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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ RUBENS CARDOSO DA …

Date post: 23-Nov-2021
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

RUBENS CARDOSO DA SILVA

Reitor da Universidade do Estado do Pará

CLAY ANDERSON NUNES CHAGAS

Vice-Reitor da Universidade do Estado do Pará

ANDERSON MADSON OLIVEIRA MAIA

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Educação

CYNTIA FRANÇA CAVALCANTE DE ANDRADE DA SILVA

Coordenadora do Campus XIV da Universidade do Esatdo do Pará

Comitê Científico

Daniele Costa da Silva (UEPA)

Hellen Cristina Aleixo Azeredo (UNAMA)

Joana de Fátima Ferreira Borges da Costa (COSMOPOLITA/UNINASSAU)

José Fernando Pereira Leal (UEPA)

Josué Leonardo Lisboa (UFPA)

Márcio José Silva (UEPA)

Maria Francisca Ribeiro Corrêa (UFPA)

Marinilda Sardinha Corrêa (FAM)

Priscyla Cristinny Santiago da Luz (UEPA)

Ronilson Freitas de Souza (UEPA)

Rosiellem Cabral dos Passos de Almeida (UEPA)

Talita Rodrigues de Sá (UEPA)

Revisão

Namieli Nascimento Bezerra

Rosiellem Cabral dos Passo de Almeida

ISSN:2595-248X

Namieli Nascimento Bezerra

Rosiellem Cabral dos Passo de Almeida

(Organizadoras)

Parte 1 – Ciências Naturais

O ensino de ciências e a importância do uso da CTS como ferramenta geradora de

conhecimento: uma análise daprática docente ................................................................. 09

O uso da aprendizagem significativa no ensino de organelas citoplasmáticas: um relato

de experiência a partir da perspectiva construtivista ......................................................... 22

Dialogando sobre a ludicidade com professores de ciências de uma escola pública no

município de Abaetetuba ................................................................................................. 29

Refletindo sobre a prática lúdica em sala de aula em uma experiência de alunos da

graduação em Ciências naturais e Pedagogia................................................................... 30

Uso de indicador natural para o ensino de acidez e basicidade ......................................... 31

Parte 2 – Letras

As charges e o ensino da escrita: os desafios da escrita no 3º ano do ensino

fundamental .................................................................................................................... 33

A prática da Análise Linguística em sala de aula: exercitando habilidades com ênfase na

competência 3 do ENEM ................................................................................................ 41

Variação linguística no livro didático de Língua Portuguesa ............................................ 60

Leitura em sala de aula: a prática docente, limitações e desafios ...................................... 79

O gênero Charge como perspectiva para a formação de leitores críticos no ambiente

escolar ............................................................................................................................. 96

O ensino da Gramática Normativa em sala de aula: prática docente, impasses e novos

objetivos......................................................................................................................... 108

Variação linguística no campo semântico lexical dos moradores do quilombo África ... 118

Literatura infantil como prevenção à violência sexual para crianças ............................ 119

A solidão percebida em “A hora da estrela” de Clarice Lispector. ............................... 120

Saberes educacionais: o ensino de língua portuguesa por meio da peça teatral Emília no

país da gramática .......................................................................................................... 121

Parte 3 – Matemática

Educação matemática: o raciocínio lógico-matemático na educação infantil ................. 123

Educação matemática e inclusão: concepções e práticas aplicadas a educandos com

deficiência no município de Moju/PA ........................................................................... 138

Parte 4 – Pedagogia

A educação inclusiva em uma escola pública do município de Abaetetuba-PA ............. 140

A música como ferramenta pedagógica no processo de ensino e aprendizagem na

educação infantil ........................................................................................................... 152

Alfabetização e Letramento: o gênero história em quadrinhos (H.Q) como proposta

didática para o ensino fundamental ............................................................................... 170

EJA: os desafios dos alunos de permanecer no âmbito escolar ....................................... 190

O intérprete de Libras e a escola: uma realidade no contexto inclusivo .......................... 207

O processo de inclusão de alunos surdos numa escola de tempo integral no município de

Abaetetuba .................................................................................................................... 216

Pluralidade cultural e a formação da identidade étnico-racial negra: a Psicologia na

abordagem e aprática docente ....................................................................................... 229

As metodologias ativas em uma sala de aula: experiência de potencialidades nos

processos pedagógicos de alunos de graduação de um polo da Universidade do Estado do

Pará ............................................................................................................................... 240

Interfaces universidade e escola pública: linguagem, saberes e ludicidades na

infância ......................................................................................................................... 246

Livro sensorial: possibilidades para uma educação lúdica e transformadora .................. 257

Praticas pedagógicas: jogos e atividades pedagógicas adaptados para as crianças com

deficiência visual .......................................................................................................... 261

Uma experiência da extensão universitária em uma comunidade quilombola ................ 267

A importância da leitura na formação do leitor: estratégias de leitura e escrita nos anos

iniciais em uma escola pública do município de Moju/PA............................................. 273

As contribuições do estágio em ambientes não escolares para a formação do

pedagogo ....................................................................................................................... 274

Tecnologia assistiva: promovendo ainclusão social ...................................................... 275

A Semana Acadêmica da UEPA Campus XIV tem como objetivo

principal proporcionar momentos de socialização de conhecimentos por

meio de palestras, minicursos e sessões de comunicação. Dessa forma,

compartilhando experiências nas áreas de Letras, Pedagogia, Matemática e

Ciências Naturais sobre o tema Educação intercultural: desafios ao trabalho

docente.

A presente publicação abrange 32 trabalhos. É, pois, com alegria que

convidamos os leitores a percorrerem as páginas seguintes e a descobrirem a

riqueza dos debates englobados por este evento.

9

O ENSINO DE CIÊNCIAS E A IMPORTÂNCIA DO USO DA CTS

COMO FERRAMENTA GERADORA DE CONHECIMENTO: UMA

ANÁLISE DA PRÁTICA DOCENTE

THE TEACHING OF SCIENCES AND THE IMPORTANCE OF

THE USE OF CTS AS A KNOWLEDGE GENERATING TOOL: AN

ANALYSIS OF TEACHER PRACTICE

Edna Cristina de Melo Conceição

João Augusto Garcez de Paula

Weslen Baia

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar como o uso das Ciência Tecnologia e

Sociedade (CTS) influência na potencialização da socialização de saberes científicos na

Educação Básica a partir da perspectiva do docente no processo ensino-aprendizagem.

Para isso, considerou-se abordagens metodológicas qualitativas com professores da

Educação Básica, no ensino de Ciências, nos municípios de Barcarena e Abaetetuba.

Como resultados, constatou-se que os professores reconheciam a importância da CTS,

alguns aplicavam métodos alternativos para o cumprimento da temática, enquanto outros

estagnavam frente às limitações e não aplicavam o ensino com qualidade. Apesar disso,

a importância do CTS é fundamental para a prática científica fazer sentido ao contexto

social do aluno, uma vez que estará diretamente ligado à realidade do aluno.

Palavras chave: Ciência. Tecnologia. Sociedade. Conhecimento.

Abstract: This study aims to analyze how the use of Science Technology and Society

(CTS) influence in the potentialization of the socialization of scientific knowledge in

Basic Education from the perspective of the teacher in the teaching-learning process. For

this, we considered qualitative methodological approaches with teachers of Basic

Education, in the teaching of Sciences, in the municipalities of Barcarena and Abaetetuba.

As results, it was found that teachers recognized the importance of CTS, some applied

alternative methods to comply with the theme, while others stagnated in the face of

limitations and did not apply quality teaching. Despite this, the importance of CTS is

fundamental for scientific practice to make sense of the social context of the student, since

it will be directly related to the reality of the student.

Keywords: Science. Technology. Society. Knowledge.

1 INTRODUÇÃO

O progresso na sociedade global nos ramos da ciência e da tecnologia tem

profundamente influenciado nas várias modificações do mundo contemporâneo, em que

são perceptíveis mudanças nos aspectos econômicos, políticos e sociais. No campo

10

educacional, a inserção da ciência e tecnologia vem ganhando destaque na sociedade,

envolvendo, inclusive, discussões, questionamentos e críticas sobre o saber científico, no

sentido de colaborar para que se construam elementos de investigações e preocupações

para concatenar a ciência e a tecnologia com as relações sociais.

Neste âmbito, algumas propostas de ensino se destacam por orientarem

socialmente o ensino de ciências. Dentre essas propostas de ensino de ciências, destaca-

se a perspectiva denominada: Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Nas últimas décadas os avanços científicos e tecnológicos têm estimulado os

alunos sobre temas relacionados às Ciências da Natureza. Percebe-se, entretanto, que o

Ensino de Ciências, na educação Básica, está bastante distante do desenvolvimento

necessário para que o aluno se torne compreensivo do seu espaço social. Na literatura, a

compreensões de professores sobre interações entre CTS têm sido apontadas como um

dos pontos de estrangulamento, por não se contemplar os enfoques da CTS no processo

educacional (AULER; DELIZOICOV, 2006b).

Entendemos que as mudanças das propostas educacionais no processo

pedagógico no ensino de Ciências devem manter possibilidades de articulações que

proporcione discussões acerca da atuação do docente no enfoque CTS na perspectiva de

contribuir e desenvolver uma base educacional coerente capaz deoferecer oportunidades

no Ensino de Ciências abordando temas do cotidiano na extensão política, social e

econômica, principalmente no contexto no uso da Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS).

De acordo com esse pensar, Santos; Mortimer (2002) ressaltam que o objetivo

principal do enfoque CTS na educação básica é a promoção da educação científica e

tecnológica dos estudantes, auxiliando-os na construção de conhecimentos e atitudes

responsáveis sobre questões de ciência e tecnologia na sociedade.

A partir dessa premissa, é importante traçar uma análise da prática docente no

que tange ao uso das CTS, dada sua relevância necessária para o alargamento do processo

de inserção e mudança de atitudes para com o uso dessa ferramenta na Educação Básica.

Nesse sentido, questiona-se: a prática docente no ensino de Ciências favorece o

estreitamento do uso de CTS nos espaços escolares? O uso dessa ferramenta (CTS)

contribui para ações inovadoras no processo da aprendizagem?

Ressalta-se que, conforme o olhar de Vasconcelos; Santos (2008), as ferramentas

inovadoras na prática educativa, contribuem para a formação de uma sociedade mais

comprometida com o saber social e com as questões das ciências e tecnologias, posto que

as discussões sobre essa mudança de paradigmas, na educação formal, é um ponto de

11

longas discussões, principalmente sobre a abordagem de CTS e suas perspectivas de

aplicação, sobretudo no ensino de ciências.

Para melhor apresentar nossa pesquisa, buscamos organizá-la a partir da

pesquisa bibliográfica – que conforme Marconi; Lakatos (2003) visa realizar um

apanhado geral sobre os assuntos já existentes, e que por sua relevância são capazes de

gerar dados atuais sobre o tema. Utilizaremos a aplicação de pesquisa qualitativa que,

para Silva (2005), dentro de uma análise fenomenológica, possibilita a obtenção de dados

descritivos e a interação direta entre pesquisador e objeto de estudo e ainda, a pesquisa de

campo de cunho etnográfica nas escolas selecionadas para confrontar a realidade

apresentada no processo educativo e sua relação com o uso das Ciência Tecnologia

Sociedade.

Esta escolha metodológica foi considerada tendo em vista o objetivo deanalisar

como o ensino de Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) influencia na potencialização

da socialização de saberes científicos na Educação Básica a partir da perspectiva do

docente no processo ensino-aprendizagem.

Nesse ínterim, o trabalho foi realizado em 3 escolas públicas do ensino básico

dos municípios de Barcarena e Abaetetuba no estado do Pará, levantando em consideração

sua referência como escola modelo na região. A coleta de dados ocorreu durante o período

abril a junho do ano de 2018, sendo realizada com os professores – tendo garantia de seus

anonimatos ao considerar Professor 1, 2, 3 e assim por diante.

Após isso, os dados foram analisados e correlacionados às demaiscontribuições

bibliográficas a fim de assegurar sua veracidade e contribuição para o meio científico,

uma vez que se trata de uma temática relevante no meio educacional em virtude das

inovações do ensino-aprendizagem.

Com isso, o trabalho proposto pretende contribuir para analises de pesquisas

futuras no tema CTS no ensino de ciências, ressignificação da prática educativa, bem

como, estabelecer maior importância aos professores que participaram da pesquisa, numa

abordagem metodológica diferenciada proporcionando uma visão investigativa buscando

dar oportunidade para que o estudante possa atuar de forma reflexiva e ativa em cada

situação proposta na sociedade.

Dentro desta análise, espera-se com esse trabalho, contribuir para o alargamento

de Políticas Públicas que visem melhorias no uso inovador de ferramentas que

possibilitem um pensar diferente para quem ensina e quem aprende e, ainda, tecer

12

discussões sobre o uso CTS no ensino de ciências e a prática pedagógica das escolas

selecionadas.

2 MARCO TEÓRICO

Balizados nas vertentes de Santos; Mortimer (2002), na educação básica o

objetivo central do enfoque CTS é favorecer a educação científica e tecnológica dos

alunos, auxiliando-os a construir conhecimentos, habilidades e valores essenciais para

que possam tomar decisões responsáveis sobre questões de Ciência e Tecnologia para que

obtenham, ainda, um olhar crítico sobre o papel da ciência e da tecnologia na sociedade,

uma vez que este enfoque amplia os debates em sala de aula acerca de questões políticas,

econômicas, culturais, sociais, ambientais e éticas.

Concordando com os princípios e pressupostos do movimento CTS, Bernardo;

Silva; Viana (2011), entendemos que a abordagem de conteúdos deve proporcionar ao

estudante da educação básica a construção do seu conhecimento a partir de discussões

que envolvam o papel social da ciência-tecnologia inserida no mundo atual, a fim de

possibilitar que ele desenvolva uma visão crítica do mundo globalizado.

Dentre os vários temas debatidos no ensino de ciências nas escolas da educação

básica, existem as necessidades do uso das tecnologias na educação como ferramenta de

ensino, que muitas vezes não desenvolvidas, podem gerar a lentidão para a construção do

conhecimento, o distanciamento no aluno do senso crítico, bem como, da sua capacidade

de refletir, discutir e analisar o desenvolvimento de informações relevantes à ciência e

tecnologia - como resolução de questões relevantes da sociedade e o saber científico.

Nesse pensar, Solbes; Vilches (2004) sugerem, que para a melhoria da formação

e da participação cidadã em questões sociais, faz-se ser necessária uma formação

científica básica e realmente útil, que permita a inclusão efetiva do indivíduo na tomada

de decisões em favor das necessidades da coletividade.

Nessa construção, as abordagens da CTS exigem, ademais, análise da pratica

docente para uma contribuição na formação das atividades de ensino e aprendizagem, de

forma que, os laços de interação estejam mais presentes na relação professor e aluno.

Transcendendo, nessa medida, práticas tradicionais de ensino que engessam o aluno em

não produtor e elaborador do seu próprio conhecimento. A partir dessas questões, a prática

docente sai do modelo de transpor conteúdos preparados, de forma tradicional, passando

para uma abordagem investigativa em conjunto com os alunos nos problemas e em suas

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resoluções. As proposições precisam estar ligadas a vida cotidiana dos alunos de maneira

que possam ser abordadas interdisciplinarmente os conteúdos em sala de aula.

Para tanto, os professores devem visar à formação de alunos que saibam

viver situações práticas a partir das quais seja possível perceber que não há

uma única visão de mundo, portanto, um fenômeno, um problema, e que uma

experiência pode ser descrita e analisada segundo diferentes perspectivas e

correntes de pensamento, que variam no tempo, no espaço, na intencionalidade

(BRASIL, 2013, p. 33).

Assim, auxiliar a interligação dos trabalhos desenvolvidos por alunos para a

construção do saber instiga a formação de valores e condutas que dê consentimento às

atuações fundamentais no espaço que estão inseridos, e estes podem ser mais reflexivos

acerca dos problemas sociais.

Ademais, para Aikenhead (2006), a CTS é uma alternativa humanista para o

ensino de ciências ao corroborar para a construção de um letramento científico e

tecnológico que favoreça a formação de cidadãos capazes de atuar de forma responsável

em relação a temas controversos que incorporem aspectos socio científicos. Nesse

contexto, Santos (2008) enfatiza que o objetivo central do ensino de CTS na educação

básica pode ser identificado com a promoção da educação científica e tecnológica dos

cidadãos, de modo a auxiliar o aluno a construir conhecimentos, habilidades e valores

necessários para tomar decisões responsáveis sobre questões de Ciência e Tecnologia na

Sociedade e atuar na solução de tais questões.

A integração do CTS nas escolas no ensino de ciências tem contribuição

essencial do docente que pode disponibilizar aos alunos uma compreensão que lhes

possibilite discutir, analisar e tomar iniciativas para resolver problemas. Nesse sentido, os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino fundamental, destaca a

abordagem CTS no ensino de ciências da seguinte forma:

No ensino de Ciências Naturais, a tendência conhecida desde os anos 80 como

“Ciência, Tecnologia e Sociedade” (CTS), que já se esboçara anteriormente e

que é importante até os dias de hoje, é uma resposta àquela problemática. No

âmbito da pedagogia geral, as discussões sobre as relações entre educação e

sociedade se associaram a tendências progressistas, que no Brasil se

organizaram em correntes importantes que influenciaram o ensino de Ciências

Naturais, em paralelo à CTS, enfatizando conteúdos socialmente relevantes e

processos de discussão coletiva de temas e problemas de significado e

importância reais. Questionou-se tanto a abordagem quanto a organização dos

conteúdos, identificando-se a necessidade de um ensino que integrasse os

diferentes conteúdos, com um caráter também interdisciplinar, o que tem

representado importante desafio para a didática da área. (BRASIL, 1998, p.20-

21).

14

Insere-se nessa perspectiva que a partir da estimulação da educação, criação do

saber científico e tecnológico, do desenvolvimento do pensamento crítico e discursivo

durante o processo ensino-aprendizagem, o desdobramento da ciência e da tecnologia,

criação e difusão da cultura corroboram para o entendimento do homem no meio em que

vive.

Reforçando esse olhar, Cruz; Zylbersztajn (2001), ressalta que o papel mais

importante a ser cumprido pela educação formal é o de habilitar o aluno a compreender a

realidade (tanto do ponto de vista dos fenômenos naturais quanto sociais) modo que ele

possa participar, de forma crítica e consciente, de debates e decisões que permeiam a

sociedade na qual se encontra inserido.

Assim, permite a construção de resultados e discussões obtidos através de

representativas ideias expostas entre os professores e alunos com uso de valores, condutas

e atitudes que possibilita a atuação nos fundamentos com responsabilidades na

contribuição para a geração de conhecimento da sociedade.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Uma visão do professor

3.1.1 A importância da tecnologia na formação da sociedade

Os pontos examinados sobre a importância da tecnologia para a sociedade, na

visão dos professores no ensino de ciências, tiveram relevância, sobretudo na questão do

conhecimento de CTS que se faz necessário em virtude da aproximação dos conteúdos

com a realidade dos alunos de forma viável para se observar com maior dinamismo o

conhecimento institucional da aprendizagem. Parafraseando com Zeichner (2003), o

professor deve atuar de forma reflexiva sobre o cotidiano escolar, assumindo uma atitude

mais centrada no aprendiz, capaz de fomentar a participação, discussão e contribuição

discente na sala de aula. Com isso, para os professores é essencial no ensino de ciências

a aplicabilidade da práxis, e assim evitar a dissociação da teoria e da prática e encurtar,

com isso, a possibilidade do aprendente ter maiores dificuldades para a construção do

conhecimento.

As afirmações dos professores quanto às perguntas feitas sobre a importância do

CTS no ensino de ciências como geradora de conhecimento provaram com raciocínio

convincente que possuem extrema ligação com o uso das tecnologias e suas relações com

os meios metodológicos para as análises das atividades educacionais na formação da

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cidadania. Portanto, explica-se pormenorizadamente que o uso das tecnologias é um

avanço que vem ganhando espaço nas instituições e precisam se habilitar a essas

tecnologias, usando para o bem-estar da sociedade. Vejamos a resposta do professor 1,

que utilizou sua resposta postada nas experiências vividas em sua formação acadêmica:

“Com essa abordagem podemos dizer que, a abrangência de conhecimento na

área define de forma relevante a construção de um cidadão prático e com novas

ideias para inovar o meio científico tecnológico e social.”

A transparência inteligível da relação do ensino de ciências com o CTS é um

agente que proporciona os melhores resultados para a condição da formação do ensino

aprendizagem com uma importância para a geração do conhecimento da sociedade.

A professora 3, destacou que usa os temas relacionados com a abordagem CTS

em suas aulas, demonstrando alguns exemplos na utilização do datashow. Destacamos

um pouco de suas palavras:

“No funcionamento de um datashow, pode-se explorar alguns princípios

físicos envolvidos em seu funcionamento, dentre eles: os tipos de lentes que

contem, assim como, as projeções de imagens através das lentes.”

Os professores 2 e 4, não deixaram clara em suas palavras sobre a importância

do uso do CTS numa abordagem reflexiva na formação da sociedade e não sabiam bem

como usar o tema em suas aulas, ou seja, não detinham domínio sobre a abordagem CTS.

Observa-se a palavra do professor 2:

“Com relação ao CTS, utilizo em minhas aulas vídeos e o uso de experimentos,

destacando os temas de Química com demonstrações dos átomos e reações

químicas, respectivamente.”

3.1.2 Tecnologia e sociedade, e sua relação com o ensino de ciências

No que diz respeito a relação entre tecnologia e sociedade com o ensino de

ciências, os professores 1 e 3, conforme suas experiências, destacaram subjetivamente

suas palavras, demonstrando uma percepção raramente apresentada nos conceitos

abordados em sala de aula. O professor 1 apresentou que o progresso científico tem sido

impressionante nas diferentes correntes do ensino de ciências na forma de demonstrar os

diversos aspectos da natureza na descoberta de novas tecnologias, na construção de novos

instrumentos e nas propostas de invenções; descreve que é preciso maior avanço nos

trabalhos de pesquisas e elaboração de projetos pautados na concepção da vida da

sociedade, na criação da atividade organizacional do conhecimento e do ensino das

ciências.

16

A professora 3 destacou que para a compreensão complexa do mundo socio

científico é preciso estabelecer contato entre o saber tecnológico e o histórico, articulando

conceitos importantes nos segmentos da sociedade. Nesse sentido, o ensino de ciências

está completamente correlacionado com os aspectos sociais relevantes para a sociedade,

uma vez que influencia no modo de vida das pessoas. Assim ela destaca:

“Através da abordagem CTS no ensino de ciências está voltado para a melhoria

da qualidade de vida da sociedade.”

Segundo Kist; Ferraz (2010 apud REIS, 2001) a abordagem da relação

Ciência/Tecnologia/Sociedade (CTS) torna-se cada vez mais necessária no ensino de

Ciências para possibilitar aos alunos a compreensão dos avanços científico e tecnológicos

já presentes em seu cotidiano. Tendo como foco motivador, o comportamento do estudo

da CTS, associando sua aprendizagem ao seu dia-a-dia.

Obter autonomia tecnológica não significa necessariamente ter domínio

tecnológico. Contudo, a aquisição profunda desses aspectos, tem importância

fundamental no desenvolvimento da sociedade, proporcionando a maior praticidade do

manuseio dos avanços tecnológicos. Essa é uma concepção do ensino de ciências que visa

cada vez mais, a evolução investigativa na contribuição para a sociedade. Com isso,

percebemos nas investigações com as observações dos professores que a sociedade não

permeia em relação ao ensino de ciências longe dos avanços tecnológicos. Com tudo

destacamos a consideração da professora 3:

“A investigação científica pressupõe um reparo nas observâncias do atentar

para a forma crítica e ponderar na busca de soluções tecnológicas para o

progresso da qualidade de vida da sociedade.”

Assim, entendemos que o educador deve estar sempre adquirindo novos

conhecimentos, lançando-se a novos saberes exigidos e vividos pela sociedade atual,

gerando o enriquecimento tanto para o educador quanto para o educando. Mas, de fato,

ainda no século XXI, os educadores ainda não se lançaram às novas tecnologias

(TORRES, 2011, p. 12). Contudo, alguns dos professores na pesquisa em discussão

obtiveram que os avanços tecnológicos estão continuadamente em vínculo com a

qualidade do que pode realizar essas alternativas para a sociedade. Assim, é considerável

a necessidade dos professores de se adequarem a esses novos avanços tecnológicos na

formação da sociedade para o ensino de ciências, procurando examinar as relações entre

ciência, tecnologia e sociedade para a gestão humanitária de geração de conhecimento

com uma perspectiva reflexiva e critica na vivência da cidadania.

3.1.3 A tecnologia e o diálogo em sala de aula

17

Na ocasião voltada para as interrogações sobre a implantação do uso das

tecnologias no ensino-aprendizagem de ciências em sala de aula, os professores 1 e 3

foram precisos em suas respostas, qualificando como fundamental os princípios básicos

do ensino de ciências no diálogo socio científico. Esse processo motiva uma avaliação

que abrange e considera a maior relevância do desenvolvimento em sala de aula das

competências e habilidades para a construção da interação científica-social.

Nesta perspectiva do CTS nas escolas, os professores 1 e 3 destacaram que a

formação de qualidade dos alunos nos dias de hoje, está amplamente ligada, ou seja, em

conexão com o uso das tecnologias na didática escolar, pois as presenças dessas

potencialidades efetivas nas escolas manifestam variáveis de extrema importância para a

vida na sociedade. Nessa finalidade do aprofundamento dos conhecimentos na

compreensão dos alicerces e princípios do CTS no ensino de ciências em sala de aula,

relacionamos uma autonomia intelectual abrangente para a prática do conhecimento e do

pensamento crítico do indivíduo.

O professor 1 afirma em sua resposta que:

“O CTS na abordagem para o ensino de ciências, está relacionado com a

observação das problemáticas existentes no meio social que passam para

dentro da sala de aula fazendo com isso, a busca da criação de soluções para

resolvê-los por meio de uma análise científica.”

Em relação ao CTS de como esta abordagem está inserida em sala de aula e o

que proporciona para a sociedade, o professor 3 falou que:

“Uma das abordagens é que a autonomia no ensino, valoriza a participação do

aluno dentro do tema abordado, trazendo para o aluno a motivação na busca

pelo conhecimento, ou seja, os alunos promovem a construção pela resolução

de problemas envolvidos com o CTS, desenvolvendo o interesse pelas aulas

com o uso das tecnologias e na busca por conhecimentos.”

A relevância dos professores 2 e 4, não entrou em conexão com a abordagem do

ensino de CTS no ensino de ciências em sala de aula, pois não souberam informar como

se relaciona a perspectiva socio científico com o tema abordado.

No entanto, a tecnologia traz um fator de cognição de avaliar a qualidade e

operação sistemática dos assuntos no ensino de ciências voltada para a sala de aula, uma

vez que propicia ao alunos o desenvolvimento de uma postura de iniciativa própria, sendo

potencial para a capacidade crítica, criatividade, além da construção de um indivíduo

argumentativo que valoriza as habilidades de solução de problemas e aplicações

conhecimentos galgados para a vida na comunidade em que está inserida.

18

3.2 Processo ensino-aprendizagem de CTS

Apesar de sua demasiada importância, o ensino de ciências na Educação Básica

não é tão descomplicado quanto deveria ser, haja vistas as diversas dificuldades

encontradas entre os aspectos econômicos (como carência de materiais), sociais e pessoais

(longa carga laboral do professor). Considerando que a abordagem de CTS nas escolas

melhora na linguagem e compreensão dos temas de ciências utilizando instrumentos

tecnológicos recorrentes nas manifestações e na evolução das didáticas escolares, os

professores foram indagados quanto à abordagem do tema. A professora 3 destacou:

“Abordar a tecnologia no ensino de ciências, não é difícil, porém requer tempo

e materiais disponíveis para as explicações práticas ficarem bem-sucedidas.”

O professor 1 ressaltou que trabalha sempre temas relacionados ao ensino de

ciências voltados para a formação dos alunos no dia a dia, e recomenda o uso das

tecnologias como instrumentos de ensino nas aulas, pois estinga a visão dos alunos na

resolução de problemas para um entendimento das habilidades de forma ampla e

importante na formação necessária à vida cotidiana na sociedade. O professor 1 ressalta

ainda que:

“No CTS partimos do problema para a derivação dos conteúdos estudados em

sala de aula, diferentemente do modo tradicional, que partimos dos conteúdos

e finalizamos com os problemas.”

Neste âmbito, destaca-se a importância de protagonizar as experiências do

alunado frente às formas tradicionais, pois estas não aproximam-se à realidade dos alunos,

o que consequentemente não refletem com a mesma relevância para o aluno já que não

fazem sentido para o entendimento de seu contexto social. Ao partir da realidade, os

alunos passam a entender o seu mundo a fim de desenvolver capacidade crítica e

resolutividade.

Os professores 2 e 4 não opinaram sobre o tema aqui abordado, e deram

afirmativas que não usam a tecnologia em sala como instrumentos de ensino, pois não se

observa instrumentos nas escolas disponíveis para as didáticas a serem envolvidas.

Santos; Mortimer (2001) recomendam atividades que discutam e reflitam

problemas socio científicos associados à realidade, buscando, além do ensino conceitual,

formar atitudes e valores e preparar o aluno para questionar, participar e construir

coletivamente respostas para problemas sociais.

As orientações apresentadas pelos professores foram de extrema importância

para nossa pesquisa, que trouxe propostas que relaciona o ensino de ciências com a

19

vivência social, o conhecimento cientifico e tecnológico, na construção do saber cientifico

e da cultura, proporcionando oportunidades aos alunos de perceberem relações entre o

conhecimento cientifico e as transformações sociais, bem como, o desinteresse de alguns

professores pelo tema CTS ou até mesmo a falta de instruções para sua formação como

instrutor no desenvolvimento do saber e do ensino com a sociedade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da opinião dos professores, em relação ao ensino de ciências e a

importância do CTS como geradora de conhecimento, podemos observar que alguns dos

professores utilizam a abordagem em uma visão como proposta principal de levar o

conhecimento aos alunos para a vida na sociedade, enquanto outros professores

desconhecem a abordagem do tema CTS voltado para o ensino aprendizagem ou não

sabem utilizar as ferramentas de ensino.

Estabelecemos na observação que a possibilidade de administrar edesempenhar

as funções que se relacionam ao pensar do conhecimento científico, está integrada à

atuação da praticidade nas aulas de ciências com instrumentos voltados para o

embasamento tecnológico, fazendo do aluno um ser envolvido na concretização das

iniciativas sociais. Além disso, vimos nos resultados obtidos que nem sempre se tem os

instrumentos tecnológicos para as aulas práticas e que alguns dos professores demonstram

em suas aulas de maneira tradicional como a tecnologia está inserida no cotidiano do

aluno. Vimos também, que alguns professores não utilizam a abordagem CTS para o

ensino de ciências, entretanto, devemos analisar de forma mais convicta com as

instituições e o poder público as formações desses professores numa visão moderna na

sociedade, de forma a desenvolver as capacidades intelectuais da sociedade no meio

tecnológico.

Percebemos ainda que nas entrevistas alguns dos professores deram enfoque nas

características na abordagem CTS para o ensino de ciências com uma análise do professor

no contexto de agregar conhecimento para a sociedade como uma fundamentação na

atualidade para reconhecer e avaliar o desenvolvimento tecnológico, suas relações com

as ciências, seu papel na vida humana, sua presença no cotidiano e seus impactos sociais.

Através desta prática o CTS engloba uma convivência com o ensino de ciências no caráter

ético do conhecimento científico e tecnológico, utilizando estes conhecimentos no

trabalho da cidadania.

20

Assim podemos perceber a importância do ensino de ciências em uma

abordagem CTS na geração de conhecimento, apresentando condições de desempenhar

um papel consistente para a formação da cidadania. Proporcionando a formação crítica na

sociedade, favorecendo grandes conhecimentos nas áreas da ciência, tecnologia e da

sociedade com uma maior visão nos contextos da realidade.

Nesse contexto, a prática docente tem papel fundamental nessa abordagem uma

vez que partirá do profissional a iniciativa de desenvolver e inspirar os alunos para o

entendimento da magnitude do ensino de CTS. Com isso, verifica-se que muitos

profissionais necessitam do alargamento de suas visões para a inclusão de saberes

científicos pautados na contextualizam em sociedade, haja vista a importância desse

processo na vida social do aluno.

REFERÊNCIAS

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modalidades, problemas e perspectivas em sua Implementação no ensino de física.

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22

O USO DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NO ENSINO DE

ORGANELAS CITOPLASMÁTICAS: UM RELATO DE

EXPERIÊNCIA A PARTIR DA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA

THE USE OF SIGNIFICANT LEARNING IN THE TEACHING OF

CITOPLASMATIC ORGANS: A REPORT OF EXPERIENCE

FROM THE CONSTRUCTIVE PERSPECTIVE

Natália de Cássia Cardoso Farias

Rúbia de Azevedo Dias

Valter Thiago Pantoja da Gama

1 INTRODUÇÃO

As tentativas de explicar e estudar as diferentes formas de vida fazem parte da

história da ciência, desde a antiguidade até os tempos atuais. No decorrer desse tempo, o

inglês Robert Hooke lançou a teoria das células de 1665 a partir da observação de pedaços

de cortiça pelo microscópio, sendo assim o primeiro cientista a usar o temo célula. A

partir dessa descoberta

o estudo das células, unidade morfofisiológica de todo ser vivo, faz parte do

currículo de ensino, e conforme minha vivência em sala de aula, quando

trabalhado com este conteúdo, é perceptível à dificuldade encontrada pelos

alunos em dimensionar o que são células, sua complexidade interior,

diversidade de formas e funções (SOUZA, 2013, p.3)”.

Isso se deve ao fato de que as aulas de ciências no ensino fundamental maior,

fundamentam perspectivas tradicionais de assuntos expositivos e não colaboradores no

processo de aprendizagem significativa do aluno, tendo em vista que esse processo

educacional faz uso abundante de metodologias mecanizadas, como o por exemplo,

leituras de livros didáticos e o professor como o detentor de todo o conhecimento. Haja

vista, o contexto educacional atual, é de grande necessidade o aprimoramento de técnicas

educacionais pois, “com as crescentes transformações que vem sofrendo o mundo e a

educação, torna-se necessário modificar o ensino tradicional de Biologia para um ensino

mais holístico contextualizado e voltado para uma geração fortemente influenciada pela

mídia e que aprende de forma diferente (SOUZA, 2013, p.3)”.

23

Dessa forma, cabe ao professor, regularmente analisar suas estratégias didáticas

a fim de investigar metodologias construtivas para um bom processo de ensino

aprendizagem, sem fazer uso de aulas monótonas e costumeiras.

Sendo assim, esta prática faz com que os alunos acabem apenas decorando

conceitos e ideias presentes nos livros, e expostos pelo professor, e tais informações

acabam não possuindo significado para o educando, e em alguns casos como conceitos e

ideias se fazem temporárias pois, afirma Krasilchik (2005) A abstração dos conteúdos

trabalhados em citologia levam os alunos ao desinteresse pelo conteúdo por falta de

compreensão. Afinal, diz Assis (2015), na aula de Ciências é necessário mais do que a

capacidade de memorizar dados de um livro ou de resolver problemas prontos.

O ensino de citologia no 7º ano do ensino fundamental maior, abrange assuntos

e nomenclaturas abstrusos diante de temáticas como o estudo das organelas

citoplasmáticas, esses que nem sempre são entendíveis ou comumente confundidos.

Segundo Krasilchik (2005), o fato de os alunos não compreenderem a localização das

organelas e suas respectivas funções evidencia a falta de visão tridimensional da célula.

Logo, se suas complexidades microscópicas não forem abordadas devidamente, podem

interferir negativamente no processo de ensino e aprendizagem.

Partindo disso, foi realizado no Colégio Engels, situado no município de

Abaetetuba-PA, com uma turma do 7º ano do ensino fundamental maior no dia 25 de

agosto de 2017 durante 1h e 20min (equivalentes a dois horários) uma aula construtivista

dividida em três etapas estratégicas no processo de ensino aprendizagem a fim de

estimular a aprendizagem significativa.

A primeira etapa teve início com um levantamento prévio da familiaridade dos

discentes com o assunto, instigando o desenvolvimento dos subsunções, (que por sinal a

professora da turma já havia trabalhado) com o intuído de estimular a curiosidade das

organelas que já conheciam ou não recordavam, pois para Argento (2009) quando a

criança tem novas experiências (vendo coisas novas, ou ouvindo coisas novas) ela tenta

adaptar esses novos estímulos às estruturas cognitivas que já possui.

Dessa forma, a análise prévia se deu a partir de imagens tridimensionais das

principais organelas em um Datashow cedido pela escola. Os alunos reconheceram em

especial duas organelas: os centríolos (que diziam ser estrelas de canudos) que são

organelas que participam do processo de divisão celular, assim como, o citoplasma (que

diziam ser o gel da célula) que dá a forma da célula sendo constituído por citosol,

citoesqueleto e as organelas citoplasmáticas.

24

Na segunda etapa foram utilizadas animações delas que auxiliaram na explicação

de nomenclaturas e funções, uma vez que:

a animação tem se configurado como uma possibilidade promissora no

processo de ensino-aprendizagem por ser um recurso capaz de facilitar a

demonstração de processos, a visualização temporal de um dado evento, a

exposição de fenômenos raros, complexos ou perigosos e também para

melhorar a capacidade de abstração do aluno (FISCARELLI, OLIVEIRA,

BIZELLI, 2009, p. 2).

Desse modo, estruturas que constantemente não são visíveis foram visualizadas

facilmente através das animações, situação na qual notou-se grande concentração dos

alunos em enxergar as menores estruturas presentes nas organelas. Essa, que despertou

questionamentos nos mesmos como: “existe isso tudo em uma célula?”, e assim, qualquer

questionamento referente as estruturas era explicado detalhadamente e com linguagem

simples, a fim de sanar pequenas ou grandes dúvidas sobre o assunto.

Ressaltando ainda, que as explicações eram interligadas a situações ou objetos

do cotidiano dos alunos, como por exemplo, para a explicação do complexo golgiense foi

usado a ideia de um caixa de supermercado e explicado suas características a partir desta

ideia.

Na terceira etapa, ao final das explicações, os alunos foram convidados a

desvendar a partir do tato e da assimilação, uma organela misteriosa que se encontrava

em uma caixa (a caixa continha pequenas aberturas na superfície para a entrada das mãos

e seis organelas não visíveis dentro: núcleo, citoplasma, complexo golgiense, centríolo,

cloroplasto e mitocôndria) Pois, segundo BELARMINO (2008) referente ao tato, é

possível perceber com esse sentido: formas e texturas devido ao grande número de

receptores existentes na pele. Após o reconhecimento dela foi entregue uma folha em

branco para que desenhassem a organela misteriosa que havia pego e se possível colocar

o nome e a função da mesma.

2 MARCO TEÓRICO

Didática e educação caminham juntas para um bom processo de ensino

aprendizagem, dessa forma, a didática se fundamenta nos princípios da educação para o

desenvolvimento deste processo de instrução. A respeito disso, “a missão fundamental da

educação é ajudar o homem a pensar, a não permitir que ele se torne escravo da natureza,

da ignorância e do próprio homem. Deve ser um apelo ao desenvolvimento pois o homem

25

necessita aprender a pensar livremente” (SANT’ANNA; MENEGOLA et. Al, 2002, p.

19).

A cerca disso, nota-se que no cotidiano escolar, o ensino de ciências se faz de

maneira muito maquinal e descontextualizada, tal fato é bastante evidente quando se leva

em consideração os livros didáticos de ciências. Em contrapartida, a aprendizagem

significativa se ancora satisfatoriamente no processo de ensino aprendizagem

possibilitando ao educando construir seu próprio conhecimento, usufruindo de suas

subsunções e de sua própria realidade, estratégia fundamental e eficaz no processo de

ensino aprendizagem.

Fundamentando isso, a teoria da aprendizagem significativa (AUSUBEL;

NOVAK; HANESIAN, 1980; AUSUBEL, 2003), consiste em difundir bases que

mostrem o processo de construção dos significados realizados pelos seres humanos, no

intuito de identificar caminhos que possam subsidiar a criação de estratégia para o ensino,

que facilitem a aprendizagem significativa. Em síntese:

a aprendizagem é dita significativa, quando nova informação adquire

significado para o aprendiz através de uma espécie de ancoragem em aspectos

relevantes da estrutura cognitiva preexistente do indivíduo, isto é, em

conceitos, ideias, proposições já existentes em sua estrutura de conhecimento

com determinado grau de clareza, estabilidade e diferenciação (MOREIRA,

2010, p. 18).

Além disso, tal metodologia proporciona três elementos que viabilizam

benefícios aos discentes:

Em primeiro lugar, o conhecimento que se adquire de maneira significativa é

retido e lembrado por mais tempo. Em segundo, aumenta a capacidade de

aprender outros conteúdos de uma maneira mais fácil, mesmo se a informação

original for esquecida. E, em terceiro, uma vez esquecida, facilita a

aprendizagem seguinte – a ‘reaprendizagem’, para dizer de outra maneira

(PELIZZARI et. al, 2002, p. 39).

Outrossim, no que diz respeito a perspectiva construtivista, tal teoria se faz de

fundamental importância sobre o papel do sujeito na produção do saber (ROSA, 1994)

para que o aluno seja o próprio construtor dos seus conhecimentos, e de certa forma, esses

conhecimentos produzidos tenham um significado na vida cotidiana daquele aluno, pois

segundo Argento (2009) Piaget e Vygotsky, pais da psicologia cognitiva contemporânea,

o conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social, estruturados

culturalmente.

Ademais, segundo Argumento apud Carretero (1997), a perspectiva

construtivista implica em ideias que amparem o indivíduo em suas questões cognitivas, e

26

também em suas questões sociais, onde a consequência dessa interação entre esses fatores,

possibilita a criação de sujeito que se torna uma construção própria, que vai se

desenvolvendo a cada instante, cada vez mais, e não apenas um mero produto derivado

somente das suas disposições internas ou do ambiente em que vive. Ainda sobre essa

perspectiva, Ferreiro e Teberosky enfatizam sobre o indivíduo entendido pela

epistemologia genética de Jean Piaget como:

Um sujeito que procura ativamente compreender o mundo que o rodeia e trata

de resolver as interrogações que este mundo provoca. Não é um sujeito que

espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele, por um ato

de benevolência. É um sujeito que aprende basicamente através de suas

próprias ações sobre os objetos do mundo, que constroem suas próprias

categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza seu mundo

(FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p.26).

Logo, ao professor não cabe dizer: ‘faça como eu’, mas: faça comigo’ (ROSA,

1994), buscando frequentemente a adaptação e mudança de suas metodologias e

estratégias a fim de instigar o aluno a construção do conhecimento, por mais que esteja

inseguro sobre suas futuras práticas construtivistas, pois sabe-se que o novo ameaça por

que, em alguma medida impõem a tarefa, muito pouco confortável de rever-se “além de

que toda mudança nasce assim, do casamento entre a necessidade e o desejo” (ROSA,

1994).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante as três etapas os alunos foram bastante participativos e atentos, faziam

perguntas e criavam exemplos junto aos acadêmicos do curso de Biologia. Durante a

terceira etapa, a de adivinhação da organela misteriosa, foi explicito a grande

concentração e entusiasmo para a descoberta dela, e ao utilizar o processo de assimilação

e desvendá-la, saiam correndo em direção aos seus lugares bastante animados por saber

qual organela haviam tocado. Durante a análise dos desenhos notou-se a compreensão

dos alunos acerca do assunto, esses que desenharam a referida organela e colocaram o

nome da mesma, sem contar que grande parte lembrou das funções associadas ao

cotidiano e escreveu.

Na teoria compreende-se que as organelas citoplasmáticas são estruturas que

ficam no citoplasma das células animais e vegetais, totalizando onze organelas que

desempenham importantes funções, e possuem nomenclaturas e funcionalidades

específicas para um bom funcionamento celular. Na prática, mais especificadamente em

sala de aula, as organelas são minúsculos auxiliares de células, no qual exercem funções

27

de ajuda como a respiração feita pelos “barquinhos com bolinhas” ou cientificamente

chamados de mitocôndrias e outras mais. A teoria permite tanto ao discente quanto aos

acadêmicos um arcabouço de conhecimentos necessários para na prática ser alicerçado a

situações estratégicas para um processo significativo de aprendizagem.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, se faz evidente que a realização da aula subsidiada a partir da

perspectiva significativa e construtivista, acabou proporcionando contribuições aos

alunos da escola onde tal prática foi aplicada, assim como também contribuiu de maneira

extremamente positiva aos discentes de licenciatura em ciências naturais com habilitação

em biologia. Levando em consideração os educandos da escola, foi notória a grande

interatividade e satisfação com a aula proposta, tendo em vista que os mesmos

apresentaram muito interesse pelas atividades e além disso, tais alunos puderam ser

instigados a usar seus conhecimentos prévios, conseguindo assim, se tornar os próprios

construtores dos conhecimentos a respeito das questões envoltas na aula.

Contudo, o que diz respeito aos estudantes da licenciatura, tal prática se fez

bastante favorável e contribuidora para a formação desses discentes, uma vez que a

mesma pode oportunizar uma melhor visão a respeito de eficazes metodologias de ensino,

e subvencionar a busca por novas estratégias didáticas de ensino, que possam ser de

caráter construtivista, e de tal formar proporcionar aos seus futuros alunos uma

aprendizagem significativa.

REFERÊNCIAS

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http://www.roberttexto.com/archivo5/teoria_construtivista.htm/

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animações para o ensino de química: fundamentos teóricos e desenvolvimento.

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GOMES, R. C. S.; GREDIN, E. O desenvolvimento cognitivo na visão de Jean Piaget

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2010. p. 18.

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ensinar. Vol. 7. 2002. p. 19.

SOUZA, D. N. UTILIZAÇÃO DE MAQUETES DE CÉLULAS ANIMAIS E

VEGETAIS NO ENSINO DE CITOLOGIA. 2013.

TAVARES, R. APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E O ENSINO DE

CIÊNCIAS.

2008.

29

DIALOGANDO SOBRE A LUDICIDADE COM PROFESSORES DE

CIÊNCIAS DE UMA ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE

ABAETETUBA

TALKING ABOUT PLAYFULNESS WITH SCIENCE TEACHERS

FROM A PUBLIC SCHOOL IN THE MUNICIPALITY OF

ABAETETUBA

Alan Cleiton dos Santos Branco

Ivana Thariny de Lima Leal

Priscyla Cristinny Santiago da

Luz

Resumo: Desenvolveu-se um estudo com duas docentes que ministram a disciplina

Ciências em uma escola pública de Abaetetuba/Pará. Utilizou-se um questionário

contendo sete perguntas, buscando conhecer os desafios na aplicação da ludicidade no

ensino de ciências. Nas análises percebeu-se que, uma aplica ou pelo menos tenta realizar

tais práticas e a outra não, apesar de elas afirmarem a importância das brincadeiras e

dinâmicas como facilitadoras para o ensino. Se evidenciou fatores limitantes em sua

realização como: horários reduzidos e carência de recursos financeiros. Conclui-se que, o

uso do lúdico precisa ser aproveitado para tornar o aprendizado eficaz.

Palavra-Chave: Ludicidade. Professores. Metodologias.

30

REFLETINDO SOBRE A PRÁTICA LÚDICA EM SALA DE AULA

EM UMA EXPERIÊNCIA DE ALUNOS DA GRADUAÇÃO EM

CIÊNCIAS NATURAIS E PEDAGOGIA

REFLECTING ON PLAYFUL CLASSROOM PRACTICE IN AN

UNDERGRADUATE EXPERIENCE IN NATURAL SCIENCES AND

PEDAGOGY

Armindo dos Santo Negrão

Emily Lobato Pereira

Priscyla Cristinny Santiago da

Luz

Resumo: Este estudo trata-se de um relato de experiência sobre as atividades

desenvolvidas por discentes de Ciências Naturais/Biologia e Pedagogia em uma turma do

Ensino Fundamental de uma escola pública de Abaetetuba/Pará. Objetivou-se neste

apresentar e discutir as atividades desenvolvidas baseada na abordagem lúdica, sobre a

classificação dos seres vivos. As atividades realizadas foram: O jogo de perguntas-

repostas e dinâmica de grupo. Evidenciou-se que os jogos desenvolvidos foram

estimulantes. Assim, ao fim da atividade constatou-se melhor assimilação do conteúdo

estudado e o melhor foi que aprenderam o assunto, brincando.

Palavras-Chave: Lúdico. Ensino. Métodos.

31

USO DE INDICADOR NATURAL PARA O ENSINO DE ACIDEZ E

BASICIDADE

USE OF NATURAL INDICATOR FOR THE TEACHING OF

ACIDITY AND BASICITY

Márcio Lobato Rodrigues

Resumo: O objetivo deste trabalho foi o de obter um indicador natural para uso em aulas

de química, a partir da espécie vegetal Ixora chinensis. Para extração do indicador foi

adicionado a Ixora, álcool comercial 54%, a um pilão, onde a mistura foi macerada até a

obtenção do extrato. Em seguida foram realizados testes em soluções de pH 2, pH 14 e

em amostras comerciais, usando o extrato para identificar se as amostras eram ácidas ou

básicas. A solução de pH 2, e as amostras de vinagre e limão, apresentaram a tonalidade

rosa, indicativas de amostras ácidas. Já a solução de pH 14 apresentou a tonalidade verde

característica das amostras básicas.

Palavras-chave: Recurso Didático. Ixora chinensis. Ensaios Alternativos.

33

AS CHARGES E O ENSINO DA ESCRITA: OS DESAFIOS DA

ESCRITA NO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I

THE CHARGES AND THE TEACHING OF WRITING: THE

CHALLENGES OF WRITING IN THE 3ND YEAR OF

FUNDAMENTAL EDUCATION I

Andrey Luz Ferreira

Lais Lauane Gaia Veras

RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de incentivar o exercício da escrita nos

alunos, por meio do uso das charges referentes ao racismo na sociedade em turmas do 3º

Ano do Ensino Fundamental I, na E. M. I. E. F Carlaide Cardoso Ferreira. Tivemos como

objeto de pesquisa os dados da Avaliação Nacional de Aprendizagem (ANA); os

conceitos de GOMES (2003) e TOSSONI (2012); e as orientações dos PCNs de Língua

Portuguesa. Tais pesquisas nos levaram a entender que o recurso ao uso das charges,

especificamente de cunho racial, pode fomentar no alunado a criatividade e o gosto pelo

exercício da escrita, podendo assim exercer melhor seu papel de cidadão crítico e

igualitário.

Palavras-chave: Escrita. Charge. Racismo

ABSTRACT: The purpose of this article is to encourage the students to write in the

classroom through the use of cartoons related to racism in society in classes of the 3rd

Year of Elementary Education, in E. M. I. E. Carlaide Cardoso Ferreira. We had as

research object the data of the National Assessment of Learning (ANA); the concepts of

GOMES (2003) and TOSSONI (2012); and the orientations of Portuguese-speaking

PCNs. Such research has led us to understand that the use of cartoons, specifically of a

racial nature, can foster creativity and the enjoyment of writing, and thus can better play

their role as a critical and egalitarian citizen.

Keywords: Writing. Cartoon. Racism

1 INTRODUÇÃO

O domínio da língua constitui-se numa das primeiras formas de socialização e

inclusão do indivíduo em sociedade, sendo uma das etapas fundamentais neste percurso,

a apreensão da escrita. No tocante ao ingresso, permanência, e avanço nos anos e níveis

de ensino nos meios escolares, segundo os PCN’S de Língua Portuguesa para as séries

iniciais

o domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social

efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à

informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de

mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a

responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos

sabereslinguísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito

inalienável de todos. (BRASIL, 1997, p. 15)

34

O progresso do aluno em geral, atendido pela educação pública, tem sido por

demais dificultoso mediante a constatação de déficits latentes quanto à apreensão da

prática da leitura e da escrita, pois “o eixo da discussão, no que se refere ao fracasso

escolar, tem sido a questão da leitura e da escrita. Sabe-se que os índices brasileiros de

repetência nas séries iniciais estão diretamente ligados à dificuldade que a escola tem de

ensinar a ler e a escrever” (BRASIL, 1997, p. 19). Nesse sentido, o Ministério da

Educação (MEC) tem empreendido avaliações periódicas de forma a inferir avanços e

dificuldades no tocante ao ensino-aprendizagem da leitura e escrita. Os dados do ANA

(Avaliação Nacional de Aprendizagem) referentes ao ano de 2016, demonstram que

“cerca de 34 % dos estudantes brasileiros apresentaram proficiência insuficiente na

Escrita” (BRASIL, 2017, p. 14).

Diante das dificuldades apontadas referentes à escrita, e, às recomendações

curriculares, didático-pedagógicas presentes nos marcos legais que regem a educação

nacional acerca das séries iniciais, uma demanda educacional nos parece emergir: a

construção de projetos com vistas a facilitar a apreensão da habilidade de escrita pelos

discentes dos anos do Ensino Fundamental I.

Neste sentido, entendendo que “a escola tem a responsabilidade de garantir a

todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da

cidadania” (BRASIL, 1997, p. 15), nos empenharemos na construção de um projeto

pedagógico com vistas a incentivar o exercício da escrita nos alunos, por meio do uso das

charges referentes ao racismo na sociedade, em turmas do 3º Ano do Ensino Fundamental

I na E. M. I. E. F Carlaide Cardoso Ferreira.

O presente artigo encontra-se organizado em cinco capítulos, no primeiro

introduzimos e destacamos a importância desta pesquisa, o segundo conceitua o gênero

charge e faz sua relação com a escrita, o terceiro aborda a necessidade de se falar do

racismo nas escolas, o quarto é a proposta de intervenção e por último seguem-se as

considerações finais e as referências.

2 CHARGE E SUA RELAÇÃO COM A ESCRITA

A charge é um tipo de ilustração que geralmente apresenta um discurso

humorístico e está presente em revistas e principalmente jornais. Trata-se de desenhos

elaborados por cartunistas que captam de maneira perspicaz as diversas situações do

35

cotidiano, transpondo para o desenho algum tipo de crítica, geralmente permeada por fina

ironia,

sendo por via de regra constituído por quadro único. A ilustração mostra os

pormenores caracterizados de personagens, situações, ambientes, objetos. Os

comentários relativos à situação representada aparecem por escrito.

Escrita/ilustração integram-se de tal modo que por vezes fica difícil, senão

impossível, ler uma charge e compreendê-la sem considerar os dois códigos,

complementarmente, associando-os à consideração do interdiscurso que sefaz

presente como memória, dando uma orientação ao sentido num contexto dado-

aquele e não outro qualquer” (FLORES, 2002, p. 14).

As charges são muito utilizadas para fazer críticas de natureza política e sociais,

critica personalidades, política, sociedade, entre outros temas relevantes. Seu principal

objetivo é estabelecer uma opinião crítica e, através dos elementos visuais e verbais,

persuadir o leitor, influenciando-o ideologicamente; no entanto, por vezes as charges

acabam reproduzindo preconceitos dos mais variados tipos, presentes na sociedade. Entre

os principais chargistas críticos, encontrasse José Bello da Silva Júnior, e o mesmovirou

notícia na UFJF notícias por suas críticas políticas.

“Entre meados de 1980 e 2011, com o seu talento para o humor e a sátira do

cotidiano, José Bello da Silva Júnior – o chargista Bello – narrou e comentou

a história política e social de Juiz de Fora e do Brasil. Cinco anos após sua

morte por infarto, aos 55 anos, suas charges ainda impactam, fazem rir e,

principalmente, chamam a atenção pela atualidade”. (UFJF notícias, 2017)

Trezentas produções do chargista integram a mostra “Saudades do Bello – 25

anos de charge”, exposta no Espaço Reitoria da UFJF, no campus, em homenagem ao

artista. Confira abaixo duas charges do mesmo.

Imagem 1 – Reforma da previdência

Fonte: https://www2.ufjf.br/noticias/2017/01/18/10-charges-mostram-que-o-brasil-atual-e-coisa-do-

passado/

36

Imagem 2 – Cortes na saúde

Fonte: https://www2.ufjf.br/noticias/2017/01/18/10-charges-mostram-que-o-brasil-atual-e-coisa-do-

passado/

Ao analisarmos uma charge, podemos perceber que nela estão inscritas diversas

informações construídas a partir de um interessante processo intertextual que obriga o

interlocutor a fazer inferências e a construir analogias, elementos sem os quais a

compreensão textual ficaria comprometida. Assim como mostram os exemplos acima,

que na primeira charge há uma crítica em relação às reformas da previdência, onde os

trabalhadores que são os prejudicados, e na segunda há uma crítica sobre o corte de verbas

na saúde, onde o médico encontra-se assustado por saber que a saúde já é precária e com

a redução de investimentos, se tornaria um caos, no que tange pagamentos e atendimentos.

O uso das charges em sala de aula abre um “leque” de possibilidades metodológicas de

ensino para o professor, pois, como visto, a mesma retrata o ambiente sociocultural em

que o aluno está inserido, seja de forma crítica ou irônica. Deste modo, entendemos que

as charges em sala de aula (adequadas para a faixa etária do aluno) podem servir como um

objeto de incentivo à escrita, tendo assim uma produção textual, por parte

dos alunos, criativa e ao mesmo tempo crítica e relevante.

3 POR QUE FALAR DE CHARGES REFERENTES AO RACISMO NA

SOCIEDADE?

Os ambientes escolares são locais de construção de identidades, por isso, podem

apresentar aspectos que interferem, positiva ou negativamente, para a autoafirmação dos

37

negros, de modo que “o olhar lançado sobre o negro e sua cultura, no interior da escola,

tanto pode valorizar identidades e diferenças quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las,

segregá-las e até mesmo negá-las” (GOMES, 2003, p.42).

Entendendo que o papel da escola é formar cidadãos críticos e reflexivos, que

possam contribuir com a sociedade de modo eficaz e respeitoso, falar sobre a diversidade

racial/cultural com os alunos é crucial, pois a partir daí o aluno passa a entender que

existem diferentes culturas, modos de pensar e cores de pele, pois

a escola é um excelente meio de convivência com a diversidade. Mas, se

alguma criança dá apelido à outra, por exemplo, ou trata o colega de forma

discriminatória naquele ambiente, é função da escola conversar. A professora

deve chamar a criança que ofendeu o outro e explicar que ela também é

diferente dos colegas, que ninguém é igual, e que ela não iria gostar de ser

apontada pelos amigos, seja qual for o motivo. A criança deve entender que

todos têm semelhanças e diferenças. A conversa deve continuar em casa, com

os pais. (CARMEM, 2010, p.02)

Neste sentido, entendendo as manifestações artísticas como importantes

ferramentas educacionais na formação de cidadãos crítico/reflexivos, nos propomos ao

uso das charges como forma de desenvolver nos alunos a criatividade para prática da

escrita, e, inserir a discursão acerca do preconceito e discriminação racial em nossa

sociedade.

4 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

4.1 Problemática

Considerando as dificuldades apontadas por avaliações e marcos legais quanto à

prática da escrita no Ensino Fundamental I, nossa pesquisa nortear-se-á pelos seguintes

questionamentos: quais as maiores dificuldades encontradas pelos alunos no exercício da

prática da escrita? E como as charges podem ser usadas como recurso didático para o

desenvolvimento da habilidade escrita entre os discentes do 3º Ano do Ensino

Fundamental I?

4.2 Hipóteses

Considerando que as charges representam um gênero textual de cunho crítico,

sarcástico e humorístico, suscitamos a hipótese de que este poderia com maior facilidade,

que o uso de outras linguagens, despertar o interesse e a motivação do aluno para a partir

da análise destas, exercitar a prática da escrita. Outra hipótese por nós levantada seria a

de que as Charges apresentam uma linguagem bem jovial, sendo frequentemente

veiculadas nos meios de comunicação escritos, televisionados, internet, vídeos, redes

38

sociais, jogos, etc., o que tenderia a maior aceitação pelo alunado do Ensino Fundamental

I, sendo muito produtivamente aproveitadas na aplicação de atividades de fomento à

escrita.

4.3 Objetivo Geral

Incentivar o exercício da escrita nos alunos, por meio do uso das charges

referentes ao racismo na sociedade, em turmas do 3º Ano do Ensino Fundamental I na E.

M. I. E. F Carlaide Cardoso Ferreira.

4.4 Objetivos Específicos:

1) instigar a analise sociocultural das charges pelos alunos, e a produção textual;

2) refletir sobre as práticas racistas na sociedade, por meio da oralidade e da escrita;

3) despertar a importância do conhecimento e valorização da pluralidade cultural em

nossa sociedade.

4) elaboração e apresentação de um painel temático para a feira de ciências e cultura da

escola, com charges e textos produzidos pelos alunos.

4.5 Metodologia

O projeto será desenvolvido durante todo o ano letivo na E. M. I. E. F Carlaide

Cardoso Ferreira, onde o trabalho com as charges será feito em dias específicos, dentre

as aulas programadas bimestralmente para a disciplina Língua Portuguesa; tendo como

culminância um evento a ser realizar na escola em alusão à semana referente ao Dia da

Consciência Negra, o 20 de Novembro. Sendo dividido nos seguintes momentos:

- Primeiro momento: estes procedimentos serão feitos bimestralmente com charges

diversificadas, mas consoantes aos objetivos acima enunciados.

• explicar o que é a charge e suas características;

• fazer a análise em sala de charges;

• explicitar elementos que na charge fazem referência à discriminação e a valorização

étnico racial;

• solicitar a produção de um texto simulando uma situação na sociedade a qual a charge

sugerida estaria indicando.

- Segundo momento: este se efetivará no bimestre referente ao dia da Consciência Negra,

onde incentivaremos os alunos a analisar e escolher charges para emseguida produzirem

textos sobre as mesmas, para a confecção de painéis temáticos a serem expostos no evento

da escola.

- Após a análise da charge, permitir que os alunos escolham entre as outras charges, quais

serão usadas como tema para sua produção textual;

39

- Produzir e organizar a apresentação do painel temático.

4.6 Recursos Didáticos

- Quadro branco, Pincel, Datashow, Notebook, Charges Coloridas, Apostila, Lápis de

Cor, Folha de Rascunho, Papel 40 kl, Cartolina e vídeos da internet.

4.7 Avaliação

O projeto terá duas formas de avaliação: do alunado e de execução do projeto.

Quanto à avaliação dos alunos, a partir do uso das charges em sala de aula, aplicaremos

atividades solicitando a produção textual acerca das temáticas presentes nas mesmas;

estas atividades se conformarão em componentes avaliativos dos bimestres devendo ser

somadas as notas das provas. No segundo momento, a partir da apresentação do painel

temático com as charges deve-se produzir um texto, onde o aluno deverá escrever sobre

o assunto tratado; posteriormente, estes deverão socializar por meio da oralização, com

os colegas de classe e o docente.

Quanto à avaliação do projeto, os docentes devem produzir relatórios bimestrais,

acerca da execução do projeto devendo entrega-los à coordenação da escola. Esta deverá

organizar um painel demonstrativo a ser socializado com os docentes em duas reuniões

anuais: uma ao final do primeiro semestre; outra, ao final do ano letivo; onde serão

apresentadas informações sobre: a recepção dos alunos às charges; os avanços notados

quanto à apreensão da prática da escrita; e, as dificuldades encontradas no

encaminhamento do projeto. Os resultados das reuniões deverão ser utilizados de forma

a instigar propostas de melhorias, com vistas a execução do projeto no ano letivo seguinte.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com nossa consulta aos PNC’S e a ANA, nos foi possível identificar

como um dos maiores aspectos de dificuldade no sucesso do processo de ensino-

aprendizagem do alunado de escola públicas do Brasil: a dificuldade na prática da escrita.

Assim, compreendemos como fundamentais e urgentes, a elaboração de projetos

pedagógicos, com vistas à diversificação no uso de recursos e ferramentas didáticas, como

as charges, para atenuar/sanar este problema, e contribuir com uma sociedade justa e

igualitária, fazendo o uso de charges que retratem a diversidade racial.

Por isso, entendemos que o recurso ao uso das charges, especificamente de cunho

racial, dentre outras possibilidades didáticas, pode fomentar no alunado a criatividade e o

gosto pelo exercício da escrita, podendo assim exercer seu papel de cidadão crítico e

igualitário.

40

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental.

– Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Sistema de Avaliação da Educação Básica Avaliação Nacional da

Alfabetização - Edição 2016. Brasília, 2017.

CARMEN, Adriana, O Impacto do Racismo sobre a Infância, UNICEF, 2010.

Disponível em:

https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2018/03/racismo-

como-falar-sobre-isso-com-criancas.html.

FLORES, O. (2002). A leitura da charge. Canoas: Ed. Ulbra.

GOMES, Nilma Lino. Educação e Identidade Negra. In: Aletria (UFMG). Belo

Horizonte, nº 09, 2003.

O que é Charge. Disponível em: https://www.significados.com.br/charge/. Acesso em:

31.01.2018.

SILVA, Ana Maria Macêdo da. Práticas de Leitura e Escrita nas Séries Iniciais.

Monografia de Conclusão de Curso apresentada à Universidade Estadual da Paraíba –

UEPB, ao Curso de Especialização Fundamentos da Educação: Práticas

Interdisciplinares. Guarabira – Paraíba, 2014.

TASSONI, Elvira Cristina Martins & DRAGOJEVIC, Heloisa. As Práticas de Escrita

nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO

- PPGE/ME FURB, v. 7, n. 2, p. 610-625, mai./ago. 2012.

UFJF notícias, 10 charges mostram que o Brasil atual é coisa do passado, 18 de

janeiro de 2017. Disponível em: https://www2.ufjf.br/noticias/2017/01/18/10-charges-

mostram-que-o-brasil-atual-e-coisa-do-passado.

41

A PRÁTICA DA ANÁLISE LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA:

EXERCITANDO HABILIDADES COM ÊNFASE NA

COMPETÊNCIA 3 DO ENEM

THE PRACTICE OF LINGUISTIC ANALYSIS IN A CLASSROOM:

EXERCISING SKILLS WITH EMPHASIS IN COMPETENCE 3 OF THE

ENEM

Letícya Oliveira De Albuquerque

Mailane Costa Da Poça

Rosiellem Cabral Dos Passos De Almeida

Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar o trabalho com a prática da Análise

Linguística (AL) com vista ao desenvolvimento da competência 3 do Exame Nacional do

Ensino Médio, referente ao tipo textual Dissertação. A partir de teóricos como: Antunes

(2003), Bezerra (2013), Bunzen; Mendonça (2006), Geraldi (1938) e Santos; Mendonça;

Cavalcante (2007) foi organizada uma revisão bibliográfica como parte constituinte deste

artigo. A coleta de dados, por sua vez, foi realizada com os alunos de uma escola estadual

do município de Moju, onde a prática da AL numa concepção de língua como interação,

por meio de produção textual, foi utilizada como recurso para um ensino reflexivo da

escrita e desenvolvimento da gramática.

Palavras-chave: Gramática. Produção Textual. Análise Linguística

Abstract: This article aims to present the work with the practice of Linguistic Analysis

(LA) with a view to the development of competence 3 of the National High School

Examination, referring to the textual type Dissertation. From the theorists as: Antunes

(2003), Bezerra (2013), Bunzen; Mendonça (2006), Geraldi (1938) and Santos;

Mendonça; Cavalcante (2007), a bibliographic review was organized as a constituent part

of this article. Data collection, in turn, was carried out with the students of a state school

in the municipality of Moju, where the practice of LA in a conception of language as

interaction, through textual productions, was used as a resource for a reflexive teaching

of writing and development of grammar.

Keywords: Grammar. Text Production. Linguistic Analysis.

1 INTRODUÇÃO

O estudo da Língua Portuguesa (LP) é imprescindível durante a vida escolar dos

alunos, mesmo com a sua complexidade em relação aos mecanismos utilizados para

ensiná-la. Refletindo sobre o ensino da gramática, por exemplo, percebemos que está, em

grande parte, voltada para o ensino de nomenclaturas e regras, não levando em

consideração o contexto do aluno e sua realidade fora da escola. Neste sentido, segundo

42

Antunes (2003), no livro “Aula de português”, a Análise Linguística (AL), ganha espaço

no que se refere à reflexão sobre a linguagem e ensino da língua. O discente, por meio da

prática de Análise Linguística, tem a oportunidade de inserir a sua própria visão sobre o

que está lendo ou ouvindo, ou seja, suas hipóteses são levadas em consideração em

relação aos fenômenos observados.

