro que, na visão de Marcurshi, os tipos e os gêneros

são complementares, mas não idênticos, portanto:

Em geral, a expressão “tipo de texto”, muito usada nos livros didáticos e no

nosso dia-a-dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas

sim um gênero de texto. Quando alguém diz, por exemplo, “a carta pessoal é

um tipo de texto informal”, ele não está empregando o termo “tipo de texto”

de maneira correta e deveria evitar esta forma de falar. Uma carta pessoal que

você escreve para sua mãe é um gênero textual, assim como um editorial,

horóscopo, receita médica, bula de remédio, poema, piada, conversação

casual, entrevista jornalística, artigo científico, resumo de um artigo, prefácio

de um livro. É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando

tipos textuais, podendo ocorrer que o mesmo gênero realiza dois ou mais tipos.

(MARCURSHI, 2005, p. 25)

Os gêneros textuais, apesar de não serem fórmulas estanques, condicionam nossas

escolhas de composição dos textos, pois “toda vez que desejamos produzir alguma ação

linguística em situação real, recorremos a algum gênero textual” (Marcurshi, 2008, p.156).

Anteriormente apresentamos o conceito de gênero para Adam (2008, p.60) como

“práticas discursivas institucionalizadas”. Para Marcurshi (2005, 2008), as práticas discursivas

ou instâncias discursivas dão origem aos diversos gêneros textuais. Essa é a noção de domínio

discursivo na visão de Marcurshi.

O domínio discursivo constitui muito mais uma “esfera da atividade humana”, como

compreendida por Bakhtin, do que um princípio de classificação de textos. Nas palavras de

Marcuschi (2008, p. 155) o domínio discursivo:

Não abrange um gênero em particular, mas dá origem a vários deles, já que os

gêneros são institucionalmente marcados. Constituem práticas discursivas nas

quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que às vezes lhe

são próprios ou específicos como rotinas comunicativas institucionalizadas e

instauradoras de relações de poder.

Em oposição aos outros teóricos abordados anteriormente, Travaglia (2003) defende a

necessidade de criação de uma teoria tipológica geral para os textos. Ele identifica três

elementos que entrariam na classificação de todos os textos: tipo, gênero e espécie. Logo de

início, o autor esclarece que sua preocupação é com a questão tipológica dos textos e não dos

discursos. Travaglia entende como texto (2003, p.99) “uma entidade linguística concreta (...),

que é tomada pelos usuários da língua (...), em uma situação de interação específica, como uma

unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida,

independente de sua extensão”.

16

Travaglia (2003) trata da tipologia textual, ele considera a análise dos tipos de texto

essencial para a competência comunicativa dos falantes de uma língua. Segundo Travaglia

(2003, p. 101), o tipo textual “pode ser identificado e caracterizado por instaurar um modo de

interação, uma maneira de interlocução, segundo diferentes perspectivas (...)”. Assim, cada tipo

de texto representa um tipo de interação específica. A primeira perspectiva de classificação dos

textos é a perspectiva do produtor/locutor, da qual derivam os tipos conhecidos como narração,

descrição, dissertação e injunção. A imagem que o produtor do texto tem em relação ao seu

recebedor dá origem aos textos argumentativos e não argumentativos (concorda ou não com o

que está dito). Já quando a perspectiva é de antecipação ou não ao objeto do dizer temos os

tipos preditivos e não-preditivos.

O movimento de busca exterior, exposição e análise das relações entre os homens

caracterizaria o tipo dramático e o chamado gênero épico seria, na verdade, o mesmo que o tipo

narrativo ou narração. De acordo com a concepção de tipo textual também estão os chamados

“gêneros lírico, épico e dramático” propostos pela Teoria Literária. Travaglia explica que

(2003, p. 102):

Embora a teoria proponente os chame de gêneros, quase como sinônimo do

que a Linguística tem chamado de tipo; dentro da classificação tripartite que

estamos propondo dos “elementos tipológicos” em tipelementos, o lírico é um

tipo, porque é dado por estabelecer um modo de interação que se caracteriza

pela perspectiva de voltar-se para si mesmo para refletir-se como numa

“confissão” [...].

O ponto de vista de Travaglia em relação aos tipos textuais é claramente afastado do

foco dado por Marcurshi. Para este autor o tipo textual é de natureza linguística, constructo

teórico ideal, enquanto que para Travaglia o tipo textual é definido pela interação comunicativa,

pela maneira de interlocução e não por aspectos estruturais e formais do texto. Travaglia

apresenta uma visão mais discursiva para a classificação textual. Também não se aproxima da

proposta da ATD, pois como apontamos anteriormente, a teoria das sequências de Adam não é

uma proposta de classificação dos textos, assim, não existiriam textos narrativos, descritivos,

etc., mas sequências narrativas, descritivas, etc. que entram na composição dos textos.

Em relação ao gênero de texto, Travaglia afirma que ele desempenha uma função social

determinada. Essa função social é definida por seus atos de fala. Especificar essas funções

sociais nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente quando estamos tratando de gêneros

surgidos em épocas afastadas e que passaram por diversos processos de mudança.

Travaglia cita 48 tipelementos caracterizados como gêneros a partir da sua função

social, porém a dificuldade de classificação dos gêneros ocorre, pois, como afirma Travaglia

17

(2003), o mesmo ato de fala, por exemplo, dar conhecimento de algo a alguém, pode dar origem

a diversos gêneros: aviso, comunicado, edital, informe, participação e citação.

Essa caracterização do gênero a partir de sua função social e do seu ato de fala é

problemática, pois como aponta Adam (2011, p.128) “um enunciado é interpretado como mais

ou menos um convite, um juramento, uma recomendação, uma ameaça, ou mesmo um insulto”.

Para Adam, os atos de fala ou de discurso são os determinantes do valor ou força ilocucionária

dos enunciados e não dos gêneros.

Aproximando-se um pouco da visão de Travaglia (2003), Marcuschi (2008, p. 158)

afirma que para a “noção de gênero textual, predominam os critérios de padrões comunicativos,

ações, propósitos e inserção sócio-histórica”. Porém Marcurschi não utiliza o conceito de ato

de fala.

Outra tipificação textual utilizada por Travaglia é a espécie de texto. Diremos apenas

que o termo espécie se refere aos aspectos mais linguísticos e estruturais da composição dos

textos, além de aspectos de conteúdo. Não iremos nos aprofundar nesse conceito por se afastar

do nosso objetivo.

Bronckart deixa claro que sua visão decorre mais da psicologia da linguagem (influência

de Vygotski) do que da linguística e que dentro dessa disciplina assume a posição do

interacionismo social. Assim, a preocupação principal do ISD (Interacionismo sócio-

discursivo) é estudar como as práticas de linguagem situadas afetam o desenvolvimento

humano.

Em contraste com as posições anteriores, Bronckart (2003) não utiliza a noção tipos de

texto, mas tipos de discurso. Todo texto é composto por segmentos com determinadas

regularidades linguísticas, logo podem ser classificados em tipos, que ademais de estruturação

linguística também caracterizam um trabalho de semiotização, de criação de sentido, revelando

a construção de um mundo discursivo.

A constituição do mundo discursivo é uma decisão universal, pois independente da

língua natural que estamos utilizando, essa operação é necessária a toda produção textual.

Quando as representações do mundo se referem a fatos passados e atestados, a fatos a acontecer,

a fatos que podem acontecer ou fatos imaginários, há uma relação de distância em relação ao

momento de interação que marca a origem espaço-temporal desses fatos, assim, ordem do

NARRAR. Porém, quando essas representações não possuem uma origem e se situam no

momento da interação, o texto EXPÕE estados ou eventos acessíveis.

Outra decisão universal necessária a toda produção textual diz respeito à implicação dos

parâmetros da situação material de produção do texto. Quando o emissor-enunciador integra

18

referências explícitas do ato de produção no texto, constituindo parte de seu conteúdo, se faz

necessário conhecer as condições de produção de tal texto, para assim, interpretá-lo. Entretanto,

quando o emissor-enunciador não faz nenhuma referência explícita aos parâmetros da situação

de produção, o texto é autônomo em relação a essa situação e sua interpretação não requer

nenhum conhecimento da mesma. Podemos resumir que:

A construção desses mundos se dá por meio de duas operações

psicolinguageiras oriundas de uma decisão binária: ou as coordenadas que

organizam o conteúdo semiotizado são explicitamente colocadas à distância

das coordenadas gerais do actante (ordem do NARRAR) ou elas não o são

(ordem do EXPOR). Além disso, ou as instâncias de agentividade

semiotizadas no texto referem-se ao actante e à sua situação (implicação) ou

não (autonomia). (BRONCKART, 2008, p.91)

A interseção dessas duas coordenadas origina quatro tipos de discurso: o discurso

interativo (expor implicado), o discurso teórico (expor autônomo), o relato interativo (narrar

implicado) e a narração (narrar autônomo).

A proposta de Bronckart para a noção de tipos se afasta das ideias anteriores,

especialmente Adam (2011) e Marcurshi (2005, 2008), pois apesar dos tipos possuírem seus

correspondentes linguísticos formalizados em uma determinada língua natural, eles são o “traço

de operações de tratamento dos contextos em ação”. (Bronckart, 2003, p. 67)

A noção de tipos de discurso também está distante dos tipos de texto de Travaglia. Afinal

o que Travaglia busca é uma classificação dos textos, afirmando que eles são de diferentes tipos

por materializarem diferentes modos de interação. Os tipos de discurso de Bronckart não são

classificações ou tipologias textuais, eles são uma das camadas de estruturação dos textos.

Bronckart (2012, p. 75) afirma que o texto é “toda unidade de produção de linguagem

situada, acabada e auto-suficiente (...). Na medida em que todo texto se inscreve,

Figura 2: Tipos de discurso.

FONTE: (MIRANDA, 2008, p.85)

19

necessariamente, em um conjunto de textos, ou em um gênero, adotamos a expressão gênero

de texto em vez de gênero de discurso”.

Segundo o autor, existe um número ilimitado de gêneros de textos criados

historicamente e organizados em um repertório de modelos, ou o arquitexto de determinada

comunidade linguística. Dessa forma, quando falamos, acessamos esse arquitexto, escolhemos

aquele modelo que consideremos o mais adequado a nossa intenção comunicativa e

interacional. Como assevera Bronckart (2008, p. 88):

[...] esses modelos de gêneros tem características semióticas mais ou menos

identificáveis, mais eles também são portadores de indexações sociais, pois,

na medida em que cada gênero, necessariamente, é objeto de avaliações

sociais, ele é visto como sendo adaptado para comentar determinado agir

geral, como possível de ser mobilizado em uma outra situação de interação ou

como tendo determinado valor estético. Além disso, esses gêneros são também

objetos de processos de conhecimento (eles foram descritos, estudados, etc.),

no fim dos quais, encontram-se dotados de rótulos que podem ter menor ou

maior estabilidade.

Os textos, sendo correspondentes empíricos das atividades de linguagem, revelam um

gênero textual próprio de uma língua natural em um dado momento. O agente-produtor quer

fazer algo com a linguagem, uma ação linguageira, recorre aos modelos existentes (gêneros)

adaptando esse modelo a situação da ação. Essa concepção de gênero textual se aproxima do

conceito de Marcurshi (2005, 2008), pois para ele, quando utilizamos um gênero, estamos

dominando uma forma linguística de realizar uma ação. Em oposição a Adam (2011), Bronckart

não posiciona o gênero como uma categoria de análise do discurso, mas como o produto das

escolhas, por entre as possíveis, do agente-produtor do texto, interessando-se pela atividade de

textualização propriamente dita.

Bronckart (2005, p.62) também discorda de Travaglia (2003) na tentativa de

classificação dos gêneros, porquanto, “os géneros mudam necessariamente com o tempo, ou

com a história das formações sócio-linguísticas” e tentar tipificá-los de acordo com sua função

social seria esbarrar em mudanças, por vezes aleatórias, evocadas constantemente, já que não

há uma relação direta entre ação linguageira e gêneros de textos.

Nossa pesquisa situa-se no projeto do interacionismo sociodiscursivo, assim as

tipologias utilizadas serão tipos de discurso e gênero de texto.

2.2 O ISD e os tipos de discurso

20

Como expomos, a noção de tipos de discurso é um ponto chave na proposta de análise

de texto do ISD. A preocupação inicial do ISD é entender a relação existente entre as práticas

de linguagem e a construção do pensamento humano. Com esse objetivo, seu quadro de trabalho

está dividido em três níveis de análise: primeiro, a análise dos pré-construídos no ambiente

humano; a análise dos processos de mediação ou de formação pelo qual passam os recém-

chegados para adquirir alguns aspectos desses pré-construídos; e enfim, a análise dos efeitos

dos processos de mediação na formação do pensamento do indivíduo.

Esses três níveis não podem ser tratados isoladamente. Afinal eles se mantêm em uma

relação dialética constante, pois como afirma Bronckart (1999, p. 112) “admitimos que, se os

pré-construídos humanos mediatizados orientam o desenvolvimento das pessoas, estas, por sua

vez, com o conjunto de suas propriedades ativas, alimentam continuamente os pré-construídos

coletivos”. Daí o entendimento de que os processos de mediação e formação são contínuos e

devem sempre se atualizar.

No primeiro nível de análise destacam-se os quatro elementos que formam o ambiente

humano. Primeiro, as condutas dos membros da espécie humana que se organizam em

atividades coletivas gerais e atividades linguageiras, sendo as atividades linguageiras que

comentam as atividades gerais e regulamentam seus contextos. Depois, as formações sociais

que organizam a atividade humana em regras, normas de condutas e valores perseguidos pelos

membros da comunidade. Em terceiro, há os textos, ou seja, os correspondes empíricos das

atividades linguageiras (Bronckart, 1999). Por último, os mundos formais de conhecimento,

logo, o produto de operações de descontextualização e de generalização aplicados aos textos e

ao conhecimento que eles revelam.

No segundo nível de análise, encontram-se os processos de transmissão e reprodução

dos pré-construídos que podem acontecer por meio da educação informal, formal e da transação

social. A educação informal ocorre quando indivíduos já integrados promovem atividades

coletivas com os recém-chegados comentando verbalmente essas atividades. A educação

formal possui um caráter didático e pedagógico, e a transação social ocorre nas interações

cotidianas entre as pessoas.

