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Psicologia do desenvolvimento infantil

Date post: 18-Nov-2023
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1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo de aprofundar o conhecimento sobre os comportamentos de uma criança de 12 meses de idade nas seguintes áreas: motor, social, linguístico, emocional e cognição. Através de uma carta de encaminhamento com a autorização da Prof.ª da disciplina de Psicologia do Desenvolvimento Infantil, apresentado a responsável pela criança em estudo, para os devidos esclarecimentos e permissões para a realização do estudo. Para execução do presente estudo foi utilizado as seguintes técnicas e métodos: Observações sistemática, a aplicação do guia Portage, uma entrevista semi-estruturada e o Registro Continuo Cursivo. Foram realizadas duas observações de uma criança de 12 meses de idade do sexo feminino na residência da mesma que se encontra na cidade de João Pessoa-PB na qual convive com a mãe, avó materna, um tio e uma babá. Estas observações foram realizadas no mês de Janeiro e outra em Fevereiro, onde foi colocada uma câmera da qual a criança não percebesse, e sem a presença física dos observadores no momento da videogravação. Durante este estudo vale salientar a presença dos observadores como um dos fatores que podem interferir nos resultados esperados, apesar dos cuidados assegurados. Foi utilizada uma entrevista semi-estruturada para a mãe da criança em estudo, que segundo Belei et. al. (2006) citando Manzini, a entrevista semi-estruturada é:“direcionada por um roteiro previamente elaborado, composto geralmente por questões abertas”(p.189). A entrevista (roteiro em anexo) composta por perguntas referentes a dados pessoais (idade, escolaridade, tempo diário com a criança, contatos 1
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo de aprofundar o conhecimento sobre os

comportamentos de uma criança de 12 meses de idade nas seguintes áreas: motor,

social, linguístico, emocional e cognição.

Através de uma carta de encaminhamento com a autorização da Prof.ª da

disciplina de Psicologia do Desenvolvimento Infantil, apresentado a responsável pela

criança em estudo, para os devidos esclarecimentos e permissões para a realização do

estudo.

Para execução do presente estudo foi utilizado as seguintes técnicas e métodos:

Observações sistemática, a aplicação do guia Portage, uma entrevista semi-estruturada e

o Registro Continuo Cursivo.

Foram realizadas duas observações de uma criança de 12 meses de idade do sexo

feminino na residência da mesma que se encontra na cidade de João Pessoa-PB na qual

convive com a mãe, avó materna, um tio e uma babá. Estas observações foram

realizadas no mês de Janeiro e outra em Fevereiro, onde foi colocada uma câmera da

qual a criança não percebesse, e sem a presença física dos observadores no momento da

videogravação. Durante este estudo vale salientar a presença dos observadores como

um dos fatores que podem interferir nos resultados esperados, apesar dos cuidados

assegurados.

Foi utilizada uma entrevista semi-estruturada para a mãe da criança em estudo,

que segundo Belei et. al. (2006) citando Manzini, a entrevista semi-estruturada

é:“direcionada por um roteiro previamente elaborado, composto geralmente por

questões abertas”(p.189). A entrevista (roteiro em anexo) composta por perguntas

referentes a dados pessoais (idade, escolaridade, tempo diário com a criança, contatos

1

sociais da criança, pessoas que convive com a mesma e data de nascimento da criança) e

dados específicos como: a experiência de ser mãe, aspectos do desenvolvimento infantil

observados pela mãe, aspectos do convívio mãe-filha.

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2.OBJETIVOS

O objetivo proposto para este trabalho consiste em experênciar a observação

sistemática, o registro continuo cursivo em crianças na faixa etária de 0 a 6 anos de

idade, exercitando por parte dos alunos a aplicação de uma entrevista semi-estruturada,

subordinado ao conhecimento aos princípios éticos necessários na pesquisa cientifica

com crianças, aprofundando o conhecimento sobre o desenvolvimento infantil nas

áreas: motora, cognitiva, linguística, social e cognitiva.

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3. MÉTODO

Segue na tabela abaixo o cronograma das atividades realizadas durante o estudo.