Diante disso, realizamos uma pesquisa, que culmina na apresentação deste artigo

intitulado “A Prática da Análise Linguística em Sala de Aula: exercitando habilidades

com ênfase na competência 3 do Enem”, com o objetivo geral de trabalhar com a prática

da Análise Linguística com vista ao desenvolvimento da competência 3 do Exame

Nacional do Ensino Médio – ENEM, referente ao tipo textual Dissertação. E como

objetivos específicos: praticar a visão reflexiva dos alunos quanto à leitura dos textos;

construir conhecimento e reflexão com base no estudo da estrutura e funcionamento das

competências com ênfase na competência 3; desenvolver junto às discentes habilidades

para o aperfeiçoamento da leitura e da escrita de textos coesos e coerentes fundamentados

na prática da análise linguística.

Considerando estes objetivos, empreendemo-nos em uma pesquisa de campo que

se configurou em uma oficina oferecida a alunos do Ensino Médio de uma escola estadual

do município de Moju/PA. Nesta procurou-se trabalhar com a pratica de AL como uma

alternativa para a produção textual, com vista a uma ação reflexiva sobre o texto

produzido.

Desta forma, este texto, que se apresenta como um recorte da pesquisa

empreendida, encontra-se organizado segundo os tópicos a seguir: primeiro, o tópico

sobre o conceito de Análise Linguística; em seguida, é abordado sobre o Enem e suas

competências: as implicações existentes; na sequência, apresentamos a análise das

produções textuais elaboradas a partir da pratica de AL; por fim, as considerações finais.

2 CONCEITUANDO ANÁLISE LINGUÍSTICA

Como qualquer outra instituição inclusa na sociedade, a escola cogita, de modo

geral, a vida da comunidade na qual está inserida; e isso envolve, sobretudo, a realidade

do aluno quanto ao ensino/aprendizagem da língua materna. Nota-se ainda hoje, que tal

ensino se reduziu a inúmeras dificuldades, principalmente, quanto ao estudo de Língua

Portuguesa, isto é, o estudo da teoria gramatical em sala de aula, visto que muitos

discentes a julgam ser difícil e acabam não obtendo interesse em estudá-la.

43

Refletindo sobre o ensino da gramática nas escolas, observa-se que este ainda se

encontra descontextualizado, ou seja, não se enfatiza que tal ensino vai muito além de

apenas leitura e escrita de textos, de uma gramática voltada apenas para o ensino de

nomenclaturas e regras; não leva em consideração o contexto do aluno e sua realidade

fora da escola, deixando de articular o uso da língua oral e escrita e o da reflexão acerca

desses usos, que são os “eixos de leitura, oralidade, produção de textos e análise

linguística”, os quais são enfatizados pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais)

(BRASIL, 1999) de Língua Portuguesa. Com isso, o ensino da gramática se torna

inflexível, prescritivo, com pouco, ou quase nenhum, apoio do uso da língua em textos

reais, dificultando a aprendizagem do alunado.

Por isso, toda unidade de ensino deve ter como objetivo durante as aulas de LP,

a produção de textos em sala de aula, pois o ensino de língua materna na escola não pode

estar diretamente voltado somente para as reflexões gramaticais, mas sim para a produção

dos mais variados tipos de textos.

É com base nesse contexto que algumas escolas estão praticando em sala de aula,

uma ação reflexiva sobre o ensino de gramática, voltada para o cotidiano do discente e o

seu convívio fora da escola. A essa nova prática chamam de Análise Linguística:

A prática de análise linguística assume um status teórico-metodológico:

teórico, porque constitui um conceito que remete a uma forma de observar

dados da língua, apoiada em uma teoria; metodológico, porque é utilizado na

sala de aula como um recurso para o ensino reflexivo da escrita (BEZERRA,

2013, p.10).

Com esse conceito fica evidente que a AL veio para complementar o ensino da

gramática, onde se deixa de ensinar somente nomenclaturas e regras da Língua

Portuguesa, e passa a ser utilizada a prática textual com caráter reflexivo, voltados para o

estudo da língua em si, levando em consideração a interpretação de tais textos, o que

possibilita ao aluno enxergar além das entrelinhas e ter um estudo não somente

relacionado com a gramática padrão, mas também, ao que diz respeito a uma nova leitura

e escrita reflexivas.

Assim como a língua materna é o objeto de estudo da Língua Portuguesa, na

prática de Análise Linguística não é diferente. Alguns estudos comprovam que esse termo

circula de duas formas práticas no ambiente acadêmico, envolvendo o estudo da língua e

o estudo da gramática. Bezerra (2013) as apresenta, em seu livro “Análise linguística:

afinal, a que se refere?”: a primeira volta-se para o ato de interpretação, descrição e

explicação dos aspectos linguísticos, referindo-se as diversas unidades da língua como,

44

por exemplo: o fonema, morfema, sintagma, a frase, o texto, o discurso e a própria

palavra. E a segunda, por sua vez, também menciona a descrição, mas faz referência

primordial para estudos com finalidades didáticas, acarretando eixos norteadores da

construção de conhecimento ao longo da formação histórica dos alunos, enfatizando os

sentidos da linguagem em busca da intercompreensão.

Além disso, também são encontradas ações de linguagem que apresentam

distinções dentro da prática de AL, nas quais se destacam as atividades linguísticas,

epilinguísticas e metalinguísticas, e podem ser vistas em diversos tipos de ações, porém,

em níveis diferentes de reflexão. Conceituando-as segundo Bezerra (2013), a primeira se

denomina atividades linguísticas, que são as ações praticadas nos processos interacionais,

destrinchando o tema em pauta. A segunda, atividades epilinguísticas, provem de uma

reflexão voltada para os recursos expressivos como objeto, operando sobre a própria

linguagem, além de também estar persente nos processos interacionais. E a terceira e

última, atividades metalinguísticas, adotam a linguagem como objeto, não mais reflexivo-

interativo em si, mas sim em processo construtivo de uma metalinguagem sistemática que

abrangerá conceitos e classificações da língua, podendo criar hipóteses sobre a natureza

da linguagem e uso da língua para falar dela mesma.

Ainda que distintas essas atividades operam umas sobre as outras, porém,

seguem uma sequência de aplicação para o desenvolvimento reflexivo do educando em

relação ao texto. Ou seja, enquanto as atividades linguísticas trabalham com os processos

interacionais do aluno com o texto, as atividades epilinguísticas resultam dessa interação

aluno-texto, no entanto de forma reflexiva, voltadas para as expressões presentes dentro

do próprio texto, diferenciando-se das atividades metalinguísticas que, por sua vez, está

relacionada a uma linguagem sistemática abordando os conceitos e classificações

textuais. É nesse contexto teórico que surge a necessidade de equilibrar essas atividades

dentro dos eixos de ensino (língua oral e escrita/nomenclaturas e regras), para que o

discente possa ter a garantia do uso da língua e saber operar sobre ela.

A caminho da sala de aula, atualmente, encontramos muitas dificuldades quanto

ao que se vê em relação às aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental e Médio.

Para isso, a AL apresenta duas perspectivas descritivas para tal ambiente. Na primeira,

funciona como ato de descrever aspectos da língua como forma de estudos descritivos,

voltados para tendências teóricas. Já na segunda, também descreve aspectos linguísticos

associados ao ensino/aprendizagem, no entanto, para fins didáticos.

45

Tais perspectivas funcionam como alternativa e/ou complementação ao ensino

de gramática tradicional (normas gramaticais), para auxiliar o estudo das nomenclaturas,

porém um tanto mais didático, ou seja, fundamentam-se na concepção de língua como

interação, induz procedimentos metodológicos, por meio de atividades epilinguísticas

(recursos expressivos como objeto) e metalinguísticas (linguagem como objeto), estudo

de dados linguísticos heterogêneos (no caso da língua) etc., para ter, contudo, a AL em

sala de aula. Logo, Bunzen; Mendonça (2006) frisa, para um melhor entendimento, a

importância em saber as diferenças existentes entre o ensino de gramática e a prática de

AL, como mostra o quadro a seguir:

Quadro 01- Diferença entre ensino de gramática e AL

ENSINO DA GRAMÁTICA PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA

Concepção de língua como sistema,

estrutura inflexível e invariável.

Concepção de língua como ação

interlocutiva situada, sujeita às

interferências dos falantes.

Fragmentação entre os eixos de ensino: as

aulas de gramática não se relacionam

necessariamente com as de leitura e de

produção textual.

Interação entre os eixos de ensino: a AL é

ferramenta para a leitura e a produção de

textos.

Metodologia transmissiva, baseada na

exposição dedutiva (do geral para o

particular, isto é, das regras para o exemplo) + treinamento.

Metodologia reflexiva, baseada na

indução (observação dos casos

particulares para a conclusão das regularidades/regras).

Privilégio das atividades metalinguísticas. Trabalho paralelo com habilidades

metalinguísticas e epilinguísticas.

Ênfase nos conteúdos gramaticais como

objetos de ensino, abordados

isoladamente e em sequência mais ou

menos fixa.

Ênfase nos usos como objetos de ensino

(habilidades de leitura e escrita), que

remetem a vários outros objetos de ensino

(estruturais, textuais, discursivos,

normativos), apresentados e retomados

sempre que necessário.

Centralidade de norma padrão. Centralidade dos efeitos de sentido.

Ausência de relação com as

especificidades dos gêneros, uma vez que

a análise é mais de cunho estrutural e,

quando normativa, desconsidera o

funcionamento desses gêneros nos

contextos de interação verbal.

Fusão com o trabalho com os gêneros, na

medida em que contempla justamente a

intersecção das condições de produção dos

textos e as escolhas linguísticas.

Unidades privilegiadas: a palavra, a frase

e o período.

Unidade privilegiada: o texto.

Preferência pelos exercícios estruturais,

de identificação e classificação de

unidades/ funções morfossintáticas e

correção.

Preferência por questões abertas e

atividades de pesquisa, que exigem

comparação e reflexão sobre adequação e

efeitos de sentido. Fonte: BUNZEN, Clécio; MENDONÇA, Márcia (2006).

46

Por todo o Ensino Fundamental e Médio a pratica de AL em sala de aula se

mostra relevante para proporcionar aos discentes a oportunidade de refletirem sobre a

forma como produzem seus textos. No Ensino Médio, nível de ensino com o qual

trabalhamos nesta pesquisa, voltar-se para práticas de análise sobre a língua e fundamental

para a organização, seleção e apresentação dos elementos constitutivos de uma produção

textual, a redação escolar – entre os tipos mais comuns, a dissertação – que é configura-

se como um dos pontos avaliados em um exame de caráter nacional que possibilita o

acesso à Universidade.

Em virtude dessas diferenças,

a AL na escola se baseia no pressuposto de que a linguagem não é uma estrutura

dada, acabada, mas uma forma de (inter)ação social, que funciona segundo

certas condições de produção dos discursos – interlocutores, situação

sociocomunicativa, gênero, forma de circulação, etc. (BUNZEM;

MENDONÇA, 2006, p.73).

Com isso, Geraldi (1984) também sugere que a prática de leitura e produção

textual andem juntas com a prática de AL, pois o aluno irá aperfeiçoar seu olhar tanto no

que se lê quanto no que escreve, partindo assim dos erros que ele mesmo pode encontrar

em sua produção, para então refazê-la e obter o desenvolvimento reflexivo.

Portanto, é por meio de uma problemática encontrada na sala, especificamente

no ensino de gramática – tanto fundamental, quanto médio – que se enquadra a prática de

AL, seja na leitura ou na escrita, uma vez que ela virá somar com as aulas de Língua

Portuguesa, principalmente no Ensino Médio – já que o aluno está saindo da escola para

a academia – apresentando-se como alternativa, para ajudar o professor de língua a

explorar o objeto de ensino baseando nos procedimentos teórico-metodológicos e

reflexivos para, assim, obter-se o trabalho com a prática de Análise Linguística e abranger

um melhor ensino/aprendizagem dos discentes nas escolas.

3 ENEM E SUAS COMPETÊNCIAS: AS IMPLICAÇÕES EXISTENTES

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(Inep), é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), cuja missão

é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o Sistema Educacional Brasileiro.

Dentre os principais objetivos, estão o subsídio da formulação e implementação de

políticas públicas para a área educacional a partir de parâmetros de qualidade e equidade,

bem como a produção de informações claras e confiáveis aos gestores, pesquisadores,

educadores e público em geral. Logo, tal Instituto, em parceria com o MEC, proporcionou

47

às escolas e aos discentes o que se conhece hoje como ENEM (Exame Nacional do Ensino

Médio).

O ENEM é um exame anual, aplicado pela primeira vez em 1998, destinadoaos

alunos em vias de concluir ou que já tinham concluído o ensino médio, com o objetivo de

avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica, para contribuir na melhoria

da qualidade de ensino. Na época, o exame continha 63 questões de múltipla escolha e

uma redação. A preparação para a prova baseava-se em uma matriz de competências

elaborada para o exame.

A confecção dessa matriz objetivava romper com o isolamento das disciplinas

do ensino médio e promover a “colaboração, complementaridade e integração entre os

conteúdos das diversas áreas do conhecimento presentes nas propostas curriculares das

escolas brasileiras de ensino fundamental e médio” (INEP, 1999, p. 9). A matriz

estruturava-se a partir dos conceitos de competência e de habilidades associadas ao

conteúdo do ensino fundamental e médio. Esses conceitos são apresentados no

Documento Básico do ENEM e podem ser definidas como:

Competências são as modalidades estruturais da inteligência, ou melhor, ações

e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos,

situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. As habilidades

decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do

‘saber fazer’. Através das ações e operações, as habilidades aperfeiçoam e

articulam-se, possibilitando nova reorganização das competências (INEP,

1999, p. 9).

Além disso, um dos objetivos do ENEM é intervir na melhoria do Ensino Médio,

haja vista que incentiva os alunos a buscarem e aprimorarem o conhecimento, acerca

desse processo de seleção para o acesso à Educação Superior.

Atualmente, o exame é composto por quatro provas objetivas, com 45 questões

de múltipla escolha cada, e uma redação. Desse modo, as áreas de conhecimento e

componentes curriculares avaliados no ENEM são: Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias e Redação que abrange Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira

(Inglês ou Espanhol), Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e

Comunicação; Ciências Humanas e suas Tecnologias que envolvem História,

Geografia, Filosofia e Sociologia; Ciências da Natureza e suas Tecnologias que

compreende Química, Física e Biologia; Matemática e suas Tecnologias que abarca

Matemática.

A prova de redação exige do estudante um texto em prosa, de no máximo trinta

(30) linhas, do tipo dissertativo-argumentativo a partir de um tema com enfoque social,

48

científico, cultural ou político. No texto serão avaliadas as competências desenvolvidas

nos anos da educação básica. Nesta redação deverá conter a tese do aluno relacionada

com o tema proposto, sustentada com argumentos concisos e estruturados para formar

uma unidade textual coerente e coesa do início ao fim, em uma linguagem formal. A

redação deve ser finalizada com proposta(s) de intervenção, para um determinado

problema contido no desenvolvimento sem que está afete os direitos humanos.

A partir da cartilha do participante (INEP, 2016), o aluno tem a chance de

entender toda a metodologia utilizada para as correções das redações e ter acesso as

explicações e conceituações das competências exigidas para a redação. Essa cartilha ainda

disponibiliza amostra das produções textuais que obtiveram a nota máxima, estipulada no

exame, para o estudante de certa forma relacionar através dos comentários explicativos,

os pontos exigidos nas competências com o que de fato foi escrito e considerado pelo

autor da redação para a aquisição da nota máxima.

A cartilha mencionada faz referência às cinco competências exigidas na redação.

Antes de evidenciar as competências, a cartilha do aluno apresenta a estrutura do texto

dissertativo-argumentativo que deve estar voltada para o tema proposto, seguido da tese

a partir do ponto de vista do aluno, argumentos que fundamentem a tese do aluno e por

fim uma proposta de intervenção diferenciada que não atinja de forma nenhuma os

direitos humanos.

Segundo a Cartilha do Participante ENEM (INEP, 2016), a redação será avaliada

conforme as seguintes competências:

✓ Competência 1: “Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua

Portuguesa”.

Nessa competência será avaliado justamente o domínio da Linguagem Formal

na escrita, ou seja, não deve conter resquícios da oralidade no texto, pois isto sugere

desconto na pontuação da referida competência. O aluno precisa separar a fala da escrita,

já que isso pressupõe a utilização da oralidade no texto. Por isso é importante dominar o

registro formal na escrita, ou seja, a norma padrão. Clareza e objetividade são requisitos

imprescindíveis para essa competência, a precisão a partir do vocabulário variado

empregado a torna completa.

✓ Competência 2: “Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias

áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto

dissertativo-argumentativo em prosa”.

49

O próximo item a ser avaliado é a compreensão da proposta de redação, requer

desempenho do aluno no que consiste a leitura com atenção, com marcações dos pontos

principais e que abranja as ideias dele a partir daquele tema a fim de escrever um texto

dissertativo-argumentativo com a devida estrutura defendendo a tese abrangida por ele

com os devidos argumentos e informações acerca dos seus conhecimentos e assim,

atendendo às exigências da Competência 2.

✓ Competência 3: “Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,

opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista”;

Nessa Competência será avaliado como o aluno seleciona, relaciona, organiza e

interpretam as informações, os fatos, as opiniões e argumentos para se chegar na defesa

do seu ponto de vista em relação a tese. Além disso, ele será instigado a questionar uma

ideia central para melhor inseri-la no texto, de forma que deixe claros as possibilidades

percebidas por meio dos questionamentos e até mesmo um novo olhar que deverá ser

defendido com consistência, seguido de argumentos para justificar a posição assumida

em relação à temática proposta.

✓ Competência 4: “Demostrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários

para a construção da argumentação”;

Os aspectos a serem avaliados nesta competência dizem respeito à estruturação

lógica e formal entre as partes da redação. A organização textual exige que as frases e os

parágrafos estabeleçam entre si uma relação que garanta uma sequência coerente do texto

e a interdependência das ideias. Esse encadeamento pode ser expresso por conjunções,

por determinadas palavras, ou pode ser inferido a partir da articulação dessas ideias.

Preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais são responsáveis pela coesão

do texto, porque estabelecem inter-relação de orações, frases e parágrafos, ou seja, cada

ideia nova precisa estabelecer relação com as anteriores. Esses recursos linguísticos

garantem a relação de continuidade das ideias de um texto coeso.

✓ Competência 5: “Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado,

respeitando os direitos humanos”.

A competência 5 avaliará a apresentação da proposta de intervenção para o

problema abordado. Por isso, a redação do aluno, além de apresentar uma tese sobre o

tema, apoiada em argumentos consistentes, deve oferecer uma proposta de intervenção na

vida social. Essa proposta deve considerar os pontos abordados na argumentação. A

proposta deve manter um vínculo direto com a tese desenvolvida no texto e demonstrar

coerência com os argumentos utilizados, já que expressa a sua visão, como autor, das

50

possíveis soluções para a questão discutida. Além de refletir os conhecimentos de mundo

de quem a redige, de modo que a coerência da argumentação seja um dos aspectos

decisivos no processo de avaliação. É necessário que o aluno respeite os direitos humanos,

não romper com valores como cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural.

A competência de número 3 foi o ponto de destaque desta pesquisa, pois avalia

a interpretação do estudante, e ainda evidencia se o aluno conseguiu compreender a

proposta, se ele buscou argumentos em meio ao seu conhecimento e os organizou, tentou-

se relacioná-los em favor de seu ponto de vista, e por fim, se esse aluno na produção do

seu texto final organizou todas as informações relacionadas com a posição assumida à

temática proposta.

Além disso, a relação de sentidos entre a parte dos textos é importante, pois

viabiliza o entendimento do leitor sobre determinado assunto; a precisão vocabular e

seleção de argumentos tornam a leitura mais objetiva, o que facilita na compreensão do

que está sendo dito no texto; o desenvolvimento do tema de forma linear demonstra o

planejamento e a visão do estudante quanto à organização das ideias para produção do

texto; e a adequação quanto ao conteúdo e o contexto ao qual está inserido.

Assim sendo, a escolha pela competência 3 justifica-se por “a análise linguística

incluir [...] o trabalho sobre as [...] questões amplas a propósito do texto, entre as quais

vale a pena citar: [...] adequação do texto aos objetivos pretendidos; [...] organização e

inclusão de informações, etc. (GERALDI, 2006, p. 74).

Ademais, vale ressaltar que essa competência é a qual mais se aproxima da AL,

um ponto de grande relevância para a nossa pesquisa, pois está voltada para atender uma

parcela de estudantes, a caminho de concluir o ensino médio e passar pelo ENEM, para

contribuir na produção da redação para que o aluno tenha um ótimo desempenho e um

ótimo resultado.

A competência e as habilidades em produzir uma redação em um alto nível, que

englobe as informações acerca do que o aluno vivencia e estuda, foi nosso ponto de

partida para a pesquisa, com a ideia de se trabalhar com a aplicação da prática de uma

forma contínua, já que a AL se refere justamente ao estudo teórico-metodológico em que

a teoria está presente no estudo da língua juntamente com a metodologia no que se refere

ao ensino reflexivo da escrita, características que recaem na Competência 3 do ENEM.

Ou seja, a reflexão está ligada diretamente com a leitura, de modo que esta não seja

efetuada de forma decodificada para que assim, haja uma compreensão de sentidos

51

transmitidos pelo texto. Isso retoma ao verdadeiro sentido de produzir textos onde o autor

expressa-se, entrelaçando ao texto, sua visão de mundo acerca do que seja proposto.

4 METODOLOGIA

O discente, conforme já mencionado anteriormente, valendo-se da Análise

Linguística, tem a chance de inserir a sua própria visão sobre o que está lendo ou ouvindo,

ou seja, suas hipóteses são levadas em consideração em relação aos fenômenos

observados, contudo, “a AL não elimina a gramática das salas de aula, como muitos

pensam, mesmo porque é impossível usar a língua ou refletir sobre ela sem gramática”

(BUNZEN; MENDONÇA, p. 206, 2006).

Com base nisso, na oficina utilizada para produzir os dados desta pesquisa, o

foco foi o de trabalhar a prática da Análise Linguística voltada para as competências

exigidas na redação do ENEM com ênfase na terceira das cinco exigidas pelo exame, para

oferecer subsídios aos alunos na produção e interpretação textual mediante leitura e

escrita com estratégias discursivas.

Os sujeitos da pesquisa foram alunos do 3º ano do ensino médio de uma escola

estadual do município de Moju. A pesquisa aconteceu no horário de 14h00min as

17h00min, no período de 04/05 a 27/06. O calendário inicialmente se deu com a parte

teórica: conceitos das competências de 1 a 5, enfatizando a competência 3; e logo após as

produções, iniciou o processo de ensino de forma fragmentada, no qual iniciaram com a

introdução, passando para o desenvolvimento e finalizaram com a conclusão e a junção

das redações. Ao final do procedimento, houve a entrega das redações, aplicação do

questionário e o encerramento.

Com isso, o texto do aluno tornou-se laboratório para que ele próprio conseguisse

atingir a meta a partir das habilidades postas em prática, haja vista que um texto pode

acarretar múltiplas interpretações sociais dependendo do contexto ao qual está inserido

com possíveis questionamentos para se chegar a uma conclusão sobre a leitura, por isso

a importância da prática.

Inicialmente foi proposta aos alunos uma produção textual a partir de uma

coletânea entregue a eles mediante material impresso, para que fosse efetuada a leitura

dessa coletânea, observados e selecionados os pontos essenciais do texto contido no

material e, principalmente, a compreensão e interpretação da proposta por meio da prática

da análise linguística. Em seguida, analisamos os textos produzidos pelos alunos, para

verificar se desenvolveram as habilidades relacionadas com a competência 3 do ENEM.

52

A produção dos alunos foi avaliada visando verificar se eles conseguiram

assimilar as informações repassadas sobre a redação e no que confere o uso da prática da

análise linguística. Além disso, foram apresentadas aos alunos algumas perguntas

relacionadas ao texto base do material entregue a eles, considerando o conhecimento

prévio dos mesmos acerca do tipo textual dissertação: o que é argumentar? Como

organizar um argumento? Vocês já fizeram algo do tipo? Já foi explicado a vocês sobre

dissertação? A partir desses questionamentos e já com a redação devolvida, os alunos

revisaram o próprio texto produzido por eles, bem como analisaram as observações feitas

pelas pesquisadoras a respeito da avaliação do texto para assim, refazê-lo com intuito de

modificar o que não funcionou muito bem quanto à terceira competência do ENEM.

4.1 Praticando a Análise Linguística

O texto reescrito de cada aluno foi revisado novamente pelas pesquisadoras, para

averiguar se os desvios constatados anteriormente foram sanados mediante os conceitos

e questionamentos trabalhados no ponto anterior, para ampliar a visão do aluno quanto ao

conteúdo e organização do texto e, com isso, tornar perceptíveis os efeitos alcançados

após todas as etapas da oficina.

Como se viu no primeiro tópico sobre o conceito de AL pode-se dizer que a

mesma trabalha com a leitura e escrita reflexivas, o que possibilita estar diretamente

ligada com a gramática, demostrando não somente o estudo superficial do texto, mas

também um processo tanto do ponto de vista teórico-metodológico, quanto de sua prática

em sala de aula. Uma vez que, o educando relaciona o estudo da língua e a reflexão sobre

ela, envolvendo as nomenclaturas presentes na gramática. Logo, uma é complemento da

outra e ambas fazem parte do mesmo eixo de ensino para uma melhor aprendizagem da

Língua Portuguesa.

Mesmo depois dos alunos terem de início certo estranhamento em relação ao

assunto abordado no curso, receberam o conteúdo de forma significativa para que seus

conhecimentos fossem aprimorados no decorrer das produções.

Ao analisar os alunos, observou-se o desenvolvimento de cada um desde o

começo até o término da oficina de produção textual. E como critério avaliativo, as

redações foram corrigidas de acordo com a grade de correção do ENEM, sendo que cada

aluno recebeu uma pontuação de 0 a 1000, pois cada competência valia 200 pontos. Logo,

as notas dos alunos foram variando no decorrer das produções, à medida que colocavam

em prática seus conhecimentos no curso.

53

Abaixo seguem algumas das observações acerca das produções de texto dos

alunos durante a prática de análise linguística realizada nas oficinas.

O aluno1 (como aqui será denominado) já apresentava entendimento sobre a

redação e sua estrutura, mas não a dominava. Seus textos de início apresentavam

coerência nos parágrafos, porém as ideias ainda eram confusas e o ponto de vista um tanto

complexo. À medida que ia desenvolvendo os textos, o discente começou a perceber os

desvios que apresentava, entre eles: falhas nas pontuações, incoerência do texto, falta de

conectivos e onde precisavam se encaixar as ideias para ter coerência e coesão em sua

redação. Uma vez que, trabalhou-se com produção e reescrita textuais, nas quais os alunos

produziam, analisavam os textos, verificavam os desvios e onde apresentavam mais

dificuldades, para assim não cometer mais os mesmos equívocos na reescrita e

aperfeiçoando seus textos, como mostra a imagem a seguir:

Imagem 02 - Primeira redação do Aluno1

Fonte: Aluno1

Logo, no início do curso, o aluno1 apresentava notas baixas em relação as suas

produções. Tais notas variavam entre 640 a 700, de acordo com a somatória de pontos

para cada competência. Aparentemente, pareciam boas notas devido o discente já ter certo

conhecimento de como se estruturar uma redação. No entanto, as atividades

desenvolvidas durante a oficina contribuíram para o avanço deste. Ao término do projeto,

o discente já apresentava notas maiores, as quais variaram de 800 A 860 pontos em suas

produções, praticando o refazer dos textos, concluindo assim o avanço significativo do

aluno1. Segue a imagem:

54

Imagem 02 – Última redação do Aluno 1

Fonte: Aluno1

Na primeira produção apresentada pelo Aluno2 observamos desvios de

pontuação e acentuação, coerência e falta do parágrafo conclusivo no texto, conforme se

verifica abaixo. No total foram seis (6) textos deste aluno, que oscilaram desde o início

até o final de 560 a 760 pontos, como mostra a imagem:

Imagem 03 - Primeira redação do Aluno2

Fonte: Aluno2

Ao longo da oficina o aluno avançou em certos pontos como a escrita, passou a

ter menos desvios no que consiste a acentuação e à concordância verbal que também

55

esteve presente em alguns dos textos dele. A produção com queeste finalizou o semestre

foi muito satisfatória, como podemos perceber abaixo, obteve a maior nota de todas as

suas produções com pouquíssimos desvios. Isso nos mostrou o quanto as análises foram

importantes, pois demonstravam para os alunos o quanto eles precisavam mudar aquilo

que não estava bem nas suas escritas. Segue a imagem:

Imagem 03 – Última redação do Aluno2

Fonte: Aluno2

]

Já o aluno3, no início apresentou notas baixas em suas produções, dificuldades

na escrita como repetição de palavras e pouco domínio da norma culta. Suas ideias eram

confusas e soltas dentro do texto, tornando-o complexo, mas demonstrava uma noção

sobre como estruturar a redação. Logo, foi aprimorando seus conhecimentos e

apresentando notas melhores em suas correções até o término da coleta, para exemplificar,

veja a imagem a seguir:

56

Imagem 04 – Primeira redação do Aluno3

Fonte: Aluno3

As notas do aluno no início do curso variaram entre 540 a 600, pois o mesmo já

tinha uma noção de como estruturar a redação, porém ainda não havia domínio de como

organizar suas ideias em defesa de um ponto de vista (seja qual for o tema proposto). No

decorrer do curso, seus conhecimentos foram se expandindo e consequentemente

alcançou notas maiores em relação às primeiras produções. Os argumentos e o ponto de

vista se tornaram mais coerentes e organizados, fazendo com que suas notas aumentassem

para 604 a 700 até o término do projeto, como mostra a imagem:

Imagem 04 – Última redação do Aluno3

Fonte: Aluno3

57

Os alunos foram desafiados a avaliaram a si próprios quanto ao desempenho.

Com isso, mesmo depois deles terem tido de início certo estranhamento em relação ao

assunto abordado no curso, receberam o conteúdo de forma significativa para que seus

conhecimentos fossem aprimorados no decorrer das produções.

Observamos a partir das produções e reescritas que a Análise Linguística precisa

estar acompanhada da gramática, foi evidente que os alunos podem tornar a leitura mais

reflexiva e escrever um texto de forma coerente, porém, para essa escrita viabilizada de

sentido, é necessária uma boa construção no que se refere à coesão para assim, tornar a

sua tese flexível de entendimento no sentido do corpo textual.

Com isso, a AL torna-se extremamente importante no processo de

ensino/aprendizagem dos alunos nas escolas, pois como Mendonça (2006, p. 204), “a AL

surge como alternativa complementar às práticas de leitura e produção de texto”, visto

que possibilita também a reflexão da língua, e não somente a gramática no cotidiano dos

discentes.

Nesse sentido, a AL é uma atividade que se pratica dentro e fora da escola,

servindo de ferramenta para o ensino da língua, leitura e produção de textos. Logo, ela

constitui os três eixos de ensino da língua materna (leitura, oralidade e escrita). Trata-se

de “trabalhar com o aluno o seu texto para que ele atinja seus objetivos” (MENDONÇA,

2006, p. 207).

Sendo assim, a forma de se imaginar e de se compreender o processo de ensino

e aprendizagem da língua materna vêm sendo transformada em novas discussões acerca

do papel e função do ensino da gramática na escola, tem sido discutida e modificada. É

preciso decidir sobre novas metodologias e procedimentos didáticos mais adequados à

abordagem da LP e, ainda, as formas de avaliar a aprendizagem.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da percepção da necessidade em desenvolver a prática da Análise

Linguística, nossa proposta buscou atender melhor o desenvolvimento da capacidade

leitora e de produção textual dos alunos, bem como a construção de sentidos estabelecidos

e produzidos por meio das competências do ENEM, mediante o contexto ao qual está

inserido o texto base para a redação. Os alunos foram bem receptivos quanto às etapas do

curso apresentadas, com a parte teórica e prática, além do questionamento de alguns

pontos da estrutura cobrada na redação do ENEM.

58

Abordando esse assunto para os alunos avaliados durante a oficina de produção

textual, percebemos que a maioria não havia tido contato com uma prática de AL, pois

logo no início foi perceptível a falta de domínio destes. Ainda durante as aulas

ministradas, vimos que muitos alunos já apresentavam certo conhecimento sobre como

organizar uma redação, porém, não tinham domínio sobre ela, demonstrando dificuldades

diversas tanto na organização da estrutura de uma redação como, por exemplo, nos

desvios relacionados à norma culta voltando-se para a gramática e, muitas vezes, a troca

de tempos verbais, entre outros.

Ao longo da execução da pesquisa no primeiro semestre, fomos percebendo uma

oscilação com mudanças gradativas e importantes que com a prática da AL foi realmente

inevitável trazer alguns conteúdos gramaticais e explicá-los para que os alunos

percebessem os desvios referentes a eles. Para os alunos o trabalho foi de suma

importância, já que no início tiveram a ideia de que não sabiam nada, pois chegaram

produzindo no primeiro dia para analisarmos a escrita de cada um.

E mesmo a insegurança deles ter feito parte desse primeiro dia de produção,

ficamos satisfeitas com os textos, pois saíram de forma inicial, com vários desvios como

esperávamos para o início do processo. Ficou evidente que eles têm bagagem de

conhecimento, haja vista que qualquer pessoa possui capacidade de iniciar um trabalho e

claro que com um texto inicial de no mínimo sete (7) linhas e no máximo trinta (30) não

iria ser diferente.

Nosso objetivo geral de trabalhar com a prática da AL com vista ao

desenvolvimento da competência 3 do ENEM, referente ao tipo textual dissertação foi

atendido de forma satisfatória, mesmo que nem todos os alunos tenham alcançado bons

resultados quanto a produção de um texto mais completo, pois faltaram em algumas aulas.

Para os quais conseguiram, sugerimos que passem a focar na leitura de notícias atuais,

que continuem praticando seu texto de forma contínua a partir de uma nova visão em que

observem o que se passa ao seu redor para que o professor tenha mais acessibilidade em

incrementar a prática da AL em sala de aula com eles.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola

Editorial, 2003.

BEZERRA, Maria Auxiliadora; REINALDO, Maria Augusta. Análise Linguística:

afinal, a que se refere?. São Paulo: Cortez, 2013.

59

SANTOS, Carmi Ferras; MENDONÇA, Márcia; CAVALCANTE, Marianne C.B.

Diversidade textual: os gêneros na sala de aula. 1. ed. 1. reimp. – Belo Horizonte:

Autêntica, 2007.

BUNZEN, Clécio; MENDONÇA, Márcia. Português no ensino médio e formação de

professor. ed. 2. – São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas. Redação no ENEM 2016 Cartilha

do Participante. Brasília – DF. Disponível em: <http://www.inep.gov.br>. Acesso em:

30 mar. 2017.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Ministério da educação.

Secretaria de Educação Média e Tecnológica. – Brasília: Mistério da Educação, 1999.

PROVAS e gabaritos. Disponível em: <https://www.infoenem.com.br/provas-

anteriores/>. Acesso em 05 abr de 2017.

A REFORMA do ensino médio e a implantação do Enem no Brasil1. Disponível

em: <http://www.schwartzman.org.br/simon/desafios/4ensinomedio.pdf>. Acesso em:

05 Abr 2017.

ANÁLISE sobre o Enem: Sugestões, Elogios E Críticas. Disponível em:

<http://www.sinepepr.org.br/inep/ENEM.pdf>. Acesso em: 05 Abr 2017.

GERALDI, J W. (Org.) O texto em sala de aula. Cascavel/Campinas: Assoeste/

Unicamp, 1984.

NO CONTEXTO das Políticas para o Ensino Médio. Disponível em:

<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc10/espaco.pdf>. Acesso em: 05 Abr 2017.

GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português. 4 ed. São Paulo:

Ática, 2006.

SOUZA, Sirlene Barbosa de. Prática de análise linguística: o que fazem os

professores na sala de aula?. Trabalho apresentado no VI Colóquio Internacional:

educação e contemporaneidade, 20-22 set. São Cristovão – SE.

60

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA

PORTUGUESA

LINGUISTIC VARIATION IN THE PORTUGUESE LANGUAGE

DIDÁTICO BOOK

Carlos Ivan Afonso Cunha Neto

Talita Rodrigues de Sá

Viviane Almeida dos Santos

RESUMO: Nesta pesquisa, analisou-se a abordagem da variação linguística em (01) um

livro didático de Língua Portuguesa do Ensino Médio. Para a realização deste estudo, foi

selecionado como material de observação/investigação a obra Português

Contemporâneo: diálogo, reflexão e uso”, de William Roberto Cereja et al. (2016).

Assim, foi desenvolvido um estudo descritivo-documental, com abordagem qualitativa,

tomando-se por base teórica o autor Bagno (1999), (2002), (2007). O que possibilitou

concluir que há uma grande tentativa, por parte dos autores, de adequar e modernizar seus

livros didáticos, com base nos estudos da Sociolinguística sobre a heterogeneidade

constitutiva das línguas humanas.

PALAVRAS-CHAVE: Sociolinguística. Variação linguística. Livro didático.

ABSTRACT: In this research, the linguistic variation approach was analyzed in (01) a

didactic book of Portuguese Language of High School. For the accomplishment of this

study, it was selected as observational / research material to contemporary Portuguese

work: dialogue, reflection and use ", by William Roberto Cereja et al. (2016). Thus, a

descriptive-documentary study with a qualitative approach was developed, taking as

theoretical basis the author Bagno (1999), (2002), (2007). This made it possible to

conclude that there is a great attempt on the part of the authors to adapt and modernize

their textbooks, based on the studies of Sociolinguistics on the constitutive heterogeneity

of human languages.

KEYWORDS: Sociolinguistics. Linguistic variation. Textbook.

1 INTRODUÇÃO

No âmbito escolar, o ensino de Língua Portuguesa, apesar de inovações no

ensino da ciência da linguagem, continua baseando-se em metodologia tradicionalista.

Dessa forma, os docentes são direcionados a planejarem aulas moldados no ensino

normativo, caso contrário, não é considerado ensino. Por esse motivo, tal ensino de língua

61

materna promovido pela escola, tem mais a atrapalhar do que a desenvolver a

competência comunicativa dos alunos. Na verdade, o que ocorre é uma oposição nos

conceitos de língua e linguagem de um lado, a prescrição do falar correto, com base na

variedade padrão/culta, dita exemplar. Do outro, a língua considerada errada pela

gramática normativa, inaceitável, tanto no que diz respeito à escrita quanto à oralidade,

por parte de pedagogos, professores, gramáticos, jornalistas etc.

Todo indivíduo falante de sua língua sabe usa-la, o que acontece é que esse

falante, muitas vezes, domina apenas uma variante dessa língua, e é dever do ensino de

língua materna instruir seus alunos para perpassarem de uma variante a outra sem grandes

problemas. Mas, para isso, precisamos sensibilizar a sociedade como um todo de que toda

variedade de uma língua é igualmente importante e tem seu lugar.

A existência de preconceito da variedade oriunda das classes menos favorecidas,

faz com que seus falantes sejam prejulgados como pessoa “sem” cultura, geralmente estes

indivíduos estão à margem da sociedade. O que aparenta ser é que, na verdade, julga-se

o indivíduo, e não o que ele está falando, por esse motivo as aulas de Língua Portuguesa

ainda precisa rever o tratamento dado aos aspectos variacionistas da língua.

Neste caso, o livro didático é instrumento educacional, funcionando como

ferramenta complementar da prática do professor em aula, contribuindo também para o

estudo do aluno individualmente. De acordo com o Portal do MEC (2008), o livro

didático: é um importante material de apoio ao processo de ensino e aprendizagem, pois

contribui, tanto para o trabalho do professor quanto para o processo de aprendizagem do

aluno. Embora a prática pedagógica do professor envolva diversas dimensões, como

sua pesquisa constante para o aprimoramento de seu trabalho em sala de aula, um livro

didático com textos adequados, ilustrações pertinentes e informações atualizadas auxilia

no planejamento de ensino. Para que suas possibilidades sejam aproveitadas ao máximo,

o livro didático deve estar adequado às necessidades da escola, do aluno e do professor.

Para que o livro didático esteja disponível para a escolha, é necessário que o

mesmo passe por um sistema de avaliação do MEC, o qual instituiu cinco requisitos

metodológicos que os livros devem seguir:

(a) “explicitar sua proposta metodológica”, (b) “realizar as propostas de

maneira coerente”, (c) “mobilizar e desenvolver o maior número possível das

capacidades básicas do pensamento autônomo e crítico”, (d) “articulação

pedagógica com outros livros da coleção” e (e) “percepção das relações entre

o conhecimento construído e suas funções na vida social” (Guia do livro

didática, supressões nossas, 2008, p. 13).

62

Como critério classificatório da análise dos LDPs, é possível identificar que entre

as categorias está a língua e a linguagem, quando informa que é preciso “considerar e

respeitar a diversidade linguística, situando as variedades urbanas de prestígio nesse

contexto” e “valorizar e efetivamente trabalhar a variação e a heterogeneidade linguística

(Guia do livro didático, supressões nossas, 2008, p. 15-16).

A partir dessa realidade, se percebe a necessidade de investigarmos o livro

didático e o conteúdo que o compõe, identificando de forma crítica quais os pontos

positivos e negativos do material utilizado em sala de aula. Assim, o presente trabalho

visa analisar a variação linguística presente no livro didático: Português contemporâneo:

Diálogo, Reflexão e uso. Optou-se por uma abordagem qualitativa, privilegiando uma

análise documental, à luz de autores que trabalham com a variação linguística.

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1 Concepções de língua e linguagem e suas implicações sociais

Ao analisar a forma como o livro didático trata a questão da variação linguística,

acredita-se ser apropriado olhar para a concepção de língua e linguagem que o norteia,

pois conforme Travaglia (2008) destaca que a estrutura do trabalho com a língua, em

termos de ensino, altera de acordo com a maneira que concebemos a natureza fundamental

da língua, considerando essa questão tão importante quanto a postura que se tem em

relação à educação. Portanto, o professor precisa estar atento ao desenvolvimento dos

estudos linguísticos para que possa, então, alterar e/ou mudar sua forma de trabalho com

a língua, optando não pela concepção que lhe parece melhor ou mais “fácil”, mas por

aquela que responda, apropriadamente, ao desenvolvimento comunicativo do aluno.

Desta forma, três concepções permeiam a história dos estudos linguísticos,

dentre eles, toma-se aqui a concepção de linguagem como expressão do pensamento, a

qual trata a língua como um sistema idealizado, de forma tal a privilegiar o ensino da

gramática normativa e conceber que as leis da língua são regidas pelas leis do pensamento.

Sobre isso, afirma Travaglia (2008, p.21) “a expressão se edifica no interior da mente e

sua exteriorização funciona como uma espécie de tradução do pensamento”. Nesse

modelo teórico, não há espaço para a interação entre os indivíduos por meio da

língua(gem), e assim, ela é reduzida a um ato monológico, concordando com Bakhtin

(2006, p. 114), ao postular a língua como um ato individual, uma expressão da

consciência, de seus desejos, suas intenções, seus impulsos criadores, seus gostos.

63

Contrapondo-se em partes a essa concepção, tem-se a concepção de linguagem

como instrumento de comunicação que toma a língua(gem) como um objeto autônomo,

ignorando o papel dos interlocutores, o processo de produção da língua, bem como os

fatores de ordem sócio-históricos, culturais e ideológicos indissociáveis da mesma. A

indissociabilidade acontece para privilegiá-la como um sistema de códigos imutáveis que

transmite mensagens de um emissor para um receptor, todavia, tomando a língua isolada

de suas situações de uso. A função da língua é, por conseguinte, tão somente de prestar-

se como meio de comunicação entre os indivíduos.

Diferentemente das outras duas concepções, tem-se a concepção de linguagem

como interação, a qual se volta à interação humana, ao diálogo, consoante a isso,

Travaglia (2008, p.23) afirma que “o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão

somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informações a outrem, mas

sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor)”. Nesse sentido, a

concepção dialógica da língua(gem) contrapõe-se às visões anteriores que tem a língua

como um objeto autônomo sem história e sem interação social. De acordo com o PCN

de língua portuguesa do Ensino Médio (BRASIL, 2000, p. 5) “não há linguagem no vazio,

seu grande objetivo é a interação, a comunicação com o outro, dentro de um espaço social

[...]”. Assim, o indivíduo, no processo de comunicação, não só transmite uma mensagem

a ser decodificada/decifrada pelo interlocutor, mas, principalmente, age, atua sobre ele,

em busca da interação comunicativa, o que nos leva entender que a linguagem se constitui

por práticas sócio-cognitivo-interativas.

Quando o ensino da língua é fundamentado nessa concepção, não há anulação

do ensino gramatical, pelo contrário, amplia-se, por meio da leitura e da escrita à reflexão

sobre os fatos gramaticais e/ou linguísticos, passa-se compreender a linguagem com toda

sua diversidade. Entra-se, então, em cena o estudo das variedades linguísticas, e o

indivíduo, de um estado de passividade frente às questões de língua(gem), passa a um

estado de atividade. Tem agora, independência intelectual e, ao mesmo tempo, seus

conhecimentos de mundo passam a ser valorizados. Por isso, a língua(gem) caracteriza-

se como social, visto ser resultante de uma construção coletiva e por estar intrinsecamente

relacionada a fatores extralinguísticos. Nesse sentido, considerar o escopo social dessa

concepção de linguagem, implica considerar que os usos linguísticos do homem são

inegavelmente influenciados pela sociedade.

O aspecto social da língua é fato já bastante colocado em discussão por estudos

linguísticos, de tal forma a facultar a compreensão de as relações do homem com seu

64

universo de vida, com sua realidade e, essencialmente, com o outro só se construírem por

meio do trabalho, da ação da linguagem e pelo uso que se faz da língua. Desse modo,

pensar nos usos linguísticos pelo homem implica pensar os espaços sociais em que ele

está inserido ou se insere, ideia essa corroborada por Soares (2009) ao afirmar que não se

pode considerar a língua fora do contexto social, na medida em que sua função seria não

apenas transmitir informações, como também estabelecer e manter contatos sociais entre

os falantes.

2.2 Sociolinguística: Objeto de Estudo

Voltada por uma vasta gama de teorias e de estudos linguísticos envolvendo

fatores de cunho sociocultural, a sociolinguística fora introduzida a partir da segunda

metade do século XX pelo norte americano William Labov, contrariando teorias como o

estruturalismo de Saussure e o gerativismo de Chomsky que acreditavam que a língua era

como uma realidade abstrata e independente dos fatores linguísticos. Sobre estes

conceitos afirma Cezario e Votre (2009 p.141) “A sociolinguística estuda a língua em seu

uso real, levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos

sociais e culturais da produção linguísticas”. Ou seja, a sociolinguística entende que a

língua é uma instituição social e que, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura

independente dos contextos históricos e culturais.

Partindo do princípio que as variações e as mudanças são inerentes à língua, a

sociolinguística ressalta que por esses motivos às analises linguísticas devem sempre ser

levadas em consideração, voltando-se seus estudos aos usos linguísticos dos falantes em

diferentes contextos e situações sociais. Para Bagno (2007, p. 38), “O objetivo central da

sociolinguística, como disciplina cientifica, é precisamente relacionar a heterogeneidade

linguística com a heterogeneidade social”. Ou seja, a língua e a sociedade estão totalmente

entrelaçadas.

Entretanto o objeto de estudo da sociolinguística se localiza no uso do vernáculo,

ou seja, da língua falada pelos indivíduos em situações naturais, onde supostamente o

falante preocupa-se mais com o que dizer do que o como dizer, trabalhando com o falante

e ouvinte reais, em situações reais da linguagem. Nessas perspectivas afirma Cezario e

Votre:

Um de seus objetivos é entender quais são os principais fatores que motivam a

variação linguística, e qual a importância de cada um desses fatores na

configuração do quadro que se apresenta variável. O estudo procura verificar

o grau de estabilidade de um fenômeno, se está em seu início ou se completou

uma trajetória que aponta para mudança (2009 p.141).

65

Em outras palavras, a sociolinguística busca por meio dos estudos e das

manifestações linguísticas concretas, descrever e explicar os fenômenos da linguagem,

tendo a variação não como um efeito do acaso, mas como um fenômeno cultural motivado

por fatores linguísticos e extralinguísticos.

Para tanto vale afirmar que negar esta realidade linguística, significa negá-la

como um fator social, por conseguinte entende a partir desses pressupostos que não se

pode mais aceitar a utilização de práticas pedagógicas que fujam a esses conceitos

sociolinguísticos ou anulam os mesmos, pois assim o docente acaba favorecendo o

desconhecimento da influência sociocultural da língua, bem como favorece a

discriminação e o preconceito ocasionado em uma exclusão social com a língua e pela

língua.

2.3 O que é Variação Linguística

O esforço de alguns linguistas de tentar mudar a concepção estagnada sobre a

variação linguística vista como um sinônimo de erro, pois a concepção que vigora na

sociedade acerca da variação é de que a língua é estática. Diante dessa concepção observa-

se uma nova política de educação linguística, que vem apresentar a língua como um

processo heterogêneo, como um produto social que sofre variação. O fato é que essa

política linguística já defende que “não existe nenhuma língua no mundo que seja

uniforme e homogênea” (Bagno, 2008, p. 27).

Partindo do pressuposto da língua como produto social percebe-se que ela está

relacionada com a necessidade de interação entre os indivíduos, e é a partir dessa

necessidade que se vai construindo a língua, de forma coletiva. Assim observa-se que a

língua ganha forma a partir da interação entre os indivíduos da sociedade, ou seja, ela

sofre mudanças que são influenciadas diretamente por aspectos socioculturais dos falantes

da língua.

Dentro dessa perspectiva da construção da língua de forma coletiva, nota-se que

a língua é um reflexo da própria sociedade, reflexo do grau de escolaridade, região, idade,

contexto social, entre outros, logo, a língua é dinâmica, heterogênea e que não é um

produto estagnado, dessa forma não temos “a língua” fechada, isolada, homogênea, temos

o que chamamos na sociolinguística de heterogeneidade linguística. Como afirma Bagno

a respeito das várias línguas presentes em nosso País: “Ora a verdade é que no Brasil

embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português

apresenta um alto grau de variabilidade” (Bagno, 2003 p.16).

66

Para tanto, as variações linguísticas são reflexos mais autêntico da identidade do

indivíduo, e que negar tal fato é uma atitude totalmente preconceituosa, considerando isso

quanto ao preconceito linguístico, cabe ao professor ensinar ao seu educando os valores

sociais atribuídos a cada variação linguística existente na sociedade e excluir a concepção

que se tem em estigmatizar a língua em “certo” e “errado”, cabe ao professor tentar

desfazer o equívoco que é dado ao ensino da língua materna, no qual predomina o ensino

da norma culta padrão.

A principal ferramenta utilizada pelo professor para ensinar a língua na sala de

aula é a gramática normativa, porém de acordo com as considerações aqui já apresentadas,

a língua vai além do que a gramática normativa deve o professor em sala de aula estimular

nas aulas da língua materna um conhecimento cada vez maior e melhor sobre as

multiplicidades existentes na língua.

Para Bagno (2005, p 142) uma das decisões que o professor deve adotar em sala

de aula é aceitar que não existe o erro de português e sim diferenças de uso ou alternativas

de uso, em relação à regra única estabelecida pela gramática normativa.

O professor não sabe muito bem como agir diante dos chamados “erros de

português”. Estamos colocando a expressão “erros de português” entre aspas

porque a consideramos inadequada e preconceituosa. Erros de português são

simplesmente diferenças entre as variedades da língua (BORTONI, 2004,

p.37).

Dessa forma, trabalhar com a variação linguística na escola é uma maneira de

evitar o preconceito linguístico e desmitificar o chamado “erro de português” e assim

garantir que a gramática normativa não seja a principal ferramenta pedagógica utilizada

para contribuir com um ensino abrangente da língua tornando o aluno poliglota em sua

própria língua, trazer a sociolinguística para a sala de aula significa adotar uma nova

pedagogia de ensino e assim respeitar e valorizar as ricas e incríveis expressões existentes

de norte a sul do Brasil.

Corroborando com o que vem sendo discutido nesse trabalho, percebe-se que o

conceito de variação linguística está intrinsecamente ligado à necessidade de interação

comunicativa dos indivíduos e que a língua vai sendo transformada a partir dessa

necessidade. Ficou perceptível o importante papel da escola nesse processo de

desmistificação de ver a língua como algo estagnado e o papel do professor em estimular

o conhecimento sociolinguístico da língua acerca da nossa rica e incrível variação

linguística. Todavia, tudo isso nos leva para outra linha de reflexão e indagação; os livros

67

didáticos adotados como fonte de pesquisa desse artigo, contribuem para essa nova

pedagogia de ensino?

3 PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa de campo foi realizada no período de 16 a 22 de agosto de 2018, no

ERC Colégio São Francisco Xavier (CSFX), localizado na Avenida 15 de agosto, 339

bairro centro no município de Abaetetuba no estado do Pará. O Colégio dispõe de

infraestrutura constituída de vinte e quatro salas de aula todas climatizada, uma sala de

professores e funcionários, dois laboratórios de informática um laboratório

multidisciplinar, uma biblioteca tendo está o objetivo de promover o ensino baseado na

indagação e na busca de novos conhecimentos, transformando-a em uma fonte de

renovação constante, como afirma o Projeto Político Pedagógico da instituição.

O colégio dispõe de corpo docente qualificado composto por noventa e quatro

professores, todos graduados em licenciatura plena, destes, vinte e seis possuem

especialização, quatorze estão cursando a especialização e seis com o título de mestrado,

um cursando doutorado e um doutor, subdividindo-se por áreas de conhecimento como:

Linguagens e códigos e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências

humanas e suas tecnologias e ciências da natureza e suas tecnologias. Todos os docentes

dentro da instituição utilizam para o ensino materiais impressos organizados pelo

professor bem como o LD (Livro Didáticos) do ano vigente.

Com o objetivo de analisar a abordagem da variação linguística nos livros

didáticos essa pesquisa justifica-se por perceber que o mesmo é instrumento bastante

utilizado pelos professores nas salas de aulas, uma vez que é deste que os docentes se

apropriam para tratar da língua e seu uso no meio social. Desta forma utilizou-se como

objeto de estudo a coletânea “Português contemporâneo: Dialogo reflexão e uso”. Esta

coleção é de autoria de: William Cereja, Carolina Dias Viena e Christiane Damien e está

dividida em três volumes sendo estes para cada série do ensino médio.

Tabela: Coleção dos livros

LD TÍTULO AUTOR (A) EDITORA SÉRIE

01 Português contemporâneo: diálogo, reflexão

e uso

William Roberto

Cereja Saraiva

1° ano do ensino

médio

02 Português contemporâneo: diálogo, reflexão

e uso

William Roberto

Cereja Saraiva

2° ano do ensino

médio

68

03 Português contemporâneo: diálogo, reflexão

e uso

William Roberto

Cereja Saraiva

3° ano do ensino

médio

Fonte: pesquisa de campo (2018)

Dentre os livros pesquisados foi selecionado o volume 1 desta coleção por ser o

único que aborda de maneira mais ampla sobre variação linguística presente no mesmo

entre as páginas 48 a 54 da unidade 1 no capítulo II , visto que, o volume 2 não apresenta

em seu conteúdo o estudo das variações, e o volume 3 apresenta, no entanto, de forma

superficial. O livro selecionado foi publicado pela editora Saraiva no ano de 2016,

organizado em quatro unidades abordando respectivos temas: rumores da língua e da

literatura; Engenho e arte; Palavras e movimento; e Palavra e razão, onde cada unidade

subdivide-se em três capítulos.

Figura 1 – Capa do LD escolhido

Fonte: Cereja (et al, 2016)

3.1 Análise do Livro Didático

A análise do Livro Didático foi embasada de acordo com alguns

questionamentos e perspectivas desenvolvidas pelo linguista Marcos Bagno (2007) na

obra “Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação” no capitulo

intitulado “A variação linguística nos livros didáticos”, as quais serão respondidas a

seguir:

69

Figura 3- Questões propostas sobre a música

3.1.1 O livro didático trata de variação linguística?

No livro analisado há apenas um capitulo que tem como tema “Variedades

linguísticas” onde inicia com a música Vozes da seca de Luís Gonzaga e Zé Dantas e

alguns questionamentos que estão relacionados à estrutura do texto, a expressões de

tratamento da norma-padrão, a evolução histórica das expressões contidas no meio

rural.

Figura 2- início do capítulo

Fonte: Cereja (et al. 2016, p.48)

Fonte: Cereja (et al. 2016, p.48-49)

Observou-se também que em algumas questões propostas sobre as expressões

utilizadas na canção estavam sempre fazendo relação com a norma-padrão e não

empregadas no seu contexto de produção, pois o a música relata a vida sofrida do sertão

70

e o eu-lírico é fortemente marcado por expressões que fazem parte do português brasileiro

e que não está de acordo com a norma padrão, o tratamento o qual é dado às variações

linguísticas no (LD) livro didático, sobressai o preconceito linguístico contra as

tendências de variações linguísticas, acontece que a norma culta costuma ser privilegiada

e cria-se a ideia de que as variações linguísticas estão ligadas somente à falta de

escolarização. Bagno (2007) expõe que este é um dos principais problemas encontrados

nos LD’s:

Um dos principais problemas encontrados nos livros didáticos é uma tendência

a tratar da variação linguística em geral como sinônimo de variedades

regionais, rurais ou de pessoas não escolarizadas. Parece estar por trás dessa

tendência a suposição (falsa) de que os falantes urbanos e escolarizados usam

a língua de um modo mais ‘correto’, mais próximo do padrão, e que no uso que

eles fazem não existe variação (BAGNO, 2007, p. 15).

Assim em algumas atividades são propostos aos alunos que façam a reescrita dos

termos que marcam a variação regional nordestina para a norma-padrão escrita, essa é

uma tentativa de imposição entre o “certo” e o “errado” que de acordo com os estudos de

Bagno (2003), existes mitos que acabam por constituir o que chamamos de preconceito

linguístico, observa-se isso no trecho a seguir:

Figura 4- atividades sobre variações

Fonte: Cereja (et al. 2016, p.50)

Tais mitos constroem- se a partir da ideia daquilo que é considerado “certo” e

“errado” na língua falada. Geralmente o chamado preconceito linguístico costuma ser,

segundo Bagno, sustentado pelas classes dominantes, quase sempre estão a serviço delas,

71

a mídia é um exemplo disso, os jornais, rádios dentre outras fontes da mídia, são também

sustentados pelos meios tradicionais de ensino de língua materna, como a gramática

normativa (aquela que procura sempre ditar o “certo” e “errado”) e até mesmo os livros

didáticos. Esse preconceito linguístico, segundo Bagno (2003):

[...] se baseia na crença de que só existe [...] uma única língua portuguesa digna

desse nome e seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e

catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape

desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do

preconceito linguístico, ‘errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente’, e não

é raro a gente ouvir que ‘isso não é português’ (BAGNO, 2003, p. 40).

Após a análise da canção citada acima, são apresentados conceitos sobre

variação linguística, questionamentos que seguem uma linha de pensamento que se

opõem a análise inicial. São apresentados os tipos de variação: diacrônica, diatópica,

diastrática e diamésica de maneira bem breve. O LD finaliza o capitulo com o tópico que

explica a norma-padrão.

Portanto, podemos constatar que o tratamento da variação linguística no LD

analisado é problemático, como se observa, isso acontece porque sua abordagem gira em

torno da metodologia de ensino de língua portuguesa e que acabam por trazer diretamente

implicações para o ensino de língua. Sabemos que a língua portuguesa brasileira, como

assegura Bagno (2003, p16), “apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade”,

essas que são motivadas tanto por fatores de ordem geográfica, como também pelo

contexto social e dentre outros fatores, todavia nos livros didáticos essa diversidade é

deixada em segundo plano e consequentemente os fenômenos linguísticos inerentes à

língua, as variações linguísticas.

3.2 O livro didático menciona de algum modo à pluralidade de línguas que existe no

Brasil?

O livro didático cita de forma sucinta que é um equívoco acreditar que o

português brasileiro é língua homogênea em todo o país e que há diversos elementos que

contribuem para que a língua sofra variação, afirma ainda:

Podemos dizer que o português são muitos e que todas as variedades servem

às finalidades para as quais existem. Determinar a norma-padrão de uma língua

não significa definir uma variedade como a mais correta, mais completa, mais

bonita ou mais dotada de certa qualidade especifica. (CEREJA, 2016, p.51).

Assim, além de reconhecer a pluralidade de línguas existentes no Brasil, os

autores ainda afirmam que todas tem sua legitimidade e exercem a função a que foram

designadas. São apresentadas as diferentes formas de variação. Como afirma Bagno

72

(2003), já que em um país como o Brasil existe uma grande diversidade e variabilidade

de português. A respeito das normas cultas e literárias impostas pelos escritores e

instituições oficiais, por exemplo, Bagno (2003, p.16) articula que [...] se formos acreditar

no mito da língua única, existem milhões de pessoas neste país que não têm acesso a essa

língua, que é a norma literária, culta, empregada pelos escritores e jornalistas, pelas

instituições oficiais, pelos órgãos do poder ─ são os sem-língua.

O que o linguista quis dizer é que não existe língua única, idêntica, deste modo

homogêneo, como tentam empregar os jornalistas e gramáticos, mas sim uma língua

heterogênea que apresenta um multilinguíssimo, ou seja, uma grande diversidade

linguística que é cheia de variações.

3.3 O tratamento se limita às variedades rurais e regionais?

No capitulo é discutido sobre a variedade rural e regional e, também fala um

pouco sobre a social, mas é tratado com maior ênfase sobre a regional, especificamente

do nordeste brasileiro, são bastante citados, por causa de suas falas, percebe-se um

preconceito em relação a isso. Na página 48 do capítulo consta um verso de uma canção

de Luís Gonzaga e Zé Dantas (figura 2), que se chama “vozes da seca”, fala do sofrimento

do nordestino é uma forma poética de denunciar o descaso e a omissão dos governantes

no que se refere ao combate à seca. “Vozes da Seca” continuará sendo um grito de dor e

a expressão mais pura do desalento do povo nordestino. A canção não foi escrita conforme

a norma-padrão da língua foi tomada a liberdade necessária para utilizar recursos como

desvios da norma ortográfica, aproximando-se mais da linguagem falada. Este recurso foi

usado na canção para destacar a forma de falar no dialeto nordestino, que como na maioria

dos dialetos, a grafia e a pronúncia divergem bastante.

Gonzaga, a partir de sua arte, tornou-se um grande representante da cultura

regional, um dos grandes responsáveis por apresentar o Nordeste ao restante do país,

mostrando através do conteúdo de suas canções, a grandeza e a beleza de uma terra

esquecida e vítima de preconceitos diversos, dentre eles, o preconceito linguístico, onde,

na maioria das vezes, a forma de falar do nordestino é motivo de chacota para algumas

pessoas.

3.4 O livro didático apresenta variantes características das variedades prestigiadas?

O livro trata das variedades desprestigiadas que é a do nordeste. Ele apenas cita

bem breve sobre a variante dos gaúchos como a expressão “bah” “tchê” em uma atividade

para que os alunos respondam onde foram produzidos esses discursos.

73

Figura 5 - Atividade do livro sobre a linguagem

Fonte: Cereja (et al. 2016, p.52-53)

A história do nordeste brasileiro, marcada por secas, analfabetismo, explorações,

êxodos, desemprego e outros tantos fatores, repercutiram em sua formação cultural e

linguística. E nos livros didáticos é muito mostrado sobre o falar do nordestino, como se

eles falassem de forma incorreta, é sempre repassado para os alunos por meio dos

exemplares que os nordestinos não têm estudo, que não tiveram oportunidades, e por aí

vai, por isso o preconceito só aumenta, pois os livros não mostram as variedades dos

outros estados.

O falar nordestino é considerado chulo e errado, não respeitando a formação

regional. No livro Segundo Marcos Bagno (1999), a fala nordestina passa a ser retratada

como algo grotesco, rústico, atrasado, criado para criar risos entre as pessoas. O choque

cultural acaba causando o preconceito linguístico. O Brasil é formado por 27 estados que

falam a mesma língua: português. Mas que sofre variações devido aos aspectos culturais.

É o que afirma Bagno (1999), que por mais que a língua falada pela maioria seja o

português, apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade por causa da extensão

territorial e social. Um Brasil que se caracteriza pela diversidade cultural e linguística

pode até ter traços parecidos, mas cada região possui sua identidade cultural. Da mesma

forma que existe o preconceito com algumas classes sociais, também existe o preconceito

com a fala de certas regiões do nordeste. A visão de um nordeste caracterizado apenas

pela seca, fome e miséria foi repassada para o restante do Brasil, construindo uma imagem

de atraso e subdesenvolvimento. O nordeste possui essas características, mas também

possui grande legado cultural, considerado até como a região mais nacional do país.

74

3.5 O livro didático separa a norma-padrão da norma culta ou continua confundindo

a norma-padrão com uma variedade real da língua?

O material apresenta somente o conceito de norma-padrão definindo-a como um

“conjunto de regras, pautadas em autores consagrados, que impõe uma unidade à língua

escrita”, atribuindo a esta o parâmetro da fala em situações formais, justificando estuda-

la na escola pelo fato de receber maior prestígio social e o seu domínio se fazer necessário

em “diversas situações”. Em nenhum momento os autores do livro fazem menção à

terminologia norma culta, muito pelo contrário, continua reproduzindo a ideia de que

norma-padrão é sinônimo de norma culta,

Apesar de a língua apresentar muitas variedades linguísticas há uma tradição

gramatical que define alguns parâmetros para a escrita (e para a fala, em

situações mais formais). [...] A norma padrão não é uma variedade da língua,

mas tem a função principal de minimizar as mudanças que ocorrem muito

rapidamente na fala [...]. (CEREJA, VIANNA & CODENHOTO, 2016, p. 53).

Com isso, os autores acabam reproduzindo a ideia de que a norma-padrão é

realmente utilizada pelos falantes da língua, entretanto, Bagno (2007), afirma que

“ninguém fala (nem escreve) o padrão, nem no máximo grau de monitoramento

estilístico”. Segundo Farraco (2002), a norma culta refere-se à variedade usada pelas

pessoas que tem mais proximidade com a modalidade escrita, por conseguinte, possuem

uma fala mais próxima das regras de tal modalidade, esse equívoco da terminologia é

bastante frequente não só nos livros didáticos, por isso, faz- se necessário esclarecer os

contrastes existentes, uma vez que esses termos designam variedades linguísticas

diferentes.

3.6 O livro mostra coerência entre os capítulos dedicados à variação?

O Livro dedica apenas um capítulo para tratar de "variação linguística", e isso de

certa forma é um erro, pois com isso nota-se que a variação linguística ainda não é vista

como um assunto importante, e é necessário que na escola os professores e os livros

didáticos, reconheçam a existência dessa variação no ensino da língua portuguesa

brasileira e mostrem aos alunos a necessidade desse reconhecimento. Apesar disso, o

conteúdo do capítulo é bem estruturado, pois aborda os tipos de variação tratando com os

devidos termos e conceitos sobre o fenômeno da variação, além de deixar evidente que

existem diversos tipos de variação.

75

Figura 6 - Tipos de variações

Fonte: Cereja (et al. 2016, p.51- 52)

Tanto o sotaque, o léxico, a semântica, a transformação com o tempo,

escolaridade, contexto, dentre outros, foram aspectos abordados, o que se torna uma

questão positiva para se trabalhar com o ensino das variações em sala de aula.

3.7 O livro didático explicita que também existe variação entre fala e escrita, ou

apresenta a escrita como homogênea e a fala como lugar de erro?