O terceiro nível de análise pode ser dividido em três campos de investigação: a pesquisa

sobre as condições de emergência do pensamento consciente; a análise das condições de

desenvolvimento do pensamento, dos conhecimentos e das capacidades de agir; e a análise dos

mecanismos por meio dos quais as pessoas interferem nos pré-construídos coletivos.

Como vimos, é no primeiro nível de análise da proposta de trabalho do ISD em que se

situam os textos. “Desde logo, os textos podem ser definidos como os correspondentes

21

empíricos/linguísticos das atividades de linguagem de um grupo, e um texto como o

correspondente empírico/linguístico de uma dada ação de linguagem.” (Bronckart, 2005, p. 57).

Assim, o caminho de análise dos textos deve ser descendente: partem das atividades gerais para

as atividades de linguagem (linguageiras), daí para os textos e, por fim, para seus recursos

linguísticos.

Para compreender o processo de construção e organização interna dos textos, Bronckart

propõe o modelo da arquitetura textual. Segundo esse modelo, todo texto é visto como um

folhado com algumas camadas sobrepostas. A camada mais exterior apresenta os mecanismos

de responsabilidade enunciativa, ou seja, a gestão de vozes que assumem o que é dito no texto

e as modalizações, diversas avaliações, julgamentos, opiniões que as vozes formulam sobre o

texto; na camada intermediária encontramos os mecanismos de textualização, ou seja, os

fenômenos de conexão, coesão nominal e verbal que asseguram a progressão temática e a

organização do texto; e, na camada interior, no nível mais profundo, temos a infraestrutura geral

dos textos, logo, o plano do texto, os tipos discursivos e as sequências. É claro que essa divisão

em níveis é de caráter didático e metodológico, pois, as três camadas estão em interação

constante.

A noção de tipos de discurso do

ISD foi inspirada numa tipologização

dos discursos ou planos enunciativos

que marcam diferentes atitudes de

locução de Simonin-Grumbach

(1975). O objetivo da linguista francesa

era identificar as formas linguísticas relativamente estáveis que traduziriam esses planos

FONTE: (MIRANDA, 2008, p.84)

.

Figura 3: Níveis da arquitetura interna dos textos.

22

enunciativos em determinada língua natural e que ela classifica de tipos de discurso (Bronckart,

2005).

Os tipos de discurso fazem parte da composição de todo texto. São segmentos que

representam diferentes operações psico-linguageiras e mobilizam conjuntos particulares de

recursos linguísticos. É nos tipos de discursos que as sequências se realizam como modos de

enunciação. Os tipos são em número finito e semiotizam diferentes mundos discursivos.

Em outros termos, esses mundos discursivos se constituem como quadros em

que se desenvolve, no curso da produção ou da recepção textual, a interface

entre as representações que estão sediadas em um determinado actante

(representações individuais) e as representações que estão sediadas nas

instâncias coletivas (representações coletivas). (Bronckart, 1999, p. 91)

Quando as representações individuais são colocadas a distância das representações

coletivas ocorre a ordem do narrar; quando não, a ordem do expor. Se as operações verbalizadas

têm relação com o agente ou a situação de produção existe uma implicação, se não uma

autonomia. A interseção entre esses dois tipos de operações psico-linguageiras dá origem a

quatro tipos de discurso: o discurso interativo, o discurso teórico, o relato interativo e a

narração.

Os tipos de discurso fazem parte da camada mais interna do texto, da sua infraestrutura

e são parte central para a análise dos textos, e consequentemente na composição e análise dos

gêneros. Podemos encontrar diferentes tipos de discurso no mesmo gênero e cada gênero possui

pelo menos um tipo de discurso. Conforme Miranda (2008), ocorre sempre uma relação entre

tipos e gêneros.

Não é qualquer tipo de discurso que aparece em qualquer género, mas que os

géneros de texto estabilizam a mobilização de determinado(s) tipo(s) de

discurso. Assim, haveria um ‘recorte’ operado no plano praxiológico. De

facto, a opção por tipos de discurso específicos poderia ser vista como uma

das escolhas que – organizadas em feixe – constituem uma configuração

genérica particular. (Miranda, 2008, p.89)

As ações humanas ocorrem na interação entre os membros de uma dada comunidade e,

por isso, são infinitas e variáveis. O texto é o mediador da ação que implica linguagem, ou ação

linguageira. O agente-produtor quer fazer algo com a linguagem em uma determinada situação

de ação. Para isso, ele dispõe de uma série de modelos existentes nos pré-construídos do

ambiente linguageiro, aglomerados ao longo do tempo no espaço do arquitexto, os chamados

gêneros de textos. De tal modo, o agente-produtor do texto efetua um processo de escolha e

23

adaptação do modelo ou gênero de texto, relativamente estabilizado pelo uso, e que ele

considera mais adequado a situação de ação que ele quer representar.

O fato de todo texto pertencer a um determinado gênero cria a necessidade de

classificação dos textos em gêneros, porém, como os gêneros fazem parte desses “mundos de

obras e de culturas” (Bronckart, 2005, p.63), do ambiente humano, eles “mudam

necessariamente com o tempo, ou com a história das formações sócio-linguísticas” as quais

pertencem, tornando o trabalho de tipologização dos gêneros impraticável.

Enfim, ainda como qualquer obra humana, os géneros são objecto de

avaliações no termo das quais eles se encontram afectados (nas representações

colectivas) de diversas indexações: indexação referencial (que atividade geral

o texto é susceptível de comentar?); comunicacional (para que interacção é

este comentário pertinente?); cultural (qual é o “valor socialmente

acrescentado” ao domínio de um género?); etc. (BRONCKART, 2005, p. 62).

A relação entre gêneros de textos e tipos de discurso parece clara. Afinal, os tipos de

discurso estão presentes em todo texto, e os textos se organizam em gêneros, assim, os tipos de

discurso também fazem parte dos gêneros. Miranda (2008) apresenta três níveis de articulação

dessa relação entre tipos e gêneros: o nível da ligação vinculativa entre gêneros e tipos, o nível

da escolha dos mundos discursivos, e o nível da seleção das unidades linguísticas características

de cada gênero de texto.

O primeiro nível de articulação entre as duas noções em questão implica que os gêneros

não existem sem os tipos e vice-versa. Os tipos não são segmentos que aparecem eventualmente

nos gêneros de texto, mas constituem esses gêneros, sempre, sendo uma das escolhas feitas pelo

agente-produtor do texto em uma situação de ação linguageira. Todo texto, logo todo gênero

textual mobiliza “sempre, e necessariamente, pelo menos um tipo de discurso” (Miranda, 2008,

p.87). Assim, se o gênero mobiliza sempre pelo menos um tipo, é possível que tenhamos

gêneros que mobilizam mais de um tipo, ou o mesmo tipo em vários gêneros.

Essa relação entre gêneros e tipos não é aleatória. Existem determinados gêneros de

texto que mobilizam tipos discursivos específicos, como por exemplo, o gênero monografia

científica mobiliza o discurso teórico ou o gênero conto mobiliza o tipo narração. É claro que

outros tipos de discurso podem ser encontrados nesses gêneros, porém o tipo de discurso

narração seria o predominante e essencial ao conto, assim como discurso teórico seria

predominante na monografia científica.

Por fim, o terceiro nível de articulação refere-se ao nível dos recursos linguísticos

utilizados em cada tipo discursivo. Se o mesmo tipo de discurso pode aparecer em diferentes

24

gêneros, é necessário saber se as unidades linguísticas mobilizadas seriam próprias do tipo ou

do gênero, e se esses recursos linguísticos seriam os mesmos em diferentes línguas naturais.

Como já dito, os tipos discursivos mobilizam dois tipos de operações: a escolha dos

mundos discursivos (vertente psico-cognitiva) e a escolha dos recursos linguísticos que

traduzem esses mundos discursivos (vertente semiótica). Existiria, dessa forma, uma relação

entre certos gêneros de texto e a mobilização/estabilização de traços linguísticos dos tipos de

discurso vinculados ao gênero. Por exemplo, no gênero entrevista, cujo tipo de discurso

predominante é o discurso interativo, a presença de frases não declarativas (interrogativas,

imperativas e exclamativas) é um traço linguístico essencial do gênero.

A caracterização dos tipos discursivos surgiu, conforme Bronckart (2006, p. 15), através

de “análises distribucionais e estatísticas das configurações de unidades e de processos da

língua francesa”. Para tanto, foram utilizados textos considerados standard, ou seja, textos que

seriam mais simples em sua estrutura e que mobilizariam operações psicolinguageiras menos

complexas. O autor destaca as possíveis limitações dos resultados obtidos, afirmando que o

corpus foi formado somente por gêneros considerados mais tradicionais por uma questão clara

de capacidade de análise.

Essas limitações, contudo, são o ponto de partida para uma discussão apresentada por

Miranda (2008). Para a autora, a questão que se coloca é a de saber que modos de relação é

possível identificar entre as noções de gênero e tipo de discurso. “Ou, ainda, até que ponto a

articulação entre tipos de discurso e géneros apresenta alguma regularidade?” (2008, p. 87). A

esse respeito, Miranda, levanta algumas hipóteses tanto a partir da própria teorização

desenvolvida no âmbito do ISD como a partir da observação de textos empíricos.

A primeira relação postulada, no dizer da autora, como primária, é a de constitutividade,

depreendida das próprias definições de gênero e de tipo de discurso do quadro do ISD.

O termo ‘constitutivo’ indica, então, uma relação vinculativa necessária, de

modo que os tipos de discurso não seriam simples configurações eventuais nos

géneros, mas constituintes fundamentais. Poder-se-ia dizer, portanto, que um

primeiro modo ou nível de relação entre géneros e tipos é esta espécie de ligação

em que uns estão constitutivamente vinculados aos outros. Isto implica que os

géneros mobilizam sempre, e necessariamente, pelo menos um tipo de discurso.

(MIRANDA, 2008, p. 87)

O segundo tipo de relação é a que prevê que cada gênero estabiliza a mobilização de um

ou mais de um tipo de discurso particular.

25

Assim sendo, todos os géneros são constituídos por tipos de discurso, mas há

géneros que preveem a mobilização de todos os tipos, géneros que seleccionam

alguns e géneros que se caracterizam pela ocorrência de um único tipo de

discurso. Esta observação é válida, ainda, se consideramos a possibilidade de

ocorrência de variantes de (ou modalidades de articulação entre) tipos

diferentes. (MIRANDA, 2008, p. 89)

Assumindo esses dois tipos de relação possíveis entre gênero e tipo de discurso, Miranda

(2008, p. 89), se pergunta ainda “se um mesmo tipo de discurso mobilizado em géneros

diferentes pode apresentar especificidades”. Para aprofundar essa problematização, a autora

analisa as unidades e os mecanismos linguísticos que se associam a um dos quatro tipos de

discurso: o discurso interativo. Essa análise é realizada em quatro textos, escritos em português

europeu, que se inscrevem em quatro gêneros diferentes: entrevista, horóscopo, receita de

cozinha e boletim meteorológico.

A conclusão a que a autora chega é a de que existem três níveis de relações entre gênero

de texto e tipo de discurso.

Em primeiro lugar, observámos que os tipos de discurso são elementos

constituintes (ou, ainda, constitutivos) dos géneros e, portanto, os géneros

mobilizam necessariamente tipos de discurso. Em segundo lugar, notámos que

os géneros estabilizam a mobilização de determinado(s) tipo(s) de discurso, o

que marcaria, então, um primeiro ‘recorte’ operado e instituído no plano

praxiológico. Em terceiro lugar, e a partir da observação da ocorrência de

marcas do discurso interactivo em textos de quatro géneros diferentes, vimos

que em princípio certos géneros de texto demonstram a estabilização da

ocorrência de alguns dos traços semióticos dos tipos de discurso em detrimento

de outros. (MIRANDA, 2008, p. 98)

É nessa perspectiva de contribuição que nos inserimos. Acreditamos, em consonância

com Miranda (2008, p. 90), que “é preciso ainda avançar na análise de uma maior diversidade

de géneros textuais e também na análise de unidades próprias das diferentes línguas naturais”.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. O tipo de pesquisa

Este trabalho focaliza as relações entre tipo de discurso e recursos linguísticos

comparativamente em português e espanhol. Nosso propósito é discutir a hipótese de que, de

acordo com o gênero, os tipos de discurso podem apresentar especificidades no plano da

configuração dos recursos linguísticos relativamente a uma língua natural. Nosso primeiro

26

passo para abordar a discussão dessa questão foi classificar o trabalho quanto à maneira de

abordar o problema, à natureza, aos objetivos e aos procedimentos técnicos utilizados.

Há duas formas de abordar o problema da pesquisa: a qualitativa e a quantitativa.

Segundo Godoy (1995, p.58), a abordagem qualitativa “é a obtenção de dados descritivos sobre

pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação

estudada, para compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos”. Gil (2007, p.94)

corrobora essa visão, dizendo que os “métodos de pesquisa qualitativa estão voltados para

auxiliar os pesquisadores a compreenderem pessoas e seus contextos sociais, culturais e

institucionais”. Já a pesquisa quantitativa considera que o conhecimento poder ser

quantificável, o que significa traduzir, em número, opiniões e informações para classificá-las e

analisá-las. Requer o uso de métodos e técnicas estatísticas (GODOY,1995).

Quanto à natureza, Gil (2007) classifica a pesquisa em básica ou teórica e aplicada. A

pesquisa básica objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência, sem

aplicação prática necessariamente prevista. Normalmente, envolve interesses universais. A

pesquisa aplicada focaliza a geração de conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à

solução de problemas específicos. Normalmente envolve verdades e interesses mais pontuais.

Com relação aos objetivos, é possível desenvolver uma pesquisa exploratória e

descritiva. A pesquisa exploratória tem como finalidade proporcionar maiores informações

sobre objeto ou assunto de investigação a partir das quais possam se formular hipóteses ou

propor um novo tipo de enfoque. Já a pesquisa descritiva, segundo Gil (2007, p. 46), “tem como

objetivo primordial à descrição das características de determinada população ou fenômeno ou,

então, o estabelecimento de relações entre as variáveis”.

Finalmente, quanto aos procedimentos, a pesquisa pode ser bibliográfica, experimental,

documental, de campo, de levantamento, estudo de caso, pesquisa-ação, participante,

etnográfica, etnometodológica.

Considerando esses fundamentos, situamos nossa pesquisa como qualitativa já que

pretendemos mostrar a complexidade das relações entre gênero, tipos de discurso e língua.

