Mestrado em Arqueologia 1º Ano /1º Semestre
Unidade Curricular:
Património Arqueológico e Arquitetónico.
Docente: Paula Bessa
Dois Mosteiros
Duas Realidades
Nuno Tiago Correia de Oliveira
Nº.: PG28229
Índice I. Introdução.................................................................................................................. 3
II. Dois Mosteiros Duas Realidades ............................................................................... 5
1. Arquitetura Românica em Portugal ....................................................................... 5
1.1. Românico do Vale do Sousa e do Tâmega ........................................................ 6
1.2. Breve contextualização histórica do Entre Douro e Minho no século XI e XII. 7
2. Mosteiro de Pombeiro ........................................................................................... 8
2.1. Origem: Família(s) fundadoras. ........................................................................ 8
2.2. Desenvolvimento económico e construtivo do Mosteiro e relação com as
famílias fundadoras. ............................................................................................................ 11
3. Mosteiro de São Pedro de Cête. .............................................................................. 13
3.1. Origem: Família fundadora e antiga fundação. ........................................... 13
3.2. Desenvolvimento económico e construtivo do Mosteiro e personagens
importantes na vida do monacal. Mutações sucessivas. ...................................................... 15
III. Considerações Finais ........................................................................................... 18
IV. Bibliografia e Webgrafia ..................................................................................... 19
I. Introdução
Neste trabalho irei tentar corresponder da melhor forma possível ao
desafio lançado pela Professora Paula Bessa no âmbito da unidade curricular
de Património Arqueológico e Arquitetónico. Com efeito, esse desafio
traduziu-se num pequeno estudo sobre a relação entre as famílias fundadoras
de dois mosteiros de época românica que se inserissem na Rota do Românico
do Vale de Sousa e se o desenvolvimento ao longo da Idade Média
correspondeu, ou não, em certa medida às posses e sobretudo ao poder que
emanava dessas famílias aquando da sua fundação e construção.
Em consequência, decidi escolher o Mosteiro de Santa Maria de
Pombeiro mas conhecido como Mosteiro de Pombeiro do concelho de
Felgueiras que foi classificado como Monumento Nacional (MN) pelo
Decreto-Lei de 16 de junho de 1910, e o Mosteiro de São Pedro de Cête do
concelho de Paredes também foi classificado como Monumento Nacional,
pelo decreto do mesmo dia e do mesmo ano. Escolhi estes mosteiros para
tentar contrapor duas realidades um pouco diferentes, com morfologias e
aspetos construtivos diferentes, para além da sua evolução arquitetónica ser
diferenciada ao longo dos séculos. Assim, o Mosteiro de Pombeiro possui
até aos dias de hoje uma magnitude e magnificência que o Mosteiro de São
Pedro de Cête apesar da sua torre sineira e do seu claustro completo não se
compara a Pombeiro. Apesar disso, o Mosteiro de Cête revela uma outra
riqueza interior e a uma mistura de estilos arquitetónicos tão belos como os
do Mosteiro de Pombeiro.
Primeiramente iniciarei o meu trabalho trabalhando um pouco o
conceito da arquitetura românica em Portugal, depois passarei a analisar de
forma breve o contexto político do Norte de Portugal em meados do século
XI e inícios XII. De seguida, analisarei separadamente as famílias que
fundaram os mosteiros e um pouco da evolução estilística e construtiva
destes mosteiros. Finalmente num capítulo final tentarei resumir
criticamente se de facto as famílias que fundaram estes mosteiros
determinaram o rumo, ou não, da construção, dimensão e riqueza destes dois
mosteiros.
Quanto às imagens da capa, da esquerda para a direita e de cima para
baixo apresento: o Mosteiro de Pombeiro, fachada principal; Mosteiro de
São Pedro de Cête, fachada principal; Claustro inacabado o Mosteiro de
Pombeiro e finalmente o claustro completo do Mosteiro de São Pedro de
Cête. Quanto ao Mosteiro de Pombeiro as fotografias são minhas, e em
relação ao Mosteiro de Cête são imagens retiradas da internet,
nomeadamente do sítio da Rota do Românico, site do qual retirei também
alguma informação complementar ao trabalho de contextualização histórica
deste trabalho.