3.1 Período e duração:

Mês (2012/2013) AtividadesDezembro (2012) Contato Inicial, apresentação da carta de

encaminhamento.Janeiro (2013) Primeira Observação sistemática,

aplicação do guia Portage.Fevereiro (2013) Segunda observação sistemática, e

aplicação da entrevista semi-estruturada.Tabela 1. Cronograma das atividades realizadas

3.2. Características da criança observada:

A criança observada tem 12 meses de idade, do sexo feminino, não frequenta

creche ou outra organização de natureza semelhante. Sua estatura é cerca de 70 cm e

pesa aproximadamente 8,0 Kg. Durante a vídeogravação a criança vestia uma fralda,

não utiliza aparelhos ortodônticos, auditivos ou óculos, ou qualquer outro aparelho de

espécie semelhante, e reside na cidade de João Pessoa-PB.

3.3. Técnicas e materiais utilizados:

Foram realizadas duas observações sistemáticas da criança. Esta Observação

segundo Marconi e Lakatos (1990) o observador previamente sabe o que procura e o

que precisa de atenção em determinada situação, ser objetivo, reconhecer os erros,

eliminar a influência sobre o que vê ou recolhe, são pontos primordiais. O Registro

Continuo Cursivo outro recurso utilizado, que segundo Danna e Mattos (2011) consiste

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em uma técnica utilizando a linguagem cientifica e de forma que obedeça a uma

sequencia temporal dos fatos da forma como acontecem em um intervalo de tempo.

Outro material que compôs foi o Guia Portage de educação Pré-escolar que de acordo

com Formiga (2003) descreve este guia adaptado por duas psicólogas brasileiras

Williams e Aiello (2001) que traduziram o instrumento para o português. Segundo estas

autoras, o objetivo deste instrumento é subsidiar o conhecimento dos pais por parte de

sue filho, ensinando a planejar o treino e lidar com os comportamentos diários da

criança.

Foi utilizado materiais para uma melhor coleta dos dados: um celular com

câmera fotográfica para a filmagem e uma prancheta para descrição da entrevista.

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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1. Aspectos do desenvolvimento Infantil de 0-6 anos

Ao percorremos uma revisão literária do desenvolvimento humano podemos

ressaltar teorias das quais priorizam ou enfocam determinados aspectos, como as teorias

de cunho mais maturacionista tendo como pilar de seu desenvolvimento o código

genético. Em contra ponto a outra faceta do desenvolvimento temos o aspecto da

aprendizagem ressaltado por algumas teorias das quais consideram de suma importância

as trocas do indivíduo com o seu meio (Shaffer, 2008).

4.1.1. Emocional:

Henri Wallon apresenta uma teoria que facilita compreender o individuo em sua

totalidade, através de estágios sucessivos que seguem uma ordem de dependência do

estágio anterior. A criança por volta de 3 a 12 meses é possível reconhecer padrões

emocionais diferenciados para o medo, alegria, raiva e etc. (Mahoney e Almeida, 1999).

Através de estudos realizados por Izard et al. em 1995, citados por Shaffer

(2008), demostram que por volta dos 2 primeiros anos de vida a criança demonstram

interesse, dor, nojo e contentamento, mas por volta dos segundo e sétimo mês de vida

emergem as emoções primárias ou básicas (raiva, tristeza, alegria, surpresa, e medo). Já

em torno do segundo ano de vida as crianças demonstram as emoções secundárias, ou

complexas (vergonha, culpa, inveja, e orgulho) Aos 4 a 5 anos as crianças demostravam

sinais de orgulho ao resolverem um “quebra-cabeças” e vergonha quando fracassavam

na resolução. As relações que os filhos têm com suas mães podem ser modeladores das

expressões das emoções (Shaffer, 2008).

Vygotsky também escreveu sobre as emoções no desenvolvimento infantil,

fazendo uma diferenciação entre as emoções e imaginações, com criticas ao modelo das

emoções naturalistas (darwiniana), para Vygotsky as emoções são funções psicológicas

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superiores, portanto passiveis de desenvolvimento, e as crianças apresentam emoções

diferentes dos adultos. Segundo Machado, Facci & Barroco (2011) “Vygotsky em

abordar a temática das emoções surge a partir de seus estudos sobre o pensamento e

linguagem, visto que as concepções de linguagem e emoção estão imbricadas pelo

colorido emocional que acompanha cada palavra, situado no tempo e na história.” (p.

652).