Nesse sentido, não nos interessam recursos e técnicas estatísticas. Ao invés disso, interessa-nos

o aprimoramento da questão e a discussão de hipótese, o que nos situa no campo da pesquisa

exploratória. Quanto à natureza, trata-se um trabalho teórico, ou seja, pretendemos oferecer

uma discussão acerca do tema, sem necessariamente oferecer aplicação prática. Por fim, como

procedimento, recorremos basicamente ao levantamento de um pequeno corpus de dados.

3.2 O corpus

27

Nosso corpus está composto por 15 painéis de leitores publicadas no jornal “El

periódico de Catalunya”, entre os dias 14 e 17 de março de 2014, em língua espanhola, e 15

publicados, também entre os dias 14 e 17 de março de 2014, no jornal Folha de São Paulo, em

língua portuguesa.

El periódico de Catalunya é um jornal de referência da comunidade autônoma de

Catalunha na Espanha, cujo nascimento data de 1978, sendo especialmente lido em Barcelona.

O jornal possui uma versão impressa e uma eletrônica, sendo escrito em dois idiomas: espanhol

e catalão. As “cartas de lectores” são recebidas através do e-mail [email protected]

ou por meio de uma conta do Twitter @EPentretodos.

A Folha de São Paulo foi fundada em 1921 e, desde a década de 80, é o jornal mais

vendido entre os diários nacionais de interesse geral (FONTE). Oferece uma versão on-line para

os leitores. Na seção intitulada “Painel do Leitor” encontramos os painéis dos leitores recebidos

através do e-mail: [email protected].

A escolha desse gênero não tem nenhuma razão teórico-metodológica específica. Dada

à natureza exploratória desta pesquisa, o trabalho de caracterização dos tipos de discurso e dos

recursos linguísticos a eles associados em português e espanhol poderia ser realizado em

qualquer gênero. Optamos pelo gênero painel do leitor pela facilidade de constituição do

corpus, o uso da internet, por exemplo, especialmente em língua espanhola.

3.3 O método de análise

O trabalho de análise foi organizado em duas etapas. Primeiro, fizemos uma análise

geral das características linguísticas dos painéis do corpus, tanto em português quanto em

espanhol. Em seguida, identificamos os tipos de discurso e verificamos se as unidades

linguísticas variam nas duas línguas naturais.

Para a identificação dos tipos linguísticos, o ponto de partida foi a descrição das

unidades consideradas na caracterização dos tipos de discurso previstas por Bronckart (2012).

1. Ordem do Expor:

Discurso Interativo:

Presença de unidades que remetem a interação verbal;

Presença de frases não declarativas;

Verbos no presente, pretérito perfeito e futuro perifrástico;

28

Existência de unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao

espaço e ao tempo;

Presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e segunda

pessoa do singular e plural de valor exofórico;

Presença de anáforas pronominais;

Densidade verbal elevada;

Densidade sintagmática baixa.

Discurso Teórico:

Ausência de frases não declarativas;

Dominância de verbos no presente e pretérito perfeito composto com

valor genérico;

Ausência de unidades que remetem aos interactantes ou ao espaço-tempo

da produção;

Existência de organizadores textuais com valor lógico-argumentativo;

Presença de frases passivas;

Presença de modalizações lógicas e do auxiliar de modo “poder”;

Presença de anáforas pronominais e nominais;

Densidade verbal fraca;

Densidade sintagmática elevada.

2. Ordem do Narrar:

Relato interativo:

Ausência de frases não declarativas;

Verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito, futuro

simples e condicional;

Existência de organizadores temporais;

Presença de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e de segunda

pessoa do singular e do plural;

Dominância de anáforas pronominais;

Densidade verbal elevada;

Densidade sintagmática baixa.

Narração:

Geralmente monologada e escrita

Presença exclusiva de frases declarativas;

Verbos predominantemente no pretérito perfeito e imperfeito;

29

Presença de organizadores temporais

Ausência de pronomes de primeira e de segunda pessoa do singular e do

plural que remetem aos interactantes;

Presença de anáforas pronominais e nominais;

Densidade verbal média;

Densidade sintagmática média.

Realizamos ainda, para efeito de contextualização, um breve comentário sobre o

contexto de produção e o plano global do conteúdo temático dos painéis. Para a exposição da

análise propriamente, transcrevemos o painel e comentamos os resultados individualmente, em

cada língua. Em seguida, procedemos a uma comparação. Os painéis são identificados pelas

letras P (português) e E (espanhol) e por um número, que corresponde à ordem (P1 – painel 1

em português, E1 – painel 1 em espanhol).

4. ANÁLISE COMPARATIVA DAS CARTAS DE LEITORES EM PORTUGUÊS E

ESPANHOL

4.1. O contexto de produção

Para identificarmos as condições de produção de qualquer texto é preciso considerar que

o agente/produtor do texto se encontra em uma situação de ação linguageira. Quando esse

agente/produtor elabora um novo texto, ele toma duas atitudes: primeiro, busca no arquitexto

de sua comunidade linguística o modelo (o gênero de texto) mais adequado à situação em que

se encontra. Depois, procura adaptar esse modelo às características individuais dessa mesma

situação de ação linguageira.

A análise das condições de produção dos textos deve levar em conta os elementos

referentes à situação de produção do texto, a saber: a) as representações relativas ao quadro

material da ação linguageira, ou seja, emissor, espaço e tempo; b) as representações

sociosubjetivas da ação linguageira, ou seja, o tipo de interação, o papel social do

emissor/enunciador, o papel social dos receptores/destinatários e os objetivos da interação; e c)

outras representações da situação e dos conhecimentos do agente. O novo texto empírico será

um exemplar do gênero de texto escolhido como melhor modelo para a situação de ação de

linguagem em que o agente/produtor se encontra, ajustado aos parâmetros específicos dessa

30

mesma situação. Abaixo ilustramos o esquema proposto por Bronckart (2009) para a análise

das condições de produção dos textos.

AÇÃO DE LINGUAGEM

REPRESENTAÇÕES DO

AGENTE/PESSOA

1. Parâmetros objetivos

Emissor; eventual co-emissor

Espaço/tempo da ação

2. Parâmetros sociossubjetivos

Quadro social da interação

Papel do enunciador

Papel dos destinatários

Objetivo

3. Outras representações da situação e

dos conhecimentos disponíveis na

pessoa

Considerando esses aspectos, a análise das

condições de produção dos painéis de leitores pode ser

configurada da seguinte forma:

1. Parâmetros objetivos

Emissores: Leitores dos jornais escolhidos.

Co-emissor: não se aplica

Espaço/tempo de produção: jornal on-line, entre 17 a 19 de março de 2014.

2. Parâmetros sociossubjetivos

Quadro social da interação: instância jornalística eletrônica.

Papel do enunciador: leitor

Papel dos destinatários: editor, diretor e leitores dos jornais escolhidos.

Objetivo: emitir opinião sobre os assuntos tratados nos jornais escolhidos.

3. Outras representações da situação e dos conhecimentos mobilizados no texto: pressupõe

que os destinatários também são leitores dos jornais escolhidos.

ARQUITEXTO

NEBULOSA DE GÊNEROS

1. Diferenças objetivas

2. Classificações explícitas

3. Indexações

Conteúdo

Formas de interação

Valor atribuído

TEXTO EMPÍRICO (Exemplar de

gênero)

Figura 4: Condições de produção dos textos

FONTE: Bronckart (2009, p.146)

31

4.2. O plano global do conteúdo temático

Além do contexto de produção, o conteúdo temático também integra a ação de

linguagem. A respeito deste, Bronckart (1999, p. 97) afirma que “o conteúdo temático (ou

referente) de um texto pode ser definido como o conjunto das informações que nele são

explicitamente apresentadas, isto é, que são traduzidas no texto pelas unidades declarativas da

língua natural utilizada”.

De forma semelhante aos parâmetros do contexto de produção, as informações

constitutivas do conteúdo temático são representações construídas pelo agente-produtor. Essas

se referem aos conhecimentos que variam em função da experiência e do nível de

desenvolvimento do produtor e que estão estocados e organizados em sua memória,

previamente, antes do desencadear da ação de linguagem.

O conteúdo temático dos painéis dos leitores em espanhol é diversificado. São

abordados temas do cotidiano dos espanhóis como aspectos da mobilidade da comunidade,

urbanização, arte, política internacional, educação, saúde pública, imigração e, o que o jornal

catalão classifica como “debate soberanista”, ou seja, a respeito da identidade enquanto catalães

em oposição à identidade como espanhóis.

O plano global do conteúdo temático das cartas dos leitores em português também é

variado, porém possui mais temas relacionados à política nacional e ao cotidiano dos

brasileiros, como casos de corrupção, o marco civil da internet, a cracolândia, a educação do

trânsito, os atrasos dos pagamentos do INSS e a propaganda eleitoral.

4.3. Os tipos de discurso e os recursos linguísticos

4.3.1. Análise dos painéis em português

P1

Cirurgião plástico critica artigo de João Pereira Coutinho – Luís Felipe Morais Prado de

Jaú/SP (14/03/2014)

Sou cirurgião plástico e me senti extremamente ofendido com o artigo “Frankensteins” de

João Pereira Coutinho. Ele achincalha nossa categoria por conta de uma única análise. Não

aceito essas reflexões feitas por um caso que pode até não ser estético, porém, generalizar não

tem sentido e ofende toda uma classe.

32

Neste painel, o leitor comenta negativamente um artigo publicado anteriormente no

jornal sobre a profissão de cirurgião plástico. O tipo de discurso é o discurso interativo, marcado

pela conjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção e pela implicação do agente

produtor do texto. Os verbos aparecem no presente do indicativo, com valor atemporal, na

primeira pessoal: sou, senti, achincalha, aceito, tem, ofende. Essa é a primeira característica em

termos de unidade linguística do discurso interativo. Acrescentam-se a isso a presença de

unidades que remetem a unidades a interação (citação a artigo anterior), a presença dos

pronomes de primeira pessoa do singular e do plural (me e nossa), a presença de organizadores

com valor argumentativo (por conta, porém) e o uso de anáforas pronominais (ele). Por fim, o

painel possui uma densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática.

P2

Leitora de Campinas elogia crônica sobre Lisboa – Maria José Carreira Rey de Campinas/SP

(14/03/2014)

Adorei a crônica de Zeca Camargo sobre Lisboa. Bem estruturada, sentimental e poética.

Assim também é minha Lisboa: do Tejo, de Pessoa e de Camões. Melancólica, mas não triste.

Para rir e chorar.

A leitora elogia uma crônica publicada anteriormente no jornal sobre a cidade de Lisboa.

Apesar de bastante curto, esse painel apresenta dois tipos de discurso. O primeiro segmento se

caracteriza pelo relato interativo, ou seja, o fato é narrado: [Adorei a crônica de Zeca Camargo

sobre Lisboa. Bem estruturada, sentimental e poética]. Isso é marcado pela presença do verbo

no pretérito perfeito da primeira pessoa do singular e pela referência nominal ao autor da crônica

(Zeca Camargo).

A partir de [Assim também é minha Lisboa] até o final, ocorre o discurso interativo, ou

seja, o fato, a partir daí, passa a ser mostrado. A presença do verbo no presente do indicativo

(é) mostra a conjunção entre as coordenadas gerais do conteúdo temático e a situação de

produção do texto. A presença do agente/produtor do texto é identificada através do uso do

pronome possessivo na primeira pessoa do singular (minha) e de unidades que remetem a

objetos acessíveis, ao espaço ou tempo de produção (Lisboa, Tejo, Pessoa e Camões). Outra

característica linguística do discurso interativo é a presença do organizador argumentativo

“mas”. Tanto o segmento correspondente a um relato interativo quanto o discurso interativo

possuem uma densidade verbal alta e baixa densidade sintagmática.

33

P3

Leitores criticam atraso de pagamentos do INSS após o Carnaval – Luciano R. Rocha de

Souza de São Paulo/SP (14/03/2014)

O INSS não considerou como úteis os dias 3 e 5 deste mês, embora não fossem feriados. Isso

fez com que quem recebe sua aposentadoria no quinto dia útil só a recebesse até o dia 12/3.

Para uma pessoa cujo benefício raramente dura até o fim do mês, isso é uma desumanidade.

Magistrados e políticos recebem bem antes do fechamento do mês. Pobres mortais são

sacrificados.

Neste painel, o leitor opina sobre o atraso no pagamento do benefício do INSS no mês

de março de 2014, criticando o fato e comparando com a situação mais favorável dos

magistrados e políticos. A disjunção é marcada no início do painel: [O INSS não considerou...].

O uso de verbos no pretérito perfeito (considerou, fez) e pretérito imperfeito (fossem,

recebessem) marca a relação de distância entre o conteúdo temático e a situação de ação

linguageira. Já a referência temporal (deste mês e dia 12/3) marca a implicação das coordenadas

da situação de produção do texto. Assim, o primeiro segmento do painel se caracteriza pelo

relato interativo. Outra característica do relato interativo é a ausência de frases não declarativas,

a presença de organizadores temporais, como: os dias 3 e 5 e no quinto dia útil e, a alta

densidade verbal aliada a uma baixa densidade sintagmática.

A partir de [Para uma pessoa...] até o final, ocorre um segmento de discurso teórico. A

presença de verbos no presente do indicativo (dura, é, recebem, são) mostra a conjunção entre

o conteúdo temático e a situação de produção do texto. A ausência de unidades que remetem

aos interlocutores e à situação de produção caracteriza a autonomia. Outras características do

discurso teórico são a ausência de frases não declarativas, a ausência de nomes próprios e

pronomes e verbos de primeira do singular e do plural, presença da anáfora pronominal (isso),

baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática.

P4

Leitores criticam atraso de pagamentos do INSS após o Carnaval – João Roberto Gullino de

São José do Rio Preto/SP (14/03/2014)

A atitude do INSS deu demonstração do desprezo com os idosos, deixando milhares de

aposentados sem saber o que fazer. O pouco caso do governo ficou evidente. Mas, aos 81 anos,

como muitos de minha faixa etária, ainda faço questão de votar.

34

Neste painel, o leitor critica a atitude do INSS e do governo federal frente aos idosos,

contrastando com o fato de que, mesmo não sendo mais obrigatório, ainda fazem questão de

votar. O início do texto [A atitude do INSS...] revela um narrar autônomo, marcado pelo uso

do verbo no pretérito perfeito (deu), que indica a relação de disjunção entre o conteúdo temático

e a situação de produção do agente/produtor. A ausência de unidades que remetem aos

interlocutores e a situação de produção caracteriza sua autonomia. Outras características da

narração são: a presença exclusiva de frases declarativas, ser monologado e escrito, assim como,

possuir uma média densidade verbal e sintagmática.

