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A Questão Universitária e o ME

Date post: 04-Nov-2015
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Artigo sobre a discussão do movimento estudantil brasileiro nos anos 1960 sobre o ensino superior.
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 Impulso, Piracicaba, 16(39): 119-136, 2005  119  A Qu es o Un iv er si ri a e o Movimento Estudantil no Brasil nos Anos 1960 THE UNIVERSITY CASE AND BRAZILIAN STUDENT MOVEMENT IN THE 1960’S Resumo Pela análise histórica de documentos criados pela imprensa estudantil, bem como de obras sobre os movimentos estudantis – com o objetivo de caracterizar e interpretar as concepções do movimento estudantil brasileiro, em relação ao ensino superior, ao longo dos anos 1960 –, nota-se que dois momentos se destacam: o “populista”, no início dos anos 1960, e o movimento de 1968. No começo da década de 1960, o “populismo estudantil” expressava-se na demanda pela reforma universitária, em que se combinavam desejos de democratização, desenvolvimento e atuação social da universidade, constituindo a principal bandeira e preocupação das entidades estudantis de então. O golpe militar de 1964 representou a derrota desse populismo e dessa demanda. Já em 1968, a questão universitária secundou o tema da  rev olu ção . Disputas políticas e diferenças ideológicas geraram duas noções diversas sobre o sentido dessa revolta: a luta de massa e a luta especí ca. De todo modo, porém, as duas linhas não destoaram muito em seus diagnósticos sobre a condição do ensino superior, rejeitando as reformas de caráter tecnocrático, autoritário e mercantilizador propaladas pelo regime militar. Palavras-chave MOVIMENTO ESTUDANTIL  QUESTÃO UNIVERSITÁRIA  ANOS 1960 – UNIVERSIDADE . Abstract By a historical analysis of documents made by student press, as well as works about student movements – with the goal to characterize and interpret the conceptions of the Brazilian student movement in relation to higher education teaching during the 1960’s –, two moments stand out: the “populist” period, in the beginning of 1960’s, and the 1968 movement. In the beginning of the 1960’s, “student populism” expressed itself in the demand for university reform, which combined desires of democratization, development and university social activity, constituting the principal ag and concern of the student institutions. The 1964 military coup represented the defeat of this populism and demand. In 1968, the university matter was secondary in relation to the theme of “revolution”. Political disputes and ideological differences generated two different conceptions: the mass struggle and the speci c struggle. Anyhow, though, these two lines didn’t have many differences in their diagnosis about higher education teaching conditions, rejecting the reforms of technocratic, authoritarian and mercantile character divulged by the military regime. Keywords  STUDENT MOVEMENT  UNIVERSITY  CASE – 1960’ S UNIVERSITY . LUÍS ANTONIO GROPPO Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal)  luis.gr oppo@am. unisal. br 00xxxx_imp40 .book Page 119 Thursday, S eptember 1 5, 2005 5:18 PM
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  • Impulso, Piracicaba, 16(39): 119-136, 2005 119

    A Questo Universitria e o Movimento Estudantil no Brasil nos Anos 1960THE UNIVERSITY CASE AND BRAZILIAN STUDENT MOVEMENT IN THE 1960S

    Resumo Pela anlise histrica de documentos criados pela imprensa estudantil,bem como de obras sobre os movimentos estudantis com o objetivo decaracterizar e interpretar as concepes do movimento estudantil brasileiro, emrelao ao ensino superior, ao longo dos anos 1960 , nota-se que dois momentosse destacam: o populista, no incio dos anos 1960, e o movimento de 1968. Nocomeo da dcada de 1960, o populismo estudantil expressava-se na demandapela reforma universitria, em que se combinavam desejos de democratizao,desenvolvimento e atuao social da universidade, constituindo a principalbandeira e preocupao das entidades estudantis de ento. O golpe militar de1964 representou a derrota desse populismo e dessa demanda. J em 1968, aquesto universitria secundou o tema da revoluo. Disputas polticas ediferenas ideolgicas geraram duas noes diversas sobre o sentido dessarevolta: a luta de massa e a luta especfica. De todo modo, porm, as duas linhasno destoaram muito em seus diagnsticos sobre a condio do ensino superior,rejeitando as reformas de carter tecnocrtico, autoritrio e mercantilizadorpropaladas pelo regime militar.

    Palavras-chave MOVIMENTO ESTUDANTIL QUESTO UNIVERSITRIA ANOS1960 UNIVERSIDADE.

    Abstract By a historical analysis of documents made by student press, as well asworks about student movements with the goal to characterize and interpret theconceptions of the Brazilian student movement in relation to higher educationteaching during the 1960s , two moments stand out: the populist period, inthe beginning of 1960s, and the 1968 movement. In the beginning of the 1960s,student populism expressed itself in the demand for university reform, whichcombined desires of democratization, development and university social activity,constituting the principal flag and concern of the student institutions. The 1964military coup represented the defeat of this populism and demand. In 1968, theuniversity matter was secondary in relation to the theme of revolution. Politicaldisputes and ideological differences generated two different conceptions: themass struggle and the specific struggle. Anyhow, though, these two lines didnthave many differences in their diagnosis about higher education teachingconditions, rejecting the reforms of technocratic, authoritarian and mercantilecharacter divulged by the military regime.

    Keywords STUDENT MOVEMENT UNIVERSITY CASE 1960S UNIVERSITY.

    LUS ANTONIOGROPPO

    Centro Universitrio Salesianode So Paulo (Unisal)

    [email protected]

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    INTRODUO

    ensino superior brasileiro, pelo menos desde a se-gunda metade dos anos 1990, vem passando por di-versas transformaes: expanso do nmero de va-gas, crescimento das instituies de carter privado,crise das instituies pblicas etc. No pretendoaqui arrolar todas elas, dados os objetivos deste ar-tigo, mas vale lembrar que se viram enredadas a di-versas polmicas nos meios polticos e miditicos,

    por conta dos projetos de reforma em geral de cunho neoliberal cri-ados pelo Estado ou inspirados por agncias financeiras supranacionais.Este texto discute justamente um outro momento crucial de transforma-es, discusses e elaborao de propostas sobre o ensino superior: osanos 1960, em destaque 1968. Mas, diferentemente do debate atual, na-quela dcada revelou-se fundamental a participao dos movimentos es-tudantis, especialmente da Unio Nacional dos Estudantes (UNE). Otexto justifica-se, assim, ao menos como recurso de comparao histri-ca, a fim de compreender melhor os desafios e dilemas atuais no tocantes metamorfoses do ensino superior, bem como as reais ou possveis for-mas de participao nelas, por parte do Estado, da sociedade e de diversosmovimentos sociais.