4.1.2. Motor:

Butteworth (1997) em Infant Development: Recents advencds, apresenta estudos

que descrevem o desenvolvimento motor infantil é organizado de forma sequencial e

que apresenta uma meta, Por volta dos três meses as crianças conseguem controlar a

postura da cabeça e aos 6 meses conseguem sentar, dos 9 a 12 meses atividade com

ambas as mãos e o aperto diferenciado entre as mãos, aos 6 ao 8 meses procura por

objetos desconhecidos, integração da visão com as ações, transferir objetos entre as

mãos, desenvolvimento o apertar dos dedos, por volta dos 5 ao 6 meses ocorre a procura

continua guiada pelo alvo visual e bater palmas.

Shaffer (2008) apresenta uma tabela de Bayley, (1993); Frankenberg & Dodds

(1967) sobre o processo gradual de conquistas do desenvolvimento motor, com base em

crianças norte americanas de descendência europeia, latina e afrodescendente.

HabilidadesMês em que 50%

das crianças já dominam tal habilidade

Mês em 90 % das crianças já dominam tal habilidade

Levantar a cabeça em 90° quando deitado sobre o estômago 2,2 3,2Rolar 2,8 4,7Sentar-se com apoio 2,9 4,2Sentar-se sem apoio 5,5 7,8Ficar em pé, apoiando em algo 5,8 10,0Engatinhar 7,0 9,0Andar apoiando-se em algo 9,2 12,7Brincar de “bater palminhas” 9,3 15,0Ficar em pé sozinho momentaneamente 9,8 13,0Ficar em pé com firmeza 11,5 13,9

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Andar bem 12,1 14,3Montar uma torre com dois cubos 13,8 19,0Subir escadas 17,0 22,0Chutar bolas para a frente 20,0 24,0

Tabela 2. Normas da idade (em meses) para o desenvolvimento motores importantes

Em um estudo realizado por Caetano, Silveira e Gobbi (2005) com 35 crianças

de 3 a 7 anos em um intervalo de 13 meses, distribuídas por faixas etárias em 4 grupos

aplicando um teste que é a Escala do Desenvolvimento Motor (EDM) que abrange as

seguintes áreas: motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal,

organização espacial e organização temporal. Os resultados apresentaram que o

processo de desenvolvimento em cada componente da motricidade é dinâmico e não é

linear.

4.1.3. Linguística:

Um teórico do qual ficou conhecido por debruçar sobre essa temática foi

Vygotsky (1896-1934) apresentou que o homem age no mundo por meio de ferramentas

e esta ação no mundo modifica o seu meio e a si. Esta ferramenta são os signos

(linguagem) que é interiorizado da cultura. Segundo Freitas (2002) citando Vygotsky

“todas as funções do desenvolvimento toda criança aparecem duas vezes: primeiro no

nível social e depois no nível individual” (p.91).

Em sua obra Pensamento e Linguagem, Vygotsky a partir de alguns capítulos

escritos expõe seus estudos desenvolvidos na área em que crianças pequenas o

pensamento evolui sem a linguagem, o balbucio nesta fase são ausentes de formação a

partir do pensamento e a única função é chamar a atenção do adulto. Aos dois anos de

idade ocorre na criança que o pensamento pré-lingustico e a linguagem pré-intelectual

se encontram e se juntam formando assim uma nova organização linguístico-cognitivo,

tornado o pensamento verbal e a linguagem racional. No processo de desenvolvimento

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da criança há também a fala interior que é uma atividade intelectual e afetivo-volitiva,

com a função de orientação mental da compreensão consciente e superar as dificuldades

(Freitas, 2002).

No campo das teorias sobre a linguagem encontra-se um debate teórico entre os

empiristas e nativistas. Os empiristas sustentam que a criança adquire a linguagem por

meio da imitação e reforço, mas reside uma lacuna: como as crianças adquirem as

regras gramaticas? Pois não imitam diretamente a linguagem adulta e não são

consistentemente reforçadas a falar do modo gramatical. Para responder esta questão,

segundo Shaffer (2008) um número de psicolinguistas sugerem a teoria do nativismo.

Segundo os nativistas os seres humanos são programados a adquirir a

linguagem, Noan Chomsky afirma que os seres humanos já nascem com dispositivo de

aquisição da linguagem e este dispositivo teria uma gramatica universal, em que

independente da língua a criança ouve e permite adquirir um vocabulário suficiente para

entender o que está escutando (Shaffer, 2008).

