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Confluências - Revista de Tradução Científica e Técnica, 2

Date post: 22-May-2015
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Confluências - Revista de Tradução Científica e Técnica, Issue 2, May 2005. Contents/Indice: - Rosário DURÃO, Editorial - Cartas à CONFLUÊNCIAS - Pedro Coral COSTA, A Tradução de Inglês para Português de Documentos Constitutivos de Sociedades - M.ª Manuela FERNÁNDEZ SÁNCHEZ, La traducción especializada «bajo sospecha»: valoraciones negativas de un grupo de expertos - Fernando FERREIRA-ALVES, Uma Experiência de Aprendizagem Colaborativa: Contributos para Repensar o Ensino da Tradução - Vicky HARTNACK, The Shifting Geography of the Translator – Defining Territory through Practice - Hermínio DR, Importação-Exportação de Termos - Manoel Soares de SARMENTO, Por Uma Ecolexicografia - Entrevista a Delfim Ferreira LEÃO, Docente e Tradutor em Cultura Clássica - Entrevista a Paulo Ivo Cortez TEIXEIRA, Docente e Tradutor de Física - Lina Gameiro LOPES, A Tradução de Textos – dificuldades e problemas - João Roque DIAS, Terminologia da Soldadura em Português Europeu - Hermínio DR, Terminologia Básica de Controlo de Fumo - Jacques VISSOKY, A Luta Greco-Romana na Lingüística Biomédica: Tendências Atuais no Cenário Brasileiro (1.ª parte) - Rui M. de Sousa ROCHA, Encontros e Desencontros da Coexistência – o papel do intérprete-tradutor na sociedade de Macau - Ana Hermida RUIBAL, Ferramentas para a traduçom - Vicky HARTNACK, Wasafiri – Focus on Translation - Isabel Coutinho MONTEIRO, «Jornadas de Tradução e Terminologia em Biologia/Imunologia» - Isabel NOGUEIRA, Conferência «A Tradução e a Revisão Científicas: Dificuldades e Compensações» - Joana Castro FERNANDES, Maria do Céu PONTES, Maria da Graça CHORÃO, Célia TAVARES (Comissão Executiva), «OT2005 - Prática da Tradução em Ambiente Multimédia»
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Maio 2005 - ISSN 1645-9350 N. 2 La traducción especializada «bajo sospecha»: valoraciones negativas de un grupo de expertos Uma Experiência de Aprendizagem Colaborativa: Contributos para Repensar o Ensino da Tradução A Tradução de Inglês para Português de Documentos Constitutivos de Sociedades The Shifting Geography of the Translator – Defining Territory through Practice Importação-Exportação de Termos Por Uma Ecolexicografia Entrevista a Delfim Ferreira LEÃO Entrevista a Paulo Ivo Cortez TEIXEIRA Gare do Oriente
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Maio 2005-

ISSN 1645-9350

N.≤ 2

La traducción especializada «bajo sospecha»: valoraciones negativas de un grupo de expertos

Uma Experiência de Aprendizagem Colaborativa: Contributos para Repensar o Ensino da Tradução

A Tradução de Inglês para Português de Documentos Constitutivos de Sociedades

The Shifting Geography of the Translator – Defining Territory through Practice

Importação-Exportação de Termos

Por Uma Ecolexicografia

Entrevista a Delfim Ferreira LEÃO

Entrevista a Paulo Ivo Cortez TEIXEIRA

Gare do Oriente

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A CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica é uma revista independente e transdisciplinar que tem por objectivo reunir estudiosos, tradutores, especialistas, clientes e outros profissionais que trabalham com a tradução nas áreas das Ciências Exactas e Naturais, Engenharias e Tecnologias, Ciências da Saúde, Ciências Jurídicas, Economia e Localização de e para a língua portuguesa em toda a sua diversidade.

A CONFLUÊNCIAS é uma publicação em formato electrónico, de acesso livre e gratuito.

COLABORADORES.

Comissão de Redacção.

Ana Hermida Ruibal (Portugal) Edite Prada (Portugal) Eliene Zlatkin (Brasil) Ida Rebelo (Brasil) Isabel Coutinho Monteiro (Portugal) Steve Dyson (Portugal) Vicky Hartnack (Portugal)

Comissão Científica.

Amparo Hurtado Albir (Espanha) Ana Julia Perrotti-Garcia (Brasil) André Antunes Soares de Camargo (Brasil) Antonio Augusto Gorni (Brasil) Artur Portela (Portugal) Carlos Castilho Pais (Portugal) Christianne Nord (Alemanha) Conceição Carvalho (Macau) Diva Cardoso de Camargo (Brasil) Eduardo Lopes d’Oliveira (Portugal) Enilde Faulstich (Brasil) Fernando A. Navarro (Espanha) Fernando Ferreira-Alves (Portugal) Francisco José Magalhães (Portugal) Heloisa Gonçalves Barbosa (Brasil) Hermínio Duarte-Ramos (Portugal) Jacques Pélage (França) Jacques Vissoky (Brasil) João Roque Dias (Portugal) Jorge Cruz (Portugal) José Antonio Sabio Pinilla (Espanha) Manuel Gomes da Torre (Portugal) Margarita Correia (Portugal) M.ª Manuela Fernández Sánchez (Espanha) M. Teresa Cabré (Espanha) Oscar Diaz Fouces (Espanha) Pedro Coral Costa (Portugal) Ricardo Muñoz Martín (Espanha) Rodolfo Alpízar Castillo (Cuba) Rute Costa (Portugal) Sonia Collina (Estados Unidos da América) Steve Dyson (Portugal) Virgínia Matos (Portugal) Vivina Figueiredo (Portugal)

FICHA TÉCNICA.

Directora. Rosário Durão. Directora-Adjunta. Manuela Paiva. Assessora. Isabel Nogueira.

Periodicidade. Semestral (Maio e Novembro).

Entidade Proprietária e Editor. Maria do Rosário Frade Durão.

Contribuinte N.º. 152 886 486.

Morada e Sede de Redacção. Rua Jorge Colaço, 35, 4.º Esq. – 1700-252 Lisboa – Portugal.

Telefone. +(351)218 408 731 ou +(351)936 294 337.

Página da Internet. <www.confluencias.net>.

Correio-e. [email protected].

ISSN. 1645-9350.

© CONFLUÊNC AS – Revista de Tradução Científica e Técnica. I

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Editorial 3 Cartas à CONFLUÊNCIAS 5 Artigos e Comunicações:

Tradução e Localização Pedro Coral COSTA

A Tradução de Inglês para Português de Documentos Constitutivos de Sociedades 6 M.ª Manuela FERNÁNDEZ SÁNCHEZ

La traducción especializada «bajo sospecha»: valoraciones negativas de un grupo de expertos 28 Fernando FERREIRA-ALVES

Uma Experiência de Aprendizagem Colaborativa: Contributos para Repensar o Ensino da Tradução 46 Vicky HARTNACK

The Shifting Geography of the Translator – Defining Territory through Practice 57 Terminologia e Lexicologia

Hermínio DR Importação-Exportação de Termos 69

Manoel Soares de SARMENTO Por Uma Ecolexicografia 84

Entrevistas Entrevista a Delfim Ferreira LEÃO, Docente e Tradutor em Cultura Clássica 98 Entrevista a Paulo Ivo Cortez TEIXEIRA, Docente e Tradutor de Física 104

Notas e Apontamentos Lina Gameiro LOPES

A Tradução de Textos – dificuldades e problemas 109 Glossários

João Roque DIAS Terminologia da Soldadura em Português Europeu 112

Hermínio DR Terminologia Básica de Controlo de Fumo 149

Jacques VISSOKY A Luta Greco-Romana na Lingüística Biomédica: Tendências Atuais no

Cenário Brasileiro (1.ª parte) 153 Recensões Críticas e Resumos de Teses e Dissertações

Rui M. de Sousa ROCHA Encontros e Desencontros da Coexistência – o papel do intérprete-tradutor na

sociedade de Macau 156 Ana Hermida RUIBAL

Ferramentas para a traduçom 160 Vicky HARTNACK

Wasafiri – Focus on Translation 162 Relatórios de Eventos e Actividades

Isabel Coutinho MONTEIRO «Jornadas de Tradução e Terminologia em Biologia/Imunologia» 164

Isabel NOGUEIRA Conferência «A Tradução e a Revisão Científicas: Dificuldades e

Compensações» 166 Joana Castro FERNANDES, Maria do Céu PONTES, Maria da Graça CHORÃO, Célia TAVARES (Comissão Executiva)

«OT2005 - Prática da Tradução em Ambiente Multimédia» 168 Sobre os Autores 171

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EDITORIAL

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Se o objectivo primeiro do número 1 da CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica foi «contribuir para lançar o debate sobre a tradução científica e técnica, especialmente de e para a língua portuguesa», cremos que ele foi amplamente atingido, não só pelas reacções que até nós foram chegando, através das mensagens do público leitor, mas também pela discussão entre uma equipa de trabalho cada vez mais alargada e de alguns dos autores que connosco têm colaborado.

Perseguindo, com entusiasmo redobrado, os objectivos inicialmente traçados, cá está o número 2, de tema livre e onde os nossos já leitores, e todos aqueles que temos sempre a esperança de conquistar, podem viajar pelo mundo da tradução, escolhendo, de um elenco temático bastante diversificado, o que mais interessar a cada um.

No capítulo dos artigos e comunicações sobre tradução e localização, encontram o texto de Pedro Coral Costa, que oferece aos tradutores jurídicos algumas sugestões que lhes permitem ultrapassar as disparidades entre os sistemas jurídicos inglês e português sempre que tiverem de traduzir documentos constitutivos de sociedades. A seguir, vemos M.ª Manuela Fernandéz Sánchez a analisar as opiniões de um grupo de especialistas de diferentes áreas sobre a qualidade de algumas traduções e as suas implicações a nível profissional, como seja, a problemática dos especialistas-tradutores versus os tradutores(-especializados). Do ponto de vista pedagógico-didáctico, Fernando Ferreira-Alves salienta as vantagens de uma abordagem de raiz construtivista e social para a motivação e a profissionalização dos estudantes de tradução. Por último, Vicky Hartnack destaca a influência incontornável dos tradutores, tanto na evolução da profissão, como no desenvolvimento dos próprios Estudos de Tradução.

Nos artigos sobre terminologia e lexicologia, Hermínio DR refere alguns dos aspectos positivos e negativos da migração de termos entre as diversas línguas, entre as quais se encontra a polissemia técnica, enquanto Manoel Soares de Sarmento, por falar da importância social e política das palavras, traz à ribalta, implicitamente, a responsabilidade dos tradutores nas orientações e nos destinos do nosso mundo: as palavras podem «criar, manter ou destruir um Mundo».

Neste segundo número, entrevistámos dois especialistas-tradutores, Delfim Ferreira Leão, de Cultura Clássica, e Paulo Ivo Cortez Teixeira, de Física, procurando conhecer o

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percurso que levou estes dois investigadores e docentes universitários à tradução e algumas das suas opiniões acerca da actividade.

Do apontamento de Lina Gameiro Lopes desprendem-se as dificuldades que os tradutores não especializados sentem quando o compromisso pessoal de fazerem um bom trabalho se cruza com as dúvidas que lhes colocam as linguagens da especialidade e a evolução incessante do conhecimento especializado.

Publicamos também alguns glossários: um de soldadura, de João Roque Dias, outro de controlo de fumo, de Hermínio DR, ambos entre o inglês e o português europeu; e a primeira parte do glossário de biomedicina de Jacques Vissoky, relativo ao português do Brasil.

Mas este número da revista também é composto de algumas recensões e de outros tantos relatórios de eventos e actividades.

Assim, acreditamos que em todos os capítulos do número 2 da CONFLUÊNCIAS, todos vão encontrar algo de novo, novas perspectivas nas temáticas tratadas e, por isso, novos motivos para que nos continuem a ler…

Uma última palavra. Não se esqueçam de nos enviarem as vossas sugestões e opiniões, porque elas são, para nós, a pitada de sal e de pimenta que nos falta…

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Enviar correspondência para:

[email protected]

Com muito agrado, li na vossa revista o artigo «Traduzindo Fitness na Teoria da Complexidade», de Maria João B. Reis, ao qual fui conduzida por uma pesquisa no Google sobre teoria da complexidade.

A minha curiosidade advém de me encontrar a trabalhar sobre o conceito de competências e ter percebido em alguns artigos que havia uma relação entre este conceito e a teoria da complexidade. De certa maneira, ler este artigo ajudou-me a ir mais longe, ao encontro da raiz do problema, podendo assim entender o que muitos autores referiam quanto à polissemia do termo «competência». De facto, pude perceber que o conceito de competência está também associado aos estudos da teoria computacional, tornando ainda mais interessante a aplicabilidade do termo à educação e formação.

Permita-me ainda fazer uma nota sobre a necessidade de haver em Portugal traduções de artigos especializados na área da educação, fazendo aqui apelo à minha área de especialização, a avaliação educacional. Recorro com regularidade a revistas online e a pedidos de livros vindos de outros países. No entanto, sei de muitos colegas que, não dominando uma língua estrangeira, não investem nos estudos especializados.

A preocupação que começa a sentir-se em Portugal com a avaliação das escolas, professores e alunos, a avaliação dos projectos curriculares, dos programas e materiais curriculares, exige que sejam conhecidos os resultados de estudos realizados nos países onde a avaliação tem já

uma longa tradição. Tem, assim, todo o sentido que traduções de artigos ou mesmo de revistas da especialidade sobre esta área contribuam para o conhecimento de modelos e práticas de avaliação, ajudando aqueles que, por falhas próprias ou outras, têm dificuldades no domínio de uma língua estrangeira.

Reconheço a importância de dominar uma língua estrangeira, mas também reconheço que facilitar o conhecimento e a informação é igualmente fundamental no contexto socioeconómico actual; um contexto que privilegia o desenvolvimento de competências e, como alguns autores referem, da economia do saber.

Esta é uma pequena nota de preocupação de quem, estando mais desperta, se apercebe das dificuldades de bons professores que, com mais acessibilidade ao conhecimento, poderiam melhorar as práticas avaliativas, contribuindo para a inovação e mudança da educação no nosso país.

■ Alda Ribeiro (Educadora de Infância, Licenciada em Ciências da Educação e Mestranda em Avaliação das Aprendizagens no Ensino Superior, Portugal)

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A TRADUÇÃO DE INGLÊS PARA PORTUGUÊS DE DOCUMENTOS CONSTITUTIVOS DE SOCIEDADES

PEDRO CORAL COSTA

Advogado, Tradutor independente e Docente do ISLA – Instituto Superior de Línguas e

Administração, Portugal

Resumo: Algumas bases teóricas e práticas para auxiliar a tradução de documentos constitutivos de

sociedades de inglês para português.

Palavras-Chave: Tradução jurídica; Tradução de documentos oficiais; Tradução inglês português;

Documentos constitutivos de sociedades.

Abstract: A few theoretical and practical fundamentals to help with the translation of constitutive documents o companies from English into Portuguese.

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t tKeywords: Legal translation; Transla ion of official documents; English Portuguese transla ion; Constitutive documents of companies.

INTRODUÇÃO

Os estatutos de sociedades inglesas encontram-se entre os documentos mais difíceis e fastidiosos de traduzir. Pelo menos, essa é a opinião unânime entre os meus alunos. Na verdade, a sua linguagem arcaizante, a quase inexistência de pontuação, as frases que

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ocupam várias páginas – só para referir alguns aspectos – podem tornar-se um verdadeiro pesadelo para o tradutor menos experimentado. Assim, afigura-se necessário fornecer aos tradutores algumas bases para que possam efectuar a tradução deste tipo de documentos com facilidade, até porque existe uma tendência para o aumento da procura deste tipo de traduções, devido principalmente aos seguintes factores:

Aumento crescente do comércio internacional. O aumento do comércio internacional em geral, e das sociedades comerciais internacionais em particular, contribuiu para um acréscimo na procura de traduções de documentos societários, incluindo documentos constitutivos de sociedades;

Importância da língua inglesa nas relações comerciais internacionais. O poder exercido pelas economias do Reino Unido e dos Estados Unidos da América, nos últimos séculos, levou a que a língua inglesa passasse a ser a mais utilizada no comércio internacional;

Papel dos paraísos fiscais de common law. A atitude liberal adoptada pelos países de common law no que respeita à regulamentação da actividade comercial constitui um enorme atractivo para os investidores. Com efeito, para obterem vantagens ao nível da fiscalidade, risco, ou custos de constituição e manutenção, os investidores procuram os locais que lhes ofereçam as melhores condições. Por este motivo, o número de sociedades constituídas em locais como as Ilhas Virgens Britânicas, as Ilhas Caimão, a Comunidade das Baamas, ou até mesmo em estados como o Delaware, nos E.U.A. 1, é extremamente elevado;

Aumento do investimento estrangei o nos países de língua oficial portuguesa. Apesar de, em alguns casos, se ter verificado um recuo nos últimos anos, assistiu-se, na última década, a um aumento considerável do investimento estrangeiro, não só em Portugal, como em muitos dos países de língua oficial portuguesa. Isto trouxe consigo um aumento da constituição de representações societárias permanentes nestes países e a consequente necessidade de tradução de documentos societários, incluindo documentos constitutivos das sociedades representadas.

1 Com efeito, mais de 40 por cento das sociedades cotadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1987 tinham sido constituídas no estado de Delaware.

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PLANO DE EXPOSIÇÃO

Tanto o inglês como o português são falados em diversos países, pelo que somos forçados a circunscrever o âmbito deste artigo. Assim, tomaremos como modelo a tradução de documentos constitutivos de sociedades de direito inglês para o português europeu, principalmente devido ao papel que os direitos inglês e português desempenharam historicamente no desenvolvimento dos restantes sistemas jurídicos dos países de expressão inglesa ou portuguesa.

Na verdade, com as devidas adaptações, este artigo poderá servir como auxiliar à tradução de documentos de outros países (por ex.: E.U.A.; territórios offshore, etc.) e para outros países (PALOP, Brasil, etc.). No caso dos PALOP, que adoptaram grande parte da legislação portuguesa após a sua independência e que, em documentos oficiais, utilizam o português europeu como padrão 2, a adaptação será certamente mais fácil do que no caso do Brasil, cujo ordenamento jurídico, língua e terminologia jurídica se autonomizaram há séculos.

Para efeitos deste artigo, partir-se-á do princípio de que a principal finalidade da tradução dos documentos constitutivos de sociedades é a sua apresentação perante as entidades oficiais (notários, registo comercial, etc.).

Comparação entre a Company do Direito Inglês e a «Sociedade» do Direito Português

a) A Company

No direito inglês, encontramos diversos institutos que desempenham funções semelhantes à sociedade do direito português, dos quais, pela sua importância, se destacam a partnership e a company 3 (Peralta 1997, 102).

Partnership. A partnership pode ser definida como uma relação entre duas ou mais pessoas que desenvolvem em comum uma actividade com vista à obtenção de lucro. A partnership divide-se em general partnership (regulada pelo Partnership Act de 1980), limited partnership (regulada pelo Limited Partnerships Act de 1907) e limited liability partnership (figura recente, regulada pelo Limited Liability Partnerships Act de 2000). À

2 Isto também se aplica à nova legislação. Por exemplo, a Lei n.º 1/04, de 13 de Fevereiro, da República de Angola (Lei das Sociedades Comerciais) é muito semelhante ao Código das Sociedades Comerciais português, nomeadamente ao nível terminológico. Nessa medida, este artigo pode revelar-se útil para quem traduz documentos societários para Angola.

3 Porque a função deste texto é essencialmente didáctica, manteremos determinados termos em inglês. Em certos casos, proporemos a respectiva tradução.

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lexcepção da imited liability partnership que, uma vez sujeita a registo, passa a ter personalidade jurídica, as partnerships não gozam de personalidade jurídica. O seu número é bastante reduzido 4 e a sua importância no comércio internacional muito diminuta. Nessa medida, esta figura não será abordada no presente artigo.

Company. Este é, sem dúvida alguma, o mais importante tipo societário do direito inglês 5. O Companies Act de 1985 (adiante designado por CA), que, juntamente com o Companies Act de 1989, constitui o principal diploma sobre esta matéria, não o define, mas fornece alguns indícios no seu artigo 1, n.º 1, com a seguinte redacção:

«Any two or more persons associated for a lawful purpose may, by subscribing their names to a memorandum of association and otherwise complying with the requirements of this Act in respect of registration,

form an incorporated company, with or without limited liability.»

Daqui resulta que a company tem personalidade jurídica, pode ter qualquer finalidade (não lucrativa, lucrativa ou comercial) e pode, ou não, ter responsabilidade limitada. Com efeito, o Oxford Dictionary of Law define company como «An association formed to conduct business or other activities in the name of the association» e o Collins Dictionary of Law como «an association of persons formed for the purpose of some business or undertaking, which has a legal personality separate from that of its members» Como veremos adiante, o conceito de company é muito

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O aumento do comércio nternacional em geral, e das

sociedades comerciais nternacionais em particular, ntribuiu para um acréscimo

na procura de traduções de documentos societários, incluindo documentos

constitutivos de sociedades

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mais amplo do que qualquer tipo societário do direito português. Todavia, podemos afirmar que, na prática, a grande maioria das companies, para além de personalidade jurídica, tem responsabilidade limitada e fins comerciais.

Quanto à classificação das companies, o artigo 1 do CA prevê o seguinte:

«(2) A company so formed may be either - (a) a company having the liabil ty of i s members limited by the memorandum to the amount, if any, unpaid on the shares respectively held by them (‘a company limited by shares’); (b) a company having the liability of its members limited by the memorandum to such amount as the members may re pectively thereby undertake to contribute to the assets of the company in the event of itsbeing wound up (‘a company limited by guarantee’); or

4 Até 31 de Março de 2002, apenas se encontravam registadas 9.538 limited partnerships, e no final de Março de 2002, existiam 1.936 limited liability partnerships.

5 No final de Março de 2002 existiam 1.491.500 companies registadas na Grã-Bretanha, das quais 1.410.700 estavam registadas em Inglaterra e no País de Gales.

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(c) a company not having any limit on the liability of i s members (‘an unlimited company'). (3) A ‘public company’ is a company limited by shares or limited by guarantee and having a share capital, being a company (a) the memorandum of which states that it is to be a public company, and (b) in relation to which the provisions of this Act or the former Companies Acts as to the registration or re-registration of a company as a public company have been complied with on or after 22 December 1980; and a ‘private company' is a company that is not a public company. (3A) Notwithstanding subsection (1), one person may, for a lawful purpose, by subscribing his name to a memorandum of association and otherwise complying with the requirements of this Act in respect of registration, form an incorporated company being a private company limited by shares or by guarantee. (4) With effect from 22 December 1980, a company cannot be formed as, or become, a company limited by guarantee with a share capital.»

Deste artigo resulta que uma company pode ser (Mayson et al 2003, 47):

- Uma sociedade de responsabilidade limitada e capital aberto (passível de subscrição pública) e com capital accionista (public limited company with share capital);

- Uma sociedade de responsabilidade limitada e capital fechado (não passível de subscrição pública) e com capital accionista (private limited company with share capital);

- Uma sociedade de responsabilidade limitada e capital fechado (não passível de subscrição pública) e sem capital accionista (designada por company limited by guarantee ou guarantee company);

- Uma sociedade de responsabilidade ilimitada e capital fechado (não passível de subscrição pública) e com capital accionista (private unlimited company with share capital);

- Uma sociedade de responsabilidade ilimitada e capital fechado (não passível de subscrição pública) e sem capital accionista (private unlimited company without sharecapital).

Ao contrário do que sucede no ordenamento jurídico português, o direito inglês não regula autonomamente cada um dos diversos tipos de sociedades comerciais. Com efeito, a própria regulamentação das companies no CA é, no geral, unitária, não havendo capítulos dedicados exclusivamente a cada tipo de company.

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As public limi ed companies têm o seu capital dividido em acções e, em caso de dissolução da sociedade, cada sócio apenas está obrigado a contribuir com o valor não liberado das acções que detém. Podem fazer apelo à subscrição pública.

As private limited companies distinguem-se das public limi ed companies principalmente pelo facto de não poderem fazer apelo à subscrição pública. Neste tipo de sociedade, há uma relação mais forte entre os sócios, na medida em que existem maiores restrições à transmissão de participações sociais.

Nas companies limited by guarantee (ou guarantee companies), nos termos do artigo 2, n.º 4, do CA, cada sócio compromete-se a contribuir para o activo da sociedade no caso de esta se dissolver enquanto for sócio, ou no prazo de um ano após deixar de ser sócio, com vista ao pagamento do passivo que a companhia haja contraído anteriormente, dos custos, encargos e despesas da dissolução e para ajustamento dos direitos dos sócios entre si. O Insolvency Act de 1986, no seu artigo 74, n.º 3, prevê que nas companies limited by guarantee não são necessárias contribuições, por parte de qualquer sócio, que excedam o montante com que se comprometeu a contribuir.

Por último, as unlimited companies caracterizam-se pela responsabilidade ilimitada dos sócios em caso de dissolução. Esta aparente desvantagem é compensada por uma maior flexibilidade na alteração do capital social.

A firma de uma public company termina com os dizeres public limited company (ou p.l.c.), enquanto que a firma de uma public company limited by shares ou by guarantee termina com a palavra limited (ou ltd.). Também são admitidos equivalentes em galês.

Destes quatro tipos de company, os dois últimos, apesar de serem adequados para determinados fins específicos, são em número muito menor do que os dois primeiros. A sua importância para o tradutor de documentos constitutivos de sociedades é extremamente diminuta. Nessa medida, apenas abordaremos neste artigo as public limited companies e as private limited companies.

Em termos muito sintéticos, o processo de constituição e registo de uma company envolve os seguintes passos:

1. Assinatura dos documentos constitutivos da sociedade (memorandum of association e articles of association).

O memorandum of association permite aos terceiros que pretendam negociar com a company determinar de que tipo de sociedade se trata e qual o seu objecto; declara a intenção do subscritor ou subscritores de constituírem uma company e, nos termos do artigo 2 do CA, deve indicar a firma da sociedade, a localização da sede (em Inglaterra e no País de Gales ou na Escócia) e o seu objecto. No caso de companies com responsabilidade limitada e capital social, o memorandum deve ainda indicar que a responsabilidade dos sócios é limitada, o montante do capital social com que a company se regista e a divisão do capital social em acções de um determinado valor. Os subscritores do memorandum não podem subscrever menos

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do que uma acção e deve ser indicado o número de acções subscritas por cada um dos subscritores.

Por sua vez, os articles of association constituem os verdadeiros estatutos da company, na medida em que contêm normas internas (por ex., sobre tipos de acções; funcionamento das assembleias gerais; membros dos corpos sociais; forma de convocação das assembleias e reuniões; etc.). Os articles of association não são obrigatórios no caso de uma company de responsabilidade limitada por acções (artigo 7, n.º 1, do CA). Não obstante, acompanham normalmente o memorandum of association. O CA prevê a hipótese de a company adoptar um modelo de articles of association, designado por Table, que consta das Companies Regulations (Tables A to F) de 1985. Se a company adoptar uma Table, não precisa de registar os seus articles of association.

2. Registo. As companies reguladas pela lei de Inglaterra e do País de Gales são registadas junto do registrar of companies (conservador do registo de sociedades) de Inglaterra e País de Gales. O registrar é a entidade máxima de um organismo público denominado Companies House, com funções semelhantes às das conservatórias do registo comercial portuguesas. No caso de companies regidas pela lei escocesa, o registo é efectuado junto do registrar of companies da Escócia (artigo 10, n.º 1, CA). Para efectuar o registo, os interessados deverão entregar o memorandum of association e os articles of association (se os houver), juntamente com uma declaração contendo os nomes e dados pessoais da pessoa ou pessoas que serão os primeiros administradores e da pessoa ou pessoas que serão os primeiros secretários, bem como uma declaração referindo que foram respeitados todos os requisitos do CA relativos ao registo.

Uma vez efectuado o registo, o registrar deve entregar um certificado de constituição (certificate of incorporation) declarando que a company se encontra constituída.

Seguidamente, o registrar publica no jornal oficial (Gazette) um aviso da emissão do certificado de constituição.

Hoje em dia também é possível registar uma company por meios electrónicos.

b) A «sociedade»

O legislador português não definiu sociedade, mas partindo da noção de contrato de sociedade prevista no art.º 980.º do Código Civil, podemos definir sociedade como um conjunto de pessoas que contribui com bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade económica dirigida à obtenção de lucros e à sua distribuição pelos sócios.

As sociedades podem ser civis ou comerciais, distinguindo-se estas últimas por terem por objecto a prática de actos de comércio. As sociedades civis seguem o regime dos

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artigos 980.º e seguintes do Código Civil e não têm personalidade jurídica 6 as sociedades comerciais seguem o regime do Código das Sociedades Comerciais (CSC) e têm personalidade jurídica (art.º 5.º do CSC).

O CSC distingue quatro tipos de sociedade comercial: sociedade em nome colectivo, sociedade por quotas, sociedade anónima e sociedade em comandita (simples ou por acções). Da leitura do CSC resulta, claro, que o legislador português escolheu a responsabilidade dos sócios como principal critério de distinção entre os diversos tipos de sociedade. Assim, «na sociedade em nome colectivo o sócio, além de responder

individualmente pela sua entrada, responde pelas obrigações sociais subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente com outros sócios» (art.º 175.º, n.º 1); na sociedade por quotas, «o capital está dividido em quotas e os sócios são solidariamente responsáveis por todas as entradas convencionadas no contrato social» (art.º 197.º, n.º 1); na sociedade anónima, «o capital é dividido em acções e cada sócio limita a sua responsabilidade ao valor das acções que subscreveu» (art.º 271.º); e, por último, «na sociedade em comandita cada um dos sócios comanditários responde apenas pela sua entrada; os sócios comanditados respondem pelas dívidas da sociedade nos

mesmos termos que os sócios da sociedade em nome colectivo» (art.º 465.º).

no que normalmente se

designa por tradução

jurídica incluem-se

situações muito diferentes,

que requerem estratégias

de tradução diversas

Daqui se pode inferir que as sociedades em nome colectivo têm responsabilidade ilimitada, as sociedades por quotas e as sociedades anónimas têm responsabilidade limitada e as sociedades em comandita têm uma responsabilidade mista, com alguns sócios de responsabilidade limitada e outros de responsabilidade ilimitada. O Quadro 1 ilustra a diferença do regime de responsabilidade dos sócios nos diversos tipos de sociedade.

Uma sociedade com 10 sócios (cada um com participações sociais de 10.000 euros) e sem outros activos para além do seu capital social de 100.000 euros (10 x 10.000) dissolve-se, deixando um passivo de 1.000.000 euros.

Se a sociedade for em nome colectivo, os sócios, além de perderem a sua participação de 10.000 euros, terão que contribuir com 90.000 euros cada um para o passivo da sociedade.

Se a sociedade for por quotas, os sócios perdem a sua quota de 10.000 euros e os credores da sociedade poderão reclamar de cada um dos sócios um valor correspondente ao total do capital social. Isto significa que um sócio poderá ter que pagar, por si só, 100.000 euros (ficando, após o pagamento, com direito de regresso contra os restantes sócios).

Se a sociedade for anónima, os sócios apenas perdem a sua participação de 10.000 euros.

6 Apesar de alguns autores considerarem que a sociedade civil tem personalidade jurídica, esta divergência de opinião ilustra bem os problemas com que se depara o tradutor jurídico na transposição de conceitos estrangeiros, na medida em que, por vezes, a própria doutrina se divide quanto à caracterização de determinados conceitos jurídicos portugueses.

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Se a sociedade for em comandita, alguns sócios apenas respondem pela sua entrada, enquanto outros poderão ter que contribuir com um valor superior.

QUADRO 1. Responsabilidade dos sócios nos diversos tipos societários

A firma das sociedades deve terminar com a expressão «Limitada» (ou «L.da»), no caso das sociedades por quotas; «Sociedade Anónima» (ou «S.A.»), no caso das sociedades anónimas; «e Companhia», ou qualquer outro nome que indique a existência de outros sócios, no caso das sociedades em nome colectivo; e «em comandita por acções» ou «& comandita por acções», nas sociedades em comandita.

Tanto as sociedades em nome colectivo como as sociedades em comandita têm pouca expressão no nosso país. Com efeito, em 2001 encontravam-se identificadas no Registo Nacional de Pessoas Colectivas 26 sociedades em comandita e 668 sociedades em nome colectivo, contra 20.712 sociedades anónimas e 425.402 sociedades por quotas 7

As sociedades comerciais constituem-se por contrato, que deve ser celebrado por escritura pública. Ao contrário do que sucede no direito inglês, a sociedade constitui-se através de um único documento, denominado «contrato de sociedade». O contrato de sociedade contém, não só os elementos necessários à criação da sociedade, mas também normas de funcionamento interno. Assim, em Portugal, o contrato de sociedade contém, não só o acto constitutivo, como também os estatutos ou pacto social da sociedade. Com efeito, contrato de sociedade, estatutos e pacto social são muitas vezes utilizados como sinónimos, quer pelo legislador, quer pela doutrina (Pita 1998, 91).

O processo normal de constituição e registo de uma sociedade comercial compreende essencialmente as seguintes fases:

1. Requerimento do certificado de admissibilidade da firma ao Registo Nacional das Pessoas Colectivas.

2. Depósito do capital realizado em dinheiro.

3. Verificação das entradas em espécie por um revisor oficial de contas.

4. Celebração do contrato de sociedade por escritura pública.

5. Registo na conservatória do registo comercial competente.

6. Publicação do contrato de sociedade no Diário da República.

7 Dados extraídos do sítio do Gabinete de Política Legislativa e Planeamento do Ministério da Justiça. Disponível em <http://www.gplp.mj.pt>.

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c) Comparação entre os diversos institutos e figuras

Com base no que foi dito anteriormente, podemos retirar as seguintes conclusões:

a) Não existe no direito português uma figura que corresponda exactamente à company do direito inglês (Peralta 1994, 102). Com efeito, os fins da company são muito mais vastos do que os da sociedade portuguesa, uma vez que, como vimos, enquanto a sociedade tem fins lucrativos, a company pode não ter fins lucrativos (Séroussi 2003, 39).

b) Existe uma equivalência, em termos funcionais, entre:

i) public company limited by shares e sociedade anónima.

ii) private company limited by shares e sociedade por quotas.

iii) memorandum of association e articles of association (em conjunto) e contrato de sociedade, pacto social ou estatutos.

iv) registrar of companies e registo comercial.

v) Gazette e Diário da República.

Todavia, isto não significa que, por exemplo, não se possa traduzir company por sociedade, nem que, para os efeitos previstos no presente artigo, se deva traduzir private company limited by shares por sociedade por quotas, como veremos adiante.

Aspectos Práticos da Tradução de Documentos Constitutivos de Companies

a) Os documentos

À semelhança do que sucede noutros pares de línguas, a tradução de documentos constitutivos de companies destina-se principalmente à constituição de representações permanentes num determinado país. Em Portugal, o registo das representações permanentes de sociedades com sede principal e efectiva no estrangeiro é feito em face de documento comprovativo da deliberação social que a estabeleça, do texto completo e actualizado do contrato de sociedade e de documento que prove a existência jurídica deste (art.º 40.º, n.º 2, do Código do Registo Comercial). Todos os documentos deverão estar traduzidos para a língua portuguesa (art.º 32.º, n.º 3, do Código do Registo Comercial). Nessa medida, é normalmente solicitada ao tradutor a tradução dos seguintes documentos:

i) Deliberação social (Resolution) que estabeleça a representação;

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lii) Contrato de sociedade (Memorandum of Association e Artic es of Association)8;

iii) Certificado de constituição (Certificate of Incorporation);

iv) Os documentos vêm, na maior parte das vezes, acompanhados por certificados notariais e respectiva apostila da Convenção da Haia de 5 de Outubro de 1961.

b) Metodologia

A dimensão total do conjunto de documentos varia bastante, mas raramente é inferior a vinte páginas, chegando por vezes a atingir as setenta páginas, ou mais. Uma vez que estes são documentos autênticos, devidamente reconhecidos, são normalmente entregues ao tradutor por fax ou em formato TIFF ou PDF (sem reconhecimento óptico dos caracteres), o que impossibilita a utilização de ferramentas de tradução como o Trados. Considerando a fraca qualidade das reproduções e a complexidade da formatação dos documentos (que contêm selos, carimbos, etc.) é, muitas das vezes, impraticável fazer o reconhecimento óptico dos caracteres do texto 9. Este facto é de lamentar, na medida em que, para a tradução deste tipo de documentos em que a ocorrência de repetições é extremamente frequente, a utilização de memórias de tradução traria enormes benefícios. Assim, é essencial que o tradutor mantenha um registo físico de todas as traduções que efectuar. Ao receber um novo pedido de tradução, deve analisar sumariamente o texto e verificar se já efectuou uma tradução semelhante 10. Na eventualidade de encontrar um texto semelhante, o tradutor deve comparar visualmente os dois textos em inglês, assinalando as diferenças no texto cuja tradução possui. Seguidamente, introduz as alterações no ficheiro da tradução portuguesa, imprime a nova tradução e revê-a, utilizando todos os métodos de revisão adequados.

c) Estratégias de tradução

Apesar dos esforços que têm sido desenvolvidos pelos estudiosos da matéria, ainda não existem critérios universais firmes sobre como traduzir documentos jurídicos. As

s8 Para traduzir memorandum e article of association propomos, respectivamente, «acto de constituição» (neste sentido, ver Andrade 1993, 238) e «estatutos».

9 Caberá ao tradutor determinar, caso a caso, se é rentável efectuar o reconhecimento óptico de caracteres, atendendo, entre outros factores, ao prazo para entrega da tradução.

10 Uma boa forma de identificar traduções semelhantes consiste em procurar textos relativos a sociedades com o mesmo local de constituição (Inglaterra, Baamas, estado de Delaware, etc.).

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propostas são muito variadas e podem ser divididas em dois grupos. Por um lado, há os que defendem que a tradução deste tipo de documentos deve preservar a todo o custo a informação do original, ainda que em detrimento da clareza e do estilo. Por outro lado, alguns autores defendem o papel criativo do tradutor e o respeito pelo estilo da língua de chegada. Dentro destes dois grupos encontramos inúmeras variações. Confrontado com estas divergências de opinião, quem traduz documentos jurídicos pela primeira vez pode sentir-se perdido, incapaz de tomar uma decisão sobre como traduzir. Todavia, muitas das referidas divergências de opinião são meramente aparentes e resultam do facto de os vários autores abordarem situações de tradução distintas. Na verdade, o que habitualmente se designa por «tradução jurídica» engloba situações de tradução muito diversas 11, o que inviabiliza a realização de uma abordagem integrada sobre esta matéria. Assim, afigura-se necessário criar novas especialidades, atendendo à função específica do documento a traduzir, aos intervenientes no processo de tradução, entre outros factores 12 Em Portugal, o único indício para quem efectua traduções de documentos constitutivos de sociedades que, como vimos, são normalmente certificadas, é o artigo 172.º, n.º 2, do Código do Notariado, que dispõe que «A tradução deve conter a indicação da língua em que está escrito o original e a declaração de que o texto foi fielmente traduzido». Ora, em princípio, a tradução deste tipo de documentos deve ser «fiel», ou seja, deve ser ou estar conforme o original. Na verdade, esta definição pouco adianta.

11 De facto, é comum designar-se por «tradução jurídica» a tradução de qualquer documento que produza efeitos jurídicos, independentemente dos destinatários da tradução, dos efeitos jurídicos produzidos pelo texto de partida e chegada, etc. Na verdade, no que normalmente se designa por tradução jurídica incluem-se situações muito diferentes, que requerem estratégias de tradução diversas. Por exemplo:

a) tradução de um documento que já produz efeitos jurídicos, sendo que, após a tradução, tanto o original como a tradução irão coexistir (por ex., tradução de estatutos de uma sociedade já constituída num determinado país, para ser apresentada noutro país com vista à criação de uma sucursal);

b) tradução de um documento que já produz ou irá produzir efeitos jurídicos, sendo que, após a tradução, apenas o original produzirá efeitos jurídicos (por ex., tradução de um contrato para fins de consulta, ficando as partes apenas vinculadas à versão na língua de partida);

c) tradução de um documento em que, após a tradução, apenas esta produz efeitos jurídicos (por ex., tradução de um modelo de contrato elaborado pelo cliente em língua estrangeira, para ser assinado pelas partes apenas na língua de chegada);

d) tradução de um documento, sendo que, após a tradução, esta irá produzir efeitos jurídicos à luz de um ordenamento diverso do ordenamento da língua de chegada (por ex., tradução de um contrato cuja lei aplicável seja diversa da lei da língua de chegada).

12 Roberto Mayoral Asensio, na sua obra T ansla ing Official Documen s, trata de forma autónoma a tradução de documentos oficiais (na qual se incluiria o tipo de tradução analisado no presente artigo), ou seja, «traduções que respeitam as condições para servirem como instrumentos legalmente válidos num país de chegada» (Asensio 2003, 1, tradução nossa). Este tratamento autónomo é perfeitamente justificado, atendendo aos motivos acima expostos.

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Não obstante, é possível encontrar alguns critérios práticos sobre como se deve fazer a tradução de documentos jurídicos em geral e traduções de inglês para português de documentos constitutivos de sociedades em particular:

1. O debate teórico sobre a forma correcta de traduzir documentos jurídicos é muito importante, mas de pouco serve nos casos em que o cliente ou empregador tem uma ideia precisa sobre o tipo de tradução de que precisa. Nestes casos, o tradutor deve procurar conhecer o tipo de tradução que o cliente pretende (mais literal, mais livre, etc.). Para os tradutores integrados no local de trabalho do cliente/empregador, a melhor solução será procurar traduções anteriores de documentos semelhantes e seguir a fórmula utilizada. Esta regra é especialmente importante no caso de documentos constitutivos de sociedades, porque, muitas vezes, o empregador sente relutância em alterar qualquer fórmula que, na prática,

lhe produza os efeitos desejados. Nessa medida, se o tradutor pretender afastar-se da fórmula utilizada, deve apresentar uma boa justificação. No caso de tradutores independentes, na falta de informação sobre as preferências do cliente, não é aconselhável perguntar ao seu cliente que tipo de tradução quer, pois o seu profissionalismo poderá ser posto em causa (Albi 2000, 164; em sentido contrário, Hickey 1996, 135). Nestes casos, a solução passa por tentar conhecer as exigências específicas do receptor do documento (cartório notarial, conservatória de registo, etc.) e, subsidiariamente, aplicar os restantes critérios gerais indicados adiante.

Se algum significado

podemos retirar do

conceito de «tradução

fiel», referido no código do

notariado, é o de que o

documento final deve ser

uma tradução integral do

original

2. A tradução jurídica, enquanto forma de comunicação para fins específicos, é um acto de comunicação que envolve «a transferência de uma mensagem de um transmissor para um receptor, ambos especialistas na mesma disciplina» (Šarčević 1997, 55, tradução nossa). Assim, partindo do princípio de que quem redige um texto jurídico é um conhecedor das leis, o receptor da tradução também o há-de ser 13. Daqui decorre que, em regra, o tradutor deve procurar elaborar uma tradução que, na medida do possível, respeite a linguagem própria dos conhecedores das leis da língua de chegada. Por outras palavras, o tradutor deve saber utilizar a linguagem dita jurídica. Só assim conseguirá cumprir plenamente o fim comunicacional da tradução.

Porém, não só existem vários tipos de conhecedores das leis (legisladores, juízes, advogados, notários, etc.), cada um com o seu estilo próprio de linguagem, como também existem diversos tipos de linguagem jurídica para situações diversas

13 Isto não significa que toda a tradução de textos jurídicos tenha como receptores os juristas, na medida em que pode ocorrer uma divergência entre o receptor do texto original e o receptor da tradução (por ex., na tradução para revistas não especializadas). Todavia, neste artigo, parte-se do princípio de que a finalidade da tradução dos documentos constitutivos de sociedades é a sua apresentação perante as entidades oficiais (notários, registo comercial, etc.).

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(certidões, contratos, legislação). Nessa medida, cabe ao tradutor determinar qual a linguagem a utilizar em cada situação, comparando o texto de partida com textos que cumpram uma função semelhante na língua de chegada (cf. Alcaraz e Hughes, 101 e ss., e Albi 2000, 79 e ss., onde os autores recorrem a uma série de géneros para classificar os diversos textos jurídicos).

Assim, na tradução de Memoranda of Association ou Articles of Association, e de acordo com a comparação dos sistemas jurídicos inglês e português que fizemos atrás, o tradutor deve obter estatutos de sociedades comerciais portuguesas, procurando compreender as convenções textuais, sociais e jurídicas que os regem. Por exemplo, os Memoranda of Association contêm invariavelmente uma cláusula na qual se indica a denominação da sociedade, com o seguinte teor: «The name of the company i X». Nos estatutos de sociedades comerciais portuguesas, utiliza-se, para os mesmos fins, a seguinte frase: «A sociedade adopta a firma X». Independentemente de quaisquer considerações sobre a equivalência terminológica adequada, que discutiremos adiante, parece claro que o tradutor, com vista a procurar respeitar plenamente as convenções da linguagem jurídica portuguesa, pode utilizar a expressão «A sociedade adopta a firma X», apesar de esta se afastar um pouco da letra do inglês (a tradução literal seria «A firma da sociedade é X»). Mas este é apenas um pequeno exemplo. À semelhança do que se passa noutros países, incluindo a Inglaterra, a linguagem jurídica portuguesa está povoada de expressões características que devem ser conhecidas pelo tradutor, como «salvo disposição em contrário (...)», «nos termos do (...)», «em conformidade com o disposto no (...)», «conforme previsto no (...)», só para dar alguns exemplos. Todavia, existem algumas restrições à liberdade criativa do tradutor, como veremos adiante.