    Em relao a 1968, este estudo se apia na anlise histrica de do-cumentos estudantis ento produzidos: basicamente jornais e panfletoscriados pela imprensa estudantil, por entidades como a UNE e Unies Es-taduais dos Estudantes (UEES). Quanto aos anos anteriores, toma porbase apenas fontes secundrias em geral, obras sobre os movimentosestudantis na dcada de 1960. A anlise buscou caracterizar e interpretaras concepes do movimento estudantil brasileiro da poca relativas suniversidades e ao ensino superior, destacando-se dois momentos: o pe-rodo populista, no incio da dcada, antes do golpe de 1964, e a mo-bilizao de 1968, geradora de uma intensa discusso sociopoltica, emque a questo universitria nem sempre foi o principal tema, diferente-mente do movimento estudantil no perodo populista.

    Em 1968, disputas polticas internas UNE e diferenas ideolgicasproduziram dois diferentes entendimentos sobre o papel do movimentoestudantil na revoluo popular defendida pelas esquerdas estudantis: aluta de massa e a luta especfica. De todo modo, porm, as duas linhasno destoaram muito em seus diagnsticos sobre a condio do ensinosuperior. Pode-se destacar a rejeio aos acordos do Ministrio da Edu-cao com a Agncia Norte-Americana para o Desenvolvimento Inter-nacional (USAID), que repetem algumas das caractersticas dos projetos eprticas de reforma do ensino superior lanados recentemente: nego-ciaes fechadas, clusulas secretas ou nebulosas, eficcia pedaggica du-vidosa das medidas adotadas, subsuno do ensino aos interesses dogrande capital privado etc. Desde ento, comeava a se delinear a pers-

    OOOO

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    pectiva neoliberal sobre a educao: ela seria umservio, ou produto, devendo submeter-se aosmecanismos do mercado e a sua conduo de-veria se dar como administrao empresarial.1

    Mesmo assim, evitando ou no a imposiodas propaladas reformas educacionais, o movi-mento estudantil em 1968 conseguiu, ao menos,tornar pblico e crtico o debate sobre o carterdelas. Carter que combinava autoritarismo, tec-nocracia e medidas em prol da mercantilizao doensino superior. Tal exemplo pode servir para de-monstrar a importncia da participao crtica da-queles que so sempre as maiores vtimas dessasreformas: os estudantes.O ENSINO UNIVERSITRIO NO BRASIL NOS ANOS 1960

    Os dados gerais sobre os cursos superioresnos anos 1960 informam, ao mesmo tempo, a pe-quenez relativa da categoria universitria e seucrescimento acelerado na poca. Tal crescimentoatingiria o auge nas dcadas seguintes, demons-trando que a democratizao da universidadeera apenas o incio de um processo de multipli-cao das vagas e proliferao de cursos superio-res. Nesse sentido, a questo universitria pode-ria ser interpretada como um interstcio entre auniversidade elitista e os cursos superiores proli-ferados, mas de carter mais tcnico, em que di-versas propostas se fizeram ouvir, sobretudo asdos estudantes, negando o elitismo e exigindo amodernizao dos cursos, mas no aceitando ne-cessariamente o tecnicismo estrito, nem aproliferao dos cursos apenas pela ao deinstituies particulares.

    Em 1968, por sua vez, os universitrioseram cerca de 0,5% da populao do Pas, ou seja,somente um em cada 500 brasileiros estava ma-triculado em curso superior. No que diz respeito faixa etria de 20 a 24 anos, esse nmero repre-sentava apenas 2% (30 anos depois, seriam 12%).Tambm os cursos secundrios tinham penetra-do relativamente pouco na populao: dos 90 mi-lhes de brasileiros, apenas 4,5 milhes termina-ram o segundo grau. Ao mesmo tempo, desde a

    dcada de 1950 vivia-se um processo de abertu-ra da universidade, com destaque aos setores so-ciais mdios. As matrculas cresceram taxa m-dia de 12,5% ao ano: de 27.253 alunos, em 1945,para 107.299, em 1962. Seriam 180 mil universi-trios, em 1966, e 278 mil, em 1968. Dois anosdepois, esse nmero saltaria para 425 mil.2

    A participao do Estado no ensino supe-rior estava, j nos anos 1960, longe de ser exclu-siva e caminhava para deixar de ser predominante.Em 1965, o Estado era responsvel por 57% dasvagas no ensino superior porcentagem, na ver-dade, em queda (era de 61%, em 1963), demons-trando a tendncia das dcadas seguintes.3 Diantedo significado desses dados, pode-se afirmar queum dos limites da atuao dos militantes dospartidos estudantis foi a referncia quase exclu-siva s universidades pblicas, seguida da defesaestrita do ensino pblico e gratuito, pouco con-templando os interesses e as necessidades dosalunos de instituies privadas.A QUESTO UNIVERSITRIA ANTES DE 1968

    Nos dois referidos momentos do movi-mento estudantil, a questo universitria estevefortemente presente, entrelaando-se, para osmilitantes das esquerdas estudantis, com a reivin-dicao pela transformao social ampla, a revo-luo. Porm, ambas adquiriram diferentes teo-res, em cada uma dessas situaes.

    Se, em 1968, a questo universitria secun-dou o debate sobre a revoluo, no incio dosanos 1960 foi a principal preocupao do movi-mento estudantil e da UNE por meio da lutapela reforma universitria. Marialice Foracchiconsidera o ano de 1960 como uma espcie deponto de partida para essa luta, mediante, justa-mente, o contato da UNE com uma proposta jamplamente debatida no resto da Amrica Lati-na, durante o 1.o Seminrio Latino-Americano deReforma e Democratizao do Ensino Superior,realizado na Bahia.4

    1 GENTILI, 2002.

    2 REIS FILHO, 1999; ALMEIDA & WEIS, 1998; e MARTINSFILHO, 1998, p. 14 e 17.3 VIOTTI, 1968.4 FORACCHI, s/d.

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    Uma srie de novos encontros e semin-rios, debatendo o tema, se daria nos anos seguin-tes, organizados pela UNE. Em maio de 1961, o ISeminrio Nacional da Reforma Universitria,novamente na Bahia, resultou na Declarao daBahia, comentada adiante, uma das primeiras ver-ses do que poderia ser chamado de populismoestudantil. O II Seminrio Nacional de ReformaUniversitria, realizou-se em Curitiba, no Paran,em 1962, e produziu novo documento, a Cartado Paran, reivindicando representao dos estu-dantes em um tero dos rgos colegiados dasuniversidades. Em 1963, um ano antes do golpemilitar, o III Seminrio Nacional referendou aCarta do Paran.5

    Enquanto a UNE e as entidades estudantisingressavam na Campanha da Reforma Universi-tria, o Congresso Nacional discutia e aprovava,em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao(LDB). A LDB foi integralmente condenada pelaUNE, na Declarao da Bahia. Para fundamentartal condenao, essa carta tocava em pontos bsi-cos, repetidos pelo movimento estudantil nosanos seguintes, misturando populismo, naciona-lismo e a retrica da alienao com uma certa de-fesa do tecnicismo (dada a influncia de ideais de-senvolvimentistas). Dizia que a universidade bra-sileira era privilgio de poucos e falhava: em suamisso cultural, ao ser mera importadora de mo-delos inadequados nossa realidade, em seu ob-jetivo profissional, no formando profissionaiscompetentes, e tambm em sua misso social, aoformar profissionais individualistas, mantenedo-res da ideologia do status quo; afirmava a neces-sidade de transformar a universidade, juntamentecom a reforma da sociedade: Uma universidadetima s ser possvel numa sociedade tima.6 Auniversidade era caracterizada como uma supe-restrutura de uma sociedade alienada, isto , de-formada em sua base econmica, porquanto sub-desenvolvida, estratificada quanto distribuiodos benefcios econmicos e sociais, democrticaapenas formalmente (...). A Universidade um

    privilgio. Dentro do processo discriminatriodo ensino brasileiro, a Universidade se situa emseu topo.7