Após explicar algumas considerações sobre o português falado aborda sobre a

ortografia, deixando explicito em suas colocações de que há diferença entre eles,

exemplificando por meio da variação diamésica a diferenças e semelhanças entre fala e

escrita. Ressaltam também ao longo do capitulo, que “é um equívoco dizer que o

português brasileiro é uma língua falada homogeneamente em todo país, uma vez que há

elementos diversos que contribuam para que ela sofra variações” (CEREJA, VIANNA &

CODDENHOTO, 2016, p.50).

Assim o mesmo deixa claro seu posicionamento entre a relação da lingua escrita

e língua falada defendendo que a fala tem sua legitimidade e heterogeneidade, onde ao

fazer isso, quebra-se essa visão equivocada de fala como local de erro, pois a mesma,

assim como a escrita, possui ferramentas para que haja a comunicação. O autor deixa

claro tambem que “apesar de a língua apresentar muitas variedades linguísticas há uma

tradição gramatical que define alguns parâmetros para a escrita”, pois reconhece que seu

domínio é importante, não só na produção de textos que necessitam de uma linguagem

mais elaborada, como também para que os textos escritos não fiquem ultrapassados e

precisem ser traduzidos com frequência.

76

3.8 O livro apresenta a variação linguistica somente para dizer que o que vale

mesmo, no fim das contas, é a norma-padrão?

Constatou-se que embora ovs livros abordem a variação linguística, o foco deles

sempre vai para a “norma padrão”, a forma “certa ou errada" tendo em vista a norma

"padrão" dita pela gramática normativa, prevalecem nos livros uma atividade mecânica,

tais como reescrita de textos. Nessa acepção, compreende-se não estar o LD em análise

totalmente em sintonia com os estudos linguísticos ou neles fundamentados,

especialmente, com os sociolinguísticos, assim como se destoa também, dos pressupostos

teóricos dos PCNs e de um dos objetivos definidos no Guia do PNLD (MINISTÉRIO DA

EDUCAÇÃO, 2010, p. 22), no qual se lê “abordar os diferentes tipos de conhecimentos

linguísticos em situações de uso, articulando-os com a leitura, a produção de textos e o

exercício da linguagem oral”.

Desse modo percebeu-se por meio da análise no LD, que a variação linguística

abordada no mesmo recebe um tratamento superficial, apenas para dar ênfase à norma

padrão, a gramática normativa, ou seja, segundo o Livro didático no fim das contas o que

vale é a norma padrão.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na análise do livro didático constatou-se que o mesmo apresenta o

conteúdo sobre variação linguística de modo artificial. Não basta os livros apresentarem

os conteúdos de variação linguística, é preciso que haja aplicação efetiva entre esse

conhecimento linguístico e a prática contemple o mundo de referência do aluno. O livro

fica mais limitado ao sotaque e ao léxico. O LD, de certa forma trata do “certo” e do

“errado” quando privilegia uma determinada variedade (padrão/culta e formal) e

desprivilegia outra (informal/coloquial). É necessário ampliar o estudo da variação

linguística na coleção analisada, com base em atividades que versem sobre a ordem

sintática, morfológica, fonológica e lexical em textos escritos e orais com questões de

identificação, análise e reelaboração de textos que oportunizem o ensino/aprendizagem

de fenômenos linguísticos e não fique somente na reflexão sobre o processo interativo da

linguagem. E que, nesse sentido, possa apresentar direcionamentos que insiram o trabalho

com a realidade da língua e sua veemência para o tratamento com a variedade linguística,

com atividades significativas e enriquecedoras.

Quanto aos PCNs, eles orientam para uma prática pedagógica voltada para uma

variedade linguística e que o professor precisa ser mediador para que o aluno compreenda

77

o processo de aquisição de linguagem. É importante mostrar ao aluno que a língua é

dinâmica, e que está sempre em processo de mutação, e existem muitas maneiras de dizer

a mesma coisa e que todas correspondem a usos diferenciados.

Enfatizamos que para haver de fato mudanças nos paradigmas atuais do ensino

de Língua Portuguesa, é preciso que o professor, como um dos protagonistas desse

processo, também busque conhecimento sobre as novas concepções de língua e procure

analisar e selecionar criticamente os livros didáticos. Contudo, salientamos que, sem uma

boa formação ou conhecimento sólido por parte do professor, qualquer livro didático, por

mais tenha uma estrutura bem elaborada não vai influenciar nesse processo de

ensino/aprendizagem. O livro não pode constituir-se na única fonte de consulta e pesquisa

na sala de aula, tanto pelo professor como pelo discente.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Nada na Língua é por acaso: por uma pedagogia da variação

linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.

. Língua, história e sociedade: breve retrospecto da norma-padrão brasileira.

In BAGNO, Marcos (org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002. Cap. 9.

p.179-199.

BORTONI-RICARDO, Stella M. A sociolinguística na sala de Aula: educação em

língua materna. São Paulo: Parábola, 2004.

CEREJA, William Roberto. Português contemporâneo: diálogo, Reflexão e Uso.

Vol.1/ Willian Roberto Cereja, Carolina Assis Dias Vianna, Christiane Damien

Codenhoto. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

. Português contemporâneo: Diálogo, Reflexão e Uso. Vol. 2/ Willian

Roberto Cereja, Carolina Assis Dias Vianna, Christiane Damien Codenhoto. 1 ed. São

Paulo: Saraiva, 2016.

. Português contemporâneo: Diálogo, Reflexão e Uso. Vol. 3/ Willian

Roberto Cereja, Carolina Assis Dias Vianna, Christiane Damien Codenhoto. 1 ed. São

Paulo: Saraiva, 2016.

BRASIL. MEC /SEMTEC. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio.

Brasília, DF. 2000.

CEZARIO, Maria Moura, VOUTRA, Sebastião. Sociolinguística. In: MARTELOTTA,

Mario Eduardo (Org). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009.

MEC. Guia de livros didáticos PNLD 2008. Língua portuguesa Disponível em:

<ftp://ftp.fnde.gov.br/web/livro_didatico/guias_pnld_2008_linguaportuguesa.pdf>.

78

Acesso em: 26/08/2018 às 18h30min

SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática,

2009.

TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática.

São Paulo: Cortez, 2008.

79

LEITURA EM SALA DE AULA: A PRÁTICA DOCENTE,

LIMITAÇÕES E DESAFIOS

READING IN CLASSROOM: TEACHING PRACTICE,

LIMITATIONS AND CHALLENGES

Andrey Luz Ferreira

Lais Lauane Gaia Veras

Rosiellem Cabral dos Passos de Almeida

Resumo: o presente artigo é resultado de uma pesquisa qualitativa, com o objetivo de

refletir a prática da leitura em sala de aula, de forma a inferir possibilidades que facilitem

a inserção do aluno na sociedade por meio da compreensão textual, principalmente de

obras literárias. Tivemos como objeto de pesquisa dados coletados a partir da aplicação

de questionário a professores de Língua Portuguesa de uma escola pública que atende do

6º ao 9º ano, no município de Abaetetuba-Pa. Assentamos nossas analises nas premissas

de: Antunes (2003); Kleiman (2000, 2004 e 2008; Freire (2000); e o PCN de Língua

Portuguesa (1998). O enunciado recurso metodológico, norteador de nossa pesquisa nos

apresentou como resultado que por meio da compreensão de textos literários é possível

inserir o aluno de forma efetiva na sociedade.

Palavras-chave: Leitura. Interação. Literatura.

Abstract: This article is the result of a qualitative research, with the purpose of reflecting

the practice of reading in the classroom, in order to infer possibilities that facilitate the

insertion of the student in the society through the textual comprehension, mainly of

literary works. We had as research object data collected from the questionnaire

application to teachers of Portuguese Language of a public school that attends the 6th to

9th grade, in the municipality of Abaetetuba-Pa. We base our analyzes on the premises

of: Antunes (2003); Kleiman (2000, 2004 and 2008, Freire, 2000), and the PCN of

Portuguese Language (1998) The methodological resource, guiding our research has

presented us as a result that through the understanding of literary texts it is possible to

insert the student of effective way in society.

Keywords: Reading. Interaction. Literature.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a prática da leitura e seu ensino

em sala de sala, de forma a inferir possibilidades que facilitem a inserção do aluno na

sociedade por meio da interação proporcionada pela compreensão textual. Para tanto,

recorremos à bibliografia especializada, a documentos oficiais (o PCN de Língua

80

Portuguesa), e ainda, a dados coletados a partir da aplicação de questionário aberto a

professores de Língua Portuguesa da educação básica de uma escola pública.

Neste sentido, o artigo encontra-se organizado em quatro partes: a primeira,

conceitos e concepções sobre leitura, apresenta uma discussão bibliográfica sobre os

diversos conceitos, ideias e práticas tangenciadoras à leitura; a segunda, a importância do

PCN de Língua Portuguesa para trabalho com a leitura na escola, trata da conceituação e

importância da leitura na formação do aluno, e, das orientações ao professor de Língua

Portuguesa quanto ao trabalho e ensino da leitura.

Na terceira, nos empenhamos na coleta e análise dos dados junto a docentes de

Língua Portuguesa, o que nos possibilitou conhecer sobre as práticas docentes e a

recepção dos alunos quanto à leitura no meio escolar; na última parte, empreendemos

esforços no sentido de elaborar uma Proposta de Intervenção: praticando a leitura por

meio de textos literários, onde propomos métodos de inserção e avaliação da leitura por

meio do recurso a textos literários regionais.

2 CONCEITO E CONCEPÇÕES SOBRE LEITURA

Reconhecendo a máxima de que o homem é um ser social, o que nos indica um

convívio e compartilhamento de condições que envolvam o coletivo, é de suma

importância o uso de metodologias variadas que viabilizem a plena comunicação entre o

leitor e a sociedade. Nesse sentido, o desenvolvimento de novas estratégias de ensino da

leitura seria preponderante para a organização e comunicação social. Antunes (2003), por

meio de uma concepção tradicional aponta limitações no processo de ensino

aprendizagem da leitura, fundamentadas na decodificação. Assim, temos

uma atividade de leitura centrada nas habilidades mecânicas de

decodificação da escrita, sem dirigir, contudo, a aquisição de tais

habilidades para a dimensão da interação verbal – quase sempre, nessas

circunstâncias, não há leitura, porque não há “encontro” com ninguém

do outro lado do texto (ANTUNES,2003, p.27).

A formação de um leitor centralizada na leitura de palavras acaba por desenvolver

no individuo apenas a habilidade de decodificação dos signos linguísticos, decifração do

que está no papel na forma de código, sendo o mero conhecimento desses, insuficiente

para uma leitura eficaz, pois “a leitura é a parte da interação verbal escrita, enquanto

implica participação cooperativa do leitor na interpretação e na reconstrução do sentido e

das intenções pretendidas pelo autor” (ANTUNES, 2003, p.66), isto é, o ato de ler se

81

constitui na compreensão, em dar sentido às palavras do autor, no entendimento da

mensagem repassada.

Ainda sobre a leitura tradicional, nas salas de aula, por vezes, ela é praticada

restrita ao livro didático, fazendo com que o aluno apenas retire algumas informações do

texto. Desta forma, o leitor irá apenas decifrar as palavras, para assim responder as

questões, e não terá a compreensão sobre o mesmo, não levará algo como aprendizado

para seu convívio social. Ou seja, tem-se uma

concepção da atividade como equivalente à atividade de decodificação.

Essa concepção dá lugar a leituras dispensáveis, uma vez que em nada

modificam a visão de mundo do aluno [...] Essa atividade passa por

leitura, quando a verificação da compreensão, também chamada, no

livro didático, de “interpretação”, exige apenas que o aluno responda

perguntas sobre informação que está expressa no texto (KLEIMAN,

2004, p. 20).

Muitos educadores dizem que acreditam no processo interacionista entre o autor

e leitor, mas, poucos ensinam o aprendiz a “ouvir” o autor nessa interação. Segundo

Kleiman (2008), no material didático geralmente a leitura fica reduzida às atividades com

exercícios de interpretação de texto, e, a manipulação de sentenças. Nesse contexto, não

há preocupação com o significado global do texto. Se o professor não nota a complexidade

do processo de leitura e interação, ele acaba não conseguindo implementar a visão de

mundo do texto que está sendo trabalhado na sala de aula. Em outras palavras,

a pratica de sala de aula, não apenas da aula de leitura, não propicia a

interação entre professor e aluno. Em vez de um discurso que é

construído conjuntamente entre professores e alunos, temos primeiro

uma leitura silenciosa ou em voz alta do texto, e depois, uma serie de

pontos a serem discutidos, por meio de perguntas sobre o texto

(KLEIMAN, 2000, p.24).

Considerando o enunciado acima, a leitura só acontece quando o leitor realiza um

trabalho ativo com vista à apreensão do significado do texto, não quando o professor se

fecha em um monologo. Ele deve utilizar metodologias eficientes, de acordo com as

necessidades do aluno.

Antunes (2003) chama a atenção para uma atividade de leitura inteiramente

desvinculada dos diferentes usos sociais, devido ser imposta, ser lida por obrigação, onde

muitas vezes os textos não têm informações que levem a pessoa a refletir sobre algo. Por

vezes empreende-se “uma atividade incapaz de suscitar no aluno a compreensão das

múltiplas funções sociais da leitura (muitas vezes, o que se ler na escola não coincide com

o que se precisa ler fora dela)” (ANTUNES, 2003, p.27).

82

Neste sentido, Freire (2000) defende o hábito de ler o que se gosta, e não o que é

imposto por outras pessoas, como exemplo: pelo professor em sala de aula; que se a leitura

for aplicada com encantamento, o indivíduo vai sempre buscar aprender e compreender

mais e mais, mas se vir acompanhada de dever, tarefa a ser cumprida, castigo ou

obrigatoriedade, ele vai sentir-se desmotivado e perder o encanto pela atividade proposta.

Freire (2000, p.5) destaca que a “leitura boa, é a leitura que nos empurra para a vida, que

nos leva para dentro do mundo, que nos interessa a viver”. Ou seja, para termos uma boa

leitura é importante o leitor se interessar pelo o que se estar lendo, que possa levar a partir

dessa leitura, conhecimentos para si e para a sua interação em sociedade.

O ato de ler proporciona um local de encontro entre quem lê e quem escreveu,

mais do que isso, o uso de textos com notório sentido sociocultural ao leitor, além de

promover o referido encontro, torna quem está lendo um “observador participante” do

texto. Considerando que,

os modos de ler interessam pelo que nos podem mostrar sobre a

construção social dos saberes em eventos que envolvem interações,

textos multissemióticos e mobilização de gêneros complexos, tais como

uma lição numa aula versus um cartaz numa assembléia versus um

panfleto numa troca comercial (KLEIMAN, 2004, p.15)

Kleiman (2004) explicita que existem diferentes modos de se praticar a leitura, e

que devem ser consideradas aquelas que envolvem a interação, para a construção do saber

social, como a utilização de vários gêneros textuais: a notícia, o aviso, entre outros. Assim

a pessoa estará praticando o ato de ler, como também levará algo de aprendizado para seu

convívio em sociedade.

Desta forma, Antunes (2003, p.77) nos convida a refletir acerca de um ponto: “a

leitura não depende apenas do contexto linguístico do texto, mas também do contexto

extralinguístico de sua produção e circulação”. A autora suscita que a leitura não pode ser

trabalhada apenas como um pretexto em sala de aula, como, retirar palavras do mesmo; e

sim como algo maior, que haja compreensão e que esta seja usada em um contexto mais

abrangente, fora da sala de aula. Com isso, estabelece que os professores de língua

portuguesa, durante o ensino da leitura, promovam a pratica de ler textos autênticos,

visando que

nada poderá justificar uma leitura que não seja a leitura de textos

autênticos, de textos em que há claramente uma função comunicativa,

um objetivo interativo qualquer (...). As frases descontextualizadas,

inventadas para exemplificar, ou os textos do tipo “o boi baba, mimi

mia”, de tão mau gosto e baixo nível de textualidade, devem ser coisa

de um passado remoto que não deve voltar (ANTUNES, 2003, p.79).

83

Assim como Kleiman (2004), Antunes (2003) defende a pratica da leitura para a

obtenção de conhecimentos que se usem no social, que para isso, precisa-se do uso de

textos autênticos, informativos, com a função comunicativa, e deixar de utilizar textos

inventados, somente para o aluno ler as frases. Segundo Soares (2000, p.18), “leitura não

é um ato solitário; é interação verbal entre indivíduos, e indivíduos socialmente

determinados; o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o

mundo e com os outros”. A aproximação dos conteúdos escolares à realidade

experienciada pelos discentes parece favorecer a formação de cidadãos críticos e

conscientes de seu papel social, pois,

a leitura não-crítica procura recuperar o conteúdo ou atribuir um sentido

a um texto, a leitura crítica procura compreender o texto como

constituído a partir de práticas sociais específicas e, ao mesmo tempo,

como constitutivo de tais práticas. Consequentemente, a leitura crítica

constitui uma via para a emancipação do leitor. Ler desta forma deveria

ser parte central dos objetivos da educação do estudante desde seus anos

iniciais do estudo da linguagem (MEURER, 2000, p. 155).

Esse modelo interativo de leitura defendido pelos referidos autores, valoriza a

interação entre leitor, texto e escritor, e, numa perspectiva discursiva, considera que tanto

quem escreve quanto quem lê o texto, produz significados e sentidos; ou seja, esses são

produzidos a partir das relações entre leitor, escritor e texto. Nesse sentido, Lajolo (2010,

p. 33) entende que “leitor e escritor são faces da mesma moeda, não obstante as quedas

de braço em que às vezes ambos se confrontam”, assim, ocorre uma interação entre autor

e leitor, onde um escreve e o outro compreende, a leitura então se constitui em um

construto dialógico. Semelhante premissa é advogada por Antunes (2003) para quem,

a atividade da leitura completa a atividade da produção escrita. É, por

isso, uma atividade de interação entre sujeitos e supõe muito mais que

a simples decodificação dos sinais gráficos. O leitor, como um dos

sujeitos da interação, atua participativamente, buscando recuperar,

buscando interpretar e compreender o conteúdo e as intenções

pretendidos pelo autor (ANTUNES, 2003, p. 66).

O uso de textos que apresentam informações ou conjunturas reais, como em livros,

jornais ou mesmo textos mais curtos, como os propagandísticos favorecem a compreensão

do sentido intencionado de ser repassado pelo autor, daí que o uso de frases ou textos

inventados, descontextualizados ou desprovidos de sentido, apresentam-se ao leitor

simples signos linguísticos.

Como sabemos, a leitura ainda é uma questão recorrente na escola, importa

salientar que é constante por parte dos professores a discussão acerca da formação de

84

leitores. Contudo, isso se demonstra como atividade complexa por muitos educadores que

devem entender a viabilidade em usar textos em que os alunos despertem sua imaginação.

Segundo Brasil (2006), o texto literário diferente de outras formas de comunicação,

garante ao leitor uma maior liberdade de interpretação, porém é importante a ressalva de

que, mesmo um texto com amplas possibilidades de interpretação é preciso ter cautela.

Assim, o aluno terá gosto pelo o que se está lendo, podendo recorrer a imaginação para

inferir possibilidades, o contraditório ou mesmo ampliar a mensagem apresentada pelo

autor.

Segundo Farias (2011, p. 86), “formar um bom leitor de textos literários é

apresentar estratégias metodológicas que se adéquem a realidade sociocultural dos

leitores”. Tomando tal assertiva, como um convite ao desafio de desenvolver

metodologias para a dita adequação do que se lê, faz-se necessário o professor conhecer

a realidade cultural de formação de seus discentes, e, ainda, empreender pesquisa no

sentido de conhecer a produção literária que se ocupa dos usos, costumes e

condicionamentos político-sociais, tangenciadores de citada realidade vivenciada pelo

alunado.

3 A IMPORTÂNCIA DO PCN DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA TRABALHO

COM A LEITURA NA ESCOLA

Nas últimas décadas do século XX, um efervescente debate emergiu sobre a

Língua Portuguesa, em especial quanto à estrutura curricular e as metodologias de ensino.

Como resultado desta discussão já em finais da década de 1990 vimos a constituição dos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), como um documento que aponta limitações

quanto a um pretenso conjunto de conteúdos e metodologias de ensino ditos tradicionais,

na mesma medida, em que sugestiona a inovações e possibilidades de inserção de novos

conteúdos e métodos garantidores do sucesso da pratica de ensino-aprendizagem nas

escolas.

Os parâmetros curriculares nacionais (PCN’s), surgiram como objetivo de orientar

os professores sobre como agir e sala de aula, ajudando-os na busca de novas

metodologias. O mesmo é dividido em disciplinas para facilitar o trabalho da instituição.

E o PCN de Lingua Portuguesa ajuda o docente a auxiliar o aluno a interpretar textos,

sobre como utilizar a escrita e como inserir o mesmo no meio social. Já que

o ensino de língua portuguesa tem sido, desde os anos 70, o centro da

discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade de ensino no

país. O eixo dessa discussão no ensino fundamental centra-se,

85

principalmente, no domínio da leitura e da escrita pelos alunos,

responsável pelo fracasso escolar que se expressa com clareza nos dois

funis em que se concentra a maior parte da repetência (BRASIL, 1998,

p.17).

De acordo com o enunciado, a Língua Portuguesa foi/é central nas discussões

acerca do macrocampo educacional ao longo do tempo. Neste sentido, o PCN de Língua

Portuguesa é contundente ao apontar limitações quanto ao ensino tradicional da língua,

destacando, entre outros,

• a desconsideração da realidade e dos interesses dos alunos.

• O uso do texto como expediente para ensinar valores morais e como

pretexto para o tratamento de aspectos gramaticais.

• O ensino descontextualizado da metalinguagem, normalmente

associado a exercícios mecânicos de identificação de fragmentos

lingüísticos em frases soltas (BRASIL, 1998, p.18).

A identificação de práticas de ensino de reduzido alcance na plena formação de

leitores, favoreceu a busca por novas formas e posturas didáticas, apresentam-se como

desafios ao fazer docente; neste sentido o PCN de Língua Portuguesa convida os docentes

e discentes a protagonizarem meios efetivos na superação de tais dificuldades, como

utilizar as diferentes linguagens, verbal, musical, matemática, gráfica,

plástica e corporal . Como meio para produzir, expressar e comunicar

suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos

públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de

comunicação (BRASIL, 1998, p.8).

Pelo excerto notamos a importância de um dialogo interdisciplinar quanto ao

ensino da língua, pois destaca-se a importância de diferentes matrizes de comunicação,

envoltas em diferentes componentes curriculares. Desta forma um planejamento do corpo

docente favoreceria o interesse do discente quanto a leitura e compreensão de um amplo

espectro de linguagens escolares, sociais e culturais. Tais premissas, seriam em muito

potencializadas por uma demanda conjunta, pois “saber utilizar diferentes fontes de

informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos” (BRASIL,

1998, p.8), suscita o empenho de professores e alunos numa aquisição e construção

dialógica de conhecimentos.

Além disso, “questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de

resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a

capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação”

(BRASIL, 1998, p.8), nos parece fundamental na constituição e progresso da sociedade a

partir do meio educacional, pois a formação plena de leitores capazes de interpretar e

compreender o sentido de matrizes comunicativas diversas, como já citado, impulsionaria

86

tais indivíduos à apreensão dos resultados de constituição do conhecimento pela

humanidade, à reflexão sobre o construto sociocultural vivenciado, e, mais do que isso,

instigaria à criatividade, um preceito socrático do “parto das ideias”, o surgimento de

novas ideias como forma de resolver possíveis problemas do presente quiçá do futuro.

Neste sentido, o desenvolvimento da sociedade, os avanços tecnológicos, a

constituição de ambientes sociais marcados pela diversidade cultural, entre outras coisas,

fazem emergir formas e meios de comunicação oral, e fundamentalmente, escritos, cada

vez mais complexos, como forma de garantir a plena leitura e compreensão do sentido

objetivado pelo autor, nos instiga à formação de cidadãos interativos, favorecendo assim,

uma das premissas mais presentes na formalização discursiva da contemporaneidade: a

inserção no meio social; com isso as escolas assumem o dever de garantir essa interação

do aluno com a sociedade. Neste contexto, podemos utilizar,

a linguagem na escuta e produção de textos orais e na leitura e produção

de textos escritos de modo a atender a múltiplas demandas sociais,

responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos, e

considerar as diferentes condições de produção do discurso (BRASIL,

1998, p.32).

O excerto sugere uma ampliação no alcance social da leitura, pois convida

educadores a utilizarem textos orais e escritos na formação de leitores, desta forma a

apreensão de conhecimentos seria potencializada, já que o exercício da audição e

oralização textual complementariam a leitura e compreensão de textos escritos. O trabalho

empreendido pelos leitores, notadamente transpõe uma “decodificação estática” do

sentido do texto, que não se encerra em si, pois envolve aspectos

no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e

interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento

sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem

etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra,

palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias

de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é

possível proficiência (BRASIL, 1998, p.69)

O papel da escola e dos professores quanto ao desenvolvimento da pratica leitora

vai além do mero desenvolvimento da habilidade de decodificação de signos linguísticos,

e mesmo de interpretação e compreensão textual, sendo necessário adquirir

“procedimentos de leitura em função dos diferentes objetivos e interesses do sujeito

(estudo, formação pessoal, entretenimento, realização de tarefa)” (BRASIL, 1998, p.55).

Desta forma, encaminha-se a formação de leitores autônomos, pois,

87

um leitor competente sabe selecionar, dentre os textos que circulam

socialmente, aqueles que podem atender a suas necessidades,

conseguindo estabelecer as estratégias adequadas para abordar tais

textos. O leitor competente é capaz de ler as entrelinhas, identificando,

a partir do que está escrito, elementos implícitos, estabelecendo relações

entre o texto e seus conhecimentos prévios ou entre o texto e outros

textos já lidos (BRASIL, 1998, p.67).

Assumir a tarefa de formar leitores impõe à escola a responsabilidade de

organizar-se em torno de um projeto educativo comprometido com a intermediação da

passagem do leitor de textos facilitados, para textos de complexidade real, tal como

circulam socialmente na literatura e nos jornais; daquele de adaptações ou de fragmentos

para textos originais e integrais. Diante disso, “a escola deve dispor de uma biblioteca em

que sejam colocados à disposição dos alunos, inclusive para empréstimo, textos de

gêneros variados, matérias de consulta nas diversas áreas do conhecimento, almanaques,

revistas, entre outros” (BRASIL, 1998, p.70), pois o aluno tendo a oportunidade de

escolha sobre o que se ler, dentro de sua própria escola, levará consigo o gosto pela leitura

e conhecimento daquilo que se extraiu desta.

Para a obtenção de uma boa compreensão textual no ato de ler, o PCN de Língua

Portuguesa aponta alguns procedimentos de leitura ao próprio leitor, aquém caberia

“avançar ou retroceder durante a leitura em busca de informações esclarecedoras”

(BRASIL, 1998, p.56), desta forma, o leitor conseguirá extrair informações que não

estavam explicitas no texto, tendo assim melhor conhecimento e aprendizado sobre o

abordado; o educando deve também “construir sínteses parciais de partes do texto para

poder prosseguir na leitura” (BRASIL, 1998, p.56), pois a construção de sínteses de

algumas partes do texto possibilita ao leitor a reflexão sobre o tema tratado, assim,

alcançará plena compreensão sobre o mesmo. Neste contexto,

a escola deve organizar-se em torno de uma política de formação de

leitores, envolvendo toda a comunidade escolar. Mais do que a

mobilização para aquisição e preservação do acervo, é fundamental um

projeto coerente de todo o trabalho escolar em torno da leitura. Todo

professor, não apenas de língua portuguesa, é também professor de

leitura (BRASIL, 1998, p.70).

A forma de organização da comunidade escolar deve incluir um processo em que

envolva a pratica leitora, pois se o docente incluir em seu plano de aula algumas horas

para a realização da mesma, facilitaria ao aluno a compreensão textual, pois estaria

sempre em contato com texto. E como forma de incentivo à leitura, cabe ao professor

como recurso o experimento de novas metodologias, como ler em voz alta, pois esta

possibilita ao aluno “o acesso de textos longos (e as vezes difíceis) que, por sua qualidade

88

e beleza, podem vir a encanta-lo, mas que, talvez, sozinho não o fizesse” (BRASIL, 1998,

p.72), a leitura realizada em voz alta pelo educador é uma estratégia para ajudar os

estudantes a entenderem o texto e despertar o interessar por eles.

O professor por ser conhecedor de palavras com um vocabulário mais rico, ao ler

um texto em voz alta ajuda o aluno a entender e a pensar sobre o que aquelas palavras e

o texto querem transmitir. Outro método orientado pelo PCN de Língua Portuguesa é o

trabalho com textos literários, pois o professor deve considerar o que o aluno gosta de ler,

sendo que “fora da escola, os leitores escolhem o que leem. É preciso trabalhar o

componente livre da leitura, caso contrário, ao sair da escola os livros ficarão para trás”

(BRASIL, 1998, p.72). Sendo assim, o trabalho com textos literários seria pertinente para

os alunos, pois essas leituras fazem o leitor alcançar maior liberdade de interpretação,

despertando, por conseguinte, o interesse do aluno, pois

o texto literário constitui uma forma peculiar de representação e estilo

em que predominam a força criativa da imaginação e a intenção estética.

Não é mera fantasia que nada tem a ver com o que se entende por

realidade, nem é puro exercício lúdico sobre as formas e sentidos da

linguagem e da língua (BRASIL,1998, p.26).

Os textos literários possibilitam a construção de outra mediação de sentidos entre

o sujeito e o mundo, fazendo com que haja a reinterpretação do mundo atual e dos mundos

possíveis. Pensar sobre a literatura a partir dessa relativa autonomia ante outros modos de

apreensão e interpretação do real, corresponde a dizer que se está diante de um inusitado

tipo de diálogo.

4 A LEITURA NA ESCOLA

Como forma de atender nosso objetivo, elencar informações sobre a “pratica da

leitura em sala de aula”, nos empenhamos na coleta de dados qualitativos, por meio da

aplicação de um questionário aberto aos docentes de Língua Portuguesa do 6º ao 9º ano,

de uma escola pública do município de Abaetetuba-PA, tendo como resultado os dados

que analisamos nas linhas que se seguem.

1- Qual sua definição sobre leitura?

R: P1: ler não é apenas decodificar letras. Leitura é ter compreensão de mundo, de vida,

daquilo que se estar lendo.

R: P2: algo amplo e necessário, que não requer apenas decodificar e que deve ser

iniciado desde o primeiro contato com a leitura.

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R: P3: leitura é você oralizar o que está escrito e saber refletir o que você está

oralizando, fazendo as inferências necessárias para uma compreensão do que o texto

está dizendo, seja esse texto com palavras, imagens, sinais, criptogramas, etc.

Fonte: elaboração própria

Os entrevistados P1 e P2 defendem a compreensão da leitura, a partir de um

conhecimento de mundo precedente e construído pelo habito de ler, ou seja, a ciência

poderá lhe servir para sua convivência em sociedade, assim como nos mostra Koch

(2002), que aponta para uma visão da leitura como processo de compreensão, sendo esta

“uma atividade interativa” altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza,

evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual.

Notamos a predileção da educadora P3 por uma leitura oralizada, como forma de

favorecer a apreensão do sentido do que se está lendo, e despertar a imaginação quanto

às possibilidades interpretativas. Complementando, enunciou, “seja esse texto com

palavras, sinais, imagens, criptogramas, etc.”, deixando claro que a habilidade leitora,

amplia-se à decodificação de signos linguísticos, palavras escritas, podendo ser

incentivada pela leitura e compreensão de formas diversas de comunicação, o que

proporciona ao educador uma ampla possibilidade no uso de elementos textuais, como

forma de garantir sentido e motivação ao aluno à pratica leitora.

2 - Existe dificuldade de trabalhar com a leitura na escola? Se sim, quais?

R:P1: sim, infelizmente inúmeras que vão desde o espaço na escola, passando pela

dificuldade de compra de livros e a falta de incentivo.

R:P2: sim, hoje menos pois há um acesso melhor à biblioteca, mas a dificuldade há,

pois somente os professores de língua portuguesa são responsabilizados porincentivar

a leitura e a falta de incentivo da família, que seria o primeiro passo a ser dado.

R:P3: sim, muitos alunos não são motivados a ler por seus pais e chegam na escola com

muita preguiça de ler.

Fonte: elaboração própria

Desta forma, percebemos a existência de um aluno pouco incentivado, logo

desmotivado à pratica leitora; e o entrevistado P3 delegando tal responsabilidade à

família, não compreendendo, portanto, o incentivo ao exercício de leitura, como um

90

compromisso compartilhado entre escola e família. O professor não deve desistir de usar

os textos, o mesmo tem que incentivar o discente a ler, por meio da persistência ele pode

fazer com que o aluno tome gosto pela leitura.

O entrevistado P2 destacou um possível indicativo de limitação do trabalho

docente, “há algumas dificuldades, pois somente os professores de Língua Portuguesa são

vistos como responsáveis por incentivar a leitura”, a assertiva parece sugerir que o

incentivo e motivação na busca de assuntos para além do meio escolar, demanda um

engajamento envolvendo as diversas disciplinas.

Entendemos que o acesso a textos literários, por exemplo, permitem ao professor

de Língua Portuguesa, apresentar informações socioculturais, que despertariam o

interesse do aluno à leitura, assim acabaria por favorecer o entendimento quanto a

assuntos das demais disciplinas, pois os textos literários são ricos em informações

históricas, geográficas, matemáticas, cientificas em geral, entre outras, pois “a literatura

é de grande importância para a sociedade. Sua leitura é imprescindível, pois, além de ser

prazerosa, contribui para o enriquecimento intelectual e cultural de cada leitor,

desenvolvendo seu senso crítico e despertando-o para novas experiências” (NOBERTO,

2011, p.2).

3 – Quais suas metodologias para a inclusão da leitura em sala de aula?

R:P1: adoto a utilização da leitura de um livro por bimestre, onde avaliação é voltada

a interpretação destes. Utilizo obras literárias que possuam temas que influenciem sua

visão social

R:P2: procuro usar várias metodologias, como um livro bimestral e procurar textos, os

alunos não recebem muito bem, pois veem como castigo.

R:P3: trabalho com quadrinhos, pequenas histórias como fábulas, parábolas, músicas,

clássicos da Disney e também os próprios textos do livro didático.

Fonte: elaboração própria

Pela síntese dos resultados apresentados, percebe-se que já existe uma

compreensão por parte desses professores de que as práticas de leitura a serem

desenvolvidas nas salas de aula precisam contemplar situações que possibilitem aos

alunos a sua interação com o meio social, pois “ao professor cabe planejar, implementar

e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço

91

de ação e reflexão do aluno, procurando garantir aprendizagem efetiva” (BRASIL, 1998,

p.22).

Em comum, os entrevistados P1 e P2 apresentam como incentivo à leitura, o

estabelecimento da meta junto aos alunos da pratica leitora de um exemplar de livro a

cada dois meses; o entrevistado P1 demonstrou preocupação quanto a utilização de

leituras que apresentem relevância social, neste sentido recorre à obras literárias.

Percebemos que o entrevistado P3 pouco trabalha com o aluno leituras que

potencializem oportunidades de aprendizado e entendimento para o seu convívio social,

por trabalhar com textos de pouca relevância informacional, e até mesmo os textos do

livro didático, que são usados como pretexto para meio avaliativo, os quais passam por

limitar o discente à atividade de decodificação, a qual em nada modifica a visão de mundo

deste (KLEIMAN, 2004).

4 – Você se interessa em saber que assuntos e temas os alunos mais gostam de ler?

R:P1: sim, mas infelizmente poucos alunos gostam de ler, isso dificulta, pois poucos

aceitam participar dos momentos de leitura, por isso se faz necessário o uso de leituras

obrigatórias como meio avaliativo.

R:P2: sim, procuro ouvir os alunos, embora os fatores tecnológicos influenciem de

forma negativa por haver pouca interação pessoal. Se for seguir o que os alunos

querem, haverá temas que a serem discutidos sem relevância.

R:P3: sim, a maioria gosta de quadrinhos, alguns terror, aventura. . .

Fonte: elaboração própria

Pelo enunciado, percebe-se que a leitura é feita por obrigação pelos alunos, devido

os mesmos não terem o habito de ler, nem tampouco, serem inseridos em práticas que

desenvolvam a motivação pela leitura.

Como já mencionado anteriormente, é importante ler o que se gosta (FREIRE,

2000), porém, o professor deve investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano

do aluno, adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados, como histórias

e lendas da sua cidade , e buscar inovações por meio da interpretação de músicas, filmes,

peças teatrais, entre outros, pois segundo o PCN de Língua Portuguesa, “a diversidade

não deve contemplar apenas a seleção dos textos; deve contemplar, também, a diversidade

92

que acompanha a recepção a que os diversos textos são submetidos nas práticas sociais

de leitura”.

Desta forma, irá surgir o interesse do aluno por tais textos, tendo então, o gosto

pela leitura e a compreensão do texto.

5 – Na prática da leitura, trabalha com textos literários? De que forma?

R:P1: sim, o principal é utilizar textos como meio avaliativo, obrigando o aluno a ler

tais textos.

R:P2: sim, os textos literários que são utilizados são selecionados onde haja fácil

compreensão, textos contextualizados com a sociedade. Onde possa extrair do texto

não só o ponto de vista gramatical, mas que possa extrair aprendizagem para o seu meio

social.

R:P3: sim, fazemos ciclo da leitura e lemos algumas obras da literatura infanto-juvenil.

Fonte: elaboração própria

O entrevistado P1 reforça a pratica de uma leitura obrigatória, pela falta de habito

de ler do aluno, o P2, tem preocupação com a contextualização de tais textos, com vista

à proporcionar ao aluno conhecimentos diversos, pois o texto literário “o oral ou escrito

envolve o exercício de reconhecimento de singularidades e propriedades que matizam um

tipo particular de uso da linguagem” (BRASIL, 1998, p.27). Desta forma, percebemos o

uso da literatura como meio facilitador ao alunado, pois a mesma possibilita fácil

compreensão, além de permitir o uso da imaginação, com isso se terá o conhecimento

para uso no meio social e o gosto pela leitura.

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Pelo exposto, percebemos como dificuldade majoritária na escola, o reduzido

apreço do aluno pela leitura, limitando em muito a compreensão sobre o tratado nos

textos. Desta forma, o incentivo à pratica leitora aos alunos, não se conformaria em uma

obrigação imposta por pais e professores, pois um leitor afeito à leitura, terá apreço a

qualquer texto que influencie a sua convivência com o seu meio social, como a notícia,

anuncio, entre outros.

Para tanto, sugerimos como metodologia de incentivo à leitura, a Proposta de

Intervenção Praticando a Leitura por Meio de Textos Literários. Pois os textos literários

apresentam a liberdade de interpretação, permitindo recorrer a imaginação para inferir

93

possibilidades; além disso, apresentam-se como um “ponta pé” inicial à informações

importantes a serem trabalhadas mais detidamente nas demais disciplinas.

Objetivo Geral:

Incentivar o aluno à prática leitora, por meio de textos literários que os aproximem

de sua realidade.

Objetivos Específicos:

1) Apresentar textos de caráter regional aos discentes;

2) Promover a interação leitor-texto-autor;

3) Oportunizar práticas de leitura de textos literários regionais.

Metodologia

1ª etapa: apresentar aos alunos os textos literários, explicando a relevância dos mesmos,

tanto para a apreensão do conhecimento, quanto para o incentivo à prática leitora.

2ª etapa: indicar obras de contexto regional, como as de Jorge Machado (autor

abaetetubense), pois os mesmos proporcionam ao aluno o conhecimento sobre a cidade

em que vive.

3ª etapa: utilizar imagens e instigar os alunos a sugeri-las, como forma de relacioná-las

aos textos literários trabalhados.

4ª etapa: realizar a leitura das obras já citadas, em sala de aula ou em casa, para depois

haver a interação aluno-professor.

Avaliação

Mediante o trabalho e indicação de textos literários regionais, em sala de aula e

em casa, empreenderemos um padrão de avaliação: a aplicação de atividades avaliativas

de duas formas, a partir do uso de imagens o aluno deve inserir trechos dos textos

trabalhados, que evidenciem o sentido dos mesmos com as imagens propostas; de outra

forma, sugestionar aos alunos a partir de trechos das obras, que estes reescrevam possíveis

finais de enredo do texto original, após a confecção dos textos dos discentes, estes

deveram socializar, por meio da oralização, com os colegas de classe e o docente.

94

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto podemos concluir que ainda há deficiência no ambiente escolar em

relação à prática leitora, e é necessário que haja um trabalho conjunto entre família e

escola na tentativa de amenizar o desinteresse do discente à leitura.

Percebemos que por meio da leitura de textos literários regionais, é possível

proporcionar ao aluno o enriquecimento de seu vocabulário e despertar nele uma nova

visão de mundo, proporcionando assim sua interação com o meio social.

REFERÊNCIAS

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Parábola editorial, 2003.

BRASIL, Ministério da Educação – MEC. Orientações Curriculares Para o Ensino

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terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de

Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1998.106 p. Cortez: São Paulo, 2002.

FARIAS, Rafaela Felex G. Monteiro. Leitura e literatura: a construção do leitor

literário. IN: Itabaiana: GEPIADDE, ano 5, volume 9, jan-jun de 2011. p. 86 – 94.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Ed. Cortez, 47ª edição, 2006.

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pratica. 7ª ed. Campinas: Pontes, 2000

KLEIMAN, Angela. Abordagens da leitura. Universidade Estadual de Campinas.

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KLEIMAN, Angela. Leitura, ensino e pesquisa. Campinas, Sp: Pontes, 2008.

KOCH, Ingedore e Grunfield Villaça. Desvendando os Segredos do Texto. São Paulo:

Cortez, 2002

95

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6ª edição, São

Paulo: Ed. Ática, 2010.

MEURER, José Luiz. O trabalho de leitura crítica: recompondo representações,

relações e identidades sociais. Cadernos de Pesquisa, n. 118, 2000, p. 155 – 171.

NOBERTO, Sandra. A literatura e sua importância para a sociedade. 2011.

Disponível em: < http://interativoprata.blogspot.com.br/2011/11/literatura-e-sua-

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SOARES, M. As condições sociais da leitura: uma reflexão em contraponto. IN:

ZILBERMAN, R.; SILVA, E, T. (org). Leitura: perspectivas disciplinares. São Paulo:

ed. Ática, 2000, p.18-19.

96

O GÊNERO CHARGE COMO PERSPECTIVA PARA A

FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS NO AMBIENTE

ESCOLAR

THE GENDER CHARGE AS PERPSETIVE FOR THE TRAINING

OF CRITICAL READERS IN THE SCHOOL ENVIRONMENT

Marilucia Ferreira da Silva

Adrielle do Socorro Alves Araújo

Waléria Oliveira da Silva

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo, analisar e discutir as influências do

gênero textual charge na formação de leitores e cidadãos críticos. Para tanto, tomou-se

como base os teóricos: ROMUALDO (2000), OLIVEIRA (2013), BARBOSA (2015) e

ARBACH (2007). O que nos possibilitou concluir que, a charge é um instrumento

importante para a formação de leitores críticos, pois tem caráter informativo, além de

despertar opiniões e permitir que elas sejam expressas. Dessa forma, o educador pode

trabalhá-la em sala com o intuito de levar o aluno a compreender o mundo que o cerca,

utilizando temas transversais onde o mesmo possa interpretar as charges, expressar suas

ideias, produzir textos.

Palavras-chave: Leitura. Charge. Criticidade.

RESUME: El presente trabajo tiene como objetivo, analizar y discutir las influencias del

género textual charge en la formación de lectores y ciudadanos críticos. Para ello, se tomó

como base los teóricos: ROMUALDO (2000), OLIVEIRA (2013), BARBOSA (2015) y

ARBACH (2007). Lo que nos permitió concluir que, la charge es un importante

instrumento para la formación de lectores críticos, pues tiene carácter informativo,

además de despertar opiniones y permitir que sean expresas. De esta forma, el educador

puede trabajarla en el aula con el propósito de llevar el alumno a comprender el mundo

que le rodea, utilizando temas transversales donde el mismo pueda interpretar las charges,

expresar sus ideas, produzir textos. Palabras clave: Lectura. Charge. Criticidad.

1 INTRODUÇÃO

Com o avanço da tecnologia, surgiram diversas formas de comunicação

praticadas pelos povos. No que diz respeito às linguagens, os gêneros textuais têm-se

mostrado revolucionários principalmente nos dias atuais. Nesse processo, as charges são

uma das manifestações literárias que vêm avançando na sociedade, mais especificamente

nas escolas. Esse gênero textual/discursivo traz uma riqueza de informações por meio de

desenhos e caricaturas, podendo obter textos escritos ou não.

97

As charges tendem a provocar nos alunos o interesse e a curiosidade, pois

trabalha características interdisciplinares e expressam dinamicidade que os desafia a

interpretar os discursos explícitos e os implícitos. Além disso, o gênero textual charge é

rico em sentidos, e despertam o gosto pela leitura, principalmente por tratarem de temas

da atualidade de forma crítica e icônica. Assim, o gênero textual/discursivo tem-se

mostrado um grande aliado no processo de ensino aprendizagem, melhorando não só a

leitura do aluno, mas também a capacidade de interpretar e analisar.

O objetivo deste trabalho é analisar as influências que as charges têm no processo

de formação de leitores críticos. Mediante isto, serão discutidos os conhecimentos sobre

leitura e interpretação textual, conhecimento de mundo e o uso das charges no cotidiano

das aulas de Língua Portuguesa, além disso, serão apresentadas algumas metodologias

para se trabalhar o gênero em evidencia e no fim deste trabalho serão analisadas as

charges: “Pobre, mas honesto” e “Ratos no palácio do Planalto”.

2 MARCO TEÓRICO

Para desenvolver o presente trabalho, utilizou-se diversas orientações teóricas,

por meio de uma revisão bibliográfica foram empregadas as opiniões de autores como

Romualdo (2000), Oliveira (2013), Barbosa (2015), Martins (1994), Maia; Alves (2012)

e Arbach (2007). Além desses escritores foram apuradas as orientações dadas pelos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) segundo a formação da criticidade dos alunos

na escola. Assim,

foi possível perceber que o gênero textual/discursivo charge propõe ao aluno e

ao professor dinamicidade, interação, pesquisa, leitura e interpretação, facilitando o

ensino aprendizagem nas escolas e construindo conhecimentos de mundo tornando os

alunos leitores críticos capazes de formular opiniões e intervir na sociedade.

2.1 A importância da leitura e da interpretação na vida dos seres humanos

O ato de ler é carregado de sentidos, os quais se encontram, no nosso dia a dia.

Quando se lê, de alguma forma relaciona-se na mente experiências pré-existentes que

estabelecem sentido com tudo que nos cerca, ou seja, por meio da leitura o leitor constrói

a sua formação crítica diante da sociedade, torna-se, portanto, protagonista e não um

decodificador de palavras. Como afirma Martins (1994), “o leitor assume um papel

atuante, deixa de ser mero decodificador ou receptor passivo” (MARTINS, 1994, p. 32).

Por isso há uma necessidade de se incentivar a prática da leitura entre as pessoas sejam

elas crianças, jovens ou adultas.

98

Pode-se dizer que há dois tipos de leitores aqueles que apenas decodificam

signos linguísticos, e aqueles que passam por um processo de compreensão

interdisciplinar. Quando um indivíduo ignora os diversos sentidos e discursos que o texto

apresenta, ele transforma o ato de ler em decodificação, ou seja, se torna um leitor

superficial, que não explora o texto e nem busca o sentido real do vocábulo.

No entanto há outro tipo de leitor, aquele que consegue “ler o mundo”, ou seja,

por mais que conheça as regras da Língua Portuguesa também sabe compreender os vários

contextos. Segundo Martins (1994), esta última concepção pode ser entendida, “como um

processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais,

emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e

políticos” (MARTINS, 1994, p. 31). Dessa forma, entende-se que qualquer texto quando

produzido não tem seu sentido completo, ele se complementa com os sentidos que o leitor

dá a ele. Em relação a essas duas concepções,

Não se trata de extrair informação decodificada, letra por letra palavra por

palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégia de seleção,

antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiências

[...] O leitor competente sabe ler nas entrelinhas, identificando, a partir do que

está escrito (BRASIL, 1998, p. 69-70).

A partir deste pressuposto, percebe-se que o ato de ler é importante na vida das

pessoas, e que o processo de análise e interpretação depende da formação do hábito de

leitura desde as séries iniciais, pois o aluno que domina a leitura tem uma amplitude maior

do seu ponto de vista e sua concepção de mundo, sabendo aprimorar a escrita e a

oralidade.

A charge é uma ferramenta pedagógica poderosa que auxilia as atividades de

leitura e interpretação, porém, esta relação ainda não é vista como uma referência de

pesquisa. Em vista disso, faz-se necessário, ter uma educação de base fortalecida e

intrínseca nos indivíduos, envolvendo a leitura e compreensão, pois a mesma os fará

pessoas capazes de decodificar os símbolos e compreender o que há por trás de uma

aparentemente simples e divertida charge (OLIVEIRA, 2013, p. 11).

Logo, a leitura é o ponto de partida para a interpretação crítica de uma charge,

pois os discursos expressos na mesma estão muito além de uma simples decodificação.

2.1.1 O gênero charge: interação e dinamicidade no ensino-aprendizagem

A Charge é um estilo de ilustração com uma ou mais personagens envolvidos. A

palavra é de origem francesa e significa “carga”, ou seja, exagera traços do caráter de

alguém ou de algo para torná-lo satírico. Esse gênero textual/discursivo geralmente

99

apresenta um único desenho, porém esta não é uma regra fixa do gênero charge, ela faz

alusão a uma crítica a algum acontecimento recente. Durante a produção, o artista

intervém algum elemento para torná-la humorística, esse elemento pode ser verbal ou não.

Como afirma Arbach (2007):

Seu objetivo é a crítica humorística de um fato ou de um acontecimento

específico. É a reprodução gráfica de uma notícia já conhecida do público

segundo a ótica do chargista. Tanto se apresenta somente através de imagens

quanto combinando imagem e texto. Sua ocorrência opera em cima de fatos

reais e o conhecimento prévio do tema abordado na charge, por parte do leitor,

é fator essencial para compreendê-la (ARBACH, 2007, p. 210).

Assim, percebe-se que a interpretação de uma charge está diretamente ligada ao

conhecimento de mundo, uma vez que o leitor precisa ter domínio de assuntos da

sociedade e ter conhecimentos pré-formados sobre estes, pois, “o sentido e a função da

imagem para a comunicação variam com a época de sua representação. Os contextos

histórico, geográfico, cultural e social são determinantes para sua significação”

(ARBACH, 2007, 211). Portanto, percebe-se que para que o indivíduo possa compreender

uma crítica chargista é necessário ter domínio do assunto e para isso tem-se a leitura como

a “porta” da reflexão.

As dificuldades na formação de alunos leitores e de leitores críticos são

compreensíveis, pois, os educandos muitas vezes não são motivados a ponto de

despertarem interesse pela leitura. Segundo Bem (2009) “o aluno lê pouco porque, uma

vez que a leitura não lhe é apresentada como algo fascinante, ele tem sua atenção tomada

por outros pontos de interesse que estão ao seu alcance e para os quais encontra maior

motivação” (BEM, 2009, p. 09), portanto, se na sala de aula o aluno não ver o ato da

leitura como algo interessante e desafiador, sua atenção será tomada por outras coisas que

lhe proporcionem isso. Surge então, a necessidade de práticas pedagógicas que sejam

inovadoras e lúdicas a ponto de conquistar o aluno.

Como já foi citado anteriormente neste artigo, a leitura trabalha o intelecto de

cada pessoa. Somente por meio da leitura os indivíduos são moldados como sujeitos

ativos e críticos, essas condições os tornam capazes de formular opiniões e refletir sobre

os aspectos diversos presentes na sociedade. Para que isso se torne possível a escola, como

protagonista da alfabetização, deve estimular os alunos à prática de uma leitura que

desperte a criticidade e o desenvolvimento do conhecimento de mundo.

O conhecimento de mundo é adquirido pela experiência do dia a dia, os assuntos

que chamam mais atenção ficam armazenados na memória dos seres humanos. Para que

100

o mesmo seja desenvolvido na escola, deve-se ater a interdisciplinaridade, trabalhando

temas transversais até mesmo na Língua Portuguesa. É por isso que gêneros textuais como

a charge são essenciais neste processo. Diante disso, podemos afirmar que,

elas possibilitam um trabalho de leitura crítica/reflexiva sobre o que acontece

no meio social dentro do contexto escolar, pois, em sua própria composição de

gênero, já abrange a crítica a um personagem de vida pública. Diante disto,

podem-se promover, dentro de sala de aula, discussões que favoreçam o

posicionamento do aluno enquanto leitor crítico, inserido em um contexto

sócio comunicativo perante o conteúdo exposto em determinadas charges

previamente selecionadas pelo docente (BARBOSA, 2015, p. 06).

Dessa forma, ao trabalhar o gênero textual/discursivo charge, o professor está

informando o seu aluno sobre assuntos que acontecem na sociedade, além de instigá-lo a

pesquisar ainda mais.

Formar alunos que veem na leitura o poder do conhecimento não é uma tarefa

fácil. Talvez o ponto de partida seja fazer com que o aluno entenda que a leitura não é

uma tarefa escolar e sim algo capaz de formar e transformar opiniões. O ato de ler é

carregado de sentidos que precisam ser compreendidos através da ativação da imaginação

e das experiências vivenciadas pelo leitor, pois, isso tornará perceptíveis os discursos

implícitos deixados pelo autor ao longo do texto ou na produção da charge. Assim,

“formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa

aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que

estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos” (BRASIL, 1998, p. 54).

Mas o aluno só atingirá esse nível de habilidade com o auxílio do professor que

deverá fazer uso de temas sociais, facilitar a compreensão e interpretação dos textos e

selecionar ferramentas estratégicas capazes de atrair e provocar interesse nos alunos.

Não se trata de implantar a leitura nas escolas, pois essa é uma das dinâmicas da

sala de aula, se trata de ajudar os alunos a ampliarem o seu gosto pela leitura, uma vez

que, a mesma é muito mais do que uma parte específica da área de linguagens. O ambiente

escolar como um todo precisa de alunos que gostem de ler e tenham um nível elevado de

compreensão, pois as dificuldades de leitura afetam o desempenho do aluno não só na

Língua Portuguesa, mais também, na Matemática, em história e em outras áreas que

exijam dele boa interpretação e senso crítico.

Cabe ao professor buscar melhorar o ensino-aprendizagem, fazendo uso de

novas tecnologias e práticas pedagógicas inovadoras que proporcionem dentro da sala de

aula uma reflexão sobre os discursos do texto e, sobretudo que o aluno possa ser instigado

101

a praticar a leitura e a escrita dentro e fora da sala de aula. Seguindo esta linha de

pensamento, os Parâmetros Curriculares Nacionais, colocam:

[...] Se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes

textos com os quais se defrontem, é preciso organizar o trabalho educativo para

que experimentem e aprendam isso na escola. Principalmente quando os alunos

não têm contatos sistemáticos com bons materiais de leitura e com adultos

leitores, quando não participarem de práticas onde ler é indispensável, a escola

deve oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores proficientes e

práticas de leitores eficazes (BRASIL, 1998, p.12).

A escola não deve limitar a visão de mundo e sim oferecer recursos que possam

criar uma interação do aluno com a realidade para desenvolver melhor a comunicação e

a criticidade, pois o aluno talvez não conheça nenhum outro caminho que o leve à leitura.

O uso das charges nas aulas de Língua Portuguesa tem como objetivo promover

a leitura e a interpretação, explorando a linguagem verbal e não verbal, aprimorando os

conhecimentos sociais e a partir disso, o aluno poderá ler não somente o gênero textual

em questão, mais também “ler o mundo”, ou seja, compreender os vários contextos. Além

disso, as charges quebram o silêncio do aluno, que não tem a oportunidade de expressar

sua opinião por vivenciarem uma realidade em sala de aula que contempla atividades

prontas e exercícios de fixação que não proporcionam diálogo e interação entre alunos e

professor. A situação piora quando a leitura é usada como uma punição para os

comportamentos ruins. Assim,

A valorização da leitura jamais poderá ocorrer através dessa “pedagogia do

terror”. Regis de Morais (op. Cit.) citando Santo Agostinho, afirma que o

pensamento agostiniano é do que ensinar é seduzir para as riquezas de um tema.

É nesse sentido que a aula de leitura precisa e deve ser agradável para que

desperte no aluno o desejo pela busca do novo (MAIA; ALVES, 2012, p.04).

Portanto, as charges têm atributos agradáveis de caráter humorístico e social que

despertam a curiosidade do aluno a ponto de leva-lo a rir, se interessar, interpretar e

comentar.

Os gêneros textuais em geral são ferramentas importantes para o processo de

formação do hábito de leitura, porém, a charge é um elemento que propicia oportunidades

para a discursão de temas que precisam ser levados para a sala de aula e merecem uma

maior reflexão.

A utilização de recursos visuais é um dos pontos estratégicos da linguagem

textual do uso da charge, pois é atrativo e capta a atenção do aluno. Com esse primeiro

102

objetivo alcançado, a charge chama o leitor para o próximo, que é atraí-lo para algo mais

sério, uma crítica, algo digno de reflexão. Assim,

É importante destacar que a charge, além do seu caráter humorístico, e, embora

pareça ser um texto ingênuo e despretensioso, constitui uma ferramenta de

conscientização, pois ao mesmo tempo em que diverte, informa, denuncia e

critica, constitui-se um recurso discursivo e ideológico (MOUCO, 2007, p. 18

apud, Oliveira 2013, p.18).

Logo, pode-se dizer que as charges não se atem somente aos risos, mas

principalmente na discursão de temas da realidade atual.

Além de agregar todas as formas de utilização da língua, o acréscimo de imagens

nas charges dinamiza o processo de compreensão da escrita. A utilização do humor atrai

os leitores mais rapidamente do que outros gêneros textuais, por exemplo. Como afirma

Romualdo (2000):

Se pensarmos em termos de conteúdo, uma charge ou uma caricatura podem

ser muito mais densas do que os outros textos opinativos, como uma crônica

ou até mesmo um editorial. O leitor pode, inclusive, deixar de ler estes e outros

gêneros opinativos convencionais, optando pela leitura da charge que, por ser

um texto imagético e humorístico, atrai mais sua atenção e lhe transmite mais

rapidamente um posicionamento crítico sobre personagens e fatos políticos

(ROMUALDO, 2000, p. 15).

Assim, a estrutura do gênero textual/discursivo charge apresenta uma

estabilidade de função e objetivo. Composta por características como, ironia, crítica e

elementos não verbais, possibilitam uma leitura de criticidade e reflexão sobre o que

acontece na sociedade, o que é importante no ambiente escolar.

O humor transmitido nas charges (por meio das imagens), desperta a atençãodo

leitor. Essa é uma das características que mais atraem o interesse dos alunos. Uma vez

que o riso é provocado, a sala de aula vivencia um momento dinâmico e diferenciado, e

isso é uma introdução bastante didática para falar de assuntos mais sérios.

A charge é uma espécie de denúncia que tem como função “mexer” com o aluno,

de modo que ele forme sua opinião sobre determinados temas. A partir disso, o educando

passa a se conscientizar dos aspectos sociais e se coloca como atuante da realidade. Neste

sentido, podem-se “promover, dentro de sala de aula, discussões que favoreçam o

posicionamento do aluno enquanto leitor crítico, inserido em um contexto sócio

comunicativo perante o conteúdo exposto” (BARBOSA, 2015, p.06). Logo, a charge se

torna a intermediária da interação dentro da sala de aula.

Como elemento introdutório a uma metodologia a base do uso de charges, é

necessário que o professor deixe o aluno ciente do que é a criticidade, para isso o educador

103

deve sempre permitir que os alunos digam o que entendem sobre “Crítica”, de acordo

com as opiniões dos

educandos é plausível acrescentar que para se criticar algo é necessário obter

conhecimento. Como afirma Maia; Alves (2012):

Avaliar criticamente exige conhecimento prévio do assunto. Não se pode falar

do que não se tem conhecimento, portanto para que a análise não seja

superficial, baseada em pensamentos vagos, deve-se buscar conhecimento

sobre o que quer analisar. Uma vez que criticar exige a escolha de critérios para

o pronunciamento, o leitor deve se certificar da natureza da situação, se for

positiva, seu senso crítico deve ser no sentido de elogiá-la (independente de

sua opinião particular ser contra determinado assunto, por exemplo) (MAIA;

ALVES, 2012, p. 06).

Dessa forma, o professor deve ofertar uma metodologia dinâmica que valorize o

ensino e a aprendizagem permitindo que o aluno aprenda e ensine, pois cada aluno traz

consigo um repertório de conhecimento que deve ser ouvido e valorizado. Assim, o

professor deve instigar o aluno a expressar seus aprendizados e buscar aprender cada vez

mais, tendo domínio sobre variados assuntos e questões sociais a fim de se posicionar

enquanto crítico e respeitar as diferentes opiniões que surgirem ao longo das discursões,

além disso, é importante que o aluno produza textos a partir dos conteúdos trabalhados,

para que possa se aprimorar nesta habilidade de acordo com as reflexões feitas em sala de

aula.

2.2 Metodologias para o professor acerca da interpretação de charges

São muitas as maneiras de se trabalhar uma charge, porém neste artigo

apresentam-se apenas métodos com o objetivo de despertar criticidade no aluno e o gosto

pela leitura. O primeiro passo é tornar o aluno um conhecedor do gênero

textual/discursivo charge, ou seja, é necessário que ele conheça as características da

mesma. Abaixo estão listadas algumas metodologias com o uso de charges.

• O professor pode falar com os alunos sobre leitura, levantando questionamentos

como: Você gosta de ler? Você prefere ler livros ou outros gêneros? Qual seu livro

preferido? Você considera o gênero charge como um texto? A partir disso, o educador

pode apresentar as charges e depois analisá-las por meio de perguntas sobre o tema, as

ilustrações, a linguagem verbal (se houver), discursos implícitos, etc.

• O educador pode trabalhar com os alunos um tema específico, pode apresentar

várias charges e depois pedir que os alunos possam pesquisar sobre o tema. Após a

pesquisa

realizam-se as reflexões, onde cada aluno pode socializar o que entendeu sobre o assunto.

104

• Quando um tema for levado para sala de aula, e houver divergência na

interpretação dentre os alunos, o professor pode realizar um debate, para que por meio do

diálogo cada um defenda seu ponto de vista.

• O docente pode realizar atividades de produção textual, onde os alunos podem

escrever a mensagem transmitida na charge, ou até mesmo produzir um texto dissertativo

argumentativo sobre o tema trabalhado. Mas antes é necessário expor outros textos para

ajudar o aluno a conhecer mais sobre o tema.

• As atividades realizadas podem sempre ser expostas para os colegas seja por meio

da leitura para turma, ou através de seminários.

2.3 Análise das Charges

A charge abaixo apresenta dois personagens (mãe e filho), que representam

pessoas de baixa classe econômica, o que pode ser verificado pelas seguintes

características: o menino está descalço, sem camisa, sua mãe também muito simples com

roupas remendadas e uma aparência desgastada de alguém que já trabalhou e ainda

trabalha muito. Esse contexto de pobreza e descaso também é retratado pela falta de

saneamento básico e das casas muito simples como pode ser observado no fundo da

imagem.

Imagem 1- Pobre, mas honesto

Fonte: https://goo.gl/imagens/TW85LG

Explicitamente a imagem repassa duas ideias principais representadas por cada

um dos personagens. A primeira é a de ingenuidade do menino que entende se

futuramente for político, terá uma melhor qualidade de vida. A segunda ideia é

105

demonstrada pela resposta da mãe que já tem uma visão de mundo e baseado na situação

política que vivemos hoje, sabe que essa não seria uma boa escolha para seu filho.

Na charge, o garoto acredita que a riqueza é sinônimo de bem-estar, logo, ofato

de ser político seria uma saída imediata do estrado de extrema pobreza que ele vivencia.

Já a mãe pensa ao contrário, porque ela sabe que a política está ofuscada o que dá ênfase

à politicagem, ou seja, ela não quer que seu filho seja um ser humano desonesto que rouba

o dinheiro público e contribui para que o pobre tenha cada vez menos.

As condições socioeconômicas em que os personagens estão inseridos faz alusão

à mentalidade que prevaleceu na idade média e foi apoiada pela igreja católica. O objetivo

era estabelecer um bloqueio para que a população não ascendesse socialmente. Essa

mentalidade prevalece ainda hoje, onde as pessoas que estão no poder dificultam

ideologicamente e politicamente, através de leis, os cidadãos de viverem melhor

economicamente.

Assim, ao observar a realidade política do Brasil com as crises econômicas

decorrentes exatamente de erros e/ou crimes políticos, percebe-se que a charge analisada

se aplica a realidade brasileira e é totalmente crítica à corrupção.

Fazendo uma análise mais profunda e buscando encontrar o discurso implícito

dessa charge, percebe-se que há uma ideologia religiosa em torno dessa imagem,

especificamente no personagem da mãe, primeiro pela posição das mãos que indica

súplica, depois pela sua resposta que enfatiza a ideia de honestidade, ou seja, prefere que

seu filho seja pobre e não tenha nada, do que ser rico, mas desonesto.

A mãe acredita em duas ideologias bíblicas que influenciam bastante o

pensamento humano a respeito de questões éticas e sociais. A primeira está em

Matheus19, 23-24: “Eu lhes garanto: um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. E

lhes digo ainda: é mais fácil um camelo passar pelo vão de uma agulha do que um rico

entrar no Reino de Deus”. A segunda está de acordo com um dos dez mandamentos: “Não

roubarás”. Por isso a religião é um fator que na maioria das vezes exerce um forte domínio

sobre sociedade.

Na charge, a mãe pode ter compreendido essa ideologia de forma generalizada,

não importando se o rico é honesto ou não, e sim que basta ser rico para não entrar no

reino dos céus e por isso deseja para seu filho a pobreza ao invés da riqueza, desonestidade

e descumprimento dos mandamentos de Deus.

106

Imagem 2 – Ratos no Palácio do Planalto

Fonte: https://goo.gl/imagens/gE8C6w

Na imagem acima, verificamos duas críticas. Um rato está dizendo para o outro

que resolveu decorar o buraco em que vive, olhando mais a fundo podemos notar que a

decoração eu ele faz é do Palácio do planalto, tendo em vista, a fama de ladrões que os

ratos carregam e não podendo esquecer os corruptos que no planalto se encontram. Assim,

podemos perceber que esta charge é apenas uma homenagem aos governantes corruptos.

Sabe-se que a função dos governantes é decidir o presente e o futuro do Brasil,

porém, a crise política e econômica vivida no Brasil é advinda exatamente dos crimes

realizados por políticos não comprometidos com o povo. Logo, fica claro que os políticos

brasileiros não estão cumprindo com suas responsabilidades e que suas intenções estão

diretamente ligadas a seus próprios interesses. Esta é a primeira crítica feita pelo chargista.

Em uma análise mais profunda da imagem, é percebemos a segunda crítica,

quando um dos ratos diz: “resolvi decorar o buraco”, pressupomos que “buraco” está

relacionado à “saída ou escapatória” que os corruptos buscam para não pagar por seus

crimes.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, a utilização do gênero charge como método de ensino no ambiente

escolar vai muito além do que uma aula diferenciada, pois elenca vários pontos positivos,

tais como: melhorar a oralidade do aluno que através dos diversos temas poderão

socializar com os demais; estimular a leitura dentro e fora da sala de aula, uma vez que

os educandos podem sair da superficialidade e se aprofundar melhor nas questões

abordadas; e aumentar a criticidade dos alunos, pois as charges são repletas de discursos

implícitos, onde o aluno pode realizar análises até que isso se torne um hábito. Dessa

forma, a construção do processo ensino e aprendizagem segue um novo rumo deixando

107

pra trás os tradicionalismos e buscando um compartilhamento de conhecimentos, dando

espaço para a opinião do aluno.

No entanto, as charges assim como qualquer outro gênero textual não podem ser

trabalhadas de qualquer forma, o professor precisa ter um objetivo específico para que

ocorra uma linearidade de conteúdo. O ideal é que os temas sejam relevantes socialmente,

ou seja, as charges devem ser trabalhadas de forma interdisciplinar, para que sejam

notados os diferentes pontos de vista e assim possam ser analisados.

