UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO BIOMÉDICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MICROBIOLOGIA E
PARASITOLOGIA APLICADAS
THAÍS BRASIL SILVEIRA
PERFIL DE CRESCIMENTO DE GENOMOESPÉCIES DE LEPTOSPIRA spp.
EM DIFERENTES MEIOS DE CULTURA
Niterói, RJ
2018
THAÍS BRASIL SILVEIRA
PERFIL DE CRESCIMENTO DE GENOMOESPÉCIES DE LEPTOSPIRA spp.
EM DIFERENTES MEIOS DE CULTURA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas do Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Bacteriologia
Orientador: Prof. Dr. Walter Lilenbaum Coorientador: Profa. Dra. Ana Paula Loureiro de Almeida
Niterói, RJ
2018
À memória de meu pai, Nilton.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a minha mãe, Claudia, por absolutamente tudo.
Por não me deixar desistir em um dos momentos mais difíceis da minha vida.
Por torcer, celebrar, incentivar, apoiar, suportar e se dedicar à mim durante meu
desenvolvimento pessoal e profissional. Essa dissertação é sua mãe. Muito
obrigada!
Agradeço a meu pai, Nilton (in memorian). Tua palavra, tua história. Tua
verdade fazendo escola. Só enquanto eu respirar, vou lembrar de você. Muito
obrigada pai...
Agradeço a minha irmã, Ana Carolina. Você continua sendo meu modelo,
inspiração e eu continuo tentanto fazer você se orgulhar de mim. Obrigada minha
irmã!
Agradeço meu orientador, Walter. Por me conceder essa grande
oportunidade, pelo precioso conhecimento dividido comigo e por esperar sempre
excelência de mim. Minha jornada se inicia agora e eu serei sempre grata.
Agradeço a minha Co-orientadora Ana Paula. Obrigada por toda a
dedicação que teve comigo, pela paciência durante esse processo, por toda
ajuda pessoal e profissional e, principalmente, pela amizade. Muito obrigada!
Agradeço a toda equipe LaBV. Vocês foram essenciais durante toda essa
jornada. Foram meus amigos, meus pais e mães durante as diversas
dificuldades, meus irmãos durante a boêmia, foram meus professores de
Microbiologia, Estatística, Clínica e todas as outras tantas disciplinas... Com
vocês esses dois anos foram leves. Muito obrigada Ana, Gabriel, Lauren, Anahí,
Priscila, Cristina, Ricardo, Bruno R., Hugo, Bruno C. e Lucas.
Agradeço ao professor Rodolpho de Almeida Torres Filho e ao colega
Túlio José de Freitas Goes, pela excelente contribuição quanto as avaliações
estatísticas. Assim como os ensinamentos compartilhados, que permitiram a
finalização do presente estudo.
Agradeço a todos os meus professores da Universidade Federal do Acre,
principalmente aos professores Yuri Karaccas, Luciana Medeiros, Tamyres
Izarelly e Soraia Figueiredo. Entrar na Pós-Graduação e seguir a carreira
acadêmica é um desejo cultivado após o convivio com vocês. Eu me espelho em
cada um durante essa jornada.
Agradeço as minhas amigas. Cultivadas em uma terra longínqua, mas não
desconhecida. Obrigada pela paciência durante todo esse tempo. Por não
desistirem de mim, apesar da distância, da dificuldade de comunicação, pelos
dias sem conversas, pelos finais de semanas preenchidos por ausência, pelos
aniversários em que não estive presente, nos dias em que a tristeza e a
felicidade preencheram e eu não pude compartilhar. Obrigada meninas, Daniela
e Tainá.
RESUMO
Apesar de ser considerado padrão-ouro para o diagnóstico de
leptospirose, o isolamento do agente a partir de amostras clínicas ainda é um
desafio. A construção da curva de crescimento de uma população permite
compreender a dinâmica populacional, seu tempo de geração e o número
máximo de micro-organismos, entretanto poucos são os estudos atuais que
abordam o desenvolvimento de novas técnicas de isolamento de leptospiras e
meios de cultivo. O presente estudo buscou determinar o perfil de crescimento
das espécies Leptospira interrogans (sorogrupos Icterohaemorrhagiae e Sejroe),
L. santarosai, L. borgpetersenii e L. noguchii nos meios de cultura EMHJ,
T80/40LH e Fletcher, com e sem a adição de 10% de Soro de Coelho, 1% de
Albumina Bovina ou 0,1% de Piruvato de Sódio. Foi avaliada ainda a capacidade
dessas estirpes se desenvolverem nestes meios de cultura com a adição dos
coquetéis antimicrobianos STAFF, A5 e CH; a combinação resultou em 32 meios
de cultura a serem avaliados. A avaliação foi feita por contagem manual em
câmara de Neubauer a cada 48 horas. Foi identificado que L. interrogans, L.
noguchii e L. santarosai, apresentam crescimento satisfatório em meio EMJH,
com exceção de L. borgpetersenii a qual desenvolveu-se somente em meio
T80/40LH. A adição de qualquer tipo de composto de enriquecimento não
apresentou aumento significativo no crescimento daquelas espécies. Os
coquetéis STAFF e A5 apresentaram resultados similares e garantiram um
crescimento equivalente ao dos meios-base sem a observação do crescimento
de outros micro-organismos contaminantes. Já o coquetel CHID inibiu o
crescimento de todas as espécies quando adicionado a qualquer um dos meios
avaliados. Conclui-se que o meio de cultura EMJH se mostrou mais eficiente
para o crescimento das espécies L. interrogans, L. noguchii e L. santarosai, mas
não para L. borgpetersenii. Para esta espécie, o meio-base T80/40/LH se
mostrou o mais eficiente.
Palavras-chave: Leptospiras; Curva de crescimento; Meio de cultura.
ABSTRACT
Although it is considered gold standard for diagnosis of leptospirosis,
isolation of the agent from clinical specimens is still a challenge. The construction
of the growth curve of a population allows the understanding of population
dynamics, its generation time and the maximum number of microorganisms.
However there are few recent studies that approach the development of new
isolation techniques for leptospires and culture media. The present study aimed
to determine the growth profile of L. interrogans (serogroup Icterohaemorrhagiae
and Sejroe), L. santarosai, L. borgpetersenii and L. noguchii in the culture media
EMJH, T80/40LH and Fletcher, with and without the addition of 10% Rabbit
Serum, 1% Bovine Albumin or 0.1% Sodium Pyruvate. Ability to grow in these
culture media was also evaluated with addition of antimicrobial cocktails STAFF,
A5 and CH; combination resulted in 32 culture media being evaluated. Evaluation
was done by manual counting in Neubauer chamber every 48 hours. It was
identified that L. interrogans, L. noguchii e L. santarosai presented satisfactory
growth in EMJH medium, except for L. borgpetersenii which was developed only
in T80/40LH media. Addition of any type of enrichment compound did not show
significant increase in growth of these species. STAFF and A5 cocktails
presented similar results and ensured a growth equal to that of the base media
without observing the growth of other contaminating microorganisms. The CHID
cocktail inhibited the growth of all species when added to any of the evaluated
media. We conclude that the EMJH culture medium was more efficient for the
growth of L. interrogans, L. noguchii and L. santarosai, but not for L.
borgpetersenii. For this specie, the T80/40/LH base medium was the most
efficient.
Keywords: Leptospira; Growth curve; Culture medium.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig. 1 Esquema representativo dos 32 diferentes meios de cultura
testados, incluindo meios-base (Fletcher, EMJH e T80/40LH);
aditivos de enriquecimento (Soro de Coelho [SORO], Albumina
Bovina [BSA] e Piruvato de Sódio [PIR]) e coquetéis antimicrobianos
(STAFF, A5 e CHID). *SORO e PIR já estão inclusos na composição
base de T80/40LH. **SORO está incluso na composição base de
Fletcher. p.39
Fig. 2 Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sg Icterohaemorrhagiae, L. interrogans sg Sejroe, L.
santarosai, L. borgpetersenii e L. noguchii em meio-base EMJH. p.44
Fig. 3. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. santarosai, L.
borgpetersenii e L. noguchii em meio T80/40/LH. p.46
Fig. 4. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. santarosai, L.
borgpetersenii e L. noguchii em meio Fletcher. p.48
Fig. 5. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sg Icterohaemorrhagiae e L. santarosai em meio EMJH
com a adição dos componentes de enriquecimento Soro de Coelho
(10%) e Piruvato de Sódio (0,1%). p.50
Fig. 6. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
noguchii e L. interrogans sg Sejroe em meio EMJH com a adição dos
componentes de enriquecimento Soro de Coelho (10%) e Piruvato
de Sódio (0,1%). p.62
Fig. 7. Representação gráfica da curva de crescimento de L. borgpetersenii
nos meios EMJH e T80/40LH e nos meio-base EMJH com a adição
dos compostos de enriquecimento Soro de Coelho (10%) e Piruvato
de Sódio (0,1%). p.53
Fig. 8. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sg Icterohamenorrhagiae e L. santarosai em meio
Fletcher com a adição dos componentes de enriquecimento
Albumina Bovina (1%) e Piruvato de Sódio (0,1%). p.56
Fig. 9. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sg Sejroe e L. noguchii em meio Fletcher com a adição
dos componentes de enriquecimento Albumina Bovina (1%) e
Piruvato de Sódio (0,1%). p.57
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Lista dos agentes antimicrobianos e suas concentrações de uso
nos coquetéis para o controle de microrganismos contaminantes.
p.41
TABELA 2 - Valores de tempo de geração (t_gen), ponto de inflexão (t_mid) e
valor de crescimento populacional máximo (k) para as espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii, L.
santarosai e L. borgpetersenii em meio-base EMJH. p.45
TABELA 3 - Valores de tempo de geração (t_gen), ponto de inflexão (t_mid) e
valor de crescimento populacional máximo (k) para as espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii, L.
santarosai e L. borgpetersenii em meio-base T80/40LH. p.47
TABELA 4 - Valores de tempo de geração (t_gen), ponto de inflexão (t_mid) e
valor de crescimento populacional máximo (k) para as espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii e L.
santarosai em meio-base Fletcher. p.49
TABELA 5 - Relação entre os valores de tempo de geração (t_gen), ponto de
inflexão (t_mid) e pico máximo de crescimento (k) das espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii e L.
santarosai, nos meios-base EMJH, Fletcher e T80/40LH. p.50
TABELA 6 - Relação entre os valores de tempo de geração (t_gen), ponto de
inflexão (t_mid) e pico máximo de crescimento (k) da espécie L.
borgpetersenii, nos meios-base EMJH e T80/40LH e nos meios
EMJH+SORO e EMJH+PIR. p.54
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
5-FU 5-Fluorouracil
BSA Bovine Serum Albumin (Albumina Bovina)
CCBVet Coleção de Culturas de Bactérias de Interesse Veterinário
ELISA Enzyme-linked Immunosorbent Assay (Ensaios
imunoenzimáticos)
EMJH Ellinghausen e McCullough modificado por Johnson e
Harris
k tamanho populacional máximo
LPS lipopolissacarídeo
PCR Polymerase Chain Reaction (Reação em Cadeia da
Polimerase)
PIR Piruvato de Sódio
sg sorogrupo
SORO Soro de Coelho
t_gen tempo de geração
t_mid ponto de inflexão
UFF Universidade Federal Fluminense
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ______________________________________________ 15
2 OBJETIVOS ________________________________________________ 17
2.1 Objetivo geral ____________________________________________ 17
2.2 Objetivos específicos ______________________________________ 17
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA __________________________________ 18
3.1 Histórico e Classificação Taxonômica __________________________ 18
3.2 Aspectos Morfológicos _____________________________________ 20
3.3 Aspectos Biológicos _______________________________________ 22
3.4 Crescimento bacteriano ____________________________________ 24
3.4.1 Curva de crescimento ___________________________________ 24
3.4.2 Quantificação de leptospiras ______________________________ 25
3.5 Cultivo de Leptospira ______________________________________ 26
3.5.1 Meios de cultura _______________________________________ 27
3.5.2 Compostos de Enriquecimento ____________________________ 30
3.5.3 Estratégias para isolamento primário de leptospiras ___________ 31
3.5.3.1 Uso de coquetéis antimicrobianos ______________________ 31
3.5.3.2 Filtração __________________________________________ 33
3.5.3.3 Diluição Seriada ____________________________________ 33
3.6 Isolamento de Leptospira ___________________________________ 34
4 MATERIAL E MÉTODOS ______________________________________ 36
4.2 Seleção e descongelamento das espécies de Leptospira spp. _______ 36
4.3 Meios de cultura utilizados __________________________________ 36
4.4 Componentes de Enriquecimento _____________________________ 37
4.5 Coquetéis de Antimicrobianos________________________________ 37
4.6 Padronização do inóculo ____________________________________ 39
4.7 Determinação da curva de crescimento ________________________ 40
4.8 Representação gráfica e análise estatística _____________________ 40
5 RESULTADOS ______________________________________________ 42
5.1 Meios-base sem aditivos ____________________________________ 42
5.1.1 Meio-base EMJH ______________________________________ 42
5.1.2 Meio-base T80/40LH ___________________________________ 44
5.1.3 Meio-base Fletcher _____________________________________ 46
5.1.4 Comparação estatística entre os meios-base sem aditivos ______ 48
5.2 Compostos de Enriquecimento _______________________________ 49
5.2.1 Meio EMJH com a adição de compostos de enriquecimento _____ 49
5.2.2 Comportamento da espécie Leptospira borgpetersenii __________ 52
5.2.3 Meio Fletcher com a adição de compostos de enriquecimento ___ 53
5.3 Adição de Coquetéis Antimicrobianos __________________________ 56
6 DISCUSSÃO ________________________________________________ 57
7 CONCLUSÕES ______________________________________________ 64
8 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______________________________ 65
15
1 INTRODUÇÃO
A leptospirose é uma zoonose causada por espiroquetas do gênero
Leptospira, que ocorre em todo o mundo, principalmente nos países tropicais
(OIE, 2014). Animais suscetíveis adquirem a infecção por contato direto ou
indireto com urina ou tecidos de animais infectados. Animais carreadores
geralmente apresentam doença subclínica com sintomas pouco aparentes, e
eliminam a urina de forma intermitente por longos períodos, tornando-se assim
uma importante fonte de infecção para o ambiente e outros animais, incluindo
humanos (ELLIS, 2015). A compreensão da epidemiologia local com a definição
das espécies circulantes e de seus principais reservatórios se torna essencial
para o sucesso do diagnóstico e programas de controle da leptospirose em
determinadas regiões (SCHNEIDER et al., 2015).
Neste contexto, apesar do diagnóstico sorológico definir o sorogrupo a
qual determinada população foi exposta, somente a obtenção de espécies locais
permite: i) incrementar as técnicas sorológicas de diagnóstico, aumentando sua
sensibilidade (PINTO et al., 2015); ii) a criação de novas possibilidades para
estratégias de vacinação (MURRAY, 2013); iii) e a real compreensão do status
epidemiológico da doença (CHAPPEL; SMYTHE, 2012). Apesar disso, o
isolamento de leptospiras a partir de amostras clínicas é um desafio (SAITO et
al., 2014).
O cultivo do agente a partir de amostras clínicas é uma técnica muito
laboriosa com baixa sensibilidade o que demanda grande expertise técnica.
Leptospiras patogênicas tem crescimento fastidioso, são muito exigentes e
susceptíveis aos metabólitos produzidos por microrganismos contaminantes
(CAMERON, 2015). Para obtenção de culturas puras se faz necessário o uso de
meios de cultura especiais, enriquecidos com soro de coelho e/ou albumina
bovina e técnicas de controle de contaminantes, como uso de agentes
antimicrobianos (CAMERON, 2015; LOUREIRO et al., 2015). Apesar da
importância de se ter culturas de espécies locais e da dificuldade da obtenção
destas a partir de amostras clínicas, poucos são os estudos atuais que abordam
o cultivo das diferentes estirpes de leptospiras.
16
São escassos os estudos que compararam os requerimentos nutricionais
de diferentes espécies de Leptospira nos meios de cultura mais frequentemente
utilizados (AL-MAALY; JUDI, 2015; DOS SANTOS PAIXÃO et al., 2014). Além
disso, algumas espécies de leptospiras como L. borgpetersenii se mostraram
menos resistentes às adversidades ambientais e mais difíceis de serem
cultivadas (BULACH et al., 2006) ao passo que outras se mostraram mais
facilmente cultiváveis como L. santarosai (LOUREIRO et al., 2015).
A construção da curva de crescimento de uma população permite o
entendimento da dinâmica do desenvolvimento bacteriano, assim como são
fornecidas importantes informações, como o tempo de geração e o número
populacional máximo (SPROUFFSKE; WAGNER, 2016). Desta forma, o
presente estudo buscou determinar e comparar o perfil de crescimento de
espécies de Leptospira em diferentes meios de cultura por meio da
caracterização e avaliação das curvas de crescimento, objetivando uma maior
compreensão a respeito do desenvolvimento desses microrganismos in vitro.
17
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar o perfil de crescimento de diferentes genomoespécies de
Leptospira sp. frente à diferentes formulações de meios de cultura.
2.2 Objetivos específicos
1- Avaliar o comportamento de L. interrogans, L. santarosai, L.
borgpetersenii e L. noguchii frente ao cultivo nos meios-base EMJH, T80/40/LH
e Fletcher;
2- Avaliar o comportamento das genomoespécies frente aos
diferentes meios de cultura acima especificados com a adição de componentes
enriquecedores e suas combinações e; determinar quais, dentre estas, são
eficientes em promover o crescimento dessas genomoespécies;
3- Avaliar o comportamento das genomoespécies nos diferentes
meios de cultura acima especificados com a adição de coquetéis antimicrobianos
e suas combinações e; determinar quais, dentre estas, permitem o crescimento
eficiente de cada genomoespécie.