    Mas a rejeio pela UNE no impediu que aLDB fosse aprovada. A lei previa que, at 27 de ju-nho de 1962, as faculdades enviassem seus esta-tutos reformulados ao Conselho Federal da Edu-cao. A UNE procurou ver contemplada, nessesestatutos, sua proposta de um tero de participa-o dos estudantes nos rgos colegiados dasinstituies superiores. Essa reivindicao geroua grande ao (e frustrao) da UNE no perodo:a greve do um tero, em 1962, que paralisou 40universidades no Brasil (23 federais, 14 particula-res e trs estaduais). Apesar do seu sucesso inici-al, acabou fracassando e desgastando a entidadedos estudantes.

    Derrota ainda maior e no apenas para omovimento estudantil, mas para todas as forasprogressistas foi o golpe militar de 1964. Entreas aes violentas do novo regime, destaca-se oincndio do Clube Germnia, sede da UNE, porgrupos paramilitares. Logo a entidade seria decla-rada ilegal pelo regime militar, mas continuariafuncionando clandestinamente por muitos anos.

    Entre os dilemas enfrentados pelo movi-mento estudantil nas discusses sobre a universi-dade, um deles coloca, frente a frente, ensinomodernizado (voltado s novas tecnologias eespecializaes) e ensino politizado (que con-templasse as necessidades sociais). Desde os de-bates sobre a reforma universitria, no incio dosanos 1960, seus defensores tentaram, nem sem-pre com sucesso, conciliar as duas concepes.No movimento estudantil que se reorganizavaem 1965, essa tentativa de conciliar tecnicismo emisso social da universidade fica clara nas pala-vras do diretor do DCE da USP, Jorge Fagali Neto:Nossa preocupao no somente formar tc-nicos, cientistas ou artistas, mas que eles tenhamuma formao integral, com uma funo engaja-da, uma dimenso social, voltada para o progres-so de sua ptria, de liberdade para os homens, de

    5 Ambos os documentos citados encontram-se anexos em FVERO,1994.6 Apud SILVA, 1989, p. 146-147. 7 Apud POERNER, 1979, p. 191.

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    humanizao para este mundo de todos os ho-mens.8

    No entanto, as polticas universitrias de-senvolvidas pelos governos militares pareciam ca-minhar em sentido inverso ao desejado pelos de-fensores da reforma universitria. O regime logocomeou a esboar a sua prpria reforma, refle-tindo filosofias, valores e interesses, de cunho mi-litar e tecnocrtico, da cpula empresarial-militardirigente do Estado criado em 1964. Alm da ma-nuteno ou do extravio do controle para asmos de dirigentes universitrios ligados ao regi-me, expressavam-se, pela primeira vez, os interes-ses empresariais no campo educacional, com umconceito pragmtico de educao, tida como ins-trumento de desenvolvimento e avaliada porcritrios como rendimento e eficcia.9 O desen-contro entre estudantes e Estado foi forte j nogoverno de Castelo Branco, quando, diante dasarbitrariedades do ministro da Educao, FlvioSuplicy de Lacerda,10 eles se reorganizaram emreao ao avano do autoritarismo tecnocrticonas instituies de ensino superior.

    Em 1968, o ministrio foi ocupado por ou-tro poltico avesso ao dilogo, Tarso Dutra. Elefez distribuir uma circular, endereada s univer-sidades do Pas, em 30 de janeiro, exigindo a ela-borao de fichas ideolgicas de professores efuncionrios.11 Na verdade, em cada Estado, ofi-ciais do Exrcito, seguindo doutrinas anticomu-nistas, supervisionados pela nascente comunida-de de informaes, cuidavam das polticas esta-duais de educao.12

    No tocante poltica universitria, os go-vernos militares nos anos 1960 celebrizaram-sepelos Acordos MEC-USAID, assinados entre o Mi-nistrio da Educao e Cultura e a United StatesAgency for Internacional Development (Agn-cia Americana para o Desenvolvimento Interna-

    cional). Embora elaborados em junho de 1965,apenas um ano e meio depois maiores informa-es sobre seu contedo foram obtidas pela C-mara dos Deputados. Ainda em 1965, Ana Diniz,secretria geral da UNE, dizia que o acordo signi-ficaria o impedimento total de a universidadebrasileira se voltar para a realidade de problemasespecficos nacionais, a fim de fazer dela meraformadora de tcnicos da perspectiva de um Pasdesenvolvido, com a criao de uma elite dirigentecomprometida com interesses e cultura norte-americanos.13 Afirmava ainda que o acordo trariaum impedimento cada vez maior para a formaode uma autntica cultura brasileira.14 Diante deum novo convnio assinado entre o MEC e a USAID,de Assessoria ao Planejamento do Ensino Superior,as discusses estudantis retomariam, em 1967, comainda mais nfase a crtica a esse projeto. No msde maro, a UNE tentou realizar um seminrio emNiteri para organizar campanhas contra ele, masas fronteiras do Rio de Janeiro foram fechadas parainviabilizar o encontro.15

    Os acordos com a USAID haviam sido pre-cedidos, no seu cunho neoliberal, pelo RelatrioAtcon, de 1958. Um texto do responsvel poresse relatrio, o professor norte-americano Ru-dolph Atcon, seria publicado mais tarde peloMEC, com o ttulo Rumo reformulao estru-tural da universidade brasileira. Emilia Viotti re-digiu uma crtica a Atcon, publicada no jornal daUEE de So Paulo, em 1968. Atcon defendia aconcepo de universidade como uma empresa.A autonomia universitria, nesse sentido, sig-nificava a transformao da universidade em umafundao sustentada pelo pagamento dos alunose pelos acordos com empresas, com a supervisodo governo. Seguindo a retrica neoliberal, queento vinha se constituindo, Atcon considerava aadministrao pblica inoperante, devendo estarsob um Conselho de Curadores o controle dasverbas e o maior poder de deciso. Esse conselhoseria uma espcie de corpo dos patriarcas dacoletividade, ou seja, grandes capitalistas com

    8 Apud REVISTA DCE USP LIVRE, 1965, p. 1.9 FVERO, 1991.10 Em novembro de 1964, a Lei Suplicy de Lacerda impunha a subs-tituio da UNE pelo Diretrio Nacional de Estudantes e as uniesestaduais pelos diretrios estaduais, entidades francamente subordina-das ao Ministrio da Educao (POERNER, 1979).11 PERRONE, 1988, p. 149.12 ALVES, 1993.

