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Determinação de links hipertextuais: uma abordagem da Ciência da Informação

Date post: 03-Dec-2023
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DETERMINAÇÃO DE LINKS HIPERTEXTUAIS: uma abordagem da Ciência da Informação Rafael dos Santos Nonato * Gercina Angela Borém de O. Lima ** RESUMO O crescimento contínuo da quantidade de informação disponível em suporte eletrônico traz consigo problemas relacionados à modelagem conceitual de sistemas de hipertextos, o que compromete o processo de folheio em hiperdocumentos. Esse artigo é resultado das reflexões iniciais da pesquisa desenvolvida no decorrer do Curso de Mestrado em Ciência da Informação da UFMG e propõe-se tratar a modelagem conceitual de sistemas de hipertextos do ponto de vista das teorias de representação temática. Inclui uma revisão bibliográfica sobre o tema e a aplicabilidade da teoria do conceito no processo de determinação de links e identificação de nós hipertextuais. Palavras-chave SISTEMAS DE HIPERTEXTOS MODELAGEM CONCEITUAL TEORIA DO CONCEITO * Mestrando em Ciência da Informação pela Escola de Ciência da Informação da UFMG. Bacharel em Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação da UFMG. E-mail: [email protected] ** Doutora em Ciência da Informação pela Escola de Ciência da Informação da UFMG. Mestre em Library Science pela Clark Atlanta University. Professora Adjunta do Departamento de Organização e Uso da Informação na ECI/ UFMG. E-mail: [email protected] comunicação de trabalho 1 INTRODUÇÃO D esde a antigüidade, a humanidade vem desenvolvendo técnicas para o registro e a comunicação dos conhecimentos. No início, essa comunicação era feita via oralidade, entretanto a subsistência do conhecimento ficava restrita a certos grupos. Com a invenção de símbolos gráficos, como os alfabetos, a escrita passou a ser a forma ideal dos registros do conhecimento, surgindo, a partir daí, pergaminhos, papiros, e finalmente, o livro. A partir do século XX, com o boom tecnológico, a comunicação escrita e o modo de transmissão dos textos sofreram profundas mudanças. A informática provocou muito mais do que uma revolução nas formas e nos métodos de geração, armazenamento, processamento e transmissão da informação. A mudança do texto impresso para o texto eletrônico criou a grande mudança no modo como organizamos e acessamos a informação. Como reflexo do boom tecnológico do século XX, surge, no final da década de 1980, uma proposta de gerenciamento de informação vislumbrada por Tim Berners-Lee, que foi efetivada no início da década de 1990, através de uma proposta mais formal, chamada de World Wide Web – Web (CERN, 2007). Esse serviço, disponibilizado via Internet, propõe-se a implementar a idéia de hipertextos. Hoje, entretanto, o acesso à informação se vê vulnerável em virtude da ausência de critérios consolidados de criação e organização dos sistemas de hipertextos. O objetivo deste artigo é apresentar a relação existente entre os sistemas de hipertexto, através do processo de determinação de links, e o processo de representação temática, oriundo da Ciência da Informação e da Biblioteconomia. Seria um equívoco falar da inexistência de modelos e metodologias para a criação de hipertextos; de fato são muitos, entretanto a maioria dos documentos hipertextuais é criada sem a menor referência metodológica. Em decorrência disso, os ambientes hipertextuais são ricos em problemas cognitivos, que interferem diretamente no acesso e na compreensão da informação disponibilizada pelo autor de um hiperdocumento. 197 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.18, n.1, p.197-205, jan./abr. 2008
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DETERMINAÇÃO DE LINKSHIPERTEXTUAIS: uma abordagem da

Ciência da Informação

Rafael dos Santos Nonato*

Gercina Angela Borém de O. Lima**

RESUMO O crescimento contínuo da quantidade de informaçãodisponível em suporte eletrônico traz consigo problemasrelacionados à modelagem conceitual de sistemas dehipertextos, o que compromete o processo de folheio emhiperdocumentos. Esse artigo é resultado das reflexões iniciaisda pesquisa desenvolvida no decorrer do Curso de Mestradoem Ciência da Informação da UFMG e propõe-se tratar amodelagem conceitual de sistemas de hipertextos do pontode vista das teorias de representação temática. Inclui umarevisão bibliográfica sobre o tema e a aplicabilidade da teoriado conceito no processo de determinação de links eidentificação de nós hipertextuais.

