Date post: | 22-Jul-2016 |
Category: |
Documents |
Upload: | revista-escrita |
View: | 217 times |
Download: | 1 times |
REVISTA ESCRITA Literatura e Cultura
revistaescrita.wordpress.com – Número 3 – Julho/Agosto de 2015
2
EXPEDIENTE
Revista Escrita:
revistaescrita.wordpress.com
issuu.com/revistaescrita
Equipe editorial:
Daniel Costa
João Paulo Moreto
Giovana Ciccolani
Contribuições:
Clóvis Ribeiro
Daniel Costa
Dínamis Lara
Gabriela Laurentiis
Manuela Santos
Marina Laurentiis
Tamara Souza
Tomas Fava
Capa: Gabriela Laurentiis
3
EDITORIAL
Nesta edição a RE propôs o tema da brasilidade, um tema dificílimo: o
historiador paulista Fernando Novais define a questão da identidade
nacional como a obsessão de nosso pensamento social, nunca
satisfeito.
Já foi dito em algum momento: “Nenhum Brasil existe. E acaso existirão
os brasileiros?”
A equipe editorial deseja a todxs uma boa leitura e mais do que
convida os leitores a contribuir com seus próprios trabalhos para a
próxima edição, de tema livre.
Equipe Editorial.
4
ENVIE SEU TRABALHO
A REVISTA recebe trabalhos (em diferentes gêneros) de qualquer
interessadX.
Na seleção, serão priorizadas as contribuições de quem enviar
mais de um trabalho, até o limite de cinco. Com isso, esperamos
conseguir expor consistentemente os estilos dXs autorXs.
Seu trabalho deverá ser enviado em um arquivo de Word (.docx)
para o e-mail: [email protected], descrevendo no assunto:
“Contribuição para Edição”.
A formatação do arquivo deve seguir: fonte Arial 12,
espaçamento 1,5 linhas, padrão de margens Normal, papel A4. A
primeira página deve conter um parágrafo de apresentação do autor,
nome completo, pseudônimo a ser publicado (se desejado) e endereço
do site pessoal ou blog.
O site da REVISTA está aberto para receber contribuições
continuamente para publicação imediata.
Essas contribuições devem ser enviadas através do formulário (ou
por e-mail, no caso de ilustrações, quadrinhos, músicas, vídeos,
animações ou fotografias), abrangendo crônicas, contos, poemas e
também resenhas de livros, bandas, séries, filmes, shows, etc.
5
SUMARIO
EXPEDIENTE 2
EDITORIAL 3
DíNAMIS LARA: CHARGE 7
CLÓVIS RIBEIRO 8
DANIEL COSTA 18
GABRIELA & MARINA LAURENTIIS 30
MANUELA SANTOS 37
TAMARA SOUZA 48
TOMAS FAVA 58
6
“Viver é super difícil
O mais fundo está sempre na superfície...”
Leminsky
7
facebook.com/dirinhas
8
CLÓVIS RIBEIRO
Poeta, Compositor, Professor de música. Gravou o primeiro
CD-Mais Feliz em 2010. Participou de dezenas de antologias
poéticas em São Paulo e em outras capitais. É membro do
Fórum de Cultura do Butantã. É produtor e apresentador Do
programa TOQUE CLOVIS RIBEIRO Na Rádio Cidadã FM 87,5.
9
"Brasilidade"
Somos todos jovens
nesse Brasil varonil
Onde a fartura da água
é a boca seca
de justiça.
Somos dessa terra
Brasilis
Onde o verde
virou cinzas no cinzeiro
da esquina.
Onde os ventos
sopram de rapina
ao entardecer da honestidade.
Cidade e sinais quebrados
Tatuagens de pernas
que passam e braços
que buscam o silêncio
dos abraços.
Meu coração batuqueiro
10
de brasileiro do samba no pé do moleque
que puxa um samba
de breque
e acende um do
bamba e
tudo vira canção.
11
REVISTA ESCRITA
Tudo está escrito
nos papiros do tempo
que passa por entre estações.
Há uma cilada escondida atrás de cada sílaba.
É preciso saber ler
nas entrelinhas das estrelinhas
do que se escreve.
O mundo clamando
por mudanças e o Deus
desnudo dança na praça da guerra santa.
Barbaridades são feitas
em tempos de barbárie
onde não se respeita a dignidade humana,
quem dirá dos animais
sagrados sacrificados
em nome de uma justiça cega
e que não vê a verdadeira
luz da verdade.
Precisamos abrir as janelas da mente
12
e deixar o sol entrar para
renascer nos pensamentos
do novo amanhecer.
13
Texto II
Desligo a televisão
e ligo meu coração
no badalar do sino que soa ao longe.
Por quem os sinos dobram?
Onde andará minha ilusão?
O pensamento me leva
para longe e
longe é
um lugar que não conheço bem.