3. No essencial, a tradução deve, na medida do possível, produzir os mesmos efeitos que o original (Hickey 1996, 134; Šarčević 1997, 72). Por outras palavras, o leitor da tradução deve retirar o mesmo sentido útil que retiraria o leitor do texto original. Assim, se o Memorandum of Assoc ation prevê que a sociedade tem como objecto a compra e venda de imóveis, o que interessa é que seja esse o sentido expresso na tradução.

4. O tradutor deve conhecer o texto original, mas não interpretá-lo. Nessa medida, o tradutor deve agir com precaução, abstendo-se de introduzir quaisquer alterações nos casos em que surja a mais pequena ambiguidade ao nível da interpretação. Por exemplo, na seguinte cláusula – «(a) All expenses in excess of ten thousand dollars ($10,000.00) have to be approved by the Board of Directors, except as otherwise provided herein» – é perfeitamente admissível substituir (a) por «a)»; utilizar

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minúsculas iniciais na tradução de Board of Directors 14; indicar em primeiro lugar o número em algarismos e depois por extenso e entre parênteses; substituir a vírgula por ponto, para separar os milhares, e o ponto por vírgula, para separar as casas decimais; e colocar a tradução de except as otherwise provided herein no início da frase, sem que estas alterações possam alterar o significado inicial da frase. Todavia, a expressão herein pode ser interpretada de várias formas. Com efeito, esta expressão é frequentemente utilizada com o sentido de «no presente contrato» (ou estatutos, etc.) mas também como «na presente cláusula», ou ainda «na presente alínea» (ou número, etc.). Por outro lado, o redactor do texto em inglês não indicou com precisão a moeda, que poderia ser entendida como moeda dos E.U.A., Canadá, Austrália, etc. Ora, nestes casos, ainda que o tradutor chegue à conclusão de que o redactor do texto original se exprimiu de forma inadequada, deve abster-se de traduzir como pensa que o redactor se deveria ter exprimido (Asensio 2003, 55; Šarčević 1997, 92). Assim, se do contexto não resultar com clareza qual o significado de herein, ou de dollar, a tradução mais adequada da alínea seria «a) Salvo o aqui disposto em contrário, todas as despesas superiores a $10.000,00 (dez mil dólares) deverão ser aprovadas pelo conselho de administração», apesar de não ser a mais feliz em termos estilísticos (com efeito, a nosso ver, a tradução mais adequada de except as otherwise provided seria «salvo disposição em contrário»).

Apesar do exemplo que demos atrás, recomenda-se que o tradutor se abstenha de alterar a estrutura frásica do texto, salvo nos casos em que seja absolutamente necessário. Por exemplo, se, ao invés da frase anterior, tivéssemos a seguinte frase:

«(a) All expenses in excess of ten thousand dollars ($10,000.00) have to be approved by the Board of Directors and all expenses in excess of one hundred thousand dollars ($100,000.00) have to be approved by the General Assembly except as otherwise provided herein»,

poderá surgir a dúvida sobre se a ressalva do final da alínea se aplica apenas às despesas superiores a 100.000 dólares ou também às despesas superiores a 10.000 dólares. Nesta situação, o tradutor deve abster-se de alterar a posição da ressalva na frase, traduzindo por:

14 A substituição das maiúsculas iniciais também deve ser feita com alguma cautela, atendendo a que, nalguns documentos em inglês, a utilização de maiúsculas se destina a diferenciar diferentes termos, ou mesmo a indicar quais os termos que se encontram definidos no documento. Por exemplo, se o documento definir Company como sendo uma determinada sociedade, na frase The Company shall enter into an agreement with another company, o tradutor deve utilizar maiúscula inicial na primeira ocorrência.

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«a) Todas as despesas superiores a $10.000,00 (dez mil dólares) deverão ser aprovadas pelo conselho de administração e todas as despesas superiores a $100.000,00 (cem mil dólares) deverão ser aprovadas pela assembleia geral salvo o aqui disposto em contrário».

Provavelmente, o que o redactor do texto quis dizer é que a ressalva se aplica às duas situações. Todavia, não cumpre ao tradutor indagar sobre o que o redactor deveria ou não ter dito, devendo cingir-se apenas à letra do texto. Outro exemplo: nos textos jurídicos ingleses abundam expressões sinonímicas como by and between, any and all, each and all, indemnify and hold harmless, que podemos designar por duplicados (em inglês, doublets), as quais, na maior parte das vezes, poderiam ser substituídas por uma única palavra, sem que tal alterasse o seu

significado. Porém, apesar de haver quem defenda que, considerando a sua redundância, estas expressões deveriam ser evitadas, não se pode negar que, em certos casos, um intérprete habilidoso poderá atribuir significados diferentes a termos unanimemente considerados sinónimos (Garner 1995, 297). Nessa medida, a substituição de duplicados por uma palavra deve ser feita apenas nos casos em que o tradutor tenha a certeza absoluta de que, através da interpretação, não poderão ser atribuídos significados diversos aos dois termos. Por exemplo, a frase «This agreement is entered into by and

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a criação e manutenção

de um glossário é esencialprincipalmente tendo em conta que os dicionários bilingues especializados são escassos e pecam por não conter definições dos

termos na língua de partida e de chegada

between X and Y», pode ser traduzida por «O presente contrato é celebrado entre X e Y» (neste sentido, ver Garner 1995, 125).

Situação diversa é a da existência de erros manifestos no texto original. Também nestes casos, o tradutor deve agir com cautela. Os erros ortográficos que, tendo em conta o contexto, não suscitem quaisquer dúvidas de interpretação (por exemplo: contrat em vez de contract), podem, obviamente, ser ignorados pelo tradutor e não reflectidos na tradução. Porém, os erros que criem qualquer tipo de ambiguidade devem ser reflectidos na tradução (por exemplo, no seguinte caso: the authorized capital of the company is five million pounds (£10.000.000,00)).

5. Na medida do possível, a tradução de documentos constitutivos de sociedades deve assemelhar-se ao original em termos físicos (cf. Hickey 1996, 136). O tradutor deve procurar preservar a estrutura geral do original e, no caso de certificados ou outros documentos de formatação complexa, procurar que a informação da tradução se encontre num local semelhante ao do original 15. Em acréscimo, a

15 Na verdade, apesar de existir ainda hoje a prática de, na tradução de documentos oficiais, converter formatos complexos (por ex. tabelas) em sequências de parágrafos (cf. Asensio 2003, 67), exige-se cada vez mais que tais formatos complexos se mantenham na tradução (cf. Asensio 2003, 79). Esta exigência parece-nos justificada, na medida em que facilita a comparação entre o original e a tradução. Por outro lado, hoje em dia, o tradutor já dispõe de

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própria estrutura das cláusulas, números ou alíneas deve ser mantida. Na medida do possível, deve ser evitada a troca de posição de elementos frásicos dentro da mesma cláusula, número, alínea, etc. A razão para este facto prende-se principalmente com o seu fim, que, em regra, é a certificação por notário 16 e posterior apresentação no registo comercial. Apesar de o tradutor declarar perante o notário que o texto foi fielmente traduzido, por vezes os funcionários notariais verificam sumariamente os documentos para se certificarem de que, em termos muito gerais, a tradução corresponde ao original. Todavia, existe outra razão prática para que o tradutor se abstenha de fazer tais alterações, e que raramente (ou nunca) é referida. Como é sabido, o tradutor de documentos jurídicos tem muitas vezes que trabalhar com prazos extremamente reduzidos. Ora, para permitir uma revisão visual eficaz da tradução, é preferível que a estrutura da tradução corresponda, na medida do possível, à do original. Em casos de grande urgência, a alteração substancial da estrutura do original pode conduzir a distracções, levando mesmo a que frases inteiras sejam esquecidas e não traduzidas.

6. Se algum significado podemos retirar do conceito de «tradução fiel», referido no código do notariado, é o de que o documento final deve ser uma tradução integral do original. Isto significa que tudo o que estiver aposto no documento original deve constar da tradução, incluindo carimbos, selos, timbres, assinaturas, etc. (cf., a este respeito, Asensio 2003, 71). Apesar de o inglês ser uma língua com grande divulgação, o tradutor não pode, em caso algum, presumir que o destinatário da tradução já conhece o significado de determinado texto, ainda que seja um «mero» carimbo ou selo. Proceder deste modo seria reduzir em muito o papel do tradutor. Assim, o tradutor deve sempre presumir que o destinatário não conhece uma única palavra de inglês e que, para ele, um carimbo com os dizeres Registrar of Companies pode significar algo como «Este documento é nulo e não produz quaisquer efeitos». O procedimento habitual nestes casos consiste em identificar o tipo de aposição entre parênteses rectos 17, seguido do texto correspondente. Por exemplo, se o documento original tiver aposto um carimbo com os dizeres Notary Public, deve traduzir-se [«carimbo com os dizeres "Notário Público"»], ou, no caso de uma assinatura ilegível, [«assinatura ilegível»]. Porém, dizer-se que o documento final deve ser uma tradução integral do original não é o mesmo que dizer que se deve traduzir tudo: nalguns casos pode ser necessário importar termos

ferramentas tecnológicas que lhe permitem cumpri-la sem dificuldade (por ex., através da utilização de tabelas no Microsoft Word).

16 As traduções também podem ser certificadas por outras entidades. Por exemplo, nos termos do Decreto-Lei n.º 237/2001, de 30 de Agosto, as câmaras de comércio e indústria, os advogados e os solicitadores também podem certificar, ou fazer e certificar, traduções de documentos.

17 De facto, os parênteses rectos empregam-se «quando numa transcrição de texto alheio, o autor intercala observações próprias» (Cunha e Cintra 2000, 662).

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do inglês. Exemplo disto é a firma das sociedades, a qual, enquanto nome de uma pessoa (embora colectiva), deve sempre permanecer na sua fórmula original.

7. Em virtude da íntima relação que existe entre a terminologia jurídica de uma língua e o sistema jurídico no qual tal terminologia se integra, podemos afirmar que, na maior parte dos casos, é impossível conseguir uma equivalência absoluta entre os termos jurídicos do texto de partida e de chegada. Todavia, apesar de hoje em dia o termo «equivalente» continuar a ser utilizado na teoria da tradução, já não o é no seu sentido técnico (Šarčević 1997, 234). Se X e Y são considerados equivalentes, isto apenas significa que X pode ser utilizado para traduzir Y e vice-versa, sem afirmar que são idênticos ao nível conceptual. Assim, apesar de no direito inglês mortgage ser um direito de garantia que pode recair sobre bens móveis ou imóveis, e de, no direito português, «hipoteca» recair apenas sobre bens imóveis (ou móveis equiparados), podemos afirmar que, para efeitos de tradução, os dois termos são, em regra, equivalentes. O princípio que aplicamos para chegar à conclusão de que são equivalentes diz respeito à sua função num e noutro ordenamento jurídico. Se dois conceitos jurídicos desempenham uma função semelhante nos sistemas jurídicos de partida e de chegada, dizem-se equivalentes e podem ser utilizados na tradução 18. Este método, designado por equivalência funcional, é também utilizado no direito comparado para determinar quais os institutos equivalentes em ordenamentos jurídicos diversos (Peralta 1997, 24). Contudo, apesar de este método poder, em certos casos, conduzir a excelentes resultados no direito comparado (cf. Almeida 1994, 21, onde, porém, o autor refere algumas insuficiências deste método), tem que ser utilizado com muita cautela na tradução jurídica. Com efeito, não nos podemos esquecer de que o direito comparado e a tradução jurídica são disciplinas diversas, com objectivos distintos. Apesar de o direito comparado ser uma ferramenta essencial para o tradutor jurídico, não lhe permite resolver todos os problemas que este enfrenta 19. Por exemplo, atrás chegámos à conclusão de que a sociedade por quotas portuguesa desempenha a mesma função que a private company limited by shares do direito inglês, pelo que são equivalentes. Ora, a afirmação de que ambas são equivalentes é verdadeira à luz do direito comparado, mas pode não servir para a tradução jurídica.

18 É o caso da tradução de company. Apesar de o termo «sociedade» não ser absolutamente equivalente, é geralmente utilizado na sua tradução. (cf. Andrade 2003, 261).

19 O direito comparado tem um papel mais importante nos casos em que o tradutor tenha uma maior preocupação em adaptar o original ao sistema jurídico de chegada (por ex., na tradução de legislação).

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Na tradução jurídica, para determinar se existe equivalência entre conceitos, tem que existir uma total concordância entre os seus aspectos essenciais (Šarčević 1997, 238).

A Tabela 1 contém uma comparação entre alguns elementos que consideramos essenciais (1 a 3) e acessórios (4) dos diversos tipos societários que analisámos atrás:

Private Company Limited by Sha es r

Public Company Limited by Sha esr

Sociedade por Quotas

Sociedade Anónima

1. Espécie de parte social (critério de distinção essencial em Portugal)

O capital é dividido em acções (Compan e Act, 1985, s 1(2)(a))

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O capital é dividido em acções (Companies Act, 1985, s 1(2)(a))

O capital é dividido em quotas (art. 197.º, CSC)

O capital é dividido em acções (art. 271.º, CSC)

2. Responsabilidade dos sócios (critério de distinção essencial em Portugal)

Responsabilidade limitada. Em regra, cada sócio apenas está obrigado a contribuir (em caso de dissolução da sociedade) com o valor nominal não liberado das acções que detém (Insolvency Act, 1986, s 74(2)(d))

Responsabilidade limitada. Em regra, cada sócio apenas está obrigado a contribuir (em caso de dissolução da sociedade) com o valor nominal não liberado das acções que detém (Insolvency Act, 1986, s 74(2)(d))

Responsabilidade limitada (mitigada): Os sócios são solidariamente responsáveis por todas as entradas convencionadas no contrato social (art. 197.º, CSC)

Responsabilidade limitada: Cada sócio limita a sua responsabilidade ao valor das acções que subscreveu (art. 271.º, CSC)

3. Possibilidade de apelo à subscrição pública (critério de distinção essencial no R.U.)

Não podem fazer apelo à subscrição pública. (Compan e Act, 1985, s 81(1))

i s

Podem fazer apelo à subscrição pública

Não podem fazer apelo à subscrição pública. (por maioria de razão, art. 228.º, n.º 1 do CSC, e outros)

Podem fazer apelo à subscrição pública. (art. 279.º e ss. do CSC)

4. Firma Tem que concluir com a expressão limi ed (Compan e Act, 1985, s 26(2)) ou com a forma abreviada ltd. (Compan e Act, 1985, s 27(4)(a))

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Tem que concluir com os dizeres public limited company (Companies Act, 1985, s 26(1)) ou com a forma abreviada p.l.c. (Companies Act, 1985, s 27(4)(b))

Tem que concluir pela palavra «Limitada» ou pela abreviatura «L.da» (art. 200.º, n.º 1 do CSC)

Tem que concluir pela palavra «sociedade anónima» ou pela abreviatura «S.A» (art. 275.º, n.º 1 do CSC)

TABELA 1. Comparação de alguns elementos essenciais e acessórios dos diversos tipos societários

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Ora, apesar de as private companies limited by shares e as sociedades por quotas partilharem alguns dos seus elementos essenciais (responsabilidade, impossibilidade de apelo à subscrição pública) e o elemento acessório da firma, não partilham um elemento importante, que diz respeito ao tipo de participação social. Com efeito, as private companies limited by shares têm o seu capital dividido em acções, enquanto que o capital social das sociedades por quotas está dividido em quotas. Daqui resultam enormes diferenças entre os dois tipos societários, podendo mesmo dizer-se que a private company limited by shares é ela própria uma sociedade anónima, porquanto as suas participações sociais podem ser ao portador, ou seja, sem identificação do seu titular. Em acréscimo, as private

companies limited by shares carecem de uma regulamentação muito mais complexa do que a das sociedades por quotas.

eq a

Os efeitos de tudo isto para quem traduz documentos constitutivos de sociedades são óbvios. Quem tentar traduzir um memorandum of association de uma private company limited by shares utilizando a expressão «quota» no texto de chegada irá certamente encontrar enormes dificuldades de coerência terminológica. Por exemplo, como traduzir «The Share Capital of the Company is £10,000 divided into 10,000 Ordinary Shares of £1,00 each»? Daqui decorre que, na tradução de documentos constitutivos de sociedades, não se aconselha

Apesar das diferenças entre os diversos tipos

societários inglês e português, é possível alcançar um grau de

uivalência terminológicadequado para efeitos da

tradução de documentos constitutivos

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a tradução de «private company limited by shares» por «sociedade por quotas», devendo antes adoptar-se um termo mais neutro, como «sociedade de capital fechado e limitada por acções», podendo inclusivamente optar-se por acrescentar o termo em inglês entre parênteses, com vista a remeter o leitor da tradução para o tipo societário em causa (cf. Asensio 2003, 55 e ss. e Šarčević 1997, 250 e ss., sobre os métodos de compensação para incongruências terminológicas). E, apesar de existir uma equivalência quase perfeita entre public company limited by shares e as sociedades anónimas do direito português, também se recomenda a utilização de um termo neutro (por ex.: «sociedade de capital aberto e limitada por acções»), atendendo a que, como vimos, as private companies limited by shares também são, no fundo, sociedades anónimas. Além disso, para a tradução de documentos constitutivos de private companies limited by shares, recomenda-se o emprego da terminologia própria do regime das sociedades anónimas 20. A utilização desta terminologia faz todo o sentido, já que o regime das sociedades anónimas é muito mais extenso, completo e próximo do regime das private companies limited by shares do que o regime das sociedades por quotas, e a utilização de uma terminologia única em português para a tradução dos dois tipos societários (private e public companies) facilita muito a tarefa do tradutor.

20 Assim, propõe-se que director seja traduzido por «administrador»; sha eholders por «accionistas», etc.

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d) Fontes de documentação

De tudo o que dissemos anteriormente resulta que o tradutor de documentos constitutivos de sociedades inglesas deve dominar as fontes de documentação próprias das sociedades comerciais portuguesas. Deve conhecer a legislação aplicável, tanto portuguesa como inglesa, ter acesso a documentos constitutivos de sociedades portuguesas e conhecer a principal doutrina sobre esta matéria. Por exemplo, se, por algum motivo, for solicitada a tradução da apostila da Convenção da Haia de 5 de Outubro de 1961, que, conforme referimos anteriormente, acompanha por vezes o conjunto de documentos a traduzir, o tradutor deve utilizar como referência o Decreto-Lei n.º 48.450, que contém a tradução integral para português do texto da apostila. Na verdade, basta ao tradutor copiar integralmente o texto que consta do Decreto-Lei, introduzindo apenas os elementos específicos da apostila em causa! 21 Além disso, para a tradução deste tipo de documentos, o tradutor deve preocupar-se em documentar todas as suas opções de tradução, com vista a estar preparado para, se necessário, fundamentar perante o cliente/empregador todas as suas escolhas, principalmente ao nível terminológico. Nessa medida, a criação e manutenção de um glossário é essencial, principalmente tendo em conta que os dicionários bilingues especializados são escassos e pecam por não conter definições dos termos na língua de partida e de chegada.

CONCLUSÕES

Do que referimos atrás, podemos concluir que, em regra, na tradução de documentos constitutivos de sociedades de inglês para português:

a) O cliente é que define o tipo de tradução que quer. Nos casos em que o cliente ou empregador sabe que tipo de tradução quer, o tradutor deve seguir as suas instruções quanto à estratégia de tradução a adoptar. Na falta destas instruções, pode-se tentar conhecer as exigências do receptor específico (cartório notarial, conservatória do registo, etc.). Subsidiariamente, devem ser aplicados critérios supletivos;

b) A tradução deve, no essencial, produzir os mesmos efeitos que o texto de partida;

c) Deve-se atender às convenções culturais e linguísticas dos documentos constitutivos de sociedades portuguesas, pelo que o tradutor deve dominar as fontes de documentação próprias desta figura;

21 Disponível no sítio do Gabinete de Documentação e Direito Comparado, em <http://www.gddc.pt/cooperacao/materia-civil-comercial/chdip/dl-n-48450.html>.

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d) A criatividade pára onde começa a interpretação, não cabendo ao tradutor resolver as ambiguidades do texto original, nem criar novas ambiguidades;

e) Deve-se, na medida do possível, procurar preservar a estrutura do texto de partida;

f) O documento final deve traduzir integralmente o original, incluindo as anotações, carimbos, selos, etc.;

g) A pesar das diferenças entre os diversos tipos societários inglês e português, é possível alcançar um grau de equivalência terminológica adequado para efeitos da tradução de documentos constitutivos. Tanto no caso das private limited companies como das public limited companies recomenda-se a utilização, sempre que possível e com as devidas adaptações, da terminologia própria das sociedades

anónimas. ■

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LA TRADUCCIÓN ESPECIALIZADA «BAJO SOSPECHA»: VALORACIONES NEGATIVAS DE UN GRUPO DE EXPERTOS

M.ª MANUELA FERNÁNDEZ SÁNCHEZ

Facultad de Traducción e Interpretación de la Universidad de Granada, Granada, España

Resumen: Este trabajo pretende ser un primer acercamiento al concepto de traducción y a las

expectativas sobre las traducciones que tienen un grupo de expertos en relación con un

conjunto de traducciones especializadas. Nuestro punto de partida es un corpus de 19

textos que incluyen juicios de valor muy negativos referidos a una traducción concreta en

cada caso. Nos proponemos identificar y sistematizar en categorías ya conocidas los

parámetros de calidad de las traducciones mencionados por el grupo de expertos. El

objetivo último es aportar datos, a partir de ahora y en próximos trabajos, sobre este punto

de vista externo y plantear la posibilidad de que las expectativas sobre lo que es una buena

traducción por parte de un grupo de usuarios se integren, o se reconviertan, como

elementos útiles y realistas en un modelo interno orientado al ejercicio profesional de la

traducción.

Palabras clave: Criterios de calidad en traducción; Punto de vista externo; Concepto cotidiano de la

traducción; Expectativas de los usuarios; Traducción especializada.

Resumo: Este artigo apresenta uma definição do conceito de tradução e descreve as expectativas de um grupo de especialistas acerca de um conjunto de traduções especializadas. A partir de um corpus de 19 textos contendo juízos de valor bastante negativos sobre algumas traduções, identificamos os parâmet os de qualidade referidos pelo grupo, sistema izando-os, de seguida, em categorias previamente determinadas. É nosso objectivo converter estes dados, que representam o ponto de vista externo de um grupo de especialistas sobre o que

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constitui uma boa tradução, em elementos úteis e realistas para a const ução de um modelo interno da tradução profissional. Palavras-Chave: Critérios de qualidade em tradução; Ponto de vista externo; Conceito comum de tradução; Expectativas dos utilizadores Tradução especializada.

Abstract: The present paper intends to offer an introduction both to the concept of translation and to a group of experts’ expectations in relation to a collection of specialised transla ions. We begin with a corpus o 19 texts tha include very negative value judgements regarding a specific translation in each case. We propose to identify the parameters of transla ion quality mentioned by the group of experts and to systemise them into well-known categories. The data gathered from this external viewpoint will serve our ultimate purpose:to create useful and realistic tools for an internal model of professional translation based on one group of users’ expectations as to what constitutes a good translation. Keywords: Transla ion quality parameters External point of view; Common concept of transla ion; User expectations; Specialised translation.

INTRODUCCIÓN

En opinión de Hönig (1998, 44), con lo que es necesario contar, a la hora de justificar determinadas soluciones traductoras ante el cliente de una traducción, es con usuarios instruidos. De esta manera: «If we had more informed laypeople, then I am sure we could negotiate better and we would get better results in assessing translation quality, on either side».

Ante esta opinión y a modo de introducción de este trabajo, cabe mantener una actitud de prudente distanciamiento. En primer lugar, porque nada garantiza que un cliente instruido tenga entre sus prioridades entablar una conversación con el traductor. Incluso llegado el momento, nada asegura su colaboración puesto que no suelen coincidir los respectivos puntos de vista sobre lo que se entiende por «traducción». El traductor es sólo un elemento más entre los que configuran una situación comunicativa mediada; además, muy frecuentemente, se identifica con el elemento «extraño», por lo que se espera que no se note mucho su presencia. En segundo lugar, si la confianza en los usuarios que parece tener Hönig se justifica por el hecho de que al ser más instruidos van a entender mejor las razones del traductor, habría que tener en cuenta una serie de consideraciones de distinto orden. Las primeras se relacionan con la familiaridad que los usuarios de las traducciones —es decir, todos nosotros— parecen tener para hablar de las mismas: normalmente, para descalificarlas o expresar su

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extrañeza. El segundo tipo de consideraciones es de orden cultural: puede haber usuarios instruidos en determinadas comunidades lingüísticas y culturales donde la traducción forme parte de su realidad de una manera importante y ocupe la atención de estos usuarios en una mayor diversidad de situaciones. En este sentido es interesante la observación de Waddington (2000, 86):

«Es posible que en un país bilingüe, como Canadá o Bélgica, la traducción ocupe un lugar tan importante en la vida diaria para que alguien pueda formular una descripción de esta opinión [la que se tenga sobre la traducción en esa cultura]… Pero, en un país como España, no es nada seguro que la gran mayoría de los lectores tengan un juicio formulado sobre cómo debe o no debe ser la traducción…»

Asimismo, sobre estas consideraciones de orden cultural, Rogers (1998, 47) dice lo siguiente:

ent

com

«It is very hard to express in a tangible, concrete way, but I think the attitude in Britain, at least by the cultural elite, is that there is something a little bit suspicious about translations. This attitude, which is monolingually based, connects with the whole attitude that there is something suspicious about foreign languages anyway.»

El traductor es

lo un elemento más

re los que configuran

una situación

unicativa mediada

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A estas alturas de nuestra andadura como disciplina académica, no vamos a insistir en la complejidad del tema de la evaluación de la calidad de las traducciones, ya sea en el ámbito pedagógico o en el profesional; ni en la utilidad de seguir profundizando en el mismo como uno de los posibles vínculos entre la teoría y la practica de la traducción. Pero sí que creemos necesaria esta insistencia en lo que se refiere a la investigación acerca del concepto cotidiano, lego, o externo, de traducción en la cultura de llegada; sobre los métodos para llevarla a cabo y en el interés por reunir trabajos empíricos que aporten datos consistentes al respecto. Ésta es la opinión de Malmkjaer (1998, 36): «If we did more extensive research on reader receptions of translations I expect we wouldfind more objections. This is a neglected area of translation studies».

El trabajo que ahora presentamos se sitúa en este contexto, y pretende ser un primer acercamiento al concepto de traducción y a las expectativas sobre las traducciones que tienen un grupo de expertos en relación con un conjunto de traducciones especializadas. Para ello, hemos seleccionado, de un corpus que reúne hasta ahora 75 textos, representativos del género de crítica de libros, y que se detienen en hacer una valoración sobre la traducción, 19 textos que incluyen juicios de valor muy negativos referidos a la traducción correspondiente. Antes de presentar el trabajo empírico que ha servido de base a este trabajo, intentaremos contextualizar el marco teórico en el que nos situamos, mediante la descripción de las nociones y conceptos que consideramos más relevantes. En cada caso, señalaremos la incidencia de estas

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nociones en el desarrollo de nuestro trabajo. A continuación, una vez presentado el corpus, y tras el análisis de los datos y la discusión de los resultados, contrastaremos las conclusiones a las que hemos llegado con algunas ideas que aparecen de manera reiterada en la literatura sobre traducción especializada, como las siguientes: quién debe de ocuparse de la traducción de textos especializados (Navarro 2002); cuál es el perfil del traductor especializado (Sevilla y Sevilla 2002); cuándo son importantes las «minucias» (Álvarez y Bonet 2002), etc. Nuestro objetivo final es aportar datos, a partir de ahora y en próximos trabajos, sobre este punto de vista externo representado por el grupo de expertos, y plantear la posibilidad de que las expectativas sobre lo que es una buena traducción por parte de un grupo de usuarios sean objeto de discusión, entre los profesionales y los investigadores, de manera que puedan integrarse, o reconvertirse llegado el caso, como elementos útiles y realistas en un modelo interno orientado al ejercicio profesional de la traducción.

1. Marco Teórico

1.1. La investigación sobre criterios de calidad en traducción

El punto de partida es la conocida afirmación de House (1997, 1), según la cual toda evaluación sobre la calidad de una traducción presupone una teoría de la traducción. En el recorrido por las teorías de la traducción que hace Waddington (2000), es fácil identificar en aquellas con una orientación más lingüística, unos parámetros de evaluación bastante reductores del fenómeno traductor, orientados predominantemente hacia el producto. Las teorías funcionalistas y de orientación comunicativa consideran la evaluación de las traducciones desde una perspectiva más amplia y manejan parámetros de evaluación más flexibles. Así lo resume Waddington (2000, 86):

«Por su naturaleza relativa, la traducción necesita un baremo más flexible. Esto empieza a vislumbrarse en los intentos de medir la calidad con criterios que pertenezcan al contexto de la traducción.»

Del mismo modo, la naturaleza relativa del fenómeno traductor implica tener en cuenta un componente subjetivo en toda evaluación, así como la posibilidad de que existan objetivos distintos y posibilidades diferentes en cuanto a la manera de llevarla a cabo. En este trabajo, la valoración de la traducción por parte de los expertos se hace desde la perspectiva de usuarios de textos especializados; y precisamente por esto, porque notan deficiencias importantes en cuanto a la comprensibilidad del texto, se detienen en la traducción. Aplican lo que en la bibliografía sobre calidad de la traducción se conoce como «fresh look» (Brunette 2000). Se trata, por otra parte, de un

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tipo de revisión comúnmente admitida en la práctica profesional, al menos en una primera fase. En opinión de Bonet (2000), traductor y revisor de textos técnicos:

«Después de unos cuantos años revisando lo traducido por compañeros, estoy convencido de que se puede revisar prácticamente cualquier texto, sin miedo a equivocarse, en ausencia de original, si bien una elemental precaución nos impulsa a trabajar con red, es decir, cotejando el texto fuente. Por si acaso.»

Hay que añadir que, aparentemente, la valoración de la traducción que llevan a cabo nuestros expertos no les plantea ninguna dificultad: dan por hecho lo que entienden por traducción y adoptan un papel de «lector modelo» sobre el que también habremos

de reflexionar.

Por otra parte, entre los parámetros más flexibles a los que hemos aludido anteriormente, y que en el ámbito de la traducción escrita están despertando un interés mayor estos últimos años, se encuentran aquellos centrados en la evaluación de traducciones que hacen los usuarios y en el concepto de traducción que se tiene en la cultura de llegada. Si mencionamos la traducción escrita, es para decir a continuación que la investigación pionera sobre expectativas de calidad por parte de los usuarios se inició en nuestro ámbito dentro del campo de la interpretación. Desde los primeros trabajos de Bühler

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esta información

roporcionada por los

expertos es muy

ovechable en términos

e revalorización de la

profesión

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(1986) y de Kurz (1989), hasta hoy en día (Gile 2003; Collados 2003), existe en esta área de conocimiento una importante tradición de trabajos empíricos que han ido perfilando métodos de trabajo, conceptos y parámetros en la evaluación de la calidad. Queremos decir con esto que la investigación sobre calidad en interpretación puede ser un referente para la investigación sobre calidad en traducción.

1.2. Punto de vista externo y punto de vista interno sobre la traducción

Entre las distinciones más relevantes que se han hecho sobre esta cuestión, se encuentra la propuesta por Pym (1993, 131 y 149-150), entre un «external knowledge», que equipara traducción y texto; y un «internal knowledge», que considera el traducir como una actividad, aunque eso sí, una actividad encaminada a la producción de un texto.

Una primera reflexión a propósito de esta distinción: si bien es cierto que desde un punto de vista interno, estamos hablando de un proceso cognitivo caracterizado por múltiples tareas y cuya complejidad sobrepasa la producción de un texto concreto, no parece nada aconsejable prescindir del punto de vista externo. Y esto no sólo por la necesaria información que aporta, para la realización de la actividad, el conocimiento de las expectativas del usuario de la traducción, sino por la posibilidad que ofrece —como apunta Robinson (1997, 26)— de cambiar, en la medida de lo posible, unas

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expectativas externas que no se corresponden con el ejercicio profesional de la actividad:

«While translators must mee the needs of translation users in order to make a living, it is also important for them to integrate those needs intoa translator-or ented perspective on the work, seeing the reliability that users demand in the larger context of professional pride (including also involvement in the profession and ethics); seeing the timeliness use s want in terms of enhanced income, requiring speed but also connected toproject management and raising the status of the profession; and insisting on the importance of actually enjoying the work.»

Con la misma voluntad de superar las diferencias entre estos dos puntos de vista, y de equilibrar las relaciones de poder entre las partes implicadas se ha expresado Hönig en diferentes ocasiones (1995, 1998), sin dejar de alertar sobre las consecuencias de este estado de cosas en lo que respecta a la propia actividad traductora, y a la valoración social de la traducción. Dice así Hönig (1998, 22):

«As a result and as in most cases where power is so clearly assigned to one party only, the other party will become opportunist. Translators eventually learn not to act in their clients’ best interests, but in their own. They will develop new (perhaps cynical) criteria for the TQA [Translation Qualiy Assessment] of their work, e.g., as long as everybody is happy (or as long as I get paid) it must be good. And they do not care any longer whether everybody is happy only because nobody can be bothered [...]. The function of translated texts, then, is not to provoke those who have the power to chastise.»

Se trata de una visión muy pesimista ante la que hay que reaccionar, empezando por la idea de profundizar en el conocimiento de este punto de vista externo, e incluirlo entre los objetivos de una teoría contemporánea de la traducción, orientada no sólo a describir los hechos de traducción, sino a proporcionar una base explicativa de los mismos (Chesterman 2000, 153).

Es interesante también la conclusión que saca Martín de León (2003, 240), a partir de la distinción que hace Risku (1988, 241 y ss.), entre un modelo lego de la traslación basado en la metáfora del TRASLADO («traducir es trasladar ideas de un texto a otro, o de una cultura a otra»), y un modelo profesional basado en la metáfora de la CONSTRUCCIÓN («el traductor participa activamente en la construcción de un nuevo texto»):

«No se trata, pues, de afirmar la validez absoluta de la metáfora de la CONSTRUCCIÓN aquí esbozada, sino de sugerir la posibilidad de utilizar

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esta y otras metáforas para mostrar aquellos aspectos de los procesos comunicativos y traslativos que quedaban ocultos al concebirlos en los términos de las metáforas del CONDUCTO y el TRASLADO.»

Vemos pues en todas las referencias consultadas un intento de contrarrestar la tendencia a concebir la traducción como siempre se ha hecho —un asunto de contenido que se reproduce o se traslada de manera más o menos automática—, completándola con otro modelo orientado a explicar una actividad creativa y, por lo tanto, de una mayor complejidad.

1.3. El concepto de «cultura de traducción»

Si traducir es sobre todo una actividad, como cualquier otra actividad cuenta con unos condicionamientos históricos y sociales que la determinan, y al mismo tiempo genera

una serie de expectativas acerca de la actividad en sí, sobre el producto de la misma y sobre quienes la llevan a cabo. Algunos autores como Prunč (1997, apud Nobs 2003, 42), utilizan el término «cultura de traducción», para referirse al concepto general de traducción aceptado por una determinada comunidad lingüística y cultural, lo que supone también tener en cuenta unos parámetros de evaluación en estrecha relación con la cultura de traducción vigente.

«la traducción se pega en exceso al original» (…) Si este indicio es valorado negativamente, hay que

interpretarlo conforme a lo que hemos dicho sobre el

modelo de traducción como texto comprensible y funcional que parece ser el

de nuestros expertos

Otros investigadores como Larose (1994) defienden un acercamiento realista y proponen como modelo una traducción «eficaz», frente a concepciones idealistas y no profesionales.

Otra propuesta que tiene en cuenta el concepto de traducción en la cultura de llegada es la de Mossop (1989), quien propone adoptar ese conocimiento intuitivo o «norma cultural», a modo de baremo externo en la evaluación de la calidad de una traducción, como modelo alternativo frente al elaborado por los profesionales. La dificultad del asunto no se le escapa a los investigadores que se han ocupado con mayor detenimiento del tema (Waddington 2000, 68).

En nuestro trabajo pretendemos indagar acerca del concepto de cultura de traducción a través de los indicios de calidad de la traducción formulados por los propios usuarios, lo que incluye también las expresiones metafóricas que aparecen en su discurso sobre la traducción.

1.4. Las expectativas de los usuarios, o «Expectancy norms»

Siguiendo a Chesterman (2000, 64 y ss.), nos referimos a un amplio conjunto de elementos, a todos aquellos que un usuario de traducciones, invitado a pensar sobre el tema, incluiría dentro de las características que debería de tener una traducción: expectativas acerca del tipo de texto, acerca del estilo, de la facilidad de lectura, etc.

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Evidentemente, el punto de partida de estas normas es el concepto prototípico de traducción que se tiene en una cultura determinada. Habrá traducciones que se acerquen más a esa idea central, otras menos y algunas que resulten intolerables como traducciones, aunque los usuarios las sigan llamando así. Y es que resulta llamativo el hecho de que en ninguna circunstancia se ponga en cuestión la existencia de estas normas, llegando a veces a constituir la base de juicios de valor realizados por miembros representativos de determinadas profesiones a los que se les atribuye una cierta autoridad. Así lo expresa Chesterman (2000, 66):

«Within any society, there is usually a subset of members (“experts”) who are believed by the rest of the society to have the compe ence to validate such norms. This authority-validation may do no more than confirm a norm that is already acknowledged to exist in the society at large: in thissense, the norm-authorities genuinely “represent” the res of the society and are presumably trusted by the other members to do so.»

Sin trabajos empíricos que validen ésta y otras hipótesis, nos estamos moviendo en el nivel de las suposiciones que razonablemente podemos extraer a partir de la observación de nuestro entorno. En este mismo nivel, y en relación con las expectativas de un grupo de expertos en una comunidad lingüística y cultural determinada, cabría esperar un mayor grado de exigencia con respecto a lo que se percibe como una buena traducción. De hecho, en las valoraciones realizadas por nuestro grupo de expertos, los indicios que presentan como característicos de una mala traducción son muy acertados, y llama la atención que sean capaces de distinguir entre diferentes tipos de errores apuntando a una clasificación intuitiva conforme a la gravedad o efecto del error. En este sentido, es por lo que creemos que esta información proporcionada por los expertos es muy aprovechable en términos de revalorización de la profesión.

1.5. Las metáforas en el discurso cotidiano sobre la traducción

Entre las perspectivas que se abren en la investigación sobre el concepto de traducción en la cultura de llegada, hay uno ineludible, a nuestro parecer, y que nos interesa muy especialmente, como es el estudio de las metáforas que forman parte del discurso cotidiano sobre la traducción. A partir de la obra conjunta de Lakoff y Johnson (1980), donde estudiaron centenares de ejemplos del discurso cotidiano, hoy conocemos el alcance de la base metafórica de nuestro sistema conceptual, y la existencia de esquemas perfectamente integrados en este sistema conceptual, en los que no reparamos por su convencionalidad, pero que dan lugar a una extensa variedad de proyecciones o expresiones metafóricas que articulan nuestra experiencia cotidiana. Son las llamadas metáforas conceptuales.

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Otros investigadores como Reddy (1979), y en trabajos posteriores Johnson (1987), Lakoff (1987), Brünner (1987) y algunos más, han identificado las metáforas conceptuales que en nuestra cultura occidental estructuran conceptos tan importantes como el de «lenguaje» y «comunicación». Las conclusiones no pueden ser más interesantes. En palabras de Martín de León (2003, 105):

«Podemos encontrar indicios de esta proyección metafórica [traducir es trasladar] en la etimología de los verbos utilizados en algunas lenguas europeas para nombrar la acción de traducir y también en el habla cotidiana sobre traducción en español, alemán e inglés. Pero la metáfora del TRASLADO, como la del CONDUCTO (Brünner 1987), no sólo forma parte de nuestro concepto cotidiano de ‘traducción’, sino que parece dejar también su huella en los discursos traductológicos de las últimas décadas.»

En cuanto a nuestro trabajo, prestaremos atención a las metáforas que aparecen en las valoraciones de los expertos. Nos proponemos tener en cuenta los indicios o parámetros de evaluación de las traducciones tal como los nombran, o los formulan, los mismos expertos. Consideramos esta información muy relevante para los fines de la investigación a largo plazo que nos planteamos, puesto que nos permitirá documentar las proyecciones metafóricas que corresponden al uso cotidiano de las metáforas conceptuales del CONDUCTO o del TRASLADO, que ya se han identificado en otras lenguas, así como el uso que se hace de ellas en relación con la traducción especializada.

2. Trabajo Empírico

2.1. Presentación del corpus

Las valoraciones sobre libros científicos traducidos que constituyen el corpus de este trabajo forman parte de otro más amplio compuesto por un total de 75, procedentes de los 87 números que conforman hasta hoy la andadura de la publicación especializada en crítica de libros, llamada REVISTA DE libros. Nos apresuramos a decir que no todos los libros traducidos que son objeto de crítica o reseña en REVISTA DE libros cuentan con un espacio dedicado a la crítica de la traducción. No parece ser una norma impuesta por la mencionada publicación sino que depende más bien de los autores. Nosotros hemos seleccionado únicamente aquellas reseñas donde había un juicio de valor, más o menos elaborado, acerca de la traducción. Estas 75 valoraciones de traducciones especializadas —hemos descartado por ahora las críticas de libros de literatura traducidos— que forman parte de la crítica completa del libro que es objeto de análisis son muy diferentes en cuanto al juicio que les merece la traducción; en

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cuanto al grado de elaboración de la argumentación que justifica el mismo y sobre la manera de llevar a cabo la evaluación: mediante la comparación con el original, o sin ella.

Los autores de las críticas, o críticos, son especialistas en sus materias: físicos, matemáticos, investigadores, historiadores, etc., y profesores universitarios de manera general. Los libros que reseñan aparecen en las siguientes secciones de la revista: Física, Matemáticas, Biología, Teoría de la Evolución o Darwinismo, Historia, Historia de las Ideas, Historia de la Ciencia, Historia del Derecho, Temas árabes, Música, Arte, Filosofía, y algunos más. Son, por lo tanto, libros especializados en un ámbito de conocimiento, y también libros de divulgación científica, que se dirigen a un público muy instruido y, en la mayoría de los casos, familiarizado con los temas que en ellos se tratan.

Pensamos que el corpus del que partimos es bastante singular por distintas razones: no suele ser muy frecuente en nuestro país encontrar de manera sistemática juicios de valor sobre traducciones en las publicaciones que se dedican por entero o parcialmente a la crítica de libros. En este sentido, conviene decir que muchos de los críticos son ocasionalmente traductores de literatura especializada, por lo que resulta inevitable que se fijen en las traducciones. Por otra parte, la crítica de traducciones que se hace en este corpus recoge no sólo valoraciones negativas, sino también otras que califican a la traducción de «pasable», o de «correcta sin más», e incluso hay un

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conjunto importante de valoraciones muy positivas. Esperamos dar cuenta de ellas en futuros trabajos.

2.2. Selección del material

En cuanto a la selección del material para este trabajo —19 valoraciones sobre las traducciones en cuestión, que aparecían al final de la crítica que se hacía del libro, a modo de conclusión de la misma— nos decidimos a empezar por aquellas negativas o muy negativas porque representaban un conjunto de opiniones sobre las que no había ninguna duda en cuanto a su evaluación. Además, quizá por esto mismo, los autores de las críticas no se detenían en otros aspectos que hemos visto en el conjunto global de reseñas donde se señalan otras funciones de las traducciones como: «se cubre una laguna», o incluso se hace un recorrido por las traducciones al español de un autor.

Los críticos a los que nos referimos son personas con prestigio dentro de sus respectivos campos de especialidad. En la mayoría de los casos son investigadores y profesores. Tres de ellos repiten como autores de dos críticas cada uno: un antropólogo, un catedrático de Genética y un catedrático de Historia Moderna. El número total de críticos es por lo tanto 16. Los libros reseñados aparecen en las secciones siguientes: Antropología (Antrop.); Historia del Derecho (H.ª Dcho.); Teoría Política (T.ª Pol.); Temas árabes (Temas Árab.); Historia de la Ciencia (H.ª C.ª); Historia de las Ideas (H.ª Ideas);

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Física (Fís.); Teoría de la Evolución (T.ª Ev.); Darwinismo (Darwin.); Historia (H.ª); Biología (Bio.); Ciencia (C.ª); Matemáticas (Mate.); Arte (Arte).

2.3. Metodología

El punto de partida consistió en señalar y recoger los indicios negativos identificados por los críticos, y que les permitían justificar la valoración negativa de las traducciones. La identificación de estos indicios fue tarea sencilla puesto que eran claramente negativos. No sucedió lo mismo con la clasificación de estos indicios dentro de las categorías generales de evaluación comúnmente admitidas en la literatura sobre el tema. Y esto, porque a veces sucedía que algún parámetro podría tener cabida en más de una categoría. En ese caso, lo que hicimos fue asignar el parámetro cuya formulación era más general («traducción desastrosa e impresentable»; «traducción rutinaria y hecha a toda prisa») a la categoría más amplia (la referida a la de «Adecuación Pragmática»). Asimismo, tuvimos cuidado en no asignar el mismo parámetro a más de una categoría.

