FOTOJORNALISMO: A história, a prática e a técnica

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FOTOJORNALISMO: A história, a prática e a técnica Carlos Leonardo Recuero1 ASPECTOS HISTÓRICOS O século XIX apresenta uma novidade, que para nós é normal hoje em dia, o fato de ver cenas de lugares e países distantes. Até o surgimento da fotografia, em 1939 o desenho reinava absoluto, procurando reproduzir tais aspectos do mundo desconhecido pela maioria da população, porém eram pouco precisos e cheios de imaginação do autor. A fotografia traz a naturalidade e a realidade das imagens até então desconhecidas pela maioria da população do século XIX.A fotografia começa a surgir também na publicação de livros, tanto técnicos os quais procuravam orientar na prática da nova arte como na divulgação das fotografias realizadas.

The Pencil of Nature foi o primeiro livro ilustrado com fotografias a ser publicado, tendo ocorrido sua publicação entre 1844 e 1846, tendo como autor Henry Fox Talbot, um dos inventores da fotografia. O livro " Egito, Núbia, Palestina e Síria ", publicado em 1852 com fotografias de Maxine Du Camp foi também um dos livros pioneiros na utilização de fotografias, todavia apresentava " lugares vazios". Francis Frith, fotografo inglês foi também outro dos pioneiros na publicações de imagens em livros , quando em 1858 lançou com enorme sucesso " Egypt, Sinai and Jerusalém ", livro este que retrata as fotografias realizadas em suas viagens por aqueles lugares, exóticos e desconhecidos da grande parte da população européia, constituindo o maior livro ilustrado já editado. O trabalho de John Thomson em 1873, denominado de " Ilustrações da China e de seu Povo" , iria apresentar uma nova fotografia de lugares distantes e desconhecidos , e ao mesmo tempo se contrapor a ausência do "homem" e de toda a sua problemática social, nas fotografias.

1 Fotografo, jornalista, professor de Fotografia, Fotojornalismo e Fotografia Publicitária na Escola de Comunicação Social, da Universidade Católica de Pelotas. É Pós-graduado na fundação Getúlio Vargas em Administração Pública e Privada, e Mestre em Serviço Social pela Universidade Católica de Pelotas e Mestre em ciências pela Universidade Federal de Pelotas.

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Em 1860 já podia se distinguir a fotografias em quatro categorias, as fotografias de arquitetura, as fotografias de paisagem, o retrato e a arte onde a fotografia pictórica tentava imitar a pintura e a fotografia de documentação.

A fotografia artística alcançava nesta época grande repercussão, pois os fotógrafos utilizando a fotografia como uma nova forma de arte, onde a realidade não era tão importante, iam explorando técnicas complicadas no interior de estúdios criando o chamado estilo pictórico.

As fotografias realizadas dentro do estilo denominado de "pictorialismo", que comercializavam ou publicavam através de livros, obtinha uma influência e aceitação extraordinária entre um público ávido pelo consumo de imagens.

O movimento de elevar a fotografia ao nível das "Belas Artes", alcançou tal importância a ponto de criar dois grupos que se destacaram, o " The Linked Ring" , na Inglaterra em 1892 e o “Photo –Scession” na América do Norte dez anos mais tarde.

A fotografia documental surge de forma "acidental", sendo citado Philip Delamotte, fotógrafo inglês, que retratando a reconstrução do " Crystal Palace de Londres por volta de 1850, mostra não só o palácio, mas os homens que estavam trabalhando na reforma. Esta fotografia ressalta o pensamento corrente na época de fotografar um tempo que rapídamente de transformava. Roger Fenton, fotógrafo inglês com as fotografias da "guerra da Criméia", publicadas a mais de 120 anos pelo Ilustrated London News, mostrariam a importância da fotografia como meio de comunicação, isto por volta de 1855. Todavia as 300 imagens captadas por ele não demonstraram nada do horror de uma guerra, e coincidentemente não retrataram nenhum dos horrores descrito por ele em suas cartas dirigidas à família. O interessante nas fotografias de Fenton é o fato de que seu trabalho teria "omitido" a verdade e apresentado uma imagem distorcida da realidade de uma guerra, com fotografias de retratos de oficiais e paisagens extraordinariamente realizadas, por determinação do governo Inglês que queria preservar a população e os familiares dos militares, dos horrores de uma guerra. A guerra civil americana em 1861 serviria para a realização de um grande trabalho de fotografia documental , mostrando uma visão do que era verdadeiramente uma guerra. Mathew Brady com o estímulo do presidente americano Abraham Lincoln, iria acabar por realizar a primeira cobertura maciça de uma guerra juntamente com sua equipe de fotógrafos, Alexander Gardner e Timothy O' Sullivan. Ao final da guerra Brady com uma produção enorme de fotografias, iria frustrar-se ao descobrir o pouco interesse demonstrado pelo público em

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adquirir tais imagens, e pelo fato do governo adquirir todo o seu trabalho pelo departamento de guerra por valores insignificantes. Todavia ao final do século os leitores de jornais acreditavam mais no escrito nos jornais, sobre todo o horror de uma guerra, do que propriamente nas imagens captadas pelos fotógrafos, os quais com equipamentos enormes e volumosos utilizados na época, se limitavam muito a obtenção e realização das fotografias no "front", depois do acontecido. Um italiano Felice Beato iria apresentar pela primeira vez fotografias cheias de aspectos reais de uma guerra, na Europa. Estas imagens plenas de informação e carregadas de impressionante realismo, obtidas em 1864 na guerra japonesa, são um marco e um retrato cruel da guerra Cino-Japonesa. Em 1879 o " London Graphic " reproduziria como gravuras, fotografias da guerra " Afegã ", realizadas por John Burke, fotógrafo inglês profissional, com razoável aceitação pela população. Em 1888 a fotografia iria receber um impulso enorme, através da fundação da revista "National Geographic" com uma orientação para a divulgação do visual e que viria a tornar-se um dos maiores expoentes da fotografia mundial, tanto no passado como na atualidade. O século XIX apresenta particularidades importantes com relação ao uso da fotografia e as suas repercussões sociais, através dos avanços tecnológicos da humanidade no que tange ao desenvolvimento que a fotografia iria ter, e a importância que adquiriu com a capacidade de registrar em imagens aspectos do cotidiano da sociedade como um todo.

Aqui deve ser considerado de forma decisiva e relevante uma forma de estudo quando se analisa tal importância adquirida, pela sua ligação estreita ao fato de que a grande maioria da população naquela época era analfabeta, e que nesta realidade a comunicação visual era muito importante e se tornava cada vez mais premente o seu uso. A estes fotógrafos pioneiros e a suas fotografias é creditada a única possibilidade, de hoje em dia, contemplar as guerras do final do século XIX, e a forma de como viviam as pessoas nas cidades, no campo e no desempenho de suas atividades diárias.