Mas sigo assim mesmo na busca da minha identidade animal.
Rabisco linhas na reta do horizonte
e busco a fonte dos desejos escondidos
nos teus olhos.
Bocas e máscaras espelham nossos sonhos.
Espero o dia em que
faremos uma nova história
para nossos
sentimentos.
Busco tuas mãos
14
em conjunção com as sinalizações
da constelação de Saturno
e choro quando
chove.
Posso partir sem me despedir
mas ainda assim
deixarei meus pedaços espalhados pelo tempo.
15
Texto III
Vem de lá de longe
o vento que sopra os teus cabelos.
O centro está em
tudo que habita teu olhar.
Não espero mais o dia de ontem
pois viver de passado
não ajuda a ver o futuro
dos nossos sonhos.
Olho o portal dos poetas
e contento-me
com as rimas esfriadas
sobre a mesa que ontem eram sobremesas
e já não tem o mesmo gosto.
Gosto de amora todo dia,
toda hora.
Digo nos teus ouvidos sobre o meu silêncio
e não entendes
pois as palavras pesam mais
quando não são ditas.
16
Fui pescar estrelas e me perdi na
vastidão
do teu desejo
que agora se fez carne e deita comigo nas sobras do nosso
sono.
17
Texto IV
(Poesia)
Regue sua luz todo dia
Regue sua luz toda hora
Regue sua luz toda noite
Regue sua luz agora
Tempo de iluminação
Trevas não travas mais a minha imaginação
Canto com todas minhas forças
Canto com meu coração.
18
DANIEL COSTA
32, latino-americano de Mogi Mirim.
19
CARTA FRATERNA IV
Você, meu caro amigo
Um precioso último de nossos loucos
Tendo se deitado como o próprio Isaque
De olhos cerrados, despido e consagrado
Posto sobre a pedra de seu próprio holocausto
E levantado as mãos contra o seu próprio peito
(como seu próprio Abraão)
Prestes ao ato do seu próprio sacrifício
E à ressurreição sob as vestes assombradas dos santos que repartem o
pão e o nada entre os escritores atormentados da história da luta de
classes
Tendo sido impedido no último instante
Por ordem de um amor
(como se o próprio Deus)
E posto em pés descalços
Sobre o concreto impossível do tempo
Com uma alma grande demais para qualquer corpo
Para qualquer trabalho
20
Para qualquer salário
E braços simples para envolver o mundo
Através de uma mulher e filhos
Estudantes, padres, exilados
Desabrigados, sonhadores
Desamparados amantes de futebol
Meu caro amigo,
Deixe que seu coração poupado
Trabalhe ardente e sereno
Pois enquanto que batendo
Pulsa o nosso sangue vermelho e quente.
21
SALVE PARA UM SAMBISTA
(para o Peixe)
Eu sei bem por que se fala
Tantas vezes no amor
Pois se toma esse nome
Pra abafar algum pavor
Pela falta de um meu Deus
Um concreto interventor.
Seja o amor o redentor
Nada mais há de servir
É por isso que o sambista
Fez a regra por convir:
Se não for falar de amor
Eu não quero nem ouvir.
Seja o amor o protetor
Já não resta outra prece
Que abençoe as três meninas
22
Por que o pai ele envelhece.
23
MANUAL PARA O MANUSEIO DO FOGO
Vá até a janela do seu prédio
Tire todas as suas roupas
E acenda uma vela na moldura.
Do lado de fora, nas ruas
Seguem em marcha
Em hordas
Cidadãos contribuintes
Enquanto o tempo se sopra
Um vento de nada
Contra o vidro cristalino de um relógio
São os colonos selvagens
Do presente permanente
Do presente sempre em fuga
Do mundo como ele é dado
24
Sempre tão oportunos
Em fazer residência na opressão
Prontos a sacar garras
Sacar presas e venenos
E a convocar a polícia
Segundo a lei do silêncio
E calar a música
(E convocar a razão
Sob a lei da gravidade
E calar o sonho).
Pule,
Salte que mover é seguir Nordeste.
Rastreie as sobras de um sonho absurdo
Escalando a coluna do país
Até chegar Valente na Bahia
Onde o diabo o chama pelo nome
E o tenta três vezes em sua infância
A vagar sozinho em suas grandezas
25
Recolha o ramo de uma roseira
E volte só, em meio a uma coluna
De fantasmas que cantam sobre a fome
E a fome e a fome e a fome e a fome e a terra
E a vontade de transformar o chão
Pelos passos que se andam sobre ele
Chegando com uma declaração
De guerra, de voos, de horas e penas negras de um pássaro de mau
agouro
E um vento de cinzas e fumaça
Da brisa rala da realidade
Atravessando gritos e presságios
Contra os escudos da tropa de choque
E as armas, as armas, as armas, as armas, leis
E o seu peito entregue entre asas abertas
À vertigem.