Por lo que respecta al modelo de evaluación, tomamos como referencia el propuesto por Nobs (2003, 79 y ss.), pensado para la evaluación de textos turísticos. Este modelo presentaba la ventaja de ser un instrumento muy elaborado —resultado de un proceso de refinamiento de datos por parte de esta investigadora— y lo suficientemente completo como para dar cabida a un número importante de parámetros o de indicios diferenciados en relación con la calidad de una traducción.

Las modificaciones que efectuamos para adaptar el modelo a las necesidades de nuestro trabajo corresponden, por un lado, al orden de prioridades de las categorías según el número de parámetros que recogen cada una de ellas. En el modelo de Nobs, el orden era el siguiente: «Adecuación pragmática», «Claridad en la exposición del contenido», «Adecuación estilística», «Transferencia exacta del contenido del TO», «Corrección gramatical», «Tratamiento adecuado del material no verbal» y «Comportamiento profesional». En nuestro modelo, la categoría más importante sigue siendo la de «Adecuación pragmática», pero el orden de prioridades cambia tal como puede verse en la «Tabla» de categorías y parámetros que presentamos a continuación. Por otro lado, señalamos la modificación en el parámetro referido por Nobs como «Tratamiento adecuado del material no verbal» (no olvidemos que su investigación se centra en textos turísticos). Este parámetro lo hemos sustituido por «Tratamiento adecuado del material de apoyo», puesto que entendemos que en este tipo de publicaciones la presencia de índices, tablas, etc., constituyen elementos importantes.

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3. Análisis de los Datos

Conforme a lo que se ha dicho hasta ahora, presentamos el modelo que nos ha permitido sistematizar los parámetros de evaluación tal como han sido nombrados por los expertos, y la clasificación de los mismos en categorías de evaluación bien conocidas por los investigadores en el ámbito de la calidad.

CATEGORÍAS DE EVALUACIÓN Parámetros nombrados por los usuarios

1. Adecuación pragmática: ● Errores en la transcripción de topónimos, elementos léxicos y nombres de persona (Antrop. 1)

● Transcripción de términos árabes arbitraria y deformante de la fonética del original (Temas Árab.)

● Nombres clásicos conservados en francés (H.ª Dcho.) ● Erratas elementales que demuestran el poco aprecio en que

tienen a las matemáticas los que trabajan en la industria del libro (Fís.)

● Efectos no deseados (H.ª C.ª), (Mate.) ● Traducción descuidada (H.ª 1) ● Mala traducción (Darwin.), (H.ª 4) ● Traducción rutinaria y hecha a toda prisa (C.ª 1) ● Traducción desastrosa e impresentable (Mate.) ● Los historiadores manejamos convenciones (H.ª 2) ● Ningún paleontólogo español dice…(C.ª 2) ● Los historiadores solemos referirnos…(H.ª 3) ● Se echa en falta un traductor que no sólo controle la lengua

foránea sino que cuente con una cierta sensibilidad literaria (T.ª Pol.)

● Todo vale y cualquiera vale en la traducción de libros de historia (H.ª 2)

● Para traducir libros de historia son necesarias credenciales. No se puede encargar la traducción al primero que pase por la puerta (H.ª 3)

● La literatura científica no suele disfrutar de buenos traductores en nuestro país (T.ª Ev.)

● Aunque las traducciones al castellano de obras científicas dejan mucho que desear, ésta excede lo previsible (Bio.)

● Los editores tienen que contratar a traductores expertos en el tema (Mate.)

● Ya sabe por qué recibe ofertas para traducir libros científicos (T.ª Ev.)

2. Transferencia exacta del contenido del TO:

● Errores de contenido (H.ª C.ª) ● Formula mal la segunda ley de Kepler (H.ª C.ª) ● Menos discutibles y más graves son los errores que tienen que ver

con el contenido (H.ª Ideas) ● Errores de bulto (H.ª 4) ● Errores de traducción (H.ª 3) ● Inexactitudes y dislates (C.ª 2), (H.ª 3), (Mate.), (H.ª 4) ● La traducción está llena de perlas (T.ª Ev.), (Mate.) ● Falta de seriedad (H.ª 1) ● Improvisaciones (C.ª 1)

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● Absurda traducción española (Arte) ● Topónimos mal traducidos (H.ª 2) ● Errores cronológicos (H.ª 2) ● Lo que verdaderamente irrita es la pérdida del sentido de las

frases (Bio.) ● Falsa erudición por aplicación rutinaria del diccionario (Bio.) ● Rogar encarecidamente a la editorial una supervisión de las

traducciones de libros de esta corriente (Antrop. 2) ● Se echa en falta una revisión técnica (Darwin.) ● Una revisión por parte de una persona con información

paleontológica básica habría eliminado estas calamidades (C.ª 2)

3. Claridad en la exposición del contenido:

● Frases absolutamente incomprensibles (Antrop.1) ● Pasajes incomprensibles motivados por un admirable

desconocimiento de la materia (H.ª Dcho.) ● Expresiones incomprensibles (H.ª 3) ● Imperdonables errores de comprensibilidad (Bio.) ● Traducción ininteligible, fruto tal vez del desconocimiento del

tema (Temas Árab.) ● Párrafos ininteligibles la mayoría de las veces (Mate.) ● Estilo rígido y a veces incomprensible (T.ª Pol.) ● Frases incompletas (H.ª 3) ● Tras hacerse un lío con las matemáticas… zanja el párrafo con

esta bonita declaración…(H.ª C.ª) ● Elementos léxicos sin traducir (H.ª C.ª) ● Cita en inglés antiguo sin traducir (H.ª C.ª) ● No hay tema que toque en el que no meta la pata (H.ª C.ª)

4. Comportamiento profesional: ● Notas superfluas (Antrop.1) ● Errores mecanográficos (H.ª Ideas) ● Simples erratas (H.ª 3) ● La traducción le ha hecho un daño irreparable a la obra (H.ª 4) ● Desgana del traductor (H.ª C.ª) ● Cuatro traductores y un revisor técnico para 190 págs… (Mate.) ● Los traductores deberían de negarse a traducir libros de temas de

los que no tienen ni remota idea (Mate.)

5. Adecuación estilística: ● La traducción se pega en exceso al original (T.ª Pol.) ● Estilo poco habitual en este tipo de literatura (T.ª Pol.) ● Molesta el recurso a una jerigonza personal que pretende salir de

apuros (Bio.) ● Maestría del autor ennegrecida (H.ª 3) ● Inglés elegante destrozado (Arte)

6. Tratamiento adecuado del material de apoyo:

● En medio de una jungla de obras y de autores hay absoluta carencia de índices (H.ª Dcho.)

● Se incluye una tabla con la equivalencia actual de antiguas monedas (H.ª 2)

7. Corrección gramatical: ● Desconocimiento de la propia lengua inglesa (Temas Árab.) ● Errores ortográficos (H.ª Ideas)

TABLA 1. Categorías y parámetros para evaluar la calidad concreta de una traducción especializada. Adaptación del modelo de Nobs (2003)

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4. Discusión General de los Resultados

Siguiendo el orden de las categorías de evaluación a las que nos hemos atenido, observamos que la categoría con más parámetros atribuidos es la de «Adecuación pragmática»: en 16 textos hay una mención como mínimo a algún parámetro susceptible de ser clasificado dentro de esta categoría. La segunda categoría, por orden de importancia reconocida por nuestro grupo de expertos, es la de «Transferencia exacta del contenido del texto»: aparece una mención como mínimo en 14 textos. La tercera, «Claridad en la exposición del contenido» cuenta con una mención como mínimo en 8 textos. En la cuarta, «Comportamiento profesional», se menciona un indicio de calidad como mínimo en 6 textos. La quinta, «Adecuación estilística», en 4 textos. Las dos últimas, «Tratamiento adecuado del material de apoyo», y «Corrección gramatical» cuentan con dos menciones en 2 textos cada una.

A primera vista, parece pues que las expectativas de los expertos como usuarios de literatura especializada, y por lo tanto de textos especializados traducidos, se han visto defraudadas. De ahí, centrándonos en la primera categoría, la mención en casi todos los textos a algún tipo de inadecuación funcional: a las convenciones de corrección formal, a las convenciones de contenido y a las usadas por los miembros de una profesión. Llama la atención que el grupo de expertos sea tan sensible a la cuestión de quién debe traducir textos especializados: hay 7 menciones, algunas explícitas y otras implícitas, al tema. No hay que olvidar que el diagnóstico que los expertos hacen del estado de la traducción especializada en nuestro país es verdaderamente catastrófico.

En cuanto a la «Transferencia exacta del contenido del TO», los expertos parecen identificar errores graves con errores de contenido. Esto no significa que toleren sin más los errores de otro tipo: hay menciones a parámetros relacionados con la falta de revisión de cifras e improvisaciones en esta misma categoría. Lo que sí es cierto es que como lectores de literatura especializada se han concentrado más en la comprensibilidad del texto para los lectores, tal como se ve en los resultados de ésta y de la siguiente categoría. Asimismo, consideran muy reprobable la inadecuación terminológica debido al desconocimiento de la materia: hay 3 menciones explícitas, además de otras más generales: «perlas», «inexactitudes y dislates», que se pueden clasificar como deficiencias en el rigor en la transmisión del contenido requerido en este tipo de textos.

La tercera categoría por orden de importancia es la que recoge información sobre la «Claridad en la exposición del contenido»: los expertos identifican distintos indicios relacionados con un mayor o menor grado de comprensibilidad, desde la traducción ininteligible a elementos que la dificultan. En cualquier caso, identifican la falta de comprensibilidad con falta de calidad.

En la categoría destinada a recoger información sobre el comportamiento profesional, «Comportamiento profesional», nos llama la atención que los expertos señalen una serie de indicios concretos, a modo de ejemplos de una práctica no profesional de la

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traducción. Conforme a lo que ellos mismos dicen, nuestros expertos, como usuarios de traducciones especializadas, esperan que la traducción esté a la altura del original, y que el traductor sea un profesional que garantice el cumplimiento del encargo de traducción.

La quinta categoría es la «Adecuación estilística»: otra categoría importante para nuestros expertos, y que hay que valorar en el sentido de que la inadecuación estilística va en detrimento de una traducción comprensible y eficaz, puesto que desvía la atención del lector hacia aspectos que están fuera de lugar. Llama la atención la sagacidad de alguno de los expertos cuando identifica al «traductor malo con recursos» (Bonet 2002), dispuesto a camuflar su ignorancia con el recurso a una «jerigonza personal». También aparece recogido en esta categoría un indicio de mala calidad de la traducción, formulado en términos metafóricos: «la traducción se pega en exceso al

original». Se trata de un ejemplo del uso cotidiano de una metáfora conceptual, la metáfora del TRASLADO («traducir es trasladar un texto de un lugar a otro»), que desempeña un papel importante en la estructuración del discurso cotidiano sobre la traducción. El esquema básico es que hay dos espacios y un elemento que se traslada entre ellos: «las traducciones se alejan o se pegan al espacio del texto origen o del texto meta». Si este indicio es valorado negativamente, hay que interpretarlo conforme a lo que hemos dicho sobre el modelo de traducción como texto comprensible y funcional que parece ser el de nuestros expertos.

La penúltima categoría, «Tratamiento adecuado del material de apoyo», la consideramos importante porque recoge información sobre elementos útiles

en este tipo de textos: cuadros, esquemas, tablas, índices, glosarios. Los indicios que proporcionan nuestros expertos en este sentido no son muy numerosos. Pensamos que debe de haber alguna relación con el hecho de que la valoración de la traducción que hacen se ha efectuado en ausencia del original.

Las referencias a los editores para que contraten a

traductores expertos en el tema, o a revisores para la

revisión técnica también es llamativa y apuntan a una

diferenciación entre las tareas de traducción y

revisión técnica para este tipo de textos

La categoría de la «Corrección gramatical» parece ser la menos importante en opinión de los expertos: sólo 2 menciones que hacen referencia al desconocimiento de la lengua y a errores ortográficos. La interpretación que hacemos de esta ausencia de indicios es que en la traducción especializada los problemas de mayor calado se encuentran en las otras categorías.

5. Conclusiones

En este trabajo hemos iniciado una investigación acerca del concepto de traducción y de las expectativas que sobre las traducciones especializadas tienen un grupo de expertos, usuarios de traducciones especializadas. Nos hemos situado en un marco teórico amplio, orientado hacia el contexto de traducción en la cultura de llegada, dentro de la investigación sobre la calidad en traducción. Hemos partido de un corpus

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de valoraciones negativas realizadas por un grupo de expertos. Obviamente, al tratarse de un primer acercamiento al tema, los datos obtenidos son muy generales y necesitan ser completados y contrastados con las valoraciones positivas que hacen estos mismos expertos, y con las referidas a traducciones «pasables». Asimismo, es necesario documentar con un número mayor de ejemplos el uso cotidiano de la metáfora del TRASLADO, y su incidencia en la descripción de textos especializados traducidos.

En relación con las ideas más controvertidas en la bibliografía sobre traducción especializada, nuestros datos apuntan a que la cuestión del especialista traductor, en vez del traductor especializado, no les resulta ajena a nuestros expertos. Las referencias a los editores para que contraten a traductores expertos en el tema, o a revisores para la revisión técnica también es llamativa y apuntan a una diferenciación entre las tareas de traducción y revisión técnica para este tipo de textos. Del mismo modo son interesantes los frecuentes indicios relacionados con los «errores de bulto» o de contenido, que junto a los «imperdonables errores de comprensibilidad» ponen en evidencia una jerarquía de errores en los textos especializados. Siendo esto así «las minucias» también cuentan (Álvarez y Bonet 2002), en la medida en que están

estrechamente relacionadas con la correcta transmisión del contenido. ■

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UMA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA: CONTRIBUTOS PARA REPENSAR O ENSINO DA TRADUÇÃO

FERNANDO FERREIRA-ALVES

Universidade do Minho, Portugal

Resumo: Tendo como base a teoria construtivista, o presente artigo visa apresentar uma breve

reflexão sobre a forma como se coloca em prática a inovação ao serviço de uma experiência

pedagógica em contexto universitário. As actuais exigências profissionais, ditadas pelas leis

do mercado, relativas ao perfil e às competências do tradutor, obrigam a uma profunda

redefinição da própria natureza e função da formação do tradutor.

A experiência de aprendizagem colaborativa assume-se como uma via possível para a

preparação de futuros tradutores, pela forma como permite a simulação de uma situação

real de tradução em contexto profissional, a gestão integral de um projecto de tradução

completo e, ao mesmo tempo, promove novos valores e princípios indispensáveis para uma

integração eficaz e positiva no mercado de trabalho.

Palavras-Chave: Ensino; Formação de tradutores; Didáctica da tradução; Construtivismo; Aprendizagem

colaborativa; Empowerment.

Abstract: Based on the const uctivist theory model, this paper aims at presenting a brief, yet practicalaccount of an innovative pedagogical expe ience a university level. The current market trends in terms of an efficient translator pro ile and skills will inevitably imply a profound redefinition o the very nature and function of transla or training. The experience of collaborative learning is, the efore, one of the most feasible ways to train and instruct future translators. It is also a fairly useful tool for teaching purposes, since it permits simulating real-life translation assignments in order to develop and manage a full

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translation project by promoting new values and principles that a e absolutely necessary ievolving market demands and high-standa d job satisfaction are to be met. Keywords: Teaching Translator training; Translation didactics; Constructivism; Cooperative learning; Empowerment.

No contexto de docência da disciplina de Tradução Especializada I e II na Universidade do Minho, a decisão de aplicar a metodologia de aprendizagem colaborativa surgiu inicialmente a partir de um desejo de inovação pedagógica e incremento da participação dos alunos nos projectos desenvolvidos e que implicavam um crescente envolvimento dos mesmos nas diversas etapas do processo de tradução.

Analisando as habituais mentalidades e práticas pedagógicas enraizadas em metodologias de ensino alheias à realidade e contexto profissionais, depressa constatamos que, regra geral, numa aula de tradução tradicional centrada exclusivamente no papel nuclear do professor, os alunos recebem o texto para traduzir com alguns dias de antecedência. Nesse sentido, deverão previamente preparar a sua tradução para uma determinada data, no âmbito de um prazo limite específico e um contexto tantas vezes forjado e pouco verosímil, longe da realidade quotidiana.

Cada indivíduo é, portanto, responsável pela preparação, investigação, análise e esclarecimento do texto e, por conseguinte, responsável pela respectiva pesquisa terminológica e conceptual, bem como pela efectiva tradução para a língua de chegada. Posteriormente, a tradução é corrigida oralmente ou por escrito na aula pelo professor; neste caso, bastante comum, normalmente o professor pede ao aluno que proponha a sua tradução, frase a frase, parágrafo a parágrafo, segmento a segmento. Seguidamente, os outros alunos são convidados a fornecer os seus comentários e/ou soluções alternativas, antes que o professor, no alto da sua douta sapiência, ofereça uma versão corrigida, final e definitiva, que é geralmente tomada pela turma como o modelo de referência.

Na sua essência, o professor é o juiz incontestável e o supremo avaliador da qualidade da tradução: o conhecimento é partilhado e facultado aos alunos segundo a forma mais tradicional, em grande parte devido às competências e habilitações do docente, cuja experiência e estatuto incontornáveis lhe conferem uma autoridade que raramente é questionada e desafiada. Este tipo de postura acaba por deixar pouco espaço para a discussão e apenas os alunos mais corajosos se encontram preparados para oferecer alternativas suficientemente credíveis e, eventualmente, divergentes.

Nas turmas maiores, o anonimato acaba por ser, frequentemente, a norma vigente e um estigma que acompanha o universo de alunos ao longo do ano lectivo: a superficialidade e a negação imperam, para além do facto de que o professor raramente conhece os alunos que, por seu turno, raramente se conhecem entre si. Em

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resumo, face a este panorama, os alunos só aprendem através dos seus esforços individuais e descontextualizados, isolados de uma envolvência eminentemente profissional e específica, uma situação que acaba por gerar resultados limitados e limitadores e, por vezes mesmo, vazios e erróneos, através de um tipo de contacto essencialmente impessoal e frio com um professor que raramente intervém e com quem os alunos acabam por ter uma escassíssima interacção.

Esta perspectiva tradicional pode, muitas vezes, produzir efeitos de negatividade e rejeição e, em simultâneo, conduzir a uma ligeira sensação de frustração, tanto no professor como nos alunos. Esta sensação foi-se revelando evidente a título pessoal, motivando-nos a buscar alternativas credíveis e viáveis no contexto de ensino. Em nossa opinião, o método da aprendizagem colaborativa e a teoria construtivista, que seguidamente abordaremos, acabam, de certa forma, por conseguir colmatar esta lacuna e, ao mesmo tempo, parecem satisfazer uma incessante procura de alternativas dentro de uma dinâmica de partilha e inovação pedagógicas.

Desde tempos imemoriais que o trabalho em equipa tem sido usado como uma ferramenta pedagógica privilegiada numa multiplicidade de situações de ensino/aprendizagem, conforme admite Slavin, no seu estudo de 1983 (Slavin 1983):

Desde tempos imemoriais

que o trabalho em equipa

tem sido usado como uma

ferramenta pedagógica

privilegiada numa

multiplicidade de situações

de ensino/aprendizagem

«Many studies have shown that two or more individuals can solve problems of different kinds better when they work in groups than when they work independently.» (Slavin 1983, 9).

A aprendizagem colaborativa é, no âmbito de um contexto universitário, uma modalidade inovadora de trabalho de grupo, ou em equipa, actualmente bastante em voga, que oferece uma alternativa útil e específica às técnicas tradicionais de ensino centralizadas no papel do professor, apoiadas numa redutora perspectiva «transmissionista», centrada exclusivamente na figura do docente.

Este método difere de outros tipos de trabalho de grupo tradicionalmente efectuados por alunos, pelo menos sob duas perspectivas diferentes: a sua filosofia subjacente, bem como a estrutura dinâmica que preconiza e segue.

Herdeira dos trabalhos de Vygotsky, Piaget e Rorty, a filosofia sob a qual se baseia a aprendizagem colaborativa reside no facto de que, na sua essência, o conhecimento é sobretudo uma construção social na sua natureza. Ou seja, trata-se de um processo de perdas e ganhos, no qual são desenvolvidos mecanismos de compensação, negociação e compromisso, que depende muito da interacção dinâmica com os outros indivíduos.

Esta ruptura epistemológica, decorrente de uma mudança no paradigma do ensino/aprendizagem de nível superior, requer que todos nós, enquanto docentes e profissionais de tradução, aceitemos o facto de que o conhecimento não é simplesmente transmitido e/ou partilhado aos alunos pelo professor, mas que, pelo contrário, os alunos aprendem uns com os outros, entre si e mutuamente no âmbito

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das acções desenvolvidas dentro e fora da sala de aula, através de esforços e iniciativas de comunicação, interacção e cooperação. Nesta óptica, o velho paradigma de ensino/aprendizagem acaba por sofrer uma profunda alteração em termos de estruturação e concretização, no âmbito da qual o professor passa a agir e a ser encarado como um facilitador, um organizador e um fornecedor de recursos, assumindo-se, em certa medida, como um gestor de projectos pedagógico-didácticos.

«The emphasis (...) is on bringing out and nourishing what are assumed to be natural intelligent, creative and expressive tendencies among students.» (Kagan 1985, 438–443).

As mudanças radicais do quotidiano e, sobretudo, do mundo profissional, exigem a aceitação deste novo paradigma de aprendizagem, no qual as competências e as aptidões substituem o conhecimento per se como o principal objectivo da educação. Esta mudança de concepções e práticas exige igualmente, como já referimos, uma nova epistemologia capaz de abraçar simultaneamente o chamado conhecimento implícito, bem como o conhecimento explícito, o contexto do conhecimento, bem como o conteúdo desse próprio conhecimento e, por último, as competências práticas, bem como as competências intelectuais. Esta cisão, consubstanciada numa mudança de paradigma, insere-se actualmente no debate em torno dos chamados modelos de produção do conhecimento – Modo 1 vs. Modo 2 – de Chris Argyris e que, de certa forma, tentam descrever as relações estabelecidas entre a ciência, a engenharia e a tecnologia, de modo geral, e as relações entre a generalização e a especialização no domínio do ensino, em particular. A tecnologia e os saberes profissionais emergem como o produto, ou output, mais importante da educação e, nesse sentido, o desafio que é colocado ao sistema educacional não será tanto o de aceitar a inevitabilidade desta mudança de paradigma, mas de implementar e, por conseguinte, ameaçar as velhas tradições de séculos de vigência institucional entre professores e alunos, alicerçadas numa poderosa e antiquada cultura pedagógica.

A aprendizagem colaborativa assume-se também como um processo essencialmente democrático em que todos os participantes são tidos e encarados como iguais e, como tal, tratados de forma equitativa, desempenhando um papel que é avaliado por todos os participantes. Os próprios grupos funcionam como equipas orgânicas e dinamicamente estruturadas e não como agrupamentos de indivíduos que se reuniram por mero acaso (ou através da indicação e ordem do professor). Desta forma, partilham um objectivo comum e, nesse sentido, estão preparados para desempenhar determinadas tarefas para atingir um objectivo comum e específico (Aronson, Bridgeman & Geffner 1978).

Neste sentido, os membros das equipas ou dos grupos envolvidos em projectos de tradução podem assumir diferentes responsabilidades, competências e atributos (responsável ou gestor de projectos, secretário, porta-voz, terminólogo, redactor, revisor, etc.) dentro do grupo, conforme defendido por Johnson (1984). De igual forma,

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é impossível que um dado membro possa ser considerado e avaliado como superior aos restantes, estando ainda prevista a rotação de funções, de forma a assegurar uma igualdade de oportunidades e a distribuição equitativa do trabalho. Na verdade, todos os participantes num projecto de tradução devem estar convictos de que os seus contributos, bem como os contributos dos restantes colegas de grupo, são absolutamente essenciais para o êxito do trabalho da sua equipa (Johnson et al 1985).

Após a explicação destes requisitos, orientações e procedimentos a todos os presentes, normalmente a pressão dos colegas de grupo é suficientemente forte para dissuadir os alunos potencialmente menos empenhados e «preguiçosos» e permitir que esses elementos eventualmente menos interventivos possam executar as suas tarefas com igual qualidade e competência e, ao mesmo tempo, participar de forma total e completa no projecto em curso. Através da discussão e negociação em grupo, a equipa consegue atingir um consenso, o que significa que os membros do grupo terão de desenvolver competências específicas interrelacionais, habituando-se a celebrar a conciliação, gerar consensos, obter compromissos e desenvolver a tolerância, modéstia e humildade, a partir do momento em que aceitam que a sua opinião não é necessariamente a melhor e a mais indicada num determinado contexto. (Slavin 1990)

A este propósito, Johnson et al (1990) identificam os cinco elementos subjacentes a qualquer experiência colaborativa:

Interdependência positiva: Os alunos deverão estar dependentes uns dos outros, segundo formas e modelos específicos susceptíveis de garantir o seu êxito conjunto. Os diferentes papéis desempenhados podem facilitar este tipo de dependência, tal como o processo de classificação e avaliação dos indivíduos e grupos. Isto significa que existem várias formas segundo as quais um determinado projecto poderá ser dividido, de modo a que os diferentes membros do grupo estejam dependentes entre si. Um desses modelos consistirá em dividir o trabalho por funções ou tarefas, de forma a que cada membro da equipa possa desempenhar sempre uma tarefa diferente. Se cada membro de um grupo assume uma responsabilidade distinta e diversificada, acaba por estar co-dependente e ser co-responsabilizado. Outra forma consiste em dividir o trabalho com base em temas, assuntos ou conteúdos.

Interacção Proactiva e Motivadora: Os alunos deverão ajudar-se mutuamente e, ao mesmo tempo, incentivar os seus colegas a aprenderem, motivando-os para o processo de aprendizagem, explicando dúvidas, questionando pontos de vista, assumindo posturas, defendendo novas perspectivas e, sobretudo, reunindo e partilhando o conhecimento dinâmico e não estático. Um dos elementos essenciais deste tipo de interacção é a existência de um ambiente acolhedor, conciliador, de hospitalidade e harmonia, favorável à recolha de informação, reflexão sobre essa mesma informação, apresentação de ideias, consideração da sua validade e pertinência e obtenção de consensos. Para que os alunos se possam sentir confortáveis nos debates e discussões durante as sessões de trabalho, são absolutamente cruciais o respeito e a consideração

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mútuos. Deverá ser evitada a crítica e a desvalorização das ideias e trabalho dos alunos com base em argumentos de cariz pessoal.

Responsabilidade individual e prestação de contas (accountability) pelo trabalho final do grupo: Cada membro deverá executar a tarefa específica que lhe está atribuída, desenvolver a sua quota-parte justa e equitativa e, nesse sentido, ser responsabilizado pelos seguintes aspectos:

1. ser activo e demonstrar dedicação, empenhamento e compromisso para com o trabalho do grupo;

2. executar na íntegra as funções de que está incumbido; e

3. ajudar os outros membros a demonstrarem as suas competências, assimilarem o conhecimento e a concretizarem a aprendizagem, sob a forma de aproveitamento ou sucesso escolar.

Uma das formas de garantir este desígnio passa pela adopção de estratégias e mecanismos de detecção, avaliação, monitorização e supervisão do progresso do trabalho do indivíduo de forma contínua e, em simultâneo, por centrar a atenção no grupo como a principal força-motriz da aprendizagem. Para além deste aspecto, em certos casos poderá ser útil que cada membro do grupo possa criticar o trabalho dos seus colegas, embora o grupo como um todo coeso deva ser considerado responsável e responsabilizado pela realização do produto final. A este respeito, poderão ser desenvolvidas e aplicadas estratégias e procedimentos formais e/ou informais, de forma a incentivar a responsabilidade individual e a responsabilidade do grupo.

Os alunos deverão ajudar-se mutuamente e, ao mesmo tempo,

incentivar os seus colegas a aprenderem, motivando-os para o

processo de aprendizagem, explicando dúvidas,

questionando pontos de vista, assumindo posturas, defendendo novas perspectivas e, sobretudo,

reunindo e partilhando o conhecimento dinâmico

Competências sociais: Os alunos deverão funcionar como uma equipa e, nesse sentido, deverão aprender a desenvolver determinadas competências sociais, específicas do trabalho em grupo – liderança, tomada de decisões, construção de confiança, comunicação, gestão de conflitos, etc. Conforme acima mencionado, o grupo deverá promover e incentivar um ambiente de aprendizagem confortável, pacífico, solidário e colaborativo, onde as ideias de cada um sejam tidas em consideração e tenham um valor intrínseco comum. Parece-nos essencial, para este ambiente, a existência de objectivos partilhados, a apreciação e confiança mútuas e o consenso e união de grupo. Na realidade, estas são competências e aptidões absolutamente vitais para os alunos ao longo da sua vida académica e, mais tarde, durante as suas vidas profissionais.

Auto-avaliação do grupo: O grupo deverá gerir o seu trabalho de forma consciente e responsável, de acordo com parâmetros profissionais. E, nesse sentido, o próprio grupo deverá avaliar a sua eficácia de forma contínua e partilhada, por exemplo, sob a forma de relatórios ou portefólios. Tal como referimos acima, as tarefas deverão incluir a monitorização e supervisão da

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evolução do trabalho individual e de grupo, relatórios regulares de estado ou reuniões parcelares com o professor, bem como o controlo de horários, práticas de trabalho, métricas, prazos, estimativas, orçamentação, facturação. Efectivamente, uma das formas que nos parece mais eficaz para a avaliação deste tipo de actividades consiste em comparar a experiência colaborativa à gestão de projectos: é necessário que a equipa trabalhe e evolua rumo à conclusão do produto final, tal como uma equipa de investigação, uma unidade de produção ou mesmo uma empresa.

A estes elementos podemos, eventualmente, acrescentar a noção de empowerment preconizada por Don Kiraly, segundo a qual toda a prática de ensino/aprendizagem é vista como um processo dinâmico e interactivo baseado na autonomia, delegação de competências e atribuição de novas tarefas ao aluno, na emancipação dos alunos face ao domínio do professor e da própria instituição, enquanto distribuidores únicos e exclusivos do conhecimento e detentores/ratificadores de uma verdade suprema e inquestionável, no âmbito de uma cultura de mudança centrada em métodos e meios construtivistas, colaborativos, aculturantes e essencialmente sociais e, ao mesmo tempo, destinada ao desenvolvimento de competências e aptidões especializadas:

«expertise can be expected to evolve from novice to journeyman within an institutional setting in direct relationship to progression along the continuum of autonomy, from non-membership in the community of translators, through dyad and small-group interdependence, to teacher-independence (empowerment) as an individual and a team member. (...) Progression on the dimensions of exper ise and autonomy will be embedded in authentic reflective action from the beginning, focusing primarily on two stages: 1) consciousness-raising about the nature of the translator’s work, and 2) scaffolded authentic projects, which will be genuine whenever possible and otherwise simulated.» (Kiraly 2000, 58-59)

No âmbito da aprendizagem em ambiente colaborativo, e para que todos os participantes demonstrem uma atitude positiva e proactiva, é necessário que os princípios orientadores, bem como as técnicas utilizadas no projecto, sejam previamente explicados, com extremo cuidado e clareza, aos alunos pelo professor, não só para que os diversos intervenientes tenham a oportunidade ímpar de saber verdadeiramente quais as funções específicas de cada elemento e, em simultâneo, conhecer aprofundadamente a metodologia aplicada ao projecto educativo, mas também para que os alunos que tenham tido experiências negativas em contexto de trabalho de grupo possam demonstrar determinados preconceitos em relação ao trabalho em equipa.

Ao longo dos últimos anos, verificou-se um aperfeiçoamento constante e progressivo dos diferentes métodos de aprendizagem cooperativa ou colaborativa. A técnica que

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descrevemos, utilizada no âmbito de uma disciplina de tradução, é essencialmente uma adaptação do método Co-op Co-op (Kagan 1985), originalmente utilizado para aumentar o envolvimento dos alunos universitários nos cursos tradicionais de Psicologia, e segundo o qual os estudantes eram incentivados e autorizados a desenvolver o estudo e a exploração mais aprofundados de tópicos específicos nos quais demonstrassem um interesse particular. O modelo Co-Op Co-Op de Kagan encontra-se essencialmente orientado para fornecer aos alunos as condições necessárias através das quais eles possam desenvolver e exprimir as suas competências naturais, como a curiosidade, a inteligência e a expressividade, entre outros.

Para além da sua simplicidade e flexibilidade, o modelo Co-Op Co-Op estrutura-se em torno de uma série de exercícios de construção de grupos que permitem a interacção entre os alunos. Stephen Kagan (Kagan 1994) define seis conceitos-chave que norteiam a sala de aula cooperativa e permitem a aquisição e o desenvolvimento de competências específicas:

I. formação de equipas, preferencialmente heterogéneas e de 3 a 4 elementos;

II. organização cooperativa da sala, susceptível de facilitar a interacção entre os elementos dos grupos e que possa rapidamente canalizar a atenção para o professor quando este a requer;

III. motivação para a cooperação através de um sistema de incentivos e recompensas e, ocasionalmente, notas ou classificações atribuídas aos grupos;

IV. capacidade de cooperar, ou seja, o desenvolvimento de competências sociais;

V. respeito pelos quatro princípios básicos – interacção simultânea, interdependência positiva, responsabilidade individual, participação equitativa; e

VI. utilização de estruturas. (Kagan 1994)

Partindo das premissas aceites pelos proponentes do modelo construtivista de aprendizagem colaborativa, segundo o qual o conhecimento é uma construção social na sua natureza, e dado que a própria língua é também um fenómeno social, o mais lógico seria aplicar este método às aulas de língua e tradução. É um facto que vários estudos sobre os efeitos do trabalho de grupo nas aulas de língua e tradução revelam que os alunos têm mais oportunidades para a interacção social e profissional, deixando-se envolver numa atmosfera mais natural e acabando por gerar resultados e produtos de qualidade considerável. Alguns autores, como Doughty e Pica (1986), concluíram, a partir das suas experiências no ensino e aquisição de uma segunda língua, que a utilização de pequenos grupos na sala de aula aumentava consideravelmente a capacidade de negociação para gerar sentidos e obter consensos. Esta importante conclusão conduziu Allwright e Bailey a proferirem a seguinte afirmação:

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«perhaps we should be doing more group work and fewer teacher-fronted lessons» (Allwright e Bailey 1991, 148)

A atmosfera descontraída e informal associada ao trabalho em equipa conduz também a uma atitude mais favorável e positiva perante o projecto que, por seu turno, aumenta a participação e a aprendizagem (Long & Porter 1985) e, simultaneamente, fornece os alicerces necessários para a compreensão das vantagens e limitações do trabalho cooperativo, permitindo uma melhor integração e gestão dos recursos humanos disponíveis, bem como a respectiva preparação face a novos contextos e realidades profissionalizantes.

Embora não tenha sido realizada qualquer avaliação científica ou estatística do método empregue, os comentários feitos pelos alunos nos seus diários e relatórios são

significativos. É interessante destacar a sua consciência e sensibilização para com os benefícios decorrentes da aplicação deste método.

A nível pessoal, os alunos expressaram a sua satisfação ante a possibilidade de serem capazes de partilhar as suas dificuldades com os colegas, um facto que acabou por gerar um ímpeto e criar um impacto consideráveis ao nível da sua auto-estima, auto-confiança e motivação.

A nível social, a aprendizagem colaborativa pode igualmente elevar o nível de tolerância e aceitação dos pontos de vista das outras pessoas e intervenientes e, nesse sentido, permitir a afirmação da diferença e a aceitação do outro. Na verdade, o método obriga a que os alunos

Trata-se essencialmente de um

método interactivo, trans e

multidisciplinar, em que todos

participam e que, na realidade,

parece funcionar do ponto de

vista do mercado, enquanto

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estabeleçam compromissos, celebrem acordos, coordenem a gestão de projectos, demonstrem empenhamento e dedicação, desenvolvam capacidades de negociação e interacção, competências que são normalmente exigidas, de forma rotineira, nas mais díspares situações da vida real. O modelo de ensino colaborativo aumenta também o sentido de responsabilidade estudantil, à medida que os alunos se apercebem de que o produto final depende essencialmente dos esforços de cada membro do grupo. Fortalece ainda os laços de união e solidariedade e permite que os próprios participantes façam novas amizades.

A nível académico, registaram-se ganhos e conquistas positivas em termos de sucesso escolar e aproveitamento ou rendimento dos alunos, em consonância com as conclusões sugeridas por Johnson e Johnson:

«there is considerable evidence that cooperative learning experiences promote higher achievement than do competitive and individualistic experiences.» (Johnson & Johnson 1985, 104).

Concluímos igualmente que o método em questão acabou por reforçar e enriquecer consideravelmente as competências de tradução dos alunos, tanto ao nível da língua,

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como em termos da expressão oral e escrita. Por outro lado, e face ao trabalho individual, a aprendizagem colaborativa constituiu uma enorme ajuda para a compreensão do texto de partida, à medida que os alunos iam explicando e, através de paráfrases, sínteses ou sinopses, decompunham e analisavam o sentido de elementos eventualmente menos claros do texto de partida. Desta forma, os alunos começaram a desenvolver e a adquirir novas competências, mais específicas e apuradas, concedendo uma maior atenção ao trabalho de revisão e avaliação da qualidade da tradução, maior atenção ao detalhe e ao pormenor, aos pequenos detalhes de sentido, nuances e subtilezas que, de outra forma, teriam sido esquecidos. De igual modo, o processo em análise melhorou a transmissão do sentido da língua de partida para a língua de chegada, à medida que os membros dos grupos eram capazes de reunir e congregar os seus recursos e, com base neles, conseguiam rentabilizar e capitalizar os conhecimentos especializados, as forças individuais e os pontos fortes de cada membro.

Por outro lado, o facto de os alunos terem de justificar e defender a escolha de uma determinada tradução foi algo que obrigou a uma reflexão racionalmente sustentada sobre as razões subjacentes a essa opção, articulada, em termos teóricos e conceptuais, de forma extensiva e cientificamente sustentada.

Trata-se essencialmente de um método interactivo, trans e multidisciplinar, em que todos participam e que, na realidade, nos parece funcionar do ponto de vista do mercado, enquanto processo e produto. A tradução que, por vezes, pode parecer um processo demasiado árido e cinzento e, tal como a própria universidade, um mundo solitário e à parte, parece adquirir uma nova vida e um novo fôlego através do recurso ao método da aprendizagem colaborativa.

Face ao elevado grau de satisfação expressado pelos alunos e, devido a todas as vantagens em termos de efeitos a nível académico, pessoal e social, achamos necessário e vital continuar a desenvolver projectos de dimensão, formato e figurino similares nas aulas de tradução especializada, assentes no método da aprendizagem colaborativa, tentando, ao mesmo tempo, encontrar novas formas de melhorar o desempenho e a metodologia de trabalho.

Embora esta perspectiva fosse basicamente aplicada a uma disciplina de final de licenciatura, não há motivos pelos quais não possa ser aplicada nos primeiros anos de formação universitária e, eventualmente, noutros níveis e domínios do saber, enquanto ferramenta de aprendizagem privilegiada conducente a um processo mais individualizado e personalizado da tradução, uma vez adquiridas e atingidas as competências básicas pelos alunos. Por conseguinte, recomenda-se vivamente este métodos a todos os colegas docentes de tradução que são, desde já, convidados a experimentarem os seus princípios básicos, adaptando-os conforme os casos e permitindo o seu desenvolvimento e variação sobre a técnica aqui desenvolvida e aplicada nos mais díspares contextos pedagógicos. ■

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THE SHIFTING GEOGRAPHY OF THE TRANSLATOR – DEFINING TERRITORY THROUGH PRACTICE

VICKY HARTNACK

Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Portugal

Abstract: The essay deliberates upon the changing scenario of the world of translating as regards the translator him/herself as a professional, the supports available in today’s digital culture, the role big business plays and the basic values guiding the translator's choices. The fact that in the last 15 years or so, translation has now become worthy of the study of academics is, perhaps, an indication of not only how important translation is in the running of the world’s affairs but as a discipline in understanding what sort of world we are creating for ourselves. The translator’s practice, therefore, may help to shed light on the trajectory of this “brave new world” by charting the routes s/he has taken in the shifting geography.

Keywords: Shifting geography; Globalisation; Hybrid roles; Decision-making; Culture

Resumo: O artigo analisa o cenário instável do mundo da tradução no que concerne ao tradutor enquanto profissional, aos suportes disponíveis na cultura digital da nossa época, ao papel desempenhado pelas relações globais e aos valores fundamentais do traduto que podem influenciar as suas escolhas. O facto de, ao longo dos últimos 15 anos, a tradução vir merecendo a atenção dos académicos talvez indique não só a importância que esta adquiriu na gestão dos problemas mundiais, mas também como disciplina que faculta umamelhor percepção do mundo que estamos a criar. A prática do tradutor pode, como tal, ajudar a esclarecer a trajectória deste brave new world ao traçar as suas rotas por uma paisagem em contínua mutação.

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Palavras-Chave: Cenário instável; Globalização; Papéis híbridos; Processos de decisão; Cultura

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You me different;

World world different;

Language language different;

Experience experience grow-up different…

(Ella Mae Lentz) 1

The translator has always had to negotiate the shifting geography of the text, although one might add, why only the transitional nature of geography? Why not also take into account the changing nature of present history, culture, language, the values of a new economic order in a (globalised) technological age – and, of course, the conventions underlying all of them? The globalised liberal economy is based on information and how fast it may be exchanged through the medium of language. And language is culture. This being the case, there is an intricate network connecting technology and the tools it offers with culture and its multiple languages and discourses, all of which mark the trajectory of translation and the role of the translator in today's pluricultural societies.

Upon thinking back over my own experience as a translator, where my world used to be confined to (a paper copy of) the text, traditional dictionaries and glossaries and my own hard-won experience, all cluttering up the space around my manual (and later, electronic) typewriter, the phrase that comes to mind as I now sit at my latest Pentium with the internet a mouse-move away, is that I’ve come a long way.

Judging from what I have just written, it might be inferred that during the last 20 years, it is only the working tools that have changed. However, the very foundations of my translator’s world have changed – particularly as from the early-1990s. Apart from the world suddenly opening up via the world-wide-web, mentalities, social organisation and cultures have changed; languages have changed, texts have changed and the nature of translating has changed. Translation is big business. It is a commodity that is bought and sold like any other although, in most cases, it goes beyond the merely tangible sphere in that it also acts as a mover of further business transactions. As such, it has now deserved the right to be studied on its own ground – however shifting it may be. That it has now gained academic recognition is, perhaps, an indication of not only how important translation is in the running of the world’s affairs but as a discipline in understanding what sort of world we are creating for ourselves. But translation studies, cultural studies, comparative literary studies, new

1 Poem taken from EDDY, Shauna Lee (1999): “Translation as the Meeting of Signed and Spoken Languages: The Trickster’s Role in Mediating Deaf Identity Construction”, in Duarte, 1999: 55-76).

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directions in linguistic studies are all talking about things which the experienced translator has always felt at gut-level and has always tried to battle out silently during the act of translating. Academics are now saying that it is not good enough being a “self-taught” translator anymore. Experience is not enough. The translator in today's complex world needs the backing of an institutional training; s/he needs to have a notion about the theory of translating in order to cope with the challenges of the profession. 2 Furthermore, in the age of split-second information, the profession no longer implies the translator as a communicator, but as a transmitter of information which is being produced at high speed and often heedless of quality due to the fact that its functional capacity is paramount. 3

Nevertheless, amid all this flurry of innovation and theorising, some things do not seem to have changed. There are certain requisites that seem to be constant, no matter what the time or the place. Translation has always depended on the sound knowledge of

both the source and the target languages as well as a thorough understanding of topics dealt with in the text; one’s cultural baggage and open-mindedness about the other’s culture have always been decisive factors and the painstaking job of checking and rechecking one’s work has always made part of the conscientious translator’s routine.

Some problems seem to present themselves every time we translate. Take, for example, the problem of names and the social-cultural, and often the political-economic, environment that decides whether a word is still suitable or liable to be accepted in today’s context no matter how general or specific

the context is. Naturally, each discourse has its own linguistic or structural system (morpho-syntactical, lexico-semantic and orthographical-phonological systems) that works in harmony with other systems (textual, communicative, strategic, process, reflective and other systems making up the universe of language users). Words may fade away or undergo changes in meaning because they no longer express their original purpose; other words (new words, borrowed words, new combinations of words) become integrated into the lexis and may take on an iconic value. This is especially true after they have outlived their revolutionary impact and are absorbed into the landscape, whether in specialised fields of study or in everyday discourse. 4

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2 The Minutes of papers delivered at numerous translation conferences insist on this point almost to a wo/man, following the institutional recognition granted translation studies as from the 1990s – see Lawrence’s Ventuti’s introduction to the 1990s in his Reader (2003: 331-342).

3 See Cronin (2001: 20-22; 65) for a discussion of transmission versus translation as communication.

4 Works of art and philosophies that were once considered revolutionary and outrageous have endured over time and have been incorporated into our mainstream Western cultural baggage. In this way, the fleeting quality of the cultural agent’s struggle for the freedom to

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Power today (…)

depends on our ability

to adapt, to be mobile,

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decision-making...