A partir de [Mas, aos 81 anos...] até o final, a relação entre o conteúdo temático e a

situação de produção de ação linguageira muda para conjunto, ou seja, da ordem do expor. O

verbo fazer no presente do indicativo revela essa relação de conjunção. Passa-se também do

autônomo para o implicado. O uso de pronomes e verbos na primeira pessoa do singular (minha,

faço), assim como a referência à idade atual do produtor (81 anos) marcam essa implicação.

Instaura-se, portanto, nessa passagem, um discurso interativo. Outra característica do discurso

interativo é a elevada densidade verbal e a baixa densidade sintagmática.

P5

Leitoras de Guarulhos divergem sobre razão dos protestos na Venezuela – Ana Gabriela

Cazzo de Guarulhos/SP (14/03/2014)

Por qual motivo as manifestações democráticas na Venezuela são alvos de repúdio do seu

governo? O país não vive um modelo democrático, mas sim totalitário, onde seu presidente,

apesar de eleito, recebeu o legado de Hugo Chávez visando a manutenção da revolução

bolivariana. Legado que está levando a população a miséria. Com uma economia frágil apesar

dos “petrodólares”, a situação está insustentável. A população reivindica mudanças, pois não

aguenta mais tanta bandalheira. Até quando estes “ditadores” continuarão no poder, fazendo

a política do pão e circo?

A leitora comenta a situação na Venezuela e faz uma crítica ao governo do atual

presidente, justificando, assim, a onda de protestos no país. Quase todo o painel é da ordem do

expor autônomo, ou seja, um discurso teórico. Do início, [Por qual motivo...] até [...totalitário]

e de [Legado...] até o final, há uma relação de conjunção entre as coordenadas do conteúdo

temático e as coordenadas da situação de produção, marcada pelo uso dos verbos no presente

(são, vive, está levando, está, reivindica, aguenta). Além disso, a autonomia se apresenta através

da ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou a situação de produção, assim como

35

a ausência de pronomes, adjetivos e verbos na primeira pessoa do singular e do plural. A

presença dos marcadores lógico-argumentativos (por qual, mas, onde, pois, até quando)

também caracterizam o expor autônomo. A presença de perguntas não descaracteriza o discurso

teórico, pois trata-se de perguntas retóricas que auxiliam na argumentação. O discurso teórico

também é marcado pela baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática.

Entretanto, o texto é recortado por um segmento da ordem do narrar autônomo. A partir

de [onde...] até [...bolivariana...], temos assim uma narração. O uso do verbo no pretérito

perfeito marca a relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira.

A autonomia mais uma vez é marcada pela ausência de frases que remetem aos interlocutores

ou a situação de produção, pela ausência de pronomes, adjetivos e verbos na primeira pessoa

do singular e do plural e pela presença exclusiva de frases declarativas. Além da média

densidade verbal e sintagmática.

P6

Leitoras de Guarulhos divergem sobre razão dos protestos na Venezuela – Ana Beatriz

Bertolucci Henriques de Guarulhos/SP (14/03/2014)

Luigi Petti se mostra contrário à política de Maduro. Mas acho injusto chamar a Venezuela de

país de “várzea”. Por que razões o governo da venezuelano pode ser considerado inviável? A

política chavista de Nicolás Maduro implica em condições sociais e de bem estar muito mais

eficientes do que as nações ditas “de primeira categoria”. A mídia põe tais ações como

ditatoriais. Os conflitos venezuelanos emergem principalmente das classes média e alta que,

visando benefícios capitalistas, são contra a política de distribuição de renda do governo. Mas,

não seria por esse motivo o Estado Venezuelano muito mais democrático?

A leitora comenta o posicionamento contrário de Luigi Petti, e se coloca a favor do

governo de Nicolás Maduro por considerá-lo mais democrático. O discurso teórico está presente

em quase todo o texto, iniciando com [Luigi Petti...] até [...Maduro] e após em [A política...]

até [...renda do governo]. A relação de conjunção entre as coordenadas do conteúdo temático e

as coordenadas da situação de produção do texto é marcada pelo uso dos verbos no presente

(mostra, implica, põe, emergem, são), e a autonomia através da ausência de frases não

declarativas, ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou a situação de produção e

a ausência de pronomes, verbos e adjetivos de primeira pessoa do singular e do plural. O

discurso teórico também é marcado por uma baixa densidade verbal e alta densidade

sintagmática.

36

Entretanto, o texto é recortado por dois segmentos da ordem do expor implicado, [Mas

acho...] até [...inviável?] e [Mas...democrático?]. Novamente o uso de verbos no presente

caracteriza a relação de conjunção (acho, pode ser) entre as coordenadas do conteúdo temático

e as coordenadas da situação de ação linguageira, sendo agora implicado pelo uso do verbo na

primeira pessoa do singular (“eu” acho), assim como a presença de frases não declarativas e

unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço ou tempo (Estado Venezuelano). No caso

do discurso interativo, há uma alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

P7

Leitores comentam artigo sobre o caso de Henrique Pizzolato – Jorge Alberto de Oliveira

Marum de Piedade/SP (15/03/2014)

Merece aplauso o artigo do professor Alexandre de Morais sobre o caso Pizzolato. Estão dados

os caminhos para que esse fugitivo da justiça brasileira não fique impune. O povo, em sua

esmagadora maioria, agora espera que o governo federal demonstre que seu compromisso com

a efetivação da justiça e o combate à impunidade está acima de considerações político-

partidárias.

Neste painel, o leitor elogia o artigo de Alexandre Morais, convocando o governo

brasileiro à efetivação da justiça. Todo o texto é caracterizado pelo discurso interativo. Os

verbos no presente (merece, estão, fique, espera, demonstre, está) são típicos da relação de

conjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do texto, as unidades linguísticas

que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e tempo (brasileira, governo, povo “brasileiro”,

agora) marcam a implicação. Outras características do discurso interativo são o uso de nomes

próprios (Alexandre de Morais), anáfora pronominal (seu), uma alta densidade verbal e uma

baixa densidade sintagmática.

P8

Leitores comentam artigo sobre o caso de Henrique Pizzolato –

Marilene Martins de Oliveira de São Paulo/SP (15/03/2014)

Minha filha vive em Paris e pretende comprar um apartamento com o dinheiro que deixou aqui,

fruto de seu trabalho como fotógrafa. Dói, entretanto, saber que o governo brasileiro irá

morder parte dessa economia. Será que Pizzolato, que comprou três mansões na Espanha, ou

Paulo Maluf poderiam prestar uma assessoria para minha filha?

37

A leitora relata um pouco a vida de sua filha e critica o governo brasileiro por deixar

impune Pizzolato e Maluf. Encontramos dois tipos de discurso: o discurso interativo e o relato

interativo. O painel inicia com a ordem do expor [Minha filha...] até [...saber] marcada pela

presença de verbos no presente (vive, pretende, dói), e conclui com o segmento [...que o

governo...] até [...filha?] pertencente a ordem do narrar, identificado através dos verbos no

futuro simples (irá, será), pretérito perfeito (comprou) e condicional (poderiam), ou seja,

marcando uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do

texto. A implicação nos dois tipos de discurso é caracterizada pelo uso do possessivo (minha)

na primeira pessoa do singular e os dêiticos espaciais (aqui e governo brasileiro). Nos dois tipos

de discurso existe uma elevada densidade verbal que se opõe a baixa densidade sintagmática.

P9

Socorro de R$ 12 bilhões a empresas de energia é criticado por eleitores – Heitor Vianna

P. Filho de Araurama/RJ (15/03/2014)

Já temos uma das maiores tarifas de energia elétrica do mundo, mesmo com as reduções do

governo. Agora, não tem sentido repassar supostas defasagens para os consumidores a partir

de 2015. Os valores das tarifas já são hoje desproporcionais à situação econômica da

população. E na fatura de energia elétrica existem diversos encargos, como a iluminação

pública e alto ICMS dos governadores. É um item essencial, sem alternativa para a população,

que mais afeta a Economia.

O leitor expõe a situação das tarifas de energia elétrica pagas no país. Toda o painel

pertence à ordem do expor, caracterizado pela presença de verbos no presente (temos, tem, são,

existem, é, afeta) mostrando, assim, a relação de conjunção entre o conteúdo temático a situação

de ação linguageira. Enquanto, no segmento [Já temos...] até [...econômica da população] temos

um expor implicado, ou seja, um discurso interativo, marcado através do uso do verbo na

primeira pessoa do plural (temos), do dêitico de lugar (governo “brasileiro”), dos dêiticos de

tempo (agora, a partir de 2015, hoje), da alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática,

no segmento [E na fatura...] até o final, temos um expor autônomo, ou seja, um discurso teórico,

marcado, além dos verbos no presente já citados, pela ausência de unidades que remetem a

interação, pela ausência de frases não declarativas, ausência de pronomes, verbos e adjetivos

de primeira pessoa do singular e do plural e pela baixa densidade verbal e alta densidade

sintagmática.

38

P10

Socorro de R$ 12 bilhões a empresas de energia é criticado por eleitores – Dirceu Cardoso

Gonçalves de São Paulo/SP (15/03/2014)

Ao mesmo tempo em que faz toda essa encenação econômico-eleitoreira, deixando a dívida

elétrica para o próximo ano – e para os consumidores -, o governo brasileiro mantêm milhares

de cargos políticos e elevados gastos com a máquina estatal. Além disso, se dá ao luxo de sair

pelo mundo perdoando dívidas e concedendo novos empréstimos a países que são

ideologicamente afinados com os dirigentes do PT.

O leitor relaciona o aumento previsto da tarifa elétrica com demais ações do governo

brasileiro. Todo o texto pertence a ordem do expor, caracterizado pela presença de verbos no

presente (faz, mantêm, dá, são) mostrando, assim, a relação de conjunção entre o conteúdo

temático a situação de ação linguageira. Entretanto, no segmento [Ao mesmo ... estatal] temos

um expor implicado, discurso interativo, através do uso do dêitico de tempo (próximo ano) e

do dêitico de lugar (governo brasileiro), enquanto que no segmento [Além ... PT] temos um

expor autônomo, discurso teórico, marcado pela ausência de unidades que remetem a interação

e pela ausência de pronomes, verbos e adjetivos da primeira pessoal do singular e do plural.

Também marcam o discurso teórico a ausência de frases não declarativas e o uso do marcador

lógico-argumentativo “além disso”.

P11

Advogado elogia coluna de Ruy Castro sobre literatura do golpe militar – Tales Castelo

Branco de São Paulo/SP (15/03/2014)

Excelente (como sempre) o artigo de Ruy de Castro sobre as vésperas dos 50 anos do golpe de

1964. Ele cita vários livros que foram publicados logo após a quartelada. Todos merecem ser

lidos (talvez sejam encontrados ainda em “sebos” ou bibliotecas públicas), mas, em especial,

historicamente, merece atenção especial o do repórter Edmar Morel, “O Golpe Começou em

Washington.”

O livro não tem revelações da Operação Brother Sam, mas possui um vasto apanhado dos

interesses americanos no Brasil de Jango. Vamos conhecer de onde partiram os primeiros

impulsos do golpe de 64.

O leitor comenta artigo publicado anteriormente no jornal sobre a literatura do golpe

militar. Todo o painel pertence ao discurso interativo, temos a ordem do expor implicado,

39

marcado pelos seguintes tipos linguísticos: presença de unidades que remetem a interação

verbal, verbos no presente e futuro perifrástico (cita, merecem, vamos conhecer), existência de

unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e tempo (artigo, as vésperas dos 50 anos

do golpe de 1964, sebos, bibliotecas públicas, operação Brother Sam, “O Golpe Começou em

Washington”, o Brasil de Jango), presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira

e segunda pessoa do singular e plural de valor exofórico (Ruy Castro, Edmar Morel), anáfora

pronominal (ele), densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática.

P12

Leitores comentam desrespeito a vagas de deficientes e à educação no trânsito – Ana

Cristina Dellis de Salvador/BA (16/03/2014)

Oportuno o artigo de Ralf Zietemann “Não ocupe a vaga de deficientes”. Num país em que os

direitos dos cidadãos são tão desrespeitados, precisamos de uma campanha educacional para

conscientizar as pessoas a respeitar as vagas preferenciais. Como filha de uma senhora de 92

anos, com mobilidade reduzida, sinto, como Zietemann, a dificuldade de ver garantido o direito

de estacionar num local mais acessível. Seria oportuna também uma campanha para educar

motoristas e pedestres a usar e respeitar as faixas de trânsito.

A leitora elogia artigo publicado anteriormente pelo jornal sobre as vagas para

deficientes e relata sua experiência pessoal. O painel possui três tipos de discurso diferentes: o

discurso interativo, o discurso teórico e narração. O painel inicia com a ordem do expor

implicado [Oportuno o artigo de Ralf Zietemann “Não ocupe a vaga de deficientes”], marcado

pela presença de unidades que remetem a interação verbal (citação de artigo anterior), verbo no

presente (oportuno), existência de unidades que remetem a objetos acessíveis (o artigo de),

presença de nomes próprios (Ralf Zietemann), elevada densidade verbal e baixa densidade

sintagmática.

A partir de [Num país em que...] até [...vagas preferenciais.] continuamos com a ordem

do expor, porém autônomo. As marcas do discurso teórico são: ausência de frases não

declarativas, verbos no presente (são, precisamos), ausência de unidades que remetem aos

interactantes, ao espaço e ao tempo da produção, fraca densidade verbal e alta densidade

sintagmática.

Novamente de [Como filha...] até [... num local mais acessível.] temos o expor

implicado, marcado pelos seguintes recursos linguísticos: presença de unidades que remetem a

interação verbal, verbo no presente (sinto), existência de unidades que remetem a objetos

40

acessíveis, ao espaço e ao tempo (Como filha de uma senhora de 92 anos), presença de nomes

próprios e verbo de primeira pessoa do singular (Zietemann, sinto), elevada densidade verbal e

baixa densidade sintagmática.

Concluindo o painel [Seria oportuna...] temos a ordem do contar autônomo, ou seja, as

coordenadas do mundo ordinário estão disjuntas as coordenadas do mundo discursivo, sem

marcas das condições de produção do texto e dos interlocutores. Os tipos linguísticos

identificados são: monologado e escrito, presença exclusiva de frases declarativas, verbos no

condicional (seria), ausência de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e

do plural, além de densidades verbal e sintagmática média.