E então,
Quando estiver prestes a cair descalço
Sobre a equação da fratura
26
No monólito rosto do mundo
Acenda outra vela
Para que se clareie sentido.
27
CÁLCULO DE CASAMENTO
Uma quinta feira em nossa cama
Você se senta
Entre mim e o céu imenso
E afoga os meus sentidos
Com a cascata nos seus ombros
De noite e lua cheia.
Abaixo de nós,
Onze lances de escada em que falta luz.
Querida,
Eu vou levantar uma igreja
Para abrigar minha alma ensandecida
E encontrar paz
Sentido e acolhida
No átrio de um coração desnorteado.
28
E vou abrir o meu peito
Ao amor eterno e infinito
Que me arraste em nós adentro
Sem passagem de retorno
E me navegue com ternura
Nuns cem lances de oceano
Uns três quartos de doçura
Pelo círculo das fúrias e
A górgona da melancolia
E afinal nos entregue um ao outro
Ao meu por mim reconhecido
Meu eu perdido em nosso encontro.
Querida,
Quando chega o dia
A levantar o véu do delírio
Eu me despeço com um beijo
Depois ligo a dar bom dia
No intervalo do trabalho.
29
ÓPERA DA NOITE
Amor,
Eu me sento na janela do prédio
Com um chá temperado de chuva
E eu bebo a paz do seu sono.
Do lado de fora,
O céu arrasta cortinas carregadas
E a cidade se prepara
Para o ato da madrugada.
As avenidas acendem suas luzes amarelas
O diabo abre uma mesa de jogos
Numa esquina escolhida ao acaso
E um bêbado improvisa uma ária a cappella.
Aqui dentro,
Eu bebo a paz do seu sono
30
E seguro uma xícara de chá
Dispensado do espetáculo.
31
GABRIELA LAURENTIIS & MARINA LAURENTIIS
As irmãs Gabriela e Marina ensaiam uma aproximação
poética sobre o Carnaval entre fotos e letras.
32
Bloco de Rua
Amanha a cidade
de som e purpurina
e dança a paisagem
tão estranha troca
de pele
em pele toque a
brincadeira ser
e ser
de qualquer maneira.
A manhã de carnaval
liberta o sorriso
massacrado nos juízos
no concreto
prazer da alegria
e a poesia
que a dia a dia não adia
a existência
resistir a diferença
33
a festa rompe a fresta
escancara a violência
do olhar de quem te vê?
nessa grande fantasia
tanto mais desmascarada
que a tanta agonia
do não desfile na
rua a vontade nua
do querer.
34
35
36
37
MANUELA SANTOS
Sou Manuela Maluf Santos, tenho 26 anos, nasci em São Paulo
e vivi um longo tempo em Ribeirão Preto. Ainda descobrindo
para onde vai a minha escrita, prazer que me acompanha
desde sempre, acabo de perceber que não tenho a mínima
habilidade para minibios. Formada em Administração de
Empresas, atualmente trabalho como pesquisadora no
Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, em São
Paulo.
38
Romaria
Era um dia especial, o evento esperado pela cidade toda,
quando havia a romaria.
Em volta da mesa, posta com os talheres de prata, a família se
reunia para o tradicional banquete depois de ver os romeiros passar
pela janela.
Clarice trabalhava para os Mourão desde seus 17 anos, quando
veio da Bahia ajudar uma tia que já era criada na casa e estava para
se aposentar. Completava naquela mesma data 61 anos de idade,
sempre com dedicação e disciplina. Tinha um olhar sério que, reforçado
pelas mãos calejadas, indicavam ser ela uma mulher de fibra, como se
dizia, mesmo com seu um metro e cinquenta de altura. Só saía aos
domingos, para ir à missa, e às quartas, para fazer o jogo da mega-
sena. O seu e o do patrão.
Naquele mesmo dia de seu aniversário, e tão importante para a
reunião dos Mourão, fazia uma noite abafada, nem sinal de vento
quando Clarice abriu o vitrô da cozinha. O que viu, na verdade, foram
os preparativos para a passagem dos romeiros. Ficou paralisada
olhando a alegria daquele pessoal colocando as bandeirinhas e as
cordas que separavam a multidão. Aquela era uma festa do povo.
Tomada por um ímpeto, Clarice arrancou o avental e saiu sem ser
vista pela porta de serviço, nem tirou o cordeiro do forno.
Em um primeiro momento lá embaixo ficou atônita e deslocada.
Já havia uma organização em andamento, da qual Clarice não fazia
nem nunca sonhou fazer parte.
39
Bastou, no entanto, ver um pedaço de cordão sem dono que foi
logo tomando conta de amarrar as suas pontas e se misturar entre os
organizadores.