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No matter how competent translators are, how proficient they are in relaying the discourse that is typical of the field they are translating, how they strive to keep abreast of new developments and how efficient their research tools are, there is always the business of naming and renaming to be dealt with. A word that is poorly perceived and even more poorly translated can ruin an otherwise good translation. What’s in a name? Obviously, its history and tradition (regardless of its novelty), its social and cultural charge and register, its appropriateness and suitability with regard to the entity it represents, its “correctness” according to standards. How do translators proceed along thorny lexico-semantic paths when it comes to translating new words, idiosyncratic words, culture-specific words? On what basis do we decide?

And this seems to be the translator’s dilemma – deciding. Our first act in this decision-making is deciding who or what it is that decides. Who or what exerts the power? The translator is a mediator between two texts, two cultures, two different world views and the translated text is the effect of what is portable, what is carried over. Apart from rendering the translation comprehensible to the reader/listener it has to be comprehensible from the point of view of the original writer. It therefore has to be mobile and according to Zygmund Bauman (2000: 13), in this post-modernist era we need to “travel light”. Power today no longer relies on resistance and stability: it depends on our ability to adapt, to be mobile, to be fluid, to move fast, to be flexible in our decision-making... Some of these decisions lie in the sense of refusing to decide, but letting others decide for us.

In 1967, Jiři Levý wrote an essay in tribute to Roman Jacobson where he put forward the theory that translation is like playing a game, where choices have to be made in order to proceed to the next stage (in Venuti, 2003: 148-159). His idea has not gone out of date despite the fact that he was speaking more from a structuralist position.

Who (or what) are some of the decision-makers and what decisions are made? In the international market – no matter what the commodity, be it information or education, cultural services or goods – the targeting has to be in localised national terms with local cultural referents. With this in mind, I shall be considering some of the most important factors at work when it comes to making decisions about translation. At top of the list come the client and the translator, and by implication, the target reading/listening public who are interdependent. The translator and customer - and in many cases, the reader/listener - are moved by market forces, no matter what the translation, although the translator has to be motivated in some way to consider undertaking the job that may not even be remunerated. Then comes the text itself – the power of the words on the page or screen or over the air. The text depends upon at

express his/her alternative vision dies, as Jean Cocteau said, in the moment of making. Or more exactly, it is “deployed in the service of its own cancellation” to use Zygmunt Bauman’s words (2000: ix).

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least five factors which demand some kind of decision-making on the part of the translator: the purpose, aim or destination of the text; the medium of the text; the genre; the rhetoric and, perhaps most important of all, the social and cultural context of the text, because the preceding factors all hinge on this unifying quality. There are two further factors exercising enormous decision-making potential and they are the translator’s tools and resources and time constraints. Dare I add a last factor – satisfaction – which is the translator’s intrinsic reward for a job well done?

Obviously, it’s not possible to separate off these items because they all interact, they’re almost inseparable and can’t exist without the presence of the others. It goes without saying that text and context (in an exogenous and endogenous sense), or text and socio-cultural references are intimately tied up. That cohesion and coherence go together; that working on a computer with more easily available on-line tools reflects

on quality, correctness, speed and timing.

Sometimes, though, one of these items may throw things out of balance so that translation becomes a risky business, fit only for the insane as Francisco Magalhães once said (in Vilela, 1998: 25). However, many of the reasons Magalhães gives may well be the translator’s fault and not that of the original author/client or the target language.

My concern in this essay is more about non-literary translations although some of my comments will apply to literary texts as well. In looking briefly at each of these decision-making entities, I shall begin with the client. What I mean here is the entity, institution, business enterprise, publisher,

etc. who ‘orders’ the translation and pays for it. In my experience as both a free-lance translator and as a specialised translator working for an agency, the client fits into one of three categories and almost without exception places some kind of constraint on the translator. Working upwards from the private client, very often the translator is obliged to work closely to pre-established straitjacketing regarding terminology and syntax (which follow certain text-book models familiar to the client) or – at the opposite end of the scale – negotiate language that is ambiguous, esoteric or idiosyncratic involving hitherto uncharted lexicons. Unless dealing exclusively with one kind of specialised discourse, the terrain for most non-literary translators in Portugal is invariably irregular and risky because it involves many kinds of discourses demanding different kinds of knowledge.

the translator will always

have a voice – no matter how

muted – and is always forced

to make decisions regardless

of how invisible he or she is

in relation to the text

The second kind of client is usually a business enterprise, a government office, an organisation which either wants a one-off technical translation or enters into a contract for a series of specialised translations in which the format and terminology are standardised. The third kind of client is the global enterprise with its headquarters usually in the USA or a European capital, etc. or is an official international organisation like the EU which wants translations of the same source document (usually in English) into dozens of languages. The original culture or philosophy has to be respected and conveyed into the target languages.

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The client, therefore, is an ever-present spectre behind each translation. The bigger the client, the more fluid and unstable the work becomes as the translator is just a small cog in a giant wheel. Sometimes, meaning (and the meaningful quality of the work) is left behind in the rush to push out yet more information in the different languages. With the smaller client, a working relationship built up with the client and the satisfaction of the latter’s wishes is obviously important for assuring more work. In this case, translation is a personalised service and in the liberal, market economy of today, business is assured if the service rendered has been satisfactory. Quality may not be the overriding factor provided other requirements have been met (e.g. conveying the informative content or speed so as to meet deadlines).

Over the last couple of decades, a lot has been said about the role of the translator as a mediator – as a go-between for the two texts and their meanings and impact. One of the most polemical issues among academics in the field of translation studies is the ticklish problem of the translator’s visibility or invisibility.

Michael Cronin, in Translation and Globalisation stated that for pragmatic translations, “The better the translation, the more successful the medium and the more invisible the mediator” (2003: 125). That may be so but the translator will always have a voice – no matter how muted – and is always forced to make decisions regardless of how invisible he or she is in relation to the text. Post-modern (particularly gender studies) and post colonial studies go as far as advocating clearer translation visibility as the rights of minority communities are taken into account, as any current reader on translation theory will testify. In Portugal, as far back as in 1990, Carlos Leite asked some interesting questions that are still pertinent today about the translator’s role as mediator. One of the questions Leite asked was to do with whether there was any risk of the translator’s voice coming through by choosing language that would radicalize or soften (or correct or censor) the original text (in Vilela, 1998: 13). Because the translator is always an interpreter, as humorously asserted by Eco (2003: 123-132), and the interpreter makes choices about how and what is to be interpreted and translated, the risk may be courted deliberately. In the process of translating, an array of competencies is called into play that goes beyond the merely linguistic side of things. The process includes identifying, investigating, evaluating, predicting, selecting and implementing actions that all depend on what knowledge, world views, resources and practice we have as translators (see Basil Hatim, 2001: 189, for a schematic representation of the translator’s action/practice research cycle). Nevertheless, if the text expounds ideas and practices which go against a translator’s views, there is really

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only one choice open, and that is to refuse to do the translation. The role of a mediator is also ethical. 5

One of the risks a translator runs in an enduring, long-time contact with the source language is a form of acculturation in the target language. The translator is not infrequently faced with problems about how to translate certain terminology or expressions because the source language is interfering. Sometimes new expressions in the target language come as a surprise because the translator has lost touch and is beginning to sound ‘a bit foreign’ him or herself. The fact that English is all pervasive nowadays has also influenced source-language texts and some Anglicisms that have been incorporated into a language may change slightly in meaning. 6

With English becoming a global language in the discourses of business, politics, science and entertainment, there is increasing need for local translators to translate into their own languages. From what already may be seen happening on the Portuguese market, there is also a growing need to translate local languages into international English used on a global level. With fewer and fewer foreign-language students enrolled in British and American universities (8.2% in 2000 in the USA according to Language International quoted in Cronin (2003: 36)) but more non-English speaking students enrolled in US, British and Commonwealth universities, 7 the bulk of the translation work into English will have to be done by non-native speaker translators. While international English is deemed by many to be neutral because it seems to be ownerless, linguists have shown that it is the US strain that predominates in Asia and the Americas, as well as in Europe. 8

As I mentioned earlier, the power the text exerts demands that the translator make choices according to its purpose or its destination. This means the client/author and

5 See the deontological guidelines for translators drawn up by the Assoc ação Po tuguesa de Tradutores (APT) which reveal that many of the translator’s decisions are indeed, based on an implicit code of “translator ethics”.

6 For example in Portuguese, fazer a diferença instead of fazer diferença; passando pela at the start of the sentence; realizar, meaning tornar-se consciente (as in English) instead of fazer); also actualmente meaning, realmente, instead of presentemente.

7 According to the on-line magazine, Education Travel, in “News”, May 2004, in 2003/4 there were over half a million international students enrolled in US universities, and one third of a million each enrolled in universities in the UK and Australia. The Hesa UK and UKCoda statistics websites on higher education report that 16% of the international students in the UK were enrolled in first degree or post-graduate language courses. All international students are pursuing their studies in English, which makes them candidates for specialized translation into and from English work later on.

8 The very neutrality that international supposedly confesses is, in fact, far from neutral. It is the medium through which today’s dominant ideological premises, socio-economic practices and technological innovations are diffused. International English is, in fact, owned by the prime movers of the neo-conservative liberal-market economy of today.

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the translator should ideally take the reader/the listener into account; it is only in certain kinds of literature (poetry, for instance), that very particular authors refuse to acknowledge the reader at all. Having said that, however, due to the hybrid nature of internet texts and the cyberspace reading public, it is hard to discover who the public is in the first place. Both texts and public become disembedded, anonymous and “out there”. Be that as it may, text is still tailored for this particular medium, although it is the medium rather than the target public that decides the text’s content and mode of delivery. Again, with certain kinds of administrative or legal or political writing, as Bauman so tellingly points out, “the ends have become more scattered, diffused and uncertain” (2001: 125). Sometimes we wonder who we are translating for and what purposes it will serve. The mountains of paperwork for Brussels often make one wonder: “who’s ever going to read it all; what’s my translation going to be used for?” In other words, the job may turn into a meaningless translation exercise with no logical outcome to it.

For translators such as myself, however, we usually have in mind at least a general idea of who our reading or listening public is. From a doctor’s private report about a particular patient to a company report informing shareholders of the profit made that year, a tourist brochure, an academic essay or book, the public presence has to be recognised. Its cultural knowledge and referents have to be heeded, as David Crystal pointed out when talking about global publicity in terms of local referents. 9 Many of the decisions text producers and translators have to take are based solely on the type of target public and call in account structural and communicative factors.

What’s in a name? Obviously, its history and tradition (regardless of its

novelty), its social and cultural charge and register,

its appropriateness and suitability with regard to the

entity it represents, its “correctness” according to

standards

As I mentioned above, when referring to the nature of internet texts, the medium provides its own deciding factor according to whether it is for what are now known as the graphosphere (a paper medium), videosphere (celluloid and other audio-visual media) or the internet. I would go as far as sayig that the medium is the message in many cases. An official document typed on the letter-head paper of the tax office tells its own tale, as do the lyrics heard on the sound waves of your walkman. Each medium has its own rules. Film subtitles, dubbing for films, TV translations of news bulletins and communiqués, where the visual, spatial or temporal components are sometimes decisive, require different stratagems on the part of the translator. If subtitling, what is the equivalence between the spoken word and the written word? Sometimes the answer lies in the translator’s role as mediator and decision-maker, and involves ethical

9 In the BBC series, Beyond Babel (2001, part 1) when referring to Pepsi Cola’s globalised market and its endeavour to reach local consumer markets through using local symbols and cultural icons in its filmed publicity.

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choices and not so much choices about adjustment to the medium. 10 Translation conventions are usually set by the companies but sometimes it is up to the individual translator to decide. Internet texts have become a new field of linguistic study for their registers, new lexis and interconnectivity but it is surprising how many of SL texts on the internet have failed to take this high-speed, open-ended medium into account. Does the translator have to doctor texts to fit, then? What are the choices open here? The question of translator visibility is raised yet again.

Perhaps a partial answer to these questions may be had when considering the genre of the text (e.g. journalist-informative, technical-scientific, publicity, administrative, literary, etc.) that decides on voice, style, register and tone. It is fundamental for the translator to know about genre. As a mediator, it is not enough to impose our own notions of what genre is. Genre is not stable, however, and may evolve along different lines or be held up for questioning and deliberately changed. 11 Different cultures have different perceptions of genre, but because translation is a modality of intertextuality, the translation process retains the referent in the SL and transcribes and represents it within another signifying practice. 12 It takes a while before we perceive how the culture of the other emerges in the text through the use of genre and rhetorical devices, and that this difference and distinctiveness should be preserved and transmitted. We cannot straitjacket the texts of others to fit in with our notions of suitability in the target language. However, having said this, should there be an on-going dialogue between the source-text producer and the translator, content and context may always be adapted, however slightly, to better suit the translator’s idea of how readily the target reader/listener will perceive such cultural distinctions.

And this brings me to another choice the translator has to deal with. Certain voices, such as Venuti and Hatim – judging from the latter’s research projects (2001: 45-46; 204-7) – defend the ‘foreign note’ in translations of other languages; they are highly critical of “domesticating” the original by absorbing and appropriating it. “Foreignising” translation indicates careful attention to the language of translation itself although it has been counter argued that ‘foreignness’ puts readers off because our eyes and ears are trained to expect only familiar or ‘known’ linguistic formulations and we can only make predictions based on how familiar the language is to us. Both Hatim and Venuti were no doubt thinking of literary texts. The brilliant translator of José Saramago’s novels, Giovanni Pontiero, also conveyed this ‘foreignness’ and yet those who wanted

10 I am thinking of translating taboo words that are said in films but written in the subtitle.

11 Nottingham University’s challenge of traditional academic writing conventions are attracting increasing attention as British universities become internationalised.

12 I am using the term intertextuality in Julia Kristeva’s sense that meaning is built up through a process of semantically forging relationships within the text itself and not between other texts.

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to read Saramago in English in the first place, did so with extraordinary pleasure. The subtitles of Japanese films also portray this foreignness and yet large numbers of us still go to see them. When we turn to non-literary texts, we have as an excellent example in the language used by the EU – no matter what translation, many EU texts sound eternally foreign, and yet are read and understood by thousands of bureaucrats. Functionally, the foreignness works, although it may be argued that EU-speak is nothing more than jargon, and as such, merely another working language.

The rhetoric of the text based on the linguistic manipulation of what language there is in the text, decides upon its morpho-syntax, lexico-semantic relations, phonology or graphology and what cohesive devices, among others, to use. The text’s rhetoric may sometimes be the most problematic in the translation, forcing other issues into the background as we battle with sentence formation, sentence length, verb tenses, weighty nominal groups, embedded phrases, relative clauses that are strung out like sausages, not to mention the nightmare of abbreviations and acronyms. For some time now, the translation services of the EU in Brussels and Luxembourg have been aware of the need to streamline the writing of bureaucracy in all languages in order to improve understanding of texts at destination and ease the translator’s burden. 13 The “Fight the Fog” campaign has had moderate success but as the EU has its own metalanguage(s), the battle has been uphill.

I have left for last the text’s social and cultural context which also includes its historicity. But perhaps the text hinges more on this factor than any other. The semantics of the text lie in the culture of both languages. Often they are influenced by the historical period in which a text is written. Here the client and the translator have to decide on how to deal with the dated quality of language. But many a translation has fallen down for lack of the translator’s knowledge about a particular cultural or historical context. Do concepts behind words mean the same in every language? What is the discrepancy between the signifer and the signified in value-laden words, the historically significant words, the cultural coinages? Sometimes it’s just common sense but being well grounded in the other’s culture as well as one’s own is half way to being a translator who grasps the underlying significance of the words, understands ambiguity, escapes dependency and respects diversity. Although the retrieval of information using technological tools fills the immediate gap, ultimately it takes time to acquire the historical and cultural knowledge of a foreign-language needed to give the qualitative jump in a translation.

13 Rosa Mesquita, head of the Portuguese Translation Service in Brussels, once gave a very interesting workshop (at the UNIL - V Jornadas, Faculdade de Letras, May 2001) on the type of language the “Fight the Fog” campaign is targeting (her examples concerned source texts in English).

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With regard to the accessibility, reliability and worker-friendliness of the tools and resources at the translator’s disposal, Michael Cronin had this to say: “Tools are not simply a convenient adjunct to the translator, but are central to definitions of what they do and have always done” (2003: 3). The pen and manual typewriter being replaced by the PC or film subtitling technology, or the manual dictionary being replaced by an on-line glossary have a say in the type of text being produced as well as its readership/audience. But as I mentioned before, the technology which translators have nowadays must go hand-in-hand with culture, just as it did when the monks were transcribing Latin texts into the vernacular on parchment. The fact that technological means have opened up new horizons in the choices available to us, makes decision-making all the more rigorous and time-consuming. And time, as we know, means money.

There are different time factors or rather kinds of time affecting translations. The translator works with real time, and has to decide upon such logistic issues as how much time there is for research (virtual time/place if on the internet), working on the text itself and checking it before it goes out. We only perceive the importance of revision work when we note the absence of it. But there are also other time factors affecting the translator such as historical time that exerts cultural and stylist influences particularly on literary translation. Or technological time, when innovation moves forward so fast, that local language development cannot keep up and it absorbs terminology from the hegemonic language. Think

of all the English words that were incorporated into Portuguese literally overnight through marketing concepts and publicity or through being in contact with hi-tech. Quite often, there’s no time to stop and translate at all – information-users just do it in English! There is also market time which has an implicit urgency-factor. Market time decides upon the gap between the speed with which a text leaves the translator’s hands and the speed with which it will influence a course of events in the outside world. Today, with electronic time controlling business and politics, the notion of time has changed the translation business. From the politics of space we have gone to chronopolitics 14 – the politics of time. The liquid nature of modernity that Bauman talks about, demands that technological advance and the paradigms accompanying it are understood and taken advantage of by the translators themselves.

Translators need

to chart the routes they

have taken in the shifting

geography in order

to find their

own space

Finally, do we have to be insane to be a translator as José Francisco Magalhães mentioned? I think not. So far, the intrinsic rewards of ‘a job well-done’ still count for

14 The word was first used by Paul Virilio and taken up by Johannes Fabian in Time and the Other. An interesting article by John D. Kelly, called “Time and the Global: Against the Homogeneous, Empty Communities in Contemporary Social Theory” in Development and Change, No. 29, Issue 4, talks about chronopolitics in that the current élite diaspora has replaced the imperial conquests of bygone eras, precisely in the wake of decolonisation and the rise of UN ideology.

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a lot. Precisely because translation is so important in running the world’s affairs today, translators have been given a walk-on part in the play and they have begun to understand – the sort of world they are creating for themselves. What needs to change are certain mentalities regarding translation. Translators need to chart the routes they have taken in the shifting geography in order to find their own space and in so doing, map out their own future progress in a fluid world. And they can do this by examining their own practices and drawing up their own theories about translation. As Bauman says: “Translation is a process of self-creation and of mutual creation; far from exercising the translator’s authority to put the translated in his right place, the translator must first rise herself (sic) to the level of the translated; but if translation

creates the translated text, it also creates the translator” (2000: xlvii). ■

REFERENCES

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IMPORTAÇÃO-EXPORTAÇÃO DE TERMOS

HERMÍNIO DR

Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Portugal

Resumo: A troca de termos entre as diferentes línguas do mundo exerce vários efeitos nas

linguagens. Nesta abordagem analisam-se algumas propriedades desses fluxos migratórios.

Os termos viajantes em vaivém são exportados e depois importados com distorções

fonéticas, morfológicas ou semânticas. As inovações da terminologia dão lugar a

fenómenos de adaptação literal e de substituição lexical, quer de índole fonética ou

morfológica e semântica. Pratica-se o aportuguesamento de palavras estrangeiras, às vezes

numa assimilação justificada e noutras ocasiões injustificada, mas também surgem casos

incoerentes. Assim, criam-se termos úteis, tanto práticos como teóricos, e ainda vocábulos

inúteis, perturbando a evolução natural das linguagens de recepção. As diferentes

influências numa língua viva podem originar polissemias mais ou menos toleráveis, umas

populares e outras técnicas ou ainda eruditas e regionais. Tudo isto emerge da importação-

exportação terminológica entre humanos no mundo.

Palavras-Chave: Terminologia; Gramática; Termos técnicos.

Abstract: Exchanging terms among different languages in he world gives rise to several effects on the languages in question. In this article, some of the properties about such migration flowwill be discussed. Some of the push-pull terms which are exported and then imported again, undergo phonetic, morphological or semantic distortions. New terms in a language give way to phenomena involving literal adaptations and lexical substitutions whether of a phonetic, morphological or semantic nature. Foreign words are transfo med into Portugueseversions, sometimes in an acceptable assimilation process and other times not. There may

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also be inexplicable cases of assimilation taking place. Useful practical and theoretical terms the efore emerge in the same way that useless ones do which merely end up by distu bing the receiver language’s natural evolution. The different influences brought to bear on a living language may give rise to fairly well-tolerated polysemies, some of which have common usage, others echnical and yet others erudite or regional uses. All of this emerges from importing and exporting terminology among human beings in the world. Keywords: Terminology; Grammar; Technical terms.

Quando um português transacciona bens materiais com outros povos, recolhendo benefícios das trocas praticadas, que o animam a prosseguir esse modo de vida, cai imediatamente na institucionalização de uma empresa de importação-exportação. A moda prevalecente do uso da língua inglesa nesses contactos internacionais leva-o a subir um degrau cultural, quanto mais não seja para impressionar a clientela, referindo amiúde a sua iniciativa de import-export. A globalização a isso obriga. E a prática generaliza-se.

Nesse convívio com diferentes populações, forçosamente intercultural, resultou sempre, ao longo dos séculos de história, uma inevitável interpenetração das linguagens. De facto, muitos termos de uma língua difundem-se nas outras pela interactividade das relações humanas, sobretudo onde predomina o comércio. Daí a assimilação natural de novas formas de expressão por importação e exportação linguística.

Se tolerarem ouvir-me sobre estas influências das línguas pelo mundo fora, ficarão a conhecer alguns dos pensamentos que me assaltam, ao sabor do estilo teórico e prático que cultivo, com ideias (que não julgo idiotas) e exemplos (que julgo exemplares). São doações de boa vontade, aspergidas entre esta entrada prática (sem venda de produtos à sociedade consumista) e a saída final que teoriza potencialmente sob forma interrogativa (ainda sem vender nenhum produto).

Eis um discurso da experiência vivida, com tanto humor quanto possível (entre parênteses, quiçá o mor), para testemunho da nossa época histórica em desvanecimento. Evolução inevitável, bem sei, devido à dinâmica das existências movidas pelas transformações contínuas da Natureza. O que não me esmorece de proclamar, alto e bom som: tão bela é a língua portuguesa!

Surpreende, a viagem dos termos entre regiões geográficas mais ou menos distantes. Assim tem sido e assim continuará a ser. Até se detectam termos viajantes com distorção em vaivém, que chegam a desconcertar. Regra geral, vamos ao latim procurar as raízes terminológicas ou navegamos pelo grego com igual propósito, apesar de o benefício consequente do estudo destas duas línguas antigas se encontrar completamente fora das políticas de educação no início do século XXI. Os ingleses têm uma maneira criativa de formar neologismos, que parece própria da língua anglo-

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saxónica, mas também gostam muito de inglesar palavras latinas, depois importadas por nós, já desfiguradas, como se fossem dessa origem estrangeira. Tais desfigurações interpretativas assumem diversos enquadramentos, seguindo as grandes divisões gramaticais.

A disto ção fonética acontece quase sempre pelo pedantismo que grassa nos frequentes pseudo-intelectuais, intercalando palavras inglesas no meio do discurso em português, até com requintadas entoações oxfordianas, a ressaltar da pronúncia discorrida na fraseologia normal. Então, os traiçoeiros termos em vaivém pregam as suas partidas deselegantes. Que me atiram para o sorriso, pois tristemente não chego ao riso. Exemplo: o «item» do latim usa-se muitas vezes na literatura inglesa com o significado de ‘entidade’ e a pronúncia inglesada de ‘aitem’; alguns portugueses assimilaram esta concepção nos contactos internacionais, ignorando que a palavra em português se lê item tal como se escreve, tratando de a pronunciar eruditamente (!) à

inglesa. Interessante, este vaivém do termo latino a viajar para Inglaterra e a regressar depois às origens, foneticamente desfigurado. É que foi de barco a vapor e voltou de Rolls Royce.

Menos acentuada parece apresentar-se a distorção mo ológica. Talvez por isso encontre dificuldade em anotar uma boa exemplificação. Mas acaba de me entrar pela cabeça adentro um caso que serve de ilustração. Exemplo: o «implemento» no latim tardio implementum significava ‘enchimento’ e um dia navegou para a Grã-Bretanha; por cá caiu em desuso, enquanto por lá se

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disseminou em implementation; e eis que daí veio a «implementação», agora tão notável na execução de qualquer planeamento. São bizarros estes termos viajantes em vaivém e que se desfiguram na forma, como reflexo dos conteúdos alterados. Umas vezes as coisas implementam-se bem, mas noutras a harmonia desafina completamente. Na verdade, alguns caixeiros-viajantes provincianos vão além-fronteiras visitar feiras estranjas e regressam inchados de ares, a impar de saberes mal digeridos. Teremos depois que engolir o seu peixe salgado, mesmo com cheiro a ranço?

Mais frequente é a disto ção semânt ca, manifestada na confusa desfiguração dos conteúdos. Exemplo: o presente «actual» chegou aos britânicos com igual morfologia actual mas diferente semântica, significando ‘real’ ou ‘concreto’ 1, que os tradutores desprevenidos (e tantos aparecem entre a juventude estudantil e não só) tomam no regaço materno como ‘algo do presente’, quando afinal exprime apenas uma realidade existente. Descortinam-se inúmeras situações deste quilate, que dantes se destrinçavam bem, mas hoje motivam erros de confusão. Exemplo: quando tinha apenas onze anos de idade aprendi, e nunca mais me esqueci, que «grandeza» é tudo o que se pode medir ou contar; definição igualmente contida no substantivo inglês

1 Beryl T. Atkins, et al. The Collins Robert French-English English-French Dictionary. London: HarperCollins Publishers, 1990, 2.ª edição.

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quantity, que os leitores portugueses actuais (incluindo professores catedráticos dos dias que passam, obviamente cheios de contactos com falantes em inglês) consideram ‘quantidade’, vejam só, confundindo a substância com o resultado da acção expressa pelo conceito. Isto apoia que agora se fale sobretudo em «variáveis», seguindo as variables adoptadas na moderna literatura científica inglesa, quando antigamente se dizia ‘grandezas’.

O fenómeno de inovação terminológica corresponde, algumas vezes, à adopção de um novo vocábulo, inexistente antes da chegada estranha. Ocorre então um processo de adaptação literal, que pode assumir diferentes feições, tanto fonéticas como morfológicas, gerando variados despojos. Em particular, compete-nos observar criteriosamente o aportuguesamento para o idioma que usamos no dia-a-dia. Por alguma razão apetece mais ler os originais ingleses, mesmo com uma ou outra dificuldade de compreensão da língua estrangeira, do que fazer a leitura de traduções técnicas brasileiras com uso e abuso de literalizações (evidenciando ignorância das correspondências lexicais, ou será intencional?).

Esta adaptação directa evidenciou-se nas múltiplas línguas africanas que viveram em contacto com a portuguesa. Os falantes do crioulo cabo-verdiano intercalam frequentes palavras da língua oficial para darem fluidez aos discursos banais. O mesmo acontece com os falantes de kimbundu em Luanda. Exemplo: «Jima lampada u uamese nvela» insere a moderna ‘lâmpada’ na sentença tradicional «apaga a lâmpada e acende a vela». Trata-se de uma importação-exportação natural, consequente do convívio de cinco séculos com portugueses. É espantoso constatar que a palavra «pai» faz parte daquele vocabulário luandino, certamente por adaptação directa do Putu (Portugal em kimbundu). Exemplo: «Nga disange ni pai etu», quer dizer, «encontrei-me com o meu pai».

O processo de adaptação fonética efectua-se a partir da formulação original, quase sempre em pouco tempo. Trata-se de uma fortuna familiar às línguas vivas. Aconteceu durante bué de tempo do francês para português, dada a tradicional afinidade da raiz românica comum às duas ramificações. Exemplo: o chofer de um automóvel deve-se ao francês chauffeur, originado na primeira metade do século XX. Hoje, porém, é mais banal verificar a adaptação a partir do inglês. Exemplo: na moderna microelectrónica, o revolucionário chip deu lugar a «chipe» (grafado no fim com a vogal muda ‘e’, tal como se verbaliza 2). A importação em Portugal de conteúdos emergentes das novas tecnologias justifica perfeitamente este empréstimo directo.

Em geral, um simples símbolo ‘e’ finalizante das palavras adaptadas resolve a assimilação. Todavia, a própria índole da língua portuguesa tende, ao fim de algum

2 Hermínio DR. «Terminologia». Apêndice in J. Millman, A. Grabel. Microelectrónica, Vol. I. Lisboa: McGraw-Hill, 1991.

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tempo de uso, a identificar o género que lhe cai por arbítrio (feminino marcado pela desinência ‘a’ ou masculino com ‘o’). Exemplo: a saborosa omelette francesa originou a vulgar ‘omelete’ portuguesa, que acabou por se guarnecer na «omeleta» dos actuais cardápios (assim escrita mas ainda nem sempre lida, ao contrário da camioneta ou das marionetas). Esta mutação terminal nem sempre acontece, encontrando-se substantivos adaptados com a tonalidade neutra de ‘e’, que serve tanto o feminino como o masculino. Exemplo: na sua actual cátedra derribada, o «lente» pouco deslindará sempre que lhe falte a «lente» de bem enxergar a leitura entre tanto ruído miúdo à volta (mais uma reivindicação à segurança social?). Por isso, creio que chipe nunca se converterá em ‘chipo’ ou ‘chipa’.

Repare-se que se encontram focos de resistência, aqui e ali, mantendo os arcaísmos fonéticos como salvaguarda dos mitos. As ciências mais antigas constituem casos paradigmáticos, onde naturalmente se insere a física em contraponto às engenharias a que deu base de sustentação. Exemplo: as descargas dos gases, como sucede nas faíscas do ar atmosférico durante uma trovoada, são uma progressiva sucessão de avalanchas de electrões 3, para mim que sou engenheiro, mas os meus amigos físicos continuam em ‘avalanche’ com a avalanche das línguas francesa e inglesa. É óbvio que se podem apresentar termos masculinos envolvidos em idênticas quezílias. Exemplo: o latim magnes originou o magnet inglês e o arcaico ‘magnete’ que os físicos portugueses mantêm contra o «magneto» dos tecnólogos (que conflito para os chamados engenheiros físicos!). Esses cientistas defendem tanto o seu ponto de vista do século XVIII que traduzem o novo material electret em inglês por ‘electrete’, enquanto os electrotécnicos usam o «electreto» nos microfones modernos. Idiossincrasias, sem dúvida.

De igual maneira, a língua portuguesa tem exportado termos assimilados foneticamente por outros falantes. É conhecida a influência exercida pelos mareantes que arribaram ao Oriente na época heróica dos descobrimentos. Então, enraizaram palavras portuguesas nas culturas contactadas, alterando até os comportamentos representados. De vez em quando, ouvem-se vozes herdadas nas margens do Índico que confirmam a passagem secular desses antepassados por tão longínquas terras, desde a cidade do Cabo e da Goa indiana à ilha de Timor, e mais além. Exemplo: a sonoridade oligato no agradecimento dos japoneses tem origem na pronúncia «obrigado» dos marinheiros e evangelizadores lusíadas. Esta exportação linguística constata-se nas múltiplas línguas nativas das ex-colónias africanas, como Cabo Verde e Angola ou Moçambique. Exemplo: a língua kimbundu absorveu a palavra «escola» como xikola,

3 Hermínio DR. Síntese da Disrupção de Dieléctricos Gasosos. Memória EL-11. Luanda: Universidade de Luanda, 1974.

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ouvindo-se «bala sanzala ni xikola ié» quando a população da região de Luanda exprime que «cada aldeia tem a sua escola» 4.

Nesta linha de contaminação interlinguística, a fala portuguesa está a ser invadida pela inglesa. E assiste-se a variados efeitos mutacionais, que deslumbram a ignorância e perturbam a sabedoria. Tudo isto entristece aqueles que sentem a desfibrilhação da identidade, porque tais efeitos mal incentivam quem pugna pelo rigor da expressão daquilo que perpassa na mente. Há traduções que apresentam mudanças designativas totalmente incorrectas, revelando um pernicioso desconhecimento acerca da conveniente adap ação mor o ógica. Exemplo: os jovens investigadores de redes neuronais artificiais falam de ‘memória associativa’ ao traduzirem associative memory da literatura inglesa, quando devem dizer «memória associada»; analogamente, a «derivada» de derivative ou corrente alternada de alternative current. São correcções que se impõem, quanto antes melhor, para que se evite desvirtuar a língua de acolhimento dos novos conceitos.

Encontram-se muitos casos desta deformação da morfologia das palavras, que o tempo consegue atenuar e mesmo eliminar, à medida que o sentimento linguístico exerce os seus estímulos curativos sobre a razão irracionalizada. Exemplo: na década de 1960, difundiu-se o termo americano control, que muitos escreviam ‘control’, tal como pronunciavam, mas a maioria contestava através de ‘controle’, também por justificação fonética (formulação ainda hoje seguida por alguns, inconscientemente e portanto sem contestação), acabando por se normalizar «controlo», em concordância com a verdadeira índole do seu género masculino na língua portuguesa, à semelhança do «protocolo» obtido do protocol britânico, sem qualquer vacilação. E tudo isto aconteceu apesar dos capatazes, nas chamadas do pessoal assalariado para pagamento das jornas semanais, terem empunhado durante séculos o velho «rol» (rôle francês e roll inglês), dispositivo em papel que não conseguiu impor-se no fabrico das normas ao respectivo «escol» de obreiros intelectuais (sendo este último termo derivado de ‘escolha’ e portanto desligado da correspondente élite gaulesa e cream anglófono).

Testemunho esta evolução de desinências pela própria experiência vivida. Em 1965, movido pela esperança de modernizar a sociedade primitiva em que laborava, fundei uma empresa de estudos de mercado designada ‘CE – Controle e Estatística’; em 1970, introduzi a primeira disciplina de ‘Sistemas de Controle’ numa universidade portuguesa, ao propor a reforma curricular da licenciatura em engenharia electrotécnica da Universidade de Luanda, em Angola; mas afirmei definitivamente a área de investigação e educação superior em «Controlo Digital», no ano de 1980, na Universidade Nova de Lisboa, após uma inesperada luta intestina com os que se consideravam donos dos sistemas digitais (por oposição aos clássicos sistemas

4 Domingos Vieira Baião. O Kimbundu Prático ou Guia de Conversação Português-Kimbundu. Luanda: Centro de Estudos Filológicos, 1940.

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analógicos) e ignoravam cem por cento o conteúdo da «Teoria de Controlo», que acabei por instituir em 2004 na mesma universidade.

A inovação da terminologia, às vezes, motiva uma substituição lexical justificada, passando de termos vulgarmente usados para outros de recente importação, e que sejam mais coerentes com a evolução científica. Observam-se várias causas para este fenómeno, sistematizáveis na linha das divisões gramaticais.

Comecemos pela possibilidade de substituição fonética, certamente a menos expressiva, mas que se aponta também a título de ocorrência polissémica. Exemplo: o «prototipo» do inglês proto ype tende para a esdruxulação em «protótipo», à medida que o tempo passa e o termo mais penetra na índole da língua portuguesa. Outro caso semelhante é o logotype, que dantes se referia por «logotipo» e se está a converter em «logótipo» com a melodia dos mais jovens. Por mim, ainda me mantenho nas primeiras

versões, aceitando porém outras cantigas: «ó ai ó linda», embora não consiga atinar com o esgotamento da venda de bilhetes seis meses antes da realização, em Lisboa, do espectáculo musical da banda inglesa U2 (tu também?).

A prática livre de compromissos supra-nacionais permite formular a substituição morfológica para encontrar as melhores coerências linguísticas. De facto, essa independência emocional levou-me a observar, tão atentamente quanto possível, os costumes institucionalizados em várias línguas europeias. Pelo menos, aquelas que procurei dominar pelo estudo e

Talvez ainda aconteça hoje a exportação terminológica de

inspiração lusa. Os investigadores científicos de origem portuguesa, quando emigram já adultos, geram termos inovadores para os

conceitos que descobrem nosvários continentes por onde

se espalham

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através do uso. Tal observação já me conduziu a remar contra a maré da absorção acrítica da língua inglesa, socorrendo-me da francesa. Exemplo: a dificuldade em traduzir hardware e software, bonitos termos no airoso estilo da composição anglo-saxónica, sugeriu a péssima normalização de ‘suporte material’ e ‘suporte lógico’, respectivamente 5; mais adequada é a literalização do francês materiel e logiciel, pelo que se acha conveniente usar «material» nas construções duras, prosseguindo a boa tradição do trabalho operário dos pedreiros portugueses, e «logicial» nas construções macias, insinuando imediatamente a autêntica mecanização lógica nas programações informáticas. É esta a solução que tenho praticado. E não me arrependo.

Como se vê, a comparação de diferentes línguas permite optar pela sugestão mais acertada, se quisermos ser rigorosos na fala. Aliás, costumo recomendar aos profissionais da construção tecnológica portuguesa que desfaçam eventuais dúvidas designativas no confronto com as composições alemãs, geralmente bastante racionais e lógicas (se eles já pensaram sobre o assunto, porque não confrontar as suas propostas?). Exemplo: a caracterização eléctrica de uma bobina ou do respectivo

5 NP 3003-1, 1995. Computadores e Processamento de Informação, Parte 1, CT113, IPQ. Monte de Caparica: Instituto Português da Qualidade, 1995.

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dispositivo indutor efectua-se por intermédio de duas grandezas: uma diz respeito ao parâmetro de qualificação do comportamento indutivo, que costuma ser referido por ‘coeficiente de auto-indução’, ignorando bem o inglês e francês inductance, mas fica bastante melhor a designação «indutividade», conforme a Induktivität germânica 6; outra variável chama-se correctamente «indutância» (repare-se no desaparecimento em português da oclusiva velar ‘c’ por ser consoante surda), pois consiste na grandeza que quantifica a impedância numa dada frequência (vulgarmente a frequência industrial das redes eléctricas), embora costume ser dita ‘impedância indutiva’, seguindo a velha inductive impedance inglesa e impedance inductive francesa. Estão a ver a confusão reinante pelo persistente obsoletismo das línguas geradoras dos conceitos, sem coragem para se renovar? Nós, useiros atrasados na civilização tecnológica, devemos começar a necessária actualização sorvendo a modernidade, para ultrapassar os mais conservadores (geralmente os progenitores, agarrados que estão à sua vivência passada). Deste impulso até resulta a (falsa) convicção de sermos inovadores, não é assim? E isto anima a malta; logo, é o que faz falta (estão, certamente, a adivinhar o meu espírito revolucionário).

Aproveito para recomendar aos novos países de expressão portuguesa que comecem por usar uma base normativa sólida. As normas técnicas, particularmente da linguagem científica e tecnológica, são essenciais à compatibilidade operacional das integrações, originando vantajosas repercussões económicas na produtividade. Exemplo: as redes eléctricas operam à «frequência» (número de ciclos da tensão eléctrica por segundo) de 50 hertz no continente europeu e à frequency de 60 Hz no continente americano, inadequando portanto os equipamentos accionadores do mercado brasileiro às apetecidas infra-estruturas angolanas. A propósito, a «frequência de eventos» (número de ocorrências por segundo) em qualquer actividade humana consiste na ‘taxa de eventos’ traduzida pela event rate inglesa.

Um fundamento sério da actualização das designações reside na substituiçãosemântica, consequente da evolução dos próprios significados dos conteúdos. Exemplo: na última década do século XX, normalizou-se o termo «resistor» (estou certo disso, por ter subscrito a correspondente norma portuguesa 7), que indica um dispositivo eléctrico ou electrónico, à semelhança de muitos outros (como seja, motor, condensador ou transistor), na sequência da convenção inglesa resistor; assim, a palavra resistência, escrita resistance igualmente em francês e inglês (mas com óbvias diferenças orais), que se usou desde o século XIX na dupla acepção de componente tecnológico e quantidade resistiva (no verdadeiro senso quantitativo!), ficou restringida apenas à representação do parâmetro caracterizador da estrutura material. Esta destrinça, que

6 Ibidem 2.

7 NP 60050-131, 2001. «Teoria de Circuitos». Vocabulár o Electrotécnico Internacional, Capítulo 131, CTE1, IPQ. Monte de Caparica: Instituto Português da Qualidade, 2001, 2.ª edição.

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elimina a ambiguidade criada no percurso histórico, demora gerações a concretizar, tanto mais quanto maior for a oposição à inovação pelos educadores dos respectivos públicos (ainda hoje pressionante, incompreensivelmente, nas principais licenciaturas de engenharia nas universidades portuguesas, com nítida responsabilidade dos velhos da Alameda).

Outra causa da renovação dos termos técnicos tem a ver com o predomínio das influências estrangeiras nas recentes gerações. Hoje em dia, assiste-se à substituição de raiz, tendencialmente da base francesa para a inglesa. Exemplo: o tradicional ‘aparelho’ está a ser banido pelo «equipamento», em consequência da mudança de gosto do appareil francês para o equipment inglês; e o seu desempenho tecnológico (mecânico, eléctrico, energético ou outro) deixou de ser avaliado pelo ‘rendimento’, seguindo o tradicional rendement francês, para ser caracterizado pela «eficiência» do inglês efficiency (enquanto «rendimento» fica restrito ao âmbito financeiro, desfazendo a confusão estabelecida nas análises económicas da eficiência tecnológica dos sistemas). Tal mutação lexical parece crescente, prevendo-se uma deslocação da terminologia que facilitará o curso galopante da consumação bilingue (adeus Camões!), mesmo em contra-ciclo à língua espanhola. É claro, isto surge com eventuais definhamentos das genuínas diversidades culturais do mundo ocidental, qual apagão do farol de bom encaminhamento, se nada for feito para desviar o rumo tendencial (valha-nos Cervantes!). Tudo por força da lei do menor esforço, paradigmática do curso livre da natureza.

A adopção directa dos termos importados em Portugal constitui um aportuguesamento que se justifica ou não consoante venha acrescentar ou não um novo significado lexical. O princípio geral a seguir consiste sempre em evitar polissemias inúteis e perturbadoras da compreensão das declarações.

Sou da opinião de que o aportuguesamento justificado de empréstimos linguísticos deve ser feito, e só, quando não existem vocábulos portugueses com o correspondente significado. Exemplo: a máquina «computador», em bom uníssono com o inglês computer, afasta-se do ‘ordenador’ originado em França com ordinateur (perfilhado pelos espanhóis) e distancia-se da ‘calculadora’ indiferenciada no Rechner dos alemães (que se já aventuram pelo Kompüter, aqui ou ali, sobretudo oralmente).

Ainda se justifica o aportuguesamento para desfazer ambiguidades, atribuindo ao neologismo um significado específico e diferenciador de conteúdos distintos. Exemplo: o «exutor» destinado a desenfumar um compartimento com incêndio, do francês exuteur, distingue-se de «exaustor», relativo ao inglês exhau fan, na medida em que este extrai ar viciado do compartimento sem qualquer fogo (embora a legislação

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portuguesa ainda em vigor misture a designação dos equipamentos, de maneira bué confusa 8).

Contudo, condeno o aportuguesamento injustificado, se a importação do termo acontecer quando já existe tradução aceitável, a partir da mesma raiz ou de outra. Nestas condições, para que se amplia o léxico? Exemplo: o «varrimento» do ecrã de um televisor analógico (ainda normalmente usado na recepção dos sinais analógicos emitidos pelas actuais estações televisivas) identifica o scanning inglês dos feixes de electrões num tubo de raios catódicos; mas idêntico efeito de «varrer» pela acção toscan das imagens digitais está a ser banalizado pelo barbarismo ‘scanar’. Para quê? Só por ignorância, desculpável até à revelação da verdade, ao contrário da reprimível teimosia. Com certeza que não será para caracterizar o seu «desempenho», feiosamente dito ‘performance’, com acentuação tónica nasal a fim de distinguir da performance inglesa.

Ainda mais chocante é o aportuguesamento incoerente que se pratica na obediência cega a um erro inglês, geralmente em consequência da evolução histórica, e que nós, muito bem, não seguimos antes. Se a língua inglesa se apresenta incorrecta, reconhecidamente, que ponderação se eleva agora para adoptar tão baixa credibilidade? Apenas o peso da hegemonia latente? Infelizmente, os profissionais portugueses tendem, cada vez mais, a substituir bons termos existentes por novas propostas aportuguesadas nem sempre melhores. Exemplo: o standard inglês corresponde à «norma» portuguesa, cujo corpo constitui a standardization e «normalização», respectivamente, nas duas línguas; por isso, ao definir um valor relativo a uma dada norma como quantificação de referência, os ingleses introduziram o termo normalization (rebuscado do latim na habitual deformação contextual) com o resultado normalized value, sendo em bom português «normação» e «valor normado» 9, ao contrário das incoerentes afirmações de ‘normalização’ e ‘valor normalizado’ com que somos frequentemente brindados. Mas que normalização? Onde está a norma no senso de standard (ou ‘estandarde’ na literalização brasileira)?