AS IMAGENS NOS JORNAIS O aparecimento das imagens fotográficas em jornais, gera ainda hoje em dia muita controvérsia, sendo no entanto aceita duas teorias.

A primeira, que uma imagem fotojornálistica, teria sido publicada no jornal Daily Herald no dia 04 de março de 1890. A segunda, defendida por historiadores da revista "TIME" , os quais afirmam que o New York Tribune é

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que teria publicado uma fotografia jornalística pela primeira vez na imprensa em 21 de janeiro de 1897. W.M. Ivins, em seu livro " Imagem Impresa y Conocimiento", publicado em 1975 afirma, quando se refere ao século XIX e ao crescente avanço da comunicação visual, que ' a imagem impressa alcança maioridade, não apenas numericamente, mas por sua destinação difusa e indiferenciada ", ainda mais quando ampliada para a propaganda política e para a publicidade comercial, onde estava a encontrar um campo propicio e próprio para tal. É neste contexto que a fotografia recentemente descoberta passa a se desenvolver e a ganhar espaço como nova ciência, arte e fonte de comunicação. O interesse pela imagem em jornais vem de longe, Joseph Pulitzer no final do século XIX, aposta nas imagens, ilustrações sensacionalistas que tornam o deficitário "New York World" no jornal mais lucrativo daquela época. Jacob Rijs, dinamarquês que emigrou para os Estados Unidos, em 1870 com suas impressionantes fotografias jornalísticas das favelas nova-iorquinas mostraria a imprensa a força do fotojornalismo ao provocar a mudança das leis habitacionais, quando da publicação do livro " How the Other Half Lives" publicado em 1890, e que daria uma enorme influência na reforma social que se seguiu. O Jornalista americano, nascido na Hungria, Bert Garai, durante a Primeira Guerra Mundial teve a idéia de registrar, em fotos, os importantes acontecimentos mundiais, organizando-as em arquivos. Este serviço foi a tal ponto realizado, que pela organização, ao final ele chamava este arquivo de "Agência de Imagens". Bert Garai foi o fundador da Agência Keystone . Lewis Hime, foi outro fotografo que com suas fotografias documento da população americana, iria mudar as leis sobre o trabalho do ser humano e principalmente o trabalho das crianças. Erich Salomon fotógrafo alemão iria dar nos anos 1920-1930 grande impulso para o fotojornalismo moderno ao trabalhar com a revolucionária câmara fotográfica "Ermanox", de pequeno formato, versátil e compacta. Com tal câmara ele iria registrar os grandes acontecimentos políticos da época, com originalidade, naturalidade e dando vida a uma nova fotografia de imprensa. Erich Salomom apresentaria o fotojornalismo em um prefácio de um álbum de sua autoria, " Célebres Contemporâneos Fotografados" como " A atividade de um fotógrafo de imprensa que desejasse ser mais que um artesão deveria ter uma luta continua por sua imagem : como o caçador é obcecado

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pela paixão de caçar, o fotógrafo é obcecado pela foto única, que expresse bem a notícia". Henry Cartier Bresson, fotógrafo francês , iniciou na fotografia na infância e com suas imagens fotográficas viria a tornar-se um marco e um expoente da fotografia moderna, firmando-se como o líder de uma nova geração de fotógrafos . Cartier Bresson documentaria fotograficamente toda a grande tragédia da Segunda Grande Guerra ( 1939/1945) registrando a realidade palpitante do grande confronto mundial e do seu final. Em 1947 fundaria com David Seymor e Robert Capa a agência Magnun, um expoente mundial do fotojornalismo.

Um marco de Cartier Bresson seria a câmara fotográfica Leica, inventada em 1924 por Oskar Barnack, a qual passaria a utilizar quando a conheceu em 1932 não se separando mais da mesma, a ponto de a considerar “um prolongamento de sua visão". Arthur H. Fellig, conhecido como Weegee daria mais um impulso ao fotojornalismo através de uma intuição pela notícia, e devido ao seu grande relacionamento formar as chamadas "Fontes de informação", que lhe proporcionavam obter notícias do fatos praticamente durante o acontecimento dos mesmos. A forma de realizar coberturas fotográficas, o fez criar um estilo e um modo de agir único e próprio, que deram a Weegee a possibilidade de criar um estilo de fotografar, que serve ainda nos dias de hoje, como orientações para a prática da profissão de fotógrafo de imprensa, com eficiência, estilo e para a obtenção de imagens com qualidade jornalística. As guerras serviram para a consolidação de forma marcante da atividade do repórter fotográfico e do fotojornalismo, com o surgimento de grandes fotógrafos como Henry Cartier Bresson, Robert Capa, George Rodger, Philip Jones Griffiths, Donald McCullin, Eddie Adans , Harold Evans, Horst Faas, Robert Haerbele, entre tantos. Entre tais fotógrafos pode se destacar Tim Page, personagem lendário, que viria a aparecer no filme Apocalype Now e contribuir com seus conhecimentos e imagens fotográficas para dar uma maior veracidade ao filme. Duas fotógrafas também aparecem com destaque na cobertura da guerra do Vietnan, Catherine Leroy e Christine Spengler. Com o avanço cada vez maior da tecnologia fotográfica e do desenvolvimento do aparato fotográfico, a cada dia, surgem fotógrafos cada vez melhores do que os “mestres” do passado.

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A FOTOGRAFIA JORNALÍSTICA A fotografia como forma de comunicação e informação, na imprensa, data de longo tempo, possuindo aspectos históricos muito interessantes e de importância fundamental para a sua afirmação como comunicadora, como fonte de informações e formadora de opiniões.. A fotografia jornalística como conhecemos hoje, esta longe do "caricato" que desempenhava nos primórdios do seu nascimento. Um longo caminho de aperfeiçoamento tanto técnico como de profissionalização foi percorrido até adquirir o status que possuí hoje. A fotografia de imprensa desde o seu nascimento, trouxe junto consigo o repórter fotográfico, ou o fotógrafo de imprensa, o que proporcionou a descoberta da importância da imagem como fonte de informação, uma vez que a caminhada foi percorrida pelo profissional e por ele construída através dos acontecimentos da história, até vir a tornar-se como a própria notícia. Antes de procurarmos desvendar tais fatos, devemos levar em consideração a época em que ocorreram tais acontecimentos e ter presente a história da fotografia de imprensa acontecendo paralelamente a história a fotografia e a história mundial. Os avanços tecnológicos tanto no que se refere aos equipamentos utilizados, como dos materiais foto sensíveis disponíveis, e as próprias condições de trabalho em tal época faziam parte de um contexto social, cultural e dependiam muito mais da inventividade de cada fotógrafo e da sua técnica particular, do que propriamente de uma bibliografia básica, que o orientasse como trabalhar.