Era a primeira vez que Clarice sentia-se útil para si mesma e para
os outros, dando sem receber nada em troca. Nem lembrava do
cordeiro no forno que, por sua vez, já começava a cheirar queimado
na casa dos Mourão.
A patroa entrou na cozinha com o nariz empinado buscando o
foco do deslize gastronômico e gritando o nome de Clarice para lhe
ajudar. Em meio a tanta fumaça saindo do forno, gritou pelos filhos e
maridos, que permaneceram intactos em suas respectivas poltronas.
Avançando pela área de serviço, deu com a porta entreaberta e o
avental da criada jogado no chão. Clarice havia fugido.
Puxando os cabelos para cima com as próprias mãos, Maria Alice
se lamentava em voz alta a ponto de, pela primeira vez, fazer os
homens da casa irem até ela:
“Quem vai terminar o jantar?!?”
“Daqui a pouco os convidados vão chegar!”
“Vão atrás dela!”
A ala masculina, dando de ombros à gravidade da situação,
voltou para seus assentos sem nem levar em consideração a
possibilidade de descerem até a muvuca para procurar a empregada.
Maria Alice não se permitiu o luxo do descaso, não podia perder
Clarice!
Desceu as escadas do prédio correndo e em poucos minutos se
deparou com a multidão que começava a passar pela rua.
40
Os corpos suados dos romeiros passavam por ela e a arrastavam
involuntariamente pela romaria.
Gritar o nome da criada ali não lhe pareceu adequado e ela
preferiu manter o olhar atento à sua procura.
Viu um pai carregando um filho nos ombros, viu um grupo de
mulheres em um pranto baixinho, viu um jovem casal de mãos dadas,
viu turistas tirando fotos, mas não viu Clarice.
Mais alguns quarteirões e a romaria atingiu a avenida da orla,
onde flores e velas recebiam a breve peregrinação. Ali, Maria Alice já se
esquecera de Clarice e se levava, com seus próprios passos, ombros
grudados nos de seus agora companheiros de romaria.
Observava, com os olhos cheios de lágrimas que não ousava
derramar, o mistério da devoção e da alegria daquele pobre povo.
Pensou ouvir alguém chamar seu nome mas, “como podia”,
pensava, ninguém ali devia conhece-la. Continuou seu trajeto e sentiu o
chamado ficar ainda mais alto.
“Ah, sim! É Clarice!”.
“Dona Maria Alice, Dona Maria Alice!”, gritava a criada espantada por
ver a patroa lá.
Foram andando uma em direção à outra e, sem trocar uma
palavra, se enfiaram na direção contrária à multidão de volta pra casa.
Alguém tinha de terminar o jantar, dali a pouco os convidados
iam chegar.
41
Maria Teresa
O mar estava tão agitado naquele fim de tarde que Carlos
Alberto mal podia ouvir as pedras de seu uísque batendo contra o copo
na sacada de seu apartamento.
O movimento empolgado das pessoas na rua, que ele observava
apoiado de seu sexto andar, lembrava-o de que era sexta-feira. Mais
uma sexta-feira.
Sua tentativa de olhar o horizonte, que se escondia num céu
nublado, foi interrompida pelo interfone. Ele virou o copo derramando o
resto de gelo lá embaixo na calçada e foi atender; Maria Teresa era
capaz de matar ele se visse essa cena.
Era o porteiro anunciando a chegada da Raquel, a moça que a
partir daquele final de semana o acompanharia. A novidade imposta
pelos filhos, que achavam que ele já não podia ficar muito sozinho, foi
recebida com certa dose de resistência, mas não teve muito jeito: ela
chegaria às sextas no final do dia e ficaria até o fim da tarde de
domingo, deixando os filhos mais tranquilos.
Ele autorizou a subida dela e ficou na dúvida de qual elevador
ela usaria, mas a campainha tocou na porta de serviço e ele foi abrir
sem saber se esticava a mão ou se dava as boas vindas, pois protocolo
para tal situação ele desconhecia. Em silêncio, fez sinal para que ela
entrasse e foi caminhando com ela até um quarto de empregadas
junto da lavanderia do apartamento, que tinha sido usado, desde que
se mudaram para lá com os meninos ainda novos, somente como
depósito; Maria Teresa nunca gostou de empregada que dormisse,
achava uma invasão.
42
A moça era mais nova do que os meninos haviam dito: tinha
menos de trinta anos, usava branco e os cabelos presos. Eles disseram
que ela era enfermeira, mas, com aquela idade, devia estar ainda na
faculdade. Ele esperou que ela acomodasse a sacola no armário e
disse que ia dormir.
Ainda era bem cedo e ele nem tinha jantado, mas preferiu se
isolar no quarto.
Sem sono e com fome, Carlos Alberto ficou na cama pensando.