Algumas criticas são feitas a esta teoria é o caso de crianças desde muito

pequenas conseguirem distinguir fonemas, outro ponto abordado é os nativistas não

explicam o desenvolvimento da linguagem por meio de uma atribuição a uma

dispositivo inato. Uma terceira proposta que têm-se levando em conta é a perspectiva

interacionista, acredita que ambas as correntes descritas acimas estão parcialmente

corretas (Shaffer, 2005).

4.1.4. Cognitivo:

No campo do desenvolvimento cognitivo podemos encontrar estudos realizados

por vários teóricos sobre os processos mentais apresentados desde muito cedo pelas

crianças.

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Nesta área os estudos de Piaget tornou-se um dos mais conhecidos apesar das

críticas. Jean Piaget, biólogo suíço desenvolveu os estágios do desenvolvimento

cognitivo, que seguem uma sequencia invariante durante todo o processo. Os estágios

foram: Sensório-motor (do nascimento até aos 2 anos), O estagio Pré-opercional (dos 2

aos 7 anos), Operacional-concreto (7 aos 11anos) e operações formais (dos 11 ou 12 em

diante) (Shaffer, 2008).

Durante o período pré-operacional (0 a 2 anos) ocorrem saltos qualitativos do

desenvolvimento como a partir deste estágio formam-se a base para os processos

cognitivos posteriores, Por conta da sua complexidade foram tratados seis subestágios.

O primeiro é marcado pelos reflexos: sucção, preensão da mão. O segundo apresenta a

acomodações e formação de mais esquemas, novas adaptações. O terceiro são as

reações circulares secundárias são os comportamentos com objetivos e metas. O quarto

é marcadamente pela busca do objeto escondido. O quinto é marcado pela busca da

criança de objetos até então desconhecidos por todos os meios que conhece. O sexto é a

criança é capaz de representar o mundo exterior a partir de imagens mentais. O segundo

estágio proposto a abordar é o Pré- Opercional (2 a 7 anos) onde a criança possibilita a

capacidade simbólica e a imitação, de forma geral o que ocorre é a representação mental

do mundo exterior a criança (Caviccha, s/a).

O período de 1 a 3 anos é marcado por apresentar mudanças substanciais no

desenvolvimento cognitivo da criança. Neste processo uma grande ferramenta da

adaptação dos seres humanos em seu meio é a imitação surge por volta do primeiro ano

de vida, consiste na capacidade de repetir ações observadas. Os modelos imitados

geralmente estão ligados afetivamente à criança como seus pares e pais, também a

imitação é executada pela criança com o fim de alcançar objetivos. A imitação

postergada ocorre quando a criança imita determinadas ações em um determinado

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intervalo de tempo após ser observada a ação e segundo estudos apresentados por

Newcombe (1999), desde seu primeiro ano de vida a criança é capaz de apresentar tal

comportamento.

Além da imitação outra ferramenta importante para a criança é a capacidade

simbólica, que emerge por volta dos dois a três anos de idade, sendo observado a partir

das brincadeiras infantis como o “faz de conta” utilizando um objeto qualquer e

representado como outro objeto, pessoal, animal e etc. Este processo da capacidade

simbólica inicia-se de forma rudimentar no primeiro ano de vida e progride

qualitativamente por volta dos dois anos, aos três a criança já realiza esta capacidade

com sucesso (Newcombe, 1999).

4.1.5. Social:

O processo de socialização inicia desde muito cedo, as respostas são

primeiramente naturais ou reflexivas até ao convívio com os adultos e processos

psicológicos mais complexos são formados (Vasconcelos, s/a).

Vygotsky (1996) apresenta que o ser humano desenvolve primeiramente por

meio de suas respostas inatas como o ato de mamar, com sua inserção na sociedade ela

adquire habilidades que lhe possibilitará o convívio social.

Em um estudo realizador por Oliveira e Rossetti-Ferreira (1993) com dois

grupos de crianças de dois a quatro anos matriculadas em creche, focalizando a relação

criança-criança, ou seja, entre seus pares. Os resultados demostraram que crianças de

dois anos ou até antes as crianças podem lidar com situações onde seus parceiros

privilegiados são outras crianças e não adultos, construindo em quanto sujeitos.