    13 Apud REVISTA DCE USP LIVRE, 1965, p. 8.14 Ibid., p. 8.15 VIEIRA, 1998.

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    projeo social, no poltica. Segundo Viotti,o esprito de Atcon penetrara nos documentosdo MEC, que pregavam a educao como ummeio de produo para o desenvolvimento eco-nmico, os professores como fora de trabalho eos alunos como matria-prima ou recursos hu-manos a se tornarem, quando formados, merca-dorias lanadas no mercado.16

    As misses educacionais que chegavam dosEstados Unidos para a realizao dos projetosprogramados pelo acordo traziam pedagogosmedocres e sem conhecimento algum da realida-de brasileira e, at mesmo, espies internacio-nais, recm-chegados da sia, frica, segundoPoerner.17 O paradoxo da interferncia da agn-cia norte-americana nos assuntos educacionaisbrasileiros atingiria o auge em 26 de abril de 1967,quando o ministro da Educao, Tarso Dutra, di-ante da Comisso de Educao da Cmara dosDeputados, declarou que ainda no tinha lido osacordos com a USAID: No, no li, mas quandoler, se for nocivo ao interesse nacional, eu modi-fico.18 Dias depois, o ministro se penitenciou,dizendo que decidira manter o acordo definitiva-mente e que no se importava com a repercussode seu ato no movimento estudantil.

    Alm do tema da reforma universitria e dadenncia dos acordos MEC-USAID, outra questoimportante a dos excedentes , ainda maisimediata, mobilizou os estudantes na segundametade dos anos 1960. Os excedentes eram osestudantes aprovados com nota acima de 5,0 noconcurso para a universidade e que ficavam foradela por ausncia de vaga (33,3% do total de es-tudantes aprovados, em 1962, para 58,3%, em1968).19 Eles se transformariam num problemacada vez maior, no final daquela dcada. Entre1964 e 1968, o nmero de vestibulandos cresceu120%, ao passo que o de vagas aumentou apenas56%. No conseguiram vagas, em 1968, 125 milcandidatos aprovados.20

    No incio daquele ano, os excedentes, con-siderados intelectualmente capacitados para ocurso superior, mas sem vaga, engrossavam osprotestos estudantis, que se dirigiam aos ptiosdo Ministrio da Educao, s secretarias de Edu-cao ou s faculdades para pedir mais vagas, sen-do, muitas vezes, reprimidos pela polcia. Surgia,assim, uma questo capaz de mobilizar a classemdia, defensora das possibilidades abertas para aascenso social, portanto, facilmente sensibili-zada com slogans do tipo: Fomos aprovados;queremos estudar.21 Os excedentes significarammais um dos temas a permitir certa unidade aomovimento estudantil de 1968, mesmo onde osprotestos foram menos radicais. Foi o caso deAlagoas, em que os excedentes do curso de me-dicina compareceram aula inaugural, na Univer-sidade Federal de Alagoas (UFAL), em 4 de marode 1968, com faixas e cartazes dizendo: O Brasil um hospital cheio de doentes sem mdicos; Amocidade o futuro do pas, juventude ignorante o pas sem futuro; Condene-me se estudarfor um crime.22

    Esse problema s seria resolvido em1970, quando o regime militar instituiu o vesti-bular unificado e classificatrio. Deixava de haverformalmente a figura do excedente, o que nosignificava que todos os postulantes ao ensinosuperior, mesmo que capacitados, tinham conse-guido vagas.23

    A QUESTO UNIVERSITRIA EM 1968A universidade continuaria sendo, em

    1968, um tema muito importante para o movi-mento estudantil, mas ele prprio havia se trans-formado com alguma profundidade. Por um la-do, criara-se entre os estudantes um ambiente depolitizao (de esquerda) ainda mais forte do queo do incio daquela dcada. Por outro, as idias deesquerda predominantes entre os militantes estu-dantis estavam menos atreladas s ideologias po-pulistas e desenvolvimentistas de antes. claroque tais iderios no haviam desaparecido, mas,junto ao nacionalismo, tinham se deslocado para

    16 VIOTTI, 1968.17 POERNER, 1979, p. 23.18 Jornal do Brasil, 30/jun./67, apud POERNER, 1979, p. 247.19 MARTINS FILHO, 1998, p. 17.20 ALVES, 1993, p. 117-118.

    21 DIRCEU & PALMEIRA, 1998, p. 89.22 Apud OLIVEIRA, 1998, p. 149.23 Ibid.

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    a defesa de propostas mais radicais de ao pol-tica. A luta armada, a guerrilha ou a intervenoviolenta das massas deixara de ser algo secundrioe retrico: tornara-se o assunto principal das es-querdas estudantis e prtica de alguns grupos ar-mados.24

    Para compreender a transformao daquesto universitria em 1968, comparada com ado incio daquela dcada, deve-se levar em contaessa nova dimenso da politizao nas faculdades,ao menos entre os militantes dos partidos es-tudantis. Os documentos estudantis deixavam deconsiderar a educao como o principal instru-mento de transformao social. A questo dauniversidade submetera-se s lutas popularescontra o regime militar e o imperialismo norte-americano. Ainda assim, havia duas verses: aAo Popular (AP) defendia a luta de massas,acreditando como incuas as lutas especficas emtorno de reivindicaes estudantis, ao contrrioda posio das Dissidncias Estudantis Comu-nistas, que defendiam que cada categoria socialdeveria realizar sua prpria luta rumo revoluo,a qual congregaria, enfim, todas elas. Mesmo as-sim, ambas as posies concebiam uma universi-dade nova e ideal: a ser construda depois da re-voluo, segundo a AP, ou durante a luta, apro-veitando-se das brechas do sistema, de acordocom os dissidentes comunistas.25

    Acontecimentos no movimento estudantilem So Paulo e no Rio de Janeiro comprovam aimportncia da questo universitria em 1968. Taldebate, segundo diversos relatos, teria sido maisforte em So Paulo, mas um evento na capital ca-rioca, em 20 de junho, ilustra muito bem a prxisestudantil sobre o tema. Naquele dia, havia sidoprogramada uma manifestao, na reitoria daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),em prol de mais verbas para o ensino superior ereformas curriculares. Aps enfrentar por vriasvezes a resistncia do MEC, o movimento cariocalutaria agora, segundo seu lder Vladimir Palmeira

    (ento presidente da Unio Metropolitana Estu-dantil da Guanabara), contra

    uma grande resistncia por parte dos professores eda estrutura envelhecida da universidade (...). Paraforar um debate com o Conselho Universitrio,marcamos uma assemblia estudantil na reitoria, mesma hora em que se daria uma reunio deles (...).Os estudantes iam entrar em choque com aqueleque estava diretamente diante deles, na sala de aula,como opressor. Estariam pondo em risco o seu anoletivo.26