Pensou que seus filhos eram uns ingratos e queriam invalida-lo. Pensou
que aquela era sua casa e quem mandava era ele. Pensou que jamais
faria isso com o pai dele. Pensou que as noras é que deviam ter
colocado a ideia na cabeça dos meninos. Pensou que não ia se
acostumar com uma moça estranha dentro de casa. Pensou que não
precisava dela. Pensou que o salário que ela ganhava não devia dar
para nada. Pensou que ela provavelmente estudava a semana toda e
agora trabalharia aos finais de semana. Pensou que a vida dela devia
ser infeliz e solitária – e aquilo o incomodou muito. Pensou em ir até lá
dispensa-la. Ouviu o micro ondas apitando.
Ele percebeu que não tinha oferecido nada a ela como jantar e
ficou transtornado imaginando o que ela estaria esquentando, assim,
com tamanha naturalidade, já usando o forno no primeiro dia na casa
dele.
Fez um esforço e dormiu.
No dia seguinte acordou com barulho de louça sendo lavada na
cozinha. Com certeza era ela, terminando de tomar seu café da
manhã. Ele pensou em se vestir para ir até lá comer o dele, mas foi só
43
de shorts mesmo, afinal ele estava na sua casa e tinha o direito de
circular de samba-canção quando acordasse.
Tinha uma leve esperança de que ela pudesse ter deixado a
mesa posta, mas não. Pegou então um prato no armário, queijo na
geladeira e um pão de forma que já estava em cima da mesa. Tinha
uma laranja também, numa fruteira sobre a mesa. Enquanto ele decidia
se a comeria ou não, Raquel apareceu vinda de seu novo aposento.
- Bom dia, Dr. Carlos.
- Você descascaria essa laranja para mim?
De repente lhe pareceu tão cômodo que alguém pudesse
descascar sua laranja, como Maria Teresa costumava fazer de vez em
quando para ele ler o jornal sem estar com as mãos meladas.
Ainda sob o constrangimento da falta de clareza do que tinha de
fazer ali, a moça estendeu a mão, pegou a laranja, buscou uma faca
na gaveta e em pé, com a barriga apoiada no balcão da copa,
começou a descascar.
Parecia que era a primeira laranja que ela descascava na vida,
coitada. Com a franja caindo na testa e as mãos já indisponíveis para
ajeita-la, ela ainda tinha que de vez em quando olhar para ele pelas
frestas para tentar se defender do modo como ele agora a encarava.
Não adiantava muito: o olhar dele estava inabalável.
Carlos Alberto ali sentado esperando mantinha o olhar fixo sobre
a moça. Ela mal conseguia manter o ritmo do deslizar da faca, a pobre
menina. A cara de esforço dela não precisava, no entanto, ser tão
provocante. O decote dela, ele podia ser um pouco mais discreto. Seria
mais adequado, também, que ela não ficasse molhando os lábios de
tempos em tempos.
44
Antes de se lembrar do tempo em que era mais novo, quando
ainda nem conhecia Maria Teresa, lembrou-se que aquela era uma
moça em sua cozinha, acabando de descascar, com muito esforço,
uma laranja para seu café da manhã.
- Aqui está, Dr. Carlos.
Ela entregou o fruto já sem casca e partido em quatro lançando um
olhar de gelo para ele, logo se retirando para o quarto.
- Você aceita um gomo? Ele ofereceu, embaraçado.
Ela continuou andando e nem mexeu a cabeça:
- Essa faca está precisando mandar amolar.
45
SATISFAÇÃO GARANTIDA
Foi o desespero que levou Pablo àquela consulta: depois de já ter
tentado benção de padre e visita a médium no centro, topar com um
cartaz do Pai Léo de Ogum enquanto descia a Augusta lhe soou
providencial, o divino finalmente mexendo os pauzinhos em prol de um
ateu sem solução.
o rapaz não tinha amigos, não terminou faculdade e vivia de bicos, o
mais recente um esquema de pirâmide para venda de shake
emagrecedor.
fazia exatos 20 meses, 3 semanas e 2 dias que Marli tinha ido embora
com o padrasto e lhe deixado sem uma mão na frente mas com as
duas atrás, amaciando o traseiro que ainda doía do duro pé na bunda.
“tenho a solução para qualquer problema”, dizia a propaganda no
cartaz, com o endereço para a página de Facebook do dito pai de
santo.
após o pagamento de uma taxa de R$20,00 o sistema online liberava o
credenciamento e a agenda do líder espiritual.
dois dias depois Pablo já estava lá: entregou uma caixa de shake de
baunilha na casa de uma cliente, com a promessa de satisfação
garantida ou o dinheiro de volta, e montou no trem pra São Miguel
Paulista, onde Pai Léo atendia.
logicamente, a fila era enorme. via-se ali que os tempos não eram dos
mais fáceis pra ninguém.
uma hora de espera depois, Pablo teve um minuto para contar sua
história e escutou: “me traz um cabelo dela”.