4- Propor o uso de meios de cultura, bem como suas combinações
com componentes enriquecedores e coquetéis antimicrobianos para o
isolamento das diferentes genomoespécies de Leptospira avaliadas.
18
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Histórico e Classificação Taxonômica
Enfermidades que causavam icterícia sempre foram consideradas de
extrema importância para a humanidade (FAINE et al., 1999). Entretanto, foi
somente em 1907 que Stimson descreveu pela primeira vez a presença de
microrganismos espiralados e com a ponta em formato de “gancho” nos tecidos
de um paciente que havia falecido devido a uma “febre amarela” (STIMSON,
1907). Foi sugerido que este paciente de fato havia sucumbido devido à doença
de Weil, ou então que este possuísse tal enfermidade quando contraiu febre
amarela e veio à óbito (SELLARDS, 1940).
Quase uma década depois, uma espiroqueta foi descrita como o agente
etiológico da doença de Weil (INADA et al., 1916), endêmica em regiões do
Japão. Após a comparação da morfologia de diferentes espiroquetas, Noguchi
propôs incluir esse microrganismo como pertencente ao gênero Leptospira
(NOGUCHI, 1918), sendo assim incluídos na Ordem Spirochetales, Família
Leptospiraceae (HOVIND-HOUGEN, 1979). Após a descrição do gênero,
inúmeros autores adotaram essa nomenclatura. Todavia essa classificação era
baseada principalmente nas diferenças morfológicas apresentadas pelas
espécies isoladas (FAINE; STALLMAN, 1982).
Wolff e Broom foram os primeiros a propor uma padronização utilizando
técnicas sorológicas, sugerindo o uso do termo sorovar para a classificação das
leptospiras como unidade taxonômica (WOLFF; BROOM, 1954). Os sorovares
com determinada similaridade são estudados em sorogrupos por conveniência.
Desta forma, as unidades que foram descritas pelas características de
aglutinação foram tratadas como espécies em diversos estudos (CHANG, 1946;
ELLINGHAUSEN, 1960; JOHNSON; GARY, 1962; MARSHALL, 1949; RIDLON,
1931; SANTA-ROSA; PESTANA DE CASTRO; TROISE, 1961; STALHEIM;
WILSON, 1964).
É necessário compreender que a designição em sorogrupos, apesar de
representar um termo muito utilizado, é considerada como uma subclassificação
sem valor taxonômico. Entretanto essa categoria possui grande importância para
a aplicação de técnicas sorológicas para diagnóstico da doença, principalmente
19
para a compreensão da epidemiologia da enfermidade em determinadas regiões
e/ou populações (ELLIS, 2015).
O International Committee on Systematic Bacteriology Subcommittee on
the Taxonomy of Leptospira ao longo dos anos realizou reuniões com os
pesquisadores mais relevantes da área em busca de um consenso sobre a
classificação das leptospiras. Destas, três foram de substancial relevância por
terem apresentado dados que marcaram os estudos que viriam a ser publicados.
Em ordem cronológica, a primeira a ser citada ocorreu em 1962, tendo sido
sugerido que leptospiras saprófitas deveriam ser nomeadas como L. biflexa,
enquanto as patogênicas como L. interrogans (WOLFF; TURNER, 1963).
Em 1982 o mesmo comitê se reuniu novamente e nele os membros
sugeriram que a descrição proposta anteriormente era defasada e inadequada
(FAINE; STALLMAN, 1982), entretanto recomendaram cautela na adoção de
classificações baseadas em diversidade genética (YASUDA et al., 1987). Por
fim, em 1994, foram apresentados estudos que fizeram uso de técnicas
moleculares e que permitiram definir as bases genéticas para a classificação
desses microrganismos. Dentre as recomendações fornecidas por esse comitê,
a principal foi a adoção da homologia entre DNA-DNA igual ou maior a 70% para
a determinação das espécies (MARSHALL, 1995).
Outra importante informação acerca da classificação das leptospiras é a
correlação que existe entre espécies, sorogrupos e sorovares. Como
mencionado anteriormente, alguns sorovares apresentam correlações
antigênicas, sendo incluídos em um mesmo sorogrupo, como é o caso das
estirpes Hardjobovis e Hardjoprajitno do sorovar Hardjo, pertencente ao
sorogrupo Sejroe. Curiosamente, essas estirpes são exemplares de duas
diferentes espécies: L. borgpetersenii e L. interrogans, respectivamente, sendo
indistinguíveis uma da outra em testes sorológicos (FAINE et al., 1999). Sendo
assim, a classificação fenotípica se mantém, mesmo com o advento da biologia
molecular e a nomenclatura passa a ser assumida com a descrição da espécie
genética associada ao sorovar a que se refere. Por exemplo: Leptospira
interrogans sorovar Hardjo (LEVETT; SMYTHE, 2006).
20
Até o momento foram identificados aproximadamente 300 sorovares
distribuídos em 28 sorogrupos e 23 genomoespécies classificadas
filogeneticamente em grupos, sendo nove espécies pertencentes ao grupo I
(patogênicas), sete espécies pertencentes ao grupo II (intermediárias) e sete
pertencentes ao grupo III (não patogênicas) (PICARDEAU, 2017; PUCHE et al.,
2017).
3.2 Aspectos Morfológicos
As leptospiras são espiroquetas finas, de formato helicoidal com diâmetro
de aproximadamente 0,1 a 0,2 µm, medindo entre 10 a 20 µm. Leptospiras recém
isoladas são menores e mais enroladas que aquelas mantidas em laboratório em
sucessivas passagens em meio de cultura (HARTSKEERL; COLLARES-
PEREIRA; ELLIS, 2011). A microscopia de campo escuro em preparações
líquidas é o método de eleição para a visualização destes microrganismos devido
a melhor observação de seu formato delgado e sua rápida motilidade
(CAMERON, 2015; FAINE; STALLMAN, 1982). Quando se encontram em
ambientes inóspitos, com pouca disponibilidade de nutrientes, as leptospiras
entram em estresse. Tais condições induzem alterações morfológicas como a
perda do formato típico espiralado e das pontas em gancho e ocorre a diminuição
da divisão celular, causando uma queda na taxa de crescimento populacional,
podendo levar, posteriormente, a morte desses microrganismos (CAMERON,
2015; CHIDEROLI et al., 2017).
Sua estrutura de parede celular é muito similar à de outras bactérias
Gram-negativas; possui uma membrana externa composta por proteínas,
lipídeos e uma porção do lipopolissacarídeo (LPS). A membrana externa de
Leptospira pode ser facilmente removida durante a manipulação das culturas
(CAMERON, 2015). Essa apresenta um perfil complexo de proteínas em sua
superfície, tendo sido caracterizadas apenas algumas destas, como a porina
OmpL1 (SHANG et al., 1995), as lipoproteínas LipL21, LipL32, LipL36 e LipL41
e as proteínas semelhantes à imunoglobulina A e B - LigA e LigB (CULLEN;
HAAKE; ADLER, 2004; NATARAJASEENIVASAN et al., 2008; NITIPAN et al.,
2013; PINNE; HAAKE, 2009, 2013).
21
Abaixo da membrana externa separado pelo espaço periplasmático
encontra-se o peptidoglicano associado à parede celular da bactéria; entretanto,
diferentemente das demais bactérias Gram-negativas, a localização dessa
estrutura difere uma vez que se apresenta mais próximo à membrana
citoplasmática ao invés da membrana externa (CULLEN; HAAKE; ADLER,
2004). No espaço periplasmático estão inseridos dois endoflagelos que
emergem a partir de inserções no peptidoglicano (CAMERON, 2015). O local de
ancoragem dos endoflagelos difere das demais espiroquetas proporcionando o
formato de gancho característico desses microrganismos. Todavia, o formato
espiral dessas bactérias não está relacionado ao flagelo periplasmático e sim a
união do peptidoglicano e das proteínas do citoesqueleto (SLAMTI et al., 2011).
Esses fatores são responsáveis pelo movimento característico de “saca rolha”
desses microrganismos (CHARON; GOLDSTEIN, 2002). Associados, esses
mecanismos garantem rápida motilidade translacional, permitindo um
descolamento de aproximadamente 20 µm em apenas 2 a 3 segundos
(CAMERON, 2015). A morfologia dos endoflagelos e suas estruturas são de uma
forma geral, muito similares e desta forma, assumiu-se que essas observações
pudessem ser extrapoladas para todas as espécies de leptospiras. De fato,
quando são observadas culturas em microscopia de campo escuro é improvável
diferenciar as espécies de leptospiras (FAINE et al., 1999).
Os endoflagelos além de essenciais para a motilidade das leptospiras, são
importantes fatores de virulência, uma vez que subunidades dessa estrutura,
como a proteína FlaA, são essenciais para o estabelecimento da infecção em
modelos animais. Tal fato ocorre principalmente pela necessidade das
leptospiras se disseminarem rapidamente para os tecidos do hospedeiro,
apresentando vigorosa motilidade durante o processo infeccioso (LAMBERT et
al., 2012). Após o sequenciamento de genoma de L. interrogans foi identificado
um conjunto de genes associados a constituição dos endoflagelos
(NASCIMENTO et al., 2004; REN et al., 2003). Quando realizado o nocaute do
gene fliY em L. interrogans sorovar Lai, foi possível observar uma diminuição da
motilidade desses microrganismos e a atenuação da sua virulência (LIAO et al.,
2009). Mais recentemente, foi identificado que o nocaute do gene codificador de
FcpA (proteína expressa abundantemente na superfície endoflagelar) em L.
22
interrogans leva a uma diminuição dos endoflagelos, diminuindo a motilidade
bacteriana e perdendo a capacidade de causar doença em modelos
experimentais (WUNDER et al., 2016).
O LPS das leptospiras é semelhante ao descrito para outras bactérias
Gram-negativas. É formado por três componentes distintos: uma porção
hidrofóbica inserida na membrana externa conhecida como lipídeo A, o antígeno
O, que se estende desde a superfície celular até a parte externa, e o
oligossacarídeo central, que une as duas estruturas citadas anteriormente. Ainda
que a estrutura geral do LPS seja similar a de outras bactérias Gram-negativas,
mesmo sendo o mais comum componente de superfície das leptospiras, pouco
se sabe a respeito de sua real composição e estrutura do LPS leptospírico. Como
já dito anteriormente, a caracterização imunológica do LPS permite a distinção
das leptospiras em sorogrupos devido a correlações antigênicas; todavia,
existem espécies que mesmo diferindo geneticamente como L. interrogans
sorovar Hardjoprajitno e L. borgpetersenii sorovar Hardjobovis, ambas
pertecentes ao sorogrupo Sejroe, são indistinguíveis na sorologia. Desta forma,
foi sugerido que o LPS também possui importante função na determinação da
especificidade de hospedeiros (BULACH et al., 2000; MURRAY et al., 2010;
PATRA et al., 2015). O LPS possui também importante função na virulência
desses microrganismos (PATRA et al., 2015), principalmente na colonização e
disseminação das leptospiras nos organismos (MURRAY et al., 2010; NALLY et
al., 2005).
3.3 Aspectos Biológicos
Os estudos que buscaram elucidar os processos metabólicos envolvidos
na fisiologia das bactérias do gênero Leptospira eram baseados somente em
uma ou duas espécies e as conclusões obtidas eram, então, extrapoladas para
todas as outras espécies (JOHNSON, 1996; JOHNSON; FAINE, 1984). Porém,
mais recentemente foram demonstradas importantes diferenças metabólicas
entre as genomoespécies de leptospiras (FOUTS et al., 2016). Uma das
características mais marcantes desse gênero é o seu desenvolvimento em
ambientes de microaerofilia. Análises por sequenciamento de genoma completo
demonstraram que essas bactérias possuem genes que codificam o ciclo do
23
ácido tricarboxílico e também componentes da cadeia transportadora de elétrons
indicando o uso do oxigênio como aceptor final de elétrons (ZHANG et al., 2011).
As leptospiras não fermentam açúcares; assim sendo, utilizam os ácidos
graxos de cadeia longa (>C15) como única fonte de energia por meio da β-
oxidação (HENNEBERRY; COX, 1970). Entretanto, a não utilização da glicose
como fonte energética não é devido à ausência de enzimas, mas sim devido a
um limitado sistema de transporte desta molécula (JOHNSON; WALBY, 1972;
NASCIMENTO et al., 2004; ZHANG et al., 2011). Compostos como piruvato e
acetato foram estudados como via alternativa para a obtenção de energia, porém
ficou demonstrado que tais bactérias são incapazes de sintetizar ácidos graxos
de cadeia longa a partir destes (JOHNSON et al., 1970; STERN; SHENBERG;
TIETZ, 1969).
Outro produto essencial para o desenvolvimento de Leptospira é o
nitrogênio, comumente fornecido na forma de amônia e obtido principalmente
por meio de sais de amônia ou pelo processo de desaminação da asparagina
pela asparaginase (FAINE et al., 1999). Algumas espécies são capazes de
sintetizar isoleucina por meio de diferentes vias metabólicas, utilizando a via
clássica de treonina, pela via alternativa do piruvato ou ambas simultaneamente
(CHARON; JOHNSON; PETERSON, 1974; REN et al., 2003; WESTFALL;
CHARON; PETERSON, 1983).
Estudos foram realizados a fim de definir se vitaminas poderiam ser
utilizadas como fontes de nitrogênio para esses microrganismos (JOHNSON;
ROGERS, 1964). Foi sugerido que a tiamina (vitamina B1) seria um produto
essencial para o crescimento de leptospiras, já a cianocobalamina (vitamina
B12) só melhoraria o desempenho de crescimento quando associada à primeira
(SCHNEIDERMAN et al., 1953; SHENBERG, 1967; STALHEIM; WILSON,
1964). Tal fato foi confirmado posteriormente, uma vez que o sequenciamento
do genoma completo de algumas espécies evidenciou a presença de genes
responsáveis por vias de síntese de vitamina B12 e também o transporte desses
produtos (RICALDI et al., 2012) demonstrando que a presença de vitamina B12
não é essencial ao crescimento destas bactérias.
24
Por fim, outros micronutrientes comumente adicionados aos meios de
cultura para o crescimento de diversos microrganismos, também foram
estudados para que se soubesse seus efeitos no cultivo e manutenção de
leptospiras. Dentre os minerais mais importantes e necessários para o
desenvolvimento, cita-se cálcio, magnésio, ferro, cobre e manganês (JOHNSON;
GARY, 1963; STALHEIM; WILSON, 1964; STANECK; HENNEBERRY; COX,
1973).
3.4 Crescimento bacteriano
É sabido que as espécies de leptospiras apresentam diferentes padrões
de crescimento quando em meio de cultura devido a diferenças biológicas, o
grau de adaptação ao cultivo em laboratório e também ao inóculo utilizado
inicialmente para repique. Entretanto, de uma forma geral as leptospiras
patogênicas apresentam um crescimento ótimo in vitro em temperaturas entre
28–30 oC, diferenciando-se de leptospiras saprófitas uma vez que não crescem
também em temperaturas baixas (11-13oC). O tempo de geração destas quando
altamente adaptadas ao ambiente in vitro em condições ótimas varia entre 6 e
8h, já quando recém isoladas e inoculadas em meio de cultura o tempo de
geração pode chegar a 14-18h, com uma fase de adaptação durando dias ou até
mesmo semanas (CAMERON, 2015).
3.4.1 Curva de crescimento
Durante muito tempo, as curvas de crescimento têm sido utilizadas como
importantes ferramentas para estudos de regulação da expressão de genes de
virulência, expressão de enzimas, fisiologia do crescimento bacteriano e,
principalmente, requerimentos nutricionais (FERENCI, 1999, 2001;
GYANESHWAR et al., 2005; HALL et al., 2014; OWENS; LEGAN, 1987; SCOTT;
HWA, 2011; SHEHATA; MARR, 1971; SINCLAIR; STOKES, 1962).
Muitos dos estudos que utilizam curvas de crescimento em Leptospira
spp. limitam-se a pesquisa sobre requerimentos nutricionais, características
bioquímicas e observações no padrão de crescimento de L. interrogans dos
sorogrupos Icterohaemorrhagiae e Pomona (CHANG, 1947; ELLINGHAUSEN;
MCCULLOUGH, 1965a, 1965b; ELLINGHAUSEN, 1960; JOHNSON; GARY,
1962, 1963; VANESELTINE; STAPLES, 1961). A curva de crescimento
25
apresentada pelas leptospiras segue o mesmo padrão daquelas apresentadas
por outras bactérias com a diferença de que essa curva é construída em uma
escala de tempo superior à das outras (MICHA; CORRADINI, 2011).
3.4.2 Quantificação de leptospiras
Padrões excelentes de crescimento são atingidos in vitro quando se
obtém 107 a 108 leptospiras/mL (ZUERNER, 2005), sendo sua quantificação
melhor realizada por meio de métodos convencionais (MURRAY et al., 2010).
Isto porque apesar da conveniência na utilização de técnicas como a PCR
quantitativa (AHMED et al., 2009; BOURHY et al., 2011; LOUREIRO et al., 2013),
algumas desvantagens inviabilizam a sua utilização rotineira, como a dificuldade
de padronização, mão de obra e manutenção especializada, alto custo de
aquisição e de manutenção de reagentes e soluções (CLEMENTI, 2000;
LOUREIRO et al., 2013).