Palavras-chave SISTEMAS DE HIPERTEXTOSMODELAGEM CONCEITUALTEORIA DO CONCEITO

* Mestrando em Ciência da Informação pelaEscola de Ciência da Informação da UFMG.Bacharel em Biblioteconomia pela Escolade Ciência da Informação da UFMG.E-mail: [email protected]

** Doutora em Ciência da Informação pelaEscola de Ciência da Informação da UFMG.Mestre em Library Science pela ClarkAtlanta University. Professora Adjunta doDepartamento de Organização e Uso daInformação na ECI/ UFMG.E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

Desde a antigüidade, a humanidade vemdesenvolvendo técnicas para o registro e acomunicação dos conhecimentos. No início,

essa comunicação era feita via oralidade, entretantoa subsistência do conhecimento ficava restrita acertos grupos. Com a invenção de símbolos gráficos,como os alfabetos, a escrita passou a ser a formaideal dos registros do conhecimento, surgindo, apartir daí, pergaminhos, papiros, e finalmente, olivro. A partir do século XX, com o boom tecnológico,a comunicação escrita e o modo de transmissão dostextos sofreram profundas mudanças. A informáticaprovocou muito mais do que uma revolução nasformas e nos métodos de geração, armazenamento,processamento e transmissão da informação. Amudança do texto impresso para o texto eletrônicocriou a grande mudança no modo comoorganizamos e acessamos a informação.

Como reflexo do boom tecnológico do séculoXX, surge, no final da década de 1980, umaproposta de gerenciamento de informação

vislumbrada por Tim Berners-Lee, que foi efetivadano início da década de 1990, através de umaproposta mais formal, chamada de World Wide Web– Web (CERN, 2007). Esse serviço, disponibilizadovia Internet, propõe-se a implementar a idéia dehipertextos. Hoje, entretanto, o acesso à informaçãose vê vulnerável em virtude da ausência de critériosconsolidados de criação e organização dossistemas de hipertextos. O objetivo deste artigo éapresentar a relação existente entre os sistemas dehipertexto, através do processo de determinaçãode links, e o processo de representação temática,oriundo da Ciência da Informação e daBiblioteconomia.

Seria um equívoco falar da inexistência demodelos e metodologias para a criação dehipertextos; de fato são muitos, entretanto a maioriados documentos hipertextuais é criada sem a menorreferência metodológica. Em decorrência disso, osambientes hipertextuais são ricos em problemascognitivos, que interferem diretamente no acesso ena compreensão da informação disponibilizadapelo autor de um hiperdocumento.

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Este trabalho surgiu como resultado dapesquisa realizada ao longo do curso de mestradoem Ciência da Informação e justifica-se pelainexistência de critérios consolidados paracriação de documentos hipertextuais. É umsubprojeto da pesquisa Modelagem Conceitualpara Organização de Documentos Acadêmicos –MHTX -, desenvolvida ao longo do curso dedoutorado de Lima (2004), que teve por objetivo aconstrução de um modelo hipertextual deorganização de documentos acadêmicos (teses edissertações) fundamentado na técnica de análisefacetada.

O artigo está organizado da seguinte forma:primeiramente é apresentada uma discussãorelativa aos sistemas de hipertextos, mostrandoseu histórico, suas característ icas, suacomposição e definições; a relação entre redehipertextual e rede semântica; intersecções entrea representação temática da informação e oprocesso de elaboração do hiperdocumento. Háo levantamento teórico de autores que apontamsimilaridades entre representação temática dainformação e sistemas de hipertextos; por último,apresenta-se a teoria do conceito, parte darepresentação temática como uma possibilidadede modelagem conceitual de sistemas dehipertextos a partir de aportes da Ciência daInformação.