    De acordo com Palmeira, a estruturauniversitria era uma velharia com postos vital-cios (...). Ela no estava adaptada talvez nem aosculo, quanto mais dcada. Queramos quebrara dominao dos catedrticos e arejar a universi-dade.27 Primeiro, convidaram os professores adialogar com os cerca de 1.500 alunos reunidosem assemblia, no Teatro de Arena. Depois de es-perar em vo por muito tempo, os estudantes ar-rebentaram as portas e invadiram o conselho. En-quanto pressionavam os docentes para ir assem-blia, um destes sugeriu que os alunos enviassemum ofcio requerendo dilogo, secretaria dareitoria, para marcar uma data para o encontro estudantes e professores representavam, cadaqual, nesse drama os papis de impetuosos e deformalistas, respectivamente. Para Palmeira, ape-sar de certo constrangimento exercido contra osprofessores do conselho, mas sem ameaa algu-ma de violncia, a ao representava a quebra deuma autoridade formal absolutamente opressi-va.28 Docentes e alunos passaram horas deba-tendo os problemas, discutindo e aprovando umconjunto de resolues que nunca se fizeramcumprir, como o aumento da participao estu-dantil na gesto da universidade e uma reuniomensal do Conselho com os estudantes, repre-sentados pelos presidentes de diretrio.29 En-cerrada a assemblia, o local foi cercado pela po-lcia, que acabou cometendo uma srie de bruta-lidades contra esses jovens.

    24 GROPPO, 2005.25 Ibid.

    26 Cf. PALMEIRA apud DIRCEU & PALMEIRA, 1998, p. 113 e 115.27 Apud VENTURA, 1989, p. 62.28 Ibid., p. 62. 29 Cf. PALMEIRA apud DIRCEU & PALMEIRA, 1998, p. 113-115.

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    Em So Paulo, ainda mais que no Rio de Ja-neiro, segundo Jos Dirceu, esse assunto ganhoumaior importncia. A Polop30 havia trazido daFrana um debate sobre a Universidade Crtica.31Muitos eventos foram realizados, especialmentena Faculdade de Filosofia da USP, ocupada pelosalunos, entre eles, a Semana de Anlise da PolticaEducacional do Governo, organizada pela UEE/SP, de 3 a 10 de junho de 1968, com palestras edebates no auditrio da Fundao Getlio Var-gas. Os palestrantes eram crticos da poltica edu-cacional do governo, como Octavio Ianni e Emi-lia Viotti, e favorveis, como Rui Leme.32 Na USPformaram-se comisses paritrias de alunos eprofessores para discutir e aprovar medidas de re-estruturao de diversos cursos. A PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo (PUC-SP)tambm organizou comisses semelhantes. Se-gundo Jos Dirceu, o movimento estudantil pau-lista esboou uma revoluo que tambm poderiaser educacional e ter criado um outro modelo deuniversidade para o Pas.33

    Mas a preocupao com o tema no estavapresente apenas em So Paulo e no Rio de Janei-ro. Documentos comprovam que ela chegou aoutros diversos Estados. Em Curitiba, aps a in-vaso da reitoria da Universidade Federal do Pa-ran, em 14 de maio de 1968, os estudantes pu-blicaram o panfleto:

    Alcanou repercusso nacional o espetacular movi-mento organizado pelos universitrios paranaenses,quando tomaram de assalto a reitoria, rgo que re-presenta o poder que quer a transformao do ensi-no em mercadoria comercial e as universidades emSociedades Annimas, que visam o lucro e a domi-nao. Foi a primeira vez que, neste estado, os estu-dantes deram PROVAS de sua grande capacidade deluta, pois organizados e lutando por uma causa justae comum, deram um duro golpe na poltica educaci-onal do governo, fazendo valer sua posio.34

    Os partidos estudantis convergiam emseus diagnsticos sobre a situao da universida-de e sobre a poltica educacional do regime. Qua-se sempre repetiam as crticas j indicadas sobreos acordos MEC-USAID: contra o elitismo, o tec-nicismo, a privatizao, o militarismo e a depen-dncia s necessidades do capitalismo subdesen-volvido e do imperialismo. Outro documento es-tudantil paranaense, adepto da tese da luta demassa, caracteriza a universidade brasileira comoum conglomerado de escolas de carter profis-sionalista, unidas (...) em uma universidade eli-tista, federativa, profissionalista (...), estancada,duplicativa, burocrtica.35 E afirma que a ditadu-ra elaborara um projeto, em acordo com a USAID,para adequar a universidade aos imperativosideolgicos e estrutura profissional que ajudariaa manter o Brasil como uma sociedade capitalistasubdesenvolvida.

    J o estudante Jean Marc, pertencente AP,tambm representando a tese da luta de massa,retoma o dilema tecnocracia versus politizao.Primeiro, parece reconhecer a necessidade de re-formas nas estruturas arcaicas do ensino superior:

    A universidade de hoje ainda voltada para o ensi-no acadmico, desligada do desenvolvimento da so-ciedade. Permanece at hoje a universidade bacha-relesca criada no sculo passado, voltada quase quetotalmente para o fornecimento de diplomas aos fi-lhos dos grandes latifundirios, sem nenhum incen-tivo para a pesquisa e a tcnica, fechada todamodernizao dos currculos.36

    Para ele, nem mesmo os interesses do im-perialismo no Brasil eram atendidos por essa uni-versidade arcaica, de modo que, por meio doacordo MEC-USAID, tentava-se fazer dela umaformadora de tcnicos para as indstrias de bensde consumo que se instalavam nos pases subde-senvolvidos.37

    A UEE de So Paulo, dominada pela Dissi-dncia, apesar de representar a tese da luta espe-cfica, fazia um diagnstico idntico:

    30 Trata-se da Organizao Revolucionria Marxista, de inspiraotrotskista, que editava a revista Poltica Operria (o que faria o grupose tornar conhecido como Polop).31 DIRCEU apud DIRCEU & PALMEIRA, 1998.32 GRMIO INFORMA, maio/68.33 DIRCEU apud DIRCEU & PALMEIRA, 1998.34 Informe da Unio Paranaense de Estudantes, maio/68, apudHAGEMEYER, 1998, p. 121.

    35 PROGRAMA para o movimento estudantil, 1968, p. 4.36 MARC et al., 1968, p. 12.37 Ibid., p. 12.

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    Analisando a situao da Universidade brasileiradeparamos dois pontos principais:

    a situao catica da mesma: ausncia de corpo do-cente, currculos ridculos, falta de condies e ins-talaes materiais para o estudo e a pesquisa, almda falta de verbas e anuidades altssimas;

    a alternativa proposta pelo governo: [que visa tor-nar as Universidades em fundaes privadas, comensino pago e com] currculo adaptado s necessi-dades das indstrias e do desenvolvimento econ-mico capitalista.38

    DIVERGNCIAS NO MOVIMENTO ESTUDANTIL: LUTA DE MASSA VERSUS LUTA ESPECFICA

    As esquerdas estudantis enfrentaram, em1968, uma verdadeira guerra ideolgica e pol-tica em torno do controle da UNE e do movimen-to estudantil. Aps afastar o Partido ComunistaBrasileiro (PCB) da influncia na UNE, a AP, asDissidncias Estudantis Comunistas e, com me-nor presena, a Polop e o Partido ComunistaBrasileiro Revolucionrio (PCBR, outra dissidn-cia do PCB) passaram a digladiar-se pelo poder naentidade. No final daquele ano, as Dissidnciasreaproximavam-se do PCB, o qual, se no houves-se ocorrido o desastre em Ibina, poderia ter vol-tado a ocupar cargos na diretoria da entidade.39