Portanto, trabalhar a leitura e a interpretação exige do educador uma preparação

prévia, onde o professor juntamente com a escola busca uma metodologia que seja capaz

de aperfeiçoar os conhecimentos dos alunos, contudo, o docente não pode deixar de inovar

a aula e ter didática, pois estes fatores são essenciais para facilitar o processo de

aprendizado. Logo, a charge se torna uma ferramenta poderosa nesse processo.

REFERÊNCIAS

ARBACH, Jorge Mtanios Iskandar. O fato gráfico: o humor gráfico como gênero

jornalístico. Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação. São Paulo: USP/SP,

2007.

BARBOSA, Jailma do Ramo. O gênero charge como instrumento para a formação de

leitores críticos na escola pública. Paraíba: II CONEDU- UFPB, 2015.

BEM, Daiane Madalena. Dificuldade de leitura: professor e aluno no ensino

fundamental. Criciúma: UNESC, 2009.

BRASIL. Parâmetros Curriculares nacionais: Língua Portuguesa: primeiro e segundo

ciclos / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. _ Brasília:

A Secretaria, 1998.

MAIA, Janicleide Vidal; ALVES, Ana Paula Martins. A charge na sala de aula e uma

proposta de leitura crítica: saberes necessários à (auto) reflexão de uma aprendizagem

contextualizada no cotidiano escolar. Ceará: Ed. UECE, 2012.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

OLIVEIRA, Diana Xavier de. Leitura de charges da decodificação à compreensão.

Paraíba: UFPB, 2013.

ROMUALDO, Edson Carlos. Charge jornalística: polifonia e intertextualidade.

Maringá/PR: Eduem, 2000.

108

O ENSINO DA GRAMÁTICA NORMATIVA EM SALA DE

AULA: PRÁTICA DOCENTE, IMPASSES E NOVOS

OBJETIVOS

THE TEACHING OF NORMATIVE GRAMMAR IN THE

CLASSROOM: TEACHING PRACTICE, IMPASSES

AND NEW OBJECTIVES

Douglas Borges e Cunha

Laysse Rodrigues dos Santos

RESUMO: o objetivo deste artigo é apresentar o conceito de gramática normativa e

como o ensino desta está sendo realizado no âmbito escolar. A metodologia adotada é

baseada em uma pesquisa de cunho bibliográfico, a qual visa autores que discutem as

dificuldades em ensinar a gramática normativa em sala de aula. O estudo está

fundamentado nas perspectivas de Antunes (2003), Travaglia (2002), Perini (2005), o

PCN de Língua Portuguesa do Ensino Médio (2000), entre outros. Nesse sentido,

apresentamos como opção de solução da problemática, a introdução da música, para

proporcionar o interesse e aprendizagem de uma gramática funcional presente dentro e

fora da escola.

PALAVRAS CHAVES: Gramática Normativa. Ensino. Aprendizagem. Música.

ABSTRACT: The purpose of this article is to present the concept of normative

grammar and how its teaching is being carried out in the school context. The

methodology adopted is based on a bibliographical research, which aims at authors who

discuss the difficulties in teaching normative grammar in the classroom. The study is

based on the perspectives of Antunes (2003), Travaglia (2002), Perini (2005), PCN

Portuguese Language High School (2000), among others. In this sense, we present as

an option to solve the problem, the introduction of music, to provide the interest and

learning of a functional grammar present inside and outside the school. KEYWORDS: Normative Grammar. Teaching. Learning. Music.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo apresentar o conceito de gramática

normativa e como seu ensino está sendo realizado em sala de aula e os meios que

possam facilitar a compreensão da gramática além de despertar o interesse do aluno

pela mesma. Para isso, utilizamos a pesquisa bibliográfica especializada e documentos

oficiais (PCN de língua portuguesa do ensino médio, 2000).

Neste sentido, o artigo encontra-se organizado em três partes: a primeira,

109

concepções de gramática, apresenta a origem, definições, diversos conceitos e os

principais tipos de gramática; a segunda, revendo o ensino de gramática, reflete sobre

as atuais dificuldades e impasses para ensinar e aprender a gramática normativa nas

escolas; e na terceira parte, elaboramos uma proposta de intervenção: proporcionar aos

alunos o interesse e a aprendizagem da gramática por meio de músicas baseadas no

contexto sociocultural do discente, a sua apreciação e a análise dos seus elementos,

visando identificar e estudar as regras gramaticais presentes nas letras.

2 MARCO TEÓRICO

2.1 Concepções de Gramática

A gramática surgiu dois séculos antes da era cristã. O autor da primeira

gramática grega foi Díonísio de Trácia, e o filósofo Apolônio Díscolo formulou a

primeira teoria sintática. No entanto, apenas no período helenístico, com os gramáticos

de Alexandria, localizada no Egito, a gramática tornou-se uma disciplina independente.

O estudo e as estruturas gramaticais tinham como objetivo preservar a pureza da língua

local que até então vinha sendo contaminada pelo barbarismo. Tal preocupação foi

ocasionada com a percepção de algumas mudanças na linguagem da população no que

diz respeito à língua clássica, preocupados com as diferenças que atingissem e

modificassem a língua completamente, a gramática foi criada.

Gramática, do grego: grammátiké significa “arte de ler e escrever” (Aurélio,

1999,p. 1003). Remete ao fato de que em sua origem, como já fora mencionado, a

mesma tinha por objetivo impor as regras da língua para preservar as formas

consideradas mais corretas, ou seja, ela ditava o certo e errado na língua.

Segundo Antunes (2003, p. 85), “a Gramática compreende o conjunto de

regras que especificam o funcionamento da língua”. Entretanto, é importante destacar

que não existe somente uma gramática. De acordo com Travaglia (2002), existem mais

de dez tipos de gramática, dentre as quais se podem destacar as principais, ou mais

conhecidas. São elas: gramática internalizada, gramática descritiva e a gramática

normativa ou prescritiva.

● Gramática internalizada: conjunto de regras dominado pelos falantes e que lhes

permite o uso normal da língua;

● Gramática descritiva: visa descrever e registrar os padrões contidos em determinado

110

contexto de comunicação, os tipos de construções possíveis, a função desses elementos,

o modo e as condições de uso deles;

● Gramática normativa/prescritiva: baseia-se nos fatos da língua escrita, é aquela que

prescreve as regras, normas gramaticais de um idioma. Ela admite apenas uma forma

correta para a realização da língua, tratando as variações como erros gramaticais.

Esta última será usada como foco desta pesquisa, visto que é o tipo de

gramática ensinada nas escolas.

A gramática normativa constitui regulamentos para as formas do idioma, ela

estabelece a norma culta, ou seja, é adotada para o ensino nas escolas e para a

elaboração dos documentos oficiais. Também conhecida como prescritiva, este tipo de

gramática tem o objetivo de ensinar a falar e a escrever corretamente, prescrevendo as

regras linguísticas (fonológicas, morfológicas, semânticas e sintáticas) da variedade-

padrão de uma língua. Toma por base as regras gramaticais tradicionais e o uso da

língua por dialetos de prestígio como, por exemplo, obras literárias consagradas, textos

científicos, discursos formais, etc. As variedades linguísticas faladas são consideradas

desvio da norma até que sejam dicionarizadas e oficialmente acrescentadas às regras

gramaticais daquela língua.

A gramática normativa ensinada no âmbito escolar, ainda que lecionada por

meio de orações que servem para analisar e ensinar, são insuficientes para o aluno

compreender as regras e nomenclaturas, tornando-se preocupante tendo em vista que

ter o conhecimento gramatical é essencial para o aluno utilizar de forma apropriada e

adequada as regras de sua língua.

Logo, é importante analisar com mais profundidade como está ocorrendo este

ensino no meio escolar e quais dificuldades precisam ser superadas, levando em

consideração como já fora mencionado, a importância da gramática normativa na vida

dos falantes do idioma.

2.2 Revendo o Ensino da Gramática

O ensino da gramática nas escolas atualmente é instruído de maneira rasa,

visto que foca apenas a ensinar por meio de frases soltas e sem contexto. Dessa forma,

o aluno não entende a importância de aprender gramática e qual a relevância de se ter

conhecimento sobre suas normas e nomenclaturas, sendo assim, apenas repete suas

respectivas regras em sala de aula e não compreende o funcionamento da própria

língua. Ou seja, é uma aprendizagem mecânica. Sobre isto MOREIRA et al (2000, p.5),

111

pontua:

Na aprendizagem mecânica, o novo conhecimento é armazenado de maneira

arbitrária e literal na mente do indivíduo. O que não significa que esse

conhecimento é armazenado em um vácuo cognitivo, mas sim que ele não

interage significativamente com a estrutura cognitiva preexistente, não

adquire significados. Durante um certo período de tempo, a pessoa é

inclusive capaz de reproduzir o que foi aprendido mecanicamente, mas não

significa nada para ela. (MOREIRA, M. A.; VALADARES, J. A.;

CABALLERO, C.; TEODORO, V.D, 2000, p. 5)

Nessa perspectiva, o estudante não consegue relacionar o que é ensinado em

sala de aula com a sua realidade, pois a aprendizagem mecânica faz com que o mesmo

apenas receba o novo conhecimento passivamente. Outro ponto a ser destacado é a

falta de métodos que possam demonstrar o modo como a gramática está

intrinsecamente ligada ao contexto. Dessa forma, sem interação do aluno e o conteúdo,

a aprendizagem é sem significado. Nesse sentido, o discente, enquanto falante da

língua, usa as regras gramaticais do idioma, mas cria aversão às aulas de gramática e

considera a sua compreensão muito difícil, criando assim um impasse para despertar o

seu interesse pela mesma. A respeito disso, Antunes afirma que:

Quando alguém é capaz de falar uma língua é então capaz de usar

apropriadamente, as regras (fonológicas, morfológicas sintáticas e

semânticas) dessa língua (além, é claro, de outras de natureza pragmática)

na produção de textos interpretáveis e relevantes. Aprender uma língua é,

portanto, adquirir, entre outras coisas, o conhecimento das regras de

formação dos enunciados dessa língua. Quer dizer, não existe falante sem

conhecimento de gramática. (ANTUNES, 2003, p. 85, 86).

Sendo assim, é necessário especificar os impasses presentes no âmbito escolar

em relação ao ensino e a aprendizagem da gramática normativa no ensino médio, pois

o aluno usa as regras da sua língua, mas não a entende. Perini (2005), em seu livro

“Sofrendo a gramática”, aponta três defeitos presentes no ensino da gramática.

Primeiro: seus objetivos estão mal colocados, pois a maioria dos professores acredita

que se o aluno possuir o conhecimento sobre a gramática ele vai escrever e ler melhor,

todavia, essa ideia é errônea, pois muitos escritores não sabem quase nada sobre

gramática, mas escrevem muito bem, em contrapartida há os que possuem esse

conhecimento e não sabem escrever. Segundo: a metodologia adotada é seriamente

inadequada, pois valem-se de frases soltas, fora de contexto, dificultando o

entendimento do aluno que precisa dessa aproximação de sua realidade. Terceiro: a

própria matéria carece de uma organização lógica, pois os professores não podem

somente mostrar as regras, eles também precisam especificar o porquê de elas

112

existirem, qual é o seu papel e por que é tão relevante aprender gramática.

Uma alternativa para haver mudança no que diz respeito à forma de como é

ensinada a gramática nas salas de aula, é apresentada por Antunes (2003) em seu livro

“Aula de Português”. Para a autora, o professor de português deverá trazer para a sala

de aula:

● Uma gramática que seja funcional:

Com isso se pretende privilegiar o estudo das regras desses usos sociais da

língua, quer dizer, de suas condições de aplicação em textos de diferentes

gêneros. Deve-se propor, portanto, uma gramática que tenha como

referência o funcionamento da língua, o qual, como se sabe, acontece não

através de palavras e frases soltas, mas apenas mediante a condição de

texto. Assim, o professor deve apresentar uma gramática que privilegie, de

fato, a aplicabilidade real de suas regras, tendo em conta, inclusive, as

especificidades de tais regras, conforme esteja em causa a língua falada ou

a língua escrita, o uso formal ou uso informal da língua. Não adianta muito

saber os nomes que as conjunções têm. Adianta muito saber o sentido que

elas expressam as relações semânticas que elas sinalizam. (ANTUNES,

2003, p. 96, 97)

● Uma gramática que liberte e “solte” a palavra:

A sala de aula de português deveria ser o espaço privilegiado para se

incentivar a fluência linguística e neutralizar, assim, a postura prescritiva e

corretiva com que a escola, tradicionalmente, tem encarado a produção dos

alunos. Nesse sentido, vale a pena lembrar a conveniência de incentivar,

oportunamente, as “transgressões funcionais”, ou a possibilidade de

“subverter” as regras da língua para obter certos efeitos de sentido ou certas

estratégias retóricas. (Há muitos textos em circulação, sobretudo textos

publicitários, que possibilitam a análise de tais transgressões. Poderia

lembrar o nome de um bloco de carnaval organizado por escritores

pernambucanos, que tem como nome os dizeres: “Nóis sofre mais nóis

goza.” Evidentemente, por ser de escritores e por ser para o carnaval, a

agremiação não poderia escolher uma referência mais adequada e mais

expressiva que esta. Ou seja, há contextos em que o “certo” pode estar na

transgressão. A escola precisa explorar esse ponto. (ANTUNES, 2003, P.

97, 98)

● Uma gramática que seja relevante:

É necessário selecionar noções e regras gramaticais que sejam aplicáveis a

compreensão e os seus usos sociais da língua, pois nota-se no âmbito escolar as

dificuldades de entender e usar as regras gramaticais de modo a contribuir para a

competência comunicativa dos alunos para o exercício fluente e relevante da fala e

escrita. A partir disso, o ensino não será somente limitado às regras postas apenas para

ditar o certo ou errado nas salas de aula, mas, será aplicado continuamente no dia a dia

dos estudantes.

113

● Uma gramática contextualizada:

O aluno necessita de um contexto para poder compreender a função da

gramática, algo que seja mais próximo da sua realidade, pois sem a contextualização,

nota-se a dificuldade no aprendizado dos mesmos. Por isso é necessário uma

reformulação na metodologia de ensino que faça com que o aluno entenda de forma

mais clara o papel que a gramática desempenha tanto nos textos escritos quanto no

contexto social do falante da língua.

● Uma gramática que traga algum tipo de interesse:

O ensino precisar ser incentivador, que desperte a curiosidade do discente

sobre o assunto, de forma que mude sua perspectiva sobre a matéria, pois muitas vezes

o discente define estudar a gramática como uma atividade desinteressante. Por isso, é

necessário transformar em uma tarefa prazerosa em vez de meramente obrigatória.

● Uma gramática que prevê mais de uma norma:

Deixando de considerar somente a norma padrão como “correta”, uma

gramática que leve em consideração as mais diversas normas existentes na língua, pois

cada uma tem o seu valor e função dentro de determinado contexto. (o professor não

deve descartar a gramática internalizada que já veio com o aluno)

Conforme aponta o PCN (2000 P. 16):

O estudo gramatical aparece nos planos curriculares de português, desde

séries iniciais, sem que os alunos, até as séries finais do ensino médio,

dominem a nomenclatura. Estaria a falha nos alunos? Será que a gramática

que se ensina faz sentido para aqueles que sabem gramáticas porque são

falantes nativos? A confusão entre norma e gramaticalidade é o grande

problema da gramática ensinada pela escola. (PCN, 2000, p. 16)

A partir dessas indagações e da problemática apresentada pelo PCN, é de

imediata necessidade aderir a propostas que venham trazer uma significativa mudança

concernente ao ensino de gramática no âmbito escolar do ensino médio.

2.3 Proposta de intervenção

Tendo em vista a problemática presente em sala de aula em relação ao ensino

e a aprendizagem da gramática normativa no ensino médio, devem-se adotar medidas

que possibilitem uma mudança positiva nesse contexto. Desta maneira, é necessário

incentivar os professores a inserção de novas práticas para o ensino de uma gramática

funcional, possibilitando o aluno ter interesse em aprender de fato a matéria, tornando

114

as aulas prazerosas e não apenas um momento tedioso. Nesse sentido as aulas precisam

ser voltadas a produzir uma aprendizagem interessante e significativa para os alunos.

Rogers (2001, p. 167) conceitua a aprendizagem significativa da seguinte maneira:

Por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que é mais do

que uma acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma

modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação futura

que escolhe ou nas suas atitudes e personalidade. É uma aprendizagem

penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimento, mas que

penetra profundamente todas as parcelas da sua existência. (ROGERS, 2001,

P. 167)

Ou seja, a aprendizagem significativa modifica a maneira de o aluno ver o

mundo. O transforma de mero telespectador das aulas para alguém que interpreta um

papel fundamental e ativo ao receber novos conhecimentos.

Dessa forma, atendendo a necessidade de introduzir novos

métodos para que aconteça uma aprendizagem significativa,

sugerimos a utilização da música no contexto escolar como

opção de metodologia no incentivo à aprendizagem da

gramática normativa. Sobre a importância da música, Carvalho

at al (2017, p.5) destaca:

O homem é capaz de se expressar através da música agindo de forma

interligada nas dimensões ética, estética, cognitiva e social da vida. (...) a

música é uma linguagem, e pode ser utilizada como um instrumento de

diálogo e aprendizado, ou seja, através dela podemos aprender sobre nós

mesmos e sobre o mundo. Conhecer a música ajuda a compreender o

mundo de forma mais sensível, sobretudo se é utilizada como recurso para

isso, além de completar, assim, o arco de conhecimento humano.

(CARVALHO, ACCORSI & ISAIA, 2017, p.5)

Tendo em vista isso, entende-se que a música é um meio que facilita a

introdução de novos conhecimentos. Dessa maneira, pode-se utilizar todos os

elementos da mesma, como o som e a própria letra para interpretação e análise das

regras gramaticais presentes na música.

Além disso, para que haja melhor interação do aluno, deve-se considerar também o

contexto e a realidade social a qual o discente está inserido, ou seja, valer-se de músicas

regionais de todos os estilos diferentes para que assim, o processo de aprendizagem se

torne mais eficaz, trazendo resultados satisfatórios.

Objetivo Geral

Proporcionar aos alunos o interesse e a aprendizagem da gramática normativa

115

por meio da música e os elementos que a compõe.

Objetivos Específicos:

1) Apresentar músicas baseadas no contexto sociocultural do aluno;

2) Promover a apreciação da música (som) e posteriormente a análise da letra

(contexto);

3) Designar atividades a partir da análise, para a identificação e compreensão das

regras gramaticais presentes no mesmo.

Metodologia:

1ª etapa: apresentar aos discentes diferentes tipos de músicas, visando identificar as suas

características para fins de compreensão e interpretação, além de incentivar e instigar a

apreciação musical.

2ª etapa: fazer a percepção do contexto presente na música e dentro do seu estilo

musical, para que haja a compreensão do meio em que o aluno está inserido.

3ª etapa: partir para a análise das letras das músicas apresentadas, com a finalidade de

estudar a gramática normativa e sua função no texto, levando em consideração as

diversas normas presentes no mesmo.

Avaliação:

A partir da apresentação das músicas e análise de suas respectivas letras na

sala de aula, poderemos aplicar exercícios que levem o aluno a identificar nos textos

(letras) exemplos de regras de concordância nominal e verbal, regência, ortografia, etc.

Partindo disso, pedir para que eles respondam a alguns questionamentos como: por

que estas regras estão no texto? Que função estas regras estão desempenhando no seu

contexto? Quais seus objetivos? Por que são importantes?

O mesmo exercício pode ser utilizado para identificar as variações da norma

padrão, ou seja, da norma culta da língua, tendo em vista que muitas músicas seguem

as regras da norma enquanto outras cometem desvios da mesma. Assim sendo, podem

ser feitos os mesmos questionamentos: porque foi utilizada esta forma de escrita no

texto? Quais os objetivos pretendidos pelo autor? Que função está desempenhando no

seu contexto?

Após estas indagações, o professor poderá fazer um diagnóstico sobre o

desempenho dos alunos a partir da metodologia utilizada, percebendo quais educandos

conseguiram atingir o objetivo proposto e quais tiveram dificuldades. Dessa maneira,

por meio da avaliação poderá ser feita a socialização das atividades entre professor e

116

alunos, para que assim haja o compartilhamento de diferentes ideias e a construção

coletiva do conhecimento. Sobre avaliação, Libâneo, (1994, p. 197) pontua:

Cumprindo sua função didática, a avaliação contribui para a assimilação e

fixação, pois a correção de erros cometidos possibilita o aprimoramento, a

ampliação e o aprofundamento de conhecimentos e habilidades e, desta forma,

o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas. (LIBÂNEO, 1994, p. 197)

Nesse sentido, o estudante perceberá o importante papel que as regras

gramaticais desempenham em seu idioma. Assim como o professor poderá fazer sua

análise para saber se conseguiu alcançar os objetivos pretendidos em sala de aula e

quais outros pontos precisam ser melhorados.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, podemos afirmar que ainda há muito a se fazer para o ensino da

gramática normativa nas escolas vir a acontecer de maneira prazerosa, motivadora e

eficaz tanto para alunos quanto para professores. Visto que o docente precisa

aperfeiçoar sua didática e desenvolver diferentes métodos para trabalhar em sala de

aula, além de ultrapassar as barreiras do comodismo em relação as antigas

metodologias ainda utilizadas no cenário educacional atual que precisam ser

atualizadas, pois são métodos ultrapassados e repetitivos.

Portanto, reconhecemos que utilizando a música como instrumento

metodológico, é possível levar o aluno a aprender gramática normativa considerando

todos os elementos presentes na sua elaboração, como o contexto social, histórico e

cultural, etc. Todos estes elementos contribuirão para uma boa didática,

proporcionando desta maneira, o interesse do aluno em estudar e aprender realmente

gramática de forma prazerosa e significativa e não mais uma atividade exaustiva como

outrora ocorria.

REFERÊNCIAS

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Editorial, 2003.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais (PCNs). Língua portuguesa. Ensino

médio. Parte II. Portal MEC, 2000. Disponível em: Portal.mec.gov.br

>seb>pdf>blegais>. Acesso em: 15 jun. 2017.

CARVALHO, G. B.; ACCORSI, A.; ISAIA, T. P. Impare educação e a metodologia

sensibile: a formação humanista por meio da educação musical. Anais II Cong. Int.

117

Uma Nova Pedagogia para a Sociedade Futura: Protagonismo Responsável, 2016.

FERREIRA, Aurélio. Novo Aurélio século XXI: O Dicionário da Língua

Portuguesa. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1999.

LIBÂNEO, J. A avaliação escolar. São Paulo: Cortez, 1994.

MOREIRA, M. A.; VALADARES, J. A.; CABALLERO, C.; TEODORO, V.D. Teoria

da Aprendizagem significativa. Contributos do III Encontro Internacional sobre

aprendizagem significativa. Peniche, 2000.

PERINI, Mário Alberto. Sofrendo a gramática: ensaios sobre a linguagem. Atica,

1997.

ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. 5. Ed São Paulo: Martins, 2001.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.

118

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO CAMPO SEMÂNTICO LEXICAL

DOS MORADORES DO QUILOMBO ÁFRICA

LINGUISTIC VARIATION IN THE LEXICAL SEMANTIC FIELD OF

THE DWELLERS OF QUILOMBO AFRICA

Marília Afonso Cardoso

Miriana de Sousa Barbosa

Thalula de Paula Silva Melo

Resumo: Este trabalho apresenta uma análise semântico-lexical de natureza

diatópica e diastrática, da fala dos moradores da comunidade África,

pertencente ao baixo Moju. O mesmo se justifica por cartografar um léxico

nunca antes visto o da comunidade de África. Dessa forma, partimos da

hipótese que o acervo semântico-lexical falado por morados da África é

diferente se comparado ao proposto pelo Questionário Semântico-Lexical do

projeto Atlas Linguístico Do Brasil (QSL: ALIB). O objetivo geral desse

estudo é analisar as ocorrências semânticos-lexical de maneira diatópica e

diastrática encontrada na fala dos moradores da Comunidade África em

comparação as áreas do acervo semântico-lexical proposto pelo projeto ALIB.

O lócus é no município de Abaetetuba território da comunidade quilombola de

África. A pesquisa foi desenvolvida nas seguintes etapas: identificas as lexias

encontradas nas falas dos moradores, coletadas por meio do QSL, 2 campos

semânticos, com base nas variáveis sociais: sexo, faixa etária e classe social,

em 2 ( dois) sujeitos em ambos os sexos; por ponto linguístico; registrar em

tabelas, cuja as frequências foram igual ou superior 65% não coincidentes com

a proposta com QSL; documentar cartograficamente esse corpus e analisa-lo

de acordo com a abordagem quantiqualitativa. A análise dos dados mostra que

existe aproximadamente 15 variações léxicas na região pesquisada.

Palavras chave: Variação linguística. Dialetologia. Cultura.

119

LITERATURA INFANTIL COMO PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA SEXUAL

PARA CRIANÇAS

CHILDREN'S LITERATURE AS PREVENTION OF SEXUAL VIOLENCE FOR

CHILDREN

Ana Carla Marques Belo

Enielson Silva de Sousa

Heraldo Ferreira Vasconcelos

Resumo: O referido texto propõe refletir sobre a importância do ensino de prevenção

sexual nas escolas de nível fundamental. Esta proposta de atividade foi aplicada em uma

escola no município de Igarapé-Miri. Como metodologia foi necessário utilizar

materiais produzidos pela escritora Carolina Arcari, da Literatura Infantil tais como: o

livro PIPO E FIFI PREVENÇÃO SEXUAL PARA CRIANÇAS e o jogo da trilha da

proteção. Este livro aborda noções básicas de prevenção à violência sexual e ensina

quais são os “toques do sim” e “toques do não”, mostra como evitar contatos e carinhos

maliciosos. O jogo, por sua vez, apresenta de forma interativa e lúdica, a fim de

promover reflexões nos alunos. O tema em discussão deve-se ao fato do abuso ser uma

violência que ocorre, em sua maioria, no círculo familiar, dificultando o número de

denúncias dos casos. Nesse sentido, com a exposição desse assunto em sala de aula, é

possível ajudar crianças a como se defenderem. Tudo isso, possibilitará a mesma se

sentir mais à vontade para expressar-se e relatar os casos para pessoas de confiança,

reduzindo o quantitativo de crianças abusadas.

Palavras-chave: Literatura infantil. Abuso sexual. Prevenção.

120

A SOLIDÃO PERCEBIDA EM “A HORA DA ESTRELA”, DE CLARICE

LISPECTOR

THE SOLITUDE PERCEIVED IN "THE HOUR OF THE STAR", BY CLARICE

LISPECTOR

Iracema Mayara Cardoso Nunes

Andressa Thais Bastos da Silva

Ana Cássia Ribeiro da Silva

Resumo: O conceito de solidão é bastante simples, sendo definido como o “estado de

quem se acha ou vive só”, diante disto, este estudo enfoca uma análise sobre este

sentimento auferido nos personagens criados por Rodrigo S.M que aparecem na obra “A

hora da estrela”, da autora Clarice Lispector, para isso, utilizou-se como método de

análise, uma abordagem ao longo do texto da obra, sob o prisma filosófico de Friedrich

Nietzsche, destacando a temática da solidão, assim como outros elementos alusivos a

mesma. Como resultado verificou-se unicamente a solidão sentida pelo supracitado

autor fictício (alter-ego de Clarice, na verdade) evidenciado pela constante citação de

músicas e variantes ao longo do texto; A Hora da Estrela faz uma reflexão a respeito do

ato solitário de escrever, da supramencionada efemeridade da existência enquanto,

ainda, implicitamente ironiza a dificuldade de se ser mulher e escritora na sociedade da

época (e, talvez, ainda na sociedade atual). Desse modo, percebe-se a presença da

solidão pela menção específica da musicalidade na dedicatória do autor, quando este

dedica seu livro a vários compositores clássicos, afirmando que precisa deles para se

manter de pé, temendo cair “naquele vazio pleno que só se atinge com a meditação”

(esse vazio é a solidão, necessária para se atingir o estado meditativo).

Palavras-Chave: Solidão. Nietzsche. Música. Meditação.

121

SABERES EDUCACIONAIS: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA POR

MEIO DA PEÇA TEATRAL EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA

EDUCATIONAL KNOWLEDGE: THE TEACHING OF PORTUGUESE

LANGUAGE THROUGH THE TEATRAL PART EMILIA IN THE COUNTRY

OF GRAMMATICS

Enielson Silva de Sousa

Gislaine Monteiro Ferreira

Resumo: Este texto tem como objetivo demonstrar a relevância dos saberes

educacionais no desenvolvimento da aprendizagem de crianças e adolescentes. Para

tanto, é necessário fazer uso da interdisciplinaridade ao unir gêneros que visem fixar

com mais facilidade os assuntos teóricos da Língua Portuguesa utilizando a ludicidade e

a interação. Nesse sentido, esta prática tornou-se possível por meio de um teatro

educativo, tendo como base o livro Emília no País da Gramática de Monteiro Lobato e

uma teoria do escritor Edgard de Assis Carvalho. Assim, pode-se afirmar que o teatro

auxilia o sujeito no seu crescimento cultural e na sua formação como indivíduo.

Palavras-chave: Saberes Educacionais. Língua Portuguesa. Teatro.

123

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: O RACIOCÍNIO LÓGICO- MATEMÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

MATHEMATICAL EDUCATION: THE LOGICAL-MATHEMATICAL REACTION IN CHILD EDUCATION

Cleodilene dos Santos Cardoso

Namieli Nascimento Bezerra

Rosiane dos Santos Azevedo

Resumo: A presente pesquisa analisa as concepções que os professores da educação infantil

possuem sobre o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, bem como as metodologias

utilizadas, se estão ou não contribuindo para o desenvolvimento cognitivo da criança. Nessa

tessitura, a problemática desta pesquisa foi: O professor está desenvolvendo o raciocínio lógico-

matemático para melhorar o ensino de matemática? Como fundamentação teórica foram

utilizados os seguintes autores: KAMMI; PIAGET; REIS; SEBER que abordam questões

importantes sobre o ensino da matemática, o desenvolvimento intelectual e cognitivo das

crianças entre outras referências primordiais para a construção deste trabalho. A pesquisa de

campo foi realizada em quatro escolas de educação infantil do município de Moju-Pará,

utilizamos como método de procedimento o estudo de caso e tendo como técnica de coleta de

dados o questionário aberto, direcionado aos docentes destas instituições. O que possibilitou

analisar que a grande maioria das professoras possuem concepções favoráveis para desenvolver

o raciocínio lógico-matemático e que este é essencial para melhorar o ensino da matemática,

dando condições para que os alunos atinjam autonomia intelectual, sendo sujeitos da ação,

capazes de criar, raciocinar, inventar e desenvolver os conhecimentos adquiridos no cotidiano

escolar.

Palavras-chave: Educação Infantil. Matemática. Raciocínio Lógico-Matemático.

Abstract: The present research analyzes the conceptions that teachers have about the

development of logical-mathematical reasoning in children's education, as well as the

methodologies used, whether or not they contribute to the cognitive development of the child.

In this context, the problem of this research was: Is the teacher developing logical-mathematical

reasoning to improve math teaching? As a theoretical basis, the following authors were used:

ARANHA (2006), PILLETI (2003), GHIRALDELLI; JUNIOR (2009) discussing the historical

process of education in Brazil; KUHLMANN (2000, 2007), KRAMER (2006, s / d), who talk

about child education in Brazil and its historical assumptions, allowing a reflection on the

concept of childhood and the emergence of early childhood education institutions; KAMMI

(2012); Piaget (2001, 2002); (1998) and REIS (2006), who, in turn, address important questions

about mathematics teaching, the intellectual and cognitive development of children, and other

key references for the construction of this work. The field research was carried out in four

kindergarten schools in the municipality of Moju-Pará. We used the case study as a method of

procedure and the open questionnaire was used as a data collection technique for the teachers

of these institutions. This made it possible to verify that the great majority of teachers have

favorable conceptions to develop logical-mathematical reasoning and that this is essential to

improve the teaching of mathematics, enabling students to achieve intellectual autonomy, being

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subjects of action, able to create, to reason, to invent and to develop the knowledge acquired in

the school routine.

Keywords: Early Childhood Education. Mathematics. Logical-Mathematical Reasoning.

1 INTRODUÇÃO

A educação é inerente a sociedade, e é por meio dela que a mesma se desenvolve. Os

homens se apropriavam coletivamente dos meios de subsistência e nesse processo aprendiam e

ensinavam as novas gerações. Com o avanço da sociedade houve a necessidade de um processo

educativo formalizado e sistemático. Assim, o ensino de matemática a partir deste contexto,

torna-se de suma importância para o desenvolvimento intelectual do aluno, principalmente na

educação infantil, onde a criança está se descobrindo, conhecendo o mundo a sua volta,

construindo sua personalidade, sendo as interações sociais importantes para seu

desenvolvimento.

Dessa forma, o interesse por este tema surgiu das vivencias observadas no cotidiano

escolar, durante a participação no projeto de extensão do Programa de Assistência Estudantil

da Universidade do Estado do Pará-UEPA, campus Moju. Ao qual percebeu-se a dificuldade

da maioria dos alunos na disciplina de matemática. Diante disso, ergue-se a seguinte

problemática desta pesquisa: analisar se o professor da educação infantil está desenvolvendo o

raciocínio lógico matemático para melhorar o ensino de matemática?

Para tanto, fez-se necessário realizar uma pesquisa bibliográfica, utilizando vários

teóricos, dentre eles, Kamii, Piaget, Reis, Seber, que trazem discussões de grande relevância

para esta pesquisa. Para confrontar a teoria com a prática utilizou-se a pesquisa de campo em

quatro escolas do município de Moju-Pa, tendo como método de procedimento o estudo de caso

e a técnica do questionário aberto direcionado aos docentes para coleta de dados, uma vez, que

possibilita maiores informações para o andamento da pesquisa.

Dessa forma, a pesquisa tem por objetivo analisar as concepções que os professores da

educação infantil possuem sobre o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, bem

como as metodologias utilizadas, se estão ou não contribuindo para o desenvolvimento

cognitivo da criança. Pois, é nesta fase que o ensino da matemática deve estimular a criança a

pensar, a estabelecer relações, a confrontar ideias e a expô-las e também escutar a dos outros.

Envolvendo assim a construção do conhecimento lógico-matemático, ao qual o

professor tem papel fundamental, sendo necessária uma prática educativa que propicie o

desenvolvimento da criança. No entanto, o que se tem na maioria das vezes são metodologias

125

que visam a memorização e repetição, o que não caracteriza um processo de aprendizagem que

desenvolva o pensamento do educando. Pois, a base deve ser sólida e bem construída, para

evitar dificuldades futuras no processo de ensino-aprendizagem, principalmente na educação

matemática.

Contudo, esta pesquisa visa contribuir com as discussões a respeito do ensino da

matemática, especificamente, o desenvolvimento do raciocínio logico-matemático da criança.

Portanto, o educador deve entender o ensino da matemática como uma área do conhecimento

que contribui com o desenvolvimento cognitivo da criança.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A Epistemologia genética trouxe contribuições sobre o desenvolvimento do

conhecimento lógico-matemático, aos quais referem-se as formas puras de conhecimento e que

não dependem do real e sim das relações e coordenações que o indivíduo realiza sobre os

objetos (Carrara, 2004). O conhecimento lógico-matemático constitui-se em um processo de

construção e reconstrução por parte do indivíduo, onde sua atuação no meio coloca os objetos

em relações cada vez mais complexas.

A aprendizagem matemática ocorre em diversas situações do dia a dia sendo

necessário para a mesma a aquisição de estruturas mentais que a possibilite. A criança tem

contato com a matemática, desde cedo, esse contato inicial proporciona a criança a elaboração

dos conceitos matemáticos, onde fazer matemática é expor suas ideias, comunicar a resolução

de problemas (BRASIL, v.3, 1998). Essas noções matemáticas são adquiridas pelas relações

que o indivíduo faz entre si e os objetos, ou seja, é um conhecimento construído internamente

pela criança, nas relações que estabelece com o meio.

Piaget divide o conhecimento em: conhecimento físico, conhecimento social

(convencional) e conhecimento lógico-matemático. Quando são observados a cor e do peso de

uma plaqueta, é um exemplo de conhecimento físico; já quando vemos uma plaqueta vermelha

e outra azul, trata-se do conhecimento lógico-matemático, essa relação de diferença não existe

nos objetos, mas sim na mente de cada indivíduo. “O conhecimento físico é o conhecimento

dos objetos da realidade externa. A cor e o peso de uma plaqueta são exemplos de propriedades

físicas que estão nos objetos” (KAMII, 2012, p.17). Haja vista que essas relações de diferença

são feitas pelo indivíduo, é ele quem determina qual aspecto considerar, se considerar o peso

poderá dizer que são iguais, mas se considerar a cor poderá dizer que são diferentes.

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O conhecimento social é de caráter arbitrário, pois suas convenções variam de

sociedade para sociedade, por exemplo, os números podem variar de idioma para idioma, no

entanto, as operações matemáticas permanecem as mesmas não importando o país, pois o

conhecimento lógico-matemático, diferentemente do social não é arbitrário, depende das

relações feitas pelo indivíduo.

Apesar de serem distintos, o ser humano utiliza esses conhecimentos

concomitantemente, sendo que o conhecimento lógico-matemático não pode ser trabalhado

dissociado do contexto de vida do aluno. As pesquisas psicogenéticas, apontam que o ensino

da matemática poderia ser beneficiado por um ensino que desenvolva as estruturas do

pensamento lógico-matemático.

Para a construção do conhecimento físico e lógico matemático, são necessários dois

processos: a abstração empírica e a abstração reflexiva ou construtiva. A abstração empírica dá-

se quando a criança consegue abstrair propriedades dos objetos, tais como cor e peso. Quando

isso ocorre ela considera apenas um aspecto daquele objeto e ignora os restantes. Por outro lado,

a abstração reflexiva é algo construído internamente pelo indivíduo.

Esses processos não podem existir um sem outro, pois para estabelecer a relação de

diferença, por exemplo, a criança precisa ter visto objetos de cores diferentes (abstração

empírica) para então construir um conceito de diferença em sua mente (abstração reflexiva). E

para construir o conhecimento lógico-matemático precisa do conhecimento físico a fim de

estabelecer novas relações a conhecimentos adquiridos anteriormente pela realidade externa.

Sobre isso afirma Kamii (2012, 21), “é necessário para a abstração empírica porque nenhum

fato pode ser ‘lido’ a partir da realidade externa se cada fato fosse um pedaço isolado do

conhecimento, sem nenhuma relação com o conhecimento já construído numa fase organizada”.

Por isso, o conhecimento lógico-matemático está relacionado a abstração reflexiva.

O conhecimento lógico-matemático consiste na coordenação de relações, sendo este

um conhecimento interno ao indivíduo, ao contrário do conhecimento físico e social que são

externos ao indivíduo (KAMII, 2012). Ainda para Almeida; Barguil (2016, p. 201), “o

raciocínio lógico-matemático, entendido como um conhecimento que não é ensinado, mas

construído de forma processual e a partir das relações estabelecidas pela própria criança”. Por

isso, é importante que o ensino da matemática na educação infantil, propicie a construção das

estruturas do pensamento lógico-matemático.

Sendo assim, o ensino da matemática será eficiente desde cedo, a partir do ensino

primário, onde: “a compreensão da matemática elementar decorre da construção das estruturas

127

inicialmente qualitativas (o número, por exemplo, aparece psicologicamente como a síntese das

classes e da ordem serial” (Piaget, 2001, p.10). Dessa forma, o ensino de matemática na

educação infantil deve propiciar o desenvolvimento de estruturas lógico-matemáticas, sendo

estes importantes para um bom aprendizado em matemática.

As estruturas lógico-matemáticas devem incidir em um ensino que nas memórias de

segunda ordem fiquem arquivados. Estas dizem respeito a tudo aquilo que realmente

aprendemos, isto é, tudo que seja significativo para o nosso aprendizado fica armazenado nas

memórias de segunda ordem (MAIO, 2002). Assim, é importante que o ensino de matemática

possa ser beneficiado pelo desenvolvimento do pensamento lógico, e não em meras repetições.

Para que tal aprendizagem se processe são necessárias algumas estruturas mentais que

podem ser divididas em: classificação, correspondência, seriação, comparação, inclusão e

sequenciação. Estas estruturas são necessárias tanto à aprendizagem matemática quanto a outras

áreas do conhecimento humano. Para Almeida e Barguil (2016, p. 204), “é imprescindível que

o trabalho matemático com crianças na educação infantil propicie a construção das estruturas

do pensamento lógico-matemático”. Para que assim, o ensino de matemática possa ser

beneficiado e a criança encontre menos dificuldades com relação ao ensino de matemática.

Dentre essas estruturas tem-se a classificação, que é uma operação lógica que consiste

em separar objetos, pessoas, em determinadas classes ou grupos e que estes possuem

caraterísticas semelhantes entre si, ou seja, a criança pode montar grupos de frutas, animais,

plantas. (SEBER, 2002). Assim o educando deve perceber e agrupar características comuns em

classes, o que lhe possibilitará estabelecer relações, contribuindo assim para a construção do

pensamento lógico.

É importante também que o aluno possa agrupar elementos de acordo com suas

grandezas crescentes ou decrescentes, a este esquema dá-se o nome de seriação. Atividades

desse caráter irão possibilitar a criança a construção de séries e a percepção de diferenças entre

os objetos, como por exemplo, relações de semelhança e/ou diferença, ideias como

maior/menor, igual/diferente, alto/baixo entre outros. O educador pode pedir aos alunos que

criem coleções segundo seus critérios, que podem ser aspectos como cor, tamanho, forma e

espessura.

Outra estrutura mental importante é a conservação, que refere-se a capacidade de

entender que as características de certos objetos não mudam ainda que sua disposição seja

modificada, ou seja, “conservar número” significa pensar que a quantidade continua a mesma

quando o arranjo espacial do objeto foi modificado (Kamii, 2012). As crianças têm dificuldade

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em tarefas de conservação, como por exemplo, quando a disposição dos objetos é modificada

ela entende que a composição foi alterada, a mesma situação ocorre quando há a mesma

quantidade de liquido, em recipientes diferentes.

É a partir da relação entre as noções de seriação, classificação e conservação que temos

a construção do conceito de número. Nas palavras de Milani (2014, p. 76), “a elaboração do

conceito de número efetua-se, na criança, em estreita relação com a conservação numérica e

com as operações lógicas de classificação (em sua forma de classe e de inclusão) e a seriação

(em sua forma de relações essenciais)”.

Assim, consideram-se experiências-chave para o processo de desenvolvimento do

raciocínio lógico-matemático e para aquisição da noção de número as ações de classificar,

ordenar/seriar e comparar objetos em função de diferentes critérios (BRASIL, v.3, 1998).

Devem ser oferecidas à criança situações de interação com o meio, e que esta tenha

contato com as noções matemáticas como contagem, relações quantitativas e espaciais, e sejam

priorizados os esquemas mentais básicos da aprendizagem matemática como seriação,

classificação, comparação, entre outros, propiciando o desenvolvimento do raciocínio lógico-

matemático. Para os Referenciais Curriculares Nacionais “Aprender matemática é um processo

contínuo de abstração no qual as crianças atribuem significados e estabelecem relações com

base nas observações, experiências e ações que fazem, desde cedo, sobre elementos do seu

ambiente físico e sociocultural (BRASIL, v.3, 1998, p. 217)”.

Assim, o desenvolvimento das estruturas lógicas deve ser beneficiado desde cedo,

possibilitando dessa forma, melhorar o ensino da matemática. Sendo importante o papel do

educador neste processo, é indispensável que este se torne não apenas um mero transmissor de

conhecimentos e sim estimulador da espontaneidade da criança fazendo com que esta adquira

a capacidade de pensar por si própria, estando, dessa forma, longe de ser simplesmente uma

repetidora daquilo que observou o adulto fazer.

Muitas das dificuldades que grande parte dos alunos apresentam em matemática deve-

se a uma mudança muito brusca do desenvolvimento das estruturas lógicas para o quantitativo,

ou seja, para o numérico. Assim muitos não acompanham este processo.

Um dos princípios do ensino da matemática diz que o número não é diretamente

ensinável, mas que o meio onde a criança se encontra pode proporcionar indiretamente a

formação do conhecimento logico-matemático (Kamii, 2012). O professor deve encorajar a

criança a colocar todos os eventos, ações em todos os tipos de relação. O aluno precisa ser

autônomo, pensar por si próprio e não ser ensinado a dar as respostas “certas” ao que lhe é

129

perguntado, é importante a valorização do erro como construção do conhecimento e que ele

seja levado a pensar logicamente.

É importante ainda a valorização do cotidiano da criança como forma de construção

do conhecimento, oferecendo experiências ricas ao sujeito. Por isso “as festas, as histórias e,

principalmente, os jogos e as brincadeiras permitem a familiarização com elementos espaciais

e numéricos, sem imposição” (BRASIL, v.3, 1998, p. 218). Nesse aspecto, o professor terá

papel importante, no que concerne ao desenvolvimento das estruturas lógicas do pensamento

matemático, ao qual são necessárias metodologias que contenham tais objetivos.

A educação infantil é uma etapa muito importante para o desenvolvimento do

indivíduo em seus aspectos sociais, afetivos, cognitivos, emocionais, para tanto faz-se

necessário que o ensino oferecido esteja apto a desenvolver cada uma destas áreas. Para os

Referenciais Curriculares Nacionais (1998), a educação infantil deve proporcionar a criança um

conjunto de diferentes linguagens e das relações que estabelecem com os objetos de

conhecimento, a saber: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza

e Sociedade e Matemática.

Ainda para os RCNEIS (1998), as noções matemáticas são construídas pelas interações

com o meio e pela interação com outras pessoas, assim o papel do professor é essencialno que

concerne aos métodos a serem utilizados em sala de aula com vistas a construção de noções

matemáticas.

Neste processo de desenvolvimento das estruturas lógico-matemáticas o professor tem

papel essencial, uma vez que ele será o mediador entre a criança e o conhecimento a ser

construído. Para isso, é necessário que ele tenha noção dos objetivos a serem alcançados nesta

etapa no que diz respeito ao ensino da matemática. Bem como seu conhecimento acerca do

desenvolvimento infantil, fator essencial para que possa criar situações de aprendizagens

significativas para os alunos.

Sua atuação no que concerne ao ensino da matemática na educação infantil não deve

estar pautada em exercícios de repetição, memorização e cópias dos numerais, mas deve ser

beneficiado por um ensino que estimule o educando a pensar por si só, resolver problemas,

discutir suas ideias. Para Piaget (2002, p. 15), “o que se deseja é que o professor deixe de ser

apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, ao invés de contentar com a

transmissão de soluções já prontas”. Diante disso, o educador não deve se ater ao estímulo de

respostas prontas, por meio da repetição e memorização, mas priorizar a resolução de problemas

e exposição das ideias.

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Diante disso, o educador deve utilizar metodologias diversificadas em suas aulas de

matemática, visto que o conhecimento lógico-matemático não é ensinado, mas sim estimulado,

desenvolvido, onde pode-se criar um ambiente matematizador sendo este um espaço rico e

estimulante (REIS, 2006). Considera-se oportuna a realização de atividades que estimule o

raciocino lógico-matemático através de jogos e brincadeiras, compreendendo “que estimular o

raciocínio lógico-matemático é muito mais que ensinar matemática é estimular o

desenvolvimento mental, é fazer pensar” (REIS, 2006, p. 09). Nesse aspecto, o professor tem

papel fundamental atuando como mediador do conhecimento e não como detentor do mesmo.

Teóricos como Vygotsky, falam acerca da importância das relações sociais para a

construção do conhecimento e da relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Para este

teórico ser humano é um ser histórico, que não nasce pré-determinado a ser isto ou aquilo, mas

que no seio das relações sociais e do contato com a cultura passa a desenvolver aptidões,

habilidades e potencialidades. Como afirma Carrara (2004):

A teoria histórico-cultural supera a concepção de que a criança traz, ao nascer, o

conjunto de aptidões e capacidades - que vai apresentar quando adulta - dadas como

potencialidades que ela vai desenvolver mais ou desenvolver menos à medida que

cresce e de acordo com o meio em que vive, mas sempre dentro do conjunto de

possibilidades que tem no nascimento (p.137).

Na matemática faz-se necessário que o professor seja esse mediador no processo de

ensino-aprendizagem, onde deve-se considerar dois conceitos importantes da teoria histórico-

cultural, como a zona de desenvolvimento real que diz respeito a tudo aquilo que o educando

consegue realizar por si só, e a zona de desenvolvimento potencial refere-se a tarefas que a

criança consegue fazer, mas com a ajuda de uma criança mais velha ou mesmo um adulto.

A distância entre aquilo que a criança consegue realizar por si só e aquilo que ela

necessita de auxílio para realizar, chamada de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que

para Vygotsky “é a distância entre o nível de desenvolvimento real que se costuma determinar

através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,

determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração

com companheiros mais capazes (1998, p.112)”.

Nesse aspecto o educador tem papel importante conduzindo o processo educativo

juntamente com o educando, incidindo principalmente na área de desenvolvimento potencial,

que são as estruturas que ainda estão em vias de maturação. Assim, as interações sociais são de

suma importância para o desenvolvimento do educando.

131

Tanto no ensino da matemática como em outras áreas o uso de jogos, atividades

lúdicas, histórias são importantes para o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que

constituem um facilitador, principalmente na matemática disciplina a qual muitos têm aversões

pela dificuldade que encontram com a mesma. Estes, por sua vez, são fatores necessário para

desencadear o processo de ensino-aprendizagem, haja vista que provocam o desenvolvimento

nos mais variados aspectos como: afetivo, cognitivo, social e motor.

Contudo, é importante que se utilize dos jogos como facilitador no ensino da

matemática, onde a criança possa vivenciar situações dinâmicas no cotidiano escolar, que

estimulem seu pensamento, o levantamento de hipóteses, bem como o formação de sujeitos

ativos e críticos. Como afirma Reis (2006, p.77), “os jogos [...] levam o indivíduo a pensar

ativa, crítica e autonomamente e a criar estratégias próprias”. Os jogos em grupo irão

possibilitar a troca de opiniões entre os alunos possibilitando assim uma maior interação social,

fator importante para seu desenvolvimento.

No entanto, o uso de jogos deve receber um cuidado especial, visto que o educador

deve lhe empregar um objetivo especifico, e não simplesmente um passatempo do qual os

alunos irão se utilizar, o que ocorre em muitas instituições de educação infantil, onde “jogos,

brincadeiras e materiais didáticos são tomados sempre de modo indiferenciado na atividade

pedagógica: a manipulação livre ou a aplicação de algumas regras sem uma finalidade muito

clara” (BRASIL,1998, p. 211).

Acerca disso, o docente deve ter noção de que ele é mediador no processo de

ensino/aprendizagem, devendo organizar e propiciar espaços e situações de aprendizagem,

onde brincadeiras e jogos precisam ser claros em seus objetivos para assim contribuir para o

desenvolvimento do educando.

3 PESQUISA DE CAMPO E ANÁLISE DOS DADOS

O trabalho “in loco” foi desenvolvido por meio da pesquisa de campo, de abordagem

qualitativa, uma vez que busca compreender e interpretar a opinião dos sujeitos pesquisados

sobre a educação matemática e o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático na

educação infantil.

Portanto, para realizar uma pesquisa é importante que se determine os caminhos a

serem utilizados para alcançar os objetivos, denominados de método, que segundo Lakatos e

Marconi são “o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e

economia, permite alcançar o objetivo – conhecimento válidos e verdadeiros – traçando o

conhecimento a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista” (2010, p.

65)”.

Desse modo, o método de procedimento utilizado foi o estudo de caso, pois

“pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenômeno e estão limitadas a um domínio

particular” (LAKATOS E MARCONI, 2010, p. 221). Este, por sua vez, é tomado como unidade

de um todo, sendo capaz de propor um julgamento ou mesmo propor uma intervenção.

Dessa forma, utilizamos como técnica de coleta de dados, os questionários com

perguntas abertas, pois, segundo Severino (2007, p.125), têm por objetivo “levantar

informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vista a conhecer a opinião dos

mesmos sobre os assuntos em estudo”. Diante disso, o questionário teve por objetivo coletar

informações sobre as concepções que os professores da educação infantil, possuem a respeito

do ensino da matemática e ainda verificar se a prática utilizada desenvolve o raciocínio lógico-

matemático na criança.

A presente pesquisa foi realizada com professores de quatro escolas de Educação

infantil da zona urbana do Município de Moju, são elas: Escola Municipal de Educação Infantil

Dilza da Cunha Gordo; Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Elinda

Ataíde de Lima; Escola Municipal de Educação Infantil Eurídice da Cunha Gordo e a Unidade

Municipal de Educação Infantil Iracy de Souza Teixeira. Limitamos o nosso campo de análise

somente na Zona Urbana, devido as dificuldades de locomoção para as áreas da Zona Rural do

Município.

Foi aplicado trinta questionários, porém apenas vinte docentes disponibilizaram de

tempo para responde-lo. Os questionários possibilitaram obter informações relevantes para a

análise da pesquisa, pois os dados obtidos contribuíram para que os aspectos dos grupos fossem

analisados e discutidos.

As escolas foram denominadas de: A, B, C e D respectivamente, e as professoras

identificadas, conforme a denominação das escolas. Dessa forma, os nomes dos sujeitos foram

substituídos por letras e números com o objetivo de assegurar o anonimato. Assim, as

professoras da escola A foram descrita como: A1, A2, A3, A4, A5, A6 e A7, a B como: B1, B2

e B3, a C como: C1, C2, C3, C4 e C5, e as da escola D como: D1, D2, D3, D4 e D5.

Quanto ao perfil profissional dos sujeitos, foi analisado que todos possuem curso

superior, exceto a docente B3 que ainda está cursando a graduação em Pedagogia. A grande

maioria tem mais de cinco anos atuando na educação infantil. Do total de vinte pesquisadas,

seis não possuem nenhum tipo de formação continuada, três só participam de formação pelo

132

133

PNAIC e outras 11 possuem formação continuada ou especialização em umas das áreas:

Psicopedagogia; Educação Especial; Educação Infantil; Educação do Campo; Gestão Escolar;

Neuropsicopedagogia e Literatura Infantil.

A partir das análises dos questionários verificamos que a grande maioria das

professoras demonstraram ter domínio sobre os conceitos matemáticos presentes na grade

curricular da Educação Infantil, elas citaram a noção de quantidade, de tempo, de agrupamento,

de formas geométricas entre outros conteúdos. Nesse sentido, o RCNEI em seu volume 3 diz

que “A abordagem da Matemática na educação infantil tem como finalidade proporcionar:

oportunidades para que as crianças desenvolvam a capacidade de estabelecer aproximações a

algumas noções matemática presentes no seu cotidiano, como contagem, relações espacial e

etc” (1998, p. 215). Assim como, “reconhecer e valorizar os números, as operações numéricas,

[...] como ferramentas necessárias no seu cotidiano”.

Todos os sujeitos pesquisados disseram que a matemática é importante na educação

infantil, porque ela faz parte do cotidiano dos alunos e contribui para o desenvolvimento de

suas habilidades, tornando-se, desse modo, necessário que o educador utilize situações do dia

a dia dos educandos para que a aprendizagem seja significativa, pois somente assim será

possível o desenvolvimento integral das crianças.

Além disso, Reis diz que “por meio de um ambiente matematizador com atividades

ricas e estimulantes, troca de ideias, material adequado e problemas reais a serem vencidos, o

professor fará com que o aluno construa seu conhecimento, avance em suas hipóteses e seja

capaz de comunicar-se matematicamente (2006, p.11)”. Assim, o professor deve valorizar os

conhecimentos prévios das crianças, pois somente assim, poderá propor uma aprendizagem

significativa ampliando este conhecimento.

A grande maioria relatou que utiliza jogos e brincadeiras para ensinar os conteúdos

matemáticos, pois facilita a aprendizagem dos alunos. Os quais, servem como ferramentas

importantes para desenvolver os conceitos matemáticos na educação infantil e contribuem para

o desenvolvimento das habilidades cognitivas das crianças, de forma prazerosa. Sobre isso,

Reis (2006, p.77) diz que “o jogo estimula o raciocínio, o que será benéfico não apenas nas

aulas de matemática, mas nas demais áreas do conhecimento”.

Os docentes foram questionados sobre o que elas compreendem por raciocínio lógico

matemático, 80% disseram que desenvolver o raciocínio lógico-matemático está ligado ao

desenvolvimento intelectual dos educandos. Como é possível perceber na fala da professora

C3, ela diz: “A meu ver, o raciocínio lógico-matemático é a forma de pensar que encontramos

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para resolver os problemas encontrados nessa área. É a resolução de problemas”. A

professora B1 também diz que “Entendo que é um processo de estruturação do pensamento

que permite chegar à uma conclusão ou resolução de um problema. Na educação infantil,

temos que ser mediadores desse processo estimulando o desenvolvimento intelectual de nossos

alunos, possibilitando o processo de ensino- aprendizagem, porém de maneira prazerosa”.

Dessa forma, percebe-se pelas falas que o raciocínio lógico-matemático está associado

ao desenvolvimento do pensamento e da capacidade de resolver problemas, sendo este um

conhecimento interno ao indivíduo estabelecido nas relações entre os objetos. Segundo, Rosa o

raciocínio lógico-matemático “é uma construção que resulta da ação mental da criança sobre o

mundo, construído a partir de relações que a criança elabora na sua atividade de pensar o

mundo, e também das ações sobre os objetos” (2009, p. 04). A grande maioria demonstrou ter

conhecimento sobre o raciocínio lógico matemático, o que é muito relevante para a pesquisa.

Porém, quando perguntadas sobre as atividades ou jogos que podem ser trabalhados

para desenvolver o raciocínio lógico-matemático, não obtivemos um quantitativo satisfatório,

pois apenas sete docentes citaram atividades e jogos, a professora A1 disse que os “Jogos de

sequências lógicas, tabuleiros, quebra-cabeça, jogo da memória, tangran, etc.”. Já a

professora B1 relatou “Eu acredito que a música jogos e brincadeiras como: a amarelinha, o

boliche por exemplo que desenvolvem a habilidade motora, o equilíbrio, a percepção visual, a

concentração e brincando a criança pode ser incentivada a realizar contagens, comparar

quantidades, identificar algarismos, etc”.

Acerca disso, para Leonardo, Menestrina e Miarka, as atividades lúdicas “são formas

de trabalhar a matemática na educação infantil. Da mesma forma, é importante citar a presença

da matemática na música, em histórias, na maneira de organizar o pensamento, nas brincadeiras

e jogos” (2014, p.10). Assim, o uso de jogos e brincadeiras no ensino da matemática torna-se

um facilitador das práticas de ensino e aprendizagem, uma vez que, desenvolvem o pensamento

da criança, estimulam sua imaginação e sua criticidade.

A pesquisa buscou analisar se os sujeitos possuem ou não alguma dificuldade em

trabalhar a matemática na educação infantil. Diante disso, percebeu-se que 50% demonstraram

ter dificuldade por diversos fatores, tais como: falta de materiais, falta de tempo para planejar

as aulas, falta de investimentos na educação pelo poder público, e etc. Como é possível perceber

no relato da Professora A3, ela diz que “As dificuldades maiores que encontro é a falta de

materiais adequados para a faixa etária dos alunos e a falta de tempo para preparar um melhor

planejamento”. Assim como na fala da Professora C1 que diz: “Faltam mais investimentos na

135

educação infantil, pelo poder público”. Fatores estes que estão relacionados entre si, pois tudo

isso está centrado ao descaso do poder público com a educação brasileira.

As que disseram não ter dificuldade, relacionaram ao fato de trabalharem a matemática

através do lúdico. O que fica explicito na fala da professora A2, a mesma diz: “Porque, os

conceitos matemáticos na educação infantil são trabalhados através do lúdico”. A professora

D1 também fala: “Nesta etapa não vejo grandes dificuldades no trabalho da matemática, visto

que, é desenvolvida de maneira lúdica para facilitar o aprendizado”.

Certamente trabalhar a matemática através do lúdico facilita o processo de ensino a

aprendizagem. Porém, é preciso que o educador ao escolher as atividades lúdicas tenha a noção

que estas devem visar a participação da criança e despertar sua curiosidade, para isso é preciso

que as atividades sejam planejadas e tenha objetivos a serem alcançados, pois assim estará

oferecendo experiências variadas para seus educandos, por isso é preciso valorizar o lúdico e

as brincadeiras, bem como a cultura infantil.

Diante do exposto, é possível inferir que uma parcela significativa dos sujeitos possui

ou demonstrou concepções favoráveis a respeito do desenvolvimento do raciocínio lógico

matemático. Apesar de algumas dificuldades relatadas pelos sujeitos, foi possível analisar que

os educadores trabalham com atividades que visam desenvolver o pensamento lógico das

crianças, pois, desde a educação infantil esse mecanismo pode ser estimulado pelos educadores,

para isso é preciso que o profissional esteja preparado para criar situações que façam o aluno a

pensar o porquê das coisas, onde o mesmo não fique reféns de um ensino mecânico.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do estudo realizado foi possível analisar que desenvolver o raciocínio lógico-

matemático na Educação Infantil é essencial para desenvolvimento cognitivo da criança. Pois,

neste processo o professor tem papel de mediador, haja vista, que suas práticas metodológicas

podem estimular o desenvolvimento da formação, bem como, a busca por novos

conhecimentos.

Dessa forma, o trabalho com a matemática na educação infantil precisa ser consistente,

sendo necessário conhecer a criança, as diferentes propostas pedagógicas e seus pressupostos

teóricos, bem como ter um conhecimento do conteúdo matemático a ser ensinado. Tudo isso

para que o professor ao fazer a ligação entre esses aspectos, faça a integração significativa e

assim evite desenvolver nos alunos atitudes negativas em relação a matemática.

Os resultados apresentados foram satisfatórios, pois foi possível analisar que a maioria

das professoras possuem concepções favoráveis sobre o raciocínio lógico-matemático e sua

136

importância para melhorar o ensino da matemática, visto que desenvolver o raciocínio lógico

matemático é essencial para proporcionar às crianças uma aprendizagem significativa, dando

condições para que atinjam autonomia intelectual, sendo sujeitos da ação, capazes de criar,

raciocinar, inventar e desenvolver os conhecimentos adquiridos no cotidiano escolar.

Assim, pode-se dizer que a escola tem a função de possibilitar a emancipação humana

e a transformação social por meio da transmissão de saberes historicamente sistematizados pela

humanidade. Todavia, cabe a comunidade escolar garantir que o conhecimento seja oferecido

com qualidade, a fim de que possam ser transformados em fazeres e saberes para a emancipação

intelectual do aluno que venham estimular o domínio de conteúdos que ganham significação,

tanto para o educador como para educando.

Pois, as relações sociais devem basear-se no diálogo, na troca de informações, na

negociação e no respeito ao pensamento divergente e as diferenças. Através de atividades

lúdicas o professor pode descobrir as capacidades intelectuais, motoras, habilidades e

limitações dos alunos. Dessa forma, o ensino deve ser planejado e organizado tendo como

referência o conhecimento das necessidades individuais dos alunos e as características da turma.

Contudo, este trabalho fica aberto a contribuições com objetivo de preencher possíveis

lacunas e também ideias que podem ser ampliadas para melhoria no que se refere ao tema

Raciocínio Logico-Matemático na Educação Infantil. Espera-se também que a reflexão, aqui

proposta, contribua para a formação dos acadêmicos de licenciatura em pedagogia, uma vez

que estes devem ter conhecimento acerca do ensino da matemática, bem como das metodologias

que possibilitem o pensamento crítico do aluno desde a educação infantil

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138

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E INCLUSÃO: CONCEPÇÕES E

PRÁTICAS APLICADAS A EDUCANDOS COM DEFICIÊNCIA NO

MUNICÍPIO DE MOJU/PA

MATHEMATICAL EDUCATION AND INCLUSION: CONCEPTIONS

AND PRACTICES APPLIED TO STUDENTS WITH DISABILITIES IN

THE MUNICIPALITY OF MOJU / PA

Lauro dos Reis Costa Neto

Leandro Lucas Piedade Abreu

Resumo: A presente pesquisa, a qual consiste em um estudo de caso, tem como objetivo buscar

compreender e analisar, as concepções e práticas dos profissionais atuantes na educação

especial com alunos com deficiência, durante o processo de ensino de matemática. A priori, a

exploração se sucedeu a partir do embasamento teórico e de explorações de cunho qualitativo

para subsidiar as inquirições. Além disto, detém como sujeitos participeis da investigação, 4

profissionais especializados do AEE encarregados pelo o ensino na cidade de Moju. Dessa

forma, a pesquisa se faz precisa pois mostrará as realidades no ensino de matemática por

especialistas em educação especial.

Palavras-chave: Educação matemática. Educação especial. Práticas de ensino.

140

A EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO

MUNICÍPIO DE ABAETETUBA-PA

INCLUSIVE EDUCATION IN A PUBLIC SCHOOL IN ABAETETUBA-

PA MUNICIPALITY

Agnes Emanuelle Pinheiro De Oliveira

Rosiellem Cabral Dos Passos De Almeida

Thaís Rodrigues Da Silva

Resumo: Este artigo tem como objetivo geral analisar quais as ações desenvolvidas por uma

escola pública do município de Abaetetuba-PA voltadas à educação inclusiva nas séries iniciais.

Por tanto, baseia-se nos estudos dos referenciais teóricos: MEC (2006) e ARANHA (2004), e

utilizou como método de pesquisa a revisão bibliográfica, e também uma pesquisa de campo,

tendo um questionário como instrumento de coleta de dados. Os resultados obtidos deixam

evidente que a escola em questão, mesmo ausente dos recursos necessários para a concretização

da inclusão, busca inserir os alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular,

de modo a atendê-los em suas especificidades.

Palavras-chave: Escola. Diversidade. Ações Inclusivas.

Abstract: This article is with general objective of analyzing which actions developed by a

public school in the municipality of Abaetetuba-PA focused on inclusive education in the initial

series. Therefore, it is based on the studies of theoretical frameworks: MEC (2006) and

ARANHA (2004), and used as a research method the bibliographic review, and also a field

research, having a questionnaire as instrument for data collect. The results obtained make

evident that and the school in question, even absent from the resources necessary for the

realization of inclusion, seeks to insert students with special educational needs in regular

education, so as to serve them in their specificities.

Keywords: School. Diversity. Inclusive actions.

1 INTRODUÇÃO

Hoje o número de alunos com necessidades especiais no sistema de ensino regular é

crescente, porém o direito regido por lei que prevê o acesso e a permanência desses alunos nas

escolas com esse perfil ainda não se efetivou por completo, pois muitas instituições preparadas

para receber e atender a diversidade existente na comunidade escolar encontra ainda algumas

dificuldades.

141

Nessa perspectiva, este artigo tem por objetivo analisar quais as ações desenvolvidas

por uma escola pública do município de Abaetetuba-PA voltadas à educação inclusiva nas

séries iniciais.

Diante disso, este texto encontra-se estruturado da seguinte maneira: O primeiro tópico

intitulado “Um Pouco Sobre Educação Inclusiva” fala sobre o que é a educação inclusiva na

perspectiva de Aranha 2004 e a sua importância para a sociedade; o segundo tópico, por sua

vez, denominado “As Ações Para Se Garantir a Inclusão”, aborda a importância da

flexibilização ou adequação do currículo para alunos com necessidades educacionais especiais

e a capacitação especializada de professores. Além desses tópicos, são apresentadas a

metodologia e a análise sobre a importância da inclusão em sala de aula, profissionais

capacitados, acessibilidade e recursos pedagógicos. Por fim, são expostas as considerações

finais e as referências.

2 UM POUCO SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

No período histórico da educação inclusiva no Brasil, durante os séculos XVII e XVIII,

nota-se que concepções e ações sociais de discriminação ficam evidentes proporcionando uma

imensa condição de exclusão. Esse período foi marcado pela “ignorância e rejeição do indivíduo

deficiente: a família, a escola e a sociedade em geral condenavam esse público de uma forma

extremamente preconceituosa, de modo a exclui-los do estado social” (SOUTO, 2014, p. 14).