O repórter fotográfico ou o simples fotógrafo, carecendo de uma formação acadêmica dependia mais da intuição e da prática fotográfica, como fontes de aprendizado e de formação de técnicas, que influenciavam o resultado final da fotografia de uma forma muito particular. A fotografia jornalística deve no entanto ser analisada do ponto de vista funcional e não como fotografia pictórica, ou seja aquela fotografia que tentava imitar a arte e que procurava reproduzir pinturas, o que por si só era considerada "arte" por alguns profissionais, e que gerou tendências e formas de expressão estética no campo das artes visuais. Porém, tal prática fugia da característica principal da fotografia jornalística que é a de gerar informações, que é ser a própria notícia. O funcionalismo da fotografia jornalística, está ligado a sua forma de utilização como fonte de informação, de narração do acontecimento, como informadora da notícia visual, o que através da sua funcionalidade,

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proporciona ao leitor, o acesso às informações, onde esclarece, mostra, informa, enfim supre as necessidades do saber. O ato de conhecer, de compreender os fatos através de uma imagem é produto da fotografia jornalística, e tem uma ligação enorme com a forma como o fotógrafo capta os fatos, os acontecimentos, a vida, e de como ao realizar a fotografia possibilita ao leitor decodificar tal mensagem, com as influências e conseqüências que vai suscitar e influenciar a quem ela tiver acesso. A Fotografia jornalística segundo Julian Calder & John Garret, em seu livro Manual de Fotografia 35 mm. diz " Para qualquer página de jornal, uma fotografia reveste-se da mesma importância de uma notícia de última hora. A fotografia deveria ter a um só tempo o poder de informar e entreter, à semelhança dos artigos cuidadosamente redigidos. Ao contrário destes, porém, ela é capaz de prender a atenção dos leitores com maior rapidez. Através de um mero olhar, qualquer pessoa toma conhecimento da notícia - e pode ser induzida a ler, com interesse, o texto que a acompanha, desde que a imagem fotográfica seja de qualidade" A utilização das fotografias como informação , são um dos meios mais importantes da comunicação onde os acontecimentos ocorridos, seja de fatos distantes, ou de fatos conhecidos ou mesmo inimagináveis e que para os quais não tivemos possibilidade de assistir ou ter conhecimento, através da sua visualização se tornam para nós acessíveis através da fotografia jornalística. Ver imagens fotográficas nos jornais nos mostram tais acontecimentos em toda a sua explosão de emoções, sentimentos, dramaticidade que os geraram, tudo numa única e simples plana folha de papel onde estão estampados. É a fotografia jornalística um dos mais importante meio de comunicação da atualidade, onde mesmo visto o acontecimento presencialmente, ou assistido através da televisão, ou escutado pelo rádio, nós ainda compramos o jornal no dia seguinte, e procuramos ver tais fotografias como um sentimento de posse da informação da qual já tínhamos um conhecimento anterior. Todavia é necessário saber se ler uma fotografia jornalística. Tanto da parte do repórter fotográfico que vai escolher se a publica ou não, como o editor de fotografia de um jornal. Estabelecemos aqui alguns critérios de avaliação de uma fotografia jornalística.

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COMO AVALIAR FOTOGRAFIAS "JORNALÍSTICAMENTE" Antes de se iniciar uma avaliação, devemos procurar entender como proceder para com os critérios para se poder realizá-la. Primeiramente é necessário estabelecer três critérios com os quais deveremos trabalhar. Estes critérios ou valores podem ser denominados de valores jornalístico, artístico e técnico. VALOR TÉCNICO - O que podemos entender por valor técnico de uma fotografia ? O entendimento é fácil, uma vez que o valor técnico de uma fotografia jornalística está associado aos conceitos preestabelecidos para a elaboração de uma fotografia. Assim podemos conceituar a avaliação técnica através de uma perfeita utilização da luz, onde uma focalização perfeita, um bom enquadramento, uma boa composição fotográfica, o contraste nas imagens preto e branco ou a perfeita utilização das cores existentes nas cenas realizadas com filmes coloridos dão o equilíbrio e a saturação das cores gerando a qualidade na imagem.

A adequada escolha do filme fotográfico e a perfeita captação da luz existente no momento da realização da foto possibilitarão então uma imagem com qualidade, e conseqüente valor Uma forma de realizar a avaliação do ponto de vista da qualidade técnica, pode iniciar através da verificação da nitidez da imagem, na exposição correta que pode ser observada no contraste que a mesma possui.

A quantidade de grãos que compõe a imagem. O objetivo foi conseguido? Existe interesse na imagem?

Estas respostas respondidas qualificam o valor técnico. Um segundo passo seria então observar a composição utilizada pelo fotógrafo. A composição é genericamente a descrição da estrutura visual de uma imagem, e ao contrário das técnicas fotográficas existentes para a obtenção de uma fotografia, não possui qualquer rotina rigorosa ou regra definitiva . A composição em fotografia pode então ser entendida como a organização realizada através do nosso olhar, dentro do visor da câmara fotográfica, do assunto a ser fotografado e visualizado, tornando-o estrategicamente distribuído e esteticamente organizado, de forma a dar maior ou menor importância ao mesmo, conforme o desejo do fotógrafo.

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A composição fotográfica pode então ser arranjada com a utilização dos vários elementos que a compõe dentro do enquadramento desejado, pois a maioria das fotografias quando compostas, são em função do conteúdo. Uma exposição correta é sinônimo de uma imagem de boa qualidade e é obtida por um bom uso da iluminação existente. Os contornos e as formas dos assuntos podem muitas vezes alterarem sua aparência , tornando-se mais ou menos interessantes dependendo do ponto de vista utilizado na hora da obtenção das imagens. A perspectiva de escalas dos primeiros planos, procurando mante-los livres de outros elementos que distraiam a atenção em demasiado, ou a perspectiva atmosférica onde o contraste entre zonas nítidas e as desfocadas reforcem os planos a serem fotografados , podem ser algumas soluções que qualifiquem uma fotografia. As fotografias a cores, tal como a forma e a tonalidade nos fornecem elementos essenciais e fundamentais para uma análise de uma boa fotografia colorida. A utilização da cor pode influenciar fortemente na informação a ser fornecida onde pode existir harmonia ou mesmo um choque visual. VALOR ARTÍSTICO - Ao falar-se de valor artístico, pensa-se logo em arte, no belo, no bonito, no agradável. Na verdade não é desta forma que se deve proceder a análise. Valor artístico em fotojornalismo é entendido como "tornar agradável a visão do fato", ou seja dispor os assuntos fotografados de forma homogênea e uniforme, procurando passar uma simetria, uma beleza "plástica" do assunto retratado. A estética e a plástica possuem aqui grande importância, na hora da obtenção da imagem, ou na sua manipulação em laboratório ou mesmo através da computação gráfica. A arte aqui pode ser entendida como a "força visual" da imagem, registrada em uma forma particular de enxergar o mundo e o acontecimento pelo fotógrafo, deixando a fotografia impregnada de emoção, de sentimento, de realidade. Assim falar em valor artístico de uma fotografia jornalística é preciso deixar que a imagem nos fale em primeiro lugar, para só então compreendendo-a, nós possamos avaliá-la.