    A AP, na verdade, controlara a presidnciada UNE praticamente durante toda aquela dcada.Tinha sido criada no incio dos anos 1960, entrejovens cristos progressistas, tornando-se logoum dos mais organizados movimentos popularesdo Pas. Mas o golpe de 1964 afastou-a de seusprojetos iniciais e a encaminhou cada vez maispara o maosmo tanto que, por ordem do par-tido comunista chins, ela se fundiria com o Par-tido Comunista do Brasil (PC do B, dissidnciado PCB de orientao maosta), em 1973.40

    Durante 1968, as disputas polticas e ide-olgicas se cristalizaram relativamente em duasposies principais, que representariam tambmas duas principais esquerdas estudantis, dois pro-gramas para a UNE e duas chapas para o 30.o

    Congresso dessa entidade. As esquerdas minori-trias no movimento estudantil como a Polop eo PCBR assumiram uma postura relativamentefluida em torno dessas duas concepes, a luta demassas defendida pela AP e a luta especfica pro-posta pelas Dissidncias.41

    A definio dessas duas posies no interi-or das esquerdas estudantis deu-se no ms demaio, no Conselho da UNE, em Salvador (quan-do se reuniram os seus diretores e os represen-tantes dos DCEs. O programa da luta de massa ou primeira posio , defendido pelo presidenteda UNE, Lus Travassos, da AP, foi recusado pelamaioria, que aprovou a proposta da luta espec-fica ou segunda posio. As Dissidncias, naque-le momento, dominavam grande parte das UEEs,DCEs e Centros Acadmicos (CAs) e, em conjun-to com a Polop, conseguiram uma pequena mai-oria na diretoria da UNE. Tambm a forma de re-alizao do 30.o Congresso criou fortes discus-ses: a AP queria fazer um evento aberto e parabreve, aproveitando-se do bom momento vividopelo movimento estudantil, com o intuito de fa-zer uma demonstrao poltica contra a ditadura;as Dissidncias, na verso vencedora, desejavammontar o congresso em vrias etapas, com o ob-jetivo de organizar o movimento estudantil ereforar o papel institucional da UNE em relaos demais entidades.42 Mas a AP no aceitoutranqilamente sua derrota. Levou a pblico suatese da luta de massas, convocou conselhos noreconhecidos pela maioria da diretoria da UNE eameaou realizar um congresso paralelo.43

    Como resultado das desavenas no Conse-lho de Salvador, a UNE publicou uma revista comtextos expondo as duas posies. O primeiro (datambm o termo primeira posio), assinado peloprprio presidente da UNE, Lus Travassos, e pordois vices, apresentava a luta de massas e criticavao encaminhamento para o 30.o Congresso, de-fendendo a luta ofensiva contra a ditadura e oimperialismo. Denunciava o chamado trava-mento de discusses sobre o 30.o Congresso, no

    38 JORNAL DA UEE, jun./68.39 DIRCEU & PALMEIRA, 1998.40 GORENDER, 1998.

    41 VALLE, 1997.42 DIRCEU & PALMEIRA, 1998.43 VALLE, 1997.

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    Conselho de Salvador, e as intenes de setores,inclusive diretores da UNE, de tentar frear o mo-vimento e pregar a volta s escolas. Por fimdefendia as corretas manifestaes de violnciados estudantes na luta contra a ditadura, recu-sando-se a qualquer dilogo com o regime.44

    O segundo artigo defendia a luta especfica,tambm chamada de segunda posio. Assinadopor um diretor da UNE, Edson Soares, e com o t-tulo O que so as divergncias polticas naUNE, criticava o fato de as divergncias internas diretoria terem sido levadas para fora da entida-de, assim como as tentativas de se convocar con-selhos e congresso paralelos. Membros da enti-dade estariam apelando ao divisionismo, ao noaceitar sua posio minoritria. Assim, apelavapara os diretores dissidentes a retomar o debateao nvel do poltico e dentro da entidade e, fi-nalmente, descrevia a posio aprovada pelo con-selho, defendendo as lutas especficas.

    A segunda posio defendia que, em tal si-tuao, no aceitar nenhum canal de dilogo como governo seria uma atitude isolacionista, umademonstrao da falta de confiana na prpria ca-pacidade de no ser engabelado pelas autorida-des. Condenava tambm a afirmao de que o te-mrio fundado nos problemas da universidadeera apoltico, quando, na verdade, as lutas emrazo das demandas especficas estudantis erammesmo a base de nossa atuao poltica.45 Re-ferendando a segunda posio, o jornal da UEE/SPdiria: Muitos estudantes s descobrem que preciso mudar o sistema depois que lutam porsuas reivindicaes especficas. na luta por estasreivindicaes especficas (...) que compreendema necessidade de mudana do sistema.46

    Jos Dirceu explica que, desde 1966, os mi-litantes da AP gestaram a idia de fazer do movi-mento estudantil o principal meio de enfrenta-mento ao regime militar, para o qual criaram in-clusive o Movimento Contra a Ditadura (MCD)

    e com isso pareciam pretender transformar o mo-vimento estudantil em partido poltico. Em parteestavam certos, porque na sociedade reinava umaexpectativa enorme em relao ao movimento estu-dantil (...). O movimento estudantil representavapara a sociedade a grande referncia poltica contraa ditadura, e por isso a AP comeou a sonhar emderrub-la com o MCD, a partir da presso das fa-culdades.47

    A AP sempre fora atrada para os grandestemas polticos do Pas, desde o seu perodo desocialismo cristo. A aproximao com o maos-mo a faria tambm destacar as lutas antiimperia-listas, como se percebe claramente na carta pol-tica da UNE de 1967, muito influenciada pela po-sio ainda majoritria da AP. Alm de insistir nacriao do MCD, a AP procurava realizar eventoscom temas internacionalistas, como Semana con-tra o FMI, Semana contra a Organizao dos Es-tados Americanos (OEA) e Semana do Vietn. Jna opinio dos defensores da segunda posio,esse era um programa totalmente desvinculadodas lutas especficas que estavam sendo desenvol-vidas em diversos Estados.48

    Como fora decidido pelo Conselho de Sal-vador, o Congresso da UNE seria precedido poruma ampla discusso, entre as entidades estudan-tis, em torno da primeira e segunda posies. Apartir da, seriam enviadas propostas e contri-buies para a carta poltica a ser criada no 30.oCongresso. Entre os documentos estudantis pro-duzidos no segundo semestre de 1968, que de-fendiam a primeira posio, repetem-se os vriosargumentos usados desde o Conselho de Salva-dor. Entre eles, denncias incisivas contra o im-perialismo, duras crticas aos defensores da se-gunda posio, recusa do dilogo com a ditadura,defesa do enfrentamento ao regime militar e dasmanifestaes e aes de massas, integrao dosestudantes na luta popular e at a guerra popularprolongada (uma das teses maostas absorvidaspela AP):