II. Dois Mosteiros Duas Realidades
1. Arquitetura Românica em Portugal
A arquitetura de estilo românico surge por volta do ano 1000 na
Europa e cinquenta anos mais tarde possui já as suas características
estilísticas bem definidas. É inicialmente um fenómeno mais vasto na cultura
europeia e que chega à Península Ibérica, a Portugal, portanto, por volta dos
finais do século XI. Assim veio por esta via a reforma cluniacense e as ordens
religiosas de Cluny, Cister, e das ordens militares (Templários) para assim
participarem ativamente no Processo de Reconquista Cristã e da organização
do território da Península Ibérica.
Com efeito, esta arquitetura concentra-se então no noroeste português
coincidindo então a estruturação das freguesias e a sua organização religiosa
e política das aldeias neste espaço.
Assim a expansão deste estilo arquitetónico dá-se já aquando do D.
Afonso Henriques, com a construção das primeiras Sés em Portugal, como é
o caso da do Porto, Coimbra e Lisboa. Esta fase termina a partir de meados
do século XII onde inicia já o Gótico.
A arquitetura românica trata-se de uma arquitetura dispendiosa,
sofisticada, porque era necessário construir edifícios duráveis, resistentes aos
fogos, uma vez que a iluminação e aquecimento do interior das igrejas e
mosteiros era feita pelo fogo. Em consequência dessa necessidade cria-se
coberturas em pedra. São criadas as abóbadas de berço e de arestas e as
cúpulas sobre pendentes e sobre trompas.
Existindo estas abóbadas e cúpulas o peso destas faz com que sejam
necessários dois tipos de suportes: os exteriores e interiores, para conseguir
suster as abóbadas e cúpulas. Os exteriores são os muros duplos, preenchidos
de cascalho e argamassa e os contrafortes. Os interiores são os pilares com
colunas adossadas para suster os arcos que saem destas cúpulas e abóbadas.
Assim existem quanto à função que desempenham: os arcos forneiros, os
arcos torais e os arcos em diafragma. Quanto às formas dos arcos podem ser
três: de volta inteira, de arco subido ou em ferradura.
Por conseguinte, os edifícios passam a ser praticamente desde dos
alicerces até à cobertura feitos em pedra o que torna necessariamente a
construção cara.
Finalmente, quanto à iluminação esta é limitada por frestas e óculos,
visto não haver espaço para grandes janelas uma vez que, a construção é
pesada e robusta devido aos suportes exteriores para susterem a estrutura
pétrea do teto. São alguns destes aspetos construtivos que vão estar presentes
na edificação dos dois mosteiros que irei tratar, que apesar da evolução
estilística que sofreram preservaram até hoje algumas características
marcadamente românicas.
1.1. Românico do Vale do Sousa e do Tâmega
O estilo românico na região do Vale do Sousa e do Tâmega adquiriu
características muito próprias. Quanto à escultura a particularidade reside
nos temas retratados e nas técnicas utilizadas. Com efeito, a escultura é bem
desenhada e plana, utiliza-se a técnica do bisel utilizada nos capitéis e nos
longos frisos, técnica que vem desde da época Visigótica. Os temas
animalistas surgem nos tímpanos dos portais e nos capitéis, com a função de
defender as entradas do templo, da igreja.
Assim os templos desta região possuem cabeceiras de perfil
retangular, fachadas onde se instalam portais bastante profundos, tal como
acontece na igreja do Mosteiro de Pombeiro. Há um grande cuidado nos
programas figurativos devido à profusão de programas de escultura que
ostenta a vontade dos patronos de nobilitarem os edifícios. Para além destas
características a arquitetura românica deste território prevaleceu durante
muito tempo, sendo que as suas soluções decorativas e os seus modelos
construtivos foram sendo adaptados com o surgimento do gótico e do
manuelino até ao neoclássico. Assim, estes edifícios são dotados de uma
amalgama de tradições estilísticas que tanto o Mosteiro de Pombeiro como
o Mosteiro de São Pedro de Cête possuem, tornando estes dois edifícios
complexos, e ainda mais ricos, com uma história evolutiva rica.