2 OS SISTEMAS DE HIPERTEXTOS

Como nova forma de estruturação dainformação, os sistemas de hipertextos foramimplementados, em grande escala, no início dadécada de 1990 através da difusão da Internet.Mas a primeira menção à idéia de não-linearidade e fragmentação da informação,características essenciais dos sistemas dehipertextos, foi feita por Vannevar Bush atravésde seu artigo As we think, em 1945 (CONKLIN,1987, p. 20). Ele concebeu um sistema muitosemelhante ao trabalho da mente humana, em quegrandes volumes de informação seriamarmazenados e recuperados por associaçõesentre seus assuntos. Tal sistema foi denominadoMemex. Embora seja de inegável importância otrabalho de Bush, alguns autores apontam PaulOtlet como precursor da idéia de sistemas dehipertextos. Mais tarde, na década de 1960, TedNelson e outros pesquisadores da Universidadede Brown desenvolveram um sistema de

hipertexto, chamado Xanadu, que foi moldado apartir da criação de um ambiente literáriounificado. Ted Nelson foi ainda o responsávelpela cunhagem do termo hipertexto; ele o definiucomo sendo uma combinação de texto emlinguagem natural com a capacidade docomputador de fazer pesquisa interativa eexibição dinâmica de um texto não-linear.

Diante deste breve histórico, notam-secaracterísticas inerentes ao hiperdocumento, comoa não-linearidade e a possibilidade defragmentação na navegação. Para Marques (1995,p.85), os sistemas de hipertextos podem serdefinidos como:

[ ...] documentos eletrônicos quepermitem uma leitura não seqüencial,mais de acordo com o raciocínio humano.Propõe uma maneira de interconectarporções de informação e de acessá-las,seguindo o curso natural do raciocínio dousuário, que executa a pesquisa, elaboraum documento ou realiza uma série detarefas que envolvem o uso docomputador como suporte à recuperaçãode informação textual.

Vilan Filho (1994, p. 297), um dos precursoresno tratamento do tema em Ciência da Informaçãono Brasil, define hipertextos como

[ ...] conjuntos de programas decomputador (suporte lógico), suas tabelase dados de controle necessários para aoperação de um sistema construído paraoperar com hiperdocumentos, segundoa filosofia de hipertexto. Em geral, essessistemas são compostos de: (a) umsubsistema de autoria, e (b) umsubsistema de navegação.

Os sistemas de hipertextos consistem emuma abordagem de estruturação e manipulaçãode textos. Em tais sistemas os documentos sãodispostos em uma base de dados repleta deconexões, formando uma rede hipertextual.Nesta rede, cada unidade de informação da basede dados (nós) é conectada por links, de acordocom as associações entre seus conteúdos. Aestrutura de um hipertexto determina e descreveo sistema de ligações e relacionamentos entre osnós ou unidades de informação sendo um fatordecisivo na facilidade de criação , uso eatualização do hiperdocumento. A FIG. 01mostra a composição de um sistemahipertextual.

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Figura 1: Composição do sistema de hipertextoFonte: Nonato; Lima (ano)

3 REDE HIPERTEXTUAL E REDE SEMÂNTICA

O processo de compreensão dos sistemas dehipertextos é gerado através da identificação de umcentro (início do folheio) e o estabelecimento derelações entre os nós a partir deste centro. A redehipertextual reflete os caminhos traçados pelo autordo hiperdocumento que, posteriormente, serãotrilhados pelo usuário. Ela deve ser rica emsignificado e refletir as diversas possibilidades derelacionamentos entre suas unidades deinformação, tal como esses relacionamentosocorrem na mente humana.

A semântica, como área do conhecimento,liga-se à filosofia, à psicologia, à lingüística e àinteligência artificial. Está preocupada com a buscade significados para os objetos no mundo. As redessemânticas são representações gráficas utilizadasna representação do conhecimento, ou utilizadascomo ferramenta de suporte para sistemasautomatizados de inferências sobre domínios doconhecimento. Redes semânticas são compostas derelacionamentos entre nós. Um exemplo antigo deimplementação de uma rede semântica foi feito porPorfírio, no século IV, quando ilustrou o método decategorização proposto por Aristóteles.

A rede hipertextual pode ser encarada comouma forma de implementação das redes semânticasno ambiente eletrônico. A mente humana trabalhapor associações, no dia-a-dia, ao reconhecermos umobjeto, nós o relacionamos a outro pela identificaçãode características semelhantes ou diferentes. Parao autor do hiperdocumento, a identificação dosconceitos e a elaboração de relacionamentos entreestes é vital para o sucesso de seu produto: osrelacionamentos existentes entre os nodos do

hipertexto devem refletir a maneira como oconhecimento está organizado na mente humana(rede semântica). (FIG. 02)

Figura 2: Equivalência necessária entre a redehipertextual e a organização doconhecimento na mente humana.