A utilização de câmaras de contagem é a técnica disponível mais simples
de ser utilizada nos laboratórios. Não há a necessidade de aparelhagem técnica
dispendiosa, não exige manutenção, é altamente reprodutível e facilmente
padronizável; além disso, existe uma variedade de câmaras no mercado e o seu
uso é amplamente aplicado em laboratórios de pesquisa (CHRISTENSEN;
STRYHN; HANSEN, 2005; COOPER; HELLENKEMPER, 2010). Nos
laboratórios de análises clínicas, a câmera de Neubauer é comumente utilizada
para outros fins, todavia, para contagem de leptospiras se utilizam com
frequência a câmara de Petroff-Hausser (FAINE et al., 1999; HUMBERD et al.,
2005; LARSON, A. D.; TREICK, R. W.; EDWARDS, C. L.; COX, 1958; LARSON;
EDWARDS, 1958; MURRAY et al., 2010) cujo custo de aquisição é muito
superior.
Existem outras técnicas para a contagem de leptospiras, entretanto estas
são métodos indiretos e necessitam de aparelhagens específicas para realizar
essa mensuração pela turbidez. Dentre as disponíveis, uma das mais utilizadas
é a nefelometria, apesar do limite mínimo de detecção da técnica ser de
aproximadamente 106 leptospiras/mL. Há ainda a contagem por
espectrofotometria, menos sensível que a técnica anterior, capaz de realizar
leituras com aproximadamente 108 leptospiras/mL em meio de cultura. Apesar
26
da aplicabilidade dessas metodologias, ainda se faz necessário o uso de
técnicas tradicionais para a construção de um controle a ser utilizado como
padrão (FAINE et al., 1999; KINGSCOTE, 1985; SCHREIER et al., 2009).
3.5 Cultivo de Leptospira
O primeiro cultivo in vitro de uma leptospira patogênica foi obtido a partir
do fígado de uma cobaia após a inoculação do sangue de um paciente com
leptospirose (INADA et al., 1916). Naquela época, os métodos para o isolamento
desse microrganismo eram baseados exclusivamente nas técnicas descritas
para outras espiroquetas, utilizando principalmente a maceração de órgãos de
cobaias, fluidos orgânicos e parafina (NOGUCHII, 1912). Os meios de cultura
buscam mimetizar as condições naturais às quais essas bactérias estão
expostas no organismo dos indivíduos infectados (FAINE et al., 1999).
O cultivo do agente a partir de amostras clínicas é uma técnica muito
laboriosa com baixa sensibilidade o que demanda grande expertise técnica.
Leptospiras patogênicas têm crescimento fastidioso, são muito exigentes e
susceptíveis aos metabólitos produzidos por microrganismos contaminantes
(CAMERON, 2015). Para obtenção de culturas puras, se faz necessário o uso
de meios de cultura especiais enriquecidos e técnicas de controle de
contaminantes, com o uso de agentes antimicrobianos, por exemplo
(LOUREIRO et al., 2015). Apesar da importância de se ter culturas de espécies
locais e da dificuldade da obtenção destas a partir de amostras clínicas, poucos
são os estudos atuais que abordam o desenvolvimento de novas técnicas e
meios de cultivo (CAMERON, 2015; CHIDEROLI et al., 2016; LILENBAUM et al.,
2007; LOUREIRO et al., 2015; MIRAGLIA et al., 2009; ZACARIAS et al., 2008),
as quais serão discutidas no decorrer deste tópico.
O cultivo de Leptospira a partir de amostras clínicas é o padrão ouro para
o diagnóstico de leptospirose. Todavia, como já mencionado, essas bactérias
possuem um crescimento fastidioso, requerendo meios de cultura especiais
(HAAKE; LEVETT, 2015) e longos períodos de incubação (ADLER; DE LA
PEÑA-MOCTEZUMA, 2010) que levam até 16 semanas para considerar um
resultado como negativo. Este fato impossibilita o uso desta técnica como
método diagnóstico único para a leptospirose. Outros métodos diretos como a
27
visualização direta de leptospiras a partir de amostras clínicas e métodos
moleculares podem ser utilizados como diagnóstico; todavia, a espessura da
parede das leptospiras impossibilita o uso de colorações tradicionais e desta
forma se faz necessário uso de microscopia de campo escuro e uma
concentração mínima de 104 leptospiras/mL para que seja possível sua
visualização em campo microscópico (AHMAD; SHAH; AHMAD, 2005;
TOYOKAWA; OHNISHI; KOIZUMI, 2011).
Os métodos moleculares têm sido cada vez mais difundidos, uma vez que
estes não exigem a presença de leptospiras viáveis (HAMOND et al., 2014). A
Polymerase Chain Reaction (PCR) é uma técnica que apresenta alta
sensibilidade e especificidade, promovendo a amplificação de quantidades
mínimas de DNA de leptospiras (HERNANDEZ-RODRIGUEZ et al., 2011). O uso
dessa técnica é de grande importância para o diagnóstico rápido de leptospirose,
principalmente em relação a doença aguda. Entretanto, apesar da praticidade,
tal técnica não fornece informações essenciais à epidemiologia como definição
das estirpes circulantes (AHMAD; SHAH; AHMAD, 2005).
Assim sendo, a obtenção de culturas puras de espécies locais se faz
essencial para a compreensão da epidemiologia da leptospirose local já que com
novos isolados é possível: i) incrementar as técnicas sorológicas de diagnóstico,
aumentando sua sensibilidade (SARMENTO et al., 2012); ii) a criação de novas
possibilidades para estratégias de vacinação (MURRAY, 2013); iii) e a real
compreensão do status epidemiológico da doença na região estudada
(CHAPPEL; SMYTHE, 2012).
3.5.1 Meios de cultura
As décadas que se seguiram à descrição do gênero Leptospira
(NOGUCHI, 1918) foram marcadas por inúmeras tentativas de desenvolver
meios de cultura para o crescimento desses microrganismos fastidiosos. Os
pesquisadores buscavam principalmente comparar meios já descritos a fim de
solucionar falhas que afetavam desenvolvimento dessas bactérias (CHANG,
1947; GILLESPIE; RINGEN; KENZY, 1953; JOHNSON; GARY, 1962;
SCHNEIDERMAN et al., 1951; STALHEIM, 1966; STERN; SHENBERG; TIETZ,
1969; STUART, 1946; VOGEL; HUTNER, 1961).
28
Além da utilização de fluidos orgânicos, comumente utilizados para o
cultivo de outras espiroquetas, o cultivo de Leptospira exige a inclusão de ácidos
graxos de cadeia longa (CHANG, 1947; ELLINGHAUSEN; MCCULLOUGH,
1965a; VOGEL; HUTNER, 1961). Porém, a presença de ácidos graxos livres no
meio de cultura inibe a respiração celular das leptospiras sendo assim tóxico
para tais bactérias. Assim sendo, se faz necessário a inclusão de um agente
desintoxicante no meio em que estão inseridos para evitar a inibição do
crescimento (HELPRIN; HIATT, 1957; STALHEIM; WILSON, 1964). As
substâncias desintoxicantes mais comumente utilizadas são a albumina bovina
e os complexos de polissorbato ou “tweens”. A albumina atua adsorvendo
grandes quantidades de ácidos graxos, podendo ligar-se de seis até a nove
moléculas quando em condições favoráveis, liberando-as de forma equilibrada
em concentrações não-tóxicas. Os “tweens” atuam de forma similar à albumina,
todavia diferem no fato de que estes já são produtos associados aos ácidos
graxos na forma não tóxica, atuando como uma fonte limpa dessas substâncias
orgânicas (DAVIS, 1946; ELLINGHAUSEN; MCCULLOUGH, 1965b; JOHNSON;
GARY, 1963).
Diversos meios de cultura foram descritos no decorrer dos anos, como
Stuart (FAINE et al., 1999; STUART, 1946), Korthof (KORTHOF, 1932), Fletcher
(FLETCHER, 1928), BA-P80 (ELLINGHAUSEN; MCCULLOUGH, 1965b) e
T80/40LH (ELLIS; MONTGOMERY; CASSELLS, 1985). A modificação sugerida
por Johnson e Harris (1967) sobre a base de albumina bovina e polisorbato 80
(meio BA-P80) se mostrou eficiente no cultivo de leptospiras do sorogrupo
Pomona. Apesar de exibirem sucesso no cultivo de estirpes de outros
sorogrupos com o mesmo meio, os requerimentos nutricionais destas não foram
analisados extensivamente como foi feito com o sorogrupo Pomona. Mesmo sem
levar em consideração particularidades entre espécies, o meio Ellinghausen-
McCullough/Johnson-Harris modificado, que ficou conhecido como EMJH, foi
consagrado como o padrão para cultivo e isolamento do gênero Leptospira até
o presente momento (BLACKMORE; SCHOLLUM, 1982; BOURHY et al., 2010;
CHAPPEL et al., 1985; LATIFAH et al., 2017; MGODE et al., 2015; MORAIS,
1994).
29
Meios de cultura líquidos, semissólidos e sólidos foram descritos para o
isolamento e cultura de leptospiras. Os meios de cultura líquidos são os mais
comumente utilizados para a manutenção de culturas de leptospiras em
laboratórios de pesquisa e diagnóstico. Entretanto o sucesso no cultivo desses
microrganismos depende diretamente da origem e concentração de bactérias no
inóculo. O crescimento das leptospiras nesses meios cria uma turbidez que pode
ser visualizada a olho nu quando em concentrações de 107 a 108 leptospiras/mL.
Todavia, mesmo quando em crescimento máximo, a densidade obtida nesses
meios não se aproxima a daquelas alcançadas por outras bactérias (CAMERON,
2015; FAINE et al., 1999).
Inicialmente, o ágar era adicionado aos meios de cultura líquidos com
propósitos de demonstrar a fase estacionária de crescimento de leptospiras
(WORATZ, 1952), definir as concentrações de oxigênio necessárias
(LAWRENCE, 1951) e demonstrar a formação de colônias a partir de uma única
unidade formadora (LARSON; EDWARDS, 1958). Atualmente, sabe-se que o
ágar atua também como um agente absortivo ligando-se a partículas prejudiciais
para leptospiras como metabólitos e substâncias inibitórias (CAMERON, 2015;
TURNER, 1970).
Os meios de cultura semissólidos são frequentemente incluídos na rotina
de isolamento e manutenção de leptospiras (BENACER et al., 2013; RIDZLAN
et al., 2010; SAITO et al., 2014, 2015). A adição de 0,2 a 0,5% de ágar em
qualquer meio de cultura líquido leva a solidificação parcial destes (TURNER,
1970). Quando há o crescimento dessas bactérias, forma-se uma zona densa
que pode ser facilmente visualizada a olho nu, conhecida como anel de Dinger
(CAMERON, 2015; CZEKALOWSKI; MCLEOD; RODICAN, 1953; FAINE et al.,
1999; KIRSCHNER; GRAHAM, 1959). O intenso crescimento de leptospiras
concentrado nesta região se dá por esta apresentar ambiente ideal para
crescimento desta bactérias principalmente devido à situação de microaerofilia,
formando assim o anel denso observado (CZEKALOWSKI; MCLEOD;
RODICAN, 1953; LAWRENCE, 1951).
Quando se eleva as concentrações de ágar a valores entre 0,8% e 1,3%,
há a solidificação do meio de cultura (STALHEIM; WILSON, 1964; TURNER,
30
1970). Apesar de existirem diversos meios de cultura sólidos descritos (COX;
LARSON, 1957; FAINE et al., 1999; LARSON, A. D.; TREICK, R. W.;
EDWARDS, C. L.; COX, 1958; STALHEIM; WILSON, 1963; WOOD; JOHNSON;
PALIN, 1981), estes são pouco utilizados principalmente devido à dificuldade na
aplicação da técnica associado a obtenção do crescimento de leptospiras. Foi
descrito um meio sólido (LVW) permissivo ao crescimento de leptospiras
patogênicas após sete dias de inoculação. As principais aplicações dos meios
sólidos são a eliminação de microrganismos contaminantes e obtenção de
culturas puras de leptospiras e também na confecção de testes de
susceptibilidade a antimicrobianos (CAMERON, 2015; WUTHIEKANUN et al.,
2013, 2015).
3.5.2 Compostos de Enriquecimento
Devido a característica fastidiosa de crescimento das leptospiras e em
especial de algumas espécies como L. borgpetersenii (BULACH et al., 2006),
diferentes compostos com o objetivo de enriquecer o meio para leptospiras foram
testados. A necessidade de fatores de crescimento por tais bactérias torna
essencial a inclusão de algum tipo de fluido orgânico, como soro, sangue total
ou até mesmo fluido oriundo de ascite (ELLINGHAUSEN, 1960; LARSON, A. D.;
TREICK, R. W.; EDWARDS, C. L.; COX, 1958; VANESELTINE; STAPLES,
1961).
O soro sanguíneo foi um dos primeiros compostos de enriquecimento
sugeridos para obter sucesso no cultivo de leptospiras (CHANG, 1947;
NOGUCHI, 1918), sendo até mesmo considerado como o mais importante
constituinte dos meios de cultura, uma vez que é uma fonte rica de nutrientes
(ELLINGHAUSEN, 1960; MIFUCHI; HOSOI; YANAGIHARA, 1961). Este possui
fatores de crescimento que são essenciais para a multiplicação desses
microrganismos, como vitamina B12 em altas concentrações, albumina, tiamina
e outros ainda não definidos (ELLINGHAUSEN; PAINTER, 1976; JOHNSON;
GARY, 1962; SHENBERG, 1967; TURNER, 1970; VOGEL; HUTNER, 1961).
A albumina presente no soro é outro importante composto de
enriquecimento comumente utilizado para melhorar o crescimento das
leptospiras. Além de atuar como um agente absortivo, a albumina também
31
fornece aminoácidos e lipídeos ao meio de cultura (JOHNSON; WILSON, 1960).
Todavia, por serem compostos quimicamente indefinidos, devem ser testados
todos os lotes antes de sua utilização, uma vez que estes podem apresentar
lipídios tóxicos contaminantes que inibem o crescimento das leptospiras (FAINE
et al., 1999).
Outro produto comumente utilizado para enriquecer os meios de cultura
utilizados é o piruvato. Inicialmente foi sugerido que este atuaria como fonte de
energia extra para as leptospiras (JOHNSON et al., 1970; STERN; SHENBERG;
TIETZ, 1969). Entretanto, estudos de análise genômica demonstraram que as
leptospiras não apresentam genes que codificam enzimas capazes de sintetizar
ácidos graxos a partir do piruvato (XU et al., 2016). Apesar de não atuar como
fonte energética, o piruvato foi identificado como um produto quimiotático para
Leptospira (LAMBERT et al., 2012) capaz reduzir a fase de adaptação dessas
bactérias em meios de cultura (STANECK; HENNEBERRY; COX, 1973),
sugerindo a importância deste composto para o cultivo de espécies de
crescimento fastidioso (JOHNSON et al., 1973).
3.5.3 Estratégias para isolamento primário de leptospiras
3.5.3.1 Uso de coquetéis antimicrobianos
A presença de outros microrganismos em culturas de Leptospira
provenientes de contaminação ambiental e/ou microbiota normal do hospedeiro
prejudicam o crescimento leptospírico uma vez que o tempo de geração dos
contaminantes é geralmente mais curto. Tais bactérias contaminantes esgotam
os nutrientes e produzem metabólitos que levam a inibição do desenvolvimento
pleno das leptospiras, resultando na morte da cultura de interesse
(SCHONBERG, 1981). Estudos que avaliaram a susceptibilidade de Leptospira
aos antimicrobianos (CHAKRABORTY et al., 2010; HOSPENTHAL; MURRAY,
2003; SCHONBERG, 1981; SUEPAUL et al., 2015; WUTHIEKANUN et al., 2015)
demonstraram que tais bactérias são capazes de resistir à ação toxica de tais
componentes por curto período e em determinadas concentrações (ALT;
ZUERNER; BOLIN, 2001; CHAKRABORTY et al., 2010). Assim sendo, foram
sugeridos a inclusão de antimicrobianos individualmente ou em coquetéis nos
meios de cultura para o controle de crescimento de contaminantes sem que haja
32
prejuízo ao cultivo de Leptospira (CHAKRABORTY et al., 2011; CHIDEROLI et
al., 2016; LOUREIRO et al., 2015; MIRAGLIA et al., 2009; ZACARIAS et al.,
2008).
Após a avaliação da susceptibilidade de 46 estirpes de Leptospira a
diferentes antimicrobianos (CHAKRABORTY et al., 2010), sugeriu-se a utilização
de um coquetel antimicrobiano para o isolamento de leptospiras a partir de
amostras ambientais, composto por Sulfametoxazol (400µg/mL), Trimetoprima
(200 µg/mL), Anfotericina B (50 µg/mL), Fosfomicina (4000 µg/mL) e 5-
Fluorouracil (1000 µg/mL), posteriormente identificado como STAFF
(CHAKRABORTY et al., 2011). Espécies patogênicas de L. interrogans, L.
noguchii e L. santarosai foram isoladas a partir de urina e fluido vaginal de
bovinos utilizando meios de cultura com a adição do coquetel antimicrobiano
STAFF (LOUREIRO et al., 2015; MARTINS et al., 2015). Mais recentemente, foi
descrito o primeiro isolamento de L. borgpetersenii no Brasil (CHIDEROLI et al.,
2016) após a utilização de outro coquetel antimicrobiano composto por 5-
Fluorouracil (400mg/L), Cloranfenicol (5mg/L), Ácido Nalidíxico (50mg/L),
Neomicina (10mg/L) e Vancomicina (10mg/L), descrito anteriormente
(ZACARIAS et al., 2008).
Além dos antimicrobianos, o componente químico 5-Fluorouracil (5-FU) é
um dos mais utilizados no controle de microrganismos. Seu mecanismo de ação
consiste em inibir a biossíntese do DNA e RNA atribuído principalmente à
incorporação errônea de fluoronucleotídeos no DNA e RNA durante a síntese
destes (LONGLEY, HARKIN, JOHNSTON, 2003). Nos estudos que buscavam
elucidar o papel do nitrogênio no metabolismo de estirpes do sorogrupo Pomona,
foi demonstrado que pirimidinas não podem ser incorporadas aos ácidos
nucléicos de leptospiras (JOHNSON; ROGERS, 1964). Desta forma, por ser um
análogo da pirimidina, o 5-FU não influencia no metabolismo das leptospiras
podendo ser utilizado como controle de outros microrganismos contaminantes
sem prejudicar o crescimento de leptospiras.