As escolas desse período não pensavam em formas para atender a todos, tinha-se um

“modelo" de aluno e os quais não se encaixavam nesse padrão eram excluídos do ensino regular

e outros direcionados para a Educação Especial. Sendo assim, muitas crianças pobres e pessoas

com deficiência, eram excluídas do sistema escolar.

A partir disso, na Conferência Mundial sobre Educação Especial ocorrida em 1994,

em Salamanca, na Espanha, foi elaborado um documento que marcou a Educação Especial no

Brasil. Este discute a exclusão dos diferentes no ambiente escolar. E com isso, as:

escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições

físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam

incluir crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a

minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados

ou marginalizados (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994).

Dessa forma, passou-se a prezar o atendimento não só das pessoas com deficiência,

mas de todas as crianças, tendo como eixo a diversidade de indivíduos e equiparando as

oportunidades de desenvolvimento de cada um. Assim, a Educação Especial passa a ser apenas

142

um apoio ao processo inclusivo dos alunos com necessidades educacionais especiais no ensino

regular comum.

Considerando a Educação Especial como suporte à Educação Inclusiva, cabe entender

que isto “seria uma forma da escola não se isentar das responsabilidades relativas às

dificuldades de seus alunos simplesmente limitando-se a encaminhá-los para atendimentos

especializados” (PAULON, 2005, p. 20). Logo, a manutenção dos serviços especiais de apoio

e o processo de ensino-aprendizagem são fundamentais e caminham juntos para a garantia de

uma educação inclusiva.

Com isso, o processo educacional inclusivo tornou-se tema de debates, pois o termo

educação inclusiva pressupõe a organização da escola em acolher as diversas características

atendendo as necessidades dos alunos no ambiente escolar, fundamentada no ponto de vistado

diferente. Em outras palavras, a educação inclusiva toma para si o pressuposto que “toda criança

possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas”

(DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994). Portanto, é importante levar em consideração a

diversidade das características e habilidades de cada indivíduo.

As mudanças buscavam alcançar um modelo educacional que rompesse com o sistema

excludente, que ignorava as necessidades especiais dos seus alunos e não previam nenhuma

reforma na educação. Houve então a partir dessas reformas um avanço considerável ao que diz

respeito ao direito à cidadania das pessoas com deficiência, sobretudo às questões como

acessibilidade e o combate à discriminação.

A educação inclusiva é a corroboração de direitos humanos, dito de outra forma, “a

proposta inclusiva veio sinalizar as mudanças pelas quais a escola regular necessita passar para

que seja proporcionado uma educação de qualidade para todos” (SOUTO, 2014, p. 18).

Ainda sobre isso, a escola inclusiva é aquela que responde e atende as necessidades de

cada um de acordo com as suas singularidades, garantindo a qualidade de ensino educacional.

E para tornar a escola efetivamente inclusiva “há que se contar com a participação consciente

e responsável de todos os atores que permeiam o cenário educacional: gestores, professores,

familiares e membros da comunidade na qual cada aluno vive” (ARANHA, 2004, p. 8). Assim,

a gestão escolar deve garantir os direitos das crianças com necessidades educativas especiais,

junto aos professores e familiares.

A inclusão escolar de crianças que necessitam de cuidados especiais nas séries iniciais

no Brasil ainda não se efetivou por completo, pois a questão não é somente matricular a criança

143

com necessidades especiais na escola regular, mas ter a garantia de que a escola vai

proporcionar um ambiente inclusivo onde ela possa se sentir acolhida.

De acordo com Mantoan (2003, p. 31), “ao contrário do que alguns pensam, não há

inclusão quando a inserção de um aluno é condicionada à matrícula em uma escola ou classe

especial", ou seja, a política de inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na

rede regular de ensino, não significa apenas a matrícula e a permanência física desses alunos

no mesmo espaço físico que os demais educandos, mas a adequação da estrutura escolar para

atender à todas as necessidades dos alunos com alguma deficiência.

A inclusão constitui um ponto de partida para que haja uma transformação no sistema

educacional, incluindo mudanças na didática dos professores e nas técnicas de ensino utilizadas

pela escola. O foco é construir uma escola voltada à integração de todos os alunos com

necessidades educativas especiais (ANEEs), desde o nível escolar mais básico, levando em

consideração suas limitações individuais. Com isso em vista, é necessário pensar e criar

métodos pedagógicos voltados à inclusão escolar. Além disso:

muitos recursos pedagógicos podem ser utilizados no sentido de minimizar as

limitações funcionais, motoras e sensoriais desses alunos, facilitando o processo de

ensino e aprendizagem. O professor deve ser o principal idealizador desses recursos,

tendo, para isso, a máxima atenção em observar o aluno nas atividades de sala de aula,

buscando identificar a necessidade de cada um (BRASIL, 2006, p. 26).

Com isso, esses recursos são considerados necessários, tanto para identificar as

necessidades e limitações de cada aluno, quanto para poder inseri-los de maneira adequada no

convívio escolar e social. Para isso, “vários recursos pedagógicos podem ser criados ou

adaptados pelo professor, de forma a contribuir com o sucesso educacional de seus alunos.

Chamamos esses recursos de ajudas técnicas” (BRASIL, 2006, p.26).

Atividades que promovam nos ANEEs a capacitação do saber estão diretamente

ligadas às limitações de cada um deles. Sobre isso, é importante compreender essas limitações

e buscar por melhores métodos de ensino, o que varia de um ANEE para o outro. Nesse sentido,

julga-se necessário recorrer a recursos que objetivam a integração, de fato, dos ANEEs ao

modelo de escola inclusiva. Na perspectiva de Veiga:

as instituições escolares de hoje, precisam se conscientizar que inclusão das diversas

diferenças não é sinônimo de uma Educação Especial, entendendo que o modelo

tradicional não atende mais a sociedade atual, é preciso buscar caminhos para

efetivação da educação inclusiva como resposta às exclusões e que conduzam a

construção de uma escola de qualidade (2014, p. 15).

144

Partindo dessa concepção, entende-se por elementar que inserir os ANEEs em salas de

aula de ensino regular parte da perspectiva de promover as mudanças necessárias na

metodologia de ensino, para que haja a inclusão e a garantia de uma escolarização de qualidade.

Sendo assim:

superar o sistema tradicional de ensinar é um propósito que precisa ser efetivado

urgentemente. Essa superação persiste na ideia de que as escolas reconhecem e

valorizam as diferenças e possuem projetos inclusivos de educação, passando a

acolher todos aqueles que vão a sua procura, percebendo que a diversidade e a inerente

complexidade relativa a ela é o primeiro passo para a democracia (VEIGA, 2014, p.

15).

Diante de todas essas questões, necessita-se conhecer quais os métodos pedagógicos

de ensino seriam os mais eficazes para promover a inclusão dos ANEEs. Dentre eles, estão:

ações| atividades| comportamentos| formasde se organizar e acionar a movimentação

da construção do saber, do processo de aprendizado. Eles são articulados e

organizados em função dos princípios de educação e das finalidades estabelecidos

pela articulação de necessidades| possibilidades| contexto temporal, espacial,

cognitivo, afetivo, cultural, social, político, vivido pelos sujeitos envolvidos

(AMARO, 2009, p. 49).

Nesse sentido, pode-se dizer que os métodos pedagógicos de ensino estão em ligação

direta com o papel do professor de realizar e promover práticas em que haja a participação de

todos os alunos; atividades essas que exigem da capacidade do docente de criar, inovar e pensar

novos meios educativos inclusivos.

Outra barreira que precisa ser quebrada com relação às limitações do ensino tradicional

é querer somente a transmissão de conhecimentos. O professor sozinho ao assumir uma turma

com crianças com e sem deficiência, muitas vezes acaba por não atingir seu objetivo em educá-

las, levando em conta que ensinar crianças não é uma tarefa fácil. Faz-se necessário ir além da

maneira tradicional de ensinar, onde o professor passa a tarefa na lousa e espera por respostas

de seus alunos, e permitir que através de tarefas práticas e objetivas as crianças cooperem entre

si no aprendizado.

Criar no aluno um senso de cooperação para com seus colegas de classe que possuem

limitações cognitivas ou físicas é o caminho ideal para fazê-los compreender as diferenças e

reconhecer que cada um possui suas competências. Além da relação entre os alunos, a relação

com o professor é de fundamental importância, pois é o professor o facilitador do aprendizado,

o qual vai abrir caminhos para que o ANEE consiga compreender o conteúdo ensinado e se

relacionar melhor com as outras crianças.

Como parceiros aliados, aluno e professor, na relação dialógica de construção do

saber, na medida em que identificam e reconhecemos limites e a amplitude do

conhecimento poderão se utilizar de uma outra função da avaliação, que é a de auxiliar

145

na aprendizagem. Entender o modo de aprender do educando, sua capacidade de

raciocinar, de criar histórias, de “ler a vida", possibilitará a descoberta de uma

motivação para obter resultados mais satisfatórios facilitando o aprofundamento da

aprendizagem (BRASIL, 2006, p. 31).

Para que se avance na inclusão dos ANEEs dentro da sala de aula, se faz necessário

garantir o apoio do professor, dos colegas, da utilização dos métodos necessários ao

aprendizado, como ressalta Brasil (2006, p. 27), “todo e qualquer recurso que venha a beneficiar

o aluno, pode ser utilizado, desde que sejam respeitados seus desejos, a dinâmica do ambiente

e a necessidade especial do aluno".

Diante do exposto, se constata que é possível haver a inclusão no ensino regular desde

que haja por parte da escola a preocupação em buscar por profissionais qualificados para

atender às especificidades dos ANEEs, garantindo desta forma uma educação inclusiva de

qualidade.

Nesse sentido, é fundamental que o professor conheça o seu aluno, conheça as suas

dificuldades e as suas limitações para poder fazer adaptações curriculares que atendam as suas

condições físicas e o seu ritmo de aprendizado. Na visão de Leite; Martins (2012, p. 96) “ao ser

considerado como a possibilidade de ensino a todos, a organização de um currículo deve levar

em conta as necessidades individuais dos alunos", ou seja, as adequações curriculares

favorecem a todos os alunos, pois possibilita a participação total e o atendimento às

necessidades educacionais especiais. Portanto, a utilização de recursos adaptados para facilitar

a aquisição de conhecimentos de crianças com necessidades especiais contribui eminentemente

a inserção desse público à escola regular.

Cabe salientar ainda que os alunos com deficiência precisam de professores

comprometidos, que assumam essa responsabilidade com a educação e com a inclusão, e se

coloquem à disposição para aprender a caminhar, a acertar e a contribuir para o processo de

inclusão. É preciso que ele esteja aberto às infinitas possibilidades de mudanças, assegurando

e promovendo uma educação de qualidade para todos.

3 METODOLOGIA E ANÁLISE DOS DADOS

Objetivando analisar quais as ações desenvolvidas por uma escola pública do

município de Abaetetuba-PA voltadas à educação inclusiva nas séries iniciais, realizou-se uma

pesquisa por meio de um questionário com perguntas abertas. Este instrumento de coleta de

dados foi escolhido por permitir ao sujeito a possibilidade de responder às perguntas de forma

146

espontânea, levando em consideração suas opiniões próprias e seus conhecimentos sobre o

assunto em questão.

Para Marconi e Lakatos (2003, p. 204), perguntas abertas “também chamadas livres

ou não limitadas, são as que permitem ao informante responder livremente, usando linguagem

própria, e emitir opiniões”. Nesse sentido, a utilização do questionário buscou coletar

informações necessárias por meio das respostas livres do informante.

Considerando isso questionou-se à coordenadora pedagógica de uma escola pública,

tomada como sujeito nesta pesquisa, sobre a relevância da inclusão em sala de aula,

acessibilidade, profissionais capacitados e recursos pedagógicos. A partir desta inquietação

com respeito à inclusão no ensino regular, visitou-se uma escola pública municipal localizada

na cidade de Abaetetuba-PA.

Inicialmente questionou-se se a escola acolhe os alunos com necessidades especiais e

qual o perfil dos alunos matriculados. Em resposta a isto, o sujeito respondeu que “Sim. Em

2018 temos 05 alunos, sendo 02 (deficiência física) e 03 autistas, sendo 01 (autista com altas

habilidades)”.

Diante disso, compreende-se a importância da inclusão no ensino regular e o papel

ativo da escola em garantir o acesso desses alunos à uma educação de qualidade. Nessa

perspectiva, o Brasil (2006, p. 25) ressalta que “a educação inclusiva é um processo gradativo

que permite aos sistemas de ensino se adequarem à nova realidade educacional, construindo

práticas institucionais e pedagógicas que garantam qualidade de ensino a todos os alunos".

No que se refere ao atendimento oferecido pela escola em questão, nota-se o quão

importante é que o sistema educacional regular ofereça aos alunos com necessidades especiais

próprias, como exemplo a deficiência física, um atendimento especializado e um espaço

adaptado para atender às necessidades desses alunos. Com respeito a isso, o Brasil declara:

Tratando-se de inclusão escolar de pessoas com deficiência física é necessário

promover adequações no ambiente escolar e no currículo, considerando as diferenças

ocasionadas pelas condições físicas [...]. O importante é que as adaptações necessárias

sejam providenciadas de acordo com as necessidades dos alunos e que sejam

removidos os obstáculos que impedem a sua inclusão (BRASIL, 2006, p. 10).

Desse modo, avalia-se como essencial que o espaço escolar ofereça o acesso desses

alunos ao ensino regular, buscando a partir da acessibilidade e de recursos pedagógicos

eficazes, uma inclusão eficiente, visando os direitos de todos a uma educação igualitária.

Posteriormente foi questionado se a escola conta com o apoio de profissionais

especializados para realizar o atendimento adequado aos alunos com necessidades especiais, ao

147

que foi respondido: “a Secretaria Municipal de Educação disponibiliza professor cuidador para

acompanhar os alunos autistas e um profissional de apoio para as demais deficiências”.

Com base na resposta, é evidente a importância da escola poder contar com o apoio de

profissionais qualificados ao ato de educar, transpondo as barreiras impostas pelas diferenças e

limitações. O professor, como facilitador do aprendizado é quem vai permitir aos alunos com

necessidades especiais, sejam elas físicas ou de aspectos cognitivos, a construir o saber sempre

na tentativa de romper com as dificuldades encontradas. A respeito disso Brasil (2006) enfatiza

que “alguns alunos requerem acompanhamento de professor e/ou monitor dentro da sala de

aula. São os alunos mais comprometidos fisicamente e que necessitam do apoio de um outro

profissional para cumprir as tarefas e acompanhar as aulas” (BRASIL, 2006, p. 27).

O professor capacitado a trabalhar com as diferenças é a ponte que faz com que o aluno

com necessidades especiais possa permanecer no ensino regular recebendo a mesma educação

que os demais estudantes. Sob essa perspectiva,

fica claro que para garantir o cumprimento à educação como direito no ensino regular

exigirá adequações nos espaços físicos, nos procedimentos didáticos, na avaliação, na

organização da escola regular. Exigirá, ainda que os profissionais na área educacional

busquem conhecimento dos princípios teóricos e metodológicos com a modalidade do

Ensino Especial, através da capacitação e formação continuada, responsabilidade

primeira dos gestores públicos e privados (VEIGA, 2014, p. 20).

Visando que a educação é um direito de todos e amparada por lei, é de responsabilidade

da escola possuir em seu quadro de profissionais o apoio de professores/cuidadores para o

auxílio de seus alunos com limitações, em busca de garantir o ingresso e permanência destes

no ensino regular.

Indagada sobre quais as ações desenvolvidas pela escola para garantir a inclusão

efetiva desses alunos, o sujeito respondeu que “Os alunos são incluídos em todas as atividades

desenvolvidas na escola e os professores realizam as adaptações necessárias para o atendimento

de suas necessidades, como: adaptações curriculares e de recursos”.

Diante desta resposta, pode-se inferir que a escola desempenha algumas ações para a

promoção da inclusão, como a adaptação curricular e de recursos, uma ação muito importante

para que haja inclusão, pois, como relatado no questionário, os alunos que necessitam de

cuidados especiais participam de todas as atividades desenvolvidas na escola, mas adaptadas

de acordo com suas especificidades, permitindo a participação destes nas aulas.

Segundo a Declaração de Salamanca, “o currículo deveria ser adaptado às

necessidades das crianças, e não vice-versa. Escolas deveriam, portanto, prover oportunidades

curriculares que sejam apropriadas a crianças com habilidades e interesses diferentes (1994)”.

148

Isto é, a adequação do currículo é uma ação que integra e respeita os diferentes níveis

de conhecimento. No entanto, isto não é suficiente para efetivar a inclusão nas escolas, é preciso

bem mais, como por exemplo, a promoção da acessibilidade, a capacitação especializada de

professores entre outros.

Quando questionada acerca das ações do coordenador pedagógico voltadas à educação

inclusiva, o sujeito afirmou “orientação e acompanhamento a professores, alunos, familiares e

demais profissionais”.

A partir da fala do sujeito, constata-se que a atuação do coordenador pedagógico é

muito importante em relação ao encaminhamento de políticas educacionais inclusivas, pois, ele

junto a toda a equipe escolar planeja e executa ações que promovem a educação inclusiva, além

disso, o coordenador tem um papel fundamental na integração dos profissionais da educação.

De acordo com Bello; Penna (2017, p.77) “educador pedagógico é responsável pela

integração entre os vários agentes que participam da escola: equipe gestora, professores,

comunidade”. Nesse sentido, cabe ao coordenador gerar espaços para o diálogo e a reflexão

compartilhada de saberes, visto que, através da troca de experiências e do trabalho coletivo

consegue-se proporcionar uma educação de qualidade para todos.

Além disso, é possível evidenciar que o orientador quando constata que um aluno está

com alguma dificuldade de aprendizado, intervém imediatamente procurando desenvolver

ações que favoreçam a aprendizagem. Isso vale também para os professores, familiares e

demais profissionais, onde o coordenador tem a responsabilidade de orientá-los sobre as

dúvidas que surgem em relação à inclusão, proporcionando esclarecimentos acerca do assunto.

Ademais, questionou-se qual a participação familiar nas atividades realizadas pela

escola voltadas para a educação inclusiva, e em resposta a esta indagação o sujeito afirmou que:

“as famílias participam normalmente das atividades desenvolvidas pela escola e não só das

voltadas para a temática da inclusão. Nos esforçamos para inclui-los em todas as atividades

respeitando suas limitações”. Assim, entende-se que a escola tem o apoio e conta com a

participação da família, pois, há a colaboração de todos os pais nas atividades desenvolvidas

pela instituição.

Logo, a formação de uma criança por ser muito importante, não pode ser deixada na

responsabilidade apenas da escola ou da família, mas de ambas, pois são estes os principais

pontos de apoio ao indivíduo. Com isso, a relação dos familiares é necessária para que haja,

“reflexão, organização de ações e participação de todos – professores, funcionários, pais e

alunos, num processo coletivo de construção” (ARANHA, 2004, p. 9). Não cabe unicamente à

149

escola participar, exige-se uma organização participativa, podendo ser melhorada

constantemente.

De acordo com a Declaração de Salamanca (1994) todos os governos são demandados

e congregados para que eles “encorajem e facilitem a participação dos pais, comunidades e

organizações de pessoas portadoras de deficiências nos processos de planejamento e tomadas

de decisões concernentes à provisão de serviços para necessidades educacionais especiais”.

Então, os pais são fundamentais para a educação partilhada, podendo sugerir propostas

que possam complementar o ensino dos seus filhos, sendo a educação um dever do estado com

participação da família.

Por fim, indagou-se quais seriam os desafios encontrados pela escola para garantir uma

inclusão efetiva, e o sujeito respondeu ao questionário da seguinte forma: “- Formação dos

professores e aprofundamento nas diversas deficiências; - Falta de profissionais comformação

específica; - Falta de recursos que possibilite a acessibilidade (tecnologia assistiva) e outros”.

Diante do exposto, a falta de preparo dos educadores para lidar com o diferente, está

em evidência. E para melhoria, a formação do professor deve ser um processo contínuo que

perpassa sua prática com os alunos.

“O treinamento de professores especiais necessita ser reconsiderado com a intenção

de se lhes habilitar a trabalhar em ambientes diferentes e de assumir um papel-chave em

programas de educação especial" (SALAMANCA, 1994). A formação de todos os docentes

deve ser um procedimento contínuo, pois, estabelece uma causa importante na melhoria no

sentido da instalação de escolas inclusivas.

Ainda mais, sabe-se que o ambiente escolar não está adequado para responder à todas

as particularidades. No entanto, “a escola deve oferecer espaço físico adaptado para a realização

das atividades escolares, com total acessibilidade, seguindo as normas da ABNT n° 9050 e os

Subsídios para Elaboração de Projetos e Adequações de Edificações Escolares do

FUNDESCOLA. (BRASIL, 2006)”.

Para que sejam garantidos o acesso e a permanência do educando na instituição. Cabe

lembrar que, “a proposta de inclusão, propõe que os sistemas educacionais passem a ser

responsáveis por criar condições de promover uma educação de qualidade para todos e fazer

adequações que atendam às necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiência

(BRASIL, 2006)”.

Houve por parte do informante uma contradição ao responder às perguntas ao afirmar

que a escola conta com os recursos necessários para o atendimento de seus alunos e

150

posteriormente declarar não haver na instituição profissionais com formação específica e nem

os recursos adaptados para efetivar a integração dos alunos com necessidades especiais.

Diante disso, infere-se que a escola apesar de acolher estes alunos no ensino regular,

não conta com todos os recursos, necessários que efetivem a inclusão escolar.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão escolar é atualmente uma realidade reconhecida como direito do outro,

pobres e pessoas com deficiência, quebrando barreiras impostas pelo preconceito, e, por

conseguinte, restabelecer as relações interpessoais. Assim, percebe-se a importância da escola

diante da criação de métodos inclusivos que têm como prioridade o alcance de uma sociedade

democrática através do direito igualitário de todos à uma educação de qualidade.

A partir dessa perspectiva, objetivando analisar quais as ações desenvolvidas por uma

escola pública do município de Abaetetuba-PA voltadas à educação inclusiva nas séries iniciais,

foi possível verificar que a inclusão na escola em questão, apesar das diversas barreiras

encontradas para efetivá-la, é uma realidade em construção, pois mesmo diante da ausência dos

recursos necessários para a concretização da inclusão, como a falta de materiais didáticos

adaptados, permite ao acolher os alunos com deficiências cognitivas e físicas se adequarem às

condições apresentadas por esse público.

Isso possibilita a compreensão sobre a necessidade das políticas públicas de se

voltarem à inclusão escolar sob um novo olhar, proporcionando à escola a formação continuada

de seu corpo docente, a revisão de seu currículo e adequação da escola, a fim de garantir aos

alunos com necessidades especiais uma educação inclusiva eficiente.

O futuro da escola inclusiva depende de uma expansão rápida dessas ações somada ao

compromisso de toda a sociedade, e um estado democrático afinado com a proposta de uma

sociedade mais justa e igualitária, precisa combater a exclusão. A reflexão e a discussão sobre

os direitos humanos e a desigualdade têm criado políticas educacionais que respondem a está

questão, e com isso contribuindo para práticas que valorizam a riqueza cultural.

Para tanto, a inclusão é um processo contínuo e que requer mudanças na organização

escolar, necessita que se oportunize um ensino de qualidade que atenda às especificidades de

cada um e que ofereça um ambiente livre da discriminação e do preconceito.

151

REFERÊNCIAS

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contínua de educadores em serviço para a construção de práticas inclusiva. 2009. 257.

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Necessidades Especiais. Brasília-DF: Universidade de Brasil.

152

A MÚSICA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO E

APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

THE MUSIC AS A PEDAGOGICAL TOOL IN THE PROCESS OF TEACHING AND

LEARNING IN CHILD EDUCATION

Alessandra de Sousa Ribeiro

Daniele da Silva Costa

Resumo: A música exerce um papel relevante e de grande influência na vida do ser humano.

Nessa perspectiva, a pesquisa em questão surgiu a partir da problemática de como a música

pode contribuir no processo de ensino e aprendizagem na educação infantil? Esse trabalho

segue com um levantamento bibliográfico e uma pesquisa de campo partindo da relação da

música como ferramenta pedagógica para a educação infantil, debatendo acerca da relação da

mesma no processo de ensino e aprendizagem da criança, analisando a concepção de duas

profissionais atuantes na área da educação infantil, os quais foram questionados. O lócus

escolhido foi a Escola municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental “Professora Dilza

da Cunha Gordo”, localizada no município de Moju-PA, com a finalidade de selecionar

profissionais do campo da educação infantil a fim de coletar dados para esta pesquisa.

Palavras-chave: Música. Desenvolvimento. Ensino. Aprendizagem.

ABSTRACT: Music plays a relevant and influential role in the life of the human being. From

this perspective, the research in question arose from the problematic of how music can

contribute in the process of teaching and learning in early childhood education? This work

follows with a bibliographical survey and a field research starting from the relation of the music

as a pedagogical tool for the infantile education, debating about the relation of the same in the

process of teaching and learning of the child, analyzing the conception of two professionals

working in the area of the education, which were questioned. The chosen locus was the

Municipal School of Early Childhood Education and Elementary Education "Professora Dilza

da Cunha Gordo", located in the municipality of Moju-PA, with the purpose of selecting

professionals from the field of early childhood education in order to collect data for this

research.

Keywords: Music. Development. Teaching. Learning.

1 INTRODUÇÃO

A música está presente no cotidiano do ser humano em diversos espaços, como por

exemplo, em casa, na rua, em locais públicos, no aparelho celular, bem como na escola. Como

um instrumento facilitador do processo de ensino e aprendizagem, exercendo sua contribuição

ao longo da vida escolar, é um meio a ser utilizado em sala, uma forma lúdica que favorece o

desenvolvimento da criatividade, sensibilidade e integração.

153

A presente pesquisa tem como problemática como a música pode contribuir no

processo de ensino e aprendizagem na educação infantil? E tem por objetivo analisar como a

música pode contribuir no processo de aprendizagem da criança, buscando constatar sua

importância e seus benefícios em sala de aula. A música, como ferramenta pedagógica, no

processo de ensino e aprendizagem na educação infantil vem sendo objeto de estudo de muitos

teóricos, que discutem a forma que a mesma pode contribuir para o ensino e aprendizagem das

crianças.

Por essa ótica, a pesquisa terá enfoque no materialismo histórico dialético, com o

intuito de analisar a música como ferramenta pedagógica no processo de ensino e aprendizagem

em sala de aula, apresentar a mesma como elemento contribuinte para o desenvolvimento da

inteligência e integração da criança, se dará por meio do método qualitativo, possibilitando

coletar e analisar informações sobre o assunto abordado.

O trabalho organiza-se da seguinte maneira: no primeiro tópico, destacam-se as

primeiras discussões, em seguida ressalta-se a abordagem metodológica do trabalho em

questão, posteriormente os desafios enfrentados para realização da pesquisa, seguido do tópico

contextualizando o lócus da pesquisa, assim como corroborando acerca das contribuições da

pesquisa de campo para os estudos sobre a música como ferramenta pedagógica no processo de

ensino e aprendizagem na educação infantil.

No segundo tópico será apresentada A infância em evidencia: aspectos históricos,

legislativo e desenvolvimento da criança bem como, dando ênfase sobre Educação infantil no

contexto brasileiro, expondo um pouco do histórico da infância da criança, discorrendo acerca

da Legislação Brasileira: a infância em destaque, onde expõe as leis que a amparam, seguindo

com a Aprendizagem e desenvolvimento infantil sob o olhar de Jean Piaget, corroborando

acerca do desenvolvimento da criança, e, por conseguinte, externando sobre o lúdico na

educação infantil.

A pesquisa seguirá discorrendo, no eixo seguinte, A contribuição da música na

construção do conhecimento na educação infantil, buscando externar quais as contribuições que

esta pode proporcionar para os educandos nessa fase, trazendo como ponto de partida A música

na educação infantil, aclarando seus benefícios ao âmbito educacional, enfatizando A música

como proposta didática- pedagógica na aprendizagem, exibindo a mesma como uma opção

dessa didática, bem como, O desafio do educador frente à musicalização na educação infantil.

Posteriormente, destaca-se a pesquisa de campo e suas análises sobre o discernimento

de professores (a) da educação infantil e as contribuições benéficas da música no processo de

154

ensino/aprendizagem, visando à necessidade de envolver a música no cotidiano escolar.

Ressaltando que a mesma é destinada a extrair dados e informações diretamente da realidade,

através de técnicas, como por exemplo, a entrevista. Dessa forma, a conclusão do trabalho

compõe-se de reflexões acerca da pesquisa e do tema abordado.

2 PRIMEIRAS DISCUSSÕES

2.1 A abordagem metodológica

A presente pesquisa se dar a partir de uma abordagem no materialismo histórico

dialético. A mesma é de natureza exploratória, pois, envolve levantamento bibliográfico e

entrevista com professoras que possuem experiências com o problema pesquisado. Nesse

sentido, Gadotti pontua que o método do materialismo dialético se trata de:

O materialismo dialético não considera a matéria e o pensamento como princípios

isolados, sem ligações, mas com aspectos de uma mesma natureza que é indivisível e

que “se exprime sob duas formas diferentes: uma material e outra ideal; a vida social,

una e indivisível, também se exprime sob duas formas diferentes, uma material e outra

ideal; eis como devemos considerar o desenvolvimento da natureza e da vida social”.

O materialismo dialético considera a forma das ideias tão concreta quanto a forma da

natureza (GADOTTI. 1990, p.22).

Desse modo, a pesquisa de campo realizada auxiliou e enriqueceu oestudo científico.

A mesma foi executada com duas professoras atuantes na educação infantil, com o intuito de

expor detalhadamente a música como ferramenta pedagógica no âmbito escolar. Neste

contexto, o lócus escolhido para a pesquisa foi a Escola Municipal de Educação Infantil e

Ensino Fundamental “Professora Dilza da Cunha Gordo”, localizada no município de Moju-Pa.

A pesquisa em questão assume uma abordagem qualitativa, está por sua vez, é diferente dos

métodos e técnicas de uma pesquisa experimental, por exemplo, pois, permite que

o pesquisador seja parte integrante do processo e possa compreender os fenômenos.

Nesse viés, para prosseguir este estudo, seguimos duas etapas. Realizamos

primeiramente um levantamento bibliográfico e, por conseguinte uma pesquisa de campo.

Nesse sentido, Marconi e Lakatos pontuam que “Pesquisa de campo é aquela utilizada com o

objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se

procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos

fenômenos ou as relações entre eles (2007, p. 188)”.

Por fim, após a realização da entrevista, passou-se a análise dos dados. A mesma foi

feita utilizando o método de análise e interpretação, relacionando com o aporte teórico desse

trabalho. “Uma vez manipulados os dados e obtidos os resultados, o passo seguinte é a análise

155

e interpretação dos mesmos, constituindo-se ambas no núcleo central da pesquisa”

(MARCONI; LAKATOS, 2007, p. 167).

2.1.2 Os desafios enfrentados pela pesquisa

Inicialmente, ao optar por realizar esta pesquisa de campo em torno da relação da

música como ferramenta pedagógica no âmbito escolar, buscamos demostrar sua importância e

seus benefícios em sala de aula no que compete a fase da educação infantil. Foi necessário a

busca de outros meios como sites e bibliotecas para agregar materiais para a elaboração do

trabalho.

Para a pesquisa de campo, enfrentamos muitas dificuldades, desde a escola escolhida

para a mesma, até a entrevista com as professoras. Dentre as dificuldades, uma delas foi o

deslocamento até a escola, campo de pesquisa, uma vez que, ela está localizada no município

de Moju-PA e moramos no município vizinho, denominado Abaetetuba-Pa. Entretanto, em

meio às dificuldades e obstáculos a mesma foi realizada com êxito, e coletamos as informações

necessárias.

2.1.3 Contextualizando o lócus da pesquisa

Para esta pesquisa de campo foram analisadas algumas escolas, e dentre estas

selecionamos a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental “Professora Dilza

da Cunha Gordo” localizada na travessa Umarizal, s/nº Bairro Paraíso, situada no município de

Moju-Pa. A mesma foi fundada em 11 de agosto de 2001, atendendo somente a Educação

Infantil (pré-escola), a partir de 2006 passou a atender não somente a Educação Infantil como

também a 1ª série do Ensino Fundamental de 9 anos. Então a partir de 2011 a escola recebeu

alunos com deficiência, em 2016 iniciou atender alunos do maternal II (creche). Devido a

grande demanda para crianças de 03 anos no corrente ano, houve a necessidade de criar mais

quatros turmas de maternal e extinguir com as turmas do 1º e 2ª ano do ensino fundamental

ficando somente com educação infantil. Relacionado aos educandos, a mesma atende 270

alunos.

3 AS CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA DE CAMPO PARA OS ESTUDOS SOBRE A

MÚSICA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO E

APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Partindo dessas ideias inicias, relacionado à pesquisa de campo, que tem a finalidade

de observar fatos e fenômenos, da forma que ocorrem na realidade, bem como coletar dado

156

acerca dos elementos observados, analisá-los e interpretá-los baseado em fundamentação

teórica, esta por sua vez contribuiu significativamente para este trabalho.

Uma vez que para realiza-la foi necessário nos deslocarmos até o local escolhidopara

a pesquisa, e esse momento de coleta de informações, bem como o contato com os

entrevistados, foi bastante enriquecedor tanto para a nossa formação profissional quanto para a

pesquisa em questão. As informações coletadas e os conhecimentos adquiridos acerca do tema

em questão, revelam o quão esse recurso é indispensável na sala de aula aliado a prática docente.

3.1 A infância em evidencia: aspectos históricos, legislação e desenvolvimento da criança

3.1.1 Educação infantil no contexto brasileiro

Pensar a história da Educação Infantil faz-se necessário identificar a existência ou não

de políticas públicas, voltado para a atenção, cuidado e educação da criança de zero a seis anos,

desde o descobrimento do Brasil até os dias atuais, sendo esta política configurada como direito

da criança nas diversas leis que regem nosso país, como: Constituição Federal, Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB), Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), entre

outras.

No passado havia a ausência de uma concepção de infância que assegurasse às crianças

o direito de serem efetivamente crianças, vivendo em companhia de suas famílias e tendo acesso

à alimentação, moradia digna, saúde e educação. A trajetória da criança no Brasil é marcada

por muitas privações e dificuldades. Nessa tessitura, distinguem-se diversos problemas

enfrentados por elas, tais como, maus tratos, crianças sem teto, abusos sexuais, mortalidade

infantil, miséria, sem estrutura familiar, escrava do trabalho, isso tudo sendo causado por

diversos fatores, mas principalmente por negligência do Estado, da família e da sociedade em

geral. De acordo com Niehues e Costa:

Até o século XII não havia uma concepção de infância, os estudos mostram que este

período da vida ficou encoberto. Até mesmo, as representações gráficas relacionadas

à iconografia que ilustrava as crianças, com suas particularidades, não eram

conhecidas. (NIEHUES; COSTA, 2012, p.284).

No passado, por volta do século XII, as crianças eram representadas como adultos em

miniaturas, pois quando as crianças começavam a não depender mais da mãe, ela era inserida

no meio dos adultos, vestindo as mesmas roupas e exposta aos mesmos costumes, sem diferença

alguma. O tratamento era igual entre crianças e adultos, ela não tinha seu mundo próprio,

cuidados, carinho, nesse período não possuía um sentimento, um afeto pela infância.

Dessa forma percebe-se que as crianças antigamente, não tiveram a fase de brincar,

estudar, divertir-se, como acontece na sociedade atual, ou seja, elas não experimentaram o

período da infância. A educação escolar nesse período para elas nada mais era que a de aprender

157

as mesmas práticas ou técnicas que eram repassados para os adultos. Dessa forma, Henick e

Faria elucidam que:

A educação escolar era apenas de técnicas, de aprender o como fazer, assim, a criança

tinha sua formação em meio aos adultos, realizando as mesmas tarefas que eles,

carregando as mesmas quantidades que eles, sem diferenciação alguma. Nesse tempo,

não se sentia a necessidade de escola, da educação formal, do ensino pela ciência,

como temos hoje nas instituições de ensino. (HENICK; FARIA. 2015, p.25826)

Hoje as famílias vêm mostrando maior preocupação em relação à vida escolar de seus

filhos, assegurando a elas todos os direitos necessários, bem como, espaço para brincar, divertir-

se, contato com outras crianças de sua idade dentre outras particularidades. Ela passou a ser

reconhecida como um indivíduo social. Como aponta a LDB: no seu art. 6, expõe que é dever

dos pais ou responsável da criança realizar sua matrícula na educação básica a partir dos 4 anos.

Portanto, observamos que nessa trajetória histórica a educação infantil da antiguidade

aos dias atuais sofreu mudanças significativas. Uma vez que antes as crianças não tinham essa

concepção de infância, pois eram tratadas como adultos, não tinham o privilégio de brincar, de

ir para escola. E hoje, já possuem essa oportunidade de interagir com outras crianças, de

divertir-se, frequentar a escola, de estar inserida na sociedade. Foram mudanças primordiais

que contribuíram bastante para que a criança tivesse seu espaço na sociedade, bem como

colabora para seu desenvolvimento.

3.1.2 Legislação brasileira: a infância em destaque

A Legislação Brasileira busca enfatizar e garantir os direitos, os deveres e as

obrigações de cada segmento que estruturam a sociedade para com a infância e seu universo no

contexto político, educacional e social. Destaca-se, portanto, Leis, Diretrizes e Referenciais que

norteiam e destacam o âmbito infantil na sociedade, como o Estatuto da Criança e Adolescente

(ECA, 1990), a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB,

1996), o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998) e as

Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (DCNEI, 2009). Tais regulamentos legais

estabelecem e garantem a cidadania de toda criança, provendo-as de direitos e deveres em

convivência no âmbito social.

Fruto da luta de movimentos sociais, profissionais e de pessoas preocupadas com as

condições e os direitos infanto-juvenis no Brasil, foi criado o Estatuto da Criança e Adolescente

(ECA) promulgado no ano de 1990, pela Lei n. 8.069 em cumprimento constitucional no Art.1º

diz que: “Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente” (BRASIL, 2008,

p. 13). Assim, o ECA compõe-se de um conjunto de normas jurídico-legais e representa não

somente um salto qualitativo no sentido de garantir e zelar o cumprimento e a proteção dos

158

direitos da infância, mas também normatiza instituições que desempenham um trabalho

preventivo e educacional. Ademais:

[...] esse estatuto reconhece a criança na infância e o adolescente na adolescência

como pessoa de direito a gozarem de todos os demais direitos fundamentais a pessoa

humana: direito à vida, à saúde, à alimentação, ao esporte, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e a conivência familiar e

comunidade (BRASIL, 2008, p. 14).

O Brasil sempre apresentou um contexto político-social histórico, pautado em lutas,

movimentos envolvendo a realidade social brasileira vivenciada por todos os cidadãos, logo, a

própria Constituição Federal de 1988, também, foi fruto desses movimentos políticos e sociais.

Enfatiza-se então que, a Constituição Federal de 1998 foi a primeira constituição brasileira que

declarou cidadania às crianças e as doutrinou como sujeito de direitos, legalizando e definindo

que os pais, a sociedade e o poder público têm que respeitar e garantir os direitos das crianças

previstos no artigo 227 que diz:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,

com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,

à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência

familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência,

discriminação, exploração, violência e opressão.

Compondo este cenário de direito característico de uma sociedade democrática, por

meio das políticas educacionais, em 20 de Dezembro de 1996 foi sancionada a Lei de Diretrizes

Bases para a Educação (LDB), a qual definiu e regularizou o sistema de educação brasileiro

considerando a concepção de criança assegurada nos princípios da Constituição Federal,

garantindo o direito ao ingresso escolar com propostas voltadas especificamente a cada faixa

etária reconhecendo e respeitando às particularidades da criança.

3.1.3 Aprendizagem e desenvolvimento infantil sob o olhar de Jean Piaget

Compreender as etapas do desenvolvimento humano e como ele acontece em cada fase

é primordial para entendermos o processo de ensino e aprendizagem dos indivíduos, bem como

proporcionar a ascensão do conhecimento de forma global. Sabe-se que a aprendizagem na

perspectiva de Jean Piaget, ocorre por meio de estímulos advindos do ambiente externo e está

presente durante as etapas do desenvolvimento de cada um, por isso, faz-se necessário conhecer

e entender como o conhecimento vai se constituindo ao longo da vida.

Um autor de destaque e de grande relevância aos estudos sobre o desenvolvimento

humano, sobretudo infantil, foi o biólogo e psicólogo Jean Piaget, o qual apresenta perspectivas

construtivistas importantes do desenvolvimento ligado a uma linha contínua da evolução, em

159

que o ser humano caminha ao longo de todo o ciclo vital. Piaget em sua teoria mostra que o

desenvolvimento cognitivo segue etapas, o que é chamado de estágios ou períodos, onde se

caracteriza a partir de uma cronologia, a mesma é variável, e depende do meio das experiências

precedentes do indivíduo.

Cada estágio é caracterizado pela aparição de estruturas originais, cuja construção o

distingue dos estágios anteriores. O essencial dessas construções sucessivas

permanece no decorrer dos estágios ulteriores, como subestruturas, sobre as quais se

edificam as novas características. Segue-se que, no adulto, cada um dos estágios

passados corresponde a um nível mais ou menos elementar ou elevado da hierarquia

das condutas. Mas a cada estágio correspondem também características momentâneas

e secundárias, que são modificadas pelo desenvolvimento ulterior, em função da

necessidade de melhor organização. Cada estágio constitui então, pelas estruturas que

o definem, uma forma particular de equilíbrio, efetuando-se a evolução mental no

sentido de uma equilibração sempre mais completa. (PIAGET, 2001, p.15)

Os estágios ou períodos de desenvolvimento marcam o surgimento das estruturas

mentais da criança. São eles: período sensório motor; período pré-operacional; período das

operações concretas; período das operações formais. A interação entre desenvolvimento e

aprendizagem se dá em um contexto cultural, com aparato biológico básico, o indivíduo se

desenvolve movido por mecanismos de aprendizagem provocados por mediadores externos, o

que influencia na sua conduta individual, emocional, cognitiva e social.

3.1.4 O lúdico na educação infantil

A atividade lúdica se configura como uma atividade de entretenimento, que se dá de

forma prazerosa e divertida para as pessoas envolvidas com a mesma. Menezes e santos

ressaltam: “O lúdico também se origina na capacidade simbólica, na qual as imagens são

consideradas fundamentais para instrumentalizar a criança, visando a construção do

conhecimento e sua socialização.” (MENEZES; SANTOS, 2001, p.1). Ou seja, o aspecto lúdico

se origina em diversas vertentes e formas.

Por essa ótica, nota-se a importância do lúdico na educação infantil, através de jogos,

brinquedos e brincadeiras proporcionando tanto o desenvolvimento quanto a preservação de

sua própria cultura. Nesse sentido, Kishimoto faz algumas ponderações a respeito do brinquedo,

relatando que “O brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto criador do

objeto lúdico.” (KISHIMOTO, 1994, p.109).

Partindo dessas premissas, ao relacionar a música com o lúdico, temos o brinquedo

cantado. Ao unir a música com atividades envolvendo o corpo pode proporcionar para as

crianças uma série de benefícios atingindo em diferentes áreas do desenvolvimento humano

cognitivo, social e físico. Nesse sentido, Zoboli, Furtuoso e Telles corroboram que “quando

160

canto e dança unem-se, oferecem elementos imprescindíveis ao educador escolar” (ZOBOLI;

FURTUOSO; TELLES, 2011, p.1).

Infere-se, portanto, o quão a ludicidade se torna importante, se aliada à prática docente

em prol da facilitação do processo de ensino e aprendizagem para as crianças na educação

infantil. Ao analisar a letra de brinquedos cantados podemos observar que as mesmas

desenvolvem diversas habilidades como: motricidade, ritmo, equilíbrio, direcionalidade,

lateralidade, percepção, dentre outros. No ponto cognitivo as letras e coreografias são capazes

de desenvolver a atenção, imaginação e a criatividade.

4 A CONTRIBUIÇÃO DA MÚSICA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

4.1 A música na educação infantil

Buscando fazer a relação entre estudos teóricos e as particularidades que envolvem a

música na educação infantil, para compreender a vertente em questão, torna-se necessário

inteirar-se sobre a música e a sua colaboração para a aprendizagem e desenvolvimento da

criança. A música é uma linguagem universal, bem como, uma ferramenta pedagógica de suma

importância para ser utilizada na educação infantil. A mesma faz parte da vida do ser humano,

como uma linguagem que gera sensações, sentidos, entre outros aspectos.

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e

comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e

relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas

as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos,

manifestações cívicas, políticas etc. Faz parte da educação desde há muito tempo,

sendo que, já na Grécia antiga era considerada como fundamental para a formação

dos futuros cidadãos ao lado da matemática e da filosofia. (BRASIL, 1998, p. 45)

Na educação infantil, a criança está na fase de descobertas, em que a vontade de

aprender está bem mais presente, e a música é um recurso que vem a facilitar a aprendizagem.

Além do que, para isso, faz-se necessário que o ambiente escolar esteja propicio a isso. Nesta

concepção, Ferreira, Gentil e Fantacini em suas contribuições acerca da temática, relatam que

“Por isso, a Educação Infantil deve ser um espaço integrador e prazeroso, que possibilite à

criança seu desenvolvimento integral, considerando suas particularidades, sendo capaz de

desenvolver suas atividades e estimular suas múltiplas habilidades. (FERREIRA; GENTIL;

FANTACINI, 2017, p.70)”.

Partindo desses princípios, ressalta-se a importância da disciplina musicalização ser

ofertada na grade curricular do curso de licenciatura plena em pedagogia, o qual trabalha com

a educação infantil, onde a mesma deixaria de ser apenas uma disciplina eletiva e passaria a ser

161

obrigatória no curso. Desta forma contemplando o componente de música, demonstraria, por

exemplo, de que forma pode-se utilizar a mesma em sala, assim como, explicar o que é educação

musical e como ela pode contribuir no processo de ensino-aprendizagem, dentre outras

informações necessárias para utilização desse instrumento pedagógico de forma correta.

Vale ressaltar que a música favorece o desenvolvimento de vários sentidos da criança,

pois possibilita a ela ouvir, a tocar, a cantar, dentre outros. É necessário que os docentes saibam

explorar os sons, afim de que seus alunos possam ouvir com bastante atenção podendo analisar

e compara-los, na sua capacidade auditiva, concentração e atenção. Outro ponto importante está

relacionado ao vocabulário musical, pois exige a pronuncia correta da letra da canção, ou sobre

a conversa dos conteúdos de uma cantiga de roda, o que leva consequentemente ao

desenvolvimento da linguagem oral.

4.1.2 A música como proposta didática- pedagógica na aprendizagem

No contexto, escolar a música proporciona ao indivíduo o ouvir, o escutar e a

apreciação musical, de maneira ativa e reflexiva. As atividades com música nas escolas devem

partir do cotidiano das crianças, isto é, a partir das músicas que as crianças já conhecem e, desta

forma desenvolver as atividades dentro das condições e possibilidades de trabalho de cada

professor.

Assim, a utilizá-la como proposta didática-pedagógica, permite que o aluno entre em

um espaço lúdico, sendo que a aprendizagem acontece nesse contexto e possibilita a ação ou

conduta da criança em relação aos benefícios da música, e, o reflexo decorrente desta interação

tem representação nas situações do cotidiano. Para Brito, toda proposta pedagógica com

crianças, consiste na atuação do professor como mediador e incentivador, visto que, a autora

chama atenção à necessidade de refletir e incluir a música como meio lúdico e prazeroso na

educação das crianças para ampliar as experiências e o conhecimento, não só no ponto de vista

musical mais integral.

Obviamente, respeitar o processo de desenvolvimento da expressão musical infantil

não deve se confundir com a ausência de intervenções educativas. Nesse sentido, o

professor deve atuar – sempre - como animador, estimulador, provedor de

informações e vivências que irão enriquecer e ampliar a experiência e o conhecimento

das crianças, não apenas do ponto de vista musical, mas integralmente, o que deve ser

o objeto prioritário de toda proposta pedagógica, especialmente na etapa da educação

infantil. (BRITO, 2003, p. 45)

Nesta perspectiva, oferecer uma proposta didática que envolve música, provoca o

interesse nos alunos e apresenta benefícios concretos no processo de aprendizagem. Assim

sendo, no âmbito escolar, a música constitui-se num poderoso instrumento facilitador da

162

aprendizagem e auxilia no processo de formação do indivíduo, ajudando o discente a

desenvolver suas convicções e percepções no meio social.

4.2 O desafio do educador frente à musicalização na educação infantil

A música colabora para formação de seres humanos sensíveis, criativos e reflexivos e

torna oportuno o conhecimento, assim como, a reflexão sobre a ligação entre a fantasia e a

realidade. A musicalização é um processo de constituição do conhecimento, que tem como

propósito despertar e ampliar o gosto musical, tornando possível o desenvolvimento da

sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação, memória,

concentração, atenção, da socialização e afetividade, bem como, favorecendo para uma ativa

consciência corporal e de movimentação.

Partindo dessas premissas, as atividades musicais no ambiente escolar precisam advir

do conhecimento que as crianças possuem em relação à música, por conseguinte, desenvolve-

se incorporado as condições e perspectivas de trabalho do docente. Nesse sentido, Masullo e

Coelho vem pontuar a respeito do papel do professor e sua metodologia em sala, uma vez que:

O papel do professor de Educação Infantil no processo de ensino- aprendizagem é o

seu compromisso de Cuidar e Educar diariamente, tendo em vista que é ele que conduz

o seu trabalho, tomando decisões em relações a seleções dos objetivos e conteúdos a

serem alcançados pelas crianças de acordo com a faixa – etária e suas limitações,

assim, como as metodologias, e recursos que se utilizará para que ocorra a

aprendizagem o vínculo afetivo entre professor é aluno é essencial e estão

intimamente ligadas à cognitivas. (MASULLO; COELHO, 2015, p. 81).

A musicalização na educação infantil está correlacionada a um incentivo diferente do

ensinar, em que é possível beneficiar a autoestima, socialização, bem como, desenvolvimento

do gosto e do senso musical das crianças nessa fase. A música proporciona múltiplos benefícios

para as mesmas, além de ser uma grande aliada para que possam ter um desenvolvimento

saudável. Ela deve ser trabalhada de forma lúdica, uma vez que, os educandos precisam sentir

prazer em participar das aulas, ser estimulados. Deste modo, Siqueira ressalta que “Portanto,

musicalizar implica em contribuir de forma objetiva e concreta para o conhecimento musical

do indivíduo (seja ele um bebê, uma criança, um adolescente, um adulto), utilizando métodos

que possam gerar resultados que respeitem cada um como ser único. (SIQUEIRA, 2014, p.4)”.

Segundo a autora acima, musicalizar consiste em colaborar de maneira clara e precisa,

no que diz respeito ao conhecimento musical do ser humano, sendo um bebe ou até mesmo um

adulto, fazendo uso de metodologias que venham gerar resultados respeitando cada pessoa

como um ser singular.

163

5 ANÁLISE E DISCUSSÕES DO RESULTADO

A pesquisa aborda sobre a música como ferramenta pedagógica no processo de ensino

e aprendizagem na educação infantil em uma escola pública de ensino regular. São os resultados

de uma investigação destinada a conhecer a forma em que está sendo percebido o

desenvolvimento da criança por meio da música na educação infantil. Para tal, foram elaboradas

perguntas e assim realizadas entrevistas com o objetivo de elucidar os benefícios da música

para com os alunos da educação infantil. Inicia-se, portanto a entrevista com as profissionais,

onde as mesmas responderam a cinco perguntas relacionadas à música na educação infantil,

para a obtenção de informações sobre o tema em questão. Ressaltando que, os sujeitos da

pesquisa receberam nomes fictícios com a intenção de resguardar a ética na pesquisa.

QUADRO 1- O QUE É MÚSICA PARA VOCÊ?

Cyntia

Bom, não é fácil encontrar uma definição de música, mas eu acredito que ela é

uma expressão artística, no qual os afetos da alma são manifestos através dos

sons, e também é um instrumento que proporciona alegria, envolvimento,

comunicação e aprendizagem.

Talita Na minha concepção é uma forma artística que se manifesta culturalmente

através dos ritmos, sons vocais e instrumentais.

Entre as definições de música, as entrevistadas definiram como uma expressão ou

forma artística, um instrumento capaz de envolver alegria, aprendizagem, entre outros: “A

música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar

sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo

entre o som e o silêncio” (BRASIL,1998).

Cada indivíduo possui uma percepção diferente no que diz respeito à música. Nesse fragmento

da entrevista é possível notar alguns dos pontos positivos que ela pode proporcionar em sala. O autor

acima elucida a música como formas sonoras, que transmitem sensações e sentimentos. Esse aspecto é

relevante no ambiente escolar, partindo da ideia de que para os educandos a música envolve alegria,

interação entre os alunos, movimento, descontração, capaz de deixar o ambiente mais favorável ao

aprendizado.

QUADRO 2- COMO VOCÊ TRABALHA A MÚSICA NA SALA DE AULA?

Cyntia Bem, eu trabalho a música de diversas maneiras, como por exemplo, dando

as boas vindas no momento da acolhida, na hora do lanche, quando a criança

164

está aprendendo a primeira letra do nome, quando a criança está aprendendo

o nome, eu também utilizo a música quando percebo que a turma está muito

agitada. Na educação infantil eu sempre gosto de explorar mais a questão do

movimento, a expressão corporal, pelo fato de a criança está nessa fase de

desenvolvimento e isso faz com que elas sejam espontâneas e elas adquiram

certo conhecimento sobre o corpo.

Talita

A música precisa ser trabalhada na educação infantil como algo inerente a

criança, para isso torna-se interessante trabalhar a musica através das

brincadeiras de roda, jogos cantados envolvendo alguns gêneros textuais tais

como: parlendas, cantigas, músicas de acalanto, confecção de instrumentos

musicais com as próprias crianças, tornando o trabalho pedagógico mais

interessante e prazeroso. Eu sempre faço isso com meus alunos.

De acordo com as respostas das professoras nota-se que elas possuem conhecimento

da relevância que a música tem principalmente na educação infantil, uma vez que a mesma

contribui de forma significativa para o desenvolvimento dos educandos nessa fase inicial de

aprendizagem, por a educação infantil ser a primeira base, a mais importante em que a criança

percorre, e prosseguindo assim para as outras séries nesse processo.

Nessa perspectiva, podemos observar que as profissionais usam a música de várias

maneiras, seja desde a entrada das crianças ou para acalmá-las quando muito agitadas. Cyntia

faz essa relação da música com situações simples dentro de sala, como por exemplo, quando a

criança vai aprender seu nome, aplicando a música para facilitar esse processo.

A educação infantil é a base da criança, pois a mesma está em desenvolvimento nessa

fase. Portanto é interessante explorar os movimentos corporais, as expressões dos educandos,

ocasionando também o conhecimento do corpo. Outro ponto a ser analisado parte de uma das

falas da Talita, sobre confeccionar materiais junto aos seus alunos. Essa prática realmente é

importante, por ser algo novo para eles, assim como os mesmos vão utilizar aquilo que

construíram. Porém, nas escolas públicas geralmente há uma grande falta de materiais, desse

modo, para um professor de uma escola desse porte com poucos recursos seria inviável realizar

essa tarefa, sem o suporte necessário.

QUADRO 3- VOCÊ TRABALHA A MÚSICA DIARIAMENTE NA SALA COMO UM

INSTRUMENTO DE AUXILIO PEDAGÓGICO?

165

Cyntia

Sim. A música sabendo eu que é um maravilhoso instrumento facilitador de

aprendizagem, ela sempre foi um dos recursos mais utilizados no meu trabalho

como professora, por perceber que ela traz motivação, interação entre professor

e aluno e vise versa, então a música, eu utilizo ela para trabalhar as habilidades

da língua, os componentes linguísticos, uso para que o ambiente também da sala

de aula seja mais prazeroso e facilitador o processo de ensino e aprendizagem.

Talita

Sim. Mas não apenas como instrumento pedagógico, como também nas

brincadeiras “livres” que se materializam nos jogos simbólicos, mais

conhecidos como faz de conta, onde a criança recria a realidade onde está

inserida usando seu próprio sistema simbólico, reinterpretando e resinificando

seu mundo real.

Pelo exposto, nota-se a importância da ludicidade no ambiente escolar, pois a mesma

é capaz de proporcionar diversos benefícios. A Talita faz suas ponderações a respeito da música,

e ressalta que utiliza como instrumento, mas explora a mesma em outras atividades em sala,

como por exemplo os jogos simbólicos. Pelo exposto, é perceptível que o ambiente de aula da

educadora é diversificado, ela busca por meio dessas ações facilitar esse processo de ensino e

aprendizagem para seus alunos. “Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança,

o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento

entre corpo, emoção e linguagem” (BNCC, 2016, p.37).

É notório o discernimento da Cyntia sobre a mesma, reconhecendo esta como um

maravilhoso instrumento facilitador. Nesse sentido, analisando a fala da educadora, percebo a

grande contribuição desse recurso na escola. Uma vez que, para tal, é necessário que o professor

em seu planejamento de aula faça a inclusão do mesmo pensando sempre em formas de tornar

sua aula dinâmica e prazerosa.

É preciso estimular os alunos em sala de aula, por meio de novas metodologias. Pois, em

muitas escolas ainda existem aqueles professores que trabalham de forma tradicionalista, onde o mesmo

sendo o detentor do conhecimento em que apenas ele argumenta em sala e o aluno o receptor, que apenas

absorve o que o mesmo explicou sem poder opinar sobre o assunto. Para este ambiente, não existe a

troca de conhecimento e interação entre ambos.

QUADRO 4- NA SUA VISÃO, COMO AS CRIANÇAS REAGEM QUANDO VOCÊ USA

MÚSICA EM SALA DE AULA?

166

Cyntia

As crianças, elas sempre reagem com motivação, com muita alegria, e sempre

pedindo mais, né. E fazem suas tarefas ao som de música, e elas pedem

também isso, e percebo que elas ficam tranquilas, motivadas, e assim elas

finalizam a tarefa do dia na escola, com prazer, e muita alegria. E elas já se

despedem com vontade de retornar.

Talita

As crianças adoram culturalmente falando a música, faz parte da infância, por

esse motivo o processo pedagógico torna-se mais interessante e prazeroso,

além de permitir o desenvolvimento social e afetivo das crianças.

Quando indagadas sobre a forma que as crianças reagiam ao utilizar música na sala de

aulas, Cyntia respondeu de forma clara e objetiva corroborando a motivação e entusiasmo dos

alunos. Assim como a mesma gera estímulos. Assim sendo Silva e Oliveira discorrem que:

A música é um dos estímulos do mundo externo que contribui na formação do ser

humano, desempenhando um papel importante nas fases e etapas do desenvolvimento

infantil. Além disso, a música é uma influência externa que por sua potencialidade de

emocionar e sensibilizar o ser humano causa motivações internas contribuindo para o

desenvolvimento da criança. (SILVA; OLIVEIRA, p.4)

A Talita também respondeu de forma objetiva, ressaltando a música como um aspecto

cultural da humanidade. Uma vez que, a mesma está presente cotidianamente. Dessa forma,

inserindo a mesma nas aulas permite a criança desenvolver-se em vários aspectos, dentre eles

o social e afetivo citado pela educadora em questão.

A criança não é um ser estático, ela interage o tempo todo com o meio e a música tem

este caráter de provocar esta interação, pois, ela traz em si ideologias, emoções,

histórias que muitas vezes se identificam com as de quem as ouvem.

(GONLÇALVES; SIQUEIRA; SANCHES, 2009, p.2)

Partindo dessas ideias, a música vem a se configurar como um requisito para compor

o ambiente da sala. A mesma torna o ambiente mais tranquilo. De acordo com as entrevistadas,

a reação dos alunos em relação à música é positiva.

QUADRO 5- A MÚSICA ENTRA NO PLANEJAMENTO DA AULA OU ACONTECE DE

MODO ESPONTÂNEO?

Cyntia

Sim. Ela entra no planejamento, mas também utilizo de maneira espontânea

quando é necessário. Há dias que quando estou planejando a minha aula

dependendo do conteúdo coloco uma música que esteja associada ao mesmo.

167

Talita

Sim. A música precisa estar no planejamento, por todos os benefícios que

possibilita as crianças. Além disso, é importante levarmos em consideração a

BNCC (Base Nacional Curricular Comum), mas especificamente os campos de

experiências.

Quando perguntadas sobre a música entrar no planejamento da aula, as entrevistadas

responderam que sim. Uma vez que, “[...] há várias letras de músicas que nos ajudaram a

facilitar a aprendizagem de números, quantidade, classificação e seriação.” (GONÇALVES;

SIQUEIRA; SANCHES, 2009). Portanto, a mesma pode ser associada a conteúdos, a atividades

em sala, se adaptada corretamente a essas práticas no âmbito escolar. Por essa ótica, podemos

considerar aqui a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) citada pela entrevistada,

ressaltando que:

Traços, sons, cores e formas – Conviver com diferentes manifestações artísticas,

culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar,

possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas

formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem,

colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras.

Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas

próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual)

com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos,

modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos (BNCC,

2016, p.37).

Infere-se, portanto que essas vivências são de suma importância na educação infantil,

pois, é uma forma de instigar as crianças desde pequenas a desenvolver seu senso estético e

crítico, assim como o conhecimento sob mesma e da realidade que em que estão inseridas.

Dessa forma, percebe-se o quão é importante à música estar inclusa no planejamento de aula,

como um recurso que facilita o ensino e aprendizagem dos educandos nessa fase.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A luz de estudos teóricos, das experiências e relatos apresentados na pesquisa de

campo, bem como as discussões exibidas ao longo deste trabalho, torna-se evidente o quão a

música é importante no processo de ensino e aprendizagem, e precisa ser vista como ferramenta

pedagógica, assim como uma necessidade do indivíduo, e não apenas como um mero método

de entretenimento.

Dessa forma, é indispensável tratá-la como uma ferramenta ou recurso de grande

relevância para a educação infantil, pois, é nessa fase que a criança constrói suas primeiras e

principais bases para ingressar no ensino fundamental. Aliado a isso, as atividades musicais

168

propiciam inúmeras oportunidades para que ela aprimore sua habilidade motora, mova-se com

desenvoltura, contribuindo nas ações e no pensamento infantil.

É certo que música é gesto, movimento, ação. No entanto, é preciso dar às crianças a

possibilidade de desenvolver sua expressão, permitindo que criem gestos, que

observem e imitem os colegas e que, principalmente, concentrem-se na interpretação

da canção, sem a obrigação de fazer gestos comandados durante todo o tempo.

(BRITO, 2003, p. 93).

Logo, compreender e elaborar possibilidades a respeito de exploração de gestos,

posturas, ritmos e sentimentos precisam estar conectados intrinsecamente com a música

utilizada em histórias cantadas, cantigas, jogos, dentre outros, a fim de favorecer a dinâmica de

ensino e aprendizagem dos educandos no ambiente escolar, uma vez que, é de suma importância

proporcionar a eles liberdade de se expressar seja individual ou coletivamente.

Acrescenta-se nesse trabalho, que para se pensar na organização de um planejamento

pedagógico, por meio da música, o educador precisa considerar os conhecimentos, experiências

e vivências prévias dos alunos, para que possa oferecer um ambiente acolhedor, dando

possibilidade a construção e reconstrução de conhecimento.

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Acesso em: 19/09/2018.

170

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: O GÊNERO HISTÓRIA EM

QUADRINHOS (H.Q) COMO PROPOSTA DIDÁTICA PARA O ENSINO

FUNDAMENTAL

LITERACY AND INITIAL READING INSTRUCTION: THE GENRE

COMICS AS A TEACHING PROPOSAL FOR FUNDAMENTAL

TEACHING Ághata Nakiêda Pinheiro de Oliveira

Daniele da Silva Costa

Gabriela Gomes de Medeiros

Resumo: Este trabalho permite avaliar o gênero textual História em Quadrinhos no processo

de Alfabetização e Letramento como método educativo, visto que muitas crianças durante o

período escolar não são estimuladas a desenvolverem práticas de leitura. Possui a finalidade de

conhecer e analisar a participação dos alunos ao entrarem em contato com a leitura através das

H.Q’s de forma lúdica. A pesquisa foi realizada na E.M.E.F Acendendo as Luzes, na cidade de

Abaetetuba, em uma turma do segundo ano do Ensino Fundamental, por meio de um projeto

em sala de aula. O progresso das crianças durante a intervenção constatou que o gênero

trabalhado assume valor educativo, pois apresenta uma metodologia diferenciada que atraiu a

atenção dos alunos, independentemente do nível de leitura e escrita.

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Histórias em Quadrinhos.

Abstract: This work allows to evaluate the textual genre Comics in the process of Literacy and

Initial Reading Instruction as an educational method, since the problem is about the fact that

many children during the school period are not stimulated to develop reading practices. It has

the purpose of knowing and analyzing the participation of the students when they come into

contact with the reading through the comics in a playful way. The research was carried out at

Municipal School of Elementary Education Acendendo as Luzes, located in the city of

Abaetetuba, in a second year class, by means of a project in the classroom. The progress of

students during the research project found that the textual genre used has an educational value,

as well as presenting a differentiated methodology, attracted the attention of the students,

independently of the level of reading and writing.

Key words: Literacy. Initial Reading Instruction. Comics.

1 INTRODUÇÃO

A educação sobressaiu-se cada vez mais, desde a antiguidade, quando surgiu a

necessidade de comunicação, até a atualidade tornando-se indispensável à prática social. A

alfabetização, como pilar da educação, é instrumento da busca pelo conhecimento e permitiu

reflexões, análises e a procura por respostas para as indagações comuns da existência humana.

171

Compreende-se que a escola possui grande responsabilidade no que diz respeito a

educar e se a escola falha com seus alunos falha com toda uma geração, resultando em

consequências desastrosas. Esse processo se inicia nos primeiros anos da vida escolar de uma

criança e tudo começa oferecendo-lhe a compreensão das ideias através das letras, sendo por

meio do processo da alfabetização que a criança aprenderá a ler e a escrever, ou seja,

compreenderá a forma da comunicação escrita. Porém, é necessário, para o exercício da

cidadania, ir além do que o simples compreendimento das letras, mas possuir o hábito e domínio

da leitura com o intuito de que habilidades sejam aprimoradas.

Sabe-se que para a criança se interessar por determinado conteúdo que lhe é

apresentado em sala de aula, é preciso que isso seja repassado de forma interessante aos

entendimentos desse aluno. Eis a importância da maneira que o professor ensina, indo além do

ensinar por ensinar, mas ensinar buscando eficácia, em outras palavras, se preocupando em

fazer-lhes aprender.

Nesse contexto, os diferentes gêneros textuais podem somar com o aprendizado em

sala de aula e o gênero História em Quadrinhos (H.Q) ganha espaço nos interesses das crianças.

Por essa razão, as H.Q’s foram o objeto de estudo desta pesquisa, com o objetivo de analisar a

maneira pela qual as Histórias em Quadrinhos podem contribuir para o processo de

alfabetização e letramento das crianças, pois ao trabalhar esse gênero em sala de aula, o

professor pode atrair a atenção dos alunos devido as características próprias que as tirinhas

possuem, como: desenhos, linguagem e metodologia que diferenciam-se dos outros tipos de

textos.

Há necessidade de diferenciação quanto ao método utilizado em sala de aula, pois

muitas crianças aprendem a ler e a escrever, mas não adquirem o hábito da leitura, dificultando

assim o desenvolvimento de certas habilidades - como a interpretação de texto – as quais serão

necessárias à formação do futuro cidadão pensante. A partir disso, o presente estudo busca

compreender em que consiste o termo alfabetizar inserido em contexto de letramento, analisar

os autores que abordam a relevância do letramento à prática social, entender por que razão é

necessário que a criança seja estimulada a construir práticas de leitura de forma atrativa e como

tornar isso possível.

2 PRIMEIRAS INCURSÕES

O planejamento de um estudo abrange a organização e o modo pelo qual se dará o

trabalho ao longo de sua execução, desde como estudar sobre o assunto à melhor maneira de

172

aplicá-lo. Planejar significa ordenar as ideias, utilizando uma metodologia adequada para que

o objetivo esperado seja alcançado.