Felizmente, nalguns casos consegue-se enfrentar facilmente a tendência para generalizar a asneira. Exemplo: a «tensão» gerada nas redes eléctricas diz-se voltage em inglês, ferindo a regra essencial da terminologia que exclui a derivação das palavras dos nomes de unidades físicas (volt, no caso); por isso, o barbarismo ‘voltagem’ não pegou, apesar de provocar choques de vez em quando; e, também por isso, tem havido esforços internacionais no sentido de mudar a normalização inglesa para tension, mas

8 Hermínio DR. Sopros de Riscos: Teoria e Prática do Controlo de Fumo em Incêndios nos Edifícios. Lisboa: Hader, 2003.

9 NP 2626-101, 1998. «Matemática.» Vocabulário Electro écnico Internacional, Capítulo 101, CTE1, IPQ. Monte de Caparica: Instituto Português da Qualidade, 1998.

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sem sucesso (por oposição americana). Aos dominadores (autênticos conquistadores, no sentido castelhano) custa muito dobrar a língua, não é?

Actualmente, a exportação portuguesa com criação de termos úteis poderá ser rara, dada a ténue força política que Portugal exerce nas relações internacionais, depois de o ‘orgulhosamente sós’ nos ter conduzido ao ‘sozinho pouco orgulhoso’ de último país do primeiro mundo (triste sina, esta de querer e não prover). É claro, outros tomam conta dos palcos mundiais, enquanto lamentamos com saudade tinhosa (lamento dos que tinham e já não têm) o desespero da ‘vidinha’ (tão bem trovada por O´Neill).

Talvez ainda aconteça hoje a exportação terminológica de inspiração lusa. Os investigadores científicos de origem portuguesa, quando emigram já adultos, geram termos inovadores para os conceitos que descobrem nos vários continentes por onde se espalham. Mesmo usando uma língua estrangeira, será implícita a sua fundamentação na língua mãe. Isto aconteceu comigo no fim da década de 1960, ao investigar a disrupção de dieléctricos na Alemanha, tendo criado termos práticos para exprimir fenómenos experimentais. Exemplo: aí publiquei o conceito de Iso eldlinien, que explica a perigosidade destrutiva dos materiais sujeitos a altas tensões eléctricas, devido à intensificação do campo eléctrico pelas heterogeneidades estruturais da matéria 10, obviamente a pensar nas «linhas isocampo», muito mais significativas que as «linhas equipotenciais», expressas por equipotential lines no século XIX pela genial representação de Faraday.

As propostas que tenho feito de novos termos técnicos e científicos, muitos deles com possível exportação, abrangem vários domínios do conhecimento. Um dia farei o inventário dessa criação útil, se conseguir objectivar uma síntese consistente. Por agora, busco as últimas amostras, quer do meu contentamento, quer do meu desapontamento. A investigação na ciência de cognição forçou-me a criar termos teó icos para comunicar ideias novas, naturalmente exportáveis mesmo para a língua de Shakespeare. Exemplo: se intelligence exprime a «inteligência» dos humanos, por significar a leitura mental feita por dentro das situações percepcionadas (inteligente = intel + legente), então intellegence quer dizer a «intelegência» das máquinas, pois estas só elegem respostas por dentro das situações detectadas e a partir de uma leitura por fora (intelegente = intel + elegente, com eleição = e + leitura) 11. Parece oportuno reformar a ‘inteligência artificial’, pois actualmente a artificial inteligence está a ser substituída a nível internacional pela natural computing, outro chavão ambíguo, porquanto a ‘computação natural’ continua a ser uma computação maquínica (embora seja mais refinada que a tradicional), perfeitamente inserível na perspectiva inteligente.

10 M. Beyer, Hermínio DR, N. Meier. Einfluss der Feldverteilung an Spitzenelek roden auf die Ausbildung von Teilentladungen in Polyäthylen. ETZ-A, Bd. 93, August 1972, Berlin: 475-477.

11 Hermínio DR. «Inteligência Humana e Intelegência Tecnológica.» Electricidade 393 (Março-Abril, 2002): 63-69.

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O desapontamento tem a ver com algo que foi criado mas é desaproveitado, como se estivéssemos sempre a inventar a roda. Tal acaba de me acontecer. E vou já contar. É que, relatar a quente, até pode cheirar mais a espontaneidade (além de esturro). Entrou pelo meu gabinete de trabalho adentro um candidato a doutoramento em engenharia de materiais, que aspira investigar o fenómeno de descargas parciais em dieléctricos, tema que foi minha preocupação científica há quase 40 anos no Schering Institut da Universidade de Hannover. A surpresa de rebuscar uma tese amarelecida deixou-me estupefacto e se calhar disse o que não devia. O licenciado e mestre em engenharia de materiais desconhecia várias inovações fixadas na minha juventude, porque só lera publicações em inglês. Mas tentara traduções para dialogar com portugueses. Exemplo: referiu-me o fenómeno de eeing em inglês por ‘canais de destruição’ dos isolantes sólidos – tão longe do meu «arvorejamento» activo, que usei em muitas comunicações científicas 12, apesar de hoje sugerir antes a impressiva «arborescência». O seu espanto

levou-o a despedir-se brusca e apressadamente, deixando-me a reflectir na importância da linguagem nos comportamentos humanos (pela inteligência). O que será significativo para garantir a evolução filogenética da tecnologia? Seguramente, não é o desprezo das ontologias!

Mantenho a negação à anglofonia e à francofonia sempre que se tornem desnecessárias as consequentes alterações em português. Critério de utilidade? Que seja. Se vivo num mundo em competição declarada e ainda não me encontro no espaço universal de ser sem fronteiras, defendo a bonita língua em que me tornei humano. A principal directiva na conduta

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Dentro do âmbito das linguagens específicas, a polissemia técnica complica utilmente a especificação s integrações de múltiplossistemas, cada vez mais frequentes ao nível da

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pessoal é que a criação de termos inúteis nada acrescenta de proveitoso ao colectivo interesse universal. Mas a língua portuguesa, que dizem ser a sexta na ordem de expansão mundial, deve continuar a singularizar as línguas vivas sem repudiar as outras, e muito menos a inglesa. Criteriosamente. Exemplo: input e output são palavras úteis a quem fala em inglês sobre a «entrada» e a «saída» de informação dos sistemas (incluindo os informáticos), correspondentes aos locais entrance e exit de passagem para dentro (também «entrada») e para fora (ainda «saída») das fronteiras sistémicas. Tal diferenciação conceptual em português será uma complexidade inútil. Ora as criações inúteis só complicam; e por isso merecem abandono (quanto rejubilaria se os economistas portugueses percebessem isto!).

Esta inutilidade não se revela sempre tão perversa quanto se possa generalizar. Geralmente, a dinâmica linguística começa por manifestar propostas desnecessárias, mas que acabam por vingar na substituição de vocábulos corriqueiros, gerando o obsoletismo e mais além o arcaísmo. É esta efervescência que dá vida às línguas faladas. No cadinho imenso dos falantes de um idioma podem aparecer diferentes

12 Hermínio DR. «Efeito de Estiramento do Polietileno no Arvorejamento Devido a um Eléctrodo em Ponta». Elect icidade 72 (Julho-Agosto, 1971): 315-322.

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vocabulários específicos, erguendo o problema da duplicação de termos para representar o mesmo conteúdo. Este fenómeno de polissemia, supostamente indesejável nas sociedades que combatem as ambiguidades declarativas, deve ser evitado através de uma normalização eficaz e dinâmica.

A língua lusa não importa termos apenas do inglês, já que o relacionamento vivo dos portugueses acontece com povos de todo o mundo. Os descobrimentos por via marítima fizeram-nos pioneiros da globalização em vésperas da era moderna, convivendo desde então com povos muito diferentes e bastante distantes na geografia e nas falas. Em Portugal, os imigrantes dos países de língua oficial portuguesa continuam a contribuir com motivos de renovação linguística, em processos de polissemia popular, por meio de substituições parciais, quase sempre transitórias. Exemplo: há pouco tempo veio de África o bué são-tomense que é «muito» 13, talvez feito gíria recente no kimbundu, pois só me lembro de ter aprendido iavulu (muito) nos dois anos em que estudei Quimbundo no Instituto Pio XII de Luanda, entre 1967 e 1969. São casos aceitáveis no âmbito popular, geralmente nados e mortos nas modas, como aconteceu aos termos brasileiros expurgados das primeiras telenovelas de maior audiência, que toda a gente repetia desde «os conformes aos finalmentes». Alguém se lembra dos ditos propalados pelo pitoresco ‘sinhozinho Malta’? Tais populismos são inadmissíveis a nível técnico, pelas confusões que podem originar em matérias de grande responsabilidade.

Dentro do âmbito das linguagens específicas, a polissemia técnica complica inutilmente a especificação nas integrações de múltiplos sistemas, cada vez mais frequentes ao nível da complexidade tecnológica. Por isso, será de eliminar tão nefasta prática, recomendando-se seguir a mais estrita observância da normalização em primeira linha (porquanto os termos alternativos entram em segunda linha, conforme pratica o Vocabulário Electrotécnico Internacional da CEI – Comissão Electrotécnica Internacional). Exemplo: o tradicional «êmbolo», enraizado no latim embolus, começou a claudicar com o piston francês e acabou por vergar definitivamente perante o inglês piston, fixando-se hoje em «pistão».

Às vezes, a polissemia popular mistura-se com a técnica, numa coexistência social que aligeira a monotonia das repetições tónicas do discurso. Exemplo: o nome «automóvel», elegante aglutinação (auto + móvel) para designar um veículo que se move por si, diz-se car em terras de Sua Majestade e respectivos súbditos, a partir do latim carrus (curiosamente, a nossa «carruagem» veio do provençal antigo cariatge, que deve ter inspirado a carriage inglesa); agora, e cada vez mais no futuro, por transliteração do inglês dominante, falamos sobretudo do nosso «carro», salvo nos impostos (IA =

13 Academia das Ciências de Lisboa. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Lisboa: Verbo, 2001.

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imposto automóvel, pois não passará pela cabeça de nenhum político mudar para IC = imposto de carro).

Nesta ordem de ideias, a polissemia erudita também não colhe total simpatia. Embora conceda a possibilidade de variar os modos de expressão e não cause prejuízos assinaláveis, convém evitar a dupla articulação, escolhendo aquela que melhor simbolize a ideia representada. Exemplo: a designação do trabalho escrito apresentado a doutoramento, como relato dissertado do trabalho de investigação que o doutorando efectivou, deve ser chamado dissertação, seguindo logicamente o uso francófono de dissertation, em detrimento da incompreensível designação de ‘tese’, hoje tão dita e redita com base no precário termo thesis da linguagem inglesa (oriundo do latim, onde significa proposição defendida em caso de refutação), nitidamente uma forma redutora, visto que aquele objecto descritivo contém, em geral, várias teses defendidas no trabalho científico desenvolvido. Portanto, esta viagem em vaivém nem sequer justifica a hipótese polissémica. A tese como dissertação deve ser para esquecer (embora nos meus convívios recentes só eu não esqueça).

A duplicação de termos para referir conceitos ou objectos concretos é condenada pelos princípios básicos da terminologia. Mas acontece, por vezes. Uma justificação reside em diferentes influências estrangeiras nas várias estruturas sociais portuguesas, provocando uma certa po issemia regional, quer nas distintas regiões do país quer entre países. Exemplo: a fechadura móvel designa-se «cadeado» no Sul de Portugal, a partir do latim catenatu, mas recebe no Norte a preferência por «aloquete» do francês loquet. Esta abundância de termos não origina inconvenientes de maior na vida quotidiana das populações, mas deve ser evitada. Pelo menos, complica o entendimento nos diálogos (Norte-Sul, neste caso).

Em dimensão diferente, o diálogo transatlântico descortina as vulgares diferenças das falas do português no Brasil, claramente sujeito ao americanismo nortenho, enquanto no dizer europeu as influências vêm sobretudo das ilhas britânicas. Exemplo: o comutador que liga e desliga a electricidade em Portugal, vulgarmente considerado ‘interruptor’ (com fraca expressividade das duas funções desempenhadas), traduz o switch britânico, mas equivale à «chave» importada pelos brasileiros da key estados-unidense (helas!, o inglês americano também se individualiza em singularidades regionais).

Já agora, meto a foice em seara alheia, porque me convém desfazer enganos vulgares nalgumas traduções em língua portuguesa. Estou a pensar em polissemias da língua inglesa, impostas pelo desacordo americano. Exemplo: o pulse dos ingleses é impulse entre americanos 14; ambas as designações devem corresponder ao «impulso» português, mas ultimamente tem aparecido um crescente ‘pulso’ (sobretudo entre

14 Ibidem 9.

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físicos, mas também engenheiros de telecomunicações), que me irrita, francamente. Há outros casos deste tipo de retorno à incoerência, talvez por pseudopuristas da língua inglesa (que não querem nada com tudo o que cheire a americano). Que seca!

A polissemia técnica combina-se muito bem com a polissemia regional quando dois espaços geográficos emissores da mesma língua estão afastados do espaço receptor e ambos pretendem exportar comércio. Nestas condições, a terminologia em língua portuguesa poderá penetrar em duplicado na África lusófona, exportada por Portugal e, simultaneamente, também pelo Brasil. Pressente-se logo a confusão potencialmente resultante na maka, que é conversação 15 acalorada na esconfusão assimilada à maneira popular angolana. Será que a saída está na opção pela língua inglesa? Não chega esta ameaça para que os especialistas dos dois lados do Atlântico se aproximem em diálogo de concertação? Ou iremos permanecer na guerra surda até à vitória gloriosa (ou inglória) do mais forte, mesmo sem razão? Infelizmente, há quem defenda que «é a função que faz o órgão», estendendo à linguagem aquilo que até pode ser verdadeiro sexualmente: só a prática vulgar define os termos a usar. Mas que irracionalidade! (se é que há).

De qualquer modo, o predomínio das importações terminológicas de origem inglesa aí está implantado, indubitavelmente. Há que reconhecer esta realidade cultural. O que choca, porém, são os exageros atribuídos (inconscientemente, para ser optimista). Já ouvi referir este «latim do século XXI» como língua franca. Está certo. Uma espécie de esperanto realizado (e nunca dantes imaginado). Por que não adaptar e substituir os termos praticados na fala? Tão fácil será aportuguesar, mesmo termos inúteis que viram úteis, mais tarde ou mais cedo. Exemplo: nos últimos anos, deixou de se falar em «acontecimento» por troca com «evento», que o event britânico foi buscar ao latim eventus e nós agora repegamos animadamente (outra viagem em vaivém, desta vez bem sucedida). De facto, soa melhor trabalhar no «controlo de eventos reais» do que no ‘controlo de acontecimentos’. Só falta verbalizar a acção de ‘eventar’ em lugar de «acontecer». Porque não?

Assim acontece, dir-se-ia à guisa de finalização, como no antigo Canal 2. Lembram-se? Afinal, tudo quanto narrei está sujeito à lei natural do menor esforço. Implacavelmente. Eis a grande constatação: resistir-lhe desgasta, desregula, destrói. E existe sempre outro humano à espera dos despojos, para aproveitar os cacos e fazer um objecto artístico. Será que reside nessa lei a explicação do fim (não desejado) desta inesperada

congeminação sobre importação-exportação terminológica? ■

15 A. de Assis Júnior. Dic onário Kimbundu-Português. Luanda: Argente, Santos & C.ª, L.da (século XX).

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POR UMA ECOLEXICOGRAFIA

MANOEL SOARES DE SARMENTO

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil

Resumo: Esta é uma proposta de criacção de dois novos campos da Lingüística Aplicada e, mais

especificamente, da Ecolingüística, a saber: a Ecolexicologia e a Ecolexicografia. Este artigo

concentra-se em delinear os contornos ontológicos, epistemológicos e metodológicos

respeitantes à Ecolexicografia.

Palavras-Chave: Estudos lexicais e terminológicos; Ecolingüística; Ecolexicologia; Ecolexicografia.

Abstract: This paper aims at presenting two new fields of Applied Linguistics, and specifically of Ecolinguistics, namely, Ecolexicology and Ecolexicography. It proposes ontological, epistemological and methodological bases to create Ecolexicography. Keywords: Lexical and terminological studies; Ecolinguistics; Ecolexicology; Ecolexicography.

Este artigo procura fornecer alguns dados de uma pesquisa que vem sendo realizada na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus de Jequié, assunto também de um estágio de Pós-Doutorado realizado no Centro de Estudos Lexicais e Terminológicos - LEXTERM, do Departamento de Lingüística, Línguas Clássicas e Vernácula, da Universidade de Brasília. O intuito básico é apresentar uma subárea da Ecolingüística, a saber, a ECOLEXICOGRAFIA, proposta primeiramente à Universidade de Graz, na Áustria, no ano de 2000 (cf. Sarmento 2000) e, posteriormente, dada a conhecer no

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livro Colourful Green Ideas (2002), da Peter Lang Verlag, Berna, Suíça, bem como na sociedade Terralingua, no seu boletim Langscape, número 20, aqui já bem mais aumentado. Seguindo, foi apresentada – juntamente com a proposta de criação de uma subárea congênere, a ECOLEXICOLOGIA – ao Centro acima citado. A partir dos morfes formadores destas subáreas, depreende-se que estou atuando no campo das inter-relações entre Lingüística (léxico, «teorização sobre» e «elaborar a obra», ao qual se juntam a pragmática e a semântica) e Ecologia (a metáfora do ecossistema).

Revelo orgulho, alegria e compromisso ao anunciar a proposta de criação desses dois subcampos da Ecolingüística. Orgulho, alegria e compromisso porque nossa ciência tem de se ver às voltas seriamente, na realização de suas discussões e tarefas, com as palavras que usamos, a respeito dos efeitos que elas causam, quais as suas potencialidades para criar, enfraquecer, fortalecer, manter e destruir:

o sistema interno da língua;

a rede ecológica do ser humano, no que tange ao biológico, ao social, ao psicológico etc.;

a rede ecológica dos outros organismos;

e daí a uma rede mais ampla, a saber, do meio ambiente e planetária.

Os novos subcampos propostos foram previstos em um texto que enviei à Universidade de Graz, como já escrevi, durante o Simpósio Österreichische Linguistiktagung 2000: 30 Jahre Sprache und Ökologie. Nos abstracts apresentados ao Simpósio, trataram-se as seguintes ecopalavras: «ecológico», «ecologicamente», «Ecologia», «Ecolingüística», «ecossistema», «eco-alfabetização», «ecossemântica», «ecogrupo», «não-ecológica», e dentre elas apareceram «ecolexicológico» e «Ecolexicografia», propostas para tratarem com palavras

e suas relações com o meio ambiente, na acepção de «meditar sobre» e «gerar tecnologia para», que correspondem enquanto parentesco epistemológico aos estudos lexicais e terminológicos, desenvolvidos pela Lexicologia e pela Terminologia, bem como pela Lexicografia, pela Terminografia, pela Terminótica, entre outras. 1 Neste artigo concentrar-me-ei mais detidamente na Ecolexicografia.

Apresentando algumas asserções que venho propondo, diria o seguinte:

Em primeiro lugar, parece-me que a Ecolexicografia tem de ser trabalhada a partir de uma perspectiva mais ampla que envolve uma Nova Mentalidade por parte de nós falantes do português e de outras línguas. Este «mais ampla» configura-se como uma tomada de posição a fim de realizar uma reviravolta nas nossas concepções

1 Desejando-se examinar algumas pesquisas ecolingüísticas, favor remeter ao seguinte endereço: <http://www-gewi.kfunigraz.ac.at/ed/project/ecoling/doc/ecolinguistics-63.htm>.

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quanto ao nosso lugar enquanto indivíduos e espécie pertencentes ao Planeta Terra, considerando a fundamentabilidade de tudo, à luz da plataforma da Ecologia Profunda, do ecofilósofo norueguês, Arne Naess. 2 O pensamento dele pode ser compreendido como «relacional, não voltado apenas ao humano». Ou seja, uma Ecologia Rasa que trata apenas com coleta de dados, descrição e sua interpretação é útil – mas não suficiente, se não houver uma transformação íntima efetuada por nós humanos no campo pessoal, social, acadêmico, político-financeiro etc. Envolve vivenciarmos uma tentativa de superar a separatividade que grassa na nossa cultura e que atua profundamente nas nossas atitudes internas e externas. Disso é exemplo um paradigma reducionista, mecanicista. Claro que ajuda em certos segmentos dos lidares humanos, mas tem-se mostrado que vem causando uma série de prejuízos, hierarquias perniciosas, domínios de uns sobre os outros de forma danosa, para não falar de um sentimento de esfacelamento, de se perceber e se sentir como

«separado de». Esta é a razão pela qual advogo uma perspectiva integrativa, relacional, traduzível, por exemplo, nas concepções sistêmica, ecológica (e ecologizante) e holística. As concepções sistêmica e ecológica provêem um pano de fundo científico para se realizar essa mudança; a holística provê uma posição de cunho filosófico; e a concepção ecológica tradicional resgata aquilo que o Conhecimento Ecológico Tradicional vem cotidianamente realizando. Venho propondo um «ser-um-com», «ser-o», mais do que «ser-parte-de».

A Ecolingüística é uma

subárea da Lingüística,

especificamente da

Lingüística Aplicada, que

trata com as inter-relações

entre língua e meio

ambiente

Em segundo lugar, postulo o fato de que a filogenia da nossa espécie aponta para o domínio que adquirimos com o fogo, com a roda, com os artefatos, com a linguagem e com o pensamento e daí gerarmos dois caminhos: um para a sobrevivência e outro para a extinção. Este último é entendido em termos das hierarquias e preconceitos que erigimos – das quais o patriarcado, a submissão de um povo por outro, a extinção de espécie causada por nós, a exploração desenfreada das chamadas «riquezas/recursos naturais», em suma, uma dilapidação do Planeta, é testemunha. Mas mais ainda: há uma constante dilapidação da chamada «natureza humana», sendo que a espécie Homo sapiens sapiens, que é também Homo habilis e Homo faber, Homo loquens se torna, em muitos casos, Homo demens. Estes são ensinamentos a mim dados pela Ecologia Social, de Murray Bookchin, bem como pelas fascinantes pesquisas paleoantropológicas da família Leakey. 3

2 O diretório do <http://www.yahoo.com> sobre ecologia profunda é extremamente útil. Confira-se: <http://dir.yahoo.com/Society_and_Culture/Environment_and_Nature/Movements_and_Philosophies/Deep_Ecology/>.

3 Uma bibliografia compreensiva da trajetória científica da família Leakey pode ser encontrada na Internet no site <http://www.lea.fluid.com/resources/r2.jsp>.

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Em terceiro lugar, percebemos que o próprio sistema lingüístico, quando pensado em um sistema autocontido, de per se, em muitos casos, sofre com a quebra de tais «elos integrativos» internos e reflete isso para o Planeta como um todo. Os exemplos de discurso que maximizam ações não-ecológicas são prova disso. A vertente dos estudos lingüísticos chamada «formalista», útil como possa ser, tem enfatizado a língua como um fenômeno autocontido, de per se, diferente da perspectiva funcionalista, visto que enxergam a língua como uma semiose virtual que se atualiza numa semiose realizada num dado contexto de situação.

Mas, o que desencadeia o pensamento de postular uma Ecolexicografia?

A bem dizer, o surgimento da Ecolingüística. Tomem-se alguns dados:

A Ecolingüística é uma subárea da Lingüística, especificamente da Lingüística Aplicada, que trata com as inter-relações entre língua e meio ambiente. Por entender que:

«Ecolinguistics is a new branch of linguistics that investigates the role of language in the development and possible solution of ecological and environmental problems. [and] for this reason, some ecolinguists use the concept of the eco-system metaphorically to refer to the language world systems that they analyse with the help of concepts transferred from biological ecology»,

como nos lembra Roslyn Frank, do Instituto de Estudos Bascos. 4

A Ecolingüística deve ter sido motivada por diversos discursos governamentais, religiosos, empresariais, burocráticos, filosóficos, científicos, do dia-a-dia, que incessantemente utilizam de informações que maximizam a destruição, a opressão, falta de felicidade, extinção de espécies, extinção de línguas, poluição, corrupção, empobrecimento. Um dos casos que este artigo sustenta – e a pesquisa como um todo – é que corremos riscos ao dizermos a respeito da Língua Portuguesa: «falar errado», «vícios de linguagem», «falante nativo não sabe a sua língua», «a língua mais difícil do Mundo» e tantas outras hierarquias e dominações e separações, tantos outros preconceitos, erros lógicos.

Mas talvez essa subárea da nossa ciência tenha sido educada e nutrida por Copérnico, quando ele vê que o nosso Lar é não mais do que um pequeno – maravilhoso – Mundo em um dos cantos da nossa gloriosa Galáxia, a Via Láctea. E, como tal, algo tem de ser feito para preservá-lo. Ou quando Descartes propõe uma nítida separação entre corpo e mente – e isso é uma batalha que os ecolingüistas encaram a todos os momentos, visto que essa filosofia profundamente evoca a possibilidade de negar as realizações mais

4 <http://ibs.lgu.ac.uk/es/def-ecolinguistics.htm>.

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caras do campo, a saber: a tentativa de pensar a língua humana como um fenômeno que se inter-relaciona com o meio ambiente. Essa negação pode ser pensada como uma disjunção entre seres humanos, mente, pensamento, língua, cultura e sociedade, corpo e o meio ambiente – e isso pode ser exemplificado pelo fato de pessoas ainda permanecerem insistindo em uma Ciência «neutra», «racional», «lógica», «objetiva», «matemática», como se aquele/aquela que gera tal conhecimento não fosse humano/humana em seu sentido mais profundo. Talvez tenhamos de nos lembrar de Charles Darwin e de São Francisco de Assis, quando visualizam nos pássaros de céu, no gado que está no campo, nas florestas cobertas de verde e no ar que respiramos, nossos irmãos e nossas irmãs. E temos ainda muito trabalho a desenvolver ao entendermos os problemas criados pelo especiecismo, crescimentismo, racismo, antropocentrismo etc., disseminados no Mundo por uma cultura negativa do –ismo, como Michael Halliday advertiu (cf. Fill 1998).

SURGIMENTO LOCALIZADO DA ECOLINGÜÍSTICA

Os pontos escritos anteriormente podem ser entendidos como uma tentativa de delinear um possível contorno para as idéias e eventos que devem existir previamente, a fim de trazer à luz a Ecolingüística. Contudo, em termos de localização no tempo, sua origem pode ser traçada na década de 70 quando Einar Haugen (Professor Emérito de Estudos Escandinavos) publica A Ecologia da Língua, na Stanford University Press, propondo tratá-la como um fenômeno ecológico, a saber, tratando-a como interações entre qualquer língua e o meio ambiente. Mais tarde, em uma conferência em Tessalônica, Grécia, Michael Halliday admoestou os/as lingüistas a não ignorarem o papel de seu objeto de estudo e o crescimento de problemas ambientais, como Fill mais uma vez enfatiza no seu texto Ecolinguistics – State of the Art 1998. Mas não apenas no âmbito da Ciência, da Filosofia etc. se questionam essas coisas, o nosso dia-a-dia está cheio de tais indagações.

Porém, uma questão historiográfica impõe-se para discussão. Autores há que remetem o surgimento da Ecolingüística para muito antes da década de 70 com Haugen. Remete-se, por exemplo, a Sapir e Whorf, ou a John Trim, em 1959, mas muito antes ainda. 5

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5 Reporto-me neste momento a uma resenha feita por Kevin Hutchings, da University of Southern British Columbia, sobre o livro Green Writing: Romanticism and Ecology, Nova Iorque, 2000, da autoria de James McKusick. Este é pioneiro nas discussões sobre as questões ecológicas elicitadas pelo movimento dos românticos. E o ponto interessante é que o autor cita como «precursors, progenitores, pensadores proto-ecológicos, ecologistas profundos» do movimento ecológico moderno os nomes do período romântico estadunidense e europeu. Cf. <http://www.rc.umd.edu/reviews/mckusick.html>. Porém, bem sabemos como o Romantismo,

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ALGUNS ALVOS DE INVESTIGAÇÃO DA ECOLINGÜÍSTICA

Alguns alvos de investigação da Ecolingüística são:

Tratar a língua em face aos sistemas biológicos diversos e similares;

Realizar a crítica da língua, tanto em termos do par, língua e meio ambiente, bem como de uma crítica ao sistema interno da língua. Assim, o trabalho envolveria os estratos comumente discutidos da língua humana: o léxico, a morfologia, a sintaxe, a semântica etc.;

Ensinar eco-educação, ou seja: propiciar uma educação que se volte às questões ecológicas;

É uma reflexão e um labor

que demandam a utopia

sobre a qual venho falando.

Relembrando:

UTOPIA PARA A

SOBREVIVÊNCIA

INDIVIDUAL E

PLANETÁRIA

Realizar teorização do campo.

Naturalmente o escopo desse excitante campo de estudo engloba ainda:

os problemas respeitantes às línguas em situação de perigo no Mundo; o problema crítico que envolve o/a último/a falante de uma língua; criação, uso, revitalização e morte de uma língua; a questão do preconceito lingüístico; a questão do imperialismo lingüístico;

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não só naqueles países, mas aqui no Brasil também prestou culto à chamada Natureza: o bucólico, o puro, o intocado, o selvagem, o inocente.... Continuando esta ligeira incursão histórica, vem do Monterey Institute of International Studies, na pessoa de Leo van Lier <http://maxkade.miis.edu/Faculty_Pages/lvanlier/ecolang.html> as seguintes informações:

«Early references to an ecological approach can be found in John Trim (1959 and Einar Haugen (1972). Haugen's list of concerns fo an eco ogical linguistics is very broad, encompassing linguistic demography, language shift, dialectology, socio nguistics, ethnolinguistics, and much more. Other researchers have continued this broad range of work ( ee Muhlhausler 1996 for an overview). Recent publications include Makkai (1993), Muhlhau ler (1996), and Skutnabb-Kangas's monumental opus (2000). In most recent work there is a strong critical-theoretical and human rights perspective, focusing on language death, linguistic genocide, linguistic human/educational rights, and language diversity.

Other work analyze the way the environment is talked and written about in the media, politics and business (see further the University of Graz Ecolinguistic website [<http://www-gewi.kfunigraz.ac.at/ed/project/ecoling/>] and a number of contributions to Fill and Muhlhausler 2001).

A number of linguistic theories share family resemblances w th ecological linguistics in several respect , including Harris's integrational linguistics, Halliday's systemic-functional grammar and social semiotics, and the work of William Hanks. In addition, work in situated cognition (Lave, Wenger), discu sive psychology (Harre, Shotter, Kalaja , the psychology, philosophy and ecology of self (Neisser, Rosch, Tomasel o, Gallagher andShear).»

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o planejamento lingüístico; elaboração de textos, glossários, etc. que tratem com o problema da língua e do

meio ambiente; as questões que envolvem língua e paz; as questões sobre Ecolingüística e ensino; a questão da ecologização de línguas e sua contribuição para as Mentalidades; difusão e aplicação da Declaração dos Direitos Lingüísticos. 6

DE QUE TRATA A ECOLEXICOGRAFIA, AFINAL?

Neste momento, diria que a Ecolexicografia tanto pode ser uma ciência quanto uma técnica. No primeiro caso, ela cuida de teorizar sobre a obra ecolexicográfica; no segundo, ela traça os contornos macroestruturais e microestruturais da obra ecolexicográfica e produz tais obras.

A Ecolexicografia não se confunde com a reflexão e o labor lexicográficos empreendidos até o presente momento. Não se confunde, mas também não pode se afastar de tais reflexão e labor, visto que, como venho falando, não proponho uma cisão entre uma e outra. Proponho, sim, um alargamento dos estudos lexicais. E a proposta ganha corpo quando postulo as seguintes proposições:

PRIMEIRA PROPOSIÇÃO. Pensada em termos de dicionários, a Ecolexicografia não é dicionário de Ecologia, nem dicionário «comum» sobre fatos ecológicos. É uma reflexão e um labor que demandam a utopia sobre a qual venho falando. Relembrando:

UTOPIA PARA A SOBREVIVÊNCIA INDIVIDUAL E PLANETÁRIA.

E essa utopia torna-se clara ao propor a microestrutura do verbete ecolexicográfico, o qual não trata apenas com definição e abonação. O procedimento heurístico que norteia os verbetes ecolexicográficos é o seguinte:

6 Desejando-se consultar a Declaração, favor buscar o seguinte endereço eletrônico: <http://www.linguistic-declaration.org/index-gb.htm>. Neste último temos a Declaração em alemão, aragonês, asturiano, bielorusso, galego, japonês, nahuatl, russo, zapoteca, galês e inglês – não em português, o que me parece demandar por parte dos interessados e das interessadas em políticas lingüísticas, a sua tradução. Já o site <http://www.jalt.org/global/26Dec.htm> apresenta-nos uma revisão sobre a Declaração e oferece-nos a possibilidade de lê-la em catalão, francês, inglês e espanhol.

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FIGURA 1. Microestrutura do verbete ecolexicográfico.

Nesta configuração a base da obra ecolexicográfica reside nos:

EFEITOS + RESULTADOS LÓGICOS, e isto remete-me à questão da SOBREVIVÊNCIA a que antes aludi, tema que vem me acompanhando desde 1994. 7

Os EFEITOS compreendem:

• Criativo (EC)

• Mantenedor (EM)

• Fortalecedor (EF)

• Enfraquecedor (EE)

• Destrutivo (ED)

E os RESULTADOS LÓGICOS compreeendem, por exemplo, diversas palavras e expressões da Língua Portuguesa, sendo que a minha utopia é propor uma ecologização das «não-ecológicas». Vejam-se:

BINÁRIO DE OPOSTOS, do tipo «lógica formal», sim, não:

Ecológico e exemplos:

Interconexão hemisférica Isoglossas Biodiversidade Individualidade Dialetos Aceitabilidade na língua Advocacia em defesa das línguas Filhos e filhas da Terra

7 Isso basicamente começou em uma conferência que proferi, em 1994, na abertura de um Curso de Mestrado em Enfermagem, concentração em Saúde Pública, no Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus de Jequié, em convênio com a UNIRIO. A conferência teve o título de Diálogo e Sobrevivência. Por esse tempo começo a levantar um corpus em Língua Portuguesa que me parece favorecer um fenômeno que chamo «ecologização ou desecologização da Língua Portuguesa». Hoje ele contém mais de 600 exemplos.

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Rio de Heráclito Serenidade Paz Ser-um-com-o Tudo está ligado

Não-ecológico e exemplos:

Ferrugem cósmica Falante nativo não fala bem a sua língua Quem são teus pais? («Quem são tuas mães?») Americanos e estadunidenses Individualismo É negro e é... Animais

Preconceito Relógio como metáfora de organismo Qual o papel das palavras

no nosso Mundo (…)

Como uma palavra pode

criar, manter ou destruir

um Mundo?

Terra Universo Ambiente natural enquanto recurso Classismo Dualismo Apenas as pessoas educadas falam corretamente.

TERNÁRIO DE CONFLUÊNCIA, do tipo dialético:

Ecológico ou não-ecológico ao mesmo tempo, implicando o fato de que nem sempre a lógica de opostos é viável e requer-se uma lógica que engloba o «sim, o não e o talvez». Por exemplo, a palavra «lixo» não pode ser classificada como ecológica ou não-ecológica; apenas as ações que dela advém podem fazer uma classificação.

GRADIENTE, implica uma gradiência, uma escalaridade do tipo: «muitíssimo, muito, pouco, pouquíssmo, etc.»

Gradiência +++ <-> - - -

DIALÓGICOS, implica uma conexão do tipo «piscar um olho e mexer nas estrelas», muito bem ilustrado nas pesquisas sobre condições atmosféricas da Teoria do Caos, ou pelos estudos de não-localidade da Física Quântica.

SEGUNDA PROPOSIÇÃO. De outro modo, Ecolexicografia não se confunde com Terminologia ou Terminografia. Aquela trabalha com a noção de «língua comum», ou seja, «não linguagem de especialidade», mas guarda claro parentesco com algo a que venho chamando, a partir da influência sobre mim exercida pelo curso de Lexicografia e Terminografia, oferecido pela Prof.ª Dr.ª Enilde Faulstich, da Universidade de Brasília, uma Ecoterminologia e uma Ecoterminografia. Se se aceita o fato de que é possível haver uma ecometalinguagem (por exemplo, uma ecomorfologia, como postulada pela

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Escola de Estudos Ecolingüísticos de Odense 8, na Dinamarca e que eu próprio falo em termos de ecossílaba, ecotexto, ecoagente, ecofone, ecopalavra etc.) ou ainda algo do tipo «que pode ser encarado por uma Ecoterminologia», por exemplo: cogito ergo sum, da Filosofia, «ambientalismo profundo», na Ecologia, «análise crítica do discurso», na Lingüística, «ecofeminismo», em Política etc. e de que a «linguagem de especialidade» também pode ser encarada do ponto de vista da microestrutura antes aventada, então haveria um limite relativamente claro entre os estudos lexicais e terminológicos, de um lado, e entre os estudos ecolexicais e ecoterminológicos, de outro, mas com muitos pontos de contato. Um deles é a microestrutura do verbete.

TERCEIRA PROPOSIÇÃO. Outro ponto, sobre o qual já venho tocando, é a respeito dos significados que a base eco assumiu ao longo do texto. Não implica apenas o «lado positivo», mas toda a lógica que permeia as minhas propostas. Volto mais uma vez às lógicas atuantes e aos efeitos. Assim, eco não tem o significado apenas positivo de «contribui para a sobrevivência individual e planetária». Eco, na verdade, é um termo neutro para tratar com as lógicas e os efeitos antes aduzidos.

QUARTA PROPOSIÇÃO. Ainda diria que os dados de corpus com os quais a Ecolexicografia deve se ocupar têm de trazer implícito algo do tipo «efeitos eco», «sobrevivência». Se não selecionados a partir desse viés não podem ser observados, descritos e explicados ecolexicológica e ecolexicograficamente. Ou seja, há uma hipótese prévia a circunscrever o âmbito de ação das subáreas.

QUINTA PROPOSIÇÃO. A Ecolexicografia não abandona os estudos lexicográficos (para não dizer lexicológicos) empreendidos até agora: toma-os e alarga as suas fronteiras ao propor uma microestrutura que se constrói, além daquele tradicional, nas LÓGICAS e EFEITOS, sobre os quais falei anteriormente.

SEXTA PROPOSIÇÃO. A tarefa da Ecolexicografia não é apenas observar, descrever e explicar palavras e expressões vistas a partir do viés eco, mas tomar posição sobre os efeitos e resultados lógicos que elas desempenham. Ou seja, estamos trabalhando não apenas com o significado de palavras e expressões, mas a questão dos seus usos, o que nos remete imediatamente ao campo da Pragmática. Em suma, esta subárea propende mais naturalmente ao campo semântico e pragmático do que ao morfossintático e fonológico. Ou seja, é o estrato lexical encarado em termos de significados, usos e efeitos. E, se pensarmos que podemos contribuir com a discussão a respeito de ecologização de línguas humanas, ao nos situarmos claramente sobre os efeitos que a língua causa, então estamos no campo de dizer: «Isso é assim. Isso é assado. Faça. Não faça.»

8 Bang, J. Chr., J. Døør et al. (eds.). Language and Ecology. Eco-Linguistics. Problem , Theorie and Methods. Odense; Bang, Jørgen Chr. & Jørgen Døør. “Eco-Linguistics: a Framework”, in Aila 1993, 31-60; Døør, Jørgen & Jørgen Chr. Bang. “Language, Ecology and Truth - Dialogue and Dialectics” in Fill (ed.) 1996, 17-26.

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QUESTÕES FORMULADAS PELA ECOLEXICOGRAFIA

As seguintes questões são formuladas pela Lexicologia e pela Lexicografia:

Qual o papel das palavras no nosso Mundo, bem como: Como uma palavra pode criar, manter ou destruir um Mundo?

Por extensão, as seguintes questões são cabíveis:

De que modo podem contribuir a Lexicologia e a Lexicografia vigentes para delinear os entornos da Ecolexicologia e da Ecolexicografia?

De igual modo as nossas inúmeras teorias lingüísticas.

De igual modo, os outros conhecimentos intimamente ligados às duas áreas.

A partir do que seja uma «palavra» e uma «expressão», a Ecolexicologia se questionaria a respeito da possibilidade teórica e prática da existência de uma «ecopalavra» e de uma «eco-expressão» e também faria questões do tipo:

Como pode uma palavra ecologizar uma língua e contribuir para as Mentalidades?

Qual o papel de uma ecopalavra no nosso Mundo e quais são as suas potencialidades para criar, manter, fortalecer, enfraquecer e destruir? E ainda:

Uma ecopalavra pode vir a enfraquecer e destruir? Elas são sempre conduzentes à sobrevivência do nosso Mundo?

sendo que adviria daí outra pergunta:

É possível um jogo textual do tipo «palavra – ecologizar», ou o termo verbal exige necessariamente uma «ecopalavra»?

Voltando-me às questões formuladas pela Ecolexicografia e pela Ecolexicologia, diria:

Como alguém pode contribuir para promover palavras ecológicas?

O que devem fazer os/as ecolexicólogos/as e ecolexicógrafos/as (e outros/as) com aquelas palavras que desempenham um papel não-ecológico no nosso Mundo?

Deve haver algum tipo de monitoramento de palavras? Ou seja, as áreas devem apontar para uma Axiologia, uma tomada clara de posição frente àquilo que é «ecológico» ou «não-ecológico»? Quanto de normativo as áreas podem (devem) ser?

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RESUMO METODOLÓGICO: PARADIGMAS, TEORIAS, MÉTODOS, TÉCNICAS E SEMIÓTICAS RESPEITANTES À ECOLEXICOGRAFIA

PARADIGMAS GERAIS (PG)

1. Concepção Dialógica, e daí a Concepção Integrativa (DI) 2. Concepção Política, e daí a Concepção Vitalizadora (para a Sobrevivência), que

caminham lado a lado com a Concepção Educacional e com uma Concepção sobre as Mentalidades, e daí a Proposta de Ecologização da Língua Portuguesa (PVEM)

APORTES NO CONHECIMENTO HUMANO (ACH)

a) Lingüísticos - Lingüística Geral, Ecolingüística, Estudos Lexicais e Terminológicos (LING)

b) Ecológico - Ecologia Geral (ECO) c) Integrativos - Multirreferencialidade, Sistemas, Dialógica, Holística

(INTE) O que devem fazer os/as

ecolexicólogos/as e

ecolexicógrafos/as (e

outros/as) com aquelas

palavras que desempenham

um papel não-ecológico no

nosso Mundo?

d) Filosófico - Identidade, Alteridade, Dialética, Dialógica (FILO) e) Político - Ecologia Social, Ecologia Profunda, Educação,

Mentalidades (POLI) f) Conhecimento Tradicional (TRAD)

CLASSIFICADORES ECOLEXICOGRÁFICOS

1. Obra ecolexicográfica (OELG) 2. Palavras e expressões

SEMIOTIZADORES ECOLEXICOGRÁFICOS (SELG)

1. Definição (DEF) 2. Usos (USO) 3. Ações (AÇ) 4. Estados 5. Processos 6. Fenômenos 7. Sentimentos 8. Sensações 9. Efeitos (EFE)

CLASSIFICADORES LÓGICOS (CL)

a) BINÁRIO DE OPOSTOS (LBO)

Ecológico (Ec) Não-ecológico (N) Ecologizante Não-ecologizante

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b) TERNÁRIO DE CONFLUÊNCIA

Ecológico e não-ecológico (EcN)/Ecologizante e não-ecologizante:

- - - Ação lingüisticamente-disparada (LD) - - - Ação culturalmente-disparada (CD)

c) GRADIENTE

Gradiência +++ <-> ---

d) DIALÓGICO

EFEITOS

Criativo (EC) Mantenedor (EM) Fortalecedor (EF) Enfraquecedor (EE) Destrutivo (ED)

ESFERA DAS VIVÊNCIAS E AÇÕES HUMANAS (EVAH)

Científica Filosófica Artística Espiritual Emocional

Etc. ■

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Acot, P. História da Ecologia. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

Bookchin, Murray. The Philosophy o Social Ecology. Montreal: Black Rose Books, 1990. f

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Faulstich, Enilde. Base Metodológica para Pesquisa em Socioterminologia. Brasília: UnB, 1985.

Fill, Alwin et al. Colourful Green Ideas. Bern: Peter Lang Verlag, 2002.

—. “Ecolinguistics - State of the Art 1998”. In AAA - Arbeiten aus Anglis ik und Amerikanistik, Band 23, Heft 1. Tübingen: Gunter Narr Verlag, 1998.

Lamberti, Flávia Cristina Cruz. Da perpectiva tradicional à variação em terminologia. Dissertação de mestrado. Brasília: UnB.

Leakey, Charles. A evolução da humanidade. Brasília: Editora da UnB.

Oliveira, Ana Maria Pinto Pires e Aparecida Negri Isquerdo (org). As Ciências do Léxico: Lexicologia, Lexicog a ia, Terminologia. Campo Grande: UFMS, 2001;

Rocha, Sandra Lúcia Rodrigues. De uma abordagem funcionalista do léxico do grego antigo: para uma explicação lexicográfica. Dissertação de mestrado Brasília: UnB, 2000.