Ainda assim, estudos que utilizaram somente o 5-FU para o controle de
microrganismos apresentaram altas taxas de isolamento a partir de amostras
clínicas ou ambientais (BENACER et al., 2013; DOS SANTOS PAIXÃO et al.,
33
2014; GONÇALVES et al., 2010; LALL et al., 2016; MGODE et al., 2015; TAN et
al., 2014), mostrando que o uso de 5-FU como agente único ou associado a
outros antimicrobianos pode ser uma alternativa viável para o cultivo de
Leptospira e para o controle de microrganismos contaminantes.
3.5.3.2 Filtração
Filtros com poros de 0,22 µm de diâmetro são utilizados frequentemente
para esterilizar líquidos que não podem ser submetidos a técnicas que utilizam
o calor como agente esterilizante (CAMERON, 2015). Leptospiras são capazes
de passar através de filtros de microporos quando determinada força é aplicada
(manualmente pela pressão de uma seringa) ou por centrifugação já que
apresentam formato helicoidal com diâmetro de aproximadamente 0,1 µm,
enquanto que outras bactérias permanecem retidas (TURNER, 1970).
Estudando a eficiência da técnica de filtração para o isolamento de Leptospira,
foi possível demonstrar que os microporos dos filtros devem possuir um diâmetro
menor que 0,45 µm para que se alcance resultados ótimos no isolamento desses
microrganismos (KABOOSI; RAZAVI; AL SADAT NOOHI, 2010), o melhor filtro
para a aplicação da técnica é o de 0,22 µm de diâmetro (CAMERON, 2015).
3.5.3.3 Diluição Seriada
O objetivo da diluição seriada é diminuir a carga de microrganismos
contaminantes presentes na amostra original. Tal técnica também é preconizada
quando se faz cultura a partir de tecidos, como renal ou aborto, já que a presença
de tecido macerado no meio apresenta alguns fatores inibitórios ao crescimento
de leptospiras ainda não bem definidos (MIRAGLIA et al., 2009; TURNER, 1970).
Diluições seriadas devem ser realizadas com soluções salina estéreis
(pH 7.4) ou mesmo em meios de cultura, variando de 10-1 até 10-4 e devendo ser
mantidas em estufa a 28º a 30º C (MIRAGLIA et al., 2009). Os tubos contendo
as diluições seriadas devem ser mantidos em estufa durante 24h e
posteriormente ressemeados em outro meio de cultura, devendo ser examinados
por microscopia de campo escuro durante seis semanas (LILENBAUM et al.,
2007). Outra metodologia sugerida é a inoculação de 0,1 mL de cada diluição
em meios de cultura sólidos, sendo estes selados e mantidos invertidos em
34
estufa. Quando houver crescimento de leptospiras, essa deve ser transferida
para um meio líquido (TURNER, 1970).
3.6 Isolamento de Leptospira
Apesar do isolamento de Leptospira ser imprescindível para que sejam
conhecidas as espécies circulantes em determinadas regiões (LILENBAUM;
MARTINS, 2014), grande parte dos estudos que alcançam esse objetivo não
apresentam altas taxas de isolamento a partir de amostras clínicas.
Investigando as características genéticas e sorológicas de estirpes de
Leptospira isoladas a apartir de amostras de sangue de 388 pacientes humanos
utilizando o meio de cultura EMJH, pesquisadores puderam recuperar 6,1% de
espécies de L. borgpetersenii, L. kirschneri e L. interrogans a partir de amostras
(BOURHY et al., 2010). Já em Portugal, estudando 68 pacientes de um hospital,
obteve-se uma taxa de isolamento de 14,7% com a detecção de L. interrogans
e L. borgpetersenii, quando associada a técnica de diluição seriada em meio
EMJH. Os pesquisadores também fizeram uso de repiques consecutivos para
manutenção das culturas em EMJH semissólido com a adição de 5% de soro de
coelho e 5-FU (GONÇALVES et al., 2010).
Em animais, as taxas de isolamento não são diferentes daquelas obtidas
em estudos com seres humanos. Amostras de urina de 167 bovinos foram
inoculadas em meio de cultura EMJH e Fletcher e, caso identificada
contaminação por outros microrganismos, a adição de 5-FU e a filtração das
culturas eram realizadas. Com esse protocolo os autores foram capazes de isolar
a partir dessas amostras clínicas de bovinos no Brasil 6% de L. noguchii
(MARTINS et al., 2015). Em outro estudo, a metodologia utilizada permitiu o
isolamento de 10,4% a partir dos rins de 480 bovinos do Zimbábue. Entretanto,
os isolados só foram caracterizados por sorogrupagem por meio de
soroaglutinação microscópica (FERESU, 1992). Na Malásia, foram recuperados
6,7% de isolados de Leptospira a partir de amostras de 300 ratos urbanos
utilizando EMJH e EMJH semissólido, com a adição de 0,13% de Bacto agar,
1% de soro e coelho, 1% de albumina bovina e 5-FU (BENACER et al., 2013).
As taxas de isolamento mais baixas observadas em amostras de animais frente
àquelas em que o isolamento foi realizado a partir de amostras clínicas de
35
humanos provavelmente se dá em decorrência da dificuldade de se ter um
ambiente com baixo nível de contaminação e boa antissepsia na coleta de
amostras em animais. Isto predispõe um maior risco de contaminação por outros
microrganismos nestas amostras, fator crucial para sucesso no isolamento de
leptospiras (LOUREIRO et al., 2015).
Observando outros relatos de isolamento de Leptospira já descritos em
literatura, tanto a partir de animais e humanos como também a partir de amostras
ambientais, fica evidente que não há um padrão para o protocolo de isolamento
de leptospiras (CHAKRABORTY et al., 2011; CHIANI et al., 2016; CHIDEROLI
et al., 2016; GRUNE LOFFLER et al., 2015; SALGADO et al., 2015; ZACARIAS
et al., 2008). Os pesquisadores fazem uso de técnicas já descritas obtendo
sucesso relativo no isolamento de determinadas espécies de Leptospira.
Todavia, fica evidente que o sucesso não é dependente exclusivamente do
protocolo aplicado e desta forma o estudo do crescimento de leptospiras ainda
se faz necessário.
36
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.2 Seleção e descongelamento das espécies de Leptospira spp.
Foram selecionadas para o estudo quatro espécies de leptospiras
patogênicas, mais frequentemente associadas à leptospirose (CAMERON, 2015;
DIRECTOR et al., 2014; LOUREIRO et al., 2015; MARTINS et al., 2015; OTAKA
et al., 2012), sendo estas: L. santarosai, sorogrupo (sg) Shermani, sorovar (sv)
Shermani, cepa 1342K; L. borgpetersenii, sg Sejroe, sv Hardjobovis, cepa
Sponselee; L. noguchii, sg Panama, sv Panama, cepa CZ 214K; L. interrogans,
sg Icterohameorrhagiae, sv Copenhageni, cepa M20; L. interrogans, sg Sejroe,
sv Hardjoprajitno, cepa Hardjoprajitno. Todas as espécies estudadas estavam
congeladas em meio EMJH à -196 ºC na Coleção de Culturas de Bactérias de
Interesse Veterinário (CCBVet) localizado no Laboratório de Bacteriologia
Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF). Uma alíquota em
criotubo das espécies selecionadas foi descongelada à temperatura ambiente e
todo o conteúdo foi transferido para um tubo de ensaio contendo 5 mL de meio
de cultura EMJH para o crescimento inicial (NARDUCHE et al., 2016).
As espécies descongeladas foram mantidas em estufa a 28 ºC em meio
EMJH durante 10 dias e avaliadas em microscopia de campo escuro. Para
garantir a qualidade do experimento, as culturas eram avaliadas quanto: i) ao
crescimento eficiente da população bacteriana, atingindo concentrações
próximas de 108 leptospiras/mL de meio de cultura; ii) à motilidade ativa das
leptospiras, caracterizada por vigorosa rotação com a presença de uma ou
ambas as extremidades da célula dobradas (em formato de “gancho”); iii) à
presença ou ausência de auto-aglutinação das células e; iv) a ausência de
crescimento concomitante de microrganismos contaminantes. Após a análise,
quando considerado necessário, foram realizados subcultivos a 1:50 em novo
meio EMJH para manutenção das culturas vivas in vitro.
4.3 Meios de cultura utilizados
Os meios selecionados para a avaliação da curva de crescimento foram
o EMJH líquido, o Fletcher semissólido e o T80/40/LH líquido sem a adição de
antimicrobianos que estavam incluídos na formulação original. Para o preparo
dos meios EMJH e Fletcher foram seguidas as indicações fornecidas pelo
37
fabricante (Difco, Detroit, MI, EUA). Já o preparo do meio T80/40LH seguiu as
recomendações dos autores (ELLIS; MONTGOMERY; CASSELLS, 1985).
4.4 Componentes de Enriquecimento
Foram selecionados três componentes de enriquecimento, utilizados
separadamente. Estes foram: a) 10% de Soro de Coelho – SORO, b) 1% de
Albumina Bovina – BSA ou c) 0,1% de Piruvato de Sódio – PIR, em
concentrações recomendadas (NATARAJASEENIVASAN et al., 2010;
ZUERNER, 2005). O preparo das soluções estoques de BSA (40 mg/mL;
Millipore Sigma, São Paulo, BR) e PIR (100 mg/mL; Millipore Sigma, São Paulo,
BR) foi feito de acordo com as informações fornecidas pelos fabricantes, sendo
em seguida armazenados e mantidos congelados até seu uso. O soro de coelho
(Cíprion, São Paulo, BR) teve seu sistema complemento inativado a 56 ºC por
30 minutos em banho maria, sendo mantido em seu recipiente original e após
resfriamento armazenado à -20 oC até seu uso. Para a adição dos componentes
de enriquecimento, as soluções estoques de BSA e PIR e o soro de coelho foram
completamente descongeladas e homogeneizadas antes de serem adicionadas
ao meio de cultura.
4.5 Coquetéis de Antimicrobianos
Para controle de microrganismos contaminantes foram selecionados os
coquetéis de agentes antimicrobianos descritos na Tabela 1. Foi primeiramente
realizada a solubilização dos agentes antimicrobianos em seus diluentes
próprios de acordo com o indicado pelo fabricante (Sigma-Aldrich, Missouri,
EUA). Após a diluição dos agentes, foram preparadas soluções-estoque dos
coquetéis STAFF (CHAKRABORTY et al., 2011) e A5 (ELLIS; LITTLE, 1984).
Após o preparo, as soluções foram homogeneizadas e filtradas duas vezes em
filtros de membrana com poros de tamanho 0,22 µm (Kasvi, Guangzhou, CH),
sendo em seguida armazenados e mantidos congelados à -20 oC até seu uso.
Para o preparo do meio, as soluções-estoque foram completamente
descongeladas e preparados os meios nas concentrações de 10% para o
coquetel STAFF e 0,15% para o coquetel A5, de acordo com as recomendações
dos autores.
38
Para o coquetel CHID, não foi descrito o preparo de solução estoque,
apenas foi indicado a concentração final dos antimicrobianos em meio de cultura.
Desta forma, a diluição dos agentes foi realizada diretamente nos meios de
cultura. Após a adição dos produtos de forma asséptica no meio de cultura já
estéril, estes eram mantidos sob refrigeração (4 a 8o C) até o seu uso.
Tabela 1. Lista dos agentes antimicrobianos e suas concentrações de uso nos
coquetéis para o controle de microrganismos contaminantes.
Coquetel Antimicrobiano Agentes
STAFF
Sulfametoxazol 400 mg/L
Trimetoprima 200 mg/L
Anfotericina B 50 mg/L
Fosfomicina 4000 mg/L
5-Fluorouracil 1000 mg/L
CHID
5-Fluorouracil 400 mg/L
Cloranfenicol 5 mg/L
Ácido Nalidixico 50 mg/L
Neomicina 10 mg/L
Vancomicina 10 mg/L
A5 5-Fluorouracil 200 mg/L
Ácido Nalidixico 20 mg/L
39
A combinação entre os meios-base, bem como os componentes de
enriquecimento e os coquetéis antimicrobianos avaliados, permitiram a avaliação
de 32 diferentes formulações a serem estudadas (Fig 1).
Figura 1. Esquema representativo dos 32 diferentes meios de cultura
testados, incluindo meios-base (Fletcher, EMJH e T80/40LH); aditivos de
enriquecimento (Soro de Coelho [SORO], Albumina Bovina [BSA] e Piruvato de
Sódio [PIR]) e coquetéis antimicrobianos (STAFF, A5 e CHID). *SORO e PIR já
estão inclusos na composição base de T80/40LH. **SORO está incluso na
composição base de Fletcher.
4.6 Padronização do inóculo
O inóculo inicial para todas as espécies foi definido como 106
leptospiras/mL (FAINE et al., 1999). Para a contagem de leptospiras foram
realizadas diluições das culturas crescidas em solução tampão de Sorensen
(Fosfato Dissódico Na2HPO4 e Fosfato Monopotássico KH2PO4; pH 6.8). A
proporção das diluições dependia da confluência de crescimento inicial
observado nas culturas de leptospiras a fim de facilitar a contagem na câmara
de Neubauer. Para determinar a concentração de leptospiras presentes em 1 mL
de meio de cultura, os dados foram tratados na seguinte fórmula:
40
4.7 Determinação da curva de crescimento
O inóculo de 106 leptospiras/mL foi semeado em tubos contendo 5 mL de
cada um dos 32 meios de cultura avaliados, sempre em duplicata. Todos os
tubos inoculados foram incubados em estufa a 28º C por 16 dias. Os tubos eram
submetidos à avaliação por contagem manual em câmara de Neubauer a cada
48 horas, sendo a última no dia 16 após incubação.
4.8 Representação gráfica e análise estatística
Os dados obtidos com a realização das contagens foram primeiramente
trabalhados no programa GraphPad Prism 5 (GraphPad Software Inc., Califórnia,
EUA) para a construção gráfica das curvas de crescimento. Com esses dados,
foi possível realizar uma análise qualitativa das curvas de crescimento
apresentadas pelas genomoespécies nos 32 diferentes meios de cultura
avaliados.
Posteriormente, para uma avaliação quantitativa, os dados obtidos com a
realização das contagens foram trabalhados no programa RStudio (R. RStudio
Inc., Massachussets, EUA) com o pacote GrowthCurver (SPROUFFSKE;
WAGNER, 2016) para a obtenção das variáveis: a) tamanho populacional
máximo (k; em milhões), b) tempo de geração (t_gen; em horas) e c) ponto de
inflexão, momento em que inicia-se o crescimento exponencial da população
(t_mid; em horas).
As variáveis k, t_gen e t_mid foram tratadas por ANOVA com o teste de
Tukey (p<0,05) e utilizadas para comparar as curvas de crescimento das
diferentes estirpes em cada meio de cultura. Nesta análise foi observada que
apenas a estirpe L. borgpetersenii apresentava comportamento distinto das
demais e os resultados desta estirpe foram analisados individualmente. Com a
41
exclusão dos resultados para L. borgpetersenii, os dados obtidos das demais
estirpes foram agrupadas como repetições para a análise da combinação de
meios de cultura/enriquecimento/antimicrobianos mais satisfatório no
crescimento de leptospiras. Para tais análises foi utilizado o programa IBM SPSS
Statistics 20 (IBM Inc., Nova York, EUA).
42
5 RESULTADOS
5.1 Meios-base sem aditivos
5.1.1 Meio-base EMJH
Com os dados obtidos a partir da contagem das leptospiras em meio de
cultura base EMJH, foi possível construir a curva de crescimento para as cinco
estirpes estudadas (Fig.2). A espécie L. interrogans sg Icterohaemorrhagiae
exibiu uma breve fase lag de dois dias, seguida de uma fase log com duração de
seis dias, passando a fase estacionária a qual teve quatro dias de duração,
culminando na fase de declínio a partir do 12º dia de incubação. As espécies L.
interrogans sg Sejroe e L. noguchii exibiram um padrão de crescimento similar,
com fase lag de dois dias, seguida de fase log de longa duração (10 dias),
entretanto não foi possível identificar uma fase estacionária. Nestes casos, a fase
de declínio iniciou logo após o pico, ao 12º dia de incubação. Já a espécie de L.
santarosai também apresentou fase lag breve de dois dias, entretanto as fases
seguintes diferiram das espécies anteriores, sendo a fase log breve, com quatro
dias de duração e a estacionária mais prolongada, durante seis dias, culminando
no declínio da curva. Com os 16 dias de experimento não foi possível desenhar
uma curva de crescimento completa para L. borgpetersenii neste meio, tendo
sido identificada somente uma fase lag extensa, a qual durou até o 12º dia,
quando se deu o início do crescimento exponencial da população.
43
Figura 2. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sg Icterohaemorrhagiae, L. interrogans sg Sejroe, L. santarosai, L.
borgpetersenii e L. noguchii em meio-base EMJH.
Com relação às variáveis geradas pelo pacote GrowthCurver (Tabela 2),
identificou-se que o t_gen diferiu significativamente entre as espécies (p<0,05),
sendo que L. santarosai apresentou o menor valor para esse parâmetro
(t_gen=10h) e L. borgpetersenii o maior valor (t_gen=61h). O t_mid das espécies
L. santarosai e L. interrogans sg Icterohaemorrhagiae mostraram-se similares
(t_mid=115h e 116h), já os valores de L. noguchii (t_mid=126h) e L. interrogans
sg Sejroe (t_mid=135h) diferiram em relação às demais espécies. O k de todas
as espécies, com exceção de L. borgpetersenii, foi similar entre si (p>0,05),
sendo que L. noguchii apresentou o maior valor para esta variável (k=358
milhões) e L. santarosai o menor valor (k=203 milhões). Devido a grande
diferença apresentada para o padrão de crescimento da espécie L.
borgpetesenii, as análises para tais valores foram realizadas separadamente e
apresentada em um tópico a parte.