Fonte: Nonato; Lima (ano)

4 REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA DA INFORMAÇÃO NA

ELABORAÇÃO DO HIPERDOCUMENTO

A idéia central de todo sistema de hipertextoé organizar trechos de informação de acordo comas necessidades de compreensão de seu usuário.Para Lima (2004), se a estrutura do hiperdocumentoapresentar uma trilha de navegação desorganizadaou design cognitivamente pobre, a pesquisa e ofolheio (browsing) pelo usuário se tornamdeficitários. A estrutura conceitual, baseada em nóse links, deve ser semelhante à estruturaorganizacional do assunto tratado nohiperdocumento. Para que haja entendimento entreo autor e o leitor do hiperdocumento é necessárioque os aspectos estruturais e semânticos estejamorganizados e ativados.

Os sistemas de hipertextos são as redeshipertextuais, formadas de unidades de informação(nós) e ligações entre essas unidades (links).Entretanto, como já mencionado, as ligações entreas unidades não devem ser feitas ao acaso, mas porsimilaridades e relacionamentos entre as partes.Pode-se afirmar que o processo de representaçãotemática da informação, oriundo da Ciência daInformação/ Biblioteconomia, é ideal naidentificação de conceitos e relacionamentos entrenós hipertextuais.

A representação temática de informação,também chamada de indexação, é um processo em

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que conceitos são extraídos do documento poranálise e representados por síntese. A indexaçãopode, assim, ser dividida em duas etapas: análisede assunto e tradução dos conceitos nos termos deuma linguagem de indexação (UNISIST, 1981). Aprimeira etapa, análise de assunto, pode serconsiderada a operação-base para todo oprocedimento de recuperação de informações e estádividida em três sub-etapas: 1 – compreensão doconteúdo do documento como um todo, 2 –identificação dos conceitos que representam esteconteúdo, 3 – seleção dos conceitos válidos para arecuperação da informação. Já a segunda etapa,tradução dos conceitos, tem por objetivo assegurara organização dos conceitos preferidos no momentoda representação. Como ferramentas nesta etapa,são utilizados instrumentos de indexação, quepodem ser: verbais (representados por tesauros elistas de cabeçalhos de assunto) ou simbólicos(onde os conceitos são traduzidos em símbolos declassificação).

A literatura consultada (DALRYMPLE;YOUNGER 1991; ARENTS; BOGAERTS, 1993;LIEBSCHER, 1994; MARCHIONINI, 1994; YOO;BIEBER, 2007) afirma que a organização de umadeterminada área do conhecimento requer umsistema de conceitos que interajam entre si. Adeterminação de links nos sistemas de hipertextostem-se mostrado pouco eficiente e eficaz, remetendousuários a informações não satisfatórias e causandoa desorientação no momento da navegação. Arepresentação temática da informação pode serutilizada como recurso na estruturação dohiperdocumento, sanando problemas cognitivosrelativos a esta forma de estruturação dainformação.

A utilização dos princípios de indexação emhipertexto foi mencionada por Dalrymple e Younger(1991), que relatam a relação entre os princípios deindexação e as estratégias de buscas em linha, porassunto. Os autores citam os princípios deespecificidade e exaustividade como fundamentaispara conduzir os usuários na estratégia de busca.

Outro trabalho que descreve a aplicação datécnica de representação temática em sistemas dehipertexto foi feito por Arents e Bogaerts (1993). Paraeles, cada nó em um hiperdocumento,independentemente de ser uma palavra, figura ouícone, constitui uma unidade de informação. Namaioria das vezes, na criação de sistema dehipertextos, a semântica do conteúdo dos nós éexpressa pelos vínculos por meio de palavras-chave

ou outra maneira formal de descrever o conteúdodos nós, ou parte dele.

Liebscher (1994) defende que termos deindexação fornecem significado e estrutura aosdocumentos, a organização dos nós por meio devínculos tem o mesmo papel, no hipertexto. Paratal autor, o conhecimento desenvolvido e aplicadoefetivamente pelos indexadores, ao longo dos anos,pode ser aproveitado na organização de hipertextos.Ele identifica as similaridades que existem entre acriação de hipertextos e a criação de índices. Porisso, aconselha que os autores de hipertextosretornem ao trabalho dos indexadores com objetivode solucionar problemas comuns na criação dehipertextos.