P13

Leitor homenageia ator Paulo Goulart – Ricardo C. Siqueira de Niterói/RJ (16/03/2014)

Os atores Nicette Bruno e Paulo Goulart protagonizaram cenas inesquecíveis na televisão, no

teatro e no cinema. Mas a lembrança insiste em contar uma linda história que eles viveram e

tiveram a sensibilidade de compartilhar. Um amor assim sobreviveria às guerras, ao tempo e

à saudade. Continuem juntos, Paulo e Nicette. O amor não morreu.

O leitor faz uma homenagem ao amor dos atores Nicette Bruno e Paulo Goulart. O

painel possui dois tipos de discurso diferentes, o discurso interativo [Os atores...] até [... uma

linda história que], e em [Continuem...] até o final, e a narração [...eles viveram...] até [... à

saudade]. Assim, ora as coordenadas do mundo ordinário são conjuntas as coordenadas do

mundo discursivo, ora são disjuntas. Os tipos linguísticos que marcam o discurso interativo são:

presença de frases não declarativas (continuem juntos), verbos no presente e pretérito perfeito

(protagonizaram, insiste, morreu), presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira

do singular (Nicette Bruno e Paulo Goulart, Nicette e Paulo, insiste), elevada densidade verbal

e baixa densidade sintagmática.

Já a narração é marcada pela presença exclusiva de frases declarativas, os verbos no

pretérito e condicional (viveram, tiveram, sobreviveria), ausência de pronomes e verbos de

primeira e segunda pessoa do singular e do plural, presença da anáfora pronominal (eles), média

densidade verbal e sintagmática, além de ser monologado e escrito.

P14

Leitor de Portugal reclama de imposto sobre aposentadoria no exterior – Paulo Lima de

Ponte de Lima/Portugal (17/03/2014)

41

Imagine ficar de um mês para o outro sem 25% de sua pensão, por causa da aplicação do

Imposto de Renda na fonte – e que isso seja aplicado a qualquer vencimento, sem qualquer

relação com o seu patrimônio. Pois os aposentados brasileiros que vivem no exterior estão

sofrendo dessa tributação totalmente injusta, discriminatória e de total afronta à dignidade de

um aposentado. Meus vencimentos passaram de R$724 para R$543, valores insuficientes para

as despesas básicas de casa, como luz, água, remédios e alimentação.

O leitor critica o imposto pago pelos aposentados que moram no exterior, enfatizando

que os vencimentos após o imposto não são suficientes para as despesas básicas. O painel é

composto por dois tipos de discurso, o discurso interativo e o discurso teórico, assim, em alguns

momentos temos as marcas das condições de produção e dos interlocutores e, em outros

momentos, não.

Do início do painel [Imagine...] até [... seu patrimônio] e depois de [Meus

vencimentos...] até o final, identificamos a ordem do expor implicado através dos seguintes

tipos linguísticos: presença de unidades que remetem a interação verbal (o uso do imperativo e

de pronomes de terceira pessoa do singular – seu, sua), presença de frases não declarativas

(Imagine...), verbo no pretérito (passaram), presença do pronome de primeira pessoa do singular

(meus), alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

No segmento [Pois os aposentados...] até [... dignidade de um aposentado] temos as

marcas de um expor autônomo, a saber: ausência de frases não declarativas, verbos no presente

(vivem, estão), ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou ao espaço-tempo de

produção, presença do organizador lógico-argumentativo (pois), fraca densidade verbal e alta

densidade sintagmática.

P15

Senador contesta reportagem sobre contratos do governo de Minas com Marcos Valério

– Fernando Junqueira (assessor de imprensa do senador Aécio Neves) de Brasília/DF

(17/03/2014)

Ao contrário do que afirma o título da reportagem “Inquérito sobre contrato de Aécio com

Valério não anda”, o senador Aécio Neves nunca manteve nenhum contrato com Marcos

Valério. Os contratos assinados entre o governo de Minas, a SMPB e a DNA foram resultado

de licitação pública, como os mantidos com outras dez agências de publicidade. Em 2005, com

as denúncias contra as empresas, o governador Aécio determinou a imediata suspensão dos

contratos entre o Estado e as duas agências.

42

O leitor defende o senador Aécio Neves de denúncias expostas pelo jornal em matéria

anterior. O painel pertence a ordem do expor implicado, recortado por um segmento do ainda

do expor, porém, autônomo. Do início [Ao contrário...] até [... Marcos Valério.] e, novamente,

a partir de [Em 2005...] até o final, temos as marcas do discurso interativo, que são: presença

de unidades que remetem a interação verbal (citação de artigo anterior), verbos no presente e

pretérito perfeito (afirma, manteve, determinou), existência de unidades que remetem a objetos

acessíveis, ao espaço e tempo (reportagem “Inquérito sobre contrato de Aécio com Valério não

anda”, o senador, em 2005, o Estado), presença de nomes próprios (Aécio Neves, Marcos

Valério, Aécio), densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática.

A ordem do expor autônomo aparece a partir de [Os contratos...] até [... agências de

publicidade.]. Os recursos linguísticos são: ausência de frases não declarativas, verbo no

pretérito perfeito (foram), ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou ao espaço-

tempo de produção, organizadores lógico-argumentativos (como), anáfora pronominal (outras),

baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática.

Discurso interativo P

1

P

2

P

4

P

6

P

7

P

8

P

9

P

10

P

11

P

12

P

13

P

14

P

15

Presença de unidades que

remetem a interação; + - + + + - - - + + - + +

Frases não declarativas; - - - + - - - - - - + + -

Verbos no presente,

pretérito perfeito e futuro

perifrástico;

+ + + + + + + + + + + + +

Unidades linguísticas que

remetem a objetos

acessíveis, ao espaço e ao

tempo;

- + - + + + + + + + - - +

Presença de nomes próprios,

verbos e pronomes de

primeira e segunda pessoa

do singular e plural;

+ + + + + + + - + + + + +

43

Anáforas pronominais; + - - - + - - - + - - - -

Densidade verbal elevada; + + + + + + + + + + + + +

Densidade sintagmática

baixa. + + + + + + + + + + + + +

Quadro 01: Tipos linguísticos do discurso interativo nos painéis em língua portuguesa.

Discurso teórico P3 P5 P6 P9 P

10

P

12

P

14

P

15

Ausência de frases não declarativas; + + + + + + + +

Verbos no presente e pretérito perfeito

composto; + + + + + + + +

Ausência de unidades que remetem aos

interactantes ou ao espaço-tempo de produção; + + + + + + + +

Organizadores textuais com valor lógico-

argumentativo; - + - - + - + +

Frases passivas; - - - - - - - -

Modalizações lógicas e do auxiliar de modo

“poder”; - - - - - - - -

Anáforas pronominais e nominais; + - - - - - - +

Densidade verbal fraca; + + + + + + + +

Densidade sintagmática elevada. + + + + + + + +

Quadro 02: Tipos linguísticos do discurso teórico nos painéis em língua portuguesa.

Relato interativo P2 P3 P8

Ausência de frases não declarativas; + + -

Verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito, futuro simples e

condicional; + + +

Existência de organizadores temporais; - + -

Presença de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e segunda pessoa do

singular e do plural; + + +

Dominância de anáforas pronominais; - - -

Densidade verbal elevada; + + +

44

Densidade sintagmática fraca. + + +

Quadro 03: Tipos linguísticos do relato interativo nos painéis em língua portuguesa.

Narração P4 P5 P12 P13

Monologado e escrito; + + + +

Presença exclusiva de frases declarativas; + + + +

Verbos predominantemente no pretérito perfeito e imperfeito; + + + +

Organizadores temporais - - - +

Ausência de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do

singular e do plural; + + + +

Anáforas pronominais e nominais; - - - +

Densidade verbal média; + + + +

Densidade sintagmática média. + + + +

Quadro 04: Tipos linguísticos da narração nos painéis em língua portuguesa.

Em suma, a análise dos painéis em português demonstra que o discurso interativo

predomina nesse gênero. Esse tipo de discurso foi encontrado em treze dos quinze painéis,

sendo o tipo exclusivo em três (P1, P7 e P11). Os recursos linguísticos utilizados nestes painéis

são os verbos no presente e pretérito perfeito do indicativo, os pronomes e verbos na primeira

pessoa do singular e do plural, dêiticos de tempo e de lugar, anáforas pronominais, presença de

nomes próprios e alta densidade verbal, assim como baixa densidade sintagmática. Trata-se de

um resultado esperado, pois os leitores expõem uma situação ou fato, implicando sua opinião e

consideração a respeito desse mesmo fato.

Todos os demais painéis possuem mais de um tipo de discurso. A combinação entre

discurso interativo e discurso teórico, em cinco textos (P6, P9, P10, P14 e P15) continua

marcando a ordem do expor através dos verbos no presente do indicativo, pretérito perfeito ou

futuro perifrástico. Entretanto, em determinados momentos, o leitor imprime as marcas de

implicação da situação e dos interlocutores no texto, por meio do uso de pronomes e verbos na

primeira e segunda pessoa do singular ou do plural, de unidades que remetam a interação verbal,

a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo de produção, enquanto que em outros, ocorre à

ausência dessas unidades que se remetem aos interlocutores ou ao espaço-tempo de produção.

Outras marcas linguísticas do discurso teórico encontradas nos painéis são a ausência de frases

45

não declarativas, a presença de marcadores lógico-argumentativos, em frequência mais baixa,

a presença de anáforas pronominais, e uma densidade verbal fraca e elevada densidade

sintagmática.

Os tipos da ordem do narrar, relato interativo e narração, não aparecem exclusivos nos

painéis. O relato interativo aparece em três textos (P2, P3 e P8) e a narração em quatro (P4, P5,

P12 e P13), sempre combinados com o discurso interativo ou teórico. Os tipos da ordem do

narrar apresentam fatos que não fazem parte do mundo ordinário do momento da interação,

sendo por isso, utilizados como apoio na formulação do comentário do leitor, e suas marcas

linguísticas características são os verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito,

futuro simples e condicional, marcadores temporais (no relato interativo), ausência de

pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural (nas narrações). Todos

os painéis da ordem do narrar possuem média densidade verbal e média densidade sintagmática.

4.3.2. Análise dos painéis em espanhol

E1

#Collserola: 'No' a las sanciones a los ciclistas - Viernes, 14 de marzo del 2014 Jonatan

López (Barcelona)

Hace muchos años que disfruto del parque de Collserola con mis padres, mis amigos y mi

pareja, y dentro de poco lo haré con mi hija. Soy un gran aficionado al ciclismo de montaña y

al senderismo y creo que podemos disfrutarlo todos conjuntamente; los amantes de la montaña

en general no tenemos problemas de convivencia. Es cierto que hay un boom de la bici de

montaña y del senderismo, y también lo es que mucha gente no sabe convivir y se cree que solo

ellos tienen derecho a disfrutar del lugar. Hay personas incívicas en todos los ámbitos y este

no iba a ser diferente. Pero parece que ahora han visto un gran negocio y han decidido meter

mano a los que llevamos toda la vida practicando el ciclismo por senderos y trialeras (y

también a los nuevos aficionados). En Collserola hay sitio para todos y me parece vergonzoso

que quieran sancionar. Más vale que inviertan el dinero recaudado en la limpieza de ramas

secas y hojarasca para evitar fuegos. Y ya puestos, que sancionen a quien ensucie, tale o

provoque incendios, y no a los que disfrutamos del parque.

O leitor relata sua experiência enquanto frequentador do parque Collserola e critica as

novas medidas exigidas para ter ingresso ao parque. O painel é composto por tipos de discurso

diferentes. Do início [Hace muchos años que disfruto...] até [...no tenemos problemas de

46

convivência], ocorre o discurso interativo, ou seja, um expor implicado, marcado pelo uso dos

verbos no presente (disfruto, soy, creo, tenemos, hay, es), marcadores de tempo (hace mucho

años, dentro de poco), de lugar (del parque Collserola), pronomes e verbos na primeira pessoa

do singular e do plural (disfruto, mis, mi, podemos, tenemos). Outras características do discurso

interativo são uma elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

A partir de [Es cierto que hay un bomm...] até [...iba a ser diferente], não há mais

implicação. Continua a exposição do fato, porém sem a implicação da situação de ação

linguageira. Por isso, se trata de um discurso teórico. As características que marcam esse tipo

são: o uso de verbos no presente (es, hay, sabe, cree, tienen), o uso de marcadores lógico-

argumentativos (es cierto), a ausência de unidades que remetem à interação, a ausência de

verbos e pronomes na primeira pessoa do singular e do plural, a ausência de frases não

declarativas, baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática.

A partir de [Pero parece...] até o final, novamente ocorre o discurso interativo. O uso

dos verbos no presente do indicativo (parece, llevamos, hay, inviertan, sancionen, ensucie,

provoque, disfrutamos) e a presença de dois verbos no pretérito perfecto (han visto, han

decidido), marcam a conjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação. O pretérito

perfecto codifica uma situação que teve início no passado mas continua no momento da

interação. A implicação é marcada pelos pronomes pessoais objeto e possesivos, os dêiticos de

tempo (hace mucho años, ahora, etc.), a anáfora pronominal (los), além dos próprios verbos na

primeira pessoa do singular e do plural. Mais uma vez o discurso interativo é marcado pela

elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

E2

Un año de cambios en la Iglesia Viernes - 14 de marzo del 2014 Xavier Farré (Barcelona)

El jueves se cumplió el primer aniversario de la elección del papa Francisco. Durante este año

de pontificado hemos visto cosas nuevas, hemos experimentado cambios que nos han dejado a

los buenos cristianos sorprendidos; hemos visto en la Iglesia un notable cambio de mentalidad,

que ya tocaba. Ya sabemos que la doctrina de la Iglesia no se puede tocar, pero sí renovarla y

darle un aire diferente y más cercano. Este año ha sido el comienzo de un esperado y largo

camino. Sencillo y comprometido, aprendemos cada día de Francisco, y rezamos por él.

No painel E2 o leitor exalta o primeiro aniversário de eleição do Papa Francisco e relata

seu ponto de vista a respeito das primeiras mudanças determinadas pelo novo Papa. Os tipos de

discurso encontrados são o relato interativo e o discurso interativo. O primeiro semento do texto

47

[El jueves se cumplió el primer aniversario de la elección del papa Francisco] pertence à ordem

do narrar implicado, caracterizado pelo verbo no pretérito indefinido (cumplió) que marca uma

ação que começou no passado e terminou no passado, e o dêitico de tempo (el jueves),

apresentando uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação

linguageira. Outra característica é a ausência de frases não declarativas.