44
Tabela 2. Valores de tempo de geração (t_gen), ponto de inflexão (t_mid) e valor
de crescimento populacional máximo (k) para as espécies L. interrogans sgs
Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii, L. santarosai e L. borgpetersenii em
meio-base EMJH.
Espécie Sorogrupo t_gen
(horas) t_mid
(horas) K (em
milhão)
L. santarosai Shermani 10a 115a 203a
L. interrogans Icterohaemorrhagiae 21b 116a 341a
L. noguchii Panama 24c 126b 358a
L. interrogans Sejroe 25d 135c 322a
L. borgpetersenii Sejroe 61 1868 -
Obs.: Valores que compartilham verticalmente uma mesma letra não diferem entre si; Leptospira
borgpetersenii não foi incluída na avaliação estatística
5.1.2 Meio-base T80/40LH
Para o meio-base T80/40/LH, as curvas de crescimento das estirpes
estudadas estão demonstradas na Figura 3. Para a espécie de L. interrogans sg
Icterohaemorrhagiae, a fase lag teve duração de quatro dias, seguindo para a
fase log com duração de seis dias, entrando gradualmente na fase estacionária
(10º ao 14º dia), culminando no declínio. Para L. interrogans sg Sejroe, a fase
lag teve a mesma duração da anterior, com fase log do 4º ao 12º dia, passando
diretamente para a fase de declínio. A espécie de L. santarosai apresentou fase
lag breve (0 ao 2º dia), fase log com seis dias de duração, entrando na fase
estacionária, sendo esta breve (dois dias de duração) culminando em uma longa
fase de declínio do 10º até o último dia de avaliação. L. noguchii exibiu fase lag
com duração de quatro dias, fase log com seis dias de duração, passando de
forma gradual pela fase estacionária (10º ao 12º dia), entrando em declínio. Por
fim, a espécie de L. borgpetersenii apresentou fase lag com quatro dias de
duração, uma longa fase log (oito dias), não sendo possível identificar uma fase
estacionária, passando diretamente a fase de declínio, a partir do 12º dia.
45
Figura 3. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. santarosai, L. borgpetersenii
e L. noguchii em meio T80/40/LH.
Comparando os valores de t_gen para as cinco espécies em meio
T80/40LH (Tabela 3), observa-se que L. interrogans sg Icterohaemorrhagiae
(t_gen=13h) não difere das espécies L. santarosai, L. borgpetersenii e L.
noguchii (t_gen=12h, 15h e 15h, respectivamente); as espécies L. borgpetersenii
e L. noguchii também são similares entre si e, por fim, a espécie L. interrogans
sg Sejroe não se assemelha a nenhuma outra avaliada. Já os valores de t_mid
diferem entre si para todas as espécies estudadas. As análises dos valores de k
seguiram o mesmo padrão para as demais variáveis, tendo a espécie L.
interrogans sg Sejroe apresentado o maior valor (k=289 milhões) e L.
borgpetersenii o menor valor (k=122 milhões).
46
Tabela 3. Valores de tempo de geração (t_gen), ponto de inflexão (t_mid) e valor
de crescimento populacional máximo (k) para as espécies L. interrogans sgs
Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii, L. santarosai e L. borgpetersenii em
meio-base T80/40LH.
Espécie Sorogrupo t_gen
(horas) t_mid
(horas) k (em
milhão)
L. santarosai Shermani 12a 98a 212c
L. interrogans Icterohaemorrhagiae 13ab 143b 242d
L. noguchii Panama 15b 161d 122a
L. interrogans Sejroe 15b 150c 187b
L. borgpetersenii Sejroe 20c 167e 289e
Valores que compartilham verticalmente uma mesma letra não diferem entre si
5.1.3 Meio-base Fletcher
No meio Fletcher (Fig. 4) a espécie de L. borgpetersenii não apresentou
crescimento, o que impossibilitou a avaliação logo após o 2º dia de
experimento. Não foi possível identificar a fase lag das demais estirpes
avaliadas, o crescimento exponencial da população (fase log) iniciou a partir do
dia 0 durando entre o 6º e o 8º dia. Além disso, também não foi possível
identificar o período estacionário, iniciando a fase de declínio logo após atingir
o pico máximo de crescimento no 12º dia.
47
Figura 4. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. santarosai, L. borgpetersenii e
L. noguchii em meio Fletcher.
O t_gen das quatro espécies que conseguiram crescer em meio Fletcher
não diferiu significativamente (Tabela 4), tendo L. interrogans sg Sejroe
apresentado o menor valor para esta variável (t_gen=3h) e L. interrogans sg
Icterohaemorrhagiae o maior valor (t_gen=11h). O t_mid de L. noguchii e L.
interrogans sg Icterohaemorrhagiae se mostraram similares, enquanto que L.
santarosai e L. interrogans sg Sejroe também não apresentaram diferença
entre si.
48
Tabela 4. Valores de tempo de geração (t_gen), ponto de inflexão (t_mid) e valor
de crescimento populacional máximo (k) para as espécies L. interrogans sgs
Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii e L. santarosai em meio-base
Fletcher.
Espécie Sorogrupos t_gen
(horas) t_mid
(horas) k
(horas)
L. interrogans Sejroe 3a 97b 68c
L. noguchii Panama 6a 41a 59b
L. santarosai Shermani 6a 84b 45a
L. interrogans Icterohaemorrhagiae 11a 56a 72c
Valores que compartilham verticalmente uma mesma letra não diferem entre si
5.1.4 Comparação estatística entre os meios-base sem aditivos
Para avaliar o meio que possibilitou o alcance de maior k, foi realizada
uma comparação entre os meios-base EMJH, T80/40LH e Fletcher utilizando os
dados das estirpes L. interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L.
santarosai e L. noguchii como repetições (Tabela 5). Foi observada diferença
(p<0,05) entre os meios de cultura avaliados, sendo o EMJH o meio que
apresentou maior valor de k, excluindo-se os valores para a espécie L.
borgpetersenii devido à impossibilidade de se definir o valor de k. Com relação
à média para a variável t_gen, o meio Fletcher apresentou valores inferiores aos
demais meios (t_gen=6h), enquanto que o meio EMJH apresentou o maior valor
para esta variável (t_gen=20h); já em relação ao t_mid, os três meios de cultura
avaliados não diferiram entre si (Fletcher=61h; T80/40LH=107h; EMJH=97h).
Tabela 5. Relação entre os valores de tempo de geração (t_gen), ponto de
inflexão (t_mid) e pico máximo de crescimento (k) das espécies L. interrogans
sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii e L. santarosai, nos meios-base
EMJH, Fletcher e T80/40LH.
Meio de Cultura / Variáveis t_gen (horas) t_mid (horas) k (em milhões)
Fletcher 6a 61a 61a
T80/40LH 15b 107a 232b
EMJH 20b 97a 306c
Valores que compartilham verticalmente uma mesma letra não diferem entre si
49
5.2 Compostos de Enriquecimento
5.2.1 Meio EMJH com a adição de compostos de enriquecimento
A adição de BSA no EMJH inibiu o crescimento de todas as espécies de
Leptospira. As curvas de crescimento nos meios com adição de SORO e PIR
das estirpes L. interrogans sg Icterohaemorrhagiae e L. santarosai mostraram
um padrão semelhante em ambas estirpes, diferindo somente na fase
estacionária, a qual estava presente no meio EMJH+PIR e ausente no meio
EMJH+SORO (Figura 5). A curva de crescimento da espécie L. noguchii frente
ao meio EMJH+SORO foi semelhante à curva apresentada no meio EMJH+PIR
(Figura 6). Da mesma forma, as curvas para a espécie L. interrogans sg Sejroe
nos meios EMJH+SORO e EMJH+PIR não diferiram. Comparando-se o meio-
base EMJH e a adição dos componentes de enriquecimento SORO e PIR não
houve diferença nos valores de k, t_gen e t_mid (p<0,05) para as quatro estirpes
avaliadas. Quando inoculada nos meios EMJH+PIR e EMJH+SORO, L.
borgpetersenii apresentou curva incompleta aos 16 dias, semelhante ao ocorrido
no EMJH base.
50
Figura 5. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L. interrogans sg Icterohaemorrhagiae e L. santarosai em
meio EMJH com a adição dos componentes de enriquecimento Soro de Coelho (10%) e Piruvato de Sódio (0,1%).
51
Figura 6. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L. interrogans sg Sejroe e L. noguchii em meio EMJH com a
adição dos componentes de enriquecimento Soro de Coelho (10%) e Piruvato de Sódio (0,1%).
52
5.2.2 Comportamento da espécie Leptospira borgpetersenii
Assim como no meio-base EMJH, com os 16 dias de contagem não foi possível
desenhar uma curva de crescimento completa para L. borgpetersenii, nos meios
EMJH+PIR e EMJH+SORO, foi observado somente uma longa fase lag (Fig.7),
quando se deu o início do crescimento exponencial da população. O meio T80/40LH
foi o único meio de cultura que permitiu um desenvolvimento completo de L.
borgpetersenii, como pode ser visto anteriormente. Neste meio de cultura, o pico
máximo alcançado pela população foi k=122 milhões.
Figura 7. Representação gráfica da curva de crescimento de L. borgpetersenii nos
meios EMJH e T80/40LH e nos meio-base EMJH com a adição dos compostos de
enriquecimento Soro de Coelho (10%) e Piruvato de Sódio (0,1%).
A variável t_mid não apresentou diferença (p>0,05) para os meios T80/40LH
(161h) e EMJH+PIR (280h). Da mesma forma, não houve diferença para os valores
de t_mid na comparação entre os meios EMJH+PIR e EMJH+SORO (371h) (Tabela
53
6). Os valores de t_gen para L. borgpetersenii nos meios T80/40LH (15h) e EMJH+PIR
(27h) são similares entre si, porém diferem dos valores observados para os meios
EMJH+SORO (65h) e EMJH (61h) que também não apresentam diferenças
significativas entre si.
Tabela 6. Relação entre os valores de tempo de geração (t_gen), ponto de inflexão
(t_mid) e pico máximo de crescimento (k) da espécie L. borgpetersenii, nos meios-
base EMJH e T80/40LH e nos meios EMJH+SORO e EMJH+PIR.
Valores que compartilham verticalmente uma mesma letra não diferem entre si
5.2.3 Meio Fletcher com a adição de compostos de enriquecimento
As curvas para L. interrogans sg Icterohaemorrhagiae nos meios Fletcher+BSA
e Fletcher+PIR foram similares à do meio-base Fletcher, com uma fase lag pouco
definida, não apresentando fase estacionária (Fig. 8). O mesmo comportamento foi
observado para a espécie L. santarosai. A espécie L. interrogans sg Sejroe não foi
capaz de se desenvolver quando houve a adição de BSA ao meio, enquanto L.
noguchii apresentou fase lag com duração de quatro dias, entrando em crescimento
exponencial até atingir o pico de crescimento no 6º dia, não sendo possível identificar
a fase estacionária, com declínio logo em seguida (Fig 9). Quando adicionado PIR ao
meio-base Fletcher, as espécies L. interrogans sg Sejroe e L. noguchii apresentaram
curva de crescimento com fase lag pouco definida, atingindo seu pico de crescimento
no 10º dia e entrando em declínio em seguida. A espécie de L. borgpetersenii não
apresentou crescimento no meio Fletcher mesmo quando suplementado com BSA ou
PIR. Os valores de k, t_gen e t_mid para os meios Fletcher+BSA Fletcher+PIR não
diferiram em relação ao meio-base Fletcher (p<0,05) tanto na análise geral dos meios
(usando espécies com repetição) quanto na comparação entre as espécies.
Meio de Cultura / Variáveis
t_mid (horas)
t_gen (horas)
k (em milhão)
T80/40LH 161a 15a 122
EMJH+PIR 280ab 27a -
EMJH+SORO 371b 65b -
EMJH - 61b -
54
Figura 8. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L. interrogans sg Icterohamenorrhagiae e L. santarosai em
meio Fletcher com a adição dos componentes de enriquecimento Albumina Bovina (1%) e Piruvato de Sódio (0,1%).
55
Figura 9. Representação gráfica da curva de crescimento das espécies L. interrogans sg Sejroe e L. noguchii em meio Fletcher com
a adição dos componentes de enriquecimento Albumina Bovina (1%) e Piruvato de Sódio (0,1%).
56
5.3 Adição de Coquetéis Antimicrobianos
Os coquetéis STAFF e A5 não inibiram o crescimento das espécies L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii e L. santarosai. A espécie
L. borgpetersenii não foi capaz de se desenvolver em meio EMJH+STAFF, crescendo
somente quando da adição do coquetel A5 em meio-base EMJH. Em todos os outros
meios avaliados o coquetel STAFF não produziu este mesmo efeito. Já o coquetel
CHID inibiu o crescimento de todas as espécies avaliadas quando adicionado a
qualquer um dos meios-base e dos meios com a adição de componentes de
enriquecimento.
Na análise geral dos meios, a adição dos coquetéis antimicrobianos STAFF e
A5, não alterou os valores de k, t_gen e t_mid em relação aos meios-base e suas
combinações com componentes de enriquecimento (p>0,05). Quando comparados
entre si, os coquetéis STAFF e A5 mostram-se similares (p>0,05) para o meio EMJH-
base, assim como quando houve a adição de componentes de enriquecimento; e para
o meio T80/40LH-base. Entretanto, quando os resultados em meio Fletcher-base, L.
interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L. noguchii e L. santarosai
apresentaram t_gen para o meio Fletcher+A5 menor que o t_gen para o meio
Fletcher+STAFF. O oposto foi observado na análise da combinação Fletcher+PIR, em
que, quando adicionado o coquetel A5, o t_gen se mostrou maior para este do que o
apresentado no meio Fletcher+PIR+STAFF para as mesmas espécies anteriores.
57
6 DISCUSSÃO
Durante muito tempo, os estudos em Leptospira utilizaram a construção da
curva de crescimento como ferramenta para o entendimento dos requerimentos
nutricionais e características bioquímicas de algumas espécies, fazendo observações
pontuais a respeito do padrão de crescimento desses microrganismos (CHANG, 1947;
ELLINGHAUSEN; MCCULLOUGH, 1965a, 1965b; ELLINGHAUSEN, 1960;
JOHNSON; GARY, 1962, 1963; VANESELTINE; STAPLES, 1961). Entretanto, até o
presente momento, não foi realizada uma avaliação da curva de crescimento
comparando diferentes espécies de Leptospira, pré-definindo assim que todas as
espécies do gênero se comportariam de forma idêntica. Pouco se sabe a respeito da
forma mais eficiente de se obter o isolamento dessas bactérias, principalmente
aquelas mais exigentes e de crescimento mais fastidioso, como L. borgpetersenii. A
construção da curva de crescimento permite o entendimento da dinâmica do
desenvolvimento bacteriano (SPROUFFSKE; WAGNER, 2016) e, assim sendo, sua
interpretação contribui substancialmente para um melhor entendimento do cultivo
desses microrganismos.
A respeito das curvas de crescimento apresentadas pelas espécies de
Leptospira, a estruturação não diferiu, de forma geral, daquela apresentada por outras
espécies bacterianas (MICHA; CORRADINI, 2011). Entretanto, a avaliação qualitativa
das curvas de crescimento apresentadas em meio EMJH mostrou diferenças no
comportamento das espécies estudadas, assim como observado em outros estudos
descritivos (SHENBERG, 1967). No presente estudo, não nos remetemos apenas a
análise qualitativa para a avaliação do meio de cultura mais eficiente no crescimento
de espécies de leptospiras, mas utilizamos também os parâmetros k, t_gen e t_mid
como referências, já que estes predizem, respectivamente, a população máxima a ser
alcançada em tal meio de cultura, o tempo de geração desses microrganismos e o
momento em que se inicia o crescimento exponencial da população (SPROUFFSKE;
WAGNER, 2016).
É sabido que a fase lag das bactérias nos meios de cultura corresponde a um
período de adaptação ao meio em que estão inseridos (TJØRVE; TJØRVE, 2017).
Quando inoculadas no meio de cultura de mesma formulação ao qual a bactéria vinha
sendo mantida, a tendência é que se encurte esse período adaptativo. O meio EMJH
é o mais frequentemente aplicado na manutenção de leptospiras em cultura (LATIFAH
58
et al., 2017; LOUREIRO et al., 2015; MOHD ALI et al., 2017; SCIALFA et al., 2017);
desta forma é de se esperar que espécies provenientes de uma coleção de culturas
estejam mais adaptadas a este meio, apresentando fase lag breve para todas as
espécies avaliadas. Porém, na análise geral dos meios, os valores de t_mid para
EMJH, T80/40/LH e Fletcher não diferiram indicando que a adaptação das espécies
de leptospira utilizadas em meios diferentes é tão eficiente quanto em seu meio
original de manutenção (EMJH).
Um meio de cultura eficiente no crescimento de leptospiras é aquele que
alcança alta densidade populacional no menor prazo possível para detecção precoce
do microrganismo por microscopia de campo escuro. Foi relatado que as densidades
populacionais que leptospiras já adaptadas ao meio podem alcançar in vitro variam
entre 107-108 leptospiras/mL com tempo de geração estimado em 6-8h (CAMERON,
2015). No presente estudo, as espécies apresentaram picos máximos de crescimento
(k) com valores de 108 leptospiras/mL em concordância com o descrito em literatura.