Os papéis assumidos pelas crianças variam de acordo com seu ambiente e estes

elas usam para confrontar-se com as outras de modo a obter suas metas, e o fato de

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estarem na creche permite construírem sequencias de jogos partilhados. Em sua

conclusão as autoras expõe que as crianças agem mais de forma reciproca com outras

crianças de sua mesma idade (Oliveira & Rossetti-Ferreira, 1993).

4.2. Aspectos do Desenvolvimento Infantil em estudo 0-1 ano:

4.2.1. Emocional:

Nesta área um estudo de Johnson et. al. (1982) com 597 mães com bebês com

idades na faixa etária de 1 a 18 meses. As mães reportaram a presença de 5 das 11

emoções estudadas (interesse, alegria, surpresa, raiva e aflição).

As emoções primárias emergem nas mesmas idades nas mais variadas culturas e

apresentam de modo similar evidenciando seu caráter genético, mas que é necessário

certa aprendizagem, citado por Shaffer (2008) um estudo realizado por (Camras et. al.

1992 e Izard, 1982, 1983). Durante o período de 2 a 6 meses é evidenciado a emoção da

surpresa, quando estas conseguem exercer algum controle sobre os objetos e eventos,

podendo também demostrar a raiva aos 2 a 4 meses e entristecer de 4 a 6 meses.

4.2.2. Motor:

Com a maturidade da criança e sua exploração do meio ocorre devido o

fortalecimento dos músculos do ombro, braço, pulso, mão e dedos. Também é

necessário amadurecimento nas áreas corticais responsável pela coordenação das

atividades motoras (Lopes, 2010).

Um estudo realizado por Mancini et. al. (2002) sobre o desenvolvimento da

função motora com 16 crianças pré-termo e 16 nascidas no termo. Não foi evidenciado

a diferença significativa entre crianças pré-termo e nascidas no termo, no entanto a

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forma como as crianças pré-termo adquirem suas habilidades funcionais parece ocorrer

de modo diferente das crianças nascidas no termo.

Através de uma revisão bibliográfica realizada por Arias et al. (2010) sobre

estudos anteriores relacionados ao desenvolvimento motor de crianças de primeiro ano

de vida em relação ao comportamento de alcance, preensão e manipulação de objetos. O

comportamento de alcance durante os 3 primeiros meses o alcance evolui de pré-alcançe

para movimentos coordenados, dos 4 a 6 meses o alcance passa a ser funcional,

orientado pela visão, dos 7 a 9 meses ocorre um refinamento do ajuste preparatório da

orientação da mão as características físicas dos objetos.

A preensão segundo Arias et. al. (2010), durante os três primeiros meses ocorre

a preensão reflexa, com punhos e dedos mais estendidos e mão mais abertas. Ao 4º mês

de vida a preensão palmar voluntária foi utilizada por 90% dos lactantes. Dos 6 a 8

meses ocorre o movimento de oposição do polegar contra o indicador, inicia-se o

movimento de “pinça”, por volta dos 11 e 12 meses a preensão de pinça está completa.

Em relação à manipulação dos objetos do 1º ao 6 º mês são simples as

manipulações como segurar o objeto , olhando- o e movendo-o, além da tendência de

levar a boca os objetos que posteriormente evolui para inspeção visual. Na faixa do 6º

ao 12º mês de vida ocorrem atividades manipulatórias mais complexas, como apalpar,

bater, transferir para as mãos, rodar um objeto explorando-o com a visão, inserir um

objeto dentro de outro, espalhar, juntar, jogar fora, empurrar, rodar, inverter e entre

outros.

4.2.3. Linguístico:

O desenvolvimento da linguagem processa em dois estádios: o pré-linguistico e

usando o choro para se comunicar, rico em fatores emocionais. Segundo Del Ré citado

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por Vasconcelos (s/a) o balbucio ocorre por volta dos 6 a 10 meses e caracteriza por ser

sons de consoantes e vogais, como “ma-ma-ma-ma”, podendo ser confundido com as

primeiras palavras do bebê.

Shaffer (2008) apresenta um dado relevante ao período de 7 e 8 meses do qual

bebês silenciam enquanto seus companheiros falam e esperam responder com

vocalizações quando seus pares terminam de falar.