A partir de [Durante este año...] até o final, passa-se para uma relação de conjunção

entre o mundo discursivo e o mundo ordinário, ou seja, o leitor vai expor os fatos observados

no primeiro ano de pontificado de Francisco. As características que marcam o discurso

interativo são: verbos no pretérito perfecto compuesto (hemos visto, hemos experimentado, han

dejado, hemos visto, ha sido), que apresentam um fato iniciado no passado, mas com

consequências no presente; os verbos no presente (sabemos, puede, aprendemos, rezamos); a

presença dos dêiticos de tempo (durante este año, este año), a presença de nomes próprios, de

verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular e do plural (Francisco, hemos,

nos, sabemos, aprendemos y rezamos), o uso de anáforas pronominais (la, le, él). Outro aspecto

apontado do discurso interativo é a alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

E3

El centenario del escultor Modest Gené - Sábado, 15 de marzo del 2014 Pere Serra Vilas

(Tarragona)

El jueves asistimos a la charla que Maria del Carmen Gené dedicó a su padre, el escultor

Modest Gené (Reus, 1914-Bata, Guinea Ecuatorial, 1983), en la Biblioteca Pública de

Tarragona, donde pudimos disfrutar, vía PowerPoint, de la ingente obra de este gran artista.

Fundó el Cercle Artístic de Reus y fue director artístico de la Escuela de Arte Ecuatorial;

trabajó en la reconstrucción del Monestir de Poblet, y fue autor de obras como el retablo de la

catedral de Bata y un reconocido 'mestre imaginer'.

O objetivo deste painel é relatar a palestra que Maria del Carmen Gené dedicou a seu

pai. Todo o texto é da ordem do contar. No início [El jueves...] até [...gran artista] ocorre um

relato interativo, assim um contar implicado. Depois, a partir de [fundó...] até o final [‘mestre

imaginer’], ocorre uma narração, ou seja, um contar autônomo. As características identificadas

do relato interativo são: a presença de verbos no pretérito indefinido, logo, marcando uma

relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação da linguagem (asistimos,

dedicó, pudimos); presença de organizadores espaço-temporais (el jueves, en la Biblioteca

Pública de Tarragona), a presença de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do

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singular ou do plural (asistimos, pudimos), presença de anáforas pronominais (este), ausência

de frases não declarativas, alta densidade verbal e uma baixa densidade sintagmática. Já a

narração é marcada pelos verbos no pretérito indefinido (fundó, fue, trabajó), ausência de

pronomes, verbos e adjetivos de primeira e segunda pessoa de singular ou plural, presença

exclusiva de frases declarativas, média densidade verbal e sintagmática, além de ser

monologado e escrito.

E4

Ojalá una ciclogénesis se llevara la corrupción - Sábado, 15 de marzo del 2014 Geni

Bolaños (Madrid)

Nos familiarizamos con la prima de riesgo, luego con la epidemia de ERE fraudulentos y,

continuamente, con la corrupción. Ahora irrumpe la meteorología. Todo es un festín del idioma

y del afán por atraer la atención mediática. Ojalá ese vendaval de lluvias, vientos y olas

enormes se diera en la política para que la dejara limpia y se retomaran los cauces naturales.

Ojalá, y que una ciclogénesis se llevara tanta voracidad especulativa y corrupción. No nos

vendría nada mal una especie de purgatorio terrenal por el que pasaran todos los que tienen

algo que ver con la corrupción, el afán de poder, el protagonismo personal, el acaparamiento

de la riqueza social y el fraude a la democracia. Y tampoco estaría nada mal que una tormenta

de viento huracanado dejara en cueros a los que permanecen en la sombra.

O painel E4 trata dos escândalos de corrupção na Espanha. Ocorrem aí dois tipos de

discurso diferentes, primeiro o discurso interativo e depois o relato interativo. Do início do

painel [Nos familiarizamos…] até […atención mediática], há o expor implicado marcado pelos

verbos no presente (familiarizamos, irrumpe, es), que apresentam uma relação de conjunção

entre o mundo discursivo e o mundo ordinário; o dêitico de tempo (ahora); a presença de

pronomes e verbos de primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural (nos

familiarizamos); alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

Já a partir de [Ojalá ese…] até o final [… en la sombra], o painel continua sendo

implicado, porém mudamos da ordem do expor para a ordem do contar, ou seja, uma relação

de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. As características que

marcam o relato interativo são: ausência de frases não declarativas, verbos no subjuntivo e no

condicional (se diera, dejara, retomaran, llevara, vendría, estaría, dejara), a presença do

pronome primeira pessoa do plural (nos), a presença de anáforas pronominais (se, la, los). O

uso da expressão “Ojalá” também pode ser considerado uma marca do relato interativo pois

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expressa um desejo, uma vontade do leitor que algo pudesse acontecer. Da mesma forma que o

discurso interativo, o relato interativo possui alta densidade verbal e baixa densidade

sintagmática.

E5

Las fronteras de la Unión Europea - Sábado, 15 de marzo del 2014 Marc Antoni Adell

(Valencia)

¿Ahora se disparan las alarmas? ¿Ahora que Suiza ha decidido limitar la inmigración...

europea, ponen el grito en el cielo? ¿Ahora que democráticamente y en referendo los suizos

ponen coto a la presencia de ciudadanos de la Unión, unos y otros se rasgan hipócritamente

las vestiduras? Ahora que los inmigrantes son blancos, visten con elegancia y hablan idiomas

¿alguien se atreve a cerrarles el paso? Donde las dan las toman. Tal vez habría que reflexionar

sobre qué política (injusta y nefasta) migratoria practican los países de la UE --España, en

especial-- y cómo blindan las fronteras (concertinas incluidas).

Neste painel o leitor questiona sobre a política migratória da União Europeia. O painel

possui dois tipos de discurso, o discurso interativo e o dicurso teórico. Do início [¿Ahora se

disparan...] até [... cerrarles el paso], há o discurso interativo e, a partir de [Donde las...] até o

final [...(concertinas incluidas)], um discurso teórico. As características que marcam o discurso

interativo são: a presença de frases não declarativas (interrogativas), a presença de verbos no

presente e no pretérito perfecto compuesto (se disparan, há decidido, ponen, se rasgan, son,

visten, hablan, se atreve), a presença do dêitico temporal (ahora), dêiticos espaciais (Suiza,

europea, Unión), a presença de anáforas pronominais (las, les), elevada densidade verbal e baixa

densidade sintagmática. Já o que caracteriza o discurso teórico é: a ausência de frases não

declarativas, o uso de verbos no presente e no condicional (dan, toman, habría, practican,

blindan), a ausência de unidades que remetem aos interactantes da produção, a ausência de

nomes próprios, pronomes e verbos de primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural,

presença de organizadores textuais com valor lógico-argumentativo (tal vez), presença de uma

anáfora pronominal (las), uma fraca densidade verbal e elevada densidade sintagmática.

E6

Referendo ilegal - Sábado, 15 de marzo del 2014 Anna Ribes (Figueres)

La mala suerte del señor Artur Mas empieza a ser preocupante. Si el proceso de independencia

no tenía ningún apoyo internacional salvo el de dos partidos xenófobos y de ultraderecha como

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el Vlaams Belang flamenco y la Liga Norte italiana, ahora le vuelven a pillar a contrapié los

acontecimientos en Crimea, donde toda la comunidad internacional manifiesta que no aceptará

ningún referendo de independencia porque es contrario a la constitución de Ucrania y a las

leyes internacionales, como pasa en Catalunya. Lo que tendría que hacer es reducirse su sueldo

y el de sus 'consellers' a 1.714 euros, ya que tanto les gusta la cifra.

A leitora comenta a falta de apoio político de Artur Mas e as ideias de independência da

Catalunha. O painel é marcado pela presença de três tipos de discurso diferentes. Inicia-se com

um segmento pertencente ao discurso interativo [La mala suerte del señor Artur Mas empieza

a ser preocupante], marcado pela presença do nome próprio (Artur Mas) e do verbo no presente

(empieza), o que identifica uma relação de conjunção entre o conteúdo temático e a situação de

ação linguageira. A partir de [Si el proceso...] até [... Norte Italiana], há uma narração, marcada

pelo uso do verbo no pretérito imperfeito (tenía), pela ausência de unidades que remetem aos

interactantes, ao espaço e o tempo de produção, presença exclusiva de frases declarativas,

densidade verbal e sintagmática média, além de ser monologado e escrito.

Novamente, a partir de [ahora...] até [... Catalunya], retoma-se o discurso interativo,

caracterizado pelo uso de verbos no presente e no futuro simples (vuelven, manifiesta, aceptará,

es, pasa), pelo dêitico de tempo (ahora), pelos dêiticos espaciais (Ucrânia e Catalunya) e pela

anáfora pronomial (le). De [Lo que...] até o final, ocorre o dicurso teórico, marcado pelo uso do

condicional e do presente (tendría, es, les gusta), a ausência de frases não declarativas, a

ausência de unidades que remetem diretamente aos interactantes, ou ao espaço-tempo da

produção, a ausência de nomes próprios e de pronomes e verbos de primeira ou segunda pessoa

do singular ou plural, presença de organizadores lógico argumentativos (lo que, ya que), anáfora

pronominal (les), fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática.

E7

La ITV y las multas - Sábado, 15 de marzo del 2014 Francisco Riera (Barcelona)

Es vergonzoso que Trànsit empezara a multar a usuarios por no haber pasado la ITV, aun

sabiendo que Tráfico no había actualizado sus bases de datos. Me parece correcto que hayan

avisado una primera vez de dicha circunstancia, e incluso una segunda. Lo inaceptable es que

hayan enviado esas denuncias (con multas de 200 euros) sin reclamar a Tráfico que actualizara

la base de datos, en vez de dejar, como decía el director de Trànsit, Joan Josep Isern, que sea

el propio usuario quien se tenga que molestar en reclamar y poner los datos al día. Así, si

cuela, cuela: seguro que alguien habrá pagado la multa por temor a ser embargado.

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O leitor comenta as multas dadas aos motoristas que não passaram pela inspeção

veicular obrigatória na cidade. Praticamente todo o texto é um segmento de narração. A única

exceção é o segmento [Me parece correcto que hayan avisado una primera vez de dicha

circunstancia, e incluso una segunda], que é um relato interativo. Assim, todo o texto pertence

à ordem do contar, ou seja, existe uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a

situação de ação linguageira. As características da narração são: monologado e escrito, presença

de frases declarativas, uso de verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo, pretérito

pluscuamperfecto do indicativo, pretérito perfecto do subjuntivo, presente do subjuntivo e o

futuro perfecto (empezara, había actualizado, hayan enviado, actualizara, sea, habrá pagado), a

ausência de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e segunda pessoa do singular ou do plural,

uma média densidade verbal e sintagmática.

O caráter disjunto implicado do relato interativo é marcado pelo uso do verbo no

pretérito perfecto do subjuntivo (hayan avisado), presença de organizadores temporais (una

primera vez, una segunda), a presença de pronome e verbo na primeira pessoa do singular (me

parece), ausência de frases não declarativas, baixa densidade sintagmática e alta densidade

verbal.

E8

Rusia y los generales - Sábado, 15 de marzo del 2014 Jordi Martín Mateo (Barcelona)

Rusia vuelve a esgrimir, como en épocas zaristas y comunistas, el poderío militar, pero esta

vez pese las ordenanzas de paz mundiales que se comprometió a respetar. Al actual mandatario

ruso no le ha sentado nada bien que buena parte de la población ucraniana tenga interés en

Europa, la cual al menos no es tan autoritaria como buena parte de los presidentes que ha

tenido que aguantar este país tan rico, por cierto, en recursos naturales. Cuando quieres vencer

a un enemigo, debes buscar su debilidad y explotarla. Tranquila y silenciada durante tanto

tiempo, la parte rusa de Ucrania se revuelve contra un Gobierno que le desagrada. Rusia la

apoya sin reparos. Pero, pese a su formación y cultura, más de la mitad de la población rusa

continúa en su lucha por sobrevivir a la pobreza. Ahora ¿otra aventura militar? Pues sí. Bajo

la recién colocada máscara de país emergente, sigue prefiriendo la opinión de los generales.

Neste painel, o leitor comenta a posição da Rússia em relação à Criméia. A

predominância é de discurso teórico, mas também ocorrem a narração e o discurso interativo.

Primeiro, iniciando em [Rusia vuelve...] até [... paz mundiales], depois de [Al actual...] até [...

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la pobreza] e, por último, de [Pues...] até o final, ocorre o expor autônomo, marcado pelo uso

de verbos no presente e pretérito perfecto do indicativo (vuelve, ha sentado, es, ha tenido,

quieres, debes, se revulve, desagrada, apoya, continúa, sigue), a ausência de unidades que

remetem aos interactantes, ou ao espaço-tempo de produção, a ausência de nomes próprios e de

pronomes, verbos e adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular ou do plural, a presença

de organizadores lógico-argumentativos (pero, esta vez, por cierto, cuando, bajo), presença das

anáforas pronominais (le, la), uma baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática.

O segmento [... que se comprometió a respetar] é caracterizado como narração por

possuir o verbo no pretérito indefinido (comprometió), ou seja, uma disjunção entre o mundo

da interação e o mundo ordinário e a ausência de promones, adjetivos e verbos que remetem

diretamente ao agente produtor do texto ou a seus destinatários, além de ser monologado e

escrito. No final do painel encontra-se a interrogação [Ahora, ¿outra aventura militar?],

apresentando um expor implicado, ou seja, um discurso interativo caracterizado pela presença

de frases não declarativas (interrogativa) e a presença do dêitico de tempo (ahora).

E9

"Con la receta electrónica, pagamos justos por pecadores" - Sábado, 15 de marzo del 2014

Ramon Masagué (Barcelona)

Como enfermo crónico que necesita cada mes sus pastillas, la receta electrónica me parece

demasiado ajustada. Prevé dosis para 30 días y, como pierdas la caja o el pastillero o se te

acaben en fin de semana, estás perdido. Antes, si te sucedía esto, podías pedir a tu médico de

cabecera una receta extra. Ahora, solo si el especialista te aumenta o baja la dosis te pueden

ajustar la receta electrónica, pero como se te haya perdido una caja de medicamentos o los

necesites con urgencia, te las tienes que ver con el farmacéutico. Ahora vendrá Semana Santa

y después el verano. Si me voy fuera por vacaciones, tendría que pedir todos los medicamentos

por adelantado y tardaría días en tenerlos, porque algunos son difíciles de encontrar, pero si

sucede un imprevisto ¿qué puedo hacer? Los enfermos crónicos gastamos lo justo, pero por

cuatro desalmados que gastaban a lo bestia, pagamos justos por pecadores.