Porém em relação aos tempos de geração (t_gen), somente em meio Fletcher as
espécies adaptadas ao ambiente in vitro apresentaram t_gen semelhante ao
anteriormente descrito. Quando inoculadas nos meios líquidos T80/40LH e EMJH as
leptospiras apresentaram t_gen bastante superiores ao descrito para leptospiras
previamente adaptadas às condições in vitro. Comparando tais parâmetros entre os
meios de cultura (EMJH-base, T80/40LH-base e Fletcher-base), o meio Fletcher
apresentou o menor valor de t_gen; porém a sugestão deste como meio mais eficiente
para o isolamento e manutenção de leptospiras não se justifica pelo fato da população
máxima de leptospiras para este ser bastante inferior a observada nos demais.
Apesar de serem microrganismos capazes de se desenvolverem em
ambientes de microaerofilia (ZHANG et al., 2011), a pouca aeração do meio Fletcher
causada pela presença do ágar pode influenciar negativamente na obtenção de
oxigênio por essas bactérias, em comparação com meios líquidos. Durante muito
tempo o meio Fletcher foi indicado como meio de manutenção a longo prazo de
leptospiras (FAINE et al., 1999; TURNER, 1970). Entretanto, os resultados
apresentados nesse estudo contraindicam o uso deste meio de cultura para este fim,
visto que o ambiente de cultivo fornecido pelo Fletcher não permite que leptospiras
adaptadas perdurem por mais de oito dias. Adicionalmente, um meio semissólido
dificulta a manipulação da cultura em laboratório já que com este não é possível
59
proceder filtragem por membranas de 0,22um para descontaminação e/ ou
congelamento de espécies para preservação de virulência (NARDUCHE et al. 2016).
Assim sendo, em uma análise geral, o meio líquido EMJH-base se mostrou o
mais eficiente para manutenção e isolamento de leptospiras visto que o k para este
meio se mostrou mais alto. Tal achado reforça e justifica o uso do EMJH base na
manutenção e isolamento primário de leptospiras quando não se objetiva o isolamento
de L. borgpetersenii.
Na busca pelo aprimoramento da técnica de cultivo de Leptospira, muito foi
estudado a respeito do uso de soro de animais como um aditivo que levasse a melhora
nas taxas de crescimento, de tal forma que muitos autores passaram a adicionar esse
produto como enriquecimento para os meios de cultura (DELANEY et al., 2014; DOS
SANTOS PAIXÃO et al., 2014; ELLINGHAUSEN, 1960; JOHNSON; GARY, 1962;
KUTSUNA et al., 2015; SCHNEIDERMAN et al., 1951). Quando feita a avaliação
estatística entre o meio-base EMJH com e sem a adição de soro de coelho, esses
valores não se mostraram significativamente diferentes. Apesar da formulação exata
do meio EMJH comercial não ser conhecida, em algumas publicações é
disponibilizada a composição para fabricação in house deste meio, a qual inclui Soro
de Coelho e Albumina Bovina (CAMERON, 2015; JOHNSON; HARRIS, 1967). Já foi
demonstrado anteriormente que a adição de 8-12% de soro de coelho no meio de
cultura configura melhora no crescimento de leptospiras; entretanto, quando a
concentração supera 12%, há diminuição deste potencial (ELLINGHAUSEN, 1960).
Especula-se que os fatores de crescimento indicados na bula do EMJH comercial
contenham em sua formulação algum percentual de soro de coelho e, no presente
estudo a inclusão adicional deste composto tenha elevado além do recomendado as
concentrações desse produto, diminuindo sua performance como promotor de
crescimento.
A albumina bovina atua como um agente absortivo, desintoxicante, além de
transportar aminoácidos e lipídeos (FAINE et al., 1999; JOHNSON; WILSON, 1960).
Como mencionado anteriormente, sugere-se que há BSA na composição original do
meio comercial EMJH e, assim como ocorreu quando adicionado soro de coelho a
este meio, a adição de BSA como componente de enriquecimento no presente estudo
elevou suas concentrações. Entretanto, diferente do que aconteceu com o
EMJH+SORO, a supersaturação de BSA em EMJH não foi permissiva ao crescimento
60
de nenhuma das espécies avaliadas. Já quando adicionado ao meio Fletcher,
somente as espécies L. interrogans sg Icterohaemorrhagiae, L. santarosai e L.
noguchii apresentaram crescimento. Em um estudo da curva de crescimento do
sorogrupo Icterohaemorrhagiae identificou-se que o soro era essencial para o
crescimento da espécie e que este não poderia ser substituído por albumina em sua
totalidade (CHANG, 1947). Quando feita a separação do soro em três porções
(albumina, globulina e ultrafiltrado) a porção única de albumina permitia o crescimento
de leptospiras do sorogrupo Pomona, porém as três porções eram necessárias para
um crescimento ótimo (JOHNSON; WILSON, 1960).
O último componente de enriquecimento avaliado foi o piruvato de sódio, o qual
foi utilizado por alguns autores para o cultivo de leptospiras (MYERS; JELAMBI, 1975;
NATARAJASEENIVASAN et al., 2010; SKILBECK; FORSYTH; DOHNT, 1988). O
piruvato de sódio se mostrou eficiente na estimulação do crescimento de espécies
fastidiosas (JOHNSON et al., 1973). Entretanto, as análises do presente estudo não
justificam a adição de piruvato de sódio em meio EMJH, visto que a adição deste não
melhorou os parâmetros do meio de cultura.
A espécie L. borgpetersenii não apresentou curva completa ao final dos 16
dias de experimento quando inoculadas tanto em EMJH-base quanto nas suas
combinações. Isto ocorreu devido ao fato de que esta espécie apresentou um t_gen e
t_mid muito longos nestes meios. Assim sendo, o uso de EMJH para o isolamento
primário destas espécies não seria indicado. A fase lag mais prolongada permite o
estabelecimento de outros microrganismos contaminantes com consumo de
nutrientes e produção de metabólitos no meio muito antes do estabelecimento da
população de leptospiras, dificultando, assim, a obtenção de uma cultura pura de
leptospiras (LOUREIRO et al., 2015).
Recentemente foi sugerido um novo protocolo para o isolamento de L.
borgpetersenii sorovar Hardjo a partir de amostras clínicas de bovinos. Neste, utilizou-
se EMJH adicionado de piruvato de sódio e soro fetal bovino para o isolamento
primário da espécie. De acordo com os autores, a adição de superóxido dismutase
em EMJH se fez necessária para a manutenção in vitro de L. borgpetersenii
(CHIDEROLI et al., 2017). Em 1985, um estudo objetivando o isolamento de espécies
do tipo Hardjo a partir de amostras clínicas de bovinos obteve maior sucesso no
isolamento em meio T80/40LH do que em EMJH. O meio T80/40LH possui em sua
61
formulação soro de coelho, piruvato de sódio, albumina bovina e superóxido
dismutase (ELLIS; MONTGOMERY; CASSELLS, 1985). Ainda que Chideroli e
colaboradores tenham obtido o isolamento de L. borgpetersenii e L. interrogans,
espécies até o momento inéditas no país (CHIDEROLI et al., 2017), o custo da adição
de piruvato de sódio, soro fetal bovino e superóxido dismutase no meio EMJH é maior
do que a fabricação in house de T80/40LH. Desta forma, considerando os valores de
k, t_mid e t_gen desse microrganismo, o meio T80/40/LH se mostrou o mais eficiente
no cultivo de L. borgpetersenii.
Além do desenvolvimento mais lento de L. borgpetersenii em EMJH, esta
espécie também não foi capaz de crescer em meio Fletcher. O sequenciamento de
genoma completo de L. borgpetersenii indicou uma redução de genoma frente às
demais espécies de leptospiras. Assim sendo, essa espécie possui menos
mecanismos de adaptação à diferentes ambientes, o que dificulta seu isolamento
(BULACH et al., 2006). Dentre as estirpes pertencentes à espécie L. borgpetersenii, a
Hardjobovis do sorogrupo Sejroe é a de maior relevância por estar mais
frequentemente associada às perdas reprodutivas por leptospirose em bovinos (LAU
et al., 2015). No Brasil, estudos sorológicos demonstraram alta prevalência para o
sorogrupo Sejroe (COSATE et al., 2012; PINTO; LIBONATI; LILENBAUM, 2017).
Entretanto são raros os relatos de isolamento de L. borgpetersenii no país
(CHIDEROLI et al., 2016) em comparação com outras espécies como L. santarosai e
L. noguchii (LOUREIRO et al., 2015; MARTINS et al., 2015). Devido a sua dificuldade
de isolamento e a predominância do uso do EMJH como meio preferencial para o
isolamento de leptospiras nos estudos reportados (CHIDEROLI et al., 2016; HAMOND
et al., 2015; LOUREIRO et al., 2015; MARTINS et al., 2015), questiona-se se estirpes
L. borgpetersenii são de fato relevantes no Brasil como no restante do mundo, ou se
a falta de isolamentos destas espécies representaria um viés dada por suas
exigências particulares de cultivo.
Um relato recente com o uso de sequenciamento direto de amostras clínicas
de 77 bovinos no Brasil apontou que 41,7% das amostras tinham DNA correspondente
a L. borgpetersenii frente à 25,0% identificadas como L. santarosai, 25,0% como L.
interrogans e apenas 8,3% como L. noguchii (HAMOND et al., 2016). O indício de
prevalência considerável para L. borgpetersenii nos bovinos do Brasil, associado aos
resultados do presente estudo que indicam que as metodologias mais frequentemente
62
aplicadas são pouco eficientes para o isolamento de L. borgpetersenii, sugerem que
esta dificuldade de obtenção de espécies realmente vem impactando na compreensão
da epidemiologia da leptospirose bovina no Brasil.
Por fim, no que se refere ao controle do crescimento de microrganismos
contaminantes, os coquetéis STAFF e A5 se mostraram eficazes no controle de
contaminantes assim como em outros estudos (ELLIS; MONTGOMERY; CASSELLS,
1985; HAAKE et al., 1991; LOUREIRO et al., 2015; MIRAGLIA et al., 2009).
Adicionalmente, quando comparado os valores de k, t_gen e t_mid dos meios com e
sem a adição destes coquetéis antimicrobianos, não diferiram, demonstrando que seu
uso não interfere no crescimento das espécies de Leptospira, com exceção de
espécies de L. borgpetersenii.
A eficiência do STAFF na obtenção de culturas puras de leptospiras já foi
demonstrada anteriormente em amostras de solo (CHAKRABORTY et al., 2010) e
amostras clínicas de bovinos (LOUREIRO et al., 2015). Porém neste último estudo
feito a campo foi observada a predominância de isolamento de espécies L. noguchii e
L. santarosai levando a acreditar em certa seletividade do coquetel STAFF para tais
espécies. Tal observação se confirmou parcialmente no presente estudo uma vez que
a espécie L. borgpetersenii teve seu crescimento inibido frente a este coquetel de
antibióticos. Já as espécies de L. interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe não
foram inibidas, o que sugere que este não foi o principal fator para a não obtenção
destas espécies em estudos anteriores.
A composição dos coquetéis antimicrobianos e a escolha do protocolo para o
isolamento de leptospiras influenciam diretamente no sucesso da técnica. Alguns
coquetéis como STAFF e A5 não afetam o desenvolvimento desses microrganismos
a longo prazo, como pode ser visto no presente estudo, podendo ser utilizados em
meios de cultura de manutenção. Muitos autores utilizam coquetéis antimicrobianos
nas primeiras 24 ou 48h após a inoculação inicial, realizando um novo repique após o
tempo decorrido em meios de cultura que não contém esses coquetéis (BHATIA;
UMAPATHY; NAVANEETH, 2015; CHIDEROLI et al., 2017; HIGINO S.S.S. et al.,
2010; SAITO et al., 2015; ZACARIAS et al., 2008). Tal técnica é baseada no fato de
que o tempo de geração mais longo da Leptospira faria com que não houvesse
assimilação das drogas nas primeiras 48 horas após inoculação (SCHONBERG,
1981). O contrário ocorreria nos microrganismos contaminantes que sucumbiriam logo
63
nas primeiras horas após a semeadura. No presente estudo o coquetel CHID inibiu o
crescimento de todas as espécies avaliadas tanto quando adicionados aos meios-
base como àqueles que possuíam componentes de enriquecimento. Recentemente,
foi descrito sucesso utilizando um protocolo especifico em que o material clínico era
inoculado no meio contendo o coquetel CHID apenas nas primeiras 24h pós-
inoculação, quando então era realizado um repique em novo meio de cultura sem a
presença de antibióticos (CHIDEROLI et al., 2017). Esta estratégia reforça os achados
do presente estudo, em que este coquetel é contraindicado para o uso contínuo em
manutenção ou isolamento de culturas.
64
7 CONCLUSÕES
1. O meio de cultura EMJH se mostrou mais eficiente no crescimento geral para as
espécies L. interrogans, L. noguchii e L. santarosai. Alcançando populações de
até 108 leptospiras/mL, a qual ocorreu, em média, no 12º dia de cultivo para
espécies já adaptadas ao ambiente in vitro.
2. A adição de 1% de Albumina Bovina no meio EMJH comercial não permitiu o
crescimento de nenhuma das espécies avaliadas, entretanto o mesmo não foi
observado no meio Fletcher, sugerindo que esta, quando não acompanhada de
um fluido orgânico, leva à inibição do crescimento das leptospiras.
3. A adição de 10% de Soro de Coelho ou de 0,1% de Piruvato de Sódio não
produziu alterações significativas no crescimento de L. interrogans, L. noguchii,
ou L. santarosai. Sugere-se que o uso desses produtos como compostos de
enriquecimento não melhore o desempenho dessas espécies em meio EMJH e
Fletcher.
4. Não foi possível caracterizar a curva de crescimento de L. borgpetersenii no meio-
base EMJH com 16 dias de avaliação. Além disso, L. borgpetersenii não foi capaz
de se desenvolver nos meios de cultura semissólidos. Para o cultivo de L.
borgpetersenii o meio-base T80/40/LH se mostrou mais eficiente já que a espécie
apresentou melhores taxas de crescimento e menor tempo de geração.
5. Quanto a adição de antimicrobianos aos meios de cultura, os coquetéis A5 e
STAFF se mostraram similares e garantiram um crescimento igual ao dos meios-
base para as espécies L. interrogans sgs Icterohaemorrhagiae e Sejroe, L.
santarosai e L. noguchii sem a observação do crescimento de outros
microrganismos contaminantes. Já o coquetel CHID não permitiu o crescimento
de nenhuma das espécies avaliadas quando adicionado a qualquer um dos meios-
base avaliados e também aqueles com a adição de compostos de enriquecimento.
6. O meio T80/40LH-base se mostrou o mais eficiente para o cultivo das espécies L.
interrogans, L. noguchii e L. santarosai e L. borgpetersenii; o coquetel
antimicrobiano STAFF mostrou ser o método de controle de contaminantes menos
influente no crescimento das três primeiras, enquanto que, para L. borgpetersenii,
recomenda-se o uso do coquetel antimicrobiano A5 como método de controle de
contaminantes que menos compromete o crescimento desta espécie.
65
8 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADLER, B.; DE LA PEÑA-MOCTEZUMA, A. Leptospira and leptospirosis.
Veterinary Microbiology, v. 140, p. 287–296, 2010.
AHMAD, S. N.; SHAH, S.; AHMAD, F. M. H. Laboratory Diagnosis of
leptospirosis. Journal of Postgraduate Medicine, v. 51, p. 195–200, 2005.
AHMED, A. et al. Development and validation of a real-time PCR for detection of
pathogenic leptospira species in clinical materials. PLoS One, v. 4, n. 9, p. e7093,
2009.
AL-MAALY, N. M. H.; JUDI, A. M. ISOLATION OF LEPTOSPIRES FROM
BOVINE URINE AT MIDDLE PROVINCES IN IRAQ. International Journal of
Advanced Research, v. 3, n. 7, p. 420–423, 2015.
ALT, D. P.; ZUERNER, R. L.; BOLIN, C. A. Evaluation of antibiotics for treatment
of cattle infected with Leptospira borgpetersenii serovar hardjo. Journal of the
American Veterinary Medical Association, v. 219, n. 5, p. 636–639, 2001.
BENACER, D. et al. Isolation and molecular characterization of Leptospira
interrogans and Leptospira borgpetersenii Isolates from the urban rat populations of
Kuala Lumpur, Malaysia. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v.
88, n. 4, p. 704–709, 2013.
BHATIA, M.; UMAPATHY, B.; NAVANEETH, B. An evaluation of dark field
microscopy, culture and commercial serological kits in the diagnosis of leptospirosis.
Indian Journal of Medical Microbiology, v. 33, n. 3, p. 416, 2015.
BLACKMORE, D. K.; SCHOLLUM, L. Leptospirosis of pig farmers: the results of
a serological survey. New Zeland Medical Journal, v. 25, n. 712, p. 494–497, 1982.
BOURHY, P. et al. Isolation and characterization of new Leptospira genotypes
from patients in Mayotte (Indian Ocean). PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 4, n.
6, 2010.
BOURHY, P. et al. Comparison of real-time PCR assays for detection of
pathogenic Leptospira spp. in blood and identification of variations in target sequences.
Journal of Clinical Microbiology, v. 49, n. 6, p. 2154–2160, 2011.
66
BULACH, D. M. et al. Lipopolysaccharide Biosynthesis in Leptospira. Journal of
Molecular Microbiology and Biotechnology, v. 2, n. 4, p. 375–380, 2000.
BULACH, D. M. et al. Genome reduction in Leptospira borgpetersenii reflects
limited transmission potential. Proceedings of the National Academy of Sciences,
v. 103, n. 39, p. 14560–14565, 2006.
CAMERON, C. E. Leptospiral structure, physiology, and metabolism. Current
Topics in Microbiology and Immunology, v. 387, p. 21–41, 2015.