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VALOR JORNALÍSTICO - Este é sem dúvida o principal elemento em uma fotografia jornalística. As vezes ele pode ser levado em tal consideração que pode preterir os outros dois valores, devido a informação que contém. A informação, o conteúdo, o fato, o acontecimento, eis o âmago da fotografia jornalística. A notícia; o assunto que nos passa informação, que saceia o desejo de saber, de conhecer, e que muitas vezes dispensa o texto, o que em outras ocasiões também o esclarece, e que na maioria das vezes nos leva após olhar a imagem procurar ler avidamente a informação do texto que a precede. O valor jornalístico é o principal componente de uma fotografia de imprensa, que será utilizada em um jornal ou em uma revista. Este tipo de fotografia deve ser entendido, como aquele que é a "notícia", por si só. Aqui devemos entender alguns pontos muito importantes, e que para uma melhor compreensão iremos dividir o valor da fotografia jornalística em duas modalidades; Instantâneos e Elaborados. Vamos procurar diferenciar estes dois conceitos da seguinte forma : INSTANTÂNEOS : Fotografias obtidas durante o acontecimento ! ELABORADAS : Fotografias realizadas posteriores ao acontecimento, posadas ou montadas ou encomendadas ! As formas de obtenção de imagens, instantâneas ou mesmo das fotos elaboradas, deve ser sempre uma opção do repórter fotográfico no momento em que desempenha suas funções, todavia o que vale sempre é a obtenção das imagens para a informação do acontecimento. As fotografias de instantâneos são geralmente uma combinação de causalidade e perícia do fotógrafo, e normalmente a maioria das imagens divulgadas em jornais, é obtida por simples amadores que se encontravam diante de um acontecimento fortuito e incomum e tiveram a lucidez de o registrar. É importante salientar que as fotos posadas ou elaboradas dão ao fotógrafo um tempo maior de elaboração e de tomada de decisão sobre como realizar a fotografia, gerando na maioria das vezes fotos com maior qualidade técnica e de maior valor artístico, ao passo que o instantâneo, é de uma certa forma, virar a câmara e clicar, importando mais o fato de obter a imagem do fato.

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Compreendido estes valores, jornalístico, artístico e técnico, podemos iniciar então uma avaliação de uma fotografia, sob a visão jornalística, tendo sempre presente uma escala de valores, onde o valor jornalístico tem o maior peso, seguido do valor técnico e complementado pelo valor artístico. As formas de avaliação, no entanto, muitas vezes podem ser desprezadas, levando-se em conta fatos alheios a obtenção instantânea da fotografia jornalística, mas pertinentes aos acontecimentos e da forma como foram obtidas, onde a presteza exigida do fotógrafo na hora de sua obtenção é fundamental. O fato de não se ter tempo do que selecionar no equipamento fotográfico utilizado, e utilizar as condições existentes no momento do acontecimento, sem tempo para a utilização das técnicas de composição fotográfica, ou a escolha do filme adequado, ou mesmo uma melhor utilização do equipamento fotográfico, devem ser fatores de importância em uma avaliação. Os critérios de avaliação no entanto servem como parâmetros de orientação, como forma didática de se realizar um processo de determinação de qualidade e não como parâmetros para que se realize fotografias jornalísticas, ou mesmo se catalogue fotógrafos. Assim, visando facilitar a avaliação, podemos estabelecer algumas regras para a realização de tal estudo; Quanto aos valores pré-enunciados: Valores Técnicos :

1. quanto ao contraste; 2. quanto a fotometria; 3. quanto a composição fotográfica; 4. quanto a utilização da iluminação; 5. quanto ao enquadramento; 6. quanto a disposição dos assuntos; 7. quanto a instântaneidade da foto; 8. quanto ao assunto em relação ao fundo; 9. quanto a utilização das cores; 10. quanto a elaboração fotográfica; 11. quanto a foto como produto final

Valores Artísticos :

1. quanto a plasticidade; 2. quanto a estética da imagem;

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3. quanto a harmonia dos planos; 4. quanto a beleza da imagem. 5.

Valores Jornalísticos :

1. Responde as questões : O que; quando; onde; 2. Informa ? 3. Questiona? 4. Esclarece ? 5. Suscita emoções, sentimentos ? 6. Desperta atenção para o texto ?

Compreendidos os valores de uma fotografia jornalística, vamos procurar então entender o que é necessário para que se obtenha tais fotografias, quais são os equipamentos necessários, o que é o repórter fotográfico, as técnicas de procedimentos, a ética, o que são fotografias de jornais, fotografias de revistas, os direitos autorais, as associações de repórteres , os Free-Lancers e os Bancos de Imagens. O REPÓRTER FOTOGRÁFICO O repórter fotográfico surgiu com a fotografia jornalística, e o seu reconhecimento como tal, deu-se ao longo da história que muitos retrataram para a posteridade. Identificar o repórter fotográfico deve passar por alguns critérios técnicos no que se refere ao ato de fotografar de utilizar o equipamento e de comportar-se diante dos acontecimentos. Um bom fotógrafo deve saber identificar as imagens que melhor irão informar e de certa forma se adaptar aos textos. A informação, o entretetimento e um grande poder de indução para o jornal fazem parte das qualificações de uma imagem fotojornalística Os fotógrafos de jornais não são ilustradores de eventos, ou simples retratistas, mas profissionais que devem conseguir passar ao leitor uma visão dos fatos e acontecimentos, obtidos em segundos através do uso de suas câmaras fotográficas e que certamente irão gerar questionamentos e deixarão perguntas no ar para o leitor. O trabalho do repórter fotográfico é algo muito amplo devendo conter uma produção consciente do que vê , retrata e informa através de fragmentos