1.2. Breve contextualização histórica do Entre Douro e
Minho no século XI e XII.
A partir da conquista de Coimbra em 1064 por Fernando Magno de
Leão a região a norte do Mondego, mormente a região Entre Douro e Minho,
na qual se inserem estes dois mosteiros que falarei a seguir. É nesta
conjuntura que irá existir uma ocupação mais densa deste território e começa
a ser cada vez mais estruturado. Foi assim que se processou o famoso
repovoamento, e a fixação de antigos e também novos povoadores e passou
a ser instalado nesta região as bases para as futuras autarquias locais pela
renovação das velhas paróquias e velhas regiões administrativas e vicinais.
Por conseguinte, era necessário que a população instalada nessa área
se afeiçoasse à terra e assim sendo os grandes proprietários rurais foram
fundando igrejas próprias. Assim, a nobreza associada ao clero e ao povo
tentou levantar castelos para impedir o invasor.
Por consequência, é neste contexto político e de reconquista que nesta
área geográfica de Entre o Douro e Minho se propiciou a condição para o
florescer de um centro cultural para o desenvolvimento de uma nova forma
de construir e pensar sobre os espaços.
2. Mosteiro de Pombeiro
2.1. Origem: Família(s) fundadoras.
Tratando concretamente deste mosteiro que é um dos mais antigos e
das mais importantes instituições monacais do nosso país, cuja fundação se
deve a varão pertencente a uma das famílias feudais portucalenses mais ricas
e representativas do Norte de Portugal a família dos Sousas ou Sousãos. Com
efeito, Gomes Aciegas foi o fundador do Mosteiro de Pombeiro que
participou na independência e luta do condado contra os invasores
muçulmanos entre 1024 e 1102. Sucedendo ao seu pai, Conde Egica ou
Aciega Visóis, herdou vários coutos como o de Dornelas e de Viera e foi
neto de Visói Ufes, conde dos castelo de Vieira e de Basto, senhor de
territórios que vinham desde de Aguiar do Sousa, até Vila Pouca de Aguiar
e passado por terras de Barroso, Vila Real, e Mirandela. Casou-se pela
primeira em 1030 com Gontroda Moniz que era neta de D. Fernando Magno
que já mencionei anteriormente. É feito governador do castelo de Celorico
de Basto cinco anos depois.
Com efeito, todo este poder e património que detinha nas suas mãos
conseguindo alcançar um tal prestígio que numa das assembleias de homens-
bons que participou ao longo da vida, àquela que ocorreu em Guimarães em
1250 assina logo a seguir ao rei e já em 1059 deslocou-se a Palência numa
missão diplomática.
Avançando agora na história da fundação, nesse ano volta a Portugal
e realiza um dos seus maiores sonhos que era a construção de um mosteiro
que apesar de pensar que seria algo com fins privados para conseguir
aumentar ainda mais o seu poder e riqueza. Contudo, devido à atenção régia
à construção deste mosteiro, e às centenas de frades que passou a albergar
tornou-se numa instituição pública a preservar e que devia estar sempre ao
serviço da terra e das gentes que se encontravam na dependência deste
mosteiro. Já em 1102, D. Gomes Aciegas e a sua mulher assinam a carta de
doação a favor do Mosteiro.
Assim, e como era costume cristão na época medieval do mais
pequeno ao maior proprietário rural todos queriam perpetuar a sua memória
através de monumentos que se perpetuassem no tempo. Em consequência
disso, Pombeiro contaria a partir da carta de couto concedida em 1112 por
D. Teresa (mãe de D. Afonso Henriques) com plenos poderes, dotando o
Mosteiro de particulares privilégios e de justiça própria, tornando-o numa
estrutura robusta com espaço vital, ou seja: possuía espaço para acomodar a
comunidade religiosa ou a família que detinha o direito de padroado sobre o
Mosteiro e por outro, a robustez, para conseguir barrar assaltos e assim
resistir ao desgaste do tempo.