CHAKRABORTY, A. et al. In vitro sensitivity and resistance of 46 Leptospira
strains isolated from rats in the Philippines to 14 antimicrobial agents. Antimicrobial
Agents and Chemotherapy, v. 54, n. 12, p. 5403–5405, 2010.
CHAKRABORTY, A. et al. A novel combination of selective agents for isolation
of Leptospira species. Microbiology and Immunology, v. 55, n. 7, p. 494–501, 2011.
CHANG, S. L. STUDIES ON LEPTOSPIRA ICTEROHAEMORRHAGIAE. II. A
CRITICAL STUDY OF THE EFFECT OF PENICILLIN ON LEPTOSPIRA
ICTEROHAEMORRHAGIAE IN VITRO AND IN LEPTOSPIROSIS IN GUINEA PIGS.
Journal of Clinical Investigation, v. 25, n. 5, p. 752–760, 1946.
CHANG, S. L. Studies on Leptospira icterohaemorrhagiae. III. The growth rate
of, and some biochemical observations on Leptospira icterohaemorrhagiae in culture.
Journal of Infectious Diseases, v. 81, p. 35–47, 1947.
CHAPPEL, R. J. et al. Enzymatic radioimmunoassay for detecting Leptospira
interrogans serovar Pomona in the urine of experimentally-infected pigs. Veterinary
Microbiology, v. 10, n. 3, p. 279–286, 1985.
CHAPPEL, R.; SMYTHE, L. Leptospirosis–importance of a one health approach.
Microbiology Australia, 2012.
CHARON, N. W.; GOLDSTEIN, S. F. Genetics of Motility and Chemotaxis of a
Fascinating Group of Bacteria: The Spirochetes. Annual Review of Genetics, v. 36,
n. 1, p. 47–73, 2002.
CHARON, N. W.; JOHNSON, R. C.; PETERSON, D. Amino acid biosynthesis in
the spirochete Leptospira: evidence for a novel pathway of isoleucine biosynthesis.
Journal of Bacteriology, v. 117, n. 1, p. 203–211, 1974.
67
CHIANI, Y. et al. Isolation and clinical sample typing of human leptospirosis cases
in Argentina. Infection, Genetics and Evolution, v. 37, p. 245–251, 2016.
CHIDEROLI, R. T. et al. Isolation and molecular characterization of Leptospira
borgpetersenii serovar Hardjo strain Hardjobovis in the urine of naturally infected cattle
in Brazil. Genetics and Molecular Research, v. 15, n. 1, p. 1–7, 2016.
CHIDEROLI, R. T. et al. Culture Strategies for Isolation of Fastidious Leptospira
Serovar Hardjo and Molecular Differentiation of Genotypes Hardjobovis and
Hardjoprajitno. Frontiers in Microbiology, v. 8, 2017.
CHRISTENSEN, P.; STRYHN, H.; HANSEN, C. Discrepancies in the
determination of sperm concentration using Bürker-Türk, Thoma and Makler counting
chambers. Theriogenology, v. 63, n. 4, p. 992–1003, 2005.
CLEMENTI, M. Quantitative molecular analysis of virus expression and
replication. Journal of Clinical Microbiology, v. 38, n. 6, p. 2030–2036, 2000.
COOPER, T. G.; HELLENKEMPER, B. Improving precision in the assessment of
round cell numbers in human semen. Asian Journal of Andrology, v. 12, n. 1, p.
111–114, 2010.
COSATE, M. R. V et al. Molecular Characterization by LSSP-PCR and DNA
Sequencing of a Pathogenic Isolate of Leptospira interrogans from Brazil. Zoonoses
and Public Health, v. 59, n. 6, p. 379–388, 2012.
COX, C. D.; LARSON, A. D. Colonial Growth of Leptospirae. Journal of
Bacteriology, v. 73, n. 4, p. 587–589, 1957.
CULLEN, P. A.; HAAKE, D. A.; ADLER, B. Outer membrane proteins of
pathogenic spirochetes. FEMS Microbiology Reviews, v. 28, n. 3, p. 291–318, 2004.
CZEKALOWSKI, J. W.; MCLEOD, J. W.; RODICAN, J. The growth and
respiration of Leptospira in solid or semi-solid media with special reference to Dinger’s
phenomenon. British journal of experimental pathology, v. 34, n. 6, p. 588–595,
1953.
DAVIS, B. D. Physiological significance of the binding of molecules by plasma
proteins. American scientist, v. 34, n. 4, p. 611–618, 1946.
68
DELANEY, M. A. et al. Isolation of Leptospira from a Phocid: Acute Renal Failure
and Mortality from Leptospirosis in Rehabilitated Northern Elephant Seals ( Mirounga
angustirostris ), California, USA. Journal of Wildlife Diseases, v. 50, n. 3, p. 621–
627, 2014.
DIRECTOR, A. et al. Isolation of Leptospira interrogans Hardjoprajitno from
vaginal fluid of a clinically healthy ewe suggests potential for venereal transmission.
Journal of Medical Microbiology, v. 63, n. PART 9, p. 1234–1236, 2014.
DOS SANTOS PAIXÃO, M. et al. Serology, isolation, and molecular detection of
Leptospira spp. from the tissues and blood of rats captured in a wild animal
preservation centre in Brazil. Preventive Veterinary Medicine, v. 115, n. 1–2, p. 69–
73, 2014.
ELLINGHAUSEN, H. .; MCCULLOUGH, W. . Nutrition of Leprospira pomona and
growth of 13 other serotypes: fractionation of oleic albumin complex and a medium of
bovine albumin and polysorbate 80. American Journal of Veterinary Research, v.
26, p. 45–51, 1965a.
ELLINGHAUSEN, H. C. Some observations on cultural and biochemical
characteristics of leptospira pomona. Journal of Infectious Diseases, v. 106, n. 3, p.
237–244, 1960.
ELLINGHAUSEN, H. C.; MCCULLOUGH, W. G. Nutrition of L pomona and
growth of 13 other serotypes: A serum-free medium employing oleic albumin complex.
American Journal of Veterinary Research, v. 26, p. 39–44, 1965b.
ELLINGHAUSEN, H. C.; PAINTER, G. M. GROWTH, SURVIVAL, ANTIGENIC
STABILITY, AND VIRULENCE OF LEPTOSPIRA INTERROGANS SEROTYPE
CANICOLA. Journal of Medical Microbiology, v. 9, p. 29–37, 1976.
ELLIS, W. A. Animal Leptospirosis. In: ADLER, B. (Ed.). . Current Topics in
Microbiology and Immunology. [s.l.] Springer, Berlin, Heidelberg, 2015. v. 387p. 99–
137.
ELLIS, W. A.; LITTLE, T. W. A. The diagnosis of leptospirosis in farm animals. In:
The present state of leptospirosis diagnosis and control. [s.l: s.n.]. p. 247.
ELLIS, W.; MONTGOMERY, J.; CASSELLS, J. Dihydrostreptomycin treatment
69
of bovine carriers of Leptospira interrogans serovar hardjo. Res Vet Sci, v. 39, n. 3, p.
292–5, 1985.
FAINE, S. et al. Leptospira and leptospirosis, Melbourne, Australia. [s.l: s.n.].
FAINE, S.; STALLMAN, N. D. Amended Descriptions of the Genus Leptospira
Noguchi 1917 and the Species L. interrogans (Stimson 1907) Wenyon 1926 and L.
biflexa (Wolbach and Binger 1914) Noguchi 1918. International Journal of
Systematic Bacteriology, v. 32, n. 4, p. 461–463, 1982.
FERENCI, T. Regulation by nutrient limitation. Current Opinion in
Microbiology, v. 2, n. 2, p. 208–213, 1999.
FERENCI, T. Hungry bacteria - Definition and properties of a nutritional state.
Environmental Microbiology, v. 3, n. 10, p. 605–611, 2001.
FERESU, S. Isolation of Leptospira interrogans from kidneys of Zimbabwe beef
cattle. Veterinary Record, v. 130, n. 20, p. 446–448, 1992.
FLETCHER, W. Recent work on leptospirosis. Transactions of the Royal
Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 21, p. 265, 1928.
FOUTS, D. E. et al. What makes a bacterial species pathogenic? Comparative
genomic analysis of the genus Leptospira. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 10,
n. 2, p. e0004403, 2016.
GILLESPIE, R. W.; RINGEN, L. M.; KENZY, S. G. Isolation of Leptospira from
cattle in Washington; a preliminary report. J Am Vet Med Assoc, v. 123, n. 919, p.
322, 1953.
GONÇALVES, A. T. et al. First isolation of human Leptospira strains, Azores,
Portugal. International Journal of Infectious Diseases, v. 14, n. SUPPL. 3, p. 148–
153, 2010.
GRUNE LOFFLER, S. et al. Isolation of a Seawater Tolerant Leptospira spp. from
a Southern Right Whale (Eubalaena australis). PloS one, v. 10, n. 12, p. e0144974,
2015.
GYANESHWAR, P. et al. Sulfur and nitrogen limitation in Escherichia coli K-12:
Specific homeostatic responses. Journal of Bacteriology, v. 187, n. 3, p. 1074–1090,
70
2005.
HAAKE, D. A. et al. Changes in the Surface of Leptospira interrogans Serovar
grippotyphosa during In Vitro Cultivation. Infection and Immunity, p. 1131–1140,
1991.
HAAKE, D. A.; LEVETT, P. N. Leptospirosis in Humans. In: Leptospira and
Leptospirosis. [s.l: s.n.]. p. 65–97.
HALL, B. G. et al. Growth rates made easy. Molecular Biology and Evolution,
v. 31, n. 1, p. 232–238, 2014.
HAMOND, C. et al. Urinary PCR as an increasingly useful tool for an accurate
diagnosis of leptospirosis in livestock. Veterinary Research Communications, v. 38,
n. 1, p. 81–85, 2014.
HAMOND, C. et al. First isolation and characterization of Leptospira interrogans
serogroup Australis from swine in Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 35, n. 1,
p. 6–8, 2015.
HAMOND, C. et al. Genotyping of Leptospira directly in urine samples of cattle
demonstrates a diversity of species and strains in Brazil. Epidemiology and Infection,
v. 144, n. 1, p. 72–75, 16 jan. 2016.
HARTSKEERL, R. A.; COLLARES-PEREIRA, M.; ELLIS, W. A. Emergence,
control and re-emerging leptospirosis: Dynamics of infection in the changing world.
Clinical Microbiology and Infection, v. 17, n. 4, p. 494–501, 2011.
HELPRIN, J. J.; HIATT, C. W. The effect of fatty acids on the respiration of
leptospira icterohemorrhagiae. Journal of Infectious Diseases, v. 100, n. 2, p. 136–
140, 1957.
HENNEBERRY, R. C.; COX, C. D. β-Oxidation of fatty acids by “Leptospira”.
Canadian Journal of Microbiology, v. 16, p. 41–45, 1970.
HERNANDEZ-RODRIGUEZ, P. et al. A comparison between polymerase chain
reaction (PCR) and traditional techniques for the diagnosis of leptospirosis in bovines.
Journal of Microbiological Methods, v. 84, n. 1, p. 1–7, 2011.
HIGINO S.S.S. et al. Frequência de leptospirose em ovinos abatidos no
71
município de Patos, Paraíba. Arquivos do Instituto Biológico, v. 77, n. 3, p. 525–
527, 2010.
HOSPENTHAL, D. R.; MURRAY, C. K. In vitro susceptibilities of seven
Leptospira species to traditional and newer antibiotics. Antimicrobial Agents and
Chemotherapy, v. 47, n. 8, p. 2646–2648, 2003.
HOVIND-HOUGEN, K. Leptospiraceae, a New Family to Include Leptospira
Noguchi 1917 and Leptonema gen. nov. International Journal of Systematic
Bacteriology, v. 29, n. 3, p. 245–251, 1979.
HUMBERD, C. M. et al. Enumerating leptospires using the coulter counter.
American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 73, n. 5, p. 962–963, 2005.
INADA, R. et al. the Etiology, Mode of Infection, and Specific Therapy of Weil’S
Disease (Spirochætosis Icterohæmorrhagica). The Journal of experimental
medicine, v. 23, n. 3, p. 377–402, 1916.
JOHNSON, R. C. et al. Lipids of parasitic and saprophytic leptospires. Infection
and immunity, v. 2, n. 3, p. 286–91, 1970.
JOHNSON, R. C. et al. Cultivation of parasitic leptospires: effect of pyruvate.
Applied microbiology, v. 26, n. 1, p. 118–119, 1973.
JOHNSON, R. C. Leptospira. In: BARON, S. (Ed.). . Medical Microbiology. 4th.
ed. Galveston: University of Texas Medical Branch at Galveston, 1996.
JOHNSON, R. C.; FAINE, S. Leptospira. In: KRIEG, N. R.; HOLT, J. G. (Eds.). .
Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology. 1. ed. Baltimore: William & Wilkins,
1984. p. 62–67.
JOHNSON, R. C.; GARY, N. D. Nutrition of Leptospira pomona. 1. A chemically
defined substitute for rabbit serum ultrafiltrate. Journal of Bacteriology, v. 83, n. Mar,
p. 668–672, 1962.
JOHNSON, R. C.; GARY, N. D. Nutrition of Leptospira Pomona. Ii. Fatty Acid
Requirements. Journal of Bacteriology, v. 85, p. 976–982, 1963.
JOHNSON, R. C.; HARRIS, V. G. Differentiation of Pathogenic and Differentiation
of Pathogenic and Saprophytic Leptospires I . Growth at Low Temperatures. Journal
72
of Bacteriology, v. 94, n. 1, p. 27–31, 1967.
JOHNSON, R. C.; ROGERS, P. Metabolism of Leptospirae 1. Utilization of amino
acids and purine, and pyrimidine bases. Arch. Biochem. Biophys., v. 107, p. 459–
470, 1964.
JOHNSON, R. C.; WALBY, J. K. Cultivation of leptospires: fatty acid
requirements. Appl Microbiol, v. 23, n. 5, p. 1027–1028, 1972.
JOHNSON, R. C.; WILSON, J. B. Nutrition of Leptospira pomona. Journal of
Bacteriology, v. 80, p. 406–411, 1960.
KABOOSI, H. .; RAZAVI, M. R. . B.; AL SADAT NOOHI, A. . Efficiency of filtration
technique for isolation of leptospires from surface waters: Role of different membranes
with different pore size and materials. African Journal of Microbiology Research, v.
4, n. 9, p. 671–676, 2010.
KINGSCOTE, B. F. Diagnosis of Leptospira serovar hardjo Infection in Cattle in
Canada. The Canadian veterinary journal. La revue veterinaire canadienne, v. 26,
p. 270–274, 1985.
KIRSCHNER, L.; GRAHAM, L. Growth, purification and maintenance of
Leptospira on solid media. Br J Exp Pathol, v. 40, n. 1, p. 57–60, 1959.
KORTHOF, G. Experimentelles Schlammfieber beim Menschen. Zentralblatt fur
Bakteriologie, v. 124, n. 2, p. 429, 1932.
KUTSUNA, S. et al. Travel-related leptospirosis in Japan: A report on a series of
five imported cases diagnosed at the National Center for Global Health and Medicine.
Journal of Infection and Chemotherapy, v. 21, n. 3, p. 218–223, 2015.
LALL, C. et al. Prevalence and Diversity of Leptospires in Different Ecological
Niches of Urban and Rural Areas of South Andaman Island. Microbes and
environments, v. 31, n. 1, p. 79–82, 2016.
LAMBERT, A. et al. Flaa proteins in Leptospira interrogans are essential for
motility and virulence but are not required for formation of the flagellum sheath.
Infection and Immunity, v. 80, n. 6, p. 2019–2025, 2012.
LARSON, A. D.; TREICK, R. W.; EDWARDS, C. L.; COX, C. D. Growth studies
73
and plate counting of leptospires. Journal of Bacteriology, v. 77, n. 3, p. 361–366,
1958.
LARSON, A. D.; EDWARDS, C. L. . The vadility and use of plate counts in the
study of growth of pathogenic leptospires. Bacteriol. Proc., v. 54, 1958.
LATIFAH, I. et al. Isolation by culture and PCR identification of LipL32 gene of
pathogenic Leptospira spp . in wild rats of Kuala Lumpur. v. 39, n. 2, p. 161–166, 2017.
LAU, C. L. et al. The emergence of Leptospira borgpetersenii serovar Arborea in
Queensland, Australia, 2001 to 2013. BMC infectious diseases, v. 15, p. 230, 2015.
LAWRENCE, J. J. The growth of Leptospirae in semi-solid media. Australian
Journal of Experimental Biology and Medical Science, v. 29, n. 3, p. 195–199,
1951.
LEVETT, P. N.; SMYTHE, L. D. International Committee on Systematics of
Prokaryotes; Subcommittee on the taxonomy of Leptospiraceae: Minutes of the closed
meeting, 12 and 13 November 2005, Chiang Mai, Thailand. International Journal of
Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 56, n. 8, p. 2019–2020, 2006.
LIAO, S. et al. Inactivation of the fliY gene encoding a flagellar motor switch
protein attenuates mobility and virulence of Leptospira interrogans strain Lai. BMC
Microbiology, v. 9, n. 1, p. 253, 2009.
LILENBAUM, W. et al. First isolation of leptospires from dairy goats in Brazil.
Brazilian Journal of Microbiology, v. 38, n. 3, p. 507–510, 2007.
LILENBAUM, W.; MARTINS, G. Leptospirosis in cattle: A challenging scenario
for the understanding of the epidemiology. Transboundary and Emerging Diseases,
v. 61, n. SUPPL1., p. 63–68, 2014.
LOUREIRO, A. P. et al. Laboratorial diagnosis of animal leptospirosis. Revista
Brasileira de Ciência Veterinária, v. 20, n. 3, 2013.