Para uma pesquisa ter validade científica, ela necessita de referenciais teóricos, ou seja,

precisa estar fundamentada em autores que já falaram sobre o tema que está sendo

desenvolvido, dando prioridade a livros e artigos científicos. Esse processo chama-se pesquisa

bibliográfica, o qual não é uma tarefa simples, pois requer tempo e dedicação por parte do

pesquisador. De acordo com Carlos Gil (2002 p. 45) “A principal vantagem da pesquisa

bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos

muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.

Fazer a leitura antecipada de autores, torna o processo de escrita e o desenvolvimento

da pesquisa mais construtivo, permitindo ao pesquisador noções de qual caminho seguir,

reflexões acerca do tema e novas concepções, utilizando embasamento filosófico para dar

suporte à pesquisa.

O método científico utilizado no artigo é o histórico-dialético. A dialética, segundo

Marconi e Lakatos (2003. p. 106), expressam que o objeto de pesquisa não é analisado na

“qualidade de objetos fixos, mas em movimento: nenhuma coisa está "acabada", encontrando-

se sempre em vias de se transformar, desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de

outro”.

Foi realizada também uma pesquisa de campo exploratória, de cunho quali-

quantitativo. Após a verificação do material bibliográfico acerca do tema, e baseando-se

também no livro de Fundamentos de Metodologia Científica da Marconi e Lakatos, realizou-se

a pesquisa de campo que, baseadas nas autoras acima (2003), tem o objetivo de obter

informações acerca de determinado tema a partir de uma problemática com a finalidade de

comprovar ou estabelecer relações entre a pesquisador e o objeto de pesquisa. A pesquisa

assumiu caráter exploratório, que segundo Marconi e Lakatos (2003. p. 188) tem a finalidade

de “aumentar a familiaridade do pesquisador com ambiente, fato ou fenômeno, para a realização

de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos” e assume natureza

qualitativa-quantitativa, bastante utilizada nas ciências humanas.

Foi levado em consideração a classe social dos alunos para analisar o contexto em que

eles estavam inseridos, isto é, sua realidade, para assim poder analisar o nível educacional.

A partir de leituras e seguindo o roteiro do plano de trabalho, desenvolveu-se a

pesquisa de campo, realizando intervenções em uma sala do segundo ano do ensino

173

fundamental, com aproximadamente treze crianças com faixa etária entre seis e sete anos de

idade, que se encontram no período de alfabetização.

Ocorreu inicialmente a observação da turma em período de, aproximadamente, dois

meses para o conhecimento do perfil das crianças, as principais dificuldades e interesses. A

partir dessas observações em sala de aula, realizou-se um projeto de intervenção a fim de

apresentar histórias em quadrinhos nas quais abordassem conceitos importantes, apresentando

valores e a própria estrutura e história do gênero.

Um dos pontos considerados de extrema relevância para o desenvolvimento desta

pesquisa, foi o planejamento provisório do trabalho. Planejar é uma atividade humana e

significa antecipar conjunto de ações, que envolve reflexão e a análise de situações. Segundo

Severino:

Antes de começar a leitura, o aluno elabora um roteiro de seu trabalho. Trata-

se de uma primeira estruturação do trabalho, baseada em grandes ideias

oriundas dos vários aspectos que pode ter um problema referente ao assunto

estudado. São essas ideias que nortearão a leitura e a pesquisa que se iniciam.

Essa etapa e fundamental, pois que sem uma ideia-diretriz na mente a leitura

e a documentação não serão suficientemente fecundas (SEVERINO, 2000, p.

78).

Planejar assume a responsabilidade de ser “o guia” em que o pesquisador deve seguir

para que ele não desvie do objetivo que a pesquisa pretende alcançar. Porém, não significa que

a tarefa será simples, pois todo trabalho – mesmo que planejado – passa por caminhos

complexos, necessitando de compreensão, assiduidade e empenho.

2.1 Alfabetização e letramento

A alfabetização no Brasil passou por diversos momentos históricos até chegar ao

contexto atual, na qual uma nova proposta de alfabetizar via letramento foi inserida. A

concepção de Alfabetização por muito tempo esteve direcionada na utilização de métodos de

ensino que proporcionavam a aprendizagem da leitura e da escrita como instrumento

fundamental à comunicação e ao processo de conhecimento de mundo.

Antes das regras da escrita, o ser humano, na época da pré-história, transmitia suas

ideias através de desenhos nas cavernas, um sistema primitivo de comunicação. Foi possível

compreender o processo pois o indivíduo deixou rastros de sua técnica através de “lindas

pinturas nas paredes de numerosas cavernas nas áreas onde viveram” (DEFLEUR; BALL –

ROKEACH, 1993, p. 30).

A evolução do indivíduo no seu sistema de comunicação, através de sinais e desenhos

para um sistema de escrita, promoveu benefícios a ele. O processo de evolução foi lento, mas

174

possibilitou grandes conquistas à história da humanidade. Segundo Defleur e Ball-Rokeach

(1993, p. 32), o domínio de sistemas simbólicos permitiu “classificar, abstrair, analisar,

sintetizar e especular (...) lembrar, transmitir, receber e entender mensagens bem mais extensas,

complexas e sutis do que era possível com o emprego de formas anteriores de comunicação”

Após o avanço para a técnica de comunicação através da escrita, surgem as regras que

caracterizam o processo de alfabetizar. O ser humano, então, começa a aprimorar as aplicações

do ensino da alfabetização, pois nasce a necessidade de melhoria dos métodos conforme o

indivíduo estuda as práticas e descobre meios mais satisfatórios de aprendizagem.

O início desse processo no Brasil, se deu aproximadamente em 1500 quando os

portugueses e a Companhia de Jesus se estabeleceram no continente e conheceram os povos

indígenas que já habitavam aquele território. Os Jesuítas iniciaram o processo de catequização

dos indígenas, com o objetivo de convertê-los à religião católica, e também como forma de

subordinar os indígenas sob o domínio português. Deram início à educação colonial trabalhando

inicialmente com as casas de bê-á-bá e posteriormente com as escolas de ler, escrever e contar,

e em colégios na cidade de Salvador que eram baseados na reprodução de conhecimento ,”Estas

casas, ou residências ou ainda recolhimentos, recebiam os meninos índios para serem

catequizados e instruídos e se destinavam também a abrigar os padres aqui na colônia, bem

como os órfãos vindos de Portugal e os da terra, a fim de lhes dar assistência e formação

religiosa (MENARDI, 2010, p. 159)”.

Ademais, na Antiguidade surgiram os primeiros indícios de um alfabeto e de uma

técnica conhecida como “Método da Soletração” ou “Método ABC”. Esse método consistia em

decorar o alfabeto grego nas formas maiúsculas e minúsculas, conhecer sua grafia e,

posteriormente, associá-la ao som reproduzido.

No século XVI foi criado o método das cartilhas que predominou até a década de 1960.

As primeiras cartilhas brasileiras tiveram origem em Portugal e seus conteúdos continham o

“abecedário, silabário e textos de leitura” (MENDONÇA, 2011, p. 29). Esse material surgiu

com o objetivo de fazer com que as crianças aprendessem a ler e a escrever em um conteúdo

organizado e específico. A partir de 1980 que esse tipo de material passou a ser considerado

defasado, pois com o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à alfabetização, houve

necessidade de formular outra metodologia com finalidade de ir além do mero ensino de ler e

escrever, levando em consideração os conhecimentos prévios do aluno e as novas necessidades

do indivíduo, permitindo que a criança agora domine a leitura e a escrita de tal forma que

consiga produzir e interpretar textos, analisar sua escrita buscando melhorias, usar corretamente

175

as pontuações; respeitando seu tempo de aprendizagem e refletindo criticamente sobre o que se

está aprendendo para que esse processo de ensino se torne significativo.

Na década de 60, Paulo Freire desenvolveu um método de alfabetização para adultos

que revolucionou o jeito de se ensinar. Trabalhando a partir de palavras geradoras voltadas para

a realidade dos alunos, o educador acreditava que o ato de ensinar não deveria estar baseado

em ideias prontas ligadas a um ensino tradicionalista, mas deveria fazer com que o aluno

argumentasse e refletisse criticamente sobre o que está aprendendo. Freire argumenta também

que o uso de cartilhas não é eficaz para o processo de alfabetização, pois elas ensinam pelo

método de repetição, decoração e acúmulo de palavras pré-determinadas, que não apresentam

sentido para aqueles que estão estudando.

Surge uma nova técnica para a eficácia da alfabetização em vista das dificuldades

encontradas pelos alunos do ensino fundamental em aprender a ler e escrever e pela escola em

ensiná-los, percebidos no trecho dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa

no qual abordam que:

No ensino fundamental, o eixo da discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem

sido a questão da leitura e da escrita. Sabe-se que os índices brasileiros de repetência

nas séries iniciais – inaceitáveis mesmo em países muito pobres – estão diretamente

ligados à dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever (BRASIL, 1997,

p.19).

Surge, então, uma nova proposta da alfabetização, a qual denomina-se “alfabetizar

letrando”, a partir da necessidade de “reconhecer e nomear práticas sociais de leitura e escrita

mais avançadas e complexas que as práticas do ler e escrever resultantes da aprendizagem do

sistema de escrita” (SOARES, 2003, p. 6).

O contexto em que o indivíduo está inserido, exige dele o convívio em sociedade como

parte integrante no qual compreende - nesse sentido - a interação, relação interpessoal,

conhecimento de aspectos socioculturais, análise crítica, progresso e a compreensão de mundo.

Nessa linha de pensamento, acredita-se que, para o preparo do cidadão, precisa-se permitir aos

alunos acompanhar e participar das principais decisões tomadas pela sociedade em que vivem,

e a educação se torna instrumento fundamental ao exercício da cidadania.

O método do letramento como nova proposta, que surgiu a partir da necessidade de se

aprimorar as técnicas da alfabetização e o progresso pedagógico - conforme os métodos

avançaram no decorrer do tempo - visa permitir ao ser humano “realizar uma leitura crítica da

realidade, respondendo satisfatoriamente as demandas sociais” (DIOGO; GORETTE, 2011, p.

12196). Como teor educacional, relaciona-se à prática social, pois permite a compreensão do

indivíduo sobre o mundo em que vive e suas determinações. Quando presente na educação

176

escolar é estimulado, principalmente, nos anos da educação básica, desde as séries iniciais. E

vincula-se aos objetivos determinados na Lei de Diretrizes e Bases (1996, Art. 22.) “ a educação

básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum

indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e

em estudos posteriores”.

Magda Soares (2003) afirma que a criação do letramento se deu em decorrência das

relações sociais que foram estabelecidas entre a leitura e a escrita na cultura letrada. “Enquanto

a alfabetização ocupa-se da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupos de indivíduos, o

letramento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de um sistema escrito por uma

sociedade” (TFOUNI, 1995, p 20, apud Oliveira; Santos 2013).

Fazer que as crianças aprendam a ler, a escrever e a se expressar de forma significativa

é tarefa árdua para o professor. Ele, como mediador do conhecimento, deve garantir ao aluno o

desenvolvimento do letramento com o objetivo de torná-lo ser pensante e que compreende seu

lugar como cidadão, além de ser competente, comprometido com a educação das crianças e

segundo a LDB (1996, título IV, art. 13, seção III) que destaca como um dos deveres do

professor “zelar pela aprendizagem dos alunos”.

Assim como os métodos de alfabetizar foram evoluindo ao longo do tempo, os

métodos da alfabetização que englobam o letramento precisam evoluir de maneira que os alunos

das escolas atuais desenvolvam, desde criança, o interesse pela leitura.

Os gêneros textuais são ferramentas valiosas que podem ser exploradas quando se

pretende alfabetizar letrando, tendo em vista a utilização de práticas que visam, principalmente,

o prazer e o interesse pelo conhecimento.

Dentre as inúmeras opções de gêneros que podem ser utilizados para o

desenvolvimento de indivíduos alfabetizados em um contexto de letramento, um que se destaca

e que muitas crianças, desde casa, tem uma afinidade maior é o de História em Quadrinhos. O

gênero se torna uma boa técnica de uso no desenvolvimento do interesse pela leitura, ao modo

que possui diálogos e imagens que despertam a imaginação da criança fazendo com que leia

cada vez mais, além de atribuí-la conhecimento acerca das regras gramaticais.

As Histórias em Quadrinhos ganham espaço nas prateleiras tanto de crianças quanto

de adultos, pela abundância de detalhes ilustrativos e pelas histórias que cativam e divertem,

levando o leitor a se interessar pelo fim da história lida e pelo começo de outra. São variadas

quanto à criatividade, permitindo-se inserir super-heróis, fadas, fábulas, magias e outros seres

que exploram a imaginação, em suas histórias.

177

2.1.1 A inserção do gênero história em quadrinhos nas séries iniciais

O marco inicial da história em quadrinhos, o qual se tem conhecimento, foi em meados

de 1895 com a primeira publicação no jornal New York World, intitulada de The Yellow Kid,

do artista Richard Outcault. Foi considerada a primeira obra que apresentava uma linguagem

com personagens fixos, ações segmentadas, diálogos dispostos em balões de texto, e os

desenhos continham expressões faciais e emoções. Alguns anos mais tarde, os super-heróis dos

gibis começaram a ser criados representando períodos marcantes e cada personagem nasce em

contextos históricos, como períodos de Lei Seca, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, e

outros, transmitindo mensagens aos leitores.

A partir dos primeiros gibis criados nos EUA, busca-se o marco inicial das histórias

em quadrinhos no Brasil. A primeira história em quadrinhos no país foi criada em 1937 por

Manuel de Araújo Porto-Alegre no mesmo período em que “a editora O Malho lançava a revista

O Tico-Tico, que viria a ser o marco das publicações dedicadas às crianças no Brasil” (MOYA,

1986, p. 41). Atualmente, dois grandes nomes da história em quadrinhos se destacam no cenário

brasileiro: Ziraldo Alves Pinto, com suas principais obras “Turma do Pererê” (1959) e “O

Menino Maluquinho” (1980); e Mauricio de Sousa, criador da revista em quadrinhos “Mônica”

em 1970. Cada vez mais suas obras estão presentes nas escolas, passando a incluir temas

didáticos, de reflexão e com maior diversificação de personagens, tornando as revistas mais

inclusivas.

Ademais, os quadrinhos apresentam linguagem específica, repleta de particularidades

estruturais. São obras que contém signos linguísticos e visuais – os quais têm o papel de auxiliar

o indivíduo a interpretar a realidade em que vive – e possuem linguagem tanto verbal quanto

não-verbal. Segundo Silvério e Rezende (2012, p. 222) “a linguagem verbal juntamente com a

não-verbal, completam-se na competência leitora, sendo uma preocupação do autor por cada

pormenor para que este seja pleno de significado no processo de ler”. A linguagem verbal das

H.Q’s se manifesta através de diálogos, pensamentos que estão inseridos no interior de balões,

nos quais, “recebem vários tipos de formato e classificação, além das legendas, que quando se

fazem presentes, manifestam as vozes dos narradores” (SILVÉRIO; REZENDE, 2012, p. 218).

As H.Q’s, além de uma linguagem específica, possuem uma sequência organizada em

quadrados. Segundo Eisner (1989), um dos principais elementos característicos da linguagem

dos quadrinhos é a arte sequencial, isto é, seguem uma continuidadede imagens juntamente

com a história. Para organizar as falas dos personagens e transmitir a maneira como o diálogo

178

ocorre, os gibis – atualmente - utilizam balões de falas nos quais os textos são escritos. Cada

balão de fala completa a mensagem em seu interior, ao passo que determina a maneira como o

diálogo é conduzido. Além dos balões, as emoções de uma história em quadrinhos podem ser

bem expressas através das pontuações, tamanho e repetições das letras.

Como é possível notar, cada detalhe é cuidadosamente analisado para que ao final da

história criada, o escritor obtenha sucesso no que diz respeito à interpretação da mensagem, por

parte do leitor, desde o título e o subtítulo, que expressa sobre o que a história trata, até os

detalhes, que a aprimoram. Cada balão, legenda, figura de linguagem, tamanho das letras,

pontuações, cores e imagens enriquecem a História em Quadrinhos e podem torná-la ainda mais

divertida, sendo, por esse aspecto, atrativa à leitura, a qual tem potencial para ser instrumento

pedagógico adotado por pais e professores, não somente como objeto recreativo.

A história em quadrinhos, por ser um gênero textual diferenciado, atrai a atenção dos

estudantes em sala de aula, e se bem utilizada pelo professor, pode se tornar um material

relevante e contribuir de maneira significativa para o aprendizado do aluno. Rama; Vergueiro

afirmam que “a inclusão das histórias em quadrinhos na sala de aula não é objeto de qualquer

tipo de rejeição por parte dos estudantes que, em geral, as recebem de forma entusiasmada,

sentindo-se, com sua utilização, propensos a uma participação mais ativa no processo de leitura

(RAMA; VERGUEIRO, 2009, p. 21)”.

Contudo, para poder ter êxito ao utilizar esse instrumento de ensino, o professor deve

ter cuidado ao organizar e selecionar seu material pedagógico para garantir que ele utilize as

histórias em quadrinhos de forma que auxiliam no processo de ensino-aprendizagem e não

apenas para o entretenimento, sem finalidade acadêmica.

As H.Q’s funcionam como um material complementar e o professor é responsável por

selecionar os quadrinhos de acordo com alguns critérios. Um dos mais importantes é a

adequação à faixa etária de cada turma e ao assunto que o professor trabalhará em sala de aula.

Quando se trabalha com crianças de séries iniciais, os quadrinhos devem ser

predominantemente de teor educativo e precisam conter textos de boa qualidade, independente

da diversidade de seu conteúdo, pois as histórias em quadrinhos podem ser multidisciplinares,

não sendo de uso exclusivo da disciplina Língua Portuguesa.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pesquisa foi realizada em uma escola pública pertencente ao município de

Abaetetuba, com alunos do segundo ano do ensino fundamental, de faixa etária entre seis e sete

179

8

7

6

5

4

3

2

1

0

7

Crianças

Crianças que apenas

desenharam

Crianças que tiveram Crianças que concluíram

dificuldade em escrever a atividade Total 13 crianças.

anos. Utilizou-se inicialmente a técnica de observação para conhecer a turma, com o objetivo

de compreender o nível de alfabetização dos alunos, suas maiores dificuldades e aptidões, para

em seguida desenvolver um projeto de pesquisa que fosse capaz de adequar, de forma

satisfatória, os conhecimentos que as crianças já possuíam sobre a temática da pesquisa.

Foi elaborado um projeto de intervenção, com o objetivo de aplicar as histórias em

quadrinhos e analisar como seria o desempenho das crianças em relação as atividades que iriam

ser aplicadas e se o interesse delas iriam aumentar ao inserir um gênero textual diferente em

sala de aula. As histórias escolhidas para a aplicação das atividades foram planejadas para

analisar a criatividade, o raciocínio e a compreensão do aluno, assim como pôde-se trabalhar

com as crianças valores morais que a história permitiu. A análise foi realizada segundo as

respostas das atividades dos alunos e através da observação e anotação de dados.

No primeiro dia de intervenção, a história em quadrinhos exposta aos alunos teve como

finalidade mostrar as características principais das H.Q’s. Posteriormente a contação de

história, realizou-se uma roda de conversa com os alunos, com o objetivo de permitir a reflexão

e melhor compreensão daquilo que foi abordado. A atividade avaliativa, após a roda de

conversa, contou com três quadrados que deixavam a imaginação do aluno livre para criar uma

pequena história com desenhos e diálogos.

Foi constatado, através de observações e do resultado final da atividade, que cada

criança se encontra em nível de aprendizagem particular, havendo alunos que apenas desenham,

outros que desenham e escrevem, mas apresentam dificuldades e, ainda, quem escreve e

desenha. O gráfico corresponde a essas particularidades:

Gráfico 1 – Resultados da atividade do primeiro dia de intervenção do projeto de pesquisa.

5

1

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Ainda que diante das dificuldades encontradas por parte da turma, todas as crianças

realizaram a atividade proposta e utilizaram a imaginação como fonte das ideias colocadas no

180

papel. Um aluno apenas desenhou, pois ainda não consegue escrever. Segundo (SOUZA, 2013,

p. 40) a pintura “deve ser uma atividade divertida abrindo leques para mundos imaginários,

estimulando a criatividade de cada aluno”, desse modo, passando para o papel a sua perspectiva

de mundo. Ademais, algumas crianças desenharam e tiveram dificuldades em produzir um

diálogo, outras tentaram escrever algo, mas apagaram em seguida ou interromperam na metade

quando perceberam complexidades no desenvolvimento do exercício. Segundo Ferreiro (2008)

as crianças apresentam diferentes níveis de aprendizagem no decorrer desse processo, tais

como: níveis pré-silábico, silábico, silábico-alfabético, alfabético. Pode-se perceber que muitas

crianças na turma estão no nível silábico-alfabético.

Além disso, apenas cinco crianças desenharam e produziram diálogos em seus

exercícios. Demonstrando, dessa forma, que possuem noções de diálogos. Atividades como

essa “exploram os conhecimentos que os alunos já traziam antes de entrar para a escola e irão

ajudá-los a analisar os diversos usos da escrita no dia-a-dia” (DORO, 2010, p. 06). Uma aluna

produziu um diálogo de apresentação comum do dia-a-dia advindo de suas vivências. Isso

aponta a maneira como a criança soube interpretar a atividade e através dela elaborar símbolos

alfabéticos, como dito anteriormente, para construir a sua história.

Posteriormente, formou-se novamente uma roda de conversa com perguntas

direcionadas, com o objetivo de ressaltar sobre os fatos principais das histórias em quadrinhos,

para os alunos terem a liberdade de falar sobre a temática da pesquisa e também sobre seus

desenhos.

No primeiro dia de intervenção em sala de aula, os alunos tiveram a autonomia de

desenhar através de quadrinhos algo relacionado às suas vivências, permitindo que eles

expressassem a criatividade, refletida no rendimento satisfatório da atividade.

No segundo dia de intervenção, apresentou-se aos alunos a história em quadrinhos do

Pinóquio com o intuito de conhecer o nível de compreensão das crianças em relação à história,

incentivando-as a ajudarem no desenvolvimento do conto através da leitura dos quadrinhos.

Posteriormente, foi realizado uma roda de conversa com perguntas direcionadas aos alunos,

para conhecer e analisar o que as crianças compreenderam da história.

Em seguida, distribuiu-se uma atividade com perguntas referentes à história

apresentada para que os alunos respondessem. Este questionário foi pensado a fim de analisar

o nível de compreensão dos alunos em relação a interpretação da história, leitura e escrita.

Abaixo das perguntas havia os quadrinhos correspondentes às respostas e os alunos deveriam

181

Pergunta 1 – Você já conhecia a história do Pinóquio?

12 10

10

8

6

4 Crianças

2

0

Sim Não Não responderam

Total 13 crianças.

ler e/ou interpretar para responder as questões. O gráfico 2 apresenta a primeira questão da

atividade e a resposta das treze crianças:

Gráfico 2 – Respostas das crianças sobre a primeira questão do questionário.

3

0

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Pode-se perceber que a maioria das crianças conheciam a história do Pinóquio, por ser

bastante popular no público infantil, porém três crianças responderam que não conheciam o

conto. A falta de conhecimento da história por parte do aluno pode ser pela ausência de se

explorar outros livros além do didático e do incentivo à leitura, “visto que é algo complexo que

envolve os familiares, a sociedade nas quais estão inseridas, variando de acordo com o interesse

do próprio educando” (SOUZA, 2013, p. 39). O gráfico a seguir apresenta a segunda questão

do questionário com a resposta das crianças:

Gráfico 3 – Respostas das crianças sobre a segunda questão do questionário.

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Total: 13 crianças.

Gepeto Outra resposta Não responderam

0 0

Crianças

Pergunta 2 – A quem pertencia oPinóquio?

13 14

12

10

8

6

4

2

0

182

Através do gráfico é possível analisar que todas as crianças compreenderam a pergunta

e souberam responder. Ademais, analisando a atividade das crianças, pode-se perceber que o

nível de escrita de cada aluno é diferente, pois uns escrevem “Gepeto” corretamente, outros

escrevem a palavra como falam: “Gepto”. De acordo com Souza (2013, p. 11) algumas crianças

que escrevem do jeito que falam “tendem a não compreender que uma palavra é composta de

letras usadas em combinações particulares, que correspondem ao som falado. É essencial que

os alunos sejam ensinados e aprendam a arte básica de decodificação e soletração desde o

início”. A seguir, é apresentado o gráfico com a terceira questão do questionário e a resposta

dos alunos:

Gráfico 4 – Respostas das crianças sobre a terceira questão do questionário.

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Na terceira questão do questionário, duas crianças escreveram outra resposta, porém,

analisando a participação delas na atividade, na roda de conversa e através da leitura

interpretativa dos quadrinhos, foi possível compreender que elas entenderam qual seria a

resposta correta, apesar de terem escrito apenas “verdade”, pois, segundo Gonçalves “a

compreensão e a proficiência na leitura evoluem ao longo do desenvolvimento da criança e

relacionam-se com a compreensão de outras informações que a criança obtém através de outros

sistemas de comunicação além da escrita (2008, p. 01)”.

Por conta disso, a interpretação dos quadrinhos está atrelada às capacidades cognitivas

da criança, devendo ser capaz de processar e organizar informações, possuindo também

conhecimentos prévios através das suas vivências em relação aos fatos apresentados na história.

O próximo gráfico apresenta a resposta dos alunos em relação à quarta questão do questionário:

Total: 13 crianças.

Menino de verdade Outra resposta Não responderam

0

Crianças 2

Pergunta 3 – Qual foi o pedido que Gepeto fez à estrela cadente?

11 12

10

8

6

4

2

0

183

Gráfico 5 - Respostas das crianças sobre a quarta questão do questionário.

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Os alunos souberam responder com unanimidade quem deu vida ao Pinóquio. A escrita

dos alunos variou de acordo com o nível de conhecimentos deles e poucos pediram ajuda para

escrever a resposta. Uma aluna interpretou a quarta pergunta de uma maneira criativa e

subjetiva, respondendo que a varinha da fada deu vida ao personagem. Apesar da resposta ser

diferente dos outros alunos, ela não está errada, pois na realidade a Fada Azul usou uma varinha

para dar vida ao Pinóquio. Gonçalves (2008, p. 01) diz que “compreender um texto consiste

num processo gradual durante o qual o leitor procura uma configuração de esquemas que

representem adequadamente cada uma das passagens que vai lendo”. Quando questionada sobre

tal resposta, a aluna disse que a fada azul não conseguiria transformar Pinóquio sem a presença

da varinha. Pode-se perceber, dessa forma, que a garota interpretou além do que estava no

quadrinho, ela utilizou das suas vivências e os seus conhecimentos de mundo. Portanto, o seu

nível de raciocínio, compreensão e a capacidade de identificar um detalhe, que poderia passar

despercebido das outras crianças, está diretamente relacionado à sua habilidade de interpretação

da história. O próximo gráfico aborda as respostas relacionadas à quinta questão da atividade.

Total: 13 crianças.

Fada azul Outra resposta Não responderam

0 1

Crianças

12 14

12

10

8

6

4

2

0

Pergunta 4 – Quem deu vida ao Pinóquio?

184

14

12

10

8

6

4

2

0

Pergunta 5 – Por que Pinóquio faltou à escola?

12

Crianças

Porque ele foi ao Outra resposta Não responderam

circo

Total: 13 crianças.

Gráfico 6 – Respostas das crianças sobre a quinta questão do questionário.

1

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Nesta questão, houveram escritas diferentes acerca da pergunta. A maioria das crianças

responderam que “porque ele foi ao circo”, outros escreveram apenas “circo” e uma menina

respondeu diferente dos colegas de classe. Um aluno apresentou dificuldade para escrever a

palavra “porque”, trocando o “q” por um “p” por não estar habituado a escrever palavras em

que a letra “q” está inserida e apresentou dificuldade em responder às outras questões.

As dificuldades dos alunos podem ocorrer pelo fato de que “a leitura e a escrita exigem

das crianças novas habilidades, que não faziam parte de sua vida quotidiana até aquele momento

e apresenta novos desafios à criança com relação ao conhecimento da linguagem”

(PETROLINO, 2007, p. 21), por conta disso, aprender a ler pode se tornar uma tarefa difícil

para todos os alunos, não só para aqueles que possuem maiores dificuldades. Ademais, segue a

próxima pergunta da atividade do segundo dia de projeto:

Gráfico 7 – Respostas das crianças sobre a sexta questão do questionário.

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Total: 13 crianças.

Porque ele mentiu Outra resposta Não responderam

0 0

Crianças

Pergunta 6 – Por que o nariz de Pinóquio cresceu?

13 14

12

10

8

6

4

2

0

185

Pergunta 7 – Por que Gepeto foi engolido pela baleia?

12

10 10

8

6

4 Crianças

2

0

Foi procurar o filho

Pinóquio no mar

Outra resposta Não responderam Total: 13 crianças.

Todas as crianças tiveram a mesma conclusão, porém suas escritas variavam,

evidenciando, dessa forma, a diferença do ritmo de aprendizagem de cada aluno. Segundo Pinho

e Souza (2015, p. 672) “a concepção de ritmo parece estar ligada ao tempo próprio de um

indivíduo e exprime um desenvolvimento biológico específico”, ou seja, cada aluno possui um

progresso diferente não apenas pela idade cronológica, mas também pela idade mental.

Analisando as respostas, pode-se perceber que alguns alunos escreveram do jeito que

falavam, e outros alunos escreveram corretamente a palavra. Isso acontece porque “nem todas

crianças dispõem das mesmas ideias e experiências prévias em relação à linguagem escrita. Tais

ideias nascem da reflexão sobre a experiência” (PETROLINO, 2007 p. 21) que elas adquirem

em sala de aula.

Ademais, durante a realização da atividade, as pesquisadoras conversaram sobre essa

parte da história e algumas crianças falaram que o ato de mentir aos pais é considerado como

algo errado, compreendendo, dessa forma, que estavam realizando a atividade e, ainda,

refletindo sobre ela. Trabalhar valores com as crianças, através de atividades é fundamental

para a construção da personalidade, do respeito ao próximo e de comportamentos que são

essenciais para o convívio coletivo. O próximo gráfico apresenta a penúltima questão da

atividade:

Gráfico 8 – Respostas das crianças sobre a sétima questão do questionário.

2

1

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Alguns alunos apresentaram dificuldade em resolver essa questão por conter uma

resposta mais longa e elaborada, necessitando interpretar e realizar a leitura do quadrinho. Por

mais que assimilassem o desfecho da história, não conseguiam escrever todas as palavras sem

186

Pergunta 8 – Como Pinóquio saiu da baleia?

14

12

10

8

6

4

2

0

12

Crianças

Fez uma fogueira Outra resposta Não responderam

Total: 13 crianças.

auxílio. Algumas crianças que desenvolveram a resposta sozinhas não conseguiram escrever a

frase totalmente, mas estava coerente com o que a pergunta pedia. Um dos alunos, mesmo com

o incentivo das pesquisadoras, não respondeu a questão. Tais dificuldades são compreensíveis,

pois a criança está em processo de alfabetização. Segundo Petrolino:

Quando a criança começa a ler, a primeira coisa é a identificação dos símbolos

impressos, letras, palavras e o relacionamento desses símbolos com os sons que eles

apresentam. Ao ter contado com as palavras, a criança começa a separar visualmente

cada letrinha que forma aquela palavra e associa ao seu respectivo som, formando,

então, um significado (PETROLINO, 20017, p. 19).

Logo, as crianças que não foram estimuladas e inseridas nas práticas de leitura e escrita

desde da primeira infância (de zero à seis anos de idade), podem apresentar esse tipo de

dificuldade. No gráfico seguinte, apresenta a última questão da atividade do segundo dia de

projeto de pesquisa.

Gráfico 9 – Respostas das crianças sobre a oitava questão do questionário.

1 0

Fonte: Pesquisadoras, 2018.

Todas as crianças souberam responder a pergunta olhando apenas para as tirinhas,

porém encontraram dificuldade em escrever a palavra “fogueira”, pelo fato de ainda estarem

aprendendo a escrever palavras com dígrafos. Muitos alunos “engoliram” o “U”, escrevendo

apenas “fogeira”. Segundo Meireles; Correa:

Os erros ortográficos das crianças não são casuais, mas indicam uma compreensão da

escrita, que vai se modificando conforme vão sendo adquiridos novos conhecimentos

sobre a língua. Durante este processo, a criança vai estabelecendo algumas

regularidades que auxiliam na utilização do sistema de escrita (MEIRELES;

CORREA, 2005, p. 78).

187

Após recolher a atividade, realizou-se uma nova roda de conversa com perguntas

direcionadas. Os alunos ressaltaram fatos abordados nos quadrinhos, como a fuga de Pinóquio

da escola e de como era “feio contar mentira”, outras crianças comentaram, inclusive, sobre

seus colegas que praticavam tal ato em sala de aula.

Pode-se concluir que, na atividade do segundo dia do projeto de pesquisa, os alunos

obtiveram um rendimento satisfatório, participaram ativamente das atividades e, apesar de

apresentarem dificuldades, demonstraram interesse, empolgação e animação ao assistir à

apresentação da história em quadrinhos do Pinóquio em sala de aula.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que os alunos, em maioria, crescem desestimulados à prática de leitura

– os quais somente são alfabetizados dentro de um processo mecânico de ler e escrever – e que

não são capacitados para pensar além das linhas, interpretar e criticar, restringindo o pensar

dentro do que lhe é estabelecido, são, assim, chamados de analfabetos funcionais. E, ainda,

considerando que as crianças – por natureza – precisam de estímulos que captem atenção,

tornam os diferentes métodos pedagógicos indispensáveis à prática de ensino.

Este trabalho permitiu avaliar o gênero textual Histórias em Quadrinhos enquanto

método educativo – levando em consideração sua linguagem e estrutura, assim como sua

ludicidade – a fim de utilizá-lo para obter a participação entusiasmada das crianças no processo

de contato com a leitura e permitir-lhes aprender com prazer, reconhecendo a importância da

formação de crianças alfabetizadas e letradas que serão capacitadas para se tornarem leitores

críticos e interpretativos.

O envolvimento das crianças, durante a aplicação do projeto, ratificou que o gênero

trabalhado é atrativo aos seus interesses, possibilitando o uso ao ensino da língua, de valores e

outros conteúdos, pois foi perceptível que todos os alunos estiveram envolvidos nas atividades,

independentemente do nível de escrita, utilizando criatividade. Desse modo, o gênero textual,

objeto deste estudo, tem valor educativo aos professores que buscam a participação dos alunos

em suas aulas, que se preocupam em fazer-lhes aprender com prazer e objetivam contribuir na

formação de futuros leitores.

REFERÊNCIAS

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dezembro de 1996.

188

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190

EJA: OS DESAFIOS DOS ALUNOS DE PERMANECER NO ÂMBITO

ESCOLAR

EJA: CHILDREN'S CHALLENGES TO STAY AT SCHOO

Erica Cardoso e Cardoso

Mariane do Socorro Dias da Silva

Milena Cardoso Pantoja e Pantoja

Resumo: O presente trabalho tem como tema a EJA e os desafios dos alunos de permanecer no

âmbito escolar. Enfatizando suas dificuldades como, alunos que não concluíram o ensino

fundamental na idade adequada, pelo fato de terem reprovados, por terem filhos e outros, com

isso são inseridos nessa modalidade. Esta pesquisa teve como objetivo analisar as principais

dificuldades de jovens e adultos. A pesquisa foi realizada em uma escola municipal de Moju-

PA, em uma turma da 4º etapa, do ensino fundamental no turno da tarde, os sujeitos do estudo

são alunos entre 16 a 53 anos. Os dados foram coletados através de questionários e entrevistas

semiestruturadas, respondidas pelos alunos e professor da escola. O levantamento de dados

realizou-se com uma abordagem qualitativa e quantitativa, com questionários observando as

particularidades vivenciadas dos indivíduos e quantitativa mediante a coleta de dados,

demostrada através de gráficos. Os referenciais teóricos utilizados foi MOURA, ROMÃO,

HADDAD, ARROYO, GADOTT, PAULO FREIRE e MINAYO. Diante da análise de dados,

o presente artigo alcançou os objetivos propostos, evidenciando as dificuldades encontradas

durante a vivência escolar de alunos da EJA que dependem da rede pública de ensino. Foi

notado a necessidade de metodologias pedagógicas adequadas para se trabalhar a modalidade

da EJA, adaptações curriculares e outros. O trabalho é de grande relevância científica para os

acadêmicos e profissionais da área, pois traz uma contribuição importante para as escolas

traçadas na modalidade da EJA.

Palavras-chave: EJA. Educação. Desafios.

Abstract: The present work has as its theme the EJA and the challenges of students to remain

in the school environment. Emphasizing their difficulties as, students who did not finish

elementary school at the appropriate age, because they have failed, because they have children

and others, they are inserted in this modality. This research had as objective to analyze the main

difficulties of young people and adults. The research was carried out in a municipal school in

Moju-PA, in a class of the 4th stage, of elementary school in the afternoon shift, the subjects of

the study are students between 16 to 53 years. The data were collected through questionnaires

and semi-structured interviews, answered by the students and the school teacher. The data

collection was carried out with a qualitative and quantitative approach, with questionnaires

observing the individuals' particularities and quantitative data collection, demonstrated through

graphs. The theoretical references used were MOURA, ROMAN, HADDAD, ARROYO,

GADOTT, PAULO FREIRE and MINAYO. Given the data analysis, the present article reached

the proposed objectives, evidencing the difficulties encountered during the school experience

of EJA students who depend on the public-school system. It was noted the need for appropriate

pedagogical methodologies to work the EJA modality, curricular adaptations and others. The

work is of great scientific relevance for the academics and professionals of the area, because it

makes an important contribution to the schools traced in the modality of the EJA.

191

Key words: EJA. Education. Challenges.

1 INTRODUÇÃO

Esse artigo pretende discutir a temática da educação de jovens e Adultos-EJA

seletando as dificuldades que os alunos enfrentam para permanecer na escola vespertina, em

Moju-PA, enfatizando alguns fatores que levam o aluno a ser inserido na modalidade de ensino

das etapas do ensino fundamental e médio da rede pública brasileira, em que recebe os jovens

e adultos que não complementaram os anos da Educação básica em idade apropriada.

A presente pesquisa foi desenvolvida no mês de outubro do ano de 2018, em uma

escola municipal da cidade de Moju no estado do Pará. A referida escola funciona em dois

turnos (manhã e tarde) oferecendo educação básica (Ensino Fundamental e Médio Regular) e a

modalidade EJA. O levantamento de dados realizou-se com uma abordagem qualitativa,

observando as particularidades vivenciadas dos indivíduos e quantitativa mediante a coleta de

dados, demostradas através dos gráficos as porcentagens que apontam a quantidade de alunos

e as dificuldades enfrentadas, em uma turma da EJA da 4º etapa/ 1 do turno da tarde. Os sujeitos

foram 19 (dezenove) alunos, na faixa etária entre 16 (dezesseis) anos e acima de 18 (dezoito)

anos.

O estudo foi realizado por meio de questionários e entrevistas semiestruturadas,

respondidas pelos alunos e professor da escola. Conforme MINAYO (2011, p. 64) “ combina

perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o

tema em questão sem se prender a indagação formulada”. Esse tipo de entrevista possibilita os

pesquisadores sanar possíveis duvidas no decorrer do estudo.

A escolha da pesquisa se deu em razão da necessidade de identificar quais as

dificuldades do aluno da EJA oriundos de diferentes realidades econômicas e socioculturais que

procuram essa modalidade de ensino com objetivos e interesses diferentes.

O trabalho é de grande relevância científica para acadêmicos e profissionais da área,

pois traz uma contribuição importante para as escolas traçadas na modalidade EJA, uma vez

que esta pesquisa pode contribuir para práxis pedagógicas, para que o aluno se entenda como

parte do processo de ensino/aprendizagem e buscando a partir desse estudo melhorias para a

permanência de jovens e adultos na esfera educacional.

A educação vem garantir que todos, sem exceção, sejam sujeitos ativos para a

democracia e cidadania, mas quando essas pessoas são jovens e adultos excluídos e oprimidos,

a escola representa uma negação de um direito constitucional, decorrentes de diversas

192

dificuldades sociais. Então a EJA tem como objetivo oferecer educação para as pessoas

excluídas, que lutam para superar suas condições de vida, uma vez que o problema está no

analfabetismo. (GADOTTI 2001, p.32) “o analfabetismo é a expressão da pobreza,

consequência inevitável de uma estrutura social injusta. Seria ingênuo combate-lo sem

combater suas causas.”

Vários fatores contribuem para que esse aluno seja incluindo na EJA, dentre muitos, o

reconhecimento social, econômico e cultural deste aluno tem que estar interligado no processo

de uma educação de qualidade, o não reconhecimento da diferença do mesmo leva-o ao fracasso

escolar, Farias (2017) defende “o não reconhecimento da heterogeneidade no aluno da EJA

contribui para aprofundar as desigualdades educacionais ao invés de combate-las.”

O número de evasão que acontece nas escolas públicas onde há EJA, se torna tão

comum pela ineficiência de motivação para a permanência do aluno no espaço escolar e pelas

razões sociais em que o aluno vive.

A evasão escolar EJA pode ser registrada como um abandono por um tempo

determinado ou não. Diversas razões de ordem social e principalmente econômica

concorrem para a “evasão” escolar dentro da EJA, transpondo a sala de aula e indo

além dos muros (CAMPOS, 2003, s/n).

Os motivos que levam o aluno a desistência são: a ausência de um diferencial na forma

de educar não tendo como prioridade a valorização do conhecimento de mundo do aluno,

muitos são trabalhadores e trabalhadoras que necessitam abandonar os estudos para exercer a

profissão, outros mudam de endereço constantemente, algumas mulheres casam e

posteriormente têm filhos, e enfim, as diversas razões, muitas delas não são identificadas pela

gestão local.

Assim como acontece a evasão, o número de alunos matriculados nessa modalidade

de ensino é muito grande, em uma pesquisa feita pelo MEC o programa fechou 2017 com 3,6

milhões de adesões ao EJA. Como ela oferece carga horaria e turnos diferentes da escola

regular, sem a exigência de frequência, se torna a melhor chance de retomada de estudos,

também procuram para recuperar o tempo que foi perdido em um sistema adaptado para a sua

disponibilidade.

2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2.1 Contexto histórico da EJA

A história da educação brasileira passou por diversos períodos, obtiveram diversas

mudanças e reformas, está se adequava de acordo com a época. Com isto, a trajetória da

193

Educação de Jovens e Adultos no Brasil, inicia-se bem antes do império colonial, no momento

em que os jesuítas exerciam função educadora sobre os indígenas.

A educação de adultos teve início com a chegada de jesuítas em 1549. Essa educação

esteve, durante séculos, em poder dos jesuítas que fundaram colégios nos quais eram

desenvolvidas uma educação cujo o objetivo inicial era formar uma elite religiosa

(MOURA, 2004, p.26)

O ensino da EJA, surge enlaçada com o processo educacional no Brasil, na qual

engloba os modelos econômicos a serem estabelecidos em cada época, onde só passa ser vista

com real importância no sec. IX quando a aristocracia portuguesa vê a necessidade de se ter

trabalhadores capacitados para exercer as funções vigentes. Quando os Jesuítas foram expulsos

pelo Marques de Pombal, toda estrutura educacional passou por transformações, por exemplo:

a uniformidade pedagógica, a transição eficaz de um nível escolar para o outro e a partir desse

momento, o estado começa a ser o encarregado de assumir a educação. No final do século IX e

início do século XX, onde o Brasil transita de império para republica, viu-se a necessidade de

alfabetizar os adultos, acreditando ser essa a solução para o desenvolvimento da sociedade

brasileira e assim conseguir mais votos para beneficiar as elites.

Na República Velha (1889-1930) o modelo de educação não sofreu grandes mudanças,

a elite ainda era privilegiada. Já na década de 40, pode ser considerada como um período áureo

para a educação de jovens e adultos, onde aconteciam inúmeras iniciativas políticas e

pedagógicas de peso, trazendo melhorias para o ensino. No final da década de 40 e início dos

anos 50, tornava-se necessário promover a educação do povo para acompanhar a fase de

desenvolvimento que se instalava nos países, era necessário qualificar a mão de obra. No início

dos anos 60 aconteceu o II Congresso Nacional de Educação de Adultos, um marco histórico

para a área. No período que segue, mudanças políticas e econômicas interferem no processo

educacional, e com a chegada do regime militar, a Educação de Jovens e adultos é concebida

por outras iniciativas governamentais, durante e após o regime, pouco se alfabetizou, a

educação foi estagnada de maneira vazia e superficial. Esses foram marcados por uma intensa

mobilização da sociedade civil em torno das reformas de base.

O país passava por significativas transformações sociais, políticas e econômicas. Essa

nova conjuntura contribuiu para a modificação do caráter das inciativas públicas em relação a

educação de Jovens e Adultos. Em 1961, surgiu o Movimento de Educação de Base (MEB),

neste mesmo ano impulsionado pelas grandes manifestações populares, teve início a campanha

“De pé no chão também se aprende a ler”, a campanha realizada pela Secretaria de Educação

de Natal, no Rio Grande do Norte, tinha como objetivo a imediata extensão das oportunidades

194

educacionais para toda a população daquela região. A tensão do período 1961-1964 foi decidida

com a intervenção dos militares apoiados pelas elites civis. Todas as manifestações de reformas

foram abolidas e colocadas na clandestinidade. Entre os movimentos de educação popular, a

ditadura civil-militar permitiu a sobrevivência apenas do MEB. Com o golpe de 1964, o país

entrou na fase capitalista monopolista de Estado.

O estado, ao mesmo tempo em que atuou com base em uma política econômica

fortemente modernizadora, manteve e aprofundou a dependência ao imperialismo, as

disparidades regionais e a desigual distribuição de renda. A constituição de 1988

demarca avanço do ponto de vista normativo ao ampliar o dever do estado para todos

aqueles que não tem escolaridade básica, independentemente da idade. Destinou-se

ainda, 50% dos recursos de impostos vinculados ao ensino para combater o

analfabetismo e universalizar o ensino fundamental (HADDAD, 2006).

Há uma série de perdas que se acumularam na década de 90, como a redução da idade

para prestar exames para o supletivo, assegurado por lei. A idade mínima para acesso ao ensino

fundamental, ficou estabelecido em 15 anos e para o ensino médio, 18 anos. A EJA passou a

ter caráter supletivo e de ação ao ensino regular. No período de 2003-2010, O MEC anunciou

que a alfabetização de jovens e adultos seria uma prioridade do Governo Federal. Para isso, foi

criada a secretaria extraordinária de erradicação do Analfabetismo, cuja meta é erradicar o

analfabetismo durante o mandato de quatro anos do governo Lula. Para cumprir essa meta foi

lançado o programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual o MEC contribuirá com os órgãos

públicos Estaduais e Municipais, instituições de ensino superior e organizações sem fins

lucrativos para que desenvolvam ações de alfabetização.

É notório que nesta fase da história da Educação brasileira, a EJA possui um foco

amplo, para haver uma sociedade igualitária e uma Educação eficaz, é necessária que todas as

áreas da Educação sejam focadas e valorizadas, não é possível desvencilhar uma da outra.

2.2 EJA e seu ensino

Atualmente, a sociedade necessita cada vez mais se qualificar, para obter assim uma

melhor qualidade de vida, porém, percebe-se que sem estudo há uma grande barreira para se

inserir no mercado de trabalho. Então, os jovens e adultos que não deram continuidade em seus

estudos por algum motivo, estão cada vez mais buscando acesso ao ensino educacional.

Pensando nisso a EJA (Educação para jovens e adultos) vem possibilitar que esses indivíduos

consigam uma formação. De acordo com o site do PRONATEC, a EJA é uma modalidade de

ensino, que perpassa todos os níveis da Educação Básica do país, essa modalidade é destinada

a jovens, adultos e idosos que não tiveram o acesso ao Ensino Fundamental e/ou Médio na idade

apropriada.

195

Assim, esse sistema vem fazer com que o aluno tenha uma nova oportunidade de

ensino no Brasil, o que nos mostra a LDB da seguinte maneira:

Art. 38 Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que

compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento

de estudos em caráter regular. § 1° Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:

I - No nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos;

II - No nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos (BRASIL,

1996).

Sendo então este modelo como forma de retorno ao ensino e específico a um

determinado grupo, deve ser, igualmente, eficaz para atender as necessidades destes. Não se

deve tratar o processo de ensino-aprendizagem de uma turma da EJA como sendo de ensino

regular, pois a metodologia utilizada neste não apresentará os resultados esperados. Onde “o

ensino da EJA é muito diferente. Se pega os alunos mais maduros e a metodologia tem que ser

diferenciada do fundamental menor, no caso regular... pois estes apresentam muitas

dificuldades, apesar de alguns já serem mais velhos” (PROFESSOR ENTREVISTADO, 2018).

Uma escola que desenvolvendo esta modalidade de processo educacional não leva em

conta suas peculiaridades, necessidades, está fadada ao fracasso. A criança a ser introduzida no

ambiente escolar já carrega certo conhecimento empírico e os jovens e adultos ainda mais, logo

suas experiências devem ser levadas em conta e colocadas como parte deste processo, tudo isto

sendo observado pelo educador que:

Conhecendo as condições [...] sejam elas as condições objetivas, como o salário, o

emprego, a moradia, sejam as condições subjetivas, como a história de cada grupo,

suas lutas, organização, conhecimento, habilidades, enfim, sua cultura. Mas,

conhecendo-as na convivência com ele e não apenas “teoricamente”. Não pode ser

um conhecimento apenas intelectual, formal. O sucesso de um programa de educação

de jovens e adultos é facilitado quando o educador é do próprio meio. (GADOTTI;

ROMÃO, 2001 p. 32).

No Brasil é dever do Estado garantir que todos tenham acesso à educação de qualidade,

o artigo 205 da Constituição Federal de 1988 diz que, " a educação, direito de todos e dever do

Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho". Então esses jovens e adultos são legalmente amparados pelas leis vigentes

para que lhe sejam proporcionadas uma educação de qualidade e eficaz, porém o que

percebemos hoje é que o Estado não dá real importância para a modalidade de ensino da EJA,

sobre isso GADOTTI e ROMÃO 2001 afirmam, “a função do estado tem sido entendida, quase

exclusivamente, como escolarização, deixando de lado as possibilidades de educação não

formal, especialmente na educação o básica( que inclui alfabetização) de jovens e adultos”.

196

3 ANÁLISE E DISCUSSOES DO RESULTADO

A pesquisa procedeu-se em três etapas, no primeiro momento foi aplicado o

questionário com os alunos em sala de aula, na qual poderiam marcar mais de uma opção em

cada questão, para identificar os fatores que levam o aluno a ser inserido no ensino de jovens e

adultos e as barreiras encontradas nesse sistema, em seguida uma conversa informal com o

professor entrevistado, da disciplina de Ed. Física, para verificar qual o papel dele no

ensino/aprendizagem dessa modalidade e posteriormente a observação quanto ao processo

educacional desse ensino.

A partir das coletas de dados, foi elaborado os gráficos que aponta os desafios dos

alunos de permanecer no ensino da EJA. É de suma importância ressaltar que as porcentagens

dos gráficos nem sempre completam 100 %, pois no questionário aplicados, os sujeitos da

pesquisa poderiam marcar mais de uma alternativa na mesma questão.

Os resultados indicam que a faixa etária prevalecente desses alunos é maior de 18 anos,

conforme pode ser observado:

Gráfico 1 – Faixa etária dos entrevistados

Fonte: Pesquisa de campo

A faixa etária dos alunos estão entre 16 a 53 anos, demostrando que o público desse

ensino são pessoas que não concluíram os estudos na idade adequada. Podemos também

destacar a significativa presença de idosos nessa modalidade de educação, na qual a pesquisa

aponta que para muitos, se torna uma nova oportunidade, pois muitos consideram ser uma nova

chance estar inserido novamente na educação, além de perceber a grande importância que o

estudo tem na hora de ingressar no mercado de trabalho, pois necessita uma formação completa

do ensino fundamental e médio, e que por serem mais velhos tornam-se mais confiante tendo

possiblidade de voltar ao estudo. Porém, enfrentam algumas dificuldades como conseguir ter

atenção, concentração nas aulas, principalmente por estudarem com mais jovens.

197

Gráfico 2- Lados positivos e negativos de pessoas mais velhas.

Fonte: Pesquisa de campo

Buscando identificar os motivos do abandono escolar, conforme observa-se no gráfico,

é notório alguns pontos principais que serão discutidos no decorrer deste artigo.

Gráfico 3: Motivos do abandono escola

Fonte: Pesquisa de campo

Tanto os alunos da modalidade de ensino regular quanto o EJA, encontram inúmeras

barreiras no ambiente escolar, pois este não leva em consideração as especificidades de cada

discente. O contexto social do aluno em questão não o tornará melhor ou pior na construção da

sua identidade e/ou definição em sala de aula, porém são fatores que devem ser levados em

consideração, uma vez que o ensino para ser significativo deve também remetê-lo a sua

realidade, exigindo assim do professor e sua metodologia de ensino uma certa adequação ou

poderá ocasionar, até mesmo, no fracasso escolar.

Como observado anteriormente, foram encontrados inúmeros motivos que levaram os

alunos entrevistados a abandonarem os estudos, dentre eles o fato de terem filhos, mais

especificamente 42%, como demonstra o gráfico:

198

Gráfico 4: Alunos que possuem filhos

Fonte: Pesquisa de campo

Esse percentual deixa explícito que a gravidez é um dos principais motivos dos alunos

abandonarem os estudos. Sendo que para as mulheres, estar gravida ou ter filhos durante o

colegial aumenta ainda mais as dificuldades de permanecer frequentando as aulas, por causar

vergonha, preconceito, pressão familiar, escolar, principalmente por parte dos amigos, dentre

outros. Por conta disso, muitos adultos e adolescentes abandonam a escola para ajudar na

criação dos filhos e fazem o retorno a EJA por apresentar horários de aulas mais flexíveis.

Pelo fato de alguns estudantes terem filhos, há uma necessidade de inserção dos

mesmos no mercado de trabalho. Com isso, se faz necessário analisar esse fator como uma das

causas do abandono e não-retorno escolar.

Gráfico 5: Alunos que trabalham

Fonte: Pesquisa de campo

O percentual dos entrevistados quanto a pergunta, foi menor de pessoas que não

trabalham. Mas ainda assim sabemos que essa é uma rara exceção. É evidente que a necessidade

196

de trabalhar ficou em segundo lugar como causa do abandono dos estudos no levantamento de

diversas pesquisas realizadas com estudantes. Os jovens que deixam a escola, por opção própria

ou pressão da família, começam a entrar no mercado de trabalho aos 16 anos. Empregam-se em

locais informais, onde não exigem mãos de obras qualificadas, nem carteiraassinada, contudo,

o salário é muito baixo.

Aqui vale lembrar que a legislação brasileira considera obrigatório frequentar a escola

apenas até o fim do ensino fundamental. Isso pode incentivar famílias, especialmente as de

baixa renda, a considerar encerrado o ciclo de estudos antes do ensino médio e exigir que os

jovens passem a contribuir com o orçamento doméstico. Entende-se também que muitas são as

famílias de baixa renda, com isso a necessidade de trabalhar é frequente principalmente no norte

e nordeste.

Como pode ser observado no gráfico a cima, a maioria dos envolvidos da pesquisa não

trabalha, isso significa que muitos estão na modalidade da EJA não por terem que trabalhar no

horário das turmas do regular, e sim porque reprovaram muitas vezes e passaram da idade

correta para estar na série adequada, assim não podendo ingressar no regular porque a idade

não coincide com os demais alunos. São diversos fatores que influenciam na reprovação desses

alunos, como: alunos com baixo desempenho, com dificuldade de aprendizagem, que não

gostam de estudar, que fazem brincadeiras em sala de aula, alunos que não levam o estudo a

sério, por preguiça e outros. Dessa maneira, o alunado não aprovado educacionalmente é

obrigado pelo sistema a adotar a modalidade da EJA, tornando-se assim um grande índice de

alunos que reprovaram. Como pode ser analisado a baixo:

Gráfico 6: Alunos reprovados

Fonte: Pesquisa de campo

200

Foi perceptível que o número de reprovação representa mais de 50% dos entrevistados.

“São estudantes que foram reprovados muitas vezes já no início da educação básica e estão em

defasagem. As escolas não conseguem lidar com as dificuldades, educacionais e sociais, e ele

acaba indo para a EJA, o que é muito equivocado”, diz César Callegari, integrante do Conselho

Nacional de Educação.

Os professores não recebem formações específicas para lidar com esses inúmeros

problemas, o que gera desinteresse do próprio professor em buscar novas metodologias

apropriadas e soluções para contribuir com a educação deste aluno. Então, percebe-se a

necessidade de o professor ter um papel reflexivo no processo de ensino/aprendizagem do

educando. Levando em consideração o conhecimento de mundo daquele aluno. Para ensinar

esses jovens e adultos, precisa partir dos conhecimentos por ele já adquiridos, valorizando o

seu saber. Fazendo com que o professor também aprenda com o aluno, estando em um constante

aprendizado. De acordo com Paulo Freire: “O bom professor é aquele que se coloca junto com

o educando e procura superar com o educando o seu não saber e suas dificuldades, com uma

relação de trocas onde ambas as partes aprendem...”.

Sendo assim, é de suma importância o professor colocar-se junto do aluno, sabendo

que os alunos sentem falta de uma atuação docente com paciência, atenção, dedicação,

metodologias apropriadas e outros, como foi perceptível nas respostas.

Gráfico 7: Como deve ser atuação do docente.

Fonte: Pesquisa de campo

Como a maioria dos entrevistados deixaram claro que a dedicação e a metodologia usada

pelos professores ainda deixam muito a desejar, a maneira que são repassados os conteúdos não

201

se encaixam de acordo com o contexto social em que aquele aluno se enquadra, o que dificulta

no processo de absorção de conteúdos e no melhor entendimento do que está sendo repassado.

A sua realidade deveria ser levada em conta, como metodologia para uma aprendizagem mais

ampla e clara. O professor deve buscar formações que contribuem com a sua didática dentro de

sala de aula, a escola deve agir em conjunto, com o intuito de aprimorar o processo de atuação

eficaz deste docente, para que o conteúdo repassado seja objetivo, simples e de fácil

compreensão, buscando instigar o interesse do aluno na sua busca por conhecimento e em

decorrência disso, um maior interesse durante as aulas.

Gráfico 8: Retorno escolar

Fonte: Pesquisa de campo

Os motivos pelos quais os alunos decidiram voltar a frequentar a escola, em sua

maioria, tinham como único objetivo apenas a conclusão do ensino médio. Retornam à escola

quando percebem a necessidade dos estudos, da aquisição de conhecimentos, visando melhorias

na qualidade de vida e maiores chances de ingressar no mercado de trabalho. Um número menor

tem o objetivo de adentrar em um nível superior, eles visam como algo muito distante, que

traria um retorno financeiro mais tardio, já que uma graduação demora em torno de 4 anos a ser

concluída. Além disso, muitos acham tarde ingressar em uma faculdade, para eles, o curso

técnico seria mais rápido e mais viável ou até mesmo ingressar direto para mercado de trabalho

sem formação.

Com 63%, o maior índice apontado no gráfico, mostra que o sonho deles é apenas

concluir o ensino médio, sem nenhuma perspectiva de vida acadêmica, que venha inseri-lo no

estudo continuo.

202

Gráfico 9: Dificuldades encontradas no retorno a escola

Fonte: Pesquisa de campo

As principais dificuldades encontradas no retorno escolar são inúmeras, o aluno que

busca a EJA, vem de uma realidade sociocultural e econômica muito limitada, que se tornam

barreiras ao seu retorno no âmbito escolar. Dificuldades de aprendizagem, conciliar tarefas de

casa, não ter um responsável para deixar seus filhos, o conteúdo disciplinar que é repassado de

maneira inadequada, fazem parte das grandes causas que vem impossibilitar o retorno do aluno

no ambiente citado. Das problemáticas encontradas, a maior delas foi sobre a falta de transporte,

pois a maioria não tem um meio de locomoção próprio para fazer seu trajeto até a escola, e

dependem do transporte público que o município disponibiliza para fazer a locomoção desse

aluno. Porém, nem todos os dias esses veículos passam, como a maioria das escolas que

atendem a EJA ficam em lugares distantes e atendem em horários específicos, se torna perigoso

e cansativo para esses alunos realizarem o trajeto a pé. De acordo com uma pesquisa realizada

pelo MEC em 2003, a dificuldade em ter acesso e a própria falta de transporte escolar, ainda é

uma das principais causas da evasão. Dados do MEC apontam que “23 mil estudantes podem

estar fora da sala de aula por falta de transporte, os da região Nordeste são os que mais sofrem

com essa situação”.

A dificuldade de locomoção para a escola é muito grande, e a maioria dos alunos

utilizam meios de transportes para deslocar-se até o ambiente escolar, como apresenta o gráfico:

Gráfico 10: Utilização de transportes

203

Fonte: Pesquisa de campo

Fica evidente que a porcentagem de alunos dependentes do transporte público é muito

alta, pois o índice de falta do aluno aumenta significativamente quando esse transporte não está

disponível para atendê-los, demostrando a influência que a falta de transporte tem na educação

desses alunos.

Mesmo com essas dificuldades, as expectativas em relação a escola e aos estudos, são

positivas. Os alunos têm consciência de que necessitam de uma formação para poder ingressar

no mercado de trabalho, somado a isso, é necessário adquirir conhecimento e estrutura para ter

uma melhor qualificação e mais oportunidades. Os entrevistados têm uma visão muito positiva

quanto ao seu futuro, buscam através da escola, um retorno financeiro para melhorar sua

condição de vida e concretizar seus objetivos. Analisando as expectativas dos indivíduos em

relação a escola e aos estudos, como ressalta o gráfico a baixo:

Gráfico 11: Expectativa escolar

Fonte: Pesquisa de campo

204

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada no presente artigo alcançou os objetivos propostos, evidenciando

as dificuldades encontradas durante a vivência escolar de alunos da EJA que dependem da rede

pública de ensino. O estudo enfatiza a problemática que os alunos enfrentam no decorrer de

seu ensino, considerando as necessidades educacionais dos mesmos e a carência de programas

eficazes que amparem os educandos durante o seu processo de formação.

Diante dos resultados obtidos pela análise de dados percebe-se que nas principais

dificuldades encontradas, necessitam de metodologias pedagógicas adequadas para se trabalhar

a modalidade da EJA e adaptações curriculares, como construir um currículo que dê mais

significado à aprendizagem, que venha considerar sua realidade e meio social, para que os

mesmos possam ter uma educação significativa, associando temas do cotidiano às disciplinas

dirigidas na sala, consequentemente fazendo o aluno a entender o assunto com mais facilidade.

A atuação do educando da EJA é fundamental para que os educandos percebam que

o conhecimento tem a ver com o seu contexto de vida, que é repleto de significação.

Os docentes se comprometem, assim, com uma metodologia de ensino que favorece

uma relação dialética entre sujeito-realidade-sujeito. Se esta relação dialética com o

conhecimento por de fato significativa, então as metodologias foram adequadas.

(PARANÁ, 2006, p.40)

Outra dificuldade detectada são que muitos alunos possuem filhos, com isso,

necessitam de criação de creches ou parceira do governo municipal com estadual, para com que

os pais possam deixar seus filhos na brinquedoteca da universidade do estado do Pará, enquanto

vão estudar.

Outro fator que influência na permanência desse aluno, é a utilização de meios de

transporte, principalmente público, para esses alunos fazerem o trajeto até a escola, transporte

este que a maioria das vezes não está disponível ou o aluno não tem condições financeiras para

pagar o mesmo. Portanto, com a intenção de tentar amenizar esse problema, o governo

municipal deveria ajudar financeiramente, com pequenas bolsas de estudos de um certo valor,

fazendo com que consigam meios de transportes para chegar ao ambiente escolar.

Os horários de aula não coincidem com os horários de trabalho de alguns alunos, e

muitos ficam ausentes nas aulas, pois não são liberados de suas tarefas. Desta maneira, é

importante promover reuniões com dirigentes de empresas privadas e públicas, para

conscientiza-los da importância de incentivar os funcionários a frequentar a sala de aula, e com

a intenção de terem um melhor aproveitamento dos conteúdos passados em sala seria necessário

elaborar um cronograma de aulas ajustado à disponibilidade dos alunos garantindo o

atendimento contínuo e a reposição de aulas.

205

No decorrer do estudo, foi notório mesmo com todas as dificuldades de permanência

na escola, ainda há um grande interesse por parte dos educandos em continuar no âmbito

escolar, dando continuidade ao seu desenvolvimento educacional, as expectativas em relação

aos seus estudos são animadoras, muitos têm sonhos de concluir o ensino médio como um

primeiro passo para ingressar ao mercado de trabalho que atualmente está mais exigente.

Em suma, a educação de jovens e adultos no município de Moju, ainda apresenta

muitas metas a serem alcançadas para melhorar a qualidade de ensino que oferece ao seu

público. Pois pensar em educação na sua totalidade, não pode pensar-se apenas em um mero

instrumento transmissor de conhecimento, mas um formador de agentes ativos e reflexivos na

sociedade.

REFERÊNCIAS

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In: Leôncio (org.) Diálogos na educação de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autentica,

2007.

BEISEGEL, Celso Rui. Estado e educação de adultos. São Paulo: Pioneira, 1974.

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação. Proposta curricular para educação

de jovens e adultos, 2002.

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Rio de Janeiro: DP & A, 2002.

FREIRE, P. Conscientização teoria e prática de liberação. São Paulo. Cortez e Morais,

1979.

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207

O INTÉRPRETE DE LIBRAS E A ESCOLA: UMA REALIDADE NO

CONTEXTO INCLUSIVO

THE INTERPRETER OF LIBRAS AND THE SCHOOL:AREALITY IN THE

INCLUSIVE CONTEXT

Cyntia França Cavalcante de Andrade da Silva

Lauro dos Reis Costa Neto

Leiliane Matos de Oliveira

Resumo: O presente trabalho relata a pesquisa em andamento realizada no Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade do Estado do Pará

objetivando analisar a atuação do profissional do intérprete da Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS) a fim de observar sua real função e o oficio efetivo na escola inclusiva a partir das

atuações diferenciadas do professor regente da classe. Nessa perspectiva, a pesquisa realizada

é de cunho qualitativo e foi fundamentada na obtenção de dados através de observação em sala

de aula e questionário direcionado ao profissional interprete regente na turma, visando, dessa

forma, conhecer a realidade a qual o interprete está inserindo e sua real função em sala.

Palavras-chave: Intérprete de LIBRAS. Educação de surdos. Educação especial. Inclusão.

Abstract: This paper reports the ongoing research held by the Institutional Program of

Scientific Scholarship Initiation (IPSSI) from the State University of Pará (UEPA), aiming to

analyze the acting of the sign language interpreter of LIBRAS (Brazilian official sign language),

thus observing its real function and effectiveness in the inclusive school, taking into

consideration the differentiated performances of the teacher responsible for the class. From this

point of view, the realized research is qualitative and was based on the gathering of data through

observation during the classes and the application of questionnaires to the sign language

professional responsible for the class, aiming thus to understand the situation in which the sing

language professional is and his or her real function in the class.

Key-words: Interpreter of LIBRAS. Deaf people education. Special education. Inclusion

1 INTRODUÇÃO

Após o reconhecimento da declaração de Salamanca, a qual “assegura que a educação

de pessoas com deficiência seja parte integrante do sistema educacional”, iniciasse uma

retomada referente aos direitos das pessoas com deficiência, principalmente no que se aplica ao

direito de receber uma educação. Influenciando não somente a escola como ambiente de ensino,

mas em diversas vertentes como sociais e educacionais. Sendo esta declaração uma porta que

proporcionou a luta e o engajamento para diversas outras conquistas no contexto da educação

especial.