Através de um silhar embutido junto da porta de acesso ao claustro,
datada de 1199 pode ler-se que se trata de uma epígrafe de caráter funerário
que remete para D. Gonçalo, um abade que teve um papel importante no
Mosteiro de Pombeiro, tendo fundado algo (“Qui Fundavit…”). O que este
epitáfio poderá indicar o arranque das obras e do começo da introdução da
influência da arquitetura românica no edifício de Pombeiro.
Já na segunda metade do século XIII (1252-1276) no “governo” do
Abade Rodrigo atingiu-se o auge da estrutura medieval e românica do
Mosteiro.
Para terminar este tema da fundação do Mosteiro, resta apenas fazer
uma referência que já em meados do século XVI, a 14 de Setembro o
Mosteiro é integrado na congregação beneditina, adotando assim a Regra de
São Bento.
Não é também de estranhar o local onde se implanta o Mosteiro que
apesar de se destacar na paisagem tem motivos para se situar neste espaço.
Ora, o Mosteiro fica na interseção de duas principais vias medievais na
época: assim, uma ligava o Porto a Trás-os-Montes, passando Amarante e a
outra ligava a Beira a Guimarães e Braga, atravessando Lamego e o Douro
em Porto de Rei. Assim, torna-se clara a importância deste mosteiro
beneditino nesta particular região. É claro que vai ser durante a Idade Média
e não só que nestes espaços que a corte e o rei nas suas viagens pelo país se
vão instalando. É também de referir que este Mosteiro encontra-se bem
localizado numa área de passagem de peregrinos do Caminho de Santiago e
portanto este Mosteiro chegou com certeza a albergar peregrinos e assisti-
los na sua viagem.
2.2. Desenvolvimento económico e construtivo do Mosteiro e relação com as
famílias fundadoras.
O poder e a riqueza desta família que fundou o Mosteiro de Pombeiro
produziriam ao longo de anos várias doações para além das dádivas dos fiéis
que tornaram este mosteiro um dos mais importantes não só do Norte de
Portugal mas de todo o país.
Em consequência disso com o somar de séculos, bens imóveis como
terrenos por todo o vale do Sousa e não só, como já referi anteriormente com
o património herdado pela família de Gomes Aciegas que chegaria até Vila
Real. Assim os padroados foram aumentando até ao ponto de possuir o 37
igrejas e um rendimento anual bastante elevado, proveniente das rendas e
dos dízimos.
Claro que a família dos Sousões de Ribavizela apoiando
incondicionalmente os frades beneditinos lançam as obras que darão ao
edifício um aspeto robusto, típico da construção românica até às primeiras
décadas do século XIII.
Em 1584 ao realizar-se em Pombeiro o 5.º Capítulo Geral da
Congregação Beneditina, fez com que a importância monástica deste
mosteiro aumenta exponencialmente
A partir de Setecentos, todo o edifício monástico volta a ter
modificações sendo que a maioria delas passasse no período Barroco. Assim
com longo desse século construiu-se uma nova capela-mor, o órgão e o coro
alto, revestiu-se o coro alto e o órgão de talha dourada assim como os altares
laterais, para além das duas torres e uma ala monacal.
Não é de menor importância que ano de 1719 é começada a construir
a Ermida de São Pedro no Monte de Santa Quitéria, em Felgueiras, estando
esta construção dependente do Mosteiro de Pombeiro.
Contudo, o Mosteiro sofre um revés. Noventa anos depois do começo
das obras da Ermida de São Pedro, a 13 de Maio houve um incêndio no
mosteiro que apesar da comunidade monástica ter saído ilesa e da igreja ter
ficado praticamente intacta certo é que que boa parte do incêndio consumiu
a área comunitária portanto a área conventual. Apesar disso, no mesmo ano,
começam as obras de reconstrução e assim constrói-se: a casa do Capítulo, a
livraria, as tulhas e é comprado novas peças e objetos para a sacristia.
Mostra-se aqui a resiliência e a fonte de riqueza que esta ordem monástica
possuía nesta área.