LOUREIRO, A. P. et al. Usage of a selective media (EMJH-STAFF) in primary
culturing of pathogenic leptospires from bovine clinical samples. Letters in Applied
Microbiology, p. 2013–2016, 2015.
MARSHALL, P. B. Measurement of Aerobic Respiration in Leptospira
74
Icterohaemorrhagiae. The Journal of Infectious Diseases, v. 84, n. 2, p. 150–152,
1949.
MARSHALL, R. International Committee on Systematic Bacteriology
Subcommittee on the Taxonomy of Leptospira Minutes of Meetings, 1 and 2 July 1994,
Prague, Czech Republic. International Journal of Systematic Bacteriology, v. 45,
n. 4, p. 872–874, 1995.
MARTINS, G. et al. First isolation of Leptospira noguchii serogroups Panama and
Autumnalis from cattle. Epidemiology and Infection, v. 143, n. 7, p. 1538–1541,
2015.
MGODE, G. F. et al. Leptospira Serovars for Diagnosis of Leptospirosis in
Humans and Animals in Africa: Common Leptospira Isolates and Reservoir Hosts.
PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 9, n. 12, 2015.
MICHA, P.; CORRADINI, M. G. Microbial growth curves: What the models tell us
and what they cannot. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 51, n. 10,
p. 917–945, 2011.
MIFUCHI, I.; HOSOI, M.; YANAGIHARA, Y. the Growth Supporting Factors of
Leptospira Canicola in Acetone???Soluble Egg Yolk Lipids. Japanese Journal of
Microbiology, v. 5, n. 2, p. 215–221, 1961.
MIRAGLIA, F. et al. Emjh medium with 5-fluorouracil and nalidixic acid associated
with serial dilution technique used to recover leptospira spp from experimentally
contaminated bovine semen. Brazilian Journal of Microbiology, v. 40, n. 1, p. 189–
193, 2009.
MOHD ALI, M. R. et al. Isolation of Leptospira kmetyi from residential areas of
patients with leptospirosis in Kelantan, Malaysia. Journal of Infection and Public
Health, 2017.
MORAIS, M. H. F. Isolamento de Leptospira Hardjo em rebanho bovino com
problemas de reprodução. [s.l.] Universidade Federal de Minas Gerais, 1994.
MURRAY, G. L. et al. Mutations affecting Leptospira interrogans
lipopolysaccharide attenuate virulence. Molecular Microbiology, v. 78, n. 3, p. 701–
709, 2010.
75
MURRAY, G. L. The lipoprotein LipL32, An enigma of leptospiral biology.
Veterinary Microbiology, v. 162, n. 2–4, p. 305–314, 2013.
MYERS, D. M.; JELAMBI, F. Isolation and identification of leptospira hardjo from
cattle in Argentina. Tropical and Geographical Medicine, v. 27, n. 1, p. 63–70, 1975.
NALLY, J. E. et al. Changes in lipopolysaccharide O antigen distinguish acute
versus chronic Leptospira interrogans infections. Infection and Immunity, v. 73, n. 6,
p. 3251–3260, 2005.
NARDUCHE, L. et al. Recovery of Leptospires in Short- and Medium-Term
Cryopreservation Using Different Glycerol and Dimethyl Sulfoxide Concentrations.
Biopreservation and Biobanking, v. 14, n. 1, p. 81–83, 2016.
NASCIMENTO, A. L. T. O. et al. Comparative Genomics of Two Leptospira
interrogans Serovars Reveals Novel Insights into Physiology and Pathogenesis.
Journal of Bacteriology, v. 186, n. 7, p. 2164–2172, 2004.
NATARAJASEENIVASAN, K. et al. Serodiagnosis of severe leptospirosis:
evaluation of ELISA based on the recombinant OmpL1 or LipL41 antigens of
Leptospira interrogans serovar autumnalis. Annals of Tropical Medicine &
Parasitology, v. 102, n. 8, p. 699–708, 2008.
NATARAJASEENIVASAN, K. et al. FlaB PCR-based Identification of Pathogenic
Leptospiral Isolates. Journal of Microbiology, Immunology and Infection, v. 43, n.
1, p. 62–69, 2010.
NITIPAN, S. et al. Identification of epitopes in Leptospira borgpetersenii leucine-
rich repeat proteins. Infection, Genetics and Evolution, v. 14, n. 1, p. 46–57, 2013.
NOGUCHI, H. Morphological Characteristics and Nomenclature of Leptospira
(Spirochaeta) Icterohaemorrhagiae (Inada and Ido). The Journal of experimental
medicine, v. 27, n. 5, p. 575–92, 1918.
NOGUCHII, B. H. The pure cultivation of Spirochaeta duttoni, Spirochaeta kochi,
Spirochaeta obermeieri and Spirochaeta novyi. Journal of Experimental Medicine,
v. 19, 1912.
OIE. Manual of Diagnostic Tests and Vaccines for Terrestrial Animals. World
Organization for Animal Health, n. May, p. 1185–1191, 2014.
76
OTAKA, D. Y. et al. Serology and PCR for bovine leptospirosis: Herd and
individual approaches. Veterinary Record, v. 170, n. 13, 2012.
OWENS, J. D.; LEGAN, J. D. Determination of monod substrate saturating
constant for microbila growth. FEMS Microbiol Rev, v. 46, p. 419–432, 1987.
PATRA, K. P. et al. Comparative analysis of lipopolysaccharides of pathogenic
and intermediately pathogenic Leptospira species. BMC Microbiology, v. 15, n. 1, p.
244, 2015.
PICARDEAU, M. Toolbox of Molecular Techniques for Studying Leptospira Spp.
In: Current Topics in Microbiology and Immunology. [s.l: s.n.]. p. 22.
PINNE, M.; HAAKE, D. A. A comprehensive approach to identification of surface-
exposed, outer membrane-spanning proteins of Leptospira interrogans. PLoS ONE, v.
4, n. 6, 2009.
PINNE, M.; HAAKE, D. A. LipL32 Is a Subsurface Lipoprotein of Leptospira
interrogans: Presentation of New Data and Reevaluation of Previous Studies. PLoS
ONE, v. 8, n. 1, 2013.
PINTO, P. S. et al. Usage of Leptospira spp. local strains as antigens increases
the sensitivity of the serodiagnosis of bovine leptospirosis. Acta Tropica, v. 149, p.
163–167, set. 2015.
PINTO, P. S.; LIBONATI, H.; LILENBAUM, W. A systematic review of
leptospirosis on dogs, pigs, and horses in Latin America. Tropical Animal Health and
Production, v. 49, n. 2, p. 231–238, 2017.
PUCHE, R. et al. Leptospira venezuelensis sp. nov., a new member of the
intermediate group isolated from rodents, cattle and humans. International Journal
of Systematic and Evolutionary Microbiology, n. December, 2017.
REN, S.-X. et al. Unique physiological and pathogenic features of Leptospira
interrogans revealed by whole-genome sequencing. Nature, v. 422, n. 6934, p. 888–
893, 2003.
RICALDI, J. N. et al. Whole Genome Analysis of Leptospira licerasiae Provides
Insight into Leptospiral Evolution and Pathogenicity. PLoS Neglected Tropical
Diseases, v. 6, n. 10, 2012.
77
RIDLON, J. R. Public Health Reports. Public Health Reports, v. 46, n. 1, p. 1–
2, 4–7, 1931.
RIDZLAN, F. R. et al. Detection of pathogenic Leptospira from selected
environment in Kelantan and Terengganu, Malaysia. Tropical Biomedicine, v. 27, n.
3, p. 632–638, 2010.
SAITO, M. et al. PCR and culture identification of pathogenic Leptospira spp.
from coastal soil in leyte, Philippines, after a storm surge during super Typhoon Haiyan
(Yolanda). Applied and Environmental Microbiology, v. 80, n. 22, p. 6926–6932,
2014.
SAITO, M. et al. The usefulness of semi-solid medium in the isolation of highly
virulent Leptospira strains from wild rats in an urban area of Fukuoka, Japan.
Microbiology and Immunology, v. 59, n. 6, p. 322–330, 2015.
SALGADO, M. et al. Isolation of Leptospira interrogans serovar Hardjoprajitno
from a calf with clinical leptospirosis in Chile. BMC Veterinary Research, v. 11, p. 66,
2015.
SANTA-ROSA, C. A.; PESTANA DE CASTRO, A. R.; TROISE, C. Leptospiróse
bovina. Inquérito sorológico na região de Campinas. Arquivos do Instituto
Biológico, v. 28, p. 169–174, 1961.
SARMENTO, A. M. C. et al. Emprego de estirpes leptospira spp. isoladas no
Brasil na microtécnica de soroaglutinação microscópica aplicada ao diagnóstico da
leptospirose em rebanhos bovinos de oito estados brasileiros. Pesquisa Veterinaria
Brasileira, v. 32, n. 7, p. 601–606, 2012.
SCHNEIDER, M. C. et al. Leptospirosis in Rio Grande do Sul, Brazil: An
Ecosystem Approach in the Animal-Human Interface. PLoS Neglected Tropical
Diseases, v. 9, n. 11, 2015.
SCHNEIDERMAN, A. et al. Nutrition of Leptospira canicola. II. A chemically
defined basal medium containing purified rabbit serum albumin. Proceedings of the
Society for Experimental Biology and Medicine, v. 78, n. 3, p. 777–780, 1951.
SCHNEIDERMAN, A. et al. Nutrition of Leptospira canicola. III. Utilization of
Vitamins and Amino Acids. Proceedings of the Society for Experimental Biology
78
and Medicine, v. 82, p. 53–56, 1953.
SCHONBERG, A. Studies on the effect of antibiotic substances on leptospires
and their cultivation from material with a high bacterial count. Zentralblatt Fur
Bakteriologie - 1 - Abt - Originale - A: Medizinische Mikrobiologie,
Infektionskrankheiten Und Parasitiologie, v. 249, n. 3, p. 100–406, 1981.
SCHREIER, S. et al. Leptospirosis research: Fast, easy and reliable enumeration
of mobile leptospires. Biological Research, v. 42, n. 1, p. 5–12, 2009.
SCIALFA, E. et al. Isolation of saprophytic Leptospira spp. from a selected
environmental water source of Argentina. Revista Argentina de Microbiología, 2017.
SCOTT, M.; HWA, T. Bacterial growth laws and their applications. Current
Opinion in Biotechnology, v. 22, n. 4, p. 559–565, 2011.
SELLARDS, A. W. THE INTERPRETATION OF (? SPIROCHAETA)
INTERROGANS OF STIMSON (1907) IN THE LIGHT OF SUBSEQUENT
DEVELOPMENTS. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and
Hygiene, v. XXXIII, n. 5, p. 5–8, 1940.
SHANG, E. S. et al. The rare outer membrane protein, OmpL1, of pathogenic
Leptospira species is a heat-modifiable porin. Infection and Immunity, v. 63, n. 8, p.
3174–3181, 1995.
SHEHATA, T. E.; MARR, A. G. Effect of Nutrient Concentration on the Growth of
Escherichia coli. J. Bacteriol., v. 107, n. 1, p. 210–216, 1971.
SHENBERG, E. Growth of pathogenic Leptospira in chemically defined media.
Journal of Bacteriology, v. 93, n. 5, p. 1598–1606, 1967.
SINCLAIR, N. A.; STOKES, J. L. Factors which control maximal growth of
bacteria. Journal of Bacteriology, v. 83, p. 1147–54, 1962.
SKILBECK, N. W.; FORSYTH, W. M.; DOHNT, M. Bovine leptospiosis:
Microbiological and histologocal findings in cattle at slaughter. Australian Veterinary
Journal, v. 65, n. 3, p. 73–75, 1988.
SLAMTI, L. et al. Deciphering Morphological determinants of the helix-shaped
Leptospira. Journal of Bacteriology, v. 193, n. 22, p. 6266–6275, 2011.
79
SPROUFFSKE, K.; WAGNER, A. Growthcurver: An R package for obtaining
interpretable metrics from microbial growth curves. BMC Bioinformatics, v. 17, n. 1,
2016.
STALHEIM, O. H. Leptospiral selection, growth, and virulence in synthetic
medium. Journal of Bacteriology, v. 92, n. 4, p. 946–951, 1966.
STALHEIM, O. H.; WILSON, J. B. Leptospiral Colonial Morphology. Journal of
Bacteriology, v. 86, p. 482–489, 1963.
STALHEIM, O. H. V.; WILSON, J. B. Cultivation of Leptospirae I. Journal of
Bacteriology, v. 88, n. 1, p. 48–54, 1964.
STANECK, J. L.; HENNEBERRY, R. C.; COX, C. D. Growth requirements of
pathogenic leptospira. Infection and Immunity, v. 7, n. 6, p. 886–897, 1973.
STERN, N.; SHENBERG, E.; TIETZ, A. Studies on the metabolism of fatty acids
in Leptospira: the biosynthesis of delta 9- and delta 11-monounsaturated acids. Eur J
Biochem, v. 8, n. 1, p. 101–108, 1969.
STIMSON, A. M. Note on an Organism Found in Yellow-Fever Tissue. Public
Health Reports (1896-1970), v. 22, n. 18, p. 541, 1907.
STUART, R. D. The preparation and use of a simple culture medium for
leptospirae. J. Path Bact., v. 58, p. 343–349, 1946.
SUEPAUL, S. M. et al. Antimicrobial susceptibility of leptospira isolates from dogs
and rats to 12 antimicrobial agents. Tropical Biomedicine, v. 32, n. 1, p. 1–10, 2015.
TAN, C. G. et al. Neglected leptospirosis in raccoons (Procyon lotor) in Indiana,
USA. Veterinary Quarterly, v. 34, n. 1, p. 1–10, 2014.
TJØRVE, K. M. C.; TJØRVE, E. The use of Gompertz models in growth analyses,
and new Gompertz-model approach: An addition to the Unified-Richards family. PLoS
ONE, v. 12, n. 6, 2017.
TOYOKAWA, T.; OHNISHI, M.; KOIZUMI, N. Diagnosis of acute leptospirosis.
Expert Review of Anti-infective Therapy, v. 9, n. 1, p. 111–121, 2011.
TURNER, L. H. Leptospirosis III. Maintenance, isolation and demonstration of
leptospires. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene,
80
v. 64, n. 4, p. 623–646, 1970.
VANESELTINE, W. P.; STAPLES, S. A. Nutritional requirements of leptospirae
(1) studies on oleic acid as a growth factor for a strain of leptospirosis pomona. J Inf
Dis, v. 108, p. 262–269, 1961.
VOGEL, H.; HUTNER, S. H. Growth of leptospira in defined media. Journal of
general microbiology, v. 26, n. 2, p. 223–30, 1961.
WESTFALL, H. N.; CHARON, N. W.; PETERSON, D. E. Multiple pathways for
isoleucine biosynthesis in the spirochete Leptospira. Journal of Bacteriology, v. 154,
n. 2, p. 846–853, 1983.
WOLFF, J. W.; BROOM, J. C. The genus Leptospira Noguchi, 1917; problems of
classification and a suggested system based on antigenic analysis. Documenta de
Medicina Geographica et Tropica, v. 6, n. 1, p. 78–95, 1954.
WOLFF, J. W.; TURNER, L. H. No TitleReport of a meeting of the Taxonomic
Subcommittee on Leptospira, Montreal, 16-17 August, 1962. INTERNATIONAL
BULLETIN OF BACTERIOLOGICAL NOMENCLATURE AND TAXONOMY, v. 13, p.
161–165, 1963.
WOOD, J.; JOHNSON, R. C.; PALIN, K. Surface colonies of Leptospira
interrogans. Journal of Clinical Microbiology, v. 13, n. 1, p. 102–105, 1981.
WORATZ, H. [A solid medium for permanent cultures of pathogenic Leptospira.].
[Undetermined]. Zeitschrift fur Hygiene und Infektionskrankheiten, v. 134, n. 1, p.
78–80, 1952.
WUNDER, E. A. et al. A novel flagellar sheath protein, FcpA, determines filament
coiling, translational motility and virulence for the Leptospira spirochete. Molecular
Microbiology, v. 101, n. 3, p. 457–470, 2016.
WUTHIEKANUN, V. et al. Rapid isolation and susceptibility testing of Leptospira
spp. Using a new solid medium, LVW agar. Antimicrobial Agents and
Chemotherapy, v. 57, n. 1, p. 297–302, 2013.
WUTHIEKANUN, V. et al. Antimicrobial disk susceptibility testing of leptospira
spp. Using leptospira vanaporn wuthiekanun (LVW) agar. American Journal of
Tropical Medicine and Hygiene, v. 93, n. 2, p. 241–243, 2015.
81
XU, Y. et al. Whole genome sequencing revealed host adaptation-focused
genomic plasticity of pathogenic Leptospira. Scientific Reports, v. 6, 2016.
YASUDA, P. H. et al. Deoxyribonucleic Acid Relatedness between Serogroups
and Serovars in the Family Leptospiraceae with Proposals for Seven New Leptospira
Species. International Journal of Systematic Bacteriology, v. 37, n. 4, p. 407–415,
1987.
ZACARIAS, F. G. D. S. et al. Isolation of Leptospira serovars Canicola and
Copenhageni from cattle urine in the State of Paran??, Brazil. Brazilian Journal of
Microbiology, v. 39, n. 4, p. 744–748, 2008.
ZHANG, Q. et al. Leptospira interrogans encodes an ROK family glucokinase
involved in a cryptic glucose utilization pathway. Acta Biochimica et Biophysica
Sinica, v. 43, n. 8, p. 618–629, 2011.
ZUERNER, R. L. Laboratory maintenance of pathogenic Leptospira. Current
protocols in microbiology, v. Chapter 12, n. 1967, p. Unit 12E.1, 2005.