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Sarmento, Manoel Soares. “Ecolexicography: words and expressions we should live by”. In Österreichische Linguistiktagung 2000: 30 Jahre Sprache und Ökologie. Graz: Graz Universität, 2000.

—. “Ecolexicography: ecological and unecological words and expressions”. In Colourful Green Ideas, Fill, Alwin et al. Bern, Frankfurt, New York, London, Paris, Wien: Peter Lang Verlag, 2002.

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ENTREVISTAL

ENTREVISTA A DELFIM FERREIRA LEÃO, DOCENTE E TRADUTOR EM CULTURA CLÁSSICA

MANUELA PAIVA

Professora e Doutoranda 1

Delfim Ferreira Leão nasceu no Porto, em 1970. É Licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesa pela Universidade de Coimbra, Mestre em Literatura Latina pela mesma Universidade e ainda Doutor em História da Cultura Clássica, também pela Universidade de Coimbra. É Professor Associado (com Agregação a partir de 10 de Dezembro de 2004), desde 2002. Integra a equipa de investigadores da unidade I&D Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH) da Universidade de Coimbra, desde 1993. Publicou quinze livros (alguns em colaboração), várias dezenas de artigos em revistas da especialidade e apresentou cerca de quarenta comunicações em encontros científicos. No âmbito da sua investigação, tem dedicado uma atenção especial à tradução e ao comentário de obras de autores clássicos, tendo-lhe sido atribuído o

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1 Manuela Paiva é Directora-Adjunta da Confluência : Revista de Tradução Científica e Técnica. Endereço para correspondência: <[email protected]>.

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Prémio União Latina / Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, pela tradução da obra de Aristóteles, Constituição dos Atenienses, ex aequo com Paulo Ivo Teixeira.

A propósito deste Prémio, a CONFLUÊNCIAS foi ouvir o Professor Delfim Ferreira Leão.

(CONFLUÊNC AS) Foi galardoado com o Prémio de Tradução Científica e Técnica. Esperava receber este Prémio?

(Delfim Ferreira Leão) A atribuição deste prémio foi, para mim, uma total surpresa, que começou, de resto, quando a Gulbenkian me contactou, solicitando que facultasse o original grego, uma vez que a Constituição tinha sido uma das obras seleccionadas para concurso. Por conseguinte, o facto de todo o processo me ter sido alheio – já que não fiz, pessoalmente, quaisquer diligências no sentido de apresentar uma candidatura – tornou o resultado mais gratificante.

Como surgiu a tradução desta obra?

A tradução desta obra surgiu por convite da Professora Doutora Maria Helena da Rocha Pereira (minha orientadora no Doutoramento e com quem tenho a honra de trabalhar há bastantes anos), que me questionou acerca da minha disponibilidade para desenvolver este projecto para a Gulbenkian, dado que tenho vindo a interessar-me de forma crescente pelas questões de teorização política entre os Gregos.

Quanto tempo demorou a traduzi-la?

A tarefa viria a ocupar-me durante mais de um ano, não porque o original fosse extenso, mas por causa da própria complexidade que envolve a sua interpretação. Eu já conhecia bem esta obra, uma vez que a usara frequentemente no trabalho de investigação e, por isso, a primeira etapa de abordagem ao texto já estava concluída. No entanto, uma coisa é traduzir passos curtos; outra é harmonizar uma tradução completa.

Que método(s) adoptou para a sua tradução?

Entre os instrumentos fundamentais que me auxiliaram encontram-se os melhores (e por vezes bem extensos) comentários críticos ao original, determinantes no trabalho hermenêutico. Não basta saber grego e entender o original; é imprescindível aproximarmo-nos o mais possível das ideias do autor, de forma a procurar garantir uma versão que seja simultaneamente fiel ao original e escorreita em português.

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Que problemas, ao nível da tradução, lhe levantou esta obra?

Um dos primeiros problemas dizia respeito à necessidade de verter para português termos que não existiam no nosso idioma. Não me refiro apenas a nomes próprios, já que neste caso a solução é menos complexa, embora não esteja isenta de escolhas; as dificuldades maiores surgem na altura de traduzir conceitos ou palavras-chave com um significado técnico e usadas, não raras vezes, com uma recorrência que é incomportável num texto em português. Em casos como estes, o tradutor tem de optar entre o uso de paráfrases, de sinónimos, ou entre a premência de introduzir um vocábulo novo. Ora a decisão entre estas várias hipóteses nunca é fácil…

Considera que as traduções das obras clássicas devem ser edições bilingues, isto é, devem ser acompanhadas do original?

A opção por uma edição bilingue depende da natureza do original e do público-alvo. À partida, uma edição bilingue implica pelo menos uma duplicação dos custos (sem contar com os direitos de autor – neste caso, não os de Aristóteles, obviamente, mas os do responsável pela edição crítica usada) e o editor, regra geral, não está disponível para assumir mais encargos. Por outro lado, o público que se interessaria por um original em grego antigo é reduzido e poderá consultar edições feitas no estrangeiro, pelo que a edição bilingue se torna pouco atractiva. No entanto, a situação poderia inverter-se; dou apenas o exemplo de Itália, onde existem inúmeras traduções dos clássicos e

continuam a fazer-se edições bilingues, com custos controlados, que são verdadeiras campeãs de vendas. Em Portugal, estamos muito longe deste cenário. Por outro lado, há casos em que a opção bilingue é praticamente obrigatória, como acontece quando se traduz (e muitas vezes se edita) pela primeira vez documentos originais e desconhecidos mesmo dos especialistas; é o que acontece, por exemplo, com a tradução de textos medievais e renascentistas.

Há fases diferentes no processo

de amadurecimento do trabalho

de tradutor (…) torna-se

fundamental optar apenas por

matérias nas quais vamos

aprofundando o conhecimento e

onde, por esse motivo, o nosso

contributo pode ser mais

pertinente

Quando escolhe, ou aceita propostas de textos para traduzir, selecciona ou aceita apenas os que se encontram no domínio da sua especialidade?

Há fases diferentes no processo de amadurecimento do trabalho de tradutor. Quando se começa, ninguém é especialista, pelo que acabamos por desenvolver os projectos de que outras pessoas nos incumbem, regra geral colegas de trabalho mais experientes, que até se disponibilizam para a tarefa de supervisão. Contudo, à medida que se vai tomando consciência da própria responsabilidade da tradução, torna-se fundamental optar apenas por matérias nas quais vamos aprofundando o conhecimento e onde, por esse motivo, o nosso contributo pode ser mais pertinente.

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Quando traduz, usa metodologias diferentes segundo o(s) público(s) a quem se destinam os textos traduzidos, nomeadamente os especialistas, os estudantes ou o público em geral?

Sem dúvida; não apenas na tradução, mas também nas introduções e notas que geralmente acompanham a versão portuguesa de autores gregos e latinos. Em termos de exigência e seriedade, há que partir sempre do princípio de que o nosso trabalho irá ser avaliado por outros especialistas. No entanto, na versão final, a tradução tem de ir ao encontro do leitor que se pretende atingir. Uma colectânea de textos para estudantes, por exemplo, pressupõe uma variação de estilo maior e, por vezes, a simples transliteração de termos originais, que definem conceitos ou realidades a discutir no seu contexto de produção. Um especialista aprecia, regra geral, notas mais generosas que ultrapassem o simples patamar da alta divulgação. Porém, se a obra se destina ao público em geral e se o editor até optou por eliminar as notas explicativas, a tradução deverá fornecer já, de alguma forma, a chave interpretativa que vai orientar um leitor menos familiarizado com o universo em questão.

Qual a sua opinião sobre as traduções que se fazem em Portugal, na sua área de especialização?

Há, em termos gerais, dois grandes tipos de traduções dos clássicos: as que são feitas a partir do original e as que derivam de traduções existentes já noutras línguas. Este segundo processo não pode, por razões evidentes, ser considerado cientificamente sério, o que não implica necessariamente uma desconsideração objectiva do autor da tradução, que até pode ser um bom profissional; não pode é responder pela exactidão do resultado final, se está a traduzir já em segunda ou terceira mão. Infelizmente, esta opção acaba por ser frequente, com resultados muitas vezes desastrosos, que redundam em verdadeiros atentados à memória do autor.

Como surgiu a tradução no seu percurso profissional?

Antes de mais, por ser uma actividade obrigatória na minha formação académica, quer para o aprofundamento do domínio do grego e do latim, quer ainda para desenvolver projectos de investigação científica. Ao preparar a tese de Mestrado, aprendi imenso com o meu orientador de então (Professor Doutor Walter de Medeiros), mas só depois comecei a traduzir de forma sistemática. Primeiro, em parceria com colegas mais experientes (como aconteceu na versão do livro 6 das Histórias de Heródoto), até ir ganhando autonomia crescente.

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Curiosamente, os prémios de tradução científica e técnica costumam ser atribuídos a especialistas de diferentes áreas, que têm a tradução como segunda actividade. Concorda que só este tipo de especialistas é bom tradutor nas áreas técnicas e científicas?

Penso que não, se bem que essa realidade que referiu seja até compreensível. Um tradutor de profissão faz necessariamente trabalhos de natureza muito variada e o que essa experiência lhe faculta em termos de maleabilidade, acaba por retirar-lho no respeitante à especialização em áreas específicas. Uma pessoa que viva da tradução pode fazer, obviamente, uma versão de excelência de uma obra técnica, mas precisará sempre do apoio de um especialista da área. No caso dos clássicos, o desconhecimento da língua original é o primeiro (e incontornável) óbice.

Que pontos de contacto acha que existem entre a tradução da sua área de especialização (a Cultura Clássica) e a tradução de outras áreas mais técnicas?

Creio que os problemas com que um tradutor se debate são, em termos gerais, sempre os mesmos: a necessidade de conhecer bem a língua original e aquela para a qual se propõe traduzir; a obrigação de verter fielmente uma obra, mas sem ceder tanto ao sentido literal que torne a tradução pesada e hermética; a consciência do peso técnico da terminologia exacta, que não se compadece com opções aproximadas, que imediatamente denunciam a ligeireza de análise. Por outro lado, seria muito difícil a alguém viver unicamente da tradução técnica,

pelo que o arrimo de uma outra actividade principal se torna quase obrigatório.

necessitaríamos mesmo

de uma política de

apoio à tradução

especializada

Que formação deve ter um tradutor que se queira dedicar à tradução da Cultura Clássica?

Antes de mais, tem de dominar as línguas clássicas; de outra forma e na sequência do que atrás se disse, estará apenas a iludir-se a si mesmo e – o que é bem pior! aos leitores; deve possuir ainda um conhecimento consistente do contexto de produção das obras que se propõe abordar.

Inversamente, pensa que os especialistas das diferentes áreas, para serem tradutores, devem ter alguma formação em Tradução?

Colocando a questão ao contrário, é também evidente que um tradutor deve ter alguma formação em Tradução e nas técnicas e múltiplos problemas que acompanham essa actividade.

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Quando lê uma tradução, o que é para si mais importante: a precisão terminológica, a correcção linguística ou outros aspectos?

Tudo é importante numa tradução rigorosa. Uma pessoa que escreve bem, mas tropeça na precisão terminológica, deixa logo um travo de insatisfação no leitor. Contudo, talvez a essência da tradução se possa resumir no esforço de respeito pela elevação do original – e isso implica compreender que nem todos os originais têm igual elevação…

Considera que em Portugal há uma política para a tradução especializada?

Diria apenas que há alguns esforços para promover a tradução especializada, quase sempre em consequência de necessidades científicas ou académicas, circunstância que ajuda a justificar a origem profissional dos responsáveis por essa tradução especializada. No entanto, este tipo de tradução é, regra geral, contrário à massificação, com consequências evidentes no sucesso editorial, pelo que necessitaríamos mesmo de uma política de apoio à tradução especializada, que neste momento seria quase inexistente, se não pudéssemos contar com a Gulbenkian, a Imprensa Nacional, alguns incentivos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e mais uns quantos exemplos louváveis, mas isolados.

Um comentário final ao seu trabalho e ao Prémio que recebeu.

Se há aspecto que este Prémio veio realçar na forma de conduzir o meu trabalho, é o reforço da necessidade de encará-lo com rigor e com seriedade, tendo sempre por fim último a preocupação com a excelência – e não a miragem fugidia dos Prémios.

Muito obrigada pela sua colaboração. ■

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ENTREVISTAL

ENTREVISTA A PAULO IVO CORTEZ TEIXEIRA, DOCENTE E TRADUTOR DE FÍSICA

MANUELA PAIVA

Professora e Doutoranda 1

Paulo Ivo Cortez Teixeira nasceu na Damaia em 1965. É Licenciado em Física pela Universidade de Lisboa, Mestre em Física da Matéria Condensada e Ciência dos Materiais, também pela Universidade de Lisboa, e Doutor (Ph.D.) em Física pela Universidade de Southampton, Reino Unido. É Professor Auxiliar na Faculdade de Engenharia da Universidade Católica Portuguesa, em Sintra, desde 2001. Tem algumas dezenas de trabalhos publicados, nomeadamente artigos em revistas especializadas. Desde 1987 que se dedica à tradução técnica e científica, tendo recebido o Prémio União Latina de Tradução Científica e Técnica em Português (2004), pela tradução da obra Mais Rápido que a Luz, de João Magueijo, ex aequo com Delfim Ferreira Leão.

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1 Manuela Paiva é Directora-Adjunta da Confluência : Revista de Tradução Científica e Técnica. Endereço para correspondência: <[email protected]>.

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A propósito deste Prémio, a CONFLUÊNCIAS foi ouvir o Professor Delfim Ferreira Leão.

(CONFLUÊNC AS) Como surgiu a tradução desta obra?

(Paulo Teixeira) A Gradiva pediu-mo e eu aceitei. Se bem me lembro, falaram-me no livro pela primeira vez em Abril ou Maio de 2002. Naturalmente, despertou-me curiosidade o facto de se tratar de um livro da autoria de um ex-colega meu: ambos nos licenciámos em Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, penso que com 2 anos de intervalo, pelo que eu já conhecia um pouco o João.

Quanto tempo demorou a traduzi-la?

Em Julho ou Agosto enviaram-me as primeiras provas (o livro ainda não tinha saído, nem sequer em inglês) e em Setembro a versão «definitiva» para começar a trabalhar. Terminei em princípios de Março de 2003. Pode acontecer, por vezes (…)

que a comunidade científica e técnica utilize o termo

estrangeiro (normalmente inglês). Nesses casos, parece-

me preferível conservar o termo original em vez de introduzir

um equivalente que seria artificial, no sentido de não

reflectir a prática quotidiana da comunidade

Foi galardoado com o Prémio de Tradução Científica e Técnica. Esperava receber este Prémio?

Bem, eu tinha recebido uma Menção Honrosa, em 2003, pela tradução de O Universo numa Casca de Noz, de Stephen Hawking, de modo que acalentava a esperança de desta vez conseguir o 1.º lugar...

O autor desta obra, Mais Rápido que a Luz, é João Magueijo, que é português. Achou que havia alguma diferença na tradução de uma obra, escrita em inglês, por alguém cuja língua materna é o português?

Não, não notei diferença alguma. O João escreve um inglês lindo. A grande vantagem foi, neste caso, o autor poder rever a tradução.

Que outros problemas, ao nível da tradução, lhe levantou esta obra?

Não houve grandes problemas com linguagem técnica. Houve alguns (pequenos) problemas com o tom muito coloquial, roçando o vernacular, que o João emprega por vezes – e ele recomendou-me expressamente que gostaria que a tradução, mesmo das passagens porventura menos bem-educadas, fosse o mais fiel possível. Foi uma experiência nova para mim, uma vez que os textos científicos não costumam ser tão coloridos.

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Quando escolhe, ou aceita, propostas de textos para traduzir, selecciona ou aceita apenas os que se encontram no domínio da sua especialidade?

Até à data, só me propuseram textos no domínio da Física, quando muito roçando a Matemática. Os textos que eu próprio selecciono são também neste domínio. Não me sinto capaz de traduzir noutras áreas.

No âmbito da sua especialidade (a Física), a necessidade de encontrar termos equivalentes em língua portuguesa ainda é muito frequente?

Sim, ainda acontece com alguma frequência.

Como resolve essas questões? Costuma recorrer a textos escritos noutras línguas ou noutras normas, nomeadamente na norma brasileira?

Normalmente pergunto a colegas, ou recorro a traduções mais antigas para ver como foram traduzidos tal e tal termos. Recorrer a traduções brasileiras é um pouco arriscado: muitas não são muito boas e, além disso, há algumas diferenças de terminologia técnica entre o Brasil e Portugal. Pode acontecer, por vezes que um determinado termo não tenha mesmo tradução corrente, isto é, que a comunidade científica e técnica utilize o termo estrangeiro (normalmente inglês). Nesses casos, parece-me preferível conservar o termo original em vez de introduzir um equivalente que seria artificial, no sentido de não reflectir a prática quotidiana da comunidade. São disto exemplo as designações dos quarks em Física das Partículas.

Quando traduz, usa metodologias diferentes segundo o(s) público(s) a quem se destinam os textos traduzidos, nomeadamente os especialistas, os estudantes ou o público em geral?

Não, a minha metodologia tem sido sempre a mesma. Sou um tradutor completamente artesanal: tenho uns dicionários em casa, pego no livro, sento-me em frente ao computador e começo a trabalhar. Quando é preciso recorro a colegas, ocasionalmente à Internet.

Qual a sua opinião sobre as traduções que se fazem em Portugal, na sua área de especialização?

Felizmente há cada vez mais. Quanto à qualidade, há-as boas e menos boas. Os editores saberão responder melhor do que eu se há ou não dificuldade em encontrar bons tradutores.

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Como surgiu a tradução no seu percurso profissional?

Quando ainda era estudante de licenciatura, um colega (Jorge Buescu, hoje professor de Matemática no Instituto Superior Técnico e bem conhecido nos círculos de divulgação científica) veio perguntar-me se queria fazer a tradução de um capítulo de um livro para a Gradiva. Estava-se em fins de 1986, e o livro chamava-se Planeta Terra: acompanhava a série de televisão do mesmo nome. Fiz o trabalho, a Gradiva gostou e confiou-me um livro inteiro: Superforça, de Paul Davies. Traduzi ainda mais um livro, a Simetria Perfei a, de Heinz Pagels, em colaboração com outro colega (Henrique Leitão, actualmente historiador das ciências e especialista em Pedro Nunes). Depois fui para o Reino Unido fazer o doutoramento e acabei por ficar dez anos fora. Quando regressei, entrei em contacto com a Gradiva e eles deram-me O Universo numa Casca de Noz, de Stephen Hawking, para traduzir. Seguiu-se o livro de João Magueijo, cuja história já

contei. A tradução é, portanto, algo que faço em paralelo com a minha actividade principal de docente e investigador.

Curiosamente, os prémios de tradução científica e técnica costumam ser atribuídos a especialistas de diferentes áreas que têm a tradução como segunda actividade. Concorda que só este tipo de especialistas é bom tradutor nas áreas técnicas e científicas?

Não necessariamente. Mas um não especialista precisaria de estar em contacto estreito com especialistas, para evitar erros óbvios – palavras cujo sentido num contexto técnico é diferente do que têm na linguagem

de todos os dias, como por exemplo «tenacidade». Se uma tradução científica ou técnica for feita por um não especialista, será indispensável que a mesma seja revista por um especialista. O qual, em princípio, deveria ter direito a uma parte de qualquer prémio que a tradução porventura viesse a ganhar...

Um tradutor técnico deve

ter formação técnica

Sim, idealmente os

especialistas em áreas técnicas

deveriam também ter alguma

formação em tradução

Que formação deve ter um tradutor que se queira dedicar à tradução da Física? Inversamente, pensa que os especialistas das diferentes áreas, para serem tradutores, devem ter alguma formação em Tradução?

Um tradutor técnico deve ter formação técnica. Em particular, para traduzir Física tem de se saber Física, pelo menos ao nível de uma licenciatura com um forte conteúdo em Física. Evidentemente, mesmo um especialista nunca sabe tudo – por isso é importante conhecer o meio científico e tecnológico e saber a quem se pode recorrer em caso de dificuldades. Além disso, um tradutor tem de ter muito bons conhecimentos da língua (e da cultura) da qual está a traduzir, uma vez que (mesmo em textos científicos) há muitas subtilezas traiçoeiras e referências culturais que importa não deixar passar ao lado. Não falo já de conhecimentos da língua para a qual está a traduzir, uma vez que me parece óbvio que um tradutor tenha, igualmente, que os possuir. Sim, idealmente os especialistas em áreas técnicas deveriam também ter alguma formação em tradução (eu confesso que não tenho): em particular deveríamos estar mais bem informados

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acerca dos imensos recursos de apoio à tradução (informáticos, etc.) que actualmente existem.

Quando lê uma tradução, o que é para si mais importante: a precisão terminológica, a correcção linguística ou outros aspectos?

Tudo isso. E também que não se note tratar-se de um texto traduzido: idealmente as frases devem fluir naturalmente, como se nunca tivessem existido noutra língua. Na minha opinião um texto deve ser correcto, tanto científica como linguisticamente, mas também deve ser agradável de ler. Idealmente o trabalho do tradutor deve ser invisível: para mim, um bom tradutor é aquele cuja presença passa despercebida.

Considera que em Portugal há uma política para a tradução especializada?

Não sei. Mas também não sei se deveria haver uma. Claramente muitas editoras têm já as suas políticas de tradução especializada, o que é óptimo, porque respondem a necessidades reais. Não sei se se ganharia muito com uma política centralizada.

Um comentário final ao seu trabalho e ao Prémio que recebeu.

Evidentemente gostei muito de ter recebido o prémio e de ver o meu trabalho reconhecido desta maneira. Considero que prémios deste tipo são sempre um incentivo.

Muito obrigada pela sua colaboração. ■

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A TRADUÇÃO DE TEXTOS – DIFICULDADES E PROBLEMAS

LINA GAMEIRO LOPES

Tradutora, Portugal

Qualquer reflexão sobre tradução, na minha opinião, deverá partir sempre do principio de que ela é absolutamente necessária, pois permite ao leitor ler uma obra literária, poética, científica, escrita num idioma que não é o seu, como se do seu se tratasse, produzindo nele quase as mesmas emoções e conhecimento que produz no leitor de obras escritas na língua de partida.

E assim se compreende que, apesar das dificuldades, dúvidas e riscos que se correm em desfigurar textos originais, mesmo com todas as críticas feitas a traduções e tradutores ao longo do tempo, a tradução existiu desde sempre e continuará a existir, como meio de divulgação e transmissão de conhecimento, tornando-o acessível, não apenas a alguns, mas a todos os humanos.

Podemos, então, perguntar o que é a tradução? Muitos estudiosos já responderam a esta pergunta. No meu entender a tradução é, essencialmente, a transposição de uma mensagem escrita numa determinada língua (língua de partida) para uma outra língua ou línguas (língua[s] de chegada), obedecendo a determinada regras linguísticas e extralinguísticas, que podem ser diferentes dependendo de cada época e da sensibilidade e conhecimento dos tradutores. E é este complexo processo de transposição de significados entre sistemas linguísticos, representando realidades diferentes e com especificidades muito próprias, que levanta os mais variados problemas, de natureza cultural, linguística, semântica, estilística, de fidelidade ao texto, entre outros, criando, por vezes, a ideia, ainda que errada, de que a tradução é impossível.

E estes problemas que a tradução levanta surgem, tanto em textos de natureza literária, que colocam o tradutor perante estruturas abertas com múltiplos significados,

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permitindo várias interpretações, coerentes entre si, como em textos de natureza técnica ou científica, apesar de serem mais objectivos e reduzirem o grau de subjectividade e interpretação.

Recentemente estive nas Jornadas de Tradução e Terminologia em Biologia/Imunologia na Universidade de Aveiro, onde foi bastante visível como em textos de natureza científica a forma como devem ser traduzidos determinados termos pode originar tanto desentendimento entre tradutores e investigadores. Por exemplo, como se deve traduzir as células natural killer ou células T helper. Como traduzir natural killer ou helper? Ou como pôr em bom português os termos self e not self, imbuídos de um significado muito próprio dentro do seu contexto, sem perder esse mesmo significado e sem desvirtuar a língua?

Perante estas questões, como deve actuar o tradutor, sabendo ele que tem como missão traduzir e que os cientistas e investigadores – leitores habituais de textos de natureza científica – utilizam normalmente os termos e siglas na língua de origem (inglês)?

como deve actuar o tradutor,

sabendo ele que tem como

missão traduzir e que os

cientistas e investigadores –

leitores habituais de textos de

natureza científica – utilizam

normalmente os termos e

siglas na língua de origem

(inglês)?

Estas questões remetem-nos para uma outra reflexão sobre a pouca investigação em terminologias e, consequentemente, a escassa regulamentação de termos, para que todos possam, de uma forma consensual, utilizar os mesmos. É necessário dar continuidade à criação de mais glossários com uma estrutura mais completa, onde surjam, não apenas os termos e seus correspondentes, mas os conceitos e tradução de pequenos textos, para um melhor entendimento e utilização de quem não é especialista das áreas.

Reportam-nos, também, para a falta de tradutores especializados nas mais variadas áreas técnicas, com conhecimentos profundos das suas especializações, dominando os conceitos para que as traduções sejam feitas com maior rigor e qualidade.

As especializações deveriam começar nas Universidades, ponto de partida para uma formação mais adequada às necessidades deste trabalho, carente de tanta dedicação, estudo e investigação – o que lamentavelmente pouco acontece. Os cursos de tradução, de uma forma geral, teimam em permanecer demasiado generalistas, ignorando que a falta de especialização pode ser, também, um factor de dificuldade de tradução.

Mas quando falamos de dificuldades e problemas, não podemos deixar de fazer referência, ainda que de uma forma muito breve, aos chamados procedimentos técnicos de tradução desenvolvidos por estudiosos da teoria da tradução, como Vinay & Darbelnet, Newmark e, mais recentemente, Heloisa Barbosa, Aubert, Frederico. Estes autores apresentam algumas soluções – a utilização de estrangeirismos, com a explicação do seu significado, que tanto pode ser em rodapé, como diluída no texto, a equivalência, a adaptação, o decalque, entre outros – a que podemos recorrer quando confrontados com lacunas culturais, expressões idiomáticas, palavras cujos vocábulos ou conceitos são desconhecidos na língua de chegada. Estes e outros procedimentos

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técnicos de tradução, embora úteis, não são, no entanto, suficientes para resolver todos os problemas.

A tradução, arte ou magia, para uns, oficio, para outros, apesar das muitas limitações e insuficiências próprias do processo de traduzir, tem, porém, um facto que parece inalterável: continuará a ser um grande desafio para os que a ela se dedicam, tanto ao estudo da teoria como à prática, com o objectivo de a tornar cada vez mais rigorosa e

consciente. ■

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TERMINOLOGIA DA SOLDADURA EM PORTUGUÊS EUROPEU

JOÃO ROQUE DIAS 1

Tradutor Técnico, Lisboa, Portugal

Resumo: A soldadura constitui um dos processos de fabricação mecânica mais utilizado em todo o

mundo. Não é, assim, de estranhar que a terminologia associada a este processo apareça

amiúde em textos da mais diversa natureza, desde as especificações técnicas de

construções mecânicas, até textos em que as referências à soldadura são apenas umas

poucas palavras ou alguns acrónimos.

Para o tradutor, a terminologia da soldadura pode transformar-se numa verdadeira barreira,

por vezes considerada intransponível. A especificidade dos conceitos e do vocabulário da

tecnologia da soldadura e a presença de alguns «falsos amigos» (qual a disciplina que os

não tem?), associada à relativa escassez de fontes terminologógicas em língua portuguesa,

contribuem para as dificuldades normalmente sentidas pelos tradutores não especializados

de raiz na área da engenharia mecânica.

Neste texto são descritos alguns dos processos mais comuns da tecnologia da soldadura,

com os termos em língua inglesa traduzidos para português europeu, ou vice-versa.

Apresentam-se ainda algumas tabelas com a terminologia dos processos e das posições de

soldadura, de modo a permitir a sua descodificação, já que tal terminologia aparece

frequentemente nos textos originais apenas sob a forma de abreviaturas ou acrónimos. No

Glossário de Soldadura, os termos são definidos em inglês, sendo também fornecida a sua

tradução em português europeu.

1 Agradeço ao Professor Doutor Hermínio Duarte-Ramos, pela revisão do original e pertinentes observações e sugestões para o melhoramento deste texto, e ao Steve Dyson, pela tradução do resumo.

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Palavras-chave: Soldadura, terminologia, português europeu

Abstract: "Welding" covers a variety of processes used all over the world for the fabrication of mechanical and structural assemblies. It is hardly surprising then to encounter welding terms, abbreviations and acronyms in a w de range of documents. While a technical specification for mechanical assemblies may be dense with welding terminology, a less technical document may contain just the odd abbreviation or acronym. For the English European Portuguese translator without specialist knowledge, welding terminology can be very challenging. The field's highly specific concepts and vocabulary, not to men ion a number of "false f iends (What field doesn't have its share of false friends?) and the scarcity of reliable resources in Portuguese, add to the difficulties. This paper features passages on basic welding processes in European Portuguese with the English equivalent for each key term. Next, welding processes and posi ions are listed in tables along with the corresponding abbreviations and acronyms in both languages. Finally, the glossary section defines key terms in English and gives their equivalents in European Portuguese. Keywords: Welding, Terminology, European Portuguese

1. O QUE É A SOLDADURA?

A soldadura (welding) é um processo para ligação de peças metálicas por acção do calor, de modo a provocar a coalescência, ou fusão, entre dois ou mais metais. Esta ligação pode ser efectuada com ou sem um metal exterior (metal de adição ou filler metal) ou com ou sem a aplicação de pressão. A ligação resultante (soldadura ou weld) constitui, assim, uma ligação homogénea entre duas ou mais peças metálicas, em que a resistência da junta metálica (welded joint) - entendida, aqui, como a capacidade para suportar acções interiores ou exteriores tendentes a provocar a sua deformação - é igual ou superior à resistência do metal de base (base metal). A resistência (strength) de uma junta soldada só pode ser garantida através de um procedimento (procedure ou specification) e de uma execução correctos, de modo a assegurar a ausência ou a eliminação dos defeitos.

Actualmente, existem mais de 80 processos de soldadura tecnologicamente reconhecidos.

Relativamente ao processo de execução da soldadura, esta pode ser:

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Manual (manual): o avanço da soldadura (welding advance) e a taxa de deposição do metal de adição (melting rate) são controlados manualmente pelo operador. Exemplo: soldadura com eléctrodo revestido.

Semi-automática (semiautomatic): a taxa de deposição do metal de adição é controlada pela máquina, mas o avanço da soldadura é controlado pelo operador. Exemplo, soldadura MIG ou TIG manual.

Automática (automatic): a taxa de deposição do metal de adição e o avanço da soldadura são controlados pela máquina. Exemplo: soldadura MIG ou TIG executada por robôs.

2. PROCESSOS E TERMINOLOGIA DA SOLDADURA

2.1. Distinção entre welding (soldadura) e brazing (brasagem)

A definição de welding (soldadura) foi já dada na nota de apresentação deste texto.

Relativamente a brazing (brasagem ou brasagem à chama), aqui ficam algumas notas:

Soldobrasagem, brasagem ou brasagem forte (por vezes designada, incorrectamente, «soldagem») — B azing, braze welding ou hard solder r

Processo que permite unir peças metálicas com o auxílio de um metal de adição (solda), em estado líquido, com um ponto de fusão inferior ao das peças a soldar; o metal de adição adere ao metal de base, que não participa, por fusão, na constituição da união. Neste processo, a temperatura de fusão do metal de adição é superior a 450 °C (840 °F). A brasagem forte é apenas utilizada em ligações mecânicas. Na soldobrasagem, a deposição do metal de adição é efectuada numa junta, de modo semelhante à soldadura (welding).

Brasagem fraca (por vezes designada, incorrectamente, «soldagem») — Soldering ou soft soldering

Processo que permite unir peças metálicas com o auxílio de um metal de adição, em estado líquido, com um ponto de fusão inferior ao das peças a soldar; o metal de adição adere ao metal de base, que não participa, por fusão, na constituição da união. Neste processo, a temperatura de fusão do metal de adição é inferior a 450 °C (840 °F). A brasagem fraca é utilizada em ligações eléctricas ou electrónicas ou mecânicas.

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2.2. Processos de Soldadura mais Comuns

Soldadura com eléctrodos revestidos (SER) — Shielded Metal-Arc Welding (SMAW), manual metal arc (MMA), também designada stick/covered electrode welding

É o processo de soldadura mais comum, em que a coalescência dos metais é obtida pelo calor produzido por um arco eléctrico (electric arc) mantido entre a ponta de um eléctrodo revestido (covered [flux] electrode/rod) e a superfície do metal de base (base metal). Trata-se de um processo manual com múltiplas aplicações, como a soldadura de estruturas metálicas ou recipientes sob pressão e as operações de manutenção e reparação de componentes mecânicos. O processo SMAW permite a soldadura de aços carbono e inoxidáveis, ferros fundidos, cobre, níquel e alguns tipos de alumínio em todas as posições (all positions). O processo SMAW é portátil, devendo os operadores utilizar EPI (equipamento de protecção individual) (PPE, personal protective equipment) adequado para os olhos e a face (óculos, máscaras ou viseiras) e a pele (luvas e vestuário de couro).

Soldadura com arco e protecção gasosa ou soldadura MIG (MIG/MAG) — Gas Metal Arc Welding (GMAW), Metal Inert Gas (MIG) ou wirefeed welding

Processo de soldadura em que a união dos metais é efectuada pelo calor produzido por um arco eléctrico mantido entre um eléctrodo consumível de metal de adição (fil er metal) e a peça de trabalho (work piece). A protecção da soldadura contra a acção oxidante do ar é efectuada com um gás ou mistura de gases (normalmente o árgon, o dióxido de carbono, misturas diversas com hélio e muitos outros). O processo é portátil e os operadores devem usar EPI adequado.

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Soldadura por Arco com Eléctrodo de Tungsténio com Protecção Gasosa ou Soldadura TIG — Gas Tungsten Arc Welding (GTAW) ou Tugsten Inert Gas (TIG)

Processo de soldadura em que a união dos metais é efectuada pelo seu aquecimento através de um eléctrodo de tungsténio refractário (não consumível) e um banho de fusão (molten/weld pool) constituído pelos materiais a soldar. O processo pode ser efectuado com ou sem metal de adição. Os gases de protecção (shielding gases) utilizados no processo GTAW incluem, normalmente, o árgon, o hélio ou uma mistura destes dois gases. O processo pode ser utilizado em todas as posições (all pos ions). O processo GTAW pode ser manual, semi-automático ou automático e os operadores devem utilizar EPI adequado para os olhos, a face (óculos, máscaras ou viseiras) e a pele (luvas e vestuário de couro).

Soldadura Eléctrica por Arco com Fio Fluxado (SFF) — Flux Cored Arc Welding (FCAW)

Processo de soldadura por arco em que a fusão e ligação dos metais é efectuada por um arco eléctrico mantido entre um fio consumível contínuo e a peça de trabalho. A protecção (shielding) contra a oxidação atmosférica é obtida por meio de um fluxo (flux) contido na alma (core) do eléctrodo. Conforme o fio fluxado utilizado, pode ser necessária protecção adicional por meio de gases.

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Soldadura por Arco Submerso (SAS) — Submerged Arc Welding (SAW)

Processo de soldadura por arco e, pelo menos, um eléctrodo nu (bare electrode). O arco e o eléctrodo são protegidos por uma camada de fluxo granular (granular flux) depositado sobre a peça de trabalho. O eléctrodo é utilizado como metal de adição, sem qualquer aplicação de pressão. Normalmente, o processo SAW é utilizado em soldaduras horizontais ao baixo (fla position) em materiais com espessuras superiores a 19 mm (3/4"). O processo é particularmente indicado para soldaduras automáticas e semi-automáticas. Devido à protecção do fluxo, a protecção dos olhos não é, normalmente, necessária. Durante a picagem (chipping) para remoção da escória (slag removal) é necessária protecção dos olhos adequada.

Soldadura por Electroescória (SEE) — Electroslag Welding (ESW)

Processo de passe único (single-pass process), em que a soldadura continua sem interrupção após ter sido iniciada. O arco eléctrico é apenas necessário no início do processo: o arco aquece um cordão de fluxo granular e forma um banho de escória líquida (molten slag bath) que extingue o arco. Depois, o banho de escória carregado electricamente (de onde o nome «electroescória») resiste à passagem da corrente de soldadura que o atravessa. É esta resistência que aquece a escória (por efeito de Joule) e a mantém no estado de fusão a temperaturas de, aproximadamente, 1930 ºC (3500 ºF). A esta temperatura, o calor da escória é suficiente para manter a fusão contínua do fio de metal de adição, sem a presença de um arco eléctrico. O metal de adição cai sobre o banho de escória em fusão que sobrenada no banho de fusão (molten/weld pool), juntando-se a este.

3. NOMENCLATURA E DESIGNAÇÃO DOS PROCESSOS DE SOLDADURA

Group Grupo

Welding Process Processo de Soldadura

Letter Designation Designação

Designação em português

Carbon Arc Soldadura por arco com eléctrodo de carbono

CAW SEC

Flux Cored Arc Soldadura por arco com fio fluxado

FCAW SFF

Gas Metal Arc Soldadura por arco com protecção gasosa

GMAW MIG/MAG

Gas Tungsten Arc Soldadura por arco com protecção gasosa com eléctrodo de tungsténio

GTAW TIG

Plasma Arc Soldadura por arco com plasma

PAW SP

Shielded Metal Arc Soldadura por arco com eléctrodo revestido

SMAW SER

Stud Arc Soldadura de pernos por arco

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Submerged Arc Soldadura por arco submerso

SAW SAS

Arc welding Soldadura por arco

Diffusion Brazing Brasagem por difusão

DFB (─)

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Dip Brazing Brasagem por imersão

DB (─)

Furnace Brazing Brasagem em forno

FB (─)

Induction Brazing Brasagem por indução

IB (─)

Infrared Brazing Brasagem por infravermelhos

IRB (─)

Resistance Brazing Brasagem por resistência

RB (─)

Torch Brazing Brasagem à chama

TB (─)

Oxyacetylene Welding Soldadura oxiacetilénica

OAW SOA

Oxyhydrogen Welding Soldadura oxhídrica

OHW SOH

Oxyfuel Gas Welding Soldadura oxigás

P essure Gas Weldingr Soldadura por pressão a gás

PGW SPG

Flash Welding Soldadura faiscante

FW SRF

High Frequency Resistance Soldadura por resistência por alta frequência

HFRW SRAF

Percussion Welding Soldadura eléctrica por percussão

PEW SPE

Projection Welding Soldadura por projecção ou bossas

RPW (─)

Resistance-Seam Welding Soldadura por resistência por roletes

RSEW S.ROLETES

Resistance-Spot Welding Soldadura por resistência por pontos

RSW S.PONTOS

Resistance Welding Soldadura por resistência

Upset Welding Soldadura por resistência topo a topo

UW (─)

Cold Pressure Welding Soldadura por pressão a frio

CW SF

Diffusion Welding Soldadura por difusão

DFW SD

Solid State Welding Soldadura de estado sólido

Explosion (Explosive) Welding Soldadura por explosão

EXW SEX

Forge Welding Soldadura por forjagem

FOW S.FORJ

Friction Welding Soldadura por fricção

FRW SFR

Hot Pressure Welding Soldadura por pressão a quente

HPW SPQ

Roll Welding Soldadura longitudinal de tubos por pressão a quente

ROW (─)

Ultrasonic Welding Soldadura por ultrassons

USW S.US

Dip Soldering Brasagem por imersão

DS (─)

Furnace Soldering Brasagem em forno

FS (─)

Induction Soldering Brasagem por indução

IS (─)

Infrared Soldering Brasagem por infravermelhos

IRS (─)

Iron Soldering Brasagem com ferro

INS (─)

Resistance Soldering Brasagem com resistência

RS (─)

Soldering Brasagem fraca (B)

Torch Soldering Brasagem à chama

TS (─)

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Wave Soldering Brasagem por ondulação

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Electron Beam Soldadura por feixe de electrões

EBW SFE

Electroslag Soldadura por electroescória

ESW SEE

Induction Soldadura por indução

IW SI

Laser Beam Soldadura por feixe de laser

LBW SL

Other Welding P ocesses rOutros processos de soldadura

Thermit Soldadura aluminotérmica

TW ST

4. TERMINOLOGIA DAS POSIÇÕES DE SOLDADURA

Posição das soldaduras em bordos chanfrados (G = Groove/Butt Weld)

Posição da Soldadura Welding Position

Posição para Teste Tes Position (ASME) t

Designação EN ISO 6947

Soldadura topo a topo ao baixo Flat, downhand 1G PA

Soldadura em cornija Horizontal-vertical (horizontal position, US) 2G PC

Soldadura vertical ascendente Vertical Upwards Progression PF

Soldadura vertical descendente Vertical Downwards Progre ion ss

3G PG

Soldadura topo a topo ao tecto Overhead 4G PE

Soldadura topo a topo ao baixo com tubo fixo Pipe Fixed Horizontal 5G PF

Soldadura ascendente a 45º em tubo fixo Pipe Fixed @ 45 degrees Upwards 6G HL045

Soldadura descendente a 45º em tubo fixo Pipe Fixed @ 45 degrees Downwards 6G JL045

Posição das soldaduras de ângulo (F = Fillet Weld)

Posição da Soldadura Welding Position

Posição para Teste Tes Position (ASME) t

Designação EN ISO 6947

Soldadura em goteira Flat, downhand (Weld flat joint at 45 degrees) 1F PA

Soldadura em ângulo ao baixo Horizontal-vertical 2F PB

Soldadura em ângulo ao baixo com rotação Horizontal Rotated 2FR PB

Soldadura vertical ascendente Vertical Upwards Progression PF

Soldadura vertical descendente Vertical Downwards Progre ion ss

3F PG

Soldadura em ângulo ao tecto Overhead 4F PD

Soldadura ao baixo em tubo fixo Pipe Fixed Horizontal 5F PF

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5. GLOSSÁRIO DE SOLDADURA

O glossário aqui apresentado (IN PT-PT e PT-PT IN) constitui uma compilação dos alguns termos considerados de maior utilidade para um tradutor que necessite de uma fonte de terminologia de soldadura fiável, para a tradução de documentos técnicos de carácter geral. Para trabalhos de tradução altamente especializada na área da soldadura, o glossário será, manifestamente, insuficiente. Nestes casos, recomendo a consulta dos dicionários do Instituto Internacional de Soldadura (IIW). Devido à data, algo recuada, das suas últimas publicações, a obtenção destes dicionários pode revelar-se uma tarefa quase impossível.

GLOSSÁRIO DE SOLDADURA IN PT-PT

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all positions — todas as posições

Expressão utilizada para definir eléctrodos e processos de soldadura, relativamente à sua adequação para serem utilizados em odas as posições. t

arc blow — distorção do arco, sopragem magnética

Desvio do trajecto normal do arco eléctrico devido à acção das forças magnéticas.

arc eye (UK), eye flash, flash burn (US) — fotoqueratite, fotoqueratoconjuntivite

Irritação do olho provocado pela exposição à radiação (principalmente ultravioleta) emitida por um arco eléctrico.

arc length — comprimento do arco

Distância entre a ponta do eléctrodo (end of the electrode) e o ponto de contacto do arco eléctrico com a superfície da peça de trabalho.

arc strike — marca de escorvamento do arco

Marca criada na peça de trabalho pelo escorvamento do arco.

arc voltage — tensão de arco

Tensão do arco eléctrico utilizado na soldadura.

as welded — em bruto

Estado que define as juntas soldadas e as construções soldadas (welded assemblies, weldments [US]) após a soldadura, antes de quaisquer tratamentos térmicos, mecânicos ou químicos.

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autogenous welding — soldadura autogénea

Método de ligação de duas peças metálicas, através da fusão conjunta dos respectivos bordos, sem adição de outros metais; um exemplo de soldadura autogénea é a soldadura aluminotérmica (thermit welding).

automatic welding, machine welding — soldadura automática

Soldadura com equipamento que efectua a operação de soldadura sem os controlos do processo serem comandados por um operador, mas sob a sua supervisão permanente. O equipamento poderá, ou não, efectuar o carregamento e a descarga da peça de trabalho.

B

back pass — passe de confirmação

Passe de soldadura para depositar um cordão de confirmação (back weld).

backing — cobrejunta

Material ou dispositivo colocado nas costas de uma junta de soldadura (back of theweld) para suportar e reter o metal fundido. Este material ou dispositivo pode ser parcialmente fundido ou permanecer no estado sólido durante a soldadura. A cobrejunta pode ser constituída por uma peça, metálica ou não.

back weld, backing weld, backing run — soldadura de suporte, soldadura de confirmação

Soldadura efectuada nas costas de uma junta de soldadura.

backhand welding — soldadura em ângulo exterior

Soldadura em que o sentido de avanço do cordão é oposto ao da orientação do eléctrodo.

backstep sequence welding — soldadura com passo peregrino

Soldadura em sequência longitudinal, em que os passes de soldadura são efectuados no sentido oposto ao do avanço da soldadura.

bare electrode — eléctrodo nu

Eléctrodo metálico consumível composto por um metal ou uma liga sob a forma de arame, vareta ou barra e que não dispõe de revestimento ou armadura. No entanto, este tipo de eléctrodos podem apresentar um revestimento ou cobertura exterior, apenas para melhorar a sua conservação.

base metal — metal de base

Metal (ou material) destinado a ser soldado, brasado ou cortado.