    44 REVISTA UNE, 1968, p. 9.45 Ibid., p. 9.46 JORNAL DA UEE, ago./68.

    47 DIRCEU apud DIRCEU & PALMEIRA, 1998, p. 62.48 A UNE e o 30. Congresso, 1968, p. 5.

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    Recuar das manifestaes amplas de rua, frente sproibies da ditadura, substituindo-as pela ao depequenos grupos de vanguarda, abdicar do 30.oCongresso da UNE em prol das reunies diversifi-cadas, argumentar que a represso est muito forte,que o golpe vem a, cair na defensiva, agir emfuno da vontade da ditadura, paralisar nossas lu-tas. supervalorizar politicamente as foras do ini-migo e descrer das foras do povo.49

    Dialogar com a ditadura no compreender o ca-rter da sua dominao e a irreconcilivel oposiodos nossos interesses e os dela. confiar na boavontade de nossos inimigos e no na fora de nossaluta para alcanar o que queremos. na prtica fa-zer o jogo da ditadura e fortalec-la, criando ilusesno seio das foras populares. (...) [A luta do movi-mento estudantil e do povo brasileiro] est neces-sariamente ligada luta de libertao de todos ospovos contra o imperialismo.50

    O que se faz necessrio travar a luta concreta con-tra a ditadura em todos os terrenos, desmascar-lacom as aes de massas e no lhe dar trguas at asua liquidao.51

    Todas as lutas devem convergir para o fortalecimen-to do combate (...) ditadura e [a]o imperialismoianque (...). O povo na luta derruba a ditadura e ex-pulsa o imperialismo. Pela integrao do estudantena luta do povo.52

    A nossa luta tem trs aspectos centrais: uma lutapopular, prolongada, contra a ditadura forjada peloimperialismo, pela construo de um governo dedemocracia para o povo.53

    J segunda posio, majoritria na UNE,interessavam as questes expostas no temrio,proposto oficialmente pela diretoria, para o 30.oCongresso:

    1. O que a Universidade Brasileira?Por que devemos lutar? Quais as lutas?O que quer o governo? Como ele age?Por que negar a reforma universitria dogoverno? O que propor?

    2. O que a poltica educacional do gover-no? Como neg-la?Por que o governo reprime os estudantes?Que fazer?3. Quais as formas de luta? Como e quan-do us-las?4. Quais as formas de organizao do ME?Que so as entidades estudantis?O que tem sido a UNE?Como deve ser a nova organizao daUNE?54

    Como demonstram Maria Ribeiro do Vallee Joo Roberto Martins Filho, ambas as posiesestavam predispostas a apoiar o uso da violnciana luta contra o regime militar.55 No entanto,ocorreu-lhes um desenvolvimento paradoxal. Aluta especfica parecia menos conivente com a so-luo violenta, armada ou militarista e, num pri-meiro momento, colocava essa possibilidade maispara o futuro. J a luta de massa parecia defendercom mais radicalismo o emprego da violnciapopular, inclusive armada. Mas, diante do as-sassinato, pela polcia carioca, do secundaristaEdson Lus, durante um protesto, originando amobilizao estudantil de 1968, a UNE publicouum manifesto com as concepes da AP e do seupresidente Lus Travassos, conclamando a violn-cia popular, aps relacionar as lutas estudantiscom as populares e antiimperialistas:

    Povo brasileiro. Um estudante foi assassinado co-vardemente ao lutar por suas reivindicaes (...). Opovo, solidarizando-se com a causa defendida, per-manece unido, dando continuidade nossa luta.Que luta? A luta contra a ditadura fascista, repre-sentante interna do imperialismo americano, agres-sor dos povos, que est sendo derrotado no Vietn.A luta contra o arrocho, contra a Universidade daselites econmicas, contra a Explorao dos campo-neses.

    49 ANTEPROJETO de carta poltica para UNE, 1968, p. 2.50 MARC, 1968, p. 15.51 MONTEIRO, 1968.52 ANTEPROJETO de carta poltica para UNE, 1968, p. 5-6.53 MARC, 1968, p. 5.

    54 Nota Oficial da UNE sobre o XXX Congresso Nacional dos Estu-dantes, em A UNE e o 30. Congresso, 1968, p. 8.55 VALLE, 1997. Segundo MARTINS FILHO (1998, p. 18), em 1968a esquerda estudantil cindiu-se: AP (defendendo um movimento cen-trado nas passeatas de rua e denncia constante da ditadura) versusDissidncias do PCB e Polop (que acreditavam nas lutas focadas nosproblemas educacionais, mas ao mesmo tempo se preparavam paradeslocar quadros para a luta armada).

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    Respondamos violncia com violncia (...) com aviolncia revolucionria do povo.56

    A posio da UNE de Lus Travassos quasecontrasta com aquela defendida por Vladimir Pal-meira:

    As lideranas estudantis convenceram-se de que aderrubada do sistema militar que governa o Brasildever ser feita pelas classes populares. Nosso papelnesse esquema mnimo, pois os estudantes notm o peso social suficiente para um movimento detal envergadura (...).

    Ultrapassada a ltima fase de manifestaes a pala-vra de ordem retornar s escolas, promovendo as-semblias para o debate poltico dos acontecimen-tos e para a estruturao das medidas necessrias aoatendimento das reivindicaes especficas da classeestudantil.57

    Entretanto, no final de 1968, os defensoresda luta especfica passaram a pregar com vigor aluta armada imediata e, na verdade, muitos mem-bros da Dissidncia j partiam para a guerrilha,inclusive transformando-se em grupos armados(como a Dissidncia de So Paulo e, mais tarde, aDissidncia da Guanabara, que se tornaria o Mo-vimento Revolucionrio 8 de Outubro (MR-8).Enquanto isso, a AP continuava insistindo mais nanecessidade de aes de rua demonstrativas, reu-nindo massas estudantis e operrias (apesar de,em geral, deixar claro que se tratava do primeiropasso rumo ao Exrcito Popular Revolucionrio).A QUESTO UNIVERSITRIA SEGUNDO A LUTA DE MASSA E A LUTA ESPECFICA

    Um dos documentos expressivos da posi-o majoritria no Conselho da Bahia, favorvel luta especfica (ou segunda posio), via comoum dado muito positivo a contestao ativados descaminhos da universidade:

    nossa tarefa criar inadequaes entre aquilo que oregime capitalista exige de uma Universidade e aqui-lo que a Universidade . Quanto mais avanar ummovimento de contestao ativa, mais a Universi-dade estar criando na sociedade focos de contesta-

    o do regime que apressaro a mudana de toda aUniversidade ao mudar a prpria estrutura social.58