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de luz tornando estes acontecimentos significativos e muitas vezes em dramáticos poemas do cotidiano humano. Esperar o momento certo do "clic", segundo Pedro Martinelli2, não é possível ao repórter de jornal ou revista pois os mesmos tem prazos a serem cumpridos e os acontecimentos são impregnados de adrenalina, e a antecipação aos acontecimentos para flagar-los em seu ápice é uma das armas do repórter de imagens. A pauta que podemos entender como a fotografia antecipadamente determinada a ser realizada, não pode ser o limitador da criatividade e da autenticidade da realidade a ser fotografada, mas uma orientação para concentrarmos nosso objetivo a ser alcançado. Os imprevistos dos acontecimentos pré determinados, muitas vezes geram mais informação que o fato principal. A atenção a todos os detalhes é fundamental para a obtenção de imagens únicas e significativas. Suas emoções pessoais não devem ser ignoradas, mas utilizadas como sinais que lhe identificam a hora de apertar o botão Não pense muito, chamou a atenção fotografe ! O repórter fotográfico deve ter presente que ele deve simplesmente usar o lugar, sua criatividade , seu equipamento e liberdade para que o momento que se depara a frente de sua câmara , seja registrado de forma que venha a informar de maneira única e real o acontecimento. Estabelecer uma empatia entre o leitor e a imagem, obriga ao repórter fotográfico um pleno conhecimento do equipamento, muita disciplina para a execução da foto e um bom conhecimento de fotografia. A luz, o principal elemento da fotografia não deve ser combatido, mas utilizado como o grande aliado na obtenção das imagens. Adaptar-se é o grande segredo do repórter fotográfico, que percebendo as luzes incidentes nos acontecimentos deve posicionar-se de forma que elas lhe auxiliem na obtenção das fotografias desejadas. As regras para se atuar como repórter fotográfico consistem particularmente em uma postura e atitude do fotógrafo diante dos acontecimentos. Intuição, criatividade e perspicácia serão os ingredientes para a obtenção de boas fotografias jornalísticas e para a criação de um estilo único e particular Conhecer os equipamentos que serão utilizados, tais como o perfeito funcionamento de câmaras, objetivas, flashes, as propriedades e finalidades

2 Pedro Martinelli é considerado um dos mais famosos repórteres fotográficos do Brasil, tendo atuado no jornal o Globo, na revista Playboy, foi editor de fotografia da revista Veja a maior do país e dirigiu o estúdio de fotografia da editora Abril

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dos filmes que irá utilizar , lhe darão segurança na hora de realizar as fotografias. A atenção a ação, ao desenrolar dos acontecimentos cerceados de uma boa intuição e confiança no trabalho que desempenha, também serão seus aliados a obtenção dos melhores momentos a serem fotografados. As decisões de chegar antes dos acontecimentos pautados, com a credencial para realizar seu trabalho e a atitude de ser sempre o último a retirar-se do palco dos acontecimentos, tem rendido a muitos repórteres fotográficos, a possibilidade de obterem imagens únicas e especiais. O fato de adiantar-se no local dos acontecimentos permite sempre um estudo antecipado da iluminação existente, do local onde se desenrolará os fatos e lhe permite escolher o melhor posicionamento para o desempenho das tarefas pautadas. Assegurar-se sempre que porta a documentação que lhe identifica como profissional de imprensa, lhe possibilitará maiores facilidades no desempenho da reportagem fotográfica. A pressa não combina muitas vezes com o repórter fotográfico. Pressa no sentido de fazer o serviço rapidamente para livrar-se do mesmo. A serenidade no agir, a polidez, a educação, a paciência, o afastamento de conceitos tipo " é impossível", são alguns dos aprimoramentos que a "pessoa" do repórter deve cultivar. Uma boa fotografia jornalística não tem hora para acontecer, portanto o repórter fotográfico deve despojar-se de horários e vontades de fotografar, pois os acontecimentos são recheados de momentos únicos e irrepetíveis. A espontaneidade de um assunto a ser fotografado dependerá muitas vezes da empatia estabelecida entre o fotógrafo, o assunto e o ambiente onde o mesmo deverá atuar. Câmaras, flashes, fotógrafos costumam assustar e a tornarem tensos os protagonistas de muitos acontecimentos, portanto antes de fotografar mova-se pelo ambiente com discrição e tranqüilidade, até que a sua presença não desperte muita atenção, começando aí então a realizar seu trabalho. O fato de ter chegado cedo certamente em situações como esta lhe será de grande ajuda, pois a sua identificação com o ambiente dos acontecimentos será mais fácil e despojada de destaque desnecessário. A utilização de objetivas luminosas, películas adequadas e o aprimoramento da técnica de fotografar lhe permitiram superar adversidades ocasionadas por iluminação deficiente, iluminação com intensidade diversa, falta de espaço, impossibilidade de achegar-se ao assunto Finalmente devemos ter presente que a função do repórter fotográfico resiste no fato de registrar fatos, acontecimentos e momentos

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essências para o ser humano , em imagens com o objetivo de informar, de questionar, de esclarecer e gerar opiniões aos leitores de jornais e revistas. Para tanto o repórter fotográfico deverá dispor de um equipamento no mínimo básico para realizar seus trabalhos., porém dar conselhos sobre equipamentos fotográficos é delicado e sempre a escolha dependerá de uma decisão pessoal.

EQUIPAMENTO BÁSICO Ao falar-se de equipamento básico, devemos levar em conta " Básico" como aquele equipamento mínimo e indispensável para se trabalhar como repórter fotográfico. Embora o advento da fotografia digital, que cada vez mais toma corpo junto a fotografia jornalística, devemos levar em conta que a grande maioria dos jornais ainda funciona de forma convencional e que a fotografia utilizada ainda é a preto e branco ou a colorida, com processo químico e que na maioria das vezes ainda é utilizada a fotografia preto e branco. Aos repórteres fotográficos, no entanto é pedido que desempenhem suas funções como "caçadores de notícias visuais", o que lhes obriga possuir, ou dispor de um equipamento para tal. O equipamento básico para o desempenho das atividades fotográficas como repórter fotográfico de imprensa, pode ser considerado como :

EQUIPAMENTO : 1- 2 corpos de câmara fotográfica ( similares). 2- 1 objetiva 50 mm (normal), ou 55 mm. (macro). 3- 1 objetiva 28 mm (grande angular). 4- 1 objetiva zoon 70/210 mm ou similar. 5- 1 meia tele 105 ou 135 mm. 6- 1 tele objetiva de longo alcance ( 300 mm. ou mais). 7- 1 motor drive 8- 1 tripé, 9- 1 monopé. 10- 1 flash de bom alcance, de preferência " dedicado". 11- 1 cabo disparador. 12- 1 fotômetro manual. 13- 1 kit de limpeza. 14- Filtros diversos

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13.1. - Polarizador. 13.2. - Correção de temperatura. 13.3. - Contraste. 14 - Bolsa. 15 - Filmes preto e branco, coloridos negativos e diapositivos. 16 - Baterias de reserva para o flash. 17 - Bloco para anotações.