46
charlatão-filho-da-puta foi o primeiro pensamento, mas, por via das
dúvidas, agradeceu a si mesmo pelo próprio romantismo que o levou a
guardar em uma caixinha uns pentelhos que ficaram no lençol após a
última noite de amor já nada tórrido entre ele e Marli e levou lá no dia
seguinte.
“é pra se vingar então?”, perguntou pai Léo.
“é sim”.
“aqui é satisfação garantida ou o dinheiro de volta”.
charlatão-filho-da-puta, pensou Pablo mais uma vez. em todo caso, saiu
já na expectativa de receber em breve uma notícia trágica de Marli.
chegou em casa, tomou duas cervejas já aliviado, como se já sentisse
antes de qualquer notícia ruim a Marli enfim desamarrada dos
pensamentos dele e foi fazer um xixi.
sentindo uma ardência horrível, olhou seu pinto mais de perto e viu que
uma vermelhidão tomava conta dele. o negócio ardia e só ia ficando
mais escuro, quase roxo.
desesperado, Pablo se jogou no chuveiro, ligou a água fria e a
sensação cessou. não lhe parecia, porém, que os susto não lhe deixaria
sequelas. pensou em todas, mas coelhinha nenhuma da playboy fazia
aquilo levantar.
Pablo se enxugou e correu para o Google em busca de uma solução
ou um caso parecido, que fosse, para dar um conforto. mas antes que
abrisse o navegador, pipocou um e-mail em sua tela:
“Prezado Sr. Pablo,
Comunicamos que houve um equívoco: análises posteriores
indicaram que o material entregue para trabalho continha espécimes
femininas e masculinas, diferentemente do indicado na consulta, que
47
indicava uma vítima mulher. Pedimos de antemão desculpas por
qualquer inconveniente e o número de sua conta para efetuarmos o
reembolso.
Atenciosamente,
Pai Léo de Ogum Ltda.”
48
TAMARA SOUZA
Mineira, Bióloga, com alguns anos de idade, apaixonada por
arte e música. Colaboradora do Blog Colina do Tordo, onde
escreve e ilustra suas histórias. Vê na natureza melodias e
inspirações que a fazem expressar sentimentos através de
seus textos.
49
O POVO
Conheço um povo engraçado...
Vive entre as serras de Minas, onde saboreia o doce do café e o queijo
branco.
A enxada é alternada entre a viola amiga e companheira.
É dia de festa! E esse povo sabe disso...
Enquanto o sertanejo toca o cateretê, os caboclos apresentam-se à
beira da fogueira.
A lua afaga a felicidade estampada de simpatia nos rostos, aquecendo
o frio da noite.
O chimarrão combina com as gélidas temperaturas do sul e acalenta os
enamorados na época de festa escondendo seus mais singelos
sentimentos.
Há tantos lugares para se descobrir! Cada canto de peculiaridade é
enriquecido em rostos cheios de vida.
O reflexo nos olhos da moça é o da verde mata que abriga libertadores
regentes da floresta, são infindáveis controvérsias que apreciam os
costumes de cada espaço.
O velho Chico chora entre os paredões da Canastra e abriga a riqueza
esvanecida. Campos acolchoados da rica simplicidade de um vilarejo...
Os botos brincam nas mentes incessantes dos medrosos e na taipa do
fogão à lenha os avós contam histórias de assombrações. É a
experiência da cultura de uma vida.
50
A miscigenação é a alegoria na época de carnaval e em resposta o
folclore arraiga-se em forma de lenda.
Lendas de causos de pescadores e verdades compreendidas que
atravessam as correntezas dos rios.
Várias histórias, um só povo.
Povo que se mistura com o barroco, que acolhe e inventa seu próprio
sotaque.
Uns dizem uai, outros tchê! Mas juntos são somente um.
Costumes que se entrelaçam entre formas de criatividade.
Conheço um povo...
Quem me dera conhecer outros povos como este. É esse povo que
também ri e chora, mas sobrevive...
Conheço um povo, é esse povo que difere de tantos outros...
É esse povo que também sou eu, é este O Povo: O POVO BRASILEIRO.
51
Estrela
Revelou-se como a mais sórdida confiança que eu pudera ter
conquistado de alguém.
Vi o brilho que enobrecia sua beleza, e encantei-me desde o primeiro
momento. Quiz saber quem era e com muito esforço sem que ela
soubesse descobri seu nome. Era muito frágil para ser revelada.
E pela primeira vez chamei-a pelo nome, Estrela, como a mais brilhante
de qualquer céu que eu já tinha visto até aquela noite.
Os dias eram imensos à espera de minha amada. E quanto mais o
tempo passava mais ela se apagava. Não pra mim, pois não se ofusca
o brilho de quem tem luz própria. Mas para o mundo.