Por fim, as obras do claustro são continuadas em 1822 mas acabam
por não serem concluídas, tendo sido feitas uma renovação do edifício com
uma campanha neoclássica que subsistiu e encontra-se de pé até aos dias de
hoje.
3. Mosteiro de São Pedro de Cête.
3.1. Origem: Família fundadora e antiga fundação.
Como referi para o caso do Mosteiro de Pombeiro, para este Mosteiro
a localização dele não é inocente. Na época da Reconquista a existência de
uma igreja num dado território era uma garantia física e espiritual que ligava
a ocupação, de uma terra outrora de ninguém ou muçulmana, agora a um
lugar cristão, sendo assim o melhor testemunho de posse cristã.
Com efeito, remonta ao século X a fundação ou sacralização da
primeira construção que determinou a presença no mesmo local apesar de ao
longo dos séculos seguintes assistir-se nesta igreja a profundas alterações
construtivas. Assim, existe um documento que data de 924 que refere que já
a existência de uma igreja neste local. Avançando um pouco mais no tempo
já em 985 existe uma basílica dedicada a São Pedro, aqui o mosteiro
encontrava-se sob a proteção da família de Leoderigo Gondesendes. Sendo
que um dos descendentes desta família, Guterre Mendes aliar-se por
casamento aos senhores de Moreira. Estes que possuíram altos cargos
políticos e que detinham já o direito de padroado sobre os mosteiros de Rio
Tinto, Refojos de Leça e Moreira da Maia.
Para o doutor Mário Barroca esta fundação atribuída a Gonçalo
Oveques “não é mais que uma reconstrução uma vez que essa mesma
personagem viveu nos finais do século XI.” Este D. Gonçalo Oveques que
lutou a par de Gonçalo Mendes da Maia, amigo de D. Afonso Henriques e
assim sendo foi responsável por inúmeras conquistas no campo de batalha.
Este direito de padroado era um costume típico deste século XI e XII.
Em termos reais o que significava era feita uma doação de bens fundiários
necessários à vida da comunidade do mosteiro e em compensação os monges
estavam obrigados a facultar aos membros da família certos direitos: o de
aposentadoria e de comedoria, que penso terá a ver com o direito da família
patrona deste mosteiro poder usar os espaços do mosteiro e de poderem usar
do fruto dos terrenos para alimentação. Assim, com estes direitos o patrono
tem o dever de proteger o território do mosteiro de qualquer violência. Em
consequência, e apesar de existir uma cerca antiga no Mosteiro de Pombeiro,
no caso do Mosteiro de São Pedro de Cête a família patrona dispunha do
Castelo de Vandoma para apoio caso houvesse um ataque normando ou
muçulmano ao espaço do mosteiro.
Os filhos de Gonçalo Oveques, Mendo, Diogo, Martinho e Soeiro
foram os patronos de Cête entre 1121 e 1128, esta segunda data pertence ao
ano em que o Mosteiro recebe uma carta de couto de D. Teresa.
A seguir, a comunidade monástica adere à Regra de São Bento. Assim
o abade D. Estevão Anes teria dirigido este mosteiro entre 1278 até 1323
data em que faleceu e foi enterrado na igreja como está inscrito numa das
paredes da igreja percebe-se que foi ele o responsável da reforma total da
igreja, por isso, é um registo importante por que permite aos historiadores de
arte fornecer uma datação gótica ao templo que alguns elementos da igreja
possuem.
Já na época moderna, em 1550, o mosteiro deixa de pertencer à
Ordem de São Bento e foi anexado ao Colégio da Graça das Ermitas de Santo
Agostinho de Coimbra. Depois na segunda metade do século XVII, nas
memórias Paroquiais é referido que o Mosteiro de Cête foi demolido
restando apenas a igreja conseguindo alojar apenas dois religiosos.
Finalmente, é de referir a existência nesta igreja da relíquia do Santo
Lenho que justificaria a romagem anual a 3 de maio pelos “grandes milagres
que se operavam pela veneração da relíquia no lugar da igreja monástica”.