Aqui devemos salientar que as opiniões divergem quanto ao que é considerado equipamento básico, de fotógrafo para fotógrafo e mesmo da exigências dos jornais com relação ao equipamento que se deve utilizar. Porém, é certo que é melhor ter o equipamento na sua bolsa fotográfica do que quando precisar utilizar algum, ficar a lamentar-se que não trouxe ou não tem, e aí impedido de colher determinadas imagens por falta de equipamento. As bolsas fotográficas carregam de certa forma a vida do repórter fotográfico e portanto todo o cuidado com a mesma é pouco. Os cuidados são tantos que muitos são chamados de " ciumentos " com relação ao uso e cuidado com suas bolsas. Câmaras fotográficas, são muito importante, todavia a ótica é de certa forma fundamental para a realização de boas fotografias. Quando se fala em objetivas para fotojornalismo deve-se compreender que a "luminosidade" das mesmas é de fundamental importância para o desempenho das tarefas fotográficas que irão ser desenvolvidas , uma vez que as condições de iluminação que os repórteres fotográficos trabalham, normalmente são as piores possíveis. Ao adquirir objetivas para trabalhar o fotógrafo deve levar em conta que o número "F", deve ser baixo o que irá indicar uma boa luminosidade e facilitar a utilização das mesmas nas diversas ocasiões que se fizerem necessárias. A luminosidade das objetivas é portanto de suma importância para a realização de uma boa fotografia nestes casos. Um fato importante, é que o preço das objetivas mais luminosas, é bem superior ao das restantes, mas que a qualidade das imagens obtidas compensa o preço pago na sua aquisição. Alguns repórteres valem-se muito da utilização de "tele-converteres", que duplicam o alcance das objetivas em uso, todavia vale lembrar que os mesmos também serão responsáveis pela perda de luminosidade nas cenas onde forem utilizadas, além de que em algumas situações dificultarem a focalização das cenas a serem fotografadas.

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As objetivas utilizadas sendo bastante luminosas não dificultam a obtenção das imagens, já os duplicadores que implicam na perda de luminosidade podem afetar a qualidade das fotografias, quando associados ao uso de objetivas menos luminosas, ou de baixa qualidade. A objetiva, por muitos denominada de ótica ou de lente, deve ter então uma atenção especial, tanto na escolha no momento de utilização, como no manuseio e na sua conservação. O uso do tripé ou do monopé esta sempre dentro de uma opção do fotógrafo que deve ter presente o fato do peso que carregará na bolsa e da mobilidade que deverá dispor para realizar as tarefas a ele exigidas. TÉCNICAS DE PROCEDIMENTO As técnicas de procedimento na obtenção de imagens fotográficas, são mais orientações aos fotógrafos, para facilitarem o seu trabalho como repórter fotográfico do que leis a serem obedecidas cegamente. Além da perícia na arte fotográfica, pede-se ao profissional de imprensa certos dotes que o credenciem para o cumprimento de suas tarefas, que podemos enumerar como :

1. SENSIBILIDADE. 2. TENACIDADE. 3. PACIÊNCIA. 4. CORAGEM PESSOAL. 5. CULTURA GERAL. 6. EDUCAÇÃO APRIMORADA 7. VIGOR FÍSICO. 8. PONTUALIDADE. 9. CONHECIMENTO DO EQUIPAMENTO FOTOGRÁFICO. 10. FONTES DE INFORMAÇÃO.

As orientações que complementam os quesitos de um repórter fotográfico podem ser consideradas como normas de procedimento, que complementem as qualidades a serem desenvolvidas. Assim, manter a atenção integral voltada para o tema ou pauta de acontecimentos é uma exigência de procedimento para o repórter fotográfico. O fato de manter a atenção integral a pauta de acontecimentos, deve ser cercada de uma consciência de tudo o que está acontecendo ao redor dos acontecimentos pautados.

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A chegada cedo nos locais pautados, possibilita ao fotógrafo a possibilidade de que com sua intuição, possa posicionar-se nos melhores locais para então ao observar a cena a ser fotografada realize o trabalho do melhor angulo, com maior facilidade. As condições adversas, ou pouco propícias para a obtenção de fotografias não devem servir como desânimo para a obtenção das fotografias, mas como estímulo para a capturação de imagens únicas. A determinação de superar todas as dificuldades para superar as adversidades antepostas as fotos desejadas, fazem parte do dia a dia do repórter fotográfico. O fato de ser sempre o último a retirar-se da zona dos acontecimentos, pode possibilitar a obtenção de fotos únicas ao fotógrafo, pois muitas vezes acontecimentos imprevisíveis acontecem em tais momentos. A empatia e uma autorização tácita para fotografar são alguns dos melhores elementos, que aliados a técnica e a uma boa utilização do equipamento fotográfico, dão ao repórter fotográfico os elementos necessários para inspirarem confiança nas pessoas, tranqüilidade, e principalmente naturalidade em suas ações, o que irão impregnar as fotografias de realismo e emoção. A cobertura imparcial, é muitas vezes difícil, e quase sempre carregada de emoções, onde os acontecimentos, muitas vezes bestiais, trazem a tona uma consciência e um sentimento ético onde a verdade crua, voraz, vai sendo congelada num "clic", entre lágrimas. Assim é a história de cada fotografia, e pode nos ensinar a fazer uma nova história, quando documentada mudando assim o agir do "bicho homem" no futuro. O revestimento de nossas emoções como em uma couraça de aço, nos leva direto ao nosso conceito de "ética" onde talvez seja mais importante desprover-se de sentimentos humanos, e desempenhar o mais importante papel do repórter de jornal, onde documentando para o todo sempre, a história e os acontecimentos através das imagens que irão falar por si só, e assim mudarem a história " sem palavras". O ato de simplesmente abdicar de "relatar" fotograficamente os acontecimentos e interferir nos mesmos, como uma tentativa de os amenizar ou mesmo de tentar deter o seu curso fazem parte também do dia a dia dos repórteres fotográficos. Aqui, fala mais alto a consciência de cada um no desempenho de suas funções como profissional da informação. Cada um sabe o que é certo ou errado para sua consciência.