Era a guia do meu universo encantado. Entre tantas, única! Meus olhos
a acompanhavam misteriosamente...
Mas um dia a nuvem escura cercou-a com todo pudor e não a
encontrei mais...
Tanto tempo contemplando-a e de repente a perdi.
-Estrela cadê você? Onde se escondeu?
Mas ela não ouviu...
A nuvem derramou gotas ácidas de sentimentos.
Senti em meu rosto os pingos atravessarem atingindo a minha alma.
Escondeu-se em algum lugar, pois não a vejo mais...
Hoje as noites são serenas, não tristes.
Tenho comigo o brilho cultivado de pequenos instantes.
52
Contemplo o céu com a esperança de vê-la. Mesmo tendo a certeza
do contrário.
Em algum lugar dentro de mim ela brilha reluzindo...
Não a vejo, mas ela existe...
53
Minha história...
Quero ver quem vai compreender quando as lágrimas rolarem em meu
rosto, e se sentar ao meu lado pra escutar toda a minha história.
Aspiro saber quem olhará além das minhas roupas desbotadas pelo
tempo e me dizer um oi ou transbordar um sorriso mesmo que seja de
mentira, ou até me ajudar a levantar das sarjetas escuras onde caminho
toda noite. Mas eu não mereço!
Sinto frio.
Todos olham com piedade para mim, mas me ignoram. A geada das
madrugadas é o meu cobertor, os calafrios me lembram das épocas
em que as folhas de Bordo tocavam o meu rosto nos outonos passados.
Os doutores passam nas calçadas e fixam olhares enojados, mas é fácil
ser como algum deles, difícil é se tornar alguém de verdade no meio de
tanto ego. Nenhum desses senhores conhece a minha vida.
Momentos que vivi, onde tinha tudo e não entendia porque existiam
tantas pessoas nas ruas mendigando por restos.
Tanta coisa! Os episódios dançam em minhas lembranças.
Sinto saudade não dos banhos quentes com perfumes excêntricos, mas
a falta que minha filha faz, quando me abraçava e me dava um beijo
todo melado de doce e dizia: papai vem brincar comigo? E eu limpava
aquele mel deixado pela inocente criança, e não olhava naqueles
olhinhos tristes que deixei por sonhar...
Se eu pudesse voltar e recomeçar. Pois todos têm uma segunda
chance, porém esgotei as três que tive.
Estou sozinho perambulando...
54
Perdi tudo! Não falo dos carros, nem das casas ou de ações. Mas o que
era tudo pra mim, e eu não valorizei quando pude: minha família.
Talvez eu tenha ficado pra me redimir. Mas o que me importa?
Não posso mais pegar minha filha no colo, ou dá-la um beijo de boa
noite: e dizer filha eu te amo. Quer brincar? E falar à minha esposa
como ela é bonita. E quanto seu perfume é doce.
Já é tarde. Nada importa mais.
Estou aqui, acho que não mereço a moeda que cai na caneca que
deixo ao meu lado, pra comprar um pão francês amanhecido na
padaria da esquina e saciar minha fome.
Hoje entendo o que é viver em função de sobras, se essas pessoas me
ouvissem queria falar para elas: Não percam tempo! Acordem para o
que realmente é digno de apreço nessa vida.
Não quero compaixão, pois estou onde deveria.
Se todos soubessem a minha história talvez existissem mais lares e menos
pessoas solitárias, assim como eu...
Mas o que importa?
Já é tarde...
55
Prece
Brisa tranquila que viaja, diga para o vento voltar...
Pra que ele sopre o amor aonde passe, que este permaneça pra
confortar o sopro da vida...
Vida que se espalha e que esgota como faíscas de rojões em tempo de
festa...
Ó Brisa que caminha na calmaria cumprimentando as folhas nos
bosques, traga de volta o que precisa retornar.
Não se esqueça de tão somente ser parte deste caminho...
Ó doce perfume misterioso expulsado das flores... Brisa! Se embebede
deste mel... Mas traga o vento.
Ó Brisa, cante com os riachos... Eles precisam ouvi-la para que a água
jorre mais pura pela sua delicadeza... Talvez o vento esteja dormindo
entre as rochas...
Não demore em voltar, correrei ao seu encontro...
Brisa perfumada de amor... Sentirei meus braços serem tocados pela
suavidade do seu abraço...
Vá sem demora e volte com pressa, mas não se esqueça do vento...
Ó Brisa! Vem e traga o que o vento levou de mim...
56
Dia de domingo...
Tão natural como a simplicidade estampada num sorriso de um idoso.
Que pega uma espiga de milho e começa a alimentar as aves. E ao
debulhar a espiga as aves se achegam aos seus pés, e sem dentes ele
solta um enorme sorriso, contemplando seus súditos.