Marchionini (1994) afirma também que oconhecimento de indexação pode ser útil aosdesigners de hiperdocumentos. Para ele, todos osnós devem ser indexados, uma vez que os vínculos éque levam ao conteúdo. O mesmo autor sugere autilização de oito algoritmos para criar um hipertextobaseado nos moldes de elaboração de um índice deum documento: 1) identificação das principaisfacetas do tópico; 2) criação de uma lista exaustivade termos e frases; 3) mapeamento de termos e frasespara facetas, revisando-as, se necessário; 4)determinação dos termos/conceitos preferidos(vínculos); 5) escrita ou introdução dos textos (nósde informação), estabelecendo-se remissivas(vínculos) para outros nós durante a criação; 6)revisão do conjunto de textos (nós) de acordo com oscritérios gramaticais, de estilo, de facilidade deleitura, etc. e dos vínculos para outros nós; 7)importação dos arquivos revisados para o sistemade hipertexto, implementando os vínculos; e,finalmente, 8) teste e edição do hiperdocumento final.

Yoo e Bieber (2007) apresentam umametodologia baseada na análise de relacionamentosentre as unidades de informação do hipertexto. Sãoapresentadas cinco etapas com objetivo dedeterminar a estrutura navegacional apropriada aodado domínio do conhecimento de que trata ohiperdocumento. São elas: (1) análise de domínio;(2) análise de elementos; (3) análise derelacionamentos; (4) análise de navegação; e (5)viabilidade da implementação de análises. Otrabalho dos autores está centrado na análise daetapa (3), análise de relacionamento; enfocando apossibilidade de identificação de relacionamentosno hipertexto através da utilização de taxonomias.

Verifica-se que a literatura, no âmbitointernacional, revela esforços no sentido de

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relacionar procedimentos da indexação com acriação de hipertextos. No âmbito nacional, MariaLuiza de Almeida Campos, em sua tese“Organização de unidades do conhecimento emhiperdocumentos: o modelo conceitual como umespaço comunicacional para realização da autoria”,apresenta uma metodologia de criação dohiperdocumento, na qual os aspectos conceituaissão colocados em evidência.

Campos (2001) defende a elaboração desistemas de hipertextos considerando os aspectosconceituais envolvidos na determinação de links.Sua metodologia está organizada em três níveisde entendimento e contém sete requisitos. Noprimeiro nível, da forma de abordagem do assuntodo hiperdocumento, o autor procurará delimitaro recorte temático, determinando o domínio doconhecimento, o método de raciocínio utilizadopara a representação das unidades de

informação, o tipo de leitor a que se destina seuproduto e as fontes de informação que servirãode base para elaboração das unidades deinformação. O segundo nível, organização dasunidades de conhecimento na construção danarrativa do hiperdocumento, liga-se àidentificação de conceitos e relacionamentos entreas unidades de informação. Neste nível, caberessaltar a similaridade existente entre a criaçãode um sistema de hipertexto e o processo derepresentação temática da informação. Noterceiro e último nível, estabelecimento de umveículo de comunicação e expressão sobre atemática do hiperdocumento, ocorre a elaboraçãodos nós conceituais e seus relacionamentos narede hipertextual. O Quadro 1 apresenta umasíntese de semelhanças entre o modelo deestruturação de sistemas de hipertextos deCampos (2001) e os processos da indexação.

Quadro 1: Comparação entre os processos envoltos na indexação e a metodologia proposta por Campos (2001)Fonte: Nonato; Lima (ano)

Campos (2001) aponta que oshiperdocumentos necessitam de uma modelagemcapaz de assegurar a representação de suasunidades de informação. Para a autora, amodelagem de conhecimento necessita de umformalismo mais estruturado, com princípios paraauxiliar na determinação do domínio deconhecimento que se deseja modelar, dos elementose relações existentes entre os conceitos e de ummétodo para a organização do domínio como umtodo. Diante disso, a autora discute teorias emetodologias passíveis de prover relacionamentose representatividade na modelagem conceitual de

um hiperdocumento: Teoria do Conceito, Teoria daClassificação, Teoria da Terminologia, Orientaçãoa objetos e Ontologias.