Por volta dos 10 meses os bebês imitam deliberadamente os sons que ouvem já

por volta do final do primeiro ano o bebê já apresenta certa noção de comunicação,

como um conjunto de sinais para se comunicar com seus cuidadores Vasconcelos (s/a)

citando estudos de Sampaio (2003).

Além dos aspectos da aquisição da linguagem Butterworth (1997) indica que

habilidades como a percepção do som, leitura labial, percepção de fonemas, sistema

gestuais, acompanha o processo da aquisição por parte da criança.

Em um estudo realizado por Pedroso et. al. (2009) sobre a evolução das

manifestações pré-linguisticas em crianças normais no primeiro ano de vida, constou

com uma amostra de 33 crianças nascidas no termo em Porto Alegre, a partir de

informações colhidas dos pais e observação do examinador e de estímulos facilitadores,

observou os seguintes dados: 100% das crianças apresentam o sorriso social no terceiro

mês de vida, o balbucio monossilábico o seu aparecimento foi por volta aos três e aos

seis meses em todas as crianças observadas. Quanto ao balbuciar polissilábico foi

encontrado em 14 (42,4%) a partir dos cinco meses e 100% com nove meses. As

primeiras palavras foram produzidas provavelmente aos seis meses, e as crianças de

com nove meses 51,5% já apresentavam e até o fim do primeiro ano houve um rápido

aumento de 12 %. Foi constatado nesta pesquisa também que o predomínio do sexo

feminino aos 12 meses das 21 crianças nove eram meninos e 12 meninas. O autor ainda

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ressalta que existem padrões universais para a aquisição da linguagem e as variações

não podem ser consideradas como patologia.

4.2.4. Cognitivo:

O processo cognitivo inicia-se desde avida uterina (Butterworth, 1997; Lopes et.

al. 2010) iniciando a partir dos reflexos e progredindo ao raciocínio lógico e formal do

adulto.

Segundo Lopes et. al. (2010) com dois meses de idade a criança sorri a qualquer

estímulo ou outra pessoa que venha a interagir, ou até mesmo um brinquedo, mas

apenas aos 3 meses saberá que está sorrindo para o rosto que está diante de si. Por volta

dos seis meses a criança reagem com sorrisos a muita coisa, podendo pegar objetos e

com isso se distrai quando a mãe se ausenta, embora sinta-se triste ao se ver sozinho.

Diferentemente de Piaget expôs sobre a imitação diferida ou postergada que

emergiria por volta dos 18 a 24 meses, Butterwoth (1997) expõe criticas a esta

afirmação, ressaltando que antes do primeiro ano as crianças são capazes de imitar

comportamentos anteriormente vistos.

A permanência do objeto é outro ponto a ser levantadas criticas as conclusões de

Piaget, pois segundo o mesmo a criança até 18 meses de idade não consegue

compreender a permanência do objeto, mas segundo estudos Baillargeon, as crianças

mais cedo isto é, seis meses e meio adquirem conhecimento prático das leis que a

cercam, portanto um objeto não pode “sumir” de sua frente a não ser que algo o retirou

Butterwoth (1997).

4.2.5. Social:

Os estudos nesta área apresentam quanto os seres humanos são sociais, pois

segundo estudos citados por Moura e Ribas (2004) os bebes parecem predispostos a

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responder seletivamente a eventos sociais. Por volta de 7 meses ou menos a criança

demonstra a capacidade de diferenciar a voz da mãe de qualquer uma outra mulher

segundo estudo realizado por Eisemberg (1975) citado por Moura e Ribas (2004). Os

bebês apresenta preferência por faces humanas por volta com 2 semanas diferenciando

da mãe e de outro estranho.

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5. Resultados e Discussão

5.1. Relato da Entrevista:

Primeiramente foi esclarecida a realização da entrevista (a mãe da criança) sobre

a livre escolha de sua participação, logo aplicou-se a entrevista semi-estruturada. A

participante tem 36 anos, seu grau de escolaridade é superior formada no curso de

administração de empresa, tendo apenas um filho e este sendo o primeiro. Trabalha a

partir do período da manhã até à tarde.

Quanto ao seu tempo de convívio com a criança são cerca de 5 a 6 horas diárias,

e esta criança convive com mais três pessoas: avó, babá, e um tio. Com poucos contatos

com outras crianças.