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ÉTICA EM FOTOJORNALISMO Quando de fala de ética, entra-se num campo muito pessoal onde as cargas genéticas, antropológicas de uma pessoa, juntamente com seus conhecimentos adquiridos desde o nascimento, formação e educação terão um peso muito grande e irão interferir de forma decisiva em o que é "ético" para cada repórter fotográfico. As decisões sempre serão pessoais, e certamente irão gerar polêmica a cada tomada de posição e modo de agir. O certo porém, é que a ética em fotojornalismo está interligada a pessoa do fotografo, o qual terá na tomada de suas decisões o que é ético e o que não é ético e a ele ligado. Algumas vezes é necessário colher-se autorização para divulgar alguma fotografia de determinada pessoa física e assim ficar-se resguardado de problemas com processos por violação de privacidade, ou outros quaisquer que possam a vir ser reivindicados posteriormente.. Modelos são sempre modelos, todavia cabe a cada profissional elaborar um documento que lhe autorize a publicação das fotografias realizadas, mesmo após a realização das fotografias, porém antes da sua divulgação e se for necessário, consultar um perito em leis ,advogados, para que seu trabalho, esteja resguardado de ações, ocasionadas por arrependimento, quebra de palavra, ou mesmo busca de direitos cedidos para uso de imagem. A FOTOGRAFIA DE JORNAL A Fotografia de jornal possuí características próprias, diferentes em sua concepção, elaboração e obtenção das restantes fotografias funcionais existentes, mesmo as fotografias jornalísticas. As características dos jornais, são mais imediatistas e pedem que a fotografia realizada para os jornais possua aspectos especiais, seja numa elaboração não tão cuidadosa mas mais voltada para a notícia imediata, o acontecimento em si é o principal elemento e deve ter a imediatez da informação mais premente, que irá caracterizar a fotografia realizada para jornal, a qual ainda tem uma duração efêmera. As fotografias de jornais são mais relacionadas ao dia a dia, e portanto retratam mais a vida em toda a sua realidade de fatos, imediatistas, imprevisíveis e são estes momentos e acontecimentos, que despertam a atenção, a curiosidade, o interesse publico e que podem em muitas vezes envolverem personalidades , comunidades, partidos políticos, organizações

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sociais, eventos, acidentes, e mesmo fatos policiais pois todos eles mexem com os sentimentos e as emoções do seres humanos. Está característica de despertar atenção, curiosidade, o desejo de saber mais, e de mostrar o acontecimento é talvez a mais importante faceta da fotografia jornalística. A vida gera informações, e cabe aos meios de comunicação divulga-las, mostrando ao público o que acontece seja através de textos, seja através de imagens fotográficas.

Os jornais utilizam este tipo de fotografia como uma de suas formas de comunicação de grande poder de impacto junto ao público e que em muitas vezes é restrita a retratar fatos locais e de interesse da população e que assim poderão serem melhor compreendidos através das imagens registradas. Os fatos internacionais devido a sua repercussão também despertam a curiosidade e possuem um atrativo maior que está ligado ao fato de que por acontecerem em locais distantes e muitas vezes desconhecidos, possuem também uma grande força de comunicar quando divulgados, e serão as fotografias destes acontecimentos que darão aos leitores maiores detalhes do que o texto poderia informar. Os repórteres fotográficos deverão ser assim orientados sobre o que, onde e como fotografarem tais acontecimentos. A escolha destas coberturas fotográficas são estabelecidas através da chamada pauta fotográfica. Aqui o repórter fotográfico irá trabalhar com uma pauta. A solicitação das fotografias será feita pelo conselho editorial do jornal. A pauta seria então as solicitações feitas pelo jornal, e que poderão ser determinadas pelo Editor ao fotógrafo. A pauta deverá direcionar as fotos que o repórter terá que realizar, porém ela nunca poderá ser suplantada pela a criatividade, o momento exato de catar a ação, a utilização do equipamento adequado, a técnica de compor e enquadrar as imagens, as formas e o ângulo de obtenção das fotografias, a visão que se dará da notícia, pois todos estes elementos estarão ligados exclusivamente ao fotógrafo. Compreender a força de uma fotografia de jornal, está na sua observação e na compreensão de ver o poder de síntese que a mesma traz A eficiência da informação que contém e a carga da realidade do acontecimento são também alguns aspectos que irão caracterizar esta forma de comunicação não verbal. A fotografia de jornal possui esta característica da imediatez dos acontecimentos , os quais obrigam ao fotógrafo a realizar as fotos muitas vezes durante o acontecimento, ou mesmo logo após que tenham ocorrido.

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A duração de tais acontecimentos, impregnados de movimento e ação são normalmente curtos e obrigam ao repórter uma grande rapidez na captura das imagens, uma rápida tomada de decisão do que fotografar e do que não fotografar, exigindo tudo isto ainda uma prática, uma atenção decisiva por parte do repórter fotográfico nos acontecimentos e nos fatos que lhe rodeiam e uma adequada escolha do equipamento fotográfico a ser usado. A informação aqui, se tem ou não se tem ! Não existe outra possibilidade de se registrar os acontecimentos. A presteza é de fundamental importância para o repórter fotográfico, o qual não poderá após os acontecimentos relatar os fatos, mas apenas mostrá-los em imagens. Os fotógrafos profissionais devem no entanto ter presente uma definição ao realizarem seus trabalhos, suas fotografias não devem apenas "ilustrar" versões dos acontecimentos, mas traduzirem o fato em imagens. A FOTOGRAFIA DE REVISTA -

A fotografia de revista já é um tipo de fotografia funcional, mais elaborada, mais trabalhada e portanto realizada com técnica apurada, com tempo e estudo de iluminação, com um melhor momento de obtenção da imagem calculado após observação de todos os elementos que irão compor a imagem.

O controle que se exerce sobre o assunto a ser fotografado e a ausência de "movimentação dos acontecimentos", dão de certa maneira uma maior possibilidade para que o fotografo, consiga realizar um trabalho mais aprimorado, onde a técnica tem uma importância muito maior.

As fotografias realizadas para revistas poderão serem encaradas de diversas formas, quanto a sua elaboração, uma vez que normalmente elas fornecem ao fotógrafo mais tempo para a sua elaboração e obtenção, quando não ligadas a acontecimentos tempestivos.

A técnica, a sagacidade, o espírito de aventura do fotografo aliados a uma grande visão da realidade que se descortina diante de seus olhos e os acontecimentos que observa, serão os elementos que irão compor a história que contará através das imagens fotográficas.