É um rei entre tanta beleza esvoaçante. Suas pernas fracas saltitam a
riqueza da felicidade enobrecida entre seus gestos concretos.
Mais uma etapa do dia... Hora de entrar no palacete e contemplar a
beleza de uma rainha.
O fogão à lenha aceso aguarda o banquete dos herdeiros, de uma
herança infinita de amor.
A fumaça escurece a parede do castelo daquela majestade que com
sua coroa branca pega a viola para afinar.
Os meninos chegam eufóricos com suas máquinas de metal, deixando
marcas naquele chão nutrido com os diamantes do carinho da boa
educação dada a cada um deles...
Um a um acariciam a coroa do rei e puxam a saia da rainha que
esquenta a barriga no fogão...
Ali agradecem pela vida que lhes é dada, pelo pão de cada dia e
repartem aquele alimento temperado com a essência do amor.
Uma tarde onde as crianças de 30,40 anos voltam a ter 5 anos de idade
e sentam para ouvir as modas de viola daquele magnânimo ser,
esplêndido em sabedoria.
Entre erros de notas, risadas e cascas de laranja, restos de uma
sobremesa deliciosa, o domingo vai se encurtando...
57
Chega a hora das crianças crescerem novamente, se tornarem
responsáveis. Assim acaba o domingo...
Na estrada fica as marcas de pneus, no coração de cada filho o aperto
da despedida de uma semana de espera. Nos olhos das realezas a
calmaria, mas a certeza de um novo domingo próximo. E a riqueza do
amor que é a fortuna de um império feito de simplicidade.
É a vida na nobre simplicidade o tesouro para ser rico sem ter muito. É
milionário aquele que vê nas pequenas coisas o sentido para sorrir.
E fecharam as portas e janelas daquele castelo de tijolos batidos e
foram descansar.
58
TOMAS FAVA
A poesia pode salvar uma manhã, destruir um prédio e
espantar urubus. Às vezes ela da de comer, a maioria das
vezes passa fome e dificilmente será reconhecida. Agradeço
ao poeta Daniel pelo reconhecimento e insistência de
publicar meus versos. Esses versos são minha vida.
59
RIOCORRENTE
Aqui subimos uma ponte
e posso enxergar
rio mais cidade
se sobrepondo no horizonte
as margens de um único conceito:
Brasil
nem rio nem cidade propriamente brasileiros
nem sequer deixam de sê-los
o rio
que antes de ser rio
não tinha pátria, não tinha lixo
e nem beijava esse concreto
quando nem tamanduá
tinha bandeira
pra virar carcaça
na sola dos caminhões
a cidade
60
trazida na tempestade
tragada por construções
servil a tantos patrões
veio de fora
e pra fora escoa os milhões
assim
longe de ser rio ou cidade
Brasil é fluxo de uma enxurrada
identidade e carteira roubada
lágrimas de um guarani
é aquilo que ainda não veio
E já anda tão longe daqui.
61
E lá?
Ela vai ser amada onde for
Ela que fala de mim nos poros
Das cobras na represa
Ela e esse seu jeito de pisa-flor
Ela cujas letras são longa jornada
E as estrofes com cheiro de mar
Grudam no cabelo
Como porra ou cantigas de amor
Ela com tanto pra dar
Recebe pouco
E com tão pouco me deixou
Como quem já teve tudo
(A mão, o tempo, as estrelas)
E tudo se evaporou
Ficando a essência
Um rio que se aventura
Perfume que nos perdura
62
Na linha tênue
Entre amor e dor.
63
Querida ferida
Crocodilos me devorem
Lhes arranco o couro
Nos consumindo
Afetos-paixões
Nos devorando
Arrancam crocodilos
De nossa moral
Eu que nunca havia sido um réptil
Travei com um de sangue frio
Batalha mortal
Nenhum de nós saiu inteiro
Ninguém ali agiu por mal
Tudo por um pouco de calor
Amor, ardor e luz do sol.
64
Líder da matilha
Tudo em ti pelanca amor
E liberdade reboluda
Transborda pelas trilhas
Desse Brasil proibido
Tua alegria de guiar
De ser guiada e
Manguear comida
Espantando os urubus
E as afrontas a tua
(Nossa) mãe
Como vamos pela mata cinza
Na baleia preta onde os homens
Queimam seus pés
Sabíamos que ia na frente
Sabíamos mas tentávamos esquecer
E agora que caminhas cabe a nós que aprendemos tanto contigo
65
Arrancar pedaços de nossa carne
Pra que leves com você.
66
Cordatos
Além de como reconhecem
enxergam
ou vibram
ao plantear o solo
com seus passos
seres humanos
emitem
tal uma corda
emite um violão
'quando eu entro na roda
peço ao berimbau para ser
instrumento da capuera'
entre idades
entidades
entram e saem
67
buscam e compram
propagam
feliz de quem
se sente
reverberação