Aqui denota-se o culto das relíquias tão comum e prezado pelos cristãos
continuou nos séculos seguintes. Perpetuou-se assim um local cristão ao
longo dos séculos, primeiro com uma igreja, depois com a constituição de
mosteiro e com o culto de relíquias a que “acode huma grande multidão de
gente” ainda em meados do século XVIII.
3.2. Desenvolvimento económico e construtivo do Mosteiro e personagens
importantes na vida do monacal. Mutações sucessivas.
Apesar da fundação da igreja e mosteiro remontar do século X, na
construção que e se encontra de pé até aos nossos dias não corresponde de
todo a uma época tão recuada, antes apresenta várias soluções góticas
efectuadas já no final do século XIII e no início do século XIV, como se pode
confirmar pela inscrição junto do sarcófago do Abade D. Estêvão Anes, na
capela-mor, que convivem ainda com algumas soluções românicas.
Este mosteiro por possuir datação das obras realizadas permite uma
comparação aos restantes monumentos românicos do Vale do Sousa, e como
já referiu Carlos Alberto Ferreira de Almeida, “Cête é o monumento-chave
no processo de datação do românico tardio da região”.
As razões para ser hoje um monumento-chave prende-se por causa das
soluções construtivas e evolutivas que a igreja e depois mosteiro foram
recebendo ao longo de centenas de anos, causado pela ação da Ordem
Beneditina e não pelo padroado da família que fundou o Mosteiro.
Com efeito, da construção da igreja antiga foram apenas aproveitadas
as primeiras fiadas de pedra da nave e ainda a porta sul que dá acesso ao
claustro. Assim, com as obras realizadas entre o século XIII e XIV foi
reconstruída a capela-mor com uma cabeceira com arcadas-cegas que apesar
de ser usado na arquitetura românica surge aqui no período gótico, e para
além disso, os cachorros de proa que suportam a cornija no exterior da igreja
são de época gótica. Assim sendo e como também já escreveu Carlos Alberto
Ferreira de Almeida, “esta igreja… é um belo testemunho da aceitação dos
padrões românicos e de quanto eles se ligaram a conceções.” Assim, o
mesmo autor reflete o seguinte, que é opinião da qual faço parte, o portal
ocidental retoma ainda aspetos românicos apesar dos capitéis serem já
tipicamente góticos o que revela ainda mais essa aceitação da forma de
construir típica do românico que há um corte e começasse a construir de
forma diferente. Exemplo disso são também as frestas, tão usadas no período
românico, devido à robustez das paredes dos edifícios não permitindo rasgar
grandes janelas o que acontecerá depois do gótico tardio em Portugal, mas
aqui na Igreja do Mosteiro de São Pedro de Cête são usadas devido ao
“carácter fechado dos muros”.
Já na época manuelina são feitas novas reformas no conjunto
monástico, assim é construído: o claustro e a sala do capítulo que se
encontram construídas a sul segundo o costume de construção porque seria
sempre a zona mais quente porque estão sempre voltadas ao sol.
Há ainda uma construção que ladeia a igreja que distingue este
mosteiro do de Pombeiro que é a torre sineira que foi muito mais que uma
torre sineira. Durante a Idade Média e do período pré-românico algumas sés
e igrejas monásticas possuíam este tipo de torres que mais não tinham um
valor simbólico sendo um sinal de poder, prestigio e segurança porque
colocando-se sinos no topo deste estrutura tinha variadas funções para estas
comunidades. Esta torre não é uma torre própria para habitação mas o seu
aspecto robusto e defensivo, inclusive com ameias tem uma preocupação
simbólica não de defesa efectiva. Esta torre possui ainda um arranjo de época
manuelina, que é o contraforte na fachada principal para suster a torre e ainda
o interior com arranjos na abóbada da capela funerária e do arcossólio. Para
além deste arranjo exterior, no interior a capela foi ainda decorada com
painéis de azulejos policromados de azulejo hispano-árabe típico dos finais
do século XV e inícios do século seguinte.