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bead reading, visual inspection — inspecção visual da soldadura

Processo de inspecção visual do cordão de soldadura, com a finalidade de determinar se a soldadura foi executada correctamente.

blistering — bolha

Saliência localizada na superfície da peça de trabalho, provocada pela dilatação do gás retido na peça e que aumenta de volume devido ao aquecimento.

blowpipe, torch — maçarico

Equipamento destinado a permitir a mistura e combustão de gases para criação de uma chama destinada às operações de soldadura, brasagem, corte térmico, aquecimento e outras operações similares.

buckling — flambagem

Distorção ou deformação da peça de trabalho, provocada pelo calor libertado pela operação de soldadura.

but joint — junta de topo

Junta entre duas peças, com um alinhamento aproximado no mesmo plano.

but ering by welding, buttering — amanteigamento por soldadura

Soldadura efectuada através da deposição de um ou mais cordões estreitos (string beads) ou cordões balanceados (weave beads) sobre uma superfície contínua, com vista a obter, na superfície, propriedades diferentes do metal de base.

C

carbide precipitation, weld decay — precipitação de carbonetos

Fenómeno que ocorre nos aços inoxidáveis austeníticos (austenitic s ainless steels), contendo carbono em solução sobressaturada. Este estado é instável. A agitação do aço durante a soldadura provoca a precipitação do carbono em excesso na solução.

coated electrode, covered electrode — eléctrodo revestido

Eléctrodo compósito de metal de adição constituído por uma alma (core) de metal nu e um revestimento exterior destinado a produzir uma camada de escória (slag layer) sobre o metal a soldar. Os materiais do revestimento destinam-se a proteger a peça da atmosfera ou a desempenhar outras funções como a desoxidação e a estabilização do arco, ou a funcionar como fonte de adições metálicas para a soldadura. O revestimento exterior pode ser aplicado à alma por imersão, projecção, aplicação localizada ou outros métodos semelhantes.

concavity, actual throat thickness — espessura total do cordão

Distância máxima medida na perpendicular entre a face de um cordão de soldadura côncavo e a linha que une os bordos da soldadura (weld toes).

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convexity, excess weld metal, reinforcement — sobreespessura do cordão, convexidade

Distância máxima, medida na perpendicular, entre a face de um cordão de soldadura convexo e a linha de une os bordos da soldadura (weld toes).

coupon plate — cupão, testemunho

Provete de ensaio constituído pela adição de chapas à extremidade de uma soldadura, com a finalidade de se obter uma soldadura adicional que será depois submetida a ensaios diversos.

crater, crater pipe, crater hole — cratera

Na soldadura com arco eléctrico, é uma depressão no final de um cordão de soldadura ou no banho de metal em fusão, que não foi eliminada antes nem durante a deposição dos passes de soldadura subsequentes.

D

dep h of fusion — profundidade da fusão

Altura da zona de fusão no metal de base ou no passe de soldadura anterior, medida a partir da superfície do metal fundido.

drag angle — ângulo exterior do eléctrodo

Ângulo entre o eléctrodo e a peça de trabalho durante a execução de uma soldadura em ângulo exterior (backhand welding).

E

electrode drying oven — estufa de eléctrodos

Dispositivo para manter os eléctrodos SMAW em condições de utilização ideais, nomeadamente, sem humidade ou outras contaminações.

electrode holder — porta-eléctrodos, alicate de soldadura

Dispositivo mecânico para reter e permitir o manuseamento do eléctrodo e a passagem da corrente.

electrogas welding — soldadura por electrogás

Processo semelhante à soldadura por electroescória (elect oslag welding) em termos de conceito e de forma de execução. Em vez da escória, o eléctrodo é fundido por um arco eléctrico encerrado num gás de protecção, de modo semelhante à soldadura MIG/MAG.

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electron beam welding (EBW) — soldadura por feixe de electrões

Processo de soldadura em que o calor, produzido por um feixe de electrões de alta velocidade e concentração, colide com a peça de trabalho. Este processo de soldadura é normalmente efectuado numa câmara de vácuo.

F

fillet weld — soldadura de ângulo, soldadura de corte

Soldadura em que o cordão apresenta uma secção transversal aproximadamente triangular e destinada a juntar duas peças aproximadamente perpendiculares entre si.

fillet weld leg — cateto do cordão de ângulo

Distância entre a raiz da junta (joint root) e o bordo do cordão de uma soldadura de ângulo.

final pass, cover pass, cap pass — cordão/passe final, cordão/passe de vista

O último passe de uma soldadura multipasse (multipass welding).

flat position — posição ao baixo em juntas de topo ou posição com ângulo interior, em soldaduras de ângulo

Posição para execução da soldadura a partir da face superior da junta, com esta aproximadamente na posição horizontal.

flash welding (FW) — soldadura faiscante

Processo de soldadura por resistência (resistance welding) em que a fusão é produzida simultaneamente em toda a área das superfícies de uma junta de topo pelo calor obtido através da passagem da corrente eléctrica entre duas superfícies e pela aplicação de pressão após o aquecimento estar praticamente concluído. Neste processo, verifica-se a expulsão do metal da junta.

flux — fluxo

Composto químico ou mistura de substâncias em forma de pós, pastas ou líquidos. A sua função principal é combinar-se (ou inertizar-se) com os produtos da operação de soldadura que poderiam reduzir as propriedades físicas do metal depositado ou tornar a operação de soldadura difícil ou impossível.

flux cored arc welding (FCAW) — soldadura por arco com fio de fluxo

Processo de soldadura por arco eléctrico em que a coalescência dos metais é obtida pelo seu aquecimento, com um arco eléctrico, entre um eléctrodo metálico consumível contínuo e a peça de trabalho. A protecção da soldadura é proporcionada por um fluxo contido no interior do eléctrodo tubular. Pode ainda existir protecção adicional através de um gás ou uma mistura de gases existente na zona do banho de fusão.

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i

friction stir welding (FSW) — soldadura por fricção linear

Processo de soldadura de estado sólido (solid state welding) bastante recente (1991), em que uma ferramenta cilíndrica com uma cavilha de forma adequada é rodada e lentamente mergulhada na área da junta entre as duas peças metálicas a soldar. O calor produzido pelo atrito entre a ferramenta de soldadura (de elevada resistência ao desgaste) e o material a soldar provoca o amolecimento desse material, sem, contudo, atingir a temperatura de fusão, e permite o avanço da ferramenta ao longo da linha da soldadura. Este processo não produz arco eléctrico, fumos ou salpicos.

G

gas pocket, gas cavity, blowhole — poro

Descontinuidade do metal base do tipo cavidade (normalmente superior a 1,5 mm) formada pela retenção de gases durante a solidificação do metal fundido.

goug ng, edge beveling — chanfragem

Criação de um chanfro (bevel) ou de uma garganta (groove), através da remoção de material por meios mecânicos ou por arco eléctrico.

groove weld — soldadura em bordos chanfrados

Soldadura efectuada numa garganta/junta chanfrada existente nos bordos das peças a soldar.

H

hand shield — máscara de soldadura manual

Dispositivo utilizado nas soldaduras por arco para proteger a face e o pescoço do operador. A máscara está equipada com filtros de vidro e é mantida manualmente pelo operador na posição desejada.

heat-affected zone (HAZ) — zona afectada por calor

Zona do metal de base que não sofreu fusão, mas cujas propriedades mecânicas ou microestrutura foram alteradas pelo calor utilizado no processo de soldadura, brasagem ou corte térmico.

horizontal position — soldadura horizontal ao baixo:

(a) fillet weld — soldadura de ângulo

Posição da soldadura efectuada na face superior de uma superfície aproximadamente horizontal e contra uma superfície aproximadamente vertical.

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I

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(b) groove weld — soldadura em bordos chanfrados

Posição de soldadura em que o eixo da soldadura se encontra num plano aproximadamente horizontal e cuja face se encontra num plano aproximadamente vertical.

I

induction welding ( W) — soldadura por indução

Processo de soldadura em que o calor é obtido pela resistência das peças de trabalho à passagem do fluxo de corrente de alta frequência (induced high frequency welding, IHFW) ou de baixa frequência (induced low frequency welding, ILFW), com a aplicação simultânea de pressão. O efeito da corrente é concentrar o calor na zona desejada.

J

jig — posicionador, cércea de montagem

Dispositivo de utilização temporária ou permanente destinado a posicionar ou a imobilizar as peças durante a soldadura ou as operações subsequentes.

jo n — junta, preparação

Forma da garganta ou a própria junta/garganta entre os elementos a serem soldados.

joint penetra ion — penetração na junta

Profundidade da soldadura, desde a sua face exterior até ao interior da junta, sem considerar a soldadura utilizada como sobreespessura (reinforcement).

K

keyhole welding — soldadura capilar

Soldadura em que o alargamento da raiz (o keyhole) é “transportado” na frente do banho em fusão.

L

lap joint — junta sobreposta

Junta existente entre dois elementos sobrepostos em planos paralelos.

leading edge — bordo de avanço

Bordo dianteiro do banho de fusão, considerando o sentido de avanço da soldadura.

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M

manual welding — soldadura manual

Operação de soldadura totalmente executada e controlada à mão.

melting coefficient — coeficiente de fusão

Taxa de fusão por unidade de corrente de um eléctrodo ou fio de soldadura.

melting rate, burn-off rate — taxa/velocidade de deposição

Massa ou comprimento de eléctrodo depositado numa unidade de tempo.

multipass welding — soldadura multipasse

Soldadura executada através da deposição de múltiplos cordões de soldadura.

N

nick break test — ensaio de textura, ensaio de compacidade

Método para verificação da qualidade das soldaduras em que é efectuado um pequeno entalhe em ambas as extremidades da soldadura, seguido de uma pancada seca no provete para fracturar a soldadura. A detecção dos defeitos é efectuada por inspecção visual.

O

open circuit voltage — tensão em vazio

Tensão entre os terminais de saída de uma máquina de soldadura, quando não existe fluxo de corrente no circuito.

out of position weld — soldadura à posição, soldadura em posição

Soldadura executada na posição vertical, horizontal ou ao tecto.

overhead position — posição ao tecto

Posição da soldadura quando esta é executada a partir da face inferior da junta.

overlap — desbordo

Saliência do metal da soldadura para além dos bordos ou da raiz da soldadura.

P

peel test, slug test — ensaio de rebentamento de pontos

Método de ensaio destrutivo, em que uma junta sobreposta é separada mecanicamente através do arrancamento de ambas as peças.

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peening — martelagem

Trabalho dos metais, executado por golpes de martelo. Esta operação tende a distender a superfície do metal frio, com vista a relaxar as tensões de contracção.

penetration weld — soldadura com penetração total

Soldadura que penetrou na totalidade da espessura da peça de trabalho.

plasma arc welding (PAW) — soldadura por plasma

Um plasma é um gás ionizado (devido ao seu aquecimento a temperaturas extremamente elevadas), de modo a tornar-se electricamente condutor. Semelhante ao processo GTAW (TIG), na soldadura por plasma, este é utilizado para transferir um arco eléctrico para a peça de trabalho. Numa tocha de soldadura por plasma, um eléctrodo de tungsténio encontra-se localizado no interior de um bocal de cobre (copper nozzle) com uma pequena abertura na extremidade. Um arco piloto é estabelecido entre o eléctrodo da tocha e a ponta do bocal. Este arco é depois transferido para o metal a soldar.

pore — poro esférico

Descontinuidade do metal base do tipo cavidade (normalmente inferior a 1,5 mm) formada pela retenção de gases durante a solidificação do metal fundido.

post heating — tratamento térmico pós-soldadura

Aplicação de calor a uma peça soldada após a operação de soldadura, brasagem, corte térmico ou outra.

pre heating — pré-aquecimento

Aplicação de calor ao metal de base, imediatamente antes de uma operação de soldadura, brasagem, corte térmico ou outra.

projection welding (RPW) — soldadura por projecção ou bossas

Processo de soldadura por resistência em que a coalescência dos metais é obtida através do calor produzido pela resistência à passagem da corrente eléctrica nas peças de trabalho, com aplicação de pressão pelos eléctrodos. As soldaduras resultantes ficam localizadas em pontos pré-determinados, através de saliências, depressões ou intersecções entre as peças.

R

radiographic examination, inspection — controlo radiográfico

Utilização de energia radiante, sobre a forma de raios X ou raios gama, para o exame não destrutivo das peças metálicas e juntas de soldadura.

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i

reinforcement weld — sobreespessura da soldadura

Excesso de metal de soldadura depositado acima da superfície de duas chapas topo a topo, relativamente à quantidade necessária para as dimensões especificadas da soldadura.

resistance welding (RW) — soldadura por resistência

Na soldadura por resistência, os metais são ligados sem adição de metal através da aplicação de pressão e de corrente eléctrica na zona a soldar. A quantidade de calor depende da resistência eléctrica na zona da soldadura.

root opening (US), root gap width — folga na raiz

Afastamento das peças de trabalho, medido na raiz da junta.

root penetration — penetração na raiz

Profundidade da soldadura na junta da raiz.

root run — passe de raiz

O primeiro cordão ou passe executado na raiz da junta, no caso de uma soldadura multipasse.

S

scarf joint assembly — ligação topo a topo com bordos inclinados

Junta em que a soldadura se encontra inclinada relativamente ao eixo das peças a soldar.

scarf weld, scarf ng weld — soldadura topo a topo burilada

Junta obtida pela sobreposição e soldadura de bordos burilados (scarfed ends).

scarfing, desurfacing — limpeza de defeitos, à máquina

Remoção superficial de material em pranchões (blooms), lingotes (billets) ou pranchas (slabs) através de corte térmico à maquina.

seal weld — soldadura de selagem

Soldadura destinada a conferir estanquecidade a uma junta, através da execução de uma soldadura de confirmação na face posterior (costas) da junta.

seam welding, resistance-seam welding (RSEW) — soldadura por resistência contínua

Processo amplamente utilizado em costuras de soldadura estanques em chapas metálicas de reduzida espessura. A soldadura é do tipo contínuo, executada por eléctrodos circulares em peças com os bordos normalmente sobrepostos.

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semiautomatic arc welding — soldadura semi-automática por arco

Soldadura por arco eléctrico executada com equipamento que controla apenas a alimentação do metal de adição. O manuseamento da tocha e o avanço da soldadura são executados manualmente.

shrinkage cavity — rechupe

Cavidade produzida pela retracção do metal durante a solidificação, quando ainda se encontra no estado plástico. Também microchupado (microshrinkage).

slag inclusion — inclusão de escória

Retenção de material não metálico sólido no metal da soldadura ou entre esta e o metal de base.

soldering, soft soldering — Brasagem fraca (por vezes designada, incorrectamente, «soldagem»)

Processo que permite unir peças metálicas com o auxílio de um metal de adição, em estado líquido, com um ponto de fusão inferior ao das peças a soldar; o metal de adição adere ao metal de base, que não participa, por fusão, na constituição da união. Neste processo, a temperatura de fusão do metal de adição é inferior a 450 ºC (840 ºF). A brasagem fraca é utilizada em ligações eléctricas ou electrónicas ou mecânicas.

sol d state welding (SSW) — soldadura de estado sólido

Grupo de processos de soldadura em que a coalescência é produzida a temperaturas inferiores à temperatura de fusão dos materiais de base, sem a adição de metal de adição, ou solda. Neste tipo de soldadura, a pressão pode, ou não, ser utilizada. O mais antigo de todos os processos de soldadura, a soldadura por forjagem (forge welding), pertence a este grupo.

spatter — salpicos

Partículas metálicas expelidas da zona de soldadura durante a soldadura por fusão, que não fazem parte da soldadura.

spo welding, resistance-spot welding (RSW) — soldadura por pontos

O mais conhecido dos processos de soldadura por resistência. Muito utilizado para soldar chapas metálicas de reduzida espessura. A soldadura é descontínua e é limitada a um ou diversos pontos, com as duas peças de trabalho normalmente sobrepostas.

stress relief heat treatment — tratamento térmico de relaxação de tensões

Aquecimento uniforme de uma estrutura (ou parte de uma estrutura) até uma temperatura suficiente para aliviar a maior parte das tensões residuais. Após o aquecimento, a peça tratada é arrefecida, também de modo uniforme e controlado.

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str nger bead — cordão estreito

Cordão de soldadura executado sem um movimento de balanceamento muito acentuado.

surfacing, cladding — chapeamento por soldadura

Deposição de metal de adição na superfície de uma peça metálica, com a finalidade de lhe conferir determinadas propriedades e dimensões.

T

tack weld — pingo de soldadura, pingagem dos bordos

Soldadura destinada a imobilizar as peças de uma construção soldada num determinado alinhamento, até à execução das soldaduras definitivas.

tap — tomada

Contacto eléctrico no circuito de saída de uma máquina de soldadura por resistência. Cada tomada permite enviar, para os eléctrodos, uma intensidade de corrente diferente.

thermit welding — soldadura aluminotérmica

Processo de soldadura em que o metal de adição é obtido através de uma reacção exotérmica entre uma mistura de pós de óxido de ferro e de alumínio (i.e., o óxido de ferro é reduzido pelo alumínio). A temperatura resultante desta reacção é de, aproximadamente, 2500 °C. Os bordos das peças a soldar são encerrados num molde (mold) e a carga reactiva é colocada num cadinho (crucible) localizado imediatamente acima da junta. Como a temperatura do processo é, aproximadamente, o dobro da temperatura de fusão do metal de base, obtém-se a fusão dos bordos através do metal fundido contido no cadinho. A perda de calor natural conduz à solidificação da massa de metal fundido, a coalescência dos metais é efectuada e a soldadura é, assim, concluída. A soldadura aluminotérmica é apenas executada em modo automático: uma vez desencadeada a reacção, esta prossegue até à sua conclusão.

throa o a fillet weld — espessura de um cordão de ângulo:

(a) theoretical throat (US), design throat (UK) — espessura útil

Distância entre o início da junta perpendicular à hipotenusa do maior triângulo rectângulo que possa ser inscrito na secção transversal da soldadura. Esta dimensão pressupõe uma folga nula na raiz.

(b) actual throat — espessura total

A menor distância entre a raiz da soldadura e a face de uma soldadura de ângulo.

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(c) effective throat — espessura efectiva

A distância mínima (excluindo a convexidade, ou sobreespessura do cordão) entre a raiz da soldadura e a face de uma soldadura de ângulo.

torch — tocha

Dispositivo utilizado principalmente em soldadura TIG ou corte por plasma destinado a controlar o posicionamento do eléctrodo, a transferir a corrente eléctrica e a dirigir o fluxo do gás de protecção ou do plasma.

torch brazing (TB) — brasagem à chama

Processo de brasagem, em que a ligação é produzida com uma chama de gás e um metal de adição não-ferroso com uma temperatura de fusão superior a 427 °C (800 °F), mas inferior à temperatura de fusão do metal de base. O metal de adição é depositado na junta por atracção capilar (capillary attract on).

transferred arc — arco transferido

Arco existente e mantido entre o eléctrodo e a peça de trabalho.

tungsten elect ode — eléctrodo de tungsténio

Eléctrodo refractário (não consumível) fabricado principalmente de tungsténio, utilizado na soldadura por arco ou corte térmico.

U

underbead crack — fissura sob cordão

Fissura existente na zona afectada por calor, sem se estender até à superfície do metal de base.

undercut — bordos queimados

Depressão resultante da fusão do metal de base junto aos bordos da soldadura (weld toes) ou à raiz da soldadura (weld root) e não preenchida pelo metal da soldadura.

V

vertical position — posição vertical

Posição de soldadura em que o eixo desta é aproximadamente vertical.

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W

weave bead, crescent-shaped bead — cordão balanceado

Cordão de soldadura executado com movimentos curvos laterais da tocha de soldadura ou do porta-eléctrodos, em simultâneo com o movimento de avanço da soldadura. Este tipo de movimento dá origem a um cordão com uma maior largura.

weld — soldadura

Coalescência localizada dos metais ou não-metais produzida pelo aquecimento dos metais até à temperatura de soldadura, com ou sem a aplicação de pressão entre as peças, ou pela aplicação exclusiva de pressão e com ou sem a utilização de metal de adição.

weld face — face da soldadura

Superfície exposta da soldadura, no mesmo lado da sua execução.

weld metal — metal fundido da junta

Parte da junta soldada em que se verificou a fusão provocada pela soldadura.

weld pass — passe de soldadura

Progressão singular da soldadura ou chapeamento por soldadura ao longo de uma junta ou substrato. O resultado desta progressão é designado cordão de soldadura (weld bead, layer ou spray deposit).

weld pool, molten pool, mol en weld pool — banho de fusão

Volume localizado de metal fundido numa soldadura, antes da sua solidificação como metal de soldadura.

weld root — raiz da soldadura

Pontos da secção transversal em que as costas de uma soldadura intersectam as superfícies do metal de base.

weld size — dimensões do cordão de soldadura:

(a) groove weld size — dimensões da junta chanfrada ou de bordos chanfrados

Penetração da soldadura numa soldadura em bordos chanfrados.

(b) fillet weld size — dimensões da junta de ângulo

Em cordões de lados iguais (equal leg fillet welds), os comprimentos dos catetos do maior triângulo isósceles que possa ser inscrito na secção transversal da soldadura. Para cordões de lados desiguais, os comprimentos dos catetos do maior triângulo rectângulo que possa ser inscrito na secção transversal da soldadura.

weld toe — concordância da junta

Linha de contacto entre a face da soldadura e o metal de base.

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welding gun — tocha de soldadura

Designação normalmente utilizada para a tocha de soldadura MIG (GMAW).

welding procedure — procedimento de soldadura, caderno de soldadura

Segundo a AWS (American Welding Society), é a «pormenorização dos métodos e práticas, incluindo todos os procedimentos de soldadura, envolvidos na produção de uma construção soldada». Deve conter informação sobre os materiais a soldar, o tipo de preparação das juntas, os pré ou pós-tratamentos térmicos a realizar às peças, os eléctrodos ou metal de adição a utilizar, o equipamento de soldadura e a respectiva regulação, a sequência das operações, etc.

welding rod — eléctrodo de soldadura

Metal de adição sobre a forma de fio ou vareta utilizado nos processos de soldadura a gás e nos processos de soldadura com arco, em que o eléctrodo não sirva como fonte de metal de adição.

weldment — construção soldada

Conjunto funcional, cujos componentes foram ligados através de soldadura.

worm hole — inclusão vermicular

Cavidade de forma alongada ou tubular existente no metal base formada pela retenção de gases durante a solidificação do metal fundido.

wrapped electrode welding, impregnated-tape metal-arc welding — soldadura com eléctrodo armado

Processo de soldadura com arco, em que a fusão é produzida por um arco eléctrico entre o eléctrodo de metal e a peça de trabalho. A protecção é assegurada através da decomposição de uma armadura (impregnated tape) que envolve o eléctrodo e é introduzida no arco. Neste processo não é utilizada pressão e o metal de adição é fornecido pelo eléctrodo.

GLOSSÁRIO DE SOLDADURA PT-PT IN

A

amanteigamento por soldadura — buttering by welding, butter ng i

A weld caused by one or more string or weave beads laid down on an unbroken surface to obtain properties different from those of the parent metal.

ângulo exterior do eléctrodo — drag angle

The angle between the electrode and the workpiece when backhand welding.

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arco transferido — transferred arc

An arc that is established and maintained between the electrode and the workpiece.

B

banho de fusão — weld pool, molten pool, mol en weld pool

The localized volume of molten metal in a weld prior to its solidification as weld metal.

bolha, s.f. — blistering

Bulge on the workpiece surface caused by the expansion of gas entrapped within a member and which expanded due to heating.

bordo de avanço — leading edge

The forward edge of the weld pool.

bordos queimados — undercut

A groove melted into the base metal adjacent to the weld toe or weld root and left unfilled by weld metal.

brasagem, s.f. — razing (B)

A group of welding processes in which a groove, fillet, lap, or flange joint is bonded using a nonferrous filler metal having a melting point above 840 ºF (450 ºC), but below that of the base metals. Filler metal is distributed in the joint by capillary attraction.

brasagem à chama — torch brazing (TB)

Brazing process, in which bonding is produced by heating with a gas flame and by using a nonferrous filler metal having a melting point above 800 ºF (427 ºC), but below that of the base metal. The filler metal is distributed in the joint by capillarity.

brasagem fraca — soldering

A group of joining processes which produce coalescence of materials by heating them to a suitable temperature and by using a filler metal having a liquidus (liquidus) not exceeding 840 ºF (450 ºC) and below the solidus (solidus) of the base materials. The filler metal is distributed between the closely fitted surfaces of the joint by capillary attraction.

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f

r

C

cateto do cordão de ângulo — illet weld leg

The distance from the joint root to the toe of the fillet weld.

chanfragem, s.f. — gouging, edge beveling (US), edge bevelling (UK)

The forming of a bevel (chanfro) or groove (garganta) by removing material mechanically or with an electric arc process such as plasma gouging or arc gouging.

chapeamento por soldadura — surfacing, cladding

The deposition of a filler metal on a metal surface to obtain desired properties or dimensions.

cobrejunta, s.f. — backing

A material or device placed against the back side of the joint, or at both sides of a weld in electroslag (electroescória) and electrogas (electrogás) welding, to support and retain molten weld metal. The material may be partially fused or remain unfused during welding and may be either metal or nonmetal.

coeficiente de fusão — melting coefficient

Melting rate per unit current of an electrode or wire.

comprimento do arco — arc length

The distance from the end of the electrode (ponta do eléct odo) to the point where the arc makes contact with the work surface.

concordância da junta — weld toe

The junction of the weld face and the base metal.

controlo radiográfico — radiographic examination, inspection

The use of X-rays or gamma rays for the non-destructive examination of metals.

construção soldada — weldment

An assembly whose component parts are joined by welding.

cordão balanceado — weave bead, crescent-shaped bead

A bead created by curved side-to-side motion of the welding torch or electrode holder while, at the same time, moving forward. This creates a wider bead.

cordão estreito — stringer bead

A type of weld bead made without appreciable weaving motion.

cordão/passe final, cordão/passe de vista — final pass, cover pass, cap pass

The last pass in a multipass welding.

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l

cratera, s.f. — crater, crater pipe, crater hole

In arc welding, a depression at the termination of a weld bead or in the molten weld pool and not eliminated before or during the deposition of subsequent weld passes.

cupão, s.m., testemunho, s.m. — coupon p ate

A test piece made by adding plates to the end of a joint to give an extension of the weld for test purposes. This term is usually used in the shipbuilding industry.

D

desbordo, s.m. — overlap

The protrusion of weld metal beyond the weld toe or weld root.

dimensões do cordão de soldadura — weld size:

(a) dimensões da junta chanfrada ou de bordos chanfrados — groove weld size

The joint penetration of a groove weld.

(b) dimensões da junta de ângulo — fillet weld size

For equal leg fillet welds (cordões de lados iguais), the leg lengths of the largest right isosceles triangle which can be inscribed within the fillet weld cross section. For unequal leg fillet welds, the leg lengths of the largest right triangle that can be inscribed within the fillet weld cross section.

distorção do arco, sopragem magnética — arc blow

The deflection of an electric arc from its normal path by magnetic forces.

E

eléctrodo de soldadura — welding rod

Filler metal in wire or rod form, used in gas welding and brazing processes and in those arc welding processes in which the electrode does not provide the filler metal.

eléctrodo nu — bare electrode

A filler metal electrode consisting of a single metal or alloy in the form of a wire, strip, or bar that has had no coating or covering applied to it other than that which was incidental to its manufacture or preservation.

eléctrodo revestido — coated electrode, covered electrode

A composite filler metal electrode consisting of a core (alma) of a bare electrode or metal cored electrode (eléctrodo com alma) to which a covering sufficient to provide a slag layer on the weld metal has been applied. The covering may contain

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materials providing such functions as shielding from the atmosphere, deoxidation, and arc stabilization and can serve as a source of metallic additions to the weld. Flux is applied externally by dipping, spraying, painting, or similar methods.

em bruto — as welded

The condition of weld metal welded joints, and welded assemblies (weldments, US) after welding but prior to any subsequent thermal, mechanical, or chemical treatments.

ensaio de rebentamento de pontos — peel test, slug test

A destructive method of inspection, where a lap joint is mechanically separated by peeling.

ensaio de textura, ensaio de compacidade — nick break test

A method for testing the soundness of welds by nicking each end of the weld, then giving the test specimen a sharp hammer blow to break the weld from nick to nick. Visual inspection will show any weld defects.

eléctrodo de tungsténio — tungsten electrode

A non-filler metal electrode used in arc welding or cutting made principally of tungsten.

espessura de um cordão de ângulo — throat of a fillet weld:

(a) espessura útil — theoretical throat (US), design throat (UK)

The distance from the beginning of the joint root perpendicular to the hypotenuse of the largest right triangle that can be inscribed within the cross section of a fillet weld. This dimension is based on the assumption that the root opening is equal to zero.

(b) espessura total — actual throat

The shortest distance between the weld root and the face of a fillet weld.

(c) espessura efectiva — effective throat

The minimum distance minus any convexity between the weld root and the face of a fillet weld.

espessura total do cordão — concavity, actual throat thickness

The maximum distance from the face of a concave fillet weld perpendicular to a line joining the weld toes (concordâncias da junta).

estufa de eléctrodos — electrode drying oven

Equipment to keep SMAW electrodes under ideal conditions to avoid moisture absorption or other contamination.

F

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face da soldadura — weld face

The exposed surface of a weld on the side from which welding was done.

fissura sob cordão — underbead crack

A crack in the heat-affected zone generally not extending to the surface of the base metal.

flambagem, s.f. — buckling

Distortion of the work piece caused by the heat of a welding process.

fluxo, s.m. — flux

A chemical compound or mixture in powdered, paste or liquid form. Its essential function is to combine with or otherwise render harmless those products of the welding operation which would reduce the physical properties of the deposited metal, or make welding difficult or impossible.

folga na raiz — oot opening (US), root gap width

The separation at the joint root between the workpieces.

fotoqueratite, s.f., fotoqueratoconjuntivite, s.f. — arc eye (UK), eye flash, flash burn (US)

Irritation of the eye caused by exposure to radiation from an electric arc.

I

inclusão de escória — slag inclusion

Non-metallic solid material entrapped in weld metal or between weld metal and base metal.

inclusão vermicular — worm hole

An elongated or tubular cavity formed by entrapped gas during the solidification of molten metal.

inspecção visual da soldadura — bead reading, visual inspection

The process of visually inspecting the weld bead to determine whether the weld was made properly.

J

junta, s.f., preparação, s.f. — joint

Shape of the groove, or groove between both elements to be welded.

junta de topo — butt joint

A joint between two members aligned approximately in the same plane.

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junta sobreposta — lap joint

A joint between two overlapping members in parallel planes.

L

ligação topo a topo com bordos inclinados — scarf joint assembly

Joint assembly in which the weld lies at an angle to the axis of the parts to be joined.

limpeza de defeitos, à máquina — scarfing, desurfacing

The removal of the surface or surfaces of blooms (pranchões), billets (lingotes) and slabs (pranchas) by means of a flame cutting machine.

M

maçarico, s.m. — blowpipe, torch

A device for mixing and burning gases to produce a flame for welding, brazing, bronze welding, cutting, heating and similar operations.

marca de escorvamento do arco — arc str ke

Impression left on the work piece by the striking of the arc.

martelagem, s.f. — peening

The mechanical working of metals by means of hammer blows. Peening tends to stretch the surface of the cold metal, thereby relieving contraction stresses.

máscara de soldadura manual — hand shield

A device used in arc welding to protect the face and neck. It is equipped with a glass filter and is designed to be held by hand.

metal de base — base metal

The metal (material) to be welded, brazed, soldered, or cut.

metal fundido da junta — weld metal

That portion of a weld that fused during welding.

P

passe de confirmação — back pass

A pass made to deposit a back weld.

passe de raiz — oot run

The first run/pass/bead made in the root of a multipass process.

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passe de soldadura — weld pass

A single progression of welding or surfacing along a joint or substrate. The result of a pass is a weld bead (co dão de soldadura), layer, or spray deposit.

penetração na junta — joint penetration

The depth a weld extends from its face into a joint, exclusive of reinforcement (sobreespessura).

penetração na raiz — roo penetration

The depth that a weld extends into the joint root.

pingo de soldadura, pingagem dos bordos — tack weld

Weld made to hold parts of a weldment in proper alignment until the final welds are made.

poro, s.m. — gas pocket, gas cavity, blowhole

Cavity type discontinuities (generally over 1.5 mm) formed by gas entrapment during solidification of molten metal.

poro esférico — po e

Cavity type discontinuities (generally under 1.5 mm) formed by gas entrapment during solidification of the molten metal.

porta-eléctrodo, alicate de soldadura — electrode holder

A device used to mechanically hold the electrode and conduct current to it.

posição ao baixo em juntas de topo ou posição com ângulo interior, em soldaduras de ângulo — fla position

The position used to weld from the upper side of the joint; the face of the weld is approximately horizontal.

posição ao tecto — overhead position

The position in which welding is performed from the underside of the joint.

posição vertical — vertical posi ion

Welding position in which the weld axis is approximately vertical.

posicionador, s.m., cércea de montagem — jig

A fixture or template used to accurately position and hold a part during welding or machining.

pré-aquecimento, s.m. — pre heating

The application of heat to the base metal immediately before welding, brazing, soldering, thermal spraying or cutting.

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tprecipitação de carbonetos — carbide precipita ion, weld decay

A condition occurring in austenitic stainless steel (aço inoxidável austenítico) which contains carbon in a supersaturated solid solution. This condition is unstable. Agitation of the steel during welding causes the excess carbon in solution to precipitate.

procedimento de soldadura — welding procedure

Detailed instructions, which specifies in words and pictures the whole welding process for a certain production item. The AWS definition for a welding procedure is "the detailed methods and practices including all joint welding procedures involved in the production of a weldment". The joint welding procedure mentioned includes "the materials, detailed methods and practices employed in the welding of a particular joint".

profundidade da fusão — depth of fusion

The distance that fusion extends into the base metal or previous pass from the surface melted during welding.

R

raiz da soldadura — weld root

The points, as shown in cross section, at which the back of the weld intersects the base metal surfaces.

rechupe, s.m. — shrinkage cavity

Cavity due to shrinkage of metal during solidification, while still plastic. Also microshrinkage (microchupado).

S

salpicos, s.m.pl. — spatter

The metal particles expelled during fusion welding which do not form a part of the weld.

sobreespessura da soldadura — reinforcement weld

The weld metal built up above the surface of the two abutting sheets or plates in excess of that required for the size of the weld specified.

sobrespessura do cordão, convexidade — convexity, excess weld metal, reinforcement

The maximum distance from the face of a convex fillet weld perpendicular to a line joining the weld toes.

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soldadura, s.f. — weld

A localized coalescence of metals or non-metals produced either by heating the materials to welding temperature, with or without the application of pressure, or by the application of pressure alone, and with or without the use of filler material.

soldadura aluminotérmica — thermit welding

Welding process in which the filler metal is obtained from an exothermic reaction between a mixture of iron oxide and aluminum. The temperature resulting from this reaction is approximately 4530 °F (2500 °C). The superheated steel is contained in a crucible (cadinho) located immediately above the weld joint. The superheated steel runs into a mold (molde) which is built around the parts to be welded. Since it is almost twice as hot as the melting temperature of the base metal melting occurs at the edges of the joint and alloys with the molten steel from the crucible. Normal heat losses cause the mass of molten metal to solidify, coalescence occurs, and the weld is completed. The thermit welding process is applied only in the automatic mode. Once the reaction is started it goes to completion.

soldadura autogénea — autogenous welding

Method of uniting two pieces of metal by fusing their edges together without solder or welding metal, as by thermit welding (soldadura aluminotérmica).

soldadura automática — automatic welding, machine welding

Welding with equipment which performs the welding operation without manual adjustment by a welding operator, but under his constant supervision. The equipment may or may not perform the loading and unloading of the work.

soldadura capilar — keyhole welding

Welding in which the enlarged root opening is carried along ahead of the puddle when making an arc weld or other type of welded joint.

soldadura com eléctrodo armado — wrapped electrode welding, impregnated-tapemetal-arc welding

An arc welding process in which fusion is produced by an electric arc between a metal electrode and the work. Shielding is obtained from decomposition of impregnated tape (armadura) wrapped around the electrode as it is fed into the arc. Pressure is not used, and filler metal is obtained from the electrode.

soldadura com passo peregrine — backstep sequence welding

A longitudinal sequence in which weld passes are made in the direction opposite to the progress of welding.

soldadura com penetração total — penetration weld

Weld which has penetrated through the whole depth of the work piece.

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soldadura de ângulo, soldadura de corte — fillet weld

A weld of approximately triangular cross section, as used in a lap joint, joining two surfaces at approximately right angles to each other.

soldadura de estado sólido — solid-state welding (SSW)

Group of welding processes which produce coalescence at temperatures essentially below the melting point of the base materials being joined without the addition of a brazing filler metal. Pressure may or may not be used. The oldest of all welding processes, forge welding (soldadura por forjagem), belongs to this group.

soldadura de selagem — seal weld

Threaded joint sealed, without thread compound, by backwelding.

soldadura de suporte, soldadura de confirmação — back weld, backing weld, backing run

Weld made on the backside of the joint.

soldadura em ângulo exterior — backhand welding

Moving the weld in the direction opposite that to which the electrode is pointing.

soldadura em bordos chanfrados — groove weld

A weld made in a groove made between the work pieces.

soldadura faiscante — flash welding (FW)

A resistance welding process in which fusion is produced, simultaneously over the entire area of abutting surfaces, by the heat obtained from resistance to the flow of current between two surfaces and by the application of pressure after heating is substantially completed. Flashing is accompanied by expulsion of metal from the joint.

soldadura horizontal ao baixo — horizontal position:

(a) soldadura de ângulo — fillet weld

The position in which welding is performed on the upper side of an approximately horizontal surface and against an approximately vertical surface.

(b) soldadura em bordos chanfrados — groove weld

The welding position in which the weld axis lies in an approximately horizontal plane and the weld face lies in a approximately vertical plane.

soldadura manual — manual welding

Welding operation performed and controlled completely by hand.

soldadura multipasse — multipass welding

Welding with deposition of multiple weld beads.

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soldadura por arco com eléctrodo revestido — shielded metal arc welding (SMAW), manual metal arc (MMA)

An arc welding process that produces coalescence of metals by heating them with an arc between a covered metal electrode and the workpieces. Shielding is obtained from decomposition of the electrode covering. Pressure is not used and filler metal is obtained from the electrode.

soldadura por arco com fio fluxado — flux cored arc welding (FCAW)

An arc welding process that produces coalescence of metals by heating them with an arc between a continuous filler metal (consumable) electrode and the work piece. Shielding is provided by a flux contained within the tubular electrode. Additional shielding may or may not be obtained from an externally supplied gas or gas mixture.

soldadura por arco com protecção gasosa, com gás inerte ou activo — gas meta arc welding (GMAW) / gas shielded arc welding (GSAW) / metal inert gas (MIG) / metal active gas (MAG)

An arc welding process that produces coalescence of metals by heating them with an arc between a continuous filler metal (consumable) electrode and the work. Shielding is obtained entirely from an externally supplied gas or gas mixture.

soldadura por arco semi-automática — semiautomatic arc welding

Arc welding with equipment that controls only the filler metal feed. The advance of the welding is manually controlled.

soldadura por arco submerse — submerged arc welding (SAW)

Welding process, in which an arc is struck between the work piece and the end of a consumable electrode, both of which are covered by a layer of granular flux (hence ‘submerged’ arc) hiding the arc from view. Some of the flux melts to provide a protective slag cover over the weld pool and the remainder is collected for re-use.

soldadura por electrogás — electrogas welding

A development of electroslag welding and resembling it in terms of its design and use. Instead of slag, the electrode is melted by an arc which burns in a shielding gas, in the same way as in MIG/MAG welding.

soldadura por feixe de electrões — electron beam welding (EBW)

A welding process in which heat is generated when a high velocity focused beam of electrons collides with the workpiece. The welding is normally carried out in a vacuum chamber.

soldadura por fricção linear — iction s ir welding (FSW)

A quite recent (1991) solid phase welding process, in which a cylindrical shouldered tool with a profiled pin is rotated and slowly plunged into the joining area between

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two pieces of sheet or plate material, which are butted together. The parts have to be clamped onto a backing bar in a manner that prevents the abutting joint faces from being forced apart. Frictional heat between the wear resistant welding tool and the workpieces causes the latter to soften without reaching the melting point, allowing the tool to traverse along the weld line. This process produces no arc, no fumes and no spatter.

soldadura por indução — induction welding (IW)

A welding process in which the heat for welding is obtained from the resistance of the workpieces to the flow of an induced high frequency welding (IHFW) current or induced low frequency welding (ILFW) current, with the application of pressure. The effect of the high or low frequency welding current is to concentrate the welding heat at the desired location.

soldadura por plasma — plasma a c welding (PAW)

A plasma is a state of matter obtained by heating a gas to temperature high enough to ionize most particles. As a result, plasmas are excellent conductors. Plasma arc welding is similar to GTAW (TIG), but uses a plasma to transfer an electric arc to a work piece. The metal to be welded is melted by the intense heat of the arc and fuses together. In the plasma welding torch a tungsten electrode is located within a copper nozzle (bocal de constrangimento em cobre) having a small opening at the tip. A pilot arc is initiated between the torch electrode and the nozzle tip. This arc is then transferred to the metal to be welded.

soldadura por pontos — spo welding, resistance-spot welding (RSW)

The most widely known resistance welding process. In general, intended for sheet metal welding. The weld is limited to one or several spots and the two workpieces usually overlap. As a rule, electrode tips are used.

soldadura por projecção ou bossas — projection welding (RPW)

Resistance welding process which produces coalescence of metals with the heat obtained from resistance to electrical current through the work parts held together under pressure by electrodes. The resulting welds are localized at predetermined points by projections (saliências), embossments (bossas) or intersections (intersecções).

soldadura por resistência — resistance welding (RW)

In resistance welding, metals are joined without filler material by applying pressure and electric current to the area to be welded. The amount of heat depends on the electric resistance at the weld area. The name arose as a result of the importance of this factor in this process.

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soldadura por resistência contínua — seam welding, resistance-seam welding (RSEW)

Process widely used for impenetrable sheet metal seams. Seam welding is a continuous process using electrode wheels on overlapping workpieces.

soldaduras à posição, soldadura em posição — out-of-position weld

Weld made in the vertical, horizontal or overhead positions.

soldadura TIG — gas tungsten arc welding (GTAW), tungsten inert gas (TIG)

An arc welding process that produces coalescence of metals by heating them with an arc between a tungsten (non-consumable) electrode and the work piece. Shielding is obtained from a gas or gas mixture. Pressure may or may not be used and filler metal may or may not be used.

Note 1: “wolfram inert gas” and WIG are seen on occasions, usually in documents in English but originating in non-English-speaking countries. The recommended form is “tungsten inert gas (TIG)”.

Note 2: The chemical symbol for tungsten is W, for wolfram, a Swedish word meaning “heavy stone”.

soldadura topo a topo burilada — scarf weld, scarfing weld

A joint made by overlapping, and welding together, the scarfed ends (extremidadesburiladas ou rebarbadas) of two pieces.

soldobrasagem, s.f. — braze welding

A method of welding using a filler metal that liquefies above 450 °C (840 °F) and below the solid state of the base metals. Unlike brazing, in braze welding, the filler metal is not distributed in the joint by capillary action.

T

taxa/velocidade de deposição — melting rate, burn-off rate

Weight or length of electrode melted in a unit of time.

tensão de arco — arc voltage

The voltage across the welding arc.

tensão em vazio — open circuit voltage

The voltage between the output terminals of the welding machine when no current is flowing in the welding circuit.

tocha, s.f. — torch

Device used in the TIG or plasma cutting processes to control the placement of the electrode, transfer current and direct the flow of the shielding gas or plasma.

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tocha de soldadura — welding gun

Designation typically referring to a MIG (GMAW) torch.

todas as posições — all positions

Suitability, typically of electrodes or a welding process, for use in all positions.

tomada, s.f. — tap

One of several electrical contacts available on the controls of a resistance welding machine. Each tap delivers a different amperage to the electrodes.

tratamento térmico de relaxação de tensões — stress relief heat treatment

Uniform heating of a structure or a portion thereof to a sufficient temperature to relieve the major portion of the residual stresses, followed by uniform cooling.

tratamento térmico pós-soldadura — post heating

The application of heat to an assembly after welding, brazing, soldering, thermal spraying or cutting operation.

Z

zona afectada por calor — heat-affected zone (HAZ)

That portion of the base metal that has not been melted, but whose mechanical properties or microstructure have been altered by the heat or welding, brazing,

soldering, or cutting. ■

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TERMINOLOGIA BÁSICA EM CONTROLO DE FUMO

HERMÍNIO DR

Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Portugal

A área científica e tecnológica do controlo de fumo emergiu recentemente no âmbito da engenharia de segurança. Insere-se nas actividades de projecto em electromecânica, pela concepção e execução de instalações em edifícios, para protecção do público utilizador dos espaços interiores ou para salvaguarda de bens raros e caros contra os perigos do fumo, em caso de incêndio.