Em relação ao desenvolvimento da criança perguntado sobre cada uma das áreas

em questão, os dados proporcionaram dados não possíveis de serem observados na

filmagem. No aspecto emocional: “ri muito, demonstra alegria quando vê pessoas

conhecidas. Já reclama quando é proibida de fazer algo.” A criança reconhece pessoas

de seu vinculo social, e já reclama evidencia a formação do self, que inicia desde os

primeiros meses de vida (Moura & Ribas, 2004).

Quanto ao aspecto motor foi destacado na fala da mãe: os primeiros passos; leva

a boca a mamadeira e chupeta, brinca com os brinquedos em cada mão, senta e levanta

sem auxilio, destacado este aspecto do guia portage o item de números: 05, 25. Durante

a gravação foi possível observar a manipulação da criança segurando uma bola em cada

mão. Além dos aspectos relatados pela mãe foi visto na observação os itens 08, 15, 16,

17, 18, 28, 41, 43. Na faixa do 6º ao 12º mês de vida ocorrem atividades manipulatórias

mais complexas, como estas citadas pela mãe e observadas através das filmagens (Arias

et. al. 2010).

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Na área da socialização foi verbalizado pela mãe: na presença de estranhos

torna-se tímida, mas depois interage, aprecia outras crianças. Com auxilio do portage foi

mencionado a grande maioria dos itens como “sim”, mas em confrontação com a

filmagem pode ser observado os seguintes itens: 01, 03, 09, 10, 12, 19. A “timidez”

destacada na fala da mãe é segundo estudos realizados por Shaffer (2008) de ansiedade

por estranhos, a criança apresenta certa apreensão por estranhos, mas, esta caraterística

varia de acordo com a idade, que por volta dos 8 a 10 meses passa a não temer todos os

estranhos.

Quanto ao aspecto linguístico segundo o relato da mãe não pronuncia ainda

palavras, apenas a “primeira sílaba”, esta afirmação pode constatar devido a criança está

em uma fase chamada de pré-liguistica, (Shaffer, 2008; Pedroso et. al. 2009). Quantos

os itens do Portage foram afirmativos os seguintes: 01, 02, 03, 06, 08, 10. Durante as

duas filmagens só foi possível captar vocalizações da criança.

Em relação ao aspecto cognitivo a mãe relatou que a criança usa “palavras

próprias” para se comunicar, conhece partes do próprio corpo, reconhece alguns

brinquedos pelo nome, sabe dar “tchau” e “beijo”, tenta imitar após ver alguma cena.

Quanto ao portage, foram afirmativas a maioria dos itens (01-10, 12-14). Na

oportunidade das filmagens foi possível observar o aspecto da imitação postergada

corroborando os estudos de apresentado por Butterwoth (1997). Foram observados nas

mesmas filmagens os itens de números: 02, 03, 04, 07, 14.

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6. Conclusão

O presente trabalho proporcionou uma visão geral das principais áreas do

desenvolvimento humano, no qual através da observação sistemática, o registro cursivo

e a aplicação de uma entrevista semi-estruturada, experênciou-se a pesquisa na área do

desenvolvimento infantil, levando a reflexão e conhecimento do que se têm produzido

neste campo da psicologia a partir da exposição das teorias e a pluralidade que os

teóricos apresentam, partindo de epistemologias diferentes, mas com o mesmo objeto de

estudo, trazendo ao pesquisador a necessidade de ter um vasto campo teórico para

adentrarmos na complexidade humana.

Durante a filmagem vale destacar o artificio de “ocultar” a câmera para evitar o

máximo de influência do pesquisador sobre a criança, mas não impede que esta

ferramenta se apresente como interferente no comportamento do adulto com a criança.

Após uma revisão bibliográfica e confrontação com os dados colhidos, este

trabalho proporcionou a replicação de estudos realizados por teóricos citados e o pode

ser visualizado a imitação postergada em uma criança de 12 meses, em corroboração

com estudos anteriores e críticos quanto ao que Piaget tinha assumido a esta questão,

além de outros comportamentos previstos a partir da vasta gama de estudos já

produzidos.

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7. Referências

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Belei, R. A., Gimeniz-Paschoal, S. R., Nascimento, E. N. & Matsumo, P. H. V.

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