208

Com a educação inclusiva os alunos surdos estão inseridos em sala de aula, a qual a

língua da comunidade majoritária é a língua portuguesa, deixando-os a margem no processo

educacional já que sua língua materna é a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Esse cenário

só começa a mudar a partir da Lei 10.436/02 onde, diz que “É reconhecida como meio legal de

comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão

a ela associados.” (BRASIL, 2002, P.1). Dessa forma, a mesma reconhece a LIBRAS como

língua da comunidade surda do País trazendo o reconhecimento linguístico para os surdos,

reforçando a inserção do intérprete de LIBRAS nas salas de aula para mediar a comunicação.

Diante desta realidade a qual coloca a LIBRAS como parte fundamental do processo

educacional dos surdos, o intérprete adentra neste cenário e passa a ser um personagem

indispensável quando temos surdos falantes desta língua, já que este “traduz e interpreta a

língua de sinais para a língua falada e vice-versa em quaisquer modalidades que se apresentar

(oral ou escrita) ” (QUADROS, 2004, p. 11).

Desta forma, entende-se, portanto, que a presença do interprete de LIBRAS é

necessária e garantida legalmente para os educandos surdos, afim de que estes permaneçam nas

instituições de ensino, porém o seu papel enquanto profissional não está bem definido dentro

da própria instituição. Com isso, surgem questões que precisam ser esclarecidas (e dificuldades

a serem superadas), dentre as quais podemos destacar: qual a função do interprete educacional

em sala? O que pede a legislação no que se refere o Intérprete e libras? Qual a relação que o

professor deve estabelecer com este interprete? Como o professor pode trabalhar junto com este

profissional sem que um transfira sua responsabilidade para o outro? De que forma o

entrosamento entre professor e interprete de LIBRAS pode contribuir para o desempenho do

aluno surdo?

Diante da problemática esta pesquisa possui como objetivo geral analisar a atuação do

profissional Intérprete de LIBRAS no intuito de verificar qual sua real função e como ele

trabalha efetivamente na escola inclusiva diferenciando a sua atuação do professor regente da

sala de aula inclusiva no município de Moju. Haja vista, que o mesmo detém como objetivos

específicos: elucidar o papel do intérprete de LIBRAS no contexto da educação inclusiva;

analisar a relação entre professor-interprete e aluno surdo na sala de aula inclusiva; identificar

suas dificuldades em sua atuação em sala de aula; discriminar as funções do professor regente

e do interprete de LIBRAS em sala de aula.

209

Assim, para melhor embasarmos a pesquisa trazemos alguns debates que se fazem

necessário para compreender a necessidade deste profissional intérprete de LIBRAS no

contexto inclusivo.

2 O SURDO E O CONTEXTO EDUCACIONAL

No Brasil a legislação sobre os surdos é vigente e de forma extrema. Isto faz perceber

a presença de uma série de legislações que não foram criadas para exclusão, mas para o pleno

direito à diferença. Estas leis estabelecem alguns fatos obrigatórios por exemplo a educação

especial, a educação inclusiva que, mesmo não garantindo o acesso à cultura surda, garantem o

direito à educação. Existem também legislação que estabelece o momento de uso pleno do

direito cultural de acordo, seja ela Constituição Brasileira, seja com as demais leis educacionais.

Partindo do pressuposto que o surdo, também é um humano, Mantoan, (2013, p. 18)

declara que “a educação é um direito humano, fundamental e, portanto, deve ser colocado à

disposição de seres humanos” sem preconceito ou barreira existente. Dessa forma, o mesmo

possui direitos e deveres, direitos assegurados pela própria constituição federal em seu artigo

5º diz que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se

aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade”, igualdade que deve ser aplicada ao direito da pessoa com deficiência

de receber uma educação de qualidade, respeitando suas características e suas especificidades.

Sabemos que Educação de surdos vem conquistando seu espaço principalmente com

o reconhecimento da Libras como língua da comunidade surda com a Lei 10.436/02. Diante

dessa Legislação busca-se, atualmente, compreender como esse reconhecimento está

configurado em sala de aula com surdos inclusos, como esses professores em sua prática

docente utilizam das estratégias para ministrar suas aulas com os alunos surdos em sala.

Para Mendes (2006) a política para escola inclusiva é controversa. Segundo esses

autores, a inclusão se concretiza com base na idealização de uma escola para todos, que prioriza

a convivência com a diferença, porém imersa nas contradições do próprio sistema neoliberal,

despreza as particularidades dos estudantes em prol da homogeneização em torno do padrão

Ao nos referirmos a uma educação inclusiva como aberta à diferenças, legitimamos o

que queremos extinguir com a inclusão nas escolas, ou seja, excluímos toda e qualquer

possibilidade de agrupar alunos e de identificá-los por uma de suas características, por exemplo,

a deficiência, valorizando alguns em detrimento de outros. Desse, entendemos que é um desafio

210

para todos os docentes atuarem com a diversidade humana que existe numa sala de aula. A

Educação deve ser para todos como apontado por Sá (2011).

A escola é um direito de todos, mas não a mesma escola, não a mesma proposta, pois

a mesma escola não atende às necessidades e especificidades de todos. O “direito de

estar” deve ser preservado, mas ele não resolve. O que resolve é deslocar o foco do

ambiente e colocar o foco no estudante, na pessoa. O que resolve é envidar todos os

esforços para maximizar o aprendizado, é tornar a escola significativa para todos, é

atender ao que sinalizam os especialistas das áreas (que têm sido tão desprestigiados)

e os achados científicos. (SÁ, 2011, p. 17).

Assim, surgem os questionamentos neste contexto inclusivo, trazendo inquietações

perante a inclusão dos surdos em salas regulares. Suas peculiaridades estão marcadas pela sua

língua, a LIBRAS, que é visual-gestual “ela desempenha todas as funções de uma língua oral

e, como tal, poderia ser usada para cumprir, o papel que linguagem oral tem na criança ouvinte”

(MOURA, 2013, p. 15). Esta difere da língua portuguesa que é oral-auditiva, sendo essa

especificidade linguística que vai fazer a diferença no momento da aula, pois uma língua sonora

não chega em um aluno surdo, “o surdo mesmo que ele e sua família não saibam da sua surdez,

irá usar um canal para ter acesso às informações do mundo: o canal visual” (MOURA, 2013, p.

15).

Tal educação pautada em práticas terapêuticas fizeram os surdos buscar a normalidade

procurando assim ser como os ouvintes. As instituições de ensino tendenciaram para uma

educação baseada na normalização, buscando tornar todos em “iguais”. Essa compreensão de

normalidade para Skliar (2006) possui “em sua origem, a pretensão de ordenar a desordem

originada pela perturbação dessa outra invenção, dessa outra fabricação, dessa outra produção

que chamamos habitualmente de ‘anormalidade” (2006, p. 17).

Assim, quando falamos de surdos, nesse processo a surdez se torna uma marca que vai

determinar sua aprendizagem tomando como referência o ouvinte buscando o perfil de

normalidade (LOPES, 2011). É essa normalidade que fez a educação dos surdos ser

impregnada de representações negativas que vão refletir diretamente na sala de aula. É essa

normalidade que buscamos descontruir. O processo de reconstrução de uma educação

diferenciada vai perpassar por mudanças importantes no contexto educacional. Então, é nesta

conjuntura que o interprete vai entrar em cena.

2.1 O intérprete na mediação no processo de construção da aprendizagem

Como a política educacional de inclusão tem se expandido cada vez mais

em nosso país, é perceptível uma inserção nos âmbitos educacionais sem qualquer cuidado

211

especial, onde o fracasso de experiências de aprender é mais numeroso que aquele das vivências

de sucesso. Onde Skliar (2013) menciona três tipos de justificações para esse fracasso. Em

primeiro lugar a questão biológica, tendo em vista o fator natural, onde o surdo é tido como

incapaz devido a sua deficiência. Em segundo lugar, a culpa dos professores ouvintes “[...]

acerca do que é o sujeito surdo, quais são seus direitos linguísticos e de cidadania, [...], quais

as epistemologias do professor ouvinte na sua aproximação com os alunos surdos” (Skliar,

2013, p.18). Por fim, em terceiro lugar, as limitações dos métodos de ensino, dificultando e

desmerecendo a modalidade de comunicação e linguagem do aluno surdo.

Todavia, a partir da necessidade de um profissional capacitado, falante da língua e

conhecedor das “identidades surdas, a língua de sinais, a surdez e os surdos” (Skliar, 2013,

p.30), houve a inserção do profissional intérprete da Língua Brasileira de Sinais que segundo a

FENEIS1 (2006) “[...] precisa ser a voz do surdo e a voz do ouvinte” (apud LACERDA, 2009,

p. 29) dessa forma, percebemos a responsabilidade deste profissional de ser o canal de

comunicação, mediando as “relações entre professor/aluno surdo, aluno ouvinte/aluno surdo

nos processos de ensino/aprendizagem” (LACERDA, 2009, p. 34)

Nesse contexto é que a experiência com intérpretes de língua de sinais em sala de aula

começa a surgir. Essa prática ainda recente em nosso país, pouco conhecida e divulgada, merece

atenção e reflexão, buscando desvendar suas possibilidades e limitações frente àsnecessidades

educacionais dos alunos surdos.

3 METODOLOGIA

O objeto desta pesquisa é atuação do Intérprete de LIBRAS numa escola inclusiva, é

uma pesquisa de campo de cunho qualitativo. O lócus será a priori uma escola inclusiva e os

sujeitos da pesquisa serão intérpretes de LIBRAS que atuam em sala de aula inclusiva. Para

subsidiar a pesquisa com levantamentos críticos sobre a atuação do Intérprete de LIBRAS em

uma escola inclusiva, realizou-se primeiramente uma etapa voltada mais as questões teóricas

relativas ao tema/problema aqui delimitado e posteriormente fizemos as primeiras observações,

complementada por uma pesquisa de campo de cunho qualitativo. Segundo Godoy, a pesquisa

qualitativa ela procura “[...] compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou

seja, dos participantes da situação em estudo.” (GODOY, 1995, p. 58).

Para darmos continuidade as questões éticas construiremos o Termo de Livre

Consentimento Esclarecido – TCLE para que os participantes da pesquisa tenham

1 FENEIS: Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos.

212

conhecimento e dê autorização para publicarmos os resultados posteriormente. Em seguida,

para a coleta de dados será aplicado um questionário, pois segundo Tavora; Bentes, (2011)

afirmam “o questionário é um procedimento de coleta de dados, em que as informações escritas

pelo informante estão carregadas de experiências socioculturais que antecedem ao encontro

pesquisador informante” (TAVORA; BENTES, /2011, p.112). Após a coleta de dados, será

realizado o tratamento dos dados a partir da categorização baseado no conceito de Franco

(2008) que traz de análise de conteúdo. Ela afirma que, a:

Linguagem, aqui entendida, como uma construção real de toda a sociedade e como

expressão da existência humana que, em diferentes momentos históricos, elabora e

desenvolve representações sociais no dinamismo interacional que se estabelece entre

linguagem, pensamento e ação (FRANCO, 2008, p.12-13).

Após delinearmos nossas pretensões metodológicas, iremos apontar a seguir algumas

primeiras impressões de nossa pesquisa, já que ainda está em andamento.

4 RESULTADOS PARCIAIS

Trazemos algumas observações já feitas e alguns conceitos que se fazem necessários

para o andamento de nossa pesquisa.

Para iniciarmos apresentamos primeiramente a definição do profissional intérprete de

LIBRAS de Quadros (2004, p. 7). Ela afirma que o Intérprete de língua de sinais é a, “Pessoa

que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma

determinada língua de sinais”. Ela ainda afirma que com a atuação deste profissional em sala,

enfatiza a “adequação da estrutura física da sala de aula, a disposição das pessoas em sala de

aula, a adequação da forma de exposição por parte do professor”, (QUADROS, 2004, p. 63).

Este profissional é fundamental para a educação de surdos, haja vista que sem ele os

surdos não a chance de acompanhar as aulas que são dadas na modalidade oral. Para Lacerda;

Bernardino (2009),

Quando se insere um intérprete de língua de sinais em sala de aula, abre-se a

possibilidade de o aluno surdo poder receber a informação escolar em sinais, através

de uma pessoa com competência desta língua. O Acesso e o contato com essa língua

na escola pode favorecer o desenvolvimento e a aquisição de novos conhecimentos de

forma ampla e adequada pelo aluno surdo (LACERDA, BERNARDINO, 2009, p.65).

Então, fazendo uma análise da escola em questão, percebemos que ela possui em seu

quadro de funcionários um profissional intérprete de LIBRAS para acompanhar os alunos

surdos o que podemos ver como algo positivo, já que no município são raras as escolas que

possuem esse profissional. Segundo Lacerda (2009 p.27) “A escola que os alunos surdos

213

precisam, defendida no Decreto 5626/05 e a escola real oferecida aos surdos ainda são bastante

diferentes”, pois são escolas que precisam ser revistas enquanto política educacional. Assim,

observamos que está escola busca fazer a diferença.

Para Sander (2004) o intérprete é um profissional fundamental sempre que houver uma

relação entre ouvintes e surdos falantes de LIBRAS em qualquer ambiente, essa necessidade

aumenta quando falamos do surdo em sala de aula. Pois, a participação desse profissional

quando contratado é de fundamental importância nos diversos espaços.

Outro ponto importante observado foi a relação do professor regente e do intérprete de

LIBRAS. Foi perceptível a delegação da responsabilidade dos alunos surdos em sala para o

intérprete de LIBRAS, pondo esse profissional como o principal encarregado pela inclusão

desde educandos surdos, colocando o interprete em situação fora de suas atribuições.

Tais atribuições estão elucidadas na Lei 12.319, de 1 de setembro de 2010, que

regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e

aponta no artigo 6o:

São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências:

I- efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos,

surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa;

II- interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades

didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis

fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos

curriculares;

III- atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos

públicos;

IV- atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de

ensino e repartições públicas; e

V- prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou

policiais.

Assim, tais ações do professor para com interprete acabam sobrecarregando o

profissional que assume outra função, função esta que deveria ser do professor regente da sala

de aula. Algo que segue de forma contraditória do que é estabelecido por Lei, por delegar ao

interprete funções que não deveriam ser dele, como, de uma forma ampla, o interprete

ministrando as aulas para os alunos surdos.

5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Nessas primeiras impressões, percebemos que a presença do intérprete de Libras para

mediar a comunicação em sala de aula é de suma importância, pois sem a sua presença se torna

improvável para o aluno surdo expandir seus conhecimentos e aprender conteúdosministrados

214

na aula pelo professor ouvinte e a escola por já possuir este profissional em seu quadro está

caminhando para os processos inclusivos.

Contudo, sabemos ser necessário uma mudança de postura por parte do professor

regente, que também tem o dever, como educador, de auxiliar o intérprete da Língua de Sinais

em suas práticas. Se o professor não assumir práticas que favoreçam a atuação dointérprete da

Língua de Sinais, consequentemente, a compreensão do aluno surdo ficará comprometida.

Desse modo essas primeiras observações nos permitem perceber que ainda estamos

vivenciando algumas práticas que precisam ser revistas em sala de aula, buscar ir além das

representações ouvintistas para podermos alcançar a educação de surdos que almejamos, pois

não é possível incluir um aluno surdo em uma sala de aula regular apenas com a presença do

intérprete, sem que a comunidade escolar se envolva no processo, garantindo a efetividade do

ato inclusivo. Para que esse processo ocorra é importante a colaboração e empenho de todasas

faces da sociedade, quando não for apenas um problema de um grupo minoritário em busca de

melhorias, mas quando instituições, famílias, profissionais da educação e autoridades

representativas se unirem na busca de um conhecimento mais claro sobre questionamentos

acerca da inclusão.

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216

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS NUMA ESCOLA

DE TEMPO INTEGRAL NO MUNICIPIO DE ABAETETUBA

HE INCLUSION PROCESS OF DEAF STUDENTS IN A

COMPREHENSIVE SCHOOL IN THE MUNICIPALITY OF

ABAETETUBA

Francidalva Morais Neri

Jéssica da Luz Sena

Olidete de Araújo

Resumo: O presente artigo faz um levantamento das práticas pedagógicas adotadas na sala

regular de ensino e na Sala de Recursos Multifuncionais, para o atendimento especializado dos

alunos com Deficiência Auditiva (DA) numa escola de tempo integral, focando o município de

Abaetetuba-PA. Esse diagnóstico partiu de um estudo realizado em 2018, a partir da disciplina

Fundamentos Teóricos e metodológicos da Educação Especial, vinculado ao curso de

Licenciatura em Pedagogia e assim, conhecer quais práticas pedagógicas são adotadas pelos

professores da escola na sala regular e de Recurso Multifuncional, para de fato efetivar esse

processo de inclusão dos alunos surdos. Para isso, foi utilizado estudos bibliográficos, de

campo e documental, com análise de dados, por isto, selecionou-se uma escola da rede

Municipal de ensino que adota como regime de funcionamento o tempo integral. E neste estudo

detectou-se que apesar da escola ser um polo de referência no município, o aluno surdo possui

seus direitos negados, uma vez que os profissionais da sala de aula do regular não possuem

formação necessária para atender a esta especificidade e assim se efetivar de fato um processo

inclusivo da pessoa surda.

Palavras- chave: Surdez. Inclusão. Educação Inclusiva.

Abstract: This article presents a survey of the pedagogical practices adopted in the regular

classroom and in the Multifunctional Resource Room for the specialized care of students with

Hearing Impairment (DA) in a full-time school focusing on the municipality of Abaetetuba-PA.

This diagnosis was based on a study carried out in 2018, based on the discipline Theoretical

and Methodological Foundations of Special Education, linked to the course of Licenciatura in

Pedagogy and thus to know which pedagogical practices are adopted by the teachers of the

school in the regular classroom and Multifunctional Resource, to actually effect this process of

inclusion of deaf students. For that, we used bibliographical, field and documentary studies,

with data analysis, for this, we selected a school of the Municipal network of education that

adopts as regime of operation full time. And in this study it was detected that although the

school is a pole of reference in the municipality, the deaf student has his rights denied, since

the professionals of the regular classroom do not have the necessary training to attend this

specificity and thus to be effective in fact an inclusive process of the deaf person.

Keywords: Deafness. Inclusion. Inclusive education.

217

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho realizou-se uma pesquisa na escola de tempo integral localizada no

município de Abaetetuba, a qual é referência em atendimento com alunos público alvo da

educação Especial. O intuito do diagnóstico é verificar quais práticas pedagógicas são utilizadas

com o aluno surdo na sala regular e na sala de recursos multifuncional e se há o processo de

inclusão dos mesmos.

Como base para esta pesquisa buscou-se fundamentação no processo histórico da

educação de surdos no Brasil que iniciou-se com a criação do Instituto de Surdos-Mudos, hoje

é o atual Instituto Nacional de Educação de surdos (I.N.E.S.). Fundado em 26 de setembro de

1857, no Rio de Janeiro, pelo professor francês Hernest Huet, que contou com o apoio do

Imperador D. Pedro II. A partir do século XX, vemos os movimentos de luta em prol de uma

educação inclusiva, influenciando as políticas educacionais e responsabilizando o Estado para

efetivação dessas políticas educacionais no Brasil que ganhou força e representatividade.

Temos ainda, nos últimos anos um movimento para dar representatividade à cultura e

identidade surda, buscando afirmação e espaço em vários seguimentos sociais, os surdos

historicamente foram estigmatizados. A falta da linguagem contribuía nesta visão, pois a Libras

é a forma de comunicação que estes utilizam. Sobre essa linguagem Santana e Bergamo (2005),

afirmam que “a exclusão social e ou profissional dos surdos, ainda, hoje configura que a

linguagem pode ser fonte de discriminação, não ocorre somente quando temos diferenças de

cor, nacionalidade, religião ou perfil socioeconômico”. Já segundo Lopes (2007). “Entre surdos

e ouvintes a diferença é a linguagem oral. Somente no final do século XVIII, que a surdez se

torna um espaço de cultura e, por isso, de interesse de reflexão, de cunho filosófico”.

2 OS MARCOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

O sistema educacional brasileiro procura adaptar-se aos novos paradigmas

educacionais. Contudo, apesar das diretrizes legais alcançadas neste processo de Inclusão,

vemos que a educação em nosso país, ainda não está no lugar de prioridade dentro das políticas

governamentais, as dificuldades para uma educação inclusiva são muitas, principalmente no

que tange a formação continuada de professores para atuar na área da educação especial. O

processo de ensino e aprendizagem da pessoa surda tem sido uma bandeira de luta, no entanto

tem seus direitos garantidos na Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 205 preconiza

que “A educação é direito de todos, dever do Estado e da família” [...]. Vemos assim, a

responsabilidade do estado em garantir a educação de qualidade, a permanência na instituição

218

escolar, e ainda a responsabilidade familiar no acesso destes alunos à escola, uma vez que

precisam leva-los e acompanha-los no seu ensino e aprendizagem para a garantia de uma

educação de qualidade.

A garantia dos direitos da pessoa com deficiência no ensino regular se deu com a

Declaração de Salamanca, um marco nesse processo de inclusão, pois este documento apresenta

o princípio da escola inclusiva, elaborado em 1994. Segundo a declaração de Salamanca:

Princípio Fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem

aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades

ou diferenças que elas possam ter. [...] assegurando uma educação de qualidade a

todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais estratégias de

ensino, uso de recursos e parceria com a comunidade. (Declaração de Salamanca, p.

5, 1994).

Além, da garantia de direito à educação com a Declaração de Salamanca, vemos que

este direito agora vem acompanhado da garantia de permanência dos alunos com deficiência,

por que o currículo escolar deve ser pensado para ajudar os alunos conforme sua especificidade

e estes devem estar na escola independente da deficiência que tem, estando devidamente

matriculado em todas as modalidades de ensino, sendo garantidas essas diretrizes regidas pela

Declaração de Salamanca.

Assim, com o decreto de nº 5.626 de 22 de Dezembro de 2005, artigo 14, inciso II,

tratam de “ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino de Libras e também

da Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos”. Afinal, sabemos da importância de

alfabetizar os alunos surdos em sua língua. Para Klein e Martins (2012, p.2):

Desde então, muitas coisas mudaram na educação dos surdos em função das lutas do

povo surdo. Empunharam-se lutas e movimentos intensos em favor de seus direitos,

do uso de sua língua, das escolas bilíngues para surdos, da oficialização da Libras, da

conquista do Dia do Surdo, da importância da acessibilidade, entre outros.

Essa mudança veio por conta do início das investigações sobre temáticas da

comunidade e cultura surdas, neste período não havia um sinal oficial em Libras para a palavra

audismo, era apenas algo provisório. Mas as discussões em torno do direito a educação dos

surdos já vinham mudando, empunhando luta para o uso de sua língua, e ensinamento das

escolas bilíngues para surdos e da oficialização da Libras.

Com o artigo 22, do decreto de nº 5.626 de 22 de Dezembro de 2005, que diz “As

instituições federais, responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos

surdos ou com deficiência auditiva”. Ou seja, dar a garantia desse ensino acontecer nas escolas

bilíngues ou nas escolas comuns da rede regular que possa receber alunos surdos e garantir seu

219

direito a ter tradutores e interpretes de Libras.

Temos a Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º “Os sistemas de ensino devem

matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos

educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias

para uma educação de qualidade para todos (MEC/SEESP, 2001)”.

Isso mostra que não é apenas matricular os alunos surdos no ensino regular, mas de

fato garantir a ele condições de permanecer dentro do contexto escolar com condições de se

desenvolver de forma igualitária e aprender como todos os alunos que estão na escola.

No entanto, sabemos que ainda persiste uma realidade muito distante do que garante a

constituição e as Diretrizes Legais em torno da Educação de Surdo no Brasil. Assim, perante o

novo cenário educacional brasileiro, a formação continuada dos docentes requer atenção para

trazer práticas escolares que de fato contribua para inclusão do aluno surdo, não como fim

único, mas para que muitas barreiras sociais sejam combatidas e superadas.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Esta pesquisa será de abordagem qualitativa, pois segundo Minayo (2006, p. 21) “ela

trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores

e das atitudes. [...] o universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das

relações, das representações, e da intencionalidade” [...], a escolha por este método de pesquisa

se faz, por conta da necessita de imersão no contexto no qual se pretende pesquisar e assim,

entender as relações sociais existentes neste contexto, abrindo caminhos para responder os

questionamentos inicialmente proposto.

Para a coleta dos dados foi realizada como técnica de pesquisa a entrevista

semiestruturada e observação das aulas. Conforme Minayo (2006, p 64), esta técnica “combina

perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o

tema em questão sem se prender à indagação formulada”. Para Severino (2016, p. 132), “as

técnicas e procedimentos servem de mediação pratica para realização das pesquisas”. Os

participantes da pesquisa foram os professores da sala regular e da SRM e o gestor da Escola,

sendo que foram levados em consideração alguns pontos como: se os docentes dominavam a

língua Brasileira de Sinais e se desenvolviam as atividades pedagógicas que viessem contribuir

para inclusão social do aluno surdo.

220

Para não identificar os sujeitos participantes da pesquisa e preservar a identidade da

escola, adotaram-se outros nomes para estes, no que segue: Escola de Tempo Integral (ETI).

Os sujeitos: Nazaré (Professora da sala regular manhã PRM); Maria (Professora da sala regular

tarde- PRT); Nazete (Professora da sala de recursos multifuncional manhã- PSRM); Gerson

(Professor da sala de recurso multifuncional tarde- PSRMT); Malu (Professora Cuidadora da

sala regular- PCSR); João (Diretor- JD).

3.1 Estrutura física da escola

A escola de Tempo Integral (ETI) é de alvenaria, prédio próprio e durante o tempo que

os alunos permanecem na escola desenvolvem diversas atividades educativas. O ensino é de 1º

ao 5º ano, o prédio escolar passou por duas reformas, pois recebeu alguns investimentos do

município para se adequar as normas de acessibilidade exigida em lei, e também arrecadou

recursos do governo federal para construção de uma quadra de esporte que a escola não possuía,

mas ainda, não foi concluída

3.2 Entrevistados

Esta pesquisa contou com a participação dos professores da sala do ensino regular e

da sala de Recurso Multifuncional, todos os professores entrevistados possuem nível superior,

a maioria em Licenciatura e em Pedagogia e Pós-Graduação na área Educacional, apenas um

professor foi identificado especialização na área da Educação Especial. A maioria do corpo

docente é efetiva e tem idade entre 26 e 40 anos.

QUADRO 1- Descrição do Perfil dos entrevistados na pesquisa

Cargo

Nome fictício

Idade

Formação

Experiência

Professora da sala

regular manhã

Nazaré

PRM

40 Letras-

Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa

9 anos (4 meses como

professora cuidadora)

Professora da sala

regular tarde

Maria

PRT

35 Pedagogia

Especialização em Psicopedagogia

6 anos

Professora da SRM-

manhã

Nazete

PSRM

32 Pedagogia 7 anos/ 3 em

educação especial

Professor da SRM-

tarde

Gerson PSRMT 31 Pedagogia

Especialista em educação especial

6 anos/ 3 em

educação especial

Professora cuidadora

da sala regular

Malu

PCSR

26 Pedagogia

Psicopedagogia

1 ano em educação

especial

Diretor João

JD

35 Pedagogia

Gestão e supervisão escolar

9 anos

Fonte: pesquisa de campo, 2018.

221

Numa visão geral os professores que trabalham na escola, possuem qualificação para

atuar na educação, pois todos tem licenciatura e já são atuantes na educação há alguns anos, na

área de educação especial vemos que a pós-graduações não estão voltadas especificamente para

um trabalho direcionado ao atendimento destes alunos, o que acarreta refletir quais as

dificuldades que estes professores encontram no processo de ensino-aprendizagem destes

alunos, principalmente na sala regular, onde há necessidade de um apoio especializado para

contribuir na formação e desenvolvimento do aluno. Quando verificamos a atuação docente dos

professores da Sala de Recursos Multifuncionais, vimos que estes conseguem desenvolver um

trabalho direcionado as dificuldades dos alunos surdos, pois estes possuem especialização em

educação especial como o professor Gerson (SEM). Nas observações das falas feitas nas

entrevistas, vimos que a escola se apoia bastante no atendimento que estes alunos recebem no

AEE, mas é um caso a refletir uma vez que os alunos surdos não são atendidos diariamente na

Sala de Recursos e precisam estar na sala regular.

4 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL

(P.P.P)

Na escola pesquisada houve resistência em apresentar o P.P.P., sempre que se buscou

informações a respeito, as respostas foram negativas, segundo os profissionais entrevistados, o

P.P.P. estava em processo de modificação para que se adequasse aos objetivos da escola, mas

que este abrangia a perspectiva da Educação Inclusiva e dos alunos da educação especial. Os

professores relataram que a escola sempre apoia projetos e atividades que de fato todos os

alunos possam participar inclusive os alunos com deficiência, sempre observando as

especificidades de cada educando, para melhorar a prática educativa diária, afinal estes alunos

ficam o dia todo na escola.

4.1 Atendimento escolar

Segundo informações relatadas pela coordenação da escola todo o aluno matriculado,

inclusive os quais tem alguma deficiência se dá de forma igualitária, por meio de matrícula.

Durante a matrícula os alunos com deficiência tem que apresentar o laudo médico e ainda a

ficha de acompanhamento do aluno se egresso de outra instituição de ensino. Este atendimento

acontece primeiramente por meio da observação do aluno, pois quando ele vem de outra

instituição de ensino do município, apenas é apresentado o laudo médico do mesmo que atesta

a deficiência e a ficha de acompanhamento escolar, a qual pontua as dificuldades e

potencialidades, no entanto, não exerce vínculo com as cuidadoras e professoras da sala regular

222

da outra escola para saber quais assuntos estão sendo abordados em sala para que haja uma

relação entre o atendimento do aluno e o que de fato ele está vivenciando na escola que este

regularmente matriculado.

Sendo assim, este atendimento fica comprometido, uma vez que não se estabelece

uma relação entre a aprendizagem do aluno na escola regular e seu atendimento que acontece

em outra escola. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva/2008 prevê: “O AEE complementa e/ou suplementa a formação do aluno com vistas

à autonomia e independência na escola e fora dela”. Além de “Constituir parte diversificada do

currículo”. Desse modo vemos que o ensino e os apoios ao ensino se integram para orquestrar

a aprendizagem e eliminar barreiras, garantindo a participação efetiva de todos os alunos nas

práticas pedagógicas.

4.2 A educação inclusiva na perspectiva dos professores

No acompanhamento realizado na sala de aula os professores relataram que a escola,

vem se adequando aos poucos a nova proposta de educação inclusiva, referência esta voltada

ao espaço físico da escola, porque o município tem instituições especializadas que atendiam

essas crianças como a APAE e a Milton Melo. A respeito da perspectiva da educação inclusiva

os professores da ETI a concebem como:

O acolher todos os alunos de forma igualitária, dentro da escola. (Nazaré, PRM).

É um debate que surge em 2008, devido à luta por uma educação de qualidade para

todos os alunos com ou sem deficiência (João, JD).

É o direito de todos os alunos estarem na escola, aprendendo de forma igual

independente de cor, classe ou deficiência (Malu, PCSR).

O debate sobre inclusão quando analisados a Política Nacional de Educação Especial

na Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008, “O movimento mundial pela educação inclusiva

é uma ação politica, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos

os estudantes de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de

discriminação”. (BRASIL, 2008).

Vemos que os professores traçam uma linha de pensamento que se enquadra no que

diz a Legislação, uma vez que entendem a educação inclusiva como o direito de todos os

indivíduos aprenderem juntos, independente da deficiência, cor, classe como os docentes citam,

e reconhecendo a necessidade de eliminar barreiras discriminatórias, e que precisam ser

superadas para que deste modo à escola procure meios para superar a exclusão educacional de

qualquer indivíduo. De acordo com Mantoan a inclusão implica em ―uma mudança de

paradigma educacional, que gera uma reorganização das práticas escolares: planejamentos,

223

formação de turmas, currículo, avaliação, gestão do processo educativo". (MANTOAN, 2008,

p. 37).

Defendemos, assim, que a inclusão escolar de alunos com deficiência deve contemplar

o desenvolvimento e a aprendizagem desses alunos dentro do processo de ensino-

aprendizagem, por meio de currículo adequado e práticas pedagógicas eficazes e não

simplesmente garantir a matricula e presença destes alunos na escola comum.

4.3 As práticas pedagógicas utilizadas na escola

As professoras da sala regular da ETI mostraram durante a pesquisa um conhecimento

prévio sobre educação especial e inclusiva, demostrando não interferirem no atendimento dos

alunos DA, com nenhuma prática pedagógica, pois acredita que esta é a função do professor

cuidador, somente repassa antecipadamente o conteúdo que vai ser trabalho para professora.

Quando observamos a professora PCSR, percebemos que está ainda, não dominava

completamente a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e seu aluno também não sabia a Libras,

as práticas pedagógicas que ela utilizava eram figuras, coladas no caderno, com seu devido sinal

em libras. Percebemos que a prática docente adotada exige novas formas de direcionar o ensino,

deste modo, Martins, Moraes e Santos (2014, p. 193) afirmam que: “A prática não pode acontecer

de maneira desconexa ao contexto especifico em que adentra, isto é, na sociedade em que a mesma está

inserida, portanto, para tal reflexão é necessário considerar que consequentemente, esta instância vem

implicar no contexto escolar, e posteriormente na pratica pedagógica”.

Isto revela que acreditar que os alunos com deficiência são responsabilidade daqueles

que atuam com eles, pode levar os docentes a adorem práticas pedagógicas que não condizem

com as especificidades dos alunos, uma vez que essa responsabilidade é de toda escola para que

possam desenvolver mecanismos de atendimento educacional que superem barreiras

educacionais e ajudem os alunos na aprendizagem.

Outra questão considerada problemática é com relação às professoras da sala regular,

estas entendem que não são responsáveis pelos alunos com deficiência, segundo os professores

o aluno que possui deficiência é responsabilidade do professor cuidador, com isso verifica- se

a falta de formação continuada com que concerne à educação inclusiva, uma vez que o aluno

com deficiência é responsabilidade da escola como um todo. Consequentemente ações que

poderiam melhorar as práticas pedagógicas para atender de fato as especificidades dos alunos

não são tão eficientes, portanto, pode-se afirmar que não é um atendimento inclusivo.

Os participantes da entrevista consideraram a escola inclusiva, simplesmente pelo fato

dos alunos com deficiência estarem matriculados regularmente, no entanto o processo de

inclusão é bem mais amplo. E perceber-se que as práticas desenvolvidas na sala de aula do

224

regular caminham mais para o processo de integração do que inclusão. Enquanto na sala de

Recursos Multifuncionais percebe-se que os profissionais desse espaço desenvolvem um

trabalho mais inclusivo com práticas e metodologias diferenciadas. Em relação a esse

atendimento, vimos que os alunos com deficiência auditiva, quando não sabem a Libras, muitas

vezes se deslocavam do ensino regular para serem atendidos na SRM e isso foi respondido da

seguinte forma:

Eu faço os atendimentos conforme ficha individual dos alunos que vem da SEMEC

com laudo da deficiência, e acompanhamento das observações das professoras da sala

regular. (Gerson, PSRMT)

As atividades dele de acordo com o assunto que a professora do regular passa, ela me

dá o assunto antes e ai eu faço as atividades adaptadas pra ele (Malu, PCSR).

Os professores da sala regular mesmo entendendo que não tem responsabilidade em

trabalhar com os alunos com deficiência, tem a preocupação em repassar para a professora

cuidadora os assuntos que vão ser trabalhados nas aulas, para que elas possam adaptar, com

elas dizem, os assuntos para o aluno D.A.

O que se torna visível é a preocupação dos professores, do corpo técnico da escola com

os alunos com deficiência, mas os professores, cuidadores não possuem um planejamento

voltado para de fato realizar atividades pedagógicas para os alunos com deficiência,

principalmente com o aluno surdo, por que não domina a Libras, quando nos deparamos com

os profissionais da SRM, vimos que estes já tem uma qualificação maior para trabalhar com os

alunos surdos, e ainda, trabalham com alunos surdos de outras instituições dominam a libras e

assim, desenvolvem atividades de alfabetização, matemática, por meio de atividades lúdicas,

produzidas na própria escola.

4.4 Os alunos surdos

Estes alunos que precisam de um atendimento especializado chegam à escola pela

matricula regular no início de cada ano letivo trazendo juntamente seu laudo e acompanhamento

da ficha individual que é entregue a secretária de educação especial do município, por meio do

projeto professor cuidador. Também, a própria secretária de educação especial, encaminha os

alunos com deficiência de outras instituições de ensino para recebem atendimento na SRM da

escola.

4.5 Atividades desenvolvidas na SRM com alunos surdos

Os professores da escola que fazem o atendimento da SRM desenvolvem diversas

atividades seja de alfabetização, matemática, coordenação, higiene pessoal, sempre montando

225

seus recursos pedagógicos com diversos materiais que podem ser reutilizados, além dos

materiais que a escola disponibiliza.

Figura 1- Sala de Recurso Multifuncional. Figura 2- Sala de Recurso Multifuncional.

Fonte: Pesquisa de campo (2018). Fonte: Pesquisa de campo (2018).

Na ETI, tem dois professores que atuam na sala de recursos multifuncionais, um fica

pela manhã e o outro a tarde as atividades da SRM, vária de acordo com o aluno atendido e o

professor, quando o atendimento é feito com alunos surdos segundo a professora da sala,

aqueles que ainda, não sabem libras, são ensinados variando as atividades, utilizam dados feitos

pela própria professora com figuras, para que o aluno identifique o que é, assim, vai fazendo o

sinal para o aluno do que é aquela figura que caiu, quando o aluno jogou o dado. Também em

algumas atividades é impressa em papel A4 as figuras para o aluno pintar, com o sinal em libras,

e escrita em português a inicial da letra que representa a figura ou o nome para o aluno surdo

cobrir.

A sala sempre tem uma figura com o sinal em libras e a escrita em português do objeto

representado, para que o aluno sempre possa visualizar o objeto e não esquecer o sinal, os alunos

surdos que vem fazer atendimento na escola de outras instituições é apenas um, este por sua

vez, já sabe a libras e é atendido a tarde pelo PSRMT. Os professores afirmam que sempre

pensam nas práticas pedagógicas antecipadamente para o aluno surdo, por que sabem da

importância desse aluno aprender Libras, mas verificou-se a preocupação em um dos

professores dos alunos surdos em fazer com que eles aprenderam a escrever as palavras, por

este motivo é sempre colocado a palavra escrita em Língua Portuguesa nas imagens que são

pregadas nos objetos, sobre isso, a professora explica:

Eu ensino a Libras pra eles, porque é a primeira Língua deles, mas eu ensino muito

eles escreverem em português, porque eles vão precisar pra tudo lá fora, em provas

para vestibular, concurso, então ele tem que aprender. (Nazete, PSRM).

226

Nas ponderações da professora vemos a preocupação dela em ensinar a Língua

Portuguesa para os alunos surdos, pois sabe que em algum momento ele vai precisar dominar

as regras da Língua Escrita. Mas entende também a importância da Libras como primeira

Língua desse aluno.

4.6 Formação continuada

O sistema Educacional do Município de Abaetetuba trabalha por meio da Secretária

de Educação Especial, onde organiza uma vez por ano o Encontro de Educação Especial. Essa

situação é preocupante uma vez, que os próprios professores relatam que não tem tempo de

participar da palestra, por que não são liberados de sua carga horária para participar do encontro,

eles têm que escolher um turno para irem à formação ou não participa. Concordamos com as

autoras Wengzynski; Tozetto (2012, p. 3) quando afirmam que a formação continuada de

professores: “Contribui de forma significativa para o desenvolvimento do conhecimento

profissional do professor, cujo objetivo entre outros, é facilitar as capacidades reflexivas sobre

a prática docente elevando-a a uma consciência coletiva”.

Mas segundo os relatos dos professores que não atuam com a Educação Especial, eles

não são priorizados nessa formação. A professora Nazaré (PRM) revela:

A Secretária oferece uma vez por ano. Nunca participei, porque a escola prioriza o

professor cuidador e eu sou professora da turma regular em outro turno em outra

escola.

Um dos relatos dos professores foi que justamente por trabalhar em dois turnos acaba

não participando da formação, ressaltando ainda, a prioridade da formação oferecida pela

Semec para professor cuidador, mas pergunta Fernandes (2017, p. 73) Os professores de sala

de aula comum não são professores de alunos público-alvo da Educação Especial?

Faz-se necessário, que os envolvidos na discussão e ordenação da Educação Especial

do município de Abaetetuba, repensem essas formações e assumam um compromisso com a

educação destes alunos, que abrange tanto os alunos da cidade, quanto alunos do campo,

valorizando os professores e sua atuação para que possam contribuir de fato com a

aprendizagem destes alunos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutimos uma proposta de educação inclusiva, a qual os caminhos traçados sempre

se chocaram com um grande processo de exclusão e segregação das pessoas com deficiência.

Para Palma e Carneiro (2017, p. 15) Atualmente discutimos uma proposta de Educação

227

Inclusiva que propõe uma modificação no modelo escolar. Nessa perspectiva, a diversidade,

uma característica inerente ao ser humano, não é somente aceita, mas acima de tudo valorizada.

A ETI precisa desenvolver formação continuada para os profissionais para que de fato

atenda as especificidades dos alunos. Os professores da sala regular precisam entender que estes

alunos também são de responsabilidade de toda escola, e precisam desenvolver práticas

educativas que ajudem as cuidadoras a trabalharem com os alunos. A escola precisa ainda, rever

as atividades diárias desenvolvidas dentro da escola, para que assim, possa efetivar uma

educação de qualidade para todos, promover formação continuada para os professores, por que

se observou a reclamação dos professores pela falta de formação, também por conta da jornada

de trabalho, atuando em mais de uma escola e em funções diferentes.

Por este motivo foi de suma importância realizar o diagnóstico sobre as práticas

pedagógicas adotadas na sala regular de ensino e na Sala de Recursos Multifuncionais, para o

atendimento especializado dos alunos com Deficiência Auditiva (DA). Assim, foi possível

conhecer os desafios, as lutas e os desejos de superar esses obstáculos, com estratégias que

possam contornar esse quadro e incluir de fato esses alunos.

Mas, apesar das dificuldades presentes no sistema educacional de Abaetetuba, existem

professores, gestores, coordenadores, que lutam por uma educação melhor com compromisso

e vontade de superar as barreiras encontradas, isso ficaram visíveis nos profissionais

acompanhados, e assim, como os alunos surdos, todos são valorizados, tanto em cunho

pedagógico quanto social, dentro da ETI, visando sempre o sucesso de todos.

Ressaltamos que foi de suma importância a realização desta pesquisa, buscando assim

contribuir com a inclusão social de alunos surdos, uma vez que este levantamento será

encaminhado ao Conselho Municipal de Educação (CME) e ao Conselho Municipal do Direito

da Pessoa com deficiência (CMDPD), para assim juntos erguermos a bandeira de luta de uma

educação de fato inclusiva.

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229

PLURALIDADE CULTURAL E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE ÉTNICO-

RACIAL NEGRA: A PSICOLOGIA NA ABORDAGEM E A PRÁTICA DOCENTE

CULTURAL PLURALITY AND THE FORMATION OF BLACK ETHNIC-RACIAL

IDENTITY: PSYCHOLOGY IN THE APPROACH AND THE TEACHING

PRACTICE

Adriana Helena Moraes e Moraes

Fernanda Cristine dos Santos Bengio

Rayane Correa Pantoja

RESUMO: O seguinte estudo surgiu durante a experiência como monitora na Universidade do

Estado do Pará, onde nas primeiras turmas monitoradas, observou-se que os alunos não

possuíam conhecimento a respeito dos temas transversais, principalmente sobre o tema

Pluralidade Cultural. Diante disso, o estudo tem como objetivo central ressaltar a importância

da psicologia na abordagem desse tema e na formação positiva da identidade étnico-racial

negra. A metodologia do estudo utilizou a pesquisa de revisão bibliográfica, em que se recorreu

a textos especializados no tema. Concluiu-se o que o sujeito-professor deve atuar como

mediador crítico, compreendendo à luz da história, a realidade racial do nosso país.

Palavras-chave: Pluralidade cultural. Prática docente. Identidade étnico-racial negra.

Formação docente.

ABSTRACT: The following study emerged during the experience as a monitor at the

University of the State of Pará, where, in the first monitored classes, it was observed that the

students did not have the knowlodge about transversal themes, mainly about the theme cultural

plurality. Therefore, the main objective of this study is to emphasize the importance of

psychology in addressing this theme and in the positive formation of black ethnic-racial

identity. The methodology of the study used the bibliographic review research, where

specialized texts in the subjetc were used. It was concluded that the subject-teacher should act

as a critical mediator, understanding in the light of history, the racial reality of our country.

Key-words: Cultural plurality. Teaching practice. Black ethno-racial identity. Teacher training.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo surgiu durante a experiência como monitora em Psicologia do

Desenvolvimento e Aprendizagem, na Universidade do Estado do Pará (UEPa) – campus XIV,

situado na cidade de Moju – onde, nas primeiras turmas monitoradas, observou-se que os alunos

230

não possuíam conhecimento a respeito dos temas transversais2, principalmente sobre o tema

Pluralidade Cultural3, no que tange a identidade étnico-racial negra.

Diante disso, os objetivos centrais deste estudo são ressaltar a importância da

psicologia – levando em consideração o contexto racista em que esta surgiu como ciência – na

abordagem do tema transversal posto em foco, uma vez que a psicologia possui correntes

epistemológicas diversas, as quais conferem a esse saber a múltiplas formas de abordar a

constituição do sujeito. E, as matrizes do pensamento psicológico –cientificistas, românticas e

pós-românticas – e suas ramificações (FIGUEIREDO, 2014), edificaram modos de se

relacionar com os indivíduos que perduram até hoje.

Nessa direção, é oportuno informar que a psicologia como ciência emerge em um

contexto em que teorias racistas eram amplamente aceitas como prática científica, legitimando

a subalternização de negros e não brancos quando se observa o recorte racial (PATTO, 1997).

E, contribuir para a formação positiva da identidade étnico-racial negra, agindo

diretamente na formação docente desta instituição, sendo que as escolas – infelizmente – ainda

são palcos de atitudes racistas e discriminatórias, sendo necessário assumir o compromisso

pedagógico e social em superar o racismo e compreender a história e a realidade racial do nosso

país.

O discurso científico afirma uma hierarquia dos saberes, colocando-se no topo, por

apresentar provas dentro de formações discursivas que “descobrem” a verdade. E conforme

Foucault (1988), nós nos subjetivamos pela verdade, ou seja, a constituição do sujeito se dá

pela verdade, a qual é forjada em relações de saber e poder. As práticas que determinadas

matrizes psicológicas (saberes) imprimem na sociedade são a materialização desse poder.

Assim, os saberes e poderes que permeiam a formação docente, configuram um campo

de forças em embate constante e nessa direção a inserção dos temas transversais pode ser

tomado como um desses embates que configuram a produção do sujeito-professor. Contudo, a

psicologia com sua tradição cientificista encontra nesse embate desafios de oferecer uma

perspectiva que não sobrepuja estes outros saberes, pois a produção da técnica do aprender e

ensinar, carrega perigos que demandam um olhar histórico e político, assim como o próprio

saber da psicologia.

2 Fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1ª a 4ª série, sendo assuntos que perpassam por todas as áreas das ciências, como por exemplo, Orientação Sexual, Questões de gêneros, Ética, Meio Ambiente, dentre outros. Ou seja, são temáticas que visam e abordam valores referentes à cidadania, por isso atravessando todas as disciplinas. Ver mais em: http://www.educabrasil.com.br/transversalidade/ 3 Tema transversal introduzido nos currículos em 1997.

231

O entendimento da psicologia – como um saber atravessado por diferentes forças – é

importante para que os preceitos éticos que a direcionam estejam presentes na formação

docente.

O estudo possui relevância no sentido de contribuir para a formação docente naUEPa

(campus Moju), sendo urgente a necessidade de formar docentes capazes de atuarem como

mediadores críticos, entendendo a escola como um direito social, sendo que, é no âmbito escolar

que as identidades de crianças também estão sendo moldadas e formadas.

2 METODOLOGIA

O presente trabalho fora construído com base na pesquisa bibliográfica (TEIXEIRA,

2003), em que o pesquisador deve reunir o maior número possível de fontes bibliográficas que

se reportem ao assunto estudado por ele – no caso deste trabalho algumas das fontes foram

Campelo; Conrado; Ribeiro (2015), Schucman (2014), Franco (2012), Patto (1997), Foucault

(1988), entre outras – para que então ele retire as informações que ele julgar necessárias

conforme o que se está pesquisando. Dessa forma, o assunto pesquisado foi o tema transversal

pluralidade cultural e a afirmação positiva da identidade étnico-racial negra.

Foram realizados os métodos de leitura indicados por Antônio Carlos Gil, que foram

“leitura seletiva”, onde Gil (2009) afirma que esta tem por intuito selecionar o material que de

fato é importante para a pesquisa, para isso, se torna necessário possuir objetivos previamente

determinados para que se tenha um direcionamento quanto a escolha do material necessário

“[...] de forma que se evite a leitura de textos que não contribuam para a solução do problema

proposto” (GIL, 2009, p.59).

Em seguida utilizou-se a “leitura interpretativa”, onde busca-se fazer a relação entre o

que afirma o autor com o problema proposto a solução, fazendo a interpretação do que é

afirmado pelo autor (GIL, 2009).

3 REFERENCIAL TEÓRICO

É indispensável aqui conceituar racismo institucional – ou sistêmico – como um dos

mecanismos estruturais que garante e legitima a exclusão específica dos grupos racialmente

subordinados, como homens e mulheres negros, latinos e indígenas. Este induz, mantem e

condiciona a organização e a ação do Estado, chegando até mesmo a interferir em suas

instituições e políticas públicas ou privadas (ONU MULHERES, 2013, p. 17). O termo foi

definido por dois ativistas do grupo Panteras Negras, Stokely Carmichael e Charles Hamilton

232

em 1967, como capaz de produzir “a falha coletiva de uma organização em prover um serviço

apropriado e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica. (idem,

ibidem, p. 17).

Para este estudo, adotou-se o conceito “raça” de Guimarães (apud. SCHUCMAN,

2014), como sendo “construtos sociais, formas de identidade baseadas numa ideia biológica

errônea, mas eficaz socialmente, para construir, manter e reproduzir diferenças e privilégios”,

o autor constrói esse conceito pois, nas ciências biológicas, não há comprovação alguma da

eficácia desse conceito, sendo errônea, mas tendo forte aceitação pelo senso comum. Pois:

As pesquisas comparativas levaram também à conclusão de que os patrimônios

genéticos de dois indivíduos pertencentes à uma mesma raça podem ser mais distantes

que os pertencentes à raças diferentes; um marcador genético característico de uma

raça, pode, embora com menos incidência ser encontrado em outra raça. Assim, um

senegalês pode, geneticamente, ser mais próximo de um norueguês e mais distante de

um congolês, da mesma maneira que raros casos de anemia falciforme podem ser

encontrados na Europa, etc. Combinando todos esses desencontros com os progressos

realizados na própria ciência biológica (genética humana, biologia molecular,

bioquímica), os estudiosos desse campo de conhecimento chegaram a conclusão de

que a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um conceito alias

cientificamente inoperante para explicar a diversidade humana e para dividi-la em

raças estancas. Ou seja, biológica e cientificamente, as raças não existem.

(MUNANGA, 2004, p. 4-5, grifo nosso).

A psicóloga, Lia Schucman em seu artigo Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial

da branquitude paulistana (2014) chama atenção para a ausência de assuntos étnico-raciais na

grade curricular obrigatória do curso de psicologia, bem como em outros também. Enfatiza que

“ a formação de psicólogos ainda está centrada na ideia de um desenvolvimento do psiquismo

humano igual entre os diferentes grupos racializados” (SCHUCMAN, op. cit., p. 85).

Ainda que haja pouco recorte dessa temática, há produções literárias – como a da

própria autora – que podem servir de combustível para discussões a respeito da importânciada

psicologia diante desses assuntos.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997a, p. 39)4 para

facilitar o entendimento “os temas têm, explicitados em seus documentos, o conjunto de

conceitos, procedimentos, atitudes e valores a serem ensinados e aprendidos”, com o intuito de

tornar a aplicação destes – por parte dos professores – mais acessível e fácil de entender.

Seguindo essa temática, o tema transversal Pluralidade Cultural busca “Tratar da

diversidade cultural, reconhecendo-a e valorizando-a, e da superação das discriminações é atuar

4 Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. 1997.

233

sobre um dos mecanismos de exclusão — tarefa necessária, ainda que insuficiente, para

caminhar na direção de uma sociedade mais plenamente democrática” (BRASIL, 1997b, p. 20).

Ana Célia Silva, em sua obra A desconstrução da discriminação no livro didático

[1997] dizia que a introdução do tema nos currículos era uma pequena oportunidade a povos

subalternizados – a despeito das pessoas negras escravizadas nas américas que tiveram por

séculos suas formas de produção e expressão de conhecimento obliterada da escrita oficial da

história da humanidade – tornarem-se constituintes (mesmo que minimamente) nas práxis dos

professores nas instituições escolares (SILVA, [1997], p. 2)

Por exemplo, uma das problemática que se perpetua até os nossos dias atuais, é o

professor sendo reprodutor de discursos que carregam em si estereótipos negativos em volta da

figura do negro no Brasil, como sendo sujo, malandro e de péssima índole.

Parte disso acontecia porque os livros didáticos distribuídos para as escolas – de todo

o Brasil – continham conteúdos racistas e discriminatórios, tornando-se veículo da expansão de

estereótipos, no qual a população negra era reduzida a uma imagem inferiorizante.

Em solução a essa problemática a autora defendia a reformulação desses materiais

pedagógicos que eram encaminhados para as secretarias de educação de todo os país e, por

conseguinte, para as escolas de ensino fundamental menor. Sendo que:

Os estereótipos geram os preconceitos, que se constituem em um juízo prévio a uma

ausência de real conhecimento do outro. A presença dos estereótipos nos materiais

pedagógicos e especificamente nos livros didáticos, pode promover a exclusão, a

cristalização do outro em funções e papéis estigmatizados pela sociedade, a auto

rejeição e a baixa autoestima, que dificultam a organização política do grupo

estigmatizado” (SILVA, op. cit. p. 24, grifos nossos).

Dessa forma, esses estereótipos são um tipo de violência contra os grupos sociais

estigmatizados, especificamente, a comunidade negra, pois “a violência racista do branco (que)

exerce-se, antes de mais nada, pela impiedosa tendência a destruir a identidade do sujeito negro”

(SOUSA, 1983, p. 2-3).

Isso reflete-se na má qualidade escolar oferecida as crianças oriundas de camadas

populares, Patto (1992) em sua obra A família pobre e a escola pública: anotações de um

desencontro, faz uma análise sobre os determinantes da má qualidade escolar ofertada a

crianças dos segmentos mais pobres da sociedade – sobretudo negras – sendo que o preconceito

contra as pessoas pobres e negras se faz estruturante das práticas pedagógicas dos professores.

A autora comenta obras de intelectuais que buscavam justificar cientificamente –

baseada na medicina do século XIX e XX – a indiscutível superioridade, moral e intelectual,

dos brancos em detrimento dos pobres e não-brancos, classificando estes últimos como

234

“deficientes” e “vadios”. Ao chegarem no Brasil, essas teorias racistas tiveram um efeito já

imaginado, pois “dada a natureza do discurso oficial sobre as vicissitudes da escolaridade das

crianças pobres, não é de estranhar que uma concepção de ‘ser humano’ em termos de ‘aptos’

e ‘inaptos’ estruture a prática de professores e técnicos escolares” (PATTO, op. cit. p. 112).

Nilma Lino Gomes em Educação e Identidade Negra (2002), escreve sobre como

nenhuma identidade – tanto a pessoal quanto a social – é construída no isolamento, pois ela é

construída pelo conhecimento obtido do outro, em relações dialógicas – sendo esta fundamental

– que acontecem durante toda a vida do indivíduo. Portanto, é também na trajetória escolar que

a identidade da criança negra é forjada, porém como esta é vista como “deficiente” e “fraca”,

acaba sendo isolada dentro de uma condição socioeconômica injusta:

Isso fica mais evidente quando pensamos na especificidade do segmento negro e na

sua relação com a educação escolar brasileira: sua inscrição racial é transformada em

deficiência e em desigualdade e essa transformação é justificada por meio de um olhar

que isola o negro dentro das injustas condições socioeconômicas que incidem, de

modo geral, sobre a classe trabalhadora brasileira. (GOMES, op. cit, p. 4).

Diante disso, é necessário assumir o compromisso pedagógico e social em superar o

racismo e compreender a história e a realidade racial do nosso país, pois “não é fácil construir

uma identidade negra positiva convivendo e vivendo num imaginário pedagógico que olha, vê

e trata os negros e sua cultura de maneira desigual. ” (GOMES, op. cit, p. 5). Por isso, é

importante a/o docente atuarem como mediadores críticos, entendendo a escola como um

direito social, uma vez que no âmbito escolar que as identidades de crianças também estão

sendo moldadas e formadas.

No entanto, a imagem das culturas negras (vendidas pela mídia), ainda é carregada de

preconceitos e estereótipos. Isso acaba sendo um dos motivos para que as (os) jovens negras

(os) neguem e rejeitem os valores culturais afro-brasileiros em nossa cultura (CAMPELO,

CONRADO, RIBEIRO, 2015).

Essas imagens levam os(as) jovens negros(as) a rejeitar os valores culturais afro-

brasileiros (religião, cosmovisão, padrão estético, oralidade e ancestralidade) como

negativos e irrelevantes na construção de sua identidade. Ainda se repetem

estereótipos, em que as imagens de homens e mulheres negras são consideradas

exóticas e quase sempre descoladas de uma realidade; e, quando essa realidade é

exposta, sobrevêm os altos índices de pobreza e de criminalidade da população negra,

mestiça e morena. (CAMPELO, CONRADO, RIBEIRO, 2015, p. 220).

Franco (2012) realizou um estudo acerca de homicídios cometidos contra jovens na

capital e região metropolitana de Belém e como são retratados num jornal impresso

sensacionalista. Nas matérias a juventude pobre e não-escolarizada é associada a violência e

constante desvio de conduta. A mídia como perpetuadora de imagens estereotipadas de pessoas

235

negras, pobres e não-alfabetizadas, sob uma racionalidade racista, legitima e banaliza, a

violência contra a comunidade negra.

Em um dos casos noticiados no jornal impresso, há critérios específicos para o que é

ser um “cidadão de bem”, como trabalhar e/ou estudar e nunca ter tido passagem pela polícia,

diante disso, surge as figuras do “jovem virtuoso” e “jovem vicioso” (FRANCO, 2012).

O jovem dito virtuoso é tido como mais importante do que o jovem vicioso, pois o

último é visualizado como um perigo social, que merece, portanto, ser eliminado da

comunidade. E, se o for, não fará falta alguma a esta. Fato notável num relato que uma

testemunha dizia que devia ter sido engano, pois o jovem não fazia uso de drogas e nunca teve

passagem pela polícia, subentende-se que se fosse o contrário a morte seria justificável (idem,

ibdem, p. 96).

O processo histórico e cultural (incluindo as práticas religiosas), tratados pela mídia

carregado de imagens preconceituosas pela sociedade: ignorância, primitivismo, malefício,

praticantes malandros e/ou criminosos etc. Essas imagens levam as (os) jovens negras (os) a

rejeitar os valores culturais afro-brasileiros (religião, oralidade e ancestralidade etc.…) como

negativos e irrelevantes na construção de sua identidade.

Quanto as estas questões de identidade racial – e na afirmação positiva desta – de

acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, foram feitas, por meio

pesquisas e questionários direcionados a integrantes do movimento negro, conselhos –

estaduais e municipais – de educação e ao corpo docente (engajado nas situações étnico-raciais

no Brasil), um levantamento da questão racial, diagnosticando assim a necessidade de políticas

de ações afirmativas:

É importante salientar que tais políticas têm como meta o direito dos negros se

reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias,

manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos. É necessário

sublinhar que tais políticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim como

de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas

devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o

ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com formação para lidar com as tensas

relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a

reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre

descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. (BRASIL,

2013, p.478).

Uma ferramenta importante para o reconhecimento da comunidade negra na cultura

nacional foi a lei 10.639/2003, na qual firma-se a obrigatoriedade do ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica, sendo que “a relevância do estudo de

temas decorrentes da história e cultura afro-brasileira e africana não se restringe a população

negra, ao contrário, dizem respeito a todos os brasileiros” (idem, ibdem, p.503).

236

Assim, torna-se possível dar suporte ao aluno que enxerga sua negritude de forma

ruim, por conta de todos os estereótipos e estigmas criados em torno da figura do negro no

Brasil.

As diretrizes ainda alertam sobre a importância de estar preparado teoricamente. “A

escola tem papel preponderante para eliminação das discriminações e para emancipação dos

grupos discriminados [...] desfazer a mentalidade racista e discriminatória secular, superando o

etnocentrismo europeu” (BRASIL, 2013, p.501). Por isso dialoga com o que é proposto pelo

tema transversal posto em foco neste estudo, além da necessidade de docentes atuarem como

mediadores críticos, entendendo a escola como um direito social de todas as etnias e segmentos

populares, levando em conta que identidades estão sendo moldadas e formadas nas escolas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A falta de conhecimento a respeito dos temas transversais, sobretudo sobre Pluralidade

Cultural, é notável e necessita de atenção, uma vez que, a inserção desses temas deve configurar

a prática pedagógica do professor, como forma de evitar a perpetuação de discursos e ações

racistas e preconceituosas, levando em conta que as escolas ainda são palco para atitudes como

estas (GOMES, 2002).

Vale ressaltar então que, a psicologia não é um saber neutro, deve-se buscar na

operacionalização das práticas em psicologia, segundo Lorau (1993) uma “análise das

implicações” a todo instante. Os saberes que organizam nossas práticas não são neutros e

apontar as modulações que a psicologia tem a oferecer dentro da formação docente é importante

quando consideramos o debate do racismo, da identidade étnico-racial negra e saberes do povo

negro nas licenciaturas.

Portanto, assumir o compromisso pedagógico e social em superar o racismo e

compreender a história e a realidade racial do nosso país é indispensável em toda prática

pedagógica.

Soma-se a isso que, o entendimento da psicologia como um saber atravessado por

diferentes forças é importante para que os preceitos éticos que direcionam a psicologia estejam

presentes na formação docente, e que os alunos formados nesta instituição atuem como

mediadores críticos, entendendo-se aqui que, a escola é um direito social de toda a população

brasileira, sendo assim, inclui-se esses grupos sociais estigmatizados durante toda a história da

humanidade.

237

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das observações realizadas e do estudo elaborado, é inegável que a psicologia

é muito importante na abordagem dos temas transversais, principalmente sobre Pluralidade

Cultural, no que tange a uma formação positiva da identidade racial negra. O entendimento da

psicologia como um saber atravessado por diferentes forças é importante para que os preceitos

éticos que direcionam a psicologia estejam presentes na formação docente.

Os saberes e poderes que permeiam a formação docente, configuram um campo de

forças em embate constante e nessa direção a inserção dos temas [transversais] pode ser tomado

como um desses embates que configuram a produção do sujeito-professor.

Os temas transversais atravessam todas as disciplinas – independente das áreas nas

ciências – e são de suma importância para tratar de valores éticos e cidadania, além de

colaborarem diretamente para uma sociedade mais justa e respeitosa com as diferenças dos

demais.

Sendo assuntos que devem permear toda a prática pedagógica de docentes que se

formarão na Universidade do Estado do Pará campus Moju, são imprescindíveis para auxiliar

a/o professora/professor nas questões étnico raciais já que as escolas são palco de práticas

racistas e discriminatórias.

Portanto, é necessário assumir o compromisso pedagógico e social em superar o

racismo e compreender à luz da história a realidade racial do nosso país, pois a escola é um dos

espaços onde identidades estão sendo moldadas e formadas, e a Educação é um direito social.

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240

AS METODOLOGIAS ATIVAS EM UMA SALA DE AULA:

EXPERIÊNCIA DE POTENCIALIDADES NOS PROCESSOS

PEDAGÓGICOS DE ALUNOS DE GRADUAÇÃO DE UM POLO DA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

THE ACTIVE METHODOLOGIES IN A CLASSROOM: EXPERIENCE

OF POTENTIALITIES IN THE PEDAGOGICAL PROCESSES OF

GRADUATION STUDENTS OF A POLO OF THE UNIVERSITY OF

THE STATE OF PARÁ

Edna Cristina de Melo Conceição

1 INTRODUÇÃO

Trata-se de um relato de experiência que tem como objetivo descrever a experiência

da utilização de Metodologias Ativas em uma sala de aula de Graduação por um docente da

disciplina Didática Geral. Essa experiência foi vivenciada com alunos do curso de Ciências da

Natureza, com habilitação em Química de um polo da Universidade do Estado do Pará, no mês

de outubro.

No primeiro dia, foi apresentado a todos o plano da disciplina (Didática Geral) seus

objetivos e as formas de atividades e métodos avaliativos a serem desenvolvidos durante a

disciplina, enfatizando o uso das Metodologias Ativas no contexto de sala de aula e sua

importância para a construção do protagonismo do discente e a necessidade de inserção de uma

prática educativa inovadora que busque valorizar o contexto social de cada indivíduo.

Mostrou-se ainda, que a disciplina tem o propósito de realizar estudo dos princípios

históricos, filosóficos e sociais da Didática, levando em consideração sua importância como

instrumento pedagógico que corrobora para que a prática educativa dos docentes de

Licenciatura em Química seja um processo que contemple a todos os envolvidos no ato de

aprender e ensinar. Para tanto, foram realizadas duas dinâmicas de acolhimento cujos objetivos

foi conhecer, a princípio, o grau de interação da turma, socialização, bem como outros

comportamentos pessoais para que fossem, a partir daquele momento, realizadas novasformas

e estratégias de intervenção para que o aprendizado da turma fosse alcançado com êxito.

Nos dias seguintes, as atividades foram executadas com os seguintes aportes da

aprendizagem: Aula invertida, a qual tem sua importância ao disponibilizar aos alunos textos

para leitura prévia e posterior apresentação em sala de aula. Outro meio utilizado foi a

Aprendizagem Baseada em Problemas – é um método baseado em problemas, como o

241

próprio nome diz, com vistas a desenvolver no aluno a capacidade de construir seu aprendizado

de modo conceitual e com procedimentos e atos através de um problema proposto, a partir de

sua ação sobre o objeto de estudo. Nessa tarefa foi disponibilizado aos alunos um recurso áudio

visual com o filme “Como estrelas na terra: toda criança é especial” - que abrange temas

centrais da inclusão e práticas educativas.

O desafio dessa atividade deu-se a partir da formação de grupos, que de modo

colaborativo, montaram mapas conceituais das abordagens teóricas do filme e sua interface com

a realidade das salas de aulas na atualidade. A atividade seguinte foi realizada com base na

Aprendizagem Baseada em Projetos – nessa o aluno é instigado a desenvolver um projeto a

partir de um eixo norteador, que pode contextualizar o objetivo a ser alcançado, traçar formas

livres de como esse produto será elaborado, é o método mais estimulante para que osdiscentes

passem a desenvolver sua capacidade crítica e colaborativa perante uma determinada situação

que envolva, de modo mais intensivo, as tecnologias e outros recursos necessários a solução do

problema -

Para essa inferência foram sugeridos dois eixos: Inclusão e Tecnologias. Os grupos

tiveram livre escolha dos temas e o desafio foi de apresentar propostas inovadores de

aprendizagem para alunos nas salas de aulas ou qualquer outro espaço de aprendizagem.

2 MARCO TEÓRICO

As tentativas de quebra de paradigmas que engessam o processo pedagógicos nas sala

de aula não é um tema novo. A necessidade de buscas de estratégias que colaborem para que a

prática educativa seja um meio de potencializar todo o processo educativo nos ambientes

escolares, colocando o aluno como peça central do processo educativo, aumentando sua

responsabilidade na construção de sua formação, é uma articulação que remota aos anseios do

escolanovismo. Essa nova ênfase, dada ao processo de aprender é uma influência trazida para

o Brasil por a Anísio Teixeira sob a influência do filósofo norte americano John Dewey

(MARQUES, 2018).