Daí que o seu conteúdo contenha participações de engenharia mecânica e electrotécnica, no âmbito das instalações especiais, quer complementem os traços arquitectónicos e as estruturas de engenharia civil em edifícios destinados a receber muito público (exemplo: hotéis, bancos) ou protejam bens materiais de alto apreço (em museus, arquivos) a preservar dos prejuízos corrosivos do fumo quente e asfixiante.

Desde meados do século XX que se tenta evitar os inconvenientes do fogo nos edifícios por técnicas de detecção e alarme de incêndios. Reconheceu-se ser importante extinguir a combustão tão cedo quanto possível, depois da eclosão do fogo, pelo que os esforços da engenharia se orientaram para a implementação de processos de extinção automática, em complemento da acção de combate ao fogo pelos bombeiros. Mas o fumo desenvolvido na queima das substâncias existentes nos locais interiores aos edifícios continuou a manifestar-se como causa principal da morte de pessoas e, eventualmente, na danificação de bens preciosos longe do sítio do sinistro, em consequência da propagação do fumo à distância.

Actualmente, considera-se que os grandes imóveis devem dispor de meios tecnológicos de segurança contra incêndios, sobretudo para controlar o fumo desenvolvido e propagado nos espaços com público, a fim de evitar os seus gravosos danos. Particularmente críticos são os caminhos de passagem para o exterior (corredores e

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escadas) nas ocasiões de evacuação, devendo ser efectuada uma conveniente desenfumagem por intermédio de equipamentos adequados.

Esta nova tecnologia, para ser implementada na moderna urbanidade, exige a definição de condições regulamentares. Tais especificações foram sendo publicadas, durante a última década, para recintos de espectáculos, hospitais, escolas, estabelecimentos comerciais, estádios e outros tipos de infra-estruturas sociais. Os legisladores portugueses seguiram, genericamente, as prescrições francesas. Por isso, as adaptações terminológicas aproximaram-se do léxico francês. Entretanto a influência da língua inglesa tornou-se dominante na ciência e tecnologia, provocando novas adaptações lexicais.

Foi desta maneira que o conceito de controlo de fumo (smoke control) se impôs à primitiva designação de desenfumagem (désenfumage). E por aí adiante, criando um novo conjunto terminológico, que deve ser sedimentado pelos utilizadores dos sistemas de segurança.

Aqui apenas se referem alguns dos termos inovadores em português, acompanhados das respectivas traduções em inglês. Ao mesmo tempo indicam-se as opções regulamentadas nos diplomas publicados oficialmente em Portugal, as quais estão em vias de actualização no anunciado Regulamento de Segurança contra Incêndios, ainda em preparação e onde se espera que as definições apresentadas sejam tidas em conta.

altura de fumo — smoke height, na língua inglesa

Distância vertical admissível da camada de fumo.

altura de referência — reference height

Média aritmética do pé-direito mínimo e pé-direito máximo de um cantão.

altura livre de fumo — smoke free height

Distância abaixo das barreiras de fumo.

barreira, s.f. (painel, nos regulamentos portugueses) — screen curtain (EUA)

Separador de dois cantões contíguos, que evita a invasão de fumo de um para o outro.

camada de fumo — smoke layer

Volume de fumo propagado rente ao tecto, sob a cobertura do local, até à desenfumagem.

cantão, s.m. — zone

Espaço delimitador da propagação do fumo no interior dos edifícios.

controlo activo — active control

Tipo de controlo de fumo por meios electromecânicos.

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controlo passivo — passive control

Tipo de controlo de fumo por exutores ou vãos de fachada.

desenfumagem, s.f. — smoke control

Controlo de fumo para o exterior dos edifícios por meio de aberturas na cobertura ou nas fachadas dos edifícios.

evacuação, s.f. — evacuation

Saída das pessoas ocupantes de um edifício sinistrado com incêndio.

extracção de fumo — smoke exhaustion

Retirada de fumo do interior para o exterior de um edifício por meios electromecânicos.

extractor, s.m. (ventilador de extracção de fumos) — exhaust fan

Equipamento electromecânico de extracção de fumo na desenfumagem forçada.

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Figura 1. Incêndio num edifício de volume grande com dois cantões e controlo de fumo por varrimento passivo (com deslocação natural de ar).

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exutor insuflad extractor

boca de boca de fumo camada de fumo

fog

Figura 2. Incêndio num edifício em altura (com vários pisos) e controlo de fumo por varrimento activo (com deslocação forçada de ar).

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exutor, s.m. — vent

Abertura para desenfumagem natural montada na cobertura dos edifícios.

insuflação de ar — air intake

Introdução de ar fresco no interior dos edifícios em caso de incêndio para controlo de fumo.

insuflador, s.m. (ventilador) — air intake fan

Equipamento electromecânico para insuflar ar fresco dentro dos edifícios em caso de incêndio para controlo do fumo.

obturador, s.m. (registo) — damper

Dispositivo normalmente fechado numa conduta e que abre automaticamente para deixar passar fumo ou ar.

pressurização, s.f. (sobrepressão) — pressurization

Aplicação de pressão ao ar ambiente num espaço fechado por intermédio de um insuflador, para evitar a invasão de fumo nesse espaço.

vão de fachada — air intake panel ou smoke exhaust panel

Abertura na fachada dos edifícios com grelha de lamelas inclinadas para entrada natural de ar ou saída de fumo na desenfumagem natural.

Obviamente, existem outros termos próprios da tecnologia de controlo de fumo. Mas as suas equivalências linguísticas são praticamente directas, sem dificuldade de tradução.

A figura 1 exemplifica termos do controlo passivo e a figura 2 indica termos do

controlo activo. ■

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hermínio DR, Sop os de R cos Teoria e Prática do Contro o de Fumo em Incênd os nos Edifícios, Lisboa, Hader, 2003.

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A LUTA GRECO-ROMANA NA LINGÜÍSTICA BIOMÉDICA: TENDÊNCIAS ATUAIS NO CENÁRIO BRASILEIRO (1.ª parte)

JACQUES VISSOKY

Médico e Tradutor, Brasil

Resumo: A ciência da tradução médica tem suas armadilhas; além de demandar o conhecimento

específico da área, também exige o equilíbrio entre o vernáculo consensual e consagrado e

a terminologia científica mais atual. Como a ciência médica está sempre em evolução, é

natural que as palavras que a representam também sofram o mesmo processo. Este

glossário destina-se a demonstrar algumas palavras que, com freqüência durante o

processo de tradução e versão, causam dúvidas quanto à pronúncia, silabação e soletração.

Palavras-chave: Tradução médica; Terminologia científica.

Abstract: Medical translation has many traps besides requi ing specific subject knowledge, it also calls for a balance between the consensual, consecrated vernacular word, and the mos updated scientific terminology. The same p ocess applies to words rep esenting ever-changing medical science. This glossary aims at demonstrating some words that often cause doubts as to p onunciation, syllabification, and spelling during transla ion and version processes.

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t fKey words: Medical transla ion; Scienti ic terminology.

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Amilase, Lipase, Transaminases

O sufixo –ase, de origem grega é usado para identificar enzimas. A palavra grega «diástasis», separação, foi utilizada por Kirschoff em 1814 na designação de uma substância que desdobrava o amido na cevada. A diástase, que inicialmente foi descrita por este autor, passou a se chamar amilase, indicando o substrato pelo qual atua a enzima. As enzimas posteriormente descobertas receberam o sufixo –asepara indicar a sua condição. Assim, por ter um modelo original proparoxítono, diversos profissionais e educadores têm tornado as enzimas também proparoxítonas. Cabe lembrar, contudo, que tais termos inexistiam em grego e em latim, tendo sido criados apenas a partir do século XIX nas línguas ocidentais. Por conseguinte, não há razão para se pronunciar como proparoxítonas as enzimas. Ademais, vale lembrar que a língua portuguesa apresenta uma tendência para a tonicidade na penúltima sílaba. Descabe, portanto, o uso anacrônico das enzimas como proparoxítonas, em oposição a sua medida em equipamentos bioquímicos modernos.

Cãibra, Câimbra

Ambos termos coexistem na língua portuguesa. Segundo A. G. Cunha, no seu Dicionário Etimológico (1988), a palavra no nosso idioma formou-se a partir do francês crampe. Para definir-se qual o melhor, devemos lembrar que o til em português colocado sobre a vogal indica a sua nasalização. A marca de nasalização pode, igualmente, ocorrer pela vizinhança de n ou m. Assim, a forma cãibra responde melhor à demanda fonética e de clareza.

Cintilografia, Cintilograma

Correspondem a uma forma gemelar para o mesmo termo. Cintilografia origina-se de scintilla, «centelha», e do grego graphein, «registrar». Os termos scan e scanner são utilizados na língua inglesa e também em outros idiomas. Apesar da difusão universal pela informática, assumindo-se a introdução de alguns anglicismos, é difícil que se defenda o uso da horrorosa palavra «escâner».

Colo, Cólon

Ambas formas referem-se ao intestino grosso. A Nômina Anatômica corrente favorece o uso de colo tanto para designar a porção estreitada de um órgão (exemplo, «colo do útero») quanto para o intestino grosso.

Diabetes, Diabete

A forma diabetes é usada em outros idiomas, particularmente no inglês, que forte influência exerce entre nós. O termo é de origem masculina no grego e no latim, tendo continuado com o mesmo gênero no português. A Sociedade Brasileira de Diabetes, que mantém a palavra masculina e com –s, foi fundada em 1970.

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Exfoliar, Esfoliar

Ambas as palavras derivam do latim, embora tendo o prefixo grego ex–. Por tratar-se de palavra usada predominantemente na área médica, prevalece a noção erudita, expressa pelo prefixo ex–, para fora, precedendo a derivação verbal de folium, lâmina.

Lesão, Injúria

A palavra inglesa injury significa «dano físico», «ferimento», «lesão». A palavra portuguesa injúria é, em geral, usada com significado de «ofensa à dignidade de

alguém». ■

BIBLIOGRAFIA

Código Penal, São Paulo: Ed. Saraiva, 198523.

Comissão Luso-Brasilei a de Nomenclatura Morfológica Nomenclatura Anatômica da L ngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1977.

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rCunha, Antônio Geraldo da, Dicioná io Etimológico. Rio de Janeiro; Nova Fronteira, 1982.

Manuila, A., L. Manuila, M. Nicole e H. Lambert. Dictionnaire français de médecine et de biologie. Paris: Masson & Cie., 1970.

Sociedade Brasileira de Diabetes. Consultado em Abril de 2004. Disponível em <http://www.diabetes.org.br>.

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ENCONTROS E DESENCONTROS DA COEXISTÊNCIA – O PAPEL DO INTÉRPRETE-TRADUTOR NA SOCIEDADE DE MACAU

RUI M. DE SOUSA ROCHA

Delegação da Fundação Oriente em Macau, Macau

Paiva, Maria Manuela Gomes, Encontros e Desencontros da Coexistência – o papel do intérprete-tradutor na sociedade de Macau. Macau: Livros do Oriente, 2004. 159 pp. ISBN: 99937-658-4-8

Existem três razões, substanciais, que aconselham a leitura do livro Encontros e Desencontros da Coexistência – o papel do intérprete-tradutor na sociedade de Macau.

A primeira, pela natureza e, sobretudo, pela raridade do tema no panorama investigativo e académico em Portugal; a segunda, pela circunstância de ser a primeira dissertação académica que se debruça sobre a tradução técnica em Macau; e, finalmente, a última, pela ausência de qualquer trabalho, de âmbito académico, que analise a história do intérprete tradutor em Macau, a sua função de mediador linguístico-cultural, a sua formação e o seu futuro na agora designada Região Administrativa Especial de Macau.

Os motivos pelo desapego a esta área de saber são conhecidos.

Portugal presumia-se e via-se a si próprio, até há bem pouco tempo, como um país monolingue, como se essa figura territorial no campo linguístico existisse.

Estranha-se tão prolongada presunção, pois se, por um lado, tivemos uma ocupação árabe em Portugal quase duzentos anos, por outro lado, Portugal foi uma potência ocupante e administrante, durante quase 500 anos, nos seis cantos do Planeta, se incluirmos o grande continente Oceano. Temos ainda o mirandês desde o séc. XII,

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temos o galego, temos o caló, temos as comunidades chinesas, indianas, africanas e, mais recentemente, os imigrantes das línguas eslavas e da Europa Central.

Estranha-se, por tudo isto, que nunca tenhamos tido, nem uma tradição de estudo das línguas, nem uma tradição do estudo da tradução, nem uma Escola de Toledo como a vizinha Espanha.

E no que se reporta aos diferentes Orientes de presença portuguesa, a situação é verdadeiramente inexplicável.

De facto, Portugal não tem, no início do século XXI, uma escola de sinólogos, nem de nipólogos, nem de indianólogos. Tem apenas sinófilos ou sinómanos, e nipófilos ou nipómanos, e sobre o imenso império cultural indiano creio que, nem uma coisa, nem outra.

Dramaticamente, Portugal nem sequer tem uma escola de arabistas, com o mundo árabe tão dentro da nossa memória colectiva, da nossa personalidade modal e da nossa semântica.

No entanto, foi no séc XVII que um português, João Rodrigues, redigiu a primeira gramática de língua japonesa; outros dois portugueses, Gaspar do Amaral e António Barbosa, redigiram o primeiro dicionário anamita-português-latim; e, já no séc. XVI, se havia «publicado» em Macau o primeiro dicionário de Português-Chinês.

Este é o estado da Nação em termos de presunção do que é o seu território linguístico nacional e, sobretudo, em termos de raridade de investigação nas áreas da Tradução e da Sociolinguística.

Para além das razões apontadas, este trabalho é pioneiro e inovador, como manda a boa regra de uma tese de mestrado ou de doutoramento, o que levou a Fundação Oriente a apoiar a sua edição, até pela vocação que estatutariamente assumiu, ao querer protagonizar a compreensão e o reforço das relações histórico-culturais entre o Extremo Ocidente e o Extremo Oriente, que tem em Macau e na China as suas principais referências.

Mas a estranheza maior é verificar que, em Macau, após 500 anos de mediação linguístico-cultural entre culturas tão diferentes, se sabe pouco ou nada sobre essa mediação, isto é, que história, que função, que formação, que futuro, o do intréprete-tradutor em Macau. Porque também a investigação linguística e sociolinguística em Macau e sobre Macau é uma imensa folha branca. Há apenas a honrosa excepção dos trabalhos da Dr.ª Graciete Batalha sobre o patoá, bem como quatro ou cinco trabalhos de dissertação de mestrado defendidos, e alguns editados, pela Universidade de Macau, um livro sobre o cantonês do académico, Prof. Chang Pak Fei, e pouco mais.

No entanto, existe uma multiplicidade de interessantes domínios, quer na área da Linguística Chinesa em Macau, quer na área da Sociolinguística Portuguesa em Macau, quer no cruzamento de ambas nos domínios dos contactos, interferências e

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empréstimos interlinguísticos, code-switching, code-mixing, tanto na comunidade macaense, como na comunidade chinesa de Macau.

Quando falamos de Tradução em Macau, temos obrigatoriamente de associar esta área de saber aos luso-descendentes de Macau, vulgarmente designados por Macaenses.

Afirmou o Prof. Doutor Luís Filipe Barreto que a construção da cidade portuária de Macau, sendo um resultado do trabalho conjunto de portugueses e chineses, é, sobretudo, uma invenção essencialmente construída pela comunidade macaense.

Na verdade foi esta comunidade que, diariamente e ao longo dos cinco séculos, dialogou com os nacionais portugueses, primeiro, do Reino e, depois, da República, e com os nacionais chineses, primeiro, do Império do Meio e, depois, do Império de Mao, negociando consensos e dissolvendo dissensos, tornando gerível, a cada momento, os destinos de Macau, mercê de um apurado refinamento de comunicação intercultural.

Mas foi esta comunidade, também, que em última instância mais sofreu, na sua própria terra, os revezes de um exercício de soberania sobre Macau, sempre repartida entre um soberano sempre distante demais e outro soberano sempre perto demais.

Respondendo à pergunta que inicia o excelente artigo, de indispensável e obrigatória leitura, de Cecília Jorge, “Intérpretes-tradutores, a ponte da Coexistência” (RevistaMacau, II série, n.º 7, Macau, Novembro 1992), na verdade não «teria sido possível aos portugueses administrarem Macau não fosse a existência de uma pequena comunidade bilingue e bicultural de onde saíu, ao longo dos séculos, um ainda menor grupo de profissionais na arte de se fazerem entender lusófonos e chineses».

Portugal não acompanhou, e muito menos soube usufruir, aplicando a Macau, quer as experiências realizadas por outros países em matéria de políticas e de planeamento linguísticos em contextos bi ou pluriculturais, quer os resultados da investigação desenvolvida, entre as décadas de 60 e 80, nos domínios do bilinguismo e do planeamento linguístico.

Não soube (ou não quis) reafirmar, em Macau, os princípios da singularidade de um território e da personalidade de uma comunidade, sua, portuguesa, através da promoção de uma política e de um planeamento linguísticos que tivessem em conta as línguas em presença, a portuguesa e a chinesa, os seus domínios sociais de actuação e as suas formas de organização curricular no sistema educativo.

Mesmo hoje, estando as línguas portuguesa e chinesa consignadas na Declaração Conjunta e na Lei Básica com o estatuto de línguas oficiais de Macau, não se ensina a língua portuguesa nas escolas chinesas subsidiadas pela Administração, ou apenas se ensina pontualmente; como ainda não se ensina a língua chinesa na Escola Portuguesa de Macau senão apenas como uma apagada disciplina de opção, sobretudo se tivermos em conta que a população discente desta escola é constituída por cerca de 71 % de crianças e jovens naturais de Macau.

Manuela Paiva, com a autoridade científica que lhe era reconhecida em Macau enquanto Directora da Escola Superior de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico

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de Macau durante vários anos, abriu-nos, com o seu cuidadoso trabalho de investigação sobre a Tradução em Macau, para uma realidade demasiado presente no nosso quotidiano, para ser tão inexplicalvelmente esquecida como domínio de ensino e de investigação, tanto em Portugal, como em Macau. O importante, agora, é que a generosa intenção que este livro nos oferece seja um estímulo para novas produções neste domínio, mesmo em condições mais adversas do que aquelas que tivemos e que

não soubemos, ou não quisemos, aproveitar. ■

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FERRAMENTAS PARA A TRADUÇOM

ANA HERMIDA RUIBAL

Tradutora e Doutoranda, Portugal

Garrido, Carlos (org.), Ferramentas para a traduçom. Ourense, Galiza: Associaçom Galega da Língua (AGAL), 2004. 172 pp. ISBN: 84-87305-20-2

Escrita em galego reintegracionista (norma ortográfica não oficial que é próxima do português e que considera que o galego e o português são a mesma língua – o galego-português), esta obra recolhe vários artigos de estudos sobre a tradução, sendo organizada por Carlos Garrido e editada pela Associaçom Galega da Língua – AGAL.

No total, esta colectânea apresenta cinco trabalhos assinados por Joandomènec Ros, Elvira Souto, Robert Neal Baxter, Oscar Diaz Fouces e o próprio Carlos Garrido.

Índice:

0. Apresentação, por Carlos Garrido

1. «Reflexons de um tradutor científico sobre a grandeza e a servidom do ofício», por Joandomènec Ros (Catedrático de Ecologia da Universitat de Barcelona, membro do Institut d’Estudis Catalans, Tradutor da obra do grande biólogo evolucionista Stephen Jay Gould)

2. «The Front Page», por Elvira Souto (Professora de Didáctica da Língua e da Literatura da Universidade da Corunha, Tradutora literária)

3. «Análise e ensaio da crítica da traduçom (para galego) de livros técnico-científicos», por Carlos Garrido (Professor de Tradução Científica e Técnica na Universidade de Vigo, Tradutor científico)

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4. «Não te falo como um irmão ou a nec(ess)idade da tradução intralinguística: o caso do galego-português», por Robert Neal Baxter (Professor de Interpretação de inglês e de francês na Universidade de Vigo, estudioso da Sociolinguística galega)

5. «Novas ferramentas para (ensinar a) traduzir», por Oscar Diaz Fouces (Professor de Linguística e de Tradução de Português na Universidade de Vigo).

Muito pouco se tem escrito em Portugal sobre as ferramentas para a tradução, sobretudo de uma perspectiva prática, como faz o Prof. Doutor Oscar Diaz Fouces no seu artigo «Novas ferramentas para (ensinar a) traduzir». Por isso vou centrar-me no referido trabalho.

O autor, professor de Linguística e de Tradução de Português na Universidade de Vigo, faz um breve (mas intenso) percurso, enumerando e caracterizando diversas ferramentas para (ensinar a) traduzir, tais como memórias de tradução, programas de localização de páginas da Internet, programas para traduzir legendas e até programas para gerir o fluxo de trabalho de empresas de tradução e profissionais independentes. Algumas das referidas ferramentas são gratuitas e estão disponíveis na Internet. Este artigo complementa outro do mesmo autor intitulado «A Localização de Páginas da Internet na Formação de Tradutores», publicado no n.º 1 da CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica, em <http://www.confluencias.net/n1/fouces.html>.

Mais informações sobre esta obra poderão ser encontradas na secção Publicações da página da Internet <http://www.agal-gz.org/>, subsecção Colecçom Universália, bem como através do endereço de correio electrónico: [email protected].

O preço da obra é de, aproximadamente, 12 €. Pode ser encomendada a diversas livrarias e editoras virtuais e, igualmente, à própria editora, a Associaçom Galega da

Língua, cuja página web é <http://www.agal-gz.org/>. ■

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WASAFIRI – FOCUS ON TRANSLATION

VICKY HARTNACK

Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Portugal

Wasafiri – Focus on Translation. Issue No. 40, Winter 2003. Department of English and Drama, Queen Mary, London: University of London. 80 pp. ISSN: 0269-0055. [email protected]

The magazine is generally aimed at readers engaged in post-colonial studies and has a wide selection of essays, interviews, reviews and instances of creative writing coming from authors as far apart as Southern Africa, the Caribbean, India and Indonesia – in other words, work extending beyond the Western World. This edition is concerned with translation and offers examples of translated work in bilingual settings, theories about literary translation and essays on languages and cultures and their interaction and relationships.

Far from being yet another magazine about translation, Issue No. 40 opens up perspectives of the cultural weighting of translating communication into and out of non-European language. It looks at the difference between English (in this case) and other languages in an increasingly globalised world and questions the hegemony of Western values, experience and theories of translation. In this issue, many of the conclusions reached tie in with post-colonialist approaches in that translation is seen as an instrument of (neo)colonialism where local values are subverted and converted, and where ideologies are imposed and exposed.

The interview with the Kenyan writer, Ngugi wa Thiong’o (5-10), is particularly interesting in the idea about the role of translation as a liberation process of national and regional cultural self-expression. While English (or Portuguese or French) may be

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used as a target language in translations from African languages, the call is for translations between the African languages themselves in order to enhance inter-African understanding and cooperation without going through any European medium.

This theory of the liberating practice of translation is again aired and endorsed in Shibani Phukan’s article, “Towards an Indian Theory of Translation” (27-31). The magazine then offers several propositions of cross-cultural translation practices, such as Theo Herman’s “Translation, Equivalence and Intertextuality” (39-41) and Susan Bassnett’s “Judging Translation” (42-44). There is a thought-provoking article by Lise Smith, “Dance and Translation” (33-37) which goes further into connecting and translating interpretive expressions. Practical examples include translations into English from languages such as Indonesian, Chinese and Urdu.

The magazine also has an extensive review section on recent publications dealing with translation studies and with translations of world literature coming from other than Western sources.

What is so interesting about this edition of Wasafiri is the discussion about the transforming nature of translation, whereby the translator’s presence is a reality and where his/her intent may be thinly disguised as one to subject the text to or liberate it

from hidden agendas. ■

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«JORNADAS DE TRADUÇÃO E TERMINOLOGIA EM BIOLOGIA/IMUNOLOGIA»

ISABEL COUTINHO MONTEIRO

Tradutora Independente, Lisboa, Portugal

O Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, em parceria com a Tradulínguas – Gabinete de Tradução, realizaram no dia 18 do passado mês de Fevereiro uma acção de formação designada Jornadas de Tradução e Terminologia em Biologia/Imunologia, com o objectivo de introduzir na comunidade de tradutores a nomenclatura básica utilizada no campo da Imunologia.

A acção foi ministrada pela Doutora Gabriela Santos-Gomes, investigadora na área da Biologia/Imunologia do Centro de Malária e outras Doenças Tropicais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, que, de imediato, despertou grande interesse na assistência, maioritariamente composta por estudantes do curso de licenciatura em Tradução da Universidade de Aveiro, mas contando também com vários tradutores profissionais com períodos de experiência diversos. Um traço comum unia os participantes: o grande desejo, quase avidez, de conhecer os segredos e a terminologia que se escondem nesse mundo tão estranho para os leigos que é o laboratório de investigação.

A acção dividiu-se em duas partes. Na primeira, a Doutora Gabriela Santos-Gomes brindou os participantes com uma apresentação graficamente muito organizada e atraente e um conteúdo que instaurou na assistência uma inquietação que só acalmou no fim das jornadas. Uma prova bem concreta do muito que está por fazer no campo da terminologia especializada.

Os participantes foram conduzidos numa visita guiada ao aparelho imunitário e todos os seus componentes, com um grau de pormenorização que não deixou escapar nomes, funções e forma de actuação. Tudo isto acompanhado de pequenos quadros com palavras-chave, um instrumento crucial para sugerir pistas de investigação ad eterno

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para as mentes mais curiosas. Durante a exibição, os participantes, não podendo conter a ansiedade e o interesse que os inquietavam, iam interpelando a Formadora que, pacientemente, esclarecia as dúvidas colocadas.

Terminada a sessão explicativa, passou a discutir-se a melhor forma de elaborar um glossário, após o que se abordaram quatro textos em inglês, de peritos e investigadores estrangeiros com reconhecidos créditos na área. Os participantes foram convidados a distribuírem-se por grupos de 2 a 3 pessoas para, em conjunto, traduzirem o trecho que lhes seria atribuído num dos artigos. Decididos e entusiasmados, os elementos dos grupos consultavam os apontamentos que tinham conseguido fazer durante a apresentação, discutiam entre si – por vezes acaloradamente – a melhor solução para cada frase, tendo mesmo havido momentos em que a discussão num grupo se estendeu a toda a sala. As traduções foram seguidamente discutidas entre os participantes e a Doutora Gabriela Santos-Gomes, com o intuito de se obter uma versão «consagrada».

A segunda parte das Jornadas decorreu num ambiente e com uma metodologia semelhantes aos do período da manhã, desta vez em torno da terminologia usada na interpretação de uma resposta imunológica. O grande interesse suscitado pelos temas abordados e a interactividade verificada durante toda a acção adiaram cerca de 1 hora

o encerramento destas Jornadas. ■

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CONFERÊNCIA «A TRADUÇÃO E A REVISÃO CIENTÍFICAS: DIFICULDADES E COMPENSAÇÕES»

ISABEL NOGUEIRA

Pós-Graduanda em Tradução e Tradutora, Portugal

No dia 12 de Maio de 2005, pelas 16 horas, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) acolheu a Dr.ª Lília Esteves. Bióloga de profissão, a conferencista trabalha no Departamento de Estudo de Materiais do Instituto Português de Conservação e Restauro e efectuou várias traduções no campo da biologia, como por exemplo o livro Insectos 1.

A Dr.ª Lília Esteves apontou os diversos problemas da tradução em biologia, sobretudo no que diz respeito à terminologia relacionada com insectos, plantas, aves e répteis. O maior problema será o da inexistência de dicionários terminológicos portugueses, especializados nestas áreas. Por este motivo, os tradutores têm de recorrer frequentemente à etimologia da palavra, só chegando à tradução adequada, não raras vezes, depois de reconhecerem o animal ou a planta em questão através de uma descrição ou de uma ilustração.

Indicou também outros problemas. O facto de, em português, não ser frequente dar-se nomes vulgares aos insectos, como acontece em castelhano e inglês, o que obriga os tradutores a efectuarem uma pesquisa bastante complexa. A possibilidade de não existir o nome correspondente em português. Ou a hipótese de diferentes grupos de profissionais utilizarem termos divergentes para o mesmo animal (por exemplo, os especialistas dizem «dinossáurio» e a imprensa «dinossauro»).

1 Pamela Forey e Cecilia Fitzsimons, Insectos, Colecção Guias da Natureza, Plátano Editora: 1996.

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Num tom ligeiro e descontraído, a Dr.ª Lília Esteves fez uma exposição entusiasmante e pertinente. Como sabemos, estes eventos são raros e a curiosidade por assuntos pouco debatidos é muita. Nesse sentido, e através dos muitos exemplos práticos em que baseou toda a conferência, a bióloga elaborou uma exposição muito interessante e, acima de tudo, satisfez a curiosidade dos estudantes presentes, tendo mesmo respondido a questões de teor prático acerca do mercado de trabalho.

No entanto, alguns problemas organizacionais acabaram por diminuir o potencial da exposição. A conferência não foi suficientemente divulgada, nem sequer dentro do espaço da universidade, e nem todos os presentes tiveram acesso à documentação sobre a conferência (fotocópias de algumas traduções da Dr.ª Lília Esteves, que introduziam o tema a tratar), impedindo que a totalidade dos participantes aproveitasse plenamente esta oportunidade.

Estas acções são louváveis e serão sempre bem vindas por dois motivos: porque, apesar do que nos dizem a realidade profissional e o exemplo do ensino e aprendizagem da tradução noutros países, em Portugal continua-se a publicar e a falar maioritariamente sobre tradução literária; e porque a bibliografia portuguesa relacionada com a biologia da fauna e flora é praticamente inexistente.

Limadas algumas arestas, espera-se que este género de evento se volte a repetir, uma vez que é essencial informar os estudantes de tradução e todos os restantes interessados acerca das verdadeiras necessidades do mercado de trabalho, e incentivá-

los a investigarem e escolherem um ramo da tradução especializada. ■

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OT2005 – PRÁTICA DA TRADUÇÃO EM AMBIENTE MULTIMÉDIA

JOANA CASTRO FERNANDES, MARIA DO CÉU PONTES, MARIA DA GRAÇA CHORÃO, CÉLIA TAVARES (COMISSÃO EXECUTIVA)

ISCAP – Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, Portugal

Na sequência da OT2003, a Oficina de Tradução 2005 teve como objectivos principais a divulgação de áreas de especialidade e de ferramentas informáticas essenciais à tradução, assim como a promoção de contactos entre a instituição escolar, as empresas e os profissionais do ramo.

Na mesa-redonda intitulada Entre a língua e o saber: as fronteiras da tradução especializada estiveram presentes académicos e representantes de empresas na área da tradução que apresentaram diferentes perspectivas do mercado de trabalho português e deram testemunho da sua experiência individual:

Dr.ª Paula Moutinho: Sócia-gerente da empresa Parábola – Serviços de Tradução e Consultoria Informática, L.da;

Eng.º João Roque Dias: Tradutor Independente e membro da American Translation Association;

Dr.ª Ana Chaves: Professora na Universidade do Minho, Tradutora e Revisora.

Recursos multimédia ao serviço do paradigma

Paula Moutinho perspectivou a tradução como uma actividade de produção por excelência. Destacou a importância do conhecimento e da competência linguística no processo de produção textual, dando especial relevo à competência em língua materna. Avaliou, nesta óptica, o papel das ferramentas multimédia na construção do plano paradigmático de qualquer texto de chegada.

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A aventura da tradução literária: da prática à formação

Ana Maria Chaves abordou alguns problemas e condicionalismos da tradução literária, através de um conjunto de reflexões baseadas na sua experiência de tradução, revisão e formação. Destacaram-se, como principais temas da sua exposição, os desafios da reescrita de textos gerados noutras línguas e culturas, o diálogo da formação e o verso e o reverso da profissão de tradutor.

Quem não sabe de ventos … traduz tempestades!

João Roque Dias salientou a importância de um sólido conhecimento da área científica ou técnica do texto a traduzir; discutiu exemplos da multidisciplinaridade de assuntos e conceitos subjacentes à tradução de alguns manuais técnicos; analisou diferentes perfis de público-alvo das traduções técnicas e concluiu com a seguinte máxima: «A língua deve estar ao serviço do saber: à exactidão dos conceitos deve corresponder a exactidão da língua e da escrita.»

Da parte da tarde, os docentes do Instituto, na qualidade de formadores, orientaram três oficinas onde se exploraram as potencialidades dos recursos informáticos e multimédia do ISCAP, enquanto ferramentas de trabalho dos tradutores especializados.

OFICINAS

Tradução de cinema

Tendo em conta a vertente experimental da oficina, foram sistematizados fundamentos e normas de legendagem e treinadas estratégias linguísticas, através do visionamento, da tradução e da legendagem de textos fílmicos. Foi também feita uma breve incursão pelas modalidades de tradução audiovisual, bem como uma apresentação de ferramentas informáticas ao dispor do técnico de legendagem.

Formadoras: Dr.ª Paula Ramalho Almeida e Dr.ª Sara Cerqueira.

TAC/TRADOS: ensaios

Uma verdadeira «oficina» em que os formandos tiveram em mãos um projecto de tradução e onde ensaiaram diversas ferramentas da aplicação de tradução assistida por computador, já de uso corrente pelos profissionais da área. Da gestão da terminologia à tradução assistida propriamente dita, fizeram-se testes e experiências com instrumentos vários, partindo de materiais autênticos e didactizados, em diferentes línguas de partida e áreas de especialidade.

Formadores: Dr.ª Alexandra Albuquerque, Dr.ª Suzana Noronha e Dr. Pedro Duarte.

Localização: conceitos e ambientes

A localização de projectos de tradução representa uma das mais recentes evoluções no processo de tradução e acarreta uma transformação ao nível das competências e das exigências que se colocam ao tradutor.

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Após uma breve introdução ao conceito, forneceu-se uma abordagem geral ao panorama das ferramentas de localização, questionou-se a relevância do seu uso e, por fim, desenvolveram-se algumas tarefas de localização com recurso a diferentes ferramentas.

Formadores: Dr. Manuel Moreira da Silva, Dr. Marco Furtado e Dr.ª Paula Carvalho.

Nota Final: Os inquéritos realizados aos formandos revelaram um elevado grau de satisfação e entusiasmo na prática da tradução em ambiente multimédia, assim como

o desejo de futuras iniciativas congéneres. ■

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SOBRE OS AUTORES

Ana Hermida Ruibal

Ana Hermida Ruibal é licenciada em Tradução e Interpretação pela Universidade de Vigo (Galiza, Espanha) e doutoranda em Tradução e Linguística na mesma universidade. Tradutora/intérprete ajuramentada (Galego-Inglês-Galego), fundou, em 1998, a empresa Sintraweb, L.da (Portugal), de que é sócia e directora do serviço de tradução. Já leccionou Tradução Português-Espanhol na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e Língua Portuguesa na Faculdade de Filologia e Tradução da Universidade de Vigo.

Página da Internet: <http://www.anahermida.com/>.

Célia Tavares

Célia Tavares é estudante finalista do Curso de Línguas e Secretariado, Ramo de Tradução e Interpretação Especializadas, do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto.

Delfim Ferreira Leão

Delfim Ferreira Leão é licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesa pela Universidade de Coimbra, mestre em Literatura Latina pela mesma Universidade e doutor em História da Cultura Clássica, também pela Universidade de Coimbra. É Professor Associado (com Agregação a partir de 10 de Dezembro de 2004), desde 2002. Integra a equipa de investigadores da unidade I&D Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH) da Universidade de Coimbra, desde 1993. Publicou quinze livros (alguns em colaboração), várias dezenas de artigos em revistas da especialidade e apresentou cerca de quarenta comunicações em encontros científicos. No âmbito da sua investigação, tem dedicado uma atenção especial à tradução e ao comentário de obras de autores clássicos, tendo-lhe sido atribuído o Prémio União Latina / Fundação

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ipara a Ciência e a Tecnologia de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, pela tradução da obra de Aristóteles, Const tuição dos Atenienses, ex aequo com Paulo Ivo Teixeira.

Fernando Ferreira-Alves

Fernando Ferreira-Alves é mestre em Estudos Anglo-Americanos (Tradução e Literatura Anglo-Irlandesa). Tradutor profissional e sócio-gerente da empresa PHALA - Gabinete de Tradução, L.da, é membro do Conselho Consultivo da APET - Associação Portuguesa de Empresas de Tradução e docente da disciplina de «Tradução Especializada» I e II da licenciatura de Línguas Estrangeiras Aplicadas (LEA) da Universidade do Minho (ILCH), cujos estágios coordena.

Correio electrónico: [email protected].

Hermínio DR

Professor Catedrático de Engenharia Sistémica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Hermínio DR pertence à Comissão de Terminologa da Comissão Electrotécnica Internacional há 15 anos. Traduziu dois livros de electrónica de inglês para português para a McGraw-Hill, tendo recebido o 1.º prémio de tradução científica e técnica União Latina / JNICT, em 1993, com a primeira dessas obras. Publicou cerca de meia centena de artigos sobre linguagens específicas e semânticas electrotécnicas, além da participação activa em várias conferências e seminários.

Isabel Coutinho Monteiro

Tradutora indepdendente desde 1989, Isabel Coutinho Monteiro é formada em Tradução (Inglês/Francês) pelo Instituto Superior de Línguas e Administração de Lisboa. A par da sua actividade como tradutora, é Professora de Português para Estrangeiros e Formadora, tendo realizado acções de formação de Inglês no Instituto Nacional de Formação Turística e na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. É membro correspondente da American Translators Association desde 1995, e tradutora certificada pela ATA (Inglês-Português).

Página da Internet: <http://isabelmonteiro.tripod.com/>.

Isabel Nogueira

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, na variante de Estudos Ingleses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Isabel Nogueira frequenta o Curso de Especialização em Tradução da mesma universidade. Isabel Nogueira é tradutora independente.

Correio electrónico: [email protected].

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Jacques Vissoky

Mestre em Biociências e especialista em Traumatologia e Ortopedia, Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, Jacques Vissoky é tradutor de dezenas de livros da área médica e ganhador do Prêmio União Latina de Tradução Científica e Técnica 2003 pela tradução da obra Princípios AO do Tratamento de Fraturas, de Thomas W. Rüedi e W. M. Murphy.

Joana Castro Fernandes

Joana Castro Fernandes é docente e investigadora do Curso de Línguas e Secretariado, ramo de Tradução e Interpretação Especializadas, do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto. Prepara doutoramento na área das Ciências da Comunicação e da Linguagem.

João Roque Dias

João Roque Dias é engenheiro mecânico pelo Instituto Superior Técnico e tradutor independente desde 1989. Membro correspondente da Associação Americana de Tradutores (ATA) desde 1993 e tradutor certificado pela ATA (Inglês-Português), foi membro da comissão de avaliação dos exames de acreditação (Inglês-Português) da ATA entre 1994 e 2002. É membro da ASTM International.

Página da Internet: <www.jrdias.com/>.

Correio electrónico: [email protected].

Lina Gameiro Lopes

Licenciada em tradução pela Universidade Autónoma (Lisboa), Lina Gameiro Lopes é tradutora independente. Paralelamente ao trabalho de tradutora organiza acções de formação para tradutores em diversas áreas especializadas e outros eventos como workshops e jornadas de tradução em diversas universidades portuguesas.

Manoel Soares de Sarmento

Manoel Soares de Sarmento é professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus de Jequié, BA (<http://www.uesb.br>).

Maria do Céu Pontes

Maria do Céu Pontes é docente e investigadora do Curso de Línguas e Secretariado, ramo de Tradução e Interpretação Especializadas, do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto.

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Maria da Graça Chorão

Maria da Graça Chorão é docente e investigadora do Curso de Línguas e Secretariado, ramo de Tradução e Interpretação Especializadas, do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto. Prepara doutoramento na área das Ciências da Comunicação e da Linguagem.

M.ª Manuela Fernández Sánchez

M.ª Manuela Fernández Sánchez es profesora de Traductología y de Interpretación Francés-Español), en la Facu tad de Traducción e Interpretación de la Universidad de

Granada. Ha ejercido como traductora e intérprete desde el año 1986 en departamentos universitarios, editoriales y organismos regionales. Actualmente, su actividad principal es la docencia —en la licenciatura y en cursos de doctorado— y lainvestigación. Sus líneas de t abajo corresponden a la investigación teórica e histórica en traducción e interpretación. Entre sus trabajos se encuentran los siguientes: Manual de Interpretación Bilateral. Granada: Comares, 2001 (En colaboración con otro autores); O discurso sobre a tradução em Portugal. Lisboa: Colibri, 1998 (En colaboración con José A. Sabio Pinilla).

Dirección del trabajo: Facultad de Traducción e Interpretación, C/Buensuceso n.º 11, 18.002 Granada, Tlf: 958 242260, [email protected]. Dirección personal: Placeta del Hospicio Viejo, 7, 18009 Granada, Tlf: 958 220368.

M.ª Manuela Fernández Sánchez é docente de Tradução e Interpretação (Francês-Espanhol) na Faculdade de Tradução e Interpretação da Universidade de Granada, tendo sido tradutora e intérprete, desde 1986, para vários departamentos universitários, editoriais e organismos regionais. Actualmente, dedica-se principalmente ao ensino, graduado e pós-graduado, e à investigação. Os seus temas de investigação são a teoria e a história da tradução e da interpretação. Publicou, entre outras obras, Manual de Interpretación Bilateral, em colaboração com outros autores, e O discurso sobre a tradução em Portugal, em colaboração com José A. Sabio Pinilla.

Endereço de trabalho: Facultad de Traducción e Interpretación, C/Buensuceso n.º 11, 18.002 Granada; Tel.: 958 242260. Correio electrónico: [email protected]. Endereço pessoal: Placeta del Hospicio Viejo, 7, 18009 Granada; Tel.: 958 220368.

Paulo Ivo Cortez Teixeira

Paulo Ivo Cortez Teixeira é licenciado em Física pela Universidade de Lisboa, mestre em Física da Matéria Condensada e Ciência dos Materiais, também pela Universidade de Lisboa, e doutor (Ph.D.) em Física pela Universidade de Southampton, Reino Unido. É Professor Auxiliar na Faculdade de Engenharia da Universidade Católica Portuguesa, desde 2001. Tem algumas dezenas de trabalhos publicados, nomeadamente artigos em revistas especializadas. Desde 1987 que se dedica à tradução técnica e científica, tendo recebido o Prémio União Latina de Tradução Científica e Técnica em Português (2004),

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pela tradução da obra Mais Rápido que a Luz, de João Magueijo, ex aequo com Delfim Ferreira Leão.

Pedro Coral Costa

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Pedro Coral Costa é advogado, tradutor independente e docente de Tradução Jurídica Inglês -> Português no ISLA – Instituto Superior de Línguas e Administração. Colabora frequentemente em acções de formação organizadas pela APT - Associação Portuguesa de Tradutores.

Rui M. de Sousa Rocha

Rui Manuel de Sousa Rocha reside em Macau há 21 anos, onde desempenha funções de Coordenador da Delegação de Macau da Fundação Oriente, desde o ano 2000. Licenciado em Sociologia, em Portugal, iniciou a sua actividade profissional em 1971, como técnico do actual Ministério do Trabalho.

Em Macau, desde Abril de 1984, desempenhou várias funções de direcção e chefia na Administração Pública, nomeadamente, de Coordenador do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior e de Subdirector do Serviço de Administração e Função Pública.

Em 1998/1999, foi Consultor Residente num projecto da União Europeia, orientado para a Formação de Dirigentes de Topo da Administração Pública de Macau.

Tem exercido, também, ao longo da sua permanência em Macau, actividade docente, quer na Universidade de Macau, quer no Instituto Politécnico de Macau, como professor convidado.

Possui vários trabalhos publicados nas áreas da gestão de pessoal, da teoria da Administração Pública e Reforma do Estado, das questões da transição político-administrativa de Macau, das relações interculturais, da sociolinguística, e da história e cultura chinesas.

Vicky Hartnack

Vicky Hartnak is a freelance translator and teacher in the English Studies Departmen , Faculty of Letters, Lisbon University. MA in English Culture and Linguistics, Diploma in Analytical Chemistry and Certificate in Psychology. Leitora of English and teacher of technical translation methodology in financial, economic and business language at Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Simultaneous interpreter and translator from Portuguese to English. Free-lance published translations in the arts, history and economy, development and labour. Specialised in-company translation work in scienceand medicine, legal texts, accounting and finance, architecture and education.

Tradutora independente e docente do Departamento de Estudos Anglísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Vicky Hartnack é Mestre em Cultura e

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Linguística Inglesa, diplomada em Química Analítica e detentora de um certificado em Psicologia. Leitora de Língua Inglesa e docente de Métodos de Tradução Técnica (Finanças, Economia e Gestão) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é também intérprete simultânea e tradutora de português-inglês. Tem publicadas traduções sobre Arte, História, Economia, Desenvolvimento e Trabalho. Traduz em Ciência, Medicina, Direito, Contabilidade e Finanças, Arquitectura e Educação numa empresa de tradução. ■

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Grafismo e Montagem. Rosário Durão.

Foto da Capa. Gare do Oriente, Lisboa (pormenor), do

arquitecto Santiago Calatrava (Foto de

Rosário Durão).

ISSN 1645-9350


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