Neste trabalho propõe-se, como uma possívelalternativa na determinação de links emhiperdocumentos, verificar a aplicabilidade dateoria do conceito, tal como foi descrita porDahlberg (1978). A escolha é justificada pelamultiplicidade de relacionamentos apontadosnesta teoria, o que torna mais confortável aelaboração de um hiperdocumento. As váriaspossibilidades de relacionamentos entre osconceitos da rede semântica poderiam ser melhor

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representadas através da rede hipertextual com oauxílio da teoria do conceito.

4.1 A teoria do conceito aplicada àdeterminação de links

Na criação de um hiperdocumento, seu autordeve prosseguir sempre pensando em como odomínio do conhecimento da temática tratada podeser organizado. Torna-se necessária a identificaçãode um conceito central e o estabelecimento derelacionamentos entre outros conceitoscoadjuvantes.

A teoria do conceito considera a linguagemnatural (linguagens utilizadas nas necessidades davida cotidiana) útil em formular enunciados arespeito dos objetos existentes no mundo. ParaDahlberg (1978), a idéia de conceito está ligada àscaracterísticas dos objetos. Dessa forma, consideraconceito como uma série de enunciados(características) verdadeiros sobre um objeto.Analogicamente, percebe-se a ligação dessa teoriacom a indexação e a identificação de conceitos noshipertextos: em ambos a “matéria-prima”, fruto daanálise de assunto e construção da narrativa dohiperdocumento, são os conceitos.

Na construção de um conceito são colocadoselementos que se articulam numa unidadeestruturada (DAHLBERG, 1978). Para que essaunidade seja de fato estruturada, a autora coloca anecessidade de análise e síntese dos enunciadosverdadeiros de um conceito, que podem apresentar-se sob a forma de característica ou categoria(hierarquia de características). As característicaspodem ser distintas em complexas e simples, sendoque as complexas apresentam mais de umapropriedade (Ex.: Caixa: marrom e quadrada).Podem, ainda, ser classificadas em característicasessenciais e acidentais (adicionais oucomplementares). Campos (2001) afirma que oprocesso de determinação de um conceito inicia-sepela escolha de um referente – item de referência -passando por sua análise dentro de umdeterminado universo, para, então, atribuirpredicados a esse referente, selecionandocaracterísticas relevantes.

Sempre que um conceito apresentacaracterísticas semelhantes a outro, pode-se falarem relações entre conceitos. Para Dalhberg (1978),as principais relações identificadas entre conceitossão: relação lógica, relação hierárquica, relaçãopartitiva, relação de oposição e relação funcional.

A primeira relação, lógica, serve de base para asdemais, pois, através da constatação decaracterísticas comuns entre os conceitos, parte-separa a organização destas sob determinadascondições. Na relação hierárquica, ou gênero-espécie, as características dos conceitosapresentam-se uma como mais completa que aoutra, formando uma hierarquia. A relação partitivaexiste entre um todo e suas partes (Ex.: árvore - raiz,tronco, fruto, folhas). As relações de oposiçãocompõem-se de características contrárias (Ex.: casabranca, casa preta). Por último, as relaçõesfuncionais aplicam-se aos conceitos que expressamprocessos (Ex.: medição, termômetro, temperatura,graus).

A aplicação das relações apresentadas podeser útil na identificação de conceitos e na elaboraçãode relacionamentos, no hiperdocumento. Em artigorecente, intitulado Finding linking opportunitiesthrough relationship-based analysis, Joonhee Yoo eMichael Bieber (2007) apresentam um modelo paradesign de hiperdocumentos baseado naidentificação prévia de possíveis relacionamentos(Relationship Navegation Analysis – RNA’s). O modelofoi aplicado na modelagem conceitual de links dewebsites de livrarias. Dentre os relacionamentos domodelo RNA’s, foram utilizados, nesta modelagem,a relação gênero-espécie, equivalência e oposição.Ao final, os autores defendem o processo de criaçãode hiperdocumentos utilizando uma metodologiasemanticamente rica, que possibilite a identificaçãode elos lógicos entre unidades de informação.