No contexto atual, Moran (2000, p. 64) enfatiza que ensinar e aprender exige uma

postura mais flexível, requer menos conteúdo modelados e processos de pesquisa e de

comunicação mais abertos. Contudo, as dificuldades com relação a articulação entre extensão

de informação, diversificação de fontes de acessos, com a compreensão aprofundada em lugares

mais flexíveis e menos engessados, são os maiores gargalos desse novo processo, um vez que

242

o universo de informações é bastante vasto e as dificuldades para filtrar as mais relevantes,

integrando-as aos processos mentais que preservem a particularidade do indivíduo é inegável.

As mudanças constantes e velozes da sociedade contemporânea trazem em seu arranjo

a necessidade de uma nova postura docente ou, em outras palavras, que leve em consideração

“a diversidade dos saberes essenciais à sua prática, transpondo, assim, a racionalidade técnica

(...) para uma perspectiva que busque ressignificá-la, valorizando os saberes já construídos, com

base numa postura reflexiva, investigativa e crítica” (DIESEL, BALDEZ, MARTINS 2017, p.

02).

Nesse aspecto, as Metodologias Ativas surgem como formas inovadoras de ensinar e

aprender, levando em consideração as bagagens trazidas pelos atores de seus contextos e

práticas sociais, valorizando o estímulo a resolução de desafios por meio da aprendizagem

significativa, que ressignifica a relação professora aluno. Desse modo, são utilizadas novas

estratégias para que a prática educativa seja redimensionada, levando em consideração a

questão sociocultural e valorização das peculiaridades individuais, em meio à pluralidade

presente nos espaços educativos, com vistas a construção do conhecimento de forma autônoma,

crítica e reflexiva (MARQUES, 2018).

Com esse olhar, o papel do docente no contexto educativo, em oposição às formas

conteudistas, é de mediar a construção do conhecimento, incentivar o aluno a relacionar e

contextualizar o aprendizado de forma significativa e autônoma, uma vez ele (docente) é o

principal elo na para a condução desse processo. Com isso, essa nova postura requer novas

aprendizagens e o desenvolvimento de novas competências, para o docente, exigindo ainda,

alterações de concepções e novo sentido do quefazer docente (DIESEL, BALDEZ, MARTINS,

2017).

Correlacionado a essa leitura, Paulo Freire infere que:

ninguém nasce feito, ninguém nasce marcado para ser isso ou aquilo. Pelo contrário,

nos tornamos isso ou aquilo. Somos programados, mas, para aprender. A nossa

inteligência se inventa e se promove no exercício social de nosso corpo consciente.

Se constrói. Não é um dado que, em nós, seja um a priori da nossa história individual

e social (FREIRE, 1981, p.104).

É na relação de empatia entre docente e discente, com uma prática educativa capaz de

equalizar todo os indivíduos nos processos educativos, que o professor tem uma atuação

singular, visto que essa função articuladora do saber conduz o aluno a recriação de novos

olhares acerca do seu ato de saber aprender em uma perspectiva crítica e reflexiva.

243

O ato de ensinar e aprender é uma relação de complementação dos saberes, posto que,

para Freire (2011, p. 25), “quem forma se forma e se re-forma ao formar e quem é formado

forma-se e forma ao ser formado”.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O planejamento traçado para a realização das atividades em sala de aula garantiu

maior aplicabilidade das atividades, uma vez que, com isso, pode-se trabalhar todas as ações

dentro do perfil que a turma apresentou. Na atividade da dinâmica de apresentação, realizada

na sala de aula, no primeiro dia de aula, ficou evidente que a turma é bastante interativa e não

apresentou qualquer vestígio de conflitos grupais.

A experiência mostrou que os alunos são bastantes interessados pelo aprendizado e

que, durante esse processo, o docente é o maior articulador, fato este observado a partir do

envolvimento participativo, conjunto e interativo da turma na atividade proposta pelo mediador.

Nos dias seguintes, a aplicabilidade das ações proposta tivera um desenrolar bastante

significativo, uma vez que na aula invertida, por exemplo, os alunos buscaram novas formas de

pesquisa e elaboração da ação, haja vista que com a apresentação dos grupos formados para

execução da atividades, vieram debates bastante relevantes e de plurais forma, demonstrando

com isso a particularidade dos grupos para a construção do saber.

A partir do método de aula invertida os discentes puderam ter uma visão mais

abrangente dos conteúdos que foram ministrados, resultando no maior envolvimento deles

durante as aulas a partir de indagações, dúvidas e contextualização com outras literaturas e

experiências. Nesse sentido, ocorreu o que CEDEA (2015) considera como “inversão do

modelo tradicional” em que a disponibilização prévia do material corrobora para o

desenvolvimento de um ambiente rico em conhecimento com adoção de exercícios, atividades

em grupo e discussões. Além disso, nessa atividade se deu a substituição da relação

verticalizada – em que o professor transmite as informações e os alunos absorvem – por uma

em que há troca de visões, sendo o professor somente mediador do ensino tendo em vista o

protagonismo do aluno.

No desenvolvimento dessa atividade, os alunos foram receptivos quanto ao método

mesmo que isso demandasse tempo e dedicação antes de ser mediado o conteúdo pela docente.

Esse fator é essencial uma vez que aulas somente expositivas são as mais comuns e cômodas

para o aluno, e o desafio de abordar metodologias diversas poderia resultar em uma

receptividade negativa pelos discentes. Para CEDEA (2015) é necessário que os alunos passem

244

por um processo de adaptação até se sentirem confortáveis com a sala de aula invertida. Assim,

a aplicação dessa metodologia foi o ponto inicial para a adequação dos discentes.

Corroborando para esse processo adaptativo, a aplicação da Aprendizagem Baseada

em Problemas resultou na comunicação ativa na relação professor-aluno além de possibilitar

maior envolvimento entre os discentes por meio das atividades em grupo. Assim como “o

objetivo principal da prática educativa é criar possibilidades ao educando de aprender e

consequentemente se desenvolver pela ampliação permanente da consciência, como sujeito e

como cidadão” (BOROCHOVICIUS; TORTELLA, 2014). Este intuito foi alcançado desde o

momento em que os alunos se atentaram ao filme e realizaram a formulação de mapas

conceituais para explicação dos seus pontos chaves.

No que tange a proposta baseada na aprendizagem por projetos, viu-se a formatação

de uma autonomia que, de fato, precisa ser estimulada e mediada para que os alunos possam

sentir mais livres para a construção do saber. Por ser uma turma de alunos de graduação, e,

em particular para a formação de professores, os estímulos para a aprendizagem que valorizem

a prática educativa, foi realizada de forma bem enfática, e posteriormente essa análise foi

corroborada por meio da explanação de cada discente pertencente à turma.

Dessa mesma forma, na aprendizagem baseada em problemas, os eixos apresentados

para discussão e a liberdade para recriação de temas a serem posteriormente apresentados,

mostrou uma leitura bastante rica dos referenciais que a turma pesquisou através das

tecnologias. O uso do aparelho celular em sala de aula, foi revestido com uma ferramenta

principal para a ressignificação de estratégias de ensino e aprendizagem.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na aplicabilidade de todos os eventos propostos, as estratégias de intervenções

utilizadas com a turma, - a fim de alcançar a participação mais abrangente e colaborativa -

deram um resultado surpreendente à medida que proporcionaram a colaboração nas atividades

em grupo, participação nas questões individuas, além de feedback das dificuldades de

aprendizagem acerca de determinados assuntos que forma sugeridos.

Nas análises dos textos, que eram estratégias de baseada na aprendizagem

significativa, notou-se o afinamento dos alunos com a articulação dos textos referendadoscom

a realidade sociocultural em que estão inseridos à medida que foram tendo mais contado com

essa atividade. Dessa forma, a interação e articulação com referenciais deixou as informações

já existentes mais atraentes para a leitura e reflexão quanto à aprendizagem.

245

Nota-se também que com a mediação do docente, a aprendizagem passa a ser

potencializada, pois a busca pelo conhecimento e as intervenções de reelaboração da articulação

nos debates dos alunos, foram imprescindíveis para alcance de consideráveis resultados obtidos

no final da disciplina.

Dessa forma, percebe-se que o uso de metodologias ativas na graduação é uma

ferramenta de ampla relevância para o meio acadêmico, posto que torna o aluno mais livre para

a elaboração do saber fazer, saber aprender, saber compreender. Com isso, o discente passa a

ressignificar o ato de aprender e ensinar buscando valorizar o espaço individual, coletivo e

plural de cada ser social.

REFERÊNCIAS

BOROCHOVICIUS, Eli; TORTELLA, Jussara Cristina Barboza. Aprendizagem Baseada

em Problemas: um método de ensino-aprendizagem e suas práticas educativas. Rio de

Janeiro: Aval. Pol. Públ. Educ, v. 22, n. 83, p. 263-294. 2014. Disponível em:<

http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v22n83/a02v22n83.pdf>. Acesso em: 18 out 2018.

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM-CEDEA.

Sala de aula invertida: ensino inovativo. Escola de Administração de Empresas de São

Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). 2015.

DIESEL, Aline; BALDEZ, Alda Leila Santos; MARTINS, Silvana Neumann. Osprincípios

das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Lajeado-RS: Revista Thema,

v. 14, n. 1, p: 268-288. 2017.

FREIRE, Paulo. A ideologia e educação: reflexões sobre a não - neutralidade da

educação. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1981.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 2011.

MARQUES, Lumaira Maria Nascimento Silva da Rocha. As metodologias ativas como

estratégias para desenvolver a educação em valores na graduação em enfermagem.

Niterói- Rio de Janeiro: Esc Anna Nery, v. 22, n. 3. 2018.

MORAN, José Manuel. Mudar a forma de ensinar e aprender com tecnologias

Interações. São Paulo, Universidade São Marcos: Interações, v. 5; n. 9; p. 57-72. 2000.

Disponível em:< http://www.redalyc.org/pdf/354/35450905.pdf>. Acesso em: 18 out 2018.

246

INTERFACES UNIVERSIDADE E ESCOLA PUBLICA: LINGUAGEM,

SABERES E LUDICIDADES NA INFÂNCIA

INTERFACES UNIVERSITY AND PUBLIC SCHOOL: LANGUAGE,

KNOWLEDGE AND CLAIMS IN CHILDREN

Dheneffer Cantão Rodrigues

Gyanne Lopes de Moraes

Miléuma Moraes Sacramento

1 INTRODUÇÃO

O ensino da língua portuguesa em escolas públicas no que se refere ao processo de

alfabetização e letramento é um processo muito delicado e que requer vários reparos em nosso

país. Nas salas de aula de 1º ao 5º ano não basta apenas ditar palavras aos alunos ou lhes mandar

copiar textos do quadro, os mesmos precisam saber o que significam as palavras e por que estão

fazendo aquilo.

O ato de alfabetizar, fator inicial para o estudo de uma língua e aquisição da leitura e

escrita da mesma, é prioridade nos primeiros anos do Ensino Fundamental menor, sendo vista

como o processo de aprendizado do alfabeto e o seu uso como código de comunicação, levando

o aluno a conseguir codificar e decodificar as palavras. Tradicionalmente, as escolas dão ênfase

a alfabetização entendida e aplicada como um sistema alfabético-ortográfico que está

dissociado das funções discursivas e comunicativas, o que consequentemente não considera o

letramento da criança. Portanto, o objetivo do alfabetizador segundo Zanini (1990, p. 44) “é

transportar a criança do domínio do código oral para o domínio do código escrito, deve-se

esperar desse profissional um profundo conhecimento dos mecanismos de funcionamento da

linguagem infantil e de seu desenvolvimento”.

Considerando que o indivíduo já chega na escola com linguagem oral diversificada e

rica em significados, a “alfabetização deve ancorar-se na linguagem que as crianças dominam

e nascer com fortes marcas da oralidade” (FRANCHI, 2012 p.107), uma vez que isso traz

significado para o aluno. E sobre esse processo de aprendizado da escrita e da leitura, Franchi

afirma ainda, que este é um processo em que a criança constrói novos conhecimentos, ereitera

que para haver uma alfabetização eficaz o ensino/aprendizagem tem de estar focado no que seja

ler e escrever e isso envolve aspectos técnicos que exigem treinamento e método, tendo como

perspectiva o valor da escrita e da leitura na prática social contemporânea.

247

Mas não basta apenas alfabetizar, é preciso também letrar o aluno, pois há muitas

concepções equivocadas de professores neste processo de ensino.

Mas o que seria o Letramento? Não é algo totalmente dissociado da alfabetização e

não se resume apenas na representação da linguagem falada por meio da escrita, o letramento

desenvolve o uso competente da leitura e da escrita nas práticas socias do educando, em seu

cotidiano, ele permite ao estudante a faculdade de interpretar e refletir sobre o que leu ou

escreveu, uma vez que a leitura é um processos de construção de significados o que não se

limita ao ato de extrair apenas informações da escrita ou simplesmente decodificar letras,

silabas e/ou palavras, mas “corresponde a um processo de compreensão de como funcionam os

signos linguísticos quando o leitor depara-se com conflitos e elabora suposições, reconstruindo

os significados do texto a partir de sua vivencia de mundo” (DEUS; ROSSI; SILVA, 2012

p.48).

As pesquisas sobre letramento dão ênfase à necessidade que a alfabetização tem de

estar associada aos usos socioculturais da língua escrita, “uma vez que aprender o código escrito

implica ser capaz de manipular explicitamente a estrutura de língua falada” (ZANINI, 1990

p.66). De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil (1998)44,

é importante que a aprendizagem tanto da leitura quanto da escrita deva acontecer em um

processo que esteja relacionado à participação em práticas sociais de uso da língua escrita. O

documento ainda enfatiza que para aprender a ler e escrever, é preciso que as crianças

construam um conhecimento de natureza conceitual, ou seja, que elas percebam não somente o

que a escrita representa, mas como também de que forma isso ocorre. Desde a década de 1980,

estudos referentes a aquisição da leitura e escrita permitiram a compreensão do aluno como um

sujeito que aprende agindo com e sobre a língua.

Nesse sentido, é importante utilizar-se de estratégias que tornam o processo de ensino-

aprendizagem mais dinâmico e atrativo: a ludicidade; ferramenta pedagógica já conhecida pelos

docentes, porém pouco praticada. Este instrumento traz formas de desenvolver a criatividade e

os conhecimentos, não se restringindo apenas ao jogo e à brincadeira, mas inclui atividades que

possibilitam momentos de satisfação, entrega, alegria e diversão aos envolvidos, como a música

e a dança. Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o resultado da atividade, mas a

própria ação e o momento de interação dos alunos e do professor.

Kishimoto (2010, p. 37, apud CEBALOS, MAZARO, ZANIN, CERALDI, 2011)

afirma que “as brincadeiras podem ser o elemento chave para a estimulação linguística”,

abrindo um caminho para o processo de aquisição da leitura e escrita, e penetrando no mundo

248

infantil através do lúdico acabamos por dar um significado especial da língua à criança pois de

acordo com Freire (1997 p. 20 apud CEBALOS, MAZARO, ZANIN, CERALDI, 2011). “De

que vale esse enorme esforço para alfabetização se a aprendizagem não foi significativa.”

Para prática pedagógica que dê resultados é necessário buscar novos métodos e

atividades que cativem o educando, e no ambiente escolar é o espaço onde o lúdico deve ser

explorado e valorizado pelos educadores pois o tradicionalismo, ainda muito presente nas salas

de aula, acaba por prejudicar a aprendizagem das crianças por ser uma tendência que não vê o

educando como centro do processo educativo, e que não valoriza outras formas de ensinar se

prendendo na memorização e repetição do conteúdo. Neste sentido o lúdico se mostra como

uma estratégia metodológica inovadora de sucesso pois permite a produção do conhecimento

de forma mais concreta e o consequente desenvolvimento de diferentes habilidades na criança.

Como afirmam os autores Cebalos, Mazaro, Zanin, Ceraldi (2011):

Consideramos que o universo lúdico é um elo integrador entre os aspectos motores,

cognitivos, afetivos e sociais, podendo influenciar de maneira significativa na vida da

criança, contribuindo no fortalecimento do organismo, melhorando o estado da saúde,

proporcionando o desenvolvimento de habilidades úteis para a vida, criando hábitos

culturais e influenciando na formação de qualidades morais e sociais da personalidade

(CEBALOS; MAZARO; ZANIN, CERALDI, 2011, p.20).

Desta forma, Friedmann (2012 p 47) afirma que “por meio das atividades lúdicas, não

somente se abre uma porta para o mundo social e para a cultura infantis, como se encontra uma

rica possibilidade de incentivar o seu desenvolvimento”, ou seja, além de explorar o mundo

infantil, ainda podemos através dele construir um rico conhecimento com a criança, e como

educadores devemos agregar à nossa prática tudo que proporciona crescimento epistemológico

e didático-pedagógico, usando em nosso favor.

1.1 Aspectos físicos da escola Teófilo Santos

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Teófilo Ferreira dos Santos, se localiza

na rua 32 de Março, bairro Pedreira na cidade de Moju/Pa. Faz atendimento do Ensino

Fundamental das séries iniciais no período matutino e vespertino e da Educação de Jovens e

Adultos (EJA) no período noturno. A mesma conta com estrutura física e funcional de: 7 salas

de aulas, 59 funcionários, sala de diretoria, sala de professores, quadra de esportes descoberta,

cozinha, banheiro dentro do prédio, banheiro adequado aos alunos com deficiência ou

mobilidade reduzida, secretaria, banheiro com chuveiro, refeitório, área verde.

2 METODOLOGIA

Para a realização da pesquisa, foram selecionadas duas escolas públicas do município

de Moju: Dona Zila e Teófilo Santos. O critério para a seleção do lócus foi definido pela

249

exigência de serem escolas de ensino fundamental menor, pois a pesquisa voltava-se para o

público de 2° a 5° ano, correspondendo de 1ª a 4ª series. Uma vez que o objetivo era analisar

o nível de leitura e escrita dos mesmos e em seguida entrar com uma intervenção que

possibilitasse aos participantes uma soma em seu aprendizado.

No entanto, para o presente relato de experiência, apenas a pesquisa feita com a turma

de 2° ano da escola Teófilo será apresentada. Para isso, dividimos o trabalho de extensão em

três momentos significativos que serão apresentados a seguir.

2.1 Primeiro momento: Planejamento, pesquisa de campo e coleta de dados

Na sexta-feira, dia 12 de maio de 2017, visitou-se a escola Teófilo na qual se recebeu

atenção da coordenadora e da professora ministrante da turma de 2º ano, as quais ofereceram

de bom grado o espaço para a observação em sala de aula. No dia 15 (segunda-feira),

retornamos à escola para aplicação da pesquisa; a professora nos permitiu fazer uma breve

observação da aula de Língua Portuguesa na turma de 28 alunos e a partir dessa primeira visão

selecionar dois deles para participarem.

Após alguns minutos de observação e com recepção calorosa da parte das crianças,

perguntamos quem gostaria de participar da pesquisa, a maioria dos alunos levantaram a mão

então perguntamos quem já sabia ler e escrever, poucos deles permaneceram com as mãos

levantadas, com isso, de forma aleatória, foram escolhidas duas delas – um menino e uma

menina – ambos de 7 anos. Em seguida nos recolhemos junto com eles para um lugar fora da

sala de aula e lhes foi proposto, sob a nossa orientação, mas sem a nossa interferência, a

construção de um texto que falasse sobre a sua escola e o seu cotidiano, já que eles diziam saber

ler e escrever, pois de acordo com o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade certa (PNAIC,

2012) “é importante incentivar as crianças a escreverem espontaneamente desde o início do

primeiro ciclo, e que escrevam do seu jeito, sem se preocuparem em ter que escrever

convencionalmente” (p.13).

Após concluírem a produção do texto pedimos que um de cada vez lê-se o que tinham

escrito, porém, ao decorrer da leitura apresentaram certa dificuldade em entender, pois existiam

palavras incompletas, juntas e algumas vezes, sem conexão entre elas, o que dificultava a

releitura de seus textos, mas as crianças fizeram questão de conversar sobre a produção.

Contudo, ambos os textos foram coerentes e apresentavam ideias completas.

Com os textos dos alunos em mãos, retornamos à universidade e em sala de aula,

conversamos sobre o desenvolvimento da pesquisa juntamente com os outros grupos e

concluímos então que a única produção autentica foi a dos alunos referidos acima, ou seja, eles

250

mesmos construíram o seu texto, enquanto que os outros grupos apenas retiraram textos do

caderno de atividades dos alunos. Com estes escritos espontâneos, conseguimos identificar

quais princípios do SEA (Sistema de Escrita Alfabética) estes alunos já assimilavam e quais

ainda precisavam ser compreendidos por eles. A partir da análise criteriosa, sob orientação da

professora coordenadora da pesquisa, sobre as produções dos alunos referidos, identificamos

que estes já estavam bem desenvolvidos para sua idade, e turma, apesar de ainda apresentarem

erros ortográficos.

Com base na teoria da psicogênese da escrita elaborada por Ferreiro e Teberosky

(1986) que os aprendizes passam pelas fases ou períodos pré-silábico, silábico, silábico-

alfabético e alfabético, percebemos que as crianças apresentadas aqui, ambas, estavam no

período alfabético, em que a criança comete erros ortográficos por acreditar que a escrita é a

transcrição exata da fala, o que de fato foi observado nos textos produzidos, mas vale ressaltar

que o fato de uma criança ter alcançado uma hipótese alfabética, isso não indica que ela esteja

alfabetizada, pois precisa ainda dominar as convenções de som-grafia da nossa língua

portuguesa. Após essa breve análise, detectamos a problemática comum entre todos os textos

analisados na/pela turma: falta de noção da existência de espaço entre palavras.

Com base nesta problemática foram planejadas atividades lúdicas acompanhadas de

jogos educativos que trabalhassem esse déficit dos alunos. Os procedimentos foram discutidos

entre a turma e organizados para, posteriormente, serem aplicados na mesma escola em que a

pesquisa foi feita, envolvendo não somente os alunos que produziram os textos, mas as suas

respectivas turmas.

2.2 Segundo Momento: Intervenção

No dia 02 de junho (dia da

intervenção), as equipes foram encaminhadas

para a escola Teófilo, e ao chegarem no local,

foram direcionadas para as turmas dos alunos

participantes da pesquisa. As atividades

programadas, objetivavam auxiliar as crianças

no processo de percepção e compreensão do

uso de espaço entre palavras. Para tais fins,

iniciamos as atividades apresentando à turma

um texto em tamanho ampliado e explicando

que entre uma palavra e outra existia um

Momento de leitura coletiva do texto.

Fonte: Arquivo pessoal.

251

Momento do jogo dos Dados silábicos.

Fonte: Arquivo pessoal.

pequeno espaço que facilitava a leitura e a compreensão. Após essa breve conversa, solicitamos

a leitura conjunta do texto apresentado.

Concluída essa etapa, a turma foi

dividida em grupos para a montagem do

“Quebra-cabeça” que servia para demonstrar o

uso adequado dos espaços. Para isso, foram

distribuídos um envelope, por grupo, referente a

determinados parágrafos (recortados por

palavras) do texto para que o reconstruíssem.

Ao decorrer da atividade, observamos a

dificuldade que alguns alunos ainda

Momento de montagem do Quebra-cabeça.

Fonte: Arquivo pessoal.

apresentavam em empregar o espaço na construção textual, em decorrência disso, percebemos

que era o momento exato de intervir, auxiliando a criança nessa percepção do assunto, uma vez

que, “o professor tem que ser o mediador da aprendizagem, pois ele tem um papel muito

importante e fundamental no crescimento da criança, mediando e propondo situações que sejam

positivas para uma boa qualidade de ensino” (LYRA, 2017, p. 25).

A atividade que se seguiu a esta, foi um “Caça -palavras” concernentes ao texto para

incentivar a percepção e atenção das

crianças. Neste exercício elas recebiam um

marcador confeccionado de papel para

marcarem as palavras que encontrassem no

painel apresentado. Com isso, os alunos

demonstraram desenvoltura na aplicação

da atividade.

Após esse momento, foi aplicado o jogo

com “Dados silábicos”, a classe foi dividida em

Momento do Caça-palavras.

Fonte: Arquivo pessoal.

quatro grupos, cada um deles receberam quatro dados e algumas fichas com palavras, estes

dados continham essas mesmas palavras, mas separadas silabicamente nas suas faces. A

dinâmica se dava da seguinte forma: os dados

eram jogados e as faces com as silabas voltadas

para cima deveriam ser analisadas pelos alunos

se estas formavam palavras contidas na ficha. O

intuito do jogo além de estimular a assimilação

252

entre a linguagem oral e escrita facilitando a construção correta das palavras, era fazer com que

as crianças aprendessem a trabalhar em equipe, já que era um jogo coletivo e necessitava de

diálogo entre o grupo. Com a aplicação desta tarefa, percebemos que a turma já estava bem

desenvolvida, podendo se dizer que estes estavam no período alfabético.

Para finalização das atividades, buscou-se chamar a atenção dos alunos através da

música, pois esta é “uma das artes usadas para chamar a atenção da sociedade [...]” (FEIER;

GEDOZ, 2015, p.5, apud Moraes e Pinheiro, 2012, p.19) e entende-se ainda, que ela é um

instrumento facilitador da aprendizagem. Visando fixar através do lúdico a utilização do uso de

espaço na estrutura textual, fez-se uma paródia da música “Balão Mágico” intitulada “Espaço

Fantástico”;

Super fantástico amigo que bom usar o espaço no nosso textão,

vem aprender com a gente, cantar alegremente mais uma canção.

Tantas crianças já sabem que depois da palavra coloca um espaço

Pra poder escrever outra e ficar bonito o nosso textão.

Vem aprender a escrever assim,

Você terá melhor compreensão.

Super fantástico usar o espaço,

O texto fica bem mais divertido,

Super fantástico usar o espaço,

O texto fica bem compreensivo.

(Composição: CANTÃO, Dheneffer; NASCIMENTO, Edilayne, 2017)

2.3 Terceiro Momento: culminância das atividades

Como forma de aproximar as crianças do campus universitário, foi programado a

culminância de todo o trabalho já efetuado. A proposta era oferecer aos alunos um momento

de recreação, ludicidade e aprendizagem.

253

O evento intitulado como Interfaces Universidade e Escola Pública: linguagem,

saberes e ludicidades na

infância, ocorreu no período

de 05 e 06 de junho de 2017,

tendo como público alvo

apenas as crianças que

tiveram seus textos

analisados, devido a

delimitação do espaço. Com a

finalidade de proporcionar ao

Momento de decoração do

auditório.

Fonte: Arquivo pessoal.

Momento de confecção dos materiais.

Fonte: Arquivo pessoal.

público uma programação agradável, o evento desenvolveu-

se em forma de quatro circuitos.

O primeiro deles intitulou-se “Super Fantástico: o

mundo da leitura e da escrita”. Era o

momento do acolhimento e recepção das

crianças. Para isso fez-se uso de alguns

aspectos lúdicos como: organização do

espaço de acordo com a temática,

caracterização dos acadêmicos, músicas

infantis acompanhadas de dança, e,

Equipe Vermelha: apresentação da paródia

“Espaço Fantástico”.

Fonte: Arquivo pessoal.

apresentação do tema com a paródia autoral

– já exposta aqui –. Além da conversa

descontraída e participativa sobre a temática

envolvida e as orientações sobre os próximos circuitos por quais passariam.

Após essa recepção, os alunos foram direcionados ao segundo circuito, com o tema “A

leitura abre a porta do saber” aonde ocorreu contação de história teatralizada (regional). Seguido

deste, foram ao “Concurso de parlendas”, que proporcionou um momento de interação e

aprendizado entre os alunos e, o quarto e último circuito foi “Atividade de Brinquedo Cantado”,

um momento de brincadeiras e distração. Depois das visitas nestes circuitos, os alunos voltaram

ao primeiro (local da recepção) para lancharem e receberem um brinde (Literatura Infantil) por

suas participações.

254

O evento Interfaces, nos fez refletir sobre a importância que há em aproximarmos a

universidade com dialogo as práticas da escola

públicas, uma vez que esta permite a experiência

vivida do docente em formação. Por outro lado, a

ludicidade no processo de ensino/aprendizagem

produz resultados eficazes no que diz respeito a

fixação do assunto estudado e isso foi percebido com

a realização desse trabalho de extensão.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Equipe Vermelha.

Fonte: Arquivo pessoal.

A partir de um olhar geral do que foi relatado como experiência didática de

intervenção para o ensino de estrutura do texto: espaço entre palavras, sendo descrito a

experiência vivida com alunos do 2º ano do Ensino Fundamental, nos foi possibilitado a

reflexão sobre a prática docente em língua Portuguesa e sobre o ensino e aprendizagem da

leitura e escrita. Além disso, conseguimos apreender diversos conhecimentos e saberes,

entendemos que a alfabetização de uma criança é um desafio que muitas vezes não consegue

ser conquistado pelo professor, criando um déficit na aprendizagem das mesmas, nos mostrando

o porquê de muitas aprovações sem que o aluno tenha a noção do que são as palavras ou o que

elas significam, um letramento desejado porém não concretizado, que retarda a desenvoltura

dos educandos e os torna pessoas com dificuldades na leitura e escrita até mesmo no Ensino

Médio.

Os problemas da alfabetização no Brasil ganharam um espaço significativo de

discussões por diferentes pesquisadores e segmentos da sociedade o que tem contribuído para

muitas transformações na educação brasileira, a qual busca garantir que as crianças, no final do

3° ano do Ensino Fundamental, estejam alfabetizadas. Para isso, “o papel da escola quando se

trata do processo de alfabetização, é ensinar o sistema de escrita e propiciar condições de

desenvolvimento das capacidades de compreensão e produção de textos orais e escritos”

(PNAIC, 2012).

No entanto, precisamos reconhecer as limitações que tanto a escola quanto os

professores enfrentam no meio educacional, para isso faz-se importante que os futuros

profissionais da área sejam oportunizados, no seu processo de formação acadêmica, à

discutirem com os profissionais atuantes sobre a pratica docente, e essa troca de experiências

255

teórico-prática favorece e propicia reflexões significativas sobre a mesma. Desta forma, isso

refletirá no futuro do profissional recém-formado, tanto para aquele que atuará como

alfabetizador quanto aquele que ensinará cálculos matemáticos, uma vez que a teoria aliada à

prática traz ótimos resultados.

Entende-se ainda que a formação do professor é continua, não termina com a

graduação, mas permanece no dia a dia da sala de aula. Dentro dessa visão de alfabetização e

letramento é importante que o profissional busque por meios que o auxilie nesse processo,

segundo Morais, Leite, Sá e Pessoa (2012), “ isto implica em práticas de alfabetização

contextualizadas, permeadas pelo fazer lúdico e que propiciem construções mentais e culturais

das crianças acerca dos múltiplos aspectos de sua realidade– inclusive da língua escrita como

objeto cultural e social” (p.9). Foi a partir dessa concepção que procuramos, neste trabalho,

apresentar a ludicidade como uma das ferramentas e estratégias que colaboram para favorecer

evolução nesse processo educacional.

Portanto, esse contato com a realidade, o ato da intervenção, a procura por lacunas, o

pensar e o fazer algo para auxiliar na problemática encontrada revelou-nos que essa união e

aproximação do Ensino Superior (Universidade) com a Educação produz reflexões sobre

estratégias de melhoria para o ensino/aprendizagem das crianças. Além disso, essa experiência

proporcionou ricos momentos de interação e criatividade, presenteando-nos com

conhecimentos didático pedagógicos inesquecíveis, abrindo as portas do saber para ambas as

partes, acadêmicos e crianças, levando-nos a compreender que a prática pedagógica não se

restringe à sala de aula, mas que se transforma e leva o conhecimento para além dela.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.

Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1993. 3v.;

BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Pacto nacional pela

alfabetização na idade certa: apropriação do sistema de escrita alfabética e a consolidação

do processo em alfabetização em escolas do campo. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.

Brasília: uni. 3; MEC, SEB, 2012. 59p;

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Poio à Gestão Educacional. Pacto

Nacional pela alfabetização na idade certa: formação do professor alfabetizador: caderno

de apresentação. – Brasília: MEC, SEB, 2012. 40p

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua

portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília. 1997. 144p.

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como meio de desenvolvimento infantil. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires,

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DEUS, D. C. M; ROSSI, M. A. L; SILVA, P. M. M. A literatura como agente letrador.

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FRIEDMANN, Adriana. O Brincar na Educação Infantil: Observação, adequação, inclusão.

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LYRA, J. H. Glaciene. As dificuldades de aprendizagem no contexto escolar; patologias

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(Orgs.) Suportes linguísticos para a alfabetização. – 2.ed. Porto Alegre: Sagra, 1990. pp.

43-69.

257

LIVRO SENSORIAL: POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO

LÚDICA E TRANSFORMADORA

SENSORY BOOK: POSSIBILITIES FOR A TRADITIONAL AND

TRANSFORMING EDUCATION

Ângela Gabriela Cardoso Dias

Michele Dias Maués

Nayara Silva Almeida

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como intuito demonstrar a importância do livro sensorial no ensino

aprendizagem das crianças com deficiência, a apresentação foi desenvolvida na Universidade

do Estado do Pará campus Moju na disciplina Linguagens Especiais e Comunicação Humana,

ministrada pela Profª Msc Cynthia França para obtenção de nota. A exibição do livro sensorial

foi de cunho explicativo e demonstrativo realizado na turma de Licenciatura Plena em

Pedagogia do 4º semestre. Os procedimentos utilizados para conseguir executar o trabalho

foram pesquisas bibliográficas.

Dessa maneira o livro sensorial vem auxiliar no desenvolvimento, cognitivo dessas

crianças e na sua coordenação motora, além de estimular na criança o interesse por atividades

da vida diária como: pentear os cabelos, amarrar os sapatos, reconhecer as formas geométricas,

conhecer as cores, identificar tipos de transporte etc. contribuindo para o desenvolvimento e

favorecimento da vida em sociedade.

O livro sensorial é um método indispensável para ensinar através do lúdico e do

brincar. Zanluchi (2005, p. 89) reafirma que “Quando brinca, a criança prepara-se a vida, pois

é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem

como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas.” Assim, destacamos que a

brincadeira é fundamental para a criança com deficiência, é uma boa forma de movimentar-se

e ser independente. Brincando a criança desenvolve os sentidos, adquire habilidades, é capaz

de reconhecer objetos, formas, tamanhos, texturas, cores e sons. A criança entra em contato

com o ambiente, relaciona-se com o outro, desenvolve o físico, a mente, e torna-se ativa.

258

2 MARCO TEÓRICO

As teorias de Vygotsky são essenciais para entender a importância do contexto sócio-

cultural e das interações sociais, pois o autor afirma o meio em que a criança está inserida será

uma significativa influencia para o seu desenvolvimento perante a sociedade, ou seja, a

convivência com as pessoas transformara de certa forma um indivíduo. O autor destaca também

a importância do brincar no desenvolvimento da criança e identifica níveis nesses

desenvolvimentos (Nível de desenvolvimento real) que é o desenvolvimento adquirido, ou seja,

aquilo que a criança consegue realizar sozinha e o (Nível de desenvolvimento potencial) aquilo

que ela realiza com o auxílio de outra pessoa.

Para melhor explicar a importância das interações sociais no desenvolvimento

cognitivo Vygotsky criou a (Zona de desenvolvimento proximal) que é a distância em que a

criança faz sozinha (nível de desenvolvimento real) e o que ela capaz de fazer com a interação

de um adulto (Nível de desenvolvimento potencial), ou seja, o que hoje está na zona de

desenvolvimento proximal, amanhã pode ser desenvolvimento real. Vygotsky (2007), o brincar

cria essa zona de desenvolvimento, pois, brincando, a criança se comporta além de seu

comportamento habitual. Sendo assim, o livro sensorial torna o aprendizado da criança com

deficiência mais eficaz, pois as atividades lúdicas desenvolvem suas potencialidades.

Resultados e discussões

O livro sensorial utilizado foi confeccionado com pano e eva, e é recheado de

atividades silenciosas para as crianças, e através de diferentes sensações os pequenos

descobrem as formas geométricas, as cores, os números, as quantidades, as letras e ainda

desenvolvem o raciocínio lógico, a memória e a atenção, tudo de forma lúdica, fornecendoaos

alunos orientações e conhecimentos que facilitam o aprendizado dentro da escola e o

desenvolvimento no convívio social.

Percebemos que as atividades sensoriais facilitam o desenvolvimento motor e

cognitivo da criança com deficiência, pois irá despertar o interesse e ampliará seus

conhecimentos e principalmente facilitará para a sua autonomia, portanto estimular, apresentar

e incentivar atividades que envolvem ludicidade sensoriais seguramente promove aos

educandos um ensino diferenciado e agradável já que, proporcionara aos alunos o brincar

juntamente com o aprender.

Portanto, a ludicidade e a socialização são possibilidades positivas capazes de ajudar

os alunos com deficiência em seu desenvolvimento escolar e social, despertando sempre o seu

interesse por aprender e principalmente a demonstrar que os mesmos têm capacidade de viver

259

em sociedade normalmente e ocupar o seu lugar onde quiser. As crianças ao entrarem em

contato com o manuseio do livro sensorial afirmam-se na sua autonomia, ao comunicar ou

exercitar a sua comunicação no dia-a-dia, bem como incentiva a criatividades das crianças.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contudo, de acordo com Vygotsky (1998) que busca compreender a relação entre

linguagem, desenvolvimento e aprendizagem frente ao processo histórico cultural e a interação

social, percebemos o aprendizado como um processo profundamente social, no qual também é

um complexo processo dialético, onde o desenvolvimento não é linear.

Deste modo, analisamos que a utilização do livro sensorial para o ensino de crianças

com deficiência tem grande efeito no desenvolvimento motor e cognitivo, favorecendo a

aprendizagem e aumento dos estímulos socioculturais. O brincar estimula, motiva e desenvolve.

O livro sensorial serve como mediador, capaz de estimular o letramento e

desenvolvimento da narrativa infantil, além de através do seu suporte contribui com a apreensão

de conceito e estimulo das relações sociais (MARQUES; [200-?]). Portanto, percebemos que

as atividades sensoriais facilitam o processo de ensino aprendizagem das crianças com

deficiência e promovem a maior autonomia e desenvolvimento no meio social em que estão

inseridas

.

Referências

COELHO, L.A. A criança e o livro infantil. Rio de Janeiro: PUC RIO, 2005. Disponível em:

WWW.users.rdc.puc-rio.br

LEI nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases).

MARQUES, E. P. GONÇALVES, N. C. Infância e cegueira: produção de livros táteis para

crianças de baixa visão. [Belo Horizonte. MG]; PUC MINAS, {200-?}. Disponível em

WWW.sociedadeinclusiva.pucminas.br

NUERBERG. A.H. Ilustração táteis bidimensional em livros infantis: considerações acerca de

sua construção no contexto da educação de crianças com deficiência visual REVISTA

EDUCAÇÃO ESPECIAL. Santa Maria, RS, v. 36, p 131-144, jan/abr.2010.

VYGOTSCKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos

Processos Psicológicos Superiores. Trad. José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto,

Solange Castro Afeche. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes,1998.

. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

260

VYGOTSCKY, L. S.; LURIA A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e

aprendizagem. 5ª ed. São Paulo: Ícones, 1994.

ZANLUCHI, Fernando Barroco. O Brincar e o Criar: as relações entre atividade lúdica,

desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina: O autor, 2005.

261

PRATICAS PEDAGOGICAS: JOGOS E ATIVIDADES PEDAGÓGICAS

ADAPTADOS PARA AS CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

PEDAGOGICAL PRACTICES: GAMES AND PEDAGOGICAL ACTIVITIES

ADAPTED FOR CHILDREN WITH VISUAL DEFICIENCY

Marcelly Dias Baia

Namieli Nascimento Bezerra

Suzy Alexandra Santos Conceição

1 INTRODUÇÃO

As pessoas com deficiência visual, ao adentrar na vida escolar enfrentam várias

dificuldades, uma delas é a falta de formação dos professores que atuam com os deficientes

visuais. Pois, à necessidade de metodologias e recursos didáticos que possibilitem a inclusão

e socialização desses discentes.

No entanto, se o professor não oferecer uma prática de ensino que os inclua, acaba

influenciando no processo de aprendizagem em sala de aula, haja vista, que sua didática está

voltada para os alunos que não apresentam está deficiência e, consequentemente, não terão as

mesmas dificuldades o que implica na exclusão desses sujeitos. No entanto, é necessário

considerar, que apesar da sua condição, são capazes de realizar quaisquer atividades, bem

como, interagir no meio social que estão inseridos.

A interação social torna-se fundamental para o desenvolvimento do sujeito, incluindo

os deficientes visuais. Vygotsky (2001) diz que o indivíduo se desenvolve num processo

construído através das interações que o mesmo estabelece no contexto histórico, social e

cultural em que está inserido. Enquadra-se nesse contexto o deficiente visual, pois a interação

se apresenta como fator primordial para que o ensino, oferecendo condições estimuladoras

para a aprendizagem desses sujeitos.

Freire (2003) diz que o professor precisa saber ouvir o aluno, respeitar e valorizar a

sua história, seus conhecimentos de mundo, pois estará valorizando o seu saber cotidiano.

Diante disso, o deficiente visual é um sujeito que traz consigo diferentes saberes que podem

ser estimulados no processo de ensino- aprendizagem. Assim, ao proporcionar situações

estimuladoras, intencionalmente, o professor contribui para o desenvolvimento infantil dessas

crianças, pois sua limitação não o restringe ou impede que possa explorar visualmente o

ambiente que está inserido, além de desenvolver sua percepção de distâncias, interpretação e

busca por objetos que estão fora do seu alcance tátil, proporcionando assim, sua autonomia.

262

A criança ao buscar por sua autonomia dispõe de outros caminhos sensoriais que

podem ser utilizados na ausência da visão, tais como os olfativos, táteis e auditivos que, se

adequadamente desenvolvidos, poderão compensar sua deficiência. Nunes e Lomônaco

(2008) salientam que:

o olfato, a gustação e o sistema cinestésico – responsável pela orientação espacial,

movimento e equilíbrio – são importantes fontes de informação para o cego. Dessa

forma, a percepção do espaço pelo cego se dá pela conjunção de sensações táteis,

cinestésicas e auditivas aliadas às experiências mentais passadas já construídas pelo

sujeito. Assim, a falta da visão, por si só, não é um impedimento ao

desenvolvimento; ela impõe caminhos diferenciados, uma vez que a obtenção de

conhecimentos depende de uma organização sensorial diferente da do vidente

(NUNES; LOMÔNACO, 2008, p. 121).

Assim, as crianças cegas ou com baixa visão, sem acesso a um campo visual,

relacionam-se em um ambiente mais restrito, definido espacialmente. Pois, necessitam de um

espaço físico adaptado, além de profissionais capacitados, que sejam responsáveis por um

ensino de qualidade com atividades adequadas que favoreça sua aprendizagem.

Dessa forma, este relato de experiência enfatiza uma prática pedagógica que considere

a brincadeira para o desenvolvimento da formação da criança. Segundo Andrade e Marques,

é brincando que:

a criança desenvolve o.corpo e seus ritmos, o relacionamento com as pessoas e os

seus limites, a imaginação e o pensamento poético. Alimentando cotidianamente

pela brincadeira, o pensamento da criança encontra soluções inovadoras para novos

desafios, relaciona e mistura coisas e fontes diversas, sacode as dificuldades com

humor e irreverencia (ANDRADE; MARQUES, 2003, p. 41).

Entende-se que a brincadeira é essencial na constituição das crianças, pois, apresenta

uma pratica pedagógica que contribuirá com a formação, através do lúdico e assim as crianças

terão uma aprendizagem significativa. Luckesi (2005) diz que o lúdico exige uma pré-

disposição de cada pessoa envolvida na relação de troca de saberes e o que mais a caracteriza

é a experiência de plenitude que ela possibilita a quem vivencia em seus atos, ou seja, a

experiência lúdica como uma experiência interna do sujeito que a vivencia.

Desse modo, o objetivo desta pesquisa reside na busca por analisar de que forma se

dá a socialização inclusiva dos deficientes visuais no convívio e sala de aula, bem como, no

desenvolvimento das atividades desenvolvidas com os sujeitos videntes.

Para tanto, foi realizada uma oficina de “Jogos e Atividades adaptadas para crianças

com deficiência visual”, no II Seminário de Pedagogia, da Universidade do Estado do Pará,

campus XIV, no dia 14 de dezembro de 2017, às 19 horas, realizada com os alunos do curso

de licenciatura. Ela se inicia com uma conversa explicando quais são as dificuldades que esses

263

alunos enfrentam nas escolas que não possuem materiais adaptados e metodologias adequadas

para ensinar quem tem essa deficiência.

Após essa breve discussão, deu-se início à uma dinâmica com futuros professores, a

proposta consistia no reconhecimento do seu colega através do tato, no inicio era formado um

circulo com todos os participantes e três pessoas eram escolhidas e vendadas, desse modo, elas

tinham que encontrar uma pessoa e dizer as suas características físicas.

Em seguida iniciou-se a primeira atividade, onde o objetivo era trabalhar a noção de

lateralidade, inicialmente estavam em duplas onde um foi vendado e outro não, esse devia guiar

seu colega somente com a voz, instruindo o percurso por onde deveria caminhar, haja vista, que

estava cheio de objetos colocados propositalmente para dificultar ainda mais sua locomoção.

A segunda atividade foi a do boliche, no qual o participante deveria identificar,

através dos sons emitidos, o número de garrafas derrubadas. Para isso, foi necessário vendar

o participante e colocado a uma certa distância com objetivo de dificultar e fazer com que

percebesse as dificuldades que uma pessoa com deficiência visual possui. Pois, o futuro

professor poderia perceber a necessidade de jogos e atividades pedagógicas adaptadas para

formação básica dessas crianças. Após essas experiências, o participante poderia escolherum

jogo pedagógico para confeccionar

2 MARCO TEÓRICO

A deficiência visual pode ser categorizada em dois tipos, a cegueira e a baixa visão.

A primeira possui dois estágios, pode ser uma cegueira transitória ou definitiva. Transitória

quando a perda da visão é apenas um intervalo de tempo e definitiva quando se torna

permanente e irreversível. A baixa visão é definida como uma condição na qual a visão da

pessoa não pode ser totalmentecorrigida por óculos, interferindo nas suas atividades diárias,

leitura, produções, conduções, etc.

Dessa forma, não há como falar do desenvolvimento das crianças sem fazer menção

ao brincar, ao brinquedo e às brincadeiras, pois estes exercem um papel fundamental nos

primeiros anos de vida e auxiliam no desenvolvimento das habilidades perceptivas, motoras,

na criatividade e no raciocínio. Para Fuente (2010), “[...] os brinquedos e objetos que forem

oferecidos à criança devem combinar textura, forma, som, temperatura, odor e sabor, quando

for possível, para favorecer a associação multissensorial (auditiva, tátil, olfativa e/ou

gustativa)”.

A maneira como as crianças cegas ou com baixa visão são incentivadas para a

exploração do ambiente contribui significativamente para o desenvolvimento delas e as

264

orientações dadas pelo mediador são uma forma de incentivo para alcançar os objetos. A

assimilação dos conceitos, a aquisição da linguagem, a organização do pensamento e a

percepção dos acontecimentos ocorrerão na criança com deficiência visual na medida em que,

com a mediação do adulto ou outras crianças mais experientes, sejam nomeados e explorados,

de distintas formas, os objetos presentes no espaço que a rodeia.

Para Fuente (2010), o deslocar-se no ambiente é uma limitação encontrada pelas

crianças com baixa visão. A ação do adulto nas intervenções, a partir das informações verbais

e dos sinais antecipados sobre a disposição espacial dos objetos e suas características, favorece

o reconhecimento do espaço e possibilita que as crianças adquiram autoconfiança.

Uma das dificuldades a ser vencida pelos professores é o receio de enfrentar o novo

e por considerar que os alunos deficientes visuais não estão interessados ou não podem realizar

as atividades propostas aos alunos do ensino regular. Para que haja mudança no conceito e

abordagem sobre os alunos deficientes visuais é preciso que se busquem informações

satisfatórias, a consciência da necessidade de mudança, indo ao encontro de como fazer para

melhorar a forma de tratamento e ensino do aluno incluso.

A prática de atividades e brincadeiras, especificamente aos deficientes visuais, pode

levá-los à aproximação do mundo real e lúdico. Assim, as atividades e brincadeiras poderiam

proporcionar aos alunos a liberdade de expressar sua criatividade, sua alegria, independente

de suas limitações e construir a vida escolar saudável e responsável.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A brincadeira está muito além de ser apenas uma distração para a criança, pois, é

através dela que muitos aprendem a conviver socialmente com os demais sujeitos envolvidos

num mesmo espaço. Pode-se dizer que a brincadeira se torna importante no processo de

inclusão dos alunos com deficiência visual, no que concerne ao espaço escolar, uma vez, que

propicia uma aprendizagem significativa para formação do sujeito.

Assim, com o objetivo de contribuir com as práticas de professores da educação

infantil e ensino fundamental menor, a oficina “Brincadeiras e atividades adaptadas para

criança com deficiência visual” trás algumas propostas que podem ser inseridas na sala de

aula, com materiais acessíveis e alternativos, sendo eles reciclados, visto que a educação não

dispõe de muitos recursos para trabalhar a inclusão nas escolas de ensino regular. Tal

experiência permitiu ter um olhar diferenciado sobre a deficiência visual e ainda as concepções

que os participantes tinham sobre o tema proposto.

Os participantes tiveram a liberdade de criar atividades e jogos adaptados, além de ter

265

a experiência de verificar as dificuldades que as pessoas com deficiência visual vivenciam

diariamente. Partindo disso, percebeu-se que os mesmos começaram a desenvolver o

sentimento de empatia para com os sujeitos que têm dificuldade em enxergar ou é totalmente

cego.

Hueara et al. (2006), em pesquisa que investigou o faz de conta em crianças com

deficiência visual, afirmam que “Durante a brincadeira, as crianças revelaram competências

que normalmente não eram reconhecidas nas atividades cotidianas, e em diferentes modos de

avaliação mais dirigida” (2006,

p. 366). Diz ainda, que a brincadeira relativamente livre, mediada por adultos, torna-se um

ambiente favorável às múltiplas elaborações das crianças, onde podem representar papeis,

criar cenas, estabelecer regras, compreender o uso de objetos cotidianos, reconhecer e

transmitir aspectos culturais, sendo reconhecidas mais por suas possibilidades que por suas

incapacidades.

Contudo, está experiência propiciou aos professores em formação, a percepção das

dificuldades, bem como. A importância de se pensar praticas pedagógicas condizentes com a

realidade de cada aluno, pincipalmente, os que possuem deficiência e nesse contexto citamos

a visual, pois, ao ter ausência de visão, necessitam de metodologias que estimule a motricidade

e incentive brincadeiras corporais. Além, de contribuir com a formação cognitiva e ainda

inclusão dessas crianças no espaço em que estão inseridos, bem como, da sociedade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As crianças com deficiência visual são capazes de desenvolver sua aprendizagem

através da brincadeira, sua condição não impossibilita a inserção dos mesmo em todas as

atividades pedagógicas. Tais atividades podem facilitar o processo de socialização e inclusão

social e escolar de cada sujeito, que historicamente, é excluído devido às suas limitações

físicas ou cognitivas.

Dessa forma, este trabalho apresentou propostas metodológicas para uma pratica do

professor que possibilite a aprendizagem dos alunos com deficiência visual através das

brincadeiras. Ressaltamos, que os objetivos propostos com esta oficina foram alcançados.

Pois, entenderam que devemos compreender quais as limitações dessas crianças e

principalmente ter uma pratica que possa contribuir com o processo de ensino e aprendizagem,

seja no espaço escolar ou em seu convívio em diferentes espaços.

Contudo, não podemos contribuir com a exclusão que os deficientes visuais estão

266

propícios diariamente. Pois, é nosso dever enquanto educador estimular e incentivar um ensino

de qualidade objetivando a inserção destas crianças no contexto escolar, primando por uma

formação autônoma e critica.

REFERÊNCIAS

FREIRE, PAULO. Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis. 2ª

ed. São Paulo, 2003.

FUENTE, B. E. L. Atendimento precoce. In: MARTÍN, M. B.; BUENO, S. T. (Coord..).

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Pedro. São Paulo: Santos, 2010. p. 161-175.

HUEARA, L. et al. O faz-de-conta em crianças com deficiência visual: identificando

Habilidades. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 12, n. 3, p. 351-368,

set./dez. 2006.

NUNES, S. S.; LOMÔNACO, J. F. B. Desenvolvimento de conceitos em cegos

congênitos: caminhos de aquisição do Conhecimento. Revista Semestral da Associação

Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v. 12, n. 1, p. 119-138,

jan./jun. 2008.

VYGOTSKY, L. S. A. Psicologia pedagógica. São Paulo, Martins Fontes, 2001.

267

UMA EXPERIÊNCIA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM UMA

COMUNIDADE QUILOMBOLA

AN EXPERIENCE OF UNIVERSITY EXTENSION IN A QUILOMBOLA

COMMUNITY

1 INTRODUÇÃO

Mariane do Socorro Dias da Silva

Erica Cardoso e Cardoso

A presente pesquisa tem como tema uma experiência da extensão universitária em uma

comunidade quilombola, enfatizando as dificuldades de acesso desses alunos a atividades

lúdicas em espaços diferenciados. O estudo ocorreu no município de Moju no estado do Pará,

localizado no norte brasileiro, estando a uma altitude de 16 metros do nível do mar, com uma

população estimada em 77 385 mil habitantes distribuídos em 9.094,135 km² de extensão

territorial, formada por uma população de zona rural superior que da zona urbana. Nesse

contexto, foi observado a necessidade de uma pesquisa focando na população rural desse

município, principalmente dos alunos dessa área. O estudo aconteceu especificamente em uma

instituição de ensino-casa familiar rural Padre Sérgio Tonetto, comunidade quilombola do

município de Moju, localizada na zona rural, na comunidade remanescente de quilombo NSrª

das Graças, Jambuaçu. A referida instituição atende a alunos quilombolas, oferecendo Ensino

Fundamental e Médio com habilitação em agricultura familiar.

Pensando no difícil deslocamento dessas pessoas para cidade, apresentamos como

objetivo geral de possibilitar o acesso dos alunos quilombolas, quanto aos jogos e brincadeiras

inseridos na Brinquedoteca da UEPA-Moju, e os objetivos específicos de desenvolver

atividades lúdicas e possibilitar a extensão universitária por meio da brinquedoteca itinerante.

Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram alunos do ensino fundamental da instituição casa

familiar rural Padre Sérgio Tonetto, na faixa etária de 07 á 15 anos, na qual foi proporcionado

pelas brinquedistas da pesquisa, uma aprendizagem de forma lúdica e dinâmica, através de

oficinas de jogos, brincadeiras e atividades pedagógicas que a brinquedoteca Marli Melo de

Almeida oferece no Campus, demostrando também que o brincar conduz aprendizado em

qualquer idade, independente se for criança ou adolescente.

Vindo do latim, itinerante significa se deslocar, sendo a brinquedoteca itinerante, vem

proporcionar que estes alunos tenham acesso a diversas atividades pedagógicas promovida no

espaço, que por estar localizada na cidade acaba dificultando que alunos de zona rural usufrua

desse ambiente.

268

O método de análise utilizado na pesquisa foi o materialismo histórico dialético que

compreende a realidade concreta do educando, estando o meio biológico em constante dialética

com o social e psicológico. Pires, caracteriza o método histórico dialético da seguinte maneira:

O método materialista histórico-dialético caracteriza-se pelo movimento do

pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade, isto

é, trata-se de descobrir (pelo movimento do pensamento) as leis fundamentais que

definem a forma organizativa dos homens em sociedade através da história. Este

instrumento de reflexão teórico-prática pode estar colocado para que a realidade

educacional aparente seja, pelos educadores, superada, buscando-se então arealidade

educacional concreta, pensada, compreendida em seus mais diversos e contraditórios

aspectos. (PIRES, 1997, p. 1)

2 MARCO TEÓRICO

A brinquedoteca surge no Brasil voltada para os aspectos educacionais, enquanto que

na Europa seu surgimento volta-se para ampliação das oportunidades de acesso das crianças a

jogos, brinquedos e brincadeiras. ROEDER (2008) afirma que “o surgimento da brinquedoteca

amplia o nível de oportunidades para as crianças brincar e a visão do resgate de brincar como

elemento essencial para o desenvolvimento integral da criança."

Entender a brinquedoteca na Universidade como parte do processo de formação do

discente aliando teoria e prática, tendo o trabalho pedagógico como eixo e o brincar como

sinônimo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, possibilita que o educando tenha uma

formação reflexiva dentro do espaço universitário. Roeder ressalta que:

A brinquedoteca Universitária, caracteriza-se como processo singular para o

desenvolvimento da inter-relação ensino, pesquisa e extensão numa visão de educação

integradora e reflexiva, voltada para o ser humano integral, beneficiando acadêmicos,

escolas, crianças, o curso, a própria instituição e comunidade em geral. (ROEDER,

2008, p.2429).

Compreender o jogo e brincadeira na educação como parte fundamental no processo

de ensino/aprendizagem da criança, é permitir o seu pleno desenvolvimento. Sendo o lúdico

uma ferramenta eficaz no ensino de criança e adolescentes.

Esses elementos lúdicos são lembrados como solução dos problemas das práticas

pedagógicas e da educação tanto de crianças como de jovens e adultos, sempre os

direcionados à aquisição de novos conhecimentos. (ABREU; OLIVEIRA; LEITÃO,

2013, p. 21).

A brincadeira na vida da criança é uma atividade na qual lhe permite explorar a

imaginário livremente, possibilitando novas descobertas do mundo adulto. Abreu; Oliveira;

Leitão (2013, p.21), afirma:

269

O papel que o brincar exerce na formação e no desenvolvimento das crianças é

relevante, visto que grande parte das crianças, especialmente as que estão na idade

pré-escolar, vivem no mundo faz de conta, no qual a criatividade e a imaginação de

situações são características marcantes.

O reconhecimento da educação quilombola, representa um Marco histórico na

visibilidade das diferenças étnicas existente no brasil. As comunidades quilombolas estão

distribuídas por todo o território brasileiro, há maioria delas localiza-se na zona rural. De acordo

com o decreto 4.8884/2003, os quilombos são:

Os grupos étnico-raciais segundo critérios de auto-atribuições, com trajetória histórica

própria, dotados de relações territoriais específicas, com a resistência a pressão

histórica sofrida. (BRASIL, 2003, p.1).

Existe no Brasil uma grande necessidade de superar a falta de investimento em

políticas públicas voltadas para a educação quilombola, sendo as áreas remanescentes de

quilombos superior que sua demanda de escolas para atender esses educandos. É de suma

importância que a " educação escolar quilombola tenha como regência os valores sócias,

culturais, históricos e econômicos dessas comunidades". (BRASIL, 2011)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada pelas alunas e brinquedistas da Universidade do Estado do

Pará-Moju, na instituição de ensino-casa familiar rural Padre Sérgio Tonetto, comunidade

quilombola, localizada na zona rural. Um espaço bem estruturado e acolhedor, ilustrado na foto

a baixo.

Fotografia 1 – Instituto Casa familiar

Fonte: Pesquisa de campo

As atividades realizadas com alunos quilombolas, na faixa etária de 07 a 15 anos,

procederam-se em três etapas, no primeiro momento foi a organização do espaço da

brinquedoteca itinerante, com alguns brinquedos e matérias da brinquedoteca da UEPA,

270

campus Moju. Para proporcionar a esses alunos um momento lúdico e fornecendo um brincar

educativo, observado na foto a seguir:

Fotografia 2 – Brinquedoteca Itinerante

Fonte: Pesquisa de campo

Logo em seguida aconteceu as dinâmicas nos espaços dentro da instituição de ensino e

ao ar livre daquele local, realizou-se diversas brincadeiras como, passa o chapéu, laranja no pé,

maestro, coelho sai da toca, e outros. Atividades essas que desenvolve a socialização, agilidade,

coordenação motora, a criatividade e possibilita exercícios de concentração. Essas brincadeiras

foram adaptadas de acordo com a faixa etária dos alunos trabalhados e baseadas no livro

“brincadeiras e brinquedos cantados: são elementos imprescindíveis na educação de crianças”,

de Abreu; Oliveira; Leitão (2013). Sendo assim, proporcionar atividades lúdicas no processo

educativo é fundamental para formação do ser humano e isso não pode ser desconsiderado pelos

professores. As atividades propostas pelas brinquedistas na realização dessa experiência, foi

muito proveitosa e contendo a grande participação dos alunos daquela região, como pode ser

observado nas fotos a baixo.

Fotografia 3- Atividades aplicadas

Fonte: Pesquisa de campo

271

No terceiro e último momento foi a socialização de toda a experiência obtida através

desses momentos vivenciados na comunidade. Analisando os aprendizados desses alunos e

observando que o brincar não é somente para crianças. De acordo com Winnicot, “a brincadeira

é universal, o brincar facilita o crescimento”. Além disso, no brincar observa o comportamento

desse indivíduo que sempre vai despertar o lado criança que tem dentro de si.

Com a experiência vivenciada na instituição quilombola foi perceptível a falta de

atividades lúdicas com esses alunos. E a brinquedoteca itinerante vem com esse intuito de

ampliar essas oportunidades de acesso a jogos e brincadeiras. Pois nesse contexto, o brincar é

de suma importância para o ensino e aprendizagem da criança, porém muitas escolas,

profissionais da educação e sociedade possui uma visão muito romântica do brincar, e não

associam o brincar ao aprender.

Por isso há necessidade por parte da escola de reconhecer o jogo, a brincadeira e a

utilização do próprio brinquedo como elementos culturais que melhor representam a

particularidade da infância, justamente por ser a principal atividade propulsora de

desenvolvimento da criança, conforme nos apontam os autores da psicologia histórico

cultural (VOLPATO, 2002, p.118).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazendo uma análise na trajetória do ensino desses alunos, percebe-se a necessidade

de brincadeiras para melhorar o desenvolvimento global daquele aluno, mesmo alguns sendo

mais velhos, o brincar é importante para o ensino/aprendizagem desses indivíduos. Além do

mais, observando as dificuldades de deslocamento que as comunidades enfrentam, assim, as

atividades trabalhadas buscaram propor aos alunos momentos de interação, socialização,

descontração e aprendizagem. Dando oportunidade para aqueles que por situações de transporte

e condições financeiras, não conseguem ir em espaços de aprendizado como as brinquedotecas,

e de ter esse ensino lúdico e diversificado.

Pelo fato da comunidade ter dificuldades de se deslocar até a brinquedoteca da

Universidade do estado do Pará, campus XIV, a pesquisa veio para expandir suas atividades,

promovendo assim, a extensão universitária. Pois entender a universidade como um espaço de

inclusão, educação e transformação é de suma importância para entende-la em seu tripé de

ensino, pesquisa e extensão. Dessa forma, faz necessário fornecer mais oportunidade de

pesquisa e extensão para os acadêmicos, tornando-se, assim um ensino eficaz e colaborando

com a população da região onde a Universidade está localizada.

O papel da Universidade nesse contexto, a Universidade sendo sustentada por um tripé

de pesquisa, ensino e extensão, essa experiência na pesquisa, ela vai seguir ao cunho da

extensão. Com a pesquisa teremos um novo olhar para as escolas inseridas nesses espaços, não

272

somente as escolas da cidade, mais também as escolas da zona rural, que tem direito a educação

de qualidade.

REFERÊNCIAS

ABREU, Waldir; OLIVEIRA, Damião Bezerra; LEITÃO, Wanderleia Medeiros.

Brincadeiras e brinquedos cantados: elementos imprescindíveis na educação de crianças.

Belém: Edufpa, 2013.

BRASIL. Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003. Disponível em:<

https://www.google.com.br/search?q=decreto+4887+pdf&oq=degreto+4887&aqs=chrome.2.6

9i57j0l3.13287j0j4&client=ms-android-om-lge&sourceid=chrome-mobile&espv=1&ie=UTF-

8>. Acesso em: 12 out. 2018.

BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar quilombola: algumas

informações. Brasília: CNE, 2011.

PIRES, Marília Freitas de Campus. O materialismo histórico-dialético e a educação,

Botucatu, Scielo. 1997. Disponível em: <https://www.scielosp.org/article/icse/1997.v1n1/83-

94/>. Acesso em: 10 out. 2018.

ROEDER, Silvana Ziger. Brinquedoteca universitária: reflexões sobre o processo no

brincar para aprender. 2008. Disponível em

<https://scholar.google.com.br/scholar?hl=ptBR&lr=lang_pt&as_sdt=0%2C5&q=brinquedote

ca+universit%C3%A1ria&oq=brinquedoteca+uni#d=gs_qabs&p=&u=%23p%3Ds3-

A2c66PEAJ>. Acesso: 05 out. 2018.

VOLPATO, Gildo. Jogo, brincadeira e brinquedo: usos e significados no contexto escolar e

familiar. Florianópolis: Cidade futura, 2002.

273

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR:

ESTRATÉGIAS DE LEITURA E ESCRITA NOS ANOS INICIAIS EM

UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE MOJU/PA

THE IMPORTANCE OF READING IN LEARNING TRAINING:

READING AND WRITING STRATEGIES IN INITIAL YEARS IN A

PUBLIC SCHOOL IN THE MOJU / PA MUNICIPAL

Edilene Figueira Ferreira

Regiane Rodrigues De Oliveira

Resumo: Pretende-se discorrer sobre a contribuição da leitura e escrita na formação do leitor.

Problematizar a importância da leitura para a formação de leitores pensantes, críticos capazes

de obter um olhar transformador e criativo. Embasado na psicogênese de Emília Ferreiro, será

fundamental para saber como a criança constrói a compreensão de escrita. Freire (2008, p. 56)

mostra que ler, saber argumentar e ter autonomia é imprescindível. A pesquisa se dará mediante

a análise documental e levantamentos bibliográficos de abordagem quantitativa e qualitativa, a

fim de construir novas estratégias que estimularão a leitura e a prática da escrita.

Palavras-chave: Leitura. Escrita. Formação de leitores.

274

AS CONTRIBUIÇÕES DO ESTÁGIO EM AMBIENTES NÃO

ESCOLARES PARA A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO

THE CONTRIBUTIONS OF THE STAGE IN NON-SCHOOL

ENVIRONMENTS FOR PEDAGOGUE FORMATION

Cleyce Kelly Queiróz Corrêa

Gabriela de Jesus Pereira Oliveira

Sylvianne Costa Rodrigues

Resumo: O resumo exposto, o qual partiu das reflexões acerca do estágio em ambientes não

escolares no curso Licenciatura Plena em Pedagogia, tem por objetivo através de uma análise

bibliográfica, verificar a importância da prática pedagógica em diversos espaços extraescolares

para a formação do pedagogo. Utiliza-se para a referida proposta de pesquisa a análise das obras

de Freire (1996), Libâneo (2005) e Pimenta (1994) sobre a relevância desta prática aliada com

intencionalidade à teoria estudada pelo discente durante o curso. Portanto, entende-se que esta

análise visa um melhor entendimento dos benefícios do estágio em ambientes não escolares

para a formação do pedagogo.

Palavras-chave: Estágio. Ambientes não escolares. Prática pedagógica.

275

TECNOLOGIA ASSISTIVA: PROMOVENDO A INCLUSÃO SOCIAL

ASSISTIVE TECHNOLOGY: PROMOTING SOCIAL INCLUSION

Janderson Barreto Sousa

Katia Cilene Rodrigues de Araújo

Resumo: A Tecnologia Assistiva (TA), é uma área do conhecimento, de característica

interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços

para a pessoa com deficiência. O estudo tem como objetivo proporcionar à pessoa com

deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social. Assim foi produzido uma

cartilha com o enfoque informativo dos produtos da (TA). Deste modo foi feito um

levantamento bibliográfico, utilizando as teorias de BERSCHA (2013), a lei que ampara a TA,

e descritos na cartilha as TA em categorias e classificações, e proposto uma de atividade

pedagógica, a construção de um livro sensorial.

Palavras chaves: Tecnologia Assistiva. Deficiência. Inclusão social.


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