No painel E9, o leitor critica o uso da receita eletrônica por regular as doses que podem

ser prescritas pelos médicos. O texto possui predominantemente dois tipos de discurso

diferentes, sendo os dois implicados: o discurso interativo e o relato interativo, porém recortado

por um segmento de narração. O início do texto [Como enfermo…] até [… demasiado ajustada]

é da ordem do expor implicado, sendo identificado pelo uso de verbos no presente (necesita,

53

me parece) e a presença de verbo e pronome na primeira pessoa do singular (me parece); depois,

a partir de [Prevé…] até [… receta extra] mudamos para um contar implicado, ou seja, as

coordenadas do mundo discursivo estão distantes das coordenadas do mundo ordinário. As

características encontradas do relato interativo são: o uso de verbos no imperativo, no presente

do subjuntivo e pretérito imperfecto (prevé, pierdas, acaben, sucedía, podías), a presença do

organizador temporal (antes), a presença de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa

do singular (pierdas, te, estás, podías, tu), uma alta densidade verbal e mais baixa densidade

sintagmática.

Novamente, a partir de [Ahora,…] até [… la receta electrónica], retornarmos ao expor

implicado marcado pelo uso de verbos no presente (aumenta, baja, pueden), pela presença do

pronome de segunda pessoa do singular (te) e a presença de unidades que remetem a objetos

acessíveis, ao espaço ou ao tempo (ahora). O segmento que inicia em [pero…] e finaliza em

[…tenerlos] retorna a ordem do contar implicado sendo marcado pelos verbos no pretérito

perfecto do subjuntivo, presente do subjuntivo, futuro simples do indicativo e o condicional

(haya perdido, necesites, tienes, vendrá, tendría, tardaría), a presença dos organizadores

temporais (ahora, después), a presença de verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do

singular (te, necesites, tienes, me, voy, tendría), anáforas pronominais (los, las), elevada

densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

No final do painel, ocorre mais uma vez o discurso interativo, ou seja, um expor

implicado, as coordenadas do mundo discursivo são conjuntas com as coordenadadas do mundo

ordinário. Entre [porque algunos…] até […gastamos lo justo], e depois o final [pagamos justos

por pecadores] temos o discurso interativo com as seguintes características: verbos no presente

(son, sucede, puedo, gastamos, pagamos), frases não declarativas (¿qué puedo hacer?), presença

de verbos de primeira pessoa do singular e do plural (puedo, gastamos, pagamos), alta

densidade verbal e baixa densidade sintagmática. O segmento […pero por cuatro desalmados

que gastaban a lo bestia…] que recorta o discurso interativo é uma narração, pois apresenta um

verbo no pretérito imperfecto (gastaban) e não possui pronomes, adjetivos e verbos de primeira

e de segunda pessoa do singular ou do plural que remetam diretamente aos interactantes, além

de ser monologado e escrito.

E10

La estafeta de correos de la plaza Repartidor es patrimonio de L'Hospitalet - Domingo,

16 de marzo del 2014 Roger Bastida (L'Hospitalet del Llobregat)

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La estafeta de Correos de L'Hospitalet de Llobregat (en la plaza del Repartidor) es un edificio

catalogado como bien cultural de interés local. Inaugurado en 1927, fue el primer edificio de

Correos de la ciudad. Es obra de Ramon Puig i Gairalt, uno de los arquitectos del Noucentisme

de más renombre en Catalunya. Este edificio se encuentra en unas condiciones lamentables.

La torre principal presenta antenas de televisión fijadas chapuceramente con alambres, el

óculo del antiguo reloj (hoy desaparecido) está tapiado con tablones de madera, las paredes

han perdido la decoración noucentista pintada, el buzón de hierro en forma de cabeza de león

ya no está. Todo el conjunto presenta un aspecto de dejadez importante. Es un edificio

protegido, obra de uno de los arquitectos de más prestigio de su generación, y se encuentra en

un estado ciertamente preocupante. El edificio de Correos lleva 87 años degradándose; ha

estado, como mínimo, tres décadas sin recibir ni una sola capa de pintura en la fachada, y ni

la empresa de Correos ni ningún gobierno municipal han hecho nada para poner remedio a su

deterioro. ¿Cuáles son las intenciones del ayuntamiento en relación con este edificio protegido,

ahora que Correos se ha trasladado a otro local? ¿Por qué la empresa de Correos no ha tenido

ningún tipo de esmero con su primera sede a la ciudad? ¿Cuándo piensan restaurar, siguiendo

criterios históricos, este edificio?

O leitor denuncia a situação degradante do prédio dos Correios mesmo sendo um

patrimônio catalogado como bem cultural de interesse local. O painel possui três tipos de

discurso diferentes: o discurso teórico, a narração e o discurso interativo.

A partir de [La estafeta…] até [… interés local] e novamente de [Es obra de..] até [… a

su deterioro], há expor autônomo. As características encontradas são: uso de verbos no presente

e pretérito perfecto que marcam a relação de conjunção entre o mundo discursivo e o mundo

ordinário (es, se encuentra, presenta, está, han perdido, lleva, ha estado, han hecho), a ausência

de unidades que rementem aos interactantes, a ausência de pronomes e adjetivos de primeira e

segunda pessoa do singular ou do plural, uma fraca densidade verbal e alta densidade

sintagmática.

Já o segmento [Inaugurado en 1927, fue el primer edificio de Correos de la ciudad]

pertence a ordem do contar, também autônomo, pois, apresenta verbo no pretérito indefinido

(fue) que marca a relação de disjunção entre as coordenadas do mundo discursivo e do mundo

ordinário, a presença do organizador temporal (Inaugurado en 1927), ausência de pronomes e

adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural que remetem aos interactantes,

é monologado e escrito, e possui densidade verbal e sintagmática média.

55

Por último, aparece uma série de perguntas [¿Cuáles son…] até […este edificio?], que

marcam uma relação de interação entre o agente/produtor do texto e os seus destinatários, sendo

assim, da ordem do expor implicado. Além das frases não declarativas, outras características

encontradas são: verbos no presente e pretérito perfecto do indicativo (son, ha trasladado, ha

tenido, piesan), presença de unidades que remetem a objetos acessíves, ao espaço ou tempo

(ahora, Correos), alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

E11

España y sus múltiples crisis - Domingo, 16 de marzo del 2014 Ramon Novell

(Esparreguera)

En los países capitalistas, cada cierto tiempo se produce una crisis económica, controlada por

unos pocos por no decir provocada. Pero en el nuestro existen además otras dos crisis mucho

más graves: la política y de los políticos, progenitores en buena parte de la económica, y la de

la justicia. Leyes obsoletas, nefastas, arcaicas; un sistema judicial lentísimo y perezoso en el

que los procesos llegan a caer el olvido. Los casos más graves de corrupción, malversación de

fondos públicos, fuga de capitales, ERE fraudulentos… son castigados con penas leves tras

procesos interminables; los capitales nunca vuelven, y cuando aparece un juez justo y con

agallas profesionales, se le aparta del caso.

O leitor aponta a política e os políticos como responsáveis pela crise econômica vivida

na Espanha. O painel possui dois tipos de discurso diferentes: o discurso teórico e o discurso

interativo.

Todo o painel pertence a ordem do expor, porém em determinados momentos temos as

marcas das condições de produção do texto (implicação) e, em outros momentos, não

(autonomia).

Do início do painel [En los países… no decir provocada] e a partir de [Leyes

obsoletas…] até o final [… se le apartan do caso], há expor autônomo. As características

encontradas são: uso de verbos no presente do indicativo que marcam a relação de conjunção

entre o mundo ordinário e o mundo discursivo (se produce, llegan, son, vuelven, aparece,

aparta), ausência de unidades que rementem aos interactantes ou ao espaço-tempo de produção,

ausência de frases não declarativas, existência de organizadores textuais com valor lógico-

argumentativo (cada cierto tiempo, tras), presença de anáforas pronominais (se le), fraca

densidade verbal e alta densidade sintagmática.

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O painel é recortado por um segmento de discurso interativo [Pero en el nuestro... y de

la justicia]. Os tipos linguísticos identificados são: verbos no presente do indicativo (existen),

presença de pronome de primeira pessoa do plural (nuestro), anáfora pronominal (la), elevada

densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

E12

“No es el momento para gastas millones en una consulta” - Domingo, 16 de marzo del

2014 Rakel Calle (El Vendrell)

Me indigna leer que cada vez hay más madres desnutridas que no pueden alimentar a sus bebés,

por no hablar de madres o padres que dejan de comer para alimentar a sus hijos o de quien

rebusca en los contenedores. Por mucho que volvamos la cara, el drama está aquí, en este país,

Catalunya o España, qué más da. No es momento de gastar millones en una consulta.

A leitora aponta os problemas socias do país, argumentando que o dinheiro que seria

gasto em um referendo poderia ser gasto na solução desses problemas. Todo o painel pertence

a ordem do expor implicado, ou seja, é um discurso interativo.

Os tipos linguísticos identificados são: verbos no presente do indicativo (indigna, hay,

pueden, dejan, rebusca, volvamos, está, es), presença de verbos e pronomes de primeira pessoa

do singular e do plural (me, volvamos), unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis,

ao espaço e ao tempo (aqui, este país), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

E13

“Después de la independencia, elecciones urgentes” - Domingo, 16 de marzo del 2014

Teresa Baldiz (Arenys de Mar)

¿Qué sentido tiene que CDC haga público su proyecto político para una futura Catalunya

independiente?¿Quién les ha dicho que en caso de que la independencia llegue a hacerse

realidad serán ellos los que gobiernen? Lo primero será celebrar elecciones urgentes para

formar el Gobierno de ese nuevo estado... ¿Verdad?

A leitora critica a iniciativa do partido político de Catalunha em apresentar seu projeto

político, quando no caso de independência da comunidade autônoma, o primeiro a se fazer são

eleições. O painel E13 possui dois tipos de discurso diferentes: o discurso interativo e o relato

interativo.

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Do início do painel [¿Qué sentido…] até [...¿Quién les ha dicho que...], além do

questionamento final [¿Verdad?], há expor implicado. As características encontradas são:

presença de unidades que remetem a interação verbal (¿Verdad?), presença de frases não

declarativas, uso de verbos no presente do indicativo e pretérito perfecto compuesto do

indicativo que marcam a relação de conjunção entre o mundo ordinário e o mundo discursivo

(tiene, ha dicho), unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo

(CDC, Catalunya), presença de anáfora pronominal (les), elevada densidade verbal e baixa

densidade sintagmática.

A partir de [en caso de que…] até […ese nuevo estado…] temos um narrar implicado,

ou seja, um relato interativo. Os tipos linguísticos que marcam essa relação de disjunção entre

o mundo ordinário e o mundo discursivo são: ausência de frases não declarativas, verbos no

presente do subjuntivo e no futuro simples (llegue, serán, será), presença de anáfora pronominal

(los), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática.

E14

Bicing: aumento de la reposición de bicis en temporada alta - Lunes, 17 de marzo del 2014

- Enric Domingo (Jefe de Comunicació de Barcelona Serveis Municipals)

En respuesta a la carta de Marta Compte publicada el 2 de marzo, queremos señalar que la

estación 22 del Bicing se encuentra en una zona de uso muy intenso del servicio, lo que conlleva

que en pocos minutos los usuarios hagan uso de todas las bicicletas disponibles. Su ubicación

en la parte alta de la ciudad hace que la reposición se lleve a cabo a través de las furgonetas

del servicio y que pocos usuarios dejen bicicletas allí. El próximo 17 de marzo, como es

habitual en el inicio de la temporada alta, reforzaremos el servicio nocturno de reposición de

bicicletas y, por tanto, debería percibirse una mejora en su disponibilidad.

O leitor responde a uma carta publicada no jornal anteriormente explicando a falta de

bicicletas para uso da população na alta temporada. O painel E14 possui dois tipos de discurso

diferentes: discurso interativo e relato interativo.

Do início do painel [En respuesta...] até [...lo que conlleva] e também no segmento

[...como es habitual en el inicio de la temporada alta...], o leitor expõe o fato e coloca as marcas

das condições de produção e do texto. Os tipos linguísticos identificados são: presença de

unidades que remetem à interação verbal (En respuesta a la carta de Marta Compte...), verbos

no presente (queremos, encuentra, conlleva, es), existência de unidades linguísticas que

remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo (2 de marzo, estación 22 del Bicing, en el

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inicio de la temporada alta), presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e

segunda pessoa do singular e plural (Marta Compte, queremos), elevada densidade verbal e

baixa densidade sintagmática.

A partir de [...que en pocos minutos...] até [...17 de marzo...], e depois de

[...reforzaremos...] até o final do painel, as coordenadas do mundo ordinário passam a ser

disjuntas ao mundo discursivo, passamos a ordem do contar implicado. As marcas do relato

interativo identificadas são: ausência de frases não declarativas, verbos no subjuntivo (hagan,

lleve, dejen), no futuro simples (reforzaremos) e no condicional (debería), existência de

organizadores temporais (en pocos minutos, el próximo 17 de marzo), presença de verbo de

primeira pessoa do plural (reforzaremos), densidade verbal elevada e baixa densidade

sintagmática.

E15

Señales innecesarias - Lunes, 17 de marzo del 2014 Adam Macià (Manlleu)

Últimamente están cambiando y se están añadiendo algunas señales en varias carreteras de

Osona. Está bien cuando es para mejorar la seguridad en las carreteras, sustituir las señales

en mal estado o actualizar las que son orientativas, pero en el caso de algunas de las que han

cambiado no era necesario, porque las que había aún estaban en buen estado. Incluso en

algunos casos hacía poco que se habían sustituido, como las de las rotondas del polígono

industrial Malolles de Vic. Además se han vuelto a cometer errores, como poner señales (hace

poco las han tapado) que indican cómo ir a Olot por la antigua carretera Vic-Olot (C-153),

que atraviesa el polígono, al mismo tiempo que quitan otras viejas. Nadie se aclara sobre cómo

indicar para ir a Olot.