A determinação dos relacionamentos entre osconceitos está condicionada ao levantamento dascaracterísticas existentes entre estes e de seuagrupamento lógico por semelhanças e diferenças.As mesmas relações mostradas aqui, pertencentes àteoria do conceito, podem ser aplicadas nadeterminação de links. Pode-se, para isso, utilizar ametodologia de elaboração de modelos conceituaispara sistemas de hipertextos de Campos (2001). Osprincípios da teoria do conceito podem ser aplicadosnos dois últimos níveis de compreensão: segundonível - organização das unidades de conhecimentona construção da narrativa do hiperdocumento – e,- terceiro nível - estabelecimento de um veículo decomunicação e expressão sobre a temática dohiperdocumento. No segundo nível, o autor dohiperdocumento deve definir a natureza do conteúdodas unidades de informação, deve-se “modular”essas unidades de maneira que cada nó representeum conceito do domínio do conhecimento tratado

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no hiperdocumento. Ainda neste nível, devem-seestabelecer relações entre as unidades de informação.Essas relações não devem ser feitas ao acaso, masfundamentadas em princípios classificatórios, taisquais os apresentados na teoria do conceito. Noterceiro nível o autor deve elaborar umarepresentação gráfica dos nós e links de seuhiperdocumento. Neste nível a teoria do conceito

Figura 3: Contribuições das teorias da CI à criação do hiperdocumento.Fonte: Nonato; Lima (ano)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As formas e expressões do conhecimento domundo evoluíram. De maneira que a escrita e os meiosde transmissão da informação tradicionais tomamforma no ambiente da tecnologia digital. Comoproduto disso, a informação passa a ser organizada emanipulada através de uma nova forma de escrita: ohipertexto. Este, como conseqüência da escrita nãolinear e fragmentada, requer esforços que asseguremà sua rede hipertextual relacionamentos que reflitama forma como o conhecimento está organizado namente humana.

Ao ambiente eletrônico, como as bases dedados e a web, a necessidade de tratamento dainformação é ainda mais acentuada. Nota-se que amaioria dos hiperdocumentos é elaborada sem amenor referência à modelagem conceitual; issoacentua os problemas de busca e acesso àinformação. Os autores referenciados neste trabalhoconsideram úteis as teorias de representaçãotemática da Ciência da Informação para modelagemconceitual de um hiperdocumento.

Este artigo apresenta resultados de parte dapesquisa feita no curso de mestrado em Ciência daInformação. Até o momento estão sendo elaboradasreflexões sobre os temas modelagem conceitual desistemas de hipertextos e técnicas de representaçãotemática da informação. Posteriormente, serádefinida metodologia e amostragem parainstrumentalizar as hipóteses. Na literaturaestudada, notam-se semelhanças entre arepresentação temática da informação e o processode elaboração de um hiperdocumento. Comoalternativa para modelagem conceitual de umhipertexto, a utilização da teoria do conceito é tidacomo eficaz, pois possibilita a identificação dasunidades de informação do hipertexto e oestabelecimento de relações entre essas unidades.Procuramos mostrar a união entre a metodologiade Campos (2001) e a teoria do conceito.

Espera-se que a abordagem feita neste artigosirva como ponto de partida para futuras reflexõesentre as teorias da Ciência da Informação aplicadasao tratamento do ambiente informacionaleletrônico.

figura-se como elemento balizador para o autor,tornando mais confiável o deslocamento de suasidéias para o plano representacional.

De acordo com as idéias até aquiapresentadas, propõe-se um esboço (FIG. 3) dascontribuições da representação temática dainformação e da teoria do conceito ao processo deelaboração do hiperdocumento.

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HYPERTEXTUAL LINKS DETERMINATION: an information science approach

ABSTRACT The continuous growth of the amount of available information in electronic support raisesproblems related to the conceptual modeling of hypertext systems, what hinders the processof browsing in hyper documents. This article results from the first reflections about theresearch that has being developed in UFMG´s Information Science Masters Program anddeals with the conceptual modeling hypertext systems according to the theories of thematicrepresentation. It also presents a review of the literature on the subject and the applicabilityof concept’s theory in the process of identification of hypertextuals nodes and linksdetermination.

Keywords HYPERTEXT SYSTEMSCONCEPT MODELINGCONCEPT THEORY

Artigo recebido em 15.11.2007 e aceito para publicação em 10.02.2008

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