Já em finais do século XIX, a igreja e o conjunto monástico foram
restauradas devido ao estado deplorável em que se encontrava, em que havia
infiltrações das águas pluviais na igreja e na torre, ameaçando a ruína do
edifício. Assim após iniciativa da Junta da Paróquia e pelo seu presidente o
Pároco Joaquim Moutinho Santos reparou-se: o telhado, o altar-mor sendo
que as camadas de cal que revestiam a cabeceira da igreja foram removidas.
Isto demonstra dois aspetos interessantes e peculiares na história deste
edifício: por um lado mostra a estima pelo conjunto monástico e pela sua
antiguidade e por outro lado fez com que todas as alterações, restauros, e
transformações que o edifício teve ao longo dos séculos.
III. Considerações Finais
Portanto, estamos perante duas realidades construtivas e temporais
diferentes porque mesmo que na génese construtiva destes dois mosteiros
estejam famílias ricas e poderosas do Entre Douro e Minho algo que como
referi é costume na Idade Média e no período românico, o que acontece é
que enquanto a riqueza gerada ao longo de centenas de anos pela família dos
Sousas foi de facto fundamental para a construção, ampliação do mosteiro
de pombeiro, por outro lado quanto ao mosteiro de São Pedro de Cête o que
impulsionou a ampliação e construção do edifício conventual foi o próprio
abade D. Estevão Anes e ordem monástica que se mostraram capazes de
produzir essas reformas e não a própria família que poderia ter impulsionado
o que não me parece que tenha acontecido.
A maior dificuldade na produção deste estudo foi sem dúvida a falta
ou inexistência de informação disponível acerca das fundações e da riqueza
que os mosteiros detiveram, especialmente no que concerne ao Mosteiro de
São Pedro de Cête, para a sua construção e aumento das estruturas.
Apesar disso, tentei sintetizar ao máximo a história da construção de
cada um destes edifícios, passando pela sua evolução estilística e
arquitetónica tentando sempre relacionar com a origem da riqueza disponível
para essa construção.
Com efeito, o edifício monástico do Mosteiro de Pombeiro destaca-se
na paisagem, impondo ao olhar a sua monumentalidade e robustez e
realmente foi uma comunidade monástica rica, das mais ricas do norte de
Portugal, com muitas riquezas fundiárias e não só devido à família que
fundou o mosteiro. Por outro lado o Mosteiro de São Pedro de Cête pode
afirmar-se que é mais modesto, mas que o cuidado e alguns dos seus aspetos
construtivos únicos em todo o românico do Vale do Sousa tornam-no um
edifício chave para uma determinada época construtiva, o românico tardio.
Para além de o edifício estar completo e ao contrário do que se passou com
o Mosteiro de Pombeiro que com as vicissitudes do tempo e dos homens
ficou com o claustro monumental por terminar.
Por fim, são dois edifícios diferentes com caraterísticas e
singularidades próprias dando assim sentido ao título que escolhi para este
trabalho. Apesar de serem dois mosteiros, e da mesma ordem monástica,
note-se, são contudo diferentes, são realidades distintas mas que nem por
isso deixam de conter no seu seio o que de mais belo se produziu na época
românica e no Vale do Sousa.
IV. Bibliografia e Webgrafia
FERREIRA-ALVES, Natália Marinho [et al.] – Mosteiro de Santa
Maria de Pombeiro. Felgueiras: Município de Felgueiras, 2011
FERNANDES, M. Antonino – Pombeiro e o seu fundador D. Gomes
Aciegas . Felgueiras: Câmara Municipal de Felgueiras, 1991.
ROSAS, Lúcia Maria Cardoso (coord.). Rota do Românico do Vale do
Sousa (monografia): Vale de Sousa-Rota do Românico do Vale do Sousa.
[S.l.: s.n.], 2008. ISBN.
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2014
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C%C3%AAte&categoria=&TabNumber=0&valor=/vPT/Monumentos/Mo
numentos/Paginas/MosteirodeSaoPedrodeCete.aspx&guid={FFFA2011-
FA2C-4DE5-9BBA-6FCF6C62CBE2} – Acedido 28 de dezembro de 2014