DIREITOS AUTORAIS

Jornal e revista não fotografam ! Arquivo não é fotógrafo ! A polêmica ainda persiste, e os grandes meios de comunicação

continuam a se apropriarem de trabalhos realizados por fotógrafos, funcionários ou mesmo free-lancers.

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Quantas vezes se é surpreendido com a divulgação de uma imagem que você criou, tendo como autor o famoso "arquivo". O crédito da autoria da fotografia ainda é omitido, é esquecido e surge o maior fotógrafo o "arquivo" ou outras denominações tão utilizadas.

O inacreditável de toda a situação confusa sobre o direito autoral, está ligada tanto ao profissional, como aos jornais e empresas de comunicação que com desconhecimento, ou má fé, ignoram a lei, e continuam através de uma impunidade cruel ao profissional e autor, a desrespeitar seus direitos , com uma desfaçatez incrível. Repórteres fotográficos ludibriados, com seus direitos violados, agem com normalidade diante de tão grave afronta, por puro comodismo ou desconhecimento da lei.

A lei, clara, diz em seu texto " os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis ", pouco conhecida a lei, fotógrafos e empresas jornalísticas não levam a sério a lei 5.988 de 14 de dezembro de 1973 e continuam a desrespeita-la sendo que a grande lei de " Gérson " junto com a daninha mentalidade de levar vantagem e de ter impunidade caminha junto dos fraudadores.

Todo o profissional deve ter conhecimento da lei, principalmente do artigo 25, onde lhe é reservado : " reivindicar, a qualquer tempo, a paternidade da obra; o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra; o de conservá-la inédita; o de assegurar-lhe a integridade, podendo opor-se a modificações; o de modificá-la até mesmo depois de utilizada e o de retirá-la de circulação, ou suspender qualquer forma de utilização já autorizada".

Aos fotógrafos e repórteres fotográficos cobra-se o conhecimento da lei, que pode ser encontrada em qualquer livraria, e que abram mão do "medo" da sensação de aterrorização em que vivem e reivindiquem seus direitos, toda vez que forem burlados.

ASSOCIAÇÕES DE REPÓRTERES

Em 1947 surge a agência de imagens Magnun ! Quatro fotógrafos

famosos, Robert Capa, David "Chin" Seymour, George Rodger e Henri Cartier-Bresson, com a finalidade de manterem um controle mais eficaz sobre o seu trabalho, cansados de terem suas imagens reutilizadas e publicadas sem o respeito a autoria, reúnem-se em uma associação e acabam fundando uma agência que servirá como modelo e umas das molas propulsoras das que se seguiriam posteriormente.

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As associações de fotógrafos multiplicam-se pelo mundo nos anos seguintes. Estas associações possuem finalidades diversas, que podem ser a de trocarem informações, conhecimentos, e, ou promoverem o estudo e a discussão da fotografia e seus avanços tecnológicos, como também o de preservarem os trabalhos realizados tanto na autoria como na sua conservação.

Algumas destas associações logo tornam-se agências de fotógrafos que são hoje uma forma de organização visando exercer o controle sobre a sua produção fotográfica, proporcionar uma comercialização mais abrangente, fora de sua região de atuação, a nível nacional ou mesmo internacional.

As agências também realizam todo um serviço de preservação do direito autoral, e muitas funcionam como banco de imagens disponibilizando as mesmas a todo um público interessado.

Contratos, registros, contatos de solicitação de serviços, organização de viagens, documentação , organização de projetos, busca de financiamentos e tantas outras necessidades dos fotógrafos são alguns dos serviços prestados por elas.

Assim o fotógrafo tem mais tempo disponível para realizar seus trabalhos, deixando o restante a cargo da associação a qual pertence.

Os cuidados devem sempre serem tomados e antes de associar-se procure saber como a mesma funciona, sua credibilidade junto ao mercado, seus direitos e deveres como membro, bem como a tabela de preços e os valores cobrados pela mesma.

O REPÓRTER FOTOGRÁFICO FREE-LANCE

O fotojornalismo, muito mais que o jornalismo escrito exige sempre a

presença de uma pessoa com uma câmara fotográfica para registrar os acontecimentos jornalísticos.

A presença de um profissional ligado a algum órgão de comunicação em todos os lugares e momentos é muito difícil, se não for considerada impossível. A possibilidade de ser um amador a fazer então aquela " fotografia jornalística" é muito maior que a de um profissional da área, e aqui começa então a aparecer o chamado "Free Lance", repórteres fotográficos que sem vínculo empregáticio com qualquer órgão de imprensa , ou mesmo amadores avançados, trabalham indo de encontro dos acontecimentos para ali obterem suas imagens, procurando depois vende-las aos jornais e demais interessados.

Este repórter fotográfico, independente, sem vínculo empregatício, que surge na época moderna , irá se caracterizar pela liberdade, tanto no que se refere a obtenção das imagens como na forma de trabalhar. O poder de decisão sobre o que fazer e o que não fazer, onde ir, o que fotografar lhe possibilitarão

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a obtenção de imagens únicas, onde muitas vezes os profissionais ligados a algum órgão de comunicação não estarão presentes.

As vantagens como a liberdade, o poder de decisão sobre o que fotografar, a ausência de horário a cumprir, devem ser sempre comparadas e pesadas com a impossibilidade de não se conseguir comercializar as fotografias e assim comprometerem sua atividade como repórter fotográfico.

BIBLIOGRAFIA : FABRIS, Annateresa (org.) - Fotografia . Usos e Funções no século XIX - editora USP.1991. HEDGECOE, John - El libro de la Fotografia Creativa. Fundamentos de Creatividad y Técnica Fotográfica. Editora Hermam Blume. Madrid. 1976. LANGFORD, Michael - Aprendizagem da Fotografia - Iniciação e Aperfeiçoamento - Editorial Presença/Martins Fontes, Brasil/Portugal. 1980. LYNCH, David - Guia Prático da Exposição, Editorial Presença/ Martin Fontes, Portugal/Brasil. 1980. KODAK, Eastman Company - Diversos - Como Tirar Boas Fotos, Editora Abril, 1982. KUBRUSKY, Cláudio - O que é Fotografia, Editora Brasiliense, 1983. PEREZ, Juan Diego & ALGARA Enrique (org.) Técnicas de los Grandes Fotografos, Editora Hermann Blume, Madrid. Espanha. 1981. SAUNDERS, Dave & JOSEPH, Michael - Curso Completo de Fotografia, Editora Blume, Barcelona/Espanha. 1995. VASQUEZ, Pedro, Como Fazer Fotografia, Coleção Fazer, editora Vozes.1986.