O leitor critica a mudança desnecessária de placas e semáforos em várias ruas de Osona

. O painel possui dois tipos de discurso diferentes: o discurso teórico e a narração.

Do início do painel [Últimamente...] até [...no era necesario...], e novamente de

[...Además...] até o final do painel, temos a ordem do expor autônomo. Os tipos linguísticos

identificados são: ausência de frases não declarativas, verbos no gerúndio, presente e no

pretérito perfeito composto (están cambiando, están añadiendo, está, es, han cambiado, han

vuelto, han tapado, indican, atriviesa, quitan, aclara), existência de organizadores textuais com

valor lógico-argumentativo (últimamente, pero, además, hace poco), presença de anáforas

pronominais (las), fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática.

59

O segmento que inicia em [...porque...] até [...Malolles de Vic…] temos um narrar

autônomo. As características são: é monologado e escrito, presença exclusiva de frases

declarativas, verbos no pretérito imperfeito (había, estaban, hacían), presença de organizadores

temporais (hacía poco), ausência de pronomes de primeira e de segunda pessoa do singular e

do plural, anáforas pronominais (las), média densidade verbal e média densidade sintagmática.

A seguir resumiremos os resultados das análises de cada painel e tipos de discurso, assim

como os tipos linguísticos de cada um.

Discurso interativo E

1

E

2

E

4

E

5

E

6

E

8

E

9

E

10

E

11

E

12

E

13

E

14

Presença de unidades que

remetem a interação; + + + - - - + + + + + +

Frases não declarativas; - - - + - + + + - - + -

Verbos no presente,

pretérito perfeito e futuro

perifrástico;

+ + + + + + + + + + + +

Unidades linguísticas que

remetem a objetos

acessíveis, ao espaço e ao

tempo;

+ + + + + + + + - + + +

Presença de nomes próprios,

verbos e pronomes de

primeira e segunda pessoa

do singular e plural;

+ + + + + - + - + + + +

Anáforas pronominais; + + - + + - - - + + + -

Densidade verbal elevada; + + + + + + + + + + + +

Densidade sintagmática

baixa. + + + + + + + + + + + +

Quadro 05: Tipos linguísticos do discurso interativo nos painéis em língua espanhola.

Discurso teórico E1 E5 E6 E8 E

10

E

11

E

15

60

Ausência de frases não declarativas; + + + + + + +

Verbos no presente e pretérito perfeito

composto; + + + + + + +

Ausência de unidades que remetem aos

interactantes ou ao espaço-tempo de produção; + + + + + + +

Organizadores textuais com valor lógico-

argumentativo; + + + + - + +

Frases passivas; - - - - - - -

Modalizações lógicas e do auxiliar de modo

“poder”; - - - - - - -

Anáforas pronominais e nominais; - + + + - + +

Densidade verbal fraca; + + + + + + +

Densidade sintagmática elevada. + + + + + + +

Quadro 06: Tipos linguísticos do discurso teórico nos painéis em língua espanhola.

Relato interativo E2 E3 E4 E7 E9 E

13

E

14

Ausência de frases não declarativas; + + + + - + +

Verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-

que-perfeito, futuro simples e condicional; + + + + + + +

Existência de organizadores temporais; + + + + + - +

Presença de pronomes, adjetivos e verbos de

primeira e segunda pessoa do singular e do

plural;

- + + + + + +

Dominância de anáforas pronominais; - + + - - + -

Densidade verbal elevada; + + + + + + +

Densidade sintagmática fraca. + + + + + + +

Quadro 07: Tipos linguísticos do relato interativo nos painéis em língua espanhola.

Narração E3 E6 E7 E8 E9 E

10

E

15

Monologado e escrito; + + + + + + +

61

Presença exclusiva de frases declarativas; + + + + + + +

Verbos predominantemente no pretérito

perfeito e imperfeito; + + + + + + +

Organizadores temporais - - - - - + +

Ausência de pronomes e verbos de primeira e

segunda pessoa do singular e do plural; + + + + + + +

Anáforas pronominais e nominais; - - - - - - +

Densidade verbal média; + + + + + + +

Densidade sintagmática média. + + + + + + +

Quadro 08: Tipos linguísticos da narração nos painéis em língua espanhola.

Como percebemos, no corpus em espanhol, quase todos os painéis possuem mais de um

tipo discursivo, com exceção do painel E12, sendo o discurso interativo predominante, pois

aparece em doze dos quinze painéis. A combinação de discurso interativo e discurso teórico

aparece em três textos (E1, E5 e E11), marcando a ordem do expor, portanto, as coordenadas

do conteúdo temático são conjuntas com a situação de ação linguageira. Mas, em determinados

momentos, o leitor imprime as marcas de implicação da situação e dos interlocutores no texto,

enquanto que em outros, ocorre a ausência dessa implicação. Os recursos linguísticos utilizados

nesses painéis são: verbos no presente, pretérito perfecto compuesto do indicativo e no

condicional, presença ou ausência de unidades que remetem ao espaço e tempo de produção,

marcadores lógico-argumentativos, presença ou ausência de verbos e pronomes na primeira e

segunda pessoa do singular e do plural, anáforas pronominais e frases não declarativas.

Notamos que no discurso teórico não aparecem as frases passivas e modalizações com o verbo

poder.

Os tipos da ordem do narrar, relato interativo e narração, também não aparecem

exclusivos nos painéis. O relato interativo aparece em sete textos (E2, E3, E4, E7, E9, E13 e

E14) e a narração aparece em sete (E3, E6, E7, E8, E9, E10, E15). A combinação relato

interativo e discurso interativo aparece em quatro textos (E2, E4, E13 e E14), em outros dois

textos (E3 e E7) há o relato interativo junto com a narração (N). O painel (E15) é marcado pelo

uso da narração junto com o discurso teórico. Em três painéis aparece a combinação de três

tipos de discurso diferentes, discurso teórico, narração e discurso interativo (E6, E8 e E10) e

discurso interativo, relato Interativo e narração (E9). Os tipos linguísticos da ordem do expor

permanecem os mesmos, enquanto que na ordem do contar implicado, há verbos no pretérito

62

indefinido, no presente do subjuntivo, no condicional, no pretérito imperfeito do subjuntivo, no

pretérito pluscuamperfecto do indicativo, no pretérito perfecto do subjuntivo, no presente do

subjuntivo e o no futuro do perfecto; presença ou ausência de pronomes e verbos na primeira e

segunda pessoa do singular ou do plural, ausência de frases não declarativas, densidade verbal

elevada e sintagmática baixa na ordem do contar implicado e densidades verbal e sintagmática

média no contar autônomo. Nos segmentos identificados como narração visualizamos pocos

organizadores temporais e uma quantidade menor de anáforas pronominais.

Os tipos da ordem do narrar apresentam fatos que não fazem parte do mundo ordinário

do momento da interação, sendo por isso, utilizados como apoio na formulação do comentário

do leitor, como apoio à opinião dos leitores, mas também apresenta situações que os leitores

gostariam que fossem diferentes da realidade.

4.3.3. Comparação entre português e espanhol

No que diz respeito à comparação da análise dos painéis nas duas línguas, nossa primeira

observação é a maior diversidade de tipos de discurso encontrada nos textos em língua

espanhola. Em três painéis do jornal Folha de São Paulo, encontramos apenas um tipo de

discurso (P1, P7 e P11), o discurso interativo. Em quase todas “las cartas de lectores” do jornal

“El periódico de Catalunya” existem ao menos dois tipos de discurso diferentes, a única exceção

é o painel E12. Podemos inferir que em espanhol o processo de construção do ponto de vista

dos leitores envolve um maior movimento entre os mundos discursivos e as instâncias de

agentividade.

Apesar de nas duas línguas o discurso interativo ser predominante, nas “cartas de los

lectores” verificamos que os leitores combinam os tipos da ordem do contar e do expor com

mais frequência. Em determinados momentos o produtor do texto coloca as coordenadas que

organizam o conteúdo temático conjuntas as coordenadas do mundo ordinário, e em outros

momentos impõe um distanciamento. Da mesma forma, em determinados pontos identificamos

as condições de produção do texto, e em outros não. Nos painéis dos leitores do jornal Folha de

São Paulo a presença de segmentos da ordem do contar é menor, sendo assim, nos comentários

dos leitores em língua portuguesa predominam o expor, às vezes autônomo, às vezes implicado.

Sobre os tipos linguísticos encontrados trataremos primeiro os tipos da ordem do expor

(implicado e autônomo). No corpus em português a predominância é do uso de verbos no

presente do indicativo, enquanto que no corpus em espanhol identificamos o uso além do

63

presente do indicativo, do pretérito perfecto compuesto. O uso do pretérito perfecto compuesto

da língua espanhola não corresponde ao uso do pretérito perfeito do português.

Em português o pretérito perfeito indica uma ação iniciada e acabada no passado

(Castilho 2010), já em espanhol, esse tempo verbal se refere a fatos passados, mas que possuem

relação com o presente do agente/produtor do texto. Inclusive, em alguns casos, pode ser usado

também com referência a um futuro, como no exemplo: “En un minuto he acabado” (Torrego,

2002). Em português, para essa mesma frase utilizaríamos o presente, ou o futuro perifrástico:

Em um minuto acabo/ Em um minuto vou acabar.

Dessa forma, o pretérito perfecto em espanhol apesar de tratar de fatos iniciados no

passado, aparentemente do mundo do contar, aproxima esses fatos e suas consequências ao

momento presente da interação, ou seja, da ordem do expor. Outros recursos linguísticos que

encontramos em ambas as línguas foram dêiticos de tempo e lugar, presença ou ausência de

frases não declarativas, presença (no expor implicado) ou ausência (no expor autônomo) de

nomes próprios, pronomes e verbos na primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural, e

anáforas pronominais e organizadores lógico-argumentativos em número maior no corpus em

espanhol. Não encontramos frases passivas e modalizações lógicas nos painéis nos dois

idiomas.

Quando verificamos os tipos da ordem do narrar (implicado e autônomo) percebemos

que eles são utilizados bem mais em língua espanhola, do que em língua portuguesa. Porém,

mais uma vez, a forte diferença entre as duas línguas acontece através dos verbos. Nos painéis

em português existe uma predominância no uso de verbos no pretérito perfeito e imperfeito do

indicativo, enquanto que em espanhol a diversidade é bem mais ampla, incluindo outros

pretéritos como o indefinido, o imperfecto e o pluscuamperfecto, e até outros modos como o

subjuntivo.

Quando usamos o pretérito indefinido no espanhol queremos falar de ações iniciadas e

acabadas no passado, da ordem do contar. Expressa a anterioridade do fato ao momento da

interação, seria correspondente ao pretérito perfeito no português. O pretérito imperfecto em

espanhol e em português tem os mesmos usos, expressa uma ação inacabada, durativa, mas

anterior ao momento da produção textual, por isso, da ordem do contar (Gómez, 2007).

O uso do subjuntivo também caracteriza a ordem do contar, pois, expressa

possibilidades, desejos, ações que poderiam acontecer, assim como no caso do condicional e

do futuro, algo que aconteceria ou acontecerá. Um exemplo dessa ideia de possibilidade

retiramos de uma das três cartas do tipo relato interativo: “Esas tres medidas ayudarían mucho

al señor Mas a superar su desnudez ante la pobreza.”

64

Os outros recursos linguísticos da ordem do contar são idênticos nos dois idiomas:

presença de frases declarativas, presença (narrar implicado) ou ausência (no narrar autônomo)

de pronomes e verbos na primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural. Em relação aos

organizadores temporais e as anáforas pronominais, percebemos que a frequência é bem maior

nos painéis em espanhol.

65

5. CONCLUSÃO

O presente trabalho procurou identificar os tipos de discurso existentes em determinado

gênero de texto, no caso o painel do leitor, assim como os tipos linguísticos ou recursos

linguísticos que materializam os tipos de discurso nas duas línguas naturais escolhidas:

português e espanhol. Entendemos juntamente com Miranda (2008, p. 98) que “os tipos de

discurso são elementos constituintes (ou, ainda, constitutivos) dos géneros e, portanto, os

géneros mobilizam necessariamente os tipos de discurso”.

Contudo, não percebemos uma estabilização tão fechada de determinado tipo de

discurso no gênero painel do leitor. Talvez por se tratar de um gênero que permite ao produtor

do texto certa flexibilização no plano global do conteúdo temático, diferentemente de gêneros

como a receita, a bula de remédio ou o atestado de óbito, gêneros de texto bem mais

estabilizados em suas formas, o painel do leitor tanto em português, quanto em espanhol

apresenta os quatro tipos de discurso propostos por Bronckart (2012).

Quando passamos a identificação dos recursos linguísticos característicos de cada um

dos tipos de discurso percebemos uma variedade bem maior de ocorrências nos painéis em

língua espanhola, especialmente no uso dos tempos e modos verbais. Nos painéis em português

da ordem do expor há predominância no uso de verbos no presente do indicativo, e na ordem

do narrar verbos no pretérito perfeito e imperfeito. Já nos painéis em língua espanhola

identificamos na ordem do expor o uso de verbos no presente do indicativo, mas também verbos

no pretérito perfecto compuesto, e na ordem do narrar verbos no pretérito indefinido que

corresponderia ao pretérito perfeito do português, pretérito imperfeito, pluscuamperfecto, que

seria o mais-que-perfeito do português, além do condicional e do subjuntivo.

Sobre as marcas de implicação do agente/produtor no texto entendemos que são em

geral as mesmas nas duas línguas. Nos painéis implicados identificamos a presença de

pronomes e verbos na primeira ou segunda pessoa do singular ou plural, presença de nomes

próprios e o uso de elementos que remetem as condições de produção do texto, como os dêiticos

de tempo e lugar. Nos painéis autônomos, identificamos o uso de organizadores com valor

lógico-argumentativo e a ausência de unidades que remetem a interação verbal e as condições

de produção do texto.

Apesar de nosso objetivo ser apenas identificar os tipos de discurso e os recursos

linguísticos que materializam esses tipos nas duas línguas naturais escolhidas, pelos resultados

encontrados verificamos que a variação existente nas duas línguas acontece por meio dos

verbos, que em espanhol aparecem em maior quantidade em outros tempos e modos verbais.

66

Esse dado pode ser um indicador de que esse tipo linguístico é determinado mais pelo sistema

da língua natural do que pelos tipos de discurso e pelo gênero de texto.

67

Referências

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Paulo: Cortez, 2008.

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