    Contra os argumentos de que a luta espe-cfica afastava os estudantes das questes verda-deiramente polticas, um texto do Grmio da Fa-culdade de Filosofia da USP responderia: Dizerque um temrio centrado nos problemas da Uni-versidade no poltico manifestar um desviograve: supor que a luta que os estudantes tra-vam contra a Universidade arcaica e contra aUniversidade empresarial que o MEC-USAID querimpor no uma luta poltica.59

    Por sua vez, os defensores da primeira po-sio desejavam o engajamento irrestrito do mo-vimento estudantil nas aes de massas contra oregime militar. O Programa para o movimentoestudantil afirma que a reforma universitria sseria possvel se estivesse submetida luta maisgeral do povo brasileiro contra a ditadura, os im-perialistas e latifundirios, aps se instaurar ogoverno popular revolucionrio.60 Outro tex-to, de estudantes cariocas, repete os mesmos ar-gumentos: seria impossvel construir uma novauniversidade, mantendo-se o regime; era tildiscutir o tipo de universidade desejada, de ca-rter progressista e popular, uma universidade de-mocrtica e uma cultura popular e antiimperi-alista, mas esse no deveria ser o centro dos de-bates.61 Aqui percebe-se que as duas linhas, ape-sar de divergentes quanto s lutas reivindicatriasnas faculdades, aproximam-se de novo, quandopensam o modelo ideal da nova universidade efazem diagnsticos praticamente idnticos sobreo ensino superior.

    Contudo, em razo da prpria idia da im-portncia da luta no interior da universidade, osdefensores da segunda posio parecem ter idomais longe na discusso sobre o modelo ideal danova universidade especialmente em So Paulo,com a introduo do debate sobre a universidadecrtica: A UEE de So Paulo, no momento, est

    56 Manifesto da UNE, de 1./abr./68, apud VALLE, 1997, p. 48.57 Ibid., p. 49.

    58 A LUTA dos universitrios dentro e fora da universidade, 1968, p.17.59 SOARES, 1968, p. 11.60 PROGRAMA para o movimento estudantil, 1968, p. 4.61 MONTEIRO, 1968.

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    levando aos estudantes a proposta da Universida-de Crtica, uma Universidade dirigida pelos alu-nos e professores em termos paritrios. UmaUniversidade que discuta e analise a validade doprprio sistema onde est inserida.62

    Antes mesmo do debate sobre a Universi-dade Crtica, parte do movimento estudantil bra-sileiro caminhava nesse sentido. O texto aprova-do no Conselho da Bahia, propondo a concilia-o entre modernizao tcnica da universidade epolitizao, utiliza argumentos semelhantes spropostas da Universidade Crtica, sobretudo sdo movimento estudantil alemo, como a conce-po da cincia e da prtica profissional a serviodas necessidades do povo e do pas. Tal tendnciatinha suas razes nas tradies populistas e desen-volvimentistas das esquerdas estudantis:

    Negamos a universidade arcaica e a universidademodernizada segundo os moldes do imperialismo.Negamos uma universidade que forma arquitetospara construir residncias de luxo e no as milharesde casas populares de que se necessita, mdicos parao asfalto quando milhes de brasileiros morrem degripe ou diarria no interior e nos subrbios oper-rios, socilogos para domesticar os trabalhadores eno para planejar o desenvolvimento (...). No po-demos precisar os detalhes mas uma coisa certa: aUniversidade deve servir ao desenvolvimento dasforas produtivas e s necessidades da maioria tra-balhadora do nosso povo. No s deve ser aberta atodos como ainda os elementos por ela formadosdevem poder ser teis coletividade.63

    Os artigos que defendem a primeira posi-o reproduzem o discurso que rejeita tanto auniversidade arcaica quanto a tecnicista. Mas noconsegue definir to bem os princpios de umanova universidade, limitando-se a apontar o de-sejo de construir, aps a vitria da revoluo, umauniversidade popular.64 Apesar disso, mesmoessa frao do movimento teve conscincia deque os problemas da universidade estavam na ori-

    gem da insatisfao da massa estudantil, a partirdo que novas reivindicaes e lutas foram esbo-adas, num processo de mobilizao poltica dosuniversitrios.CONCLUSO

    Este artigo buscou analisar as posies domovimento estudantil brasileiro nos anos 1960,sobretudo em 1968, quanto s transformaessofridas pelo ensino superior e a relao entreuniversidade e sociedade. E procurou examinar asconcepes expressas pelos documentos produ-zidos pela imprensa estudantil, que trazem asopinies dos lderes dessas organizaes, em ge-ral militantes da esquerda radical na poca.

    Os lderes estudantis eram informados, so-bretudo, por ideologias polticas da esquerda ra-dical que apontavam a revoluo popular comonica alternativa vivel de ao e transformaosocial. J no que se refere questo universitria,essa radicalizao foi motivo de alguns dilemas,paradoxos e limites entre as lideranas, seja oafastamento delas das necessidades mais espec-ficas dos estudantes como sujeitos da educao(como na tese da luta de massa) seja na tenta-tiva de instrumentalizar o movimento em proldos grupos de luta armada (como fariam os adep-tos da luta especfica, diante do aumento da re-presso do regime militar).

    Por outro lado, no que a influncia do ra-dicalismo de esquerda foi mais positiva, no sequebrou a tradio, vinda desde os tempos dopopulismo (no incio dos anos 1960), de pensar oensino superior em sua conjuno com as reais epossveis transformaes sociais. O movimentoestudantil revelou-se capaz de fugir do fatalismoexpresso na dualidade tradio-modernizaotecnicista da universidade, ou seja, da idia de quea nica alternativa ao elitismo tradicional era asubsuno plena da universidade s necessidadeseconmicas e tecnolgicas do sistema industri-al. A conscincia da falcia desse dilema fica claranos textos produzidos pela imprensa estudantil.

    A mobilizao de estudantes nos anos 1960mostrou habilidade em pensar o processo peda-ggico e as estruturas de ensino como elementosa servio dos prprios agentes sociais, no apenas

    62 VALE a pena mudar esta universidade, 1968.63 A LUTA dos universitrios dentro e fora da universidade, 1968, p.16-17.64 MARC et al., 1968, p. 12; e PROGRAMA para o movimento estu-dantil, 1968.

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    como tcnicas de adaptao das novas geraes stransformaes socioeconmicas. Procurou en-carar a educao e sobretudo a universidadecomo meios de compreenso e transformao darealidade, at mesmo quando, no caso dos adep-tos da luta de massa, projetou tal possibilidadepara apenas aps a revoluo popular.

    Nesse sentido, o movimento estudantil da-quela dcada demonstra para ns, nos dias de hoje,a importncia de uma perspectiva de educaomuito mais do que um mero meio de adaptaodos educandos realidade, podendo, assim, fazerfrente aos fatalismos que se vm operando nas dis-cusses sobre as transformaes da universidade.

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    Dados do autor

    Doutor em cincias sociais pela UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp), professor do

    Programa de Mestrado em EducaoSociocomunitria e dos cursos de Turismo, Servio

    Social e Pedagogia do Centro Salesiano de SoPaulo (Unisal), unidade Americana.

    Recebimento: 17/jan./05Aprovado: 1./abr./05

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